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XAMANISMO MEXICANO
Todas as cerimônias requeriam uma preparação, uma purificação prévia, que se traduzia
em jejuns, abstinências e continências. É que todo o sucesso da cerimônia dependia de um
grau de pureza dos oficiantes e dos diversos elementos participantes.
Ao término destas solenidades, se realizava uma festa onde se bebia o "balche", bebida
própria para a ocasião e também dançavam. Entretanto, estas festividades tinham um cunho
nitidamente religioso e nunca profano. A prova é que era preciso observar previamente um
período de jejum e abstinência para ter autorização para entrar na ronda.
As danças com frequência imitavam cenas de sacrifício e o objetivo dos autores era
identificar- se com um animal, um deus, graças ao poder das máscaras.
O ritmo obsessivo das percussões, o grito lancinante das trombetas e o surdo rufar
dos grandes tambores "huehuetls" mantinham uma tensão contínua e opressiva.
Como nos tempos mais recuados, é provável que as danças de caráter mágico e
encantatório eram celebradas antes das grandes caçadas, das guerras ou das colheitas.
AS OFERENDAS
Nada era feito sem uma purificação pelo jejum e pela abstinência e também, sem
consulta prévia aos sacerdotes que decidiam os dias favoráveis para o respectivo evento.
Habitualmente, os períodos de abstinência duravam uma semana maia, ou seja, 13 dias. Em
todas as ocasiões o fiel fazia oferendas e sacrifícios aos deuses, buscando sua proteção e
graça.
As oferendas eram, geralmente, alimentos, pratos elaborados com bolachas, pozol (tipo
de polenta), grãos de milho, de abóbora e de feijão, um peixe, uma tartaruga, um peru ou um
cervo, balche e também muitas flores. Praticavam outro tipo de oferenda muito peculiar, a
do próprio sangue, que obtinham ferindo-se de várias maneiras, por intermédio de espinhos,
cacos de sílex ou com um aguilhão defensivo de arraia que enfiavam na língua, nos lóbulos das
orelhas, no septo nasal, nos lábios, nas faces, nos membros e mesmo no pênis. Uma vez feito o
ferimento, deixava-se correr o sangue sobre folhas ou tiras de papel de cascas de árvores,
dispostas num cesto, que eram depois oferecidos aos deuses.
NASCIMENTO DO DEUS
"Dizem que Quetzalcoatl foi quem criou o mundo e o chama de Deus do vento, porque
dizem que Tonacatecutli (deus primordial), quando lhe pareceu melhor, soprou e assim nasceu
Quetzalcoatl."
"Declara-se que o ser supremo Deus Tonacatecutli soprou e fez nascer Quetzalcoatl
sem a intervenção de uma mulher e sim somente por um sopro... Dizem que ele salvou o mundo
com suas penitências, posto que seu pai havia criado o mundo, mas os homens haviam se
entregado ao vício...". ".... assim Tonacatecutli enviou seu filho para salvar este mundo."
1. Deus Criador,
2. O Civilizador vindo do Oriente 3. O último rei Tolteca.
Estas informações não foram bem passadas pelos espanhóis que lá chegaram, pois eles
não conseguiram distinguir a dualidade dos deuses e nem se deram conta que havia vários
Quetzalcoatls. A dificuldade máxima está em decifra a informação e ver o correspondente de
cada um deles e onde termina o Mito e começa a História.
Este deus é chamado de Quatzalcoatls pelos Astecas, de Kukulkan pelo Maias, e por
Viracocha pelo Incas.
Topiltzin era filho de um rei chamado Mizcáltl que havia se estabelecido em Culhuacán,
alguns quilômetros ao sul da atual cidade do México, no século X. Quando este jovem
preparou-se para o sacerdócio e, finalmente veio a ser sumo sacerdote de Quetzalcoatl ou a
Por volta de 950 d.C. Tolpiltzin transferiu a capital tolteca para Tula, que ficava além
do extremo norte do Vale do México. O rei transformou Tula numa grande cidade e ensinou
seu povo todas as artes da civilização, mas cometeu o grande erro de estabelecer o brando e
benévolo Quetzalcoatl como a divindade principal. Isso desagradou os toltecas que dominavam
a cidade e já possuíam deuses mais guerreiros. O principal destes deuses era Tezcatlipoca,
divindade que exigia ser alimentada com sangue quente e corações ainda a pulsar de vítimas
humanas levadas ao sacrifício. Não se sabe ao certo, acerca da maneira pela qual a facção de
Tezcatlipoca derrotou Topiltzin e seu benigno deus.
Existe uma versão que narra que certa noite Tezcatlipoca, disfarçado de velho
embriagou Tolpiltzin e, em seguida, deixou a própria irmã do rei, a encantadora
Quetzalpetlatl (Esteira de Plumas) no aposento dele. Na manhã seguinte Tolpiltzin
percebendo que havia perdido sua castidade, abdicou o trono tolteca e buscou o caminho do
exílio.
Por uma das mais notáveis coincidências históricas, na data em que o reaparecimento
de Quetzalcoatl fora previsto, chegaram ao México os conquistadores espanhóis.
Quetzalcoatl era representado como um deus branco e barbudo e que viria do leste.
Este elemento da lenda pode ser considerado como o primeiro personagem histórico
palpável da história americana, apesar de seu manto de maravilhoso e embora ostente entre
seus nomes o de um deus. Esse Acatl Tolpizin Quetzalcoatl! Pela última, mito e história se
entrelaçam.
Castañeda e a Tansegridade
Por Nelson Neraiel
Foi um grande prazer estar presente, e ver irmãos de várias vertentes, cada qual com
seu enfoque sobre o que é o Xamanismo. Sem dúvida, foi um momento de discussão de
importantes questões relativas à prática do xamanismo na atualidade. Entre elas, questões de
legitimidade sobre a utilização do saber indígena e de suas medicinas, saber quem pode ser
xamã, o que um xamã faz e como atua.
Pude assistir três mesas redondas cujos títulos eram: "Xamanismo, xamanismo urbano,
xamanismo universal, xamanismo crístico, neoxamanismo: afinal o que é isto?", "O uso da
ayahuasca no Brasil: vertentes e experiências" e "Xamanismo e neoxamanismo: continuidades
e descontinuidades", onde essas e outras questões foram discutidas por xamãs urbanos,
pajés indígenas, antropólogos, ayahuasqueiros e daimistas. Todas Carlos Castaneda é um
antropólogo, autor muito discutido e controverso, e as controvérsias sobre sua obra podem
ser muito úteis para tentarmos entender as questões que foram discutidas durante o
encontro.
Não podemos negar o efeito que seus livros tiveram sobre um número enorme de
pessoas, das mais diversas áreas do pensamento contemporâneo, e do seu papel como
divulgador das práticas xamânicas para o público leigo. Sem dúvida, Carlos Castaneda foi um
dos grandes impulsionadores do que hoje chamamos de Neoxamanismo.
Não vou defendê-lo ou tentar provar que ele não era um farsante, vou apenas narrar os
fatos como ele os colocou e esclarecer pontos importantes sobre a tradição que ele
representa e sua função dentro dela.
Devo dizer aqui que Carlos Castaneda representa apenas uma única linhagem, uma entre
as muitas ainda existentes, pertencentes ao que hoje se chama de Nagualismo, Toltequismo
ou Toltequidade. Trata-se de um vasto corpo de conhecimento e de práticas acumulado
durante milhares de anos pelos xamãs da região do atual México e América Central. Sua
linhagem começou há vinte cinco gerações atrás, quando os xamãs da época reorganizaram o
conhecimento de homens ainda mais antigos, conhecidos como "Antigos Videntes" e deram
início ao ciclo dos chamados "Novos Videntes".
Esse conhecimento está espalhado pelo xamanismo das várias etnias ainda existentes
no México e em todos os matizes do curandeirismo e feitiçaria local. Temos vários autores
tratando desse tema com abordagens diferentes, mas sem dúvida complementares.
No encontro, enquanto ele falava besteiras sem parar sobre o uso das plantas,
tentando impressionar, o homem viu sua energia... Assim Carlos entrou no mundo dos Xamãs
Mexicanos. O Xamã viu no “ovo luminoso” de Castaneda a configuração energética que buscava
em alguém para ser o seu sucessor. Não se importou se ele era índio ou não; precisava apenas
da sua energia. O Intento, o Espírito, estava apontando aquele homem para ele, indicando-o
para formar um novo grupo de guerreiros e guiá-los à meta final dessa linhagem, um estado
chamado liberdade total.
Todos os esforços desse xamã, um índio Yaqui chamado D. Juan Matus, naquele
momento, o nagual da sua linhagem, foram sempre para Carlos realizasse uma manobra
perceptiva definida por D. Juan como "ver a energia", perceber a energia na forma ela flui no
Universo, ou seja, livre dos processos de interpretação usados pelos nossos organismos para
construir a nossa realidade objetiva. A isso D. Juan chamava simplesmente "Ver", um
processo fundamental para todos os que desejam percorrer o caminho do conhecimento.
Sabemos que possuir a faculdade de ver o mundo dos espíritos, ver as energias boas e
ruins, é uma capacidade fundamental para que um indivíduo venha a ser considerado um xamã
ou pajé nas culturas xamânicas tradicionais.
Temos aqui a primeira questão que pode ser abordada: como alguém se torna um xamã?
Quem pode se tornar um pajé?
Carlos então foi escolhido pelo nagual dessa linhagem como seu aprendiz. Após um
árduo treinamento que envolveu o uso de plantas de poder e as demais práticas dessa
tradição, transformou-se no novo nagual.
O ato mágico de ver a energia e poder verificar por si próprio os fatos energéticos
descritos por D. Juan foi à corroboração de todos os esforços de Carlos e o fato que o
habilitou a empreender sua viajem rumo ao conhecimento. Esse ato é o que o legitima como
sucessor de D. Juan Matus.
Vamos falar um pouco da polêmica que envolve a obra de Castaneda. Foi dito que D.
Juan nunca existiu, que Carlos fez um apanhado de várias tradições, que não viveu nada
daquilo e que seus livros não "fecham" um com o outro.... Não sei se isso são pontos tão
importantes. Claro que o nome de seu benfeitor, o nagual Juan Matus, que também utilizava o
nome de Mariano Aureliano, não era esse mesmo. Carlos também usava vários nomes, como
José Luis Cortez (Joe Cortez), Carlos Aranha, Charles Spider e Izidoro Baltazar.
Enquanto as pessoas liam seus livros na década de 70, e viajavam ao México para
tentar encontrá-lo, ele passou dois anos fritando ovos em uma lanchonete, uma curiosa tarefa
que exigiu disciplina, autocontrole, fluidez, ausência de auto-importância e abandono. Nessa
tradição se busca fluidez perceptiva - então, a constante auto-reflexão e a auto-importância
são pesos que não precisamos carregar. Essa tarefa prática realizada por ele está
perfeitamente de acordo com uma das principais artes desses xamãs, a Arte da Espreita,
arte de usar nosso comportamento e o mundo em que vivemos para atingir estados
perceptivos de eficiência e atenção não usuais.
Outro conceito dessa tradição é de que não devemos fornecer uma estória muita
definida a nosso próprio respeito aos nossos semelhantes, pois a pressão da energia dos
pensamentos e das idéias das pessoas a nosso respeito limita a nossa liberdade de ação e de
escolha. Os livros foram escritos segundo esses e outros princípios. Qualquer tentativa de
achar um fluxo contínuo de acontecimentos será infrutífera.
Seus livros obedecem a uma didática própria, não linear, que conduz o leitor a
processos perceptivos similares aos que o próprio Carlos experimentou durante seu
aprendizado. Por exemplo, quando na década de 90 ele reapareceu em público ensinando os
"Passes Mágicos" ou, como passou a chamá-los, "Tensegridade", nós leitores já vínhamos
recebendo pequenas descrições de passes inseridas nos diversos livros, como o famoso "Passo
do Poder", presente no seu primeiro livro, A Erva do Diabo (1968). Mais de vinte e cinco anos
depois de conhecermos esse e outros movimentos e já termos feito-os em algum momento,
descobrimos que fazem parte de algo muito maior, um conjunto de práticas chamado "Passes
Mágicos".
O próprio Carlos também passou anos aprendendo os passes sem saber o que eram.
Motivado por D. Juan a mexer o corpo de modo específico com a finalidade fictícia de
tentar estalar os ossos, Carlos acabou aprendendo seus primeiros passes. Com os leitores o
processo foi muito semelhante.
Sua obra tem momentos que soam completamente fantásticos e isso é outro ponto de
polêmica. Há por exemplo o episódio onde Castaneda pula de um penhasco num deserto
mexicano, mas não chega a completar a trajetória de queda até o solo. Pressionado pela morte
eminente, realiza a façanha mágica de entrar em um mundo paralelo se desmaterializando e
retornando a esse mundo em sua cama em Los Angeles; há ainda várias descrições de
transformações em animais e outros do gênero. Enfim, exemplos de fenômenos que
extrapolam os paradigmas da concepção de realidade de nossa sociedade que estão, porém,
plenamente de acordo com o terreno do xamanismo e com as descrições tradicionais feitas
sobre ele.
Segundo o Pajé Sapaim, ver a energia e ter mamaé são características dos Pajés do
Sol, pajés que aprenderam diretamente do espírito. Existem também os Pajés da Lua; esses
não têm um mamaé e não vêem a energia ou os espíritos aprenderam de outro homem e têm
uma capacidade de atuação e cura mais restrita.
Quando digo que esse espaço não é simbólico é porque, para essas culturas e para esses
indivíduos, esse é um espaço real, que é a contra parte energética ou espiritual do mundo
material, um espaço composto por energias e forças humanas e não humanas com influência e
poder de ação sobre a realidade objetiva. Não podemos relegar a atuação dos pajés e xamãs
ao plano da simples auto-sugestão individual e coletiva. Crer que a descrição da influência
desses xamãs se dá no campo da imaginação dentro de um universo puramente mítico é
desconhecer as concepções de realidade dessas culturas. Se retirarmos a idéia de influência
mágica e dos processos tradicionais de formação de um xamã, teremos muito pouco de
fenômeno original.
Uma das questões que foram levantadas no encontro é sobre como fazer um uso
legítimo do saber indígena e de seu xamanismo nos dias de hoje. Para respondermos a essa
questão, acredito que possa ser útil verificar o que ocorreu com a linhagem de Castaneda.
Após anos de aprendizado, Carlos passou a ser o novo nagual de sua linhagem e,
seguindo a tradição, começou a organizar seu próprio grupo. A forma tradicional dessa
linhagem era a de um grupo fechado, de poucas pessoas que mantinham suas práticas em
absoluto segredo. O grupo agia como um organismo onde cada parte tinha uma função. Era
concebido energeticamente como uma estrutura piramidal com cada elemento ocupando sua
posição específica. Mas, para dar continuidade a sua linhagem, Carlos precisou modificar
Porque Carlos não pode manter a tradição nos moldes originais? Veremos a seguir como
as coisas se passaram.
Após algum tempo, Castaneda organizou uma nova unidade com as discípulas de D. Juan:
Florinda Donner, Taisha Abelar e Carol Tigs, a mulher nagual (a última pertencera ao seu
antigo grupo composto nos moldes originais, que depois se desintegrara). Entretanto, essa
nova unidade, composta por apenas quatro pessoas, não poderia dar continuidade à
transmissão do conhecimento do modo que havia sido feito até então. Nos moldes
tradicionais, como vimos, havia dezesseis guerreiros que formavam um modelo energético
preciso e integrado, que necessitava de todas as partes para funcionar e poder conduzir o
grupo à liberdade total.
Como isso não tinha sido possível, pois o grupo original feito por Castaneda se
dissolvera, perceberam que seriam os últimos elos daquela linhagem e que a função de
Castaneda era fechar aquele ciclo. Nesse momento, começaram a decidir o que fazer com o
conhecimento que possuíam. Uma busca mais atenta nos fundamentos dessa tradição revelou
que a cada ciclo de cinquenta e dois naguais, vinte e seis de continuidade e estabilidade, e
vinte seis de crescimento e expansão, surge um nagual de redirecionamento e atualização.
Verificaram que Carlos era um tipo diferente de Nagual e que sua função era de renovação.
Nos moldes originais da linhagem os Passes Mágicos eram ensinados pelo nagual apenas
para os membros da linhagem, que o realizavam individual e secretamente. Neste novo
momento, Castaneda decide tornar pública a parte prática dos ensinamentos, alterando o
rumo da linhagem. Como isto se deu?
Para tornar os passes públicos, Carlos os organizou em grupos ou séries, separados por
finalidade, tornou os movimentos mais simples e retirou totalmente o ritual e o segredo
associados a eles durante séculos. Carlos deu o nome "Tensegridade" para designar esta
forma moderna dos Passes Mágicos, termo foi tomado por ele da arquitetura, o qual designa a
propriedade dos elementos de uma estrutura trabalhar com a máxima eficiência e o mínimo
desgaste. Assim, a partir de 1996, foram realizados os primeiros seminários públicos de
Tensegridade e, em 1998, é lançado o livro "Passes Mágicos".
Isso, além de intensificar os efeitos dos passes, contribuía para uma maior facilidade
dos praticantes em aprendê-los e em alcançar momentos de silêncio interior. A percepção do
"Efeito de Massa" foi fundamental para determinar o rumo desse conhecimento, assim como
o modo como é ensinado hoje em dia. Hoje praticantes ao redor do mundo testaram e
verificam cada uma das ferramentas que foram dadas.
A decisão de criar a "Tensegridade" e torná-la acessível a todos foi uma decisão de
Carlos, como autoridade de sua linhagem; decisão que tomou ao observar o fluxo da energia
de nosso tempo. Nesse momento, Carlos re-contextualiza seu saber, e o torna contemporâneo
e acessível, garantindo a sobrevivência da tradição.
Temos aqui a idéia de uma tradição viva e aberta à mudança, preocupada com sua
continuidade, mas também atenta à renovação. Poderia ser esse o caminho para as respostas
às questões que estamos discutindo? Um olhar atento para as culturas xamânicas ainda
existentes e uma estratégia de dar continuidade para esse saber dentro de seu contexto
original?
Castaneda não propõe nenhuma verdade pronta, ele propõe que se pratique, e que se
verifique a validade dessas ferramentas. Acredito que verificar por si próprio seja
fundamental para todos os que se aproximam das práticas xamânicas.
Um dos focos atuais das práticas é a atenta observação de si próprio e dos momentos
em que ganhamos ou perdemos energia, dos momentos em que estamos alinhados e em
harmonia e das coisas ou situações que nos tiram desse estado de alinhamento e equilíbrio.
Busquei até aqui tornar mais claro algumas das práticas e princípios da tradição que nos
foi apresentada por Carlos Castaneda para comentar alguns pontos polêmicos de sua obra,
mostrando como ela se relaciona com as práticas xamânicas tradicionais.
Agora podemos voltar ao tópico que abordei no inicio do texto sobre essa busca do
homem contemporâneo pelo xamanismo: o que realmente ele deseja e do que precisa? O que
estamos buscando quando nos aproximamos do xamanismo?
O homem moderno, talvez mais do que em qualquer outra época, sente um grande vazio,
uma falta de completude e paz interior que deriva de nosso quase total desligamento com a
O xamanismo surge então como uma possibilidade na busca dessa ligação com o
sagrado, como um conjunto de práticas que tem a capacidade de restabelecer a conexão com
o mágico e com o mundo espiritual, livre do peso das religiões institucionalizadas e
principalmente sem intermediários.
Mas essa aproximação se dá muitas vezes de forma romântica, e esse anseio por
transformação, equilíbrio, harmonia e bem-estar, acaba se confundindo com o anseio por
tornar-se um xamã. Não sei se tornar um xamã é tão importante assim.
“Ovo luminoso” citado nesse texto é o campo energético que nos envolve e que se
estende à distância de um braço ao redor de nosso corpo físico; é o equivalente ao que nós
chamamos de "Aura". É a contraparte energética de nosso organismo.
Ao contrário do que ocorre com o homem comum, para o guerreiro, a morte permite que a sua
consciência parta em uma jornada perceptiva definitiva pelo Universo, mantendo assim a sua
totalidade e individualidade. Do ponto de vista dessa tradição, ao fim da existência humana
há uma reabsorção da energia vital e da consciência do individuo pela Consciência Universal,
cessando assim a existência individual. Não existe nessa tradição a idéia de reencarnação e
nem de a idéia de algum céu ou plano paradisíaco ou infernal no pós-morte.
“Nagual”, advém do termo nahual, da língua nahuatl. Aqui o termo é usado para designar
um guia, um homem que por suas características energéticas é uma porta, uma ponte, entre
esse e outros mundos. O nagual é o guia de cada grupo de guerreiros.
TENSEGRIDADE
Tensegridade é o nome dado à versão moderna dos Passes Mágicos e à maneira fluida e
energeticamente eficiente de ser ¾ o caminho do coração ¾ que Don Juan Matus ensinou a
seus discípulos: Carlos Castaneda, Florinda Donner-Grau, Taisha Abelar e Carol Tiggs.
Don Juan um índio yaqui de Yuma, Arizona e Sonora no México, e herdeiro da linhagem
de videntes originários do México antigo, cujo objetivo e propósito, era a liberdade de
percepção ¾ liberdade para perceber o que a física quântica hoje reconhece como a essência
da natureza do universo: um universo de energia, que de acordo com aqueles videntes do
México é uma energia organizada por uma força com inteligência chamada intento.
Uma ferramenta vital para aqueles videntes foram os seus passes mágicos: posições e
movimentos do corpo e a respiração, que os videntes antigos da sua linhagem sonharam e
espreitaram milhares de anos atrás. Respirar para dentro destas posições sonhadas e dos
movimentos permite ao praticante um meio simples e acessível de estimular seu bem-estar ao
redirecionar e restaurar o fluxo de sua energia natural ¾ trazendo a habilidade de estar
presente no momento da vivência, em vez de estar perdido em pensamentos e emoções ¾ e
num padrão de respiração ¾ do passado.
No caso da vida diária, disse Carlos Castaneda, a Tensegridade é uma arte: a arte de
adaptar-se à vibração, disponibilidade e movimento de nossa própria energia, de modo a
contribuir para com a comunidade da qual somos formados.
Épocas anteriores à Conquista Espanhola é um termo usado por Dom Juan, um índio
mexicano xamã que apresentou Carlos Castaneda, Carol Tiggs, Florinda Donner-Grau e Taisha
Abelar ao mundo cognitivo dos xamãs que viveram no México nos tempos antigos que, segundo
Dom Juan, foram de 7000 a 10.000 anos atrás.
Dom Juan explicou a seus estudantes que aqueles xamãs descobriram que, através de
práticas que ele mesmo não podia penetrar, é possível para os seres humanos perceber a
energia diretamente como ela flui no universo. Em outras palavras, segundo Dom Juan,
aqueles xamãs diziam que qualquer um de nos pode se livrar por um momento do nosso sistema
de transformar o influxo de energia em informação sensorial própria ao tipo de organismo
que somos. Os xamãs afirmam que, transformar o influxo de energia em informação sensorial
cria um sistema de interpretação que transforma o fluxo de energia do universo no mundo da
vida cotidiana que conhecemos.
Dom Juan explicou ainda que uma vez que os xamãs dos tempos antigos estabeleceram
a validade da percepção direta de energia, que chamaram visão, eles a refinaram usando-a
neles mesmos, isso quer dizer que eles percebiam uns aos outros, sempre que queriam, como
um conglomerado de campos energéticos. Para aquele que “viam”, os seres humanos
percebidos de tal modo eram como esferas luminosas gigantes. O tamanho de tais esferas
luminosas é o comprimento dos braços abertos.
O ato de transformar o influxo de pura energia num mundo perceptível era atribuído
pelos xamãs a um sistema de interpretação. Sua conclusão arrasadora, arrasadora para eles,
é claro, e talvez para alguns de nós que temos a energia para ter atenção, era que o ponto de
aglutinação não era unicamente o local onde a percepção é aglutinada pela transformação do
influxo de energia pura em informação sensorial, mas é também o local onde ocorre a
interpretação da informação sensorial.
A observação seguinte deles foi que esse ponto de aglutinação é deslocado de modo
muito natural e não obstrutivo da sua posição habitual durante o sono. Eles descobriram que
quanto maior a deslocação, mais estranhos os sonhos que acompanhavam. Destas experiências
de ver, esses xamãs pularam para a ação pragmática de deslocar voluntariamente o ponto de
aglutinação. Eles chamaram esses resultados concludentes a arte de sonhar.
Essa arte foi definida por aqueles xamãs como a utilização pragmática de sonhos
comuns para criar uma entrada para outros mundos pelo ato de deslocar o ponto de
aglutinação pela própria vontade e manter essa nova posição, também pela própria vontade.
As observações desses xamãs ao praticar a arte de sonhar eram uma mistura de razão e de
ver diretamente a energia do universo enquanto flui. Eles perceberam que na sua posição
habitual, o ponto de aglutinação é o local para onde converge uma porção específica e
minúscula dos filamentos de energia que formam o universo, mas se o ponto de aglutinação
muda de local, dentro do ovo luminoso, uma porção minúscula diferente de campos
energéticos se convergem nele, tendo como resultado um novo influxo de informação
sensorial.: campos energéticos diferentes dos comuns se tornam informações sensoriais, e os
campos energéticos diferentes são interpretados como um mundo diferente.
A arte de sonhar se tornou para aqueles xamãs a prática mais absorvente. Durante
aquela prática, eles experimentaram estados não igualados de força física e bem-estar, e no
seu esforço de duplicar esses estados nas horas de vigília descobriram que podiam repeti-los
seguindo certos movimentos do corpo. Os esforços culminaram com a descoberta e
desenvolvimento de grande número de tais movimentos, que são chamados de passes mágicos.
Os Passes Mágicos daqueles xamãs do antigo México se tornaram sua possessão mais
preciosa. Eles os rodearam com rituais e mistérios e somente os ensinaram as pessoas que
eles iniciavam em meio a um enorme segredo. Esta foi a maneira na qual Dom Juan Matus os
ensinou a seus discípulos. Seus discípulos, sendo o último elo de sua linhagem chegaram a
conclusão unânime de que qualquer outro segredo, sobre os passes mágicos seria contra o
interesse que tinham em tornar o mundo de Dom Juan disponível aos outros homens. Eles
decidiram, portanto, resgatar os passes mágicos de seu estado obscuro. Eles criaram desse
modo a Tensegridade, que é um termo na arquitetura que significa a propriedade das
estruturas esqueléticas que empregam elementos de tensão contínua e elementos de
compressão descontínua de tal forma que cada elemento opera com o máximo de eficiência e
economia. Este é o nome mais apropriado porque é uma mistura de dois termos: tensão e
integridade, termos que conotam as duas forças motrizes dos passes mágicos.
Taisha disse que seu tema sobre tensegridade seria "As nove formas de mover o ponto
de aglutinação".
Segundo ela, os bruxos, shamans ou xamãs, vêem a energia dos seres humanos como
ovos ou casulos luminosos; alguns são redondos ou com forma de sino, outros são oblongos com
a parte de baixo plana. As porções mais baixas do último estão cravadas em uma obscura e
viscosa matéria, que não deixam a energia mover-se; a maioria dos seres humanos tem a parte
de baixo plana.
Nossa capacidade para a intersubjetividade como seres humanos é tal, que todos
mantemos o ponto de aglutinação na mesma posição. A parte brilhante ao redor da zona
interior do ovo luminoso é o que conta para a auto-reflexão; o mesmo brilho incandescente
que deveria cobrir o resto da totalidade que tem sido devorada pelos voadores.
O ponto de aglutinação do homem não havia se movido muito desde a Idade Média,
quando muito, apenas um triz. Sem dúvida, a luminosidade do ovo luminoso tem diminuído
bastante.
Dom Juan disse a Taisha que com as práticas de bruxaria, o corpo energético acercava-
se mais e mais, até que finalmente sentia-o como um cansaço na parte de trás da cabeça.
Isto é algo que não se pode ver com os olhos, porém sim com o corpo energético.
Os nove caminhos
Estes são os nove caminhos em que os discípulos de Don Juan foram treinados.
1.-Tensegridade
2.-Recapitulação
3.-Não-fazeres
4.-Pequenos Tiranos
5.-Técnicas de Observação
6.-Silêncio Interior
8.-Sonhar
9.-Espreitar
1.- Tensegridade
A cada um dos discipulos do nagual Juan Matus lhes foi dada uma linha de passes. Clara
Grau ensinou a Taisha uma série de movimentos para serem realizados no solo, entretanto
Emilito ensinou-a outros, para pratica-los nas árvores. No princípio de sua estadia na casa
dos bruxos, Taisha não tinha permissão para entrar no ginásio de Clara devido ao fato de ser
radioativa (não havia recapitulado o suficiente). Clara havia aprendido artes marciais na China
e era uma mestra na prática de bastões.
Um dia Taisha intentava dar uma olhada às escondidas no ginásio através de uma
pequena fresta no muro que ela mesma havia feito. Manfredo (que finalmente foi-se com a
partida do velho nagual, porque sua consciência cobriu a totalidade de seu corpo fazendo-o
igual ao restante dos membros), começou a arranha-la e latir repetidamente . Depois que
Taisha foi descoberta, perguntou a Manfredo porque a havia delatado; ele manifestou que só
estava tratando de alertar Clara de que já era hora de lhe ensinar os passes.
Taisha disse que a haviam instruído para focar seu intento em duas áreas de estrelas
mortas quando realizaram os passes da comporta estelar; a constelação Boreal e a estrela
Binária Rotante, que faz o olho do Touro na constelação de Touro.
2.-Recapitulação
dar descanso aos velhos filamentos fixos e permitir-nos, desta maneira, perceber novas
bandas, novos filamentos, antes ignorados.
As mulheres são seres inorgânicos em 50%, apenas tem que aquietar seu diálogo
interno e se transformam em seres tubulares. Taisha tem dois seres inorgânicos vivendo com
ela, Globus e Phoebus; são seres identificáveis individualmente. O ponto de aglutinação
pessoal e a configuração energética de Taisha está encaminhando-se até a posição dos seres
inorgânicos, permitindo-lhe incrementar os vislumbres de seus hóspedes.
3.- Não-Fazeres
Não fazer significa, essencialmente, não usar itens de nosso velho inventário de ações
e reações. A recapitulação nos permite dispor desse inventário permitindo-nos um momento
de pausa.
Mirando através deles, o mundo se via ao revés. (Taisha recordou também a estória de
um estudante de antropologia que uma vez encontrava-se no cemitério e começou a ver
espíritos. Assustou-se tanto que em um minuto esqueceu-se da antropologia). Com essas
máscaras com os prismas invertidos, levou os estudantes a compreensão de "como caminhar
uns poucos passos com elas” permitia uma nova percepção.
Os feiticeiros, bruxos e xamãs afirmam que o que mantem fixo o ponto de aglutinação
em sua posição atual é nossa ênfase e preocupação em nós mesmos (auto-reflexão). Como
liberarmos da preocupação com o Eu?
Porque então ter importâancia pessoal? Essa consciência, assim como o lugar da não-
compaixão, é uma mudança no ponto de aglutinação.
Taisha nos advertiu que o perigoso e provável é que ao vencer um pequeno tirano, nossa
importância pessoal aumente. Por exemplo, Carlos Castaneda viu a Clifford, um amigo,
caminhando com a cabeça raspada, sem camiseta e um colar de alhos ao redor do pescoço.
Clifford era prepotente, porque pensava que podia melhorar as coisas e faze-lo tudo mais
perfeito que os outros.
Mirar fixamente (gazing), não é mirar, é algo que está entre perceber e mirar. As
técnicas de observação são utilizadas para nos ajudar a romper a certeza de que este mundo
é um mundo de objetos. Mirar fixamente está estruturado para romper a tendência da
percepção envolta na subjetividade do mundo ou presa aos padrões da ordem social.
Este é um assunto de acumular mais e mais silêncio interior. Quando Taisha chegou aos
cinco minutos (para Florinda foram oito), seu ponto de aglutinação atravessou os limites
usuais. Para Carol Tiggs o ponto crítico é de vinte e três minutos de silêncio interior. Nesse
ponto ela pode "parar o mundo". Como nagual, sua massa energética é bem maior e leva muito
tempo para movê-la. Alguns budistas utilizam um ramo fino ou um bastão desde o chão até a
frente como uma forma de concentrar-se para alcançar o silêncio interior. Também podemos
acender um fósforo, molhar a ponta e observar a outra ponta, intentando o silêncio. Quando
alguém chega ao seu umbral crítico de silêncio interior, pode alcança-lo mais rápido e de
forma prolongada.
Os bruxos e xamãs sustentam que temos que atuar como se o que fizéssemos fosse o
nosso último ato sobre a terra.
Estes não são nem bons, nem maus, são apenas parte de um universo predatório;
assumem a forma humana para nós porque a um nível subliminar estamos conscientes deles.
Neste ponto Taisha mostrou as ampliações das fotos dos predadores. As fotos
mostram uma figura de dois ou três metros de altura a esquerda da pirâmide principal, com
as montanhas ao fundo. Parecia uma pessoa com braços ou asas por cima da cabeça, voando,
com as pernas dobradas nos joelhos e estiradas para trás.
Nós, os adultos, não conseguimos mais ver esse tipo de coisas; as crianças os veem nos
primeiros anos, antes de serem socializadas .
A senhora, havia escrito um livro sobre um grupo de índios e vivia com um deles, o qual
ao final da visita, um dos índios disse a Castaneda que lhe parecia injusto que ele, que estava
avançando muito rapidamente em suas práticas com relação a eles (o grupo do nagual) não
pudera estar um tempo mais falando e fazendo amigos realmente .
Castaneda viu neste comentário a máxima arrogância por parte do homem. Dois anos
mais tarde, o nagual se viu em uma tormenta enquanto dirigia do México a São Diego pela
auto-pista oito. Acercou-se então um caminhão reboque que lhe indicou que o seguisse,
ficando sob a sua guarda. Castaneda pôs-se ansioso porque não sabia até onde ia o caminhão e
fazia sinal para que o condutor do caminhão parasse.
8.- Ensonhar
"Ensonhar" não significa ter sonhos lúcidos. No sentido que os bruxos e xamãs
concedem a esse termo, ensonhar quer dizer ter um grau de controle necessário para fixar o
ponto de aglutinação em qualquer posição que se desenvolva durante o sono. O conteúdo dos
sonhos não conta, o que conta é por quanto tempo e com que intensidade podemos mantê-lo
ali. Temos que espreitar nossos sonhos para fixar o ponto de aglutinação em qualquer posição
que o "sonho"' nos leve. Então podemos voltar ao mesmo sonho uma e outra vez, apenas por
ter conseguido fixar o ponto de aglutinação neste sonho.
9.- Espreita
Os bruxos e xamãs dizem que primeiro devemos espreitar a nós mesmos através da
recapitulação. Levar a cabo esta premissa requer ser implacável com nós mesmos, na
valorização de quem somos e como é nossa vida.
Taisha deu-se conta, graças a sua recapitulação, que era extremamente complacente
(como muitos de nós), e que fazia qualquer coisa para conseguir o que queria. Dom Juan a
chamava de "eu quero que". Além disso era incapaz de sentir afeto por algo .
Quando Nélida realizou uma simples manobra para soltar seu ponto de aglutinação,
Taisha ficou tanto tempo nessa nova posição que alucinou. Quando voltou a seu estado original
continuou vibrando, sem mover-se para nenhum lugar, como uma máquina funcionando no vazio.
(provavelmente seu ponto de aglutinação ficou errático).
O grupo de Dom Juan preocupou-se tanto por este motivo que decidiram colocá-la nas
árvores. Seu ponto de aglutinação fixou-se então em uma nova posição enquanto estava na
casa sobre as árvores. Taisha experimentou sentimentos pela primeira vez, que eram
estranhos, como afeto pelas árvores. Ademais sentiu como as árvores comunicavam-se
através de "bolhas" de sentimentos. Taisha estava utilizando filamentos diferentes dos
usuais.
Depois de dois anos, seu ponto de aglutinação voltou a estabilizar-se, então lhe foi
dada uma nova tarefa como espreitadora: a de fixar seu ponto de aglutinação em uma nova
posição que correspondia a uma moça ingênua e superfeminina buscando um marido. Esta foi
uma mudança dramática, já que nas árvores, seu ponto de aglutinação havia se movido para
uma posição atlética, livre e masculina, inclusive seu ponto de aglutinação direcionou-se para
fora e o ponto de aglutinação na maioria das mulheres encontra-se voltado para dentro.
Ele decidiu coloca-lo nas árvores. Uma vez que subiu o homem tornou-se
completamente louco. Depois desse escândalo o tempo como Madeline findou-se.
A seguinte posição de espreita assinalada para Taisha foi como a mendiga Alfonsina, um
grande salto, já que anteriormente havia sido uma ingênua consentida.
Dom Juan contratou uma mendiga para ensinar a Taisha tudo sobre ser mendiga e
servir como sua mãe. Quando viu a asquerosa espelunca onde vivia a mulher, Taisha quis fugir
imediatamente. Localizou a Dom Juan para implorar-lhe que a deixasse voltar Dom Juan lhe
disse para escolher entre voltar ao seu mundo (o de Taisha), ou ser Alfonsina até as
profundidades.
O papel de Alfonsina acabou quando uma mulher que havia intentado levar Taisha a sua
casa para asseá-la e vestí-la e a quem Taisha havia evitado anteriormente, conseguiu seu
objetivo, banha-la e retirar-lhe a sujeira de sua pele enegrecida, mostrando que podia
tornar-se "branca". Este fato assinalou o fim de Alfonsina .
A quarta e última posição de espreita de Taisha foi como um homem, Ricky. Ricky era
um jovem americano apaixonado pela vida e identificado por todas as pequenas coisas que
damos por certas. Ele levava vantagem nas oportunidades da vida, porém a principal
característica dele era o conhecimento de que sua vida ia chegar ao fim.
Quando não temos ego é fácil entrar em um universo paralelo, além disso, o emissário
do sonhar, que é sempre uma voz feminina, nos descreve como é. Nesse universo podemos
interatuar com os seres inorgânicos, os aliados para os antigos videntes. Entramos em seu
mundo pelo sonhar, aonde nossa velocidade ajusta-se a deles. Os espreitadores podem
adaptar-se a essa velocidade através da vigília em repouso, com a voz que lhes dizem o que
devem fazer para conseguir tal.
No reino dos seres inorgânicos temos a muito prazerosa impressão de flutuar e nos
movemos a grande velocidade. Os seres inorgânicos são entidades "femininas" buscando
energia masculina, que é muito estranha em seu universo, um universo que é muito perigoso
para ser visitado por homens na maioria das vezes.
de vida deles. Quando nos pomos em contato com eles através de um profundo afeto, eles nos
tornam capazes de prolongar nossa atenção, nossa consciência.
O velho nagual dizia que são como nossos primos, existindo em uma linha paralela a
nossa. A única forma de aumentar nossa potencialidade é entrando em seu mundo. Os seres
inorgânicos não nos ajudam por caridade. Dom Juan dizia que o universo está permeado por
uma onda de profundo afeto, do qual os seres inorgânicos estão cheios. Quando essa onda de
afeto nos golpear, deixem que ela os leve, porque ela permite que o Espírito os leve, então
voamos em direção ao Infinito. Estaremos navegando num intrépido vôo, em êxtase, com total
abandono. Não haverá meio de expressar tal experiência e isso também não terá importância.
Os xamãs do México antigo trataram os passes mágicos desde seu começo com algo
único, e não os usaram jamais como uma série de exercícios para desenvolver a musculatura
ou incrementar a agilidade.
Don Juan dizia que foram considerados passes mágicos desde o primeiro momento em
que foram formulados. Descrevia a "magia" dos movimentos como uma mudança sutil que os
praticantes experimentavam ao executá-los; os movimentos produzem uma qualidade efêmera
em seus estados físicos e mentais, um certo brilho, uma luz nos olhos. Don Juan se referia a
essa mudança sutil como um "toque do espírito"; como se os praticantes, através dos
movimentos, pudessem restabelecer um laço, até então inutilizado, com a força da vida que os
sustenta. E continuava explicando que os movimentos foram chamados passes mágicos porque
através de sua prática, os xamãs eram transportados, em termos de percepção, a outros
estados de ser, nos quais podiam perceber o mundo de uma maneira indescritível.
"Devido a esta qualidade, devido a esta magia," me disse Don Juan em uma ocasião, "os
passes não devem ser praticados como um exercício, e sim como uma maneira de chamar o
poder."
"Mas podem ser considerados como movimentos físicos ainda que nunca antes tenham
sido considerados assim?" Perguntei. Eu havia praticado fielmente todos os movimentos que
Don Juan me havia ensinado e me sentia extraordinariamente bem. Este estado de bem-estar
me era suficiente.
"Pode praticá-los como quiser," afirmou-me Don Juan. "Os passes mágicos acrescentam
a consciência, independentemente de como os realize. O mais inteligente seria realizá-los
como o que são: passes mágicos que ao efetuar-se conduzem os praticantes a desfazer-se da
máscara da socialização."
"A aparência falsa que todos defendemos e pela qual morremos," disse. "A aparência
falsa que adquirimos no mundo; a que nos impede de alcançar todo nosso potencial; a que nos
faz crer que somos imortais."
A Tensegridade, sendo a versão moderna desses passes mágicos, tem sido ensinada até
agora como um sistema de movimentos porque essa tem sido a única maneira na qual o vasto e
misterioso tema dos passes mágicos pode ser encarado no quadro moderno de hoje em dia. As
pessoas que praticam Tensegridade de agora não são praticantes de xamanismo, por isso, a
ênfase deve ser posta no valor dos passes mágicos como movimentos.
Nesse caso, o ponto de vista adotado considera que o efeito físico dos passes mágicos
é o aspecto mais importante para estabelecer uma base sólida de energia para os praticantes.
Por estarem interessados em outros efeitos dos passes mágicos, os xamãs do México antigo
fragmentavam longas séries de movimentos em unidades separadas, praticando cada
fragmento como um segmento individual.
A execução dos passes mágicos, tal com é ensinado na Tensegridade, requer um espaço
determinado ou um horário previamente estabelecido, mas idealmente, os movimentos
deveriam ser praticados de maneira solitária, espontaneamente, ou quando surgisse a
necessidade.
Em todos os demais aspectos, o modo no qual a Tensegridade tem sido ensinada é uma
reprodução fiel da forma na qual Don Juan ensinou os passes mágicos a seus discípulos. Ele os
bombardeou com uma profusão de detalhes e deixou que suas mentes aturdidas com a
quantidade e a variedade de movimentos, e com a implicação de que cada um deles,
individualmente, era um caminho que conduzia ao infinito.
Os discípulos de Don Juan quase não podiam crer em tais afirmações. Sem dúvida, em
um momento dado, cada um deles deixou de estar confuso ou desesperançado. Os passes
mágicos, precisamente porque são mágicos, se organizaram de um modo misterioso em
sequências que acabaram com toda a confusão.
Devo insistir uma vez mais que o que tem estado realçado desde o princípio: A
Tensegridade não é um sistema comum e corrente de movimentos para desenvolver o corpo. É
certo que desenvolve o corpo, mas somente como um subproduto de um propósito mais
transcendental.
"Mas, por que haveria eu de querer entrar nesses mundos?" perguntei a Don Juan numa
ocasião.
"Porque você é um viajante, como todos nós, seres humanos," disse ligeiramente
irritado por minha pergunta. "Os seres humanos se encontram numa viagem da consciência
momentaneamente interrompida por fortes forças. Creia-me, somos viajantes. Se não temos
essa viagem, não teremos nada."
Levei trinta anos de árdua disciplina para chegar a um plano cognitivo na qual pude
reconhecer as declarações de Don Juan e estabelecer sua validade sem sombra de dúvidas.
Os seres humanos são certamente viajantes. Se não temos isso, não teremos nada.
A Tensegridade deve ser praticada com a idéia de que o benefício desses movimentos
ocorre por si mesmo. Isso deve sobressair a todo custo. Não há modo de dirigir o efeito dos
passes no nível de um principiante, e não há nenhuma possibilidade de que alguns deles possam
beneficiar um ou outro órgão. À medida que adquirimos disciplina e que nosso intentar se
torna claro, cada um de nós pode selecionar o efeito dos passes mágicos, de maneira pessoal
e individual, com propósitos específicos pertinentes unicamente a cada um de nós.
Naturalmente, quando me falaram, mas ou menos do mesmo modo, acerca das manobras
dos xamãs para saturar a mente com o fim de alcançar o silêncio interior, minha resposta foi
à resposta de qualquer pessoa interessada na Tensegridade hoje em dia: "Não é que não
creia, mas é algo muito difícil de crer”.
A única resposta que Don Juan tinha para as minhas mais que justificadas perguntas
e para as perguntas de suas outras três discípulas era: "Tomem minha palavra, porque minhas
afirmações não são arbitrárias. Minha palavra é o resultado de corroborar, por mim mesmo, o
que os xamãs do México antigo descobriram: que os seres humanos somos seres mágicos”.
O legado de Don Juan inclui algo que tenho repetido e que continuarei repetindo: os
seres humanos são seres humanos que não se conhecem a si mesmos, estão repletos de
recursos incríveis que não utilizam nunca.
Ao saturar seus discípulos com movimentos, Don Juan logrou dois ensinamentos
formidáveis: trouxe esses recursos ocultos à superfície, e deteve gentilmente nossa
obsessão com nossa costumeira forma linear de interpretação. Ao forçar seus discípulos a
alcançar o silêncio interior, estabeleceu novamente a continuidade de sua interrompida
viagem da consciência. Dessa maneira, o estado ideal de qualquer praticante de Tensegridade
em relação aos movimentos de Tensegridade, é igual ao estado ideal de um praticante de
xamanismo em relação à execução dos passes mágicos. Os dois são guiados pelos movimentos
mesmos até a culminação sem precedentes do silêncio interior.
DIVINDADES MAIA
A religião dos maias, portanto, baseou-se em todos os segredos que, por milhares de
séculos, foram coletados da Mãe-natureza, deste plano terrestre em união com as leis
cósmicas. Com este material, os iniciados maias formularam sua Religião-Ciência.
Na concepção maia, uma divindade pode revestir-se com um caráter benéfico e depois
maléfico, passando da juventude à velhice ou até trocando de sexo. Constata-se, que não
existe impermeabilidade entre os universos celeste, terrestre e subterrâneo e que uma
divindade pode encontrar-se nestes mundos diversos e ter ciclos diferentes.
Entre as divindades celestes, o Sol (Kinich Ahau, deus solar) e a Lua (Ixchel) detinham
um lugar preponderante e todas as lendas estavam associadas a este casal. Antes de serem
transferidos para o céu, os dois viviam como cônjuges sobre a terra, onde madame Lua não
era uma esposa fiel. No decurso de uma discussão o seu marido Sol lhe retirou um pouco de
seu brilho. Podemos entender com clareza porque os povos antigos escolhiam o Sol como deus
dos homens e a Lua como das mulheres, pois suas características parecem corresponder ao
masculino e feminino, e assim, se justifica a escolha destes símbolos. A história da maioria
das religiões é a história do poder de tais símbolos.
DEUSA IXCHEL
A deusa Ixchel foi adorada pelos maias da península do Yucatã, em Cozumel, sua ilha
sagrada. A deusa da Lua e da Serpente ajuda a assegurar a fertilidade pelo fato de segurar o
vaso do útero de cabeça para baixo, de modo que as águas da criação possam estar sempre
jorrando. Ixchel também é deusa da tecelagem, da magia, da saúde, da cura, da sexualidade,
da água e do parto. A libélula é seu animal especial. Quando ela quase foi morta pelo avô por
tornar-se amante do Sol, a libélula cantou sobre ela até que se recuperasse.
O símbolo desta deusa é o vaso emborcado do infortúnio. Sobre sua cabeça repousa
uma serpente mortífera, suas mãos e pés têm garras afiadas de animais e seus traje é
adornado com as cruzes feitas de ossos, emblema da morte.
Em todas as épocas e por toda parte, os homens têm concebido uma Grande-mãe que
zela pela humanidade lá do céu. Este conceito pode ser encontrado em praticamente toda a
religião e mitologia cujos conteúdos tenham chegado ao nosso conhecimento.
Os maias elegeram Ixchel como sua poderosa Mãe e deusa da Lua. Os mitos da deusa
lua e suas características protegem uma verdade que nada mais é do que a realidade
subjetiva interior da psicologia feminina.
No passado e nos nossos dias, a Lua representa a imagem do princípio feminino, que é
uma função tanto do homem quanto da mulher.
Visualiza-se Ixchel como a Mãe-Lua que mergulha neste tempo e lugar trazendo das
estrelas as energias de nossos antepassados.
A Lua está diretamente associada aos mistérios da menstruação e aos ciclos da vida
humana. Ixchel carrega seu coelho da fertilidade e da abundância.
A lua cheia dá a chave do mistério. As marcas que visualizamos a olho nu na Lua são
conhecidas como "a marca da lebre".
O Coelho da Páscoa contém um simbolismo que se aproxima dessas idéias. A Páscoa era
originariamente uma festa da lua.
Esta deusa detêm os mistérios da vida e da sexualidade feminina. Ela é deusa do amor,
mas não do casamento.
É protetora das mulheres e das crianças. O leite nutritivo flui dos seus seios e o
sangue sagrado da vida flui do seu útero. (Códice Madri).
A deusa da Lua, assim, tanto como provedora da vida e da fertilidade era também,
controladora dos poderes destrutivos da natureza, portanto, deusa da morte.
Para nossa mentalidade ocidental é quase impossível conceber um deus que seja ao
mesmo tempo gentil e cruel, criador e destruidor. Mas para os adoradores da deusa da Lua
não havia contradição, pois ela vivia em fases, manifestando em cada uma delas suas
qualidades peculiares.
Na fase do mundo superior, correspondente à lua brilhante, ela é boa e gentil. Na outra
fase, correspondente a lua escura, ela é cruel, destrutiva e má. Assim, a deusa nos mostra
primeiro sua face benéfica e depois seu aspecto raivoso.
A TEIA DE IXCHEL
Ixchel, tecelã da teia da vida vem até nós para dizer que é hora de nos tornarmos mais
criativas, deixarmos fluir a energia da criação e da ousadia. Crie a obra da sua vida, seja
pintando um quadro ou tendo um filho, ou até plantando sua primeira árvore.
Você se sente tolhida na sua criatividade, por que acha que os outros são melhor que
você? Pois saiba que ninguém é igual a você. Para de achar motivos para descobrir razões para
não criar. Ixchel diz que a totalidade é satisfeita quando você abre seu coração para a
criatividade e a vivencia.
É através da nossa conexão com o divino que nós encontramos maneiras de superarmos
nossos medos e nos relacionaremos melhor com o mundo como um todo. Abrir-se para a
beleza e a magia da Grande-Mãe, observando cada detalhe de sua Criação, nos fará entender
as mudanças pelas quais também passamos. Este é o alimento que nutrirá nossa
espiritualidade.
DIVINDADES CELESTES
Uma das cabeças desse dragão celeste é viva representando onde os astros nascem e a
segunda tem a aparência da morte representando o oeste onde desaparecem as estrelas e o
Sol. Ele era representado também sob os traços de um velho magro, às vezes barbudo com
um único dente de tubarão apontando de seu maxilar superior. Às vezes, sua cabeça singular
brota da goela do dragão celeste.
Este jacaré obsedava os Maias, pois eles imaginavam que a terra era um disco circular
pousado sobre um crocodilo, ou quatro, segundo outras versões. Um para cada ponto cardeal,
flutuando sobre as águas subterrâneas e este disco comportava 9 diferentes mundos
subterrâneos, empilhados, cada um dominado por um terrível e aterrorizante Senhor da
Noite. É necessário acrescentar, que os Maias concebiam o Céu composto por 13 Céus, um
sobre o outro, chamados de "oxlahuntikú". Abaixo da Terra outros 9 Céus eram presididos
pelos "bolontikú". O último dos Céus era o "Mitnal", o inferno, reino de Ah Puch, Senhor da
Morte.
Esses deuses eram bem conhecidos com seu nariz em forma de trompa, possuindo dois
caninos pontiagudos. Os Chaacs podem ser uma manifestação dos Itzamnas, ou talvez uma
manifestação regional, não se sabe ao certo.
Nós códices são reconhecidos pelos traços ofídicos, pois as serpentes estão a eles
associadas, e podemos vê-los emborcando e entornando jarras cheias de água sobre o solo.
Eles são os deuses da chuva, do vento, da vegetação, da fertilidade e da agricultura.
Entre os 13 deuses celestes, está o planeta Vênus cuja importância foi menor apenas
nos espíritos. Deve ser mencionado também Xaman Ek, o deus da Estrela Polar, de rosto
simiesco, achatado e negro. Ele é o padroeiro e protetor dos mercadores que lhe fazem
oferendas em pequenos oratórios postos à beira das estradas.
DIVINDADES TERRESTRES
Os astros foram para o céu e fizeram chover sobre a terra. É deste modo, que a
semente germina e o milho amadurece. O camponês maia, antes mesmo de semear ou colher,
jejuava e praticava abstinência por 13 dias e jamais deixava de fazer oferendas para as
divindades do solo.
Personificar o milho como um ser vivo e divinizá-lo pode nos parecer bastante
estranho, mas esta concepção foi fundamental no pensamento maia, pois eles se diziam
nascidos do milho.
Sendo assim, o deus do milho era idolatrado ocupando um lugar de destaque em seu
panteão e no coração dos camponeses.
É, aliás, o único deus que tem formas humanas, juvenis e amáveis. Ele se apresentava
com os traços de um jovem, sua cabeça servia também de símbolo ao algarismo 8, de cabelos
longos, sugerindo as barbas da espiga do milho.
Seu nome era Yum, Kax, o "Senhor dos Bosques" e revestia-se de todos os caracteres
de uma divindade agrária. Deus da prosperidade e da abundância, o deus do milho também é
associado a símbolos da morte. Não há como se criar vida senão com a morte.
Para que o grão germine é preciso enterrá-lo e deixá-lo agir como um cadáver. Sendo
assim, representam-no em sua forma decapitada, ou trazendo a cabeça cortada com uma
medalha no peito, para lembrar que o grão morre para que nasça a jovem planta.
Os feijões tiveram igualmente seus deuses, mas muito menos apreciados do que os do
trigo. Podemos aproximar aos deuses telúricos os que residem no cume das montanhas, em
relação com as nuvens e a chuva, na confluência dos rios, nas fontes ou nas grutas.
O deus Jaguar participava de dois universos: sob seu aspecto visível e externo, ele
encarnava as forças do solo; sob seu aspecto oculto, enterrado em seu covil, encarnava as
forças do subsolo.
DIVINDADES SUBTERRÂNEAS
Nove Senhores da Noite, ditos Nove Deuses (Bolontiku), presidiam aos diversos
mundos subterrâneos superpostos: foram encontrados seus glifos, que não se conseguiu
traduzir. Este é o domínio da morte e do além.
É fácil reconhecê-lo, pois possui uma silhueta magra, lábios grossos e caídos e às vezes
possui a cauda de um escorpião.
Sua personalidade é dualista e ambivalente, ora é visto levando um fardo nas costas e é
igualmente muito apreciado pelos viajantes e vendedores ambulantes.
No rol dos deuses da morte e dos mundos infernais devemos incluir IXTAB, a deusa do
suicida. Ela está representada nos códices suspendida dos céus por uma corda atada no
pescoço. Suicidas, sacrificados, soldados mortos em combate, mulheres mortas de parto,
toda essa gente, tinha direito a ingressar direto no paraíso maia, lugar idílico, um éden
plantado de "ceibas", as árvores sagradas.
As lendas maias nos ensinam que uma ceiba gigantesca atravessa todo o universo, dos
mundos subterrâneos aos mundos celestes.
Os condenados quando morriam iam para o "Mitnal", o mundo inferior onde impera um
frio insuportável. Segundo o pensamento maia, a morte, as enfermidades não tinham um
caráter acidental, mas eram o justo castigo de erros passados, enviados pelos deuses irados.
Os maias sempre foram extremamente fascinados pela passagem do tempo, seu ritmo
cíclico, como eram apaixonados pelo conhecimento da eternidade. Todas as divisões do tempo,
dos dias, dos meses de 20 dias, dos anos, dos séculos de 52 anos, eram deificados. Eles
prestavam culto às estrelas, erguidas em datas regulares, bem como os números, que lhes
permitiam efetuar esses prodigiosos cálculos.
ENSINAMENTOS TOLTECAS
Os ensinamentos toltecas chegaram pela primeira vez para o público através de Carlos
Castañeda. Os toltecas tradicionalmente eram definidos por um grupo de pessoas (nativos)
que alcançavam um nível refinado de iluminação espiritual.
Seguem abaixo alguns apontamentos do o livro "Além do Medo", escrito por Mary Carol
Nelson, que, relata os ensinamentos de Don Miguel Ruiz, um médico cirurgião mexicano que
descende das tradições dos toltecas.
O "nagual" é tudo aquilo que existe e não podemos perceber. O "tonal" é tudo o que
podemos perceber com os sentidos comuns. O tonal e o nagual só podem existir por causa do
"Intento". Intento é a conexão que torna possível a transferência de energia entre o tonal e
o nagual. Intento é a vida. É a eterna transformação. Intento é Deus. Deus é Espírito. Tudo o
que existe no mundo é energia. O Tonal é o Sol com todos os planetas, luas, cometas,
meteoritos, satélites. O nagual é a energia que vem deles. 7
O Planeta Terra também tem o tonal e o nagual. Ele tem seu próprio metabolismo, seus
órgãos. Entre os órgãos do planeta está o corpo humano, composto de todos os seres humanos
juntos. Os seres humanos também têm tonal e nagual. As emoções são as energias que não
percebemos, mas experimentamos com nossos sentidos. É tonal. O nagual é a energia que não
podemos reconhecer com a razão. É o Deus dentro de nós.
Quando é dito que uma pessoa é nagual, é que a pessoa cria uma ligação direta entre o
tonal e o nagual. O nagual consegue separar as emoções de ações. O nagual nasce com uma
forte disposição e não é paralisado pelo medo. Qualquer um pode se tornar um nagual. Um
nagual é a pessoa que tem a capacidade de ensinar e orientar outras pessoas para o espírito,
convencendo- as que no interior de cada uma, existe uma força poderosa unindo a pessoa a
Deus.
Essa é a força do Puro Intento. É aquele que orienta as pessoas a descobrirem quem
realmente elas são, ajuda-as a descobrirem seu próprio espírito, sua própria liberdade, sua
própria alegria, felicidade e amor.
O inferno é o sonho combinado que todos os humanos compartilham. Cada indivíduo tem
o sonho de uma realidade assim como cada família, cidade, estado, país e a humanidade como
um todo. Todos nós contribuímos para o sonho que é caracterizado pelo medo. A Medicina
convencional não é suficiente para curar a enfermidade do espírito que se difunde por este
planeta. Uma cura definitiva significaria acordar do sonho, e com isso, livrar-se do inferno.
Gosto de ver o inferno do lado de fora do sonho. A mente é feita de energia etérea.
Nós sonhamos 24 horas por dia, quer o nosso cérebro esteja acordado ou adormecido.
Geramos idéias que são de energia etérea. A mente cria imaginação, sonhos. O modo como
sonhamos, nos leva ao sofrimento e à dor emocional.
A ilha do inferno fica no oceano do inferno. Este oceano contém todos os medos do
desconhecido, e, os nossos medos são o nosso sonho do inferno. O nosso sonho forma os
filmes interiores que carregamos conosco para todos os lugares. Somos o produtor, o diretor
e o protagonista nesses filmes carregados de medo. Na ilha do inferno, temos ilusão de que
estamos seguros. É um lugar na mente onde acumulamos tudo o que nos pertence. Pensamos:
“Esta é a minha família, a minha casa, o meu dinheiro, o meu carro, a minha carreira, as
minhas realizações, e nos sentimos mais seguros na medida em que tornamos essa ilha cada
vez maior, com mais e mais apegos ao que é nosso”. Porém a ilha é regida por um medo de
perder qualquer coisa que acalentamos.
Invejamos as ilhas dos outros, sem compreendermos que eles estão presos no inferno
de suas zonas de segurança. Cada um de nós está preso pelas ilusões que acumulamos em
nossas ilhas. Só existe uma maneira de escapar da ilha do inferno e alcançar o "Templo do
Céu".
Esse Templo fica na saída do inferno. No caminho de caída a temos que atravessar a
avenida dos mortos, onde o mal também existe. Lá estão situados pequenos templos em todos
os lados de uma praça, circundando o Templo do Céu.
São nesses pequenos templos que habitam os guardiões que contém o mal gerado por
nossos pesadelos. A primeira tarefa ao longo da avenida dos mortos é privar-se o máximo
possível de julgar e exorcizar a vítima de sua mente.
Você pode mudar o filme interior porque você é o diretor, roteirista e ator, e tem todo
o poder para mudar a história em que está vivendo. Desapegar-se e enfrentar o medo exige
um ato de coragem. Isso é verdadeiro em todas as tradições do mundo. Para atingirmos a
beatitude, precisamos nos entregar, bem como as ilusões do que pensamos que somos ao Anjo
da Morte.
Nossas ilusões fazem o nosso inferno. O inferno é o local dos fantasmas. Os fantasmas
têm a sensação de estarem vivos. Viver no inferno é ser um fantasma.
Paradoxalmente precisamos morrer (morte simbólica) para a nossa vida anterior para
escaparmos do inferno. Morrer (em vida) nos leva à claridade. Iremos reconhecer que àquilo
que acreditamos ser real era uma ilusão.
Os nossos adolescentes estão se matando uns aos outros, e encontramos crimes e ódio
em todas as partes do mundo. Até mesmo o nosso entretenimento está crivado de violência.
Você sabe quem é. Não culpa a si mesmo e nem as outras pessoas. Não precisamos
esperar até a morte para irmos para o Céu, porém precisamos chegar lá antes de morrermos.
É muito mais fácil sairmos do sonho do inferno enquanto estamos vivos do que depois
que estivermos mortos.
BIBLIOGRAFIA