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APRESENTAÇÃO:

Olá, você acaba de adquirir uma de minhas obras. Primeiramente quero agradecer pela
preferência, pelo carinho e também quero pedir perdão pelos erros ortográficos, infelizmente
não sou formadas em Letras e para a revisão é necessário uma certa quantia, por isso cobrei
esse valor simbólico.

Esta é uma estória pequena e resumida mas com muitas emoções e um final surpreendente.
Boa leitura!

Att, Lilandra Oliveira

— Boa tarde — Ouço uma voz familiar interromper Felipe — Mariana, ainda aqui?

Eleonor, amiga de trabalho.

— Daqui a pouco vou para casa — Digo rapidamente.

— Bom, o senhor tem visita. — Ela diz a Felipe — mas antes, preciso pesar você. Vamos?

Felipe rola os olhos e retira o lençol de cima de suas pernas que agora estão melhor que antes.
Cuidadosamente ele se levanta e caminha até a balança com a ajuda de Eleonor — um pouco
desnecessário, já que ele se encontra em uma estado bom, pelo menos para caminhar sozinho
— ele sobe na balança e logo vemos 73kg, isto é excelente! Não deixo de abrir um enorme
sorriso.

Permito que meus pensamentos voem até o dia em que o vi deitado naquela cama,
definhando, se entregando a morte. Há alguns meses atrás. Quando sai da comunidade
simplesmente não pude me conformar com aquela situação, meu amor a vida é maior que o
orgulho de Felipe. Retornei ao local e com a ajuda de Diguinho e Rayssa obrigamos o homem a
entrar em meu carro. Mesmo debaixo de muita reclamação do mesmo, eu o trouxe até o
hospital, aqui inventei uma desculpa; dizendo que ele era membro de uma em que eu ajudará
e também um ex viciado. Fiz questão de arcar com as despesas do hospital — diga-se de
passagem, não são poucas — até tratamento com psicóloga ele tem. Estou bastante apertada
por conta disto mas fico feliz a cada grama que ele ganha, a cada dia que se passa sem ele usar
a maldita cocaína. Óbvio que o mesmo não sabe quem esta pagando tudo, na cabeça dele,
Rayssa esta depositando tudo na conta do hospital.

Faz dois meses que Felipe esta aqui, Rayssa veio o visitar três vezes. Ela e o filho são tudo o
que esse homem tem agora.

— Agora vou deixar sua esposa entrar — Eleonor diz, me tirando do transe.

Noto que ele já esta sentado na maca e me encarando.

— Que foi? — Indago.

— Acho que sua amiga gostou de mim.

— Ah, Felipe. Me poupe! — me aproximo — você não é o único homem da terra.

— Não precisa ficar com ciúmes.

A porta se abre novamente, desta vez nos revelando Rayssa juntamente ao seu filho. Ela nunca
o trouxe antes.
O homem abre um enorme sorriso ao ver o menino, que por sua vez pede para descer do colo
da mãe para ir até o pai. Não pude deixar de sorrir ao ver como ele amava aquele pequeno.
Rayssa passa por mim sem ao menos me cumprimentar, que se dane!

— Oi meu amor — Ela diz animada e sela seus lábios.

— Oi — Ele diz, um pouco seco(?)

— Como você esta? Diguinho me trouxe hoje.

— Já engordei alguns quilos, daqui a pouco tô saindo disso aqui. — Ele sorri — vamos jogar
bola, né não?

— Joga bola não, papai — Diz o menino.

A conversa deles continua como se eu não estivesse presente, tomo a pílula semanca! E me
retiro do local.

Minha barriga ronca, daqui a pouco será duas da tarde e ainda não comi absolutamente nada.
Caminho apressadamente até a recepção onde vejo Tereza, a recepcionista. Parecia atarefada.

— Tem alguém para me cobrir? Preciso comer alguma coisa. — Indago.

— Não, mas pode ir. Daqui a pouco vão trocar o plantão e você vai ir embora mesmo. — Ela
diz sem me olhar. Seus olhos estavam no computador.

Você que pensa.

Aceno com a cabeça indo até a sala onde minha bolsa estará guardada. Pego minha carteira e
retiro meu jaleco. Saio da sala e caminho em direção ao elevador afim de descer, quando
penso em entrar no mesmo, alguém me chama.

— Mariana! — Fabrício corre até a mim. — preciso da sua ajuda. Um paciente com
queimadura de terceiro grau.
— Encaro o elevador e suspiro.

É, você vai ter que esperar.

CAPÍTULO DOIS

— Pronto senhor Levi. — digo retirando as luvas — agora o senhor ficará bem.

— Com um anjo cuidando de mim, com certeza — o idoso responde.

Encaro Fabrício e solto uma gargalhada.

— Opa, entra na fila. Essa ai eu tento conquistar, mas é difícil. — Fábricio diz me olhando.

— Espero que consiga, ela é uma moça linda. — Senhor Levi diz me fazendo ficar vermelha.

— Ouviu, Mariana? — Fabrício indaga com um sorriso aberto e com suas mãos nos bolsos do
jaleco.
— Já esta tudo certo. O senhor já pode ir, e cuide bem desse pé.

Ofereço-lhe um sorriso e saio da sala que cheira a mertiolate mas não sem antes pegar minha
carteira. Noto que Fabrício esta a me seguir em silêncio. Meu estômago ronca.

Preciso comer ou terei uma troço.

— Mari?

Fabrício novamente.

— Oi, pode falar — tento se educada. Experimenta ser educada quando se estar com fome e
cansada.

— Vai fazer algo hoje após o plantão? — Indaga enquanto apressa seus passos até a mim.

— Eu não vou pra casa.

— Oh, sim...tudo bem. — Diz, parece desapontado.

— Por que a pergunta? — Indago parando de caminhar.

Ele abre um sorriso tímido e morde k lábio inferior. Parece querer dizer algo que não diz faz
tempo.

Argo minhas sobrancelhas afim de apressa-lo.

— Queri te levar em uma bar na Lapa, é bem legal — Diz animado — e tem karaokê.

— Seria um máximo...

— mas... — Ele diz me interrompendo.


— Eu não posso. Chama a Eleonor, ela gosta bastante. — Digo naturalmente— estou indo
lanchar, até mais.

Não espero sua resposta apenas caminho rapidamente até o elevador. Ao adentrar no mesmo
eu bufo fitando o relogio em meu pulso.

Fui mal educada com Fabrício, mas já deixei claro inúmeras vezes que ele não terá chances
comigo — nem ele e nem ninguém — já me machuquei muito para embarcar em uma
relacionamento cheia de traumas e fazer alguém sofrer. Além do mais, é impossível dizer que
não sinto nada por Felipe. Uma mulher de trinta anos nas costas não consegue se relacionar
com ninguém porque ainda ama outro, e detalhe; ele já tem um alguém. É gostar muito de
sofrer mesmo.

Finalmente saio do hospital, o calor não estava ajudando muito. Caminho rapidamente até a
lanchonete e avisto a balconista de cara amarrada. Antes trabalhava uma super educada, não
sei o que houve mas entrou essa azeda.

— Boa tarde. Me vê um pedaço de lasanha e um copo de suco d...

— Suco de que? — pergunta me interrompendo.

— Laranja. — digo indiferente — apressadinha. — Murmuro.

Não quer trabalhar não sai de casa porra.

Observo o local e noto alguns polícias conversando, eles riam descontraídos. Fito o fuzil na
mão de um deles e meu pensamento vai de encontro ao Felipe.

Será que ele vai largar tudo e viver dignamente com Rayssa? No hospital ele esta indo muito
bem, mas na comunidade sera diferente, ele terá as drogas em suas mãos. Sou tirada de meus
pensamentos quando a balconista põe o prato em cima do balcão de vidro, fazendo barulho e
chamando a atenção dos presentes no local. Antes que eu pudesse xinga até a alma dessa
mulher, sinto uma mão em meu ombro. Será que até aqui Fábricio vai me perseguir? Me viro
com uma baita feição de tédio e vejo Diguinho. Meus olhos parecem saltar.
Esse homem poderia matar qualquer mulher do coração. Vestido com uma bermuda jeans de
lavagem clara, sua cueca preta estava a mostra, sua camisa branca definirá ainda mais seus
poucos músculos. Ele abre um sorriso e vejo seus dentes alinhados e brancos, um pouco
diferente dos de Felipe já que a cocaína faz um estrago nos dentes.

— Vai me da um abraço ou vai me deixar com cara de pamonha na frente de geral — Diz me
fazendo rir.

Não penso duas vezes e o abraço forte.

— Esta fazendo o que aqui?

Parto nosso abraço.

— Vim trazer a Rayssa. — explica — porra, ta com maior cara de acabada, morena.

— Obrigada, Diego. Você é encantador.

— Como esta o Ret?

— Turrão como sempre. — Digo voltando minha atenção para a lasanha.


— Vive reclamando de tudo.

Rolo meus olhos lembrando. Diguinho diz algo mas meus olhos vão de encontro aos polícias
que agora estão saíndo do estabelecimento mas seus olhos estão voltados no homem
sorridente a mimha frente.

Merda, acho que o reconheceram. Quando vejo um doa policiais pegar o celular para
confirmar algo eu deixo o talher no prato e agarro a cintura de Diguinho, o puxando para mim.
O moreno não entende o que esta acontecendo então me encara.

— Eu te amo, Gabriel — Digo alto. Ele me olha assustado.

— Quem porra é Gabr...


Antes que ele pudesse terminar eu junto nosso lábios.

Deus que me perdoe por isto.

Ouço o som do coturno contra o chão, denunciando a saída dos policiais. Diguinho se
aproveita da situação e aperta minha cintura com força, me fazendo arfar. Ele me pressiona
contra o balcão até que eu sinto sua ereção. Levo minha mão ao seu peito e o empurro
levemente.

O beijo termina e ele me fita sorrindo.

— Não é nada disso que você esta pensando — Digo. — tinha policiais aqui e não paravam de
olhar para você. — explico.

— Não brinca? Que isso. Eu não sabia que por aqui teria.

— Claro que tem. Zona Sul é cheia deles, para a segurança dos turistas.

Ele bufa passando a mão no cabelo que estará cortado.

— ‘Brigadão, linda. Me salvou legal.

— Não tem problema.

Volto a atenção para a lasanha e contínuo comendo enquanto a tal balconista me encara
surpresa. O clima estava tenso, eu não sabia o que dizer, então optei por comer.

— Fiquei pensando em você um tempão depois da última vez que noa vimos — Dispara.

— Isso é bom ou ruim? — Pergunto com a boca ainda cheia. Ele ri.
— Depende... é ruim não ter quem você quer por perto, mas é bom ter sua imagem na cabeça,
‘ta ligada?

Aquilo me pega de surpresa. Engulona lasanha no seco e bebo um pouco do meu suco.

— Você é bobo — foi tudo o que conseguo dizer.

— Quando estou perto de você, eu fico.

CAPÍTULO TRÊS

Termino meu pequeno almoço ainda na presença de Diego que por sua vez fala pelos
cotovelos, fazendo-me rir a cada instante. É agradável estar em sua presença, quem vê não
imagina a vida que leva. Termino meu suco e chamo a balconista, ela me fita com intensidade
e logo desvia seu olhar para o homem ao meu lado.

— Quanto deu? — Indago rapidamente.

— Vinte reais — Reponde sem retirar sua atenção de Diguinho.


— Deixa que eu pago. — O homem diz, entrando em minha frente.

— Que isso, Diego. Não precisa.

— Ou — Chama minha atenção — fica na sua.

Acato seu pedido e permito que ele pague minha conta. Saímos da lanchonete e caminhamos
até a enorme porta de vidro do hospital.

Antes que eu pudesse continuar caminhando sinto sua mão me parar. Propositalmente ele
segura uma de minhas mãos.

— Vou entrar não.


Não vai visitar o seu amigo? — pergunto.

Ele ri.

— Nunca foi meu amigo, linda tudo — Ele bufa — eu só suportava porque era meu patrão.

— Continua de frente lá na comunidade?

— Sim, e pretendo continuar até a minha morte. — Diz convicto.

— Felipe ficando melhor com certeza vai querer assumir.

— Terá que me matar primeiro.

Um arrepio percorreu minha espinha. Algo me diz que isto ainda irá gerar um grande atrito.

— Ele faria isso? — indago com receio

— Você ainda dúvida?

— Talvez ele mude — Rebato esperançosa — agira esta tendo acompanhamento com uma
psicóloga incrível.

— Ela faz milagre? — pergunta.

— Não.

— Então ele não mudará. — Afirma rindo.

— Ele tem que mudar.


— Você ainda gosta desse cara — diz raivoso.

— Diego, se acalma. Você acha o que, que tudo o que eu sentia acabou?

— Já se passaram não sei quantos anos, porra. Segue em frente. — Diz grosseiramente.

— Essa conversa esta indo longe demais e eu não estou gostando do modo que esta falando
comigo.

— Quer uma verdade, mina?

— Diga.

— Eu sempre fui doido por você, sempre. Eu ia tentar alguma coisa mas descubri que vocês já
estavam ficando e agora que você ‘ta livre, nem o diabo consegue fazer eu desistir de você. —
Confessa.

— Você é um homem incrível, Diego e muito bonito mas eu não quero me relacionar, não com
um traficante novamente — Disparo.

Diego suspira, desvia seu olhar de mim e encara o céu. Com as mãos na cintura ele permanece
em silêncio, parece se acalmar.

Eu só estou dizendo que esse merda não merece você.

— Não estou dizendo que irei ficar com ele, Diego. Torço pela sua melhora.

— Por mim pode morrer, orgulhoso do caralho. — Ele me encara — minha consideração é
pelo menino e pela Rayssa.

— Por que tanto ódio dele?

Eu realmente não entendo o incomodo que Diego tem em relação a Felipe. É algo além de
território, ambos parecem Pitbulls, é algo pessoal.
— O cara é o próprio demônio, Mariana mas você esta apaixonada demais para enxergar isso.

— Chega desse assunto, por favor

Fito seu peitoralas logo encaro seua olhos.

— Você trabalha todos os dias?

— Uhum. — murmuro.

— Parece cansada.

— E estou. — suspiro — tenho trabalhado muito.


Você sai que horas? Um dia ainda fico aqui te esperando para nós sair. — Ele ri.

— normalmente as sete da noite, mas tenho dobr...

— Bora, Diego.

Ouço a voz de Rayssa. Me viro encarando a mesma, sua feição não era uma das melhores e a
criação em seu colo se põe a chorar de soluçar.

— Já? — Indaga Diego.

— Felipe é cheio de papo errado pra cima de mim — Reclama — chega, Kauã, para de chorar!

— Quer papai — A criança pede em lágrimas.

— Paciência com ele, Rayssa. O moleque não tem culpa dos pais noiados.

Rayssa também era viciada? Não me surpreende. Ainda me recordo da cena de Felipe com ela
no banheiro de Ana.

Diguinho pega a criança dos braços de Rayssa que por sua vez apanha o março de cigarro no
bolso de sua calça. O menino gruda no pescoço do homem.

— Bom, eu tenho que voltar ao trabalho. — Digo encarando Diego.

Cuida bem do meu marido. — Dispara Rayssa.

— Faço muito bem o meu trabalho. — Ofereço-lhe um sorriso irônico — Tchau Diguinho. Foi
um prazer.

— Se cuida, mina.

Me viro e caminho rapidamente de volta para o hospital.


Eu não deveria sentir raiva de Rayssa e realmente não posso. Por mais que ela jogue na minha
cara de propósito, tenho que me colocar em meu lugar e admitir que o marido é dela. Foi-se o
tempo em que Felipe e eu tínhamos algo, talvez o que eu sinta por ele agora não seja nada
além de atração, ou qualquer outro sentimento que não seja amor.

— Mari? Ta ocupada?

— Não.

E lá vamos nós...

Passava das sete da noite quando minha chefe, a médica ordenou que eu fosse para casa. Não
relutei, estiu exausta e todos estão notando isto. A mesma me deu o próximo dia de folga.

Após trocar de roupa e me despedir dos meus colegas, desço até a garagem e caminho em
direção ao meu Honda Civic 2018, não me importo com o ano do carro, foi o que meu
orçamento permitiu na época. Não gosto de dirigir mas após ser assaltada três vezes saindo do
trabalho, optei por ter um carro.

Avisto o segurança do estacionamento conversando com alguém, me parece ser um homem.


Ignoro completamente e adentro no carro. Jogo minha bolsa para o lado, ligo o rádio e encosto
meu corpo no banco.

...

Abro meus olhos e percebo que havia cochilado. Passo minhas mãos sobre o mesmo, afim de
despertar. Dou partida com o carro.

Atualmente moro em uma casa em Madureira, fica um pouco distante do hospital onde
trabalho mas não pude deixar de aceitar essa vaga. O hospital fica em uma ótima localização e
paga super bem. Foi uma oportunidade única, após me formar eu tive muito foco para correr
atrás de um emprego e o primeiro que me apareceu foi justamente esse. Coisa de Deus.

Já dentro de casa eu como qualquer besteira, tomo um banho lavando meus cabelos que
estavam puro óleo. Visto um conjunto de calcinha e sutiã, seco meus cabelos e por fim, me
jogo na cama. Preciso dormir tudo o que não dormi durante esses dias, meu corpo está
exausto e dá seus sinais claros.
CAPÍTULO QUATRO

Felipe, Ret.

Meio dia e nada de Mariana. Será que ela foi para casa? Ontem a noite não retornou ao
quarto, normalmente ela vem umas três vezes ao dia e estou habituado com sua presença.

Termino meu banho e me direciono a maca novamente. Ainda lembro de quando eu se quer
conseguia me levantar para ir ao banheiro, precisava de ajuda para tudo. Eu adoraria ter
mulheres diferentes me dando banho todos os dias, mas não neata situação, era terrível.

Ouço o barulho da porta, o almoço havia chego. Respiro fundo sentindo o cheiro do
desodorante horrível que Rayssa trouxe, para completar ainda trouxe meu celular sem o
carregador, com apenas trinta por cento de bateria. Vou enfiar essa porra do cu para carregar,
não é possível.

Estou reclamando demais? Não! A mina ganha uma pensão legal por conta do menino, ainda
ganha um extra por fora que faço questão de dar. Pedi para ela comorar as coisaa e trazer para
mim, com o meu dinheiro, nada dela e mesmo assim a mina faz tudo com péssima vontade.

Rayssa é outra viciada, o que me preocupa por conta do meu filho. Preso nesse lugar eu não
sei de nada do que se passa naquela comunidade e principalmente com ela e o garoto.

— Boa tarde — A senhora cumprimenta.

— Boa...Sabe se a Mariana ta por ai? — Pergunto rapidamente.

Ele estreita os olhos, forçando sua memória.

— Ela tem uma tatuagem no pescoço, uma rosa — Explico, ela sorri.

— Ah sim, a enfermeira Mariana. Ela já deve ter ido embora.


— Ela volta hoje?

— Se não veio até agora, é provavel que não.

Ela explica deixando a comida em cima da pequena mesa.

Meu semblante fecha automaticamente. Todos os dias luto contra meus pensamentos quando
os mesmos dizem o quão egoísta sou por não deixar essa mulher em paz, mas porra, como não
se apaixonar por uma mulher incrível e que salvou sua vida? Quando ela se foi meu mundo
desmoronou, não fiz questão de nada, me afundei legal e quando percebi que estava levando
a comunidade para a vala junto a mim, passei o comando para Diguinho. Eu estava certo de
que iria morrer. Quando Rayssa me contou sobre a gravidez eu pirei mais ainda, mas permaci
de pé, até que houve um dia que nem mesmo meu filho foi capaz de me prender a esse
mundo, mas quando ela retornou...

Eu a amo mais que tudo nessa vida, absolutamente tudo.

Após a senhora sair do quarto eu faço o mesmo, atraindo olhares desnecessários. Preciso
encontrar Mariana. Aquele enorme corredor branco estava mais gélido que o próprio quarto.

— Você não pode ficar aqui fora.

Ouço alguém alertar.

— Enche o saco, não. — Digo sem paciência.

Começo a caminhar pelo corredor em busca de Mariana.

— Senhor por favor. Há bactéria...

— Cadê a enfermeira Mariana? — Digo a interrompendo.


— Preciso que entre no quarto ou chamarei alguém para colocá-lo lá dentro. — Diz sem
paciência.

Solto uma risada nasal e fito a mulher de estatura baixa.

— Tenta. Meto uma bala na sua testa e na de quem tocar em mim — Ameaço, ela se assusta.

Quando dou conta de que a mulher não foi a única a ouvir minha ameaça, decido retornar ao
quarto.

Respiro fundo e tento controlar meus pensamentos, tais como meus sentimentos. Tudo o que
eu sentia por Mariana não passou e isso é meio claro, posso mover céus e terras mas essa
mulher domina a minha mente de uma forma surreal. Será que ela ainda sente o mesmo? Será
que seu abraço continua apertado? Será que seu beijo continua tão bom quanto antes?

Fascinação é isso, essa pequena palavra resume toda a merda que sinto.

Quando penso em reconquista-la meu raciocínio grita: Seu otário, você fez a mina sofrer como
ninguém e ainda acha que ela te ama?

Preciso me colocar em meu lugar, se ela não me quer, é aceitar e seguir, afinal, problemas é o
que mais tenho.

Me sento na cama afim de comer a comida do hospital, a cara não é muito boa mas o gosto é
bom. Preciso ganhar peso pra sair fora desse lugar. Tudo aqui parece caro, tô morrendo em
um dinheiro para pagar tudo. Não vejo a hora de retornar e assumir tudo novamente, resolver
todo o prejuízo que dei em meus momentos de surto.

Após terminar meu almoço me bate a vontade de fumar, até contra isto estou lutando. Quero
sair daqui limpo, sem vício nenhum.

Meu pai sempre me dizia que a maior burrice de um traficante e se viciar no produto. É
decretar sua morte. Suicido, irmão.
A porta branca se abre, revelando a enfermeira que eu havia ameaçado junto a dois policiais.
Ela fita os olhos de um deles e sai, nos deixando a sós. Eu já conhecia um deles, é do mesmo
batalhão que sempre pega o arrego.

Puta que pariu.

— Boa tarde — Cumprimenta o policial — seu nome, por favor?

Eles já sabiam que sou eu, só queriam jogar...com a pessoa errada.

— Ta cego ou não sabe ler? Tem a porra de um papel colado nessa cama. — respondo
grosseiro.

— Filho de uma puta — Ele murmura rindo para o outro policial. — da muita bandeira, né Ret,
vai voltar pro xadrez.

Rolo meus olhos.

— Porra, ninguém respeita os doentes. — ironizo.

— Poderia ter ficado na sua, mas foi abrir a boca pra ameaçar. ‘Tu é burro mesmo — diz o
outro policial.

— Fala logo, quanto quer para fingir que eu não existo? — indago sem paciência.

Ele ri.

— Então, Orlando...Sabe o que é? Vai da não. Chefe já sabe que você esta aqui. — Ele suspira
— dessa vez não da pra te aliviar. — E qual vai ser?

— Daqui direto para a gaiola, passarinho. — Diz gesticulando, divertido seu amigo.

— Sabe que não vou ficar muito tempo, né? — Disparo convicto.
— Infelizmente o Brasil alivia pra bandido.

— E como, veja só, um corrupto parado bem na minha frente, quando na verdade deveria
estar preso, assim como eu, porque ambos somos bandidos. — Dou um sorriso — sabe a
diferença entre você e eu? Eu não omito da sociedade quem sou. Não me escondo atrás de
uma farda podre.

Seus olhos refletem o ódio vivo. A verdade é como uma faca afiada, ela te corta severamente.

— Fico surpreso como você consegue ter um dos melhores advogados do Brasil, tendo a ficha
que tem — espeta ele — vamos ver se ele vai conseguir livrar quem te colocou aqui nesse
hospital.

Engulo seco.

— Como assim?

— Alguém te colocou aqui dentro, com esse nome ridículo. Essa pessoa é cúmplice e
responderá.

CAPÍTULO CINCO

Ribeiro, Mariana.

Meus olhos estavam se fechando aos poucos. Eu havia terminado de almoçar e me bateu
aquele soninho gostoso, mas infelizmente meu celular toca desesperadamente. Tento ignorar
mas com receio de ser o hospital precisando de mim, corro para atender. Eleonor.

— Oi, Ele. Algum problema?

— Não...quer dizer, sim. Mariana, quem é o homem que você trouxe para o hospital?

Meu coração acelera.


— Que homem?

Aperto meus olhos temendo o pior.

— O tal do Orlando. Não minta para mim, o que esta acontecendo? Os policiais disseram que
esse cara é um traficante perigoso — ela sussurra — ele ameaçou a Gabriela Lacerda.

Droga, Felipe.

— Ele está ai? — Pergunto desesperadamente

— Sim está. A direção do hospital permitiu um policial na porta do quarto. Mariana, ele
ameaçou a garota porque estava te procurando. Quem é esse cara?

— O que mais a polícia falou?

— Eles querem saber quem trouxe esse homem para cá.

— Você não disse nada, disse?

— Não! Mas eu exijo saber o que esse homem tem com você — ela suspira — não posso
ficar te acobertando sem saber ao certo o que esta acontecendo.

Bufo nervosa.

— Estou indo para o hospital.

Encerro a chamada antes que ela pudesse me convencer do contrário. Corro para o quarto,
trocando de roupa em seguida.

E lá se vai meu descanso.


Felipe, como você pode ser tão estúpido? Tenho que ficar de babá para você vinte e quatro
horas por dia.

Dou um soco no volante quando percebo a gravidade do assunto. Se descobrirem que fui
cúmplice de tudo isso, muito provavelmente irei perder meu emprego. Só de imaginar meu
coração acelera.

Ao chegar no hospital avisto dois carros da polícia militar ali parados, reviro meus olhos em
pensar ma furada que me meti. Agora não dá para voltar atrás, é colocar peito e sustentar o
que fiz. Eu sabia dos riscos mas menti e segui em frente, não há para onde fugir.

Entro no hospital e tudo parece normal, mas só parece. Avisto minha chefe conversando com
algum dos médicos. Passo direto por ela afim de não ser notada pela mesma, com certeza ela
viria com meia hora de sermão dizendo que eu não deveria estar aqui — mesmo sabendo o
ocorrido — ela prioriza o descanso dos enfermeiros. Diz que a qualidade do profissional é
melhor quando se estar relaxado e de bem com o relógio biológico.

Caminho em passos largos até o elevador e me direciono ao quarto onde Felipe estar. De
primeira vejo um policial parado na porta. Respiro fundo e caminho em direção ao mesmo.

— Boa tarde, eu sou a enfermeira do paciente — Digo e ele me fita de cima a baixo — estou
sem uniforme porque acabei de chegar.

— Ele não pode receber visitas. — Diz curto.

— Não é visita, sou enfermeira.

— Tem algum documento de identificação?

Merda.

— Esta no carro — Murmuro.

— Sem documento a senhora não entra.


Sacanagem, ele me fez descer tudo novamente e buscar minha bolsa, a qual eu havia
esquecido no carro. Bato a porta com força, completamente estressada. Entro novamente no
hospital mas desta vez Fabrício estranha a minha presença.

Por favor, não venha até a mim.

Em passos apressados vou de encontro ao elevador, novamente. Antes que as portas


pudessem se fechar, o homem coloca seu pé entra as mesmas. Fabrício entra e me lança um
sorriso sem mostrar os dentes. Aperto o botão e não mantenho contato visual.

Um silêncio estranho se instala no pequeno ambiente.

— Então seu amigo é um foragido? — Indaga divertido.

— Ele não é meu amigo.

— Qual é, Mariana. Você arriscou seu emprego colocando esse homem aqui com um nome
falso — ri debochado — ele no mínimo deve ser seu amigo.

Bato meu pé algumas vezes contra o chão, impaciente.

— Eu não o coloquei aqui, apenas o ajudei. Orlando é morador de um abrigo que ajudo —
minto.

— Ah claro...

— Eu não lhe devo satisfação alguma. — a porta se abre, eu saio — Passar bem.

Fabrício esta colocando suas asas de fora, e sinceramente? Isto não me agrada nada. Ele esta
desconfiado, naturalmente; apesar de tudo, é um homem extremamente observador. Houve
algumas brechas, como as dos documentos que até hoje não estão na recepção, então ele
entrou por esta e tirou suas conclusões...que está completamente certas mas não posso
admitir.
Eu salvei a vida de um homem, todos nós salvamos, isso me levará a prisão? Independente do
que Ret faz, ele é um ser humano e enquanto houver um coração pulsando em seu peito e
sangue correndo em suas veias, eu estarei aqui para o ajudar. Não passei tanto tempo com
minha bunda sentada em uma carteira ouvindo o professor, para não por em prática tudo o
que aprendi e principalmente, não por em prática a empatia.

Todas as vidas são importantes.

— Eu trouxe o documento — Digo ao policial enquanto busco pelo meu crachá.

— A vontade — Ele diz quando mostro o documento.

Sem delongas adentro ao quarto mas não vejo Felipe no mesmo. A porta do banheiro estará
fechada, o que significa que ele está lá.

Observo as bolsas de soro vazias e me pergunto a quanto tempo estão assim. Agora que
descobriram quem realmente ele é, vão tratá-lo como animal? Espero que não.

— Apareceu, morena? — Felipe diz saindo do banheiro. Havia um celular em sua mão.

— Não, sou apenas fruto da sua imaginação — Digo irônica.

— Se fosse, não estaria de roupa.

Até em horas como essa ele brinca.

— Felipe, você tinha que fazer alguma besteira, né? Agora estão querendo saber quem te
colocou aqui.

— Calma, já estou resolvendo isso. — Diz tranquilo.

Ele caminha até a cama normalmente, o que me deixa feliz por alguns segundos.
— Como esta resolvendo? A essa altura do campeonato os policiais estão querendo falar
comigo. — digo exasperada.

— Ainda não falaram?

— Não. Minha chefe provavelmente disse que estou de folga, então falaram somente amanhã.
— Explico.

— Então por que você esta aqui? Se eles virem você, vão querer começar o interrogatório.

— Quanto antes melhor. Felipe, eu disse a todos que você mora em um abrigo que eu ajudo.
— Digo — você precisa confirmar.

Ele fi, como se fosse a coisa mais engraçada.

— Acorda Mariana, a casa caiu. — Diz seriamente — eles me conhecem, não tem
probabilidade de acreditarem nessa mentira sem pé nem cabeça, e você responderá como
minha cúmplice e ainda por mentir assume ainda mais o seu erro. — ele explica — Eu vou fugir
daqui e você vai comigo.
CAPÍTULO SEIS

Ele não poderia estar falando sério, aqui não era verdade. Observo seua olhos em busca de
agum sinal de brincadeira mas não encontro. Apenas seu olhar vazio e indecifrável. Se eu me
encaixar nestes olhos por alguns segundos, consigo lembrar de tudo o que passamos,
principalmente que não foi coisas tão boas.

— Eu não vou com você a lugar algum, temos que resolver isso.

— Deixa de ser inocente, Mariana. — Diz diminuindo o tom de voz, afim de que o policial não
ouça — quando descobrirem a verdade, vão fazer questão de mandar você pra cadeia. Sabe
como é lá?

— Não — Murmuro.

Confesso que o medo toma conta de cada célula do meu corpo, apenas de me imaginar em um
lugar como a prisão.

— Eu consigo uma cela separada dos outros detentos, mas você?


— ele nega com a cabeça — as detentas vão te infernizar.

— Esta querendo me aterrorizar psicologicamente para eu ir junto a você.

Ele ri.

— Se você acha. —da de ombros — Eu preciso da sua ajuda para sair daqui
— Eu não posso fazer isso, Felipe. Além do mais, se você voltar para aquela comunidade, pode
voltar a usar cocaína.

— Eu não quero saber dessa porra nunca mais. — diz raivoso — estou limpo.

— Só alguns meses.

— Eu não vou usar esse merda, Mariana. Dá para por um pouco de fé em mim?

Não.

— Certo...Eu só estou dizendo que pode haver possibilidade.

— Eu não vou usar. Que merda!

— Você tem um motivo muito bom? Porque mesmo sabendo que ela te destruía continuava a
usar. — digo irônica.

— Por causar desse merda, eu perdi as duas mulheres que mais amei.

Engulo seco sem resposta para o que ele havia dito. Meu coração pulsa rapidamente. Por
outro lado, ele não parecia querer ouvir alguma resposta minha, aquilo foi um desabafo
doloroso.

Antes que eu pudesse me pronunciar vejo Eleonor adentrar ao quarto. Ela me fita
severamente, seus olhos estavam cheios de dúvidas. Sei que não posso mentir para a mesma.

— Não adianta mentir — Ela murmura.

— O que quer saber? — Indago ouvindo Felipe tossir.

— Tudo, oras!
Observo Felipe que me encara tranquilamente. Esse homem não teme ninguém.

— Ele realmente é tudo o que estão dizendo, eu o busquei na comunidade para se tratar aqui
e menti seu nome para que o mesmo não fosse preso. — confesso.

— Porra, Mariana. — Eleonor diz. — você esta se arriscando, para um traficante não ser
preso? Esse cara aí é o mesmo que mata várias pessoas, sem se importar.

— Eu to aqui ainda, caralho — Felipe alerta.

— Eleonor, não interessa quem é, o que fez e o que vai fazer. Temos que cuidar dele. — digo
rígida.

— Concordo com você, mas mentir sobre quem ele é te colocou em uma sinuca de bico. Você
mentiu para acobertar um criminoso.

— Eu não vou ser presa por isto. Há verdadeiros ladrões neste país e eles não vão se preocupar
com algo tão pequeno.

Foi o que pensei...

Naquele mesmo dia me apresentei aos policiais como a mulher que trouxe Felipe para cá, eles
me conduziram a delegacia e lá prestei depoimento de três horas. Contei toda a verdade, não
queria dizer que tive um relacionamento com Felipe mas quando me perguntaram de onde eu
o conhecia, foi impossível.

Eles fazem perguntas bem pensadas, é quase impossível sair da parede quando eles te
pressionam contra a mesma.

Conclusão, preciso de um advogado e não posso sair do estado enquanto tudo não se resolver.

Retornei ao meu trabalho normalmente, mas é claro, como nem tudo são flores minha chefe
esta de cara amarrada para mim.
Que se dane!

Termino de tratar de alguns pacientes com meus pensamentos direcionados a Felipe. Sei que
sua idéia de fugir esta cada vez mais vívida, ele esta prestes a receber alta.

Quando dou por mim estou em seu quarto, encarando o homem que inferniza meu ser com o
sorriso mais sarcástico que um dia pude conhecer.

Eu odeio você.

— Tem carregador para me emprestar? — Indaga. — estava desenrolando minha saída e


desligou. Preciso de um favor teu.

Meu carregador não serve para seu celular. — Digo rapidamente.

Me direciono até o mesmo percebendo que ele já não estava usufruindo do soro. Ele esta
melhor.

— Você quer me ver na cadeia, ne? — Indaga sério.

— Não, Felipe. Só não quero fazer parte de tudo isso. — suspiro — prestei depoimento já.

— Por que não me disse antes? O que disseram?

— Que eu preciso de um advogado.

— Merda...— murmura

— O que foi?

— Não adianta, Mariana. Eles vão querer te ferrar.

Rolo meus olhos, exausta daquele assunto.

— Não vão, Felipe.

Ele não responde, apenas segura minha mão. No instante que sua mão áspera toca a minha,
meu corpo se aquece. Fecho meus olhos e por alguns instantes lembro-me de tudo o que
passei nas mãos dele e me afasto.

Ele me encara confuso.

— Verei se consigo seu carregador.


Digo e saio daquele quarto notando que o policial já não esta ali, talvez esteja almoçando, —
ele sempre sai esse horário —. Passo as mãos pelo rosto e respiro fundo e fecho os olhos. Eu
não posso me afundar em Felipe novamente, não posso e não vou.

— Algum problema?

Abro meus olhos e vejo Eleonor acompanhada de um maqueiro.

— Não. Tudo certo, a propósito, você trouxe seu carregador?

— Sim, mas meu celular é iPhone.

— Não é para mim.

Ela rola os olhos.

— Eu dou a ele, fica tranquila.

Jamais imaginei que essa mulher ficaria do meu lado desta forma, não somos nada além de
colegas de trabalho.

— Quando receberá alta? A doutora te avisou?

Daqui a dois dias. — Diz naturalmente. — darei a notícia hoje a ele e aos policiais.

Eleonor era a enfermeira responsável por Felipe, eu e os demais apenas ajudavamos.

— Estou indo buscar o paciente, te vejo lá — Diz o maqueiro ao notar o péssimo clima.
Percebeu que eu queria conversar a sós.

— Tudo bem.

Esperamos alguns segundos até que o homem estivesse longe.


— Ele quer fugir. — Digo

— Eu sei. Não me surpreende nada. E você, vai ajudar?

— Claro que não.

— Mari...— ela suspira e se aproxima — eu não sei o que você teve com esse homem mas uma
coisa é óbvia, você sente algo. Como uma mulher de quarenta anos e bastante vivida, te
aconselho a fazer o que esta afim mas que tome cuidado. Não se deixe levar pelas emoções.

— Eu não sei o que fazer.

— Faremos assim, eu não irei passar a informação aos policiais hoje porque se eu passar, eles
vão redobrar a segurança. Você tem até amanhã para decidir. Estou pensando em você e não
nesse homem ai dentro, por mim ele pode apodrecer na cadeia — diz raivosa — mas você é
uma excelente profissional e tem um coração incrível, eu detestaria te ver triste. E tem outra
coisa...

— O que?

— Quero o contato do seu amigo da cozinha.

Willian.

CAPÍTULO SETE

Quase oito da noite, estou sentada em uma cadeira cochilando com meus celular em mãos. O
hospital está tranquilo, hoje quase todos os enfermeiros está de plantão. Abro meus olhos
quando ouço o impacto do meu celular indo de encontro ao chão de cerâmica, sorte que não
quebrou. Só então percebo que minha chefe esta a alguns metros de mim, mexendo em
alguns papéis, parecem prontuários.

Ela diz algo para si mesma e bufa, parece extremamente estressada. O trabalho dela é mil
vezes mais exigente que o meu. Além de cuidar dos pacientes ela ainda é responsável por uma
equipe de enfermeiros.

Me levanto caminhando até a mesma que está tão ocupada que não percebe minha presença.

— Quer ajuda? — Indago.

Não, esta tudo certo. — diz forçando um sorriso — mentira, eu ‘to pirando. Me ajuda a
encontrar esse prontuário?

— Certo. Qual o nome do paciente?

— Pedro Antônio de Jesus — Diz olhando outro papel, para afirmar com certeza sobre o nome.

Após alguns longos minutos encontramos o prontuário do paciente. Meus olhos percorrem o
papel ligeiramente.

— Avc? — indago.

— Exato. Faleceu algumas horas atrás, e para completar a filha dele esta fazendo escândalo la
embaixo, dizendo que nós matamos o pai. — Ela bufa — eu mereço.

— É difícil lidar com a morte de quem amamos.

— Mariana, você não tinha que estar em casa? — Diz fitando seu relógio de pulso. Não
respondo — Hein?

— Sim, eu já estava indo. — minto.

— Sei. Como esta com a polícia?


— Preciso de um advogado. — digo — mas sei que tudo se resolverá.

— Passarei o contato da minha irmã a você. Ela é ótima. — Assinto — vamos, troque de roupa
e desça comigo porque eu sei que se ete deixar aqui você não irá para casa.

Abro um sorriso e concordo. Troco de roupa rapidamente e acompanho a médica até o andar
de baixo, onde vejo uma mulher aos prantos abraçada a um homem mais velho. Meus olhos
percorrem o corpo da moça e logo quando a mesma se vira tenho a impressão de que a
conheço.

Minha chefe caminha a passos largos até o doutor que estará na recepção. Meus olhos se
encontram com os da mulher que a pouco se encontra em prantos.

— Flora... — Murmuro. — não acredito.

Meu coração bate acelerado, meus olhos saltam por alguns segundos. Ela é a filha de seu
Pedro, o senhor que vendia água no ponto do ônibus.

Não penso duas vezes em caminhar rapidamente até a mulher, que por alguns segundos me
encara.

— Mariana? — Indaga com sua voz falha.

— Eu sinto muito.

Em frações de segundos ela me abraça apertado. Não consigo controlar minha vontades de
chorar. Sei exatamente o que ela esta sentindo e Pedro era um senhor de fibra, guerreiro, um
homem cheio de luz.
Passo alguns minutos conversando com Flora e tentando fazê-la entender que médico algum
teve culpa na morte de seu pai.

Finalmente vou de encontro ao estacionamento que por sua vez já não está tão cheio. Abro a
porta do meu carro e jogo minha bolsa no banco, como de costume.

— Psiu.

Ouço. Olho para todos os lados e não avisto ninguém.

— Psiu.

Novamente.

É ruim que vou ficar aqui parada, nem o segurança esta nessa porcaria de lugar. Entro
rapidamente dentro do meu carro e antes que eu pudesse dar partida vejo um rosto surgir em
minha janela, solto um grito exageradamente alto que se misturou com as risadas de Diguinho.

Abro a porta do carro e encaro aquele homem sem noção.

— Você é maluco? Eu poderia ter um infarto.

— Tinha que ter visto sua cara — Diz rindo.

— Babaca! O que ta fazendo aqui? — indago surpresa.

— To aqui faz uma hora te esperando, fiz até amizade com o segurança. — Brinca.

— Diego, você não pode se arriscar assim. Os policiais te reconheceram na lanchonete, pode
pegar para você.

Digo me levantando e saindo do carro. Mesmo de pé, Diguinho consegue ser maior que eu.
Talvez seu apelido seja uma perfeita ironia já que i rapaz aparenta ter 1,90 de altura.
Seus olhos percorrem meu corpo e para em meus olhos.

— Foi mal, mas eu não conguia parar de pensar em você. Naquele beijo.

— Fiz aquilo para te ajudar. — Explico.

— Vai mentir pra mentiroso, agora? Seu corpinho tremeu todo quando me beijou — Ele se
aproxima, perdendo meu copo contra o carro — e ‘ta tremendo agora.

— Para de graça. Você não deveria estar aqui.

— Meu lugar é onde você esta.

Sua mão vai até meus cabelos, na parte acima da minha nuca, ali ele puxa me fazendo arfar.

Dentro desses anos eu só fiz sexo duas vezes e nada mais. Estou a ponto de bala e com esses
toques ele consegue tirar meu ponto de equilíbrio.

Seguro em seu pescoço, levanto meus pés e o beijo. Ele queria sexo, eu também e não dar
para negar essa química incontrolável. O cara se arriscou apenas para vir me ver. Merda, ele
não pode ficar muito tempo aqui. Parto o beijo sentindo sua mão apertar minha cintura.

— Você não pode ficar aqui.

— Relaxa neguinha, ninguém me conhece. O procurado aqui é o Ret, não eu. Aqueles policiais
as lanchonete devem ter notado que eu estava armado. Só puxei cadeia uma vez e cumpri —
Explica.

— De qualquer forma, você precisa ir. Onde esta o segurança?

— Dei um dinheiro pra ele ir tomar um café, o cara estava caindo de sono.
Assinto.

— Vamos, eu te levo. — digo.

— Estou de moto.

— Deixa as chaves comigo e manda alguém vir buscar amanhã.

— Preocupada comigo, Mariana?

— Entra logo no carro.

Talvez eu já esteja acostumada a correr perigo, transportar um traficante em meu carro não é
lá uma ideia muito boa mas foi um tiro certeiro, mais a frente os policiais estavam parando as
pessoas de moto e revistando.

Encaro Diguinho com minha sobrancelha arqueada.

— Tu é advinha. — Ele diz.

— Me deve essa. — Digo rindo.

— Como esta o Ret? — indaga deixando o clima pesado.

— Melhor, irá receber alta.

— Eu sei. Ele armou de fugir, já disponibilizei o carro pra fuga.

— Pensei que o odiasse — Digo sem tirar meus olhos da estrada.

— E odeio, por mim ele pode morrer mas tenho pena do filho dele. O moleque chama por ele
direto.
— E Rayssa?

— Essa piranha vive se drogando, minha mãe que fica com o moleque.

CAPÍTULO OITO

Encaro Diego através do retrovisor, quem olha não imagina que esse homem é envolvido com
algo tão ruim. Divertido, alegre e sempre para cima ele é o tipo de pessoa que não se deixar
abater.

— Estou surpresa que foi até o hospital para me ver.

— E fiquei esperando quese uma hora, não esqueça disso, pô — Diz convencido.

— Não faça mais isso, é perigoso.

— To ligado, mas eu precisava te ver. — confessa me fazendo ruborizar — queria te levar em


um lugar.

Aqueio a sombrancelha.

— Que lugar seria esse?

— Teve jogo hoje, rapaziada esta fazendo um churrasco e ta rolando. Para tu ver, mesmo no
meio de geral, ainda penso em você — ele ri

O que me encanta em Diguinho é sua maneira livre de se expressar, sem preconceitos, medo,
vergonha ou cobranças de si mesmo. Se fosse Felipe dizendo isto, ele completaria com um
“Estou virando viado” homem sem medo de se expressar emocionalmente é verdadeiramente
um homem.

— Como esta sendo comandar tudo?

— Agora esta mais suave, antes tive um trabalho para tapar os buracos que o viciado fez. Os
moradores sofreram nas mãos dele — explica — quanto mais ele gastava, mais o preço das
parada ia subindo para suprir.

— Ele se curou disto, eu sei que sim.

Aperto o volante levemente.

— Bobagem — ele ri — esse aí não tem jeito. Rayssa tá gastando dinheiro atoa pagando esse
hospital.

Engulo seco.

— Ela não vai se arrepender.

— E como você tem tanta certeza? — indaga me encarando.

— Porque quem esta pagando sou eu.

— Como é que é?

A voz de de Diego se eleva, sua feição era de surpresa. Tento não olhar para ele já que o
caminho até a comunidade era longo e eu estava exausta, louca para chegar em casa.

— Isso não me deixará mais pobre ou mais rica.

— Porra, Mariana. Você esqueceu tudo o que esse merda te fez passar? Ainda ta
apaixonadinha por esae filho da puta. — ele afirma — essa porra toda deve custar o olho da
cara. — seu tom era elevado.
— Fala baixo, ou eu te jogo desse carro em movimento. — Ameaço — é por uma boa causa.

— ESSE MERDA NÃO É UMA BOA CAUSA. — Grita.

— TA DIZENDO ISSO PORQUE VOCÊ ODEIA ELE — Rebato.

— E VOCÊ DEVERIA FAZER O MESMO, SUA BURRA.

Respiro fundo tentando me controlar.

— Mas que merda... — murmuro. — toda a vida desse cara ele foi dado como o perdido, o que
não tem jeito. Todos sempre o deixou só, ele precisa de alguém que ajude.

— E você assumiu o lugar de boa samaritana. — diz debochado — para o carro.

— O que? — Pergunto sem entender.

— Para essa porra.

Apenas obedeço. Ele verifica se as chaves da moto ainda estão no bolso e sai do carro. No
momento não sei o que fazer, normalmente esse tipo de drama caabe a mulher fazer, não?
Ninguém merece isso.

É extremamente perigoso para ele andar por aí ou pegar qualquer condução. Ele caminha
rapidamente pela ciclovia, eu o acompanho com o carro.

— Diego, entre nessa porcaria — Ordeno sem paciência. Ele não responde — Se você não
entrar agora, eu juro que acabo com a sua moto.

Ele me encara por alguns segundos, parece pensar sobre meu histórico terrível em relação a
moto. Sem demorar ele entra no carro novamente.
— Ta perto, pode me deixar próximo. — Sussurra.

— Você esta no lugar que era dele, vivendo uma vida melhor que a dele. Felipe esta em um
hospital, viu a morte de perto. Precisa tirar esse rancor do seu coração

— Todos nós vemos a morte de perto, neguinha, ou tu acha que é só pegar uma fuzil e desfilar
pela comunidade? Vai além disso. Ele não merece nenhum mérito, é um filho da puta egoísta.

— Tudo bem, Diego. — suspiro.

Notei que o cabeça dura jamais iria mudar sua opinião sobre Felipe, então resolvo me calar até
porque eu estava cansada demais para isto. Procuro focar no que ele fez, ir até o hospital
apenas para ver; foi algo realmente adorável.

Inegável que sinto uma atração forte por Diego e eu nunca poderia imaginar que teríamos uma
conexão assim, ou que ele entraria na minha vida de forma repentina. Atrevido, invadiu minha
vida e o pior, estou dando vasão para que isto aconteça.

Chegamos em silêncio, quase dez da noite, opto por não ir tão próximo a comunidade por mais
que eu esteja ao lado do Frente é arriscado, ainda podem armar algo. Observo aquele lugar
que a tanto tempo não frequento. Era possível ver os meninos, chamados Crias, na contenção.

— Vai subir comigo? — Indaga.

— Estou exausta, e preciso trabalhar amanhã.

— Eu queria a sua companhia, mas tranquilo. — Ele solta um sorriso forçado — não esquece
de entragar a chave para o parceiro que vai buscar minha moto.

Ele estende a mão para me entregar a chave, pego a chave e o observo. Algo dentro de mim
pede para que eu fique mas me aventurar em um romance com outro traficante é suicídio.

— Boa noite, Diego. — Me despeço, sabendo que provavelmente eu não o veria mais.

— É nós.
Ele abre a porta e eu aperto os olhos. Ouço a porta bater, deixando ali somente seu perfume
como confirmação de que ele esteve ao meu lado.

Droga!

Desligo o carro e retiro as chaves, pego minha bolsa e saio do mesmo.

— DIEGO? — Chamo. Ele se vira rapidamente.

Caminho em passos ligeiros até o mesmo e paro de frente para ele.

— Não faça eu me arrepender — Refiro-me a noite com ele.

— Jamais.

Ele segura meu maxilar, se abaixa e me beija.

Era óbvio que eu queria sexo, e espera esse desejo dele também.
Nada sério, apenas matar esse desejo que esta me consumindo. Poderia ser com outra pessoa,
mas minha atração poe esse homem vem de anos e agora que tenho a oportunidade não vou
deixar escapar.

Sou livre, não devo nada a ninguém e faço minhas escolhas sem pedir opinião alheia. Sempre
dizem que preciso me divertir, não é mesmo? E hoje eu quero me divertir como nunca, me
divertir montada em Diego. Nem guindaste me tira de cima desse homem.

CAPÍTULO NOVE

Mesmo sabendo toda a minha rotina no dia seguinte, eu resolvi figir um pouco e
honestamente? Valeu a pena, só de observar o sorriso de Diego a cada pagode que toca e ele
dança olhando para mim. Faz tempo que não bebo uma cerveja e tento relaxar, bastante
tempo mesmo normalmente minha mente está ocupada com as coisas do hospital ou com
algum paciente, mas hoje? Ela está focada em só uma pessoa.

Há milhões de homens por ai, conseguir sexo é fácil para qualquer mulher mas infelizmente a
merda do meu desejo só chama por Diego. Ele poderia ser o sonho de mm mulher, se não
fosse o que é.

— Vem, cara — Ele chama, pegando em minha mão, fazendo-me levantar da cadeira.

— Eu não sei dançar — Anuncio.

— Eu ensino.

Sua enome mão repousou em minha cintura, me puxando para si. As pessoas presentes ali não
davam a mínima para nós.

Nem nos meus sonhos eu poderia imaginar que hoje estaria assim com Diguinho, cara, é o
Diguinho. Difícil de acreditar.

Em poucos segundos seus lábios estão nos meus e meu corpo completamente sensível ao seus
apertos, esclarece a mim de forma nítida que precisa desse macho.

Ótimo, pareço uma puta.

— Queria que tu fosse minha — Ele dispara.

Fico surpresa e meu corpo continua na mesma, posso afirmar que estou bastante excitada.
Não apenas pela frase mas pelo seu tom de voz, sussurrando em meu ouvido.

— Diego, você...

— To apaixonado, mina — confessa — sempre fui mas tu nem ligava.

— Sabe que eu sinto apenas atração por você, né?


— Sei pô, você só quer sexo. Eu não ligo, pode ser uma forma de te conquistar. Mesmo que
seja utilizando meu corpinho lindo.

Não seguro e dou uma risada, ele me acompanha. Até em momentos como esses ele ainda
consegue fazer piada.

Um garoto de aparentemente treze anos de idade chama Diguinho em um canto, ele manda
eu esperar e acompanha o menino ao dois conversam sobre algo mas não consigo ouvir por
conta da música e da distância que estão de mim. Foco em minha cerveja enquanto observo o
menu do local. Estou com fome, comeria uma porção de carne de sol com aipim brincando.

Vou em direção ao balcão e faço meu pedido mas de longe pude ver os olhos de Diego sobre
mim, observando cada movimento meu.

Me distrai observando a senhora que dominava a fritadeira, sinto as mãos de alguém —


obviamente Diego — tocar minha cintura. Ele deixa um beijo em meu pescoço.

— Ta com fome? — indaga.

— Sempre.

— Tudo certo para a fulga do seu amor — ironiza — To fazendo isso por você, Mariana.

Ergo minhas sombrancelhas em dúvida.

— Por mim? Deveria fazer por sua prima ou pelo filho dela.

— Também, por ele e por você.

— Por que faz por mim?

— Pra te mostrar que ele não tem mais jeito.


A raiva em seu tom era palpável.

— Como fará isto? — indago curiosa.

— Você verá com seus próprios olhos.

— Me parece que essa sua guerra com Felipe é algo pessoal e não quero estar envolvida nisto.

— Você já está, sempre esteve.

Rolo meus olhos e ele aperta meu nariz.

— Isso machuca — Murmuro.

— Viu nada ainda — Sussurra em meu ouvido.

Abro minha boca para dizer algo mas não sai nada. O filho de uma boa mãe ignora totalmente
a minha reação.

— Como vão fazer para tirar ele de lá? — Pegunto afim de quebrar o clima.

— Muito simples, ele vai se vestir de médico e nós vamos esperar no estacionamento. — ele
da uma pausa e me encara — e você vai ajudar.

— É o que? Ta louco? — Pergunto indignada. — nem pensar.

— Pensei que gostasse dele.

— Gosto mais de mim, e do meu trabalho. Eu posso perder meu emprego por isso.

Deixo Diego sozinho no balcão e retorno a mesa, sento-me na cadeia e apanho meu copo que
estava vazio. Diego me segue e se senta de frente para mim, mas não sem antes virar a
cadeira. Qual o problema em sentar normalmente?
— Você só vai precisar dar as roupas do hospital a ele, mais nada — Explica.

— Negativo. Me tira disso.

— Tranquilo, por mim tudo bem.

Ele realmente não se importava se Felipe fosse preso, sua revolta é maior que qualquer
sentimento. Diguinho estava fazendo isso — Ajudando Felipe — pelo filho de sua prima que
sofre com a ausência do pai.

E eu, por que faria?

Pela criança?

Por que gosto dele?

Quero que Felipe recomece sua vida, seja uma pessoa de bem, claro que não em nenhum livro
de conto de fadas mas na porra de um livro de morro.

Eu poderia dar essa chance a ele? De mostrar para todos que ele pode dar a volta por cima?
Por outro lado, tenho um enorme medo de que descubram e eu perca meu emprego. Eu me
culparia tanto por isso.

Sou liberta de meus pensamentos indecisos quando sinto o cheiro da carne de sol. Minha
barriga ronca.

Passavam-se das três da manhã, eu estava suada de tanto aprender a sambar com Diego e
seus amigo. Algo me surpreendeu, ele não sentiu um pingo de ciúmes quando dancei com seus
amigos, ele não os tratou mau. Diferente de Felipe em tudo.

Prendo meus cabelos em um coque e bebo o restante da cerveja, atraindo os olhos de Diego
aos meus.

— Bora, done esponja?


— Mas já? — Pergunto frustrada.

— Você trabalho amanhã.

— É verdade, vamos.

Me despeço dos amigos de Diego enquanto ele paga a conta. Eles sabem quem eu sou mas
não sabem que o antigo chefe esta internado onde trabalho.

Saímos do local onde ocorria o pagode e pude sentir o vento esfriar meu corpo.

— Bora la pra casa? — Diego indaga.

— Vamos, preciso de um banho

— To sentindo o cheiro — Ele brinca, pelo menos eu acho.

— Deixa de ser palhaço.

Para a minha surpresa Diego ainda mora com sua mãe e Rayssa — Sua tão amada prima —
Retornar a esta casa me faz lembrar o dia em que briguei com o traste do Felipe aqui dentro e
o panaca me deixou para trás.

Parabéns, Felipe. Agora quem vai fazer a festa sou eu.

CAPÍTULO DEZ
A casa parece estar em obra, há pisos e argamassa pelo chão, além de ferramentas de obra.
Após trancar a porta Diego segura em minha mão e me guia até a escada, onde encontramos a
porta de acesso ao seu pequeno quarto.

- Sua mãe não esta em casa? – Indago. Vendo-o fechar a porta.

- Ta dormindo com o moleque, Rayssa provavelmente esta cheirando por ai. – Explica
naturalmente.

Observo o homem retirar sua camisa e só então quando o mesmo se vira para por a camisa em
uma pequena poltrona, vejo sua pistola nas costas.

- Preciso de um banho.

- Pode ir ali

Ele aponta para uma pequena porta sinfonada ao canto do quarto. Jogo minha bolsa na cama,
retiro meu tênis e adentro ao banheiro, parece recém reformado, tudo é novo. Sinto-me
pesada pela refeição feita antes.

Quando estou prestes a terminar vejo Diego entrar no banheiro com uma toalha nas mãos, ele
deixa a mesma em pendurada na parede em um pequeno gancho. Para ele aquilo parece
natural, para mim um convite.

- Ou – chamo antes que ele saia. Ele me encara – Vem cá.

Seu sorriso safado segue se uma mordida no lábio inferior. Não demora muito para que sua
calça jeans esteja ao chão. Diguinho abre o blindex e se aproxima de mim.

Sua mão direita sobe pela lateral do meu corpo provocando-me arrepios, a mesma para em
meu seio onde seu polegar brinca com o bico agora rígido. Fecho meus olhos sentindo a água
cair sobre meu corpo e me deliciando com a sensação maravilhosa que o homem me
proporciona. Sinto a água ficar quente aos poucos e abro meus olhos.

- Porra, água fria não dá, não – Ele brinca me fazendo rir.
- Seu gostoso. – Digo olhando em seus olhos.

Sua mão rapidamente sai do meu seio e vai para meu pescoço, ele me pressiona contra a
parede. Eu realmente não esperava por isso.

- Eu não vou ter pena de você, Mariana – Murmura.

- Não to pedindo para ter.

Diego ataca meus lábios enquanto faz questão que eu sinta sua enorme ereção. Já eta de se
imaginar que um homem deste tamanho não teria um membro pequeno, aliás, lembro-me
muito bem da primeira vez que o vi em sua ereção matinal.

Pulo para seu colo sentindo sua mão apertar cada centímetro do meu corpo. Seu dedo desce
até a lateral de minha intimidade dali ele percorre até meu clitóris e lá começa seus
movimentos suaves, me deixando louca, literalmente louca. Como uma mão tão grande e
pesada pode fazer um trabalho tão bom? Seus movimentos vão aumentando e junto a eles
meus gemidos, eu estava prestes a gritar quando mordo seu ombro, cravando meus dentes ali.
Ele solta um palavrão baixinho, pareceu gostar da minha atitude. Estava sensível e prestes a
gozar mas ele parou, desligou o chuveiro e saiu do banheiro comigo ainda em seu colo.

Sem se importar com a água em nossos corpos, ele me repousou sobre a cama e ficou de pé
em minha frente. Abro minhas pernas para que ele tenha ampla visão, solto um sorriso
quando vejo sua reação. Já não estava se aguentando. Diego retira sua cueca e finalmente vejo
o que mais anseio no momento. Grande e grosso. Lubrificada como estou ele vai entrar
brincando.

Suas mãos agarram minhas penas e me puxam um pouco para baixo, ele se ajoelha no chão e
beija meu pé e segue com seus beijos até minha virilha onde passa sua língua. Não demora
muito para sua boca atacar meu clitóris. Não sei quem o ensinou mas ensinou certinho. Ele me
chupava suavemente, sem desespero ou cometer o erro de morder a região. Eu tento
controlar meu gemidos mas é algo impossível.

- E-eu vou gozar – alerto sentindo meu corpo dar seus sinais.

Ele para de me chupar e sobe em cima de mim. Segura em minha bochecha e me beja.
- Não vai não.

Ponho minha mão em seu peito e o jogo para o lado. Me ajoelho na cama e ele entende o
recado e se ajeita na cama. Seguro em seu membro já melado e vejo que mal consigo fechar a
mão em volta do mesmo. Chupo da forma que consigo, não era uma tarefa muito fácil e não
tenho lá uma vasta experiência mas seua gemidos diziam que ele estava gostando.

- Tem camisinha? – Indago.

- Pera ai.

Diego se levanta dando-me a perfeita visão de sua bunda negra. Enquanto procura a camisinha
ele se masturba. O homem encontra o pacote na cor preta, abre a mesma com a boca e põe a
camisinha com dificuldade.

- Isso não dói? – Pergunto curiosa vendo o quanto aquilo o aperta.


- Um pouco.

Diguinho vem até a mim, abre minhas pernas e se ajeita sob meu corpo. Meu coração acelera.
Seu dedo de invade, seguido de outro.

- Aãn, porra! – Murmuro de olhos fechados.

- Olha para mim.

Abro meus olhos e vejo seu olhar concentrado em mim. Ele aumenta o ritmo de seus dedos.
Então eles saem de mim e eu já sabia o que viria a seguir.

Diego se encaixa em mim e empurra de ma vez. Eu estava enganada, por mais lubrificada que
estivesse, ainda senti seu pau empurrar as laterais de minha vagina com força, abrindo espaço
com força e veracidade. Ambos soltamos um gemido alto. Minhas unhas vão de encontro a
suas costas sem dó, ele também não sentia lá muita pena de mim, usava de extrema
velocidade. Quanto mais ele me fodia, mais eu o queria. Eu poderia facilmente sentir minha
lubrificação escorrer.
- Gostosa – Diz em voz alta, em seguida deposita um tapa forte em minha perna.

- M-mais ra-rapido. – Peço.

Ele sorri abertamente, segura meu pescoço e prende minhas mãos acima de minha cabeça.
Diguinho acatou o que pedi, fazendo-me gemer ainda mais. Sua mão apertava meu pescoço
com força, era difícil de respirar mas aquilo me deixava ainda mais louca.

Alguns segundos depois eu gozo, sentindo meu coração acelerar e o tesão aumentar ainda
mais. Agora sua mão sai de meu pescoço e vai para meus cabelos. Seus lábios atacam os meus
e seus movimentos cessam quando ele se enterra ainda mais dentro de mim. Sinto seu
membro tocar a parte sensível dentro de mim e solto um murmurio de dor.

- Essa boceta é muito gostosa, caralho – Ele diz me olhando. – ta molhada demais.

- Deixa eu sentar em você – Peço.

- Vem.

Diego se senta encostado na cabeceira da cama. Seguro em seu ombro, me posiciono e


encaixo em membro, deslizo vagarosamente até que o mesmo esteja dentro de mim. Entre
tapas em minha bunda e rosto eu gozo novamente, desta vez chego ao meu auge. Diguinho
segura em minha cintura e me penetra algumas vezes a mais e logo chega ao seu limite.

CAPÍTULO ONZE
Transamos umas três vezes antes de nos entregar ao sono. Acordo após ouvir o barulho de
algo indo de encontro ao chão, algo pesado.

— Droga — Diego murmuro ao notar que despertei — desculpa.

— Não tem problema. São que horas?

— Dez e alguma coisa.

Sento-me na cama calculando o tempo necessário para que eu chegue no trabalho, não estou
atrasada mas preciso sair logo.

— Preciso ir. — Digo me levantando.

Estou vestindo apenas minha calcinha, nada mais. Sinto os olhos do homem queimar sobre
mim.

— Você leva seu trabalho a sério. Fica triste quando alguém morre?

— Tento não me apegar ao paciente mas é difícil. Um antigo vizinho meu faleceu ontem, o
estado da filha dele acabou comigo — suspiro — é terrível.

— Foi mal tocar no assunto.

— Sem problemas.

— Eu preciso ir a luta — Ele diz — posso te ver hoje?

— Não é uma boa ideia — Confesso, afim de não me prender.

— Posso pelo menos ter seu número?


— Claro que pode — digo rindo. — vou tomar um banho e já te passo.

Entro no banheiro e tomo um banho rápido, não visto a mesma calcinha por motivos óbvios.
Ponho meu sutiã e minha calça, a blusa estava completamente suja e suada.

— Quer uma roupa? — Diego indaga enquanto prendo meus cabelos.

— Uma camiseta, pode ser.

— Vou mandar um menor ir buscar a moto, fica atenta.

— Sempre estou.

Infelizmente Diego não pode descer para se despedir de mim, estava ocorrendo algo na
comunidade e ele teria que ir resolver. Tudo bem, eu não preciso de babá.

Chegar no hospital de calça e camiseta masculina chamou bastante atenção, até mesmo dos
policiais ali presente. — Parece que a quantidade dos agentes só aumentam —. Rapidamente
troco de roupa e visto meu uniforme, prendo meus cabelos e guardo minhas coisas. Estou um
pouco dolorida pela noite de ontem, então vou em busca de uma pílula que ajude a amenizar.

Meu plantão mal começa e já estou me desdobrando, atendendo pacientes nas duas áreas.
Não há espaço para o sono.

— Que roupa foi aquela que você chegou?

Ouço Fabrício atrás de mim, enquanto troco a bolsa de soro do paciente que por sua vez
estará em um péssimo estado.

— Gostou? Não posso emprestar mas posso mandar você tomar conta da sua vida. — Digo
ríspida.

— Uau. Não sei o que esta havendo com você ultimamente mas parece que esta uma pilha de
nervos. — desabafa — não há necessidade de descontar tudo em mim.
Fecho meus olhos e suspiro. Esse babaca tem razão, a situação de Felipe e tudo o que isso tem
me gerado, esta me deixando estressada.

— O que ele tem? — indago me referindo ao paciente.

— Os filhos o abandonaram, ficou desnutrido. — Explica se aproximando.

— Como pode existir pessoas assim? — Indago surpresa.

— Assim como pode existir pessoas como seu ex namorado

Encaro Fabrício surpresa.

— Que ex namorado? Esta louco!

Me direciono a porta mas ele segura meu braço. Tento soltar mas sua força dobra. O homem
fita meus olhos mas os sua feição não me diz absolutamente nada.

— Bastou algumas pesquisas para encontrar um Facebook de fofocas em que seu nome
aparece como mulher do tal Ret. — diz irônico. — faz uns cinco anos que vocês ficaram juntos.

— Como eu disse, você é louco e eu não preciso dar satisfações da minha vida para ninguém.
— Digo raivosa.

— Os polícias vão adorar essa informação. — Ameaça

— Você não seria capaz.

— Ah não? Vamos ver. — ele me solta. Sinto meu braço latejar. —


Você não ficará muito atraente vestida de presidiária

Fabrício seria capaz de contar aos policiais? Ele seria capaz de ferrar minha vida deata forma?
Sim, ele seria e consigo ver isso nos seus olhos. Trabalho com ele faz anos mas nunca imaginei
que ele poderia me por contra a parede desta forma. Preciso fazer algo para que ele saia do
meu caminho.

— E você não ficará muito bem vestindo um paletó de madeira.

Ele se surpreende.

— Quer dizer o que com isso?

— Ah, meu caro. Você quer realmente se envolver em tudo isso? — Indago com um sorriso
debochado — até pode, mas não garanto que sairá com vida.

Fabrício se aproxima dos meus lábios, por alguns segundos penso que ele irá me beijar. Seus
olhos azuis refletem raiva.

— Colocando as garras de fora?

— Você não viu nada ainda.

— Vai me pagar, Mariana Ribeiro. — Diz passando os dedos sobre meu seio esquerdo, onde
fica meu nome bordado no jaleco.

— Espero ansiosa por esse dia.

Ele ri pelo nariz, acena com a cabeça e sai da enfermaria rapidamente. Encosto no móvel ao
lado do paciente e suspiro. Nem sei de onde tirei tanta coragem.

Agora ele sabe de tudo e a qualquer momento pode complicar ainda mais a minha situação.
Merda de Facebook. Querendo ou não, preciso dar um jeito em Fábrico. Não sei exatamente o
que ele ganha me ameaçando desta forma mas agora ele me odeia de verdade.

Continuo fazendo meu trabalho normalmente, quando está tudo mais calmo vou de encontro
a Felipe. Seu quarto é separado, aqui o que domina é o dinheiro. Se tem plano ou se pode
pagar bem, você tem um quarto, se não, tem a enfermaria. Ao entrar o vejo de pé, virado para
a janela, fumando.
Caminho rapidamente até o mesmo, retiro o cigarro de sua boca e apago no copo de água ao
lado de sua cama. Ele observa cada movimento meu com sua feição de tédio.

— Quem trouxe essa merda para você?

— Ih, ta nervosa? — Pergunta irônico.

— Cala a boca, seu idiota e me responde.

— Me calo ou te respondo?

Rolo meus olhos.

— Anda logo.

— Rayssa, pô. É difícil parar de fumar.

— Eu não quero saber. Você não pode fumar aqui, não só por vocês mas por outras pessoas.
— Digo rígida — deixa de ser egoísta. Como ela trouxe isso?

Ele ri.

— Quer mesmo saber? — Assinto — naquela ali entra qualquer coisa.

Não demora muito para que eu entenda. No hospital há uma vistoria severa justamente por
conta de pacientes que fumam escondidos.

— Que nojo.

— Falando em nojo, como foi seu passeio com o filho da puta do Diego? Se divertiu, Mariana?
CAPÍTULO DOZE

Pergunto-me em meu consciente, por que diabos estão querendo tomar conta da minha vida?
Oras, eu não devo satisfação a ninguém.

De certa forma a pergunta de Felipe fez meu coração acelerar, eu deveria mentir? Óbvio que
não, nós não temos nada. Seu olhar superior me desperta uma enorma vontade de dar um
soco em seu nariz enorme.

— Foi — digo — bastante, na verdade — completo.

— To ligado, me passaram a visão.

Algo me diz que ele esperava outra resposta minha.

— Colocou seus cachorros para ficarem de olho em mim?

— Não. Rayssa te viu no bar do Adelson.

— Ah, foi a cachorra mesmo.— Murmuro.

— O que?

— Nada. Como se sente? — indago.

— Puto, você não deveria sair com ele, mas não posso controlar tua vida. — desabafa.

— Digo em relação a saúde...

— Ah, to tranquilo. — Ele diz caminhando até seu celular que por sua vez esta em cima da
maca.— logo vou estar longe disso aqui.
— Diego me falou a respeito do uniforme.

— Antes ou depois de ele te comer?

— Ah, Felipe vai tomar no seu cu. — Desabafo de uma vez, descontando minha raiva nele —
não vou ajudar em merda nenhuma, você precisa deixar de ser um babaca egoísta.

Caminho até a porta soltando fogo pelas narinas. Não tolero olhares julgadores desses polícias
na porta de seu quarto, toda a vez que venho o ver, para tolerar desaforo. Antes que eu abra e
dê de cara com os mesmos, Felipe põe a mão na maçaneta.

— Desculpa — Diz.

— Esta pedindo desculpas porque quer minha ajuda.

— Não, porque eu gosto de você e não queria te tratar como antes.


— ele desvia seus olhos — só to com dor de cotovelo.

— Nítido.

— Não tinha outra pessoa? Logo ele, morena?

Escondo meus dedos dentro do jaleco e permaneço em silêncio por alguns segundos.

— Simplesmente aconteceu. Você não deveria se importar com isso, tem sua família.

— Troco tudo por você.

— Não diz isso. — o reaprendendo — você tem um filho lindo.

— Deveria ser seu também mas eu fui um merda e te perdi. Troco até meu último centavo só
para acordar do seu lado.
Sua mão vai até meu pescoço mas eu desvio.

— Isso não é amor, é doença.

— Tanto faz. Eu só quero você.

— Eu tenho que ir, eles podem desconfiar — Alerto.

— Vai me ajudar com as roupas?

Felipe pergunta se afastando da porta e automaticamente de mim.

— Não.

Me retiro de seu quarto sem ouvir sua resposta. Ignoro os olhares dos policiais e caminho
rapidamente para sair dali.

Estava no fim do meu descanso quando ouço alguém me chamar,e alertando de que havia um
“moleque” a minha procura no estacionamento. Logo vejo que se trata de quem viria para
buscar a moto de Diego. Foi bem rápido, o mesmo saiu pilotando.

No caminho de volta para o hospital vejo o desgraçado do Fabrício conversando com uma
paciente. Passo desapercebida.

A todo momento meus olhos notam que a quantidade de polícias aumentam. Isso não dará
coisa boa.

O dia em que Felipe iria fugir havia chego e com ele minha ansiedade. Parte de mim que o
ajudar mas a outra parte se recusa.
Após relutar bastante me dou por vencida.
Cá está a mentecapta, com o uniforme dentro de uma sacola esperando até que os polícias
na porta de Felipe, se vá. Percebo que eles não iriam sair daquele lugar, visto o uniforme por
cima do meu rapidamente. Pego uma embalagem de soro e caminho até o quarto do homem.

Os policiais me encaram mas não falam nada. Meu coração esta disparado, como o de uma
criança que é pega fazendo besteira. Quando finalmente estou dentro do quarto avisto Felipe
no celular. Ele se assunta e tenta esconder o aparelho mas quando percebe que sou eu,
desiste. Felipe bufa e passa a mão pelo rosto.

— Tudo bem? — Indago.

— Tranquilo. Pensei que fosse os cana.

Não respondo apenas levo minhas mãos a barra do uniforme que eu usará e o levanto.

— Mas é assim, não vai me dar nem um beijo antes? — Pergunta Felipe, sorrindo.

— Calma a boca antes que eu me arrependa.

Retiro o uniforme enquanto o homem observa atentamente cada movimento feito por mim.

— Os moleques já estão na espreita, agora é só eu sair.

— Eu não sei como te tirar do quarto. Aqueles brutamontes não saem da porta — Digo
jogando a roupa em cima dele. — se bem que eu posso fazer algo.

— O que te fez mudar de ideia sobre me ajudar? — indaga, curioso.

— Minha bipolaridade.

— Mariana? — Chama com sua voz suave.


Felipe deixa as roupas com cheiro de éter de lado e caminha até a mim. Sinto minha respiração
um pouco descompensada. Seu dedo toca minha face e meus olhos fecham mas reluto e os
abro novamente, desta vez fitando seu sorriso gostoso.

— Posso fazer uma pergunta? — indaga. Eu assinto — você me ama?

Aquela pergunta me pegou de surpresa.

— Já não importa. O que importa é que eu me amo mais.

Retiro suas dedos do meu rosto e me afasto. Sua feição não foi muito boa. Ele solta um sorriso
sádico e acena com a cabeça algumas vezes.

— Eu não vou abrir mão de você.

— Não viaja. — bufo — homem velho desses querendo pagar de adolescente.

— Ih porra, velho é teu passado. — retruca ofendido — sou vivido.

Reviro meus olhos e o ignoro. Os papéis ao pé de sua maca estavam atualizados: O estado da
desnutrição não estará agravado mas Felipe estava anêmico. É recomendável uma clínica de
reabilitação mas como ele irá para a prisão, a opção está anulada. E por fim, ele está de alta.

— Ansioso? — indago.

— Muito. Quero ver meu filho.

Lanço um sorriso amarelo e logo desperto.

— Bom, já fiz minha parte. Seja lá o que forem fazer, lembre-se que há vidas inocentes neste
lugar.
— Vou fazer nada aqui dentro. Os caras estão se preparando mas o negócio deles é lá fora,
aqui dentro eu tenho que me virar para sair.

— Alguma ideia? — pergunto

— Ainda não. Esses merdas aí na porta me foderam.

Ele passa a mão na nuca. Está chateado

CAPÍTULO TREZE

Duas horas da tarde.

Felipe com algemas nos pulsos e pernas chamará a atenção de todos naquele corredor,
principalmente a minha. Talvez seu plano não tenha dado certo porque nesse exato momento
os policiais estão o levando embora, para uma cela nojenta e solitária.

Seus olhos buscam pelos meus, mas os desvio afim de não chamar atenção. Eleonor surge no
corredor e no mesmo instante me encara, por alguns segundos sinto um peso no peito.

— Vocês terão que aguardar um momento — Ela pronuncia — preciso fazer a última
checagem.

Sua voz soa rígida.

— Ele está de alta. A médica já deu o papel assinado para o delegado. — retruca o policial.

— Você entende de bandido, eu de saúde. Esse homem estava em um estado avançado de


desnutrição, se levá-lo para uma cela e o mesmo morrer os direitos humanos não vão perdoar.
— Eleonor diz rude.
— Escuta ela, é melhor pô — Diz Felipe caçoando.

É incrível como esse ser consegue ser inconveniente como só ele sabe.

A impaciência dos policiais era palpável.

Minha colega de trabalho conseguiu levar Felipe para o ambulatório mas antes de se virar
levando o homem, ela me encarou. Então eu entendi... O uniforme. Vagarosamente eu saio do
local indo em direção ao quarto de Felipe onde encontro o uniforme.

Há dúvidas em minha cabeça, principalmente o porque de Eleonor estar ajudando Felipe,


quando Na verdade a mesma nem o conhece.

Novamente estou com dois uniformes no corpo e vou em direção ao local onde eles se
encontram. Passo por Fabrício que logo me lança um sorriso, ignoro. Ao adentrar solto um
longo suspiro, sentindo minhas mãos suarem. Já sentiu a sensação de que algo irá dar errado?
Então.

Felipe se encontrará sentado em uma cadeira enquanto Eleonor analisa o homem de cima a
baixo, eles pareciam conversar antes de minha presença atrapalhar. Não digo nada, muito
menos pergunto algo, por mais que eu queira. Neste momento, cada segundo é precioso.
Retiro o uniforme e entrego para Felipe que rapidamente se levanta, retirando sua roupa que
antes usará, na frente de nós duas e vestindo o uniforme azul de mangas longas, sem esquecer
a máscara.

— Como ele vai sair daqui sem ser notado? — Indago — aqui no corredor não tem policiais
mas lá fora está cheio.

— William — Diz Eleonor, me deixando confusa.

Logo minha dúvida é esclarecida quando a porta se abre, revelando William com um carrinho
grande.

— Esses policiais não estão aliviando, observaram cada movimento meu — ele diz.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto.

— Para de ser burra, Mariana. Ele vai ajudar, não tá vendo — Felipe rebate.

Rolo meus olhos.

Ainda estou surpresa pelo que estão fazendo.

— Não é por você, não marginalidade pura. É pela Mari, e se eu fosse você começaria a
agradecer muito a ela — William espeta.

— Quer morrer? — Ret indaga.

— Reveja suas prioridades no momento, bandidinho. — William diz, sorrindo.

A rivalidade deles vai além de mim, mas disto Felipe não sabia. Ele não tem noção de que seja
esse homem que tanto o insulta.

— Já chega! Vamos, entra no carrinho. — Ordena Eleonor.

Felipe pega a roupa que antes usará e joga no carrinho e logo dá um jeito de entrar no mesmo.
Era um lugar pequeno e apertado, ele ficaria com pouco oxigênio em minutos e totalmente
desconfortável.

— Por que você está com esse carrinho de roupas da lavanderia?

— Uma amiga da lavanderia me deu uma ajudinha — William Pisca. Encaro minha amiga ali
presente, é nítido que a não gostou de comentário feito pelo homem que a mesma gosta.

— Quero atrapalhar a conversa de vocês não, mas tá apertado aqui — Reclama Felipe.

Ele estava tão engraçado naquela posição, dentro daquele carrinho. Se não estivéssemos em
uma situação tão arriscada eu cairia na gargalhada.
— Mariana, assim que eles saírem, você vai em seguida mas vai retornar com qualquer
medicamento em mãos, vai me encontrar gritando feito louca dizendo que Felipe fugiu —
Explica Eleonor — William, você tem no máximo dois minutos para deixar essa encomenda do
inferno na parte de trás do hospital e retornar com o carrinho, mas precisa passar na frente
dos policiais com ele na volta, isto é necessário.

— Tá bom — Digo.

— Certo. — ConcordaWilliam.

Um plano cheio de falhas, arriscado mas era o que tínhamos. E assim sucedeu.

Sei que é algo totalmente errado mas a todo momento eu rezava para que ele conseguisse
fugir. Se sei que esse homem deve pagar pelos seus erros? Eu sei, é concordo mas algo dentro
de mim grita mais alto para ajudá-lo. Como sou estúpida, eu ainda o amo mas esta é a última
vez que o vejo pessoalmente.

Admiro muito o que meus amigos estão fazendo por mim, arriscando seus trabalhos por mim.
Me pergunto se sou merecedora e se meu sentimento por Felipe fala tão alto a ponto de todos
se compadecerem.

Quando estou saindo da farmácia do hospital, encontro um dos médicos daquele turno. Ele me
para.

— Mariana, ótimo te encontrar. — sorri — pode me ajudar lá embaixo, uma micro cirurgia.
Coisa rápida.

— Hãan... Eu... Eu — Me atrapalho.

— Vamos?

— Eu preciso ir aí banheiro, coisa rápida e levar esse medicamento para outra enfermeira. Vou
até o andar de baixo já já, tudo bem?

Tremo na base mas ele não percebe meu nervosismo.


— Tá legal, mas não demora. Já vai com a roupa — se refere a roupa adequada para o centro
onde estaríamos.

— Tudo bem.

Assim que ele continua sua trajetória eu caminho rapidamente até meu destino mas ao chegar
no corredor repleto de pessoas — inclusive policiais — vejo William, ele me olha rapidamente,
isto significa que demorei e que logo Eleonor começaria seu show.

Pela feição tranquila do meu amigo, tudo ocorreu bem, isto deveria me gerar um alívio mas
isto não aconteceu, ainda estou nervosa e com um frio sobrenatural na barriga.

Antes que eu chegue ao carregador ouço os gritos de Eleonor, chamando a atenção de todos
no horpital que antes estará em pleno silêncio.

Se eu não soubesse do plano com certeza acreditaria nessa mulher.

“ELE FUGIU, O TRAFICANTE FUGIU!” Ela gritava exasperada.

CAPÍTULO QUATORZE

Dois dias depois.

Meus olhos pesam pelo sono terrível, eu daria tudo para estar trabalhando ao invés de estar
neste lugar fedorento e cheio de homens. Este lugar não tem uma energia boa. Conversa-se
alto, homens armados passando a todo momento, enquanto a isto tudo bem, estou
acostumada.

— Muito bem, Mariana Ribeiro — Ricardo Lima diz.


Este é o seu nome. Pelo menos é o que está escrito na placa em sua mesa para lá de velha.

— O senhor tem mais alguma pergunta? — Questiono lentamente — o sono toma conta do
meu ser.

— Milhares, mas por hora fico com as que já fiz. — Ele beberica seu café e se ajeita na cadeira,
que range devido a seu peso — cansada?

— Bastante. — Digo seca. Ele está sendo irônico.

— Pensei que estivesse acostumada a passar longos períodos acordada.

— Quando é para algo útil, tudo bem— Rebato

— Acho que o sono te fez perder a consciência de com quem está lidando, querida.

Respiro fundo.

— Desculpa senhor mas eu já prestei depoimento duas vezes e já disse tudo para o senhor.

— Hum... Mariana, tenho vinte e três anos de trabalho na polícia militar, por tanto, não tente
minha inteligência desta forma, hun? — ele ri — sabemos bem que você tem ligação com Ret e
que foi você quem o levou para o Hospital de onde o mesmo meliante fugiu.

Ele joga tudo na minha cara. Me seguro ao máximo para manter a calma e parecer tranquila.

— Sim. Eu tive uma ligação com Felipe e sim, eu o levei mas peque senti pena. Não me oponho
que o mesmo pague por tudo o que fez mas eu não o ajudei na fuga — minto — se o senhor é
tão bom assim, sabe que estou dizendo a verdade.

— Pelo visto passou muito tempo com Ret, está até tentando jogar com meu psicológico.

— Não estou, senhor.


— O cerco está se fechando e será uma questão de tempo até que você esteja atrás das
grandes juntamente com esse viciado. — Espeta firme — só não te prendo aqui por falta de
provas concretas sobre a fuga, mas eu ainda vou ter o prazer de te algemar.

Contenho minha vontade de revirar os olhos.

— Já que não há provas, posso ir?

Ele acena com a cabeça mas antes que eu me levante, coloca alguns papéis sobre a mesa.

— Assina esses dois, por favor.

Faço o que o delegado pediu e me levanto.

— Não saia da cidade, Ribeiro.

— Não pretendo.

Saio daquela pequena sala passando pelas pessoas rapidamente. Preciso tomar um ar.
Finalmente vejo o fim do dia, encaro meu relógio de pulso, mais de seis da tarde.

Esse vagabundo me prendeu por quatro horas, tentando me pôr contra a parede, fazendo
perguntas até mesmo sem sentido. Independente, ele sabe muito e uma hora ou outra
acabarei presa. Contratar um advogado seria assumir a culpa? Eu não sei. O medo toma conta
do meu ser. Eu até posso pagar por ter ajudado um criminoso mas meus amigos não, eles não
podem, nem que eu assuma a culpa de tudo sozinha.

Dentro deste dias não há informações de Felipe, nem Diego me manda mensagem mais. Tudo
o que eu sei é que nada está bem.

Tenho que deixar todos os meus pensamentos de lado e contratar um advogado, um dos bons.

É, Felipe, está na hora de devolver cada centavo que paguei para você estar naquele hospital.
Mando uma mensagem para Eleonor avisar a Médica que hoje eu não iria trabalhar. Não deixei
claro o motivo, provavelmente irão deduzir que por conta do terror psicológico do delegado,
eu estou com medo mas o motivo é outro: Estou indo ao Complexo do Chapadão. Tenho que
conversar com Felipe ele conhece inúmeros advogados e sabe lidar com esse tipo de situação.
O que me deixa chateada é o fato do mesmo não ter me ligado ou mandado uma mensagem
agradecendo o que fizemos. Babaca! Pau que nasce torto...

Dentro do carro eu defiro um soco no volante e respiro fundo. Não posso perder a calma ou
dar espaço para o medo, mas sei que o delegado não está blefando, falta pouco para ele me
por atrás das grades e honestamente? Sei lidar com meus pacientes mas com detentas? Não
mesmo. Preciso resolver isto rápido e provar a minha inocência.

Chego na entrada da comunidade e vejo a quantidade de barricadas, aquilo me faz revirar os


olhos e ter preguiça. Ligo o pisca alerta e saio do carro afim de retirar a barricada a frente,
retorno ao carro e atravesso, saio novamente e ponho a barricada de madeira no lugar. Faço
isso umas três vezes — cansativo e chato — não me recordo de haver tantas logo no início.
Tenho pena dos moradores que tem carro. Sofrem para entrar e sair desse lugar.

Paro meu carro um pouco antes do ponto de moto taxi. Ao sair do carro os olhares atentos dos
soldados, não por eu chamar atenção — estou muito longe disto, já que fui considerada feia
pela página da comunidade — mas pelo trabalho deles. Cumprimento com um sorriso e ainda
me sinto nervosa. Na minha mente louca me pergunto se eles sabem que dormi com Diguinho.
Devem me achar uma Maria Fuzil, ou sei lá o que.

É tão normal vermos policiais armados todos os dias ao nosso lado, no nosso cotidiano,
todavia, é incomum vermos jovens de doze, quatorze anos armados passeando
tranquilamente. Talvez seja por isso que os policiais não tenham tanto valor, por não ser...
Raridade e sim algo habitual.

Será que Felipe está morando na mesma casa? Vou pela sorte e opto por ir até lá. O portão
está completamente pixado com palavras “saudades”, “mano Ret” os moradores realmente
gostam dele, me pergunto se o mesmo está no comando novamente.

Chamo algumas vezes em seu portão e ninguém responde, novamente bato no portão até que
avisto Rayssa saindo da casa ao lado. Seu filho estará a andar descalço e nu.

— Fala tu — Cumprimenta arrogante.


— Felipe está aí?

Ela ri.

— Caralho, tá brincando né sua desgraçada? Minha vontade é dar um soco nessa sua cara de
sonsa. — Dispara com a voz cheia de ódio.

CAPÍTULO QUINZE

Encaro a mulher a minha já frente se entender absolutamente nada, e sem saber o porquê de
tanto ódio gratuito mas meu subconsciente grita para que eu de um tapa em seu rosto mesma
sem saber o motivo de tudo isto, apenas pelas ofensas.

— Viu fingir que você não é retardada. O que houve com o Felipe? — Pergunto sem paciência.

— Retardada é sua mãe, sua piranha. — Ela se aproxima.

— A única piranha aqui é você, além de tudo irresponsável. Vai aprender a ser mãe, sua louca.
— Espeto

— OLHA, VOCÊ NÃO FALA DO MEU FILHO.

Grita querendo chamar atenção e realmente consegue, já que a maioria ali presente presta
atenção em cada movimento nosso.

— Não estou falando da criança, mas da mãe viciada e irresponsável.

Parece que toquei em sua ferida. Rayssa vem para cima de mim, minhas costas batem contra o
portão. Não sou acostumada brigar, ela é. Enquanto a mesma segura meus cabelos eu chuto
suas pernas a fazendo cair. Nem eu mesma sei como fiz tal coisa. Seu filho chora desesperado
pedindo pela mãe, o mesmo sobe em cima dela mas Rayssa o empurra, ele cai sentado e chora
mais. A dissimulada se levanta com mais ódio e vem para cima de mim.
— Para, sua retardada — Digo e chuto sua barriga.

— EU VOU ARRASTAR SUA CARA NO CHÃO. SUA MAGRELA, RIDÍCULA.

Seguro em seus cabelos crespos e tento afastar aquele troço de mim. Ela me derruba mas ao
invés de ir sozinha, eu a levo junto. Agora nós duas estamos rolando no chão sujo.

Nem em um milhão de anos eu poderia me imaginar passando por isso. Ninguém faz
absolutamente nada, isso me gera um ódio ainda maior. Na minha cabeça só se passava o seu
filho chorando, será que ela não tem dó?

— Bora parar com a piranhagem, porra.

Reconheço a voz. Diguinho.

Rayssa por sua vez não move um músculo, continua em cima de mim, destilando seu veneno
puro. Baixo minha guarda quando penso que a mesma vai me deixar em paz mas ela se
aproveita e acerta um tapa em meu rosto. Arregalo meus olhos e vejo a raiva me consumir de
dentro para fora.

— Eu vou acabar com você — Digo entre dentes.

Puxo seus cabelos na altura da nuca, onde dói mais. Ela grita. Sei que não deveria usar o que
aprendi contra uma pessoa propositadamente mas ela pediu. Acerto um soco em seu pescoço,
mas controlo a força. Vejo Rayssa se engasgando, aproveito e jogo seu corpo para o lado e
subo em cima da mesma. Ouço seu filho chorar mais ainda, o que me deixa mais furiosa por
ela ser uma imprestável e ter posto um ser indefeso no mundo.

— Você não merece o filho que tem. — Digo, em seguida acerto um soco em seu nariz.

Em toda a minha vida eu jamais havia golpeado alguém desta forma, não senti a dor em meus
dedos, apenas raiva. Quando estou pronta para acertar o segundo soco, sinto alguém me
retirar de cima da mulher.
— Chega, doidona. — Diego diz em meu ouvido — ela já entendeu. — Me solta. Sei ficar de pé
sozinha. — Disparo — ajuda sua prima. Ela sim precisa de ajuda.

Ele ri e se afasta, na intenção de ajudar Rayssa, que por sua vez está com o rosto vermelho,
não por vertigios de sangue mas pela ódio.

— Vai defender a puta, Diego? Ela veio atrás de Ret.

Diguinho me encara por alguns segundos.

— Mete o pé pra casa, e põe uma roupa nesse moleque, Rayssa. — Ele ordena.

— Eu não vou. Tô tranquila, não sujo mais minhas mãos com essa aí.

Ela me faz rir.

— Escuta seu irmão, dissimulada. — Espeto.

— Chega, Mariana. — Diego repreende sem paciência. — Deixa o moleque lá em casa, Rayssa.

— Vai me devolver minha parada? — Ela indaga autoritária.

— Tá fazendo seu filho de moeda de troca, infeliz? — Diego pergunta incrédulo — Na moral, tu
é muito baixa. Se o Ret souber do que você anda fazendo com o filho dele, você tá ferrada.
Minha mãe ainda tenta te ajudar, cuidando do moleque.

Ela dá de ombros.

— Só vou levar ele se você devolver. — Insiste ela.

— Já é, leva ele.
— Posso pegar com os meninos?

— De dez só. Leva o garoto primeiro.

Fico pasma quando percebo o que ali ocorre. A minutos atrás a estava com uma raiva
sobrenatural e agora está com uma feição de felicidade porque vai se drogar? Essa mulher
precisa de um tratamento.

Meu coração parte ao ver ela arrastar o pobre menino pela mão, afim de fazê-lo caminhar
mais rápido. Seu short jeans curto estará sujo por rolar na rua junto a mim. Louca.

Solto um suspiro e tento limpar minha roupa que também está suja, verifico se meu celular
está inteiro, por sorte está.

— Onde está Felipe? — Indago.

— O que quer com ele? Já não fez o suficiente o ajudando a fugir? Pensei que tu não queria
isso. — Respondo Diego.

Sinto a ironia em sua voz.

— Como sabe que o ajudei?

— Acha mesmo que filho da puta do jeito que é, ele não iria jogar na minha cara? — Ele ri — o
cara quase me matou quando chegou aqui.

— como assim?

— O comédia aproveitou minha ajuda, pensei que estava tudo tranquilo mas quando chegou
aqui ele veio pra cima de mim porque transei contigo — Explica. Eu coro — só não mandei
passarem ele por consideração a você e ao filho dele.

— A mim? — Solto uma risada — não tenho nada com ele ou por ele.
— Se eu o matasse, se esforço teria sido atoa.

— Isso é verdade.

— Ele está no Gogó da êma agora. É gerente lá, caiu legal no cargo. Só conseguiu ser gerente
porque tem nome, se não, nem isso. — Digo ri — pensou que iria recuperar a comunidade
novamente. Vacilão.

— E por que sua prima não foi junto?

— Rayssa tá uma porra de viciada, e pelo que sei o Ret não quer saber dessas paradas. Ele não
sabe um terço do que acontece com o filho.

— Você deveria fazer algo. — digo incrédula — veja como ela trata essa criança.

— Eu faço, deixo o moleque na minha mãe. Cara, é lamentável dizer isso mas a Rayssa vai
morrer logo. Por isso não tiramos o moleque dela.

CAPÍTULO DEZESSEIS

A vida de Rayssa não me importa a nenhum pouco, mas o que o filho dela está passando é algo
revoltante. A cada segundo que paro para refletir, vejo que há pessoas que não nasceram para
ser mãe. Podre dessa criança.

— Enquanto vou lá, pode vigiar meu carro? — Pergunto.

— Ninguém toca. Quando tu terminar seu assunto com ele, pode passar aqui para me dar uma
atenção — Pergunta Diguinho, com ironia.

— Saudades? — espeto.
— Tu brinca muito, esse é o teu problema — Ele ri.

— Eu gosto de brincar com fogo.

— Vai acabar se queimando — Retruca sério.

Noto que em sua resposta não há nenhum sinal de ironia ou brincadeira. Minha feição no
momento é neutra, mas tento imaginar o que se passa em sua mente.

Esse homem consegue despertar o lado selvagem de qualquer mulher.

— Eu não iria atrás dele se não fosse urgente.

— Se eu pudesse te ajudaria nessa, mas eu não sou ligado nessas paradas. Ele é mais
inteligente que eu — confessa — mas eu sou mais bonito.

Não me seguro e abro um sorriso.

Meu corpo estará a doer um pouco por conta da pequena confusão anterior. Espero que eu
nunca mais precise brigar na rua, ainda mais com uma viciada. Essa louca poderia ter me
matado.

Diego me fez o favor de pedir para que um dos motoristas me levasse até o tal Gogó da Êma,
onde Felipe estará. O cara não falou nada durante o percurso, apenas cumpriu com o
combinado e me levou.

Não foi muito difícil encontrar Felipe, o mesmo estava sentado logo na estrada conversando
com alguns dos meninos. Esse cara implora para morrer, não é possível. Não demora muito
para que o mesmo me veja descendo da moto.

Ele franze o cenho e se levanta, diz algo para os homens e vem até a mim. Só então percebo a
lata de cerveja em sua mão. Ele não deveria estar bebendo. Seu rosto estava inchado por
conta da quantidade de soro que antes tomara. Ao se aproximar de mim sinto o cheiro de suor
com álcool que é exala.
— Caraca, morena. Pensei em tu hoje — Ele diz, alegre.

— Não deveria estar bebendo, Felipe.

— começa, não. Ouviu o que eu falei?

— Sim. — Respondo de forma rápida — preciso de uma ajuda sua. Por isso vim aqui.

Ele leva a mão ao peito, como quem está ofendido.

— Só veio porque precisa? O Diguinho não está disponível? — Caçoa.

— Só quero que retribua o favor que te fiz, já que nem uma mensagem agradecendo você
mandou.

— Tá maluca? Mandei sim, pra sua amiga a enfermeira lá.

Tento assimilar os fatos por alguns segundos e logo entendo.

— Eleonor? Como tem o número dela e porque? — questiono curiosa. Extremamente curiosa

— A mulher dava em cima de mim toda hora, tive que fingir que queria alguma coisa. — Ele ri
— ou tu acha que ela ajudou porque gosta de você?

A minha ficha cai e tudo faz sentido. Como ela pode ser tão vigarista? Pagando de boa amiga,
admiradora do meu profissionalismo. Babaca!

— Isso não deveria me impressionar. Tudo o que se move você tá pegando — espeto.

— Falou a que deu pro meu inimigo. — Reviro os olhos. — tu sabe que eu odeio essa sua
mania.
— Não te perguntei nada. Felipe, vamos ao que interessa.

— Primeiro me diz, quem te contou que eu estava aqui?

— Diguinho.

— Claro... — Diz debochado — por que não pede ajuda a ele?

Perco minha paciência e não aguento.

—Porque não foi para ele que eu paguei meses de hospital e não é por causa dele que estou
quase sendo presa. — Digo sem pudor.

Felipe abre sua boca mas não emite som algum. Incrível, isto nunca aconteceu, não desta
forma. Parece que seu ego de macho alfa foi ao chão de uma vez.

— Você pagou?

— Cada centavo. — Afirmo.

— Mas a desgraçada da Rayssa estava tirando dinheiro para pagar a porra toda.

O fito sem entender.

— Como assim, Felipe? Impossível, eu dizia que entregaria a conta para o responsável e
sempre pagava. — Explico — Ela nem sabe o valor que era pago. Nada passou pela mão dela.

— Tem certeza?

— Estou lhe afirmando.

O homem a minha frente parece um pouco pensativo, estava com raiva, e da nítido. Eu
compreendo tudo o que ele está sentindo neste momento, não tem como não sentir raiva.
Seus olhos vão de encontro aos meus e sua feição muda.
— To sentindo mó falta sua. — Ele confessa.

— Isso é bom ou ruim?

— Não sei, mas sonho com você montada em mim quase todos os dias. — ri — que vontade de
te foder, Mariana.

Engulo seco, sinto meu coração disparar.

Que merda eu sou? Amo Felipe mas sinto atração por outro, e pior, é seu inimigo. Não minto,
sinto vontade de agarrá-lo e beijá-lo aqui mesmo, mas não posso. Na verdade, eu posso mas
não me convém ficar com os dois. Tenho que decidir de uma vez.

— Eu vim aqui para te pedir ajuda — mudo de assunto — preciso de um advogado muito bom.
Estão querendo me prender por te ajudar a fugir.

— Eles descobriram?

— Não, ainda mas vão. O delegado já tem a certeza. — suspiro — é uma questão de tempo. Eu
sinto que algo ruim vai acontecer, não sei ao certo se é em relação a isto, mas vai.

— Eu conheço um que vai te ajudar, não se preocupa com o pagamento. Tô te devendo — Ele
ri — vou desenrolar com ele e te mando mensagem.

— Por favor, me ajuda nessa. Eu não posso ser presa Felipe. Não sei lidar com tudo isso, estou
tentando não surtar.

O homem a minha frente se aproxima e me abraça ao notar que seguro para não derramar
minhas lágrimas.

Um abraço apertado, tudo o que eu precisava, há momentos na vida que só precisamos disto
para nos sentirmos bem.

Felipe segura me queijo e me faz olhar para cima, onde encontro seus olhos.
— Por que tá arranhada e vermelha? — Pergunta desconfiado.

Eu queria muito contar tudo o que aconteceu, mas prefiro guardar.

— Não foi nada. Acho que me machuquei sozinha.

— Tô contigo independente do kaô.

— Obrigada.

Não retornei a Diguinho, apenas fui para minha casa. A pressão em meus pensamentos é
muita. Crio cada hipótese em minha mente. E a sensação de que algo está prestes a acontecer,
não passou.

CAPÍTULO DEZESSETE

Alguns dias depois.

Estava trepado até os dentes, para mim não seria apenas uma invasão mas algo pessoal e não
importa quem vai estar ao lado dele nessa guerra. Vai cair geral. Estou com sangue nos olhos e
o coração dominado por ódio. Como o cara pega minha comunidade dessa forma e acha que
vai ficar por isso mesmo? Tá maluco, irmão. Ele já espera por uma invasão, mas não sabe que
será hoje, agora, nesse exato momento. Rayssa está escondida com meu filho, então fico
tranquilo para ferrar meio mundo se for necessário.

Observo enquanto dois dos soldados jogam a granada onde se encontra a escolta no pé da
comunidade. Totalmente desatentos.

Se conheço Diguinho, ele é burro, não mudou os posicionamentos dos caras e eu sei
exatamente onde está cada um.

A na começou a comer, não foi tão fácil matar alguns que antes estava comigo mas
escolheram o lado errado, parceiro. Essa porra é minha e ninguém muda, dei meu sangue e
suor em tudo isso aqui. Meu pai me criou justamente no intuito de eu assumir com vigor e não
cair por nada.

— Felipe, passa tu que nós vai da a vigia — Robin gritou.

Com sua pistola na mão e fuzil atravessado, o que me chama atenção é a imagem de Jesus
Cristo tatuada em seu peito esquerdo. Que Ele nos proteja. E a esse Zé ruela mais ainda, por
estar sem colete.

— Já é, fé.

Sai de trás do muro e cantei com a pistola para cima dos que estavam na laja. O bagulho
estava de verdade. Quando pensei que iria chegar na toca de Diguinho, desce uma tropa
pesadona. Fodeu, irmão. Não estávamos preparados para isso. O filho da puta não é tão burro
quanto eu pensava, ele já estava ligado que eu faria algo e deixou uma carta na manga. Meu
ódio triplica. Fico parado enquanto a tropa corre até nós. Pego meu fuzil que antes estava no
peito e disparo em direção a eles, sem me importar se iria morrer. Estava cego pelo ódio. Sinto
alguém me puxar com força para trás do muro novamente em seguida ouço o bagulho de duas
granadas.

— Vai da não, Ret. Bora retornar, viado. — Um dos soldados diz.

— Vão vocês porra, eu vou matar esse traíra. — rebato.

— Nós tá contigo, se for para dar a vida, nós da, patrão.


— Não vou desistir. Quero ter o prazer de cortar a cabeça dele. — Digo.

— Ret, se liga. Não seja egoísta cara. Vai geral morrer e isso é certo. Não dá para nós, pensa
nos soldados que estão do seu lado. Bora voltar e nós cria um plano. — Robin alerta.

Desta vez a bala não cessa, estão de ak e realmente não teríamos chance por estarmos em
menor quantidade.

— Eu vou conseguir — Insisto.

— Você é mais quantos, cara? Olha a tropa do maluco. Não dá pra nós Ret. — Robin dispara.

Buro ao ver que ele tinha razão.

Retrocedemos cheio de ódio. Perdemos três soldados em vão. Eu nunca entro em uma guerra
para perder mas desta vez foi necessário dar para trás.

Chegamos ao Gogo da Êma e rapidamente entramos na boca mais próxima, onde se encontra
o chefe, afim de não chamar muito atenção dos moradores já que estava entardecendo ainda.
Retiro meu colete, jogo não chão, puto da vida. Chuto a cadeira a minha frente enquanto geral
permanece a me olhar. Meu surto momentânea para quando meu celular toca. Número
desconhecido. Ah porra, uma hora dessas.

— Fala, caralho. — Digo assim que atendo.

— Comédia, vacilão. Pensou que iria ser mole?

Diguinho.

— Vai tomar no cu. Eu vou te fuzilar seu ada. Vai cair pra nós.

— Tá fraco, Ret. Não vai conseguir. Matou cinco soldados meus, isso não vai ficar assim.
A raiva em sua voz era palpável.

— Vai fazer o que, Zé nada? Golpe de estado? Seu merda.

— Vou tocar onde mais te dói, Ret.

— Se tu fizer alguma coisa com meu filho...

Ele desliga.

Minha vontade era de jogar o celular na parede. Nesse momento milhões de coisas passam
pela minha mente. Mandei Rayssa ficar em casa e não sair por nada, mas a casa é lá no Final
Feliz. Ele não faria nada contra a própria prima e meu filho, faria?

— O que ele falou? — Pergunta o Chefe, Genaro.

— Ele vai contra atacar, mas somente eu vou poder entrar nessa guerra.

Apoio minhas mãos sobre a mesa e tento escapar dos pensamentos que fazem meu coração
disparar. Em momentos como esse, eu encontrava refúgio na cocaína mas luto contra mim
mesmo a cada segundo. O esforço de Mariana não foi atoa.

Falando nela, a dona dos meus pensamentos. Estou paradão na minha, afim de ver o que a
mesma quer da vida, se é voltar comigo ou ficar com o Zé merda do Diguinho. Tá na cara que
esse cara não merece ela, mas se a mesma o quiser, tá tranquilo. Vida que segue, não vou
surtar pra ela ver, vou largar de mão e deixar ser feliz.

Ligo para Rayssa para saber como meu filho está e avisar para que ela fique atenta, mas
ninguém atende. Isso gera uma preocupação dentro de mim, fico inquieto a maior parte do
tempo. Conheço Diguinho, ele não seria capaz de ferir meu filho, provavelmente falou aquilo
para blefar, me desestabilizar mas de qualquer forma, ele tá fodido na minha mão, ele e sua
trupe.

— Larga esse celular, Ret. Foca em bolar o plano para recuperar teu pedaço — Genaro atenta.
— Pô, irmão. A mãe do meu filho não atende, e esse merda disse que iria me tocar onde dói.
— Bufo — porra, é meu filho.

— Calma, ele tá brincando com seu psicológico. Falando isso ele faz você ficar com medo de
dar outro passo e recuar. Se liga.

Foto o homem a minha frente e aceno com a cabeça algumas vezes.

— Pode ser, mas tô sentindo mó bagulho ruim, tá ligado?

Ele ri.

— Maluco conseguiu entrar na tua mente bonito.

— Brinca muito você. Vou derrubar esse filho da mãe, nem que eu perca minha vida junto.

CAPÍTULO DEZOITO

Termino de fazer o curativo e me retiro da enfermaria. Ultimamente tudo está me


incomodando, a demora do advogado para me comunicar sobre o andamento das coisas está
me matando. Assim que pés ajuda a Felipe, o advogado me mandou mensagem para marcar
um encontro no dia seguinte, eu fui, expliquei tudo e assinei alguns papéis e até agora nada.
Ele me passou seu número pessoal de WhatsApp e mando mensagem a cada minuto mas ele
não visualiza. Esse homem é minha última esperança de não ir para a cadeia. O que mais me
mata por dentro é saber que tenho culpa, sim, eu sou culpada da acusação e esse advogado
vai me defender sabendo disto. Obviamente tive que abrir o jogo com o mesmo e contar que
eu realmente ajudei Felipe a sair do hospital. Posso esconder tudo das pessoas, menos de
quem vai lutar por mim.

Enquanto caminho pelo extenso corredor vejo Eleonor, a ignoro mais uma vez, ultimamente
tenho feito muito isto. Ciúmes de Felipe? Não! Mas ela mentiu, tanto para mim quanto para
William que pensa que a mesma gosta dele. Provavelmente ela pediu o número de meu amigo
apenas para disfarçar, para que eu não desconfiasse da sua real intenção.

Seus olhos queimam sobre mim, mas eu não me importo. Sou uma pedra gelo muito difícil de
se derreter apenas com seu olhar.

— Quero falar com você, posso? — Ouço sua pronuncia.

— Melhor que não. — Digo grosseiramente.

— Por favor...

Ela segura em meu braço, fazendo-me parar.

— Diz logo.

— Ele te falou alguma coisa, né?

— Pensou que não? Ah, faça mil favores, mas aí, você conseguiu me enganar direitinho. Espero
que não magoe o William.

— Eu gosto do William, com o Felipe era simplesmente coisa de pele

Respiro profundamente e solto o ar vagarosamente. Não pude crer no que meus ouvidos
estavam a ouvir.

— Então toda aquela histórinha sobre ele ser traficante era ladainha? Eu agradeço, Eleonor,
por me mostrar que você realmente é. — Digo rígida.

— Eu não dei para ele, Mariana. Não precisa de tudo isso. Apenas senti uma forte atração,
você me entende?
— Não interessa! Você era minha amiga e mentiu para mim. Só não deu porque ele não quis.
Você é tão pilantra que nem avisou que Felipe havia mandado uma mensagem agradecendo
nossos esforços.

Eleonor fecha seus olhos e respira fundo.

— Tudo bem, você tem razão. Me desculpe.

Não digo nada apenas me retiro de sua presença. Aquela conversa não nos levaria augar
algum, já estou exausta mentalmente por muitas coisas e não quero me preocupar com mais
uma.

Quando o horário do meu descanso finalmente chega, eu corro para a salinha onde sempre
me deito um pouco após um plantão puxado. Vou até meu celular, vejo duas ligações
perdidas. Advogado e Diguinho. Retorno a ligação para o advogado urgentemente.

— Oi, Mariana. Tudo bom?

Sua voz era fina, como a de uma mulher.

— Tudo sim, doutor Alberto.

— Mariana, vamos direto ao ponto. Seu caro é muito delicado porque tudo indica que você
realmente o ajudou na fuga, e que tudo foi armado. O que realmente aconteceu, de fato.
Estou tentando jogar que você é primária, tem um emprego muito bom e fez isso pensando
em sua profissão, sobre ajudar o próximo e tudo mais — ele pausa — o que mais está pegando
é a fuga. Parece que alguém apresentou na delegacia um vídeo de você saindo da rouparia
com um uniforme um tanto diferente do que usará antes... Parecido com o de Felipe, quando
saiu do hospital fugido. Ainda não assisti o vídeo mas vou requerer.

— Como, quem pode ter feito isso? — indago perplexa.

— Não sei. Provavelmente alguém de dentro do hospital.

— Bando de traíras, safados — digo rápido — desculpa, doutor.

— Tudo bem — ele ri — preciso desligar, assim que eu tiver acesso a filmagem te ligo.
Ouço a porta se abrir.

— Certo. Obrigada e boa tarde.

Deixo meu celular em cima da mesa onde estará minha bolsa e me viro para saber quem
entrou no local. Para meu descontentamento, vejo Fabrício me encarando com aquela pose de
quem sabe de tudo e quem pode todas as coisas. Esse cara deve se achar um Deus, só pode.
Toda a sua beleza não adianta de nada perto do caráter podre. É o tipo de pessoa da qual
vemos que não presta nem de longe. Não sei como um dia eu pude ser amiga de um homem
assim. Ele me causa asco.

Seus olhos estão fixo em mim, ele não diz nada o que aumenta minha vontade de meter a mão
na sua cara mas não posso, não por enquanto. Ao notar que ele não diria nada eu decido
perguntar.

— O que você quer?

— Nada, estou observando como você é tola — Ele dispara.

— Não tenho tempo para você. Por favor, se retire. Eu cheguei primeiro.

Aponto para a porta mas ele não se move.

— Vai ser um prazer ver você se ferrando toda. — Fabrício se aproxima — mas antes de você
ser presa, eu queria fazer uma coisa.

— Se chegar perto de mim eu te mato. — Ameaço.

— É? Vamos ver.

Fabrício agarra minha cintura com força, sinto seu corpo muito próximo ao meu, aquilo me dá
vontade de vomitar. Tento de todos os modos sair de seu aperto mas não consigo. Sua boca
toca meu pescoço onde ele beija.
Com sua força ele me joga de bruços em cima da mesa, minha bolsa cai. Quando penso em
gritar sua mão suja vai de encontro a minha boca, me deixando sem ar. Sinto meu corpo gelar,
meu coração disparar e fica cada vez mais difícil de respirar.

Sua mão vai de encontro a minha calça branca, onde fica os botões e de uma vez ele consegue
abrir os dois. Arranho sua mão na tentativa de fazê-lo me soltar mas nada funciona.

— Fica quietinha, vai ser melhor. — Ele sussurra em meu ouvido.

Entro em pânico e começo a chorar compulsivamente. Meu coração acelera ainda mais, sinto
que estou suando frio e pelo que conheço meu cérebro está sinalizando que há algo de errado
e eu vou desmaiar em breve.

CAPÍTULO DEZENOVE

Abro meus olhos e encaro o teto do hospital, minha paz ilusória dura breves segundos até eu
me recordar o que houve tempo antes. Meu peito dói. Me levanto da cama rapidamente e saio
do quarto, sinto uma leve tontura mas estou muito bem. Vejo uma das enfermeiras com uma
prancheta em mãos, ela conversa com a médica, nosso chefe. Ao me ver as duas caminham
rapidamente em minha direção.

— Está melhor, Mariana? — Pergunta a Doutora.

— Sim. O que houve?

— Fabrício te encontrou desmaiada na sala de descanso. Ele está horrorizado. — Explica a


enfermeira — sua pressão estava baixa. Passou por algo forte?

— Filho de uma puta, cadê esse miserável? — pergunto com raiva, ambas se assustam. —
CADÊ? — Grito.
— Quem?

— Esse imbecil do Fabrício!

— O que ele fez, Mariana. Calma. — A Doutora tenta apaziguar.

Passo as mãos pelos meus cabelos e tento manter a calma. Impossível.

— Ele tentou me estuprar, foi isso o que aconteceu. — confesso.

— É o que? Ribeiro, você tem certeza? Essa é uma acusação muito séria.

— Claro que eu tenho. Por que diabos eu iria mentir sobre isso? Onde ele está?

— Mariana, ele estava desesperado. Impossível ter feito isso com você — Diz a enfermeira.

Ergo minha sobrancelha e me aproximo da mesma.

— Ta duvidando de mim, caralho? Então troca de lugar comigo, sua babaca.

— Ribeiro, mantenha o decoro, está passando dos limites. — diz a Doutora.

— Vai tomar no cu vocês e os limites, eu vou matar esse desgraçado.

Digo e saio andando atordoada pelo hospital. Eu não pensei em nada, eu simplesmente não
queria pensar em nada a não ser em matar esse desgraçado.

Talvez eu tenha passado tempo demais com Felipe, porque nesse momento eu me sinto o
próprio Ret. Meu coração volta a disparar pela raiva, meu rosto está quente. Para completar
estou com fome, sabe-se lá quanto tempo fique desmaiada e não comi. Eu vou ensinar esse
estuprador nojento a nunca mais pensar em tocar em uma mulher contra a sua vontade. Ele só
pode estar em um lugar, na sala de medicação.
Ignoro completamente os pacientes me chamando e a Doutora juntamente a enfermeira
correndo atrás de mim. Abro a porta com força, chamando atenção dos pacientes e de quem
estava presente junto a Fabrício, que no momento esta com alguns medicamentos em mãos.
Ele me encara sem feição alguma.

— SEU ESTUPRADOR NOJENTO — Grito e corro em sua direção.

Dou um chute na bandeija de medicamentos que estará em suas mãos, em seguida fecho
minha mão e dou um soco mas pega em sua bochecha direita. Para não revidar ele se encosta
no balcão, tentando passar por baixo do mesmo. Quando ele se abaixa eu pego a seringa com
algum líquido que me parece dipirona, enfio a mesma em sua nuca, sem cuidado algum.

— AAAH — Ele grita — TIRA ESSA MALUCA DAQUI.

— EU VOU MATAR VOCÊ, SEU LIXO HUMANO.

Todos estão horrorizados com a cena, gritando para que eu pare, os pacientes filmam, alguns
torcem por mim após eu dizer que ele é um estuprador, mas uma coisa é fato: Ninguém tinha
a coragem de me tocar para me tirar e cima dele.

— Chama o segurança, Marcela — Ouço alguém dizer, desesperadamente.

Pulo o balcão e monto nas costas de Fabrício, distribuindo socos por sua cabeça e rosto. Noto
o sangue escorrer sem parar de onde a seringa estava, esse sangue podre mancha minha
roupa sem pudor.

— SAI MARIANA, EU NÃO FIZ NADA COM VOCÊ, PORRA. — Ele grita.

— MAS TENTOU, SEU MERDA.

Fabrício chega ao auge e bate com minhas costas contra a parede até que eu caio de cima
dele, antes que o mesmo pudesse me agredir os seguranças chegam e intervém.

E cá estamos nós, na delegacia. A última coisa que eu precisava agora era estar em uma
delegacia ou arrumar confusão, já basta a que estou envolvida. Fabrício está sentado no banco
esperando o delegado chamar, eu estou próxima ao bebedouro acabando com a água do
mesmo. Ainda estou muito nervosa. A Doutora minha chefe está falando ao celular, o que
parece ser algo muito importante, enquanto a puta defensora de estuprador — a enfermeira
— está ao lado de Fabrício sentada e conversando com o mesmo. Finalmente o delegado pede
para nos entrassemos em sua sala. Sua feição ao me ver era de divertimento, esse maldito
delegado estava amando isso e meu medo de ser presa aumentando. Por mais que o
criminoso fosse Fabrício, nesse momento, eu estava morrendo de medo. É aquilo, quem não
deve não teme, mas eu devia e muito.

Fabrício se senta de frente para o delegado mas eu me recuso a sentar-me ao lado desse ser
asqueroso.

— Podem me relatar o que houve?

— Esse maldito tentou me estuprar — Confesso.

— É mentira. Eu ajudei essa ingrata, ela estava caída, desmaiada no hospital e eu ajudei —
Fabrício mente.

O delegado passa a mão em sua cabeça, não entendendo nada. Ele pede para que a Doutora
contasse o que houve, ela conta sua versão, logo a enfermeira conta a mesma coisa. Fabrício
conta a sua mentira e eu conto a minha versão, a verdadeira.

— É uma acusação muito séria, tem certeza que deseja continuar?


— o delegado pergunta — terá que provar por meio de exames.

— Quero prosseguir. Faço o que for necessário.

Fabrício fica inquieto por alguns segundos.

— O senhor sabe, eu estou ajudando a por essa criminosa na cadeia. Trouxe a gravação até
vocês, ela ficou com raiva e inventou isto — Fabrício confessa.

Fico perplexa, sem saber o que dizer. Então foi ele. Esse nojento.

— Nós sabemos disto mas infelizmente quem tem o direito de querer ou continuar é ela —
Explica o delegado — se ela estiver mentindo é algo a mais para nós acrescentar-mos.
— Se for para falar de outro caso, eu chamo meu advogado. Estamos aqui para tratar sobre
uma tentativa de estupro, cujo o homem a sua frente é o culpado, não eu. Ou vai me dizer que
a vítima tem culpa? — indago.

Todos se calam, sabiam que eu tinha razão.

— Mariana Ribeiro, irei encaminhá-la para os exames.

— Certo.

CAPÍTULO VINTE

Saímos da delegacia, os demais foram embora mas eu tive que ir fazer os exames
acompanhada de policiais, dentro de um carro de polícia. Que ótimo, talvez seja um sinal para
que eu vá me acostumando. A sorte é que desta vez estou sentada no banco traseiro, na
próxima posso estar no porta malas. O nome deveria ser porta criminosos.

Em minha mão estava os papéis que o delegado me deu, a mesma estava suando. Eu estava
com fome, ainda não tinha comido nada. Minha sorte foi que antes de ir para a delegacia eu
consegui pegar meu celular e minha bolsa. Meu celular tem bloqueio, por isso o demônio não
conseguiu acessar, duvido muito que ele não tenha tentado. Tanta coisa acontecendo de uma
vez. Quando acho que uma coisa está ruim, piora. O que me deixa chateada é ver que todos
estão aí lado de Fabrício, principalmente pela história que ele inventou sobre eu estar com
raiva por ele ter entregue os vídeo e por isso inventei essa acusação. Todos acreditaram. Me
ponho no lugar de quem sofre abusos esm casa e a mãe não acredita, ou o pai. Deve ser
horrível, eu não suportaria passar por isso calada.

Quando chegamos ao local tive que esperar o Legista me chamar, ao menos tinha um café
para tomar. Não demorou muito para que o mesmo me chamasse, entro em uma sala fria e o
mesmo requer os papéis em minha mão. Ele lê algumas coisas e assina em baixo, logo carimba.
O médico legista manda eu repetir exatamente o que aconteceu, eu conto.
— Ele usou muita ou pouca força? — indaga.

— Muita.

— Qual região?

— Na minha boca, não consegui respirar.

Ele anota.

— Feriu ele?

— Talvez, não sei ao certo, tentei me defender.

— A pergunta não foi essa. Feriu ele?

Sinto-me constrangida pelo modo grosseiro do mesmo.

— Não sei senhor.

— Qual posição ele te colocou? Você disse que o indivíduo te jogou sobre uma mesa, certo? —
Questiona.
Sim. Ele me colocou de bruços para a mesma. — Respondo.

— O indivíduo aplicou pressão sobre seu copo contra a mesa?

— Sim, bastante.

Ele anota. Estou tão constrangida com essas perguntas.

— Quando você acordou, sentiu algo diferente em suas partes íntimas?

— Não senhor.

— Ele já ameaçou a senhora antes? Ou tentou algo do tipo?

— Já ameaçou mas nunca tentou isto.

Ele anota.

— Você tomou banho ou trocou de roupa após a suposta agressão sofrida?

— Não.

— Certo. Venha comigo, por favor. — Diz sem me olhar.

O homem se levanta e sai da sala, eu apenas sigo o mesmo. Entro em outra sala juntamente ao
homem, mas lá havia uma mulher. Ele entrega o papel para a mesma e sai, nos deixando a sós.
A mulher passa seus olhos pelo papel e logo me encara.

Sinto meu coração gelar. Nunca me imaginei em uma situação como essas, e nessas horas que
queremos nossa mãe. Minha ficha cai e não me contenho, eu choro na frente daquela mulher
que se quer sei o nome. Passo minhas mãos pelo rosto tentando me acalmar mas era
impossível.
— Calma, minha linda. Vai ficar tudo bem, a justiça será feita. — Diz a mulher, tentando me
acalmar.

Eu concordo com a cabeça.

— Perdão. — Digo parando de chorar.

— Tudo bem. Isso sempre acontece, as pessoas só se dão conta da situação quando estão de
frente para mim. —explica — quando um paciente não chora é porque tem algo de errado, ela
ou ele está morto por dentro faz tempo e já acostumou com a situação.

— Isso é pesado.

— Sim. Por favor, tire sua roupa e ponha a que está pendurada no banheiro — Ela aponta para
o mesmo.

Deixo minha bolsa sobre a maca e caminho até o mesmo. Faço tudo rapidamente e saio. Me
sento na maçã segundo sua ordem, a mulher passa algumas coisas em meu corpo de acordo
com o que lê no papel. Logo ela passa algo ao lado de fora da minha boca.
Aquilo arde um pouco.

Ardeu? — Indaga.

— Não muito. — Reapondo.

— Houve lesão.

Ela anota no mesmo papel onde o legista havia anotado. Após terminar ela pede para ver
meus seios e os examina. Anota algo e logo pede para verknha calça. Aquela mulher não deixa
passar um detalhe, nada passa desapercebido diante de seus olhos castanhos claros.

Quando terminamos, me vesti. Ela me levou até a sala onde estava o médico legista, entregou
o papel desta vez carimbado pela mesma, se despediu de mim e saiu. O médico examinou o
papel, me fez assinar algumas coisas e logo me liberou. Os policiais me deixaram na delegacia
novamente, esperei uma hora e pouca para entrar na sala do delegado, assinar outro papel e
finalmente ser liberada.
Sai da delegacia oito da noite, já não sabia se era necessário retornar ao hospital para
trabalhar ou apenas pegar meu carro. O certo era os policiais me deixarem onde me buscaram
mas eles não deram a mínima, tive que pegar um ônibus para retornar ao meu local de
trabalho. No hospital estava um bafafa danado, todos me olhavam, alguns vieram perguntar se
eu estava bem mas na verdade só queriam informação. A essa hora a Doutora já deve ter ido
embora, por tanto não seria necessário eu ficar.

— Mariana? — Ouço Eleonor me chamar.

Reviro meus olhos e a fito.


Fala.

— Tudo bem?

Ela não fez essa pergunta em vão. Estou um caco, acabada, com fome, cabelo horrível.

— Sim. Diga — Sou o mais cura possível

— A Doutora quer falar com você, mandou que você fosse até a sala dela.

Estou confusa.

— Ela não deveria ter ido embora?

— Parece que ela ficou te esperando voltar para buscar o carro. O que ela tem a falar é
importante pelo visto. — Explica.

— Fabrício está aqui? — indago.

— Não. Ele chorou bastante, não estava se sentindo bem e foi liberado.

Rolo meus olhos pelo drama fingido.

— Tudo bem — Bufo — vou trocar de roupa e estou indo até a sala dela.

Avisarei.

Eleonor sai.

Por mais mais que eu quisesse tomar um banho por estar me sentindo suja, não o fiz. Troco de
roupa, retirando o uniforme e vou de encontro a sala da Doutora. Seguro na alça de minha
bolsa e bato na porta.
— Entra.

CAPÍTULO VINTE E UM

Entro na sala onde minha chefe está presente. Em uma mão há uma caneta, ao notar minha
presença ela me fita fixamente. Há algo de muito errado aqui. Eu posso sentir.

— Senta, Ribeiro. — Ela gesticula.

— Obrigada.

Caminho até a cadeira confortável a sua frente e me sento. Observo a foto em sua mesa, era
uma criança loira, talvez fosse sua filha. Não há muita semelhança.

— Como foi com o legista? — Pergunta curiosa.

— Acho que tudo bem. Não sabia que a senhora estava me esperando.

Ela ri pelo nariz.

— Agora eu sou senhor, não é Mariana?

— Não estou entendendo. — Digo cansada e confusa.

— Muito bem, vou direto ao ponto. — Ela suspira, como se fosse fazer algo contra a sua
vontade — Você está despedida.
Não faço nada, se quer pergunto algo. Apenas fecho meus olhos e suspiro. Talvez lá no fundo
eu tivesse esperando por isso.

— Posso saber o motivo?

— Madar eu ir tomar naquele lugar não é o suficiente? Eu era a sua chefe, me devia o respeito
necessário. — Diz rígida — na delegacia eu liguei para conselho por conta do ocorrido com
Fabrício, eu estava disposta a te dar apenas uma advertência pelo xingamento mas o conselho
achou melhor te demitir, pelo escândalo causado ao hospital.

Me levanto da cadeira sem acreditar.

— Vocês estão me demitindo por quase ser estuprada? Não acredito! — digo desesperada —
deveriam tomar cuidado com o estuprador que está aqui dentro.

Acreditamos na inocência de Fabrício. Ele está conosco há anos, muito antes e você — ela
se levanta — Ribeiro, você é eu a excelente profissional, muito boa mesmo mas infelizmente
sua atitude não condiz com a postura deste hospital.

Ela brinca com a caneta e em seguida joga a mesma na mesa. Era óbvio que a mesma não
estava satisfeita com a situação e nenhum pouco cômoda com essa posição do conselho.

— Você não pode fazer isso comigo, por favor — digo chorando — dei meu melhor aqui.

— Escute, você pode conseguir vaga em outro hospital. O conselho não te queimou, o
problema é que seu vídeo fazendo o tumulto, está na Internet Mariana. Qual hospital de
grande porte vai querer te contratar? Você feriu um homem com uma seringa do hospital.

Assinto algumas vezes e limpo minhas lágrimas.

— Não acredito que estou passando por isso. — Digo para mim mesma enquanto encaro o
teto branco.

— É a segunda polêmica, a primeira eu escondi do conselho mas essa, foi impossível. Fui parar
em uma delegacia. Sinto muito.
— Não, você não sente. Eu sinto.

— Pode pegar suas coisas e ir para casa. Te mandarei o endereço do RH para que consiga
todos os seus direitos devid..

Não deixo a mulher terminar, apenas saio daquela sala. Se Fabrício tivesse neste local, eu
provavelmente o mataria. Durante meu trajeto até a sala onde deixo meus poucos pertences,
como copo, chaves extras, roupas; sinto olhares e cochichos. Me seguro para não chorar
novamente. Pego somente o necessário e vou de encontro ao refeitório. Avisto William
pegando alguns sacos de lixo.

— Ei, meu amor — Ele diz vindo até a mim. Não digo nada, apenas o abraço — eu soube de
tudo.

— É todos sabem.

— Tentei te ligar mas só chamava.

— Fui demitida, William. Eles estão acreditando nesse babaca.

— Como é?

Ele se afasta de mim, incrédulo.

— Sim. Eu não estou com paciência para contar tudo, só passei para me despedir de você —
Explico.

— Eu sinto muito, no que eu puder ajudar, conte comigo.

William acaricia meus cabelos.

— Obrigada, fica com Deus.

— Você também.
Ele me dá mais um abraço e saio do refeitório direto para o estacionamento. Entro no meu
carro e caio no choro novamente, soco o volante algumas vezes tentando descontar o ódio.

Abro minha bolsa e finalmente vejo meu celular. Quatro ligações de William, duas de Diguinho.
Algumas mensagens das meninas que trabalhavam no mesmo plantão que eu.Entro no grupo
das enfermeiras e a fofoca come solta Hu meu nome, algumas acreditam em mim, outra não.
Saio do grupo sem terminar de ler a conversa. Repondo as mensagens de Diguinho e vejo um
simples “iae” de Felipe. Não faço questão de responder, o que eu sinto por ele parece que ele
não sente na mesma intensidade o melhor é eu me afastar. Ele me ajudou com o advogado e
eu o ajudei com o hospital, fim de assunto.

Meu celular toca antes que eu ligasse o carro.

— Te liguei mais cedo. Trabalhando muito?

Diguinho.

— Agora estou livre.

— Tá chorando? Aconteceu alguma coisa?

— Muita coisa mas não quero falar.

— Vai falar sim. Vem pra cá, eu tô com um bagulho pra te dar é bom que você se distrai.

Ele parece preocupado.

— Estou precisando mesmo.

— Se tu não vier, eu dou um jeito de te buscar.

Ele me faz rir. Entre ficar em casa chorando e ir beber algo com Diguinho, o melhor é ir me
afogar na bebida.
— Estou a caminho, preciso desligar.

— Beleza, linda.

Encerro a ligação e saio daquele hospital. Como vou sentir falta desta rotina, até mesmo do
cansaço, das noites sem dormir, dos pacientes reclamando. Céus, não estou sabendo lidar com
tudo isso, preciso de uma válvula de escape urgentemente.

Meus olhos ficam embaraçados pelas lágrimas. O trânsito está bem tranquilo, consigo parar
para abastecer em um posto próximo a comunidade mesmo.

Saio do carro para que o frentista possa completar meu tanque. Observo uma mulher grávida
que espera ao lado de fora de seu carro, isto me lembra que preciso tomar minha injeção
anticoncepcional. Tomo quando quero, não tinha minha vida sexual ativa a ponto de tomar
todo mês mas agora, acho necessário. Deus me livre de engravidar novamente. Amanhã eu
aplicarei sem falta.

Pago o frentista e saio do local. Vir para essa comunidade com meu carro me gera um medo
danado, mas sei que Diguinho não deixaria ninguém fazer nada com qualquer coisa que
pertence mim. Mando mensagem para avisar que cheguei e ele logo visualiza e diz que está
vindo me buscar. Hoje ele será minha válvula de escape, estar ao lado dele sempre é divertido.

CAPÍTULO VINTE E DOIS

Assim que avisto Diego meu corpo sente uma necessidade enorme de estar entre seus braços,
então o faço. Envolvo o mesmo em meus braço, em um abraço tanto quanto apertado. O
cheiro de seu perfume me acalma, sua camiseta vermelha era nova, estava com cheiro de
roupa nova. Ele se arrumou para mim? Sinto-me lisonjeada e constrangida por estar tão
desarrumada.

Sinto os batimentos de seu coração acelerar, sua respiração estava um pouco desregulada.
Olho para cima e vejo que seus olhos estão fechados. Ele consegue ser tão fofo. Diego abre os
olhos e me encara fixamente, logo abre um sorriso mostrando seus dentes. Me afasto e passo
a mão em meu cabelo, tentando ficar apresentável de alguma forma.

— Ia te levar num bar, mas cê não tá bem. Bora lá pra casa, nós pede alguma coisa pra comer e
beber. — Ele diz passando sua mão na minha.

— Tudo bem, vamos.

Diego segura em minha mão, assim como um casal de namorados adolescentes nós
caminhávamos até sua casa. Penso que ele irá me levar a casa que fomos a última vez mas ele
me leva para outra, passamos por dois becos para chegar. A casa não era tão grande mas era
bonita. Estava gélida por conta dor ar condicionado.

Os móveis parecem novos, tudo naquela casa parece novo.

— Tive que me mudar. Deixei aquela casa para minha mãe — explica ele — dava não, muita
perturbação. Preciso de paz.

— Entendo. Nada melhor que a nossa paz, o nosso canto.

Diego joga a chave em cima do sofá e se senta no mesmo.

— Senta aqui — Diz apontando para seu lado.

Faço o que o mesmo pediu. Ele me abraça de lado e eu choro. Como eu estou cansada.

— O que aconteceu? — Ele indaga.

— Fui demitida, Diego. Por uma injustiça.

— Como assim, doida. O que pegou? — Pergunta assustado.


Explico tudo o que aconteceu e vejo Diego mudar da água para o vinho, ou melhor, do anjo
para o próprio capeta. Ele levanta do meu lado e fica parado a minha frente com seus braços
cruzados.

— Tu vai me passar o nome desse filho da puta, esse pode se considerar um cadáver —
Diguinho diz.

— Não, Diego. A justiça será feita. Eu sei que vai. — tento acalmar.

— Que mané, justiça Mariana. O cara tentou de estuprar, mano. Não tem chance.

— Não Diego — me levanto — se você fizer algo, vão achar que foi eu, principalmente após a
acusação em relação a Felipe. Aí mesmo que vou parar na cadeia — explico.

Ele bufa, inconformado.

— Tranquilo, não vou fazer nada porque você já está com problemas até o pescoço mas que
esse miserável merece um cabo de vassoura enfiado no rabo, isso não tem dúvida.

— Obrigada por tentar defender a minha honra.

— Defendo tudo em você, nega.

Diego segura em minha cintura e me beija, mas antes que pudéssemos nos aprofundar mais,
meu celular toca. Pego o mesmo em meu bolso e vejo os olhos de Diego fixo na tela. Ao notar
que era Felipe que me ligará, ele pega o celular de minha mão e atende.

Tento puxar o mesmo de sua mão mas foi uma tentativa estúpida.

— Fala, perdedor. Quer o que com a minha mulher? — Espeta Diego. Em seguida ele põe no
viva voz.

— Devolve meu celular agora, não tem graça.

— Tá fazendo o que com o celular dela?


Ouço Felipe perguntar.

— Ligou para confirmar se ela estava aqui né? Já te passaram a visão do carro dela. —
Diguinho dispara.

— Vai tomar no cu. Quando eu te pegar vai cair tu e quem estiver do seu lado.

Pato de tentar pegar o celular e dou ouvidos a conversa. Felipe está se referindo a mim
também? Ele teria coragem de me matar apenas por não ter ficado com ele?

— Tô pagando para ver. Perdeu a comunidade e a mulher, otario.


— Diguinho diz rindo.

— Tá geral fodido na minha mão.

Ret diz e desliga em seguida.

A forma rude que ele falou me deixou sem jeito, estava nítido seus ciúmes dando a cara mais
uma vez. Diego devolve meu celular, com um sorriso no rosto como se tivesse feito a coisa
mais hilariante do mundo.

— Você não deveria ter feito isso. — o repreendo. — não teve a mínima graça.

— Tá com pena, Mariana? O cara merece sofrer e tu ainda paga de boa moça.

— Eu não pago de boa moça. Felipe está me ajudando e agora, honestamente? Eu nem sei se
ele vai continuar pagando o advogado — digo rígida.

— Se ele não pagar, eu pago. — Ele se aproxima — tu já deveria ter me passado a conta desse
advogado aí. Quem segura teus b.o sou eu, a partir de agora. Esquece Felipe, Mariana. Eu te
quero mas tu parece estar presa a essa miserável. Não vai mais depender dele para mais nada.

Sua mão vai a minha barriga onde ele acaricia.


— Tá fazendo o que? — indago, estranhando seu gesto.

— Me dá um filho?

— Tá brincando, né?

— Pareço estar?

Junto minhas sobrancelhas e contenho minha vontade de rir. Diego viaja legal, deve ser por
isso que gosto tanto dele ou pelo seu pau enorme.

— não viaja seu maluco.

— sou maluco por você.

Seu rosto vai de encontro ao meu pescoço. Em poucos segundos sinto meu corpo ficar mole e
se entregar totalmente ao homem a minha frente. Transamos no sofá durante um tempo, ao
fim necessito de um banho. Embaixo do chuveiro observo enquanto Diego retira a camisinha,
da um nó e joga no lixo. O mesmo vem me acompanhar no banho.

Observo cada milímetro de seu corpo e algo cresce dentro de mim. Eu não posso estar
apaixonada por esse homem, não é possível.

Suas mãos seguram em minha cintura fina, me levando mais próximo a seu corpo. Ele me
abraça, ponho minha cabeça em seu peito e sinto a água cair sobre nós.

— Fica comigo, Mariana. — Ele diz.

— Já estou aqui — Sussurro, desta vez olhando em seus olhos.

Ele nega.
— Não está. — afirma — Quando eu acordo não está, quando penso em você a porra do dia
inteiro, você não está. Quero você pra mim, porque minha você já é, querendo ou não.

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Suas palavras foram ditas com firmeza, tento ignorar a última parte. Sei que Diego não é um
louco possessivo como Felipe, ele é diferente em todos os aspectos.

— Não dizer que eu quero, Diego. Está tudo recente. — explico.

— Eu sei, vou te conquistar a cada dia mais. Eu sei que tu gosta de mim, mulher — ele ri — e
não é pouco.

— Como o senhor, sabe? Seu convencido!

— Da para ver nos seus olhos.

Minha cabeça está tão confusa. Há alguns anos trás eu era terrivelmente apaixonada por
Felipe, e hoje é como se isso estivesse sendo transferido para Diego. Penso em Felipe e não
consigo sentir o que antes eu sentia. É claro que no momento o que sinto por Diego não chega
aos pés do que um dia eu senti por Ret, mas quando nós somos magoadas em um
relacionamento uma vez, fica difícil baixar a guarda para outra pessoa.

— Eu realmente gosto muito de você — confesso.

Seguro em sua nuca e o puxo para baixo, iniciamos um beijo. Ele me pega em seu colo e me
encosta na parede, abre minha perna com uma mão e em poucos segundos sinto seu pau
dentro de mim, novamente.
Sua mão direita sobe ao meu pescoço apertado em pouco, enquanto a outra está em minha
cintura, ele aplica força nesta região. Ouço seus grunhidos baixos enquanto ele me fode sem
se preocupar, como se quisesse ir o mais fundo possível. Meu gemidos altos não me incomoda
já que é impossível controlar. Meus olhos rolam para cima. Eu iria gozar.

— Fala que é minha — Ele ordena, apertando meu pescoço.

Sua mão me prendia com força contra a parede.

— E-eu sou s-sua — Digo com dificuldade.

— Goza, piranha.

Bastou para que eu gozasse novamente. Tão rápido, tão bom.

Ele estava prestes a gozar porque suas investidas aumentam, sinto seu pau me machucar. Sua
mão aperta ainda mais minha cintura, gemo pela dor. Diego sempre demora a gozar nas desta
vez eu não estava suportando o incomodo.

Quando estou prestes a pedir que ele pare, finalmente ele sai de dentro de mim, e goza no
chão.

Exausto ele encosta na parede e me olha, sorrindo.

— Como uma pessoa tão pequena pode ser tão gostosa? — Pergunta ele.

— Seu idiota.

— Bora terminar logo, tenho um bagulho pra te dar.

— O que é? — Indago curiosa.

— Tu já vai saber.
Após sairmos do banho me enrolo na toalha e o espero na sala. Logo Diego aparece apenas
com um short, as gotículas de água em seu peitoral me deixa excitada novamente. Perto desse
homem eu viro uma ninfomaníaca.

Quando o mesmo para de frente para mim, abre uma caixinha azul que revela uma linda
pulseira. Aquilo era diamante? Claro que não, ele não me daria uma pulseira de diamantes.

— É diamante — Ele diz.

Como se lesse meus pensamentos.

— Diego, ela é linda.

Passo meus dedos pela mesma. Ela brilha sem parar, uma joia fina e delicada.

— É para você.

— Diego, eu n...

— Se você disser que não vai aceitar eu jogo essa porra no vaso e puxo a descarga.

Eu não poderia fazer uma desfeita dessa, além do mais, a joia é linda. Sem pensar duas vezes
eu a retiro da caixinha e coloco no pulso. Com o auxílio do homem, consigo fechá-la. Meu
pulso é fino, por tanto ficou um pouco folgada mas estava linda.

— Não acredito que tenho uma pulseira de diamantes. — Digo perplexa.

— Eu queria te dar uma coisa, não sabia o que aí um parceiro deu a ideia de um brinco mas eu
quase nunca te vejo de brinco. — Explica — quando a mulher mandou a foto dessa, eu falei é
essa porra mermo.

— Obrigada, eu adorei.
Dou um selinho no mesmo.

Passei a noite bebendo com Diego, no fim nós lanchamos. Naquele momento eu não queria
pensar em meus problemas, não queria saber de mais nada.

Na manhã seguinte Diego levanta cedo, eu me recuso a abrir meus olhos. Lembro-me que
necessito ir até o RH do hospital, resolver todas as pendências. Ao menos eu sei que pegarei
um dinheiro muito bom, dará para viver até que eu arrume outro emprego.

De qualquer forma, eu não poderia ficar aqui sozinha, Diego vá trabalhar e eu preciso resolver
minhas coisas.

Saio da comunidade em direção ao meu carro, minha vontade era de prevalecer aqui mas
infelizmente preciso trocar de roupa e enfrentar aquele hospital, porque o RH fica situado no
mesmo.

Chego em casa, preparo um café rápido, tomo um banho e ponho um vestido com uma
rasteirinha. Mais confortável. Prendo meus cabelos e saio de casa novamente. Sempre digo
para para mim que tenho casa apenas para dormir porque meu trabalho me suga... Sugava. De
qualquer forma, a profissão que escolhi, não me permite ficar muito dentro de casa. Esse
negócio de Netflix, ficar deitada no sofá por horas era apenas na minha folga mas agora vejo
que será mais frequente.

Finalmente chego ao hospital, o trânsito estava chato. Hoje é quinta feira, é algo normal. Deixo
meu carro no estacionamento e me direciono ao hospital. O plantão não era o meu, por tanto
quase ninguém ficou me encarando. Chego a recepção onde vejo uma velha amiga.

— Meu amor, você está bem? — Ela pergunta preocupada.

— Estou, pode ficar tranquila. Como estão as coisas aqui?

Ela ri pelo nariz.

— Fabrício foi intimado a fazer uns exames de corpo delito. Todos aqui, os grandes, estão com
medo de que sua denúncia seja verdadeira.
Aquilo me alegrou de uma forma imensurável.

— Espero que descubram a verdade logo. Esse homem tem que ser preso.

— A justiça será feita. Fica tranquila.

— O RH está funcionando? — indago.

— Sim. Boa sorte com tudo.

— Obrigada.

Me despeço e vou de encontro ao andar de cima, onde fica o ninho daquele hospital. Todos os
procedimentos necessários foram feitos e disseram que em poucos dias o dinheiro estaria na
minha conta. Merda, perdi duas horas nessa brincadeira. Vou de encontro ao andar de baixo
onde avisto alguns conhecidos, para não dar trela, pego meu celular e dou total atenção ao
mesmo. Vejo mensagem de meu advogado, dizendo-me que ligaria mais tarde e outra de
Diego convidando-me para almoçar na casa de sua mãe.

Porém, uma mensagem me chama atenção; a de Felipe.

“Fui otario em pensar que poderia te ter de volta, vou mentir não, a raiva de você e desse filho
da puta está me consumindo. Tu quer ele? Tranquilo, tô saindo do teu caminho mas quando
ele rodar, tu vai junto. Não tem desenrolo. Essa porra agora é guerra.

Ele havia me bloqueado.

CAPÍTULO VINTE E QUATRO


Eu quis ligar, conversar como dois adultos mas sei muito bem que estou lidando com um
criminoso, não apenas Felipe. Uma conversa não vai adiantar. Vi tantas notícias na televisão de
meninas que perderam a vida após se envolver com traficantes, sempre achei um absurdo e
agora? Estou trilhando o mesmo caminho. Por mais que eu saiba que Felipe me ama, eu não o
conheço por completo. Há uma outra personalidade, o Ret, esse tem coragem de me matar.

Não digo que estou certa, muito longe disto. Estou me envolvendo com o agora inimigo do
meu ex, ambos traficantes, eu queria ganhar o que além de bala na cabeça? Um buquê de
rosas? Bom, ganhei uma pulseira de diamantes. O fato é que esse tempo longe de Felipe me
fez esquece de quem ele é. Eu temo pela minha vida. Ret matou a própria irmã, sei que ela fez
por merecer mas isso mostra o quão cruel pode ser esse homem. Ele me machucava e se
arrependia depois, pode acontecer o mesmo desta vez, ele pode me matar e se arrepender
depois mas será tarde.

Já no estacionamento eu ligo para Diego, preciso de alguma proteção. Sei do que Ret é capaz.

— Oi amor, você chegou? — sua voz era de cansado.

— Não. Desculpa, Diego mas acho que conhecer sua mãe será muito constrangedor. —
Confesso.

— Nega, ela já te conhece e sempre dizia que Ret não te merecia.


Para de graça, já falei para ele que você vai.

Mordo meu lábio inferior, querendo dizer que seria uma péssima ideia. Está meio óbvio que
ele está levando tudo isso a sério, e eu? Quero algo sério? Não faço a mínima ideia do que eu
quero mas acho melhor eu descobrir logo.

— Tá bem. Está cansado? — indago curiosa com sua voz.

— Ajudei os moleques a descarregar um caminhão de uma loja. Vamos sortear os bagulho para
a comunidade.

Ele diz naturalmente.

— Você roubou um caminhão de uma loja? — Indago surpresa.


— Você perguntou se eu estava cansado, eu te respondi. Surta não. Esses porra estão cheio de
dinheiro, enquanto tem nego aqui na favela sem uma televisão pros filhos.

— Eu sei, Diego mas isso é t...

Ele me interrompe.

— Não tô afim de entrar numa contigo por causa disso. Vem logo pra cá, peço alguém para te
deixar lá na minha mãe.

— Vai me deixar lá sozinha?

— Para de graça, amor. Ela é gente boa e tá fazendo bobó de camarão, tu gosta? A velha da
aula na cozinha.

— Gosto muito. Já estou com fome — Brinco. — Vou passar em casa, pegar algumas roupas e
parto para lá.

Ele ri.

— “Parto para la” tá andando muito comigo. Vai virar favelada.

— Preconceito? — Indago, rindo.

Ouço alguns barulhos, o que parece ser tiro, ao outro lado da linha.

— Nenhum, só não quero tu de shortinho e top pela favela. Gosto do teu jeito comportada.
Nega, vou desligar, os cara vai fazer barulho aqui. Quando chegar aqui me manda mensagem.

— Tudo bem. Até mais.

— Te amo.

Ele desliga.
Encaro a tela do meu celular pasma com o que acabei de ouvir. Ele disse sem querer? Já estava
planejando dizer? Ele realmente me ama? Em tão pouco tempo? Céus, eu não o amo... Gosto
dele e muito mas amar... Eu não sei. Só se ama uma pessoa de verdade, não é mesmo? Ou será
que essa teoria é falsa? De qualquer modo, o que eu estou fazendo com a cabeça de Diego?
Ele é um cara tão legal, amoroso, divertido, de forma alguma merece que alguém brinque com
seus sentimentos e eu não estou fazendo isto, longe de mim. No início é só queria diversão e
ele sabia disto mas mesmo assim deixou tudo chegar a este nível.

Não vou ser hipócrita, gosto de sua companhia, do seu jeito, do seu cheiro, do seu sexo, gosto
de tudo nele e ter um relacionamento com o mesmo não seria difícil mas infelizmente não dá
para mim, esse negócio de me envolver com bandido já deu. Tenho medo de sofrer com ele
como sofri ao lado de Felipe...

Ah Deus, a quem estou querendo enganar? Já estou envolvida a muito tempo e agora para sair
será complicado.

Entro em meu carro e dou partida, deixando aquele hospital para trás. É um adeus que eu não
gosto. Lembro de tudo o que passei aqui, quando terminei meu estágio, quando me chamaram
para trabalhar. Foi uma felicidade única, dei o meu melhor naquele lugar e esses filhos da puta
não acreditaram em mim. Sociedade machista do caralho. O pressentimento ruim que eu
estava sentindo antes era isso, perder meu emprego.

Quando dou por mim as lágrimas estão caindo. O trânsito está uma porcaria.

Chego em casa meio dia e pouca. Pego algumas peças e de roupa. Encaro meu apartamento,
meus móveis que não são muitos mas são meus...Consegui tudo sozinha, já passei por maior
barra na vida e não será isso que irá me derrubar. Queria que meus pais estivessem aqui, eles
sentiriam orgulho de mim, da mulher que me tornei... Tirando a parte de só gostar de me
envolver com criminoso. Sempre vou agradecer a Deus por tudo o que tenho.

Entro no carro e ligo o ar. Por mais que eu goste do meu carro, ódio dirigir é estressante
demais.

Chego na comunidade e antes que eu possa sair do carro mando mensagem para Diego, ele
visualiza e logo responde com um áudio dizendo que um “meno” iria vir me buscar. Saio do
carro, pego minhas roupas e ativo o alarme. Logo avisto o menino, ele sorri para mim e me
ajuda com a bolsa, colocando a mesma na mala de sua moto. Muito gentil.
Não demora muito para que fique de frente para a casa da mãe de Diego, as lembranças me
atingem rapidamente. Enquanto o menino devolve minha bolsa tento afastar o
constrangimento que toma conta do meu ser. Sera que a mãe dele lembra do barraco que fiz
em sua casa? É por isso que as pessoas dizem que precisamos saber entrar e sair dos lugares.

CAPÍTULO VINTE E CINCO

Bato no portão mas rapidamente a senhora surge com seu celular em mãos. Parece que Diego
já tinha avisado que eu já estava aqui. A mulher abre um sorriso ao me ver, aquilo ajudou com
a minha insegurança.

— Entra, tem cachorro mas não morde — Ela diz.

Faço o que a mesma diz. Eu já conhecia a casa, sabia o caminho mas a segui. Céus, cada célula
de meu corpo está tomada pela vergonha. Sinto-me uma adolescente indo conhecer a sogra.

Entramos na cozinha onde tudo estava arrumado, a mesa estava posta e o cheiro estava
maravilhoso. Meu estômago logo briga comigo, durante o dia eu havia tomado apenas um
pouco de café. Por isso estou abaixo do peso, quase não como.

— O cheiro está maravilhoso — Digo.

— Pode sentar. Está quase pronto. Está com fome?

— Não — minto.

— Para de graça, tá com cara de fome. Gosta de misto quente?

— Sim — Respondo rindo pelo modo que ela falou.

Deixo minha bolsa no chão mesmo e me sento na cadeira de ferro.


Observo aquela mulher abrir a geladeira e lembro de minha mãe. Ela cozinhava tão bem, eu
amava chegar da escola e sentir o cheiro da comida.

— Você está diferente desde a última vez que te vi. — Ela diz.

— Envelheci.

— Está mais bonita. Aquele homem estava acabando com você, eu sempre dizia a Diego que
esse demônio não te merecia. — confessa — desde quando você entrou aqui e fez aquele
escândalo — ela ri.

Me encolho na cadeira.

— Minha vida mudou bastante desde que saí desse lugar.

— Todos aqui ficaram sabendo o que ocorreu, você sofreu demais por conta a daquela louca
da Ana.

Há lembranças que eu me privo, e minha gravidez é uma delas, se eu disser que superei é
mentira. Não gosto de recordar Eduardo também.

— Prefiro não lembrar dessas coisas. Momentos obscuros da minha vida.

— Você tem o coração mole, mesmo depois de tudo ainda ajudou o crápula a se recuperar.
Aquilo merece morrer — sua raiva era nítida — homem nojento, vivia batendo na Rayssa. Tudo
bem que ela não é flor que se cheire.

— Nenhuma mulher merece apanhar. — Retruco.

— Não é porque e meu filho não, mas Diego gosta de você de verdade e ele tem um coração.
Ele ligou pedindo pra fazer a comida para ele e disse que te chamaria. — ela suspira — nem sei
porque ele está nessa vida.

O clima fica pesado. Realmente Diego era diferente dos demais, ele não se encaixa nessa vida
de bandido. Fito a mulher preparando o misto quente.
— Obrigada por dizer quem me drogou naquela festa.

Ela me encara.

— Foi uma injustiça.

Eu iria dizer algo mas uma criança adentra a cozinha, era ele, o filho de Felipe.

— Vovô, parou — Ele diz mostrando o celular.

— Descarregou, Kauã. Você fica o dia todo com a cara nisso. Já falei pra sua mãe pegar isso de
você.

O menino da de ombros e se vira para mim.

— Oi — diz brevemente e me dá um sorriso. Em seguida ele sai com. O celular em mãos.

— Quantos anos ele tem? — questiono.

— Quatro. Fez a pouco tempo, a mãe nem ligou. Provavelmente o pai mandou dinheiro para
fazer alguma coisa mas ela gastou com drogas e agora não quer levar o garoto para ele ver,
com medo dele perguntar porque ela não fez a festa. — Desabafa.

A senhora põe o misto quente em um prato e logo me serve.

— Obrigada.

Ela dá uma olhada na panela que está ao fogo e logo se senta de frente para mim. Pego meu
celular e respondo a mensagem de Diego perguntando se cheguei e se a comida está pronta.

Antes que eu pudesse puxar algum assunto, ouvimos alguém chamar no portão. Pela voz era
Rayssa. Acabou minha paz.
A senhora se levanta, e sai. Logo as duas entram na cozinha. Rayssa me encara com raiva. Seus
olhos estavam caídos, repleto de olheiras. Seus cabelos pro alto, seu short sujo. Céus, ela está
acabada.

— O que essa piranha tá fazendo aqui? — Pergunta irônica.

— Desculpa, mas nunca irei refletir sua imagem, aliás o posto de pinha é todo seu. — Retruco.

Ela vem para cima de mim mas sua tia se põe no meio. Kauã corre até a cozinha com um
sorriso no rosto e logo vai abraçar a mãe. O cheiro daquela mulher deixou a casa fedida.

— Barraco na minha casa não. Você tá achando que essa merda é hotel né Rayssa? Vem para
comer e muito mal para dormir. Faz dois dias que você não parece aqui, e pelo visto nem
banho tomou. — Dispara a mãe de Diego — olha poro seu filho, ele sente sua falta. Olha para
você, tão nova e já está acabada. Seus dentes estão horríveis, Rayssa. Acorda

Permaneço quieta.

— Vai me humilhar a frente dela? — Rayssa indaga, com a voz embargada.

Ela precisa de ajuda.

— Você precisa acordar, caralho. Ouv você desperta ou eu não te deixo mais ver esse menino.

Rayssa encara a mulher perplexa.

— QUER SABER? VAI TOMAR NO CU GERAL, A VIDA É MINHA.

Ela empurra o filho para que ele a solte, se vira e sai novamente, batendo a porta da sala com
força. Eu estava constrangida pela senhora a minha frente, ela parece exausta dessa situação.

— Cadê a mamãe? — Kauã pergunta chorando.


Aquilo partiu meu coração.

— Tá vendo? É isso que eu passo. Agora ele vai ficar chorando enquanto essa miserável some.

Observo o pequeno chorando e não me seguro. Me levanto e pego o menino em meu colo, ele
chora ainda ainda mais. Me seguro para não ferrar minhas lágrimas.

— Ei, você quer assistir vídeo no meu celular? — Pergunto.

— Uhum — Ele diz limpando as lágrimas.

Pego meu celular e dou em sua mão.

— Sabe colocar?

Ele assente.

— Quero ficar no seu colo.

Esse pedido me surpreendeu e fez a senhora rir. Me sento na cadeira novamente e ponho o
pequeno sentado em meu colo. Fico observando seus dedos pequenos percorrerem a tela do
celular.

Essa situação está causando um estresse muito grande na cabeça dessa criança. Um pai
traficante e uma mãe drogada, o único exemplo bom é a mãe de Diego.

CAPÍTULO VINTE E SEIS

Diego chega na casa de sua mãe quando a comida está pronta. O mesmo parece exausto e
faminto. Ao me ver ele me dá um beijo.
— Qual foi, Kauã, sai do colo da minha mulher, rapá —Ele brinca.

— Não — O menino diz, rindo.

— Porra, tô morto — Murmura jogando o celular e a chave em cima da mesa.

— Vai tomar um banho, Diego. — Sua mãe Ordena

— Tô indo, vê se vocês me esperam pra comer.

Meu celular toca enquanto Kauã assiste seu vídeo. Era o advogado, ele me dá o celular
rapidamente. Tão educado, nem parece ser filho de quem é.

— Oi, Mariana.

— Oi Doutor, tudo certo?

— Comigo sim. Mariana, ontem a noite eu soube que terá uma audiência para você e o
hospital. Será no mês que vem

Meu coração acelera.

— Isso é ruim?

— É, não podemos dizer que estávamos esperando por isso mas eu farei de tudo para te livrar
da acusação.

— Obrigada. — suspiro — doutor, o senhor pode me passar a sua conta bancária? Quem irá da
prosseguimento ao seu pagamento sou eu.

— Sim. Felipe já havia me acionado a respeito disso. — ele ri — ele não está muito contente
com você pelo visto. Te passo as informações pelo WhatsApp.
Filho da puta, mesmo depois de tudo o que eu fiz, de todo dinheiro que gastei com ele, o
desgraçado ainda foi ingrato.

— Ele é doente. — Retruco.

— Cuidado, Mariana. Os crimes de Felipe Ret vai além do que você pensa. Enfim, tenho que
desligar.

— Certo. Muito obrigada, por tudo.

— De nada. É o meu trabalho.

Quando ele desliga eu respiro fundo, tentando manter a calma. É como se parte de mim
soubesse que não adianta fazer nada, eles vão me prender porque a verdade sempre
prevalece e a outra parte ainda sim insiste em lutar.

— Doutor? Hummm, que chique — comenta dona Celia, mãe de Diego. — você é doutora, né?

Ela põe a Travessa de bobó em cima da mesa. Até a cor estava maravilhosa, cores vivas sempre
nos desperta a fome.

— Ah, não. Sou enfermeira — Respondo. — Na verdade este doutor, é meu advogado.

— Aconteceu alguma coisa?

— Digamos que eu fiz uma pequena besteira. Não há muito com o que se preocupar — minto.

Ela acena com a cabeça.

— Kauã, vamos almoçar? — Ela indaga — vou por sua comida.

— Não. Ela — O menino aponta para mim.

— A moça também vai comer, Kauã. Ela não pode por sua comida.
— Celia diz com o prato em mãos.

— Não tem problema, eu ponho.

Me levanto fazendo o menino se sentar em meu lugar. Pego o prato e o talher de sua mão e
ponho a comida do garoto. Dona Celia não perde a oportunidade e logo põe a sua. Ela estava
cansada e não me custaria nada por um pouco de comida para uma criança.

Kauã solta meu celular assim que vê o prato a sua frente. Não demora muito para que o
mesmo comece a comer sozinho.

— Diego morreu no banheiro. Estou com fome e não vou esperar — Reclama a senhora.

Com razão.

— Também estou faminta.

— Vamos comer? — Pergunta como uma criança prestes a fazer besteira.

— Vamos — Respondo rindo.

Quando termino de por minha comida, Diguinho aparece. Sem camisa e com outra bermuda.
Ele nos observa.

— Porra, vocês são tudo traíra. Nem para me esperar — Reclama.

— Demora um ano no banheiro. Sua namorada está com fome — Celia diz

Namorada... Essa palavra pesa. Diego me encara e sorri ao notar que fiquei sem jeito.

— É minha namorada?

— Para de graça — murmuro envergonhada. Ele beija minha bochecha.


— Quer que eu ponho para você? — Ele pergunta tranquilamente.

— O certo seria eu por para você, não?

— Que pensamento machista, dona Mariana — Retruca rindo.

Pensando bem, verdadeiramente foi um pensamento muito machista. Um homem me


chamando de machista, que vergonha.

Com pequenos gestos vejo que Diego é completamente o oposto de Felipe mas ainda não sei o
porquê de eu pensar tanto nesse egoísta.

Estávamos sentados e finalmente comendo. A comida de Celia é excepcional.

— Diego, o advogado ligou. Disse que terá uma audiência.

— Isso é ruim, né? — indaga ele.

— Sim. Não estávamos preparados para isto.

— Pegou as informações bancárias?

Assinto.

— Acredita que o egoísta já tinha ligado para ele, avisando que agora quem iria dar
prosseguimento ao pagamento seria eu? Ele não tem nenhum sentimento de gratidão

Diego ri após tomar seu suco

— Claro que acredito. Tu que era cega e não via que o cara não valia nada.

— Tenho uma coisa para te contar, melhor, mostrar.


Pego meu celular e ponho na conversa com Felipe. Diego lê a mensagem e ergue a
sobrancelha. Ele não ri, é um sinal ruim.

— Ele quer brincar com fogo. — Diego murmura

— Não vou mentir, estou com medo.

— De quem? — Celia pergunta curiosa.

Demorou para que ela entendesse o teor da conversa. Eu não queria dizer o nome dele ali, seu
filho estava presente. Logo ela se liga.

— Ele não é louco de tocar em você, fica tranquila. — A senhora diz.

— Antes que ele pense, eu mato ele Mariana. — Diz Diego.

Sua mãe o encara mas não diz nada. É complicado para uma mãe ouvir o filho dizer isso, ainda
mais sabendo que ele realmente pode fazer.

Uma semana se passou, tirando a dúvida cruel sobre ser presa ou não, minha vida tem sido
tranquila. Passo mais tempo do que imaginei um dia passar ao lado de Diego. Estamos
combinando de fazer uma viagem quando eu for declarada inocente — de algo que sou
culpada, que irônico —, muito embora eu diga que não é uma boa ideia, ele insiste que não
tem problema e que sabe se proteger. Dá última vez que fui ao Final Feliz encontrei Karol junto
a seu namorado. Ficamos conversando durante horas, ela continua a mesma.

No momento não estou em busca de emprego, quero descansar um pouco mas tenho certeza
que conseguirei rapidamente. Celia está preocupada a cada dia mais, Rayssa passa longos
períodos fora de casa e quando retorna não dá a mínima para o filho. Felipe tem mandado
soldados avisar que ele quer ver o filho, mas Rayssa não dá a mínima, está com medo demais
para levar o garoto lá.

Duas mulheres com medo de um só homem. Uma coisa nós duas temos em comum, sabemos
bem do que ele é capaz.
CAPÍTULO VINTE E SETE

Sentada em frente a televisão, comendo bolachas e com a blusa suja, meu celular toca, penso
ser Diego, normalmente ele me liga essa hora, horário do almoço mas me surpreendo ao ver o
nome do hospital na tela. Talvez queiram saber se meu dinheiro caiu certinho.

— Mariana? Sou eu, Ster.

A recepcionista do hospital.

— Oi meu amor, como vai?

— Muito bem. Mariana, o direitor do hospital pediu para que eu te ligasse e perguntou se você
tem disponibilidade para vir até o hospital agora mesmo.

Meu coração acelera, dou um pulo do sofá e minhas bolachas vão ao chão.

— O que houve? — Pergunto aflita. Estou com medo.

— Eu não sei mas o clima tá estranho.

— Certo. Eu estou indo.

— Quando terminar de conversar com ele, quero saber tudo.

Eu ri.

— Ta legal.
Encerro a ligação e corro para o banheiro, tomo um banho rápido e visto uma roupa social.
Não posso aparecer de qualquer forma em frente ao direitor do hospital, por mais que eu
saiba que o mesmo irá me ferrar. Espero estar enganada. Estava tudo em paz demais para ser
verdade.

Finalmente dentro do meu carro não paro para abastecer, preciso chegar rapidamente, a
ansiedade está me consumindo de dentro para fora. O que um homem tão importante como
ele quer comigo? Uma funcionária que trouxe problemas para seu hospital? Será que foi uma
boa ideia eu confirmar presença? Tanto faz, já estou ferrada.

A chegar no hospital vou direto a recepção, Ester me acompanha até a sala da Doutora. Ambas
paramos de frente para a porta.

— Estou com medo— Sussurro



Calma — Ela sussurra de volta e bate na porta.

Seguro a alça de minha bolsa com força. A porta se abre revelando um senhor sentado na
cadeira, bebericando seu café. A Doutora que havia aberto a porta pede para que eu entre,
apenas obedeço.

Observo alguns papéis em cima da mesa mas ignoro.

Os olhos daquele senhor me ditam por alguns segundos. Ele se levanta, põe a xícara em cima
da mesa e endireita sua gravata.

— Não sabia que a funcionária era tão bonita assim. Eu teria me vestido melhor — Ele diz
divertido. — Prazer, Mariana. Sou Antônio Marcos.

— É um prazer.

Ele aperta minha mão.

— Sente-se, precisamos conversar um pouco.

Me sento de frente para o mesmo, sentindo os olhos da doutora que antes era minha chefe
queimar sobre mim.

— O senhor poderia me dizer por favor o motivo de eu estar aqui? Estou quase pirando —
confesso.

Minha mão estava suando.

Claro — ele ri — Mariana, o conselho é isto me inclui, soube do ocorrido no hospital,


principalmente da sua denúncia contra Fabrício Meirelles...

O interrompo.

— Olha, se for para jogar na minha cara que eu fiz um tumulto eu estou fora. Não vou perder
tempo. — Digo me levantando.

— Pelo amor de Deus, Mariana. Senta aí — Diz a Doutora. Prece envergonhada.

— Negativo, já fui julgada demais. Já sei o posicionamento de vocês em relação a isto.

O homem me analisa cuidadosamente.

— Sente-se, por favor. Eu sou um homem muito ocupado mas vim até o hospital apenas pra
falar com você. Por favor, não faça essa desfeita. — Ele diz.

— Tudo bem...

Suspiro e me sento novamente.

— Então, Mariana. O resultado do seu exame chegou ao hospital, juntamente com o de


Fabrício.

— E? — Digo sem ânimo.

E eu Antônio Marcos, venho em nome do conselho e principalmente deste hospital; pedir


desculpas a você.

Arregalo meus olhos, sem acreditar no que estava ouvindo.

— Os exames compravam que Fabrício tentou algo contra você — Confirm a Doutora. — Ele já
foi afastado de seu cargo. Nós sentimos muito, Ribeiro.

— E-eu...

Não contenho as lágrimas. Na frente daquelas pessoas eu me ponho a chorar feito criança.
Não me interessa mais nada, eu só queria por aquilo para fora. Graças a Deus a justiça foi feita.

Sinto a mão da doutora em meu ombro, tentando me conformar.

— Acho melhor desacostumar a ficar em casa. — Antônio diz — o hospital está abrindo uma
recontratação. Isto se você quiser.

— Claro que aceito, mas é claro.

Tanta felicidade não cabe debtro de meu peito. Sei que ele está fazendo isto para que eu não
processe o hospital mas entre meter um processo e fazer o que eu amo, obviamente prefiro a
segunda opção.

Assim que terminamos a conversa senti vontade de gritar ao hospital inteiro que eu estava de
volta, mas ao invés disto, corri para o estacionamento. Eu queria contar a novidade para
Diguinho, ele com certeza iria se alegrar. Paro rapidamente para abastecer e
logo retorno a estrada. Ligo o rádio, está tocando Marília Mendonça, canto com vontade.

Na divisa das comunidades alguém bate com a mão em meu carro, parecendo que a intenção
era amassar a lateral do veículo com a própria mão. Abaixo meu vidro e ponho o rosto para
fora.

— Bate na bunda da mãe — Digo raivosa.

Avisto uns homens armados e logo ponho a cabeça para dentro.

— Abre a porta.

Me viro rapidamente e vejo Felipe com o rosto para dentro do meu carro. O susto que levei foi
inigualável.

— Para que? — Indago receosa.

— Tá surda, porra? Abre logo.

Destravo as portas e ele dá a volta, entra e se senta no banco ao meu lado. O cheiro de
perfume masculino toma conta do automóvel. Sua camisa branca cobre a pistola, mas o
volume é nítido.

Aqueles olhos puxados estavam focados em mim, enquanto os meus estão fixos no volante.
Estou com medo. Sinto sua mão tocar minha nuca, logo seus dedos percorrem meu pescoço,
no local da tatuagem. Fecho meus olhos quando sinto sua mão em meu queixo. Minha
respiração me denuncia, meu coração não se acalma por um segundo. Tomo uma dose de
coragem e abro os olhos, vejo que ele está mais perto que antes. O silêncio me mata.

Mas que diabos ele está fazendo?

Me viro para fitar seus olhos. Malditos olhos, maldito perfume, maldito boné preto.

Felipe abre um sorriso maroto, não ouso querer saber o que se passa em sua mente.
E de repente, ele me beija.

CAPÍTULO VINTE E OITO

Tento interromper o beijo mas sua mão pesada vai até minha nuca, onde ele aplica pressão
assim me impossibilitando de sair daquela situação.

Não nego, eu quis. No fundo eu sabia que estava sentindo falta disso, mas não queria que
fosse desta maneira, não nessa situação. É muito arriscado. Estou ficando com Diego e não
quero o decepcionar e muito menos terminar morta.

Levo minha mão ao seu peito e o empurro com toda a minha força. Ele não esperava por isso.
Seus olhos me dizem isso.

— Vai ficar fazendo esse jogo, Mariana? Não chega, não? — questiona — porra, já me fez
pagar pelo que fiz.

— Eu não estou jogando, Felipe.

— Me perdoa cara. Eu esqueço que você deu uma de louca e ficou com esse merda — Diz
autoritário.

Solto uma risada pelo nariz e desvio meu olhar.

— Aí, aí, Felipe. Você acha que o mundo gira em torno de você. Não estou com ele para te
irritar, estou porque gosto.

— Você sabe que eu te amo.


Ouvir aquilo fez meu cérebro entrar em colapso.

— Merda, Felipe porque você tem que aparecer e estragar tudo? — pergunto irritada —
estava tudo indo tão bem. Você me deixa confusa.

— Tu me ama e sabe disso. Só está perdendo tempo.

— Não. Eu não amo. — minto seriamente.

Felipe me fita por alguns segundos, parece que sua ficha finalmente cai. Ele acena com a
cabeça algumas vezes, passa a língua entre os lábios e desvia seus olhos mas rapidamente me
encara.

— Sabe que quando eu invadir e se tu tiver com ele, não vou perdoar, né?

— É assim que você me ama? — Indago olhando em seus olhos.

— Você tem sua opções: ou fica comigo, ou mete o pé daqui e nunca mais vê esse Zé ruela.
Some do Complexo do Chapadão.

Nego.

— Prefiro a terceira opção.

— Qual?

— Eu mesma decido o que faço da minha vida.

— Você ainda vai se arrepender, Mariana e não será eu quem vai fazer você passar por isso.
Você mesma está cavando sua cova. Quer ficar com ele? Tranquilo, essa foi a última vez que
tento.

Dito isto ele sai do carro mas seu cheiro permanece. Felipe não deixou eu se quer dizer algo,
de todo modo, eu não teria o que dizer.
Sei que não devia mas esse pequeno encontro mexeu comigo, ouso dizer que despertou coisas
que não deveria. Estou me sentindo uma puta por gostar de dois homens ao mesmo tempo.
Ao menos agora eu sei que Felipe nunca mais irá me importunar, eu só não deveria ficar
chateada com isso. Suas palavras soaram duras como rocha.

Toda a minha felicidade de vai e um sentimento ruim se apodera de mim, como se algo
faltasse...

Diego manda um dos meninos me dar a chave de sua casa, onde fico até o mesmo chegar, pelo
fim da tarde. Para distrair a mente eu mesma faço a janta para nós, normalmente ele pede
lanche mas estou enjoada de comer lanche. Preciso de comida. Tenho passado bastante
tempo na casa de Diego, onde eu já tenho uma parte do guarda roupas mas hoje optei por
vestir uma de suas camisetas de basquete falsificada, e uma calcinha. Levando em conta que a
maioria de minhas calcinhas são tão grandes que parecem um mini short, fico confortável.

— Porra, isso poderia se repetir mais vezes.

Ele diz entrando na cozinha.

— Isso o que? — Indago.

— Eu chegar em casa e te encontrar fazendo comida, vestida assim. Tu me mata a cada dia
mais.

— Você que está muito apaixonado — Rebato rindo.

Deixo a colher em cima da pia e vou em direção ao homem a minha frente. Levo meus braços
ao redor de seu pescoço e dou um selinho. Suas mãos vão a minha cintura, onde ele aplica um
pouco de pressão.

Me afasto um pouco, querendo contar a novidade que me ocorreu. — Me chamaram para


trabalhar novamente no hospital, isso não é incrível? — Digo animada.

— hum.
— O que foi?

Diego me solta e coça sua cabeça.

— Sabe o que é? Agora você não vai ter mais tempo para mim.

— Mas é claro que vou. Poxa, Diego você sabe como isso é importante para mim

— Pensei que ele não te quisessem lá.

— É mas deu tudo certo.

Corto o assunto, não quero que ele se estresse pelo que fez Fabrício. Ele ainda não engoliu
essa história.

Diego passa por mim e se senta na cadeira a minha frente. Seu semblante não é um dos
melhores, ele realmente não havia gostado nada da notícia. Me aproximo novamente, passo a
mão por seus cabelos e levanto seu rosto.

— Relaxa, tá bom? Sempre que eu sair do hospital, venho para cá.

— Desculpa, eu tô com a cabeça cheio de b.o

— Aconteceu alguma coisa? — Indago curiosa

— Ret tá ferrando minha vida, Mariana. O filho da puta é inteligente pra caralho. Fica difícil
contra atacar. — desabafa.

— O que ele fez?

— Hum, o filho da puta hackeou um face antigo, meu. Mandou mensagem pro Cris, o moleque
que cuida das cargas. Deu golpe de estado. Ele tá foda.
Obviamente não quis contar o que houve entre Felipe e eu mais cedo, não estou afim de por
mais lenha na fogueira.

— Isso já virou pessoal. — murmuro

— Ele não aceita que te perdeu.

Sua mão me puxa para sentar em seu colo. Abri minhas pernas e me senti de frente para ele,
olhando em seus olhos.

— Você me ama tanto assim a ponto de comprar briga com o Ret?

— Eu te amo tanto que você nunca mais sairá minha vida. Querendo ou não.

Seu tom me assusta. Foi inevitável não lembrar do que Felipe havia me dito mais cedo, sobre
eu estar cravando minha própria cova, ou algo do tipo. Tudo o que eu sei é que as coisas estão
intensas demais, tudo saiu do meu controle. E consigo enxergar nos olhos de Diego que ele
não brinca em relação a isto, ele realmente faria de tudo para ficar comigo, mesmo se eu não
quisesse.

— Isso não é amor, é doença.

— Tanto faz. Eu só quero você.

CAPÍTULO VINTE E NOVE

O mês estava para virar, faltará apenas alguns dias. Estou de volta ao trabalho mas sinto que
estou uma pilha de nervos por conta desta audiência tão esperada. Como se já não bastasse
uma pessoa estressada, ainda tem Diego que está com sede do sangue de Felipe, que vem
aprontando cada vez mais. No fundo Diego só quer que Ret o deixe em paz, cada um na sua
comunidade mas é óbvio que Felipe não quer isso. Ele é orgulhoso, detesta perder. Diego
soube que Ret está preparando uma nova invasão e isso me deixa aflita, ele mesmo disse que
não me perdoaria. Diversas perguntas pairam sobre minha cabeça, será que ele teria mesmo
coragem de me matar, mesmo após tudo o que fiz? Meu subconsciente grita que não, mas não
é fácil confiar em homens como esses.

A maioria no hospital se alegrou quando retornei, esquecendo que eu sabia quem ficou ao
meu lado quando mais precisei. Bando de hipócritas, falaram de mim por trás, me acusaram
até o rabo encher e agora querem pagar de alegres com a minha volta. Estou dando um gelo
muitas pessoas, não que isso vá acrescentar algo em minha vida mas gente falta nos matamos
assim, na unha.

Hoje estou a fazendo algo que há dias estou apenas pensando fazer. Finalmente tomo minha
injeção anticoncepcional. Ficar grávida de traficante novamente? Nem pensar.

— Pronto. — Diz Eleonor após aplicar

O clima entre nós não está láuito bom mas precisei dela para aplicar minha injeção.

— Obrigada. — Digo pegando a seringa de sua mão e descartando a mesma.

— Mariana, você contou alguma coisa para William? — Ela indaga, sem jeito.

— Não, mas eu deveria. Como amiga dele, esse é meu papel.

Ela fica em silêncio por alguns segundos, como se minhas palavras pesassem uma tonelada.

— Não fala, não. Por favor. Eu realmente gosto dele. Quero tentar algo.

— William já sofreu muito, Eleonor. Não brinque com ele.

—Eu não irei. Prometo, me dê uma chance.

Rolo meus olhos.

— Certo, mas se você magoar ele, eu juro que quebro sua cara.
Ela ri.

— Acordo feito.

— Feito.

— Mariana?

A porta se abre relevando Elias, nossa supervisor que a pouco havia chegado de férias. Eleonor
e eu olhamos juntas para a porta.

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto.

— Tem um homem querendo falar com você, esta lá na recepção.


O que vocês estão fazendo sozinhas aqui? — pergunta malicioso.

— Ah me poupe, Elias. — Diz Eleonor

— Ué, gente. Eu hein, perfeitamente normal. Eu também gosto. — Ele Si passando a mão no
cabelo invisível.

Ele é careca.

— Gosta do que, de mulher? — Pergunto, rindo.

— Não, de homem. — Diz na lata. — Eleanor, volta pro trabalho e você vai ver logo o que o
homem gordo quer.

Homem gordo a minha procura? Realmente não faço ideia de quem seja. Caminho
rapidamente para o andar de baixo, louca para matar minha curiosidade. A injeção faz meu
bumbum doer, juntamente com minha perna. Quando finalmente chego, uma amiga da
recepção aponta para o homem sentado na cadeira ao lado, me aguardando.

Ele realmente era gordo, não muito mas era. Estava de terno e gravata e sua barba chamará
atenção. Assim que nota a minha presença o homem se levanta e me cumprimenta.
— Mariana Ribeiro? — Assinto apertando sua mão —Sou seu advogado, desculpa aparecer
assim.

— Ah, minha nossa. Eu não fazia ideia

Nunca vi meu advogado, a foto de seu WhatsApp era da logo do escritório onde o mesmo
trabalha.

— Desculpa o incomodo mas foi o único horário disponível para conversarmos pessoalmente.
— explica.

— Não, tudo bem. Vamos sair daqui, para termos mais privacidade.

— Certo. É necessário.

Levo o home até a sala onde costumo descansar, ele se senta e põe sua pasta no chão.

Meu coração grita para que ele comece a dizer logo o que traz sua ilustre presença a este
hospital.

— O senhor quer um café? — Pergunto um pouco nervosa.

— Oh, não. Estou bem. Vamos direto ao ponto. Mariana, tive acesso ontem a noite ao vídeo
que será apresentado ao juiz, neste vídeo mostra você levando roupas para Felipe. E bem
nítido que você estará usando dois uniformes e ao sair de seu quarto, está com o anterior. —
explica.

— É o que isso significa? — pergunto.

— Que infelizmente eles já tem provas suficientes para te prender.

Minha garganta seca, minhas mãos estão tremendo demais.


— E o que eu faço? — sussurro.

Ele suspira.

— Vou dizer o mesmo que eu disse ao Felipe...Foge.

— O que? Não! Felipe é um egoísta, criminoso, eu não!

— Egoísta? Ele me ligou ontem alguns dias atrás, dizendo que se você não tivesse dinheiro
para pagar, ele pagaria.

— Ele fez isso?

Ele acena com a cabeça.

— Não há mais nada que eu possa fazer, Mariana mas se quiser ir a audiência, eu estarei lá
para lutar por você mesmo sabendo ser causa perdida.

Cada palavra que sai de sua boca parece um soco na boca de meu estômago.

— Qusntod por centos de chance de eu ser presa? — indago.

— 97% — Ele diz. Acabando com minhas esperanças — tudo o que posso fazer é pedir redução
de pena.

— Tudo bem, eu vou pensar no que irei fazer. Muito obrigada por tudo.

Ele se levanta.

— Pensa muito bem, senhorita. Sei que fez porque queria apenas ajudar e não porque tem um
coração maldoso.

— Fui burra a esse ponto, por alguém que nem merece — Forço um sorriso — venha, te levo a
saída.
Acompanho o mesmo até a saída do hospital. Meu dia havia terminado ali, todas as minhas
esperanças foram embora. Óbvio, eu não poderia querer ser inocente em um caso que su
culpada até o pescoço. No momento estou me odiando mais que tudo.

Retorno a sala de descanso, me sento e choro, como uma criança. Não sei exatamente quanto
tempo se passou até a porta ser aberta e eu ver minha chefe entrar.

— Consigo ouvir seu choro do corredor. O que está acontecendo?

— Nada. Estou voltando ao trabalho, me desculpe.

— Você não vai sair daqui desta forma, se for é direito para casa. Você não está bem — diz —
aquele homem que saiu daqui era se advogado, né?

— Sim. Ele disse que eu vou se presa. Não sei o que fazer

Volto a chorar. Ela suspira e se aproxima de mim, levanta meu rosto e olha em meus olhos.

— Sabe o que eu faria no seu lugar? — nego — fugiria.

Me surpreendo.

— Me deram este conselho mas não sei se tenho coragem.

— Vai para o morro onde esse tal Ret fica. A polícia não vi quere armar uma guerra com a
facção apenas para pegar você lá.

Abro um sorriso com esse conselho. Que diria eu estar ouvindo isso da minha própria chefe.

— Você é doida, sabia? — Digo.

— Você não sabe um teço.


CAPÍTULO TRINTA

Permaneci em meu trabalho, como se nada tivesse acontecido, quando deu o fim do meu
plantão dei um jeito de enrolar mó já chefe até ela ir embora e permaneci trabalhando. Não
estou com paciência para enfrentar a realidade, sei que quando eu sair daqui, tudo vira a tona
e vou chorar novamente. Diego já me ligou umas quinhentas vezes, não atendi. Simplesmente
não quero.

Horas se passam, finalmente a minha fome aperta e me sento na cantina para tomar um café e
comer um sanduíche. Observo as pessoas caminhando pelo hospital enquanto penso se
realmente quero ir para a prisão, se meu advogado disse que não tem jeito, realmente não
tem. Talvez hoje seja meu último dia aqui, é uma triste realidade mas foi o que eu escolhi no
momento em que optei por ajudar Felipe. Só de pensar que terei de deixar minhas coisas que
conquistei com garra. Sinto vontade de chorar. Onde vou me meter? Na casa de Diego? Sei
que passo a maior parte do tempo lá mas é diferente, você deixar sua casa por alguns dias
para ficar com alguém mas deixá-la por tempo indeterminado é muito duro. Por outro lado,
não tenho mais tempo para pensar.

Finalmente tomo coragem, troco de roupa e pego minhas coisas. William já não estará
presente para que eu pudesse me despedir, quase ninguém do meu plantão estava.

No estacionamento eu encaro meu carro e penso se deveria o levar comigo, talvez Diego posso
escondê-lo em algum lugar ou trocar a placa, até mesmo vender. Observo cada canto daquele
lugar e deixo correr uma lágrima. O que eu fiz da minha vida? Será que valeu a pena, ou ainda
vai valer? Entro em meu carro e dou partida.

Vou até minha casa, pego algumas roupas e meus documentos.


Objetos necessários. Meu celular toca novamente, era Diguinho. Não quero atender.

Retiro os mantimentos do armário e da geladeira, bato na porta da vizinha ao lado e a ofereço


tudo. Nada boba, ela aceita. Inventei a desculpa que irei viajar e as coisas poderiam estragar.
Tranco tudo direitinho e saio de lá em alta velocidade, eu só queria que um carro me acertasse
nesse momento. A sensação de nadar e morrer na praia é horrível.
Quando estou prestes a entrar na comunidade com minha mochila e outra bolsa em mãos,
vejo um dos homens pegar o rádio comunicador, olhar para mim e falar no mesmo. Não sei ao
certo o que ele falou mas sei que foi com Diego.

Quando estou prestes a entrar em sua casa, ouço algumas vozes. Dentro de sua casa havia
alguns homens, eles falavam sobre uma invasão e provavelmente era contra a comunidade
onde estará Felipe. Estão planejando como vão matar Ret e aquilo me deixou ainda mais
nervosa.

— O bagulho é esse mesmo. Atacar de surpresa.

Ouço alguém dizer.

— Ele agiu na covardia, agora vai pagar, pô. Deixa passar só o Genario, tá ligado?

— Vai passar ninguém.

Diego diz, raivoso.

— Vai fazer o que com ele quando pegar?

— Picadinho de Ret. Postar o vídeo pra geral ver.

Novamente a voz de Diego soa.

Estou parecendo vara verde, minha vontade é de ligar para Felipe nesse exato momento, mas
lembro que foi ajudando o mesmo que me enfiei em uma furada.

Tomo coragem e abro a porta, no mesmo instante os olhos assustados daqueles homens se
voltam para mim. Observo cada um deles e nenhum som é emitido, continuamos nisto por
alguns segundos. Respiro fundo tentando não parecer nervosa com o que eu acabará de ouvir.

— Érr... Boa noite. — Digo.


— Boa — um deles responde.

— Onde você estava que não me atendeu? — indaga Diego — tem celular para que?

— Como é? Eu trabalho Diego, não posso ficar o tempo inteiro no celular não.

Fecho a porta atrás de mim colocando a bolsa no chão.

— Tu já deveria ter saído a muito tempo, Mariana. Onde tu tava? — Pergunta novamente, sem
paciência.

— Eu já falei. Se quiser acreditar ou não, problema é seu.

Diego passa a língua entre os lábios a acena com a cabeça, em seguida faz sinal para que os
homens saiam.

— Valeu, aí, Diguinho. Depois nós continua — Diz um deles.

— Suave.

Awues três homens saem me deixando sozinha com o homem a minha frente. Ele estava com
raiva, era raro ver Diego desta forma, muito raro mas hoje eu também estou e por isso não
vou ficar por baixo.

Caminho até a poltrona e sento na mesma, ainda sentindo os olhos dele sobre mim. O que me
incomoda profundamente.

— Que foi, vai ficar me olhando? — Indago.

— Onde você estava e que coisas são essas?

Respiro fundo.

O advogado foi até o hospital, Diego. — Murmuro olhando para o chão.

— O que aconteceu?

— Ele disse que não tem jeito, eu serei presa porque as provas são fortes, se eu for na
audiência está tudo acabado para mim.

Diego passa a mão pelo rosto.

— Sinto mais ódio desse filho da puta — Refere-se a Ret.

— Eu quis ajudar, a culpa é minha. — digo — mas o advogado me deu um conselho. Mandou
eu fugir.

— É o único jeito mesmo.

— Passei na minha casa peguei algumas coisas e vim para cá — respiro fundo — dessa favela
eu não saio mais.

Diego se senta ao braço da poltrona e acaricia meus cabelos. Fecho meus olhos querendo ser
levada pelo sono.

— Vai virar foragida, sabe que não vai poder sonhar em descer isso aqui. De adeus ao seu
carro, emprego, liberdade por mais que você não esteja na prisão, da sua liberdade você terá
que abrir mão de qualquer forma. — Explica. — estou aqui para te ajudar no que for. Tu vai
ficar aqui comigo pro resto da sua vida e não vai te faltar nada. Se quiser posso abrir um
negócio pra tu, sei que tu gosta de trabalhar.

Eu estou arrasada, Diego — Digo chorando.

— Eu sei, princesa.

Naquela noite eu chorei bastante mas adormeci em seus braços, foi meu refúgio. Quando
estou ao lado dele me sinto indestrutível, como se eu pudesse me regenerar.

CAPÍTULO TRINTA E UM

Foram dois dias de muito planejamento contra Felipe, vulgo Ret. Eu absorvia cada informação,
mesmo sem querer. Meu coração idiota fez a mulher tomar uma decisão terrível, eu iria
alertar Felipe sobre o que está ocorrendo. Enquanto eles conversam na sala, eu vou até o
quarto. Felipe havia me bloqueado mas faço questão de enviar um SMS, torcendo para que ele
me responda.

Por que eu estou fazendo isso? Porque eu amo esse desgraçado.

— Amor?

Ouço a voz de Diego e me assusto.

— Oi... Quer alguma coisa? — Pergunto nervosa.

— Nada, nada não. Vou trocar de roupa aqui, rapidinho. Pergunta lá se eles querem alguma
coisa.

Tá bom.

Saio do quarto com meu celular em mãos. Aquela sensação estranha de que algo ruim vai
acontecer, retorna. Paro de frente para aqueles três homens que novamente estavam
presente naquela casa. Tenho vontade de correr daqui, mas para onde eu iria? Falta poucos
dias para a minha audiência e eu já fugi.

— Vocês querem alguma coisa? — pergunto.



Eles me observam.

— Eu quero uma cerveja — Um deles levanta e vem em minha direção — eu pego, não precisa
se incomodar. — diz.

— Não, por favor. Não é incômodo.

Na verdade era, não sou empregada de Diego. O homem a minha frente parece nervoso, ele
me encara atentamente e seus lábios mexem.

— Sai fora daqui.

Ele murmura muito baixo.

Espremo meus olhos tentando entender o que ele disse ao certo e porque ele disse isto. Viro
as costas e vou até a cozinha. O cheiro do perfume de Diego se faz presente, logo deduzo que
o mesmo está na sala. Levo a lata de cerveja para o homem, ele pega e me lança um breve
sorriso. Em sua mão está sem celular.
Aqueles homens me olham de forma estranha. Eu não consigo entender ao certo o que está
acontecendo.

— Amor, tô indo resolver um bagulho e já volto pra resolver outro contigo.

Diego diz, em seguida me da um selinho. Passar pela porta junto a seus amigos eu ouço um
deles dizer “Caralho, tu é muito falso” eles riem.

Corro para o quarto imediatamente. Não sei o que está acontecendo mas não quero ficar aqui
para descobrir, principalmente quando a merda toda me envolve. Pego minha mochila e em
seguida vou dobrando minhas roupas. Uns dez minutos depois, ouço o som de oito tiros,
parece próximo, algo comum por aqui. Continuo o que antes eu estava a fazer. Quando está
tudo pronto mando mensagem para William, na esperança de obter algum conselho. Sei que
tenho para onde ir mas a polícia me acharia fácil lá e não quero ter que ir até Felipe. Então
isto prova que ele leu a minha mensagem.

Meu celular toca, era ele, o próprio Ret.

— Onde você tá?

Ele pergunta rapidamente. Parece nervoso

— Na casa do Diego.

— Sai daí, porra. Sai logo Mariana

— O que tá acontecendo?

Sinto vontade de chorar. Estou com medo, assustada.

— Meu informante, o mesmo que falou com você, me deixou a par de tudo o que esse filha da
pura do Diego quer. Ele vai te torturar até que eu desista da comunidade.

Não deixo ele terminar de falar, corro até a porta mas para a minha surpresa a mesma está
trancada.

— Ele me trancou, Felipe, eu estou trancada. Me ajuda, por favor.

— FILHO DA PUTA, TRANCOU ELA.

Felipe parece falar com alguém.

Me afasto da porta, meu corpo está trêmulo. Rezo mentalmente para conseguir sair disso
tudo. Agora tudo faz sentido, ou melhor, mais ou menos, Diguinho todo esse tempo estava
fingindo, me atraindo para me usar como moeda de troca. O que o ser humano não faz por
dinheiro. Estou me sentindo uma perfeita idiota, Ret tentou me alertar mas eu estava cega, só
conseguia pensar no quão ele é egoísta. Agora cá estou eu, prestes a ser morta.

Ouço o barulho de chaves, em seguida a porta se abre. Era ele. Procuro manter a calma e firgir
que nada houve.

— Tudo bem, Eleonor. Também irei sentir sua falta.

Disfarço.

Ele voltou né?

Felipe pergunta.

— Sim.

— Tenta manter a calma. Ele não vai fazer nada com você enquanto não entrar em contato
comigo me ameaçando, mas quando ele fizer isso você vai estar longe daí. Eu prometo.

— Tudo bem — forço um sorriso — não se esqueça de mim. Te amo, amiga.

— Eu também te amo muito, morena.



Encerro a ligação sentindo os olhos de Diguinho sobre mim. É difícil respirar ou pensar. Minha
mente apenas grita a todo instante que eu iria morrer, que ali era o fim para mim.

— Já chegou? — Indago.

— Uhum — ele se aproxima — sabe quando tu quer muito fazer uma coisa e fica dias
pensando nisso até que finalmente pode fazer?

— O que tem?

— Eu estava contando os dias para fazer isso, mano. — ele ri — como estava.

Fazer o que, Diego? Eu não estou entendendo.

Sinto o impacto de seu punho contra minha boca. Meu celular cai para um lado e meu corpo
para o outro. Sinto que meu lábio se abriu, levo a mão ao local constatando o fato. Não para
de sangrar. Choro pela dor.

— Achou que eu não vi sua a ceninha de vocês no carro? O beijo tava bom, né, sua puta? —
Diz raivoso. — me fazendo de chacota pra comunidade.

Ele vem até a mim, segura em meus cabelos e me arrasta até o quarto. Tento dar socos em seu
braço mas nada adianta. A camiseta rosa que eu usará está completamente manchada pelo
sangue. Diego me joga ao pé da cama e vai de encontro ao seu guarda roupas.

— Por que você tá fazendo isso? — indago em meio ao choro.

— Aquele filho da puta já me ferrou demais, agora estou usando minha melhor arma contra
ele. — ele ri — você ajudou muito vindo morar aqui.

— Pensei que me amasse.

— Eu amava, mas essa comunidade é mais importante.

Quando ele se vira novamente, eu me levanto e corro. Vejo meu celular caído, a tela trincada.
Pego o mesmo e ponho nos seios. Logo sinto ele puxar meus cabelos novamente, me fazendo
voltar para o quarto.

SOCORRO — Grito exasperada — FELIPE VAI TE MATAR, SEU DESGRAÇADO.

— Ou ele me mata, ou eu mato você.

CAPÍTULO TRINTA E DOIS


Diego me prendeu ao pé da cama, com uma algema, que me aperta e machuca. Minha cabeça
dói de rato socos e puxões de cabelo que levei. Ele saiu após a sessão de espancamento, ainda
não retornou. Senti tanta vontade que ir ao banheiro que Irineu em meu short, agora que a
urina secou o cheiro está horrível. O ar condicionado e o ventilador estão desligados, o que
deixa o ambiente muito quente, estou derretendo. Pela janela posso ver a lua, está de noite.
Meu estômago ronca, minha boca está seca. Meu lábio arde e o sangue já secou no mesmo.
Como as pessoas conseguem ser tão ruins com seres humanos que não são capazes de matar
uma barata? É frustrante você ser boa o tempo inteiro e só levar na cara, se eu conseguir sair
daqui com vida, não vou perdoar. Estou cansada de toda essa porra, afinal, quem se junta com
os porcos...

Ouço passos se aproximando, passos firmes. Por um breve momento pensei ser minha
salvação, mas era o próprio demônio vindo, afim de contemplar a veracidade do meu em meus
olhos.

— Acho que é hora do show. — Murmura pegando seu celular.

— Vai tomar no cu, seu imbecil.

Ele ri. Diego se senta na cama, enquanto suas pernas estão ao meu lado. Sem pensar duas
vezes eu mordo uma delas, com toda a força e ódio possível, ignorando a dor que eu estava
sentindo por meu lábio estar cortado.

— ME SOLTA, PORRA — grita dando soco em minha cabeça.

Não aguento as pancadas e largo sua perna. Ele se afasta mas logo me dá um chute nos seios.
Fica difícil respirar.

— Piranha do caralho — murmura ele. Em seguida põe o celular no ouvido — Fala aí, Ret. Tudo
tranquilo?

— FELIPE, SOCORRO — Grito desesperada. Sentindo minhas lágrimas caírem sem permissão.

— Calma, Ret, ela ainda tá bem...tu sabe o que eu quero, seu comédia... Sai fora do complexo,
mete o pé tu e essa piranha...Eu já sabia, teu orgulho é maior do que a merda do sentimento

que tu tem por ela. Então ela morre assim como o x9 que tu infiltrou aqui. Tu acha que só tua
mãe fez filho malandro.

Diego finaliza a ligação e joga o celular na cama. Parece frustrado, muito frustrado.

— É, esse Zé ruela não gosta tanto assim de você. — comenta — tá fodida, Mariana, eu vou
acabar com você.

— Não, por favor. — suplico.


Ele solta a respiração e vem até a mim. Se abaixa e me encara.

— Eu realmente gosta de tu, mas pensei que ele gostasse mais. Você sabe o real motivo de
Rayssa não querer pisar no mesmo lugar que Ret? — nego — a pulseira que eu te dei, ele que
comprou pra você. Rayssa roubou e trouxe pra mim. Eu esperei tudo se apaziguar, você ficar
comigo para finalmente por tudo em ação. Pro cara te dar uma pulseira daquela, ele tem que
amar muito, mas eu me enganei. Ele não te ama, não a ponto de renunciar a comunidade.

Essa confissão me deixou abalada, por que Felipe não me falou nada? Talvez as coisas tivessem
sido diferentes ou não, eu estava tão cega.

Eu tinha toda a minha vida pela frente mas deixei o maldito desejo tomar conta do meu
raciocínio e a praga do amor, tomar conta do meu coração. Ajudei Felipe sem pensar muito
bem, me entreguei a Diguinho querendo diversão e terminei desta forma. Onde eu estava com
a cabeça em querer me relacionar com esse tipo de gente? Talvez, lá no fundo nós sempre
vamos achar que por mais ruins que eles sejam, vai ser diferente com a gente. É
decepcionante saber que Ret vai me deixar nas mãos dele porque sua ganância fala mais alto.

— Você ainda vai pagar caro. — Digo fitando o chão.

— Não, amor. Você vai — Diz se divertindo — falando em diversão... Eu tô sentindo sua falta.

Havia malícia em seu tom, aquilo me deixa enjoada.

— Não ouse tocar em mim.

— Nem sou louco, você está fedendo.

— Preciso de um banho e estou com fome.

Ele ri.

— Problema é seu.
Foi tudo o que o homem disse antes de sair do quarto, me deixando sozinha novamente com
meus pensamentos e lágrimas. Horas se passam, vez ou outra eu grito sem parar, pedindo
socorro, por mais que eu saiba que ninguém virá ao meu favor, é mais um ato de por tudo
para fora já que minhas lágrimas secaram. Quando dou por mim estou dormindo, meu
pescoço reclinado sobre a cama, minha boca aberta por conta da sede.

Finalmente o dia amanhece, o calor do Rio de Janeiro me desperta. Não sei que horas são mas
tudo o que anseio no momento é por um bom copo de água e um prato com bastante arroz e
feijão. Diego não está em casa, ele realmente vai me deixar morrer aos poucos aqui? Por que
simplesmente não dá um tiro em minha testa? Será bem mais fácil. O celular entre meus seios
não para de vibrar, provavelmente alguém me ligando desesperadamente mas não posso
atender, estou presa e mesmo que não tivesse, não sei que conseguiria a tela esta muito
rachada, seria impossível.

Tento ajeitar meu corpo e sinto as dores em meu pescoço por dormir sentada e com a cabeça
para trás, em seguida, as dores em meus pulsos. As algemas estão me apertando tanto que
estão me ferindo cada vez que me movimento.

Algumas horas se passam, me sinto mal e toda horas acabo por cochilar. Meus pensamentos
voam para alguns momentos felizes em minha vida.

Foi uma verdadeira cena. Ele e o outro menino buzinando a comunidade inteira,
chamando a atenção de todos.

— EU VOU SER PAI.

Ele grita para quem quiser ouvir.

Abro um sorriso quando recordo desta cena. Meu coração aperta, tudo o que faço é chorar
ainda mais. Poderíamos ter sido tão felizes mas a ganância das pessoas acabou com tudo, me
causou traumas irreparáveis, como perder meu primeiro filho e agora estou nesta situação.

— Por favor, Felipe, não desiste de mim.

Digo para mim mesma.


CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

Alguns dias se passaram, não tenho forças para levantar, posso sentir o short que antes era
apertado, agora está largo. O quarto fede a urina pura. Digo entra neste lugar raramente, me
alimenta com pão de forma e café sem açúcar — Ele sempre gostou do seu café assim — isto
duas vezes por dia, apenas. Quando choro ou imploro para que ele me mate, o mesmo me
bate ou quando está com raiva de Ret, por não aceitar a negociação. Não sei exatamente que
dia é, mas tenho certeza que a polícia já está atrás de mim, com certeza já se passou o dia da
minha audiência. Meu celular já não emite nenhum sinal, talvez tenha descarregado. Não
tenho mais esperanças que Felipe irá vir me salvar, talvez eu tenha achado que toda essa
porcaria é um conto de fadas e que o príncipe irá me salvar mas nesse novo conto de fadas, o
príncipe é tão podre quanto o vilão.

Consideração? Algo que Ret não tem, ele é como Diego, apenas me usou, e no fim sou
descartada. A culpa é dele? Não! É inteiramente minha, eu permiti que isto acontecesse, eu
me entreguei sem usar a porra do meu cérebro.

A partir do momento em que o homem não pode renunciar algo por você, ele não te ama, este
pode amar os bons momentos que você o proporciona.

— Acorda aí, vagabunda — Digo me desperta. — missão pra tu.

Ele parece nervoso, muito nervoso. Junto a ele havia outro homem, ele observa atentamente
em seguida leva a mão ao nariz.

— Caralho, que cheiro de mijo. Porra — Reclama o homem.

— Essa porca gosta de se mijar. — Zomba Diego.

Ele se abaixa e abre minhas algemas, o alívio é instantâneo.

— Quero... Água — Murmuro.

— Só depois dessa missão.

Diego se levanta e me ajuda, sabendo que eu não conseguiria caminhar.

Ele me arrasta para fora da casa, a minha grande sorte foi estar anoitecendo, caso contrário o
sol teria feito um estrago em meus olhos. Não sei o que está havendo, os dois parecem
nervosos, fazem tudo correndo. Diego me põe no banco da frente de seu carro, o outro entra
por trás. Será que eles iriam me entregar para a polícia? Mas o que Diego ganharia com isso?

— Ela tá na casa da Branca. — Anuncia o homem atrás.


— Vontade de quebrar a cara dessa filha da puta.

Eles não estavam falando de mim. Logo o carro para, Diego me ajudar a sair e me conduz para
dentro de uma casa. O lugar fede a maconha, a situação é precária, havia dois cômodos o que
me parecia ser um banheiro e um quarto. Foi então que vi Rayssa deitada na cama, estava
pálida, seus olhos abertos porém focados em no teto, ao seu lado havia uma menina sentada
com um copo de guaravita em mãos, era lolo.

— Vai porra, vê o que ela tem. — Diego diz para mim.

Mesmo fraca, eu me esforço e caminho até a menina deitada. Pinho a mão na mesma e ela me
olha, seus olhos dizem algo em seguida a mesma começa a se tremer, seu copo não para.
Seguro sua língua para não haver algo pior.

— Ela precisa ir ao hospital.

Rayssa por sua vez espuma pela boca, desta vez a espuma sai junto com sangue. Seus dedos
tortos tocam meu braço, ela me olha fixamente, tentando dizer algo.

— Caralho, o que tá pegando? — Digo pergunta desesperado — vai chamar alguém que possa
descer com ela, marco, bora.

Rayssa revira seus olhos e todo o tremor para.

— Não precisa. Ela morreu — Anúncio friamente.

Não senti pena ou algo parecido, no momento não consigo sentir nada. Parece que todos os
meus sentimentos foram enterrados. A menina que antes estava sentada, se joga em cima de
Ryassa e chora. E isso aí que a porra da cocaína faz com vocês, seus viciados de merda.

—TÁ MALUCA, PORRA. RESSUSCITA ELA — Grita Diego, segurando o choro. Panaca!

— Não sou Jesus. — Digo seriamente.

Diego vem até a mim e deposita um tapa em meu rosto. Por conta da fraqueza, eu caio.

— RAYSSA, ACORDA PORRA!

— Caralho irmão — murmura o tal Marco.

Sentada no chão sujo, elevo meus pensamentos para um outro lugar, não me permitindo ouvir
os choros. Cada um colhe o que planta, eu estou colhendo né? Que se foda. O próximo a
morrer vai ser você, Diego, nem que eu dê minha vida por isso mas ainda mato você com
minhas próprias mãos.

Quando todo o drama finalmente teve fim, Diego parece ser tocado por um anjo de
misericórdia e me leva para casa, deixa eu comer dignamente e tomar um banho mas estava
bom demais para ser verdade. Ele me prende novamente, no mesmo lugar fedorento. Desta
vez estou de calcinha e sutiã, ele não me deixou vestir uma roupa decente, alegando estar com
pressa para resolver como iria contar para a mãe sobre a morte de Rayssa.

No fundo sinto inveja dela, por ter ido, ter deixado esse demônio que é Diego. Talvez minha
hora esteja próxima, o que comi hoje é suficiente para meu corpo digerir por uns três dias. O
que mais me dói é a acusação, os pensamentos que me afogam e gritam “ele não vem, ele não
vem”

Quanto mais o tempo passa mais meu coração se endurece para qualquer tipo de sentimento.
Todas as vezes que Diego entrava naquele quarto meu ódio aumentava, minha mente
maquinava milhões de forma de matá-lo da forma mais cruel possível. Ele só vem aqui para me
xingar, me ajuda a comer o pão e beber o café e logo sai. Meu hálito está insuportável e o café
não ajuda. Os sinais da destruição e desidratação está se fazendo presente em meu corpo. Não
me pergunto mais o porquê de uma pessoa que antes dizia me amar, estar fazendo isto
comigo agora. Simplesmente já me convenci que tudo fora um plano e que eu fui burra o
suficiente para cair nesta armadilha. Como Felipe disse para min, cavei minha própria cova.

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

Felipe, Ret.

Dias sem dormir tem me deixando pilhado, minha mente se tornou minha maior inimiga.
Tanta inteligência para porra nenhuma, minha mulher continua presa nas mãos daquele filho
da puta que todos os dias me ameaça, diz que ela está morrendo aos poucos. A culpa me
consome como brasa viva, sempre estrago a vida de Mariana, a mina é firmeza mas eu sou um
lixo humano, faço tudo errado e prejudico ela. Virou pessoal, eu preciso ajudar ela, por tudo o
que a mesma fez por mim. Dias planejando algo até conseguir, não é um plano perfeito, tá
ligado? Mas vou na fé. Ver o moleques usando cocaína na minha frente me deixa elétrico.
Lembro de Rayssa, vieram me contar que ela morreu, porra se eu disser que senti, vou estar
mentindo, a mina me roubou várias vezes. Não posso ficar com meu filho, quem está cuidando
é a mãe do filho da puta do Diguinho, mas sei que a coroa é fechamento, o ruim é não ter meu
filho perto, mas vou esperar tudo isso passar e pegar meu menor. Rayssa buscou pela morte,
eu pedia inúmeras vezes para ela se tratar mas a mina não queria.

— Iaê, Ret. Tá mais tranquilo? — Genaro indaga, deixando de lado a nota que usará para
cheirar — tá a milhão, tu.

— Só vou ficar tranquilo quando eu tirar a mina de lá. Já tenho um plano

— Manda aí.
Me posiciono na cadeira enquanto ele presta atenção.

— Vou marcar um encontro, dizendo que vou desistir da comunidade. Nós vai fazer guerra,
irmão e vence quem sobreviver — explico.

— Tu não vai abrir mão do Final Feliz, mermo, né? Porra Ret, desiste disso, fica aqui. Tá num
cargo bom, ganhando bem. Pega a tua mina e fica por aqui.

— Não, irmão e meu orgulho fica onde nessa história? Vou pegar ela e a comunidade. Tu tá
fechado comigo?

Ele se aproxima e bate na minha mão.

— Até o fim, irmão.

— Vou desenrolar com esse merda agora, quanto antes melhor.

Genaro acena com a cabeça. Pego meu celular e rapidamente ligo com Diego, após muitos dias
sem ligar, apenas lendo suas ameaças. Ele não demora muito para atender.

— Sentiu minha falta, boneca?

Diz irônico.

— Bora resolver essa treta logo. Tu quer a merda do morro, eu quero minha mulher. Fala onde
e quando.

— É assim que se fala, Ret. Quem me garante que tu vai cumprir o combinado?

— Abro mão de tudo, dou minha palavra no meio da rapaziada toda. Quando tudo tiver
tranquilo, quero meu filho também.

— Sabe que minha mãe se apegou ao moleque, Ret. Tu nem sabe cuidar de tu.

— Vai tomar no cu, meu filho não tá em jogo.

— Tranquilo, só dá um tempo pra eu conversar com ela. Vai dar a palavra mermo?

— Claro, porra.

Dar a palavra de homem perante toda a comunidade é como fazer uma promessa eterna,
homem que é homem, compre com a sua.

— Me encontra amanhã, na divisa. Vou levar a moeda de troca.

Dito isto o comédia desliga. Meu sangue ferve quando ele a chama assim.
Tudo estava pronto, estávamos a caminho o bonde inteiro pesadão, agora é dar a vida. Diego
tinha mordido a isca, pensando que eu iria desistir tão fácil.

O único problema é que os moradores não sabiam da guerra que viria a seguir — nem o
próprio Diego sabe — vários inocentes poderiam se ferir, mas o povo precisa ser esperto,
assim que ouvir a bala cantando, correr e se abrigar. A tropa está no local combinado, o colete
me aperta mas não me aprisiona mais que minha mente, matutando várias coisas. Finalmente
avisto o carro se Diego, mas não estava apenas ele, a tropa veio junto, claro que ele não iria
dar mole. Seu carro para uns cinco metros de distância, ele sai. Sem camisa e de bermuda,
como se não temesse nada.

Tem coisa errada aí ou ele é muito burro.

Me me encara e logo desvia seus olhos para os homens em posição atrás de mim, ele ri,
debochando dos poucos homens que estavam ali comigo. Poderiam ser pouco mas são
verdadeiros, esses porras do Final Feliz que eu pensava ser amigos, ficaram ao lado de
Diguinho e agora estão aqui, contra mim, preparados para meter uma bala em minha cabeça
se necessário. Meus olhos atentos captam tudo, menos ela.

— Cadê ela? — Pergunto em um tom elevado, ele ri. Me provocando raiva — cadê, porra?

— Muita pressa, Ret. Calma — Diz burlesco — Pega a mina aí — ordena para um dos soldados
que abre a porta do carro.

Vejo Mariana sair de lá totalmente machucada, usando apenas uma camiseta masculina, que
parecia ser de Diego. Seus olhos estão pequenos de tanto soco que ela tomou. Seus braços
repletos de hematomas roxos, seu lábio sangrando. Era nítido o esforço que ela fazia para
peanecer de pé. O ódio me cega, dou um passo a frente afim de correr em direção ao filho da
puta que fez isso mas um dos meus, me impede.

— Calma, porra, calma — Ele diz para mim.

Respiro fundo tentando me controlar, tirando calma de onde não há.

— Manda ela pra cá — Digo em voz alta.

— Toda sua — Diego concorda.

Ele faz sinal para Mariana caminhar até a mim. Aquela porra estava fácil demais, ele não iria
concordar assim. Ele está tramando alguma coisa.

— Quando ela chegar aqui, vocês atiram. Vou me jogar no chão com ela. — Explico, eles
concordam.

Os passos lentos da mulher pareciam durar uma eternidade, até que quando ela finalmente
chega perto, a tropa fica na posição, ergue os armamentos prontos para atirar.
— NÃO, FELIPE. ELE TÁ COM O KAUÃ.

Grita, Mariana.

Meu mundo inteiro vai ao chão, minha mente dá um nó automaticamente. O bagulho todo
parece passar em câmera lenta quando Diguinho com toda a calma e ironia do mundo, retira
meu filho de dentro do carro, o mesmo que Mariana estava antes. Ele pega meu moleque no
colo, o mesmo sorri e aponta para mim. Escuto ele dizer “olha o papai”

Eu não tinha noção que Diego jogaria tão baixo.

ÚLTIMO CAPÍTULO

Mariana, Ribeiro.

Após uma seção de espancamentos gratuito, sem ao menos saber o motivo, Diego me veste
com sua camiseta e acaricia meu rosto. Tudo o que me recordo de sentir é nojo. Simplesmente
apago.

No dia seguinte ele entra no quarto, retira as algemas e dá alguns tapas em meu rosto. Meu
corpo inteiro dói, meus olhos estão inchados, não consigo se quer ver seu rosto com clareza.
Sei que tem mais alguém com ele. Tudo o que sai de meus lábios são gemidos de dor, quando
ele me põe dentro de um carro. Em seguida ouço a voz de Kauã, a criança também está a
dentro do carro. Diego fala algumas coisas sem sentido para alguém, eu não consigo
compreender por não saber do que se trata, mas ouço a palavra “troca” Para onde ele está nos
levando? Será que ira nos levar a Felipe? Céus, ele está nos usando como moeda de troca.
Felipe renunciou a comunidade por Kauã e por mim? Isso me parece bom, mas meu coração
está tão duro que não consigo se quer sentir alegria ou alívio. Diego fala algumas coisas no
rádio comunicador, enquanto Kauã canta uma música desconhecida por mim, mas parece ser
infantil. Será que contaram para ele sobre sua mãe? Sou tirada de meus pensamentos quando
o carro para e mesmo com minha pouca visão, consigo ver Felipe Ret parado a uns quatro ou
cinco metros longe. Diego sai do carro e ambos falam algumas coisas.

Me tira daqui seu filho da puta, desgraçado. – Penso enquanto olho para Felipe, que usará um
colete.

Logo um homem abre a porta do carro e segura em meu braço com força, me colocando de
pé. Consigo ver que atrás de Felipe há alguns homens. Quando os olhos dele me analisam, ele
ousa em dar um passo a frente mas o homem ao seu lado o impede, dizendo algo que não
pude ouvir. Felipe está tomado pelo ódio, isto é nítido. Ouço Diego rir baixinho. Ele estava
adorando isso.

- Manda ela pra cá – Ret ordena em voz alta.


- Toda sua – Diego concorda, em seguida ele faz um sinal para que eu fosse até Felipe.

Meu corpo inteiro dói, aquela caminhada tão curta estava acabando comigo. Vejo Felipe dizer
algo aos homens atrás dele, mas não dá para ouvir. Quando estou perto vejo os homens armar
guarda para atirar em Diego. Eles não podem, a criança está dentro do carro. Isso tudo foi mais
um plano de Diego. Esse filho da mãe está um passo a frente.

- NÃO, FELIPE. ELE TÁ COM O KAUÃ – Grito desesperada e sem forças.

Felipe parece estático. Nota-se que sua respiração está pesada, ele não sabe o que fazer. Olho
para trás e vejo Diego com o menino nos braços, que homem sujo. Ainda terei o prazer de
sentir seu sangue escorrer entre meus dedos.

Um um homem negro e alto se aproxima de Felipe, chamando a atenção de todos nós.

- Genaro, fechando com o errado – Diego ironiza para o tal homem.

- Fecho com os puro, tu merece bala – o tal Genaro diz.

- Felipe... – chamo. Ele parece despertar e me olha – não faz nada, por favor. Pega seu filho,
vamos embora. – peço.

Ele nega algumas vezes com a cabeça.

- Não, porra. A comunidade é minha, É MINHA PORRA!

Seu orgulho e ódio falam mais alto. Pude ver seus olhos se encherem pelas lágrimas. Genaro
põe a mão no peito de Felipe, chamando sua atenção.

- Escuta sua mina, vamos embora, irmão. Nem sempre desistir é sinal de fracasso, olha o que
tu vai ganhar, tua mina e teu filho. Bora voltar pra comunidade, fica tranquilo comigo lá. Tu é
meu braço direito, Ret.

Meu corpo esta fraco mas eu luto para permanecer de pé.

-Não, não não – Felipe murmura insistente.

Seguro no queixo de Felipe, fazendo o mesmo me encarar.

- Decide, quer fazer guerra esses homens estão dispostos a isto mas você poderá perder ao
Kauã e a mim, ou você engole a porra desse orgulho e mete o pé daqui junto com a sua
família. Eu prometo para você que vamos matar esse filho da puta, juntos.

Ele retira minha mão de seu rosto, da alguns passos a frente e retira o colete, jogando o
mesmo no chão. Aquilo era um sinal de redenção.
- EU, FELIPE RET, DOU A MINHA PALAVRA QUE A COMUNIDADE DO FINAL FELIZ AGORA
PERTENCE A DIGUINHO. DEIXANDO CLARO A MINHA DESISTÊNCIA NESTE MOMENTO.

Felipe grita para quem quisesse ouvir, deixando ali seu orgulho. Diego comemora juntamente
com seus homens, ele solta Kauã que corre para os braços do pai.

- METE O PÉ, RET. SEU PERDEDOR DE MERDA. – Grita Diego enquanto comemora.

Felipe não disse nada, apenas pegou seu filho no colo, segurou em minha cintura e
caminhamos em direção ao carro, afim de sair daquele lugar juntamente com os homens que
vieram com ele. Dou a última olhada para trás de vejo Diego dando alguns tiros para cima.

Não é mais com Felipe que você terá que ter cuidado, Diego, é comigo. Eu juro que ainda te
mato.

Entro no carro com dificuldade e logo vejo Felipe entrar. Ele dá um soco no volante, frustrado.
Fito o parabrisas fixamente.

- Chora agora, ri depois amor.

Digo.

Felipe me encara e um sorriso brota em seus lábios. Sua mão encontra a minha e logo estamos
nos olhando fixamente.

Estraguei toda a minha vida, nada saiu como eu planejei, rodei, rodei e cai nas mãos dele
novamente mas agora posso afirmar que nada me tira daqui. Eu farei questão de aprender
tudo o que ele sabe, desde a endolação a por alguém em um micro ondas. Agradeço a Diego
por ter feito cada célula do meu corpo se tornar o que eu jamais sonhei, uma pessoa fria. De
tanto ser boa, só tomei no cu.

- Bora ser feliz, linda – Ele diz. – quer ser feliz comigo? – indaga.

- Por um acaso existe Clyde sem a Bonnie?

Ele ri e dá partida.

Se prepara Complexo do Chapadão, Bonnie e Clayde estão na área.

Continua...

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