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As autoras Kels e Denise Stone fazem sucesso em seu romance

de estreia, nesta sexy comédia romântica em local de trabalho,


de rivais a amantes.
Avery Soko, uma benfeitora ambiciosa e de olhos brilhantes,
está prestes a conseguir o emprego dos seus sonhos de arrecadar
fundos para a Organização de Pesquisas Oceânicas. Luca
Navarro, um ex-advogado corporativo com uma coleção
extravagante de gravatas e um sorriso irritantemente bonito,
tem o futuro de Avery em suas mãos enormes. Quando ele liga
com a notícia de sua rejeição, Luca parece se deliciar em destruir
seus sonhos.
Mas Avery fará qualquer coisa para perseguir sua paixão, até
mesmo aceitar um emprego em uma start-up que passa por
dificuldades. Seu período de má sorte finalmente muda
quando uma competição é anunciada em um baile de gala
grandioso que pode salvar ela e sua nova equipe de afundar.
Claro, a pessoa menos favorita de Avery, Luca, também se
junta à corrida para o prêmio multimilionário.
No auge da competição, Avery e Luca percebem que
encontraram seu oponente. Será que os momentos tensos, as
tentativas absurdas de vencer um ao outro e a série de jogos e
apostas que eles inventaram se transformarão em uma série de
fracassos ou os transformará em algo mais do que adversários?
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Dedicatória
Playlist
Glossário de Espanhol
Aviso — bwc
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Catorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Epílogo
Agradecimentos
Para o meu burnout, você quase ganhou, mas não desta vez.
“Good Days” de SZA
“Small Talk” de Majid Jordan
“So Good” de Omar Apollo
“Latch” de Disclosure, Sam Smith
“3:15 (Breathe)” de Russ
“Beige” de Yoke Lore
“Cariño” de The Marías
“I Dare You” de The xx
“La Curiosidad” de Jay Wheeler, DJ Nelson, Myke Towers
“I Fall Apart” de FLETCHER
“Rather Be” de H.E.R.
“Ella Quiere Beber (Remix)” de Anuel AA, Romeo Santos
“Está Dañada” de Ivan Cornejo
“Falling in Love at a Coffee Shop” de Landon Pigg
“Morning Sex” de Ralph Castelli
“Honesty” de Pink Sweat$
“Kiss U Right Now” de Duckwrth
“La Noche de Anoche” de Bad Bunny, ROSALÍA
“Water Under The Bridge” de Adele
“Help Me Lose My Mind” de Disclosure, London Grammar
“Gonna Love Me” de Teyana Taylor
“Beauty & Essex” de Free Nationals, Daniel Caesar,
Unknown Mortal Orchestra
“Never Tear Us Apart” do Bishop Briggs
“I Wanna Be Yours” de Arctic Monkeys
“By The Sea” de Anna Phoebe
“Through The Echoes” de Paolo Nutini
“Home” de Matthew Hall
Trabalhamos em colaboração com pessoas de herança
mexicana para refletir o dialeto espanhol comumente usado no
México e nos EUA. No entanto, algumas das traduções são
intencionalmente não literais, pois são principalmente
informais e, em alguns casos, gírias. O diálogo, a comida e as
interações familiares são retratados a partir de experiências
vividas. O glossário abaixo inclui o texto em espanhol e
português para ajudar a mapear as interações no livro.
Espero que gostem!

Aparece em vários momentos no texto:


Cariño
Querida ou amor

Capítulo 5 - Luca:
Todavía no. ¿Por qué?
Ainda não. Por quê?
Arriba, abajo, al centro, y adentro
Para cima, para baixo, ao centro e para dentro

Capítulo 10 - Luca:
¡No haces nada!
Você não faz nada!
No mames.
Pare de foder com as coisas
Capítulo 21 - Luca:
No fue tu culpa.
Não foi sua culpa.
Mijo,
Abreviação de filho.
¿Y tú?
E você?
Y por eso no estás casado
E é por isso que você não está casado.
Tal vez si tuviera algunos nietos.
Talvez se eu tivesse alguns netos.

Capítulo 25 - Luca:
Aye, Miguel. ¿Cómo estás?
Oi, Miguel. Como você está?
Ooooh, Luca. ¿Quién es la señorita?
Ooooh. Quem é a senhorita, Luca?
Es mi futura novia.
Ela é minha futura namorada.
¿Y ella lo sabe?
E ela sabe disso?
Pendejo.
Idiota.
No te creas. ¿Qué les puedo dar?
Estou brincando. O que posso conseguir para vocês
dois?
Dame cuatro tacos de nopales, una torta de pollo asado, y dos
mulitas de rajas. Ah, y una horchata, por favor.
Dê-me quatro tacos com nopales, uma torta de frango
grelhada e duas mulitas vegetarianas. Ah, e uma horchata,
por favor.
¿Si, y para la señorita? Tal vez una cerveza, para que te pueda
soportar.
Sim, e para a senhorita? Talvez uma cerveja, para ela
aguentar você?
No, gracias. Un agua, por favor.
Não, obrigada. Uma água, por favor.
Agua e una cerveza
Água e uma cerveja.

Capítulo 29 - Luca:
eres mía
Você é minha.

Capítulo 34 - Avery:
Te amo.
Eu te amo.

Epílogo - Avery:
te ves bien. Te ves muy bien
Você está bonito. Você está muito bonito.
Tú también.
Você também.
Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
Para preservar a nossa identidade e manter o funcionamento
dos grupos de tradução, pedimos que:
• Não publique abertamente sobre essa tradução em
quaisquer redes sociais (por exemplo: não responda a
um tweet dizendo que tem esse livro traduzido);
• Não comente com o autor que leu este livro
traduzido;
• Não distribua este livro como se fosse autoria sua;
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português;
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desse grupo.
Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma
editora brasileira, iremos exclui-lo do nosso acervo.
Em caso de denúncias, fecharemos o canal
permanentemente.
Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam
feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
Às vezes você tem que agarrar a vida pelo pescoço e enforcá-la
direito. Meu pai costumava dizer isso com frequência; ele
sempre ia direto ao ponto.
Exceto que agora, sou eu quem está sendo enforcada. E não
de um jeito bom.
Exatamente trinta minutos atrás, eu deveria estar em uma
entrevista de emprego crucial para um cargo que poderia iniciar
a carreira dos meus sonhos. Em vez disso, estou correndo pela
cidade de Nova York em meus stilettos de dez centímetros
como um avestruz em pânico fugindo de um predador.
Eu estou fodida. Tão magnificamente, absolutamente,
terrivelmente fodida.
Os fatores estão contra mim.
O calor escaldante fora de época e a umidade espessa fazem
com que o suor escorra pelas minhas costas. Meu sutiã está
encharcado e lembra o Pantanal que visitei no Brasil há quase
dez anos.
Oh, as alegrias de ser mulher. Uma mulher muito atrasada.
Seja qual for o azar que acordou comigo esta manhã e me fez
digitar o endereço errado no meu aplicativo de GPS, quero que
ele desapareça.
Você pode me ouvir, mundo? Chega!
Dou um grande passo para a rua e o semáforo
imediatamente fica vermelho. Alguns carros buzinam para
mim, e eu correspondo à raiva soltando alguns palavrões no ar
acima ao leste da Rua 57th.
Esta é a cidade de Nova Iorque. Um semáforo vermelho é
uma sugestão, não uma regra!
Ok, definitivamente é uma regra, e eu preciso evitar me
irritar agora. A última coisa de que preciso é lutar contra uma
onda de raiva muito familiar sobre o meu dia.
Eu engulo uma respiração profunda do ar espesso e tento
não engasgar com o fedor de lixo. É um cheiro que só as pessoas
que moram aqui podem tolerar. Mas passei muitos verões
úmidos na Nova Inglaterra limpando leitos de rios para ter
medo de um pouco de lixo.
Inspire. Expire.
Depois do que parece uma eternidade, finalmente vejo:
Organização de Pesquisas Oceânicas. A placa azul-celeste é
intensamente exibida no toldo do edifício de vidro Enviro,
ladeado por arranha-céus de concreto, o nome de cada grande
indústria que reside no interior decora a entrada. O prédio de
45 andares está florescendo com capitais de risco verdes,
organizações humanitárias, organizações sem fins lucrativos e
empresas como a OPO.
Eu escovo minhas mãos sobre meu cabelo, anteriormente
liso, e enfio minha blusa de novo para dentro minhas calças
azul-marinho.
Mais suor se acumula acima do meu lábio, e eu vasculho
minha bolsa, esperando encontrar algo para limpá-lo. Vasculho
um poço sem fundo de protetores labiais, canetas e minhas
anotações para a entrevista.
Eu realmente deveria gastar algum tempo limpando essa
coisa.
Meus dedos roçam em uma velha embalagem de chiclete. Eu
pego e uso o plástico de menta para limpar a umidade acima da
minha boca. Uma mulher mais velha assiste com uma pitada de
julgamento. Francamente, nós compartilhamos o mesmo
horror.
Eu tento me manter positiva; este dia desastroso poderia ser
muito pior. Ainda tenho alguns goles do meu café com leite
gelado com toffee, e meus saltos não derreteram na calçada
fumegante.

Eu faço o meu caminho para dentro do prédio. Enormes


impressões fotográficas estão em exibição ao redor do saguão,
mostrando um grupo de ursos polares cochilando em uma
geleira e leões rugindo no topo de um abismo.
Aposto que foram tiradas por renomados fotógrafos da
Global Planet Magazine, assim como meu pai. O pensamento
imediatamente amortece meu humor.
Ignore isto. Olhos no prêmio, Ave.
Se ao menos meu eu adolescente pudesse me ver agora:
coberta de suor, zumbindo de cafeína e a poucos minutos de
conhecer a incrível Joanna Benbart.
Filha do bilionário Charles Benbart e única herdeira de sua
enorme fortuna, Joanna não tinha interesse nos negócios de
capital privado de seu pai. Uma verdadeira ativista pioneira, ela
deixou o conforto de sua vida privilegiada para iniciar a
Organização de Pesquisas Oceânicas. Sua empresa combina
inovação e defesa para resolver os maiores desafios que nossos
oceanos enfrentam.
Espero poder realizar pelo menos uma fração do que ela
conseguiu quando eu tiver trinta anos. Apenas mais cinco anos
para se tornar a mulher mais extraordinária do planeta. Nada
demais.
Tirando minha identidade da carteira, corro para a recepção
e dou uma olhada no crachá do segurança.
— Ei, Tim, eu tenho uma entrevista às onze da manhã na
OPO!
Tim olha para a identidade antes de digitar algo no
computador.
— Sinto muito, senhora — diz ele. — Só temos uma Avery
Sock listada aqui.
É claro.
Eu rio um pouco alto demais.
— Esta sou eu! Um erro de digitação comum.
Definitivamente não é um erro de digitação comum.
Será que digitei meu nome errado no meu currículo?
Antes que eu tenha a chance de revisar meu currículo, Tim
atende o telefone. Ele murmura algo para uma voz aguda do
outro lado da linha, me olhando com desconfiança.
Eu pareço uma fraude?
Depois de algumas trocas com a pessoa do outro lado da
linha, Tim reúne provas suficientes sobre minha identidade e
interesses aqui. Eu tento evitar olhar meu relógio, mas vejo os
números: 11h42
Tim finalmente devolve minha identidade e me direciona
para um elevador. Quando passo pelas catracas, percebo que
um dos elevadores está com as portas abertas e corro para ele. O
barulho dos meus saltos ecoa pelo saguão, lembrando o som de
bolinhas de gude derramadas.
— Por favor, segure a porta! — Eu digo pelo vislumbre de
uma pessoa que posso ver lá dentro, mas as portas começam a
se fechar. — Por favor, por favor, por favor!
Lá dentro, aparece uma figura imponente de cabelos escuros
pressionando repetidamente um botão.
Um botão que só posso presumir que serve para fechar as
portas do elevador para mulheres em apuros.
Funciona.
Eu paro perto da entrada, centímetros me separando do
idiota vestido com um terno escuro que parece
desnecessariamente caro.
Seus olhos penetrantes encontram os meus em um olhar
superior que facilmente grita “Sou o único dono deste
elevador, e ganhei”. Há uma sugestão de um sorriso malicioso
em seus lábios antes que ele sumir de vista.
Ugh!
Afasto minha irritação, pulo em direção ao botão de
chamada e o esmago incessantemente. O outro elevador
demora uma eternidade para chegar. Enquanto espero, tiro
minha pasta da bolsa e olho para o meu currículo. O cabeçalho
cuidadosamente digitado diz Avery Soko. Eu sabia que não
havia um erro de digitação!
Aperto a pasta contra o peito. Exausta, encaro meu reflexo
desleixado nas portas de metal. Apesar da minha blusa úmida e
aparência desgastada, ainda pareço um pouco profissional.
Outro elevador finalmente chega. Entro e aperto para o
vigésimo terceiro andar. As últimas gotas do meu latte
rodopiam no copo de vidro na minha mão.
Sede da OPO, aqui vou eu!
Uma maleta de couro dispara entre as portas, forçando a
jaula a reabrir.
Não. Não. Não.
Três homens correm para o elevador, mal reconhecendo
minha presença. Eles parecem estar em seus trinta e poucos
anos. Todos eles estão vestindo jeans e parecem tão
desgrenhados quanto eu.
— Desculpe! — Deixa escapar o maior do grupo com um
forte sotaque escocês. — Estamos atrasados!
Eu quero gritar que eu estava atrasada primeiro. Em vez
disso, mantenho a calma, suprimindo uma zombaria.
O homem mais magro pressiona o botão para o destino, e o
grupo continua sua conversa fiada até que o maior do grupo os
informar que a reunião é na verdade no décimo sexto andar.
Não no décimo quinto.
Antes que alguém possa responder, o homenzarrão passa
pelos outros e aperta o botão do décimo sexto andar. Seu
movimento faz seu companheiro magro tropeçar em mim, e o
restante do meu café com leite se espalha por todas as minhas
coisas.
O tempo para enquanto minha blusa muda de um branco
perolado para um marrom profundo diante dos meus olhos.
A vontade de gritar surge na minha garganta, mas a única
coisa que sai é um exasperado:
— Por quê?
— Olhe o que você fez, Ollie! — Repreende o único homem
do grupo que ainda não tinha falado.
Ollie me dá um olhar cheio de pena e ri.
— Desculpa, moça.
Eu o encaro, incapaz de compreender como esse homem
gigante tem a coragem de rir da infeliz circunstância.
— Isso não é engraçado.
O suposto líder do grupo pigarreia, provavelmente
tentando acalmar a situação.
— Você arruinou a camisa dela inteira.
— Eu posso consertar isso, Mattie! — Ollie diz. Seus dedos
grandes rapidamente começam a desfazer os fechos de sua
camisa.
Todos nós assistimos aterrorizados.
Quando Ollie alcança o terceiro botão, Mattie dá um tapa
em sua mão.
— Sedução não vai tirar você dessa confusão.
Solto uma risada relutante, o nó em meu peito se
afrouxando.
Está tudo bem. É apenas uma pequena mancha. Eu estou um
pouco atrasada.
— Sentimos muito — diz Mattie. Ele aponta para o homem
magro, agora desajeitadamente pressionado contra o lado
oposto do elevador. — Robert, dê a ela seu suéter.
Robert abre a boca para protestar, mas Mattie lhe lança um
olhar frio.
A contragosto, Robert tira seu suéter cinza e o entrega para
mim. Ele estende as mãos, oferecendo-se para segurar minha
pasta, copo de café e bolsa enquanto luto com a graça salvadora
da minha nova camisa. Tem cheiro de detergente cítrico, e
enfio o tecido sobre a cabeça.
Pego minhas coisas de volta com Robert e dou a ele um
sorriso caloroso.
— Obrigada — eu digo a ele.
Ollie me dá uma piscadela excessivamente amigável e um
sinal de positivo, como se essa troca fosse um sucesso.
O elevador para no décimo sexto andar e as portas se abrem
para uma área de recepção com sinalização para Lemon
Venture Capital.
— Aqui estamos, pessoal — anuncia Mattie.
Ollie me lança outro olhar de desculpas e então os garotos-
propaganda do desastre saem do elevador.
Enfio minha pasta encharcada de café de volta na bolsa e
enfio o suéter cinza na calça. Fico feliz que Robert tenha um
corpo semelhante ao meu, porque minha nova camisa só se
enrola em volta dos meus pulsos. Definitivamente não é a
roupa que eu queria usar hoje, mas vai ter que servir.
Eu tomo uma inspiração longa e profunda, então expiro a
irritação dentro de mim. Um café derramado não vai estragar
meu dia.
Fecho meus olhos no silêncio antes que as portas se abram
no andar vinte e três.
Eu consigo!
Finalmente saindo da caixa do inferno, eu observo a sala de
espera da OPO e seus sofás de veludo da cor cerúleo. Murais
azuis e verdes retratando ondas selvagens do mar e criaturas
marinhas coloridas adornam as paredes. Meu olhar cai para o
chão e percebo a imagem de conchas brancas decorando os
ladrilhos.
Uma recepcionista está sentada em uma grande mesa de
madeira flutuante no meio do espaço. Ela me nota e acena para
mim.
Depois de me registrar, ela me conduz pelos corredores da
OPO, que são tão magníficos quanto eu sempre imaginei.
Tudo e todos estão expostos atrás das paredes de vidro que
revestem cada corredor. Os funcionários se espalham em
diferentes áreas de estar, debruçados sobre seus notebooks ou
conversando com seus colegas de trabalho. Algumas pessoas de
jeans e moletons da empresa passam por mim, e me sinto um
pouco exagerada. Mas as primeiras impressões são importantes.
Finalmente chegamos em frente a uma grande sala de
reuniões, onde a recepcionista passa um dos muitos cartões-
chave que está segurando e me conduz para dentro.
— Espere alguns minutos — diz ela com um sorriso cheio
de dentes. — Vou buscar Joanna.
Ela fecha a porta atrás de si e me deixa sozinha.
As janelas do chão ao teto revelam um horizonte
deslumbrante do centro de Manhattan. Nos meus quase três
anos em Nova Iorque, esta deve ser a melhor vista da cidade que
já vi. Meus lábios se curvam para cima. Minha sorte finalmente
está melhorando depois do circo que foi essa manhã.
Uma batida rápida força minha atenção para a porta. Onde
espero encontrar Joanna, está uma mulher pequena. Ela entra
na sala usando um fone de ouvido sem fio e um vestido de verão
amarelo que contrasta com a expressão solene em seu rosto. Ela
parece ter mais ou menos a minha idade, embora seus cachos
cor de cobre e olhos grandes a façam parecer muito mais jovem.
— Srta. Soko?
— Sim, oi. — Vou até ela e estendo a mão. — Por favor, me
chame de Avery.
— Meu nome é Molly Greene e sou a principal assistente
executiva da OPO. — Ela me dá um aperto de mão suave. A
bondade em sua voz acalma minhas preocupações sobre o
atraso. — Teremos que adiar a entrevista em uma hora. Sinta-
se à vontade para usar as comodidades do escritório enquanto
espera. — Seus olhos examinam minha roupa. — Está com
frio?
Eu sei que a melhor coisa a fazer é fingir que o suéter
masculino grande que estou usando não é incomum, mas as
palavras saem da minha boca antes que eu possa impedi-las:
— Tem uma mancha gigante de café embaixo dessa coisa.
Por que eu disse isso?
Antes que eu tenha a chance de retirar tudo que eu disse,
Molly dá um passo mais perto.
— Não sou tão alta quanto você — ela me olha —, mas
temos mais ou menos o mesmo tamanho.
— Hum, isso não pode estar certo. — Não tento esconder
meu ceticismo. Ela é trinta centímetros mais baixa do que eu.
— Posso ser pequena, mas tenho um torso comprido. — Ela
ri, olhando para mim mais uma vez. — Deixe-me pegar uma
das minhas blusas extras para você vestir.
Meu coração se aquece de gratidão.
— Tem certeza?
— Sim, não se preocupe com isso. — Molly me dá um
sorriso educado e depois caminha em direção à porta.

— Pare de me dizer que não há papel na bandeja! — Eu grito


como se a máquina estivesse discutindo comigo.
Depois de vestir a blusa nova, que ficou bem justa nos
ombros, sequei o notebook com a blusa manchada e peguei
minhas anotações. Eu precisava reimprimi-las. Encontrar a sala
de cópias que abriga a impressora foi fácil, mas fazer a
impressora funcionar é uma história totalmente diferente.
Me curvo, tentando clicar em botões aleatórios, mas recebo
a mesma mensagem de erro estridente. Sem papel.
Acima do barulho, passos entram na sala de cópias.
— Nossa impressora não tem como se defender contra
mulheres indisciplinadas — uma voz profunda fala atrás de
mim, enviando um arrepio irritante na minha espinha. —
Deixe-me consertar. — Uma mão masculina passa por cima do
meu ombro.
— Eu cuido disso. — Afasto os dedos do estranho e me viro
para confrontar o sabe-tudo atrás de mim.
O idiota se eleva sobre mim, seus ombros largos ocupando a
maior parte da vazia sala de cópias. Com 1,75m, eu sou
relativamente alta entre grande parte dos homens, mas ele ainda
consegue me olhar de cima mesmo eu usando meus saltos. Eu
inclino minha cabeça para trás para dar uma boa olhada nesse
cara.
Meu estômago dá cambalhotas.
A poucos centímetros de mim está o homem que fechou as
portas do elevador na minha cara.
— Você! — Eu suspiro quando encontro seus olhos
castanhos.
Um par de sobrancelhas grossas e escuras se ergue em
diversão, e seus lábios se curvam em um sorriso sutil. Uma
mandíbula afiada complementa suas características masculinas.
Ele é muito, muito másculo.
Como o tipo de homem que eles escolhem para interpretar
um vilão taciturno em um filme. Talvez seja para isso que ele
está aqui: filmar um comercial para a OPO onde ele é o cara
mau, como um daqueles grandes partidários das empresas de
petróleo, e Joanna consegue derrubá-lo com um de seus
discursos motivacionais.
Eu adoraria ver isso.
Minha atenção volta para como minha blusa emprestada se
estende sobre meu peito. O tecido ao redor dos botões mal está
se segurando. Começo a me sentir particularmente exposta.
Nós olhamos um para o outro por um minuto a mais, e
então a impressora ronca chamando minha atenção para longe
dele.
Notas de apresentação. Joanna Benbart. Trabalho dos sonhos.
— Você está imprimindo da bandeja errada. — Ele se
aproxima de mim novamente, sem fazer nenhum esforço para
reconhecer nosso desentendimento anterior.
— Diz para imprimir da bandeja um. — Eu encaro a
máquina, empurrando-o para fora do caminho com meu
cotovelo. — A bandeja um tem papel!
Ele solta uma pequena risada e, pela primeira vez, noto uma
pitada de calor em seus olhos escuros que me lembram as
árvores de bordo em Vermont.
Se não fosse pela evidente arrogância em suas feições, ele
seria um pouco atraente.
— Eu sei o que estou fazendo — ele declara. Percebo outra
sugestão de seu sorriso quando ele passa por mim e pressiona
um botão na impressora.
Ok, quem eu estou enganando?
Este homem é bonito de uma forma que grita que ele nunca
se esforça muito antes que alguém se apaixone por seu ato
misterioso e presunçoso.
— Obrigada, mas eu posso resolver isso. — Eu me viro para
enfrentar a antiga monstruosidade tecnológica diante de mim,
mas a máquina lentamente ganha vida. Essa coisa está
estranhamente deslocada em um escritório que parece tão
moderno.
— Então se apresse — diz ele de uma maneira muito rude
para o meu gosto. — Esta é a única impressora em todo o
escritório e você está atrasando a fila.
— Só para você saber, esta é uma maneira terrível de se
desculpar com alguém depois de fechar as portas do elevador
na cara dela.
— Eu não sei do que você está falando.
Sua recusa em reconhecer seu papel na minha manhã deixa
minha mandíbula tensa.
O homem está parado ao meu lado como se não tivesse nada
melhor para fazer do que ver o papel sair de uma impressora.
Parece que ele realmente consertou essa maldita coisa.
Respiro fundo para preencher o silêncio, e o leve toque de
almíscar da floresta faz cócegas em meu nariz. É além de uma
distração.
Eu solto um suspiro.
— Você pode voltar daqui a pouco?
— Não — diz ele. Seu olhar aguçado envia irritação através
de mim mais uma vez.
— Tudo bem — eu respondo e jogo meu cabelo sobre meu
ombro.
— Eu não vi você pelo escritório. Você é nova? — Há uma
curiosidade genuína em sua voz profunda.
— Eu tenho uma reunião com Joanna Benbart hoje.
— Oh. — Suas sobrancelhas franzem antes que ele dê um
pequeno passo para longe de mim.
Não tenho certeza do que causou a mudança repentina em
sua postura autoritária, mas ele não sai da sala. Em vez disso,
ficamos em um silêncio constrangedor enquanto minhas
anotações terminam de sair da impressora.
O que diabos ele poderia estar fazendo neste escritório?
Independentemente disso, devo avisar Joanna que um idiota
está abordando as pessoas na sala de cópias.
Pego meus papéis e os organizo em uma pilha.
Outra breve risada escapa dele.
— Nem mesmo um obrigado?
Ele está zombando com a minha cara?
— Não para um engravatado sem coração — eu sussurro,
esperando que minhas palavras estejam fora do alcance da
audição.
— Você pode repetir isso? — Sua voz comanda. — Acho
que não entendi.
Eu viro minha cabeça em direção a ele.
— Tem algo preso na minha garganta.
Seus olhos se arregalam e sua cabeça se inclina para um lado.
Isso saiu de forma inadequada?
Finjo tossir para consolidar meu argumento e enfio meus
papéis debaixo do braço. Eu o contorno e começo a caminhar
de volta para o local da minha entrevista.
— Bela camisa — ele zomba em voz alta atrás de mim.

Estou furiosa na sala de reuniões quando Molly bate na porta.


Eu pulo, retribuindo seu sorriso.
A Sra. Benbart a segue. Minha respiração fica presa em meus
pulmões quando a realidade da situação me atinge.
É isso. Esta é ela!
Minha cabeça começa a girar. Vou desmaiar de emoção.
Um emprego aqui é tão cobiçado que a simples inscrição
levou duas semanas para ser concluída, sendo seguida por um
processo de revisão de um mês com o gerente de contratação,
após o qual finalmente ganhei a oportunidade de apresentar
minha argumentação.
Se ao menos meu pai pudesse me ver agora. Nossos sonhos
estão a caminho de se tornar realidade!
— Olá, Sra. Benbart. — Eu tento entorpecer a euforia em
minha voz. É um dia típico e está tudo bem. — Eu sou Avery
Soko. É um prazer conhecê-la.
Eu me orgulho de conter a avalanche de elogios e boatos que
encontrei sobre Joanna durante a maior parte da minha vida.
Ela estende a mão e agarra a minha. O azul gelado de seus
olhos contrasta fortemente com os longos cachos grisalhos
espalhados por seus ombros.
— Da mesma forma para mim.
— Eu só queria me desculpar por minha confusão de
horários.
Ela sorri com desdém e se senta à cabeceira da mesa. Eu me
recolho e fico ao lado da televisão, que exibe meu primeiro
slide.
Abro a boca para falar quando alguém bate na porta.
— Excelente. — Joanna diz em um tom um tanto
condescendente. — O novo COO1 da OPO, Luca Navarro, se
juntará a nós hoje. Espero que você não se importe.
— De forma alguma — eu asseguro a ela.
Se o carma existe, todas as vezes que paguei não foram
suficientes porque o engravatado sem coração atravessa a sala e
se senta ao lado da Sra. Benbart.
Ele mal reconhece minha presença. Ele fixa os olhos
firmemente na televisão, claramente esperando que eu
continue.
Molly bate suavemente com a caneta na mesa de
conferência, uma sugestão nada sutil para que eu comece e seja
rápida.

1
Diretor de Operações.
Apesar de minhas mãos trêmulas e minhas bochechas
queimando, eu puxo outra respiração profunda e apresento o
que espero ser a melhor estratégia de arrecadação de fundos que
o mundo já viu.
— Então, como foi? — Lily grita ao telefone. O som de um
campus universitário invade a linha.
— Bem, quando eu desci do trem... — eu começo antes que
ela prontamente me interrompa.
— Ave, quero todos os detalhes, mas já estou quatro
minutos atrasada para minha próxima palestra, então apenas
resume.
— Certo. — Minha melhor amiga, que por acaso também é
minha colega de quarto, tem uma agenda apertada entre as
aulas e o trabalho como bartender. — Foi bom.
— Você conheceu Joanna?
— Sim, e o novíssimo COO.
— O quê?
— Ugh, eu não quero entrar nisso. O cara era um grande
babaca.
— Olha, eu só sei que você os surpreendeu — diz Lily.
— Obrigada. — Eu suspiro.
— Vá tomar uma bebida comemorativa por minha conta.
Vou vê-la hoje a noite. — Lily encerra a ligação.
Um minuto depois, recebo uma notificação de uma
transferência de vinte dólares do aplicativo de pagamento no
meu celular com uma mensagem:

Lily: Te amo, você vai salvar aquelas tartarugas!

Eu rio da mensagem e coloco meu telefone de volta na


minha bolsa. Ela sempre me apoiou, mesmo que às vezes
zombe.
Sou grata por Lily ter se esgueirado sob as minhas defesas
tantos anos atrás. Depois de uma das minhas sessões noturnas
de estudo no início do meu último ano, entrei no único bar
aberto à 1h da manhã de uma terça-feira chuvosa em Chapel
Hill. Lily, que por acaso estava trabalhando no turno da noite,
me serviu uma generosa taça de vinho e me ouviu desabafar
sobre meu autoritário professor de ecologia. Então ela me
contou sobre um cara com quem ela estava saindo que levava
um livro anotado para ela toda vez que eles ficavam.
Eu tento não pensar quanto tempo faz desde que eu sequer
considerei namorar, muito menos encontrar alguém que se
esforçasse tanto. Mas por que eu precisaria de um namorado
quando tenho uma melhor amiga como Lily? Escolhemos estar
presentes uma para a outra no melhor e no pior de nossas vidas
adultas.
Estou exausta depois da minha longa entrevista e
incrivelmente precisando de uma distração.
Sinto uma bolha recém-formada em meu pé direito, a blusa
pequena de Molly ainda me sufoca e meu cabelo encharcado de
suor está preso em um coque baixo com frizz.
Eu poderia ir direto para casa no Upper East Side, mas
prefiro ficar de mau-humor perto de um grupo de estranhos do
que ficar sozinha em meu apartamento.
Eu caminho sem rumo pela rua 56th até que finalmente
noto um pub irlandês aparentemente aconchegante. Atrás das
janelas de vidro fumê, cadeiras de couro estofadas estão
espalhadas pelo bar, e há alguns clientes casuais por perto.
Entro, sento no canto do balcão um tanto pegajoso e leio o
cardápio. São 15h00 e estou praticamente morrendo de fome.
Procuro algo frito e crocante, precisando de um abraço por
dentro.
— Ei! — Uma voz levemente familiar diz atrás de mim, mas
o peso do meu dia me faz ignorá-la. — Ei, você é a mulher do
elevador — a voz diz novamente, e eu me viro para ver um dos
homens de antes.
Ah, o líder do grupo. Qual era o nome dele? Matt? Mattie?
Ele começa a caminhar em direção ao assento vazio ao meu
lado e cai na curva oposta do balcão, à minha direita.
— Qual seu pedido? — O barman pergunta, me salvando
do que poderia ter sido uma interação muito estranha.
— Uma taça de Chardonnay e uma porção grande de anéis
de cebola. — Eu sorrio. — Obrigada.
O barman acena com a cabeça, pegando meu cardápio.
— Vou querer outro uísque sour, Maureen — diz o cara do
elevador. Seu cabelo preto bagunçado aponta para a frente
quando ele acena para o barman. Seus lábios se franzem como
se ele estivesse perdido em pensamentos.
Ele provavelmente está aqui para recuperar o suéter de
Robert.
— Certo, eu tenho algo seu.
Tiro o suéter cinza da bolsa, mas Mattie bate com a mão no
balcão.
— Por favor, fique. — Um lado de sua boca se curva para
cima e ele inclina a cabeça em minha direção. — Nós meio que
te devemos uma por estragar sua camisa.
Eu dou a ele um sorriso educado, que espero transmitir uma
expressão de “por favor, me deixe ficar na fossa em paz”, e tomo
um gole do vinho que Maureen coloca diante de mim. Pego
meu telefone e tento me distrair com alguns e-mails pendentes
até que meus anéis de cebola escaldantes cheguem da cozinha.
Dou minha primeira mordida e ainda sinto seu foco em
mim.
— Eles não são ótimos? — Suas palavras forçam minha
atenção de volta ao seu lado do balcão.
Eu aceno e avalio suas feições. Bondade emana de seus olhos
azuis profundos. Uma barba por fazer cobre sua mandíbula.
Examino sua roupa. Mattie usa uma camiseta gráfica com a
palavra Plastech impressa em verde-esmeralda.
— Minha empresa — diz ele, apontando para o nome. —
Ou quem sabe o que vai ser depois do fracasso da reunião de
hoje.
Eu franzo a testa.
— Se isso faz você se sentir melhor, é provável que eu
continue desempregada depois do dia que acabei de ter.
— Sinto muito se minha equipe teve algo a ver com isso.
Seu pedido de desculpas parece sincero. Eu me viro para
encará-lo e sorrio.
— Não se preocupe com isso.
Meu perdão faz pouco para aliviar a tensão em sua
expressão, mas honestamente não o culpo. Minha manhã tem
sido frenética desde que saí do apartamento e tive que correr
escada acima porque esqueci meu copo de café.
Mas a pior parte do meu dia foi o quão pouco da atenção de
Joanna Benbart eu consegui capturar com minha
argumentação. Seu parceiro mastigou tudo em minha
apresentação até que fosse um esqueleto, mas estou confiante
de que me mantive firme contra ele. Era como se ele estivesse se
divertindo tentando me irritar. Mesmo que ele fosse implacável
e me desse vontade de arrancar os cabelos, era meio
emocionante responder a cada pergunta sem pausa.
O caos do dia pesa em minha mente. Provavelmente devo
examinar meu orçamento quando chegar em casa,
especialmente se não for trabalhar na OPO depois de minha
entrevista catastrófica.
Da última vez que verifiquei, havia guardado o equivalente
a cerca de dois meses de despesas do meu emprego anterior.
Trabalhei como assistente de um casal com a carreira de
filantropos, Foster e Deborah Adams, que foram muito
generosos. Meu salário ajudou a cobrir meu programa de
mestrado na Universidade de Columbia, aluguel e um pouco
mais.
Olhando para trás agora, lamento não ter aceitado a oferta
da família de permanecer empregada após a formatura. Eu
deveria ter pensado no meu plano B, mas OPO sempre seria a
prioridade.
Um suspiro profundo do homem ao meu lado traz minha
atenção de volta ao bar. O olhar triste em seu rosto não
desapareceu. Não há razão para ficarmos sentados aqui,
perdidos em nossos próprios medos. Eu sou melhor do que
isso.
Eu empurro meu prato de comida reconfortante entre nós
para compartilhar.
— Vamos começar de novo, ok?
Ele parece tão exausto quanto eu, mas seus olhos brilham.
— Sou Matthew Hudson. — Ele enfia um dos anéis de
cebola na boca. — O grandalhão de hoje foi o Ollie Anderson.
Meu outro colega é Robert Stewart. Ambos estão lambendo
suas feridas agora em nossos escritórios temporários.
— Eu sou Avery Soko.
— Então, quer falar sobre isso? Ou podemos ficar de mau-
humor em silêncio e aumentar nosso peso com as frituras.
Passo a próxima hora explicando cada detalhe do meu dia
para Matthew. Ele realiza um ótimo trabalho ouvindo e
acenando com a cabeça em todos os momentos certos da minha
história, me dando outro pedido de desculpas quando explico
que estou usando uma camisa de outra estranha desde o início
desta manhã.
Então é a vez dele de contar.
— Sou o CEO de uma empresa de tecnologia ambiental.
— Oh, o que exatamente vocês fazem?
— Criamos uma tecnologia que usa inteligência artificial
proprietária para separar lixo de peixes em nossos oceanos.
— Isso é realmente inovador! — Eu suspiro.
Tenho estado de olho em alguns dos recentes
desenvolvimentos tecnológicos no espaço de conservação. É
precisamente por isso que eu estava tão animada para a minha
entrevista hoje. Cada vez que me deparo com algo
revolucionário, imediatamente quero fazer parte disso. Se eu
trabalhasse na equipe de desenvolvimento da OPO, ajudaria a
alocar fundos para projetos como o da Plastech.
Bem, isso e, claro, aprenderia com Joanna.
— É. — Matthew suspira. — Mas se nossa apresentação de
hoje é um indicador de nosso futuro, podemos não durar
muito mais tempo.
— Tão ruim assim? — Eu pergunto.
— Precisamos desesperadamente de financiamento para
uma nova missão na Ilha Gaya, na Malásia — explica ele. —
Nosso maior problema é a escalabilidade. Assim que ficarmos
sem dinheiro para operar, estamos acabados.
— Antes de entrar no programa de mestrado, passei dois
anos em uma organização sem fins lucrativos que realiza muitas
pesquisas nessa área. — Minhas bochechas levantam.
— Está brincando!
— É, ajudei na equipe de arrecadação de fundos. Me conte
sobre a estratégia atual da Plastech. — Já estou chegando ao
meu limite para falar sobre trabalho hoje, mas minha formação
profissional desperta minha curiosidade. — Por quanto tempo
vocês podem se sustentar?
— A maioria do nosso capital inicial veio de investidores
anjos. — Ele dá de ombros. — Neste ponto, será mais fácil
fechar tudo do que esgotar o restante de nosso financiamento.
Ah, o elusivo investidor anjo. Eu aceno com conhecimento
de causa.
Frequentemente, são indivíduos ricos que gostam de
participar de projetos de paixão, mas se recusam a ficar por
perto para o trabalho em andamento.
— E você maximizou suas opções?
Matthew não responde. Em vez disso, sua cabeça cai
solenemente enquanto seus lábios formam uma linha apertada.
O desejo de se intrometer na situação de Matthew é
esmagador.
Não sei se é o vinho me dando uma segunda onda ou a
sensação de que provavelmente arruinei minha chance de
conseguir o emprego dos meus sonhos, mas tiro meu notebook
da bolsa.
— Eu vou te ajudar.
— Obrigado, mas tenho certeza de que você tem coisas mais
importantes para fazer — diz ele.
Não tenho coragem de explicar que esta conversa será o
ponto alto da minha noite.
Isso é triste?
Não, claro que não. Estou na minha zona!
— Isto é importante, Matthew. — Pego um dos meus
modelos de apresentação e olho para ele. — Mostre-me o que
você tem.
O bar se enche de risadas e conversas altas. Ficamos sentados
juntos por algumas horas enquanto a multidão muda de
sórdidos consumidores diurnos para o cenário de happy hour
do centro da cidade.
As duas taças de vinho finalmente me alcançaram, e o
barulho estridente está causando uma martelada na frente da
minha cabeça. Lá fora, o céu azul começa a escurecer.
Reorganizo o restante da apresentação de marketing da
Plastech e a envio para Matthew.
Durante nossa conversa, reformulei completamente sua
declaração de missão e adaptei suas metas de arrecadação de
fundos para ajudar a continuar o trabalho em que já estão
focados. Matthew tem um vasto conhecimento de firmas de
capital de risco e métodos de arrecadação de fundos mais
tradicionais, mas a Plastech não tentou arrecadar dinheiro por
meio de doadores individuais e escritórios familiares
filantrópicos. As mudanças que fiz irão ajudá-los com isso.
— É tudo uma questão de como você apresenta a
informação — explico. — A Plastech pode realmente fazer a
diferença. Você só precisa mostrar isso aos seus investidores.
— Isto é incrível!
— Examine isso com sua equipe, mas você deve estar em boa
forma.
— Muito obrigado, Avery. Eu te devo uma.
— Não há necessidade. — Eu sorrio. — Fico feliz em ajudar.
Matthew sorri para mim, aparentemente hipnotizado pelas
informações que forneci sobre o funcionamento interno de
arrecadação de fundos. Ele vira a bebida e enfia a mão no bolso
de trás para pegar a carteira.
— Sei que você está esperando pela OPO — diz ele,
estendendo um cartão de visita com seu nome completo e
número de telefone —, mas se você estiver interessada, a
Plastech adoraria tê-la a bordo.
Hesito antes de pegar o cartão dele. Ainda não estou pronta
para desistir da OPO, mas uma nova conexão nunca é demais.
— Boa sorte — digo a ele.

Subo os últimos degraus até o quarto andar do prédio sem


elevador e reconsidero profundamente a afirmação de Lily de
que o treino de glúteos valeria a caminhada quando
concordamos em alugar este lugar.
Tirei meus sapatos dois andares abaixo por pura exaustão,
decidindo carregá-los.
A bolha no meu pé lateja.
Minha cabeça gira vigorosamente por falta de oxigênio
enquanto enfio minhas chaves na porta da frente. Essa coisa
nunca abre na primeira tentativa. Depois de alguns minutos
lutando com a maçaneta, finalmente tropeço para dentro do
meu apartamento.
Lily e eu nos mudamos para cá em fevereiro, fechando um
negócio incrível para um apartamento de dois quartos no
Upper East Side. Apesar de seu tamanho um tanto pequeno, é
uma mansão em comparação com o minúsculo apartamento
que dividimos por dois anos quando nos mudamos para a
cidade de Nova Iorque. Nosso novo apartamento tem uma
grande cozinha de chef, onde ocasionalmente asso por estresse.
A rua que abriga nosso prédio fica perto o suficiente do Central
Park para minhas corridas matinais e perto do trabalho de Lily
no Mademoiselle.
Um sofá superdimensionado fica no meio da sala ao lado de
uma mesa de centro de teca vintage. Uma coleção de plantas
forra os peitoris das janelas e decora a unidade de mídia que
suporta nossa pequena televisão no canto. Na parede bege está
pendurada uma das fotografias do meu pai. Uma grande
extensão oceânica com um par de golfinhos no horizonte. Eles
são uma das poucas criaturas na natureza que têm o mesmo par
por toda a vida.
Huh, talvez essa seja eu e Lily – parceiras platônicas para
sempre.
Nossos quartos estão em ambos os lados do apartamento,
dando alguma privacidade a um espaço relativamente
pequeno. Não que eu precise de muita privacidade. Eu passo a
maioria das noites aqui sozinha.
Minha bolsa cai no chão de madeira e tiro a blusa de Molly.
Meu estômago ronca de fome, então olho ao redor da cozinha.
Uma caixa branca de tamanho médio com um laço está sobre o
balcão.
Isso não estava aqui esta manhã.
Em cima da caixa bem embrulhada, há um pequeno bilhete.

Parabéns por arrasar na sua entrevista! Desculpe, tive que


pegar um turno no bar
Com amor, Lily.

Eu suspiro.
Lily e eu íamos assistir novamente a nossa comédia
romântica favorita com um pote de sorvete esta noite.
Abro a caixa para revelar meia dúzia de cupcakes de
desculpas perfeitamente decorados em tons de azul e verde para
combinar com as cores da OPO. O calor abre caminho no meu
peito apertado. Tento sorrir e ignoro a triste sensação de
saudade da minha amiga.
Está tudo bem.
Não posso ficar chateada com Lily. Claro, o trabalho deve
vir em primeiro lugar. Pego um dos meus prêmios de
consolação e mordo o bolo fofo e a cobertura espessa de creme
de manteiga.

Lily ainda merece um prêmio por ser a melhor amiga do


século. Faço uma anotação mental de que, se conseguir o
emprego na OPO, usarei o primeiro contracheque para
comprar para ela aquela bolsa preta fofa que ela está de olho.
Pego a caixa de cupcakes em meus braços e a carrego até o
sofá. Dou outra mordida e olho para o meu telefone, desejando
que toque com boas notícias. Talvez Joanna me ligue amanhã
com uma generosa oferta de emprego. Conversaremos como
uma pupila e uma mentora conversam, nos conectando com o
quão enjoada a viagem para a Antártica nos deixou e como
minha estratégia de arrecadação de fundos levará a OPO a um
novo nível.
Mas mesmo que seja uma notícia terrível, espero que seja
Joanna quem ligue para que eu possa dizer a ela o quanto seu
trabalho significou para mim. Ou talvez Molly. Honestamente,
qualquer um seria melhor do que o engravatado sem coração.
— Oh, não, não, não, não. — Uma voz em pânico ecoa em meu
escritório no canto, quebrando minha concentração dos
últimos relatórios do projeto.
O relógio marca 06:00 da manhã
Quem diabos está no escritório a esta hora?
Eu rolo para longe da minha mesa e saio do meu escritório
para caminhar pelos corredores em direção ao barulho. Os
gritos param, mas parecem ter vindo do lado oposto do nosso
andar. Eu poderia voltar para minha mesa, mas e se alguém
estiver machucado?
Meus pais me ensinaram a sempre ajudar.
Trinta e um anos depois, posso não gostar, mas não consigo
conter o instinto gentil.
O sol da manhã ilumina os laboratórios e procuro a origem
da interrupção, mas nada parece fora do comum.
De jeito nenhum eu imaginei a coisa toda.
Eu passo pela porta pesada para a ala de pesquisa. A área é
estranhamente silenciosa, exceto por um leve ruído de
arranhão.
É melhor que não haja ratos aqui.
Pego uma engenhoca de metal de uma das grandes mesas de
aço entulhadas com pilhas de pastas transbordando.
Proteção em primeiro lugar.
Meus olhos pousam em um pequeno sapato espreitando
por trás de um armário de aço.
Ok. Definitivamente não é um rato.
Eu posso ver as manchetes: Mulher morta na OPO – novo
diretor de operações é o único suspeito.
Eu abaixo minha voz.
— Olá?
Um som agudo e violento envolve a sala.
— Ahhhh — eu grito de volta.
Esse grito realmente acabou de sair de mim?
Uma cientista ergue a cabeça por trás do armário.
— Oh, é só você, Sr. Navarro...
Eu sou tão assustador?
Me aproximo da Dra. Hana Claremont, uma das principais
pesquisadoras da OPO. Seu jaleco cai sobre os ombros,
cobrindo uma calça de pijama com estampa animal.
Por que mais alguém usaria calças com gatos pintados nelas
se não fossem pijamas?
Ela está agarrando livros espalhados e papéis soltos no chão
à sua frente.
— Luca — eu a lembro. Eu não esclareço que as pessoas
constantemente pronunciam meu sobrenome de maneira um
pouco errada. É mais fácil assim.
— Certo, sim, Sr. Nav... — Seus olhos caem para o chão e
rapidamente voltam para mim. — Luca.
— Está tudo bem?
— Sim, obrigada. Acabei de saber que talvez eu precise
começar a levantar mais peso na academia. — Ela finalmente se
levanta e seus olhos se voltam para o dispositivo em minha mão.
— Por que você está segurando uma braçadeira multiúso?
O metal ainda está na palma da minha mão.
— Deixa para lá.
Eu o coloco no chão.
— Desculpe. — Uma risada nervosa escapa dela.
Eu deveria ter ficado na minha mesa. Não há nada de errado
e essa provação boba vai me atrasar pelo menos dez minutos
hoje.
Tudo bem. Vou cancelar meu almoço de quinze minutos
para compensar o período perdido de produtividade. Não é a
primeira vez.
Pelo menos quando eu perdia os almoços na Douglas &
Draper, podia almoçar na privacidade de um escritório com
paredes de verdade, não feitas de vidro. O luxo de passar um dia
inteiro sem encontros indesejados ou mesmo uma conversa traz
um sorriso sutil ao meu rosto.
Era maravilhoso.
— Então, você não está ferida? — Eu confirmo. — Aquele
grito foi por nada?
Ela solta um suspiro alto.
— Os livros não são nada.
Ela está falando sério? Essa é a coisa mais irracional que eu já
ouvi.
Mas as últimas semanas provaram que muitas coisas na
OPO passam do limite do irracional, desde o vestuário até a
terrível preocupação com a pontualidade. Engancho meus
dedos no nó da minha gravata e ajusto sua posição em volta do
meu pescoço.
Sou o único que leva meu trabalho a sério e se veste
adequadamente. Eu entendo que o sucesso começa com o seu
guarda-roupa. Com persistência suficiente, tenho certeza de
que posso convencer o restante da equipe a pensar o mesmo.
A Dra. Claremont se ajoelha novamente e junta os livros e
arquivos em uma pilha organizada à sua frente.
— Me deixe ajudá-la. — Meu terno amassa quando me
abaixo para recolher os materiais de pesquisa do piso de
ladrilhos brancos.
Para preencher o silêncio, a Dra. Claremont compartilha
detalhes sobre o projeto de robótica em que está trabalhando.
Ignoro sua empolgação sobre máquinas nadando em uma
piscina.
Não tenho certeza do que há de empolgante nisso, mas
todos na OPO defendem apaixonada e coletivamente
inovações que possam apoiar seu sonho compartilhado.
Foi o que me levou a escolher OPO como meu primeiro
cliente pro-bono quando comecei na D&D. O trabalho que fiz
para a OPO foi impactante e significativo. Isso me lembrou das
atividades extracurriculares ambientais que fiz na faculdade,
então continuei assumindo seus casos ao longo dos anos.
O Conselho ficou impressionado com o quão detalhista e
eficiente eu era, e eles me ofereceram o cargo de COO. Mas
quando o Conselho me abordou, eu tinha acabado de me
tornar sócio da D&D e não iria jogar fora meu trabalho duro
lá.
Isso mudou depois que fui designado para o caso das
Indústrias Shift.
Um ano após a primeira oferta da OPO, o cargo de COO
ainda estava vago. Aparentemente, as duas últimas pessoas
desistiram em poucos meses por causa da carga horária do
trabalho. Achei que o Conselho devia estar desesperado
quando me contrataram imediatamente e não consideraram
minha conexão com o caso das Indústrias Shift um problema.
A mudança de carreira deveria ajudar a minha culpa. Mas
até agora não ajudou.
— Obrigada por sua ajuda — diz a Dra. Claremont. Ela se
levanta, metade dos livros aninhados em seus braços.
— De nada. — Coloco a pilha que juntei na mesa ao meu
lado.
A boca da Dra. Claremont se abre como se hesitasse com as
palavras seguintes. Eu deveria ir embora.
— Você fez alguma coisa divertida no fim de semana? — Ela
pergunta.
Eu suspiro. Aí está.
A pergunta mais inútil e intrusiva que um colega pode fazer
a outro colega. A um superior, neste cenário. Por que as pessoas
devem sempre transformar o trabalho em seu parquinho
social?
— Na verdade não — eu insisto secamente, esperando que
ela não se intrometa mais.
— Isso não pode ser verdade. Nova Iorque é praticamente
um parque temático para homens solteiros como você.
Homens solteiros como eu?
Não tem como ela saber de nada. Eu não divulguei o menor
indício do meu status de relacionamento, ou a falta dele, para
ninguém na OPO.
— Esse é um assunto pessoal que não desejo discutir, Dra.
Claremont. — Eu me viro e corro para fora da sala.
— Bem, isso confirma minha hipótese e me dá vinte dólares
— diz ela baixinho, provavelmente esperando que eu não
pudesse ouvi-la desse lado do laboratório.
O que há com as pessoas sussurrando ao meu redor
ultimamente?
— Boa sorte com seus robôs. — O aborrecimento agora é
aparente em minha voz.
— Por favor, não leve minha pergunta para o lado pessoal.
A maioria de nós trabalha aqui há anos. Estamos simplesmente
curiosos sobre nosso novo chefe.
Eu não concedo a ela uma resposta. Em vez disso, saio do
laboratório e volto para o meu escritório. Pelo menos posso
riscar um item da minha lista de tarefas – checar as equipes de
pesquisa – e anotar para nunca mais voltar aos laboratórios.

Bing.
O lembrete da minha reunião com Joanna pisca no meu
computador.
Espero que ela esteja de bom humor hoje.
Pego o contrato para o novo cargo de desenvolvimento da
minha mesa.
Avery Soko pode desconsiderar a pontualidade, mas isso
sugere que ela se encaixará perfeitamente na OPO. Ela
pesquisou cuidadosamente suas ideias – exatamente o que a
empresa precisa agora – e pode se manter firme comigo, ao
contrário de muitos outros aqui.
Na breve jornada até o escritório de Joanna, olho para os
artigos bem emoldurados nas paredes, ilustrando as muitas
décadas em que ela foi pioneira em mudanças no espaço de
conservação. Seus prêmios sempre despertam um senso de
propósito em mim.
Joanna se senta em sua cadeira de veludo azul e me vê
caminhando em direção ao seu escritório. A imobilidade de seu
corpo imita uma estátua de mármore. É como se ela estivesse
tão perdida em seus pensamentos que consegue olhar além de
você.
Eu corro para dentro.
Tum!
Minha carne colide com o vidro frio e duro. A entrada quase
transparente e o resto das paredes tremem.
Essas malditas portas de vidro.
Ignoro o choque e me recomponho rapidamente.
Joanna não reconhece meu encontro íntimo com o vidro,
um grande indicador de que essa reunião será exatamente como
nossas outras breves reuniões. Eu me forço para dentro e
esfrego a protuberância que provavelmente está se formando
na minha testa.
— Olha quem finalmente resolveu aparecer! — Os olhos
azuis penetrantes de Joanna encontram os meus antes de voltar
para o computador. — Ligue para a Srta. Soko e informe-a de
que não prosseguiremos com sua candidatura.
Não prosseguiremos com sua candidatura? Eu aperto a carta
de proposta.
— Por que não? — Uma pontada de irritação dança através
de mim. — A Srta. Soko é a melhor candidata que encontramos
em semanas.
Além do estímulo ocasional de impaciência, Avery Soko é
uma candidata excepcional. Seu limite me lembrou uma lição
que Papi me ensinou quando me tornei advogado: as pessoas
revelam suas falhas de caráter mais significativas sob pressão.
— Ela é muito jovem — diz Joanna.
Deixo escapar um suspiro exasperado.
— Vou precisar de um motivo melhor.
— Não quero uma criança com muitas ideias não testadas e
sem experiência de vida suficiente para gerenciar
relacionamentos com nossos investidores.
— Você não estava naquela entrevista ontem? Você ao
menos olhou o currículo dela? Avery tem mais de...
— Invente alguma coisa, Luca. É minha decisão final. —
Joanna toma um grande gole de seu smoothie verde picante e
suas feições se contorcem de desgosto.
Estou começando a entender por que os dois últimos COOs
se demitiram. Joanna é intolerável.
Todo mundo vê isso também? Ou sou só eu que a acho
desagradável e desprezível?
Mas não é nada que eu não possa lidar; eu sou igualmente
implacável.
— Joanna, fui contratado para tomar decisões que levem a
sua organização adiante. Eu sei que todos nós queremos que a
OPO cresça, então eu imploro que você confie em meu
julgamento.
— Eu já decidi por nós. — Sua mão gelada alcança a minha
e dá um aperto reconfortante. Eu estremeço com o contato
inesperado, perplexo com a invasão de espaço. — Quanto ao
Conselho contratar você, eu já expliquei que foi contra o meu
melhor julgamento. A OPO não precisa de um COO quando
tem a mim.
Eu mexo meu pescoço, nem perto de estar pronto para
seguir em frente.
Ser ignorado e menosprezado pelos sócios do meu escritório
de advocacia era a norma, mas presumi que trabalhar com
Joanna Benbart seria diferente.
Repito o mantra que venho repetindo em minha cabeça
desde meu primeiro dia na OPO: Vir para cá não foi um erro.
Eu não me tornei o sócio mais jovem da minha empresa por
desistir quando as coisas ficavam difíceis.
Estou aqui para fazer uma mudança para mim, para o
mundo – uma oportunidade para curar minha consciência
culpada.
Joanna pode estar brava por eu estar aqui, mas desta vez
estarei do lado certo da história.
— Joanna, fui contratado para ajudar a lidar com a carga de
trabalho, que inclui a contratação de novas pessoas. Precisamos
adquirir novos projetos e trazer financiamento adequado para
os que já temos, e Avery pode nos ajudar com isso.
Joanna ri.
— Luca, agradeço seu interesse em minha OPO, mas é
minha decisão final.
— Seria melhor ter um período de exp...
O telefone de Joanna toca e ela atende rapidamente.
— Olá, sim. Não poderei mais comparecer à consulta.
Espere.
Ela acena para que eu saia da sala sem olhar na minha
direção.

De volta ao meu escritório, jogo o contrato de contratação na


lixeira e vasculho sem sucesso minha caixa de entrada de e-mail
em busca dos detalhes de contato de Avery.
Meu corpo inteiro está zumbindo de aborrecimento. Não
adianta procrastinar o inevitável.
Abro a gaveta da escrivaninha e procuro nas páginas soltas.
Bingo.
Um cabeçalho elegante diz Avery Soko.
Examino seu currículo novamente e algo no canto inferior
direito chama minha atenção. Abaixo do título Interesses, lê-se
“expedições conjuntas em todos os sete continentes”.
Isso é impressionante.
Por que não notei isso inicialmente?
Eu deveria ter perguntado a ela sobre isso.
Minhas últimas horas faturáveis me mantiveram grudado ao
meu telefone e computador durante as viagens esporádicas para
visitar minha família na Califórnia durante as férias. Meu
irmão, Nico, por outro lado, esteve em todo o mundo. Talvez
até igualando a extensão do desejo de viajar de Avery.
Graduação Magna cum laude2, escalou todas as cordilheiras
da Nova Inglaterra, primeiro lugar em competição de pão de
banana na Feira Estadual de Vermont.
Percebo que passei mais tempo avaliando sua estratégia de
arrecadação de fundos do que aprendendo qualquer coisa
sobre a pessoa que entrevistamos.
Fatos ridículos inesperadamente fazem meus lábios se
curvarem. Essas partes de um currículo são geralmente
revestidas de detalhes inúteis, mas a lista de Avery é bastante
intrigante.
Meus olhos se movem para as informações de contato
impresso abaixo do nome dela. Meu pulso acelera quando
digito os números em meu telefone.
Eu estou nervoso?

2
"Com Grandes Honras", representa a segunda maior distinção e é o
reconhecimento por obter alta qualificação em titulação universitária.
— Você ligou para Ave — diz uma voz alegre do outro lado
da linha. Uma série perturbadora de vozes confunde a conversa
ao fundo.
Eu olho para o meu telefone, confirmando que disquei o
número correto.
— Estou procurando por Avery Soko.
— Sim, é a Avery Soko.
A memória de sua dificuldade com a impressora enquanto
ela tentava fazer cópias de suas figuras de apresentação retorna.
Ela não teve medo de brigar comigo, então espero que tudo
corra bem.
— Olá, Srta. Soko, aqui é Luca Navarro ligando da
Organização de Pesquisas Oceânicas. Você tem alguns minutos
para conversar?
Uma batida forte de repente ecoa. Onde ela está? Isso é uma
porta se fechando?
— Olá, Sr. Navarro! É ótimo ouvir de você.
— Eu queria agradecer por ter vindo ontem, e vou direto ao
ponto. Decidimos não avançar com a sua candidatura. — Meu
tom carrega a maior indiferença que posso reunir para uma
situação tão infeliz.
Um longo silêncio ressoa do outro lado da linha. O que
rapidamente se transforma em uma pausa dolorosamente
estranha. Ignorando a regra de ouro do poder em qualquer
troca desagradável – não ser o primeiro a quebrar o silêncio –
eu limpo minha garganta.
— Srta. Soko?
— Sim. — Um tom de aborrecimento de repente atrapalha
sua voz. — Posso solicitar alguma devolutiva sobre a entrevista?
Achei minha apresentação muito boa.
— O comitê da entrevista, infelizmente, discorda de você,
Srta. Soko.
— Claro, e eu respeito a decisão de vocês. No entanto, para
o bem de meus futuros empreendimentos profissionais,
gostaria de saber se há espaço para melhorias.
Eu me mexo no meu assento, tentando pensar em uma
desculpa.
— Sua apresentação não foi muito boa. — Meus dentes
rangem com a mentira dançando na minha língua. As palavras
saem muito facilmente, muito viscosas. Eu estremeço. — E não
gostei de ser abordado na impressora — acrescento, tentando
afastar a mentira com outra mentira.
Eu me arrependo das palavras enquanto elas fervilham em
um sussurro apressado para fora de mim. Sobrevivi a anos de
debates jurídicos crivados de argumentos meticulosos, mas
depois de uma breve conversa com esta mulher, de repente
estou na defensiva.
— Como é? — Ela retruca sem hesitar. O peso do desastre
que criei se desdobra diante de mim. — Sr. Navarro, você
fechou a porta do elevador na minha cara quando viu que eu
estava indo direto para você.
— Eu não interrompo minha agenda segurando portas para
estranhas desesperadas.
Ela zomba.
— Alguma devolutiva que tenha a ver com a minha
apresentação?
Meu pé bate com impaciência enquanto me inclino para a
frente na cadeira, prendendo os braços na mesa.
— Vou ser franco com você. Na Organização de Pesquisas
Oceânicas, damos muito valor à pontualidade, e seu atraso
perturbador não é algo que possamos ignorar.
— Olha, peço desculpas pelo meu atraso...
— Srta. Soko, você realmente precisa aprender a lidar
melhor com a rejeição. Não vamos avançar com a sua
candidatura. Obrigado novamente pelo seu tempo. Tenha um
bom dia.
Eu bato meu telefone na mesa de madeira de bordo
restaurada, o apelo sutil em sua voz ainda ecoando em meus
ouvidos.
Aprender a lidar melhor com a rejeição.
Deveria ser um crime para homens bonitos, especialmente
aqueles com ternos finos e olhares aguçados, tomarem decisões
que mudam a vida de mulheres trabalhadoras.
Semanas pesquisando estratégias de arrecadação de fundos
para empresas em Nova Iorque, memorizando o
funcionamento interno das lacunas da arrecadação de fundos
da OPO, dedicando horas a registros públicos de impostos e
revisando projetos existentes. Tudo por nada.
Anos de personalização da minha formação. Anos de
trabalho na conservação e proteção do meio ambiente, e minha
carreira foi deixada nas mãos de um homem que jogou tudo na
privada.
Mas eu lido com a rejeição como faço com tudo na minha
vida, com equilíbrio e graça. Mesmo que minha graça
espelhasse um cervo desconcertado desta vez.
A ligação se repete na minha cabeça como uma melodia
incessante. Quem precisa de um plano B para seus sonhos mais
loucos?
Eu. Eu suponho.
Eu rolo, e as migalhas que cobrem meu pijama de três dias
caem no sofá, aumentando meu desespero.
Eu preciso de um plano. Não sair do meu apartamento
nunca mais não é um plano.
A porta da frente balança antes de se abrir, e Lily entra
correndo. A exaustão é aparente em seu rosto. Lily decidiu que
sua primeira incursão na vida universitária começaria em uma
das universidades da cidade aqui em Nova Iorque. Quando nos
conhecemos na Carolina do Norte, ela trabalhava para
economizar dinheiro, não querendo fazer nenhum empréstimo
estudantil. Eu elogio sua capacidade de tirar alguns anos
sabáticos e não sentir pressão para ir para a faculdade logo após
o ensino médio. Agora, ela está passando por cursos gerais de
graduação enquanto descobre qual será sua carreira no futuro.
Uma pontada de culpa bate no meu peito. Passei o fim de
semana inteiro de mau-humor enquanto ela trabalhava para
caramba entre as palestras e sendo bartender no Upper East
Side.
— Uau, Ave. Este é um novo ponto baixo para você. — Ela
olha ao redor do apartamento, que é um reflexo sombrio de
mim – uma enorme bagunça.
— Desculpe, Lil.
— Agora que vejo que você passou o fim de semana deitada
aqui, gostaria que não tivesse cancelado na sexta à noite. Eu
poderia ter te animado!
Lily tentou me convencer a se juntar a ela no Mademoiselle
para uma noite de fantasias com tema de filmes, mas eu estava
ocupada demais mergulhando na minha tristeza.
Arrependimento enche meu peito.
— Acho que minha crise de meia-idade está se instalando.
— Oh, por favor, uma crise de um quarto de vida, no
máximo — diz Lily. — Mas eu nunca vi você sentir pena de si
mesma. A Ave que eu conheço é uma fodona forte e
trabalhadora.
Eu sorrio com um enorme sentimento de admiração pela
minha melhor amiga. Ela nunca deixa de ver como estou,
mesmo quando eu caio em um dos raros ataques em que me
sinto sobrecarregada.
Lily sempre garante que eu possa me reerguer e continuar
com meus objetivos.
— Obrigada. Eu só... Eu queria a orientação de Joanna.
— Você já conquistou tanto sem Joanna!
Afasto meu corpo rígido do sofá e olho para a marca perfeita
que deixei nas almofadas.
— Eu acho que sim. — Eu ando até a cozinha para outro
lanche para preencher a dor surda dentro de mim.
— Você consegue, Ave! — Lily joga uma de suas mãos para
mim, exasperada. Ela sempre tem o hábito de falar com as mãos,
braços e pernas. — No mês passado, você organizou sozinha a
reconstrução da horta comunitária em nosso bairro.
— Isso é verdade. — Eu suspiro.
— Você passa seus fins de semana convencendo os
moradores locais a impedirem de fechá-la! — Ela me lembra. —
Você é literalmente a única pessoa que pode deixar as pessoas
animadas com abobrinhas.
— Ei, é mais do que apenas vegetais! As crianças locais
também plantam flores lá.
Ela levanta a sobrancelha para mim como se seu argumento
tivesse sido feito.
— Quando foi a última vez que você saiu para correr?
Sinto mais culpa. Tenho negligenciado o único bom hábito
que consegui incluir em minha agenda. Correr me salvou em
alguns dos melhores e piores momentos. E agora, é
definitivamente um dos momentos ruins.
— Na manhã de quarta-feira. — Meus músculos anseiam
por um senso de propósito depois de quatro dias deitados.
— Ave!
— Lily! — Eu contesto, e um sorriso aparece em seu rosto.
— Olha, eu sei. Eu preciso me recompor, mas me deixa
processar isso.
— Você não está processando. Você está chafurdando. Por
favor, lave a louça, e então podemos fazer alguma comida
juntas que não esteja totalmente frita com óleo depois que eu
terminar o banho. — Ela me deixa na minha bagunça.
— Eu quero algo frito.
— Eu também — ela grita do corredor. — Mas vamos
comer verduras para podermos acordar amanhã e sermos
produtivas. Eu preciso estudar e você precisa correr.
Eu abandono minha busca por um lanche e ataco a pilha de
pratos sujos na pia.
Com a partida de Lily, as palavras dele de rejeição voltam aos
meus pensamentos.
Aposto que ele gostou de me recusar. Eu deveria ter
aproveitado a oportunidade na sala de cópias para arrancar o
sorriso presunçoso de seu rosto marcante.
Se uma organização como a OPO contrataria um ser
humano tão irritante, antipático e desagradável, eu quero
mesmo um emprego lá?
Claro que eu quero.
Centenas de Luca Navarros poderiam investir contra mim,
e eu lutaria contra todos eles pela oportunidade de trabalhar lá.
Lily sai de seu quarto com seu cabelo preto liso enrolado em
uma toalha acima da cabeça. Ela usa uma blusa preta com
chifres de diabo que combinam com a calça do pijama
vermelho brilhante. Seus cheios grandes sempre me deixa com
um pouco de inveja. Enquanto eu sou alta e magra, Lily é
pequena e curvilínea. A atenção se desvia facilmente para ela, e
quem poderia culpar seus admiradores? Lily é linda.
Coloco outro prato limpo no escorredor.
— Eu estou quase terminando.
— Aí está a minha Ave. — Ela entra em nossa cozinha, pega
uma faca de chef de bom tamanho e a coloca em cima de uma
tábua de cortar. Em seguida, ela tira os ingredientes da
geladeira.
Eu gemo ao ver os vegetais.
— Essa nova obsessão pela saúde faz parte do seu curso de
nutrição?
— Abandonei isso no último semestre — diz ela. Lily está
constantemente mudando de curso. — Chega das minhas
aulas. Como você está realmente se sentindo?
— Eu estou espetacular — eu digo com falso excesso de
confiança. — Mas aquele Navarro é um idiota.
Eu coloco o último dos pratos para secar no escorredor e
sento na banqueta em nossa ilha da cozinha.
— Esse é o cara que ligou, certo?
Eu suspiro.
— Sim, eu juro que a entrevista foi boa. Na ligação, ele não
conseguiu apontar uma falha na minha apresentação. Não sei
o que aconteceu.
Talvez eu tenha interpretado mal toda a situação.
— Eu o odeio — declara Lily.
— Eu também.
Ela prepara uma salada e me põe em dia com seu agitado fim
de semana de brigas de bar e encontros aleatórios.
Aparentemente, um antigo caso dela chegou à cidade e deu a
ela uma carona em seu carro novo. Muitas caronas.
— Você é escandalosa, Lily. — O peso em meu peito
finalmente diminui um pouco com a distração bem-vinda
sobre a vida da minha amiga.
— E você está com ciúmes porque eu estou realmente
transando.
Eu odeio que haja verdade em suas palavras. Ela sabe que eu
não namoro. Mas isso nunca a impede de me atacar, esperando
que ela me faça mudar de ideia. A última coisa de que preciso
agora é o estresse de me preocupar com outra pessoa.
Eu caio no meu assento.
— Você tem razão.
— Uau. Sem resposta? — Ela se senta na minha frente e
coloca uma boa porção de azeitonas em nossas tigelas. — Você
deve estar realmente sofrendo, Ave.
Eu expiro mais uma vez. Meu estômago dá as boas-vindas ao
cheiro saboroso da refeição que Lily coloca no balcão. Eu amo
que sempre compartilhamos comida.
— E aquele cara... — Lily me considera enquanto dá uma
mordida em sua refeição. — Michael?
— Matthew?
— Sim, esse! — Ela bate na minha tigela com o garfo. —
Você não reformulou todo o plano de negócios e o discurso de
arrecadação de fundos?
— Quero dizer, eu ajudei a ajustar algumas coisas.
— A OPO fez algo com você se está sentada aqui duvidando
de si mesma.
Eu dou uma mordida na refeição irritantemente saudável na
minha frente.
— A Plastech não tem capital. Eu ficaria surpresa se eles
pudessem pagar para apoiar outra pessoa em sua equipe.
— Não assuma, Ave. Ligue para ele. Ele lhe deu o cartão dele
por um motivo.
Parece mais atraente do que voltar para a família Adams.
Talvez eu possa liderar as responsabilidades de financiamento
da Plastech, já que a equipe é muito pequena. Além disso,
quando recusei um desafio? Mesmo aquele que requer
desesperadamente uma revisão completa?
Meu objetivo real é impactar nosso mundo, e posso fazer
isso sem a OPO.
Eu saio do meu torpor.
— Você está certa. Vou ligar para eles amanhã!
— Eu sei que estou certa — ela me dá aquele sorriso
satisfeito que eu amo —, mas você deveria fazer isso agora.
— Lily, são oito e trinta e sete de um domingo.
— Seu ponto é...? — Ela arqueia a sobrancelha em desafio.
— Você acabou de dizer que eles podem não existir amanhã.
É agora ou nunca.
— Vamos dar a todos mais dois minutos para se juntarem a nós
e então começaremos. — Minha caneta bate incessantemente
na mesa de conferência.
Reunidos hoje estão três chefes de departamento da OPO.
Deve haver cinco deles aqui, mas ainda tenho que resolver o
problema de pontualidade – um dos itens da agenda que
pretendo discutir hoje.
— Luca, qual é a pressa? — Jamie, o chefe de tecnologia, ri.
É difícil levá-lo a sério quando seu guarda-roupa consiste em
calças de linho e botões soltos. — Você está nos cobrando por
minuto ou apenas arredondará para a hora desta reunião?
— Depende. Se for você quem vai pagar a conta, terá que ser
pro-bono. — Meus olhos não saem da pauta, mas minha pele
se arrepia de irritação.
As piadas de advogado nunca ficam perdidas para ele, mas
saber que ele não seria capaz de pagar meus antigos preços faz
meus lábios se curvarem. Eu preferiria que ele tivesse medo de
mim como o resto da equipe parece ter.
Todos voltam ao silêncio, e eu me recuso a esperar mais um
segundo para que mais alguém apareça.
Eu limpo minha garganta.
— Vamos começar.
Inicialmente, marquei essas reuniões para ajudar a me
orientar aqui, mas os chefes de departamento deram desculpas
para não comparecer ou não participar. É bastante difícil para
eles respeitarem a estrutura que estou tentando implementar.
Jamie fala novamente.
— Temos operado bem sem essas verificações intrometidas.
Deveríamos votar para acabar com elas.
— Bem, se você conseguir reunir todas as cabeças em uma
sala para votar, posso considerar a ideia. Até lá, continuaremos
com essas reuniões.
Como as pessoas aparecem para trabalhar todos os dias, mas
não se importam genuinamente com as regras simples da
empresa? As pessoas podem realmente fazer as coisas se não
estão sempre aqui?
Altamente improvável.
Eu me viro para encarar Chelsea, a chefe de finanças.
— Agora, Chelsea, você terminou de montar a lista de
projetos que garantiram mais apoio no ano passado?
Chelsea lentamente olha ao redor da mesa circular, um olhar
suplicante em seus olhos. Durante semanas, ela ignorou meus
pedidos de dados financeiros.
— Então? — Minha paciência está se esgotando.
— Como já expliquei, Jo cuida de tudo isso. Ela dirige esta
empresa sozinha há anos. — Chelsea mexe no cordão de seu
moletom. — Estou aqui para garantir o cumprimento das
diretrizes federais, não para fazer balanços.
Um mês trabalhando aqui e ainda estou lutando para
entender exatamente como a OPO administra suas finanças.
Todos os membros da equipe com quem falei disseram a
mesma coisa. Jo lida com isso. Jo cuida disso.
Não há como todos virem trabalhar e não fazerem nada
durante anos enquanto Joanna dirige o navio.
Irritação queima através de mim.
— É seu trabalho garantir que estejamos em um lugar de
estabilidade fiscal.
— OPO sempre foi estável.
O resto dos chefes de departamento concordam.
Sua confiança inquestionável em Joanna seria louvável se
não estivesse dificultando diretamente meu trabalho.
Analisamos os projetos existentes e as metas de impacto de
final de ano previstas pela próxima hora cansativa. O único
plano com o qual podemos concordar é que cada chefe de
departamento fará um mergulho profundo em seu extenso
acúmulo de casos que escaparam pelas rachaduras.
Curiosamente, tive essa ideia devido à Srta. Soko, durante
sua entrevista na semana passada. Ela recomendou esgotar
todos os contatos da OPO existentes antes de buscar novos
investidores.
A voz dela ecoa na minha cabeça. Ocasionalmente, as pessoas
precisam ser lembradas por que se importaram em primeiro
lugar.
Isso é exatamente o que faremos.
Terminamos e vou até minha mesa para enviar um e-mail a
uma antiga colega minha, Kora Noble. Ela deixou a Douglas &
Draper para ingressar em uma empresa de consultoria. Preciso
de um olhar minucioso sem afiliações com a OPO para realizar
uma análise imparcial de nosso histórico de finanças, que tem
sido difícil para mim. Mesmo que Joanna esteja administrando
a OPO há anos, uma única pessoa não deveria ser responsável
por um aspecto tão essencial do negócio sem supervisão.
Apesar da intenção da minha equipe de enfiar a cabeça na
areia, preciso estar ciente de quaisquer deficiências.
Falhar não é uma opção. Recuso-me a rastejar de volta ao
meu antigo emprego.
Todos os sócios seniores da minha empresa riram quando
saí, apostando na rapidez que eu voltaria, implorando para que
minha sociedade fosse restabelecida.
Ninguém deveria apostar contra mim.

O restaurante de macarrão Raku está aninhado discretamente


entre uma mercearia e uma lavanderia. Entro, onde os garçons
correm de mesa em mesa, carregando grandes tigelas
fumegantes que enchem o ar com um toque salgado.
Uma rápida olhada nas pessoas que ocupam as mesas de
madeira confirma o que eu já esperava. Nico ainda não está
aqui. O conceito de tempo nunca fez totalmente sentido para
meu irmão mais novo, que prefere viver a vida no presente em
vez de viver por hora.
Pensando bem, ele seria um complemento perfeito para o
bando de funcionários preguiçosos da OPO.
Pego meu telefone e digito:

Luca: Se você desistir desse encontro duplo, sua


vida se tornará oficialmente um inferno.

Envio a mensagem de texto e fico parado ao lado da


recepcionista como se estivesse perdido. Minha paciência oscila
no limite quando a preocupação passa por mim.
Nico provavelmente perdeu a noção do tempo enquanto
codificava, ou talvez seu trem tenha atrasado, mas não tenho
notícias dele desde esta manhã.
Meu irmão tem o hábito irritante de não manter o telefone
carregado. Isso me levou a atender números aleatórios, até
chamadas suspeitas de spam. Quando Nico morava no exterior,
suas ligações esporádicas eram geralmente durante festas
barulhentas ou na garupa de uma motocicleta. Como seu
irmão mais velho, não posso deixar de me preocupar com ele.
Mas agora, essa preocupação está me dando nos nervos
porque ele está atrasado depois de me incomodar por semanas
com o mesmo apelo incessante: Você não sai com ninguém há
anos! VOCÊ. VAI. SIM.
A porta do restaurante se abre novamente, e Nico valsa para
dentro exibindo seu sorriso característico, seu cabelo castanho
encaracolado bem-arrumado na cabeça. Uma camisa de botão
cor creme se estende por seu corpo onde uma camiseta gráfica
normalmente estaria.
Esse encontro deve ser importante.
As semelhanças entre nós são inegáveis; é como olhar para o
reflexo do meu eu mais jovem.
Meu eu mais jovem antes de meu rosto enrugar devido ao
estresse do trabalho e meses intermináveis com pouco sono.
— Luca. Isto é um encontro, não uma reunião de trabalho.
— Nico puxa meu paletó antes de me puxar para um abraço.
— Não seja ridículo. Eu nunca faria uma reunião aqui.
— Certo.
Eu olho para ele novamente e percebo que a camisa que ele
está vestindo é minha. Antes que eu possa confrontá-lo, ele
mostra outro de seus sorrisos característicos de Nico para uma
garçonete próxima, que cora em resposta. Ela corre para pegar
um cardápio e nos leva até uma mesa ao lado do bar. Nico
piscou para ela em uma fração de segundo, e a cor vermelha em
suas bochechas se aprofundou.
Isso é tudo o que é preciso para tornar as pessoas complacentes?
A ideia de forçar um sorriso em cada interação me faz
estremecer, mas funciona para Nico.
— Você está usando a minha camisa.
Nico olha para a camisa de botão e depois para mim.
— Estou?
— Se derramar alguma coisa, terá que comprar uma nova.
— Por que eu derramaria alguma coisa? — Ele ri.
Uma pergunta ousada do meu irmão, que muitas vezes pega
minhas roupas emprestadas sem permissão, apenas para
devolvê-las com inúmeras manchas.
Morar com meu irmão mais novo nunca fez parte dos meus
planos. À medida que o tempo passa conosco morando sob o
mesmo teto, o conhecido aborrecimento que eu sentia por sua
limpeza, ou falta dela, quando éramos crianças volta. Suas
toalhas de banho sempre encontram seu caminho pelo meu
apartamento, secando nas maçanetas e nos cabides, em vez de
no banheiro. As meias que ele descarta em lugares aleatórios são
como uma espécie invasora: uma vez que você guarda um par,
outro vem para substituí-lo. Adoro tê-lo por perto, mas existir
no meu espaço está se tornando um desafio.
— Você me tem por mais cinquenta e quatro minutos — eu
digo, me sentindo mais irritado do que quando cheguei.
— Relaxe. Elas estarão aqui em breve. — Nenhum de nós
olha o cardápio, já certos do que vamos pedir. — Além disso,
vamos conversar. Quase não vejo mais você.
Em algum momento entre o primeiro ano de graduação de
Nico e três anos viajando para o exterior, ele começou a
trabalhar remotamente em um conglomerado de tecnologia do
Vale do Silício, Viggle. Alguns meses atrás, ele apareceu no meu
apartamento no Upper West Side com uma mochila enorme e
um notebook na mão. Ele me disse que queria fazer uma pausa
das viagens, mas acho que sentiu minha falta.
Eu também senti falta dele.
Depois de informá-lo sobre o meu dia, a garçonete volta
para anotar nossos pedidos de bebida e peço uma garrafa
premium de saquê e uma rodada de cervejas.
— Você falou com a Mami hoje?
— Todavía no. ¿Por qué?
— Ela tem estado em cima de mim perguntando por que
você não ligou para ela. — Nico toma um gole de sua cerveja
assim que a garçonete a coloca na mesa.
— Faz apenas cinco dias, e eu disse a ela que estaria ocupado
esta semana.
Eu amo meus pais, mas tenho falhado em nossas ligações
normalmente frequentes. Eu massageio a ruga de estresse na
minha testa.
Meu irmão dá de ombros.
— Você sabe como ela é. Ela sente nossa falta.
Mami usar meu irmãozinho para me checar é um golpe
baixo. Sempre fui eu quem garantiu que ele estivesse bem, e não
o contrário. Minha postura enrijece e passo uma das mãos sobre
meu rosto barbeado. A barba por fazer já está voltando de mais
cedo.
— Aye, elas finalmente chegaram! — Nico acena para duas
mulheres atrás de uma fila de clientes esperando para se sentar.
Eu olho para a porta, e um tom familiar de cabelo loiro
dourado me chama a atenção. Meu pulso acelera brevemente.
Mas quando a dona se vira, o olhar que eu esperava – o olhar
determinado de Avery – é o sorriso de uma estranha.
Nossos pares estão juntas. O contraste entre suas aparências
é quase divertido. A mulher mais alta tem um rosto jovem e seu
sorriso brilhante complementa os detalhes incríveis de seu
físico. Seus braços são facilmente do tamanho de minhas
panturrilhas, e estou profundamente interessado em sua rotina
de exercícios. Ela se eleva sobre a amiga, praticamente
escondendo-a de vista.
— Ela é a treinadora? — Eu pergunto.
— Cara, ela consegue fazer agachamentos com o peso do
meu corpo. É extraordinário. — Enquanto a maioria dos
homens que conheço se acovardaria com tal conquista, o rosto
de Nico se ilumina de entusiasmo.
A companheira da treinadora usa um vestido justo que
deixa pouco para a imaginação. É algo que você usaria em uma
boate, pelo menos pelo que me lembro na faculdade.
As mechas grossas de seu cabelo loiro estão amarradas em
um rabo de cavalo. As duas mulheres vêm até nós.
Espero que meu corpo evoque algum tipo de reação a elas,
mas, em vez de uma elevação estimulante, um sentimento
adormecido familiar permanece.
Porra, quando foi a última vez que senti uma adrenalina
com alguém?
Provavelmente com a Srta. Soko na sala de impressora na
última quinta-feira. Mas isso foi provavelmente resultado de
um caso ampliado de aborrecimento.
Meu irmão continua acenando para elas, já de pé quando
elas se aproximam da mesa. Eu me junto a ele, ficando de pé.
— Mira, você está linda esta noite. — A mão de Nico
envolve frouxamente a cintura fina de seu encontro,
pressionando-a contra ele enquanto ele coloca um pequeno
beijo em sua bochecha. A tonalidade da pele de Mira se
aprofunda, seu sorriso se espalhando em seu rosto. — Este é
meu irmão, Luca.
— Esta é Robyn. — A cabeça de Mira se inclina para a amiga
antes de voltar sua atenção para Nico. Estendo minha mão em
direção a Robyn e vejo seu rosto murchar em decepção
enquanto seus olhos se movem entre meu irmão e eu.
— Oh. Oi. — Robyn estica o pescoço para olhar para mim,
o tom agudo de sua voz me fazendo ranger os dentes. — Você
é muito alto.
Bem, isso nunca foi um problema antes.
— De fato.
Nos sentamos à mesa. Nico serve uma bebida para Mira e,
quando oferece uma para Robyn, o nariz dela se ergue em
aversão. Antes do encontro, Nico me disse que Mira e Robyn
se conheceram em um evento esportivo depois que seus
encontros as deixaram. Pouco depois, elas juraram nunca ter
um primeiro encontro sozinhas. Meus olhos reviram,
pensando em sua tentativa tola de evitar as consequências da
rejeição.
Nossa garçonete volta para anotar nosso pedido e dá a Nico
outro sorriso galanteador, ignorando sua mão firmemente
enrolada na palma de sua acompanhante.
— Um Martíni de Lichia. Sem lichia. E seja rápida. —
Robyn usa seus dedos fracos para atacar a garçonete, que está
tagarelando sobre os especiais da estação.
Nico está muito ocupado memorizando cada poro do rosto
de seu par para testemunhar o ato indelicado.
Mal consigo processar o gesto grosseiro. Dou à garçonete
uma expressão de desculpas, lembrando-me de deixar uma
gorjeta muito generosa por causar problemas.
Quando a garçonete se recompõe, ela consegue separar Nico
e Mira por tempo suficiente para receber seus pedidos. Não
quero entreter Robyn esta noite, mas a risada de meu irmão me
detém. Sua noite não deveria ser interrompida por causa de
minhas circunstâncias infelizes.
— Então, Robyn, o que você faz?
— Tenho uma boutique de roupas usadas em Chelsea. —
Robyn sorri. Sua atenção se desvia de mim para o telefone que
está sobre a mesa.
— Você é dona de uma empresa. Isso é incrível. — Eu
brindo a ela, então levo meu copo de cerveja aos meus lábios.
Talvez eu a tenha julgado mal. Respiro fundo e tento ter a
mente mais aberta para o meu encontro.
— Sim, meu pai comprou para mim para que eu pudesse
doar as roupas que já usei — explica ela. — E todas as roupas
novas que compro são apenas uma pechincha!
Eu bato minha perna na coxa de Nico debaixo da mesa,
como costumávamos fazer quando éramos mais jovens. Essa é
a coisa mais idiota que eu já ouvi na minha vida. Eu dou ao meu
irmão um olhar suplicante. Limpo minha garganta em uma
tentativa de obter seu reconhecimento, mas ele me ignora,
favorecendo a atenção de Mira.
Ah, não, ele não fez isso.
Antes que eu tenha a oportunidade de bater nele
novamente, o barulho nasal de Robyn chicoteia meu foco de
volta para ela.
— E você?
— Recentemente deixei minha carreira de advogado.
— Hum. — Seu rosto se enruga em desapontamento. —
Por quê?
— Direito corporativo não era mais para mim.
— Mas parece tão interessante!
Eu me esforço para acreditar nela.
— Na verdade, não. Meu pai sugeriu que eu seria bom em
direito corporativo.
Nossa garçonete retorna, colocando a bebida de Robyn na
frente dela antes de empilhar uma variedade de pratos em nossa
mesa. Quanto mais rápido comermos, mais rápido poderei
cumprir minha parte no trato e sair daqui.
— Ah, seu pai também é advogado?
— Sim, mas ele atua na área de direito de família. — Sorrio
forçadamente, já revelando mais do que gostaria. Robyn é uma
das primeiras estranhas a quem contei sobre minha mudança
de carreira. — De qualquer forma, está feito agora. Foi uma
ótima profissão para mim, mas as coisas mudam.
— Isso é lamentável. — Robyn suspira.
Eu discordo do sentimento dela.
Sempre fui o advogado Luca Navarro. Papi achava que eu
iria prosperar no direito corporativo desde o início e confiei em
seus conselhos acima dos meus próprios instintos. Nunca me
preocupei em explorar outras formas de exercer a profissão e,
depois de me cansar na Douglas & Draper, acabei com a
carreira. Exceto que a rígida mentalidade corporativa ainda está
enraizada em mim.
Algumas coisas se moldam a você, enquanto outras moldam
você. Mas agora sou apenas Luca, sobrecarregado, agitado e
cheio de trabalho.
Ok, talvez eu não seja tão diferente.
— Entãooo... — Robyn fala lentamente para Nico e para
mim enquanto damos nossas primeiras mordidas no macarrão
udon grosso coberto com um caldo picante. — Vocês não me
parecem ser nova-iorquinos nativos como eu. Onde vocês
cresceram?
— Somos da Califórnia — Nico responde por nós dois. —
Você não pode dizer pelo lindo corpo de surfista dele? — Ele
me dá um tapinha no ombro e ri. Eu levanto minhas
sobrancelhas para ele.
Eu nunca surfei um dia na minha vida.
— Eu amo Los Angeles! — Robyn diz naquele grito agudo
que causa uma dor de cabeça nas minhas têmporas.
— Há mais coisas na Califórnia que Los Angeles — digo a
ela. — Nico e eu somos da Bay Area.
— Oh. — O pequeno rosto de Robyn se contrai em
desapontamento. Ela parece aborrecida, mas um esboço de
sorriso retorna quando uma série de notificações aparece em
sua tela.
O som de suas mensagens recebidas desencadeia rigidez em
meu corpo. Meus punhos se fecham com o desejo de checar
meu telefone em busca de e-mails.
— Vamos beber doses! — Nico entra na conversa, me
dando uma piscadela.
— Você não deveria tomar doses de saquê — diz Robyn.
Eu suspiro.
— Você não vai chegar a lugar algum dizendo a ele que não
deve tomar uma dose de algo. Ele me fez tomar uma dose de
vinho na outra noite.
— Não foi uma dose de vinho — diz Nico. — Foi um
experimento.
— Qual foi o experimento? — Minhas sobrancelhas
franzem em confusão.
— Para ver se você me daria ouvidos.
Eu zombo.
— E ele bebeu? — Mira pergunta.
— Sim! Ele não resistiu. — Meu joelho bate em sua coxa
novamente.
— Era a única maneira de você me deixar em paz, para que
eu pudesse voltar ao meu trabalho. — Eu sorrio para ele. —
Falando nisso, você deveria servir essas doses.
Meu irmão ri e pega a garrafa de saquê.
Ele enche quatro copos e Mira observa com fascínio
enquanto uma de suas mãos desaparece sob a mesa. Tento não
pensar no que a mão dela encontra lá embaixo, mas o sorriso no
rosto do meu irmão diz muito.
Ele e eu pegamos nossos copos e brindamos.
— Arriba, abajo, al centro, y adentro.
Mira segue o exemplo e engole a bebida, ignorando as
reclamações insuportáveis de sua amiga. Posso ver porque Nico
gosta de Mira.
Robyn não se junta a nós, empurrando sua bebida para o
lado e voltando a cutucar sua tigela.
O resto da refeição é tolerável, com Nico realizando a maior
parte do trabalho social pesado. Apesar da atitude desagradável
de Robyn, meu irmão tenta lhe fazer perguntas e
pacientemente aguarda suas respostas.
Esse é um dom que Nico sempre teve, fazer alguém se sentir
importante. É semelhante a como a Srta. Soko chamou a
atenção durante a entrevista. A coleção de interesses em seu
currículo não saiu da minha mente. Se eu a visse novamente,
perguntaria sobre suas expedições ou como ela percebeu todas
as armadilhas estratégicas da OPO como uma pessoa de fora da
organização. Eu trocaria esse encontro ridículo por outra
conversa sobre uma nova estratégia de arrecadação de fundos
em qualquer dia da semana.
Eu levanto minha cabeça do meu reflexo na minha tigela de
macarrão e observo Nico e Mira tentando recriar a famosa cena
do espaguete de A Dama e o Vagabundo. Robyn tira fotos deles
depois de tirar o cabelo de Mira do rosto.
Sim, meu tempo acabou.
Eu empurro Nico para fora do assento ao meu lado e sorrio
para as mulheres.
— Eu começo o dia cedo amanhã.
Meu irmão pede licença para me acompanhar.
— Isso não foi tão ruim, hein? — Nico diz, me dando uma
cotovelada.
— Esta foi a primeira e última vez que saio com você em um
encontro duplo.
A risada de Nico irrompe e eu sorrio.
— Sabe, você nem sempre tem que julgar as pessoas com
tanta severidade.
— Se alguém estava sendo crítico, era...
— Tudo bem, tudo bem, eu entendo. — Nico me puxa para
um abraço. — Vou fazer companhia à Robyn e depois passar o
resto da noite conhecendo a Mira.
— Eu tenho que acordar cedo amanhã, então, por favor,
não traga a festa de volta para o apartamento. — Eu puxo
minha carteira do bolso de trás da calça do meu terno e tiro três
notas de cem dólares novinhas.
— Eu cuido do jantar, irmãozão.
— É para a garçonete. — Entrego o dinheiro e puxo meu
irmão para outro breve abraço.
Nico me dá um tapinha nas costas antes de me dar uma
piscadela e se virar para voltar para o restaurante.
— E, Nico, por favor, fique quieto quando chegar em casa
— eu rio.
Os escritórios da Plastech ficam em um espaço de trabalho
compartilhado em um arranha-céu no centro de Manhattan. É
uma viagem de trem de apenas vinte minutos do meu
apartamento, tornando-o um trajeto direto.
Bem, talvez não seja tão fácil quanto ir para OPO, mas terá
que servir.
O espaço é apertado, com quatro mesas brancas simples e
uma janela solitária voltada para o tráfego matinal barulhento.
Lâmpadas fluorescentes ardem meus olhos enquanto o
zumbido suave de um purificador de ar próximo ecoa pela sala.
O espaço é melhor do que algumas das salas de estudo lotadas
nas quais estive confinada anteriormente.
Uma pontada de arrependimento apodrece na boca do meu
estômago enquanto eu olho para as paredes de cimento sem
decoração. As memórias de murais intrincados e cadeiras de
veludo de aparência aconchegante voltam à mente.
Isso não é a OPO, e está tudo bem!
Eu sei que se eu repetir bastante a frase, vou começar a
acreditar. Pelo menos, eu espero que sim.
Seguindo o conselho de Lily, levei uma semana para me
recompor após a rejeição. Eu estava ansiosa para me jogar de
volta no trabalho, mantendo minha mente longe dos
pensamentos importunos, mas sabia que tinha que aceitar o
fato de que não conseguiria trabalhar para Joanna.
Crescendo, ela foi um ídolo para meu pai e para mim. Talvez
ele ainda estivesse orgulhoso de mim por este próximo passo
não planejado. Eu só queria poder perguntar a ele.
Vou me tornar uma mulher como Joanna, mesmo que não
possa aprender diretamente com ela. Talvez no futuro, se eu
puder ajudar a Plastech a se reerguer, eu possa me candidatar
para a OPO novamente.
Agora, no entanto, devo aceitar minha nova realidade.
Eu, Avery Soko, sou a chefe de operações e desenvolvimento
de uma startup de tecnologia de conservação.
Não posso me deter no fato de que sou a primeira chefe de
operações e desenvolvimento desta startup e que ela carece de
fundos substanciais para sobreviver pelo próximo semestre.
— Eu sei que não é muito. — Matthew me dá uma caneca
de café bem quente como consolo.
Pego-a com as duas mãos, saboreando o cheiro delicioso que
toca meus sentidos. O calor é aconchegante em minhas mãos.
O café tem uma maneira mágica de tornar tudo melhor.
— Desde que haja cafeína e um lugar para colocar meu
notebook, estou pronta para começar. — Eu respondo.
— Confie em mim, moça, o que nos falta em design de
interiores compensamos com nossas personalidades incríveis
— brinca Ollie.
O escocês montanhês – a quem estou trabalhando para
perdoar por me encharcar de café no dia da minha entrevista –
me dá um sorriso genuíno. Não há espaço para ressentimento
agora, não apenas emocionalmente, mas literalmente. Este
escritório atingiu sua capacidade máxima, e qualquer
frustração reprimida faria estremecer as paredes. Receio que
todos cairemos como uma fileira de dominós se eu me mover
na direção errada.
Eu me espremo em minha cadeira de escritório ao lado dele,
me movendo com cuidado. Não quero derramar este novo
presente cafeinado. Ollie sorri para mim quando eu finalmente
me acomodo, e eu igualo seu sorriso cheio de dentes quando
meu corpo encontra o tecido de malha da minha cadeira de
escritório que range.
Tento não pensar na merecida sessão de vangloriamento de
Lily depois que Matthew atendeu minha ligação no primeiro
toque na noite do último domingo. Eu estava preocupada de
que a Plastech não me aceitasse, mas Matthew fez uma oferta
cinco minutos depois da nossa conversa.
Ele foi muito transparente sobre os problemas atuais de
fluxo de caixa e explicou minuciosamente o que poderia
acontecer se eles falissem. Ele respondeu a cada uma das minhas
preocupações e perguntas sem hesitação.
Ao contrário daquele arrogante Luca Navarro, que se
recusou a me dar um motivo plausível para não me contratar.
Embora meu novo salário não esteja nem perto do que eu
ganharia na OPO, é mais do que suficiente. Isso me permite
ficar mais do que confortável e não terei problemas para cobrir
minha parte do aluguel, mas talvez precise reduzir compras de
roupa e consumo de cafés com leite e toffee. Meu humor piora
com a expectativa de perda de minhas coisas favoritas.
Eu vou apenas comprar calda de toffee para guardar em
casa!
Problema resolvido.
E pelo lado positivo, negociei dias de férias abundantes com
minha oferta.
Tenho três meses de licença remunerada. Três.
Não sei por que parecia uma vantagem necessária. Não viajo
pelo mundo há mais de cinco anos, mas senti aquela coceira de
possibilidade. Talvez eu seja corajosa e mude de ideia.
Se a equipe da Plastech fizer uma viagem para seu local de
limpeza na Ilha Gaya, talvez eu concorde em ir.
Passamos a manhã examinando os gastos atuais do projeto e
separando as lacunas operacionais. A plataforma é simples de
entender – depois que Ollie me explica pela sétima vez.
A Plastech usa inteligência artificial para capturar detritos
no oceano, separar peixes do lixo e reciclar os resíduos em
pellets de madeira para vender.
No entanto, minha nova equipe possui apenas uma
máquina operacional que pode executar a tarefa e precisa de
capital para expandir. É uma tecnologia patenteada incrível,
mas o processo é caro, a menos que seja dimensionado.
Mas é aí que eu entro.
As atuais dificuldades financeiras da Plastech significam que
eles precisam de mim em sua equipe tanto quanto eu preciso
deste trabalho. Um senso de responsabilidade surge em mim
pelo trabalho e minha nova equipe. Eu não vou decepcioná-los.

Uma semana depois do meu primeiro dia na Plastech, a equipe


e eu nos debruçamos sobre uma fatia do meu pão de banana
feito em casa. Eu aprendi rapidamente que todos os meus três
caras têm apetites tão grandes quanto o meu. Temos trazido
diferentes produtos panificados para nossas reuniões matinais
nos últimos dias. Ontem, Ollie trouxe biscoito amanteigado e
Robert trouxe croissants caseiros.
Espero que façamos disso um hábito.
— Então, acho que não sei a história de como vocês se
conheceram. — Eu mordo minha primeira fatia do pão.
— É uma história chata — diz Matthew. — Estávamos no
mesmo projeto de pesquisa na graduação no MIT. Passar todas
aquelas horas juntos nos mostrou que trabalhávamos bem em
equipe e que as coisas faziam sentido. Começamos a sair mais
durante nosso último ano. Após a formatura, seguimos nossas
próprias carreiras antes de nos encontrarmos em Nova Iorque
há dois anos, para iniciar a Plastech.
— É incrível que todos vocês tenham mantido contato.
Deve ser legal começar um negócio com pessoas que você
conhece há tanto tempo.
— Você nem contou a ela a melhor parte — Ollie grita. —
Quando tivemos que resgatá-lo do rio Charles depois que você
tentou recolher as latas de cerveja.
Matthew franze a testa.
— Não vamos caminhar pela estrada da memória.
— Ou, no seu caso, mergulhar na estrada da memória — diz
Ollie.
Eu me contorço, não querendo pensar em como uma
pequena queda na água poderia ter se transformado em algo
perigoso. Uma pontada de ansiedade faz cócegas em minha
garganta, meu coração acelera rapidamente contra minhas
costelas.
Matthew percebe a ruga na minha testa.
— Oh, não se preocupe, Avery. Eu estava bem. Eu cai na
água para impressionar uma garota.
— Acontece que ela achou Mattie e sua coleção de latas de
cerveja um pouco nojentas. — Ollie começa a rir e Matthew dá
de ombros. Robert observa a troca entre seus amigos com um
sorriso suave.
Como alguém poderia achar uma pessoa que limpa um rio
pouco atraente?
Depois da minha terceira fatia de pão de banana, dou
algumas voltas pelo espaço compartilhado como minha forma
preguiçosa de exercício do dia antes de voltar para minha mesa.
Minha corrida esta manhã durou pouco; o calor do início
do verão insistia em diminuir meu ritmo regular. Estou ficando
impaciente em nossas quatro paredes apertadas, precisando me
mexer ou então perco o foco. Eu deveria tentar sair para correr
mais cedo. Preciso de toda a extensão das minhas corridas para
me ajudar a me sentir menos inquieta por ficar olhando para o
meu computador no final do dia.
— Vocês estão participando de algum dos próximos eventos
na cidade? — Pergunto ao grupo em geral.
Minha tela se enche com uma lista de arrecadadores de
fundos. Passei a semana consolidando cada detalhe de nossos
modelos de projetos e como deveríamos apresentar aos
investidores. A apresentação é hermética e estou animada com
o novo financiamento que podemos começar a garantir.
Tracei este calendário de estratégia para OPO e sou grata por
não ter destruído a pesquisa que fiz durante minha névoa
sombria pós-rejeição.
— Na próxima quinta-feira, vamos ao show do Matthew
Hall — Ollie explica com indiferença, migalhas de pão
decorando seu queixo pálido.
Uma risadinha nada profissional escapa de mim.
— Não, quero dizer, vocês se inscreveram em algum dos
eventos filantrópicos? O calendário está bombando.
Os três piscam para mim.
Tudo bem, vamos começar do zero neste departamento. Eu
imediatamente mergulho, pronta para montar um plano.
— Esses bailes de gala podem ajudar a promover conexões
com a indústria — elaboro. — Não há melhor maneira de se
apresentar a um bando de pessoas ricas em busca de uma causa
para apoiar.
O purificador de ar zumbe ao fundo enquanto eu explico o
meu calendário para eles, com a intenção de apresentar a
Plastech ao mundo o mais rápido possível.
— Oh, aqui está algo! O Ellington Gala está chegando, mas
conseguir um ingresso seria impossível. — Eu suspiro e estalo
as juntas em meus dedos, uma por uma. — Esses eventos
esgotam com meses de antecedência.
O anfitrião do Ellington Gala é Willhelma Ellington, uma
socialite da cidade de Nova Iorque que assume todos os tipos
de empreendimentos humanitários. Este evento é um dos
encontros de maior prestígio no espaço de conservação. Eu
nunca tive a oportunidade de ir no passado, mas ouvi muito
sobre a teatralidade da Srta. Ellington. Se de alguma forma
conseguirmos comparecer, tenho o vestido perfeito para usar
na ocasião.
— Espere, mesmo que conseguíssemos uma vaga, as mesas
começam em vinte e cinco mil dólares. — Os olhos de Matthew
se arregalam com o convite de gala virtual à sua frente. — Se
você concordar com as reduções de salário no próximo mês,
podemos espremer isso em nosso orçamento.
Eu definitivamente não quero que ninguém tenha que fazer
isso.
— Deixe-me ver... — Percorro minha lista de contatos para
ver se posso pedir um favor. Nenhuma conexão valiosa com a
indústria chama minha atenção.
Então surge uma ideia.
— Sabe, eu costumava me infiltrar nessas coisas durante a
pós-graduação — admito. — Talvez eu possa entrar com os
garçons e rapidamente despertar algum interesse antes de ser
pega e levada para longe do local.
É um segredo que só compartilhei com Lily. Ao contrário
de muitos de meus colegas na Columbia, não venho de uma
família com muitas conexões. Meu pai trabalhou com pessoas
de prestígio em suas expedições, mas a maioria nem se
preocupou em comparecer ao funeral, então tive que começar
do zero quando me mudei para Nova Iorque.
Quando não estava organizando eventos de arrecadação de
fundos para a família Adams durante meu programa de
mestrado, pensei em outras maneiras de me manter à frente.
— Sim, moça, isso é bom. — Ollie levanta a mão para eu
bater, e minha palma encontra a dele antes que seu grande
corpo relaxe em seu assento.
Tenho apostado em quanto tempo levará para aquela
cadeira minúscula quebrar sob seu peso. Ele tem 1,85m e
parece como uma montanha. Não sei como ele consegue ficar
sentado o dia todo em uma cadeira que parece de criança
quando está sentado.
— Finalmente contratou uma aventureira, não foi, Mattie?
— Diz Ollie.
Eu rio.
— Não. Não podemos permitir que você entre
sorrateiramente. — Matthew balança a cabeça, enterrando o
rosto nas mãos. — Vamos pensar em outra maneira.
Nós quatro passamos a próxima hora procurando maneiras
de conseguir ingressos para o baile de gala quando a voz abafada
de Robert finalmente corta a tensão na sala.
— Minha irmã me retornou — ele sussurra. — Na verdade,
ela está no comitê do gala.
— Uau, se você mandou uma mensagem para sua irmã,
Bobbie, você está falando sério. — Ollie dá um soco na mesa
com entusiasmo. A batida derruba meu copo d'água.
Eu uso minha manga para limpar. Uma semana trabalhando
aqui e as coisas derramadas nem me incomodam mais; elas são
apenas uma parte do nosso dia-a-dia agora.
— Você pode nos fazer entrar?
Nós três olhamos para o nosso salvador.
— Eu poderia t-t-tentar, mas... — Robert evita nossos
olhares de expectativa.
— Vá fazer a ligação — diz Matthew com firmeza. — Se Ave
acha que esse é o nosso caminho para arrecadar fundos,
precisamos conseguir esses convites.
O táxi amarelo para em frente ao Museu Americano de
História Natural. Enfio uma nota novinha de cem dólares na
mão do motorista, e ele se esforça para me dar o troco.
— Pode ficar. — Eu saio, batendo a porta na cara dele. A
viagem valeu a gorjeta de oitenta dólares. Ele não me ocupou
com conversa fiada sem sentido e garantiu que eu chegasse sem
suor em meu smoking personalizado e bem-passado do Savile
Row.
Me viro em direção a construção de pedra que chama a
atenção com sua presença. Apesar das muitas vezes que estive
aqui, a magia do museu ainda me impressiona. Subo os degraus
e engulo meu desconforto com o contraste gritante entre
participantes do baile de gala com roupas exageradas e pessoas
desabrigadas dormindo próximos às escadas.
As placas me direcionam para a sala do Salão da Família
Milstein para Vida Oceânica para o Ellington Gala. Esses saraus
abafados eram um tédio excruciante em meu escritório de
advocacia. Eram apenas oportunidades de puxar saco e bater
papo com clientes embriagados. Espero que nenhum dos meus
antigos colegas ou clientes esteja aqui.
Então talvez esta noite seja diferente.
Quero causar uma excelente impressão. Afinal, é meu
primeiro evento como COO.
Respiro fundo, me preparando para falar com novos
investidores esta noite. É esperado que eu conheça os meandros
da minha nova organização.
Eu entro no espaço monumental e isso estimula minha
apreciação pela conservação. Uma tonalidade azul brilhante
ilumina o espaço. Eu inclino minha cabeça em direção ao teto
com admiração pela réplica em tamanho real da ameaçada
baleia-azul suspensa acima.
E se os cabos quebrarem e esmagarem todos abaixo dele?
Isso terminaria a noite muito rapidamente.
Uma infinidade de mesas circulares cobertas com toalhas
brancas decoradas com uma variedade de flores ornamentadas
ocupam o espaço.
Abro caminho pelo labirinto, cumprimentando alguns
rostos familiares.
Um dos muitos garçons com terno de pinguim passa
segurando uma bandeja com taças de champanhe, e eu pego
uma taça para mim, deixando uma gorjeta. Nunca deixará de
me perturbar quantas pessoas ricas comparecem a esses
eventos, doam grandes quantias de dinheiro para suas causas e
simplesmente se recusam a dar gorjeta aos funcionários.
Examinando o lugar, vejo a mesa da OPO perto do palco.
Uma pequena orquestra executando peças clássicas para dar as
boas-vindas à multidão que chega. Meus olhos pousam em
Molly, nossa assistente executiva, que acena agressivamente
para mim com um sorriso caloroso, seu notebook agarrado ao
peito enquanto ela fica ao lado de sua cadeira.
— Oi. — O entusiasmo que emana de mim é fraco. — Ei,
onde está Joanna? — Eu pergunto, mas Molly não me ouve.
— Oi, Luca. — Molly usa sua mão livre para apontar para
minha mesa posta.
Felizmente, meu assento é ao lado dela, o que me dá um
alívio durante a maior parte da noite. Molly é uma das poucas
pessoas na OPO que não me força a ajustar minhas táticas de
liderança ao seu estilo indiferente. Também estou confiante de
que ela não vai passar a noite falando bobagens frívolas.
— Oi, Sr. Navarro — diz Chelsea do assento ao lado. — Esta
é minha esposa, Mandy. — Ao lado da chefe de finanças da
OPO está sentada uma morena atraente vestindo um blazer
laranja justo.
— Prazer em conhecê-la. — Eu aceno enquanto arrasto a
cadeira pesada contra o chão do museu. Eu viro meu assento
para não olhar para Chelsea, esperando evitar gentilezas e
conversas adicionais.
Procuro Joanna na mesa, mas não a encontro. Outros
membros da equipe da OPO me olham com alguns sorrisos
tensos antes de voltarem para suas bebidas e coquetéis.
Molly clica na tela do telefone.
— Onde está Jo? — Eu repito.
— Algo aconteceu — Molly admite, seus lábios se
estreitando em uma linha reta.
— Elabore. — Minha paciência está começando a se esgotar
com Joanna. Uma coisa é ser rude no trabalho, mas é inaceitável
que a CEO perca eventos de arrecadação de fundos desse
tamanho e importância.
— Eu não sei. — Molly balança a cabeça e sua voz chega até
mim em um sussurro. — Ela me mandou uma mensagem
algumas horas atrás dizendo que não viria...
A impaciência cresce em mim junto com a preocupação
com a atitude de Joanna. Minha cabeça se vira para a entrada –
esperando vê-la passar pelas portas do grande salão – quando
avisto alguém muito mais interessante.
Avery Soko está bem na grande entrada, cercada por três
homens desleixados em smokings mal ajustados.
Um vestido nude brilhante envolve toda a sua figura. O
vestido se divide perigosamente perto do quadril, revelando os
seus músculos tonificados das pernas.
Eu rapidamente fico com a garganta seca.
Esta não é a mesma Avery que entrevistamos há pouco mais
de três semanas.
Ela se inclina para compartilhar algo com o maior de seus
companheiros. O homem corpulento de cabelo ruivo parece
prestes a sair de seu traje a qualquer movimento brusco.
Depois de uma conversa rápida, o homem começa a uivar
com tanto entusiasmo que sua pele sardenta fica vermelha. Em
seguida, o grupo desaparece no salão de baile tão rapidamente
quanto apareceu.
Um tique na minha mandíbula rompe meu olhar
prolongado.
A voz de Molly me traz de volta para a conversa sobre as
melhores sorveterias da cidade, mas eu olho inexpressivamente
para o grupo da OPO. Minha atenção está a quilômetros de
distância do debate sobre qual o melhor chocolate com menta
que existe.
— Eu tenho que ir fazer rondas. — Eu pulo para fora do
meu assento antes de sair para o salão lotado.
Depois de vinte árduos minutos bajulando diretores e
explicando, em mínimos detalhes, por que abandonei minha
carreira de advogado para trabalhar na OPO, o fundo do meu
copo me encara.
Acho que esta noite não é tão diferente, afinal.
Navegando em direção ao bar, vejo Avery no meio de um
grupo de pessoas. Aqui está minha chance de virar a noite.
Os olhos de seu público estão paralisados nela enquanto ela
presumivelmente conta o final de uma anedota que é logo
seguida por gargalhadas borbulhantes. O mesmo entusiasmo
irradia dela como durante sua entrevista. Sua presença
cativante é em parte o motivo pelo qual ela teria sido uma
grande representante nesses eventos de arrecadação de fundos.
A cabeça de Avery inclina para trás com uma risada. A curva de
seu pescoço desce suavemente pelo peito até um vestido que
parece revestido de pedras preciosas. Os tons de azul do salão
refletem em cada centímetro brilhante dela.
Ela parece uma espécie de divindade do oceano.
A visão de seus movimentos fáceis envia uma onda de
sangue sob meu cinto.
Eu tento ignorar os pensamentos sujos intrusivos. Mesmo
que eu tivesse tempo de considerá-la mais do que uma colega
em potencial, não há como uma mulher assim ser solteira.
Mas me pego querendo desesperadamente entrar na
conversa dela. Eu examino os rostos das pessoas no grupo. Um
rosto familiar pertencente a Stanley Lewis, um antigo cliente
meu, chama minha atenção.
Não quero falar com ninguém da minha carreira de
advogado, mas Avery está no meio deles. Tenho uma
necessidade inquietante de descobrir o que ela está dizendo.
Stan é um começo perfeito. A menos que ele mencione o
caso das Indústrias Shift.
Vou até o grupo para ouvir a história de Avery.
— E foi assim que aprendi da maneira mais difícil que você
nunca deve mergulhar com duas peças. — Avery ri.
— Ela é maravilhosa, não é, querido? — A mulher no braço
de Stan olha para ele e de volta para Avery, que sorri em
resposta. — Precisamos mergulhar com snorkel na Grande
Barreira de Corais!
— Vocês realmente devem. — O tom alegre de Avery muda
ligeiramente. — Apenas se certifiquem de usar protetor solar
seguro para recifes porque o branqueamento de corais piorou
ao longo dos anos.
O grupo muda de posição desconfortavelmente com a
verdade dela, cada rosto se transformando em uma carranca
sutil. Só posso me concentrar no fato de que Avery Soko é
espetacular e tem táticas impressionantes de contar histórias.
Uma verdade sutil, mas brutal, após uma história atraente é
a maneira perfeita de despertar o interesse das pessoas. Uma
declaração final como essa poderia influenciar um júri.
Eu uso o refluxo na conversa para tornar minha presença
conhecida.
— Stan, já faz muito tempo. Como você está? — Minha voz
mostra todo o entusiasmo que posso dispensar esta noite.
Eu me coloco ao lado de Avery e dou um tapinha nas costas
do homem mais velho e esquelético com óculos meia-lua.
Seu perfume suave paira no ar, quente e convidativo. Algo
sobre a fragrância me lembra meus verões na praia.
Ela cheirava tão bem assim na sala de impressoras?
— Luca! — A voz rouca de Stanley arranha meus tímpanos.
— Eu não te vejo desde que você trabalhou naquela compra
alavancada para nós.
— É ótimo ver você — eu minto.
Avery retorna à conversa com o restante do grupo. Não
consigo entender o que ela está dizendo devido ao barulho.
— Parabéns pelo novo trabalho! — Stan sorri para mim. —
Você veio grandão com todo esse papo de “bem maior” para
cima de nós, hein? Um forte contraste de todos aqueles
magnatas do petróleo em que você construiu sua carreira.
Avery vira a cabeça para mim com as acusações de Stan.
Uma expressão ilegível torce seu nariz pequeno.
Bem, pelo menos isso chamou a atenção dela.
Mas sério, magnatas? A culpa queima através de mim. Foi
um caso profundamente lamentável e um ponto crucial na
trajetória da minha carreira, e nunca vai parar de me assombrar.
Eu tento voltar atrás.
— Alguém tem que salvar o mundo antes que vocês o
destruam. — O comentário só faz com que o corpo de Stan se
dobre de tanto rir. Tento desviar a conversa de mim. — Por
favor, me apresente a sua...
Ele finalmente reconhece a mulher magra pendurada em seu
braço.
— Sim. Sim. Claro — diz Stan. — Esta é minha esposa,
Lina.
— Lina, que prazer conhecê-la.
Os olhos inocentes de Lina vibram com minhas palavras.
Fico feliz em ver que todas aquelas horas irritantes de bajulação
voltam para mim como memória muscular. Claramente, a
miséria dentro de mim não está expressa em minhas feições.
— E esta é a maravilhosa Ave... — Stan começa.
— Olá, Srta. Soko. — Meus ombros balançam em direção a
ela, e meu olhar ardente encontra a profundidade requintada
de seus olhos cor de avelã. Ficar ao lado de alguém que ocupa
tanto espaço quanto eu é emocionante. Sem tentar, parece que
Avery comanda todos os olhares.
Ela inala uma respiração afiada. Seu olhar penetrante se
estreita em mim como antes, e os cantos dos meus lábios se
abrem em um sorriso.
Antes que ela tenha a oportunidade de responder, Stan
interrompe:
— Esplêndido! Vocês dois já se conhecem?
— Tivemos o prazer de nos conhecer há um tempo — diz
Avery, com um sorriso educado estampado em seu rosto.
— Sim, se bem me lembro, Avery se esforçou para fazer
comentários insensíveis sobre o meu terno.
As piscinas tempestuosas de seus olhos me atacam. Uma
teimosia invade sua postura antes relaxada, endireitando ainda
mais a longa extensão de sua coluna.
— Ah, tenho certeza de que foi bem-merecido — diz Stan.
— Você está enganado. — Avery olha para mim e seus lábios
se curvam em um sorriso de lado. — Eu chamei você de
engravatado sem coração.
Lina bufa baixinho.
— Agora, com licença, vejo um antigo colega que ficará
absolutamente arrasado se eu não cumprimentá-lo. — Avery se
apressa em se afastar da conversa.
Uma pontada de irritação queima através de mim. Ela está
tentando me evitar.
Lina repreende:
— Oh, não nos deixe ainda.
— Foi um prazer conhecer todos vocês. — Avery pega a
mão da mulher magra e a aperta suavemente. — Entrarei em
contato sobre a carta de recomendação para sua sobrinha.
Que tipo de recomendação ela poderia dar a uma mulher
como a esposa de Stan, que provavelmente tem amigos em
posições mais altas que Avery?
Tento me lembrar do currículo dela.
Ela trabalhou como assistente de filantropos durante a pós-
graduação. Talvez essa família seja a conexão dela?
Avery não me dá a impressão de que ela é outra filha de
socialite ou uma garota que teve um fundo fiduciário, ao
contrário de Robyn do meu encontro duplo.
Quão longe suas conexões familiares realmente vão? E quem
é ela para se encolher com o meu passado quando
provavelmente também tem alguns esqueletos em seu armário?
Avery dá a todos, exceto a mim, um sorriso gentil antes de
partir, deixando um vazio monótono atrás dela a cada passo
determinado.
Stan retorna à conversa, mas meus olhos a seguem.
Eu finjo rir de outra das piadas mal executadas de Stan,
então me afasto dos socialites.
Eu vasculho a multidão até que os cabelos loiros cortados de
Avery chamam minha atenção. Seu corpo cai sobre o bar, um
conjunto relaxado em seus ombros. A curva de suas costas
espreita através de seu vestido lustroso. As partes de sua pele
não envoltas no tecido brilhante parecem macias.
Como ela pareceria sob meus dedos?
Eu a observo olhando e examinando o salão, um copo vazio
descansando em sua mão. Meu corpo se aproxima dela, cada
passo com a intenção de me aproximar. Quando aqueles olhos
vívidos finalmente pousam em mim, eles rapidamente rolam
para a parte de trás de sua cabeça.
Sua expressão irritada está me agradando mais do que eu
gostaria de confessar.
— Sr. Navarro. — Uma aspereza escorre de suas palavras,
mas ela não faz nenhum esforço para olhar para mim.
— Vamos começar de novo. — Aceno para o barman. — A
decisão do trabalho foi um movimento estratégico. Sem
ressentimentos. Por favor, me deixe compensá-la pagando uma
bebida para você.
— Open bar — ela comenta, então muda sua atenção para
o barman. — Eu vou querer uma água com gás com limão, por
favor.
— E eu vou querer um 1942 com gelo — acrescento ao seu
pedido. Ela não parece ter a intenção de facilitar o meu pedido
de desculpas. Conduzo a conversa para longe da rejeição do
emprego. — Eu estive pensando, Srta. Soko, você realmente
viajou para todos os sete continentes?
Ela vira o rosto para mim e seus olhos parecem se encher de
confusão.
— Ou você mentiu em seu currículo? — Eu esclareço.
— Não. — Ela me considera. — Estou apenas surpresa por
você perguntar.
Eu fui capaz de pegá-la de surpresa; eu sorrio com a
realização.
— E por que isto?
Nossas bebidas aparecem no balcão, e ela agradece ao
barman antes de tomar um gole. Pego uma nota de cem dólares
e coloco no pote de gorjetas, deixando minha bebida no balcão.
O barman me dá um aceno educado que eu retribuo antes de
voltar minha atenção para Avery, que parece ter assistido a
breve troca o tempo todo.
— Você tem pensado em mim — diz ela claramente.
— Obviamente. — Isso saiu mais sarcástico do que eu
pretendia.
Avery abaixa sua bebida e cruza os braços na frente do peito
em uma postura inconfundivelmente irritada, ainda de frente
para mim.
Por que eu tenho que soar como um babaca do caralho?
Eu endireito as mangas do paletó do meu smoking,
procurando em minha mente uma maneira de consertar a
situação, mas Avery é mais rápida do que eu.
— Divirta-me, Navarro. Você decidiu vir hoje à noite antes
ou depois que minha estratégia de arrecadação de fundos
destacou este evento?
O desenrolar do seu r se arrasta atrás de seus dentes.
Avery me tem contra a parede.
Eu examinei o calendário de arrecadação de fundos em sua
apresentação. Eu queria novos investidores para a OPO. Eu
definitivamente não posso divulgar agora. Eu finalmente pego
minha bebida e tomo um longo gole do rico líquido dourado-
palha.
— Foi uma das melhores estratégias que já vimos, mas
qualquer pessoa com conexões seria capaz de criá-la com tempo
livre suficiente.
— Como é? Meu trabalho árduo é muito mais do que os
relacionamentos que trabalhei incansavelmente para cultivar.
São semanas de pesquisa e... — Ela para e se afasta de mim. —
Você sabe o que, eu não tenho que explicar nada para você.
Especialmente depois que você bajulou seu antigo cliente
vestido com um smoking que provavelmente custa minha
parte do aluguel.
A irritação aumenta minhas defesas.
— Bem, isso é simplesmente errado. Este smoking — eu
olho para o tecido luxuoso que abraça meu corpo —
provavelmente vale três meses do seu aluguel.
Na faculdade, nunca passei muito tempo me preocupando
com a maneira como me vestia, mas rapidamente percebi que
as pessoas em meu escritório de advocacia davam a você um
tipo diferente de atenção quando você vestia ternos caros.
Usando a pequena fortuna que foi meu primeiro bônus, eu
troquei meus ternos baratos e nunca olhei para trás.
Agora, a mulher que estou ansioso para impressionar esta
noite, por mais que ela me deslumbre, se recusa a ver a pessoa
que eu quero me tornar por baixo do meu guarda-roupa
ornamentado.
— É claro que um advogado não veria nenhum problema
em ser tão frívolo — ela diz sarcasticamente.
— Advogado aposentado. — Eu a corrijo. — E meu passado
não impediu que o conselho da OPO me tornasse o diretor de
operações. — Aquela culpa familiar não diluída retorna, e os
músculos do meu estômago se contraem.
Eu bebo o restante da minha bebida e coloco no balcão. O
sabor floral permanece em meus lábios.
— De qualquer forma, estou feliz por nunca ter que
trabalhar com você. — Ela fica rígida ao meu lado, mas se
recusa a sair.
Se ela soubesse como estou interessado em revisitar a
proposta de trabalho. Mas Joanna me supera na hierarquia.
A carga crescente entre nós não deixa uma rota de fuga clara.
Ficamos parados no silêncio pesado, observando os
participantes do baile se espalharem pelo salão como formigas.
Seu cheiro se funde em meus sentidos novamente, aquele
toque único de oceano e doçura fazendo minha pele corar.
Uma urgência surge em mim para consertar essa pequena
briga entre nós. Que pessoa se torna tão transtornada por causa
de uma mera rejeição de trabalho? Não é como se ela estivesse
perdendo um salário substancial.
Deixe para lá. Deixe-a sozinha durante a noite.
Mas quero consertar isso para que possamos recomeçar e ela
possa parar de franzir a testa para mim.
— A maneira como você se comportou durante a entrevista
foi impressionante. — Eu permito a ela esta única verdade.
— Isso não importa agora — ela estala.
— Mas você realmente deveria trabalhar para controlar suas
emoções. — As palavras saem de mim precipitadas, apressadas,
desnecessárias.
Porra, por que eu disse isso? Por quê?
— O quê? — Ela pergunta, encharcada de exasperação.
Eu sou um idiota por continuar com a mentira de Joanna
como um cúmplice de um esquema sem sentido.
Eu tento neutralizar a situação.
— Você queria uma devolutiva, e esse é a minha devolutiva
honesta.
Esse definitivamente não foi minha devolutiva honesta, mas
estou muito envolvido com esse absurdo para parar.
Nada havia de errado com suas emoções durante a
entrevista. Sua paixão pelo trabalho apenas a tornava uma
candidata melhor. Em vez disso, estou usando minhas defesas
cruéis para esta batalha entre nós. Eu me mexo
desconfortavelmente.
— Minhas emoções estão presentes porque eu me importo
com o meu trabalho. Ao contrário de você.
— Você não sabe nada sobre mim — eu retruco.
— E aposto que estou melhor assim.
O nariz de Avery enruga novamente, e ela dobra a pele
rosada carnuda de seu lábio inferior em seus dentes, como se
estivesse impedindo outro golpe de escapar. Uma pequena
mecha de cabelo dourado escapa de seu penteado elegante, e
quero colocá-la atrás da orelha antes de prender o restante de
suas mechas em meus dedos.
Não sei por que estou buscando desesperadamente a
aprovação dela, mas não consigo me controlar.
— Acho que posso provar que você está errada — desafio.
Ela não hesita.
— Você falharia tentando.
— Eu não desisto tão facilmente — eu contesto.
Seus olhos encontram os meus em um olhar combativo. Eu
trabalho incansavelmente para memorizar cada partícula de
mel nadando dentro de seus olhos.
— Claro, como eu poderia esquecer? Qualquer um que se
alia a magnatas do petróleo deve jogar pesado.
Então ela me ouviu mais cedo com Stan e pensou o pior de
mim. Tento falar, mas as palavras não saem. Ela me ganhou
nesse ponto, mesmo que não fossem magnatas. Stan é um
idiota. Eu sou e continuo sendo um idiota combativo.
Um leve indício de um sorriso satisfeito enfeita seu rosto.
— Sem ideia do que falar?
Meu olhar segue seus lábios enquanto ela afasta seu olhar de
mim.
O alargamento de suas narinas está realmente me excitando?
O salão parece estar alguns graus mais quente. O desejo de
descobrir qual seria a sensação de sua boca inteligente na minha
me domina. Em um mundo onde ela é minha funcionária,
minha responsável direta, esse tipo de comportamento exigiria
uma visita a um terapeuta. Estamos em lados opostos do
mesmo campo de batalha esta noite, e estou ansioso para
descobrir onde o confronto nos levará.
— Saia para jantar comigo. — As palavras saem de mim.
Uma expressão de desgosto contorce seu lindo rosto, e seus
braços caem para os lados, aqueles longos dedos se fechando em
punhos.
— O quê?
— Você. Eu. Jantar. Isso não está claro o suficiente? — Meu
tom é irritantemente condescendente de novo, e eu quero
voltar atrás.
Os olhos de Avery analisam cada ruga em meu rosto como
se sua atenção estivesse em um livro cativante.
— Eu não me junto a estranhos para jantar, Sr. Navarro. —
A rejeição é muito melhor do que o cai fora que eu esperava.
— Eu não nos chamaria de estranhos.
Nós olhamos um para o outro, e é como se outra palavra se
preparasse em sua garganta, mas há uma mudança no ar ao
redor.
Um dos grandes companheiros de Avery invade nosso
santuário. Seu bíceps comicamente grande dá um leve
empurrão no ombro dela. Ele me cumprimenta com um
grande sorriso enquanto o empurrão a faz balançar, e as pontas
dos dedos dela raspam o tecido da minha calça. Um choque
violento dispara através de mim como se eu tivesse sido tocado
por um fio elétrico.
— Ave, quem é seu amigo? — O homem questiona com
uma voz profunda e jovial.
Ave? Quem é esse cara? E por que ele pode tocá-la?
Avery se encolhe, sem dúvida a suposição de que
poderíamos ser amigos.
A decepção se instala em meu peito. Nós mal somos
conhecidos, mas o desdém em sua expressão rasa minha
respiração.
Eu ajusto os punhos do meu paletó e, em seguida, estendo a
palma da mão em saudação.
— Ollie, este é Luca Navarro. — Suas mãos correm sobre o
tecido brilhante de seu vestido. Para uma mulher com tanto a
dizer sobre meu smoking, seu traje rivaliza com o meu. — Ele é
o COO da OPO.
É seguro assumir que esta não é a primeira vez que fui
mencionado a ele, julgando o arregalar de seus olhos. Meus
dentes rangem uns contra os outros enquanto outra pontada
silenciosa de culpa luta para entrar em mim.
— Oh. — A mão carnuda de Ollie finalmente encontra a
minha em um aperto de mão desnecessariamente agressivo.
— É um prazer conhecê-lo, Ollie. — Meu aperto em sua
mão afrouxa quando eu pego um vislumbre de seus olhos
gentis por trás do olhar tenso que ele tenta me dar. — Você é o
encontro de Avery?
— Nós trabalhamos juntos — Avery responde por ele —, e
eu não vou a encontros. Ollie, vejo você na mesa.
Com um aceno sutil, ela aponta na direção onde seus outros
dois companheiros se amontoam em seus assentos. Avery
estende a mão livre para o antebraço dele, dando-lhe um aperto
suave.
Sem se despedir, ela nos abandona no bar. Suas palavras se
repetem em minha mente.
Eu não vou a encontros.
Meus saltos ecoam no chão do museu enquanto corro em
direção à mesa ao fundo que a irmã de Robert reservou para
nós. A noite é um sucesso em geral, exceto pela discussão com
o engravatado sem coração.
Quando chego ao meu lugar, Matthew está conversando
com Robert.
Mal posso esperar para contar a ele sobre o compromisso
verbal que assegurei que nos renderá 250 mil dólares até o final
do mês. Não é o suficiente para continuar financiando a missão
da Ilha Gaya e continuar testando nossa tecnologia, mas vai
ajudar por enquanto.
É bom estar aqui esta noite. Estou de volta ao meu elemento
natural, rodeada pelo meu pessoal. A tensão no meu pescoço se
desfaz.
Robert puxa minha cadeira e eu deslizo para o assento
macio. Eu dou a ele um sorriso caloroso que o faz olhar
desajeitadamente ao redor antes de fixar os olhos no
guardanapo dobrado em seu colo.
Ollie ainda está ao lado de Luca Navarro. O sorriso cheio de
dentes de Ollie é do tamanho de uma lua crescente, o oposto de
quão desconfortável ele parecia entre o resto dos convidados do
gala.
Luca. Navarro.
A maneira como ele me examinou, nunca afastando seu
rosto esculpido do meu, colocou minha sanidade em provação.
Não consigo me lembrar da última vez que um olhar tão gelado
despertou o desejo de permanecer em uma disputa verbal.
Estou tentada a pegá-lo desprevenido e descobrir a razão exata
de ele estar aqui esta noite, ou melhor ainda, suas intenções na
OPO. Duvido que ele tenha algum plano maligno, mas estou
lutando para pintar o quadro completo de quem ele é entre o
caso do petróleo, as roupas elegantes e aquela atitude
implacável.
Algo não bate. Eu quero descobrir o que é.
Depois, houve a pergunta aleatória sobre minhas viagens.
Nunca alguém me perguntou sobre a seção de interesses do
meu currículo. Eu esperava que Joanna notasse que
compartilhamos a mesma conquista de viajar por todos os sete
continentes. Em vez disso, foi Luca quem reconheceu minha
conquista.
Por que ele pensaria que eu menti?
Meu pai garantiu que eu experimentasse o mundo inteiro
antes de ficar presa aos meus livros e salas de aula na
universidade. Mas não tive a chance de mencionar durante
minha entrevista que ele me levou com ele em expedições
fotográficas.
A sensação inquietante na minha barriga se recusa a
desaparecer.
O que eu disse sobre a carreira de advogado de Luca pode
ter sido um pouco duro. Mas fiquei chocada com a menção do
Sr. Lewis sobre seus casos de petróleo. Eu me senti traída.
Traída sobre o quê, eu realmente não sei.
O COO da OPO não deveria ser um ex-advogado
corporativo ligado ao petróleo sujo. Percebo a hipocrisia em
meus próprios pensamentos. Minha reação foi provavelmente
exagerada devido à culpa que senti por entreter o Sr. Lewis e sua
esposa por tanto tempo.
Luca pode não estar errado. Se a OPO o contratou, então
deve haver uma boa razão para isso.
Há também o fato de que, depois de pedirmos nossas
bebidas, ele generosamente deu uma gorjeta ao barman, cujo
pote de gorjetas está vazio, exceto por alguns dólares soltos.
Foi meio atraente.
Ok. Foi atraente para caralho.
Especialmente quando ninguém mais neste gala expressou
seus agradecimentos de forma tão generosa. Mas ele claramente
só fez isso para se exibir.
Ollie dá um tapinha no ombro de Luca, fazendo com que
Luca se mexa brevemente. Os impressionantes músculos
esbeltos de Luca se destacam em seu elegante smoking. De
alguma forma, sua estatura não diminui ao lado do corpo
gigantesco de Ollie.
Qual seria a sensação da largura dos ombros de Luca sob
minhas mãos?
Não, não, não.
Pego a taça de vinho tinto de Matthew e tomo o gole
restante, abafando a carga dentro de mim.
Minha imaginação errante se dissipa quando Ollie se vira e
caminha em minha direção até que finalmente se senta ao lado
de Matthew.
— Por que demorou tanto? — Eu me inclino para a frente
no meu assento, falhando em conter o estalo na minha voz.
Os olhos de Robert se arregalam levemente com o meu tom,
e me arrependo de perturbá-lo com minha explosão.
Matthew olha para nós enquanto Ollie faz um grande
esforço para criar espaço para si mesmo na pequena cadeira de
banquete.
Matthew mantém a voz baixa.
— O que você fez?
— Eu não fiz nada, Matt! — Ollie repreende. — Estava
apenas sendo educado.
— Ele estava conversando com o diretor de operações da
OPO. — Eu digo.
Robert solta um leve suspiro.
— E? — Matthew nos incentiva a elaborar.
— Ele é bem bonitinho. — Ollie sorri para mim, enfiando
gentilmente um guardanapo de pano no colarinho — Talvez
ele goste de você.
As palavras me jogam de volta na cadeira. Um redemoinho
de emoções me desloca, e minha pele se arrepia.
— Por que você diria isso? — Matthew passa os dedos pelo
cabelo bagunçado e substitui o copo vazio que tirei dele por um
novo que ele pega de um garçom que passa.
Ollie dá de ombros.
Eu pressiono meus lábios, não querendo especular sobre a
sugestão de Ollie.
— Dedução precisa, Ol — Robert murmura, conectando
cuidadosamente seu olhar de mim para Luca do outro lado do
salão. — O cavalheiro não para de olhar para cá.
Minhas bochechas queimam.
— Tudo bem — Matthew conclui, entendendo que a
conversa chegou ao fim. — Já chega.
A observação de Robert desperta a curiosidade dentro de
mim, mas sigo o exemplo de Matthew para redirecionar o
assunto.
— Podemos falar sobre outra coisa? Como o fato de eu ter
garantido um compromisso de financiamento e alguns casos
sérios que garantem acompanhamentos.
— Já? Você é incrível! — Matthew sorri.
Eu me aqueço com as palavras. Eu sou incrível. Não sei por
que me permiti esquecer.
Ollie ri.
— Ele está certo, garota. Não é de admirar que o Navarro
tenha feito algumas perguntas sobre você.
Meus dedos brincam com o tecido brilhante do meu
vestido.
— O que ele disse? — Eu pergunto, tentando o meu melhor
para manter a calma.
— Apenas perguntou o que você está fazendo na Plastech e
se gosta de trabalhar conosco. Eu disse a ele que claro que você
gosta.
Mas antes que eu possa interrogar Ollie ainda mais, o salão
fica silencioso enquanto uma mulher idosa luta para chegar ao
pódio brilhante. O brilho azul hipnotizante do gala reveste cada
mesa como se estivéssemos todos debaixo d'água. É uma visão
incrível, mesmo que eu não consiga distinguir o palco de nossos
assentos.
A mulher é rapidamente engolfada por membros da equipe
que buscam suas mãos enquanto suas pernas sobem as escadas.
Um dos membros da equipe parece puxar o microfone para
longe dela, mas ela se mantém firme.
— Eu não preciso ser formalmente apresentada — a mulher
murmura alto o suficiente para o microfone captar. — Eu sou
a primeira e única Willa. O baile de gala é realizado em meu
nome.
O salão se enche de sussurros antecipados enquanto a
atenção dos convidados se volta para o palco.
Depois de uma introdução um tanto acidental envolvendo
uma série incoerente de obscenidades, dois assistentes
descontentes e uma transmissão estridente do microfone,
Willhelma Ellington está pronta para falar para nós.
— Eu pretendo fazer isso brevemente. — Sua voz severa
ressoa por todo o espaço.
— Desligue isso! — Willa grita novamente, desta vez para
ninguém em particular. Os convidados compartilham uma
risada rápida em todo o salão. — Você quer estourar meus
tímpanos?
Eu observo o palco e tomo outro gole do vinho que
Matthew colocou na minha frente.
— Estou anunciando uma competição. — Ela ajusta os
óculos. — De certo modo.
A onda de murmúrios se espalha pelo salão mais uma vez.
Meu estômago coalha.
Uma competição?
— Por favor, dêem uma salva de palmas para o Prêmio
Ellington. — O salão obedece. — Estarei concedendo cinco
milhões de dólares em financiamento a uma empresa, pequena
ou grande, para projetar e implementar uma nova tecnologia
que avance a conservação.
Eu sufoco um suspiro. O garfo de Ollie bate em seu prato
ao ouvir o número.
Cinco milhões de dólares?
Os olhos da minha equipe se conectam e quase posso ver os
pensamentos girando em cada uma de suas cabeças. O silêncio
no salão de baile envolve a multidão em um silêncio penetrante.
— As regras são simples — continua Willa. — A maioria de
vocês são empresas que se concentram em melhorar nosso
planeta. Imploro a todos que apresentem uma ideia.
Meu pulso acelera enquanto eu seguro meus talheres. Eu me
preocupo de que estou os amassando. Sinto a vibração das
batidas do pé de Matthew sincronizadas com as batidas do meu
coração.
— Para se tornar elegível para o Prêmio Ellington, suas
propostas devem atender aos seguintes requisitos. — Uma tela
gigante ilumina o espaço atrás de Willhelma, apresentando as
regras enquanto ela as recita para a multidão. — A ideia deve
abordar e resolver áreas de pressão crítica em nossos ambientes
globais. Deve fazer uso de métodos sustentáveis para atingir
seus objetivos. — Ela prende a respiração antes de prosseguir.
— E a empresa vencedora designada para o projeto deve estar
disposta a se comprometer com o trabalho por dois anos.
Toda a interface e o lema de nossa empresa atende
facilmente aos requisitos para este prêmio.
Esta poderia ser a salvação.
— Vocês terão duas semanas para apresentar uma proposta
para as ideias de vocês. Depois de revisar cada uma no próximo
mês, selecionarei a empresa que avançará para a fase de testes.
— Willa abandona o microfone e volta para a mesa.
Um assistente alegre assume, oferecendo mais detalhes sobre
a competição.
Examino o salão, notando mentalmente quais mesas estão
iniciando suas conversas sussurradas.
Na mesa da Organização de Pesquisas Oceânicas quatro
pessoas digitam em seus telefones sob a toalha de mesa branca.
Parece que a OPO está planejando entrar nessa.
Como se uma organização de seu tamanho precisasse de mais
financiamento.
Minha curiosidade me trai quando noto Luca Navarro
olhando para mim. Os cantos de seus lábios se curvam quando
ele levanta sua taça de champanhe para mim em saudação.
Que o jogo comece.
Aplausos explodem no salão de baile, quebrando nosso
momento intenso.
Eu me viro para minha equipe, e todos eles acenam com
empolgação contida.
— Cinco milhões de dólares podem nos ajudar a começar a
escalar a plataforma — sussurra Robert.
— Não apenas escalar, mas podemos finalmente terminar a
missão de limpeza na Ilha Gaya — acrescenta Ollie.
A compreensão em sua expressão confirma que ele e eu
estamos na mesma página.
Matthew pega seu telefone, provavelmente limpando
nossas agendas para amanhã. Eu escondo um sorriso ansioso.
— Acho que nossa sorte está mudando. — Ollie bate seu
copo no meu.
Uma multidão de carros inunda a estrada em frente ao Museu
Americano de História Natural. Os participantes do baile de
gala inundam os degraus de mármore antes de se reunirem nos
veículos que os aguardam.
Espero por um táxi livre no topo da escada. Meu corpo vibra
de antecipação com as ideias de estruturação de propostas que
passam pela minha mente. Enquanto minha equipe fugia,
ansiosa para tirar os smokings alugados, optei por ficar para trás
depois que a noite terminou. Eu não poderia deixar passar a
oportunidade de uma última hora para conseguir contatos.
Duas pessoas saem do museu, conversando alto.
— Pelo menos a comida estava decente desta vez, mas essa
competição é uma besteira total — diz uma mulher pequena.
— Certo? Você viu que a OPO estava lá? Não importa o
que qualquer um de nós faça — diz sua companheira mais alta,
que usa um deslumbrante vestido azul. — Se eles vão entrar, é
garantido a vitória deles. Eles provavelmente têm inúmeros
projetos para escolher.
Aborrecimento cobre minha garganta com o pensamento
de OPO manter as pessoas longe de seus sonhos.
— Me desculpem por interromper — eu entro na conversa.
Elas olham para mim. — Mas as empresas menores têm uma
chance, mesmo que a OPO esteja planejando entrar.
Claro, eles têm recursos enormes, uma equipe de estratégia
e pesquisa, um escritório glamoroso e Joanna Benbart.
A mulher imponente me encara de volta.
— O quê? Você trabalha para a OPO ou algo assim?
Uma pontada de dor perfura meu estômago, mas eu a
ignoro.
— Não. Sou chefe de desenvolvimento de uma start-up
chamada Plastech. Nossa tecnologia separa o lixo dos peixes na
água do mar — digo com orgulho porque, bem, estou muito
orgulhosa de nós.
— Legal, então você está nos dizendo que não vamos ganhar
contra vocês também — diz a mulher mais baixa. — Nosso
musgo parasita que decompõe naturalmente o lixo ainda nem
saiu da fase de testes.
— O que você está falando? Musgo parasita soa tão legal. —
Eu tento transmitir minha emoção genuína, mas temo que não
importa o quanto meu tom se ilumine, fazer musgo soar sexy é
difícil. — Pensem nisso. O Prêmio pode apoiá-las durante a fase
de teste. Vocês devem enviar sua proposta.
Sorrio com meu discurso motivacional.
Luca Navarro provavelmente diria a esse pobre grupo para
não entrar. Ele provavelmente não os reconheceria.
Ao contrário dele, porém, não tenho medo de um pouco de
competição. Especialmente quando vencer pode criar um
impacto revolucionário em nosso planeta.
— As pessoas simplesmente não estão mais se preocupando
com o oceano. — Os ombros da pequena mulher caem em
derrota.
— Nós nos preocupamos com os oceanos. Todo mundo aqui
se importa. — Aponto para as pessoas na escada que trabalham
para empresas como a nossa e para os doadores que as apoiam.
— Quando o dinheiro acabar, faremos exatamente o que
estamos fazendo agora: encontrar mais pessoas que se
importam.
— Verdade — a mulher mais alta responde.
As senhoras se entreolham; um olhar familiar de animação
preenche os olhos delas.
— A Plastech tem sorte de ter você. — A companheira mais
baixa sorri para mim.
— Eu sei. — Meus lábios se curvam para cima e espero que
qualquer coisa que eu diga ressoe com elas o suficiente para
entrar na competição.
As mulheres deixam o lugar que estávamos na escada e eu
vou para o meio-fio.
Luca Navarro provavelmente já está a caminho do escritório
para começar uma proposta para o financiamento. Por que
mais ele iria embora tão rapidamente após o anúncio?
Sua proposta de jantar ecoa na minha cabeça.
Ele tem coragem de supor que eu gostaria de passar uma
noite com um engravatado que arrancou o emprego dos meus
sonhos das minhas próprias mãos.
Nenhuma quantidade de curiosidade vai me convencer a
me juntar a ele. Nem seu impressionante sorriso de menino.
Ondas de calor surgem na minha barriga.
Não.
Não tenho capacidade para namorar.
Minha carreira vem em primeiro lugar.
Isso significa que Plastech é minha única prioridade agora, e
estou determinada a ganhar o Prêmio Ellington – mesmo que
o sorriso arrogante de Luca permaneça no fundo da minha
mente.
Minha irritação com ele ainda se recusa a ceder. Por que estou
deixando ele me irritar?
Pego meu telefone e noto uma chamada perdida de Lily. Ela
deve estar morrendo de vontade de ouvir todos os detalhes do
baile antes de seu turno noturno no bar. Discando o número
dela, levo o telefone ao ouvido e procuro dinheiro solto na
minha bolsa.
Percebo a traseira de um táxi com a luz acesa e a porta
escancarada. Eu corro em direção a ele, ansiosa para pegá-lo
para mim. Minha mão livre agarra a cauda do meu vestido
enquanto mantenho minha atenção na calçada.
— É a Lily. Se eu lhe dei este número ontem à noite, foi para
garantir que você chegasse em casa em segurança. Não porque
eu estava flertando com você! — Sua voz canta em meu ouvido,
me fazendo rir.
Começo a deixar uma mensagem de voz para Lily.
— O engravatado estava aqui... — Minha metade inferior
pousa em algo que parece muito com uma pessoa em vez de um
assento de carro.
Meu telefone cai no meu colo, e minhas mãos pousam no
que imagino ser um par de calças embaixo de mim, a visão delas
quase camuflada pelo couro escuro do assento. Eu
imediatamente pego meu telefone.
Sim, essas são inegavelmente pernas.
Estou sentada em uma pessoa real.
— Eu sinto muito! — Eu grito. Eu tento pular para frente,
mas minha cabeça encontra o rígido painel de privacidade.
O taxista se vira para mim, seus olhos arregalados no banco
da frente. Ele não vai ajudar?
Tento sair do táxi me apoiando em uma das pernas que
ainda estavam na calçada, mas meu vestido falha, o tecido se
esticando ao prender em algo no veículo.
— Ave? — Uma voz profunda faz cócegas em meu ouvido.
Ele.
Eu viro minha cabeça.
A adrenalina pulsa dentro de mim. Meu nariz roça no dele,
e nossas testas pressionam uma contra a outra. Eu agarro seu
ombro para me apoiar, minha outra mão segurando a maçaneta
acima da porta aberta do carro.
Então é essa a sensação de estar no colo dele?
O gosto de um cheiro familiar de madeira faz cócegas em
meus lábios. Um calor inegável surge entre minhas coxas
enquanto suas grandes mãos se acomodam firmemente em
meus quadris, me firmando em seu colo. Uma rigidez cutuca
minha perna. Eu tento não reagir ao seu tamanho tão generoso.
Uma buzina estridente nos tira de nossa névoa.
Meus olhos finalmente encontram seu olhar pesado e
intencional.
— Apenas as pessoas de quem sou próxima me chamam de
Ave.
— Bem — ele sussurra contra o meu pescoço. Seus dedos
calejados pressionam mais profundamente em minha carne —
, como você chama isso?
Uma corrente de eletricidade me percorre com seu toque.
Esse choque é de pânico, certo? Tem que ser. Não pode ser
outra coisa.
— Um acidente.
— Mas você caiu com tanto propósito — diz ele.
— Eu não caí. — Eu tento sair do táxi, mas o banco de trás
é muito pequeno para nossos corpos altos, e meu corpo está
praticamente preso entre ele e o painel de privacidade.
— Aposto que você estava procurando por mim, esperando
para cair em meus braços com o meu convite para jantar.
— Bem que você queria. — Eu consigo ganhar controle
sobre um dos meus membros presos.
— Eu quero — ele exala.
Eu finalmente me esforço para sair do táxi, mas quando
meus saltos colidem com a calçada, um puxão no meu vestido
me faz bater na porta do carro.
Ótimo, ainda está preso.
— Deixe-me ajudar — diz ele, seus olhos parando
momentaneamente em meus lábios antes de retornar ao meu
olhar.
— Eu não quero sua ajuda. — Puxo com raiva o tecido
delicado, e o som de um grande rasgo enche o ar. — Ugh!
Luca observa com um sorriso incontido enquanto a longa
fenda do meu vestido rasga até o meio da coxa, expondo minhas
pernas à brisa da noite.
— O que há de tão divertido em um dos meus vestidos
favoritos sendo rasgado em pedaços?
O sorriso se recusa a ceder.
— Você reagiria da mesma forma se fosse meu smoking
preso nesta porta.
— Mas, ao contrário do seu smoking chamativo, este é
vintage.
— Por que isso importa?
Deixo escapar outro gemido audível.
— Aqui. — Ele começa a tirar seu paletó luxuoso.
— Não quero favores da concorrência.
A declaração ondula sua testa em uma expressão confusa.
— Concorrência?
Claro, ele não tem ideia do que estou falando.
Cerro os punhos, tentando morder a língua.
— O Prêmio Ellington. Ou uma oportunidade de
financiamento de cinco milhões de dólares está abaixo do limite
de importância da OPO?
Como ele pode ser tão indiferente sobre esse dinheiro?
— Olha, apenas pegue este táxi, ok? — Ele começa a sair do
veículo.
Eu o encaro, incapaz de processar a gentileza repentina. O
nó da gravata pende frouxamente nele, oferecendo vislumbres
das veias do seu pescoço, e uma parte de mim quer envolver
minha mão em torno do tecido e puxar seu rosto para o meu.
Para gritar com ele de perto, é claro.
— Prefiro caminhar. — Eu pressiono meus saltos na rua,
querendo ficar longe dele. Se eu for para casa a pé, serão apenas
vinte minutos pelo parque.
Certo, de salto alto, talvez trinta minutos.
Vou procurar outro táxi. Não pode ser tão difícil.
A sorte agora está a meu favor. No final do quarteirão, outro
carro disponível aparece. Eu jogo minha mão no ar, sinalizando
minha carona para casa. Quando ele para diante de mim, enfio
a cabeça na janela, garantindo que ninguém ocupa o assento.
Sorrio para o taxista, que me encara com curiosidade.
— Apenas me certificando de que não há ninguém aqui.
Meu corpo colide com o assento de couro do táxi vazio.
Digo meu endereço antes de me virar para olhar pela janela.
Então eu tento esfregar seu toque na minha pele.
Suas palavras se agarram aos meus pensamentos.
Você tem pensado em mim, obviamente.
Ele queria zombar de mim, a condescendência em seu tom
era inconfundível, mas uma parte de mim se pergunta se havia
alguma verdade por trás de suas palavras. Por que outro motivo
ele seria tão inflexível sobre o jantar?
Por duas semanas, tentei forçá-lo a sair da minha mente,
minha existência atormentada por sua ligação de rejeição e a
nova trajetória de carreira que ele me impulsionou.
Se Luca tivesse me contratado, eu teria representado a OPO
esta noite, discutindo ideias para o Prêmio com sua equipe.
Talvez eu até tivesse participado de muitos eventos como
esse com ele ao meu lado.
Isso não importa agora. Plastech é meu foco principal.
O táxi entra no trânsito e eu vejo Luca Navarro parado ao
lado do carro. Ele me observa sair até ficar fora de vista.
Ele estava atrás de mim o tempo todo?
Meus olhos se abrem quando o sol atinge meu rosto.
O que está acontecendo?
Está muito claro e barulhento para ser 05:00 da manhã. Eu
pulo da cama e procuro meu telefone na mesa de cabeceira. Um
carregador solto fica em seu lugar.
Eu arranco as cobertas da minha pele suada. Meu coração se
debate em minha caixa torácica.
O. Que. Está. Acontecendo?
Eu levanto da minha cama e bato meus pés no chão.
Eu planejei cada minuto do meu dia. Não posso dormir até
tarde. Tenho muito o que fazer hoje.
Nem uma única pessoa pode permanecer bem-sucedida se
desperdiçar suas manhãs estando deitada.
Ok, o que está na minha lista de tarefas? Tem a minha
corrida matinal diária.
Talvez eu possa pular hoje?
Meu barbeiro é 7h em ponto, mas, a julgar pela luz do sol,
provavelmente perdi. Meu estômago revira com a ideia de não
dar a devida atenção a Andrew. Preciso ligar para ele
imediatamente. Eu corro meus dedos pelos meus fios de cabelo
crescidos demais, frustrado com o comprimento.
Arranco os cobertores da minha cama, mas ainda não vejo
meu telefone em lugar nenhum.
Onde eu o coloquei?
Preciso ir ao correio para enviar o presente de aniversário dos
meus pais. É o último dia que tenho para enviar, para que
chegue a tempo.
A ida ao supermercado eu posso pular. Vou ter que viver
sem minhas barras de proteína esta semana. Nico continua às
comendo, apesar das muitas vezes que me ofereci para comprar
uns pacotes para ele.
Se tudo isso tivesse sido feito antes das 9h, eu teria tempo
suficiente para chegar ao escritório e me preparar para a reunião
de atualização sobre o Prêmio Ellington na segunda-feira.
Meu coração troveja em minha caixa torácica. Já se passaram
três dias desde o anúncio de Willa, e a equipe que me foi
designada para elaborar uma proposta está passando por
dificuldades técnicas que precisam ser resolvidas o mais rápido
possível.
Também tenho uma hora reservada para verificações com
as equipes internacionais da OPO. Então, é claro, havia
algumas ligações de investidores que eu queria encaixar nesta
tarde – todas as quais agora precisarei deixar para depois.
Entro no meu banheiro e procuro nos armários. Ainda sem
telefone.
Porra.
Olho pela janela do meu quarto e vejo pessoas enchendo as
calçadas. Já deve passar das 07:00 da manhã. A tensão percorre
todo o meu corpo.
Saio correndo do quarto, empurrando a porta com força. A
maçaneta bate na minha parede recém-repintada.
— Ahh!
Só mais uma coisa que vou precisar consertar. Adicione à
porra da minha lista de tarefas.
Enquanto ando pelo corredor, sinto meus músculos
pesados de sono. Pequenos ruídos vindos da cozinha.
Nico está bem?
Ele está em casa?
Ele teve algo a ver comigo dormindo até tarde?
Eu corro pelo corredor. Meu pé prende em alguma coisa. Eu
apoio minhas mãos contra uma parede próxima para me
impedir de cair. Outro maldito cabo. Eu estava distraído
demais para notar o fio que ia do quarto de Nico até a cozinha.
Minha irritação atinge o auge quando vejo outro par de meias
amassadas no final do corredor.
Eu vou matá-lo.
Chego à cozinha e o cheiro inesperado de manteiga desperta
uma fome dolorida em meu estômago. Nico cantarola alto ao
som da música tocando em seus fones de ouvido enormes. Ele
está no fogão. O balanço relaxante de seus ombros combina
com a melodia; é um tapa na cara absoluto.
Eu acordei em algum tipo de universo alternativo? Meu
irmão acordou antes de mim e está preparando o café da
manhã. O relógio no fogão marca três horas depois que eu
deveria começar minha manhã.
Eu respiro fundo. Metade do meu dia já se foi.
— Nico? — Grito para chamar a atenção dele, contornando
a extensa ilha. A pia transborda de louça.
Este lugar estava impecável antes de eu ir para a cama ontem
à noite. Temos uma máquina de lavar louça. Por que parece
que oito pessoas decidiram fazer um bolo aqui?
Inspiro, tentando manter a calma.
Ele fica de costas para mim enquanto trabalha no fogão. Eu
bato minha mão em seu ombro. Nico grita como um gato
perplexo ao meu toque.
— Olha quem finalmente acordou. — Ele ri da reação.
— Cadê?
— O quê? — Nico se faz de tímido, mas eu testemunhei esse
ato desde que éramos crianças. Ele é responsável por arruinar
meu cronograma. Eu apenas sei disso.
— Meu telefone! — Eu entro em erupção.
Nico se vira para mim.
— Luca, você tem trabalhado muito ultimamente. Estamos
todos preocupados com você.
— Preocupados comigo? Eu tenho trabalho real para fazer.
Onde está meu telefone? — Examino os balcões em busca do
dispositivo, embaralhando as coisas com as palmas das mãos
suadas.
E se alguém da diretoria me ligasse?
— Tudo bem, tudo bem, se acalme. — Ele vira uma
panqueca na frigideira. — Depois que Mami conversou com
você ontem, ela me ligou e disse que você parecia mais
estressado do que o normal. Achamos que você poderia
aproveitar o descanso.
Eu sou o responsável.
Nossos pais não deveriam preocupar Nico com meu bem-
estar, especialmente quando não há nada para se preocupar. Eu
sou o irmão mais velho dele. Eu cuido dele.
— Não me diga para me acalmar. Eu tenho um cronograma.
Um cronograma cuidadosamente planejado. Você não tem o
direito de decidir quando devo acordar.
— Luca, é sexta-feira! — A voz de Nico ecoa pela cozinha.
— Sua primeira reunião é daqui a uma hora. Eu chequei.
— Meu telefone.
Ele tenta me entregar um prato cheio de panquecas.
— Eu ia te acordar com o café da manhã.
— Eu não quero isso. — Afasto a comida. — Apenas me
diga onde você colocou meu telefone, para que eu possa
começar meu dia.
— Tome o café da manhã comigo, cara. Você precisa
relaxar. Você tem sido tão obsessivo ultimamente. É uma
verdadeira chatice.
— Uma chatice? Uma chatice é acordar três horas depois em
uma casa bagunçada e atrasado. ¡No haces nada!
— Ei, eu limpei na semana passada.
— No mames. Você contratou alguém para limpar sua
sujeira porque tinha um encontro vindo para cá.
Eu nunca trouxe alguém para minha casa antes.
— Mas estava limpo! Luca, você pode tirar um dia de folga...
— Só porque você é uma bagunça não significa que você vai
fazer da minha vida uma bagunça também.
Ele se encolhe com a declaração. Me arrependo das palavras
imediatamente.
Enquanto eu me encaixava no padrão de sucesso acadêmico,
Nico largou a faculdade depois de dois anos para andar de moto
na Indonésia e nadar no Mar Negro. Não entendo o estilo de
vida dele; talvez eu tenha inveja da facilidade com que a
felicidade parece vir para ele.
— Luca, você não tem dormido ou voltado para casa à noite.
— Há uma tensão em sua voz, e eu odeio ser a causa. Nico puxa
meu telefone do bolso e me entrega. — Eu só queria fazer algo
legal.
— Legal seria limpar a sua sujeira, não pegar minhas coisas
emprestadas. Ah, e não pegar a porra do meu telefone.
Eu arranco o dispositivo de sua mão e entro em meu quarto,
batendo a porta atrás de mim. Um sentimento inquietante
cobre minha raiva como cascalho quente enquanto tento
juntar as peças de como vou compensar as horas perdidas da
minha manhã. As primeiras semanas com Nico aqui foram
boas, mas se ele continuar fazendo essas proezas, não
poderemos morar juntos.
Se eu pular minha corrida, posso chegar ao escritório ao
meio-dia, mas meu corpo está muito agitado.
Preciso queimar um pouco dessa tensão, ou vou passar o dia
sem conseguir me concentrar.
Eu coloco minha polo preta de corrida e um par de shorts
combinando antes de amarrar os cadarços dos meus novos tênis
brancos. Saio correndo do apartamento, ignorando as
desculpas de Nico.

Os turistas lotam as calçadas e as bicicletas correm no meio do


trânsito. Após a corrida de dois quilômetros pelo Central Park,
a inquietação em meu corpo começa a se dissipar.
Ao contrário das minhas corridas ao amanhecer, hoje o
parque fervilha de energia. Os sons de cachorros latindo e
conversas intermináveis ajudam a manter minha mente longe
de minha manhã agitada.
Meus pés me levam para o caminho de corrida do
Reservatório, e encontro meu ritmo habitual ao longo do
corpo d'água.
A culpa se instala em mim. Eu não deveria ter gritado com
meu irmão.
Ele não se encaixa na estrutura em que eu existo – um
viciado no trabalho orgulhoso e determinado. Algo sobre a
realidade desgastante do meu trabalho me ajuda a me sentir
vivo.
Para Nico, esse sentimento se materializa de forma
diferente. Ele compartilha minha ética de trabalho árduo,
principalmente ensinando a si mesmo como construir uma
Interface de Programação de Aplicativos. Ele ganhou uma
promoção em seu primeiro ano na Viggle, mas a ideia de um
cronograma sempre o deixa inquieto. Tento conscientemente
não comparar o caminho dele com o que eu escolhi.
A última vez que fiquei chateado com Nico foi
provavelmente quando ele tinha dezoito anos e perdeu o
passaporte durante uma viagem a Roma. Felizmente, nós dois
temos passaportes americano e mexicano. Depois de horas
procurando, finalmente encontrei aquele que ele não levou em
sua viagem e voei para encontrá-lo. Meus voos estavam
atrasados e eu não dormia há dois dias quando aterrissei.
Ele estava festejando em algum bar na cobertura perto do
Vaticano. Levei três horas para levá-lo de volta ao quarto do
hotel. Assim que cheguei lá, a exaustão tomou conta e
adormeci instantaneamente. Treze horas depois, acordei com
um bilhete escrito de Nico.
Tenho que viver o momento, obrigado pelo passaporte, mano!
Ele me deixou sozinho em Roma por ingressos com acesso
aos bastidores de um festival de música em Berlim. No voo para
casa, quase trinquei os dentes de tanta raiva.
Não falei com ele por uma semana até que ele apareceu no
meu apartamento em Berkeley com uma garrafa de uísque e
aqueles olhos de cachorrinho. Eu o perdoei na hora.
Como sempre faço.
Talvez ele esteja certo sobre eu trabalhar demais.
A carga de trabalho na OPO está começando a imitar meus
primeiros anos no escritório de advocacia, e o estresse da minha
posição está ficando cada vez mais prejudicial.
E agora descontei na única pessoa no mundo que me tolera
diariamente – meu irmãozinho.
Durante semanas, dei dicas sobre como sinto falta de tomar
café da manhã com ele, e Nico finalmente assumiu o comando,
mesmo que sua abordagem seja drasticamente diferente da
minha.
Eu teria colocado algo no calendário, um compromisso
tangível para passar um tempo juntos. Mas o pensamento dele
sentado naquele apartamento vazio agora, sozinho e com o
peso de minhas palavras sobre ele, me deixa doente.
Volte.
Eu mudo de direção, terminando o último quilômetro.
Eu ignoro tudo enquanto a memória muscular bate a
borracha dos meus tênis contra o concreto. Pessoas de todos os
lugares do mundo lotam o caminho. Nova Iorque é uma cidade
de estranhos que procuram deixar sua marca. Foi uma das
razões pelas quais escolhi seguir minha carreira jurídica aqui. É
de alguma forma pequena e extensa, e agora é um daqueles
momentos em que a cidade parece comicamente pequena.
Correndo na minha direção oposta está um rosto familiar.
Não pode ser.
O corpo corado de Avery Soko está vindo em minha
direção. Sua atenção está nitidamente focada, e posso ouvir a
música tocando em seus fones de ouvido, mesmo a uma
distância considerável entre nós.
Ela mantém um ritmo constante em seus tênis de corrida
desgastados. Parece que eles vão desmanchar. Mechas úmidas
de seu cabelo loiro grudam em sua pele. Uma camiseta grande
da Universidade da Carolina do Norte cobre seu corpo, o
mascote dançando com cada um de seus movimentos.
Avery passa por mim, alheia às pessoas ao seu redor.
Nosso último encontro não planejado terminou com ela se
afastando de mim. Eu provavelmente deveria continuar.
Mas eu não posso evitar.
Eu me viro, correndo atrás dela. Minhas pernas ameaçam
ceder, mas mantenho um ritmo constante atrás dela.
Ela se tornou uma mancha em meus pensamentos. Um
pedaço de fiapo que se recusa a sair do tecido da minha mente.
Eu me peguei desviando os pensamentos em direção a ela em
mais de uma ocasião frustrante.
Eu preciso passar mais tempo perto dela, pegar seu cérebro
e vê-la levar cada uma das minhas palavras com calma. Agora
que estamos competindo pelo mesmo prêmio, acho que perdi
minha chance de ter um relacionamento tranquilo com ela.
Mas tudo bem. Se ela quer um rival, ela terá um rival.
Corro atrás dela, mantendo distância. Não posso deixar de
fixar meus olhos em como sua bunda redonda mexe naqueles
shorts de corrida verde brilhante.
Minha boca saliva com a imagem de sua camisa encharcada
agarrada a sua cintura apertada. Aquele cheiro familiar de seu
corpo permanece atrás dela, e eu saboreio cada lufada. O sangue
correndo para o meu short de compressão força o tecido a
apertar ao meu redor.
Estou seriamente ficando duro agora? Em público, em plena
luz do dia?
Encho minha cabeça com os rostos dos pedestres em um
esforço para remover minha reação a Avery do meu corpo.
Acelero o passo de novo até igualar o passo dela. Estamos
perfeitamente sincronizados. Nossos pés batem no ritmo um
ao lado do outro. Até ela me notar. O lindo rosto de Avery volta
a olhar para frente mais uma vez antes de rapidamente
encontrar meus olhos. Eu estou sorrindo. Um choque de
reconhecimento faz com que suas sobrancelhas franzem no
que está se tornando minha posição favorita.
Ela olha para mim antes de ganhar velocidade. Eu me forço
a acompanhar.
Caramba, ela é rápida.
Avery remove um de seus fones de ouvido, segurando-o em
seu punho.
— Por que você está me seguindo?
— Não sabia que você era a dona desta pista de corrida.
— É o meu lado do parque. — Seus pulmões ardem com
uma respiração difícil. — Eu corro aqui todos os dias.
Eu aprecio o pedaço de informação que ela revela. Somos
mais parecidos do que eu pensava.
Minhas sobrancelhas arqueiam em diversão com seu revirar
de olhos.
— Seu lado do parque?
— Sim, Navarro — ela grita. — Corra em outro lugar.
— Por quê? — Eu provoco. — Correr aqui é muito mais
divertido.
— Só para um de nós.
Damos mais alguns passos antes que seu corpo para
abruptamente. Meus pés me levam alguns passos à frente antes
de diminuir a velocidade e parar. Avery se inclina, pegando algo
do chão.
— O que você está fazendo? — Eu a chamo, correndo de
volta para onde ela está saindo do caminho da pista.
— Lixo no parque é uma atrocidade. — Ela segura uma
garrafa de água meio vazia e se dirige a uma lixeira próxima
antes de descartar a garrafa lá dentro.
— Você sabe, há equipes de conservação no parque para
ajudar a mantê-lo limpo.
Avery retorna ao caminho e eu a sigo, nossa breve
caminhada se transformando em uma corrida. Estou
entretendo esse encontro por muito tempo, especialmente
porque isso pode me fazer perder uma reunião com uma das
equipes internacionais da OPO, mas há uma necessidade
incômoda fermentando dentro de mim. Fique ao lado dela.
Fale com ela. Não a deixe fugir novamente.
— Claro, eu sei disso, mas pode cair no reservatório, e
ninguém vai pular e buscá-la. — Ela olha para mim, gotas de
suor se acumulando em suas têmporas. Ela está tão linda, se não
mais cativante, como na noite do gala, toda arrumada em seu
vestido brilhante.
Devo ficar olhando para ela por muito tempo, porque ela
confunde minha fascinação com escrutínio.
— O quê? Você tem medo de se sujar um pouco?
Eu sorrio enquanto estico minhas duas palmas na minha
frente.
— Essas mãos são muito boas em se sujar.
Ela revira os olhos e acelera o passo.
Corro atrás dela, tentando me lembrar da última vez que
recolhi o lixo desde que me mudei para a cidade. É irrelevante
tentar pegar um pedaço de lixo porque muitas pessoas moram
aqui para que ele fique limpo.
Mami me daria bronca se me ouvisse falar assim. Uma vez
por mês, ela levava nossa família para as praias frias no norte da
Califórnia. Construíamos fortalezas gigantes de areia e depois
vasculhávamos as algas marinhas que surgiam na praia.
Garrafas velhas e sacolas plásticas estariam entrelaçadas em suas
folhas viscosas.
Minha parte favorita era quando Nico e eu corríamos para
encontrar os caules de algas gigantes, usando-os para
intrincadas lutas de espadas para defender os castelos de areia.
O cheiro pungente de água salgada se agarrava a nós até
chegarmos em casa e tomarmos banho para limpar o dia. Eu
sorrio com a memória. Aqueles dias maravilhosos da minha
infância inspiraram o clube que criei para limpar as praias de
Santa Cruz quando era estudante. Os fins de semana agitados
traziam ondas de turistas que tratavam a praia como sua
própria lata de lixo. Passávamos horas cavando detritos da areia
antes de nos refrescarmos na água ao pôr do sol.
Mas a cidade de Nova York é diferente de uma praia
reluzente e intocada.
Certo?
Pisar em uma garrafa de vidro durante uma caminhada na
praia é muito pior do que apenas ouvir o barulho de uma
garrafa de água sob o pé durante uma corrida matinal.
Não é?
Eu olho para ela e percebo o quão descuidado eu me tornei
desde que me mudei para a cidade.
Trabalhar na OPO é o suficiente?
Meus pensamentos confusos me distraem de quanto tempo
estamos correndo juntos. É reconfortante ter uma
companheira acompanhando o ritmo ao seu lado. Eu olho para
Avery novamente, mas ela retribui meu olhar caloroso com um
olhar irritado.
— Você não tem nada melhor para fazer do que me seguir
pelo parque?
— Não — minto, tentando ignorar o pedido de desculpas
que planejei fazer a Nico e a lista de tarefas que está ficando
cada vez mais para trás.
— Bem, há um banco naquela curva se você estiver ficando
cansado.
— Se você precisa se sentar, sei que achou meu colo bastante
confortável.
A lembrança de seus quadris cheios pousando
inesperadamente em mim na noite do baile me faz desejar eu
estivesse usando shorts mais largos.
Recomponha-se.
— Você foi mal-informado.
Eu a alcanço e nossos olhos se encontram, eletrizando o
calor sufocante ao nosso redor. A linda determinação em seu
rosto se revela como se uma cortina de palco tivesse se aberto.
Ela corre na frente e eu corro até ela, nós dois tentando correr
mais que o outro.
Depois de alguns minutos dela finalmente me
ultrapassando, eu paro de tentar correr na frente dela.
— Você está gostando deste jogo que criamos tanto quanto
eu?
— Sem jogo — ela ofega. — Existe apenas a competição.
— Certo, a competição. Você não mencionou sua natureza
obsessivamente competitiva como uma falha durante a
entrevista.
— Eu apenas sei o que quero. E agora, não há nada que eu
queira mais do que ganhar o Prêmio.
Sua tenacidade é tão sexy para caralho que consegue
espalhar outro sorriso em meu rosto.
— Bem, parece que você gostaria de ganhar os direitos do
meu lado do parque.
— Você quer dizer o meu lado — diz ela.
— Que tal isso? A primeira pessoa a alcançar o poste de luz
na saída mais distante do reservatório consegue manter seu lado
do parque. — Aponto com a cabeça para o poste de luz negra
solitário cerca de meia quilômetro à nossa frente.
Avery sorri e não hesita antes de sair correndo.
Ah não, ela não fez isso.
Eu saio atrás dela, ignorando os músculos gritando em
minhas pernas. O calor escaldante é intolerável, mas engulo o
ar úmido e continuo.
Essa necessidade de conquistá-la deve ter se originado em
nosso decepcionante confronto no baile. Para provar que a
impressão negativa que ela tem de mim está errada.
Certo?
Por que eu me importo com o que ela pensa?
Mas aqui estou eu, correndo atrás dela como um tolo.
Passamos a primeira curva, o poste agora claramente em
nossa visão. Avery lidera; seu passo é mais rápido que o meu.
Aquelas pernas magras a carregam sem esforço algum pela
calçada.
Um movimento aleatório na minha visão periférica me
distrai. Continuo avançando, mas viro a cabeça e vejo uma
sacola plástica dançando freneticamente em torno de um
gramado. Tento ignorá-la, mas os movimentos distrativos
tornam-se mais perturbadores, como um fantasma de desenho
animado pulando no gramado verde brilhante.
Provavelmente é apenas um pombo. Os ratos do céu da
cidade de Nova York têm o dom de ficar presos em lugares
aleatórios.
Avery não deve ter visto, muito determinada a chegar antes
de mim até a linha de chegada, mas um grasnido penetrante
vem da sacola. A indecisão cai dentro de mim, e eu não consigo
ignorar o pássaro indefeso lutando para se libertar. Eu saio da
pista de corrida e diminuo meu ritmo enquanto me aproximo
da área gramada, solidificando minha derrota contra Avery.
Eu me aproximo do pombo preso, tentando manter meus
passos leves. A sacola ganha alguns centímetros do chão, e o
barulho do plástico se enrolando se mistura com os do pássaro.
Agachando-me, estendo a mão para a frente e meus dedos
apertam a sacola para arrancá-la da criatura indefesa. O
pequeno pássaro cinza tropeça no ar fresco antes de levantar
voo, cada batida de suas asas um pouco desorientada. Eu enrolo
a sacola em meu punho e viro minha cabeça, procurando por
Avery.
O brilho do seu cabelo loiro se torna aparente quando seus
pés a carregam além do poste de luz. Ela se vira, com um sorriso
brilhante estampado em seu rosto, e meu corpo se enche de
uma emoção calorosa onde eu esperava sentir desapontamento.
Se minha perda significa que ela está feliz, eu vou aceitar.
Nós nos olhamos por um rápido momento, eu saúdo sua
vitória, e ela mostra a língua em resposta antes de voltar a correr
pelo caminho do Reservatório até sumir de vista. Eu me
endireito, firmando minhas pernas cansadas antes de tentar
alcançá-la.
BAM!
Uma dor escaldante bate no lado do meu rosto.
— Ai! — Eu exclamo e esfrego o formigamento na minha
bochecha.
Meus olhos caem para o chão, onde uma bola de tênis verde
brilhante e molhada descansa perto dos meus tênis. Olho para
a frente mais uma vez, mas só tenho um segundo antes de ser
derrubado na grama por três grandes animais.
Uma das feras pesadas pisa em meu peito, puxando uma
respiração afiada de meus pulmões. Eu jogo meus braços em
meu rosto, me protegendo das patas arranhando minha pele.
— Ai! — Eu grito novamente.
Os cachorros cavam em mim, procurando a bola de tênis
que agora está presa entre o chão e minhas costas. Luto para me
afastar do emaranhado de membros peludos e caudas fofas
batendo em meu rosto.
Uma umidade repentina ataca meus tornozelos e minhas
bochechas. Afasto as mãos dos olhos e fico cara a cara com dois
cachorros menores lambendo vigorosamente o suor do meu
corpo.
— Oh, meu Deus. Eu sinto muito. Ziggy, Nellie, Mia,
venham aqui. — Uma jovem aparece sobre mim. Suas palavras
saem entre seus ofegos enquanto ela tenta tirar os cachorros
grandes de cima de mim. As coleiras dos dois cachorrinhos
estão em sua mão livre. — Eles viram um esquilo e fugiram
todos ao mesmo tempo. A nova guia da coleira quebrou, e aí
um garoto jogou uma bola e...
— Está tudo bem. — Afasto a mão que a passeadora de cães
estende e fico de pé. Meu corpo já está doendo com o impacto.
Ainda seguro a sacola e olho para os meus tênis novos, agora
cobertos de grama e baba de cachorro.
Nojento.
Eu tento me orientar, minha cabeça virando para o poste de
luz em busca da fonte da minha distração.
Aquela mulher será o meu fim.

Nico se foi quando finalmente encontrei meu caminho de


volta para casa coberto de pequenos machucados.
Pego meu telefone e mando uma mensagem de desculpas
para ele.

Luca: Desculpe, eu sou um idiota. Pelo menos


ainda sou seu irmão favorito.

Alguns segundos depois, sua resposta aparece na minha tela.

Nico: Vc quer dizer irmão menos favorito.

Eu sorrio com sua mensagem, grato que nossas brigas nunca


duram muito.
O agravamento desta manhã inútil volta para mim. Meu
encontro com Avery estragou ainda mais meus planos
meticulosos para hoje, o que certamente não incluía ser atacado
por uma matilha de cães. Ela obviamente viu isso, mas
provavelmente não minha heroica missão de salvar o pombo.
Tiro meu notebook da bolsa e entro na ligação com a equipe
internacional da OPO, ao mesmo tempo em que mudo a
reunião sobre o Prêmio Ellington de segunda para hoje, para
podermos passar o fim de semana trabalhando.
Designei Jamie, Molly e a Dra. Claremont, que
aparentemente são capazes de lidar com algumas frotas
robóticas de coletores de lixo. No entanto, dois dias atrás, a
Dra. Claremont estava preocupada de que eles ainda estivessem
tendo problemas com os robôs alternando entre água salgada e
água doce. Preciso de uma atualização urgente sobre o
andamento desse problema.
Eu posso ouvir a voz de Avery ecoando na minha cabeça.
Existe apenas a competição.
Esse é certamente o caso agora.
Nosso desentendimento no parque despertou uma
urgência, uma empolgação que até então, não havia sentido na
OPO. Finalmente, uma adversária que pode me desafiar.
No entanto, a corrida falhou em restaurar meus nervos
tensos, me deixando inquieto de outras maneiras e com
pequenos hematomas na forma de patas.
Eu passo pela extensão do meu armário e entro no banheiro,
ansiando por água fria na minha pele. Abro a torneira,
esperando que a água gelada lave a tensão que está crescendo
em mim. Eu esfrego a sujeira das minhas pernas enquanto a
grama solta escoa pelo ralo.
Minhas palmas se conectam com a parede de azulejos, e eu
encharco meu rosto no fluxo gelado, mas isso não esfria a
chama que corre me percorre.
A frustração me rasga por dentro. Estou desesperado para
escapar da tensão crescente. Eu alcanço a torneira do chuveiro,
mudando a temperatura até que o calor caia sobre mim.
Talvez tenha passado muito tempo desde que estive com
alguém.
Eu tento me lembrar de como é, a sensação de distração de
ter calor embaixo de mim. Mas os pensamentos são
substituídos por ela.
Avery Soko é a primeira mulher a despertar meu interesse
em anos. A memória de sua carranca linda envia um choque
excitante por mim. Meus dentes rangem com a necessidade
gananciosa de ouvi-la sussurrar meu nome.
Meu nome que continua a torcer sua língua em cada som de
r.
Eu quero correr meus dedos sobre aqueles lindos lábios e
ensinar sua boca a dizer isso uma e outra vez, sem falhar.
As imagens de sua pele encharcada durante a corrida e seu
corpo no vestido brilhante piscam atrás de minhas pálpebras
fechadas. Cada memória fugaz dela faz o sangue inchar meu
pau, que anseia por liberação.
O vapor quente permeia o banheiro enquanto imagino as
palmas das mãos de Avery correndo por todo o meu corpo,
ajudando-me a aliviar a tensão. O comprimento de seus dedos
delicados envolveria meu pau duro, provocando-me com cada
golpe longo. Meu toque é um substituto decepcionante para a
sensação de suas mãos ao meu redor.
Eu anseio sentir o balanço de seus quadris em meu
comprimento, como quando nos sentamos juntos no carro, o
volume de suas coxas me provocando sem saber. O que eu daria
agora para apenas sentir seu cheiro novamente.
Porra.
Eu me sinto tão fodidamente errado por foder minha mão
com a mera memória dela. Mas o desespero do meu clímax
assumiu completamente o controle. Eu cerro minha
mandíbula quando uma das minhas mãos bate no azulejo
novamente.
Cada golpe torna-se mais apressado, instável. Meu orgasmo
cresce na base da minha espinha, implorando pela inevitável
linha de chegada.
Eu só posso imaginar o quão macia Avery sentiria em
minhas mãos. Seus músculos magros se contorcendo contra o
meu toque.
Ela é tão teimosa na cama quanto nos poucos momentos que
tivemos juntos?
A imagem daqueles olhos castanhos-esverdeados se
revirando em sua cabeça ferve a tensão restante em meu corpo.
O quão fodidamente eu quero vê-la fazer exatamente o mesmo
movimento, mas pelo prazer que eu poderia dar a ela e não por
seu aborrecimento comigo.
Eu contorno meu comprimento latejante, que nunca esteve
tão duro com necessidade, até que a imagem de seu lindo
sorriso enche minha cabeça, finalmente me levando ao limite.
— E depois eu joguei os cortadores de grama de volta na
propriedade dela. — A voz da minha mãe zumbe pelo viva-voz.
Passei os últimos vinte minutos ouvindo todo o drama passivo-
agressivo da vizinhança que ela mora.
Enquanto ela continua a divagar, torno a ligação mais
produtiva dobrando roupas que deixei de lado por semanas.
Liguei para ela esta manhã para informá-la sobre meu novo
cargo na Plastech e compartilhar alguns detalhes sobre a
competição do Prêmio Ellington. Eu queria algum tipo de
parabéns dela ou uma garantia de que estava fazendo um bom
trabalho.
Quando meu pai faleceu, a conexão entre nós ficou
instantaneamente tensa. Nossas ligações diminuíram no
primeiro ano, e nosso interesse pela vida uma da outra pareceu
diminuir.
Pelo menos, o interesse de minha mãe por minha vida não
se tornou aparente; ela nunca me visita na cidade. Mas suponho
que não me sinto pronta para voltar para casa desde o funeral.
Eu tento suprimir a exasperação crescente dentro de mim.
Meu temperamento é uma falha crítica, estou ciente. Não é
bonito ser uma mulher raivosa que range os dentes ou joga com
a ansiedade como se fosse em uma partida de tênis agressiva.
Mas é seguro e fácil. Quase ninguém consegue ver esse meu
lado, apenas Lily e mamãe, e talvez seja melhor assim.
Uma dor cega dentro de mim permanece. Eu gostaria que a
única conexão restante com meu pai me ajudasse a reviver sua
memória.
Eu só quero que ela me assegure que papai teria ficado
orgulhoso de mim, mesmo que minha carreira na OPO não
tenha saído como planejado. Consegui muitas coisas sozinha e
gostaria que ela pudesse aproveitar isso comigo.
Em vez disso, ela está falando sobre seus cortadores de
grama. Ou eram os cortadores de grama da vizinha? Não tenho
mais certeza.
Pego uma das minhas camisetas de corrida, ainda úmida de
suor, embora eu a tenha usado há dois dias. As letras vermelhas
brilhantes desvaneceram-se para um roxo pálido. Clube dos
Corredores Contra a Correnteza.
Minha coleção de camisas de arrecadação de fundos é uma
das minhas partes favoritas do meu guarda-roupa. Por mais que
eu adore minhas roupas lindas, econômicas e peças vintage de
grife, são essas camisetas que são alguns dos meus bens mais
valiosos.
Corredores Contra a Correnteza foi uma caminhada que
participei no ano passado. Nos reunimos a cada trimestre e
caminhamos pelo Hudson River Greenway para arrecadar
fundos para as escolas da cidade em transição para materiais de
estudo sustentáveis.
Jogo ela no cesto de roupas sujas e pego a blusa que usei
ontem à noite. O punho bege está coberto de vinho tinto. Eu
jogo na pilha de roupas sujas.
Ollie.
Apresentamos nossa proposta para o Prêmio Ellington na
manhã de sexta-feira. Foi uma tarefa relativamente fácil, pois eu
já havia reformulado nossa apresentação de marketing e
trabalhado com Matthew para criar um cronograma de
implementação para nossa inteligência artificial de
identificação de lixo.
Acontece que a equipe da Plastech adora festejar. Muito.
Decidimos comemorar com um jantar. O jantar se
transformou em “só mais uma bebida”. E aquela bebida se
transformou em uma sala de karaokê particular em algum lugar
do centro da cidade. Para minha surpresa, a voz de Robert
cantando tem uma semelhança incrível com a de D'Angelo.
Para um homem de tão poucas palavras, ele cativou a multidão
como se fosse um artista nato. Os músculos do meu rosto doem
por causa do sorriso permanente em meu rosto ontem à noite.
A tosse seca de minha mãe traz minha atenção de volta para
nosso telefonema.
— Sinto muito, mãe, o que você estava dizendo?
— Ganhei uma nova mesa de centro em uma exposição de
antiguidades.
— Outra? — Uma pontada de preocupação arde em meu
peito.
Os hobbies de minha mãe, desde que meu pai morreu,
mudam constantemente. No mês passado, ela começou a andar
de patins, mas fazia mal para os joelhos. Sua nova obsessão é
colecionar antiguidades, e cada nova peça substitui algo em
minha casa de infância.
— É adorável. Eu dirigi uma hora para pegá-la.
— Você sabe que o voo de Burlington para Nova Iorque
leva apenas uma hora, e eu ficaria feliz em pagar sua passagem.
— Avery. — Ela hesita, sentindo a súplica em meu tom.
Sei que todos nós lidamos com a perda de maneiras
diferentes, mas a reclusão de minha mãe me entristece cada vez
que conversamos. Quero que ela aproveite a vida de novo,
como costumava fazer quando papai estava por perto. Todos
nós costumávamos viajar juntos e viver aventuras em nossa
pequena van de acampamento como uma família. Eu gostaria
que pudéssemos voltar a isso.
Mal consigo me lembrar da última vez que entrei em um
avião. Talvez para aquela viagem à Austrália no primeiro ano?
Eu franzo a testa com o lapso de tempo.
— Há muitas ótimas lojas de antiguidades na cidade! — Eu
sugiro. — Confie em mim, eu preferiria voltar para casa em
Vermont e ver você me mostrar seus lugares favoritos, mas não
posso tirar uma folga do trabalho agora.
— Talvez em breve — diz ela.
— O aniversário da morte do papai está chegando...
— Ave, por favor.
Há aquela tristeza familiar em sua voz que quebra algo
dentro de mim. Parece que nós duas estamos caminhando no
escuro quando falamos sobre ele. Nossas mãos se estendem
desesperadamente uma para a outra, mas nunca encontramos a
familiaridade em nosso toque como costumávamos.
Mas eu dou de ombros, mantendo meus pensamentos longe
da tristeza que me invade. Eu me recuso a forçá-la a me ver. Se
a melhor coisa que podemos fazer é aproveitar esses breves
telefonemas, então é isso que será. Tenho muito o que
comemorar na minha vida agora, com ou sem minha mãe
participando.
— Está bem. — Eu suspiro.
— Eu te amo. — Sua voz é suave novamente.
Giro o relógio no pulso, me lembrando do dia em que
chegou pelo correio com um bilhete da minha mãe.
Agora você e o papai combinam. Com amor, mãe.
— Eu também te amo. Conversaremos em breve.
Eu jogo meu telefone na cama. Uma grande inspiração de ar
desfaz o nó no meu peito. Eu sei que não há nada que eu possa
fazer para mudá-la. Ela não vai acordar de repente e ser a mãe
que era quando papai ainda estava por perto. Mas ela é minha
mãe, então vou continuar fazendo o possível sem me machucar
muito.
Eu só posso controlar o que está bem na minha frente.
Eu repito isso mais e mais. O mantra manteve minha cabeça
limpa desde que ele faleceu.
Pego outra peça de roupa da minha pilha de roupas que mal
está diminuindo. A carcaça do vestido que usei na noite do
baile de gala repousa em minhas mãos. É um vestido vintage do
Atelier Versace que provavelmente pertenceu a uma mulher
fabulosa que nunca permitiria que ele fosse rasgado em
pedaços.
Não que eu fosse a culpada.
Coisas infelizes acontecem com as pessoas o tempo todo.
Mas cada vez que estou perto de Luca, meu mundo
ligeiramente gira em torno de seu eixo, então talvez seja culpa
dele.
Dobro o vestido com muito cuidado, segurando a cintura
apertada quando minha mente imediatamente vagueia para a
sensação de suas mãos através do tecido transparente.
Não, não, não.
Eu me forço a me concentrar na tediosa tarefa de limpar.
Eu não vou sucumbir à curiosidade. Isso é tudo.
Curiosidade pura e inocente.
Luca é simplesmente difícil de ler para mim. Entre nossas
trocas mordazes e suas aparições repentinas em minha vida, não
sei se podemos passar um tempo juntos sem que eu queira
derrotá-lo de alguma forma.
Mesmo se eu quisesse saber como a sensação áspera de suas
mãos exploraria mais de mim?
Minha fantasia rapidamente me trai quando um arrepio
percorre minha espinha. Eu afasto a sensação fantasma de sua
respiração da minha bochecha.
Eu preciso sair deste apartamento. A roupa não vai crescer
pernas e sair daqui se eu deixar para outro dia.
Eu puxo um par de jeans soltos e uma camiseta limpa da
pilha desdobrada e deslizo em meus saltos de gatinho de
segunda mão.
Eu preciso de uma distração.

— Eu juro que estou bem — digo a Lily. Enfio outra batata


frita na boca. — Eu só precisava sair do apartamento.
Os lustres escuros do bar iluminam o espaço elegante. A
decoração imita uma taverna, e todos os funcionários usam
gorros de lã e aventais de veludo grosso. Exceto que os
servidores elegantemente vestidos estão desaparecidos hoje.
Todos os colegas de trabalho de Lily decidiram dizer que
estavam doentes, a deixando no comando.
Para alegrar o dia dela, trouxe o almoço de sua lanchonete
favorita para compartilharmos.
Nós devoramos nossos sanduíches no balcão, e apenas três
outros clientes se sentam em uma mesa próxima.
— Bem, você veio ao lugar certo — diz Lily, com a boca
cheia de peru.
— Eu sou masoquista? Sei que mamãe não vai
simplesmente acordar um dia e vir para a cidade. Por que
continuo tentando mudá-la?
Mas eu sei. Eu simplesmente não conseguia admitir que a
queria de volta em minha vida.
— Você se importa demais — diz ela. — Mas é o meu
defeito favorito seu.
Eu me aqueço com suas palavras. Às vezes, as pessoas que
deveriam te amar esquecem como fazê-lo e você vagueia pela
vida sozinha. Essa dor de solidão simplesmente enfraquece para
se assemelhar a uma contusão desbotada. Felizmente, tenho
Lily para preencher esse vazio. Estico meus braços sobre o
balcão e puxo minha melhor amiga para um grande abraço.
— Eu sei — eu digo quando ela retribui meu abraço.
Damos mais algumas mordidas na comida.
— Eu não quero que isso pareça errado, mas por que está
tão vazio aqui? — Eu pergunto.
O bar não costuma ficar lotado nas tardes de domingo, mas
ninguém apareceu desde que começamos nosso almoço há uma
hora.
— Talvez eu tenha virado a placa de Fechado quando você
foi lavar as mãos. — Ela sorri.
— Lily! — Eu pulo do banco, mas ela prende meu braço no
balcão de mogno.
— Eu precisava de um tempo tranquilo para estudar para
uma prova.
— Sua chefe não vai te matar?
— Ela está assando em uma praia em Cabo com seu novo
namorado — explica Lily. — Além disso, uma hora não vai
fazer mal a ninguém.
A abordagem de Lily para o equilíbrio entre vida pessoal e
profissional sempre me fascinou. Ambas nos dedicamos
totalmente a qualquer trabalho. No entanto, Lily sabe que, no
final das contas, um trabalho é apenas um trabalho. Não
consigo pensar em passar pela vida sem minha carreira guiando
o caminho.
— Gostaria que estivéssemos em uma praia em Cabo. — Eu
rio.
— Eu também — Lily exclama. — Minhas provas têm me
esgotado, e o bar tem estado com poucos funcionários
ultimamente. Não me lembro quando me senti relaxada ou
passei a tarde arrumando meu cabelo.
Isso era verdade. Eu não conseguia me lembrar de uma vez
recentemente em que qualquer uma de nós tenha desfrutado
de um dia de spa. Lily e eu costumávamos passar um dia por
semana cobrindo nossos corpos com loções perfumadas e
experimentando diferentes máscaras faciais enquanto
recriávamos pratos de nossos restaurantes favoritos. Pegávamos
massa caseira e falhávamos gloriosamente na montagem de
tortas. Em vez disso, nós duas estivemos tão focadas em nossas
responsabilidades ultimamente que não reservamos tempo
uma para a outra ou para nós mesmas.
— Posso fazer alguma coisa para ajudar? — Eu ofereço.
— Você pode me contar sobre aquele barco de brinquedo
de aparência estranha que você levou para casa na sexta-feira.
— Aquele barco de brinquedo é a réplica do primeiro
totalmente funcional, movido a energia solar...
— Nos termos das pessoas normais.
— É um convite de festa exagerado apresentando o novo
barco elétrico sustentável da Fundação Ellington.
A réplica foi enviada a todos os que compareceram ao
Ellington Gala e foi inscrita com a data e hora da celebração
oficial de inauguração. Os caras me disseram para levar para
casa, pois passei o dia inteiro fascinada com a logística de como
eles encaixam o navio dentro da garrafa.
— Você vai a tantos eventos divertidos que estou pensando
em mudar de curso novamente.
Lily mudou de curso tantas vezes nos últimos três anos, um
novo assunto sempre chamando sua atenção.
Estou impressionada com o quão bem Lily administra sua
renda, especialmente quando ela tomou a impressionante
decisão de economizar para pagar suas mensalidades antes de se
inscrever na faculdade. Mesmo agora, enquanto ela se inscreve
para mais e mais aulas, Lily consegue nunca ficar sem dinheiro.
Em vez disso, ela me garante que suas finanças nunca são
motivo de preocupação, então não me preocupo.
— Você é bem-vinda para ir como minha acompanhante.
— Por favor, aprendi minha lição depois que você me levou
àquela conferência de sustentabilidade em Columbia. — Lily
ficou desapontada por termos passado o dia participando de
sessões de política de veículos elétricos e não nos misturando
com cientistas gostosos.
— Isso é diferente.
— Você tem razão. — Lily dá uma mordida no último
picles. — Eu não quero ser a vela para você e aquele advogado
do oceano gostoso.
— Advogado aposentado — eu a corrijo. — Luca Navarro
é o frustrante diretor de operações da...
— Organização de Pesquisas Oceânicas — ela completa
com uma voz provocativa. — Tenho certeza que ele quer
resolver algumas de suas frustrações com você depois que você
ganhou sua pequena corrida no parque.
Minhas bochechas queimam.
— Quantas vezes tenho que te dizer que não estou
interessada nos jogos dele?
— Até que eu finalmente acredite em você. — Ela me dá um
sorriso imoral.
Alguém nos interrompe batendo com força na porta,
tentando entrar. Lily suspira e relutantemente se aproxima para
deixar o cliente entrar.
Minha mente volta para Luca novamente, como nos
últimos dias após nossa aposta no Reservatório.
Algo muito estranho aconteceu depois que ele sugeriu que
competíssemos pelo meu lado do parque. A meia distância do
nosso ponto de chegada, Luca saiu do caminho. Achei que ele
estava desistindo, provavelmente cansado demais para
acompanhar. Quando tentei localizá-lo atrás de mim, ele estava
puxando uma sacola de um pombo.
Um pombo real.
A visão despertou uma onda irracional de excitação em
mim. Eu estava realmente perdendo a cabeça se o resgate de um
pássaro enviasse uma sensação de necessidade pelo meu corpo.
Provavelmente foi a manhã estranhamente quente e a falta
de água que fez meu batimento cardíaco acelerar acima do meu
ritmo normal de corrida, definitivamente não o jeito que seus
braços musculosos rasgaram a sacola como uma espécie de
guerreiro heroico.
De qualquer forma, ganhei aquela rodada da nossa aposta e
posso correr no meu lado do parque em paz.

Minha curiosidade impaciente me faz pegar meu telefone e


digitar Luca Navarro na barra de pesquisa da Internet.
É pesquisa, garanto a mim mesma. Afinal, a OPO é agora o
obstáculo entre a Plastech e o Prêmio.
Li os artigos de notícias cobrindo seus casos de direito
corporativo, lutando para entender sua mudança de carreira.
Um dos artigos tem uma foto anexada. Ela retrata uma
versão mais jovem de Luca cercado por um grupo de pessoas
em uma praia ensolarada. Cada um deles segura sacos de lixo
transbordando.
Eu leio a legenda.

Os Titãs do Lixo da Universidade de Santa Cruz, um


grupo de limpeza ambiental fundado por Luca
Navarro.

Eu zombo. Ele provavelmente precisava de outro grande


feito em sua transcrição de formatura.
O artigo detalha as várias missões de limpeza do clube em
Santa Cruz. Há um pequeno parágrafo sobre ele no final.

Luca Navarro começou a limpar as praias do norte da


Califórnia ainda jovem. A prática permaneceu com ele
durante todo o ensino médio, levando-o a abrir o
primeiro clube ambiental em Santa Cruz.

Interessante. Então ele sabe como sujar as mãos.


Qual seria a sensação dessas mãos sujas na minha pele?
Espera.
Meu jogo deve estar errado se o primeiro pensamento que
tenho sobre ele fazer uma boa ação é me apalpe, seu homem do
lixo que é rico e sexy.
Portanto, seu exterior imaculado na verdade se desvia do
que presumo serem seus confortos de luxo e um escritório de
canto.
Meus olhos voltam para a foto. Lá está Luca, cercado por
uma horda de rostos sorridentes, abraçando um saco de lixo
como se fosse sua maior conquista. É difícil não vê-lo. Ele se
eleva sobre todos, quase uma cabeça mais alta que seus
companheiros. Examino a construção detalhada de seu torso
nu.
É isso que está escondido naqueles ternos ridículos, ou ele
mudou desde que se formou?
Seus tanquinho magros é claro, mesmo na imagem sem
muita resolução.
Eu trago o telefone perto dos meus olhos.
— O que você está fazendo? — Lily pega o telefone debaixo
do meu nariz. Seus olhos se arregalam com a evidência na
minha tela. — Este é o ardiloso Luca Navarro? — Lily solta um
grito alto.
— Não, é apenas pesquisa para o próximo evento. — Eu
arranco meu telefone de suas mãos.
Ela ri.
— Claro.
— Quanto mais sei sobre Navarro, mais vantagem tenho
sobre ele.
— Você não me disse que ele parecia um modelo de cueca
da Calvin Klein.
Meus olhos se reviram quando solto um suspiro exagerado.
— Tenho certeza que ele adoraria ver você fazer essa cara. —
Lily ri como uma criança.
— Lily! — Eu jogo um guardanapo nela, e ela se esquiva, sua
risada enchendo o bar.
— Se você ficar com ele no barco, pode finalmente dizer que
teve seu momento igual ao do Titanic.
— Se você está se referindo à parte do Titanic em que Rose
deixa Jack se afogar, então você está correta.
— Não mude de assunto. — Lily serve um refrigerante
grande e o coloca no balcão. — Eu tenho dito a você por
semanas que você precisa ir a um encontro.
— Sem relacionamentos até que eu esteja onde quero estar
em minha carreira. — Eu a lembro novamente.
Há um longo histórico de mulheres solteiras incrivelmente
bem sucedidas – Joanna Benbart sendo uma delas. A distração
de um parceiro só me pesaria. Tenho muito a conquistar antes
de poder me importar com um namorado.
— Mas você não pode privar seu corpo desse executivo
gostoso e amante do lixo!
Eu posso e eu vou. Mesmo que uma parte de mim esteja
curiosa para ver se aquele tanquinho permaneceu.
Eu amasso outro guardanapo em meu punho e jogo nela.
— Sem distrações.
— Apenas se permita desfrutar de algo sem amarras.
— Quando eu fui uma pessoa casual? — Eu rio. — Eu não
quero um caso aleatório com um estranho.
Casual não é meu forte. Toda a minha vida foi dedicada a
uma causa: criar um impacto duradouro no mundo. Foi uma
promessa que fiz a mim mesma e ao meu pai quando criança, e
nunca vacilei.
Na verdade, sou extremamente monogâmica,
comprometida com uma coisa e simplesmente não estou
interessada em permitir que um estranho tire vantagem disso.
Lily tenta novamente.
— Ele não é um caso aleatório.
— Você sabe o que aconteceu nas poucas vezes que ouvi
seus conselhos e tentei namorar.
Lily apoia os braços no balcão.
— Sim, sim. É uma perda de tempo, mas acho que você
nunca escolheu alguém que corresponda ao seu ritmo.
Eu suspiro.
— Acho que estou condenada a escolher entre trabalhar nos
meus sonhos e estar com a pessoa que precisa da minha atenção.
Eu não iria colocar minha carreira em espera por noites
cheias de jantares que levariam a sexo medíocre.
Não mesmo. Por que alguns homens da cidade abordam
uma mulher com a confiança de um touro furioso, mas quando
chega na hora H, eles agem como cordeirinhos?
— Esse não pode ser o caso de Luca. Ele gosta das mesmas
coisas que você. Correr, o oceano, reciclagem! — Lily pega
minha mão e a aperta. — Ele até parece apto o suficiente para
fazer uma escalada, e talvez você possa finalmente voltar a fazer
isso com alguém.
— Mas eu tenho você — eu explico. — E você nunca me
forçou a escolher entre nosso tempo juntas e meu trabalho.
Por isso, sempre serei ferozmente leal a ela por entender o
que era importante para mim.
— Isso é verdade, mas não posso exatamente ser a pessoa que
fode você, Ave. — Ela ri. — Mas Luca...
Eu a interrompo.
— Lily.
— Ele já viu você toda quente e suada em sua corrida. Vai
ser do mesmo jeito, mas vocês dois vão estar muito mais pela...
— Pare. — Viro minha cabeça, certificando-me de que
ninguém está escutando nossa conversa.
— Não, pare você. Você precisa tirar toda essa tensão de seu
corpo antes que se transforme em um de seus acessos de raiva
frustrados e você esteja me criticando por pegar suas roupas
emprestadas.
— Isso foi uma vez — eu contesto. — E você rasgou uma
das minhas saias em pedaços.
— Quantas vezes eu tenho que te dizer? Não fui eu quem
estragou tudo. Foi Yevgeni — ela me corrige. — E eu comprei
outra saia imediatamente.
— Ok. — Eu suspiro.
Lily me lança um olhar aguçado.
— Você não pode continuar desviando do assunto.
— Eu estou perfeitamente bem.
No entanto, a maneira como minhas coxas se contraem sob
o balcão conta uma história diferente.
Por que os barcos sempre recebem nomes de mulheres?
O cais diante de mim está salpicado de iates em miniatura,
todos com nomes que provavelmente pertenceram a ex-
amantes ou segundas esposas. Imagino que uma primeira
esposa não consiga ter o nome em um barco; ela herda a dor de
cabeça que vem com um marido viciado em trabalho.
Quando eu puder bancar uma representação luxuosa de
meus sucessos, eu juro dar o nome de um homem. Talvez
Alfred? Sebastian? Ou melhor ainda, vou comprar o barco e
batizá-lo com o nome de Luca Navarro, só para afundá-lo.
Que tal isso para lidar melhor com a rejeição?
Tudo bem, ainda um pouco amargo.
À frente, um pequeno tapete roxo foi estendido em frente
ao navio que hospeda a celebração desta noite para a nova
inovação elétrica sustentável de Willhelma Ellington. O
monstruoso barco cor de marfim é do tamanho de um navio
pirata. Seu gigantesco convés e as varandas dos níveis inferiores
já estão lotados de gente. Abaixo, o rio Hudson brilha como
um enxame de peixes-lanterna escondidos em suas águas
escuras.
Um nome é exibido com orgulho em letras grandes no
casco: Willhelma.
Agora, aquele é um movimento de poder que eu consigo
apoiar.
Confirmo minha entrada com a recepcionista
elegantemente vestida e subo a rampa em direção ao prêmio
ancorado ao mar que representa a conquista humana. Painéis
solares estão ao longo do piso do convés, capturando o resto do
sol da tarde. Uma multidão de convidados decora o espaço,
todos vestidos com um arco-íris de tons pastéis de verão.
Agora, onde está a espetacular Srta. Ellington?
Certamente, após sua grande entrada no gala, Willa chegará
como um súbito estalar de trovão.
Examino o convés em busca de rostos familiares, mas
nenhum dos grupos desperta minha curiosidade.
Um grupo reunido em torno de uma pequena mesa de
coquetel chama minha atenção, a conversa parecendo
monótona por suas expressões entediadas. Uma abertura
perfeita para eu criar burburinhos sobre a Plastech enquanto
aguardo uma oportunidade de impressionar Willa
privadamente.
Vou até eles e me apresento. Depois de fazer amizade com
um biólogo da vida selvagem chamado Amil e sua parceira,
Lucy, saio para procurar alguns lanches muito necessários.
A equipe da Plastech ficou impressionada com os potenciais
investidores que coletei no gala, mas não posso dizer que o
mesmo acontecerá com esse evento extravagante.
Meus olhos percorrem o convés, mas ainda não há sinal da
Srta. Ellington.
Ou de Luca Navarro.
Um breve flash de desapontamento coalha em meu peito
como leite azedo, mas eu o ignoro. Luca não estar aqui é um
obstáculo a menos para enfrentar esta noite.
A fome aumenta em meu estômago, então ando em direção
a um garçom carregando um prato de bruschetta.
Por que eu sempre esqueço de comer antes de vir para essas
coisas?
Pego alguns pedaços de pão torrado e encontro uma parte
tranquila do barco para terminar minha refeição. Eu aprecio o
profundo pôr-do-sol refletido nos arranha-céus. Tons de roxo,
rosa e laranja iluminam um céu sem nuvens.
O tecido do meu vestido faz cócegas na minha pele com a
brisa suave e fico inquieta. Estou andando neste barco há meia
hora. Se a Srta. Ellington não planeja comparecer, ir embora é
provavelmente a melhor opção. Posso voltar para casa mais
cedo e descansar um pouco.
Pego meu telefone e começo a pedir um táxi, já sentindo
aquele alívio feliz de tirar meus saltos e trocar meu vestido justo
por um pijama aconchegante. Em seguida, procuro o cardápio
de uma pizzaria perto do meu apartamento. Termino meu
pedido de uma pizza com queijo extra e começo a sair do barco.
Ao virar o canto do leme, colido com uma massa
incrivelmente grande.
— Ai!
Meu queixo se inclina para encontrar os olhos da pessoa, um
pedido de desculpas descansando na minha língua, mas os
olhos castanhos dele se derramam nos meus, me fazendo
segurar a respiração.
Luca.
Seu cabelo castanho escuro está extraordinariamente
desgrenhado devido à brisa, um cacho crescido demais pende
livremente em sua testa. Eu tenho um desejo doentio de
estender a mão e bagunçar ainda mais os fios mais longos.
— Isso de novo não.
— Vendo algo que você gosta? — Sua voz profunda se
estende sobre mim como a espessa umidade do verão.
Minha sanidade retorna quando dou um passo para trás, a
curta distância me forçando a manter meu pescoço inclinado
para encontrar seu rosto.
Mais uma vez, ele usa um de seus ternos ridículos feitos sob
medida para mostrar sua figura musculosa. O colarinho
engomado de sua camisa branca está ligeiramente desabotoado,
revelando uma corrente delicada repousando em suas
clavículas. Seu típico terno escuro foi substituído por um de
linho bege, e ele não está usando gravata. Isso suaviza sua
aparência tensa e o faz parecer extraordinariamente robusto.
— Esqueceu uma daquelas gravatas sufocantes em casa?
Os lábios de Luca se curvam em um de seus sorrisos
característicos. A presunção que eu esperava é substituída por
uma expressão tão acolhedora que me deixa nervosa.
— Você não gosta do visual?
— Ternos nunca me impressionam — eu minto.
Bem, costumava não ser uma mentira. O belo terno de linho
cobrindo os ombros largos de Luca está começando a mudar
minha opinião sobre o assunto.
Guarde sua curiosidade, Avery! Mantenha seus olhos no
prêmio.
— E o que te impressiona, Ave?
— É Avery — eu o repreendo, sacudindo a sensação de
derretimento com meu nome em sua boca. — Aproveite sua
noite, Sr. Navarro.
Eu me viro abruptamente, ansiosa para entrar no táxi,
esperando para me levar para casa para minha pizza grande.
— Vai ser uma parte muito agradável da minha noite ver
você tentar sair desse barco.
— Vou sair do mesmo jeito que entrei. — Eu me afasto,
saboreando a satisfação de abandoná-lo.
Mas eu olho de volta para ele e pego seu olhar penetrante.
Eu gostaria que meu equilíbrio não me falhasse. Teria sido
muito mais legal se eu não olhasse para trás.
Luca me chama.
— Então espero que você tenha trazido um maiô porque
estamos desatracando.
— O quê? Não. Estamos ancorados. — Meus olhos se
voltam para os dois marinheiros subindo a rampa do cais.
O que eles estão fazendo?
— Eu sei que você é mais esperta do que isso — ele
repreende, e eu afasto a familiaridade que ele tenta colocar em
mim.
— Então pare de brincar comigo. — Ando até a amurada e
me inclino, observando o cais se afastar de nós.
— Você realmente achou que a Srta. Ellington daria uma
festa para comemorar seu novo barco e não nos dar um test
drive ao redor do Hudson?
A pergunta incisiva faz minhas narinas dilatarem enquanto
meus lábios formam uma linha rígida.
Uma parte de mim pensou que permaneceríamos
ancorados. Assim que o sol se põe, o barco simplesmente não
terá potência suficiente para continuar avançando. A menos
que a energia esteja sendo armazenada em algum lugar do
casco?
Que avanço tecnológico notável, mas altamente irritante.
Um balanço repentino do barco torna meu pesadelo
realidade.
Perco meu equilíbrio com o movimento, e eu alcanço algo
para me estabilizar.
Esse algo é o braço musculoso de Luca.
Ele envolve sua mão quente em torno dos meus dedos, me
firmando, e o calor percorre meu corpo.
— Eu não preciso da sua ajuda. — Minha mão se afasta da
dele em um instante.
— Eu sei. — As palavras carregam sinceridade. — Mas foi
você quem me alcançou.
Eu solto uma respiração irritada.
— O que eu vou fazer agora?
— A oferta para nadar comigo ainda está de pé.
Fantástico.
Estou presa em um barco com o engravatado sem coração,
sem Willa à vista, enquanto minha pobre pizza de queijo esfria.
— Se a sua corrida é parecida com a sua natação — digo —,
detesto dizer isso a você, mas esse terno não será um colete salva-
vidas o suficiente.
Luca ri, e o som traz um sorriso involuntário ao meu rosto.
Eu o afasto rapidamente e volto minha atenção para a
multidão.
— Por que você está aqui? — Eu pergunto. — Você parecia
miserável no baile.
— Você tem estado de olho em mim?
Ele não desiste, não é?
— Não — eu minto.
— Considerando tudo, aquela noite teve um final
surpreendentemente agradável.
— Talvez para um de nós — eu minto novamente.
Eu mordo meu lábio com a memória de suas mãos firmando
minha cintura enquanto uma protuberância crescente se fazia
presente através de suas calças. Não havia como aquilo tudo ser
ele.
Certo?
No que estou pensando agora? Esse engravatado é o meu
adversário.
— Essa multidão descontraída simplesmente não parece ser
a sua turma. — Meus dedos fixam a alça do meu vestido. —
Um cara ocupado como você.
Eu pego Luca observando o movimento atentamente, suas
pupilas negras engolindo o castanho de seus olhos.
— Você não está errada. Mas, infelizmente, não tenho
ninguém na OPO para assumir o incômodo de vir a essas coisas.
— E de quem é a culpa? — Eu estalo. A raiva em minhas
palavras sai mais forte do que eu pretendia.
A verdade é que, desde que dediquei meu tempo à Plastech
nas últimas semanas, a OPO não monopolizou todos os meus
pensamentos livres. O futuro que desenhei para mim, que
pensei querer, foi diluído por estar numa equipe que precisa de
mim.
— O que é essa obsessão com a OPO?
— Eu não quero tentar explicar algo que você não
entenderia.
— Me teste. — As palavras são uma provocação inegável.
— A carreira de Joanna inspirou muitas das minhas próprias
escolhas profissionais — eu digo, sem saber por que as palavras
saem com tanta facilidade.
— Como assim? — Há uma curiosidade genuína em suas
feições.
— Quando eu era mais jovem, meu pai me levava para ver
Joanna em ação, e isso me marcou.
— É isso?
Claro, ele assumiria que seria tão simples quanto isso. Como
se o legado de Joanna não tivesse nada a ver com isso. Como se
o impacto da OPO não fosse uma razão boa o suficiente.
Será que ele entende o quão importante é o trabalho
ambiental?
— Obviamente não.
— Você é próxima do seu pai? — Luca pergunta, e eu odeio
querer responder a sua pergunta intrusiva.
Não falo sobre meu pai com ninguém, exceto com Lily, e
quando tento falar com minha mãe, ela dá risos silenciosos
sobre o assunto como se fosse uma substância venenosa, pronta
para destruí-la novamente.
Decido mudar de assunto, não querendo dar a ele uma
vantagem sobre mim, compartilhando detalhes delicados do
meu passado.
— Sabe, agora que você está preso neste barco lotado a noite
toda, você pode realmente ter que conversar com as pessoas.
— Eu estou conversando com você agora.
— Vamos ser claros, você e seu terno supercaro estão sendo
tolerados enquanto eu aceito estar presa aqui.
— Você fala sobre meus ternos com tanta frequência que é
quase como se estivesse obcecada por eles, ao contrário de sua
declaração anterior.
Ele pode me deixar ter a última palavra uma única vez?
Acho que nunca conheci alguém que tenta discutir em
todas as interações – bem, além de mim. Algo em sua
persistência, tão parecida com a minha, faz meu sangue
esquentar.
— Você é insuportável.
— E, no entanto, ainda estamos aqui, sofrendo. — Suas
mãos deslizam em seus bolsos enquanto ele me dá de ombros.
Ele está flertando?
— Oh, por favor, você não conseguiu nem convencer cinco
pessoas a tolerá-lo o suficiente para que eles entregassem seus
cartões de visita até o final da noite.
— Isso é uma aposta? — Ele diz, intriga enchendo seus
olhos. De repente, percebo como seus cílios são grossos,
alinhando perfeitamente ao castanho ao redor de suas íris.
— Sim. Ganha quem conseguir cinco cartões de visita
primeiro.
— O que eu ganho quando ganhar? — A confiança em sua
voz me faz querer enfrentar o desafio ainda mais.
— Quando eu ganhar, eu fico com o seu terno.
Seus olhos se arregalam, e eu percebo o quão incrivelmente
errado isso soou. Mesmo que parte de mim queira ver o que há
por baixo de um daqueles ternos abafados.
— Parece que eu seria o vencedor.
— Isso não foi o que eu quis dizer! — Eu retruco.
— E o que você quis dizer?
— Esqueça o terno. Não quero ter nada a ver com ele.
Minhas bochechas queimam com suas palavras, e eu respiro
fundo para me recompor. Por que ele torna tão difícil falar às
vezes? Eu sou melhor do que isso.
Ele fala primeiro.
— Que tal quando eu ganhar, você se junta a mim para uma
bebida depois de sairmos deste barco?
Sim. O desejo em meu corpo imediatamente me trai.
Não. Não haverá absolutamente nenhuma bebida com o
engravatado.
As bebidas podem levar a todos os tipos de coisas. Coisas
potencialmente muito grandes, protuberantes e salientes. Eu
definitivamente não tenho tempo para explorar exatamente o
que são essas coisas.
Sem aventuras casuais, sem relacionamentos e
absolutamente sem bebidas.
— Eu não quero que você gaste seu dinheiro do petróleo
comigo, Navarro — eu digo a ele, mas as palavras saem da
minha boca sem convicção.
Por que estou tão irritada com ele?
— Todo o meu dinheiro do petróleo, como você está tão
obcecada em chamá-lo, voltou para as famílias afetadas pelo
derramamento — ele resmunga como se as palavras estivessem
apodrecendo dentro dele. — O que aconteceu ainda me
assombra todos os dias.
— Huh?
— Eu devolvi o dinheiro. Cada centavo.
Eu cambaleio para trás, os saltos delicados dos meus stilettos
balançando levemente sob meus pés.
Os dedos de Luca esfregam a ruga frustrada de sua testa.
Algo dentro de mim quer confortá-lo. Eu não sei bem
porquê, mas minha mão alcança a que está pendurada ao seu
lado.
— Olha, eu não quis... — eu digo baixinho, mas ele se afasta
dos meus dedos.
— Eu tenho uma aposta para ganhar — ele me lembra, a
expressão de dor sumindo de seu rosto. — Você escolheu um
prêmio?
Se é assim que ele quer jogar, tudo bem. Eu me
recomponho.
— Sem bebidas. Nada de ternos. Vencer contra você será o
suficiente.
Luca inclina a cabeça em minha direção. Eu tomo o aceno
como uma aceitação da nossa aposta e sigo para o lado do barco
mais distante dele, mas não antes de pegar uma taça de
champanhe.
Avery é uma especialista em arrancar de mim a minha
arrogância teimosa. É como se ela se deleitasse com a língua
espertinha que meus pais disseram que um dia me colocaria em
apuros.
A culpa por agir rudemente com ela ainda persiste, mas eu
não podia deixá-la acreditar em qualquer falsidade que ela criou
sobre mim. Pelo menos agora tudo está às claras.
Eu não me propus a trabalhar naquele caso. As Indústrias
Shift era um cliente de longa data da Douglas & Draper, e o
proprietário da Shift era um amigo próximo da família de um
dos sócios seniores.
O caso foi uma aquisição padrão. A Shift queria comprar
uma empresa de desenvolvimento de projetos solares que
possuía dez mil acres de terra.
Um caso para um cliente desse calibre normalmente era
gerenciado pelos sócios seniores. Todos sabiam que seria um
caso de cem horas semanais durante dois meses, e achei que era
a oportunidade perfeita para provar meu compromisso com a
empresa.
Fiquei empolgado por trabalhar em um acordo tão
prestigioso tão rapidamente depois de me tornar sócio. As
negociações levaram algumas semanas, mas resolvi o caso a
favor de nosso cliente. O bônus que recebi por ajudar as
Indústrias Shift era metade do meu salário anual. Eu estava no
topo da porra do mundo.
Alguns meses após a conclusão do caso, a Shift anunciou
que havia descoberto depósitos de petróleo na terra que eu os
ajudei a adquirir. Aparentemente, eles destruíram os projetos
solares e optaram por perfurar a propriedade.
Não pensei muito nisso, mas alguns meses após o anúncio
deles, ocorreu um derramamento de óleo.
Ainda me sinto responsável pelos graves danos que causou
ao rio local e à pequena comunidade de pescadores. Foi a
primeira vez que questionei se advocacia era o certo para mim.
Quando a notícia foi divulgada, doei todo o bônus de meio
milhão de dólares que recebi do caso para os esforços de
limpeza. Mas algo dentro de mim se quebrou. Minha
capacidade de tolerar longas horas, chefes hostis e o
esgotamento da minha vida desabou de uma só vez.
Pela primeira vez em minha carreira, contribuí ativamente
para ferir pessoas. Eu tinha fodido tudo, e eu sabia que tinha
que fazer uma mudança.
Avery pode não entender de verdade ou até mesmo perdoar
o papel que representei na situação, e não a culpo. Ela esteve do
lado correto da história durante toda a sua carreira. Mas espero
que ela possa ver além do meu fracasso.
Eu procuro por ela entre a multidão.
Um sorriso brilhante acaricia seu rosto cada vez que alguém
chama sua atenção. Eu invejo o quão despreocupada ela parece,
como se essa aposta que concordamos fosse tão fácil para ela
quanto respirar.
Avery enfia o cabelo loiro curto atrás das orelhas, expondo
a curva do pescoço. A cor sálvia de seu vestido complementa
seus olhos.
Neste momento, tudo em que posso me concentrar é o
desejo de afastá-la do grupo com o qual ela está e descobrir sua
resposta para minha pergunta anterior.
O que te impressiona, Avery? Porque eu faria isso em um
instante, de novo e de novo.
Volto para o homem à minha frente, que está tagarelando
sobre o novo programa de equiparação de doações de sua
empresa para seus funcionários.
Preciso me concentrar no meu objetivo. Minha oponente
está tão confiante que pode ganhar uma aposta contra mim.
Mal posso esperar para provar que ela está errada.
Troco informações com o homem e prometo a ele uma
introdução pessoal ao relatório de impacto da OPO, ganhando
um novo investidor em potencial e um cartão de visita em
troca.
Um já foi, faltam quatro.
À medida que a próxima hora avança, eu me pego realmente
gostando das conversas que participo. Cada novo grupo de
pessoas com quem falo ajuda a consolidar minha decisão de
deixar minha carreira de advogado para trás. Os diferentes
projetos e organizações sobre os quais estou aprendendo esta
noite têm a intenção de criar um futuro sustentável para o
planeta.
Depois de coletar mais três cartões de visita, vou até um
grupo com o qual ainda não vi Avery falar. Ela ainda está
perdida na conversa, o formato esguio de suas pernas
ocasionalmente aparecendo para fora de seu vestido.
Como se ela sentisse que eu a observava, Avery olha para o
meu lado do barco. A ruga de irritação em seu nariz é tão sutil
que sinto vontade de sorrir.
As pessoas ao meu redor mal percebem minha chegada. Elas
estão profundamente absortas em uma conversa sobre uma
nova alternativa sustentável e rica em proteínas ao creme de
amêndoa.
Por que as pessoas não podem simplesmente beber seu café sem
todos os extras?
Minha mente vagueia de volta ao trabalho, e a inquietação
me invade. Faz um mês desde que contratei Kora Noble para
investigar OPO, e ainda não obtive nada conclusivo.
Cada vez que abordo Joanna, buscando mais informações e
fornecendo sugestões organizacionais que possam impulsionar
nossos esforços de conservação no futuro, ela é, ironicamente,
resistente à mudança. Ela me ignorou durante toda a semana,
inventando desculpas frívolas como levar o cachorro ao tosador
e cuidar do jardim da mansão Benbart à beira-mar.
Pelo canto do olho, vejo Avery caminhando em minha
direção.
Pronta para ceder, tenho certeza disso.
O grupo ao meu redor se dissolveu em algum momento
durante minha agitação de pensamentos. Eu fico sozinho para
absorver o balanço dos quadris de Avery. Sua mão elegante
segura uma pilha de cartões de visita que ela usa para se abanar
dramaticamente. Ela anda como um predador perseguindo sua
presa. Cada movimento é atado com confiança deliberada.
É tão fodidamente sexy.
Tento desviar os olhos de seus movimentos e contar os
cartões, mas sou distraído por sua proximidade repentina.
Avery para na minha frente. A vontade de agarrá-la e inalá-
la causa uma tensão insuportável em meu corpo. Minha mão
agarra minha bebida vazia.
Ela se inclina, sua boca a apenas alguns centímetros de
distância da minha orelha. Minha respiração fica rasa. Se eu
virar levemente meu rosto, nossos lábios realmente se
encontrarão. Resisto à vontade de descobrir se ela tem um
gosto tão doce quanto a brisa do mar.
— Parece que você precisa disso.
Avery joga a pilha de cartões no meu copo e sai andando.
Cada fibra do meu ser dói para ir atrás dela enquanto ela se
dirige para a frente do barco, deixando-me desejar seu calor.
Tiro os cartões de visita do meu copo e conto até oito.
Isso garota.
Um sorriso orgulhoso se espalha pelo meu rosto e não vacila
quando vou até o bar.
— Um Paloma e uma taça de champanhe, por favor.
O barman sorri enquanto me entrega meu pedido. Deixo
uma nota de cinquenta e permito que meus pés me levem até
Avery.
Ela está na proa do barco, com o rosto erguido para o céu.
Quando me aproximo, os braços de Avery envolvem seus
ombros e ela estremece com a brisa fria.
Eu ofereço o champanhe.
— Isso deve aquecê-la.
Ela gira ao redor, seus olhos me examinando.
— Você está aqui para me parabenizar pela minha vitória?
— Que outro motivo existe? — Eu pergunto.
— Tenho certeza de que você poderia inventar alguma
coisa.
Ela pega o champanhe da minha mão, nossos dedos se
roçando. O toque é tão breve que me deixa com fome de mais.
Eu puxo os cartões de visita do meu bolso antes de entregar
a pilha organizada para ela.
— Parabéns, Srta. Soko.
Um sorriso genuíno beija seu rosto, e observo como seus
lábios rosados iluminam suas feições. Ela usa a palma da mão
para empurrar os cartões de volta para mim.
— Eu já salvei eles no meu telefone.
Aposto que sim.
— Bem, você nunca sabe se perdeu um.
Avery olha para os cartões, aparentemente deliberando.
— Eu nunca perderia um.
— Então considere os cartões como seu troféu para esta
noite, especialmente desde que você foi tão inflexível em negar
a si mesma o terno do meu corpo.
— Eu não disse isso. — Seu nariz enruga.
— Claro.
Ela pega os cartões e os enfia na bolsa.
As ondas nos carregam no rio. Ela se inclina contra a
amurada do barco e joga a cabeça para trás em direção ao céu
roxo profundo. A posição exibe intimamente seu corpo. Eu
sonho em descobrir o que está escondido sob aquele vestido
enquanto a seda cor de sálvia provoca uma exibição de suas
curvas.
Ela toma um gole lento de champanhe, o batom marcando
a borda da taça. O frio endurece seus mamilos e um tremor a
percorre. A prioridade de Avery pode ser a competição, mas
não consigo parar de olhar para ela por tempo suficiente para
me concentrar.
Coloco minha bebida em uma mesa próxima e tiro meu
paletó.
— Pegue isso para não congelar antes de voltarmos para a
terra.
— Eu não preciso...
— Você pode continuar brigando comigo.
— Eu não estou...
— Só não fique com frio enquanto estiver fazendo isso. —
Eu coloco meu paletó sobre seus ombros.
Essa relutância inflexível permanece em seu rosto enquanto
ela se afoga em tecido bege.
— Admita. — Eu levanto minha bebida para ela. — Assim
é muito melhor.
— A única coisa que estou disposta a admitir é que eu
venceria todas as competições contra você — diz ela com
orgulho.
— Não duvido disso.
— Você pode parar?
— Parar? — Minha testa enruga em confusão.
— As gentilezas — diz Avery com uma carranca. — Você
pode acabar como papel de bom moço. Willa vai escolher um
vencedor nas próximas três semanas, então não há necessidade
de continuarmos com isso.
— O quê?
Ela olha para mim.
— Seja lá o que for que você esteja fazendo agora.
— Isso não é uma atuação. — Pego minha bebida na mão e
tomo um gole.
— Claro que não é.
Essa frustração familiar alarga seus olhos. Depois que ela
respira fundo, seus lábios pressionam juntos. Eu finalmente
consegui deixá-la sem palavras?
— Não é — repito com firmeza.
Ela se mexe no meu paletó. Eu gostaria de estar envolvido
em torno dela. Estou com ciúmes das minhas próprias roupas?
Ela finalmente diz:
— De qualquer forma, sei que você está tentando me
distrair.
— Depois do jeito que você esbarrou em mim, seria a
segunda vez essa noite que você seria pega de surpresa por mim.
— Bem, não fui pega de surpresa durante nossa corrida.
Como esperado, ela não vai tornar isso fácil.
— Você quer dizer nossa corrida boba pelo seu lado do
parque?
Por que eu tive que soar tão abrasivo? Foi uma das corridas
mais divertidas que tive em anos.
— Você poderia me lembrar quem ganhou isso? Ah, certo,
fui eu.
— Tudo é uma competição para você?
— Com você? — Seus olhos se fixam em mim. — Sim.
Dou um passo em direção a ela, meu corpo ignorando o
pensamento racional que grita: Afaste-se!
Eu pergunto:
— E você sempre foi uma vencedora tão má?
A mistura de seu perfume e sua pele secam minha língua.
Encurto a distância entre nós até que seus olhos redondos
perfuram os meus. Seu olhar traça toda a extensão do meu
corpo.
As belas manchas de mel e verde em seus olhos estão
radiantes no sol poente, fazendo meu pau crescer em minhas
calças, doendo para descobrir seu calor.
Avery não se afasta, mas sua mão segura firmemente o
corrimão.
— Eu nunca gostei tanto de vencer alguém.
O barco de repente ricocheteia em uma onda enorme. Meu
corpo bate no de Avery, o impacto despejando o conteúdo de
nossas bebidas em nossas roupas.
A frente do vestido dela e as lapelas do meu paletó estão
encharcados com o licor pegajoso. Lá vai meu blazer de linho
italiano personalizado.
— Por quê? Por quê? Por quê? — Cada pergunta sai dela
como uma faca.
— Deixe-me ajudá-la a limpar isso.
— Não é seu problema para resolver. Eu cuido disso. — Sua
voz está crivada com o calor da irritação.
Avery acelera para longe de mim. Sinto o vazio de sua
presença instantaneamente. Está se tornando a coisa que eu
menos gosto, vê-la desaparecer na minha frente.
Ela abre caminho para o fundo do casco do barco, tentando
esconder a mancha reveladora que molda o vestido à sua pele.
Sigo logo atrás dela, usando meu corpo como escudo contra
olhares curiosos. Não vou encorajar ninguém a vê-la perder a
compostura. Eu sei como ela leva essas coisas a sério. Além
disso, já vi olhos curiosos o suficiente examinando o que eu
gostaria que fosse meu. A bebida derramada em seu vestido
apenas revela mais dela.
O nível inferior do barco leva aos aposentos do capitão e a
uma ampla varanda privada. Avery desce correndo a escada em
espiral até encontrar um andar sem pessoas para podermos
limpar a bagunça que fizemos. Alguns sofás almofadados
decoram o pequeno convés, cercado por mesinhas feitas de
madeira flutuante.
— Sente-se, vou encontrar algo para arrumar isso.
— Não, eu posso cuidar disso. — Ela fecha os olhos,
claramente tentando se recompor.
— Eu vou ajudar — eu digo, minha voz intransigente.
Os olhos de Avery se abrem de surpresa.
Eu gentilmente envolvo minha mão em torno de seu pulso
e a levo para um assento.
— Eu volto já.
— Por que quando estou perto de você, minhas roupas
estão sempre encharcadas?
— É por isso que você trocou de roupa antes da entrevista?
— Começo a entender o motivo por trás de sua blusa apertada
naquele dia.
Os cantos de seus lábios se curvam em direção ao chão, e ela
me dá um aceno lento. Arrependo-me imediatamente do
comentário que fiz sobre as roupas dela.
— Eu prometo que, da próxima vez que você estiver
molhada perto de mim, vou me certificar de que seja por causa
de algo que você goste.
Ela olha para mim.
— O que você vai fazer? Me levar para nadar?
Eu deixo escapar uma risada. Sem aviso, seu exterior duro
racha diante de mim. A risada de Avery se junta à minha, e é um
som que eu quero repetir infinitamente.
Uma vez que nosso ataque de riso desaparece, eu a instruo a
ficar onde está.
Esta varanda parece vazia de olhares indiscretos, mas eu
envolvo meu blazer mais apertado em torno dela. Minhas mãos
estão morrendo de vontade de trilhar o corpo por baixo de suas
camadas de roupas.
Volto com uma pilha de toalhas brancas macias do banheiro
da suíte privada. Avery está sentada no mesmo lugar que eu a
deixei, seu cabelo balançando ao vento da noite. Ela fica ainda
mais deslumbrante quando está frustrada, suas feições
imaculadas não diminuídas pelo pequeno amassado em sua
compostura.
Como ela ficaria se fosse desfeita por minha causa?
— Você deveria pressionar. — Entrego-lhe uma toalha,
concentrando-me em seus olhos e não no material agora
transparente de seu vestido de seda fina.
— Sua namorada te ensinou isso? — Ela pergunta.
A pergunta cai entre nós inesperadamente.
— Estou solteiro desde que me formei na faculdade de
direito.
— Bem, isso faz dois de nós. — Avery suspira e amassa a
toalha na palma da mão. — Quero dizer, desde a formatura.
Obviamente, não sou advogada.
— Eu percebi isso.
Ela começa a pressionar a toalha no tecido enquanto eu fico
paralisado, desejando que meu olhar se desvie de seus seios
flexíveis e cintura fina.
— Não está funcionando. — Avery diz, puxando o vestido
em suas mãos e torcendo o álcool. O material se acumula no
alto de sua coxa.
Eu sou um idiota olhando para ela como se eu fosse um
adolescente atraído por uma mulher pela primeira vez.
Eu fico sobre ela e estendo minha mão.
— Chega de sua ajuda, Navarro. — Seus olhos selvagens me
destroem, e a leve confusão do meu nome em sua boca
finalmente me deixa fora de mim.
— Sabe, você tem pronunciado meu nome errado — eu
finalmente admito, distraindo-a de sua irritação.
— Ah, e você pensou que era apropriado me dizer isso
agora? — O sarcasmo é espesso em sua voz enquanto suas mãos
apontam para o vestido encharcado.
— É Navarro. — Eu rolo os r enfaticamente. — Não
Navaroe.
Ela olha para mim, a realização contorcendo suas feições em
uma expressão ilegível.
— Navarro.
Eu balanço minha cabeça; o rolo de seu r ainda se esconde
atrás daqueles lábios macios.
— Navarro.
Ela repete novamente. Ok, talvez isso não me incomode
tanto. Especialmente quando o som do meu nome aumenta
meu pulso.
— Não exatamente — eu digo.
— Ensine-me.
— Quando você me deixar limpar essa bagunça — eu digo,
minha mão massageando uma toalha limpa em seu quadril,
tentando secar o tecido de seu vestido.
— Tudo bem.
— Primeiro, você precisa dizer as letras t e d; sinta a maneira
como sua língua bate na parte de trás dos dentes.
Sua cabeça se inclina para um lado.
— Faça isso até conseguir vibrar a língua contra os dentes.
— Você não pode estar falando sério. — Ela me olha
incrédula.
Ajoelho-me diante dela enquanto ela se recosta nas
almofadas, dando-se mais força para enxugar o vestido.
Estendo meu braço direito para trás do sofá, protegendo o
corpo de Avery com o meu enquanto continuamos a trabalhar
o tecido.
A euforia toma conta de mim ao sentir seu calor. Seus
joelhos se abrem ligeiramente, roçando a parte interna da
minha coxa. Meu pau lateja com o toque.
— Apenas tente — eu insisto.
— Certo. — Ela inspira profundamente antes de repetir
cuidadosamente as letras em voz alta, abrindo a boca e
empilhando os lábios em uma forma perfeitamente redonda.
Ela tenta vibrar a língua, mas apenas uma exalação de ar escapa
por entre os dentes.
— Seus lábios precisam estar mais próximos. Assim. — Eu
pressiono os meus juntos e demonstro.
Avery tenta novamente, impulsionada por sua
determinação implacável, até que ela finalmente emite uma
vibração.
— Bom. — Eu concordo. — Bem desse jeito.
Seu lindo sorriso aparece, comemorando a conquista. Ela
seria tão receptiva a outras lições que eu quero ensiná-la?
— Agora repita depois de mim — eu digo. — Confiar.
— Confiar.
— Forte.
— Forte. — Ela não hesita, a palavra deixando-a como uma
confissão.
O calor espesso da necessidade sufoca o ar ao nosso redor.
— Você sente a maneira como sua língua se move quando
pousa no r?
— Sim.
— Agora, quando rolar a língua, acrescente o movimento
que praticamos.
Avery me observa atentamente enquanto mostro o
movimento. Ela me imita até que seus lábios se movem em um
ritmo perfeito.
— Agora some tudo. — Seus olhos me observam
atentamente. — Repita depois de mim. Cariño. — Eu acentuo
o r para enfatizar onde o rolo de sua língua deve ficar.
— O que isso significa? — Ela me olha com desconfiança.
— Repita primeiro, pergunte depois.
— Diga-me.
— Depois. — Eu sorrio.
Ela me olha feio.
— Prossiga.
— Cariño. — Ela diz isso repetidamente.
Meu olhar está grudado em sua boca e, quando olho para
cima, ela encontra meus olhos com a mesma intensidade.
— Um som um pouco mais aberto. — Estendo meu polegar
para ela, a ponta do meu dedo gentilmente puxando seu lábio
inferior.
O peito de Avery sobe e desce lentamente enquanto uma
tempestade irrompe atrás de seus olhos. Os cantos de sua boca
se erguem em um leve sorriso enquanto seu olhar cai para os
meus lábios. A umidade de sua língua encontra meu polegar,
onde ela provoca a pele com uma pequena lambida.
— Agora, isso é muito distrativo...
— Você sempre tem algo a dizer? — Ela respira, não se
afastando de mim.
Beije-a, seu tolo!
— Só quando você está tão interessada em responder. — Eu
estendo o momento entre nós como caramelo quente.
— Oh, apenas me beije, Navarro.
Esta será a melhor ou a pior decisão que tomei na minha
vida, mas não vacilo.
Minha boca bate na dela. As semanas com vontade de senti-
la em meus braços se derramam no beijo.
Eu estou arruinado.
Porra.
Eu saboreio a maneira como nossas línguas se exploram
avidamente, os golpes famintos se tornando mais vigorosos. Eu
me afogo na doçura ácida dela.
Avery se afasta. Seus olhos procuram meu rosto, as poças de
avelã quase pretas. Meu pulso acelera com a pausa. Nós
olhamos um para o outro. Meus lábios já estão doloridos pela
carícia ardente de seus dentes. Todo o sangue quente que corre
em minhas veias foi para o meu pau.
— Eu pensei sobre isso por semanas, Avery. — Eu corro
minhas mãos sobre a carne quente de suas bochechas.
— Semanas? — Ela sorri para mim sob seus cílios escuros e
envolve as mãos em volta do meu pescoço, me puxando de
volta.
Nossos lábios se fundem. Sua pele macia contra a aspereza
dos meus dedos me leva a uma necessidade carnal ainda maior.
Seus gemidos ecoam em mim.
É um som lindo para caralho, será o objetivo da minha vida
despertá-lo a cada oportunidade que ela me der.
Suas longas pernas se abrem, convidando-me a me
acomodar, e eu as envolvo em volta da minha cintura enquanto
me levanto e a levanto do sofá. Seu calor agora está separado de
mim apenas por algumas camadas de tecido.
Pela primeira vez, entendo Avery. Esse terno é ridículo para
caralho.
Avery arranha a pele sob minha camisa, o metal de seu
relógio frio contra minha pele. Mesmo nesse frenesi aquecido,
estamos competindo novamente. Cada toque é egoísta, cheio
de fome reprimida.
Eu tento encontrar o meu equilíbrio enquanto ela luta em
meus braços até que finalmente batemos contra a parede atrás
de nós. O horizonte da cidade de Nova Iorque é agora o único
espectador de nosso desejo transbordante.
— Avery — eu respiro.
— Navarro — ela diz contra mim.
Os quadris de Avery se movimentam em mim, e eu sinto
prazer no fato de que ela pode sentir minha excitação
despertando sob ela. Meus dedos doem para explorar a
umidade que sei que está se acumulando entre suas coxas. Em
vez disso, seguro seu rosto, esperando que nada nos tire desse
beijo.
Eu preciso de mais.
Minha mão esquerda encontra a curva de seu quadril e passo
meus dedos pelo tecido fino de seu vestido. Eu roço sobre seus
mamilos rígidos, e um gemido suave escapa dela. A cada nova
sensação, seus gemidos ficam cada vez mais altos, fazendo-me
cair mais fundo no agora.
Eu movo meus dentes para a pele de seu pescoço,
saboreando cada gosto que posso, antes de voltar para seus
lábios inchados. Enquanto desabamos um sobre o outro, não
sei dizer se estamos parados aqui há um minuto ou uma hora.
Estou nadando em Avery Soko. Meu ser apenas desmorona
diante dela. Eu aprecio cada porra de segundo disso.
Alta estática irrompe acima de nós. Nós nos separamos.
Uma voz familiar ecoa pelo comunicador.
— Todos podem, por favor, se juntar a mim no convés? —
Willa Ellington destrói qualquer realidade em que caímos
acidentalmente.
Meu olhar se reconecta com Avery, e ela desce pelo meu
corpo, já reajustando as alças caídas de seu vestido. A carga atrás
de seus olhos está totalmente extinta. Ela fica na minha frente e
enfia meu paletó no meu peito.
— Isso nunca aconteceu. — Sua voz é tão fria que ameaça
me congelar. Seus passos ecoam levemente pelas escadas até o
nível superior do barco.
Seja qual for o motivo dessa convocação, é melhor que valha
a pena.
Assim que saio para o convés lotado, a noite caiu sobre a cidade.
Atravesso os convidados, tentando me distrair, mas minha
mente ainda está absorta nele.
Quando eu me deixei ficar tão distraída?
Meu primeiro erro foi permitir que Luca Navarro – ou devo
dizer Nava-rr-o – colocasse seu paletó sobre minha pele
trêmula. Seu aroma rico e almiscarado ainda consome todos os
meus sentidos, me lembrando da terra úmida da floresta
durante minhas caminhadas pelo nordeste. Meu corpo me trai
com o desejo de seu toque recente.
Nosso beijo, se é que você pode chamar o jeito que nos
devoramos de algo tão simples como um beijo, me impediu de
conhecer Willa esta noite.
Volto ao presente como um pedaço de elástico gasto, me
forçando a me concentrar em nossa anfitriã.
No palco, a Srta. Ellington está envolta em um vestido preto
brilhante, fazendo com que o resto dos convidados pareça
severamente mal vestido.
— Não estou ficando mais jovem, então vou começar — diz
ela ao microfone.
Luca aparece ao meu lado, sua presença iminente
bloqueando minha visão do palco.
Por que ele está parado bem na minha frente?
— Eu não posso ver Willa. — Eu espio por trás de seu
ombro largo.
Quem precisa ter os ombros tão grandes?
Ele olha para mim.
— Você não está perdendo muito.
— Você não pode decidir isso. — Eu me separo dele e ando
mais para dentro da multidão para escapar dele.
Ele se junta a mim.
— Onde você está indo?
— Pare de me seguir — eu retruco. Estou tão tensa agora
entre o beijo e a interrupção repentina.
— Não.
— Então não fique tão perto. — Eu sussurro para evitar
chamar a atenção para nossa briga.
Este homem é intolerável.
— Eu não vou deixar você ficar aqui sozinha desse jeito —
ele diz atrás de mim.
Meus olhos se arregalam. Eu paro e me viro para encará-lo.
— Que jeito?
— Seu vestido está arruinado, Avery.
Eu realmente não precisava de um lembrete.
Eu me afasto dele e caminho mais alguns passos em direção
ao palco até que não consigo ir mais longe. Luca está apenas
algumas pessoas atrás de mim. Eu quase posso sentir seu olhar
na parte de trás da minha cabeça.
Tenho tentado processar o que ele disse sobre o dinheiro do
petróleo nos breves momentos que passamos separados esta
noite. Como ele ajudou as pessoas impactadas. Parte de mim,
em algum lugar no fundo, quer acreditar nele. Talvez eu
simplesmente o tenha julgado mal em meus sentimentos
desagradáveis sobre a rejeição da OPO, que neste ponto nem
dói tanto quanto eu esperava.
Até me arrependo dos comentários que fiz sobre sua
aparência. Não é típico de mim fazer suposições sobre os outros
com base em como eles se comportam, e Luca não deveria ser
diferente. Seu exterior, vestido com tecidos finos e
acompanhado de olhares penetrantes, pouco fez para pintar a
imagem completa do homem por baixo do terno.
— Obrigada a todos por me darem um motivo para usar
meu vestido novo — Willa anuncia, e a multidão a aplaude. Ela
tem a energia de uma estrela do rock. — Nunca pensei em ter
um barco. Meu pai tinha um e o amava mais do que seus filhos.
— Ela não deixa o silêncio constrangedor se prolongar. — Mas
a Fundação Ellington continua a apoiar projetos que fazem
mudanças duradouras e me ajudam a curar minha criança
interior. Meu barco, Willhelma, é totalmente movido a
energia renovável. — Aplausos da multidão irrompem mais
uma vez. — Sim. Eu sei. Não é maravilhoso? Agora, se eu
pudesse apenas alimentar este corpo por meio de energia
renovável – isso resolveria a maioria dos meus problemas.
Algumas risadas esparsas se espalharam pelo convés.
— Não posso esperar nem mais um segundo! — Ela diz. —
Esta noite, anunciarei os resultados do Prêmio Ellington. Sei
que faltam algumas semanas, mas a decisão foi fácil. Encontrei
a combinação perfeita para o meu financiamento.
O quê? Mas minha equipe não está aqui. Preciso ligar para
Matthew.
— O representante da OPO se juntará a mim no palco? —
A voz de Willa ressoa novamente.
A compreensão me lava. A Organização de Pesquisas
Oceânicas receberá o prêmio. Eu olho para Luca, e o olhar
arrogante que eu esperava dele está faltando em seu rosto
bonito.
Minha cabeça começa a latejar enquanto o ar se enche de
palmas novamente. Posso ter ganhado nossa aposta boba, mas
Luca ganhou o prêmio real.

Luca deixa seu lugar na multidão e caminha para perto do


palco, permanecendo na parte inferior do pódio. Eu o observo
ajustar a gola levantada de sua camisa. Ele está vestindo seu
blazer encharcado mais uma vez.
Ele vai usar aquela coisa no palco?
Meu próprio vestido ainda está úmido, o tecido de seda
grudado na minha carne. A sensação me dá um arrepio na
espinha quando a brisa do verão aumenta.
Luca sobe ao pódio, elevando-se sobre Willa.
— Homens bonitos como você com certeza não
trabalhavam para se conservarem na minha época — ela grasna
e aperta as mãos dele.
As mãos traiçoeiras que estavam em volta dos meus seios
minutos atrás.
Meu coração cai no meu estômago com a memória. Eu vou
passar mal.
Willa destaca o impacto que a frota de robôs da OPO
poderá causar ao diminuir a quantidade de lixo que flui para o
oceano. É claro que Luca tentaria transformar seu clube
universitário em um pequeno exército de robôs. Ele sabe o que
está fazendo, e tenho que admitir isso. Eu só me pergunto se
eles terão Titãs do Lixo inscritos neles.
Tento ignorar a empolgação da multidão.
Essa doação teria sido uma grande oportunidade para minha
equipe compensar nossas finanças decrescentes.
Este não é o fim. A Plastech encontrará outra maneira de se
manter.
Meus olhos encontram Luca novamente. Sua postura rígida
ocupa a maior parte do pequeno palco. Busco em mim um
pingo de felicidade por ele e para a organização que já foi minha
prioridade. Está escondido em algum lugar dentro de mim
porque sei que o Prêmio seria usado em algum lugar bom,
especialmente se Willa escolhesse a proposta deles.
— Além disso, como os projetos da Fundação Ellington são
exemplares, escolhi um segundo destinatário para se juntar a
nós aqui.
Todo o convés fica mortalmente silencioso e meus
pensamentos disparam. Ainda há esperança.
Depois do que parece uma eternidade, Willa diz:
— Existe algum representante da Plastech que possa se
juntar a nós?
Eu estou cimentada no convés. Os olhos de Luca examinam
a multidão, provavelmente procurando por mim.
— Ela acabou de dizer Plastech? — Pergunto à pessoa que
está ao meu lado e ela confirma com um breve aceno de cabeça.
Preciso ligar para Matthew o mais rápido possível.
A multidão se separa enquanto eu atravesso o mar de
pessoas, desejando que meus pés pisem um na frente do outro.
Subo no palco e fico ao lado do homem cujo gosto ainda sinto
na língua.
— Eles parecem estrelas de cinema juntos, não é? — Diz
Willa. — Já estão encharcados de emoção! — Ela sinaliza para
os pontos úmidos em nossas roupas. Ela se vira para sorrir para
a multidão. — Todas as minhas grandes ideias compartilham a
mesma filosofia: trabalho em equipe.
— Trabalho em equipe? — Um sorriso diabólico se espalha
pelo rosto de Luca.
Eu luto para entender onde isso vai dar. Vamos dividir o
prêmio em dinheiro?
— Depois de revisar todas as propostas, decidi que a OPO e
a Plastech têm uma estratégia complementar de eliminação de
lixo. A análise da minha Fundação mostra que se esses dois
projetos se fundirem, eles têm o potencial de eliminar o vórtice
de lixo do Pacífico três anos após a implantação. Isso é 1,6
milhões de quilômetros quadrados de lixo indo embora.
Ela bate palmas e a multidão vai à loucura.
— Espere — eu digo, a situação chacoalhando meu cérebro.
— Estamos combinando os projetos?
— Vocês trabalharão juntos como uma unidade para criar
um projeto muito melhor. — Ela explica.
— Mas como vamos trabalhar juntos?
— Dentro de quatro meses, vocês devem encontrar uma
maneira de combinar a inteligência artificial da Plastech e os
robôs da OPO e submetê-los a testes suficientes para
implantação no Oceano Pacífico. Depois de apresentar sua
estratégia de execução final, vocês terão acesso a cinco milhões
de dólares para escalar a colaboração.
— O dinheiro não é dividido igualmente entre nós?
— O financiamento será usado apenas para a minha ideia.
— Willa sorri.
— E se não pudermos combinar os projetos? — Eu
pergunto.
— Oh, você é incansável! — Um sorriso surge em seu rosto,
marcando suas linhas de expressão devido aos anos de uma vida
aparentemente bela. Sua expressão envia um tom de
aborrecimento para mim. — Então nenhuma de suas empresas
recebe o financiamento para este projeto e vocês não poderão
dividir o lucro dos materiais reciclados que seus robôs
produzirão após a implantação.
— Nenhum lucro? Seremos capazes de negociar os termos
de como vamos dividir os ganhos da reciclagem? — Luca
finalmente decide entrar no diálogo.
Claro, ele só está pensando no dinheiro.
— Sim, vocês podem negociar os lucros dos materiais
reciclados como suas empresas acharem melhor — diz Willa. —
Estima-se que traga dez milhões de dólares por ano em receitas.
Isso deve ser motivação suficiente para trabalharem juntos.
— Juntos? — Eu ecoo, imaginando isso.
Eu luto com as novas informações atacando meus
pensamentos.
Trabalhar com a OPO?
Estou ansiosa para tirar meu telefone da bolsa e explicar a
situação para minha equipe na Plastech.
Minha caixa torácica se contrai enquanto tento recuperar o
fôlego. Luca está ao meu lado, imóvel.
Eu finalmente conecto meu olhar com o dele, e a escuridão
ainda persistente em seu olhar me devora.
Flashes de seus lábios explorando meu corpo aparecem atrás
de meus olhos, e a umidade entre minhas pernas se torna
aparente. Eu sei como suas mãos grandes podem acariciar meu
corpo. Eu sei a reação que ele poderia provocar em mim sem
nem mesmo tentar.
Luto para me manter firme nessa onda de confusão.
Não. Não.
Mas quem ganhou? Estou determinada a chegar ao fundo
disso.
A OPO teve o melhor projeto? Isso nos torna iguais? Como
vamos competir agora? As perguntas revestem meus
pensamentos como mel.
Eu arranho a memória daquele beijo para longe da minha
mente. Isso não aconteceu. E certamente nunca mais
acontecerá.
Luca Navarro não será a distração que me afastará da minha
carreira, mesmo que ele tenha ajudado a me afastar da OPO em
primeiro lugar. Recalculo nossas vitórias, já que ambos levamos
o prêmio nesta rodada.

Meu foco será apoiar a Plastech durante esse desastre de


todas as maneiras que puder.
Se precisarmos trabalhar juntos, o que quer que tenha
surgido brevemente entre nós será oficialmente extinto. Agora
que o tirei do meu sistema, me recuso a me distrair com ele e
suas apostas tolas. Não importa o quanto meu corpo grite por
seu toque novamente.
Uma explosão de gargalhadas preenche o escritório enquanto
saio do elevador.
Avery está olhando sobre os ombros de Molly, seus olhos
observando atentamente a tela do computador na recepção.
Avery cora e inclina a cabeça para trás. Meus olhos vagam para
sua blusa decotada que mostra seu peito corado. Minha mente
volta para seus lábios macios nos meus.
Permaneça profissional. Você consegue fazer isso.
A Plastech fez a transição com sucesso para trabalhar nos
escritórios da OPO depois que Willa forçou a combinação de
nossos projetos. Na segunda-feira seguinte ao anúncio no
barco, a Plastech mudou-se para os nossos escritórios. Levaram
uma tarde para arrumar as coisas do espaço de trabalho
compartilhado e se organizarem nas instalações da OPO.
Tenho que dar crédito a Willa: as equipes parecem estar
entusiasmadas com a forma como nossas ideias podem
funcionar perfeitamente juntas. Nosso projeto original
complementa a tecnologia inovadora da Plastech, mas o
verdadeiro atrativo é o potencial de ganhos.
O CEO da Plastech, Matthew Hudson, e eu concordamos
que a melhor maneira de trabalharmos juntos seria sua equipe
se instalar aqui. Sem dúvida, a OPO possui melhores
instalações de pesquisa e tecnologia do que seu espaço de
trabalho compartilhado. Matthew explicou que o custo do
aluguel prejudicava suas capacidades de gastos atuais. Agora
eles podem aproveitar nossos recursos sem desperdiçar
dinheiro. Há também o benefício adicional de ver Avery todos
os dias.
Vou até à recepção, onde Molly e Avery ainda estão rindo.
Parece que elas se tornaram amigas rapidamente.
Isso realmente não me surpreende. Molly é uma funcionária
ideal. Pelo menos ela nunca me deu uma razão para pensar o
oposto. Molly é a única pessoa na OPO, além de Avery, que
provou respeitar a forma como eu trabalho. O restante da
equipe ainda está resistindo às minhas táticas de organização,
mas as duas parecem não ter problemas com meu desejo de
verificações frequentes e comunicação clara.
Ainda ontem, Molly compartilhou sua preocupação com a
recepcionista que pediu demissão. Ela temia que contratar
alguém novo causaria mais pressão em minha agenda. Eu
apreciei sua preocupação, mesmo que tivesse que desperdiçar
minha manhã lendo um acúmulo de currículos para encontrar
uma substituta rápido.
Quando a tarde chegou e eu estava preparado para marcar
entrevistas com as novas candidatas, Avery já estava ajudando
Molly a dividir algumas das tarefas urgentes entre todos os
assistentes para que nada escapasse.
Avery está aqui há apenas uma semana e já está facilitando
minha vida. Mesmo que ela tente manter distância.
— Luca, você precisa ver isso! — Molly diz, finalmente me
vendo caminhando até elas. Lágrimas, provavelmente lágrimas
de felicidade, escorrem por suas bochechas. — Já vimos isso um
milhão de vezes.
— O que é?
— Não vai fazer sentido se apenas explicarmos para você.
Venha aqui.
Observo Avery enquanto seu foco permanece na tela. O
tom rosado de seus lábios está coberto por um tom brilhante de
vermelho hoje.
Eu quero pressionar a ponta do meu polegar em sua boca
novamente e manchar meu dedo com o batom. Os
pensamentos de nosso beijo voltam, e eu me mexo
desconfortavelmente com o sangue viajando abaixo do meu
cinto.
Agora não.
— Olha quem finalmente decidiu aparecer. — Avery me
lança um sorriso malicioso quando me aproximo da mesa.
Esta é apenas a segunda vez que ela chega antes de mim ao
escritório esta semana.
— Esperando por mim? — Eu pergunto. Antes que ela
possa fazer outro comentário sarcástico, dou um passo para trás
de Molly. Meu corpo está contente por estar a apenas alguns
centímetros de Avery. — Mostre-me o que está atrapalhando o
que poderia ser uma manhã produtiva.
— Você não precisa tirar a graça de tudo — diz Molly. Então
ela aperta o play.
Avery se inclina para a tela, rindo das imagens em
movimento de animais fazendo...
Não tenho certeza do quê?
Meus olhos se movem para Avery, que tinha opiniões
extremamente fortes sobre ingressar no escritório. Ela alegou
que trabalhar juntos em tal proximidade destruiria a alma de
nossos projetos.
O que quer que isso signifique.
Tenho certeza de que a verdadeira destruição que ela teme é
cairmos nos braços um do outro novamente. Decidimos no
barco que deveríamos manter nosso relacionamento
profissional. Avery declarou que sua dedicação ao projeto não
precisa de nenhuma distração, mas pouco fez para impedir
nossos encontros um tanto frequentes.
Eu, por outro lado, saúdo a forma como minha atenção se
volta para ela.
Mesmo quando a memória de seus lábios manteve meu
punho em volta do meu pau todas as noites desde então, não
consigo tirar minha mente dela.
Mas aprendi que Avery compartilha minha afinidade por
seguir as regras.
Passei a noite depois de beijá-la, analisando o ridiculamente
longo manual do funcionário da OPO apenas para descobrir
que não há regras sobre namorar clientes, colegas ou
contratados se nenhuma das partes estiver diretamente acima
da outra na hierarquia. Mesmo assim, exceções podem ser
feitas.
Um leve cheiro de seu perfume envia um senso de
necessidade através de mim com a memória de sua boca quente
na minha. Eu quero cair de joelhos agora e adorá-la nesta mesa.
Salivo só de pensar em passar a língua pelo lugar quente que
grudou em mim no barco.
Eu realmente preciso parar, porra.
Esta mulher consome tudo e é dolorosamente frustrante.
O vídeo termina abruptamente e Molly é a única que ainda
está rindo.
Avery considera minhas feições estáticas.
— Claro que você não tem um pedaço engraçado em seu
corpo.
— Você não gostaria de... — Eu tento retrucar, mas Molly
me interrompe.
— Luca, descobri que Ave mora a apenas alguns quarteirões
de distância de mim, então começamos um novo desafio de
corrida esta manhã!
Esse apelido de novo. Aquele que eu não tenho permissão
para chamá-la.
— Interessante.
— Não, o que é interessante é Ave conseguir me convencer
a correr — diz Molly. — Eu odeio correr.
Ave. Ave. Ave.
Avery apenas dá de ombros.
— Você só tinha que encontrar o seu ritmo.
A memória dela correndo ao meu lado retorna. Eu
estremeço ao pensar nas contusões em forma de pata que
marcaram meu corpo por alguns dias depois.
— E você sabia que há chuveiros na academia lá embaixo?
— Molly me informa. — Mudou a minha vida.
— Na verdade, eu sabia sobre os chuveiros. — Eu me viro
para Avery. — Espero que você não esteja deixando Molly
pegar emprestado aqueles tênis de corrida que parecem ter sido
colocados no triturador?
Seu olhar de repreensão é catastrófico e lindo para caralho.
— Você está chateado por ainda não ter encontrado uma
maneira para correr de terno?
Verifico se Molly ainda está de frente para a tela. Então eu
me inclino para Avery e solto as palavras em um sussurro:
— Outra menção aos meus ternos. Você deve realmente
adorá-los.
— Eu adoraria enrolar essa gravata em volta do seu pescoço
e puxar.
O breve calor de sua respiração envia uma onda tão forte de
borboletas através de mim que quase me sinto tonto. Tento
não pensar em quanto tempo passei focado em nada além dela.
— Posso mostrar alguns usos para as minhas gravatas que sei
que você vai gostar.
Avery dá um passo para trás, seu olhar gelado falhando em
esconder o interesse crescendo dentro dela.
Molly se vira para nós dois.
— Sobre o que vocês estão sussurrando aí atrás?
Eu sorrio.
— Eu estava dizendo a Avery que eu estou correndo do seu
lado do parque. Toda. Manhã.
— Isso é trapaça. — Ela zomba. — Eu ganhei aquela corrida.
— Estou perdendo alguma coisa aqui? — Molly finalmente
se vira para nós. — Vocês dois estão correndo juntos?
— Nós nos encontramos acidentalmente — Avery a
corrige.
— Talvez Luca possa se juntar ao nosso grupo de corrida —
diz Molly. — Os Corredores da OPO.
— Não — Avery diz rapidamente.
— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês dois, mas
estou gostando — Molly brinca.
— Nada está acontecendo — Avery morde de volta.
A dureza em seu tom involuntariamente me corta
profundamente. Ela parece enojada com a ideia de haver algo –
qualquer coisa – entre nós. Mas a noite no barco foi mais do
que um acesso de paixão. Eu quero passar mais tempo
conversando com ela, observando-a contrariar tudo o que digo
como se fosse uma partida de xadrez. Eu quero mais.
— Se você diz — responde Molly.
— E ela diz que não está acontecendo nada — eu digo
calmamente, puxando minha bolsa por cima do ombro. —
Molly, por favor, me envie as últimas atualizações sobre o
projeto Oceano Em Ordem.
— Eu já as enviei para você esta manhã — Avery se gaba.
— Excelente. — Eu as deixo com seu entretenimento
irracional. — Vamos marcar um dia no calendário para revisar
as anotações. — Eu me viro para caminhar pelo corredor.
— Já pedi a Molly para agendar — diz Avery.
Naturalmente, Avery já cuidou de tudo. Tenho a sensação
de que ela vai continuar a me manter no limite.
O sol entra em meu escritório enquanto examino os últimos
relatórios de Kora Noble. Ela acabou de enviar sua avaliação
inicial da saúde financeira da empresa. Faz um mês e meio desde
que a contratei, e seus achados ainda são inconclusivos. Em seu
e-mail, ela diz que ainda tem todo o acúmulo de dados de
financiamento anteriores para revisar.
Se ela não encontrou nada, isso deve ser um bom sinal,
certo?
Um pequeno aperto retorna ao meu peito.
Quando meus pensamentos começam a se bagunçar, um
barulho alto e estridente da temida cozinha comunitária me
interrompe.
Por que esse escritório é tão barulhento? Joanna não investiu
em isolamento acústico?
Eu sigo pelo corredor para verificar a comoção.
A Plastech se integrou perfeitamente com a equipe que
designei para o projeto Oceano Em Ordem. Avery,
especialmente, parece estar prosperando na nova dinâmica.
Durante sua primeira semana aqui, peguei o final de uma
apresentação que ela estava fazendo, sua energia combinando
com aquela confiança otimista que ela trouxe para sua
entrevista. Isso confirmou a decisão que Matthew e eu
tomamos de nomear Avery como porta-voz da equipe. Sua
capacidade de articular a ideia combinada é notável.
Mal posso esperar para ver o que mais ela realizará durante
seu tempo aqui.
Eu viro a esquina para a cozinha e lá está ela.
— O que diabos você está fazendo? — Meu grito é quase
inaudível devido ao barulho.
Os quadris de Avery estão presos no balcão enquanto seus
braços pressionam uma máquina, que só posso supor ser um
antigo moedor de café.
Ela está vestindo jeans hoje, o jeans firmemente enrolado em
suas curvas. Está me fazendo reconsiderar minha opinião
anterior sobre roupas casuais no escritório, não que eu fosse
usar jeans para trabalhar. Mas quando for Avery fazendo isso,
posso abrir uma exceção.
O barulho cessa. Eu limpo minha garganta e a alerto da
minha presença.
— Você sempre faz tanto barulho tão cedo de manhã?
Pela segunda semana consecutiva, nossa competição tácita
de chegar primeiro ao escritório persiste. Ela está à frente por
um ponto, mas eu claramente ganhei esta manhã, chegando
antes mesmo do sol nascer.
— E bom dia para você, Sr. Navarro.
Eu escondo um sorriso ao ver como os r saem de sua língua
com mais facilidade.
Eu estou tão fodido.
— Você tem praticado.
Seus olhos encontram os meus.
— Talvez.
— Eu acho que você tem sim. — Minha garganta seca com
a ideia.
— Eu não desisto de um desafio.
O cabelo de Avery está preso em um rabo de cavalo alto
hoje, chamando minha atenção para sua nuca. Eu flexiono
meus dedos com a sensação fantasma de como é a sua pele
macia em minhas mãos.
— Aposto que não — eu sussurro baixinho.
— Hum? — Ela pergunta.
Ela ouviu o desafio deliberado de mim?
Seus olhos examinam meu rosto.
— Bela barba.
O quê?
Minha mão sobe para minha mandíbula e meus dedos
esfregam contra a barba áspera. Eu sabia que havia algo que eu
tinha esquecido quando saí correndo do meu apartamento esta
manhã.
Naturalmente, ela não hesita em apontar minhas
imperfeições.
Eu tento desconversar.
— Estou tentando algo novo.
— Ficou bom. — Ela sorri, mas eu afasto sua provocação.
Ela deve estar me provocando, certo?
Eu me junto a Avery, observando-a tirar o café do moedor
enorme e colocá-lo em um filtro reutilizável. Espero que aquela
coisa tenha sido limpa.
Suas sobrancelhas se arqueiam quando sua cabeça se inclina
para um lado. Ela me olha antes de mudar de assunto.
— Posso apenas dizer que estou tão feliz por não ter
conseguido o emprego aqui? Se eu soubesse que o café seria tão
horrível, nunca teria me candidatado.
— Por que você realmente se candidatou para trabalhar
aqui? Além de Joanna.
Avery puxa uma chaleira da sua ecobag – uma chaleira de
verdade – antes de abafar o breve silêncio entre nós com a
torneira.
— Eu me preocupo com o meio ambiente.
— Por quê?
Ela bufa.
— Você está procurando um motivo para roubar?
— Eu sei porque estou aqui.
— Bem, definitivamente não é por causa do café. — Avery
sai da conversa novamente.
O que a impulsiona?
— Eu sempre pego o meu do lugar no final da rua. — Eu
pressiono meu braço livre no balcão da cozinha.
— Tenho certeza de que mais pessoas gostariam de ter um
café melhor no escritório.
— Você tem alguma recomendação?
Ela hesita, parecendo incerta se minha pergunta é genuína.
— Existe uma máquina de café muito legal chamada
Grinder 9000. — Seu rosto se ilumina. — Tem acessórios de
sabor e mais de vinte opções de café com leite!
— Nome interessante.
Avery olha feio para mim.
— Fazer o café você mesmo é melhor do que comprá-lo.
Você sabia que as cafeterias costumam usar copos com
revestimento de plástico?
Eu trago minha caneca portátil à vista.
— Eu não os uso.
— Claro.
— O manual do funcionário desencoraja os descartáveis.
— Você deveria fazer o esforço porque se importa — diz ela,
limpando o pó de café derramado enquanto sua bebida fica em
infusão. — Não porque está em algum livro de regras.
— Eu me importo e, assim como você, também me importo
com as regras.
Ela estala os nós dos dedos finos enquanto suspira.
— Você se importa porque lhe disseram para se importar.
— Na verdade, fui criado para me importar com o meio
ambiente. — Nossa ênfase na palavra importar cresce a cada
resposta. — Mas você acha tão fácil presumir o pior de mim.
— Eu não faço isso — diz ela.
As longas pernas de Avery a carregam sem esforço pela
pequena cozinha. Ela encosta a cabeça na parede, os dedos
girando o relógio no pulso. Ela finge que o café em infusão é
mais fascinante do que nossa conversa.
— Me diga duas coisas boas que você pensa sobre mim —
eu desafio.
— Huh?
— Além de sua obsessão com os meus ternos.
Seu olhar revira brevemente para cima, e minha própria
frustração carente retorna.
Quantas vezes ela tem que fazer isso antes de perceber que
desperta algo dentro de mim?
— Duas boas suposições, Avery.
Ela hesita, e meu coração acelera com medo de que ela não
confesse uma única coisa.
Então seu olhar travesso encontra o meu.
— Você se importa com os pombos.
Minhas sobrancelhas se dobram em confusão. Observo seu
sorriso perverso e tento entender o significado por trás de suas
palavras.
Então, finalmente me atinge.
— Você me viu no parque! Isso significa que você me
deixou para ser atacado por uma matilha de cães?
— O quê? Não. — Ela ri. — Eu teria pago para atacá-lo eu
mesma.
Eu gosto do som disso.
Eu inclino minha cabeça para frente em provocação. Meu
corpo relaxa contra o balcão, um pé cruzando sobre o outro. O
som de sua risada para rapidamente e seus lábios carnudos se
abrem.
— Eu me expressei mal.
— Eu definitivamente não cobraria de você para...
Ela me interrompe.
— Ugh. Você é tão irritante. Lamento ter perdido aqueles
cachorros atacando você.
Eu dou a ela um olhar de soslaio.
— Acredito.
— Mas estou feliz que você esteja bem. — Suas bochechas
ficam em um tom vermelho da cor de suco de cranberry. — Eu
sei que cachorros podem ser cruéis.
— Eles eram do tamanho de feras! — Eu exclamo, e ela ri.
Não tivemos tanto tempo a sós desde nosso beijo há duas
semanas. A falta de interrupção é bem-vinda.
— Tudo bem, qualquer coisa que não tenha a ver com meu
resgate heroico? — Eu contesto.
Os olhos de Avery percorrem meu corpo dos meus
mocassins até o meu rosto. Ela me avalia antes de responder:
— Acho que é a sua vez. Você tem algo bom a dizer sobre
mim?
Em vez de responder com a verdade "Você é brilhante, linda,
encantadoramente obstinada, e a lista de coisas boas que penso
sobre você está sempre crescendo" mantenho minha resposta
ambígua:
— Não consigo escolher apenas uma coisa.
Ela olha para mim do outro lado da cozinha e não consegue
produzir um de seus comentários espertinhos para retaliar.
Eu quebro o pequeno silêncio entre nós.
— Eu tenho mais de um?
— Você é muito persistente.
— Isso não é uma suposição. É um fato.
Ela suspira e inclina a cabeça para trás contra a parede.
— Sua atitude arrogante é exatamente o motivo pelo qual
nunca te elogio em voz alta.
Eu pisco para ela.
Ela já quis me elogiar antes?
— Então, eu queria perguntar — diz Avery, desviando a
conversa de sua admissão. — Joanna trabalha em outro
escritório? Raramente a vejo aqui.
— CEOs tendem a ter uma agenda lotada. — Eu falo de
maneira breve. A última coisa que quero é arriscar
compartilhar minhas próprias opiniões negativas sobre Joanna.
Avery a admira, então pode aborrecê-la saber que Joanna não é
tão boa assim.
— Huh, eu esperava aproveitar que estou aqui e ter a chance
de aprender com ela.
— Jo é muito ocupada.
Avery encolhe os ombros, em seguida, puxa uma caneca de
marfim do armário da cozinha. Titãs do Lixo está impresso na
lateral em negrito e cor azul-petróleo.
— Por que você escolheu essa? — Eu digo.
Ela olha para a caneca e quase posso ver a sugestão de um
sorriso em seu rosto.
— Esta? Ah, as cores são as minhas favoritas.
Eu não posso dizer se ela está brincando comigo ou se ela
realmente não sabe.
— É a minha caneca.
— Eu não fazia ideia. — O sorriso agora evidente em seu
rosto me leva a acreditar que ela conhece as origens exatas da
minha caneca da equipe de limpeza de lixo.
Avery volta ao balcão e coloca o café na caneca. Vou até à
geladeira e pego uma caixa de leite de aveia, colocando-a ao lado
dela.
Ela olha para o que foi oferecido.
— Para que é isso?
— Eu pensei que era assim que você toma seu café.
— Eu tomo. — Avery me olha escrupulosamente antes de
abrir a tampa e jogar o líquido na minha caneca. A visão envia
um calor entre minhas omoplatas, e eu estendo a mão para
esfregar a parte de trás do meu pescoço.
Eu a observo devolver a caixa para a geladeira, pegar a minha
caneca que ela pressiona nos lábios com um sorriso, e andar
pela cozinha fora do meu alcance.
O balanço suave de seu rabo de cavalo curto a segue pela
cozinha. E eu tenho um desejo nada profissional de envolvê-lo
na palma da minha mão e puxar seu rosto para o meu, mais uma
vez arrancando gemidos ansiosos de seus lábios.
Estou prestes a quebrar o nosso acordo de ignorar que nosso
beijo nunca aconteceu.
— O quê? — Ela pergunta.
Minha atenção se volta para ela. As curvas suaves de suas
sobrancelhas estão unidas.
— Nada.
— Por que você está com essa cara?
Eu sorrio.
— Eu não posso simplesmente me divertir com você, Srta.
Soko?
Ela me encara por um momento. O gelo entre nós está
começando a derreter.
— Você provavelmente deveria gastar menos tempo se
divertindo comigo — diz ela, obviamente confundindo minha
breve pausa com outro jogo —, e mais tempo se concentrando
em fazer a equipe realmente gostar de você.
— Eles gostam de mim — eu digo, escondendo o tom
defensivo em minha voz.
Ela zomba.
— Quando você realmente consegue sair daquele seu
escritório de canto, seus próprios funcionários fogem de você.
Eu não sou tão ruim. Sou?
— Ei, Luca, Avery! Aí estão vocês. — Matthew nos
interrompe, e o familiar ar gelado volta ao cômodo. — Juntem-
se a nós nesta reunião se tiverem tempo.
— Sim, te encontramos lá — eu digo.
— Eu terminarei em um minuto. — O café de Avery
fumega em suas mãos.
Matthew sai da cozinha.
Eu me recuso a concordar com o que foi dito. Tenho certeza
de que a equipe do Oceano Em Ordem gosta de mim. Eles são
o único grupo cujas reuniões recorrentes eu não temo. E não
apenas porque Avery está presente.
— Bem, eu posso deixar alguém em nossa equipe tão
empolgado que pularia da cadeira. Você não pode não gostar
de alguém se essa pessoa te faz feliz!
As palavras a fazem parar, e não tenho certeza do que ela está
pensando. Avery finalmente quebra o breve silêncio.
— A única maneira que você tiraria alguém do seu assento é
para sair correndo pelos corredores, gritando que há um
incêndio.
Bem, isso não faz sentido.
— Eu só acionaria o alarme de incêndio.
Ela revira os olhos para mim.
— Aposto que posso fazer pelo menos uma pessoa se
levantar de alegria nos primeiros dez minutos da nossa reunião.
— Isso é fácil — diz ela. — Eu seria capaz de fazer isso em
três minutos.
— Então, você não deve ter nenhum problema em
concordar com a aposta.
Avery me olha.
— O que eu ganho desta vez?
— Novos tênis de corrida?
— O que há de errado com os que eu tenho?
— Essa é uma pergunta séria?
Os cantos de sua boca ligeiramente se voltam para o chão, e
lamento que minhas palavras tenham saído tão duras. Só estou
preocupado de que seus tênis gastos causem algum tipo de
ferimento.
Se eu pudesse trocar meu linguajar de advogado por algo –
qualquer coisa – mais gentil, eu o faria agora mesmo.
— Eu só quis dizer que eles são horríveis.
Sua carranca se transforma em uma encarada feia.
— Tem um péssimo suporte para o tornozelo. — Eu falho
em esclarecer o que quero dizer.
Se recomponha, Luca.
Ela nunca vai reconsiderar a anulação do nosso acordo se eu
continuar agindo como um idiota.
— Eu quero queimar uma de suas gravatas — diz Avery.
— Sério? — Eu pergunto, mas ela não faz nenhum esforço
para negociar. — Tudo bem, mas se eu ganhar, você me conta
outra coisa legal que pensou sobre mim.
— Três minutos. Uma pessoa pulando da cadeira de tanta
empolgação.
— Estou dentro. — Eu me viro e saio da cozinha.
Quão difícil pode ser deixar essas pessoas empolgadas? Na
semana passada, elas interromperam uma reunião para torcer
por um time esportivo que chegou ao campeonato. Esta é a
primeira vez que me arrependo de não acompanhar os esportes.
Pego meu telefone do bolso e procuro nas manchetes por
qualquer coisa para refrescar minha memória, mas nada se
destaca. Talvez eu devesse ligar para Nico e pedir ajuda.
Eu entro na grande sala de conferências que estamos usando
como escritório compartilhado por enquanto. É espaçoso o
suficiente para que minha equipe e a Plastech trabalhem juntas.
As escrivaninhas se alinham nas janelas do chão ao teto, e uma
mesa de conferência e uma área de estar foram colocadas juntas
no centro da sala.
Avery sugeriu que dar a todos acesso à luz do dia seria mais
produtivo, e ela não estava errada. Eu até peguei a equipe
assistindo ao pôr-do-sol juntos.
— Ei, pessoal — eu digo.
A cabeça de todos se vira para mim, seus rostos pintados
com expressões confusas.
Ok, não foi a reação que eu esperava. Talvez eu seja um pouco
frio.
A Dra. Claremont – ou Hana, como ela insiste em que eu a
chame – está de pé ao lado de Ollie que está sentado. Eles têm
praticamente a mesma altura quando ele está sentado na
cadeira. A voz dela é apressada, recitando informações
enquanto ele digita no teclado.
Robert e Jamie, os gurus da tecnologia, estão olhando
silenciosamente para os dados exibidos em seus computadores,
grandes fones de ouvido decorando suas cabeças. A dupla é
incrivelmente inteligente e, com Robert por perto, Jamie
atenuou seus comentários sarcásticos.
Matthew senta-se à cabeceira da mesa da sala de
conferências. Na verdade, gosto de Matthew; compartilhamos
as mesmas qualidades determinadas e trabalhadoras que não
são fáceis para muitos líderes.
Olho para a hora em um dos computadores. Um minuto se
passou e eu não fiz nenhum deles sorrir.
Ok.
Foco.
Onde Avery se sentaria?
Vou até à área de estar decorada com assentos de veludo
azul. Todo mundo parece amar essas cadeiras, então resolvo
ignorar meu lugar típico na mesa de conferência e me juntar a
esse ponto de encontro dolorosamente informal.
Eu corro minhas mãos pelo meu terno azul royal,
endireitando os vincos. A última vez que me sentei em uma
dessas coisas felpudas, a penugem azul foi transferida para o
meu terno personalizado de Alexander Amosu. Foram
necessárias várias viagens à lavanderia para remover o fiapo. Foi
chato para caralho.
Eu me sento. O crepitar da estática enche o ar e meu corpo
começa a deslizar no tecido macio. Eu planto minhas mãos
firmemente em cada lado das minhas pernas para tentar me
firmar, mas continuo a escorregar do assento de veludo.
O tempo está passando.
— Então, vocês assistiram à partida de beisebol ontem à
noite? — Eu pergunto.
Ollie é o único a responder.
— Você quer dizer, o jogo? Desde quando você acompanha
esportes?
Eu apoio meus calcanhares contra o chão. Meu impecável
terno de lã continua deslizando na cadeira. Posso sentir minha
coluna se condensar em um semicírculo.
— Luca, você está bem? — Hana chama. — O que você está
fazendo aí?
Ok, não vou mais ficar sentado.
Eu pulo da cadeira. Um rastro de eletricidade dança na
ponta dos meus dedos.
Onde está Avery? Ela decidiu perder esta rodada?
— Eu tenho um anúncio. — Minha voz ressoa pela sala.
Todos olham para mim e tento pensar em algo interessante
para compartilhar com eles.
— Estamos recebendo uma nova impressora esta semana.
Vocês ficarão felizes em saber que ela usa papel 100%
compostável.
Isso é o melhor que eu poderia inventar?
— Sr. Navarro, não quero que isso pareça do jeito errado.
— A voz calma de Robert se torna conhecida. — Mas a maioria
dos papéis são compostáveis.
— Espero que você não tenha pago a mais por isso! — Ollie
entra na conversa.
Eu suspiro.
— Eu quis dizer que o papel e a impressora são todos feitos
de materiais reciclados.
A sala se instala em um breve silêncio. Isso não foi bem-
sucedido. Achei que eles ficariam entusiasmados com a opção
sustentável.
— Bom dia! Eu trouxe pão de banana. — A voz de Avery
vem da porta.
Eu não tenho tempo suficiente para virar e encará-la antes
de Ollie sair correndo de seu assento, pegando o prato de suas
mãos. Uma fatia grossa do pão já está a caminho de sua boca.
Avery coloca um pedaço em um guardanapo que trouxe com
ela, então caminha até onde estou.
— Eu tinha um minuto restante. Isso é trapaça — eu digo
em um sussurro baixo, não estou pronto para ceder. Não tinha
como eu ganhar, mas ela poderia não saber disso.
— Não seja um mau perdedor — ela sorri. — Coma uma
fatia. — Ela a estende para mim.
O pão fica lá, uma queda iminente de açúcar ao meio-dia
esperando para acontecer.
Vale a pena. Ela está me oferecendo.
Eu estendo a mão para ela. As pontas de nossos dedos roçam
e uma faísca carregada se transfere entre nós.
— Ai! — Avery grita. Ela puxa o braço para trás, mas
consigo pegar o pão de banana antes que ele caia no chão.
Meu coração afunda imediatamente com a maneira como
ela se afasta do meu toque com tanta força.
— Aquelas malditas cadeiras. — Eu tento disfarçar, mas já
estou ansioso para tocá-la novamente.
— Está tudo bem — diz ela.
— Desculpe.
O redemoinho de seus olhos castanhos traça uma linha do
meu rosto até o pão de banana quase amassado em minha mão.
— Você vai apenas olhar para ele? Porque eu vou pegar
minha oferta de paz de volta.
— Não, não. — Eu puxo minhas mãos para trás
defensivamente.
Tiro o guardanapo do bolo e levo um pedaço à boca.
Imediatamente, minhas papilas gustativas se iluminam com
notas de especiarias, canela e noz-moscada. A doçura é mais
sutil do que o típico pão de banana, cada mordida ficando mais
deliciosa. Tem o gosto de como se tivesse acabado de sair do
forno. Os sabores caseiros trazem um sorriso ao meu rosto.
— Você fez isso? — Eu pergunto.
— Sim.
— É delicioso. — Eu sorrio para ela.
Avery retribui meu sorriso e volta para perto de Ollie. Eles
distribuem fatias para o resto da equipe.
Desde a primeira semana da Plastech nos escritórios da
OPO, notei que cada membro de sua equipe trouxe guloseimas
para o grupo do Oceano Em Ordem. Achei que era apenas um
hábito que eles trouxeram de seu espaço de trabalho
compartilhado e evitei participar do pico de açúcar matinal,
não querendo começar meu dia como uma criança mimada, me
empanturrando de doces.
Mas agora, observo nossa equipe cercar Avery como abelhas
protegendo sua rainha. Cada um de seus rostos se ilumina de
felicidade com seu gesto atencioso, e elogios por suas
habilidades de panificação enchem a sala.
Desta vez, em vez de chamar a atenção deles de volta para a
reunião, eu me junto a eles.
Os dois muffins de mirtilo atualmente nadando na boca do
meu estômago estão prestes a se projetar no chão com desenhos
de concha. Luca trouxe três dúzias desses assados fofos do
mesmo lugar que visitei alguns dias atrás. Ele está tentando usar
guloseimas para conquistar a equipe e o restante da equipe da
OPO.
Isso pode estar funcionando.
Os muffins pareciam uma maneira perfeita de começar o dia
– até agora.
Pelo menos estou na frente e em uma sequência de vitórias,
apesar da recusa de Luca em admitir que estou certa.

A multidão de borboletas nervosas dentro de mim se


transformou em tordos raivosos gritando em meu peito. Eu
respiro fundo para me firmar, então bato meus dedos
levemente contra a porta de vidro.
— O quê? — Uma voz rouca estala.
Minhas mãos banham a maçaneta e entro no luxuoso
escritório de Joanna Benbart. Cada parede transparente é
forrada com prateleiras independentes abarrotadas até a borda
com prêmios e fotografias. Uma vista deslumbrante do Central
Park é revelada pelas janelas. Eu espio e tento encontrar meu
caminho de corrida diário à distância.
A primeira e única Joanna Benbart está sentada em sua
cadeira grande, com o olhar fixo na tela do computador. Olho
para minhas roupas.
Perfeito. Nenhuma bebida derramada ou mancha se juntará
a mim para esta reunião improvisada.
— Oi, Srta. Benbart. É tão bom ver você de novo. Você tem
um minuto? — As palavras saem de mim em um pedido
apressado. Tenho certeza de que tudo o que ela ouviu foi
Benartvervocêdenovotemumminuto.
Saia dessa, Avery.
Ela é apenas outra pessoa.
Não pense nela como a mulher que você idolatrou durante
toda a sua vida.
Minhas feições se contorcem em um nó apertado.
A confiança que eu usava como um distintivo de honra
durante minha entrevista desapareceu, substituída por mais
nervosismo em meu peito.
Não vou contar o número de vezes no mês passado – onze –
que dei uma desculpa para passar por esta parte dos escritórios
da OPO, esperando a oportunidade de encontrar Joanna
sozinha e explicar minha admiração por seu trabalho. Sua
agenda é impossível de prever e, na maioria dos dias, ela mal está
no escritório.
Mas hoje é meu dia de sorte! Uma oportunidade de refazer
minha primeira impressão.
Não estou esperando muito, apenas um pequeno conselho
de carreira ou uma palavra de encorajamento seria ótimo.
Oi. Olá. Sou uma grande fã! Feliz por estar aqui novamente!
Nosso projeto em conjunto está indo bem. Alguma chance de você
estar procurando uma pupila para colocar sob a sua asa?
E pronto.
Eu me obrigo a ir para dentro da sala, mantendo minha
cabeça erguida.
Ao me aproximar da mesa de Joanna, noto que suas feições
enrugadas ainda lembram a mulher mais jovem cujo rosto
brilhante é capturado em artigos de notícias em todo o
escritório. Seu longo cabelo grisalho está preso em uma trança.
Ela não olha para mim, e uma pontada de culpa por
perturbá-la sem hora marcada se instala.
Está tudo bem. Sim, Luca disse que ela estava ocupada há
poucos dias, mas não vou deixá-lo ditar minhas decisões. Este
será apenas um rápido olá.
— Quem é você? — Ela me olha brevemente antes que o
interesse pareça desaparecer de seus olhos azuis.
— Avery Soko. Você me entrevistou para um papel de
desenvolvimento há dois meses.
Meu corpo vibra de excitação. Eu a encaro, incapaz de
formar qualquer outra frase.
Esta é a mulher que organizou marchas contra o
fraturamento hidráulico. Que viveu no Golfo do México após
o maior derramamento de óleo em anos. Ela foi uma das poucas
ativistas que apareceu para ajudar em vez de apenas condenar a
tragédia.
— Olá?! — Joanna fala debochadamente.
Eu saio do meu torpor.
— Eu nunca tive a oportunidade de agradecer o quanto
você me inspirou e à minha carreira.
Minha pequena ambiciosa Ave, meu pai me disse quando
saímos de um protesto ambiental na cidade de Nova Iorque
liderado por Joanna. Você fará grandes coisas neste mundo.
Assim como ela.
Agora eu estou aqui!
Nosso universo compartilhado de promessas para mudar o
mundo juntos. Eu não vou desapontá-lo ou a mim mesma.
— Pensei ter dito a Luca para não contratá-la?
Meu rosto cai.
Dito o quê a Luca? Devo ter ouvido mal.
— O que você...
— Por que você está aqui se foi especificamente dito para
não estar?
— Eu estou aqui porque trabalho na Plastech — eu a
lembro. — Nossas equipes estão colaborando no projeto
Oceano Em Ordem para o Prêmio Ellington. — Meus joelhos
balançam como a brisa do final do verão lá fora.
— Certo, o Prêmio Ellington. — Ela zomba. — Willa e seus
joguinhos mesquinhos, sempre transformando sua filantropia
em uma roleta.
Fico em silêncio, minhas palavras agora perdidas por um
motivo completamente diferente.
— Bem, você vai ficar aí parada? — Ela limpa a garganta. —
Ou você vai voltar ao trabalho, Ava?
— Avery.
— Sim. Avery.
— Hum. Eu só... — Respiro fundo.
Eu posso salvar isso, talvez eu apenas a tenha confundido um
pouco.
— Eu só queria te perguntar como foi quando você foi presa
durante o primeiro protesto do Dia da Ter...
— Eu não tenho tempo para lembranças hoje. Por favor,
vaza.
A pressão se acumula em meu peito. Eu não poderia tê-la
ouvido direito. Seu tom rude deve ser fruto da minha
imaginação.
Talvez ela não tenha tomado seu café?
Joanna acena com a mão para mim, sinalizando para que eu
saia.
Papai nunca me perdoaria se eu desistisse agora. Eu preciso
que ela apenas me ouça!
— Olha, se você puder me dar um segundo...
— Você realmente precisa aprender a lidar melhor com a
rejeição. — A voz de Jo é como veneno.
Uma pontada de mágoa reverbera através de mim, tirando o
ar do meu torso. Imediatamente, sou transportada para
quando Luca me ligou para dar a notícia de que eu não era
adequada para o emprego dos meus sonhos.
— Eu...
— Molly? — Joanna grita por cima de mim.
Sua voz rasga meu choque.
— Molly! — Ela aperta o botão do interfone de seu telefone,
e eu imediatamente entendo isso como minha deixa para sair.
Meu corpo sai daquele escritório horrível, e então eu bato
contra uma parede no corredor. A raiva arde em meus olhos,
mas me recuso a chorar.
As décadas que passei idolatrando Joanna, para quê? Para
que tudo se desfizesse na minha frente, como areia escorrendo
pelos meus dedos. De jeito nenhum essa é a mesma mulher que
modelei minha vida para seguir o exemplo.
Essa casca indiferente.
As noites sem dormir, as longas horas e o vazio em meu peito
de repente me atingem de uma vez. Fecho os olhos, forçando-
os com mais força até que as estrelas atrás das minhas pálpebras
finalmente apaguem a cena trágica em seu escritório.
— Você está tirando uma soneca? — A voz profunda e rica
de Luca me traz de volta a esta realidade.
Me recuso a encarar seu olhar, mas posso sentir sua presença
ao meu redor e, mesmo com os olhos fechados, posso sentir a
intensidade de seu olhar.
— Avery? — Ele diz.
Tenho medo de que, se eu abrir os olhos, quebrarei em
pedaços diante dele como nunca fiz com ninguém além de Lily.
O beijo que trocamos no barco já foi um erro terrível; eu cruzei
uma séria linha profissional. Mas algo sobre Luca força cada
célula do meu corpo a acelerar. Neste momento, a única coisa
que quero é evitar surtar na frente dele porque isso me apavora.
Como se ele fosse finalmente ganhar vantagem sobre mim ou,
pior, Luca fosse me ver por quem eu realmente sou.
Um sentimento desesperado mastiga cada célula do meu
corpo. Lutando para escapar.
Eu preciso ficar sozinha agora.
O banheiro mais próximo fica a apenas alguns passos de
distância, e vou nessa direção. Mas os dedos de Luca circundam
meu pulso, me prendendo no lugar.
— O que há de errado?
— Eu estou bem, Luca.
Eu afasto seu toque de mim, não querendo ele perto. As
palavras de Joanna reabriram uma ferida, e a conhecida
pontada de rejeição retorna. Eu pensei que tinha superado não
ter conseguido o emprego na OPO, mas a memória corta fundo
agora.
Eu olho de volta para os olhos preocupados de Luca.
Eu não quero reviver aquele terrível telefonema. Eu não
quero desmoronar na frente dele.
No momento, só preciso ficar sozinha. Eu fico bem sozinha.
Perfeitamente bem estando sozinha.
Eu começo a me afastar.
— Eu conheço você melhor do que isso agora. — Seus
passos me seguem.
— Este não é outro jogo. — Só mais alguns passos. — Avery,
fale comigo.
Meu coração dispara com a forma como ele diz meu nome
com tanta urgência, mas abro a porta do banheiro, deixando
Luca no corredor, e vou para a pia. Há um martelar no meu
peito quando o tambor furioso da ansiedade explode em mim.
Inspire. Expire.
A tensão em meu peito começa a se acalmar, mas meus
dentes rangem.
Abro a torneira e o som abafa meus pensamentos. Minhas
mãos tremem sob a torneira fresca e corrente.
Por que acabei de invadir o escritório de Jo assim?
O rangido da porta me afasta dos pensamentos espiralando.
Os olhos gentis de Molly aparecem.
— Ave?
Eu me afasto da torneira e a encaro. Ela pega alguns papéis
de um dispensador próximo e seca a umidade em minhas mãos.
— Você quer me dizer o que há de errado? — Sua voz é
suave.
Eu dou um suspiro e a tensão alivia brevemente em minha
caixa torácica dolorida.
— Eu juro, está tudo bem.
Ela me dá um abraço caloroso e eu o aproveito antes de nos
separarmos.
— Eu não quero me intrometer, mas julgando pela explosão
de Jo, ela disse algo para você?
Eu aceno com relutância.
— Certo — Molly diz sinceramente. — Olha, isso não vai
fazer você se sentir muito melhor, mas eu prometo, não é
pessoal.
— Obrigada.
— Jo não chegou onde está sem ser um pouco... — Molly
faz uma pausa. — O trabalho que fazemos aqui nem sempre é
fácil.
Isso é verdade. Muitas vezes olhei para o estado do mundo e
duvidei que algum dia pudesse fazer uma mudança positiva.
Incontáveis vezes em que a morte de meu pai ou a carga de
trabalho sem fim diminuíram meu ânimo.
No entanto, isso nunca me impediu de tentar.
— Eu sei que você está certa. Mas eu admirava Joanna. Eu
só... Eu queria que ela entendesse isso.
— Ave, oh, ela entende — diz ela, tentando me tranquilizar.
— Eu trabalhei com Jo por muitos anos. Há dias bons e ruins.
Eu endireito minha coluna e dou um sorriso.
— Lembre-se, estamos todos tentando concluir este projeto
em quatro meses. — Molly puxa o cabelo solto do meu rosto e
alarga os ombros. — Precisamos jogar tão duro quanto temos
trabalhado!
Ela está certa. Todo mundo precisa extravasar.
— Que tal sairmos todos para beber naquele novo bar na
cobertura na Forty-Fifth? — Molly sugere.
— Deveríamos fazer uma noite de garotas lá. Aquele lugar
tem um código de vestimenta rígido. Os caras odiariam se os
levássemos a algum lugar onde tivessem que usar um blazer.
Talvez devêssemos fazer algo mais relaxado.
— Certo. Esta é realmente a sua especialidade, Ave.
— Precisamos de um evento para aproximar a equipe. — Eu
digo.
É verdade. Preciso voltar a estar perto de pessoas fora do
escritório. Tenho estado tão perdida na névoa da tela do meu
computador, das apresentações e da presença perturbadora de
Luca no escritório.
Eu me encolho com a facilidade com que quase desmoronei
na frente dele.
Preciso criar algum espaço. Eu tenho sido muito amigável.
As pequenas apostas e desafios obviamente estão me fazendo
perder a cabeça. Eu levo meus dedos para minhas têmporas e
massageio a tensão. Não vou me desviar do que é importante:
minha carreira.
Não por causa de Joanna e definitivamente não por causa de
Luca.
Eu só preciso de uma noite para me soltar e recomeçar.
Molly intervém.
— O pessoal da OPO foi jogar boliche no ano passado. Foi
tão divertido.
Por mais que eu adorasse descontar minha frustração
jogando algumas bolas, não quero estragar a manicure que
finalmente fiz com Lily alguns dias atrás. Eu chacoalho meu
cérebro e tento extrair algumas ideias.
— Eu sei. Podemos ir jogar Trivia.
— Eu amo jogar Trivia! — Molly entra na conversa.
— Minha colega de quarto organiza um jogo semanal no
Mademoiselle, e é sempre uma turma divertida.
Lily e Molly se dariam tão bem.
— Ok, eu amo aquele lugar. Todo mundo se veste de forma
tão fofa! — Molly diz. — Desde que possamos danças depois
do jogo, você pode contar comigo.
— Vamos fazer isso.
O Mademoiselle é escondido à vista de todos em uma
movimentada rua do Upper East Side. Os vinte minutos que
passo procurando em suas portas de mogno que rangem quase
me fazem desmaiar de insolação.
Os verões na cidade de Nova Iorque costumam sufocar
você. Entre o clima e minha lista de tarefas transbordando na
OPO, meu peito está em constante estado de constrição.
Entro na taverna moderna e levo apenas alguns segundos
para encontrar ela.
O brilho do seu cabelo loiro espreita através do grupo de
pessoas com quem ela está. Todos riem ao redor de uma grande
mesa sob a luz fraca dos lustres do bar. É uma das coisas que
torna mais fácil se apaixonar por ela, Avery desse jeito, sorrindo
e cercada de pessoas.
Ela parece feliz.
Eu hesito na porta. Eu ainda poderia sair. Eu tenho uma
tonelada de tarefas para colocar em dia. E ela deixou bem claro
que não me queria aqui quando me deixou de fora do convite
para o evento para aproximar a equipe desta noite. Se não fosse
por Molly ter enviado para mim, eu ainda estaria no escritório
trabalhando nessas tarefas.
Não. Eu tenho um propósito esta noite.
Avery tem me evitado desde sua explosão ao sair do
escritório de Joanna na segunda-feira. Talvez ela tenha parado
de jogar qualquer jogo que começou entre nós, não forçando
mais os limites de nossa relação de trabalho.
Sinto falta de suas brincadeiras diárias, mas ela fez um
grande esforço para me evitar por dois dias seguidos.
Uma dor maçante repousa em meu peito. Todo o progresso
que pensei que fizemos parece ter sido apagado.
Mas não pode ter sido. Ainda esta manhã, mesmo na névoa
de sua evitação, Avery me defendeu depois de um dos
comentários mordazes de Jamie. Eu os peguei na cozinha
ontem, Avery reclamando que o café tinha gosto de cimento.
Jamie teve a ótima ideia de comparar a maneira como eu me
portava com o mencionado cimento, mas Avery não riu. Em
vez disso, ela disse:
— Cimento não é tão ruim assim. Dá uma boa base.
Seu sussurro viajou para o corredor onde eu estava, longe da
vista.
Se Avery pretendia fazer uma breve distinção, não tenho
certeza. Mas eu aceito. Eu seria uma boa base. Especialmente
porque estamos no mesmo time.
Por que ela não me deixa provar isso a ela?
Independentemente do que aconteceu no escritório de
Joanna, preciso consertar essa divisão recente entre nós.
Mas que tipo de idiota invade uma noite de Trivia? Esse
idiota.
Meus dedos passam pelo meu cabelo, puxando as mechas
para longe do meu rosto. Vai ser uma longa noite.
Contorno os clientes até ficar atrás de Avery e meus colegas.
— Eu adoraria saber como vocês pretendiam jogar com um
número ímpar de pessoas esta noite.
Eu sou um babaca do caralho. Eu não poderia simplesmente
dizer olá?
Cada um deles gira ao som da minha voz.
Meus olhos se fixam na única pessoa com quem me importo
esta noite. Os dela estão selvagens de surpresa. Minha expressão
favorita. Tenho aprendido que tenho muitas dessas.
Tem o revirar de olhos. Os sorrisos que ela esconde. E,
obviamente, seu olhar determinado.
— Por quê você está aqui? — Avery se vira para Molly, que
não a encara.
— Este é um momento de aproximação de equipe, não é?
Da última vez que verifiquei, deveríamos estar todos no mesmo
time. Além disso, vocês podem não saber disso sobre mim, mas
posso ser a alma da festa.
Ollie se move para o lado, abrindo espaço para mim dentro
do círculo deles.
— Talvez em um funeral — Avery retruca.
Uma mulher aparece ao meu lado, de pé com a roupa mais
escandalosa que já vi. Um gorro de lã está acima de seu cabelo
liso e ébano. A gola de sua blusa de babados se estende por seus
ombros e ela veste um avental de veludo cor de vinho. Todo o
conjunto a faz parecer como se uma pirata e uma pessoa da
época dos anos 20 tivessem um bebê. Sua cabeça encontra o
topo do ombro de Avery. Pelas menções de Avery sobre sua
vida pessoal, ela deve ser sua colega de quarto.
— Oi, você deve ser Lily. — Eu dou a ela um sorriso
educado. Os olhos de Avery disparam para mim.
— Lily Rodin, a cara-metade da Avery. — Ela ri e estende a
mão. Eu dou uma breve aperto de mãos. — Você trabalha com
essa equipe turbulenta aqui?
— Sim. Eu sou Luca Navarro. Prazer em conhecê-la.
— Luca? — Uma nota interrogativa aparece em sua voz.
Lily se vira para Avery enquanto um sorriso aparentemente
diabólico se estende por suas feições. Esta não é a primeira vez
que meu nome surge entre elas.
Eu mordo o interior da minha bochecha, suprimindo um
sorriso.
O rosto de Avery vira de mim para sua colega de quarto.
— Ouça, amigo, se você está jogando conosco, deveria se
juntar a nós para um drink. — A mão imensa de Ollie aperta
meu ombro, seus olhos já um tanto vidrados.
— Nenhuma quantidade de bebida pode relaxar a estátua
de terno — diz Avery.
— Ave está com vontade de brigar esta noite. — Ollie lhe dá
um grande sorriso. — Espero que você esteja no meu time,
moça.
Avery mexe com as mãos. É como se a ansiedade estivesse
presa dentro do corpo dela. Seu habitual ar de confiança e meu
comportamento afável favorito se foram. Quero ajudá-la a
aliviar o que quer que pareça estar a incomodando. Vou dar a
ela luz verde para descontar sua raiva em mim. Especialmente
se isso for trazê-la de volta para mim.
É apenas uma noite. Eu posso relaxar por ela.
— Ollie — eu digo —, vou beber a cerveja mais gelada da
torneira.
Nosso gigante amigável parte, deixando-me com o resto da
equipe turbulenta. Lily me observa atentamente, um sorriso
superexcitado recusando-se a deixar seu rosto. Molly e Michael
puxam conversa enquanto os outros ficam sentados em
silêncio à mesa.
— Então, meu convite se perdeu? — Eu pergunto a Avery.
— Não. — Ela se afasta de mim.
— Huh, bem, estou esperando fazer um curso intensivo
sobre essa coisa de aproximação de equipe hoje à noite. Não
tenho certeza se você notou, mas tendo a ser competitivo por
natureza.
Sua colega de quarto nos observa atentamente.
— Claro, eu notei — Avery morde. — É por isso que um
jogo amigável de perguntas não vai ajudar no seu caso. Você
precisa de uma revisão completa de personalidade.
— Então, finalmente passamos de estranhos para amigos?
— Eu sorrio.
Seus olhos castanhos rolam para trás de sua cabeça.
— Isso não foi o que eu quis dizer. — Ela bufa.
Lily percebe a mudança no ar.
— Tudo bem. Parece que vocês dois precisam de uma
maneira de resolver essa... — Lily olha entre nós — energia. —
Ela caminha até uma coleção de pequenos quadros brancos e
puxa dois da pilha. — Vocês serão os capitães.
— Lil...
— Sem discussão, Avery. Eu sou a deusa da trivia. — Lily
coloca um quadro branco com um marcador preto na frente de
cada um de nós.
— Tudo bem. — Avery pega seu quadro e olha para mim.
Sua expressão aguçada transmite que ela está pronta para me
arrastar pelo chão do bar.
Que os jogos comecem. De novo.
Ollie volta com uma rodada de bebidas e levamos alguns
minutos para dividir os times. Eu queria estar no time de Avery
esta noite, mas talvez a competição nos aproxime. Como
aconteceu no passado.
No grande esquema das coisas, meu time é muito forte.
Tenho dois gênios toleráveis com Robert e Hana, além do
simpático escocês. Ollie tem sido uma diversão bem-vinda para
o escritório, sempre contando piadas e incluindo todo mundo,
até eu.
Os diferentes grupos de trivia se dispersam entre as
pequenas mesas altas, todas agrupadas na frente do bar. Um
grupo de estudantes universitários junta-se à minha esquerda,
mas a verdadeira competição está à minha direita. O espaço
apertado me permite ficar perto o suficiente de Avery para que
as costas da minha mão possam acariciar sua pele. Como se ela
pudesse sentir o calor do meu desejo, ela vira as costas para mim
e se inclina sobre a mesa para sussurrar estratégias com seu
grupo.
— Bem-vindos, pessoal ao Trivia no Mademoiselle. — A
voz de Lily ressoa pelo bar.
Todos nós estamos em frente ao palco improvisado em que
Lily está, e todos levantam seus copos para brindar o início do
jogo.
Avery vira a cabeça para me dar uma última olhada. Eu
sorrio, levantando a boca da minha garrafa para ela.
Sua bela boca forma as palavras que o jogo comece em meio
ao som do tilintar. A emoção competitiva é evidente em suas
feições.
Exatamente o olhar que eu esperava.
Lily nos guia pelas nuances descomplicadas da trivia do bar.
Há um total de onze perguntas, que responderemos em nossos
quadros brancos portáteis em trinta segundos.
— O grupo vencedor será incluído na parede do hall da
fama. — Quando Lily termina seu discurso, as luzes apontam
para uma colagem gigante de polaroids decorando o fundo do
bar. Centenas de fotos contém estranhos rindo ou se
divertindo no Mademoiselle.
— Agora cada grupo precisa escolher um nome. — Lily
instrui.
Ollie pega o quadro branco das minhas mãos.
— Posso não ser o mais rápido a responder, mas escolho
sempre os melhores nomes.
Eu gemo.
— Não, por favor. Da última vez que deixamos você
escolher um nome, você nos convenceu de que Oceano Em
Ordem era legal.
— Primeiro de tudo, Oceano Em Ordem ainda é legal e,
segundo, será melhor do que Time Um ou qualquer outro
nome chato que você escolher.
Não adianta discutir. Tomo um gole da minha bebida.
Tenho certeza de que o que quer que ele esteja rabiscando
será pelo menos espertinho e cheio de zelo.
Ollie levanta o quadro.
— Bem-vindos, Homens do Mar — Lily anuncia,
escrevendo o nome do nosso time no placar.
— Ol — Robert murmura para o amigo —, não acho que
isso esteja inspirando a reação que você queria.
— O que, Robbie? — Ollie diz. Ele gesticula para o time. —
Estamos protegendo o mar e somos homens!
Hana limpa a garganta.
— Bem, além de Hana. Desculpe, moça, não pensei direito,
não é?
Nossa mesa coletivamente solta um suspiro.
— Nós somos os Homens do Mar. Vamos, pessoal!
Homens do Mar. — Ollie começa a nos persuadir a cantar sem
reciprocidade. — Homens do Mar3!
Eu olho para Avery, cujo time está segurando o riso com as
palavras totalmente inapropriadas de Ollie. Sua boca se curva
em um sorriso, malícia brilhando em seu rosto enquanto ela
lentamente levanta seu quadro, revelando o nome de seu
grupo.
Titãs do Lixo.
— É um nome tão criativo. — Ela pisca. — Você não acha,
Navarro?
Minhas bochechas sobem. Cada segundo de sua provocação
é um passo mais perto de voltarmos ao nosso normal. É bom
vê-la feliz, mesmo que seja às minhas custas.
Os braços magros e suaves de Avery erguem-se bem acima
de sua cabeça, mostrando o quadro branco para Lily. O arco de
suas costas se aprofunda, deixando aqueles quadris cheios à

3
Para melhor compreensão do leitor, o nome da equipe durante o jogo foi
traduzido, sendo no original “Sea Men”, que quando entendido de maneira
incorreta, parece “sêmen” (“Semen” no inglês), ou seja, espermatozoide.
mostra para eu ver. Meu pau se agita sob o aperto de minhas
calças, e eu me mexo desconfortavelmente em meu assento.
Eu não posso estar pensando sobre isso agora.
Avery se vira e zomba. Eu sabia que ela escolheu aquela
caneca por um motivo. Ela pesquisou sobre mim. Tento conter
outro sorriso.
Eu gostaria de ter escolhido um nome mais legal do que
Titãs do Lixo. Mas Homens do Mar é muito, muito pior.
Mais alguns nomes de grupos são adicionados ao placar à
medida que o bar fica lotado com mais pessoas. O nome do
meu grupo está cuidadosamente rabiscado entre os Titãs do
Lixo e Cozinheiros de Moluscos – que acabou por ser o grupo de
estudantes universitários sentados à nossa esquerda, todos
rindo de seus trocadilhos.
Eu me reajusto no assento, pronto para começar.
— Primeira pergunta. — A voz de Lily chama a atenção do
bar. — Em um ano civil, quantas mortes envolvem um
elevador?
O sorriso óbvio no rosto de Lily é difícil de perder. Ela dá
uma piscadela enorme para Avery antes dos olhos escuros de
Lily pousar em mim e apertar os olhos com aversão.
Isso resolve minha suspeita anterior. Avery definitivamente
levou meu nome para casa com ela. Imagino as histórias que
podem ter saído de seus belos lábios. Espero que boas.
— Bem, isso não é muito mórbido para começar? — Ollie
grita, e minha atenção se desvia dos pensamentos da mulher
sentada a apenas alguns centímetros de mim.
— Por volta de trinta — Hana diz, segurando o quadro
branco em suas mãos. — Deve ser os elevadores e as escadas
rolantes porque eles estão agrupados no relatório de óbito.
— Hum, como você sabe disso, moça?
— Eu gosto de true crime. — Ela dá de ombros.
— Lembre-me de nunca irritar Hana — eu digo.
Mas a risada que espero do grupo se transforma em um
silêncio rígido quando Hana me lança um olhar furioso.
Robert sutilmente move a cabeça em desaprovação.
Público difícil.
Cozinheiros de Moluscos também devem gostar de fatos
sobre true crime ao ser o único outro grupo que recebeu pontos
nesta rodada.
— Claro, seu grupo acertaria essa pergunta. — Avery
zomba, seu corpo se curvando no ar entre nós. A curva da sua
bunda voluptuosa quase pressiona o topo das minhas coxas.
— Interessante que sua colega de quarto tenha escolhido
uma pergunta sobre elevador para começar — eu aponto. —
Tem certeza que este jogo não é manipulado?
— Pare de confraternizar com a competição, Luca. — Ollie
me puxa para longe de Avery e se coloca entre nós.
Competição.
Essa palavra continua se conectando a ela e a mim,
alimentando as brasas acesas entre nós.
As próximas seis rodadas se arrastam. A maioria das
perguntas são quase impossíveis de adivinhar, mas, felizmente,
nosso time tem Robert e Hana, que são enciclopédias humanas
ambulantes. Eu sabia que eles são brilhantes, mas cada resposta
certa me deixa impressionado.
O placar diz:

Time Swift: III


Titãs do Lixo: III
Homens do Mar: IIII
Cozinheiros de Moluscos: II
Camaradas do Fica-Fica:
II
Reis do Quiz: III
Time das Boas Garotas:
IIII

— Vou pegar outra água — Avery diz para os nossos dois


times depois que Lily avisa um pequeno intervalo. — Alguém
quer uma?
A maioria das pessoas acena com a cabeça em resposta.
— Eu ajudo. — Eu me levanto e a sigo até a máquina de refil
de água.
Estremeço ao ver. Quando foi a última vez que isso foi
suficientemente desinfetado?
— Oh, me desculpe, eu não sabia que você descobriu
recentemente a habilidade de ajudar os outros — ela sussurra,
mas eu ignoro facilmente. Eu sei que ela sabe que é diferente.
Eu provei isso a ela em várias ocasiões. Suas defesas estão de
volta, e esperarei pacientemente a tempestade passar.
O que Joanna disse a ela?
A pergunta fica na ponta da língua, mas não quero estragar
isso.
Em vez disso, digo:
— Só quando se trata de você.
— Certo. — Ela suspira.
— Sua colega de quarto parece legal. — Tento aproveitar os
poucos momentos privados que temos juntos. — Você a
conheceu na cidade?
— Lily é minha melhor amiga — Avery diz. — Nos
conhecemos na Carolina do Norte durante meu último ano na
faculdade. Nós duas queríamos morar aqui, então nos
mudamos depois que meu pai morreu.
Oh. Ela me disse isso antes?
Seu rosto se contrai. Não, acho que ela não queria me
contar.
— Eu não fazia ideia, me desculpe.
— Não se desculpe. — Seus olhos encontram os meus, e
suas palavras saem em uma gagueira incomum. — E-eu não sei
por que eu disse isso. Eu não estava tentando...
— Obrigado por me dizer. — Eu tento sorrir.
Há uma expressão vazia em seus belos olhos, um contraste
perturbador com o brilho que estou acostumado a ver neles. Eu
quero consertar o que quer que esteja fazendo com que ela se
sinta assim. Agora parece ser o pior momento para ficar em
silêncio com a sua confissão, mas tudo que eu quero fazer é
puxá-la em meus braços e abraçá-la. Por enquanto, tento
aceitar qualquer pedaço dela que ela esteja disposta a me dar e
seguir seu ritmo.
— Me deixe pegar isso. — Eu puxo os copos de suas mãos e
começo a enchê-los.
Nenhuma resistência? Os cantos da minha boca caem em
direção ao chão.
Eu a estudo. A tensão parece correr por ela, e ela mexe com
o fecho de metal de seu relógio.
— Então, qual é a nossa aposta? — Eu gentilmente deslizo
meu polegar em seu pulso, fazendo-a voltar a esta realidade.
— Hum? — Nossos olhos se encontram.
— O que estamos apostando desta vez?
Ela pega um copo vazio para encher.
— Sem mais jogos.
— Oh, é porque você não está pronta para perder outra
aposta?
— Eu ganhei todas as nossas apostas! — O fogo retorna aos
olhos dela.
— Eu acho que você vai ter que me lembrar. — Eu persisto
com a necessidade de distraí-la.
Ela me entrega outro copo cheio de água.
— Eu não estou no clima.
— Eu entendo. — Finjo um suspiro exagerado e coloco
meus lábios em sua orelha. — Eu tirei toda a diversão de você
no barco?
Quando me afasto, vejo suas bochechas ficarem vermelhas
como uma taça de merlot.
— Nós concordamos em não falar sobre isso — ela estala.
— Eu gostaria de renegociar os termos do nosso acordo.
— Não.
— Sim.
Avery para o que está fazendo, planta as mãos nos quadris e
se vira para mim.
— O que você quer, Navarro?
Você.
— Se o meu time ganhar o jogo de trivia — eu ofereço —,
eu posso te beijar de novo.
Os olhos de Avery se arregalam e suas sobrancelhas se
erguem. Ela considera o que eu disse.
Se ela concordar com nossa pequena aposta paralela, saberei
que não perdi totalmente o que quer que exista entre nós.
Aqueles belos olhos se fecham em mim, e um canto de sua
boca se levanta ligeiramente.
— E quando o meu time vencer, você nunca mais poderá me
beijar.
Eu não vou perder. O que está em jogo é muito importante.
— Combinado. — Pego quatro dos copos de água cheios e
volto para o meu time antes que ela tenha a chance de mudar
de ideia.
Estes últimos dias foram torturantes sem ela. Não vou
cobrar meus ganhos se ela não quiser, mas uma parte de mim
espera que ela anseie por meus lábios tanto quanto eu anseio
pelos dela.
Quando ela volta para sua mesa, Avery se coloca
estrategicamente longe de mim, usando seu time para criar
espaço entre nós.
Lily retoma o jogo, as perguntas abrangendo uma infinidade
de referências à cultura pop. Os Homens do Mar adivinham
apenas uma das três corretamente, enquanto os outros times
acumulam vários pontos.
— Depois de dez rodadas — Lily se volta para seu placar —
os Titãs do Lixo estão em primeiro lugar com sete pontos. E em
segundo lugar, temos um empate entre Time das Boas Garotas
e Homens do Mar. Ambos com seis pontos.
O time de Avery explode em comemoração. Todos parecem
estar realmente se divertindo.
— Agora, para a pergunta final — Lily diz para todos. —
Nomeie o aluno responsável por colocar o mascote da
Universidade da Carolina do Norte, Rams, no Hall da Fama
Nacional dos Mascotes cinco anos atrás?
— O que diabos? — Ollie pergunta.
— Acho que não sei essa — Robert admite com relutância.
No palco, Lily está encostada no placar, praticamente
dobrada de tanto rir enquanto a confusão toma conta do lugar.
Olho para Avery, que está lançando à colega de quarto um
olhar mortal que só vi direcionado a mim. Transmite um vai se
foder nada sutil.
Faltam quinze segundos.
Pense, Luca. Pense. Eu não posso perder isso. Minhas palmas
suam e tento manter minha respiração superficial.
Espere.
Quando encontrei Avery correndo do lado dela do parque,
ela estava usando aquela camisa folgada da faculdade. Sua
camisa subia um pouco cada vez que seu pé tocava o chão,
fazendo suas coxas tremerem. Meu pau se mexe.
Agora não.
Foco.
Faltam cinco segundos.
O que tinha naquela camisa? A imagem de um carneiro
surge em minha mente.
Deve ser ela.
Arranco o quadro das mãos de Ollie e bato a ponta do
marcador nele.
Três.
Dois.
Eu freneticamente levanto o quadro. Ninguém mais está
mostrando uma resposta.
— Avery Soko está correto. — Lily lê o nome no meu
quadro, lutando para recuperar o fôlego entre as gargalhadas.
— Parabéns, Homens do Mar.
Minha adversária me encara com a boca escancarada.
— Lily, que porra é essa? — Avery olha feio para sua colega
de quarto.
Molly dá um tapa no ombro de Avery de brincadeira.
— Por que você não escreveu seu nome?
— Eu... — Avery gagueja. — É vergonhoso, ok? Achei que
ninguém saberia de um fato tão ridiculamente específico.
A risada de Lily se recusa a diminuir, suas mãos agarrando as
costas de uma cadeira próxima enquanto ela ofega.
Eu limpo o suor da minha testa. Este jogo provoca a mesma
sensação de correr um quilômetro.
— Você está me dizendo que se fantasiou como este
carneiro? — Ollie aponta o telefone para o rosto dela.
A tela exibe um carneiro peludo comicamente grande com
chifres em espiral enormes presos à cabeça. Uma camisa azul-
claro cobre o peito do animal. Os grandes olhos do mascote
estão franzidos em uma expressão zangada, semelhante à que
Avery usa em seu rosto agora.
— Tecnicamente, ele chama-se Rameses — ela contesta. —
Foi divertido. Me deixe em paz.
— Ok, ok, desculpe, Ave. — Ollie guarda o telefone. — Eu
simplesmente não poderia deixar passar.
Lily finalmente se recompõe para concluir o jogo.
— Temos um empate entre os Titãs do Lixo e os Homens
do Mar. O que significa que é hora da rodada relâmpago.
O resto do bar aplaude enquanto a time Cozinheiros de
Moluscos grita sua decepção no palco. O grupo é
imediatamente domado por um garçom que lhes oferece uma
rodada de doses.
Essa é uma tática pacificadora que eu gostaria de tentar no
escritório.
— A rodada relâmpago tem três perguntas. — Lily caminha
até nós e substitui nossos quadros brancos por pequenas sinetas
que você pode encontrar no saguão de um hotel. — O primeiro
grupo a tocar, responde. Se não acertar, o outro time tem a
chance de roubar a vitória. Como eu sabia que vocês viriam
hoje à noite, fiz algumas perguntas sobre o oceano. — Lily pisca
para nós e volta para o palco. — Prontos?
Todos concordamos.
— O que compõe a maior porcentagem de plástico no
oceano? — Lily pergunta.
Bing!
— Redes de pesca. — A mão de Avery ainda está na sineta.
Suas sobrancelhas delicadas se enrugam em um foco
indestrutível.
— Correto. — Lily assente.
Essa é a minha garota.
Eu não deveria torcer para que ela ganhe, mas ver Avery
brilhar novamente pode valer a pena perder a aposta.
Ah, quem eu estou enganando? Eu quero beijá-la para
caralho.
As perguntas continuam.
— Quanto tempo dura a vida útil do Turritopsis dohrnii?
— Turritopsis dohrnii? — Robert olha para Hana.
Minha mão bate na sineta.
— Essa pergunta é uma pegadinha: não tem vida útil porque
é imortal. — Agradeço à aula eletiva de oceanografia que fiz
durante a graduação.
— Isso não pode estar certo. — Diz Avery.
— Está correto! — Lily vira para a última pergunta em suas
mãos. — O próximo ponto vence.
Avery e eu pairamos sobre nossas sinetas. Ela evita fazer
contato visual comigo, mas não posso deixar de notar o rubor
se espalhando por sua nuca. O silêncio no bar é penetrante
enquanto antecipamos nossa próxima pergunta.
Eu perderia todas as apostas que já fiz para ganhar esta.
— A última pergunta é...
A batida no meu peito acelera.
— As ervas marinhas capturam carbono até quantas vezes
mais rápido que as florestas tropicais?
Eu hesito.
Ollie pega a sineta de mim, um sinal sonoro emanando da
palma de sua mão. Avery toca a sineta um milissegundo depois
de Ollie.
— Trinta e cinco vezes mais rápido. — Ollie sorri.
Isso está certo?
Eu olho de Lily para Avery. As mãos de Avery empurram a
mesa, seu banquinho raspando no chão enquanto ela solta um
suspiro.
— Isso mesmo! Os Homens do Mar vencem! Vocês são bons
nadadores!
O lugar irrompe em aplausos e, antes que eu possa reagir,
Ollie envolve seus braços em volta de mim e me levanta do
chão, me balançando de um lado para o outro como se eu não
pesasse nada.
Um flash brilhante preenche o espaço. Observo Lily tirar
uma polaroid de sua câmera e caminhar até a parede preta antes
de fixar a fotografia revelada nela.
No segundo em que as solas dos meus mocassins finalmente
tocam o chão, vejo Avery bebendo uma dose com Molly.
E quando Avery abaixa o copo, ela olha diretamente para
mim.
Meu copo colide com o balcão de mogno.
Eu perdi. Eu perdi.
Eu me sabotei propositalmente? Eu poderia facilmente ter
vencido. Vou me vingar da Lily por causa da pergunta do
mascote.
Eu deveria ter escrito meu nome, mas não queria dar
munição a Luca. Como ele sabia algo tão específico? Aposto
que ele está vasculhando a internet em busca de podres
ridículos que possa usar contra mim em seus jogos.
Aqueles jogos miseráveis, distrativos e viciantes.
Agh!
O novo barman coloca uma nova bebida na minha frente.
Ele vem servindo uma mistura inovadora de coquetéis com
sabores exuberantes de maracujá e morango. Tomo um gole da
bebida vermelha. É como uma sangria de abacaxi, tão
deliciosamente doce, e está me ajudando a refletir sobre todas
as emoções que estão se formando dentro de mim.
O brilho dos candelabros ondula pelo espaço, e uma
pequena bola de discoteca reflete o brilho da luz do teto. Lily
mandou os bartenders tirarem as mesas altas do centro do bar,
criando uma pista de dança improvisada no lugar lotado.
A música vibra bem alto.
Eu deveria me juntar às pessoas dançando e queimar o que
quer que esteja passando por mim.
Ou pelo menos evitar Luca para que ele não possa
reivindicar seu prêmio.
Um beijo.
Talvez ele aceite a alegação de insanidade temporária e me
deixe ir com uma advertência. Ou aquelas mãos vão me puxar
para mais perto dele até que sua boca quente e sedutora colida
com a minha, me obrigando a pagar a dívida?
Eu respiro violentamente. Meu corpo estremece com o
pensamento. Eu estou com febre?
O. Quê. Eu. Estou. Pensando?
Pela primeira vez em alguns dias, minhas veias estão cheias
de algo diferente de ansiedade. E mesmo que meus joelhos
estejam instáveis com a minha necessidade por ele, não posso
beijá-lo. Só vai complicar meus sentimentos já confusos sobre
Joanna e meu trabalho.
Ele só está aqui para me irritar. Provavelmente para
bisbilhotar sobre o encontro com Joanna no outro dia. Ele não
percebeu que não quero falar com ele sobre isso? E o que eu iria
dizer?
Ei, Luca, a mulher que eu admirei durante toda a porra da
minha vida me odeia.
Eu aperto a bebida na minha mão. Não percebi o quanto
tenho ignorado meus sentimentos sobre a rejeição inicial do
emprego. É como uma contusão maçante que se recusa a
cicatrizar.
E agora, depois de toda essa coisa com Jo, tudo parece fresco
novamente. Aprenda a lidar com a rejeição deve ser o slogan da
OPO ou algo assim.
Além disso, por que eu tinha que mencionar meu pai?
Minha cabeça gira um pouco. As quatro bebidas devem
estar finalmente me alcançando.
Bom. Eu preciso sair da minha cabeça.
Molly sai do seu banquinho.
— Ave, vamos dançar!
Seus cachos tipicamente arrumados se espalham pelos
ombros. Preciso me lembrar de pedir a ela para me ensinar a
controlar minhas próprias ondas rebeldes.
— Eu não sei, Molly. — Eu suspiro. Talvez eu só queira
chafurdar aqui com minhas bebidas de frutas.
Eu viro minha cabeça para encarar a pista de dança. O time
Cozinheiros de Moluscos dança enquanto Ollie ri ao redor
deles, seu corpo balançando desajeitadamente ao som da
música. Todos eles têm sorrisos estampados em seus rostos.
Ao contrário de mim, o resto do meu time está encarando a
derrota com calma. Uma inveja venenosa cresce em mim pelo
relaxamento em seus movimentos. Eu quero me lembrar de
uma época em que não era consumida por minha sobrecarga de
trabalho ou decepção.
— Vai ser divertido! — Molly tenta novamente.
Eu provavelmente estaria rígida na pista de dança. Mas não
tão rígida quanto Luca.
Ok. Sem pensar na rigidez de Luca agora.
A última vez que me permiti ir dançar deve ter sido há
alguns meses, quando Lily me arrastou para fora do
apartamento para uma festa improvisada dos anos 70. Hoje em
dia, nenhuma de nós tem tempo para uma noite de garotas,
onde podemos colocar os vestidos glamorosos que
continuamos comprando em brechós e nos libertarmos de
nossas semanas exaustivas.
— Vamos! Vou te ensinar a dançar salsa. Um, dois, três,
quatro. — Molly conta baixinho enquanto caminha em minha
direção, jogando as mãos acima da cabeça e balançando os
quadris enquanto dança.
— Você é uma profissional! — Eu sorrio para Molly.
— Confie em mim, Ave, você tem que vir comigo para
minha próxima aula. — Molly estende os braços em minha
direção, me puxando para fora da cadeira. — A que eu estou
fazendo tem tantos caras solteiros gostosos.
Eu estremeço. Luca está ao meu lado.
Quando ele chegou?
— Me conte mais sobre essas aulas de dança — diz ele. Sua
voz goteja com orgulho arrogante.
Eu não quero lidar com ele agora. Sento-me ereta,
recusando-me a recuar em sua presença. Essa aposta entre nós
nunca deveria ter sido feita.
— Luca, você pode dançar comigo — diz Molly. —
Comecei a fazer aulas de salsa. Eu vou com uma garota da
minha academia. Você pode dizer muito sobre um homem
com base em como eles dançam.
Um toque de aborrecimento me percorre. Ninguém deveria
estar dançando com Luca.
— Essa é definitivamente uma maneira. — Luca lambe os
lábios.
Molly ignora o significado oculto em suas palavras.
— Eu queria convidar você, Luca, mas não acho que você
iria! Às vezes, não tenho certeza se você consegue se divertir.
Ela dá um sorriso provocante para Luca, mas ele permanece
quieto.
Por que ele não está esfregando sua vitória na minha cara?
Eu afasto a pergunta que está formigando em meus lábios.
— Às vezes? — A doçura da minha bebida de fruta ainda
cobre minha língua. — Mais como o tempo todo. Ele é incapaz
de se divertir.
O calor do álcool acalma a tensão reprimida em meu corpo.
Eu tomo outro gole. Minha tensão está pronta para
estourar. Sei que o homem parado ao meu lado estaria mais do
que disposto a me desfazer, mas me recuso a lembrar ao meu
corpo a facilidade com que ele pode desfazer os nós dentro de
mim. Eu não quero que se torne algo que desejo no futuro.
Luca finalmente diz:
— Você sempre me subestima.
— Não se iluda, Navarro, dançar amassaria esse terno.
Ele se aproxima, apenas alguns centímetros entre nós.
— Se minhas roupas te incomodam tanto, é só pedir, que eu
deixo você tirá-las de mim.
A imagem da foto dos Titãs do Lixo pisca na minha cabeça,
me tentando.
— São essas gravatas que me incomodam, parecem cortar o
oxigênio para a sua cabeça.
Luca sorri aquele sorriso irritantemente excitante.
— Gravatas. Ternos. Eu darei tudo para você.
— Não. — Eu bato meu copo contra o balcão de madeira,
o conteúdo derramando em meus dedos. Instintivamente,
pressiono minha língua no líquido pegajoso que cobre minha
pele.
Uma onda de calor atinge meu lado, e eu encaro os olhos
negros de Luca me devorando. Eu puxo meus dedos
lentamente de meus lábios, saboreando a maneira como seu
olhar se recusa a vacilar. Os músculos tensos marcando em sua
mandíbula.
Eu preciso ficar longe dele.
Eu me inclino sobre o balcão.
— Coloca outra música? — Eu grito com Lily, que está
cercada de clientes. — Eu quero dançar!
Ela acena com a cabeça, ignorando seus clientes, e caminha
até os alto-falantes antes de mudar a música para algo mais do
meu gosto.
O baixo da música faz a pista tremer e mais pessoas se
dirigem para a pista de dança. O álcool no meu sistema assume
o controle, cada célula do meu corpo vibrando. Eu preciso me
mover, ser tocada, me liberar.
— Vamos, Molly. — Estico os braços na direção de suas
mãos e ela me conduz para uma dança. Molly abandona seu
implacável passo de salsa e cede ao ritmo de tambores. Meu
corpo se contorce com a música, cada batida rolando meus
quadris.
Um ganido de animação sai dela, fazendo-nos rir.
O ar no bar fica espesso com o calor dos corpos em
movimento. Não tenho certeza de quanto tempo se passou
quando Matthew se junta a nós com outra rodada de bebidas
coloridas. Nós bebemos enquanto continuamos no ritmo da
música.
Gotas de suor aparecem no meu rosto. O peso dentro de
mim evapora através da minha pele. As expressões da minha
equipe estão iluminadas com entusiasmo, provavelmente por
não terem que passar outra noite debruçados sobre o trabalho.
Precisávamos de uma noite assim.
A única pessoa que não consigo encontrar na pista de dança
é Luca. Ele provavelmente saiu no segundo em que terminou
de me atormentar.
Examino o bar e o encontro sentado no local exato em que
o deixei. O comprimento de uma de suas pernas musculosas se
estende à sua frente enquanto o outro pé repousa sobre o meu
banquinho.
Por que ele ainda está aqui?
Seu olhar me atinge.
Meu pescoço vira na direção oposta, certo de que qualquer
irritação em minha expressão se perderá na penumbra.
Eu tento manter minha atenção em meus quadris
balançando com a nova música que enche o bar. Mas minha
curiosidade leva o melhor de mim, e eu me viro para encontrar
Luca no meio da multidão.
Ele finalmente se levanta, permitindo que meus olhos
percorram toda a extensão de seu corpo.
Luca tira o paletó, revelando uma de suas camisas brancas
irritantemente sem vincos que se estende sobre seu peito firme.
Uma luxúria familiar irrompe através de mim, fazendo com
que minhas coxas, já cobertas de suor, se pressionem enquanto
mergulho na pista de dança, meu corpo voltando ao ritmo.
A língua de Luca acaricia seus lábios e suas mãos grandes
alcançam a gravata. Desfazendo gradualmente o nó, ele é
deliberado com cada movimento e o executa em câmera lenta,
como se o tempo tivesse deixado de existir ao nosso redor. O
tecido sedoso verde-floresta agora está solto na borda do balcão.
O fogo entre nós ruge, a chama muito perigosa para eu
deixar sem supervisão, como uma vela acesa em uma casa de
madeira. Seu strip-tease faz minhas palmas se fecharem. Eu
corro minhas mãos pela frente do meu corpo, alisando minha
saia sobre minhas pernas.
Uma mudança no andamento da música finalmente me tira
do transe, e olho em volta para ver se mais alguém está
testemunhando o comportamento extraordinariamente
lascivo de Luca. Mas quando meus olhos procuram por minha
equipe, percebo que eles me deixaram sozinha. Luto para
encontrá-los entre os corpos saltitantes emaranhados. Nervosa,
eu me movo na pista, me perdendo na multidão.
Eu avisto Molly e Matthew juntos em uma dança. Não
quero interromper o que quer que esteja acontecendo entre
eles, mas devo perguntar a ela sobre essa conexão repentina
amanhã.
Ollie ainda está envolto nos corpos mais jovens ao seu redor,
mas ele me dá um aceno antes de pegar uma das mulheres ao
lado dele e girá-la. Seu grito se perde no baixo alto.
Hana, Robert e Jamie estão sentados à toa no bar, presos em
uma conversa intensa.
Meus olhos novamente encontram Luca, que sorri com o
retorno da minha atenção. Não consigo entender a mudança
nele, mas ele exala um tipo diferente de confiança do que estou
acostumada. O vislumbre amargo de sua arrogância é
substituído por algo mais intencional. Mais controlado. Como
o caos envolto em vidro.
O núcleo do meu corpo queima com antecipação enquanto
meu interesse se recusa a ceder, e continuo observando-o. De
jeito nenhum ele vai dançar.
Luca desabotoa os punhos da camisa e cuidadosamente
enrola as mangas até os cotovelos, exibindo seus antebraços
musculosos com veias grossas. É o movimento mais inebriante,
mas simples, e eu aperto minha mandíbula.
Eu não posso assistir mais nada disso.
Jogo o rosto para o teto, tentando me perder no ritmo e nas
luzes.
A música muda para algo que não reconheço, mas o tom
pesado do baixo pulsa em meu sangue. Eu tento encontrar o
motivo da mudança repentina na música. Quando finalmente
encontro Lily no alto-falante, seu rosto ostenta um sorriso
gigante quando Luca termina de dizer algo para ela no balcão.
A adrenalina rasga através de mim quando a atenção de
Luca volta para mim, seu olhar atacando meus movimentos
quando ele começa a caminhar em minha direção. Aqueles
antebraços perfeitamente esculpidos estão ao seu lado, e eu
afundo meus dentes em meu lábio inferior, mantendo minha
compostura.
Como seus antebraços são tão sexys?
Eu me mexo na pista de dança, tentando encontrar uma
fuga, mas os corpos em movimento me prendem onde eu
balanço. Meus olhos saltam para Luca, e seu olhar predatório
congela o ar em meus pulmões.
Ele fecha o espaço entre nós. Seus dedos deslizam
suavemente pela pele do meu braço, e todo o meu corpo se
inflama.
O movimento é estimulante e me deixa desejando mais. Não
sei mais se as bebidas são as responsáveis pelo calor no meu
sangue ou se é ele.
— O que você quer? — Consigo dizer.
— Dançar com você. — Eu mal o ouço por causa da música
estrondosa.
— Oh sim, como se você soubesse dan... — Mas antes que
eu possa terminar, suas mãos quentes estão em meus quadris.
Meu corpo fica tenso com o contato repentino, e eu quero
desesperadamente me dissolver sob suas mãos calejadas.
— Isso é ok? — Ele respira em meu ouvido.
Sim. Mais do que ok. Muito mais do que apenas ok. Mas e se
alguém olhar para nós agora?
As mãos do diretor de operações da OPO estão por todo o
meu corpo. Eu olho ao redor do bar. Não quero dar a ninguém
a impressão de que há algo entre nós.
— Eles não se importam, Avery — Luca diz como se
estivesse lendo minha mente novamente. Ele usa os dedos para
inclinar meu queixo de volta para seu rosto.
Eu quero mergulhar naqueles olhos devoradores. Ou eu
quero fugir?
— Eu nunca dancei assim. — Eu tento dar um passo para
trás, mas seu aperto aumenta na minha cintura, pressionando
seu corpo no meu.
— Então me deixe guiar.
— Não. — Eu tento me convencer.
— Me permita.
Procuro em mim outra onda de relutância, mas
simplesmente não consigo lutar contra a sensação segura de seu
abraço familiar. A proposta pode estar contaminada com uma
quantidade esmagadora de riscos. No entanto, o ritmo da
música aumenta e meu corpo embriagado relaxa sob seu
domínio.
Eu encaro seu olhar sensual e abro minha boca para dizer
algo, mas as palavras me faltam. Ele balança a cabeça, me
pedindo para parar, um apelo para compartilharmos esse
momento.
— Apenas confie em mim.
Eu confio.
As rugas ao redor de seus olhos relaxam, me lembrando de
quando estávamos sozinhos no barco.
Deixo suas mãos e pés me guiarem para o ritmo crescente,
minhas sensibilidades me escapando completamente. O espaço
entre nós desaparece como se o bar de repente estivesse vazio e
ninguém mais existisse.
— Eu gosto dessa música — consigo dizer.
— Eu escolhi só para você.
Eu me solto nele quando seus dedos se prendem ao redor do
meu pulso e me giram. Eu nunca teria imaginado que nos
moveríamos juntos tão facilmente. Desde que o conheço,
nossas conversas foram envoltas com uma corrente. Neste
momento, estou finalmente reformulando o quebra-cabeça
que tem sido nós, encaixando as peças. Eu posso sentir o calor
vazando de seu peito contra minhas costas. Meus quadris não
podem evitar de se esfregarem em Luca.
Eu sinto tudo dele. Eu quero – não, eu preciso – de tudo
dele.
— Você está indo tão bem — ele sussurra.
Uma âncora pesada cai em minha barriga, eliminando a
tensão hesitante em meu corpo.
Nosso suor se mistura e Luca me puxa ainda mais para
perto, controlando meus movimentos com facilidade. Cada
centímetro da minha pele exposta está envolvida em seu calor.
Somos duas almas perdidas nas necessidades uma da outra. Os
nervos do meu corpo vibram sob seu toque.
Pela primeira vez em muito tempo, não tenho nada para
dizer a ele. Eu simplesmente quero me aprofundar em nossa
dança.
— Poderia ser assim o tempo todo, Ave. — ele respira no
meu pescoço, e eu sorrio com as palavras. A maneira como ele
diz minha versão favorita do meu nome.
O meu nome.
Não, não, não.
Ele não tem permissão para usar esse nome.
O que eu estou pensando?
Eu me viro, escapando de seu aperto tentador. O suor cobre
os vincos de sua camisa, exibindo cada linha muscular em seu
peito.
Estava tão quente quando chegamos aqui? Posso sentir
minha própria pele coberta de umidade pegajosa.
Eu me empurro para fora de seu alcance e arrasto meu corpo
da pista de dança até Lily, que está preparando bebidas atrás do
balcão, para recolher minhas coisas que estavam sob seu
cuidado.
— Preciso de um pouco de ar — grito para ela por cima da
música. — Te vejo em casa.
Pego minha bolsa e saio pela porta.
A umidade espessa do lado de fora me atinge como uma
tonelada de tijolos. Minha mão vasculha minha bolsa e tropeço
quando pego meu telefone.
O quanto eu bebi?
— O que você está fazendo? — Aquela voz. Aquela voz rica,
hipnotizante e inesquecível vem de trás de mim.
Eu me afasto de Luca, meus saltos batendo na calçada.
Finalmente paro sob o poste de luz que ilumina a rua.
— Ficando longe de você. — Minhas costas se inclinam
contra o metal frio, firmando minha cabeça que está girando.
Quando o solo decidiu se transformar em águas instáveis?
Posso sentir uma onda de ácido no estômago; as bebidas estão
finalmente borbulhando na minha garganta.
— Por quê? Você pode simplesmente parar? — Ele está a
poucos metros de mim, seus ombros erguidos em uma postura
arrogante – tudo bem, mais como protetora.
— Eu vou dizer algo que não quero dizer, Navarro, por
favor. Apenas deixe-me em paz. — Pressiono as palmas das
mãos nos olhos, tentando esfregar a secura severa.
— Não. — Ele paira acima de mim. Eu odeio que haja uma
onda de preocupação em seus olhos. — Não vou a lugar
nenhum porque seu temperamento não me incomoda. Nada
que você diga ou faça me fará ir embora. Eu aguento.
As palavras me fazem sentir como se tivesse entrado em uma
montanha-russa descontrolada e sem cinto de segurança.
Por que eu tenho que cair facilmente nesse poço sem fundo
de raiva? Por quê?
— Estávamos nos divertindo. — Sua voz vem de novo, mais
suave desta vez.
— Não, nós não estávamos — eu minto. — Aquilo foi
incrivelmente nada profissional.
— Não há regras contra nós ficarmos juntos — ele diz, mas
eu me recuso a ceder. Ele só quer receber sua aposta.
— Eu não vou jogar fora todo o meu trabalho duro. Pelo o
quê? Por isso? — Minhas mãos se jogam entre nós. — Para
Joanna usar isso como outra razão do porque eu não pertenço
à OPO?
— O que ela disse para você? — Uma frieza gelada agora
irradia dele.
— Nada.
Ele dá um passo à frente, seu corpo muito mais perto do
meu agora. Eu quero me inclinar para ele. Foda-se a
competição. Foda-se a rivalidade.
Me. Foda. Luca.
Eu sacudo as palavras da minha cabeça.
— Seja o que isso for — diz ele —, não vai afetar nenhum
dos nossos empregos.
Com suas palavras, algo profundo em mim se quebra como
se cada um dos meus ossos tivesse se estilhaçado em meu corpo
flácido. Tudo corre de volta para mim em um tsunami vil. A
maneira como meus joelhos tremiam no escritório de Joanna e
as lágrimas que chorei ao adormecer após o telefonema de
rejeição de Luca. Eu catapulto para dentro da raiva e desânimo
muito familiares que vivem em algum lugar dentro de mim.
Eu me sinto totalmente patética.
— Claro, você saberia disso. Existe um manual da OPO no
seu telefone? — Eu digo defensivamente. Minhas mãos
começam a tremer. — Você revisou todas as suas preciosas
regras antes de fazer sua aposta, para poder reivindicar seu beijo
sem culpa?
Luca se afasta de mim, uma dor inesperada aparecendo em
suas feições.
— Você bebeu demais esta noite.
Risos de pânico me escapam.
— Você está contando?
Ele passa a língua pelos molares, fechando os olhos como se
estivesse com uma dor de dente terrível.
— Você tomou cinco desde que comecei a contar.
Meus olhos se arregalam com sua admissão.
— Vou levar você para casa, Avery.
— Casa? — Eu questiono. — A aposta foi só um beijo,
Navarro.
Um ataque de raiva venenosa volta a me invadir. Deslizando
pelo meu corpo e se transformando em algo podre.
Ele estica o braço direito no poste de luz, elevando-se sobre
mim. Minha respiração fica rasa no meu peito e sinto o cheiro
do álcool se misturando entre nós.
Os lábios de Luca roçam meu pescoço e eu me arqueio em
direção ao seu toque quente. Ele finalmente se aproxima da
minha orelha.
— Vamos esclarecer uma coisa. — Sua voz derrama em
mim. — Quando eu te beijar de novo, você vai se lembrar de
cada maldito segundo disso.
Eu suspiro, mas ele continua, sua mão livre me firmando.
— Eu prometo que cada um de seus gemidos, suas
respirações, sairão de você de bom grado. Porque eu sei que
você me quer tanto quanto eu preciso de você.
Eu inclino meu rosto em direção ao dele, meus lábios se
abrindo ao ver sua boca a apenas alguns centímetros de
distância. Mas ele dá um passo para trás, me deixando no frio
rescaldo do incêndio entre nós. Meu corpo precisa dele, e ele
escolhe me negar.
— Estou me certificando de que você chegue em casa
segura. Agora. Entre. No. Táxi.
Me viro para a rua, sem perceber que um carro, que não me
lembro de ter chamado, está esperando pacientemente que
nossa briga termine.
— Eu não quero ir para casa. — Meu salto bate na calçada.
— Porque quando eu acordar amanhã, terei que me arrastar
para aquele escritório ridículo onde me lembrarei de Joanna a
cada passo.
— Diga-me o que aconteceu com ela. — A voz de Luca é
mais severa do que eu já ouvi antes.
— Pare de fingir que não sabe. Odeio a OPO, odeio Joanna
e odeio...
— Avery, não diga algo que eu sei que você vai se
arrepender. — Sua voz cai outra oitava.
Percebo a hostilidade que estava prestes a explodir de mim.
Estou grata pela interrupção.
— Você realmente precisa lidar melhor com a rejeição. —
Minha garganta está sensível. — Soa familiar?
O trovão estalando dentro de mim me puxa para a
sobriedade. Depois de anos fazendo a coisa certa, tomando as
melhores decisões e então terminando onde estou agora – eu
estava destinada a quebrar.
Mas eu não quero que seja na frente dele.
Lily é minha única rocha. Ela é a única que tem permissão
para me ver assim.
A raiva dentro de mim é tão familiar de quando meu pai
morreu. Foi então que Lily se aproximou de mim, recusando-
se a sair do meu lado. Tentei terminar nossa amizade ficando
brava com ela e atacando a cada chance que tinha. Em vez de
brigar, Lily simplesmente não foi embora. Ela faltou ao
trabalho por uma semana para evitar me deixar sozinha. Ela me
arrastava para caminhar quando eu mal conseguia sentir
minhas pernas.
Ela é a única pessoa que não me deixou. No entanto, Luca
está aqui, recusando-se a ceder à minha explosão.
Eu não estou pronta para entender o que significaria outra
pessoa ficar ao meu lado enquanto eu desmorono. Quero me
concentrar na minha carreira e esperar até a satisfação que
sempre esperei vir do meu trabalho para me estabelecer
totalmente. Ela virá. Eu sei isso.
Luca me arrasta da minha espiral apoplética.
— Falaremos sobre isso pela manhã.
— Não! — Eu grito, a onda final de raiva escapando de
mim. — Luca Navarro e seu terno ridículo sempre dando
ordens. Por que você está realmente aqui?
— Você quer a verdade, Avery? — Luca grita de volta. —
Eu queria contratá-la desde o segundo em que você abriu essa
sua boca linda e destruidora durante a entrevista.
Eu cambaleio para trás com sua confissão.
Seus olhos relaxam um pouco e as rugas tensas em seu rosto
começam a suavizar.
— E quando Joanna me disse que eu não poderia contratá-
la, eu deveria ter insistido mais, não sucumbido a ela como um
covarde. Mas, embora eu sinta muito por ter negado o emprego
que você queria, eu não me arrependo.
Luca hesita e sinto os portões dentro de mim se fechando
diante de seus olhos.
Ele não se arrepende de não ter me contratado?
— Eu passei semanas me perguntando onde errei. — Minha
garganta está tensa. — Dediquei a maior parte da minha vida
adulta trabalhando pela oportunidade na OPO. Como você
pôde?
— Eu não concordei com a decisão dela — ele late. — Mas
estou mais feliz por ter você como minha igual e minha
companheira de equipe do que como outra funcionária
qualquer.
Estou muito focada em Joanna para processar suas últimas
palavras.
— O que levou a decisão dela?
Outra pausa enquanto ele elabora uma resposta.
— Ela pensou que você era muito jovem — Luca finalmente
admite. — Cheia de ideias, não de experiência de vida.
Eu estremeço. A idade nunca foi algo que me deixasse
insegura, mesmo quando era a pessoa mais jovem na sala ao
longo da minha carreira. Isso me deu uma vantagem, mais
ideias e uma perspectiva diferente.
— Eu preparei a papelada para contratá-la no dia seguinte,
mas...
— Você preparou?
— É claro, o que você não está entendendo? — Eu
finalmente noto a expressão de dor em seu rosto. — Você é
brilhante para caralho, Avery. Você me faz querer ser uma
pessoa melhor com seu otimismo implacável.
As palavras acalmam o que quer que estavivesse crescendo
dentro de mim até que o álcool girando em minhas veias
começa a me puxar para outra névoa. Meus pés balançam em
meus saltos, e eu vacilo.
Luca gentilmente estende sua mão para mim, e eu caminho
até ele, envolvendo meus dedos em seu toque suave. Sinto uma
estranha onda de calma tomar conta de mim, um súbito
equilíbrio do terreno. Luca não recua de mim ou me abandona
em minha raiva; ele passa por ela, escalando imprudentemente
minhas paredes. Recusando-se a me deixar sozinha.
— Avery, por favor, entre no carro. — Sua voz rica está
pesada com a demanda.
Eu finalmente concordo, e ele cuidadosamente me guia para
o banco de trás, sua mão livre cobrindo o topo da minha cabeça
enquanto eu tropeço pela porta. Eu me permito sucumbir ao
fato de que talvez eu não seja realmente imune a seus
comandos.
E talvez eu esteja bem com isso.
— Eu concordo com você, Luca — Matthew diz. — Nossa
tecnologia complementar terá um impacto maior do que
nossos projetos individuais.
Estamos sentados no meu escritório, o notebook de
Matthew aberto na minha mesa, seu cabelo em sua bagunça
desgrenhada habitual.
— Parece que Willa sabia o que estava fazendo — eu digo.
— Espero que as dificuldades técnicas da minha parte não
arrisquem o sucesso geral do Oceano Em Ordem.
A preocupação retorna. Cada uma de nossas equipes
conseguiu resolver as falhas na tecnologia de inteligência
artificial da Plastech nas primeiras duas semanas de trabalho
conjunto. Mas o maquinário da OPO ainda apresenta baixo
desempenho em água salgada. Hana explicou que o sal cobre as
engrenagens dos robôs, causando sua deterioração, mas os
cientistas ainda estão testando alternativas.
— Não cabe apenas a OPO resolver. Estamos aqui como um
time.
— Eu aprecio você dizendo isso, Matthew.
— E sei que minha equipe é grata por tudo que vocês
fizeram por nós no último mês. Especialmente nos arrumando
esses novos computadores.
— Não precisa. — Eu rio. — Depois que Ollie derramou
água no teclado de Hana, percebi que toda a equipe precisava
de uma melhoria.
Ele me dá um sorriso gentil. Tenho recebido muitos deles
desde que a Plastech ingressou no escritório, e tem sido um
gesto bem-vindo.
Volto às negociações em questão.
— A proposta de fusão definirá que construiremos robôs do
Oceano Em Ordem adicionais com nosso lucro para podermos
revigorar os projetos anteriores da Plastech juntos. É
importante impactarmos pequenas comunidades que precisam
de nós com urgência.
Esta é a estipulação que propus no contrato de fusão. Minha
própria consciência me pede para reparar o fiasco das
Indústrias Shift. Posso ter devolvido cada centavo que ganhei
por ter dado a eles a oportunidade de destruir o sustento das
pessoas. Mas não foi o suficiente.
Me recuso a ficar de braços cruzados enquanto mais
comunidades precisam de proteção contra pessoas como eles.
Matthew assente.
— Eu mesmo não poderia ter dito de forma melhor.
Esperamos retornar à Ilha Gaya em breve com o dinheiro que
Avery conseguiu antes do projeto Oceano Em Ordem. Só
precisamos finalizar a construção dos robôs.
A menção de seu nome faz meus lábios se curvarem. Desde
que a conheço cada vez mais, ela nunca deixa de me
impressionar.
Nas últimas horas, terminamos de delinear como a Plastech
pode se tornar uma parte permanente da Organização de
Pesquisas Oceânicas. Temos lutado para saber como nossas
equipes vão dividir os lucros do projeto Oceano Em Ordem se
Willa aprovar a doação. A melhor solução é nos reunir sob uma
só entidade, permitindo que o lucro seja repartido entre as áreas
com necessidades mais urgentes.
Matthew não parece se importar em se tornar mais um na
coleção de inovações da OPO, explicando que vender a
tecnologia sempre fez parte de seu plano. Além disso, os planos
de fusão não alteram as operações diárias da Plastech. Se
recebermos a doação e prosseguirmos com a absorção, sua
equipe receberá um aumento generoso em seus contracheques.
Quanto ao trabalho que continuaremos a fazer juntos, as
nossas equipes continuarão focadas no Oceano Em Ordem
após o seu lançamento. Além disso, estarei perto de Avery
todos os dias.
— Me avisa depois sobre o que Joanna pensa sobre o
assunto. — Matthew digita em seu teclado.
Pretendo apresentar a fusão para a revisão de Jo, seguido da
aprovação do conselho ainda esta semana.
— Certamente — eu asseguro a ele. — Apenas se lembre,
temos que manter isso em segredo até que o conselho aprove.
Eles tendem a controlar a maneira como as informações são
distribuídas pela organização.
— Feito. — Ele joga a cadeira para trás, junta suas coisas nos
braços e acena com a cabeça.
Apertamos as mãos para o nosso novo futuro potencial.
Qualquer homem tão dedicado a sua equipe e ideias quanto
Matthew sempre terá minha admiração. Não houve uma única
vez em nossa relação de trabalho que me fez duvidar da nossa
decisão de fusão.
A porta do meu escritório finalmente se fecha e eu solto uma
expiração profunda.
Eu verifico meus e-mails para ver se Avery enviou alguma
atualização para a equipe do Oceano Em Ordem hoje, mas
assim como Matthew explicou quando entrou no escritório,
parece que ela está tirando o dia de folga.
Eu bato meus dedos na minha mesa.
A breve explosão de Avery ontem à noite mexeu com algo
dentro de mim. Suas tentativas de me afastar nada
contribuíram para diminuir minha necessidade de estar perto
dela.
Fico feliz que, quando chegamos ao apartamento dela, ela
parecia sóbria o suficiente para entrar. Eu ansiava por
acompanhá-la escada acima. Para colocá-la na cama com
segurança. Mas ela insistiu que estava bem. Avery apontou para
o último andar e me disse que acenaria quando entrasse em sua
casa. Deixei o taxímetro aumentar até que seu lindo rosto
apareceu na janela.
Eu preciso falar com ela.
Mas primeiro, preciso discutir com Joanna sobre a forma
com que ela fala com as pessoas neste escritório.
No meu antigo escritório de advocacia, eu nunca me
envolvia quando os sócios gritavam com a equipe, mas esta é
Avery. Esta é a minha equipe. Todo mundo aqui é meu colega.
Joanna não pode mais tratar as pessoas com tanto desdém.
Ping!
O som familiar das minhas notificações intermináveis
preenche a sala, me distraindo. Eu a abro.
Um e-mail de Kora preenche a tela. Levo um minuto para
examinar o conteúdo, sem acreditar na mensagem. Eu leio de
novo. E de novo.
Isso não pode estar certo.
Há uma enorme discrepância entre as demonstrações
financeiras que Joanna forneceu ao Conselho e os números
reconciliados que Kora reuniu.
Eu clico em “Imprimir e-mail” e começo a ler os destaques
de suas descobertas. As coisas não se encaixam há muito tempo.
Como alguém poderia perder isso?
— Que porra é essa? — Eu despejo toda a minha força para
bater na mesa.
Eu não me arrisquei, desisti da carreira de advogado e me
comprometi a salvar os oceanos deste planeta para acabar sem
emprego em seis meses.
O caso do derramamento de óleo já tentou destruir minha
consciência. Não posso estar envolvido ou ser responsabilizado
por atividades fraudulentas.
Os meses de segredo, mentiras e distância de Joanna
começam a fazer sentido. O tom amargo da traição se instala e
minha coluna se endireita. Este trabalho que tenho feito aqui
tem significado mais para mim a cada dia que passa. Não vou
deixar que as mentiras de Joanna tirem isso de mim.
Pego os papéis e abro a porta do meu escritório.
Funcionários da OPO saem do meu caminho. Cada passo
dos meus sapatos oxfords com sola de couro ecoa pelos
corredores.
Eu irrompo ao entrar no escritório de Joanna.
— Nós precisamos conversar.
O olhar implacável de Joanna pousa em mim, a ira em suas
feições que provavelmente imitam as minhas.
— Eu te ligo depois — ela diz para alguém em seu telefone
antes de desligar a ligação. — O que diabos há de errado com
você, Luca? — Joanna se levanta de sua cadeira. — Você não
pode invadir meu escritório quando estou ocupada.
— Você esteve ocupada o tempo todo em que estive aqui.
— Eu jogo os relatórios de Kora em sua mesa. — Você disse a
todos para não se preocuparem que a OPO tinha dinheiro.
Bem, Joanna, o balanço mostra que não temos nenhuma porra
de dinheiro!
As olheiras que contornam os olhos de Joanna são
profundas, fazendo parecer que ela não teve o luxo de um bom
sono em anos.
— Eu não tenho tempo para isso. — Seus olhos voam para
os documentos em cima de sua mesa já lotada. — A coragem de
você invadir aqui e...
— As demonstrações financeiras que você mostrou ao
conselho são cheias de merda. — Eu não me contenho. — O
fluxo de caixa que você falsamente disse que temos está
vinculado a uma conta caucionada para um projeto real, e os
fundos reais que temos disponíveis cobrirão apenas nossas
despesas operacionais pelos próximos seis meses, antes de
começarmos a demitir pessoas.
A indignação corrói minha compostura. Minhas mãos
apertam ao meu lado. Meu estômago revira violentamente e
um aperto toma conta do meu peito. Estou sufocado para
caralho.
— Como você ousa? — Joanna grita de volta, as veias do
pescoço queimando. — OPO é a minha empresa! Eu construí
ela do chão! Eu a criei com a pura força da minha vontade. Só
eu sei o que é certo, Luca.
— Não, Jo. Você não pode me dispensar de novo.
Eu ando de um lado para o outro na frente de sua mesa.
Como ela ousa tentar varrer isso para debaixo do tapete.
— Você mal está aqui, desrespeita os nossos funcionários e
está cometendo fraude! Você esqueceu que sou o diretor de
operações desta organização?
Joanna fica em um silêncio rígido. Por todas as suas falhas
recentes, não posso deixar de examinar os prêmios e
homenagens que enchem as suas prateleiras.
Um ressentimento amargo persiste em meu paladar
enquanto minha consideração por Joanna se desfaz.
— Estou lhe dando a cortesia de trazer isso até você antes de
ir ao Conselho, pelo resto de respeito que tenho pelo que você
se comprometeu com esta empresa.
— Você não entende...
— Você não merece mais a confiança desta organização.
Minha voz finalmente se estabiliza, encontrando
tranquilidade nos fatos. Não deixarei de fazer a coisa certa desta
vez. Eu não vou foder com isso. A OPO é o legado de Joanna,
mas salvar a empresa de implodir será o meu.
— Você terminou? — Joanna finalmente se senta. — Por
que você não se senta para podermos discutir isso como adultos
civilizados, em vez de criar uma cena para todo o escritório?
Um grupo de pessoas se reuniu em torno da mesa de Molly,
nos observando. Elas percebem meu olhar e fogem. Essas
malditas paredes precisam ser à prova de som.
Eu abaixo minha voz.
— Eu não estou interessado em ouvir você falar para tirar o
seu da reta. — Eu me viro para sair de seu escritório. — Minha
decisão foi tomada.
— Por sessenta anos, eu transformei esta organização em
uma das agências de conservação mais conceituadas do mundo.
Eu estava protestando nos degraus do Capitólio enquanto
meus colegas iam a bailes. Passei anos e anos da minha vida me
dedicando a esta causa. Eu aproveitei cada uma das conexões de
meu pai pelas costas dele e me recusei a aceitar seu dinheiro
frutos de capital privado. Arrecadei fundos para mudanças e
forcei a existência de projetos que poderiam causar um impacto
duradouro. Você sabe o que rendeu todo esse trabalho e
sacrifício, Luca?
Eu paro na porta, querendo saber a resposta.
— O quê?
— Absolutamente porra nenhuma. O mundo está pior do
que quando comecei, e tudo o que me resta é a solidão que me
assombra a cada noite cansativa. Enquanto o peso desta... —
suas mãos disparam diante dela — exaustão desgastante me
esmaga. Desistir da minha vida, do meu desejo de ter uma
família e das minhas amizades significa que tudo isso é meu.
Não do Conselho. Não é seu. Você acha que invadir aqui vai
fazer o quê? Salvar esta preciosa Terra?
O cinismo escorre em suas palavras.
— Desculpe ter que dizer isso a você, Luca, mas se eu não
pude consertar isso, não há como um advogado insípido como
você conseguir.
Não. Ela não pode ditar o que posso ou não controlar. Não
dessa vez.
Ela tem todo o dinheiro, todas as conexões do mundo e
perdeu o controle. Ela perdeu de vista o que é importante.
— Como você pôde deixar isso ficar tão ruim? — Eu
finalmente pergunto a ela.
Ela parece resignada.
— Eu cravei minhas garras em cada dólar que entrava e saía.
Mas as coisas avançaram rápido demais e a OPO cresceu rápido
demais. Eu não podia confiar em ninguém para acompanhar o
ritmo. Eu conheço o fluxo da minha organização melhor do
que ninguém.
Não tenho certeza se ela está tentando convencer a mim ou
a si mesma, ou a ambos. Outra onda de irritação me invade. Ela
não fez nada desse trabalho sozinha. Em vez disso, ela tem a
coragem de levar o crédito por tudo que a OPO realizou
durante sua existência. Joanna pode ser o rosto desta
organização, as ideias, a motivação, mas e todo o pessoal?
Não é como se Joanna estivesse por perto para vigiar o fluxo
diário das coisas. Não é como se ela viajasse para visitar projetos
existentes.
Aborrecimento queima em mim com seus pontos de vista
egoístas. Passei mais de três meses organizando seus
contratempos operacionais e fazendo com que as equipes se
responsabilizassem por seu trabalho; eu estou reconstruindo
toda uma infraestrutura, pelo amor de Deus. No entanto, ela
está sentada aqui, clamando ter realizado tudo sozinha.
— E eu sei o que você está pensando — ela continua. — Que
tudo teria sido diferente se eu não tivesse decidido escalar esta
montanha impossível sozinha. Mas você está errado. Eu não
falhei por causa de minhas próprias ações. Eu falhei porque
ninguém se importa. Porque não importa o quanto você
consiga que o pessoal da base faça, empresas como as que você
costumava representar irão eliminar anos de progresso.
A verdade se espalha entre nós, puxando a culpa silenciosa
que venho carregando.
A postura de Joanna é forte, mas há apenas raiva em seu
olhar despedaçado. A mulher diante de mim lutou a vida
inteira por uma coisa, e esse esforço árduo a está quebrando.
Ela está tão preocupada com o impacto que causa, com o
macro objetivo geral de seus sonhos, que esqueceu que as
pessoas se importam. Todo mundo aqui se importa. Eu me
importo.
— Eu entendo, Jo, mas apesar de tudo, ainda preciso
informar o Conselho.
É a coisa certa a fazer, para que eu possa lidar com esse
desastre que ela trouxe sobre nós.
— Você pode contar ao Conselho — diz ela —, mas eles
removerão nós dois imediatamente. Então virá o
desmantelamento imediato da minha organização. O
Conselho acredita na prosperidade e, entre o belo dinheiro que
custou para contratá-lo e o custo de manutenção ativa de
nossos muitos projetos, seria mais barato vender cada
pedacinho da OPO do que ergue-lá novamente.
Isso não pode ser verdade.
— Não faça isso comigo, Joanna. — Meus dedos
massageiam minhas têmporas. — Os ossos desta empresa são as
pessoas que trabalham aqui. Se o Conselho cortar o
financiamento, centenas de pessoas perderão seus empregos.
Seus meios de subsistência.
— O Conselho não se importa.
Como uma empresa focada na conservação pode não se
importar com as pessoas cujas vidas ela impacta? É sempre
sobre o dinheiro?
Minha espinha enrijece e o remorso se infiltra em mim.
— Você deveria ter me contado. Eu poderia ter ajudado
você a consertar isso muito antes.
— Não — ela morde. — As pessoas simplesmente não se
importam mais.
— Elas se importam, Joanna — eu digo. — Cada pessoa
aqui, inclusive eu, se dedicou a você. Confiou em você.
— E nenhum de vocês pode realmente ajudar.
Nós olhamos um para o outro. As palavras ficam no ar.
Como ela ousa nos culpar por seus fracassos. Ela não
compareceu a nenhuma reunião sobre o projeto Oceano Em
Ordem. Ela não queria ter nenhuma relação com isso ou
qualquer pessoa da equipe.
Nós não precisamos dela.
Uma resolução começa a se formar na minha língua. Eu
finalmente faço o meu caminho para ficar em frente a ela, e
minhas mãos se apoiam em sua mesa.
— Isso é o que precisa acontecer — eu começo. — A partir
do segundo em que eu deixar seu escritório, você fará as malas
e sairá de licença. Talvez a distância te ajude a perceber que o
impacto que temos criado aqui é real. Não apenas o trabalho
que você fez, mas o trabalho que todos nós fizemos.
A cabeça de Joanna balança imediatamente, mas levanto a
palma da mão para silenciá-la.
— Eu assumirei suas reuniões. Garantirei o Prêmio
Ellington. O projeto Oceano Em Ordem no qual estamos
trabalhando com a Plastech é revolucionário, e os fundos que
ele irá gerar podem nos manter à tona enquanto eu descubro
uma maneira de manter todos os nossos programas vivos.
Vai funcionar. Tem que funcionar. Há muitas pessoas
contando comigo agora.
— E por que você acha que estou disposta a entregar as
rédeas da minha empresa para você?
Eu a encaro sem expressão.
— Porque, Joanna, você não tem outra escolha se quiser que
o legado que construiu sobreviva.
Ela não se importa com dinheiro ou com o meio ambiente.
Ela se preocupa com seu legado. Ela pode ter perdido as
esperanças, mas uma pequena parte dela deve querer deixar sua
empresa com uma boa lembrança.
Joanna fica em silêncio, me considerando. Seus olhos me
avaliam intensamente como se esta fosse a primeira vez que ela
me visse. Um lampejo quase imperceptível do que eu só posso
supor ser alívio passa por seu rosto.
— Você só vai afundar a OPO ainda mais fundo no chão.
— Uma coisa que você deveria ter dedicado tempo para
aprender sobre mim, Jo, é que eu não falho.
Pela primeira vez em anos, eu tirei o dia de folga do trabalho.
Depois da implosão de Joanna ontem, precisei de algum tempo
para pensar nos próximos passos.
Ou pelo menos tentar.
Além disso, como eu poderia ter entrado na empresa hoje e
encarado todo mundo quando seus empregos estão em jogo?
Eu continuo andando pelo meu apartamento.
Tudo depende da concessão do Prêmio para o Oceano Em
Ordem. Assim que a doação for alocada, a fusão com a Plastech
poderá ser realizada, e isso pelo menos sustentará nossos
projetos existentes.
Mas isso é se o Conselho aprovar. E se a Plastech desistir?
Temos fluxos de receita tão irregulares, e o modelo de negócios
da OPO depende de nossos investidores para ajudar a apoiar os
projetos em questão.
Por que esse maldito problema com a água salgada ainda não
foi resolvido?
Preciso entrar em contato com Hana novamente e criar um
plano B.
Pego meu telefone e tento digitar uma lista de tarefas. Itens
de tarefas saem de mim, mas a cada nova linha, meu peito se
contrai com mais pânico. Minha respiração fica acelerada.
Pontos de luz cutucam minha visão.
Isso não está ajudando. Eu abandono meu telefone e vou até
o banheiro para tomar banho. A água morna faz pouco para
acalmar meus nervos. Eu me visto, então afundo meu corpo
nos lençóis frios. Boas decisões nunca são tomadas em pânico.
Talvez eu consiga dormir? Me deito, lutando para encontrar
uma posição confortável para aliviar meu estresse.
Nada disso adianta!
Encontro meu telefone entre os lençóis, ansioso para
escapar desse mal-estar, e resolvo enviar uma mensagem de
texto para Nico. Se tem uma pessoa que sabe dar um passo para
trás e relaxar, é ele.
Mas ele está em algum tipo de retiro da empresa no Maine.
É melhor não ser um daqueles lugares ridículos sem telefone.
Eu digito uma mensagem e a apago. Que porra eu vou
perguntar a ele?
Pare de pensar demais. Eu digito a mensagem e clico em
Enviar.

Luca: Oi. Me ajude a relaxar.


Reviro os olhos de vergonha. Que patético. Sou um homem
adulto pedindo conselhos ao irmão mais novo sobre como
relaxar. Mas tempos desesperados exigem medidas
desesperadas.
Um segundo depois, chega uma mensagem.

Nico: Sério?

Luca: Sim.

Nico: Você já tentou transar?

Ele está falando sério?


Uma memória de Avery dançando contra mim inunda
minha cabeça. No momento, eu não preciso transar. Mas eu
quero ela desesperadamente.

Luca: Não é assim que o jogo a longo prazo


funciona.

Eu sinto falta de ficar sozinho com ela.


Mas ela está resolvendo tudo o que precisa e está me
mantendo à distância. Nem sei se ela apareceu para trabalhar
hoje. Seria proveitoso conversar sobre tudo o que aconteceu
com Joanna com alguém que entenda meu desdém por ela.
Espero que a explicação que dei a Avery sobre a decisão de
Joanna de não contratá-la tenha ajudado a resolver parte do
ressentimento que ela carregava. Achei que ela havia superado
a coisa toda, mas depois de ver Joanna em seu elemento
agressivo, posso entender facilmente como a chama da rejeição
queimou dentro de Avery novamente.
Eu me levanto da minha cama, tentando manter minha
mente longe de tudo que está apertando o nó inquietante na
cavidade do meu peito.
Não pode ser tão difícil.
Simplesmente pare.
Pare.
Meus olhos se voltam para o notebook aberto na minha
mesa de cabeceira. A tela mostra a proposta de fusão da OPO e
Plastech.
Meu batimento cardíaco acelera com minhas novas
responsabilidades e meu estômago tem cãibras com o ácido
queimando.
Eu cometi um grande erro?
Não importa agora. Eu não posso voltar atrás.
Joanna enviou um e-mail ao Conselho com uma
transferência de responsabilidade assim que saí de seu
escritório, citando que sua licença entraria em vigor
imediatamente e continuaria indefinidamente.
Eu olho para o meu telefone, ainda desesperado por uma
solução para o estresse crescendo dentro de mim. Eu tento falar
com Nico uma última vez.

Luca: Conselhos reais, por favor.


Eu me jogo de volta nos travesseiros e aguardo a próxima
mensagem de Nico.

Nico: Ok, eu costumo me alongar quando estou


estressado. Faça um pouco de yoga, isso até o
manterá flexível para quando aceitar minha
sugestão anterior ;)

Yoga?
Mas eu odeio alongamento. Correr é a forma que eu
espaireço. A pressão das minhas pernas batendo contra o chão
é o suficiente para me ajudar a relaxar.
Yoga não é como um longo resfriamento? Eu sempre pulo
as posições, preferindo continuar meu dia em vez de passar
quinze minutos contorcendo meus membros em direções
diferentes.
As pernas de quem precisam ficar atrás da cabeça?
Exceto que minha corrida não fez nada para aliviar a tensão
dentro de mim hoje. Tem sido uma atividade cada vez menos
útil ultimamente, especialmente já que Avery está em minha
mente.
Um minuto depois, chega um link com outra mensagem de
Nico.

Nico: Aqui, tente isso. meu tapete de yoga está


em algum lugar do meu quarto.

Nico: Você pode pegar emprestado se


conseguir encontrar
Luca: Sério?

Nico: Apenas tente

Luca: Tudo bem.

Levanto-me para caminhar até o quarto de Nico. Outra


mensagem chega.

Nico: Essa sequência é um bom aquecimento


para qualquer coisa sex...

Eu jogo meu telefone longe antes de ler o resto da mensagem


de Nico.
Por que ele está tão obcecado com a minha vida sexual? Não
faz tanto tempo assim desde que eu estive com alguém!
Depois de vasculhar seu quarto bagunçado em busca de seu
tapete de yoga, finalmente o encontro escondido sob uma pilha
de roupas. Me acomodo na sala, abrindo a borracha azul-
marinho no espaço vazio ao lado das janelas.
Quando foi a última vez que sentei no chão?
Na verdade, é bastante espaçoso. Tenho bastante espaço em
ambos os lados do espaço improvisado para que minha forma
de 1,90m se distribua.
O sol da manhã aquece minha pele. Pego meu telefone para
verificar o nome do vídeo antes de abrir o treino de yoga na
minha TV. O estúdio da instrutora está cheio de plantas. Uma
mulher esguia está sentada no chão, um cachorro malhado de
preto e cinza se juntando a ela.
Eu deveria ter um cachorro para isso?
Ela começa a falar com uma voz calma, instruindo-me a
sentar. Ela me guia por meio de movimentos lentos, e eles fazem
pouco para ajudar minha mente, que ainda está mudando para
a OPO.
Dou cinco minutos e inalo.
Meus membros rígidos doem de frustração enquanto
planto minhas mãos e pés no chão e empurro para uma posição
de cachorro olhando para baixo. Meus tendões e panturrilhas
gritam de tensão, e tenho que manter os joelhos dobrados. O
sangue corre para a minha cabeça e eu me aprofundo no
alongamento, puxando meus músculos rígidos. Talvez eu
realmente devesse fazer mais disso depois das minhas corridas.
Quantas respirações a mais ela vai me dizer para fazer?
Inspirar.
Meus músculos relaxam. O calor da posição estendida
aumenta minha temperatura. Uma gota fria de suor escorre
pela minha testa. Todo o meu foco está no puxão dos meus
ombros e na liberação do meu pescoço. Uma pequena onda de
calma flui por mim. Isso realmente parece bom.
Talvez Nico estivesse certo.
Os vinte minutos restantes passam rapidamente e
terminamos o treino em uma espécie de posição de estrela-do-
mar no tapete. A instrutora diz que deveria me ajudar a
meditar, mas tudo o que está fazendo é me fazer perceber que
preciso aspirar o chão. O silêncio recomeça e minha mente já
está encontrando o caminho para minhas preocupações
anteriores.
Eu tomo outra respiração profunda.
Eu posso fazer isso. Apenas se concentre em sua respiração.
Meu telefone toca, quebrando o silêncio agonizante.
Ah, uma distração.
Pego meu telefone e o pressiono contra o ouvido.
— Se não é o filho pródigo — a voz jovial de Papi vem da
outra linha.
— Ei, Papi, o que está acontecendo?
Saio do tapete de yoga e vou até à cozinha.
— Você primeiro, Luca — ele ri. — E depois eu posso
repreendê-lo por ignorar nossas ligações por uma semana.
— É só trabalho.
— É sempre só o trabalho. Agora me diga. Eu posso ouvir
que algo está errado.
Ou Nico mandou uma mensagem para ele ou ele ainda pode
me ler como um livro a cinco mil quilômetros de distância.
Crescendo, ele poderia farejar uma mentira antes mesmo de
pensarmos em uma. Foi a única desvantagem de crescer com
um advogado hiperconsciente.
Nico e eu nunca tivemos a chance de nos safar de nada,
então ambos aprendemos a discutir de maneiras diferentes.
Nico ficou indiferente e eu me tornei obstinado.
Papi sempre me ajudou a trabalhar com a confusão dentro
da minha cabeça, separando cada um dos meus pensamentos e
encontrando uma razão para eles.
Estou feliz que ele ligou.
— É sobre a OPO. — Percebo que quero a perspectiva dele
sobre a minha situação. — Posso solicitar privilégio de
advogado e cliente dada a sensibilidade da minha situação
atual?
Eu brinco um pouco, mas ele é um sócio renomado em seu
próprio escritório de advocacia e a única pessoa em quem eu
confiaria o que estou prestes a explicar para ele.
— Meu adiantamento é de vinte mil dólares agora.
Eu aprecio sua tentativa de tentar aliviar o clima.
— Vou incluir o cheque no meu próximo cartão de Natal.
Ele ri, e aquele som reconfortante acaba com a ansiedade em
meu peito. Quando a conversa fiada para, tomo isso como
minha deixa para começar.
— O resumo é que a OPO está com problemas. Está ficando
sem dinheiro e já faz um bom tempo — eu digo. — Se a mídia
obtiver a informação de que uma das mais importantes
organizações de conservação está falindo, a reputação da CEO
e, em última análise, a minha própria, estarão em jogo.
— Ok. — Ele considera. — Existe algo mais importante em
jogo do que um frenesi da mídia?
— Sim. — Faço uma pausa, lutando para articular o
problema. — Esforços inteiros de conservação serão destruídos
com a OPO. As pessoas que dependem de mim perderão os
contracheques que alimentam suas famílias. Projetos que
podem mudar vidas, que estão ajudando comunidades em todo
o mundo não terão mais financiamento.
O que também não digo é que a mulher por quem estou me
apaixonando descobrirá que sua equipe não poderá contribuir
com sua parte para proteger o planeta e que fui eu o responsável
por isso. A dor rasga meu peito. Eu falharia com tantas pessoas,
inclusive comigo mesmo.
— O que faz você pensar que tem que fazer isso sozinho?
— Eu sou o único que sabe — eu explico. — E se eu não
conseguir consertar, será como a D&D novamente. O dano
que isso pode causar...
— Luca, pare de se culpar pelo que aconteceu no D&D.
Não tinha como você saber que a corporação estava mentindo
sobre a ramificação da energia solar. No fue tu culpa.
— Sinto que o que quer que eu tente e faça não será
suficiente. — Eu relaxo no balcão da cozinha, a decepção
revestindo minha língua.
— Mijo, você tem que deixar isso para trás. Você se
comprometeu com a OPO agora. Se você vai aceitar o desafio
de salvá-la, não o faça para expiar pecados que não cometeu. E
definitivamente, não faça isso sozinho.
Um silêncio pesado paira sobre a linha enquanto eu
processo suas palavras.
Pela primeira vez na minha carreira, sinto que faço parte de
algo mais significativo e importante. Eu quero salvar a OPO.
Não porque é a coisa certa a fazer, mas porque finalmente sinto
um propósito. E agora que está tudo em aberto, entendo o que
precisa ser feito. Eu posso fazer isso. Eu sei que posso.
— Você se arrepende de ter se tornado advogado? — Nunca
perguntei se ele estava feliz com sua carreira porque ele nunca
falou em querer fazer outra coisa.
— Nunca — diz Papi. — Eu ganho a vida discutindo com
as pessoas, mas quando chego em casa, não deixo a agitação do
escritório me perseguir. ¿Y tú?
— Eu acho que não.
— Então você se arrepende de ter trocado o direito pela
OPO?
— Não — eu digo com sinceridade. — Mas vai dar muito
trabalho.
— Quando isso te parou?
Eu deixo isso se instalar, mas sua voz vem de longe.
— Mami está pegando o telefone.
— Parece que você ainda está trabalhando demais — diz ela.
Lá se vai aquele privilégio de advogado e cliente que me foi
prometido. Eu deveria ter enviado o dinheiro para ele quando
a ligação começou, não que isso a impedisse de ouvir.
— Você me conhece. Eu nunca desacelero.
— Y por eso no estás casado — ela ri.
— Mami...
— Seria tão bom se você pudesse finalmente encontrar
alguém para trazer para casa. A casa fica muito solitária nos fins
de semana com todos os filhos longe. Tal vez si tuviera algunos
nietos.
— Mami!
— Oh, eu sei, trabalho, trabalho, trabalho. Não sei por que
você acha que ter uma carreira significa que você não pode ter
uma namorada. Olhe para o Papi e eu! Por trinta e cinco anos,
administramos nossas agendas lotadas e estamos melhor por
isso.
Ela administra seu próspero escritório de arquitetura e
trabalhou durante muitas manhãs bem cedo e até tarde da noite
em muitos dias.
O relacionamento de meus pais estabelece expectativas
irrealistas para um casamento feliz. São dois lados da mesma
moeda. Cada momento que eles compartilham é abordado
com paixão e ternura.
Não sei ao certo por que as palavras saem de meus lábios,
mas finalmente admito:
— Na verdade, eu conheci alguém.
Eu tiro meu cardigã dos ombros enquanto Ollie e eu descemos
a rua, em busca do novo caminhão de arepa que dizem ter sido
colocado a alguns quarteirões de distância dos escritórios da
OPO. As ruas estão repletas de profissionais correndo na hora
do almoço.
— Você sente falta do espaço de trabalho compartilhado?
— Eu reflito.
— Na verdade, não, estou gostando dos novos escritórios —
diz Ollie. — Luca está certificando-se de que todos os nossos
lanches favoritos sejam reabastecidos!
— Sim. — Eu suspiro. Mas a menção de Luca envia uma
onda de constrangimento através de mim. Ainda me lembro da
minha explosão incomumente vulnerável na frente dele a quase
dez dias atrás. Faz tanto tempo que não o vejo no escritório. A
falta de resolução entre nós começou a me trazer uma pontada
de angústia.
Ollie se vira para mim.
— Por que o grande suspiro, Ave?
— Só sinto falta do trabalho para o qual fui contratada —
admito. — Você sabe, as partes significativas de ser uma chefe
de desenvolvimento. Não apenas passando todo o meu tempo
na frente de um notebook, traduzindo dados em algo que a
equipe de Willa entenderá.
As palavras não ditas anteriormente são finalmente
desembaraçadas e uma leveza entra em meu ser, pois posso
compartilhar alguns dos pensamentos com os quais venho
lutando há semanas.
Ollie reflete:
— Sim, eu te entendo. Passamos tanto tempo do lado de
dentro que comecei a ficar translúcido por falta de sol.
Eu rio.
— Acho que estou passando por um momento difícil.
— Espero que apenas devido ao nosso comprometimento
em tornar o Oceano Em Ordem o melhor possível. — Ollie me
dá um empurrão gentil. — Não por nossa causa, rapazes, mas
porque agora que você está no time, não vamos deixar você sair.
Eu sorrio, e aquele calor familiar volta ao meu peito. Ollie é
como o irmão mais velho que eu sempre quis.
— Eu prometo que não são vocês ou o resto da equipe do
Oceano Em Ordem. — Meus olhos ficam grudados na calçada.
— Estou apenas tendo dificuldade para sentir que o que estou
contribuindo é suficiente.
— Eu te entendo. Honestamente, nem tenho certeza se sei a
extensão do que você está fazendo no dia a dia.
Eu rio.
— Sim, é isso que me preocupa. Tipo, a minha pequena
contribuição com a apresentação realmente causa impacto?
Tento ignorar a ansiedade que me consome.
— Certamente, você está causando impacto, Ave! — Ollie
me interrompe.
— Acho que sim.
— Sem achismos. — Ollie sorri. — O dinheiro que você
levantou já nos deu um dos novos robôs sofisticados que
projetamos. Vamos voltar para a Ilha Gaya em alguns meses por
sua causa.
— Isso é verdade, mas... — Estou animada com o
lançamento, mas parece que algo está faltando.
— Pare de tentar minar seus sentimentos. Apreciamos você
estar na equipe, mesmo sabendo que a Plastech não era sua
primeira escolha.
— Não, Ollie, não é isso — eu digo. — Eu sempre tive essa
ideia de como seria trabalhar na OPO, e agora que estamos
aqui, estou percebendo que o papel que ganhei não é como eu
me imaginava realizando mudanças.
Continuamos nossa caminhada, e a sensação de sangue
correndo pelas minhas pernas é maravilhosa. Tenho
negligenciado sair durante o dia e limpar minha cabeça como
costumava fazer na Plastech. O ar fresco parece tão calmante e
resolvo trazer de volta minhas caminhadas rotineiras da tarde.
— Como você esperava que fosse?
— Eu quero sair daquele escritório abafado — admito. —
Sinto falta da adrenalina de convencer alguém a se importar
com algo maior do que eles mesmos. Eu meio que esperava
aprender com Jo, mas isso não deu certo. Acho que não quero
trabalhar atrás de uma mesa pelo resto da vida.
Expliquei brevemente o que aconteceu com Joanna para
minha equipe, embora tenha omitido os detalhes de suas
palavras duras e minha subsequente espiral descendente.
Pensei em não contar a eles sobre isso, mas Matthew
continuou questionando por que eu evitava aquela parte do
escritório. Eu tinha que dar algo a eles.
Eles sabiam o quanto eu queria trabalhar na OPO, então
suas tentativas de me confortar, que envolveram cafés e revirar
os olhos ao ouvirem o nome dela, me fizeram sentir melhor.
Robert, que normalmente evita qualquer confronto,
projetou uma versão digital de Joanna para que eu pudesse
jogar maços de papel virtual nela em um jogo intitulado Ave
Destruidora. Eu amei.
Lição aprendida: não conheça seus ídolos.
Outra lição aprendida: minha equipe é incrível.
— Eu entendo — Ollie me diz. — Passei pela mesma coisa
na minha carreira. Quando me formei na universidade,
trabalhei em uma prestigiada área financeira na cidade. Eles me
forçaram a vestir um terno, me sentaram em um escritório sem
janelas e me pediram para parar de fazer piadas no trabalho.
Você sabe o quanto eu gosto de piadas, Ave. Mas eu fiz isso. E
a cada reunião o gerente da filial me dizia: “Seja sério, Oliver”.
E eu escutava. Eu me moldei na realidade que eles criaram para
mim.
Nunca ouvi essa história antes. Meu Ollie sempre foi Ollie,
nosso chefe de logística, a pessoa que faz todo mundo sorrir nos
piores dias.
— Eu pensei que a miséria esmagadora em minha alma era
normal, parte do trabalho. Afinal, eu tinha o emprego dos
meus sonhos na cidade dos meus sonhos. — Ele faz uma pausa e
eu aperto seu braço, incentivando-o a continuar. — Quando as
pessoas me perguntavam onde eu trabalhava, eu me gabava de
minha importante carreira. Minha importante empresa.
Nunca me ocorreu que a maioria das pessoas não entendia as
quatorze horas de trabalho por dia ou a maneira como eu
interpretei mal a frase trabalhe duro, divirta-se bastante. Eu
passava as minhas noites relaxando sozinho em algum pub
duvidoso.
— Ol, eu não tinha ideia — eu digo.
— Não há necessidade de simpatia, moça. — Ele dá um
daqueles sorrisos insubstituíveis. — Um dia, Matthew veio à
cidade e me contou sobre sua ideia, querendo que eu me
juntasse a ele. Eu disse a ele que não.
— Sério?
Ollie acena com a cabeça.
— Eu me convenci de que não poderia desistir de tudo pelo
que trabalhei. Eu estava seguindo o plano que passei anos
cultivando.
Eu entendo muito o sentimento dele. Tenho lutado para
entender meu próprio propósito. Associei meu valor e
importância com a OPO e como meu pai teria ficado
orgulhoso de mim por trabalhar na empresa de Jo.
Mas, no fim das contas, fico mais feliz fazendo aquilo em
que sou boa – não trabalhando no lugar de maior prestígio.
Não importa para quem ou por que, eu simplesmente quero
fazer as pessoas acreditarem que podemos fazer muito pelo
mundo se todos nos unirmos.
— Então, o que aconteceu depois, Ol?
— Certo dia, entrei no escritório e fui chamado de idiota
sem valor antes de tomar meu primeiro gole de café.
Aparentemente, esqueci de responder todos em um e-mail de
configuração do banco de dados.
Ai. Eu quero gritar com a pessoa que ousou desrespeitar
Ollie por algo tão pequeno.
— Me demiti na hora. Liguei para Mattie logo após entregar
minha demissão, e a Plastech ganhou vida. Se não fosse por ele,
eu estaria perdido na casca que estava me tornando. O que
estou lhe dizendo, moça, é que, no fundo, você sabe o que quer.
Eu considero suas palavras e o impacto semelhante que
Matthew teve em nossas vidas. A gratidão pela minha equipe
maravilhosa volta para mim.
Eu preciso deixar de lado as expectativas sobre onde eu
deveria estar e o que deveria estar fazendo. Tem sido mais fácil
me enterrar em meus objetivos, focando incansavelmente em
minha carreira como uma forma de manter viva a memória de
meu pai. Ainda assim, espero que ele fique orgulhoso de mim,
apesar das minhas circunstâncias atuais. Afinal, a promessa que
fiz silenciosamente ao meu pai não tem nada a ver com onde
trabalho, mas como posso viver uma vida significativa.
Foi fácil criar todas essas regras para mim mesma depois que
ele faleceu ou me debater brevemente com minha própria raiva.
A hesitação da mamãe em participar da minha vida não
facilitou quando precisei buscar a confirmação de que estava
fazendo a coisa certa.
Mas é hora de deixar ir. Deixe de lado o temperamento
devastador dentro de mim e a crença equivocada sobre minha
própria felicidade.
O projeto Oceano Em Ordem ainda tem mais alguns meses
de trabalho e então posso falar com Matthew sobre voltar ao
que amo fazer: arrecadar fundos em vez de passar horas
formatando apresentações de slides. Os cinco milhões da Willa
serão gastos na implementação em escala global. Ainda
precisemos de financiamento para apoiar nossos projetos de
menor impacto.
Eu posso fazer isso.
— Obrigada por compartilhar comigo, Ollie. — Eu envolvo
meus braços em torno dele, mal encaixando metade de seu
corpo em meu abraço.
— Não diga às pessoas que estou todo piegas agora. — Ele
ri.
— Eu não vou. — Eu sorrio para ele. — De qualquer forma,
só temos mais algumas semanas na OPO antes de tentarmos
encontrar nosso próprio escritório.
— Não me lembre, meu estômago e minha bunda amam
muito esse lugar. Os lanches e as cadeiras da OPO são de outro
mundo — diz Ollie. — Você acha que Luca se importaria se eu
roubasse quatro daquelas exuberantes cadeiras de veludo?
— Com a quantidade de tempo que ele está fora do
escritório, duvido que ele notaria.
Eu tentei descobrir como abordar Luca e limpar o ar depois
da minha erupção do lado de fora do Mademoiselle, mas a
presença de Luca foi escassa durante toda a semana. Estou feliz
por revelar tudo, mas me pergunto se isso fará com que ele se
afaste de mim. Meu coração acelera com a expectativa da
reunião em que ele deveria estar hoje. Aquela em que estarei
apresentando.
Será que ele vai aparecer?
Eu endireito meu vestido cor de lavanda favorito que eu
posso ou não ter separado para a ocasião. Sempre foi uma
daquelas peças do meu armário que me faz sentir que posso
conquistar qualquer coisa quando a uso.
Aqui vou eu.

O som de grãos de café sendo moídos faz uma serenata para


todo o andar enquanto Ollie e eu voltamos do almoço. Nossos
narizes seguem o cheiro até a cozinha, onde Luca está de pé,
apertando a mão de outro cavalheiro em um terno todo branco
imaculado. O homem termina de polir a nova máquina de café
expresso que ocupa quase todo o balcão e sai.
Meu coração para ao ver Luca. Aquelas mãos grandes e
cheias de veias estavam em mim alguns dias atrás.
Mãos sempre foram tão sexys?
Eu me encolho um pouco com a memória de gritar com ele
na rua depois do jogo de trivia. Eu tento me recompor e fazer
uma cara corajosa. Da próxima vez que estivermos sozinhos,
pedirei desculpas e podemos voltar às nossas apostas amigáveis
como se nada tivesse mudado.
Olhando mais de perto, não é qualquer máquina de café
expresso, mas a moderna Grinder 9000. Essa monstruosidade
tem uma lista de espera de dez meses e um preço que poderia
pagar o aluguel de um ano de uma casa em minha cidade natal.
A máquina possui acessórios de sabores ilimitados e é capaz de
preparar mais de vinte bebidas de café expresso com uma
infinidade de sabores.
Eu quero gritar de alegria.
— O que está acontecendo? — Eu mal posso conter a
emoção genuína explodindo de mim ao pensar em cafés com
leite ilimitados.
Os olhos de Luca encontram os meus e um sorriso se abre
em seu rosto. Um daqueles sorrisos radiantes e raros que me
fazem sentir ao mesmo tempo, relaxada e cheia de expectativa.
Eu paro ao lado dele. A eletricidade não liberada de nossos
corpos da noite de trivia ainda pesa entre nós.
— Ouvi rumores de que o café na OPO é intolerável —
Luca diz com indiferença —, mas como você parece saber mais
sobre essa engenhoca do que eu, por favor, explique por que
demorei duas semanas para conseguir isso aqui – após cobrar
alguns favores.
Meu peito esquenta, mas tento não me adiantar.
De jeito nenhum ele comprou uma cafeteira só para mim.
Há muitos outros amantes de café neste escritório que farão
grande uso desse aparato mágico.
Mas ele merece um ponto, no entanto. Ok, talvez dois.

Eu inspeciono cada controle e botão da máquina, lendo


todas as diferentes opções na tela.
Quando Luca me entrega um saco de grãos de café de
origem ética, o cheiro de frutas cítricas e terra cobre meus
sentidos. Eu encho o moedor, tonta de antecipação, e tento ter
um momento de normalidade entre nós.
Eu sinto a falta dele.
O quê?
Não.
A empolgação pela máquina deve ter me deixado muito
tonta.
Ollie passa o dedo sobre o aço inoxidável brilhante.
— Talvez eu tenha que começar a beber café de novo só para
poder usar essa coisa.
Leio todos os sabores imagináveis na prateleira recém-
abastecida acima da máquina.
Meus olhos finalmente pousam em menta.
— Quem coloca menta no café?
— Eu não tinha certeza de qual você gostava mais, então
comprei todos — responde Luca.
Eu ofego.
Qual sabor eu mais gosto? Ele. Comprou. Todos. Os.
Sabores?
Quase me belisco, mas saio disso quando Ollie pigarreia. Os
olhos de Luca mudam do meu rosto quente para meu
companheiro.
— Desculpe-me, eu quis dizer que não tinha certeza de
quais sabores o escritório preferiria. — Luca pisca para mim e
minhas entranhas derretem como uma casquinha de sorvete
em um dia de verão escaldante.
Quem é esse homem lindo sorrindo e piscando para mim? O
que ele fez com o irritante que eu estou acostumada?
— Vou alertar a todos sobre esta extraordinária nova adição
à equipe. — Ollie sai da cozinha, deixando Luca e eu com o
novo brinquedo do escritório.
Eu tento ignorar o desejo de envolver meus braços em volta
dele em gratidão. Eu me abstenho de tocá-lo, me concentrando
nos nomes dos sabores que já li duas vezes.
— Qual deles é o seu favorito? — Luca tira a sua caneca do
lava-louças.
— Toffee, mas caramelo vem em segundo lugar.
Luca se inclina ao meu redor enquanto despeja um esguicho
do adoçante de caramelo em sua caneca.
— Isso é suficiente?
— Mais.
O braço musculoso escondido sob o paletó de cor de ébano
injeta outra porção de calda de caramelo na caneca. Minha boca
saliva com o movimento, e seu olhar sombrio me observa. Eu
traço meus olhos sobre seus ombros e até seus lábios.
Não pense nele bombeando nada, Avery.
— Isso está bom para você?
— Muito. — Eu engulo.
— Você está pronta para sua apresentação em algumas
horas? Como está indo com os gráficos que mostram os
objetivos do primeiro lançamento?
Trabalho? Como ele está pensando em trabalho quando
estou pensando em...
Saia dessa.
Na semana passada, quando apresentei, esses eram os slides
que precisavam de mais ajuda. O fato de ele se lembrar faz meus
lábios se abrirem em um sorriso.
— Está indo. Ainda preciso trabalhar no layout dos
números de extração, mas Ollie está me ajudando com isso.
— Bem, se você quiser que outra pessoa dê uma olhada,
pode me enviar antes da nossa reunião. — Ele sorri.
Este é mais um de seus truques?
— Você quer apenas dar uma olhada nos meus slides para
descobrir quais deles dissecar na frente da equipe novamente?
— A última vez que ele revisou minhas anotações, ele me
criticou em nossa reunião em grupo, citando que eu deveria ser
capaz de responder a todas as perguntas sob pressão. Eu fiz isso
perfeitamente, mas ainda assim foi horrível.
— Eu quero ajudar.
Eu o observo enquanto ele coloca sua caneca sob o bico da
máquina e pressiona uma combinação de botões. Uma dose
dupla de café expresso sai da máquina, misturada com leite de
aveia espumado.
— Eu juro — diz ele novamente.
Ele não mencionou nenhuma vez minha explosão de
embriaguez ou meus comentários sobre Jo, ou que eu perdi
nossa aposta da trivia. E agora aparece uma máquina de café
que mencionei semanas atrás.
Não acho que seja uma coincidência. Eu deveria apenas me
desculpar agora.
— Luca, olha... — Eu tento reunir as palavras certas assim
que a máquina termina de preparar a mistura.
Luca pressiona a caneca contra os lábios e dá um gole. Seu
olhar escuro sem fundo pisca para mim com intenção, e eu
observo, minha boca abrindo em expectativa.
— Para você. — Ele me entrega a caneca.
— Ei! — Eu me contorço e franzo o rosto. — Eu pensei que
era para mim. — Mas eu meio que quero sentir o gosto dele.
— Foi só um gole.
Meus braços dobram na minha frente. Eu quero meu próprio
café delicioso.
— Além disso, eu queria provar o gosto que você estava
prestes a ter.
Isso faz. Estou totalmente sem palavras.
Ele está lendo minha mente?
Eu fico boquiaberta com ele, meu batimento cardíaco
cantarolando alto. Seu olhar viaja pelo meu rosto e, em seguida,
pousa bem nos meus lábios. Luca olha penetrantemente, e
meus pensamentos imploram para que ele me coloque neste
balcão agora para que eu possa dar a ele um gostinho.
Você está no escritório. Controle-se!
Mas suas palavras de alguns dias atrás me puxam para a
realidade. Não há regras contra nós sairmos juntos.
É isso que nos tornaríamos? Pessoas que curtem uma a
outra?
A caneca ainda paira no ar entre nós, as palavras Titãs do
Lixo claramente exibidas em negrito.
— Bem, essa não é a sua caneca? — Eu pergunto.
— Eu sempre compartilharei...
— A nova máquina de café criou uma multidão. — A voz
de Ollie reverbera pelo corredor enquanto uma trilha de
pessoas o segue até a cozinha.
Sou grata pela interrupção – caso contrário, minha boca
teria pulado direto da caneca para a de Luca. Eu puxo o vapor
quente de cafeína de suas mãos, nossos dedos se roçando, e
inclino o café com leite para meus lábios.
— Pessoal, o Sr. Navarro não só nos deu esta nova máquina
de café, como se ofereceu para ele mesmo fazer a primeira xícara
de todos — eu anuncio.
Ele olha para mim.
— Eu nunca... — Luca examina meu rosto e desiste de
discutir com um suspiro. — Certo.
Uma fila se forma em frente à máquina, as pessoas já
gritando ordens para ele. Em vez de deixar as pessoas
descobrirem a engenhoca por conta própria, Luca começa a
preparar o primeiro pedido.
Após completar o quinto café com leite, Luca pendura seu
paletó preto em uma cadeira próxima. Sua camisa de botão
azul-claro parece ter sido perfeitamente costurada em seu
corpo, destacando cada curva de seus ombros robustos.
Ele olha para mim – a nitidez de sua mandíbula acentuando
um leve sorriso em suas características encantadoras – e não
posso deixar de me deliciar com esse olhar particular entre nós.
Ele está gostando disso?
Eu nunca teria imaginado que o engravatado sem coração,
que atormentou minha existência apenas alguns meses atrás,
seria pego se misturando com seus colegas de trabalho. Meu
coração se enche de orgulho.
Eu procuro nos armários por uma jarra vazia antes de
finalmente encontrar a ideal.
— Não se esqueçam de deixar uma gorjeta para o COO. —
Eu rio e ando pela cozinha, coletando contribuições.
Ollie tira uma nota de cinco dólares da carteira e caminha
até Luca antes de colocar a nota nova no bolso da calça de Luca.
Ollie sussurra algo para ele, e as sobrancelhas profundas de
Luca de repente franzem em uma linha. Ele parece estar prestes
a despedaçar meu amigo. Mas antes que eu possa intervir, Luca
cai na gargalhada, puxando Ollie para um abraço amigável –
bem, tenho certeza que o meio abraço é amigável para os
padrões de Luca.
Os funcionários da Plastech e da OPO se misturam na
cozinha enquanto nos enchemos de cafeína. Quaisquer nervos
que permanecem em minha barriga se dissipam quando eu
respiro fundo, saboreando o momento que quero que dure
para sempre.
Eu finalmente consigo afastar meus olhos cansados das telas
brilhantes na minha frente.
21:00.
Eu suspiro.
Outra longa noite desde que Joanna partiu, há pouco mais
de uma semana. É o único horário que posso dedicar à minha
carga de trabalho real como diretor de operações sem fazer
malabarismos com as responsabilidades de nível de CEO.
Assumir as reuniões estratégicas de Joanna e me apresentar à
nossa extensa lista de investidores de alto perfil está
consumindo muito tempo. Eu teria conseguido terminar mais
cedo se não tivesse passado algumas horas trabalhando como o
novo barista do escritório.
É melhor o sono vir esta noite.
Desabotoei minha gravata, puxei-a do pescoço e joguei-a na
bolsa antes de desligar o notebook. Faço uma lista mental dos
e-mails que ainda preciso enviar. Mas minha mente está
decidida a permanecer em Avery.
A expressão de alegria em seu rosto ao ver aquela máquina
de café absurda está para sempre gravada em minha memória.
Valeu cada centavo.
Eu não consegui justificar os cinquenta mil dólares como
uma despesa de reforma no escritório, então comprei com meu
próprio salário.
Avery poderia me pedir para torrar os grãos de café à mão, e
eu simplesmente perguntaria por quanto tempo.
O doce café com leite colocou a vitalidade familiar de volta
em seu andar, e ela arrasou objetivamente sua apresentação
durante nosso breve teste individual hoje. Eu sorri com orgulho
com sua articulação impecável do progresso do projeto Oceano
Em Ordem. Não tem como Willa encontrar uma falha em
nossa proposta. Pelo menos eu espero que ela não encontre.
Há algo na confiança e na mente brilhante de Avery que me
transmite um deleite inigualável.
Faz mais de uma semana que não a vejo e me encontro
sentindo a falta dela. O jeito que ela torce o nariz quando não
gosta de alguma coisa ou a risada que dá quando conta uma
piada.
Meu computador apita, mas eu o ignoro, fechando meu
notebook antes de sair do meu escritório. Meu telefone segue
com um zumbido, indicando que outro e-mail chegou.
Quem poderia estar me enviando um e-mail a esta hora?
Pego meu telefone e duas notificações de Avery aparecem
na minha tela.
Minha boca se abre em um sorriso completo.

Avery Soko: Você ainda está no escritório?

Avery Soko: Tudo bem se você não estiver. Eu sei


que é sexta-feira à noite.

Eu tento descobrir a melhor maneira de responder à sua


pergunta auspiciosa.

Luca Navarro: Estou saindo. Você precisava de


algo?

Tudo bem, isso é casual o suficiente. Olho para a tela,


atualizando minha caixa de entrada a cada segundo.
Talvez perguntar se ela precisava de algo não foi transmitido
corretamente. Estou pensando demais em uma mensagem
simples com um nível imperdoável de intensidade.

Avery Soko: Estou presa na sala de conferências.


Você pode, por favor, destrancar a porta? Não
consigo encontrar a minha chave.

Corro pelo corredor e digito um novo e-mail.

Luca Navarro: Você está pedindo minha ajuda.


O mundo está de cabeça para baixo?

O escritório está banhado em escuridão, cada lâmpada


desligada horas atrás, exceto pelo brilho ambiente dos arranha-
céus ao redor. Eu avisto a pequena luz no corredor.
Avery Soko: Esqueça, vou tentar falar com a
recepção de novo.

Dentro da sala de conferências, o rosto de Avery está


levemente iluminado pela luz de seu computador. Passo o
cartão-chave e abro a porta.
— É assim que você inventa seus comentários espertinhos?
— Eu pergunto. — Sozinha em completa escuridão?
— Eu estava com meus fones de ouvido quando o zelador
estava trancando — explica ela. — Mas se você vai esfregar isso
na minha cara, eu prefiro dormir aqui até de manhã.
Eu rio da sugestão boba.
— Vá pegar suas coisas. Tive um longo dia suando por fazer
café com leite adoçado artificialmente.
Eu seguro a porta aberta para ela.
Ela arfa.
— Dê a si mesmo um pouco mais de crédito, Navarro. A
maioria dos sabores que você comprou são naturalmente
adoçados. Só estou surpresa de que você tenha gastado em
coisas boas. Além disso, parecia que você estava se divertindo
muito. — Avery passa por mim e inspiro seu perfume, que
nunca deixa de me lembrar das praias da minha cidade natal. —
E você ganhou incríveis trinta dólares.
— Vou usar para substituir sua calda de toffee quando
acabar no final da semana. — Eu a sigo pelo corredor antes de
parar para acender as luzes.
Um brilho fluorescente em cascata ilumina o belo rosto de
Avery. A cor avelã de seus olhos se inclina para um tom
castanho hoje, e eu amo como as cores mudam um pouco cada
vez que olho para seus olhos. Seu vestido de verão cor de
lavanda a faz parecer que está sendo abraçada pelo pôr-do-sol.
O pequeno tamanho de seus ombros me faz querer puxá-la
para debaixo do meu braço.
Os saltos que ela está usando hoje fazem com que suas
pernas pareçam se esticar por quilômetros. Ela é de alguma
forma a altura perfeita ao meu lado. Alta o suficiente para que
seus lábios pudessem encontrar os meus com uma breve
inclinação de sua cabeça.
— Você sabe, sua cafeteria favorita no final da rua tem uma
vaga aberta se toda essa coisa de COO não funcionar para você.
— Ela ri antes de desaparecer em seu escritório para pegar suas
coisas.
— Sim. — Eu tento rir com ela.
A dura realidade é que talvez eu precise pensar em algumas
alternativas de carreira se salvar a OPO não funcionar. A única
coisa de que tenho certeza é que o direito corporativo não vai
me tentar para voltar para as suas mandíbulas vorazes.
Tento não me concentrar no fato de que não tenho um
plano reserva. Pela primeira vez na minha vida, não tenho um
Plano B. Ou, francamente, um Plano A claro. Não tenho ideia
do que aconteceria se a OPO falhasse.
Eu forço as palavras do meu irmão de volta à minha mente.
Isso pode ser bom para você. Tire uma folga e viaje, se descubra.
Talvez eu pudesse levar Avery a algum lugar?
— Ei, então, posso falar com você? — Ela volta a aparecer,
hesitando na porta. Os cantos de seus lábios carnudos colapsam
ligeiramente, e isso faz com que minha mandíbula se aperte.
— O que há de errado? — Preocupação rasteja sobre mim.
Dou alguns passos em direção a ela, nossos corpos agora
cercados pelo batente da porta.
— Sobre a noite de trivia. — Seus olhos disparam para
baixo. — Só quero pedir desculpas pela forma como agi.
— Você não precisa...
— Sim, eu preciso. Eu estava chateada com Joanna e
descontei isso em você. Eu entro em uma espiral de raiva muito
fácil desde que meu pai faleceu. Ninguém me vê assim há muito
tempo e estou um pouco envergonhada.
— Avery, você não tem nada para se envergonhar.
Uma onda de empatia me percorre. Cada vez que Avery
conta algo sobre o pai, ela se fecha. Me sinto desesperado para
puxá-la em meus braços e aliviar a preocupação que a
constrange. Mas não é minha função arrancar a dor dela.
Quando ela estiver pronta, espero que ela queira compartilhar
o que aconteceu comigo. Na verdade, a maneira como Joanna
me irritou me faz entender como Avery pode sentir tanta fúria
por ela. Ainda não obtive a imagem completa do que foi dito,
mas suas palavras e decepção apenas confirmam o que eu já
presumi. Joanna machucou Avery.
Vou garantir que nunca mais alguém desrespeite ela.
É preciso toda a minha força de vontade para não estender a
mão e segurar sua bochecha rosada com a palma da mão.
Quero que Avery nunca se sinta desconfortável ao falar
comigo. Eu quero ver tudo dela. O bom. O ruim.
Seu olhar encontra o meu, e eu abro um sorriso, que ela
retribui imediatamente. Esse sorriso é minha visão favorita dela
– bem, além de todo aquele revirar de olhos, as encaradas, a
curva curiosa de suas sobrancelhas. Quem eu estou enganando?
Seus olhares sempre foram e sempre serão meus favoritos.
— Ok, obrigada. Estou feliz por limpar o ar e voltar ao
normal. — Ela se vira e fecha a porta do escritório. — Espera, o
que você está fazendo aqui tão tarde?
Avery se inclina contra o vidro e eu imito sua postura.
Ignoramos o fato de estarmos aqui a esta hora da noite. Ela não
parece desejar uma caminhada em direção aos elevadores agora,
e eu sou grato por isso.
— Eu estou sempre aqui a esta hora.
— Sim, mas isso é mais tarde do que o normal. Na verdade,
você esteve ocupado a semana toda ou ficou até tarde da noite.
É por causa da licença de Jo?
Não tenho certeza do que devo dizer a ela.
A OPO pode ter que fechar. Joanna praticamente nos levou
ao chão.
Avery é muito perspicaz e teimosa para seu próprio bem. Ela
me olha com expectativa, aqueles longos braços cruzados sobre
o peito em antecipação.
Eu dou de ombros para sua pergunta, apesar do desejo de
confiar nela.
— Você nunca me disse exatamente por que estava com
raiva de Jo.
— Honestamente, realmente não foi culpa dela. Quero
dizer, sei que ela é sua chefe, então não quero falar mal dela.
Eu aceno para ela continuar.
Os pés de Avery cruzam na frente dela.
— Quando tentei falar com ela, ela não parecia nada com a
pessoa que cresci idolatrando, e foi um pouco decepcionante.
Além disso, ela foi rude para caralho.
Eu rio de sua franqueza.
— Aprendi a mesma coisa nos últimos meses.
Tento acalmar sua inquietação, mas minha frustração com
Joanna se recusa a ceder. Se Jo tivesse contratado Avery, eu teria
alguém a quem recorrer e talvez me ajudar a tirar OPO dessa
confusão financeira.
Aquele olhar curioso retorna aos olhos dela.
— O que você quer dizer?
— Jo provou ser um pouco difícil de trabalhar, só isso. —
Eu suspiro.
— O que há de errado? Você está tendo que fazer o trabalho
dela? — Suas sobrancelhas franzem e preocupação se espalha
por seu rosto.
Ela é tão rápida em se preocupar, e é uma das coisas que
aprendi a respeitar nela.
Avery atacará uma má notícia e exigirá que seja corrigida.
Não importa o tamanho do problema. De alguma forma, ela
conseguiu fazer amizade com a maioria das pessoas da OPO,
não apenas com a equipe do Oceano Em Ordem, e eu a pego
ajudando no escritório, sempre ansiosa para resolver quaisquer
problemas que surjam.
Examino os corredores, confirmando que estamos sozinhos.
Quando vejo que o resto do andar está vazio, me viro para ela.
— Isso tem que ficar entre nós.
Ela acena com a cabeça.
— É claro.
— A OPO está lidando com algumas falhas de
financiamento. Não é nada que eu não possa consertar, mas
estou tendo que dedicar algum tempo extra para descobrir
como nos colocar de volta nos trilhos.
Eu escolho minhas palavras com muito cuidado, não
querendo aumentar sua preocupação com a situação, mas uma
hesitação ainda está dentro de mim. Sei que só trabalhamos
juntos por um mês, mas ela parece ser a única que pode me
entender e me ajudar. Ela olha para mim com preocupação em
suas feições. Posso confiar nela para não falar sobre isso com
ninguém. Certo?
— Isso é... — Seus olhos se arregalam, eu não tenho certeza
do porquê. Eu não deveria ter dito nada.
— Está tudo bem, eu tenho tudo sob controle. Deveríamos
ir embora. Está ficando tarde. — Eu me endireito e me viro para
sair.
Sua mão agarra firmemente meu antebraço antes de eu
começar a andar. Eu me viro para encará-la. Eu poderia ficar
aqui para sempre, na escuridão das paredes de vidro ao nosso
redor.
— Deixe-me ajudar. — Sua voz é severa, focada.
— Você realmente não...
— Olhe, não quero me intrometer, mas tenho me sentido
tão inquieta presa em minha mesa enquanto continuamos
trabalhando no Oceano Em Ordem. Eu prometo que conheço
OPO como a palma da minha mão. Passei horas desenvolvendo
diferentes estratégias e caminhos para financiamento. Posso te
ajudar.
Meu coração se enche com o brilho familiar voltando aos
olhos dela, as engrenagens cheias de possibilidade já rodando
naquele cérebro dela. Sua mão não saiu do meu braço, e eu
quero alcançá-la, fechar meus dedos em torno dos dela.
— Você já tem tanta coisa acontecendo com o Oceano Em
Ordem.
Ela estica o pescoço para trás, as sobrancelhas franzidas.
— Você está duvidando que eu possa ajudar?
— Nem um pouco, mas isso não é sua responsabilidade.
— Minha responsabilidade sempre foi criar impacto. Se a
OPO está tendo problemas financeiros, isso significa que eles
não podem fazer as mudanças necessárias. Seria errado da
minha parte ficar de braços cruzados e deixar você resolver isso
por conta própria. — Ela me dá um sorriso suave, e cada
neurônio em meu cérebro está me dizendo para beijá-la.
— Obrigado, Avery.
— Além disso, estou tão cansada de projetar gráficos o dia
todo. Eu prometo, é um pedido egoísta. Quero arrecadar
fundos, conhecer pessoas e convencê-las de que estamos
fazendo algo bom! — Ela pisca para mim.
É. Não tem jeito. Eu preciso beijá-la agora.
— Eu seria negligente em negar sua ajuda. — Eu
acompanho sua risada.
Os fios emaranhados em minha caixa torácica finalmente se
desfazem. O peso que venho carregando evapora de meus
ombros, pairando no ar ao nosso redor.
Avery me observa, e eu tomo o que parece ser minha
primeira respiração profunda em dias.
— Farei algumas pesquisas e podemos conversar sobre
minhas ideias tomando um de seus famosos café com leite, Sr.
Navarro. Agora, vamos. É muito mais tarde do que o horário
normal de trabalho. — Ela pisca e tira a mão do meu antebraço.
Já sinto falta do toque dela.
Avery caminha pelo corredor e eu a sigo, meus olhos
focados na forma como seu cabelo cai sobre os ombros. Ela se
vira para mim e me dá outro sorriso antes de seguir em frente.
Já me sinto mais leve com a confissão.
— Eu não posso te agradecer o suficiente — eu digo. Mas
tudo que eu quero fazer é cair de joelhos diante dela em
gratidão. Essa mulher nem hesitou quando percebeu que algo
estava errado.
Eu estive envolvido em meu próprio estresse por dias,
tentando descobrir como cuidar disso sozinho, mas aqui estava
ela, a tábua de salvação que eu precisava o tempo todo.
— Fico feliz em ajudar.
Chegamos ao elevador e aperto o botão para chamar até o
nosso andar. Eu gosto do nosso silêncio. Quando o elevador
chega, entro e aperto o botão do primeiro andar. Quando
Avery pisa, um de seus saltos fica preso na fenda entre o chão e
o elevador. Seu corpo cai no meu, e eu a seguro pelos ombros
macios.
— Ahh, é a segunda vez que fico presa nesses saltos. —
Avery me usa como apoio enquanto puxa a perna para fora da
abertura. Seus olhos exasperados encontram os meus, e fico
muito consciente do quanto de seu corpo está envolto em meus
braços.
— Eu pensei que você apenas sentiu saudade de cair nos
meus braços — eu digo, tentando me distrair de sua
proximidade inebriante.
— Talvez você tenha sentido falta de me segurar. — Ela sai
do meu aperto e se move para ficar ao meu lado.
— Mhmm. — Eu levanto minhas sobrancelhas para ela.
As portas se fecham e o elevador começa sua longa descida.
Eu sempre odiei quanto tempo esses elevadores levam para
subir e descer do saguão. Mas agora, gostaria que o tempo
parasse e que pudéssemos ficar presos aqui.
— Sabe, você nunca cobrou — ela diz, evitando meu olhar.
— O quê? — Eu finjo confusão.
Ela revira os olhos e um sorriso surge em seu rosto. Uma de
suas mãos viaja até o rosto e ela passa um dedo pelo lábio. Meu
pau se agita com a memória do meu polegar traçando sobre sua
boca no barco.
— Deixa para lá. — Ela olha de mim e de volta para a porta.
Eu preciso prová-la novamente. Uma necessidade
incontrolável começa a trovejar em minhas veias.
Nem um único dia se passou desde o nosso primeiro beijo
que eu deixei de lembrar como era a sensação dela. Todas as
manhãs, eu me esforcei mais e mais durante minhas corridas,
tentando forçar o desejo por seu beijo para fora do meu corpo.
Não funcionou.
Eu me viro para ela e acaricio o lado de fora de sua
mandíbula com a mão. Seu rosto volta para o meu, a carne de
sua pele ficando rosada.
— Você quer que eu te beije, Avery?
Eu preciso te beijar, Ave.
— Não — ela sussurra.
Essa deve ser a palavra favorita dela para mim. Há uma
pontada de desafio na mistura de bronze e avelã em seus olhos
enquanto ela me observa. Eu me inclino, minha testa a apenas
um curto espaço de tocar a dela. Os cílios de Avery se fecham e
seu queixo se ergue em minha direção. Minha própria boca se
abre, imitando a dela, e eu me aproximo dela, pairando bem ao
seu lado.
Meu corpo está gritando comigo para quebrar a distância
entre nós.
Beije-a. Beije-a!
Eu respiro em seus lábios entreabertos.
— Mentirosa.
Seu rosto fica tenso de perplexidade. Eu não a deixo se
afastar, meus dedos inclinando ligeiramente sua mandíbula, e
pressiono minha boca suavemente em sua bochecha macia e
ardente.
As portas do elevador se abrem. Posso sentir cada célula do
meu corpo gemer em protesto porque nosso tempo aqui foi
interrompido.
Mas a promessa que fiz a ela permanece. Avery não merece
um momento apressado. Quando eu a provar novamente, eu
quero ela por inteira, em cada segundo.
Definitivamente, não foi assim que planejei passar minha noite
de domingo, sentada no topo de uma pilha interminável de
desordem. Aquele beijo – ou devo dizer quase beijo – no
elevador deixou meu corpo inquieto.
Recomponha-se, Ave.
Eu tento voltar meu foco para a tarefa em questão:
encontrar mais possíveis investidores.
Meu calendário para as próximas duas semanas está lotado
de pistas e apresentações para investidores. A primeira delas é
amanhã de manhã com Foster e Deborah Adams.
A última vez que nos vimos foi na minha formatura. Estou
ansiosa para saber se eles fizeram aquela expedição que ajudei a
montar para eles no Japão.
Os Adams conhecem quase todas as famílias ricas da cidade.
Eles são como os mais velhos do old money de Nova Iorque,
suas conexões abrangendo todas as áreas humanitárias de foco
e pessoas em lugares muito, muito longes.
Em suas aposentadorias, eles decidiram bancar os
casamenteiros entre outras famílias ricas e várias instituições de
caridade, organizações e start-ups individuais pela cidade. Dos
clientes deles que eu me lembro, consegui reunir uma lista de
potenciais interessados e vou pedir a eles uma apresentação.
Tenho certeza de que eles vão querer ajudar.
Minha paixão por arrecadação de fundos vibra sob minha
pele. Tenho saudades de estar neste mundo.
Eu me sinto um tanto estranha que o recente
desaparecimento de Joanna tenha me colocado no lugar que eu
queria estar desde o começo: ajudar na arrecadação de fundos
para a OPO. Mas sem a licença dela, eu não teria essa
oportunidade.
Uma parte de mim está feliz por ela não estar por perto,
embora uma pontada de culpa me percorra. Meu pai não
gostaria que eu não tivesse compaixão por ela. Eu só me
pergunto como ela pôde simplesmente abandonar tudo nos
ombros de Luca.
O que aconteceu com ela?
Eu suspiro, me concentrando na bagunça diante de mim.
Recibos aleatórios, grampos de cabelo, um tubo de protetor
solar derramado, uma quantidade embaraçosa de protetores
labiais pela metade – sério, quem precisa de quatro protetores
labiais? – e notas adesivas coloridas cobertas com mensagens
ininteligíveis estão espalhadas diante de mim.
É humilhante ver o museu da sua existência no chão desse
jeito antes de terminar em uma pilha bem organizada. Se eu
desaparecesse e deixasse meu quarto como está agora, a única
coisa que alguém poderia deduzir é que Avery Soko é uma
bagunça.
Preciso encontrar maneiras mais interessantes de me divertir
além de trabalhar e assistir televisão com Lily.
Agora, no entanto, simplesmente não consigo pensar em
nada além desse desastre que lentamente está engolindo meu
quarto inteiro. Então, estou escolhendo organizar minhas
coisas em vez de descansar um pouco antes da reunião de
amanhã...
Ou pensar em uma certa viagem de elevador.
Aquele maldito elevador.
Jogo alguns recibos antigos na pilha de reciclagem e me
recompenso com um pouco de chocolate que peguei no
caminho até em casa.
Aprendi desde cedo que se eu não fizer da limpeza um jogo,
simplesmente não será feito.
Um item para a pilha de lixo. Um chocolate para mim.
Meu relógio marca duas horas quando finalmente começo
a examinar o conteúdo das minhas bolsas usadas a noite. Pego
a bolsinha dourada que usei na noite da festa do barco, quando
quase deixei Luca Navarro me ter ali mesmo no convés, apesar
das pessoas acima de nós.
A maneira como ele me confidenciou há alguns dias traz um
sorriso ao meu rosto.
Durante todo o tempo em que trabalhei nos escritórios da
OPO, nunca o peguei pedindo ajuda a ninguém. Em vez disso,
ele continua acumulando mais trabalho para si mesmo.
Não é grande coisa que ele me contou sobre os problemas
da OPO, obviamente sou a pessoa mais qualificada de nossa
equipe.
Mas estou feliz que ele quis me contar.
Apenas para mim.
Luca continua a provar que estou errada sobre meu
julgamento inicial sobre ele.
O engravatado sem coração que me entrevistou e deu a
notícia esmagadora da rejeição do meu emprego não se parece
com o homem que tenho conhecido nos últimos meses.
Quando compartilho ideias que parecem inatingíveis, Luca
não desiste do desafio de torná-las realidade. Cada vez que
nossa equipe encontra um obstáculo logístico, Luca encontra
tempo para nos ajudar a resolvê-lo. Sua presença no projeto não
é arrogante e sei que ele foi essencial para nos levar adiante.
Espero poder ser tão útil quanto para colocar a OPO de pé
novamente.
Nos últimos dias, enviamos e-mails sobre a nova estratégia.
Alguns deles estão beirando o flerte. Pelo menos eu acho?
Luca realmente usou um rosto sorridente para me dizer que
eu estava fazendo um bom trabalho.
Luca Navarro: Bom trabalho. :)

Se isso não é Luca flertando, eu realmente não sei o que é.


Sempre que nos encontramos sozinhos, meu corpo me trai.
Luto para entender o que acontece com meu bom senso
quando estou perto dele.
Repito o que venho tentando me convencer há semanas:
Luca Navarro é meu colega de trabalho. Nada mais.
Mas os pensamentos simplesmente não soam mais
verdadeiros.
Essa regra que impus a mim mesma – sem relacionamentos
até que eu esteja onde quero estar em minha carreira – todos
aqueles anos atrás ainda importa?
Perguntas inundam minha mente, e eu tento afastá-las,
voltando para a tarefa em mãos.
Eu solto minha bolsa antes de esvaziá-la no meu colo. Uma
coleção de cartões de visita se espalha diante de mim.
Recolho meus troféus de papel, rolando os cartões entre os
dedos, feliz por ver meus ganhos novamente. Eu escolho alguns
que poderiam ser investidores de arrecadação de fundos para
OPO.
A voz rica de Luca se infiltra em minha consciência da noite
no barco há mais de um mês. E se você esqueceu um?
Por que ele sempre acende minha necessidade de provar que
ele está errado?
Pego meu telefone e giro os cartões para combinar seus
donos com meus contatos. Todos estão contabilizados.
Ha!
Quando viro a pilha, um rabisco caprichado chama minha
atenção.
— Me ligue quando estiver pronta para aumentar as apostas
— Eu leio em voz alta para o vazio do meu quarto. A escrita é
seguida por uma coleção de dígitos.
Meus pulmões se enchem com um suspiro agudo e viro o
cartão. O nome de Luca Navarro está escrito do outro lado em
uma fonte simples e em negrito. O número de telefone no verso
não corresponde ao abaixo de seu e-mail de trabalho.
É claro.
Eu não posso escapar dele. Luca está infectando meus
pensamentos como hera em um jardim. Entrando nas
profundezas do meu ser com tanta força que não tenho certeza
se conseguiria me livrar dele mesmo se cavasse por horas.
— Navarro — digo em voz alta, o nome dele fazendo
cócegas na minha língua.
Eu poderia ter usado este número em vez de enviar um e-
mail para ele. Eu trago minha mão até minha bochecha,
tocando o contorno fraco de onde seus lábios acariciaram
minha pele.
Mas, sério, na bochecha?
Eu praticamente tinha uma placa acima da minha cabeça
que dizia: ME BEIJA NA BOCA, SEU HOMEM LINDO E
IRRITANTE.
Esfrego o cartão entre os dedos, meus olhos se fechando
quando a lembrança de como seu grande polegar traçou o
formato dos meus lábios enquanto ele me ensinava a dizer seu
nome no barco aquece meu sangue.
Eu pressiono o cartão em meus lábios, querendo prová-lo.
O que está acontecendo?
Eu me levanto, abandonando o cartão manchado no chão.
É amaldiçoado. Deve ser.
O que sou eu, uma adolescente dando uns amassos com um
pôster de sua celebridade favorita?
Não há outra explicação para o porquê de uma mulher em
sã consciência beijar um cartão de visita. Sozinha em seu
apartamento. Vestida com a camiseta do acampamento de
verão do terceiro ano.
Eu estou perdendo. A. Porra. Da. Minha. Cabeça.
Eu me atiro na cama, então bato meus dedos no interruptor
do abajur de cabeceira. Estou simplesmente delirando por falta
de sono. Ignoro as sensações de formigamento que consomem
meu corpo e, em vez disso, tento me forçar a dormir.
Durma. Durma. Durma.
Não está funcionando.
O calor faz com que cada molécula dentro de mim vibre.
A lembrança da boca de Luca a apenas alguns centímetros
da minha me causa arrepios nas pernas. Eu massageio minha
pele com as mãos, tentando livrar meu corpo desses
sentimentos avassaladores. A maneira como a doçura de sua
respiração fez cócegas em meus lábios quando estendi a mão
para ele com desejo. Suas mãos no meu corpo no
Mademoiselle, guiando meus quadris para ele. Depois, é a
imagem de seu corpo musculoso e tenso sem camisa com sua
equipe de limpeza de praia.
Claro que estou pensando nos Titãs do Lixo agora.
Aquela foto está permanentemente enraizada em meu
cérebro?
Porra.
Meus lençóis se emaranham entre meus membros até que
eu me viro para o lado, meus olhos pousando na gaveta da
minha mesa de cabeceira.
É melhor que os meus brinquedos estejam carregados.
Ao longo do mês passado, Avery esteve em meu escritório todas
as horas livres para discutir sua estratégia de arrecadação de
fundos comigo. Ela já garantiu um milhão de dólares em
financiamento por meio da família filantrópica para a qual
trabalhava e várias outras conexões em seu repertório.
Consegui dormir melhor, sabendo que a OPO vai ficar bem.
Eu me arrependo de ter assumido que o antigo emprego era
apenas um título fofo para preencher seu currículo. Isso deu a
ela muitas conexões significativas e a ensinou sobre o que esses
humanitários ricos realmente se importam.
Eu fui um verdadeiro idiota quando a conheci. Mas agora
percebo que não penso no meu antigo emprego há algum
tempo. A culpa iminente do caso das Indústrias Shift e meu
passado como advogado não tiveram tempo de retornar em
meio de todo o meu novo trabalho.
Eu estou melhor assim.
Avery marcou reuniões com todos os possíveis investidores
na região da Costa Leste. Ela nem entende o quanto está
ajudando a mim e a todos na OPO. Não consigo mais me
imaginar fazendo isso sozinho.
Ela fica até mais tarde e eu saio mais cedo só para passarmos
mais tempo juntos.
Eu saio do meu escritório e meus lábios se curvam quando
vejo que o corredor está iluminado com luz.
Na maioria das noites, espero no banco do elevador,
torcendo para que ela ainda esteja aqui.
Aperto o botão de chamada e a claridade do corredor
diminui. É como se ela pudesse antecipar que eu esperaria por
ela.
Ela aparece, uma jaqueta enfiada abaixo da bolsa pendurada
em seu braço. Hoje, ela usou um vestido preto simples que
abraça suas coxas. Seus quadris balançam a cada passo em
minha direção. Ela é de tirar o fôlego. Eu quero puxá-la em
meus braços aqui e deixar nossos corpos balançarem juntos ao
ritmo de nossa respiração.
— Como foi aquela reunião com Dax? — Ela está tão perto
que nossos ombros quase se tocam e eu sinto a luz do sol
inundar minha alma.
— Foi muito bem, obrigado de novo — eu digo, e ela
balança a cabeça.
A campainha do elevador toca e nós entramos.
— Considerando tudo, conseguimos trabalhar muito bem
juntos — observo.
Seus olhos encontram os meus, e então seu estômago solta
um ronco alto.
Ela dá uma de suas risadas reconfortantes.
— Desculpe, a única coisa que comi hoje foi o café com leite
que você fez para mim e os salgadinhos que Molly adquiriu o
hábito de me trazer.
Eu sorrio. Tenho gostado de fazer cafés com leite doces para
as nossas reuniões diárias.
Mas eu desprezo esse pedido de desculpas desnecessário
com paixão.
— Por favor, nunca se desculpe por existir.
Ela ri de novo, mas meu comentário não era uma piada.
Eu me viro para encará-la.
— Nós vamos jantar.
— Fora das paredes do escritório? Escandaloso — diz Avery
enquanto as portas do elevador revelam um saguão bem
iluminado. Nós saímos.
— Você está com fome e eu estou com fome — eu contesto.
— Me deixe te alimentar.
Eu não digo o verdadeiro motivo pelo qual quero jantar
com ela.
Não passamos nenhum tempo juntos fora do escritório
desde a noite de trivia, e nossas conversas se concentram
principalmente no trabalho e em uma aposta paralela que
temos sobre o lanche que Ollie trará para a reunião diária da
equipe. Eu aprecio o fato de que nossos jogos contínuos
continuam a nos aproximar.
E agora, desejo sua familiaridade fora dessas paredes de
vidro.
— Você está tentando me enganar para ir em um encontro?
— Seus olhos castanhos são de um verde profundo hoje, e eles
me encaram em um desafio.
Sim, pelos últimos três meses.
— Se é isso que você quer, então é só dizer.
Ela revira os olhos, mas sua expressão se transforma em um
sorriso delicado.
— Vamos.
Pego sua palma na minha, não dando tempo para ela mudar
de ideia.
Do lado de fora, chamo um táxi e deslizamos para o banco
de trás. Meu joelho esbarra suavemente no dela e, embora ela
recupere a posse de sua mão, nossas pernas ainda estão se
tocando enquanto o carro nos leva para o centro da cidade.
Eu me viro para encará-la, tentando encontrar a melhor
maneira de iniciar uma conversa que não envolva uma
provocação, mas minha falta de palavras dá ao nosso motorista
a oportunidade ideal de revelar sua história de vida durante a
viagem.
Avery é cativada por Mikhail, fazendo ao homem todo tipo
de perguntas sobre sua vida. Minhas mãos cavam no couro do
assento, minha língua presa entre os dentes. Quero que Avery
volte sua atenção para mim, mas não posso deixar de admirar
seu interesse genuíno na dinâmica familiar de Mikhail pelo
resto da viagem de táxi.
— Diga boa sorte a Yara no exame, Mikhail. — Avery sorri,
batendo a porta quando chegamos a nosso destino.
— Você sempre fala com seus taxistas?
— Sim — ela diz, como se o ato fosse tão simples quanto
respirar. — O quê, você é um daqueles esquisitos que apenas
ficam sentados em silêncio?
Abro a boca para responder, mas ela me interrompe.
— Um food-truck?
O food-truck está parado na Rua 111th ao leste. Uma série
de luzes gira em torno de uma árvore próxima, iluminando o
pequeno balcão de pedidos. A calçada se transforma em um
crescente som de música e risadas dos moradores locais que
fazem festas de bairro no clima quente.
— Não é qualquer food-truck – La Vaquita. É literalmente
o único lugar em Nova Iorque com comida que me lembra de
casa.
— Estou tão animada! — Ela sorri.
Instintivamente, eu pego a mão dela novamente. O
movimento não é mais experimental. Sua palma está úmida
contra a minha pele, e seus dedos ficam tensos por um
momento. Quando seu rosto se inclina para o meu, seus lábios
estão franzidos como se ela estivesse pronta para me repreender
novamente.
— Você está nervosa? — Murmuro em seu ouvido.
— Não. — Ela tira a mão da minha e a enxuga no tecido do
vestido preto. — Está muito úmido.
Porra, por que eu disse isso?
Avery se afasta de mim e caminha em direção ao menu
rabiscado em um quadro-negro enorme. O ar pesado e quente
adiciona ondas ao seu cabelo. As tranças loiras cortadas se
entrelaçam em redemoinhos delicados e finos enquanto
pequenas gotas de suor se acumulam em sua testa.
Ela estuda o menu sob o brilho dos fios de luzes, sua pele
brilhando e seu pé batendo no ritmo do reggaeton explodindo
nos alto-falantes do carro de alguém.
— Você poderia parar de me olhar assim e me dizer o que há
de bom aqui? — Ela estala para mim, a proeminência de seus
lábios rosados levantados em um meio sorriso.
— Vou pedir para nós dois.
— Tudo bem, mas como você...
— Eu sei.
— O que você quer dizer, você sabe? — Uma expressão
interrogativa colore suas feições.
Eu quero pegá-la delicadamente por aqueles ombros esguios
e sacudi-la por não perceber o quanto eu percebo tudo nela.
— Eu presto atenção — eu explico.
— Ok... — Seu olhar segue brevemente para a atividade
movimentada na rua.
É bom que ela confie em mim.
Nos primeiros meses em Nova Iorque, experimentei mais de
cinquenta restaurantes em busca da melhor comida. Quando
encontrei La Vaquita, vim aqui todas as semanas durante
meses.
Nos aproximamos da janela de pedidos e vejo o meu
cozinheiro favorito, Miguel.
— Aye, Miguel. ¿Cómo estás?
— Ooooh, Luca. ¿Quién es la señorita? — Seus olhos saltam
entre mim e Avery.
— Es mi futura novia.
Ele ri.
— ¿Y ella lo sabe?
— Pendejo — brinco.
— No te creas. ¿Qué les puedo dar?
— Dame cuatro tacos de nopales, una torta de pollo asado, y
dos mulitas de rajas. Ah, y una horchata, por favor.
— ¿Si, y para la señorita? Tal vez una cerveza, para que te
pueda soportar. — Miguel olha para Avery e dá a ela um de seus
sorrisos amigáveis. Isto é o que ganho por finalmente trazer
uma mulher para cá.
— Miguel...
Avery me surpreende e diz:
— No, gracias. Un agua, por favor.
Ela sabe espanhol? Ou ela está aprendendo espanhol por
minha causa?
Termino minha conversa com Miguel e pago nosso
banquete. Ela vai até a lateral do caminhão e pega alguns
guardanapos para nós. Estou tonto com a expectativa de ver o
rosto de Avery enquanto ela experimenta algumas das minhas
comidas favoritas.
— Eu não sabia que você sabe falar espanhol — eu digo.
— Se por "falar" você quer dizer que posso dizer as frases
mais importantes? — Avery provoca. — Agua e una cerveza
foram algumas das primeiras lições do básico de espanhol.
As pronúncias desajeitadas rolando de sua língua inundam
meu coração com calor.
Meus pais a amariam por tentar.
— Alguma razão específica para você estar aprendendo
espanhol recentemente?
Avery se vira para mim, com um olhar perverso em seus
olhos.
— Eu pensei que poderia aprender a provocá-lo em mais de
um idioma.
Meus lábios se curvam. Fico feliz que ela esteja aprendendo.
— Teremos que ver o quão boa aluna você é mais tarde.
Meu coração dispara com a esperança de que possa haver
um mais tarde.
— Sou uma aluna muito boa — ela diz com confiança.
Aposto que sim, cariño.
As mesas e cadeiras espalhadas estão todas ocupadas por
outros clientes, mas Avery encontra um meio-fio vazio e
gesticula para que eu me junte a ela, o que eu faço. Ela se senta
ereta na calçada com os tornozelos cruzados à sua frente. Seu
vestido preto curto abraça sua cintura, as costuras se estendem
levemente em torno de suas coxas.
Nos sentamos juntos por alguns momentos em silêncio.
Avery gosta de observar as pessoas ao nosso redor, e eu não
consigo tirar os olhos dela.
Miguel grita meu nome, me puxando para fora do meio-fio
para pegar nossa refeição. No caminho de volta para nossa
esquina íntima, localizo uma cadeira livre e a arrasto com o pé
para Avery.
— Aqui, peguei um lugar para você sentar — eu digo,
colocando a cadeira na frente dela, mas ela instantaneamente se
levanta, ajudando a juntar as caixas de comida que transbordam
em minhas mãos.
— Obrigada. — Ela desdobra rapidamente um dos
guardanapos na cadeira e coloca a comida no assento. — Agora
temos uma mesa.
Sento-me ao lado dela e observo-a espiar a variedade à nossa
frente. A alegria radiante dela me faz sentir como se estivesse
prestes a experimentar meus pratos favoritos novamente pela
primeira vez.
— Por que você pediu tanta coisa? — Ela exclama, abrindo
cada uma das caixas e pegando uma mulita. — Diga-me o que
é tudo! Isso parece uma mini-quesadilla.
— Confie em mim, podemos voltar para buscar mais.
Avery afunda os dentes.
— Isso é tão bom!
Ela dá outra mordida e executa seu revirar de olhos
característico, que fica ainda mais impecável quando está cheio
de prazer em vez de aborrecimento.
Eu quero ser a razão por trás dos pequenos gemidos felizes
que escapam a cada mordida que ela dá.
— O que tem dentro desse? — Ela aponta para um dos
tacos, ainda mastigando.
— Nopales ou cactos. — Eu mordo o delicioso taco
enquanto ela observa. — Não é muito comum em restaurantes
e é difícil encontrar um local que os prepare bem. Mas Miguel
é um dos chefs mais talentosos.
— O que ele faz com os espinhos?
— Ele provavelmente os come. — Eu rio, e ela se junta antes
de afundar meus dentes de volta no taco nopal.
— Oh meu Deus... Isso é tão, tão bom. — Ela desenha cada
palavra, e agora eu quero pegá-la aqui mesmo nesta rua.
Qual é a acusação de indecência pública hoje em dia? Pena
de prisão de até noventa dias, liberdade condicional por um ano
e multa? Pode valer a pena.
Avery dá uma mordida na torta antes de voltar para o resto
de sua mulita.
— A comida aqui é de outro mundo. Mas esta aqui é a
minha bebida favorita. — Pego o copo de papel branco e tomo
um gole. A doçura da canela percorre minhas papilas
gustativas. — Minha mãe só fazia isso em ocasiões especiais.
Meu irmão e eu sempre exagerávamos e passávamos mal.
Entrego-lhe o copo e ela leva o líquido aos lábios.
— Ok, eu amo isso. — Essa palavra soa tão requintada vindo
dela. — Eu não pensei que você fosse alguém que gosta de algo
tão doce.
Ela devolve o copo para mim, e eu tomo outro gole,
saboreando a facilidade que ela sente em compartilhar a mesma
bebida comigo.
Eu sorrio.
— Sempre abrirei uma exceção para algo tão delicioso.
— Você me surpreende cada dia mais.
A alegria se espalha por mim.
— Há muitas coisas que você não sabe sobre mim.
— Como o quê?
— Bem, você já sabe que sou competitivo e que,
ocasionalmente, gosto do sabor de algo doce.
Avery sorri e suas bochechas ficam com um vermelho mais
profundo, um calor permeando dela que não é apenas do ar
escaldante do lado de fora.
— Apenas ocasionalmente?
— Cada vez mais ultimamente — eu admito.
Ela acena com a cabeça.
— O que mais?
Tomo outro gole ruidoso de horchata.
— Você vai ter que esperar para ver.
— Eu vou explodir! — Eu me inclino para trás na calçada,
apontando meu rosto para o céu escuro.
Agora que minha fome foi saciada, posso sentir a breve
tontura que senti no táxi finalmente diminuir.
A menos que a tontura tenha algo a ver com a maneira como
o corpo de Luca se inclina para o meu.
Volto meu olhar para Luca sentado ao meu lado, seu rosto
relaxado observando os poucos casais dançando sob as luzes da
cidade. Ele está se lembrando de como nossos corpos se
moviam enquanto dançavamos no Mademoiselle, como eu? A
memória dele pressionado em mim faz minha boca secar.
Eu sorrio por este momento extraordinariamente sincero
exibindo suas feições rudemente bonitas. A dobra dos punhos
da sua camisa está desleixada, e tenho vontade de estender a
mão e arrumar.
Observamos um ao outro por um período que pode durar
uma eternidade. A cidade ao nosso redor parece repentina e
penetrantemente silenciosa.
Isso acontece com frequência quando estou perto dele.
Luca toma outro gole de horchata. Uma pequena gota do
líquido doce pinga de seu lábio e ele a lambe languidamente. A
necessidade incômoda entre minhas coxas duplica com a visão.
Os momentos tensos das últimas semanas juntos estão
prestes a culminar. A maneira como ele tão facilmente
envolveu as palmas das mãos em meus dedos fez meu coração
pular uma batida.
Agora, o êxtase de testemunhar a lambida de seus lábios está
passando por mim como uma estrela-cadente. Quero pular em
seus braços e cobrir seu pescoço de beijos.
Eu estou perdendo a porra da cabeça.
Uma sirene alta traz a fria realidade de volta aos meus
sentidos.
Nas últimas semanas, meus esforços para arrecadação de
fundos estiveram em pleno andamento. Entre descobrir
maneiras de ajudar a OPO e focar no Oceano Em Ordem, Luca
e eu passamos nosso tempo fazendo mais nada.
Mas agora, seu sorriso ridiculamente brilhante, que ele
adquiriu o hábito de mostrar sempre que percebe minha
atenção nele por muito tempo, é uma distração bem-vinda.
— Eu volto já. — De repente, ele se levanta, mas antes de se
afastar de mim, ele se inclina. — Você pode ficar aqui enquanto
eu pego algo para nós no food-truck?
— Sim, claro — eu digo.
Uma pequena pontada de aborrecimento me faz cócegas
com seu gesto superprotetor. Não estou acostumada com
alguém cuidando de mim ativamente. Me acostumei a cuidar
de mim mesma, e abrir mão mesmo que seja um pouco dessa
independência é desconfortável. Mas algo sobre as ações de
Luca durante nosso tempo juntos e seu tom genuíno, sem a
intenção de ser machista ou me fazer sentir fraca, me deixa à
vontade novamente.
Luca caminha até o caminhão, olhando por cima de um de
seus ombros largos algumas vezes para me verificar, antes de se
inclinar sobre o balcão de pedidos. A risada de Luca irrompe e,
quando ele se aproxima de mim com uma pequena caixa, restos
de uma risada ainda traçam suas feições.
— Tres leches. — Ele revela o conteúdo da caixa, piscando
para mim.
— Três? — Eu digo, quebrando meu cérebro para as
palavras que aprendi no livro básico de espanhol que peguei
algumas semanas atrás.
— Leite — diz ele.
Ele mergulha uma colher na sobremesa e leva a textura
esponjosa aos lábios antes que ela desapareça atrás dos dentes.
Eu o observo atentamente, cada segundo diminuindo
novamente.
— Quer um pouco? — Luca mergulha a colher de volta no
bolo arejado.
— Sim — murmuro baixinho. Meu batimento cardíaco
martela em meus ouvidos.
— Bolo. — Ele paira a sobremesa na minha frente. — Você
quer um pouco de bolo?
— Sim — eu digo. — Bolo.
Suas sobrancelhas se erguem em resposta, como se ele
esperasse que algo mais se materializasse de mim, e minha
capacidade de me controlar vacila. Os pontos do meu rosto
queimam vermelhos novamente.
Eu envolvo minha boca ao redor da colher, e os sabores
doces explodem em minhas papilas gustativas.
É engraçado como todo o ressentimento que eu carregava
por ele se dissipou nos últimos meses. Em um momento, este
homem dominador está me fazendo querer puxar meus
cabelos, e no próximo eu quero que ele puxe as mechas por
mim.
Respire fundo.
Eu remexo em minha mente por algo – qualquer coisa –
para dizer.
— Nunca comi um bolo molhado tão delicioso antes.
Bolo molhado?
Por que isso soou tão sexual?
Meu vocabulário voou completamente pela janela?
— Estou feliz por poder alimentar você com seu primeiro
bolo molhado. — Luca passa a mão pelo cabelo, em seguida, dá
a última mordida para mim.
Eu abro minha boca, e sua língua traça lentamente o seu
lábio inferior com a visão.
O conhecimento de como ele tem um gosto bom acende
cada fio de cabelo do meu corpo e cada vértebra da minha
coluna fica rígida.
Um arrepio percorre meu pescoço quando nosso tempo
sozinhos no barco retorna à minha consciência.
— Está com frio? — Ele pergunta. Minha pele está
arrepiada. — Posso chamar um táxi para casa.
Eu definitivamente não quero encurtar a noite. Minha
língua ainda está ansiosa para encontrar a dele novamente
depois do quase beijo insatisfatório no elevador. Eu paro por
um momento.
— Eu moro a apenas alguns quarteirões ao sul daqui.
Luca se eleva sobre mim, pegando minha bolsa na mão.
— Eu acompanho você.

Caminhamos um ao lado do outro, nossas conversas desviando


do trabalho para mais detalhes de nossas vidas. As cores de sua
vida começam a preencher a forma do homem ao meu lado
enquanto pego o caminho mais longo para casa, caminhando
pela Quinta Avenida com o farfalhar malévolo das árvores do
Central Park acima de nós. Um peso se forma no ar devido à
crescente mudança no clima.
Eu finalmente quebro o longo silêncio.
— Você vai me contar como descobriu aquela última
pergunta da trivia? O mascote?
Eu sei que mesmo se você vasculhar online, não há menção
de quem estava no traje do mascote.
— Lembrei-me da camisa que você estava vestindo.
— Que camisa?
— A camisa com a qual você estava correndo — Luca diz.
— Quando você me abandonou com aqueles cachorros.
— Eu não vi, ou teria ajudado! — Levanto minha voz de
repente.
Luca ri, e eu me junto a ele.
— Eu admito — eu digo. — Mas mal consigo me lembrar
do que vesti ontem, quanto mais semanas atrás. Como você se
lembra?
— Quantos exemplos mais serão necessários para você
perceber que me lembro de tudo sobre você? — ele diz. Meu
batimento cardíaco acelera. — Cada parte comum e
extraordinária de você, Avery, tem um lar dentro de mim.
As palavras batem em mim como uma bala de canhão em
uma parede de cimento.
Eu não tenho a chance de responder a ele quando um estalo
de trovão rasga o ar, o estrondo ecoa pela infinidade de prédios
ao longo do parque.
— Você sabia que iria chover? — Eu chamo por cima do
estrondo ensurdecedor.
— Provavelmente vai parar em breve.
Como se o universo ouvisse o desafio de Luca, outra gota
cai em cima da minha cabeça e, antes que eu possa registrar
totalmente a situação, o som de uma chuva violenta enche o ar.
— Corre! — Eu grito.
Eu saio, sem esperar para saber se Luca vai me seguir. Meu
apartamento ainda fica muito longe da parte alta da cidade, e
me arrependo da mentira inocente que contei a ele sobre morar
a apenas alguns quarteirões de distância.
Eu entro no parque, a chuva encharcando minhas roupas.
Corro em direção à ponte que passo durante minhas corridas
para me proteger da tempestade.
A chuva continua a encharcar minhas roupas. Meus fios
molhados de cabelo grudam na minha pele. A umidade da terra
envolve meus sentidos, enquanto o calor da calçada irradia
pelas minhas pernas.
Sinto a agitação da vida voltar para mim, a vibração dos
meus músculos me tirando da minha onda emocional. A
corrida tem sido minha companheira durante alguns dos meus
momentos mais baixos. Me manter focada em um destino me
faz sentir que deveria estar indo nessa direção o tempo todo.
Essas últimas semanas me ajudaram a encontrar meu propósito
novamente.
Ouço Luca ao meu lado. Gotas saturadas batem contra a
minha pele.
Pela primeira vez em anos, sinto a calorosa familiaridade da
mulher que eu era antes do último ano da faculdade.
Muito feliz. Cheias de vontades. Totalmente livre.
Exceto agora, eu mudei e comecei a me firmar em quem
estou me tornando. Eu sei que estou melhor assim.
O tempo para novamente. Diminuo o passo, virando o
rosto para o céu escuro, deixando a chuva forte massagear
minhas bochechas. Eu abro meus braços, minhas palmas
formando pequenas poças de água. O riso irrompe de mim.
Luca pega uma das minhas mãos molhadas nas suas e me
gira no cascalho úmido. Ele parece tão bonito.
Essa é mesmo a palavra certa?
Seus fios de cabelo crescidos grudam em seu rosto. O sorriso
que ele usa ilumina cada parte de suas feições. Meus olhos
castanhos favoritos são iluminados pelas fracas luzes da rua ao
nosso redor.
— Você tornou a vida tão interessante nessas últimas
semanas — ele grita por cima da chuva.
— Você também.
Meu coração bate com mais do que a adrenalina da corrida.
Mais do que a construção da compreensão de que Luca é de
alguma forma muito parecido comigo. Determinado e forte.
Corremos e dançamos na chuva torrencial, nossas risadas
abafadas pelo trovão.
Ele me gira de novo, e o giro traz a ponte à vista. Eu travo os
olhos com Luca, um sorriso diabólico revelando meu plano.
— Quem chega primeiro até lá! — Eu grito e saio antes que
ele possa responder. Nossos passos batem no cimento
molhado.
— É melhor você se apressar. — Luca assume a liderança.
Oh não, ele não fez isso!
Meus pulmões parecem estar sendo despedaçados, mas me
recuso a desistir. Eu incito meus dedos dos pés apertados e
pernas doloridas em uma corrida mais rápida.
Luca vira a cabeça e sorri com a vantagem que estou
obtendo sobre ele, e ele segue em frente.
— Então, o que eu ganho quando eu... — Antes que eu
possa terminar de gritar em meio ao barulho da chuva, o lado
do meu tornozelo esquerdo bate no chão e eu tropeço em uma
poça profunda. A dor já está começando a latejar, mas eu sigo
em frente, determinada a alcançar a linha de chegada.
Luca não vê a minha batalha épica com a gravidade e,
quando ele finalmente se protege abaixo da ponte, seus braços
fortes se estendem no ar.
— Eu ganhei? — Ele chama sobre o estrondo do trovão.
O sorriso em seu rosto é um que eu nunca vi antes, e aquece
o próprio sangue em minhas veias.
— Só porque eu deixei você ganhar! — Eu grito de volta
para ele, desacelerando em uma caminhada quando a dor
dispara na minha perna machucada. Caio apenas a cerca de cem
metros do abrigo seco.
— Avery? — Ele corre até mim. — O que aconteceu? Você
está machucada?
Ele põe o braço em volta dos meus ombros e, num
movimento brusco, me agarra pelos joelhos como se eu não
pesasse nada. Minha mão agarra o material de sua camisa. A
chuva continua a nos atingir enquanto ele caminha de volta sob
o viaduto de pedra.
— Você está se sentindo culpado por aquela dancinha da
vitória enquanto eu fazia amizade com o chão? — Eu provoco
com uma pitada de sarcasmo, minhas risadinhas escapando de
mim.
— Você realmente caiu? — A voz séria de Luca me acerta.
— Eu torci meu tornozelo esquerdo — eu admito. — Estou
perfeitamente bem.
— Você não exagerou ter um colapso dramático, para então
eu ter que carregá-la pelo resto do caminho? — Seus dedos se
movem sob meu braço, e a sensação de cócegas me leva a um
ataque de riso contorcido.
— Me coloca no chão! Me coloca no chão! — Eu grito
através de cada uivo da minha risada. A pulsação aguda em meu
tornozelo diminui.
— Não. — Ele sorri para mim. — Este é o meu prêmio por
vencer.
— O quê? Uma mulher machucada? — Eu me estico em seu
peito, agora exposto pelo tecido molhado de sua camisa.
— Não. — Ele me puxa para perto de seus lábios. — Eu
poder te segurar de novo.
As luzes da rua acendem e apagam.
— Eu realmente não estou machucada. — Há apenas uma
dor surda. Nada que um pouco de gelo não resolva.
— Estamos quase lá e então eu vou colocar você no chão.
Eu gemo em falso protesto. Eu tenho perdido tanto se é
assim que é ser carregada. Eu me sinto leve.
— Sabe, ninguém nunca me carregou no colo tão
facilmente antes.
— Por que não?
— Eu não sei — sussurro — Talvez porque eu seja bem alta.
— Por que isso importa?
Eu dou de ombros.
Ele olha nos meus olhos.
— Quem perde são eles.
Luca se move facilmente para nosso porto seguro e seco.
Meu pulso acelera. Ok, é oficial, eu quero ser carregada para
todo lugar.
Chegamos a um pedaço de asfalto.
— Isso não foi tão ruim, foi? — Ele sorri, um daqueles
sorrisos tentadores, e coloca meu corpo na calçada amena.
Eu ajusto minhas pernas em meu novo assento, esticando-as
no chão diante de mim, mas não quero soltar meus braços que
estão em volta de seu pescoço. Segurá-lo é como envolver as
mãos em uma xícara fumegante de café logo pela manhã. Há
um conforto nisso que é verdadeiramente insubstituível.
Eu fico de mau-humor com a liberação de seu abraço em
volta do meu torso.
— Foi agradável. Você tem ombros muito grandes.
— Você gosta de coisas grandes, Avery?
— Sim.
Espera. Eu disse isso em voz alta?
Ele ri.
— Bom.
Luca se ajoelha diante do meu tornozelo machucado. As
costas de seus dedos correm pelas minhas panturrilhas,
avaliando qualquer outro dano, e eu quero urgentemente que
essas mãos quentes encontrem seu caminho até minhas coxas,
até a umidade acumulada em minha calcinha de renda.
— Eu não quis dizer, eu só... — Meus pulmões dão uma
forte inspiração com seu toque. A sensação dele me acariciando
catapulta um arrepio da base da minha espinha até a minha
clavícula como no brinquedo martelo de força em um parque
de diversões.
— Tudo bem? — Ele começa a massagear meu joelho
enquanto sua outra mão afasta os fios úmidos de cabelo dos
meus olhos.
Eu concordo.
— Só vou ver se está inchado, está bom? — Luca pergunta.
Eu aceno novamente.
Luca desfaz a alça da minha sandália e seus dedos quentes
acariciam meu tornozelo esquerdo com consideração. A
sensação é tão agradável que um gemido me escapa. O som
corta a chuva forte e ecoa sob a ponte, fazendo-o enrijecer
completamente.
— Você está bem? — Ele pergunta.
— Sim. Está tudo bem — eu digo, limpando minha
garganta.
— Parece uma pequena torção. — Ele sorri, e a cor quente
de sua íris agora está preenchida com aquela conhecida poça de
escuridão. Luca pega minhas mãos nas dele, dobrando meus
dedos entre as palmas. — Sinto muito por dizer isso a você, mas
acho que você não é tão atlética quanto quando era quando era
mascote, cariño.
Não posso deixar de sorrir com o apelido.
Querida.
Sua cariño.
— Ei! Eu sou muito atlética. — Eu bato de brincadeira em
seu braço novamente.
Ele ri como uma criança travessa. Aquele sorriso de menino
gruda em seu rosto.
— Eu aposto que você é.
— Bem, talvez eu tenha caído de propósito para compensar
você por todas as vezes que ganhei nossas apostas.
Seu rosto fica sério e ele traça as pontas dos meus dedos com
os dele.
Eu disse algo errado?
Ficamos sentados por um momento, nenhum de nós
conseguindo formar palavras enquanto ouvimos as gotas
dançando na calçada, nossas respirações trocando o mesmo ar.
O cheiro de sua colônia almiscarada se mistura com o asfalto
úmido, e eu lambo meus lábios, querendo provar.
Minha racionalidade vacila quando me inclino para o breve
espaço que nos separa.
— Avery, este jogo entre nós provavelmente pode chegar ao
fim — ele sussurra a apenas alguns centímetros da minha boca.
Minha espinha bate contra o tijolo, e um tremor
desenfreado enche meu coração.
— Que jogo?
— Nossos jogos, competições, apostas — explica Luca. —
Essas desculpas que inventamos para estarmos próximos um do
outro.
Eu não posso nem argumentar porque ele está certo. Os
jogos não são jogos inofensivos para passar o tempo; eles não são
simplesmente meu lado competitivo sendo despertado em
torno dele.
Cada vez que estamos na garganta um do outro, sinto uma
emoção que nunca senti antes. Quando eu perco, sei que ele vai
começar outro jogo comigo. E cada vez que eu venço, ele fica
ansioso para enfrentar mais desafios. O ato de superar um ao
outro se tornou uma das minhas partes favoritas dos últimos
meses.
Luca finalmente fala:
— Por que você está negando que há algo aqui?
— Eu não estou... — Eu hesito. — Eu só... não estou pronta
para me aproximar de alguém. Não estou onde gostaria de estar
na minha vida.
— Onde você quer estar?
Eu franzo a testa.
— Sempre coloquei minha carreira em primeiro lugar, e há
tantas coisas que pensei em realizar sozinha antes que alguém
como você aparecesse.
— O que você quiser, Avery, podemos fazer juntos.
Eu confiei em mim mesma por tanto tempo. Além de Lily,
ninguém jamais quis me forçar a ser o melhor que posso e
compartilhar minhas vitórias.
Até Luca.
Ele nunca deixa de me mostrar que se importa nos meus
piores momentos e nos meus melhores.
— Eu não sei como lidar com algo sério.
Seus olhos examinam meu rosto.
— Então, por enquanto, vamos apenas fingir que isso é um
dos nossos jogos.
— Eu pensei que você queria parar?
— A única coisa que eu realmente quero é você — diz ele.
Me sento aqui, simplesmente olhando para ele. A chuva
quase não cai agora.
— Eu preciso beijar você de novo, Avery.
— Ave.
— Ave — ele repete, saboreando o nome em sua boca como
se fosse um doce derretendo em sua língua.
Sua mão grande apalpa meus ombros, pressionando minhas
costas contra a parede de concreto úmido até que seus dedos
finalmente alcancem meu pescoço. A ponta de seu polegar
desliza ao longo da minha mandíbula, aproximando meu rosto
do dele. Nossos olhos se encontram e sinto os meses de
apreensão se dissiparem do meu corpo e se transformarem em
certeza.
Eu fecho os centímetros entre nós, e o tempo para na
mistura de sentidos quando eu finalmente encontro seu gosto
terroso. Um incêndio que só ele sabe como reivindicar de mim
reacende.
— Eu acho que nunca vou me cansar de você — ele sussurra.
Meu coração pula uma batida. Ou duas. Ou talvez foram
três?
A fome do nosso primeiro beijo retorna, e nossas línguas se
exploram com uma luxúria sem profundidade. Seu braço forte
me embala, acomodando meu corpo em seu colo enquanto ele
toma meu lugar na calçada. Eu envolvo minhas pernas em
torno dele e imediatamente noto a rigidez agora entre minhas
coxas.
Nós mal temos a chance de respirar quando solto um
gemido. Minha necessidade por ele começa a aumentar, e passo
os dedos nos botões de sua camisa, desesperada para sentir mais
dele.
O raspar dos pneus da bicicleta no cascalho nos desperta de
nosso transe.
Por que somos amaldiçoados com essas interrupções
miseráveis?
Nós nos separamos, o silêncio da chuva pausada enchendo
meus ouvidos. Meu corpo anseia por mais.
— Vamos para casa. — Luca se levanta, levantando-me do
chão novamente, e sou envolvida em seu abraço.
— Você realmente não tem que me carregar — eu digo,
firmando minha voz e ignorando o desejo de puxá-lo de volta
para o chão e rasgar esta camisa.
— Você vai parar de tentar brigar comigo?
— Eu duvido — eu admito.
Ele sorri.
— Bom.
— Fui bastante dura às vezes, não fui? — Eu me escondo em
seu peito.
— Se eu posso deixar isso para trás, você também pode, Ave.
— Tudo bem, vamos chamar de águas passadas.
Ele para, e eu me afasto para encontrar seu olhar. Outra
gargalhada explode dele, vibrando todo o meu corpo. Eu me
junto a ele com uma risada incontrolável.
— Vamos colocar um pouco de gelo neste tornozelo. — Ele
começa a andar, me puxando para mais perto dele.
— Eu moro na rua 65th.
— Você esqueceu que eu cuidei de você uma vez antes?
Eu chacoalho meu cérebro pela memória.
— Espere, então você sabia que eu morava a mais de
quarenta quarteirões de distância?
Ele acena com a cabeça, fazendo-me corar.
— Eu andaria por toda Nova Iorque com você, Ave. —
Aquele olhar escuro cava em mim mais uma vez antes de ele
levantar a sobrancelha. — Agora, podemos finalmente discutir
por que você mora em cima de um mercadinho.
— Assim, nunca fico sem lanches.
— Assim que o contrato do seu aluguel terminar, vou
encontrar um apartamento com elevador para você. — Subo
outro lance de escadas.
É melhor que sua colega de quarto não esteja em casa agora,
porque os vinte minutos dela se contorcendo e rindo em meus
braços fizeram meu pau pulsar sob o tecido úmido da minha
calça.
— Deixe-me adivinhar, você mora em algum prédio chique
com porteiro e comodidades inúteis como uma quadra de
basquete.
— É uma piscina, na verdade.
Seus olhos se arregalam de surpresa, e eu sorrio.
— Eu disse que você não precisava me carregar escada
acima.
— Eu quero. — Meu corpo corre com a tensão de seu peso
e o desejo de não colocá-la no chão quando finalmente
chegamos ao quarto andar. Meus músculos se recusam a ceder
à exaustão do dia.
— Tudo bem, mas você vai ter que me soltar para que eu
possa abrir minha porta.
Eu finalmente permito que ela saia do meu aperto, e ela
vasculha sua bolsa.
Se eu fosse um homem verdadeiramente egoísta, eu a
provaria novamente neste corredor apertado. Então eu
pressionava suas costas contra uma dessas paredes e tiraria cada
peça de roupa úmida de sua pele.
Eu me elevo na frente dela, e os olhos de Avery encontram
os meus em um olhar fascinante. Ondas loiras deliciosas ficam
em uma coroa bagunçada acima de sua cabeça. Seu vestido
preto justo gruda na delicada curva de suas clavículas.
Eu me inclino e sussurro em seu pescoço:
— Eu acho que aprendi a não gostar dos meus ternos tanto
quanto você.
— Por quê? — Sua voz retorna àquele precioso som
provocador.
Eu guio minhas mãos para sua cintura.
— É uma das coisas que me impedem de fazer você minha.
Ela sorri em resposta.
— Isso pode ser facilmente corrigido.
Quem eu estou enganando? Eu sou um homem egoísta.
Levo uma das mãos ao rosto dela e reconecto nossos lábios
como dois pólos opostos de um conjunto de ímãs. Nosso beijo
nos faz bater contra a porta da frente.
Um som de metal ecoa do chão abaixo, nos interrompendo.
Nós nos separamos. Uma gota de suor escorre pelo meu rosto
e inalo profundamente em seu pescoço.
Ela cheira como uma tempestade esperando para causar
estragos. Meu corpo cantarola com a necessidade de deixá-la.
Controle-se.
— As chaves — diz ela no pequeno espaço entre nós.
Eu me abaixo para agarrá-las. Quando me levanto, deixo um
rastro de beijos suaves por seu corpo.
Finalmente, alcanço sua boca e olho para minha deusa
encharcada pela chuva trovejante de verão.
— Avery, você é a mulher mais linda que eu já vi.
Nossos corações batem alto no corredor silencioso.
— Você também não é tão ruim. — Ela pisca e rouba as
chaves dos meus dedos, virando-se para destrancar a porta. Ela
tenta acertar a fechadura algumas vezes, mas a maldita coisa
parece estar presa.
— Enfie a chave — eu sussurro impacientemente.
Ela me espia sob seus cílios escuros.
— Ei, só precisa de um pouco de prática.
— Não se preocupe, eu sei tudo sobre prática — eu asseguro
a ela, e suas bochechas coram ainda mais.
— Oh.
Quando ela entra em seu apartamento, eu a envolvo em
meus braços e a levanto do chão. Eu nos levo em direção ao sofá
dela.
Nenhuma colega de quarto à vista.
Eu a coloco no sofá e coloco seu tornozelo sob um
travesseiro.
— Não se mova. — Vou até o freezer, pego alguns cubos de
gelo e os enrolo em uma toalha limpa. Espio para ver se a perna
de Avery não saiu da posição em que a coloquei.
Então, ela pode cumprir pelo menos algumas das coisas que
eu peço a ela. Volto para ela e coloco a bolsa de gelo em seu
tornozelo. Ela estremece.
— Você é tão boa em fazer o que mandam — eu provoco.
Sua respiração fica rasa e ela inclina os olhos castanhos para
cima, devorando cada centímetro de mim. Ela faz uma pausa
na protuberância em minhas calças. Eu sorrio com a forma
como seus olhos se arregalam.
— Não se acostume com isso — diz ela. Sua língua rosa se
revela entre os lábios em um gesto provocador. Ela não se
encolhe com o escrutínio do meu olhar. Cada palavra é um
desafio que nos tenta a dar um passo adiante.
— Como está seu tornozelo?
— Está perfeitamente bem — diz ela.
Avery me parece o tipo de pessoa que ainda riria com uma
ferida aberta no peito.
Seu sofá cede sob meu peso quando me sento. Avery ajusta
seus quadris e os travesseiros ao redor dela abraçam as curvas de
seu corpo delicioso.
— Está escaldante aqui — Avery finalmente murmura no
silêncio crescente.
Desdobro a toalha e tiro um cubo de gelo da pilha. Eu
gentilmente coloco o gelo diretamente em seu tornozelo.
— Assim é melhor?
— Acho que sim — ela diz antes de se virar ligeiramente para
esconder seu sorriso em um travesseiro.
Vendo esta mulher, que é tão cheia de fogo, agir tímida
agora está fazendo meu pau inchar.
Eu massageio a pele de sua perna com o gelo derretido. O
toque suave de meus dedos em sua carne desperta uma fome
carnal.
Me sinto como um urso voraz saindo de sua toca após um
inverno longo e solitário. Cada parte de mim quer me
empanturrar com ela.
Os quadris de Avery se contorcem ainda mais nas
almofadas. Eu trabalho meu caminho mais para cima em sua
perna, deslizando cuidadosamente seu vestido apertado para
revelar suas coxas tonificadas.
Nossos olhos não se afastam.
— Se seu tornozelo está bom, acho que posso guardar o
gelo? — Eu tento ficar de pé, mas Avery engancha o pé no meu
colo e me força a sentar ao lado dela.
— Na verdade, está começando a doer de novo. — Ela pisca
para mim.
Pego outro pedaço de gelo da toalha e volto a massagear a
carne quente de suas coxas. Eu espero pelo momento que
Avery pare por antecipação, mas é ela quem levanta ainda mais
a bainha do vestido.
— Você quer que eu faça doer menos, cariño?
Ela acena com a cabeça em resposta.
Porra.
Seus quadris se levantam de novo, e preciso de toda a minha
força para evitar consumi-la neste segundo.
— Aposto que você está tão molhada quanto suas roupas
agora — eu sussurro, ansiando por sentir o calor entre suas
pernas que deve estar esquentando com cada toque provocador
de meus dedos em suas coxas.
Ela suga uma respiração.
— Eu estou, Luca.
Eu tenciono todo o meu corpo com o som suave do meu
nome vindo dela.
— Não se esqueça de respirar, Ave — eu digo, minha voz
saturada de exigência.
Ela obedece.
— Você é uma garota tão boa, quando realmente me ouve.
As palavras despertam algo nela porque em um piscar de
olhos, Avery se levanta de seu assento ao meu lado e envolve
suas longas pernas em minha cintura. Ela funde nossas bocas, e
eu bebo do gosto amargo e doce dela. Meus dedos agarram seus
quadris e guio a necessidade entre suas pernas contra meu pau.
Meus pulmões se contraem com a pressão dela montando em
mim.
Eu apalpo seus seios e guardo na memória qual dos meus
toques exploradores provoca um gemido alto nela. Eu me
obrigo a me afastar do doce sabor de seus lábios para cobrir seu
pescoço e peito com beijos, então afundo meus dentes em um
dos mamilos rígidos que espreitam através do tecido de seu
vestido.
— Posso provar você, Ave? — Eu digo, agora massageando
um bico enquanto minha boca pressiona contra o outro seio.
Um gemido exigente escapa dela. Eu agarro seu cabelo,
arrastando seus olhos desesperados para mim. O suor cobre a
pele corada de seu rosto. Eu inclino minha cabeça perto o
suficiente para sentir sua respiração na minha pele.
— Eu posso? — Eu pergunto novamente.
— Sim. — Ela olha para mim.
— Sim, o quê? Nunca vi você ficar sem palavras.
— Sim, eu quero que você me prove. — Sua voz sai crua,
exigente de uma forma que eu nunca ouvi antes.
Música para a porra dos meus ouvidos.
Eu envolvo meu braço livre em torno de sua bunda exposta,
erguendo-a em meu corpo. A saia curta de seu vestido enrola
em torno de sua cintura. Sua carne nua é apenas ligeiramente
coberta pela renda dessa desculpa patética que ela chama de
calcinha.
Ela está usando isso por baixo da roupa no escritório esse
tempo todo?
Eu me levanto e a coloco de volta nas almofadas.
Avery é flexível sob o meu toque, e eu amo o jeito que ela
relaxa com meus movimentos de orientação, como quando
dançamos juntos.
Eu pego seus quadris e gentilmente a coloco de quatro. As
mãos e os joelhos de Avery repousam firmemente nas
almofadas. Desço atrás dela e me ajoelho. A visão de sua bunda
curvilínea a apenas alguns centímetros do meu rosto força um
latejar dolorido em meu pau.
Eu quero a umidade pingando na renda. Eu quero arrastá-la
lentamente ao redor do meu comprimento dolorido.
Eu beijo sua calcinha úmida.
— Você quer que eu prove você aqui?
— Por favor — ela respira.
Uma de suas mãos se estende para trás, procurando por
mim.
Junto nossos dedos e uso o polegar da minha mão livre para
afastar o tecido úmido e rendado.
Um gemido suplicante ecoa pela sala.
— Você já pensou em como eu poderia adorar essa linda
boceta?
O corpo de Avery arqueia mais profundamente em mim,
respondendo à minha pergunta. O comprimento de sua coluna
está espalhado diante de mim enquanto seus quadris se
levantam mais alto no ar.
Eu rio no calor dela.
— Você é uma garota tão exigente.
— Você continua me provocando!
Meus dedos se enroscam na renda inútil que está mantendo
sua fenda brilhante longe de mim. Eu saboreio a visão desta
mulher elétrica se desenrolando diante de mim.
Eu quero tê-la agora. Ela se inclina para a frente na parte de
trás do sofá, abrindo-se mais para que eu veja.
Ela é absolutamente, fodidamente perfeita.
Cada centímetro amoroso e exposto dela.
Meus desejos mais primitivos me destroem. Os meses de
tortura autoimposta que suportei, imaginando este momento.
No entanto, minha imaginação não fazia a menor justiça à
realidade de estar com ela.
Eu levanto meu peito e deslizo um dos meus braços sob sua
barriga, ancorando seu corpo em mim. Eu acaricio seu pescoço
com meus lábios, então tiro o vestido encharcado de chuva
sobre sua cabeça, deixando para trás um delicado sutiã de seda.
— Tão fodidamente deliciosa. — Eu sussurro.
Pego suas mãos e as descanso no sofá. Seu peso se desloca
para a frente, seus quadris se levantando no ar.
— Espere. — Planto beijos em cada centímetro de sua
espinha exposta e, em seguida, desço até sua entrada.
Meus dedos voltam a massagear seus seios sobre o tecido
macio enquanto meu olhar confronta seu centro inchado
pingando diante de mim mais uma vez. Meu pau lateja com a
visão.
— Luca... — Ela choraminga, seus quadris se debatem em
mim e sua boceta implora por minha atenção.
Meu nome de novo?
É a gota d'água.
Encho meus pulmões com sua fragrância e minha língua se
espalha em sua fenda. Um gemido alto escapa da garganta de
Avery, e eu sorrio nela. A maneira como seu corpo se ilumina
ao meu toque é eufórica.
Eu encontro cada movimento de seus quadris com a minha
língua. Cada golpe molhado desliza sobre seu clitóris e provoca
sua entrada encharcada. A umidade de seda de sua boceta
escorre pelo meu queixo, cobrindo minha pele com a barba por
fazer. Eu quero me afogar nela.
Continuo a provocá-la com velocidades diferentes,
aprendendo rapidamente que voltas lentas e deliberadas da
minha língua a fazem ter um acesso de carência.
Nunca estive com uma mulher que exigisse tanto de mim
quanto cavalgava minha boca. Estou obcecado com cada
maldito minuto disso.
Ela tem um gosto tão bom. Como se de alguma forma, em
algum lugar, Avery fosse criada apenas para mim.
Meu pau luta com pulsações violentas, imitando os golpes
da minha língua.
A adrenalina rasga por mim. Afasto uma das mãos de seu
corpo e abro o fecho de metal do meu cinto de couro. Meus
dedos se atrapalham com o zíper. Eu puxo minhas calças da
cintura e saio delas, não deixando minha língua quebrar o
contato com o clitóris inchado de Avery.
Esfrego minha ereção dolorida através da cueca boxer. Meu
pré-gozo já cobre o tecido de algodão. O desejo de sentir Avery
sob minhas mãos retorna. Estou muito intoxicado por seu
prazer para não me concentrar apenas nela.
— Você gosta de cavalgar a minha cara, Ave?
— Sim... — O balanço de seu corpo contra mim se torna
mais brutal. — Eu preciso de mais...
— Essa é a minha garota.
Eu finalmente puxo minha língua dela e coloco minha mão
na frente de seu quadril. Meus dedos substituem o mesmo
ritmo em seu clitóris. Eu levanto meus joelhos, minha língua
reunindo o suor acumulado na curva de seu pescoço. Seu olhar
encoberto me encarando. Passei muito tempo longe de seus
olhos sonhadores.
Continuo elevando-me sobre ela, os dedos da minha outra
mão puxando seu rosto para mim.
— Diga-me exatamente o que você precisa.
Sua boca se fecha na minha e eu me embriago com nosso
beijo lânguido.
— Eu preciso mais de você, Luca — ela respira em minha
boca. — Eu quero olhar para você.
O pedido ecoa nas profundezas da minha alma. Como eu
poderia negar a esta mulher teimosa qualquer coisa que seu
coração terno desejasse?
Ela encharcou totalmente minha mão, e eu sofro para senti-
la convulsionando em meus dedos.
Eu a guio para se deitar de costas, sua coluna contra as
almofadas.
Avery está em exibição diante de mim, seus olhos
observando meus movimentos em antecipação. Um sorriso
perverso se abre em seu rosto corado quando seu olhar pousa
em meu pau preso na minha cueca boxer.
Pego uma das muitas almofadas espalhadas pelo chão.
— Levante seus quadris, minha linda garota.
Ela obedece e parece que acabei de descobrir um
superpoder.
Dou outro beijo em sua testa e desço até o centro carente
que me espera.
A nova posição me expõe para toda a extensão de seu prazer,
seus olhos perdidos atrás de uma névoa embriagada. O rubor
brilhante em sua pele é substituído por um tom vermelho
cereja, combinando com a mancha de batom ainda grudada em
seus lábios.
Uma nova obsessão ocupa meu ser. Eu quero derramar tudo
o que tenho nela. Destruir todas as portas, destruir todas as
paredes entre nós.
Há uma concentração em seu rosto enquanto ela observa
minha língua trabalhar seu clitóris, minhas palmas mapeando
cada centímetro de seus seios perfeitos.
Eu afasto minha boca dela e volto meus dedos para seu
clitóris, circulando o inchaço firmemente.
— Eu preciso sentir você. — Suas mãos agarram a almofada
enquanto seus olhos procuram minha ereção latejante.
Eu poderia gozar agora, apenas com as suas palavras.
Paciência.
— Ainda não, Ave.
Eu deslizo dois dos meus dedos livres dentro dela, e ela
imediatamente fica tensa ao meu redor. Eu lambo meus lábios.
O gosto de Avery ainda está na minha língua, exuberante e
doce.
Eu me aproximo dela e sussurro:
— Eu quero que você goze em meus dedos.
Em resposta, ela convulsiona em torno de mim. Cada
centímetro quente dela desliza sobre mim enquanto ele
continua a derramar na palma da minha mão.
— Você pode fazer isso por mim? — Eu exijo.
Avery arqueia as costas. O canto da minha boca se levanta e
curvo meus dedos dentro dela. Cada impulso da minha mão é
mais rápido, mais profundo.
— Sim, sim, sim — ela ofega a cada vai-e-vem. — Eu quero
gozar.
— Lembre-se disso, Ave — eu digo, adicionando outro
dedo nela, e ela geme com a plenitude. O som encharcado e
obsceno de cada movimento perfura seus suspiros lascivos.
Eu conecto minha testa com a dela, e trocamos olhares.
— Tudo o que você me pedir, eu lhe darei — eu prometo.
Seus gemidos se transformam em gritos de prazer. — De novo
e de novo e de novo, e outra vez.
Avery finalmente se desfaz em minhas mãos. Seu corpo está
inquieto embaixo de mim, e isso só intensifica a pulsação
latejante em meu pau. Tudo o que ouço são seus gemidos
viciantes e nossa respiração sincronizada.
A tensão em seus membros diminui, fazendo com que sua
figura maravilhosa desabe nas almofadas. Quando suas
convulsões param, retiro meus dedos dela.
— Você é tudo.
— Mmm. — Ela sorri e murmura algo ininteligível
baixinho.
Eu beijo a pele úmida de seu rosto, em seguida, puxo um dos
cobertores de tricô que está ao lado do sofá. Eu coloco sobre
seu corpo, plantando outro beijo em sua testa. Eu dou um
passo para trás, mas os dedos de Avery envolvem minha mão, e
meu coração pula uma batida com o seu toque.
— Eu já volto — eu digo.
Vou até à cozinha, abro a torneira e espio em seus armários,
procurando por um copo.
— À sua direita, prateleira de cima — Avery sussurra
diretamente atrás de mim.
Eu sabia que sua veia obediente não duraria muito.
Eu giro meu corpo para encher o copo com água gelada.
Suas mãos exploram ansiosamente meu corpo por trás. É
divino ser tocado por ela. Avery abre cada botão até que minha
camisa fique aberta, e ela puxa o tecido dos meus ombros.
Eu a encaro, substituindo o material em suas mãos pelo
vidro.
— Beba.
Ela hesita, mas leva a água aos lábios. Uma vez que ela
termina, eu gentilmente seguro seu rosto, plantando os cantos
da minha boca na dela. A sensação delicada dela contra mim é
como uma canção de ninar me puxando para um sono pesado.
Suas mãos voltam a acariciar suavemente meu peito. Então
seus olhos localizam minha ereção protuberante, e aqueles
dedos longos traçam o contorno da minha cueca.
— E você?
— Quando eu tiver você, Avery, será porque você está
implorando por mim.
Seus olhos se iluminam com diversão, e ela curva o lábio
inferior, que é mais carnudo que o superior, sob o aperto firme
de seus dentes.
— Só para você saber, eu não imploro.
— Nós veremos isso. — Eu planto um beijo carinhoso em
seu nariz, como uma borboleta pousando suavemente em sua
flor favorita, e seu olhar travesso é substituído por um bocejo
retumbante.
Minha leoa sonolenta.
Eu a levanto em meus braços novamente, e ela facilmente
envolve seus membros em volta de mim.
— É a primeira porta — ela sussurra.
Eu a carrego para o quarto e a coloco nas cobertas.
— Luca? — Sua voz é tão gentil, o toque de sua testa
aquecendo cada centímetro do meu interior. Eu me jogo na
cama ao lado dela, puxando os lençóis coloridos sobre nossa
pele nua.
— Hum?
— Este pode ser o meu jogo favorito.
Eu sorrio com as palavras e a puxo para mais perto de mim.
— O meu também.
Luca Navarro está na minha cama.

Há muito tempo perdi a conta do placar que costumava


manter. Mas agora, acho que ambos merecemos um ponto em
pé de igualdade.
Eu gentilmente levanto um dos meus lençóis com estampa
de cavalo-marinho enrolado em seu corpo grande e espio por
baixo.
Um Luca Navarro nu está na minha cama.

Um calor estrondoso invade minhas bochechas.


Acho que aquele tanquinho da faculdade nunca foi
embora.
O braço de Luca sai de debaixo de nossa coberta
compartilhada, procurando meu corpo na cama. Eu saio
suavemente de seu alcance, com cuidado para não acordá-lo de
seu sono profundo. Pego sua camisa abandonada, coloco uma
calcinha limpa e caminho na ponta dos pés até a sala.
Estou tão feliz por ter conseguido manter meu quarto limpo
desde minha última maratona de limpeza.
A dor ainda ataca meus músculos depois da noite passada
enquanto puxo a camisa enorme sobre o meu corpo. Breves
flashes de nossa fome insaciável se repetem em minha cabeça.
Meu corpo nunca, nunca foi tão gentilmente desmontada e
cuidadosamente montada dessa forma. Ele me permitiu a
liberdade de me soltar sob seu toque, estando conectada a ele
como minha rede de segurança. Luca rasgou ondas de prazer
do meu corpo como se todas pertencessem a ele.
Eu tropeço na cozinha, mas a sensação de suas mãos
impressas em meu corpo me segue. O pequeno hematoma em
meu tornozelo dolorido está doendo apenas um pouco da noite
anterior. Encho o copo de água que Luca me deu ontem à noite
e tomo o líquido refrescante.
A porta de Lily está entreaberta, parada no mesmo lugar que
estava ontem à noite, e estou agradecida por não ter
experimentado ela confundindo os gritos de prazer que
emanam do apartamento com um assassinato cruel.
Minha garganta ainda queima por causa dos meus gritos
altos.
Um desejo irresistível de fazer algo bom para Luca aquece
dentro de mim. Eu procuro em meus armários por um saco de
grãos de café, mas minha sorte não está ao meu favor. Lily deve
ter acabado com o pacote ontem.
Normalmente, eu sou habilidosa na cozinha, então digito
receita de horchata na barra de pesquisa do meu telefone e abro
uma infinidade de resultados. Eu percorro cada um deles,
procurando por um que não exija que o arroz fique de molho
durante a noite.
Ok, então isso, definitivamente, não terá o gosto igual ao que
comemos ontem à noite.
Espero que ele aprecie minha tentativa, especialmente
porque a bebida o deixou tão feliz ontem.
Eu faço o meu melhor para coletar a maioria dos
ingredientes que tenho e pego o liquidificador de confiança
que consegui em uma venda de imóveis há três anos.
Os cheiros doces de canela e baunilha enchem a cozinha.
Tento substituir o arroz encharcado pelo grão instantâneo que
está na minha despensa e substituir a indicação da receita de
creme de leite pela caixa restante de leite de aveia na geladeira.
Ok.
Os nervos se instalam no meu peito.
Isso certamente não estará certo.
Mas me apego ao meu desejo de que essa versão amadora
talvez não seja a pior coisa do mundo.
Antes de ligar o liquidificador, coloco minha cabeça de volta
para o meu quarto e espio. Luca está esparramado na minha
cama, fazendo o colchão queen-size parecer minúsculo sob seu
corpo grande. Meu travesseiro está dobrado abaixo de seu
ombro. A expansão bagunçada de seu cabelo me aquece.
Eu poderia facilmente me acostumar a vê-lo assim.
Fecho a porta atrás de mim e hesito quando volto para a
cozinha, não querendo acordá-lo. Mas a pontada de fome em
meu estômago está me deixando impaciente por algum
alimento.
O som não pode ser tão alto.
Aperto o botão e os ingredientes começam a se pulverizar
diante dos meus olhos.
Luca escancara a porta do meu quarto e irrompe na sala. Seu
rosto é impagável com olhos esbugalhados e sobrancelhas
franzidas. Meu lençol com estampa de cavalo-marinho
amarrado na cintura segue atrás dele.
Claro que ele veio na minha casa quando meus lençóis nada
legais estavam na cama.
Meus olhos se arregalam com sua ereção tão vividamente em
exibição. Ele me pega descendo os olhos pelo profundo V de
seu abdômen. Seus lábios se curvam em um sorriso enquanto
ele envolve outra camada do tecido em torno de si.
— O que você está fazendo? — A textura sonolenta de sua
voz acelera meu batimento cardíaco.
— Você nunca aprendeu as palavras bom dia? — Eu grito
acima do barulho do liquidificador.
Por quanto tempo os ingredientes devem ser misturados?
Um dos longos braços de Luca se estica acima dele em um
bocejo antes que ele se incline contra a elevação alta da ilha da
minha cozinha.
— É um despertador e tanto.
Espero que haja aquela pausa familiar de estranheza que
vem depois de passar uma noite com alguém, mas nunca
acontece. Em vez disso, Luca se eleva na minha cozinha, usando
meus lençóis, como se fosse qualquer outra manhã de fim de
semana. Como se ele pertencesse aqui.
— Um pouco de barulho nunca fez mal a ninguém antes —
eu provoco, virando-me para o liquidificador atrás de mim,
mas eu sou muito lenta.
Luca envolve-se em torno de mim, puxando meu rosto para
perto de seu peito nu.
— Muito pelo contrário.
O calor de seu corpo é minha nova sensação favorita quando
meus sentidos o recebem, o rico aroma de terra de sua pele
fazendo minha boca secar. A profundidade de seus olhos
castanhos me lembra tanto de casa, um conforto se instala em
meus ossos. O olhar de Luca pousa em mim, e um sorriso se
abre em suas belas feições. Sem pensar, eu me levanto para ele,
e nossos lábios se fecham em um abraço familiar.
Acho que nunca gostei tanto de beijar antes.
— Você tem um gosto ainda melhor agora de manhã. — O
som profundo de sua voz ondula dentro de mim, despertando
a tempestade que ele deixou bater contra ele na noite passada.
— Mesmo que eu não tenha escovado os dentes? — Eu
coro, me afastando dele.
Luca sorri e dá outro beijo em mim.
— Mesmo se você não tivesse dentes para escovar.
— Isso teria sido bom ontem à noite — eu digo. Meus dedos
alcançam a curva de seus lábios e traço uma leve marca de
mordida. — Me desculpe por isso.
Ele guia meus dedos em sua mão mais uma vez e os aperta
afetuosamente.
— Não tenho medo de algumas cicatrizes de batalha.
Eu quero que ele me pegue contra o balcão da cozinha com
um punho no meu cabelo e prove o quão bem eu posso
suportar a dureza escondida sob aquele lençol.
— Ave? — Ele me puxa do meu devaneio.
— Hum? — Eu encontro seu olhar terno.
— Eu gosto da sua camisa.
Eu olho para sua camisa de botão me engolindo inteira.
Antes que eu possa responder, o barulho incontrolável do
meu liquidificador desvia minha atenção dele. O pequeno
dispositivo bate violentamente contra o balcão da cozinha. Eu
desligo e o silêncio volta ao meu apartamento.
Luca se senta em um dos banquinhos ao longo de nossa
pequena ilha. Eu despejo o líquido cremoso por uma peneira e
em um copo limpo. Há apenas o suficiente para um copo,
então espero que o desejo recente de compartilhar bebidas não
o tenha deixado.
Eu me viro para colocar minha tentativa de horchata na ilha
da cozinha. Luca está absorto entre as páginas de um dos contos
românticos que Lily mantém empilhado no balcão, seu sorriso
aparecendo por trás da capa sexy de um homem musculoso
segurando uma chave-inglesa. Com o título O Parafuso Solto.
Eu realmente espero que ele não esteja lendo uma das
complexas cenas de sexo que Lily descreveu para mim apenas
alguns dias atrás.
Ele percebe que eu o observo e solta uma risada.
— Eu deveria levar isso para casa comigo. Tem alguns usos
muito criativos para um chuveirinho que precisarei testar.
— Fique com ele. Lily continua trazendo copias para casa
— eu digo, empurrando a bebida na frente dele. — Temos
tantos contos de Zoe Mona. Tenho certeza de que poderíamos
começar uma revolução com eles.
Luca assente com firmeza e coloca O Parafuso Solto de volta
no balcão.
Voltando-se para mim, ele olha da bebida para o meu
sorriso.
— Agora, o que é isso?
— Algo que eu realmente espero que você goste — eu digo.
Habilidades culinárias não falhem comigo agora!
— Você conseguiu me servir um copo de você? — Ele apoia
os antebraços no balcão, aqueles lindos antebraços cheios de
veias que serão a minha morte, puxando sua metade superior
sobre a ilha.
— Você sempre teve jeito com as palavras?
— Sim, estou feliz que você finalmente percebeu. — Seu
rosto se aproxima do meu. Ele me beija suavemente. Um sorriso
ridiculamente feliz aparece no meu rosto.
É assim que seria estar perto dele o tempo todo?
Ele se senta e toma um grande gole do copo. A garganta de
Luca balança enquanto ele engole. Um sorriso tenso aparece
em seu rosto, e ele devolve o copo para mim, balançando a
cabeça.
Depois de alguns momentos de silêncio, pergunto:
— Então, como está?
— Tão bom.
Entusiasmo vibra através de mim. Eu pego o copo, meus
lábios pressionando onde os dele estavam momentos atrás, e
tomo um gole da mistura. A substância espessa e amilácea
cobre minha língua, a queimadura da canela e os grânulos de
açúcar arruínam meu paladar.
Isso é horrível para caralho.
Eu viro para a pia, abrindo a torneira na minha língua,
tentando lavar a textura granulada da minha boca. A risada de
Luca ecoa pela cozinha com meu fracasso catastrófico, e eu
lanço um olhar furioso para ele.
— Posso perguntar o que exatamente você tentou fazer?
— Horchata — confesso. A mistura não tinha o mesmo
sabor da deliciosa bebida que compartilhamos ontem à noite.
— Por quê?
Minhas bochechas queimam de vergonha.
— Eu queria fazer algo por você que o fizesse sorrir como
ontem. Ugh! Eu não deveria ter tentado improvisar uma receita
que você conhece.
— Eu aprecio que você queria fazer algo legal para mim. Da
próxima vez, ensino a receita real e podemos prepará-la juntos.
— Ele ri alegremente. — Além disso, horchata não é
tipicamente uma bebida para o café da manhã.
— Eu sinto muito. — Meus ombros caem em derrota. —
Por que você simplesmente não cuspiu?
— Você parecia tão arrebatadora, parada aí com seu sorriso
feliz. — Ele envolve suas mãos grandes em torno das minhas.
— Seja honesta. — Sua voz é de comando. — Você precisava
de uma recarga de açúcar depois de toda a diversão da noite
passada?
Meu batimento cardíaco pulsa alto em minhas veias.
— Caso você já tenha esquecido, eu fiz para você.
— Tudo o que foi feito para mim já está aqui. — Luca me
guia até ele do outro lado do balcão. — Além disso, acho que
nunca vou me cansar de você fazer algo legal para mim, mesmo
que suas habilidades culinárias normalmente elogiadas tenham
falhado tragicamente desta vez.
Ele sorri. As pernas grossas e musculosas de Luca se abrem
quando ele me puxa para seu abraço novamente.
— Eu não sabia que você tinha um coração tão mole — Eu
provoco.
— Só com você — diz ele claramente, como se a verdade não
o surpreendesse.
Suas palmas seguram minhas bochechas e seus lábios
pressionam os meus. Sua barba desgrenhada faz cócegas
agradáveis em minha pele. A temperatura na minha cozinha
começa a subir.
Não importa quantas vezes eu beije esse homem
deslumbrante, parece irritantemente familiar, mas também
como se fosse a primeira vez.
Eventualmente, chegará a última vez também. Eu tento não
pensar sobre isso.
Em vez disso, eu mergulho nele enquanto meu corpo reage
ao seu toque. A ternura dolorida retorna entre minhas coxas.
Um alto pigarro preenche o ambiente, e a porta da frente se
fecha. Eu instintivamente me solto de seu aperto, dando um
passo para trás.
— Lily?
Minha melhor amiga aparece. Um sorriso atrevido
incontrolável está estampado em seu rosto.
Eu olho para Luca, que está sentado em um banquinho
delicado vestindo nada além de uma toga de meus lençóis.
Estou vestida com a camisa amassada de ontem. Meus olhos
tentam comunicar uma mensagem urgente para ele: NÃO
DIGA NADA. NÃO DIGA NADA.
— Prazer em ver você de novo, Lily. — Luca quebra o
silêncio constrangedor e se levanta, segurando firmemente o
lençol com estampa de cavalo-marinho.
— Estou feliz que Avery finalmente trouxe para casa um
substituto para seu vibrador. — Lily me dá uma piscadela
exagerada.
— Vibrador? — Luca se vira para mim, com um sorriso
perverso no rosto.
O que está acontecendo?
— É rosa com brilhos de arco-íris. — Lily corre para o
quarto dela, e eu poderia deserdá-la aqui mesmo.
Minhas palmas envolvem meu rosto aquecido.
Luca passa por mim e vai até à geladeira.
— Eu não achava que você fosse alguém que gosta de
brilhos.
Reviro os olhos.
— O que você está fazendo?
Seu sorriso cheio de dentes espreita por trás da porta.
— Eu preciso recarregar um pouco de energia de volta para
você.
Ele pega um pedaço de manteiga e uma lata meio vazia de
pêssegos da minha tentativa de fazer uma torta um mês atrás.
Meu rosto se contorce com a combinação.
— Alguém roubou suas compras?
— Eu realmente não tenho tempo para fazer compras,
cozinhar ou planejar as refeições quando passo a maioria das
noites no escritório com você — admito.
— Compreensível. — Ele coloca os itens de volta na
geladeira. — Mas já que temos que comer alguma coisa, vamos
para minha casa. Vou fazer o café da manhã para você.
Meu coração desmorona em meu estômago. A oferta é tão
simples. Normal. Café da manhã na casa dele. Como se
estivéssemos alternando os fins de semana juntos por meses.
— Seu irmão vai estar lá?
Ele ao menos quer que eu conheça seu irmão?
— Ele está fora da cidade. Mas, se quiser, podemos jantar
com ele na semana que vem.
Eu sorrio. Luca quer que eu conheça sua família. Ele falou
tão bem de Nico que mal posso esperar para conhecê-lo.
— Eu gostaria disso. — Volto para o meu quarto e Luca me
segue. — Mas antes de irmos, você deve me dizer. Seu
apartamento tem um quarto com temperatura controlada
dedicado aos seus ternos? Não quero ser surpreendida.
— Obviamente que sim. — Uma pitada de sarcasmo ondula
para fora dele, me fazendo rir, e sua palma pousa suavemente
na minha bunda em um tapa firme, mas gentil. — Podemos
mandar fazer algo parecido para a sua sala de estar. Caso
contrário, não poderei deixar minhas roupas aqui.
Eu rio com a sugestão ridícula, embora a felicidade brilhante
se multiplique através de mim ao pensar nas coisas dele
ocupando meu apartamento.

A caminhada pela cidade até o apartamento de Luca se


transformou em um mini-treino enquanto caminhávamos
pelo persistente calor do início do outono. Minha camisa se
agarra a mim quando entramos na extensão de sua casa.
Tiramos os sapatos e Luca os empilha cuidadosamente perto da
porta enquanto eu caminho pelo espaço.
A unidade de canto é revestida com janelas do chão ao teto.
Um sofá cinza macio fica no meio da sala de estar, de frente para
o centro de Nova Iorque. Eu imaginei sua casa sendo fria. Na
realidade, arte se apega às paredes. Há estantes cheias de
lembranças e porta-retratos. Ele até tem almofadas.
A cozinha é de tirar o fôlego. O espaço é maravilhosamente
amplo e decorado com bancadas de granito deslumbrantes e
um fogão de seis bocas.
Que chique!
— É lindo aqui. — Eu me viro para encará-lo, e ele me
observa traçar meus dedos sobre suas coisas.
— É definitivamente melhor do que nunca agora que você
está aqui.
Meus dedos se entrelaçam.
— Tudo bem se eu tomar um banho rápido? A caminhada
até aqui foi mais quente do que eu esperava.
— Você não precisa pedir. — Luca enfia a cabeça no
corredor e eu o sigo passando pelos outros dois cômodos até
entrar em seu grande quarto.
Há uma cama king-size com lençóis brancos bem
arrumados no colchão. Uma pequena coleção de prateleiras em
uma das paredes exibe uma variedade de livros e fotografias.
Eu sigo Luca através de seu closet que leva ao banheiro. Ele
para em uma grande cômoda e puxa uma toalha felpuda,
melhor do que algumas das toalhas de hotel chiques que eu já
vi. Ele me entrega e continuamos nossa jornada até um
banheiro impecável com uma banheira de imersão. Uma
banheira enorme, gigante e completa. A banheira do meu
apartamento mal cabe o meu corpo se eu dobrar as pernas
contra o peito. Isso é outra coisa!
— Você toma banho de banheira? — Eu digo, olhando a
variedade de sabonetes que revestem as paredes.
— Raramente. — Ele liga a água quente e começa a
derramar na banheira de porcelana. — Mas você pode gostar
depois da noite passada.
— Eu definitivamente vou.
Luca toca seus lábios no topo da minha cabeça.
— Vou fazer algo para comermos.
Cinco minutos depois, ele volta com uma tigela de
morangos e uvas antes de me deixar de molho nas bolhas
perfumadas.
Um banho quente e um homem lindo me alimentando.
Pode ficar melhor?
— Se você me deixar sozinha aqui, eu vou mexer nas suas
coisas — eu grito.
— Eu não esperava menos. — Ele para na porta e sorri. —
Tenho uma coleção de camisetas para você no meu armário, e
todos os meus segredos sujos, parecidos com os seus, estão na
gaveta da minha mesa de cabeceira.
— Você tem uma camiseta de verdade? — Eu rio.
— Não vou estragar a surpresa. — Ele sai do banheiro.
Tiro a roupa e entro na banheira, depois perco a noção do
tempo mergulhando nas bolhas quentes. Os sabonetes
aromáticos de Luca fazem cócegas em meus sentidos enquanto
massageio cada um dos meus membros doloridos na água
morna, reproduzindo seu toque em minha pele.
Saio do banho, me enrolo na toalha felpuda e coloco a
calcinha que estava usando. Minhas roupas estão muito
úmidas, então procuro uma camiseta limpa para substituir a
minha.
Volto ao closet. Agora que estou sozinha, percebo que este
espaço é do tamanho do meu quarto. Fico boquiaberta quando
vejo as janelas do chão ao teto com vista para a cidade. Isto é um
sonho.
Uma coleção verdadeiramente impressionante de ternos
está pendurada nos suportes do lado direito da parede, todos
em diferentes tons neutros. Estou perplexa com quantos estão
aqui, mal consigo contar todos eles. As etiquetas
cuidadosamente bordadas têm nomes dos quais nunca ouvi
falar antes: Alexander Amosu, Dormeuil, Savile Row. Eu tento
me lembrar deles para que eu possa procurá-los mais tarde.
Ao lado dos ternos, suas camisas de botão bem passadas
estão penduradas em cabides. Seguidas por uma parede
retroiluminada de gravatas.
Sim.
Uma verdadeira parede de gravatas.
Deve haver centenas de gravatas aqui. Estendo a mão para
tocá-las, e uma seda delicada envolve meus dedos.
Então essa é a sensação de uma dessas coisas.
Qual seria a sensação de ter Luca envolvendo uma dessas
gravatas em volta da minha pele?
Uma onda se agita dentro de mim.
Eu caminho até a parede de gavetas empilhadas
ordenadamente ao lado das prateleiras. A parede oposta está
praticamente desolada, com apenas algumas camisas
penduradas ali.
Este é o armário mais limpo que já vi. Meu armário tem sorte
de poder fechar agora e não está se espalhando por todo o meu
quarto. O fato de meu quarto estar limpo quando ele passou a
noite é um milagre.
Talvez ele possa organizar meu guarda-roupa. Então eu
sempre seria capaz de encontrar o que quero vestir. Mas eu
gosto de um pouco de confusão.
Eu tenho o desejo furtivo de reorganizar tudo, só para ver se
isso iria irritá-lo. Encontrar meu caminho sob aquele exterior
rochoso tem sido uma das minhas partes favoritas dos últimos
meses.
Depois de vasculhar bastante suas gavetas, finalmente
encontro a pequena coleção de camisetas. Com as férias
chegando, com certeza comprarei para Luca uma grande pilha
de camisetas. Eu puxo a mais macia da gaveta, o logotipo
desbotado colocando um sorriso no meu rosto. Titãs do Lixo.
Saio do closet para fazer uma parada na gaveta dos
segredinhos sujos.
Minhas coxas nuas encontram os lençóis frescos de Luca, e
eu quero rastejar em sua cama agora, me dissolver em seu
cheiro. Eu abro a gaveta do lado direito e vasculho nela. A
decepção toma conta de mim com o anúncio falso – não há
nada interessante aqui.
Um tubo de creme para as mãos, um carregador de celular e
algumas notas adesivas soltas. Pego um dos papéis e olho para
o rabisco em miniatura nele.

Pedido de Café da Ave

Duas doses de toffee


Café expresso duplo

Espuma de leite de aveia

Viro-o e vejo uma data escrita no verso. É a primeira semana


que a Plastech começou a trabalhar nos escritórios da OPO.
Isso é de meses atrás.
Eu fico olhando para ele, presa nos limites da minha própria
pele. Meus dedos traçam as bordas rombudas do papel
enquanto um peso desaba sobre mim.
Pesado, sólido, familiar.
Minha respiração trava entre minhas inspirações constantes.
Sinto como se estivesse envolta em mármore, incapaz de me
mover.
Luca tem coletado pedaços de mim antes mesmo que eu
pudesse aceitar estar perto dele. Antes de me deixar desfazer da
minha teimosia e descobrir como é ficarmos do mesmo lado em
uma briga.
Estou ansiosa para voltar aos braços de Luca.
Eu solto a toalha da minha cabeça enquanto caminho de
volta para o banheiro. Liberando minhas ondas secas em meus
ombros, eu devolvo a toalha a um gancho pendurado na porta
do banheiro, então olho em volta de seu closet uma última vez.
Minha atenção se concentra em uma pilha de caixas de cores
vivas aninhadas no canto perto da cômoda. Elas parecem
extraordinariamente fora de ordem.
Por que não notei isso antes?
Eu luto com meu desejo de espiar dentro delas.
Você já bisbilhotou o suficiente!
Sem masmorras secretas, sem trajes robóticos pendurados
em prateleiras, sem relíquias de namoradas anteriores.
Mas a decoração elegante de uma das embalagens me chama
a atenção. Eu me abaixo, minhas mãos puxando as caixas para
fora do canto.
Uma barricada se forma rapidamente em torno de meus
sentimentos enquanto inspeciono as roupas. Meu coração salta
do buraco no meu estômago, agora batendo
descontroladamente no meu peito.
Eu espio dentro de cada caixa e tiro diferentes pares de
shorts elásticos, leggings e alguns tops de treino em uma
variedade de cores pastel. Uma pequena caixa contém o que
parecem ser amarradores de cabelo, o material sedoso
queimando em minhas mãos.
Que porra é essa?
Eu empilho as caixas em fúria, em seguida, reúno cada
pedaço da evidência vil. Que tipo de idiota imprudente
mantém as roupas das mulheres em seu apartamento quando
traz outra mulher para casa?
Entro furiosamente na cozinha irritantemente arrumada de
Luca Navarro. Por que precisa ser tão impecável?
Meus pés batem no chão até eu chegar atrás dele, jogando as
roupas e caixas no balcão ao lado do fogão inutilmente grande.
Meu olhar imediatamente me trai quando examina seu torso
nu e pousa na protuberância muito, hum, considerável em sua
calça de moletom cinza.
Sério? É isso que ele está vestindo quando estou prestes a
arrancar sua cabeça. O que diabos ele tem ali?
Eu quero gritar de frustração.
— Você voltou da sua bisbilhotagem. — Luca olha para
mim com um sorriso antes de voltar sua atenção para a panela
quente.
Oh, como eu quero pegar aquela panela pela alça e bater nele
bem aqui.
— Por que há uma abundância de roupas femininas em seu
quarto? — Um arrepio percorre minha espinha enquanto
espero que ele responda. Meu pé bate loucamente no ladrilho
branco.
Ele ri.
— Se é isso que você chama de abundância, então vamos ter
que ter uma conversa séria...
— Me responda. — Este não era um momento para suas
provocações incessantes.
— Sobre as roupas... — Luca desliga o fogão, puxando a
panela do fogo para me encarar.
Eu mudo meu peso de uma perna para a outra. O rugido em
meu peito despenca em uma avalanche.
Ok.
Porra!
Ok.
Nenhum dano feito.
Eu poderia tentar acreditar nisso.
Apenas um jogo que estamos jogando. Nossos joguinhos bobos.
— Eu estou de olho em alguém há um tempinho — Luca
diz lentamente, seus olhos piscando em direção às roupas e de
volta para mim.
Seu rosto é ilegível.
Isso é um pingo de culpa em suas características
insuportavelmente atraentes?
— E ela é fodidamente extraordinária.
A panela parece tão perto agora que meus dedos se fecham
em punhos.
Inspirar. Expirar.
Inspirar. Expirar.
— Mas agora que...
Eu o interrompo, incapaz de suportar as próximas palavras
que saem da sua boca.
— Se você só vai...
Um dos dedos de Luca encontra-se em meus lábios e eu o
mordo. Ele nem mesmo grita. Uma sugestão de covinha se
curva em suas bochechas sorridentes, o que não ajuda em nada
a diminuir o pânico que borbulha dentro de mim. Meus dentes
relutantemente abrem em torno de seu dedo, e ele volta a mão
para a variedade de caixas.
— Mas agora que ela está aqui, finalmente posso dizer a ela
que ela é um perigo quando está correndo.
Meu pescoço estica para trás e minhas sobrancelhas se
franzem em um apertar pontiagudo. Luca desembrulha um
dos pacotes que não tive chance de abrir, revelando um
brilhante par de tênis brancos novinhos em folha que
combinam com os que ele usa, no meu tamanho.
— O quê? — Eu digo.
— Não sou fã de tênis desmantelados. — Ele se ajoelha,
então pega um dos meus pés em sua grande palma e desliza o
tênis acolchoado sobre ele. A malha almofadada se encaixa
perfeitamente.
— Eu te aviso, porém, esta minha mulher acabou de revelar
um pouco de um lado ciumento. — Ele sorri. Ele se inclina para
calçar o outro tênis. Suas mãos na minha perna me trazem de
volta à noite passada.
Eu mexo meus dedos dentro do meu tênis novo.
Luca se endireita e seus lábios beijam cada ponto quente da
minha carne: minhas bochechas, meu nariz, meus lábios.
Quero me entregar ao calor que cada toque afetuoso provoca,
a forma como aquece algo sob minha barriga, mas não vacilo.
— Como você sabia que eu os encontraria aqui? — De jeito
nenhum ele comprou isso especificamente para mim. Mesmo
que os tênis sejam do meu tamanho.
— Eu não sabia. Você é a primeira mulher que eu trouxe
para casa. Mas nas últimas semanas em que trabalhamos juntos,
cada vez que comprava algo para mim, eu não podia deixar de
pensar em você e em seu senso de moda atlético incomumente
ruim.
A primeira mulher que ele trouxe para casa? Nas últimas
semanas?
Ele sorri.
— Não há mais ninguém além de você, Ave. — Uma onda
avassaladora de emoções passa por mim, e eu quero estender a
mão e me enrolar em seu abraço.
Em vez disso, meu punho encontra seu peito musculoso.
Eu me sinto ridícula. Luca passou semanas me provocando
e insultando como se seu único propósito na vida fosse me
irritar. Em vez disso, ele está destruindo meu exterior rígido.
— Ai! — Luca finge uma lesão, mas continua sorrindo. —
Para o que foi isso?
Luca recebe alguns golpes sem o menor abalo em sua
postura antes de colocar as mãos em volta da minha cintura e
me jogar por cima do ombro.
Por que ele tem que ser a aflição frustrantemente forte,
bonita e irritante que faz minha cabeça girar sobre meus
ombros?
Ah!
— Pare de brincar comigo! — Eu grito.
— Nunca. — Sua palma encontra minha bunda, e eu uivo.
A dor rápida na minha carne fica quente. O calor entre minhas
coxas retorna sob a onda de pânico.
O sangue sobe à minha cabeça enquanto fico pendurada de
cabeça para baixo. Eu chuto meus pés no ar, batendo meus
punhos em sua bunda.
— É assim que vai ser com você? Um ser temperamental que
precisa ser domado constantemente? — Sua voz vem de cima
de mim. Seu outro braço segura minhas novas roupas de
ginástica. Ele me carrega em direção ao quarto.
— Sim. Agora, me coloque no chão! — Eu grito, meu
aborrecimento se transformando em um ataque de riso.
Luca me carrega até seu closet e me coloca na frente das
prateleiras vazias em frente a seus ternos.
— Luca? — Eu hesito por um segundo.
— Hum? — Luca me encara, e uma necessidade inquietante
corre por mim por ele, que agora está dobrando as roupas de
corrida e colocando-o em uma gaveta vazia.
— Caso você esteja se perguntando, não houve ninguém
além de você também...
Seu corpo gira em direção ao meu e ele me beija. Eu sorrio
em seus lábios macios, me sentindo incrivelmente feliz.
— Agora suas coisas finalmente têm um lugar no nosso
closet, em vez daquelas caixas. — Ele diz isso tão casualmente
que acho que ele nem ouviu o que saiu de seus lábios.
— Nosso closet? — Eu digo, tentando disfarçar a maneira
como meu coração se estabiliza com suas palavras.
— Sim — diz Luca.
A confiança em seu tom endireita minha espinha.
Simplesmente sim.
Sem consideração. Nenhuma explicação.
O espaço que ocupamos de repente é meu.
Nosso.
— Você está convencido de que pretendo voltar? — Eu o
provoco, tentando remover o tom sério de sua voz provocante.
Minhas próprias emoções ainda estão tentando resistir às suas
intenções. Não porque eu não o queira, mas porque o quero
demais.
— Sim — ele diz como se fosse óbvio. — Você pode fazer o
que quiser aqui.
Os pisos de madeira de repente parecem o convés móvel de
um navio.
É essa a sensação de confiança? Simplesmente acordar um
dia e perceber que a pessoa que você queria jogar de um
penhasco, pularia com você? Eu quero sentir uma liberação
com ele, e algo selvagem dentro de mim implora para ser
domado.
— Então, eu posso fazer isso? — Eu arrasto as palavras
lentamente. Eu tiro os tênis novos dos pés e os jogo em uma
trouxa bagunçada do meu lado do closet.
— Se é assim que você gosta de guardar suas coisas. — Luca
há muito parou de dobrar as roupas. Em vez disso, ele fica lá,
observando cada movimento meu. — Então, sim.
Há um desafio familiar em sua voz, fazendo com que meu
bom senso se renda à promessa de algo imprudente se
formando entre nós.
Eu puxo uma peça de roupa da gaveta e a jogo no chão.
— E quanto a isso?
— Eu disse a você, Ave. — Sua voz se aprofunda em cada
palavra. Estendo a mão para tocá-lo, e ele acaricia meus dedos
com a boca. Eletricidade crepita em meu umbigo. — Tudo
aqui é para você fazer o que quiser.
— Tudo? — Meus lábios se curvam com a oferta que antes
eu estava hesitante em aceitar.
Eu nunca explorei verdadeiramente minhas próprias
fantasias gananciosas, sabendo que nenhum homem seria
páreo para meus desejos crus. Mas com Luca, eu quero
experimentar como seria colapsar nele, entregar cada parte
carnal de mim.
— O que você quer, Ave?
Eu sei com cada molécula do meu ser que posso pedir a Luca
para reorganizar o chão sob meus pés e ele não hesitaria em fazê-
lo. Por isso não hesito em dizer-lhe a verdade.
— Você.
Avery continua a causar estragos em seu lado do closet, um
sorriso cheio de dentes em suas feições. Seus olhos travessos
trazem um sorriso ao meu rosto. Normalmente, eu estaria
perdendo a cabeça agora vendo a bagunça espalhada pelo chão.
Mas há algo muito mais interessante em meu closet do que
a desordem.
Eu olho para a mulher que quero fazer minha enquanto ela
move aquelas irresistíveis pernas nuas em direção à minha
parede de gravatas.
— Avery. — Minha voz é baixa com uma advertência como
eu nunca ouvi antes.
— Luca. — Ela desafia, então junta um punhado de minhas
gravatas na palma da mão.
— Nem pense nisso, porra.
Mas ela já está as arrastando da parede em massa.
Em um instante, arranco Avery do chão e ergo seu corpo em
meus braços. Sua risada diminui e eu aproveito a oportunidade
para ajustar suas coxas em volta da minha cintura, seus braços
envolvendo meus ombros.
Ela parece flexível em minhas mãos. A alegria bate em mim,
e a cor avelã de seus olhos corresponde à minha expectativa. Eu
me sinto no topo da porra do mundo vendo esta mulher
esperando meu próximo movimento.
— Eu gosto quando você se comporta mal — eu digo,
levando-a para fora do closet e para o quarto. — Mas eu vou
realmente amar fazer você obedecer.
Com essas palavras, os lábios de Avery encontram os meus,
e nossas línguas voltam a dançar. Meu comprimento lateja
agressivamente enquanto a carrego para nossa cama. Eu
gentilmente a coloco nos lençóis. Sua liberação ontem não vai
se comparar com a maneira como ela está prestes a gozar em
meu pau.
Avery não espera para se ajoelhar impacientemente diante
de mim no colchão.
A porra da minha deusa perfeita.
Ela poderia me levar ao limite agora com seu olhar. Essa
corrente de excitação retorna em outra onda tempestuosa. Seus
dedos ansiosos alcançam minha calça de moletom.
Entrelaço nossos dedos.
— Você confia em mim?
Ela ri, sua mão se contorcendo para fora do meu aperto, e
vai para o meu cós novamente.
— Avery? — Minha voz é severa.
Ela solta um grunhido antes de sua palma começar a
acariciar o tecido ao redor da minha ereção pulsante. Eu
pressiono a espessura contra suas mãos. Mas assim que seus
dedos começam a puxar o tecido, dou um passo para trás.
— Eu confio em você — ela finalmente diz, uma carranca
pintada em seu rosto pitoresco.
A preciosidade dessas palavras envia fogo através de mim.
Estou quase disposto a sucumbir a ela e dar-lhe cada centímetro
de mim. Mas eu balanço minha cabeça e reúno um pouco do
meu controle, querendo saborear cada segundo tenso deste
momento.
Seus olhos reviram em frustração, e eu aprecio a expressão.
Avery é carente, carente de mim, e nunca houve uma demanda
que eu estivesse tão ansioso para satisfazer.
— Esse olhar em seus olhos será a minha morte. — Eu tomo
um de seus lábios carnudos entre meus dentes. — Eu sonhei
com isso por meses, imaginando como seria sentir você
envolvendo meu pau. Quão molhada você estaria por mim.
— Então me deixe mostrar a você — ela sussurra, e seus
lábios atacam os meus. Fortemente. Furiosamente.
Eu afasto seu aperto porque quase me perco.
— Seja paciente. Eu tenho uma surpresa.
— Eu gosto de surpresas.
— Eu sei. — Beijo sua testa rapidamente e caminho até o
closet. Deixá-la por um segundo parece um crime contra a
humanidade.
Quando volto, duas das minhas gravatas de seda estão
enroladas na palma da minha mão. E minha camiseta dos Titãs
do Lixo está abandonada ao pé da cama, a calcinha preta ao lado
dela.
Avery me recebe com cada centímetro impecável de sua pele
exposta em nossos lençóis.
Terei que pedir a ela para manter essa camiseta no futuro, se
ela estiver realmente disposta a nos dar uma chance. Eu quero
vê-la me montando usando aquela coisa e encenar uma fantasia
oculta.
A maldade volta aos seus olhos quando ela vê as gravatas, me
desafiando.
Uma provocação impiedosa toma sua voz:
— Você não pode me foder sem uma dessas gravatas
ridículas?
— Eu posso te foder de todas as maneiras que você quiser,
Avery. — Eu faço o meu caminho até a cama, elevando-me
sobre ela enquanto ela está deitada diante de mim,
descaradamente nua e em exibição. — Além disso, nós dois
sabemos que isso é muito mais do que uma foda, Avery.
Suas bochechas coram. Eu me delicio com o rubor que trago
para sua pele.
— E se isso for tudo o que eu quiser? — Ela provoca.
— Que pena. — Eu sorrio, e ela reflete meu sorriso
brincalhão.
Sei que este é outro jogo nosso e estou feliz por continuar
jogando. Só espero que, quando estiver pronta, Avery admita
que há mais aqui do que nossas batalhas.
Subo na cama e me inclino sobre ela. Minhas mãos voltam
para os lugares que eu sei que fazem ela se contorcer. Avery abre
os joelhos em antecipação, revelando a umidade já acumulada
ali.
Eu chupo um de seus seios macios e ela geme.
— Agora que eu provei você, Avery, eres mía.
Agarro seus pulsos e a arrasto para cima na cama, seu corpo
não resistindo a nenhum dos meus toques.
— O que você vai fazer? — Avery protesta de forma pouco
convincente.
— Lembra da confiança? — Eu a lembro. — Você adorou
gozar em meus dedos ontem, eu prometo que você vai adorar
isso também.
O olhar de Avery encontra o meu, e ela hesita com suas
próximas palavras, provavelmente percebendo que sua boca
inteligente pode tirar o prazer que ainda espera por ela. Suas
curvas flexíveis abaixo de mim estão me testando. Eu quero
abrir suas pernas aqui e dirigir meu pau descoberto em seu
centro inchado. Em vez disso, eu a respiro e deixo a umidade
entre suas pernas esfregar em minha coxa.
Enrolo uma das gravatas em seu pulso esquerdo e a prendo
na cabeceira da cama.
Seus olhos se arregalam com a nova restrição.
— Eu nunca fiz isso antes — ela sussurra.
— Eu também não. — Eu nunca quis arruinar uma das
minhas preciosas gravatas, mas queimaria todo o meu armário
por ela. — Só com você. Você confia em mim, Ave?
Sua mão livre relaxa na minha.
— Eu quero isso.
Ela acena para mim e eu continuo. Eu gentilmente agarro
seu outro pulso, que também amarro na cabeceira de madeira.
— Você sabe o que está fazendo?
— Eu pratiquei. — Eu conecto sua boca à minha como dois
pontos em um mapa e puxo meu corpo para cima do dela.
Minha linda mulher está espalhada diante de mim, carente
e à minha mercê.
— Quando você praticou isso?
Eu viajo ao longo de seu corpo.
— Toda vez que você mencionava minha gravata, eu
pensava em como você ficaria linda assim.
Cubro suas curvas de beijos até voltar ao meu lugar
preferido.
— Cada provocação. — Outro beijo. — Cada aposta.
Eu traço os dedos da minha mão direita por sua fenda em
movimentos suaves e provocadores.
— Luca. — Um aviso dela. Os quadris de Avery começam a
balançar contra mim.
Eu rio de seu olhar aguçado.
— Relaxe, cariño.
Meus dedos retornam ao ritmo familiar que ela gosta em seu
clitóris.
Estendo a mão e traço a outra mão entre cada um de seus
seios, a dureza de seus mamilos áspero contra a palma da minha
mão. Meu toque fica mais deliberado, extraindo seu prazer
crescente.
— Você é muito bom nisso — ela exala. — É demais, por
favor.
Aqueles suspiros altos e familiares enchem nosso quarto, e é
música para meus ouvidos.
Eu deslizo dois de meus dedos dentro dela antes de curvá-los
profundamente em seu núcleo, meu polegar mantendo o ritmo
em seu clitóris.
— Goze para mim, Avery — digo a ela. — Eu quero que sua
boceta encharque meus dedos antes que eu preencha cada
centímetro de você com meu pau.
As palavras acendem algo selvagem dentro dela. Aquela
determinação adorável para caralho retorna aos olhos dela
enquanto meu ritmo aumenta. Os braços contidos de Avery se
arrastam pelos travesseiros.
— Luca. — Ela continua lutando contra sua liberação, mas
estou determinado a levá-la lá. — Eu não consigo.
Eu subo em seu corpo e enlaço a mão que trabalha em seus
seios em seu cabelo, trazendo sua testa para a minha.
— Eu aposto que você consegue.
O desafio é sua ruína. Um grito penetrante enche o quarto
enquanto seu orgasmo se desenrola. A pulsação de sua boceta
apertando meus dedos é extraordinária.
Um brilho de suor cobre seu corpo, e vê-la desfeita assim,
força uma possessão primordial em minhas veias. Quero
marcá-la como minha e que ela faça o mesmo comigo.
Eu removo meus dedos dela e fico na beira da cama. Através
de sua névoa embriagada, Avery observa minhas mãos viajarem
em direção ao lugar que ela está tão ansiosa para se familiarizar.
Ela traça meu peito com os olhos, abrindo a boca enquanto
minhas mãos abaixam minha calça de moletom, me despindo
diante dela.
Aqueles lábios carnudos se abrem com a visão do meu
comprimento grosso pulsando entre nós. Meu pau está mais
rígido do que nunca, a ponta inchada está pingando,
implorando para preencher cada centímetro dela. Percebo que
os olhos de Avery se arregalam.
— Uau.
Eu rio de sua expressão apavorada.
— O quê, Ave?
— Eu sabia que você seria grande, mas isso é... — Ela olha
com mais atenção. O breu de suas íris engolindo a avelã de seus
olhos.
— Isso é? — Espero que ela termine minha frase.
— Maior do que eu imaginava.
Respiro fundo, tentando não me concentrar na dor no meu
pau. Não quero que isso acabe tão cedo.
— Então, nós dois estamos pensando sobre isso há algum
tempo?
— Sim. — Suas bochechas ficam com um tom mais
profundo de vermelho.
— Você está pronta para mim, minha garota?
— Muito. — Ela acena com a cabeça e eu ando até a mesa
de cabeceira, meus dedos alcançando um embrulho laminado
na gaveta. Avery me observa atentamente, seu lábio inferior
preso entre os dentes.
— Eu estou tomando anticoncepcional. — As palavras
escapam dela como uma flecha solta, fazendo meu coração
disparar. — E eu estou limpa depois do meu exame físico
algumas semanas atrás.
Isso está realmente acontecendo agora, ou estou em algum tipo
de sonho febril?
— O que você está dizendo, Ave?
— Eu quero tudo de você, quero dizer, obviamente, só se
você... — Ela tenta esconder seu constrangimento nos
travesseiros.
Esse lado tímido e acanhado que eu nunca vi antes faz meu
pulso vibrar. Volto para a cama e abandono o embrulho no
chão.
— Eu fiz o teste depois que nos beijamos no barco, e não
apareceu ninguém desde então — eu digo.
— No barco?
— Francamente, não havia ninguém antes disso também,
mas...
— Você fala demais, Navarro. — Uma chama ilumina seus
olhos, me tentando.
Ela é tão atraente em suas restrições. Eu não sei como vou
durar dentro dela.
— E você parece amar para caralho. — Eu sorrio.
Eu fecho a distância entre nós, puxando meu corpo sobre o
dela, meus dedos pegando sua mandíbula e segurando seu rosto
imóvel. Meu pau sonda a umidade pingando
desordenadamente entre suas coxas.
— Eu realmente amo — diz ela, e um gemido gutural sai da
minha garganta.
Amor.
Essa palavra preciosa escapando dela é a gota d'água.
Luca leva seus dedos à minha boca, e eu lambo avidamente cada
um deles antes que ele volte a um ritmo constante em meu
clitóris inchado. As restrições intensificam a sensação de outro
clímax crescendo dentro de mim.
Como posso odiar algo e amar tanto ao mesmo tempo?
Talvez essas gravatas tenham um propósito.
Eu quero ele.
Eu preciso dele.
Ele trabalha meu corpo tão bem, sem perder o ritmo, e eu
me sinto facilmente cedendo aos seus toques.
Luca abaixa o rosto para o meu e me beija com ternura antes
de sussurrar:
— Lembra quando eu disse que você imploraria por mim?
Um gemido irrompe de mim. Ele está brincando agora?
— Isso não está acontecendo. — Eu o fuzilo com os olhos.
Luca para completamente, e meu corpo me trai. Deixo
escapar outro gemido irado enquanto meus quadris seguem
desesperadamente atrás dele. Estou quase envergonhada com o
quão desequilibrada estou. No entanto, cada centímetro do
meu corpo está definitivamente implorando por mais.
— Ontem à noite, você parecia querer muito. — Minhas
bochechas esquentam com o lembrete.
— E daí? — Eu provoco.
— Se você quer ser fodida, Ave... — Meu sorriso de garoto
favorito se transforma em algo sombrio e tempestuoso. —
Você vai ter que pedir com educação.
Nenhuma parte de mim quer fazer disso um jogo. Eu
preciso dele.
Um grito exigente sai de mim e relutantemente derramo o
desejo dos meus lábios.
— Me. Fode.
Minha umidade gruda na carne das minhas coxas enquanto
eu torço e giro na distância tentadora de seu corpo. Luca leva
uma de suas grandes mãos ao meu queixo e me agarra com
força. Eu quero sentir seus dedos em volta do meu pescoço em
vez disso. Eu gentilmente puxo as amarras, amaldiçoando o
fato de que não posso abaixar as mãos e acariciá-lo.
Ele está me deixando louca para caralho.
— Como se você quisesse dizer isso de fato.
— Luca. — Eu mordo em um tom exasperado. Ele continua
pairando acima de mim, sua mão grande ainda segurando meu
rosto, e uma expressão diabólica escorre por suas feições.
— Sim, Avery? — Ele diz claramente.
— Sr. Navarro — eu mordo. — Por favor, me fode, bem
forte para caralho.
Não adianta bancar a tímida. Eu sofro por ele.
Luca toma isso como uma deixa para dirigir um impulso
profundo em mim. Uma picada prazerosa pulsa através de
mim. Acho que nunca estive tão cheia antes. Minhas paredes se
convulsionam ao redor dele enquanto ele continua a penetrar
em mim. Eu vou aceitar tudo dele.
— Porra, você parece... — Luca choraminga e suga em
outro suspiro contra mim. — Tudo bem?
Eu concordo.
— Você é o meu favorito.
Quando ele finalmente entra até a base, eu luto para
compreender onde ele termina e eu começo. O quarto começa
a girar ao meu redor. Estou embriagada de necessidade.
Eu instintivamente estico uma das minhas mãos para ele,
mas as gravatas só apertam mais em volta do meu pulso. Ele
observa minha luta com um meio sorriso. Isso me excita mais
sabendo que ele pode fazer o que quiser comigo. Mas eu confio
nele.
Meu corpo confia nele.
Luca se arrasta para fora de mim em um movimento
frustrantemente lento.
— Por favor, Luca. — Eu puxo as restrições novamente,
esperando que elas cedam. Mas ele envia outro impulso duro
em minha umidade encharcada, e eu derreto debaixo dele.
— Você diz por favor tão bem. — Ele sorri.
A luta resistente em mim retorna, mas eu desisto. A maneira
como ele me conhece tão bem está destrancando cada trava
teimosa dentro de mim.
— Luca — deixo escapar um gemido exasperado.
— Seja paciente, Avery — ele exige.
Me fode. Agora. Eu quero gritar em seu lindo rosto. Mas
não consigo formar frases. A tensão na minha mandíbula
começa a diminuir. Como se Luca pudesse ler meu desespero,
ele interrompe os movimentos lentos e tortuosos com outro
golpe de seu pênis. A colisão de seus quadris se torna mais
agressiva.
Eu o envolvo como se ele tivesse sido feito só para mim.
Ele deve ser.
— Você parece como o próprio céu, Ave — diz ele contra a
minha carne úmida.
Aprecio o som do nome que não permiti que ele falasse por
meses. Eu estava tão errada para caralho. Ele deveria estar
dizendo isso o tempo todo. Especialmente quando soa tão bem.
— Não pare.
A palma da mão quente de Luca volta para minha
bochecha, e ele engole cada um dos meus gemidos sem sentindo
com seus beijos. A batida brutal des nossas carnes é a única
música no quarto. Meus olhos ardem de lágrimas; o prazer
crescendo em meu núcleo está se tornando insuportável. Eu
sofro para que ele me dê a minha liberação.
Seus olhos vidrados retornam aos meus.
— Diga meu nome, Ave. Eu adoro quando você diz meu
nome.
— Luca — eu gemo.
— Desse jeito. — Sua voz ressoa através de mim.
O elogio inflama minha determinação de levá-lo ao limite
comigo. A mão livre de Luca desce pela minha coxa e dobra o
comprimento da minha perna direita para o lado dele, meu
joelho dobrado sob seu peito. Sua mão volta para cima de mim,
acertando o suporte da cabeceira da cama. A nova posição o
empurra mais fundo em meu núcleo, seu pau rígido atingindo
meu ponto mais sensível.
— Mais forte. — Eu estremeço quando Luca preenche a
profundidade de mim de novo e de novo.
— Eu deveria saber que você seria tão exigente, enquanto eu
fodo você. — Luca aperta meu lábio inferior com os dentes. —
Você estava muito carente quando montou meu rosto.
As palavras aquecem minhas bochechas.
— E eu deveria saber que você não seria capaz de calar a
boca.
— Você quer, cariño. — Ele sorri. — Eu posso ver o quão
selvagem para caralho você fica sabendo que estou obcecado
pela sua boceta.
Eu realmente quero isso.
Luca Navarro me conhece como a palma de suas lindas
mãos. Seu suor pinga em minha pele, e suas palavras inundam
meu núcleo ainda mais.
Em vez disso, sussurro em seus lábios:
— Me mostre o quão obcecado você realmente é.
A onda do meu clímax está à beira, minhas paredes
ordenhando cada impulso de sua dureza dentro de mim. Mas
Luca não cede.
Quando me aproximo do limite do meu orgasmo, ele
quebra o ritmo no meu clitóris e usa os dedos para soltar a
gravata que prende meu pulso direito à cabeceira da cama. Eu
imediatamente pego sua mão e dobro minhas pernas sobre a
parte de trás de suas coxas, pressionando-o mais fundo em
mim. Seu pênis me enche com estocadas deliberadas, e Luca se
recusa a quebrar as estocadas alucinantes nem por um
momento.
— Você quer que eu encha essa boceta apertada e bonita
com a minha porra, docinho?
Luca puxa sua mão pesada do meu alcance e puxa sua
metade superior para longe de mim, não separando nossa
conexão. Eu observo como ele se ajoelha diante de mim, seus
olhos escaneando do meu olhar até onde ele e eu nos
encontramos. O ato é como um choque para o meu sistema.
Eu e ele.
Juntos.
Ele dá um tapa suave contra o meu clitóris pulsante com os
dedos em uma fração de segundo antes de retornar a mão para
a minha.
Isso foi tão quente para caralho. Minha boca seca
completamente, e tudo que posso fazer é acenar furiosamente.
A sucessão de movimento se desenrola na minha frente
como se eu sequer estivesse inteiramente lúcida. Eu puxo a
palma da mão quente de Luca até minha garganta e envolvo
seus dedos em torno da minha pele corada.
Uma onda de fogo corre pelo meu sangue que eu não sabia
que estava lá. A tensão em mim aumenta em cada molécula do
meu ser.
— Mais. — Outra súplica sai de mim. — Por favor, eu
preciso...
A turbulência se desenrola em meu corpo enquanto ele
aperta gentilmente meu pescoço. Este é definitivamente o tipo
bom de engasgo. Uma névoa sombria começa a invadir os
cantos da minha visão. Meus dedos dos pés se curvam, meu
corpo fica mais rígido em antecipação à minha queda.
— Boa garota, Ave. — O aperto de seus dedos aumenta. —
Olhe para você, tomando tudo de mim como se eu tivesse sido
feito para você.
Você foi.
Meu grito rasga através de mim, e eu caio. Meu corpo vibra
com ele e minhas paredes se convulsionam em torno de seu
comprimento grosso. Cada borda não descoberta do meu ser se
estilhaça quando seu orgasmo se junta ao meu. Esperma quente
e espesso me enche até a borda, e eu adoro me sentir
absolutamente inundada por ele.
Eu ainda estou convulsionando em torno dele quando ele
finalmente se retira do meu centro inchado. Seu esperma se
derrama sobre minhas coxas. Ele abaixa a cabeça na minha e
planta beijos suaves em todo o meu rosto. Eu sorrio para ele.
Nós caímos em algum lugar em nossa névoa. Não sei quanto
tempo ele segura meu corpo flácido em seu abraço caloroso,
mas me deixo levar pelo som da nossa respiração. Nossos
batimentos cardíacos sincronizam.
Luca desfaz o nó restante que me prendia à cabeceira da
cama e deixa beijos pelos músculos tensos do meu braço.
— Luca? — Eu consigo dizer, mas minhas palavras
desaparecem da minha língua quando meus olhos encontram
seu olhar terno.
— Eu sei — diz ele.
— Hum?
— Você e eu juntos, Ave, é muito melhor do que você
contra mim.
— Escute aqui, Sr. Navarro, eu estou começando a pensar que
você me trouxe aqui para drenar o restante da minha sanidade,
não para me alimentar com café da manhã como prometido.
Avery monta em mim, suas mãos prendendo meus braços
acima da cabeça como as dela estavam apenas alguns minutos
antes. Estou tão fodidamente contente com seu sorriso que
nunca desaparece. Eu luto sob seu controle e me sento,
abraçando-a bem perto de mim.
— O que vamos fazer, Srta. Soko? — Eu provoco, e ela se
contorce em meus braços. — Se temos um dia inteiro pela
frente e você já está esgotada.
— Reabastecer — ela ri e dá uma grande mordida no meu
ombro.
A picada cheia de desejo de seus dentes em minha carne me
faz querer jogá-la sobre meus joelhos e pousar a palma da mão
firme em sua bunda nua.
— Foi o suficiente? — Eu pergunto enquanto ela se afasta.
— Nunca! — Ela grita de volta, cobrindo meus braços em
beliscões mais suaves.
Meus dedos fazem cócegas em seus lados. Uma gargalhada
sai dela até que ela finalmente escapa do meu alcance e corre em
direção ao closet. Eu saboreio seu corpo nu antes que ele escape
de vista.
Eu a sigo e tomamos um banho rápido antes de encontrar
nossas roupas. Visto uma cueca limpa e uma calça de moletom
enquanto Avery vasculha sua nova pilha de roupas nas gavetas.
— Se eu tenho um armário inteiro aqui, é melhor eu ter um
pijama logo — diz ela, uma das minhas camisas de botão
encontrando o caminho de volta para seus ombros esguios.
— Pessoalmente, você vestindo isso é muito melhor do que
qualquer pijama. — Fico de pé sobre ela e meus dedos fecham
os botões da camisa de dois mil dólares que comprei durante
meu segundo ano na Douglas & Draper.
— Fico feliz que você finalmente entenda que eu tenho um
gosto requintado. — Ela ri e veste um par de seus novos shorts
de algodão.
— Seu gosto sempre foi requintado.
— O que você acha? — Ela sorri para mim.
— A única coisa que poderia melhorar isso é se você tirá-la.
Avery ri.
— Nós vamos comer primeiro e então você pode provar a
mim mais tarde.
— Você é quem manda. — Eu beijo sua testa.
Estar com Avery é muito mais do que a maneira como nos
relacionamos, mais do que o silêncio do mundo ao nosso redor
quando ela fala. A alegria brilhante em seus olhos é algo que eu
quero ver todos os dias. Quando estou perto dela, sinto mais
felicidade. Pela primeira vez, em muito tempo, os fragmentos
do meu valor se refletem no sorriso dela, não no sucesso da
minha carreira.
Eu afasto uma onda loira perdida de seu rosto e pego sua
mão na minha, levando-a para fora da porta do nosso quarto.
Caminhamos até a cozinha e somos recebidos no fogão por
Nico, vestindo nada além de um par de meias que não
combinam e shorts de corrida.
O meu shorts de corrida.
— Nico? Por que você está aqui? — Ele deveria estar em
uma caminhada que só acontece uma vez na vida em Poconos.
— Olá para você também, mano. — Ele coloca ovos frios na
boca diretamente da frigideira. — Sabe, estou feliz que havia
uma pessoa real com você naquele quarto porque acho que não
quero meu fone de ouvido de realidade virtual de volta depois
do que ouvi.
Nico não resiste em tentar me envergonhar. Eu
absolutamente mereço isso, considerando quantas de suas
manhãs seguintes eu estraguei. Não posso deixar de
compartilhar histórias daquele ridículo sapo de pelúcia que ele
manteve colado ao seu lado durante toda a sua pré-
adolescência.
— Não se preocupe, nós o desinfetamos completamente. —
A voz de Avery soa atrás de mim quando ela se junta a mim.
Meu sorriso se alarga.
Eu amo o jeito que ela está envolvida em algo meu. Ela está
ao meu lado, sem nenhum traço de hesitação em suas feições.
— Avery, este é meu irmão mais novo chato, Nico.
Nico abandona nosso café da manhã e dá a volta para
cumprimentá-la.
— É bom finalmente conhecer você, Avery. Sei que Luca
provavelmente já lhe contou muito sobre mim, então não vou
entrar em detalhes.
A sobrancelha de Avery levanta para mim, fingindo
confusão em seu rosto.
— Você nunca me disse que tinha irmãos.
Nico ri do tom de sarcasmo em sua voz, e ela se junta a ele,
afastando sua mão estendida em favor de um abraço.
— Eu vou gostar de você — Nico diz a ela e me dá um aceno
de aprovação.
Eu também acho, irmão.
— Qual de vocês é o responsável pela decoração? — Ela
pergunta. — A arte aqui é linda.
— Esse seria eu — Nico responde.
Avery anda pela sala até que seus olhos pousam em algo em
uma das prateleiras. Ela pega uma pequena estatueta de cavalo
que Nico colocou lá.
— Isto é da Suécia?
— Sim, como você sabe? — Nico sorri. Ele adora falar sobre
suas viagens e, como Avery já viajou pelo mundo, faz sentido
que ela também goste.
— Eu visitei Estocolmo quando criança, e meu pai me
deixou escolher um como este. — Ela suspira e morde o lábio
ligeiramente. Quando seus olhos encontram os meus, a
expressão desaparece.

Acontece que os dois são rápidos em formar uma amizade.


Enquanto preparo um banquete para nós com muitos ovos
mexidos com queijo, torradas de abacate e canecas extragrandes
de café a pedido de Avery, eles se sentam juntos, gritando com
a televisão. Um videogame alto é reproduzido na tela e suas
mãos trabalham os controles até virar polpa.
Eles estão nisso há quase uma hora, me puxando para suas
conversas enquanto atacam figuras animadas que afirmam ser
seus inimigos amaldiçoados. As gargalhadas de Avery enchem
meu apartamento. Seu sorriso encantador se recusa a deixar seu
rosto, mesmo quando ela uiva quando atira em um inimigo.
Eu tenho um gostinho de como a vida deveria ter sido o
tempo todo. O sol encharcando minha sala de repente está mais
brilhante, a tensão em meu corpo desapareceu após a libertação
com Avery.
Ela se vira para mim, e seu cabelo bagunçado se arrasta atrás
dela enquanto ela me manda uma piscadela, seguida por um
daqueles olhares carentes ao ver meu peito nu. Dá vontade de
pegar meu irmão pela nuca e jogá-lo para fora deste
apartamento.
No entanto, eu – ao contrário da minha tempestade em
forma de mulher – sou um homem paciente. Me lembro de
quando permaneci celibatário durante todo o meu último ano
de faculdade para ganhar uma aposta. No entanto, nenhuma
aposta poderia me manter longe dela.
Como se Avery pudesse ler meus pensamentos, ela coloca
um de seus dedos em seus lábios, sua língua dando uma
lambida lenta, e o sangue instantaneamente corre para meu
pau.
Os cantos da minha boca se levantam ligeiramente e eu
coloco a espátula no balcão com um tapa. Ela aceita o desafio
com a chama ardente em seus olhos.
Meu irmão se vira para nós dois.
— Vocês podem, por favor, parar com a foda telepática
agora? Estamos perdendo!
Instantaneamente, Avery volta os olhos para a tela, dando
uma cutucada em Nico com o ombro. Eu me junto a eles no
sofá, colocando a variedade de comida na mesa de centro.
— Eu não entendo como você se tornou amiga tão rápido
do meu irmão. Você levou meses para parar de brigar comigo.
— Eu parei de brigar com você? — Avery pergunta.
— Ele adora passar por momentos difíceis — diz Nico.
— Eu absolutamente não gosto.
Avery ri.
— Eu realmente deveria trazer Lily algum dia. Acho que
todos nós nos divertiríamos muito juntos.
— Quem é Lily?
Minha voz é pesada com advertência.
— Não.
Avery me ignora.
— Ela é minha melhor amiga e minha colega de quarto.
Nico olha para mim com um sorriso malicioso, e eu o
encaro. Não tem como meu irmão chegar perto da melhor
amiga de Avery.
— Sabe, é lamentável não termos nos encontrado muito
antes — continua Avery. — Nico poderia ter me dado
munição.
— Eu teria lhe dado um grande aviso sobre ele — diz meu
irmão.
— Nico. — Eu repreendo. O que há com ele hoje?
— Relaxa. — Seu olhar não sai da tela. — Nenhuma mulher
sã deve ser mantida no escuro sobre sua coleção de gravatas
inescrupulosa.
— Não é? — Ela entra na conversa. — Quem precisa de
mais de cem gravatas?
— Vocês dois amam minhas gravatas. — Venho em minha
própria defesa. — Porque nenhum de vocês consegue parar de
falar sobre elas.
— Tenho certeza de que Avery adoraria pegar uma
emprestada quando vocês forem a um de seus eventos
sufocantes juntos.
— Se ele pudesse se separar dela por tanto tempo.
Eles riem como crianças.
— Avery já está familiarizada com o encaixe — eu digo.
Ela me lança uma carranca brincalhona, e eu sei que vou
fazê-la me implorar para usar outra gravata nela mais tarde.

O resto do fim de semana passa em um borrão luxurioso. Nico


deixa Avery e eu na privacidade de nosso apartamento. Nós nos
enchemos de refeições que cozinhamos juntos depois que eu
adorei o corpo dela na banheira, no chão do corredor, no meu
escritório, uma vez contra as janelas da sala e nas bancadas de
granito da cozinha.
Ter Avery como a primeira mulher a se juntar a mim em
meu apartamento finalmente faz com que pareça um lar,
misturado com seu cheiro sensual e o som meloso de sua voz.
Quando a noite de domingo finalmente chega, nós
compartilhamos o jantar na cozinha antes de deixá-la escapar
de minhas garras.
— Não estou tentando estragar o clima, mas estou
morrendo de vontade de perguntar. O dinheiro que eu trouxe
no mês passado está causando impacto?
A triste realidade de voltar ao trabalho amanhã me atinge.
Nenhum de nós mencionou trabalho durante todo o fim de
semana. Eu não vi meu telefone desde que entramos no meu
apartamento.
— Você nunca poderia estragar nada — eu digo,
tranquilizando-a. — Você conseguiu ajudar a manter a OPO à
tona por mais alguns meses.
A quantidade de capital da arrecadação de fundos que
Avery trouxe está dando a OPO o impulso que precisávamos
para começar a ver os lucros do Oceano Em Ordem. Podemos
estar bem, afinal.
— Claro que consegui. — Ela ri.
— Não sei se já disse isso, mas obrigado por estar aqui por
mim — eu digo. — Eu realmente não sei como poderia ter
passado por isso sem você.
— A OPO ainda significa o mundo para mim, mesmo
depois do que aconteceu com Joanna — diz Avery. — Ser
capaz de voltar a fazer o que amo me fez sentir eu mesma
novamente.
— Fico feliz em saber que você está feliz. — Dou-lhe um
beijo rápido na bochecha antes de retirar nossos pratos.
A maneira como seu rosto se ilumina me dá certeza de que
meu desejo inicial de contratá-la como analista de
desenvolvimento era inteligente. Mas agora que trabalhamos
juntos por mais de dois meses, sei que o talento dela teria sido
desperdiçado em um cargo tão básico. Avery merece ficar ao
meu lado, do jeito que ela tem estado nas últimas semanas, e
brilhar.
— Sabe, este é um dos primeiros fins de semana em anos que
não checo meu e-mail — eu digo.
— Eu também!
— Devemos fazer isso com mais frequência — sugiro.
As palavras me dão uma emoção incomum de animação. É
assim que o normal se parece? Dividir a vida nos finais de
semana com as pessoas que te fazem feliz?
Depois de mais uma hora, Avery está finalmente pronta
para encerrar a noite.
— Eu deveria ir. Lily provavelmente já preencheu o relatório
policial para pessoas desaparecidas, já que não conversei com
ela.
Eu a puxo em meus braços novamente e a seguro perto.
Ficamos juntos por alguns momentos antes que ela se contorce
para fora do meu alcance.
— Se eu não deixei minhas intenções claras. Você é a certa,
Ave.
Ela hesita e olha para mim sob seus cílios escuros.
— Eu...
— Eu sei que você precisa de um tempo. — Eu pego suas
mãos nas minhas.
— Eu preciso.
— Eu vou no ritmo que você quiser — asseguro a ela.
Um sorriso retorna ao seu lindo rosto.
— Então, vejo você amanhã de manhã para nossa corrida?
— Mal posso esperar. — Eu gentilmente aperto seus dedos.
Esperei tanto tempo por ela, e agora que mostrei a ela como
é quando estamos juntos, não vou deixá-la escapar de mim
novamente.
Seguro suas bochechas, dando-lhe um último beijo
profundo para saborear seu gosto antes que ela me deixe no
súbito frio do meu apartamento.
Eu arrumo a bagunça que deixamos para trás, e sua explosão
de roupas em nosso closet, e decido descansar um pouco
enquanto me preparo para amanhã. A tela do meu telefone me
cumprimenta com a escuridão total, recusando-se a ligar depois
que eu o puxo das profundezas da minha bolsa de trabalho.
Não me lembro da última vez que meu telefone morreu por
causa da minha negligência. Eu o coloco no carregador e espero
que ele ligue.
Minha cabeça encontra o travesseiro que agora cheira a
Avery. Eu quero engarrafar o cheiro e mantê-lo na minha mesa
de cabeceira.
Um rápido ataque de notificações logo enche o quarto. O
aperto se forma em meu peito. Me sento novamente e estico o
pescoço sobre a tela.
Chamada perdida após chamada perdida dos membros do
Conselho da OPO. Uma ascensão de mensagens de texto
indistintas bombardeia minha tela. Meu e-mail está
sobrecarregado com a crescente lista de comunicações não
abertas.
O Conselho finalmente descobriu os erros de Jo antes de nós
termos conseguido consertá-los totalmente?
Examino as mensagens em busca de pistas que possam me
ajudar a me antecipar à nova crise em minhas mãos.
Uma linha de assunto finalmente chama minha atenção:

CONVITE PARA O FUNERAL DE JOANNA BENBART


Lily está sentada no canto ensolarado da cafeteria que Luca
costuma frequentar. Passo meus olhos pelo lugar na esperança
de vê-lo aqui, mas minha sorte falha. Em vez disso, minha
atenção se volta para o cabelo escuro de Lily, que está preso em
um coque bagunçado, seu foco direcionado para o notebook.
Seu delineador está pintado em um olho gatinho grosso hoje, e
ela tem sardas marchando seu nariz.
Entro na fila do barista, ansiosa pelo calor do café para
encher minha barriga.
Estamos no último mês do projeto Oceano Em Ordem para
o Prêmio Ellington e tenho me concentrado na apresentação.
Parece que o problema da água salgada da OPO foi finalmente
resolvido e revisamos nossos resultados de dados de teste.
Os nervos ainda estão exaltados sobre o que vai acontecer
depois que Willa revisar nosso projeto concluído. Nosso
trabalho poderia criar um impacto incrível, salvando os
oceanos de seis milhões de quilômetros quadrados de detritos
flutuantes. Além disso, há os lucros do material reciclado e o
que isso pode significar para o futuro da OPO.
Mas eu afasto tudo isso, minha mente voltando para Luca.
Passei a noite de domingo ajudando Lily a terminar uma
redação para seu próximo exame do bimestre com uma grande
taça de vinho. Nós apenas abordamos o tema de minhas
preocupações sobre transformar os jogos que Luca e eu
jogamos em algo mais. Eu ainda faço malabarismos com suas
intenções em minha mente. Você é a certa, Ave. Mas o medo de
perder minha carreira em favor de cuidar de outra pessoa tem
me deixado lentamente em uma espiral. Mas Lily foi inflexível
em garantir que eu seguisse meu coração, não apenas as regras
que criei para me manter no caminho certo.
— Ei, Lil. — Eu me junto a ela na mesa confortável de frente
para a rua movimentada.
— Você recebeu alguma coisa? — Ela pergunta, pegando o
café que comprei momentos atrás e pressionando-o nos lábios.
Sempre direta ao ponto.
— Ainda nada — eu admito.
Após a breve troca de mensagens de Luca na noite em que
cheguei em casa, não o vejo ou ouço falar dele há mais de dois
dias. Senti falta dele na corrida ontem.
Eu verifico meu telefone novamente e ansiosamente abro
nossa conversa, mas as mesmas mensagens ainda estão lá.
Luca: Reunião de trabalho urgente fora da
cidade. Ligarei quando puder.

Avery: Espero que esteja tudo bem. Me avise se


eu puder fazer alguma coisa.

Luca: Eu vou, cariño.

— Vamos analisar a situação. — Lily pega uma caneta e seu


caderno. — Ok?
— Honestamente, não é grande coisa, Lil. — Eu dou de
ombros, mas a sensação incômoda em meu estômago persiste.
— Sabe, a última vez que namorei meu colega de trabalho...
— Aquele não era seu colega de trabalho, era um homem
que usava uma camiseta do Grinch sem ironia e tocava violão
do lado de fora do seu bar.
— E daí? Ele era gostoso! — Ela ri. — De qualquer forma,
aproveitei cada minuto. Talvez você devesse dar uma chance ao
seu chefe.
— Ele definitivamente não é meu chefe.
— Mas você não gostaria que ele fosse? — Lily me dá uma
de suas piscadelas típicas.
Me lembro da maneira como Luca me dava ordens na cama
e da emoção de fazer o que ele mandava. Isso envia um calor
familiar pelas minhas costas.
— Não — eu minto, mas o sorriso no meu rosto me
denuncia.
— Estou reconsiderando minhas opções de carreira se uma
maratona de sexo estiver envolvida no tipo de equilíbrio entre
vida profissional e pessoal que você está recebendo. — Lily
bufa.
— Bem, agora que você mencionou isso — tomo um gole
do meu café —, foi necessário muito equilíbrio durante a maior
parte do recebimento.
Nós rimos alto.
Eu a conto mais alguns detalhes atrevidos do fim de semana.
As memórias são uma distração bem-vinda da preocupação
crescente em mim. Após recapitular os vários usos que
encontramos para as gravatas de Luca, Lily suspira.
— Quem diria que minha pequena Ave é tão pervertida? —
Lily bate palmas lentamente, formando uma rodada de
aplausos. Algumas pessoas nas mesas vizinhas olham para nós,
e Lily as encara com um olhar furioso.
Eu rio da cena.
— Tudo bem. — Seu notebook agora está fechado e seus
olhos voltam para os meus. — Então por que você não ligou
para o seu engravatado sexy? Ele claramente quer estar com
você!
— Estou dando espaço a ele — eu digo. — Se eu tivesse uma
emergência no trabalho, não gostaria de ser incomodada.
As palavras fazem pouco para acalmar a pontada de
preocupação em meu peito. Sei que provavelmente está tudo
bem, mas com os problemas financeiros incertos da OPO,
temo que algo sério tenha acontecido. De qualquer maneira,
quando Luca estiver pronto para me dizer, não vou deixá-lo
lidar com isso sozinho.
Luca Navarro.
Eu sorrio ao ouvir seu nome.
— Ave, apenas corra o risco e entre em contato — diz Lily.
— Nem todo mundo é como você.
— Luca é.
Lily suspira.
— Então você está mentindo para si mesma se acha que
gostaria de ficar sozinha durante uma emergência.
As palavras me atingem, e meus músculos se contraem com
suas palavras.
— Você não precisa estar certa o tempo todo, sabia?
— Eu sei. — Ela sorri. — Eu sei que você está acostumada a
negar a si mesma uma companhia muito necessária. Além de
mim, é claro. Nós duas trabalhamos nossas vidas inteiras
tentando cumprir essas expectativas de nós mesmas. Mas não
há problema em trazer alguém para cá – foi assim que nos
encontramos.
— Lil, você vai me fazer chorar.
Eu sou muito grata pela amizade que tenho com Lily, que é
como a irmã que eu sempre quis. Se eu consegui deixar Lily
entrar e confiar que ela nunca me abandonaria, talvez possa
fazer o mesmo por Luca.
Apenas confiar.
— Talvez não haja problema em admitir que você não
precisa passar seus dias apenas com orgasmos induzidos por
vibradores.
— Lily! — Eu rio, embora meus olhos agora queimem com
lágrimas.
Os últimos meses me mostraram que sou mais do que
minha carreira. O sonho que compartilhei com meu pai, de me
tornar uma ativista como Joanna Benbart, não mudou. Mas
também posso ter uma vida própria.
Desde que aceitei a rejeição de Joanna, percebi que só a
idolatrava porque parecia manter viva a memória de meu pai.
Mas tudo o que ele me ensinou, a me importar com o mundo
e inspirar os outros nunca vai mudar. Fará parte de mim para o
resto da minha vida e compartilharei com outras pessoas.
Os amigos que encontrei ao longo do caminho – Matthew,
Robert, Ollie, Molly e até mesmo Hana e Jamie – me ajudaram
a me firmar em mim mesma, enquanto tentamos mudar o
mundo juntos.
E, claro, há Luca.
A pessoa que me desafia e se aproxima de mim como sua
igual.
Luca, que poderia ter sido um adversário prolongado,
tornou-se meu parceiro.
Meu parceiro.
As palavras parecem tão seguras dentro da minha mente.
Por que estou sentada aqui hesitando?
Passei meses aprendendo exatamente como fazer Luca
Navarro me responder. E não vou mudar agora.
— Vou ligar para ele no caminho de volta para o escritório!
Lily já está de pé. Ela leva nossos copos de café até o balcão.
Eu arrumo suas coisas em sua bolsa, colocando seu notebook
coberto de adesivos entre as pilhas de contos de Zoe Mona que
ela carrega.
Estou começando a me perguntar se ela apenas distribui isso
para as pessoas.
Mal conseguimos sair da cafeteria quando recebo uma
ligação de Matthew.
— Ei, Matthew, estou voltando agora. Robert mudou de
ideia sobre o café? — Eu digo enquanto Lily e eu caminhamos
pela calçada.
— Ei, Ave. Não tenho certeza se você verificou seu e-mail,
mas você não precisa voltar ao escritório pelo resto do dia.
— O quê? Plastech está bem? OPO está bem? —
Preocupação é grossa em minha voz.
Luca teria me dito se a OPO estivesse fechando, não é? Eu
congelo, esperando pela resposta de Matthew. A expressão
preocupada de Lily reflete a minha.
— Sim, está tudo bem. Humm. Quero dizer... — Ele faz
uma pausa. — Ave, desculpe ser a pessoa que está lhe dizendo
isso, mas Joanna morreu neste fim de semana.
O fecho do meu relógio prende minha pele enquanto tiro o
telefone da orelha. Meus pensamentos tentam juntar as peças
da notícia enquanto um abismo se abre em mim, afundando
em meus ossos.
Lily puxa o telefone da minha mão e assume a ligação com
Matthew. Há um zumbido alto em meus ouvidos.
— O funeral é sexta-feira. Eles enviaram os detalhes por e-
mail para todos — ela diz, desligando a ligação e colocando meu
telefone na minha bolsa antes de me puxar para um abraço.
As lágrimas que espero não vêm.
Joanna Benbart, CEO da Organização de Pesquisas
Oceânicas. Ativista ambiental lendária. A ídola do meu pai. A
pessoa cujo trabalho de vida moldou o caminho que estou
trilhando hoje.
Se foi.
Joanna é a segunda pessoa que perco. No entanto, o que
estou sentindo agora nem se compara a como me senti quando
meu pai morreu. Em vez disso, é uma dor incômoda invadindo
o buraco onde a dor de sua perda ainda vive dentro de mim.
Eu quero alcançar a tristeza oca dentro de mim. Agarrar a
garota presa entre os destroços e puxá-la para um abraço sem
fim, como Lily está fazendo comigo agora.
Em vez disso, eu saio de seu abraço quente e fico no meio da
faixa de pedestres listrada, uma coceira incômoda na parte
superior do meu estômago.
Lily estuda meu rosto. Posso sentir seus olhos traçando cada
vinco, tentando ansiosamente ler minha expressão. Um carro
buzina para nós, e ela mostra o dedo do meio para ele antes de
envolver um de seus braços em volta de mim e me guiar de volta
para o meio-fio. Ela já esteve aqui comigo uma vez antes, a
única testemunha de como eu lido com a morte.
Quando meu pai morreu, eu consertei os pedaços dele que
se agarravam a mim, garantindo que nunca fossem arrancados
de mim. Eu construí as memórias dele na força que me
impulsionou pela vida.
Neste momento, meus pensamentos estão sobrecarregados
com sentimentos confusos sobre Joanna. Ela não apenas
impactou minha vida, mas também influenciou uma geração
de pessoas que continuarão a promover mudanças em seu
nome.
Eu gostaria que a memória dela não fosse manchada por
nossas poucas interações. Especialmente agora que entendo
que muito da raiva dela provavelmente veio da instabilidade da
OPO. Se eu estivesse no lugar dela no dia em que entrei em seu
escritório, também teria reagido mal se a coisa que eu amava
estivesse desmoronando.
Mas Joanna me inspirou, ela me fez querer ser uma pessoa
melhor, e é assim que espero me lembrar dela. Sua morte é uma
picada surda em meu peito, como sal em uma ferida que nunca
cicatrizou. Uma ferida que eu sabia que poderia planejar,
construir ao redor e me afastar para que não me quebrasse.
— Sinto muito, Ave. — Lily me puxa para outro abraço.
— Você acha que ele sabe? — Eu finalmente consigo dizer.
— Luca?
Eu concordo. Luca está ciente do impacto que Joanna
causou em minha vida.
Se Jo faleceu no fim de semana, ele esteve ciente o tempo todo?
Ele não confiou em mim o suficiente para me contar? Por que ele
esconderia isso de mim?
— Não mudaria nada — Lily me tira dos meus
pensamentos. Ela sabe que já estou procurando uma saída para
o compromisso que quero assumir com ele.
Uma grande parte de mim quer afundar na minha solidão
familiar e segura.
Mas Luca começou a significar muito, e rápido demais. A
vida pode parecer um sonho ruim. Só pensei que Luca estaria
aqui para me ajudar a sair de um pesadelo.
Um vento forte chicoteia meu rosto enquanto aguardo a
procissão. As cadeiras ao longo da pequena colina verde com
vista para o Atlântico estão repletas de ativistas, colegas,
parceiros de negócios e doadores. Alguns convidados enxugam
as lágrimas dos olhos inchados. Outros se aglomeram em seus
trajes de corvo, grasnando silenciosamente sob o céu nublado.
A maré alta balança contra o penhasco, abafando os
sussurros cheios de boatos que circulam pela multidão.
Quem vai substituir Joanna?
A OPO se dissolverá?
O que acontecerá com as contribuições que as pessoas já
enviaram este ano?
O Conselho já está entrevistando para o cargo de CEO?
Ácido pinica minha garganta.
O Patrimônio Benbart recusou-se a dar luz verde à notícia
da parada cardíaca de Joanna por dias, dando-me tempo para
consertar as coisas.
Fiz a viagem de carro tarde da noite até a orla de Long Island
na noite de domingo. O Conselho imediatamente entrou em
sessões consecutivas para gerenciar a crise do futuro da
Organização de Pesquisas Oceânicas. Não demorou muito
para eles descobrirem as falhas financeiras que Joanna vinha
cobrindo, mesmo com o dinheiro que Avery e eu trouxemos.
Usei minha crescente influência na OPO e o trabalho de
arrecadação de fundos que venho fazendo com Avery para
começar a reparar os erros financeiros de Joanna para
potencializar o cargo de CEO. Demorou, mas convenci a
diretoria a não desmanchar a organização.
Houve pouca discussão dos membros quando eles
entenderam quanto a nova estratégia de capital que
desenvolvemos poderia trazer.
Também avancei a aprovação da fusão entre a Plastech e a
OPO, sob a condição de que Willa nos concedesse o Prêmio
Ellington de cinco milhões de dólares. Dessa forma, todo o
lucro que o projeto Oceano Em Ordem poderia gerar pode ser
usado para ajudar a OPO e sustentar a expansão dos projetos de
pequenas comunidades da Plastech.
No entanto, aguentar o funeral de Joanna sem Avery tem
sido a pior parte dos últimos dias. Eu preciso dela ao meu lado,
de pé comigo enquanto eu encaro a extensão interminável à
frente.
Estico meu pescoço, examinando a multidão em busca de
seu rosto familiar, mas não a vejo no meio da multidão. Todos
na OPO foram convidados para o funeral, e espero que ela me
encontre aqui hoje para que eu possa me desculpar.
Eu deveria ter ligado para ela no instante em que descobri a
notícia e a trazido comigo na viagem até aqui.
Não liguei para ela porque não podia mentir para ela,
embora tenho certeza de que Avery nunca trairia minha
confiança. Simplesmente não tive coragem de explicar por que
precisava de espaço para processar o pesadelo emocional e
operacional dos últimos dias.
Ainda assim, eu poderia ter encontrado um momento entre
as reuniões consecutivas para enviar uma mensagem a ela. O
arrependimento pesa em minha mente exausta.
À distância, a procissão finalmente chega, fazendo o lento
percurso pela estrada ao lado do penhasco.
Molly se senta na cadeira vazia ao meu lado, com os olhos
taciturnos do dia exaustivo, e eu passo a ela o lenço do bolso do
paletó do meu terno.
Charles Benbart está sentado em uma cadeira de rodas perto
do palco com duas enfermeiras. Um enorme cobertor está
sobre ele, protegendo-o do vento forte. Seu corpo idoso
estremece. Espero que a presença dele hoje signifique que
Joanna reservou um tempo para resolver seus problemas antes
de falecer.
O som de muitos corpos em pé é rapidamente substituído
pela voz de uma mulher idosa diante da multidão.
— Quando eu tinha dezessete anos, Joanna me ensinou uma
lição importante que quero compartilhar com vocês hoje. — A
mulher ajusta os óculos antes de continuar a ler o cartão de
anotações. — No auge de sua juventude, ela me disse que o
mundo que queremos criar requer um exterior revestido de
ferro e um poço infinito de esperança – porque ninguém se
importaria com nosso belo planeta, nosso lar, até que seja tarde
demais.
O corpo de Molly estremece com um soluço, e eu coloco
meu braço sobre ela, firmando minha amiga.
A voz da mulher aumenta, ondas de emoção estourando em
cada palavra.
— Joanna, prometo que todos nós aqui não vamos esquecer
de nos importar. Não vamos desistir dos desafios que temos
pela frente. Não mancharemos o impacto que sua
determinação causou no mundo que permanece aqui,
esperando que tomemos as rédeas da mudança.
Mudança.
No final, o cinismo de Joanna foi sua queda, com ela
pensando que a OPO não poderia ser salva. Que não
conseguimos causar impacto. A coisa mais importante que
aprendi nos últimos dois meses é que ela estava errada. Joanna
inspirou milhares de pessoas a acreditarem em algo maior do
que elas mesmas.
Seu privilégio distorceu sua compreensão do impacto que
ela criou, recusando-se a reconhecer que a sustentabilidade da
OPO não precisava vir de suas próprias mãos. Em vez disso,
OPO sobreviveu por incontáveis anos porque outros
acreditaram na missão de Joanna.
Todos nos unimos para causar um impacto duradouro e
cada um de nós contribuiu para o quadro geral.
Nunca me senti mais orgulhoso de fazer parte de uma
equipe. Meus dias de advogado foram repletos de isolamento e
hierarquia boba que me privaram de uma comunidade no
trabalho.
Minha antiga carreira roubou fins de semana de mim, como
o que tive com Avery, e me manteve longe das pessoas de quem
eu gostava. Consegui deixar isso para trás, abraçando o impulso
para o meu novo emprego.
Joanna perdeu de vista o impacto que suas ações realmente
causaram, e eu me recuso a fazer o mesmo. Enquanto estou
aqui testemunhando pessoa após pessoa falar sobre a influência
que ela teve em suas vidas, lembro-me do motivo pelo qual
entrei na OPO.
É por causa de pessoas como Molly, que nunca vacilou
durante o pior demonstrado por Joanna, acreditando
incansavelmente em uma mulher que dedicou sua vida a salvar
os oceanos do planeta.
Pessoas como Matthew, que arriscaram fracassar para deixar
algo significativo para as gerações futuras.
Pessoas como a minha Avery, movidas pela pura vontade de
continuar a convencer os outros a defender o que é certo no
mundo, mesmo quando a maioria de nós mal consegue desviar
o olhar de si mesmo para se importar com qualquer outra coisa.
Joanna construiu uma geração daqueles que assumirão sua
luta.
E eu estarei ao lado deles.
O memorial chega ao fim e os convidados se dispersam para
seus veículos ou para prestar suas últimas homenagens.
Eu acompanho Molly até o carro antes de voltar para o
hotel, incapaz de aguentar uma viagem de três horas até a cidade
agora.
— Tem certeza que não quer uma carona de volta? — Ela
pergunta.
— Eu poderia realmente aproveitar a caminhada.
— Eu sei que o que estou prestes a dizer será difícil para você
ouvir, mas tente se permitir sofrer, pelo menos por um dia. —
Molly abre a porta do carro e entra. — Vou atender as ligações
e redigir seu anúncio de CEO...
— Molly, obrigado — eu digo antes que ela se envie por
uma espiral de tarefas. — Descanse um pouco, e nós nos
encontraremos pela manhã.
Eu me despeço de algumas pessoas no estacionamento,
começando a longa caminhada de volta ao hotel, quando vejo
ela.
Avery está sentada no capô de um carro, com as pernas
pressionadas contra o peito, enquanto procura algo na
multidão de veículos. Ela usa um suéter grosso de tricô e uma
calça jeans escura. Eu instantaneamente me acalmo com a
simples visão dela. O pavor é substituído pela necessidade de
envolvê-la em meus braços, nos fundindo em um.
Quando seus olhos finalmente pousam em mim, um sorriso
exausto ilumina suas feições. É neste momento, com o ar
salgado passando por seu cabelo e aquele olhar comprometido
inabalável de mim, que tudo finalmente se encaixa.
Você é a certa, Ave. Minhas próprias palavras ecoam em
minha mente, e nunca estive tão certo da verdade.
Passei a maior parte da minha vida adulta perdendo
conexões mais profundas. Escolhi minha carreira em vez de
encontrar algo com significado. Sobrevivendo apenas com o
amor que minha família compartilharia comigo e com a
correria do meu estilo de vida sobrecarregado. Mas nunca
tentei encontrar alguém com quem compartilhar minha vida.
Percebo agora que não é porque não tive tempo para amar.
Mas simplesmente que nunca encontrei um amor com o
gosto dela.
Um amor que tem seu cheiro depois de uma corrida. Um
amor que curva a sobrancelha quando está curioso. Um amor
cujo temperamento cresce como uma tempestade. O amor
nunca me manteve à sua mercê: desejando, querendo,
precisando.
Até ela.
Ela desliza para fora do capô do carro e se senta no banco do
motorista, inclinando-se para onde eu estou.
— Entra — diz ela.
Meus dedos correm pela areia áspera. Luca está sentado ao meu
lado perto da costa, as ondas trazendo espuma branca e espessa
aos nossos pés a cada passagem da maré. Ele não saiu da minha
linha de visão desde que saímos do carro alugado que dirigi até
aqui para vê-lo.
Três horas passadas ao volante, arrastando por uma estrada
reta, me deram tempo suficiente para aperfeiçoar a confissão de
meus sentimentos por ele, que planejava fazer quando
chegasse. Mas agora que estamos juntos, eu flutuo ao som das
ondas irregulares, incapaz de juntar as palavras; elas estão fora
de lugar dentro de mim como peças de Scrabble espalhadas.
Os dedos de Luca encontram o caminho para os meus,
entrelaçados em um aperto inquebrável. Explosões magníficas
de vermelhos e laranjas são refletidas nas profundezas de seus
olhos, que estão enrugados de exaustão, enquanto o sol suaviza
o restante do dia.
Luca quebra o silêncio entre nós.
— Preciso contar a você toda a extensão do meu trabalho no
caso do petróleo.
— Você não tem que fazer isso agora — eu asseguro a ele,
mas no fundo, estou curiosa.
— Não — explica ele —, sei que precisamos confiar um no
outro. Eu preciso que você entenda tudo o que aconteceu e
então decida se nós é algo que você possa querer.
— Eu quero confiar em você. Eu realmente quero.
Ele leva minhas mãos aos lábios.
— A carreira de advogado pode te convencer de que você
está engajado em uma causa justa, defendendo o que é certo,
sendo um homem de bem. Ganhei casos para meus clientes à
custa de amizades e de passar tempo com minha família. — As
palavras não são ensaiadas, apressadas como uma confissão
pesada sendo finalmente liberada. — E eu disse a mim mesmo
que valia a pena, que por todos os anos exaustivos que passei,
foi o suficiente para preencher a solidão dentro de mim. Até os
dias que eu sacrifiquei pareciam sem sentido quando um dos
meus sócios seniores me designou para um caso para as
Indústrias Shift. Era um simples acordo de aquisição. A Shift
queria adquirir outra empresa com dez mil acres de terra.
Luca se encolhe.
Concordo com a cabeça, lhe pedindo para continuar.
Luca me conta como, alguns meses depois de encerrar o caso
com sucesso, Shift demoliu todos os painéis solares do terreno,
optando por perfurar em busca de petróleo. Um comunicado
à imprensa foi divulgado sobre a descoberta de uma coleção de
depósitos de petróleo em toda a terra, que ficava perto de uma
pequena cidade em um pântano. A notícia se transformou em
algo mais apenas algumas semanas após o primeiro anúncio:
um derramamento de óleo desastroso. A culpa ainda pesa em
sua mente, esmagando o homem carinhoso que aprendi a
respeitar sob seu exterior de pedra.
Mas me recuso a deixá-lo assumir a culpa por um erro
infeliz. Sinto que uma velha parte de mim recuaria com a
confissão, mas me sento ao lado dele, imóvel, nossas mãos ainda
entrelaçadas.
— Você não fez nada de errado, Luca.
— Mas eu fiz — diz ele. — Eu desempenhei um papel em
um resultado trágico.
— Não. Você estava fazendo seu trabalho e não teve nada a
ver com o derramamento. Você não poderia ter previsto que a
Shift iria perfurar na terra ou administrar mal suas máquinas.
Luca, o que aconteceu é horrível, mas há uma razão pela qual
OPO existe, para ajudar em situações como esta.
— Quando aceitei o emprego, me senti um impostor — diz
ele.
— Essa é a coisa mais distante da verdade. Você é atencioso,
trabalhador e generoso. Você se comprometeu
incansavelmente para garantir que ninguém na OPO perdesse
seu sustento. E pensar que eu considerei você ser apenas um
engravatado sem coração — eu tento brincar.
— Eu era, Ave.
Meus dedos alcançam a linha esculpida de sua mandíbula,
acariciando-a suavemente.
— Não, você não era, Luca. Eu errei em julgá-lo por algo
que não entendi. E você se engana em continuar deixando isso
pesar na sua consciência. Perdoe-se e reconheça o quanto você
fez para reparar algo que você nem causou.
O olhar de Luca se funde com o meu.
— Tudo o que nós fizemos, Ave. Você e eu, e nossas equipes.
Eu não poderia ter feito tudo sozinho.
Eu me quebro com a declaração íntima, e Luca me puxa
para seus braços, colocando meu corpo em seu colo. O
conhecimento me deixa sem palavras, ainda mais do que
quando estávamos sentados aqui em nosso próprio silêncio.
Mas algo mais importante me surpreende: minha admiração
amplificada pelo homem ao meu lado.
Um homem que me deixou fazer suposições sobre ele e
provou que eu estava errada.
Nos últimos meses, lutei contra quem eu deveria ter sido e
quem lentamente comecei a me tornar. Mal sabia eu que Luca
estava caminhando pelo mesmo caminho irregular, perdido em
algum lugar do mundo, esperando que alguém caminhasse ao
seu lado.
— Olha, Avery, eu sinto muito. Eu deveria ter ligado para
você quando descobri sobre Joanna. — Sua voz é crua e
desesperada.
Eu o encaro, enxugando as lágrimas do meu rosto. Apenas
centímetros nos separam agora.
— Se isso, nós... — Eu hesito. — Eu preciso que você me
prometa que não vai desaparecer da face da terra quando a vida
ficar uma bagunça novamente. Não posso ser abandonada por
alguém que é tão importante para mim.
A decepção com a reclusão de minha mãe é muito familiar,
e eu me recuso a permitir que Luca, que tem colocado um novo
fôlego em meus pulmões, me deixe nos laços sufocantes do
desânimo quando eu mais preciso dele.
— Eu estarei ao seu lado durante tudo isso, Ave — ele diz.
— Eu prometo.
Eu salto da superfície do meu coração e caio livremente
acreditando nele. Eu saboreio a realidade de Luca Navarro
tamborilando contra minha pele e, em meu mergulho no
fundo do poço, finalmente me sinto segura.
— Eu nunca lhe disse o porque queria trabalhar com
conservação — digo. — Não apenas meu respeito pelo trabalho
de Joanna, mas o verdadeiro motivo.
A razão pela qual fiquei em paz recentemente.
Luca olha para mim como se minhas palavras fossem as mais
importantes que ele já ouviu. Recolho os fios soltos das
lembranças dentro de mim.
— Eu cresci na floresta, minha pequena e bela existência
preenchida apenas com meu pai, minha mãe e eu. — Eu inalo
uma respiração calmante, saboreando a verdade que eu não falo
há tanto tempo. — Meu pai era meu melhor amigo, uma das
pessoas mais incríveis que já existiu.
“Depois que cresci o suficiente para segurar minha própria
placa de protesto, papai me levou a todos os encontros
ambientais do Noroeste até que tive a chance de testemunhar
sua ídola, Joanna Benbart, liderar uma multidão na cidade de
Nova Iorque. Ela atraiu a atenção de todos, atacando as pessoas
perdidas e oprimidas que estavam no grupo e nos levando a
uma comunidade unida para a melhoria do mundo.
“Na volta para casa, o sorriso de papai foi o maior que eu já
vi quando ele me disse que eu seria a voz da próxima geração.
Sua ambiciosa Ave se tornaria uma ativista como Joanna. —
Minhas lágrimas se dissipam quando a libertação de
compartilhar isso com Luca me ultrapassa. — E eu dediquei
cada grama do meu ser a esse sonho. Me colocando no caminho
para um conhecimento completo na UNC em estudos
ambientais, trabalhando em uma organização sem fins
lucrativos de conservação, seguido pelo meu programa de
mestrado da Ivy League.”
Luca concorda com a cabeça, já sabendo o quão bem-
sucedida eu fui na faculdade.
— Mas há cinco anos, aprendi o que as pessoas querem dizer
quando dizem que a vida pode passar diante de você em um
piscar de olhos. Eu estava sentada sozinha na Biblioteca Davis,
no último período do meu último ano, estudando para uma
prova final de estatística. Quase ignorei a ligação quando o
nome da minha mãe apareceu na minha tela, ansiosa para
estudar para a prova. Mas atendi de qualquer maneira antes de
ouvir soluços quebrados na linha.
Era como um sonho sufocante, mas era a minha dura
realidade.
— Meu pai estava programado para voltar para casa em dois
dias de uma expedição fotográfica da Global Planet Magazine
na Groenlândia. As temperaturas eram muito imprevisíveis,
muito voláteis. Seu grupo de fotógrafos estava com ele na beira
de uma calota de gelo quando a base cedeu sob ele. No
momento em que sua equipe conseguiu tirar meu pai das águas
abaixo de zero, ele estava muito frio e eles estavam muito longe
do acampamento.
Eu dou um suspiro, e o resto da minha verdade arranha meu
peito, clamando para me libertar.
— Depois daquela ligação, minha mãe se fechou, se
afastando de mim. Eu só consegui superar aqueles momentos
me jogando no meu compromisso com ele. Fazendo a
diferença. Eu não tirava folga. Eu me enterrei no trabalho. Era
mais fácil me apegar a algo prático como meu novo emprego do
que lidar com o vazio que ainda me incomoda.
O sol quase se afogou no horizonte.
— O trabalho pode ser uma distração fácil quando você se
sente desconectado de sua vida.
Eu aceno antes de continuar.
— E então tudo desabou de novo. A primeira vez que
realmente senti que decepcionei meu pai foi quando você me
ligou com a notícia de que não consegui trabalhar com Joanna.
— Avery, eu não...
— Eu entendo que não dependia de você. — Eu sorrio. —
Mas de alguma forma consegui estar na OPO, pensando que
esta era minha chance de tentar novamente. E quando
finalmente criei coragem para contar a Joanna sobre seu
impacto em minha vida, ela me expulsou de seu escritório, mal
se lembrando do meu nome. Me agarrei à aprovação e aceitação
de Joanna como se fossem do meu pai. Queria que ela me
assegurasse que o trabalho que fiz desde que ele morreu foi
suficiente. Que eu estava vivendo nosso sonho.
— Avery. — Ele puxa meu rosto para o dele e nossas testas
se tocam. — Joanna passou os últimos anos de sua vida
pensando que seus esforços não valiam nada. Ela negligenciou
a OPO por anos, quando perdeu de vista o que era importante.
É a razão pela qual a empresa está lutando financeiramente.
— Isso é tão triste. — Minhas sobrancelhas se enrugam em
descrença, e eu me afasto e encaro meus profundos olhos de
outono favoritos. O ritmo suave de seu batimento cardíaco me
estabiliza.
— Joanna cedeu à expansão, recusando-se a pedir ajuda. Ela
queria administrar a OPO sozinha, mesmo que isso significasse
derrubá-la. Quando Joanna conheceu você, acho que ela
detestava a esperança dentro de você, o jeito que você se
recusou a parar de acreditar na causa.
Meu peito se contrai com a compreensão.
— Mas, ao contrário de Joanna, não estamos sozinhos.
Podemos e faremos isso juntos. Eu nunca quero que você
duvide de si mesma ou sinta que decepcionou seu pai. — Os
lábios de Luca pressionam meus dedos. — Você é um presente
surpreendente para este mundo. Ter você ao meu lado,
liderando o caminho, seria uma honra.
— E eu quero ficar ao seu lado, Luca — eu admito e caio
mais fundo em seus braços. — Gostaria que a Plastech não
tivesse que se mudar após a conclusão do Oceano Em Ordem.
Vou sentir falta de torturá-lo no escritório todos os dias.
Luca sorri.
— Você não precisa sair dos escritórios da OPO.
— O quê?
— Eu confio em você para manter isso entre nós, mas
Matthew e eu discutimos a fusão algumas semanas atrás. Faz
mais sentido para as operações diárias do Oceano Em Ordem
— explica ele. — Agora que vou ser CEO, tenho os planos
aprovados – obviamente, se Willa determinar que merecemos a
concessão.
Uau.
— CEO?
Ele acena em resposta.
— Isso é incrível, Luca — eu digo. — Você é a melhor pessoa
para o trabalho.
Pensamentos sobre nosso futuro se entrelaçam em minha
mente. O que isso significa para minha função na equipe da
Plastech? Ajudar OPO a voltar aos trilhos foi uma parte muito
gratificante do último mês, minha carreira parecendo
exatamente como eu queria com Luca ao meu lado.
Ele não tira os olhos de mim, e eu abro um sorriso, um peso
levantando dentro de mim.
— O que tudo isso significa para nós?
— O que você quer, Ave?
— Quero parar de fingir que nós somos outro jogo —
confesso.
— Bom — diz Luca. — Eu não quero perder nenhum
momento juntos. Sinceramente, Ave, nunca pensei que
pudesse amar alguém tanto quanto amo você. Te amo, cariño.
Eu te amo. Eu te amo.
Luca Navarro me ama.
O mundo finalmente se estabelece em um eixo uniforme.
Meus lábios colidem com os dele, imitando o oceano furioso
ao nosso lado. Cada toque reconstrói os pedaços de mim que
lutei para agarrar e manter firmes. Mas eu não os alcanço mais
sozinha; em vez disso, eu tenho ele.
— Eu te amo, Avery. — Ele repete as palavras, e de repente
elas são minha combinação favorita do alfabeto.
— Eu te amo, Luca.
Nesse momento, me permito me agarrar ao nosso potencial.
As batalhas entre nós conquistadas com o amor em nossos
corações. Traço as linhas de suas palmas como se estivesse
estudando um mapa e envolvo sua mão na minha, saboreando
o calor no qual quero me afundar para sempre.
Mais tarde, tiro meu telefone do porta-luvas e mando uma
mensagem para minha mãe avisando que irei vê-la nas próximas
semanas. Mamãe pode estar lutando para superar a morte de
papai, mas não vou mais colocar nosso relacionamento em
espera por causa da minha carreira.
Eu finalmente vou ter a minha vida de volta em minhas
próprias mãos.
Um mês depois

Cornetas e saxofones causam pandemônio nos escritórios da


OPO às 08:00 em ponto.
Willa nos informou, ontem à noite, que deveríamos esperá-
la esta manhã para seu veredicto sobre nosso teste e estratégia
de implantação para o Oceano Em Ordem. A equipe
apresentou os resultados para Willa em nossos escritórios na
semana passada. Avery fez um excelente trabalho articulando
as ideias combinadas e a maneira como elas criariam o impacto
que Willa queria. Tenho certeza de que estamos prestes a ouvir
boas notícias.
Estamos aqui há uma hora, carregando café e scones, na
expectativa de descobrir o destino do Oceano Em Ordem hoje.
— Vou adivinhar e presumir que Willa chegou — Ollie grita
acima do barulho e do arrastar de nossas cadeiras enquanto nos
movemos para o saguão. — A menos que seja uma tentativa
horrível de Luca de nos encorajar a chegar cedo.
— Ele seria um hipócrita se tentasse nos trazer até aqui antes
se ele mesmo só entra às nove horas — diz Molly.
Os lábios de Avery se abrem em um sorriso com a verdade
do comentário de Molly; nossas longas manhãs juntos agora são
uma interrupção bem-vinda em minha agenda tipicamente
matinal.
Quando sua organização é abastecida com tantas pessoas
inteligentes quanto a OPO, às vezes você pode dormir até tarde.
Também não demorou muito para eles descobrirem as pistas
sobre meu novo status de relacionamento com Avery, mas
ainda não confirmamos oficialmente suas suspeitas.
No meio da área de recepção, Willa é ladeada por um
conjunto de músicos vestindo uniformes azul-marinho e
gravatas-borboleta que contrastam com o macacão marfim e o
capacete laranja brilhante na cabeça de Willa. Um daqueles
cheques comicamente grandes que você vê em programas de
jogos está no chão, aos pés dela.
Alívio toma conta de mim com a compreensão de que tudo
ficará bem.
No mês passado, Avery e eu trabalhamos incansavelmente
para garantir financiamento mais do que suficiente para dar a
OPO uma reserva operacional para o ano seguinte. No
entanto, no fundo, eu sabia que esse prêmio seria o fator
decisivo no futuro da OPO. A receita esperada do projeto
Oceano Em Ordem que está sendo implantado é inestimável
para todos nós aqui.
O peso final em meu peito se alivia ao ver o rosto sorridente
de Willa.
Enquanto o resto de nossa equipe chega ao andar, Willa
levanta a mão no ar e fecha os dedos em punho, silenciando a
banda.
— Olá! Luca, querido. Venha se juntar a mim — Willa diz.
Eu me aproximo dela e fico diante dela como o CEO da
nossa organização. Eu olho para trás, para minha equipe, seus
rostos iluminados com antecipação encantada.
Avery está entre eles e levanta um pequeno sinal de positivo
no ar, torcendo por mim.
— Eu tive que entregar meus parabéns pessoalmente. — A
mão enrugada de Willa aperta meu braço antes de seu olhar
rapidamente se desviar de mim para Avery, e ela nos dá uma
piscadela quase imperceptível. — Apresentação
impressionante, Avery. Eu sabia que vocês dois combinariam
um com o outro!
Estou sendo paranoico ou ela sabe que Avery e eu estamos
juntos?
Willa continua:
— Como eu disse no início, a colaboração e o trabalho em
equipe são a maneira mais frutífera de gerar novas ideias. Tenho
o prazer de anunciar que a Fundação Ellington estará abrindo
caminho — ela bate em seu capacete — para o Projeto Oceano
Em Ordem por meio de sua implantação e manutenção.
Willa faz um grande esforço para levantar o cheque e jogá-
lo em meus braços. O papel faz cócegas nas pontas dos meus
dedos.
Meu escritório irrompe em aplausos e a banda toca uma
música mais tranquila.
— Obrigado em nome de toda a equipe da OPO e da
Plastech — digo a Willa. — Agradecemos sinceramente sua
confiança e apoio em nossa luta contra a poluição dos oceanos.
— Sim! Estou feliz que vocês serão os rostos do futuro.
Agora, vamos capturar essa memória maravilhosa antes que eu
a esqueça. A velhice não é uma grande amiga minha, e não usei
esse capacete à toa! — Willa grita, nos conduzindo ao redor
dela.
Todos nós nos esprememos juntos. Avery desliza ao meu
lado, e eu envolvo meu braço em volta da cintura dela. Sua
expressão radiante encontra a minha com um aceno orgulhoso.
— Vamos dizer “Titãs do Lixo” no três! — Avery zomba.
— Devemos dizer “Homens do Mar” para os verdadeiros
vencedores, ou você esqueceu que vencemos você, sua azeda?
— Ollie ri de volta.
— Era Rameses — diz Avery.
— Esses são novos projetos que eu deveria ouvir sobre? —
Willa está no centro de nossas risadas.
— Ignore-os — eu digo por trás da minha própria risada. —
Minha equipe tem muitas piadas internas.
O fotógrafo, que parece surgir do nada, levanta a câmera e,
contando até três, cada um de nós grita o nome do time, e Willa
grita o próprio nome no meio do barulho incoerente.
Minha primeira conquista como CEO não é comemorada
como os artefatos emoldurados da Douglas & Draper, com
placas sem rostos observando cada movimento seu. Em vez
disso, um sorriso envolve minhas feições, meu aperto
orgulhoso em torno de Avery.
— Eles aceitam cheques desse valor no banco? Vou ter que
ligar para eles. — Molly tenta levantar a monstruosidade de
papelão enquanto já puxa seu telefone.
— Oh, não seja boba, querida. — Willa caminha até o
cheque. — Este cheque é feito de materiais biodegradáveis
embalados com sementes de grama individuais. Uma vez
compostado, torna-se um pedaço de grama. Isso não é legal? —
O número de projetos aleatórios em que Willa investe nunca
deixará de me surpreender. — Obviamente, o dinheiro real será
transferido.
Entrego o cheque a Matthew, que é o único de nós que tem
uma casa com quintal.
— Luca, seja gentil e me apresente seu advogado para
podermos encerrar esses contratos. — Willa se vira para mim,
animada, então começa a caminhar em direção ao meu
escritório vazio.
Quando finalizamos o restante dos contratos, me junto à
minha equipe na sala de conferências. Champanhe enche uma
variedade de xícaras de café. Molly e Ollie estão morrendo de
rir. Robert está jogando algum tipo de jogo com Hana e Jamie.
Matthew está ao telefone, conversando com alguém sobre as
novidades.
Considero cada pessoa nesta sala um parceiro. Podemos
discordar em algumas coisas, como traje de trabalho adequado,
mas, no final das contas, respeito cada membro da minha
equipe, meus novos amigos.
Em meio às comemorações está minha Avery. Ela parece
contente, assim como ela me faz sentir todos os dias desde que
estamos juntos.
Seu cabelo loiro faz cócegas em seu rosto; ela tem deixado
suas ondas aparecerem mais, e é mais um dos meus visuais
favoritos dela.
Desde nossa conversa na praia, Avery passou a maior parte
do tempo fora do escritório comigo. Algumas vezes, eu a
deixava em seu apartamento para passar um tempo com Lily e
pegar mais roupas. Ela ainda se recusa a que eu a leve às compras
ou aceita quando coloco meu cartão em sua bolsa. Mas espero
poder fazê-la mudar de ideia sobre isso.
Durante aquelas noites sozinho, passei um tempo com
Nico. Começamos a fazer uma sessão semanal de yoga seguida
de bebidas e tem sido ótimo compartilhar mais momentos
juntos. Também é uma distração bem-vinda para os momentos
em que sinto falta de Avery ocupando nossa cama.
Molly se afasta de seu ataque com Ollie e me vê na porta,
gesticulando para que eu entre. Ela tem sido uma mão direita
insubstituível durante minha transição para CEO, e o bônus
em sua conta bancária amanhã de manhã vale cada centavo.
— Existe uma política sobre champanhe no escritório. —
Eu tento permanecer profissional, pois ainda sou o chefe deles.
Um silêncio sinistro paira sobre a sala, me lembrando do meu
primeiro mês na OPO.
Destruo minha farsa estoica e digo:
— É contra a política estourar o champanhe sem mim.
Minha equipe ri e eu me junto a eles. A melodia da nossa
exuberância é música para os meus ouvidos.
Nos últimos meses, cada um de nós deu tudo de si neste
projeto, então, se isso significa que meu estômago vai estar
cheio de ouro borbulhante antes das 11h, então que assim seja.
— Ei, aí está! — Ollie puxa um colete de lã da marca OPO
da mesa e traz uma garrafa inteira de champanhe para mim. —
Não se preocupe, amigo, eu sabia que você viria.
Ele coloca o colete sobre meu blazer de seda italiana e enfia
a garrafa na minha mão.
— Isso não é champanhe demais? — Eu abaixo a garrafa e
tiro o colete horrível o colocando em uma cadeira próxima.
Posso ter um novo cuidado com meus colegas, mas aquela coisa
miserável não estará perto de mim.
— Fale por você mesmo. — Ele ri e volta para a celebração.
— Aqui, você pode dividir comigo — diz Avery, me
passando a caneca dos Titãs do Lixo cheia de champanhe e
sentando-se ao meu lado, o cheiro familiar doce de oceano dela
me atraindo para perto. Um lindo sorriso foi preso em seu rosto
desde o anúncio.
Descansamos nossas mãos no aparador atrás de nós, nossos
dedos entrelaçados fora da vista de nossa equipe.
— Bom trabalho, Sr. CEO — diz Avery.
— Eu não poderia ter feito isso sem você — eu respondo.
— Verdade. — Ela inclina a cabeça no meu ombro por um
momento fugaz antes de se afastar.
E estou realmente arrependido da regra que criamos para
nós mesmo de não haver demonstrações públicas de afeto no
trabalho, a menos que seja na privacidade do meu escritório com
as persianas fechadas.
Eu simplesmente caí no fundo do poço com meu amor por
ela, e tê-la perto de mim em todas as oportunidades possíveis
está se tornando uma necessidade.
Minha brilhante e extraordinária Avery.
— Você vai fazer um discurso? — Ela brinca, mas mal ela
sabe que eu vou.
Eu aceno para Matthew, que está olhando para Avery e para
mim com um sorriso. Ele acena de volta para as minhas
intenções não ditas.
Eu limpo minha garganta, chamando a atenção de todos.
— Eu gostaria de agradecer por todo o trabalho que vocês
contribuíram para o projeto Oceano Em Ordem. O Prêmio
Ellington não teria sido garantido sem cada um de vocês — eu
digo e inclino minha caneca para Matthew. — Há outro
motivo para comemoração. Estávamos ansiosos para anunciar
isso há algum tempo, mas tivemos que esperar até a aprovação
final do Conselho. — Faço uma pausa e me viro para Avery. —
A Plastech agora é oficialmente parte da OPO.
Avery sorri, inclinando o copo levemente no ar.
— O quê? Isso é tão emocionante. — Molly olha para
Matthew.
Parece que Ave e eu não fomos os únicos que ganhamos mais
neste projeto do que o prêmio.
— Isso significa que não precisamos deixar todos os lanches
e aquela máquina de café chique! — Ollie diz alegremente.
— Então todo mundo está feliz com isso? — Matthew se
vira para sua equipe.
— Faz mais sentido logisticamente. — Robert toma um gole
de champanhe, balançando a cabeça em silêncio.
— É claro. — Avery sorri.
— Sim! É o melhor, agora não vou ter que roubar todas essas
cadeiras! — Ollie desliza para um dos assentos e gira pelo
escritório, fazendo toda a equipe rir.
— Roubar as cadeiras? — Eu tento esclarecer.
— Oh, ignore-o. — Ela olha para mim.
Matthew e o resto da equipe da OPO explodem em aplausos
comemorativos antes de retornar às suas conversas. Volto para
onde Avery está empoleirada na beirada do aparador.
— Ave, posso falar com você em particular? — Eu digo em
um tom abafado.
— Dissemos que não no trabalho. — Ela me dá um sorriso
tímido.
— Isso é para mais tarde. Agora é outra coisa.
— Ah, uma surpresa? Ok, vamos lá. — Ela me segue até o
corredor, as pontas dos dedos roçando discretamente na minha
mão enquanto caminhamos em direção ao meu escritório.
Uma vez lá dentro, eu a levo para ficar ao lado da minha mesa.
— Eu estava esperando para surpreendê-la com isso em
nosso jantar de comemoração esta noite, mas... — Pego o
contrato de trabalho ao lado do meu computador e entrego a
ela. — Como a Plastech estará tão focada no Oceano Em
Ordem, gostaria de oferecer a você o cargo de chefe de
desenvolvimento da Organização de Pesquisas Oceânicas.
— Sério? — Seu rosto se ilumina e ela pega os papéis das
minhas mãos.
— Eu preciso de você — eu admito. — Você é incrivelmente
talentosa, Avery. As conexões que você promoveu. A
arrecadação de fundos que você fez. Não há agradecimentos
suficientes com os quais eu poderia te fazer entender o quanto
você impactou minha vida. Você não apenas me inspira todos
os dias, mas inspira todos ao seu redor. Você realmente lembra
as pessoas de um propósito maior. Eu sempre quis você no meu
time, Ave.
Ela continua a examinar o contrato, seus olhos não se
arregalando com a oferta de salário à sua frente – um número
equivalente ao meu. De jeito nenhum eu permitiria que ela
trabalhasse aqui sem ser minha igual em todos os sentidos.
Fico impaciente no silêncio, esperando que ela aceite.
— O que você me diz?
Meu peito sobe e desce em um conjunto de respirações
profundas.
Eu mereço isso.
Cada uma das minhas inspirações se transforma em uma
onda espessa de calor enchendo meus pulmões. Observo o
cabelo ligeiramente despenteado de Luca e a barba por fazer em
sua mandíbula. Ele tem se preocupado menos em parecer
arrumado, o que de alguma forma o deixa mais bonito. Minha
adoração por ele faz meus lábios se curvarem nas bordas.
Quando examino tudo o que está descrito em meu contrato,
a possibilidade de todos os projetos que poderia ajudar a
concretizar e as conexões que poderia continuar a cultivar
lançam um crepitar emocionante em mim. Este papel foi criado
perfeitamente para mim. Isso me permitiria causar o impacto
que sempre quis causar e construir um ecossistema duradouro
de mudança com o homem que amo.
Eu tento manter meu comportamento calmo ao ver meu
novo salário. Isso é um monte de zeros.
— O que você me diz? — Luca olha para mim com
expectativa.
— Quero deixar uma coisa clara — exijo em meu tom mais
neutro. — Eu não vou receber ordens de você.
— Sem ordens... A que contexto você está se referindo? —
Ele me dá um sorriso maroto, e seus dedos correm por seu
cabelo.
Meu idiota arrogante e bonito.
— Eu não estou chamando você de meu chefe — eu declaro.
— Confie em mim, Avery, eu sei quem, de nós dois, vai dar
as cartas. — Ele puxa meu corpo para perto do dele em um
abraço acalorado e sussurra: — A menos, obviamente, que você
se encontre entre nossos lençóis.
— Se você continuar assim, posso tirar esse privilégio
também. — Eu me afasto um pouco para encará-lo, e ele me
puxa para mais perto.
Meu peso muda na minha postura e a confiança me enraíza
no chão. Eu descanso minha mão no meu quadril. Eu conheço
Luca – ele dobraria o mundo ao meu capricho em vez de me
dar um não.
— Não seu chefe, seu parceiro — ele me garante.
Eu convoco cada grama de força de vontade para manter
meus olhos longe de seus lábios.
Eu não vou beijá-lo agora.
Foco, Avery.
Foco.
Sua mão sobe para acariciar meu rosto, e minha cabeça
instintivamente se inclina para seu toque.
Minha voz está finalmente firme.
— E eu quero um suprimento infinito de calda de toffee.
— Já está feito. Eu não estava brincando quando disse que
preciso de você — diz ele, cheio de convicção.
Luca ri, agora puxando minhas duas mãos nas dele e
segurando-as como se nunca fosse soltá-las.
— Isso significa que você está pronta para dizer sim?
Um homem muito diferente está diante de mim daquele
que me entrevistou meses atrás.
— Sim. É isso que eu quero. — Concordo com a cabeça, o
orgulho serpenteando pelo meu corpo.
Luca me cobre de beijos que deixam meus joelhos fracos, e
uma de suas mãos se entrelaça com a minha.
Não consigo imaginar me cansando disso.
— Ótimo, porque tenho outra surpresa para você! — Ele se
ilumina.
— Luca, se você comprar mais uma peça de roupa que eu vi
on-line, nosso closet vai implodir.
— A rapidez com que você implode é uma das razões pelas
quais eu te amo. Mas é algo melhor do que as roupas que eu sei
que você gosta.
Minha frequência cardíaca acelera em antecipação. Eu
vasculho minha mente, tentando decifrar que possível surpresa
ele poderia ter evocado desta vez.
Seus dedos se soltam dos meus, e uma postura familiar se
encaixa em seu corpo enquanto ele caminha até a primeira
gaveta de sua mesa. Uma gravata cor bordô profunda
lentamente se desfaz em sua mão, os olhos castanhos profundos
agora fixos em mim em meu olhar desafiador favorito. Meu
sangue pulsa com adrenalina enquanto cada molécula dentro
de mim se ilumina como um enxame de vaga-lumes.
— Sério, Navarro? — Eu mordo. — Não é nem meio-dia! E
estamos no escritório! — Minha cabeça gira em direção à porta,
tentando ver se alguém pode nos notar.
— Fico feliz que minhas gravatas evoquem uma reação tão
apaixonada de você. — Ele sorri. — Infelizmente, cariño, esta
só será usada para cobrir brevemente seus lindos olhos.
— Você não pode simplesmente me dizer o que é? — Eu
suspiro, meus braços caindo ao meu lado em exasperação.
Luca se aproxima de mim.
— Tenha paciência, vai valer a pena.
— Tudo bem. — Eu não hesito em me virar, confiando nele
completamente. — Mas é melhor você não bagunçar o cabelo
da nova chefe de desenvolvimento!
Luca está atrás de mim, sua respiração aquecendo minha
pele e fazendo os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Ele
gentilmente leva a gravata aos meus olhos, bloqueando a visão
do escritório. Ele beija meu pescoço com ternura, e eu
naturalmente me inclino para ele, um gemido baixo escapa de
mim. Eu posso senti-lo endurecer contra o meu corpo, seu
cheiro de terra de repente ocupando minha mente
inteiramente. Meus quadris pressionam firmemente contra a
protuberância em suas calças.
No mês passado, não fui capaz de me conter perto dele.
— Você está me distraindo da sua surpresa, Ave.
Ele se afasta de mim e substitui o comprimento dele com
uma palma firme na parte inferior das minhas costas, guiando-
me para frente. Eu o ouço abrir a porta e começar a me levar
pelo corredor.
— Vamos para a sala de conferências?
— Você realmente acha que eu cederia tão facilmente? —
Ele me faz parar e então me gira em incontáveis círculos como
se eu fosse uma criança se preparando para brincar de esconde-
esconde.
— O que você está fazendo? — Eu digo, de repente, tonta.
Eu alcanço a venda.
— Chega de adivinhar. — Ele dá um pequeno tapa na
minha bunda antes de sua mão voltar para as minhas costas.
— Ei! — Eu grito, o riso me escapando da excitação.
Ele me conduz por um labirinto indiscernível, e eu
mantenho o restante das minhas suposições para mim,
tentando mapear meu caminho pelo escritório. Numa sucessão
de mais três voltas, uma das quais eu poderia jurar ser a cozinha,
chegamos ao nosso destino.
Os dedos de Luca desfazem a venda para revelar o antigo
escritório de Joanna. Só que o espaço foi totalmente
remodelado.
As persianas estão abertas para revelar o amplo horizonte
com vista para o Central Park. Cada peça da mobília de Joanna
foi substituída por acessórios modernos. Novos armários cor
de carvalho revestem uma das paredes, aninhados com plantas
e pequenos porta-retratos. Uma cadeira branca aconchegante e
macia está posicionada atrás da mesa elegantemente trabalhada.
— Você me vendou só para me mostrar seu novo escritório?
— Eu giro.
— Eu renovei este espaço na semana passada. — Ele coloca
um cartão-chave na minha mão. — Este escritório é seu.
Eu cambaleio para trás com suas palavras. Este escritório é
meu?
— Mas como você sabia que eu ia dizer sim?
— Porque eu conheço você, Avery Soko — ele diz.
Eu ando pelo escritório, olhando para as fotos emolduradas,
e minhas mãos apertam meu peito.
Três fotos estão na prateleira.
A primeira é aquela que o fotógrafo de Willa tirou apenas
algumas horas antes.
A equipe. A nossa equipe.
— O quê? Isso acabou de ser tirado...
— Nada que nossas novas impressoras não pudessem
resolver em poucos minutos. Eu queria que você tivesse uma
foto da nossa equipe.
A felicidade se infiltra em nossa imagem capturada e sei que
minha decisão de me tornar a chefe de desenvolvimento é a
certa.
A próxima fotografia eu não tinha visto antes. Eu a puxo
para perto e reconheço meu pai e eu nos tons de preto e branco.
Meu cabelo está preso em um rabo de cavalo e estamos usando
camisetas combinando que não consigo me lembrar.
Eu e papai.
Meu coração martela contra minha caixa torácica.
— De onde é essa? — Eu seguro para ele.
— Acontece que Burlington tem uma ávida comunidade de
ativistas ambientais. Um pesquisador levou apenas algumas
horas para encontrar uma foto de vocês juntos em um jornal
local.
— Você contratou alguém? — Minha voz falha.
— Não me faça lembrar das inúmeras coisas que faria por
você, meu amor, ou terei que usar esta gravata de outras
maneiras. — Ele sorri, levantando o tecido ainda em sua mão.
As lágrimas voltam e eu rio para afastá-las. Luca limpa as
gotas salgadas do meu rosto e aponta a cabeça para a fotografia
final.
A terceira foto é só de Luca e eu. Minhas pernas estão sobre
seu corpo, um controle de jogo em uma das minhas mãos
enquanto eu grito para a televisão. O olhar de Luca está fixo em
mim com um largo sorriso pintando suas feições.
Nossa primeira foto como casal.
Meu coração parece que pode realmente se partir em
pedaços com a quantidade avassaladora de amor que flui
através de mim.
— Nico tirou essa. — diz Luca, e minha atenção volta para
ele.
— Eu amei. — Eu rio através de outro ataque de lágrimas.
Ele sorri.
— Vire o porta-retrato.
Eu faço como ele instrui, e no verso está o rabisco de sua
caligrafia.
Nosso apartamento.
— Luca...
— Há uma surpresa final para você lá. — Ele aponta para a
minha mesa.
Antecipação borbulha através de mim. Eu me aproximo,
correndo meus dedos pelo grão polido da madeira de carvalho.
Pego o papel cuidadosamente dobrado em cima de uma caixa
retangular de veludo preto. Meu coração dispara quando
balanço o envelope levemente, incapaz de descobrir o que há
dentro.
— Primeiro a caixa — ele instrui.
Abro a caixa preta para revelar uma pulseira de esmeraldas.
Meus olhos se abrem com o desenho intrincado. As gemas
brilham deslumbrantemente sob o sol da tarde, enviando um
arco-íris de verdes à minha pele.
— Luca! — Eu suspiro.
Ele se aproxima e prende o fecho no pulso que não está com
relógio, seus lábios pressionando firmemente cada um dos
meus dedos.
— Considere isso um espaço reservado temporariamente.
Meu sangue pulsa contra a minha pele. Seu olhar cai para o
envelope na minha mão e ele inclina a cabeça para o lado,
indicando que estou pronta para minha próxima surpresa.
Abro o envelope.
— Uma chave? — Eu puxo o metal irregular e o seguro na
nossa frente.
Luca pega minha mão e se aproxima.
— Avery, se você estiver pronta, eu quero fazer um lar com
você.
— Mas meu contrato...
— Já está resolvido — diz ele. Eu me derreto em seus braços
enquanto ele me puxa para ele. — Pedi a bênção de Lily e
paguei todo o seu aluguel pelos próximos seis meses. Não quero
passar outra noite sem você, Ave.
Minha mente parece estar no banco do motorista de um
carro de corrida a 160 quilômetros por hora.
Estou pronta para me comprometer totalmente com ele,
como fiz com tudo que amei em toda a minha vida. Eu sei
quem eu sou. Não hesito um único momento.
— Sim.
Eu sorrio quando Luca Navarro me beija suavemente.
Sua testa encontra a minha e ele sussurra:
— Você e eu.
— Você e eu.

Fim.
Algum tempo depois.

A música toca suavemente nos alto-falantes do carro enquanto


nossa casa de praia de verão aparece. Tenho certeza de que a
maioria das pessoas, inclusive eu, chamaria esta charmosa casa
de mansão – especialmente porque provavelmente cabem
quatro de nossos apartamentos lá dentro. Encontrei o lugar em
Montauk por acidente. Estava muito fora da nossa faixa de
preço, mas Luca insistiu que alugássemos para a temporada.
Dizer não a ele não era uma opção. Secretamente, ou não tão
secretamente, fico feliz por isso.
Eu amo esse lugar.
As tábuas brancas de madeira envolvem a impressionante
entrada que leva à porta da frente, expondo-se a um pequeno
canteiro de flores no jardim.
A lembrança do primeiro fim de semana em que ficamos
aqui passa pela minha cabeça toda vez que paramos na garagem.
Cuidamos do jardim a maior parte da tarde, cada um de nós
tirando uma camada de roupa à medida que o dia avançava.
Felizmente, nossa residência tem muita privacidade porque
nosso jardim ficou diante de um comportamento muito, muito
inapropriado.
Agora feixes de alecrim e tomilho em excesso revestem o
caminho pedregoso que leva à porta da frente. No início do
caminho existe um pequeno portão de madeira que nos separa
das praias de areia dourada. Isso sempre traz um sorriso ao meu
rosto.
Um sentimento agridoce se instala em meu estômago de que
este é nosso último fim de semana aqui. Vamos dizer adeus ao
pedaço do céu que encontramos juntos.
Não há nada que eu possa fazer, exceto aproveitar cada
minuto com Luca, observando a maré lentamente deixar a
costa e o lindo pôr do sol que consome o horizonte sem fim.
— Temos que devolver as chaves no domingo? Vou sentir
muita falta desse lugar. — Eu viro minha cabeça para longe do
cenário e olho para Luca no banco do motorista. Ele estaciona
nosso carro na frente da casa e o cascalho estala ruidosamente
sob os pneus.
— Sinto muito, minha garota. Eu também sentirei.
— Eu gostaria que não estivesse à venda. Eu me pergunto se
os novos proprietários irão alugá-la no próximo ano?
— Tenho certeza de que poderíamos convencê-los. — Ele
sorri para mim.
Eu dou um gritinho só de pensar em voltarmos aqui todo
verão. Pode ser mais uma de nossas novas tradições juntos.
Luca puxa as chaves da ignição e leva uma de suas mãos
quentes até meu joelho nu, dando um aperto suave. O verão
inteiro eu usei vestidos e saias, ansiando por esses exatos
momentos em que ele provocaria a bainha da minha saia e
esfregaria os dedos na minha pele, fazendo todo o meu corpo
ganhar vida.
Descemos do carro e o cheiro de mar limpa o estresse da
semana.
Nós só ficamos aqui nos fins de semana, optando por nos
juntar ao resto da equipe no horário de verão. Como a
implantação do Oceano Em Ordem está indo tão bem, às vezes
até tiramos uma sexta-feira inteira de folga. Trouxemos receita
mais do que suficiente para manter a OPO funcionando e
financiar uma dúzia de novos projetos.
Eu jogo minhas pernas para fora da porta do passageiro e
hesito em meu assento, observando Luca tirar nossas malas do
porta-malas antes de virar para a casa. Eu poderia fazer deste
lugar um lar para sempre. Especialmente quando Lily e Nico
viajam conosco. Os poucos jantares que nós quatro
compartilhamos foram algumas das minhas memórias recentes
favoritas.
— Ave, vá destrancar a casa. Vou pegar as malas. — Minha
atenção se volta para ele e ele me joga as chaves.
Seu cabelo está levemente despenteado devido ao vento
forte. Ainda não descobri o segredo de sua beleza suave, mas
robusta. Talvez eu nunca descubra.
O material de sua camisa azul apertada se estende contra
seus músculos magros. Ele está vestindo jeans hoje depois de
perder uma aposta que fizemos na semana passada, e o tecido
jeans fica esticado em suas pernas musculosas. Mas não é bem
ele. Os ternos são muito melhores.
— Sr. Navarro, te ves bien. Te ves muy bien.
As aulas semanais de espanhol que estou tendo online
compensaram um pouco. Eu sofro muito com tempos verbais,
mas Luca tem sido um professor paciente. Mesmo quando
ignoramos a maioria das minhas sessões de estudo em favor de
nossa distração favorita.
— Tú también, cariño. — Ele pisca para mim.
Um sorriso se espalha em meu rosto. Eu me viro para ir até
o caminho de paralelepípedos. Uma trepadeira gigante sobe
pela lateral da casa branca, envolvendo-se nas calhas de metal.
As gaivotas cantam acima enquanto as ondas quebram
suavemente na praia.
Eu destranco a porta e sou instantaneamente inundada com
luz laranja e rosa brilhando por toda a sala. As portas de correr
de vidro do chão ao teto voltadas para a praia capturam o pôr
do sol de maneira hipnotizante contra todas as luminárias de
madeira clara, os tetos altos e curvos, a lareira de pedra que nem
acendemos uma vez e as fileiras e fileiras de livros que revestem
as bordas das janelas.
Este lugar exala beleza e serenidade e eu tento absorver tudo.
Memorizar cada canto desta casa. Para lembrar cada cantinho
que trocamos um beijo ou mais.
Um cheiro que não consigo identificar me atrai para a ampla
cozinha do chef. Uma tábua de charcutaria com uma variedade
de queijos, frutas e chocolates está na mesa de café da manhã de
carvalho com uma garrafa de champanhe gelando no meio.
Ele fez isso ou talvez os donos tenham deixado?
Luca não teria tempo para fazer isso se estivesse comigo o
dia todo.
Volto correndo para a sala de estar, onde Luca está deixando
nossas malas.
— Para alguém que reclama de quanto espaço meus ternos
ocupam, é você quem precisa trazer duas malas cheias...
Eu o interrompo.
— Luca, há lanches na cozinha.
— Geralmente há lanches na cozinha.
— Não. Desta vez, há lanches sofisticados na cozinha. Você
planejou isso ou há um fantasma aqui que ama queijo brie
tanto quanto eu?
— Você está pensando em uma boa desculpa para usar
quando todo o brie e o mel desaparecerem misteriosamente?
Eu rio.
— Ei, a culpa é da sua mãe por me deixar obcecada no Natal.
— Ela vai comprar uma peça inteira só para você no
próximo ano.
Luca finalmente consegue tirar todas as malas de seu corpo.
Ele caminha até mim e bate um de seus dedos grandes no meu
nariz antes de me beijar.
— Perfeito, isso significa que não terei que compartilhar. —
Meus lábios se curvam contra sua boca.
— Coma todos os lanches que seu coração desejar, estamos
comemorando nosso último fim de semana alugando a casa.
Tento não pensar na segunda-feira. Em vez disso, chego
mais perto de seu peito e do som de seu coração batendo sob
suas roupas.
— Espere, por que você disse alugando de um jeito
estranho? — Eu me afasto dele e minhas coxas batem no
encosto do sofá.
Ele olha para mim com meu sorriso favorito de menino.
Pense, Avery. Pense.
Durante toda a semana ele ficou impassível quando
perguntei a ele sobre estar chateado com nosso último fim de
semana aqui. Pensando bem, ele tem deixado algumas coisas
aqui todo fim de semana.
Espere.
Eu hesito.
— Luca...
— Sim?
Minha mente está funcionando na velocidade da luz.
— Você não fez isso!
— O quê? — Ele sorri para mim, tentando bancar o
inocente. Se ao menos aqueles lindos olhos dele não revelassem
cada coisa que ele está pensando.
— Vou dar um palpite insano agora mesmo.
Ele acena para eu continuar.
— Homem sorridente. Frequência cardíaca elevada. Não
tão triste quanto eu.
— Ei! — Ele ri.
— Você comprou esta casa?
Ele pega minhas mãos nas dele.
— Sabe, é mais divertido quando você não adivinha suas
surpresas.
Eu grito a plenos pulmões e coloco minha boca na dele.
Depois que nosso beijo termina, eu atiro um dos meus punhos
em seus braços fortes.
— Você me deixou passar toda a semana passada divagando
sobre o quanto eu sentiria falta deste lugar?
— Eu amo suas divagações.
— Mas esta casa é enorme! Há quanto tempo você sabe? O
que vamos fazer com todo esse espaço? Quanto custou? Tem
seis quartos, seis! Você tem que me deixar...
— Tenho certeza de que podemos pensar em todas as
maneiras diferentes de preencher os quartos, Ave. — Ele me
beija na testa antes que todas as perguntas saiam de mim. Todo
o meu corpo relaxa e nós nos abraçamos.
Minha felicidade não é pela casa ou pela cozinha completa.
A única coisa em que posso focar é a emoção absoluta de
antecipar as memórias que criaremos aqui, juntos.
Já posso ouvir os sons de risadas enchendo as paredes.
Nossos amigos e familiares se juntando nos fins de semana.
Talvez, em algum momento no futuro, um pequeno Lucas
correndo pelo chão de madeira.
Eles fazem ternos para crianças?
Eu vou ter que conseguir vários se fizerem.
Nossa filha vai adorar nadar tanto quanto eu?
Conseguiremos flutuar juntas na água salgada sob as
estrelas?
Espero que nenhum deles tenha meu temperamento.
Meus pensamentos giram em torno de como a vida será para
nós. Um futuro onde posso passar todas as coisas que meu pai
me ensinou para a próxima geração.
Mas, por enquanto, saboreio o momento de nossa vida
sendo apenas nós. Porque, no fim das contas, esse é o
verdadeiro presente.
Eu saio do abraço de Luca.
— E o nosso apartamento na cidade? Eu não consigo
imaginar morar horas longe de Lily. Ela não vem aqui o
suficiente e eu sentiria muita falta da equipe para trabalhar
remotamente.
— Não vamos vender o apartamento. Vamos continuar
fazendo o que temos feito. Dirigindo para cá sempre que
quisermos.
Meus lábios encontram os de Luca novamente. Nossas
línguas se entrelaçam em sua dança favorita enquanto
inspiramos o ar um do outro. Não sei porque pensei que nossos
beijos se acalmariam depois que passássemos mais tempo
juntos; nossa selvageria sempre me deixa querendo mais.
Luca se afasta assim que minha respiração fica mais
irregular.
— Tanto quanto eu adoraria jogá-la neste chão e batizar esta
casa como os proprietários oficiais. Nós não deveríamos perder
o pôr do sol.
Ele entrelaça seus dedos com os meus, e eu tento acalmar a
corrente me percorrendo. Ele me guia até as portas deslizantes
da sala e as abre para podermos entrar na varanda de frente para
a praia. Instantaneamente, o cheiro de fogo confunde-se com o
de mar. Examino a praia para encontrar uma fogueira acesa
perto de nós.
Eu aponto para o fosso abandonado.
— Eu pensei que esta era uma praia particular?
Não há vizinhos por pelo menos um quilômetro.
— É sim — diz ele.
Eu me viro para encará-lo, mas sua expressão não revela
nada.
— Essa é outra surpresa? Porque vai ser difícil superar a
compra de uma casa para mim.
Espero que seja mais uma surpresa porque sempre
terminam a meu favor.
— Vamos dar uma olhada. — Ele lidera o caminho.
Nós nos aproximamos da fogueira furiosa.
— Você vai me sacrificar? É isso?
— Se eu te contasse, então não seria uma boa surpresa. Seria?
Ele tenta me levantar, mas eu me esquivo de seus braços.
Nosso riso se perde no vento e nas ondas. Corro em direção ao
fogo dançante como um pássaro voando. As chamas
crepitantes ficam mais altas a cada passo.
Eu paro quando o calor que irradia da fogueira atinge meu
corpo, evaporando o último resquício de frio em meus ossos.
Meus dedos traçam as brasas que flutuam no céu, que agora é
um rosa vibrante de cor de algodão-doce.
O peso de seus braços me envolve por trás. Meu cheiro
favorito, aquele tom amadeirado na pele de Luca, se mistura
com o mar salgado e as cinzas. Nós ficamos juntos. Suas grandes
mãos esfregam minha pele áspera, cada carícia me puxando
para mais perto de seu peito. A areia sob meus pés começa a
ceder conforme me inclino ainda mais para ele, cada minúsculo
grão fazendo cócegas em minhas pernas. Não há lugar onde eu
preferiria estar do que com ele agora.
— Você está deslumbrante esta noite — ele sussurra em meu
ouvido. Sua respiração inflama cada nervo do meu corpo. Eu
preciso dele.
— Não todas as noites? — Eu gentilmente o cutuco com
meu cotovelo.
— Toda noite. — Ele me beija na bochecha e depois abaixa
os braços. E de repente sua presença se foi.
— Ei, onde você...
Mas minhas palavras se perdem ao ver Luca ajoelhado, a
caixa de veludo em suas mãos contendo um anel em uma
almofada de tecido escuro. Pedras pequenas e irregulares
decoram um lado da grande pedra única apoiada em uma faixa
de ouro. Se um anel pode refletir o interior de uma pessoa, este
combina com tudo sobre mim. Simples, magnífico, um pouco
imperfeito.
Meu cérebro começa a juntar cada pista minuciosa. Não é à
toa que ele estava tão estranho ontem sobre sua mala.
— Ave. — Ele sorri para mim.
— Eu sabia.
— Você nem me deixou terminar. — Luca sorri com seu
sorriso de derreter o coração.
Estou parada na areia enquanto observo este homem
encantador de joelhos diante de mim. O brilho do fogo reflete
em seus olhos castanhos profundos. Seu cabelo desgrenhado se
move com a brisa suave da noite.
Luca pega uma das minhas mãos frias e trêmulas em seus
dedos quentes. A pulsação em minhas veias aumenta.
Eu estou respirando? Eu honestamente não consigo dizer.
— Eu não vou dizer o que você já sabe. — Ele olha para mim
com alegria escrita em todas as suas belas feições. — Que você
é o sol com o qual dou boas-vindas a cada uma das minhas
manhãs, que você é a outra metade de mim, que eu passaria a
eternidade fazendo você sorrir.
Uma risadinha sai de mim. Uma cheia de pura alegria em sua
verdade. Estou presa em algum lugar entre as lágrimas ardentes
que escorrem dos meus olhos e a felicidade crescente
explodindo em meu peito.
Consigo dar a ele algum tipo de resposta em vez de ficar aqui
sucumbindo às minhas emoções.
— Eu amo você, Luca.
— Eu amo você, Avery.
Ele leva minha mão aos lábios e beija cada um dos meus
dedos suavemente. Dou um aperto forte e inquebrável em sua
mão. Eu sei agora, como acho que sempre soube, que nunca
vou deixá-lo ir.
Os olhos de Luca voltam para mim, absorvendo-me antes de
dizer as palavras mais cativantes que já ouvi:
— Avery Soko, você quer se casar comigo?
— Sim. — Eu concordo. — Sim. Sim. Sim.
Não sei quantas vezes digo isso, mas linhas bonitas marcam
seu rosto.
Eu tento puxá-lo para mim, meu ataque de riso e lágrimas se
recusando a diminuir.
— Você está sujando seu jeans novo!
Em vez disso, ele gentilmente me puxa para a areia ao lado
dele, e eu caio na frente dele.
Ele ri.
— Não importa.
Luca coloca o elegante anel na minha mão esquerda, e as
delicadas pedras brilham nas chamas da fogueira. Nós nos
ajoelhamos um diante do outro, nossos sorrisos brilhantes o
suficiente para que pudessem ser vistos do espaço sideral.
Tento brincar porque meu cérebro e meu coração se
recusam a se expressar com precisão.
— Você de repente não se importa com suas roupas?
— Oh, Ave, você sempre tem algo a dizer?
— Sim. Você está pronto para lidar com isso pelo resto da
sua vida?
Luca abre o meu sorriso favorito.
— Pode apostar que sim.
Um imenso obrigada à nossa equipe de editoras, Manu Shadow
Velasco da Tessera Editorial e Caroline Acebo. Elas seguraram
nossas mãos enquanto navegávamos no mundo para nos
tornarmos autoras pela primeira vez. Obrigada por fazerem de
Luca e Avery os melhores personagens que poderiam ser
enquanto se apaixonavam. Prometemos que nosso próximo
primeiro rascunho será exemplar (e, na maior parte, no tempo
correto). Obrigada aos nossos artistas de capa e designers que
suportaram nossas incontáveis revisões enquanto tentávamos
criar o melhor livro possível. A infinita paciência de vocês e
habilidades são algumas coisas que nunca consideramos
garantidas.
Obrigada à nossa leitora beta, Luzangel Valles, e à nossa
leitora sensível, Nataly Solis, pelo feedback incrivelmente útil e
por serem as primeiras leitoras a se apaixonarem por Luca.
Obrigada às organizações que estão trabalhando para
proteger os oceanos do mundo, como Ocean Conservancy,
Oceana, Environmental Defense Fund, Coral Reef Alliance,
Projeto AWARE, e muito mais.
Obrigada aos nossos companheiros, que negligenciamos
severamente nos últimos meses. Nós gritamos com você, e
vocês ainda garantiram que fôssemos alimentadas e hidratadas
todos os dias, mesmo quando nos recusamos a passar um
tempo com vocês em favor de Luvery. Obrigada por nos
inspirar, em mais de uma maneira. Aham...
(E se esse não é o comportamento mais comum de
namorados dos livros, não sabemos o que é.)
Obrigada, mais importante, aos incríveis leitores do
BookTok, Bookstagram, BookTube, Book Twitter, blogs de
livros, podcasts de livros e clubes de livros. Se não fosse por
todos vocês, nosso amor pelos livros e o sonho de escrever
teriam permanecido escondidos. Obrigada aos amigos que
fizemos ao longo do caminho que nos incentivaram a seguir
nossas paixões. Obrigada à comunidade maravilhosamente
solidária que está aqui desde o início. Obrigada às boas meninas
que se juntaram ao podcast Between The Sheets. Obrigada aos
amigos no @litpls e @withlovac. Nada disso teria sido possível
sem vocês.
Por fim, obrigada, leitor, por dar uma chance ao nosso
romance de estreia. Esperamos que você tenha gostado de
conhecer Avery e Luca tanto quanto nós amamos escrevê-los.
Agradecemos a oportunidade de compartilhar sua história de
amor com você e estamos tremendamente entusiasmadas por
você se juntar à nossa jornada romântica.
D: Uau, Kels, nós realmente conseguimos! Obrigada por
não me abandonar durante horas de choro e pânico enquanto
navegávamos juntas nesse processo. Eu não poderia ter feito
isso sem você. Você é a Lily da minha Avery, e estou tão feliz
por nos conhecermos.
K: Eu sabia que conseguiríamos! *insira aqui meus
sentimentos*

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