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FARMÁCIA - MÓDULO 5

MARCELLO OLIVEIRA GOMES - 236132021

PORTFÓLIO-FARMACOGNOSIA

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Guarulhos
2023
MARCELLO OLIVEIRA GOMES

PORTFÓLIO- FARMACOGNOSIA

Trabalho apresentado ao Curso de Farmácia do Centro


Universitário ENIAC para a disciplina de Farmacognosia.

Prof. Mário

Guarulhos
2023
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1. Histórico da Farmacognosia

A Farmacognosia é considerada uma das ciências mais antigas, com raízes


que remontam ao início da história da humanidade. Ao longo dos milênios, o
conhecimento sobre o uso terapêutico de recursos naturais e a observação de suas
propriedades foram transmitidos oralmente e registrados por escrito. Até o século
XIX, as plantas medicinais e seus extratos eram os principais recursos terapêuticos
disponíveis. A partir do isolamento de compostos como a morfina e alcalóides,
começou-se a busca por substâncias bioativas purificadas e a avaliação de suas
propriedades farmacológicas (BARATTO,2019).
Além da Botânica, que permitia a classificação taxonômica das plantas
medicinais, outras disciplinas como Química, Farmacologia e Toxicologia também
começaram a estudar as drogas vegetais, seus extratos e moléculas naturais
bioativas. Inicialmente, o estudo dos recursos naturais medicinais era conhecido
como Matéria Médica, um termo originado da obra de Dioscórides (De Materia
Medica), que mais tarde evoluiu para o termo Farmacognosia (BARATTO,2019).
O termo "Farmacognosia" foi mencionado pela primeira vez em 1811 por J. A.
Schmidt e posteriormente por C. A. Seydler em 1815. Esse termo se difundiu
rapidamente na língua alemã com publicações subsequentes de outros autores
(BARATTO,2019).
No início, a Farmacognosia estava focada na investigação de substâncias
naturais brutas, seja de origem vegetal, animal ou mineral, e seus derivados
primários, como óleos, ceras, gomas e resinas. Com o tempo, sua definição evoluiu
para abranger o estudo das propriedades físicas, químicas, bioquímicas e biológicas
de fármacos naturais e potenciais fármacos, bem como a busca por novos
compostos naturais (BARATTO, 2019).
A Farmacognosia é uma ciência multidisciplinar que se relaciona com várias
áreas, como Botânica, Química, Enzimologia, Genética, Farmacologia, Toxicologia,
Agronomia, Controle de Qualidade, Biotecnologia, Farmacotécnica,
Farmacoeconomia, Farmacovigilância, Legislação e Conservação (BARATTO,
2019).
Essa ciência visa não apenas encontrar fontes de drogas naturais, mas
também entender a biossíntese de metabólitos bioativos, desenvolver técnicas de
isolamento, purificação e identificação, classificar produtos de acordo com seus
efeitos farmacológicos e toxicológicos, realizar semi síntese de compostos naturais e
utilizar técnicas recombinantes para obter fármacos de organismos geneticamente
modificados (BARATTO, 2019).
Dois dos pioneiros na difusão da Farmacognosia no século XIX foram
Friedrich August Flückiger e Alexander Tschirch. Flückiger defendia que a
identificação e pureza das drogas naturais deveriam ser baseadas não apenas em
características morfológicas, mas também nos componentes que possuem atividade
terapêutica. Tschirch, considerado o pai da moderna Farmacognosia, ampliou o
conceito, estabelecendo várias ramificações da disciplina e enfatizando a
importância de estudar os constituintes químicos das drogas e suas propriedades
farmacológicas, indo além dos estudos farmacobotânicos (BARATTO, 2019).
2. Medicina Indígena

Em 2009, após uma criança da etnia Tukano ser mordida por uma cobra
jararaca, ela foi transferida para um hospital em Manaus, no Amazonas, onde os
médicos recomendaram a amputação da perna como única opção de tratamento. No
entanto, os parentes da criança discordaram desse diagnóstico e buscaram a justiça
para impedir a amputação e garantir o direito de utilizar práticas tradicionais como
terapia complementar (VILLAR, 2020).
A perna da menina foi salva, e esse evento deu origem ao Bahserikowi –
Centro de Medicina Indígena da Amazônia, localizado em Manaus. Desde então,
cerca de 2.900 pessoas, incluindo indígenas e não indígenas, foram atendidas no
centro. João Paulo Barreto Tukano, filósofo, mestre em antropologia e coordenador
do centro, explica que o local funciona como um consultório médico para o
tratamento de doenças, onde as pessoas buscam ajuda para seus problemas de
saúde (VILLAR, 2020).
Os atendimentos são realizados por diferentes Kumuã, em sua maioria de
povos da região do Alto Rio Negro, como Tukano, Tuyuka e Desano. João Paulo
destaca a dificuldade que a sociedade em geral enfrenta ao tentar entender o
conhecimento indígena, frequentemente associado a práticas religiosas. Ele enfatiza
que não se trata de cura baseada em fé, mas de um modelo de medicina diferente
do ocidental (VILLAR, 2020).
Uma das razões para essa confusão é o fato de a medicina indígena
considerar a relação com o meio ambiente como parte das causas das doenças e
também da cura. Muitas doenças são vistas como resultantes de uma má relação
com o ambiente, como rios e florestas. Os Waimahsã, considerados guardiões
desses ambientes, são vistos como responsáveis por cuidar dos recursos naturais.
Quando esses ambientes são invadidos, eles podem causar doenças, como dores
de cabeça, náuseas e dores no corpo (VILLAR, 2020).
Nesse contexto, o tratamento de doenças não se resume apenas ao uso de
medicamentos, mas envolve uma combinação de abordagens, incluindo remédios à
base de plantas, como a carapanaúba e a sara tudo, bem como bahsese ou
benzimentos. Também podem incluir mudanças nos hábitos, como a abstinência
sexual e dietas específicas, muitas vezes excluindo carne (VILLAR, 2020).
Esses tratamentos, que podem se estender por dias ou até meses, foram
desenvolvidos ao longo dos anos com base na observação e no conhecimento
tradicional transmitido pelos kumuã mais experientes. A formação para se tornar um
kumuã é um processo rigoroso que pode levar até cinco anos e inclui abstinência,
isolamento social, dieta e orientação direta de outros pajés especializados na
formação (VILLAR, 2020).
Parte do conhecimento ancestral dos pajés e xamãs é tradicionalmente
transmitido oralmente, passando de geração em geração. No entanto, alguns povos
indígenas têm iniciado esforços para registrar esses conhecimentos, muitas vezes
em seu próprio idioma e, em alguns casos, também em português (VILLAR, 2020).
Um exemplo notável é o projeto "Manual dos remédios tradicionais
Yanomami", uma pesquisa intercultural realizada pela Hutukara Associação
Yanomami em colaboração com o Instituto Socioambiental (ISA), lançada em 2015.
Esse trabalho foi transformado em uma exposição interativa, disponível na
plataforma do Google Arts and Culture. Os visitantes podem explorar o
conhecimento tradicional sobre a medicina da floresta, que é um patrimônio milenar
do povo Yanomami. Esse conhecimento sobreviveu mesmo após a morte de muitos
detentores desse saber devido a epidemias de sarampo e malária introduzidas por
invasores em seus territórios (VILLAR, 2020).
A exposição oferece uma oportunidade de aprender mais sobre as plantas
usadas pelos Yanomami e até mesmo ouvir a pronúncia de seus nomes. Ela é
composta por fotos, vídeos, desenhos, depoimentos em áudio e textos, permitindo
aos visitantes explorar e aprender mais sobre essa riqueza de conhecimentos
tradicionais (VILLAR, 2020).
A comunidade Matsé, que reside na região de fronteira entre o Brasil e o
Peru, optou por registrar seu conhecimento em uma extensa enciclopédia de 500
páginas, inteiramente escrita em seu idioma nativo. Esta enciclopédia foi compilada
por cinco xamãs, com o apoio do grupo de conservação Acaté, e oferece detalhes
abrangentes sobre as plantas utilizadas na medicina Matsés e como essas plantas
são aplicadas no tratamento de uma variedade de doenças (VILLAR, 2020).
A decisão de produzir esse documento na língua nativa tem como principal
objetivo evitar que esse conhecimento seja apropriado indevidamente, um problema
que já ocorreu no passado. A intenção é que a enciclopédia seja exclusivamente
usada para preservar o conhecimento e torná-lo acessível às gerações futuras de
xamãs da comunidade Matsé (VILLAR, 2020).

3. Medicina Tradicional Chinesa

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) remonta a registros iniciais datados


por volta de 5000 a.C. Esses registros consistem em antigos textos, muitas vezes
apresentados em formas codificadas, como poesia, música e imagens. Eles
representam conceitos que implicam uma mudança no estilo de vida, enfatizando a
importância da prevenção como um papel fundamental. Essa abordagem enfatiza a
necessidade de divulgar informações e requer uma constante "evolução" em relação
aos hábitos e costumes. A abordagem da MTC em relação a cada paciente é
holística, abrangendo não apenas o corpo, mas também a mente, o espírito e o
ambiente (LUZ, 1993).
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC), fundamentada nos princípios do
budismo, taoísmo e confucionismo, estabelece que as doenças representam
caminhos em direção à transformação pessoal. Atualmente, existe uma ênfase
considerável na pesquisa relacionada aos mecanismos de ação da acupuntura,
meditação e práticas físicas. A modernização dos equipamentos de diagnóstico
permitiu um entendimento parcial das técnicas, levando à inclusão da acupuntura
como uma especialidade médica em 1999. Desde então, no Ocidente, foram
desenvolvidos muitos métodos que se integram às técnicas tradicionais,
aproveitando a inovação tecnológica. A combinação com a medicina ocidental é
vista como ideal, proporcionando aos profissionais uma visão mais abrangente e
oferecendo uma ampla gama de ferramentas para promover a saúde integral dos
indivíduos (LUZ, 1993).

4. Medicina Ayurvédica

A palavra "Ayurveda" tem um significado literal de "Conhecimento ou Ciência


(veda) da longevidade (ayus)". Localizar historicamente as fontes iniciais do
Ayurveda é um desafio, já que a cultura indiana de língua sânscrita tradicionalmente
transmitiu conhecimento oralmente, com a escrita se tornando uma forma importante
de transmissão de conhecimento apenas no período do rei Açoka, que governou
entre 273 e 232 a.C. No entanto, é amplamente aceito que algumas práticas
médicas estiveram presentes desde os tempos mais remotos na cultura indiana, com
o Ayurveda se consolidando como um sistema de conhecimento unificado por volta
do século V a.C., quando começaram a ser produzidos textos acadêmicos e
familiares (MARINO, 2012).
A disseminação do Ayurveda foi facilitada tanto pelas rotas comerciais que a
Índia desempenhou um papel central, devido à sua produção de especiarias,
produtos agrícolas e seda, quanto pela migração de monges budistas para regiões
vizinhas no século V a.C. Esses monges eram versados na medicina Ayurveda e
levaram esse conhecimento para terras distantes, incluindo Sri Lanka, Burma, Tibet,
Nepal, sul da China e outras regiões do Oriente, como Mongólia, Malásia, Indonésia
e até o Japão (MARINO, 2012).
As práticas místicas sempre foram parte integral da cultura indiana, com forte
influência na medicina Ayurveda. Enquanto o misticismo ritual foi rejeitado pela
medicina clássica indiana, a espiritualidade desempenhou um papel importante. A
concepção de vida no Ayurveda engloba a harmonia entre o corpo físico, os órgãos
dos sentidos, a mente e a consciência. Essa abordagem reconhece que o ser
humano só pode ser completamente compreendido quando as dimensões física,
mental e espiritual estão em equilíbrio. A espiritualidade aqui se refere à capacidade
inata do ser humano de se afastar do mundo concreto percebido pelos sentidos e de
buscar novas experiências por meio da introspecção e da variedade de
manifestações do psiquismo (MARINO, 2012).
Conclusão

Este portfólio abrange a história e o contexto de três sistemas de medicina


tradicionais: Farmacognosia, Medicina Indígena e Medicina Tradicional Chinesa,
além de tocar brevemente na Medicina Ayurvédica. Cada um desses sistemas
representa uma abordagem única para a saúde, baseada em tradições e
conhecimentos milenares.
A Farmacognosia, como uma das ciências mais antigas, evoluiu ao longo do
tempo, passando do estudo de plantas medicinais para uma disciplina
multidisciplinar que combina Botânica, Química, Farmacologia, entre outras áreas. A
busca por substâncias bioativas purificadas e a compreensão de suas propriedades
farmacológicas são componentes essenciais da Farmacognosia moderna.
A Medicina Indígena, como demonstrado no exemplo do Bahserikowi no Brasil,
ilustra a importância da preservação das práticas tradicionais de cura e da
valorização do conhecimento indígena. Essa abordagem holística combina remédios
à base de plantas com elementos culturais e espirituais para tratar doenças,
destacando a relação intrínseca entre o ser humano e o meio ambiente.
A Medicina Tradicional Chinesa tem raízes históricas profundas e é uma
abordagem holística que considera não apenas o corpo, mas também a mente, o
espírito e o ambiente como elementos interconectados da saúde. A acupuntura e
outras práticas tradicionais chinesas têm ganhado reconhecimento global e
integração com a medicina ocidental.
A Medicina Ayurvédica, embora não tenha sido explorada em detalhes neste
portfólio, também é uma tradição antiga que enfatiza a harmonia entre o corpo e a
mente, e reconhece a importância da espiritualidade na saúde.
Em resumo, esses sistemas de medicina tradicionais representam a
diversidade de abordagens para a saúde em todo o mundo, incorporando a
sabedoria acumulada ao longo de milênios. Eles continuam desempenhando um
papel importante na promoção da saúde e no tratamento de doenças, tanto em suas
regiões de origem quanto globalmente. É essencial valorizar, respeitar e preservar
essas tradições, ao mesmo tempo em que se busca um entendimento mais profundo
de seus princípios para promover a saúde integral.

Referências Bibliográficas

BARATTO, LeopoLdo C. A FARMACOGNOSIA E O ESTUDO DAS PLANTAS MEDICINAIS NO


BRASIL. A Farmacognosia no Brasil, p. 12.

FERREIRA, L.O. Medicinas indígenas e as políticas da tradição: entre discursos oficiais e vozes
indígenas [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2013. Saúde dos povos Indígenas collection.
ISBN: 978-85-7541-510-8. Available from: doi: 10.7476/9788575415108. Also available in ePUB from:
http://books.scielo.org/id/f48w3/epub/ferreira-9788575415108.epub.

VILLAR, Rosana. Saúde que vem da floresta: o conhecimento dos povos indígenas. Disponível em:
https://www.greenpeace.org/brasil/blog/saude-que-vem-da-floresta-o-conhecimento-dos-povos-indige
nas/.

LUZ, Daniel. Racionalidades médicas: medicina tradicional chinesa. In: Racionalidades médicas:
medicina tradicional chinesa. 1993. p. 64-64.

MARINO, Maria Inês; DAMBRY, Walkyria Giusti. Corpo e ayurveda: Fundamentos ayurvédicos
para terapias manuais e de movimento. Summus Editorial, 2012.

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