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Presidência da República

Controladoria-Geral da União
Secretaria Federal de Controle Interno

Relatório de Demandas
Externas
Número: 00206.000168/2015-01

Unidade Examinada: SECRETARIA DE POLITICAS


PUBLICAS DE EMPREGO

Introdução
1. Introdução

Este Relatório trata do resultado de ação de controle desenvolvida para verificar a execução
do Programa/Ação 11331207105850001 - Trabalho, Emprego e Renda / Pagamento do
Seguro-Desemprego ao Pescador Artesanal e a forma de acompanhamento e monitoramento
dessa Ação por parte do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.

Os trabalhos foram desenvolvidos na forma de uma auditoria operacional teve como


objetivo de analisar e de confirmar a efetiva atuação do órgão responsável pela política do
Seguro-Desemprego ao Pescador Artesanal - SDPA.

Os trabalhos de campo foram realizados no período de 18/08/2015 a 25/08/2015, sendo que,


nenhuma restrição foi imposta à realização dos exames e os exames foram realizados em
estrita observância às normas de auditoria aplicáveis ao Serviço Público Federal, tendo sido
utilizadas, dentre outras, análise documental, realização de entrevistas e aplicação de check-
list.

1.1. Informações sobre a Ação de Controle


Ordem de Serviço: 201503873
Município/UF: Fortaleza/CE
Órgão: MINISTERIO DO TRABALHO E EMPREGO
Instrumento de Transferência: Execução Direta
Unidade Examinada: SECRETARIA DE POLITICAS PUBLICAS DE EMPREGO
Montante de Recursos Financeiros: R$ 140.930.406,20
Prejuízo: R$ 0,00

2. Resultados dos Exames

Os resultados da fiscalização serão apresentados de acordo com o âmbito responsável pela


tomada de providências para saneamento das situações encontradas, bem como pela
existência de monitoramento a ser realizada por esta Controladoria.

2.1 Parte 1

Os fatos apresentados a seguir destinam-se aos órgãos e entidades da Administração Pública


Federal - gestores federais dos programas de execução descentralizada. A princípio, tais
fatos demandarão a adoção de medidas preventivas e corretivas por parte desses gestores,
visando à melhoria da execução dos Programas de Governo ou à instauração da competente
Tomada de Contas Especial, as quais serão monitoradas pela Controladoria-Geral da
União.

2.1.1. Informação geral sobre o Sistema Nacional de Emprego - SINE

Fato

O Sine foi instituído pelo Decreto nº 76.403, de 8 de outubro de 1975, e tem como
Coordenador e Supervisor o Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio da
Secretaria de Políticas de Emprego e Salário. Sua criação fundamenta-se na Convenção n.º
88 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, que trata da organização do Serviço
Público de Emprego, ratificada pelo Brasil.

A principal finalidade do Sine, na época de sua criação, era promover a intermediação de


mão-de-obra, implantando serviços e agências de colocação em todo o País (postos de
atendimento). Além disso, previa o desenvolvimento de uma série de ações relacionadas a
essa finalidade principal: organizar um sistema de informações sobre o mercado de trabalho,
identificar o trabalhador por meio da Carteira de Trabalho e Previdência Social e fornecer
subsídios ao sistema educacional e de formação de mão-de-obra para a elaboração de suas
programações.

O art. 5º do Decreto de criação do Sine conferiu ao Ministério do Trabalho e Emprego a


competência para "definir as prioridades das áreas a serem gradativamente abrangidas pelo
Sine, estabelecer os programas necessários a sua implantação e as normas administrativas e
técnicas para o seu funcionamento".
Em 1988, o art. 239 da Constituição Federal criou o Programa do Seguro-Desemprego,
regulamentado posteriormente pela Lei nº 7.998, de 11 de janeiro de 1990, que também
instituiu o Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT. A partir dessa época, os recursos para
custeio e investimento do Sine passaram a ser provenientes do FAT, por intermédio do
Programa do Seguro-Desemprego. As normas e diretrizes de atuação do Sine, então,
passaram a ser definidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Conselho
Deliberativo do FAT - Codefat, a quem compete gerir o Fundo e deliberar sobre diversas
matérias a ele relacionadas.

Para cumprir suas finalidades, o Programa do Seguro-Desemprego contempla as ações de


pagamento do benefício do seguro-desemprego, apoio operacional ao pagamento deste
benefício, intermediação de Mão-de-Obra, qualificação profissional, geração de informações
sobre o mercado de trabalho e apoio operacional ao Programa de Geração de Emprego e
Renda.

A partir da criação do Programa do Seguro-Desemprego, passou-se a entender por Sistema


Nacional de Emprego - Sine a rede de atendimento em que as ações desse Programa são
executadas, geralmente de forma integrada, excetuando-se a ação de pagamento do benefício
do seguro-desemprego, operacionalizada pela Caixa Econômica Federal - CEF. Por esse
motivo, o Programa do Seguro-Desemprego, no âmbito do Sine, significa as ações desse
Programa executadas nos postos de atendimento do Sine.

A Lei nº 8.019, de 11 de abril de 1990, que altera a Lei nº 7.998/90, estabelece no art.13 que
as ações do Programa do Seguro-Desemprego serão executadas, prioritariamente, em
articulação com os estados e municípios, por intermédio do Sistema Nacional de Emprego,
isto é, o mencionado principio da descentralização. Estas ações podem ser classificadas da
seguinte forma:

Seguro-Desemprego;
Intermediação de Mão-de-Obra;
Apoio ao Programa de Geração de Emprego e Renda.

Parte dos recursos para o custeio do Sine, especialmente os relativos ao pagamento de seus
funcionários, são provenientes de contrapartida das Unidades da Federação.

No Estado do Ceará, o Instituto de Desenvolvimento do Trabalho – IDT, fundado em 3 de


julho de 1998, vem, desde então, atuando na implementação de políticas públicas na área do
trabalho.

O IDT é uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, qualificada pelo Governo do
Estado do Ceará, como Organização Social, através do Decreto nº 25.019, de 3 de julho de
1998, que o habilitou a executar políticas públicas nas áreas do trabalho e
empreendedorismo.

Por intermédio de Contrato de Gestão com o Governo do Estado, o IDT executa os


programas e ações da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS e
contempla, prioritariamente, as ações do programa SINE no Ceará, englobando a
intermediação de mão de obra, orientação profissional, habilitação ao seguro-desemprego,
qualificação profissional e emissão de carteiras profissionais.
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2.1.2. Informação Geral sobre o Seguro Desemprego ao Pescador Artesanal - SDPA

Fato

O Seguro Desemprego para o Pescador Artesanal, informalmente conhecido como Seguro


Defeso, é uma assistência financeira temporária concedida ao pescador profissional que
exerça sua atividade de forma artesanal, individualmente ou em regime de economia
familiar, ainda que com o auxílio eventual de parceiros, que teve suas atividades paralisadas
no período de defeso.

Os requisitos para requerer o benefício, constantes na Resolução CODEFAT nº 657/201,


chamados de condições para habilitação, são:

• ter registro como Pescador Profissional, categoria artesanal, devidamente atualizado


no Registro Geral da Atividade Pesqueira - RGP, emitido pelo MPA, com
antecedência mínima de um ano da data do início do defeso;
• possuir inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS como segurado
especial;
• possuir nota fiscal de venda do pescado a adquirente pessoa jurídica, ou pessoa física
equiparada à jurídica no período compreendido entre o término do defeso anterior e o
início do defeso atual;
• na hipótese de não atender ao inciso III e ter vendido sua produção a pessoa física,
possuir comprovante de recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,
constando em matrícula própria no Cadastro Específico - CEI, no período
compreendido entre o término do defeso anterior e o início do defeso atual;
• não estar em gozo de nenhum benefício de prestação continuada da Previdência ou
da Assistência Social, exceto auxílio-acidente, auxílio-reclusão e pensão por morte, e
• não ter vínculo de emprego ou outra relação de trabalho, ou outra fonte de renda
diversa da decorrente da pesca.

A lei garante ao pescador receber tantas parcelas quantos forem os meses de duração do
defeso, conforme portaria fixada pelo Ibama. O valor de cada parcela é de um salário
mínimo.

O benefício do Seguro-Desemprego deve ser requerido pelo pescador profissional na


categoria artesanal, na Delegacia Regional do Trabalho - DRT, ou no Sistema Nacional de
Emprego - Sine, ou, ainda, nas entidades credenciadas pelo Ministério do Trabalho e
Emprego - MTE, mediante a apresentação dos seguintes documentos:

• formulário de requerimento, em modelo aprovado pelo Ministério do Trabalho e


Emprego - MTE, preenchido em duas vias;
• carteira de identidade ou carteira de trabalho;
• comprovantes de inscrição no PIS/PASEP e no Cadastro de pessoa Física - CPF;
• carteira de registro de Pescador Profissional devidamente atualizada, emitida pela
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República - SEAP/PR,
cuja data do primeiro registro, no RGP, comprove a antecedência mínima de 1 (um)
ano da data do início do defeso;
• declaração pessoal de que não dispõe de outra fonte de renda diversa da decorrente
da atividade pesqueira;
• nota fiscal de venda do pescado a adquirente pessoa jurídica, ou pessoa física
equiparada à jurídica ou comprovante de recolhimento ao INSS conforme previsto
nos itens III e IV do Artigo 2º da Resolução citada;
• comprovante do número de inscrição do trabalhador - NIT/CEI; e
• quando pescador profissional que opera, com auxilio de embarcação, na captura de
espécies marinhas, apresentar cópia do Certificado de Registro da Embarcação,
emitido pela SEAP/PR, comprovando que a permissão de pesca concedida é
direcionada para a captura da espécie objeto do defeso.

O benefício seguro-desemprego do pescador artesanal poderá ser requerido a partir do


trigésimo dia que anteceder o início do defeso, até o seu final, não podendo ultrapassar o
prazo de cento e oitenta dias, a contar da data de início do defeso. Salienta-se que, nos casos
em que o defeso for antecipado, o prazo para requerer também será antecipado.

A primeira parcela é disponibilizada a partir de 30 (trinta) dias da data do início do defeso, a


não ser nos casos em que haja registro da requisição bloqueada por alguma pendência. O
pescador deve dirigir-se à agência da Caixa ou nas Casas Lotéricas e Caixa Aqui para
recebimento com o Cartão do Cidadão.

Nos casos de indeferimento da concessão do benefício, o pescador poderá interpor recurso


junto ao MTE, por intermédio das Delegacias Regionais do Trabalho, no prazo de até doze
meses, contados da data do início do período do defeso, bem como nos casos de notificações
e reemissões.
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2.1.3. Modelo Institucional do SDPA no Estado do Ceará

Fato

Desde a criação do Programa Seguro Desemprego, perpassando a instituição do IDT no


Estado do Ceará, não há registro de que o modelo institucional de gestão do seguro
desemprego fosse diferenciado dos demais Estados da Federação. Esta situação mudou em
2010, com o termo de cooperação firmado entre o Ministério Público do Trabalho, o
Ministério Público Estadual do Ceará e o SINE-IDT.

As competências das instituições tradicionais, relacionadas no modelo cooperativo vigente


em todo o país são:

A Secretaria Federal de Pesca e Aquicultura no Estado do Ceará, recebe as informações do


pescador, via colônia de pescadores, ou das mãos deste, desde que eles apresentem duas
testemunhas com RGP ativo, para consolidação no Registro Geral da Atividade de Pesca
(RPG), bem como a licença da embarcação. A carteira também pode ser emitida pelas
Colônias de Pescadores, mas tem que ser repassadas à Secretaria para homologação.

A Marinha do Brasil – as capitanias dos portos concedem o Titulo de Inscrição de


Embarcações (TIE), após realizarem vistorias para reconhecimento da modalidade de pesca,
características gerais das embarcações e capacidade de tripulação.
O SINE-IDT – é responsável pela etapa de registro da habilitação do seguro desemprego
geral e da pesca artesanal da piracema (algumas espécies de água doce) e da lagosta e outras
espécies oceânicas.

O Ministério do Trabalho e Emprego – MTE – até 2015 era a instância responsável pela
habilitação propriamente dita, pela homologação do processo e por dar prosseguimento ao
pagamento dos requerimentos de seguro-desemprego, após checagem e validação dos dados,
por intermédio de cruzamentos de dados com outros sistemas de informações cadastrais do
Governo Federal. Essa atribuição passou para o INSS. O Ministério, porém, continuará com
a atribuição de receber e tratar dos recursos administrativos apresentados e das questões
jurídicas de possíveis ações judiciais.

Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS – a partir de 1º de abril de 2015, a


responsabilidade pelo recebimento da documentação e habilitação dos requerentes ao
Cadastro Nacional de Seguro- Desemprego passou a ser do INSS.

No Ceará, entretanto, este modelo foi regulado de forma intensa pela participação do
Ministério Público do Trabalho no período de 2010 a 2015.Tal regulação instituiu que, antes
da homologação dos requerimentos, provocada pelo Ministério Público do Trabalho, as
comunidades de pescadores eram convocadas para audiência pública, na qual os promotores
de justiça, defensores públicos ou procuradores do trabalho, assessorados pelos técnicos do
SINE-IDT, IBAMA, Secretaria Estadual da Pesca e pela Polícia Federal, trabalhando em
conjunto, esclareciam as comunidades sobre os direitos e deveres dos pescadores em relação
ao seguro e alertavam sobre a punição à fraude.

O fato determinante, que antecedeu a criação do modelo foi a Ação Direta de


Inconstitucionalidade – ADIN nº 3664/2008, movida pela Procuradoria Geral da República
contra o Art. 2º, Inciso IV, da Lei nº 10.779, de 25/11/2003, que exigia a apresentação do
atestado de filiação do pescador à Colônia de Pescadores, como condição para acesso ao
Seguro Desemprego. A ADIN desobriga o pescador à apresentação do atestado da colônia
de pescadores a que ele esteja filiado, por mostrar-se violadora do princípio da livre
associação profissional, inscrito no Art. 8º, inciso V, parágrafo único da Constituição
Federal.

A desobrigação de fornecimento de atestado do exercício da captura da espécie objeto do


defeso, por parte das colônias, pra os seus filiados foi considerada, pelo Sine, à época, um
fator de fragilização do processo de controle, dando margem a especulações sobre a
possibilidade de qualquer um requerer o benefício do seguro e prejudicar o esforço que
estava sendo desenvolvido, no sentido de se exigir, principalmente em relação às
embarcações, os Registros de Embarcação e Títulos de Inscrição na Marinha, Certificado de
Embarcação Permissionada, além da Relação das Embarcações Permissionadas e
Cumprimento dos Procedimentos Preparatórios fornecidos pelo MPA.

As exigências, muitas vezes consideradas excessivas, já haviam conseguido reduzir o


número de pescadores requerentes do seguro no defeso da lagosta, de 12.289 em 2007, para
7.320 em 2008.

Diante disso, o Sine/IDT questionou ao Ministério Público do Trabalho - MPT sobre quais
ações poderiam ser tomadas no sentido de suplantar as fragilidades do processo de
habilitação, que estariam sendo acentuadas após a decisão do Supremo Tribunal Federal –
STF, que julgou procedente a Adin nº 3464, e garantir o cumprimento dos dispositivos
legais que estavam sendo exigidos e dos que viriam a ser implantados com a nova lei da
pesca.

Vale registrar que foi promulgada a nova legislação da pesca, Lei nº 11.959, em 29 de julho
de 2009.

Ainda em 2009, o MPT encaminhou ao IDT uma Notificação Recomendatória para que as
normas existentes fossem cumpridas rigorosamente, contemplando proposta de
procedimentos a serem adotados no Estado do Ceará, relativos ao Seguro Desemprego.

Em 2010, essa sistemática de trabalho consubstanciou-se por intermédio do Termo de


Cooperação Técnica celebrado, publicado em Diário Oficial da União em 12 de janeiro de
2010.

Diante desses fatos, o processo anterior foi reformulado, consistindo agora na participação
de Procuradores em ações conjugadas com Promotores de Justiça e Defensores Públicos, no
sentido de contribuir com: participação nas reuniões para divulgação da sistemática
operacional da concessão do Seguro Desemprego e sobre as implicações legais pela
prestação de declarações falsas; recebimento e análise de documentos de identificação dos
declarantes; análise dos documentos das embarcações, com foco na categoria de armadores
de pesca, número de tripulantes e data de validade; fornecimento de orientações sobre
divergências de informações documentais; coleta de assinaturas de pescadores e
proprietários de embarcações nas declarações específicas; assinatura ratificando as
declarações dos pescadores; tomada de depoimentos para instrução dos processos
administrativos e judiciais; solicitações de instauração de inquéritos policiais; requerimento
de expedição de laudos técnicos, relatórios de esforço de pesca e vistoria/navegabilidade das
embarcações das embarcações pelos órgãos Ibama, Secretaria Estadual de Pesca e Marinha
do Brasil, respectivamente.

Dados importantes sobre as bacias hidrográficas e estatísticas pesqueiras, gerenciados por


órgãos como a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará –
COGERH e do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS são utilizados
dentro do processo de tomada de decisões, porém são isntâncias que não se encontram
sistematicamente envolvidas no processo, criando uma lacuna significativa na construção de
uma ação de controle mais abrangente e participativa. A COGERH, principalmente, por
dispor de agentes de fiscalização nos açudes e por conceder licenças para exploração de
atividades pesqueiras nesse locais, seria um importante parceiro a ser sensibilizado e
mobilizado.

A Notificação Recomendatória emitida pelo MPT, por outro lado, possibilitou ao Sine/IDT
desempenhar um papel que expandiu sua atuação, respaldada pelo Contrato de Gestão, ao
efetuar controle rígido dos dados e dos dispositivos legais aplicados não somente à
concessão do Seguro, mas também ao cumprimento da legislação específica da Marinha, do
Ibama e do Ministério da Pesca, realizar cruzamento de dados com dados da Secretaria da
Pesca e Agricultura, para verificação da situação atualizada dos Registros de Pesca e da
Concessão de benefícios não cumulativos, como é o caso do Seguro Safra, tendo como
amparo legal o parecer da CONJUR/TEM nº003/2011, Processo Administrativo nº
46205.012699/2010-35.
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2.1.4. Processos operacionais do SDPA no Ceará

Fato

O procedimento de auditoria aplicado teve por objetivos: verificar a regularidade dos


procedimentos de habilitação do Seguro-Desemprego ao Pescador Artesanal no Estado do
Ceará; compreender o fluxo de trabalho da rede SINE em relação ao Seguro-Desemprego ao
Pescador Artesanal; identificar possíveis indícios de fraudes na Ação de Governo e verificar
o tratamento de notícias e denúncias sobre falsos pescadores e sobre pagamentos indevidos
do benefício.

Para tal, foram levantadas as seguintes questões de auditoria:

o processo de habilitação do Seguro-Desemprego ao Pescador Artesanal - SDPA ocorre


conforme os normativos do Programa?
como funciona o processo de habilitação do Seguro-Desemprego ao Pescador Artesanal -
SDPA na rede Sine no Estado do Ceará?
os beneficiários preenchem de fato os requisitos legais para a percepção do Seguro-
Desemprego ao Pescador Artesanal - SDPA?

Inicialmente, cabe circunstanciar a forma como o programa SDPA é estruturado no Estado


do Ceará. Para tal, foi mapeado o fluxo de operações do macroprocesso, identificando-se os
seguintes fluxos operacionais:

Estabelecimento do Arranjo Institucional;


Habilitação e
Pagamento

O processo operacional de habilitação ainda pode ser dividido em três subprocessos, a saber:
pré-triagem, triagem e pós-triagem.

Os processos mapeados correspondem, em grande parte, ao que foi descrito pelo Tribunal de
Contas da União, por intermédio do Relatório de Auditoria que deu suporte ao Acórdão nº
731/2015, que apresentou a seguinte descrição do processo:

“[...]
26. Todo o processo pode ser dividido em três etapas. Diferentemente da modalidade
Trabalhador Formal, no caso do Pescador Artesanal, existe uma etapa inicial que antecede a
pré-triagem, denominada de programação da recepção ao benefício. Nesta etapa, ocorre a
reunião entre os agentes participantes (MTE e Sine), a definição de calendário de
atendimento e a solicitação dos formulários pré-impressos e em branco.
27. Na verdade, a programação consiste no planejamento da etapa de habilitação, que na
maioria das vezes acontece em localidade próxima à vila ou colônia de pescadores. O MTE
desloca uma equipe para que proceda a recepção dos requerimentos. Todavia o pescador tem
opção de dar entrada nos postos autorizados.
28. A habilitação do pescador é dividida em pré-triagem e triagem. Na pré-triagem, procede-
se à conferência visual da documentação e os dados registrados no Requerimento. Nesse
momento, o indivíduo assina a declaração de que não exerce atividade diversa da pesca. Tal
processo se encerra com a inclusão do requerimento no sistema.
29. Na fase seguinte, denominada triagem, as informações são confrontadas com outras
bases de dados, a fim de serem validadas.
30. A partir daí, há dois desfechos possíveis: os dados estão corretos e preenchem os
requisitos legais para o recebimento do benefício; ou os dados estão incorretos, gerando uma
notificação ao requerente, para que regularize a situação, se for o caso.
31. Quanto à notificação, ela é a constatação do não cumprimento de critérios legais, tais
como: a inobservância do prazo para a entrada do requerimento (de 30 dias antes do início
do defeso até seu final ou 180 dias), estar em gozo de benefício previdenciário ou possuir
outra renda, por exemplo. Assim, a notificação gerada no âmbito do sistema Seguro-
Desemprego ocorre quando o pescador não preenche os requisitos exigidos, inviabilizando,
no primeiro momento, a liberação do benefício solicitado.
32. Todavia, o preceito legal permite que o pescador recorra de tal procedimento,
solicitando, assim, a abertura de recurso administrativo nas Superintendências.
33. A última fase consiste no envio do lote de parcelas a serem pagas à Caixa Econômica,
que confronta os dados com a base PIS/Pasep, e, em seguida, efetiva o respectivo
pagamento.”

Entretanto, verificam-se especificidades no processo de trabalho desenvolvido no Estado do


Ceará, que não foram mapeados pelo TCU, uma vez que se tratou de trabalho concentrado
nos órgãos e entidades centrais do sistema.

Para melhor visualização do processo, procurou-se dividi-lo nos seguintes processos


operacionais:

Arranjo Institucional do SDPA

• O processo operacional de planejamento se inicia com o estabelecimento do que se


denomina de arranjo institucional;
• A lista de beneficiários é elaborada com base nas listagens anteriores de concessão
do benefício, como parâmetro para futuras concessões;
• A partir daí, é estabelecido um cronograma para a realização de audiências públicas,
de acordo com a disponibilidade dos promotores de justiça;
• As audiências públicas ocorrem com a participação dos pescadores, associações,
Sine/IDT, Promotor de Justiça e Procurador do Ministério Público do Trabalho (se
for o caso), defensor público, políticos e demais lideranças da comunidade;
• Após as audiências, os promotores liberam ou não as declarações para o processo de
habilitação;
• Se forem liberadas, as declarações são encaminhadas ao SINE/CE – IDT para
registro e controle e para dar seguimento ao processo de habilitação;
• Se não forem liberadas, as declarações são encaminhadas para a Superintendência
Regional do Trabalho e Emprego – SRTE, Ministério Público Federal, polícia
Federal ou continuam do SINE/CE- IDT, dependendo da gravidade do problema para
a abertura de processo administrativo, ou outro procedimento pertinente;
• O processo administrativo pode resultar em deferimento ou indeferimento dos
recursos impetrados pelos trabalhadores e o fluxo pode seguir para a habilitação ou
para a notificação dos pescadores.
Obs.: a) em relação aos subitens 1.3, 1.6 e 1.8, os fluxos internos do Ministério Público
Estadual, do Ministério Público do Trabalho, Polícia Federal e da Superintendência
Regional do Trabalho e Emprego não foram mapeados, uma vez que o escopo do trabalho
abrange exclusivamente os processos internos do Sine/IDT, restando aos órgãos parceiros a
execução de seus próprios processos de trabalho relacionados, respectivamente, às ações
civis públicas e aos processos administrativos relativos aos recursos impetrados. E
b) após a conclusão das etapas do processo nos quais ocorreram indeferimentos, tanto das
requisições de SDPA como dos recursos para habilitação, cabe recurso no âmbito judicial.

Habilitação do SDPA
Pré-triagem
• O processo de habilitação se inicia com a recepção da documentação e contempla um
subprocesso denominado de pré-triagem, que consiste na checagem dos critérios
iniciais para habilitação;
• Ocorre na matriz ou nos postos do Sine/IDT
• Culmina com o preenchimento do Relatório de Requerimentos - RSDPA
A pré-triagem, propriamente dita, é um subprocesso da etapa inicial, inserido no processo
acima, logo após o Gateway de decisão, que contempla:

Obs.: a) os registros são sempre realizados, apesar de ficarem bloqueados até a


complementação, correção ou apresentação dos documentos ausentes.

Triagem
• A triagem se inicia com a recepção do relatório de requerimentos que é encaminhado
pelos postos para a matriz ou preenchido por ela mesma;
• Ocorre uma nova conferência dos documentos e de sua completude;
• Os requerimentos são cadastrados no sistema SDPA com código de bloqueio;
• A matriz do Sine/IDT informa sobre as alterações no sistema;
• A matriz informa à SRTE sobre o resumo dos requerimentos;
• Resolve pendências
Pós-triagem

• A pós-triagem consiste, basicamente, em um batimento de dados com outros


sistemas de informações;
• Os relatórios são digitados;
• Ocorre a transferência de dados para o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE;
• O Ministério realiza o cruzamento de dados com outros sistemas de governo, aos
quais o Sine/IDT não tem acesso;
• O Ministério disponibiliza no sistema o motivo e os pescadores tomam
conhecimento por intermédio das unidades de atendimento do SINE/Ce-IDT;
• O Ministério emite a ficha de pagamento para a Caixa Econômica Federal;
• O Sine/IDT, após a inclusão dos requerimentos, procede o arquivamento destes com
os respectivos relatórios dos requerentes do seguro-desemprego, de acordo com o
município atendido e o defeso.
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2.1.5. Fragilidades do processo de habilitação no SDPA

Fato

Com objetivo de verificar a regularidade dos procedimentos de habilitação do Seguro


Desemprego ao Pescador Artesanal, foram selecionados 42 requerimentos de beneficiários
residentes no Município de Canindé referente ao ano de 2013, enquanto, para o exercício de
2015, foram escolhidos 12 residentes em Alto Santo, 14 em Jaguaribara, 27 em Banabuiú e
2 em Quixeramobim, totalizando, portanto, 97 requerimentos analisados.

Foi verificado o conteúdo dos requerimentos do Seguro-Desemprego ao Pescador Artesanal


– RSDPA e se os mesmos estavam acompanhados da documentação estabelecida pelo art.
13 da Instrução Normativa SPPE/MTE nº 1/2012, devidamente autenticada pelo agente de
recepção, conforme exigência contida no §2º do referido artigo.

Dos 97 processos analisados, foi verificado que:

Quadro – Análise dos processos


Item de verificação da IN SPPE/TEM Ocorrências 2013 Ocorrências 2015
nº 01/2012
1 Completude da documentação No geral, os processos estavam Os processos estavam
completos, com toda a completos, com toda a
documentação requerida. documentação requerida.
1.1 documento oficial de identificação Todos os processos analisados Todos os processos
continham documento oficial de analisados continham
identificação. documento oficial de
identificação.
1.2 comprovante Programa de Todos os processos analisados Todos os processos
Integração Social - PIS ou Programa continham documento de registro analisados continham
de Formação do Patrimônio do no PIS. documento de registro no
Servidor Público - PASEP PIS.
1.3 comprovante do Cadastro de Todos os processos analisados Todos os processos
Pessoa Física - CPF continham documento de registro analisados continham
no CPF. documento de registro no
CPF.
1.4 carteira de pescador profissional – Em grande parte dos processos, Em grande parte dos
Registro Geral de Atividade Pesqueira estavam vencidas, mas à época processos, estavam
- RGP recebiam carimbos de prorrogação vencidas, mas com
da validade no verso. protocolo de renovação
indicando situação de
ativo.
1.5 comprovante de venda de pescado Em todos os processos não havia Somente o comprovante
ou comprovante de recolhimento ao comprovantes de venda de de recolhimento ao INSS.
Instituto Nacional do Seguro Social – pescado, mas sim, o comprovante
INSS de recolhimento ao INSS.
1.6 comprovante do Número de OS processos trazem a cópia do Os processos utilizam-se
Inscrição do Trabalhador – NIT documento de inscrição, em alguns do número do CEI em vez
casos substituídos apenas pela do Número de
registro no número nas guias de Identificação do
recolhimento.. Trabalhador – NIT,
seguindo orientação
emanada da Secretaria da
Receita Previdenciária,
datada de 14/12/2004.
1.7 comprovante de inscrição no Os processos não trazem a cópia Idem.
Cadastro Específico do INSS – CEI do documento de inscrição, mas o
número é identificado pelas guias
de recolhimento.
1.8 comprovante de domicílio em Comprovantes apresentados sem Idem.
nome próprio ou do cônjuge ou de identificação da relação do
familiar, em última hipótese, proprietário com o beneficiário do
declaração da entidade da categoria ou seguro. No entanto, pelo fato de o
de órgão público. processo de habilitação ocorrer nas
localidades de habitação dos
pescadores, tal fato não é
considerado uma ameaça ao
processo. Além disso, os
promotores de justiça agem de
forma a garantir que os residentes
estão sob sua área de jurisdição.
1.9 nas situações de defeso Não se aplicou à amostra Não se aplicou à amostra
instaurados de pesca embarcada, cópia realizada. realizada.
do Registro da Embarcação.
1.10 nas situações de defeso Não se aplicou à amostra Não se aplicou à amostra
instaurados de pesca embarcada, cópia realizada. realizada.
do Título de Inscrição de Embarcação
– TIE.
1.11 licença ambiental emitida por Não foram identificadas emissões Idem.
autoridade ambiental os pesqueira. de licença ambiental, no entanto, o
Sine/IDT entende que, tal
obrigação estaria contemplada
pelo ato de emissão das Portarias
dos Defesos, publicadas pelo
MMA e MPA: Piracema, Portaria
nº 04 e Lagosta, Portaria nº 206.
1.12 declaração prestada junto ao A declaração é documento padrão A declaração é documento
órgão proponente de que não dispões utilizado pelo Sine/IDT. padrão utilizado pelo
de outra fonte de renda. Sine/IDT.
Assinatura do requerimento pelo Todos os processos estavam Todos os processos
proponente. assinados, ou constavam as estavam assinados, ou
digitais, nos casos de pessoas não constavam as digitais, nos
alfabetizadas. casos de pessoas não
alfabetizadas.
Autenticação das cópias pelo agente Foi verificado que não existe a Idem.
de recepção. prática de autenticação das cópias
dos documentos. O Sine/IDT
entende que a recepção dos
documentos pelo agente, com
registro de seu número de
matrícula supriria o corimbo de
confere com o original.

A partir das constatações acima, identificaram-se situações onde a documentação habilitada


apresenta maior fragilidade em relação à devida comprovação de que o requerente, de fato,
exerceu a atividade pesqueira no período anterior ao defeso, quais sejam:

a) Do Registro Geral de Pesca- carteiras de pescador – RGP

A Instrução Normativa SPPE/MTE nº 1/2012 exige que a Carteira de Pescador Profissional,


categoria artesanal, esteja devidamente atualizada. Os critérios de atualização e manutenção
para o exercício de 2013 e parcialmente para o exercício de 2014, foram estabelecidos pela
IN/MPA nº 13, de 21 de dezembro de 2012, alterada pela IN/MPA nº 12, de 22 de julho de
2013, enquanto para 2015 e para o segundo semestre do exercício de 2014 passou a vigorar
a IN/MPA nº 15, de 11 de agosto de 2014.

Referidas instruções normativas estabelecem que a manutenção da Licença de Pescador


Profissional deverá ocorrer no período de 30 (trinta) dias contados da data do aniversário do
pescador, para a IN/MPA nº 13/2012, e de 60 (sessenta) dias, para as IN/MPA nº 12/2013 e
IN/MPA nº 15/2014, por meio de apresentação da documentação pertinente à respectiva
Unidade Administrativa do MPA do Estado de sua residência.

Verificou-se, nos maioria dos requerimentos pertinentes ao exercício de 2013 (Município de


Canindé), que se utilizou como comprovante de atualização da carteira, um carimbo de visto
bienal indicando a validade da carteira, assinado por um funcionário do Ministério da Pesca
e Aquicultura.

Para o exercício 2015, no entanto, todos os requerimentos apresentam um Protocolo de


Manutenção emitido, datado e assinado por um técnico ou funcionário da Superintendência
Federal de Pesca e Aquicultura, informando que o pescador apresentou todas a
documentação de acordo com a Instrução Normativa nº 06/2012 e suas alterações.

Ressalte-se que a IN/MPA nº 15/2014, por meio do artigo 2º, instituiu que o procedimento
para manutenção da licença iniciará com os aniversariantes do mês de setembro de 2014,
enquanto os aniversariantes dos meses de janeiro a julho de 2014 o farão a partir da data do
seu aniversário em 2015.

Destacaram-se as seguintes situações relativas à atualização da carteira de Pescador


Profissional Artesanal:
- existência de casos em que a data do protocolo assinada pelo funcionário do MPA
ultrapassa o prazo estabelecido para atualização dos dados e manutenção da licença, que é
de 30 (trinta) dias contados da data do aniversário do pescador, para a IN/MPA nº13/2012, e
de 60 (sessenta) dias, para as IN/MPA nº 12/2013 e IN/MPA nº 15/2014, caso dos
requerimentos de número 1723266758, 1723266727, 1723266719, 1723266736 e
1521049037;

Para essa questão, o Sine/IDT apresentou as seguintes considerações, por intermédio do


Ofício nº 1421/2015, de 20 de novembro de 2015:

“A deliberação de datas de protocolos constantes nos formulários de manutenção de


licença, sobre a qual se refere o parágrafo sete, é de competência da
Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura, não temos, portanto, como
questionar uma data que diverge da Legislação vigente, mesmo identificando no ato
da habilitação. Além do mais, como foi dito no parágrafo anterior, o TEM efetua, a
cada rodada de lote, um batimento do RGP com o cadastro disponibilizado do MPA,
com o objetivo de deferir ou indeferir o benefício.”

Não obstante não ser da competência do Sine/CE-IDT, considera-se salutar que, ao serem
verificadas divergências deste tipo, que o órgão competente seja notificado dos fatos, para
tomada de providências pertinentes.

- exercício de atividade remunerada desde 02/01/2013 na Prefeitura Municipal de Alto Santo


por parte das solicitantes constantes dos requerimentos nº 1723266761 e nº 1723266758,
conforme consulta ao sistema. Muito embora as requerentes tenham sido notificadas,
permanecem com o RGP atualizado e sem restrição;

- recebimento de seguro safra no exercício de 2013, por parte do beneficiário constante do


requerimento nº 1520045807, conforme consulta ao Portal da Transparência, no mesmo
exercício de recebimento do seguro desemprego, permanecendo com o registro, apesar de já
ter sido relacionado como não exercendo a atividade de pesca, conforme Portaria
SEMOC/MPA nº 60/2011.

Para essa questão, o Sine/IDT apresentou as seguintes considerações, por intermédio do


Ofício nº 1421/2015, de 20 de novembro de 2015:

“No que se refere às informações do parágrafo dez, “recebimento do seguro-safra


2013”, na mesma competência do benefício do seguro-desemprego do requerimento
nº 1520045807, temos a informar:
O recebimento do seguro-safra, mesmo com a competência do exercício do ano de
2013, só foi realizado em 21.01.2014, portanto, não tínhamos como indeferir, Como
o pescador não requereu o benefício nos exercícios de 2014 e 2015, tomamos
conhecimento após a informação desse relatório, tendo em vista que o TEM não faz
esse batimento, no próprio sistema, razão pela qual cadastramos a restituição das
parcelas recebidas indevidamente, no defeso de 2013, somente agora.
Fazendo uma consulta ao CNIS, identificamos par ao mesmo requerente, um vínculo
empregatício na Prefeitura Municipal de Canindé, com admissão em 13.02.2009 e
demissão em 01.10.2009. em função disso, cadastramos restituição das parcelas
recebidas, indevidamente, nos defesos de 2009 e 2010, telas em anexo.”
As considerações apresentadas são pertinentes, no entanto, o caso aponta para a necessidade
da construção de cruzamentos de dados, não somente do pagamento, mas também dos
cadastros de habilitação de benefícios, para verificação antecipada, de possíveis
incompatibilidades. Um beneficiário que solicita simultaneamente seguros cujo objeto são
atividades distintas, pode estar, propositadamente, procurando burlar os sistemas de
governo, ou aproveitar-se de suas fragilidades e limitações.

Em função das atribuições estabelecidas pela IN/MPA nº 06, de 29 de junho de 2012,


conforme artigo 19, o MPA pode averiguar, a qualquer tempo, a veracidade das informações
constantes do registro de cada pescador, mediante solicitação de documentação
complementar, entrevistas, realização de vistorias ou auditorias técnicas.

No entanto, em função das situações relatadas, há o risco de que a manutenção da Licença


de Pescador Profissional Artesanal seja efetuada apenas “pro forma”, ou seja, apenas com a
simples apresentação da documentação exigida, sem nenhuma investigação complementar
ou conferência com outros sistemas (RAIS, Seguro Safra), inclusive com informações
constantes do próprio cadastro do MPA, caso do requerimento de nº 1520045807, que já
havia sido indicando como não exercendo a atividade pesqueira, mas teve seu registro
revalidado e percebeu o benefício.

Para essa questão, o Sine/IDT apresentou as seguintes considerações, por intermédio do


Ofício nº 1421/2015, de 20 de novembro de 2015:

“No que se refere às informações do parágrafo doze, constatamos, na prática, o que


consta neste relatório e asseguramos que a questão do recebimento do seguro-safra
não é contemplada pela SFPA como motivo de indeferimento do RGP.”

O posicionamento corrobora as análises realizadas e aponta para a necessidade de uma


maior integração entre os agentes envolvidos no processo, inclusive com o desenvolvimento
de sistemas de informação integrado e compartilhamento de dados.

Seria necessário estender o escopo, visando verificar, junto à Superintendência Federal da


Pesca e Aquicultura - SFPA o trâmite do referido requerimento, a fim de averiguar sob quais
condições a carteira de pescador profissional está sendo atualizada e se, de fato, estão sendo
observadas as condições para a concessão e atualização da licença.

b) Do comprovante de venda de pescado

O comprovante de venda de pescado tem sido efetuado em sua totalidade por meio da
apresentação do comprovante de recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS, sistema que se considera bastante frágil, uma vez que, para efetivar o referido
recolhimento, é suficiente apenas estar inscrito como segurado especial no Cadastro
Específico do INSS – CEI, condição essa que é obtida ao ser emitida a Licença de Pescador
Profissional Artesanal, ou seja, não há uma efetiva comprovação de atividade econômica
gerada pela venda do pescado.

Ressalte-se, ainda, que tal recolhimento é efetuado apenas uma vez por ano, em valores
ínfimos, quando o requerente solicita o benefício.
c) Da autenticação dos documentos

Verificou-se, na totalidade dos requerimentos analisados, a ausência de autenticação por


parte do agente recebedor da documentação, contrariando o §? do art. 13 da Instrução
Normativa SPPE/MTE nº 1/2012.

Constataram-se, ainda, casos de agentes recebedores assinando o requerimento em nome de


outro agente, bem como situações em que o agente incluído no sistema como agente de
recepção diverge do indicado no próprio formulário de requerimento.

Uma das razões apresentadas pelo gestor para o ocorrido para 2015 foi a desabilitação dos
agentes à ação de inclusão no Sistema Mais Emprego do Ministério do Trabalho, de
requerimentos externos, conforme Circular nº 15, de 06 de março de 2015, da
Coordenadoria Geral do Seguro-Desemprego, Abono Salarial e Identificação Profissional.
Apresentaram ainda outras razões, como o acúmulo de tarefas e requerimentos.

Tais situações, ainda que não tenha sido identificada má fé, expõe a recepção dos
documentos a uma fragilidade na detecção de documentos fraudados e na identificação de
responsabilidades.

Para essa questão, o Sine/IDT apresentou as seguintes considerações, por intermédio do


Ofício nº 1421/2015, de 20 de novembro de 2015:

“Entendemos que, quando o funcionário conclui a habilitação e coloca o seu


número de inscrição, ele se torna responsável por toda cópia anexada, O próprio
recebimento da documentação supre o carimbo, Não obstante, passaremos a atender
a recomendação dessa Controladoria, no sentido de atestar a autenticidade de todas
as cópias dos documentos do procedimento.”

c) Do comprovante de domicílio

Constatou-se que a análise da comprovação de domicílio não vem sendo efetuada em


conformidade com todas as disposições do inciso VIII do art. 13 da Instrução Normativa
SPPE/MTE nº 1/2012. Dispõe referida norma que o comprovante deve ser em nome próprio
ou do cônjuge ou de familiar e, em última hipótese, pode ser substituído por declaração da
entidade da categoria ou de órgão público. No entanto, dezessete requerimentos
apresentaram comprovantes de domicílio sem identificação do proprietário e dois
comprovantes não eram recentes.

No município de Banabuiú, onde dez requerimentos estavam com comprovantes de


domicílio sem identificação do proprietário, no requerimento de nº 1521048639, consta uma
declaração do Presidente da Colônia dos Pescadores local de que “todos os pescadores que
requereram o seguro desemprego no defeso de 2015 no município de Banabuiú são filiados a
esta e que todos residem no endereço apresentado por ocasião do processo de habilitação”.

Tal declaração não supre a exigência legal, uma vez que o Presidente da Colônia está
assumindo a responsabilidade relativa a todo e qualquer comprovante de endereço que tenha
sido indicado pelos requerentes do município de Banabuiú, sem sequer verificar qual o
endereço informado e o tipo de ligação entre o requerente e o proprietário do imóvel.
Muito embora tal comprovação possa, aparentemente, ter um caráter meramente formal,
divergências ou dúvidas em relação ao efetivo domicílio do requerente podem ser indícios
de que o mesmo não reside no município onde informa exercer a atividade de pescador
artesanal e podem ser usados para averiguar a veracidade das informações prestadas pelos
requerentes.

Para essa questão, o Sine/IDT apresentou as seguintes considerações, por intermédio do


Ofício nº 1421/2015, de 20 de novembro de 2015:

“Sobre esse item, reforçamos o que já havíamos colocado antes, ou seja, a


habilitação do seguro-desemprego, no Estado do Ceará, é historicamente realizada
no habitar do pescador, com o apoio de uma lista de frequência nominal dos
requerentes elaborada com base nos habilitados no defeso anterior, razão pela qual
a preocupação o nome que consta no documento, que comprova a residência do
pescador, não apresenta uma ameaça à habilitação de pessoas de outros municípios.
Além do mais, o promotor de justiça, por ocasião da assinatura do pescador na
declaração, somente subscreve se o endereço pertencente à sua área de jurisdição.
Em caso de dúvidas, ele faz uma checagem com a Colônia.”
o#tF
a/

2.2 Parte 2

Não houve situações a serem apresentadas nesta parte, cuja competência para a adoção de
medidas preventivas e corretivas seja do executor do recurso federal descentralizado.

3. Consolidação de Resultados

A edição da Medida Provisória – MP nº 665, de 30 de dezembro de 2014, convertida,


posteriormente na Lei 13.134, em 16 de junho de 2015, trouxe alterações no Programa do
Seguro-Desemprego, que impactaram diretamente nas rotinas desempenhadas pelos agentes
que atuam na rede de atendimento ao trabalhador do Ministério do Trabalho e Emprego –
unidades próprias e descentralizadas.

Sendo assim, a MP impôs, entre outras coisas, novas exigências para que o pescador
artesanal possa requerer o Seguro-Desemprego na modalidade “Pescador Artesanal”, que,
segundo seu Art. 2º e o inciso IV do caput do art. 4º entraram em vigor a partir do primeiro
dia do quarto mês subsequente à data de sua publicação. Desta forma, as novas regras
passaram a valer dia 01 de abril de 2015.

As novas regras de habilitação somente atingiram os pescadores cujos períodos de defesos


tiveram início a partir de 01 de abril. Desta forma, os pescadores cujo defeso teve início
anteriormente a essa data ainda estavam sujeitos às regras antigas.

Inicialmente, a Medida Provisória apresentou mudanças relacionadas ao órgão executor do


Programa. As atividades de recebimento e processamento dos requerimentos, assim como de
habilitação aos beneficiários, antes executadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego
passaram, a partir de 01 de Abril de 2015, a ser de competência do Instituto Nacional do
Seguro Social – INSS.
O texto da MP também trouxe uma ênfase à necessidade de exercer a atividade pesqueira de
forma exclusiva e ininterrupta para o cumprimento das especificações de enquadramento ao
benefício, explicitando também que o benefício não seria extensível às atividades de apoio à
pesca, ou aos familiares do pescador artesanal que não satisfaçam os requisitos previstos em
Lei.

Foi ainda ressaltado que o benefício é pessoal e intransferível, e que o pescador não fará jus
a mais de um benefício de seguro-desemprego no mesmo ano decorrente de espécies
distintas.

As novas regras trazidas pela MP estabeleceram que o período de recebimento do benefício


limitar-se-á, via de regra, ao limite máximo variável de que trata o caput do art. 4º da Lei nº
7.998, de 11 de janeiro de 1990, fixado, atualmente, em cinco meses de recebimento do
benefício no valor de um salário mínimo mensal.

Os critérios de elegibilidade ao benefício tornaram-se mais extensos. Dessa forma, para


fazer jus ao benefício, além dos critérios já apresentados, o pescador (i) não poderá estar em
gozo de nenhum benefício decorrente de programa de transferência de renda com
condicionalidades ou de benefício previdenciário ou assistencial de natureza continuada,
exceto pensão por morte e auxílio-acidente, devendo apresentar ao INSS o (ii) registro como
Pescador Profissional, categoria artesanal, devidamente atualizado no Registro Geral da
Atividade Pesqueira - RGP, emitido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura, com
antecedência mínima de três anos, contados da data do requerimento do benefício, assim
como (iii) a nota fiscal de venda do pescado, ou o comprovante de contribuição
previdenciária.

Na prática, as exigências são as mesmas, com ênfase dada à vedação de percepção de outros
benefícios decorrentes de programas de transferência de renda, benefícios previdenciários ou
assistenciais de natureza continuada. O princípio da exclusividade, entretanto, que é o
motivador de toda vedação imposta continuará sendo de difícil aferição. Inclusive porque a
previsão de substituição das notas fiscais por recolhimento da contribuição previdenciária
continua sendo uma peça proforma, que não atende ao que se pretende, qual seja, a
demonstração do desempenho exclusivo da atividade.

Não o faz, principalmente por se tratar de atividade de baixa geração de receita, o que leva à
cumulação dos valores até a obtenção do valor mínimo exigido por lei para efetuação do
recolhimento, o que descaracteriza o período real do exercício da atividade, bem como
levanta o questionamento de se a atividade desempenhado é realmente comercial ou
simplesmente de subsistência.

Apesar dos prazos estabelecidos pela MP, na prática, o processo de trabalho não foi
repassado integralmente para o INSS na data estabelecida, uma vez que houve dificuldades
operacionais de se repassar o arranjo institucional criado no Estado e adaptá-lo à
participação do Instituto. Fato é que, até o término dos trabalhos de auditoria e relatoria, os
procedimentos de habilitação dos pescadores continuavam a ser desempenhado pelo
SINE/IDT.

Isso se comprova pelo fato de, após a data de 1º de abril de 2015, várias agências do INSS
terem denunciado a falta de condições de trabalho e capacitação para assumirem as
atribuições de controle o processo de concessão do Seguro Desemprego ao Pescador
Artesanal – SDPA, inclusive, como no caso de Sergipe, protocolando denúncias formais
junto ao Ministério Público Federal, requerendo do mesmo um Termo de Ajustamento de
Conduta, para forçar a Administração Pública Federal a dotar os postos do INSS de
condições de trabalho adequadas.

No Estado do Ceará, aonde o Arranjo Institucional contemplava a participação efetiva do


Ministério Público Estadual, por força do Termo de Cooperação firmado com o Ministério
Público do Trabalho, o repasse das atribuições de condução do processo de habilitação tem
se mostrado mais difícil ainda.

Os controles do processo de habilitação se forem estabelecidos em função da simples


conferência documental e do cruzamento de dados dos diversos sistemas corporativos
disponíveis nos diversos órgãos de Governo, por si, não demonstram ser efetivos na coibição
das fraudes, haja vista que, apesar de todas as revisões e conferências, cruzamentos de dados
e instâncias de revisão, continuam a ser registrados concessões indevidas, possibiltadas a
partir das limitações dos sistemas e fraudes documentais.

Verificou-se, portanto, que o mérito do arranjo institucional construído, não se encontra


tanto no rigor do cumprimento legal, nem nas inúmeras revisões as quais dos documentos
são submetidos, mas sim, à participação efetiva no processo de fiscalização de campo, no
qual, tanto os agentes do SINE/IDT, quanto os agentes do Ministério Público, Defensoria
Pública e demais órgãos de Defesa do Estado se envolveram, criando um ciclo virtuoso de
coibição da fraude. Dificilmente pode-se conceber que o arranjo tivesse sido exitoso sem o
elemento fundamental da prevenção e persuasão pela presença das instâncias punitivas nos
locais de origem da elaboração dos requerimentos.

O risco de se perder a condição de excelência nos controles e na governança obtidos a partir


do arranjo institucional estabelecido é real e tem gerado preocupações nos agentes do
SINE/IDT, que foram expressas aos analistas do Controle Interno responsáveis por essa
avaliação.

Se não houver garantias da manutenção da fiscalização preventiva, fatalmente, reverterá o


processo de trabalho às mesmas condições anteriores, quando se tinham números excessivos
de habilitações de pessoas que nunca foram pescadores e que, simplesmente, por manter
uma carteira atualizada e por não ter atividade formal registrada, habilitavam-se e eram
beneficiados de forma indevida pelo sistema.

Por fim, com base nos exames realizados, conclui-se que a aplicação dos recursos federais
está adequada, no entanto demanda providências no sentido de aprimoramento por parte dos
gestores federais.

Destacam-se, a seguir, as situações de maior relevância quanto aos impactos sobre a


efetividade do Programa/Ação fiscalizado:

- existência de casos em que a data do protocolo assinada pelo funcionário do MPA


ultrapassa o prazo estabelecido para atualização dos dados e manutenção da licença, que é
de 30 (trinta) dias contados da data do aniversário do pescador, para a IN/MPA nº13/2012, e
de 60 (sessenta) dias, para as IN/MPA nº 12/2013 e IN/MPA nº 15/2014, caso dos
requerimentos de número 1723266758, 1723266727, 1723266719, 1723266736 e
1521049037;
- exercício de atividade remunerada desde 02/01/2013 na Prefeitura Municipal de Alto Santo
por parte das solicitantes constantes dos requerimentos de nºs 1723266761 e 1723266758,
conforme consulta ao sistema. Muito embora as requerentes tenham sido notificadas,
permanecem com o RGP atualizado e sem restrição;

- recebimento de seguro safra no exercício de 2013, por parte do beneficiário constante do


requerimento nº 1520045807, conforme consulta ao Portal da Transparência, no mesmo
exercício de recebimento do seguro desemprego, permanecendo com o registro apesar de já
ter sido relacionado como não exercendo a atividade de pesca, conforme Portaria
SEMOC/MPA nº 60/2011.

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