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O Judas em Sábado de Aleluia

de Martins Pena
Adaptado por Thiago Ledier

Comédia em 1 ato

Personagens

José Pimenta, cabo-de-esquadra da Guarda Nacional.


Suas filhas Chiquinha e Maricota.
Faustino, empregado público.
Ambrósio, capitão da Guarda Nacional.
Antônio Domingos, velho, negociante.

A cena passa-se no Rio de Janeiro, no ano de 1844.


ATO ÚNICO

Sala em casa de José Pimenta. Porta no fundo, à direita, e à esquerda uma


janela; além da porta da direita uma cômoda de jacarandá, sobre a qual
estará uma manga de vidro e dois castiçais de casquinha. Cadeiras e mesa.
Ao levantar do pano, a cena estará distribuída da seguinte maneira:
Chiquinha sentada junto à mesa, cosendo; Maricota à janela; e no fundo da
sala, à direita da porta, um grupo de quatro meninos e dois moleques
acabam de aprontar um Judas, o qual estará apoiado à parede. Serão os
seus trajes casaca de corte, de veludo, colete idem, botas de montar, chapéu
armado com penacho escarlate (tudo muito usado), longos bigodes, etc. Os
meninos e moleques saltam de contentes ao redor do Judas e fazem grande
algazarra.

CENA I

Chiquinha, Maricota e meninos.

Maricota (debruçada na janela, para fora) — Meninos, não façam tanta


bagunça...
Chiquinha (para Maricota) — Mana, olha como o Judas está bonito! Daqui a
pouco, quando aparecer a Aleluia, temos que levá-lo pra rua. (depois de um
tempo) Maricota, ainda não cansou dessa janela?
Maricota (voltando a cabeça) — Não é da sua conta.
Chiquinha — Sei bem disso. Mas, olha, o meu vestido está quase pronto; e
o seu, não sei quando vai ficar.
Maricota — Vou terminar o meu quando eu quiser e me der vontade. Para de
me amolar - costura e me deixa.
Chiquinha — Faz como achar melhor. (Aqui Maricota faz uma mesura para a
rua, como a pessoa que a cumprimenta, e continua depois a fazer acenos
com o lenço) Lá está ela na sua árdua tarefa! Esta minha irmã vive só para
namorar! É quase um vício! Faz festa para todos, paquera todos... E o pior é
que engana a todos... Até o dia em que também a enganarem.
Maricota (retirando-se da janela) — Que tanto resmunga, Chiquinha?
Chiquinha — Eu? Nada.
Maricota — Sim! Fica aí, agarrada nessa costura; vai vivendo desse jeito que
vai acabar morrendo solteira.
Chiquinha — Paciência.
Maricota — Minha cara, nós não temos dote, e não é com a bunda pregada
na cadeira que vamos achar um noivo.
Chiquinha — Você já achou algum com a cara pregada na janela?
Maricota — Deus ajuda quem cedo madruga. Sabe quantos passaram hoje
por esta rua, só para me ver?
Chiquinha — Não.
Maricota — O primeiro que vi, quando cheguei à janela, parado no canto, foi
aquele tenente do Exército que você bem conhece.
Chiquinha — Casa com ele.
Maricota — E por que não, se ele quiser? Os oficiais do Exército têm um
bom salário. Pode rir.
Chiquinha — E depois do tenente, quem mais passou?

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Maricota — O cavalo rabão.
Chiquinha — Ah!
Maricota — Já não mostrei pra você aquele moço que anda sempre muito
bem vestido, montado em um cavalo rabão, e que todas as vezes que passa
cumprimenta com ar risonho e esporeia o cavalo?
Chiquinha — Sei quem é — quer dizer, conheço de vista. Quem é ele?
Maricota — Sei tanto quanto você.
Chiquinha — E você dá bola pra ele sem nem conhecer o rapaz?
Maricota — Oh, que tonta! Pois é preciso conhecer a pessoa pra quem se dá
bola?
Chiquinha — Eu acho que sim.
Maricota — Você é muito atrasada. Quer ver a carta que ele me mandou
esta manhã pelo moleque? (Tira do seio uma cartinha) Ouve: (lendo:) "Minha
adorada e crepitante estrela!" (Deixando de ler:) Hein? E então?...
Chiquinha — Continua.
Maricota (continuando a ler) — "Os astros que brilham nas chamejantes
esferas de seus sedutores olhos ofuscaram em tão subido ponto o meu
discernimento que me enlouqueceram. Sim, meu bem, um general, quando
vence uma batalha, não é mais feliz do que eu sou! Se receber os meus
sinceros sofrimentos serei ditoso e, se não me corresponder, serei infeliz; irei
viver com as feras desumanas da Hircânia, do Japão e dos sertões de Minas
— feras mais compassivas do que você. Sim, meu bem, esta será a minha
sorte, e lá morrerei... Adeus. Deste que jura ser seu, apesar da negra e fria
morte. — O mesmo". (Acabando de ler:) Então, que me diz disso? Que estilo!
Que paixão!
Chiquinha (rindo-se) — É pena que o menino vá viver por esses cafundós
com as feras da Hircânia, com os tatus e tamanduás. E você acredita em
todo este palavrório?
Maricota — E por que não? A gente ouve tantas histórias dessas paixões
violentas.
FOGO FOGUINHO
Ouve agora esta outra. (Tira outra carta do seio)
Chiquinha — Do mesmo?
Maricota — Não, essa é daquele mocinho que está estudando latim no
Seminário de S. José.
Chiquinha — Você também paquera um seminarista?! O que você espera
deste menino?
Maricota — O que espero? Nunca ouviu dizer que as primeiras paixões são
eternas? Pois bem, este menino pode ir para São Paulo, desistir do
seminário, voltar de lá formado... E eu arranjo alguma coisa no caso de ainda
estar solteira.
Chiquinha — Que plano! É uma pena ter que esperar tanto tempo...
Maricota — Os anos passam depressa quando se namora. Ouve: (lendo:) "Vi
seu mimoso semblante e fiquei enleado e cego, cego a ponto de não
conseguir estudar minha lição." (Deixando de ler:) Isto é coisa de criança.
(Continua a ler) "Diz bem o poeta latino: Mundus a Domino constitutus est."
(Lê estas palavras com dificuldade e diz:) Isto eu não entendo; mas deve ser
algum elogio... (Continua a ler) "...Constitutus est. Se Deus o criou, foi para
fazer o paraíso dos amantes, que como eu têm a fortuna de gozar tanta
beleza. A mocidade, meu bem, é um tesouro, porque senectus est morbus.

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Recebe, minha adorada, os meus protestos. Adeus, encanto. Ego vocor —
Tibúrcio José Maria." (Acabando de ler:) O que eu não gosto é quando ele
escreve em latim. Vou mandar um recado dizendo que me escreva só em
português. Lá dentro ainda tenho um maço de cartas que eu posso mostrar
pra você; recebi estas duas hoje.
Chiquinha — Se todas são como essas, é uma coleção bem rica. Quem
mais passou? Vai, diz...
Maricota — Passou aquele contínuo da Alfândega que está à espera de ser
segundo escriturário para se casar comigo. Passou o inglês que anda
montado no garanhão. Passou o Ambrósio, capitão da Guarda Nacional.
Passou aquele diplomata de bigode e cabelo comprido que veio da Europa.
Passou aquele outro que tem uma loja de tecidos. Passou...
Chiquinha (interrompendo) — Meu Deus, quantos! E você dá bola pra todos
esses?
Maricota — Mas é claro! E o melhor é que cada um pensa ser o único que
recebe minha atenção.
Chiquinha — Quanta habilidade! Mas me diz, Maricota, o que você espera
com todas essas loucuras e namoros? Quais são seus planos? (Levanta-se)
Não vê que você pode ficar falada?
Maricota — Falada por paquerar? Então nenhuma moça paquera? A
diferença está em que umas são mais espertas do que outras. As
descuidadas, como você diz que eu sou, paqueram francamente, enquanto
as sonsas vão pela calada. Você mesma, com este ar de santinha — anda,
fica vermelha! — talvez paquere, e muito; e se eu não posso afirmar isso com
certeza é porque você não é sincera como eu sou. Não seja tonta, não existe
moça que não paquere. A dissimulação de muitas é que faz duvidar de suas
estripulias. Me aponta, por acaso, uma só que não tenha hora escolhida para
chegar à janela, ou que não atormente ao pai ou à mãe para ir a este ou
àquele baile, a esta ou àquela festa? E você pensa que isto é por acaso, ou
sem nenhuma razão? Você se engana, maninha: é tudo pra paquerar; e pra
paquerar muito! Os pais, as mães e as tontas como você é que não veem
nada e de nada desconfiam. Quantas eu conheço que, no meio de parentes e
amigos, cercadas de olhos vigilantes, paqueram tão sutilmente que nem se
percebe! Para quem sabe namorar tudo é desculpa: uma criança no colo que
se beija, um papagaio com o qual se fala à janela, um mico que brinca sobre
o ombro, um lenço que volteia na mão, uma flor que se desfolha — enfim,
tudo! E quantas vezes até um pretendente desprezado serve para fazer
ciúmes a outro! Pobres tolos que levam a culpa e vivem enganados,
enquanto outro aproveita! Se eu quisesse te explicar e patentear os ardis e
espertezas de certas meninas que passam por sérias e que são
refinadíssimas safadas, eu não acabaria hoje. Tenha a certeza, minha irmã,
que as moças dividem-se em duas classes: sonsas e sinceras... Mas todas
paqueram.
Chiquinha — Não vou discutir com você. Vamos concordar que é assim;
quero mesmo que seja assim. Que outro futuro esperam as meninas de
família, senão o casamento? É o nosso trabalho, como costumam dizer. Os
homens não levam a mal que façamos todos os esforços para alcançarmos
este fim; mas o meio que devemos empregar é tudo. Ele pode ser prudente e
honesto, ou tresloucado como o seu.

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Maricota — Eu não disse que existem as sonsas e as sinceras? Você é das
sonsas.
Chiquinha — Isso pode nos deixar faladas, como eu não duvido que você vá
ficar.
Maricota — E por quê?
Chiquinha — Você dá bola pra todos!
Maricota — Oh, essa é boa! Nisto justamente é que eu vejo vantagem. Me
diz então: quem compra muitos bilhetes de loteria não tem mais
probabilidade de tirar a sorte grande do que aquele que só compra um? Não
pode, do mesmo modo, nessa loteria do casamento, quem tem muitos
pretendentes ter mais probabilidade de tirar um para marido?
Chiquinha — Não, não! A namoradeira logo fica conhecida e ninguém vai
querer se casar com ela. Você acha que os homens se iludem com esses
tipos e que não sabem que não devem levar a sério suas promessas? Que
mulher pode haver, tão fina, que paquere muitos e que faça crer a cada um,
em particular, que é o único amado? Aqui, em nossa terra, os moços são
presunçosos, linguarudos e indiscretos; quando têm o mais insignificante
namorico, não há amigos e conhecidos que não fiquem sabendo. Que
cautelas podem resistir a essas indiscrições? E, conhecida uma moça por
namoradeira, quem se animará a pedi-la em casamento? Quem se arriscará
a se casar com uma mulher que talvez continue, depois de casada, com as
paqueras de sua vida de solteira? Os homens têm mais juízo do que você
pensa; com as namoradeiras, eles se divertem, mas não se casam.
Maricota — Eu vou te mostrar.
Chiquinha — Veremos. Dê graças a Deus se, por fim, encontrar um velho
para marido.
Maricota — Um velho! Prefiro morrer! Ou ser freira... Não me fale nisso que
fico toda arrepiada! Mas por que me preocupar? Para mim é mais fácil... Aí
vem meu pai. (Corre e assenta-se à costura, junto à mesa)

CENA II

José Pimenta e Maricota.

Entra José Pimenta com a farda de cabo-de-esquadra da Guarda Nacional,


calças de pano azul e barretão — tudo muito usado.

Pimenta (entrando) — Maricota, dê aqui minha roupa, já que Chiquinha, sua


irmã; não está fazendo nada. Está bem bom! Está bem bom! (Esfrega as
mãos de contente)
Maricota (costurando) — Vai sair, papai?
Pimenta — Tenho que visitar umas pessoas, para cobrar o dinheiro das
guardas de ontem. Abençoada a hora em que eu deixei de ser sapateiro para
ser cabo-de- esquadra da Guarda Nacional! O que ganhava com o trabalho?
Uma ninharia. De manhã cedo até alta noite, sentado no banquinho, cortando
coro daqui, furando coro de lá, encerando a linha, colando a sola; puxando o
couro com os dentes, batendo o martelo, estirando o tirapé — e no fim do
mês, ganhava apenas o dinheiro para comer, e ainda comia mal. Digo e
repito, minha filha: feliz a hora em que deixei o trabalho para ser cabo-de-

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esquadra da Guarda Nacional! Das guardas, das rondas e das ordens de
prisão faço o meu pé-de-meia. Arranjo tudo de modo que renda, e não rende
pouco... Assim é que tem que ser a vida; e, além disso, só saúde. E viva a
Guarda Nacional e o dinheirinho das guardas que estou saindo para cobrar, e
que muito sinto ter de repartir com meus superiores. Se vier alguém me
procurar, peça que me espere, que eu já volto.
CONSELHOS (Sai)

CENA III

Maricota (só) — Meu pai tem razão: são milagres! Quando meu pai
trabalhava de sapateiro e tinha um salário fixo, não conseguia viver; agora
que não tem oficio nem salário, vive sem preocupações. Bem diz o Capitão
Ambrósio: as profissões sem nome são as mais lucrativas. Ai, chega de
costurar! (Levanta-se) Não vou namorar a agulha, nem me casar com a linha.
(Vai para a janela. Faustino aparece na porta ao fundo, donde espreita para a
sala.)
MACHUCA

CENA IV

Faustino e Maricota.

Faustino — Posso entrar?


Maricota (voltando-se) — Quem é? Ah, pode entrar...
Faustino, entrando — Estava ali em frente, no barbeiro, esperando que seu
pai saísse para poder ver você, falar com você, amar e adorar e idolatrar
você...
Maricota — Verdade?
Faustino — Ainda duvida? Para quem vivo eu, senão para você? Quem está
sempre presente na minha imaginação? Para quem eu faço todos os
sacrifícios?
Maricota — Fala mais baixo que a mana pode ouvir.
Faustino — Ah, a mana! Oh, quem me dera ser a mana, para estar sempre
com você! Na mesma sala, na mesma mesa, na mesma ...
Maricota (rindo-se) — Já começou com besteira...
Faustino — E como vou acabar sem começar? (Pegando-lhe no pé:)
Decididamente, meu amor, não posso viver sem você... E sem o meu salário.
Maricota — Não acredito em você. Você já ficou muitas vezes sem aparecer
dois dias, sinal de que pode viver sem mim. E parece que também pode viver
sem o seu salário, porque...
Faustino — Impossível!
Maricota — Porque tenho visto você passar muitas vezes por aqui: de
manhã, às onze horas e ao meio-dia, o que prova que você enforca o
trabalho, leva falta e descontam do seu salário.
Faustino — Faltar ao trabalho eu, o modelo dos empregados? Enganaram
você. Quando eu não vou trabalhar é porque estou doente, ou porque mandei
alguém dizer que eu estava doente...
Maricota — E hoje que é dia de trabalho, mandou dizer que estava doente?

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Faustino — Hoje? Ah, nem me fale nisso que eu fico desesperado e
alucinado! Por sua causa sou a vítima mais infeliz da Guarda Nacional!
Maricota — Por minha causa?!
Faustino — Sim, sim, por sua causa! O capitão da minha companhia, o
capitão mais feroz que apareceu no mundo depois que inventaram a Guarda
Nacional, me persegue, me humilha e me mata! Como ele sabe que eu amo
você e que você me corresponde, ele vive me fazendo pirraças e afrontas.
Todos os meses, são dois ou três avisos para fazer plantão; outras tantas
ordens para rondas, manejos, paradas... E pobre de mim se não vou, ou não
suborno alguém para escapar! O meu ordenado não dá mais conta. Me
roubam, me roubam na cara dura! Eu detesto você, seu capitão infernal!
Você é um tirano, um Gengis-Kan, um Tamerlan! Agora mesmo tem um
guarda na porta do trabalho me esperando para me prender. Mas eu não vou
lá, não quero. E tenho dito. Um cidadão é livre... Enquanto não o prendem.
Maricota — Sr. Faustino, não grite, fique calmo!
Faustino — Calmo? Quando vejo um homem que abusa da sua autoridade
apenas para me afastar de você! Sim, sim, é para me afastar de você que ele
manda sempre me prender. Patife! Porém o que mais me mortifica, e até me
faz chorar, é ver o seu pai, o mais honrado cabo-de-esquadra da Guarda
Nacional, prestar apoio a essas “tiranias constitucionais”.
Maricota — Está bem, deixe disso, já estou entediada. E você não tem que
se queixar do meu pai: ele é cabo e cumpre com as obrigações dele.
Faustino — Obrigações dele? E você acha que um homem cumpre com
suas obrigações quando anda atrás de um cidadão brasileiro com uma ordem
de prisão enfiada no bolso? A liberdade, a honra, a vida de um homem feito à
imagem de Deus, enfiadas no bolso! Sacrilégio!
Maricota (rindo-se) — Com certeza é uma obrigação digna...
Faustino (interrompendo-a) — ... digna somente de um capitão da Guarda
Nacional! Felizes dos turcos, dos chinas e dos negros da África, porque não
possuem guardas nacionais! Oh!
Maricota — Gente!
Faustino — Mas apesar de todas essas perseguições, eu vou mostrar a
esse capitão que comigo não se brinca. Assim que meu quartel for
reorganizado e eu seja promovido, me casarei com você, ainda que eu veja
diante de mim todos os chefes de legião, coronéis, majores, capitães,
corneteiros, sim, corneteiros!
Maricota — Meu Deus, ficou louco!
Faustino — Então podem chover sobre mim as ordens e advertências, como
chovia o maná no deserto! Não deixarei você um só instante. Quando eu for
pras paradas, você vai comigo para me ver desfilar.
Maricota — Oh!
Faustino — Quando eu der plantão, vai me acompanhar...
Maricota — Quê? Eu também vou ficar de plantão?
Faustino — E o que tem isso? Mas não, melhor não, você correria perigo...
Maricota — Como é exagerado!
Faustino — Quando eu sair para a ronda noturna, rondarei a nossa porta; e
quando houver briga, vou me trancar em casa com você e, não importa o que
aconteça... vou fingir que estou dormindo. Mas ah, infeliz!
Maricota — Acabou o furor?
Faustino — De que me servem todos esses tormentos, se você não me

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ama?
Maricota — Não amo você?!
Faustino — Infelizmente, não! Eu tenho cá para mim que o capitão não se
atreveria a tanta coisa, se você não desse esperança para ele.
Maricota — Ingrato!
Faustino — Maricota, minha vida, ouve a confissão das tormentas que por
você sofro. (Declamando)
TORMENTAS DE FAUSTINO
Uma ideia esmagadora, ideia abortada do negro abismo, como o riso da
loucura profunda, me segue por toda a parte! Na rua, na cama, na repartição,
nos bailes e mesmo no teatro não me deixa um só instante! Agarrada às
minhas orelhas, como o náufrago à tábua de salvação, sempre a ouço dizer:
— Maricota não ama você! Sacudo a cabeça, arranco os cabelos, mas só
consigo desarrumar os cabelos e amassar a gravata. Isto é o tormento da
minha vida, companheiro da minha morte! Costurado na mortalha, pregado
no caixão, enterrado na catacumba, fechado na caixinha dos ossos no dia de
finados, ainda ouvirei essa voz, mas então será furibunda, pavorosa e
cadavérica, a repetir: — Maricota não ama você! E eu serei o defunto mais
desgraçado! Você não fica comovida com estas imagens? Não fica toda
arrepiada?
Maricota — Escute...
Faustino — Oh, que não tenha eu a eloquência e o poder para arrepiar você
inteirinha!
Maricota — Já disse pra me escutar. Ora, me diz uma coisa: não tenho eu
dado todas as provas que poderia dar para convencê-lo do meu amor? Não
tenho respondido a todas suas cartas? Não estou à janela sempre que vai de
manhã para o trabalho, e às duas horas quando volta, apesar do sol?
Quando tenho alguma flor ao peito, que me pede, não dou para você? Que
mais quer? São poucas essas provas de verdadeiro amor? É assim que me
paga tantas delicadezas? Eu é que deveria me queixar...
Faustino — Você?
Maricota — Eu, sim! Me responde: por onde você andou que não passou por
aqui ontem, e me fez esperar a tarde toda na janela? Que fez do cravo que
lhe dei o mês passado? Por que não foi ao teatro quando eu lá estive com D.
Mariana? Desculpe-se, se conseguir. Assim é que corresponde a tanto amor?
Já não existem paixões verdadeiras. Estou perdida. (Finge que chora)
Faustino — Maricota...
Maricota — Fui bem desgraçada em dar meu coração a um ingrato!
Faustino (enternecido) — Maricota!
Maricota — Se eu pudesse arrancar do peito esta paixão...
Faustino — Maricota, eis-me a teus pés!
CHINELINHA DO MEU AMOR
Necessito de toda a sua bondade para ser perdoado!
Maricota — Me deixa.
Faustino — Quer que eu morra a teus pés? (Batem palmas.)
Maricota (assustada) — Quem será?
Capitão (fora) — Dá licença?
Maricota (assustada) — É o Capitão Ambrósio! (Para Faustino:) Vai embora,
vai embora! (Vai para dentro, correndo)
Faustino (levanta-se e vai atrás dela) — Então, o que é isso? Me deixou!

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Foi- se! E agora, que farei? Não sei onde me esconder. Em boas estou
metido, e daqui não tenho saída. TROCA DE ROUPA
(Corre para o Judas, despe-lhe a casaca e o colete, tira-lhe as botas e o
chapéu e arranca-lhe os bigodes) O que me pegar é esperto, porque mais
esperto sou eu. (Veste o colete e casaca sobre a sua própria roupa, calça as
botas, põe o chapéu armado e arranja os bigodes. Feito isto, esconde o
corpo do Judas em uma das gavetas da cômoda, onde também esconde o
próprio chapéu, e toma o lugar do Judas.) Agora pode vir... (Batem) Aí está
ele! (Batem) Aí vem!

CENA V

Capitão e Faustino, no lugar do Judas.

Capitão (entrando) — Não tem ninguém em casa? Ou estão todos surdos?


Já cansei de bater palmas e nada de novo! (Tira a barretina e a põe sobre a
mesa, e assenta-se na cadeira) Só me resta esperar.(Olha ao redor de si, dá
com os olhos no Judas; supõe à primeira vista ser um homem, e levanta-se
rapidamente) Quem está aí? (Reconhecendo que é um Judas:) Ora, ora, ora!
E não me enganei com o Judas, pensando que era um homem de verdade?
Oh, ah, mas está um figurão! E não é que está tão bem feito que parece
vivo? (Assenta-se) Onde está essa gente? Preciso falar com o cabo José
Pimenta e... Ver a filha dele. Não seria nada mau se ele tivesse saído de
casa; preciso ouvir certas explicações de Maricota. (Aqui aparece na porta da
direita Maricota, que espreita, receosa. O Capitão a vê e levanta-se) Ah!

CENA VI

Maricota e os mesmos.

Maricota (entrando, sempre receosa e olhando para todos os lados) — Sr.


Capitão!
Capitão (chegando-se para ela) — Desejei ver você e a sorte me ajudou.
(Pegando- lhe na mão) Mas o que você tem? Está receosa! Seu pai?
Maricota (receosa) — Saiu.
Capitão — Tem medo de quê, então?
Maricota (adianta-se e como que procura um objeto com os olhos pelos
cantos da sala) — Eu? Nada. Estou procurando o gato...
Capitão (largando-lhe a mão) — O gato? E por causa do gato me recebe
com essa indiferença?
Maricota (à parte) — Saiu. (Para o Capitão) Ainda por cima fica bravo
comigo! Por sua causa é que eu estou assustada assim.
Capitão — Por minha causa?
Maricota — Sim.
Capitão — E é também por minha causa que procura o gato?
Maricota — É, sim!
Capitão — Mas essa é muito boa! Me conte o por quê, então.

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Maricota (à parte) — No que eu fui me meter! O que eu vou dizer pra ele?
Capitão — Então?
Maricota — Você lembra...
Capitão — De quê?
Maricota — Da... Da... Daquela carta que você me escreveu anteontem em
que me aconselhava a fugir da casa do meu pai para a sua casa?
Capitão — E o que tem?
Maricota — Então... Eu guardei essa carta na gavetinha do meu espelho e,
como a deixei aberta, o gato, brincando, pegou a carta; porque ele tem esse
costume de pegar as coisas de dentro da minha gavetinha quando eu
esqueço ela aberta...
Capitão — Oh, mas isso não tem graça! Vamos procurar esse gato. Eu
assinei meu nome naquela carta e isso pode me comprometer. É a última vez
que eu escrevo uma carta para você! O GATO
(Puxa a espada e principia a procurar o gato)
Maricota (à parte, enquanto o Capitão procura) — Com a espada pra fora!
Estou arrependida de ter dado bola pra esse pateta. (O Capitão procura o
gato atrás de Faustino, que está imóvel; passa por diante e continua a
procurá-lo. Logo que volta as costas a Faustino, este mia. O Capitão volta
para trás repentinamente. Maricota surpreende-se)
Capitão — Miou!
Maricota — Miou?!
Capitão — Deve estar bem por aqui mesmo. (Procura)
Maricota (à parte) — Mas que estranho! A gente não tem gato em casa!
Capitão — Não está aqui. Onde, porcaria, ele se meteu?
Maricota (à parte) — Deve ser de algum vizinho. (Para o Capitão:) Tudo
bem, deixe pra lá; ele vai aparecer.
Capitão — Que o diabo o carregue! (Para Maricota!) Mas procure bem até
achar esse raio desse gato, para arrancar a carta dele. Podem encontrar
essa carta, e isso não seria nada bom pra mim. (Esquece-se de embainhar a
espada) Mas era sobre esta carta mesmo que eu desejava falar com você.
Maricota — Recebeu minha resposta?
Capitão — Recebi, e tenho ela aqui comigo. Mandou dizer que estava pronta
para fugir para minha casa; mas que esperava primeiro poder conseguir parte
de um dinheiro que seu pai está juntando, para fugir com ele. Com isto eu
não concordo. Não está nos meus princípios. Um rapaz pode roubar uma
moça — é uma molecagem; mas dinheiro... É uma ação indigna!
Maricota (à parte) — Idiota!
Capitão — Espero que você não pense mais nisso, e que faça somente o
que eu peço pra você. Certo?
Maricota (à parte) — Pateta que não percebe que era uma desculpa para eu
não ter que dizer não, e continuar com ele preso na coleira.
Capitão — Não responde nada?
Maricota — Ah, claro! Vou, sim. (À parte.) Só se eu fosse sonsa. Se eu fugir
pra casa dele, ele não casa comigo.
Capitão — Agora quero dizer uma coisa muito delicada. Eu supus que esta
história de dinheiro era uma desculpa para você não fazer o que eu pedia.
Maricota — Ah, supôs? Mas quanta esperteza!
Capitão — E se você usa essas desculpas é porque ama o...
Maricota — O quem? Vai, fala logo!

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Capitão — O Faustino.
Maricota — O Faustino? (Ri às gargalhadas) Eu? Amar aquele palerma?
Com olhos de peixe morto, e pernas de cowboy assado? Você está
brincando comigo. Tenho melhor gosto. (Olha com ternura para o Capitão)
Capitão (suspirando com prazer) — Ah, que olhos matadores! (Durante este
diálogo Faustino está inquieto no seu lugar)
Maricota — O Faustino serve pra me divertir, e se algumas vezes dou
atenção pra ele, é para esconder melhor o amor que sinto por outro. (Olha
com ternura para o Capitão.)
Capitão — Eu acredito em você porque seus olhos confirmam suas palavras.
(Gesticula com entusiasmo, brandindo a espada) Sempre terá em mim um
arrimo e um defensor!
NÃO VENHAS
Enquanto eu for capitão da Guarda Nacional e o Governo tiver confiança em
mim, vou sustentar você como uma princesa. (Pimenta desata a rir às
gargalhadas. Os dois voltam-se surpreendidos. Pimenta caminha para a
frente, rindo-se sempre. O Capitão fica enfiado e com a espada levantada.
Maricota, turbada, não sabe como tomar a hilaridade do pai)

CENA VII

Pimenta e os mesmos.

Pimenta (rindo-se) — O que é isto, Sr. Capitão? Atacando a menina ou


ensinando ela como pegar na espada?
Capitão (turbado) — Não é nada disso, Sr. Pimenta, não é nada disso...
(Embainha a espada) Foi um gato.
Pimenta — Um gato? Pois o Sr. Capitão saca a espada para um gato? Só se
foi algum gato danado que entrou aqui.
Capitão — Nada; foi o gato da casa mesmo que andou aqui pela sala
fazendo bagunça.
Pimenta — O gato da casa? É um bichinho que eu nunca tive, nem quero
ter.
Capitão — Pois o senhor não tem um gato?
Pimenta — Não, senhor.
Capitão (alterando-se) — E nunca teve um gato?
Pimenta — Nunca!... Mas...
Capitão — Nem suas filhas?
Pimenta — Já disse que não.... Mas...
Capitão (voltando-se para Maricota) — Como é que nem seu pai, nem a sua
irmã e nem você têm um gato?
Pimenta — Mas que diabo é isso?
Capitão — E ainda assim... Tudo bem, tudo bem! (à parte:) Aqui tem
safadeza!
Pimenta — Mas que história é essa?
Capitão — Não é nada, não se importe com isso; eu conto pra você depois.
(Para Maricota:) Muito obrigado! (Voltando-se para Pimenta:) Temos que
falar sobre umas questões do trabalho.
Pimenta (para Maricota) — Vai para dentro.

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Maricota (à parte) — Que capitão tão pedaço de asno! (Sai)

CENA VIII

Capitão e José Pimenta.

Pimenta vai pôr sobre a mesa a barretina. O Capitão fica pensativo.

Capitão (À parte) — O Faustino anda por aqui, mas ele vai me pagar!
Pimenta — Às suas ordens, Sr. Capitão.
Capitão — O guarda Faustino foi preso?
Pimenta — Não, senhor. Desde quinta-feira que tem dois guardas atrás dele,
mas ainda não conseguiram encontrá-lo, não. Mandei que os dois fossem
ficar de plantão na porta do quartel, mas ele também não apareceu por lá
hoje. Eu acho que avisaram ele.
Capitão — É preciso fazer um esforço para prender esse guarda que está
ficando muito folgado. Tenho ordens muito apertadas do comandante
superior. Diga aos guardas encarregados de prender esse sacripantas que
levem ele direto para a solitária. Vai ficar lá um mês. Do jeito que está isso
não pode continuar. Não tem gente para o trabalho com estes maus
exemplos. A impunidade desorganiza a Guarda Nacional. Assim que sair da
solitária, de volta pro trabalho e, se ele faltar, solitária de novo, até aprender.
Eu vou mostrar uma coisa pra ele. (À parte:) Safado! Não quer competir
comigo?
Pimenta — Sim, senhor, Sr. Capitão.
Capitão — Plantão atrás de plantão, rondas, manejos, paradas, diligências
— deixe ele bem ocupado. Se entenda a esse respeito com o sargento.
Pimenta — Deixe comigo, Sr. Capitão.
Capitão — Precisamos de gente pronta.
Pimenta — Verdade é, Sr. Capitão. Os que não pagam para ser dispensados
devem sempre estar prontos. Alguns são muito preguiçosos.
Capitão — Ameace todos com o trabalho.
Pimenta — Já tenho feito isso. Digo que se não pagarem logo, o senhor
Capitão vai chamar todo mundo pra trabalhar. Ainda faltam oito que não
pagaram este mês, e dois ou três que não pagam desde o princípio do ano.
Capitão — Diga a esses que você recebeu uma ordem para chamar todos os
devedores de novo para o trabalho imediatamente. Falta gente. Ou pagam,
ou trabalham.
Pimenta — Pode deixar, Sr. Capitão, precisamos mesmo fazer alguma coisa.
Já andam dizendo por aí que se a nossa companhia não tem gente é porque
mais de metade paga por fora para ser dispensada.
Capitão — Dizem isso? Pois já sabem?
Pimenta — Que saibam mesmo, eu não acredito; mas desconfiam.
Capitão — É o diabo! É preciso tomar cuidado. Vamos até a casa do
sargento que precisamos conversar com ele. Uma demissão ia acabar com
meus planos. Vamos.
Pimenta — Sim, senhor, Sr. Capitão. (Saem)

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CENA IX

Faustino

Só. Logo que os dois saem, Faustino os vai espreitar à porta por onde
saíram, e adianta-se um pouco.

Faustino — Ah, então o Capitão se assusta porque podem saber que mais
de metade dos guardas da companhia paga uma graninha por fora para ser
dispensada! E quer me mandar para a solitária! E escreve cartas, enchendo
de ideia a cabeça de uma menina de família. E ainda quer me encher de
trabalho? Muito bem! Vou anotar tudo isso. E o que dizer da menina? É de
tirar o chapéu! É uma mestra! Cozinhando os dois em banho-maria! Muito
bem. Obrigado! Acha que eu tenho pernas de peixe morto e olhos de cowboy
assado? Ah, se eu já soubesse disso antes! Mas ainda é tempo; você vai me
pagar, e...
O NAMORO
Ouço passos... A postos! (Toma o seu lugar)

CENA X

Chiquinha e Faustino.

Chiquinha (entra e senta-se à costura) — Deixa ver se eu consigo acabar


este vestido para vestir amanhã que é Domingo de Páscoa. (Costura) Eu é
que fico sem fazer nada, como meu pai disse. Tudo vai muito bem pra mim.
Ai, ai! (Suspirando) Tem gente que é bem feliz; consegue tudo que deseja e
diz tudo que pensa: só eu não consigo nada e nada digo. Em quem será que
ele está pensando? Na mana, sem dúvida. Ah, Faustino, Faustino, se você
soubesse!
LUA BRANCA
Faustino (à parte) — Fala em mim! (Aproxima-se de Chiquinha pé ante pé)
Chiquinha — . Ah, Faustino, Faustino, se você soubesse! A mana, que não
sente por ti o que eu sinto, tem coragem para falar com você, e enganar
você; enquanto eu, que tanto te amo, não ouso nem olhar nos teus olhos.
Assim é o mundo! Nunca vou ter coragem para confessar pra você esse meu
amor que me faz tão desgraçada; nunca, que morreria de vergonha! Ele nem
em mim pensa. Casar com ele seria a maior das felicidades. (Faustino, que
durante o tempo que Chiquinha fala vem aproximando-se e ouvindo com
prazer quanto ela diz, cai a seus pés)
Faustino — Anjo do céu! (Chiquinha dá um grito, assustada, levanta-se
rapidamente para fugir e Faustino a retém pelo vestido) Espera!
Chiquinha, gritando — Ai, alguém me ajuda!
Faustino — Não se assuste, é o seu amante, o seu noivo... O afortunado
Faustino!
Chiquinha (forçando para fugir) — Me deixa!
Faustino (tirando o chapéu) — Não me reconhece? É o seu Faustino!
Chiquinha (reconhecendo-o) — Sr. Faustino!
Faustino (sempre de joelhos) — Eu mesmo, encantadora criatura! Eu

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mesmo que ouvi tudo.
Chiquinha (escondendo o rosto nas mãos) — Meu Deus!
Faustino — Não fique envergonhada. (Levanta-se) E não estranhe me ver
tão ridiculamente vestido para um amante adorado.
Chiquinha — Me deixa entrar.
Faustino — Oh não! Primeiro você vai me ouvir. Eu estava escondido nestes
trajes por causa de sua irmã. Mas Deus quis que eles me servissem para
descobrir a esperteza de sua irmã e ouvir a sua ingênua confissão, ainda
mais preciosa porque eu não esperava. Eu te amo, eu te amo!
Chiquinha — A mana pode ouvir você!
Faustino — A mana! Que venha me ouvir! Quero dizer na cara dela o que
penso. Se eu tivesse percebido antes em você tanta candura e amor, não
teria passado por tantos dissabores e desgostos, e não teria visto com meus
próprios olhos a maior das patifarias! Sua irmã é uma... Enfim, eu cá sei o
que ela é, e basta. Vamos deixar sua irmã pra lá e vamos falar só no nosso
amor! Não olhe para minhas botas. Suas palavras acenderam em meu peito
uma paixão vulcânico-piramidal e delirante. Nasceu tem um momento, mas já
está grande como o universo. Você me conquistou! Vou retribuir tanto amor!
Não duvide; amanhã virei pedir sua mão a seu pai.
Chiquinha (involuntariamente) — Será possível?!
Faustino — Mais que possível, possibilíssimo!
Chiquinha — Oh! Você está me enganando... E o seu amor por Maricota?
Faustino (declamando) — Maricota trouxe o inferno para minha alma, se é
que não levou minha alma para o inferno! O meu amor por ela se foi, voou,
se extinguiu como um foguete de lágrimas!
Chiquinha — Seria crueldade se zombasse de mim! De mim, que escondia
meu segredo de todo mundo.
Faustino — Zombar de ti! Seria mais fácil zombar do padre!
MENINA FACEIRA
Mas, silêncio, que parece que vem alguém.
Chiquinha, assustada — Será meu pai?
Faustino — É seu pai!
Chiquinha — É meu pai!
Ambos — Adeus! (Chiquinha entra correndo e Faustino põe o chapéu na
cabeça, e toma o seu lugar)

CENA XI

Pimenta e depois Antônio Domingos.

Pimenta — Essa é boa! Querem todos ser dispensados das paradas! E o


sargento fora numa hora dessas. O capitão ficou lá, esperando o sargento
voltar. Ficou espantado com o que eu lhe disse a respeito das dispensas.
Mas ele tem razão; se descobrirem, podem é acabar demitido o pobre
Capitão. (Aqui batem palmas dentro) Quem é?
Antônio (dentro) — Um criado. Dá licença?
Pimenta — Entre, seja lá quem for. (Entra Antônio Domingos) Ah, é o
senhor, seu Antônio Domingos! Seja bem aparecido; como vai o senhor?
Antônio — Vou indo, seu Pimenta. Vou indo.

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Pimenta — Dê cá o seu chapéu. (Toma o chapéu e o põe sobre a mesa)
Então, o que foi?
Antônio (com mistério) — Trata-se do negócio...
Pimenta — Ah, espera! (Vai fechar a porta do fundo, espiando primeiro se
alguém os poderá ouvir) É melhor tomar cuidado. (Cerra a porta que dá para
o interior)
Antônio — Todo cuidado é pouco. (Vendo o Judas:) Aquilo é um Judas?
Pimenta — É, das meninas. Então?
Antônio — Chegou nova remessa do Porto. Os sócios continuam a trabalhar
com ardor. Aqui estão dois contos (tira da algibeira dois maços de papéis),
um em cada maço; é das azuis. Desta vez vieram mais bem feitas. (Mostra
uma nota de cinco mil-réis que tira do bolso do colete) Veja; está
perfeitíssima.
Pimenta (examinando-a) — Está mesmo.
Antônio — Mandei aos “fabricantes” o relatório do exame que fizeram na
Casa da Moeda, sobre as da penúltima remessa, e eles capricharam um
pouco mais e corrigiram os erros. Aposto que ninguém vai notar a diferença
pras verdadeiras.
Pimenta — Quando chegaram?
Antônio — Ontem, no navio que chegou do Porto.
Pimenta — E como vieram?
Antônio — Dentro de um barril de linguiça.
Pimenta — O lucro que deixa não é ruim; mas é tão arriscado...
Antônio — Tem medo de quê?
Pimenta — Medo de quê? Se nos pegarem com a boca na botija, babau!
Tenho minhas filhas pra criar...
Antônio — Deixe de paranoia. Já tivemos duas remessas, e o senhor
sozinho já passou dois contos e quinhentos mil-réis, e nada lhe aconteceu.
Pimenta — Estivemos bem perto de sermos descobertos – alguém
denunciou, e o Tesouro substituiu as brancas pelas azuis.
Antônio — Das notas aos falsificadores tem uma distância enorme; as notas
andam pelas mãos de todos, e os falsificadores, quando falam, se fecham e
tomam muito cuidado. Além disso, quem nada arrisca, nada tem. Deus vai
olhar pela gente.
Pimenta — Se não for o Chefe de Policia...
Antônio — Esse é que pode botar tudo a perder; mas pior é o medo. Vá
guardar as notas. (Pimenta vai guardar os maços dos bilhetes em uma das
gavetas da cômoda e a fecha à chave. Antônio, enquanto Pimenta guarda os
bilhetes:) Cinquenta contos da primeira remessa, cem da segunda e
cinquenta desta fazem duzentos contos; menos vinte de despesa, quando
muito; e aí temos cento e oitenta de lucro. Não conheço negócio melhor.
(Para Pimenta:) Não vá trocar as notas sempre na mesma loja: uma vez aqui,
outra ali... Tem cinco por cento das que passar.
Pimenta — Já estou arrependido de ter me metido neste negócio...
Antônio — E por quê?
Pimenta — Além de perigosíssimo, tem consequências que eu não previa
quando me meti nele. O senhor dizia que o povo não sofria com Isso.
Antônio — E ainda digo. Há na praça um horror de milhões de notas em
papel; mais algumas, não vão fazer diferença.
Pimenta — Assim pensei eu, ou me fizeram pensar; mas já me abriram os

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olhos, e... Enfim, vou passar mais esta vez, e será a última. Tenho minhas
filhas pra criar. Me meti nisto sem saber bem o que fazia. E a culpa é do
senhor, porque da primeira vez o senhor abusou da minha condição; eu
estava sem dinheiro nenhum. É a última vez!
Antônio — Como quiser; o senhor é quem perde. (Batem na porta)
Pimenta — Batem!
Antônio — Será o Chefe de Polícia?
Pimenta — O Chefe de Polícia! Pronto, aí está no que o senhor me meteu!
Antônio — Prudência! Se for a policia, queimam-se as notas.
Pimenta — Qual queimam-se, nem meio queimam-se; já não há tempo
senão de sermos enforcados!
Antônio — Não desanime. (Batem de novo)
Faustino (disfarçando a voz) — Da parte da polícia!
Pimenta (caindo de joelhos) — Misericórdia!
Antônio — Vamos fugir pelo quintal!
Pimenta — A casa não tem quintal. Minhas filhas!...
Antônio — Estamos perdidos! (Corre para a porta, a fim de espiar pela
fechadura. Pimenta fica de joelhos e treme convulsivamente) Só vejo um
oficial da Guarda Nacional. (Batem; espia de novo) Não há dúvida. (Para
Pimenta:) Psiu... Psiu... Venha cá.
Capitão (dentro) — Ah, Sr. Pimenta, Sr. Pimenta? (Pimenta, ao ouvir o seu
nome, levanta a cabeça e escuta. Antônio caminha para ele)
Antônio — Tem só um oficial chamando você.
Pimenta — Os outros estão escondidos.
Capitão (dentro) — Tem gente em casa ou não?
Pimenta levanta-se — Essa voz... (Vai para a porta e espia) Não me
enganei! É o Capitão! (Espia) Ah, Sr. Capitão?
Capitão, dentro — Abra!
Pimenta — O senhor está só?
Capitão (dentro) — Estou, sim; abra a porta.
Pimenta — Palavra de honra?
Capitão (dentro) — Abra, ou eu vou embora!
Pimenta (para Antônio) — Não precisamos ter medo. (Abre a porta; entra o
Capitão. Antônio sai fora da porta e observa se há alguém oculto no corredor)

CENA XII

Capitão e os mesmos.

Capitão (entrando) — Com o diabo! O senhor a estas horas com a porta


fechada!
Pimenta — Queira perdoar, Sr. Capitão.
Antônio (entrando) — Ninguém.
Capitão — Me fez esperar tanto! Já é a segunda vez hoje.
Pimenta — Por quem é, Sr. Capitão!
Capitão — Tão quietos! Parece até que estavam fazendo dinheiro falso!
(Antônio estremece; Pimenta assusta-se)
Pimenta — Que diz, Sr. Capitão? O senhor faz brincadeira que me ofendem!
Com isso não se brinca. Assim o senhor me choca. Estava com o meu amigo

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Antônio Domingos falando sobre os negócios dele, que eu não tenho nada a
ver.
Capitão — Oh, o senhor se ofende e se choca com uma brincadeira dita sem
intenção de ofender!
Pimenta — Mas tem brincadeiras que não têm graça!
Capitão — O senhor tem alguma coisa? Eu estou estranhando você hoje!
Antônio (à parte) — Este diabo bota tudo a perder! (Para o Capitão:) É a bílis
que ainda o trabalha. Estava enfurecido comigo por certos negócios. Isto
passa. (Para Pimenta:) Tudo vai se ajeitar. (Para o Capitão:) O senhor está
trabalhando hoje?
Capitão — Estou de dia. (Para Pimenta:) Já posso falar com você?
Pimenta — Tenha a bondade de me desculpar. Este maldito homem ia me
fazendo perder a cabeça. (Passa a mão pelo pescoço, como quem quer dar
mais inteligência ao que diz) E o senhor também ajudou a me deixar
assustado assim!
Antônio (forcejando para rir) — Foi uma boa brincadeira!
Capitão (admirado) — Brincadeira! Eu?
Pimenta — Por mais honrado que seja um homem, quando alguém bate à
porta e diz: "Da parte da polícia", qualquer um se assusta.
Capitão — E quem disse isto?
Pimenta — O senhor mesmo.
Capitão — Ora, você ou está sonhando, ou quer tirar uma da minha cara.
Pimenta — Não foi o senhor?
Antônio — Não foi o senhor?
Capitão — Essa é boa! Sua casa hoje anda muito estranha. Primeiro foi sua
filha com o gato; agora é o senhor com a polícia... (À parte:) Aqui tem
tramoia!
Antônio (à parte) — Quem seria?
Pimenta (assustado) — Isto não vai bem. (Para Antônio:) Não saia daqui
antes de eu lhe entregar uns papéis. Espere! (Faz semblante de querer ir
buscar os bilhetes; Antônio o retém)
Antônio, para Pimenta — Olhe que se perde!
Capitão — E então? Ainda não me deixaram dizer ao que vinha. FOGOS
DO JUDAS
(Ouve-se repique de sinos, foguetes, algazarra, ruídos diversos como
acontece quando aparece a Aleluia) O que é isto?
Pimenta — Fomos descobertos!
Antônio (gritando) — É a Aleluia que apareceu.
Maricota — Apareceu a Aleluia! Vamos malhar o Judas!... (Faustino deita a
correr pela sala. Espanto geral. Todos gritam e fogem de Faustino, o qual dá
duas voltas ao redor da sala, levando adiante de si todos os que estão em
cena, os quais atropelam-se correndo e gritam aterrorizados. Chiquinha fica
em pé junto à porta por onde entrou. Faustino, na segunda volta, sai para a
rua, e os mais, desembaraçados dele, ficam como assombrados. o Capitão,
na primeira volta que dá fugindo de Faustino, sobe para cima da cômoda;
Antônio Domingos agarra-se a Pimenta, e rolam juntos pelo chão, quando
Faustino sai: e Maricota cai desmaiada na cadeira onde costurava)
Pimenta (rolando pelo chão, agarrado com Antônio) — É o demônio!...
Antônio — Vade-retro, Satanás! (Estreitam-se nos braços um do outro e
escondem a cara)

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Chiquinha (chega-se para Maricota) — Mana, que tens? Não fala; está
desmaiada! Mana? Meu Deus! Sr. Capitão, faça o favor de buscar um copo
com água.
Capitão (de cima da cômoda) — Eu não saio daqui!
Chiquinha, à parte — Covarde! (Para Pimenta:) Meu pai, me ajuda! (Chega-
se para ele e o chama, tocando-lhe no ombro)
Pimenta (gritando) — Ai, ai, ai! (Antônio, ouvindo Pimenta gritar, grita
também)
Chiquinha — E isso agora! Mas que graça! O pior é a mana desmaiada! Sou
eu, meu pai, sou Chiquinha; não se assuste. (Pimenta e Antônio levantam-se
cautelosos)
Antônio — Não o vejo!
Chiquinha (para o Capitão) — Desça; que vergonha! Não tenha medo. (O
Capitão principia a descer) Ande, meu pai, ajude aqui com minha irmã.
Pimenta — Aí vem ele!... (Ficam todos imóveis na posição em que os
surpreendeu o grito, isto é, Pimenta e Antônio ainda não de todo levantados;
o Capitão com uma perna no chão e a outra na borda de uma das gavetas da
cômoda, que está meio aberta; Chiquinha esfregando as mãos de Maricota
para reanimá-la. Aparece repentinamente à porta Faustino, ainda com os
mesmos trajes; salta no meio da sala e vai cair sentado na cadeira que está
junto à mesa. Pimenta e Antônio erguem-se rapidamente e atiram-se para a
extremidade esquerda do teatro, junto aos candeeiros da rampa; o Capitão
sobe de novo para cima da cômoda: Maricota, vendo Faustino na cadeira,
separado dela somente pela mesa, dá um grito e foge para a extremidade
direita do teatro.)
Faustino (caindo sentado) — Ai, que corrida! Já não consigo mais! Oh,
parece que por aqui cá o pessoal ainda está com medo. Sr. Pimenta?
(Pimenta, ouvindo Faustino chamá-lo, encolhe-se e treme) Treme? (Para
Maricota:) Não olhe assim para mim com os olhos tão arregalados que eles
podem saltar fora da cara. De que serão esses olhos? (Para o Capitão:) Olá,
valente capitão! Está no poleiro? Desça. Está com medo do bicho papão?
Hu! hu! Largue essa espada que vai acabar tropeçando nela. É um belo
boneco de louça! (Tira o chapéu e os bigodes, e os atira no chão) Agora
ainda terão medo? Não me conhecem?
Todos (exceto Chiquinha) — Faustino!
FORROBODÓ
Faustino — Ah, já! Cobraram a fala! Temos que conversar. (Põe uma das
cadeiras no meio da sala e senta-se. O Capitão, Pimenta e Antônio dirigem-
se para ele enfurecidos; o primeiro coloca-se à sua direita, o segundo à
esquerda e o terceiro atrás, falando todos três ao mesmo tempo. Faustino
tapa os ouvidos com as mãos)
Pimenta — Se esconder na casa de um homem de bem, de um pai de
família, é ação criminosa: não se deve praticar! As leis são bem claras; a
casa do cidadão é inviolável! As autoridades hão de me ouvir: eu me
defenderei!
Antônio — Surpreender um segredo é infâmia! E só a vida paga certas
infâmias, entende? O senhor é um sem vergonha! Tudo quanto fiz e disse foi
para experimentá-lo. Eu sabia que estava ali oculto. Se diz uma palavra,
mando-lhe dar uma surra.
Capitão — Aos insultos se responde com as armas na mão! Tenho uma

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patente de capitão que o governo me deu, e vou honra essa patente! O
senhor é um covarde! Digo isto na sua cara; não me mete medo! Há de ir
preso! Ninguém me insulta impunemente! (Os três, à proporção que falam,
vão reforçando a voz e acabam bramando)
Faustino — Ai! Ai! Ai! Ai! Que fico sem ouvidos.
Capitão — Petulância inqualificável... Petulância!
Pimenta — Desaforo sem nome... Desaforo!
Antônio — Patifaria, patifaria, patifaria! (Faustino levanta-se rapidamente,
batendo com os pés)
Faustino (gritando) — Silêncio! (Os três emudecem e recuam) Que o deus
da linha quer falar! (Assenta-se) Me puxe aqui estas botas. (Para Pimenta:)
Não quer? Olhe que o mando da parte da... (Pimenta chega-se para ele)
Pimenta (colérico) — Dê cá!
Faustino — Já! (Dá-lhe as botas a puxar) Devagar! Assim... E digam lá que a
polícia não faz milagres... (Para Antônio:) Ah, senhor meu, me tira esta
casaca. Creio que não será preciso dizer da parte de quem... (Antônio tira-lhe
a casaca com muito mau modo) Cuidado; não rasgue o traste, que é de valor.
Agora o colete.(Tira-lhe) Bom.
Capitão — Até quando abusará da nossa paciência?
Faustino (voltando-se para ele) — Ainda que mal lhe pergunte, o senhor
aprendeu latim?
Capitão (à parte) — Vou fazer cumprir a ordem de prisão. (Para Pimenta:)
Chame dois guardas.
Faustino — Que é isso? Espere lá! Já não tem medo de mim? Então agora a
pouco quando se empoleirou era com medo das botas? Ora, não seja
criança, e escute... (Para Maricota:) Chegue para cá. (Para Pimenta:) Ao Sr.
José Pimenta do Amaral, cabo-de-esquadra da Guarda Nacional, tenho a
distinta de pedir-lhe a mão de sua filha a Sra. D. Maricota... Ali para o Sr.
Antônio Domingos.
Maricota — Ah!
Pimenta — Senhor!
Antônio — E esta!
Faustino — Ah, não querem? Torcem o focinho? Então escutem a história
de um barril de linguiças em que...
Antônio (turbado) — Senhor!
Faustino (continuando) — ... Em que vinham escondidos...
Antônio (aproxima-se de Faustino e diz-lhe à parte) — Não me perca! Que
exige de mim?
Faustino (à parte) — Que se case, o quanto antes, com a noiva que lhe dou.
Só por este preço guardarei silêncio.
Antônio (para Pimenta) — Sr. Pimenta, o senhor ouviu o pedido que lhe foi
feito; agora o faço eu também. Concede-me a mão de sua filha?
A BRASILEIRA
Pimenta — Certamente... É uma fortuna... Não esperava... E...
Faustino — Bravo!
Maricota — Isto não é possível! Eu não amo o senhor!
Faustino — Amará.
Maricota — Não se faz isso com uma moça! Isto é zombaria do senhor
Faustino!
Faustino — Não sou capaz!

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Maricota — Não quero! Não me caso com um velho!
Faustino — Pois então não se casará nunca; porque vou já daqui gritando
(gritando:) que a filha do cabo Pimenta namora como uma danada; que quis
roubar... (Para Maricota:) Então, quer que continue, ou quer casar?
Maricota (à parte) — Estou conhecida! Posso morrer solteira... Um marido é
sempre um marido... (Para Pimenta:) Meu pai, farei a sua vontade.
Faustino — Bravíssimo! Que belo par! Amorosos pombinhos! (Levanta-se,
toma Maricota pela mão e a conduz para junto de Antônio, e fala com os dois
à parte:) Menina, aqui tem o noivo que eu lhe destino: é velho, baboso,
rabugento e agiota — não falta nada para a sua felicidade. É este o fim de
todas as namoradeiras: ou casam com um traste como este, ou morrem
solteiras! (Para Antônio:) Os falsários já não morrem enforcados; lá se foi
esse bom tempo! Se eu denunciasse o senhor, o senhor iria para a cadeia e
de lá fugiria, como acontece com muitos da sua laia. Este castigo seria muito
leve... Aqui está o que lhe destino: (Apresentando-lhe Maricota.) É moça,
bonita, ardilosa, e namoradeira: nada lhe falta para seu tormento. Esta pena
não existe na Constituição; mas não admira, porque lá faltam muitas outras
coisas. Abracem-se, em sinal de guerra! (Impele um para o outro) Agora
somos nós, Sr. Capitão! Venha cá. Hoje mesmo quero uma dispensa de todo
o serviço da Guarda Nacional! Arranje isso como puder; senão vou contar pra
um pessoal que eu conheço quantos contos de réis são necessários pra ser
dispensando dos trabalhos... Não sei se o senhor me entende...
Capitão — Entendo, sim. Vou mandar dispensar o senhor... (À parte:) Fazer
o quê? Melhor que ser demitido...
Faustino — E se mexer comigo de novo, cuidado! Quem avisa... Sabe o
resto! Ora, meus senhores e senhoras, já que castiguei, quero também
recompensar. (Toma Chiquinha pela mão e coloca-se com ela em frente de
Pimenta, dando as mãos como em ato de se casarem) Sua bênção, querido
pai Pimenta, e seu consentimento!
Pimenta — O que posso fazer, senão consentir!
Faustino — Ótimo! (Abraça a Pimenta e dá-lhe um beijo. Volta-se para
Chiquinha) Se não houvesse aqui tanta gente a olhar para nós, fazia o
mesmo com você... (Dirigindo-se ao público) Mas não perde por esperar, que
fica guardado para mais tarde.
FORROBODÓ REPRISE

FIM

20

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