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ARTIGO ARTICLE
Freire’s pedagogy as a method to prevent diseases
Abstract The actions of health promotion di- Resumo As ações de promoção da saúde voltadas
rected to adolescents must consider sexual and para o grupo de adolescentes devem contemplar a
reproductive health, taking into account doubts saúde sexual e reprodutiva, levando em considera-
on the approached theme. It is a qualitative re- ção as dúvidas acerca da temática abordada. Tra-
search which aims to investigate sexuality in male ta-se de uma pesquisa qualitativa, com o objetivo
adolescents with the implementation of the circle de investigar a sexualidade de adolescentes do sexo
of culture as an educative action in the preven- masculino com a implementação do círculo de
tion of sexually transmitted diseases. It was car- cultura como ação educativa na prevenção de do-
ried out in a public school in Fortaleza, Ceará enças sexualmente transmissíveis. Foi realizada
State, with 10 boys aged from 14 to 16 years old in numa escola pública em Fortaleza (CE), com dez
the period between August and November, 2007. meninos entre catorze e dezesseis anos, no período
It was adopted the circle of culture, Freire’s dia- de agosto a novembro de 2007. Adotou-se o círculo
logical pedagogy, as methodological route. It was de cultura, pedagogia freireana dialógica, como
observed that boys associate sex to sexuality pre- percurso metodológico. Observou-se que os meni-
dominantly and that they have little comprehen- nos associam o sexo à sexualidade de forma predo-
sion of the vulnerabilities which they are exposed minante e que tinham pouca compreensão das
to in an unprotected sexual intercourse, once they vulnerabilidades a que estavam expostos numa
demonstrated they were incentivated precociously prática sexual desprotegida, uma vez que demons-
to begin their sexual life, many times without traram ser incentivados precocemente ao início
previous reflection on the possible consequences. da vida sexual, muitas vezes sem reflexão prévia de
It was evinced the necessity of educative actions, suas possíveis consequências. Evidenciou-se a ne-
such as the circle of culture, which offer young- cessidade de ações educativas, como o círculo de
sters the opportunity to show their doubts and to cultura, que propiciam ao jovem expor suas dúvi-
know means to prevent sexually transmitted dis- das e conhecer os meios de prevenção das doenças
eases. It also makes them able to rethink behav- sexualmente transmissíveis, como também capa-
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Centro de Ciências da
iors with the objective of reaching a better life citá-los a repensar condutas a fim de alcançar me-
Saúde. Universidade Federal quality in their sexuality. lhor qualidade de vida em sua sexualidade.
do Ceará. Rua Alexandre de Key words Health education, Adolescence, Sex- Palavras-chave Educação em saúde, Adolescên-
Baraúna 1.115, Rodolfo
Teófilo. 60430-160
ually transmitted diseases cia, Doenças sexualmente transmissíveis
Fortaleza CE.
eve_pinheiro@yahoo.com.br
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Beserra EP et al.
pelos jovens. Eles relataram que conversariam com a correlação da sexualidade com a relação a dois,
os pais numa situação como a descrita, pois se por isso que essas fichas retratavam, predomi-
sentem seguros. A relação de confiança deve existir nantemente, casais.
entre pais e filhos, não restringir apenas aos do Em relação à ficha de cultura que retratava
sexo masculino. Os pais podem fazer parte da um casal, foi dito: carinho, amor, namoro, felici-
aprendizagem do jovem, havendo, possivelmente, dade, “fica”, “casquinha”. Assim, foram permea-
a confiança mútua passível de ser estabelecida9. dos assuntos que compreendiam um relaciona-
Inseriu-se no diálogo a relação dos jovens mento a dois. Questionou-se o conceito de “fica”
com os amigos, surgindo o relato: “Esse povo é para o grupo de meninos, relatado como “Um
cabueta”. Vale ressaltar que estudar um grupo é momento com a menina, sem compromisso”. Com-
analisar também sua questão cultural e deparar- pletaram seu comentário afirmando que pode fi-
se com termos próprios de pessoas do seu vín- car somente no beijo e abraço, como pode se es-
culo social e comumente ditas entre eles, como é tender ao ato sexual. Assim, percebem-se os ris-
o caso da palavra “cabueta”. A cultura mostra a cos a que estão expostos os meninos ao realiza-
visão do mundo dos indivíduos, sendo necessá- rem o ato sexual sem reflexão sobre o sexo seguro
rio seu entendimento para que o educador possa e a possibilidade da multiplicidade de parceiros.
intervir de forma pertinente na realidade dos edu- Diante da figura de duas crianças namoran-
candos10. A frase, dita pelo jovem, significa que do, os meninos relataram: “Só o que tem, os pive-
não pode confiar em amigos, porque eles con- tes namorando”. Eles têm a percepção dessa pre-
tam para outras pessoas, na linguagem dos jo- cocidade e mostraram isso com naturalidade. A
vens do grupo, “eles saem espalhando”. questão da precocidade está visível socialmente,
Na discussão de como a escola percebe a se- declarada para todos como um problema de saú-
xualidade, foi relatado: “Não vê, não explicam nada de pública e de intervenção direta. O diálogo é
sobre isso. Nunca tive aula sobre isso”. Eles de- uma das formas de educar e o círculo de cultura
monstram que a escola não orienta sobre sexua- favoreceu a ação, mas, primeiramente, fez-se ne-
lidade de forma aberta, deixando-os com ques- cessário conhecer as especificidades do grupo para,
tionamentos. A escola, a sociedade e a família posteriormente, se intervir de maneira eficaz.
têm, de modo geral, pouca compreensão dessa As discussões permearam o assunto do iní-
realidade de emoções dos jovens, uma vez que cio da vida sexual. Os meninos falaram: “Na pri-
não sabem a forma de lidar com o tema9. meira oportunidade. Com primeira namorada”.
Os adolescentes querem conhecer as altera- Diante desses comentários, eles demonstraram
ções do corpo, entender a mudança de compor- que qualquer momento pode ser o início da vida
tamento, experimentar o novo; enfim, viver essa sexual, até mesmo sem orientação, nem instru-
idade intensamente, mas, para que isso ocorra, ção, nem reflexão. Esse ponto é imposto pela
torna-se necessário orientá-los a fim de que pos- sociedade como forma de mostrar a masculini-
sam vivenciar de forma segura, sem risco de con- dade e que são sexualmente ativos, devendo a
taminação com alguma DST. garota ser passiva, dependente e sensível8. Com-
plementado esse fato, discutiu-se como acontece
a primeira relação sem orientação: “Orientação é
Segundo diálogo a gente que faz, deixa pra pensar na hora”.
É enfática a discussão acerca de como a socie-
No segundo momento, foram organizadas no- dade e a própria família expõem o filho como
vamente as cadeiras em círculo e apresentadas as vulnerável a alguma DST ou à paternidade, por
fichas de cultura. Estas sugerem um debate com incentivá-lo a ser sexualmente ativo como de-
suporte em figuras de situações da realidade do monstração de masculinidade, tornando-se de
grupo, estimulando os educandos a pensar no caráter urgente orientar com antecedência o jo-
seu mundo real e criticá-lo pelo diálogo. Vale sa- vem sobre os riscos de uma relação sexual des-
lientar que as fichas foram elaboradas a partir protegida.
das palavras geradoras6. Por meio das fichas de Relataram que a primeira relação pode ser a
cultura, o animador medeia as discussões. Na qualquer momento, dependendo da oportunidade
primeira ficha de cultura, havia um casal abraça- e que a orientação, muitas vezes, eles “fazem” na
do; na segunda, duas crianças iniciando um bei- hora. Se há o incentivo para o ato sexual, que haja
jo; na terceira, a foto de um casamento; a quarta, informações corretas sobre sexo seguro.
por sua vez, continha uma adolescente grávida. Antes da ficha de cultura que abria a discus-
No primeiro diálogo com o grupo, observou-se são sobre a gravidez precoce, não houve nenhum
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Quarto diálogo
Terceiro diálogo
Esse encontro foi organizado considerando-se as
Houve discussão sobre a existência das DST. As necessidades específicas do grupo de meninos que
fichas de cultura retratavam suas lesões. Então, foram surgindo no desenvolver do círculo de
abordou-se papiloma vírus humano (HPV), sí- cultura. As discussões entre os meninos foram
filis, gonorréia, herpes, como também se discu- relacionadas à prevenção de DST em todas as
tiu sobre a síndrome da imunodeficiência hu- relações sexuais, pois, nas primeiras oficinas, de-
mana (aids). Enfatizaram-se os métodos de pre- monstraram que a qualquer momento poderi-
venção, as sintomatologias e a evolução dessas am ter uma relação, até mesmo sem camisinha.
patologias. Retornando a essa questão, foi comentado: “A
Os meninos, durante a discussão sobre essas menina pede para fazer sem camisinha e, na hora
doenças, mantiveram-se mais atentos e menos da gente gozar, tirar. Eu tava na parede amaciando
participativos. O grupo de meninos foi conduzi- a menina, quando eu fui ver, já tava lá”. Diante
do pelo conceito de DST e enfatizou-se o sexo dos comentários, é importante que o jovem per-
seguro com o uso do preservativo em todas as ceba o ato sexual não só com risco de gravidez,
relações, como também foi discutido sobre o mas também como um ato que pode propiciar a
acondicionamento da camisinha. contaminação por alguma DST. A negociação do
Ao se conversar sobre o uso do preservativo, preservativo precisa ocorrer entre o casal, para
um jovem afirmou: “Eu tenho é muita, aqui, na que haja o sexo seguro, embora estudos mos-
carteira”. Correlacionando esse diálogo com a trem que nem sempre o preservativo é utilizado
afirmação relatada no diálogo anterior, de que a pelos meninos quando mantêm relações sexuais
qualquer hora pode haver uma relação, obser- com “ficantes”12. Assim, mesmo com as discus-
vou-se haver jovens que andam com o preserva- sões sobre o risco de contágio das DST, alguns
tivo na carteira e outros não. Faz-se necessário jovens não se acham vulneráveis, pois a socieda-
orientá-los sobre a prevenção das DST por meio de impõe machismo e eles devem ser ativos em
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qualquer situação, mesmo quando não têm em vida sexual e o conceito de sexo seguro. Também
posse o preservativo: “Se eu tiver oportunidade relataram sobre DST e o modo de prevenção des-
com uma menina e não tiver camisinha, eu faço, tas com o uso da camisinha. Esta categoria mos-
não tenho como negar”. trou que os adolescentes assimilaram a impor-
O trabalho com os meninos deve ser mais tância do uso do preservativo em todas as rela-
intensificado na prevenção de DST, pois muitos ções, mostrando assim a caracterização do cír-
crescem em um ambiente no qual são cobradas culo em promover educação em saúde, capaci-
dele uma namorada, uma relação sexual, para tando-os a refletir sobre suas condutas: “Aprendi
confirmar sua masculinidade. Observa-se a pre- muitas coisas, como fazer sexo seguro, usando sem-
sença da legitimação de uma “natureza” muito pre camisinha e pensar antes de ter qualquer rela-
mais sexual do homem, como há também o en- ção sexual com outra pessoa. Aprendi mais sobre
tendimento e a crença em uma “natureza” mas- HIV e sobre a transmissão e como e quando a pes-
culina, determinada pela necessidade do sexo, pelo soa estará preparada para primeira relação. É atra-
instinto animal “incontrolável”, sendo muito di- vés do sexo sem camisinha e não tem essa se eu
fícil para o homem “negar fogo”, quando é abor- conheço faz tempo é seguro, sempre fazer sexo com
dado por mulheres, primeiro, porque ele “é ho- camisinha seja quem for”.
mem”13. Assim, é recomendável que as estratégi- Na segunda categoria, assuntos,, eles relata-
as de intervenção promovam a integração de con- ram os temas abordados de que gostaram du-
teúdos e ações de prevenção das DST e de aten- rante as oficinas, como as vulnerabilidades em
ção à saúde sexual e reprodutiva para os adoles- relação às DST/aids, as maneiras de prevenção
centes, que têm grande parte dos encontros se- dessas doenças, o uso da camisinha e, também,
xuais sem qualquer proteção14. as explicações, mais intensificadas para evitar o
Dessa forma, reforçaram-se as discussões contágio por essas doenças que são passíveis de
sobre todos os assuntos dos diálogos anteriores, prevenção. Trata-se, com efeito, que eles perce-
no trabalho de repetição, para que esses jovens, beram a importância do tema, como também a
que não se sensibilizaram com a importância do sua necessidade de aprender e refletir sobre esses
uso do preservativo para prevenção de DST, pos- riscos que existem em sua juventude: “Qualquer
sam refletir sobre suas condutas de vida. Tam- pessoa pode pegar aids através do sexo sem camisi-
bém foi incentivado o uso do preservativo, sua nha. Gostei dos encontros e como se proteger das
aquisição no posto, pois os postos de saúde pos- doenças. Foi se proteger das DST e também que
suem camisinhas específicas com menor diâme- toda hora que a gente for fazer sexo, sempre usar
tro para adolescentes. camisinha. O que eu mais gostei nos encontros foi
É necessário reforçar a necessidade de investi- o alerta para nós não nos contaminarmos com es-
mentos na educação do contingente populacional sas doenças horríveis”.
jovem em geral, principalmente no que se refere à No ensejo da discussão da última categoria,
formação cidadã, capacitando-o a lutar pelos seus maneira de abordagem, os adolescentes comen-
direitos, entre os quais o acesso a informações ne- taram que gostaram de como o animador, nos
cessárias para a prática da anticoncepção15,16. comentários, identificado como professora, me-
diava as discussões, pois estas se caracterizaram
de forma dialógica, abrindo espaço para que os
Quinto diálogo participantes do grupo interagissem nas discus-
sões por meio dos temas suscitados pelos jovens,
Esta oficina estava relacionada à avaliação dos que os incentivaram a repensar seus conceitos:
jovens em relação ao círculo de cultura, pois este “Eu gostei da maneira que a professora ensina a se
foi realizado por eles. Assim, são os seus partici- prevenir das doenças. O que mais gostei foi o jeito
pantes os principais avaliadores de sua imple- que a professora ensinava”.
mentação. Durante o processo avaliativo, os jo- Estas três categorias se completam, pois os
vens estavam livres para relatar o que quisessem assuntos foram do interesse dos jovens. A ma-
sobre o círculo de cultura, podendo ser o que eles neira de abordagem foi dialógica, para que eles
tinham aprendido e/ou do que eles tinham gos- se tornassem participativos nas discussões e, por
tado. Seus comentários foram categorizados em fim, a aprendizagem, que foi consequência natu-
três aspectos: aprendizagem, assuntos e maneira ral dos encontros, já que a reflexão crítica reali-
de abordagem. zada pelos adolescentes foi a partir dos temas
Na primeira, aprendizagem, havia relatos relacionados a aspectos de sua juventude, abor-
sobre a necessidade de refletir antes de iniciar a dados nas oficinas do círculo de cultura.
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Colaboradores
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