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IDÉIAS FARÁ UMA FENOMENOLOGIA /PURA


IDEIAS FERA UMA FENOMENOLOGIA PURA
E FARÁ UMA FILOSOFIA FENOMENOLOGICA
E FURAUMA FILOSOFIAFENOMENOLÓGICA

Edmui Husserl
2'edição

Prefácio de Cardos Alberto Ribeiro de Moura

Rua Padre Claro Monteiro l SIW 85-98239.õ8-2


Fone:(0xx12)3104-2000

L
12570-000 - Aparecida-SP
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H972iF
2,d.
e.2
ase
Nestelivro,pelapri medra vez, a fenomer
nscendental"
ap resenta como uma filosofia "tra
A fenomenologia
é apenasum dos lados
de nosso universo intelectual, que não suprime
o outro, aquele que se desdobra na direção
"natural". IAconsciência se situa na orientação
natural, ela se dirige ao objeto "puro e simples"
Na orientação fenomenológica, ao contrário
e
a consciência
não se dirigeao obje
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simples, mas sim ao objeto intencional, ê
tal comoestese manifesta subjetivamentea
um eu Paralelamente à lição entreas
orientações natural e fenomer ca. Husserl
estabelecia uma outra ;lç aquela que
distingue as ;iolinas
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se instalamna
orientação mítica", daquelasque se
situamna orientação"filosófica". Enquantoa
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às divers uvas para conhecê-las, IDÉIAS PAJ\A UMA FENOMENOLOGIA PURA
na orien E nas se investiga
E ]?AJ{A UMA FILOSOFIA FENOMENOLÓGICA
a possibilidade do conhecimento objetivo. A
filosofia, para Husserl, é essencialmente uma
investigação de crítica do conhecimento e por
Isso mesmo ela não falará do mundo. .) E
graças à introdução da noção de noema que
a iieie erá falar em um "a priori
a fenomer :HriTiiHI
da correlação" entre consciência e objeto, essa
certeza de que toda consciência é sempre
consciência de um objeto, e de que 10

é sempreobjetopara uma consciência. Em


regime de redução fenomenológica é o 'io
mundo que se torna subjetivo. (...) E apenas
na orientação natural que a subjetividade
mundana ou psicológica, aquela inaugurada
por Descartes, apresenta-se como um interior
ao qual se 3 um exterior. A subjetividade
"transcendental",
ao contrário,é aquelaque
inclui em si mesma o seu "mundo". ela não tem
mais nada que Ihe seja exterior

CartasAlberto Ribeiro de Moura


EDMUNDHUSSERL

IDÉIASPARAUÀIA
FENOÀIENOLOGIAPURA
E ]?ARA UÀ4A FILOSOFIA
/
FENOMENOLOGICA

Introdução geral à fenomenologia pura

Prefáciode CarlosAlberto Ribeiro de Moura

SBD-FFLCH-USP

lllllllll llllll
321639
Jê.3.q.3
p.J.
.,2.,td
TRADUÇÃO:
t . I;2dI? DIRETORES EDIIDRIAIS Márcio Suzuki
Carlos da Sirva
Marcelo C. Amújo
REVISÃO

EDITORES:
Mõnica Guimarães Reis
Avelino Grassi
Robeno Girola DIAGRAMAÇÃO
d-q .P e

C(DRDENAÇÀO EDITOR[AL:
Juliana de Sousa Cervelin

CAPA:
Sumário
Elizabeth dos Santos Reis
Erasmo Ballot
COORDENADORDA COLEÇÀO
Prefácio 15
SUBJnIVIDADE CONTEMPORÂNU:
Introdução 25
Dr. Jogo Vergílio Gallerani Cuter

Livro Primeiro 31
Título original: Ideen zu einer reinen Phãnomenologle und phãnomenologischen Philosophie
© Max Niemeyer Verlag, Tübingen, 2002 Introdução geral à fenomenologia pura
ISBN 3-484-70125-0
Primeira seção
Todos os direitos em língua portuguesa reservados à Editora Idéias & Levas, 2006.
Essência e conhecimento de essência 33

Capítulo l
DEDALUS - Acervo - FFLCH-HI Fato e essência 33
Rua Padre Claro Monteiro. 342 -- Centro
12570-000 -- Aparecida-SP
Tel. (12) 3104-2000 Fax.(12) 3104-2036
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lllllllllllllllll llllllll S 1. Conhecimento natural e experiência
S 2. Fato. Inseparabilidadede fato e essência
33
34
vendas@ideiaseletras.com .br 21200051696 $ 3. Visão de essênciae intuição individual 35
http//www.ideiaseletras.com.br S 4. Visão de essênciae imaginação. Conhecimento
de essênciaindependentemente de todo conhecimento de fato 38
S 5. Juízos sobre essênciase juízos de va]idez eidética geral 39
S 6. Alguns conceitos filndamentais. Generalidade e necessidade 40
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S 7. Ciências de Eito e ciências de essência 42
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
S 8. Relaçõesde dependência entre ciência
de eito e ciência de essência 43
Husserl.Edmund. 1859-1938.
Idéias para uma fenomenologia pura e para uma üilosoüla 9. Região e eidética regional 44
fenomenológica: introdução geral à fenomenologia pura / Edmund Hus-
serll [tradução Márcio Suzuki]. -- Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006 S 10. Região e categoria. A região analítica e suas categorias 46
(Coleção Subjetividade Contemporânea)
$ 11. Objetividades sintáticas e substratos últimos.
Título original: Ideen zu einer reiner Phãnomenologieund Categorias sintáticas 48
phànomenologischenPhilosophie.
ISBN 85-98239-68-2 S 12. Gênero e espécie 50
S 13. Generalização e 6ormahzação 51
1. Fenomenologia 1.Título. 11.Série.
S 14. Categorias de substrato. A essênciado substrato e o to/de ti 52
064494 CDD-142.7
S 15. Objetos independentes e dependentes. Concreto e indivíduo 53
Índices para catálogo sistemático: S ló. Região e categoria na esfera material.
Conhecimentos sintéticos a priori 55
1. Fenomenologia: Filosofia 142.7
S 17. Conclusão das observações lógicas 56
7

Capítulo ll
Capítulo ll 59 Consciência e e6etividade natural 83
Mal-entendidos naturalistas
59 S 33 Primeira indicação sobre a consciência "pura"
Si8 Introdução às discussões críticas
ou "transcendental", enquanto resíduo fenomenológico 83
S i9 A identificação empirista entre expenêncta 60 A essência da consciência como tema 85
e ato doador originário S 34
63 86
S 3s O cogito como "ato". Modificação de inatualidade
S 20 O empirismo como ceticismo 89
65 S 3ó Vivido intencional.Vivido em geral
$ 21 Obscuridades do lado idealista 66 S 37 O "estar direcionado para" do eu puro
S 22 A acusação de realismo platónico. Essência e conceito 67 90
no cogito e a atenção apreensiva
S 23 Espontaneidade da ideação. Essência e acto
69 S 38 Reflexões sobre atos.
S24 O princípio de todos os princípios 92
Percepções imanentes e percepções transcendentes
S 2s O positivista como cientista natural na prática;
69 S 39 Consciência e e6etividade natural.
o cientista natural como positivista na reflexão 94
A concepção do homem "ingênuo"
S 26 Ciências de orientação dogmática 71 S40 Qualidades "primárias" e "secundárias". A coisa dada
e ciênciasde orientação Hosóíica 95
-- "mera aparência" do "fisicamente verdadeiro"
S4i A composição real da percepção e seu objeto transcendente 97

Segunda seção
S42 Ser como consciência e ser como realidade.
73 Diferença de princípio dos modos de intuição 100
A consideração fenomenológica fundamental 102
S 4s Esclarecimentode um erro de princípio

Capítulo l S44 O mero ser 6enomena]do transcendente,


73 o ser absoluto do imanente 103
A tese da orientação natural e sua colocação fora de circuito 106
S4s Vivido não percebido, realidade não percebida
73 S4ó Indubitabihdade da percepção imanente,
S 27. O mundo da orientação natural: eu e o mundo a minha volta 108
dubitabilidade da percepção transcendente
S 28. O copito. Meu mundo circundante natural
75
e os mundos circundantes ideais
S 29. Os "outros" eus-sujeito Capítulo lll
76 111
e o mundo circundante intersubjetivo natural A região da consciênciapura
77
$ 30. A tesegeral da orientaçãonatural 78 111
S 31 . Modificação radical da tese natural S 47. O mundo natural como correlato da consciência
81 S 48. Possibilidade lógica e contra-senso
S 32. A e7tayvlfenomenológica 113
fático de um mundo fora de nosso mundo
S 49. A consciência absoluta como resíduo
114
do aniquilamento do mundo
S 50. A orientação fenomenológica
e a consciência pura como campo da fenomenologia 116
118
S 51. Signiâcação das considerações transcendentais preliminares
S 52. Complementos. A coisa física e a
"causa desconhecida das aparições" 120
n

s sa Os seresanimados e a consciênciapsicológica 125 $ 71. O problema dã possibilidade


S 54 Continuação. O vivido psicológico de uma eidética descritiva dos vividos 154
155
transcendente é contingente e relativo; S 72. Ciências de essênciaconcretas, abstratas, "matemáticas"
o vivido transcendentalé necessáriae absoluto 127 S 73. Aplicação ao problema da fenomenologia.
S 5s Conclusão. Todas asrealidades são por 158
Descrição e determinação exata
160
"doação de sentido". Que não se trata de "idealismo subjetivo" 128 $ 74. Ciências descritivas e exatas
$ 75. A fenomenologia como doutrina eidética
Capítulo IV 161
descritiva dos vividos puros
As reduções 6enomenológicas 131
Capítulo ll
165
S 56. A questão da amplitude da redução fenomenológica. Estruturas gerais da consciência pura
Ciências naturais e ciências do espírito 131
S 57. Questão: o eu puro pode ser posto cora de circuito? 132 165
S 7ó O tema das próximas investigações
S 58. A transcendênciade Deus colocada fora de circuito 133 S 77 A reflexão como peculiaridade fundamental
S 59. A transcendência do eidético. da esferados vividos. Estudos na reflexão 167
171
Exclusão da lógica pura enquanto maí&eiü i rzxn/lí 134 $ 78 O estudo fenomenológico das reflexões acerca de vividos
S 60. Exclusão das disciplinas eidéticas materiais 136 $ 79 Excursocrítico. A fenomenologia
S 61. Significação metodológica da sistematização e as dificuldades da "auto-observação" 174
138 182
das reduções 6enomenológicas S 80 A relaçãodos vividos com o eu puro
184
S 62. Indicaçõespréviassobre teoria do conhecimento 140 S8i O tempo fenomenológico e a consciênciado tempo
S 82 Continuação.O triplo horizonte do vivido,
186
ao mesmo tempo como horizonte da reflexão sobre o vivido
Terceira seção 188
S 83 Apreensãodo fluxo de vividos em sua unidade como "idéia"
A intencionalidade como tema fenomenológico capital 189
A metodologia e a problemática da fenomenologia pura 143 S 84
193
S 85 YÀ.n sensual, Hop$TI intencional
Capítulo l 197
S 8ó Os problemas fiincionais
Consideraçõesmetodológicas preliminares 143
Capítulo lll
S 6s A especial importância das considerações Noese e noema 201
metodológicas para a fenomenologia 143
S ó4 A auto-exclusão de circuito do âenomenólogo 201
144 S 87 Observações preliminares
S ó5 As remissões da fenomenologia a si mesma 145 S 88 Componentes reais e intencionais do vivido.
S óó Expressãofiel de dados claros. Termos unívocas 147 O norma 202
S ó7 Método de clarificação, "pro)dmidade" e "distância" do dado 148 S 89 Enunciados noemáticos e enunciados de efetividade.
S ó8 Níveis autênticos e inautênticos de clareza. l 205
O norma na esperapsicológica
A essência da clariâcação normal 150
S õ9 O método da apreensãoeidética perfeitamente clara 151
S 70 O papel da percepção no método da clariâcação eidética.
A posição privilegiada da imaginação livre 152
248
$ 90. O "sentido noemático" e a distinção entre Posição atual e posição potencial
"objetos imanentes" e "objetos e6etivos" 206 Outras consideraçõessobre potencialidade
252
S 91. Transposição para a esperamais ampla da intencionalidade 209 da tese e modificação de neutralização
S 92. As mudançasatencionaisdo ponto Sii5 Aplicações. O conceito ampliado de ato . 256
de vista noético e noemático 211 E6etuaçõesde atos e atos incipientes
S 93. Passagempara as estruturas noético-noemáticas Passagem para novas análises.
As noesesfiindadas e seus correlatos noemáticos 258
da esferasuperior da consciência 214
215 As teses fundadas e a conclusão da doutrina
S 94. Noese e norma no domínio do juízo 261
S 95. Distinções análogas na esfera da afetividade e da vontade 218 da modiâcação de neutralização. O conceito geral de tese
265
S 96. Passagem aos outros capítulos. Observações finais 220 Sii8 Síntesesde consciência. Formas sintátlcas 267
S i19 Transformaçãode atospolitéticos em monotéücos 269
Capítulo IV $ 120 Posicionalidade e neutralidade na esferadas sínteses 270
Para a problemática das estruturas noético-noemáticas 223 As sintaxesdóxicas na esferada a6etividadee da vontade
272
Modos de e6etuação
dassíntesesarticuladas.O "tema"
S 97. Os momentos hiléticos e noéticos como Confusão e distinção como modos
274
momentos reais do vivido; os momentos noemáticos de efetuaçãode fitos sintéticos
A camada noético-noemática do "logos" .
como momentos não-reais dele 223 275
S 98. Modos de ser do norma. Signiâcar e significação
226 S iz5 As modalidades de e6etuaçãona esfera
Morfologia das noeses. Morfologia dos noemata 279
lógico-expressiva e o método da clarificação
S 99. O núcleo noemático e seus caracteres 280
229 . Completude e generalidade da expressão
na esfera das presenças e das presentiâcações 281
Expressão dos juízos e expressão dos noemas afetivos
S 100. Estratiâcação das representações
em noese e noema segundo lei eidética 231
S 101 . Características dos diferentes níveis.
Quarta seção
"Reflexões" de diferentes espécies 232 285
Razão e e6etividade
S 102. Passagem a novas dimensões de características 234
S 103. Caracteres de crença e caracteres de ser 235
236 Capítulo l 285
S 104. As modalidadesdóxicas como modificações O sentido noemático e a referência ao objeto
S 105. Modalidade de crença como crença.
Modalidade de ser como ser 238 285
S 128.Introdução
S 106. Aârmação e negação, com seus correlatos noemáticos 239 287
S 129. "Conteúdo" e "objeto": o conteúdo como .sentido" 289
S 107. Modiâcações reiteradas 240 S 130. Delimitação da essência "sentido noemático"
S 108. Os caracteresnoemáticos não 290
S 131. O "objeto", o "X determinávelno sentidonoemático"
são determinidades de "reflexão" 241 293
S 132. O núcleo como sentido no modo de suaplenitude
S 109. A modificação de neutralização 242 S 133. A proposição noemática. Proposições téticas e sintéticas.
S 110. Consciência neutralizada e jurisdição da razão. A postulação 244 293
Proposições no âmbito das representações
S 111 . Modiâcação de neutralização e imaginação 245 295
S 134. Doutrina das formas apofânticas
$ 112. Reiteração da modificação de imaginação. S 135. Objeto e consciência. Passagempara
247 298
Não-reiteração da modiâcação de neutralização a fenomenologia da razão
Capítulo ll Apêndice 111. pp. 36 e seis:
345
Fenomenologia da razão 303 A propósito de "significações"
346
Apêndice IV. $ 11, pp 48 e seis. 347
A primeira forma filndamental ApêndiceV. S 11, p. 49. Substrato e essência(diâculdades)
303 350
da consciência racional: o "ver" doador originário Apêndice VI. Objeção a todo o primeiro capítulo da primeira seção
Evidência e clareza de visão. 351
Apêndice VII. p- 59. Aquilo que foi dito aqui é carreto?
306 352
Evidência "originária" e "pura", assertórica e apodítica Apêndice VIII. p. 79 e segs.
Evidência adequadae inadequada 307 353
ApêndiceIX. p. 80
$ 139 Entrelaçamentos de todas as espéciesde razão. 356
ApêndiceX. p. 80
309 358
Verdade teórica, axiológica e prática ApêndiceXI. p. 94
$ 140 Connmação. Legitimação semevidência. Equivalência 360
ApêndiceXII. p. 109
da clareza de visão posicional e da clareza de visão neutra 311 361
Apêndice XIII. p. 116 e sega.
Posição racional imediata e mediada. Evidência me(bata 313 364
Apêndice XIV. p. 121
S i42 Tese racional e ser 315 364
ApêndiceXV. p. 135
$ 143 Doação adequadade coisa como idéia no sentido kantiano 317 3Ó6
Apêndice XVI. p. 213
E6etividade e consciência doadora originária. 36Ó
Apêndice XVII. p. 226 e seis. 367
Determinações finais 318
ApêndiceXVIII. p. 214
S i45 Observações críticas à fenomenologia da evidência 319 369
Apêndice XIX. p. 255 e segs.
370
Apêndice XX. S 113, p. 279 e seis.
Capítulo lll 371
323 Apêndice XXI. S 113, p. 279 e seis.
Níveis de generalidade da problemática teórica racional 372
Apêndice XXll, p. 29ó. Ad. Tese arcântica
373
323 Apêndice XXIII. p. 299 e segs.
S 14ó. Os problemas mais gerais 374
Apêndice XXIV. S 132, p. 331
S 147. Ramificações de problemas. 376
324 ApêndiceXXV. p. 341 e segs.
Lógica, axiologia e prática formais 376
327 Apêndice-zcJLvi.S 137, pp. 344 e segs.
S 148. Problemasteóricos racionaisda ontologia formal 377
ApêndiceXXVII. pp. 344 e segs.
S 149. Os problemas teóricos racionais das ontologias regionais. 381
328 Apêndice XXVIII. S 143, pp. 358 e sega.
O problema da constituição fenomenológica 382
Apêndice XXIX. S 144, pp. 359 e segs.
S 150. Continuação. A região "coisa" como fio
condutor transcendental 332
S 151. Camadasda construção transcendental da coisa
Complementos 335
$ 152. Aplicação do problema da constituição
transcendental a outras regiões 337
$ 153. A extensão plena do problema transcendental.
Articulação das investigações 338
Apêndice 1. S 10 e S 13 343
Apêndice 11. p. 33 e seguintes.
Categorias de signiâcação, significação 345
Prefácio

C om a publicação destevolume, o público brasileiro interessadopor


âilosoâiatem âlnalmenteacesso,em português claro e distinto, a um
texto fundamental para se compreender um momento decisivo da his-
tória da fenomenologia. Assim como para se medir o sentido e alcance
de algumas das querelas que agitaram aquele setor da filosofia contem-
porâneaque, em alto e bom som, se proclama herdeiro de llusserl.
pouco importando se mais ou menos infiel. .Afinal é neste livro que,
pela primeira vez, a fenomenologia se apresenta como uma filosofia
"transcendental". Se esseresultado já era ruminado desde 1907, nos
cursos que Hlusserl oferecia aos seus alunos, é apenas em 1913, com
a publicaçãodesteprimeiro livro de -rdé/as,que ele ganhauma exis-
tência pública, oâlcial e eloqüente. E isso para grande consternaçãode
seus primeiros discípulos, antes acostumados a seguir cuidadosamente
as polêmicas do mestre com Paul Natorp e os neokantianos em geral,
pegos então de surpresa com um desfecho que eles sequer imaginavam
suspeitar. Aquela doutrina que, estreara na cena filosó6lca alemã em
1900, com as austeras e "realistas" -Z»prizllkafõci /cb/fas, se tornara não
só "transcendental" como também abusiva e delirantemente "idealista"
Pois a partir de agora se afirmará, com a maior falta de cerimónia e sem
qualquer compostura, que os objetos se "constituem" graças aos atos
da consciência,'que essaconsciência não precisa da realidade para existir
e que a realidade,ao contrário, "depende" da consciência(SS49/50).
Em suma,um escândaloteórico que viria minar a antiga e confortável
reputação de Husserl. Mas convém começar por separar o joio do trigo,
neste livro sem dúvida difícil.
61osofia âenomenológlca
.42z@e@
Em primeiro lugar, ninguém deve confundir a "fenomenologia"
com aquilo que se poderia chamar, sem grande desenvoltura, de filo- entre a orientação natural e a orientação fenomenológica, consumada
na indistinção entre os objetos aos quais elas se reportam. É exatamen-
sofia coi#p/fla do autor. Essa filosofia completa é, antes de tudo, uma
filosofia da dupla "orientação", a orientação "natural" e a orientação te essadiferençaque Hlusserlsublinha ao afirmar que a árvore «pura e
"fenomenológica", compromissos que nunca devem ser confundidos. E simples" pode queimar, pode resolver-seem seus elementos químicos,
por "orientações" é preciso entender direções de pesquisa radicalmente enquanto a árvore como objeto intencional, como "sentido" que per-
tence ã percepção, não pode queimar, não tem elementos químicos, não
distintas,
ao comandadaspor típicas muito diferentes, que nem se dirigem
tem propriedades reais (S 89). As verdades fenomenológicas não são
mesmo sentido da palavra "objeto". A fenomenologia é apenasum
"opiniões" sobre o mundo existente, a redução fenomenológica será
dos lados de nossouniverso intelectual, que não suprime o outro, aqui -
V) UqÍUV

le que se desdobra na direção "natural" A orientação natural é aquela por definição a proibição de se fazer qualquer afirmação sobre o mundo
em que nos situamos espontaneamente na nossa vida cotidiana, quando
' -l'n"HV "puro e simples". Correlativamente,ninguém pedirá ao cientista que
nos dirigimos às coisaspara manipula-las.EJaé também a orientação exerça a redução, as duas orientações sempre serão paralelas e conser-
em que sesitua o cientista, quando estese dirige àscoisasou ao mundo varão a sua validade em seu campo especí6lco, nenhuma delas detém a
verdade sobre a outra ou a absorve em si mesma.
para conhecê-los, discernindo suaspropriedades e relações «objetivas".
q E isso não será indiferente para se circunscrever a tópica da renome
Na orientação fenomenológica, ao contrário, o interessenão se dirige
às "coisas" mas sim aos "6enâmenos", quer dizer, ao múltiplos modos nologia, o conjunto dasquestõesou das perguntasque elajulga perti-
nentesituar no horizonte da "6lloso6ia". Aânal, a mesmaconfusãoen.
subjetivos de doação graças aos quais temos consciência dos objetos É
tre as duas "orientações", que está na origem da apresentação da feno-
apenasquando nos situamos nessaorientação que operamos a "redução
fenomenológica", quer dizer, a transição'da investigaçãodas "coisas" menologia como uma reedição atualizada do idealismo "subjetivo" de
para a consideração dos seus "fenómenos" Berkeley, está também na raiz da apresentação da fenomenologia como
A essasduas orientações corresponderá uma dupla decifração da- um método de conhecimento de regiões "objetivas", que disputaria com
quilo que é o "objeto" a que uma consciência se reporta. Enquanto a as ciências a melhor compreensão da "realidade". A fenomenologia seria
um método "descritivo" que se encarregaria de fornecer as "verdades"
consciência se situa na orientação natural, ela se dirige ao objeto "puro
que a ciência nos omite, mas no mesmo sentido em que a ciência as diz:
e simples". Esseobjeto puro e simples é aquele que possui suasdetermi-.
ela seriaum sabersobre o "mundo existente", sobre o mundo "concre
naçoesnaturais, que sãolivres de qualquer referênciaao subjetivo. Ele é
to", como já foi de bom tom se referir àquela parcela da realidade que
o objeto de que trata a ciência e também o objeto ao qual se dirige toda
se fiirtava à "abstração" científica, ou que era pura e simplesmente des-
.praxíi objetiva no interior do mundo. Na orientação' fenomenológica,
ao contrário, a consciência não se dirige ao objeto puro e simples, mas considerada pela ciência, sempre siderada apenas pelas "leis gerais". Foi
assimque nos anos 1950 se fez fenomenologia de tudo, mais ou menos
sim ao objeto intencional, ao objeto tal como' este' se manifesta izí&y2-''
fz amfmzrea um eu, segundo seusdistintos modos de doação ou fenó- como nos anos1970 se iria fazer "semiologia" de tudo, ou, logo depois,
menos .Seráapenasesseobjeto intencional, reduzido à constelaçãodos análise "estrutural" de tudo. Sartre não disfarça a forte impressão'que
Ihe causouo relato de Raymond Aron, contando-lhe que na Alemanha
fenomenológica de então, se podia fazer a "descrição" de um copo em
uma mesa de bar, - e que isso era... "filosofia"! Assim como a literatu-
ra da época não nos poupou de páginas infindáveis e aborrecidas, que
"descreviam"com todos os seusdetalhes,presumivelmenteinfinitos.
uma âlosofia 6enomenológzca
Prefácio ..
uma maçanetade porta "concreta". Mas o que l:lusserl teria a ver com
tudo isso? Rigorosamente nada.

Aânal, como o leitor deste primeiro livro de 12é/aspode facilmente


constatar, paralelamente à oposição entre as orientações natural e feno-
menológica, Husserl estabeleciauma outra oposição, aquela que distin-
gue as disciplinas que se instalam na orientação "dogmática", daquelas
que se situam na orientação "âilosó6lca" ($ 26). Enquanto a orientação
dogmática é aquela que se dirige às diversas regiões objetivas para co-
nhece-las, na orientação âilosóâlcaapenasse investiga a .poli/&d/lízide do
conhecimento objetivo. A filosofa, para Husserl, é essencialmenteuma
investigação de crítica do conhecimento, e por isso mesmo ela não falará
do mundo, ela não será um método de compreensão de realidades, que
concorreria com a ciência na melhor explicitação das coisas.Assim como
para o Kant da primeira Cp'/zl/ca a filosofa fala da razão, mas não dos
objetos da razão, para Husserl não haverá fenomenologia do ser, mas
apenasuma fenomenologia da razão, expressamenteidentificada por ele
à fenomenologia em geral ($153). Mas é claro que enquanto retoma-
da do projeto crítico a fenomenologiasepensarácomo uma disciplina
muito mais radical e completa que a Cr/zl/ra kantiana. Afinal, para Hus-
serl Kant limitava incompreensivelmente o campo de investigação a ser
percorrido. Perguntar como o conhecimento é possívelé procurar saber
como a Subjetividade pode ter acessoa objetos transcendentes rm .ge-
ra/. Mas Kant deixava de formular a questão transcendental em relação
à lógica, e isso por puro "psicologismo", por nem mesmovislumbrar
que o domínio da lógica é formado por "objetos ideais". Mais ainda.
restringindo sua pergunta à questão de se saber como são possíveis os
Juízossintéticos a Pr/or/, quer dizer, limitando-se ao domínio do conhe
cimento ' científico", ele nem notava que a mesma pergunta merecia ser
deitano plano de nossavida pré-cientifica, no plano dos juízos sintéticos
a pasfep'ioP"i,
no reino da nossa vida perceptiva a mais imediata, em que f
a subjetividade já se relaciona a transcendências. Por isso, aos olhos de
Hlusserl apenas a fenomenologia formula a questão transcendental em
sua plena universalidade. E essa questão deveria ser perseguida de for-
ma escalonada: seria preciso começar perguntando como é possível o
acessoda Subjetividade à natureza "pré-cientiâca", no plano da simples
20 Idéias para uma üenomenologla pura e para uma âlosofia fenomenológica
Pn:Hãcia 21
mim", evidenciando nessalinguagem espacializantea sua prisão a pre
melhor delineadaa própria noção de fenómeno ou modo subjetivo de
juízos naturalistas. Na verdade, esseproblema "inicial" do conhecimen-
doação.Um modo de doaçãode objetos não é dito í#óyrzr/PO por ser
to, tal como ele era instituído por Descartes,não é de forma alguma o
um habitante da interioridade do sujeito psicológico. Um fenómenoé
"problema radical" suscitado pela relação da subjetividade à transcen-
f Z: zr/popor ser uma doação de determinado objeto sempre reportada a
dência. E o principiante só poderá vislumbrar qual é esseproblema radi-
um "ponto de vista", por princípio unilateral e variável.E o "subjetivo"
cal quando, abdicando daquele cenário que coloca em cantos opostos o
assimcompreendido está presente seja na nossa vida perceptiva, seja em
interior e o exterior, ele tomar ciência de que o verdadeiro problema se
nossalinguagem. Afinal, não estamos em situações essencialmentedis-
situa na relaçãoentre conhecimento e objeto, mas no sentido reduz/da
tintas quando dizemos que um objeto é dado à nossapercepçãosegun-
Mas essamenção à redução fenomenológica será agora indissociável
do "perspectivas" unilaterais e variáveis, e quando reconhecemos que,
de uma reforma bastantesigniâlcativada noção de fenómeno da qual em nossa linguagem, as expressões"o vencedor de lona" e «o vencido
Husserl partira. Uma reforma não tanto de seu significado, mas de seu
de Waterloo" são distintos "modos de doação", distintas "signi6lcações"
estatuto. Se no período das l# rszll afõrí /(Ü/caí Husserl reconhecia
que descrevemum mesmo personagem a partir de diferentes pontos de
apenasa existência de "fenómenos" no sentido noético da palavra, en- vista
S

quanto habitantes da interioridade do sujeito, doravante ele admitirá l a Essanoção de fenómeno levará Husserl a uma compreensãobem
que o universo dos fenómenos não se reduz de forma alguma a isso. determinada daquilo que é um o&yffo, seja no domínio de nossa vida
Existem também os 6enâmenos no sentido "õntico" da palavra, fenóme-
perceptiva, seja na esfera da linguagem. Quando percebemos um objeto,
nos que não são "partes reais" da consciência.Afinal, quando digo que
ele sempre nos é dado segundo uma determinada perspectiva, segundo
o objeto que percebo me é dado segundotal ou tal perspectiva,com um certo modo de doação ou 6enõmeno. Podemos variar nossaspers-
essaluz e sombra, quer dizer, me é dado segundo um "modo subjetivo
pectivassobre esseobjeto, mas ele sempre nos será dado segundo um
de doação" que é por princípio variável, tenho consciênciadesse"fenó- ou outro modo subjetivo de doação.Nós nunca temos acessoà «coisa
meno" como algo que está d/a#zlr de mim, não "em mim". Essenovo
mesma", se entendermos por isso um ser sem perspectivas subjacente a
conceito de fenómeno, que receberá o nome de forma, será essencial
este ser que nos é dado por perspectivas. Da mesma maneira, no plano
para que a fenomenologia leve a bom termo a sua cruzada contra o de nossa linguagem o objeto gwr é significado por nossas expressões
"psicologismo", assim como para encaminhar de maneira satisfatória a
não é nada de de]imitáve] como estando ao /ado ou ag#ém das signifi-
sua investigaçãode crítica do conhecimento. Afinal, enquanto nós nos
caçõesatravés das quais nós o visamos. Esse objeto sempre é exprimido
limitamos ao fenómeno no sentido noético do termo, um componente
em nossalinguagem em um mododeterminado, e nós só podemos nos
da "interioridade" do sujeito, nós lidamos com algo que não se distin- referir a determinada pessoacomo sendo ou "o vencedor de lena". ou
gue em nada de um elemento "psíquico". E agora é inevitável que a
"o vencido de Waterloo", ou atravésde qualquer outra significaçãopor
"fenomenologia" entre em cena como uma disciplina que nega apenas
principio unilateral e variável.E se o nome próprio nos pareceum dê
nominalmente seu parentesco com a psicologia, desdobrando-se na prá- ittco, um nome que nos daria a "coisa mesma", isso não passade uma
tica como uma disciplina psicológica a mais.
ilusão infantil: "Napoleão" designa apenas a equivalência das múltiplas
O noema, não sendo "parte real" da consciência, não terá mais nada e indefinidas signiâlcaçõesque o descrevem, seja como "o vencedor de
a ver com o "psíquico" da psicologia tradicional. HlusserlIhe dará o lona", sejacomo "o vencido de Waterloo«, seja como "o prisioneiro da
estatuto das significações em nossa linguagem: o norma é o meio ídraZ
Córsega". Desde então, o que será o "objeto", fenomenologicamente
pelo qual a realidade se oferece a uma consciência. E isso também torna
considerado?Ele só poderá ser interpretado como a síntesedas múlti-
PrrHãc/a23
22 Idéias para uma feno
também faz expressaabstraçãoda consciênciaconstituinte do tempo,
pias signiâcações que o descrevem. Na linguagem técnica deste primeiro
livro de Idéias, o objeto será o X idêntico e pavio de uma multiplicidade que desempenhará um papel fundamental na elucidação da questão de
crítica do conhecimentoque ele situa no centro da sua filosofia. Mas
noemática ($ 131). . .
nada disso diminui o /»Zlr eSSe
deste livro. Aâlnal, é apenasem função
É graçasà introdução da noção de noema que a fenomenologia po-
derá falar em um "a P /or/ da correlação" entre consciência e objeto, essa do projeto original de filosofia transcendental aqui exposto que o leitor
certezade que toda consciênciaé sempreconsciênciadf um objeto, e poderá medir a envergadurade outros textos de Hlusserl,assimcomo
entender o sentido e as razões subjacentes à introdução de novos con-
de que todo objeto é sempre objeto para uma consciência.E como esse ceitos na fenomenologia.
objeto não é nada além do X idêntico e vazio de seus modos subjetivos
de doação,o objeto é, ele mesmo,"subjetivo". Em regime de redução
fenomenológica é o próprio mundo que se torna subjetivo. E enquanto Cardos .aberto Ribeiro de Moura
tal essemundo prr r ce à região da consciência. É apenasna orientação
natural que a subjetividade mundana ou psicológica, aquela inaugura-
da por Descartes, se apresenta como um i»lerZor ao qual se opõe um
êxz:flor. A subjetividade "transcendental", ao contrário, é aquela que
inclui em si mesma o seu "mundo", ela não tem mais nada que Ihe seja
exz:prior. Por isso, se o "problema inicial" do conhecimento, aquele for-
mulado por Descartes,era o de sabero que garantiria o encontro entre
uma subjetividadevista como um "interior" e um mundo que Ihe era
"exterior", o "problema radical" serábem outro. E o seu modelo histó-
rico não deverá mais ser procurado nas .ZI/edil:afõri,mas sim no Traslado
da Hall reza H maça de David cume: tenho consciênciade um objeto
como sendo /déwfico, através de uma mw/ziP/Zc dado de fenómenos; des-
de então, é precisoperguntar o que torna possívelessaapresentaçãode
uma identidade através de uma multiplicidade, e quais são as estruturas
de evidência presentes nessa "constituição" dos objetos para .a consci-
ência. E o território dessapesquisa será a "intencionalidade", desde que
não nos limitemos, como Brentano, a repetir exaustivamenteque 'toda
consciência é consciência de alguma coisa', e investiguemos as ií Z:rirá
que, secretamente, estão tornando possível esse resultado epidérmico.
É seguindo essecaminho que se pode investigar como a subjetividade
pode ter acessoà transcendência,como o conhecimento é possível.
!.- Este primeiro livro de /déiai traça este programa de pesquisa, dese-
nha um caminho sem, contudo, percorrê-lo. Aqui ainda não estão pre-
sentes noções que serão essenciaisao desdobramento do projeto, como
a intencionalidade "noemática" ou de "horizonte". E aqui Hlusserl
Introdução

A fenomenologia pura, cujo caminho aqui queremos encontrar, cuja po-


siçãoúnica em relação a todas as demais ciências queremos caracterizar e
cuja condição de ciência fundamental da filosofia queremos comprovar, é
uma ciênciaessencialmentenova, distante do pensarnatural em virtude
de sua peculiaridade de princípio e que, por isso, só em nossos dias passou
a exigir desenvolvimento. Ela se denomina uma ciência de "6enâmenos"
Também outras ciências há muito conhecidas se voltam para 6enâmenos.É
assim que ouvimos a psicologia ser designada como uma ciência das "ma-
nifestações"ou 6enâmenospsíquicos, a ciência da natureza como ciência
das"manifestações" ou fenómenos íisicos; da mesma maneira, na história
por vezesse fala de fenómenos históricos e, na ciência que estuda as civili-
zações,de fenómenos da civilização; e assimsemelhantementeem todas as
ciênciasde realidades. Por diferente que seja o sentido da palavra fenómeno
em todos essesdiscursos, e que significações outras ainda possa ter, é certo
que também a fenomenologia se refere a todos esses"6enâmenos", e em
conformidade com todas essassigniâcações, mas numa orientação intei-
ramente outra,: pela qual se modifica, de determinada maneira, o sentido
de 6enâmenoque encontramos nas ciênciasjá nossasvelhas conhecidas.
Somente assimmodificado ele entra na esfera fenomenológica. Entender
tais modificações ou, para fiar com mais exatidão, e6etuar a orientação
fenomenológica, elevar reflexivamente à consciência científica o que é pro-
priamente específicoa esta, assimcomo às orientações naturais -- tal é a
primeira tarefa, de modo algum fácil, de que temos de dar plenamente

: Aditando.aqui a generosaindicaçãode CarlosAJberto Ribeiro de Moura, preferiu-setradu-


zir "Einstcllung" por."orientação; em vez de "atitude"(tradução consagrada,especialmente
eH âancês). O lciior facilmente perceberá, no decorrer do livro, a pertinência(c asvantagens)
aestaopção.(NT) ' ' ' '
26 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osoâafenomenológica
Introdução 27
conta, caso queiramos alcançar o solo da fenomenologia e nos assegurar psicologia, por mais "fiindamentos" essenciais que ponha à disposição desta.
cientificamente da essênciaque Ihe é peculiar. ela (como ciência de idéias) é tão pouco psicologia quanto a geometria é ci
No último decênio muito se Edou de fenomenologia na Hosofia e psico-
ência da natureza. A diferença se mostra ainda até mais radical do que neste
logia alemãs. Em suposta concordância com as /#pe#iyafõeí Mgiraí,2 conce- último caso. O bato de que a fenomenologia tenha de lidar com a "consci-
be-se a fenomenologia como uma etapa inicial da psicologia empírica, como ência", com todas as espéciesde vividos, com atos, com correlatos de atos.
uma esfera de descrições "imanentes" dos vividos psíquicos, descrições que não altera em nada tal situação. Vcr isso com clareza exige, sem dúvida, não
semantêm rigorosamente -- é assimque se entende a imanência -- no âmbi- pequeno esforço dos hábitos dominantes de pensar. Colocar cora de circuito
to da expf /é c/a interna. Meu protesto contra essaforma de concebê-las6oi.
todos os atuaishábitos de pensar, reconhecer e pâr abaixo as barreiras espiri-
ao que parece,de muito pouca valia, e os esclarecimentosque acrescentei, tuais com que eles restringem o horizonte de nosso pensar, e então apreen-
os quais ao menos circunscrevemnitidamente alguns pontos principais da der, em plena liberdade de pensamento, os autênticos problemas mosóficos.
diferença, ou não coram entendidos, ou coram deixados de lado sem que se que deverãoser postos de maneirainteiramente nova e que somentese nos
lhes prestasse atenção. Daí também as objeções inteiramente nulas, porque
tornarão acessíveis num horizonte totalmente desobstruído -- são exigências
não atinaram com o simples ie zl/dode minha exposição,a minha crítica do duras. Nada menos que isso, no entanto, é exigido. O que, com efeito, torna
método psicológico -- uma crítica que de maneiraalgumanegavao valor da tão extraordinariamente difícil a assimilaçãoda essênciada fenomenologia, a
psicologia moderna, que de maneira alguma menosprezavao trabalho expe compreensãodo sentido peculiar de sua problemática e de sua relação com
rimenta] realizado por homens insignes, mas que punha a nu certas EHhasra- todas as outras ciências(e em especial com a psicologia) é que, além de tudo
dicais, em sentido literal, do método; é da remoção dessasEdhasque depen- isso,é necessáhauma nova ma fi a d sf o /f ra6 / fe/rime Zled érre z:eda
de necessariamente,a meu ver, a elevaçãoda psicologia a um nível cientíâco orientação natural na experiência e no pensar. Aprender a se mover livremen-
mais alto e uma ampliação extraordinária de seu campo de trabalho. Ainda te nela, sem nenhuma recaída nas velhas maneiras de se orientar, aprender a
haverá ocasião de discutir, em breves palavras, as defesas desnecessáriasda ver, di6erençar, descrever o que está diante dos olhos, exige, ademais, estudos
psicologiacontra meuspretensos "ataques". Menciono aqui essacontrovér- próprioselaboriosos.
sia a fim de ressaltar nitidamente desde o início, tendo em vista os mal-enten- Este prima/ro livro terá por tarefa precípua procurar caminhos através
didos reinantese o número extremamentealto de suasconseqüências,que a dos quais possam ser superadas, por assim dizer em etapas, as enormes difi-
jr ome o/agia .para, para a qual queremos abrir acessona continuação -- a culdades de penetrar neste novo mundo. Partiremos do ponto-de-vista na-
mesma que 6ez sua primeira aparição nas l#pe Üafõer Mg/fas e cujo sentido tural, do mundo, tal como o temos diante de nós, da consciência,ta] qual
me 6oi sendo cadavez mais profilnda e ricamente desvendado no prossegui- se oferecena experiênciapsico]ógica e ta] qual os pressupostosque Ihe são
mento do trabalho do último decênio --, #ão é.psico/agia,e o que impede a
essenciais a desnudam. Desenvolveremos então um método de "reduções
inclusão dela na psicologia não são demarcaçõescontingentes dos domínios, âcnomenológicas",em conformidade com o qual poderemosremover as
nem terminologia, masfundamentos de.pr/#cíP/o.Por maior que sejaa im- barreirascognitivas inerentes à essênciade todo modo natural de investi-
portância metodológica que a fenomenologia possareivindicar no caso da gar, diversificando a direção unilateral própria ao olhar até obtermos o livre
horizonte dos 6enâmenos"transcendentalmente" puriâcados e, com ele. o
campo da fenomenologia em nosso sentido próprio.
2 E. Husserl, JnpriisÜ4fÕexMgicai, dois volumes, 1900 e 1901. Tracemos ainda um pouco mais nitidamente estaslinhas antecipatórias e
3.No artigo "Filosofia como ciência de rigor", ügai, volume 1, pp. 316-318(atente-se espe- reatemos o fio com a psicologia, tal como o exigem os preconceitos da época,
cialmente para o esclarecimento do conceito de experiência, à p. 316). Cf. a minuciosa discus- mastambém os vínculos estreitos da questão.
são dedicada à.relaçãoentre fenomenologia e psicologia descritiva já'em meu "lnÉorme sobre
publicações rcÊerentes à lógica na AJemanha dos anos dc 1895 a 1899", .Arc#ip./Brg#em. PBi- A.palco/(gia é uma ciência empírica. Dois aspectosestão contidos na sig-
/aiop#if,vol. X (1903), PP. 397-400. Hoje eu nãodiria uma palavradiferentedo que disse. niâcação usual da palavra experiência: '
e para uma 61osofiafenomenológica
@W41@"29
1. Ela é umaciênciadeBafos,
de ma exxofáwcfno sentidode l).
cume.
Hume. essasirrealidades,não como individualidades singulares,mas na "essência"
Em que medida, contudo, âenâmenostranscendentaissão acessíveisa uma
2. Ela é uma ciênciade rea/idades.Os "âenâmenos"de que ela trata
investigação enquanto áwfor singulares, e que relação uma tal investigação
enquanto "fenomenologia" psicológicasão eventosreais, que, como tais,
de fatos pode ter com a idéia de metafísica, isso só poderá ser examinado na
se possuem existência e6etiva, inserem-se, junto com os sujeitos reais a que
seqüência final de investigações.
pertencem,na om izl do zra/iZlaZIZr
que é o mundo espaço-temporal.
Emcomparação a isso,ajr#omr oZogla.pára ow a irr df la/ adie á No .pr/mr/ a livro, porém, não trataremos apenasda doutrina geral das

eZZ,;Z.=#=a ; .l=:,=Í:=1==;1:==.:1U:
##d d ra/#O C&ê#r& de Haja.ç. fnaç rn#81.n ,.#'#M,.,Í,- 'J, .,,n.,;.. /.... .=Â..: reduções 6enomenológicas, que tornam para nós visíveis e acessíveisa cons-
ciência transcendentalmente purificada e seus correlatos eidéticos; queremos
nhccimentnq dP peCAm.-;.». J. ....r. ./...... cc" . " . também tentar obter representaçõesdeterminadas da estrutura geral dessa

:l=q;.:=:=.zuez:z:t;
cia'
:ia" ,, é;
éa r,dwcãneid,ética.
a redução eid/t;r,:ade fática ("empírica") à universalidadede "essên-
consciênciapura e, por intermédio delas, dos grupos mais geraisde proble
=;:xàu:;;:ú:;ã;;=: =:;=;:: ===:= f==: =;::=
No i@w#dalivro, trataremos então, de maneira circunstanciada,de al-
am segundo lugar, os fenómenos da fenomeKoloyja, transcendental seta,o
guns grupos de problemas especialmentesignificativos, cuja formulação sis-
temática e solução típica são a pré-condição para poder trazer à efetiva clave
caras/e?'izador ramo 177 Outras. ec uções, especi6camente transcenden- za as diâceis relações da fenomenologia com as ciências físicas da natureza.
llidade e. D(-)Ftnnt,.d. ... anos psicoloi©cosdaquilo que recebem da rc com a psicologia e com as ciências do espírito, mas por outro lado também
:::'l:.l==1==,:'.='..i=:=:?,:UTP. Ú.«, "-m«.'.d, «;',
deve ser uma doutrina das essênciasde 6enâmenos reais, mas de 6enâmenos
com todas as ciências a priori. Os esboços 6enomenológicos ali delineados
transcendentalmente reduzidos. oferecerão,ao mesmo tempo, meios propícios para aprofiindar consideravel-

Somente na sequencia6cmá claro qual o signi6cado mais preciso de tudo mente a compreensão da fenomenologia obtida no .pf/moiro livro e alcançar
um conhecimento incomparavelmente mais rico de seusenormes círculos de
is sé Aq= seltratou de indicar prelilnmarmente um âmbito esquemático para problemas.
a série inicial de investigaçõesrConsidero necessário acrescentar uma única
observacãn: nãn terá ..,..n-,l. .. i.=+.. .... .. Um z:crer/rolivro conclusivo é dedicado à idéia da fUosofia.Ele deverá
de ser âssinal,dn.terá escapado ao leitor que, nos dois tópicos que acabam
de ser assinalados,em vez da única divisão geralmente usual das ciênciasem despenhaa e\ridência de que a autêntica mosofia, cuja idéia é realizar a idéia
de conhecimento absoluto, tem suas raízes na fenomenologia pura, e isso
ciências reais e ciências ideais (ou em ciências empíricas e ciências a priori),
aparecem antes utilizadas d
picão: Cata e e.eqênri, -.l
m ciências empmcas e ciências a priori),
. -" - wsoes, correspondentes a dois pares de opo-

'li='t:':=':=:': :1=g:...i..=xr:r:e
=:-'
=::
num sentido tão sério, que a fiindação e execução sistematicamenterigorosa
n:=::.il«X$#Çil$z ."«" ."«.:""
:
É«-«..« ji=;1='=';;11===;'=':=:===:=111;=;==1=:1=. essên.i, aqui a âenomenolo?l.l deve ser fundada como uma ciência
mente no segundo livro). Mostrar-se-.áque o conceito de realidade carecede cia eidética é ikil FnvPr +na "a priori' ou, como também dizemos, uma ciên-
uma delimitação filndamental, em virtude da qual tem de ser estatuída uma cia eidética, é údl fazer todos os esforços consagrados à própria fenomenolo-
clile['en(-a Fntrp CPr rnq] . ... :n.]:-=1...i /.. - gia seremprecedidos de uma série de discussõesfitndamentais sobre n-A
A oâsRiPP«. à p ...r individual (ser puro e simplesmente temporal).
e ciência de essênri, . d. .-m. ,4.e... ,]. i...:..:.;,..='"----" - -V"Ç-
A passagem à essência pura ai {ser puro e simplesmente temporal). e ciência de essênciae de uma defesada legitimidade original nrÓnria do
co do real. m,. dp ....t.. .. .. :dona, de um lado, conhecimento eidéti- conhecimento eidético diante do naturalismo. r''- --

==:üiÜlil
coco
=il)$=1-111
docime mas de outro no que respeitaà esferarestante, ela proporciona
:.==:'=:
='=ilÜiil##'B=:Ç=1==m'
m=;==
ter-- - J 'luiremos estas palavras introdutórias com uma pequena discussão

de toda inserção no "mundo eÉetivo". A fenomenologia investiga justamente =.=ÉniBÜ:1 8 1 1


sável,s llln p .Ãd
!:\: :
mo já nas l#pe#Üafõeí Mg/cas, evito sempre que pos-

provocadaspelasobscuridadese equivocidadesde que se impregnam no uso


e para uma âlosoâa fenomenológica

geral, quanto também devido a estarem associadasa doutrinas âlosóâcas caí-


das em descrédito, numa má herança do passado.Somente em contextos que
lhes conferem univocidade, e somente como equivalentes de outros termos
que as acompanham, aos quais conferimos significações claras e de sentido
único, é que devem ser empregadas,sobretudo onde se trata de fazer ecoar
paralelos históricos.

se tratando de equivocidadesque podem induzir em erro, as ex-


pressões/déia e /dea/ talvez não estejam entre as piores, mas no geral são
bastanteruins, como me fizeram suâcientementesentir os fteqüentes mal-
entendidos a respeito de minhas l#? Üafõer mg/cai. O que também me
determinou a uma mudança de terminologia 6oi a necessidadede manter um
conceito altamente importante, o co rr/fo éa fla o dr /Zela, puramente se-
parado do conceito geral de essência(formal ou material). Udhzo, por isso,
tanto rldoí, palavraestrangeiranão desgastadaterminologicamente,como
'essência", palavra alemã carregada de equivocidades inócuas, mas por vezes
inoportunas.
Também teria preferido excluir real, palavra carregadademais, caso ti-
vesse tido à mão um substituto adequado.
Faço ainda a seguinte observação geral: como não dá para escolher ex-
pressõestécnicastotalmente em desuso no âmbito da língua histórico-âlo-
sóâcae, sobretudo, como conceitos 61osóficosfiindamentais não podem ser
6xados em definições mediante conceitos firmemente estabelecidos,sempre
identificáveis com baseem intuições imediatamente acessíveis;como, ao con-
trário, longas investigações têm de preceder, em geral, as clariâcaçõese de
terminações definitivas deles: assim, locuções compostas são com âeqüência
imprescindíveis, elas coordenam dipf#xaí expressõesdo linguajar geral em-
pregadas num sentido aproximadamente igual, com realce terminológico de
Livro Primeiro
algumasdentre elas.Em 61osofia,não se pode definir como em matemática:
neste aspecto, qualquer imitação do procedimento matemático não é ape-
nas in6utí6era, mas perversa e das mais danosas conseqüências. De resto, as Introdução geral à fenomenologia pura
expressõesterminológicas mencionadasdevem ter seu sentido firmemente
estabelecido em amostrasprecisas,em si evidentes, no decorrer dasreflexões.
uma vez que, já pela amplitude do trabalho, é preciso renunciar -- tanto
neste aspecto, como em geral -- a comparações críticas circunstanciadas com
a tradição Hosófica.
Primeira seção

Essência e conhecimento de essência

Capítulo l
Fato e essência

$ 1. Conhecimento natural e experiência

O conhecimento natural começa pela experiência e permanece na expe


ciência.Na orientação teórica que chamamos " azr raP', o horizonte total de
investigaçõespossíveisé, pois, designado com wma sópalavra: o mando. As
ciências dessaorientação originária' são, portanto, em sua totalidade, ciências
do mundo, e enquanto elas predominam com exclusividade, há coincidência
dos conceitos"ser verdadeiro", "ser e6etivo", isto é, ser real e -- como todo
real se congrega na unidade do mundo -- "ser no mundo"
A toda ciência corresponde um domínio de objetos como domínio de suas
investigações, e a todos os seusconhecimentos,isto é, aqui a todos os seus
enunciadoscorreios correspondem, como contes originárias da fimdação que
atestaa legtdmidade deles, certas intuições nas quais há doação dos próprios
objetosdessedomínio ou, ao menosparcialmente,doaçãoo?ig/ ária dr&s.A
intuição doadora na prnneira esfera"natural" de conhecimento e de todas as
suasciências é a experiência natural, e a experiência originariamente doadora
é a .Pecepfãa,a palavra entendida em seu sentido habitual. Ter um real origi-
nariamentedado, "adverte-lo" ou "percebê-lo" em intuição pura e simplesé
a mesma coisa. Temos experiência originária das coisas físicas na "percepção
externa", não mais, porém, na recordação ou na expectativa antecipatória; te-

' Aqui não se narram histórias. Ao Edar de cuáter originário, não é preciso nem se deve pen-
sarnuma gênesepsicológico-causalou histórico-evolutiva. Que outro sentido é visado aqui,
issosó mais tarde será trazido à clareza reflexiva e científica. Qualquer um, no entanto, pode
desdejá sentir que a antecedênciado conhecimento empírico-concreto dos fatos em relaçãoa
todo outro conhecimento, por exemplo, em relação ao conhecimento matemático-ideal, não
precisater nenhum sentido temporal objetivo.
Primeira seção: Essência e cowbecimento de essêwciü 3S
34 Idéias para uma fenomenologia pura e
possamser válidas, graças às quais, se tais e tais circunstâncias reais são fáticas,
mos experiênciaoriginária de nós mesmos e de nossosestadosde consciência tais e tais determinadas conseqüências também o têm de ser, ainda assim es-
na diamada percepção interna ou de si, mas não dos outros e de seusvividos na sasleis exprimem apenasregulamentaçõesfáticas,que poderiam ter um teor
"empatia". "Observamoso que é vivido pelosoutros" fimdados na percepção inteiramente outro, e já pressupõem,como de antemão inerente à esié#cia
de suasexteriorizações corporais. Essaobservação por empatia é, por certo, um
dos objetos da experiência possível, que, considerados em si mesmos, esses
ato intuinte, doador, porém não mais orai aMamr ff doador. O outro e sua
\lida anímica são trazidos à consciência como estando "eles mesmos ah", e jun- objetos por elas regulamentados são contingentes.
O sentido dessacontingência, entretanto, que ah se chamafacticidade,
to com o corpo, mas,diferentemente deste, não como originariamente dados.
limita-se por ela ser correlativamente referida a uma #rcess/dado,que não sig-
O mundo é o conjunto completo dos objetos da experiênciapossívele
niâca a mera subsistênciafática de uma regra válida de coordenação dos fatos
do conhecimento possível da experiência, dos objetos passíveisde ser conho
espaço'temporais, mas possui o caráter de #ec STZdade f/dézlifa e, assim, re-
cidos com baseem experiências anuaisdo pensamento teórico correto. Aqui
ferência à gr#rraZ/dada c/dér/ca. Se dissemos que "por sua essência própria"
não é lugar de discutir mais pormenorizadamente questõesrelativas ao méto-
todo fato poderia ser diferente, com isso já exprimíamos g ejwz Pa zredo
do científico-experimental, como ele ainda seu direito de ir além do estreito sentido de todo cowtiwã.«te t« ju;tü,«ente ""''a es'ê"cia, e, I'or co"seB"t"te, """
âmbito do dado empírico direto. Todas as chamadas cié#ciar da WaZl@reza,
lidos aleraP ec digo rm i apurem, e ele se encontra sob ?erdadridc essacZa
tanto em sentido mais esuito, como asciênciasda natureza maz:fria/, quanto
dr d érre fei õrü dê.ge#eraZ/dada. Um objeto individual não é meramente
também em sentido mais amplo, como as ciênciasdos seresanimais, com
individual, um este aíl, que não se repete; sendo "em si mesmo" de tal e tal
sua naturezapsic(WsZca, portanto também a âsiologia, a psicologia etc. são
índole, ele possui i a êspfc /2cidadr, ele é composto de .pred cápels essenciais
ciênciasdo mundo, ou seja,ciênciasda orientaçãonatural. Nestasseincluem
que têm de Ihe ser auibuídos ("enquanto ele é como é em si mesmo"), a 6m
também as chamadascié#ciai do esp/rito,a história, as ciênciasque estudam
de que outras determinações secundárias, relativas, Ihe possam ser atribuídas.
as civilizações, as disciplinas sociológicas de toda e qualquer espécie,no que
Assim, por exemplo, todo som tem, em si e por si, uma essência e, acima de
podemos deixar prowsoriamente em aberto se devem ser equiparadasou tudo, a essência geral "som em geral", ou antes, "acústico em geral" en-
contrapostas às ciências da natureza, se elas mesmas devem ser tidas como tendido puramente como o momento a ser extraído por intuição do som
ciências da natureza ou como um tipo essencialmente novo de ciência.
individual(isoladamenteou por comparaçãocom outros como "o que há
de comum"). Da mesma maneira, toda coisa material tem sua conformação
eidéticaprópria e, acima de tudo, a conformação geral "coisa material em
S 2. Fato. Inseparabilidade de fato e essência geral", com determinação do tempo em geral, duração, figura, materialidade
em Beta. Um outro indipÍdwo ta,mbém pode ter tudo o qwefüz parte dü essêKciü
Ciências empíricas são cié#ciaí de ayaloJ".Os ates cognitivos fiindantes
dc m / d/pZd@o,e generalidades eidéticas máximas, do tipo que acabamos de
da experiência põem o real di id a/me#fe, eles o põem como espaço'tem' indicar nos exemplos, circunscrevem "r%giõer' ou "caízgoHa?' d / dipíãwoJ.
ralmente existente, como algo que está #r#r momento do tempo,.alem
esta sua duração e um conteúdo de realidade que, por sua essência, poderia
igualmente estar em qualquer outro momento do tempos.põem-no, por.:u' S 3. Visão de essência e intuição individual
tro lado, como algo que estánestelugar, com estaforma física(por exemplo,
estádado Juntamente com um corpo desta forma), embora este mesmo real: "Essência" designou, a#fei de maia cada, aquilo que se encontra no
considerado segundo sua essência, pudesseigualmente estar noutra forma serpróprio de um indivíduo como o g#f ele é. Mas cada um desses"o quê"
qualquer, em qualquer outro lugar, assim como poderia modiâcar-se, quan- eleé, pode ser "gabo rm idé/a". A intuição empírica ou individual pode ser
do é fàticamente imutável, ou poderia modiÊcar-sede modo diferente da-
o ser convertida em pZsãodê rosé»cia(ideafão) -- possibilidade que também não
quele pelo qual Eaticamentese modiâca. Dito de maneira bem geral, deveser entendida como possibilidade empírica, mas como possibilidade de
individual é, qualquer que seja sua espécie, "contingente".Ele é assim, mas
essência.O apreendido intuitivamente é então a essênciap%ra corresponden-
poderia, por sua essência,ser diferente. Ainda que determinadas leis naturais
36 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fUosofia fenomenológica Primeirü seção:Essência e cowhecimewto de essência 37
te ou e/dos,seja este a categoria suprema, seja uma particularização dela, daí lativos e interdependentes "intuição" e "objeto" não é um achado arbitrário.
descendo até a plena concreção. masforçosamente exigida pela natureza das coisas.' Intuição empírica, e, em
Essaapreensãointuitiva g dá a sié c/a, e rpe f a/mr zrra dá dr modo especial, experiência, é consciência de um objeto individual e, como consci-
o g/ ár/o, pode ser adro ada, como a que podemos facilmente obter, por ência intuitiva, "é ela que traz o objeto à doação": como percepção, ela o traz
exemplo, da essência"som"; maspode também ser mais ou menos incomple' à doação originária, à consciência que apreende "originariamente" o objeto
ta, "/ ad geada", e isso não apenascom respeito à maior ou menor c/a rza em suaipseidade "df ca f êono". Exatamente da mesma maneira, a intuição
e d/sfZwfão.E da conformação própria de certas categorias eidéticas que suas de essênciaé consciênciade algo, de um "objeto", de um algo para o qual o
essênciassó possamser dadas po m fada e, subseqüentemente, "por vários olhar se dirige, e que nela é "dado" como sendo "ele mesmo"; mas também
lados", jamais, porém, "por todos os lados"; correlativamente, assingulariza é consciênciadaquilo que então pode ser "representado" em outros ates.
ções individuais a elas correspondentes só podem, portanto, ser experimen- pode ser pensado de maneira vaga ou distinta, pode tornar-se sujeito de pre
tadas e representadas em intuições empíricas inadequadas, "unilaterais". Isso dicações verdadeiras ou ÊHsas -- justamente como todo e qualquer «oZyero"
vale para toda essênciareferente a coisa,ou seja,para toda essênciaque a ela QOsentidonecessariamenteamplo da lógica formal. 'Todo ob\etn posshe\ ou,
serefira segundo qualquer um dos componentes eidéticos da extensão ou da pua ta\m como a \é)É.ca," todo sujeito de p edicnçõesperdadeirüspossÍpei? tem
materialidade; aliás, considerando melhor (as análisesque se emãomais tarde precisamenteiwaí maneiras de entrar no campo de um olhar representativo,
o tornarão evidente), isso vale pa a zladaiaí fa/idades em geral, pelo que as intuitivo, que eventualmente o encontre em sua "ipseidade de carne e osso".
expressõesvagas "um lado" e "vários lados" ganharão, sem dúvida, signiâca- que o apreenda. A visão de essência é, portanto, intuição, e se é visão no sen-
ções precisas, e diâcrentes espécies de inadequação deverão ser distinguidas . tido porte, e não uma mera e talvez vaga presentiâcação, ela é uma intuição
Bastapor ora a indicação de que mesmo a forma espacialde uma coisa doadora arÜ/ á la, que apreende a essênciaem sua ipseidade "de carne e
física só pode ser dada, por princípio, em meros perfis unilaterais; de que toda osso".zPor outro lado, ela é, no entanto, intuição de uma espécie.Pr(orla
qualidade física nos enreda nas infinidades da experiência, mesmo fazendo abs-
e Bota por princípio, isto é, ela se contrapõe a todas as espéciesde intuição
tração dessainadequação,que se mantém constante apesarde todo o ganho e que têm por correlato objetividades de outras categorias e, especialmente, à
qualquer que seja o avançoque se taçaem intuições contínuas; e de que toda intuição no sentido habitual mais estrito, ou seja, a intuição individual.
multiplicidade empírica, por mais abrangente que seja, ainda deixa em aberto Faz parte, certamente, da especiâcidadeda intuição de essênciaque em
determinações mais precisas e novas das coisas, e assim /H iw@w/ZPwm.
aseestejauma parcela importante de intuição individual, isto é, que um
Não importa se a intuição individual sejade tipo adequadoou não: ela algo individual apareça,sejavisível, embora não naturalmenteuma apreensão
pode ser convertida em visão de essência,e estaúltima, quer seja adequada dele, nem posição alguma dele como e6etividade; é certo, por conseguinte,
de maneiracorrespondente,quer não, tem o caráterde um ato doador. Isso, que nenhuma intuição de essência é possível sem a livre possibilidade de vol -
no entanto, implica o seguinte : tar o olhar para um algo individual "correspondente" e de formar uma cons-
A essência(exmos) é wma, nova espéciede objeto. Afim co"''o o qae é dü,do nü ciência exemplar -- assim como também, inversamente, intuição individual
intaiçã,o iwdipidwal ou empírica, é wm objeto indipidwül, assim ta,mbém o que é
dado nü intuição de essênciaé wm,a,essênciapura.
Não há aqui mera analogia exterior, mas algo de radicalmente comum
entre elas.Visão de essênciatambém é, precisamente, intuição,s assim como
objeto eidético é, precisamente, objeto. A generalização dos conceitos corre-

5 Do ponto de vista lingüístico, Husserl apóia-seaqui no parentescolexical de "visão"(.Exl'


rZ'a#wng) e "intuição"(.A lcóa H#g). O português "intuição" perdeu a referência à "visão"
contida no latim /Hl#eor, que signiÊca "olhar", "considerar".(NT)
38 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma Hosoâa fenomenológica Primeira seção

alguma é possível sem a livre possibilidade de e6etuaruma ideação e de nela Essencialmente conectado a isso está que pos fão e, antes de tudo, apre'
direcionar o olhar para as essênciascorrespondentes, que se exempliâcam ensão intüdva d' rsKé c/a ão implica««iHim""'"z'f a pos4ão de aÜ""''
no visível individual; isso, porém, em nada altera que amóai ai spéc/ês de .Soiüente indhidwüt purasperdüdes de essência não contêm ü mínima n$rmü-
i& /fão sejam dêHr f fes/po .pr/HcíPio, e o que se anuncia em proposições do rão Jo&r?Ha&ai,portanto, delas tampouco se pode inferir a mais ínfima verda-
tipo que acabamos de proferir são somente suas relações de essência. Às di- de factual. Assim como todo pensamento, toda enunciação acerca de fatos
ferençaseidéticas entre as intuições correspondem relações de essênciaentre
precisater suafimdação na experiência(já que estaé #ecrsswriame/zfr reque-
"existência"(aqui manifestamente no sentido do individualmente existente ) rida pela esié cia do acrrzlode tal pensamento), assim também o pensam:nto
e "essência", entre jaz:oe f/dos. Indo no encalço de tais nexos, apreende- acercade essências puras lamento sem mistura, que não vincula fatos
mos com r?/dé c/a as essênciasconceituais inerentes a essestermos, e que e essências-- precisa ter a apreensão intuitiva de essência como seu alicerce
a partir de então lhes estão firmemente ordenadas, e com isso permanecem defundação.
pa ümente afaga,ãos todos ospensa,mentor,em parte míticos, qüe se prendem
principalmente aos conceitos "e/do/' (idéia), "essência".'
$ 5. Juízos sobre essênciase juízos de validez eidética geral

S 4. Visão de essênciae imaginação. Conhecimento Deve-se, no entanto, observar o seguinte: formar juízo ace ca df essên-
de essência independentemente de todo conhecimento de fato ciase estados-de-essência
e julgar eideticamenteem geral não é a mesma
coisa,pela amplitude que temos de dar a esseúltimo conceito; o ro # rime Zla
O r/doi, a esTé#c/a
p ra, pode exemplificar-seintuitivamente em dados eidético nã,o tem, em wewbwmü de swa,sproposições, essências como "objetos sobre
de experiência,tais como percepção,recordaçãoetc., masigualmente zlam- 01gzlaisPse formula o juízo; e em conexão próxima com Issotem-se o se
&ém fm mrroi dados df /mag/#afão. Por conseguinte, para apreender intui- gulnte: enquanto consciência análoga à experiência, análoga à apreensão de
tivamente uma essênciaela mesma e de modo o Ü/bário, podemos partir das existente, na qual uma essênciaé apreendida o#yefipame»fe,assim como algo
intuições empíricas correspondentes, mai Üz a/mr lr am&ém de / zl /fõff individual é apreendido na experiência, a intuição de essência-- como toma-
não-empíricas, que não apreendem wm existente ow, melhor a,inda, de intuições da até agora -- não é a única consciência que abriga essência excluindo toda
' twerçLwlente t?woLBt tiriüs". posição dc êxislé cia. Pode-se estar intuitivamente consciente de essências
Seem imaginação livre produzimos âguras no espaço,melodias, proces' e. de certa maneira,também ter apreensãointuitiva delas, semque, todavia,
sos sociaisetc. ou fingimos atos de experiência,de prazer ou desprazer,de elasse tornem "objetos sobre os quais" se formula o juízo.
querer etc., podemos por "ideação" nelesapreender,em intuição originária Tomemos os juízos como ponto de partida. Para dizer de modo mais
e eventualmente até adequada, diversas essênciaspuras, tais como a essência preciso, trata-se aqui da diferença entre juízos ioó eessênciase juízos quelde
da figura espacial,da melodia, do processosocial em.gira/ etc., ou a essência maneira indeterminadamente geral e sem misturar posição alguma de algo
da âgura, da melodia etc. do f@'oparticular em questão.É indiferente, neste individual, judicam ioóre o i di ZdzlaZ,cmóo a .puro, como s mg caridade daJ
caso, se a]go assim já tenha sido dado ou não numa experiência atua]. Se a essa»claJo modo do %m.gera/'. Assim, na geometria pura nós em regra nao
livre ficção, não importa por que milagrespsicológicos,levasseà imagina- fazemos juízos sobre o r/doí "reta", "ângulo", "triângulo", ."seção cónica"
ção de dados que, por princípio, fossem de uma nova espécie, por exemplo, etc., mas sobre rota e ângulo em geral ou "como tal", sobre triângulos indivi-
dados sensíveisque jamais tivessem ocorrido em experiência alguma, isso duais em geral, sobre seções cónicas em geral. Tais juízos universais possuem
em nada modificaria o dado originário da essênciacorrespondente: os dados o caráter da.ge#rra//dado êidézlica,da generalidade "pura" ou, como também
imaginados, no entanto, jamais serão dados eÊetivos. se &z., d,a, Bebera,lidüde 'rÜorosa,", para e simplesmente 'incondicionüda'
Admitamos, para simplificar, que se trate de "axiomas", de juízos ime-
diatamente evidentes,dos quais, em fundação mediada, se derivam todos
BCf. meu artigo em .Lagar,1, p. 315 os demaisjuízos. Tais juízos -- desdeque, como se supõe aqui, judicam da
para uma fUosofia fenomenológica Primeira seçãolEssência Gconhecimento de essência 4\
maneira indicada sobre singularidades individuais -- carecem, para sua fiin-
dação noédca, isto é, para que se tornem evidentes, de certa visão de essên.
cia, a qual (em sentido mo/ir@cada) também poderia ser caracterizadacomo
apreensão de essência; e, tal como a intuição eidética que Eaz,da essência,
objeto, também estase baseiaem que se tenha visibilidade sobre as singula-
.l. l.--ridades
individuais das essências,mas não na experiência delas. Também para ccssários.Mas é importante estar atento às distinções e, sobretudo, não
ela bastam meras representações de imaginação ou, antes, vísibilidades de
designara própria generalidade eidética (como comumente se faz) como
miagmaçâo: tem-se consciência do visível como tal, ele "aparece", mas não necessidade.A consciência de uma necessidade, mais precisamente, uma
é apreendido como existente. O que acaba de ser dito pode ser conhmado consciênciade juízo na qual se é consciente de um estado-de-coisascomo
se, por*exemplo, em generalidadeeidética (generalidade"incondicionada".
particularização.de uma generalidade eidética, chama-se uma consciência
"pura") Julgamosque 'uma cor em geral é 'diferente de um som em geral". apor/f/ca,o próprio Juízo, a proposição, co iegüé cZaapor/zlica(também
Um singular da essência"cor" e um singular da essência"som" podem ser apodítico"necessária")do juízo geral ao qual ele está referido. As pro-
"representados" intuitivamente e mesmo como singulares de suas essências:
posições aqui expressas sobre as relações entre generalidade, necessidade,
a ntuição de imaginação (sem posição de existência) e a intuição eidética apoditicidade também podem ser tomadas de maneira mais geral, de modo
]

q
subsistem ao mesmo tempo e de um modo determinado, mas esta última a valer para quaisquer esferas e não apenas para as esferas eidéticas puras
l
nao como uma intuição que Êaz,da essência,oZgEfa.
É, no entanto, da essên- q
Na delimitação eidética, contudo, elas ganham manifestamente um sentido
cia desse estado-de-coisas que possamos a qualquer momento voltar para a eminente e particularmente importante .
orientação .objetivante.correspondente, esta última sendo justamente uma Muito importante também é o vínculo de julgamento eidézlico sobre algo
possibilidadeeidética. Então o juízo também se mo(üficaria de acordo com individual em geral com pai/fão dr rxZ é c/a do individual. A generalidade
a mudança de orientação, e seu tcor seria então este: a essência(o "gênero«) eidéticaé transferidapara algo individual posto como existente ou para uma
"cor' é diferente da essência (gênero) "som". E assim em toda parte. esferageral indeterminada de indivíduos(à qual se confere a tese de existen-
\nxeu*m'"t: , todo juízo sob« «sêwci«; p'd', 'i' «.-.i«" qahnl.nte, «. te). Toda "aplicação"de verdadesgeoméuicasa casosda natureza(posta
:'n««ti'l' """ juÍ.o .g««! incon.ticion«d.'«b,I' 'inã«L««id«des d.s;«' "Mên. como e6etiva)situa-seaqui. O estado-de-coisasposto como efetivo é, então,
.:-'-c
aí Comofala. Desta maneira, os Jw&oí d essac/a p OI(juízos puramente galo, porque é estado-de-efetividade individual, mas é rcess/dado r/dézP/ca,

Em/ZTz=='.z=eT':=HilhÜÜX$ porque singularização de uma generalidade eidética.


Não se pode confundir a .gc#r a//dada / re rira dai /elí azr@raZscom
mesmo quando -- em pura generalidadeeidética -- formulam
oindividual. "''"'' juízo sobre a .gfweraZ/dado e/déz:/ca. A proposição "todos os corpos são pesados" não
põe, certamente, nenhuma coisa determinada como existente no todo da
natureza. Ainda assim, ela não possui a generalidade incondicionada das pro-
posiçõeseidético-gerais, visto que, em conformidade com seu sentido de lei
S 6. Alguns conceitos fundamentais. Generalidade e necessidade natural, ela ainda continua implicando sempre uma posição de existência,
a saber, a posição de existência da própria natureza, da e6etividade espaço'
As idéias JwZgareidético, Juíza ou .pragas/fãoeidética, pfxdadf eidéti- temporal: todos os corpos az:preza, todos os corpos "e6etivos" -- são
ca (ou proposição. verdadeira)'estão visivelmente inter-relacionadas; como pesados. Em contrapartida, a proposição "todas as coisas materiais são ex-
correlatodestaúltima idéia tem-seo êi/zdo-de-coZsai
eidético(que tem sua tensas" tem validez eidética e pode ser entendida como proposição eidética
consistência em verdade eidética); como correlato das duas primeiras idéias pára, desde que se põe fora de circuito a tese de existência e6etuadapor parte
tem-se,enfim, o ripado-dr-co/iaieidético no sentido mad #c/zdode mero lúi- do sujeito. Ela enuncia aquilo que se funda puramente na essênciade uma
iada, no sentido daquilo que Êoijulgado como tal, quer possater suaconsis- coisamaterial e na essênciada extensão,e que podemos trazer à evidência
tência, quer não. ' '
como validez geral "incondicionada". Isso ocorre ao trazermos a essência
nomenológica
Primeira seç41:!!sêtlcta e conhecimento de essência 43
evidentemediado, porém, segundo princípios inteira e imediatamente evi-
dentes Todopassode fwwdaçãomediada é, por conseguinte,üpodíticü e ei-
d f/r mr fz »rcrnárlo. Constitui, pois, a essência de uma ciência eidética
pura que proceda de maneira exclusivamente eidética, que desde o início
e ao longo de suaseqüênciaela não dê a conhecer estados-de-coisacomo
possuindo validez eidética, os quais, portanto, ou podem ser imediatamente
uazidosà con(tição de dado originário (como imediatamente fiindado em
11 essênciaapreendidade maneira originária), ou podem ser "ingeridos", por
S 7. Ciências de fato e ciências de essência consequência pura, de estados-de-coisa "axiomáticos"
A isso se liga a /dea/.praz /ro da c/é»cZa e/déf/ca êxafa, que a matemática
11 modernaâoi propriamente a primeira a ensinar a realizar: conferir a cada
ciênciaeidéticao mais alto nível de racionalidadepela redução de todos os
passosmediados de pensamento a meras subsunções aos axiomas do domínio
eidético respectivo, coligidos de maneira sistemática e definitiva, aos quais
vêm.se juntar, se já não se trata. de antemão da lógica "formal" ou «pura'; (na
sentido maü ai#P/a da maz&êiü /?fita/Zs),9 todos os axiomas desta última.
E a isso se liga, por sua vez, o /dea/ da "mafrmalZz fão", que, tanto
quanto o ideal que acaba de ser caracterizado, é de grande importância cog-
nitivo-prática para todas as disciplinas eidéticas "exatas", cqa soma total de
conhecimentos(como, por exemplo, na geometria) estácontida, em neces-
cidadededutiva puras na generalidade de alguns poucos axiomas. Aqui não é
l o lugar de discuti-lo.io ' ' ''

S 8 Relaçõesde dependência entre ciência de fato


e ciência de essência

Diante do exposto, fica claro que o self/do de ciência eidética exclui,


"=''' por
}rmciPxo, toda e qualqwe incorporüçã,o dos resultados coyniti?os das ctenctüs
e #PÍHcas.As tesesde realidade que surgem nas constatações imediatas dessas
cienciasperpassam todas as suas constatações mediadas. De fatos sempre se
seguem somente fatos. '

Se, no entanto, toda ciência eidética é por princípio independente de


toda ciência de fatos, por outro lado vale o inverso para a c/é c/a dfjaroi. Não

9Sobrea idéia da lógica pura como marÉeílr iPrrla/IÍ cf. .l»Pe êgafõeíMgicai, vol. 1, capí
" Cf abaixo a seção 111,cap. 1, S 70.
sêwcia 45
Desta maneira, por. exemplo, a todas as disciplinas da ciência natural
corresponde a ciência eidédca da natureza física em geral (a omroZí:glada
»»zr r?m), se a.natureza fática corresponde um e/dof apreensível de maneira
pura, :l "essência" ##zr eza em.gera/ com uma profissão infinita de estados-

S 9. Região e eidética regional


r

Í fUosofia fenomenológica Essência e conhecimento de essência 47


Primeira, se\
S 10. Região e categoria. A região analítica e suas categorias com as regi ões materiais (as regiões pura e simplesmente), r/a ão éprapria

coH todasassuasparticularizações eidéticas materiais, a seu lado,


M 'mi"--''!!g
material ao formal se torna patente por isto, gwr a o zlo/oglajorma/.guarda ao
a saber
mesmotema o em si üsformüs de toda,s üs owtotogins possíveis em geral
de todas as antologias "propriamente ditas", as ontologias matei,is"), ela
-ntologias materiais wma fo /z /fão#orma/ fom m a rodas r/ai
inclui também aquela que temos de estudar agora com respeito
à diferença entre região e categoria
Se partimos da ontologia formal (sempre como lógica pura em toda a
extensão até a ma óeJZs »iprzla/is), ela é, como sabemos, ciência eidética
do objeto em geral. Objeto, no sentido dessaciência, é toda e qualquer coi
sa, e para ele pod em ser estatuídas inumeráveis verdades, distribuídas pelas
muitasdisciplinas da mal#eiZs. Todas elas podem, no entanto, ser reduzidas
a uma pequena quantia de verdades imediatas ou "fundamentais", que ope
ramcomo "axiomas" nas disciplinaslógicas puras Definimos então coma
cütqoriüs Lógica,s ou categorias dü região !âgicü 'objeto em geral" os conceitos
./b#damf#iais /(bicoip raíque entram nesses axiomas -- conceitos mediante
osquaisse determina, no sistemacompleto dos axiomas, a essêncialógica do
objeto em geral, e os quais exprimem as determinações necessáriasincondi-
cionadase constitutivas de um objeto como tal, de um algo qualquer -- caso
devaem geral poder ser algo. Visto que o caráter lógico puro, em nosso
sentido restrito, absolutamente excito. determina o único conceito Mosofica-
mente importante do que seja o "analítico",:: por oposição ao "sintético",
também designamos essascategorias como "awa//Z/ca?'
Exemplosde categoriaslógicas são, pois, conceitos como propriedade,
qualidade relativa, estado-de-coisas, relação, identidade, igualdade, conjunto
(colação),número, todo e parte, gênero e espécieetc. Mas também entram
aqui as "categorias de significação", os conceitos fundamentais inerentes à
essênciada proposição (apap#a#sis)de diferentes espécies de proposições,
membros e formas de proposição, e isso vale, conforme nossa definição, com
respeito às verdades de essência que vinculam, um à outra, "objeto em ge
ral" e "signiâcaçãoem geral", e os vinculam, além disso, de tal modo, que
aspuras verdadesde significaçãopodem ser convertidas em puras verdades
de objeto. Justamente por isso, mesmo quando se pronuncia exclusivamente

Cf. ImP#aÜafõefUgicas, 11,Terceira Investigação, S$ 1l e segs


pura e para uma Hosoâa fenomenológica
Primeira seção:!:!!1lcia e conhecimento de essência 49
re signiâcações,.a"lógica apoaantica"Êazparte da ontologia formal eu
etc. podemosdescreverda maneiraseguinte a situação eidética que ocorre
seupleno sentido abrangente.É preciso, não obstante,separaras categorias
de signiâcaçãonum grupo próprio à parte e opor-lhes as demaiscategorias. aqui: todo objeto, podendo ser explicitado, referido a outros objetos, em
suma,sendo logicamente determinável, assumediferentes formas sintéticas;
:omocütegoriüsformajs
objetipüs
nosentido
preciso
dotermo
': ' como correlatos do pensamento determinante, constituem-se objetivida-
Observamos ainda aqui que, por categorias, podemos ora entender os desde nível mais alto: qualidades e objetos qualitativamente determinados,
conceitos no sentido de significações,mas ora também, e melhor ainda as
relaçõesentre quaisquer objetos, multiplicidades de unidade, membros de
próprias.essências formais, que encontram sua expressão nessassignificações' ordens, objetos como suportes de determinações de número ordinal etc.
Neste último sentido, 'categorias" como estado-de-coisa, multiplicidade
Se o pensamento é predicativo, geram-se progressivamente expressões e
etc., exprimem o e/doí formal "estado-de-coisasem geral", "multiplicidade complexos-de-significação apoÊânticospertinentes, que espelham todas as
em geral" etc. A equivocidade só é perigosa enquanto não se tiver aprendido articulaçõese formas das objetividades sintáticas em sintaxes de signiâca-
a separar puramente o que aqui sempre precisa ser separado: "significação" ção exatamente correspondentes. Todas essas "objetividades categoriais":;
l e aquilo que pode receberexpressão.par mf/o df significação;e ainda: s gni- podem, como objetividades em geral, operar de novo como substratosde
ficaçãoe objetividade significada.No que concerneà terminologia, podese comp[exos categoriais, e estes novamente etc. inversamente, cada um des-
Ea'« express'"ente.dista«ção "ue «#c /z:aic',l ar/aà (como sig«iá:ações) sescomplexosremete, de maneira evidente, a l@ósraros áZzl/mos, a objetos
: esse? ctüs cütqgortais. '
do nível primeiro e mais baixo, a objetos, portanto, g#rlá ão são co/np/exoJ
í/ áf/co-cafego /ais, que em si mesmos nada mais contêm daquelas formas
Sii ontológicas que sãomeros correlatos de fiinções do pensamento (atribuir,
Objetividades sintáticas e substratos últimos.
negar, referir, vincular, contar etc.). De acordo com isso, a região formal
Categorias sintáticas
"objetividade em geral" se divide em substratos últimos e objetividades
sintáticas. A essasúltimas chamamos der/pafõ i i/ lár/cai dos substratos
No domínio das objetividades em geral é preciso fazer agora uma dis- correspondentes,aosquais também pertencem, como logo veremos, todos
tinção .Importante, que, dentro da morfologia das significações, se reflete os "indivíduos". Se fHamos de propriedade individual, relação individual
na distinção ("gramat:ical pura") entre "formas sintáticas" e "substratos;ou etc., essesobjetos de derivaçãosão assimchamados em virtude dos subs-
"estofos sintáticos". Indica-se com isso uma separação das categorias 6ormal- tratos de que são derivados.
ontológicasem fazP©orZaJ
s/ Mz/fai e cazgoüai de i óMafa, que deve ser Ainda cabeobservar o seguinte. Também pelo lado da morfologia das
discutida mais pormenorizadamente agora. significações se chega a substratos últimos, desprovidos de forma sintética:
Por oóyer/p/dad J í/mfáf/cai entendemos aquelas que são derivadas de toda proposição e todo membro possível de proposição contém, como subs-
outras objetividades mediante 'láormai i/ /zíf/fa?'. Às categorias corres- trato de suasformas apoíânticas,os chamados "forma?'. Estes podem ser
pondentes a essasformas chamamos "categorias sintáticas" Delas fazem
termos num sentido meramente relativo, a saber, eles próprios podem conter
parte, por. exemplo, as categorias "estado-de-coisas", "relação", "qualida- de novo formas (por exemplo, a forma plural, atribuições etc.). Em qualquer
de", "unidade", "multiplicidade", "número«, "ordem", "número ordinal" um dos casos,chegamos,no entanto, e necessariamente, a zlermoíá/&/maí.a
substratos últimos, que nada mais contêm em si de formação sintética.:'

1:g:.:ZgÜ'.tãin::#=:.HlgS'=.=:=,f:'=F:=E:?=!.:=".
"..
na muito importante para a teoria da forma das signiâcações esseterreno fiindamental da

gss ü$ :iSuã gElE s i::


afia fenomenológica 51
S 12. Género e espécie
Primeira seçãol
111
S 13. Generalização e formalização

É preciso distinguir nitidamente as relações de generalização e especia',


lização de um tipo essencialmente outro de relações, a passagemdo maleriaZ
Z=.1;ã,í«d' ;'«.e,««/ /'ü:" p"« -, ,"""'«-'":'l:.* TZ?i?Ít'iíg?..t
um ft)rmal lógico. Noutras palavras:generalizaçãoé algo totalmente distinto
deJorna/izafao, que desempenhaum papel tão importante, por exemplo,
na análise matemática; e especialização, algo totalmente distinto de dê$or-
ma/Zzafão,como "enchimento" de uma forma lógico-matemática vazia, por
exemplo,deumaverdade6ormal. .. . . . ..
Por conseguinte, que uma êsxé cia esteja subordinada à generalidade
formal de uma essêncialógica pura, isso não deve ser confundido com a
subordinação de uma essência a seus.géHfroi eidéticos mais altos. Assim, a
essência"uiângulo" está, por exemplo, subordinada ao gênero supremo
"forma espacial", a essência "vermelho" ao gênero supremo "qualidade sen-
sível". Por outro lado, vermelho, triângulo e todas as essências,tanto ho-
mogêneasquanto heterogêneas,estão subordinadas à designação categorial
"essência", que não possui absolutamente o caráter de um gênero eidético
para nenhumas delas, ou melhor, não o possui em relação a #e###/lza delas.
Ver a "essência" como gênero de essênciasde cunho material seria tão equi-
vocado quanto interpretar erroneamente o objeto em geral (o algo vazio)
como gênero para todos e quaisquer objetos, e então, de maneira natural,
pura e simplesmentecomo o só e único gênero supremo, como gênero de
todos os géneros.Ao contrário, serápreciso designartodas as categoriasfor-
mal-antológicas como singularidadeseidéticas, que têm seu género supremo
na essência "categoria formal-ontológica em geral"
É claro, igualmente, que toda inferência determinada -- por exemplo,
uma inferênciaútil em física-- é singularizaçãode uma determinada forma
lógica pura de inferência,que toda proposição determinada em físicaé sin-
gularizaçãode uma forma de proposição etc. As formas puras, porém, não
são gêneros para proposições ou inferências materiais, mas apenas diferenças
últimas dos gêneros lógicos pui-os "proposição", "inferência", que, como
todos os gêneros semelhantes, têm por gênero pura e simplesmente supremo
a "significação em geral". O enchimento das formas lógicas vazias (e não
há outra coisaque formasvaziasna mafbeiis / efta/ií) é, portanto, uma
"operação" totalmente diferente da especializaçãoautêntica até a dieerencia-
çao'última. Isso pode ser constatadoem toda parte: assim,por exemplo,a
passagemdo espaçoà "multiplicidade euclidiana" não é uma generalização,
mas passagem a uma generalidade "formal"
fenomenológica
Primeira seção: Essência, e conhecimento de essência S3

Eram,portanto, aqui todo estado-de-coisasexpresso por qualquer axioma ou


teorema silogístico ou aritmético, toda forma de inferência, todo algarismo,
todo complexo numérico, toda flinção da análisepura, toda multiplicidade
euchdiana ou não-euclidiana bem definida.
Sepassamosagora à classedas objetividades materiais, chegamos a íaór-
frzfor mole /aií á/f/mai como núcleosde todas as formaçõessintáticas.Des-
sesnúcleos fazem parte todas as rali gor/as de i &arafo, que se ordenam sob
as duas principais designações disjuntivas: "essência material última" e "isto
aquil", ou singularidadepura, sintaticamenteinforme, individual. O termo
"indivíduo", que acodequasesem ser chamado, é inadequado aqui, porque
justamente, como quer que possaser determinada, a indivisibilidade que a
palavratambém exprime não pode ser admitida no conceito, tendo antesde
permanecer reservada para o conceito particular e totalmente imprescindível
de indivíduo. Adotamos, por isso, a expressãoaristotélica zla/Hrfi, que, pelo
menos literalmente, não guarda essesentido.
Contrapusemos a essênciaúltima informe e o "isto aqui"; temos de esta-
beleceragora o nexo eidético reinante entre eles,o qual consiste em que cada
"isto aqui" tenha ir# substrato de essênciamaterial, que possui o caráter de
uma essênciade substrato informe no sentido indicado .

S 15. Objetos independentes e dependentes


Concreto e indivíduo

Carecemosainda de uma outra distinção fundamental, e lrf o&yezPos


{»-
dele df f i f depr d z:ei.Uma forma categorial,por exemplo, é dependen-
te, visto que remete necessariamentea um substrato, do qual é a forma.
Substrato e forma são interdependentes um em relação ao outro, essências
S i4
impensáveis"uma sem a outra". Neste sentido mais amplo, portanto, a for-
Categorias de o bsÜ'detiA essência ma lógica pura, por exemplo, a forma categorial "objeto" é dependente no
tocante a todas as matérias de objeto, a categoria "essência" é dependente no
tocante a todas as essênciasdeterminadas etc. Devemos fazer abstraçãodes-
sasdependênciase referir o conceito corte de dependência ou independência
a nexos de "conteúdo" propriamente ditos, a relações de "alar fo zl/do","íer
wm" e, eventualmente, "ê ar em / c Zo" num sentido mais próprio dessas
expressoes.
Aqui nos interessa especialmente o estado-de-coisas nos substratos úl-
timos e, ainda mais estritamente, nas essênciasde substrato material. Sub-
sistem para elas duas possibilidades: ou tal essênciafunda, junto com uma
a âlosofia fenomenológica Primeira seção:Essência e conhecimento de essência, bS

por exemplo, a forma determinada conduz ao gênero supremo "forma no


espaçoem geral", a cor determinada, à qualidadevisual em geral. Todavia,
em vez de disjuntivas, as diferençasúltimas no concreto também podem se
sobrepor, como, por exemplo, as propriedades físicas pressupõem e encerram
em si determinações espaciais.Então, os gêneros supremos também não são
üsj«ntivos.
Os gêneros, conseqüentemente, se dividem ainda, de maneira caracterís-
tica e fundamental, naqueles que têm concretos e naqueles que têm abstratos
sob si. Falamos, por comodidade, de .gé#rraí co crezloie aó afaz,apesardo
duplo sentido que essesadjetivos adquirem. Pois ninguém terá a idéia de
tomar os próprios gênerosconcretospelos concretos no sentido originário.
As pesadasexpressões"gênero de concretos" e "gênero de abstratos" têm,
todavia, de ser empregadas,ali onde a exatidão o exija. Exemplos de gêne
ros concretos são a coisa real, o fantasma visual (a forma visual que aparece
preenchidasensivelmente),o vivido etc. Por outro lado, a forma espacial,a
qualidade visual etc. são exemplos de gêneros abstratos.

S 16. Região e categoria na esfera material


Conhecimentos sintéticos a priori

Com os conceitos "indivíduo" e "concreto", também está definido de


maneirarigorosamente"analítica" o conceito teórico-científico fiindamental
de região. Re$ão não ê setxão toda ü suprema unidade genérica l?ertewcewte
a m co r ero,portanto, a vinculaçãonuma unidade eidética dos gêneros
supremos das diferenças últimas no interior do concreto. A extensão eidética
da região abrange a totalidade ideal dos complexos de diferenças dessesgê
neros unificadas num concreto; a extensão individual, a totalidade ideal de
indivíduos possíveisde tais essênciasconcretas.
Toda essênciaregional determina ?e dadri d essacia '?/Kféfií;ai'; l#o q.
e düdes qwesefandam em tül essência,regiowa,Lem,qwa,ntoesta essênciügenéri-
ca,, mü,s não são meras pürticwLürizüções de perda,d,escol"müL-owtoLégica,s.Nessas
verdades sintéticas, o conceito regional e suasvariedades regionais não são,
pois, livremente variáveis, a substituição dos termos determinados correspon'
dentes por indeterminados não dá nenhuma lei formal-lógica, como ocorre,
de maneira característica, em toda necessidade "anaHtica". O conjunto das
verdadessintéticasfimdadas na essênciaregional constitui o conteúdo da
15 cf: as análises detalhadas das .Z#Prilgafõex Mgicai 11,Terceira Investigação, particularmente
ontologia regional. O conjunto completo dasverdades/# game laia que se
encontram sob aquelas,o conjunto completo dos ax/amai g/o air delimita
Omenológica
Primeira seção: Essência e conhecimento de essência S7

Daí surge ao mesmo tempo a /dé/a dr ma liam:#a: dêle m/#af" Of.gé#e-


rai iwPremoJde co c ef;õrino círculo de nossasintuições individuais e, desta
maneira,levar a cabo uma distribuição de todos os seresindividuais intuí-
dos segundo regiões do ser, cada ma dai g aZí drl@ a doba p /#cÜ/o, já
quepor filndamentoseidéticosradicais, ma c/é c/a (ou grupo científico)
r/déf/car f/#P/r/ra deHrreKzlr.
De resto, a diferenciaçãoradical não exclui de
modo algum entrelaçamentose sobreposições.Assim, por exemplo, "coisa
material" e "alma" são diâcrentes regiões do ser e, no entanto, a última está
fundadana primeira e daí provém a fiindação da doutrina da alma na dou-
trina do corpo-
O problema de uma "classificação"radical dasciênciasé, no principal, o
problema da separação das regiões, e para isso mais uma vez se precisa pre
viamente de investigações lógicas puras do tipo que, em breves linhas, coram
deitasaqui. Por outro lado, precisa-setambém, naturalmente, da 6enomeno
logia -- da qual até agora ainda nada sabemos.

S 17. Conclusão das Observaçõeslógicas


Capítulo ll
Mal-entendidos naturalistas

S 18. Introdução às discussões críticas

Os desenvolvimentos gerais, que estabelecemos de início, sobre essên-


cia e ciênciade essências,
em oposiçãoa fato e ciênciade fatos, trataram
dos alicercesessenciaisde nossaconstrução da idéia de uma fenomenologia
pura (que, segundo a Introdução, deve se tornar uma ciência de essências)
e da compreensãode seu lugar em relação a todas as ciênciasempíricase,
portanto, também em relação à psicologia. Todas as determinações de prin-
cípio, porém, e muito depende disto, precisam ser entendidas em sentido
carreto. O que ah fizemos, que isso fique bem sublinhado, não Êoiministrar
ensinamentos a partir de um ponto de vista fHosófico previamente dado, não
lançamos mão de doutrinas âlosóficas recebidas e mesmo universalmente
reconhecidas, mas e6etuamos,no sentido rigoroso, algumas ama ügf i df
pri caio, ou seja,apenasexprimimos fielmente diferençasque nos sãodire
tamente dadas na /#zl@/fão.Nós as tomamos exatamente como sedão ali, sem
nenhuma exegesehipotética ou interpretativa, sem nelas imiscuir nenhuma
interpretação advinda daquilo que nos pudesseser sugerido por teorias tradi-
cionais dos tempos antigos ou modernos. Constatações assim e6etuadassão
"inícios" e6etivos; e se são, como as nossas, de uma generalidade referida a
todas as regiões abrangentes do ser, então seguramente são constatações de
princípio, no sentido mosófico, e fazem elas mesmas parte da 61osofia. Nem
mesmo isso, porém, precisa ser pressuposto por nós: nossas considerações
anteriores estão livres, como o devem estar todas as seguintes, de toda rela-
ção de dependênciapara com uma ciência tão controversa e suspeitacomo
é a 61osofia.Nada pressupomosem nossasconstataçõesflindamentais, nem
mesmo o conceito de âlosoíia, e assim também queremos nos manter daqui
por diante. A e7taytlfUosóâcaque nós nos propomos deve consistir expres'
s«Rente Mato\ üb;ter-nos inteira«ente de jutBÜ acerca do co.'t'údo 'io.'tri,'ül
fenomenológica
Primeira seção:Essência e conhecimento de essência 6\.

pretende fazer valer, contra todos os "ídolos", todos os poderes da tradição


e superstição,toda espéciegrosseiraou refinada de preconceito, o direito da
razão autónoma, como única autoridade em questões de verdade. Formular
racional ou cientificamentejuízos sobre coisassignifica, porém, orientar-se
pelas roisní mermaí, isto é, voltar dos discursos e opiniões às coisas mesmas,
interroga-lasna doaçãooriginária de si e põr de lado todos os preconceitos
estranhos a elas. Seria apr aí ma oa a ma ei adeexp /m/ro mesmo-- ai-
J/m ap/ a o e/#P/r/#a -- dizer que toda ciência tem de partir da rxpfr/é#c/a,
que seu conhecimento mediato tem de if /# da7'na experiênciaimediata.
Ciência autêntica e ciência empírica são, pois, a mesma coisa para o empirista.
Que mais seriamas "idéias", as "essências"em oposição aosfatos -- senão
entidades escolásticas,fantasmas metafísicos?O maior mérito da moderna
ciência da natureza 6oi justamente ter libertado a humanidade de tais assom-
braçõesfUosóficas.Toda ciênciatem de lidar apenascom o que é eâctivamen-
te real, passívelde experimentação.O que não é e6etividade,é imaginação,
e uma ciência de imaginações é justamente ciência imaginária. Imaginações
poderão naturalmente ser admitidas como fatos psíquicos, elas fazem par-
te da psicologia. Mas que de imaginações-- como se tentou mostrar no
capítulo anterior mediante uma assim chamada visão de essêncianelas
fiindada devam resultar dados novos, "eidéticos", objetos que são irreais,
isso assim concluirá o empirista não passa de "empolgação ideológica",
de "recaída na escolástica" ou naquela espécie de "construções especulativas
a priori" com que o idealismo da primeira metade do século XIX, alheio à
ciência natural, tanto obstruiu a ciência autêntica.
Tudo, porém, que o empirista diz aí repousa sobre mal-entendidos e
preconceitos-- não obstante o motivo que originalmente o guia ser bom e
de boa intenção. O erro de princípio da argumentaçãoempirista reside em
que a exigência fiindamental de retorno às coisasmesmasé identiâcada ou
confimdida com a exigênciade filndação de todo conhecimento pela rxper/-
é#c/a.Com a compreensívelresuição naturalistado âmbito das "coisas" cog
noscíveis, é ponto pacífico para ele que a experiência é o único ato que dá as
próprias coisas. -Não é, entretanto, ponto pacíâco que caásaí sejam roZsar #a-
f reis, que, no sentido habitual, efetividadeseja efetividade em geral, e que
aquele ato doador originário que chamamosrxPr Zé c/a se relha somente à
S 119.e idedoador oremplnsta entre experiência
í:HrzrZp/dadaazfwra/.E6etuaridentificações e trata-las como se supostamente
fossem óbvias significa, aqui, colocar inconsideradamente de lado diferenças
dadas na mais clara evidência. A pergunta é, pois, dr g#f /ada estão os precon-

-.«=.==H'=T= 's:\==,:m:i:'::==;ã=U ceitos?A autêntica ausênciade preconceitos não exige simplesmente recusa
dê "juízos estranhosà experiência", massomente quando o sentido .pr(ípr/o
:!!Íee!?y !g11ãn .Essépzcja e co #ec/mf fo de Fssé»c/a 63

legtimidade imediato e, por isso, autêntico na experiência,terá no entanto


de ser abandonadano curso da experiência,em virtude de uma legitimação
contrária que a supere e suprima.

$ 20. O empirismo como ceticismo

Substituímos, pois, a experiência por algo mais geral, a "intuição" e,


com isso, recusamosa identificação de ciência em geral com ciência empírica.
Aliás, é fácil reconhecer que defender essaidentificação e contestar a validez
do pensar eidético puro leva a um ceticismo que, como ceticismo autêntico,
suprime-se a si mesmo por contra-senso.:ó Basta perguntar ao empirista qual
é a conte de validez de suas teses gerais (por exemplo, "todo pensar válido
se funda em experiência,como a única intuição doadora"), para que ele se
enredeem notório contra-senso.A experiênciadireta fornece apenassingu-
laridadese não generalidades;ela, portanto, não basta. O ceticismo não pode
recorrer à evidência eidética, pois a nega; ele recorre, por isso, à indução e,
assim,ao complexo de modos mediatos de inferência, mediante os quais a
ciência empírica obtém suasproposições gerais. Ora, perguntamo-nos, o que
acontece com a verdade das inferências mediatas. tanto Eazse dedutivas ou
indutivas? Essa dada (e poderíamos até fazer a mesma pergunta a respeito
da verdade de um juízo singular) é ela mesma algo experimentável e, portan
to, finalmente perceptível?E o que acontece com os P i r/P/aí dos modos
de inferência, aos quais se recorre em caso de controvérsia ou de dúvida, por
exemplo, com os princípios silogísticos, com a proposição segundo a qual
"duas quantidadesiguais a uma terceira sãoiguais entre si" etc., dos quais
depende,enquanto fontes últimas, a legitimação de todos os modos de in-
gerência?São eles mesmos, mais uma vez, generalizações empíricas, ou esse
modo de apreensãonão encerra em si o contra-senso mais radical?
Sem entrar aqui em discussõesmais longas, o que seria apenasrepetir
o que foi dito noutros lugares,t7seria preciso ao menos que ficassebem
claro que as tesesfiindamentais do empirismo carecem primeiramente de
uma discussão, clariâcação e fundação mais precisas, e que essafundação
mesmateria de estar de acordo com as normas expressaspor essasteses.Ao

ló Sobre o conceito característico de ceticismo, cf. os "Prolegâmenos à Lógica Pura", J#pef.


fÜafõeJ ZilgiraJ, 1, S 32.
i7 Cf. Jhpea g fõef líÜ/cas, 1, especialmente capítulos IV e V.
fenomenológica 65
Primeira slçêg: Essêviciü e conhecimento dc essência

$ 21. Obscuridades do lado idealista

A efta de clareza também reina, sem dúvida, no lado oposto Aceita-se, é


verdade, um pensar puro, um "pensar apriorista" e, com isso, rejeita-se a tese
empiJ-esta,mas não sechega reflexivamente à consciência clara de que há algo
como uma intuição pura, enquanto espécie de doação na qual as essênciassão
dadascomo objetos, exatamentecomo realidades individuais são dadasna in
tuição empírica;não sereconheceque z:odarp/dé c/alwd/caf/?a, assimcomo,
b
em particular, a de verdades.gerais incondicionadas, zlam&éme zlram #a con-
ceito de intuição doadora, que possui wmü .gama de diferenciações, principül-
L
mf z:far g ê fo fm empa ale/a com ai raf gor/ai Z(@/cas.i8 Fala-se, é verdade,
de evidência, masem vez de coloca-la, como evidência, rm fZafõ rdc ssé r/a
com o ver habitual, recorre-se a um "ie#ZI/mr fo dr ep/dé cia", que, como um
i drx per/ místico, empresta ao juízo uma coloração emotiva. Tais apreensões
são possíveis somente enquanto ainda não se aprendeu a analisar os tipos de
consciênciaem visão pura e na forma de essências,em vez de fazer, de cima
para baixo, teorias a respeito deles. Essessupostos sentimentos de evidência,
de necessidadedo pensar e como quer que ainda possam ser chamados, não
passamde ie z/me irai / e radoí zlror/camrKFr.iP Isso será reconhecido por
qualquer um que trouxer qualquer caso de evidência à condição de dado
numa visão e6etivae o comparar com um caso de não-evidência do mesmo
conteúdo de juízo. Então logo se observará ser fiindamentalmente errónea a
tácita pressuposiçãoda teoria sentimental da evidência, de que um juízo no
maisem tudo igual quanto à essênciapsicológicarecebe,no primeiro caso,
coloração emotiva e, no segundo, não; ao contrário, no primeiro caso é uma
mesma camada superior, a do mesmo enunciado enquanto mera expressão
sg l@cazl/pa,que se ajusta passo a passo a uma intuição "clara e evidente" do
estado-de-coisa, enquanto no segundo o que opera como camada inferior é
um 6enâmenointeiramente outro, uma consciêncianão-intuitiva do estado-
de-coisa, e eventualmente de todo confusa e inarticulada. A diferença entre
o juízo de percepçãoclaro e âdedigno e um juízo vago qualquer sobre o
mesmo estado-de-coisas poderia, pois, ser apreendida com a mesmod/reizlo na
esperaempírica meramente como a diferença de que o primeiro é apto a um
"ir#fimc o de clareza", o segundo, não.

i8 Cf. .ím e gafõei ligicaí, 11,(quarta Investigação, S$ 45 e sega.Ver igualmente acima, $ 3.


:9 Exposições tais quais Elsenhans Eaz,por exemplo, em seu recentemente publicado manual
de psicologia, pp. 289 e sega.,são, em meu parecer, ficções psicológicas sem o mínimo filn-
damento nos fenómenos.
a uma 61oso6a Êenamenológic
» z.z. A acusaçãode realismo platâni unto de essência 67

fato só podem ser eventos psíquicos reais da "a&wnfão", que se prendem a expe
ciências ou representações reais. Ora, sendo assim, constroem-se fervorosamente
"teorias da abstração", e.a psicologia orgulhosa de sua empina é enriquecida, aqui
comorm io/üfaleW/as i ir cimaà(que no entantoconstituemo temaprincipal
Xa pslc(goÉ.aÕ, de feMmenos iwpeHtüdos, de análises psicol@icas qwe não são ütná-
&lzs í;oiça aÜ ma. Idéias ou essências são, portanto, "co#rrííuP', e conceitos são
"r07&m'w&arPK@wicaF',
"produtos da abstração", e como tais certamente desem-
penham um grande papel em nosso pensamento. "Essência", "idéia" ou "f/lü?,
sãoapenasnomes "âlosóficos' grandiosospara "modestos fatos psicológicos".
Nomes perigosos, em virtude das sugestõesmetaíisicas que contêm.
Nossa resposta é: certamente, essências são "conceitos" -- caso se entenda
por com:eltos,o que é autorizado pela equivocidade da palavra,justamente es-
sências.Tenha-se apenasclaro que ÊHarrazão de produtos psíquicos é um #am-
fe#sz, assim como o é EHar da comia'wfão de conceito, se esta deve ser entendida
no sentido rigoroso e próprio De quando em quando selê em algum datado:
a série dos números é uma série de conceitos, e um pouco mais abaixo: concei-
tos são construtos do pensamento.Primeiro, portanto, os números mesmos.
/ "'')
as essências,coram tratados como conceitos. Ora, perguntamos, os numeros
não sãoo que são, "construídos" ou não por nós?Certo, sou eu que eâetuo
minha operação de contar, que construo minhas representações numéricas de
"um mais um". Essasrepresentaçõesnuméricas agora são estas, e serão outras
uma outra vez, mesmo que eu as consuma como iguais. Neste sentido, às vezes
não há representação numérica alguma e às vezes há quantas se quiser de um
H e mesmo número. Mas justamente por isso âzemos a seguinte diferenciação(e
como poderíamosevita-la?):arepresentaçãonumérica não é o próprio número,
nâo ê o "dois", essemembro único da série de números, que, como todos os
membros dessetipo, é um ser intemporal. Designa-lo como construto psíqui-
co e, portanto? contra-senso,um desrespeitoao sentido totalmente claro do
curso aritmético, sentido que semprepode ser claramente evidenciado em
suavalidez e que, portanto, estásituado a#lex de toda teoãa. Se conceitos são
construtor psíquicos, então coisas tais como números puros não são conceitos.
Se,no entanto, são conceitos, então conceitos não são construtos psíquicos É
precisonovos termos parasolucionar equivocidadestão perigosascomo esu.

$ 23. Espontaneidade da ideação. Essência e acto

:l,==s:l=.?=:g'.:===&.F=:.j'=«::=lS'==:'=H « '"'"''ü'';"" «@"' .


Não é, porém, verdadeiro e evidente, objetar-se-á, que conceitos ou. se se
preâeiir, essências como "vermelho", "casa" etc., sujem, por abstração de in-
nomenológica
Primeirilg!!ão: Essência e conhecimento de essência 69

como os outros objetos, podem ser visadas, ora carreta, ora ÊHsamente,como,
por exemplo, no raciocínio geométrico falso.A apreensãoe a intuição de essência,
porém, sãoum ato muldâorme, e especialmentea pZsãazü ewé c/a é m az:adoado
Mgi»brio e, como tnl, o ünáhyo dü ÜP'pensãosenshel e não da imagino,çã,o.

$ 24. O princípio de todos os princípios

Basta,todavia, de teorias disparatadas.Nenhuma teoria imaginável pode


nos induzir em erro quanto ao .Pr/#c@/odr lodosoíP / r/pios: foda Z r /fão
doütiorü originária é mü fonte de legitimação do conhecimento, tudo que nos
é(Ú?rzfZdo o Üi a game ff #a " z Irão"(por assim dizer, em sua eâetividade
de carne e osso) d êie 1/ wP/esmole forrado zra/comof/e ie dá, mas também
apenas ar Z/m/&eidf lira doi g aü e/eir dá. Vemos,no entanto, com clare
za que toda teoria só poderia tirar suaverdade dos dados originários. Todo
enunciado, que nada mais Eazque dar expressãoa essesdados mediante mera
explicação e signiâcações que possam ser aferidas com exatidão, é realmente,
portanto, como dissemosnaspalavrasintrodutórias a estecapítulo, um início
a&íoZwlo, destinado, no sentido autêntico, à filndamentação, isto é, um .Pr/#-
cíp/wm.Mais isso vale particularmente para os conhecimentos eidéticos gerais
daquelaespéciea que habitualmente se restringe a palavra "princípio"
Neste sentido, o cZr#zZsia alz/ a/tem toda a razão em seguir o "princípio"
de que, para toda afirmação referente a fatos da natureza, deve-seperguntar
pelas experiênciasque a findam. Pois ele é um princípio, é uma armação que
procede imediatamente de evidência geral, e podemos sempre nos convencer
disso ao trazermos à plena clareza o sentido das expressõesempregadas no prin-
cípio e ao colocarmos as essências a elas atinentes na condição de dado puro. No
mesmo sentido, todavia, o /#pe dado df e # rias, e quem quer que empregue
e enuncie proposições gerais,tem de seguir um princípio paralelo; e é preciso
que haja tal princípio, já que o princípio há pouco aceito da fundação de todo
[ conhecimento de fatos pela experiência não é ele mesmo evidente por experiên-
cia -- como todo princípio e todo conhecimento de essênciasem geral.

S 25. O positivista como cientista natural na prática;


o cientista natural como positivista na reflexão

O positivista somente recusa dejac&o conhecimentos de essênciasonde


:' Cf a esserespeito asanálisesâenomenológcas das seçõesposteriores deste trabalho. reflete "fUosoficamente" e se deixa enganar pelos sofismas de fUóso6osem-
e para uma filosofia fenomenológica P imeirü seção: Essêvlciü e conhecimento de essência, 69
tuições individuais? E não co s Z Of arbitrariamente conceitos de conceitos como os outros objetos, podem ser visadas,ora correra, ora ÊHsamente,como,
já formados? Trata-se, portanto, de produtos psicológicos. Isso é semelhante, por exemplo, no raciocínio geométrico fase- A apreensãoe a intuição de essência,
acrescentar-se-á talvez, ao que ocorre nas .@f&r ar&Zzxáda= o centauro tocan - porém, sãoum ato multiforme, e especialmentea pZsãode es# cla é m az:odoado
do flauta que livremente imaginamos é justamente um construto representativo MgináHo e, como tüb o ünáhyo áü ailveensãosenshele não da imüBinüção.
nosso. -- Nossa resposta a isso é: certamente, a "construção do conceito" e. da
mesma maneira, a livre ficção.se eÊetuam espontaneamente, e aquilo que é gera-
do espontaneamente é, sem dúvida, um produto do espírito. No que concerne, S 24. O princípio de todos os princípios
porem, ao centauro tocando flauta, ele é representaçãono sentido de que se
chama o representado de representação, mas não no sentido de que representa- Basta,todavia, de teorias disparatadas.Nenhuma teoria imaginável pode
ção é o nome de um vivido psíquico. O centauro mesmo não é,'naturalmente. nos induzir em erro quanto ao .pr{ í;z@/adr odaí oíP / c/P/ai: foda / fziZfãa
nada de psíquico, não existe,nem na alma, nem na consciência,nem onde quer doüdorol originária, é wmü fonte de LeBitimüção do conhecimento, tudo que nos
que seja,ele não é "nada", é única e exclusivamente"imaginação;; dito com é ÍZHeec/da orÜ/ a Zamrmle a "/#f /fão"(por assim dizer, em sua efetividade
mas precisão: o vivido-de-imaginação é vivido de um centauro+qesta medida, de carne e osso) dme seri//#p/rime ze amada fa/ como e/eie dá, mas também
o "centauro-visado", o "centauro imaginado" pertence, sem dúvida. ao vivido apenas aí Zimifeidr ro doi gaaü r/e ie dá. Vemos,no entanto, com clave
.mesmo Mas também não se.deveconfimdir justamente essevivido-de.imagina- za que toda teoria só poderia tirar sua verdade dos dados originários. Todo
ção com aquilo que nele é o imaginado como tal.2i Assim, também na abstiação enunciado, que nada mais faz que dar expressãoa essesdados mediante mera
explicação e signiâcações que possam ser aferidas com exatidão, é realmente,
ocorre nessa situação é que, e manifestamente por essência, uma consciência portanto, como dissemosnaspalavrasintrodutórias a estecapítulo, um início
doado a oplê@lMdade uma essência(ideação) é em si mesma e necessariamente aóso/zro,destinado.no sentido autêntico, à filndamentação, isto é, um pr/#-
uma consciência espontânea, ao passo que a espontaneidade é inessencial à cons- cZP/wm.Mais isso vale particularmente para os conhecimentos eidéticos gerais
daquela espécie a que habitualmente se restringe a palavra "princípio"
Neste sentido, o cZr#fista az:wra/tem toda a razão em seguir o "princípio"
de que, para toda armação referentea fatos da natureza,deve-seperguntar
confiJsão, que possam exigir uma identiâcação da consciência de essênciacom a pelasexperiências que a findam. Pois ele é um princípio, é uma afirmaçãoque
propna essência,e, portanto, uma psicologizaçãodesta última. procede imediatamente de evidência geral, e podemos sempre nos convencer
. A apm)dmação?porém, de essênciae consciênciafictícia poderia provocar disso ao trazermos à plena clareza o sentido das expressões empregadas no prin-
hesitação quanto à "existência" das essências. A essência não é uma acção, como cípio e ao colocarmos asessênciasa elasatinentes na condição de dado puro. No
querem os céticos?Assim como, no entanto, a aproximação de acção e percepção, mesmo sentido, todavia, o Z pa gadorde é rias e quem quer que empregue
sob o conceito mais geral de "consciência intuitiva", compromete a e)dstência de e enuncie proposições gerais, tem de seguir um princípio paralelo; e é preciso
objetos dados em percepção, afim também a aproximação que seacabade eÉetuar que haja tal princípio, já que o princípio há pouco aceito da fimdação de todo
compromete a "existência" das essências. As coisas podem ser percebidas, recor- conhecimento de fatos pela experiência não é ele mesmo evidente por experiên-
dadas e, por isso, delas se pode ter consciência como coisas "eâetivas" ou ainda. em cia -- como todo princípio e todo conhecimento de essênciasem geral.
atos modiâcados, como coisasduvidosas, como nulas(ilusórias); finalmente ain -
da, numa modiâcação completamente outra, delasse pode ter consciênciacomo
coisas "meramente vislumbradas" e como xr./ãíxpmreais, nulas etc. É de todo seme- S 25 O positivista como cientista natural na prática;
lhante o que ocorre com as essências,e a isso está relacionado que também elas, o cientista natural como positivista na reflexão

O positivista somente recusa dedaczloconhecimentos de essênciasonde


2i Cf. a esserespeito as análises âenomenológicas das seções posteriores deste trabalho. reflete "Hlosoficamente" e se deixa enganar pelos sofismas de fHóso6os em-
uma Hosofia fenomenológica Primeira, senão

piristas, masnão onde pensae ainda, como cientista natural, na orientaçãol


normal da ciência natural. Pois aí ele maniâcstamente se deixa em larga medi- l
da guiar por evidênciasde essência.É sabido que as disciplinasmatemáticas
puras, tanto as materiais,como geometria ou 6oronomia,quanto as formais
(lógicas puras), como aritmética, análiseetc., são os meios fimdamentais
de teorização nas ciências naturais. Salta aos olhos que essasdisciplinas não
procedem empiricamente, não são fiindadas mediante observaçõese ensaios

ll)n:; ! :; : :::f .==1,1:= $ 26. Ciências de onE.ntaçao dogmática e ciências


de orientação fijosóâca

e completamente hipotéticas são os fimdamentos de uma ciência -- e mesmo


Qamais exata das ciências? O físico observa e experimenta e, com boas razões.
não se contenta com experiênciaspré-científicas, para não fiar de apreensões
instintivas e hipóteses sobre experiências supostamente herdadas.
Omenológica

Segunda seção

A consideraçãofenomenológica fundamental

Capítulo l

A teseda orientaçãonatural
e sua colocação fora de circuito

$ 27. O mundo da orientaçãonatural: eu e o mundo a minha volta

Iniciamos nossasconsideraçõescomo homens da vida natural, represen'


tando, julgando, sentindo, querendo "em ar/e farão arwraZ:''.Tornamo-
nos claro o que isso quer dizer em meditações simples, que e6etuamosem
discurso em primeira pessoa.
Tenho consciênciade um mundo cuja extensão no espaçoé infinda, e
cujo devir no tempo é e 6oiinfindo. Tenho consciênciade que ele significa,
sobretudo: eu o encontro em intuição imediata, eu o experimento. Pelo ver,
tocar, ouvir etc., nos diferentes modos da percepçãosensível,as coisascor-
póreas se encontram sZHPZeimffe a/ pa a m/m, numa distribuição espacial
qualquer, elas estão,no sentido literal ou figurado, "à dZspoifãa", quer eu
esteja,quer não, particularmente atento a elas e delas me ocupe, observando,
pensando, sentindo, querendo. Também seres animais, por exemplo, ho-
mens, estão para mim imediatamente aí; eu olho para eles, eu os vejo, ouço o
aproximar-se deles, aperto-lhes as mãos, ao conversar com eles entendo ime
diatamente quais são as suasrepresentaçõese pensamentos, que sentimentos
neles se agitam, o que desejam ou querem. Também estão disponíveis como
e6etividades em meu campo intuitivo, mesmo quando eu não lhes preste
atenção.Não é, todavia, necessárioque eles, nem tampouco os demais ob-
jetos, se encontrem diretamente em meu campaPr cepa/?o.Paramim, junto
com os objetos percebidos anualmente,há objetos efetivos, como objetos de-
terminados. mais ou menos conhecidos, sem que eles mesmos sejam perce
bidés ou até possamser presentemente intuídos. Posso deixar minha atenção
se locomover, da escrivaninha que vi e considerei há pouco, passando pelas
omenológica
Sgwwdn, seçã,o:A
Desta maneira, na consciência desperta eu sempre me encontro re6eri-

não estápara mim aí como um mero m do de coisas,mas, em igual ime-


diatez, como m do dr bazares,como mw do d õrHS,como mwKdopráti-
co Descubro, sem maiores dificuldades, que as coisas a minha atente estão
dotadastanto de propriedadesmateriais como de caracteresde valor, eu as
acho belas ou ceias,prazerosas ou desprazíveis, agradáveis ou desagradáveis
etc. Há coisasque estão imediatamente aí como objetos de uso, a "mesa" :

com seus "livros", o "copo", o "vaso", o "piano" etc. Também esses ca-
racteres de valor e caracteres práticos fazem parte co iz 1/ a doJ o&yez:oJ
aaijpo íPcis" comoz:aZs,
quer eu me volte, quer não, para eles e par' os objetos
em geral. Tal como para as "meras coisas", isso vale naturalmente também
Eles são meus
para os seres humanos e animais de meu meio circundante.
"amigos" ou "inimigos", meus "subordinados" ou "superiores", "estra-
nhos" ou "parentes" etc.

S 28 O cogito. Meu mundo circundante natural


e os mundos circundantes ideais

Os complexos de minhas êsPOzla e/darei de consciência,em suasdiversas


variações,tais como o ato de considerar de maneira investigativa, de explicitar
e conceitualizar na descrição, de comparar e distinguir, coligir e contar, pressu'
por e inferir, em suma, a consciência teórica em suas diferentes formas e níveis
serefere,portanto, a estemundo, o mzl do emg e mr e co MOr g#?ê aomrs'
mo zlez#PO mw#do g#e me cj c da. O mesmo vale para as múltiplas.formas dos
atos e estados afetivos e volitivos: prazer e desprazer, alegrar-se e estar abatido,
desejare evitar,ter esperançae temer, decidir-see agir. Todos eles,Tcluindo
os simplesates do eu nos quais, em direcionamento e apreens?loespontâne-
os. estou conscientedo mundo como mundo /mrdZazlamrzredisponível, são
abrangidos pela expressãocartesiana cag/fo. Enquanto estou imerso na vida
natural. vivo continuamente nessajorna ## dama la/ d foda ?ida a#f##/"
"refle
não importa se eu enuncie ou não o cagilo, se estejaou não orientado
xivamente" para o eu e para o cog/falte. Se sou assim, então há um novo cagizlo
wvo, que é, por suavez, irrefletido, e que, portanto, não é objeto para mim.
Encontro-me continuamente como alguém que percebe, representa,
pensa, sente, desejaetc.; e ah me encontro, »a ma/or .pari:e das zes,atu-
SegMn

mesmosfazemos parte.

S 30. A tesegeral da orientação natural

O que apresentamospara a caracterizaçãodo dado na orientação natuml


e. com isso, para a caracterização dela mesma, foi um exemplo de descrição
;"', l;.;;;;.,l:'l;,."" "««i«"I Um, «,
-«' "i?rl=:le!'= tPly:i=
qualquer espéciede preconcebimento, nestasinvestigaçõesnos nos mante
mos rigorosamente afastados delas. As teorias entram em nossa esfera apenas
como fatos de nosso mundo circundante, não como unidades de validez,
e6etivasou supostas Agora, entretanto, nossatarefa não consistirá em dar
prosseguimento à descrição pura, intensiâcando-a numa caracterização s.]e
mática abrangente, que esgote, tanto em amplitude como em proftmdidade,
tudo o que pode ser encontrado na orientação natural(e em todas asorienta-
ções que possam estar correntemente entrelaçadas com ela) Tal tarefa pode e
deve ser fixada -- como tarefa científica -- e é de extraordinária importância,
embora até hoje mal tenha sido vislumbrada. Ela não é nossatarefa aqui. Para
nós, que nos empenhamos por chegar à porta de entrada da fenomenologia,
tudo o que é necessárionessadireção já estáfeito, pois precisamos apenasde

' "'===='=;:El=.='lmmd. alguns caracteresbem gerais da orientação natural, que já apareceramcom


c/arzza/P/e#ae suficiente em nossasdescrições E era justamente essaPZr#a
c/afegã que em especialnos importava.
Realcemosainda uma vez algo importante nas proposições seguintes:
encontro constantementeà disposição,como estando frente a dente comi-
go, uma efetividadeespaço'temporalda qual eu mesmofaço.parte, assim
como todos os outros homens que nela se encontram e que de igual maneira
estão a ela referidos. Eu encontro a "e6etividade", como a palavra já diz, es-
ta,ndo üí. e ü aceito tü,l como sedá para mim, ta,mbém como está,wíioü{. 'Toda
dúvida e rejeição envolvendo dados do mundo natural não modiâca em nada
a zlese.ge7.wZ
da o i zlafão az-wra/."O" mundo sempreestá aí como efetiú
dado,no máximoeleé, aqui ou ali, "diferente" do que eu presumia;sob a
Omenológica
;qwndü, seçãol

$ 31. Modiâcação radical da tesenatural

:Z',f;ZZ:.7=zz:T;«""rZI h u
pouco de uma conversão dela em conjecturar suposição, em indecidibilidade,
numa dúvida (não importa em que sentido da palavra): tais coisastampouco
entram no âmbito de nosso livre-arbíuio. Traz:a-se,a êlesde a Üo / z:eiramê#'
ll';;';;l=.';=b,;ã.=«a. *" *". q«..r«"«..., «ü' ":a y"T:l.:lT.:l"!.
a »ana co icfão, que permaneceem si mesma o que ela é, enquanto não
introduzimos novos motivos de juízo: o que justamente não fazemos E, no
entanto, ela sofre uma m:;:liâcação-- enquanto permaneceem si mesmao
lii::i;2:';.Z=';.i;l;«;l,.:. í,« «;'i« z?' .'@«" 'í' "fif?l.:.r't;'e,!Z":.f
d c /zlo", "a co/ocamoJ e z:rrparo zleieP'.Ela ainda continua aí, assimcomo
o que foi posto entre parêntesescontinua a ser entre eles,assimcomo aqui'
lo que foi tirado de circuito continua a ser fora da conexão com o cucuito.
Também podemos dizer: a tese é um vivido, maJ df/e ãojazemaí "#e #ílm
liso", o que, naturalmente,não deve ser entendido como PT:Tçao .tomo

.""""
ll,:=Ü%:':'3:,=:':H::;=:;:H:,.=T=s=1::Pn=nng
Segunda seçãol

S 32. A enaytl fenomenológica

Em lugar do ensaiocartesiano de dúvida universal, nós poderíamos fazer


surgir agora a enaytl universal, no nosso sentido nitidamente determinado
c novo. De//miramai, porém, com bom fundamento, a universalidadedess:

liberdade, e toda objetividade sujeita a um juízo pode ser posta entre pa'
íênteses. Nosso proposito, porém, é precisamente a descoberta de um novo
domínio científico, e de tal que deve ser alcançadojustamente pejo métodode
Pa r rl/zafão, submetido, contudo, a uma determinada resuição.
Numa palavra, é preciso caracterizar essa restrição .
ColocüLmosforü de a,ção ü tesegeral inerente à essência,ãü orientação %ü'
zrWraZ,
colocamos entre parênteses tudo o que é por ela abrangido no aspecto
ântico: isto é, todo estemundo natural que estáconstantemente "para nos
aí», "a nosso dispor", e que continuará sempre aí como "e6etividade" para a
consciência,mesmo quando nos aprouver coloca-la entre parênteses.
Seassim procedo, como é de minha plena liberdade?então não cegaeste
"mundo", como se eu fosse sofista, #ão d Zdo de J a rxZ é c/a, como se fos-
secético, mas efetuo a enoytl "fenomenológica", que me impede totalmente
de faze qwü,Lqwerjuízo sobreexigência esta,ço-tempera,L.
tiro, pois, de circuito todas üs ciências qwesereferem íx essemundo natu-
ra/, por mais hmemente estabelecidas que sejam para jnim: por mais que as
admire, por mínimas que sejam as objeções que pense lhes fazer: e@ ãojafo
absolutamentewsoütBnm ãe saü,spa,Lida,des. Não me ütlroprio de wmü única
proposição sequer delas, mesmo tive de inteira widênciü, nenhuma é üceüü por
mjm, mrw#z/mamenor fcc m a/icrrcr -- enquanto, note-se bem, 6or en-
tendida tal como nessasciências, como uma verdade soZ're ea/ dador deste
mundo. SÓ possoadmiti-la depoisde Ihe conferir parênteses.Quer dizer:
somente na consciênciamodificante que tira o juízo de circuito, logo, Jwsfa-
mente não dü maneira, em qweé P oposiçãonü ciência,, wmü pl"oposição que tem
pretensão à va,lidei, e cuja palidez ew ecowbeçoe utilizo.
Não se deveconfiindir a eno'TIcm questãoaqui com aquelaexigida pelo
positivismo, contra a qual ele mesmopeca,como tivemos de nos convencer.
Não se trata agorade tirar de circuito todos os preconceitosque turvam a
pura objetividade da investigação, não sc trata da constituição de uma ciência
livre de teoria", "livre de metafísica", pela redução de toda fiindação àquilo
que se encontra de modo imediato, nem tampouco de meios de atingir fins
Capítulo ll
Consciência e efetividade natural

Primeira indicação sobre a consciência "pura"


ou "transcendental", enquanto resíduo fenomenológico

Aprendemos a entender o sentido, mas de modo algum qual é a possível


operação da enayTI fenomenológica. Não está claro, sobretudo, em que me-
dida, com a delimitação deitaacima da esferatotal da eno'ríl, estárealmente
dada uma restrição de sua universalidade. O gwepodq pois, re a6 seo m do
inteiro é postofora de circuito, iwclwiwdo wósmesmoscom todo nossocoÚtue)
Uma vez que o leitor já sabeque o interessedominante destasmedita-
çõesdiz respeito a uma nova eidética, ele esperará, antes de mais nada, que o
mundo como fato sejaposto cora de circuito, mas não o mw do comoeidoi,
tão pouco quanto qualquer outra esferade essência.Pâr o mundo cora de
circuito não signiâca efetivamentecolocar cora dele, por exemplo, a teoria
dos números e a aritmética a esta referente.
Não seguimos,contudo, por essecaminho, nem tampouco nesserumo
seencontra a nossameta, a qual também podemos designar como a co#gwií-
En,úe wmü nota regia,o úo ser üté ÜBorü wão delimitam,ü naquilo qwe tbe é pró-
prio, que, como toda região autêntica, é região de ser /»dZpidwa/. O que isso
quer mais precisamente dizer será aprendido nas próximas constatações-
Prosseguimos,primeiro, mostrando diretamente e, uma vez que o ser
a mostrar não é senãoaquele que, por filndamentos essenciais,designamos
como "vividos puros", como "consciênciapura", que tem, de um lado, seus
puros "correlatos de consciência" e, de outro, seu "eu puro", nossaconside
ração se fará a partir do ezl, da co scié#c/a, doí / /doi que nos são dados na
orientação natural.
Eu -- eu. o homem e6etivo-- sou um objeto real como outros no mun-
do natural. E6etuocogZz:afio#fi, "atos de consciência" no sentido maisamplo
e mais restrito, e tais atos, enquanto pertencentes a este sujeito humano, são
84 Idéias para uma Éenomenolo-.=--- -. . e
fia fenomenológica
SeBwwdü,seção:A entü1 8S

fenomenológico tinha de permanecer um mundo desconhecido e até quase


impressentido.
Acrescente-seainda a nossaterminologia o seguinte. Motivos importan -
[es. fiindados na problemática epistemológica, justificarão que designemos a
consciência"pura", da qual tanto se fHará, também como camsciécia fra#J-
cf7zdf#Fa/,da mesma maneira que designaremos como enoYtl lira sff de fa/
a operaçãopor meio da qual é alcançada.Em termos metodológicos, essa
operaçãoserádecomposta em diferentes passosde "exclusão de circuito", de
"parentetização",e assimnosso método assumiráo caráter de uma redução
progressiva. Falaremos, por isso, e até preponderantemente, de f'edwfõeidrwo-
mr oZ(Üí;ai (ou, antes, unificando-as, da redução fenomenológica, tendo em
1:
vista a unidade de seu conjunto) e, portanto, também de reduções renome
1{''
nológicassob o ponto de vista epistemológico. De resto, estes,como zlodoi
nossostermos, têm de ser entendidos exclusivamente em conformidade com
o sentido que assaiexposições lhes prescrevem, mas não noutro sentido
qualquer sugerido pela história ou pelos hábitos terminológicos do leitor.

$ 34. A essênciada consciência como tema

Começamos por uma série de considerações no interior das quais não


lidaremos com nenhuma eno'rTIfenomenológica. Estamos voltados, de ma-
neira natural, para o "mundo exterior" e efetuamos, sem deixar a orientação
natural, uma reflexão psicológica sobre nosso eu e seu viver. Exatamente
como Eàríamosse nada tivéssemosouvido do novo tipo de orientação, nós
nos aprofündamos na essência da "consciência de algo", na qual estamos
conscientes, por exemplo, da existência das coisas materiais, dos corpos, dos
sereshumanos, da existênciadas obras técnicas e literárias etc. Seguimos
nosso princípio geral de que cada evento individual tem sua essência,que é
apreensívelem pureza eidética e, em sua pureza, tem de fazer parte de um
campo de investigaçãoeidética possível.Por conseguinte, os fatos naturais
gerais"eu sou", "eu penso", "tenho um mundo diante de mim" e outros
semelhantes também têm seusconteúdos eidéticos, e é exclusivamente destes
que pretendemos agora nos ocupar. E6etuamos,pois, exemplarmente, alguns
vividos singularesde consciência,tomados tais como se dão na orientação
natural, como fatos humanos reais, ou presentificados na memória ou em li-
vre ficção da imaginação. Sobre tal fundamento exemplar, pressuposto como
perfeitamente claro, apreendemos e fixamos em ideação adequada as essên-
cias puras que nos interessam. Neste caso, os fatos singulares, a facticidade
#

osofia fenomenológica seBwnda, slç

do mundo natural em geral desaparecede nosso olhar teórico -- assim como


ocorre em geral onde câetuamos investigação eidética pura. "

constatar. Trata-se, exclusivamente, do halo de consciência inerente à essen-


cia de uma percepção e6etuadano modo do. "estar voltado para o.objeto" e,

sãopercebidos"com atenção" ou "notados concomitantemente"


S 35. O cogito como "ato". Modiâcação de inatualidade

:;.;=L;;;;"to
=1==:1':Zzz u:r'=;:;:U:i=#'.;H'.IUU.:iH'=:
'=n:=
n;t«'d o« fenom'nolód".(NT)
6]osofia fenomenológica SeHwndaseçã

S 36. Vivido intencional. Vivido em geral

rVB

de algo,eles sãoditos "i»fe cio a/mê le n:ferido?' a essealgo.


Ü
Deve-se
observar
queHãosr e ája/a daag ide marl:Hzé fia r fe
um mento psicológicoqualquer -- cbümüÚo divido -- e Bma owtrü extstêwctü
real -- chamada objeto,ou de um 'VínculopsicotiigicoetRre um e o\xHOque
se daria #a l:HeíipidadêoZg'Efil7a.
Está-se falando, ao contrário, de vividos por
essênciapuros ou de essaciaspwraie daquilo que estái rZ /do «aPrjod', fm
»rcess dado Z co diriowada, nessas essências. . .

Que um vivido sejaconsciênciade algo, por ex(Ímpio?que uma ficção


sejaacção do centauro determinado, mas,que também uma percepçãosqa

idéia pura Na própria essênciado vivido não estácontido apenasque ele é


consciência,mastambém do que é consciência,e em que sentido determi
nado ou indeterminado ela o é. Com isso também está incluso na essência
da consciênciainatual em que espéciesde cogZfafZo#êí atuais ela deve ser
convertida pela modiâcação'de que acima se falou, que designamoscomo
"direcionamento do olhar atento para algo no qual não se atentaraantes"
Por pipidoí o sr lido mais al#p/o entendemos tudo aquilo que é encon-
trável no fluxo de vividos: não apenas,portanto, os ávidos intencionais, as
cqgiiafíof&rsatuais e potenciais tomadas em sua plena concreção, mas tudo
SeBwwdnseção:A

com atentar para algo, com notar algo, quer a atenção sevolte especialmente,
quer concomitantementepara ele: é ao menos assimque essestermos são
habitualmente entendidos. Ora, #esle aZ:e far o ap ee d não se trata do

mais exatidão, de um modopari/f /ar de azia,que toda consciência, isto ê,


todo ato que ainda não o possua,pode assumir.Se ele o assume,então não
se estáapenasconscientede seu objeto intencional, ele não estáapenassob

Não podemos, sem dúvida, estar voltados para uma coisa a não ser na manei-
ra da apreensão, e também é assim com todas as "oZI & dadfí s/l#PZflme#-
ff r@' ele fá fZs": "voltar-se para" (mesmo na acção).é ro ipso "apreensão",
"atenção". No ato de valor, entretanto, estamos voltados para o valor, no ato
da alegria, para o que alegra, no ato de amor, para o que é amado, no agir,
a ação, sem que nada disso seja apreendido por nós Ao cont=rário, o ob-
jeto intencional -: aquilo que tem valor, aquilo que alegra, o amado,o que
se esperacomo tal, a açãocomo ação-- só se torna objeto apreendido num
S 37 "l20/fwr-Je para" "o&y'ef/paKzle"próprio. No estar voltado valorativamente para
uma coisa se inclui de fato a apreensão da coisa; não a mira coisa, mas a coisa
O 'atençãoapreensiva a" do eupuro no cogito
d pavorou o valor é (ainda fHaremosmais pormenorizadamentedisto) o cor-
re/aZIa/ Zlec/o a/p/e o do a&o a/praz/ o. "Estar voltado pa/oxwfi?amewlepara
uma coisa" não signiâca, portanto, já "zle/' o valor "Por oOefo', no sentido
particular do objeto apreendido, como o temos de ter para predicar sobre ele;
e assim em todos os ates lógicos que a ele se referem.
Em fitos do mesmo tipo que os valorativos, temos, portanto, um oóyela
/ fe c/o a/ em d#p/o se lido: temos de distinguir a mera "coisa" e o o&yeroi#-
zle fio a/ p/e#o, e, por conseguinte, temos de distinguir uma dwpZa Z»zre#fío,
um duplo "estar voltado para"- Se no ato de valorar estamosdirecionados
uma coisa, a direção para a coisa é um atentar para ela, um apreendê-la;
mas também estamos :'direcionados" para o valor -- só que não no modo da
apreensão. Não apenas a ?lePesr farão-de-coisa, também a a/arafão-df-coisa
que a abrange possui o modo afwaZ/dado.
Temos, porém, de acrescentarimediatamente que a situaçãosó é sim-
ples assim nos atos simples de valor. Em geral, os atou afetivos e volitivos se
fundem num nível mais alto e, por conseguinte, também a objetividade in-
tencional se adensae, com ela, as maneiras pelas quais a atenção se volta para
os objetos incluídos no todo coerentedessaobjetividade. No entanto, como
quer que seja,vale a seguinte proposição capital:
.Em rodo aZIaP epa/ecr m modo da azle#fão. Sempre, porém, que não haja
uma consciência-de-coisa
simples,sempreque numa tal consciênciaesteja
fenomenológica

S 38
Reflexões sobre atos. Percepçõesimanentes
e percepções transcendentes

ganhará em clareza e mostrará sua grande importância no que segue.


94
fenomenológica Segwwdüseçãol
S 39. Consciência e efetividade natural. "
A concepção do homem "ingênuo), ine Mim. Essaconte última é, manifestamente, a l:!@edé cia ie iíprZ.Para nossos
6ns não basta, porém, considerar a prxrgPfão se#sãrZ, que num certo bom senti-
do desempenha,entre os ates de experiência,o papel de uma experiênciaongt-
nária,da qual todos os aios de experiênciatiram uma parte capital.de suacorça
Mdmte. É próprio de toda consciênciaperceptiva ser consciênciada Pr(#»'/a
P ír fa rm carmr f ossode m o&y2roi»dipidwaZ, que, por.sita vez, é indiüduo no
sentido lógico puro ou numa derivaçãológco-categorial dele.a No nossocaso,
que é o da percepção sensívelou, mais distintamente, da percepção de coisa, o
indivíduo lógico é a coisa; e é suâciente considerar a percepção de coisa como
representante de todas as outras percepções(de qualidades, de eventos etc.)..
A vida natural despertade nosso eu é um constante perceber, atual ou
inatual. O mundo-de-coisas, com nosso corpo nele, continua sempre a estar
aí. na forma de percepção.Ora, como há, como pode haver separaçãoentre
a co#ir/ê#c/a prima, como um if co c efo rm s{, e o ser nela trazido à cons-
ciência, o ier Pr rfó/do, como aquele que está"co#lrapo#o" à consciênciae
como sendo "em-i/ e p07:'-Ji''?
Eu medito, em primeiro lugar, como homem "ingênuo". Vejo e toco
a coisa mesmaem carne e osso. Certamente, de quando em quando eu me
engano e não apenas quanto às qualidades percebidas, mas também quan-
to à existênciamesma.Sucumbo a uma ilusão ou alucinação.A percepção,
então, não é percepção"autêntica". Mas se o é, vale dizer, se ela pode ser
"confirmada" no nexo da experiênciaatual, eventualmente com auxílio de
pensamento experimental carreto, então a coisa percebida é l:Hefl a e está
realmente dada ela mesma, em carne e osso, na percepção. Considerando-o
meramente como consciênciae abstraindo do corpo e dos órgãos do corpo,
o perceber apareceentão como algo inessencialem si mesmo, como um
olhar vazio que um "eu" vazio lança na direção do próprio objeto, e que
entra-emcontadocom estede uma maneiradigna de espanto.

S 40 Qualidades "primárias" e "secundárias". A coisa dada em


carne e osso -- "mera aparência" do "âsicamente verdadeiro"

Se, como "homem ingênuo", "enganado pelos sentidos" cedi à incli-


nação de tecer reflexões como estas,lembro-me agora, como "homem de
ciência", da conhecida distinção entre qualidades ief dár/ai e primáf'ia',

24Cf. acima $ 15, p. 53


B

r
61osofiafenomenológica

nós todos vivemos e agimos

S 41. A composição real da percepção e seu objeto transcendente


fia fenomenológica

a despeito de qualquer interrupção que possahaver na continuidade da

cor. forma etc. Entrelaçando-seainda com outros caracteres,isso consti-

fiindada na eisé#cia dessas diferentes unidades.


Deve-se ter nítido diante dos olhos que os dados de sensaçãoque
forma
exercema função do perâl da cor, do perfil do liso, do perfil da
etc (a função da "exibição") são por princípio inteiramente diferentes da
cor. da lisura, da forma pura e simples, em suma, de todas as espécies.de

ÊãeZZ'48m;ZUf
que é' perfilado, no entanto, só é por.princípio.possívelcomo algo no

!
2sCf. acimaS 35, especialmentep. 86.
eis um tema para importantes invesugaçóes
]
sg
])iferença de princípio dos modos de intuição

a.

'T

h cer". nem de um "exibir-se" por perfis. Onde não há ser no espaço?não há


justamentesentidoem falarde um. ver a partir de .. . . ....
.. pontos de vistas -.:.--.
.-: .. distintos,
numa orientação que varia conforme aspectosdistintos que ali se oferecem,
conforme perspectivas,aparênciase perfis distintos. Por outro lado, é uma
necessidadede essência,apreensívelcomo tal em evidência apodítica, que
em geral o ser no espaço só é perceptível para um.eu, (para qualquer eu
ssível) nesse modo de doação indicado. Ele só pode "aparecer" em certa
" tentação", com a qual necessariamente se prescrevem possibilidades sis-
temáticas para sempre novas orientações, a cada uma das quais correspon'
de, por sua vez, certo "modo de aparecer", que exprimimos, por exemplo,
como dado deste ou daquele "aspecto" etc. Se entendemos a .expressão
"modos de aparecer" no sentido de "modos do ?i?ido" (ela também pode
ter um sentidocorrelativo,ântico, como ficou visívelpela descrição.
que
se acabade fazer), então ela significa: é da essênciade algumas espéciesdê
?ipido de uma estrutura peculiar, mais precisamente, é da essência de pe.a-
cepçõesconcretasde uma estrutura peculiar, que se tenha consciõnciajo
intencional nelas como coisa no espaço; Cazparte da sua essência a possa'
bilidade ideal de que cadauma delasse torne uma multiplicidade contínua
;;l:lg=.s=s;tina.====
:==n:z:=:!=u.;;#:.:: de percepçoes em ordenação determinada, multiplicidade que pode sempre
ser novamente ampliada e, portanto, jamais será concluída. Tal multipli-
V

nomenológica

S 43. Esclarecimentode um erro de princípio

isto é, mediante percepções perfüantes.

$44. O mero ser fenomenal do transcendente,


o serabsoluto do imanente
7

]
Sqwn

contrário, com suaidentidade objetiva, é dado por perâl, ele tem seusmodos
cambiantes de aparecer. Eles são diferentes, conforme eu esteja mais próximo
ou me afmte do violino, conforme eu mesmo esteja na salade concerto ou
escuteatravésde portas fechadasetc. Nenhum modo de aparição tem pre
tensão de valer como o modo que dá o som do violino de maneira absoluta,
embora,no âmbito de meusinteressespráticos, um deles, como modo nor-
mal. tenha certa preferência: na salade concerto, no lugar "carreto", ouço o
som "mesmo", como ele soa "e6etivamente". Da mesma forma dizemos que
toda coisa tem um aspectonormal em termos visuais: dizemos da cor, da for-
ma. da coisa inteira que vemos à luz normal do dia e em orientação normal
em relação a nós, que "ela tem efetivamente esseaspecto", "esta é a sua cor
e6edva" etc. Isso, porém, indica apenas ama espéc/ d o&yefipafãoJec dár/?
no âmbito da objetivaçãototal da coisa;do que é fácil de seconvencer.E
claro que, se conservássemos
exclusivamenteo modo "normal" de aparição
e suprnmssemos as demais multiplicidades do aparecer e a referência essencial
a elas. nada mais restaria do sentido da coisa como dado.
Retenhamos, pois, isto: se, por um lado, é da essênciado dado por apa'
lições que nenhuma delasdê a coisa como um "absoluto", e não em exibi-
ção parcial, por outro, é da essênciado dado imanente dar justamente um
absoluto, que não pode de modo algum se exibir ou perfilar por seuslados.
Também é evidente que os próprios conteúdos perfilantes da sensação,que
entram realmente no vivido perceptivo de coisa, operam como perra para
outra coisa. mas não são eles mesmos dados em per61
Atente-se ainda para a seguinte distinção. Também um vivido jamais
é completamente percebido, ele não é adequadamenteapreensívelem sua
unidade plena.Ele é, por suaessência,um fluxo, que, sedirigimos o olhar re
flexivo para ele, podemos acompanhar desde o momento presente, mas cujos
trechos percorridos estão perdidos para a percepção. Temos uma consciência
do que acaba imediatamente de decorrer somente na forma da retenção, na
forma,por exemplo,da rememoração
retroativa.E, finalmente,todo meu
l
]

Sega

b l
b

11:

infinito. Por outro lado, o vivido irrefletido também tem de preencher certas
condições para estar pronto para ser percebido, embora de uma maneira
inteiramente diferente e adequadaa suaessência.Ele não pode "aparecer".
modo de seu
Como quer que seja,ele preencheessascondições pelo.mero
estar ali, a saber,para aquele eu a que ele pertence, cujo puro olhar de eu
eventualmente "nele" vive. Somente porque reflexão e vivido possuem essas
peculiaridades de essência,aqui meramente indicadas, nós podemos saber
l ''''-sobre os vividos irrefletidos e, portanto, também sobre as pro!)nas refle
xões É óbvio que as modificações reprodutivas (e. retencionais) dos vividos
possuem propriedade paralela,'só que modificada de forma correspondente.
Prossigamosainda com o contraste. Vemos: o modo d ier do pi?ido é
;.« ;;;ã=;i:'p« P,i«'ÍP'., «.«.d,.. dü ..$.*'.. À.."*'' tmb!' «« ,S
principio, aÜo pr crp&âeZ, e é apreendidana percepçãocomo coisa de meu
mundo circundante Ela pertence a essemundo, mesmo sem ser percebida,
portanto meslllo e#lão ela ei/á aZI para o eu. Em geral, porém, ela não está ah
de modo que um olhar de simples atençãopossaa ela se.dirigir. Entendido
como campo daquilo que pode vir a ser simplesmenteobservado, o findo
S 45. Vivido não percebido, realidade não percebida
abrange apenasuma pequena parte do mundo que me circunda. O está ah
quer então dizer ouça coisa: partindo de percepções atuais, com o fundo que
diâeree nose essência no essasSituações, entendemos também a seguinte qu'' " "'te aparece, as séries de percepções possíveis, moüpadai de modo
perceptibilidade. do como vividos e coisasse relacionam com a contínuo e coeso, com semprenovos campos de coisas(e fundos aos quais
não se atenta), levam até aqueles nexos de percepções nos quais justamente
\

Sqw»

cepção imanente. . . . . .-.:. J


r'ii contraposição a isso, Eazparte, como sabemos, da essênciado mun-
do-de-coisasque nenhuma percepção,por perfeita que seja, dê um absoluto
em sua esfera, e a isso está essencialmente ligado que toda experiência, por (:

mais ampla que seja, deixa aberta a possibilidade de que o dado #ão exista, a
despeito da consciência constante da presença dele mesmo em carne e osso. t
Valeaqui a seguinte lei eidética: a exi ê c/a da coiíalama J é ma rxz ê cza
'"'=UE=:=tt===t==::=. exÜ da como rcrssá a p Zodado, mas de certo modo é sempre coKflmgf#'
fr. Quer dizer: sempre pode ser que o transcurso posterior da experiência
obrigue a abrir mão daquilo que já está posto com Zêgiz:im/dadr/#P/r/ca.
Aquilo foi, diz-se depois, mera ilusão, alucinação, mero sonho concatenado
etc. Acrescente-se que nessaesfera de dados está constantemente aberta a
possibMdadede algo como uma mudançade apreensão,a alteraçãode uma
apariçãonuma outra que não se coaduna correntemente com ela e, assim,a
possibilidade de que posições de existência empírica posteriores incluam so-
bre posições de existência anteriores, pelo que os objetos intencionais destas
sofrem ulteriormente, por assim dizer, uma transformação -- eventos estes
que estão por essênciaexcluídos da esferade vivido. Conflito, ilusão, ser ou-
tro não têm espaçona esperaabsoluta. Ela é uma esfera de posição absoluta.
Assim, pois, está de todas as maneirasclaro que tudo aquilo que está
para mim aí no mundo-de-coisas, é por princípio Some z:erea//dada preswK-
li a; mas está claro, ao contrário, que rw mormo, para quem aquilo está aí
(por exclusãodaquilo que é "por mim" atribuído ao mundo-de-coisas), mais
exatamente, que minha atuahdade de vivido é efetividade a&íoZw&z,dada por
uma posição incondicionada, pura e simplesmente.insupnmível.
A tese do wybando,qwe e % v ü tese «conti71Bente", contrapõe-se, porta,wto, ü
begede , ew eu paro e dü pid,ü do ew, qwe e wv'tLÜtese "necessária;', y\na. e s\nl-
plesmente indubitável. nada coisa dada rm car e f ossofam&ém poda ão Jr6
maí ão m /p/do d do rm car ê f osso:tal é a lei de essênciaque define essa
necessidade e aquela contingência.
A necessidadede ser de cadavivido atual não é, por isso, manifestamente
uma pura necessidadede essência,ou seja,particularização eidética pura de
uma lei de essência;é a necessidadede um fato, que assim é chamada porque
\

Capítulo lll

A região da consciência pura .l -.

t
$ 47. O mundo natural como correlato da consciência !1

ii:lR19Hãl lg 33:F m:
\
112
lcléias para uma âcnomenologia pura e

dir racionalmente --, fZaí o jãa Segwn4


que lhes prescreve o seu
o prescrevecomo
determinada. Se
dética os tipos de vividos
percepção de coisa, se
eidéticas (como
ruir eideticamente
as
motivados, então o
real" , res ttü ti como caso
osquais,porsuavez,nada
possíveis da idéia de
experiências mais ou
pela expressão
também apontam para novas experiências possíveise assim / Z#@ifwm. E
em-si" dela. O
todas elas são efetuadas segundo espéciese formas de regulação eideticamen-
da detodos os
te determinadas, obedecendo a tipos a priarl. . .
pode ser esgotado, a Toda estimativa hipotética na vida prática e na ciência experimental se re
çao,isto é, a a essehorizonte mutável, porém sempreco'incluído na tesedo mundo,
de atestação.
horizonte pelo qual esta ganha seu sentido essencial.
idéia pura dessa
Isso vale
derser
S 48 Possibilidade lógica e cona'a-senso
;msiét Itl e não fático de um mundo fora de nossomundo
A coisaé coisa do
possível, não
Por certo, a admissãohipotética de um real cora deste mundo é "logi-
rimentável
camente" possível,nela não há manifestamenteuma contradição formal. Se
/Óg/ca paz/a. mas
é, de um perguntamos, porem, pelascondições eidéticasde suavalidez, pela espéciede
atestaçãoexigida pelo seu sentido, se perguntamos pela espécie.de atestaçao
novas motivações e em geral determinada por princípio pela tese de um transcendente -- não
noseuconteúdo de importa de que maneira possamoslegitimamente generalizar sua essência--,
menos delimitadas
reconhecemos que ele tem de ser necessariamente êxp #me Zzí?e/,e não ape-
"conhecidas"ou
nas para um eu pensado mediante mera possibilidade lógica, mas por a gum
eu alma/, enquanto unidade atestávelde seus nexos empíricos. Pode-se, no
entanto, ver com evidência(aqui, sem dúvida, ainda não fomos tão longe para
poder finda-lo em pormenor, fundação para a qual somente as análisesposte'
flores fornecerão todas as premissas), que o que é cognoscível para wm eu, tem
de ser poro'i#c@io cognoscível para foda r g aZg er eu. Ainda que nem todo
eu esteja,e tampouco possaestar,#zl/cam fe em relação de "empana,'l de
entendimento, como todo e qualquer eu, por exemplo, nós com os espantos
que vivem talvez nos mais distantes mundos estelares,ainda assim subsistem,
114 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osoâafenomenológica
Segwwda

pot pt\xvcxP\o, possibilidades eidéticüs de eüabelecimento de um entendimento,


portanto também possibilidadesde que os mundos de experiênciafaticamen-
te exigidos se juntem, mediante nexos empíricos atuais, num único mundo
intersubjetivo, que é o correlato da unidade de um mundo de espíritos(da
ampliação universal da comunidade de seres humanos). Caso se leve isso em
conta, então a possibilidade lógico-formal de realidadescora do mundo, cora
Ç

do zí#/co mundo espaço-temporal que está./fiado por nossa expet.iência azp@aZ, b

se mostra e6etivamente como contra-senso. Se há em geral mundos, coisas re- b

ais, então as motivações constituintes da experiência têm de .padrechegar até a


minha experiência e a de cada outro eu, da maneira geral acima caracterizada.
Há, obviamente, coisase mundo de coisasque não se deixam atestarde modo
determinado em nenhuma experiência#wma#a, mas isso tem meramente fim-
damentos fáticos nos limites fáticos dessa experiência.

S 49. A consciênciaabsoluta como resíduo


do aniquilamentodo mundo

Por outro lado, com tudo isso não estádito que Ifm d haver um mun-
do, que &emde haver alguma coisa.A existênciade um mundo é o correlato
de certas diversidades empíricas que se destacam por certas configurações
eidéticas.Não há, porém, evidênciade que as experiênciasatuais só possam
transcorrer nessasformas de concatenação;isso não pode ser tüado pura-
mente da essênciada percepçãoem geral e das outras espéciesde intuição
empírica dela co-participantes. Pode-se muito bem pensar, ao contrário, que
o conflito não dissolvea experiênciaem aparênciaapenasno singular, que a
aparência, como de daczroocorre, não anuncia uma verdade mais profunda,
e o conflito não é exigido naquele lugar justamente por nexos mais abran-
gentes a âm de que a coerência do todo seja preservada; pode-se pensarque
a experiência fervilha de conflitos irreconciliáveis, não apenaspara nós, mais
irreconciliáveis em si, que ela se mostra de uma vez por todas reâatária à su-
posição de que suas posições de existência das coisas se manterão coerentes,
que sua concatenação carece de ordenações seguras para regular os peras,
as apreensões,as aparições-- enfim, que já não há mundo. Pode ser que se
chegasse,numa certa medida, à constituição de grosseirasconfiguraçõesde
unidade, pontos de apoio passageiros para as intuições, as quais seriam meros pondente wãoexlstaí
análogosdas intuições de coisa, porque totalmente incapazesde constituir
"realidades" conservadas,unidades de duração que "existiriam em si, fossem
elas percebidas ou não". « «Não carecedc coisaalguma pma existir". Em latim, no original.(NT)
\

116 117
.!gliW p"a «ma fenomenologia

Vemos, portanto, que consciência uma cegaordem de leis tivesse estabe


espécies de ser de mesma ordem.
de se orientar pela ardo ez- co exmo
outro, que ocasionalmentese
a realidade da coisa tomada isoladamente, como
com o outro. No sentido nosso sentido rigoroso)
só é possível para aquilo que é absoluto e que secunda
tanto um quantooutro, uma
um outro, mas,no sentido absoluto, não é nada, não
sem dúvida, do ser imanente
tem a essenciaHdade
de algo que é por prmclpio
eles "são", que são
conscientizado, um representado, um apareci-
ção objetiva: é, no
objeto e determinação
novamente ao primeiro capítulo, a
rias lógicas vazias. Um
fenomenológica. Está claro agora que
cia e realidade. Aqui, um ser teó-icanatural, cujo co"elato é o
mas meramente
possível, a qual, a despeito de colo-
não podepor
A despeito de da naturezapsicofísica,conserva ainda algo -- o
damento de sentido, de um da consciência absoluta. Em vez, portanto, de viver ingenua
teoricamente aquilo que se experimenta,
ciência #a mundo e de
a "redução fenomenológica". Noutras
cofÍsicos" --, a despeito
os atos de competência da
considerada em sua
teses transcendentes, e de nos
fechadapor si, como
transcendentes pelas motivações neles
penetrar e do qual nada pode todas essasteses"fora de ação", não compara
espaço-temporal e não
não pode sofrer nosso olhar que apreende e investiga teoricamente
coisa nenhuma -- aÓso/lo. Isso, portanto, ê o que res-
te buscava, e resta, embora tenhamos
causalidade natural, os seres viventes, os homens,
Poroutro
humano se propriamente nada,
entendido,abriga
sentido) tneTO SeT
cundário. mundanas, as "constitui" em si.
Na orientação natural í:Hrzlwamaipura e
ciência põe a
e determinável como o por meio dos quais o mundo estápara nós aí.Vi-
nesses fitos em que nos
modo coerente -- mas, aam mas são dadas com o
da ciência natural, efetu-
nos quais aquelas
S 50. A orientação fenomenológica e a consciência em conformidade
' pura como campo da fenomenologia fundados naquelas transcendências
direto, fazemosinferênciasobre
E assimque se inverte o sentido comum do discursosobre o ser. O ser orientação fenomenológica, nós il#pedjmas, em
que para nós é o primeiro, é em si o segundo, ou seja, ele é o que é somente de princípio, a e$rzlwafãa
de todas essasteses cogitaüvas, isto
a

a fenomenológica SeBwndü seçãol

é, nós "colocamos entre parênteses" as teseseâetuadas,e "não compartilha-


mos dessasteses"para fazer novas investigações;em vez de nelasviver, de
ai eÊetuar, eâetuamos atos de nWexão a elas direcionados, e as apreendemos
como o ser aóso/ fo que elas são. Vivemos agora inteiramente nessesatos de
segundo nível, cujo dado é o campo infinito do conhecimento absoluto -- o
;amuo fundamenta,L da fewomewoloyiü.

S 51. Significação das considerações transcendentais preliminares

Qualquer um pode, semdúvida, eâetuarreflexão e trazê-la à apreensão


de seu olhar na consciência;com isso, no entanto, ainda não se e6emou??-
./7exãofenomenológica, e a consciênciaapreendida não é consciênciapura.
Considerações radicais como as levadas a cabo por nós são, portanto, neces-
sanaspara nos compenetrarmos do conhecimento de que há e pode em geral
haver algo como o campo da consciência pura, que não é parte componente
natureza; e o é tanto menos quanto a natureza só é possívelcomo uma consciência.
ade intencional nele motivada por nexos imanentes. Tais considerações
sao necessáriaspara.que se reconheça, além disso, que essa unidade é dada se-
e deve ser investigada teoricamente numa orientação em tudo diferente da- ])ara não deixar surgir mal-entendidos,faça-seaqui de passagema
quela na qual se deve em geral investigar a consciênciaque "constitui" essa
unidade e, assim,toda e qualquer comciência absoluta. Elas são necessárias
para que, (cante da miséria fHosóficaem que em vão nos debatemos, conhe
cida pelo belo nome de visão-de-mundo fiindada em ciência natural, fique
finalmente claro que investigação transcendental da consciência não pode
nem significar investigação natural, nem a pressupor como premissa, porque
em sua orientação transcendental a natureza está posta por princípio entre
parênteses. Elas são, enfim, necessáriaspara que se reconheça que nossa abs-
traçao de todo o mundo, na forma da redução fenomenológica, é algo de
todo diferente de uma mera abstraçãode componentesde nexos abrangen-
tes, sejam eles necessáriosou fáticos. Não fossem os vividos de consciência
p:"":le's s'm,ent'elaç'mento com a natureza, da «r,«a «a#c/ra g"f 'o"s
nao sao pensâveis sem extensão, não poderíamos considerar a consciência
como qma região absolutamente própria por si, no sentido em que temos de
Êazê-lo É preciso, porém, ver com clareza que por "abstração ':ida natureza
só se obtém algo natural, jamais a consciência transcendental pura E, mais
uma vez, a redução fenomenológica não quer dizer mera restrição do juízo ' .
a uma parte concatenadado todo do ser eâetivo.Em todas as ciênciasparti-
cularesda e6etividade,o interesse teórico se restringe a domínios particulmes
f?fia âenomeno16gica
Segwndüseção:A ente,l \2\
de causalidade, que está em consonância com as realidades e com os «-- fundadas e receberão confirmação constante em nossas análises subseqüen-
fiincionais inerentes à essência particular delas. ' '' ' -' "'-'-uS
tes) âca claro que teorias dessaespéciesó são possíveisenquanto se evita
tomar seriamente em consideração e examinar cientificamente a findo o sen-
tido do dado "coisa" e, portanto, o sentido de "coisa em geral" contidos na
f:sçé»r/aprópria da experiência -- sentido que constitui a norma absoluta de
todo discursoracional sobre coisas.Aquilo que atenta contra essesentido, é
justamente um contra-senso na acepção mais rigorosa,a2 e isso vale indubita-
velmente para todas as doutrinas epistemológicas do tipo aqui assinalado.
Poderia ser facilmente atestado que, se a presumível causa desconhecida
exisfZssr
mesmo, ela teria PO Pr/ c/pio de ser perceptível e experimentável,
S 52. Complementos. A coisa física
senãopor nós, ao menos por outros euscapazesde ver melhor e mais longe.
e a "causa desconhecida das aparições" Além disso, não se trataria, por exemplo, de uma possibilidade vazia, mera-
mente lógica, masde uma possibilidadede essênciaprovida de conteúdo e
válida com esseconteúdo. Também se poderia mostrar que a própria percep'
ção possível teria de ser mais uma vez, e por necessidadede essência,uma
percepção por aparições, e que, assim, cairíamos numa inevitável regressão
Í Zpi@Zfwm.Afora isso, seriapreciso indicar que uma explicaçãodos even-
tos dados na percepção mediante realidades causais hipoteticamente aceitas,
mediante coisasdesconhecidas(como, por exemplo, a explicação de interfe
rênciasna órbita de certos planetaspela admissãode um novo planeta ain-
da desconhecido,Netuno), é por princípio diferente de uma explicaçãono
sentido da determinação física dascoisasempíricas, de uma explicação que se
vale de meios físicoscomo átomos, íons etc. E assim,num sentido parecido,
ainda haveria muita coisa por desenvolver.
Não podemosentrar aqui numa discussãosistemáticaexaustivade todas
essasrelações. Para nossos fins, basta dar nítido relevo a alguns pontos prin-
l
cipais
Tomemos, para começar, a constatação facilmente comprovável de que,
l no métodofísico,a P (@ZaCoisa
pcrcr&idaé, sempree por princípio,exafa-
wente ü, coisa qwe o $sico inpeaiBÜ e dele mina ciewti$camewte.
Essaproposição parece contradizer as proposições anteriormente enun-
ciadas,;;nas quais procuramos determinar mais de perto o sentido dos dis-
cursos habituais dos físicos, isto é, o sentido da separaçãotradicional entre
qualidades primárias e secundárias. Depois de eliminar patentes mal-en-

s2Neste escrito, contra-senso é um termo á:giro e não exprime #em#wml&a valoração extralogtca
fundada em sentimento. Mesmo os maiores investigadores caem por vezes em contra-senso, e
se é nosso dever cientíÊco dizê-lo, isso não diminui o respeito que temos por eles.
3' Cf as exposições sobre a teoria da imagem e do signo no S 78, PP. 171 e segs. saCf. acima, p. 95, $ 40.
\

Hosofia fenomenológica SeBwndaseção:A considerücã,o


fenlmenolijgicü ft ndümenla,L \23
tendidos, dissemosque a "coisa propriamente experimentada" nos daria o aceleração,energia, átomo, íon etc. Portanto, a coisa que aparecesensivel-
"mero isto", um "x vazio", que se tornaria o suporte das determinações mente, que tem formas sensíveis,cores, propriedades olEativase gustativas,
físicasexatas,as quais não entrariam na experiência propriamente dita. O ser é tudo menos um signo de uma oz/zra coisa, mas é, de certo modo, signo dr
.íisico verdadeiro" seria, portanto, um ser "de determinação diferente por st 'y»esi'nã.
princípio" do ser dado "em carne e osso" na própria percepção.Este estaria O máximo que se pode dizer é que, pa a ojz's/cog eláp oced rmgf a/
aí tão-só com suas determinidades sensíveis, que'justamente não são deter- à dfzlermi afãs #Zsira de tais coisas em nexos de aparição especificamente
minidades físicas
adequados, a coisa que aparece com tais e tais propriedades sensíveis, sob tais E

circunstâncias 6enomenais dadas, é indício de uma profusão de propriedades


causaisdessamesma coisa, que se anunciam como tais justamente em espé-
cies bem conhecidas de relações de dependência entre as aparições. Aquilo bq

que ali se anuncia é, manifestamente justamente por se anunciar em uni


dadesintencionais de vivido de consciência--, transcendente por princípio.
Depoisdissotudo ficaclaro que mêímoa mais a/fa z:raic dé cia da
coisa$sicü não stBwi$cü mü nctrüpoLüçãodo mando para a,consciência,isto r:
é, para qualquer eu (individualmente ou em vínculo de empatia) operando c:
como sujeito do conhecimento.
Em linhas gerais, a situação é a seguinte: é sustentado na experiência na-
tural (isto é, nas tesesnaturais que ela e6etua) que se estabelece o pensamento
físico, o qual, íegw/ do mof/ OI acio#aisque Ihe são oferecidos pelos nexos
empíricos, eâetuacertos modos de apreensão,certas construções intencionais
como sendo exigidasracionalmente, e as e6etuapara a dez:frm/ afãs zleórca
das coisas experimentadas sensivelmente. Por isso mesmo surge a oposição
entre a coisa da simples /mag/ azl/osensível e a coisa da /»feZZefziofísica, e
é em vista destaúltima que surgem todas aquelas construções ontológicas
ideais de pensamento que se exprimem nos conceitos físicos, e que tiram e
podem tirar seu sentido exclusivamentedo método científico natural.
Seo que seentende por físicaé o trabalho que a razão lógico-experimental
Cazpara extrair um correlato intencional de nível mais alto -- isto é, para ex
trair, da natureza que simplesmente aparece, a natureza física --, então signiâ-
ca fazer mitologia quando essedado w/dr le de razão, que nada mais é que a
deferm/ afãs /í@/co-cxper/mewíw/ da natureza dada simplesmente na intuição,
é explicado como um mundo dêxrom#ec/do de realidades de coisasem si, mun-
do hipoteticamente suposto para fins de explicação cawsw/das aparições.
Opera-se, portanto, o contra-senso de ligar por í;a sa//dada coisas sensí-
veis e coisasfísicas.Com isso, porém, no realismo habitual as apariçõessen-
síveis,isto é, os objetos que aparecem como tais (os quais já são elesmesmos
transcendências) são confundidos, em virtude de sua "mera subjetividade",
com os vividos absolutos de aparição, da consciência empírica em geral, vivi-
s4Cf. acima, S 43, p. 102.
dos que constituem aquelesobjetos. Por toda parte se comete essaconfissão,
6a fenomenológica Squnda seçã,o:
A con
Por mais que essas exposições careçam de aprofundamento, por mais
l sensíveisque elas nos façam à necessidadede plena clariâcação de todas as
relaçõesaqui pertinentes,tornou-se evidentepara nós aquilo de que pre
cisamos para nossos fins, a saber, que, por princípio, a transcendência da
coisa física é transcendência de um ser que se constitui na consciência, que
estáligado à consciência, e que o recurso à ciência natural matemática (não
obstante os muitos enigmas particulares que ainda possa haver no seu conhe
cimento) em nada modifica os nossos resultados.
Não é preciso exposição particular para mostrar que tudo aquilo que
tornamos claro com respeito às objetividades naturais como "meras coisas",
tem de valer paratodas asobjetividadesax/oZ(Üícaie P áf/cai nelasfilndadas,
para os objetos estéticos, para as realizaçõesda civilização etc. E também, fi-
nalmente, para todas as transcendênciasem geral que se constituem na cons-
ciência.

S 53. Os seresanimados e a consciência psicológica

Muito importante é outra ampliação dos limites de nossasconsiderações.


Trouxemos a natureza material inteira à esfera de nossasconstatações, isto
é, tanto a natureza que aparecesensivelmente, quanto a natureza física nela
fundada como um nível superior do conhecimento.Como ficam, porém,
as reaZidadrsdoiradasd a/ma. os seres humanos e os animais? Como elas
ficam no que diz respeito a suas almas e pipidoí a /m faí? Em sua plenitude,
o mundo não é meramente mundo físico, mas psicofísico, dele devem fazer
parte -- quem pode nega-lo?-- todos os fluxos de consciêncialigados a
corpos animados.Df m /ado, portanto, a co ícié c/a dme ir o a&ioZZlo,no
qual se constitui todo e qualquer transcendentee, por conseguinte, enfim,
todo o mundo psicofísico; de o%lira,a consciênciadeve ser wm rpe z:orea/
saco di ado o / lr iordesir m #do. Como conciliar isso?
Tornemos claro para nós como a consciência entra, por assim dizer, no
mundo real, como o em si absoluto pode abrir mão de sua imanência e assu-
mir o caráter da transcendência. Vemos desde logo que só é capaz disso por
certa participação na transcendência,em seu sentido primeiro e originário,
que é manifestamentea transcendênciada natureza material. A consciência
só se torna consciência humana e animal real pelo reeerimento empírico ao
corpo, e só por intermédio deste ela obtém um lugar no espaçoe no tem-
po da natureza-- no tempo medido âsicamente.Lembremos também que
somentepelo vínculo de consciênciae corpo numa unidade natural, empíri-

L
\

126 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma âlosofia 6enomenológtca Segwwda,sg

co-intuitiva, é possível algo como uma compreensão recíproca entre os seres


animados que fazem parte de um mundo, e que somente por ele cadasujeito
cognoscentepode encontrar o mundo em sua plenitude, que inclui a ele
mesmo c aos outros sujeitos, e ao mesmo tempo reconhecer que é o mesmo
mundo circundante,que elepossui em comum com os outros sujeitos.
Uma espéc/ P (@ ia de ap er ião ou dc xprr/é#c/a, uma espécie própria
de "apfrrrpfãa" é o que eÊetuaessaoperaçãode "vinculação", de realização
da consciência.Mesmo que não se saiba em que consiste essaapercepção,
que espécieparticular de atestaçãoela requer, pelo menos isto é inteiramente
manifesto: a consciência mesma nada perde de sua essência própria nesses
não tem significação natural alguma.
entrelaçamentos aperceptivos, isto é, nessere6erimento psicoíísico ao corpó-
reo, ela nada pode acolher em si de estranho a sua essência, o que seria, sem
dúvida, um contra-senso.O ser corpóreo é, por princípio, ser que aparece, É:

que se exibe por perfis sensíveis.A consciência apercebida naturalmente, o S 54 Continuação. O vivido psicológico transcendente é contingente r'
t
e relativo; o vivido transcendental é necessáriae absoluto
fluxo de vividos dado como fluxo humano e animal e, portanto, experimen-
tado em vínculo com a corporeidade, não se torna, naturalmente, mediante
essaapercepção, um algo que aparece por perfis.
E, no entanto, ela se tornou um outro, uma parte componenteda na-
tureza. Em si mesma, ela é o que é, ela é de essênciaabsoluta. Ela, contu-
do, não é apreendidanessaessência,no isto aí imediato de seu fluxo, mas
é "apreendidacomo algo"; e nessaapreensão
de tipo próprio se constitui
um tipo próprio de zlra#icr dé ria: surge agora um ê ado da consciência
de um eu-sujeito idêntico e praz,o qual nele anuncia suaspropriedadesreais
individuais e do qual agora -- r#g a fo esta unidade de propriedades que
se anunciam em estados -- se é consciente em sua união com o corpo que
aparece.Assim, é a jorna df aparição que se constitui a unidade natural
psicoíísica "homem" ou "animal", como unidade ## dada corporalmente,
em concordância com a fundação da apercepção.
Como em toda apercepçãotranscendente,também aqui se devee6etuar,
por essência,uma d#p/a o /e fafãa. Numa dfZai, o olhar que apreendese
dirige para o objeto apercebido, atravessando,por assimdizer, a apreensão
transcendente; a o erra,ele se dirige reflexivamentepara a consciênciapura
da apreensão. Por conseguinte, no nosso caso temos, de um lado, a or/r#-
zlafãoPS/co/(bica,
na qual o olhar orientado naturalmentese dirige para os )

vividos, por exemplo, para um vivido de alegria, como r#ado de vivência


do homem ou do animal. Do outro, temos a or/f#z:afãoje ome o/(Ü/ra ali
entrelaçadacomo possibilidade de essência,a qual, refletindo e pondo cora
de circuito as teses transcendentes, se volta para a consciência pura absoluta
e então depara com a apercepção do estado de um vivido absoluto: é o caso, s5Cf. $ 49, p. 114
\

128 Idéias parauma fenomenologia pura e ??ra uma filosofa Éenomenológtca Sqwndü,seçã,o:Aco ewtül \29

"eu-sujeito empírico", no qual todos essesconceitosempíricos,e portanto gz/ad ado edo#do. Realidade e mundo são aqui justamente,designações para
também o de i ido no ir#zr/doPS/co/(Ü/fo(como vivido de uma pessoa,de certas a iáadêi válidas dr sf»zl/do,quer dizer, unidades do "sentido", referi-
um ser animado) não tivessemponto de apoio algum ou, em todo caso, dasa certos nexos da consciênciapura, absoluta, que dão sentido e atestam
não tivessem vahdez alguma. Zodai as unidades empíricas e, portanto, tam- a validade dele, justamente desta e não de outra maneira, de acordo com a
bém os vividos psicológicos são /#d/c i de rxoi aóso/ foi df p/?/doí com uma essa c/a própria deles.
configuração eidética diferenciada, ao lado das quais também outras confi- A alguém que, diante de nossasexplanações,objeta que isso significa
gurações são pensáveis: todas as unidades empíricas são, no mesmo sentido, converter todo o mundo em ilusão subjetiva e se lançar nos braçosde um
transcendentes, meramente relativas, contingentes. Se parece óbvio que, em- "idealismo berkeliano", podemos apenasreplicar que ele não apreendeuo
piricamente, todo vivido próprio e alheio deve ser considerado, e com plena sr#zlZdodessas explanações. O sentido plenamente válido do mundo, como
legitimidade, como um estadopsicológico ou psicofísicode sujeitosdotados todo dasrealidades,ficou tão pouco comprometido como o sentido geomé
de alma, tal constatação tem, porém, no sentido que 6oi apontado, os seus troco plenamente válido do quadrado ficaria se se negasse que ele é redondo
limites; é preciso se convencer de que ao vivido empírico se contrapõe o (o que neste caso é, sem dúvida, uma reles trivialidade) Não se 6ezuma "re
vivido aóso/wlo,como.presswPoi
fão dr sez/ir lido, e de que isso não é uma viravolta" na interpretação da e6etividadereal, nem se chegou a nega-la, mas
construção metafísica,mas algo indubitavelmente atestávelem suaabsolutez, se afastou uma interpretação absurda, que contradiz o sentido, clarificado em
algo dado em intuição direta, pela alteraçãocorrespondente da orientação. evidência, que Ihe é Pr(brio. Essainterpretação advém de uma absolutização
dele.
É preciso se convencer de que ops/g íro rm.goraz, o ir zl/doda .pairo/ag/a,as .»/onPcado mundo, que é de todo estranhaà consideraçãonatural
pessoas,as propriedades, vividos ou estados psíquicos são unidades r/wP/r caí Esta última é, precisamente,natural, ela vive ingenuamente na e6etuaçãoda
e, portanto, como realidades de qualquer espécie ou nível, são meras unida- tese geral por nós descrita e, portanto, jamais pode.ser um contra-senso. O
des de "constituição" intencional são verdadeiramente existentes no seu contra-senso surge somente quando se fHosoEae, na busca de uma explicação
sentido; podem ser intuídas, experimentadas e determinadas cientiâcamente última sobre o sentido do mundo, não se nota que o mundo mesmo possui
com basena experiência-- e, no entanto, são"meramente intencionais" e, todo o seu ser como certo "sentido", o qual pressupõe a consciência absolu-
por isso, meramente "relativas". Est-ipular que existem no sentido absoluto ta, o campo da doaçãode sentido;a'e quando, em estreita ligação com isso,
é, portanto, um contra-senso. ítão se nota que esse ca,mpo, essa e#erü ontológica dü,s ordens übsolHtüs, é wm
ca/#po ares/PB/ à /wpõstÜafão üi a, com uma profissão infinita de conhe-
cimentos evidentes da mais alta dignidade científica. Esseúltimo ponto, com
S 55. Conclusão. Todas as realidades são por "doação de sentido". efeito, ainda não 6oi mostrado por nós e só ganhará clarezano prosseguimen
Que não setrata de "idealismo subjetivo" to destas investigações.
Deve-se. Malmente, observar ainda que a generalidadecom que se fa-
Em certo sentido, e com alguma precaução no uso da palavra, também lou, nas ponderaçõesque acabamde ser feitas, da constituição do mundo
se pode dizer: "Zodaí ar idadri reaZíião '# idadesdo if zl/do'". Unidades natural na consciênciaabsoluta, não deve causar perplexidade. O leitor com
ex-
do sentido pressupõem (volto a bisar: não porque o deduzimos de quaisquer experiênciacientíâca poderá concluir, da determinidade conceitual das
postulados metaâsicos, mas porque podemos atesta-lo em procedimentos posiçoes, que não nos arriscamos temerariamente em extravagâncias fUosóâ-
intuitivos, completamente indubitáveis) consciênciadoadora de sentido, a cas. mas. com base em trabalho sistemático de fundamentação nesse campo,
qual, por sua vez, é absoluta e não novamente por meio de uma doação concentramos cautelosamente conhecimentos obtidos em descrições que
de sentido. Se o conceito de realidade é tirado das realidades#af reis. das se mantêm no âmbito da generalidade.A necessidadede desenvolvimentos
unidades de experiênciapossível,então "a totalidade do mundo", "a totali-
dade da natureza" é, sem dúvida, o mesmo que a totalidade das realidades;
identifica-la, porém, com a totalidade do ler, tornado-a, assim,absoluta, é ;' Paraque o contrasteseja maise6caz,permito-me de passagemaqui um alargamentoextre
contra.-senso. Utnü realidade übsolwtü üle ncn,ta,lwewte o wleslno tanto que %1% maslícito a seu modo, do conceito de "sentido"

l
t
130 Idéias p a fUosofia fenomenológica

mais pormenorizados e de preenchimento das lacunas deixadas abertas nãn


é apenas.sensível,mas é preciso que o seja. As exposições que seguem trarão
contribuições consideráveispara a conâguração mais concreta dos delutea
mentes precedentes.Deve-senotar, porém, que nossameta aqui não é come.
cer uma teoria pormenorizada dessaconstituição transcendentale, com isso
esboçar uma nova "teoria do conhecimento" para as esperas da realidade.
mas apenastrazer à evidência pensamentos gerais que possam ser de ajuda na
obtenção da idéia da consciência transcendental pura. O essencialpara nós
é a evidência de que a redução fenomenológica é possível como exclusão de
Capítulo IV
circuito da orientação natural, ou seja,de suatesegeral, e de que, depois de
eÉetuada,a consciência absoluta ou transcendental pura ainda resta como um
As reduções fenomenológicas
resíduo, ao qual é contra-senso atribuir ainda realidade.

S 5ó A questãoda amplitude da reduçãofenomenológica.


Ciências naturais e ciências do espírito

Colocara naturezafora de circuito foi paranós o meio metódico


de possibilitar que o olhar se voltasse para a consciência transcendental
pura. Agora que a temos sob o olhar intuitivo, é sempre útil ponderar, na
direção inversa, o que tem de permanecer fora de circuito para os âns da
investigação pura da consciência, e se tal exclusão do circuito diz respeito
apenasà esferada natureza. Da parte da ciência fenomenológica por fiin-
dar, isso significa também perguntar g ê cié r/ai ela pode Zlcrcomova fêi
sem ferir seu sentido puro, quais ela pode e quais não pode empregar
como pre?iamr Zledadas, quais, por conseguinte, precisam ser "postas
entre parênteses".É da essênciapeculiar da fenomenologia, enquanto
ciência das "origens", que questõesmetódicas deste tipo, que nem de
longe se põem para uma ciência ingênua ("dogmática"), tenham de ser
cuidadosamente refletidas por ela.
É óbvio, em primeiro lugar, que, com o mundo natural, tanto físico
como psicofísico, posto fora de circuito, também estão excluídas todas as
objetividades individuais que se constituem mediante filnções valorativase
áticas da consciência, todas asespéciesde realizações da civiHzação, obras
das artes técnicas e das belas-artes, das ciências (consideradas não enquan-
to unidades de validação, masjustamente enquanto fatos de civilização), e
toda forma de valores estéticos e práticos. E naturalmente também e6eti-
vidades tais como Estado, costumes, direito e religião. Assim, a exclusão
de circuito atinge todas as ciênciasnaturais e do espírito, com toda a sua
provisão de conhecimentos, justamente porque são ciências que requerem
a orientação natural.
t

enológica
Seguwd !fuwdnmental \33
S 57. Questão: o cu puro pode scr posto fora de circuito?
exclusãodo circuito, embora para muitas investigações asquestões acercado
eu puro possamficar i# iz/íPr#io. Pretendemos considerar o eu puro como
da/wm fenomenológico somente até onde vá sua peculiaridade eidética cons-
tatávelem evidênciaimediata e sua condição de dado concomitante com a
consciênciapura, ao passoque todas asteorias sobre ele que extrapolem esse
âmbito devem ser postas cora de circuito. De resto, teremos oportunidade
de dedicar um capítulo próprio, no segundo livro deste escrito, às difíceis 4
J
questõesacercado eu puro e também, além disso, à consolidação da posição
provisoriamente tomada por nós aqui.37

$ 58. A üanscendência de Deus colocada fora de circuito


f

Depois de abrir mão do mundo natural, deparamosainda com outra


transcendência,que, diferentemente do eu puro, não é dada em união ime
diata com a consciência reduzida, mas só chega ao conhecimento de maneira
bastantemediada,como que no pólo oposto da transcendênciado mundo.
Estamosfalando da transcendênciade Deus. A redução do mundo natural ao
absoluto da consciência produz certas espéciesde nexos$af/coi entre vividos
de consciência,com marcadasregras de ordenação, nas quais se constitui.
como correlato intencional, um mundo mo :Ho/og/rama Zleo df#ado na espera
daintuição empírica,isto é, um mundo para o qual pode haver ciênciasclas-
siâcadoras e descritivas. No que concerne ao seu nível material inferior. esse
mundo pode serdeterminado no pensamentoteórico dasciênciasmatemáti
casda natureza como "aparição" de uma naturezajZíifa que se encontra sob
leis naturais exatas.Em tudo isso está contido uma admirável zle/faZogia,

que a rac/o aZidadr realizada pelo Eito não é aquela requerida pela essência.
Não apenasisso: a investigação sistemática de todas as teleologias encon
tráveis no próprio mundo empírico, por exemplo, o desenvolvimento fático
da sériedos organismosaté o ser humano e, no desenvolvimentohumano, o
surgimento da civilização,com todos os seustesouros espirituais etc., ainda
resta por fazer, a despeito das explicações que a ciência natural propõe para
todas essasrealizações a partir de circunstâncias fáticas dadas e em con6or-

a7Nas Jipe gafõei liÜírar defendi uma posição cética na questão do eu p=o, que não pude
manter no progresso de meus estudos. A crítica que enderecei à fecunda Inn'adwfãa à pdco-
/agia de Natorp(ll,.pp= 340 e segs.da primeira edição) não é, portanto, consistenteqtÍanto
ao ponto principal. (Infelizmente não pude ler e considerar as ailerações da reedição recente
mente publicada da obra de Natorp.)
t

fenomenológica Segunda seçã,ol

possibilidadede colocar irrestritamente o eidético 6om de circuito.


' Impõe-se então a nõs a seguinte série de pensamentos. A todo domínio
do ser, nós temos de ajuntar, para fins da ciência, certas esferaseidéticas, não
exatamentecomo domínios de investigação, mas como pontos de conhe-
cimentoseidéticos em que o investigador do domínio em questão sempre

ricos ligados à peculiaridade de essênciadaquele domínio. Mas é sobretudo


à lógica formal (ou ontologia formal) que todo investigador tem de poder
recorrer livremente. Pois tanto Cazo que ele investiga, são sempre objetos
que ele investiga, e aquilo que vale jo ma/ile7"para,objetos em geral(para
propriedades, estados-de-coisa em geral etc.), também é de seu domínio. E
não importa como concebe conceitos e proposições?.como faz inferências
etc., aquilo que a lógica formal estabeleceem generalidadeformal sobre tais
signi6caçõese gêneros de significaçõestambém diz respeito não somente
a ele, mas igualmente a todo investigador de um domínio especíâco. E o
mesmovaletambém parao 6enomenólogo.Todo vivido puro também está
subordinado ao sentido lógico mais amplo de objeto. Não podemos pois
S 59. A transcendência do eidético. Exclusão da lógica -- assimparece a lógica e a ontologta formal fora de circuito. E
pura enquanto maz#ern ipezxa/ã
cuco, por razões manifestamenteiguais, a noética geral, que exprime
conhecimentosde essênciasobre a racionalidade ou irracionalidade do pen-
samentojudicativo em geral, cujo conteúdo de significação é determinado
apenas em generalidade formal.
Se. no entanto, fizermos uma reflexão mais detida, âcará patente que,
sob certos pressupostos,existeuma possibilidade de pâr entre "parênteses"
a lógica formal e, junto com ela, todas as disciplinas da mazl&iií formal (ál-
gebra, teoria dos números, teoria dos múltiplos etc.)- Isto.é, tal possibilidade
enste caso se pressuponha que a investigação da consciência pura pela fe-
nomenologia não se coloca, nem tem de se colocar, outra tarefa senãoa da
análisedescritiva,que ela tem de solucionar em intuição pura: neste caso,as
formas de teorias das disciplinas matemáticas e todos os seus teoremas me
diatos não podem ter nenhuma serventia para ela. Onde a formação de con-
ceito e de juízo não procede de maneira construtiva, onde não se constroem
sistemasde dedução mediata, a teoria das formas dos sistemasdedutivos em
geral, tal como se apresenta na matemática, não pode operar como instru-
mento de investigação material.
soba fenomenológica Segunda, seção: A cowsiderücão $!gW!!!!!Êgi!!:j=i&ndümentül \37

objetividades individuais também ocorre entre as essênciascorrespondentes.


Assim, "coisa", "forma espacial", "movimento", "cor de coisa" etc., mas
também "homem", "sensação humana", "alma" e "vivido anímico" (vivido
no sentido psicológico), "pessoa", "qualidade de caráter" etc. são,portanto,
essênciastranscendentes.Se queremosconstituir uma fenomenologia como
doutrina eidéticü pwrn,mente íiescritivü düs con$ãurüções imanentes dü cows-
rié#c/a,dos eventosapreensíveis
no fluxo de vividos, dentro do âmbito da
exclusãofenomenológica, então não entra nesseâmbito nenhum individual
transcendente, e, por conseguinte, também ê # ma daí '%né#ciai fra#sre#'
df#zleP',cujo lugar lógico seriaantesa doutrina da essênciadasobjetividades
transcendentes correspondentes.
Em sua imanência,portanto, ela não tem de fumar #e # ma .poi/fãade
exi é cia de z:aZresséwc/as,
não tem de fazer enunciado algum sobre a paZida-
dr ou /#l2ü//dãdêdelas,ou sobre a possibilidade ideal das objetividades a elas
correspondentes, nem de estabelecer ZeZs dr esié cZa a elas referentes.
Regiões e disciplinas eidéticas transcendentes não podem, por princípio,
conuibuir com nenhuma de suaspremissaspara uma fenomenologia que
pretenda efetivamente se ater à região de vividos puros Ora, visto que nossa
$ 60. Exclusão das disciplinas eidéticas materiais meta é fundar a fenomenologia precisamente nessa pureza (conforme a nor-
ma já antes expressa), e visto que os mais altos interesses âlosóficos também
dependem de que a consecução plenamente consciente dessameta se dê em
tal pureza,e6etuamosrxP essamf ff ma amp//afãs da ed fão orla/#a/a to-
dos os domínios eidéticos transcendentese às ontologias que comportam.
Portanto: assim como colocamos a natureza física real e as ciências na-
turais empíricas fora de circuito, assim também procedemos com as ciências
eidéticas,isto é, com as ciênciasque investigamaquilo que Eazparte por
essênciada objetividade da natureza físicacomo tal. Geometria, 6oronomia,
física "pura" da matéria ganham os seusparênteses.Da mesma maneira, as-
sim como colocamos fora de circuito todas asciências empíricas dasessências
da natureza animal e todas as ciênciasempíricasdo espírito que tratam das
pessoas em suas associações, dos seres humanos como sujeitos da história,
co'mo esteiosda civMzação, mas também das próprias formas assumidaspela
civilização etc., assimtambém colocamos agora fora de circuito asciênciasel-
déticas correspondentes a essasobjetividades. Fazemos Isso por antecipação e

(por exemplo, a psicologia racional, a sociologia) não chegaram a uma fim-


dação, ou a uma fundação pura e irretocável.
Com respeito às funções Hosóficas que a fenomenologia é chamada a
assumir, também é bom mencionar de novo que, nas exposições precedentes,
t
ma Mosofia fenomenológica Sqwwdü seção:A

se estabeleceu a aóFO/#za i#depr dé»cla cair o e a/Qg/a não só em relação


a todas as outras ciências,mas também fm zrZafãaàí r/ê czarf/dér/ro-made.
rtats.

Essasampliações da redução âenomenológtca não têm manifestamente


a importância fiindamental daquela simples exclusãoque tira originalmente Ihe é transcendente por princípio Mas isso é, por um .lado, uma corrupção
de circuito o mundo natural e as ciências a ele referentes. Pois é essapnmeua da psicologia, pois já diz respeito à consciência empírica e, por outro(que
reduç:o que torna primeiramente possível em geral a mudança do olhar para nos interessa aqui), uma corrupção da fenomenologia. Para descobrir e6eti-
o campo fenomenológico e para a apreensão de seusdados. As demais redu- vaMente aquela região que se busca é, pois, extremamente importante que se
çoesl.po\ pressuporem.a primeira, são reduções secundárias, mas de forma naturalmente ocorre, no nosso
ganheclarezaquanto a esseaspecto. O que
alguma têm / apor/zÍ rZa mf orpor isso caminho, antesde tudo por uma legitimação geral do eidético e, depois, no
contexto da doutrina da redução fenomenológica, especialmente pela exclu-
são de circuito do eidético. . .
S ói Significação metodológica da sistematização Ora. essaexclusãoteve, semdúvida, de se restringir à eidética dasobje
das reduções fenomenológicas ' tividades transcendentesindividuais, em qualquer sentido da palavra.Entra
em consideração aqui um novo momento fundamental. Sejá nos livrámos da
inclinação à psicologização da essênciae dos estados-de-essência,um novo
grande passo, que de maneira alguma decorre.sem diâculdades do primei-
ro é reconhecere por toda parte observar inflexivelmente a separação,de
grandes consequências, que designamos sumariamente como separação en'
tre essênciasíma ê [eíe Dawscr de fei. De um lado, estão essênciasde con-
figurações da própria consciência; de outro, essênciasde eventos individuais
transcendentes à consciência, ou seja, essências daquilo que apenas se "anun-
cia" nasconfiguraçõesda consciência,aquilo que se constitui, por exemplo,
por aparições sensíveis na consciência.
Para mim, pelo menos, o segundo passo foi bastante difícil, mesmo de
pois de ter dado o primeiro. Isso não passaráagora despercebidoao leitor
atento das in ê Üafõei lay/cai. Nelas, o primeiro passo é eeetuado com toda
a determinação,a legitimidade própria do eidético, contra suapsicologiza-
ção, é minuciosamente fundada -- bem na contracorrente da época, que
con-
reagiu vivamente ao seu "platonismo" e ao seu "logicismo". No que
cerne, porem, ao segundo passo,em algumas teorias, como aquclu sobre as
objetividades lógico-categoriais e sobre a consciência doadora dfZas,o passo
decisivo foi dado, embora a oscilação seja manifesta em outras exposições
do mesmo volume, isso porque o conceito de proposição lógica é referido,
ora à objetividade lógico-categorias, ora à essência correspondente, imanente
ao pensarJudicativo Justamentepara o iniciante na fenomenolo.Fa é di6cil
render a dominar na reflexão asdiferentes orientações da consciência,com
seus diferentes correlatos objetivos. Isso vale, no entanto, para todas asesfe-
ras de essênciaque não pertencem à iminência da consciência.Essaevidência
\

e para uma fUosofia fenomenológica SeBwndü s!

S 62. Indicações prévias sobre teoria do conhecimento

Orientação "dogmática" e orientação fenomenológica.

como particularizaçãodela.

l1 :::2==$::E.:.i:a=H:ll::l=" '-««',-',ü, ;. ""'«.,


142 Idéias para uma 6en
Terceira seção
pode ser decidida no solo da fenomenologia eidética. Ela é respondida de
uma maneirapelaqual se torna compreensível
por que toda tentativade
começaringenuamentepor uma ciência fenomenológica de fatos, a#fei de A metodologia e a problemática
levar a cabo a doutrina fenomenológica das essências,seria um wo@se@sr.
Pois da fenomenologia pura
se mostra que, ao fada das ciências de fatos extrafenomenológicas, não pode
haver uma ciência de fatos fenomenológica que esteja em paralelo com elase
no mesmoplano que elas,e issoporque a aferiçãoúltima do valor de todas as
ciênciasde fatos leva a uma vinculação coerente dos nexos fenomenológicos
Capítulo l
fáticos correspondentes a todas elas, e motivados como possibilidades fáticas,
unidade de vínculo esta que nada mais é que o campo da ciência fenomeno- Consideraçõesmetodológicas preliminares
lógica dos fatos de que aqui se ressente a fita. Uma parte capital dessaciên-
cia é, portanto, a "conversão fenomenológica" das ciências fáticas habituais,
possibilitada pela fenomenologia eidética, restando apenasa questão de saber
em que medida sc poderia, a partir daí, fazer algo mais.
; ';.â====:==t=====;'';
%

Terceira seção:A metodoloaiü e n prolJlemática düfenomenoloaiü Dura \.4b


Nós colocamos todo o mundo natural e todas as esferaseidéticastrans-
:g:jH$ 1i:l: r ::;::.=m cendentes cora de circuito e devemos, com isso, obter uma consciência
"pura" Mas não acabamosde dizer, "#óP' colocamos fora de circuito, será
que nós, 6enomenólogos,.podrmoicolocar cora de jogo a #ósmrsmoi, que
também somos membros do mundo natural?
Logo nos convencemosde que não há aí dificuldade alguma, desdeque
não tenhamos deturpado o sentido deste "colocar fora de circuito". Pode- l

mos até continuar tranqüilamente a fiar como fHamos enquanto homens ')

.)

naturais; pois, na condição de fenomenólogos, não devemos parar de ser 'w


homens naturais e de nos pâr enquanto tais no discurso. Mas entre as cons- U
tataçõesque devem ser registradas no novo livro fundamental a ser escrito U
pelafenomenologia,prescrevemo-nos,como fazendo parte do método, a
norma de redução fenomenológica, que vale para nossa rxZ é cia empírica e 'xb

L que nos proíbe de registrar qualquer proposição que contenha, explícita ou U


implicitamente, tais tesesnaturais. Enquanto se trate de existênciaindividu- R
al, o fenomenólogo não procede diferentemente de qualquer investigador
eidético, por exemplo, o geómetra. Em seustratados cientíâcos, os germe
trás não raro falam de si e de suaspesquisas;o sujeito que faz matemática,
entretanto, não entra como parte no teor eidético daspróprias proposições
matemáticas.

S 65. As remissõesda fenomenologia a si mesma

Poderia mais uma vez causar perplexidade que na orientação renome


nológica direcionemos o olhar para alguns vividos puros, com o intuito de
investiga-los, embora, tomados em pureza fenomenológica, os vividos dessa
própria investigação,dessaorientação e direcionamento do olhar, devam ao
mesmo tempo fazer parte do domínio do que deve ser investigado.
Tampouco isso é uma dificuldade. Exatamente o mesmo se dá na psico-
logia e, igualmente, na noética lógica. O próprio pensamento do psicólogo é
algo psicológico, o pensamentodo lógico, algo lógico, a saber,algo que está
incluído no círculo das normas lógicas. Essa auto-remissão só seria preocu-
pante, caso o conhecimento de todas as outras coisas, nos referidos domínios
de investigação,dependessedo conhecimento fenomenológico, psicológico
S 64. A auto-exclusão de circuito do fenomenólogo
e lógico do respectivo pensamento do respectivo pensador, o que seria uma
pressuposição visivelmente absurda.
dir os ploneisestpass:)s. te uma di6cuJdade metódica que poderia im- Em todas as disciplinas que remetem a si mesmas há, sem dúvida, certa
dificuldade, já que para a primeira introdução, assimcomo para a primeira
146 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofa fenomenológica
Terceira
seção:
A met
que todo este escrito, que pretende preparar o
incursão investigativa nelas, é preciso operar com meios metódicos auxiliares.
aos quais só posteriormente elasterão de dar forma científica definitiva. Sem :=minho para a 6enomenologta, é, por seu conteúdo, fenomenologia do iní-
consideraçõespreliminares e preparatórias a respeito do objeto e do método cio ao fim.
não se traça o esboço de nova ciência. Mas os conceitos e os demais elemen.
tos metódicos com que de início psicologia, fenomenologia etc. operam em
tais trabalhos preparatórios são psicológicos, 6enomenológicos etc., e só re- $ 66. Expressão âel de dados claros. Termos unívocos
cebem seu cunho científico no sistema da ciência já filndada.
Neste aspecto, não há manifestamente sérias diâculdades que possam ser
impeditivas à execução eâetivadessasciências e, em particular, da fenomeno-
logia. Ora, se esta quer ser mesmo uma ciência o ámóifo da mê a / lçãa
imrdiala, uma ciência eidética puramente "dricril/?a", a generalidadede seu
procedimento estápreviamentedada como por si mesma.Ela tem de pâr dian-
te dos olhos, exemplarmente, puros eventos da consciência,tem de trazê-los
à clareza mais completa, para, dentro dessaclareza, analisa-los e apreender
intuitivamente a sua essência,tem de perseguiros nexoseidéticos evidentes,
formular o intuído em expressõesconceituaisfiéis, cujo sentido só pode ser
prescrito puramente por aquilo que âoi intuído ou 6oi visto com evidência em
sua generalidade. Se esse procedimento, corroborado ingenuamente, serve de
início apenaspara tomar conhecimento do novo domínio, paranele exercitar
em geral a visão, a apreensão e a análise, e se Eàmiliarizar um pouco com seus
dados, agora a reflexão científica sobre a essênciado próprio procedimento,
sobre a essênciados modos de doação nele atuantes, sobre essência,alcance e
condições da clareza e evidência mais completas, bem como de expressõescon-
ceituais completamente fiéis e fümemente estabelecidas -- e assim por diante
-- assumea fiação de uma fimdação geral e logicamente rigorosa do método.
Executada com consciência, ele assumeentão o caráter e a condição de método
cientí6co, o qual, se 6oro caso,permitirá que seexerçauma crítica delimitadora
e aprimoradora na aplicação de normas metódicas rigorosamente formuladas.
A remissãoessencialda fenomenologia a si mesmasemostra em que aquilo que
é considerado e constatado na reflexão metódica sob as designações "clareza",
"evidência", "expressão" etc., Êazparte, por suavez, do próprio domínio feno
menológico, e em que todas as análises reflexivas são análises6enomenológtcas
de essência,e que as evidênciasmetodológicasalcançadasrespectivamenteàs
suas constatações estão sob normas que elas formulam. Nas novas reflexões é
preciso, portanto, poder sempre se convencer de que os estados-de-coisasex
pressosem enunciados metodológicos estão dados na mais completa clareza,
de que os conceitos utilizados se ajustam real e fielmente ao dado.
O que âoi dito vale manifestamente para todas as investigações meto-
dológicas referentes à eenomenologla, por mais que possamosexpandir seu
fenomenológica
Terceiraseção:A metodol(yjle cl.probkmáticü düfenomellol(laiapl rü \49
Ma. O objeto não está em geral diante do olhar apenas como "ele mesmo"
e como "dado" para a consciência, mas como /P@70 dado de si, i#fri ameKzpe,
í;awar/e éem ii primo. Enquanto ainda permanecer um resto de obscuridade,
ele sombreiamomentos no dado "ele mesmo", que, com isso, não entram
no círculo de luz do puro dado. No casoda aósc /dada fozPa/, pólo oposto da
$ 67..Método de clariâcação, total clareza,absolutamentenada alcançaa condição de dado, a consciência
"proximidade" e "distância" do dado é uma consciência"oósc a", #ão mala i /z/?a e, esuitamente, não mais
"doadora" no sentido próprio da palavra.Temos, por isso, de dizer:
A co#ic/é f/a doadora, wo if fidojorff, coincide com a consciência /#-
l /zl/ a, c/ara, por contraposição à consciência #ão-i#zl#izlipa,oósrwra.Da
mesma maneira: há coincidência entre os níveis de doação,de / f i&/pidadr,
de f/afegã. O limite mínimo é a obscuridade;o limite máximo é a clareza,a
intuitividade, o dado, em suaplenitude .
O dado não deve, todavia, ser entendido aqui como dado originário e,
portanto, como dado de percepção.Não identificamos o "dado r/r mesmo"
com o "dado a @/ ar ame zle",com o dado "em carne e osso". No sentido
assinaladocom precisão, "dado" e "dado ele mesmo" são um só, e o em-
prego da expressãopleonástica deve nos servir apenaspara excluir o dado a
sr rido ma/s Zero,segundo o qual por fim se diz de qualquer representado
que ele está dado na representação(mas talvez "de modo vazio").
Nossas determinações valem ainda, como é visível sem maiores dificul-
dades, para g#aZsgwer / zrw/feri ou para representações ?alias, e, portanto,
também valem /}"rr r/zlamr zlepa a ai o&yezl/ /darei, embora aqui só este
jamos interessadosnos modos de se dar dos vividos e de seuscomponentes
6enomenológicos(reais e intencionais).
Com respeito a análisesfuturas, deve-seobservar, porém, que o essencial
nessasituaçãopermanecemantido, quer o olhar do eu puro atravesse,quer
não, o vivido de consciência em questão, ou, para dizer mais claramente,
quer o eu puro "le poZ&e" para um "dado" e eventualmente o "aprerKda",
quer não. Assim, por exemplo, "dado em forma perceptiva" -- em vez de
"percebido", no sentido próprio e normal da apreensãodo ser dessedado
-- também pode querer dizer também "apto a ser percebido"; da mesma
maneira, "dado em forma imaginária" não precisa significar "apreendido em
imaginação" e assimem geral, como também em relaçãoa todos os graus de
clarezaou de obscuridade. Atente-se desde já para essa"aptidão a", que de
verá ser discutida em pormenor mais tarde, mas observe-se ao mesmo tem-
po que, onde nada se acrescentarem contrário ou for óbvio pelo contexto,
quando fHamos em "dado" rwóe ff demosa sua apree#s/Z'///dada e, no dado
de essência, a sua apreensibilidade originária.
1 50 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osofiafenomenológica
T rceirüseção:
A me
$ 68. Níveis autênticos e inautênticos de clareza.
f' S 69. O método da apreensãoeidética perfeitamente clara
A essênciada clarificaçãonormal

É preciso? porém, dar prosseguimento a nossas descrições. Se fãamos


de níveis de doação ou de clareza, temos de distinguir os níveis a fé zticaK
de clmeza, à série do quais se pode fazer seguir os /peü df oóír idade, dos
tÍpeis inü tênticos de clareza, a saber, m ampliações uctensivüs do âmbito da
fZz eza,com eventual aumento simultâneo da intensidade dela.
Um momentojá dado, já eÊetivamente
intuído, por exemplo,um soH.
uma cor, pode ser dado em maior ou menor clareza. Excluamos todas as apre-
ensõesque vão além do dado intuitivo. Temos então de lidar com gradações
que se movem no âmbito em que o intuído é eâetivamenteintuível; a intuibili-
dade como tal admite, sob a designação de "clareza«, diferenças contínuas dc
intensidade, que começam.pelo zero e terminam num limite superior preciso.
De certo modo, poder-se-iadizer que os níveisinâcrioresapontam paraeste;
int:uindo uma cor num modo imperfeito de clareza,"visamos" a cor como é
"em sl mesma", Justamente aquela que é dada em clareza perfeita. Não se deve.
todavia, deixar enganar pela imagem do "apontar para" - como se uma coisa
possesigno de uma outra --, nem tampouco sedeve ÊHaraqui(lembremos uma
observaçãojá deitaanteriormente);9 de uma exibição do "em si mesmo" claro dadoo mais claro. . . , ,
mediante o não-claro, do mesmo modo que, por exemplo, uma qualidade da Uma aproximação pode se e6etuar em geral também #a êWera dê oÓscw-
coisaé "exibida",isto é, perÊladana intuiçãopor um momentosensível.
.,áí r/dado. O obscuramenterepresentadose aproxima de nós de uma maneira
tiferençüs nos.gtüt s de c reza,são inteiramente especificasüos modos de doa,ção. própria, bate por fim à porta da intuição, mas não precisa transpâ'j: por isso
- E muito diferente o que ocorre onde uma apreensãoque vai a/ém do (e talvez não possaeazê.lo "em virtude de obstáculos psicológicos"). --
dado intuitivo entremeia a apreensão intuitiva eeetiva com apreensões vazias ' Deve-se mencionar, além disso, que agw/Zog e é dado a cada morre la
e então pode se tornar, a partir da representação vazia, como que gradati- m"b dns,.zes .odeüdo PO« %«. }lüÜ, .i. d,«er«'in«büid,«d,. ind,"e««in«'iü,
vamente cadavez maZrintuitiva ou, a partir do já intuído, cada vez mais re cuJOmodo de aproxnnaçãose Caz"por etapa?', pela reparação em :;ellesde
presentativamente vazia. A cZan@cafãoconsiste, pois, aqui em dois processos "J' "'---
representação: maisumav
-' -r ' z, primeiro . na obscuridade
, . e .então
.'.'l. dei...:-
novo na
rl que se vinculam um ao outro: nos p orfslaide far a iz /rito e nos proces- esferado dado, até que o intencionado entre no círculo de nítida luminosi-
;os de intensi$cüçã,o da clareza do jií i»twído. dade do dado perfeito. . ,: .
Com isso, porém, está descrita a rsié#c/a da c/ar{/2cafão arma/. Pois a Deve-se ainda chamar a atenção para o seguinte: iÊ i Exige o dize g ê
regra é que não há de antemão nenhuma intuição pura, nem puras represen- foda bidé cia da abre são fjdéüca rzg r/ a g aí j di?jd aZ/dadrílwZI/'a'
taçõesvaziasse convertem em intuições puras; ao contrário, onde 6or o caso. ce fei e eram p/e amr»fe cZa /ZcadaJrm J a ro crefão. Para apreender dis-
o papel capital dos níveis intermediários será desempenhadopelas i#rz//raBI tinções eidéticas mais gerais, como, por exemplo, a distinção entre cor e som,
i/#lPWP'as,
que trazem certos aspectose momentos de seuobjeto à intuição, entre percepção e vontade, é suficiente que os exemplos.tenham slao uauu-
enquanto meramente representam outros no vazio. '

s9Cf: acimaS 44, p. 103. saberiacomo evita-lo. É preciso presentiâcaressasituaçãoem viva intuição.
osofia fenomenológica

S 70. O papel da percepção no método da clarificação eidética.


A posição privilegiada da imaginação lide

Realcemosainda alguns traços particularmente importantes da apreen


são de essência.
da percepçãosensível, e assim por(cante. Podemos, no entanto, prescindir

iú HüluB 8RU
dc tudo isso. Na fenomenologia, assimcomo em todas as ciênciaseidéücas,

mos de mostrar, a presentiâcação,por exemplo, a imaginação pode ser tão


:i existem razões em virtude das quais as presentiâcações.e, para ser mais exa-
la. üs livres jmüãinüções conseg;uem umü posição pr itqiüda, em reLaçã,o as
percepções.e \ss', mesa«o nü própria fe«'o«enotogiü düs percepções, com exceçúo,
perfeitamente clara que possibilita apreensões e evidências eidéticas per- wütwrülmewte, da, fenomenologia dos dü,dos de sensação.
feitas.Em geral, a .prrcgPfão
doadoa o gi#ár/a, e em especialnatural- Em seu pensamentoinvestigativo, ao trabalhar com a âgura ou com o
mente, a percepção externa, tem suasvantagensdente a todas as espécies modelo, o geâmetra opera incomparavelmente mais na imaginação do que
de presentiâcação.Isso, porém, não apenascomo ato empírico nas cons- na percepção, o que vale também para o geâmetra "puro",.isto é, para aquele
que renuncia ao método algébrico. Na imaginação, naturalmente, ele tem de
seesforçar para obter intuições claras,esforço de que o desenho e o modelo
o poupam. Mas no desenho e no modelo efetivos ele âca atado, ao passoque
oâerece também, com a eve ' "''' -"-, --
.' ,,.. .--. .= ntual cooperação da reflexão a ela referida, indi- âguras âctícias, de percorrer as formas possíveisem contínuas modificações
vidualizaçoes claras e estáveis para análises eidéticas gerais de tipo renome e portanto, de gerar um sem-número de novas construções; uma liberdade
nológico ou até,,mais especiâcamente,para análisesde atos A ira pode se que Ihe íianqueia acesso às imensidões das possibilidades eidéticas, com seus
esvair, pode mudar rapidamente de conteúdo pela reflexão. Tmbém não horizontesinfinitos de conhecimentosde essência.
Os desenhos,por isso,
normalmente seguem asconstruções da imaginação e o pensamento eidético

l
H
-na,ao contrário, além de muito mais acessível,não se "esvai" pela reHexão.
nós podemos estudar, no âmbito da originariedade, a sua essênciageral
puro que se e6etuacom basenelas,e servemprincipalmente para fixar etapas
do processo já concluído e, assim, torna-lo mais facilmente de novo presen'
te. Também ali onde se "reflete" a respeito da figura, os novos processosde
pensamento que se acrescentamsão, em sua basesensível, processosimagi-
nativos, cujos resultados fixam as novas linhas da âgura.
e a essênciade seus componentes e de seuscorrelatos eidéticos em geral Em suas linhas mais gerais, a questão não se apresenta de maneira dize
sem despender.esforços especiaispara o estabelecimento da clareza. Se se rente para o üenomenólogo,que tem de lidar com vividos reduzidos e com
afirma que também as percepçõespossuem suasdiferenças de clareza com os correlatos que lhes são por essênciapertencentes.Também há infinitas
respeito aos casosem que a percepção ocorre no escuro, em meio a uma conâgurações fenomenológicas de essência.Também ele só.pode fazer um
nevoa etc. não pretendemos entrar aqui em exames mais minuciosos para uso moderado do recursoao dado originário. Por certo, todos os principais

==.=,:'=:.=H=.m=
:ÚnstlãHÜB
voa, e qye sempre tenhamos uma percepção clara a nossadisposição, assim
tipos de percepção e presentiíicação estão ao seu livre dispor enquanto dados
originários, isto é, como exemplificaçõesperceptivaspara uma 6enomenolo-
gta da percepção, da imaginação, da recordação etc. Para a mais alta gene-
ralidade, ele tem ainda igualmente à disposição, na esfera da originariedade,
exemplos para juízos, suposições, sentimentos, volições Mas obviamente
não dispõe de exemplos para todas as conâgurações particulares posTveis,
'o Cf. S 4, p. 38 e sega.
tão pouco quanto o geâmetra dispõe de desenhos e modelos para asinfinitas
n

154 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fHosoâa fenomenológica Terceira seção:A

espécies de corpos. Não obstante, a liberdade da investigação de essência


também requer necessariamenteaqui que se opere na imaginação.
Por outro lado, é natural que (novamente como na geometria, a qual
não por acasotem dado recentemente grande valor aos conjuntos de mode-
los etc.) a imaginação deva ser exercitada abundantemente na perfeita clari-
ficação aqui exigida, na livre reconfiguração dos dados imaginados, embora
antes também se deva âertilizá-la mediante observações o mais ricas e boas
possívelna intuição originária, ainda que essafertilização naturalmente não
signifique que a experiênciacomo tal tenha uma função de fiindamento de
validez. Pode-se tirar extraordinário proveito daquilo que é apresentado pela
história e, numa medida ainda maior, pela arte e especialmentepela poesia,
que são produtos da imaginação, mas que, em termos de originalidade das
novas conâgurações, de profissão em traços individuais, de continuidade da
motivação, excedem bastante os resultados de nossa própria imaginação e,
além disso, pela força sugestiva dos meios de apresentação artística, se trans-
formam, com especialfacilidade,em imaginaçõesperfeitamenteclarasna
apreensão compreensiva.
Assim, para quem gosta de expressõesparadoxais e entende a plurivoci-
dade do sentido, pode-se realmente dizer, com estrita verdade, que a "Wcfão"
;onaitai o elemento vital dü fenomenologia, bem como de todas üs ciências eidé- inadequados por princípio à esfera dos vividos.
f/cas,que a ficção é a fonte da qual o conhecimento das "verdadeseternas"
tira seu alimento.4i
S 72. Ciências de essênciaconcretas, abstratas, "matemáticas"

S 7i O problema da possibilidade
de uma eidética descritiva dos vividos

No que precedejá designamosmais de uma vez a fenomenologia aberta


mente como uma ciência descritiva. Então mais uma vez se coloca uma questão
metódica fundamental e uma di6culdade para nós que estamos desejososde
peneüar no novo domínio. .É co rrz:ocoüca a me a dêirdfão comomeiapara a
fewomenohyiü Unha eidéticü descdtipü -- ôssonão e, emgn'al, wm despropósito
Os motivos que levam a tais questões são bem patentes para todos nós.
Quem entra na nova eidética de uma maneira, por assimdizer, tateante como
a nossa, perguntando que investigações são possíveis aqui, que saídas devem

'' Proposição que, recortada como citação, cairia como uma luva para o escárnio naturaHsta
do modo de conhecimento eidético. 42Para os dcsenvolMentos seguintes,cf. o capítulo l da I' seção,especialmenteSS 12, 15 e 16
1 56 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica Terceira,seção:A

por um gênero superior. SÓ obtemos uma unidade radical pela remissão ao


gênero pura e simplesmentesupremo, portanto, à região respectivae aos
componentes regionais do gênero, isto é, aos gêneros supremos que se unem
no gênero regional e eventualmentefiindados uns nos outros. A construção
dos gêneros concretos supremos (da região), a partir de gêneros mais altos
em parte disjuntivos, em parte fundados uns nos outros (e dessamaneira
abrangendo uns aos outros) corresponde à construção dos concretos respec-
tivos a partir de diferenças, em parte disjuntivas, em parte fundadas umas nas
outras; por exemplo, a determinidade temporal, espacialou material na coisa.
A toda região corresponde uma onto]ogla regional com uma série de ciências
autonomamente fechadas ou, eventualmente, ciências regionais que se respal-
dam umas àsoutras, correspondendo justamente aosgêneros mais altos, que
têm sua unidade na região. Aos gêneros subordinados correspondem meras
disciplinas ou as chamadasteorias, por exemplo, ao gênero "seçãocónica", a
disciplina das seçõescónicas. Tal disciplina, como é compreensível, não tem
total independência, uma vez que, em seus conhecimentos e filndações de
conhecimento, ela terá naturalmente de contar com todo o fiindamento dos
conhecimentos eidéticos, que tem sua unidade no gênero supremo.
As c/é#cias são co c efaJ ou aó#razras, conforme os gêneros supremos
sejam géneros regionais (concretos) ou meros componentes de tais gêne
ros. Essaseparaçãocorresponde manifestamenteà separaçãoentre gêneros
concretos e abstratos em geral.4sPor conseguinte, do domínio fazem parte,
ora objetos concretos, como na eidética da natureza, ora objetos abstratos,
como asformas espaciais,as formas temporais e do movimento. A referência
eidética de todos os gêneros abstratos a gêneros concretos e, finalmente, a
P j c/P/o ada mail re a fm aóerz:o
nele. dade tem a proprie'
géneros regionais dá a todas as disciplinas abstratase a todas asciências ple- Além disso, também podemos dizer: tal multiplic ...
nas referência eidética a disciplinas concretas, as disciplinas regionais.
Há, além disso, uma separação das ciências empíricas que corre em exato
paralelo com a separaçãodas ciências eidéticas. Temos, por exemplo, uma
á /ca ciência física da natureza e todas as ciências naturais individuais são.
propriamente falando, meras disciplinas;a poderosareserva,não apenasde nadamaispermaneceindeterminado. . . .. :- ', ..
leis eidéticas, mas também de leis empíricas, que Eazparte da natureza física Também se encontra um equivalente do conceito cle muinpnc'aauc uc
em geral, antes de toda repartição em esferasnaturais, é o que lhes dá unida-
11
de. De resto, regiões diferentes também podem vir a ser vinculadas mediante
regulamentações empíricas, como, por exemplo, a região do físico e a região
do psíquico.
Hl111U:x; :su::=,==:::
'4 Em alemão "Prãj\ldiz": termo jurídico que, como em português,~designa a decisão de uma
4; Cf. acima S 15, p. 53 instância jurídica superior a serseguida pelas demais instâncias (n l ;
fenomenológica
dafenomenohyia,pura \b9

máticas" do tipo da geometria? Temos, pois, de buscar também aqui um


sistemaaxiomático deânido e erigir sobre ele teorias dedutivas?Melhor
dizendo: temos, também aqui, de buscar "formações fundamentais" e de
les derivar todas as outras configurações eidéticas do domínio pela cons-
trução de suasdeterminações de essência,isto é, dedutivamente, por apli-
cação conseqüente dos axiomas? Da essência dessa derivação faz parte,
porém, o que é preciso levar em conta, uma determinação lógica mediata,
cujos resultados não podem ser por princípio apreendidos em intuição
imediata, mesmo quando sejam "desenhados na figura". Se a aplicamos
de uma maneira correlativa, nossa questão também pode ser expressa nas
seguintes palavras: o fluxo de consciência é uma multiplicidade matemá-

B
(
tica autêntica? Considerado em sua facticidade, tem ele semelhançacom
a natureza física, que deve ser caracterizadacomo uma multiplicidade
concreta deânida, se o ideal último que guia o físico 6or válido e tomado
em seu conceito rigoroso?
E um problema epistemológicoaltamente signiâcativo ter plena cla-
reza sobre as questõesde princípio aqui implicadas,isto é, apósfixar o
S 73 conceito de multiplicidade deânida, examinar as condições necessáriasque
2=:: :L=====T'".'.,,. têm de ser satisfeitaspor um domínio material determinado, casodeva cor-
responder a essaidéia. Uma condição para isso é a êxaf/dão #a 'lHo mação
fa cf/l a/", que de modo algum depende de nosso livre-arbítrio e de nossa
arte lógica, mas pressupõe, no tocante aos conceitos axiomáticos pretendi-
dos, que precisam ser atestáveis em intuição imediata, exüz /dão a .pr(@?./a
eísê czaaPrff d/da. Em que medida, porém, essências"exatas" são encon-
tráveis num domínio eidético, e se essênciasexataspodem estar na basede
todas as essênciasapreendidasem intuição eâetivae, com isso, também na
basede todos os componentes dessasessências,isso depende inteiramente
da especiâcidade do domínio.
O problema que se acabade mencionar está intimamente entrelaçado
com os problemas fundamentais, ainda não solucionados, relativos a uma
clarificação de princípio da relação entre "dricr/fãa", com seus "coice/zoí
delfr/f/?o/', e drz?rrm/»afãs "unívoca", "exala", com seus "co@reizPoJ{dr-
alP'; e, paralelamente, à clarificação da relação ainda pouco compreendida
entre "ciências descritivas" e "explicativas". Uma tentativa neste sentido
será apresentada na continuação destas investigações. Aqui não podemos
deter por muito tempo o curso principal de nossasreflexões, e tampouco
estamos suâcientemente preparados para já agora tratar essasquestões de
maneira exaustiva. Basta indicar, na seqüência, alguns pontos a ser tratados
de maneira geral.
160 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fUosofia fenomenológica Terceira, seçã,o:A meto
$ 74. Ciências descritivas e exatas dc abrangência é sempre o ideal. É preciso, além disso, ver com clareza que,
embora elas tenham ligação, as fié#cZai 'x'llaie m cié ciaspzl ame zle.dêsc
ifã'ai
Comecemos nossas considerações pelo contraste entre geometria e Ciên- amais podem substituir umas às outras? e que, por maior que seja o deJ. ;. lú.
cia nat:ura] descritiva. O geâmetra não se interessa pelas formas fáticas sen- mento da ciência cxata, isto é, da ciência que opera com substruções ideais, ele
sível-intuitivas, como o cientista natural descritivo. Ele não constrói, como não pode solucionar os problemas originais e legítimos da pura descrição
este, co re/loJ mo :Ho/(Ü/coipara tipos vagos de formas, que são apreendidos
l diretamente com basena intuição sensível e fixados conceitual ou termino-
logicamente de maneira vaga como eles.'A ag eza dos conceitos, a circuns- S 75 A fenomenologia como doutrina
tância de que têm esferasfluidas de aplicação, não é uma mácula que lhes eidética descritiva dos vividos puros
deve ser impingida, pois, para a esferade conhecimento a que servem, eles
são pura e simplesmente imprescindíveis, ou melhor, são os únicos que' nela No que concerne à 6enomenologta,ela quer ser uma douuina eidética
se justiâcam. Se é preciso trazer à expressãoconceitual adequadaos dados d Jrrjfipa dos vividos transcendentaispuros em orientação fenomenológica,
materiais mtulttvos em seus caracteres eidéticos intuitivamente dados, isso e como toda disciplina descritiva, que não opera por substrução nem .por
significa toma-los tais como se dão. E eles não sedão justamente senão como idealização,ela tem sualegitimidade em si. O que quer que possaser eideti-
dados fluidos, e essênciastípicas neles só podem ser trazidas à apreensão na camente apreendido nos vividos reduzidos em intuição pura. quer como
intuição eidética que os analisaimediatamente. A mais perfeita geometria e componente real, quer como correlato intencional -- serápróprio a ela, e tal
o mais perfeito domínio prático dela não podem ajudar o cientista natural é para ela uma grande fonte de conhecimentos absolutos.
descritivo a trazer justamente à expressão(em conceitos geométricos exa- Vejamos, porém, um pouco mais de perto, em que medida sepodem es-
tos) aquilo que ele exprime de maneira simples, compreensível e plenamente tabelecer no campo fenomenológico, com seusinúmeros concretos eidéticos,
adequada com as palavras "denteado", "chanfrado", "lenticular", «umbe- descrições eeetivamente científicas, e o que estas são capazes de produzir.
li6orme" etc. -- meros conceitos que são êslf ria/m z:ef ãa casca/mr#f, A consciênciatem em geral a peculiaridade de ser um flutuar que trans-
l#rxafoí e, por isso, também não matemáticos. corre em diferentes dimensões,de modo que não se pode falar de uma fi-
Os conceitos geométricos são "co rr/Zaí /dêaí?', eles exprimem algo que xação conceitual exata de quaisquer concretos eidéticos e de todos os mo-
não se pode "ver"; sua "origem" e, com isso, também seu conteúdo é essen- mentos que os constituem imediatamente. Tomemos por exemplo um vivido
cialmente diferente da origem e do conteúdo dos co cr/foJ dr dricr/fão, como do gênero "imaginação de coisa", tal como nos é .dado, quer na perc:pçao
conceitos que exprimem imediatamente essênciastiradas da simples intuição fenomenológico-imanente, que em outra intuição (semprereduzida). Então
e não "ideais". Conceitos exatostêm seuscorrelatos em essênciasque pos o fenomenologicamente singular(a singularidade eidética) é estaimaginação
suem o caráter de "ZdéZa?' #o Je#lZdo éa f/a#o. A essas idéias ou essências de coisa, em toda a plenitude de sua concreção, exatamente como ela passa
ideais se contrapõem as essac/aí mop:Ho/IÜ/cai,como correlatos dos conceitos flutuando no fluxo de vivido, exatamentena determinidade e indeterminida-
descritivos.
de com a qual a sua coisa é trazida à aparição, ora por estes, ora por aqueles
Aquela ideação que estabeleceas essênciasideais como "7ím/zzi" /daaü. aspectos,exatamente na mesma distinção ou turvação, na clareza oscilante e
não encontráveispor princípio em nenhuma intuição sensívele dos quais as obscuridadeintermitente etc., que Ihe sãopróprias. A fenomenologia deixa
ncias morfológicas se "aproximam" em maior ou menor medida sem ja- de lado ape aí a / d/?Zdwafão,maselevatodo o conteúdo eidético, na pje
mais alcança-los? é algo fimdamental e essencialmente diferente da apreensão nitude de sua concreção, à consciência eidética e o toma como essência ide
de essênciamediante simples "abstração", na qual um «momento" realçadona al-idêntica, que, como toda essência,não poderia se individual somente óic
região dasessências
é realçado como um algo vago por princípio, como um algo mas em inúmeros exemplares.Vê-se, sem maiores diâculdades, que
típico..A esza&/idade e .pwzw dZÚerp cZa&Z/idade daí co ce/faK d gZ r o ou das uma./üafão conceitual e terminológica destee de todo fa#crefofluido como
essênciasgenéricas, cujo campo de abrangência é aquilo que é fluido, não pode ele é impensável, e o mesmo vale para cada uma de suas partes imediatas, não
ser confundida com a exa&idão doJ ro cf//as /orais. e dos gêneros, cujo campo menos fluidas, e cada um de seus momentos abstratos.
162 Idéias para uma 6enomeno]ogia oura e Daráuma 6]osoâa âcnomenológica TGrceirü
seção:
A mdo
Ora, se em nossaesferadescritiva não se pode fiar de uma determina- nosso campo visual uma série de problemas importantes. Para nós agora está
ção unívoca das í/mgwZa /dadeí f/déficaí, tudo se passa de modo diferente inteiramenteclaro que, com o procedimento analógico, nada se pode obter
com as essências de /pe/ mais aZfo df êsprc/aZ/dado. Estas se abrem para Uma
diferenciação estável, uma conservação identificadora e uma apreensão con.
ceitual rigorosa, bem como para a análisedas essênciasque a compõem, e.
uans-
por conseguinte, no caso delas faz todo o sentido propor as tarefas de uma dolo para cada nova ciência e, mais ainda, para .nossafenomenologia
descrição científica abrangente . cendental -- como se pudesse haver somente ciências eidéticas de um único ')

É assimque descrevemose, com isso, determinamos em conceitos ri- dpo metódico, o da "exatidão". A 6enomeno]ogiatranscendental,como ci xk
.goroíoía essênciagenérica da percepção em geral ou de suas espéciessubor- ênciade essênciasdescritiva, pertence, porém, a uma c/agir/w dama fa/ dê 'L.i

dinadas, como a percepção da coisa física, dos seres animais etc.; da mesma rié r/as e/dézl/caízroa/me fr d Hr e zledas ciências matemáticas.
maneira, determinamos a essênciagenérica da recordação, da empatia, da
1. 1
vo[ição em geral etc. Antes destas,porém, estão as.gf#e a//dadri swPamai: .&:
'bH.
vivido em geral, cog/&azl/oem geral, que já possibMtam descriçõeseidéticas
::)
abrangentes. Está manifestamente contido na natureza da apreensão geral
de essência, da análise, da descrição, que as operações nos níveis superiores .#)

não tenham nenhum tipo de dependênciapara com as operaçõesdos níveis


inferiores, de modo que fossemetodologicamente necessário,por exemplo,
um procedimento indutivo sistemático, uma elevaçãopaulatina nos graus da
generalidade.
Acrescente-seainda aqui uma conseqüência.Pelo que 6oi exposto, teori-
zações dedutivas estão excluídas da fenomenologia. Imdrré c/al mrd/adaínão
Ihe são terminantemente proibidas; mas como todos os seus conhecimentos
devem ser descritivos, puramente ajustados à esfera imanente, as inferências
e todo tipo de procedimento não-intuitivo só têm a importância metódica
de nos levar até as coisasque uma posterior visão direta da essênciatem de
trazer à condição de dado. Analogias que ocorram podem, antes da intuição
eâetiva, sugerir conjecturas acerca de nexos eidéticos, e inferências que levem
a investigação adiante podem ser deitas a partir delas: mas, ao fim e ao cabo,
as conjecturas têm de ser ratificadas pela visão eEetivados nexos eidéticos.
Enquanto isso não acontece, não temos resultado âenomenológlco algum.
Com isso, sem dúvida, não se responde a questão que se impõe aqui, de
saberse no domínio eidético dos 6enâmenosreduzidos (quer em seu todo,
quer em alguma de suaspartes) não pode haver também, ao /ado do pro-
cedimento descritivo, um procedimento idealizante que substitui os dados
intuitiv(is por ideaispuros e rigorosos, os quais poderiam então servir como
instrumentos fiindamentais de uma maz&êilrdos vividos -- enquanto contra-
partida da fenomenologia desci/z:Zpa.
Por mais que as investigações que acabam de ser deitasdeixem questões
em aberto, elas nos auxiliavamsobremaneira,e não apenaspor colocar no
Capítulo ll
Estruturas gerais da consciência pura

S 76. O tema das próximas investigações


166 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fHosoâa fenomenológica Terceira seção:A método

menologia da própria natureza, como correlato da consciência cientíâco- de essênciaentre fenomenologia pura, psicologia eidética e psicologia em-
natural. Da mesmamaneira,embora psicologia e ciênciasdo espírito sejam pírica ou ciência do espírito,.f de grande relevância para as disciplinas aqui
atingidas pela exclusão de circuito, há uma fenomenologia do ser humano. envolvidase para a fUosofia.Em especial,a psicologia, que em nossaépoca
de sua personalidade, de suas características pessoaise de seu curso (humano) buscaavançar com todas as suascorças, só pode ganhar a fimdação radical
de consciência;há, além disso, uma fenomenologia do espírito social, das que ainda Ihe fita, caso venha dispor de amplas evidências sobre os nexos
conâguraçõessociais,das formas da civilização etc. Desde que entra como eidéticos aqui apontados.
dado para a consciência, todo transcendente não é objeto de investigação As indicações que acabam de ser dadas nos fazem sentir o quão distantes
fenomenológica somente pelo aspecto da camsc/éf/a que se tem dele, por ainda estamos de entender a fenomenologia. Aprendemos a nos exercitar
exemplo, pelos diferentes modos de consciência nos quais ele vem, como ele na orientação fenomenológica, pusemos de lado uma série de dificuldades
mesmo, à doação, mas também, embora de maneira essencialmenteligada a metodológicas que podiam induzir em erro e defendemos a legitimidade de
isso, na condição de dado e de incluído nos dados. uma descriçãopura: o campo de investigação está livre. Ainda não sabemos,
Há, desta maneira, vastos domínios da investigação fenomenológica para todavia, g aií são os grandes temas que 'nele encontraremos ou, para ser
os quais não estamos absolutamente preparados se partimos da idéia de vivi- maxi ytec\se. qwedireçõesfl wdümewta,isdü descriçãosãoprescritas pelopadrão
do -- especialmentese começamos,como todos nós, pela orientação psico- e/déf/co maZr.cêra/ dor i /doi. Para ganhar clareza sobre essasrelações, tenta-
lógica e se nos deixamos levar primeiro pelo conceito de vivido da psicologia remos caracterizar nos próximos capítulos justamente essetipo eidético mais
de nossaépoca --, domínios que, sob a influência de obstáculos internos 'se geral, ao menos em alguns de seustraços especialmente importantes.
estaráde início pouco disposto a reconhecer como Éenomenológicos.Essa Com essasnovas considerações, não abandonamos propriamente os pro'
inclusão do que cora posto entre parênteses resulta, para a psicologia e para blemasde método. As discussõesmetodológicas anteriores eram determina
a ciência do espírito, em situações muito próprias e que dão margem a erros. das por evidências, as mais gerais, acerca da essência da esfera fenomenológi-
A íim de indica-lo apenasno que concerne à psicologia, constatamos que a ca. É óbvio que um conhecimento aprofundado dela -- não em seusaspectos
consciência, como dado da experiência psicológica, isto é, como consciência individuais, mas nos seusaspectosgeraise decisivos também tem de nos
humana ou animal, é objeto da psicologia: na investigação científica empírica munir de normas metodológicas fecundas, que deverão ser seguidaspor to-
é objeto da psicologia empírica, na investigaçãocientífica de essências.da dos os métodos especiais.O método não é algo que se traz ou devatrazer de
psicologia eidética. Por outro lado, com a devida modiâcação introduzida Forapara dentro de um domínio. A lógica formal ou a noética não dá o méto-
pelos parênteses,o mundo inteiro, com seusindivíduospsíquicose com os do, mas ajorma de método possível, e por mais útil que o conhecimento da
vividos psíquicos deles, faz parte da fenomenologia: tudo isso como corre- forma possa ser no aspecto metodológico, um método dera m/Halo -- não
lato da consciência absoluta. Nela, portanto, a consciência surge em dize segundo a mera particularidade técnica, mas segundo o tipo metódico geral
rentes modos de apreensão e em diferentes nexos, e diâcrentes no interior -- é uma norma que provém do padrão regional fundamental do domínio e
da própria fenomenologia; ou seja,na própria fenomenologia, a consciência de suasestruturasgerais e, portanto, é essencialmentedependente, em sua
surge, ora como consciênciaabsoluta, ora, no correlato, como consciência apreensão cognitiva, do conhecimento dessas estruturas.
psicológica, inserida agora no mundo natural -- que teve, de certa maneira,
o seu valor trocado, mas não perdeu o próprio conteúdo, enquanto cons-
ciência. Estes são encadeamentos difíceis e extraordinariamente importan- S 77 A reflexão como peculiaridade fundamental
tes. Deles também depende que toda constatação 6enomenológtca acercada da esfera dos vividos. Estudos na reflexão
consciência absoluta possa ser re-interpretada numa constatação eidético-
psicológica (que, num examerigoroso, de modo algum é uma constatação Entre as peculiaridadeseidéticas mais gerais da pura esfera de vivido,
fenomenológica), o modo de consideração fenomenológico sendo, porém, trataremos em primeiro lugar da eWexão.Faremos isso em virtude de sua
o mais abrangente e, enquanto absoluto, o mais radical de todos. Ver tudo função metodológica @#Zrasa/: o método fenomenológico se move intei-
isso com clareza e trazer posteriormente à mais translúcida clareza as relações ramente em fitos da reflexão. Pode-se, no entanto, levantar diâculdades cé-
l

Terceiraseção:A me

E
trapartida excitada.retenção imediata; a seguir, vem a recordação prospecu:li,
«ue,presentificando de maneira inteiramente outra, é reprodutiva em sentido
;ais próprio, é contrapartida da rnnemoração. Neste caso, aquilo que se es-
:

peraintuitivamente, aquilo de que se tem consciência por antl=cipaçãocom:l


/
«ocorrendo no fiituro", possui ao mesmo tempo, graças à reflexão possível
«na" recordação prospectiva, a significação de algo que será percebido, da
l 0
Mesmamaneira que o rememorado tem a significação de um já percebido.
Também na recordação prospectiva, nós podemos, portanto, refletir e nos
conscientizar de vividos próprios, para os quais nela não estamos orientados,
como pertencendo ao recordado prospectivamente enquanto tal: é assimque
sempreprocedemos ao dizer que pamoi pcr o que irá acontecer, onde o olhar
reflexivo sevolta para o vivido perceptivo "por vir"
Podemos tornar tudo isso claro para nós e podemos continuar perse
ruindo seus encadeamentosulteriores estando em orientação natural, por
exemplo, na condição de psicólogos.
Ora. se eeetuamos a redução fenomenológica, essasconstatações (colo-
cadasentre parênteses)se convertem em casosexemplaresde generalidades
de essência,de que podemos lançar mão e estudar sistematicamente no âm-
bito da intuição pura. Coloquemo-nos, por exemplo, em intuição viva (que
l também pode ser uma imaginação), na e6etuaçãode um ato qualquer, de
alegria com o fato de nossospensamentosteóricos terem transcorrido de
maneira livre e fecunda. Efetuamos todas as reduções e vemos o que está
contido na essênciapura das coisas6enomenológicas.Antes de mais nada,
vemos, pois, um estar-voltado para os pensamentos em seu transcurso. Con-
tinuamos desenvolvendoo Êenõmenoexemplar. Durante o feliz transcurso,
um olhar reflexivose volta para a alegria.Ela setorna vivido notado e per-
cebido de maneira imanente, que flutua e se esvai deste ou daquele jeito ao
olhar da reflexão. O transcurso dos pensamentosperde sua liberdade, dele só
há consciência numa maneira modificada, e a alegria intrínseca ao seu desen-
volvimento é atingida em suaessência-- o que também pode ser constatado,

47O estranhamente("recordação prospectiva") é menor no original: pois "Ennnerung" (re-


cordação, lembrança) em alemão signiâca literalmente "innewerden", isto é, ter consciência,
" Cf. acima, $ 38, p. 92, e S 45, P. 106. perceber,reconhecer,onde "mne" indica movimento paradentro, algo que seconservaainda
no português "recordação" (de "coração"). (NT)
H

a Hosofia fenomenológica Terceira seção:A m

minam se misturar aqui(justamente porque Efta uma análiseeidéticaséria).l


mudanças cora de jogo agora, e atentemos para o seguinte. corno, por exemplo, que não pode existir algo como percepção e ooscrvaçau
A primeira reflexão sobre a alegria a encontra como anualmente presente jmanente em geral. .,
mlzí ão Comoíê / ic/a doJ'w amr Zr ag07'a.Ela estáali como .Pe/liurando. Entremos um pouco maisnestasquestões.

E 1 144 m ';,n=hlÊ
a alegriase deu, de atcntar para o trecho anterior em que transcorreraH os $ 78. O estudo fenomenológicodas reflexõesacercade ávidos
pensamentos teóricos, mas também para o olhar que anteriormente seVolta.
!

Podemos considerar tudo isso em orientação fenomenológica, e f/def/-


PÍtulOntes de tudo é preciso ter claro que foda e g a/g êr Kre#eHão"possui o
caráter de uma }wad{/ilação de co JC/é»cia,mais exatamente, de uma tal que
D

6a fenomenológica Tercei!!grão: A m
caracterizadopor tal modificação e então sempre caracterizado fm si mesmo
como tal, seremosreconduzidos a certos protovividos, a "/##P esiõe/',que
exibem os vividos adio/ amf zlr orÜ/ árias no sentido fenomenológico. As-
sim, Pf CEpfõei de coisassão vividos originários em relação a todas as recor-
dações,present:ificaçõesde imaginação etc. Elas são tão originárias quanto o
possamser vividos concretos em geral. Pois, observando bem, elas têm em
suaconcreção apenas ma á ií;ajase aóso/ Zlame#z:e orÜ/#ár/a, embora esta
também sempre flua continuamente: o momento do agora vivo.
Podemos referir primariamente essasmodificações aos vividos atuais da
i' consciênciairrefletida, pois se pode logo ver que todas as modiâcaçõespor
reflexão consciente precisam eo ipsoparticipar dessasmodiâcações primárias,
uma vez que elas, como reWexõeisobre vividos e consideradas em sua ple
#'
na concreção, são elas mesmasvividos em consciência irrefletida, aceitando,
como tais, todas as modificações. Ora, a própria reflexão é seguramente uma
nova espéciede modificação geral -- o d/ ec/o ame [o do eu para seusvividos
e, junto com ele, a efetuaçãode atou do fog zlo(em especial,atos da camada
mais baixa, fundamental, a das representações puras e simples), "nos" quais
o eu se direciona para seus p/Tidos;ora, é justamente esseentrelaçamento da
reflexãocom apreensõesou assimilaçõesintuitivas ou vaziasque condiciona,
no estudo da modiâcação reflexiva, o entrelaçamento necessáriodela com o
estudo das modiâcações acima indicadas.
IJnicamente por atou de exPC/é r/a reflexivos sabemos algo do fluxo
de vividos e de sua necessáriareferênciaao eu puro; portanto, unicamente
por eles sabemosque o fluxo de vividos é um campo de livre e6etuaçãode
cogitações de um único e mesmo eu; que todos os vividos do fluxo são vi-
vidos dele, justamenteporque ele pode olhar para elesou, "por intermédio
deles", para algo estranho ao eu. Convencemo-nos de que essasexperiências
conservam sentido e legitimidade também enquanto experiências reduzidas,
e apreendemos a Zeg/f/midadr de experiências dessa espécie em generalidade
de essência,da mesma maneira que, paralelamente a isso, apreendemos a
legitimidade de piíõ s d essac/a referidasa vivido em geral.
É assimque apreendemos,por exemplo, a Zg f/midadc aóío/ z:ada re
flexão prrcfpf/l2a imanente, isto é, da percepção imanente pura e simples, e
apreendemosessasua legitimidade naquilo que Eazdela, em seu decurso,
um dado originário e6etivo;da mesma maneira, apreendemos a /egÍf/midadf
aóso/ zlada e r fão /ma ê fe no que concerne àquilo que nelavem à cons-
ciênciacom o caráterdo "ainda" vivo e do que Êoi"há pouco", masisso, sem
dúvida. somente até onde vai o conteúdo do que é assim caracterizado. Ou
seja,enquanto foi, por exemplo, percepçãode um som e não de uma cor.
omenológica
üfenomltoloyilpurü L7S
novamenteesseceticismo em relação à fenomenologia, embora ele certa-
mente não tenha apreendido o sentido peculiar da fenomenologia pura que
as l#Pe#gafÕes mgicai tentaram introduzir, e não tenha visto a diferença da
situaçãopuramente fenomenológica em relação à situação empírico-psicoló-
gica. Por mais que as diâculdades em ambos os casossejam similares, há, no
entanto,uma diferença, que reside, num caso, em perguntar pelo alcancee
valor cognitivo de princípio das constataçõesde x/ é cla, que exprimem os
dados de nossasexperiências internas (humanas), isto é, em colocar a questão
do método psicológico; no outro caso, o que está em questão é o método
fenomenológico,e se pergunta pela possibilidade e alcancede princípio de
constataçõesde eíié#c/a,que devem se referir, com basena pura reflexão, a
vividos enquanto tais, segundo suaspróprias essênciaslivres da apercepção
natural. Não obstante, subsistem relações internas e até, numa medida con-
siderável, congruências entre ambas, que justificam nosso posicionamento
em relação às objeções de Watts, especialmente em relação a frases dignas de
nota, como as seguintes:
"É quase impossível fazer suposições sobre como se chega ao conheci-
mento do vivido imediato. Pois ele não é nem conhecimento, nem objeto do
conhecimento,mas algo outro. Não se pode ver como se passapara o papel
um relato sobre vivido do vivido, mesmo quando ele existe". "Como quer que
seja, esta é a questão última do prob]ema fündamenta] da auto-observação"
"Hoje em dia se designa essadescrição absoluta como fenomenologia".'P
Referindo-se às exposições de Th. Lipps, Watt diz então: "À eÊetividade
S 79 sa&Zdados objetos da auto-observação se contrapõe a eâetividadedo eu pre-
Excurso -observa fenomenologia e as dificuldades
dizer, meramente vinda, não 'sabida', isto é, apreendida reflexivamente.se
Com isso, ela é justamente e6etividadeabsoluta". "Pode-se ter uma opinião
bem diferente", acrescentaele, por suavez, "a respeito do que se pode fazer
com essaeÊetividadeabsoluta...Trata-se, também aí, certamente apenasde
resultados da auto-observação. Ora, se esta é sempre observação que olha
para trás, sempreum saberde vividos já i/dai como objetos, como se devem
estatuir estadosdos quais não se pode ter saber algum, de que se tem apenas
consciência?A importância de toda a discussãogira justamente sobre isso.
a saber,sobre como derivar o conceito do vivido imediato, que não é saber

W
algum. A observaçãotem de ser possível.Vivenciar é, enâm, próprio de cada

49Idem, p. 5.
5' Colchetes de Husserl. (NT)
176 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osofiafenomenológica

um. SÓque ele não iate disso. E mesmo se soubesse,como poderia saber

beça a fenomenologia pode saltar pronta para a vida? Uma fenomenologia


é possível e em que sentido? Todas essasquestões são incontornáveis. Uma
discussãosobre a questão da auto-observação a partir da psicologia experi-
mental talvez venha a lançar nova luz sobre essedomínio. Pois o problema
da fenomenologia é o mesmo com que a psicologia experimental também
necessariamente se confronta. Também a sua resposta a essaquestão talvez
deva ser mais cuidadosa, já que Ihe fita o fervor do descobridor da fenome-
b
nologia. De qualquer modo, em si mesma, a resposta a ela depende mais de
H um método indutivo".s:
i-
l Nessa pia fé na onipotência do método indutivo, que se exprime nessas
l últimas linhas (e na qual Watt dificilmente poderia perseverar,casomeditasse
sobre as condições de possibilidade dessemétodo), o que surpreende é, sem
dúvida, a confissão "de que uma psicologia funcional operando por decom-
posição jamais poderá explicar o fato do saber".s:
Diante de declaraçõescomo estas,característicasda psicologia atual, nós
teríamos em primeiro lugar -- justamente porque elasvisam a psicologia -- de
fazer valer a separação anteriormente estabelecida entre questão psicológica e
questãofenomenológica, e frisar, neste sentido, que a doutrina fenomeno-
lógica dasessênciastem tão pouco por que se interessarpelos métodos me-
diante os quais o 6enomenólogo poderia se assegurar da rxZ é c/a daqueles
vividos que Ihe servem de base em suasconstatações âenomenológicas, quanto
a geometria tem de se interessarpela maneira como deve assegurarmetodica
mente a existência dasfiguras na lousa ou dos modelos no armário. Geometria
e fenomenologia, como ciênciasda essênciapura, não conhecem constatações
sobre existência real. A isso se liga justamente que ficções clmas não lhes ofe-
recem apenasbons embasamentos, mas, numa grande medida, oferece emba-
samentos melhores do que dados de percepção e experiência atuais.5;
Ora, se tampouco a fenomenologia tem de fazer constataçõesde existên
cia acercade seusvividos, isto é, "experiências" e "observações"no sentido
natural, naquele segundo o qual uma ciência de fatos tem de se apoiar nelas,
ela Eazconstataçõesde essência,como condição de princípio de sua possi-
bilidade, acercade vividos irrefletidos. Mas ela as Eazgraçasà reflexão, mais

s: Idem, p. 7.
5zIdem, p. 12
ss (if. acima S 70, pp. 152 e sega.
sua vez, passam por apreensões etc-

L
D

fica düfewomenoloyiüpura \79

claro, ademais, que, sendo a pressuposição constante, isso só pode ser sabido
por reflexão, e só pode ser filndamentado como saber imediato por intuição
reflexivadoadora. O mesmo se dá com a afirmação de eEetividadeou possibi-
lidade das modificações acrescentadaspor reflexão. Mas se isso é dado por in-
tuição, então ele é dado num conteúdo intuitivo e, portanto, é contra-senso
afirmar que não há nada de cognoscível aqui, nada que se rena ao conteúdo
do vivido irrefletido e da espéciede modificaçõespor que ele passa. +

É o que bastapara tornar nítido o contra-senso. Aqui como em toda par-


)

te, o ceticismo perde sua corça quando se deixam de lado as argumentações


verbais e se retorna à intuição de essência,à intuição doadora original e a sua


própria [egitimidade original. Tudo depende, sem dúvida, de que também se ..1
..]

eâetueeâetivamenteessaintuição e de que se sejacapaz de colocar o ponto É..ll

questionávelsob a luz da autêntica clarezaeidética ou de que se empreendam


exposiçõescomo as que tentamos fazer no parágrafo anterior, de forma tão
intuitiva quanto aquela com que foram eâetuadas e apresentadas.
'}

Os âenâmenosda reflexão são, com efeito, uma esperade dados puros e, n =.l

sob certas circunstâncias, perfeitamente claros. Neles se tem uma rpidé rZa
rldézlicasempreadngivel, porque imediata: a partir do dado objetivo como tal,
é possível reflexão sobre a consciência doadora e seu sujeito; a partir do perce-
bido, daquilo que está ' aí" em carne e osso, é possível reflexão sobre o perco
ber; a partir do recordado,a partir de seu"vislumbre" como tal, como "tendo
sido", é possível reflexão sobre o recordar; a partir do enunciado, no transcurso
de seu ser dado, é possível reflexão sobre o enunciar etc.; em todas essasope
rações o perceber, como percepção justamente deste percebido, a consciência.
como consciênciadeste algo de que se é consciente em tal momento, é o que
entra como dado. É evidente que, por essência-- portanto, não apenaspor
andamentos meramentecontingentes,como que meramente"para nós" e
nossa "constituição psicofísica" contingente --, algo como consciência e con-
teúdo de consciência(no sentido real ou intencional) só pode ser conhecido
por reflexão. Logo, até Deus estásujeito a essanecessidadeabsoluta e evidente.
assim como à evidência de que 2 + 1 Também ele só poderia alcançar
conhecimento de sua consciência e de seu conteúdo reflexivamente.ss
Com isso se afüma, ao mesmo tempo, que a reflexão não pode estar enre
dada em nenhum conflito antinâmico com o ideal de conhecimento perfeito.

5' Watt, OP.Cit.,P. 12. 55Não levaremos.aqui a discussãopara os domínios da teologia: a idéia de Deus é um concei
to-limite necessário em considerações gnosio]ógicas e até um índice indispensável para a bons
trução de certos conceitos-limite, que mesmo o ateu não pode dispensar quando HosoEa
ofia fenomenológica
l.erceirn, seção:A me
Cada espéciede ser, já tivemos de fiisá-lo mais de uma vez, tem por essênci, """""' constitua o único método possívelparaa
ízwi modos de doação e, portanto, suasformas de método de conhecimento Mação dos conceitos que devem ter filnção determinante em toda descrição

:jl

.)

gicasfimdamentais da psicologia. Aquilo que ela constatou de maneira geral,


tem de ser reconhecido e, se 6or o caso, exigido pelo psicólogo como con-
dição de possibilidadede todo o seu método posterior. O que conota com )ll
isso, caracteriza o co#fra-Jf se PS/co/(bicodr p / cíp/o, exatamente como na
esperafísica todo conHito com as verdades geométricas e com as verdades da
ontologia da natureza em geral é característico do co#Z:ra-Jr se d P i cíPZa
em ciência wu,lura,L.
Um tal contra-sensode princípio se exprime, por conseguinte, na es-
perança de superar as diâculdades céticas quanto à possibilidade da auto'
l observaçãovalendo-se da /wd fão psicoZ(Ü/cana psicologia experimental. O
procedimento é de novo o mesmo com que se quer superar um ceuctsmo
análogo no domínio do conhecimento físico natural: se, no íim dastomada
contas,
H toda percepção externa engana (já que realmente toda .percepção,
indiüdualmente, pode enganar), isso poderia ser superado pela física experi-
mental, que pressupõe, a cada passo, a legitimação.da percepção externa
Quanto ao mais, o que se disse aqui em geral deve ganhar em força com
todo o restante,em particular com as explicaçõessobre a amplitude dasevi-
dências eidéticas reflexivas. Também as relações, tocadas de leve aqui, entre
fenomenologia (ou psicologia eidética, que por ora ainda não foi separada

impedir novos equívocos dessanata'eza.


182 Idéias para uma âe Terceira,seçã,ol

dela e. em todo caso, está intimamente ligada a ela) e psicologia experimen-


tal cientíâca devem ser submetidas, com todos os seus problemas profiln-
dos, a uma clarificação no segundo livro deste escrito. Estou seguro de que,
em tempo não muito remoto, se tornará bem comum a convicçãode que
a fenomenologia (ou a psicologia eidética) é a ciência metodologicamente
fiindante para a psicologia empírica, no mesmo sentido em que asdisciplinas
matemáticas materiais (por exemplo, a geometria e a foronomia) são fündan-
tes para a física.
Em meu entender, a antiga doutrina ontológica ieg# da a g a/ o com#e-
l
cimento d,üs "possibilidades' tem de pv'aceder o conhecimento iia,s efetividüdes
é uma grande verdade,desde que bem entendida e aproveitadade maneira
correta.

S 80. A relação dos vividos com o eu puro

Entre as peculiaridades eidéticas gerais do domínio transcendental pu-


riâcado dos vividos, o primeiro lugar cabe propriamente à relaçãode cada
vivido ao eu "puro". Todo "cag/zro",
todo ato num sentidoeminenteé ca-
racterizadocomo ato do eu, ele "provém do eu", "vive atualmente"nele.
Já Eãamos a esse respeito e lembramos em poucas bases o que antes 6oi
apresentado.
Na observação, ez/percebo algo; da mesma maneira, ew6eqüentemente
"me ocupo" de algo na recordação; como que observando,s9ewsigo na ima-
ginação fictícia o que sepassano mundo imaginado. Ou refeito, faço inferên-
cias; retiro um juízo ou até me "abstenho" em geral de julgar. Tenho uma
sensação de prazer ou desprazer, alegro-me ou fico entristecido, eu desejo
ou quero e faço; ou também "me abstenho" da alegria,do desejo,da volição
e da ação. Estou em todos essesatos, aZrwa/mr le neles. Por reflexão eu me
apreende neles como ser humano.
Se, no entanto, efetuo a eno)(T)fenomenológica, também o "eu, ser hu-
mano" é excluídodo circuito, assimcomo todo o mundo da tesenatural,
restando então o puro vivido de ato com sua essênciaprópria. Mas vejo tam-
bém que a apreensãodele como vivido humano, abstraindo-sede toda tese
de existência, introduz no circuito tudo aquilo que não precisa necessaria-
mente estar nele, e que, por outro lado, nenhuma exclusão de circuito pode

590 original traz "g aíi beobachtend".(NT)


1 84 Idéias para !:ma fenomenologia pura e p?E1:2a 61osoâa fenomenológica Terceira, seção:A meto

precisam se ocupar de maneira mais aprofilndada do eu puro e seus modos


de participação ali. É natural que com fteqüência se terá de tratar dele, Uma
vez que está sempre necessariamente ali.
As meditações a que pensamos dar prosseguimento nesta seção se vol- essencialmente de outra espécie, e também de outra espécie é o perfilar-se
tam principalmente para a orientação objedva, como aquela que seapresenta dc formas materiais espaciaisnas formas da extensão, no interior dos dados
por primeiro quando se deixa a orientação natural. Os problemas indicados sensíveis.Mas, no que se mostrou acima, subsistem por toda parte aspectos
nos parágrafosintrodutórios desta seçãojá fazem remissão a ela. comuns. . , . }

O tempo, aliás,como ressaltarádas investigaçõesvindouras, é uma de-


y signaçãopara uma êÓrratotalmente jrc#ada de p oó/amas,e de excepcioT:l
até
ã' $ 81. O tempo fenomenológico e a consciênciado tempo diâculda(ie. Será mostrado que nossa exposição de certo modo guardou
agora silêncio sobre toda uma dimensão, e teve necessariamente de guarda R
O tempo fenomenológico, como peculiaridade geral de todos os vividos. lo, paraevitar que sefizesseconfissãoentre aquilo que só é primeiramente
requer uma discussão especíâca. visívelna orientação fenomenológica e aquilo que, sem levar em conta a nova
Deve-seobservarbem a diferença entre esselr/Hpodz omr oZ(Ü/ro,essa
forma de unidade de todos os vividos m@mfluxo de vivido (o de wm eu puro)
e o tempo " objeti o" , Isto ê, cósmico.
Pela redução fenomenológica, a consciência não perdeu apenas seu
dimensão, constitui um domínio fechado de investigações. O .'absoluto"
transcendental, que nos preparamos por meio das reduções, não é, na verda-
de. o termo último, ele é algo que se constitui a si mesmo, em certo sentido
profimdo e inteiramente proprio, e que tem suascontesoriginais num abso-
B
"vínculo" aperceptivo(o que naturalmente é uma imagem) com a realidade luto último e verdadeiro.
material e sua inclusão, mesmo que secundária, no espaço, mastambém sua Por sorte, nas nossasanálisespreparatórias podemos deixar fora de jogo
inserção no tempo cósmico. Aquele tempo inerente por essênciaao vivido os enigmas da consciência do tempo," sem ameaçar o rigor delas. SÓ agora
como tal, com os seusmodos de doaçãodo agora, do antes,do depois, e do voltamos a tocar nela nas proposições seguintes:
simultâneo e do subsequente etc., modalmente determinados por eles, não A propriedade eidética que a designação "temporalidade' exprime para
pode sere não é medido em geral pela posiçãodo Sol, pelo relógio, nem por vividos não assinalasomente algo inerente em geral a todo vivido individual,
meio físico algum. mas uma forma fresta a de p czl/anãoê z:re ipZdoí.Todo vivido efetivo
De certa maneira,o tempo cósmico estápara o tempo âcnomenológico (e6etuamos essaevidência com base em intuição clara de uma eÊtividade de
assim como, analogamente, a "extensão" pertencente à rsié c/a imanente de ávido) é necessariamente um vivido que perdui-a; e com essaduração.ele se
ordena num contínuo infindo de durações -- num contínuo prer#c#iZo. O
um conteúdo concreto da sensação(por exemp]o, de algo visual no campo
vivido tem um horizonte temporal preenchidoinfinitamente em todos os
dos dados de sensaçãovisual) estápara a "extensão" espacialobjetiva, isto
é, a extensãodo objeto físico que aparecevisualmente«em perÊl" nesse seuslados. Isso signiâca ao mesmo tempo: ele pertence a um ú ica infinito
dafwm de sensação.Assim como seria contra-senso colocar sob o mesmo "W#xa de Pi /do". Todo vivido individual, por exemplo, um vivido de alegria,
gêneroeidético um momento da sensação,como cor ou extensão,junto pode tanto ter um começo como um fim e, assim, pode encerrar sua duração.
com o momento material que se perÊla através deles, como cor e extensão O fluxo de vivido, no entanto, não pode começar nem findar. Todo vivido,
da coisa, assimtambém com respeito à temporalidade fenomenológica e à como sertemporal, é vivido de seueu puro. Dele Caznecessariamente parte.a
temporalidadecósmica.No vivido e em seusmomentos de vivido, o tempo possibilidade (que, como sabemos, não é uma possibilidade lógica vazia) de
transcendente pode se exibir por aparições, mas de resto não há, por princí-
pio, sentido algum em supor semelhançade imagem entre o que se exibe e o
exibido, semelhança que como tal pressuporia unidade de essência.
óoOs esforços,por tanto tempo inúteis, do autor a esserespeito chegaramao essenciala um
Quanto ao mais, não sedeve dizer que a maneira como o tempo cósmico fecho no ano de 1905, e seusresultados coram comunicados em preleções na universidade de
se anuncia no tempo fenomenológico é exatamente a mesma que aquela na Gõttingen.
D

nomenológica Terceira seção:A m

que o eu dirija o puro olhar do eu para essevivido e o apreendacomo real-


mente existente, ou como tendo duração no tempo fenomenológico.
Por outro lado, também Êaz parte da essência dessa situação a .Folk/ó/ZZdade
de que o eu diHja o olhar para o modo dr doaçãotemporal e reconheça com evi-
dência(como nós todos obtemos eÊetivamenteessaevidência revivendo o que é
descrito na intuição) que nenhum vivido duradouro é possívela não ser que se
constitua num fluxo contínuo de modos de doação,como unidade do processo
ou da duração;além disso,essemodo pelo qual o próprio vivido temporal se
dá é novamente um vivido, embora de espéciee dimensão novas. Por exemplo,
a alegria que começa e termina, e dura nesseínterim, eu posso tê-la primeiro
diante do olhar puro, eu vou junto com suasErrestemporas. Também posso,
no entanto,prestaratençãono modo como elase dá: no modo como se dá este
"agora" e que a este agora, como de princípio a qualquer agora, se acrescenta
em continuidadenecessária um novo e sempremaisum novo agora,e que, jun-
tamente com isso, todo agora atual se transforma num "ainda há pouco", este
' ainda há pouco. por suavez e continuamente em novos "ainda há pouco" de
"ainda há pouco" etc. E assim para todo agora novamente acrescentado.
.. O agora atual é necessariamente e permanece algo pontual, umajmma g@f
.pfrszae .para JePMPre opa maüüa. O mesmo se passa com a continuidade do
"a/ da &á.palco"; ele é uma ro ó idade dedo mande semprenovo conteúdo.
quer dizer ao mesmo tempo o seguinte:o vivido duradouro de alegriaé
dado 'à consciência"num contínuo de consciênciadajorma constante;hálnna
Ême"impressão", como Ême-limitede uma continuidade de retenções,asquais,
no entanto, não se situam no mesmo ponto, mas dwrm ie n #p idas @maiàro@-
ma co ü#zí/dadoi ip c/o#a/-- elassão uma faisãocontínua de retenções
de retenções: A forma sempre recebe novo conteúdo, portanto a cada impressão
na qual o vivido-agora é dado "se acopla" uma nova impressão correspondendo
a um novo ponto contínuo da duração; continuamente a impressão se altera em
retenção, estacontinuamente se altera em retenção modMcada etc.
Mas a isso vem sejuntar a direção oposta das alteraçõescontínuas: ,o antes.
corresponde o depois, ao contínuo das retenções, o contínuo das protenções '''

$ 82. Continuação. O triplo horizonte do vivido.


ao mesmo tempo como horizonte da reflexão sobre o vivido

Reconhecemos, porém, mais coisas ali. nada agora de vivido, mesmo


o da faseinicial de um vivido que acabade surgir, tem necessariamente Jezi
óor/za Zedo a#Fes.Mas estenão pode ser,por princípio, um antesvazio, uma
11
B

188 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osoâaíênomenológica

S 83. Apreensãodo fluxo de vividos em sua unidade como "ideia"

Com essadurma.prozlor/pica da co n;íé cZaestá,por lei eidética, relacio-


nado oseguinte.
Se o olhar do eu puro atinge um vivido qualquer em reflexão, e em
apreensãoperceptiva, subsiste a possibilidade a priori de dirigir o olhar para
outros vividos, afé o»d haja nexo entre eles. Por princípio, entretanto, lodo
essenexo JhmaZíé algo dado ou a ser dado por um único olhar puro. Não
obstante, ele também é de cerro modo apreensívelintuitivamente, embora
num modo totalmente outro por princípio, ou seja,no modo da a iê cZade
//m/zlei a pragresTãodas / zl ifõeí /ma#r#fri, na progressão do vivido fixado
até novos vividos de seu horizonte de vividos, da fixação destesaté fixação
de seu horizonte etc. A expressão"#orZza le df p/ /do?', porém, não signi-
fica aqui apenaso horizonte da temporalidadefenomenológica em suastrês
dimensões descritas, mas diferenças entre opasrspécieíde modos de doação.
Sendo assim,um vivido que se tornou objeto de um olhar do eu, que tem,
portanto, o modo do "notado", possuio seuhorizontede vividosnão-no
tados; um apreendido no modo da "atenção", e eventualmente em clareza
crescente,possuium horizonte com um fundo de inatenção,com relativas
diferenças de clareza e obscuridade, assim como de realce. Aqui radicam pos-
sibilidades eidéticas: trazer o não-notado ao olhar puro, fazer do observado
de passagemum observado primário, dar realce ao não realçado, dar clareza
e sempre mais clareza ao obscuro.':
Na progressão contínua de apreensão em apreensão apreendemos de
certo modo, eu disse,também o .# xo dr ip/do como /dado. Nós não o
l apreendemoscomo um vivido singular, mas ao modo de uma /dé/a a se f/do
éa fiado. Ele não é algo posto e armado a esmo,mas um dado absoluto e
indubitável -- num sentido amplo correspondente da palavra"dado". Essa
indubitabilidade, embora também fundada em intuição, tem uma conte in
teiramente diferente daquela que existe para o ser dos vividos, e que, portan-
to, entra na condição de dado puro em percepção imanente. O que é justa
mente o peculiar da ideação na visão da "idéia" kantiana, que não perde, por S 84. A intencionalidade como tema fenomenológico capital
isso, a sua evidência, é que a determinação adequada de seu conteúdo, aqui
do fluxo de vivido, é inatingível. Vemos desde logo que faz parte do fluxo
de vivido e de seuscomponentescomo tais uma série de modos de doação

ói "Horizonte", portanto, é usado aqui da mesmamaneira que, no S 35, p. 86, se Edade um


"halo" e de um "findo"
Terceira seção:A
190 Idéias para um?

todo vivido captadocomo objeto pelo olhar de uma reflexãopossível,mes-


mo sendoum momentode vivido abstrato.A intencionalidadeé aquilo que
caracterizaa fo jrié cia no sentidoforte, e que justiâcaao mesmotempo
designar todo o fluxo de vivido como fluxo de consciênciae como unidade
de uma zá ica consciência.
Nas análiseseidéticas preparatórias da segunda seção, que tratavam da
1} consciênciaem geral(quando ainda estávamosdiante da porta de entrada
da fenomenologia, e especialmente com o fim de alcança-la pelo método da
redução), tivemos já de elaborar uma série de determinações as mais gerais
sobre a intencionalidade e sobre a primazia "ato", da "cogitatio".ó' Fize
mos uso delas mais adiante, e era lícito eazê-lo,embora as análisesiniciais
.J
ainda não tivessem sido efetuadas segundo a norma expressada redução fe-
«J
!'''.
nomenológica. Pois elas concerniam à essênciapura própria dos vividos e,
conseqüentemente,não podiam ser atingidas pela exclusãoque colocou a
apercepçãopsicológica e a posição do ser fora de circuito. Já que agora se
trata de discutir a i#fr cia a//dada f g a fo dêlig afãs aÓa#gr Zede eJ-
f z: asjrwomr a/(bií;ai / le/ras e de delinear a problemática referindo-nos
essencialmentea essasestruturas(até onde isso é possívelnuma introdução
geral), recapitulemos o que foi pensado anteriormente, mas configurando-o
em vista de nosso escopo atual, que é essencialmente outro.
Por intencionalidade entendíamos aquela propriedade dos vividos de
"ser consciênciadf algo". Essaprodigiosapropriedade,da qual derivamto-
dos os enigmasda teoria da razão e da metafísica,nos apareceuprimeiro no
cog/zloexplícito: perceber é percepçãode algo, por exemplo, de uma coisa;
julgar é julgar um estado-de-coisas;valorar é valorar uma relaçãode valor;
desejar, uma relação de desejo etc. O agir se volta para a ação, o fazer para
o feito, amar para o amado, alegrar-se para o que alegra etc. Em cada cag/fo
anual,um "olhar" cujo raio parte do eu puro se dirige ao "objeto" do respec'
tive correlato de consciência,à coisa, ao estado-de-coisasetc., e e6etuaum
tipo bem distinto de consciência drZêi.A reflexão fenomenológica ensinou,
porém, que, embora contenha intencionalidade, não é em todo vivido que
se pode encontrar essamudança representativa, pensante, valorativa... do eu,
esse "ter de lidar az:wa/ com o objeto correlato", "esse estar afia/me#le dirá
cionado para ele" (ou também a partir dele -- e, no entanto, de olho nele)
Assim, é claro, por exemplo, que o fundo objetivo a parti do qual o objeto atos efetuados e não-efetuados .
cogitativamente percebido se realça, pela distinção que recebe da mudança

ósCf. acima S 37, PP. 90 e seis


ó2Cf. acima$$ 36-38, pp. 89-92.
icü düfewomenohyiüpurü \93

por mais difícil que sejade constatar,em análiserigorosa e clara, o que pro-
priamenteconstitui a essênciapura da intencionalidade, que componentes
dasconâgurações concretas ela propriamente comporta em si, e quais lhes
sãointrinsecamente alheias--, os vividos são considerados sob um ponto de
vista determinado e altamente importante quando os reconhecemos como
intencionais e quando, a seu respeito, enunciámos que são consciênciade
algo. Nessa enunciação é indiferente para nós se se trata de vividos concretos
ou de camadasabstratasde vivido: pois também estaspodem apresentara
peculiaridade aqui em questão.

d'::
S 85. YÀ,vl sensual, HopQTI intencional
y.':l:

Já indicamos acima (quando designamos o fluxo de vivido como uma


unidade da consciência),que a intencionalidade, abstraindo-se de suasfor-
mas e níveis repletos de enigmas, também se assemelha a um meio universal
que, por fim, abriga em si todos os vividos, mesmo os não caracterizados
como intencionais. Contudo, no nível de consideraçãoao qual nos atire
l mos até indicação em contrário, no qual nos absteremos de descer às escuras
profiindezas da consciênciaúltima, constitutiva de toda temporalidade dos
vividos, e no qual, ao contrário, tomaremos os vividos tais como se mostram
l na reflexão imanente, como unidades de eventos temporais, temos de fazer.
por princípio, a seguinte distinção:
1. todos os vividos que coramdesignadoscomo "conteúdos primários"
nas Inpeü güçõesLógicasÇ'"
2. os vividos ou momentos de vivido que abrigam em si o específicoda
intencionalidade.
Dos primeiros fazem parte certos vividos "íe sz/a/?', uniâcados no gê
nero superior "conteúdos de sensação", tais como dados de cor, de tato, de
som e semelhantes,que não mais confündiremos com momentos de apa-
rição das coisas, como coloração, asperezaetc., os quais antes se "exibem"
no vivido por meio daquelas. Assim são também as sensaçõesde prazer, de
dor, de cócegasetc e também momentos sensuaisda esferados "impulsos"
Encontramos tais dados concretosde vivido como componentes de vividos
concretos mais abrangentes, que são intencionais no todo, e intencionais de

" l#PreÜafÕ fMg/caí 11,ó' Investigação?S 58, P. 652; o conceito de conteúdo primário já se
encontra, aliás, em minha FÍ/asoÚadaa ílméfica, 1891,pp. 72 e segs. ' '
'1

194 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osofiafenomenológica Terceira seção:A meto

modo a haver, sobre aqueles momentos sensuais, uma camada que por assim
dizer os anima, lhes dá sr r/do (ou que implica essencialmente doaçãode
sentido), uma camadapor meio da qual o próprio vivido intencional concre-
to se realiza, a partir do ie i aZ, g r
ada fm dr / Zlr#c/o a//dada em i/.
Não é lugar aqui de decidir se, no seu fluxo, tais vividos sensuaiscom-
portam em toda parte e necessariamentealguma "apreensão vivificante"
(com todos aqueles caracteres que esta por sua vez implica e possibilita)
ou, como também dizemos, se elas sempre se encontram em /w#fõeí i#-
fr cio a/s. Por outro lado, também podemos deixar ainda em aberto se sa pelo conceito /# c/o#a/ de #á/F. Essesdois aspecto!.forçaram a antiga
os caracteresque produzem essencialmentea intencionalidade podem ter transposição do sentido original mais restrito de sensibilidade para a esfera
concreção sem base sensual. da afetividade e da vontade, isto é, para os vividos intencionais nos quais
Como quer que seja,em todo o domínio fenomenológico (em todo ele dados sensíveisdas esferas assinaladasaparecem como "materiais" funcio-
-- no interior do nível, a ser constantemente mantido, da temporalidade nais.Como quer que seja, precisamos,portanto, de um termo novo que
constituída), um papel dominante é desempenhadopela notável duplici- exprima todo o grupo mediante a unidade da filnção e pelo contraste com
dade e unidade da uÀ,71 se swa/ f da Fopq)TI/ zr c/o#a/. Com efeito, esses os caracteres formantes, e escolhemos, por isso, a expressão dados b/Zéf/coJ
conceitos de matéria e forma se impõem a nós quando nos presentificamos ou mazrrriaií, mastambém pura e simplesmente mazlcriais.Onde 6or preci-
quaisquer intuições claras ou valorações claramente efetuadas, atos de pra- so despertar a lembrança das expressõesantigas, inevitáveis a sua maneira,
zer, volições etc. Os vividos intencionais estãoali como unidades mediante diremos matérias ir i ais, mas também se sí en
doaçãode sentido (num sentido bastanteampliado). Dados sensíveisse Aquilo que forma as matériaspara vividos intencionais e introduz a
dão como matéria para formações intencionais ou doações de sentido de
diferentes níveis, simples ou fundados de maneira própria, tais como ainda especifico àquela maneira de fiar acerca da consciência, segundo a qual
os discutiremos mais detidamente. A doutrina dos "correlatos" ainda con- ela aponta co ipsopara algo de que ela é consciência. Ora, uma vez que é
ârmará, por um outro lado, a adequaçãodessemodo de EHar.No tocante totalmente impraticável edar de momentos de consciência, de consciencia-
às possibilidades acima deixadas em aberto, elas deveriam, pois, ser desig- lidades e construções semelhantes, assim como de momentos intencionais,
nadas ma,férias semforma e forma,s sem ma,féria. devido a diversasequivocidadesque se tornarão posteriormente claras,in-
troduzimos o termo morre lo oézlico ou, para ser mais breve, woese. Essas
Com respeito à terminologia, é preciso fazer o seguinte acréscimo.A
noeses constituem o especíâco do wozZs,no íc l do maia al#p/o da palavra,
expressão "conteúdo primário" já não nos parece suficiente como designa-
ção. Por outro lado, a expressão"vivido sensível" é inaplicável ao mesmo que nos remete, segundo todas as suasformas atuais de vida, a rogifa&lo-
#ei e a vividos intencionais em geral e, assim, abrange tudo aquilo (e no
conceito, e tal impedimento se deve a locuções gerais como percepções
sensíveis,intuições sensíveis,alegria sensíveletc., nas quais o que se designa essencial somente aquilo) que é preíswpoíifão eZdéfica da /déia driorma.':
como sensíveisnão são meros vividos hiléticos, masvividos intencionais; e, Ao mesmo tempo não nos é inconveniente que a palavra #oáí lembre uma
manifestamente, falar de "meros" ou "puros" vividos sensíveisnão melho- de suas signi6cações eminentes, a saber, a de "ie#l/do' , pois.embora a "do-
rada em nada a diâculdade em virtude de suas novas equivocidades. A estas açãode sentido" que se efetua nos momentos noéticos abranja diversos
se acrescentam as equivocidades próprias inerentes à palavra "sensível", e aspectos,somente como fundamento ela é uma "doação de sentido" que
que são conservadasna redução fenomenológica. Tirante o duplo sentido se prende ao conceito forte de sentido.
que apareceno contraste entre "doador de sentido" e "sensível", e que,
por mais que ocasionalmente estorve, já quase não pode ser evitado, ainda
se deveria mencionar o seguinte: sensibilidade, num sentido mais estrito.
designa o resíduo fenomenológico daquilo que é mediado pelos "sentidos" ó5 Na edição Biemel da ll#iser/ilha, em vez de "forma" se lê: "norma".(NT)
sofra fenomenológica Terceiraseção:A melado

pjunvocidadesexistentes e, sobretudo, a circunstância de que os conceitos


:redominantes do psíquico não se referem ao especificamente intencional,
$ tornam a palavra inutilizável para nós.
Persistimos, pois, na palavra "#oé&ica" e afirmamos:
C)fluxo do serfenomenolóyicotem wmü camada material e wmü camada
u. »oéticü.
Considerações e análises 6enomenológicas, que se referem especialmente }

para o desenvolvimento da 6enomenologta -- embora Brentano mesmo te- ao material, podem ser chamadas de biZélico:Heome o/(Ü/cai, assim como, )

do outro lado, as referentes aos momentos noéticos podem ser chamadas de


"#oéf/Cair ome o/(bica/'. As análises incomparavelmente mais importantes J

e ricas se encontram do lado do noético.

encontrou o conceito do momento material -- e isso porque não 6ezjus à


]
separação de princípio entre "eenâmenos físicos", como momentos materiais S 86. Os problemas fllncionais
,dados de sensação), e '.âenâmenos psíquicos", como momentos objetivos
(cor, forma da coisa etc.).que aparecem na apreensão noética dos primeiros Os maioresproblemas, todavia, são os problemas fiincionais, isto é, os
' mas,por outro lado, ele mostrou que o conceito de "âenâmeno psíquico" problemasda "ca /za/fão dar o&yef/idadesda co irZé c/a". Eles dizem res-
se caracterizaria, em suas determinações demarcadoras, pela especi6cidade da peito ao modo como, em relação, por exemplo, à natureza, as noeses,ani-
intencionalidade. Justamentepor isso âoi ele que introduziu no campo de mando o material e entrelaçando-seem contínuos e síntesesda multiplicida-
wsao de nossa época o "psíquico" com aquele sentido eminente que á tinha de na unidade, produzem consciênciade algo, de tal modo que a unidade
certo peso, mas ainda nenhum relevo na significação histórica da palavra. objetiva da objetividade possa se "anunciar", se "atestar" com coerência ali e
O que fãa, porém, .contra o uso da palavracomo equivalentede inten- ser determinada "racionalmente"
cionalidade é a circunstância de que indubitavelmente não dá para designar "Fw#fão" neste sentido (totalmente diverso do sentido da matemática) é
'\..;gua] maneira o psíquico neste sentido e o psíquico no sentido do psico- algo bem singular, fundado na essênciapura das noeses.Consciência é preci-
lógico (daquilo, portanto, que é o objeto próprio da psicologia). Ném disso. samente consciência "de" algo, é de sua essência abrigar em si o "sentido", a
temostambém?quanto a esseÚltimo conceito, um indesejadoduplo sentido, quinta-essência,por assimdizer, de "alma", de "espírito", de "razão". Cona
que tem suaorigem na conhecida tendência da "psicologia sem alma«. A esta ciência não é uma designação para "complexos psíquicos", para uma faisão de
se deve que, sob o título de psíquico -- especialmentedo psíquico atual, em "conteúdos", para "deixes" ou fluxos de "sensações",que, sendo em si sem
contraposição às ' disposições .psíquicas" correspondentes --,
' ) se
'v
pense
I' v"uv com
vvxxR sentido, tampouco poderiamproporcionar algum numa mistura qualquer,
predileção nos,ávidos na unidade do fluxo de vivido empmcamente posto. masé "consciência" de uma ponta a outra, conte de toda razão e desrazão,
SÓque é inevitável designar os suportes reais desse psíquico os seres animais, de toda legitimidade e ilegitimidade, de toda realidadee acção,de todo valor
por exemplo, suas"almas" e suaspropriedades anímicasreais, também como e não-valor, de toda ação e mação. Consciência, pois, é [ozrocoe/odiferente
psíquicos ou como objetos da psicologia. A "psicologia sem alma« confiinde. daquilo que só o sensualismoquer ver, da matéria de fato em si sem sentido,
como nos quer parecer, a exclusão de circuito da entidade "alma«, no senti - irracional -- mas,sem dúvida, acessívelà racionalização. Logo aprenderemos
do de alguma nebulosa metafísica da alma, com a exclusão da alma em geral, a entender ainda melhor o que signiâca essaracionalização.
isto é, da realidade psíquica dada Eacticamentena empina, cujos estados são O ponto de vista da função é o ponto de vista central da fenomenologia,
os vindos. Essarealidadenão é de modo algum o mero fluxo de vivido. as investigações que partem dela abrangem quase toda a esferafenomenoló-
ligado ao corpo e regulado empiricamente de certas maneiras. de cujas regu- gica, e por fim fodamas análises fenomenológicas estão de algum modo a seu
iaçoes os conceitos de disposição são meros índices. Mas, como sempre as serviço como componentes ou níveis inferiores. A análise e comparação, a
D

T
!omenológica
Terceiraseçãg:A metotioloaiae ü M'oblemáticü d,nfenomenohyiü pura \99
mentefomes o objeto existenteé correlato de nexos de consciênciade con
teúdoeidético bem determinado, assimcomo, inversamente,o ser de nexos
de tal espécie é equivalente ao objeto existente; e isso sempre com referência
a todas asregiões de ser e a todos os níveis de generalidade, descendo até a
concreção do ser.
Em suaorientação puramente eidética, que põe todo tipo de transcen-
dência"cora de circuito", a fenomenologia chega, em seu próprio solo de
consciência pura, a todo esse complexo de pro&Zemaí zl a icr de rali #o ir#-
tido especÍÊcoe merece. por isso, o nome de fenomeKoLoyiü transcendental.
Em seu próprio solo ela tem de chegar a considerar os vividos nao como
coisasmortas quaisquer,como "complexosde conteúdo" que meramente
são,porém nada significam, nada visam, segundo seus elementos, formas
complexas, classese subclasses,mas tem de dar conta de uma spéc/f p7'ópria,
por princípio, de probkmá,fica, que os apresenta como pipidos intencionais e,
pwtümente por swü essênciaeidéticü, como " consciência de"
Naturalmente, a #i/éz/ca Pz/7'ase subordina à fenomenologia da consci-
ência transcendental. Ela tem, de resto, o caráter de uma disciplina fechada
em sl, tem, como tal, o seu valor em si, mas,por outro lado, recebesua sig-
niâcação do ponto de vista filncional por proporcionar possíveistramasno
tecido intencional, possíveismatérias para formações intencionais. Não só
quanto à dificuldade, mastambém quanto à hierarquia de problemas relati-
vos à idéia de um conhecimento absoluto, ela estámanifestamente bem abai-
xo da fenomenologia noética e fiincional (ambas as quais, aliás, não podem
ser propriamente separadas).
Passamosagora a desenvolvimentos mais detalhados numa seqüência de
capítulos.

'Nota
0

Em seus importantes trabalhos da Academia de Berlim," Stumpf usa


a palavra "fiinção" em vínculo com "fiinção psíquica" e em contraposição
àquilo que chamade "aparição". Ele pensaessadivisãocomo uma divisão
psicológica e coincide então com nossaoposição entre "atos" e "conteúdos
primários" (só que justamente aplicadaao psicológico). É preciso levar em
conta que os termos em questão têm em nossasexposições uma signiâcação
completamente outra que no respeitado pesquisador. A leitores superficiais

óóC. Stumpf. "Aparências e fiinções psíquicas" (p. 4 e sega.) e "Para a divisão das ciências"
ambos nos -Aó#. drr ]Çg/. Prew«. ..{&adrmie d. WZne#ic&, 190Ó.
B

200 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma Êlosofia fenomenológica

dos escritos de ambos já diversas vezes confundiram o conceito de renome.


nologia de Stumpf (como doutrina das "aparições") com o nosso. A feno-
menologia de Stumpf corresponderia àquUo que acima se delimitou como
sendo a hilética, com a diferença de que nossa delimitação é essencialmente
condicionada, no sentido metódico, pelo âmbito de abrangênciada renome
nologia transcendental.A idéia de hilética, por outro lado, é ro ipsotrans-
ferida da fenomenologia para o solo de uma psicologia eidética, na qual se Capítulo lll
inserida, em nossa concepção, a "fenomenologia" de Stumpf.
Noese e noema

S 87. Observaçõespreliminares

A peculiaridade do vivido intencional é facilmente designada em sua ge


nerahdade; todos nós entendemos a expressão "consciência de algo ', parti'
cularmente em exempliâcações,quaisquer que elassejam. Tanto mais difícil,
porém, é apreender pura e corretamente as peculiaridades fenomenológicas
de essência a ela correspondentes. Que essa designação delimita um grande
campo de laboriosas constatações, e constatações eidéticas, isso ainda parece
ser algo estranho à maioria dos fUóso6os e psicólogos (a julgar pela literatura)
Pois tudo ainda resta por fazer mesmo depois que se diz e vê com clareza
que todo representar se refere ao representado, todo julgar ao julgado etc.
Ou depois que, apontando para lógica, doutrina do conhecimento e ética, se
as11maZaque asmuitas evidências destaspertencem à essênciada intencionali-
dade Esta é, ao mesmo tempo, uma maneira bem simples de sevaler da dou-
trina fenomenológicadas essências
como se fossealgo antiqüíssimo,como
se fosseum nome novo para a velha lógica e para as disciplinas que de algum
modo podem ser a ela equiparadas. Pois, sem ter apreendido o que é próprio
à orientação transcendentale ter efetivamenteconquistado o solo renome
nológico puro, se pode certamente empregar a palavra "fenomenologia", só
não sepossui a coisa. .Ném do mais, a mera mudança de orientação,ou a
mera execução da redução fenomenológica não bastam para fazer da lógica
pura algo como uma fenomenologia. Pois não é fácil, de modo algum, deter-
minar em que medidahá algo de e6etivamentefenomenológico expressonas
proposições lógicas e, da mesma maneira, nas proposições puramente onto-
lógicas, nasproposições puramente éticas e em quaisquer outras proposiçoes
a pMor$ que se possam citar, nem a que camadas eenomenológicas ele pode a
cada momento pertencer. Ao contrário, aqui estão guardados os problemas
mais diâceis, cujo sentido permanece naturalmente oculto a todos os que
ainda não tenham Twcetra
Com efeito, longo e
de experiênciaprópria)
teoria da signúcação,
epistemologia normativa e
psicológico-imanentes no
nomenológicos, e,
inteligíveis para nós as
quer que iniciemos.
correspondentes
"Consciência de
e ao mesmo tempo
vam as príin eiras
a esperade problemas
simplesmente por não
intencional, por
própria como tal.
mente Voltados para
ou para as propriedades
tomar aquilo
dá. Se se
ciclo) mas,
em radical ausência
que são auto do
estabelecidos e
aparecerão ümes
nós, de examinar
de intenções verbais
pela aferição na
como em qualquer mediante aquilo que se encontra sob a designação de "sentido".
Aos múltiplos dadosdo conteúdo real, noético, correspondeuma mul
üplicida(le der'ados, mostráveis em intuição pura e6edva, num 'canreíído
woemálico" correlativo ou, resumidamente, no "»arma" -- termos que usa-
S 88. O noeonentesreais e intencionais do vivido. remos constantemente a partir de agora.

contido io sentido". (NT)


204
.!fjft!!:j:!!!=112a fenomenologia pura e
A metohhgia,
ea,
A percepção,por
o seu sentido essa situação, a situação feno-
Pode ser que a fenomenologia
cada recordação
das alucinações, das ilusões e,
mente como aquilo
que, assumindo o
te"; o julgartem,
estão sujeitas à exclusão
apraz enquanto tal etc. Em
aqui se chama "sentido" nós não temos de interrogar a percep'
como ele está do encadeamento percepavo
julgamento, de em flor) com questõesdo
rogümosPu ümente esse Ihe corresponda? Essa efedvidade tética
A maneiracomo nós. Todavia, tudo permanece, por assim
fenomenologicamente re
diante uma análise
etc.", e a satisfação
Suponhamos
com eles mesmos. A
em flor num
mente, a percepção mais leve nuance em nenhum de seus momentos, qua
te percebido e aprazível. os quais ela aparecia wüqwelü percePçã,o,com os qwüts
enstente na jafi$afão etc.
e devemos pâr a segum-
satisfação, um estado
e outro, entre o tüt", qwe momentos eidéticos
Obtemos a resposta
relações reais. Em
Vivido:a descrever âelmente,
diante de nós como tal". Uma outra expressão
como subsistindo enfoque noemático"
não existindo nadade
Passemos
te ganha seus $ 89 Enunciados noemáticos e enunciados de efetividade.
Perguntamos O norma na esfera psicológica
vividos noéticos
Sistência eâetiva da
circuito, junto com
manifestamente uma
tre prazer e
eidético em
percepção e de prazer

'9 Sobre o
P. 50 (além
que se segue, cf
h«;'igãã.,l SS
70"Dando a volta ao redor", em latim no original.(NT)
nomeno16gica Terceira seção:A metoíio

de toda consciência,que, por isso, não é apenasvivido, mas também vivido


fine tem sentido, vivido "poético"
Sem dúvida, aquilo que em nossaanálise dos exemplos ganhou relevo como
«sentido"não esgotao norma pleno; em consonânciacom isso, o lado noéti-
co do vivido intencional não consistemeramente no momento da "doação de
sentido" propriamente dita, da qual o "sentido" Eazespecialmenteparte como
correlato. Em breve se mostrará que o noema pleno consiste num complexo de
momentos noemáticos, que neste o momento especí6co do sentido constitui so-
mente uma espécie de camada cüa necessária, na qual estão essencialmente
fimdados outros momentos, aos quais somente por isso, embora por extensão
de sentido, seria lícito chamarmos igualmente de momentos do sentido.
Mas permaneçamos
primeiro naquilo unicamenteque se mostrou com
clareza.O vivido intencional, como mostramos, é indubitavelmente de tal es-
pécie, que, em posicionamentoadequadodo o]har, se ]he pode extrair um
ntido". Não podia permaneceroculta a situaçãoque define para nós esse
sentido, qual seja, a circunstância de que a não-existência(ou a convicção de
não-existência) do objeto puro e simples, representado ou pensado, não pode
subtrair o representado como tal à respectiva representação(e, assim, em geral
a cada vivido intencional), e, portanto, é preciso fazer distinção entre esses dois.
Sendo assim tão patente, essadistinção tinha de deixar seustraços na literatura.
De fato, é a ela que remete a distinção escolástica entre o&ykz:oawf fa/z) '%#Z:e#'
c/a a/" o@'%ma#eKzle",
de um lado, e o@efoag$E&i
o", de outro. Não obstante,
da primeira apreensão de uma distinção de consciência até sua acertada fixação
6cnomenologicamentepura e suacorreta apreciação,vai um grande passo
justamente essepassodecisivo para uma 6enomenologta coerente, fecunda, não
6oi dado. O decisivo está, sobretudo, na descrição absolutamente fiel do que é
e6etivamenteencontrado na pureza fenomenológica, e no aÊmtamentode toda
as interpretações que transcendam o dado. Aqui as denominações já revelam
S 90. O "sentido noemático" e a distinção entre
interpretações confessase, com â'eqtiência, bastante Essas.Tais interpretações
"objetos imanentes" e "objetos efedvos"
se denunciam aqui em expressões como objeto "mental", "imanente", e são,
no mínimo, favorecidas pela expressão "objeto intencional"

g
É bem fácil dizer então que a intenção é dada no vivido, junto com seu
objeto intencional, que, como tal, Eàriaparte inseparáveldele, e, portanto,
residiria rea/me zlenele. Ele seria e permaneceria o objeto visado, representa-
do dela etc., tanto eaz se o "objeto eÊctivo" correspondente exista ou não na
e6etividade, tenha sido destruído nesse meio tempo etc-
Se.no entanto, tentamosseparardr#a maneirao objeto eeetivo(no caso
A expressão signiâca da percepçãoexterna, a coisa natural percebida) do objeto intencional, in-
" Em alemãccEtwas "im Sinne zu)h'ben" ;ter a intenção de fazer
serindo realmente esseúltimo, enquanto objeto "imanente", na percepção,
fia fenomenológica
Terceira seção:A metodologia e a problemática düfewomewoloy!!pu ü 2q9

dados, a todo juízo de percepção, a toda posição de valor nela fiindada e ao


eventualjuízo de valor etc. Isso implica o seguinte: nós só admitimos ob-
servação, descrição dessas percepções, desses juízos etc., enquanto essencia-
lidadesque eles são em si mesmos, só admitimos a constatação do que quer
que seja dado com evidência quanto a eles ou neles; mas não permitimos
nenhumjuízo que façauso da teseda "coisa real", tampouco como da tese
de toda a natureza "transcendente", nem um juízo que "compartilhe" dessa
tese.Como 6enomenólogos, abstemo-nos de todas essasposições. Nós não
asjogamos fora, quando não nos situamos "no terreno delas", quando não
"compartilhamos delas". Elas estão ali, também fazem essencialmenteparte
do 6enâmeno.Ao contrário, nós as consideramos;em vez de compartilhar
delas,nós astransformamos em objetos, as tomamos como componentes do
6enâmeno, e a tese da percepção justamente como um dessescomponentes.
./
E assimperguntamos em geral, guardando o sentido claro dessasex
clusõesde circuito, o que "está contido" de maneiraevidenteem todo o
6enõmeno"reduzido". Ora, o que há na percepção é justamente que ela tem
l1l o seu sentido noemático, o seu "percebido como taj", "aquela árvore em
flor ah no espaço"-- tudo isso entendido entre aspas--, ou seja,o ro e/a a
inerente à essênciada percepção fenomenologicamente reduzida. Dito de
maneira figurada: o "pâr entre parênteses" por que passa a percepção impe
de todo juízo sobre a efetividade percebida (isto é, todo juízo fundado na
percepção não-modificada, que, portanto, acolhe a tese desta em si). Ela não
impede, porém, que a percepção seja consciência de uma e6etividade(de que
agora apenas não se permite seja "efetuada" a tese); e não impede nenhuma
descrição dessa "e6etividade como tal" que aparece para a percepção com os
modos particulares em que se é consciente dela, por exemplo, justamente
como efetividade percebida, embora "por um de seus lados", nesta ou na-
quela orientação etc. Com minucioso cuidado temos agora de prestar aten
ção a fim de não incluirmos no vivido nada além do que estejaefetivamente
encerrado na essênciadele. e a fim de o "incluirmos" exatamente assimcomo
está "incluso" nele.

S 91. Transposição para a esfera mais ampla da intencionalidade

O que até aqui 6oi apresentado mais minuciosamente privilegiando-se a


percepção, vale e6etivamentepara rodamas êspéciêidf p/p/do / le ciosa/. De
'2 Cf acima S 43, PP. 102 e sega.
pois da redução, encontramos na recordação o recordado como tal, na expec
tativa, o esperadocomo tal, na imaginaçãofictícia, o imaginado como tal.
sofrafenomenológica
Terceira seção:A me

S 92. As mudanças atencionais do ponto de vista noético e noemático

Em nossos capítulos preparatórios, já falamos por diversasvezes de


mudançasda consciência de um tipo que merece atenção, pois elas atraves-
samtodas as outras espéciesde eventos intencionais e constituem, assim,
uma estrutura geral da consciência,que tem suadimensão própria: falamos
metaforicamentede "olhar espiritual" ou de "raio de visão" do eu puro,
de direcionamentos e desvios do olhar. Os fenómenos que entram nesta
classeganharampara nós um contorno unificado, perfeitamente claro e
nítido. Sempre que se fda de "atenção", eles desempenhamo papel prin-
cipal, sem que se separem fenomenologicamente dos outros fenómenos
e. em combinaçãocom estes,são designadoscomo modos da atenção
::t De nossa parte, pretendemos conservar a palavra e falar, além disso, de
m da faJ afr fio ais, embora exclusivamente em referência aos eventos
nitidamente separadospor nós, assimcomo em referênciaaos grupos de .1

mudanças fenomenais a eles atinentes, que deverão ser descritos ainda mais
detalhadamente na seqüência.
Trata-se aqui de uma série de mudanças idealmente possíveis, que Já
pressupõemum núcleo noético e momentos característicos,de gênero dis-
tinto. necessariamenterelacionados a ele, que por si mesmas não alteram as
respectivasoperaçõesnoemáticas,e que, no entanto, exibem alterações.em
fodao vivido, tanto pelo seu lado noético, quanto pelo seu lado noemático.
O raio de visão do eu puro atravessa,ora esta, ora aquela camada noética,
ou (como, por exemplo, em recordaçõesdentro de recordações),.ora este,
ora aquele nível de encaixeentre elas, ora diretamente, ora refletindo. No
interior de todo o campo dado de noesespotenciais ou de objetos noéticos,
nós olhamos ora para um todo, a árvore, por exemplo, que estápresente na
percepção, ora para esta ou aquela parte e momento dele; e então, novamen-
te, parauma coisapróxima ou para um nexo ou evento de múltiplas formas.
Subitamentevoltamos o olhar para um objeto que nos "vem" à lembrança:
em vez de passarpela noese de percepção, que constitui para nóslde maneira
contínua e unificada, embora multiplamente composta, o mundo de coisas
em suaconstanteaparição, o olhar atravessauma noesede recordaçãopara
entrar num mundo de recordação,passeiapor ele, passaa outros níveis de
recordação ou a mundos da imaginação etc-
Permaneçamos,para simpliâcar, numa única camadaintencional, no mun-
do da percepção,que estáaí em suapura e simples certeza. Fixamos na idéia,
respecavamenteo seuconteúdo noemático,uma coisaou um evento material
de que se tem consciênciaperceptiva, tal como fixamos, segundo a essência

L
212 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fHosofia fenomenológica Terceiro,
seçã,o:
A met
imanente plena, toda a consciência concreta dele no intervalo correspondente
da duração fenomenológica. Também faz parte dessaidéia que, em seu deslo-
camento df&ermi ado, haja fixação do raio de atenção. Pois este também é um
momento do vivido. Fica então evidente que sãopossíveismodos de alteração
do vivido fixado, aosquais designamos justamente como "meras alteraçõesna
repartição da atençãoe seusmodos". É claro que, se a composição #o mágica
do vivido permanecer a mesma, em toda parte isso signi6cará: é a mesma ob-
.1:
jetividade que continua a ser caracterizada como existindo em carne e osso, é a
mesma que se exibe nos mesmos modos de aparição, nas mesmasorientações;
:1 é de tal ou tal composição do conteúdo dela que se tem consciêncianos mes-
mos modos de indicação indeterminada e de co-presentificaçãonão-intuitiva.
Afhmamos que, destacando e comparando composições noemáticas paralelos,
a alteraçãoconsistemrramrwzleem que se "privilegia" ora este,ora aquele
momento objetivo, nesteou naquelecasode comparação,ou em que uma só
e mesma coisa é, ora "notada primariamente", ora apenas secundariamente,
ou apenas"há pouco notada concomitantemente", quando não "inteiramente
não-notada", embora continue sempre a aparecer.Há justamente diferentes
modos especiaisda atenção como ta]. O grupo dos modal da azl a//dado se
separado modo da / azl a//dado e daquilo que chamamospura e simplesmen-
te de inatenção,quando a consciênciatem, por assimdizer, o seu objeto de
modo inerte.
É claro, por outro lado, que essasmodificaçõesnão são apenasmodifi-
caçõesdo vivido mesmo, em sua composição noética, mas também atingem
os seus #oemai, e que elas apresentam um gênero próprio de caracteriza-
ções do lado noemático -- sem prejuízo do núcleo noemático idêntico.
Costuma-se comparar a atenção a uma luz que ilumina. Aquilo que se nota,
no sentidoespecífico,encontra-senum conede luz maisou menosilumi-
nado, mas ele também pode recuar para a penumbra ou para a escuridão
total. Mesmo que essaimagem seja insuâciente para marcar distintivamente
todos os modos a ser 6enomenologicamente fixados, ela é, no entanto, bas
cante significativa para indicar alterações naquilo que apareceenquanto tal.
A oscilaçãoda luminosidade não altera aquilo que apareceem sua própria
composição de se zl/do,mas clareza e obscuridade modificam os seus mo-
dos de aparecer,elasjá se encontram na orientação do olhar para o objeto
noemático, e devem ser descritas.
Manifestamente as modificações no noema não são tais como se meros
anexos exteriores fossem acrescentados àquilo que permanece idêntico; ao
contrário, os noemasconcretos mudam por completo, pois se trata de mo
dulações necessáriasda maneira pela qual o idêntico se dá. campo da potencialidade para os ates livres do eu.
214 0 e
Idéias para uma âenomenol
pglapura e Daráuma filosofia fenomenológica 7»cr/xa 15

Cabe, além disso, a um estudo fenomenológico mais pormenorizado


constatar, nas particulahzações variáveis de um tipo estável de normas(por
exemplo,a percepção),o que nelasé exigido, nos termos da lei eidética,pelo
$ 93 próprio tipo, e.o que é exigido pelasparticularizações di6erenciadoras.Mas a
Passagem para as estruturas noético-noemáticas
da esfera Superior da consciência exigênciavale de uma ponta a outra, não há contingência na esperada essência,
tudo estáligado por relações eidéticas,em particular a noese e o noema.

$ 94. Noese e norma no domínio do juízo

Tomemos o Jb&op ed/ca Z o como exemplo dessa esfera de essências fim-


dadas.O norma do Jb/@ar,isto é, do vivido concreto do juízo, é o "julgado
como tal", mas este nada mais é ou, pelo menos, não é, em seu núcleo princi-
pal, nada mais que aquilo que de costume chamamos simplesmentede Jw&o.
Para apreender o norma pleno é preciso toma-lo aqui e6etivamente na plena
J
concreçãonoemática em que e]e vem à consciêncianos juízos concretos. O "ju]
gado" não pode ser confilndido com aquilo que sejulga. Seo julgar seconstrói
com base num perceber ou noutro representar "posicional" puro e simples, o
noema do representar entra na plena concreção do julgar(assim como a noese re
presentativa se torna componente essencial da noese concreta dele) e nele assume
ceras formas. O representado(como tal) toma a forma do sujeito ou do objeto
apoíântico etc. Para simplHicar, façamos abstração aqui da camada superior da
"expressão" verbal. Esses "objetos sobre os quais" se em o juízo, em particular os
objetos-sujeito, são os objetosl#@a/üK. O todo formado a partir deles, o comyb ia
do '% gwé"Jb@ado, tomado, além disso, exatamente assim, na carnczreümfão, no
modode doaçãoem que se é "consciente"dele no vivido, constitui o correlato
noemático pleno, o "se#fZdo"(entendido da maneira maü a/#pü) do vivido de
juízo. Dito de modo mais incisivo, ele é o "sentido encontrado no 'como' de seu
modo de doação", desde que este possa ser encontrado como um caráter nele.
Não sedwe, todavia, neglÜenciar ü ü eduçãofenomenoliâgicü,,
que exÜe qwe
'coloquemosentre parênteses"ü emissãodo juízo, caso qaeirümos obter o woemü
puro de nossovivido ãe juízo. Se ü colocamosenW'eparênteses, então estarão um
diante do outro, em llwrew fenomenológica, ü essêwcinconcreta plena iio peido áe
Jw&o ow í;omoa í;Wüm/moi ago/z a noese do juízo concretamente apreendida
como essência, ê o ?'zxperf/ onoema do juízo, #rcenn game [r Zdoa rüz, Z#o é, o
'juízo emitido" enquanto lidos, ê ramóém üz rm.pwrrzaje ome o&Ü/ca.
Tudo isso deixará os psicologistas perplexos, pois não têm tendência a
distinguir o julgar como vivido empírico e o juízo como "idéia", como essên-
cia. Tal distinção já não carece para nós de fundação. Contudo, mesmo aque

L
nomenológica
Terceira 7
da lógica formal(da disciplina da mathesis universalis referente a signMcações
oredicativas),encontra-se a idéia noética "juízo" correlativamente num segun-
do sentido, isto é, entendida como julgar em geral, em generalidadeeidética e
puramente determinada pela forma. Este é o conceito filndamental da doutri-
na noéticaformal de legitimação do julgar.'s
Tudo isso que acabamosde desenvolver vale também para outros vividos
noéticos, por exemplo, obviamente, para todos os que são por essência apa
rentados aos juízos enquanto certezas predicativas, tais como: conjecturas,
suposições,dúvidas e também as negativas correspondentes; neste caso, a
concordânciapode ir até onde, no norma, apareçaum conteúdo de senti-
do por toda parte idêntico, embora provido de "caracterizações"diferentes.
O mesmo"S é P", como núcleo noemático, pode ser "conteúdo" de uma
';P
certeza,de uma conjectura ou suposiçãopossíveletc. No norma, o "S é P"
não estásozinho, mas,tão logo o pensaro retira dali como conteúdo, elejá
é algo dependente; a cada momento se tem consciência dele em caracteriza
çõesvariáveis,imprescindíveisao norma pleno: dele se tem consciênciacom
o caráterdo "certo" ou do "possível",do "verossímil",do "nulo" etc.,ca-
racteresque recebem, todos eles, as aspasmodiíicadoras e, como correlatos,
estão especialmente ordenados aos momentos noéticos do vivido, como o
considerar possível, o considerar verossímil, o considerar nulo etc.
Com isso se separam,como logo se vê, dois conceitos fundamentais
de "conteúdo de juízo" e, igualmente, de conteúdo de suposição,de ques-
tionamento etc. Não raro os lógicos se utilizam de tal modo a expressão

'5 No que concerne ao conceito bolzaniano de "julgar em si", de "proposição em si", a partir
de suasexposiçõesda Da IH a da cié fla, pode-se ver que Bolzano não chegou à clareza
sobre o sentido próprio de sua concepção inovadora. Bolzano jamais viu que há aqui dziaí
interpretações em princípio possíveis,ambas as quais poderiam ser designadas como "juízo
em si": o especí6co do vivido de juízo(a idéia oéfica) e a idéia a máflra a ela correlativa.
Suas descrições e elucidações são ambíguas. O que ele tem ante os olhos, como matemático
voltado para a objetividade embora uma inflexão ocasional pareça dizer o contrário(cf op
cit. 1, p. 86, onde ele cita com aprovação a teoria do pensamento de Mehmel) -- é o conceito
noemático. Ele o tem perante os olhos exatamentecomo o aütmético tem ao número -- ele
está orientado para operações numéricas, não para problemas âenomenológicos da relação de
número e consciência de número. Tanto aqui, na esfera lógica, quanto em geral, a fenome-
nologia era abo fofa/me#le e a»#o ao grande lógico. Isso âcará claro para qualquer um que
tiver eÊedvamente
estudado a Dowfd#a d fié cia de Bolzano, agora infelizmente rara de se
encontrar, e que não se inclino a confundir qualquer elaboração de conceitos eidéticos ftmda-
mentais -- operação eenomenologicamente ingênua -- com uma elaboração fenomenológica.
Neste caso, seria preciso ser bem consequente e dar a designação de 6enomenólogo a qualquer
matemático que tenha criado conceitos, por exemplo, a um G. Cantor, por sua genial con-
" Cf JmPeWUnfÕeK ]l b/raJ ll', V Investigação, S 21, PP. 321 e sega. cepçãodos conceitosfilndamentais da teoria dos grupos, e de igual maneira, 6nalmente, ao
desconhecido criador dos conceitos fimdamentais da geomeaia na remota Antigüidade.

b.
âa fenomenológica Faceira

IE::

S 95. Distinções análogas na esfera da afetividade e da vontade

«;:,El=1=T==:===G
==E='H:=:'=
=SU;
l
220 Idéias para }tlna fenomenologia pura e para uma fUosoâa fenomenológica Terceiraseção:A

entretanto, carregadas de tantas equivocidades causadas por transferência de


sentido -- e não menos também de equivocidadesque provêm do desliza-
mento pelas camadascorrelativas, cuja separaçãocientíâca deve ser levada
rigorosamente a termo --, que cabe a maior precaução em relação a elas
Nossas considerações se movem agora no âmbito mais amplo do gênero
eidético "vivido intencional". Contudo, ao eHar em "visar", normalmente se
fica limitado a esperasmais restritas, asquais, porém, operam ao mesmo tem-
po como camadas inferiores dos âenâmenos das camadas restantes. Como
termo, essapalavra (e as expressões a ela aparentadas) só pode ser levada em
conta para essasesferas mais restritas. Para as generalidades, nossos novos
termos e as análises de exemplos que os acompanham nos serão certamente
de mais serventia.

::x
S 96. Passagem aos outros capítulos.
Observações finais

A elaboração geral da distinção entre noese (isto é, o vivido intencional


concreto e completo, assinaladocom ênfase em seuscomponentes noéticos)
e norma erigiu muito cuidado de nossaparte, porque apreendê-lae dominá-
la é da maior importância para a fenomenologia e diretamente decisivo para
sua correta fundação. No primeiro instante, parecetratar-se de algo óbvio.
Toda consciência é consciência de algo, e os modos de consciência são bas-
tante distintos. Ao dela nos aproximarmos, sentimos, contudo, as maiores
diâculdades. Estas dizem respeito à compreensão dos modos de ser do no-
rma, à maneira como ele deve "estar contido" no vivido, à maneira como
deve haver "consciência" dele no vivido. Elas dizem muito particularmente
respeito.ã pura separaçãoentre aquilo que, à maneira dos componentes reais,
é da ordem do próprio vivido e aquilo que é da ordem do noema, daquilo
que deve ser atribuído como próprio a este.Também a articulação correta
do paralelismo entre noese e noema ainda trará bastante dificuldade. Mesmo
que já tenhamos tido êxito em eeetuar o principal das distinções aqui cabíveis
no caso das representaçõese dos juízos, nos quais elasse mostram por pri-
meiro e para os .quaisa lógica conüibui com valiosostrabalhos preliminares,
embora longe de satisfatórios,mesmo assimcustaráalgum esforço e auto -
superaçãopara não apenaspostular e aü'mar distinções paralelasnos atos de
úetividade, mas também trazê-las eÊetivamente à condição de dado claro.
No contexto de nossas meditações meramente preparatórias, não pode ser
nossa tarefa desenvolver sistematicamentepartes da fenomenologia' Nossas também em relação a nossas próprias descrições-

i
Capítulo IV

Para a problemática
das estruturas noético-noemáticas

S 97. Os momentos hiléticos e noéticos como momentos reais do


vivido; os momentos noemáticoscomo momentos não-reaisdele

Ao introduzir, no capítulo anterior, a distinção entre noético e noemáti-


co, Edamos de a#áZZir ea/ e awá/ise /»zlemc/a#a/.Comecemos por aqui. Um
vivido fenomenológico puro tem seus componentes reais. Limitemo-nos,
para simplificar, aos vividos noéticos do nível mais baixo, àqueles,portanto,
que não são complexos em sua intencionalidade porque não são construídos
de diversascamadassobrepostas, tais como asconstatamos nos atos de pen-
sar, nos ates de afêtividade e de vontade.
Sirva-nos de exemplo uma percepção sensível, a simples percepção da
árvore, que teremos se, ao olharmos para cora na direção do jardim, consi-
derarmos essaárvore ali numa unidade de consciência: num momento ela
estáimóvel, depois aparecemovida pelo vento, e também se ofereceem
modos bem distintos de aparição, conforme modifiquemos, em nossaob-
servação contínua, nossa posição espacial em relação a ela, aproximando-
nos, por exemplo, da janela ou mudando apenas a posição da cabeçaou do
olho, procurando, ao mesmo tempo, ora relaxa-lo, ora fixa-lo novamente
etc. A unidade de @mapercepçãopode, deste modo, abranger uma grande
quantidade de modificações, que nós, enquanto observadores em orientação
natura[, ora atl.ibuímos ao objeto real, como moã@cafõrí dele, ora a uma re
lação real e eâetivapara com nossasubjetividade psicofísica real, ora, por fim,
a esta mesma. E preciso, contudo, descrever agora o que sobra disso como
resíduo fenomenológico, se fazemos a redução à "pura imanência", e o gwr
pode e o qwe wão pode pn,Lerüli como componente ven,ldo pipido puro. E aqlú Isso
fenomenológica Terceira seção: A müodgloaia e ü ürobbmáticü d!$!gWgtlolílgill pti'rGI 22b

iOphca,portanto, que toda alteraçãodo conteúdo hilético da percepção,se


nãosuprime diretamente a consciênciaperceptiva, tem pelo menos de ter por
.esultadoque aquilo que aparecese torne algo objetivamente "outro", quer
eMsi Mesmo, quer no modo de orientação referente a sua aparição etc
Diantede tudo isso, é também absolutamenteindubitável que aqui
«unidade" e "multiplicidade" pertencem a d/me sõ i faia/me zlr dZ#ZKrai, e
que,com efeito, z do o g ê é #//éfZcoentra como componente rea/ no vivido
concreto,ao passoque o que "se exibe", "se perfila" nele, como múltiplo,
entra no #oêg#za.

U\-\.rD.
Como já dissemosantes,porém, as matériassão "animadas" por mo'
Mantos noéticos, elas (enquanto o eu não está voltado pma elas, mas para o
objeto) passam por "apreensões", "doações de sentido", que apreendemos
na reflexão justamente nas matérias e com elas. Daí resulta imediatamente
que não somente os momentos hiléticos (as cores, os sons de sensaçãoetc.),
mastambém as apreensõesque os animam -- portanto, z:a Zroag e/ri ramo
e#ailwKzroJ: o aparecerda cor, do som e de qualquer qualidade do objeto
-- fazem parte da composição "real" do vivido.
Vale, então, de maneira geral o seguinte: em si mesma, a percepçãoé
percepçãode seu objeto, e a todo componente que é ressaltadono objeto
pela descrição "objetivamente" direcionada corresponde um componente
real da percepção: mas, note-se bem, somente se a descrição se atém fielmen-
te ao objeto, fa/ como eZr"está ali" ag r/a percepção. Também só podemos
caracterizar assim a todos essescomponentes noéticos recorrendo ao objeto
noemático e seusmomentos; dizendo, portanto: consciência, mais precisa-
mente,consciênciaperceptivadr um tronco de árvore, da cor do tronco
etc
Por outro lado, no entanto, nossareflexão mostrou que a unidade real
de vivido dos componentes hiléticos e noéticos é totalmente diferente da
unidade das partes componentes do noema, "trazida à consciência naque
la primeira"; e diferente, mais uma vez, da unidade que uniâca todos os
componentes reais do vivido com aquilo que, neles e por meio deles, vem
à consciência como noema. Sem dúvida, o "rra#icemdr zra/mr zlero##izl#í-
do" "com base" nos vividos materiais "me(cante" as fiinções noéticas é um
"dado", e um dado rp/de#fe,seem intuição pura descrevemos
fielmente
o vivido e aquilo de que nele se é noematicamenteconsciente; mas ele faz
parte do vivido num sentido totalmente diferente dos constituintes reais e,
portanto,próprios do vivido.
A designação "transcendental" aplicada à redução fenomenológica e,
igualmente, à pura esfera de vivido se baseia precisamente no seguinte: en
d

nomenológica Tcrceirçl seçã,o:A metodohyi

,preendidos objetivamente. No vivido analítico, porém, eles são objetivos,


sãoalvos de funções noéticas, que antes não ocorriam. Embora essesma-
teriais ainda continuem encarregados de suas fiações de exibição).também
'1

estassoâeram uma modificação essencial(naturalmente, uma modificação de


outra dimensão). Isso ainda será tratado mais tarde. Essa distinção é, mam-
P- 6estamente, de essencialimportância para o método fenomenológico.
qPp
Feita essaobservação, nossa atenção deve se voltar agora para os seguin-
tes pontos de nosso tema especíâco.Antes de mais nada, cada vivido tem
.J.

uma conformação tal, que subsiste a possibilidade de princípio de voltar o


iP''
olhar para ele e para seus componentes reais, assim como, na direção oposta,
o noema, por exemplo, para a árvore vista como tal. Por certo, nesse
posicionamento do olhar o dado é, logicamente fiando, um objeto, mas um
objeto inteiramente dependente. Seu esse consiste exclusivamente em seu
"percipi" -- só que essaproposição não deve de modo algum ser entendida
no sentido de Berkeley,já que aqui o percipi não contém o essecomo com'
ponente real.
Isso naturalmente se transpõe para o modo de consideração eidético: o
lidos do noema aponta para o eidos da consciência noética, eles são eidetica-
mente interdependentes.O intencional, como tal, é o que é como intencio-
nal da consciência de tal e tal conformação, que é consciência dele.
Apesar dessadependência, o noema pode, todavia, ser considerado por
si, pode ser comparado a outros normas, investigado segundo suasrecon-

S 98 ura dos vividos noéticos concretos, com seuscomponentes hiléticos


Modos de s d d noemaa. Morfologia das noeses e especi6camente noéticos.
Naturalmente, essasduas morfologias não se relacionam de modo al-
gum como imagensespeculares ou como seuma se modiâcassena outra a
uma simples modificaçãode sinal, de maneira que todo noema N pudesse
ser substituído pela "consciência de N". Isso já resulta da explicação.que
demos antes a respeito da interdependência entre a unidade das qualidades
no norma material e as multiplicidades hiléticas de seusperas naspercepções
materiais possíveis.
Poderia parecer agora que o mesmo tem de valer também para os momen-
tos especi6camente noéticos. Em particular, poder-se-ia apontar. aqueles mo-
mentos que fazem que uma multiplicidade complexa de dados hiléticos, como
Terceira,seção

a cor que aparece é, por exemplo, uma unidade em contraposição às multipli-


cidadesnoéticas e, especialmente, àquelas de caracteres de apreensão noéticos.
:1'
Uma investigação mais detida mostra, porém, que paralelos noemáticos corres-
pondem a todas as mudanças dessescaracteres, não na "própria cor", que con-
tinua a aparecer ali, mas no "modo" cambiante "de se dar", por exemplo, na
l apariçãode sua "orientação em relação a mim". Assim, nas "caracterizações"
#' noemáticas se espelham em geral caracterizações noéticas.
Como isso ocorre, terá de ser um tema de análises abrangentes, e não
somentepara a esferaexemplar privilegiada da percepção Analisaremos em
H '
seqüênciaos diferentes modos da consciência, com seus diversos caracteres
3 :P
noéticos, e os investigaremos segundo os paralelos noético-noemáticos.
1.! Antes disso devemos, porém, nos compenetrar de que o paralelismo entre
a unidade do objeto noemático "visado" de tal e tal maneira, do objeto que
não sai "do sentido", e das configurações constituintes da consciência ("ardo
et connexio rerum -- ordo et connexio idearum") não pode ser confimdida
com o paralelismo entre noese e noema, entendido, em particular, como para'
lelismo dos caracteres noéticos e dos caracteres noemáticos correspondentes.
É para esteüdmo paralelismo que se voltam as consideraçõesque agora
seguem

$ 99. O núcleo noemático e seus caracteres na esfera


das presenças e das presentificações

Nossatarefaé, portanto, ampliar consideravelmenteo círculo do que 6oi


mostrado nas duas séries paralelas de eventos noéticos e noemáticos, a fim de
alcançar o noema pleno e a noese plena. O que até agora tivemos diante dos
olhos, sem naturalmente ainda pressentir que grandes problemas se encerra-
vam ali, é justamente apenasum núcleo central e, além disso, nem sequerum
núcleo delimitado de maneira inequívoca.
Lembremo-nos, antes de tudo, daquele "sentido objetivo", que pela
comparação deita acima" entre normas de espécies de representações dis-
tintas, de percepções,recordações, representaçõesde imagem etc., resultou

7óCf. acima$ 91, pp. 209 e segs


gia pura e para uma fUosofia fenomenológica T rceirü seção: A método

para.nós como algo a ser descrito unicamente mediante expressõesobjetivo


e ate, respectivamente, com expressõesidênticas naquele caso limite, aus'
piciosamente escolhido, em que um objeto inteiramente igual, igualmente
orientado e igualmente apreendido em cada aspecto,por exemplo, uma ár-
vore, se exibe na forma de percepção, de recordação,de imagem etc. Em
contraposição à "árvore que aparececomo tal", idêntica, juntamente com o
)
"como' idêntico de seu aparecer "objetivo", restam as diferenças do modo
de doação, que variam de um tipo de intuição a outro e conforme os demais
tipos de representação.
Daquele idêntico se é, ora «originariamente" consciente, ora conscien- tos ])or presentaç:locomo tais entado a este, embora novo, de caracteres
te na forma da recordação", ora na "forma da imagem" etc. Com isso se
porém, caracteres da "árvore que aparece com tal", encontráveis
no direcionamentodo olhar parao correlato'noemáticoe não no seudire-
cionamento para o vivido e sua composição real. Com isso não se exprimem gem novamente complexos de representação e, como correlatos de sua uni-
"modos da consciência", no sentido de momentos noéticos, mas modos nos dade própria como representações mediante signos, pares de caracterizações
quais o conscientizado se dá e]e mesmo e enquanto ta]. Como caracteres,por noemáticas conectadas a pares de objetos noemáticos.
assim dizer, no "ideal", eles mesmos são "ideais" e não reais. Observa-setambém que, assimcomo, conforme a seu sentido de ima-
Numa análise mais precisa, nota-se que os caracteres aqui evocados a , a "imagem'; em si se dá como modificação de algo que, sem essa modi-
título de exemplo não pertencem a uma única série. '"Çã.,, «:Ú, d j«""""" '.m. 'l, m«m':'m."'- '. '"' = 11:f;?"l?
também exatamenteassimo "signo" é modificação de algo, embora a sua
De um lado, temos a pura e simples modificação reprodutiva, a pura e
simples presentificação, que se dá em sua própria essência, de uma maneira maneira.
bem digna de nota, como modificaçãode um outro. Em suaprópria essência
fenomenológica, a presentificação remete à percepção: por exemplo, redor--
dar-se de algo passado implica -- como já anteriormente observamos -- $ 100 Estratiâcação das representaçõesem noese
' ter percebido"; portanto, de certa maneira, a percepção"correspondente" e norma segundolei eidética
(percepção do mesmo núcleo de sentido) é trazida à consciência na recorda-
ção, mas não e6etivamente nela contida. A recordação é, precisamente em sua Todos os tipos até aqui tratados de modiâcação de representaçãosempre
essênciaprópria, '.modificaçãode" percepção.Correlativamente,o caracteri- podem receber novas estratiâcações, de tal maneira que as intencionalidades
zado como passadose dá em si mesmo como "tendo sido presente", portan- em noese e noema se constroem por níveis umas sobre as outras, ou antes, se
to, como uma modiâcação do "presente", que, enquanto não-modi6cado. é encaixamumas nas outras de uma maneira peculiar.
precisamente o "originário", o "presente em carne e osso" da percepção. Há presentiâcações puras e simples: puras e .simples modiâcaçTS de per"
utro lado, a modiâcação imagética pertence a uma outra série de cepçoes Hlá também, todavia, presentificaçõesde segundo, terceiro e de não
modificação. Ela presentifica "em" uma "imagem". A imagem pode ser, to- "l''- que nível eidético. As recordações,"em" recordaçoes poldem.nos
davia, alguma coisa que aparece originariamente, por exemplo a imagem === L :l;:..;i:l Üil;id. ., .«.-d,çã., "'6e«:««.;" «« «?- d' «'«idw
pintada"(não a coisapintura, aquelada qual sediz, por exemplo,que está no modo da presentiâcação. Ficamos convencidos dele ao retletirmos 'na'
pendurada na parede)," que apreendemosperceptivamente. A imagem, con-

77A respeito dessadiferença, cf ainda mais adiante o $ 1l 1, p. 245. caracterizados,podemos refletir sobre eles ou não, podem então surgir m-
p''

e para uma âlosofia fenomenológica

clusive recordaçoes, caracterizadas como "recordações que foram ViVidasn.c


o olhar pode, atravessando-as,ser direcionado para o recordado de segundo
nível. No nexo de vividos de modiâcação secundáriapodem mais UHa Vcz
surgir recordações, e assim /dea//z er i / iWm/f ' ' "'
Uma mera alteração de sinal (cuja peculiaridade ainda aprenderemosa
entender) transpõetodos esseseventos para o tipo imaginaçãolivre, surgem
imaginaçoesem imaginações e assim por diante, e não importa em que nível
de encaixe.
óil

++'"
Também surgem igualmente misturas. Não apenas cada presenti6cação
abriga, por essência,em seu nível último, modificação presentiâcante de per-
cepções,que entram no campo de apreensãoda visão por intermédio da pro-
digiosa reflexão na presentificação; na unidade de um 6enâmeno de presenti-
ficação, podemos ao mesmo tempo encontrar, ao lado daspresentificaçõesdc
l!=: :: percepções, presentificações de recordações, de expectativas, de imaginações
etc., nas quais as respectivas presentiâcações podem ser, elas mesmas, de cada
um dessestipos. E tudo isso em diferentes níveis.
Isso também vale para os tipos complexos de representaçãopor imagem
e representaçãopor signo. Tomemosum exemplode formaçãode repre
tentaçãoa partir de representações
de nível superior,formaçãoque pode
ser bastantecomplicada e, no entanto, facilmente compreensível.Um nome
proferido nos Êazrecordar a Galeria de Dresden e nossaúltima visita a ela:
pa:seamos por suas salas e paramos diante de um quadro de Temer, que
exibe uma galeria de pintura. Se supusermos ainda que os quadros dessaúl-
tima galeria representam outros quadros que trazem, por sua vez, inscrições
legíveis etc., então poderemos mensurar que fusão de representaçõese que
mediações devem ser e6etivamente estabelecidas para chegar às objetividades
a ser apreendidas. Não é preciso, contudo, recorrer a casostão complicados
como este para encontrar exemplos de evidências eidéticas, em particular de
evidência da possibilidade ideal de prosseguirmoscomo quisermos nesses
encaixes.
b,vXXbVAI'nl' = + l

S 101. Características dos diferentes níveis.


"Reflexões" de diferentes espécies

Em todos esses estratos, que contêm, em suas articulações, reiteradas


modi6cações de presentificação, constituem-se manifestamente noemas da
estratiâcação correspondente. Na consciência imagética de segundo nível,
uma "imagem" em si mesma é caracterizada como imagem de segundo nível, dética cientificamente exausava.
Twceirü seç

$ 103. Caracteres de crença e caracteres de ser

Seprocurarmos agora novos caracteres,notaremos primeiramente que

eH toda espéciede recordação "certa" de algo passado,anualmente existente


ou que será no futuro (como na expectativa prospectiva). Estes são fitos de
"posição" de ser, ates "téticos". Nesta expressão,contudo, é preciso tomar
cuidado para que, conquanto remota a um ato, a uma tomada de posição
num sentido particular, isso justamente permaneça fora. de consideração ,
esfera
O que aparecena forma perceptivaou rememorativa possuía,na
até aqui considerada, o caráter do ser pura e simplesmente "efetivo" -- do
ser "certo", como também dizemos por contraste com outros caracteresdo
ser. Pois esse caráter também pode se modiâcar e eventualmente se trans-
formar, no mesmo fenómeno, por modificaçõesatuais. O modo da crença
"certa" pode passarao modo da mera suposição ou conjectura, ou do ques-
tionamento e da dúvida; e, em conformidade com isso, o que aparece (que,
com respeito àquelaprimeira dimensãode caracterizações,foi caracterizado
como "originário", "reprodutivo" etc.) assume agora as modalidades de ser
do "possível", do "verossímil", do "problemático", do ' duvidoso"
Por exemplo: um objeto percebido apareceprimeiramente em sua ir-
recusabilidadepura e simples, em sua certeza. Subitamente somos tomados
de dúvida se não estamossendo vítimas de uma mera "ilusão", se o que é
visto. ouvido etc. não é "mera ilusão". Ou então o que aparececonservaa
certeza de seu ser, masestamosincertos quanto a algum complexo de suas

1989),P.167
fia fenomenológica

P-

:3

Como em outros pontos, basta-nosaqui ter destacadoos grupos de

$ 104. As modalidades dóxicas como modiâcações

do conceito de "proposição'seçaonPP. 28 n edogs . ua.dinariamente :ão mais pormenorizada


'1
pura 239 q
se aí se tratasse de uma série de fàil:lihariza
onde a série possa se interromper),
cor, som etc. são espécies esferas noemáticas
saparte. Além disso,aqui como em
consequências de nossas constatações

106 Afirmação e negação, com seus correlatos noemáticos


l e eventualmentede
l a toda es-
s:"' :ll=UIS== ==="'' "'"«. o assentimento a ela
.dt

.,Pi
e a afirmação.
BP'
de volta a alguma
"modificação"
mas de uma "post
de crença.
em "riscar" o cuáter
é o caráterdo que foi
atravessa algo posicional,
em virtude, precisa-
especíâco, isto
mesmo caráter e essa
de um outro. Paradizê-lo
de ser pura e sim'
. passa'se, no noema, do puro

se passa ao
E com isso se modifica
sua plenitude noemática
#

e para
pwa uma mosofia âenn....l,q
uma mosolla fenomenológica l
precisa de análises próprias.
complicações.Às estratificações mais altas correspondem então novamente
aârmadose negados, que são mais uma vez modificáveis, e isso vai, dito
idealmente, ao infinito. Não se trata absolutamente aqui de repetições mera-
mente verbais. Basta lembrar a douuina da verossimilhança e suas aplicações,
onde possibilidades e verossimilhanças são continuamente ponderadas, nega-
das. colocadas em dúvida, conjeturadas, problematizadas, constatadas etc.
Deve-se,no entanto, ter sempreem linha de conta que aqui o termo
"modificações" possui, por um lado, relação com uma possível transforma-
çãodos 6enâmenos,portanto, com uma operaçãoanualpossível,e, de outro
lado, com a peculiaridade eidética muito mais interessante das noeses ou dos
normas, que consiste na remissão que fazem, em sua própria essência e sem
nenhuma consideraçãode suagênese,a algo outro, não-modificado. Em am-
bos os aspectos, contudo, estamos em solo puramente fenomenológico. Pois
lógica de essências.80
nológica essências.80çãose encontram, pois, tarefas para a análise renome os termos "transformação" e "gênese" aqui se referem a eventos de essência
6enomenológicose não significam o mínimo que seja de vividos empíricos
como fatos naturais.
S 107. Mlodificações reiteradas
idades de "reflexão"
$ 108. Os caracteresnoemáticos não são detc
rmitir o s(guinte progresso na evidência: de tais análisesé Suficiente para
É necessárioque, a cadanovo grupo de noesese normas que tenhamos
trazido à consciência clara, nós também novamente nos asseguremos daquele
conhecimento fiJndamenta] tão contrário aos hábitos do pensamento psico
logista: de que é preciso fazer e6etivae corretamente distinção entre noese e
noema. exatamente como a descrição âel o exige. Se já se tem familiaridade
com a descriçãoeidética puramente imanente (muitos, aliás,que pregam a
descrição não logram tê-la) e se já se é capaz de reconhecer, para cada cons-
ciência, um objeto intencional, que é aquilo que deve ser descrito como
inerente e imanente a ela, assimmesmo então ainda é grande a tentação de
apreender os caracteres noemáticos, e muito particularmente os tratados por
último. como meras "determinidades de reflexão". Se nos lembrarmos do
estreito conceito de reflexão usualmente encontrado, entenderemos o que
isso quer dizer: elas são determinidades acrescidasaos objetos intencionais
por estes serem remetidos a modos de consciência nos quais justamente são
objetos de consciência.

ut: :s:i:::saga
O negado, o afirmado etc., deveriam, portanto, resultar de que o objeto

$11Funua do "juízo" seria caracterizado como objeto negado na reflexão referente à


negação, ele seria caracterizado como objeto afirmado na reflexão referente
à afirmação e, do mesmo modo, na reflexão referente à conjectura, ele seria
242

caracterizado como A metod,ok çática,d,a, wewon©a pára 243


cuja absurdidadejá se mais detida neste ponto. No que também teremos oportunida
mente apenas predicados consideração
de de discutir uma espéciede autêntica modificação de crença que ainda nos
no repetir anual Sobre o
Estava, com a qual a nova modificação em questão é facilmente confimdida:
são dados mediante
direcionando am edificação das postulações.
Paranós, trata-se agora de uma modificação que de certa maneira supri-
como taJ que
me, que enfraquece completamente toda modalidade dóxica à qual é reÊe-
manco etc. AÍ nós não
lida-- masnum sentido totalmente outro que a negação,a qual, ademais,
ato. Inversamente, os
como vimos, realiza uma operação positiva no negado, ele é um não-ser que
possuem tudo.
novo um ser. Ela não risca, não "opera" nada, para a consciência ela é
questão. A isso se
'1

maniâcstamente o contrário de toda "operação": ela é a sua neutralização. Ela está inclusa
do", e ser em todo abster-se de operar, em todo pâr cora de ação, em todo "p6r entre
rl.
Se ainda parênteses "deixar em suspenso", e então em todo ter "em suspenso", em
todo entrar por pensamento em "operação" ou em todo "mero pensar" da
della nos ser
sido operação produzida, sem "cooperar" com ela.
Uma vez que essamodiâcaçãojamais 6oi constatadacientificamente e,
dizemos que a
portanto tampouco fixada terminologicamente(sempre que se chegavapró-
que aparececomo ta] é ximo ela eraconfilndida com outras modi6cações)e uma vez que aindaEfta
norma de Coisa, mas
tranios como para ela um nome unívoco na linguagem geral, só podemos dela nos aproxi-
mar circunscritiva e paulatinamente, por eliminações. Pois todas as expressões
toda parte na
que pode ser que acabamos de compilar para dar uma indicação preliminar dela contêm um
algo a mais de sentido. Em todas elas se subentende um fazer arbitrário, que
toma-lo justamente
de modo algum importa aqui. Nós, portanto, o eliminamos.Como quer que
teorias devem se as
seja,o resultadodessefazer tem um conteúdo peculiar, que, abstraindo-sedo
Eito de que "provém" desse Emer(o que também seria naturalmente um dado
fenomenológico), pode ser considerado em si mesmo, tal como ele é possívele
S 1109. A modificação de neutralização ocorre, semessaarbitrariedade,no nexo do vivido. Seeliminamos tudo o que
é voluntário do "deixar em suspenso", que tampouco deve ser entendido no
sentido de um duvidosoou hipotético, restacerto ter algo "em suspenso"ou,
melhor ainda, um ter algo "que se encontra ali", do qual não se tem consci
ência como se encontrando "e6etivamente" ali. O caráter de posição fica sem
efeito. A crença já não é então seriamente uma crença, a conjectura Já não é se
riamente uma conjectura, a negação,uma negaçãoetc. Ela é uma crença, uma
conjectura, uma negação etc. "neutralizadas", cujos correlatos repetem aqueles
dos vividos não-modi6cados, mas de uma maneira radicalmente modiâcada: o
pura e simplesmenteexistente, o possivelmente existente, o verossimilmente
existente, o problematicamente existente, o não-existente e todos os demais
negadose afirmados-- estãoali para a consciência,não, porém, no modo do
"e6etivo", mascomo algo "meramente pensado", como "mero pensamento"
" Cf l#Pê galões ZoglraJ, 11:, Sexta Investigação, $ 44, PP. 611 e sega.
Tudo recebe seus "parênteses" modiâcadores, que são muito próximos daque-
Terceiraseção:A metodoloaiü e a, üroblemáticü dafenomenolonia üwrn 24

nr6priae à parte. Ela pode entrar como membro na unidade das posiçõesa
;r racionalmente ajuizadas(sua estipulação entra como "antecedente" ou
«conseqüente")e ser, com isso, submetida à avaliação da razão. Pode-se
dizer,não de um mero pensamento em suspenso,mas de uma estipulação
hipotéticaque ela é correta ou não. Ê um erro fiindamental confundir um
com o outro, e não ver a equivocidade contida nos termos "mero conceber"
ou "mero pensamento"
Na palavrapensar se encontra ainda outra equivocidade que pode in-
duzir igualmente em erro, uma vez que, ora é referida à esfera eminente do
pensamentoque explicita, conceitualiza e exprime, ao pensamento lógico
num sentido específico, ora ao posicional como tal, que, conforme a consi-
S 110. Aonsciência neutralizada e jurisdição da razão. deraçãoque dele acabamosde fazer, não se ocupa nem de explicitação, nem
de predicação conceptual.
Encontramos todos os eventos aqui discutidos naquela esfera, por nós
privilegiada, das intuições meramente sensíveis e de suasvariações em repre
tentações obscuras.

S 111. Modificação de neutralização e imaginação

Ainda é preciso, porém, dar conta de uma equivocidadeperigosada


expressão"mero conceber em pensamento", ou seja, é preciso evitar uma
confusão em que se cai com muita facilidade, qual seja, a confissão entre mo-
dificação de neutralização e imaginação. O que leva ao emaranhamento aqui,
e que realmente não é fácil de desemaranhar, é que a imaginação mesma é, de
fato, uma modiâcação de neutralização, ela possui, a despeito da particulari-
dade de seu tipo, signiâcação universal, é aplicável a todas modificações, ela
desempenhatambém um papel na maioria das configurações do "conceber
em pensamento" e, todavia, tem de ser distinguida da modificação geral de
neutralização, com suasdiversasconâgurações seguindo todas as espéciesde
posição.
Em termos mais precisos,o imaginar é em geral a modificação de neutra-
lização da presentificação "posicional", portanto, da recordação no sentido
mais amplo que se possa pensar.
Aqui é preciso observar que presentiâcação (reprodução) e imaginação
se confundem no linguajar comum. Utilizamos essasexpressõesde modo

asH H HIETl# n :ms;l'::;


que, fazendo jus a nossasanálises,deixemos o termo geral "presentificação"
sem indicar se, neste sentido, a "posição" em questão é uma posição propria
mente dita ou uma posição neutralizada. As presentificações em geral se di-

á
fenomenológica

ocasionalmente ser isso. Mas não é necessário que o seja.

Reiteração da modiâcação de imaginaçãol


Não-reiteração da modificação de neutralização

'; Cf asindicaçõessobre essênciae contra-essência,p. 254.


uma fUosofiafenomenológica Terceira seção:A método l
«oosjcional" num sentido amplo, que carecenecessariamentede uma dife-
renciação . .. . ,
' Separemos a posição arma/ e a posição fole ria/ e utilizemos para.elas o
título geral "co scié cia poJ ciowaZ",que é imprescindível para nós indepen-
dentemente dessa separação
A diferença entre atualidade e potencialidade da poiifão está numa re
e inatenção
lação próxima com as diferenças de atuahdade entre atenção
antesabordadas,:smasde modo algum com elascoincide. (quando se toma
eH consideraçãoa modificação de neutralização, introduz-se uma duplicida-
de na diferenciação geral entre atualidade e inatualidade do direcionamento
atencional do eu, uma duplicidade no conceito do termo "atualidade", cuja
essência temos de clarificar.
d
A neutralização de modiâcação surgiu para nós pelo contraste entre
]
a crença, a conjectura Bgrf/?aietc. e a consciência peculiar modificada de
)

um "mero pâr-se em pensamento" numa crença, numa conjectura etc.;


dito correlativamente, ela surgiu para nós pelo contraste entre ter o ser, o
ser verossímil etc. "êgrfjpame/zrf" d/a lr dr aJ/", ou tê-los "efetivamente
como postos", e tê-los no modo de um mero "seja como for", como #ãa
realmente postos. Desde o início, no entanto, indicamos também o pro-
cedimento essencialmentediferente de uma consciência não-neutra e uma
consciência neutra em relação à potencialidade das posições. De toda cons-
ciência "efetiva" podem ser tiradas diversasposições nela potencialmente
inclusas. e estas são, então, pos çõrl efetivas: em todo visado e6etivamente
Si 13. Posiçãoatual e posição potencial tético há predicáveisreais.Uma consciência neutra, porém?.não "contém"
em si predicado "real" algum. O desdobramento em atualidades atencio-
Nossas considerações sobre modiâcação de neutralização e posição re- nais, em direcionamentos para diferentes predicados do objeto conscienti-
clamam prosseguimentos importantes. Empregamos a expressão consciência zado redunda em meros atos neutros ou em meros predicados modiâcados.
Essa potencialidade de espéciedistinta na consciência neutra e na consci-
ência não-neutra, este aspecto notável, de que a potencia]idade geral dos
direcionamentos da atenção se anda numa dupla potencialidade, requer
agora uma investigação mais profiinda.
Nas considerações do penúltimo parágrafo, constatou-se que todo
vivido efetivo, enquanto existindo presentemente-- ou, como também
podemosdizê-lo, enquanto unidade temporal constituída na consciên-
cia fenomenológicado tempo --, traz de certa maneira consigo o seu
caráterde ser,la/ como m Pr cf&ido.A todo presentede vivido atual

85Cf. S 35, pp. 86 e sega.,S 37, pp. 90 e segs.,$ 92, pp. 211 e sega
ara um? 6]osoâa fenomenológica l.Brceirü seção:A m

corresponde idealmente uma modiâcação de neutralização, a saber, um


possível presente de vivido da imaginação que Ihe corresponde precisa-
mente em termos de conteúdo. Todo vivido de imaginação como este
não é caracterizado como existindo e6etivamenteno presente, mas como
"quase" existindo no presente.De fato, o que se tem aqui é, portanto,
bem semelhante ao que ocorre na comparação dos dados noemáticos de
uma percepção qualquer com os dados de uma imaginação ideal que Ihe
ç$ãÜiÜ!)!:E:E;==UgB
sibilidades de mudanças atuais do olhar, as quais, no entanto, jamais fazem
corresponde exatamente (consideração de imaginação): todo percebido
é caracterizado como "ser efetivamente presente", tudo aquilo que é da surgir atualidadesde pailfãa do comparamos rico safõesatuais(não neutras,
ordem do imaginado em paralelo com ele é caracterizado como sendo o
mesmo em conteúdo, mas como "mera imaginação", como ser "quase"
presente. Portanto:
A própria consciência origina,riü do tempo Opera como ama. consciêwciü
dr .PefrPfão e tem sua contrapartida numa consciênciade imaginação
correspondente.
Obviamente, essa consciência do tempo que tudo abrange wão é, po-
rem, @ma.prrcePfão/ma e fc co#Z-/#zlano sentido#arzFe, isto é, no sentido
de uma percepção .poJ/c/o a/ afaz/, ela mesma um vivido em nosso senti-
do, um algo que estácontido no tempo imanente, que dura no presente,
que é constituído na consciênciado tempo. Noutras palavras,ela não é.
obviamente,uma reflexãointerna contínua, na qual os vividos pode afastaressaneutralidade,tão pouco quanto, noutros casos,geramos
postos no sentido específico, se tornariam objetivos e aprer d/dos Como
exZsf/#da atualmente. atu Toda de posiçãoe isso pode nos servir de ilustração adicional, tem seu
Entre os vividos há reflexões eminentes, denominadas reflexões ima fi=tndode percepção.A coisa especialmentepercebida possui seu meãoczrcw#-
nentes e, mais especialmente, percepções imanentes, as quais estão vol- da#te material, que comparece na percepção e não precisa de tesesparticula-
tadas para seus objetos, apreendendo, pondo atualmente o ser deles. Ao res de existência. Ele também é meio circundante "efetivamente existente",
lado delas há também percepçõescujo direcionamento é transcendente e é trazido à consciência de tal modo que se possam dirigir para ele -- no
e que põem o ser em sentido igual, as chamadas percepções externas.
"-Percêpfão",no sentido normal da palavra, não significa apenasem geral
que alguma coisa aparece.para o ra fm .prelo fa dr fa f € alto, mas que
eu íe aprrcf&a*ó da coisa que aparece, apreendendo-a, pondo-a como
e6etivamente existindo. Pelo que 6oi antes apresentado, essaatualidade da
posição de existência é neutralizada na consciência perceptiva de imagem.
Voltados para a "imagem" (não para o nela âgurado), não apreendemos
"nadade e6etivocomo objeto, masjustamente uma imagem, um acto, A
"apreensão"tem a atualidadedo "voltar-se para", embora não sejaapre
17Em alemão "gleichsam", que também pode ser traduzido por: "como que", "quase que",
"por assim dizer". Noutras passagF.ns,é possível veriâcar que Husserl o entende como sinóni-
" Em alemão "Zrwa#r werdf". Sobre essaexpressão,cf. nota da tradução à p. 214.(NT) mo do latim gw#si(cf. acima p. 80).
osofia fenomenológica
pára 253
mas também no modo da inatualidade da
desses"fundos" de
o "primeiro plano"
em atualidades
originário se converte num cagjlodóxico,
circunstân
to de imaginaçãotambém tem (e necessariamente)seusfiindos de atendo.
Mais uma vez, "findo" é designação para mudanças do olhar e "apreensões» a possibilidadede
seus noemas, para suasobjetivi
enclus. O estabelecimentoda mudança e6etiva,contudo, não leva'aqui
por pnnciplo, a posições reais, mas sempre apenas a posições modificadas. seuspredicados -- dela faz parte a
no modo da doxa originária.
O que ainda nos interessa particularmente aqui é o mesmo que se passa
com variações modais das teses de crença específicas (com variações modais das podemos dizer, é que a wod{/Zcafãodf
vinculada às teses aZrwazi, as tónicas
tesesdóxicas originárias): conjecturas, suposições,problemas etc., e também
negaçõese armações. Os correlatos nelastrazidos à consciência,a possibili- a uma pecttLiüridüde eidéticü funda-
dade, verossimilhança, não-ser etc., .podempassar por posição dóxica e, com ra relação com a posiciona
anual. Daí a necessidade de mos-
isso, ao mesmo tempo, por "objetivação" especíâca, mas enquanto "estamos
vivendo em" suposição, problematização, recusa, aârmação etc., não eâetua- ou na modiâcação que sobem.
mos nenhuma tesedóxica originária -- embora sem dúvida eâetuemosoutras
ou totma., é em ge a,l perPüs-
"reszr', no sentido de uma generalizaçãonecessáriado conceito, isto é, ZIÉszs
de
como sabemos, da consciên-
;onjectwra, tesesde p'obLemüticida,de, tesesde legação etc. À. queque momen-
to, porém, nós podemoseâetuar as teses dóxicas originárias correspondentes; aquele que a "efetua",
na es##cla das situações âenomenológicas está fimdada a poli/ói/Idade /dea/ desde o início a forma do "cogi&o", Caz parte a
de ar#aZla r al ízleX.pareclazf nelas Inclusas.88Essaatualizaçãoconduz então que a converte nessa forma. Subsistem en-
- «.ü«eira d,e efet.'ür ü co",sete,'ctü -'o
caso já de início se trate de teses atuais, sempre novamente a teses atuais, como
aquelasque estão potencialmente inclusasnas tesesde partida. Se traduzimos modo cog/ro, ou expresso de outra maneira:
astesesde partida na língua da neutralidade, também a potencialidade nela se
uz. Se e6etuamosconjecturas, problemas etc. em mera imaginação, tudo o nado copito passwZz ma co fraca zl/da g ê /# é xafame fe corresPo#-
que âoi antes mostrado permanece,só que com o sinal trocado Todas asteses drwfB.de tal modo que if gematem, no cogZfo
paralelo,seu co f a arma
e m(xialidadesde ser dóxicas a ser extraídasde ates ou normas de atesoriginá-
rios por possíveismudanças do olhar de atenção estão agora neutralizadas.

Outras consideraçõessobre potencialidade


da tese e modificação de neutralização

Segundo asanáliseapresentadas,a diferença entre consciêncianão-neutra


e consciêncianeutra não diz meramente respeito aosvividos de consciência

'8 Clf acimaS 105, p. 217.


ponde sua co#fra-êslé#c/a,como "sombra" da mesmaessência.
uma Hosoâafenomenológica

l
l

por lei de essência,em toda posiçãoefetuada.

;9 Cf. acimaas proposiçõesao final do $ 105, pp. 238 e segs. 90Cf. maisadiante $ 117, P. 261, primeiro parágrafo
e para uma Hosofia âenomenológtca Terceira seção:A metodohyiü e ü problemática düfenomevlolilgií1l)14rü 2b7
A diferença entre posicionalidade e neutralidade não exprime, como ficou recordação ou neutralmente modificadas, ora também não modificadas. Por
exemplo, uma crença, uma crença efetiva "incipiente"; já cremos, "antes de
uma mera espéciede modiâcações de crença, como suposição,problematiza- sabermos". Da mesma maneira, sob certas circunstâncias, posições de prazer
ção etc , ou, noutras (üreções, postulação, negação, afirmação, e tampouco ou desprazer, desejose também decisõesjá sãovivos, antes de "neles" "viver-
portanto, variaçõesintencionais de um modo originário, o da crençaem sen. mos", antesde e6etuarmoso cog/zlopropriamente dito, antesde o eu "atuar"
tido forte. Ela é de fato, como já anunciáramos,uma diHze#fa @#ã',?:ç&iZ
da julgando, sentindo prazer, desejando, querendo.
fomíczr#rza, que, no entanto, com bom filndamento apareceligada, em nosso Com efeito, o cogito designa,pois (e 6oi assimque desdeo início in-
proce?jmento analítico, àquela diferença que 6oi especialmente apresentada troduzimos o conceito), o ato P abriam fe d/zlode perceber, julgar, sentir
nas esperasmais restritas do rag/zo dóxico, a diferença entre crença posicional prazer etc. Por outro lado, no entanto, toda a estrutura do vivido nos casos
P'
(isto é, anual?eEetiva)e sua contrapartida neutra (a do mero "conceber em descritos, com todas as suas teses e caracteres noemáticos, permanece a
F-' pensamento"). Foi aíjustamente que surgiram os laços eidéticos profilndos e mesma,ainda quando Ihe falta a atualidade. Nesta medida, separamosmais
altamentedignos de nota que os caracteresdos arosde crençamantêm com distintamente az:osggrf adoi e #ão-tlHef@ados;estes últimos são, ou atos "que
todas as outras espéciesde caracteresde atou e, por conseguinte, com todas caíramfora da efetuação", ou az:oi/ cip/e z:ei.Também podemos muito
asespéciesdeconsciênciaemgeral. ' '' bem empregar em universal essaúltima expressão para ates não-e6etuados
E'l

H.ii:!- em geral. Essesfitos incipientes sãovividos com todas as suasintencionali-


dades,maso eu não vive neles como "szdrizloegewa le". Com isso, o con-
Sii5 Aplicações. O conceito ampliado de ato. ceito de ato se amplia num sentido determinado e de todo imprescindível.
Efetuações de fitos e atos incipientes Os atos efetuados ou, como se pode dizer melhor sob certo aspecto (a sa-
ber, no aspectode que setrata de eventos), asefetuaçõesde ato constituem
Ainda é importante ter em conta algumas observaçõesanteriores.9iO as" ramadasdrpas/fão" wosr z/do mail a/#pZo,ao passoque, no sentido for-
cogfo é: em geral, a intencionalidade explícita. O conceito do vivido inten- te, a expressãotomada de posição remete a atos fundados de uma espécie
cional já pressupõea oposição entre potencialidade e atualidade, e isso em que discutiremos posteriormente em mais detalhes: por exemplo, a tomada
signiâcação geral segundo a qual somente na passagempara o copito explí- de posição no ódio, isto é, do que odeia em relação ao odiado, o qual, por
cito e na }'zWaxãosobre o vivido não explícito e seuscomponentesnoético- seu turno, é constituído para a consciência em noeses de nível mais baixo,
noemâticos somos capazesde reconhecer que ele abriga intencionahdades como uma pessoaou coisaexistente; também entrariam aqui as tomadasde
posição da negação ou da afirmação em relação a pretensões ao ser etc.
ência daquele fiando para o qual não se atentou na percepção, na recordação Está claro, então, que, exatamente como as cagizrafio eí específicas,os
etc., maspara o qual se pode posteriormenteatentar.O vivido intencional fitos no sentido mais amplo comportam as diferençasde neutralidade e po-
explíc:to é um ."eu penso" "eâetuado". Através das mudançasde atenção, sicionalidade; que, antes mesmo da transmutação em cag/irai/o#êi, eles ope
ele mesmo também pode, no entanto, se converter num "eu penso" ram noemática e teticamente, embora cheguemos a ter as suasoperações
etetuado".O ávido de uma percepção,de um juízo, de um sentimento.de diante dos olhos somente mediante ates no sentido mais estrito, mediante
uma vontade eâetuadosnão desaparecequando a atenção se volta "exclusi- í;og az/o ri. As posições,por exemplo,asposiçõesno modo do "como se"
vamente" para algo novo; isso implica que o eu "vive" exclusivamentenum já se encontram efetivamente neles, com todas as noesesde que essaspo'
novo fagiz>o. O rog/zro anterior "se extingue", mergulha na "obscuridade". lições fazem partem: isso pressupondo-se o caso ideal em que, juntamente
mas sempre conserva uma existência de vivido, embora já modiâcada Da com a transmutação, elas também não se enriqueçam intencionalmente e
mesma maneira, cog/&nZio#riassomam no fiando do vivido, ora na forma de se modifiquem de algumamaneira.Como quer que seja,podemosexcluir
essasmodificações (e especialmente também os enriquecimentos e as no-
vas configurações intencionais que entram no fluxo de vivido logo após a
9i Cf. acimaS 84, pp. 189 e sega. transmutação).
258 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61osofiafenomenológica Terceira seção:A

Em todas asnossasdiscussões,privilegiaram-se, naquilo que se intitulou a estudamos naturalmente numa medida bem modesta, tanto quanto era
de "neutralidade", asposições dóxicas. A neutralidade tem seu índice na po- requerido para o seu delineamento preciso e para o fim que nos guia, o de
tencialidade. Aqui tudo está assentado em que lodo ca?üze df afo zézicofm proporcionar uma representaçãogeral que mostre toda a riqueza dos grupos
.gera/(toda "intenção" de ato, por exemplo, a intenção de prazer, a intenção de problemas implicados pelo duplo tema universal "noese" e "noema". Por
de valorar, de querer, o caráter específico da posição de prazer, de querer) diversificadas complicações que introduzissem, nossos estudos se referiam a
lbrigü em swü essêwciü um cüráter do género "tese dórica" que é "coincidente" uma mera camada inferior do fluxo de vivido, do qual fazem parte intencio-
rom r/e em cerfaJ modos. Conforme a intenção de ato em questão seja não- nalidadesconstruídas ainda de maneira relativamente simples. O que privile
neutralizada ou neutralizada, também o será a tesedóxica nela inclusa -- que giamos(semlevar em conta as últimas observações,deitasa título de anteci-
aqui cora pensada como z:eíe orêgi#ár/a. pação) coram as intuições sensíveis,em particular as intuições de realidades
It Essa primazia das teses dóxicas será limitada nas análises subseqüentes. que aparecem, assim como as reP eir lapõessensíveis delas provenientes por
[
Ficará visível que a legalidade eidética por nós constatada requer uma determi- obscurecimento e manifestamente a elas unidas por comunidade de gênero.
1. nação mais precisa, antes de tudo e de modo mais geral porque são as moda- Esta última expressão "representações" designava também o gênero. Sem
+ /Zdadfí díü/cai(no sentido específico,que também abarcaaspostulações) que dúvida. também levamosem consideraçãotodos os fenómenos a ele essen-
.nl

têm de substituir as tesesdóxicas originárias, ou seja,têm de entrar no lugar cialmente atinentes, tais como as intuições e representações reflexivas em
de "teses dóxicas" inclusasem todas asteses.Mas, dentro dessaprimazia geral geral, cujos objetos já não são coisassensíveis.9;A validez geral de nossosre
1!. das modalidades dóxicas, a tese dóxica originária, a certeza de crença, tem a sultados, obtida graças à maneira como conduzimos a investigação e âzemos
primazia bem específicade que mesmo todas asmodalidades podem ser trans- sentir o caráteracessóriode tudo o que possase ligar a essedomínio inferior,
mudadas em tesesde crença, de modo que agora novamente toda neutralidade se imporá tão logo ampliemos o âmbito da investigação. Veremos então que
tem seu índice na potencialidade dóxica, em sentido eminente, referido à tese retornam todas as diferençasentre o núcleo central do sentido(que obvia-
originária. Com isso, o tipo de "coincidência" do dóxico em geral como toda mente carecede bem mais análise) e os caracterestéticos que se agrupam
espéye de tético em geral receberá sua determinação mais precisa.P2 em torno dele, assimcomo todas as modificações-- da presentiâcação,da
Estabelecidasimediatamente na mais ampla generalidade(ainda que com atenção, da neutralização --, que também atingem, a sua maneira, o núcleo
alguns desideratos), mas tornadas evidentes apenasem esperasespeciais de ato, de sentido, deixando, porém, intocado o seu "idêntico"
essasproposições carecem agora de uma basemais ampla de fimdamentação. Podemos prosseguir agora em dias direções diferentes, ambas condu-
Ainda não discutimos pormenorizadamente o paralelismo entrc noese e noema zindo a intencionalidadesfimdadas nas representações:podemos seguir na
em todos os domínios intencionais. É justamente essetema principal de nossa direção das i/Hfeiri noéticas, ou nos alçar na direção de êspécii o?as mar
seçãoque também seimpõe por si mesmo para a ampliaçãoda análise.Ao eâe fl wda,düs, de "posição'
tuarmos essaampliação, tudo o que mostramos em geral sobre a modificação Se tomamos esta última direção, deparamos com as noeses de ie#lir,
de neutralidade será, porém, ao mesmo tempo conümado e completado. dêií:/ar, g crer(noeses de início as mais simples possíveis,isto é, livres de
síntesesde nível inferior ou superior),que estãofundadasem "represen'
tações", em percepções, recordações, representações-signo etc. e que mos-
$ 116. Passagem para novas análises. tram manifestasdiferençasde nível de fundação em sua construção. Parao
As noeses fundadas e seus correlatos noemáticos conjunto dos atos, agora preferiremos sempre as formas posicionais (.o.que,
no entanto, não deve excluir níveis inferiores neutros), já que o que delas se
Até agora,dentro de um âmbito amplo, masbem delimitado, estudamos
uma série de eventos gerais da estrutura das noeses e dos normas -- nós
9sA delimitação firme e essencialdo ro re/fo mais amplo de reP ese farão,.proveniente das es-
ferasaqui assinaladas,é naturalmente uma tarefa importante para a investigação âenomenoló-
glca sistemática.Todas essasquestões ficam para publicações em preparação, de l:qo conteúdo
9zCf. mais abaixo, pp. 262 e segs. teórico foram tiradas as observaçõesbrevemente indicadas nas presentes investigações.
a 61osofiafenomenológica Terceira seçã,o:A metodohyiü

atenção,em conformidade com as variadaspossibilidadesde essência,alra-


pgí!aasdiferentes camadasintencionais em direção à "coisa" e aos momentos
materiais -- o que produz um sistema concatenado de modiÊcações, que já
conhecemoscomo nível inferior --, ou também em direção aos valores, às
determinidades constituídas em nível superior, através das apreensões que os
constituem; ou ainda, noutra reflexão, em direção às noeses-- e tudo isso
em modos especí6cosdistintos do atentar, do observar de passagem,do não
»'r observar etc.
1-
Por toda parte é preciso fazer difíceis investigações para deslindar pu-
ramente essascomplicadas estruturas e trazê-las à plena clareza, mostrando
como, por exemplo, as "apreensões de valor" se relacionam com as apreen'
sões de coisas, como as novas caracterizações noemáticas (bom, belo etc.)
serelacionam com as modalidades de crença, como se ordenam sistematica-
mente em séries e gêneros e assim por diante.

$ 117 As tesesfundadas e a conclusão da doutrina


da modiâcação de neutralização. O conceito geral de tese

Ainda ponderaremos agora como as novas camadas noéticas e noe-


máticas se relacionam com a neutralização. Referimos essa modificação
à potencialidade dóxica. De fato, como facilmente nos convenceremos,
estadesempenha,nas camadasagora em relevo, o papel que Ihe havíamos
previamente atribuído na esfera de ato mais ampla e que havíamosespe
cialmente discutido na esfera das modalidades de juízo. O "presumível",
"verossímil" está posicionalmente "contido" na consciência de conjectu-
ra, mas igualmente também o "prazer" na consciência de prazer, o 'ale
gre" na consciência de alegria etc. Está nela contido, ou seja, é acessívelà
posição dóxica e, por isso, predicável. Por conseguinte, toda consciência
afetiva entra, juntamente com o novo tipo de fundação de suasnoeses
afetivas. no conceito de consciência posicional, tal como o havíamos es-
tabelecido -- com referência a posicionalidades dóxicas e, finalmente, a
certezas posicionais.
Considerando mais de perto, teremos de dizer, porém, que a relação da
modiâcação de neutralidade com a posicionahdadedóxica, por maior que
seja o peso das evidências em que se filnda, é de certo modo um desvio.
Antes de tudo, é preciso ficar claro para nós que os atos de prazer (quer
O resultado é, mais uma vez, uma multiplicidade de modificaçõespro- "e6etuados", quer não), assim como os atos úetivos e .todo tipo de atou de
filndas na forma das modiâcações da atenção, dependendo como o olhar de vontade são justamente "atos", "vividos intencionais", e que de cada um
Terceira seção:A
262 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma 61oso6afenomenológica

deles faz parte a "/ fr rio", a "tomada de posição"; ou expressode outro


modo: num sentido mais amplo, embora essencialmenteo mesmo, eles são
"poJ/fõg?',só que justamente não posiçõesdóxicas. De passagemdizíamos
acima de maneira inteiramente carreta que caracteresde ato em geral são
"z:ese/'-- teses no sentido ampliado e, somente no sentido particular, teses
de crença ou modalidades destas.A analogia essencialdas noesesde prazer
especíâcascom as posições de crença é manifesta, assim como das noeses de
desejo, dasnoesesde vontade etc. Também no valorar, no desejar,no querer,
algo está "posto", mesmo fazendo abstração da posicionahdade dóxica nele
)

P+'

"contida". Esta é também a conte de todos os paralelismos entre as diferentes


t espéciesde consciência e todas as classiâcaçõesdelas: o que propriamente se
t d
classificava eram as espécies posicionais.
Independentemente do que mais se possa encontrar na composição
concretade cadavivido intencional,é da essência
dele possuirao menos
K um "caráter posicional", embora em regra possuamuitos dessescaracteres,
muitas "teses" vinculadas no modo da fundação; nessapluralidade há então,
=rnV X ' l

necessariamente, uma tese por assimdizer "arco fica", que unifica em si e


rege todas as outras.
A unidade suprema do gênero, que vincula todos os "caracteresde ato"
especíâcos, os caracteres da "posição", não exclui diferenças essências e ge
néricas. Assim, pois, enquanto posições, as posições afetivas são aparentadas
às dóxicas, mas de modo algum tão homogêneas quanto todas as modalida-
des da crença.
Com a comunidadeeidéticagenéricade todos os caracteres
de posi-
ção, também está eo ipso dada a comunidade de todos os seus correlatos
noemáticos de posição (dos "caracteres téticos no sentido noemático"), e se
tomamos estesúltimos com suasbasesnoemáticas mais amplas, está dada a
comunidade de essênciade todas as "proposições". É nisso, porém, que em
última instância se fiindam as analogias sempre sentidas entre lógica geral,
doutrina geral do valor e ética, as quais, perseguidas em suas profiindezas
últimas, conduzem à constituição de disciplinasgeraise jormaZr paralelas,a
logica, a axiologia e a pratica formais.P4
Somos, portanto, reconduzidos ao título gr#e a/azado"tese", ao qual
agora referimos a seguinte proposição:
Toda,consciência é a,tua,Lou potencialmente 'téticün . O contexto ailxetiox
de ".posiçãoaz:waZ:"
e, com ele, o de pas/c/o aZ/dadapassaassimpor uma am-

95Cf. acima,p. 260


94A esserespeito, cf. mais abaixo a 4' parte, 111capítulo.
l
osofia fenomenológica Terceira seção:A metodologi
se não estamos orientados para as modalidades posicionais dóxicas, não é Aqui se encontra a mais profiinda das fontes a partir das quais se pode
posto atualmente em seu caráter dóxico. O valor é trazido à consciênciano explicara / essa/idadedo r/eme zlo/(Ü/fo, enfim, a universalidadedo juízo
valorar, o aprazível, no prazer, o que dá alegria, no alegrar-se,mas de quando predicativo (a que acrescentamos ~acamada da expressão signi6cativa- que
em quando de tal modo que não estamosde todo "seguros" no valorar, ou ainda não foi tratada em pormenor), donde seentende também o fimdamen-
de tal modo que a coisaapenasé supostamentevalorosa, é talvez valorosa. to último da universalidadeda autoridade da própria lógica. Na seqüência
enquanto ainda não tivermos tomado partido dela ao avahá-la.Vivendo em se compreenderá a possibilidade e até a necessidade das disciplinas noéticas
tais modificações da consciência valorativa, não precisamos estar orientados formais e materiais, ou noemáticas e ontológicas, essencialmentereferidas à
para o dóxico. Mas podemos passara estar assimorientados, se vivemos.
)

intencionalidade aeetivae volitiva. Trataremos dessetema mais tarde, depois


E:' por exemplo, na tese de suposiçãoe então passamospara a tese de crença de nos termos asseguradode alguns conhecimentos complementares."
[ correspondente, que, apreendida predicativamente, recebe a forma: "a coisa
poderia scr uma coisa valorosa", ou mudando para o lado noético e para o eu
que valora: "suponho que sejavalorosa (talvez valorosa)". O mesmo ocorre S 118. Síntesesde consciência. Formas sintáticas
com outras modalidades
. Em todos oscaracteres fálicos eaãog ürdadüs, desta maneira, modalida,des Se agora voltarmos o olhar para a segunda das duas direções acima in-
dáv/caíe, se o modo é o da certeza, tesesdóxicas originárias, que são co/#cl- dicadas,97para as formas da consciênciaii fálica, então entram em nosso
df lrf com os caracterestéticos pelo sentido noemático. Como, no entanto horizonte múltiplos modos de formação de vividos por vínculo intencional,
isso também vale para as variaçõesdóxicas, também z:eieidóxicas orÜ/lz/ír/a, que, como possibilidadesde essência,são inerentes, ora a todos üvidosTT'.
Uma
estão contidas em todo ato (agora não mais em coincidência noemática) . tencionais em geral, ora às peculiaridadesde seus gêneros particulares.
Por conseguinte,também podemosdizer: zlodaaro o rodoco/rPZazlo
df consciêncianão se liga apenasem geral a outra, elasse vinculam numa ú ca
zto abriga, implícita owexpliçitamewte, wm aspecto"lógico'. E\e sempre
;"T''
pode
r'" consciência,cujo correlato é zlm z2m/co norma, o qual, por suavez, estáfun-
ser explicitado logicamente, isto é, graças à generalidade de essencia com a dado em normas das noeses vinculadas. .
qual a camada noética do 'exprimir;; pode ser ajustada a todo noético (ou a Não estamos nos reportando aqui à w#idade da co Jclé c/a ima e fr do
camada da expre.Tão a todo noemático). É evidente, além disso, que com a frmpo, embora também se deva lembrar dela, como a unidade abrangente
passagemà modificaçãode neutralidade também o próprio exprimir e o seu de todos os vividos num fluxo de vivido e mesmo como unidade de uma
expresso como tal se neutralizam. ' ' '
ro scié»cia que vincula uma consciência a outra. Qualquer que seja o vivido
De t\xdo Isso tes\lata que todos os fitos em geral-- inclusive osfitos de Elfeti- individual (]ue tomemos, ele se constitui como uma unidade que se estende
,idade e de ?ontüde -- são objetivüntes, são «rÜinürin«»ente «con,tit. antes;'de pelo tempo fenomenológico na contínua consciência "originária do tem-
oZgEZPai,
são contes necessáriasde diferentes regiões do ser e, assim, também po Em orientação reflexiva adequada, podemos atentar para o modo como
de suas respectivasontologias. Por exemplo: a consciência valorativa consti- lapsos de vivido pertencentes a diferentes intervalos da duraçãoconstitui
vivida sedão
essa
tui, em contraposição ao mero mundo das coisas, um novo tipo de objetivi- para a consciênciae, assim,dizer que toda a consciênciaque
dade "axiológica", um "ser" de uma nova região, desde que, justamente."''l''''pela unidade de duração se compõe continuamente de intervalos nos quais se
essênciada consciênciavalorativa, são prescritastesesdóxicas atuais como constituem os intervalos de vivido da duração; e que, com isso, asnoesesnao
possibilidades ideais, as quais dão relevo a objetividades com um novo tipo apenasse ligam, mas constituem ma íó noese com @mió noema (a duração
de conteúdo -- valores . , como aquelasque são "visadas';na consciência de vivido preenchida), o qual se ainda nos normas das noesesvinculadas.O
valorativa. No ato de aÊetividade,elassão visadasem forma a6etiva;pela atua- mesmo que vale para um vivido isolado, vale para todo o fluxo de vivido. Por
lização do teor dóxico dessesatos elas passama ser visadas em termos dóxicos
e, posteriormente, lógico-expressivos.
Toda consciênciade ato eâetuadade forma não-dóxicaé, destamaneira,
9óCf. mais adiante o capítulo final da 4' parte, pp' 303 e sega
p'te"ciül«""te ob\eüxmte, se«.",te o copitotóxico efet««,obj'tipação üt«al 9zCf. p. 239

]
e para uma Hosoâa fenomenológica Terceira seção:A meto

estranhos que em sua essência os vividos possam ser uns em relação aos ou- à esUutura da configuração noemática, se refletem nas#ormaí apoBanticasde
tros, elesse constituem, no conjunto, como #m zá /cafluxo do tempo, como l;Ü @cafãoda /( icajorma/(da lógica das proposições inteiramente voltada
membros de #m á ico tempo âenomcnológico. .u'a o noema). . .
Nós pusemos, entretanto, expressamentede lado essasíntese arque p'''A referênciaà ontologia jorna/ e à lógica já indica que se trata aqui de
típica da consciência originária do tempo(que não deve ser pensadacomo

l
uma síntese atava e discreta) junto com sua problemática.
portanto, agorade síntesesno âmbito dessaco sr/é f/a do tempo, masno
Não EHaremos. ==àãnT.=Hi=:i=;::==z:=
u;u=ü=
ser vinculados, os quais, portanto, também podem ser, por sua vez, quais-
)
âmbito do .prí»r/o zfe##Po,
do tempo fenomenológico concretamentepreen- quer unidades noéticas complexas -
d
chido ou, o que dá na mesma,de puras e simplessíntesesde x,ávido,toma-
.d

)
das como sempre as tomamos até agora, como unidades que duram, como
) eventos transcorrendo no fluxo de vivido, o qual nada mais é que o tempo $ 119. Transformaçãode atoupolitéticos em monotéticos
.d
fenomenológico preenchido. Por outro lado, tampouco discutiremos as s/n'
les&çco#fímzíai,que não deixam de ser muito importantes, como aquelas,por Antes de tudo, em iradasas espéciesde síntesesarticuladas, de aros poh-
]
exemplo, que fazem essencialmenteparte da consciênciaconstitutiva de toda téticos, é preciso atentar para o seguinte:
]

]
materialidade no espaço. Não fãtará mais tarde ocasião de conhecer mais Toda consciênciaem unidade sintética, não importam quantastesese
precisamente essassínteses.Voltemos antes nosso interesse para as í/#Zeiei síntesesparticulares possamIhe estar subordinadas, possui umEleobjeto to
se chama
a Z/c Zadai, portanto, para os modos peculiares como ates estabelecidos dis- ta], que Ihe pertence como consciênciaem unidade sintética.
cretamente se vinculam numa unidade articulada, na ordenação de um ato objeto total por oposição aos objetos que pertencem intencionalmente aos
sintético de nível mais alto. Numa síntese contínua não ÊHamosde um "ato membros sintéticos de nível inferior ou superior, uma vez que todos também
de ordem superior",ç' ao contrário a unidade (tanto noédcaquanto noemá- dão sua conuibuição no modo de filndação dele e a ele se subordinam. Toda
tica e objetiva).pertence ao mesmo nível de ordenação que o que é uni6cado. noese com delimitação própria, mesmo sendo uma camada dependente, dá
De resto, é fácil ver que muito daquilo que na seqüênciaexporemosde ma- suacontribuição para a constituição do objeto total; como, por exemplo, o
nCHageral é em igual maneiraválido para as síntesescontínuas,como para as momento do valorar, que é um momento dependente, já que está necessa-
sínteses articuladas -- .poZ/&éz
/ra ' ' riamente fundado numa consciência de coisa, constitui a camada objetiva do
Exemplos de ates sintéticos de nível mais alto nos são fornecidos, na valor. a camada da "validez". .
esferada vontade, pelo g er Czar/po-- "em vista de um outro" -- assim
como, no círculo dos atou de sentimento, o P aze rezaráa, o alegrar-se"de téticas das sínteses mais universais da consciência antes mencionadas, isto é,
g@Õ"ou, como igualmente dizemos, "pelo outro". E assimtambém todas todas as formas que provêm especialmente da consciência sintética como tal,
ocorrênciasde ato semelhantesem diferentes gênerosde ato. Todos os azraf portanto. asformas de ligação e asformas sintéticas aglutinadas aospróprios
.p7'z$rp'é#r/atambém entram manifestamente aqui. membros articulados (já que estão incluídos na síntese)-
E a um outro grupo de sínteses,grupo de certo modo universal,que Na consciênciasintética, dizíamos, constitui-se um objeto sintético to-
pretendemos submeter a uma consideração mais detida. Elc abrange as sín- tal. Neste caso,ele é, porém, "objetivo" num sentido inteiramente diferente
tesesde ca/Üafão(agrupamento), de dlgb»fão(voltada para "isto" ou pam do constituído de uma tese simples. A consciência sintética, ou o eu puro
consciência
daquilo), de axp/ir/farão, de rPZafãa,e em geral toda a série de síntesesque "nela", se dirige rm m ifor aias para o objetivo, enquanto a
!:::T"'m.:l;.Eo.m«
âo.md--t.lógi«;
..l&.dã;'i,=;1:;.=';=':EF tética simples se volta para ele #z/m raio íó. Assim, o coligir sintético é uma
tividades sintéticas nelas constituídas, e que, por outro lado, no que se refere consciência "plural", nela os membros se juntam um a um..Da mesma ma
neira, na primitiva consciênciade relação,a relaçãose constitui numa dupla
posição.EsemelhantementeemtodaParte. . . . . . - . .'.:..
98 Cf Fi/asaÚa da -Arifméf/ca, pp. 80 e passim. ' De toda constituição mu]tirradia] (politética) de obleuvidaaes slntcuc:'s
268 Idéias para um' fenomenologia pura e para uma fHosoâa fenomenológica

-- que por sua essência só podem ser trazidas à consciência sinteticameDte


-- faz parte,.por. lei eidética, a possibilidade de transformar aquilo de que
se tem consciênciapor muitos raios em algo de que setem consciênciasim.
plesmentepor um raio só, de "flor ar oZI»zl/po",#o ifKzl/doêiPeci@co, aquÜo unjversai.
que foi primeiro constituído sinteticamente num ato " mo ozlézl/co"

Assim, a coleçãosinteticamenteconstituída se torna objetiva no sentido


eminente, ela se torna objeto de uma tese dóxica por se referir retroativa- $ 120. posicionalidade e neutralidade na esferadas sínteses
mente uma tese simples àquela colação originária que acaba de ser constj-
tuída, portanto, pela ligaçãonoética própria de uma tese à síntese.Noutras
pa\antas. ü consciêwciü plural pode, por essência, ser cowpertidü numa consciên-
cia s/mg@ZaP',que dela extrai a pluralidade como m á ico objeto, como um
singular; a pluralidade pode, por suavez, ser ligada a outras pluralidadese
demais objetos, pode ser posta em relação com eles etc.
d

l A situação é manifestamente a mesma para a consciência di©#Kzf/?acons-


truída de maneira de todo análoga à consciênciade coligação, e para seus
correlatos õnticos ou noemáticos. Da mesma maneira, da consciência rr/a-
c/o#a/ a eZafãoconstituída na sínteseoriginária pode ser extraída numa tese
simples em ligação com ela, transformada em objeto no sentido eminente da
palavra e, como tal, comparada a outras relações e empregada em geral como
sujeito de predicados.
Além disso, deve-se,todavia, trazer à plena evidência que o simples ob-
jetivado e o que estáem unidade sintética são e6etivamenteo mesmo, e que
a tese ou extração ulterior nada acrescenta de âctício à consciência sintética.
mas apreendeo que por ela é dado. Sem dúvida, também é evidente que o
modo de doaçãoé por essênciadistinto.
Na lógica, essalegalidade se anuncia na /f/ da "mom/ aZ/Barão",segundo
a qual para toda proposição e toda forma parcial distinguível na proposição
corresponde um caráter nominal: à proposição mesma, digamos "S é p", a
P aPosifãa Om/ a/ Kg#f" S é,P;no lugar do sujeito de novasproposições,ao
"é p" corresponde, por exemplo, o ser-P,à forma da relação "semelhante", a
semelhança, à forma plural, a multiplicidade etc.99
Os conceitos surgidos das "nominalizações", se são pensadosexclusiva
e estritamente mediante as formas puras, constituem pa /afõeíjorma/-cafe-
.gor/ajsda /dé/a de oóyefi idade fm .gira/, e fornecem o material conceitual

99 Cf. os primeiros ensaios neste sentido nas .í»p aêgafõer Z4g/caí, ll,(quinta Investigação, iooDe resto, o conceito de síntese contém uma ambivalência pouco prejudicial, uma vez que
S 34 a 36: o $ 49 da 6' ]nvestigação e em geral, para a doutrina da síntese, a 2' seção dessa ele designa,ora o 6enâmenosintético pleno, ora o mero "caráter de ato" sintético, a tese
Investigação. mais alta do fenómeno.
k

pura e para uma filosofia fenomenológica Terceira


seçã,o:
A me!

que se refletem nas sintaxes lógicas. Jamais a neutralidade pura pode Operar
para síntesesposicionais, ela tem no mínimo de ser transformada em vesti.
pulações", em premissase conclusões hipotéticas,:'' em nominalizações esti-
puladashipoteticamente, como, por exemplo, o "Pseudo-Dionísio" e assim
por diante.

S 121. As sintaxes dóxicas na esfera da a&:tividade e da vontade

agora nos perguntamos como as sínteses desse grupo chegam a se


'1
exprimir em formas sintéticas das proposições enunciativas, as quais são sis-
.d
tematicamente desenvolvidas pela teoria das formas lógicas das proposições
a resposta está à mão. Elas são justamente, assim diremos, s/ leira dárícaí
l
ou, como também poderemos dizer, lembrando das sintaxeslógico-grama-
tlcais nas quais elassão expressas,i/#zraxfi dár/caí. Da essênciaespecíficados
fitos dóxicos fazem parte as sintaxes do "e", as formas plurais, as sintaxes do
"ou", da posição relacional de um predicado tendo por basea posição de um
sujeito etc. Que no sentido lógico "crença" e "juízo" sejam muito aparenta-
das(caso não se queira simplesmenteidentifica-los), que síntesesde crença
recebam sua 'expressão" nas formas das proposições enunciativas, ninguém
o porá em dúvida. Por mais correto que isso seja, deve-se,no entanto. ver
com clareza que a apreensão aqui indicada não compreende toda a verdade.
Essas sínteses do "e", do "ou", do "se", do "porque", do "assim", em suma.
as síntesesque se dão antes de tudo como doxas, não são de modo algum
mr amf fe dóxicas.

E um fato fündamentali02que tais síntesestambém fazem parte da essên-


cia própria das tesesnão-dóxicas, e isso no seguinte sentido.
Há indubitavelmente algo como alegria no coletivo, prazer no coleti-
vo, quererno coletivoetc. Ou, como o costumoexprimir,ao lado do "e"
dóxico (lógico), há também um "e" axiológico e prático. O mesmovale
para o "ou" e para todas assíntesescomo esta. Por exemplo: a mãe que olha
amorosamente para sua prole, abrange, num á#/co ato de amor, cada criança
individualmente e todas em conjunto. A unidade do ato coletivo de amor
nao e um amor com o acréscimode uma representaçãocoletiva, mesmo adi-

ioi Em alemão, Ansãtze (estipulações), Uazdexsnüf (premissas) e conclusões ( .Nbcóíãüe) per


:02n m à mesma íàmília do SaB(proposição). Cf. a nota do tradutor à p. 224.
i02O autor deparou com ele(já Eazagoramais de um decênio) ao '
axiologia e de uma prática formais, como análogos da lógica 6ormalltar realizar a idéia de uma
afia fenomenológica
Tel.ceira,seção:A metoiiologia e ü l?roblemáticü düfenomenologiü üwtü 2,73 l
atualidade originária que merece atenção. É algo assim como o ./Za&,como
o ponto de iniciação do querer e do agir.:'3
Não se deve, porém, confundir geral e particular. O decidir-se esponta-
neamente, o fazer voluntário e executante é um a&oentre outros atos; suas
síntesessão síntesesparticulares entre outras. Mas zpodaato, de qualquer es
pécie que seja, pode começar #êslr modo da espoKzlaf/dada d slf / /cia, .por
asl/m dZzf6 cr/apor, no qual o eu puro Eazsua entrada como sujeito da es-
l pontaneidade.
Esse modo de iniciação passa,imediatamente e por uma necessidadede
H essência, a um outro modo. Por exemplo, a apree#ião, o ato de ap samê zro

,P
perceptivo se converte de imediato e sem interrupção no "ff aí mãosa
apreendido"
q
J IJma nova alteraçãomodal intervém se a teseâoi mero passopara uma
]

síntese, se o eu puro e6etua um novo passo, e se ele, em integral unidade da


7
consciência sintética, "azeda" co fi aa ma zle#do"freio o há pouco apre
endido: apreendendoo novo objeto temático, ou melhor, apreendendoum
novo componente do tema total como tema primário, mas mantendo ainda
o componente antes apreendido como pertencente ao mesmo tema total.
Por exemplo, ao coligir eu não abro mão daquilo que 6oi há pouco apreen'
dido perceptivamente,se volto o olhar para a apreensãodo novo objeto. Ao
e6etuaruma demonstração, eu percorro passo a passo as idéias das premis-
sas;não abandono nenhum passosintético, o que obtive não me escapadas
mãos, mas o modo de atuahdade se alterou essencialmente com a efetuação
da nova atualidade temática originária.
S 122. Modos de efetuação das síntesesarticuladas. O "tema« Por certo. ramóém se trata aí de obscurecimentos, mas de modo algum
ape as deles.Em comparaçãocom as diferençasde clarezae obscuridade,as
diferenças que vimos tentando descrever apresentam uma dimensão inteira-
mente nova, embora ambas asdiferenças estejam intimamente entrelaçadas.
Notamos ainda que as novas diferenças,não menos que a de clareza e
que todas as demaisdiferenças intencionais, estão sob a lei da correlação en-
tre noese e noema. Mais uma vez, portanto, a cadatipo de modificação noé
tida de atualidade aqui em questão corresponde uma modificação noemática.
Ou seja, o modo de doação daquilo que, nas variações da tese ou nos passos

iosPonto de iniciação: em alemão, .Ei#iatzpz/#&f. H]usser] emprega agora -Ei#iazz, também da


mesma família lexical de Safa (proposição) e Srfzwng (posição). EinsaZzpw#Éfé o momento
inicial não como simples ponto de partida, pois supõe uma ação, uma iniciativa. Um bom
exemplo para entender o termo é o momento de "ataque", de "entrada" de um instrumento
numa obra musical. (NT)
Terceira seção:A metodohgin e n,probLemiíticüdnfenomenologiü pwrü 27S
de apresamentoa respectivaobjetividade noemática. Pode-seiniciar então
um novo processo, a rememoração confusa se converte em rememoração
di#/#la e clara:passoa passonos lembramos do andamento da demonstra-
ção,produzimos"de novo" astesesda prova,percorremos"de novo" os
estágiosda conversade ontem etc. Naturalmente, tal reprodução no modo
)
da rememoração, da reprodução das produções originárias "anteriores", não
é essencial. SÓ temos, por exemplo, uma copa idéia teórica para a execução
de uma teoria complicada primeiro de maneira unida e confusa, e então nós
a desenvolvemos em passos e6etuados por nossa livre atividade e a transfor-
mamos em atualidadessintéticas. Tudo o que foi indicado pode, obviamente,
411
ser referido de igual maneira a todas asespéciesde ato.
Essa importante diferença entre co/llHwiãoe d/#/wfão desempenha um
papel relevante na fenomenologia das "expressões", das representaçõesex-
pressivas,dos juízos, dos atou a6etivosetc., a ser tratada mais adiante. Pense
se apenas no modo como costumamos apreender as já bastante complicadas
construções sintéticas que constituem o "conteúdo de pensamento" de nos-
sasleituras, e pondere-se, em comparaçãocom a dita camada de pensamento
subjacente às expressões, o quanto é trazido à atualização originária eeetiva
na compreensão daquilo que se lê.

S 124. A camada noético-noemática do "logos"


Signiâcar e signiâcação

A todos os atou até agora consideradosse entrelaçamas camadasde


ato expressivas,"lógicas" no sentido específico, nos quais o paralelismo de
noese e noema não deve se tornar menos manifesto. A ambigüidade geral
Conflisão e(üstinção como modos e inevitável do linguajar, que é condicionada por esseparalelismo e se mos
de efetuação de atou sintéticos tra atuante onde quer que tais relaçõessejam formuladas lingüisticamente,
também ocorre naturalmente quando se EHade expressãoe significação.A
ambigüidade só é perigosa enquanto não é reconhecida como tal ou enquan-
to as estruturas paralelas não forem separadas. Mas se isso ocorre, então só
devemos nos preocupar com que a cadavez permaneça fora de dúvida a qual
das estruturas a fHa deve se referir.
Começamospela conhecida distinção entre o lado sensível,corpóreo,
por assimdizer, da expressãoe seulado não-sensível,"espiritual". Não pre-
cisamosentrar em discussãomais detida do primeiro; tampouco no modo de
unificação de ambos os lados. Com eles, obviamente, também se designam
problemas Êenomenológicos que não são sem importância.
para uma âlosofia fenomenológica Terceira seçã,o:A meta

Voltamos nosso olhar exclusivamentepara "significar" e "significação»


Essas palavras se referiam originalmente apenas à esfera lingüística, a da "ex.
pressão". Mas é quaseinevitável, e ao mesmo tempo um passoimportante no
conhecimento, amplia a signiâcação dessaspalavrase modi6cá-la adequada-
mente, pelo que de certo modo ela pode ser aplicada a toda a esferanoético.
noemática: pode, portanto, ser aplacadaa todos os atou, quer estesestejam
entrelaçadoscom ates expressivos,quer não.i04Assim, também continuamos
a fiar de "sentido" -- palavraque, no entanto, é em geral empregadacom
o mesmovalor que "significação" -- em todas os vividos intencionais. Para
melhor distinção, vamos preferir a palavra iÜ# /trarão para o conceito antigo
e, em particular, na locução complexa "sêg# #cafio Z(b/ca" ou "Jtg#{/2cnfãa
3XP7eSS%VÜ" . ' ' '

Para começarcom um exemplo, digamos que há um objeto na percep-


}

ção, com um sentido determinado, posto monoteticamente em plenitude


determinada. E6etuamos,como normalmente costuma ocorrer sem di6cul-
dade na primeira apreensãoperceptivasimples, uma explicitaçãodo dado e
pomos todas as partes e momentos destacadosem re6erimentoa um único
aspecto: por exemplo, .segundo o esquema "isto é branco". Esse processo em erroblemas extraordinariamente difíceis se ligam às designações "signi-
não requer o mínimo de "expressão", nem expressãono sentido da verbali-
zaçaoda palavra, nem no do signiâcado da palavra, o qual aqui também pode
existir independentemente da verbalização (como se estafosse "esquecida';).
Se, no entanto, pr#samorou ê z/ ciamoí: "Isto é branco", então também há
a nova camada,uniâcada ao "visado como tal" de forma puramente
perceptiva..Tudo o que se recorda, tudo o que se imagina como td também
é explicável e exprimível dessamaneira. Tudo o que "se visou como tal".
todo visado no sentido noemático (e justamente como núcleo noemático),
com os não-ex-
de um ato qualquer é rxpr/mire/ med/a &r aJÜ#{/irafõei".Estipulamo$ pois, do "expresso", como os vividos expressivos se relacionam

Ei:i:tÜ :
. .,. 1+:. n-. a
emgeral: ' ' ' ' ''
Stgni$cüção l4gicü é umü ncPressão.
SÓ se pode dizer que verbalização é expressão, porque a significação a
:s'KT$4EH
ela pertencente exprime; o exprimir estáoriginariamente nela c( ntido "Ex-
pressão"é uma forma que mereceser notada, que pode se ajustar a todo e
q«dq"'. "se«tido' ('o. "núcleo" noemático) e dçá.-lo 'o "i«o do "amor'
doca rr/lwa/e,assim,do'errar'. ' ' "' '

i05Como se vê pelo segundovolume das l»Pe ÜafõeJl,(bicas, no qual elas constituem um

HH
1%::lEBÜ i:En :: !:.='''aw'::u são naquela obra.
f

áticüd fewomenohgiüpura
279
S 125. As modalidades de efetuação na esfera
lógico-expressiva e o método da clarificação

Para a clariâcação das dificuldades apontadas é preciso levar manifesta


mente em particular consideração as diferenças acima tratadas:" dos modos
J de atualidade: as modalidades da e6etuaçãodo ato, que concernem a todas as
/'

tesese síntesese, portanto, também às teses e sínteses expressas.Isto, porém,


de dwp/a maneira. De um lado, elas dizem respeito à camada de significação,
à camada especiâcamente lógica; de outro, às camadas inferiores fündantes.
Quando estamos lendo, podemos e6etuar, articuladamente e em livre
atividade, qualquer significação e, além disso, ligar sinteticamente, da manei-
ra prescrita, significações a significações. .4o l:HrzP@a suei az oí de sÜ /Zrafão mo
Modo úe produção própria, obtemos lota distinção nü compreensão "Lqgicü"
Essadistinção pode se converter em confissões de todos aqueles modos
acima descritos: a proposição que se acaba de ler mergulha em obscuridade.
perde sua articulação viva, cessade ser "tema", de estar "ainda mantida na
apreensão"
Essa distinção e confissão devem, porém, ser separadas daquelas que
concernem às camadasinferiores expressas.A compreensão distinta de uma
palavra e de uma proposição (ou uma eâetuaçãodistinta, articulada dos fitos
de enunciação) se concilia com a ro#dHiãodaí camadas i óyhcê#zles. Essacon-
fusão não quer dizer meramente efta de clareza, embora zlam&émqueria
dizer isso. A camadainferior pode ser uma unidade confiisa (e na maior parte
das vezes o é), que não traz atualmente em si mesma a sua articulação, mas
a deve a seu mero ajuste à camada da expressão ]ógica, a qual é e6etivamente
articulada e e6etuadaem atualidade originária.
O signiâcado metodológico disso é altamente importante. É assim que
atentamos para o fato de que nossas discussões anteriores sobre o mézlodo
da cZa /2cafãoi08
carecemde complementosessenciais
no quc serefereao
enunciado, que é o elemento vital da ciência. É fácil designar o que Catapara
passardo pensamento confuso ao conhecimento propriamente dito e com-
pletamente explícito, para a e6etuaçãodistinta e ao mesmo tempo clara dos
fitos de pensar: antes de mais nada, enquanto ainda estiverem e6etuadosno
modo da confusão, todos os alias " /(Ü/coí" (os atos de significação) precisam
ser convertidos ao modo da atuahdade espontânea originária, sendo, pois,

i07 Cf. acima $ 122, pp. 272 e sega.


i08Cf. $ 67, p. 148.
280 Idéias para uma fenomenologia pura e

necessárioinstaurar plena dista fãa Z(Ü/ca.Mas então é preciso operar algo

mosuem
na camadainferior, é que -- caso incompatibilidades que nela se
anteriormente
não tornem todo trabalho ulterior supérfluo -- o método
descrito entra em ação; além disso, é preciso levar em conta que o conceito
/

/
de intuição, da consciência clara de atou monotéticos, se transfere para os
atos sintéticos. . , ,
J De resto, como mostra uma análise mais aprofundada, isso depende. de
P
)
uma rspécüde fpidé cia que deve ser alcançadacasoa caso,ou da camadaà
qual se aplica. Todas as evidências referentes a relações./agicaiParai, a nexos
P
eidéticos das iÜ»i@cafõesnoemáticas -- aquelas evidências, portanto, que
)
obtemos pelas leis fiindamentais da lógica formal -- requerem Justamenteo
)

3
dado dassignificações,a saber,o dado dasproposiçõesque exprimem as for-
mas prescritas pela lei de significação em que:hão. A dependência das signiâ-
caçõesimplica que a exemplificação das configurações lógicas das essências,
que proporciona a evidênciada lei, também implica diferenças,e diferenças
que recebem expressão lógica: tais camadas i#dP jo es »ão prefisín# camzr#do,
sert«Lidas à .Lür.«, s. w trata de ««ü 'vid,ênciül®icü P%«ü.
Ê«»moer..
cação correspondente, isso vale para todos os conhecimentos "anaHticos" incompleta.'"
lógico-aplicados.

S 127. Expressãodos juízos e expressãodos normas afedvos


S 126. Completude e generalidade da expressão

Deve-se destacar, além disso, a diferença entre expressão cama/ela e {»-


como/fila.:09
A unidade do que exprime e do que é expressono fenómeno é,
certo, unidade que tem certa coincidência, masa camadasupfnor não
precisa se estender expressivamente sobre toda a camada inferior. A expressão
é completa, se marca, em termos de conceito e significação,todas asformas
sintéticas e materiais da camada inferior; ela é incompleta, se só o Cazparcial-
mente: como quando, em vista de um evento complexo, por exemplo,.a che
ganiade um carro que traz os convidados longamente esperados,gritámos
para os que estãoem casa:"0 carros Os convidados!" -- Obüamente, essa
diferença de completude se encontra com a da clareza e distinção relativas.

no Cf. $ 5, e pp. 296 a 307


l09Cf. Inpe# gafõefL(tirai, volume 11,(quarta Investigação,S$ 6 e sega.
ticadafenomenohyiü pura 283
S ser p" Pois todo exprimir é, no sentido da apreensãoposta em seu fun-
damento, um ato dóxico no sentido corte, isto é, uma certezade crença.iii
Ele só pode, portanto, exprimir certezas (por exemplo, certezasde desejo,
certezasde vontade). Em casoscomo este, a expressão só pode operar com
fidelidade de maneira indireta, por exemplo, na forma: "Talvez S possaser
p". Assim que surjam modalidades, deve-se recorrer às teses dóxicas nelas
contidas de maneira oculta, por assim dizer, nas matérias téticas modificadas.
casose queira obter uma expressão a mais ajustada possível.
Se aceitamos essa apreensão como correta, então seria preciso ainda
acrescentar:
Sempre hâ. diversaspossibilidadesde nçPtessões indiretüs com " desv\og''
Da essênciade toda objetividade, não importa por que fitos de fimdação sim-
ples ou múltipla e sintética seja constituída, fazem parte várias possibilidades
de explicação a ela referente; portanto, a todo ato, por exemplo, a um ato de
desejo, podem se ligar diversos atou a ele referidos, a sua objetividade noe
mática, a todo o seu noema, podem se ligar encadeamentosde tesesacerca
do sujeito, tesesacercado predicado estabelecidassobre aquelasúltimas, nas
quais o visado como desejo no ato originário é desenvolvido e expressode
forma correspondente.A expressãonão é então ajustadaao 6enâmenoorigi-
nado. mas direta,mente üo fenómeno predicütipo de\e deripüüo.
Além disso, deve-se sempre notar que síntese l xp//razr/Paou a a/iízl/ra
(juízo a#Zrei da expressão conceitual-signiâcativa), enunciado ou Jw&o #a
sr#f/do óa&/zla/ e, finalmente, dona(Z'r//eg são coisasque devem ser bem
separadas.Aquilo que se chama de "teoria do juízo" é algo terrivelmente
equívoco. Clarificação eidética da idéia de coxa não é a mesma coisa que
clarificação dos enunciados ou das explicações.ii2

in Não se pode dizer que um exprimir expdmf um ato dóxico, se por expríinir se entende,
como fazemos sem exceção aqui, o própria signiâcar. Se, porém, o termo exprimir é referido
à verbalização, então sepoderia muito bem fHm de maneira problemática, mas o sentido seria
completamente modiâcado.
i]2 Sobre todo este parágrafo, cf. o capítulo final da Sexta Investigação, Impr Ü fõeí Z{ÜÍcaj,
]l. Vê-seque nesteínterim o autor não.permaneceuno mesmo ponto e que, apesardo muito
de controverso e de pouco amadurecido que havia ali, aquelasanálisesse movem na boa di-
reção. Elas coram por diversas vezes contestadas, sem que, no entanto, se entrasse realmente
nos novos motivos de pensamento e nas novas apreensõesdo problema que haviam sido
buscados ah.
Quinta seção
l
Razão e efetividade

Capítulo l

O sentido noemático e a referência ao objeto

$ 128.Introdução

as formações de gênero e espécie.


It fenomenológica
21 z.g 287
$ 129. "Conteúdo" e "objeto": o conteúdo como "sentido"

Nas nossasanálisesaté agora, uma estrutura noemática universal desem


penhora papel constante, sendo ela marcada por isto, que certo "#úc/ra" #of-
áf/ro se separados "ca adere?' mutáveis a ele pertencentes, com os quais a
concreçãonoemática aparecetragada no fluxo das modificações de diferentes
espécies.Esse núcleo ainda não chegou a ser legitimado cientificamente. Ele
sedestacou em sua unidade e, nesta medida, em sua clareza para a intuição,
F
F de modo que podíamosnos referir em geral a ele. É tempo agora de consi-
dera-lo mais de perto e de situa-lo no centro da análise fenomenológica. Tão
logo isso se Faça,emergirão diferenças universalmente significativas perpas'
sandotodos os gênerosde ato, e que servirão de guia para grandesgrupos
de investigação.
B
Comecemos pela equivocidade comumente encontrada na expressão
"conteúdo de consciência". Por conteúdo entendemos o "sentido", do qual
dizemos que, nele ou por meio dele, a consciênciase refere a um objeto com
sendo "seu". Nossa discussão terá, por assim dizer, como titulo e como meta
aproposiçao:
Todo norma tem um "ca relido", isto é, seu "sentido", e se refere, por
meio dele, a "seu" o&yrzo.
Em temposrecentes,tem-secom frequênciaouvido elogiar, como um
grande progresso, que agora finalmente se tenha chegado à distinção fun-
damental entre ato, conteúdo e objeto. Essastrês palavras,assimreunidas,
acabaramsetornando adágio, em particular desdeo belo tratado de Twardo-
wski.ii4 Não obstante o grande e indubitável mérito que esseautor teve em
discutir com percuciência certas confissões comuns e em evidenciar os erros,
é preciso dizer que, na clariâcação das essênciasconceituais aqui em questão,
ele (o que não deve ser tomado como uma censura) não 6oi consideravel-
mente além daquilo que era muito bem conhecido dos 61óso6osdas gerações
anteriores (a despeito de suas confissões imprudentes). Um progresso radi-
cal não era absolutamente possível antes de uma fenomenologia sistemática
da consciência. Se não forem 6enomenologicamente clarificados, conceitos
como "ato", "conteúdo", "objeto" das "representações" nos serão de pouca
valia. Quanta coisa não pode ser chamada de ato e, sobretudo, de conteúdo
de uma representaçãoe mesmo de representação?E preciso, no entanto, co
nhecer cientificamente aquilo que pode receber tal denominação.

u4K Twardowski, Para a da f ia do fo frúdo e oé la dai epreíe fafõÉI.Viena, 1894


l:Hrl/?/dado 289
então notaremos que, ao falar de referência (e especialmente de "direciona-
mento") da consciência ao seu objeto, somos remetidos ao momento mala
l»fr o do noema. Este não é o próprio núcleo há pouco assinalado,mas
algo que constitui, por assimdizer, o ponto central necessáriodo núcleo e
opera.c.omo "suport.e" para as propriedades noemáticas que Ihe pertencem
)

especialmente, isto é, para as propriedades noemáticas modiâcadas do "vi-


sado enquanto tal"
?

Tão logo adentremos mais precisamente nisso, nós nos compenetrare


mos de que, de bato, a diferença entre "conteúdo" e "objeto" não deve
ser observada apenas em relação à "consciência", ao vivido intencional. mas
também em relação ao poema ramada m í/ mesmo.Pois também o norma se
refere a um objeto e possui um "conteúdo", por intermédio" do qual ele se
refereao objeto, pelo que o objeto é o mesmo que o da noese;e é assimnuc
o "paralelismo" mais uma vez integralmente se conhma.

S 130. ])elimitação da essência "sentido noemático"


l
Aproximemo-nos um pouco mais dessasestruturas dignas de nota. Sim-
pliâcaremos nossareflexão deixando de lado as modificações da atenção; res-
tringir-nos-emos, além disso, aos atos posicionais em cujas tesesvivemos ou.
dependendo da seqüênciade níveis da fundação, viveremos, sobretudo. ora
numa, ora noutra das teses parciais, enquanto as demais estarão eâetuadas.
mas numa função secundária. (2ue a validez geral de nossasanálises não se-
lerá o mínimo com tais simpliâcações, isso se tornará depois patente sem
dificuldadeITrata-se para nós precisamente de uma essênciaque é insensível
a tais modificações.
Se, portanto, nós nos colocamos num cag/fo vivo, ele por sua essência
possuirá, no sentido eminente, "direção" a uma objetividade. Noutras pala-
vras, de seu noema eazparte uma "objetividade" - entre aspas -- com uma
certa composição noemática, deslindada numa descrição de delimitação pre
asa, a saber,numa tal que, e g a#zlodêsf irão da aoZI»ZFo ?irado, &z/como Zf
é Pisado': m/ía radar aí exP essõrJ''fwóykf/?a?'. Nela se empregam expressões
formal-ontológicas, tais como "objeto", "propriedade", "estado-de-coisas":
expressõesmaterial-ontológicas como "coisa", "figura", "causa"; determina-
ções de coisa como "áspero", "duro", "colorido" -- todas elas conservando
suasaspase, portanto, o seu sentido noemático modiâcado. Na descrição
desse objeto visado como tal devem, ao contrário, ser exc/ ÍZai expressoes
como "para a percepção", "na recordação", "intuitivamente claro", «pelo

J
para uma filosofia fenomenológica

pensar", "dado" que pertencem a uma outra dimensão de descrições,não


ao objeto gwr é trazido à consciência, mas à ma e/ a comoele é trazido. Na
aparição de um objeto-coisa, ao contrário, serianovamente cabível dizer, no
âmbito da descriçãoem questão: de "dente", ele tem tal e tal dezlermiafãs
de cor, forma etc., pelo lado de trás, ele possui "uma" cor, porém "#ão de..
fe m/ ada fom maZTP feijão", em tais ou quais aspectos permanece em geral
"/#dflrrm/ ado" se ele é de uma maneiraou de outra.
Isso não vale apenas para objetos naturais, mas de modo inteiramente
r geral, por exemplo, para objetividades de valor; da descrição destas Eazparte a
F descrição da "coisa" visada e, além disso, a indicação dos predicados do "va-
P lor", tal como quando dizemos, de uma árvore que aparece,que ela, «no sen.
tido" de nossavisada valorativa, está coberta de flores que exalam um cheiro
"magníâco". Os predicados de valor, além disso, também têm suasaspas,eles
não são predicados de um valor puro e simples, mas de um noema de valor.
n Assim, fm irado arma se delimita manifestamente wm co fezídointeira-
l mente .p7'friso.Toda consciênciatem o seu "o goza',e tudo o que é visado
possui "sua" objetividade; é evidente que, a cada consciência, temos em prin-
cípio de poder e6etuaruma tal descrição noemática dele, "exatamente como
ele é visado"; pela explicação e apreensão conceitual obtemos um conjunto
fechado de .pred/fadosformais ou materiais, de .pred/fadosde coisa determi-
nados ou até "indeterminados" ("visados no vazio"),::5 e estes, em sua íÜ#i-
.Pcafãomod /Zí;ada,determinam o "co/zzeádo"do núcleo objetivo do norma
aqui em discussão.

$ 131. O "objeto", o "X determinável no sentido noemático"

Os predicados são, porém, predicados de "aÜo", e este "algo" também


pertence, e de maneira manifestamenteinseparável,ao núcleo em questão:
eleé o ponto central de unidade que eHamosacima. Ele é o ponto de uniâ-
cação ou "suporte" dos predicados, mas de maneira alguma a unidade deles
no sentido em que algum complexo, alguma ligação de predicadospoderia
ser chamada de unidade. Ele tem necessariamentede ser diferenciado destes.
embora não colocado ao lado ou separado deles, da mesma maneira que,
inversamente,eles mesmos são sewipredicados:impensáveissem ele e, to-

ii5 Essevazio da indetemiinação não deve ser confundido com o vazio da intuição, com o
vazio da representação obscura. ' ' latinismo Oél/rkt,amoos igni6ctradulao tenta (diferenciaro termo vernáculo GeZeH#a#de o
?ofia fenomenológica Qyüvtü seç

consciênciacomo o mesmo algo ou como sendo, sem nenhuma discorclân

$ 132. O núcleo como sentido no modo de sua plenitude

O sentido, tal como o determinamos, não é uma rsié cia co creia no todo
do norma, mas uma espéciede jorna abstrataa ele intrínseca.Ou seja,se
detectamoso sentido e, portanto, o "visado" exatamente com o conteúdo
de determinação no qual ele é visado, então resulta claramente um sgwwdo
conceito do "objeto no seu como" -- #o como de Jfwí modos d Zoafão. Se,
além disso, abstraímos das modiâcações da atenção, de todas as diferenças na
maneimde ser dos modos de eeetuação-- sempre ainda na esferaprivilegiada
da posicionalidade--, então entram em consideração diferenças.daplenitude
de clmeza, que são bastante determinantes no plano do conhecimento. Algo
de que se tem consciênciaobscuracomo tal e o mesmo algo em consciência
clara são bastante distintos no que diz respeito a suas concreções noemâticas,
tanto quanto o sãoos vividos inteiros. Nada impede, todavia, que o conteúdo
de determinação com que se visa o conscientizado de forma obscura seja abso-
lutamente idêntico àquilo de que setem clara consciência.As descriçõesseriam
coincidentes, e uma consciência sintética de uniâcação poderia abranger de tal
modo as duas, que se trataria e6etivamente do mesmo visado. Consideraremos,
pois, como #úcZeoPZeo justamente a plena concreção do componente noemâ-
tico em questão,portanto, o ieKfido o mododr J apõe jf#de.

A proposição noemática.
Proposições téticas e sintéticas.
Proposições no âmbito das representações

Seria preciso agora uma implementação cuidadosa dessasdistinções em


todos os domínios de ato, e também uma consideraçãocomplementar dos
mom ai zléf/cos que têm particular referênciaao sentido. Nas l#pe ÜafõêS

i:' Cf. $ 1 17, p. 261

B
294 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma Hosofia fenomenológica

Hg/cas, eles coram de antemão considerados(sob a designaçãode quali-


dade) no conceito de sentido (da "essência significativa"), distinguindo-se.
com isso, nessaunidade, os dois componentes "matéria" (sentido na atual
acepção) e "quantidade".i:* Parece, todavia, mais adequado definir o termo
"sentido" como correspondendo meramente àquela "matéi.ia" e, por sua
vez, a unidade de sentido e caráter tético como propor/fão.Temos a partir
daí ]Prapas/feri de um só membro (como nas percepções e demais intuições
téticas) e de mais de um membro, provas/fõêisi zléf/cas,como as proposições
dóxicas predicativas (juízos), proposições de conjectura, com matéria predi-
F cativa articulada etc. Proposições de um só ou mais membros são, além disso)
P as /propaí/fõeídf p azr% de dêsdo, de coma do etc. Com isso, certamente, o
conceito de proposição se amplia de uma maneira extraordinária e talvez até
[
[

surpreendente, sem deixar, contudo, o âmbito de uma importante unidade


+

eidética. Não se pode perder de vista que, para nós, os conceitos sentido e
3 proposição nada contêm de expressãoe de significação conceitual, embora,
b
r por outro lado, abranjam todas as proposições expressivas ou significações
proposicionas.
Segundo nossasanálises,essesconceitos designam uma camada abstrata
pertencente ao tecido inteiro de todos os noemas. Será de grande alcance
134. Doutrina das formas apoeânticas
para nosso conhecimento se explorarmos essacamada na abrangência uni-
versalde suageneralidadee virmos, portanto, com clarezaque ela tem efeti-
vamente suasede em fadas ar êÓr ai de alo. Os conceitos de sentido e propo-
sição, que pertencem inseparavelmenteao conceito de objeto, também tem
sua aplicação necessárianas puras e simples /#z: ifões, sendo preciso cunhar
necessariamente os conceitos particulares ie z:/do / l /f/po e p opas/fão /#-
f /f/?a. Assim, por exemplo, no domínio da percepção externa, fazendo
abstração do caráter perceptivo, pode-se destacarintuitivamente no "objeto
percebido como tal" algo que se encontra nessenoema antes mesmo de
todo pensarexplicitante e conceitual, o sentido do objeto, o seKz:Zdode coisa
d ssaprrcêPfãa,que difere de uma percepçãoa outra(mesmo com respeito
à "mesma" coisa). Se tomamos esse sentido plenamente, em sua PZe if df
intuitiva, resulta então um conceito preciso e bastante importante de apor/-
fão. A essesentido correspondem proposições, proposições intuitivas, pro-
posições representativas,proposições perceptivas etc. Numa fenomenologia

' '' Op. cit., Quinta Investigação, $ 20 e 21, pp. 386-396. Cf. ademais Sexta Investigação,
S 15, p. 559. Diferentemente destaspassagens,o "tanto faz" neutro já não vale agora para
nós como uma "qualidade"(tese) ao lado de outras quaHdades,mas como modiâcação que
"espelha" todas as qualidades e, com isso, todos os ates em geral.
296 Idéias para uma fenomenologia pura e par

dos sentidos concebida como idéia, e seu lugar de origem, a fenomenologia ran' multiplamente determinada, em parte pelas formas propriamente sin-
noemática. téticas, em parte pelas modalidades dóxicas. Neste caso, da proposição total
Consideremos isso mais de perto. semprecontinua fazendo parte uma tesetotal, incluindo-se nestauma tese
As operaçõesanalítico-sintáticas, dizíamos, são operações possíveispara dóxica. Ao mesmo tempo, pela explicação do sentido e pela predicação, que
todos os sentidos possíveis, isto é, proposições cujo conteúdo de determi- transformaa característicamodal num predicado, toda proposiçãocomo esta
nação pode estar "não explicitamente" abrangido pelo sentido noemático e toda "expressão" conceitual diretamente ajustada a ela podem .ser conver-
(que nada mais é que o objeto "visado" como tal e no como respectivode tidas numa proposiçãode enunciado, num juízo soõrza modalidadede um
seuconteúdo de determinação).Tal conteúdo, no entanto, semprepode ser conteúdo de tal ou tal forma (por exemplo, "é certo, é possível, é verossímil
explicitado, e podem ser efetuadas quaisquer das operações essencialmente que S é p").
conectadascom a explicação ("análise"). As formas sintéticas assim surgi- O que ocorre com as modalidades de juízo, também ocorre com as z:esrs
das (em consonância com as "sintaxes" gramaticais também as chamamos fw#dadaJ, isto é, com os sentidos e proposições da r$rra da al#Ef dado ê da
de formas sintáticas) são formas de todo determinadas,pertencentesa um po fada, com suas sínteses especíâcas e correspondentes modos de expressão.

rigoroso sistema formal, e podem ser extraídas por abstração e âxadas em ex- Indica-se facilmente então a meta das novas doutrinas das formas das propo'
pressãoconceptual.Assim, por exemplo, o percebido enquanto tal numa tese sições e especialmente das proposições sintéticas. . .
de percepçãopura pode ser tratado de maneira analítica por nós tal como nas Ao mesmo tempo se ve g e a m07:Ho/og/a
dc fadas alp opoiifõei se reflete
»wmn morfol,oyiü düs proposiçõesdóscicüsüáequobdümente amplia,dü
expressões:"Isso é preto, é um tinteiro, essetinteiro preto não é branco, se
é branco não é preto" etc. A cada passotemos um novo sentido, em vez da mesmamaneira que fizemos nas modalidadesdo ser, também incluímos as
modalidades do dever-ser(caso seja lícito fiar analogicamente) na matéria
proposição inicial de um só membro, temos uma proposição sintética que
pode ser trazida à expressão,vale dizer, ao enunciado predicativo segundo do juízo. Para entender o que signiâca tal inclusão, não é preciso longa dis-
a lei da possibilidade'de expressão de todas as teses dóxicas originárias: No cussão,mas, no máximo, ilustração em exemplos. em vez de dizermos "possa
interior das proposições articuladas, cada membro tem sua forma sintática, S ser p", diremos: "que S é p, possa isso ser", é desejável (não desejado); em
vez de 'S deve ser p", diremos "que S é p, isso deve ser", é um dever etc.
que procede da sínteseanaHtica.
Admitamos que as posições inerentes a essasformas de sentido sejam A própria fenomenologia não vê como tarefa sua o desenvolvimento sis-
temático dessasmorfologias, nas quais, como se pode aprender na douuina
posiçõesdóxicas originárias: surgirão então diferentes formas de juízos no
sentido lógico(proposições apoBanticas).A meta de determinar todas essas das bermas apo6anticas, as possibilidades sistemáticas de todas as conâgura-
formas a priori, de dominar em completude sistemática as configurações de ções posteriores são dedutivamente derivadas de conâgurações axiomáticas
formas, que são de uma diversidade infinita e, no entanto, cucunscntas por fimdamentais primitivas; o seu campo é a análise do a priori atestávelem
leis, indica para nós a ideia df z ma m07:Ho/og a daJ .praPOIZfÕêJ ou Si ZaxêJ intuição /mrdiafa, a fixaçãode essênciase nexos de essênciaimediatamente
ewdentes e o conhecimento descritivo deles numa vinculação sistemática de
üpofâ,nuca,s.
todas as camadasna consciênciatranscendental pura. O que o lógico teórico,
As posições, em particular a posição sintética total, também podem, no
entanto, ser moda/idadesdóxícai: por exemplo, nós conjeturamos e expli- em virtude do direcionamento unilateral de seu interesse,isola na doutrina
citamosaquilo de que setem consciênciano modo "conjeturado"; ou ele formal da significaçãocomo sendo algo por si, sem consideraçãoe entendi-
mento dos nexos noemáticos e noéticos nos quais ele se encontra 6enome-
estáaí como algo problemático, e na consciênciade problematicidade nós
explicitamos o problemático etc. Se damos expressãoaos correlatos noemá- nologicamente entremeado --, é tomado pelo fenomenólogo em seu nexo
ticos dessas modalidades ("S poderia ser p", "É S p?" e assim por diante) e pleno. Sua grande tarefa é persegue os entrelaçamentos fenomenológicos de
se também fazemos o mesmo para o próprio juízo predicativo simples, assim
como também exprimimos afirmaçãoe negação(por exemplo, "S não é p",
"S é, iim, p", "S é certamente, e6etivamente p") --, r#fãa fom lisa ir a##p//a a i19No sentido dos desenvolvimentos feitos acima, no $ 127, pp. 281 e segs,e também S
co ceifa deforma e a idéia da morfologia das proposições- A forma está ago- 105 e seis., pp 238 e segs.
298 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma âlosofia fenomenológica

essências em odaí aii ar direfõês. Mostrar de maneira axiomática simples unn


conceito lógico fiindamental se torna, cada vez, um item para investigações
fenomenológicas.Mesmo aquilo que ali se constata simplesmente,na mais
ampla generalidade lógica, como "proposição" (proposição de juízo), como
proposiçãocategóricaou hipotética, como determinaçãoauibutiva, adjetivo
ou relativo nominalizado etc., resulta em difíceis e abrangentesgrupos de
problemas da fenomenologia pura, tão logo é reinserido nos nexos eidéticos
noemáticoscorrespondentes,de onde o olhar teorizante o retirou .

S 135. Objeto e consciência.


Passagempara a fenomenologia da razão

Assim como todo vivido intencional possui um noema e, nele, um sentido


por meio do qual serefere ao objeto, assimtambém, inversamente,tudo o que
chamamosde aZp»fo,do qual fHamos, que temos ante os olhos como eâetivi-
dade, que consideramos possível ou verossímil, que concebemos de maneira
indeterminada, é já por isso mesmo objeto da consciência; e isso signiâca que
o que quer que possaser e se chamarmundo e eâetividadeem geral, tem de
ser representado no âmbito da consciência eâetivae possível mediante sentidos
ou proposições correspondentes,preenchidos com mais ou menos conteúdo
intuitivo. Se, por isso, a 6enomenologta eâetua "exclusões de circuito", se, como
6cnomenologia transcendental, ela põe entre parêntesestoda posição anual de
realidade e e6etua as demais parentetizações que antes descrevemos, entende-
mos agora, desde um filndamento mais profundo, o sentido e a correção da tese
anterior, segundo a qual todo 6enomenologicamente excluído entra, com certa
modiâcação do sinal, no âmbito da 6enomenologta.i:o A saber, as eâetividades
reais e ideais excluídas de circuito são representadasna esperaâenomenológtca
pelas multiplicidades totais de sentidos e proposições a elas correspondentes.
Por exemplo, cada coisa efetiva da natureza é representadapor todos os
sentidos e proposições variavelmente preenchidas, nas quais ela, enquanto
6or e continuar sendo determinada de tal ou tal maneira. é o correlato de vivi-
dos intencionais possíveis; ela é, portanto, representadapelasmultiphcidades
de "núcleos plenos" ou, o que aqui signiâcao mesmo, de todos os possíveis
"modos de apariçãosubjetivos", nos quais ela pode ser constituída norma
ticamente como algo idêntico. Essaconstituição, entretanto, se refere pri-

]zoCf. S 76, p. 165


pura e para uma 61osoâafenomenológica Qwarr'l ifl
pela ontologia formal e pela doutrina dascategoriaisque a ela vem se juntar
-- pela doutrina da divisão das regiões do ser e de suas categorias, bem 'colho
da doutrina da constituição de antologias materiais a elasadequadas-- são
Itens capitais para mvestigaçõesâenomenológicas. A eles correspondem ne
cessariamentenexos eidéticos noético-noemáticos que podem ser descritos
sistematicamente e determinados segundo sua possibilidade e necessidade
Serefletirmos mais precisamente sobre o que dizem ou tinham de dizer
os nexos eidéticos entre objeto e consciência assinaladosna discussão an.
tenor, seremossensíveisa uma dubiedade e, ao examina-la, observaremos algum sentido forte. Problemas envolvendo e6etividadese encontram em
que estamosdiante de um importante ponto de inflexão em nossasinvesti- mb""os conhecimentoscomo tais, inclusiveem nossosconhecimentos6e
gações.Nós subordinamos a um objeto multiplicidades de "proposições"
isto é, de vividos de certo conteúdo noemático, e de tal modo que sínteses
de identiâcação se tornam a priori possíveisgraças a ele, síntesesem virtude
das quais o objeto pode e deve estar ali como o mesmo. O X nos diferentes
atouou normas de ato, dotado de diferente "conteúdo de determinação", é visada, e o que quer em geral dizer esse "meramente visada"? . . ..
necessariamente trazido à consciência como o mesmo. Mas f/e é z$e&/Pane /e Temos,'pois, de dedicar novas reflexões aos problemas da eleuvtüaae e
a mrlmO? E OOÓy)fOm JmOé ae$eZI/Po''> Ele poderia ser não-e6etivo, mesmo aosproblemas correlativos da consciênciaracional, que atestaem sl mesma
que as diversas proposições concordantes e até preenchidas intuitivamente a efetividade.
proposições de não importa que conteúdo eidético -- transcorram em
conformidade de consciência?
As facticidades da consciência e de seus transcursos não têm interesse
paranós, massim os problemas eidéticos que teriam de ser formulados aqui.
A consciência, ou melhor, o sujeito da consciência mesmo EazJb&o sobre a
e6etividade,pergunta por ela, conjectura a seu respeito, duvida dela, dirime
a dúvida e estabelece, além disso, as "ywp'lfd/fõer da razão". Não será preciso
dar clarezaà essência
dessalegitimaçãoe, correlativamente,
à essênciada
"e6etividade", no nexo eidético da consciênciatranscendental,de maneira.
portanto, puramente fenomenológica -- referindo-as a todos os atos de ob-
jetos, segundo todas as categorias formais e regionais?
Subsistia,pois, uma ambigüidade quando ÊHávamosde "constituição"
noético-noemática de objetividades, por exemplo, de objetividades de coisa.
Ali, em todo caso, nós pensávamosprincipalmente em objetos "eÉedvos",
em coisasdo "mundo e6etivo" ou, pelo menos, em "um" mundo e6etivoem
geral. Mas o que signiâca então esse"eeetivo" empregado paraobjetos que
são dados à consciência apenas mediante sentidos e proposições? O que ele
significa, empregado para aspróprias proposições, para a conformação eidé-
tica dos noemas ou das noeses paralelas? O que ele significa para os modos
particulares de sua estrutura segundo forma e preenchimento? Como é que
essaestrutura se particulariza em regiões particulares de objetos? A questão
Capítulo ll
Fenomenologia da razão

Quando se eHapura e diretamente de objetos, o. que normalmente se


visa são objetos efetivos, verdadeiramente existentes, da respectiva categoria
do ser. Em tudo o que se diga dos objetos -- se o dizemos racionalmente --,
o enunciadoexatamentetal qual é o visado se deixa ' #dapP,"afe al'", se
deixa "pei'" diretamente ou "w/dr riam'" media amr#fe. Na esferalógica, na
esferado enunciado, "irr perdadriro" ou "Jê í:HrzZpo" e "ier rácio azar z:e
/ife#ápr/" r#ão, PO prj f/p/o, fm cor rZafão; e isso para todas as modalidades
dóxicasdo ser ou da posição. A possibilidade de atestaçãoracional de que
aqui seeda não deve, obviamente, ser entendida como possibilidade empíri-
ca, mas como possibMdade "ideal", como possibilidade de essência.

$ 136. A primeira forma flmdamental da consciênciaracional:


o "ver" doadororiginário

Ao perguntarmos agora o que significa atestaçãoracional, isto é, em que


consiste a co scié cia acho a/,'algumas diferenças se apresentarão de ime
diato para nós se tivermos presentes na intuição alguns exemplos e por eles
começarmos a análise eidética:
Em primeiro lugar, a diferença entre vividos posicionaisnos quais ocomo
que
é posto entra em doaçãoo Ü ária, e vividos nos quais ele #ão entra
uma doaçãodessaespécie;portanto, entre afoipe rePf/ oi, "de pilão" -- num
sentido mais amplo -- e az:oi ão pe cePfzpoí.
Assim. uma consciênciade recordação,por exemplo, de uma paisagem,
é originariamente doadora, a paisagem não é percebida, diferentemente
de quando a vemos efetivamente. Com isso, de modo algum queremos dizer
que uma consciência de recordação não tem nenhuma legitimidade própria:
r l
f?sobafenomenológica

queremosdizer apenasque ela não é uma consciência"que vê". A renome apenassefiinde à aparição(como um mero fato geral -- que aqui estáfora
nologia apresentaum análogo dessaoposição para todas as espéciesde vivi. de dúvida), mas a ela se funde de maneira peculiar, ela é "motivada" pela
l
dos .paí/ciosa/í:podemos,por exemplo, predizer "às cegas"que 2 + 1 : 1 + aparição,e motivada, mais uma vez, não apenasem geral, mas "rac/o#a/-
2, mastambém podemos e6etuaro mesmo juízo em evidência. Neste caso.o mr le mol ?ada". Isso quer dizer: a posiçãotem if /# dama zloorgi#áf"ía
estado-de coisas, a objetividade sintética correspondente à síntese jud cativa. df / g/zl/maçãono dado originário. O fiindamento de legitimação pode não
é apreendido de maneira originária. Ele já não o será mais drpoZrda efi=tuaç'' estar nos outros modos de doação, mas fita a prerrogativa do fiindamento
viva da evidência,que logo se obscurecenuma modificaçãoretentora. Ain- orÜ/ ária, que desempenhaseu papel eminente na apreciaçãorelativa dos
r da que estatenha uma superioridade racional em relaçãoa qualquer outra fundamentos de legitimação.
P
consciênciaobscura ou confiisa de mesmo sentido noemático, por exemplo, Da mesma maneira, a posição da essência ou do estado-de-essência dado
em relação a,uma. reprodução "impensada" de algo anteriormente aprendido "originariamente" na aP ermião {#zrw/l ?a de êssé#cia é "inerente" a sua "ma-
P
z conhecido em evidência:--, ela já não é uma consciênciadoadora téria" posicional, ao "sentido" no seu modo de se dar. Ela é posição racional
originaria.
e posição originariamente motivada como cfrleza de f e fa; ela possui o ca-
Essasdiferençasnão aÊetamo sentido puro, a proposição:pois ele é ráter específico de posição "g e é com clareza". Se a posição é uma posição
idêntico nos membros de todos os pares tais como o utilizado no exemplo, rega, se as signiâcações das palavras se efetuam tendo por base uma sustenta-
e também sempreintuível como idêntico para a consciência.A diferença ção de ato obscura e confiisa para a consciência, então falta necessariamente
concerne a ma fira fa a o mê o se lida, ow.pragas/fão,que, enquanto mero o caráter racional da evidência, que é por essé#cial co r/Z ápc/ com tal modo
abstrato na concreção do noema, requer um acréscimo de momentos com- de doação (se ainda se quiser empregar aqui essapalavra) do estado-de-coi-
plementares, é.sentido ou proposição .crer cóldai ou aa prfr#c#ídoí. sas,com um tal provimento do núcleo de sentido. Por outro lado, isso não
exclui um caráter racional secundário, como mostra o exemplo de conheci-
mentos eidéticos novamente presentiâcados de maneira imperfeita.
A clareza de visão, a ep/démc/ai2iem geral é, portanto, um evento inteira-
1;;pecialmenteeminente dele é aquele em que o modo intuitivo é justamente mente à parte; por seu "núcleo", ela é a w#idad d naBOS fão acho a/ com
ag /Zog ê a mo&ipa,pelo que toda essasituaçãopode ser entendida pelo lado
noético, mas também pelo lado noemático. É cabível Edar de "motivação"
principalmente na relação entre posição (noética) e proposição noemática mo
modo de i a pZr /F@df.Em sua significação noemática, a expressão "Proposi-
ção fpidr#lr" é imediatamente compreensível .
O duplo sentido da palavra "evidência" em sua aplicação, ora aos ca-
contramos o caráterda corporeidade(como plenitude originária) fiJndido ao racteres noéticos ou atos plenos (por exemplo, evidência do julgar), ora às
proposições noemáticas (por exemplo, juízo lógico evidente, proposição de
enunciado evidente), é um daqueles casos de ambigüidade geral e necessária
das expressões referentes a momentos da correlação entre noese e noema. A
. E próprio,porém,üo caráterposicionalpossuiram cüráter racional es- rovação fenomenológica de suas contes as torna inócuas e Eazmesmo

Z:
reconhecer serem inevitáveis.

KãBÜH :É'e,w"í
g : is BS:iÜilli:Eii i2i "Clareza de visão" traduz .Ei#sic#f(conhecimento,.penetração,.'per:picientia")j.eMdência,
Epídr z. Sendo usadasem geral como sinânimas no âmbito da "vi;ão" e da "evidência"(in-
c[usive até estaparte das ]2éias), Husserl precisaráo sentido de cada uma a seguir.(NT)

4
H
}
306
a lilosoâa fenomenológica Qunrt''. s
Deve-se ainda notar que o termo
sentido, que vai numa direção de SWP«««d. ««d«//d«d« z'éfif"',.no qud.just«ne«te a "üsão" (em sentido
extremamente ampliado) referida ao dado originário constitui uma espere
faa", como um caráter que a [eieatual assume
seu sentido; ora é o que é
em questão abrigar uma
$Ü®:in===Hn,::::m
mais geral, a palavra m/dé cia; para toda tese racional caracterizada por uma
referência motivacional ao caráter originário do dado ter-se-ia então a expres
)
S 137. Evidência e clareza de visão. sao "epiíZéP&ciao?'g/ ária". Seria preciso, além disso, estabelecer diferença
n
Evidência "originária" e "pura") assertórica e apodítica entre wZdé cZaasserfóricae fp dé c/a apor/zlZca,deixando que a cZarpza de
feita
4 l?isã, designe paracularmente essaapodizl/c/dado.A seguir, deveria ser
)
uma contraposiçãoentre cZaeza de ?não pura e impura (por exemplo, co-
nhecimento da necessidadede algo fático, cujo ser não precisa ser ele mesmo
evidente); e igualmente, de maneira geral, entre bidé c a P ra nMP%ra.
Outras diferenças também seapresentam quando se aprofunda a investi-
i ão, diferenças das camadasmotivadores subjacentes, que datam o caráter
)

da evidência. Por exemplo, a diferença entre evidência jorna/ p ra("analí-


tica", "lógica") e evidênciamaZrer/a/
(sintético-apriori). Aqui, contudo, não
podemos ir além dessaslinhas iniciais.

S 138. Evidência adequada e inadequada

Tomemos agora em consideração a segunda diferença de evidência acima


apontada, a que se conecta com a diferença entre doação adequada e idade
quada, e que nos dá ao mesmo tempo ocasião de descrever um üpo eminen-
te de evidência "impura". A posiçãocom basena apariçãoem carne e osso
da coisaé, sem dúvida, uma posiçãoracional, masa apariçãoé sempreuma
apariçãounilateral, "incompleta"; aquilo de que se tem consciênciaem carne
e osso não é apenaso que "propriamente" aparece:mas simplesmenteessa
coisamesma,o todo em conformidade com a totalidade do sentido, embora
este seja intuído apenasunilateralmente e permaneça?.além disso, indetermi-
nado em muitas de suasfaces.Ao mesmo tempo, aquilo que "propriamente"
aparecenão pode ser separadoda coisacomo uma coisapor slj seucorrelato
de sentido constitui uma parte dêle dr fe no sentido pleno da coisa?e essa
parte dependente só pode ter uma unidade e independência de sentido num
todo que abilga componentes vazios e componentes.indeterminados
Por princípio, o real de uma tal coisa,um ser de tal sentido, só pode apare-
cer iHadq óldame fr numa aparição fechada.A isso seliga essencialmenteque
«'"b""''" P".:Ç"o'«l;;iÚ«l ..;.t«Id« sob«'«,« t«L «p«tição do«d,o« i-''q--
308 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma âlosofia fenomenológica Qpürta, seção:Rüzã,o e efeti

da pode ser "dg@ ifi?a", "insuperável"; nenhuma posição em seu isolamento Como se tudo isso não bastasse,é preciso naturalmente que os eventos es-
pode ser equivalente ao puro e simples "esta coisa é eâetiva", mas equivalente sencialmente determinantes para as modificações dos caracteres posicionais no
apenasao "isto é eÊetivo" -- pressupondo-se que o prosseguunento da expe- sentido, como mafér/a pai/doma/ respectiva,sejam submetidos a uma análise
riência não aduza "motivos racionais mais cortes" que mostrem que a posição eidética abrangente(por exemplo, os eventosde "conflito" ou "concorrência"
originária deve ser "riscada" num contexto mais amplo. Neste caso, a posição entre aparições).Pois, tanto aqui como em toda a esferafenomenológica,não
é racionalmente motivada somente pela aparição(pelo sentido de percepção há acasos,nem facticidades, tudo é precisamente motivado por essência.
incompletamente preenchido) em si e por si, consideradaem seuisolamento No âmbito de uma Êenomenologta geral dos dados noéticos e noemâti-
Na esperados modos de ser que por princípio só podem se dar inadequa- cos, seria preciso igualmente levar a cabo a / e @afão ridé&/cade iradasai
damente, a fenomenologia da razão tem, pois, de estudar os diferentes eventos espéciesde fitos rüciona,is imediatos. . .
prescritos a priori nessa espera.Ela tem de trazer à clareza como a consciência ..4 cada r ião ê cafgor/a de supostos objetos não corresponde.renome
inadequada do dado, como, num progresso contínuo de sempre novas apari- nologicamente apenas self/dos ou pp'apaiifõeí de uma espécie .filndamental,
ções que continuamente se findem, a aparição unilateral se reporta a um único mas também uma espécie/w game fa/dr co JC/é c a g e dá orÜi#a2"game &f
e mesmo X determinável, e que possibilidades de essênciaresultam disso; tem essessentidos, e dela faz parte um tiPO/w game z:a/df epidé»cia o @l área,
de trazer à clarezacomo aqui, de um lado, o prosseguimentoda experiênciaé que é essencialmentemotivada pela respectiva espécie.de dado originário .
possível e permanece racionalmente motivado pelas contínuas posições racio- Cada uma das evidências desse tipo -- entendendo-se a palavra em nos-
nais precedentes: como é possível justamente o andamento da experiência no so sentido ampliado -- ou é ad geada, não mais podendo por princípio ser
qual se preenchem as lacunas das aparições precedentes, se determinam mais "corroborada" ou "enfraquecida", e, portanto, sem.gradação de wm feio; ou
precisamente as indeterminações, e prossegue sempre assim KwmPrze có/mr#zla é iKadrgwadae, com isso, capazdf a mr fo e dimi irão. (}ue espéciede
i ei amf fe co corda Ez,cuja corçaracionalnão párade crescer.Por outro lado. evidência é possível numa esfera, depende do tipo genérico dela; ela é, pois,
é preciso pâr às claras as possibilidades opostas, os raios dr./üsõrf oz/dr iz'm/zsri.po- pre6Wrada a priori, e é contra-senso exigir a perfeição.que cabe à Cadência
//üz/cardisc lePa#laç os casos de "dez:erm/ afãs d Herr#ir" do X sempre trazido à numa esfera (por exemplo, na esfera das relações de essência) em outras esse
consciência como o mesmo -- determinação diferente daquela que correspondia rasqueporessênciaaexcluem. .. . . . ' .
à doação originária de sentido. É preciso mostrar, além disso, como componen- Deve-senou ainda que podemos transferir a significação orignária dos con-
tes posicionais do transcurso anterior da percepção são "7ücada?' juntamente ceitos "adequado" e "inadequado", que se refere ao modo de doação, às peculia-
l com seu sentido; como, sob certas circunstâncias, toda a percepção por assim ridades eidédcas das posições racionais por eles fimdadas, justamente em virtude
hzet "ncplode" e se dut em apreensões cow litüntes da coisa, em estipulações dessenexo -- o que e uma daquelasequivocidadesque se tomam inevitáveis pela
fo#t/2/fa#fesa seu respeito; é preciso mostrar também como as tesesdessasesti- transferência, mas que são inócuas tão logo tenham sido reconhecidas como tais, e
pulações se suprimem e são modiâcadas de modo própi.io nessa supressão,ou setenham separadoconscienciosamenteo que é originário e o que é derivado.
como uma tese,permanecendonão-modiâcada, é "condicionante" para que a
"tese contrária" seja riscada, e também outros eventos dessa espécie.
Também é preciso estudar mais de perto as modiâcações próprias por Entrelaçamentos de todas as espéciesde razão
que passamas posições racionais originárias quando o preenchimento avan- Verdade teórica, axiológica e prática
ça de forma coerente,pois então elassobem um a mf zlodr omf o/c /ra
paí fi o em sua 'tHorfa" mofa?adora, ganham constantemente em "peso" e, Segundoo que foi até agora apresentado,uma posição,.não importa de
portanto, embora sempre e essencialmente tenham um peso, este é um peso qualidade, tem sua legitimação como posição de seu sentido se é racional;
g ad a/mr fe distinto. Além disso, deve-se analisar as outras possibilidades o caráter racional é justamente, ele mesmo, o caráter da legitimidade, que Ihe
sob a perspectiva de como o peso das posições diminui por "co#zrra-moer/pa- "cabe" por essência,portanto, não como fato contingente entre circunstância
ç;ões",
como em casode dáp/da elas"eg /Z/&am oiP afazda óaZa#f;a",como contingentes de um eu Eaticamenteposicional. Também se diz, correlativamen
uma posição é so&repzt/ada,afixada de fado por uma de "maior" peso etc. tc, que a proporção é legitima: na consciência racional ela está dotada do caráter

H
+

f?âafenomenológica
gee!?e..!eliêeí.4elêel?l:Hef/?jdadr 3 11
uma evidênciadóxica originária de sentido modiâcado, isto é, à evidênciaou
verdade:."É conjeturável(verossímil) que S é p"; mas por outro lado, também
está ligada à verdade: "Algo fãa a favor de quc S é p"; e ainda: "Algo fala a fa-
vor dc que S p é verdadeiro" etc. Em tudo issosemostram nexoseidéticosque
prece:am ser investigados Eenomenologicamente em sua origem
Evidência, porém, não é absolutamente uma mera designaçãopara even-
t tos racionais como estesna esfera da crença (e mesmo somente na esâcrado
+
juízo predicativo)? mas .para zlodaí aí e#eraJ üz irai e, em particular, para as
relaçõesracionaisimportantes que ocorrem e#frz elas.
+

Isso.diz respeito, portanto, aos altamente di6ceis e amplamente abrangentes


grupos de problemas da razão na esferadas tesesde aÊetividadee de vontade i2a
+

+
assim como aos entrclaçamentos delas com a razão "teórica", isto é, dóxica. A
q'
+

prrzülü ou wZdéHcla "teórica" ou "daxoá@Zca" tem seus paralelos na "verdade


r a idé c/a ax/o&bica r pzáüca", pelo que as "verdades" destas últimas che-
b
gam à expressãoe ao conhecimento nas verdadesdoxológicas, vale dizer, nas
verdades especiâcamente lógicas(apo6anticas).:a Não é preciso dizer que, para
tratar dessesproblemas, investigaçõescomo as que tentamos empreender acima
têm de ser fimdamentais: elas se referem às relações eidéticas que vinculam as
tesesdóxicas a todas as outras espéciesposicionais, da aÉetividadee da vontade.
e também àquelasrelaçõeseidéticasque reconduzem todas as modalidadesdó -
xicasà doxa originária. Por isso mesmo também sepode tornar claro, a partir de
fimdamentos últimos, porque a certezade crença e, por conseguinte, a verdade
desempenham um papel tão predominante em toda razão; um papel que, abas,
torna ao mesmo tempo óbvio que a solução dos problemas da razão na espera
dóxica tem de preceder a solução dos problemas da razão axiológica e prática.

S 140. Cona'mação. Legitimação sem evidência.


Equivalência da clareza de visão posicional
e da clareza de visão neutra

É preciso mais estudos sobre os problemas que apresentampara nós


os laços de "co/ r/dé c/a" que (para mencionar apenas um caso eminente)

':' Cf. S i04, p. 236.


;ê$UÜ,:Zw:=q=: Rfl=':su ==:==:umU:g="'
124Conhecimento é .o.mais das vezes um nome para verdade lógica: designado a parar do
ponto-de-vista do sujeitoscomo correlato de sf?ujulgar evidente; mastambém um nome para
todo e qualquer julgar evidente ele mesmo e, 6nalmente, para todo ato de razão dóxico.

/
t

312 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma âlosofia fenomenológica

podem ser estabelecidos e fre arosde mesmoir f/da e.P opoiifão, emZ'of'a,
por
esséHcja,dr pa/oreí ac/a aZí d Hr e les. Um ato evidente e um não-evidente
podem, por exemplo, ser coincidentes, pelo que, na passagemdo Último
ao primeiro, este assume o caráter de ato atentatório, aquele de ato que ie
atesta.A posiçãoem clarezade visão de um opera como "confirmatória" da
não-clareza do outro. A "proposição" se "verifica" ou também se "conâr-
ma", o modo imperfeito de se dar se transforma no modo perfeito. Como
esse processo se mostra ou pode se mostrar, isso é prescrito pela essência
das respectivas proposições em seu preenchimento perfeito. As formas de
veriâcação por princípio possível para cada gênero de proposições devem ser
6enomenologicamente clarificadas .
Se a posição não é irracional, então de sua essênciase podem extrair
possibilidadesmotivadas de que e de como ela pode ser convertida numa
posição atual de razão que a veriâca. Pode-se ver com clareza que nem toda
evidência imperfeita prescreveaqui uma via para seu preenchimento que ter-
mine numa evidência originária ca resto dr#fe, numa evidência do mesmo
sentido; ao contrário, certas espéciesde evidência excluem por princípio uma
ta] atestação, por assim dizer, originária. Isso vale, por exemplo, para a re-
cordação retrospectiva e, de certa maneira, para toda recordação em geral
e igualmente, por essência, para a empatia, à qual atribuiremos no próximo
livro um tipo fundamental de evidência (que também investigaremosmais posição racional imediata e mediata.
detidamente ali). Como quer que seja, estão com isso assinaladostemas âe Evidência mediata
nomenológicos muito importantes.
E de notar ainda que a possibilidade motivada de que se fiou acima se
diferencia nitidamente da possibilidade vazia:::s ela é motivada de modo de
terminado por aquilo que a proposição encerraem si, no preenchimento em
que é dada. É uma possibilidade vazia que esta escrivaninha aqui tenha dez
pés em suaface inferior agora invisível, em vez dos quatro que efetivamente
possui. Uma possibilidade motivada, ao contrário, é o número quatro de pés
para a percepção determinada que agora eâetuo. Que todas as "circunstân-
cias" perceptivas.pastamse alterar de certa maneira, que "em conseqüência"

125Esta é uma das equivocidades mais essenciaisda palavra "possibilidade", à qual ainda se
acrescentamoutras(possibilidade lógico-durma/, au;ência de contradição matemático-âor
mal) É impofltante por princípio que a possibilidade que desempenhanun papel na doutrina
das verossimilhanças, e? por consi guinte, a consciência de possibMdade (o ser suposto), de
que falávamos na.doutrina das modalidades dóxicas como um para]e]o da consciência racional,
am.possibilidades .ma ipadaí como correlatos. De possibMdadesnão -motivadas Jamaisse
constrói uma verossimilhança, somente possibilidades motivadas têm "peso" etc.
%

uma Hosofia fenomenológica


Qpürtü seção: Razão e efetipidaáe 3\ E)

e, concomitantemente com ele, põe necessariamente um horizonte, mesmo


conseqüentemente, todo conhecimento racional predicativo e conceitual remete
que de maneira vaga, obscura, indeterminada; trazido à clareza e à distinção a wZdé#cZa.Paraque isso âque bem entendido, é preciso notar, porém, que so-
tética, essehorizonte teria de poder ser explicitado num encadeamentode
mente a evidência originária é ponte "original" de legitimidade e, por exemplo,
recordações eâetuadas teticamente, que terminaria em .percepfõeJa aà o
a posição racional da recordação e todos os atos reprodutivos, entre os quais
hic et nuns afia/. O mesmo vale para quaisquerrecordaçõesno nosso senti- também o da empatia, não são originais, mas "derivados" de certas maneiras.
do mala a##P/o,que se refere a todos os modos do tempo.
Também há, no entanto, outras formas bem diferentes de haurir da con-
Em tais proposições se exprimem incontestavelmente visões clarasde es-
te do dado originário.
sências. Elas indicam nexos eidéticos que, ao serem mostrados, esclareceriam
Já se indicou de passagemuma forma como a que segue:o enâaqueci-
o sentido e o tipo de atestaçãoque cada recordação é capazde obter e de que mento dos valores racionais na passagemcontinua da evidência viva à não-evi-
"carece". A recordação se corrobora avançando de recordação em recordação dência. Indique-se agora,todavia, um grupo essencialmenteoutro de casosem
num encadeamento de recordaçõescadavez mais distinto, cujo fim último
que uma proposição, num e cadfamr fo s/ üf/co wZdr zpe em todos os passos,
e um presenteperceptivosA corroboração é, de certo modo, recíproca, os é referida de maneira mediata a filndamentos imediatamente evidentes.Surge,
pesosrememorativossãofilncionalmente dependentesuns dos outros, cada
com isso, um novo tipo geral de posições racionais, que tem âenomenologica-
recordação encadeada tem uma corça crescente com a ampliação do encade- mente um caráter racional diferente do da evidência imediata. Também temos.
amento, uma corçamaior do que teria num encadeamentomais estreito ou
assim, uma espécie de "mZdé cia" derivada, " edZaíw" -- e de hábito é exclu-
isoladamente. Se, todavia, a explicação é conduzida até o agazwafwaZ, algo da sivamente esta que se quer apontar com a expressão.Por sua essência,esseca
/z z da.prrrepfão e d J a mZdé cZa 'me Órrwd ?o/ízporioda a#r/e.
ráter evidenciam derivado só pode surgir no termo último de um encadeamento
. Poder'se-ia dizer até: a rac/o a//dada dai ecordafõn, o raráizr g ê aí posicional que se inicia em evidênciasimediatas, passapor diferentes formas e
.emiti«Ql!,p opém oculta«»ente düforça dü percepção, que a a auaxes de toda
é suportado por evidênciasem todos os seusdemaispassos,nos quais essasevi-
confusão e obscuridade, mesmo quando esta esteja "cora de ação"
dências são, ora imediatas, ora já derivadas; ora vistas com clareza, ora não, ora
De qualquerforma, porém, é.preciso uma tal atestação,a íim de que se mani- original.ias,ora não. Com isso se assinalaum novo campo da doutrina renome
íêste claramente o g@eé que propriamente porta ah o brilho mediato da leg dmi- nológica da razão. Sob o aspecto noético e noemático, a tarefa aqui consiste no
dade perceptiva; ú c:spéciep'íifpljade / adeg afãs da recordação consiste em que seguinte: é preciso estudar tanto os eventos eidéticos gerais como os especiais
algo não recordadopode se misturarao "eâetivamenterecordado" ou em que da razão em toda espéciee forma dejw darão ê azesznfãomrd/a&a e em todas
diferentes recordaçõespossam seimpor e passarpor unidade de uma recordação, as esferastéticas; é preciso reconduzir a suas origens âenomenológicas os dize
muito embora, quando se procede à atuaHzaçãode seu horizonte, as respectivas rentes "princípios" de tal atestação, que são, por exemplo, essencialmente de
séries de recordação se separem, e isso de tal modo que a imagem carente da
espéciedistinta conforme setrate de objetividades que sedão de maneiraima-
recordação "explode" e se üspersa numa multiplicidade de intuições rememo-
nente ou transcendente,adequadaou inadequada;e é preciso, enfim, tornar
raüvas incompatíveis umas com as ousas: aqui poderiam ser descritos eventos
esses princípios "compreensíveis" a parta de suas origens Êenomenológicas,
semelhantesàquelesque indicamos de passagemno casode percepções(de uma levando-se em conta todas as camadas 6enomenológicas envolvidas.
maneja que manifestamente dava bastante margem à generalização).::'
Tudo issoserve de indicação exemplar dos grandes e importantes grupos de
pmElemas da '%on'a&ornfão"e"PMÜ2cafão"dr.pasifães zwc/o aü/l l diaíaí(como
\'V'AXV S 142. Tese racional e ser
também de ilustração da separaçãode posiçõesracionais em puras e Impuras,
seme com mistura); mas o que se apreendeaqui é, sobretudo, o zá#icosentido
Com a compreensão eidética geral da razão, que é a meta dos grupos de
em que;é válida a proposição segundo a qual toda posição racional mediata e,
investigação indicados -- da razão no sentido mais amplo, extensivo a iradas
ai eípéc/êr de .pai/fão, inclusive axiológicas e práticas --, pode-se eo @so obter
uma explicação geral das correlações eidéticas que ligam a idé/a do ier ?frda-
izóCf. acimaS 138, PP. 307 e segs.
de/ o às idéias de verdade, razão e consciência.
+
l

e para uma âlosofia fenomenológica Qpürtü seção:Razão e efetipidüde 3\7

.Ném disso, logo se apresenta aqui uma clara visão geral, a saber, a de que as determinidades não vistas de uma coisa, nós sabemos em evidência apodí-
não apenas"objeto verdadeiramenteexistente" e "objeto a ser posto racio- tica, assimcomo as determinidadesdela, são necessariamenteespaciais:isso
nalmente" são correlatos equivalentes, mas também objeto "verdadeiramente dá uma regra legítima para modos possíveis,espaciais,de preenchimento dos
existente" e objeto a ser posto numa tese racional originária e perfeita. Para lados não visíveisda coisa que aparece;regra que, plenamente desenvolvi
essateseracional, o objeto não seriadado de maneira incompleta, meramen- da, se chama geomeuia pura. liá outras determinidades de coisa, que são
te "unilateral". Com respeito ao X determinável, o sentido subjacente como temporais, materiais: delas fazem parte novas regras para preenchimentos
matéria à tese racional não deixaria nada em "aberto" em nenhuma das faces possíveis (isto é, não arbitrários) do sentido e, por conseguinte, para possíveis
submetidasà apreensão:nenhuma determinabilidade que ainda não sejafirme intuições ou apariçõestéticas. Também estáa priori prescrito qual pode ser a
determinidade, nenhum sentido que não sejaplenamente determinado, fecha- composição eidética destas, sob que normas se encontram os seus materiais e
do. Uma vez que a teseracional deve ser uma teseoriginária, ela tem de ter seuspossíveis caracteres de apreensão noemáticos (ou noéticos).
seu fimdamento de razão no dado orÜ/ á /o daquilo que é determinado no
sentido pleno: o X não é visado apenasem plena determinidade, mas origina-
riamente dado nela mesma. A equivalência que se indicou signiâca então' S 143. Doação adequada de coisa como idéia no sentido kantiano
..4 rodo oóyZfo apefd#dc/7Hwê Zle exá e fr" corresponde por princípio(no
a priori da generalidade eidética incondicionada) a idéia de uma consciência Antes de prosseguirmos, é preciso fazer um adendo para afastar a aparen
possível, na qual o próprio objeto é apreensível o @i a iame#fe e, além dis- te contradição com nossa exposição anterior (p. 286). Por princípio, dizia
so, rm .per$r/íwad gaafãa. Inversamente, se essapossibilidade é garantida, o mos, há apenasobjetos que aparecem inadequadamente (portanto, também
objeto é o ZPiaverdadeiramente existente.
apenaspercebíveis de maneira inadequada). Não se deve, porém, passarpor
De particular importância aqui é ainda o seguinte: está precisamente alto a ressalvaque fizemos. Nós dissemosobjetos percebíveisem apor/fão
prescrito na essênciade toda rafqgo Zadr aP região (que é o correlato de jec#ada. Há objetos -- e todos os objetos transcendentes,todas as "rea-
toda categoria de objeto) quais conâgurações de apreensõesconcretas, per- lidades" abrangidas pela designação "natureza" ou "mundo" entram aqui
feitas ou imperfeitas, dos objetos dessacategoria são possíveis.Por outro -- que não podem ser dados em nenhuma consciência fechada, em determi-
ado, também está por essênciaprescrito para cada apreensãoincompleta nidade completa e em intuitividade igualmente completa.
como ela pode se tornar perfeita, como seu sentido pode ser completado, Todavia, o dado pelge/fo é, a/ da asl m, .preso /zlo como /dé/a(no sentido
preenchido por intuição, e como a intuição pode ser mais enriquecida. kantiano)-- um co zllí o dr apor/frei determinadoa priori, com todasas
Toda categoriade objeto (ou toda região e toda categoriano nosso dimensões diferentes, mas determinadas, inteiramente regido por uma h'me
sentido estrito, corte) é uma essênciageral que pode por princípio ser tra- legalidade eidética, é prescrito como um sistema absolutamente determinado
zida à condição de dado adequado. .E%íwa doafãa adegwada ela prescreve em seu tipo eidético de processosinfinitos da aparição contínua ou como
uma }'%g7'a
.gf a/ fp dr»re para cada objeto particular trazido à consciência campo desses processos.
em multiplicidades de vividos concretos (os quais vividos não devem natu- Essecontínuo se determina mais precisamentecomo um contínuo in-
ralmente ser tomados como singularidades individuais, mas como essências. finito onidirecional, que em todas as suasfasesé constituído do mesmo X
como concretos de nível mais baixo). Ela prescreve regras para o modo como determinável e ordenado numa concatenaçãotal e determinado por uma
um objeto a elasubmetido poderia ser trazido à plena determinidadede seu composição eidética tal, que, percorrendo continuamente qualquer //»#a
sentido e modo de se dar, como poderia setrazido à condição de dado origi- dele, o que se tem é um encadeamentocoerente de aparição(que pode ser
nário adequado e por que nexos de consciência isolados ou em decurso con- designadocomo uma unidade de apariçãomutável), na qual um único e
tinuo e por que provisão eidética concreta dessesnexos deveria passar.Que mesmo X continuamente dado se determina "mais de perto" de maneira
quantidade de coisasnão estácontida nessasbreves proposições, isso se tor-- coerente e contínua, e jamais de "outra maneira"
nau compreensívelnos desenvolvimentosmaispormenorizados do capítulo Se uma unidade fechada do transcurso, portanto um ato finito e apenas
final (a partir do S 149). Basta aqui uma curta indicação a título de exemplo mutável não é pensável,em virtude da iníinitude onidirecional do contínuo
l

uma âlosoâa fenomenológica aparta, seção: Ra,zã,o e efetipiüa,de 3 \9

(o,que redundaria numa absurda iníinitude finita), a idéia desse contínuo e a processo natural etc. (que é plenamente determinada enquanto idéia de um
idéia da doação perfeita por ele prescrita se apresenta, todavia, como cZa?a- único indivíduo): isso Êazparte de uma nova camadada investigação.Faz
mf fe ü/p / claramentevisível justamente como uma "idéia" o pode ser parte da fenomenologia da razão experimental específicae, em particular,
ao marcar, por sua essência, um ripa .pr(@r/ade clareza de ?isca. da razão física, psicológica, da razão na ciência natural em geral, que reduz
A idéia de uma inânitude eideticamente motivada não é ela mesma uma asregras ontológicas e noéticas da ciência empírica como tal a suas fontes
infinitude; a clareza de visão de que essainfinitude não pode, por princípjo 6enomenológicas. O que signiâca,porém, que ela esquadrinhae investiga
ser dada, não exclui, antes exige o dado claramente srisível'da /ié/a dessa eideticamente as camadas Êenomenológicas,noéticas e noemáticas, em que
iníinitude.
se guarda o conteúdo dessas regras.

Si44 Efetividade e consciênciadoadora originária. $ 145. Observações críticas à fenomenologia da evidência


Determinações anais
Fica claro pelas consideraçõesfeitas que a dr#om oZagiada razão, a
. Resta, portanto, que o rZdoi "ser verdadeiro" é correlativamente equi- Koéf/ca o ie f/dojorre, que não pretende submeter a razão em geral, masa
valente ao radar "ser dado adequadamente" e "passível de ser posto com consciência de razão a uma investigação intuitiva, pressupõe inteiramente a
evidência" -- isso, contudo, no sentido do dado finito ou dado na forma de fenomenologiageral. É mesmo um fato fenomenológico que -- no reino da
uma idéia. Num caso, o ser é ser «imanente", ser enquanto vivido fechado posicionalidadei27 -- fado.gé#rro dr comíc/é f/a féf/ca se encontra ioó o mai;
ou correlato noemático de vivido; no outro caso, é ser transcendente, isto é, as normas nada mais são que leis eidéticas referentes a certos nexos noético-
ser cuja "transcendência" é colocada justamente na iníinitude do correlatg noemáticos que devem ser rigorosamente analisadose descritos em sua espé
noemático, que ele exige como matéria de ser. cie e forma. Além disso, também se deve naturalmente estar sempre atento à
Onde uma intuição.doadora é uma intuição zlra#ícr#de#&e, o objetivo "drirazão", como contrapartida negativa da razão, assim como a fenomeno-
não pode se dar adequadamente;o que pode ser dado é somentea /íüía de logia da evidência compreende em si a sua contrapartida, a a&swzdZdadf.i:8
um tal algo objetivo ou de seu sentido e de sua "essênciacognitiva" e, com Com todas as suas análises referentes às diferenciações eidéticas gerais, a dow-
isso, uma regra a priori para as iníinitudes legítimas das inânitudes das expe zr/ a eZdézl/fazea/ da f /dé c/a constitui uma parte relativamente pequena,
ciências inadequadas. ' embora fundamental, da fenomenologia da razão. Confirma-se assim-- e
Com basenas respectivasexperiências eâetuadase na sua regra (ou no para vê-lo com perfeita clareza bastam as reflexões há pouco apresentadas
múltiplo sistema de regras que a inclui) não se pode por certo depreender -- o que brevemente se apresentou contra as interpretações absurdasda evi-
univocamente como se dará o transcurso ulterior da experiência. Permane dência no início deste livro.izç
cem abertas: ao contrário, infinitas possibilidades, as quais, no entanto. têm Evidência, com efeito, não é algum índice da consciência anexado a um
seutipo prefigurado pela regulação a priori, com toda a riqueza de seu conte- juízo (e habitualmente só se fHa de evidência num juízo), que com uma voz
údo. O sistemade regrasda geometria determina com absoluta Mmeza todas mítica grita para nós, de um mundo melhor: Aqui está a verdades,como se
as figuras de movimentos possíveisque poderiam completar essesegmento
de movimento observado aqui e agora, mas ela não traça nenhum transcurso
singular real de movimento realizado pelo objeto que se move. O quanto iz7(quando transferidospara a esferada imaginação e da neutralidade, todos eventos téticos
pode nisso ajudar o pensamento empírico findado na experiência; como se são "refletidos" e "enâ:aquecidos"; o mesmo se dá com todos os eventos da razão. Tesesneu-
tras não são atestáveis,mas "como se" fossem atestáveis, elas não são evidentes, mas "como
torna possívelalgo como a determinação científica dascoisasenquanto uni- se" fossem evidentes etc.
dades postas experimentalmente, que, todavia, encerram uma diversidade i2s Cf. Impe Üafõêf .[iÜicai, ]], Sexta ]nvestigação, $ 39, pp. 549 e seis., especialmente p.
598. Em geral, toda a Sexta Investigação apresentatrabalhos 6enomenológicos preparatórios
infinita; como no interior da teseda natureza pode ser alcançadaa meta de para o tratamento dos problemas da razão discutidos no presente capítulo.
determinaçãounívoca em conformidade com a idéla de objeto natural de iz9Cf. acima o capítulo ll da 2' seção,em particular, S 21, pp. 65 e segs.
+

?oâa fenomenológica
Qpürta, seção: Razão e efeti?idade 32 \

fenomenológico que nem todo vivido posicional (por exemplo, um vivido de


juízo qualquer) pode se tornar evidente da mesma maneira e, especialmente,
de maneiraimediata; fica claro, além disso, que todos os modos de posição
racional, todos os tipos de evidênciaimediata ou mediata radicam em nexos
6enomenológicos, nos quais se separam noético-noematicamente regiões de
objeto fundamentalmente diferentes.
O que importa, em particular, é estudarsistematicamenteas uniâcações
contínuasde identidade em todos os domínios e as identificaçõessintéticas
segundo a constituição fenomenológica destas. Se antes de mais nada se co-
nheceu o que é preciso conhecer primeiro, a articulação interna do vivido
intencional em todas as estruturas gerais, se se conheceu o paralelismo dessas
estruturas,as camadasno norma, tal como sentido, sujeito do sentido, ca
racterestéticos, plenitude, então cabetornar completamente claro, em todas
as unificações sintéticas, como junto com elas ocorrem não apenas em geral
ligações de ato, mas também ligações na unidade de um á ico ato. Em parti-
cular, cabe tornar claro como unificações identificadoras são possíveis,como
aqui e ali o X determinávelchega a coincidir, como se comportam, além
disso,as determinaçõesde sentido e suaslacunas,isto é, seusmomentos de
indeterminação, e igualmente também como asplenitudes e, com elas,asfor-
masde corroboração, da atestação,do conhecimento progressivochegam à
clareza e à evidência analítica no nível mais baixo e mais alto da consciência.
Este e todos os estudos paralelos são realizados, porém, em orientação
"transcendental", fenomenológica. Nenhum juízo neles emitido é um juízo
natural, que pressuponhacomo fundo a teseda efetividadenatural, e não o é
nem mesmoali onde sepratica fenomenologia da consciênciada e6etividade,
do conhecimento natural, da intuição e visão clara de valor voltada para a na-
tureza. Por toda parte perseguimos as configurações de noesese noemas, nós
esboçamos uma morfologia sistemática e eidética, por toda parte fazemos
sobressair necessidadese possibilidades de essência; estas últimas como pos'
sibilidades necessárias,isto é, como formas de unificação da compatibilidade
prescritanas essências e delimitada por leis de essência."Objeto" é em toda
parte para nós uma designaçãopara nexos eidéticos da consciência; ele surge
primeiro como X noemático, como sujeito de sentido de diferentes tipos
eidéticos de sentido e proposição. Ele surge, além disso, como a designação
"objeto e6etivo" e é então designaçãopara certos nexos racionais considera
dos de maneira eidética, nos quais o X que está em unidade de sentido neles
recebe a sua posição racional.
As expressões "objeto possível", "verossímil", "duvidoso" etc. são igual-
mente designaçõespara determinados grupos deticamente delimitados
t

solta fenomenológica

Capítulo lll
Níveis de generalidade da problemática teórica racional
+'

+'
Nossasmeditaçõesa respeito da problemática de uma fenomenologia da
B: razão se moveram até aqui num nível tão alto de generalidade, que impedia o
r surgimento das ramificaçõesessenciaisdos problemas e de seusnexos com as
ontologias formais e regionais. Precisamostentar examinar esseponto mais
de perto; só então se descerrarápara nós o sentido pleno da eidética renome
nológica da razão e toda a riqueza de seusproblemas.

S 146. Os problemas mais gerais

Voltemos àscontesda problemática da razão, seguindo-as em suasrami-


ficações da maneira mais sistemática possível.
O problema que abarca a fenomenologia inteira tem como título: in-
tencionalidade. Ele exprime justamente a propriedade filndamental da cons-
ciência, e todos os problemas 6enomenológicos, inclusive os hiléticos, estão
a ele subordinados.Assim, a fenomenologia começa com problemas da in-
tencionalidade, embora primeiro em generalidade e sem trazer para dentro
de seu círculo as questõessobre o ser efetivo(verdadeiro) daquilo de que
se é consciente na consciência. Permanece então cora de consideração que
a consciênciaposicional, com seus caracterestéticos, pode ser qualificada
como um "visar", no sentido mais geral da palavra, e como tal ela estáneces-
sariamente sob a oposição racional entre validade e invalidade. Nos últimos
capítulos, essesproblemas coram tratados no tocante àsprincipais estruturas
da consciência que haviam nesse meio tempo se tornado compreensíveis para
nós. Uma vez que se tratava de inícios eidéticos, eÊetuamosnaturalmente as
análises na maior generalidade possível. Em todas as esferas eidéticas, o ca-
minho sistemático parte da generalidade mais alta para a mais baixa, mesmo

n
osofia fenomenológica
Qpürtü seção:Razão e efetipidade 32b

É preciso antes de mais nada lembrar as exposições anteriores:;: acerca


das doutrinas formais puras das proposições e, especialmente, das proposi-
çõesi/#féficas, que se referem à síntesedóxica predicativa, assimcomo às
formas sintéticas das modalidades dóxicas e dos atou úetivos e volitivos (tais
como, por exemplo, as formas da preferência, do valorar e querer "por causa
de um outro", as formas do "e" e "ou" axiológicos). Nessasmorfologias,
trata-se noematicamente de proposições sintéticas segundo sua forma pura,
+
sem que entre em questão a validade ou invalidade racional. Elas ainda não
fazem parte, portanto, da camada da doutrina da razão.
F
Tão logo, porém, levantámos a questão da validade ou invalidade racio-
F
nal, para proposições em geral enquanto devam ser determinadas exclusiva
F
+
mente por formas puras, estamos na lógica formal e nas disciplinas formais
F paralelas acima mencionadas, as quais são por essênciaconstruídas sobre as
b
r doutrinas formais correspondentes, que são seus níveis inferiores. àZaijor-
r mar ii él/cas-- que, como síntesesde tesesou proposiçõesda caf go ia
de proposição em questão, manifestamente pressupõem muitas coisas, mas
as deixam indeterminadasno que concerne à particularidade delas-- filão
contid,üs coníiições ü priori da validade possível, condições qwe.ganham exp estão
nüs Leiseidéticüs düs disciplinas ü qwi consideradas.
Nas formas puras da síntese p rd/car/pa (analítica) estão especialmente
contidasas condiçõesa priori da possibilidadeda cerZlezaac/o a/ dóx ca ou,
dito noematicamente, da pe dado paxiüeZ.O estabelecimento objetivo delas
é e6etuadopelalógica formal no mais estrito sentido: pela ap(!/ã &/cajorma/
Si47 Ramificações de problemas.
(lógica formal dos "juízos"), que tem, portanto, o seu fundamento na mor-
fologia desses "juízos"
Lógica, axiologia e prática formais
Algo semelhante vale para as sínteses da esfera a6etiva e volitiva e para
seuscorrelatos noemáticos, portanto, para suasespéciesde proposições "sin-
téticas", cuja doutrina sistemáticadasformas tem mais uma vez de propor
cionar o alicerce para a construção das doutrinas da validade formal. Nas/Of'-
mai sintéticaspuras dessasesferas(por exemplo, nos nexos de meios e fins)
estão efel&amente contidas condições da possibilidade de "herdade" a,xioLógicü
e ptázP/ca.Em virtude da objetivação, que também se e6etua,por exemplo,
nos atos a6etivos,toda rac/o a//dada axiológica e prática sc converte, da ma-
neira que sabemos,em racionalidade dóxica e, noematicamente, em prrdade
ou, objetivamente, em l:Hrz-/pidadr:
fHamos de fins, meios, preferênciasver
dadeiras ou e6etivas etc.

:=::1:"-:,.=;:"';'-"
.;l:=;=.=1::.=11=: -"«''''""" «;
paralelas, que chamei de axiologia e .prárlradormaa ca e das disciplinas
13iCf. SS 133 e segs.,pp. 293-298

l
+
uma âlosofia fenomenológica
Qp tü seção:Razão e efetipidüde 3,).7
É óbvio que para todos esses encadeamentos cabem inv(ligações Ée.
Os eventos que dizem respeito ao julgar, às noeses,assim como os que lhes
correspondem por essênciano norma, na aP(!áwiis, são investigados precisa-
mente em sua necessáriareferência recíproca e no pleno entrelaçamento em
que se encontram na consciência.
Naturalmente, o que se dissea respeito do paralelismo entre regulamen-
tações noéticas e noemáticas vale para as demais disciplinas formais.

S 148. Problemas teóricos racionais da antologia formal

Uma inflexão nos leva dessasdisciplinas às o# oZoyZaicorrespondentes.


O nexo entre elas já é dado âenomenologicamente pelas mudanças gerais
possíveis
do olhar, que podemsereÊetuadas
no interior de todo ato, pelo
que os componentes que elas trazem ao olhar estão reciprocamente entre
laçados uns aos outros por diversasleis eidéticas. A orientação primária é
a que se volta para o objetivo, a reflexão noemática leva aos componentes
noemáticos, as noéticas, aoscomponentes noéticos. Dessescomponentes, as
disciplinas que aqui nos interessam captam, por abstração, formas puras, e
a apoEântica formal capta formas noemáticas, e a noética que Ihe é paralela,
formas noéticas. Da mesma maneira que essasformas se vinculam umas com
as outras, da mesma maneira elas também estão vinculadas por lei eidética
a formas ânticas, que podem ser apreendidasquando se volta o olhar para
componentes ónücos.
Toda lei formal-lógica pode ser convertida de modo equivalente numa
lei formal-ontológica. Neste caso,não se faz juízo sobre juízos, elementos de
juízo (por exemplo, significações nominais), significações de predicado, mas l
sobre estados-de-coisa,objetos, notas característicasetc. Já não se trata tam-
bém da verdade, da validade das proposições judicativas, mas da composição
do estado-de-coisas,do ser dos objetos etc.
O conteúdo fenomenológico dessamudança deve obviamente ser clara
ficado pelo recuo ao conteúdo dos conceitos aqui decisivos.
A ontologia formal vai, de resto, muito além da esferade tais mudanças
das verdades formais apofânticas. Grandes disciplinas a ela se acrescentam por
aquelas"nominalizações"de que anteseHamos.No julgar plural, o plural
entra como tese plural. Pela mudança nominalizante, ele se torna o objeto
"conjunto", e assim surge o conceito fundamental "z:eor/a doi ca#yw#zlo/'
Nesta, Eaz-sejuízo ioórr conjuntos como objetos que têm suasespéciesde
propriedade, relação etc. O mesmo vale para os conceitos de relação, de
número etc., enquanto conceitosfundamentais das d/srZPZIaí maremár/cai.
328 Idéias para uma Êcnomenologia pura e para uma 61osofiafenomenológica -br. Qpn,rtü seção:Razão e efetilid,n,íie à29

Temos mais uma vez de dizer, como nas doutrinas meramenteformais das maneira clara ou obscura, de ser pensado, atestado. No tocante àquilo que
proposições, que não é tarefa da fenomenologia desenvolver essasdisciplinas. finda a racionalidade, retomamos mais uma vez, portanto, aos sentidos, às
ou seja,não é sua tarefa fazer matemática, si]ogística etc. O que ]he interessa proposições às essênciascognitivas; agora, porém, não às meras formas, mas,
são somente os axiomas e sua composição conceitual, como designação para porque temos diante do olhar a generalidade material da essênciaregional e
análises 6enomenológicas. categorial, a proposições cujo conteúdo de determinação .é tomado em sua
O que 6oi dito também se aplica por si mesmo à adio/ag/a e à .p áf/ca àelexMiü&aàe regional. Ca,dürqião ofereceüq io $o condutor para' sewpró-
dormaíí, assim como às a#zlo/aU/aíjormaZrque a elas devem ser subordinadas prjogrupofecbüdod,einpesttBüçã,o. .. . .:.- .
como desideratosteóricos, o#fo/qgZajo ma/(num sentido bem ampliado) doí Tomemos, por exemplo, como íio condutor a região coisa material. Se
pa/ares,dos bens-- em suma,de todas as esferasânticas que são correlatos entendemos corretamente o que essefio condutor quer dizer, então com ela
da consciênciade abetoe de vontade. apreendemos ao mesmo tempo um problema geral decisivo para uma dis-
gole-se qwe, nestas considerações, o conceito dü ontohyiüformaLse ampliou. ciplina fenomenológica importante e relativamente fechada: o P oóZrmada
Os valores, as objetividades práticas entram sob a designação formal "objeto" (conüitwiçã,o"gera! da,sobjetipidüáesdü ruía,o coisanü consctênctütranscen-
"algo em geral". Do ponto de vista da ontologia analíticauniversalelessão' de la/ ou, mais brevemente, o problema "da constituição fenomenológica
portanto, objetos materiais determinados, as ontologias "formais" dos valores da coisa em geral". Ao mesmo tempo, aprendemostambém a conhecer o
a eles referentes e das objetividades práticas são disciplinas materiais. Por ou- método de investigaçãorelacionado a esseproblema que nos serve de fio
tro lado, as analogias que se findam no paralelismo entre os gêneros téticos condutor. O mesmo vale então para cada região e cadadisciplina referida à
(crença ou modalidade de crença, valoração, volição) e as síntesese formações sua constituição fenomenológica.
sintáticasa elesespeciâcamente subordinadostêm suacorça,que é tão eficaz, Trata-se do seguinte. Para permanecer nessa mesma região, a idéia da
que Kant designou a relação do querer do fim e do querer dos meios como coisa, quando agora dela fHamos, é substituída, em conformidade com a
"anaHtica"i3ze, com isso, naturalmente confimdiu analogiacom identidade. O consciência, pelo pensamento conceptual "coisa" com certo substrato noe-
que é propriamente analítico, o que pertence à síntesepredicativa da doxa, não mático.A todo norma correspondepor essência
um grupo idealmenteee
deve ser misturado com seu análogo formal, que se refere às síntesesdas teses ceado de normas possíveis,cuja unidade reside em que podem ser unificados
de aâedvidadee de vontade. Problemas profilndos e importantes da renome sinteticamente por serem coincidentes. Se, como aqui, o noema é concor-
nologia da razão se vinculam à clarificação radical dessasanalogias e paralelos. dante, então no grupo também se encontram normas que são mtuitivos e, '1
em particular, doadores originários, nos quais todos os outros tipos de noe
ma do grupo encontram seupreenchimento em coincidência identiâcadora,
Os problemas teóricos racionais das ontologias regionais. tirando deles, no caso da posicionalidade, a sua atestação, a sua plenitude de
O problema da constituição fenomenológica corça racional.
Partamos, pois, da representaçãoverbal, talvez inteiramente obscura, de
Após. discutirmos os problemas teóricos racionais que nos são postos "coisa", precisamente como a temos. Engendremos em liberdade repre?en'
pelas disciplinas formais, seria preciso eÉetuar a passagem para as ontologias taçõesintuitivas da mesma"coisa" em geral e tornemos claro para nós o
mafz nazi e, antes de mais nada, para as o#zo/ag/aí gio#a/í. sentido vago da palavra. Já que se trata de uma "representaçãogeral' , te
Toda região objetiva se constit:ui na forma de consciência.Um objeto mos de proceder exemplarmente. Engendremos não importa que intuições
determinado pelo gênero regional tem como tal, desdeque seja e6etivo,os imaginárias de coisas,por exemplo, livres intuições de cavalos alados, corvos
seus modos, prescritos a priori, de ser percebido, de ser representadode brancos.montanhasde ouro etc.; também estasseriam coisas,e representa-
çoes delas servem, pois, de exempliâcação, tanto quanto representações de
coisasda experiência e6etiva.Nelas nós apreendemos, em ideação, com cla-

«=,3;:$mg;lZzli=:'==a=:ii;'==.m.=
':'z:i reza intuitiva a essência"coisa" como sujeito de determinaçõesnoemâticas
gerais delimitadas.
It fenomenológica
331

O que se quer Êenomenologicamentedizer quando se fda de regrasou


lei? Que importância há nisto, que a reg/ão "toZsa" dada inadequadamente
prescrwe regras para o andamento de int içõespossíveis-- o que eqlJlxa\e ç5i-
zer, manifestamente, para o andamento de percepções possíveis?
A respostaé a seguinte: da essênciade um tal norma de coisa fazem
parte, e em absoluta clareza de visão, possibilidades ideais de que as i»-
fzl/fõer roe e f i (IP osx%ga
fz z/& z fada fzf fflu,134segun(io direções prescritas
de certa maneira típica (e, portanto, também paralelamentede que não
+

h
F haja limites na seriação contínua das noeses correspondentes). Lembremos
aqui os desenvolvimentosanteriores sobre a obtenção de uma visão clara
+ da "idéia" geral de coisa, que permanecem válidos para todo nível inferior
+

de generalidade, até mesmo para a concreção última da coisa determinada


individualmente. Sua transcendência se exprime naqueles prosseguimentos
r
ilimitados de intuições que dela se pode ter. As intuições semprepodem
1'=
mais uma vez ser convertidasem contínuos de intuições, e os contínuos
anteriormente dados podem ser ampliados. Nenhuma percepção da coisa
é definitivamente fechada, há sempre espaço para novas percepções, as in-
determinidadesseriam mais proximamente determinadas, os não-preenchi-
mentos, preenchidos. A cada prosseguimento, enriquece-se o conteúdo de
determinação do norma da coisa,que continua sempre a pertencer à mes-
ma coisa X. E uma visão eidética clara que z:odapercepção e multiplicidade
perceptivaé passívelde ampliaçãoe que, portanto, o processonão tem âm;
nenhuma apreensãointuitiva da essênciada coisa pode, por conseguinte,
ser tão completa que uma percepção ulterior não possa acrescentaralgo
novo em termos noemáücos.
Por outro lado, nós apreendemoscom evidênciae adequadamentea
"idéia" de coisa. Nós a apreendemos no //pre processo de percorrer as intui-
ções coerentes, na consciência de seu processo ilimitado. Assim, apreende
mos primeiro a idéia não-preenchidada coisa, e essacoisaindividual como
algo que é dado "até onde" a intuição coerente "chega", mas que, além
disso, permanece determinável "/# /#Ó#/f@m". O "etc." é um momento da
clareza de visão e absolutamente indispensável no norma de coisa.
Com base na consciência exemplar dessa ilimitabilidade, apreendemos,
além disso, a "idéia" das direções determinadas dessa iníinitude,
e isso para
cada uma das direções do transcurso intuitivo que percorremos. Novamente
apreendemosa '%déia"rg/o a/ da ro/saem.gera/como idéia do idêntico que

:'; cc S 143, p. 317

l;' Cf. o quinto argumento de Kant sobre o espaçona Cr/fira da Razão P ra(A 25)

B
b
e para uma filosofia fenomenológica Q«"t" s'!4E
se conservanaquelasinfinitudes de zlzpo
determinado do transcursoe que se Intuindo uma coisa individual, seguindo na intuição seus movimentos,
anuncia naquelas infinitas séries de tipo determinado de noemas.
Assim como a coisa, cada g#a//dada pertencente a seu conteúdo eidético
e, sobretudo, cada 'forma" co##if ripa é uma idéia, e isso vale da general.
dade regional até a particularidade mais ínfima. Expondo mais pormenori-
zadamente:

Em sua essência ideal, a coisa se dá como rei lr #PoraZis, na 'lá07'ma"


rceíxá /a do fe Mpo. A "ideação" intuitiva (que, como intuição de "idéia"
merece aqui muito particularmente o seu nome) nos ensina a conhecer a

âenomenologicamenteclarificado) a "idéia" da temporalidadee de todos os


momentos eidéticos nela contidos
Segundo sua idéia? a coisa é, além disso, reí exfemia, capaz, por exem-
plo, no aspecto.espacial,de infinita variedade de mudança de forma e, numa
figura mantida idêntica e numa modificação de figura, de inânita variedade
de mudanç.a.delugar, elaé «móvel« i / i@mif#m.Apreendemosa '%aZIa"da
eíPafo e as idéias a ela subordinadas.
coisa é, finalmente, rei mafer/a/ix. é unidade íaówa cia/ e, como tal.
unidade de caasaZldadrse, segundo a possibilidade, de infinita vMedade de
causalidades. Também nessaspropriedades especificamente reais deparamos
com idéias.Assim, fodam os componentesda idéia de coisasão elesmesmos
idéias,fada ma / MpZjrao '%Zlc.
" de possibilidades"infinitas". sob a ideia "região de coisa"
O que apresentamosaqui não é "teoria", "metaâsica". Trata-se de ne
cessidadeseidéticas, inseparavelmente contidas no noema de coisa e, correla- Como ;:=;1::=.' quem, p""""««. à -/d«'Í. "" «««ZZ«.;" g"' "-
tivamente, na consciênciadoadora de coisa, que podem ser apreendidascom P ejc la /»f /f/?ame l a coisa podem ser d JC /faí JZstemaficamewzle?
completa clareza de visão e investigadas sistematicamente . ' Se nos ativermos à esferanoemática, a questão é: ,,
Como se mostram as múltiplas intuições posicionais, as "propoSIÇõeS
l#-
i ,'nas quis uma coisa "e6etiva" se dá e atesta intuitivamente sua e$efi-
l Si50 Continuação. A região "coisa" como
fio condutor ü'anscendental

Depois de tornarmos compreensíveis, de maneira a mais geral, as iníini-


tudes que a intuição de coisa abriga em si como tal (segundo noese e noema)
-- ou como também podemos dizer: a idéia da coisae o que ela abriga em
si nas dimensões da infinitude --, também poderemos logo entender em
que medida a região '%ousa"pode servir de ./2o ro d for para investigações
lenomenológicas. ' ' ' '
a 61osofiafenomenológica Qpa,rtü seção: R-üzã,o e efetipida,de 335

Posta como existente, a ideia lqg/o a/ da coisa, seu X idêntico com o farão do espaço",cujo sentido mais profundo, fenomenológico, jamais havia
sido apreendido, se reduz à análisefenomenológica da êssec/a de todos os
l
'o"t'údo de s'"tido d«e:«ü«-te - .p«.«« "©«. à. d/««,/d«'Í" 'Z' ,P,,-
dfõex. Quer dizer: estasnão são simplesmente diversidadesque casualm"rte 6enâmenosnoemáticos (e noéticos) nos quais o espaço se exibe intuitiva
sejuntam, o que já decorre.deque possuemem si mesmas,puramentepor mente e se "constitui" como unidade das aparições,dos modos descritivos
essência,reíêrência à coisa, à coisa determinada. A idéia da região prescreve de exibição da "espacialidade"
Além disso, o .proa/emada fo iz: irão claramente nada mais significa
senão que as séries de aparição regulares e #rcessariame ff pertencentes à
unidade de um aparecimentopodem ser abrangidasintuitivamente pelo
olhar e apreendidasteoricamente -- não obstante suasinfinitudes (sobre as
quais se pode ter inequivocamente domínio no "etc." determinado) --, elas
podem ser analisadase descritasem suapeculiaridade cidéfZca,e a OPeafãs
qwe estabelecepor leis ü correlação entre a, coisa determinada qwe üpa,Tece,como
wniáüde, e üs diversidades infwitüs determiwüdüs düs aparições pode ser esta
em toda a sua evidência e despida de todos os seus enigmas.
Isso não vale apenaspara toda unidade contida na rri exZre#ia(etam-
bém na reí fe MporaZls),mas não menos também para as unidades mais al-
tas. as unidades fundadas, indicadas pela expressão "coisa mazleriaZ:",isto
é. swÓ a cZa/-ca%ia/. No nível da intuição empírica, todas essas unidades
se constituem em "diversidades", e é preciso, por toda parte, que os nexos
eidéticos recíprocos sejam inteiramente iluminados, em todas as camadas,
no que concerne ao sentido e à plenitude de sentido, às funções téticas etc.
É preciso, por fim, que aflore em completa clareza de visão o que a ideia da
coisa,efetipü rep ementa,
wü consciênciafenomenológica,pura, como ela € col-
relato absolutamentenecessáriode um nexo noético-noemático investigado
em sua estrutura e descrito em essência.

$ 151 Camadasda construção transcendental


da coisa. Complementos

Essasinvestigações são essencialmente determinadas pelos diferentes #/-


fieis e cümüdn,s úü constituiçã,o dü coisa wo âmbito dü cowsciênciü,empírtcü
a Ü/ ária. Cada nível e cada camada nesse nível se caracteriza por constituir
z/ma Zdadeprópr/a, que é, por sua vez, membro necessário na consatmção
plena da coisa.
Se tomarmos por exemplo o nível da constituição pura e simplesmente
perceptivada coisa,cujo correlatoé a coisados sentidosdotadade qua-
Agora issoprecisaser não apenasfindado como tesegeral, masseguido lidades sensíveis,nós nos referiremos a um único fluxo de consciência,às
em todas as conâguraçõessingulares. O problema da "ordem da rleprelr#- percepçõespossíveisde um único eu-sujeito perceptivo- Encontraremos aqui
fia fenomenológica Qyürtü seçüo: Razão e efetipidüde 337

parciais na coerência, que só pode ser mantida mediante "correções", devem


ser,portanto, caracterizadossistematicamente de acordo com os componen-
tes noéticos e noemáticos de essência:tais são as mudanças de apreensão,
os eventos téticos de espéciepeculiar, as reavaliaçõese desvalorizaçõesdo
anteriormente apreendido, por exemplo, como "aparência", "ilusão" etc. As
síntesesde conflito, de reavaliaçãoe determinação outra, e como quer que
possam se chamar, têm de afirmar seus direitos perante a síntese contínua da
coerência: para uma fenomenologia da "e6etividade verdadeira", a je#ome#o-
t
Zay/ada "apa é c a #z//a" também é inteiramente indispensável.
F

F SIS2. Aplicaçãodo problemada constituição


+

transcendental a outras regiões


P

r Não é preciso mais nada para ver que o que foi dito aqui, a título exem-
plar, a respeito da constituição da falsa material -- e, na verdade, a respeito
da constituição no sistemadas multiplicidades da experiência encontradas
a f i df todo "pensar" -- tem de ser transferido, tanto em seu problema
como em seu método, a rodasai egiõêrdf o&yezro. No caso de "percepções
sensíveis" intervêm naturalmente agora as respectivas regiões de aros de do-
açãooriginária de espécieseideticamente subordinadas, os quais precisam ser
anteriormente estabelecidos e analisados pela análise fenomenológica.
Problemas bastante difíceis estão ligados ao r#zlre/afamrmzlodaí dl erxai
eil/irai. Eles condicionam os entrelaçamentosentre as configurações cons-
tituintes no plano da consciência.A í;bisanão é um algo isolado diante do
sujeito empírico, como já se pede notar pelas indicações anteriores acerca
da constituição intersubjetiva do mundo da coisa "objetiva". Mas agora esse
mesmo sujeito empírico é constituído como real na experiência, como írr #z/-
mama ou a#/ma/, assim como as cam idades zlezxw&y2r/paí
são constituídas
como comunidadesanimais.
Embora essencialmentefundadas em realidades psíquicas, as quais es
tão por sua vez fundadas em realidades físicas, essascomunidades se apre
sentam como novas o&ykrZ?/darei de ordempaper/or. Fica patente em geral
que há muitas espéciesde objetividades arredias a todas as interpretações
psicologizantes e naturalistas. É assim, por exemplo, com todas as espécies
de objetos-valor ou objetos práticos, com todas as construções concretas da
civilização que determinam nossavida atual na condição de duras efetivi-
dades,tais como, por exemplo, -Eízrado, d/re/zlo,colfamei, lgre7h etc. Todas
essas objetividades têm de ser descritas assim como se dão, segundo espécies

d
Ü
339
tFata e6etivamente de problemas sérios e que se abrem domínios de investi-
gação referentes ao que há poro / c/P/o,#a i lido.ge#adÍHOda Pa/aP a em
fodam
ai c/é fIaSma erZaZs.
O "por princípio" nadamaisé que aquilo que,pe-
los conceitos e conhecimentos fiindamentais, se agrupa em torno das idéias
regionais e encontra ou deveria encontrar seu desenvolvimento sistemático
em ontologias regionais correspondentes.
O que 6oidito pode ser transferido da esperamaterial para ajormaZ e para
as disciplinas o zlo/(bicasa ela adstritas, portanto, para os todos os princípios
+ e ciências de princípios em geral, desde que ampliemos convenientemente a
F
Ç'
idéia de constituição. .Além disso, o âmbito das investigações constitutivas se
+
amplia, com efeito, de tal modo, que ele é por fim capaz de abranger toda a
&
fenomenologia.
Isso é algo que se imporá por si mesmo, se fizermos as seguintes ponde
1'
b rações complementares:
1': Os problemas da constituição do objeto se referem em primeira linha às
multiplicidades de uma possível consciência doado a o êgl#árZa. No caso das
coisas, portanto, eles se referem, por exemplo, à totalidade das experiências
poxi&els às percepções de uma e mesma coisa. A isso vem se juntar a consi-
deração complementar das espéciesde consciência posicional reprodutiva e
a investigação de sua operação racional constitutiva ou, o que vem a dar no
mesmo, daquilo que ela opera para o conhecimento puramente intuitivo; e
igualmente também a consideraçãoda consciênciaque representa obscura-
mente (mas simplesmente)e dos problemas da razão e da e6etividadea ela
A extensão plena do problema transcendental. referentes. Em suma, nós nos movemos antes de tudo a mr a e@erada
" vePresentaça o" .
Articulação das investigações
A estas,no entanto, se vinculam investigaçõescorrespondentes, referidas
às operaçõesda ê$rra iz Pe ior da anão ou, num sentido mais re#r/zlo,do
chamado "faze d/mr fo", com suas sínteses explicitantes, relacionais e de
mais sínteses"lógicas (e então também axiológicas e práticas), com suasope
rações "conceituais", seus enunciados, suas novas formas mediadas de filnda-
ção. Objetividades,que anteseram dadasem azloimo»ofézl/cos, por exemplo,
em merasexperiências(ou pensadascomo dadasna idéia), podem, portanto,
ser submetidas ao jogo das aPerafõei íi zléz:iraie constituir objetividades sin
téticas de nível sempre mais alto, que contêm diversas teses na unidade da
tese total e diversas matérias separadas na unidade da matéria total. Pode-se
coligir, "formar" coletivos (conjuntos) de diferentes níveis de ordem (con-
juntos de conjuntos), "partes" podem ser separadasdo "todo", qualidades,
predicados"tirados" ou "destacados"de seusujeito, objetos "colocados em
relação" com objetos, um pode ser "deito" de referente, o outro, de obje-

4
l
afia fenomenológica
iPidade 34\
tais 7:eglo#aire, antes de mais nada, para próprio conceito de peg/ãa,com a
questão comoum indivíduo dessaregião vêm à condição de dado. Com as
fal gorzaí ?legio#aüe com as investigações por elas delineadas, a delermi-
tação particular que ü forma sintética gaxiha. dü matéria rgionnl ê \exala
.' :-'-. '
em consideraçãocomo convém, assimcomo a influência que as
parÜrw/arar (como.aquelas que encontram expressãonos axiomas regionais)
;xel"cem
sobre
ü efetiidaderqionül. ' '-" '
O que âoi apresentado pode ser manifestamente transferido a todas as esse
+

F
ras de ato e de objeto, portanto também a rod i aí oóykf/pZdades cgtp rom /f#/-

F
T::T!:« «t-ls d:nfeti«i.i«-' """ '-' "s" . «.«*é«i«;'« P,io,' 'sp;;ã.ÚI':;l.:de
+.
ser transferido de uma maneira cuja explicação, novamente segundo matéria e
P'
particularidade material, é a grande tarefa da fenomenologia constitutiva cor:
>
respondente, tarefa que quase não âoi pressentida e menos ainda assumida.
b

1'= Também fica evidente, com isso, a íntima relação da fenomenologia cons-

déticas(excetuamosaqui a própria fenomenologia). .4 seg#éria dr »âeã daJ


?""i-..iúé'i.«;P«"''«:;
' «.«'«i":'
p"«.«:l,
á....Ü..ãl;.'l
i ;l
dr /p iídaldr omr oZagjaJco iz & paí, determina os níveis de generalidade
delas e lhes dá os 'l/:aí ra d#zloreP'em conceitos e proposições fundamentais
ontológicos e eidéticos materiais. Por exemplo, os conceitos fundamentais da

prónmas são índices para camadas da consciência constituinte da coisa ma-


terial, assim como as proposições fiindamentais a eles referentes são índices
para nexos nas camadas e entre as camadas. O esclarecimento fenomenológi-
co do puramente lógico torna então inteligível que e por que também todas
as proposições mrdiafaí da doutrina pura do tempo, da geometria e, assim,
de todas as disciplinas ontológicas sãoíndices para leis eidéticas da consciên-
cia transcendental e para assuasmultiplicidades constituintes.
Deve-se,no entanto, notar expressamenteque, nessesnexos entre as
?T""'!'#" "-;d«:'"' ' " -'.I',#. 6o,Ú-; . m«.«; ««p--
dentes, não bá, nada de w«aüfun ação da,spri«eiras por estasÚMmüs. O
':'''' '
dr ome ó/a@a #ão j#@a o fo/(g/carne le quando reconhece um conceito ou
proposição ontológica como índice para nexos eidéticos constitutivos, quan-
do neles vê um âo condutor para amostras intuitivas que trazem sua legi-
timidade e sua vahdez puramente em si mesmas.Essa constataçãogeral se
verificará para nós ainda mais tarde em desenvolvimentos mais aprofimdados,
que são realmente exigidos em virtude da importância dessasituação.
Uma solução que desseconta de todos os problemas da constituição,
que contemplasse em igual maneira as camadas noéticas e noemáticas da

4
U
F
lllh
uma 61osofiafenomenológica

consciência, seria manifestamente equivalente a uma âenomenologta integral


da razão, que abrangeria todas as suas conâgurações formais e materiais. e
tanto as anómalas (racionais negativas), quanto as normais (racionais po-
sitivas)- Mas é forçoso, além disso, pensar que uma fenomenologia assjm
integral da razão viria a coincidir com a fenomenologia em geral, e que uma ApênMces
apresentação sistemática de todas as descrições da consciência exigidas pela
designação geral "constituição de objeto" teria de abarcar todas as descrições
da consciênciaem geral.
Apêndice 1 - $ 10 e S 13t3s

Essa rZada assecia; enunciados de essênciasobre essênciascomo enun


dados formal-ontológicos.
Como todo objeto, toda essênciatem um conteúdo e uma forma. Os
génerose asespéciesdizem respeito ao conteúdo e, no sentido autêntico, aos
substratos absolutos, assim como a todas as relações parciais autênticas.
O que essênciae essênciano sentido próprio têm em "comum", assim
como aquilo que as diferencia no sentido próprio, no sentido do conteúdo,
é a sua peculiaridade.
Se,'por outro lado, fHamos de "essênciaem geral", o caráter geral "es-
sência" não é ele mesmo um conteúdo, mas uma forma. E se os tomamos
em.erra/ por abstração do "conteúdo", gênero e espécie são designações, e
as relações a eles atinentes são relações formais. Se Edamos sobre o que per-
tence à «essênciada essência", tal se refere àquilo que é implicado pela forma
"essênciaem geral", que conâguraçõespertencem a essaforma. Da mesma
maneira, se falamos de "conteúdo" (matéria) em geral, em relação à "forma"
em geral e assimtambém em particular, o conteúdo mesmo é de novo uma
"6omla"; a própria forma, em comparaçãocom outras formas, uma vez que
o que se deve destacar e considerar é a generalidade "forma", é ela mesma de
novo uma "forma", a forma "forma em geral"
A diferença pode ser assinalada com as palavras seguintes:
Há modos formais puros de consideração, referentes ao formal como tal,
e o que neles se constata está mais uma vez sob modos formais de considera-
ção, que têm formas por conteúdo, e assimi i t/Z /zlwm.E, por outro lado,
há modos materiais de consideração,isto é, tais que se efetuam no objeto
determinado, na essênciadeterminada, por exemplo, na essência"vermelho"
ou "extensão", "coisa" etc.

is5 1914. A dataçãodos apêndicesé aproximadae 6oifeita por Walter Biemel, editor do texto
das Idéias para a HwílerZiama.(NT)
lln
e para uma 61osofiafenomenológica ÁPé dícrx 345
Em seu modo de atuação, a ontologia formal atua sobre formas bilidade de tratar também as essênciasda forma como objetividades, de fazer
puras, ela só atua, portanto, sobre conteúdos enquanto "conteúdos enunciados puros sobre elas, de apreender estados-de-coisas a elas referidos,
em geral" e, assim,sobre asformas dos conteúdos,quer como formas no caráter da generalidade eidética próprio a elas, generalidade que pode ser
de conteúdos em geral, quer em apresentação determinada de formas: transformadaem validaçõesabsolutasou incondicionais para algo individual, e
sua determinidade é forma particular, e sua generalidadeé forma em que, além(ôsso, é ela própria algo pensado em generalidade formal.
geral, referida, portanto, a substratos postos no modo da determini- Sempre que aqui, nestas considerações, âormulamos enunciados puros sobre
a e
algo material, os enunciados mesmos não são materiais, mas formais. Noutras
Modos formais de consideração, cujos correlatos são essênciasformais. palavras,nós nos movemos, de ponta a ponta, na esperada ontologia formal.
sao,portanto, essênciasde uma dimensãototalmente nova em comparação
com asessênciasdeterminadas materialmente, com asformas que as configu-
ram categodalmente. ' ''""' Apêndice ll - p. 33 e seguintes:;'
Temos, por conseguinte, como costumo exprimi-lo nos cursosdes- Categorias de signiâcação, signiâcação
de muitos anos, duas espéciesfundamentalmente diferentes de genera-
lização: ''' '' '
Os conceitos fundamentais pertencentes à essênciada .pragas/fãaetc. A cla-
1. a generalização ,lógico-matemática, que conduz às formas puras riâcação última da proposição, a puriâcação última leva, porém, precisamente
pela substituição dos núcleos plenos por núcleos vazios, das matérias de no sentido das Idéias, a fazer ainda aqui distinção entre signiâcação e propo'
terminadas por algo indeterminado (matérias em geral), dos objetos de lição e, como já ocorre aqui, a entender proposição ontologicamente. Isso
precisa, pois, ser transformado num tema próprio e levado a termo como tal.
terminados pOal"03óetos em geral", 'das essênciasdeterminadas por "es-

2. a generalização material e, nas essências puras, a generalização pura,


que se eleva das espécies aos gêneros, os gêneros autênticos, que são eles Apendice 111 - p. 36 e seguintesis8
mesmos um algo material e matérias puras, por abstração de todas as formas A propósito de "significações"
smtâticas que os circundam.
A consideração âorma] (ou consideração da forma), que as essênciasfran- À página 29, eu di6erencio, no tratamento das "categorias", os conceitos
queiam aoJseremapreensíveissob a generalidade "essência em geral« (uma no sentidode significações
e, por outro lado, asessências
mesmas(aqui, as
generalidade que não é "parte", como o gênero autêntico), é, portanto, uma essências formais), que encontram expressão nessas signiâcações-
consideração de.todo própria. .Á esKé#c/ada ssê c/a #ão 4 .Po [z ZOessacZa lsso não é satisfatório. Tomemos, por exemplo, a categoria formal "es-
o meiga se z/do g e a é cZa .pura r ]/ #p/ei. 0 6orma] 'e, por toda parte, tado-de-coisas". AÍ teríamos a signiâcação "estado-de-coisas" e a essência
"forma de", mas, por outro lado, deve ser tratado novamente como r/daí. formal «estado-de-coisas". Também posso tomar a expressão verbal "estado-
comojorma "lidos", e isso em todos os níveis. "- -"'"' de-coisasvermelho", embora um tal não exista, e a essênciacorrespondente,
A intuição que é.proporcionada pela essência"forma" é uma intuição de que igualmente não existe.
uma espécie essencialmentediferente da intuição proporcionada pela essên- Distinguimoso visadoenquantotal com palavras.As palavraspodem
clamaterial,aessêncianoprimeirosentido.' ' ' '"' se encontrar, quer em função normal de juízo -- qualitativamente não mo-
Subsiste,porém, um algo comum: a multiplicidade plenado "isto-aíl ", de dificadas--, quer em fiinção anormal -- qualitativamente modificadas.No
tOQâposição m(üvidual, a generalidade incondicionada, ou necessidadeque entanto, elasse encontram, como sediz, na mesma significação. O sentido, a
pertence,tanto pela forma, como pela matéria, ao ridaí em geral, e a possi-

';' Cf.S13 ls7 1920


138 1914
? fenomenológica
Apé d/cei 347
de lógica, temos um algo último nos núcleos de diferentes categorias. Ao
núcleo de significação "vermelho" não corresponde, porém, a espécie"ver-
melho", ao núcleo "árvore" não corresponde a idéia concreta de gênero
"árvore"?
Denomino, porém, gênero e espéciecategorias;e o que ocorre com a
relação entre concreto e abstrato (essênciasindependentes e dependentes)?
Também elassão categorias, ou substratos últimos devem ser, enquanto ob-
jetos individuais, objetos independentes e dependentes?
O que significam substratos: são a&yezlai
que já não mais são construções
categoriais,que em si mesmos"nada mais contêm dasformas ontológicas",
que sãomeros correlatos dasfunções de pensar. Mas como há isso, como algo
assimé pensável?A questãoé o que significa "funções do pensar", como isso
pode ganhar relevo? Eventualmente, isso pode ser algo dependente. Pode-se
4'
+
evocar aqui o "X" no norma, mas não é ele que está sendo visado, pois não
r
.-+'
é dele que provém o objeto pleno mediante sintaxes.
De objetos podemos formar sintaticamente novos objetos. Certamente,
Apêndice IV - S 11, P. 48 e Seguintesis9 temos de chegar a objetos últimos. EMesse co /z m d Hr e zlemr#fe dor oó-
JEz:oiP rd/fados Ki/ zla&/camf#fr". Em contraposição às categorias sintáticas,
temos categorias não-sintáticas, categorias nucleares ou categorias de subs-
trato. AÍ também chegamos(comparaçãoetc.) a "sínteses",masnão a sinta
xes. Tudo isso é indicado, visto terem sido justamente distingudas categorias
sintáticas e de substrato. Mas não se chegou à pureza plena. Talvez por corça
da brevidade da exposição.

Apêndice V - $ 11, p. 49.:"


Substrato e essência(dificuldades)

Ora "vermelho" é predicado, como no estado-de-coisas"isso é verme


Iho". Ora sujeito, como no estado-de-coisas "vermelho é uma espécie de
cor". Nesteúltimo caso,no fiindamento do juízo estáa essênciacomo "ob-
jeto-a-respeito-do-qual" se julga, assim como ela mesma é dada ali numa
consideraçãocomparativae em coincidência com as coisasvermelhas,mais
precisamente, com as superfícies vermelhas: o vermelho se destaca e se "tor-
na objeto" para meu julgar e parao juízo: torna-se objeto-a-respeito-do-qual
sejulga. Torna-sesujeito nominal.
:;9 1921

i40 1921
348 Idéias
.4.pê#direi349
Encontro aqui em
gicas, comparando "vermelho" e "Vermelh. não, se da predicação já faz parte a apreensãode essência(apreensão concei-
wal), a saber, para o predicado, e portanto predicado e essência são insepa
a=:=:i,ll:=?'J:l=t:;T.:=:1;!=1 a
rávels
Mas como? Somos levados de predicações como "isto é vermelho" a
síntesesque, encontrando-se muito além, exprimem-se circunscritivamente
com as palavras:essemomento é um caso singular de vermelho (isto é, de
uma essênciaque, na confrontação de momentos como este,sobressaiindu
tivamenteem relaçãoa um âmbito aberto infinito?)
E se digo "vermelho é uma cor", tenho de diferenciar aí as diferentes
Ele é o idêntico em Facedas espéciesde cor e, em cada uma delas, uma especiâcaçãosingular de "cor"
pode ser apreendido em como essênciagenérica,e tenho então, para a predicação,na essência"cor"
gerentes relações lógicas, o momento especificado"cor", que teria primeiramente de ser reconhecido
nos pensamos,no entanto, que uma essência] como caso "especial" da essênciagenérica "cor"? Assim parecem as predica-
aponte que o vermelho se exibe multinl,..., ções primitivas: isto é casa,aquilo é casa, árvore etc., isto é cor, isto é verme
no seu norma nesses modos de ( Iho etc., e então: esteA é vermelho, estevermelho é uma cor etc., ou então:
parte do "sentido" do norma c isto é vermelho, isto é uma espéciede cor etc.
e o que entra na forma l Mas o que seria então dos "substratos"? Teríamos então objetos-sujei-
ência de proposição. to como suportes de momentos, teríamos essesmomentos mesmos.Isto, a
casa,como objeto-sujeito, em identificação parcial abarca o seu momento,
por exemplo, a figura; ou, essasuperfície colorida, individualmente como
sujeito, abarcanela a forma circular, reconhecidacomo círculo e posta, por
tanto, em "síntese de conhecimento" em relaçãocom a essência,e então o
sujeito é reconhecido como sujeito do predicado: o que seria isso?Não o
momento individual e reconhecido como verde .
O momento, em sua singularidade individual, não entra no predicado.
Se digo, "isso é verde", o sujeito é "determinado" pelo conceito, pela essên-
cia "verde", ele é algo da essência"verde". Poder-se-iadizer, ele estáposto
em relaçãocom a essênciaenquanto um sujeito individual, que, como uma
singularizaçãoda essência,tem em si, como suporte de um momento, uma
relação própria com a essência. Não se prédica, porém, um estado-de-coisas
racional, estado-de-coisasracionalmente predicados são um círculo estreito
de estados-de-coisa,e se comparam com estados-de-coisacomo: isto é "ver-
melho"
Vê-se quão grandes são as dificuldades aqui(vejam-se minhas discussões
anteriores a esserespeito), que são, por conseguinte, dificuldades também
para a relação entre objetividades sintáticas e objetividades predicativas do
pensar.Sena intuição eu procedo coligindo, ou em parte combina, em parte
l separo (procedo a exclusões), se passo de um objeto a suas partes e momen-
tos, efetuo sínteses de identiâcação ou confronto comparativamente, faço

1.
4?é"alces 351
Acrescente-se
o grandeerro de que separte do mundo natural(sem
caracteriza-lo como mundo) e se vai imediatamente ao r/daí -- como se já
sem mais dificuldades se chegasseàs ciências exatas. Silencia-se sobre a ide
alização .

ApêndiceVll - p. 59.i42
Aquilo que foi dito aqui é corneto?

O "mundo" dasconstruções aritméticas, a série infinita de números pu-


ros e as construções teóricas da aritmética pura não existiriam para mim,
não estariam "constituídos" para mim de maneira alguma, se não tivesse
praticado aritmética na escola e em minha instrução científica. E. atualmen-
te, essemundo só estáseriamente"a meu alcance" enquanto estou ocupado
com aritmética. Somenteentão, somentequando pratico originariamente
aritmética, gerando construções aritméticas, é que tenho aquele mundo de
Apêndice VI.i4i realidades aritméticas diante dos olhos, e considerando os produtos acaba-
dos, por exemplo, as fórmulas que compreendo e a consciência obscura de
Objeção a todo o primeiro capítulo da primeira senão lembrar-me de nexos abrangentesmais amplos em que elas entram, eu tenho
uma consciênciamediatade um mundo aritmético mais amplo que me é
acessível,no qual agora ocupo um posto.
Em relaçãoao mundo real, é diferente. Em minha vida em vigília, ele
semp:e está atualmente ao meu alcance,já que sempre tenho realmente algo
"dele", estasou aquelasrealidades,em meu campo de experiência.Não pre
casoprimeiro ocupar um posto nele, eu sempre conservo minha posição atua]
e minha experiência nele, mesmo que essaexperiência não seja atualmente
conhmada. Aquilo que é experimentado atualmente é semprecircundado
:=,==.:=;.='=j'T
: ::;=.==Tl==.='=.=S=
:'ln de aspectosnão experimentados, embora no modo de um horizonte infinito.
acessívelà experimentação, de proximidades e distanciamentos inexperimen-
tados, que sempre posso, em sua ordenação, pâr em comparação, em que
posso penetrar passo a passo.
O mundo real estava,portanto, direta e indiretamenteao meu alcance
pela experiência real e possível, inclusive na época em que ainda não tinha ad-
quirido um "mundo ideal", e ele permaneceao meu alcance,mesmoquan-
do, por exemplo, em meu agir aritmético, eu me "perco" inteiramente no
mundo ideal da aritmética etc.
:':1927

i421922

d
352 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fHosofia fenomenológica APé d/rrJ 353
Os dois mundos estão "cora de conexão". o ênciae, em particular, em conformidade com aquilo que é de essência(aprio-
mundo aritmético não entr,
no horizonte de minhas realidades empíricas. ri), sem que haja a mínima preocupação com nexos psicoâsicos, como se estes
não existissem. Dir-se-á aqui que se abstrai conseqüentemente deles. Partindo
de intuições empíricas exemplares do puramente psíquico, tal como são ofe-
Apêndice Vlll - P. 79 e seguintesi4s recidas pela pura experiência, é, portanto, possível, em pura variação da ima-
ginaçãoe voltando o olhar parao invariante que nestasempre.Cazpuramente
Prosseguiremos nestes estudos tanto quanto 6or necessáriopara Obter- uma consciência, delinear
parte das apreensõesde meras possibilidades de
mos em primeiro lugar a evidência de que a consciência pode ser experimen- uma típica eidética das configurações de consciência, e isso de tal modo que,
tada puramente por si, independentemente de todos os nexos reais psicoHsi- por fim, as essênciasinvariantes e invariáveis, essênciasde uma pura totalidade
de consciência,possamser investigadasem intuição concreta, não como uma
generalidadevazia,mascomo uma generalidadeconcreta ou como uma for-
ma eidética concreta, como legislação de essência à qual toda vida individual
o meu psíquico (do. investigador psicológico em questão) se pode eíêtuar concebível da consciência está incondicionalmente submetida.
uma pura experiênciapsíquica (que, operando cientificamente, é chamada
de "experiênciapsicológica"), na qual a pura subjetividadeda consciênciaé
apreendida e apreensível.Mostra-se então que essaexperiência, levada con- Apêndice IX - p. 80
sequentemente adiante, proporciona um campo de experiência fechado em
SBdito de maneira mais precisa, o vivido singular de consciênciaque leva'à A consciênciaem geral ou unidade de uma subjetividade de consciên-
apreensão dessa experiência se mostra como um vivido essencialmente de- cia, que é dada na experiêncianatural e também na experiência que opera
pendente e, no entanto, a experiência que pode sempre progredir de vividos psicologicamentecomo um componente real das realidades existentesno
comcientizadosa semprenovos vividos não proporciona um mero aglome mundo sob a designação de "aw/ma/ia", e que é o tema na .psico/agia, como
rado de vividos, mas todo yiyido é, em necessidadeeidética, momento de um lado "anímico" dela, como individualidade anímica, como vida anímica,essa
nexo concreto totalmente coerente e, melhor ainda, momento de fluxo de ;onscRnçla. também pode ser experimenta,dü e inpest+güda, nwm sentido tot;ül-
consclencia aberto e infinito, no qual cada eu é experimentado em pureza e mente outro e namü orienta,ção radicalmente moãi$cüdü.
semprepassívelde ser experimentado como vivendo nele. Enquanto unidade Ou seja, se, como já o exige incondicionalmente a psicologia ao estabelecer
de um campo de experiência fechado numa totaHdade, o nexo coerente da o ser e a vida psíquicos são apreendidos na pureza e no vínculo que
subjetividade pura da consciência que assim surge em evidência finda aqui, Ihe são eideticamente próprios, embora justamente abstraídos de sua condição
como em todo campo de experiência como este (por exemplo, da experiência de componentes do mundo, então mediante a Eno)(T)própria prewamentecir-
esp:ço material da natureza como campo coerente de experiência), a possi- cunscrita(como modiâcação de orientação do investigador a ser eeetuadade
bilidade de uma investigaçãoeidética. O vivido de consciênciasó pode ser maneira a priori e geral) essenexo eidético próprio, enquanto ser absolutamen-
tematizado em geral em pureza eidética, como sendo possívelpor essência te autónomo, pode ser experimentado e investigado conseqüentemente em si
somente num campo total de um fluxo de consciência, assim como a essência e por si,:m e, portanto, constatado como uma região do ser nova por princípio
um buxo de consciência, de uma subjetividade de consciência em geral. e absoluta, como campo de experiênciade um espéciede ciência nova por
Surge assim a evidência da possibilidade de uma ciência própria, que in principio e absolutamenteautónoma -- a fenomenologia transcendental.
H.Jvestlga
conseqüentemente a subjetividade humana somente enquanto subje A fim de ver o que há de novo, e tomando, como é requerido, por ponto
tividade da experiência "puramente anímica", como subjetiviaaae da comci- de partida a orientação natural, que é, por essência,anterior, e a psicologia

i43 1929.
i" No original: "in sich und an und fiar sich".(NT)
Àpé d/cer 355

U a criação originária de conceitos regionais fundamentais que operem como


conceitos fiindamentais da biologia. Como 6oi, porém, indicado, a obtenção
da exatidão (que é o análogo da exatidão em íisica) exige então o aprimora-
mento sistemático de uma ciência eidética que investigue a forma essencial
da região do ser vivo animal, com basena variação de possibilidade da expe
ciência. Para o lado psíquico dessa região dúplice, isso exige uma eidética da
experiência psíquica pura possível, isto é, justamente uma psicologia eidética
e "fenomenológica pura
r Tudo depende aqui da possibilidade e do sentido dessaexperiência psí-
F
P
quica pura ("experiênciainterna"), isto é, do método dessapuriâcaçãoe
F daquilo que elaconservacomo experimentadopuro, assimcomo também da
b
F' comprovação da possibilidade de uma infinitude fechada e da continuidade
b de tal experiênciacom o correlato de um campo empírico infinito e, no en-
+'

b
tanto, fechado por todos os lados (isto é da comprovação, em primeiro lugar,
r do fluxo de consciência).
2. A pura subjetividade de consciência, a consciência pura, a mesma que,
na abstraçãometódica antes indicada, tem o sentido de uma região fecha-
da de essênciaprópria no interior do mundo real previamente dado, pode
ser vista com clareza num sentido fiindamental e essencialmente novo me
diante modificação da orientação metódica da psicologia e, em especial,da
psicologia "pura"- Ela não mais designa então uma mera região abstratano
interior do mundo, ganhando antes, na nova orientação ("transcendental"),
o sentido fundamental e essencialmentenovo de uma região absolutamente
autónoma, cujos dados experimentais são puros, isto é, não-mundanos, irre
ais, porque nessanova orientação toda experiênciamundana é considerada
metodicamente fora de validade .
Diferentemente da psicologia pura, a ciência da subjetividade transcen-
dental(a fenomenologia transcendental) que assenta sobre experiência de
si transcendentalnão tem, como solo prévio, o mundo empírico enquanto
solo dado de antemão, portanto, tampouco tem sereshumanos e animais em
validez empírica e como temas científicos; e, no entanto, ela tem consciência
pura, embora não mais como componente abstrato, mascomo absolutamente
existente. A modificação de orientação, em sua operação metódica peculiar,
altera o sentido metodicamente fiindado da experiência psicológica pura para
o novo sentido de uma experiênciatranscendental,e pura numa nova ma-
neira. O campo empírico psicológico puro, que se estabelecenaquelacomo
região fechada, continuamente coerente, o campo da subjetividade de .cons-
ciência psicológica pura, isto é, antes de mais nada o campo do fluxo psicoló-
gico puro dos próprios vividos de consciênciase modifica no correspondente

L
a
a
l
osofia fenomenológica .4pé#d/rrr 357
todos os componentes das concreções reais (a corporeidade física e, por con-
seguinte, a natureza em geral) que com ela se entremeiam intuitivamente em
eâedvidadereal ou em possibilidade.Portanto, assimcomo, numa abstração
paralela,na qual se deixa de lado toda espiritualidade pertencente ao mundo
a natureza física(ou natureza física possível) é tematizada como natureza física
pura, como uma região fechada em si da experiência que pode ser prosseguida
continuadamente,ou como representaçãoda imaginação,e assimcomo essa
região se mostra ali como um nexo de unidade infinito por si, fechado por sua
essênciaprópria, cuja continuidade ininterrupta serevela na intuição que pros-
segue continuadamente: da mesma maneira, na abstração correlativa da ex-
periência psíquica pura, a imaginação direcionada para o psíquico puro pode,
como sedeverámostrar, progredir num nexo contínuo /# /#t/Z#izl@m, e então se
mostra um nexo ininterrupto, fechado por essênciaprópria, o campo intuitivo
regionalmente fechado em si do ser psíquico puro, como eÊetividadee como
possibilidadepura. Noutras palavras,também aqui se pode permanecercon
seqüentemente na experiência psíquica pura, se pode permanecer nela -- sem
passarpelo não-psíquico--, numa espera ligada de modo psíquicopuro.
De um lado, a natureza física pura (como aquela que se dá originaria-
mente em experiênciafísica pura contínua) se torna o domínio de uma física
pura (num sentido mais amplo), e a natureza representávelem geral (como
representável na concordância contínua da intuição de imaginação da física
pura) se torna o âmbito de uma ciência a pr/or/, uma ciência da forma eidéti
ca da essênciade uma natureza pura em geral. Do outro lado, será de esperar
o mesmo, se a experiência psíquica pura 6or possível, se 6or conduzida em
nexos contínuos: a possibilidade paralela de uma psicologia pura como ciên-
cia de fatos e de uma psicologia eidética pura como ciência a priori da forma
eidéticanecessáriade uma subjetividade pura possível.Assim como a física,
enquanto ciência "exata", enquanto ciência racional da natureza só pede se
Apêndice XI - P. 80i4s tornar possível tendo por fiindamento a geometria, que desempenha para ela
o papel de método lógico, a doutrina do tempo e a doutrina da corça, todas a
priori, das quais ela retira seusconceitos fiindamentais "exatos", suas normas
racionais puras, assim também a pura psicologia eidética ("a priori") teria en-
tão a fiinção lógica de proporcionar conceitos fiindamentais racionaispuros
"exatos", em vez dos conceitos não-puros e vagos da empina psicológica,
para uma eventual psicologia pura (como ciência de fatos) e, por conseguin-
te, para uma psicologia concreta, emprestando racionalidade a seusconceitos
dúplices a partir de seu lado psíquico puro
:'5 1929; cf também os Apêndices Vlll e IX. De um modo mais amplo: voltando à forma eidética que a essênciaeidé-
tica da região psíquica estabelececomo sua ráfia pura, a psicologia eidética
6a fenomenológica ÀPé d/crJ 359
clariâcação de seu sentido. Como deverá ficar evidente, a espécie eidética
dessedesvelamento é a iteração; um desvelamento progressivo contínuo na
direçãodo horizonte de futuro de cadaaspectojá clariâcado é por essência
possível,pelo que um fluxo contínuo de vividos vem à doaçãode si.
É, além disso, evidente que dois dessesfluxos com um vivido em comum
entram como partes na unidade de um fluxo que os abrange; mais ainda, é
evidente que o que leva de cada vivido a outro é um fluxo vinculante que
P' pode ser desvelado,e é finalmente evidente que tudo é abarcadopor um
b Ú /co fluxo, como minha vida universa], na qual eu sou. Todas as re]ações
}

b e ligações pertencentes a vividos segundo a essência própria a eles imanente


+

l Apêndice XI - P. 94i4ó possuem o caráter da " e/af/o af/dea?' humiana, elas estão contidas a priori
+
no próprio fluxo de vivência, enquanto fluxo concreto fechado inteiramen-
P te em si mesmo por essênciaprópria. Ele é um todo infinitamente aberto
P
r -- uma totalidade a priori --, determinado exclusivamente pelos conteúdos
b

eidéticos próprios dos vividos mesmos.


Não pretendemosdiscutir o andamento exato da construção dos níveis
da evidência, a qual tem suascomplicações em virtude da diferença essencial
na clariâcação do traço eidético do fluxo de vivências passado e filturo(anteci-
pado de maneira multívoca e indeterminada). Está claro que aquilo que pode
ser revelado para mim como totalidade infinita aberta de minha vida passapor
empatia a qualquer outro, que todo outro eu só é pensável para mim, segundo
seusentido, como variação eidética do meu eu, como "meu igual"
O que expusemos diz respeito aos vividos, se nos atamos puramente
àquilo que a reflexão pura sobre cada respectiva coM/zlaZ:/o nos oferece como
puro e, portanto, como sendoa própria essênciadela, isto é, aquilo que é
adequadamente intuído na intuição reflexiva e, juntamente com esseconteú-
do que se doa, é efetividade para o eu que reflete, é realidade presente, eFeti-
vidade passadana forma da recordação, efetividade futura. Desse conteúdo,
no que se refere, por exemplo, a uma percepção imanente de uma percepção
"externa", não faz parte a coisa real que é nela percebida "exteriormente",
e nem segundo alguma parte, nem segundo um momento abstrato. Dois
vividos têm eventualmentea mesmaessênciageral, mas cadaum é, em sua
singularidade, a sua própria essência,a singularização de sua essência,seu
"conteúdo". Ora, a mesma coisa pode ser eventualmente percebida com de
terminaçõesinteiramente iguais em váriaspercepções,por exemplo, com a
mesmacor ou forma, masentão os próprios vividos perceptivos sãosepara'
dos em termos de conteúdo, elastêm, no máximo, substratos iguais (embora
:" 1929. jamais absolutamente iguais) de essênciaprópria, nos quais uma mesma coisa
é "representada" como numericamente idêntica.
e para uma âlosoâa fenomenológica .Apé#diceJ361
Uma percepçãode coisaé um vivido no qual tenho consciênciado Contudo, sempre considerei a coisa somente na pe cepfãopossível--
percebido no modo da apreensão"em carne e osso" dele, e em sínteses masnão na vinculação sintética de experiênciasseparadas.
imanentescom novas percepçõeseu o viso, além disso,no modo "do mes-
mo", que cada uma dessaspercepções apreendeu, respectivamente, como
ele mesmo "em carne e osso"; a própria coisa apreendida em carne e osso é Apendice Xlll - p. 116 e seguintes148
e permanece, porém, "transcendente". O mesmo vale para todo o mundo
real, de que tenho consciência "em mim" no interior do meu fluxo de vivi- Temos, no entanto, de confessarque essaconsideraçãonão é de modo
dos, quaisquer que sejam as formas intencionais em que isso ocorra. algum suâciente, por maior que sejaa importância daquilo que põe em relevo
O que valepara mim, valepara qualquer um de que eu devapoder ter e, principalmente, daquilo a que jamais se prestou atençãol Sempre havíamos
uma representação na forma da consciência e, em particular, um saber. Com contrastado a percgPfãode vividos(na doação originária de si) e a Pf cepfãa
todo o seu fluxo de vividos, ele é transcendente ao meu, mas, por outro dc coisasreais.Podemos,porém, nos restringir a percepçõessingularesde
lado, aquilo de que tem consciênciano seu fluxo de vividos, quer de ma- coisas e, por outro lado, a coisas iimWa/a es?
neira intuitiva, quer não, se não é vivido puro, se não é extraído da reflexão Não pressupusemossempre que temos um fluxo de vividos -- um curso
pura sobre suavida imanente, também é transcendentea suaconsciência: de vida puro fluindo infinitamente, não pressupusemosque eu, isto é, o per-
não há para mim outra maneira de pensa-lo, porquanto tenho de pensa.lo cipiente, não percebo apenas este ou aquele vivido, mas tenho uma exPerzê»-
como outro eu, portanto como igual a mim em toda a generalidade eidéti- fza cofre fe dr m/ #a l2Zda,a partir da qual sou indubitavelmente consciente
ca de minha essência-- como eu, como sendo da mesma espéciede essên- dela? E não pressupusemos que falamos constantemente como "nõs", que
cia que a minha. Transcendênciaquer dizer, portanto, a peculiaridade das #ar somos - não está contido aí a pressuposição de que a mim, como aquele
objetividades intencionais, que vão além da essênciaprópria singular dos que percebee, em geral, experimenta, ão é dado apr#as mea ê e m óa
vividos puros e, portanto, com sua essêncianão podem se ajustar a elas' piiiü. müs também ü Tida, dos outros
Toda a consideração -- que começa com o $ 44 -- se e6etuou na oriew-
faç;ão azr#ra/, cadaum a efetuou, para dizer com mais exatidão, na orienta-
Apêndice Xll - P. 109i47
çãonatural, na qual possuíao mundo em seumodo de doaçãocomo mundo
circundante, na qual este era pura e simplesmente válido para cada um, e na
O dado absoluto e seu correlato, o "absoluto", estãodefinidos errone- qual cadaum, refletindo, podia encontrar a si e a suavida como vida huma-
amente.
na. como vida psicofísica,"decorrendo" como sempre num. corpo mat:nal,
O que importa, no entanto, é que o dado de coisanão é apenasdado como uma vida "real", numa experiência não apenasmaterial, maspsicofísica
por per6], mas sempre e necessariamente dado presumido, e isso no que se (humana).
refere a todo ponto do presente, a todo ponto no qual a coisa é dada em SêcoZocamoíoPO z:oce fra/; o m do é-- mas que ele seja,é meu enun-
ciado. e meu enunciado legítimo, se rxPr ime z:oo mundo. Se não eu tivesse
mundo, na
dado, pode ser que sejafHsa presunção,o que dependedo prosseguimento experiência do mundo, se não tivesse percepção,,originária do
da percepção coerente. Com o Je /ma#f#f?. #ão é ISTOg f íe .paisz. l.Jma qual o mundo me fossedado como vivo presente"contínuo", o mundo não
presunção acerca do ser futuro pode não se confirmar, ele pode cessar de seriaparamlm uma palavracom sentido e nenhum enunciado de mundo ge-
ser, mas enquanto 6or experimentado, ele também é necessário, a crença de ma enunciado com sentido de ser que precisaria de legitimação. .A percepção
experiência no realmente experimentado não é atingida pelo andamento da de mundo seefetua,porém, apenasde uma maneirae por essência,aquela
percepção posterior.
na qual coisassingularessão efetivamente dadas na forma da percepção num

1471922
i48 1929
+
e para uma fUosofia fenomenológica .4pê#d/cei

campo de coisasrestrito enquanto campo perceptivo; que mundo seja mais Não é .pid'nte q". esse s«bjetiv' pod' s'" ap«ewdido p' rü"''e"te '"'' s""
do que essecampo fluente e oscilante, isso me remete ao horizonte que o essewciülitin,de
próprio,, ü qwa,lnã,ofüz, wüd,üdo mundo entrar comoparte
amplia,. e que este, em seu vazio não preenchido perceptivamente, seja hod. da poSiÇão,mas se atém puramente àquilo que é oferecido pela aparição,
Portanto, meu ser
zonte de coisas, remete?por sua vez, a minhas possibilidades (a meu poder) pela experiência,pela atestaçãoempírica do mundo? .] n - «H n /in ma r.

de "penetrar" nessehorizonte, isto é, de produzir para mim, mediante certos r consciência não precedem por essência para mim o ser do mundo, mas
aros presentiâcantese não apenasfictícios, uma plenitude de coisa da qual inclusivetambém o ser mundano que no linguajar comum eu designo
estou certo de que as coisasah representadasintuitivamente são,quer como como eu, o eu como ser humano no mundo, como real entre as realidades
eâetividadesconhecidas, embora não dadas originalmente, quer como e6ed do mundo? , .
vidades supostas, desconhecidas, a serem atestadaspor percepções Mdouias . Essa precedência é manifestamente fundação a priori e não uma.fünda-
de uma
Somente então e6etividadespassadase frituras(futuras não apenasporque ««Ü='iálil«-p"'h"'" . .fe«:,d, .m g«d 'm "'; p''p'q;
preenchemposteriormente minha presunçãode que há existênciapresente coisa sobre outra. Meu ser, em sua universalidade temporal imanente, em sua
desconhecida) são dados possíveis e apenas parcialmente eâetivos de expert. essenciahdadeconcreta plena: se eu não fosse, não haveria mundo para mim,
ênciasdo tipo da recordação ou da expectativa. '' "' isso soa como uma tautologia. Co iidrrawda, porém, mais depcrfa, isso ão iê
Coisase mundo têm para mim validez constante, e não apenasa partir de rm a/ o d/ciado mail ma a Z#aso
doijafai, o de que o mundo queexiste
uma percepção de coisa singular e restrita e já como tal provida de horizon- pam mml, e segundo toda determinação para mim, é uma unidade, a qual se
tes, mas a partir.de uma consciência de validez do tipo de uma consciência exibe em meus vividos subjetivos e nas "exibições" que ah aparecem, e não
universal do horizonte. Logo, também estacarecede uma crítica, uma vez pode ser separada dessa correlação?.
que eu, como ocorreu acima, entro em questõessobre que espéciede legi- Mas. sem dúvida, a estrutura da apodicidade de meu ser, enquanto eu
timidade possui para mim a experiência do mundo, a experiência a partir da puro de minhavida pura, e essavida mesma,referidaao todo temporal,
qual obtenho o sentido mais originário e a legitimação de minha certeza de temporal-imanente, desse ser e vida, apresentam suas dificuldades. Porque
mundo em geral, ou sobre se Ihe cabe ou não indubitabilidade apodítica, que recordação imanente, por exemplo, pode muito bem enganar, logo, conflito,
exclui absolutamenteo não ser, e isso em contraste universalcom a experi- engano, ser-outro (como mostra a própria recordação intuitiva) são muito
como, se, ape-
ência do eu puro e dos vividos. Por outro lado, no que diz respeito a estes, bem possíveisfora do presente intuitivo vivo, imanente. Mas .: â. .= . &.--.
consciência fosse
não
,:.. podíamos,
- eu não. po
. iapressuporosentidonaturalingênuodemeu ''' ' "'"' sar dessas possibilidades, o ser concreto de meu fluxo de
fluxo de vividos, também este é um universo "a partir" do qual são dadas apodítico e se pudessetornar por essênciaevidente que aqui vale antes dc
eÊetivamente,e mesmo que apoditicamente, apenassingularidades, também mais nada o princípio apodítico: o#w game fo áe zlodaaparo cia e#a o ser,
ali tenho de penetrar o horizonte de minha vida, e uma crítica da experiência e não um ser qualquer, mas m if ima ê fe, atestável com um conteúdo
mlanente, como experiência de meu ser e do ser de minha vida, teria de con- apodítico, o qual, todavia, torna acessívela plena determinidade desseser
duzir para dentro da recordação, da expectativa imanente, em suma, de toda somente enquanto "idéia" infinita? . . .. . ....
a experiência de si imanente e concreta. ' ' Mesmo, porem, que tudo isso seja realizável, resta contudo sensívela
. udo bso aponta, cow' deito, para iwpestÜações çircanstanciüdas e dóceis,
cuja realização suficiente e concreta só posteriormente será alcançada. No ori-
meiro esboço das IXéZai ela ainda não âoi levada satisfatoriamente a termo.
Entretanto não se pode antever, e pelo que já é manifesto no presente
«..;;l;=
experiências de mais distinta espécie e sinteticamente ligadas, e a certo eü/Za
da atestação,que é ela mesma um evento inteiramente subjetivo. é sem dúvida um grande problema.
e para uma 61osoâafenomenológica ÀPé dicrr 365
Apêndice XIV - p. 121i4P --, e que, nessasdeterminaçõesidênticas, continuariam a ser determináveis
numa experiência coerente, não importa qual prosseguimento ela tenha. Ven-
Objetar-se-á que esta é uma conclusão um tanto apressada.É possível que do, porém, maisde perto, a experiênciacoerente, progredindo na direçãodo
minhas experiências não tornem impossíveis certas atestaçõesde um mundo em- objeto, apresentao determinante como objetividade idêntica que vale em
plnco que é o meu Mas por isso um mundo a mim inacessível,e o mundo que é "exatidão" progressiva.Isso implica que ela não torna acessíveismeramente
eEetivo,pode muito bem serpossível,e que eu estejalouco -- nada mais Entre.. sempre novas determinações, mas que o já experimentado nunca apresenta
tanto, para reconhecê-lo,tenho de poder ver com clarezaa possibilidadede um algo definitivo em sua composiçãointuitiva, masapenasalgo relativo, que
mundo, mas que aspecto deve ter essaclareza de visão mesma, 4 qual requer, no continuamente semodifica conforme os conteúdos efetivamente tornados in-
entanto a mtuiçao de um ta] mundo? Uma representaçãointuitiva(em contrapo tuitivos, e, portanto, nunca apresenta a respectiva determinação em identida-
siçao~aminhas percepçõesconseqüentes e concordes e a minhas expeiiêncim em de efetiva e em sua e6etividade última. E tudo isso ainda em relação a circuns
geid) poderia ter a figura de uma diversidade coerente de imaginações,nas quais tâncias, cujas direções recíprocas determinam sempre novas modiâcações.
apareceum mundo de imaginaçãocomo uma possibilidaderepresentável?
Mas Essa relatividade requer descrições complicadas. Aqui, porém, é suâciente
o que se passa com essasimaginações? Elas são percepções "como se", ficções de que, em face de todas essasrelatividades,o idêntico continue sempre contido
percepções, de perfis que ali se concatenam sinteticamente, aparições de, reâeHdas, por essênciana visadaexperimental(onde a experiênciaé "teórica" e não se
portanto, a um fluxo correlativo de vividos do eu puro, fluxo também imaginado contenta, como na prática, com o relativo, mas tem diante dos olhos, como
objeto, aquele idêntico da experiênciaque perpassatoda prática possível);aqui
é suficiente que essavisada não seja uma visada vazia e, apesardas modiâcações,
jamais tenha o caráter da aparição, mas seja uma visada que se conhma justa-
um fato possível,a possibilidadereal tem de poder eâedvamentese atestarnum mente na mudançado conteúdo intuitivo, noutras palavras,que sejaconsciência
eu e numa üda de eu eâetivos,isto é, a vida real desseeu efedvo tem de constituir da auto-apariçãodo objeto, exibindo-se em níveis oscilantesde aproximação E
um nexo eâetivoda intencionalidade no qual a eventual "loucura" se atestecomo justamente a issoque se referem o método da ciência natural e a tarefa motivada
uma espécieparticular de aparência,que tem o seuser eâetivopor aás de si. Ou pelo estilo de tal experiência, a sercompreendida em análise explícita e descrição
bem sou eu mesmo que pode conhecer essapossibilidade em suaprópria essência desse estico:em linguagem kantiana, buscar, em oposição aos meros "juízos de
pum, ou bem é um outro eu etc. Esseoutro não pode serpossibilidade vazia para percepção", "juízos de experiência" exatos, ou seja, em certas idealizações e for-
mim, ele mesmo teria de serfilndado ou fimdável em meu vivido. maçõesconceituais, formar novos tipos de conceitos, conceitos "exatos"(mate-
Mesmo que algum estilo louco de experiênciaem nada demonstre no mo- máticos), conceitos que devem, juntamente com seusjuízos correspondentes,
mento o não-ser do mundo, isso ocorreria, porém, mediante um esti]o universal serdiretamente dados da intuição mediante mera abstração, e que, pelo tipo de
que nao contivesseem si nenhuma possibilidade real de confirmação coerente. sua formação, são "idéias" nas quais o estilo das mudanças das coisas sensíveis
relativas(as apariçõessensíveis)é indicado com hmeza e pode ser dominado
matematicamente em suas particularizações pela filme remissão dos conceitos
Apêndice XV - P. 135tso exatos particularizantes a seus dados empíricos particulares. A determinação
exala mediante conceitos matemáticos e físicos é determinação "lógica", "te-
órica" das coisas experimentadas sensivelmente, enquanto identidades que se
exibem em experiênciasensívelmediante conteúdos intuitivos -- identidades
que são constantemente visadase devem ser determinadas teoricamente.
Trata-se aqui, para fiar com mais clareza, da experiência teórica, da prá-
tica empíricada ciêncianatural, e não de uma experiênciaque estejano fun-
.ll Anotação marginal no exemplar 111,posterior a 1922. damento de outra prática qualquer, e que, enquanto tal, tem seushorizontes
particulares, como em qualquer prática, tem sua situação prática, com a qual

(
+
e para uma filosofa fenomenológica Ápé@dZcej367
se destacaaquilo que, relativamente a ela, deve valer como fim empírico atin- modo no "sentido", a significaçãotoda como "matéria". Tem-se,porém,
gido e atingível. A identidade das mesmas coisas perpassa,porém, a mudança consciência da matéria num modo dóxico, e então temos um novo "como";
consci-
o üpo de práaca e dos fhs determinados pela situação;aquilo que numavá aparecendoà consciênciacom tal e tal sentido, o objeto é trazido à
éelemesmo,naoutraétoscaexibiçãoeassim /#@ llwm - '-' ênciajunto com essesentido como sendo (certo), como sendo conjectural-
mente etc.

Apêndice XVI - P. 213's: Di$cwldnde:


Se'façoda matéria o objeto, então eu congro posiçãoontológica a ela.
O campo de findo é um campo de percepção potencial; permanece, con- Se ponho como sendo o objeto que represento nessesentido, então
tudo, 6eqüentemente em aberto se os dados sensíveisserão apreendidos al- tenho ali também a matéria "m" à qual ou a cujo objeto conferi posição
guma vez com coisas (e então, portanto, em necessidadeeidética). Este é, em ontológica?
geral o caso.Não se deve,porém, aârmarserimpensávelque o findo sejaum R-esPoRa:
mero fiando de sensaçãosem apreensõesmatei.tais.liá também o problema No primeiro caso, tenho uma representação."direcionada" para a maté-
de saberse as apreensões-de-findo, que íàzem diversamenteparte de campo ria. Ela tem uma nova matéria e uma nova qualidade.
nentes de fiando, não são modificações de cogitações, isto é, assim corno uma Uma posiçãoontológica, isto é, uma consciênciadóxica partindo do eu,
percepçãoatual pode .serconsiderada como eÉetuaçãoatual de uma apreensão uma tese dóxica que âtmvessauma "representação". Por exemplo, ponho
de coisa, também podemos dizer, como um modo de atualidade do aparecer.
''--'' "csta mesa vermelhas" Pode-se dizer aí que a tese atravessa o "X" que está
que, se colocamosde lado o perceber,se, sem nos atermos a ele, nos nos contido no norma, mais precisamente, na matéria noemática. A caracteriza-
voltamos para outro objeto, uma modiâcação ocorre com a percepção, uma ção como sendo não é outra coisa que o pólo partindo do eu através do X.
alteraçilo do modo de amalidade num modo de findo. Poder-se-ia dizer que Na mudança do olhar pela qual transformo o noematicamentedado em
toda a estrutura do ato é a mesma, mas eu não o eÊetuo realmente. 'i objeto, eu encontro o seguinte: com o.pólo da posição,com um novo p:llo,
Mas até o eu, a apreensão,a mudança de direcionamento, ali compare- eu passoagora à "consciênciainterna" da vivência "esta mesavermelha", e
cem de maneira modiâcada, mas tudo isso de modo exânime, inatual'"r nela encontro, além da referênciaao eu e ao noético que parte do eu,lo "o
Parece haver ou poder haver diferentes modos da consciência-de-fiando. quê", e seuscomponentessão então representadosnuma nova consciência
o modo originário que não comporta nada de tais modi6cações,e a cons- em contraposição ao puro e simples "esta mesa vermelha!"
ciência-de-fiando que é a consciência-de-dente caída em obscuridade. Ou Esta é uma reflexão, e agora a matéria e a qualidade da consciência ante
percepçoes "incipientes", tendências de percepção, que não são percepções. dor são objeto. A matéria, como objeto, recebe.posição de ser. Mas a matéria
Cf. o parágrafo seguinte sobre percepções "incipientes".'É um t r'o 'rv''o dessaposiçãoontológica não é a matéria que é objeto ali, mas uma matéria
limitado, mas tudo isso está realmente junto. ' ' '' '-"'- 'i ciue se refere a uma matéria.

Apêndice XVll - p. 226 e seguintesls2 Apêndice XVlll - P. 214:s:

Direcionamento do olhar para o norma, para o "objeto", de que ali se Unidade do "objeto visado"(no sentido) -- multiplicidades constituin
é consciente, e para a signiâcação para o objeto em seu como O como, o tes da consciência.

i5i 1914
i52 1914.
i5s 1914
368 Idéias para uma âeJ
aPé d/ces 369
noemáticas
Paralelo: muldplicidades Passarentão à discussão de que temos de distinguir entre a unidade no
constituintes
noéticas noema e o noema pleno e inteiro.
eve nota para reformulação:
[oemol em .geral
lqoeseem .gevüt Apêndice XIX - p. 255 e seguintesis4

Notou-se no último parágrafo da página 247 que eu mesmo caí em con-


fusão e tentei colocar as coisasem ordem depois. Todo o desenvolvimento
até a página 249 tem de ser reformulado de novo; do modo como está, ele
é obscuro.
À página 247, linhas 13 a 21, afirma-se que as duas morfologias não
são simplesmente imagens especulares, com isso se remete à correspondên-
cia entre qualquer qualidade simples da coisa e as multiplicidades hiléticas
que a perfilam. Então era também correto, como ocorrera no delineamento
original, acrescentarque também os momentos de apreensãonão poderiam
ser indiferenciados (embora ali não se possa antever como essasdiferenças
l ) }Üg\)rts se reterem às relações das unidades com üs maltiPlicidades cons- poderiam ser descritasde outra maneira que nessageneralidade).
O pensamento principal, todavia, é o seguinte:
No conceito de noema, há perigo de duplo sentido:
L) o sentia\o, o objeto cowplo
tül, deterwpLiwápel
desta ow de owtvü p'lla,fieira,
(sentido noemático).
Z ) Este sentido no sew mono de se üür (noemü pleno). E temos uma mor-
joZag/a dai se r/doi e, paralelamente a ela, uma descrição das m /zl@/icidadei
as gaaZí o Jf lido ir co##/z:wi, nas quais ele ganha preenchimento intuitivo
-- pelo que se separamo sentido em geral, como eventual sentido vazio, e
o sentido como objeto dado entre aspas-Por outro lado, no entanto, nós
temos uma morfologia das goeses e de todos os seus correlatos. Até aí vale,
porém, a figura da imagem especular. Num caso, temos unidades em face de
multiplicidades, no outro caso,não.
A reformulação teria de abarcar também o penúltimo parágrafo (p- 247,
linhas 13-21). Ali se conftlnde:
1) que não é para todo x noemáticoque se encontra, por outro lado,
meramente em geral "consciência de x";
2) que para toda "unidade" no norma corresponde uma multiplicidade
constituinte, o que é algo de todo diferente.

;4 1916
l
nomenológica
AI)êwdices .b.

Apêndice XXI - S 1 13, p. 279 e seguintes'só

.-«;::i;!E=:/{===rz:'E=::'::===="
:z8ãKE$1Hçzn=::n:=m-

Apêndice XX - S 1113,P. 279 e seguintesiss do intencional suão alva//dado de az?e#fão no sentido da eÊctuação de um
atenção nela.'u'" ' uc um "wver nela", do estar-voltado para o correlato da

,.J==iE= :n='::=i::.=;.==rs:i.i;::m
dHl:;iS%;u=u=,:
:::; :t
O correto é jamais dizer atual onde está em questão a oposição à modifi-
caçãode neutralidade,masopor eEetivo-- neutralmente modificado. Intro-
duzir eventualmentejá de início o "posicional-- neutro", e não ter receio
expressão "posição posicional", por mais ceia que soe
Também seria bom dizer:

:55 1914

i5ó 1914
+

a Hlosoâafenomenológica
APé d ceJ 373

RUIR l P;u:n3Tnh quais, se tomamos o caso simples onde não há politese, sãojustamente teses
puras e simples, de modo que a palavra "caráter de conjunto" já não serve.
Onde temos apenas tesesdóxicas, temos um caráter de conjunto, se temos
uma politese. Pode-se aplicar aí o termo "arcõntico"? As teses são segura-
Apêndice XXll - P 296is7 mente um apoio. Da mesmaforma que quando suposiçõesse fundam em
Ad. Tesearcântica convicções, ou dúvidas em convicções e suposições etc. Se temos atou de
afetividade, como alegria, fiindados em atos dóxicos, há aí um algo mais alto
fundado nos alicerces que o "apoiam". O que ocorre com as teses a6etivas?
Não temos também aí de novo os dois casos:a tese afetiva é efetivamente
tese ou uma unidade politética da consciência afetiva, mas posicionalmente
não uma tese?

Mas, por mais (üferenciado que isso seja: nós chegamos a uma posiciona-
lidade mais alta, e isso deveria ser expresso com o termo "arfó#zP/co"

Apêndice XXlll - p. 299 e seguintesis8

Foram opostas por mim: í/#frser co /»z/ai ê s/ feseí a riem/abas.


A significação, porém, de "articulado" ali poderia permitir outras dize
renciações.Talvez se devessepartir da designação "ato ##wdado", que, con-
tudo, já empreguei bastante.
Deve-se notar, sobretudo:
1) as tesespodem ser filndadas em atos plenos, os quais, por suavez, têm
suas teses e suas matérias.
Surgem aí apenascaracterestéticos de nova espécie,que não precisam
de modo algum se referir igualmente como, por exemplo, astesesde pra-
IE zer ou de alegria-- à matériado ato fündante (ou ao conteúdo objetivo do
último ato).
2) Mas também atos plenos podem ser filndados em atou plenos, como
no ato constitutivo de um objeto-signo o ato designante,ou no objeto-ima-
gem -- sujeito-imagem; e também a consciência de generalidade.
Aqui não se pode, todavia, dizer em geral que os caracterestéticos espe
cíficosestãofilndados nos caracterestéticos do nível inferior, ou melhor, dos
atou fündantes.
3) Mas então surge um novo ponto importante e a ser considerado: a sa-
ber, uma tese pode "como tese" ser "motivada" por outra tese: o "porquê"

i5' 1917
ls8 1916
e para uma fHosofia fenomenológica Aüêw vices .. .

Na alegria: um objeto me apraz, e me alegro, porque acredito que ele


norma(e mesmo à plenitude do sentido). Ela toca primeiramente a forma que
existe. Pode-se tratar isso num mesmo nível que os atou relacionais do querer aparece e, secundariamente, o recobrimento qualitativo. Se detemos fümemente
em virtude de outra coisa, do alegrar-se, do valorar, do desejar em virtude de
o objeto que apareceem seu modo de orientação, nada mais poderá mudar aqui
outra coisa?A palavra "relacional" é inadequada aqui. O querer, valorar etc. (com exceçãodo modo de clareza).Mas também, exceçãodeitaà clareza(plurí-
"com respeito a", "com relação a", "com base em"
voca), também entraria em linha de conta a diferença da "plenitude da represen-
Esse"fiindar" é um posicionar com basenum ter posto, num já estar tação", a saber, a i.iqueza da exibição, conforme eu veja direta ou indiretamente
posto. Ele envolve, portanto, em primeiro lugar, as teses.Mas não apenasas isto é, conforme os dados motivantes(direcionamentos do olhar etc.).
tesesque sãoJustamente tesesde sua matéria. A matéria desempenhaali um No âmbito da visão distinta, mas também não indistinta, temos diferen-
p.apel inteiramente outro. A questão é se e em que medida atos de preâerên ' ças dos dados motivantes. (Por certo, mas aqui as "representações" voltadas
cia entram aqui. Logo, isso já acarreta diversos pontos e questões. para os apfíma também desempenham o seu papell) Aqui há, pois, duas di-
4) Atou de colação, de disjunção, de predicação (explicação e relação no mensões: a da distinção e não-distinção e a dos dados motivantes.
sentido geral).
)s desenvolvimentos sobre núcleo como sentido no modo dü pLewitwde, à,p.
Mas aqui a questão é como eles se relacionam com os atos de meio-fim. 323, carecem, l)ortü%to, de párias complementa,ções.
e em geral: nós temos ates de querer coletivo, assim como atou concludentes. Teremos então de üzer= os dados biLéticos mesmos jamais pertencem ao
os aros do "porque -- então" #oJ doÜ ralo ''''
co rrádo armar/co.A toda mudança, porém, dos dados hiléticos operantes
exõesaprofundadas ha 12 da página 293, owzlrogrupo? E preciso, pois, corresponde,em virtude das fiinções noéticas,também uma m da fa a
poema,e onde, considerado em e por si, um momento hilético na noese
pode se modificar sem que se modiâque um momento objetivo especialmen-
te constituído por ele, então isso é caracterizado noematicamente num outro
Apêndice XXIV - S 132, P. 331:sP
modo. Mas essaalteração da caracterização noemática não signiâca ao mes-
mo tempo que também ocorra uma alteração no sentido objetivo restante
Os cor Cintos noemáticos dos dados de sensação(biléticos) %ü noese.
(como orientação etc.). Isso precisa de uma investigação mais detidas
Aqui se poderia iniciar assim:enquanto o objeto percebido, essetintei- Essa superfície colorida pode se exibir para mim de maneira diferente,
ro, me aparece, eziafe#fo.para mr pZ /do, isto é, para os dados de sensação logo aosdados hiléticos mutáveis em suaapreensão correspondem diferenças
cambiantes, em contraposição às marcas objetivas idênticas, atento para isto do noema, mas os dados representativos não fazem parte do norma, mas do
que, com os dados da sensação,exibem-se precisamente essasmarcas, que "modo de aparição" do objeto.
essa exibição é um momento de vivência etc. ' '' ' '
"Modo de aparição" e modo de orientação são realmente uma só e mesma
Agora, se.por o fro fada eu descrevo o aó/efog ê m aParzrr ali, posso de coisa?O objeto não-modiâcado é o idêntico de todos os modos de aparição,o
um lado descreverseu "xp#fZdo"em se lida maü ê r/io, o sentido visado como idêntico em todasasorientações.Como secomportam os conceitos:modo de
tal, mas posso também descrever a maneira particular pela qual ele meapareci, orientaçãodo mesmoobjeto não-modiâcadoe o modo de apariçãodele?
ele, no seu respectivo sz#lZdoo&y2flo. Se tomo uma marca determinada, por Dados hiléticos representam, são apreendidos. Aparências, aparecimen
exemplo, uma superfíciecolorida que pertence ao objeto que aparececomo tos cambiam, e neles se "representa" o mesmo objeto. Um conceito total
tal(ao "se#fZdo"), o modo meramente noemático dessa superfície, a maneira mente outro de representaçãol
::T: y?Tm"., é dure«te coMorme o ««iá«l c..teúão iÜÉi='i=:: No noema, temos, por exemplo, com respeito a uma superfície vermelha
reprexsenta(mastambém conforme os dados hiléticos motivantes). percebida, suas aparências, seus "aparecimentos" cambiantes. O objeto puro
No mesmo passo que issoestá a dêHrxpfa de o /r#Zafãa, que diz respeito ao e simples é dado apenas na forma do que se exibe deste ou daquele lado, nes
te ou naquele "per61 perspectivo", nesta ou naquela perspectiva colorida etc.
i59 1916 No woeHtLa, portanto, wosnão te«pioso dado hiletico «cor», lhas ''cpersa)ectivüde
ro?'",não o dado hilético "extensão e quase-forma", masperspectivade Êor-
oâa fenomenológica Apêndices 377
ma. No entanto, podemos dizer que, assim como na noese nós temos a #áZe 1) A visão de um estado-de-essência,
e ocasionalmentede um enuncia-
do, no qual se enuncia soó e êssé#cZa.

l$ 2) A visão de uma relação.gr a/ / co dZcioKada (relação eidética aplica-


da em generalidade incondicionada), como, por exemplo: um vermelho em
geral é um algo extenso.
Quando se Eda de "apodítico", ele, porém, é comumente empregado
na aplicação de leis eidéticas, de proposições gerais eidéticas a casos isolados
Apêndice XXV - P. 341 e seguintes:óo
postos teticamente ou particularizações eidéticas. Nas páginas 19 e segs., o
1. conceito de apodítico é diretamente fixado para casosnecessáriosde dados
sÍvel:Tll)lo sentido Ção,PFf'e, especialmente,?er comcZarzzatem um sen- de estados-de-coisaeidéticos. Este também é um sentido bastante justo. E à
mente por uma are que Sa.razmostrar, embora eu tenha me decidido firme- palavra "apodítico" sempre pensamos num "tem de ser", e isso nos remete
de volta a uma premissa maior, isto é, a uma aplicação.
o "fünd&oli e.mof/?a o caráter racional da tese, o que Ihe dá legitima- Portanto, é melhor separarmos:
l
P
posiçao: o ver. ae iegiümação" como fimdamento da legitimidade da 1) a visão "empírica" e mesmo como puramente empírica;
b'
r 2 b a visão eidéticü\
P 2) O próprio caráter racional. Assim, também dizemos- acredito n:--
goze"rovejocomclmeza(vejo). ' '''''''"' -----v'u-u, 3) a visão clara de uma generalidade "geral incondicionada", isto é, ne.
cessidade.A visão com clareza de uma necessidade universal pura
A '«ência do «r está, ora na maté.ia tética, ora « tese mesma, em «k- a) surgiu de uma modi6cação de uma visão eidética conforme o item 2, ou
b) procedeu como caso particular e, na verdade, como particularização
Finalmente 3), como se afirma na p. 336, linhas 1-3:
pura de uma generalidade incondicionada.
Unidade da posição racional com aquilo que a motiva por essência. 4) a visão clara de algo experimentado individualmente.
opnamente dizer?posiçõesevidentes, de juízos evidentes. O que isso quer Logo:
1. Visão (empírica ou eidética).
11.Visão clara de generalidadespuras e de necessidadescomo singu-
larizações e puras particularizações de necessidades.

Apêndice XXVll p. 344 e seguuitesió2

A diferença indicada entre evidência assertórica e apodítica nem sempre


é suâciente.
Apêndice XXVI - $ 137, P. 344 e seguintes''i Temos
1) juízos de experiência;

:" 1914
R iElit l :usu:,:=
2) juízos a priori
Nos juízos de experiência temos:
a) juízos descritivos, exprimindo ser individual e ser-assim;

:': 1914
ió2 1914

a
ra uma fUosofia fenomenológica .êwáices
b) juízos empíricos gerais; mas também
Há uma diferença entre "perceber" (isto é, o objeto) e "julgar" que o
c). outros juízos referidos ao individual, por exemplo, juízos hipotéticos. objeto é. Evidente é o juízo. Evidente e, eventualmente,visto com clareza,
disjuntivos. Chegamos,pois, às diferençasformal-lógicas entre os juízos no nós também chamamoso julgar. Por outro lado, tem-se o juízo no sentido
que se refere a tesesempíricas individuais ou, de maneira indeterminada, a te- do ju[gado como ta]. Ser,ser-assim,mas também outras variações:nós "ve.
sescmpíncasga'as. Nos juízos a priori, contudo, temos as formas análogas. mos" que, seA, B, C, D é etc. Semprevoltamos a isto, que os problemasdo
Teria sido preciso leva-las em consideração. "' '---õ juízo têm de ser perfeitamente solucionados. Deve-se considerar nisso que,
Quantas formas de evidência radicalmente distintas possuímos?E mesmo:
formas de evidência imediata sevejo um objeto, o ver, como dado originário, a6etaseguramentea doxa ali
interligada, mas isso significa: somente se e6etuo o "juízo" "A é", eu posso
formas de evidência mediata?
apreender no "é", na tese, o caráter racional, e somente se o faço, eu tenho
Faz, no entanto, parte da essênciade um juízo empírico geral que só evidência. Sem dúvida, também o caráter racional é visto. E, por outro lado,
possa ter evidência na forma de evidência mediata. Há outra espécie de evi- somente em contraste com a posição ontológica e, mais precisamente, com
a e6etuaçãode juízos que não têm o caráter, é que se salientapara mim o
caráter racional: daí que fiar de evidência sempre tem em si algo de relativo,
de referência ao contraste.
Se faço o enunciado "este papel é branco", ele é agora para mim um
juízo puramente descritivo, e essejuízo tem sua evidência. Mas vejo o caráter
de evidência por contraste, tenho de sahentá-lo. No entanto, ele o possui de
qualquer modo.
Que dizer de minha ampliaçãoda idéia de "intuição" à "esferacate
O mesmo nos juízos eidéticos. Os juízos eidéticos "descritivos" etc. gorial"? Cabe persistir nela. Também os estados-de-coisasão objetos e são
vistos. Mas, sem dúvida, a sua visão, se a apreendemos como ato de um raio,
remete a uma eÊetuaçãoevidente do juízo como sínteseintuitiva. Ela é uma
visão sintética e tem caráter racional.
Somos, com isso, direcionados para o ser-assim,para o lado do predicado
(paratomar um juízo categorial), no aspectohipotético, ao "se -- ser" e ao

:àl: ,Hm= Ü ã T::


dependente "então -- é". Somente na experiência pura e simples e também
na apreensãopura e simplesde singularidadeseidéticas,não somos direcio-
nados ao "ser". Este não é, por certo, "objeto" no sentido comum, mas os

::n#)lâ objetos categoriais se constituem em atos sintéticos justamente na consciên-


cia "relacional". Tudo, portanto, ficará em ordem com os desenvolvimentos
mais detidos que se fazem necessários. Mas é preciso ainda notar que Êdamos
de clarezade visãotambém na esferaempírica, sem dúvida não nos simples
juízos de experiência, mas nas fundações da experiência e respectivamente
aosjuízos de leis que se transformam em "visões claras" para nós justamente
na fiindação da experiência,ao passoque o juízo empírico singular, o juízo
"isto é assim #if rl #w#c", não pode se tornar ele mesmo claramente visível;
torna-se claramente visível que, sob dadas circunstâncias, isso tem de ser as-
sim, que o evento teria de ocorrer etc., logo a necessidadedo ser-assime da
existência empírica se torna claramente visível.
380 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma fUosofla fenomenológica Apêndices 381

Todo axioma é claro e evidente, toda verdade intuída eideticamente Apêndice XXVlll - S 143) p. 358 e seguintes:';
(todo juízo eidético intuitivo); a perspicuidade significa então aquela neces-
sidade. Aqui, porém, nem tudo está transparente. Subsistemaqui dificuldadescentrais, e não se pode anteverem que me.
Considerando com mais exatidão, notamos diferenças. No texto, é cor- dida serão solucionadas.
reto fazer referência à diferença entre / d/?/d@oíe asTéc/al, mas não se leva Em primeiro lugar, a diferença entre fantasma e coisa. Em segundo lugar,
em consideração a diferença, que cruza com aquela, das a/fe afõ i ZíÜ/ras. a questão: o que significa propriamente e, portanto, o que requer a infinitude
Uma objetividade originária é "vista" de outra forma como uma alteração cognitiva pertence à idéia de uma coisa (e mesmo também do fantasma)?
lógica dela, como uma propriedade, um conjunto, uma relação,um estado- Dir-se á talvez: uma coisa é percebida: tem-se ali um ser material-espa-
de-coisasetc. E toda espéciede alteraçãoé "vista" de outra maneira. ço-temporal na forma da apreensão, onde a apreensão deixa muita coisa em
E, além disso, o modo de consciência da visão é por sua vez essencial aberto. Não se pode, porém, pensaruma apreensãoque não inclui em si mais
mente diferente, conforme nos movimentamos na esferada objetividade ori- nada de indeterminado? E não é pensável que essa apreensão determinada em
ginária individual ou eidética. si continue sempre a se constatar, a se preencher; que, portanto, a coisa é exa-
Às páginas 19 e segs., a expressão "apodítica" se restringe exclusivamente tamenteassime não de outro modo como "aparece" e como é determinada,
àsparticularizações de generalidadeseidéticas. Mas aqui estão contrapostas a apreendida? Na essênciade uma tal apreensão está, sem dúvida, contido que
visão do individual (assertórica) e a visão eidética, como visão apodítica, além o progresso da experiência, segundo os diferentes lados da apreensão, possi-
das misturas das duas. .Ag#/ se trata, porém, da designação dos diferentes bilita algo "diferente", e a explosão é sempre possível. De acordo com isso, a
modos de consciênciada visão. A palavra "apodítico" remete em si ao modo apreensãotambém pode ser a qualquer tempo substituída por uma infinidade
de consciência. E preferível dizer: os modos de consciência são justamente de apreensõespossíveis,ou de apreensõesmodiâcadas de possibilidades(que
distintos no ridoi e no indivíduo e também segundo as distintas alterações. em conjunto são inconciliáveis), em favor de cada uma das quais EHaalgo de
Um modo particular e destacadode consciênciaé que algo não sejaapenas geral(elas são possibilidades gerais que não são vazias, ainda que agora nada de
visto, mas visto no caráter do "por conseqüência" como sendo necessaria- "positivo" EHea favor delas), e igualmente, qualquer uma das determinidades
mente. O modo de ser é diverso. e somos levados de volta ao eidético. Como percebidas no conjunto pode ser a qualquer tempo substituída por uma inde
quer que seja, a confusão tem de ser posta de lado. "Visão apodítica" não terminidade, que se mantém no âmbito da forma regional.
pode ser empregada para qualquer visão eidética. Isso, porém, não modifica em nada que uma determinada apreensão
Uma vez que a expressão"visão individual" não é utilizável, em contrapo sejapensávelcom uma tesede certezaque se constate cadavez mais.Ou: o
lição à visão "eidética" ou à evidência eidética se poderia ÊHar de visão i:xPerZf#- que é a mesma coisa, é pensável (posso assim pensar toda apreensão de coisa
cZaZ,de evidência expedf c/a/. Em vez de evidência eidética arezade visão. finalmente sem alteração) uma percepção que visa o objeto em plena deter-
Pode-se, todçtpiü, falar corretümente de ama, cLn,reza de picão ü respeito de minação, para além daquilo que dele propriamente se percebe.
z/m #zímero? "Tenho do número 2 uma clareza de visão imediata. do núme. Poder-se-ia falar assim. Pois é um problema se isso é realmente pf iate/.
ro 21 uma clarezade visão mediata". "De uma curva de décima ordem não Sem dúvida, segundo sua essência regional, uma coisa pode entrar em relação
tenho clarividência" etc. com um sem-número de outras coisas,pode desenvolver um sem-número de
Como quer qae seja, nós empregamosü püLüprü "clarividência," apenas causahdades,pode ter um sem-número de propriedadesparticulares.Tudo
para '%#adoi-dr-Folia?', para juízos, estados-de-ser, e nos exemplos ante- isso, porém, pode estar sob leis tão fomes, que a coisa só tem um número
riores logo se objetará: não tenho clarividência do número, mas do irr do limitado de direções causaislegítimas e, em cada uma delas, suaspossibilida-
número, de sua existência. des legalmente estabelecidas. A região deixa em aberto, como muitas dessas
Uma coisa, eu a vejo, a percebo (em contraposição a "eu a recordo", direções, de que maneira se dá o fecho.
a vislumbro na reprodução, e mesmo como realidade presente). Eu vejo a
coisa, não a existência da coisa. Ocorre sem dúvida dizermos: eu vejo que a
coisa está aqui. Mas eu tenho evidência de g#e a coisa é. ióa 1914
382 Idéias para uma fenomenologia pura e para uma Hosofia fenomenológica APé d/ceJ 383
Ç

Iníinitudes, portanto, Subsistempara o conhecimento,desdeque ele Por fim, deve-seaindadizer: um ridai, embora nem todo lidos,pode ser
sempre esteja pronto para encetar novas direções. Mas não subsiste nenhuma dado absolutamente e adequadamente. Não preciso, com efeito, de acabada
infinitude em si. E se não há uma tal infinitude, uma apreensãofechadada clareza do alicerce para apreender um r/dai mais alto. E posso apreendê-lo com-
coisa tem de ser possível.
pletamente, de modo que não mais de possa Êdar de uma clareza mais alta.
Isso ainda precisa ser refletido, desenvolvido, discutido, de maneira mais Não se pode fazer ta] afirmação no caso de um indivíduo, especialmente
determinada.
de um imanente concreto.
Se eu então ainda pudessefazer a oposição "dado finito" -- "dado na Falou-se, pois, de idéias -- como a da clareza completa do imanente
forma de uma idéia"?
-- que são limites. Separamos com mais precisão: as idéias se dividem:
A "idéia" não significaria agora inânitudes da percepção com infinitudes 1) naquelasque são limites ideais, das quais atos doadores evidentes,
que trariam determinidades sempre novas e diferentes. Ao contrário, para embora inadequados, podem se aproximar i# /#@ /z- m -- idéias finitas --,
o conhecimento não estariadefinido se o constituído como coisa é e6e;iva- 2) em idéias que não são tais limites, nas quais, portanto, não é possível
mente a coisa última ou se ele não exige novas direções de qualidades (ou tal "aproximação", "idéias infinitas"
também: não se pode saber se a coisa é efetivamenteassim,como é visada. Falta um parágrafo sobre o tipo.
m" "se "t" num' ouça li«ha). Verdade empírica, verdade na esfera da "rxp /é c/a z:7'a#scf#dr#re",à
O problemáticonão está,portanto, na afirmaçãode que "realidades" qual se contrapõe o tipo (a idéia) da ?e dada a&so/WZla.
não "poderiam ser dadas em nenhuma consciência fechada em completa de Um parágrafo, além disso, sobre verdade "objetiva" em oposição à ver-
terminidade e em intuitividade igualmente completa" (p. 351 ). dade subjetiva. A intersubjetividade da verdade objetiva e a subjetividade da
Isso é, com certeza, carreto. Pois: já no aspecto espacial, todas as pos- verdade imanente.
sibilidades de aparição de uma coisa não podem ser percorridas num lance Verdade matemático-lógica.
continuo; isso apenasem relação à forma no espaço.Mas ainda restam ques- Verdade de essência (da essência "propriamente dita", material).
tões difíceis.
Objetividade da verdade empírica, se tem a forma da ciência natural ma-
temática.
Mas toda a discussãojá estáamplamente preparadapara dar conta aqui
Apêndice XXIX - S 144, p. 359 e seguintes:" deste tema?

Poder-se-ia dizer: também o ser imanente é dado ao conhecimento ape-


nas como idéia, já que ele precisa de um processo de "aproximação". O dado L S8QLFFLCH / USP
adequadoé uma idéia, que tem o caráter de um limite, do qual se pode apro- Bib. Florestan Fernandes Tombo: 321639
ximar como bem aprouver. i.Aqu lição: Compra/ RUSP
L / VB GONÇALVES ME
O ser transcendente, todavia, também é transcendente nisto, que não há
ali nenhuma aproximação. LNP-OWI ) Ü lii:iiM2ÕiÍ
Constatou-se que também na esferaimanente há diferenças de clareza e
obscuridade Portanto, é nesseaspectoque se dá a idéia da clarezaperfeita.
Antes de mais nada, portanto, isso deveria ser salientado e posto cora de con-
sideraçãocomo algo comum.

iut1914
coleção

SUBJETEVIDADE

ontemporanea

Dirigida por João Vergílio Gallerani Cuter

Trata-se de um dos principais filósofos modernos


cujas idéiasinfluenciaram
grandemente
o
pensamento ocidental em diferentes áreas
No Brasil já foram traduzidas as seguintes obras
deste autor:
Meditações cartesianas IEditora Madras)
A crise da humanidade européia e a filosofia
Impressão e acabamento (EDIPUCRS)
GRÁfiCA E EDITORA SANTUÁRIO
Em SistemaCTcP Conferências
deParia(Edições
70}
Rua Pe. Claro Monteiro, 342 A crise do homem europeu e a filosofia
cone 012 3104-2000 / Fax 012 3104-2036
12570-000 Aparecida-SP IRelógio d'água)

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