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I - Caverna
II - Subida
A última semana em Lisboa passou como que num conto de fadas, idas
a restaurantes, viagens para Cintra, uma cidade histórica cheia de castelos nos
arredores de Lisboa, não passei um dia sequer sem vê-lo. Mas no final eu tive
que voltar para o Brasil e deixar o marinheiro em Lisboa, sem saber quando e
se voltaria a vê-lo um dia. Foi uma das experiências mais doloridas que já
passei na minha vida.
De volta ao Brasil, a vida parecia que não tinha mais graça, até que ele
entrou em contato pelo Facebook. Continuamos a conversar todos os dias pela
internet, até que ele propôs que eu comprasse uma passagem de avião para
visitá-lo novamente nas minhas férias. Ele pagaria a passagem e me daria
hospedagem e alimentação. Eu não acreditava no que a vida estava me
proporcionando, esse primeiro amor com matizes épicas era muita mais do que
eu poderia imaginar que um dia aconteceria comigo. Mas ao mesmo tempo
dúvidas começavam a surgir na minha cabeça: será que amor dele continuaria
igual ao que eu sentia por ele? Como faríamos depois da segunda viagem para
manter uma relação? E sobretudo, eu não estava tendo relações com mais
ninguém, depois que conheci ele, será que ele agia da mesma forma?
A segunda viagem só teve o primeiro dia das três semanas no modo Lua
de Mel. Não tardou para que o marinheiro começasse a se portar como “pai” e
quisesse me ensinar como a vida era. Assim, quando saíamos, ele elogiava
outros homens na minha frente, mesmo sabendo que eu ficava visivelmente
incomodada. Foi a festas e não me chamou para ir junto, me deixando sozinha
no barco. E eu, sozinha, também fazia minhas investigações sobre quem de
fato era aquele homem. Assim, encontrei perfils em sites de relacionamento,
fotos de outros homens no computador, conversas de facebook do período em
que “estávamos juntos” em que ele marcava encontros com outros homens. No
final da primeira semana eu já nem queria mais beijá-lo e saia mais cedo
quando ele estava prestes a chegar do trabalho e ficava na rua até mais ou
menos meia noite, só para não ter que conviver.
Num dos dias em que estava sozinha, sem fazer nada no barco,
comecei a mexer em alguns objetos que estavam em cima de uma mesa, até
que encontrei numa sacolinha um caderno. Tratava-se de um diário, que além
de descrições detalhadas de relações sexuais que o marinheiro havia tido
comigo e com outros homens, narrava todos os eventos que narrei aqui só que
pela perspectiva do marinheiro. Quando me deparei com esse objeto pensei
“se ele estivesse viajando e uma outra pessoa encontrasse esse diário, haveria
um personagem chamado Agnan, mas foi eu que encontrei o personagem
acaba de assumir o controle do livro”. Assim, saí correndo pelas ruas de Lisboa
atrás de uma copiadora para tirar uma cópia do caderno. Quase fui pega, mas
por uma obra do destino consegui trazer a cópia do diário para o Brasil ao final
da segunda viagem.
Referências:
PLATÃO. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. – 3 ed. – Belém : EDUFPA, 2000.