Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apesar da minha falta de grana, tomei um táxi, pois não queria ser estuprada
no ônibus. Moro na periferia, e apenas o trajeto até um ponto de táxi já foi
complicado, me chamaram de tudo, bocetuda, gostosa, peituda, Fafá de
Belém, enfim, não vale a pena falar a lista de obscenidades.
Finalmente o táxi estaciona em frente ao prédio do Renato, aqui é o paraíso!
Eu adoraria morar com ele, mas ele nunca mencionou nada do tipo.
Respiro fundo e sigo para o portão.
Apesar de sermos namorados há muito tempo, o porteiro ainda precisa me
anunciar, o que me causa certa revolta. Tenho tentado controlar meu gênio,
não sou “flor que se cheire”, mas também não quero perder o namorado.
O portão é aberto e sigo para os elevadores. O prédio que o Renato mora é
lindíssimo, cheiroso – adoro cheiros –, tudo novo e requintado.
Em alguns minutos estou em frente à sua porta de entrada, toco a campainha
e aguardo enquanto ele abre a porta.
Um barulho na fechadura, e finalmente o vejo.
– Oi, meu gato! Tudo bem?! – falo melosa, o abraçando e beijando
apaixonada.
– Está empolgada hoje, Chuchu! – ele diz se afastando de mim e seguindo
pelo seu apartamento.
Fecho os olhos e bufo irritada.
Isso é jeito de receber a namorada, poxa! – Penso.
– Estou com saudades, só isso! – O sigo pela sala. – Você sabe que dia é
hoje? – Me sento ao seu lado no sofá.
– Quarta-feira, dia de jogo. Não inventa de sair, Jack, sem chance, hoje tem
um jogo imperdível – ele diz zapeando os canais, e sinto um nó no estômago.
Talvez a Carol tenha razão, esse cara não me merece.
Puxo o ar, e tento espairecer. Ele é assim mesmo, não posso querer mudá-lo,
me apaixonei por ele sabendo como ele era.
– Hoje completamos quatro anos de namoro, sabia? – O olho carente.
Ele me olha de lado, dá um sorriso insosso.
– Sério?! – Ele volta a olhar para a televisão. – Passou rápido, Chuchu, nem
percebi!
– Vamos comemorar? – Acaricio seus cabelos, beijo seu pescoço... E ele se
levanta.
Reviro meus olhos, essa situação está se repetindo demais para o meu gosto.
Que merda de frieza é essa?!
– Então, vou pegar um vinho, para a gente comemorar. Mas como disse, hoje
é dia de jogo, não vamos sair, Jack! – Ele pisca para mim.
Respiro e inspiro com força, tento contar mentalmente até 10.
Ele retorna com as taças e com um vinho, coloca o líquido nas taças e me
oferece uma.
– A nós! – Ele bate em minha taça.
– Ao nosso amor! – Encosto minha taça a dele, o olhando intensamente, bebo
o vinho e me aproximo dele. – Estou com saudades, Rê... – Aproximo meu
corpo do dele, procuro seus lábios, o beijo com paixão, mas não sinto o
mesmo dele.
Em minutos estou com meu vestido pendurado pelo meu corpo, e ele sem sua
calça de agasalho, velha e surrada.
– Que negócio é esse, Chuchu? – ele diz assim que meu vestido é tirado
completamente.
– Uma surpresa para você! – falo e beijo seu pescoço, sua orelha, estou em
brasas! Sou uma mulher muito fogosa, adoro sexo, mas meu companheiro
não parece dividir do mesmo fogo que eu. – Gostou? – Subo em seu colo,
ávida para sentir seu membro dentro de mim.
– Legal! – ele diz simplesmente, me sinto decepcionada, mas tento não
pensar muito sobre isso. Em minutos estamos transando como dois coelhos,
foi tudo muito rápido, frio, sem paixão, sem amor.
Me deito ao seu lado no sofá, acaricio seu peito, e não suporto mais. Por que
ele não se empolgou nem com o espartilho, por que nada mais o empolga em
mim?!
– Você não gostou do espartilho? Pensei que você iria pirar quando me visse
assim! – falo decepcionada.
– Ficou legal, Chuchu, eu já disse! – Ele se levanta, pega sua calça e a coloca.
– Só isso, legal?! Não estou gostosa, sexy, sensual, só legal?! – falo
mostrando minha decepção.
– Jack, não me leva a mal, mas você não está com corpo para vestir um
negócio desses. Olha só para os seus peitos, mal cabem nesse negócio! –
Abro a boca, tento falar, mas as palavras param em minha garganta, e meus
olhos enchem de lágrimas.
– Você está me chamando de gorda, é isso? – falo ressentida.
– Não, não é isso! – Ele passa suas mãos pelos cabelos. – Mas seria bom se
você começasse a malhar um pouco, ou correr. Tem um monte de garotas do
meu trabalho que estão correndo a noite, junto com nossa equipe de corrida, é
muito legal, você iria gostar, e te deixaria com um corpo bacana!
– Eu não gosto de correr, e meus peitos são grandes mesmo, Renato. Não tem
muito jeito, a não ser que eu faça uma cirurgia para reduzi-los! – falo
magoada. – Eu sempre achei que você gostasse do meu corpo como ele é!
Me levanto.
– Eu gosto do seu corpo, ele é legal, só que você está meio... – Ele enche as
bochechas de ar, e tenho uma vontade louca de dar um chute no meio do saco
dele.
Esse filho da puta me comeu durante quatro anos, e agora diz que estou
gorda!
– Você também não está grande coisa, Renato! Aliás, está muito magro, essas
corridas estão te deixando seco, parece que está passando fome! – Pego meu
vestido do chão, raivosa. – Gostava mais quando você tinha uma barriguinha,
bochechas redondas, você era mais bonito, não suporto homem caveira!
A raiva está me corroendo por dentro.
– Só você que acha isso. As garotas por aí não têm essa opinião, elas piram
no meu corpo! – ele diz com um sorriso idiota.
Tenho vontade de voar em seu pescoço e torcê-lo até ele ficar sem ar.
Jogo meu vestido pelos meus ombros, tento arrumá-lo, mas estou muito
nervosa para isso.
– Os homens por aí também piram no meu corpo, não me chamam de gorda,
mas sim de gostosa. Só você que não curte meus peitos grandes, a maioria
dos homens adoraria cair de boca neles. – Pego minha bolsa, coloco meus
sapatos nervosamente e saio andando possessa para a porta.
– Jack, espera, não é nada disso! – Ele anda apressado atrás de mim.
Olho para trás e mostro o dedo do meio para ele.
– Vai se foder, Renato! Procure uma daquelas magrelas sem bunda e sem
peito para comer! – Bato a porta do seu apartamento com toda a força e
aperto nervosamente o botão do elevador.
Eu deveria ter lido meu horóscopo hoje, provavelmente dizia para eu não sair
de casa e não falar com ninguém, devo estar em meu inferno astral.
Capítulo 3
JACKELINE BARTOLLI
O lugar escolhido por minha amiga para bebermos é um inferno GLS, eu não
deveria me assustar, ela só frequenta esses lugares.
– E aí, gostou do point?! – ela diz sorrindo, animada.
– Bem alternativo, Caroleta, mas estou me sentindo um bife suculento! Essas
lésbicas não têm vergonha na cara, só faltam me engolir viva! – falo meio
assustada, não tenho nada a ver com esse lugar, estou me sentindo uma
extraterrestre.
– Vem comigo. – Ela passa seu braço pela minha cintura, tipo minha
namorada. – Vamos fingir que somos um casal, assim elas te deixam em paz.
Entorto meu nariz, meus lábios, não nasci para isso, gosto de homem, com
pau bem grande, não suportaria me atracar com outra mulher.
Urgh!!!
Chegamos a uma mesa abarrotada de pessoas entre homens e mulheres, mas
aqui é tudo às avessas, os homens são mulheres, e as mulheres são homens.
Meu Deus, acho que sou muito antiquada para esse mundo atual, apesar de
psicóloga, não consigo ver muito sentido no homo, o legal é o hétero, os
encaixes perfeitos, a delicadeza de um, com a rudeza do outro, enfim...
Ok, mas não sou preconceituosa, sou amiga da Carolina há muito tempo, já
sei de sua preferência por meninas desde os 18 anos. Tenho convivido com
isso com muito respeito, continuamos amigas, sua preferência sexual não a
torna menos amiga que outra garota.
– Se senta aqui, Jack. – Ela me coloca ao lado de um cara lindo, mas
infelizmente, bichona louca, completamente louca, foi só abrir a boca para
vê-lo desmunhecar inteiro.
Rapidamente sou apresentada a todos, nunca tinha vindo a um lugar desses
com a Carol. Mas até que está sendo divertido, seus amigos são muito
alegres, falantes, adorei, estou apaixonada por eles.
Depois de beber muito, levanto-me para ir ao banheiro.
– Aonde você vai, Jack? – A Carol fala preocupada.
– Preciso mijar, oras bolas! – falo tonta e completamente bêbada.
– Quer que eu vá junto? – ela diz.
– Não, Carol! Me deixa, eu não sou criança! – Saio tentando firmar o salto
alto, e andar no meio da confusão de homens e mulheres que se esfregam, se
beijam, e dão risada enlouquecidamente.
Finalmente vejo a minha frente o que deve ser o banheiro, mas antes que
possa alcançar a porta, sou agarrada pela cintura, olho assustada e vejo uma
mulher lindíssima.
– Oi, gata! – ela diz cheia de intimidade.
– Oi! – Me afasto e tento tirar suas mãos da minha cintura.
– Podemos nos conhecer? Estou te observando há horas, você é linda, parece
a Sofia Loren, sabia? – ela diz toda sedutora.
– Ah, tá, já me disseram isso antes – falo toda sem jeito. – Já estou
acompanhada, minha namorada está logo ali, aquela morena linda, sou
apaixonada por ela, não a troco por nada, não sei se você me entende?! –
Pisco para ela com um ar de cumplicidade.
– Oh, você é namorada da Carol. Eu a conheço, já ficamos algumas vezes.
Levanto minhas sobrancelhas, agora fodeu, ela conhece a Carol.
– Que coincidência! Mas, estou quase mijando nas calças, dá licença! – Saio
de fininho, deixando a mulher me olhando com curiosidade.
****
Acordo de sobressalto.
– Vamos, Jack! Vai tomar um banho, vou te levar comigo no escritório,
assim você já conversa com o meu chefe.
Arregalo meus olhos.
– Não! Eu não posso ir a uma entrevista de emprego vestida assim! – falo
apavorada, levanto e vejo que estou só de camiseta. – Quem colocou isso em
mim?
– Eu, sua bebum! – ela diz apressada, vestindo uma calça social, camisa e
blazer.
– Hum, você está tão bonita! – falo para descontrair.
– Eu empresto uma roupa para você, deve servir. Não temos um corpo tão
diferente, só esses peitos e o traseiro, mas vou escolher algo mais larguinho.
– Ela sai em disparada para seu guarda-roupa. – Vai, Jack, não posso me
atrasar! – A ouço berrar.
Finalizo meu banho, enrolo uma toalha no corpo e sigo para o quarto da
Carol.
– Jack, eu tenho essas opções. Veja o que você acha que fica melhor em você
– ela diz me olhando. – Vou preparar um café, acho que você ainda está
bêbada! – Ela revira os olhos.
Olho desanimada para as roupas, uma calça com blazer, camisas e blusas.
Balanço minha cabeça negativamente, duvido que algo irá me servir.
Sorrio ao ver uma embalagem de calcinha nova, a Carol é tão carinhosa.
Coloco a calcinha, pego um top que ela deixou, óbvio que ficou pequeno,
mas vai ter que servir, caso contrário terei que ir com os peitos soltos, e isso
não é uma boa ideia.
– Ok, vamos começar com este vestido.
A vejo entrando no quarto, ela torce o nariz.
– Tá meio indecente, Jack! – Ela balança a cabeça vendo meus peitos
saltando pelo decote.
Tiro ele e jogo sobre a cama.
– Talvez a camisa, ela é larguinha, ganhei de aniversário da minha mãe, ela
nunca acerta a numeração! – Ela me olha de lado.
Coloco a camisa, abotoo, até que serviu, mas os últimos botões ficaram tipo,
estourando!
Me olho no espelho desanimada.
– Ficou bom, Jack. Coloque a calça – ela diz apressada.
Enfio a calça, a fecho e viro de costas para me olhar no espelho, reviro meus
olhos.
– Minha bunda não cabe nessa calça! – falo irritada.
– Cabe sim, só ficou um pouco justa, mas ficou muito legal! – Ela faz uma
cara de malícia. – Você tem um corpão, Jack, só você não gosta dele. – Ela
sorri maliciosa.
Fecho os olhos e respiro, coloco o blazer e o meu sapato alto.
– Tá bom? – Olho para ela insegura.
– Hum, parece uma advogada! – ela diz sorrindo. – Bem gostosona, é claro!
Bufo de raiva, sentindo-me muito chamativa, mas é isso ou nada.
– Tem certeza que seu chefe poderá me atender hoje, não podemos fazer isso
outro dia?
– Jack, eu pedi pelo amor de Deus para ele entrevistar você! Nem sei se já
escolheram alguém, mas ele gosta muito de mim, e por isso abriu uma
exceção.
– Ele quer te comer, é isso?! – falo com desdém.
– Não, ele sabe que sou lésbica. Ele me ama porque sou foda, não perco um
processo, sou a melhor do escritório, amiga! – ela diz orgulhosa, se rebolando
toda.
Sorrio, porque eu amo essa garota, e torço muito por ela! Sua vida não foi
fácil, ela teve muitos problemas familiares, um dia desses eu conto para
vocês.
– Então, vamos, antes que eu desista, ou essa calça parta ao meio! – Ela dá
um tapa no meu bumbum e sai correndo.
– Te mato, Carol! – Grito irada.
Capítulo 4
JACKELINE BARTOLLI
Estou há uma hora sentada nesta mesa sem absolutamente nada para fazer.
Ouço a vibração do meu celular na bolsa, o pego discretamente, e vejo que é
a Carolina.
– Oi, Carol! – falo meio cochichando.
– Desculpe, Jack, eu não consegui voltar para falar com você. Mas e aí,
como foi a entrevista? – ela diz com voz de culpada.
– Uma merda! Como você imaginou que seria? – falo com sarcasmo.
– Jack, você não mentiu como te falei? O que custa contar uma historinha,
poxa?!
– Eu não contei uma historinha, mas consegui o emprego! – Sorrio
discretamente.
– O que?! – ela fala exaltada. – Como assim, mas já?!
– Sei lá, Carol, o homem pediu para eu fazer uma experiência, o que eu iria
dizer? Eu topei, e estou aqui, nem sei por onde começar! – falo nervosa.
Ela dá uma risada escandalosa.
– Caramba, Jack, não sabia que você era poderosa desse jeito! – Ela
continua rindo. – O que você fez para o insuportável do meu chefe te
contratar assim, do nada? Você mostrou seus peitos para ele?! – ela ri
escandalosamente.
Penso em contar que de alguma forma eu já mostrei meus peitos para ele,
mas desisto, a Carolina é muito escandalosa.
– Carol, por favor, me poupe – falo sem paciência. – Confesso que estou
meio apavorada, não sei se isso vai dar certo!
– Jack, fique sabendo de uma coisa, se ele te contratou é porque ele gostou
de alguma coisa em você, não sei se é essa comissão de frente que você tem,
ou a de trás, ou sua lábia, amiga. Então, esquece essa parte de “eu acho que
não vai dar certo”! – ela fala com ironia. – Parabéns, e boa sorte, querida!
E saiba de uma coisa, esse homem parece um trator desgovernado.
– Obrigada pelo conforto, isso vai me ajudar muito! – Sorrio amarelo.
– Vamos almoçar juntas? – ela sorri. – Eu pago, sua dura, eu sei que você só
tem dinheiro para hot-dog! – Ela continua rindo.
– Tudo bem, te espero, tá? Beijos e obrigada.
Capítulo 5
RUI FIGUEIREDO
Flashback on
– Oh! – Mais uma vez aquela boca linda se curva de um jeito que imagino
milhares de coisas, pornográficas basicamente. – Tudo bem, mas não terá
ninguém para me explicar o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço. – Tento conter o sorriso que se formou
dentro de mim, ela não sabe a burrada que estou fazendo contratando-a.
– Claro, você, isso é óbvio! – ela fala nervosamente, pelo visto a deixo
nervosa, e isso é bom, adoro saber que provoco coisas nela. – Ok, então, por
onde começo?
Me levanto, penso um pouco, nem sei por onde começar com ela, mal sei o
que a antiga secretária fazia.
Foda-se! Sigo em direção à porta, abro-a e me dou conta que ela continua
sentada.
– Vamos, Jackeline!
Fico admirando-a enquanto ela caminha até mim, ela não é uma mulher
tímida, mas eu a deixo sem graça. Hoje ela está bem-comportada, mas não
menos gostosa, a calça marca bem suas curvas, ela é o tipo de mulher que dá
para derrapar e se arrebentar todo, tem mais curvas do que a estrada Rio-
Santos.
– Você ficará aqui – digo muito próximo a ela, sentindo seu cheiro gostoso,
suave.
Ela não é tipo de mulher que se lambuza de perfume, seu cheiro é suave,
frutado, cheiro de mulher, de fêmea.
O meu pau volta a pulsar dentro da minha boxer, que tesão essa mulher me
provoca, isso é insano.
– Tudo bem! O que devo fazer? – Ela me olha intensamente, mal eu sei o que
dizer para ela, quero dizer, eu poderia ir direto ao assunto, mas não pegaria
bem.
– Bom, por enquanto, nada. Sente-se. – Puxo a cadeira para ela.
Inicializo o seu computador, nem eu sei por onde ela deve começar, mas
enfim, depois a gente vê isso.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas, essas coisas.
Você vai pegando o jeito aos poucos, fique tranquila, as coisas mais
complicadas eu passo diretamente para os advogados, você será mais uma
assistente...
Caralho, que merda que estou falando, e... fazendo?!
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo para vermos
algumas pendências. Por enquanto, atenda ao telefone, anote os recados, e se
for algo urgente, você pode me chamar por este botão aqui. – Mostro para ela
o botão do telefone, estou me sentindo um idiota.
– Ok! – Ela balança a cabeça em entendimento.
– Bom, por enquanto é isso. – Me viro e volto para minha sala o mais rápido
possível, preciso resolver o problema que criei, eu não preciso de duas
secretárias.
Sento em minha mesa e disco o telefone do responsável pelo RH.
– Ferreira, é o Rui! – falo depressa.
– Bom dia, Doutor Rui! Como vai?
Interrompo-o, ele fala demais.
– Eu preciso que você cancele a contratação daquela moça que escolhi para
ser minha secretária...
Ele gagueja.
– Mas Doutor Rui, fizemos tantos testes nas candidatas, e você disse que
aquela era a ideal... – ele diz indignado, e eu sei que ele tem razão, eu estou
ficando louco...
– É, eu sei, mas é que arrumei uma outra candidata, muito melhor, ela é mais
preparada para o que preciso. Enfim, dispensa a outra, e entra em contato
com a Jackeline, é esse o nome dela. Ela já começou hoje, é só ligar na mesa
dela, pedir seus documentos, informá-la sobre salário, benefícios... Bom,
você sabe como é o trâmite.
– Ok, já que o doutor prefere assim... – ele fala desanimado, mas eu o
entendo.
Fiz o coitado selecionar 30 garotas, e agora escolho uma que ele nem viu na
frente, realmente não sou mais o mesmo.
– Isso, eu prefiro assim. Bom dia, Ferreira... e não esquece de falar com a
Jackeline! – Desligo o telefone, e inspiro.
Eu sei que estou fazendo uma merda do tamanho do mundo, e mal sei por
que estou fazendo isso!
Esfrego meu rosto e olho para o teto.
– Quando a Priscila vir a Jackeline, ela vai ter um treco! – Fecho os olhos e
inspiro.
Capítulo 6
JACKELINE BARTOLLI
M euCarolina.
celular vibra em minha bolsa, o pego rapidamente e vejo a foto da
A vejo saindo de minha sala, e aproveito para admirar seu belo traseiro
redondo e arrebitado.
Fico a imaginando sem roupa, deve ser uma loucura! E mais uma ereção fora
de hora, estou me sentindo um garoto de 20 anos, mas que porra!!!
Tento voltar minha atenção para o processo que estou analisando, ela me
tirou o foco, e estou quase chegando à conclusão que ela como secretária não
dará muito certo.
Advogado precisa de atenção, uma secretária feia e silêncio.
Ok, vou terminar de ler isso e irei almoçar. Se pretendo passar a tarde com
minha deusa do espartilho vermelho ao meu lado, preciso acabar de ler essa
porra, ou estarei arruinado.
Mais alguns minutos, o celular toca e o olho de relance. A foto da Priscila
trepida em minha mesa, e minha paciência também.
– O que ela quer agora, porra?! – penso alto.
Atendo em viva voz.
– Oi, Priscila! Qual o problema?
– Oi, amor! Que tom é esse? Parece que está falando com uma
desconhecida! – ela diz num tom magoado.
Bufo cansado.
– Desculpe, é que estou enrolado analisando um processo, gostaria de
terminar isso antes de sair para o almoço. – Giro meu pescoço de um lado
para o outro, estou tenso pra cacete, preciso de uma massagem, e a visão da
Jackeline de espartilho volta a minha cabeça.
Estou obcecado por essa mulher, completamente doente.
– Bom, tenho uma notícia, não sei se é boa ou ruim, estou chegando ao seu
escritório, pensei em almoçarmos juntos, faz tempo que não fazemos isso! –
ela diz carente. – Desculpe por ontem, Rui, ando tão insegura, estressada
com nosso casamento, você sabe...
A interrompo, não estou com paciência para ouvir suas histórias.
– Tudo bem, me deixe terminar a leitura do processo, é o tempo de você
chegar – falo rapidamente, não quero voltar ao assunto de ontem, já me
desgastei demais com este assunto.
– Um beijo, meu amor! – ela diz melosa.
– Outro.
Desligo rapidamente.
Eu estava acabando de ler o documento quando ela chegou.
Um toque na porta, e ela entra.
– Oi, já cheguei! – ela diz com um sorriso.
Tento sorrir.
– Oi! Um minuto, Pri, se senta aí, por favor! – Volto ao que estava fazendo,
logo termino e olho para ela. – Tudo bem?
– Tudo, e você?! – ela diz estranhamente.
– Um pouco cansado. – Me levanto, pego meu paletó e sigo para a porta. –
Vamos? – Olho para ela, que continua sentada.
– Eu sei que dormimos juntos, mas não nos vimos pela manhã. Normalmente
os casais se beijam quando se veem! – ela diz enquanto caminha em minha
direção.
Passo minhas mãos por sua cintura e a beijo rapidamente, mas ela enlaça meu
pescoço com os braços, fazendo com que nosso beijo seja mais demorado,
profundo.
– Me desculpe por ontem! – ela diz novamente, me deixando ainda mais
irritado.
– Eu já disse que está tudo bem! – Volto a caminhar para a porta, mas ela
segura minha mão e me faz olhá-la.
– Não parece, Rui, você está distante! – Tento não me desesperar e jogá-la
pela janela.
– Priscila, isso está começando a ficar chato, eu sou assim, não sou um cara
meloso e romântico. Eu sou prático e objetivo, e se você não gosta do meu
jeito, é bom revermos tudo, não vou mudar para você! – A encaro
profundamente.
Ela me olha calada, então fala:
– Ok, me desculpe. Ando um pouco abalada, é por causa dos preparativos
para o casamento. – Ela dá um sorriso fraco.
– Então, vamos! – Pego em sua mão e seguimos pelas escadas que dão acesso
à rua.
Passamos pela recepcionista que nos olha de canto de olho, ela odeia a
Priscila, quero dizer, todas as mulheres desse escritório odeiam a Priscila. Ou
é por ela ser minha noiva, ou é pelo seu jeito arrogante e prepotente, ela se
acha a dona de tudo, e faz questão de mostrar isso para todos.
Tento não pensar muito sobre isso, ela nunca poderia trabalhar comigo, eu
não a suportaria aqui. Mas a questão é que seu querido pai tem sugerido isso
com certa frequência, e eu tenho desconversado descaradamente.
Seguimos calados em direção ao restaurante que costumamos ir, é um lugar
refinado e a comida é ótima. Gosto do lugar porque poucos funcionários
podem frequentá-lo, e assim, caso a gente brigue, não teremos uma plateia
conhecida.
Espero enquanto o garçom escolhe um lugar para nos sentarmos, o lugar está
repleto de pessoas, logo somos colocados em uma mesa. Sentamos e
imediatamente ela começa a falar sobre um processo que está cuidando para o
pai. Tenho que confessar, a Priscila é muito inteligente e capaz, mas também
tem a sorte de ser filha de um dos melhores juristas do país, aí fica mais fácil.
Ela fala compulsivamente. Sou advogado, adoro o que faço, mas existem
momentos que gostaria de falar sobre qualquer coisa, menos sobre processos,
réus, acusados, e essa porra toda.
É estressante namorar com uma advogada, acabamos só falando sobre esses
assuntos, nunca relaxamos.
Fazemos nossos pedidos e peço um vinho para relaxar. Essa mulher me
estressa, me deixa tonto, ela fala demais.
Olho um pouco para as mesas ao nosso redor, para relaxar, tirar um pouco o
foco do que a Priscila fala, e então eu a vejo. A Jackeline está acompanhada
da Carolina, as duas estão almoçando sozinhas.
Penso um pouco, será que a Jackeline e a Carolina...?
Será?!
– Porra, que desperdício! Aquela mulher maravilhosa... – penso desanimado.
– Rui, você ouviu o que eu te disse?! – Ouço a voz estridente da Priscila,
volto a olhá-la rapidamente.
– Claro! – Bebo um gole de vinho.
– Então, do que eu falava? – ela diz com a testa franzida, e uma expressão
brava.
– Sobre o caso... – falo displicente.
– Eu pedi sua opinião, amor, por favor? – Ela me olha com seus olhos pidões,
carentes, insuportáveis.
Por que será que não aguento mais a Priscila, meu Deus?!
– Eu faria... – Dou minha opinião rapidamente, não ouvi o que ela disse. Mas,
falo o que faria apenas para me livrar dela.
– Por isso que eu te amo! Você é o melhor, sabia? – Ela pega em minha mão
por cima da mesa e a acaricia.
– Obrigado! – Sorrio para ela.
Vejo a Jackeline e a Carolina se levantarem e seguirem animadas para a rua.
Caralho, será que a Jackeline é lésbica também?
– Tudo bem, Rui? O que você está olhando? – Ela vai olhar, mas puxo seu
rosto e beijo-a rapidamente.
– Só um cliente, mas deixa para lá, não vou atrás dele, é constrangedor.
Ela sorri e acaricia meu rosto.
– Vamos tentar jantar hoje à noite, quero ir a um restaurante bem romântico,
estou sentindo falta disso, estamos distantes – ela me olha feito uma
cadelinha carente e mal-amada.
Talvez seja verdade, ando sem saco para a Priscila, prefiro qualquer outra
mulher, menos ela.
– Vamos sim. Mas desta vez, por favor, espere eu chegar, não fique me
mandando mensagens, ou fazendo ligações, eu odeio isso, Priscila! – falo
tenso.
Ela se arruma na cadeira, parece magoada.
– Eu te amo, Rui! Muito, demais, sabia?! – Ela me encara com seus olhos
grandes e azuis.
É engraçado como podemos mudar a opinião sobre uma pessoa. Quando vi a
Priscila pela primeira vez, a achei a mulher mais linda do mundo, aqueles
cabelos escorridos e loiros, os olhos muito grandes e muito azuis, seu corpo
alto e esguio, mas tudo é uma questão de ponto de vista. A beleza é relativa,
pode ser alterada com o tempo, já não vejo graça nela, sua beleza externa é
apenas um chamariz.
– Eu também! – Acaricio seu rosto. – Podemos ir? Estou com muitas coisas
para fazer.
– Claro. – Ela sorri fraco.
Peço a conta e em minutos seguimos para o escritório.
– Onde você deixou seu carro? – pergunto quando chegamos ao prédio.
– Está logo ali, não tinha lugar em sua garagem. – Ela se esgueira, enlaçando
meu pescoço e me beijando. – Posso subir tomar um café com você?
– Outro dia, eu realmente estou com muitas coisas atrasadas! – A beijo
rapidamente. – Nos vemos à noite! – Mais um beijo rápido.
– Chegue às 19h, pode ser?
– Vou tentar, mas não te prometo. – Me afasto dela, e espero enquanto ela
caminha até seu carro.
Ela acena, giro nos calcanhares e saio apressado para o interior do escritório.
Passo pela recepcionista sem a olhar, essa aí é mais uma que já enjoei,
preciso arrumar outra para me divertir. Talvez a Jackeline, se ela me quiser, e
se não for lésbica também!
Sacudo minha cabeça, parece que toda mulher que me interesso é lésbica,
porra!!!
Já chega a Carolina que é um mulherão, decidida, competente, linda, mas
lésbica, caralho?!
Subo as escadas rapidamente, chego a minha sala, e lá está a minha deusa. A
observo enquanto ela está entretida com o celular, provavelmente trocando
mensagens com aquele figura que encontrei no elevador. Ela tem um rosto
lindo, e hoje com o cabelo preso em um rabo de cavalo, dá para ver com
perfeição seu rosto.
– Boa tarde, Jackeline! – falo alto.
Ela se assusta, se atrapalha com o celular e me olha com aqueles olhos
grandes e expressivos, ela parece uma gata.
– Boa tarde! – ela diz me olhando com um sorriso contido, nervoso.
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas coisas! – Passo por
ela, e a sinto atrás de mim. – Sente-se, eu já volto. – Sigo para o meu
banheiro privativo, primeiramente preciso escovar os dentes.
Volto rapidamente e a encontro sentada em frente à minha mesa, com um
caderninho em suas mãos.
Ela me olha enquanto me aproximo, ensaia um sorriso, e tenho vontade de
rir, eu a deixo muito nervosa, e isso é engraçado.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me ajude a
digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas? – A olho enquanto ela
caminha insegura até mim.
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas, acho que sei. –
Ela diz de um jeito engraçado.
– Ok, sente-se aqui. – Puxo minha cadeira para ela e ela me olha confusa. –
Sente-se, Jackeline! – digo incisivo.
– Tudo bem! – Enquanto ela senta, puxo uma cadeira para ficar ao seu lado.
Pego alguns documentos.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! – Ela me olha
com aqueles olhões lindos, parece assustada com tudo.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas – ela diz
constrangida.
– Perfeito! – Levanto rapidamente, me inclino sobre ela, aproveitando para
sentir seu cheiro feminino e sensual, e clico sobre o ícone do aplicativo. –
Pronto, vamos começar.
Volto para minha cadeira, a percebo tensa, muito tensa, e sorrio por dentro.
Eu sei que estou fazendo merda, mas a sensação de ter essa mulher aqui se
sobrepõe aos problemas, ela tem um magnetismo que me deixa louco.
Ela se ajeita em minha cadeira, coloca seus dedos sobre o teclado e começo a
ditar para ela uma carta que normalmente eu mesmo faria para não perder
tempo, mas como não estou raciocinando direito, cá estou eu voltando no
tempo, como se fosse um advogado inexperiente, ditando uma carta para a
secretária...
Capítulo 8
JACKELINE BARTOLLI
a minha mesa rapidamente, pego minha nécessaire e sigo para o
C hego
banheiro feminino, faço minha higiene, um rabo de cavalo, passo um
batom vermelho e volto para minha mesa.
A porta da sala do Doutor Rui está aberta, respiro aliviada, ele ainda não
voltou de seu almoço, talvez estique até um motel.
Reviro meus olhos.
Desde quando cuido da vida de meus chefes? Ele que coma e se lambuze
daquela loirinha insossa.
Falo com desdém, e dor de cotovelo.
Me ajeito em minha cadeira e ouço o celular vibrar em minha bolsa, o pego e
lá está a tão sonhada mensagem do meu namorado.
Desde ontem o filho da puta não me liga, não manda mensagens, nada.
Ok, deixe-me ver o que o maldito tem a dizer.
“Oi, Chuchu, espero que não esteja mais brava comigo. Estou enrolado
esses dias, não posso vê-la, estamos em fechamento de balanço. No final de
semana podemos ir jantar na casa da minha mãe? Ela tem me cobrado,
sabe?”
Fecho os olhos e tento controlar a vontade louca de mandá-lo se foder, o seu
balanço e sua mãe também.
Olho para o teclado do celular e não sei o que escrever, ele é simplesmente
patético, um imbecil ao quadrado.
Enfim tomo coragem e escrevo minha resposta.
“Como vai, namorado querido? Ainda estou com raiva de você, aliás, não
sei quando vai passar. E quanto a jantar na casa da sua mãe, não estou com
saco, ela é insuportável, assim como sua irmã e seu filho bastardo. Prefiro
ficar em minha casa, vendo filmes antigos com minhas três idosas, comendo
pipocas, e batendo uma siririca, acho que sairei ganhando.
E, me procure só quando estiver a fim de fazer um programa decente, de
casal normal, estou cansada de seus programas para maiores de 60 anos.
Passar bem!”
– Boa tarde, Jackeline! – Dou um pulo na cadeira, quase deixando o celular
cair no chão, olho para cima e vejo aquele ser angustiante.
– Boa tarde! – Tento sorrir.
Por que estou sempre nervosa quando falo com esse homem?
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas coisas! – ele diz
daquele jeito decidido, me levanto e o sigo.
– Sente-se, eu já volto. – Ele segue para um banheiro que existe dentro da sua
sala, mas volta rapidamente.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me ajude a
digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas?
Oh, meu Deus, era só o que me faltava!
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas, acho que sei –
falo em pânico.
– Ok, sente-se aqui. – Ele puxa sua cadeira para eu me sentar, e o olho
confusa, será que ele quer que eu me sente em sua cadeira? – Sente-se,
Jackeline! – Estremeço com seu vozeirão.
– Tudo bem! – respondo rapidamente, me sento, e o vejo puxando uma
segunda cadeira ao meu lado.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! – Ele me lança
aquele seu olhar de advogado inquisidor, que adoro, mas ao mesmo tempo
me enerva.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas.
Respiro um pouco aliviada, ao menos sei digitar rapidamente, depois de anos
anotando os problemas de meus pacientes, pelo menos isso eu sei fazer
direito.
– Perfeito! – ele diz rapidamente, e de repente vejo aquele homem enorme em
cima de mim, aquele cheiro inebriante, o calor que exala de seu corpo...
Oh, meu pai eterno, me ajuda, assim não vou aguentar!
– Pronto, vamos começar – ele diz após abrir o aplicativo na tela.
Ele começa a ditar uma carta, ou sei lá o que é isso, e finalmente termina.
O olho de canto de olho, e o vejo lendo o material na tela.
– Ok, mas precisamos formatar isso! – Ele me olha, e me sinto uma
retardada.
O que ele quer dizer com formatar, meu Jesuzinho?!
– Você pode ser mais claro, o que seria formatar? – digo completamente
envergonhada.
Ele sorri de lado, daquele jeito parecendo um cafajeste, tudo nele parece de
cafajeste. Ele deve ser um cafajeste, e aquela noiva é só de fachada.
Ele se levanta novamente, se inclina sobre mim, e minha vontade era agarrar
esse homem, tirar sua roupa, e me perder nesse monte de músculos.
Ok, mas não faço isso, não sou nem louca, então reteso cada músculo do meu
corpo. Como ele pode fazer isso com tanta naturalidade?
De repente, sua mão cobre a minha sobre o mouse, olho por entre meus cílios,
se sua mão é enorme, fico imaginando o resto. Mas não consigo não ficar
tensa, sinto cada músculo do meu corpo tensionado.
– Marque todo o texto, Jackeline, deste modo. – Ele move o mouse de forma
a iluminar todo o texto. – E selecione essa formatação. – Ele seleciona um
formato para o texto.
Seguro minha respiração, está sendo um inferno tê-lo desse jeito em cima de
mim, sinto seu hálito de pasta de dente no meu rosto, o cheiro de creme de
barbear, e se eu virar de lado, eu irei beijá-lo, ele não deixou espaço para eu
me mover.
O que ele pensa que está fazendo?! – penso atordoada.
– Ok, eu posso fazer isso! – falo em pânico, preciso de espaço para respirar.
Acho que sou claustrofóbica a homens, quero dizer, ao Doutor Rui.
Ele levanta seu corpo e volta a sentar.
– Vamos colocar a data lá em cima – ele diz suavemente.
Digito rapidamente a data e olho para ele.
– Mais alguma coisa? – Ele me encara por segundos intermináveis, olha para
os meus lábios, fico sem graça, volto a olhar para a tela do computador, fecho
meus olhos e solto o ar suavemente, acho que toda vez que ele me encara eu
perco o ar.
Que homem é esse, meu Jesus Cristinho?
– Ok, só mais uma coisa. – Ele volta a se levantar, novamente se inclina
sobre mim, rosto contra rosto, pega o mouse e abre um segundo arquivo,
onde vejo sua assinatura digitalizada. – Vamos colar essa assinatura no final
da carta.
Seleciono a imagem, graças aos céus eu sei fazer isso, e coloco no final da
carta.
– Está bom assim? – pergunto relutante, e volto a olhar para ele.
– Está ótimo! Imprima, por favor – ele diz com naturalidade.
Novamente fico insegura.
– Posso pedir para imprimir, é só isso? – Olho para ele, ele fecha os olhos e
sorri.
Ok, sou uma tapada.
– Só isso, Jackeline!
Ouço o barulho da impressora embaixo de sua mesa, em um suporte. Pego a
carta, dou uma olhada rápida e entrego para ele.
– Ok, vamos para a próxima. Salve esse arquivo e abra um novo – ele diz
rapidamente, e faço tudo isso como uma tartaruga de 100 anos, não tenho a
menor prática com informática, prefiro escrever, adoro escrever com as mãos.
Abro o arquivo, ele começa a ditar uma nova carta, e como não sou tão burra
assim, finalizo, formato e coloco sua assinatura.
Mas, não satisfeito com a tortura, ele se posiciona atrás de mim, se inclina e
lê o documento.
– Ok, pode imprimir – ele diz, e respiro aliviada o vendo se afastar.
Vejo ele andando pela sala e o observo pelo canto do olho. Ele parece um
pouco tenso, sei lá, incomodado.
De repente, ele está ao meu lado novamente, pega um documento e o lê
rapidamente.
– Vamos lá, Jackeline? – Olho para ele, ele está com seu cotovelo amparado
no apoio da cadeira, segura seu queixo e me olha.
– Ok! – respondo voltando a olhar para a tela.
Ouço sua voz grave e aveludada, ele tem uma voz deliciosa, sexy e sedutora.
– É isso, formate e imprima, essa é a última – ele diz em minhas costas.
Pego a impressão, me viro e a entrego.
– Mais alguma coisa? – pergunto incomodada, eu sei que preciso me
acostumar com sua presença, mas não precisa ser tudo de uma vez, e tudo no
mesmo dia.
Ele dá um sorriso, sexy e sedutor.
– Acho que por hoje está bom, já está na hora de você ir até o RH. – Ele se
levanta e devolve a poltrona ao seu lugar. – Obrigado!
Sorrio de leve.
– Por nada! – Me levanto, sigo para a porta, me sento em minha mesa e
respiro aliviada.
– Ok, não foi tão difícil assim, eu me acostumo – falo em pensamento.
****
Sigo pelos corredores do escritório e logo vejo uma placa indicando o RH. À
medida que caminho, vejo algumas pessoas circulando, elas me olham
confusas, algumas sorriem, outras apenas me medem.
A porta onde fica o RH está aberta, existem algumas pessoas trabalhando, e
ao fundo um homem de meia-idade.
Assim que entro na sala ele levanta seu olhar e diz:
– Jackeline?
– Sim, sou eu mesma. – Dou um sorriso amarelo, nunca me senti tão
deslocada em um emprego, me sinto uma fraude.
– Venha comigo! – Ele segue para fora da sala, abre uma porta e vejo uma
pequena mesa de reuniões, ele fecha a porta e me olha. – Sente-se, Jackeline.
Sento-me a sua frente, apoiando meus cotovelos na mesa, me sinto nervosa.
– Preencha essa ficha, por favor! – Ele me entrega um formulário e uma
caneta.
Começo a lê-lo, dados pessoais, feito. Segunda parte, formação acadêmica,
ok, preencho rapidamente. Terceira parte, experiência profissional.
Paro e penso um pouco, mas não há muito que pensar, começo a discorrer
sobre os consultórios que trabalhei, e foram vários, minha rotatividade
assusta.
Entrego para ele e sorrio.
Ele devolve o sorriso, lê rapidamente o documento, e me olha com aquela
cara de indagação.
– Você nunca trabalhou de secretária?
O olho por segundos eternos, mas o que vou dizer, é isso, nunca fui
secretária.
– Minha experiência profissional é a que você está vendo. – Talvez eu tenha
sido um pouco grossa, mas, também, pra que ele tem que perguntar o que já é
óbvio?
– Oh, me desculpe. É que o Doutor Rui disse que a senhora era a mais
qualificada...
Ele se cala, parece ficar sem graça, e volta a sorrir.
– Está ótimo! Eu preciso de seus documentos, para prepararmos o contrato de
experiência.
– Ok, está aqui. Só minha carteira profissional que não, não vim preparada. –
Entrego meus documentos para ele.
– O Doutor Rui pediu para te passar as informações sobre o cargo, salário,
benefícios, essas coisas. – Ele me entrega um papel, leio vagarosamente, e me
assusto com o salário.
– Está certo esse valor aqui?! – falo admirada, o salário é ótimo, maravilhoso,
não chega perto do que eu ganhava como terapeuta.
– Sim, o cargo de assistente do Doutor Rui é muito importante, de muita
responsabilidade, por isso a remuneração ser a altura – ele diz com certa
entonação na voz, dando mais importância ainda ao cargo.
– Oh, claro, eu sei disso! – falo sem jeito.
– Você precisa de algo, alguma dúvida? – ele diz.
– Não, acho que não, se eu tiver eu ligo para você. É Ferreira seu nome, né?
Ele balança sua cabeça.
– Isso mesmo! – Ele estende sua mão para mim. – Muito boa sorte, Jackeline!
Me levanto rapidamente.
– Obrigada!
Ele sai na minha frente, o sigo, ele se despede e entra em sua sala novamente.
Ainda estou meio tonta com tudo o que está acontecendo em minha vida,
ganhei na loteria e não posso perder o bilhete.
Eu preciso me tornar a melhor secretária que ele já teve, e de preferência,
hoje! Não posso perder tempo, e nem minha chance.
Sigo em direção a minha sala pisando nas nuvens e com um sorriso no rosto,
isso é bom demais para ser verdade!
– Obrigada, meu Deus! – falo em pensamentos.
****
E stamos numa sala reservada, parece que isso é uma audiência, não
entendo nada de Direito.
Me sento em uma cadeira enquanto vejo o Doutor Rui, ops, talvez só Rui, se
sentar à minha frente, em uma mesa com algumas pessoas chiques e
engravatadas. Não me dei ao trabalho de perguntar quem eram as pessoas,
mas parece que tem a ver com um dos processos que o ajudei a montar.
Reviro meus olhos, não acho que o ajudei de fato, estou mais para uma
estagiária em processo de aprendizado do que uma secretária.
Olho enquanto ele gesticula e fala energicamente à mesa, e sorrio. Ele fica
bonito até mesmo nervoso.
Não gostaria de ser sua noiva, ela deve ter mais chifres que um rebanho
inteiro de touros. É difícil imaginar um homem como este fiel, ele é muito
bonito, rico e cafajeste. Ele está me cantando descaradamente, e eu sou sua
secretária.
As horas passam, aproveito para admirá-lo, ele parece muito bom no que faz,
mas eu já sabia disso antes de conhecê-lo. A Carolina é sua fã, não digo
apaixonada, porque ela é lésbica, senão acho que seria.
Percebo que a reunião acabou, vejo as pessoas apertando as mãos umas das
outras e sorrindo.
Acho que o acordo deve ter sido satisfatório.
Ele se levanta e vem em minha direção com um sorriso no rosto.
– Você me deu sorte, Jackeline! – ele diz estendendo sua mão para mim, me
ajudando a levantar.
– Que bom, fico feliz! Chegaram a um veredito? – Sorrio meio tímida, tenho
medo de falar alguma besteira.
– Sim, deu tudo certo, eles aceitaram o acordo! – ele diz animado, olha em
seu relógio e diz: – Vamos almoçar antes de voltarmos para o escritório? Ou
você tem algum compromisso? – Ele me olha intensamente.
É tudo muito novo para mim, me sinto meio perdida com tudo o que está
acontecendo. Mas quem sou eu para não aceitar um almoço com o chefe.
– Não tenho nenhum compromisso, agradeço o convite! – respondo
prontamente. Vou me acostumar mal, de bandejão para restaurantes chiques.
– Então, vamos! – Ele sorri e caminha ao meu lado em direção aos mesmos
elevadores que subimos.
Chegamos à saída rapidamente, ele nos direciona para seu carro que está
estacionado dentro do Fórum.
– Alguma preferência de comida? – Ele me olha de lado, parecemos até... sei
lá, isso não está parecendo um relacionamento profissional.
– Sem preferências, cavalo dado não se olha os dentes! – falo debochada.
Ele dá aquele sorriso sexy e liga seu carro.
– Então eu escolho, estou com fome hoje! – Ele me olha de lado, e tenho
vontade de dizer a ele que comecei minha dieta ontem, mas não o faço, seria
bem constrangedor.
O vejo digitar no GPS um endereço, ele entra em uma avenida e depois de
alguns minutos ele estaciona seu carro em frente a uma... cantina!
Oh, meu Deus!!!
Ele me olha e sorri.
– O que você acha?! Pensei em você, italianos adoram massa! – ele diz muito
simpático, seria uma grosseria eu dizer que estou fugindo de massas.
– Adorável, obrigada pela atenção... – penso em dizer sobre minha
preferência por saladas, mas ele já desceu do carro, deve estar com uma fome
de leão.
O ascensorista abre a porta para mim, sorrio e saio, e fecho os olhos.
Será que seria muita falta de educação pedir uma salada?
Ele para ao meu lado, sinto sua mão enorme em minhas costas.
– Vamos, italiana? – ele diz com um sorriso.
– Vamos! – Sorrio, tentando mostrar uma empolgação que não tenho.
Meia dúzia de pessoas se aproximam dele para cumprimentá-lo, alguns
clientes, outros funcionários, ele parece uma celebridade.
Ele me posiciona em sua frente, e sigo o garçom que nos leva até uma mesa,
nos sentamos e ele me olha sorrindo.
O acordo deve ter sido muito bom, ele está radiante.
– Você parece uma celebridade! – falo discretamente.
– Sou fã de comida italiana, e das italianas também! – ele diz num tom
divertido, sorrio, acho que isso foi só uma brincadeira. – Venho sempre aqui,
mas não dá para vir com a Priscila, ela não come nada, só mato!
Imagino, com aquele com corpo! – penso, mas não falo.
O olho decidida, preciso acompanhá-lo, caso contrário serei uma decepção.
– Oh, claro, mulheres adoram fazer regimes! – falo para descontrair.
O garçom traz os cardápios, olho tudo aquilo salivando, estou com uma fome
de leão. Desde ontem praticamente não como, então, tenho certeza que esse
carboidrato todo cairá como uma bomba em meu corpo e vai ir direto para a
bunda, tenho certeza disso.
– Já decidiu, Jackeline? – Ele sorri. – Ainda não me acostumei a chamá-la de
Jack.
– Não precisa me chamar de Jack, foi só uma sugestão. – falo sem jeito.
– Eu gosto de Jack, é só uma questão de tempo! Então, o que vai ser?
O olho constrangida, mulheres gostam de enganar a si mesmas, quando
saímos com um bofe comemos saladas e bifes grelhados. Sozinhas, um quilo
de macarrão e um frango inteiro.
– O que você sugere? Você deve conhecer o que é bom aqui – falo
timidamente.
– Mas a italiana aqui é você, quero sugestões!
Sorrio encabulada, ele me deixa sem graça assim, nem sou tão italiana como
ele diz.
– Rui, sou uma italiana falsificada, só como espaguete à bolonhesa, não
entendo nada de comida italiana, se fosse portuguesa acho que me sairia
melhor!
Ele gargalha, não achei tanta graça no que eu disse, mas enfim.
– Ok, Jack, então eu escolho! – Ele olha para o cardápio. – Eu adoro esse
daqui, são umas trouxinhas com uma mistura de amêndoas, queijo brie, e
mais um monte de coisas, o molho você escolhe, pode ser branco ou
vermelho.
– Parece muito bom! – A saliva está quase escorrendo pela minha boca. –
Vou te acompanhar, prefiro o molho vermelho. – E penso que na verdade
prefiro o branco, com muito creme de leite e muito queijo, mas é muita
caloria para um almoço só, terei que ficar um mês sem ver pão na frente.
– Você toma um vinho comigo? – ele diz de um jeito muito sedutor, parece
até que iremos para um motel depois disso, o que não seria uma má ideia, eu
queimaria essa comida toda e tiraria a larica que estou de sexo. Se depender
do Renato, vou viver a base de vibradores.
– Se meu chefe souber que estou bebendo no horário de trabalho, posso ser
demitida! – falo em tom de segredo e ele sorri.
– Fique tranquila, seu chefe não ficará sabendo, isso é entre nós! – ele diz
sedutor, e me encara por alguns segundos. Disfarço, pego a taça de água que
está sobre a mesa e bebo.
Agradeço a chegada do garçom, o Rui faz nossos pedidos e volta a me olhar.
Oh, minha santinha, preciso arrumar um assunto para conversar com ele, isso
é muito constrangedor.
– Há quantos anos você tem o escritório? – pergunto despretensiosa.
– Há dez anos, comecei logo que me formei, era uma sala no centro da
cidade, um muquifo na verdade! – ele diz descontraído. – Fui crescendo aos
poucos, depois aluguei uma casa, e há dois anos consegui fazer essa
construção onde estamos.
– História bonita! É muito difícil começar um negócio, começar do zero –
comento.
– Meu pai me ajudou muito, ele é advogado, mas eu não quis trabalhar com
ele, preferi começar sozinho. Sou meio burro, teria sido mais fácil, mas quis
bater a cabeça sozinho! – Ele diz remexendo a taça de água.
Sorrio o ouvindo contar sua história, não parece aquele homem que a Carol
dizia, frio, e calculista, parece apenas uma pessoa lutadora, querendo vencer
na vida.
– E você, Jack, por que escolheu Psicologia? – O vinho já foi colocado sobre
nossa mesa, ele beberica, enquanto me olha.
– Sei lá! – digo displicente. – Sempre gostei de ouvir os problemas dos meus
amigos, gostava de dar conselhos, achava que era boa nisso, entender as
pessoas. – Enquanto falo olho para um ponto cego da mesa, então volto a
olhá-lo, e o vejo me olhando profundamente. – Hoje em dia, sei que me
enganei, isso não basta para ser uma boa profissional.
Ele torce levemente seus lábios.
– Nem sempre é fácil ter sucesso em nossa profissão, isso não quer dizer que
você não tenha talento. – Ele mexe em sua taça. – Às vezes, tem o fator sorte
também.
– Talvez! – Inspiro. – Não sei dizer, só sei que não tive sucesso! – falo e olho
para ele, que me olha muito, e gostaria de ter coragem de dizer para ele parar
de me olhar desse jeito, é muito enervante.
Agradeço ao ver nossos pratos.
– O atendimento aqui é muito rápido! – falo ao ver o garçom se afastar.
– É que sou cliente vip, Jackeline! – Ele pisca para mim, e eu quase desmonto
na cadeira.
– Sorte a minha! – Pisco para ele, porque também sei fazer esse jogo.
Ele fica me olhando e sorri, acho que o surpreendi com minha brincadeira.
Talvez eu nunca tenha comido nada tão gostoso em minha vida, esse negócio
que ele pediu é para comer de joelhos. Mas, como a etiqueta diz, não limpo o
prato, minha vontade é pegar um bom pedaço de pão italiano e passar no
molho que sobrou, e comer até o último pedaço, mas é por isso que estou
desse tamanho. Então, deixo duas trouxinhas, com dor no coração, e no
estômago também.
– Não gostou, Jack?! – ele diz olhando para meu prato.
– Adorei, comi praticamente tudo! – falo falsamente.
– Vieram cinco pedaços, Jack! – ele diz indignado, e tenho vontade de
explicar para ele o problema que tenho com minha bunda e minhas coxas,
mas não o faço, ele não é meu amigo gay, ele é um homem lindo, que tem
uma noiva maravilhosamente magra.
– Já estou satisfeita, juro! – Faço um sinal com as mãos unidas. – Mas, te
garanto, nunca comi nada igual, é maravilhoso!
Ele sorri e pega uma trouxinha de meu prato, e olho aqui meio embasbacada,
ele é muito comilão.
– Você é bom de prato, Doutor Rui! – falo brincando, pois ele comeu todos
os pães da cesta, seu prato, e está acabando de comer o que restou do meu.
– Jackeline, se há uma coisa que gosto é de comer! – ele diz divertido, talvez
com uma ponta de cinismo, o que me leva a pensar que essa frase tenha duplo
sentido.
– Que bom que você não engorda, não é mesmo? – falo admirada, ele tem um
corpo magnífico, duvido que ele tenha problemas para engordar.
– Engordo, claro que engordo, mas eu malho todos os dias na academia que
tenho em casa, tenho um personal trainer que me ajuda, caso contrário eu
estaria bem gordinho. – Ele ri debochado.
– Que ótimo! – falo invejosa.
Ele olha em seu relógio de pulso.
– Você toma um café comigo? – ele diz todo cavalheiro, o que me faz pensar
que namoro com um ogro da idade média.
– Sim, adoro café! – respondo simpática, e preocupada com a taça de vinho
que tomei, parece que tudo está mais leve e solto, não sei como será minha
produtividade na parte da tarde.
Ele levanta o braço e pede os cafés.
Confesso que me surpreendi com a sensação boa que foi ficar com ele esse
período da manhã, pois diferente do que eu pensava, ele é leve, alegre e
divertido, e apesar de suas cantadas discretas, ele foi um cavalheiro a maior
parte do tempo.
Terminamos o café.
– Obrigada pelo almoço, adorei esse lugar, a comida é maravilhosa, pena que
não posso comer como você! – digo e ele dá um sorriso largo.
– Que bom que você gostou, agora já tenho companhia para vir aqui! – ele
me lança aquele olhar sedutor, mas tento não cair em sua teia.
– Sim, você arrumou uma companhia, mas não pode ser sempre, caso
contrário, em pouco tempo não passarei naquela porta! – Ele dá uma risada
contagiante.
– Você é linda, Jack, não se preocupe com isso!
O olho desconcertada, talvez enrubescida, e tento me recompor.
– Obrigada pelo elogio, mas continuo preocupada com o tamanho daquela
porta, talvez eu não caiba nela.
Ele sorri novamente, pega em minha mão e a beija.
– Obrigada pela companhia, você é encantadora!
Sorrio sem jeito.
Ele é um verdadeiro Casanova, muito galanteador. Se eu fosse mais
inocente, estaria em sua cama em poucas horas.
Capítulo 12
JACKELINE BARTOLLI
Escovo rapidamente meus dentes, repasso meu batom vermelho e volto para
minha mesa.
Já começo a gostar daqui, é tudo tão bonito, com cheiro de coisa nova, e
minha sala é tão confortável e bem decorada!
– Quero muito que esse emprego dê certo! – penso.
Repasso em minha mente tudo que li ontem no curso online para secretárias.
Número um: ser prestativa.
Ok, me levanto e pego a lista de ligações da Karen, sigo com ela e as
correspondências até a sala do meu chefinho lindo, acho que vou chamá-lo
assim na intimidade.
Dois toques na porta, e a abro.
– Com licença. – Olho em direção a sua mesa, e o vejo com seus óculos, ele
lembra o Clark Kent, em sua figura de jornalista, ele está lendo alguns
documentos.
– Pode entrar, Jackeline! – Ele ainda não se acostumou com meu apelido,
mas quer saber, acho que forcei a barra, não precisava ter dito aquilo, acho
que me empolguei.
Sigo até sua mesa sob seu olhar, ele encosta suas costas na cadeira e me olha
com o rosto de lado.
Eu compreendo a Karen, é difícil não cair no charme desse homem.
– Aqui estão as ligações, e algumas correspondências – falo com firmeza,
está na hora de eu assumir minha postura segura, não sou assim tão medrosa,
nunca fui.
Ele me olha por alguns segundos, volta a sua posição, olha para o papel, risca
alguns nomes e me devolve.
– Ligue para os que não estão riscados, diga que é minha secretária. Pergunte
no que pode ajudar, e depois você me passa os assuntos. – Ele retorna ao que
estava fazendo.
– Ok! – Olho para o papel e depois para ele, mas ele já está absorvido por
aquele papel a sua frente, giro nos meus calcanhares e volto para minha mesa.
Me sento, olho para a lista de ligações e tomo coragem.
Ok, eu sei fazer isso. Não é tão difícil, Jackeline.
Ligo para o primeiro número.
Um homem atende, leio seu nome na anotação da recepcionista.
– Boa tarde, Senhor Macedo! Aqui é Jackeline, a secretária do Doutor Rui
Figueiredo! – Sinto meu coração explodindo em meu peito.
– Boa tarde, Senhora Jackeline! Como vai?
Solto o ar que estava preso em minha garganta.
– Bem, obrigada, e o senhor?
Giro meus olhos, apressada para resolver logo esse assunto.
– Muito bem! – Ele pigarreia. – Bem, estou há alguns dias precisando falar
com seu chefe, é a respeito de um processo que entreguei à sua firma de
advocacia.
– Certo – falo relutante.
– Paguei uma fortuna para esse malandro cuidar disso, e até agora não
tenho uma posição... – Ele começa a ficar nervoso, e eu em pânico.
Merda, por que ele mesmo não ligou para esse maluco?! – penso.
– Oh, eu entendo... – Pensa, Jackeline, como saio dessa? – Então, Senhor
Macedo, eu preciso me posicionar quanto ao seu processo, para saber como
está o andamento... – falo relutante.
Ele me interrompe bruscamente.
– Cadê o seu chefe? Eu quero falar com esse filho da puta agora!!! – Ele
esbraveja no telefone.
Meu coração dispara.
– Oh, ele não está, senhor, mas eu o ajudarei com isso... – falo em pânico, se
o filho da puta do meu chefe não quis falar com ele, deve ter um motivo.
– Eu irei até o escritório de vocês, vou quebrar tudo! Eu quero falar com
esse maldito!!! – ele grita, eu afasto o telefone e xingo mentalmente o meu
chefe.
– Ele viajou, Senhor Macedo, para os Estados Unidos. Existe um processo
muito complicado com a justiça americana, ele anda com sua cabeça a mil
por hora, com certeza ele não se esqueceu do senhor. Não, com certeza, não,
ele tem muito respeito e consideração por seus clientes... – Abaixo minha
cabeça, e seguro minha testa com a mão.
Jesus, onde me enfiei?!
– Espero que sim, senhora... – Ele gagueja.
– Jackeline! – falo rapidamente.
– Isso, eu quero uma posição sobre o meu processo ainda hoje, senão
colocarei fogo nessa birosca – ele grita de novo, e eu pulo na cadeira.
– Oh, não será necessário incendiar o escritório, o senhor teria um processo
contra danos ao patrimônio, não seria aconselhável. – Nem eu sei de onde
tirei isso, acho que li em algum jornal.
– Ok, Dona Jackeline, eu espero sua ligação o mais rápido possível, caso
contrário irei visitá-la, e não será nada agradável.
– Claro, eu retornarei para o senhor em breve, e assim que toda essa
confusão passar, o senhor poderá nos visitar e tomar um café. Tenho certeza
que foi só um mal-entendido.
– Espero! – ele diz mais calmo. – Passar bem... – Ele bate o telefone na
minha cara com toda força.
Desligo o telefone, cubro meu rosto e inspiro com força.
Meu Deus, como resolvo isso?
Mas antes que eu possa pensar, ouço palmas discretas. Olho assustada em
direção à porta do escritório do meu chefe filho da puta e lá está ele, com o
corpo apoiado no batente da porta, um sorriso no rosto, aquele sorriso de
cafajeste, e batendo palmas suavemente.
– Parabéns, Jackeline! – Ele segue até minha mesa. – Você me surpreendeu!
– Ele me olha com um sorriso.
– Isso foi um teste?! – falo atônita.
– Mais ou menos, eu realmente não queria falar com esse cara, ele anda meio
nervoso. – Ele torce os lábios. – Mas você se saiu melhor do que eu,
provavelmente eu teria mandado ele se foder, você tem muito jogo de
cintura! – Ele se inclina sobre minha mesa e ficamos muito próximos, eu
sinto o cheiro de pasta de dente, e vejo de pertinho aqueles olhos lindos.
– Certo. E o que faço agora? – falo absorvida pelo seu olhar.
– Deixa comigo, vou pedir para um advogado ligar para ele e passar o status
do seu processo. Assim que estiver resolvido, você liga para ele e marca um
café, aqui na empresa, nunca marque nada com um cliente sem que eu saiba,
e de preferência que seja aqui, dentro do escritório. – Sua expressão muda,
ele fica sério e sei lá, parece possessivo.
Oh, será que o Doutor Rui tem distúrbios de comportamento? É só o que me
faltava!
– Sim, claro, não pretendo tomar café com ninguém, era só para acalmá-lo! –
respondo meio acuada, vendo aquele homem enorme em cima de mim e sua
expressão séria.
– Certo, melhor assim. – Ele se distancia. – Pode fazer as outras ligações. –
Ele volta a seguir para sua sala.
– Doutor Rui! – O chamo assustada. – Algum outro cliente desta lista está
bravo com você?
Ele dá uma gargalhada, e eu tenho vontade de socá-lo.
– Não, os outros estão calmos! – Ele me olha divertido, me sinto uma
marionete na mão deste homem, que parece se divertir com minha
inexperiência. – Pode ligar, te garanto que ninguém vai querer incendiar
nosso prédio.
Ele vira as costas e entra em sua sala, deixando o rastro de seu perfume
viciante.
Reviro meus olhos e volto à minha “Lista de Schindler”.
O próximo cliente é uma mulher.
– Boa tarde! Senhora Maria Helena? – pergunto temerosa.
– Sim, ela mesma! – Uma voz altiva e levemente grave.
– Sou a Jackeline, secretária do Doutor Rui Figueiredo – falo devagar,
esperando pela próxima explosão.
– Oh, como vai? E a Valquíria, não trabalha mais com o Rui? – ela diz com
intimidade.
– Parece que foi ganhar bebê, estou cobrindo ela – falo insegura, nem sei
quem era sua antiga secretária.
Ela dá uma risada.
– Espero que a criança não seja dele! – Ela continua rindo.
Abro levemente meus lábios, entre o choque e a surpresa.
Será que ele só tem cliente esquisito? E que história é essa da criança ser
dele?
Cruzes, que homem complicado!
– Oh, eu realmente não sei! – falo sem graça. – Gostaria de saber se posso
ajudá-la, o Doutor Rui está muito ocupado com alguns processos grandes e
complicados...
Ela me interrompe, e chego à conclusão que ele mentiu, só tem encrenca
nessa lista.
– Me poupe, querida. Eu sei que o Rui não quer me atender, ele acha que sou
alguma idiota, ele não atende meu celular, não retorna minhas mensagens, e
agora está fugindo de mim.
Fecho os olhos, e os cubro com a mão.
– Bem, estou aqui para ajudá-la. – Suspiro. – Quer deixar algum recado, ou
me dizer do que se trata o assunto, eu posso tentar resolver...
– Meu assunto é pessoal, querida, nada que você possa resolver. – ela diz
num tom meio irritado. – Diga a ele que se ele não me ligar, irei
pessoalmente ao seu escritório.
Oh, todo mundo quer vir ao escritório do Doutor Rui, pelo visto ele está
cheio de visitas inesperadas.
– Certo, darei o recado – falo pausadamente.
– Ele continua namorando aquela criança? – ela diz com um tom de inveja.
– Criança? – pergunto confusa, será que ela está falando da tal Priscila?
– Sim, aquela menina idiota que ele arrumou para se divertir.
Reviro meus olhos, ela deve ser um antigo caso, descartado e magoado.
– Oh, Senhora Maria Helena, eu sou nova aqui, não sei nada sobre a vida do
Doutor Rui. Mas, direi que você ligou, e que precisa falar com ele com
urgência. Está bem assim? – falo simpática.
– Sim... – Ela funga, e percebo que está chorando. – Jackeline, esse filho da
puta me trocou por uma mulher vinte anos mais jovem, você sabe o que é
isso?!
Oh, meu Deus, ele é pior do que pensei, e ainda diz que não tem mais
ninguém bravo na lista.
– Oh, que coisa chata, sinto muito! – falo revirando meus olhos. – Os homens
são assim mesmo, Maria Helena. – Uso um tom íntimo. – Eu sei muito bem o
que é isso, tenho quase 30 anos e meu namorado não é grande coisa também.
A ouço suspirar.
– Fomos muito apaixonados um pelo outro, mas você sabe, com o passar do
tempo já não temos o mesmo corpo, e aí eles se livram da gente e pegam uma
com a metade da nossa idade.
Jesus, agora serei conselheira amorosa, era só o que me faltava.
– O importante é se valorizar, Maria Helena. Não o procure mais, mostre
que você está em outra, você me parece uma mulher excepcional, devem ter
muitos homens interessantes querendo conhecê-la, ter um relacionamento,
não se rebaixe, é isso que eles querem. – Assumo minha postura de
terapeuta, é isso que me resta.
– Oh, querida, você é um doce de pessoa, bem diferente da antiga secretária.
Provavelmente aquela “zinha” era mais uma de suas amantes.
Oh, ele realmente tem mais mulheres que um sheik árabe! – penso.
– Não a conheci, seria feio falar mal dela! – Tento ser política. – Mas, enfim,
adorei conhecê-la, Maria Helena, e desejo sorte, levante a cabeça, se
valorize, nós mulheres temos tendência a nos depreciar. – Falo cheia de
vontade. – E escute uma coisa: uma mulher de 40 é muito melhor do que uma
de 20. Explore sua experiência, se solte e vivencie com plenitude sua melhor
idade, você não é mais uma gatinha, agora você é uma tigresa!
A ouço rindo espalhafatosamente.
– Nossa, você é muito melhor que minha terapeuta! Que pena que não se
formou em Psicologia, teria sido uma terapeuta excepcional!
Faço cara de idiota, nunca fui valorizada por isso, e agora como secretária,
ouço que deveria ter sido terapeuta.
Oh, meu Deus, minha vida é realmente bem engraçada.
– Obrigada! Espero que dê tudo certo em sua vida. – Faço voz de terapeuta e
desligo.
Doutor Rui, você é um grande idiota! – penso irritada.
Termino de fazer as outras ligações que me restavam, minha expectativa era
bem ruim, mas até que me surpreendi, os outros eram realmente clientes
querendo falar com ele, nenhuma amante ou cliente psicopata.
Suspiro aliviada, pego minhas anotações e sigo para sua sala.
A mesma coisa de sempre, dois toques, abro a porta e o vejo falando no
telefone, ele sinaliza com a mão para eu entrar, caminho até ele, e ele
gesticula com os lábios:
– Sente-se!
Ele conversa compenetrado com alguém no telefone, usa muitos termos
técnicos de advogado, gesticula muito, parece até um italiano, e finalmente
quando desliga me olha e sorri.
Tenho vontade de chamá-lo de palhaço, mas não o faço, preciso do emprego.
– Pois não, terminou as ligações? – Ele descansa seu braço no apoio da
cadeira, segura seu queixo e me olha.
Não aguento, eu tenho que falar sobre a Maria Helena.
– Terminei, e aproveitei e fiz uma sessão de terapia com a Maria Helena, ela
está muito magoada com você, parece que você está fugindo dela, mas acho
que nos livramos desse encosto, não sei até quando, mas enfim... – Olho para
ele e não consigo deixar de sorrir.
Ele dá um sorriso contido, de canto de boca, e me olha daquele jeito que dá
vontade de pular em seu colo, e penso na Karen, e de novo, me sinto em
dívida com ela.
– Se você se livrou dessa mulher, vou te dar um presente, pode escolher o que
você quiser! – Ele me olha com um sorriso, ele tem uma boca linda, e deve
ser uma loucura tê-la...
Oh, meu Deus, o que estou fazendo?! Olhando para meu chefe e imaginando
pornografias com ele.
Olho para ele de lado.
– Promessa é dívida, estou anotando aqui em meu caderninho! – Finjo
escrever. – Pelo tamanho do pacote, talvez um carro, assim não precisarei
mais pegar ônibus. – Brinco, por que me sinto à vontade com ele, e é
estranho isso, só nos conhecemos há dois dias!
Ele dá risada.
– Oh, saiu cara essa ligação, pensarei duas vezes da próxima vez! – Ele volta
a sua posição, cruza seus braços na mesa e me olha intensamente. – O que
mais?
O olho sem graça, talvez eu tenha exagerado na brincadeira.
Discorro sobre as outras ligações num tom profissional.
– Perfeito, Jack, parabéns! Você está se saindo melhor do que eu imaginava.
– Oh, obrigada, mas não acho que fiz muitas coisas, ainda preciso melhorar
muito! – Me levanto. – Quer alguma ajuda, precisa de algo? – falo em um
tom profissional.
Ele me olha longamente, sorri, balança a cabeça.
Sério, esse homem me enerva muito.
– Peça para a copeira trazer um café e uma água para mim. – Ele olha em seu
relógio. – Acho que por hoje está bom, abra seu e-mail, eu enviei algumas
coisas para você, dê uma olhada, se tiver dúvidas, me fale.
– Tudo bem! – Dou um sorriso contido, daqueles que só movemos os lábios,
sem mostrar os dentes. – Com licença.
Me viro e saio depressa de sua sala, e sempre tenho aquela sensação de estar
sendo observada, e isso é bem irritante.
Capítulo 13
JACKELINE BARTOLLI
C onforme ele me pediu, abro pela primeira vez meu e-mail e vejo as coisas
que ele me passou. Me sinto animada, porque aos poucos começo a me
sentir útil e não um vaso de samambaia.
Alguns assuntos eram internos e precisei ligar para alguns advogados colegas
da Carol, me apresentei e fiz o que ele me pediu. Outros assuntos eram
ligações externas, processos para arquivar, e algumas coisas administrativas,
como controle de material de escritório, pagamento de contas, entre outras
coisas.
Anoto tudo com atenção em meu caderno (conforme li em meu curso online)
e vou riscando conforme finalizo um trabalho. Termino de ligar para as
pessoas que ele mencionou e sorrio satisfeita ao ver que consegui fazer tudo,
e que não precisei pedir ajuda ao meu mestre lindo.
O telefone toca em minha mesa, já é final de tarde, o atendo prontamente.
– Jackeline, boa tarde!
– Oi, Jackeline, aqui é da administração. – Uma voz engraçada fala meio
abafada, mas logo cai na risada.
– Carol? – pergunto insegura.
– Oh, Jack, você quase caiu na minha pegadinha! – Ela ri feito uma tonta.
– Ei, Carolina, não temos mais 15 anos! – Reviro meus olhos.
– Mas eu adoro te fazer pegadinhas. Você é bem distraída, cai em todas... –
Ela continua rindo.
– Fala, advogada, no que posso ajudá-la? – pergunto tentando ser formal.
– Ui, que voz mais sexy, é assim que você fala com nosso chefe?! – ela diz
maliciosa.
– Não!!! – respondo indignada.
– Fiquei sabendo que você passou quase o dia todo fora com ele. Foram
para um motel, foi isso?
Arregalo meus olhos, como assim, ela já sabe disso?!
– Carolina, você me conhece, e sabe que tenho um relacionamento sério.
Quem falou isso para você?! – falo exaltada.
– Calma, minha flor, estou brincando. Mas que todo mundo está sabendo que
o chefe agora te leva a tiracolo, isso é verdade! – Ela ri.
– Que coisa mais chata! – falo chateada. – Sou nova aqui, Carol, estou
fazendo o que ele me pede.
– Eu sei, bobinha, mas ele é bem espertinho. Ele não tentou nada? Pode me
contar! – ela diz em tom de segredo.
– Não! – falo com veemência. – Eu só o acompanhei a um Fórum, e... –
penso se digo que almoçamos juntos, mas foda-se. – ...e almocei com ele, e
isso foi ótimo, pois não tenho dinheiro para nada!
– Hum, ele nunca fez isso com nenhuma secretária, sabia?! – ela diz em tom
malicioso.
– Talvez, porque as outras eram secretárias de fato. Eu não sei nada, e esta
foi a forma dele me fazer entender o seu trabalho – bufo irritada. – Sei lá,
Carol, não me enche com isso.
– Tá bom, mas só te digo uma coisa: esse homem é perigoso, tome cuidado
com ele! – ela diz séria.
– Ok, obrigada por avisar – reviro meus olhos.
– Bom, só queria saber se está tudo bem? – ela diz carinhosa.
– Está! Aos poucos estou pegando o jeito, mas está sendo muito legal,
interessante! – falo animada.
– Que bom! Estou cheia de trabalho, vamos ver se almoçamos amanhã? –
Ela diz animada.
– Carol, estava pensando em trazer um lanche e comer por aqui. Tomamos
um café, o que você acha?
Ela bufa do outro lado da linha.
– Eu pago, meu Chuchu! – Ela imita o Renato.
– Não, obrigada. Quando eu receber meu salário, estou cheia de depender
dos outros! – falo decidida.
– Você é uma chata, Jack! Depois nos falamos, um beijo.
Desligamos a ligação.
Olho distraída para meu celular sobre a mesa e vejo uma mensagem
piscando.
Abro a mensagem e me surpreendo, é do Renato.
“Oi, Chuchu, tudo bem? Bom, eu sei que te disse que estava enrolado essa
semana, mas pensei em sairmos para comer uma pizza, enfim, não quero que
você fique chateada comigo, eu te amo muito.”
Oh, pizza?! – penso desanimada.
Parece que tudo me remete a carboidratos, todo mundo quer me ver gorda,
até o Renato, que me chamou de gorda na lata.
Mas eu queria me acertar com ele, sinto sua falta. São quatro anos juntos, não
quatro dias, eu gosto dele, e queria muito que déssemos certo.
Respondo:
“Não posso comer pizzas, me chamaram de gorda recentemente. Talvez uma
salada, um suco.”
Vejo que ele está digitando uma mensagem:
“Jack, desculpe por aquele dia, você é uma mulher linda.”
Leio a mensagem e me sinto emotiva, a opinião dele sobre mim é muito
importante. Ele é muito mais que meu namorado, somos grandes amigos
antes de tudo.
Respondo:
“Obrigada, mas acho que estou meio gorducha. Então, não quero comer
pizza, mas quero te ver, estou com saudades!
Um novo toque de mensagem chegando, a abro rapidamente.
“Ok, então vamos a um lugar que só faz saladas e grelhados, conheci com o
pessoal da corrida, você vai gostar. Pode ser às 21h, no meu apartamento?”
Oh, ele sabe que não tenho carro, por que ele faz isso?
Respondo irritada.
“Eu irei direto do trabalho, e você precisará me levar para casa, não tenho
roupa para me trocar e estou em um trabalho novo, depois te conto.”
Ele responde em seguida.
“Ok, Jack.”
Olho em meu relógio de pulso, já passa das 18h, acho que já posso ir.
Ok, mas antes preciso ver com meu chefinho lindo e palhaço. Então, sigo até
sua sala, bato na porta e o encontro na mesa de reunião, com muitos papéis a
sua frente.
Ele levanta seu olhar, tira seus óculos de super-homem e me olha
intensamente.
– Quer uma ajuda? – falo solicita, mas de fato, estou preocupada que agora
tenho um compromisso, e mesmo que eu não esteja muito longe do
apartamento do Renato, terei que pegar um ônibus.
Ele me olha e então diz:
– Não, pode ir!
Respiro aliviada.
– Boa noite, e até amanhã! – Sorrio para ele.
– Boa noite, Jack! – ele diz sério, compenetrado, e volta ao que estava
fazendo.
Ele trabalha muito, e lê muito, e isso deve ser muito cansativo.
Sigo até minha mesa, ajeito as coisas, guardo o que preciso na gaveta, desligo
meu computador, e sigo para a saída.
Passo pela Karen, que me olha de lado.
– Até amanhã, Karen! – falo simpática, mas não ouço a resposta.
Sorrio, ela é muito tonta.
****
D esperto com uma sensação de cabeça pesada, tento abrir meus olhos, mas
a claridade do quarto me deixa meio cega.
Tateio ao meu lado, estou completamente desnorteada, então sinto uma coisa
peluda e macia.
Forço meus olhos a abrirem, viro de lado e dou de cara com aquele ser
peludo e lindo.
– Bóris, o que eu estou fazendo dormindo com você? – Franzo minha testa e
viro para olhar para o quarto onde estou, e sinto um nariz gelado no meu
rosto e muitas lambidas. – Oh, Bóris, eu dormi na casa do seu dono e
completamente bêbada.
Arqueio minhas sobrancelhas e fecho meus olhos.
– Meu Deus, que vergonha! – penso.
Apoio meus braços ao redor do meu corpo e me sento, e então me dou conta
que estou só de CALCINHA E SUTIÃ.
– Meu Deus!!! – falo com meus olhos arregalados. – Será que seu dono e
eu... – Olho para o Bóris, que me olha como se eu fosse a melhor coisa que
aconteceu em sua vida. – Bóris, me diz que não fiz isso, por favor!
Ele se aproxima de mim e me dá mais beijos.
– Oh, Bóris! – Coloco minhas mãos sobre meu rosto. – Chega de beijos,
Bóris! Eu preciso ir embora.
Olho ao meu redor, procuro pelas minhas roupas e as vejo no final da cama.
– Será que tem um banheiro aqui? – Olho ao redor e vejo uma porta. – Deve
ser ali. – Pego minhas roupas e saio quase correndo até lá, fecho a porta e me
olho no espelho. – Céus, estou parecendo uma bruxa.
– Ok, eu sei que estou com pressa, mas preciso ao menos tomar um banho. –
Olho para frente e vejo uma banheira maravilhosa. – Seria incrível mergulhar
em você, querida, mas acho melhor não, estou aqui de penetra! – Tiro minha
calcinha e meu sutiã, ligo a torneira do chuveiro e vejo um mundo de água
cair sobre mim, gelada! – Oh, merda! – Fecho rapidamente a torneira. – Estou
bêbada ainda! – Seleciono a torneira correta, e deixo a água esquentar.
Lavo rapidamente meu corpo, o cabelo molhou levemente, mas dane-se, não
dá para lavá-lo.
– Toalha! – falo alto, em pânico. – Cacete, como não pensei nisso? – Olho ao
redor do banheiro, e não tem uma filha da puta de uma toalha. – Céus,
quantas cagadas juntas! – Fecho os olhos e tento pensar em alguma coisa,
mas não tem nada a se pensar, a não ser que eu vista a roupa sobre o corpo
molhado, não tenho como me enxugar. – Merda, merda, mil vezes merda!
Jackeline, sua burra!!!
Desligo a torneira, olho mais uma vez ao redor e penso em me enxugar com o
papel higiênico, não isso não vai dar certo.
– Ok, você vai ter que abrir essa porta e achar alguma coisa para se enxugar,
querida! – falo para mim mesma.
Piso no chão frio, molhando tudo a minha frente e esbravejo!
Abro a porta e vejo o Bóris deitado sobre a cama e me olhando sorrindo, com
aquela cara feliz.
– Gostou de me ver nua, seu safado! – falo para ele, e de repente a porta abre,
e meu coração gela, e dou um grito ao ver o Rui a minha frente, e tento me
cobrir com meus braços, mas não dá, né, tem muita carne para tampar.
Ele fica me olhando. Ele está sem camisa, só de calça social e sem sapatos.
Oh, meu Deus, que calor que estou sentindo!
– Sai, Rui!!! – grito desesperada, morrendo de vergonha.
– Tá. Desculpe, Jack! – Ele vira de costas, meio atrapalhado. – Você precisa
de alguma coisa? – Ele diz posicionado na porta.
– Uma toalha – falo quase em um grunhido.
– Ok, eu já trago! – Ele sai, quase choro de vergonha, e volto correndo para o
banheiro. – Meu Deus, não sei como vou olhar de novo para esse cara!
– Jack, a toalha! – Ouço sua voz grossa e sedutora, e um toque na porta.
Dou um pulo de susto.
– Obrigada. Pode deixar pendurada na porta. – Não quero olhar para ele,
estou com muita vergonha.
Espero um pouco, abro a porta e vejo a toalha pendurada na maçaneta, a pego
desesperada e me enxugo rapidamente.
Pego minha lingerie e coloco, em seguida a camisa, a saia, e suspiro aliviada
passando as mãos pelo tecido, ajeitando o que está levemente amassado.
Me olho no espelho, ajeito meu cabelo passando os dedos entre os fios, não
tenho maquiagem, aliás, nem sei onde está minha bolsa.
Estou horrível! – Penso desesperada.
Olho para o teto e respiro, agora terei que olhar para aquele ser angustiante, e
não sei como.
Abro a porta do banheiro vagarosamente, e respiro aliviada ao ver o quarto
vazio, quero dizer, meu novo amor está me esperando.
– Oi, menino! A barra está limpa? – Ele abre sua boca e parece sorrir para
mim. – Estamos íntimos demais, já dormimos juntos e você me viu sem
roupa, isso está indo depressa demais, não costumo ser assim! – Enquanto
falo, procuro por meus sapatos, mas acho que devem ter ficado lá embaixo,
acho que os tirei no meio da bebedeira, e aí lembro do Renato, mas balanço
minha cabeça energicamente.
– Agora não, seu filho da puta, depois penso em você! – falo comigo mesma.
Procuro por minha bolsa, gostaria de passar ao menos um batom, mas não a
acho. Então, crio coragem e decido sair do quarto e chamá-lo.
– Rui! – falo da porta do quarto onde estou, e ele aparece de um quarto em
frente ao meu, lindo, cheiroso, e colocando sua gravata.
Ele sorri, e não deveria fazer isso, por que é muito angustiante olhar para esse
homem, ele é lindo demais.
– Oh, não sei como me desculpar! Funcionário bêbado não é bem visto, eu
sei disso... – falo desconcertada, mas ele não parece muito preocupado com
isso.
– Está tudo bem, Jack! O importante é que você está bem, e me desculpe ter
entrado no quarto sem bater, fiquei preocupado com você. – Ele me olha
intensamente.
– Tudo bem, eu que invadi sua casa – falo sem graça. – Muito obrigada por
tudo, Rui! Mas, acho melhor eu ir para casa, preciso me trocar e tentar
trabalhar, mas pode deixar que ficarei até mais tarde, compensarei as horas de
atraso. – Ele começa a caminhar em minha direção, novamente aquele gelado
no estômago se apodera de mim.
– Calma, Jackeline. Eu sou seu chefe, não um carrasco nazista! – Ele sorri, e
eu tento sorrir também, mas não consigo com esse homem lindo na minha
frente, ele me deixa muito nervosa.
– Que bom, né? – Sorrio amarelado. – Mas, eu só estou trabalhando há dois
dias, não seria aconselhável fazer tantas cagadas juntas.
Ele sorri largo e espontâneo, ele é muito charmoso, sexy e sedutor.
– Vamos fazer o seguinte: eu te levo a uma loja feminina que temos na
vizinhança e você compra alguma coisa para vestir. – Ele sorri e eu choro,
não tenho condições financeiras de comprar nem uma bala, muito menos uma
roupa de uma loja vizinha ao seu apartamento.
– Oh, seria maravilhoso, mas eu não estou podendo – falo constrangida. –
Mas, eu prometo que não me demoro.
Ele me interrompe.
– Vou fazer melhor. Eu faço um adiantamento para você, verba para roupas.
O que você acha? – Ele sorri novamente e fico olhando aquela boca, e me
vem uma lembrança estranha, acho que sonhei que beijava o Rui, será que
isso é possível?
– Oh, Rui, estou muito constrangida com essa situação. Por favor, me deixe
voltar para minha casa...
Ele me olha sério.
– Vai demorar muito, Jack! Você irá perder seu dia todo, eu preciso de você
no escritório!
– Oh, claro, me desculpe! – falo sem graça. – Eu ficarei com essa roupa
mesmo.
Não termino de falar, ele balança a cabeça negativamente.
– Tá, eu aceito sua verba adiantada! – Desisto, ele não vai me deixar ir para
casa, muito menos trabalhar dois dias com a mesma roupa.
– Então, podemos ir? – ele diz ajeitando sua gravata e pegando um paletó em
uma cadeira.
– Claro! – Olho para meus pés. – Você sabe dos meus sapatos?
Ele dá uma risada linda e contagiante.
– Devem estar perdidos por aí, a noite foi bem agitada! – Ele sai andando
pelo corredor dos quartos.
Estanco em pânico.
– Rui! – Ele me olha pelo ombro. – Nós não fizemos nada, não é mesmo?! –
O olho envergonhada.
– Não, Jack, você estava bem mal, só tirei sua roupa para você ficar mais
confortável. – Ele dá mais um daqueles sorrisos molha calcinha. – Vamos,
podemos tomar café em algum lugar.
Meu Deus, se a noiva desse cara souber que ando para cima e para baixo com
seu homem, serei esfolada viva.
****
E ntramos em uma cafeteira, a mais chique que entrei em toda a minha vida.
De verdade, estou mais acostumada com botecos e padarias.
– Pode sentar-se, Jack. Eu já volto.
O acompanho com o olhar, ele pega seu celular, o coloca no ouvido e começa
a falar, ou discutir.
– Espero que não seja por minha culpa! – penso.
Uma moça se aproxima.
– Gostaria de fazer seu pedido? – ela diz simpática.
– Não, vou esperar aquele cavalheiro ali. – Aponto discretamente para meu
chefe maravilhoso, que fala e gesticula nervosamente.
Aproveito que ele está distante e ligo para minha mãezinha, ela deve estar
preocupada.
O telefone toca duas vezes e ela atende.
– Mãe, bom dia! – falo temerosa, ela é uma portuguesa muito brava.
– Jackeline Bartolli, onde você está desde ontem, e sem me dar notícias?!
Eu falei que ela é brava.
– Mãe, me desculpe, mas é que aconteceram algumas coisas, não dá para
falar por telefone. – Vejo o Rui caminhando em minha direção. – Só queria
avisá-la que estou indo para o meu trabalho, à noite conversamos.
O Rui se senta à minha frente, parece irritado, ele me olha e sorrio para ele.
Ela começa a falar, reclamar, xingar...
– Mãe, eu já estou desligando, até depois! – Desligo em sua cara e vejo o Rui
me olhando.
– Estava falando com minha mãe, dando sinal de vida. – Sorrio sem graça.
– Vamos fazer os pedidos? – Ele levanta seu braço. – O que você quer
comer? Aqui tem uns muffins divinos, quer experimentar um?
Meu estômago está roncando, e ao pensar em um muffin, ele grita, mas não,
minha meta é perder 10 quilos.
– Obrigada, mas quero só um café com leite e um pão de queijo.
Ele torce seus lábios.
– Bom, por causa da senhora não jantei ontem. Então, preciso de um lanche,
caso contrário vou passar mal – ele diz irônico.
A moça chega, ele faz os pedidos, e o olho envergonhada.
– Rui, estou muito envergonhada por tudo o que aconteceu desde ontem. Me
desculpe pelo vexame com meu ex-namorado, pela bebedeira, pela cena no
quarto... – falo remexendo em algo na mesa, nem consigo olhá-lo, então sinto
seus dedos em meu queixo, me fazendo olhar para ele.
– Não se sinta envergonhada, Jack! Está tudo bem, eu já disse isso! – Ele
solta meu queixo e dá um sorriso. – Você não teve culpa em relação àquele
cara, sinto muito, você perdeu quatro anos de sua vida com um... – Ele não
termina a frase.
– Gay? – digo constrangida.
– Isso. – Ele me encara. – Beber fazia parte, eu te estimulei, você precisava
relaxar. – Ele sorri novamente. – E te ver nua foi um prazer. – Ele me encara
com aqueles olhos de predador.
Enrubesço e abaixo meus olhos, a moça chega, e agradeço.
– Obrigada! – O olho de relance, pego a xícara e bebo o leite, e o vejo me
encarando. – Rui, você tem o costume de encarar as pessoas? – Ele vira seu
rosto de lado e dá um sorriso engraçado. – Essa é a forma de intimidar seus
oponentes? Isso me deixa meio nervosa!
Ele me olha surpreso, mas eu precisava dizer isso.
– Te incomoda como eu te olho?! – ele diz sedutor.
– Um pouco, me deixa nervosa! – falo o encarando, porque isso está me
incomodando.
– Por que te deixa nervosa? – Ele me olha de lado, com um sorriso torto no
rosto, e me arrependo de ter dito isso.
– Não sei, só sei que me deixa nervosa. – Dou de ombros.
Ele sorri.
– Você também me deixa meio nervoso! – Sinto um gelado no estômago,
seus olhos mergulham nos meus, ele olha para minha boca.
Ele mexe demais comigo e ele é meu chefe, não quero perder meu emprego.
– Então, estamos quites, enervamos um ao outro! – Disfarço, tomo meu café
com leite e ele continua me olhando. – Está vendo, é isso que eu não gosto! –
falo meio rindo e ele sorri.
– Não tenho muito controle sobre isso, sou assim – ele diz finalmente, de um
jeito sincero, com um sorriso de menino.
– Quer experimentar, Jack? – ele diz ao morder seu lanche. – Esse é muito
especial, adoro os lanches daqui.
Sorrio, por que ele tem um jeito espontâneo, e apesar dessa figura altiva e
imponente de advogado de sucesso, seu jeito de ser é acessível, simples e
acolhedor.
– Não, estou de regime! – Fecho meus olhos.
Não era para falar sobre isso, Jackeline!
– Por quê? Você tem um corpo ótimo! – ele diz meio engraçado.
Me sinto constrangida, ele não é meu amigo gay ou minha amiga Carol para
eu reclamar de minha bunda, peito e coxas.
– Coisas de mulher, adoramos fazer regimes! – falo para descontrair.
Ele balança a cabeça e volta a devorar seu lanche.
Termino meu café com leite e meu pão de queijo, e o espero terminar seu
lanche.
Nunca me imaginei tendo um relacionamento tão íntimo com um chefe. Sem
dúvida, esse é o emprego mais inusitado que arrumei, e com o chefe mais
incrível.
– Rui! – Ele me olha novamente. – Obrigada pela oportunidade que você está
me dando, vou me esforçar muito para não te decepcionar.
Falei de coração, ele está sendo tão incrível para mim, acho que nunca
conheci alguém que me ajudasse tanto, quero dizer, tem a Carol, mas somos
amigas de infância.
Ele dá um sorriso lindo, e eu me apaixono cada vez mais pelo seu sorriso e de
repente, aquela mão enorme acaricia meu rosto, e novamente sinto um gelado
no estômago.
– Não precisa agradecer, Jackeline. – Seus olhos mergulham nos meus, e
ficamos assim por segundos intermináveis, e novamente ele olha para os
meus lábios, e sinto uma vontade irresistível de beijá-lo, e o vejo se
aproximando...
Não posso fazer isso, então me afasto.
– Preciso ir ao banheiro. – Dou um sorriso nervoso, levanto e saio em direção
aos fundos da cafeteria.
Entro no banheiro, me apoio na pia e fecho meus olhos, sentindo meu
coração disparado no meu peito.
– Oh, senhor, eu não posso me apaixonar pelo meu chefe, isso é contra as
regras de boa convivência! – falo em pensamento, sentindo meu corpo inteiro
tremer, num misto de excitação e desejo.
– Eu não posso, eu preciso desse emprego, e não de um amante – falo baixo,
somente para mim mesma.
Abro a torneira, jogo uma água em meu rosto e me olho no espelho.
– Estou horrível hoje! – falo ao me ver sem maquiagem. – Ok, foi só um
deslize, está tudo bem! – Puxo o ar, seco meu rosto e volto para nossa mesa.
Ele me olha e diz:
– Podemos ir, ou você quer comer aquele muffin?! – Ele diz divertido.
Sorrio, ele sabe como me relaxar.
– Oh, não me pergunte de novo, não sei se conseguirei resistir! – digo
descontraída. – Talvez numa próxima vez, quando eu não estiver de dieta.
Ele sorri, levanta seu braço e pede a conta.
– Vamos, Senhorita Jackeline, você precisa trabalhar muito hoje! – ele diz
descontraído.
– Tudo bem! Estou preparada, chefe! – Sorrio e o acompanho.
****
O caminho até seu escritório foi silencioso, ele colocou aquela música
agradável que costuma ouvir, e me deixei relaxar e não ficar pensando muito
no que aconteceu na cafeteria.
Ele estaciona seu carro e vejo que a recepcionista já abriu o escritório.
Não vai pegar bem eu chegando com o chefe, serei o assunto do dia, da
semana, e do mês. – Penso desanimada.
O Rui pega um molho de chaves e me entrega.
– Vou deixar com você, para caso você chegue primeiro. Para desativar o
alarme é só pressionar esse botão.
Ele sai do carro e eu fico olhando para aquela chave em minha mão.
O percebo me esperando, então saio rapidamente de seu carro, e sorrio, tenho
essa mania, fico sorrindo toda hora, acho que é de nervoso.
Acho que preciso voltar às minhas sessões de análise, ando meio
desequilibrada! – Penso.
– Vamos! – Ele coloca sua mão enorme em minhas costas e me faz entrar em
sua frente, fecho os olhos e adentro a recepção e vejo os olhos da Karen
pousar indiscretamente sobre nós. – Bom dia, Karen! – ele diz rapidamente e
segue na minha frente.
– Bom dia, Karen! – falo sem graça. – Alguma ligação ou recado para o
Doutor Rui?
Ela me olha com desdém.
– Não, nenhum recado!
– Ok, obrigada. – Sigo para as escadas, mas ela me interrompe.
– Vocês tinham alguma reunião agora de manhã? Não vi nada na agenda do
Doutor Rui. – A olho de lado, e vejo malícia em seu olhar.
– Não, não tínhamos nenhuma reunião. – Me viro para frente e sigo pelas
escadas, sentindo seu olhar sob mim.
Reviro meus olhos, com certeza serei o assunto do dia.
Me sento à minha mesa, ajeito minhas coisas, ligo meu computador e me
assusto novamente com a voz de trovão do meu chefe.
Fecho meus olhos, me levanto e sigo para sua sala.
Abro a porta e o vejo em sua mesa, ele levanta seus olhos, e o vejo de óculos.
Já cheguei à conclusão que tenho um fetiche por esse homem de óculos, ele
fica muito sexy. Quero dizer, ele é muito sexy.
– Pois não? – Caminho até ele e sorrio por dentro ao vê-lo me encarando
durante todo o trajeto.
Preciso me acostumar com isso.
– Vamos ver alguns assuntos... – Ele aponta para a cadeira a sua frente.
Me sento e ele começa a falar feito uma metralhadora.
– Doutor Rui (ele está muito profissional, acho melhor tratá-lo assim), posso
pegar meu caderno, para não esquecer? – falo sem graça.
– Ok! Rápido, Jackeline!
Balanço minha cabeça e saio apressada até minha mesa, em segundos estou
de volta.
– Pronto! – O olho e sorrio, e ele descarrega um caminhão em meu colo.
– O escritório vai fazer 10 anos e farei uma recepção para os funcionários,
para comemorarmos – Ele diz enquanto olha para os papéis a sua frente. –
Então, você cuidará disso para mim. Eu quero que seja um coquetel, nada
muito formal, farei no meu apartamento, ele comporta bem os trinta
funcionários.
O olho atônita.
– Eu nunca organizei um evento. – Olho para ele temerosa.
– Ok, anote o telefone da minha casa, minha empregada a ajudará com essas
coisas, ela já fez isso antes.
Anoto rapidamente o número que ele me passa.
– Você entendeu tudo ou está com alguma dúvida? – Ele me olha com
aqueles olhos lindos.
Abro levemente minha boca, e o vejo a olhando, então desisto do que iria
falar, na verdade esqueci, esse homem me excita e me desconcerta só com
um olhar.
– Não! – Me levanto. – Se eu tiver alguma dúvida, te pergunto depois. –
Começo a andar meio de costas.
– Você ficou muito bonita com esse tailleur, deveria comprar outros. – O
olho surpresa e balanço minha cabeça.
– Claro, depois eu compro outro. – E me lembro que esqueci todas as sacolas
em seu carro. – Eu esqueci minhas coisas em seu carro. – O vejo pegando a
chave e jogá-la em um supetão para mim, a pego no reflexo.
– Boa de reflexos! – Ele sorri e volta a sua leitura.
– Aham! – Viro de costas, reviro meus olhos e volto para minha sala.
****
Me despeço da Carolina, sigo para minha sala e vejo a sala do Doutor Rui
aberta.
Ok, me deixe ver se a sala do meu chefe está em ordem. Ele não é do tipo
bagunceiro, mas os papéis sobre sua mesa estão em desordem.
Coloco meus cabelos atrás da orelha e começo a organizar os papéis, os
colocando em alinhamento. Arrumo as canetas e lápis que estão espalhados, e
percebo que seus lápis estão todos sem ponta, então os aponto com um
apontador elétrico que existe em sua mesa.
Seus óculos de super-homem estão jogados sobre a mesa, então os coloco
dentro de seu porta-óculos.
Sigo para sua mesa de reunião, a arrumo, aponto os lápis, arrumo as cadeiras,
e quando me viro, me surpreendo ao vê-lo em pé, me olhando.
Fico sem graça.
– Oi, boa tarde! – Sorrio nervosa. – Estava dando uma ajeitada em sua sala,
espero que você não se incomode! – falo insegura.
Ele sorri e segue para sua mesa.
– Eu não me incomodo. – Ele tira seu terno, coloca sobre um apoio, então me
olha e sorri. – Gostei, Jackeline! – Ele olha para sua mesa.
– Que bom! – Sorrio e começo a caminhar para minha mesa.
– Espere – ele diz. – Sente-se aqui, vamos tomar um café.
Respiro e o vejo pegar o telefone e falar com a copeira.
– Então, como foi sua manhã? Conseguiu fazer as coisas que te passei? – Ele
cruza seus braços atrás de sua cabeça, mostrando aquele bíceps maravilhoso.
Tento prestar atenção em outras coisas.
– Sim. Deixei apenas a questão do coquetel para ver agora à tarde. – Sorrio.
– Que bom! – Ele cruza seus braços sobre a mesa, um toque na porta e a
copeira entra.
Olho para ela e sorrio.
Ele espera ela sair, então volta a me olhar, pega sua xícara e toma seu café.
– Então, como foi seu almoço? – Ele me olha.
Fico confusa com sua pergunta.
– Foi bom, almocei com a Carolina, ela me levou a um lugar charmoso! –
falo sem graça.
– Ah, claro! – Ele me encara. – Você é bissexual, Jack?
Arregalo meus olhos e quase derrubo todo o café sobre minha roupa.
Devolvo a xícara para a mesa e o olho atônita.
– Nãooo!!! Eu nunca tive nada com a Carolina, nem com nenhuma outra
mulher!
Oh, que cara mais indiscreto!
– Me desculpe, não quis ofendê-la, mas você é minha funcionária... – ele diz
meio sem graça.
– Tá, mas e se eu fosse lésbica, qual o problema?! – falo indignada.
– Problema nenhum, eu só queria saber! – ele diz ainda com aquela cara de
bobo.
– Ok! – Me levanto. – Acho melhor eu ir trabalhar, tenho que ver aquela
questão – falo atrapalhada.
– Tá! – ele diz sem jeito. – Qualquer dúvida, pode me perguntar, Jackeline. –
Não espero ele terminar de falar, saio andando constrangida.
Bufo irritada.
– Cacete, como ele é curioso!
Capítulo 17
RUI FIGUEIREDO
É final de tarde, checo em meu relógio de pulso o horário, já faz algum tempo
que o Doutor Rui está trancafiado em sua sala com dois advogados.
Não nos falamos depois da visita ilustre de sua ex-noiva, ou noiva, não estou
muito preocupada com isso, quero essa encrenca longe de mim.
Mas, aí, me lembro de nossa conversa de louco, antes da megera chegar, e
dou risada.
Que conversa era aquela que estávamos tendo?
É fato que ele estava querendo avançar a linha tênue de secretária e de chefe,
e sinceramente, eu estava quase caindo em sua teia. Mas aí aquela louca
chegou, e de certa forma agradeci, pois ele é muito envolvente, é difícil não
se entregar ao seu charme.
Me estico um pouco na cadeira, já estou com todas as cotações para o
coquetel, só falta mostrar para ele, mas acho melhor fazer isso depois, talvez
amanhã. Está tarde, só quero mesmo que esses advogados saiam para eu
poder ir embora.
É constrangedor entrar em sua sala no meio de uma reunião, então espero um
pouco mais, olho para a caixa de mensagens de meu celular, e lá está uma
mensagem do meu ex-namorado.
Bufo com raiva, mas abro a mensagem.
“Jack, precisamos conversar, já liguei diversas vezes em seu celular, mas
você está me ignorando. Estive ontem em seu apartamento e você não dormiu
lá. Tudo aquilo foi um mal-entendido, eu não tenho nada com o Léo, somos
amigos. Não sou homossexual, caralho! Eu não tenho preconceito, somos
amigos desde a faculdade, assim como você é da Carolina. Por favor, essa
história não pode vazar, imagine se minha família desconfia de um negócio
desses! Por favor, me liga, vamos jantar, fazer o que você quiser, eu
realmente quero me acertar com você.”
Idiota, ele acha mesmo que me engana, eu é que sou uma tapada que nunca
havia percebido isso antes. Tenho dó do Renato, ele nunca irá assumir sua
preferência homossexual, sua família é muito tradicional e conservadora, eles
nunca o aceitariam, seu pai principalmente, aquele ser ignorante, sem cultura
e grosseiro.
Escrevo uma resposta.
“Renato, fique tranquilo, nunca contarei a ninguém o seu segredo. Mas, por
favor, seja sincero comigo, assuma isso, eu não mereço ser enganada por
uma vida inteira, isso é realmente monstruoso da sua parte. Eu desejo um dia
me casar, ter filhos, então me deixe em paz, me deixe conhecer um HOMEM
que realmente me queira para ser sua esposa, e não uma namorada de
fachada. Seja homem pelo menos nisso. Me deixe em paz, não quero vê-lo
nunca mais!”
Ele realmente me ligou diversas vezes, aliás, nunca em nossa vida de
namorados recebi tantas ligações dele. Mas, a verdade é que estou muito
magoada, não é justo ser usada assim, eu sempre o respeitei e amei, não o
perdoo por me usar.
Penso com tristeza no tempo que perdi ao lado daquele enrustido dos
infernos, sempre tão mal-amada, suplicando por amor e carinho. Por que fiz
isso, por que não vi que ele não me amava? Era só um joguinho de aparência,
e a Jackeline caiu feito uma idiota!
Eu realmente não levo jeito para a Psicologia, eu deveria ter percebido isso,
não é possível!
De fato, acho que eu sempre forcei a barra com ele, nos conhecemos um dia
por acaso na faculdade, eu estava comprando um lanche, ele também, então
começamos a conversar na fila. Ele era bonitinho, mas muito tímido,
introvertido, e eu sempre fui muito falante. Comecei a pegar carona com ele
até o metrô. O tempo foi passando, e me enervava o fato dele nunca querer
ultrapassar a linha da amizade, talvez tentar um beijo. Aí, num belo dia eu
tomei a iniciativa, e na hora de me despedir dele, tasquei um beijo, daqueles
de desentupir pia.
Oh, mas ele era tão tímido que me deixava nervosa, ficamos um tempo só nos
beijinhos, até que novamente a Jackeline atacou o cara, foi dentro do carro
dele, na rua onde ele estacionava o carro, aliás, que perigo o que fizemos. Eu
tomei a iniciativa de novo, não teve jeito, e transamos pela primeira ali no
carro mesmo.
Confesso que não foi legal, o cara não tinha o menor jeito, parecia uma
britadeira desgovernada, não gostei, mas com o passar do tempo foi
melhorando... e depois, piorando!
Assumo, eu tive culpa, acho que ele nunca foi a fim de mim.
Olho para a mensagem que mandei, ele não a leu, então largo o celular ao
meu lado, e sigo para meu computador.
Gostaria tanto de conhecer alguém especial, que me fizesse feliz, que me
tirasse do chão, uma paixão avassaladora! Estou precisando disso, sexo de
verdade, que falta estou sentindo disso!
Ok, eu sei que isso parece coisa de mulher encalhada, mas quando vejo, estou
entrando em um site de relacionamentos.
Eu sei, isso é o fim do túnel, mas eu não ligo, tantas pessoas conhecem o seu
grande amor nesses sites, de repente eu sou a próxima, meu príncipe está
dentro dessa telinha, eu só preciso vasculhar.
Faço meu cadastro rapidamente, preciso de uma foto, olho para a câmera do
meu computador, ok, vou fazer isso.
Tiro algumas fotos, faço algumas caras e bocas, e por fim, escolho a que
fiquei melhor. Tudo bem que eles preferem foto de corpo inteiro, mas não
estou a fim de vender meu corpo, eu sou muito mais do que uma bunda e um
peito.
Me descrevo rapidamente.
“Tenho 27 anos, sou romântica, adoro conversar, jantares a luz de velas,
ganhar flores, ir ao cinema, viajar...”
Tenho vontade de dizer que gosto de sexo, sexo de verdade, mas resolvo não
dizer isso, caso contrário minha caixa postal irá encher de propostas
indecentes para encontros tórridos.
Meu Deus, se eu gosto de tudo isso, por que eu ainda namorava o Renato?
Oh, mulher burra!!! – Me xingo mentalmente.
Ok, termino minha descrição e olho brevemente alguns perfis de homens que
estão à disposição.
É muito estranho conhecer alguém assim, sem ter aquela primeira impressão,
olho no olho, mas eu realmente não sei como conhecerei outros homens
enfurnada dentro de um apartamento, e com três senhoras.
É isso ou nada.
Um barulho na porta e de repente os dois advogados saem animados, eles me
olham, sorriem simpáticos, sorrio para eles, e vejo meu chefe olhando a tela
do meu computador. Me desespero, minimizo, mas já é tarde, ele me encara
com um sorriso cínico no rosto.
– Você costumar procurar por encontros nestes sites, Jackeline?
O olho horrorizada.
– Claro que não! Eu tinha um namorado, eu não saia com outros homens, não
sou o tipo de mulher infiel, Doutor Rui! – falo indignada.
O vejo se aproximando, ele se posiciona em minhas costas, e como sempre se
inclina sobre mim, e abre a maldição do aplicativo. Então, ele começa a abrir
minhas informações.
Oh, céus, que vergonha!
– Doutor Rui, por favor, isso é pessoal.
– Eu sei, mas então, por que você estava fazendo isso em seu trabalho? – Ele
me olha inclinado sobre mim, me dando a visão perfeita de seus lindos olhos,
de sua boca, de sua pele, e do perfume que ele exala.
– Me desculpe, eu só estava tentando passar o tempo. Nunca mais abrirei este
tipo de site aqui no escritório – falo constrangida, tento pegar no mouse para
fechar o site, mas ele não deixa.
– Ok, mas me deixe ver o que temos aqui. – Ele dá um sorriso debochado.
Tudo bem, eu mereço, por ter sido uma idiota e ter entrado em um site de
relacionamento em meu trabalho, agora meu chefe terá mais um motivo para
me constranger.
Me encosto na cadeira, fecho meus olhos e deixo o vexame se concluir.
– Certo! – Ele fecha o site e se senta em minha mesa, de frente para mim, me
dando uma visão gloriosa de seu corpo.
Esse homem é lindo.
– Você acha mesmo que alguém neste site está interessado em conhecer
alguém para ter um relacionamento, Jack? – Ele me encara desafiador.
– Acho! – Balanço minha cabeça. – Sei de pessoas que se conheceram assim.
Evito olhá-lo.
– E quem são essas pessoas? – Ele cruza seus braços, me encara, olho-o
nervosa.
– Sei lá, já ouvi dizer, não me lembro agora – respondo irritada, quem ele
pensa que é, afinal?
– Jack, você não precisa disso. Isso é uma roubada! – Ele se levanta e segue
para sua sala.
Reviro meus olhos.
– Você precisa de mim, quer que eu faça alguma coisa? – pergunto sem
graça.
Ele torce seus lábios e finge pensar.
– Você quer um encontro, Jack? – Ele me olha com um sorriso enigmático.
– Doutor Rui, esquece isso. Eu só estava querendo passar o tempo, sei lá! –
bufo irritada.
– Ok. – Ele passa suas mãos pelos cabelos, e isso o deixa tão sexy! – Quer
jantar comigo?
Abro levemente a boca, estou realmente surpresa.
– Não acho uma boa ideia – falo confusa.
– Claro que é uma boa ideia, eu sou um cara solteiro, você também é, não há
nada que nos impeça de jantarmos juntos. Qual o problema de fazermos isso?
– ele diz com uma naturalidade irritante.
– Você é meu chefe, eu sou sua secretária, não quero ser sua amante se é isso
que você pretende – digo sem delongas.
Ele me encara realmente bravo.
– Só quero levá-la para jantar, quem falou que a quero como minha amante?!
– ele diz sério.
Abro novamente a boca, surpresa, sem graça e envergonhada.
Só estou fazendo merdas, eu só queria enfiar minha cabeça em um buraco e
sumir.
– Desculpe, eu não acho nada. – Desvio meus olhos dos seus. – Eu... eu às
vezes falo demais.
Ele se inclina novamente sobre minha mesa e me encara desafiador.
– Ok, eu te desculpo! – Ele se levanta. – Pode ir embora.
O vejo indo com pressa para sua sala, ele bate a porta e eu finalmente respiro.
Oh, merda, será que ele ficou chateado comigo?
Deixa pra lá, pelo menos falei o que queria. O que está feito, está feito!
****
Sigo até a copa do escritório, hoje trouxe meu lanche, não posso me dar ao
luxo de almoçar fora.
Entro delicadamente e vejo a copeira lavando algumas coisas.
– Com licença, será que posso fazer um lanche aqui? – falo um pouco
cuidadosa, não conheço a copeira, aliás, só falo com ela quando o Doutor Rui
pede algum café ou água.
Ela se vira rapidamente.
– Claro, Senhora Jackeline! Fique à vontade. – Ela limpa suas mãos e vem ao
meu encontro. – Me deixe arrumar a mesa para você.
A copa do escritório é simplesmente um charme, decorada com motivos
retrôs, com uma linda mesinha de vidro e cadeiras feitas em um acrílico
vermelho transparente, tudo nela é lindo e de bom gosto.
– Oh, não precisa se preocupar comigo, eu me ajeito – falo constrangida,
vendo a mulher toda preocupada, colocando um apoio para pratos, copos e
talheres, deixando tudo perfeito, como se eu estivesse em um restaurante.
Mal sabe ela que eu trouxe um mísero lanchinho de queijo branco e peito de
peru com salada.
Ela não se deixa abalar com o que digo, logo a mesa está arrumadíssima.
– Oh, muito obrigada, mas só vou comer um lanche – digo sem jeito.
– Temos suco aqui, o Doutor Rui trata muito bem seus funcionários – ela diz
orgulhosa.
– Eu aceito, esqueci de trazer algo para tomar – digo constrangida.
De fato, eu não tinha nada para trazer, deveria ter feito um suco de laranja,
mas achei que não daria tempo.
Ela enche um copo com suco para mim, e me olha sorrindo.
– Obrigada! – Sorrio de volta. – A senhora está servida, é só um lanchinho...
Ela abana suas mãos acanhada.
– Não, obrigada, fique à vontade. – Ela volta para sua pia, coloco meu celular
em cima da mesa e como vagarosamente meu lanche.
Acho que isso é melhor que salada. – Penso.
Enquanto como, aproveito para ler notícias, ou fofocas em meu celular e não
percebo alguém se sentar à minha frente.
– Com licença! – Levanto meus olhos e dou de cara com um rapaz moreno,
bem bonito, todo engravatado, aliás, todos os homens aqui usam terno e
gravata.
– Claro, fique à vontade! – respondo.
Ele estende sua mão para mim.
– Sou o Fernando! Você é a Jackeline, não é mesmo?
O cumprimento.
– Sim, sou a secretária do Doutor Rui – respondo um pouco sem graça.
O Doutor Rui deveria ter me apresentado para as pessoas, é tão chato
trabalhar num lugar que a gente não conhece ninguém.
– Eu já sabia, a Carolina contou que você estava começando. – Ele tira algo
de uma sacola. – Se você não se incomodar, vou fazer companhia para você –
ele diz discretamente.
– De jeito nenhum, eu já estou acabando – digo apressada.
– Não precisa ficar com pressa, eu não mordo! – Ela dá um sorriso largo e
sedutor.
Todos os homens deste escritório devem fazer curso com o Doutor Rui.
– Não estou com pressa – digo constrangida. – Eu realmente já acabei meu
lanche.
Termino de tomar meu suco, me levanto e levo meu copo até a pia.
– Bom almoço! – falo ao passar pelo Fernando.
– Que pena que não pude usufruir de sua companhia! – ele diz galanteador. –
Talvez um dia eu convide a secretária do chefe para almoçar.
Abro a boca para responder, ele me deixou meio sem graça, mas aí ouço o
vozeirão do meu chefe.
– Tudo bem por aqui, Jack?! – ele me olha meio ameaçador. – O Doutor
Fernando parece que não está se comportando adequadamente! – ele olha de
lado para o rapaz.
O Fernando dá risada.
– Como assim, chefe? – O rapaz diz sem graça. – Só disse que um dia desses
vou convidar sua secretária para um almoço! – Ele dá de ombros e eu fico ali
feito uma panaca, nem sei o que dizer.
Olho para o Doutor Rui, e lá estão aqueles olhos semicerrados, e não sei
muito bem o que ele quer dizer quando me olha assim.
– Eu já almocei, dá licença. – Olho para o rapaz. – Prazer, Doutor Fernando!
– E saio apressada da cozinha.
Esse meu chefe é bem possessivo.
****
Escovo rapidamente meus dentes, repasso meu batom, ajeito meus cabelos e
volto para minha mesa.
Vejo a porta fechada, provavelmente o Doutor Rui já voltou, caso contrário a
porta estaria aberta.
Abro meu e-mail, e vejo alguns retornos de alguns assuntos que ele pediu
para eu resolver para ele.
Ele está bem silencioso hoje, normalmente ele me chama umas quinhentas
vezes. Estou surpresa, talvez um pouco decepcionada, ele é um colírio para
os olhos.
Fecho meus olhos e tento não pensar muito sobre isso, é tudo tão estranho, os
sentimentos que ele me causa, admiração, atração, mas medo também. Como
a Carolina disse, ele é um homem muito perigoso.
Meu ramal toca e vejo que é ele.
– Pois não? – falo séria.
– Venha a minha sala – ele diz em seu tom sério e compenetrado.
Olho no meu relógio de pulso e me surpreendo ao ver as horas, são 17h45,
está quase no horário que marquei com o cara.
Oh, espero que não seja nada demorado. Bato em sua porta e entro.
Ele está com seus óculos em sua mesa de reuniões, processos e mais
processos espalhados na mesa.
Me aproximo da mesa e tento não o interromper, mas ele me vê e se estica na
cadeira, deve estar exausto, de repente me vem a imagem mais absurda do
mundo, eu massageando aqueles ombros magníficos. Tenho vontade de rir,
sou hilária!!!
Dou um sorriso forçado.
– Posso te ajudar? – Ele tira os óculos, coça os olhos, parece muito cansado.
– Sente-se, quero sua ajuda com esses processos – ele diz sério, parece meio
rabugento hoje.
Me sento ao seu lado, coloco meus antebraços sobre a mesa e fico o olhando.
Ele olha para os papéis a sua frente, parece meio confuso.
– Acho que preciso de um café antes. Por favor, peça para a copeira trazer
café e água para nós – ele diz rapidamente e volta a colocar seus óculos.
Não falo nada, apenas me levanto e vou até o telefone que fica em sua mesa,
mas não vou dar a chance dele ficar vendo meu traseiro, me posiciono na
frente de sua mesa, pego o telefone e falo com a copeira.
Ele me olha de canto de olho, ele é muito sem noção.
Sorrio por dentro.
– Ok. – Tento sorrir, quebrar o gelo, ele é sempre tão bem-humorado.
Ele me entrega alguns papéis, pede para grampeá-los juntos, ok, um trabalho
para uma aprendiz, caiu como uma luva para mim.
Faço isso com uns cinco processos, ficamos em silêncio, um silêncio pesado,
tenho vontade de puxar papo, mas ele não me parece muito bem hoje.
Olho em meu relógio de pulso, 18h15, daqui a pouco tenho o maldito
encontro.
Ele segue lendo um documento.
– Acabou, posso ir? – Ele me olha sobre seus óculos.
– Está com pressa hoje? – ele diz com seus braços apoiados na cadeira,
pernas cruzadas despojadamente.
– Não! – digo, mais aí me lembro que marquei com o rapaz. – Quero dizer,
eu tenho um compromisso daqui a pouco. – O vejo franzindo a testa. – Mas,
eu posso terminar aqui, fique tranquilo – falo meio atrapalhada, ele me deixa
atrapalhada.
– Qual o compromisso? – Ele tira seus óculos e me encara.
Sempre tão indiscreto e bisbilhoteiro!
Abro a boca, mas desisto, não tenho por que mentir, que se foda.
– Um encontro! – digo constrangida e desvio meus olhos dos dele.
– Tem a ver com aquele site? – De repente ele está com os dois braços sobre
a mesa, parece até que contei que estou grávida.
– É... tem a ver! – digo corajosa, ele não é meu pai, ou meu irmão, que tanto
que ele cuida da minha vida?
Ele dá uma risada, mas não é uma risada de quem está feliz, é uma risada
estranha.
– Jackeline, você tem noção do que você está fazendo? – Ele me encara,
parece bravo.
– Tenho, vou me encontrar com uma pessoa, qual o problema, Doutor Rui? –
O encaro, porque eu preciso colocar esse homem no lugar dele.
– Rui! Você se lembra, não gosto que me chame de Doutor Rui! – Ele se
levanta, sai andando pela sala. – O problema, Jackeline, é que você pode estar
indo se encontrar com um marginal, ou um maníaco, sei lá, o que você sabe
sobre esse cara?
Ele se inclina na mesa a minha frente e me encara.
Minha mente ferve, será que é tão perigoso assim?!
– Mas eu vou encontrá-lo na área de alimentação do shopping, não pode ser
tão perigoso assim, e se eu ver que o cara é perigoso, eu dispenso ele. – Dou
um sorriso no final da frase.
– Você acha que está escrito na cara dele essas coisas?! Não dá para saber,
Jackeline, talvez você só vá descobrir isso quando estiver dentro de um
motel, esquartejada, aí não terá jeito! – ele diz bravo, parece até que sou filha.
Arregalo meus olhos, nossa, que cara exagerado.
– Desculpe, Doutor Rui... – ele me interrompe bruscamente.
– Rui, Jackeline, Rui!!! – ele fala exaltado.
– Tá, Rui, eu não tenho 18 anos, tenho 27, estou mais próxima dos 30 do que
nunca, não sou retardada, eu conheço um maníaco, ou tarado, ou sei lá o que!
– falo nervosa. – Não se preocupe, eu sou maior e vacinada!
– Então vá para o seu encontro, Jackeline. Espero que o cara não esteja
armado e não te leve para um beco escuro.
– Nossa, você conseguiu me deixar preocupada! Você não tem uma irmã ou
uma prima para cuidar?! – Me levanto brava.
Oh, eu não deveria ter falado assim com ele!
– Tenho uma irmã e eu cuido dela, você não sabe como.
– Tá – falo irritada. – Eu posso ir, ou você precisa de mais alguma coisa?! –
falo em frente a ele, estamos os dois em pé, parecemos um casal em crise,
que coisa mais estranha.
– Pode ir, e boa sorte! – Ele vira de costas para mim e sai andando para sua
mesa.
****
Pego minha bolsa e sigo em direção ao shopping, mas quer saber, ele
conseguiu me deixar preocupada.
Mas que merda!
Depois de alguns minutos de caminhada, entro no shopping, ele não é muito
longe do escritório, mas a pé e de salto foi um pouco demorado.
De repente, começo a ficar nervosa, já me arrependi de ter entrado nesse site,
e de ter marcado um encontro.
Mas, eu vou, não é o Doutor Rui que vai melar a minha noite, agora eu vou
até o final.
Sigo de elevador até a área de alimentação, o nervosismo começar aumentar à
medida que me aproximo do local do encontro.
Olho para as mesas que ficam em frente ao restaurante que falei, não há
nenhum homem sentado próximo, de repente me vejo torcendo para que ele
não venha.
– Ok, Jackeline, se acalme. O Doutor Rui é que é o maníaco, ele que não para
de olhar para os seus peitos e para sua bunda!
Escolho uma mesa para me sentar, mas antes compro uma água.
Olho em meu relógio são 18h55, mas tudo bem, eu cheguei atrasada, ele
também poderá chegar.
Tomo minha água distraída, quando de repente, um homem para a minha
frente.
Levanto meu olhar com um sorriso.
Sério, a foto não parece em nada com esse homem, talvez há 10 anos atrás,
agora ele tá bem gorducho, cheio de bolsas embaixo dos seus olhos, cabelo
ralo, e a barba está por fazer.
Me puno mentalmente, talvez o Rui estivesse certo, pelo visto ele conhece
bem esses sites.
– Jackeline?! – ele diz com um sorriso completamente amarelo, mas amarelo
mesmo, deve ser fumante.
– Sim, e você é o Luís Alberto? – Tento sorrir.
– Isso! – Ele passa seus olhos pelo meu corpo, e sinto um arrepio de medo. –
Você é bem mais bonita pessoalmente.
Engulo em seco, não posso dizer o mesmo dele, ele mentiu, ele não tem a
aparência da foto.
– Obrigada. – Sorrio. – Vamos nos sentar – falo sem graça.
Ele se senta à minha frente.
– Desculpe o atraso, me enrolei um pouco no escritório – ele diz, e chego à
conclusão que ele tem um bafo de onça.
Oh, meu Deus, que roubada, Doutor Rui!
Tento enrolar um pouco, depois invento algum compromisso.
– Então, o que você faz, quero dizer, você trabalha do que?
– Atualmente, trabalho de courier, era isso ou nada, perdi meu emprego há
um ano e meio atrás – ele diz remexendo suas mãos.
– Courier, não conheço, o que faz? – pergunto interessada.
– Motoboy, é que a empresa que trabalho é meio chique, e eles dão esse nome
aos motoboys! – Ele sorri, e vejo que ele está com dois dentes faltando.
– Oh, sinto muito, está difícil encontrar emprego. – Tento ser compreensiva,
ele é só mais uma pessoa vítima do desemprego, quem sou eu para julgar seu
emprego.
– E você, princesa, faz o que? – Ele olha novamente para meu corpo, e me
vem à mente o que o Doutor Rui disse.
– Secretária, mas estou em experiência, estava desempregada também! –
Tento ser simpática, não gostei dele, mas não vou diminuí-lo.
– Você é realmente muito bonita, estou lisonjeado de ter aceitado se
encontrar comigo – ele diz meio babão, o mau hálito está queimando minhas
narinas, disfarço, coloco a mão sobre meus lábios e nariz, e finjo bocejar.
– Oh, você também é muito... tem... você está ótimo! – Sou muito ruim para
mentir, não consigo dizer que ele é bonito.
– Não precisa mentir, engordei um pouco! – Ele bate em sua pança gorda. –
Mas, vou me cuidar, principalmente se arrumar uma namorada bonita como
você!
Sério, acho que não gosto do jeito que ele me olha, talvez ele seja maníaco.
– Bom, estamos aqui para nos conhecermos, não é mesmo? Se não der em
nada, pelo menos seremos amigos... – Começo a ficar nervosa.
– Não estou querendo fazer amizade, quero uma namorada, alguém para
fod... – Ele interrompe a frase, e me pego com os olhos arregalados.
– Ah, tá... – Olho no meu relógio. – Então, eu marquei com você, mas não
posso demorar, tenho um curso, não posso chegar muito atrasada.
De repente, sinto sua mão em minha coxa, me afasto da mesa assustada, mas
antes que eu possa fazer ou falar alguma coisa, ouço aquela voz grossa e
deliciosa ao meu lado, e tenho vontade de me jogar em seus braços.
– Jackeline! – ele diz me encarando, seus olhos continuam com aquela
expressão de bravo, mas ele está aqui, e vai me ajudar a me livrar desse
candidato a tarado.
Me levanto rapidamente.
– Oi! – Sorrio para o Doutor Rui, acho que nunca estive tão feliz em vê-lo. –
Então, minha carona para o curso chegou! – Olho para o homem, ele está
com aquela cara de panaca.
Estendo minha mão para ele.
– Foi um prazer te conhecer! – Viro para o Rui. – Podemos ir? – Ele balança
sua cabeça de um lado para o outro, deve estar rindo de mim por dentro.
– Sim, Jackeline, podemos ir! – Ele pega no meu braço e sai me arrastando
pela área de alimentação.
Olho para ele sorrindo.
– Obrigada, acho que ele era tarado!
Ele não diz nada, só balança a cabeça.
Capítulo 20
RUI FIGUEIREDO
Flashback on
Sigo para meu escritório, coloco uma música, preciso me acalmar, estou
muito nervoso hoje.
Depois de alguns minutos, estou estacionando meu carro no escritório, passo
pela recepcionista sem cumprimentá-la.
Subo as escadas e finalmente chego à sala da Jackeline, ela está de cabeça
baixa anotando alguma coisa em seu caderno, parece não me notar, então
falo:
– Boa tarde!
– Boa tarde! – ela responde se remexendo nervosamente na cadeira.
Qual o problema dela comigo?
– Algum recado? – pergunto, mas já começo a salivar vendo-a vestindo o
conjunto que escolhi para ela, eu sabia que ela ficaria linda com essa roupa.
– Alguns, você quer que eu te diga agora, ou... depois? – Ela fica sem graça,
dei na cara que estava olhando o vão entre seios, mas não tive culpa, o decote
da camisa que está expondo mais do que deveria.
Disfarço.
– Venha a minha sala – digo rapidamente, seguindo para minha sala.
Me sento e vejo que ela ainda não entrou, mas que porra de mulher teimosa.
– Jackeline! – Berro seu nome.
Ajeito minhas coisas sobre a mesa, a vejo a minha frente, e não consigo
deixar de olhá-la, ela está muito gostosa com essa roupa.
– A roupa ficou muito bem em você – digo admirando-a.
– Ficou sim, obrigada, eu realmente adorei! – ela responde com um sorriso.
– Você quer que eu peça um café para você? – Ela parece querer me agradar,
minha sala está toda organizada, janelas abertas, talvez esteja com remorso
por ter me dispensado ontem.
Tento sorrir.
– Pode pedir.
A acompanho com o olhar enquanto ela segue até o telefone, se debruça
levemente, expondo para mim seus seios, mas ela logo percebe, vira de lado,
o que foi perfeito, agora vejo sua bunda maravilhosa.
Caralho, ela está um espetáculo com essa saia, tenho uma vontade louca de
me levantar, e encoxar essa bunda com meu pau, mas me controlo.
Quando eu pegar essa mulher, ela vai se arrepender de ter se feito de difícil.
Não consigo tirar meus olhos de sua bunda, ela é redonda, arrebitada, tenho
vontade de meter minha mão, apertar, mas aí a ouço pigarrear, olho e a vejo
me olhando enfezada.
– Está gripada, Jack? – pergunto cínico.
– Minha garganta, está pegando um pouco. – Ela tenta sorrir, mas eu já a
conheço, ela odeia que olhem para seu corpo, a Jackeline realmente é uma
figura. – Perdeu alguma coisa?! – ela diz me encarando, e não consigo
controlar um sorriso, ela é engraçada.
– Não, não perdi nada! – digo irônico.
Ela fala com a copeira e logo volta para sua cadeira.
– Então, quais são os recados? – pergunto enquanto relaxo em minha cadeira.
Ela passa rapidamente os recados, a Jackeline está me surpreendendo muito,
para quem nunca fez isso, ela está perfeita.
Estou cansado hoje, estou precisando relaxar, e enquanto a vejo caminhar
para porta, fico imaginando a Jackeline no meu colo, isso seria perfeito hoje.
De repente, ela olha para trás, e me pega a olhando indiscretamente.
– Bom almoço, Jack! – digo com minha maior cara de pau, ela faz uma cara
feia e sai, e dou mais risada.
Acostume-se comigo, Jackeline!
****
Depois que ela foi embora, tentei retomar o que estava fazendo, mas ela
fodeu com minha concentração.
Não consigo tirar da cabeça essa merda de encontro que ela terá com um filho
da puta.
Volto para minha mesa, digito o nome do site de relacionamentos, insiro seu
login e senha, e fuço indiscretamente sua caixa de mensagens.
Leio a mensagem que ela trocou com o cara e tenho certeza absoluta que esse
encontro é uma roubada. Isso não deveria me incomodar, eu deveria estar
pouco me fodendo para as merdas que ela queira fazer com sua vida.
Ela acabou de sair de um relacionamento com um viado, agora vai procurar
relacionamento em um site que só tem cara cafajeste (ok, eu sou cafajeste,
mas eu me importo com ela).
Esfrego meu rosto, fecho os olhos e tento pensar com clareza, mas a clareza
não vem, eu preciso ver com quem ela está se encontrando.
Pego meu terno, minhas coisas, e saio apressado para o shopping, espero que
a encontre a tempo, antes do estupro, ou coisa pior.
Chego ao meu carro e saio feito um alucinado em direção ao shopping, deixo
o carro com o Valet Parking, ando apressado para os elevadores, mas sou
parado por um porra de um cliente.
– Doutor Rui, que prazer te encontrar aqui! – O homem fala calmamente,
cheio de simpatia.
– Como vai, Arthur? Realmente é um prazer! – Aperto sua mão apressado.
Ele começa a falar besteiras, amenidades, e eu começo a olhar para o relógio.
– Desculpe, Doutor Rui, estou aqui falando, nem perguntei se você tem um
compromisso! – ele diz, e eu agradeço.
– Desculpe, Arthur, estou muito atrasado. Quando der, passe no escritório,
podemos tomar um café e conversar com calma. – Não dou tempo para ele
responder, apenas aperto sua mão e saio meio correndo para o elevador.
A área de alimentação é enorme, passo meu raio X pelo local, às vezes pareço
mais um investigador de polícia do que um advogado, sou um cara meio
neurótico. Como advogado já vi muita coisa ruim por aí, a Jackeline parece
que nasceu no país da Alice, e não no Brasil.
Finalmente a acho, ela conversa com o cara, e balanço minha cabeça ao ver o
figura.
– Caralho, eu sou bem melhor que ele, entre nós, a Jackeline está apelando! –
Sigo vagarosamente em direção a eles, não quero que ela me veja, só quero
observá-los.
De fato, não sei o que vou fazer, estou me sentindo um idiota.
Me sento em uma mesa em sua lateral, ela está entretida com a conversa, mas
não parece muito empolgada, parece nervosa, ela mexe muito as mãos, e isso
já me fala tudo sobre ela.
Pego meu celular para disfarçar, caso contrário parecerei um maluco
observando o casal.
De repente, vejo a mão do cara embaixo da mesa, ele titubeia, mas isso foi o
suficiente para me fazer levantar, mas não cheguei a tempo, o filho da puta
meteu a mão nas coxas da Jackeline.
Porra, o sangue ferveu, ninguém coloca a mão na Jackeline, não antes de
mim.
Chego até ela em segundos, e a pego assustada.
– Jackeline!
Ela se levanta na mesma hora, parece muito feliz em me ver, pudera, eu a
salvei do maníaco.
– Oi! – Ela me olha com um sorriso largo, e penso, filha da puta não me
ouviu, mas agora está feliz em me ver.
– Então, minha carona para o curso chegou – ela diz para o cara, pelo visto já
estava tentando fugir do encontro fracassado.
– Foi um prazer te conhecer! – ela diz para o esquisito, se vira para mim
apressada. – Podemos ir? – Tenho vontade de deixá-la aqui, só para aprender,
mas aí não vou conseguir dormir de preocupação, então apenas balanço
positivamente minha cabeça.
– Sim, Jackeline, podemos ir. – Pego em seu braço, sem maiores delicadezas,
ela me irritou muito hoje.
– Obrigada, acho que ele era tarado! – ela diz muito feliz, e tenho vontade de
colocá-la no meu colo e bater em seu bumbum gostoso.
Mas, tudo bem, minha hora vai chegar.
Capítulo 21
JACKELINE BARTOLLI
A cordo cedo, antes mesmo do despertador, na verdade, acho que não dormi
de fato, passei a noite sonhando com aquele ser angustiante.
Ainda não caiu a ficha sobre o que aconteceu ontem, a gente se beijou, foi
tudo muito mágico, não me senti como se beijasse meu chefe, ele era outra
pessoa.
Mas, não posso me animar muito, ele me parece uma pessoa bem instável em
relação a mulheres.
Será muito estranho chegar hoje ao escritório e vê-lo novamente, não sei
como devo agir.
Sou uma mulher tradicional, quero dizer, tradicional em relação à
relacionamentos, acho que nunca “fiquei”, sempre tive relacionamentos
sérios e duradouros.
Fui criada em uma família muito tradicional, que preserva e respeita as
relações amorosas, não há casos de traição em minha família, todas as minhas
primas são casadas, construíram famílias, possuem vidas invejáveis, pelo
menos é o que tentam passar para o resto da família.
Fecho os olhos e penso preocupada. Não quero ser a secretária que ele come
quando está entediado, não quero isso para mim!
Mas, foi tão bom...
Oh, que confusão que arrumei para minha vida!
Me levanto da cama e sigo para o banheiro, preciso de um banho para me
renovar.
****
Tiro a terceira roupa e chego à conclusão que só tenho lixo em meu armário.
Por fim, escolho o conjunto de saia e blazer que ganhei, coloco uma blusinha
por baixo, ela é justa, tem um decote reto, cor champanhe, combina com a
saia azul escuro.
Coloco uma sapatilha e guardo o sapato alto em uma sacola.
Penteio meu cabelo, estou cheia de me ver com cabelo solto, e apesar de
curto, o prendo em um rabo de cavalo, coloco um par de brincos grandes,
faço uma maquiagem e sigo apressada para a estação de metrô.
Fico feliz ao chegar ao escritório e verificar que ninguém chegou ainda, logo
estou em minha mesa, e só para não perder o costume, sigo para a sala do
meu chefe, e agora peguete, e sorrio com isso.
Ele largou tudo bem bagunçadinho ontem, a mesa de reuniões está uma zona,
mal sei como organizar isso.
Olho com cuidado cada papel para não os misturar, junto em montinhos,
guardo os lápis e canetas espalhados. Pego seus óculos e levo para a caixinha
onde fica guardado.
Confesso, eu adoro arrumar sua sala, é uma imersão em sua intimidade,
mesmo que seja intimidade profissional.
Me sinto mais íntima dele.
Estou organizando sua mesa, já apontei os lápis, ajeitei os papéis e agora
estou os colocando em uma gaveta e me assusto ao ouvir sua voz, ele parece
um gato, não faz barulho.
Estou inclinada sobre a mesa, então ajeito minha postura, olho para ele e
sorrio.
Cada dia ele usa um terno, um mais lindo e elegante que o outro. Ele sabe se
vestir, tem estilo, elegância.
– Bom dia, Jack! – Ele fecha a porta, e isso não deveria me incomodar, mas
uma batucada começa a dar sinal de vida no meu peito.
– Bom dia! – Tento agir com naturalidade, mantenho um sorriso comportado
no rosto, e o vejo se aproximar, e se aproximar, até que estamos frente a
frente.
– Passou bem à noite? – Ele coloca sua pasta sobre a mesa, e me olha de lado,
com um sorriso contido.
– Passei bem! E você, chegou bem ontem? – Minha respiração já está
acelerada, tive dificuldades de falar com naturalidade, faltava ar enquanto eu
falava.
Mais um passo em minha direção, já sinto o calor do seu corpo, o seu cheiro
me embriagando.
– Deu tudo certo – ele diz pausadamente, me olha muito próximo, estou
salivando para beijá-lo, e então sua mão vai até meu pescoço, ele o acaricia
delicadamente, tenho vontade de fechar os olhos, mas os mantenho firmes. –
Saudades minhas, Jack?! – Ele sussurra, sedutor, envolvente, me sinto
enfeitiçada por ele.
Olho para seus lábios, que vontade de beijá-lo!
– Um pouco. – Minha voz sai quase inaudível, volto a olhar para ele e ele
olha para os meus lábios.
– Essa sua boca é uma tentação, sabia? – ele diz passando o polegar pelos
meus lábios.
Meu pai eterno, fala para ele me beijar logo!!!
– A sua também – digo, quero dizer, gemo.
Se ele me deixa assim só por um beijo, imagine quando a gente se atracar em
uma cama, acho que vou morrer.
– Eu senti falta de você, Jack! – Ele beija meu rosto, próximo dos meus
lábios.
Maldito, ele quer que eu implore por um beijo.
– Ah, é? – Mal sei o que estou dizendo, estou entregue aos beijos que ele
deposita em meu rosto, isso parece inocente, mas é erótico demais.
– A gente pode ir hoje à noite para o meu apartamento? – Ele sussurra em
meu ouvido, passando a língua pela minha orelha, todos os pelos do meu
corpo estão eriçados. – O Bóris pediu para você ir visitá-lo, ele está com
muitas saudades de você.
Dou risada, ele tem senso de humor.
– Hum, se é o Bóris que está pedindo... – Ele morde minha orelha, solto um
gemido. – Ahhh!
Cacete de homem.
– Eu não vejo a hora de ouvir você gemendo assim em cima do meu pau! –
ele diz no meu ouvido, e acho que não vou aguentar a essa tortura.
– Assim não vale, Rui – digo embriagada, sentindo seus lábios descendo pelo
meu pescoço, roçando minha pele.
Seguro seu braço com firmeza, ele é um filho da puta sedutor.
Tento me afastar dele, mas ele segura minha cintura, me puxa para junto dele,
e enfia aquela língua indecente na minha boca.
Oh, meu Deus, esse homem vai me enlouquecer.
Ele colocou fogo em mim, enfio meus dedos entre seus cabelos e o beijo
desesperada.
Seus lábios se afastam de mim e ele me encara, parece louco de tesão.
– A gente pode fazer isso aqui, se você quiser, eu realmente não estou
aguentando mais esperar!
O olho confusa.
– Não tem ninguém no escritório, não se preocupe, ainda é cedo. – Ele volta a
beijar meu pescoço, sua mão vai para o zíper da minha saia.
Minha mente está em confusão, eu quero, mas tenho medo e receio, e de
repente sinto minha saia em meus pés, ele já decidiu por mim.
Sua mão acaricia meu bumbum sensualmente, cada pelo do meu corpo está
em pé. O vai e vem de sua mão em minha pele está me excitando
enlouquecidamente.
Ele tira seu paletó desesperado, pega em minha cintura e me coloca em cima
de sua mesa, e antes mesmo que eu possa pensar, minha calcinha está no
chão, e ele está com seu rosto, mais precisamente sua boca, mergulhada entre
minhas pernas.
Isso é bom, bom demais, eu nunca mais tinha sentindo a sensação
maravilhosa de ter a língua de um homem em meu sexo, e ele é expert nisso.
Estou tentando heroicamente não gemer feito uma cachorra, mas isso está me
deixando alucinada. Fecho meus olhos e me deixo mergulhar nessa sensação,
mas de repente ele para.
– Tira sua blusa, Jack!
Oh, que decepção, eu estava quase lá.
O olho confusa, mas faço o que ele me manda. Fico apenas de sutiã.
– Tira tudo, Jack! – ele diz em desespero.
Oh, meu pai, estou nua, em cima da mesa do meu chefe, isso é loucura.
Ok, mas se é para mergulhar, então que seja de cabeça, tiro meu sutiã e seus
olhos mergulham em meus seios.
– Jack, você é a mulher mais gostosa que já conheci – ele diz com aquele
olhar faminto, e mergulha sua boca em meus seios, e os chupa enlouquecido,
e subitamente seus dedos entram em mim, e começam a me estimular.
Cacete, eu não vou aguentar, e não aguento, gemo alto e desesperada. Acho
que nunca senti tanto prazer, foi incrível.
Enquanto estou tentando voltar da outra galáxia, ele volta a me beijar, ouço
barulho de cinto e zíper, e antes que eu possa pensar, sinto seu membro me
preencher.
Ele não me deixou vê-lo, mas deve ser enorme e grosso, nada comparável
com o Renato.
Enrosco minhas pernas em sua cintura, e o deixo nos levar em meio à paixão.
Depois de estocadas firmes e profundas, ele goza feito um urso.
– Oh, Jack! – ele diz ainda se movimentando dentro de mim e me beijando. –
Você é deliciosa, Jack!!! – ele diz de olhos fechados, me beijando e
gemendo.
Senhor, isso sim é sexo, era disso que eu falava!
Ele se acalma, a gente se olha, e sorri.
– Valeu a pena esperar, foi incrível, mas eu quero mais... – O olho
preocupada, será que ele pretende passar o dia trancado em sua sala,
transando??? – Mas pode ser à noite, eu aguento esperar! – ele diz com um
sorriso cafajeste.
Ele me dá mais um beijo, se afasta, arruma seu amigo dentro da calça, pega
minhas roupas que estão espalhadas, e me olha.
– Tudo bem, Jack? – Sua testa franze.
Me dou conta que fiquei calada, ele disse um monte de coisas, mas estou em
um estado de torpor.
– Claro que está. – Sorrio, coloco minha calcinha, levanto meus olhos e o
vejo olhando para o meu corpo, e isso é bem estranho.
Foi bom demais, mas estou me sentindo estranha, com um sentimento ruim.
Coloco rapidamente meu sutiã, a saia e por fim a blusa.
Ele segura meu rosto e me faz olhar para ele.
– Tá tudo bem mesmo? Você ficou estranha, eu fiz alguma coisa de errado? –
Ele me encara, parece preocupado.
O olho angustiada.
– Rui... – Mordo meu lábio. – Eu não sei se quero isso para mim, foi incrível,
mas não quero ser a secretária que o chefe fica comendo quando está
entediado.
Oh, meu Deus, o que estou falando?
– Eu não vou ficar te comendo aqui se é essa a sua preocupação... – Ele me
olha sério. – Tudo bem, a gente não faz mais isso no escritório, não quero que
você se sinta mal ou usada.
Ele se afasta e me olha com a testa franzida.
Começamos muito mal isso, quero dizer, eu comecei muito mal.
– Me desculpe pela sinceridade, acho que já fui usada por muito tempo, por
um cara que não me amava. – O olho aflita. – Eu não sou esse tipo de mulher
que gosta de sexo sem compromisso.
Oh, meu Deus, quanto mais falo, mais merda sai da minha boca.
– Jack! – Ele fecha os olhos. – Se acalma, você está muito preocupada com
tudo! Somos dois adultos, deixe acontecer, sem moralismos, eu sei que você
mora com três idosas, isso pode te influenciar um pouco... – Ele sorri. –
Vamos nos conhecer.
Ele volta a se aproximar de mim, envolve meu rosto com suas mãos grandes
e macias.
– Relaxa, Jack, você está muito tensa. – Um beijo suave e delicado em meus
lábios. – Você é tão gostosa, Jack, eu precisaria de um mês trancado com
você para passar minha vontade. – Mais um beijo, seguido por uma mordida
em meu lábio inferior. – Eu adoro essa boca. – Mais uma mordida. – A
próxima vez eu quero vê-la chupando meu pau, Jackeline! – Estou pingando
de excitação.
Um toque na porta, e me afasto desesperada.
– Fica calma, Jack! Acho melhor você ir para o banheiro.
– Ok! – Saio apressada em direção ao seu banheiro, fecho a porta e relaxo.
Puta que pariu, eu realmente não levo jeito para amante.
****
O período da manhã passou voando, meu chefe não saiu de sua sala, entre
reuniões com seus advogados e imersões em seus processos, então o horário
do almoço chegou.
A porta de sua sala abre, o olho rapidamente, ele se aproxima de mim, senta
em minha mesa, e diz:
– Vou sair para almoçar, mas eu volto logo, preciso terminar ainda hoje a
análise daqueles processos. – O olho fascinada, porque ele tem uma figura
que transmite poder, segurança e masculinidade.
– Tudo bem! – respondo meio abobada, esse homem me deixa assim.
– No período da tarde fechamos a questão do coquetel dos 10 anos do
escritório, deixe tudo preparado! – Balanço a cabeça positivamente.
Então sem que eu espere, ele se inclina sobre mim e beija meus lábios, foi
rápido, mas intenso, e me fez ver estrelinhas e sentir um frio no estômago.
Ele se afasta, mas mantém seus olhos em mim.
– Não vejo a hora que essa porra de dia acabe! – ele diz em um rosnado, e
não sei se foi para mim, ou para ele mesmo. – Vá almoçar, Jack! – ele diz
sem olhar para trás, me deixando meio zonza.
Logo depois que o Rui sai, meu celular trepida em minha bolsa, o pego e vejo
que é a Carolina.
Atendo rapidamente.
– Oi, Jackeline Bartolli! – ela diz cínica.
Dou risada.
– Oi, Carolina Gonçalvez. – Ela ri.
– Então, posso ter a honra de almoçar com você hoje? – ela diz cheia de
formalidades.
– Carol, só quando eu receber, não posso me dar ao luxo de gastar dinheiro,
porque eu não o tenho! – falo sem graça.
– Eu pago, sua mocréia! Deixa de ser estraga prazer, sou uma advogada
bem-sucedida, e adoro pagar almoços para mulheres bonitas!
Reviro meus olhos, odeio quando ela fala como um homem.
– Oh, Carol, isso soa tão feio, não fala assim comigo! – falo mal-humorada.
– Ok, mocréia, então me deixe pagar uma merda de um almoço para você.
Como você é chata! – ela esbraveja.
– É que eu trouxe um lanchinho – falo envergonhada.
– Guarde na geladeira da copa, amanhã você faz seu regime de pobre – ela
diz desaforada.
– Ok, não posso demorar, meu chefe disse que não demorará. – Ela me
interrompe.
– Desce agora, não estou com muita paciência com você hoje! – ela diz
autoritária, mas em seguida ri.
– Ok, Carolina, hoje você está nos seus dias! – Desligo meu celular, pego
minha bolsa e sigo para encontrá-la.
Vejo a Carolina num sofá da recepção, entretida com seu celular.
Olho para a recepcionista e sorrio, mas ela desvia seu olhar de mim, parece
meio chateada comigo.
– Carol! – A chamo.
Ela dá um pulo no sofá e continua digitando.
– Vamos. – Ela sai andando apressada. – Só preciso resolver uma coisinha, já
conversamos – ela diz no caminho.
A sigo em direção ao restaurante que fomos em nosso último almoço. Ela faz
algumas ligações, e por fim, chegamos ao restaurante.
Ela guarda seu celular e me olha.
– Hoje o dia está um inferno! – ela bufa.
– Muito trabalho? – pergunto na fila do buffet.
– Sim, muitos processos, estou sobrecarregada. Depois que o Doutor Rui
fechou a parceria com o escritório do Doutor Albuquerque as coisas ficaram
um pouco fora do controle.
– Você já falou com ele sobre isso? – pergunto despretensiosa.
– Oh, o Doutor Rui anda bem inacessível. – Ela me olha de lado. – Fiquei
sabendo que ele terminou seu relacionamento com a loira insuportável, você
sabe me dizer o porquê?
A olho de soslaio.
– Eles brigaram um dia em que eu estava na sala dele, mas eu não sei o
porquê, não sou a confidente do Doutor Rui.
Enquanto falo, minha mente trabalha freneticamente, me sinto constrangida
com essa história entre mim e ele, e apesar da Carol ser minha amiga/irmã,
não sei se contarei.
Ela me olha intensamente.
– Você e ele? – Ela balança sua cabeça de um lado para o outro.
– Não entendi – Desconverso.
– Nada, deixa para lá! – ela bufa. – Então, como está o trabalho, está
gostando? – Ela sorri.
– Estou gostando muito! – falo animada. – Aos poucos estou pegando o jeito,
até que levo jeito para secretária! – Ela me olha de lado, e não consigo deixar
de rir. – Me inscrevi em um curso de secretária pela internet, está me
ajudando um pouco!
Ela dá uma risada.
– Caramba, que empolgação! – Ela me olha com firmeza. – O Doutor Rui
está se comportando?
– Mais ou menos! – Não a olho, a Carolina sempre sabe tudo sobre mim.
– Já rolou? Pode dizer, somos amigas, não vou fazer sermão – ela diz
timidamente.
– Carol, eu sei que você dirá que estou me metendo numa confusão, mas não
consegui resistir a ele, é muito difícil! – Sigo para uma mesa.
– Ok, Jack, você é maior e vacinada, só não se apaixone por ele, porque ele
não se apaixona por ninguém. Já vi muitas garotas aqui do escritório
sentarem em seu colo e o fim de todas foi a rua, não será diferente com você.
– Olho para ela. – Divirta-se, tire uma casquinha, mas não se apaixone.
– Tá bom – respondo desanimada, a gente não manda em nosso coração, não
é tão fácil dizer a ele para não se apaixonar. – E você, me conte um pouco
sobre você! – digo com um sorriso.
– Bom... – Ela estufa seu peito e começar a contar sobre sua vida, sempre
muito movimentada.
Eu sempre invejei a Carol, mas uma inveja boa, porque eu admiro a forma
como ela vive, ela é decidida, resolvida, e vive intensamente.
De alguma forma eu gostaria de ser como ela, livre, sem preocupações, mas o
fato de ter pessoas dependendo de mim sempre me forçou a ser mais
preocupada, ou não, eu que sou assim mesmo e não tenho coragem de
admitir.
Capítulo 23
JACKELINE BARTOLLI
A tarde seguiu tranquila entre gritos chamando por mim, olhares intensos e
urgentes, e finalmente chegamos ao final da tarde.
Confesso que à medida que as horas passam, um nervoso começou a se
instalar dentro de mim.
Eu sei que transamos em sua sala hoje pela manhã, e cá entre nós, foi
incrível, mas eu sei que isso foi só degustação, a cereja do bolo será em sua
casa, e isso está me deixando bem nervosa.
Olho em meu relógio de pulso são 18h, e mal sei o que fazer, mas logo meu
ramal toca, parece que estávamos conversando por telepatia.
– Oi, Jack! Venha até minha sala – ele diz rapidamente.
– Ok. – Sigo para sua sala com a respiração acelerada.
Ele está relaxado em sua cadeira, os óculos em sua mão, em seu costume de
morder as hastes.
– Vem aqui. – Ele me chama com a mão, faço a volta em sua mesa, e me
coloco ao seu lado. – Você já terminou as suas coisas? – Ele gira sua cadeira
e fica de frente para mim.
– Sim, já está tudo certo, vou te passar as datas disponíveis para o coquetel...
– Ele se aproxima mais de mim, ainda sentado em sua cadeira, e me puxa
pela cintura, me fazendo ficar ainda mais próxima dele.
Meu coração dispara.
– Podemos ir? – Ele me olha, tão sedutor, não consigo deixar de me derreter
diante dele.
– Podemos – respondo enfeitiçada.
– Vamos fazer assim... – Ele me olha sério. – Eu não quero que as pessoas
saibam sobre nós, não é por nada, Jack, é apenas porque não quero que
confundam as coisas.
Balanço minha cabeça afirmativamente.
– Eu vou sair primeiro, te espero na próxima rua, do lado direito, mas não
demore, só não quero que alguém nos veja saindo juntos.
– Ok – respondo feito uma retardada, se ele me disser para me jogar da
próxima ponte, acho que me jogo.
Ele se levanta e me beija, e me sinto completamente mole. Que poder é esse
que ele tem sobre mim? Estou perdida!
Separamos nossos lábios, limpo seus lábios que sujaram de batom, ele pega
seu terno e sua pasta.
– Em cinco minutos, Jack! – Mais um beijo, mas foi rápido, e o olho saindo
apressado, e mal acredito que essa pressa toda tem a ver comigo.
****
Estou com as pernas dobras contra meu peito, cobrindo minhas pernas com
sua camisa, a noite está bonita, mas um ventinho frio sopra me deixando toda
arrepiada.
Estou há alguns minutos aqui, eu e o Bóris. O abraço junto a mim.
– É bom aqui, não é, Bóris? – Olho de lado para ele, que me olha com aquela
cara linda.
Sinto um beijo em meu pescoço, desperto de meu enfeitiçamento.
– Nosso jantar está pronto! – O Rui me olha em pé a minha frente.
Sorrio para ele, afasto meus braços do Bóris e desço da espreguiçadeira.
Fico em pé, o Rui passa seus braços pela minha cintura e me olha, seus
olhares são quase sempre enigmáticos, ainda o conheço muito pouco.
– Você estava pensando em que? – ele diz com aquele olhar incisivo.
Passo meus braços por seu pescoço, e o olho de lado.
– Alguém já te disse que você é bem enxerido?!
Ele dá uma risada deliciosa.
– Não, acho que não. Não que eu saiba. – Ele controla seu riso. – Mas, por
que sou enxerido? – Ele faz uma careta.
– Porque você está sempre querendo saber tudo, eu tenho meus segredos, não
posso te contar tudo, mal nos conhecemos! – falo intrigada.
– Então você vai pra cama com um desconhecido?! – Ele diz irônico.
– É, de certa forma sim, mas nos conhecemos há uma semana, já sei que você
não é nenhum maníaco, ex-presidiário... – falo em tom de brincadeira.
– Entendi. – Ele balança a cabeça. – Tá bom, Jack, vamos jantar. – Ele tira
suas mãos de minha cintura, pega em minha mão e me encaminha para dentro
do apartamento.
Olho para a mesa de jantar e me surpreendo. Às vezes, parece que o Rui lê
mentes, ou minha descrição no site de relacionamentos. A mesa está posta
com um castiçal no meio, os pratos foram colocados em cima de descansos
de mesa, os talheres estão postos como num restaurante, assim como taças de
vinho, ele é muito perfeito em tudo.
– Você é romântico, Rui? – falo me sentando na cadeira que ele puxa para
mim.
Ele me olha com os olhos semicerrados.
– Não muito, Jack – ele diz com uma expressão engraçada.
– Acho românticos castiçais e velas, quero dizer, jantar à luz de velas é muito
romântico.
– Eu leio pensamentos, e sei que você gosta disso, toda mulher gosta. – Ele
segue até a cozinha.
Eu preferia ouvir que ele fez isso especialmente para mim, mas vou me
contentar com o fato dele pensar nisso, e tornar nosso jantar mais
interessante.
– Quer que eu te ajude? – pergunto sentada, olhando para a cozinha.
– Não precisa – ele diz em voz alta.
Em alguns minutos ele retorna com dois pratos em suas mãos, a comida já
está posta no prato, como num restaurante, tudo bonitinho, sorrio encantada
com seu capricho.
– Oh, que prato mais bonito, isso dá mais fome, sabia? – digo sorrindo para
ele.
– Tenho que confessar que estou tentando te impressionar, não costumo fazer
isso! – ele diz sorrindo.
– Então, tenho que agradecer. – Me levanto da cadeira, dou a volta na mesa
sob seu olhar atento, me sento em seu colo e o beijo delicadamente. –
Obrigada pelo capricho, por tudo, estou encantada! – falo encarando aqueles
olhos sedutores.
Ele não diz nada, mas me beija de novo, daquele jeito delicioso, mordendo
meus lábios, acariciando minhas coxas.
Oh, meu Deus, assim eu não vou aguentar. – Penso excitada.
– Rui, a gente não deveria jantar primeiro? – Sussurro sentindo seus beijos
em meu pescoço, e suas mãos acariciando meus seios.
Ele volta a me olhar, seus olhos estão em chamas.
– Deveríamos! – Ele arruma meu cabelo atrás de minha orelha. – Então, volta
para sua cadeira, você que veio me provocar – ele diz.
– Tá! – Me levanto vagarosamente. – Depois a gente continua. – Mordo meus
lábios, e ele tenta me puxar de novo para seu colo, mas fujo dele. – Depois...
– falo rindo.
– Você é uma menina muito má, Jack! – ele diz com seu jeito de predador.
– Não sou, não, sou bem boazinha! – Faço charme. – Ok, preciso dar minha
nota para esse prato. – Coloco uma garfada em minha boca, fecho olhos e me
delicio. – Hummm, Rui, que delícia! – Olho para ele, que está rindo.
– Esse prato é congelado, Jack, a empregada que faz e deixa pronto para
mim, eu não fiz nada, só esquentei, e arrumei no prato.
Relaxo meus ombros.
– Ai, que decepção! – Faço uma careta.
– Oh, mas eu arrumei direitinho, não arrumei? – Ele faz carinha de
coitadinho.
– Sim, ficou muito bonitinho! – Olho de lado. – Eu iria até aí te dar mais um
beijinho, mas não posso... – De novo faço charme.
Ele sorri torto.
– Quer que eu vá até você? – Ele finge afastar a cadeira.
– Depois... – Faço charme de novo. – Ok, então me deixe provar a comida da
sua empregada. – Faço cara de decepcionada.
– Um dia desses eu faço uma comida para nós dois, hoje eu estava com
preguiça, trabalhei demais agora a noite, sabe? – Ele me olha sobre os cílios,
entre uma garfada e outra.
– Sei, você trabalhou demais... – Brinco.
Terminamos de jantar num clima delicioso, clima de paquera, eu fazendo
charme para ele, e ele para mim.
Fazia tempo que eu não usava minhas armas de sedução, quero dizer, eu até
usava, mas não surtia efeito.
Finalizo minha taça de vinho.
– A comida estava ótima, diga a sua empregada que ela está aprovada. – Pego
meu prato e sigo para a cozinha, mas ele me agarra pela cintura e tira o prato
da minha mão.
– Eu faço as honras da casa, a única coisa que você irá fazer aqui hoje é sexo
comigo!
Caramba, ele é bem diretinho.
O acompanho com o olhar, ele deposita os pratos na pia, volta em minha
direção.
– Vamos subir? – ele diz.
Balanço a cabeça afirmativamente, naquele estado letárgico que fico perto
dele.
Subimos as escadas, entramos em seu quarto e ele não perde muito tempo,
me agarra pela cintura e começa uma nova sessão de beijos.
– Rui, você já ouviu dizer que sexo depois de comer pode dar indigestão? –
falo meio gemendo e meio sussurrando, porque aquelas mãos dele me
enlouquecem, assim como sua boca que não para de me beijar.
– Nunca soube de ninguém que morreu desse jeito. – Ele me leva para cama.
– Ahhh! – Gemo sentindo um dedo dele me penetrar. – Eu também não,
Ruiii!!! – Ele enfia um segundo dedo.
– Está com medo de morrer, Jack? – ele fala e me beija junto.
– Não, mas eu não quero que você morra.
Oh, meu Deus, por que eu falei isso?
Ele para de me beijar e me olha, sorrio para disfarçar.
– Me beija, Rui. – Puxo seus cabelos, fazendo com que sua boca tome
novamente a minha.
– Eu não vou morrer numa trepada, minha deusa. – Ele morde minha orelha.
– Oh, que bom! – Sussurro embriagada por suas carícias. – Eu estava
gostando dos seus dedinhos, Rui... – Mordo a orelha dele.
Acho que o assustei, e ele me esqueceu, então achei melhor avisá-lo, porque
estava bom demais aquilo.
Ele me olha e sorri.
– Tudo bem. – Ele enfia dois dedos dentro de mim e ofego de prazer. – Goza
para mim, minha deusa.
E ele me faz gozar daquele jeito, me beijando e me excitando apenas com
seus dedos.
Esse homem entende tudo de sexo, ele é um professor.
– Assim, Rui!!! – Fecho os olhos e me entrego à sensação de prazer que ele
me causa. – Oh, Rui. – Ofego de prazer. – Oh, que delícia.
– Você que é uma delícia, Jack! – E antes que eu possa me recompor do meu
orgasmo, ele me penetra, e me enlouquece de novo.
Seu corpo se choca contra o meu ruidosamente, gememos de prazer e ele
chega ao orgasmo, e grita meu nome ensandecido.
– Oh, Jack!!! Hum, minha delícia.
Ele dá as últimas estocadas e desaba sobre mim, segurando minhas mãos
acima de minha cabeça, bem estilo dominador.
– Foi demais, Jack... e eu não morri! – Ele se apoia em seus cotovelos, me
olha e sorri.
– Que bom, né? – falo em tom de gozação.
Acaricio seu rosto, seus cabelos, eu adoro ficar olhando para ele.
– Você é demais, sabia? – falo e me arrependo, estou levantando muito a bola
desse cara.
– A mulherada não reclama – ele diz com cara de cafajeste.
– Oh, eu sabia que você diria algo do tipo, mas na verdade, eu só queria te
agradar, não é que você seja aquela BRASTEMP! – Uso uma entonação
diferente, mais engraçada.
– Não adianta disfarçar, Jack! – Ele vira de lado. – Agora o elogio já foi feito!
– Ele acaricia meus cabelos. – Você não gosta de cabelos longos? A maioria
das mulheres gosta – ele diz passeando seus dedos pelos fios.
– Dá muito trabalho, sou uma mulher prática. – Faço uma careta.
– Eu gosto do seu estilo, simples, mas linda!
Sorrio, talvez eu tenha ficado vermelha, senti as bochechas esquentarem.
– Obrigada! – Levo minha mão até seu peito, é tão gostoso ficar acariciando
seus pelos macios, ele tem um tórax delicioso, daqueles que dá vontade de
passar o dia deitada.
– Estou cansado, Jack. – Ele boceja. – Agora é de verdade! – Ele se ajeita no
travesseiro. – Vem cá. – Ele me puxa para junto do seu peito, e eu faço o que
eu mais queria, enfiar meu nariz em meio aos seus pelos, ele é tão cheiroso.
– Boa noite, Rui. Adorei nossa noite juntos.
Ele leva minha mão até seus lábios e a beija.
– Eu também. Boa noite.
Fecho meus olhos e desmaio, esse homem acabou comigo.
Capítulo 25
JACKELINE BARTOLLI
A mesa de jantar está arrumada, alguns pães, geleias, frios, recipientes com
leite e café.
– Se senta aqui, Jack! Vou pegar mais uma xícara, a Dona Jô não sabe que
tenho visita. – Ele pisca para mim.
Logo ele volta junto com uma mulher com a pele morena jambo, ela é muito
bonita, veste um vestido preto com faixas brancas, é alta e magra, parece uma
modelo.
– Bom dia! – A cumprimento.
– Olá, bom dia! – ela diz simpática, e começa a servir o leite para mim. –
Com café?
– Sim, obrigada.
– Jô, essa é a Jackeline, ela trabalha comigo, você conversou com ela por
telefone – ele diz se servindo.
– Ah, é verdade, obrigada pela ajuda! – falo meio constrangida, agora ela vai
saber que o chefe come a secretária.
– Deu tudo certo? – ela diz solícita.
– Sim, logo, logo, ligo para você para acertarmos os detalhes – falo
rapidamente.
– Então está bom. – Ela olha para o Rui. – Doutor Rui, se o senhor precisar
de mim, estarei na cozinha.
– Ok, obrigado – ele diz educado.
Tomo o café com leite, como um pãozinho maravilhoso, parece feito com
cenoura, ou mandioquinha. Se fosse por minha espontânea vontade eu
comeria a cesta toda, isso é bom demais, mas aí me lembro da meta dos 10
quilos, e pego um só.
Vejo o lanchinho generoso que o Rui prepara para ele e fico com inveja, nada
como ser homem, não ter celulite, estrias e gordura localizada.
Deus tinha algo contra as mulheres, tudo de ruim ficou para nós, não é justo
isso. Bom, tem a história da Eva, talvez ela seja a culpada por tudo. Que raiva
que eu tenho dessa tal Eva!
– Não vai comer mais nada, Jack? – ele pergunta.
– Não, obrigada! – Sorrio.
– Tá dieta? – ele diz rindo.
Me arrumo na cadeira, agora somos íntimos, vou falar.
– Quero perder 10 quilos, eu sei que é uma meta agressiva, então preciso
passar fome.
Ele enruga a testa.
– Por que você quer perder 10 quilos? – ele diz parecendo indignado, só eu
sei meus problemas.
– Porque eu preciso, relaxei e engordei, e preciso perder, tenho uma
predisposição a engordar sempre minha bunda e coxas, e isso me incomoda
muito.
– Eu te acho linda, Jack! – Me derreto. – Seu corpo é assim, Jack, você
precisa se cuidar, mas não precisa ficar fazendo dietas malucas.
Eu sei que não somos amigos do peito, mas me sinto tão bem com ele, que
acabo me abrindo.
– Sabe, Rui, ser mulher é muito difícil. – Ele ri. – Tudo bem, talvez os
homens gostem de bunda grande, peitos fartos, mas eu não gosto, dá muito
trabalho, sabe, numeração, chama muita atenção, eu queria ser bem
magrinha, estilo sua ex ou atual, não sei.
– Ex, Jack! Terminei com ela – ele fala sério. – Bom, não sei se isso pode te
ajudar a lidar melhor com suas curvas, mas eu adoro seu corpo como ele é, se
você fosse magrinha, talvez eu não tivesse tanto tesão por você.
O olho por alguns minutos, e é fato, eu já percebi o tesão que provoco nele, e
isso é realmente incrível, e o ouvir falar isso é ainda mais incrível.
– O Renato me chamou de gorda naquele dia que você me encontrou
praticamente nua no elevador. – Suspiro. – Ele também não gostou do
espartilho, falou que eu não tinha corpo para vestir aquilo. – Meus olhos
enchem de lágrimas.
– Ele não gosta de mulher, Jack! Veste para mim aquele espartilho e você vai
ver o que acontece, vou te virar do avesso. – Dou risada. – Você estava linda
naquele dia, e foi uma pena você não dar bola para mim, teríamos nos
divertido muito.
Espanto as lágrimas dos meus olhos, e sorrio.
– Obrigada pelos elogios, você é o máximo! – Ele pega minha mão e a beija.
– Agora é sério, quero transar com você daquele jeito, talvez a gente compre
um sapato vermelho.– Ele me olha com aquele olhar de predador. – Até hoje
sonho com você naquele espartilho, Jack, você não sabe o tesão que você me
deixou aquele dia.
Dou risada.
– Seu pedido é uma ordem, Rui. Preciso tirar esse trauma, preciso vestir de
novo aquela maldição dos infernos.
Ele gargalha.
– Você não gosta muito de espartilho? – Ele me olha divertido.
– Aperta muito, Rui, você não sabe como aquilo incomoda.
Ele gargalha mais.
– Ok, mas por mim você faz esse sacrifício, não faz?! – Ele me olha com seu
jeito de cafajeste.
– Faço, com muito prazer!!! – Pisco para ele.
Capítulo 26
JACKELINE BARTOLLI
O clima entre minha mãe e eu desandou depois de nossa conversa. Eu sei que
a decepcionei ao dizer que não irei me casar, ter filhos, mas é que não quero
que ela tenha falsas esperanças em relação ao Rui.
Ele é maravilhoso, mas não para casar e ter filhos.
Tomo um banho e coloco um conjunto de short e camiseta para dormir.
Me sento em meu computador, e volta a ler o material do site, estou quase
acabando o curso online.
Confesso que estou aprendendo mais com o Rui do que com o curso, mas não
vou abandonar agora, vou até o fim.
Enquanto tomo um chá, olho para a tela do computador, mas me sinto em
dívida com o Rui, preciso enviar uma mensagem de agradecimento para ele.
Me sento em uma poltrona com as pernas sobre o assento, e digito uma
mensagem.
“Quando cheguei em casa hoje, me deparei com um arranjo de flores lindas.
Não vou mentir, fiquei emocionada, porque adoro flores, principalmente
rosas vermelhas. Elas são lindas, Rui. Obrigada, você é maravilhoso!”
Deixo o celular sobre a mesinha ao lado da poltrona e volto ao meu
computador, mas me surpreendo ao ouvir o toque do celular.
Me levanto rapidamente, olho para a tela e vejo seu nome.
Sorrio e sinto meu coração acelerar, aperto a teclar de atender e me arrepio ao
ouvir sua voz.
– Oi, Jack! Pensei que não tivesse gostado das flores!
Fecho meus olhos e respondo.
– Oi, Rui...
Capítulo 28
RUI FIGUEIREDO
Terminamos nosso banho, e eu realmente dei banho no Rui, ele está com
muita preguiça. Aliás, ele está tão fofo, queria ele para mim, só para mim,
será que isso é possível?
Coloco uma de minhas roupas novas, ele já está vestido me olhando.
– Gostou, Rui? – Coloco minhas mãos na cintura, e faço pose para ele.
– Está linda! – ele diz preguiçoso. – Cadê o espartilho, Jack? – ele diz com
seu olhar intenso.
Sorrio, vou até meu guarda-roupa, o tiro da gaveta, a calcinha e a meia liga,
me agacho e coloco em minha mala.
– Pronto, chefinho! – Brinco.
– Não é para me chamar de chefinho fora do escritório! – ele diz me
segurando pela cintura, me prensando contra seu corpo.
– Oh, mas eu gosto de te chamar de chefinho! É só uma brincadeirinha, igual
a das algemas! – Ele gargalha.
– Não podemos nos esquecer de comprar as algemas. Estou louco para te
prender na cama, Jackeline! – Ele me solta. – Podemos comprar mais alguns
acessórios, ele me olha de lado, malicioso.
– Tipo o que, chicotes? – Torço meus lábios.
– Você curte umas chicotadas, Jack? – Ele ri.
– Não, não sou masoquista, talvez uns tapinhas no traseiro, isso é excitante! –
Ele abre um sorriso largo, ele tem uma boca linda e deliciosa.
– Ok, sem chicotes, só uns tapinhas!
O empurro para a porta.
– Estamos atrasados, meu chefe vai me matar! – falo irônica.
Ele pega minha mala e me segue.
****
O lho curiosa enquanto a Karen sobe com o Rui para sua sala.
Já percebi há dias que a Karen anda rondando o Rui, está sempre
procurando um motivo para ir até sua sala, mas agora que trabalho com ele,
ficou mais difícil para ela.
Um sentimento de ciúmes toma conta de mim quando chego à minha mesa e
vejo a porta fechada.
Confesso, não será tão fácil assim dividi-lo com outras mulheres, nunca
estive em um relacionamento aberto, onde cada um sai com quem quiser, sou
possessiva, ciumenta, quero dizer, não sou nenhuma ciumenta neurótica, mas
não acho que reagirei bem se souber que ele está transando com outra
mulher.
Prefiro não saber.
Arrumo minhas coisas, ligo meu computador e tento espairecer. A porta abre,
olho pelo reflexo e vejo a Karen saindo com cara de poucas amigas.
– Bom dia, Karen! – falo em um tom neutro, profissional, não posso arrumar
inimizades aqui, este é meu trabalho.
– Oi! – Ela passa por mim, mas antes de ir embora me direciona um olhar
maligno, ela não disfarça a raiva que sente por mim, e isso é muito
desagradável.
Reviro meus olhos, era só o que me faltava, uma inimiga em meu trabalho.
Ok, mas quero que ela se dane, tenho quase 30 anos, não vou me preocupar
com uma menina boba de 20 anos.
Verifico meus e-mails, aos poucos começo a me familiarizar com a rotina do
escritório, os assuntos do Rui começam a passar por mim naturalmente,
também começo a conhecer as pessoas, nem que seja só por e-mail, ou
telefone.
Logo que tenho um tempinho vou até sua sala, não quero atrapalhá-lo, mas
também não posso ignorar que preciso saber se ele precisa de alguma coisa.
Abro sua porta, ele está entretido com seus processos e me olha sobre os
cílios através de seus óculos.
– Oi, só queria saber se posso te ajudar em alguma coisa! – digo rapidamente.
– Obrigado, Jack, está tudo sob controle, só preciso que você peça meu
almoço aqui, não quero perder tempo! – ele diz seriamente, parece absorvido
pelos papéis que está lendo.
– Tudo bem, o que você quer comer? – pergunto parada em frente a ele, e
vejo um sorriso malicioso em seu rosto.
Será que esse homem só pensa em sexo?
Tento não sorrir, mas não consigo, eu já o conheço, e conheço todos seus
pensamentos pecaminosos.
Ele dá um sorriso torto.
– Uma carne, estou precisando repor minhas energias! – Ele sorri debochado.
– Tudo bem, eu vou pedir para às 13h! – Giro nos meus calcanhares, não
posso ficar muito tempo com esse homem que já começo a sentir ondas de
calor subindo pelo meu corpo.
Depois de arrumar a mesa de reuniões para o Rui almoçar, aproveito para
almoçar rapidamente numa lanchonete perto do escritório.
Faz dias que não falo com a Carol, mas é sempre assim, ela é ocupada, e não
quero ficar grudada, ela tem seus almoços com o pessoal do escritório,
enfim...
O período da tarde passou em meio a muitas coisas, termino de fazer os
pedidos para o coquetel do escritório, envio um e-mail para o Rui, e ligo para
sua empregada.
Ela atende.
– Oi, Dona Jô, é a secretária do Doutor Rui, a Jackeline – falo simpática.
– Olá, Jackeline! No que posso ajudá-la?
– Bom, só queria te passar a data do coquetel, precisarei de sua ajuda para
receber o pessoal do buffet, mas tentarei chegar cedo para te ajudar com
isso.
– Ok, fique tranquila, o Doutor Rui gosta muito de fazer jantares, coquetéis,
estou acostumada com isso – ela diz com segurança, parece uma empregada
de alto nível, ela não é uma Maria ninguém.
– Então, está ótimo. Acho que estou mais perdida do que você, mas nos
falamos semana que vem. Obrigada, Dona Jô.
Ela se despede e respiro aliviada, menos um problema para resolver.
Termino de fazer algumas cartas que ele me pediu, ele está muito sério hoje,
aliás, eu conheço dois Rui´s, o Rui advogado, e o Rui amante. Um não tem
nada a ver com o outro, o advogado é bem frio, distante, o amante é
acessível, quente e próximo, muito próximo.
Olho de soslaio para o relógio do computador, já são 18h30, não sei a que
horas sairemos, mas hoje tanto faz.
Penso no que faremos hoje, quero dizer, no final de semana, e sinto uma
ansiedade, ele é intenso, isso ninguém pode negar. Não tenho ideia como será
nosso final de semana, mas estou empolgada, porque adoro sua companhia,
principalmente quando estamos fora desse escritório. Não que ele me trate
mal aqui, mas eu me sinto melhor quando estamos fora do ambiente
profissional, me sinto mais livre para ser eu mesma.
Meu ramal toca, olho e vejo que é ele.
– Pois não? – Atendo formalmente.
– Vamos, Jack? – ele diz seriamente.
– Quando você quiser – respondo.
– Ok, arrume suas coisas, já estamos indo – ele diz de um modo objetivo, às
vezes ele é assim.
Desligo meu computador, guardo minhas coisas na gaveta, faço algumas
últimas anotações em meu caderno, para que eu não me esqueça de fazê-las
na segunda-feira.
A porta abre e com ela seu perfume invade minha sala.
– Já estou pronta – digo rapidamente, pego minha bolsa, dou a volta em
minha mesa e o sigo em direção às escadas.
Temos tido sorte de não encontrar os funcionários nesses nossos passeios
pelo escritório, mas daqui a pouco todos saberão do nosso “caso”, eu tenho
certeza disso.
Respiro aliviada ao ver que a recepcionista já foi embora.
O sigo até o carro, em instantes já estamos a caminho de seu apartamento.
O olho disfarçadamente, ele está diferente, parece tenso, decido não falar
nada, mas me bate uma insegurança, sua mudança de humor foi drástica, e
isso me deixou incomodada.
– Algum problema, Rui? – Me xingo em pensamento, tenho uma língua
maldita, que tem vida própria e fala demais.
– Não, Jack. – Ele me olha de lado, rapidamente. – Estou com alguns
processos meio complicados, é só isso. – Ele sorri fraco.
– Ok. – Volto minha atenção ao trânsito, mas estou com uma agonia, esse não
é o Rui que eu conheço.
Ele estaciona seu carro na garagem do prédio, e aí me lembro do Renato.
Caramba, já pensou se encontro ele, vai ser uma situação muito desagradável!
Mas, não vou pedir para entrar pelo elevador de serviço, hoje o Rui não está
de bom humor, infelizmente.
O sigo em direção ao elevador, nem percebi que ele pegou minha mala.
– Você está sério, Rui.
Ok, eu sou assim, não consigo ficar com alguém do meu lado e ficar feito
uma múmia.
– Não é nada, Jack. Preciso de um banho para relaxar, talvez uma massagem.
– Ele me dá aquele sorri lindo, que adoro.
– Ok, eu providencio a massagem! – Brinco com ele.
Chegamos ao seu apartamento, ele abre a porta, assobia e seu mascote vem
feliz recebê-lo, e a mim também, estamos ficando cada vez mais íntimos.
Me agacho para recebê-lo, seguro sua cabeça e dou beijos em suas orelhas,
em sua cabecinha.
– Oi, menino lindo! – Seguro seu focinho para ele não me babar toda. –
Você vai passear com seu pai, sabia? – digo olhando para o Rui.
– Eu não sou pai desse bicho, no máximo somos amigos – ele diz debochado.
– Ok! – Reviro meus olhos e balanço minha cabeça com desdém.
– Vamos, Jack, quero tomar um banho de banheira com você. – Ele pisca
para mim, e chego a pensar que não vamos viajar para lugar nenhum.
Ele deixa minha mala sobre sua cama e segue para o banheiro, ouço barulho
de água caindo, e um perfume gostoso invade o quarto.
– Tira sua roupa – ele diz voltando para o quarto, ele já está sem roupa,
completamente nu.
O olho admirada.
– Tá! – respondo.
Tiro meu blazer, coloco sobre sua cama, a camisa, os sapatos altos e a saia,
tiro minha lingerie, e sigo para o banheiro.
Ele está dentro da banheira, a água já está no meio da sua cintura, ele estende
sua mão para mim.
– Vem!
Passo minhas pernas pela banheira e encaixo-me no meio de suas pernas.
– Oh, que água deliciosa! – digo extasiada com a sensação boa de estar
dentro de uma banheira.
– Você gosta de espuma? – ele pergunta com um vidrinho na mão.
– Gosto! – O olho de lado e sorrio.
Ele despeja o líquido dentro da água, e em instantes a banheira começa a ficar
repleta de espuma.
– Tá cansado, Rui? – Acaricio seus braços que estão ao redor do meu corpo.
– Um pouco, acho que dormimos pouco essa noite. – Ele beija meus cabelos,
ele é muito carinhoso.
– Podemos nos levantar bem cedo, é melhor que viajar à noite, você não
acha? – Ele olha para os meus lábios.
– Talvez. – Ele se inclina um pouco e me beija, vagarosamente, ternamente,
de um jeito gostoso, mas não menos excitante. – Fica de frente para mim,
Jack.
Me ajeito em seu colo, passando minhas pernas por seus quadris, o encaro,
mas logo ele envolve meu rosto com suas mãos e me traz para um beijo
intenso, cheio de sensualidade, mas com um toque diferente, que não sei
dizer o que é.
Sua ereção começa a crescer em meio as minhas pernas.
– Senta nele, Jack! – ele diz em meio ao nosso beijo.
Levanto meus quadris, e me encaixo em sua ereção, ofego de prazer ao senti-
lo dentro de mim. Suas mãos conduzem os movimentos de meus quadris
contra seu corpo, ele está calmo, mas intenso, seu beijo que estava calmo
começa a ficar mais profundo.
Sinto um começo de amortecimento, ofego e seguro seus cabelos, os puxando
com paixão.
– Rui, eu vou gozar! – Sussurro contra seus lábios, ele aumenta a pressão
contra meu corpo.
– Eu também, Jack! – Ele enterra seus dedos contra a pele de meu bumbum,
ofega, geme, morde meus lábios. – Oh, Jack!!! Uhhh, você é uma delícia,
Jack! – ele diz com sua testa descansando na minha.
O olho enquanto nossas respirações voltam ao normal.
Engraçado como pela primeira vez fizemos um amor ou sexo calmo, mas foi
maravilhoso.
Desço meus lábios em direção aos seus, o beijo carinhosamente.
– Foi delicioso, Rui! – Sussurro o olhando a centímetros de distância.
Ele sorri, e percebo como é bom quando ele sorri, odeio quando ele fica sério.
Descanso minha cabeça no vão do seu pescoço.
– Se a gente ficar aqui, vamos dormir – ele diz num tom leve. – Acho melhor
a gente tomar um banho, e saímos, já estou recuperado – ele fala malicioso.
– Ok, você quem sabe. – Me levanto de seu colo. – Eu sei dirigir, mas não
vou me oferecer para dirigir seu carro, só sei dirigir carros básicos. – Estendo
minha mão para ajudá-lo.
– Certo, se eu precisar você terá que dirigir meu carro. Mas não vamos com o
carro que costumo usar, vamos usar um modelo SUV, é melhor para levar o
Bóris.
Ele segue para o chuveiro e tomamos banho juntinhos, e só para não perder o
costume ensaboo seus cabelos, o seu corpo, e não sei explicar, mas
desenvolvemos em alguns dias uma intimidade que não consegui ter com o
Renato em anos de convivência.
Isso é tão estranho.
****
Coloco outro vestido, ele é soltinho, com cara de praia, esse não tem botões
na frente, não dá para rasgar.
Me sento na cama e espero o Rui acabar de colocar sua roupa, ele coloca uma
sunga vermelha com duas listras brancas laterais, ele fica muito gato de
sunga, muito gostoso.
– Nossa, que bombeiro lindo! – falo e dou risada de meu comentário.
Ele me olha com um sorriso torto.
– Bombeiro? – Ele se olha no espelho.
– É, bombeiros usam sungas vermelhas. – O olho de lado. – Tenho uma tara
por bombeiros.
Ele balança a cabeça de um lado por outro, parece indignado com meu
comentário.
– Brincadeirinha, Rui, nunca sai com um bombeiro. – Tento consertar o que
disse.
– Mas tem uma tara por eles? – Ele me olha sério.
– Tenho uma tara por você, de sunga vermelha! – Ele sorri, e já sei que é
muito vaidoso, adora que eu fique levantando sua bola.
Ele coloca uma bermuda e uma camiseta branca.
– Vou comprar uma camiseta vermelha, um short vermelho, levamos uma
mangueira para o quarto, e brincamos de bombeiro – ele diz divertido.
Gargalho escandalosamente.
– E para que a mangueira? – Arregalo meus olhos. – Estou contente com a
sua mangueira! – Olho para sua área de lazer.
Agora é a vez de ele gargalhar.
– Oh, Jack, você é maluca, vamos tomar café da manhã!
Ele abre a porta do quarto, e me surpreendo ao ver o Bóris deitado em frente
à porta, tão carente!
– Oh, Bóris, você dormiu aqui, bebê? – Me agacho a sua frente, e ele se
desmancha todo, deitando e mostrando a barriguinha para eu acariciar. – Oh,
Rui, coitadinho, ele dormiu aqui, sem tapete, no chão frio.
Olho para o Rui e ele revira os olhos.
– Bóris, você é um caso perdido. – Ele caminha para as escadas, me deixando
sozinha com o Bóris.
– Você não é um caso perdido. – Me inclino e encho o cachorro de beijos,
estou completamente apaixonada pelo Bóris, e talvez pelo dono dele também,
mas esse é outro problema, e não quero pensar agora.
****
Navegamos por mais algum tempo, bebemos o vinho que ele trouxe,
conversamos um pouco, namoramos, e por fim voltamos para sua casa.
– Vou deixar o barco aqui, se você quiser podemos dar uma volta novamente
mais tarde – ele diz enquanto ancora o barco no píer de sua casa.
Coloco novamente meu vestido, e com sua ajuda desço do barco.
– Jack, pode ficar à vontade, não tem ninguém na casa, somos só nós dois e o
Bóris.
– Tudo bem, quando chegarmos à piscina eu tiro o vestido. – Caminhamos
até sua casa, a água da piscina parece ótima, adoro nadar.
– Vou dar um mergulho – ele diz tirando sua roupa.
– Daqui a pouco eu vou. – Tiro meu vestido, coloco sobre a espreguiçadeira,
me estiro na cadeira e tomo um pouco de sol.
Desperto com pingos de água sobre meu corpo, olho e vejo meu deus grego
todo molhado sobre mim.
– Vai ficar aí feito um jacaré? – ele diz divertido.
– Acho que vou, deu uma preguiça – falo me espreguiçando.
– Vem, Jack, vamos tirar essa preguiça. – Ele pega em minha mão e me
levanta da espreguiçadeira. – A água não está fria.
– Ok. – Crio coragem, sigo com ele até a piscina, desço pelas escadas, e me
surpreendo com a temperatura agradável da água. – Está ótima, vou nadar um
pouquinho – digo o vendo sentado na beira da piscina.
Nado um pouco, mas como estou fora de forma logo estou cansada, paro em
meio as suas pernas, me apoiando nelas.
– E aí minha sereia, já cansou? – ele diz com um sorriso de lado.
– Cansei, estou fora de forma – digo com uma careta.
Ele se segura em seus bíceps e desce para a piscina.
Como sempre, e para não perdemos o costume, começamos a nos beijar,
porque isso é meio compulsivo, Rui e Jackeline juntos, o único resultado é
sexo.
Estou prensada contra a parede da piscina, seus beijos são famintos, urgentes,
até parece que não transamos há uma semana, e não há algumas horas. Sinto
sua ereção enorme roçando minha barriga, me excitando.
– Rui, acho melhor a gente parar – falo contra seus lábios, sem ar.
– Estamos sozinhos, minha deusa – ele diz rouco, excitado e louco de desejo.
Ele me puxa para seus braços, me encaixando contra sua ereção, sinto sua
ereção roçando minha calcinha do biquíni, ele o afasta e me penetra.
Se eu disser que tudo isso não me excita, estarei mentindo. É excitante fazer
amor a céu aberto, em uma piscina, com o homem mais incrível que já
conheci.
– Tá gostoso, Jack? – ele diz no meu ouvido, me mordiscando, beijando.
– Tá, Rui, continua! – Gemo de prazer.
Seus movimentos aumentam, meu coração acelera, a gente se beija, ele me
aperta contra seu corpo, gemo alto, ele aumenta seus movimentos e goza.
– Oh, Rui! – Fecho os olhos e beijo-o loucamente.
Ele continua seus movimentos, só que agora vagarosamente, gemendo
baixinho.
– Rui? – Ouço uma voz grave o chamando.
Meu coração gela, olho para o Rui, mas ele não parece ter percebido, ele
continua de olhos fechados, se movimentando dentro de mim, parece querer
dar duas sem sair de dentro.
– Ei, Rui? – A pessoa chama de novo e me desespero.
– Rui, tem alguém aqui! – Ele abre os olhos e me olha.
– Quem? – Ele me olha confuso.
– Não sei! – Desço de seu colo, arrumo meu biquíni, e então vejo um homem
vindo em nossa direção, ele é um senhor, e pelo que posso ver, parece com o
Rui, numa versão mais velha. – Rui, acho que é seu pai! – falo apavorada.
– Jack, não posso sair daqui, minha ereção está enorme! – Ele me puxa para
sua frente, me abraça e fala. – Oi, pai, como o senhor sabia que eu estava na
cidade? – ele diz amistoso, como se nada estivesse acontecendo.
Sorrio constrangida vendo o homem se aproximar da piscina, e atrás dele
uma senhora, tão distinta quanto o homem, os dois estão vestidos
elegantemente, parece que vão a um casamento.
– Encontrei seu caseiro agora a pouco, e ele me disse que você chegou ontem
– ele diz nos olhando na piscina. – Você vai sair dessa piscina, ou vamos ter
que ficar conversando desse jeito?! – o homem diz meio irritado.
Ele me afasta de seu corpo.
– Vamos sair, Jack – ele sussurra para mim.
– Rui, eu não posso sair da piscina vestida desse jeito! – digo entre meus
dentes.
– Jack, vai por mim, é melhor você sair, será pior se você ficar aqui na
piscina. – Ele pega em minha mão e me leva para as escadas.
Fecho meus olhos e me amaldiçoo por estar vestida nesse biquíni, eles vão
me achar uma piranha oferecida.
Os dois estão parados em frente à piscina, o Rui sai primeiro, me dá sua mão
e me ajuda a sair. Nunca me senti tão constrangida, estou me sentindo nua no
meio de um monte de pessoas, e essas pessoas me olham como se eu
estivesse nua.
– Pai, mãe, essa aqui é a Jackeline. – O Ruiz diz meio sem graça, é, ele está
sem graça.
– Olá, prazer! – digo, quero dizer, gemo, queria desesperadamente pegar meu
vestido, mas ele está a metros de mim.
A mulher me olha com desprezo, deve achar que o Rui me pegou na última
boate de putas que ele passou, o homem disfarça, simplesmente me ignora.
Oh, Rui, como te odeio! Por que você não me avisou que seus pais poderiam
vir até aqui? – falo em pensamentos.
Sorrio para os dois, olho para chão, e por fim, peço licença e vou pegar meu
vestido e o coloco sobre o corpo molhado, o que não me ajudou muito,
continuei parecendo uma atriz de filme pornô, agora bem sensual, com o
vestido colado aos meus peitos e a minha bunda.
Volto a me aproximar deles, o homem me dá uma olhada discreta, a mulher
me olha descaradamente, parece que não foi muito com minha cara.
Mas o Rui é um gentleman, ele me puxa para junto dele, me abraça pelas
costas, me molhando ainda mais, e me mantém junto a ele.
– Bom, não sabíamos que você estava acompanhado, vamos fazer um
churrasco em casa, queríamos que você fosse.
Rezo em silêncio, pedindo pelo amor de Deus que o Rui arrume uma
desculpa, não quero ir.
– Bom, então... – O Rui se atrapalha.
– Você nunca vem para cá, filho, e quando vem não vai nos visitar, que
história é essa? – A mulher diz autoritária.
– Tá, nós vamos. – o Rui diz e eu gostaria de poder dizer que ficarei aqui,
mas é lógico que não posso.
– Vá se secar, Rui, vamos conversar um pouco, o caseiro está cuidando do
nosso churrasco, vamos juntos! – Seu pai diz, parece indiscreto, fica olhando
para meu vestido, parece se divertir com minha pose de biscate.
Ok, agora sei a quem o filho puxou, o pai é tarado e o filho também.
– Tudo bem. Vem, Jack. – Ele pega em minha mão e me encaminha com ele
para a casa, deixando os dois velhos nos observando.
Entramos na casa e olho para o Rui.
– Rui, eles devem estar achando que sou atriz de filme pornô – digo irritada.
Ele ri ruidosamente, me levando apressado pelas escadas.
– Relaxa, Jack, não estou muito preocupado com a opinião deles – ele diz
relaxado, não parece se importar muito.
– Você poderia ter me avisado que havia a possibilidade deles virem aqui –
digo chateada.
Ele abre a porta do banheiro, liga a torneira e me enfia sem maiores
cerimônias dentro do chuveiro.
– Rui, eu disse para você... – Ele me interrompe.
– Qual a diferença, Jack? Tanto faz, isso só iria te deixar preocupada. – Ele
tira meu biquíni, pareço uma boneca na sua mão.
Paro de falar, e o observo lavando meus cabelos, depois os deles, parece um
robô apressado. Em instantes terminamos nosso banho, ele pega as toalhas,
me enxuga apressado, e eu só fico o olhando.
– Rui, eu posso me secar! – digo em meio ao seu desatino.
Ele me olha.
– Tá, vamos logo, meu pai é meio impaciente – ele diz apressado, se secando
apressadamente e saindo do banheiro.
– Devo me vestir como? – pergunto confusa. – Seus pais parecem que vão a
um casamento!
Ele ri.
– Fica à vontade, Jack, não precisa se preocupar com isso! – ele diz pegando
uma roupa em sua mala.
– Ok. – Pego o segundo vestido que ele comprou, coloco um sutiã, a calcinha
rendada, e o vestido! – Me olho no espelho. – Está bom assim? – Olho para
ele insegura.
– Você está linda, Jack! – Ele se aproxima beija meus lábios suavemente,
segurando meu rosto. – Vamos descer... – Ele pega em minha mão e
descemos apressados para o jardim.
Respiro fundo e tento pensar coisas positivas, eu não esperava encontrar
ninguém, muito menos seus familiares, mas, agora que deu tudo errado, a
única coisa que tenho a fazer é ser simpática e sorrir.
Capítulo 33
JACKELINE BARTOLLI
V ejo seus pais sentados numa mesa de madeira grande que existe no
jardim, os dois conversam discretamente, falando baixo, mas quando nos
avistam, disfarçam e param de falar.
Começo colocar em prática o meu plano, abro um sorriso no rosto enquanto
nos aproximamos da mesa.
Sua mãe vira o rosto em nossa direção, sua expressão é dura, ela é antipática,
meio arrogante, mas tento não pensar muito sobre isso, ela não é minha
sogra, não precisa gostar de mim, e nem eu dela.
Ela olha para o Rui e fala na lata, sem rodeios.
– Onde está a Priscila?
O sorriso que estava em meu rosto se desfaz, abaixo minha cabeça
instantaneamente, o Rui puxa duas cadeiras para nós dois sentarmos.
– Não sei, não a tenho visto – ele diz calmamente. – Vocês bebem alguma
coisa? Tenho um vinho branco na geladeira – Ele segura em minha mão, me
causando uma sensação boa, ele é um cavalheiro, obviamente não quer que
eu me sinta mal.
– Como assim, vocês são noivos! – a velha fala alterada, ele a interrompe.
– Éramos, não somos mais, eu esqueci de avisá-los.
Jesus, acho melhor eu inventar uma dor de barriga, não quero participar dessa
lavagem de roupa suja.
– Eu preciso ir ao banheiro! – Cochicho próximo a seu ouvido, me levanto e
saio em direção a casa.
Olho para o céu, e peço uma tempestade ou um tsunami, qualquer coisa que
impeça que esse churrasco aconteça.
Sigo para o banheiro na parte de baixo da casa, faço xixi, lavo minhas mãos e
arrumo meus cabelos, que ainda estão molhados, pingando.
Eu não posso voltar para lá agora, então sigo para o quarto do Rui, eu vi um
secador em seu banheiro, resolvo secar meu cabelo e estar um pouco mais
apresentável para sua família.
Termino, passo um batom discreto rosa claro, coloco uma sandália, ao invés
das rasteirinhas que estava usando, tomo coragem e volto para minha tortura.
Saio pela porta de vidro, e percebo que o clima continua tenso, mas o que vou
fazer, me trancar dentro de casa?
Quando chego à mesa a conversa cessa, o que me provoca muito mal-estar,
mas o Rui pega em minha mão novamente, a leva até seus lábios e a beija.
Sua mãe olha cada movimento, parece possessa com ele, mas por fim ele
repousa minha mão em seu colo, e fica brincando com meus dedos.
– Então, pai, como estão os negócios? – ele diz para quebrar o clima pesado.
– Tudo bem! – O velho se mexe na cadeira.
– O que você faz, Jackeline? – Sou pega de surpresa com a voz de seu pai.
O olho confusa, mas que merda, o que devo responder?
– Eu... eu... – Gaguejo.
– Ela trabalha no meu escritório – o Rui diz antes que eu fale besteira.
Sua mãe dá uma risada sarcástica.
– Fazendo o que? – ela diz.
A olho indignada, o que eu fiz para ela? Não tenho nada a ver com seus
problemas e do seu filho.
– Ela é minha secretária, mãe.
A velha surta, dá uma risada alta, a olho assustada.
– Acho que já podemos ir para casa – seu pai diz rapidamente, olha no
relógio. – Já está no horário do almoço.
Ele se levanta, segura na mão da mãe do Rui e os dois saem andando para a
saída do jardim, olho-os desconcertada.
Será que não é melhor eu não ir? Eles vão me tratar mal, eu tenho certeza!
O Rui me olha, parece constrangido.
– Acho melhor eu não ir – falo incomodada.
– A gente fica só um pouco. Não ligue para minha mãe, Jack, ela só está
brava porque não falei para eles sobre o fim do meu relacionamento com a
Priscila, ela gosta muito dela.
– Você acabou seu relacionamento três meses antes do seu casamento e não
contou para sua família?! – pergunto incrédula.
– Odeio que se intrometam em minha vida – ele diz displicente.
Balanço minha cabeça afirmativamente, mal sei o que fazer, mas também não
posso abandoná-lo sozinho.
– Vamos, Jack, prometo que não vou deixar ninguém tratá-la mal. – Ele se
levanta, me puxa para junto dele. – Fique tranquila, você não deve nada para
ninguém, você está comigo porque eu quero, minha mãe que se foda.
O Rui não é muito de falar palavrões, acho que só o ouço falando palavrões
no meio de nossas transas, então me surpreendo ao ouvi-lo dizer que quer que
sua mãe se foda.
– Tudo bem – digo simplesmente.
****
A casa de sua família é imponente, eles são muito ricos, só existem mansões
no bairro onde moram, e a casa deles é uma delas.
A entrada do condomínio é cercada de seguranças, só devem viver os
milionários nesse lugar.
Eu e o Rui estamos em silêncio, ele parece um pouco tenso, mas a todo
momento ele pega em minha mão e a beija, ele me trata com muito carinho.
– Vamos, Jack! – Ele me olha e sai de seu carro, saio do carro e o
acompanho.
Ele entra pelo jardim e segue para onde deve ser a área de lazer.
Olho admirada a construção linda, tirada de uma revista. Um jardim
verdejante, repleto de canteiros de flores encanta os olhos. Nunca estive em
um lugar tão lindo, tão bem cuidado.
Logo à frente vejo algumas pessoas, e chego à conclusão que será ainda pior,
não seremos só nós, eles têm visitas.
– Rui, quem são essas pessoas? – falo num gemido.
– Alguns amigos dos meus pais – ele diz seriamente.
– Rui, eles vão a alguma festa, ou é normal se vestirem desse jeito? – falo
com ironia, ao ver as mulheres com vestidos sofisticados com tecidos finos e
delicados. – Estou me sentindo uma perua, Rui.
Ele ri, e eu quero matá-lo.
– Jack, fodam-se eles! – ele diz de novo a palavra foda-se, e acho que isso
ocorre com frequência quando ele está nervoso.
Ele aperta minha mão junto a sua, e tenho vontade de chorar, ou
simplesmente sair correndo.
À medida que nos aproximamos, os olhares começam a se voltar em nossa
direção. Sua mãe me olha e logo desvia seu olhar de mim, me sinto
constrangida, as outras mulheres são senhoras, devem ter a idade da minha
mãe, por volta dos 55, 60 anos, mas a aparência delas em nada lembram a da
minha querida mãe, são mulheres ricas e poderosas, estão vestidas de uma
forma que minha mãe nunca sonhou se vestir.
– Boa tarde! – O Rui diz com sua voz grossa e poderosa, todos, inclusive os
homens olham para nós.
– Boa tarde! – digo num sussurro.
Os homens se aproximam com entusiasmo, cumprimentam o Rui
calorosamente, ele apenas me apresenta como a Jackeline, eles estendem suas
mãos educadamente para mim, e retribuo os cumprimentos sem muito
entusiasmo, gostaria de sair correndo daqui.
As mulheres o cumprimentam também, mas de forma discreta, mal olham
para mim, quero dizer, elas me medem, devem achar que sou uma atriz pornô
que ele conheceu em sua última visita a uma boate de streep tease.
Peço pelo amor de Deus para o Rui não me deixar sozinha com essas pessoas,
mas à medida que o tempo passa e as conversas começam a ficar mais
acaloradas entre os homens, me sinto sobrando no papo, eles são todos
empresários, advogados, é impossível eu manter um papo com eles.
As mulheres estão sentadas em uma mesinha redonda, tomo coragem, e sigo
até lá.
– Com licença, posso me sentar com as senhoras? – Tento ser simpática,
sorrir, mas não tenho muito retorno, elas apenas balançam suas cabeças.
Sua mãe se levanta e sai em direção a casa, e me sinto tão mal com isso.
A olho constrangida, abaixo minha cabeça e suspiro.
– Faz tempo que você está com o Rui? – Desperto de meu desespero, uma
das senhoras se dirigiu a mim, acho que isso é um bom presságio.
– Não, nos conhecemos há pouco tempo – digo seriamente, não tenho
vontade de falar sobre isso, nem sei o que posso dizer sobre nós.
– Vocês estão namorando? – A outra pergunta.
– Não, não somos namorados! – respondo inquieta. Até que ponto elas irão
para saber sobre nós?
As sobrancelhas delas se levantam, não sei o que acham sobre isso, mas não
parecem achar muito bom.
– A Raquel está abalada, sabe, Jackeline, é isso! – Uma mulher muito bonita
diz. – O Rui iria se casar daqui a alguns meses, e de repente aparece com
outra mulher em sua casa, não teve o respeito de dizer para a família de seu
rompimento com a Priscila – ela diz indignada.
– Talvez ele não tenha certeza do seu rompimento com a Priscila, por isso ele
não falou nada para seus pais. – Não sei por que disse isso, mas de repente,
me veio isso à mente, talvez ele tenha a intenção de voltar com ela, por isso
não alarmou a família toda sobre o rompimento.
– Oh, claro, talvez seja isso. – A mulher diz surpresa. – A Raquel vai ficar
muito satisfeita! Me desculpe, Jackeline, eu sei que você não tem nada a ver
com isso, mas ela gosta muito da Priscila, ela é uma jovem advogada linda e
brilhante. O Rui e ela fazem um casal lindo, você me entende?
À medida que ela fala, sinto uma agonia por dentro, uma vontade de chorar.
– Sim, entendo – respondo apática. – Será que tem um banheiro aqui que eu
possa usar? – digo apressada, tentando controlar minhas emoções.
A mulher loira aponta para um local.
– É logo ali, querida. – Me levanto e sigo para o local, e sinto como se todos
olhassem para mim, estou me sentindo tão mal aqui.
Abro a porta e me encosto a ela, e sinto um furacão dentro do meu peito.
Seguro as lágrimas, respiro e inspiro com força.
– Eu não posso chorar – falo em silêncio, mas algumas lágrimas rolam pelo
meu rosto.
O que pensei que havia entre nós? É só sexo, diversão, você sabe disso,
Jackeline! – falo em pensamento.
Eu sei disso, mas no final das contas, estava sendo tão bom esses últimos dias
com ele, que acho que no fundo eu estava fantasiando coisas, é isso.
Um toque na porta me faz despertar dos meus pensamentos, limpo meu rosto
apressada, ligo a torneira, lavo minhas mãos, me olho no espelho, abro a
porta, e o vejo, e um gelado percorre meu coração.
– Tudo bem, Jack? – ele diz preocupado.
Tenho tanta vontade de abraçá-lo, mas não o faço, engulo tudo que ouvi, que
senti, e que está me corroendo.
– Está tudo bem – digo sem emoção.
– Fica comigo, não precisa ficar com as amigas da minha mãe, eu não me
importo que você participe da conversa dos homens, ninguém vai contar
piada suja – ele diz divertido me fazendo sorrir.
– Tá bom! – Engulo em seco o que iria dizer, ou seja, a que horas podemos ir
embora?
Chegamos à área onde eles estão, estamos de mãos dadas, sua mãe já voltou
para a mesa, me olha de soslaio, um olhar de desprezo, disfarça e volta a
conversar com suas amigas.
O Rui se senta, e me faz sentar em seu colo, tento sair, mas ele me segura
com força pela cintura.
– Fica aqui! – ele diz autoritário, parece um ogro possessivo.
Reviro meus olhos e fico onde ele me colocou.
Um cheiro maravilhoso de churrasco começa a tomar conta do ambiente, um
senhor todo uniformizado começa a servir, e agradeço por poder me sentar
em uma cadeira. É maravilhoso ficar no colo do Rui, mas apenas quando
estamos sozinhos.
Confesso que perdi o apetite, seria bom conviver com esse pessoal por algum
tempo, eu emagreceria 20 quilos, eles me causam arrepios e falta de fome.
Belisco algumas coisas, mas nada comparável ao jeito Jackeline de ser, meu
estômago está dando voltas, não estou suportando o olhar de sua mãe sobre
mim.
O Rui se inclina um pouco sobre minha cadeira.
– Você não está comendo nada, Jack! – ele diz com a testa enrugada.
– Estou de dieta – falo com sarcasmo.
– Daqui a pouco vamos embora, está bom? – Ele coloca uma de suas mãos
em meu rosto, o acariciando e me beija, de um jeito que sinto borboletas em
meu estômago.
Tento me esquivar, mas ele segura meu rosto, parece querer que todos vejam
nosso beijo escandaloso.
– Rui! – falo contra seus lábios. – Isso é constrangedor.
Ele me olha com um sorriso de moleque.
– Você fica com vergonha, Jackeline? Você normalmente é tão safada, não
deveria sentir vergonha – ele diz com seu jeito sedutor, safado, aliás, quem é
muito safado é ele.
– Rui, eu sou safada, mas dentro de quatro paredes, e de preferência só eu e
você – respondo.
Ele me olha a centímetros do meu rosto, com um sorriso sedutor, me
segurando.
– Eu adoro essa boca, sabia? – Fecho meus olhos, apenas para passar a raiva
que estou sentindo do que ele está fazendo, mas ele novamente me beija, um
beijo de língua delicioso, guloso, cheio de sensualidade, me causando um frio
no pé da barriga.
Ele deve estar querendo irritar sua mãe, só pode ser.
– Ei, Rui, vamos deixar para namorar mais tarde. – Ouço uma voz masculina,
e chego à conclusão que foi um homem alto e simpático que conversou um
pouco comigo, apenas sobre amenidades.
O Rui se afasta de mim e dá um de seus sorrisos lindos e sedutores.
– Depois a gente continua, minha gostosa – ele sussurra, sela meus lábios
com um último beijo e volta sua atenção a conversa.
À medida que ele se afasta percebo o porquê do aviso de descolar lábios,
estão todos olhando para nós, um verdadeiro vexame.
Ai, Rui, que raiva de você! Penso ao olhar os rostos indiscretos me fitando.
Ele pega em minha mão, a leva até seus lábios e se levanta.
– Nós já estamos indo – ele diz descontraído, não há uma ponta de
constrangimento nele.
Me levanto com ele, mais do que depressa.
– Mas ainda é muito cedo! – Seu pai diz com cara de decepcionado.
– Eu e a Jackeline ainda temos umas coisas para fazer. – O Rui me olha de
lado, sorri, parece provocativo.
Então, ele me arrasta junto com ele, cumprimenta os homens primeiramente,
e eles se despedem de mim. Em seguida seguimos para as mulheres, todas o
abraçam e beijam, parecem conhecê-lo desde criança, e quando chega minha
vez, me sinto como se tivesse uma doença contagiosa, apenas falam de longe
comigo.
Acho que mereço, afinal me deixei levar por ele, e estou vestida de uma
forma pouco comportada, todas devem me achar uma piranha de quinta.
Respiro aliviada quando chegamos ao seu carro.
– Desculpe, Jack, eu sei que minha mãe não se comportou bem – ele diz
parecendo realmente incomodado, culpado.
– Tudo bem, se eu estivesse no lugar dela, talvez reagisse do mesmo jeito.
Não entendo por que você não contou para eles sobre sua decisão, a não ser
que não seja uma decisão séria, e que tenha a intenção de reatar.
Ele me olha sério.
– Eu não tenho 20 anos, Jack, minhas decisões são sérias!
– Ok, mas desistir de um casamento é um negócio sério, não é justo com sua
ex-noiva deixar que ela resolva tudo. Imagino que havia uma festa, uma
cerimônia envolvida, pessoas para desconvidar, acho que sua atitude foi, no
mínimo, egoísta. – Olho para o vidro do passageiro, não sei por que estou
falando essas coisas, não tenho nada a ver com sua vida, mas é que essa pose
dele de que está tudo bem me irrita.
Ele passa alguns longos minutos pensando, enquanto dirige, e então vira em
minha direção e fala:
– Você tem razão, preciso resolver isso, eu realmente não tenho a intenção de
reatar com a Priscila, eu não a amo, e de uns tempos para cá, não suporto sua
presença. Talvez isso explique o porquê de não querer casar com ela. – Ele
me olha.
– É, não dá para casar com alguém que a gente não suporta, pode até não
amar, mas não suportar fica difícil – falo surpresa com sua declaração.
– Eu não quero me casar, nunca, não suporto a ideia de viver o resto da vida
amarrado a alguém! – ele diz como se fosse um desabafo.
O olho surpresa, talvez decepcionada.
– Oh, talvez isso explique o fato de você não ter se casado ainda. – Mexo em
minhas mãos. – Você não deseja ter filhos? – O olho de soslaio.
Ele franze sua testa, parece incomodado com esse assunto.
– Não, terei sobrinhos, eles serão como se fossem meus filhos – ele diz sem
emoção, parece frio e distante, talvez esse seja seu verdadeiro eu, o Rui
caloroso e carinhoso é apenas uma fachada para me conquistar, no fundo, no
fundo, sou apenas uma distração para um homem rico e entediado, que só vê
as mulheres como objetos de prazer.
– Eu sonho em me casar, pode parecer clichê, mas quero alguém para
envelhecer ao lado, ter filhos, dois, acho que é um bom número... – falo para
provocá-lo. – Não vejo graça em viver a vida sem um grande amor, sem
pensar em ter uma família, pode até ser que eu não consiga ter uma, mas esse
é meu desejo, não tenho vergonha de dizer isso.
– Todas as mulheres querem isso, só pensam nisso, parece que não sabem ser
felizes se não tiverem alguém ao lado.
– Ninguém é feliz sozinho.
Ele não responde, também decido que o assunto acabou, azedou na verdade.
Fico calada, decepcionada, é bom demais estar com ele, mas saber que ele
pensa desse jeito é ruim, causa um vazio, pois eu sou alguém muito diferente,
desejo muito ser mãe, ter uma família linda e feliz, um marido maravilhoso,
carinhoso e apaixonado por mim.
Mas as relações humanas mudaram muito, as pessoas hoje em dia só pensam
em si, e em seus desejos, não há mais a entrega, o altruísmo, não há mais
espaço para o amor.
O silêncio volta a rondar o espaço pequeno do carro, pesado e constrangedor.
O assunto não o agrada, isso é fato, e por isso o clima romântico que havia
entre nós acabou.
Chegamos em sua casa, ele estaciona na garagem, desce em silêncio e segue
para o interior da casa.
Sigo para o jardim e vejo o Bóris vindo em minha direção, ainda bem que ele
está aqui.
Me sento em uma espreguiçadeira grande e confortável, ele se senta ao meu
lado, deita sua cabeça em meu colo e ficamos os dois ali, absorvidos pela
paisagem, pelo silêncio quebrado apenas pelos sons dos pássaros.
– A vida é complicada, Bóris, sorte sua ter nascido cachorro – digo alheia a
tudo, só pensando na minha vida, nas pessoas que conheci, namorei, amei.
Não acho que realizarei meus sonhos nessa vida, talvez na próxima, isso se
eu não nascer cachorro, gato, pássaro.
Nosso final de semana estava tão bom, que pena que seus pais encontraram
seu caseiro. Poderíamos ainda estar naquele clima romântico.
Me deito na espreguiçadeira e me deixo levar pela sensação boa do sol em
mim, do pelo macio do Bóris entre meus dedos e da brisa quente que bate em
minha pele.
– Vou dormir um pouco, Bóris, é bom dormir quando a gente fica triste.
Fecho meus olhos e adormeço.
Capítulo 34
RUI FIGUEIREDO
O dia hoje foi complicado, começou bem, mas teve a visita dos pais do Rui,
o almoço e o clima azedou completamente. Achei que o final de semana
estava perdido, mas aí ele apareceu enquanto eu dormia na
espreguiçadeira, me beijou sem maiores cerimônias e em instantes estávamos
novamente em sua cama, fazendo sexo loucamente, não menos delicioso que
os outros, não existe sexo ruim com o Rui, mas ele estava diferente.
Fecho meus olhos e tento espantar esses pensamentos, estamos bem de novo,
a nuvem escura foi embora, e deixou apenas um sol maravilhoso.
Estou sentada em uma almofada grande e macia em seu barco, ele ancorou no
meio da represa, e pediu para eu esperar um pouco, entrou na cabine e
sumiu.
Aproveito esses minutos de paz, fecho meus olhos e deixo a brisa bater em
meu rosto. Adoro sentir a natureza, adoro coisas simples como o calor do sol,
a carícia do vento. Gosto também dos dias de chuva, do frio, amo sentir a
vida.
Um beijo suave em meu pescoço e desperto da minha meditação, abro os
olhos e sorrio ao vê-lo me olhando.
– Eu fiz algo para a gente comer, eu sei que você está com fome, não comeu
nada no churrasco.
– Não estou com fome. – Minto, estou varada, mas não posso deixar a
verdade vir à tona.
Ele ri, pega em minha mão e me puxa para um canto do barco, vejo uma
mesinha, uma tábua de frios e um vinho branco.
– Duvido que você não queira experimentar da minha especialidade.
Sorrio e me sento ao seu lado, pego algo e coloco em minha boca.
– Muito bom, você quem fez, é sua especialidade? – Brinco.
– Ok, isso não é bem uma especialidade, mas sou bom de arrumar. Ficou
legal, não ficou? – ele diz divertido, adoro vê-lo assim, e odeio vê-lo frio e
egoísta.
Escolho um pedaço de queijo e salivo, que queijo mais gostoso.
– Hum, ficou lindo, você já fez curso de como decorar pratos? – De novo tiro
sarro dele.
– Maldade, Jack, eu aqui querendo te agradar e você me tratando com
descaso. – Ele faz cara de magoado, mas eu sei que é só charme.
Seguro sua cabeça entre minhas mãos, e dou um beijo demorado em seus
lábios.
– Obrigada, Rui, você é um gentleman. – Ele sorri satisfeito e entrega uma
taça de vinho para mim.
– Estou ao seu dispor! – ele diz cheio de charme.
Passamos algumas horas conversando sobre amenidades, coisas que ele já
fez, viagens, sobre ele basicamente, então ele pergunta:
– E você, já viajou para fora do país? Me conta o que já fez!
Torço meus lábios, nunca fiz nada, tenho 27 anos, e mal conheço as cidades
dos outros estados do Brasil.
Confesso, tive uma vida sem graça.
– Nunca sai do Brasil, fiz poucas viagens, não sou muito aventureira – digo
sem jeito, acho que de fato nunca tive dinheiro para nada disso, nasci em uma
família muito simples, meu pai sempre ganhou pouco, ele nunca teve uma
profissão, era operário em uma fábrica, minha mãe nunca trabalhou fora,
enfim, somos como muitas pessoas, mas tive uma vida feliz, sempre tive
muito amor e atenção, isso compensa o resto.
– Não tem vontade de viajar, conhecer outros lugares? – ele pergunta, com
aquele olhar penetrante, intenso e indagador.
– Tenho, talvez algum dia. – Tento não falar muito sobre isso, porque depois
que conheci seus pais, percebi que o Rui não é só rico pelo trabalho dele, ele
é um homem rico de berço.
– Você não está muito falante, Jack, tem alguma coisa te incomodando? – O
olho intrigada.
O Rui é uma caixinha de surpresas, às vezes tão frio e distante, e às vezes tão
preocupado e presente.
É difícil entender esse homem.
– Não! – respondo despreocupada, talvez nossa conversa depois do
famigerado churrasco tenha me deixado meio amortecida, não sei dizer, sou
assim, já tomei tanta porrada da vida que acho que não sinto mais nada,
apenas aceito de bom grado os momentos felizes, as coisas boas. – Está tudo
bem, às vezes sou assim, mais introspectiva.
– Me desculpe se fui um pouco grosso com você. – Ele evita me olhar,
disfarça.
– Você não foi grosso comigo, só foi sincero – respondo encarando seu rosto,
ele me olha rapidamente, mas logo disfarça e volta a olhar para o horizonte. –
Me desculpe se me intrometi em sua vida, não tenho nada a ver com o seu
relacionamento, com sua vida, ou da sua família. – Ele me olha pensativo. –
Tenho uma língua muito grande, às vezes ela não cabe em minha boca.
Ele ri de minha piadinha idiota.
– Eu gosto do seu jeito, eu já te disse isso antes. – Ele acaricia meu rosto,
coloca meu cabelo que está em meu rosto atrás de minha orelha, e me encanta
com o seu olhar.
– Seus olhos são lindos, Rui – falo sem pensar, adoro tudo nele, mas também
não preciso ficar babando feito um buldogue.
– Os seus também são lindos, Jack! Você é linda! – Ele me encara, e eu viro
gelatina.
Oh, ele sabe como desestruturar uma mulher.
– Talvez você precise de óculos Rui, quero dizer, você já usa um, mas
deveria usá-lo mais – falo encabulada, ele me deixou muito sem graça.
– Só preciso de óculos para ler, enxergo bem de longe! – Ele me encara,
passa seu braço pela minha cintura e me puxa para junto dele, nos deixando a
centímetros de distância. – Você é linda, Jack!
Sorrio, continuo sem graça, já ouvi muitos elogios, mas todos de baixo calão,
ser chamada de linda é algo profundo. Eu não sou linda, eu sei disso, mas ele
me faz sentir linda, talvez seja algo de dentro para fora, me sinto plena
quando estou com ele, porque o Rui é um tipo de homem que faz a mulher
que está com ele se sentir assim, linda, gostosa, plena.
– Obrigada – sussurro, e já sinto meu coração disparado, um amortecimento
nas pernas, eu já senti isso antes, e sei o que significa.
Não espero que ele me beije, já passei dessa fase, eu quero que se fodam as
convenções, invado sua boca com a minha, e ele me coloca em seu colo, e
apenas nos beijamos, nos acariciamos, e isso é bom demais. Aos poucos ele
me deita no banco, cobre meu corpo com o dele e transamos ali, no meio de
uma represa, a céu aberto.
Não tiramos nossas roupas, foi um sexo meio selvagem, daqueles que
fazemos em lugares indiscretos, parecendo cachorros no cio.
Aos poucos nos acalmamos, e cada vez fica mais claro para mim, a atração
sexual que existe entre nós é forte demais, não conseguimos ficar juntos sem
nos tocar, me sinto em brasa quando estou com ele, faria sexo em qualquer
lugar, apenas pelo impulso e descontrole que sinto quando estou com ele.
Isso é bom, mas ruim ao mesmo tempo.
– Quer voltar, Jack? – ele diz manhoso, enchendo meu rosto de beijos.
Por que ele faz isso comigo, me deixa tão apaixonada?
– Você quem sabe – respondo de olhos fechados, embriagada de prazer.
– Ok, eu ficaria o dia inteiro aqui com você, só fazendo o que estamos
fazendo, mas a gente pode voltar e curtir um pouco a casa, a piscina. – Ele se
inclina sobre mim, estou deitada. – De noite saímos, existem muitos
restaurantes legais na cidade, você vai gostar.
– Tudo bem, não sou muito complicada, topo qualquer coisa – falo com
sinceridade e simplicidade, apenas gosto de ficar com ele, e me assusto com
esse sentimento que cresceu dentro de mim.
Como em tão pouco tempo esse homem ganhou tanto espaço em meu
coração?
Mais um beijo, rápido, mas não menos delicioso, ele se levanta, arruma sua
bermuda. Arrumo meu biquíni, estou praticamente nua, mas de qualquer
forma, cubro os principais.
****
Não sei quando foi a última vez que passei um dia tão adorável quanto o de
hoje, realmente não me lembro.
Horas esticadas no sol, revezando entre um mergulho e outro, muitos beijos e
muitas guloseimas.
– Você está acabando com minha dieta, Rui! – digo depois de me deliciar
com uma taça de sorvete.
Ele é jeitoso, engraçado, me cobre de mimos, não vou mentir, ele é incrível,
está o tempo todo me oferecendo coisas, me dando beijos, ele é apaixonante,
pena que tenha um lado negro, aquele que odeia relacionamentos.
– A gente está fazendo bastante sexo, Jack, uma coisa compensa a outra – ele
diz, e ri ao mesmo tempo.
Sorrio do que ele diz, e o beijo lambuzando seus lábios de sorvete.
E assim seguimos até o final da tarde, deliciosamente, no melhor final de
semana da minha vida.
****
Entramos no banheiro em meio a muitos beijos, arranco sua roupa, ele tira
meu biquíni. Ele abre a torneira do chuveiro, e começa a ensaboar meu corpo,
e isso é uma tortura, sua mão escorregando pelos meus seios e trilhando um
caminho ardente até o meio das minhas pernas.
Não, não vou mentir, eu nunca conheci um homem que me fizesse sentir
tanto prazer.
Ele me toca e eu gemo.
Enquanto a gente se beija, ele me enlouquece com seus dedos, me
estimulando e me invadindo.
Minha respiração acelera, ofego de prazer e chego novamente ao orgasmo.
– Oh, Rui, que delícia... – Gemo descontrolada, enfiando minhas unhas em
suas costas, beijando sua boca, e me entregando por completo.
– Geme, Jack, pode gemer bem alto, gostosa! – ele diz enquanto me
enlouquece de prazer.
Volto a terra, abro meus olhos e encontro os dele, felinos e cheios de desejo.
– Agora eu quero você – eu digo ao mesmo tempo em que saio beijando seu
corpo, agacho-me e envolvo seu membro com minha boca, e levo-o ao
orgasmo.
– Jack!!! – Ele geme meu nome, segura meus cabelos, e os puxa, ele foi para
outro planeta, e voltou. – Caralho, Jack, foi demais.
O abraço e o beijo novamente, confesso, acho que sou ninfomaníaca. Morro
de tesão por esse homem, e vou levá-lo a exaustão se não me controlar.
– Jack, acho que você vai me deixar de cama – ele diz sem fôlego. – Que
fogo da porra que você tem! – ele diz me prensando contra a parede e me
penetrando.
– Você também tem fogo, Rui – falo em meio as suas investidas contra meu
corpo, fortes, profundas e deliciosas.
– Eu morro de tesão por você, Jack! – ele diz insano, e mais uma vez
deliramos em nossa orgia de sexo.
Ele descansa sua testa na minha e respira de boca aberta, parece que vai
morrer.
– Caralho, isso está parecendo uma competição, Jack! – ele diz e ri. – Qual de
nós dois vai dizer que desiste? – ele fala rindo.
– Acho que sou eu, estou cansada e com sono! – digo exausta.
– Sem chance de dormir, Jackeline, vamos jantar fora, dispensei a esposa do
caseiro.
– Você não tem nada na geladeira? Comemos qualquer coisa! – digo de olhos
fechados, deixando a água cair em minha cabeça.
– Quero sair um pouco, não aguento mais fazer sexo com você – ele diz e eu
arregalo meus olhos, e ele cai na risada.
– Acordou, Jackeline? – Ele ri mais, ensaboando seus cabelos. – Estou
brincando, era só para te acordar – ele diz divertido. – Vou te levar num
restaurante bem romântico, eu sei que você é romântica, gosta de jantares a
luz de velas, ganhar flores...
O olho confusa.
– Como você sabe disso? – Ele me olha confuso, dá um sorriso sem graça.
– Adivinhei, não estou certo? – Ele faz uma cara engraçada.
– Sim, adivinhou, mas não precisa fazer nada disso – falo arredia, para que
fazer isso se ele não é assim?
– Eu gosto de te ver feliz, sorrindo... – Ele segura meu rosto e me olha dentro
dos olhos, me fazendo sentir as borboletinhas no estômago.
– Ok, faça o que quiser – respondo me sentindo embriagada por seu olhar.
– Então, vamos terminar esse banho, antes que eu desista – ele diz bocejando
feito um urso.
Coloquei o vestido que ele me deu na primeira vez que fomos àquela loja
chique. Ele é justo na parte de cima, levemente rodado abaixo da cintura e
com estampas florais.
O tecido leve e delicado dá ao vestido um caimento sensual, assim como o
decote no busto, ele me deixou muito feminina e chique.
Arrumo meu cabelo em um coque, coloco meus brincos de argola e faço uma
maquiagem.
Me olho no espelho e me sinto bonita, o sol me deixou com a pele levemente
dourada, sexy.
– Podemos ir? – Ele me abraça pela cintura, beija meu pescoço, viro meu
rosto e beijo o canto de seus lábios.
– Podemos. – Me viro para o olhar. – Você está muito gato, sabia?
Ele está irresistível, apenas uma camisa branca e uma calça jeans escura o
deixam muito bonito.
– São seus olhos, Jackeline! – Ele pisca, fazendo charme. – Vamos, minha
deusa.
Sorrio e o sigo em direção à porta.
Em instantes chegamos ao restaurante, e que restaurante!
Tudo bem, acho que até hoje não tinha frequentado tantos lugares
sofisticados, isso é fato, o Renato é um mão de vaca dos infernos.
Mas, enfim, não quero lembrar do Renato.
Sentamos em um mesa, o garçom acende a vela, o lugar é ligeiramente
escuro, dando um ar romântico, me sinto especial hoje, de muitas formas.
– Lindo aqui, Rui! – digo encantada. – Obrigada por me trazer num lugar tão
bonito.
– Você merece, minha deusa! – Ele leva minha mão até seus lábios e a beija.
– Vamos comer o que? – Ele pega o cardápio e começa a escolher nosso
prato.
A noite não foi menos especial do que o dia, comemos num clima leve,
porque não dizer romântico.
Uma banda de música instrumental toca ritmos suaves e românticos.
– Esse restaurante é muito romântico – falo bebericando meu vinho.
Ele se levanta e pega em minha mão.
– Então, vamos dançar – ele diz e me arrasta para a pista de dança, onde
alguns casais dançam.
– Você gosta de dançar, né, Rui? – digo me divertindo com seu rompante.
Ele segura minha mão junto ao seu peito, a outra em minha cintura, une
nossos corpos, e começamos a dançar.
Dançamos com os olhos vidrados um no outro, cada centímetro dos nossos
corpos colados.
Mais uma coisa para a minha lista de coisas que nunca fiz, dançar juntinho,
embalada apenas pelo som harmonioso que sai dos instrumentos musicais.
– Você não me respondeu, você gosta de dançar? – pergunto novamente.
– Gosto! – Ele me encara, daquele jeito sedutor, me deixando sem ar.
– O que mais você gosta, Rui? – pergunto enfeitiçada pelo seu olhar.
– De você, Jack, de ficar com você, de te beijar, do seu cheiro, da sua boca. –
Enquanto ele fala, seus lábios vão depositando beijos em meu rosto, pescoço,
beijos delicados, singelos. – Do sexo, Jack, você é viciante! – Um gelado
percorre meu estômago, e parece chegar ao coração.
Fecho os olhos e apenas me deixo levar por ele.
– Você é o mestre da conquista, Rui! – digo de olhos fechados, e então sinto
seus lábios sobre os meus, macios, quentes.
Seus braços me apertam contra o seu corpo e ele aprofunda o beijo.
– Vamos embora, Jack. – Ele pega em minha mão e sai rapidamente da pista
de dança, em instantes estamos no carro.
Acaricio seus cabelos e beijo seu rosto enquanto ele dirige, novamente ele
está com pressa, afoito, parece um garotão de 20 anos.
Chegamos a sua casa, ele sai me arrastando para seu quarto, parece que vai
tirar o pai da forca.
Ele começa a tirar meu vestido, mas o faço esperar.
– Espera, deixa eu fazer uma surpresa para você – falo com um sorriso no
rosto.
– Vai demorar? – ele diz parecendo salivar.
– Não! – Pego minha mala e sigo para o banheiro.
Tiro meu espartilho, a calcinha e a meia liga da mala.
Em segundos estou despida, colocando o espartilho, e bufando de raiva
enquanto prendo os ganchinhos.
Me olho no espelho, ajeito o espartilho ao meu corpo, e relembro quando nos
conhecemos e sorrio.
– Ele é um devasso, sempre foi. – Respiro e inspiro, e saio do banheiro, e o
encontro deitado na cama, mostrando toda a sua virilidade, com uma ereção
pronta.
Ele me vê e se senta na cama em um solavanco, e me olha de um jeito que me
faz esquecer tudo que passei naquela noite em que briguei com o Renato.
– Oh, Jack, que visão do paraíso! Vem aqui, minha delícia! – ele diz com
seus olhos de devorador de mulheres.
Caminho até ele sensualmente, ele segura minha cintura e mergulha sua boca
maravilhosa em meus seios, apalpando meu bumbum, apertando-o entre suas
mãos.
– Você é linda, Jack! – Ele me deita, e começa a me enlouquecer com sua
boca, sua língua, que explora cada pedacinho da minha intimidade, descendo
beijos pelas minhas coxas, em minhas pernas inteiras, em meu pé. Dou
risada, porque sinto tesão em cada pedaço do meu corpo onde ele beija. Ele
volta a me beijar, massageia meu clitóris, beija meu pescoço, volta a me
atormentar sugando meus seios.
– Oh, Rui, eu não aguento... – Falo em soquinhos, tentando controlar o tesão
que sinto. – Me fode, Rui! – sussurro puxando seus cabelos, enquanto ele
beija meus seios, e me estimula com seus dedos.
– Não precisa pedir duas vezes, minha deusa! Vira, Jack, quero ver esse
bumbum gostoso. Quero te foder de quatro, minha delícia!
Me viro, me apoiando em meus braços, ele me penetra, geme de prazer,
aperta minhas nádegas, mais um estocada...
– Oh, Jack, minha gostosa! – Ele geme meu nome.
– Mais, Rui!
Ele me penetra forte.
– Assim, gostosa? – ele diz com sua voz gutural.
– É, Rui... – Ele me penetra com força. – Ahhh... – Grito de prazer. – Mais,
Rui... – Gemo alto.
– Caralho, Jack, assim eu não aguento. – Mais uma estocada, junto com um
tapa em meu bumbum, grito de surpresa, de prazer, adoro quando ele faz
isso.
– Vai, Rui, me mata de prazer. – E ele começa, seu corpo se choca contra o
meu, duro, insaciável, assim como os tapas, as massagens. – Eu vou gozar,
Rui. – Gemo alto, escandalosa, devo ter acordado todos os vizinhos. – Ohhh,
Rui!!! – Desabo meus braços, empino minha bunda, e ele se acaba, uma,
duas, três vezes, e seus urros de prazer reverberam no quarto, na casa, no
bairro inteiro. – Jesus, que loucura! – falo para mim mesma, ele desaba ao
meu lado, relaxo meu corpo e tento respirar, estou ofegante.
Ele fica de olhos fechados, respirando feito um louco. O olho preocupada e
acaricio seu rosto.
– Rui, você está bem? – Sinto um pânico dentro de mim.
Ele abre os olhos e ri.
– Tá com medo que eu morra, Jack?
Relaxo e dou risada.
Credo, sou muito preocupada!
– Acho que estou exigindo muito de você, você já está meio velhinho! –
Brinco e ele ri ruidosamente.
– Tenho 35 anos, mas meu corpinho é de 20! – ele diz orgulhoso.
Reviro meus olhos, o abraço, me deito em seu ombro e cheiro seu pescoço.
Estou apaixonada por esse homem, não há o que fazer.
– Rui, meu dia foi maravilhoso, obrigada! – falo cansada, apenas sentindo seu
peito subindo e descendo. – Quero dormir.
Ele se mexe, fica de lado.
– Me deixa tirar isso de você, se vira de costas. – Me viro preguiçosa, ele vai
abrindo os ganchos que prendem o espartilho e beija minhas costas. – Dorme,
minha deusa, eu só vou tomar uma água. – O sinto me cobrindo com uma
colcha e apago, literalmente.
Capítulo 36
JACKELINE BARTOLLI
Tomamos café da manhã rapidamente, sigo com o Rui para a porta, mas antes
converso com sua empregada, essa semana será o coquetel do escritório, e
confesso, estou bem nervosa com isso.
– Está tudo certo para o coquetel, Rui – falo enquanto entramos no elevador.
– Qualquer dúvida, me fala, Jack. Eu sei que isso é novo para você, não
precisa ficar constrangida de me perguntar – ele diz carinhoso, compreensivo.
– Tá bom. – Me assusto quando o elevador para no andar do Renato, cada
músculo do meu corpo fica tenso.
A porta abre e dou de cara com o Renato, ele me olha surpreso.
– Oi, Renato! – falo num sussurro, sinto a mão do Rui segurar a minha, ele
me puxa para junto dele e abraça minha cintura.
– Oi, Jack! – Ele me olha, olha para a cena, ou seja, eu nos braços do Rui,
disfarça e abaixa a cabeça.
Fecho meus olhos e sinto uma tristeza, meus olhos enchem de lágrimas.
Por que estou me sentindo assim?
Eu nunca mais retornei uma mensagem, uma ligação dele, ele tentou falar
comigo muitas vezes, mas é que depois que conheci o Rui não consegui mais
pensar nele, simplesmente o Rui me envolveu em sua teia, não deixou espaço
para mais ninguém.
A descida do elevador foi uma tortura, eu, o Renato e o Rui, aliás, os dois
com R, devo ter uma queda por homens com a letra R.
O elevador abre na garagem, ele sai sem se despedir de mim, some na
garagem, e meu peito aperta. Não é assim tão fácil esquecer um
relacionamento de quatro anos, ele foi importante para mim, não me amou
como eu esperava, mas eu o amei. Não sou uma pessoa fria que já esqueceu o
que aconteceu entre mim e ele. Ele me decepcionou muito, mas também me
fez feliz muitas vezes.
O Renato é muito diferente do Rui, introspectivo, tímido, caseiro, mas ele é
amigo, fomos muito amigos, ele era meu melhor amigo, me dava muitos
conselhos.
Me sinto tão triste de nosso relacionamento ter acabado assim!
Sigo de mãos dadas com o Rui para seu carro, calada, absorta em meus
pensamentos.
Ele me olha de lado, disfarço e tento dar um sorriso.
– Tudo bem, Jack? – ele diz já dentro do carro.
– Tudo bem – falo sem vontade, não quero falar sobre isso.
– Parece que esse cara mexe com você – ele diz secamente, olho para ele, e
vejo uma expressão dura. Será que ele tem ciúmes de mim?
– Namoramos quatro anos, fico triste de termos terminado de uma forma tão
ruim – falo sem o olhar.
Ele não diz nada, acaricia meus cabelos, pega minha mão e a beija.
– Eu estou aqui, Jack!
Sorrio, é claro que ele está aqui, não há dúvidas disso.
– Eu sei que você está aqui. – Sorrio.
– Então, esquece ele.
O olho surpresa, ele tem inseguranças, e isso é bem estranho. Porque um
homem como o Rui, não parece sofrer de nenhum dos males dos seres
humanos, ele parece acima de tudo isso, seguro, resolvido, dono de seu
coração, da sua mente, da sua vida.
Me esgueiro até ele, aproveito o sinal fechado e o beijo, é assim que esqueço
meus problemas, nesses lábios.
Ele segura meu rosto e me beija, sinto aquele gelado no estômago, uma
vontade louca de dizer...
NÃO, eu não amo o Rui, é paixão, amar é mais profundo, estar apaixonado é
algo superficial, passa, amar é para sempre, não se deixa de amar alguém.
Eu amo o Renato, o amo acima do amor de homem e mulher, temos uma
história juntos, eu sei que isso parece louco, mas eu nunca o esquecerei.
Uma buzina nos faz afastar nossos lábios, ele me olha profundamente, sinto
uma pressão no peito e respiro fundo, ele me tira o ar.
– O trânsito, Rui – digo o acordando do seu feitiço, porque ele às vezes me
olha tanto, isso é tão confuso.
Ele sorri, segura minha mão, a leva até sua coxa e a deixa descansando ali.
Respiro e inspiro, eu preciso falar com o Renato, conversar com ele, não
posso terminar nosso relacionamento desse jeito!
****
É final de tarde, mais precisamente 18h, daqui a pouco terei que encontrar o
Renato, e mal sei como será esse encontro.
O meu ramal toca e vejo que é o Rui.
– Será que ele irá querer que eu vá para seu apartamento? – penso alto.
Eu adoro ficar com ele, mas hoje preciso voltar para minha casa, ver minha
mãe, sinto falta dela, me preocupo demais com ela e com minhas velhinhas.
E também, tem o encontro com o Renato, enfim, hoje não dá.
– Oi, Rui! – Atendo.
– Vem aqui, Jack – ele diz rapidamente e desliga.
Sigo para sua sala, estou com saudades dele, na verdade do contato físico,
esse final de semana só me fez ficar mais louca por ele. Mas, sou adulta, sei
me controlar, não quero confundir as coisas, sou sua funcionária.
Entro em sua sala, ele está em sua mesa, papéis espalhados, ele tira os óculos
e me olha.
– Tudo bem? Quer ir para o meu apartamento? Podemos jantar, depois te
levo embora – Ele é tão fofo, eu o adoro, e queria muito ficar com ele, mas
hoje não vai dar.
– Rui, hoje não dá, eu preciso ir para casa. – Ele me interrompe.
– Eu te levo, depois que jantarmos. – Ele parece tão carente de mim, e eu
dele, mas eu marquei com o Renato, e preciso dizer isso a ele.
– Rui, o Renato me ligou, pediu para conversarmos, marquei de ir ao seu
apartamento, vou sair daqui e irei para lá.
Ele me encara com uma expressão muito estranha, os olhos cerrados, o vão
entre os olhos franzidos, acho que ele não gostou muito da notícia.
– O que você vai fazer no apartamento daquele cara? Ele te enganou, Jack! –
Ele se levanta alterado, me sinto acuada.
– Eu sei, mas ele pediu para conversarmos, eu preciso dar uma chance para
ele se explicar. – Respiro. – Independente de qualquer coisa, tivemos um
relacionamento, Rui. Eu levo essas coisas a sério, ele não era um cara que eu
pegava de vez em quando, ele era meu namorado, dividimos muitos
momentos juntos.
– Foda-se isso, Jackeline! – ele diz nervoso e se vira de costas. – Então, você
conversa com ele, e depois vai para o meu apartamento.
O olho confusa, não posso ficar com a preocupação de terminar de falar com
o Renato para ir para o apartamento do Rui.
– Hoje não, Rui, é confuso, não sei quanto tempo demorarei com o Renato –
falo inquieta, ele me deixa nervosa com seu jeito.
Ele me encara com as mãos na cintura e balança sua cabeça.
– Tudo bem, você quem sabe, pode ir embora, não preciso mais de você. –
Ele vira de costas e segue para seu banheiro.
Fico por alguns segundos parada no meio de sua sala, atônita.
Que merda foi essa? Não temos nada, ele não gosta de relacionamentos,
então por que está bravo comigo?!
Que se foda você, Rui! – falo em pensamento, sigo para minha mesa, pego
minhas coisas e vou embora. – Ele é muito confuso e folgado, estou de saco
cheio de homens mandando em mim.
Capítulo 37
JACKELINE BARTOLLI
Tive uma noite de cão, literalmente. Passei praticamente a noite toda na área
externa do apartamento, eu e o Bóris, bebendo vinho, ouvindo música e
comendo azeitonas.
Uma dor de cabeça dos infernos pulsa em meu cérebro, entro na piscina
apenas de boxer, e passo algumas horas lá dentro tentando me acalmar.
Ok, amanhã vou estar melhor, eu vou ficar bem, só preciso me acalmar,
encho mais uma taça de vinho, a bebo em um gole.
Começo a sentir o relaxamento do vinho, saio da piscina e sigo para meu
quarto, preciso dormir, amanhã é um novo dia, vou estar melhor, tenho
certeza disso.
Me deito em minha cama e sinto o perfume da Jackeline em meus
travesseiros e nos lençóis. Levanto ensandecido e arranco tudo da cama,
parece que estou louco.
Deito por cima do colchão e vejo o Bóris se aninhando em meio aos lençóis
jogados no chão.
– Gosta do cheiro dela, Bóris, seu traidor? – Acho que minha voz está
levemente embaralhada, talvez eu esteja um pouco bêbado.
Desperto ao som do celular, uma dor de cabeça me incomodou a noite inteira,
mas não tive coragem de me levantar para tomar um remédio.
Me levanto destruído, vejo o Bóris deitado sobre os lençóis, parece amuado,
esse cachorro está esquisito ultimamente.
– Sai daí, Bóris, vai passear lá fora. – Rosno, pareço tão canino quanto ele.
Sigo para o banheiro e ligo a ducha fria.
– Porra! – Grito ao sentir a água gelada em minha pele.
Em minutos estou pronto, desço, tomo uma xícara de café preto e vejo a
empregada.
– Bom dia, Doutor Rui! – ela diz simpática.
– Bom dia, Jô!
– O coquetel será amanhã, está tudo certo, falta apenas sua secretária me ligar
para combinarmos... – A interrompo.
– Ligue no escritório e fale com ela, não quero saber sobre esse assunto. –
Pego minha pasta e sigo para a porta.
****
Aproveito minha ida ao Fórum para conversar com alguns amigos juízes,
passei algumas horas lá, tratei de algumas pendências, enfim, até que minha
manhã foi proveitosa. No final das contas, minha manhã foi muito melhor do
que ficar na minha sala.
Saio do Fórum e ligo para o Albuquerque.
Ele atende no segundo toque.
– Bom dia, Rui! Como vai? – ele diz secamente.
– Bem, e você Albuquerque?– respondo com o mesmo tom, sério e distante.
– Muito bem! Então o que o levou a me ligar? Está sumido há dias! – Sinto
malícia em sua voz, mas ignoro.
– Ando muito ocupado, cuidando dos meus clientes, enfim, gostaria de
convidá-lo para um almoço, o que você acha?
– Oh, talvez eu não consiga ir... – O sinto relutante.
– Nós precisamos conversar sobre o caso dos Martinez, eu ainda não engoli
o fato dele tirar o processo do meu escritório, e já fiquei sabendo que voltou
para o seu... – Faço um minuto de silêncio. – Se você tem a intenção de
acabar com nossa parceria fique à vontade, mas vamos formalizar isso, não
aceito retaliação, isso é baixo e antiprofissional.
– Desculpe, do que você está falando? – Ele finge estar indignado.
– Você sabe, Albuquerque, você é macaco velho, mas eu não sou idiota, e
tenho um pai influente também! – Ele fica em silêncio.
– Tudo bem, acho que precisamos conversar... – Ele faz uma pausa. – Você
magoou demais minha filha, Rui, estou tendo problemas com ela. Você não
foi homem o suficiente para romper com seu relacionamento com
hombridade, rompeu feito um moleque irresponsável, não é assim que se age.
Penso sobre o que a Jackeline me disse, ela tem razão, não agi como homem.
– Eu sei, estava sob forte pressão, da sua filha, obviamente. Ela forçou esse
casamento, eu não queria, não me sinto preparado para assumir um
matrimônio... – Ele me interrompe.
– Você tem 35 anos! Quando você acha que terá idade suficiente para
assumir um matrimônio?! – ele diz alterado.
– Não sei, talvez nunca. Não acredito no matrimônio, conduzo todos os dias
divórcios, as pessoas parecem que se casam já pensando em se separar, não
quero isso para mim.
O ouço bufar no telefone.
– Sou casado há 24 anos, e sou feliz – ele diz.
– Não acredito nisso, é mentira. A Priscila sempre me falou que o casamento
de seus pais é de fachada, vocês não dividem a mesma cama, você tem
amantes, e ela também.
– Que absurdo é esse, do que você está falando? – ele diz nervoso.
– Eu não disse nada, sua filha que disse! – respondo com ironia.
– Rui, acho melhor conversarmos num restaurante discreto e acertarmos
nossas arestas. Vamos jantar no All Seasons essa semana.
– Ok, me confirme o dia e horário. – Desligo e respiro.
Vai ser foda, mas tudo é foda, então que se foda, vou assumir as merdas que
fiz.
Capítulo 39
JACKELINE BARTOLLI
Não nos falamos mais depois do meu rompante de raiva, e ele não saiu mais
daquela maldita sala.
Mando um último e-mail para ele, preciso ir para a porra de seu apartamento,
tem o coquetel, e eu preciso ajudar sua empregada com os últimos detalhes.
“Preciso sair agora, sua empregada está me esperando para checarmos os
últimos detalhes do coquetel.”
Vejo uma resposta sua em seguida, fecho os olhos, respiro e o abro:
“Estou saindo agora, me espere que iremos juntos.”
Merda! – esbravejo mentalmente.
Logo a porta de sua sala abre, ele passa por mim como se eu fosse um vaso
de flor, o olho atônita.
– Vamos, Jackeline! – ele diz ríspido, na porta da sala.
Reviro meus olhos e o xingo mentalmente.
– Idiota!
Pego minha bolsa e o sigo, passo pela recepcionista que nos olha
indiscretamente.
– Nos vemos daqui a pouco no coquetel, Karen! – ele diz para ela, e vejo o
sorriso de satisfação da vaquinha.
O sigo em silêncio, entro em seu carro e permanecemos como se fossemos
dois desconhecidos dentro de um ônibus.
Ele estaciona seu carro na garagem do seu prédio, sai do carro e anda para o
elevador, me ignorando literalmente.
Que ódio de você, Rui. – Penso.
Enquanto subimos no elevador, ele mexe irritantemente em seu celular,
fazendo questão de me mostrar que se diverte com o que está escrito.
– Idiota! – Puts, falei alto, era só para pensar, mas acabei falando, ele me
encara bravo.
– Você me chamou do que? – ele diz desafiador.
– Idiota! – falo sem medo.
– Por que sou idiota? – Ele sorri de lado, se divertindo comigo.
– Você é idiota e ponto, não vou ficar te dando explicações! – falo raivosa,
mas a porta de seu apartamento abre, vejo muitas pessoas, um frenesi, uma
confusão, e resolvo ignorá-lo, saio à procura da Jô, e me esqueço dele.
****
Entro em seu quarto e olho ao redor para ver se não existem vestígios de suas
últimas trepadas.
Odeio a ideia de transar com ele sabendo que ele esteve aqui com outras
mulheres.
Sou ciumenta, possessiva e não sei o que estou fazendo nesse quarto, e na
vida desse homem.
Penso no Renato e me sinto mal com tudo isso, não menti para ele, disse que
estou confusa, não retornei sua mensagem.
Sigo para o banheiro, quero tomar um banho, estou cansada e suada.
Tiro minhas roupas, as penduro em um gancho, e sigo para a ducha.
Adoro tomar banheiro em seu apartamento, a ducha é maravilhosa, a água sai
forte e poderosa, relaxando todos os músculos que estão tensos.
Deixo a água quente e forte cair sobre meu rosto, apoio minhas mãos no
azulejo e relaxo os músculos do meu pescoço que estão tensos e doloridos.
Não ouvi quando ele entrou no banheiro, tão pouco quando ele entrou no box,
só me dei conta de sua presença quando ele abraçou meu corpo, senti seus
pelos macios em minhas costas e sua ereção contra meu corpo.
Apesar de surpresa, não me movi e nem reclamei, apenas me entreguei aos
seus beijos em meu pescoço, nuca, e a carícia de suas mãos em meus seios, o
roçar de seus dedos dentro de mim, fortes, poderosos e ágeis.
Ele sabe como me tocar, a intensidade, a velocidade e a pressão, em segundos
estou com o coração acelerado, a respiração descompassada, gemendo, e
gozando...
– Oh, Rui!!! – Gemo alto. – Hummm, ahhh, assim, Rui...
– Goza pra mim, minha deusa! – Ele sussurra em meu ouvido, ao mesmo
tempo em que chupa e morde minha orelha.
Viro para olhá-lo, enlaço seu pescoço e começo a beijá-lo, insana, louca e
possessiva.
Eu não quero dividi-lo com ninguém, eu o quero só para mim! – Penso aflita,
e passo toda essa aflição para o meu beijo.
Ele levanta uma de minhas pernas e me penetra, enrosco-me ao seu corpo, e
deixo-o nos levar para outro mundo.
Ele urra, geme e goza.
– Você é minha, Jack, só minha! – ele diz contra meus lábios, sem folego.
– Serei só sua se você for só meu – respondo, abro os olhos e o encaro.
– Eu sou só seu – ele diz me olhando intensamente.
– Não é, de ontem para hoje você transou com duas mulheres, isso não é ser
só meu! – Me afasto dele.
– E você transou com o gay do seu ex-namorado. – Ele desliga a ducha e sai
do box.
– É diferente, fomos namorados, havia sentimento entre nós, não sou uma
piranha que sai transando com homens desconhecidos – falo magoada.
– Você não respeitou o fato de estarmos juntos – ele diz de costas enquanto
se enxuga.
– Rui, você não é o tipo de homem que pode cobrar isso de uma mulher, você
é mulherengo, odeia relacionamentos, e não quer nada de mim além de sexo.
Ele se vira para me olhar, parece irado com o que eu disse.
– Eu te desrespeitei enquanto estávamos juntos? Você ficou sabendo que eu
saí com alguém, transei com alguém? Você não me conhece de fato,
Jackeline, você acha que sabe tudo sobre mim, mas você não sabe! – Ele sai
do banheiro, parece enfurecido comigo.
Pego uma toalha, me seco de qualquer jeito, a enrolo no meu corpo e volto
para o seu quarto, ele se deitou em sua cama, e olha para aquele maldito
celular.
Oh, que vontade de pegar esse aparelho feito pelo diabo e o jogar daqui de
cima, seria um prazer vê-lo se espatifar lá embaixo.
– Marcando algum encontro, Rui? – falo possessa.
Ele olha para mim, sobrancelhas levemente arqueadas, coloca o celular sobre
a mesinha de sua cama, levanta e segue até mim, e sinto medo, esse homem
tem um jeito que às vezes me amedronta.
Tento não me mover e não mostrar que estou temerosa.
Ele para a minha frente, seu corpo encostado ao meu, ele levemente inclinado
sobre mim, só falta me engolir com seus olhos.
– Você está me irritando com essa história. – Ele rosna, arranca minha toalha
e a joga na lua.
– Eu gosto quando você fica irritado – falo com deboche, confesso, adoro
irritá-lo.
Ele agarra em meus cabelos me fazendo arquear meu rosto, segura minha
cintura contra seu corpo e fala:
– O que mais você gosta, Jackeline? – Ele chupa e morde meu pescoço,
roubando gemidos desesperados da minha garganta.
– Eu gosto quando você me fode, com força! – falo, sussurro, gemo.
– E quando bato na sua bunda gostosa? – Um tapa, uma massagem, e já me
sinto toda molhada.
– Dói, mas eu gosto! – Sussurro entregue a ele.
Jesus, desde quando sou masoquista?
– Oh, Jackeline, você é uma diaba em forma de mulher. – Ele me joga na
cama, segura minhas mãos acima da minha cabeça e me olha com aquela
expressão que me dá medo, mas me excita. – O sexo com aquele merda foi
bom? – Ela fala, quero dizer, ele rosna, parece insano de ódio.
– Não! – Sussurro. – Com você é bom...
– Então, por que você transou com ele? – Ele vocifera, parece enlouquecido
de ciúmes, e isso só me deixa mais louca por ele.
– Não sei, estava confusa – falo baixo, olhando-o profundamente.
– Você nunca mais irá transar com esse cara, você me entendeu? – ele diz
possessivo, parece um homem das cavernas.
– E você, nunca mais vai transar com a piranha da sua recepcionista? – falo
ciumenta.
– Eu não transei com ela, só queria te provocar – ele diz, e segura um sorriso
de canto de boca.
– Você está mentindo, vocês ficaram uma hora naquela sala – falo raivosa.
– Não fala de novo que sou mentiroso, não vou ter mais paciência com isso –
ele diz bravo.
– Tá bom, então você não comeu ela? – falou com um sorriso de satisfação.
– Não, Jackeline – ele diz sorrindo.
– Oh, Rui, isso me deixa tão feliz – falo sorrindo.
– E o que ganho com isso, por ter sido fiel a você? – Ele esfrega sua ereção
em minha barriga.
– O que você quiser! Sou sua, Rui.
Ele muda sua expressão, parece um animal selvagem, então invade minha
boca com sua língua macia, quente, ele parece louco, desesperado,
machucando meus lábios, puxando meus cabelos, e me penetra, sem
delicadezas, ou romantismos.
O Rui é meio bruto, selvagem, mas eu adoro isso, adoro como ele faz sexo.
Ele goza ruidosamente, parece um leão nervoso e desaba sobre mim.
Meu Jesus Cristinho, que homem!
Beijo seus cabelos, acaricio suas costas, eu não queria nunca mais que ele
saísse de mim.
Como adoro esse homem! – Penso, sentindo um gelado no peito.
Ele acalma sua respiração, se deita ao meu lado e fica calado.
Junto meu corpo ao seu, ele me abraça, me puxa para junto dele.
– Tudo bem? – pergunto insegura, odeio quando ele fica assim.
– Tudo! – Ele dá um sorriso contido, beija minha testa. – Preciso dormir,
Jack, não dormi nada a noite passada.
Sorrio.
– Eu também, fiquei a noite inteira brigando com você, em sonhos, é claro. –
Me inclino sobre ele rindo.
– Já tinham me dito que as italianas eram geniosas, mas eu não imaginava o
quanto! – Ele dá um sorriso contido, parece cansado.
– Te adoro, Rui! – falei, não era para falar, mas não aguentei segurar o que
sinto por ele, é maior do que mim.
Ele sorri.
– Eu também! – ele diz sorrindo.
Me inclino mais sobre ele, beijo seus lábios suavemente, carinhosamente, um
sentimento forte cresce dentro de mim, me preenche, me invade, é bom
demais estar com ele.
Descanso meu rosto ao lado do seu, grudada a ele, beijo suas bochechas
repetidamente, delicadamente, sentindo seu cheiro gostoso de creme de
barbear. Ele segura minha mão sobre seu peito, aninhando-a em meio a sua.
Sinto uma paz tão grande ao lado dele, é tão diferente de quando estou com o
Renato.
– Boa noite, minha deusa! – Ele sussurra com sua voz grossa.
– Boa noite, meu deus grego! – falo e dou risada.
Ele ri, vira seu rosto de lado e beija meu nariz.
Capítulo 40
JACKELINE BARTOLLI
E stou dormindo profundamente, envolvida num sonho muito bom, meu pai
faz parte desse sonho, ele está simplesmente me conduzindo para o altar,
meu vestido de noiva é lindo e escandalosamente sensual, do jeito que o
Rui gosta que me vista.
Não vejo meu noivo no altar, mas sei que é o Rui, sinto que é com o Rui que
estou me casando, estou com um sorriso no rosto, olho para meu pai, ele
parece tão feliz e realizado.
A música que toca ao fundo é a mesma que ouvi no carro do Rui, uma música
linda tocada apenas no piano. Meus olhos enchem de lágrimas, esse deve ser
o momento mais feliz da minha vida, eu vou me casar com o Rui e estou
muito apaixonada por ele.
Olho para as pessoas ao redor da igreja, todas sorriem e gesticulam palavras
de carinho e apoio, volto a olhar para o altar, e o sorriso que estava em meu
rosto se esvai, não estou indo me casar com o Rui, quem está no altar é o
Renato.
Estanco no meio do caminho, meu pai me olha confuso.
– O que foi, minha princesa? – ele diz confuso.
– Pai, o que o Renato está fazendo no altar? Irei me casar com o Rui! – falo
sentindo meu coração apertar no peito.
– Jackeline, o Rui se casou com sua antiga namorada, a Priscila, você não se
lembra? – ele diz com seus olhos emocionados.
– Não, é mentira, pai, eles romperam, ele não se casou com ela! – digo
apavorada.
– Casou sim, olhe para o altar, ele é seu padrinho de casamento, junto com
sua esposa.
Olho novamente para o altar, e vejo o Rui e a Priscila de mãos dadas, e um
bebê no colo dele, ele sorri, parece muito feliz.
Meus olhos inundam de lágrimas.
– Eu não posso fazer isso. Eu não amo o Renato, eu amo o Rui! – Giro em
meus calcanhares, levanto meu vestido para não tropeçar, e começo a correr
para fora da igreja, mas algo me segura, não consigo me mover, então ouço a
voz do Renato, me viro e o vejo.
– Jack, não faça isso comigo, eu te amo, vamos ser muito felizes! – ele diz
com seu olhar de piedade.
– Eu não posso, eu não amo você! – respondo chorando.
– Não precisa me amar, eu vou te dar tudo o que você quer, uma família,
filhos, um marido... – Ele sorri, vejo uma expressão estranha no seu rosto,
uma pessoa chega ao seu lado, olho e vejo o Leonardo, ele beija o rosto do
Renato e me olha.
– Seremos uma família, Jack, eu, você e o Renato. – O Renato beija os lábios
do Leonardo.
– NÃOOOOO!!!!!! – Grito, literalmente, e acordo suada, assustada e com o
coração na boca.
A voz do Rui me tira do meu pesadelo.
– O que foi, Jack?– Ele acende o abajur, alisa meus cabelos, e limpa as
lágrimas que estão no meu rosto. – Você teve um pesadelo, foi isso?
Olho para ele, ainda vivenciando a sensação horrível do pesadelo.
– Foi, foi um pesadelo horrível! – Cubro meu rosto com as mãos.
Sinto seus braços ao redor do meu corpo, aninho meu rosto em seu peito,
cheiro-o e o beijo diversas vezes.
– O que foi, Jack, quer falar sobre o seu sonho? – ele diz beijando meus
cabelos.
– Não, eu não quero! – digo aflita.
Ele se deita, trazendo meu corpo para junto do seu.
– Então, vamos voltar a dormir. – Ele me abraça forte junto a ele. – Está tudo
bem, foi só um sonho, dorme, Jack.
****
Meu ramal toca, vejo que é o Rui, e pelo horário provavelmente é para
almoçarmos.
– Oi, chefinho! – Brinco ao atender.
– Vamos almoçar? – ele diz com um tom animado. – A gente compra uma
roupa para você, e aquelas algemas!
Seguro meu riso, mas acabo explodindo em uma risada.
– Ah, as algemas! – falo rindo.
– Isso, vamos providenciar nossos acessórios, aquele apartamento hoje vai
pegar fogo! – Ele diz com um tom sacana.
Mas, aí me lembro que tenho casa, e que não posso abandonar minha mãe.
– Rui, não posso hoje! – falo com cuidado.
– Porque, porra? – Afasto o telefone do meu ouvido, ele gritou, é isso?!
– Ei, eu não admito que você grite comigo, ouviu?! – falo nervosa.
– Desculpe! – ele diz mais calmo. – Eu te levo para sua casa, mas mais tarde,
depois de jantarmos, enfim... – Ele fala cauteloso.
Meu padrinho Cícero, de onde saiu esse homem? Ele está muito mal-
acostumado, pelo visto a mulherada se curvava a ele como se ele fosse um
Deus.
Cacete, que gênio do cão ele tem!
Eu adoro ficar com ele, então vou abrir uma exceção, mas não será sempre,
ele não pode achar que manda em mim.
– Tá bom! – respondo mais calma.
– Desculpe, Jack! – ele diz de novo.
– Está desculpado, só não grita de novo comigo, não sou mulher de
malandro. – Desligo o telefone.
Em cinco minutos a porta abre e ele sai poderoso como só ele pode ser.
– Vamos, italiana brava – ele diz divertido.
– Eu, brava, acho que não – falo provocativa, pego minha bolsa, levanto e ele
me abraça.
– Já pedi desculpas, desmancha a cara feia – ele diz de um jeito divertido, me
levando a pensar que ele tem dupla personalidade.
Forço um sorriso.
– Está bom assim? – Ele segura meu rosto e me beija, e morde meus lábios. –
Adoro seu jeito, Jack.
– Eu também gosto do seu, mas só o lado bonzinho, aquele outro que gritou
comigo, dispenso. – Passo por ele e ganho um tapa na bunda. – Ei, tá bem
saidinho, posso te processar por assédio! – Brinco.
Ele dá risada, passa por mim, segura minha mão e me puxa para as escadas.
Puxo o ar, não sei se estou preparada para assumir esse relacionamento na
frente de todos do escritório.
Passamos pela recepcionista e ela não conseguiu disfarçar sua cara de espanto
ao nos ver de mãos dadas, ela simplesmente focou em nossas mãos da forma
mais descarada possível.
– A Karen é fofoqueira, daqui a algumas horas todos saberão que saímos de
mãos dadas! – digo ao entrarmos em seu carro.
– Você se importa com isso? Eu não! – ele diz enquanto manobra seu carro.
– Eu não me importo, só estou te dizendo – respondo cuidadosa, mas por
outro lado feliz.
Acho que ainda não caiu a ficha, estou namorando com meu chefe, e ele é
tudo de bom, só espero que isso dê certo.
****
Como eu imaginava, o Rui escolheu uma dessas lojas de grife feminina para
comprar minhas roupas novas.
Praticamente ele escolheu tudo que comprei, porque confesso: número um,
não tenho gosto, e número dois, me sinto mal de escolher qualquer coisa,
como se estivesse assaltando a carteira dele.
Nunca me vesti tão bem em toda minha vida, e nem com roupas tão caras, o
valor das minhas roupas envergonham meu guarda-roupa, que é um modelo
de 1.940, assim como minha cama, minha mãe adora coisas provençais
(velhas!), então tudo em nossa casa é antigo como minha avó, e a única coisa
que os deixa mais bonitinhos é que foram pintados de branco.
Tudo bem, mas não vou me fingir de rogada, estou feliz com minhas roupas
novas, e com o cara incrível que conheci, que não mede esforços para me
agradar, nunca fui tão mimada em minha vida, o que me faz pensar que o
Renato me tratava muito mal.
Não, não posso fazer isso, comparar pessoas, isso é feio.
Enquanto o Rui paga as minhas compras, checo meu celular, e vejo a
centésima mensagem do Renato.
Abro a mensagem:
“Jack, acho que já te dei tempo o bastante para você pensar. Chega desse
joguinho, tivemos uma crise em nosso relacionamento, mas a gente se ama,
sempre se amou. Por favor, esquece a história do Leonardo, eu juro por
minha família, não sou gay, sou homem, gosto de mulher, da minha mulher.
Te prometo que o ano que vem nos casamos, são só seis meses, você já pode
começar a ver as coisas, agora é pra valer. Por favor, me liga, caso
contrário ficarei de plantão em seu apartamento até que você fale comigo. Te
amo.”
Acabo de ler e me assusto ao ver o Rui ao meu lado, lendo a mensagem.
– Que porra é essa, Jackeline?! Que história é essa de se casar o ano que
vem?! – ele diz com uma expressão tensa no rosto, sua voz sai mais grossa e
mais brava.
Respiro fundo, ele não pode ficar lendo minhas mensagens, não faço isso
com ele.
– Rui, é feio isso que você fez, eu não fico escondida bisbilhotando suas
mensagens! – Guardo o celular na bolsa, mas ele pega no meu braço.
– Responde essa porra agora! – ele diz com seu olhar estreito e perigoso.
– Como assim? – falo atônita.
– Responde essa mensagem, fale que não ama mais ele, que ele é gay sim, e
que não tem porra nenhuma de casamento, e que você está comigo, Rui
Figueiredo, e que se ele continuar mandando mensagens para você, vou
mostrar para ele o que um homem de verdade faz.
Arregalo meus olhos.
– O que você vai fazer com ele? – pergunto preocupada.
– Com certeza não é enfiar meu cacete no rabo dele! Pega essa merda e
responde agora – ele diz irritado.
É, acho melhor eu responder a mensagem, o Rui parece meio nervoso, talvez
ele enfie um cabo de vassoura no rabo do Renato.
Pego o celular, olho para ele meio temerosa, ele não é um ogro, mas ele é
bem possessivo. Isso me excita nele.
Oh, meu Deus, porque acho que tudo me excita nele? A questão agora é
séria!
Não consigo deixar de sorrir, porque minha mente perversa está sempre
pensando sacanagens com o Rui.
– Por que você está rindo, Jackeline? – ele fala bravo.
Abraço seu pescoço num rompante de loucura, e aperto, aperto muito meus
lábios contra os seus, adoro tudo nesse homem.
Ele me afasta, delicadamente.
– Não me enrola, Jack, escreve essa merda, eu quero ver o que você vai
escrever! – Ele gesticula nervoso.
– Eu gosto do seu jeito possessivo! Me excita, sabia? – Olho para ele de lado,
ele ri, balança a cabeça.
– Escreve, Jackeline! – Ele volta a ficar sério.
– Calma, meu celular é meio lentinho! – Abro o contato do Renato, não quero
ser grossa com ele.
Penso um pouco e começo a escrever.
“Renato, não estou fazendo joguinho, acho que agora é para valer, acabou.
Sinto muito, gosto muito de você, sempre serei sua amiga, quero bem a você,
desejo que você seja feliz, encontre seu caminho, e que ache uma pessoa que
te faça bem, feliz e realizado. Obrigado pelos momentos felizes que passamos
juntos. Eu vou sempre te amar, como amigo, conte sempre comigo.”
Quando vou apertar o botão de enviar o Rui me assusta.
– Não envia, eu quero ler! – Ele pega o celular da minha mão. – Onde você
fala sobre mim aqui? Não estou conseguindo achar. – Ele franze sua testa. –
Essa mensagem não está legal, tem que ser mais incisiva, parece carta de
amor! – Ele vira seu rosto de lado e me olha enfezado.
– Não achei necessário ficar dando satisfações da minha vida – respondo
irritada. – Não quero atacá-lo com essa história, ele já nos viu juntos, sabe
que estou saindo com você, talvez nos veja novamente. – Coloco uma mão
sobre o rosto do Rui e acaricio. – Não gosto de magoar as pessoas, tenho
carinho por ele, apesar de tudo que aconteceu, não consigo ser vingativa.
Ele segura minha mão contra seus lábios e a beija carinhosamente.
– Não marque nada com esse cara, não vá a seu apartamento, não fique de
conversa escondida com ele, não vou aceitar isso! – ele diz sério.
– Tudo bem. – O olho com firmeza. – Você fará o mesmo por mim, não
ficará com conversa com suas periguetes? Se eu souber que você saiu com
alguém, eu nunca te perdoarei, Rui.
Ele me olha profundamente, parece pensar sobre nossa conversa, então diz:
– Fique tranquila, Jack, você tem minha palavra. Eu não sou um moleque. –
Ele pega em minha mão e sai andando a passos largos em direção aos
elevadores.
****
É final de tarde, olho no relógio, já passam das 18h, mas não vou apressar o
Rui, ele passou a tarde toda lendo essas porcarias desses processos.
Urgh, é muita coisa para ler, sinto até náuseas só de pensar, eu nunca poderia
ser uma advogada.
Ele me passou muitas coisas para fazer hoje, então aproveito enquanto ele
não sai de sua sala e termino alguns assuntos pendentes.
Meu celular vibra sobre a mesa, fecho os olhos, se for o Renato não posso
atendê-lo, o Rui pode sair da sala e isso pode gerar alguma confusão. O pego
para desligar, mas vejo que é a Carol, e respiro aliviada.
– Oi,Caroleta! – falo animada.
– Oi, Jack! Tudo bem? – ela diz um pouco estranha.
– Tudo e você? Tá meio estranha, Carol!
– Bom, vou logo ao assunto, a jararaca da recepcionista espalhou para o
escritório todo que você é o novo caso do Doutor Rui. É verdade? Você não
iria me contar isso?
Respiro fundo.
– Essa menina é uma cobra venenosa! – falo sem paciência. – Não sou o
novo caso do Doutor Rui, sou sua namorada! – falo feliz, com um sorriso no
rosto.
– Que?! – Sua voz sai estridente. – Desculpa, Jack, mas isso não faz muito
sentido.
– Por quê? Ele disse que somos namorados – falo feito uma idiota
apaixonada.
– Jack, o Doutor Rui é um mulherengo, a única namorada que ele teve e que
recebeu esse título foi a Priscila.
Reviro meus olhos, odeio aquela Priscila, mas isso não vem ao caso.
– Foda-se, Carol, estamos juntos, não importa o título que você queira dar.
Dormi em sua casa de ontem para hoje, temos saído sempre, e ele me fez
romper definitivamente com o Renato. Acho que isso significa alguma coisa,
não?
– Sei lá, só não quero que você se machuque. Não confio nele, Jack! – Seu
tom é sério. – Toma cuidado para não se machucar, ele é um homem
instável, rico demais, poderoso demais, isso mexe com o raciocínio da
cabeça de cima e de baixo.
Respiro e inspiro, ela me deixou preocupada, mas balanço minha cabeça e
tento não pensar muito sobre isso, não sou inocente, eu sei quem ele é,
embarquei nessa por livre e espontânea vontade, e se der alguma coisa
errada, não foi por falta de gente me avisando.
– Fique tranquila, estou me divertindo um pouco, Independente de qualquer
coisa, ele é um homem incrível, Carol, me faz feliz, me faz sentir linda, nunca
me senti assim com ninguém.
– Oh, Jack, você está caidinha por ele, espero de coração que ele não te
machuque, porque se isso acontecer, eu o machucarei, e será fisicamente!
Dou risada, ela é engraçada, parece um irmão bravo.
A porta abre e sinto o cheiro do homem mais perfumado do mundo.
– Vou desligar, depois nos falamos – digo apressada, e o vejo se
posicionando na minha frente, enorme e desafiador, sua cara não é boa, ele
é ciumento demais. – Beijos, Carol! Boa noite!
Desligo.
Olho para ele sorrindo.
– Era a Carol, mandou um beijo para você! – Brinco.
Ele relaxa suas feições.
– Vamos? – ele diz impaciente.
– Vamos! – digo animada. – Não vejo a hora de te prender ao pé da cama.
Ele dá uma risada gostosa, e relaxada.
– Sou cachorro para ficar no pé da cama? – ele diz rindo.
– Você já deve ter sido chamado de cachorro por algum caso ofendido, tipo a
Helena! – Pego minha bolsa.
Ele segura em minha mão.
– Não, ninguém me chamou de cachorro, talvez, filho da puta, desgraçado, e
outros nomes mais pesados – ele diz divertido.
Descemos as escadas, a fofoqueira já foi embora, então respiro aliviada. Logo
estamos em seu carro em direção ao seu apartamento.
Estarei mentindo se disser que não estou um pouco ansiosa, nunca usei nada
mais ousado com namorados, essa será a primeira vez. Espero que dê tudo
certo.
****
E ushopping.
e meu pai estamos almoçando em um restaurante sofisticado, dentro do
Confesso que fui eu que escolhi o local, fica perto do escritório do Rui, e
sugeri este restaurante pensando nele, na possibilidade de nos encontrarmos.
Já faz mais de uma semana que ele terminou comigo, ando sensível, abalada
emocionalmente. Eu esperava que ele fosse me procurar, que fossemos nos
acertar, mas ele simplesmente me ignorou como se eu fosse apenas mais uma
de suas amantes.
– Vamos pedir um café, querida? – Ouço a voz de meu pai, e desperto de
meu pesadelo pessoal.
– Pode pedir, papai! – O garçom anota nosso pedido e sai, volto a olhar para
o nada e então eu o vejo.
Existem pessoas que tem o poder de iluminar nosso dia, o Rui sempre foi
assim para mim, desde que o conheci, aos meus 16 anos.
Eu era apenas uma menina para ele, temos uma diferença grande de idade,
mas aos meus 16 anos eu já sabia que era com ele que queria me casar.
Ele nos cumprimenta friamente, distante, apenas um aperto de mão.
O que fiz para perdê-lo de uma hora para outra? O que aconteceu?
Meu pai e ele se cumprimentam rapidamente.
– Que prazer te ver, Rui! – Meu pai diz, ele sempre gostou muito do Rui.
O Rui é aquele tipo de profissional que é referência no que faz, sua
competência, astúcia e percentual de sucesso, o levou a ser considerado o
melhor na área da família, sua especialidade. Mas, ele é bom em qualquer
assunto jurídico, ele é lindo, competente, rico, e solteiro. O sonho de qualquer
mulher e eu o tinha, em três meses nos casaríamos, mas aí...
– Venha se sentar conosco, Rui! – meu pai diz animado.
Eu tenho pressionado meu pai para usar sua influência com o Rui, a meu
favor, é lógico, mas isso não tem surtido efeito.
– Obrigado, Albuquerque, mas eu estou logo ali! – Ele olha para uma mesa e
então eu a vejo.
Toda mulher tem um sexto sentido, o meu me diz que essa piranha é a
responsável pela mudança de rumo da minha vida.
De noiva do cara mais almejado em meu círculo de amizades, passei a ser a
noiva largada três meses antes do casamento.
Todo o meu ódio e frustração tem nome, e se chama Jackeline, a secretária
piranha do Rui.
Olho para ela e não consigo disfarçar o ódio que sinto por essa mulher.
Como ele pode me largar por uma mulher desqualificada como essa?
Vagabunda, deve ter colocado um litro de silicone para ficar daquele jeito.
Ela é horrível, só tem bunda e peito, sou muito melhor do que ela!
O que ele viu naquela rampeira?
Ele se despede de nós e volta para a mesa, não consigo desviar meus olhos
deles. Eu não acredito que fui trocada por uma secretária.
– Vamos filha, e, por favor, pare de olhar para aquela mesa. – Papai se
levanta e o sigo em direção a porta.
Sinto um nó no estômago, não consigo me conformar de perdê-lo. Eu vivi
minha adolescência sonhando com esse cara e consegui conquistá-lo. Como
pude perdê-lo a alguns meses de nosso casamento?
Lágrimas enchem meus olhos.
– Priscila, esqueça o Rui, por favor! – meu pai diz pela centésima vez.
– Não consigo. – Lágrimas inundam meus olhos. – Eu o amo, pai, e o quero
de volta.
– Dê um tempo a ele, o deixe se divertir um pouco, logo ele verá que você é a
pessoa certa. – Ele me olha com carinho. – Aquela mulher é só uma
distração, você será a esposa.
Sorrio e tento acreditar nisso.
– Vamos resolver isso, por enquanto se acalme. – Me aninho no peito do meu
pai, e tento acreditar no que ele diz.
Saímos do restaurante, e por mais que eu não queira, volto a olhar para o
interior do ambiente através das paredes de vidro do local.
Os dois se olham como se fossem namorados, ele segura sua mão e a leva aos
seus lábios e a beija.
Sinto uma dor infinita em meu peito.
– Priscila, vamos! – meu pai diz impaciente, e me dou conta que estou parada
no meio do corredor do shopping, olhando para os dois como uma voyeur
masoquista.
– Eu odeio essa mulher, pai! – Rosno, e tenho vontade de entrar naquele
lugar e matá-la. – Ela não vai tirar o Rui de mim.
– Priscila, por favor, tenho compromissos hoje à tarde, acho melhor você ir
para casa, descansar um pouco, você não está bem. – Sinto o braço de meu
pai em minha cintura, ele me puxa em direção aos elevadores.
– Pai, você precisa me ajudar a acabar com isso, use a parceria que você tem
com ele para fazê-lo reatar comigo. Suborne, use suas armas, pai, o senhor
não é santo, eu sei que você tem como colocar o Rui contra a parede! – falo
insana.
– Priscila, eu não posso usar minha influência para fazer alguém se casar com
você, isso é loucura! – Ele me olha nervoso. – Você precisa usar suas armas
femininas para reconquistá-lo, seja lá o que essa mulher fez, você pode fazer
melhor! Você é linda, inteligente e sedutora, só precisa deixar de lado esse
seu lado infantil e inseguro.
Me solto dele, odeio que falem assim comigo.
– Não sou infantil, muito menos insegura! – Esbravejo.
– Ok, então seja mais mulher, e menos menina, eu sei que você só tem 23
anos. Essa mulher é mais velha, parece experiente, o Rui é um homem de 35
anos, ele não é mais um garotão, não adianta tratá-lo como se ele fosse um de
seus antigos namorados.
Penso um pouco sobre isso.
É fato que tenho dificuldades de lidar com o Rui, em todos os sentidos.
Morro de ciúmes dele.
Acho que não consigo satisfazê-lo sexualmente, ele vivia atrás de outras
mulheres, não vou me enganar.
Ele tem uma energia sexual que não o acompanho, talvez às vezes também
não goste das coisas que ele faça. Que ele nunca saiba disso, mas sua atitude
na cama me assusta, ele é incandescente sexualmente, às vezes, chego a
pensar que sou frigida, não consigo sentir prazer, chegar ao orgasmo, mesmo
que ele me estimule muito.
Me sentia toda dolorida depois de uma transa com ele, mas ele queria a noite
inteira, eu ficava exausta, ele nunca cansava, parecia um louco.
Conversei com diversas amigas, elas acham isso o máximo, acho até que
gostariam de me trair só para sair com o Rui, talvez algumas tenham feito
isso. São um bando de vadias, loucas para dar para o advogado solteiro e rico.
Preciso me abrir com ele, dizer das minhas dificuldades, pedir paciência para
ele, só quero ser amada, talvez se ele fosse mais gentil!
Talvez eu deva procurar minha ginecologista, pedir conselhos, sei lá, estou
muito confusa.
Capítulo 43
JACKELINE BARTOLLI
D escanso meu rosto sobre o peito do Rui e sorrio, ele me enganou, e não
pude usar a droga das algemas nele.
Mas não me importo, eu vou enganá-lo, e quando ele menos imaginar, estará
algemado.
Me aninho mais ao seu peito, dou beijos e cheiro ele.
Adoro esse homem!
Ele pediu aqueles combinados japoneses para jantarmos, e não saímos do seu
quarto desde que chegamos ao seu apartamento, transamos, tomamos banho e
comemos aqui.
Somos ninfomaníacos, está provado, não vou fugir da realidade.
Talvez eu seja masoquista, ainda não tenho certeza.
Dou risada sozinha de novo.
– O que você tanto ri, Jack? – Levanto meu rosto e o vejo com uma cara de
riso.
– Estava pensando algumas coisas engraçadas. – Me debruço sobre seu peito.
– Com você, algumas ideias que estou tendo. – Torço meus lábios.
Ele se levanta rindo.
– Quer que eu te leve para sua casa? – ele diz em pé, nu e glorioso.
Que homem, papai do céu!
– Não quero te incomodar – falo timidamente, fico com dó dele, é tão longe.
– Você não me incomoda, vou dormir com você. – Ele segue para seu closet.
Vejo a algema em cima da mesinha ao lado da sua cama, corro e pego, e
coloco junto com minhas coisas.
Dou risada sozinha, parecemos duas crianças.
O sigo até o closet.
– Você vai passar a noite comigo em meu humilde quarto? – Faço charme,
abraçando as suas costas, beijando sua pele.
– Eu gostei muito do seu quarto, ele tem seu cheiro, sua cara... – ele diz
carinhosamente.
– Tenho cara de velha, é isso? Meu quarto é provençal, provençal na língua
dos pobres, é coisa velha e antiga. – Passo minhas mãos em seu peito peludo.
– Eu acho bonito e esse tipo de móvel é romântico. Você é uma mulher
romântica, estou certo? – Ele me olha sobre seu ombro, passa uma camiseta
por sua cabeça.
Me coloco a sua frente.
– Sou romântica, muito romântica! – O encaro.
– Eu sei disso. – Ele acaricia meu rosto e me olha intensamente. – Não sou
muito romântico, Jack, mas estou me esforçando para não te decepcionar.
Sorrio feliz, eu já percebi que ele faz coisas que eu gosto, jantares românticos
à luz de velas.
– Você é o máximo, sabia? – Me esgueiro e o beijo suavemente.
– Não precisa dizer, eu já sabia. – Ele ri de sua piadinha, e ganha uma
mordida nos lábios.
– Se veste, Jack, o caminho até sua casa é longo, e ainda iremos brincar um
pouquinho mais de papai e mamãe – ele diz debochado.
– Vou avisar minha avó que hoje é dia de tomar o calmante. – Dou risada e
saio apressada de seu closet.
Me visto rapidamente, coloco as algemas na parte de trás da saia, nas minhas
costas. Coloco o blazer para disfarçar e dou risada sozinha.
Se ele pensa que não irei prendê-lo, ele está muito enganado.
– Rindo de novo, Jack? – ele diz descontraído.
– Sou uma pessoa feliz, por isso estou sempre rindo. – Coloco meu sapato e
sigo até ele.
Ele pega uma sacola e sai na minha frente, possivelmente são suas roupas de
trabalho.
É engraçado como ele é grudentinho, e eu adoro isso, adoro dormir com ele.
Ele é meu ursinho de pelúcia, bem gostoso por sinal.
****
Eu já havia avisado a minha mãe que o Rui viria dormir comigo essa noite,
então não foi surpresa ao chegar e ver que todas as minhas companheiras de
apartamento estavam acordadas.
Chegamos mais ou menos às 23h, bem tarde para o costume delas.
Enquanto coloco a chave na porta, recebo beijos em meu pescoço.
Eu já entendi mais ou menos como o Rui funciona, então esses beijos são os
primeiros sinais de que ele quer sexo.
– Rui, se comporta. – Cochicho e abro a porta.
O barulho da televisão ligada denuncia que alguém está acordada, então entro
com o Rui em meu encalço, olho para a sala e vejo as três assistindo
televisão.
Reviro meus olhos.
– Oi, mamãe, oi, vovó, oi, titia! – falo tentando ficar calma diante da falta de
liberdade que tenho.
– Oi, querida! – Minha mãe se levanta e segue até nós. – Boa noite, Senhor
Rui – ela diz sem graça.
– Boa noite, Dona Amélia! Pode me chamar só de Rui, não sou tão velho
assim – ele diz todo sedutor, estendendo sua mão para ela, em seguida beija o
dorso de sua mão, e vejo minha mãe se derretendo.
Ele segue até a sala onde estão as outras duas anciãs, minha avó e minha tia.
– Boa noite, Dona Maria! – Ele segura em sua mão e beija, a deixando com
cara de tonta.
– Boa noite, meu filho, faz tanto tempo que um homem não beija minha mão!
– Acho que a vi vermelha.
Olho para minha mãe, e sorrimos uma para outra.
Ele segue até tia Ofélia, e faz o mesmo.
– Boa noite, Dona Ofélia! – ele diz e minha tia se derrete.
Ele lembrou o nome das duas, e isso é muito cavalheiro de sua parte.
– Espero que as senhoras não se incomodem que eu passe a noite com a
Jackeline – ele diz, caminha até mim e abraça minha cintura.
Minha avó se levanta e caminha lentamente até nós.
Sinto um frio no estômago, minha avó é muito indiscreta, tenho medo do que
ela vá falar.
– Imagine, fique à vontade, filho, só não façam muito barulho, tenho um sono
muito leve. Da última vez que você esteve aqui minha noite foi um inferno,
que disposição vocês dois tem... – E ela olha para o teto.
Reviro meus olhos, coloco a mão na boca e pigarreio.
– Vovó, por favor! – falo baixo, mas ela não ouve.
– Hemmm? Fale mais alto, Jackeline! – Reviro meus olhos.
– Nada, vovó... – Seguro a mão do Rui. – Vamos, Rui! – O puxo levemente.
– Que pressa, Jackeline! Deixe o rapaz conversar um pouco com suas
velhinhas – ela diz e sorri, segura na outra mão do Rui e o puxa para o sofá.
Oh, meu Deus, isso não irá dar certo.
Ele a segue com um sorriso, parece se divertir com isso.
Ela se senta e o faz sentar ao seu lado, coloca a mão na coxa dele, e tenho
medo, minha vovó anda meio esquisita ultimamente.
– Então, meu filho, quais são as suas intenções com a minha neta? – Ela diz,
e me desespero.
Sigo apressada até eles e me sento ao lado do Rui.
– Vovózinha, está tarde para bater papo, amanhã nos levantamos muito cedo,
deixe isso para outro dia.
– Oh, Jackeline, que falta de educação, sou a mais velha dessa casa, me
respeite, na ausência do seu pai eu preciso cuidar de você! Imagine que vou
deixar alguém se aproveitar da minha netinha, ela é muito boba, Senhor Rui.
– Ela continua falando feito uma metralhadora. – Aquele moço, o loiro,
enganou minha neta por quatro anos, eu nunca gostei daquele magrelo... –
Ela olha para o Rui seriamente. – Você pretende se casar com minha neta?
Jesus, o que eu faço?!
– Mamãe, está na hora de dormir. – Minha mãe pega na mão da minha avó e
tenta a tirar do sofá.
– Espere, Amélia, ele não me respondeu...
Não sei onde enfiar minha cabeça, minha avó assusta qualquer pretendente a
namorado.
– Vovó, por favor! – Imploro.
– Dona Maria, eu e a Jackeline estamos nos conhecendo, então falar em
casamente ainda é meio cedo, sabe? – O Rui responde cuidadoso.
– Como assim, vocês já dormiram juntos, já se conhecem muito bem, meu
filho. O que mais você quer saber sobre minha neta? Me pergunte que eu
falo! Ela é uma menina de ouro, dedicada, trabalhadora, puxou ao pai, não é
muito prendada, mas a Amélia dá um jeito nisso, em um mês essa moça está
pronta para se casar – ela diz levemente irritada.
Me desespero, pego em sua mão e ajudo minha mãe a tirá-la do sofá.
– Vovozinha, você vai espantar meu namorado, por favor, pare de falar essas
coisas. – Cochicho em seu ouvido.
– Jackeline, deixe de ser boba, esses moços de hoje precisam de uma prensa,
caso contrário ficam nesse lenga-lenga. Quero saber a data do casamento.
Eu minha mãe arrastamos a velhinha para o quarto dela, sob reclamações e
xingamentos.
– Mãe, dá um calmantezinho para ela, ela está agitada.
– Oh, Jackeline, não traga mais esse rapaz para dormir aqui, é só confusão.
Faço cara de brava.
– Ele vai dormir aqui quantas vezes forem necessárias, vocês precisam se
acostumar com isso. – Deixo as duas no quarto da minha avó, sigo para a sala
e me arrepio todo ao ver minha tia conversando com o Rui.
Meu pai eterno, hoje está difícil.
– Vamos, Rui, estou com sono – falo com um sorriso falso no rosto.
Ele me olha, sorri, segura a mão da minha tia e a beija, vejo ela suspirar.
– Boa noite, dona Ofélia! – Ele a deixa no sofá, sob o efeito de
enfeitiçamento que ele provoca nas mulheres.
Sorrio para ele.
– Desculpe, minha vovó tá meio. – Giro o dedo indicador ao redor da cabeça.
Ele ri, me dá um selinho, segura em minha mão e seguimos para o meu
quarto.
Caramba, que confusão.
****
Fecho a porta do meu quarto, quero dizer, apenas encosto, preciso resolver o
problema da fechadura, não dá para ficar trazendo o Rui aqui e fazermos
nossas festinhas de porta aberta.
Olho para ele e dou risada.
– Sua avó é bem direta, objetiva, gostei dela. – Ele ri. – Ela teria sido uma
grande advogada.
O abraço pelo pescoço e deposito muitos beijos em seus lábios, ele é tão
perfeito que até assusta.
Não vou mentir, o Renato passou por isso, mas ele não teve nem um
centímetro do jogo de cintura e delicadeza do Rui, ele foi tão grosso com
elas.
Ele é grosso, um perfeito ogro.
– Obrigada, Rui, pela paciência, elas são idosas, não sabem o que dizem. –
Tento disfarçar.
Ele me olha com um sorriso.
– Sua avó sabe o que está falando, ela quer te casar e pronto! – Ele me encara
com aqueles olhos sedutores.
– Vamos esquecer minhas anciãs, agora quero só pensar em você, e sem
roupa. – Puxo sua camiseta sem maiores cerimônias, mostrando aquele tórax
lindo, e arrancando uma risada gostosa do meu deus grego.
– Cheia de atitude – ele diz parado a minha frente, apenas olhando enquanto
tiro sua calça, o sapato, e em segundos o meu deus grego está nu em pelo, do
jeito que gosto de vê-lo.
– Não gosto de te ver de roupa. – Sorrio maliciosa.
– Nem eu a você. – Ele tira meu blazer, puxa a blusinha, e graças a Deus já
coloquei as algemas na bolsa, caso contrário ele as veria agora.
Agora estamos os dois nus, nos beijando loucamente no meio do meu quarto.
De repente ele me ergue, me coloca em cima de minha escrivaninha, empurra
tudo que está sobre ela, e me penetra.
– Está com pressa, Rui? – Sussurro de olhos fechados.
– Um pouco, gostosa, talvez essa história de casamento tenha um efeito
contrário em mim, ao invés de me brochar, me deixa mais excitado.
Enlaço sua cintura com minhas pernas, me apoio na mesinha e
enlouquecemos um ao outro.
– Não faz barulho, Jack! – Ele cobre meus lábios com os seus, famintos,
gulosos, me sufocando.
– Hum, Rui... – Tento gemer baixo. – Tô gozando... – Sussurro.
– Eu também, minha deusa! – Ele fecha seus olhos e solta sons sensuais,
baixos e controlados.
Ficamos abraçados durante alguns segundos, apenas ouvindo a respiração um
do outro.
– Te adoro, Rui! – Olho para ele e o beijo cheia de amor, porque é isso, eu
não faço mais sexo com ele, eu faço amor, mas não posso dizer essa palavra:
amor, ela assusta os homens.
– Eu também, Jack! – ele diz, ele nunca fala por conta própria, não acho que
dirá algum dia.
Espanto esses pensamentos da minha cabeça, não quero estragar o que há
entre nós, é bom demais, não preciso de declarações de amor, ele está aqui
comigo, e isso é a maior prova que ele sente algo por mim.
– Vamos tomar banho? – falo preguiçosa.
– Acho que estou precisando me deitar, tenho feito muito exercício... – Ele
segue para minha cama. – Conheci uma mulher... – Ele me olha de uma
forma engraçada. – Ela é I N S A C I Á V E L!!! – Ele enfatiza a palavra,
arregalando os olhos. – Porra, acho que desde que a conheci emagreci uns
cinco quilos, tá foda! – Ele despenca em minha cama, fazendo o colchão
pular, é de molas.
– Que engraçado, acho que conheci um N I N F O M A N Í A C O!!! – Faço
como ele, enfatizo a palavra e arregalo meus olhos. – O cara só pensa em
sexo! – Reviro meus olhos. – Não sei se perdi cinco quilos, mulher só perde
peso quando pega uma virose, e tem que ser daquelas bravas! – Deito em
cima dele, passando minhas pernas pelos seus quadris.
Olho de relance para minha bolsa, ela está em minha mesinha de cabeceira,
aberta, e estrategicamente com as algemas à mostra.
Me esgueiro em cima dele, um dos meus braços segue para a bolsa, tiro as
algemas delicadamente, e as deixo sobre a bolsa.
– Estou cansado, Jack! – Ele faz charme, mas já estou sentindo seu amigo em
mastro em minha barriga.
– Eu acho que ele não está! – Olho para minha barriga.
Ele gargalha.
Me inclino em cima dele novamente, deixando meus seios a disposição para
seus lábios, e ele os suga cheio de vontade.
Seguro suas mãos acima de sua cabeça, enquanto ele está empolgado com
meus seios, levo minha mão até minha bolsa e pego as algemas.
Tenho vontade de rir da minha travessura, mas me seguro.
Sem que ele perceba, e rapidamente, fecho as duas algemas ao redor do seu
pulso.
Ele para o que está fazendo e me encara com os olhos arregalados.
Tento segurar o riso, a cara que ele fez foi muito engraçada.
– Jackeline, tira esse troço de mim! – Ele parece apavorado com a ideia de
ficar algemado.
Dou uma gargalhada, pareço meio louca.
– Rui, sua cara é impagável, quer que eu tire uma foto sua algemado? – Ele
me olha feio. – Oh, Rui, assim é chato, você só quer fazer, não quer receber!
– Faço um bico.
– Jack, não gosto dessas coisas de algemas, acho que tenho problemas, medo
de ser preso, já fiz umas cagadas em minha vida profissional – ele diz sério.
– Mas aqui não é profissional, quero dizer, eu sou profissional, do sexo, e só
sua! – falo para ele relaxar, ele ficou tenso, de verdade, inclusive seu amigo
brochou.
Volto a ficar em cima dele, começo a beijar seu pescoço, desço para seu
tórax, mordo seus mamilos, e ele se apavora.
– Não, Jack! Esse negócio, não! – ele diz, mas seu amigo ficou empolgado.
– Deixa, Rui! – falo melosa, me esfregando toda nele, volto a lamber seus
mamilos e os mordo levemente.
– Oh, puta que pariu! – Ele se contorce. – Está bom, Jack!
– Ainda não, meu gostoso! – Pego a venda na bolsa. – Trouxe isso. – Sacudo
a venda em frente a ele.
– Jackeline, eu vou te matar quando você me soltar. – Ele rosna.
– Não vai, não! – Brinco com ele, coloco a venda e volto a beijá-lo. – Está
gostoso, Rui? – Passeio minhas mãos pelo seu corpo, massageio seu membro.
– Oh, Jackeline! – Ele engole em seco.
Vou descendo meus lábios pelo seu corpo, beijo cada pedacinho desse
homem, e vejo seus pelos se eriçarem.
Ele se contorce.
– Já está bom, Jack.
– Ainda não, Rui! – Roço meus seios em seus lábios, deixo ele saborear um
pouco, volto a beijá-lo, vou descendo meus lábios por seu corpo inteiro,
envolvo seu membro com minha boca e ele geme.
– Me solta, Jack. – Ele geme, mas não paro, quero levá-lo até o orgasmo. –
Caralho!!! – Ele se contorce, fica tenso, e de repente sinto o jato, forte e
quente. – Porra!!! – Ele grita e arregalo os olhos, se ninguém acordou agora,
foi um milagre.
Seu peito sobe e desce desesperadamente, alguns sons de prazer ainda saem
da sua boca, volto a beijá-lo, e finalmente tiro a venda de seus olhos.
– Acabou, meu prisioneiro sexual! – Sorrio o olhando piscar diversas vezes,
seus olhos estão incomodados com a luz. – Gostou?
Ele dá risada.
– Você é louca! – ele diz rindo.
– Tudo bem, eu sei que sou louca, mas foi bom, você gostou da
brincadeirinha? – Insisto.
– Foi, foi bom, uma loucura boa – ele diz incomodado com as algemas. –
Agora, tira essa porra, não gosto disso!
Pego a chavinha na minha bolsa e as tiro.
– Rui, relaxa, é só uma brincadeira, não precisa ficar nervoso!
Ele se senta na cama e esfrega seus pulsos, eles estão vermelhos.
– Eu não estou nervoso! – Ele tenta sorrir, mas realmente ele não gosta dessa
brincadeirinha.
– Desculpa! – falo ajoelhada na cama, talvez com cara arrependimento.
Ele me olha com malícia, me agarra pela cintura, grito de susto, e de repente
me vejo embaixo dele.
– É assim que eu gosto! – ele diz poderoso em cima de mim, segurando meus
braços acima de minha cabeça, dominador, possessivo, mostrando toda sua
virilidade.
– Eu também gosto assim, adoro ser dominada por você. – Sussurro, nossos
rostos estão a centímetros de distância, seus olhos estão cor de chumbo, o seu
jeito é meio selvagem.
– O que você quer que eu faça em você? – ele diz com sua voz grossa, baixa
e ameaçadora.
Sinto seu membro roçando minha entrada, ele não se cansa, é viril e
insaciável.
– Me fode, meu homem. – Sussurro contra seus lábios.
– Oh, Jack, você não sabe o que faz comigo! – ele diz com sua voz gutural.
Então, ele me penetra, e voltamos para nossa terceira rodada aqui em casa,
em meio a muitos beijos, chupadas e mordidas.
Muitos gemidos, sussurros de prazer e finalmente caímos exaustos.
Mais uma noite incrível, com o cara mais incrível que já conheci.
****
Acordar sentindo beijos por todo o meu corpo, é assim que tem sido minha
rotina.
O Rui pode ser muitas coisas, mas nunca poderei dizer que ele não é o cara
mais carinhoso do mundo, o mais atencioso, às vezes, o acho romântico
também.
Ele é o sonho de qualquer mulher.
Talvez ele ainda vá mostrar seu lado negro para mim, mas por enquanto, eu
só tenho conhecido um lado, e esse lado parece compensar todos os outros.
Ele é incrível, nunca conheci alguém que me fizesse sentir tão feliz.
Eu não sei ao certo o que ele sente por mim, mas o que fazemos tem
sentimento, não é só sexo, eu tenho certeza.
– A gente fez muito barulho, Rui? – Cochicho em seu ouvido, ao mesmo
tempo em que dou beijos em seu rosto, orelha.
– Provavelmente! – Ele ri, enquanto acaricia minhas costas e meus cabelos. –
Vamos nos levantar, gostosa, tenho muitas coisas pra fazer hoje, não posso
namorar o dia todo. – Olho para ele lânguida, apaixonada, ele beija minha
testa.
– É uma pena, mas você tem razão. – Me apoio em seu peito. – Nossa noite
foi maravilhosa, adoro quando você dorme aqui, é tão emocionante! – Sorrio,
porque acho que sou uma menina grande e travessa.
– Você gosta de emoções, Jack? – Ele me olha enigmático. – Vou ver o que
consigo fazer a respeito disso. – Ele bate em meu bumbum e se levanta.
– Ai, Rui, assim não gosto, quero a massagem! – Faço cara feia, vendo o
vergão vermelho que ele deixou.
– Não posso, minha delícia, eu não vou resistir a você, e aí vamos começar
tudo de novo, e só vamos chegar amanhã no escritório. – Ele sorri e segue
para o meu banheirinho. – Jack, é hoje o evento, não se esqueça de levar o
seu vestido, sapato, essas coisas, você se arruma em meu apartamento – ele
grita do banheiro.
Olho para o teto insegura, mas espanto minhas inseguranças, vai ser legal,
tenho certeza disso.
Capítulo 44
JACKELINE BARTOLLI
C oloco meu vestido preto em uma sacola, assim como uma sandália preta
alta, com alguns strass em suas tiras.
Escolho algumas lingeries, maquiagens, perfume e acessórios.
Enquanto estou no quarto, o Rui está tomando café da manhã com minha
mãe.
Sorrio, as coisas entre nós estão indo tão bem que dá até medo, mas sempre
me lembro do que aconteceu em sua casa no interior, seu ataque de nervos
quando falamos sobre relacionamento, as coisas que ele disse, enfim, não
posso me esquecer disso.
Sigo para a sala, minha mãe conversa animada com ele, parece tão à vontade,
ele é um doce com ela, perfeito.
Suspiro e adentro a sala.
– Podemos ir? – Paro ao seu lado, ele me olha com um sorriso.
– Temos que ir, Dona Amélia, obrigado pelo café da manhã – ele diz
simpático, se levanta e segura minha mão.
– Imagine, pode vir quando quiser! Aliás, estou devendo a você um bacalhau!
– Minha mãe diz animada e me olha. – Combine com ele, Jack, talvez no
final de semana, o que você acha, Rui? – Ela o olha ansiosa.
– Pode ser...
O interrompo.
– Eu combino com o Rui, mãe, e depois te falo. – Beijo sua testa. – A gente
precisa ir, bom dia!
Saímos rapidamente, entramos no elevador, ele segura meu rosto e beija
meus lábios carinhosamente.
– Pode combinar com ela, Jack. Eu não me incomodo de vir almoçar com
elas – ele diz carinhosamente.
Meu coração infla, estamos indo tão depressa com tudo, e mal sei onde
iremos parar.
Me sinto-me em queda livre, sem onde me segurar, sem destino, tempo ou
distância, apenas caindo.
– Obrigada, Rui, pelo carinho com elas – falo sentimental, acho que estou
entrando em minha TPM, comecei com aquele sentimentalismo exacerbado,
vontade de chorar por nada, a segunda parte disso são meus nervos à flor da
pele.
Ele beija minha testa, me abraça e o elevador abre.
Seguimos para o seu carro e logo estamos indo em direção ao escritório.
****
Ele para seu carro na garagem do escritório, em sua vaga particular, mas já
vejo muitos carros estacionados.
O prédio foi projetado de modo a ter um estacionamento na parte de trás, mas
sua vaga fica logo na entrada.
Deixo minha sacola no banco de trás, saio do carro, ajeito a camisa preta de
seda dentro da calça tipo pantalona.
Me sinto tão elegante, nem pareço a mesma Jackeline, estou chique demais.
Desperto dos meus pensamentos com um beijo na minha nuca, olho de lado e
vejo aquele sorriso.
– Vamos, você está linda hoje! Quero dizer, você está sempre linda.
Sorrio feito uma adolescente apaixonada, completamente derretida.
– Você também está lindo! – digo sorrindo.
Ele pega em minha mão e seguimos para o escritório.
A Karen olha para nós dois com aquele seu olhar felino, cheio de inveja.
– Bom dia, Karen! – O Rui diz displicente, me puxando com ele para as
escadas.
– Bom dia, Doutor Rui! – Ela me olha de canto de olho e sinto arrepios,
talvez deva andar com um alho na bolsa, para tirar a mandiga que essa garota
está colocando em mim.
– Bom dia, Karen! – falo rapidamente, mas não dou muita atenção a ela.
Chegamos a minha sala, ele me dá um beijo e me olha intensamente, daquele
jeito que sinto palpitações no coração.
– Tenho que finalizar a análise daquele processo, não deixe ninguém me
atrapalhar. – Ele acaricia meu rosto, me deixando lânguida e apaixonada. –
Só você pode me atrapalhar. – Ele sorri malicioso, me dá mais um beijo, e
tenho uma vontade louca de tirar sua roupa e grudar em seu pescoço.
Mas não posso, fizemos bastante sexo ontem e hoje pela manhã, acho que
está bom, Jackeline ninfomaníaca.
– Preciso ganhar essa porra, caso contrário o filho da puta do Albuquerque
terá mais um motivo para me sacanear.
Sorrio para ele compreensiva, ele parece preocupado ultimamente, talvez seja
essa sociedade com seu ex-sogro.
– Quer que eu arrume sua sala? – falo meio mole, acariciando seus cabelos da
nuca.
– Pede um café para nós dois, depois você arruma. – Ele beija meus lábios
suavemente, e segue para sua sala.
Ajeito minhas coisas, ligo para a copeira e peço para ela trazer os cafés.
Entro em sua sala, ele tira seus óculos, me olha e sorri.
– Vem aqui, Jack – ele diz virando sua cadeira de lado. – No meu colo – ele
diz sedutor, e eu me derreto.
– Sem sacanagens, chefe, você tem muito trabalho hoje. – Me sento em seu
colo.
– Quem falou que estou pensando em sacanagens? – ele diz com um sorriso
travesso, pega sua xícara e beberica seu café.
– Eu conheço todas as suas caras, você não me engana mais. – Pego minha
xícara e bebo meu café, numa cena muito interessante.
Onde já se viu a secretária se sentar no colo do chefe para tomar café!
– Gostei desse novo jeito de tomar café! – ele diz malicioso.
Termino meu café e dou um beijinho rápido em seus lábios.
– Vou abrir suas persianas. – Me levanto e sigo para as janelas. – Você pode
voltar a trabalhar, não precisa ficar olhando a bunda da secretária – falo
sarcástica, o vendo admirando meu traseiro descaradamente.
– Não canso de olhar a bunda da secretária, ela é muito gostosa – ele diz com
sua cara de tarado.
– Rui, não podemos, se lembre do processo milionário e do Doutor
Albuquerque. – Sigo para a porta. – Acho melhor eu ir para minha sala, meu
chefe é muito tarado – falo divertida, paro na porta e mando beijos para ele,
que me olha e sorri.
Fecho a porta e inspiro com força.
– Estou completamente apaixonada por ele, e verdadeiramente fodida. –
Balanço minha cabeça e tento esquecer esse probleminha que criei para mim
mesma.
****
A manhã passou rapidamente, o Rui me passou tantas coisas para fazer que
agora mal respiro.
Mas, tudo bem, estou gostando muito disso, adoro trabalhar para ele,
especialmente para ele.
Sorrio ao ver ele me chamando pelo ramal interno.
– Pois não, chefinho? – falo brincando.
– Vamos almoçar, secretária gostosa? – ele diz com sua voz ensopa
calcinhas.
– Será um prazer chefinho! E onde almoçaremos, em sua sala? – pergunto.
– Como você sabe? – ele diz descontraído.
– Já sei tudo sobre meu chefe. – Brinco.
– Quase tudo – ele responde.
– Verdade, quase tudo. Mas você também não sabe tudo sobre mim, então
estamos quites. – O provoco, não posso deixá-lo totalmente seguro sobre
mim, essa é minha tática.
– Ah, é? – Sinto uma mudança no seu tom de voz, como eu esperava, no
fundo ele é bem previsível.
– É, chefinho, tenho muitos segredos. – O provoco novamente. – Mas, então,
o que você quer comer? – Disfarço, fazendo um jogo que também sei jogar,
ele pode ser bem experiente na sedução, mas não sou uma garotinha inocente,
sei como o deixar inseguro.
– Você! – ele diz enfático.
Dou risada.
– Eu perguntei qual o prato que você quer comer! – falo rindo.
– Você nua em cima da minha mesa – ele diz sério, me provocando aquele
friozinho no pé da barriga.
– Rui... – começo a dizer, mas ele me interrompe.
– Pede os pratos, e enquanto esperamos, você mata minha fome de você. –
Sua voz sai baixa, sensual. – Vem, Jack, estou te esperando.
Desligo o telefone, pego o cardápio em minha mesa e ligo para o restaurante,
peço seu prato predileto e uma salada para mim.
Sigo para sua sala, e assim que abro a porta, ele se levanta de sua mesa.
– Tranca a porta, Jack. – Ele segue em minha direção. – Quais são os seus
segredos? – Ele segura meus cabelos, daquele jeito possessivo.
– Se eu te contar não serão mais segredos! – falo provocativa.
Ele beija meu pescoço.
– Você não pode ter segredos comigo. – Ele me olha intensamente, um
pequeno vinco se forma entre seus olhos.
– E você pode ter comigo? – Sussurro, passeando meus dedos entre seus
cabelos.
– Eu não tenho segredos – ele diz, mas percebo que ele não foi sincero.
– Eu também não. – Faço seu jogo, ficamos nos encarando.
– Você é terrível, Jackeline. – Ele balança sua cabeça. – Sabe como
enlouquecer um homem. – Ele invade minha boca, faminto, urgente. – Quero
você nua, Jack – ele diz em meios aos nossos beijos.
Desabotoo minha camisa, abro a calça que cai aos meus pés, ficando apenas
de lingerie e sandálias altas.
Ele abre meu sutiã, o joga sobre a mesa, depois a calcinha.
– Tira sua camisa, Rui – falo em meio aos nossos beijos.
Ele a desabotoa com pressa, em segundos ele a joga sobre uma cadeira, me
levanta sobre sua mesa de reuniões, abre sua braguilha e sem maiores
cerimônias me penetra.
– Você é feiticeira, Jack? – ele diz me encarando cheio de desejo, se
movimentando deliciosamente. – O que você fez comigo, feitiçaria? – Ele
puxa meus cabelos, me fazendo arquear meus seios, dando acesso aos seus
lábios.
– Sou feiticeira, Rui – respondo sensualmente, entregue às suas carícias. –
Isso... – Gemo de prazer. – Ai, Rui. – Reclamo diante de uma mordida em
meu pescoço, depois um beijo, mais carícias de sua língua deliciosa em meus
seios.
– Jack, eu não vou aguentar, eu vou gozar! – Ele geme alto, puxo seus
cabelos e beijo-o apaixonada.
Ele volta de sua viagem e me olha.
– Eu não te fiz gozar, não é mesmo? – ele diz meio sem graça.
– Eu adoro fazer a... sexo com você, não necessariamente preciso gozar todas
as vezes, apesar que você me faz gozar a maioria delas. – O olho nos olhos,
não estou mentindo.
– Mas eu quero que seja bom para você também.
– Mas foi ótimo, Rui... – Puxo sua cabeça em direção a minha, olho para seus
lábios. – Eu adoro tudo que envolve você, você me faz feliz, plena. – Olho
nos seus olhos, sinto uma inquietação no meu peito, é o amor pulsando, uma
vontade louca de me declarar para ele. Mas antes que eu fale, ele me beija,
intenso, de um jeito delicioso, sinto o friozinho na barriga, a adrenalina
correndo feito louca em minhas veias.
– Você é maravilhosa, Jack! – ele diz me encarando, sinto um gelado no
peito.
Nos olhamos intensamente, mas o telefone toca, ele desvia seus olhos dos
meus.
– Eu vou atender.
– Tudo bem. – Desço de sua mesa e pego minhas roupas.
– É o nosso almoço. Se troca no banheiro, a Karen está subindo.
****
Termino de escrever um último e-mail, olho no relógio e vejo que já são 19h,
o dia voou, estou cansada, queria ir embora e ficar o resto da noite deitada
com o Rui, não fazer nada, apenas ficar o beijando a noite inteira.
A porta abre, o olho surpresa e o vejo com seu terno, sua pasta, e um sorriso
de comercial de creme dental.
– Vamos, Jack? – ele diz animado. – Terminei de analisar aquela porra!
Agora é só esperar a audiência... – Ele pisca. – Já ganhei!
Sorrio com seu jeito, ele é tão confiante, absoluto no que faz, competente, me
sinto fascinada com seu jeito, gostaria de ser segura assim. Como será que se
consegue essa autoconfiança? – Meu chefe me fez trabalhar muito hoje, estou
muito cansada. – Faço charme, desligando meu computador.
– Vou te dar um aumento – ele diz com um sorriso.
– Eu já tenho um salário maravilhoso, e também eu ainda nem recebi meu
primeiro salário, como posso ter aumento? – falo indignada.
– O pagamento é amanhã, Jack! – ele diz andando na minha frente.
– Ai, que dia maravilhoso, adoro dia de pagamento! – digo feliz, não vejo a
hora de pagar minhas dívidas, e acho que ficarei sem dinheiro novamente,
mas tudo bem, irei me controlar e no mês que vem estará tudo certo.
Ele sorri, parece se divertir com minha felicidade, ele não sabe o que é ser
assalariado, deve ser muito bom ser o patrão.
O sigo em direção às escadas, e já começo a sentir certo nervosismo ao
pensar nessa tal festa que iremos.
Ok, é só uma festa. Se acalma, Jack – falo para mim mesma.
****
Ajeito o coque que fiz em meu cabelo, usei um gel do Rui para manter os fios
comportados, checo se a maquiagem não está borrada.
Deixei meus olhos bem maquiados, um batom vermelho, só para não perder o
costume, coloco um par de brincos bonitos para valorizar o penteado e
finalmente coloco o vestido.
Me olho no espelho de seu closet, de frente, de lado, e finalmente, de costas.
Não posso negar que estou bonita, elegante, mas o decote me deixa muito
sensual.
Confesso que sou tímida, não na intimidade, aliás, não sou nem um pouco
tímida na intimidade, mas sou tímida com meu corpo, não gosto de expor
minhas curvas, nunca gostei.
Sempre vesti camisas e blusas largas, odiava ver os olhos dos homens sobre
meus seios, meu bumbum, não gosto de chamar a atenção.
Na verdade, gosto de me expor, de seduzir e usar meu corpo, mas apenas com
os homens que me relaciono. Eu adoro ver o que faço com o Rui, o que meu
corpo provoca nele, e por isso estou me vestindo desse jeito chamativo, quero
agradá-lo, somente a ele.
Tento ajeitar o decote indecente do vestido, apenas para não expor muito
meus seios, mas é impossível, então o vejo no espelho.
– Demorei muito? – Seguro na lapela de seu smoking.
Ele beija meu pescoço, me fazendo sentir uma fornalha dentro de mim.
– Não, você não demorou, eu esperaria minha vida inteira por você – ele diz
no meu ouvido, me arrepiando, e me causando uma felicidade que vai além
de mim.
Sorrio apaixonada, de olhos fechados, sentindo seus lábios me beijando o
pescoço, o rosto, suas mãos roçando meus seios através do decote.
– Oh, Rui, não faça isso! – reclamo, já me sinto molhada.
– Você está demais, Jack! – Agora suas mãos invadiram o decote, brincam
com meus mamilos.
Ele me vira de costas, beija minhas costas, acaricia meu bumbum, desce mais
um pouco e encontra meu sexo encharcado, pronto para ele.
Ouço barulho de cinto, zíper, e como eu imaginava, ele me invade.
Me inclino sobre o móvel a minha frente e me entrego.
– Ruiii!!! – Gemo alto, a sensação deliciosa de prazer chegando.
– Oh, Jack!!! – Ele geme e goza. – Você é demais, Jack! – Ele beija minhas
costas.
Alguns minutos de loucura e ele volta à terra.
– Você está linda, Jack! – ele diz no meu ouvido, me fazendo sorrir. –
Podemos ir?
Sorrio e olho para ele. Que loucura de homem, Senhor!
– Podemos! – respondo. – Tem certeza que não estou muito escandalosa?
Ele vira seu rosto de lado, me olha demoradamente, e então volta a olhar para
meu rosto.
– Não, você está linda! – Ele segura minha cintura. – Não quero nenhum
homem perto de você, você ficará o tempo todo ao meu lado.
– Claro, eu não pretendo fazer amigos, muito menos ficar longe de você! –
falo com ironia.
– Então vamos, minha deusa. – Ele beija minha testa, num gesto tão
carinhoso.
Pego minha bolsinha de mão e o acompanho em direção à porta.
Entramos no elevador, abraço sua cintura e repouso meu rosto em seu peito.
Seus braços me envolvem, me sinto tão protegida ao lado dele.
Logo estamos em seu carro, me sento ao seu lado e o recorte transpassado do
vestido da cintura para baixo abre, expondo boa parte das minhas pernas.
Ele passa suas mãos por toda a extensão das minhas coxas.
– Toma cuidado quando se sentar, Jack, não quero que ninguém veja a
calcinha da minha mulher. – Sorrio do seu jeito.
Adoro quando ele me chama de “minha mulher”.
– Tudo bem, meu macho – respondo divertida, o fazendo rir.
Seguimos para o lugar da festa num clima delicioso, ele me conta um pouco
sobre esse encontro que acontece todos os anos, é uma confraternização de
juízes, procuradores, os melhores advogados do país, só tem gente poderosa,
foi isso que entendi.
– Sua ex-noiva estará lá? – pergunto desviando meus olhos dele.
– Talvez sim, o pai dela é um ex-juiz aposentado, ele é muito influente, e
apesar de aposentado, continua bastante atuante – ele diz sério.
– Por mim, tudo bem. Só perguntei por curiosidade. – Seguro minhas mãos
no colo.
– Eu resolvi aquelas pendências com ela, na verdade com o pai dela, entrei
em contato com a empresa que contratamos para cuidar dos preparativos do
casamento, pedi para cancelar tudo, enfim... Está tudo resolvido. – Ele me
olha de lado. – Eu que havia pagado tudo, a família dela não teve nenhum
prejuízo, só eu que me fodi com tudo isso.
O olho de lado, ele também me olha.
– Melhor assim, né Rui? – Confesso que fiquei feliz em saber que ele não irá
se casar mais com aquela loira metida a besta.
– Muito melhor! – Ele sorri, e não consigo deixar de sorrir para ele. – Agora
sou só seu, Jackeline.
Sorrio surpresa, confusa, eu não o entendo muito bem, nunca sei o que ele
quer dizer com o que diz, mas é bom ouvir que ele agora é só meu,
independente do que isso signifique.
– Só meu, e costumo ser muito violenta quando isso não acontece – falo em
tom de brincadeira.
– Estou com medo dessa italiana, espero não provocá-la – ele diz divertido.
Finalmente chegamos ao local do evento, e como eu imaginava, o lugar é
estupidamente lindo.
Dois manobristas abrem as portas para nós, um deles segura em minha mão e
me tira do carro.
Sorrio divertida com a cena, acho tudo tão forçado.
Olho para o Rui e o vejo rindo de mim.
Ele pega em mim mão.
– Vem, minha deusa. – Ele beija minha testa novamente, e eu adoro isso,
adoro seus beijos de língua, mas esse beijo que ele me dá na testa é tão
carinhoso.
Seguimos para o interior do local, solto a respiração vagarosamente, o lugar é
muito luxuoso, os lustres que caem do teto parecem saídos de um filme
antigo, milhares de cristais imensos e escandalosamente lindos.
Centenas de mesas estão espalhadas pelo local, castiçais e velas acesas dão
um clima mágico ao local. As mesas estão preparadas para o jantar, mas a
maioria das pessoas estão em pé, circulando pela área livre do salão.
Garçons vestidos elegantemente servem bebidas borbulhantes em taças finas
e longas.
– O que você está achando? – Ele cochicha em meu ouvido.
– Que isso é muito chique para meu gosto. – Faço uma careta, ele me olha e
ri.
Continuamos caminhando entre as pessoas bem vestidas, glamorosas,
chiquérrimas. Percebo muitos olhares sobre nós, e não sei dizer se tem a ver
comigo, com ele, ou com nós dois juntos.
Logo os primeiros conhecidos começam a aparecer.
Um homem aparentando a idade do Rui o abraça, ele me olha longamente,
sorri e estende sua mão para mim.
– Prazer, sou o Carlos, amigo desse cara, nos formamos juntos na faculdade –
ele diz simpático.
Estendo minha mão para ele.
– Prazer, Carlos! Sou a Jackeline. – O Rui me abraça pelas costas.
– Jackeline! – Ele balança a cabeça, parece pensar. – Você é a secretária do
Rui, é isso? – Ele olha para o Rui rapidamente, volta a olhar para mim.
Olho para o Rui de soslaio, nem conversei com ele sobre isso, o que posso
dizer sobre nós?
– É... – respondo insegura.
– Isso, Carlão, a Jack é minha secretária, e namorada!
O cara dá uma risada escrachada.
Olho de lado para o Rui e franzo minha testa.
– Ele é assim mesmo, Jack, não liga. – O Rui cochicha em meu ouvido.
Ele para de rir, tenta se recompor.
– Desculpe, Jackeline. – Ele disfarça. – Então, Rui, como estão as coisas? –
Ele beberica sua bebida e olha disfarçadamente para meu decote.
– Tudo certo, Carlão, trabalhando muito. – O Rui pega uma taça de
espumante, dá um gole e entrega para mim.
– Certo. – O cara parece meio sem graça. – Bom, vou dar uma volta, ver se
acho os amigos, depois conversamos. – Ele balança a cabeça em minha
direção, olha novamente para o meu decote e sai andando.
– Bem estranho seu amigo. – As palavras saem da minha boca antes que eu
possa processar.
– É que você deixa os homens meio tontos, minha deusa! – Ele sussurra em
meu ouvido, beija minha orelha, me vira de frente para ele, beija suavemente
meus lábios. – Vamos circular um pouco.
Voltamos a caminhar, o Rui cumprimenta muitos homens, a maioria são
homens, acompanhados, é claro, mas o ambiente é masculino, as mulheres
são apenas um adereço, algo para enfeitar, não vi uma mulher que
aparentasse ser uma juíza, promotora ou advogada.
– Aqui é tipo um clube dos bolinhas, Rui? As magistradas não são
convidadas? – falo baixo, estamos parados em um canto.
– Não, existem muitas magistradas aqui. Você quer conhecer alguma? – Ele
me olha seriamente.
– Não, não acho que elas queiram me conhecer, mas é que você só
cumprimenta homens, as mulheres não parecem ter muito espaço nesse
ambiente.
– Vou te apresentar para uma juíza! – Ele me puxa, mas estanco.
– Não, eu não quero conhecer ninguém, era só uma observação, Rui! –
Sussurro, o encarando.
– Tudo bem, fique calma, vamos andar um pouco, não precisa ficar em
pânico, Jack! – Ele me olha seriamente.
Puxo o ar, estou parecendo um rato assustado, preciso relaxar, bebo um
pouco do espumante, preciso de álcool no sangue, esse lugar me causa
calafrios.
Vejo uma roda de pessoas, homens, mulheres, e percebo que o Rui está indo
naquela direção.
Ok, Jackeline, você está acompanhando o cara, seja simpática, agradável!
Respiro fundo, tomo o último gole de espumante e entrego a taça para o
primeiro garçom que aparece em minha frente.
As pessoas da rodinha o veem, ele parece uma celebridade, é bem conhecido,
logo ouço as pessoas dizendo: “Olha o filho do Figueiredo, aí!”.
Ah, claro, seu pai é advogado, deve ser conhecido também. – Penso.
As pessoas o abraçam, e ele fica tão lindo sorrindo, estou babando nele,
preciso me recompor.
– Essa aqui é minha namorada Jackeline! – Ele diz para um homem.
– Prazer... – Ele estende sua mão para mim. – Que linda jovem, Rui! – O
homem diz.
Então, ele me apresenta para mais um senhor, e outro, e outro, e não aguento
mais conhecer pessoas, não me lembro do nome de mais ninguém.
– Jack, essa é Doutora Angélica... - Ele sorri para uma mulher de cabelos
grisalhos, curtos, bem ajeitados, parece ter uns 60 anos.
Estendo minha mão para a mulher.
– Ela é juíza, Jack! – ele diz divertido. – A Jackeline estava incomodada,
Doutora Angélica, porque não havia visto mulheres magistradas aqui – ele
diz sorrindo.
– Oh, minha querida, existem muitas, não se preocupe, estamos em todos os
lugares, e é melhor que seja assim, o mundo não funciona direito sem as
mulheres – ela diz imponente, poderosa.
Sorrio encantada.
– Prazer. – Aperto sua mão animada. – Estou feliz de conhecer uma juíza,
não aguento mais cumprimentar homens poderosos.
Ela dá uma risada encantadora.
– Você faz o que querida, é advogada? – Ela pergunta, e eu me sinto meio
deslocada.
– Ela é psicóloga, e minha namorada! – o Rui responde, parece que ser sua
namorada é um posto de poder.
Ela sorri, parece meio confusa, talvez ela conheça a talzinha da Priscila.
– Eu vi seu pai, Rui, ele está por aí com sua mãe. – Meu sorriso se esvai do
meu rosto.
Que merda!
– Eu não o vi ainda – o Rui responde, começa a falar sobre outros assuntos,
ele pega outra taça de bebida, beberica, entrega para mim, e assim passamos
mais alguns minutos com essa senhora, que é bem simpática, agradável. – Foi
um prazer te ver, doutora – Nos despedimos da mulher e voltamos a andar
entre as pessoas.
Mais alguns magistrados, advogados, amigos do Rui, estou tonta de tantas
pessoas que conheci, não me lembro do nome de mais ninguém, só da juíza,
do seu amigo Carlos, e de dois ou três advogados que ele me apresentou, e
que foram muito simpáticos comigo.
E então, os seus pais surgem, como se tivessem vindo do nada (ou das
trevas!).
Seu pai está muito elegante, ele é bem bonitão, talvez uma versão do Rui com
seus sessenta e poucos anos. Sua mãe é uma senhora muito bonita, altiva,
uma madame da alta sociedade, se veste impecavelmente, parece saída de
uma revista de celebridades.
Seu pai aperta sua mão vigorosamente.
– Tudo bem, filho? – ele diz com aquele olhar paterno, parece ter muito
orgulho do filho.
– Tudo bem, pai, mãe. – Ele beija o rosto da mãe, ela me olha daquele jeito
esnobe.
– Boa noite! – falo discretamente, não me movi do lugar, se eles não gostam
de mim, também não vou gostar deles.
– Como vai, Jackeline? – O pai dele diz educadamente, se lembrou do meu
nome, que milagre!
– Muito bem, obrigada! – respondo polidamente, meu braço está enganchado
no braço do Rui, segurando sua mão.
– Se lembra da Jackeline, mãe? – ele diz para sua mãe nojenta, ela me olha
com desdém, apenas balança a cabeça para mim.
Seu pai começa a conversar com o filho, eles parecem se falar muito por
telefone, os assuntos que falam são recentes, sobre processos que vi o Rui
analisando.
Olho discretamente para sua mãe, e a vejo me medindo, tento me ajeitar junto
ao Rui, na verdade estou tentando me esconder, me sinto mal vestida na
frente de sua mãe, ela deve me achar uma biscate.
Ele me puxa pela cintura, me abraçando de lado, passo meu braço pela sua
cintura, de um modo que tampe o recorte lateral do meu vestido e disfarce o
decote.
– O jantar já está sendo servido, Antony! – Sua mãe diz mal-humorada.
– Podemos jantar todos juntos, Rui, venham conosco! – Seu pai diz
simpático, disfarço meu mal-estar e desvio meus olhos de sua mãe.
– Tudo bem para você, Jack? – Ele segura meu queixo e me encara.
Sorrio.
– Tudo bem – falo sem emoções, preciso fazer meu papel de sua
acompanhante, e esquecer todo o resto.
Ele beija suavemente meus lábios e me encara com aqueles olhos
acinzentados, que parecem me engolir.
– Vamos, minha deusa! – Ele pisca para mim.
Solto o ar e caminho ao seu lado em direção aos seus pais, que já estão
sentados em uma mesa mais adiante.
Capítulo 45
RUI FIGUEIREDO
O encontro com meus pais era inevitável, eu sabia que eles estariam aqui,
meu pai não falta a nenhum desses encontros.
Também será inevitável o encontro com a Priscila e sua família, mas eu
precisava vir a essa festa, preciso dos contatos que encontro aqui, pessoas
influentes, importantes.
Estou conversando com meu pai, apesar de não trabalharmos juntos, cada um
de nós tem seu escritório, estamos sempre trocando ideias sobre os processos
que estamos trabalhando.
Meu pai é meu melhor amigo, meu professor, minha referência de vida. Devo
a ele todo o meu sucesso profissional, sem ele eu não teria chegado onde
estou, até hoje aprendo com ele, nos falamos quase que diariamente, enfim...
Depois que ele me viu com a Jackeline, ele me ligou para saber o que estava
acontecendo, ficou chateado comigo, obviamente. Ele gostaria que eu me
casasse, tivesse filhos, mas está difícil disso acontecer, ele terá que se
contentar com os netos e netas que a Juliana dará a ele.
– O jantar já está sendo servido, Antony! – Minha mãe diz para meu pai.
Minha mãe está um porre, e está tratando a Jackeline de um modo que me
desagrada muito.
Tudo tem limite, ela pode até estar chateada com o fim do meu
relacionamento com a Priscila, mas daí tratar mal a Jack, ela está indo longe
demais.
– Podemos jantar todos juntos, Rui, venham conosco. – Meu pai sugere, eu
realmente não estava a fim de fazer isso, pela Jack é claro, mas essa situação
é bem chata, pouco vejo meus pais, e não ficar com eles hoje seria uma
ofensa.
Espero meus pais se distanciarem de nós, seguro o rosto da Jack e pergunto:
– Tudo bem para você, Jack?
Ela sorri para mim e responde:
– Tudo bem.
Beijo suavemente seus lábios lindos, ela está linda hoje, a mulher mais linda
desse lugar.
Não vou mentir mais para mim mesmo, a Jackeline não é uma mulher
qualquer com quem saio de vez em quando, eu a assumi como minha
namorada, me sinto ciumento e possessivo em relação a ela.
Ela me causa um turbilhão de sentimentos, coisas novas, inesperadas.
Tudo começou no dia em que ela transou com seu ex-namorado, nunca havia
me sentido daquele jeito.
Enlouqueci de ciúmes dela, foi estranho, muito estranho, e então foi aí que
decidi oficializar nosso relacionamento, quero dizer, dar nome ao que temos.
Que se foda a opinião das pessoas, eu sei que ninguém está entendendo nada,
namoro minha secretária, a trouxe a um encontro de magistrados, mas
também a um encontro de famílias. Aqui, ninguém traz amante, caso,
piranha. Os que são solteiros, como o Carlão, vêm sozinhos, não trazem
periguetes, essas coisas.
Então, se a Jack está comigo, é porque o que temos é sério, é assim que as
pessoas leem esse nosso relacionamento.
– Vamos, minha deusa! – digo para a Jack, ela é uma grande companheira,
não reclama de nada, está sempre sorrindo, simpática.
Nos sentamos à mesa que meus pais escolheram, vejo minha mãe medindo a
Jackeline, talvez eu devesse ter escolhido um vestido para ela menos
chamativo, mas que se foda minha família.
Ela está linda, a Jack é elegante, ela não tem jeito de piranha, ela é apenas
sensual, gostosa, tem um corpo estonteante.
Que se foda o moralismo da minha família, não tenho mais idade para me
preocupar com isso.
Nos sentamos juntos, tomei o cuidado para não deixá-la perto da minha mãe.
Que Deus me perdoe, mas minha mãe é insuportável, temos um
relacionamento muito complicado, não suporto seu jeito de dondoca, somos
ricos sim, mas ela vive como se fosse dona do mundo.
Só eu sei o quanto meu pai trabalhou e trabalha para manter o luxo que minha
mãe vive, ela gasta aos tubos, vive como se fosse uma princesa, não move um
prato do lugar, tem empregadas até para acordá-la de manhã.
Talvez meus complexos contra casamento tenham começado com meu
relacionamento com minha mãe.
Não nos damos bem, isso é fato, já não moro com eles há muito tempo, logo
que entrei na faculdade.
Ela é uma mulher mandona, irritadiça, controladora, quer controlar até os
pensamentos do meu pai, e dos filhos. No meu caso nunca, nunca deixei.
Com certeza meu pai a ama mais do que qualquer coisa neste mundo, isso
não há dúvidas, ninguém suporta alguém assim por tanto tempo.
Reviro meus olhos ao olhar para ela.
Me perdoe, meu Deus, mas minha mãe é uma bruxa! – falo em pensamentos,
e como reflexo beijo os cabelos da Jack, não quero que ninguém a trate mal,
ela é muito importante para mim.
– Tudo bem, Jack? – Cochicho em seu ouvido.
Ela me olha e sorri.
– Tudo, Rui!
A Jackeline mexe demais comigo, aqui dentro, lá no fundo, ela me causa uma
inquietação no peito.
Tenho vontade de dizer que a adoro, mas não o faço, apenas a beijo.
A gente se olha, tenho vontade de beijá-la de novo, mas ela não deixa e se
afasta sorrindo.
– Só mais um beijinho, Jack! – falo carente, me sinto tão idiota quando estou
com a Jackeline.
Mas, nosso momento de paz durou pouco, logo ouço uma voz que não me
agrada, é meu sócio e ex-sogro.
Olho e vejo os três, a Priscila, seu pai otário, e sua mãe piranha.
Que família!
Me levanto, pego na mão da Jack, a fazendo ficar ao meu lado, e então
encaro o problema a minha frente.
Até que o Doutor Alburquerque é bem falso, ele finge estar tudo bem, mas
sua filha e sua esposa não disfarçam o ódio mortal que sentem por mim.
Abraço a cintura da Jack, a colocando à minha frente.
Eu já tenho 35 anos, já passei da fase que me incomodo com alguém, ou com
alguma coisa.
Se alguém me encher o saco, eu mando se foder.
O Albuquerque me olha, olha para sua filha, parece constrangido com a cena.
– Como vai, Rui? – Ele estende sua mão para mim.
– Bem, obrigado. Essa é a Jackeline – digo rapidamente.
– Boa noite, Jackeline! – ele diz educadamente, o Albuquerque é um homem
vivido e experiente, espero que não confunda as coisas, que ache que eu deva
satisfações da minha vida pessoal para ele.
Olho para a Priscila e sua mãe, elas estão ao lado da minha mãe, e me
indigno ao ver minha mãe abraçada a Priscila, ela quer me provocar, me
irritar, é isso.
– Vamos sentar conosco, Albuquerque? – Minha mãe diz, e eu sei que ela
quer me provocar, e deixar a Jackeline constrangida.
– Não, obrigada, Raquel! – ele diz educado. – Estamos numa mesa com meus
colegas magistrados – ele diz arrogante, ele gosta mesmo de viver no meio
dos juízes poderosos, meu pai sempre foi apenas um amigo qualquer para ele.
Aliás, meu pai e o Doutor Albuquerque são amigos de longa data, nossas
famílias se conhecem e convivem há anos, minha mãe conhece a Priscila
desde que ela era uma menina, aliás, eu também.
De fato, nunca reparei muito na Priscila, não me lembro muito dela, tudo
entre nós começou numa festa de aniversário de casamento de meus pais, eles
fizeram uma festa em sua casa, chamaram todos os amigos e aí reencontrei a
Priscila. Ela já havia se tornado uma adulta, e então tudo começou ali.
Respiro aliviado os vendo partir, mas a Priscila dá uma última olhada para
mim, disfarço, e desvio meus olhos dela.
Hoje, pensando friamente, não sei por que me envolvi com a Priscila, ela não
tem nada a ver comigo, é jovem demais, tola demais, infantil demais. Que se
foda que ela é bonita, o que eu tinha na cabeça quando me envolvi com essa
menina?
Caralho, será que eu iria me casar com ela se não tivesse conhecido a
Jackeline? Porra, como um homem solteiro pode fazer merdas na vida!
Vejo o garçom trazendo os pratos, o jantar começa a ser servido, troco
algumas palavras com meu pai, nenhuma com minha mãe.
De fato, ela está de cara virada para mim, desde que me viu com a Jackeline.
Ela acha que me importo com isso, mas não me importo, prefiro assim.
Beijo os cabelos e o rosto da Jack a todo o momento, porque quero que
minha mãe saiba que ela não é uma piranha que encontrei na rua.
– Vamos jantar, Jack? – Cochicho para a Jackeline, ela está tão calada, mais
do que de costume.
Eu preciso tirá-la dessa mesa, eu sei que a presença da minha mãe a
incomoda.
Ela me olha e sorri, começa a comer, mas mal toca no prato, como quando
fomos ao churrasco na casa dos meus pais.
Termino meu jantar.
– Vamos dar uma volta – falo em seu ouvido e pego em sua mão. – Dá
licença pai, eu vou cumprimentar alguns conhecidos.
– Claro, filho, vá. Depois nos falamos. – Ele bate em minhas costas e sigo em
direção ao segundo salão.
Andamos um pouco, olho para a Jackeline, ela ensaia um sorriso.
– Melhor agora, Jack, eu sei que minha mãe te incomoda. – Ela disfarça.
– Não tenho nada contra ela, mas ela não gosta de mim – ela diz séria, parece
chateada.
Isso me incomoda demais, não gosto de vê-la assim, minha mãe ofuscou seu
brilho, ela se apagou.
– Ela não precisa gostar de você. Eu gosto de você, muito, Jack! – Seguro seu
rosto e a beijo, não me importando que estamos no meio de um monte de
pessoas.
Ela se afasta de mim, parece constrangida.
– Tenho vergonha de beijar em público – ela diz sem graça.
Dou risada do seu jeito, a Jack é comportada e devassa, uma verdadeira
contradição em forma de mulher.
Uma banda toca músicas instrumentais no segundo salão, não sou nenhum
dançarino, mas curto esse negócio de dançar, mas apenas acompanhado.
Me lembro de quando ainda era criança, minha mãe sempre tocou piano,
então enquanto ela tocava suas músicas, eu era obrigado a dançar com
minhas tias e suas amigas. São lembranças boas da minha infância,
adolescência.
– Vem, Jack! – A levou para a pista de dança, ela me olha sorrindo.
– Já começou, pé de valsa? – ela diz divertida.
– Não é melhor dançar, do que ficar sentada olhando as pessoas? – pergunto,
a apertando contra meu corpo, e segurando sua mão contra meu peito.
– Muito melhor. – Ela sorri, a beijo delicadamente, não quero chamar a
atenção de todos, mas a vontade que tenho não é essa, adoro explorar essa
boca com minha língua, tenho sede da Jackeline, ela é viciante.
Enquanto dançamos conto para ela algumas histórias sobre essas festas, já vi
de tudo, casamentos desfeitos, briga de homens, briga de mulheres, enfim,
pode-se se divertir aqui também.
Ela ri muito, parece que passou seu mal-estar em relação a minha mãe.
Agora a música é lenta, ela passa seus braços pelo meu pescoço, dançamos
nos olhando, ela acaricia meus cabelos, eu acaricio suas costas.
– Eu queria ir embora, Jack, e fazer uma festinha com você lá em casa. – Ela
sorri e me beija suavemente.
– Então, por que a gente não vai embora? – ela diz manhosa, depositando
beijos suaves em meus lábios.
– Vamos ficar mais um pouco, tem um juiz que preciso trocar algumas
palavras, puxar o saco dele. – Dou risada. – Eu odeio isso, mas preciso fazer
esse jogo. – Abraço mais ela, enfio meu rosto em seu pescoço, a cheirando,
beijando sua pele.
Aquela palavra vem novamente a minha boca, mas não falo.
Tenho problemas com sentimentos, não acho que já amei alguém. Já gostei
de algumas garotas, principalmente em minha adolescência, mas nunca me
entreguei, mergulhei de cabeça.
Não consigo, antes que isso aconteça eu desisto, pulo fora.
A música termina, me afasto e a beijo rapidamente.
– Vamos ver se eu acho o cara, assim ficamos livres para ir embora. – Saio
caminhando em direção ao primeiro salão, andamos um pouco, olho ao redor
e finalmente o acho.
– Achei meu alvo. Vamos lá, Jack!
O juiz em questão é um importante juiz da vara da família, onde sou muito
atuante, se bem que hoje em dia meu escritório tem especialistas em todas as
frentes, não gosto de me focar só em uma coisa, mas acabo sendo referência
nesse assunto.
O cumprimento, apresento a Jackeline, e começo a conversar.
Graças ao meu pai, tenho acesso a todas as pessoas desse círculo jurídico,
ainda jovem eu circulava com meu pai entre essas pessoas.
Ainda sou conhecido apenas como o filho do Doutor Figueiredo, mas não me
importo. Às vezes, sou reconhecido apenas como Rui Figueiredo, já me
importei com isso no passado, mas o amadurecimento traz coisas boas, como
constatar que é bom ser filho do Doutor Figueiredo, tenho orgulho de ser seu
filho.
A Jack se dependura em meu ombro e cochicha em meu ouvido.
– Posso ir ao banheiro? – ela diz de uma forma engraçada.
Apenas balanço a cabeça e continuo minha conversa com o juiz, mas não
consigo deixar de olhá-la enquanto ela caminha em direção aos banheiros.
Tento disfarçar e conversar com o juiz, ele fala mais do que sua boca,
concordo com a cabeça e olho para a Jackeline, uma dúzia de olhos
masculinos acompanhando seu gingado, ela está gostosa demais, e eu não
quero deixá-la sozinha.
– Então, Doutor Rui, sobre aquele processo em questão... – Eu gostaria de ir
buscá-la no banheiro, mas esse assunto é muito importante, então aquieto
meu mostro interno e presto atenção no juiz.
Capítulo 46
JACKELINE BARTOLLI
black tie segue a todo vapor, eu e o Rui dançamos muito, ele gosta
A festa
muito de dançar e isso é muito legal.
Se houve algo negativo, foi o encontro com sua mãe, seu pai não me trata
mal, ele meio que me ignora, mas não posso dizer que ele me destratou, até
lembrou meu nome.
Já a velha megera me tratou mal, e ainda por cima queria que a insuportável
de sua ex-noiva ficasse na mesma mesa que estávamos.
Agora estamos conversando com um juiz importante, o cara fala mais que o
homem da cobra, estou cansada, com meus pés latejando, e morrendo de
vontade de fazer xixi.
Não vou aguentar até o final dessa conversa, vou explodir.
Me esgueiro próximo ao ouvido do Rui e cochicho apenas para ele ouvir:
– Posso ir ao banheiro? – falo como se fosse uma criança.
Ele me olha discretamente, balança a cabeça positivamente e saio
caminhando para um lugar que acho que ficam os banheiros.
O banheiro é tão chique quanto o salão, vejo batom, perfume, desodorantes e
lencinhos umedecidos a disposição, e um cheiro delicioso no ar.
Entro na primeira cabine a disposição, e faço cinco litros de xixi.
Saio rapidamente e me surpreendo ao ver a Priscila, ela retoca seu batom.
Respiro fundo e tento seguir para a pia mais distante da sua, mas parece que
ela está aqui propositalmente.
– Oi, piranha, aonde você pensa que vai vestida desse jeito? Aqui não é seu
puteiro! – Ela para atrás de mim, enquanto lavo minhas mãos.
Respiro e inspiro vagarosamente, tentando controlar meus nervos. Sigo até
onde estão depositadas pequenas toalhas de mãos, olho discretamente pelo
espelho e vejo todas as mulheres que estão no banheiro nos olhando.
Não, eu não vou me rebaixar, bater boca com essa garota, ela quer isso, ela
quer que eu me comporte como uma qualquer, eu não vou fazer isso.
Desvio dela para sair do banheiro, mas ela me segura pelo braço.
– Você é uma piranha nojenta, e eu vou acabar com sua vida se você não sair
da vida do Rui! – Ela vocifera descontrolada em meu rosto, sinto o cheiro
forte de bebida alcóolica, deve ter bebido feito uma louca.
Olho para sua mão com ódio.
– T I R E A S S U A S P A T A S D E M I M! – Rosno controladamente
para ela, meus olhos estão cerrados, estou a um triz de pegar em seus cabelos
e arrancar um por um.
A maldita me chamou de piranha, eu não estou aguentando o ódio que estou
sentindo dessa garota.
Puxo meu braço.
– Não vou me afastar do Rui, foi ele quem veio atrás de mim, ele não te quer
mais, perdeu, patricinha! – Desvio dela, mas ela agarra em meu coque e parte
para cima de mim.
Agarro aqueles cabelos falsos e puxo com toda a força, mas ela me unha para
se defender, puxa meu vestido e só ouço o barulho de tecido rasgando.
Algumas mulheres separam nós duas, sinto sangue nos meus lábios, ela
vocifera feito uma louca, me xinga, parece completamente louca, uma
funcionária do banheiro coloca um papel higiênico sobre meus lábios,
percebo que estou praticamente nua, uma das alças do vestido rasgou, estou
com meus seios de fora, seguro o tecido e então olho para a vagabunda e vejo
a mãe do Rui a acalmando.
– Ela é uma vagabunda, Raquel, uma prostituta, o Rui deve ter conhecido ela
em alguma dessas boates de putas – ela diz enquanto a mãe do Rui limpa suas
lágrimas, arruma seus cabelos, e me olha com um desprezo que dói. –
Piranha, você não deveria estar aqui, você não pertence a este lugar, volte
para seu ponto, vá rodar bolsinha. – Enquanto a mãe dela e a mãe do Rui a
carregam para fora, vejo meia dúzia de olhos me olhando como se eu tivesse
tuberculose, apenas a funcionário do banheiro me ajuda, me coloca sentada
em uma cadeira e arruma meus cabelos que estão espalhados pelo meu
rosto...
– Eu vou arrumar seu vestido, tenho linha e agulha aqui, eu faço isso
rapidamente, não se preocupe – ela diz diante de meu estado, tremo inteira,
de nervoso, de raiva, e de vontade de matar aquela garota.
Tento não chorar, mas estou tão nervosa que não consigo segurar minhas
lágrimas, e soluço de nervoso.
– Se acalme, não se mexa, caso contrário irei machucá-la com a agulha.
Coloco a mão em minha boca para segurar os soluços, e vejo sangue, olho
para o espelho a minha frente, e vejo um vergão enorme em meu rosto,
chegando até meus lábios.
– É inveja, amiga. Pelo visto tem a ver com homem, não é mesmo? – A
mulher diz.
– Sim... – respondo com raiva.
Ela termina de dar os pontos em meu vestido.
– Ficou bom, nem dá para ver, mas é melhor mandar a uma costureira – ela
diz sorrindo.
– Obrigada, eu não tenho coragem de sair assim daqui! – Choro vendo meu
rosto arranhado, uma marca vermelha arroxeada se formando, e um leve
inchaço ao redor.
– Vou passar um lencinho nos machucados, ela arranhou seus braços,
também! – Olho para meu corpo, vejo marcas de unhas pra todos os lados,
braços, busto, garganta...
Fecho meus olhos e tento controlar meu ódio.
– Eu preciso avisar... – Mas não deu tempo de terminar a frase, um trator
desgovernado entra no banheiro feminino, lindo e cheiroso, as madames que
estavam no banheiro ficam assustadas com sua presença.
– O que aconteceu, Jack? – Ele se agacha a minha frente.
– Sua ex-noiva enlouqueceu, Rui! Ela precisa de tratamento psiquiátrico,
internação, com direito a colete para loucos.
– Que merda é essa, Jack? – Ele passa seus dedos pelos arranhões. – Você
está bem? – ele diz com um olhar culpado.
– Eu quero ir embora – falo e desabo em lágrimas.
Ele beija meu rosto, limpa minhas lágrimas.
– Desculpe por isso, Jack! – Ele tira rapidamente seu smoking e o coloca
sobre meus ombros. – Vem, vamos embora. – Ele me levanta me abraça e me
encaminha para fora do banheiro.
Escondo meu rosto em seu peito, estou com tanta vergonha, parece que todos
ouviram as coisas que essa maluca disse.
Saímos do banheiro e seu pai aparece a nossa frente.
– O que houve, filho? – ele diz preocupado.
– Aquela maluca da Priscila, aquela garota tem problemas sérios – ele diz me
abraçando contra seu peito. – Eu vou embora, vou levar a Jack em um
hospital, ela está cheia de arranhões, mulher louca dos infernos.
– Tudo bem – ele diz sem graça.
Olho mais adiante, e vejo a maluca vindo em nossa direção, com o rosto todo
borrado de maquiagem, parecendo uma louca.
– Rui, por favor, vamos sair daqui, a louca da Priscila está vindo de novo –
falo com a voz engasgada.
Se eu não estivesse num lugar como esse, eu quebraria a cara dessa loira
falsificada, mas eu não posso fazer isso aqui.
Ele passa seu braço pelos meus ombros e saímos depressa, olho para trás e
vejo o pai do Rui segurando a maluca.
Logo entramos em seu carro, fecho meus olhos e tento não pensar no que
aconteceu. Sinto beijos em meu rosto, abro meus olhos e vejo aqueles olhos
cinza lindos.
– Vamos a um hospital, tá? – ele diz carinhosamente.
– Não precisa – respondo emotiva.
– Precisa sim. – Ele liga o carro e sai dirigindo.
Me aninho em seu terno, fecho meus olhos e tento esquecer o vexame.
****
Pela primeira vez desde que nos conhecemos, dormimos juntos sem fazer
nada, absolutamente nada.
De fato, e com certeza, ele percebeu que não estou nesse clima, fiquei com
uma coisa ruim dentro do peito, uma raiva, uma vontade louca de me vingar
daquela garota.
Também fiquei com a imagem daquelas mulheres todas me olhando como se
tivessem descoberto um segredo, me senti uma puta, alguém realmente
desqualificada para estar naquele lugar.
Chorei diversas vezes durante a noite, estou um porre, odeio TPM, me deixa
tão frágil.
A única coisa boa de tudo isso é ter o Rui do meu lado, tanto fisicamente,
como no que diz respeito ao apoio.
Ele está tão carinhoso comigo, tão atencioso.
Demorei a conseguir dormir, passei horas pensando em tudo o que aconteceu,
no jeito que sua mãe me tratou, de seus olhares sobre mim, nunca me senti
tão mal em minha vida.
Mas o sono foi chegando, aninhada no peito do Rui, sentindo o calor do seu
corpo, seu cheiro gostoso, e seus carinhos.
****
Abro meus olhos vagarosamente, estou meio confusa, olho ao meu lado e não
vejo o Rui.
Levanto levemente meu corpo, estou com minha cabeça pesada, e sinto uma
sensação de ardor onde estão os arranhões.
Onde está o Rui? – Penso alto.
Vejo minha bolsinha de mão sobre sua mesinha de cabeceira, a pego, tiro
meu celular de dentro, vejo a hora e me assusto.
– Cacete, 10h da manhã!
Coloco as mãos em minha cabeça, sinto meu couro cabeludo dolorido, e o
ódio volta ao meu coração.
– Oh, meu Deus, eu não podia ter deixado de ir trabalhar. – Me levanto
vagarosamente, minha cabeça dói muito, pego o celular novamente e ligo
para o Rui.
Ele atende no primeiro toque.
– Bom dia, Jack! Você está bem? – ele diz carinhoso.
– Bom dia, Rui! Por que você não me acordou? – falo brava.
– Hoje você vai ficar quietinha, amanhã se você estiver melhor, você
trabalha – ele diz bem-humorado. – Não ouse ir embora ou vir trabalhar,
Jack, eu vou almoçar com você em casa.
Sorrio, me sinto melhor só de falar com ele, ele faz tão bem para mim.
– Rui, eu não quebrei uma perna ou um braço. São só arranhões, sabia? –
digo rindo.
– Tudo bem, mas vamos esperar sumir esse ferimento do seu rosto.
– Vai demorar, não posso me esconder, eu tinha um monte de coisas para
fazer hoje – falo preocupada.
– Amanhã vemos isso. Qualquer coisa, você pode trabalhar do meu
computador pessoal, eu tenho um escritório lá embaixo, vá até lá, tem uns
livros. Relaxa, Jack, hoje você está de folga.
– Obrigada, Rui, você é um chefe maravilhoso! – falo emotiva, com vontade
chorar, aí que merda de TPM.
– Só chefe? Namorado não conta? – ele diz manhoso.
– Os dois, um homem maravilhoso. – Brinco. – Preciso tomar um remédio
para dor de cabeça, você tem aqui na sua casa? – Coloco minha mão na
testa, odeio enxaquecas, mas tenho muitas.
– Tenho na cozinha, está em um dos armários, vá tomar café, fique à
vontade, a casa é sua – ele diz com uma voz suave, carinhosa. – Estou com
saudades de você, Jack. – Meus lábios se curvam num sorriso imenso. – Não
estou mais acostumado a vir para o escritório e não tê-la aqui.
Fecho meus olhos, e sinto aquele gelado percorrer meu estômago.
Ai, Rui, eu te adoro tanto! – Penso.
– Eu também estou com saudades de você – Falo dengosa. – Você vem
almoçar aqui comigo? – Faço charme. – A gente pode namorar, eu estava
tão chata ontem.
– Daqui a pouco estou aí, eu já avisei a empregada que você ficou dormindo,
e que almoçarei em casa.
– Tá bom. Vou tomar um banho, devo estar com cara de bruxa. – Passo meus
dedos sobre meu rosto, olho para os meus braços, vergões vermelhos e
levemente arroxeados aparecem em todos os lugares, parece que briguei com
um gato.
Que ódio daquela garota.
Aquela cobra venenosa não tem unhas, ela tem garras, nunca vi nada igual,
essa cena demorará para sair da minha cabeça.
– Tenho uma reunião agora, Jack, depois conversamos. – Ouço vozes em sua
sala.
– Um beijo, Rui! Te adoro! – falo apaixonada.
– Eu também, até mais tarde. – Ele desliga.
Tiro sua camiseta, a calcinha, me olho no espelho do seu quarto e desanimo.
Passo os dedos pelo meu pescoço, estou cheia de vergões, nem percebi
quando ela fez isso, mas ficou feio, ela tirou minha pele. Próximo dos meus
seios tem outro, grande e profundo, provavelmente foi nesse momento que
ela rasgou meu vestido.
Sigo para o banheiro.
Vejo sobre a pia os meus medicamentos, não me lembro em que momento ele
comprou, acho que dormi em seu carro, estava tão nervosa que não me
lembro de nada.
Tiro o curativo do rosto e vejo a marca deixada, e meus olhos enchem de
lágrimas. Ela quase atingiu meu olho, a marca é enorme, me deixou horrível!
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, trazendo ardor sobre o machucado.
Fecho meus olhos e tento me acalmar, abro a ducha do chuveiro e entro
embaixo da água, sinto o ardor sobre os ferimentos.
Encho minha mão de sabonete e esfrego energicamente onde ela arranhou.
Cobra venenosa, deve ter veneno em suas unhas, nunca senti tanto ódio por
alguém.
Finalizo meu banho, me seco delicadamente e passo os medicamentos
prescritos pelo médico.
Volto para o quarto do Rui, e penso confusa como irei me vestir.
– Ok, você deve ter um roupão, Rui! – Sigo para seu closet.
Vasculho entre os cabides e então acho um roupão grande e confortável.
– Acho que ele nunca usou, ainda tem cheiro de novo – falo alto.
O coloco sobre meu corpo, e parece que estou vestindo um cobertor, é
enorme, mas bem confortável e fofinho.
Volto para o banheiro, seco meus cabelos, e faço um curativo sobre o
ferimento da minha bochecha, não estou me sentindo bem com isso no meu
rosto.
Me olho no espelho, estou meio pálida, mas é por causa da enxaqueca, estou
me sentindo péssima.
Coloco meu celular no bolso do roupão e desço vagarosamente as escadas em
direção à sala.
O Bóris está deitadinho em um lugar da sala, e quando me vê sai
enlouquecido em minha direção.
– Oi, Bóris! – Acaricio sua cabeça. – Fica calmo, hoje eu não estou muito
bem! – falo devagar. – Vem comigo, vamos procurar um remedinho.
Entro na cozinha e vejo sua empregada.
– Bom dia, Jô! – falo sem graça.
– Oi, bom dia, Jackeline! Você está bem? O Doutor Rui me disse que você
não está muito bem hoje, precisa de alguma coisa?
Sorrio de seu rompante, nunca a vi falar tanto.
– Estou com uma enxaqueca maior que o mundo, preciso muito de um
remédio sossega leão, você me ajuda a achar? – falo pausadamente, a cabeça
dói só de falar.
Ela caminha depressa, abre um armário alto e pega uma caixinha de
medicamentos.
– Aqui está, Jackeline, tome dois, vamos ver se você melhora, enxaqueca não
costuma passar com esse tipo de medicamento. – Ela torce seus lábios.
– Ok, obrigada, Jô. – Sigo até um filtro de água, mas logo ela pega o copo,
enche de água e me entrega.
– Vou fazer um chazinho para você. Quer comer alguma coisa?
– Não, só um chazinho, me sinto enjoada – falo desanimada. – Acho que vou
me deitar, para ver se melhoro.
Volto para o quarto do Rui, me deito em sua cama, e logo vejo o Bóris
deitando do meu lado.
– Seu pai não vai gostar disso, Bóris! – Aliso seu pelo macio. – Mas, ele não
está aqui, né? – Beijo sua cabecinha. – Vamos dormir um pouquinho.
Fecho os olhos, e sinto minha cabeça pulsando, a dor diminui um pouco, mas
não me deixa dormir, mas logo ouço um toque na porta, olho e vejo a Jô com
uma bandejinha nas mãos.
– Seu chazinho, Jackeline! – ela diz sorrindo. – Trouxe uns biscoitinhos
amanteigados, não é bom ficar com o estômago vazio.
– Obrigada, Jô, você é um anjo. – Me sento na cama, ela sai discretamente, e
tomo o chá vagarosamente.
Pego um biscoitinho e coloco na boca, mas me dá enjoos, então pego outro e
dou para o Bóris.
– Gostou, Bóris? Quer mais um? – Entrego mais um para ele. – Não vamos
abusar, não sei se seu pai vai gostar disso. – Coloco minha mão sobre a testa.
– Preciso me deitar, estou tão mal hoje.
Abraço o bichinho peludo do Rui, fecho os olhos e consigo adormecer.
****
Não sei quanto tempo dormi, mas quando acordei havia um homem lindo do
meu lado, me beijando e me abraçando.
O Bóris já não está mais em sua cama, e o Rui não está mais vestido.
Sorrio contra seus lábios, ele levou a sério a história de namorarmos.
– Estou com saudades, Jack! – ele diz me beijando, abrindo o laço do roupão
e explorando meu corpo com suas mãos.
– Eu também, Rui! – Sussurro contra seus lábios, abraço seu pescoço e
aprofundo nosso beijo.
– Você está melhor, minha deusa? – Seus beijos descem para meu pescoço,
ele acaricia meus seios.
– Acabei de melhorar – falo manhosa. – Oh, Rui. – Gemo ao sentir sua língua
em meu sexo, quente, macia e alucinante.
Seguro seus cabelos entre meus dedos, minha respiração fica acelerada, me
esfrego em sua boca e o amortecimento começa.
– Ahhh... Ruiii!!! – Gemo alto. – Hummm, ahhh, que delícia...
Sinto sua boca novamente em meus seios, seu membro entrando
vagarosamente dentro de mim.
– Uhmmm! – Gemo ao senti-lo.
– Você é tão gostosa, Jack! – Ele me olha com suas bolinhas cinzentas e
profundas.
Ele se apoia sobre seus cotovelos, me encaixo em seus quadris e enquanto ele
me beija, seu corpo se movimenta contra o meu, calmo, mas intenso, e seus
beijos cobertos de paixão.
– Eu vou gozar, Jack. – Ele fecha seus olhos e geme sensualmente, aquela
expressão linda que ele fica, adoro vê-lo nesse momento. – Oh, Jack, que
delícia. – Ele relaxa sua cabeça no vão de meus ombros. – Minha gostosa,
não me canso de você! – Ele beija meu pescoço e relaxa seu corpo sobre o
meu, grande e pesado.
Beijo seus cabelos diversas vezes, adoro tanto esse homem.
– Te adoro, Rui! – Sussurro baixinho, quase que só para eu ouvir.
– Eu também, Jack – ele diz, ele sempre diz isso, nunca fala por conta
própria, eu queria tanto que ele falasse.
Sinto um ardor nos olhos e as lágrimas inundam meus olhos.
Odeio TPM!
Disfarço, tento limpar as lágrimas que escorreram pelo meu rosto, mas ele
levanta seu rosto e me olha.
– O que foi, algum problema? – Ele enruga sua testa.
– Não, é que os seus remédios não funcionam direito com minha enxaqueca,
minha cabeça ainda está doendo – falo disfarçando.
Ele limpa meu rosto.
– Me fale o nome do medicamento que você costuma usar, eu vou ligar numa
farmácia que entrega aqui no prédio, em 15 minutos eles estarão aqui. – Ele
se afasta, pega seu celular sobre sua cabeceira, e aperta uma tecla. – Qual o
nome, Jack?
– Oh... – Me sento na cama e falo o nome rapidamente, logo a pessoa o
atende, ele faz o pedido, devolve o telefone sobre a cabeceira e me olha.
– Vamos tomar um banho rápido, dá tempo. – Ele pega em minha mão.
– Tudo bem. – Tiro o roupão do meu corpo, e o sigo para o banheiro.
Ele já está embaixo da ducha, abro o box e entro com ele. O vejo passando
seus olhos pelos meus braços, pescoço, seios.
– Você passou o medicamento hoje pela manhã? – Ele passa seus dedos,
suavemente sobre meu rosto. – Vamos tirar isso, dizem que é melhor que o
ferimento respire.
– Tá muito feio, fica melhor coberto. – Sinto seus dedos tirando o curativo
que fiz, ele olha para o meu rosto, o beija carinhosamente e me abraça
apertado.
– Desculpa, Jack. Eu que provoquei isso, você não tem culpa de nada. – Ele
me olha com uma ruga de tensão no rosto. – Mas isso vai sumir de seu rosto,
não fique preocupada.
– Eu sei. – Me aninho em seu peito, acariciando suas costas largas. – Lava
meu cabelo, Rui – falo manhosa.
Me deixe aproveitar desse excesso de cuidados comigo, é tão bom!
– Tá manhozinha, Jack? – ele diz sorrindo, e passando o shampoo em meus
cabelos.
– Um pouquinho, estou doentinha. – Dou risada da minha manha. – Preciso
de carinho para ficar boa.
Ele sorri, massageia meu couro cabelo, me coloca embaixo da ducha, passa
as mãos pelos meus cabelos tirando a espuma, e eu fico apenas de olhos
fechados, sentindo a sensação deliciosa de ser cuidada, adoro isso.
Suas mãos começam a ensaboar meu corpo, e isso me dá um tesão louco, mas
me controlo, nem doente meu fogo apaga. Ele me vira de costas, passa suas
mãos pelas minhas costas, no meu bumbum.
– Que bunda linda você tem, Jack! – Ele beija meu pescoço, ofego de desejo.
– Tá doendo muito sua cabeça, Jack? Eu queria tanto mais uma vez! – Ele
acaricia meu sexo.
– Eu quero, Rui. – Minha respiração sai acelerada, assim como meu coração
está.
– Eu vou fazer bem devagar, está bom? – Ele sussurra em meu ouvido,
espalmo minhas mãos no azulejo e o sinto dentro de mim. – Está bom assim?
– Ele se movimenta vagarosamente, beijando minhas costas, acariciando
meus seios.
– Está, Rui, continua, está delicioso. – Gemo baixo.
Ele me aperta contra seus braços, os movimentos ganham intensidade, ele
morde minhas costas e goza...
– Ohhh... Jackeline, eu estou viciado em você! – Ele dá suas últimas
estocadas, geme baixo e para, e sinto sua respiração em meu pescoço, forte,
quente.
Ele beija minha cabeça.
– Tudo bem, Jack? – Ele pergunta preocupado.
Viro-me para olhá-lo.
– Tudo. Foi bom, Rui, muito bom – falo sentindo uma moleza em minhas
pernas.
– Me deixe finalizar o banho, a farmácia deve estar chegando – ele diz
apressado, ensaboando seus cabelos.
****
Me sento na mesa com o Rui, a empregada dele deixou tudo arrumado, mas
estou mal hoje, nada me apetece.
Na verdade, sou assim quando tenho TPM, acho que estou pior porque fiquei
muito tensa ontem, e juntou as duas coisas, tensão nervosa com tensão
menstrual.
Eu confesso, estou um porre!
– Come alguma coisa, Jack! – ele diz pela terceira vez.
– Não quero, Rui. Não estou muito bem hoje! – digo desanimada.
– A dor de cabeça não melhorou? – ele diz preocupado.
– Diminuiu, mas estou com mal-estar. – Tomo um pouco de suco, e dou um
pedacinho de carne disfarçadamente para o Bóris.
– Jack, eu estou vendo você dando comida para o Bóris. – Ele sorri.
– É só um pedacinho! – Faço charme.
– É por isso que ele não sai do seu lado, você está acabando com toda a
educação que dei para ele – ele diz bem-humorado.
– Deve ser chato só comer ração, Rui – falo preguiçosa.
– Ele vai ter dor de barriga, aí você vai ter que limpar a sujeira dele.
Arregalo meus olhos.
– Oh, não pensei nisso, vamos dar um remedinho para ele? Ele comeu
biscoitinhos também – falo preocupada.
– Não, agora você vai arcar com as consequências... – Ele se levanta. –
Preciso voltar para o escritório, Jack, estou sem secretária, ela está doentinha
hoje! – Ele me levanta da cadeira. – Fica deitadinha, vou chegar cedo, está
bem? – Ele segura meu rosto e me beija carinhosamente.
– Ok, mas você me leva para minha casa à noite?
Ele enruga sua testa.
– Não, você não vai embora hoje. – Ele me olha com a testa franzida. – Quer
que eu ligue para sua mãe? Ela gosta de mim, eu digo que você precisa ficar
alguns dias em minha casa. – Ele sorri.
Reviro meus olhos.
– Minha mãe cuida de mim, Rui. Aqui em não tenho minhas coisas, e estou
muito chata. – Reclamo.
– A Jô cuida de você, vou pedir para ela comprar o que você precisar. – Ele
segue para a porta. – Eu volto cedo, fica quietinha, Jack, coloca um filme na
televisão.
Ele me dá uma última olhada da porta, pisca para mim e me manda um beijo
com as mãos.
Suspiro apaixonada, eu gosto de ficar aqui, mas quer saber, sinto falta da
minha casa, da minha mãe, ela sabe como cuidar das minhas enxaquecas, ela
tem seus chazinhos milagrosos.
Capítulo 47
RUI FIGUEIREDO
É final de tarde, trabalhei pra cacete hoje, tenho que confessar que a Jack tem
sido uma excelente assistente, e sua ausência hoje foi desastrosa para o meu
dia.
Mas, tudo bem, eu me viro, e também consigo que a Karen me ajude com
algumas coisas.
Vamos ver como ela estará amanhã, de qualquer modo, não quero que ela
venha trabalhar toda machucada, sei lá, estou me sentindo mal com isso,
culpado.
Meu celular toca e vejo o contato do meu amigo Carlão na tela.
Sorrio, tenho certeza que ele quer saber sobre a Jackeline, ele é um
putanheiro dos infernos.
O atendo no segundo toque.
– Fala, Carlão! – Atendo animado, já imaginando o que ele dirá.
– Então, Rui, quem é a gostosa? – ele diz rindo.
– Eu disse, é minha secretária, o nome dela é Jackeline! – falo sério.
– Então vocês estão namorando? – Ele ri. – Não acreditei muito nisso, por
acaso, essa é sua tática para despistar a loira?
– Não estou muito preocupado com a Priscila. – Dou uma pausa, não sei ao
certo o que dizer sobre mim e a Jack. – Eu e a Jack estamos saindo, nada
sério, o que você achou dela? – pergunto, só para não sair do script, é assim
que agimos entre nós, não posso mudar meu estilo.
– Gostosa, bem gostosa! – ele diz malicioso. – Quando não estiver mais a
fim, me dá o contato dela. – Ele ri, não gosto muito da brincadeira, mas
também não posso bancar o babaca, somos assim, gostamos de tirar barato
dos nossos casos.
– Pode deixar, te aviso quando descartá-la! – falo sem emoção, talvez me
sentindo mal de ter falado assim, mas balanço minha cabeça. A Jack é uma
mulher incrível, mas o que temos é temporário, não vou bancar o cara
ciumento e possessivo, não na frente desses caras, e virar motivo de piadas.
– Então, queria te fazer um convite! – ele diz animado.
– Manda cara, qual convite? – falo meio preocupado, não tem convite desse
cara que não inclua mulheres, ele é pior, muito pior do que eu.
– Eu fui naquele clube que os caras disseram, conheci duas garotas, elas são
um espetáculo cara. – Ele diminui sua voz. – Sai com uma delas, e... irmão, a
mulher é uma loucura. – O interrompo, ele enrola demais.
– E onde entro nessa, Carlão? – falo impaciente.
– Marquei com as duas lá naquele clube, vamos lá cara, parece que a amiga
é tão devassa quanto a que saí.
Penso na Jack.
– Não dá cara, a Jackeline está lá em casa esses dias – falo e coloco a mão
sobre minha testa.
– Tá casado, Rui? – Ele ri. – Não sai mais com os caras, não aceita convite
de putaria, não estou te reconhecendo.
Penso rapidamente.
– Hoje não dá, talvez amanhã. Me liga, Carlão, eu tenho uma reunião agora,
estou fodido! – Disfarço, e tento dispensá-lo.
– Tudo bem, vou até lá hoje, combinei com os caras, é aniversário do Beto.
Se der, dá uma passada lá, se a patroa te deixar, é claro! – Ele dá uma
risada enfadonha.
– Vai se foder, Carlão, depois a gente se fala!
Finalizo a ligação, e fico pensando alguns segundos.
Não posso fazer isso com a Jackeline, e eu não me sinto à vontade de sair.
Que merda, estou cada vez mais castrado pela aquela mulher.
****
Chego ao meu apartamento, olho ao redor e não vejo ninguém, nem o Bóris.
Subo as escadas, ouço risadas e um latido.
Abro a porta de meu quarto curioso, e lá estão a Jackeline e o Bóris vendo
televisão, numa cena muito interessante.
– Desde quando esse cara vê televisão na minha cama e come pipoca, Jack? –
falo divertido, não consigo ficar bravo com a Jackeline, e muito menos com o
Bóris.
Ele me olha com cara de coitadinho, o Bóris sabe que não pode subir na
minha cama, mas desde que a Jackeline entrou em nossas vidas, essa casa
está uma bagunça, eu não mando em mais nada.
– Oi, Rui. – Ela sorri para mim, tira a coberta do seu corpo e vem me receber
vestida em uma camiseta minha. – Desculpe, é que é tão chato ver televisão
sozinha! O Bóris adora filmes com cachorros, sabia? – Ela se dependura em
meu pescoço.
Abraço sua cintura e a encaro, ela me causa um sentimento bom, algo que
nunca senti antes.
– Nunca convidei esse cara para ver filmes em minha cama, você está o
acostumando muito mal, Jack!
– Só um pouquinho, Rui. – Ela me beija. – Você está cansado? Vou preparar
a banheira para você, depois posso fazer massagem nos seus pés, o que você
acha?
Sorrio e começo a tirar meu blazer.
– Perfeito! Mas eu tenho chulé, Jack! – falo de gozação.
– Oh! – Ela faz cara feia e tampa o nariz. – Tudo bem, eu passo um creminho
para disfarçar. – Ela ri e segue para o banheiro.
– Você parece melhor – digo a vendo animada.
– Sim, acho que descansei tanto que estou bem. Amanhã eu irei trabalhar, tá
bom? – ela diz enquanto abre as torneiras da banheira e eu tiro minha camisa.
– Não, fica mais um dia aqui, eu não me importo, a Karen está me ajudando –
falo despreocupado, jogando minhas roupas no cesto para roupas sujas.
– A Karen?! – Ela para o que está fazendo e me olha.
– Isso, ela sabe bastante coisa da rotina do escritório. – A olho de relance.
– Ah, claro! – Percebo uma mudança em sua atitude, ela ficou séria.
– Qual o problema, Jack? – A puxo para me olhar.
– Nenhum! – Ela sorri, disfarça, mas eu sei que ela tem ciúmes da Karen.
– Ela só está me ajudando enquanto você não volta, apenas coisas simples. –
Acaricio seu rosto. – O ferimento está fechando, daqui a pouco terá sumido. –
Beijo o local ferido.
A Jack tem um rosto lindo, vê-lo assim me deixa muito irritado.
– É verdade. – Ela termina de tirar minha calça e a boxer. – Pronto, agora
você pode entrar. – Ela segue em minha frente, tira minha camiseta e a
calcinha, e só de vê-la sem roupa fico excitado.
A sigo com o olhar enquanto ela entra na banheira e se deita me olhando.
– Vem, Rui! – Ela me olha com aquela expressão que adoro.
– Ok, Jackeline, já estou indo. – Entro na banheira, e me encosto ao seu
corpo, e sinto seus braços envolvendo meu corpo, assim como suas pernas.
– Eu vou fazer massagem, Rui! – ela diz em meu ouvido, sinto um arrepio, e
não consigo segurar uma ereção.
– Meu pau tinha outros planos para nós dois, Jack. – Levo sua mão até ele, a
fazendo acariciá-lo.
– Você quer que a massagem fique para depois? – Ela beija meu pescoço,
minha orelha.
Um novo arrepio percorre meu corpo, essa mulher me deixa louco.
– Isso, Jack... Sobe nele, minha deusa... – A puxo para meu colo e
começamos nossa noite do jeito que mais gosto.
Capítulo 48
JACKELINE BARTOLLI
Demorou cinco minutos, então a porta abriu e a Karen saiu gloriosa, com um
sorriso satisfeito no rosto.
– Dá licença, Jackeline, eu vou terminar essas coisas em minha mesa! Ela
pega alguns papéis e sai desfilando seu corpo maravilhoso no uniforme pouco
comportado para um ambiente de trabalho.
Fecho meus olhos e tento controlar meu temperamento, mas meu ramal toca e
vejo que é ele.
– Pois não? – falo seca.
– Vem até a minha sala, Jack.
Solto o ar e faço o que ele mandou.
Entro em sua sala, ele me encara enquanto caminho até ele.
– Tudo bem, Jack?
– Tudo ótimo! – respondo tentando ser civilizada.
– Não parece. – Ele me olha sério.
Minha vontade é tirar satisfação com ele, mas isso não faz muito sentido,
aqui é seu escritório, e essa piranha é sua funcionária.
– Você precisa de alguma coisa, Rui? Eu preciso ver alguns assuntos que
ficaram pendentes – falo irritada.
– Vem até aqui, Jackeline – ele diz incisivo, mas eu não estou a fim.
– Não, eu tenho muitas coisas para fazer, quero dizer, já não sei se tenho,
minha mesa já estava sendo ocupada por outra funcionária, meu computador
estava sendo usado por ela, e também, ela estava quase sentada em seu colo.
Ele dá risada, mas eu não estou achando nada engraçado.
Estou com um nível de irritação alto, no auge da minha TPM, e com meus
nervos bem afetados.
Ele se levanta e vem em minha direção, e se eu fosse ele, eu não faria isso. O
Renato costumava dizer que na TPM eu sou um cavalo!
– Ei, Jack, se acalma! A Karen estava me dando uma ajuda, eu te disse isso
ontem.
Dou um sorriso falso.
– Que tipo de ajuda ela te deu, Rui? Por acaso envolveu sexo?
Ele gargalha e isso só piora minha irritação.
– Você é muito ciumenta, Jackeline! – ele diz com sarcasmo.
Lanço um olhar assassino para ele e decido sair de sua sala e não ir adiante
com isso, não estou muito bem hoje para esse tipo de conversa.
– Dá licença, Rui. – Viro as costas para ele, e quando começo a caminhar
para a porta ele me segura, e faz eu olhar para ele.
– Você gosta de me deixar falando sozinho? – Ele me encara. – Eu estava
passando umas coisas para a Karen fazer, mas já que você é teimosa e não
ficou descansando em meu apartamento, pode reassumir sua função, não
precisa ficar brava por causa disso!
– Eu não estou brava! – Puxo meu braço, tento voltar a caminhar, mas ele me
impede. – Você pode me soltar, Rui? – falo irritada, muito irritada.
– Só se você me disser que está tudo bem. – Ele me puxa para junto de seus
braços.
– Está tudo bem. – Rosno. – Agora me solta – falo muito irritada.
– Só se você me der um beijo. – Ele me encara, olho no olho, com um
começo de sorriso nos lábios.
Fecho os olhos e respiro, volto a olhar para ele e o beijo rapidamente, apenas
um selinho.
– Assim não, Jack, caralho! – Ele me olha contrariado. – Eu quero um beijo
de verdade!
– Eu não estou a fim, Rui! – Tento me livrar dele, mas ele me segura com
força.
Então, ele enfia seus dedos entre meus cabelos, traz meu rosto até o seu e
mergulha seus olhos nos meus, intensos, profundos.
– É assim que quero que você me beije, Jackeline! – Seus lábios cobrem os
meus, urgentes, famintos, gulosos.
Eu não tinha a intenção de retribuir seu beijo, mas ficou difícil e quando me
dei conta, já estava com meus braços enganchados em seu pescoço,
retribuindo seus beijos com paixão.
Depois de me beijar muito, ele afasta nossos lábios, mas continua me
segurando.
– Está tudo bem agora? – ele diz me olhando intensamente. – Não aconteceu
nada entre a recepcionista e eu.
Seus olhos estão grandes e ameaçadores, mas não recuo, olho-o da mesma
forma.
– Espero que não, Rui! – respondo.
– Você pode ter certeza disso! – Ele me olha sério.
– Ok, me desculpe. Estou um pouco irritada hoje! – falo sem graça, talvez eu
tenha agido feito uma dessas namoradas loucas.
– TPM, Jack? – Ele me olha de lado.
– É, estou em meus piores dias, Rui – falo constrangida.
Ele continua me segurando.
– O que te acalma nesses dias? – ele diz com um sorriso safado no rosto.
Tento não rir, mas não consigo.
– Não sei, Rui!
– Beijos? – Ele beija meu pescoço. – Você ficou calminha agora.
Ai, que raiva dele.
– Te odeio, Rui! – Sussurro entregue aos seus carinhos. – Me deixa ir.
– Só quando você disser que me adora – ele diz em meu ouvido.
Oh, como ele é irritante... e delicioso!
– Te adoro – falo baixo, ele está de tão bom humor.
– Mais alto, Jack, eu não ouvi – ele diz em meu ouvido.
Fecho os olhos e sorrio.
Olho em seus olhos.
– Te adoro, Rui! – Sorrio. – Está bom assim?
Ele dá um sorriso torto, lindo.
– Está meio desanimado, mas tudo bem. – Ele me dá um último beijo. – Pode
ir, minha oncinha! – Ele dá um tapa em minha bunda.
Rosno, faço cara feia e o vejo seguindo rindo para sua mesa.
****
E uOdeio
sempre achei que não suportaria uma mulher como a Jackeline.
mulher brava! – Esbravejo puto.
Enquanto a olho sair furiosa pela porta, tento controlar a raiva que estou
sentindo.
– Ela me chamou do que? Imaturo e egocêntrico, é isso?!
Caralho, eu não admito isso! Ela mexeu com o cara errado!
Ando pela minha sala feito um animal nervoso.
O que aconteceu, porra?! O que afinal a deixou tão nervosa?!
Não posso acreditar que ela ficou daquele jeito porque a Karen estava em
minha sala!
Tudo bem, eu confesso que essa garota é uma diaba safada, fica se jogando
para cima de mim descaradamente, e pelo visto não ficou satisfeita com o que
aconteceu no dia anterior.
Mas a Jackeline não viu nada de mais.
Ok, eu preciso esclarecer isso com a Karen.
Ligo em seu ramal e peço para ela subir em minha sala.
Um toque na porta e a vejo entrando.
Seu sorriso não nega sua satisfação por eu chamá-la novamente.
– Pois não, Doutor Rui? – Ela sorri e se coloca ao meu lado da mesa.
– Você andou conversando com a Jackeline? – falo incomodado, de fato, nem
eu sei como falar sobre esse assunto.
– Como assim? – ela diz sorrindo.
– Você falou alguma coisa para a Jackeline sobre eu e você? – Insisto.
– Não! – Ela me olha de lado. – Eu nunca conversei com sua secretária, aliás,
ela é muito esnobe, nunca me cumprimentou, é mal-educada e me trata como
se eu não existisse. – Ela se aproxima mais. – Ela não gosta de mim, e tenho
certeza que está louca para me prejudicar junto a você. – Ela continua. – Ela
está sempre fazendo comentários maliciosos sobre mim para outros
funcionários.
Enrugo minha testa.
Não consigo ver a Jackeline fazendo fofoca, ela não gosta da Karen, mas
também não fica falando mal dela.
Porra, era só o que me faltava, lidar com as picuinhas entre a Karen e a
Jackeline.
– Certo! – falo irritado. – Tudo bem, pode ir.
– Doutor Rui, eu gosto muito de atendê-lo neste trabalho de secretária... – A
olho curioso. – Eu não me incomodaria de trabalhar como sua secretária. –
Ela se coloca praticamente no meio das minhas pernas. – Você parece tenso,
quer que eu te relaxe um pouco? – A vejo seguindo com os dedos até minha
braguilha.
Apesar de estar tenso pra cacete, não acho uma boa ideia deixar a Karen fazer
um boquete em mim.
– Karen, eu preciso resolver um problema agora, qualquer coisa eu te chamo.
Ela me olha decepcionada.
– Tudo bem. – Ela começa a caminhar para a porta, mas para e me olha. – A
Jackeline não irá trabalhar mais no escritório? Eu a vi indo embora.
A olho por alguns segundos, nem eu sei o que será da Jackeline na minha
vida, mas nesse momento eu não tenho condições de responder a essa
pergunta.
Simplesmente não sei o que quero.
Talvez fosse melhor que ela não voltasse mais, acho que fui longe demais
com ela, me envolvi e permiti que ela se envolvesse também!
De repente, era isso que eu precisava para acabar com esse relacionamento.
É isso, estou de saco cheio da Jackeline, ela me irritou demais com o que fez,
e se ela pensa que irei atrás dela, ela está muito enganada.
– Não sei, Karen! – respondo, não fui capaz de dizer que ela não voltará.
****
É final de tarde, alongo um pouco minhas costas, minha tarde foi uma merda,
essa história da Jackeline acabou com meu dia.
Resolvo dar uma passada no clube que o Carlão me falou.
Na verdade, clube é o jeito de dizer, é um puteiro de alto nível, um lugar
exclusivo para homens, executivos em sua maioria.
Eu preciso relaxar, voltar à minha antiga vida, aquela que eu tinha antes de
conhecer a Jackeline, e ver meu mundo organizado e metódico virar de ponta
cabeça.
Arrumo minhas coisas e sigo para o meu carro.
– Até amanhã, Karen! – digo rapidamente, mas ela se levanta.
– Posso pegar uma carona com você, Doutor Rui? – ela diz carente.
– Não! – digo secamente, a Karen está começando a me incomodar, não estou
gostando de seu jeito intrusivo. – Tenho um compromisso.
Não me dei o trabalho de checar sua expressão.
Entro no meu carro e sigo como um autômato para o lugar combinado.
Será bom rever meus amigos, hoje é um dia especial, é o aniversário de um
dos caras, estou precisando me desligar um pouco do trabalho, enfim...
Depois de alguns minutos de trânsito, chego ao local, entrego meu carro para
o manobrista e sigo para o interior da boate.
A música alta e o cheiro de cigarro me incomodam um pouco.
Acho que estou ficando velho! – Penso incomodado.
Logo vejo meus amigos em uma mesa grande, muita bebida e muita mulher.
O primeiro a me ver é o Carlão, ele levanta o braço animado, parece feliz em
me ver.
– Agora sim, irmão! – Ele aperta minha mão e bate energicamente em minhas
costas.
– E aí, cara? – O cumprimento rapidamente e sigo para cumprimentar os
outros amigos.
Converso um pouco com cada amigo, e então me sento ao lado do Carlão,
vejo duas garotas ao seu lado, logo ele as apresenta e a loira cola ao meu
lado.
Provavelmente o Carlão fez isso de propósito, ele sabe que adoro loiras.
– Meu nome é Jéssica! – Ela se apresenta, seu sorriso é perfeito, assim como
seu corpo. – Eu estou disponível, caso queira passar a noite comigo.
Sorrio para ela, preciso beber um pouco, apesar da beleza da garota, não
estou me sentindo empolgado.
– Tudo bem, Jéssica, mas acabei de chegar então...
– Ok! – ela diz sorrindo, se aproxima de mim e acaricia meus cabelos.
Eu não quero pensar na Jackeline, mas ela vem a minha cabeça, e com isso
um sentimento ruim.
Hoje você não vai estragar minha noite! – falo em pensamentos.
Sinto beijos em meu pescoço, e como se fosse uma maldição, sinto uma
ojeriza, um sentimento ruim, de rejeição em relação à puta.
Obviamente que ela quer garantir seu cliente, e por isso está tentando me
seduzir o mais rápido possível.
Eu sempre me diverti com isso, mas hoje não está fazendo efeito.
Ela está me incomodando.
– Gata, me dá um tempo... Eu estou meio nervoso, me deixe relaxar um
pouco sozinho. – Tento não ser grosseiro, mas pela sua cara, ela não gostou
muito.
Me levanto, caminho entre as pessoas, assisto um pouco ao show
de pole dance, mas não vou mentir para mim mesmo, não estou num bom dia
para vir aqui, infelizmente a Jackeline conseguiu acabar com meu dia e
minha noite.
– Não gostou da garota, Rui? – Desperto dos meus pensamentos, o Carlão
está ao meu lado.
– Ela é linda, gostosa, mas não estou com pressa, ela que espere. – Tomo um
gole do meu uísque.
– Quer trocar? Pode ficar com a morena, pensei em te deixar a loira por causa
das suas preferências! – Ele ri discretamente.
Olho para a mesa e vejo a garota, ela deve ter uns 19 anos, é linda, mas eu
estou muito fodido, a Jackeline é uma desgraça na minha vida, não consigo
pensar em sexo sem ela.
– Ela é bem gostosa, mas estou cansado, cara, preciso beber um pouco
primeiro e relaxar.
– Tudo bem, irmão, não tenho preferência. Também podemos fazer um
programa juntos, a gente pega as duas, pode ser bem divertido! – ele diz com
malícia.
– Valeu, vou pensar em sua proposta. – Sorrio sem muita vontade.
Volto a sentar na mesa, uma curiosidade monstro lateja em minha cabeça,
então pego meu celular, olho as mensagens e vejo que a Jackeline enviou
uma para mim.
Isso não deveria me surpreender, ou mexer comigo, mas não consigo
controlar a ansiedade que sinto.
Abro a mensagem e tenho vontade de matá-la.
Ela fotografou uma carta de demissão e me enviou por WhatsApp.
– Jackeline, sua sorte é que estamos a mais ou menos 30 quilômetros de
distância – falo para mim mesmo.
Uma raiva fora do normal pulsa em meu cérebro.
Eu não vou aceitar essa merda! – Esbravejo sozinho, e escrevo.
“Essa merda não tem valor jurídico nenhum para mim. Se você deseja pedir
demissão, leve essa porra pessoalmente ao departamento de RH.”
Mulher maldita, conseguiu acabar com qualquer possibilidade de uma noite
de sexo que eu teria com uma dessas putas.
Me viro rapidamente para o meu amigo.
– Eu preciso ir, cara, estou com um problema. – Coloco uma grana sobre a
mesa para pagar minha bebida, o Carlão me olha incrédulo.
– Alguém morreu? – Ele pergunta.
– Mais ou menos, talvez eu mate alguém! – respondo nervoso e saio.
****
Acordo com minha cabeça estourando, sigo para o banheiro e logo estou
descendo as escadas.
A mesa de café da manhã está posta, mas não sou capaz de comer, continuo
nervoso, na verdade preciso resolver essa questão com a Jackeline ou vou ter
um ataque cardíaco.
Durante o trajeto para o escritório tento formular algum plano em relação à
Jackeline, mas não consigo, estou bloqueado mentalmente.
Olho para ver se ela leu minha mensagem, provavelmente sim, agora só
queria saber qual sua próxima loucura.
Chego ao escritório muito cedo, sigo para minha sala, mas não consigo deixar
de olhar para sua mesa, e um sentimento de perda invade meu coração.
Eu não quero perdê-la, essa é a droga da verdade.
– Eu te odeio, Jackeline, por te invadido meu coração desse jeito e me
tornado dependente de você – falo para mim mesmo.
Eu mal sei o que tenho que fazer, eu realmente não sei o que fiz de tão errado
para deixá-la daquele jeito!
Ok, a primeira coisa a fazer é avisar meu gerente de RH. Ele não pode aceitar
nenhum pedido de demissão dela.
Escrevo um e-mail para o gerente, ele não vai entender nada, aliás, ninguém
me entende mais.
Agora é só esperar, eu tenho certeza que ela virá.
****
E nquanto espero a Jack fazer seus exames, tento organizar minha vida
profissional.
Nunca estive numa situação como essa, sem secretária, sem recepcionista, e
ausente do escritório.
Sou um cara controlador, gosto de manter meu escritório sob meu controle.
Tenho dificuldades para delegar, melhorei muito, mas existem assuntos que
ainda controlo pessoalmente.
Então, em momentos como esses, percebo que preciso melhorar ainda mais,
pois se um dia eu tiver um problema qualquer, que me impossibilite de
trabalhar, eu estou fodido!
Ligo rapidamente para uma empresa de RH, e peço para enviar para meu e-
mail alguns currículos de recepcionista.
– Senhor Rui, quais as características para o cargo? – A atendente pergunta.
– Bom, tem que ter boa aparência, ser bonita, jovem, por volta dos 18 anos,
esperta, comunicativa, simpática e... loira! – Termino a frase e olho para a
Jack, ela está dormindo.
– Ok, irei selecionar algumas candidatas e envio para seu e-mail e do seu
gerente de RH.
– Perfeito. Obrigado!
Encerro a ligação, enfio minha cabeça entre minhas mãos e bufo cansado.
Meu Deus, eu nunca me imaginei envolvido com uma mulher tão
complicada.
A Jack foi um presentinho de Deus para mim, irresistível, encantadora,
sedutora e deliciosa, mas também uma caixinha de surpresas, em todos os
aspectos.
Não sei como ela reagirá ao saber o resultado dos exames.
Quero muito que ela não tenha essa doença, pois ela é muito mais complicada
do que eu esperava.
Enquanto ela dormia, e eu já sabia do diagnóstico pelo médico de plantão,
pesquisei na internet sobre o assunto, e fiquei preocupado.
Não sei qual será o nosso futuro, mas eu sei do seu sonho de ser mãe.
Não será comigo, mas poderá ser com outro cara.
A ideia de vê-la com outro homem me deixa nervoso.
Bufo irritado.
Ainda não quero pensar no fim do relacionamento que temos, é bom demais,
a gente realmente combina, e apesar das recentes brigas e da constatação que
a Jack tem uma personalidade forte pra cacete, eu não quero perdê-la.
Agora é pra valer, embarquei de corpo inteiro nesse relacionamento.
Até a pouco tempo, eu ainda estava brincando de namorar, mas agora percebi
que com a Jackeline isso não vai funcionar.
Ou eu a assumo, ou sumo da sua vida. Escolhi a primeira opção, e vou
cumprir com a minha palavra.
Acho que estava mal-acostumado, envolvido com mulheres fáceis e sem
personalidade. Conhecer a Jackeline me fez ver que existem mulheres pelas
quais vale a pena mudar.
Me sinto bem com minha decisão, não quero e não vou decepcioná-la.
A vejo se mexer na cama, estou no corredor para não acordá-la, então volto
para o quarto.
– Oi, bela adormecida! Já acordou? – pergunto ansioso.
É estranho ver o outro lado de uma pessoa, a Jackeline sempre me pareceu
uma mulher forte, decidida, e que não aparenta fragilidade.
Mas, hoje ela não está assim. Sinto medo em seus olhos, apreensão, ela está
frágil, ela precisa de mim!
Me sento ao seu lado da cama e acaricio seu rosto.
– Cadê o sorriso, Jack? – Ela sorri fraco.
– Estou cansada de ficar aqui, queria ir embora! – Ela desvia seus olhos de
mim desanimada.
– Agora falta só mais um exame! – falo para animá-la.
– Pode ir, Rui, você não precisa esperar. Aliás, você está fazendo tanto por
mim, não sei como te agradecer! – Ela segura minha mão.
– Pode deixar que sei como você pode agradecer! – falo malicioso,
arrancando um sorriso lindo de seus lábios. – Sua mãe ligou, eu atendi e
expliquei tudo.
– Ela deve estar preocupada!
– Não se preocupe, eu a tranquilizei.
– Obrigada! – Ela sorri fraco. – Já saiu algum resultado?
– Não. O médico virá até o quarto no final do dia, acho que ele trará todos os
resultados – digo apreensivo. – Vai dar tudo certo, Jack!
– Tomara, Rui! Não quero ter isso, tenho tantos sonhos! – Ela tenta disfarçar,
mas percebo as lágrimas que inundam seus olhos.
Ela está tão frágil!
– Ei, vamos pensar positivo! Mesmo que você tenha esse problema, existe
tratamento, não é como um tumor maligno, é só um presentinho de grego que
recebeu quando nasceu! – Tento sorrir, brincar com o assunto, mas de fato
quem é boa nisso é ela.
A Jack que gosta de se divertir com suas desgraças.
Ela enxuga suas lágrimas e tenta sorrir.
– Eu vou te ajudar, Jack, você não está sozinha! – falo emocionado, difícil
isso acontecer comigo, mas é fato que a dor da Jack se tornou a minha dor.
Não a quero sofrendo, farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-la.
– Assim eu choro mais! – ela diz com os lábios tremendo. – Me abraça, Rui.
Meu peito aperta.
– Claro, minha deusa, eu faço tudo que você quiser! – A abraço forte, como
se pudesse passar nesse abraço a força que ela precisa.
Não sei ao certo o que sinto pela Jack, é forte, é verdadeiro, mas não é amor!
É carinho, é afeto, vontade de cuidar, de tê-la comigo.
Não sei o que é amor, parece que nasci desprovido desse sentimento!
Nos afastamos, seguro seu rosto entre minhas mãos, deposito beijos por toda
a sua face, o gosto salgado de suas lágrimas inunda meus lábios, mas não
ligo, pois é bom demais estar com ela, mesmo que esse não seja o melhor dos
nossos momentos.
– Obrigada, Rui! – ela sussurra. – Eu... – Ela me olha intensamente. – Eu... –
A sinto titubear.
– O que foi? – A encaro curioso.
– Nada, só queria te agradecer por estar aqui comigo! – ela diz carinhosa.
Inclino-me sobre ela e cubro seus lábios com os meus.
A beijo sem pressa, sem a paixão que costumamos dividir um com o outro.
É só carinho, querer bem!
– Adoro essa boca, sabia? – digo próximo aos seus lábios. – Acho que não
consigo mais te beijar sem querer mais, eu até achei que conseguiria, mas não
consigo!
Ela sorri, me abraça forte e beija meu rosto.
– Você é o homem mais incrível que já conheci! – Ela volta a me olhar, olhos
brilhantes, e expressivos. – Mas, não se ache, pois também tem muitos
defeitos!
Gargalho, ela não dá ponto sem nó!
Um toque na porta e então uma enfermeira entra.
– Está pronta, Jackeline? Vamos fazer o último exame, então você estará livre
de mim! – A mulher diz simpática.
Ela se arruma na cama, mas a enfermeira pega uma cadeira de rodas.
– Você irá aqui, mocinha! Não posso tirar o soro ainda.
A Jack faz uma careta, o que me faz rir.
– Então tá, fazer o quê?
Sigo as duas pelo corredor do hospital.
Não nego minha apreensão, parece até que sou eu que sou o paciente.
Capítulo 53
JACKELINE BARTOLLI
S igo pelos corredores do hospital onde estou e sinto meu coração acelerado.
Acho que esse será o quinto exame que faço hoje. Agora farei o último e
talvez o mais importante, é uma ressonância da minha região pélvica, onde
essa maldição de doença costuma se espalhar.
Já rezei tanto para que eu não tenha essa tal de endometriose, que estou
exausta emocionalmente.
E se eu não puder ter filhos?
Não, não pensarei negativamente, como o Rui disse, esse problema tem
tratamento.
Penso no quanto ele está sendo companheiro comigo, seu carinho, atenção, e
a fortuna que está gastando!
Nunca conseguirei pagá-lo por isso!
Não sei o que seria de mim se não tivesse conhecido o Rui.
Agora, pensando bem, acho que os primeiros sinais dessa doença surgiram
em mim por volta dos meus 20 anos, não tenho certeza.
Nem sempre senti tantas dores, o que me assustava mais era o fluxo intenso,
cheguei a ter anemia, mas minha mãe achava que era porque eu vivia fazendo
regimes. A partir dos meus 25 anos, aproximadamente, as dores passaram a
ser insuportáveis, antes me deixavam de cama, mas minha mãe me tratava
com suas receitas milagrosas.
Sei lá, talvez eu tenha sido irresponsável em não ter me cuidado, mas é que
depois da morte do meu pai nossa situação ficou tão difícil, que evitei a todo
o custo gastar com coisas que não fossem necessárias.
Desde então, vem piorando, mas como eu não tinha uma assistência médica,
e o atendimento público é péssimo, não me cuidei direito, fui levando,
tomando remédios caseiros, analgésicos.
Mas, enfim, nada posso fazer em relação a isso, agora já foi!
Finalmente chegamos à sala de exame, um rapaz me leva até uma maca
grande, onde existe um aparelho enorme.
Ele me posiciona embaixo do aparelho, me dá algumas recomendações e o
exame começa.
Fecho meus olhos e tento pensar coisas boas.
Controlo minha respiração, estou quase ofegante.
Depois de longos minutos ele avisa que terminou e respiro aliviada.
Saio da sala de exames e encontro o Rui sentado em um banco, ele me olha e
sorri.
– Pronto? – ele diz com um sorriso.
– Sim, agora é só esperar o médico – respondo.
A enfermeira chega apressada, e nos interrompe.
– Vamos voltar para o quarto, Jackeline, o médico encontrará vocês lá! –
Sorrio para ela, e me contento em ser escoltada em uma cadeira de rodas até
meu quarto.
Me deito novamente na cama, o Rui se senta ao meu lado.
– Você está se sentindo bem, quer comer alguma coisa? Eu posso ir buscar na
lanchonete! – ele diz carinhoso.
– Eu não vi você comendo nada, Rui! – falo preocupada com ele.
– Fiz um lanche rápido na lanchonete, no jantar me alimento melhor! – ele
diz arrumando meu cabelo atrás da minha orelha. – Quer que eu compre um
pão de queijo? Eu sei que você adora! – Ele sorri.
– Não precisa, esse soro tirou minha fome. – Acaricio seu rosto, mas o seu
celular toca.
Ele olha para o display.
– Preciso atender, é do escritório! – Ele se levanta.
– Fica à vontade! – Me sento na cama, pego meu celular e ligo pra minha
mãe.
– Mãe, é a Jack!
– Jackeline do céu! Que agonia, filha! – ela diz apavorada, quero dizer,
minha mãe é sempre apavorada.
– O Rui não te explicou? – pergunto.
– Sim, mas eu precisava falar com você! Você está bem? Já fizeram os
exames? Esse rapaz é muito bom para você, preciso agradecê-lo
pessoalmente...
– Mãe, está tudo bem, mas ainda não tenho o resultado dos exames. Depois
te ligo para dizer, não sei se pedirei para o Rui me levar, ele está muito
cansado! – cochicho, o olhando falar freneticamente no corredor.
– Estou rezando para que não seja nada sério, eu também tinha essas
cólicas infernais, você puxou a mim, é só isso! – ela diz com simplicidade.
De repente me vejo pensando na minha mãe e na possível herança que ela
me deu.
– Mãe, por que você não teve outros filhos? – falo cuidadosa.
– Não consegui mais engravidar, você foi meu único presente de Deus! – ela
diz com seu jeitinho de mãe extremamente doce e meiga.
– Você não foi ao médico para ver isso? – falo incomodada.
– Não, no meu tempo não havia esses médicos todos e não tínhamos dinheiro
para essas coisas! Mas, por que você está perguntando isso?
Olho novamente para o Rui, e o vejo rindo no telefone, e por mais que não
queira, me vejo enciumada.
– Nada, é só curiosidade. Teria sido bom ter tido irmãos – falo com meu
pensamento longe. – Vou desligar, mãe, eu te amo! – falo emocionada.
– Eu também, querida! Se cuida e não se preocupe comigo e com as outras,
eu me viro por aqui, estamos bem.
Penso na vida de sacrifício da minha mãe, trancada dia e noite dentro
daquele apartamento, cuidando da minha avó e da minha tia. Sempre quis
dar a ela uma vida melhor, mas percebo o quanto isso é difícil, tudo se
resume a dinheiro, sempre ele.
– Tchau, mãe, manda um beijo para a vovó!
Desligamos a ligação.
Me ajeito na cama, olho para o Rui, agora ele parece checar suas mensagens,
e me vem àquela vontade louca de saber com quem ele se comunica.
Pode ser apenas profissional, mas...
Tento espairecer, pego novamente meu celular e checo as mensagens.
Vejo uma mensagem da Carolina e sorrio!
Abro seu contato e leio a mensagem.
“Jack, o escritório todo está falando do babado forte que houve entre você e
o Doutor Rui. Alguns mais exagerados juram que ele te colocou no ombro e
saiu te carregando para uma sala de reunião.”
Respondo sorrindo.
“Parece até mentira, mas foi verdade.”
A vejo digitando online.
“Meu Deus, me conta essa história!!! E a história da Karen, o que houve?
Ela sumiu e minha estagiária disse que ela foi demitida, e que você foi a
responsável por isso.”
Olho para o Rui, agora ele digita no celular.
Volto minha atenção a minha conversa com a Carolina.
“Carol, aquela piranhazinha estava querendo envenenar o Rui contra mim,
ela levou a dela.”
“Nem fala, odiava aquela garota, ela só tinha beleza, caráter nenhum.
Então, mas o que houve que vocês dois não vieram para o escritório?
Trepando até agora? Risos!”
Dou risada.
“Tive mais uma daquelas crises de cólicas, estávamos juntos, passei muito
mal e ele me trouxe a um hospital. Estou fazendo alguns exames, tomei uns
medicamentos, tipo sossega leão. Agora estou esperando os resultados,
parece que tenho endometriose. Você conhece isso?”
Aguardo enquanto ela digita.
“Já ouvi dizer, mas não sei nada sobre o assunto. Depois me conta, agora
fiquei preocupada.”
Respondo:
“Tudo bem. Depois conversamos. Um beijo.”
Ela responde:
“Outro, Jack.”
Volto meu celular para a mesinha de apoio do quarto.
O Rui está novamente falando no telefone, parece nervoso, gesticula muito.
E então um médico entra no quarto, me sento novamente com o coração na
boca.
– Jackeline Bartolli? – ele diz sério.
– Sim! – respondo ansiosa, olho para o Rui, ele está olhando para nós, mas
parece enrolado na ligação.
– Eu sou o ginecologista de plantão... – Ele mexe nos envelopes em suas
mãos. – Dei uma olhada em seus exames, e o diagnóstico de endometriose se
confirmou! – ele diz, mas eu já havia me conformado com o diagnóstico do
outro médico.
– E então? O outro médico havia dito alguma coisa sobre o grau.
O Rui entra na sala e cumprimenta o médico.
– Através da ressonância consegui ver muitos locais onde há endométrio
instalado, útero, trompas e ovários. Apenas com uma vídeolaparoscopia
teremos certeza do quando ele comprometeu seu órgão reprodutor, mas de
antemão, digo que a doença não atingiu órgãos importantes como o intestino
e bexiga, isso me deixa um pouco mais tranquilo.
Tento ver com otimismo o que ele disse.
– Recomendo que você procure seu ginecologista com urgência, para que ele
possa seguir adiante com o diagnóstico da doença, apenas com os exames de
imagem não conseguimos ter noção do quanto a doença comprometeu seus
ovários, por exemplo.
– Como assim? – pergunto preocupada.
– Somente com a incisão de uma câmara em seu útero, conseguiremos ver o
quanto o órgão reprodutor está realmente comprometido, em alguns casos é
necessário retirar os ovários, e até mesmo o útero. Existem casos em que o
risco de câncer no colo do útero é eminente, então a retirada do órgão é a
melhor coisa a se fazer.
Um bolo se forma em minha garganta e meu coração dispara.
Tento segurar as lágrimas, mas não consigo.
O Rui entra na conversa.
– Então, o que precisamos fazer para tratar a doença, evitar que piore?
– Claro. – O médico pega em sua mão algumas prescrições. – Aqui está o
nome do anticoncepcional que você deverá usar, ele ajudará a controlar o
fluxo, isso ajudará no controle da doença, e ajudará também evitar a
formação de novos cistos em seus ovários. Através dos exames pude notar
que você já tem esse problema. – Ele pega um novo papel. – Aqui estão os
nomes dos medicamentos que você usará quando estiver sentindo dor.
Me sinto em estado de torpor, angustiada, triste.
– Ok. – Pego os papéis.
– Procure um bom ginecologista para te acompanhar, eu deixei anotado aí o
nome de uma colega, ela é especialista no assunto. – Ele me entrega os
exames. – É muito importante acompanhar a evolução da doença e, se
necessário, intervir através de cirurgia.
Penso preocupada no problema que agora tenho em minha vida. Nunca mais
poderei ficar sem uma assistência médica.
Não quero e não posso ser dependente do Rui.
Oh, meu Deus, só peço que não me abandone! – Sinto meus olhos arderem.
– Você já está liberada, Jackeline! – Ele aperta minha mão. – Boa sorte!
– Obrigada! – Olho para o médico enquanto ele sai.
– Vamos, Jack? – O Rui me olha carinhoso. – O que você acha de tomarmos
um banho e sairmos um pouco para relaxar?
Penso em dizer que não quero, mas acho que isso me fará bem.
– Tudo bem! – Sorrio.
– Então, vamos! Tem um lugar ótimo que quero que você conheça.
****
Saio da loja de automóveis próximo a minha casa, e a única certeza que tenho
é que nunca dei um presente tão caro para uma namorada.
Está saindo meio caro esse namoro! – Penso alto, dirigindo em direção ao
meu apartamento.
Depois de alguns minutos, estou de banho tomado, toalha na cintura, deitado
em minha cama, sem a menor noção do que fazer.
Zapeio a televisão, olho alguns programas, mas por fim, desisto, estou me
sentindo meio perdidão.
Eu poderia ligar para o Carlão, mas aí me lembro de que ele vai querer ir a
algum puteiro, e não estou a fim.
– Ok, você tinha uma vida antes de conhecer a Jackeline, que tal voltar a ela?
– falo comigo mesmo. – Tipo o que?
Não estou a fim de me exercitar, mas estou precisando, não treino há
praticamente um mês, o personal trainer já até desistiu de me ligar.
– Tudo bem, vou correr um pouco na esteira! – Coloco uma roupa
confortável e desço para a minha academia particular, que fica num espaço ao
lado da área de lazer.
Uma hora e meia de corrida e o resultado sou eu, o chão e a esteira
encharcados de suor.
Sigo até um dos aparelhos, exercito um pouco os braços, tórax, e finalmente
paro.
– Estou morto, Bóris! – falo com o cachorro, que se deitou ao meu lado. –
Vamos lá, Bóris, preciso tomar um banho e jantar, depois a gente pode ligar
para a Jack. – Penso um pouco. – Não, lembra a história de macho carente?
Então, acho melhor não, amigão.
Capítulo 55
JACKELINEBARTOLLI
S ubo no elevador entorpecida pelos beijos do Rui, é uma pena que ele não
tenha aceitado subir, teria sido muito bom, aliás, essa história de vivermos
grudados um ao outro está fazendo um estrago enorme.
Não consigo mais ficar longe dele!
Às vezes, o sinto carente, sei lá, o Rui não combina muito com essa
definição, mas quando nos despedimos, o senti tão carente de mim!
Balanço minha cabeça!
– Não veja coisas onde não existe, Jackeline! O cara não é capaz nem de
dizer um “te adoro” para você. – Penso alto.
Ok, ele diz que é louco por mim, mas acho que é sexualmente.
Tudo se resume a tesão, sexo, desejo carnal.
Estamos juntos há praticamente um mês, num relacionamento intenso, nos
vemos todos os dias, passamos o dia juntos, quase todas as noites, e até os
finais de semana, mas não o sinto entregue de corpo e alma.
A gente se curte, se dá bem na cama, nos divertimos, rimos, mas
relacionamentos não são feitos só disso.
Balanço novamente minha cabeça.
– Vá com calma, Jack! – falo para mim mesma.
Talvez, todas as notícias a respeito da minha saúde tenham me deixado para
baixo.
É bom estar com ele, mas não teremos um futuro juntos, será sempre assim.
Ele não quer nada mais sério, e eu, talvez não tenha muito tempo para
enrolar, não sei quanto tempo tenho ainda para conseguir engravidar, se é que
engravidarei.
Chego ao meu andar, pego minha chave e entro.
– Jack! – Minha mãe vem apressada me receber.
– Oi, mãe! O que foi, tudo bem? – Estranho seu jeito.
Ela me empurra para a cozinha.
– A senhora está esquisita, o que foi? – digo preocupada.
– Advinha quem está aí – ela diz desanimada.
– Quem, mãe? – A imagem do Renato vem a minha cabeça, mas isso não faz
sentido.
– O Renato! – Ela cochicha. – Eu o coloquei em seu quarto, porque sua tia e
sua avó começaram a falar umas besteiras, então achei melhor deixá-lo lá.
– No meu quarto, mãe! – A olho aborrecida.
– É, não tinha outro lugar! – Ela faz cara de coitadinha.
– Tá bom, vou conversar com ele! – Sigo para a sala, antes beijo o rosto de
minha avó, minha tia. – Tudo bem, meninas? – falo para disfarçar.
– Estou de namorado novo lá no salão, Jackeline, ele é um homem lindo,
lembra seu namorado, o... o... como ele chama mesmo, Reginaldo? – Faço
uma careta.
– Rui, tia! Que bom, espero que agora dê em casamento, vou adorar ser sua
madrinha.
Me sento ao lado da minha avó.
– Tudo bem, vovó? – Acaricio seus cabelinhos brancos.
– Querida, o magricelo loiro está aí, mas não dê muita atenção a ele, o outro
moço é muito melhor, que homem, minha neta! Você viu o tamanho dele,
Amélia? Eu o vi pelado, e o negócio dele me assustou, filha. – Tampo a boca
da minha avó.
– Vovó, por favor, não fale essas coisas, é muito chato! – cochicho.
– Chato é ficar velha, quem me dera ser jovem e ter um homem daquele, não
sairia do quarto com ele. – Ela dá uma gargalhada. – Infelizmente, o seu avô
não era bem-dotado, o negócio dele era muito pequenino! – Ela faz uma cara
feia, mede com os dedos o tamanho.
Olho para minha mãe e ela parece desconsolada.
– Oh, meu pai! Ela está cada dia pior, Jack! – Minha mãe coloca a mão na
cabeça.
– Vovó, eu preciso ir falar com ele.
– Não esqueça o que eu disse, Jackeline, não dê atenção a esse pau de virar
tripa! Ele tem cara de que tem pinto pequeno. – Saio rapidamente da sala,
respiro e abro a porta do meu quarto, e vejo o Renato sentado em uma
poltrona, lendo um de meus livros espíritas.
Ele se levanta constrangido.
– Desculpe, eu só estava dando uma olhada, sua mãe pediu para te esperar
aqui! – Ele diz humilde, daquele jeito que o deixei da última vez.
Não gosto de vê-lo assim, queria ver o Renato de antes, ogro, sem educação.
– Oi, Renato! – Fecho a porta. – Você deveria ter me avisado que viria aqui.
Ele me interrompe.
– Se eu avisasse, você não viria para casa, me evitaria.
– Desculpe... – Olho para o chão. – Você está bem, o que houve? – falo
constrangida.
– Sobrevivendo, sinto sua falta, de um jeito que não achei que sentiria! – Ele
me olha entristecido, ele continua com sua expressão de desolação, e isso me
deixa mal.
– Renato, por favor, segue adiante, será melhor para nós dois.
– Para mim, não, talvez para você! – Ele me olha de cima a baixo. – Você
está diferente, parece que o cara está te comprando com roupas, talvez joias
também.
Enrugo minha testa.
– Você está me chamando do que, interesseira? – falo com raiva.
Ele esfrega seu rosto.
– Não, desculpe, não vim aqui para fazer isso. – Ele se aproxima de mim. –
Eu queria te ver, saber se você está bem, penso demais em você, e sonhei
esses dias com você, não foi um sonho muito bom, então queria ter certeza
que você está bem.
Meu coração aperta, sempre fomos muito conectados, ele sempre sabia
quando eu não estava bem.
– Descobri que tenho uma doença no útero, chama-se endometriose! – Me
sento na cama.
– Eu tenho uma funcionária que tem isso, é um pouco grave... – Ele me olha
preocupado. – Você está bem?
– Tenho sentido muitas cólicas, muito sangramento. Mas você já sabia disso,
lembra? – digo sem graça.
– É verdade, me desculpe, nunca desconfiei que fosse o que a Luiza tem, ela
se ausenta dias do trabalho, você sempre foi tão forte, aguentava firme.
Sorrio.
– Acho que sou resistente à dor, mas esses dias tive uma crise muito séria, o
Rui me levou ao hospital... – Olho para ele, ele desvia o olhar de mim. – Fiz
alguns exames e então chegaram ao diagnóstico.
– Você e o playboy continuam juntos? – Ele parece tão magoado comigo.
– Sim! Estamos namorando, Renato.
– Duvido que seja pra valer, ele não é o tipo de cara que leva uma mulher a
sério – ele diz com ódio no olhar.
– Talvez você não o conheça tanto quanto acha conhecer, vocês só se viam
no elevador – falo com ironia.
– Conheço as pessoas, sou um líder de equipe, não preciso de muita coisa
para saber que tipo de cara ele é, mas, você não é uma menina tola. – Ele se
levanta. – Eu trouxe um presente para você. – Ele tira um pacote de uma
sacolinha. – É igual ao da minha mãe, você sempre disse que queria um colar
igual aquele.
– Oh, Renato... – Sinto meus olhos encherem de lágrimas.
Ele não fez isso!
Eu sempre adorei um colar que sua mãe carregava na garganta, era uma joia
de família, mas era lindo. Apenas um colar de ouro branco, e uma pedra
lapidada chamada malaquita.
Sua mãe dizia que tinha recebido de sua bisavó, e que ela tinha propriedades
de cura, fortalecimento espiritual, e mais algumas coisas que não me lembro.
Ele pega o pacote, vejo uma caixa de veludo vermelha, ele a abre, e lá está o
colar mais lindo do mundo.
Nunca gostei de joias, mas essa é especial, não sei dizer, sempre me fascinei
com essa joia de sua mãe.
Duas lágrimas caem dos meus olhos, por que ele está complicando ainda
mais as coisas?
– Renato, eu não posso aceitar – digo sem querer magoá-lo.
– Eu sei que demorei em te dar isso, mas é que nunca encontrei essa pedra,
mas recentemente um amigo foi para Tailândia, pedi para ele ver se achava, e
então ele trouxe. – Ele pega o colar em suas mãos. – Aceita, Jack, não estou
pedindo nada em troca.
– Eu não mereço... – As lágrimas escorrem pelo meu rosto, estou
emocionalmente frágil, e ele não está me ajudando em nada com isso.
– Merece sim. – Ele sorri. – Pelo tempo que me aguentou, sou um cara
complicado, eu sei disso – ele diz um pouco amargo. – Não sei se encontrarei
alguém que me entenda como você me entendeu, Jack!
Respiro fundo, não sou completamente imune as suas palavras, eu só queria
que fôssemos compatíveis na cama, sinto muito carinho por ele.
Ele se aproxima mais e mais.
– Dá licença – ele diz com seu olhar de menino tímido e coloca o colar em
meu pescoço. – Ficou lindo em você, o verde combina com a cor da sua pele.
Passo meus dedos pela pedra.
– Obrigada, Renato! – Enlaço seu pescoço com meus braços e o abraço forte,
e sinto seus braços em minha cintura, num abraço cheio de sentimentos.
Ficamos assim por alguns segundos, mas não quero que ele confunda as
coisas, então me afasto, seco as lágrimas do meu rosto.
– Obrigada, de verdade! Não vou mais tirar do meu pescoço – digo de
coração.
– Espero que não esconda por causa daquele cara. – Ele cerra suas
mandíbulas.
– Não! Nenhum homem me põe medo, Renato! – digo decidida.
– Eu sei disso, talvez você coloque medo nos homens, não o contrário! –
Sorrio com sua piadinha. – Quer sair para jantar? Imagino que você não
comeu ainda.
Oh, meu Deus, como ele é insistente! Eu não conhecia esse lado do Renato.
– Eu estou muito cansada, e as cólicas já começam a dar sinal de vida, então,
vou tomar meu remédio e me deitar, amanhã acordo muito cedo.
Ele levanta a mão, acho que está cansado das minhas ladainhas.
– Ok, não precisa ficar se explicando, eu já vou! – Ele me olha intensamente.
– Tudo bem, vou te levar até a porta. – Viro nos calcanhares e saio andando
rapidamente até a porta.
Passo pela sala como um furacão, não posso dar chance das minhas idosas
dizerem alguma besteira.
O espero no meio do corredor dos elevadores, aperto o botão do elevador e o
sinto parar a minha frente, a milímetros de distância.
Olho para cima, sem graça com a situação, e então ele me beija, e eu permito
pela segunda vez.
Mas as borboletas na barriga, assim como a moleza nas pernas e os
batimentos cardíacos acelerados não acontecem.
Me afasto rapidamente e o elevador abre.
– Obrigada, Renato, o colar é lindo!
– Te amo, Jack, e se você me permitir, eu continuarei sendo seu amigo. – Ele
entra no elevador. – Mudei de prédio, estou em outro endereço, se quiser
conhecer meu novo apartamento, me liga. – Ele pressiona o botão, fazendo a
porta se fechar.
Encosto na parede, e fico alguns minutos olhando para o teto.
Minha vida seria tão mais fácil se eu estivesse com ele, ele quer casar
comigo, quer ter filhos.
Será que vale a pena eu continuar nesse relacionamento com o Rui?
Ele é apaixonante, carinhoso, atencioso, mas não pode me oferecer o que
quero!
Mas eu os sentimentos, o que faço com eles?
Talvez eu devesse ser prática, objetiva e fria, como o Rui.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto.
– Não sei o que fazer, eu só queria ser mãe, eu quero muito ser mãe, será que
é pecado querer tanto assim? – falo comigo mesma.
– Jack! – Desperto dos meus pensamentos.
– Oi, mãe!
– Vamos jantar? Estou aflita, quero saber sobre o resultado dos exames, filha.
Sigo até ela.
– Tudo bem.
– Que colar é esse? Que coisa mais linda, filha! Foi o Rui que te presenteou?
– Ela segura a pedra entre seus dedos.
– Não, foi o Renato!
Ela larga a pedra e me olha.
– O Renato? – Sua expressão não nega sua surpresa.
– É! Estranho, não é mesmo? – Sigo para o interior do apartamento.
– Ele está usando todas as armas para te ter de volta, não esperava isso dele,
sempre foi tão desligado, esquisito – ela diz com uma careta.
– Às vezes, uma separação, um namorado novo, causam mudanças que não
esperávamos. – Penso um pouco.
Passo pela sala.
– Jackeline, o que é isso em seu pescoço? – Giro meus olhos ao ouvir minha
vovozinha gagá me chamando.
– Nada, vovó, é só um colar. – Penso em seguir para meu quarto, mas ela se
levanta e vem ao meu encontro.
– Me deixe ver isso. – Ela olha atenta para a pedra. – Quem te deu isso, foi o
loiro sarnento?
Reviro meus olhos.
– Vovó, não fala assim dele! Sim, foi ele. – Tento sair, mas ela não me deixa.
– Isso aqui tem cara de macumba para atrapalhar sua vida. Tira isso, não
deixe esse fedelho estragar seu relacionamento com aquele moço bonito! –
Ela olha para minha mãe. – Amélia, eu já te disse que vi o bilau do rapaz, é
enorme. – Tampo meus ouvidos e sigo para o meu quarto.
– Jesus, minha avó está cada dia pior.
****
Quero deixar claro que não tenho nada contra loiras, na verdade, eu as invejo.
Gosto de ser sincera, e aqui não mentirei, acho as loiras estonteantes.
Houve uma época da minha vida, que achava que poderia ser loira, então, por
volta dos meus 18 anos, encharquei meus cabelos com descolorante e fiquei
parecendo um travesti. Daquele dia em diante, resolvi me conformar com
minha morenice.
Mas, o fato de ver um desfile de loiras estonteantes na minha sala, provocou
em mim certa revolta.
Por que só tem candidata loira?
Essa é a pergunta que lateja em minha mente, e que irei descobrir daqui a
pouco.
Cada uma das quatro loiras se senta a minha frente, pernas cruzadas, aliás,
todas são altas, magras, e de novo, estonteantes.
Que raiva, elas são todas clones da vaca da Karen.
Então é isso, ele gosta de loiras, como sou idiota, a Priscila é loira, a Karen
era loira, e a próxima recepcionista será loira.
Jackeline sua idiota, esse cara é um safado inveterado.
Sorrio para as donzelas, todas em sua tenra idade, não devem ter mais que 19
anos, ele também gosta de bebês.
– Olá, qual o nome de vocês? Preciso achar aqui o currículo para o Doutor
Rui entrevistá-las. – Tento ser simpática, mas não consigo.
Cada uma das princesas me diz seu nome, imprimo os currículos que ele
tinha me enviado pelo e-mail, e vejo o histórico profissional delas.
Que engraçado as lindezas só trabalharam em eventos como recepcionistas,
ou em feiras, tipo a feira do automóvel, todas são como modelos, nenhuma
fez nada da vida, uma das lindezas frequenta a faculdade de Moda, a outra de
Hotelaria, e as duas outras apenas fizeram cursos “de modelo”.
Sorrio novamente para elas, elas não têm culpa.
Coloco novamente o colar que o Renato me deu.
Quer saber, não levarei o Rui muito a sério, ele é um cretino.
– Aguardem um momento, daqui a pouco o Doutor Rui chamará por vocês! –
Sigo para sua sala.
Abro e entro, e ele olha novamente para o colar.
– Qual o problema, Jackeline? Achei que tinha sido claro com você! – ele diz
nervoso.
Não me dou ao trabalho de responder.
– Qual o pré-requisito para ser a recepcionista de seu conceituado escritório?
– Não o deixo responder. – Talvez loira? – O encaro cheia de raiva. – Alta?
Magra? Estudante de Moda? Hotelaria também serve?
Ele pisca os olhos nervosamente.
– O gerente de Recursos Humanos que selecionou – ele diz sem graça.
– Como você é mentiroso! – Ele tenta me interromper, mas não o deixo. –
Você não tem vergonha na cara. – Estou enfurecida. – Qual o teste que você
fará agora? Um boquete, uma sentada no colo, o que mais?
Sinto meu coração na boca, meus nervos estão à flor da pele.
– Não é nada disso, Jackeline, mas que porra! – Ele se levanta, vem em
minha direção, mas coloco minha mão bem aberta em sua frente.
– Não chegue perto de mim, não o levarei mais a sério! Você é um palhaço,
Rui Figueiredo! – Saio batendo meu salto alto, mas ele entra na minha frente,
se posiciona na frente da porta, me impedindo de sair.
– Jackeline, seja uma pessoa razoável, eu preciso de uma pessoa com boa
aparência para recepcionar os clientes, não estou preocupado com a faculdade
que ela faz, e o fato de ser loira foi coincidência.
Não suporto ser enganada, nem tratada como uma idiota, então perco a
cabeça, e bato pela segunda vez em seu rosto.
Ele me olha enfurecido, mas não se move.
– Não sou idiota nem retardada, talvez você precise de garotas assim para se
relacionar, mas não será comigo. – Sinto minha cabeça latejar. – Sai da minha
frente.
– NÃO!!! – Ele grita, respira feito um touro enfurecido, fecha os olhos,
balança sua cabeça. – Ok, Jackeline, então qual a sua opinião a respeito do
melhor perfil para uma recepcionista de um escritório de advocacia?
– Qualquer um! Loira, morena, negra, ruiva, velha, nova, gay, diversidade,
meu caro Rui Figueiredo... – bufo com raiva. – Existem muitas pessoas
inteligentes que poderiam ocupar esse cargo, e engrandecer o atendimento do
seu escritório.
Ele coloca suas mãos sobre seu rosto, bufa feito um touro, e volta a me olhar.
– Ok, Jackeline, você venceu. Dispense as garotas, você irá escolher “a nova”
ou “novo candidato”, talvez um gay, você disse isso, não é mesmo? – Ele
enruga sua testa.
Então, num movimento rápido ele arranca o colar do meu pescoço, me
deixando atônita.
– Você quebrou meu colar! – falo indignada.
– Vou guardar isso para você, tenho um cofre, ele ficará bem lá. – Ele sai da
porta, e caminha a passos largos para sua mesa.
– Você não tem esse direito! – falo possessa.
– Assim como você tem o direito de interferir na contratação dos meus
funcionários, eu tenho o direito de interferir no que você usa. – Ele se senta
em sua mesa, coloca o colar em sua gaveta. – Vai, Jackeline, dê uma
desculpa para as meninas, diga que a secretária do chefe não gostou delas.
Olho para ele com a boca semiaberta.
Estou incrédula!
– O que eu digo? – pergunto confusa.
– Se vira, Jackeline! E me deixa sozinho, você já me irritou demais, o
correspondente a uma semana inteira.
Saio da sala dele, olho para as garotas sem graça.
– O Doutor Rui está muito ocupado, então, eu irei entrevistá-las. – Sorrio de
novo, eu fiz uma grande cagada. – Vocês me acompanhem até uma sala,
faremos uma entrevista em grupo.
Elas sorriem meio sem graça, apenas uma garota parece interessada de
qualquer modo.
****
Nos sentamos em uma mesa redonda, olho uma por uma, elas não parecem
gostar muito da mudança de planos.
– Então, me fale um pouco sobre você, Larissa, é isso? – Começo pela mais
simpática.
– Bom, tenho 18 anos, ainda não comecei minha faculdade, na verdade meus
pais estão sem grana para pagar – ela diz sem graça.
– E o que você quer prestar? – pergunto com o currículo dela em minhas
mãos.
– Quero fazer Gastronomia, adoro cozinhar, aprendi com minha avó, mas
essa faculdade é bem cara, e o curso é diurno, fica difícil trabalhar e estudar...
– ela diz desanimada. – Talvez eu faça administração, apenas para ter uma
faculdade.
– Você já tentou uma dessas bolsas de estudos do governo? – Sinto pena da
garota.
– Não, preciso primeiro entrar em algum curso, é complicado – ela diz,
parece inteligente, esperta.
– Certo... – Penso um pouco. – Você gosta de lidar com pessoas, do trabalho
de recepcionista?
– Mais ou menos, mas me dou bem nessas feiras, a aparência ajuda.
Desanimo.
– Você poderia escrever para mim uma redação? O assunto que você quiser!
– Entrego para ela um bloco de papéis.
– Ok. – Ela sorri, e concluo, ela é muito bonita, não serve para ser a secretária
do Rui, irei morrer de ciúmes.
Sigo para a próxima.
– Você é a Patrícia, é isso?
– Sim! – ela responde, não parece muito simpática.
– Me fale um pouco sobre você.
– Meu sonho é trabalhar em um grande hotel, tipo o Gran Hyatt. Também
penso em trabalhar em cruzeiros, adoro viajar...
– Sei, e porque você não tenta um trabalho como este? Por que está se
candidatando a um cargo num escritório de advocacia?
– Oh, não sei, minha mãe disse para eu tentar.
– Entendo... – Olho para essas meninas com pesar, todas estão perdidas. – Se
eu fosse você, tentaria apenas o que você quer de fato, não faça o que não
gosta, só te trará frustração.
Ela sorri timidamente
– Obrigada pelo conselho. Estou dispensada? Não gosto muito de escrever,
aliás, sou péssima.
Olho para ela decepcionada.
– Tudo bem, pode ir.
Termino de entrevistar as outras duas, e não vejo nada muito diferente, todas
perdidas, mal sabem por que estão aqui.
Por fim, apenas duas quiseram fazer a redação, as outras duas simplesmente
desistiram apenas pelo fato de ter de escrever.
Lamentável.
Finalmente termino a entrevista.
Sigo com os currículos para minha sala, mal sei o que fazer com as anotações
que fiz, não quero e não vou escolher a próxima recepcionista.
Sigo para a sala do Rui, bato na porta, ele me olha por sobre seus óculos.
Ele não está para conversa, então vou logo ao assunto.
– Não achei justo dispensar as meninas sem ao menos entrevistá-las, então
tomei a liberdade de fazer isso. – Coloco os currículos sobre sua mesa. –
Aqui estão minhas anotações a respeito de cada uma delas, mas duas delas
desistiram quando pedi para escreverem uma redação.
Ele nem ao menos me olha, então viro em meus calcanhares e sigo para a
porta.
– Escolha você, tire esses papéis daqui! – Ele pega os papéis em sua mão e os
direciona para mim.
– Eu não vou escolher ninguém! – Abro a porta e saio, mas me surpreendo
com a porta abrindo.
Ele sai nervoso, joga os currículos sobre minha mesa.
– Eu já disse, você irá escolher “A” profissional ou “O” profissional para este
cargo. – Ele me encara intensamente. – Não quero falar mais sobre este
assunto, Jackeline, a responsabilidade agora é sua!
Ele dá as costas para mim, entra e bate a porta de sua sala com força.
Olho para a cena incrédula.
Oh, que merda que fiz!
Capítulo 56
RUI FIGUEIREDO
Olho em meu relógio de pulso, estou com meu estômago dando voltas,
preciso almoçar!
Me levanto, coloco meu terno e sigo para a porta, mas paro por alguns
segundos.
Eu tinha planos de almoçar com a Jackeline em meu apartamento, não
iriamos só almoçar, é lógico, mas isso foi antes dela fazer aquela ceninha
ridícula.
Ok, ela está me dominando um pouco, mas só um pouco, e apesar de estar
louco de tesão por ela (infelizmente quando brigamos isso piora), não vou
ceder ao charme daquela filha da puta.
Saio de minha sala e a vejo digitando em seu computador.
– Estou saindo para o almoço. – Não me dou ao trabalho de olhar para ela,
mas aí me lembro da confusão que ela armou por causa da recepcionista,
então volto. – Já começou a selecionar os novos candidatos? – Ela me olha
confusa, seus lábios vermelhos levemente abertos, que boca linda que essa
mulher tem... Foco, Rui, caralho! – Quero uma pessoa iniciando até o início
da próxima semana, Jackeline, não posso ficar com a recepção abandonada.
Eu te dou dois dias para me apresentar as opções.
– Rui, eu nunca fiz isso na minha vida, por favor.
A interrompo.
– Peça ajuda ao Recursos Humanos, em dois dias quero ver as opções, e até o
final da semana precisamos definir quem será o novo, ou a nova profissional.
– Ok! – Ela me olha desanimada.
Giro em meus calcanhares e saio apressado, agora ela conhecerá o seu chefe
de fato. Nunca fui bonzinho com funcionário, ela está muito mal-acostumada.
****
Um manobrista abre a porta do passageiro para mim, desço com sua ajuda,
mas logo o Rui aparece ao meu lado, coloca sua mão em minha cintura e me
encaminha junto com ele para a entrada do restaurante.
O local é refinado, chique e silencioso.
Ouço apenas um leve zum zum zum ao fundo, mas as pessoas falam baixo,
cochicham.
Acho que ricos não falam alto, ponto negativo para mim, filha de italiano, às
vezes me empolgo e falo meio alto.
Faço uma careta ao ver aquelas pessoas elegantes e ricas me olhando.
Dou uma leve olhada para meu vestido, para checar se não há algo de errado,
e então o Rui diz:
– Vem, Jack, a mesa é aquela ali! – Ele gesticula com a cabeça, e logo vejo a
loira maldita e seu pai numa mesa de canto.
Meu coração dispara ao vê-los, o Rui me olha de lado, aperta minha mão
contra a dele, e beija meus cabelos, num gesto simples, mas muito carinhoso.
Sorrio para ele, e então chegamos à mesa.
A loira me olha com uma cara de surpresa, ela não esperava que ele me
trouxesse.
Sorrio provocativa para ela, mas minha vontade é voar em seu pescoço.
– Boa noite! – O Rui diz com um sorriso no rosto, ele também é bem
provocativo.
O velho levanta, parece meio assustado, me olha de cima a baixo, e então
estende sua mão para o Rui, que o cumprimenta.
– Essa é a Jackeline, você deve se lembrar dela. – O Rui diz, estendo minha
mão para o velho, e ignoro sua filha.
– Boa noite! – falo falsamente, apenas fazendo meu papel de acompanhante
do Rui.
– Como vai, Priscila? – O Rui se dirige a Priscila, que apenas dá um sorriso
amarelo para ele, ela me olha, me fuzila com os olhos.
– Vamos nos sentar? – O homem diz constrangido, parece sem graça com
minha presença.
O garçom puxa a cadeira para mim, o Rui se senta ao meu lado, e logo pega
minha mão, e a segura em seu colo.
O garçom começa a anotar o pedido de bebidas, então cochicho no ouvido do
Rui.
– Quero vinho tinto! – Ele me olha sorrindo e me dá um selinho.
Oh, estou quase pulando de felicidade, e louca para jogar o vinho nela e
manchar sua linda camisa de seda rosa claro e sua saia tipo lápis creme.
Capítulo 58
RUI FIGUEIREDO
Ficamos num silêncio agradável enquanto ele janta, vez ou outra ele coloca
um pedaço de alguma coisa em minha boca, eu apenas bebo o vinho que ele
pediu.
– O que você achou do banho de vinho que dei na Priscila? – falo com
deboche.
– Perfeito, melhor que isso, só virando a garrafa inteira na cabeça dela. – Ele
dá risada, parece ter adorado o que fiz. – O tapa também foi legal, senti em
mim, você colocou bastante força, deve ter doído.
Dou uma risada divertida.
– Adorei ter batido nela! – Bato palmas feito uma louca, e ele balança a
cabeça, parece não acreditar na minha alegria.
Ele volta a comer, e eu beberico seu vinho.
– Rui, por que ela estava te provocando com a história do tal de Fernandez?
Ele para de comer, me olha seriamente, e então desvia seus olhos de mim.
– Nada, Jack, é que esse cara é um desafeto que tenho, já estivemos frente a
frente no tribunal, ele não gosta de mim, e eu dele.
– Você ficou tão nervoso com ela, achei que havia algo a mais. – Olho para
ele, e ele me olha, então desvia seus olhos de mim, parece incomodado com
esse assunto.
– Não, não há nada demais, apenas ela me irritou com seu jeito, com suas
provocações.
Dou de ombros.
– Entendi! – Disfarço, não vou insistir, mas acho que há mais do que
simplesmente provocações.
Espero ele terminar de comer, ele se estica na cadeira e me olha
sensualmente.
– O que faremos agora? – ele diz.
Sorrio do seu jeito.
– Não sei! – O olho de lado. – Alguma sugestão? – Faço charme.
Ele se levanta, pega em minha mão e me puxa para a pista de dança.
– Vamos dançar? – falo rindo ao me ver no centro da pista, ele liga as luzes
piscantes, e coloca uma música lenta.
– Isso, my lady! Como você adivinhou? – ele diz brincando, abre o laço do
meu roupão e me deixa nua na pista de dança.
– Vamos dançar sem nenhuma roupa? Talvez eu pudesse ficar com o roupão!
– Olho para o roupão no chão.
– Nua, Jackeline! Se fosse possível queria vê-la o tempo todo nua, minha
deusa. – Ele tira a toalha que está em sua cintura, e mostra toda a sua
virilidade.
Que homem mais lindo, senhor!
– Então, tá! – A música começa a tocar, ele me abraça pela cintura, eu o
abraço pelo pescoço, e ficamos nos olhando, e dançando.
Sorrio da situação, é difícil resistir a ele vestida, nua então, é quase
impossível.
– O que foi? – ele diz com um sorriso de canto de boca. – Não gostou de
dançar assim?
Dou risada.
– Gostei, mas é que tem um negócio duro na minha barriga.
Ele olha para seu pau.
– Não consigo controlar esse cara, ele é meio compulsivo – ele diz
debochado.
– Sério?! Nunca percebi isso! – Brinco.
Voltamos a ficar em silêncio, ele me aperta mais ao seu corpo, sinto sua
respiração em minha orelha, e então sua voz baixa, rouca e sedutora.
– Eu te adoro, Jack!
Sinto um gelado no peito, uma coisa boa, eu queria que ele dissesse isso
todos os dias, desse jeito, ou olhando em meus olhos.
Tudo bem, eu preferia um “eu te amo”, mas vou me contentar com um “eu te
adoro”, acho que evoluímos muito desde que nos conhecemos.
Me afasto um pouco de seu peito, o olho emocionada e sorrio.
– Satisfeita agora?
– Sim, muito! – respondo.
Ele se inclina sobre mim, envolve meus lábios com os seus e me beija, de um
jeito diferente, intenso, apaixonado, cheio de sentimentos.
E assim, mais uma vez esquecemos nossas diferenças, os seus problemas, os
meus problemas, e nos encontramos e nos perdemos um no corpo do outro,
numa sintonia, e numa harmonia que nunca senti com ninguém.
Se não é amor o que sentimos um pelo outro, deve ser algo muito próximo, é
bom demais estar com ele, sentir que sou sua, e que pelo menos por
enquanto, ele é meu!
****
Semanas depois.
Entro no consultório da médica especialista em endometriose.
Nos cumprimentamos rapidamente, ela é bastante objetiva, um tanto quanto
seca, mas parece competente.
Falo rapidamente do meu histórico, ela olha todos os exames que fiz no
hospital e então, finalmente fala, e agradeço, já estava ficando agoniada, essa
mulher parece uma múmia.
– Então, Jackeline, não tenho dúvidas sobre seu diagnóstico, mas pedirei um
exame de vídeolaparoscopia para analisarmos melhor o seu útero, ovários,
enfim, é assim que procedo normalmente. Pela imagem dos exames seus
ovários não parecem muito comprometidos, mas é importante checarmos isso
com cuidado.
– Doutora Mariana, quero muito ser mãe, você acha que será possível? – falo
com cuidado, tenho medo da resposta, mas não posso evitar esse momento.
– Não sei, Jackeline, isso dependerá do quanto a doença comprometeu seus
ovários! – Respiro fundo. – A endometriose pode comprometer seriamente os
óvulos, os tornando enfraquecidos, difíceis de serem fecundados. Mas, ainda
assim, uma fertilização in vitro pode ser a solução, seu útero está ok, você
pode manter uma gestação, enfim. Tudo dependerá do que vermos neste
exame.
– Certo! – A olho entristecida. – Podemos marcar para logo, não aguento
mais a agonia de esperar para saber se poderei ser mãe ou não!
Ela dá um sorriso insosso.
– Você é casada? – Ela olha discretamente para minha mãe esquerda.
– Não! – Me sinto constrangida.
Ela levanta levemente suas sobrancelhas, talvez pensando porque estou com
tanta pressa se nem casada sou!
– Oh, claro, preciso examiná-la, deite-se na maca.
Sigo para um biombo, tiro minha roupa e me deito na maca.
Ela faz o exame de toque, e então fala:
– Sinto seus ovários um pouco endurecidos, possivelmente são cistos que se
formaram em função da doença.
– Mais uma notícia ruim, não é mesmo? – Seguro as lágrimas.
Ela não diz nada, o que me parece um sim, mas uma notícia ruim.
– Você pretende tentar engravidar de imediato, ou somente para o futuro? –
ela diz cuidadosa.
– Não tenho um macho interessado em me engravidar, então será para o
futuro.
Pela primeira vez, vejo seus dentes, ela sorri, pelo visto gosta de uma
piadinha sarcástica.
– Bom, então vamos seguir com os exames e cuidar de você. Pode se
levantar. Não vejo necessidade de uma cirurgia para retirada dos excessos,
mas precisarei vê-la a cada seis meses, não vamos descuidar, se você ainda
quer ser mãe, e espero sinceramente que o seja, não podemos deixar a doença
avançar em seu útero.
Sorrio, no final das contas, ela parece ter coração.
– Doutora, só mais uma dúvida. – Ela me olha interessada. – Esse
procedimento in vitro é eficaz, e... eu nunca conseguirei engravidar da forma
convencional?
– Jackeline, cada caso é um caso, existem mulheres que precisam fazer a
inseminação várias vezes, porque muitas vezes o óvulo não vinga quando é
colocado no útero. Quanto à outra pergunta, as chances são muito pequenas,
porque suas trompas estão comprometidas, o que impede o espermatozoide
conseguir fecundar o óvulo. Será muito difícil, quase impossível, mas...
– Oh, que merda! – Fecho os olhos e respiro. – Qual o custo desse
procedimento, quero dizer da fertilização in vitro?
– Uns dez mil reais por procedimento...
Arregalo meus olhos.
– Oh!!! – falo admirada. – E normalmente quantos procedimentos são
necessários?
– Depende, existem mulheres que fazem até dez inseminações, ou mais. Mas,
também, já vi casos em que apenas três foram suficientes, enfim, cada caso é
um caso.
No mínimo preciso ter trinta mil reais, o que não é pouco.
– Ok! – respondo desanimada.
Enquanto ela faz as prescrições médicas, penso no que ela disse.
Se houvesse a chance de engravidar pelo método natural, eu teria coragem de
enganar o Rui e engravidar dele, e sumiria, já que ele não quer ser pai.
Mas, pela primeira vez na minha vida, não preciso me preocupar com
camisinhas e pílulas, porque não irei engravidar.
E penso no custo dessa merda de fertilização in vitro, uma pequena fortuna,
não é qualquer casal que pode fazer isso, as chances de eu me tornar mãe
estão cada vez mais difíceis.
Merda de vida!
****
D esde meu encontro com a Priscila e seu pai, naquele jantar desastroso,
não consigo mais dormir em paz.
Algo em meu íntimo, um sexto sentido, não sei, mas algo me diz que terei
problemas com a Priscila, só não sei quando.
Eu preciso me abrir com alguém sobre isso, mas não pode ser com a Jack.
Tenho sido sincero e honesto com a Jack desde que assumimos nosso
relacionamento, mas não tenho coragem de contar a ela sobre meu passado.
Me sinto envergonhado, gostaria de esquecer essas coisas que fiz, para
sempre, mas não consigo, e a prova disso está nos arquivos da promotoria,
onde agora tenho uma inimiga de peso.
Pego meu celular e ligo para o meu pai, estou precisando falar com ele.
A ligação completa.
– Rui! Como vai, filho? – ele diz animado como sempre.
– Bem, pai. E o senhor? – respondo.
– Tudo certo, analisando um processo complicado. – Ele sempre está
enrolado, o que me leva a pensar que meu pai nunca irá se aposentar. – Mas,
então, o que houve, você me parece preocupado?
Meu pai me conhece muito bem, é impossível esconder algo dele.
– Pai, a Priscila está agora na promotoria de São Paulo.
– Oh, que surpresa, não sabia que ela estava se preparando para isso.
– É, ela sempre quis isso e agora conseguiu! – falo irônico. – Lembra-se do
promotor Fernandez? Ela irá trabalhar com ele!
– Oh, como se esquecer daquele pé no saco... – Ele bufa irritado. – Mas, Rui,
seja direto, o que está te preocupando? Já se passaram muitos anos, seu
processo foi arquivado e você absolvido.
– Estive em um jantar com o Albuquerque e sua filha, talvez a Priscila ainda
achasse que havia chances de retomarmos nosso relacionamento, mas o fato
de eu ter levado a Jackeline comigo acabou destruindo qualquer
possibilidade de voltarmos.
– Você gosta dessa moça, Rui? Essa tal Jackeline?
Me sinto constrangido de falar sobre sentimentos com meu pai, mas não
posso esconder da minha família o que está havendo entre mim e a Jack.
Estou apaixonado por ela, estamos juntos, e cada dia que passa estamos
mais envolvidos.
Acho que está na hora da minha família aceitá-la!
– Sim, gosto, e gostaria que vocês a conhecessem melhor. Ela é muito
especial para mim.
– Claro, a traga novamente para passear em nossa cidade, mas peça para
ela colocar roupas mais comportadas. – Ele dá uma gargalhada, e não
consigo deixar de rir com ele. – Ela assustou um pouco sua mãe, você
conhece a Dona Raquel, ela é muito tradicional, acabou tendo uma falsa
impressão da moça.
Reviro meus olhos.
– A Jackeline não é uma mulher qualquer, pai. Ela só estava vestida daquele
jeito para me agradar – falo me sentindo culpado.
– Tudo bem, Rui. Sou homem, percebi que vocês estavam em momentos de
intimidade, o problema é sua mãe, mas não se preocupe com isso! – Ele fica
quieto por alguns segundos. – Será que agora terei chances de ser avô por
parte do meu filho primogênito?
Penso um pouco...
– Não sei, pai! – respondo pensativo, estou apaixonado pela Jack, mas isso
não quer dizer que queira me casar com ela, ter filhos, essa é outra história.
Ainda é muito cedo para pensar nisso, faz poucos meses que estamos juntos.
Fico em silêncio, mas meu pai retoma o assunto.
– Bem, vamos voltar ao que estávamos falando. Qual sua preocupação com
relação à Priscila?
Respiro e inspiro pesadamente.
– Ela está magoada por tudo o que aconteceu, e aproveitou a ocasião em que
estávamos todos reunidos para sugerir que o promotor Fernandez tem a
intenção de retomar antigos casos. A verdade, pai, é que ela quer se vingar
de mim, porque mulher rejeitada é pior que ex-mulher – bufo exausto. –
Estou preocupado, se esse assunto cair em mãos erradas, ou vazar, minha
reputação de advogado honesto e respeitado irá por água abaixo, estarei
arruinado.
– Não acredito nisso, Rui. O caso está arquivado há anos, você foi absolvido
pelo Albuquerque!
– Sei lá, pai, o senhor pagou pela minha absolvição, e o tal do Fernandez
nunca engoliu isso, pode ser que agora ele ache um jeito de desenterrar essa
merda. – Me levanto e ando em círculos pela minha sala.
– Tudo bem, Rui, fique calmo. Vou pensar num jeito de descobrirmos se há
algum movimento na promotoria para rever o seu caso.
– Certo, mas tome cuidado com quem o Senhor fala, o Albuquerque tem seus
contatos.
– Fique tranquilo, eu também tenho minhas fontes. – Ele sorri.
– Obrigado, pai, e não fale nada sobre isso com minha mãe! Ela
pode querer falar sobre o assunto com a mãe da Priscila e aí a merda está
feita.
– Claro, não falarei nada. Cuide-se, filho, e traga novamente essa moça
aqui, quero conhecê-la melhor.
Sorrio.
– Sim, farei isso. Um abraço.
Desligo.
Me jogo em um sofá confortável de minha sala e tento me acalmar.
Em nada adiantará ficar nervoso.
Talvez a Priscila só quisesse mesmo é infernizar minha vida.
Ok, preciso da minha deusa para me acalmar, e então faço a coisa que ela
mais odeia no mundo, berro bem alto seu nome e dou risada de mim mesmo.
– Jack!!!
A porta abre num solavanco e minha oncinha preferida aparece com sua cara
assustada.
– Quem morreu? – ela diz brava. – Você precisa de um megafone? Eu posso
providenciar para você, Rui – Ela fecha a porta.
Sorrio para ela.
– Estou precisando de uma massagem, Jack! Faz isso para o seu chefinho
querido? Pode tirar a roupa e ficar à vontade! – Começo a abrir os botões da
minha camisa.
– Não, Rui, eu tenho um mundo de coisas para fazer – ela diz apavorada, me
fazendo rir do seu desespero.
– Relaxa, Jack, acho que você está tensa. – Caminho até ela, jogo minha
camisa na cadeira.
– Não, Rui! – ela diz rindo. – Nem mais um passo! Eu preciso trabalhar, Rui,
me deixa em paz! – Agarro sua cintura.
– Agora não, Jack! Agora é hora de namorarmos um pouco. – Começo a
depositar beijos em seu pescoço. – Vamos foder bem gostoso, Jack. – Abro o
zíper de sua saia e tranco a porta.
– Rui você está muito mal-acostumado! – Ela reclama, mas já está de olhos
fechados, completamente entregue. – Oh, meu Deus, eu tenho tantas coisas
para fazer, e ao invés disso estou trancada com meu chefe safado.
Dou risada.
– Você não vive mais sem o seu chefe safado! – Apalpo seus seios deliciosos.
– Não quero mais você vestida com essa blusa, se vestir, não tira o blazer –
falo faminto e ciumento. – Esses seios são só meus, não quero ninguém
olhando para eles. – Abocanho seus mamilos rosados.
– Ahhh... – ela geme. – Mas foi você que me deu essa blusinha! – ela
sussurra.
– Mas só pode usar ela para mim. – Volto a sugar seus mamilos.
– Oh, Rui! – ela geme. – Depois fazemos isso, estou cheia...
A interrompo.
– A gente faz rapidinho, Jack! Preciso relaxar, minha deusa, estou tenso pra
caralho! – A coloco sobre a mesa de reuniões, abaixo minha calça, afasto sua
calcinha e a penetro deliciosamente. – Tá gostoso, minha delícia? – Me
movimento vagarosamente dentro dela.
– Sim! – ela diz em um gemido. – Hummm, que delícia, me beija! – Ela abre
levemente sua boca vermelha, me enchendo de tesão.
Fodo forte sua buceta.
– Você gosta assim, Jack?
Ela geme alto.
– Gosto, Rui! Ahhh, continua...
– Assim? – Faço com força, do jeito que ela gosta.
– Isso... – Mais um gemido de prazer. – Não para, eu vou gozar! – ela diz
com os olhos fechados.
Invado sua boca com a minha, e fodo com força, segurando suas coxas, e
pressionando seu corpo contra o meu.
E então explodo de prazer, em ondas alucinantes, parece que não vou parar
nunca de gozar, mas por fim, a exaustão do sexo me atinge, e finalmente
paro.
Fui até outra galáxia, sexo com a Jackeline é sempre incrível.
– Que delícia, Rui! – Ela relaxa sua cabeça em meu ombro.
Abro meus olhos e encontro os dela, brilhantes e vivos.
– Valeu a pena perder uns minutos comigo? – Faço charme.
– Sempre vale a pena! – Ela me encara. – Te amo, Rui! – Seus olhos ficam
ansiosos.
Essa é a segunda vez que ela diz que me ama, e isso é bom demais.
– Eu também, Jack! – Volto a beijá-la, ainda não estou preparado para falar
essas palavras, elas têm um significado muito forte para mim, só quero falá-
las de verdade quando tiver certeza absoluta que é isso que sinto.
Sou complicado no amor, tenho medo de me entregar, ela precisará ter calma
comigo.
Separamos nossos lábios, ela segue para o banheiro para se arrumar, ajeito
minha camisa, e logo ela volta.
– Sua mãe gostou do carro? – pergunto curioso.
Ela sorri.
– Claro, ela não é boba nem nada! Levei as três para darem uma volta
comigo, as levei para tomar um sorvetinho! – Ela dá uma risada. – Foi
cômico, Rui.
– Que bom, mas hoje você fica comigo, um dia sim e outro não, para
ninguém ficar com ciúmes! – A abraço novamente, a Jack me passa uma
energia boa, ela tira meu estresse, meu mau humor.
Está certo que de vez em quando ela me estressa e me deixa de mau humor,
mas uma coisa tem compensado a outra.
– Então agora me deixa ir, grudentinho. Tenho que trabalhar, Rui. – Ela
choraminga. – Já estou com os dois candidatos que quero te mostrar. – Ela
faz uma careta.
Afasto-me dela e sigo para minha mesa.
– Quer adiantar alguma coisa? – Me sento, coloco meus óculos e volto para
meus processos.
– Você está com um tempinho?
– Para você, sempre. – Relaxo em minha cadeira.
– Vou buscar os currículos, já volto! – Ela sai e volta apressada, a Jack é uma
excelente profissional.
Eu nunca imaginaria que ela se sairia tão bem como minha assistente, eu só
queria conquistá-la, e olha só no que deu.
Ela se senta a minha frente, e me entrega os currículos.
– Rui, talvez eu não seja a pessoa mais qualificada para escolher a pessoa que
ficará na recepção do seu escritório, eu fiquei com ciúmes de você, por isso
armei aquela confusão toda. – Sorrio de sua confissão. – Não quero mais ver
loiras circulando por aqui, sou possessiva, é isso.
Volto a relaxar em minha cadeira e a olho sorrindo.
Oh, mulherzinha difícil! – Penso.
– Então, o que você quer dizer com esse discurso? – A olho intensamente. –
Posso dar um palpite? – Não a deixo responder. – Você não selecionou
nenhuma mulher, é isso?
– Selecionei, sim. Mas ela não é uma modelo, mas é inteligente, sabe falar e
escrever, tem 25 anos, enfim, é uma pessoa comum.
– Certo, e o que mais? – Cruzo meus braços.
– A outra pessoa... – Ela mexe nervosamente em seus papéis.
– Sei... – Já vi que vem bomba.
– É um gay.
Dou uma risada alta e escrachada.
– Gay? Qual a sua fascinação por gays, já não chega o seu ex-namorado?
Ela faz uma careta.
– Você não tem certeza que ele é gay.
Me irrito com a necessidade que ela tem de defender esse maldito.
– Nem você, Jack. Às vezes, parece que você quer que ele seja homem de
verdade, talvez ainda tenha planos de voltar com ele. – O nível de minha
irritação aumentou, odeio falar sobre esse cara.
– Rui, por favor, não estamos falando sobre isso, e nem eu estou interessada
em ninguém! – ela diz indignada. – Caramba, me deixe falar sobre o
candidato.
Respiro e inspiro para me acalmar.
– Fala, seja rápida. – respondo estressado.
– Ele é um menino de 20 anos, cursa Direito, é muito inteligente, tem uma
ótima postura, não é afetado, se é isso que te incomoda. – Ela solta o ar
ruidosamente. – Ele foi tão bem nos testes que fiz, ele escreve muitíssimo
bem. E está tão empolgado para trabalhar em um escritório de advocacia. –
Ela me olha intensamente. – O entreviste, só para você saber do que estou
falando.
– Não sei se daria muito certo, prefiro uma mulher, elas se dão melhor no
atendimento.
– Entre nós, você tem preconceito, não tem? – Ela me olha seriamente.
– Não, a Carolina é homossexual, eu sei disso, e nem por isso tenho
preconceito contra ela.
– Mas ela é mulher, não tem nenhum advogado gay em seu escritório. – Ela
me encara.
Que mania que essa mulher tem de se meter com meus funcionários, porra!
– Jack, não me diga que agora você quer meter o seu dedinho podre nos meus
advogados? – A encaro realmente bravo. – Caralho, que mania que você tem!
– Não quero saber de seus advogados, só fiz uma observação. – Ela se
levanta. – Vamos fazer o seguinte, peça para o departamento de Recursos
Humanos escolher a candidata do seu jeito, não quero me meter com seus
funcionários.
Ela pega seus papéis, e sai nervosa em direção à porta, mas antes que ela a
abra eu grito.
– Voltei aqui, Jackeline!!! Estamos conversando, caralho!!! – falo nervoso.
Ela para com a mão na maçaneta, vira em minha direção e me olha com sua
cara de italiana folgada.
– Pois não?
Ela é muito folgada, merecia uns tapas em seu bunda gostosa.
– Aqui, Jackeline! – falo autoritário.
Ela caminha sensualmente, exibindo um bico do tamanho do mundo.
– Você está merecendo levar uns tapas em seu bumbum gostoso, sabia?
Ela segura seu riso.
– Pode dar, eu gosto! – ela diz bem safada.
Sorrio, ela adora me provocar.
– Talvez à noite eu queira bater bem forte, te fazer gritar até o vizinho do
andar de baixo reclamar para o zelador.
Ela solta uma gargalhada, no final, a Jack é uma devassa deliciosa.
– Marque para os dois virem aqui conversar comigo, o mais rápido possível,
você está demorando demais com isso.
Ela sorri satisfeita, no final das contas, estou fazendo tudo que ela quer, mas
tudo bem, talvez eu precise oxigenar um pouco minhas ideias.
– Obrigada por confiar em mim. – Ela se senta em meu colo, me abraça e me
beija.
– Não disse que confio em você. – A provoco.
Ela se levanta nervosinha.
– Jack, controla seus nervos, caralho!
Ela me olha por cima de seu ombro e sorri.
– Tchau, seu chato!
Então, ela sai rebolando seu traseiro delicioso, e sem querer já estou
imaginando sacanagens, e como será nossa noite de sexo.
Capítulo 61
JACKELINE BARTOLLI
A credito que estou vivendo a melhor fase da minha vida, estou plena no
amor, estou feliz com meu trabalho, e minha vida está maravilhosa como
nunca esteve.
Tudo bem que ainda existem problemas que me incomodam, como por
exemplo, a endometriose, mas tenho procurado não pensar muito sobre isso,
estou me cuidando, farei o tal exame que a médica pediu, enfim, não tenho
como controlar isso. No final das contas, estou nas mãos de Deus, é ele quem
dirá se um dia serei mãe.
Estou aguardando a chegada dos dois candidatos para o cargo da recepção, e
confesso que estou ansiosa, foi muito difícil escolher uma pessoa que me
agradasse, mas acima de tudo, pensei no escritório do Rui, alguém que
contribua de fato, e que não sirva apenas para embelezar o ambiente.
Tenho que confessar, amei o rapaz, ele é maravilhoso, inteligente, agradável,
mas também fiz questão de escolher uma garota, ela é bonita, inteligente e
formada.
Sei lá, havia outras pessoas interessantes, é muito difícil escolher alguém para
uma vaga, tentei usar meu bom senso e um pouco do meu conhecimento em
Psicologia, não sei se fui feliz, espero que sim.
A campainha toca, e como não temos recepcionista, desço as escadas
apressada, acho que estou ficando com as pernas musculosas, de tanto subir e
descer escadas.
Mas, tenho que dizer, não me importo de estar trabalhando em dobro, faço o
que o Rui me pedir, ele é maravilhoso para mim, me sinto em dívida com ele
por tudo que ele tem feito, o carro, os exames médicos...
Abro a porta e dou de cara com o rapazinho, o nome dele é Alexandre.
– Bom dia, Alexandre! – Estendo minha mão para ele.
– Bom dia, Jackeline! – Ele me cumprimenta sorrindo, ele é muito simpático,
sorri muito.
Adorei ele.
– Entre, o Doutor Rui está esperando por você – falo rapidamente, ando
muito agitada, nunca trabalhei tanto em minha vida, mas como disse, estou
adorando.
Ele me acompanha pelas escadas, parece um pouco tenso, tento descontrair,
pergunto do trânsito, da faculdade.
No final das contas, acho que uso minha faculdade de Psicologia no meu dia
a dia, confesso que não consigo aplicar meus conhecimentos em mim mesma,
talvez meu psicólogo agora esteja sendo o Rui, ele me entende mais do que
eu imaginava.
Bato na porta do Rui e entro.
Um geladinho toma conta do meu estômago, estou insegura, não sei se ele
gostará das pessoas que selecionei.
– Rui, esse é o Alexandre.
O Rui tira seus óculos de super-homem, olha para nós, ensaia um sorrindo e
segue em nossa direção.
– Prazer, Alexandre. – Ele estende sua mão para o menino.
– Prazer, Doutor Rui! Já ouvi muito falar do senhor lá em nossa faculdade,
nosso professor de Direito de Família sempre o cita em alguns casos. – O
rapaz descamba a falar, eu disse que ele é muito simpático, e esperto.
Olho para o Rui e vejo sua cara de satisfação, ele é bem vaidoso, e saber que
seu nome é referência em uma faculdade o deixou nas nuvens.
– Que ótimo, Alexandre, vamos nos sentar! – Ele indica a mesa de reuniões.
– Pode ir, Jack, depois te chamo.
Ele me olha sorrindo.
Oh, eu queria tanto ficar e participar da entrevista, tenho medo que o Rui seja
grosso com o rapazinho.
Saio decepcionada, volto para minha mesa e aguardo enquanto a entrevista
não termina.
Os minutos passam sem que a porta se abra, estou começando a ficar nervosa,
então ouço a voz do Rui e os dois saem da sala.
O Rui conversa animado com o garoto, ele estende a mão para ele, e diz:
– Obrigado, Alexandre, a Jackeline entrará em contato com você! – Ele me
olha e volta para sua sala.
Olho para o rapaz ansiosa, e sigo com ele pelo corredor.
– Deu tudo certo na entrevista? – pergunto com cuidado.
– Sim, foi muito boa. – Ele diz animado. – Mas, vamos ver se ele gostou de
mim, normalmente o fato de ser gay atrapalha um pouco, as pessoas ainda
têm preconceito no trabalho.
– Oh, entendo – falo preocupada, será que o Rui cometeu alguma gafe? –
Mas, se tiver que ser, será, não é mesmo? Eu gostei muito de você! –
Chegamos à recepção. – Obrigada por ter vindo, e boa sorte!
– Obrigado, Jackeline! – Ele se despede e vai embora.
Saio correndo pelas escadas, chego à sala do Rui sem fôlego, abro a porta e
olho para ele ansiosa.
– Gostou dele? – Ele levanta seus olhos dos seus processos e me olha.
– Está ansiosa, Jack? – Ele cruza seus braços atrás de sua cabeça, mostrando
aqueles bíceps maravilhosos.
Sigo até sua mesa, me sento em seu colo, passo meus braços pelo seu
pescoço.
– Diz o que achou dele!
Ele dá risada.
– Esperto, inteligente, gostei dele, e é meu fã, isso sempre ajuda.
Sorrio feliz.
– Sabia que você iria gostar do rapaz, eu já conheço um pouco meu advogado
preferido. – O encho de beijos nas bochechas.
Ele me abraça junto ao seu corpo.
– Quer namorar um pouco? Estou com saudades da minha oncinha! – Ele
beija meu pescoço e sorrio.
Adoro quando ele me chama de oncinha, acho tão bonitinho.
– Foi delicioso ontem à noite, Jack. – Ele acaricia meus seios. – Você estava
deliciosa. – Ele segura meus cabelos entre suas mãos, os puxando levemente.
– Você gritou tanto, delícia! – Sorrio contra seus lábios.
– Acho que acordamos o prédio todo! – respondo envergonhada de mim
mesma.
Oh, como é difícil namorar um chefe como o Rui, porque ele só pensa em
sexo o dia todo.
– Eu preciso ir, Rui, a outra candidata deve estar chegando! – O beijo
rapidamente. – Vou voltar para minha mesa, depois namoramos! – Ele segura
minha nuca, me beija novamente, e já começo a sentir a excitação tomar
conta de mim, não sei o que acontece com a gente, não podemos ficar juntos
por muito tempo que já começamos com as sacanagens.
Oh, que calor!
Levanto do seu colo, mas ele me puxa, e a campainha berra lá embaixo.
– Falei que ela estava chegando. – Limpo seus lábios. – Eu já volto com a
garota.
Desço rapidamente para a recepção, abro a porta e lá está a candidata. Ela é
muito bonita, mas tentei não ser hipócrita, mulheres bonitas existem em todo
lugar, não adiantará em nada tentar fugir disso, e se o Rui for um cafajeste,
ele irá atrás delas e pronto.
– Bom dia, Cristiane! Como vai? – Estendo minha mão para ela.
– Tudo bem, Jackeline e você? – Ela é muito simpática, tem um sorriso lindo,
branco e perfeito, mas não é só isso, ela é muito inteligente, tem um
português perfeito, e não tem nada de pretensiosa.
Sinto um ciúme latejar em meu peito, às vezes, sou insegura, sempre acho
que serei traída pelo Rui, e isso é muito ruim, preciso confiar nele.
– Vamos subir, o Doutor Rui está aguardando por você! – Confesso que não
estou tão esfuziante com ela, como estava com o garoto.
No final das contas, sou uma tonta, uma idiota.
Bato de leve na porta, a abro e vejo o Rui olhando pela janela.
Ele olha para nós e sorri.
– Rui, essa é a Cristiane! – Ele se aproxima, e faz o mesmo que fez com o
Alexandre, estende sua mão para ela.
– Prazer, Cristiane! Sente-se, por favor. – Ele indica uma cadeira, e fico o
observando, e sem notar procuro por rastros de uma possível recaída sua.
Solto o ar, viro de costas e sigo para a porta.
Estou ficando paranoica.
– Jack! – Viro para olhá-lo. – Fique, participe da entrevista comigo.
Sorrio para ele.
– Não há necessidade, eu já entrevistei a Cristiane, e estou com muitas coisas
para fazer. – Volto a caminhar para a porta.
Sento em minha mesa e respiro, eu preciso confiar nele, seria ridículo
participar dessa entrevista só porque é com uma mulher.
Volto às minhas atividades e me surpreendo quando a porta abre, e apenas a
garota sai.
A entrevista com o rapaz foi bem mais demorada.
Me levanto rapidamente e sorrio para ela.
– Tudo bem? – Caminho com ela pelo corredor.
– Sim, ele me perguntou algumas coisas, e me pediu para aguardar um
contato seu, espero que ele tenha gostado de mim. – Olho para ela, a acho
meio decepcionada.
Estendo minha mão para ela.
– Assim que tiver a decisão do Doutor Rui, te ligo. Obrigada por ter vindo. –
Me despeço rapidamente, e volto correndo para nossa sala.
Dois toques na porta e a abro apressada.
O Rui está digitando algo em seu computador, apenas me dá uma olhada
rápida.
– O que achou da garota? – falo ansiosa.
– Boa também. – Ele continua com o que está fazendo.
– E então, já se decidiu? – Me sento a sua frente.
Ele tira seus óculos, relaxa em sua cadeira e me olha, mordendo a haste dos
óculos.
– Estou pensando. – Ele me lança seu olhar enigmático. – Talvez... – Ele não
termina a frase.
– Já sei, você gostou mais da garota, tem mais o perfil do escritório – falo
desanimada.
Ele balança sua cabeça negativamente.
– Você não me conhece de fato, Jackeline.
– Ah, é?! Então, talvez o rapaz? – falo surpresa.
– Sim, gostei mais do Alexandre. É esse o nome dele, né? – Ele sorri.
Sorrio satisfeita.
– Sim. Confesso, você me surpreendeu, Rui.
– Sou um cara surpreendente, Jackeline. – Ele me olha com sua expressão
sedutora. – Agora quero meu presente, tranque a porta.
Dou risada.
– É pra já, chefinho lindo!
****
Um mês depois.
O tempo tem voado desde que conheci o Rui e que comecei a trabalhar em
seu escritório.
Parece mentira que estamos juntos há mais de três meses.
Hoje farei aquele exame solicitado pela médica, acabei demorando um pouco,
mas é que estava tendo dificuldades com a agenda da médica, e com a minha.
Mas, enfim, hoje é o grande dia, talvez eu tenha péssimas notícias, estou
tentando me preparar psicologicamente.
Este mês tive novas crises de dor, faltei um dia, no outro fui trabalhar, mas
não suportei de dor, e o Rui acabou me levando para o hospital.
Está difícil, mas tento não desanimar.
Às vezes, no meio das crises de cólicas, tenho vontade que tirem meu útero
fora e assim nunca mais sentirei dor na minha vida!
Sigo para a sala do Rui, preciso avisá-lo que já estou saindo.
Bato em sua porta e entro.
– Já estou indo, mas o Alexandre está a par das minhas pendências, ele é
muito esperto e está pronto para te auxiliar no que for preciso – falo
preocupada.
Ele me puxa para o meio de suas pernas, me abraça pelos quadris.
– Fique tranquila, eu me viro com o Alexandre. – Ele beija minha barriga, e
isso me remete a uma gravidez, e me sinto angustiada, fazendo meus olhos
encherem de lágrimas. – O que foi, Jack? – Ele segura meu rosto.
Puxo o ar.
– Nada, só estou um pouco preocupada com o que a médica encontrará em
meu útero. – Evito olhar para ele.
Ele se levanta e me abraça.
– Fique calma, vai dar tudo certo. – Um beijo em meus cabelos. – Estarei lá
no final do dia. – Mais beijos em meus cabelos, ele é o homem mais
carinhoso que já conheci, só perdendo para o meu falecido pai.
– Tá bom, o táxi já deve estar lá embaixo. – O beijo rapidamente, aceno e
saio.
****
Acordo sozinha em meu quarto, estou com um soro em meu braço, tento me
levantar, mas sinto uma dor incômoda na barriga.
– Ai! – Reclamo, e então vejo o Rui.
Ele estava sentado em uma poltrona.
– Oi, como você está? – ele diz com um sorriso. – Cheguei faz um tempinho,
e já conversei com sua médica. – Ele acaricia meus cabelos, e me olha
intensamente.
– Que bom que você está aqui. – Acaricio seu rosto.
Ele desliza sua mão pela minha barriga e a acaricia suavemente.
– Tá doendo, Jack? – ele pergunta preocupado.
– Um pouquinho, uma espécie de cólica. – Respiro fundo e pergunto: – E aí,
ela te disse como estão as coisas dentro de mim? – falo ironicamente.
Ele se afasta um pouco, passa as mãos pelo seus cabelos e então me olha.
– Um dos seus ovários está comprometido, mas o outro está ok, ela fez
algumas cauterizações onde havia necessidade, mas no geral está tudo bem,
Jack! Daqui a pouco ela virá até aqui e te explicará melhor, confesso que sou
meio lento nessas coisas.
Um dos meus ovários está comprometido. – Penso aflita.
Respiro fundo e tento não chorar.
Ele se aproxima de mim, se inclina e me beija, vagarosamente,
carinhosamente, me fazendo sentir as famosas asas de borboletas no
estômago.
Achei que nunca mais sentiria isso, as famosas sensações de quando se é
adolescente, mas com o Rui eu sinto, muitas sensações, deliciosas e
maravilhosas.
Separamos nossos lábios, e ficamos olhando um para o outro, estou tão
apaixonada por ele.
– Eu te amo, Rui! – As palavras saem de meus lábios sem que eu tenha
controle.
Ele não diz nada, apenas volta a beijar suavemente meus lábios, meu rosto,
me fazendo sentir aquele gelado no estômago, e um pulsar de desejo.
Oh, meu Deus, como aguentarei ficar tanto tempo sem fazer amor com ele?
– Não poderemos transar, Rui, não me torture – sussurro.
– Eu sei, Jack. – Ele volta a me olhar. – Uma semana, ou mais, não sei como
conseguiremos esse feito! – Ele faz uma careta.
A porta abre, ele se afasta de mim e vejo a médica.
– Tudo bem, Jackeline? – ela diz seriamente.
– Sim, estou com um pouco de dor, um incômodo.
– É assim mesmo, depois a enfermeira virá aplicar um anti-inflamatório em
você. – Ela se senta ao meu lado da cama.
– Como estão as coisas em meu útero? – pergunto ansiosa.
– Encontrei alguns focos da doença, então precisei fazer algumas
cauterizações, mas eu já esperava isso. – Ela me olha intensamente. – Um dos
seus ovários foi gravemente comprometido, não há chances de utilizar seus
óvulos do ovário esquerdo no caso de uma fertilização in vitro.
Engulo em seco, ela é muito direta, sem rodeios.
– E o outro ovário, ainda está vivo? – pergunto debochada.
– Sim, está em melhores condições, temos algumas chances de sucesso no
caso de você querer engravidar. – Ela respira pesadamente. – É isso,
Jackeline, agora peço que você faça um repouso durante sete dias, para que as
incisões cicatrizem. Depois você poderá voltar a sua vida normal. – Ela se
levanta. – Essa noite você ficará no hospital, mas amanhã pela manhã você
poderá ir para casa. Cuide-se e volte em meu consultório daqui a um mês.
Quer ver como você está.
Ela segue para a porta.
– As prescrições médicas estão com a enfermeira, qualquer dúvida, me ligue
no celular. Até logo. – Ela faz um movimento com a cabeça para mim e para
o Rui e sai.
Solto o ar que estava prendendo em meus pulmões.
– Acho que não falei muitas besteiras, certo? – O Rui me tira dos meus
pensamentos.
Sorrio para ele.
– Não, deita aqui comigo, quero sentir seu cheirinho. – Ele sorri para mim. –
Já te falei que adoro seu perfume?
Ele se encaixa ao meu lado, me abraça pela cintura e beija meus cabelos.
– Não. Quer saber o nome para você me presentear? – ele diz divertido.
– Depois, agora estou meio sonolenta. Vou dormir de novo, mas não sai
daqui, quero ficar sentindo esse cheirinho de Rui. – Ele sorri, fecho os olhos e
tento esquecer meus problemas.
Ele está aqui comigo, e isso é bom demais, preciso começar a mudar meus
planos de vida, talvez a adoção de um gatinho, enfim...
Fecho meus olhos e adormeço.
Capítulo 62
JACKELINE BARTOLLI
Seguimos para a sala de jantar, vovó, titia e mamãe nos esperam na mesa,
parecem um pouco ansiosas por nós, batem os talheres nos pratos, nos copos.
– Oh, finalmente os pombinhos saíram do ninho de amor! – vovó diz. – E por
falar nisso, quando sai o casamento, meu filho?
– Sim, o casamento. – ele diz constrangido, mas logo entro no assunto.
– Sem data marcada, vovó, ainda é muito cedo para falar sobre isso. –
Desconverso. – Nossa, o cheiro está maravilhoso, mãe! Estou louca para
provar seu bacalhau!
Nos sentamos rapidamente.
– Finalmente vou provar o bacalhau da Dona Amélia! – O Rui diz com um
sorriso, ele tem um sorriso lindo, tenho vontade de beijá-lo todas as vezes que
ele sorri, aquela boca....
Céus, devo estar ovulando, ando especialmente com minha libido em alta.
Ovulando???
Eu bem que poderia tentar agora.
Oh, mas a médica disse que não consigo engravidar sem uma inseminação.
Mas, o que custa tentar?
– Jackeline! – Ouço a voz da minha mãe e a olho assustada.
– Oi, mãe! Desculpe, eu estava distraída!
– Sirva seu namorado! – Ela faz uma cara feia.
– Claro. – Pego o prato do Rui e coloco um pouco de cada coisa, ele é bem
comilão, então não economizo na quantidade.
– Oh, Jack, assim vou virar uma bola de futebol – ele diz divertido.
– Quero você bem gordinho, assim nenhuma mulher vai te paquerar! –
cochicho para ele.
– Tem mulher que gosta de homens gordinhos! – ele diz sorrindo.
– Jackeline, estou de namorado novo. – Titia diz animada. – Ele é bem mais
novo do que eu, um homem muito interessante.
Tento segurar a risada.
– Titia, a senhora voltou a inventar que é fazendeira, ou algo do tipo? –
Minha mãe me cutuca.
– Claro que não! Desde quando sou de inventar coisas?
– Desde sempre, titia, não precisa mentir para nós, somos sua família!
– Amélia, cuide da língua da sua filha, caso contrário eu a arranco
pessoalmente. – Ela se altera, faz menção de se levantar, mas minha mãe
intervém a segurando.
– Ofélia, por favor, temos visita, e a Jack só está brincando com você.
Olho para o Rui, ele disfarça, fala alguma coisa com a vovó, os dois se dão
muito bem, talvez porque vovó o ache parecido com um artista de sua época,
e vive dizendo o quanto ele é lindo.
Voltamos a jantar em paz, e o saldo no final do jantar é uma garrafa de vinho
do porto vazia.
– Me deixe buscar a sobremesa. Fiz pastéis de Belém, espero que você goste,
Rui! – Mamãe diz animada, o vinho a deixou com as bochechas vermelhas, e
um bom humor que eu não via há tempos.
– Adoro, Dona Amélia! Pode trazer! – O Rui diz também animado, o vinho
também fez efeito para ele.
Entre um gole de vinho do porto e outro, e algumas piadinhas infames do
Rui, minha avó acaba fazendo xixi nas calças, e então, o jantar termina em
meio à correria de levá-la para o chuveiro.
– Oh, Rui, me desculpe, minha mãe tem incontinência. – Minha mãe diz
constrangida.
– Não se desculpe, Dona Amélia. Tenho uma avó também, e a situação dela
não é muito diferente, fique tranquila.
– Já vou me retirar, fiquem à vontade – ela diz se retirando da sala, onde
conversávamos um pouco.
Mamãe sai rapidamente e então pergunto:
– Você nunca falou da sua vovozinha! – falo curiosa.
– É mentira, ela já morreu há uns 50 anos atrás – ele diz com a maior cara de
pau. – Só queria deixar a sua mãe à vontade, vovó também fazia xixi nas
calças! – E ele ri muito.
– Você tomou muito vinho do porto, Rui! Aliás, tomou por mim e por você!
– falo debochada. – Adoro vinho do porto, pena que não pude tomar nem um
golinho.
– Então, deixa eu te beijar para você sentir o gosto. – Ele segura minha
cabeça entre suas mãos, e me dá um daqueles beijos molha calcinha.
Oh, meu pai eterno, eu não estou aguentando!
– Rui, por favor, para! – digo desesperada, com o coração na boca e a
calcinha encharcada. – Assim eu não aguento!
– Jack, e se a gente fizer bem devagar? Eu não coloco tudo...
O olho completamente confusa, louca de desejo por ele.
– Será, Rui? E se der merda?
– Bem devagar, Jack. Eu prometo. – Ele beija meu pescoço, acaricia meus
seios.
Não consigo resistir, levanto e puxo ele pela camiseta que está vestindo.
– Vamos logo, não aguento mais essa tortura!
****
A porta abre num solavanco, se chocando contra a parede, enquanto nós dois
nos beijamos como se não nos víssemos desde o último inverno.
De repente o sinto tirando meu vestido, eu a sua camiseta, ele puxa meu sutiã
com força, arrebentando o fecho (esse é o terceiro no mês, não aguento mais
comprar lingeries).
Ele tira sua calça, a boxer, e em segundos estamos os dois nus.
– Calma, Rui! – falo ao vê-lo faminto sobre mim.
Ele beija e chupa meu corpo inteiro, até chegar à minha buceta e chupa e suga
com desespero.
– Ah, meu Deus! – falo desesperada de desejo.
Ele volta a me beijar, e então me penetra, vagarosamente, e sinto como se
fosse uma viciada em drogas ao reincidir no vício.
A gente se beija mais calmo, ele me penetra gentilmente.
– Tudo bem, Jack? – ele diz ofegante. – Posso continuar?
– Tudo bem, continua – sussurro agarrada aos seus cabelos.
– Jack, eu estou com muito tesão, não vou aguentar por muito tempo – ele
diz com seu olhar de desejo.
– Tá bom. Se solta, Rui, pode gozar!
Ele puxa meus cabelos, suga meus seios, aumenta seus movimentos, e então
urra feito um leão.
– Rui, não faz barulho! – Tento controla-lo, mas é impossível, o vinho o
soltou de um jeito que ele se esqueceu da vida.
Oh, mais foi maravilhoso, delicioso.
O abraço e beijo, não queria que ele parasse, queria transar a noite inteira
com ele.
Finalmente ele relaxa sobre mim, segurando seu peso sobre seus cotovelos,
olhos fechados, e a respiração ofegante.
– Foi demais, minha deusa! – Ele me olha e sorri. – Mas, eu ainda estou
morrendo de tesão, será que não podemos repetir?
Então, sinto sua ereção entre minhas pernas, abro levemente minha boca,
estou surpresa com a rapidez de sua recuperação.
– Rui, não vamos abusar. Eu resolvo seu problema, mas de outro modo, tá
bom? – Seguro seu rosto entre minhas mãos e beijo seus lábios
apaixonadamente.
– Tudo bem, fiquei meio empolgado. – Ele sorri com sua cara de safado. –
Você está sentindo alguma coisa, será que fizemos merda?
– Não, está tudo bem. – Volto a beijá-lo, a excitação aumenta, e esqueço que
estou de repouso, e que não deveríamos ter transado. – Rui, talvez a gente
possa fazer de novo.
Ele me olha com um sorriso.
– Vira, gostosa, quero te comer olhando essa bunda linda!
– Tudo o que você quiser, meu homem!
****
Olho para meu celular, preciso ligar para a Jack e avisá-la que hoje não a
verei.
Não quero mentir para ela, mas ela não entenderá se eu disser que preciso
jantar com minha ex-namorada.
Ok, apenas uma pequena mentira, somente hoje, Jack.
Seu celular toca pela terceira vez e então ela atende.
– Oi, Rui, eu estava no banho. Tudo bem?
– Oi, minha deusa, está tudo bem, só um pouco cansado! – Faço manha, e
dou risada de mim mesmo.
Tenho que confessar, estou mimado, a Jack está acabando com minha
imagem de advogado frio e calculista.
– Eu faço uma massagem bem relaxante em você. Já está chegando? – ela
diz ansiosa.
Talvez eu tenha acostumado a Jack mal esta semana, quero dizer, desde que
nos conhecemos.
– Jack, não poderei ir te ver hoje, tenho que jantar com um cliente.
Um silêncio desagradável se instala entre nós.
Merda, ela não gostou ou não está acreditando.
– Sério? – Sua voz muda.
Ok, Rui, assuma sua posição de macho desse casal, e mostre que você não é
um cara dominado.
– Então, Jack, apesar de fazer algum tempo que não faço isso (mais
precisamente desde que a conheci e me tornei um cordeirinho), eu preciso de
vez em quando sair com clientes, jantar com eles, às vezes acompanhá-los
em alguma boate, enfim...
– Sei. – Ela faz uma pausa. – O cliente é homem ou mulher?
Que caralho, por que ela tem que tornar isso ainda mais difícil?
– Homem, Jack! – bufo irritado.
– Qual o nome dele?
Reviro meus olhos.
– Confia em mim, Jack!
Um silêncio pesado e então ela diz:
– Tudo bem! Bom jantar, Rui! A gente se fala amanhã! – Ela desliga e bufo
nervoso.
Volto a ligar para ela.
– Oi! – Sinto a irritação em sua voz.
– Jack, um relacionamento se constrói com confiança. Você confia em mim?
– Confio... – ela diz titubeante.
– Será apenas um jantar de negócios. Não preciso procurar por outras
mulheres, eu tenho tudo que preciso em você!
Ouço sua respiração forte no telefone.
– Tudo bem, Rui, não estou dizendo nada! Apenas perguntei quem era.
– É um cliente novo, você não conhece.
– Ok. Bom jantar, Rui – ela diz mais calma.
– Obrigado! Boa noite, minha deusa.
Penso em dizer o quanto gosto dela, mas acabo desistindo, não gosto de ser
meloso.
– Boa noite!
Ela desliga, poderia ter dito que me ama.
Ok, Rui, não seja patético.
****
D esligo a ligação
enganada.
do Rui com a nítida impressão que estou sendo
Não tive uma noite de sono tranquila. Muitos sonhos confusos e agitados não
me deixaram descansar completamente.
Finalmente os sonhos cessaram e consigo dormir em paz, mas uma sensação
em meus lábios me desperta.
Beijos???
Abro os olhos e me surpreendo ao ver o Rui sobre mim.
– Bom dia, minha deusa! – Ele me olha com um sorriso.
O olho confusa.
– Que horas são? – Me apoio em meus cotovelos.
– Um pouco cedo, mas eu queria te ver antes de ir para o trabalho. – Ele me
encara seriamente. – Sentiu minha falta ontem? – Um novo beijo em meus
lábios. – Eu senti, Jack! Não consigo ficar por muito tempo longe de você!
Passo meus braços por seu pescoço, o abraço forte e sinto uma emoção no
peito.
Eu o amo tanto!
Mas, preciso voltar ao planeta terra, então pergunto:
– Como foi o jantar? – Volto a olhá-lo, analisando cada reação sua.
– Foi bom, nada de mais, não se preocupe com isso! – Ele se levanta, segue
até minha escrivaninha, então vejo uma cesta de café da manhã. – Trouxe
isso para você!
Seu sorriso sai tímido, parece sem graça, não sei dizer.
– Querendo me agradar, Rui? Parece até que fez algo de errado! – O olho de
lado, não estou acostumada com tantos mimos.
Sua testa franze, mas ele segue com a cesta até a minha cama.
– Não fiz nada de errado. – Ele me olha com o semblante sério. – Apenas
quero te agradar, porque você é muito especial para mim.
É fofo da parte dele me trazer uma cesta de café da manhã, mas isso não me
compra, valho muito mais do que isso.
– Sou só especial? – O encaro. – Não me contento em ser só especial, quero
mais que isso.
Ele deposita a cesta linda em meu colo.
– O que mais você quer, Jackeline? Você é uma mulher muito difícil de
agradar, sabia? – Seu olhar é intenso, urgente.
– Quero ser amada, respeitada e única, Rui! Nada menos do que isso, não me
contento com pouco, sou egocêntrica no amor, possessiva e ciumenta, e se
você quiser me enganar, não conseguirá.
Ele se levanta, passa as mãos pelos cabelos, parece nervoso e então volta a
me olhar, de uma forma profunda e urgente.
– Você é tudo isso para mim, Jack! Eu juro. – Nossos olhares se encontram, e
nos olhamos por segundos intermináveis.
Porque ele não fala o que sente por mim?
Não aguento mais isso, eu preciso saber...
– Você me ama, Rui? Eu preciso ouvir isso, para ter certeza que é isso que
você sente por mim.
O percebo hesitante, então ele me olha profundamente e diz:
– Sim! Eu te amo, Jack!
Sinto um misto de felicidade e excitação.
Pela primeira vez ele diz que me ama, talvez de um jeito meio estranho, num
momento meio tenso, mas ele disse.
Coloco a cesta ao meu lado.
– Vem aqui, Rui! – Acaricio o lençol ao meu lado.
Ele caminha vagarosamente em minha direção, parecendo um felino, seus
olhos fitam os meus profundamente, então ele se senta ao meu lado.
Acaricio seu rosto, estou em um estado de enfeitiçamento.
– Fala de novo que me ama – sussurro com meu rosto próximo ao seu.
Então, ele me encara e diz:
– Eu amo você, Jackeline!
O olho profundamente, coração batendo depressa, e respiração
descompassada.
– Sou a mulher mais feliz do mundo, sabia? – Enfio meus dedos entre seus
cabelos, e acaricio seus fios sedosos e macios.
Olho para os seus lábios, e encontro seu olhar no meu.
– Me beija, Rui!
Vagarosamente, seus lábios cobrem os meus, fecho meus olhos e me deixo
levar pela sensação incrível que ele me proporciona.
Sua língua macia percorre cada pedacinho da minha boca, ora sugando, ora
mordendo meus lábios, minha língua, me causando prazer e desejo, tudo de
uma vez, e da forma mais plena possível.
Ele me aperta em seus braços, puxo seus cabelos, unimos mais nossos lábios,
uma boca engolindo a outra, a sede de amor nos enlouquece.
De repente, começamos a tirar um a roupa do outro.
Agora nossos beijos são desesperados, sinto o amortecimento de seus lábios
contra os meus, seus dentes me mordendo, e sua língua descendo pelo meu
pescoço, colo, seios.
Ajudo-o a terminar de tirar sua roupa, então ele repousa seu corpo sobre o
meu.
Sinto sua pele quente contra a minha, ofego de prazer e desejo.
Seu membro roça minha entrada deliciosamente.
– A gente pode transar, Jack? – ele diz ofegante, mordendo e chupando meu
pescoço.
Não consigo raciocinar direito, é muito desejo, é muita vontade de tê-lo em
mim.
E então o sinto me penetrando.
– Rui, a médica disse... – Paro de falar com seus primeiros movimentos.
Ele volta a beijar meu pescoço.
– O que você disse, Jack? – ele sussurra.
Suas mãos prendem as minhas mãos junto as suas, ele aumenta seus
movimentos contra meu corpo, duros, fortes, profundos.
– Nada! – sussurro entregue aos seus beijos. – Continua.
Fecho meus olhos e me deixo levar pelo nosso amor.
Muitos beijos, gemidos e finalmente o êxtase.
Ficamos abraçados, coração batendo depressa, respiração ofegante, e uma
sensação estranha de paz e felicidade.
Só com ele me sinto assim, como se o mundo parasse, e só existíssemos nós
dois.
– Eu te amo, Rui! – O abraço forte.
– Eu também te amo, Jack!
Procuro por seus olhos, e a gente se olha demoradamente.
– Você vai passar o dia comigo? – Ele se afasta, se apoiando em seus
cotovelos.
– Bem que eu queria! – Ele sorri. – Só vim matar as saudades, eu preciso ir
embora! – Ele acaricia meus cabelos. – Gostou da surpresa?
– Adorei! – Acaricio seus cabelos. Obrigada pela cesta! Vamos comer
juntos?
– Claro! – Ele se senta na cama. – Se você achou que eu iria recusar, se deu
mal, Jack! – Ele dá risada.
Começo a desfazer o laço, tiro o papel celofane.
– Ela deve ser para duas pessoas, é muito grande. – Pego um morango e
coloco em sua boca.
– Hummm... – Ele faz uma cara maliciosa. – Isso é bem sensual.
– O que é sensual? Comer morangos? – Mordo um, e aproveito para
sensualizar a mordida.
– Isso, você comendo morangos, essa sua boca... – Ele morde meus lábios. –
Oh, Jackeline você não sabe o que faz comigo! – Ele tira a cesta do meu colo
e invade minha boca com a sua. – Estou com fome de você, Jack... – Ele me
beija com gula. – Vamos terminar com isso logo! – Ele puxa meu corpo por
cima do seu e recomeçamos com nossa loucura de amor e sexo.
****
E uPriscila.
havia esquecido o quanto um jantar pode ser cansativo ao lado da
Ela pode ser uma mulher linda, inteligente, mas não deixa de ser chata, e
tediosa!
Então, sem que eu tenha controle, deixo um bocejo escapar da minha boca,
disfarço, balanço a cabeça e tento mostrar algum interesse ao caso
complicado que ela explica animadamente.
Mas, já cheguei ao meu limite, olho para meu relógio de pulso, e então digo:
– Desculpe, Priscila, mas eu preciso ir. Amanhã cedo tenho um julgamento
complicado, ainda terei que me preparar.
Ela me olha, parece decepcionada por tê-la cortado no meio da explicação de
um processo de mais de cem páginas.
É estranho imaginar que consegui conviver aproximadamente um ano e
poucos meses com essa mulher. Ela tem compulsão por trabalho, ela só fala
sobre processos, e eu quero esquecer essas merdas quando saio do escritório!
Então, como se fosse um vício, a Jack vem em meus pensamentos.
Estou sentindo sua falta.
Que saudades da minha deusa, dos nossos assuntos, do seu jeito leve,
divertido, do seu cheiro, da sua pele macia.
Por alguns minutos e pela décima vez meus pensamentos viajam até ela.
Me sinto mal pelo que estou fazendo, eu prometi a Jack ser sincero e honesto,
mas não é isso que estou fazendo.
Merda, nunca fui fiel em minha vida, gostaria de voltar a ser o Rui de antes,
mas não consigo!
– Oh, claro! – ela diz constrangida. – Você pode me dar uma carona? Vim de
táxi, meu carro não pode circular hoje. – Ela sorri. – Rodízio, sabe?
Não engoli muito bem essa desculpa, mas seria desagradável dizer que não
posso lhe dar uma carona.
– Tudo bem, eu te deixo em seu apartamento! – Me levanto e seguimos em
direção à entrada do restaurante.
O caminho até seu prédio segue pesado, uma vez que o papo entre nós não
está fluindo normalmente.
Claramente, a Priscila está querendo forçar a barra comigo, mas não há mais
clima entre nós, o encanto acabou, o tesão, tudo, não sinto mais nada por ela.
– Entregue, promotora! – Brinco com ela.
– Quer subir? Podemos tomar um vinho juntos! Eu tenho aquele vinho
californiano que você adora. – Ela sorri sedutora, mas não estou a fim, e nem
me sinto seduzido por ela.
– Obrigado, Priscila, mas eu realmente estou cansado.
Ela sorri fraco.
– Obrigada novamente, Rui! O jantar foi maravilhoso! – Ela se inclina sobre
meu banco, e ameaça me beijar, mas logo viro minha face e ela beija o canto
dos meus lábios.
– Por nada, Priscila!
Ela disfarça o mal-estar, e então diz:
– Nos vemos amanhã às 21h, certo? – Ela me olha ansiosa.
– A princípio sim, mas qualquer mudança de planos eu te aviso.
Ela me olha mais uma vez e então deixa o carro, e respiro aliviado.
****
O lho para o relógio sobre a mesinha de apoio do quarto, são 21h40, ele
deve estar saindo agora.
Maldito! – Esbravejo sozinha.
Eu até queria ser uma namorada moderna, daquelas que não liga que seu
homem saia para beber com os amigos, coisa e tal, mas não consigo.
O Rui ainda não conseguiu o certificado de homem fiel, ele está de
experiência, não conheço seus amigos, nem o lugar que eles costumam ir.
E se for um daqueles puteiros, cujas garotas de programas são verdadeiras
beldades?
Oh, que ciúmes são esses que estou sentindo!
Jogo o livro que estou lendo longe e então meu celular toca.
Corro até minha escrivaninha, e vejo seu nome no display.
Nossa, será que ele já voltou para casa?
Não, impossível.
– Alô!– Atendo rapidamente.
– Oi, minha deusa! O que você está fazendo?
Ouço uma música de fundo, ele parece estar em seu carro.
– Nada, apenas lendo um livro! – respondo curiosa. – Onde você está?
– No carro! Quer sair comigo?
Sorrio, e apesar de já ter passado dessa fase, continuo sentindo uma euforia
quando ouço sua voz.
– Como assim? E o encontro com seus amigos? – pergunto surpresa.
– Dei uma passada rápida, mas não estava com muito saco para ficar lá.
Então, já estou chegando em sua casa. Vamos sair para comer alguma
coisa? Não jantei ainda!
Meu sorriso atravessa a porta, não consigo disfarçar a felicidade em saber
que ele não está bebendo e paquerando com seus amigos.
– Claro, eu já jantei, mas te faço companhia.
– Chego em 20 minutos, fica bem linda para mim! Arruma as suas coisas, na
volta seguimos para o meu apartamento, o Bóris está com saudades de você.
– Ele dá risada.
– Tudo bem! Eu também estou com saudades dele, comprei até um
presentinho, na verdade um brinquedinho bem barulhento, ele vai adorar! –
Sorrio.
– Não, Jack, eu odeio esses brinquedos, O Bóris é compulsivo e ansioso, ele
passa o dia inteiro fazendo barulho... – Sua voz sai desanimada.
– Relaxa, Rui, ele é criança, precisa se divertir. – Corro para o meu guarda-
roupa. – Posso vestir um vestido vermelho, justo, e que me deixa bem
gostosa? – Sorrio, pego o vestido do cabide e coloco contra meu corpo.
– Pode! – Sua voz sai esganiçada. – Mas é muito escandaloso?
Oh, o Rui está me saindo bem ciumentinho!
– Ah, Rui, é do jeito que você gosta! Vou colocar, aí você diz o que acha! –
falo animada.
Eu tenho esse vestido há anos, mas me sinto muito constrangida de vesti-lo,
pois minha bunda fica enorme nele, assim como meus peitos. O modelo é
muito sensual, as costas ficam em evidência, e só comprei porque a louca da
Carolina insistiu muito, era para irmos ao casamento de um conhecido.
Mas hoje, eu quero vesti-lo para o Rui, porque quero ficar muito linda para
ele e gostosa, sensual.
Oh, tem a merda do recesso de sexo.
Mas, nem sangrou mais, e eu preciso namorar ele, muito, ando numa fome de
Rui.
E estou ovulando.
Pego o termômetro, vou medir minha temperatura.
Li na internet, sobre aquele método para engravidar que se mede a
temperatura, é meio confuso de se explicar, mas, eu preciso transar com o
Rui para dar certo.
– Ok, minha delícia, eu estou chegando!
– Tá bom, um beijo!
– Outro.
Desligamos.
Me olho no espelho de corpo inteiro, de costas, de frente, e então torço meus
lábios.
– O que você achou, mãe? Me sinto um pouco escandalosa com esse vestido.
Minha mãe está sentada em minha cama, observando enquanto me visto.
– Você está linda, Jack! Aproveite enquanto é jovem e tem esse corpo
maravilhoso, olha para mim agora – ela diz desanimada. – Mas, aonde vocês
vão essa hora? Você não está muito chique filha?
– Mãe, o Rui só me leva a lugares maravilhosos, lindos e chiques! – falo
orgulhosa.
Durante anos frequentei padarias, nada contra elas, mas o Renato tinha
condições de me proporcionar lugares melhores.
Mas isso é passado, e o meu presente é um sonho, nunca achei que viveria
momentos tão incríveis em minha vida.
O interfone toca.
– Mãe, vai lá, eu preciso terminar minha maquiagem. – Sigo apressada para o
banheiro, passo rapidamente a máscara para os cílios, o batom, borrifo meu
perfume.
Termino de colocar meus brincos e a porta do meu quarto abre, e o meu deus
grego entra, e me olha demoradamente.
Ele torce seu nariz, os lábios e então diz:
– Você está gostosa demais, Jack. Não sei se quero dividir essa visão com
mais alguém. – Ele segue até mim. – Acho que ficarei enciumado. – Suas
mãos se espalmam em meu traseiro, o apertando com vontade, e unindo
nossos corpos de uma forma excitante.
Sinto um cheiro doce, diferente, mas logo a proximidade de seus lábios meus,
do se rosto, e da sua pele me inebriam, o cheiro amadeirado de seu perfume,
e do creme de barbear se misturam, me causando um bem-estar.
– Minha mulher gostosa. – Ele invade minha boca com sua língua gulosa, me
sugando e se enroscando na minha de um jeito sensual e erótico.
Adoro o seu cheiro, o seu gosto, esse jeito que ele me beija, me pega, me
fode.
Oh, céus, que fogo que sinto quando esse homem me beija!
– Hummm, Rui, que delícia! – Sinto seu dedo invadindo minha intimidade,
uma leve pressão, afasto meus lábios dos seus, gemo de prazer, desço meus
lábios para seu pescoço, beijo sua pele, e...
Aquele cheiro adocicado invade minhas narinas, então desperto do meu
enfeitiçamento, desço um pouco mais meu nariz, cheiro sua camisa, e aquele
cheiro está em todo lugar.
Minha respiração acelera, abro meus olhos e o empurro bruscamente.
– Que perfume é esse que está em todo lugar, na sua camisa, no seu pescoço?
– Minha voz sai descontrolada, estou espumando de raiva.
Ele me olha confuso.
– Não sei! – ele diz confuso.
Puxo sua camisa com força, e o faço cheirar.
– Esse perfume, Rui!!! – Estou descontrolada, gritando.
– Calma, Jack! – Ele tenta me acalmar, mas eu surto, devo ter gritado muito
alto, porque a porta abre e três senhoras me olham assustadas.
– Não foi nada, Dona Amélia, me deixe conversar com a Jack – ele diz
constrangido.
Meu peito sobe e desce desesperado, sinto-me como um touro enlouquecido.
– Tudo bem! – Minha mãe me olha assustada. – Estarei aqui ao lado. – Ela
tira as velhinhas assustadas do meu quarto e fecha a porta.
– Com quem você estava, Rui? Não me engane, seu filho da puta! –
Esbravejo descontrolada.
– Eu não estava com ninguém. – Ele se aproxima de mim, mas o empurro
nervosa.
– Não me toca, Rui! – Minha voz sai embargada.
– Jack, eu estive em um bar, havia homens e mulheres lá, eu conhecia umas
garotas – ele fala nervoso, sua testa franzida, olhos estreitos. – Elas me
abraçaram quando cheguei, e na saída, o perfume pegou em minha roupa, foi
isso, porra!
Solto o ar com força, pelas minhas narinas.
Confusão e insegurança.
Será que é verdade?
– Você está todo impregnado desse perfume de puta! – Berro novamente, um
ciúme louco se apoderou de mim.
– Eu não estive com ninguém, caralho! – Ele passa as mãos pelos cabelos
nervosamente. – Jack, se eu estivesse te traindo eu estaria aqui agora? – Ele
me olha indignado. – Pensa com clareza, Jack! Se fosse para traí-la eu estaria
com a garota, eu tinha dito que não viria hoje aqui, mas não, eu estou aqui,
Jack!
Me viro de costas transtornada.
Eu preciso me acalmar! Penso em silêncio.
Mas, sua voz embriaga meus sentidos, assim como seus beijos nos meus
cabelos, aos poucos ele une seu corpo contra o meu, passa seus braços ao
redor do meu corpo e me aperta mais contra o seu peito.
– Eu te amo, Jack! Não troco você por ninguém – ele diz no meu ouvido, aos
poucos ele vira meu corpo em sua direção. – Você acredita em mim? – Seus
olhos estão cinza como uma tempestade.
Respiro profundamente.
Não há por que ele mentir para mim, ele não precisava estar aqui, eu não o
esperava, então preciso acreditar no que ele diz.
– Acredito! – falo com a voz fraca.
Ele volta a me abraçar.
– Oh, Jack, como você é brava! Meu Deus!
Sorrio contra seu peito e novamente aquele cheiro vem ao meu nariz.
Me afasto de seu corpo e sigo decidida para o banheiro.
– Jack, o que houve agora? Caralho! – ele diz cansado.
Volto com o frasco do meu perfume e começo a borrifar em toda sua camisa.
– Jack, eu vou morrer sufocado com esse excesso de perfume... – Ele tosse,
espirra e vira o rosto diante do meu desatino.
– O único perfume de mulher que você pode exalar é o meu, Rui! – Borrifo
em seu pescoço.
– Chega, Jack! – Ele se afasta de mim. – Porra, estou enjoado agora. – Ele faz
uma careta.
– Pronto, agora estou satisfeita, e nunca mais quero sentir perfume de outra
mulher em você!
Ele gira os olhos, olha para o teto e bufa.
– Ok, Jackeline. É você quem manda, não é mesmo?
– Isso, sou eu quem mando, e você é só meu! – Seguro o colarinho de sua
camisa, e falo nervosa, olhando em seus olhos.
Ele dá um sorriso cafajeste.
– Eu gosto de te ver assim, minha italiana! – Ele puxa minha cintura com
força. – Quer que eu te fodo? Assim seu cheiro vai ficar em mim, como seu
perfume!
Seguro seus cabelos com força, junto nossos rostos, a gente se olha
profundamente, meus lábios roçam os seus sensualmente.
– Quero, Rui! – sussurro contra seus lábios. – Me fode, meu homem, só meu,
de mais ninguém – falo e o beijo possessiva.
Ele me pega em seu colo, coloca sobre minha escrivaninha, desce suas calças
e me penetra.
– Assim, Jack? – Uma estocada forte e profunda.
– Isso! – Ofego de prazer. – Continua.
De novo, gemo alto.
– Geme, minha gostosa! – ele diz insano de desejo.
– Ahhh! – Gemo alto. – Ohhh, Rui... eu vou... hummm, gozar!!!
Então, ele segura meus cabelos entre suas mãos, os puxa com vontade, beija,
morde e chupa meu pescoço e de repente, urra, geme e por fim me abraça, e
fica alguns minutos ofegante, como se fosse morrer.
– Caralho, minha deusa, acho que dessa vez elas ouviram tudo! – Ele me olha
com um sorriso lindo.
– Será? – Deposito beijos pelo seu rosto, pescoço. Foi tão bom que nem
lembrei desse detalhe.
– Vamos terminar isso lá em casa! – ele diz manhoso, de olhos fechados,
entregue aos meus beijos.
– Tudo bem! – Seguro seu rosto entre minhas mãos, e o olho profundamente.
– Rui, você jura para mim, foi isso mesmo?
– Juro, acredita em mim! – Ele me abraça. – Eu te amo, Jackeline! Agora é
pra valer!
Sorrio do seu jeito.
– Antes não era?
Ele se afasta, arruma sua roupa.
– Mais ou menos! – ele diz divertido. – Vamos sair um pouco, depois iremos
para o meu apartamento.
– Tudo bem. – Sigo para o banheiro, termino de me arrumar e saio, e o vejo
deitado em minha cama, pensativo. – Já estou pronta, podemos ir!
Ele dá um pulo e sorri.
– Claro, vou te levar numa boate hoje, você irá gostar! – Ele pega em minha
mão e abre a porta.
Seguimos até a sala e então todas olham em nossa direção.
– Graças a Deus vocês se acertaram! – Vovó diz e se levanta. – Eu e seu avô
tínhamos brigas feias, e tudo se resolvia quando eu pegava o rolo de
macarrão.
O Rui coloca sua mão sobre a boca, esconde um riso.
– Tá bom, vovó! – Beijo sua mão. – Nós já vamos.
– Seu avô era um belo de um sem vergonha, minha neta. Ele andava atrás das
quengas. – Reviro meus olhos.
– Eu sei, vovó. A senhora já me contou das escapulidas do vovô, vamos
esquecer isso! – Tento me livrar dela, mas ela me segura pela mão.
– Você, mocinho... – Ela olha para o Rui. – Faça o favor de andar na linha. O
rolo de macarrão ainda está vivo, não me custa nada usá-lo em você!
Sinto um apertão em minha mão, é o Rui com pressa e medo da vovó Maria.
– Fique tranquila, Dona Maria, e guarde o rolo de macarrão, não será
necessário usá-lo. – Ele sorri para vovó.
– Seus dentes são lindos, rapaz! Ande na linha se não quiser perdê-los! –
Vovó dá seu último recado e volta para o sofá. – Vão com Jesus, Nosso
Senhor, e vê se casem logo, não aguento mais essa fornicação aqui nesse
apartamento!
Olho para o Rui, ele arregala os olhos, diz um boa noite e saímos de cabeça
baixa.
O elevador fecha e ele diz com um sorriso:
– Formicação foi foda, Jack! A gente faz amorzinho!
Dou risada.
– Oh, Rui, até disso você tira barato?
– A vovó não está muito feliz com nossa formicação, Jack – ele diz e cai
numa risada contagiante.
Capítulo 67
PRISCILA ALBUQUERQUE
Flashback on
Não foi fácil convencer meu pai a convidar o Rui para um jantar.
Bufo com raiva.
– Pai, use como argumento a questão da parceria, vamos pressionar ele
cancelando, afinal você só fechou isso por minha causa!
– Priscila, que confusão você arrumou em minha vida por causa desse rapaz.
Tente focar seus pensamentos agora em seu novo trabalho, você queria tanto
ser promotora, se sinta feliz com isso! – Meu pai diz aborrecido.
Não aguento mais ouvi-lo me criticar, isso é muito desgastante para mim.
– Eu queria ter passado no concurso para juíza, mas o senhor não me ajudou
com isso! – digo magoada.
– Não dá para comprar todo mundo, Priscila! Desta vez não deu certo,
tentaremos novamente, quem sabe não temos mais chances da próxima vez.
– Papai, eu não vivo sem o Rui! Por favor, me ajude! – Imploro. – Eu preciso
do senhor, ele não aceitará um convite meu sem um motivo.
– Ok. Mas, essa é a última vez. Por favor, me deixe fora dessa sua história
com o Rui, estou cansado disso. Use suas armas para conquistá-lo, e não me
envolva mais nessa confusão. Estamos combinados?
– Sim, claro – respondo acuada. – Já tenho um plano em mente, deixe
comigo, papai. – Sorrio feliz.
****
Semanas depois.
O procurador Fernandez não é o tipo de homem que me atrai.
Beirando os 40 anos, ele é o tipo de homem que possui um corpo flácido e
desengonçado, resultado de horas debruçado sobre livros, comendo
guloseimas e sanduíches, e nenhuma atividade física.
Desde que cheguei à promotoria percebi seus olhares indiscretos sobre mim.
Tenho consciência da minha beleza e inteligência, e do poder de sedução
sobre os homens.
Nunca quis seguir os passos da minha mãe, quero me casar por amor, e não
por dinheiro.
Tudo bem que o Rui é um homem rico, mas eu sou apaixonada por ele desde
que ele era apenas um advogado mediano.
Me sento em frente a mesa do promotor, sorrio sensualmente, e sem querer
faço exatamente o que minha mãe sugeriu, começo meu plano de seduzi-lo.
– Você tem um minuto, doutor?
Ele para o que está fazendo, e me olha com um sorriso.
– Claro, Priscila! – Ele cruza seus braços na mesa. – E então, como estão as
coisas? Já está mais familiarizada com a rotina do departamento?
– Sim, aos poucos estou me habituando! – Sorrio para ele. – Queria te pedir
uma coisa!
– Fique à vontade. – Mais um sorriso, ele está louco por mim.
– Gostaria de dar uma olhada em um antigo caso, já arquivado e tudo mais, é
só por curiosidade.
– Não vejo problema. Qual o réu ou os réus?
– Oh... – Fico temerosa de dizer, mas então crio coragem e digo. – Um
advogado, Rui Figueiredo.
– Seu ex-noivo. É dele que estamos falando? – Uma ruga aparece entre seus
olhos.
– Sim, ele mesmo, tenho curiosidade de conhecer este caso, foi meu pai que o
absolveu, então, fiquei interessada.
– Certo. – Ele muda sua expressão. – Eu e seu pai não tínhamos a mesma
opinião sobre esse caso, você sabe disso!
– Sei, claro que sei – respondo acuada. – Mas, eu não estou aqui para
esclarecer essa situação, quero apenas conhecer o processo que quase colocou
aquele filho da puta nas grades! – Sorrio tentando obter sua confiança.
– Você tem raiva dele, Priscila? – Ele pergunta com certa satisfação na voz.
– Sim, ele praticamente me largou no altar! – Sorrio fraco.
– Você deve saber que não gosto dele. Já tivemos muitos embates no tribunal,
ele ganhou, não por sua competência, mas porque é um maldito de um
pilantra.
Vejo a raiva em seus olhos.
Apesar de tudo, sei que o Rui é honesto e competente, e o promotor odeia ele
por isso.
– Então, você se incomoda se eu der uma olhada no processo? – Faço uma
expressão angelical.
– Tudo bem, fique à vontade. – Me levanto, mas ele me interrompe. – Aceita
almoçar hoje em minha companhia?
Sorrio.
– Claro, pensei que nunca seria convidada para almoçar com o chefe!
****
Quando tive a ideia de jantar com o Rui e meu pai, não havia em minha
mente a possibilidade daquela piranha aparecer com o Rui. Mas, por incrível
que pareça, ele teve essa audácia.
Eu também não havia planejado nada com meu pai sobre o que iríamos falar,
com exceção de sua decisão a respeito do fim da parceria entre eles, o que há
tempos meu pai queria, uma vez que a mesma só aconteceu por minha
insistência.
Na época, eu achava ingenuamente que, ao assinar um contrato com meu pai,
ele não teria coragem de me deixar.
Ledo engano.
Acontece que ao ver aquela mulher acompanhando o Rui, e fazendo o papel
que era meu por direito, surtei, e acabei contando uma história fantasiosa
sobre a reabertura do antigo processo de lavagem de dinheiro que o Rui
participou como advogado.
Resumindo, o saldo final do jantar foi desastroso. Além de ver o Rui se voltar
contra mim, acabei levando um banho de vinho e um tapa na cara daquela
desqualificada.
O sangue subiu e só não acabei com a raça daquela piranha, porque meu pai e
o Rui interviram.
Mas, naquele dia decidi que não deixaria as coisas como estavam. Não vou
perder o Rui para uma secretária de quinta categoria.
Algum tempo depois, tomei coragem e liguei novamente para o Rui, usei o
mesmo discurso sobre a reabertura do processo da promotoria contra ele, e
como um patinho, ele caiu em minha história.
Marcamos um jantar, tentei seduzi-lo, mas não obtive êxito.
Ele realmente parece enfeitiçado pela piranha.
Uma nova tentativa, agora em meu apartamento.
Como não havia um processo para mostrar, tirei apenas cópia do antigo
processo.
Coloquei uma câmera escondida em meu quarto, e assim o plano sugerido
pela minha mãe entrava em ação.
Mas, mais uma vez fui surpreendida por um surto de homem fiel vindo
justamente do cara mais mulherengo que já conheci.
Eu não estou em meu melhor momento, muito menos com sorte.
Frustração e ódio tomaram conta de mim.
Se o Rui acha que pode me humilhar e sair ileso com isso, ele está enganado.
Espere para ver do que sou capaz, Rui!
Falo comigo mesma, após acabar com uma garrafa de vinho sozinha, e
espatifar na parede a taça de vinho que ele tomava.
Flashback off
Capítulo 68
JACKELINE BARTOLLI
Semanas depois.
Dia após dia, construímos nossa relação que não é feita só de sexo, mas não
vou negar, tem muito sexo.
Passados alguns meses juntos, eu sabia que teria que rever seus pais, o Rui
me disse que precisava ir visitá-los, e que eu iria com ele novamente.
– Jack, eles sabem que agora temos um relacionamento, tipo... sério! – Ele
sorri com sua cara de cafajeste.
– Tipo sério, quer dizer sério, eu espero! – Dou um olhar assassino para ele.
– Brincadeirinha! – Ele me agarra pela cintura, sentado em sua cadeira. –
Vou assumir Jackeline Bartolli para minha família, como a mulher da minha
vida.
Gargalho eletrizada, ele gosta de me deixar boba de amor.
– Serão somente seus pais? – pergunto insegura. – Aquelas madames metidas
a besta estarão lá? Talvez eu deva comprar um vestido Channel? Esse é o
mais caro que existe, não entendo muito de marcas de grife!
– Sei lá, deve ser! – Ele ri. – Mas não se preocupe, é só se vestir
comportadinha, nada de ficar mostrando esses peitos gostosos. – Ele beija
meus seios por cima da camisa. – Nem essas pernas... – Ele enfia suas mãos
por baixo da saia, sobe, aperta minhas coxas, depois meu bumbum. – E talvez
tentar não mostrar tanto esse bumbum.
Dou risada, mas é porque fiquei excitada com essa apalpação toda.
Recobro minha postura.
– Chega de me apalpar, Doutor Rui. – Me afasto dele com um cara divertida.
– Você escolhe as roupas que devo levar, não sei me vestir, e sua mãe é
chique demais.
– Perfeito, deixe comigo! – Ele dá um tapa em minha bunda.
– Ui, Rui! – Faço uma careta, e fricciono o local. – Então, vou voltar ao meu
trabalho, tenho muitas coisas para fazer.
Me viro e saio rebolando, de propósito, é lógico, e o ouço assobiar.
Paro na porta e o vejo me olhando com sua cara de tarado, mas apenas mando
beijos para ele e saio feliz.
****
E o final de semana chegou, e com ele a tortura da visita aos pais do Rui.
Confirmo se coloquei tudo em minha mala, a fecho e bufo nervosa.
Apesar de ter colocado na bolsa de viagem alguns vestidinhos curtos, saias e
biquínis, o Rui fez questão de comprar para mim alguns vestidos e conjuntos
mais comportados. Como ele disse, desta vez, preciso estar comportada.
Mas, será melhor assim, pois não será fácil rever a nojenta de sua mãe.
– Tudo certo, Jack? – Ele sai do banheiro enxugando seus cabelos e
mostrando toda a sua gostosura de macho.
– Tudo arrumado. – Tento controlar a minha ninfomaníaca, e não o agarrar
pela terceira vez, mas aí me lembro de que precisamos transar muito para
aumentar minhas chances de ficar grávida.
Oh, meu Deus, se o Rui descobre minhas intenções com seus espermas, ele
me mata, ou simplesmente me abandona.
Me levanto da cama, estou vestindo apenas uma saia e um modelo de sutiã
muito sensual de renda, sigo até ele feito uma pantera.
– Eu já conheço esse olhar, Jack – ele diz me encarando.
– Ah, é? – Seguro seu pênis. – Então, você sabe o que eu quero. – Beijo seus
lábios, depois o pescoço, percorro sua barriga com minha mão, o excito e
provoco.
– Jack, estamos atrasados, precisamos ir. – Ele reclama, mas já está de olhos
fechados, se deliciando com minhas carícias.
– Só mais uma vez, meu bombeiro! Eu estou pegando fogo! – Brinco e
mordo sua orelha, depois seu maxilar, seu queixo.
– Que fogo, Jack! Haja mangueira para te acalmar! – Ele me coloca em sua
cama, e antes que eu tire minha roupa, ele já está enterrado até o último
centímetro dentro de mim. – Assim que você gosta, minha delícia?
Seguro seus cabelos e o encaro.
– É assim mesmo, Rui! Me fode com força, meu homem gostoso! – Invado
sua boca com a minha, e enlouqueço de prazer em seu corpo.
Minutos insuportáveis de prazer, o clímax, e então nossos gemidos
reverberam pelo quarto e possivelmente pelo apartamento todo.
Ele relaxa seu peso sobre mim, e aos poucos vai retornando à realidade.
– Que loucura você é, Jackeline! – ele diz depositando beijos em meu rosto. –
Te amo, minha deusa!
Ele me olha intensamente, seguro seu rosto entre minhas mãos, e o beijo
apaixonadamente.
– Eu também, Rui! Podemos ir agora, se você quiser!
– Você primeiro acaba comigo, depois diz que quer pegar duas horas e tanto
de estrada? Jack, você não gosta do seu macho.
Dou risada.
– Oh, Rui, desculpa se cansei você! – falo bem boazinha, enchendo suas
bochechas de beijos. – Tá melhor agora, ou quer mais beijinhos? – Brinco
com ele.
Ele se levanta e me olha.
– Vamos terminar isso logo, prefiro ir hoje. – Ele segue para o closet, ajeito
minha roupa, coloco uma camisa e termino de me arrumar.
Em minutos, estamos na estrada, eu, o Rui e o, agora NOSSO, mascote.
****
Depois de longos minutos na estrada, chegamos a sua cidade, e parece que já
me sinto familiarizada com o lugar. O cheiro que paira no ar é diferente,
talvez por estarmos próximos a área rural, onde existem fazendas, gado e
plantações.
Como da outra vez, seguimos para o píer que dá acesso à represa.
– Vamos ver se a represa continua onde a deixei? – ele diz sorrindo, e apesar
de horas na estrada, ele parece renovado.
Talvez, esse seja o efeito que esse lugar causa nele.
Caminhamos de mãos dadas até o píer, paramos, ele abraça minhas costas,
beija meus cabelos e ficamos ali, apenas observando a paisagem noturna da
represa.
– É bom ficar aqui. Dá uma paz, né? – falo relaxada em seu abraço,
acariciando seus pelos macios dos braços, sentindo a quentura que vem do
seu peito em minhas costas, uma sensação boa de acolhimento, de proteção.
Ele beija meu rosto, e esfrega sua pele na minha, pequenos pelos fazem
cócegas em minha face.
Finalmente ele beija minha orelha e diz num sussurro.
– Vamos dormir, minha deusa? Estou morto de cansado!
Me viro para olhá-lo, seus lindos olhos estão vermelhos de sono.
– Vamos, vou colocar meu bebezão para dormir. – Brinco, beijo suavemente
seus lábios, ele volta a me encarar, me beija novamente e a excitação volta.
– Vamos, Jack, eu aguento mais uma, a última do dia! – E ele me pega no
colo, dou um grito de excitação.
– Sou pesada, Rui, me coloca no chão – falo manhosa, não querendo de fato
que ele faça isso.
– Para mim, você é uma pluma! – Ele sorri, me beija, e assim, seguimos para
seu quarto, e terminamos nossa noite como sempre, com muito amor.
****
Finalmente chegamos à casa do Rui, e nunca foi tão bom chegar a esse lugar.
Me esparramo em um sofá, e logo meu bicho peludo vem se aninhar a mim.
– Posso dormir um pouco, Rui? Me deu um sono! – falo preguiçosa.
– Claro, vou me trocar e relaxar um pouco lá fora! – Ele me beija
delicadamente. – Depois eu acordo vocês dois!
O ouço subir as escadas, mas o relaxamento é tanto que durmo em segundos.
Não sei quanto tempo dormi, mas quando acordo o céu está vermelho, e o sol
se pondo.
Olho ao redor e não vejo o Rui, então me levanto e sigo para o jardim, e o
encontro dando algumas braçadas na piscina.
Me sento em um puff gigante e fico o admirando enquanto ele nada.
Finalmente ele para na borda da piscina.
– Oi, preguiçosa! – ele diz divertido, passando as mãos pelos cabelos e rosto.
– Dormi demais! Por que você não me chamou? – Faço um bico.
– Achei melhor não te acordar, você poderia ficar mal-humorada – ele diz
debochado.
– Eu, mal-humorada, imagine! – Brinco. – Vem, Rui, estou com saudades –
falo manhosa, estendendo minha mão para ele.
– É pra já, minha delícia. – Ele fricciona seus braços na borda da piscina e sai
num impulso.
– Oh, que homem mais lindo! – falo babando naquele corpo másculo e vejo
sua expressão orgulhosa.
Ele se inclina sobre mim, respingando gotas para todos os lados.
– Vamos subir? Tomamos um banho e depois saímos para jantar fora. O que
você acha?
Enlaço seu pescoço.
– Perfeito. – Seguro seu rosto e o beijo demoradamente.
Ajudo-o a se enxugar com a toalha e seguimos para o interior da casa.
****
Desperto com a luz do dia em meus olhos, e uma sensação de que poderia
dormir o dia todo.
Me espreguiço na cama, e logo sinto o corpo do Rui junto ao meu.
Estou tão acostumada a dormir com ele!
Adoro esfregar minhas pernas nas suas, sentir as cócegas que seus pelos
macios fazem em minha pele. Mas, também gosto da sensação de plenitude
que sinto quando estou com ele.
Amar é maravilhoso, mas causa um medo, principalmente quando se sabe
que a pessoa que se está amando nem sempre foi um exemplo de homem
sério e fiel.
Penso em sua mania de ficar no celular, eu sei que isso é muito comum
atualmente, até mesmo uma espécie de doença da humanidade moderna. Eu
também faço isso, mas não é do jeito que ele faz.
Ele é um daqueles homens que está sempre checando mensagens, e isso me
irrita demais, e apesar de ter dito que não queria ver as mensagens, uma
pulguinha não para de buzinar em minha orelha.
Eu deveria ter visto as mensagens, apenas para me sentir mais segura, e ter
certeza que ele não se comunica com ninguém.
Fecho os olhos e bufo.
Ele passa o dia comigo, as noites também, como ele pode me trair assim?
Não, eu não vou mexer em seu celular, preciso acalmar os ciúmes que tenho
dele.
Me abraço a ele, enfio minhas pernas no meio das suas, e o calor da sua pele
contra a minha pele nua, aquele seu cheiro amadeirado, masculino e excitante
entra em minhas narinas, e não consigo segurar a excitação que sinto em meu
sexo.
Beijo seu pescoço, seu peito, esfrego minhas pernas nas suas, acaricio sua
pele com minhas mãos, e então ele abre os olhos preguiçoso, mal consegue
mantê-los abertos.
– Bom dia, Rui! – Me ergo um pouco em meus braços, deposito pequenos
beijos em seus lábios. – Dormiu bem, meu urso? – falo brincando.
– Dormi, Jack. Mas ainda estou com sono. – Ele abraça meu corpo, me
fazendo deitar novamente. – O que você quer, minha deusa? Está empolgada
logo cedo? – Ele esfrega seu pênis contra meu corpo e beija meu pescoço.
– Vamos namorar, Rui? – falo manhosa, sentindo seus beijos pelo meu
corpo.
– Já estamos namorando. – Ele me olha e ri, e de repente sinto um dedo
entrar em mim. – É isso que você quer? – Ele me olha com sua cara de
safado. – Talvez mais um?
Dou risada de seu jeito divertido.
– Talvez aquele grandão? – Brinco.
– Qual? – Enquanto ele diz, seu dedo entra e sai deliciosamente dentro de
mim.
– Aquele que fica dependurado no meio das suas pernas, o famoso tripé! –
Brinco.
Ele para o que está fazendo e dá uma gargalhada.
– Tripé? – Ele me olha rindo. – Então coloca o tripé na sua boca, quero ver o
que você faz com ele.
– Com todo prazer! – Me esgueiro em seu corpo e começo a sugar seu
membro.
– Engole ele, Jack! – ele diz com seu olhar de desejo.
Faço o que ele pede, mas antes que ele goze, ele me faz parar.
– Quero dentro de você, delícia! Fica de quatro! – Faço o que ele pede. –
Isso, Jack, que bunda mais linda você tem! – Ele acaricia minha pele. – Um
dia desses, Jack... – Ele me penetra. – A gente podia fazer algo diferente... –
Sinto seu dedo acariciar entre minhas nádegas. – O que você acha?
Gemo ao seu contato, a sensação de prazer com ele dentro de mim, a sua voz
grossa em meu ouvido.
– Tá bom, podemos fazer – sussurro, entregue às suas caricias, agora em
meus seios.
– Talvez hoje? – Novamente ele acaricia o local.
Estou muito excitada, e de fato, ele está sempre insinuando que quer, e por
que não?
– Tudo bem – sussurro.
– Serei cuidadoso, tá! – De novo sua voz grossa e sensual em meu ouvido. –
Colocarei bem devagar... – Ele estimula o local com seu dedo. – Está
gostoso, Jack?
Meu coração está disparado, e uma excitação louca tomou conta de mim.
– Tá, pode continuar... – Ele continua com a penetração e com a estimulação
com seus dedos.
De repente ele tira seu membro de mim, e enquanto estimula meu clitóris, me
penetra por trás.
– Relaxa, Jack! – Ele beija meu pescoço, e aos poucos relaxo, e finalmente
ele está todo dentro de mim, e a sensação é incrível. – Está gostoso, posso
continuar? – Mais beijos e mordidas em meu pescoço, ombros, costas.
Minha excitação está na lua.
– Continua... – Minha voz sai fraca, estou louca de desejo.
Seus movimentos ganham vigor, assim com seus dedos em meu ponto de
prazer, e a excitação, o amortecimento, o prazer de tê-lo em mim, e então...
– Oh, Rui... – Gemo alto, e o prazer vem em seu ponto máximo, em ondas
alucinantes, tudo dobrado, e melhor, e mais intenso.
E seus gemidos e seu urro de prazer preenchem o quarto, insanos, vigorosos,
como tudo nele.
– Caralho, Jack... – Mais um urro, e aos poucos ele vai se acalmando. – Foi
demais, Jack! A melhor de todas.
Fecho meus olhos e desmonto na cama.
Foi intenso pra cacete, delicioso demais, e cansativo.
– Foi demais, Rui! – Olho para ele ao meu lado, meus cabelos bagunçados no
rosto, e sou incapaz de me mover.
– Você é demais, Jack, a mulher mais incrível que já conheci.
Meu sorriso se esparrama em minha face.
– Você também é o cara mais incrível que já conheci. – Sorrio, embriagada
de amor. – Eu amo você, de um jeito que nunca amei alguém.
Ele me olha por segundos intermináveis, indecifráveis, de um jeito que
parece ler minha alma, meu âmago.
– Eu também, Jack! Nunca senti por ninguém o que sinto por você! – Ele
acaricia meus cabelos, me beija lentamente. – Te amo, minha deusa!
O abraço junto a mim, e nos beijamos por longos minutos, apenas beijos,
carinho e amor.
Finalmente paramos e nos olhamos intensamente.
– Vamos tomar um banho, para passar a preguiça? – ele diz carinhoso.
– Sim, mas hoje estou especialmente preguiçosa, Tenha paciência comigo,
estou meio lenta. – Seguro sua mão e me levanto.
– Não achei você lenta agora a pouco. – Ele me olha com uma cara
engraçada.
– Engraçado, né? Não sou lenta para essas coisas.
Ele dá risada, e seguimos para o chuveiro.
****
A casa onde mora seu amigo e a esposa é um encanto, e lembra aquelas casas
americanas, que não possuem portões, grades, ou cercas elétricas. Mas, óbvio
que fica em um condomínio de casas, num bairro muito arborizado, um
pouco afastado de onde o Rui tem sua casa, e próximo da estrada.
Como da outra vez que vim a sua cidade, o céu está limpo, sem nuvens,
apenas um sol maravilhoso enfeita o céu azul e límpido.
– Que casa mais fofa! – digo assim que ele estaciona seu carro no meio fio,
desço do carro e o encontro logo ao meu lado.
– Esse meu amigo se formou em Medicina, e a esposa era enfermeira, se
conheceram no hospital onde trabalhavam, acabaram se apaixonando e
casaram há muitos anos, acho que logo que ele se formou.
– Que legal! – falo animada, aguardando enquanto eles não atendem a
campainha.
Finalmente o Gabriel aparece com um bebê no colo, lindo demais, daqueles
gordos, bochechas rosadas, olhos incrivelmente azuis, como os da mãe.
Sorrio encantada, talvez babando feito uma doida, e com as mãos pinicando
para pegar o bebê em meus braços.
– Bom dia, pessoal! Desculpe a demora, eu estava ajudando a Melissa trocar
os bebês. – Ele diz animado.
– Os bebês? – pergunto curiosa.
– Sim, tivemos gêmeos, eles estão com oito meses. – Ele vai falando
enquanto entramos na casa.
– Oh, ele é um bebê lindo! – falo extasiada mexendo nas mãozinhas da
criança.
Esqueci por alguns minutos do Rui, aquele bebê se tornou o centro das
minhas intenções.
Vejo sua esposa descendo as escadas, com mais uma cópia daquele bebê
lindo.
– Oi, Jackeline! Que bom que vocês vieram! – Ela me abraça com o bebê no
colo.
– Que lindos seus bebês, estou encantada! – Acaricio os cabelinhos loirinhos
e finos do bebê.
– Vamos para o jardim, o Gabriel já está arrumando as coisas.
Seguimos todos para a área externa da casa, e confesso, continuo ignorando o
Rui e só tenho olho para os bebês.
– Quer que eu te ajude com o outro bebê? Parece que o Gabriel está meio
atrapalhado. – Tento não parecer ansiosa, mas não consigo controlar a
vontade que sinto de segurar um dos bebês.
– Oh, seria ótimo, assim ele consegue fazer as coisas. – Ela o chama. – Deixe
que a Jackeline me ajude com o Jonathan.
Sigo sorrindo até ele, pego aquele bebê no meu colo e parece que sinto meu
coração inflar.
– Parabéns, Melissa! Eles são lindos! – falo e acaricio o bebê, que me encara
como se eu fosse o bicho papão. – Adoro esse cheirinho que eles têm. – Beijo
sua cabecinha, cheiro, e sinto uma emoção por dentro.
– Você e o Rui não pretendem se casar? – Ela pergunta enquanto
caminhamos para sua cozinha.
– Acho que não, o Rui não é o tipo de homem que quer se casar – falo
despretensiosamente, mas ela me olha decepcionada.
– Sério? – Ela arregala seus olhos azuis. – Achei que vocês...
– Não, nós não temos planos de casar.
– Você não quer se casar, ter filhos? Você parece gostar tanto de crianças!
– Eu gosto mesmo, mas... – Dou de ombros.
E os minutos foram passando, talvez no melhor dia da minha vida, acho que
nunca passei tanto tempo cuidando de bebês.
Enquanto os dois homens conversavam no jardim e preparavam o churrasco,
eu e a Melissa demos papinhas para os gêmeos, depois trocamos suas
caquinhas, e por incrível que pareça, não senti nojo das sujeirinhas deles.
Estou em estado de graça, e acho tudo que vem deles é maravilhoso, até o
regurgito do pequeno Jonathan em meu colo, que me fez colocar uma roupa
emprestada da Melissa.
– Oh, Jackeline, me desculpe! – ela diz sem graça, tentando limpar meu
vestido. – Coloque esse meu vestido de grávida, acho que servirá em você. –
Ela olha para o meu corpo. – Enquanto isso, irei colocar seu vestido para
lavar e secar, daqui a alguns minutos estará pronto.
– Está tudo bem, Melissa. – Enfio seu vestido de grávida, que apesar de justo
no busto, coube, mas ficou um pouco curto demais, já que sou mais alta que
ela, talvez um pouco indecente nos seios, mas resolvi me esconder um pouco
no quarto dos bebês, até que meu vestido estivesse pronto. – Posso ficar aqui
com eles, enquanto meu vestido não fica pronto?
– Claro! Vamos aproveitar e dar banho neles, assim o tempo passa mais
depressa! – Ela pega um dos bebês, tira sua roupinha, e enquanto isso, cuido
do outro.
– Sua ajuda está sendo maravilhosa, Jackeline! De vez em quando recebo
algumas visitas que não gostam muito de ajudar com os bebês, nem toda
mulher gosta de crianças, quero dizer, elas gostam, mas só quando elas estão
no colo das babás!
Dou risada da sua constatação.
– Você não tem babás para te ajudar? – pergunto sentada com o bebê em meu
colo, acariciando e brincando com suas mãozinhas, e sem querer me vejo
com os olhos cheios de lágrimas, talvez eu não consiga ter um desses para
mim.
– Jackeline! – A ouço me chamar, eu tinha ido até outro mundo, no meu
mundo interior, e nem notei que ela falava comigo.
– Desculpe, Melissa, me distrai com seu bebê. – Tento disfarçar uma ou duas
lágrimas que escaparam de meus olhos.
– Algum problema, Jackeline? Por que você está chorando? – Ela vem até
mim com o bebê enrolada em uma toalha.
– Sabe, Melissa, talvez eu nunca consiga engravidar, tenho um problema
sério em meu útero, trompas e ovários. – Desabafo. – Um dos meus ovários
já está comprometido, e o outro também deve estar caminhando para isso. –
Mais lágrimas escorrem dos meus olhos. – Daqui a algum tempo terei que
tirar meu útero, a médica disse que normalmente quem tem meu problema
desenvolve câncer no futuro, enfim, não sei se serei mãe um dia.
Tento me recompor, limpo as lágrimas, e então olho para ela, e vejo seu rosto
molhado, ela simplesmente caiu no choro comigo.
– Me desculpe! – falo constrangida, ela vivendo seu melhor momento da
vida, e eu estragando tudo com meus problemas.
– Sinto muito, Jackeline, muito mesmo, de verdade! – Ela me abraça junto
com o bebê, e choramos as duas juntas.
Nos afastamos em meio às lágrimas descontroladas.
– A gravidez me deixou muito sensível, me desculpe o descontrole. – Ela
coloca o bebê dormindo no berço. – Vamos dar banho no Flavinho? – Ela
pega o bebê do meu colo. – Prepare-se para dar banho em um bebê,
Jackeline! Já fez isso em sua vida? – Ela sorri, e sorrio junto.
– Nunca, acho melhor você não confiar em mim.
Ela dá risada.
– Faremos juntas, sou enfermeira de berçário, ensinei muitas mamães a
darem o primeiro banho em seu bebê. – Ela tira a roupa do seu filho, e o
coloca em meu colo. – Vamos lá, vou te ensinar.
Capítulo 71
RUI FIGUEIREDO
Olho pela terceira vez o homem deitado na recepção da minha sala, roncando
feito uma motosserra.
Reviro meus olhos e sigo para a sala do Rui.
Entro sem bater.
– Rui, não dá para trabalhar com aquele cara roncando em minha sala! – Faço
um bico.
– Então fica aqui na sala do seu chefinho lindo, minha deusa! – ele diz meio
mole, deixando claro que ele também não tá legal.
– Oh, Rui, onde já se viu beber desse jeito? Você e o cliente estão bêbados! –
falo brava.
– Faz amor comigo, Jack, que minha bebedeira passa! – Ele se levanta e vem
em minha direção.
– Não, Rui! Seu pau nem vai subir!– falo irritada com a situação.
– Não sobe o caralho, dá uma olhada nisso aqui! – Ele abre sua calça e coloca
aquele negócio grande e duro para fora.
O olho assustada.
– É, parece que está funcionando, né! – Me afasto um pouco. – Guarda isso,
Rui, o cara pode acordar...
Ele gargalha, está bêbado de verdade.
– Ele vai acordar só amanhã, Jack! – Mas alguns passos e estou prensada
contra sua mesa. – Quero te foder, gostosa... – Ele me coloca sobre sua mesa.
– E tem que ser agora, estou com um tesão da porra.
Aquela boca gulosa invade a minha com pressa, em seguida um puxão em
minha blusa faz os botões cederem, expondo os meus seios no sutiã.
Sua língua macia percorre toda a minha pele, se demorando ao redor das
alreolas, lambendo e sugando deliciosamente.
– Ruiii!!! – Gemo de prazer.
– Você quer o meu pau dentro de você, Jack? – Ele acaricia meu sexo com os
dedos, de uma forma erótica e sensual.
– Quero, Rui! – respondo de olhos fechados.
– Então pede, Jack.
– Oh, Rui... – Seu dedo me penetra.
– Pede, Jack: “Enfia seu pau em minha buceta, Rui.”
Oh, que tortura!
– Enfia seu pau, Rui... – Gemo alto.
Ele beija meu pescoço.
– Primeiro vou lamber ela inteirinha, Jack, adoro sua buceta – ele diz
sensualmente, com sua voz baixa e rouca.
Ele mergulha sua língua em mim, me fazendo ofegar de prazer.
– Ahhh!!!
Jogo minha cabeça para trás e me entrego à sensação de prazer que ele me
proporciona. E os movimentos aumentam, e a intensidade, e finalmente o
êxtase, seguido de um arrepio de prazer, gemidos, um amortecimento e o Rui
me penetra, intenso, com movimentos rápidos, firmes, fortes e de repente ele
explode de prazer.
– Oh, Jackeline! – Ele segura meu rosto entre suas mãos e me beija faminto.
– Você me mata de prazer, Jackeline! – Uma expressão de puro prazer toma
conta de seu rosto.
Olhos fechados, a respiração rápida, ficamos assim por alguns segundos,
desfrutando desses momentos de puro prazer.
– Foi gostoso, delícia? – Ele sussurra em meu ouvido. – Eu adorei, queria
mais.
Sorrio contra seu peito.
– Foi gostoso, muito gostoso! – Beijo seus lábios. – Preciso me arrumar, tira
esse negócio gostoso de dentro de mim, por favor! – falo em tom de
brincadeira.
– Ele quer mais – ele diz com seu jeito safado.
Então, ouço alguém bater na porta, empurro o Rui para longe de mim.
– Rui, guarda esse negócio! – Desço da mesa toda atrapalhada, tento fechar a
camisa, mas existem muitos botões arrancados no desespero do Rui. – Rui,
minha camisa não fecha! – Ele pega seu terno e joga em cima de mim, e
então diz:
– Pode entrar! – Ele alisa sua camisa, arruma a gravata e sorri, como sempre.
A porta abre e vejo o Senhor Salim entrar, ele está péssimo.
A gravata frouxa foi deixada assim de propósito pelo Rui, para que ele não
morresse sufocado. Seu pescoço gordo não suportaria a pressão dela.
Ele está suado e vermelho, e passa suas mãos nervosamente pela testa.
O Rui caminha até ele animado.
– Sente-se aqui, Senhor Salim, a Jackeline irá providenciar um café para nós.
– Então ele me olha. – Jack, café e água, e imprima o contrato para
formalizarmos a consultoria jurídica. – Ele pisca, e não tenho como não rir, o
Rui é muito engraçado.
****
É meio da tarde, ainda não consegui falar com a Jack, apesar de tentar ligar,
enviar mensagens e tudo mais, mas ela não está a fim de falar comigo, então
tenho uma ideia.
Ligo para o Alexandre, ele atende rapidamente.
– Pois não, Doutor Rui?
– Alexandre, anota aí o endereço que vou te passar. – Termino de falar o
endereço da Jack. – Agora você irá tentar descobrir o telefone fixo deste
endereço, você tem o número do apartamento, o nome da Jackeline, e da mãe
dela, acho que não será muito difícil, tente através do site da empresa de
telefonia.
– Ok, Doutor Rui. – Ele parece confuso. – Mas não é mais fácil ligar no
celular da Jackeline?
Dou risada de mim mesmo, como vou dizer ao garoto que ela não atende seu
chefe, namorado e capacho?!
– Faça o que mandei, Alexandre, e não pergunte demais! – Falo mal-
humorado, e desligo.
Alguns minutos e o menino me liga.
– Doutor, o senhor tinha razão, consegui no site da empresa de telefonia. –
Ele sorri feliz com sua conquista.
– Ok, me passe então! – falo apressado, anoto o número que ele dita. –
Obrigado, Alexandre, volte ao seu trabalho.
Olho para o número e dou risada:
– Vamos ver se você não vai falar comigo, Jackeline!
Disco o número, demoram um pouco para atender, e então a voz da
vovozinha da Jack vem ao telefone.
Fecho meus olhos e bufo, acho que não vai dar certo essa ligação!
– Boa tarde, Dona Maria, aqui é o Rui... – Não deu tempo de terminar a
frase, ela começou a me xingar. – Dona Maria, deixe eu me explicar... –
Tento falar, mas essa velhinha tem um esgoto na boca, então desligo.
Meu Deus, a vovó da Jack não é nada fácil, não me admiro a Jack parecer
com ela.
É impossível falar, ela só me xinga e promete quebrar minha cabeça com o
rolo de macarrão.
Estou perdido com a família da Jackeline.
Espero mais alguns minutos, tento novamente, e agora é a voz da mãe da
Jack, respiro aliviado.
– Dona Amélia, boa tarde... – Ela também me interrompe, todas estão de mal
comigo.
– Fale logo, Doutor Rui, não estou com paciência para seu lenga-lenga!
Giro meus olhos, eu preciso de sua mãe como minha aliada, ela não pode
ficar com raiva de mim!
– Dona Amélia, houve uma mal-entendido entre eu e sua filha, eu a amo de
verdade. – A ouço bufar no telefone. – Inclusive, eu quero pedir permissão
para a senhora, para levá-la para morar comigo. Estamos juntos há alguns
meses, eu adoro sua filha, não tenho outras mulheres, eu juro para senhora!
Sou um homem honrado, às vezes, cometo alguns erros, mas é porque sou
meio burro! Eu respeito a Jackeline, ela é uma mulher maravilhosa, eu
nunca a trairia por diversão... – Fico em silêncio. – A senhora acredita em
mim?
Me sinto meio idiota com a situação, implorando pelo perdão da mãe, mas é
isso aí, a Jack se apoia muito na mãe, então se ela convencê-la a conversar
comigo, será mais fácil.
– Oh, Doutor Rui, você é tão confuso... – ela diz sem muita paciência
comigo. – Mas, já que você quer assumir seu relacionamento com a
Jackeline, acredito em você. Mas já tem data marcada, ou é só para
convencer ela a te atender? – ela diz brava.
Porra, a mãe da Jack quer se livrar da filha, que inferno de pressão.
– Por mim pode ser hoje, se ela quiser, é lógico. Ela está muito brava
comigo, Dona Amélia? – Enrugo minha testa, preocupado com a resposta.
– Um pouco... – Ela faz silêncio. – Na verdade, ela está muito brava, uma
arara! – Ela ri, então dou uma relaxada, pelo visto, a mãe da Jack já está
acostumada com seus “pitis”.
– Ah, eu também estou chateado, Dona Amélia! Foi uma vacilada minha,
coisa de homem, mas não tenho nenhum caso, essas merdas, a Jackeline já
me dá bastante trabalho, ela é brava, mal humorada, e não me deixa em paz
um minuto. Acho que a senhora entende do que estou falando, não é mesmo?
Me sinto à vontade com a mãe da Jack, ela é uma senhora simples, mas bem
inteligente, parece aquelas mães sábias, cheia de conselhos para dar, gosto
dela, está aí uma sogra que quero ter.
– Entendo, entendo sim, não precisa explicar meu filho, eu já percebi! – Ela
parece um pouco constrangida, talvez eu tenha exagerado, acabei me
abrindo um pouco demais com a sogra. – Vamos, fazer o seguinte, venha
jantar aqui em casa, farei um bacalhau, percebi que você gostou da minha
bacalhoada! – A sinto relaxada, já conquistei a sogra, tenho certeza disso. –
Então, você poderá conversar com a Jack, ela é geniosa, mas é uma menina
muito doce, Doutor Rui, será uma esposa maravilhosa.
Oh, será que ela pensa que iremos nos casar?
Preciso deixar claras as coisas, para depois não apanhar de todo mundo
junto.
– Dona Amélia, iremos morar juntos, não é um casamento.
– Tudo bem, não tem problema. Os jovens hoje em dia são mais práticos, não
querem casar, mas o importante é que você a respeitará como uma esposa.
Estou certa? – ela diz meio brava.
– Claro, como uma esposa, companheira, é tudo igual no final das contas,
não é mesmo? – falo cuidadoso. – Amo muito a Jack, farei de tudo para
darmos certo!
Ela fica em silêncio.
– Dona Amélia? – A chamo preocupada.
– Estou aqui, um pouco emocionada, não quero empurrar minha filha para
fora de casa, não é isso, mas quero que ela seja feliz, construa uma família,
tenha filhos...
Oh, aquela palavrinha maldita, mas resolvo não corrigi-la a respeito disso,
posso contrariá-la e aí acabou a bacalhoada.
– Entendo a senhora, ela será feliz vivendo comigo, não sou uma pessoa
muito difícil – falo para descontrair.
– O problema é ela, né, Doutor Rui? A Jack tem um gênio dos infernos.
Dou risada sozinho.
– Eu já percebi, mas eu consigo domá-la, eu já aprendi como controlar
aquela italiana!
Ela dá risada, e eu também, eu Dona Amélia já somos amigos.
– Então, estamos combinados, Doutor Rui! Te espero para o jantar.
– Sim, chegarei cedo, preciso de algum tempo para convencer a Jack a não
me jogar pela Janela. – Ela ri novamente. – Ah, Dona Amélia, gostei
daqueles pastéis de Belém, faça de novo!
– Oh, claro, pode deixar, vou comprar também um vinho para nós.
A interrompo.
– Não, o vinho é por minha conta, faço questão! – Antes de desligar, me
lembro de um detalhe. – Dona Amélia, não conte para ela
sobre morarmos juntos, quero falar com ela pessoalmente sobre isso.
– Claro, fique tranquilo!
Nos despedimos, giro meu pescoço, e me preparo emocionalmente para
enfrentar minha oncinha.
****
M uitas coisas aconteceram desde que conheci o Rui, boas e ruins, mas
uma certeza eu tenho, ele mudou minha vida.
Talvez eu devesse agradecê-lo por ter me feito ver a realidade, ou seja, que o
Renato não me merecia.
Tê-lo conhecido me deu uma outra perspectiva da minha vida, do que sou, e
de como posso ser amada e desejada.
Não posso negar o quanto ele me faz feliz e realizada como mulher.
Mas a decepção que senti ao ver aquelas mensagens é grande demais, eu não
esperava que ele ainda tivesse contato com aquelas piranhas oferecidas.
Onde já se viu uma mulher se prestar ao papel de enviar uma foto nua para
um homem?
Acho que sou muito antiquada, mas o fato é que não me conformo com essa
história de nudes!
É mania, está na moda, mas eu acho um absurdo!
Oh, que piranha maldita, eu deveria ter pego o telefone da vagabunda, e
acabado com a raça dela!
Fecho os olhos e tento me acalmar.
Estou há horas no meu quarto, pensando a respeito do que vou fazer da minha
vida.
Não consegui ir para o escritório, estou com muita raiva dele.
Mas, também, não posso sumir do meu emprego, querendo ou não, ele é meu
chefe, recebo um salário pelo que faço, não é só amor, então, não posso fugir
da minha responsabilidade.
Seguro meus joelhos contra meu peito, e olho para o nada, passei o dia de
pijama, é meio da tarde, e ainda estou assim.
A porta abre e vejo minha mãe.
– Oi, Jack, ainda assim?
Ela vem até a mim, se senta nos pés da minha cama e acaricia meus pés.
– Estou desanimada, mãe! – digo sem vontade.
– Ele ligou aqui em casa!
Enrugo minha testa confusa.
– Como assim? Ele não tem o telefone aqui de casa!
Ela dá de ombros.
– Sei lá, então ele descobriu, conversei um pouco com ele. – Ela me olha com
firmeza. – Jack, talvez você devesse dar uma chance do Rui se explicar
novamente, ele me pareceu tão sincero, filha!
Oh, esse cara é muito esperto, ele já enrolou minha mãe.
– Mãe, eu já conversei com ele, não há muito o que dizer, ele é um safado, e
não perdeu a mania de trepar com várias mulheres ao mesmo tempo –
respondo cheia de raiva.
– Jack, pense com clareza! Vocês estão o tempo todo juntos, em que
momento ele saiu para encontrar alguma mulher?
Solto o ar com força.
– Não sei, talvez quando ele diz que vai almoçar com algum cliente!
Criatividade é o que não falta no Rui!
– Não, não acredito nisso. Ele parece muito apaixonado por você, homens
apaixonados não fazem isso. – Ela se levanta. – Jack, me desculpe, mas eu
acredito no seu namorado, e o convidei para jantar conosco.
Arregalo meus olhos incrédula.
– Mãeee... como você pode fazer isso comigo?
– Quero que você dê uma chance para ele dizer o que aconteceu, você ama
tanto esse moço, Jack! Olha só seu estado, você passou o dia neste quarto,
chorando, se lamentando, não comeu, não se trocou, parece uma morta viva!
Viro meu e me deito na cama.
Ela é uma traíra.
– Não quero mais papo com você, mãe, e quando ele chegar, diga que não
quero falar com ele! Acho que só a vovó me entende, também, o vovô
colocava mais galhos nela do que uma floresta inteira. – Olho para minha
mãe. – Você deve ter meios-irmãos por aí, mãe, e devia procurá-los, já que é
a favor dos homens colocarem chifres em suas mulheres.
– Não fale besteiras, Jack, sua avó sempre foi muito ciumenta, papai era um
santo, trabalhava dia e noite, e ela era assim como você, ciumenta,
desconfiada – ela ralha nervosa. – Vou até o mercado buscar algumas coisas
que preciso, e veja se toma um banho e fica bonita para seu namorado, com
certeza deve haver muitas mulheres querendo um homem como ele.
Ela vira de costas e toma uma almofadada no traseiro.
– Jackeline! – ela diz nervosa. – Me respeite.
– Isso é para a senhora nunca mais dizer isso. – Empino meu nariz, me
levanto e sigo para o banheiro, acho que preciso de um banho.
****
Seguimos para a sala de jantar, a mesa já está posta, mamãe e as outras estão
na sala vendo televisão e tricotando, literalmente, elas adoram tricô.
– Chegamos, mãe! – digo timidamente, diante de seu sorriso malicioso.
– Então, vamos jantar, está tudo pronto! – Ela caminha feliz para a cozinha,
ajudo vovó a se levantar, e vejo minha tia cochichando no ouvido do Rui.
Oh, velhinha assanhada, é só ver o Rui que ela se arruma toda.
– Hum, que perfume é esse? – pergunto meio incomodada, o cheiro é meio
enjoativo, sinto um certo mal-estar com aquele cheiro.
– É meu, Jackeline, o seu namorado trouxe pra mim. Não é uma delícia? – ela
diz animada, se derretendo e olhando para ele.
– É sim, mas acho que a senhora passou demais, está um pouco forte! –
Tampo meu nariz, e sinto um arrepio.
– Eu também gostei, querido. Traga um para mim, também! – vovó diz
segurando a mão do Rui.
Ele faz o maior sucesso com a velhinhas, elas ficam acesas quando ele vem
ao nosso apartamento e traz presentes.
Sorrio.
– Pode deixar, vovó, eu compro um para a senhora! – digo rapidamente,
chega de despesas para o Rui.
– Não, Jack, eu faço questão de presentear a vovó! – ele diz e ela escancara a
dentadura.
– Isso, meu querido, me chame de vovó!
Ele beija a mão da vovó, e acho que ela vai explodir de felicidade.
Finalmente começamos a jantar, e hoje, diferente da outra vez, não gostei
muito do bacalhau, o gosto está estranho.
– Não gostou, filha? Você não comeu nada! – minha mãe diz chateada.
– Achei que dessa vez o gosto está muito forte... – Faço uma careta. – A
senhora comprou da mesma marca?
– É o mesmo, Jack, como comprei muito da última vez, congelei.
– Deixa pra lá, mãe, mas adorei as batatas! – falo para animá-la.
Olho para o Rui, ele nem para conversar, está muito entretido com seu prato.
– Gostou, Rui? – pergunto em seu ouvido.
– Muito, Jack, está muito bom – ele diz guloso.
Beberico o vinho do porto, e conversamos mais um pouco, hoje estão todas
muito comportadas, devem ter levado um “pito” da minha mãe.
Aliás, ela é bem brava quando quer.
O Rui é o último a terminar seu jantar, mamãe serve seus famosos pastéis de
Belém, e finaliza com um cafezinho.
Ela adora quando jantamos com elas, ela capricha em tudo, desde a colocação
da mesa, até o último detalhe.
O Rui se remexe em sua cadeira, olho para ele e o vejo mexendo em seu
bolso.
– Senhoras, gostaria de dividir com vocês uma decisão que eu e a Jack
tomamos hoje! – Ele me olha sorrindo. – Nós iremos morar juntos!
Vovó dá um grito, pulo na cadeira, olho para ela assustada e a vejo juntando
as mãos em posição de oração.
– Oh, Jesus, Nosso Senhor ouviu minhas preces! – ela diz como se fosse uma
oração. – Eu e a Amélia sempre sonhamos com esse momento, que nossa
menina fosse levada para o altar...
Fecho meus olhos, tudo na minha família é um problema.
– Vovó, só corrigindo, não vou para o altar, vamos morar juntos!
Ela me olha indignada.
– Como assim? Minha neta só sai de casa de véu e grinalda!
Mamãe interfere rapidamente, cochicha enérgica no ouvido da vovó, que fala
alguns palavrões, esbraveja, mas por fim, parece entender a situação.
– Então, vovó... – O Rui olha para minha avó, parece cuidadoso. – Não
precisamos nos casar, a gente se ama, queremos ficar junto, eu vou respeitar
sua neta independente do papel assinado, enfim...
– Eu também acho um absurdo não haver casamento... – Titia diz cheia de
razão. – Eu até tenho o vestido guardado, é um modelo copiado da Coco
Channel.
– Aquele que a senhora fez em 1.960, tia? – pergunto, e tento não rir. – Acho
que as traças já comeram ele!
– Oh, Jackeline, como você é irritante, desde que nasceu é assim,
extremamente irritante! O senhor não sabe a cagada que está fazendo ao se
juntar com essa menina – ela diz nervosa. – É isso, Jackeline, você só está
juntando os trapos com esse homem, se ele te levasse a sério te levaria para o
altar, como o Luiz Alberto queria fazer comigo, mas sua avó, essa velha
coroca, não deixou.
Arregalo meus olhos com o ataque de nervos da minha tia.
– Coroca é você, Ofélia... – Vovó se altera. – Aquele sem vergonha tinha uma
mulher em cada bairro, sua burra!
Coloco minha mão sobre minha testa, é impossível fazer algo sério com
minha família.
– Vamos parar com essa algazarra!!! – Abro meus olhos assustada com a voz
alterada da minha mãe. – Esse é um momento feliz, e estamos comemorando,
e ninguém tem nada a ver com a vida da minha filha! Ouviu, Ofélia? – As
duas se encaram, parecem duas adolescentes em pé de guerra.
– Não quero saber da vida da sua filha! – Titia tenta se levantar, mas mamãe
a segura com firmeza, ela sempre foi assim enérgica, sempre mandou na
família inteira, adoro mamãe, sempre tão poderosa. – Fique aí, o Rui ainda
não terminou de falar.
Então mamãe sorri para o Rui, bem calminha.
– Continue, Rui! Me desculpe, famílias compostas só de mulheres são assim
mesmo.
Olho para o Rui, e tenho até dó dele, mas ele tira de letra essas confusões,
deve até achar divertido.
– Fique tranquila, Dona Amélia, minha família também tem essas coisas.
Toda família tem, não é mesmo? – Então o vejo tirar uma caixinha do bolso e
me falta o ar. – Como eu estava dizendo... – Ele olha para mim sorrindo. –
Iremos morar juntos, mas é um compromisso sério, então eu comprei um
presente para minha deusa! – Ele abre a caixinha e eu puxo o ar, agora de
verdade.
Um anel, daqueles que tem uma pedra grande, sextavada, e incrivelmente
brilhante.
– Rui... – Coloco meus dedos sobre minha boca, os olhos ardem com as
lágrimas querendo explodir em meus olhos. – Que lindo.
Ele pega o anel na caixinha, segura minha mãe esquerda e o coloca.
– Te amo, minha deusa! – Ele cochicha, olhando em meus olhos, e acho que
nunca me senti tão emocionada em minha vida.
Tudo bem, houve a morte do meu pai, mas esse tipo de emoção não é boa de
ser lembrada.
Olho para o anel deslumbrante, ele me surpreendeu, me encantou e me
deixou nas nuvens.
O abraço num rompante de felicidade, e tasco um beijo daqueles de
desentupir até o último cano da cidade, porque sou filha de italiano, e sou
explosiva nas emoções.
Me afasto só um pouco, apenas para olhar em seus olhos, tão brilhantes, tão
intensos...
– Te amo, Rui! – As lágrimas caem livremente. – Obrigada, não precisava
disso...
Ele segura meu rosto, me dá mais um beijo.
– Te amo, Jack, e vou te fazer muito feliz!
E a gente se beija de novo, simplesmente esquecemos onde estávamos.
– Está bom, queridos! Se quiserem, voltem para o quarto! – Ouço a voz da
minha mãe, me recomponho, sorrio para o Rui, ele limpa meu rosto.
– Desculpe, mamãe! – falo ainda embriagada pelo momento.
– Me deixe ver, Jackeline! – vovó diz curiosa.
Estico minha mão para todas verem, sorrindo feito uma idiota.
– Parece com aquele que a Jackeline Kennedy tinha, provavelmente ganhou
do John Kennedy!
A olho admirada, vovó é bem antenada, e tem uma memória invejável.
– Sabia, Rui, o nome da Jackeline foi em homenagem a Jackeline Kennedy –
mamãe diz, ela sempre me contava essa história quando eu era criança. – Sou
fã daquela mulher, uma pena que seu casamento tenha tido um fim tão
trágico...
Interrompo minha mãe, falar de desgraça a essa hora traz mau agouro.
– Chega, mãe, não gosto muito dessa história! – falo séria, mas sorrio no final
da frase. – Obrigada pelo nome, adoro me chamar Jackeline.
– Eu agradeço ao jantar, Dona Amélia, mas pensei de eu e a Jack irmos para
nossa casa! – Ele me olha com um sorriso, e eu, acho que vou explodir de
alegria, mal acredito no que está acontecendo. – A senhora se incomoda?
Ele é tão bonitinho, fica pedindo autorização para minha mãe, como se eu
ainda a obedecesse.
– Claro que não! – ela diz feliz, estava louca para se livrar de mim. – Vamos
fazer assim, eu arrumo as malas da Jack, e ela vem pegar esses dias.
De repente, sinto uma tristeza ao pensar que deixarei minha mãe, minha avó e
minha tia (a gente não se dá bem, mas se ama) e começo a chorar!
– O que foi, Jack? – O Rui tenta me consolar, mas estou chorando feito uma
criança.
Olho para minha mãe, e choro mais, me levanto e vou até ela, dou um abraço
longo e dolorido, e a faço chorar também.
– Oh, Jackeline, pare com isso, filha! – Ela esfrega minhas costas. – Nos
veremos sempre, e vamos falar sério, você nunca está em casa, vive na casa
do seu namorado, qual a diferença?
Tento me recompor, enxugo meu rosto.
– É que... – Minha voz embarga. – Vou sentir sua falta! – falo e choro de
novo, estou incontrolável.
Sinto um corpo quente e macio em minhas costas, um abraço apertado, me
viro e mergulho naquele peito macio, cheiroso, e é como se o cheiro dele
tivesse o dom de me acalmar.
Ele me passa tanta segurança.
Alguns beijos em meus cabelos, e sua voz em meu ouvido.
– Está mais calma? Podemos ir?
Respiro fundo, tiro meu rosto de seu peito e volto a olhar para minha mãe.
– Eu já vou, mãe, chega de despedidas, senão vou chorar de novo... – Saio
rapidamente da sala de jantar, sigo para o meu quarto, pego minha bolsa, olho
para minhas coisas e mordo meus lábios, a emoção está à flor da pele.
– Vamos, Jack? – A voz do Rui me tira dos meus pensamentos.
Sorrio para ele.
– Vamos!
Capítulo 75
RUI FIGUEIREDO
Algumas semanas depois.
Aos poucos a Jack vai se sentindo mais segura, mais à vontade com sua nova
vida.
Ainda é muito cedo, faz apenas algumas semanas que ela veio morar comigo,
então ainda estamos nos ajustando às novidades.
Confesso que não tenho sentido muita diferença, nosso relacionamento
sempre foi muito intenso, e isso me tornou muito dependente da Jackeline,
ligado a ela.
Aos poucos estou retomando minha vida, voltando às minhas antigas
atividades.
Então, hoje eu e a Jack iremos começar com as aulas de condicionamento
físico.
O personal trainer já chegou. Enquanto aguardo a Jack descer, começo a
correr na esteira.
– A patroa não virá, Rui? – O professor pergunta impaciente.
– Ela estava se vestindo, daqui a pouco ela aparece – respondo
despreocupado, mas de repente, ela aparece na porta da minha academia
particular, e eu quase me esborracho na esteira.
Que porra de roupa é essa? A Jack está doida?
– Oi, bom dia! – ela diz simpática. – Desculpe a demora!
– Imagine, fique tranquila! – O puto do treinador arreganha seus olhos e
saliva feito um bulldog.
Ela não irá se exercitar desse jeito, a não ser que ela queira que eu arrebente a
cara desse filho da puta que está secando minha mulher.
Desligo a porra da esteira.
Começamos mal essa aula.
Pego em seu braço.
– Vem cá, Jack! – A levo para fora da academia, e a arrasto até a sala de
estar.
– Rui, o que foi? – ela diz nervosinha.
– Que porra de roupa é essa, Jackeline? – Minha voz sai meio alterada, eu
realmente estou querendo arrancar os olhos daquele cara.
– Como assim? – Ela me olha indignada. – Não é assim que as mulheres se
vestem para ir à academia? Top, calça legging, tênis... – Ela coloca as mãos
na cintura e me olha.
– As outras mulheres podem, mas a minha mulher, não. Troca essa roupa,
coloca uma calça larga e uma camiseta. Não quero que o filho da puta do
professor fique olhando para o seu corpo.
Saio caminhando em direção à academia.
– Então, não vou mais fazer essa merda! Você já me irritou, Rui! – Ela sai
bufando em direção às escadas.
Esfrego meu rosto, sigo apressado até ela e a seguro novamente.
– Jack, se troca e vem fazer a porra da aula – falo de saco cheio. – Assim não
dá, Jack, você está muito gostosa, e eu serei obrigado a quebrar a cara do
professor se ele olhar de novo para a sua bunda! Entendeu agora? – Tento ter
calma, tudo é novo para nós.
Ela gira os olhos.
– Ok, vou trocar de roupa, mas se você disser que não está legal de novo, eu
desisto! Vamos ver se acho uma burca em meu armário! – Ela se solta de
mim e sai caminhando enfezada.
Respiro fundo, volto para a academia, dou um sorriso insosso para o
professor e tento voltar para minha corrida.
Alguns minutos depois, ela aparece novamente e sorrio ao vê-la.
Agora sim, ela entendeu meu recado, colocou uma calça de moletom larga e
uma camiseta minha, bem grande.
Ela sorri para o professor e vem em minha direção.
– E agora, Rui? Estou decente, ou preciso colocar um vestido até os pés? –
ela diz irônica.
Dou risada.
– Ficou perfeito, minha deusa, isso tudo é só meu, não quero ninguém
almejando minha mulher!
– Hum, Rui, isso soou tão possessivo! – ela diz debochada.
– Eu sou possessivo, porra! – Faço cara de macho, de vez em quando preciso
colocar o pinto na mesa, caso contrário, a Jack quer mandar em tudo.
– Posso voltar à aula agora? – ela pergunta irônica.
– Só se der um beijo em mim primeiro! – Brinco com ela, adoro irritar a Jack.
Ela se esgueira sobre a esteira e me beija rapidamente.
– Pronto, agora vou me exercitar! – ela diz cheia de charme.
– Não se cansa muito, Jack, ainda quero dar uma paulada antes de ir para o
escritório! – Não consigo não sorrir com minha frase.
Ela arregala os olhos, faz uma cara feia.
– Rui!
– Vai lá, gostosa!
Esqueço um pouco da Jack, e volto ao meu treino.
Eu sempre gostei de treinar com esse cara, mas agora com a Jack treinando
comigo, não está dando muito certo.
Bufo irritado.
Se ele colocar de novo a mão na coxa da Jackeline...
E ele coloca, e o sangue sobe, me levanto do aparelho que estou treinando e
sigo até eles.
– Reinaldo, vem aqui um momento. – Tento controlar meus ciúmes, e não dar
na cara o meu incômodo. – Com relação ao treinamento da Jackeline... –
Penso qual a melhor forma de dizer isso, mas não acho, então vomito. – Não
quero mãozinha boba! Passe o treino para ela e seja discreto, não quero
apalpação na minha mulher. – Sorrio para relaxar o clima. – Fui claro?
– Desculpa, Rui! Se toquei na sua garota foi na boa, sem malícia...
O interrompo antes que ele fale merda e eu quebre os dentes dele.
– Perfeito, é só não tocar nela! – Volto ao que estava fazendo, e a vejo me
olhando, então dou uma piscadela para a Jack.
Caralho, que porra de aula, vai dar meio dia, mas não vai dar o horário que
termina essa merda!
****
Faz algum tempo que não falo com meu grupo de amigos, eu até troco
mensagens com eles, mas agora tenho sido mais cuidadoso com o conteúdo.
Então, quando vejo o celular vibrar em minha mesa, e o nome do Carlão no
visor, já meio que sei qual será sua conversa.
Atendo de pronto.
– Fala, Carlão! – falo animado.
– E aí, Rui? O que tá acontecendo com você cara, sumiu?
Tenho que concordar que realmente sumi, talvez precise dar uma passada no
encontro dos caras, apenas para mostrar que não estou completamente
dominado.
– É verdade, ando na correria, muito trabalho, a Jackeline, enfim... – falo
despreocupado, girando um lápis entre meus dedos.
– Ainda tá saindo com a secretária? Pelo visto a foda com ela é boa, cara! –
ele diz malicioso.
– Estamos morando juntos – falo e me preparo para ouvi-lo.
– O que?! – Sua voz sai alta. – Você está morando com a garota? Sério, Rui,
eu não estou acreditando! – Ele parece indignado.
– É sério, cara, já faz algumas semanas, mas o namoro já estava sério, então
nada mais natural do que morarmos juntos!
Engraçado como esse assunto já está totalmente resolvido em minha cabeça.
– Eu estou bem surpreso, não achava que a coisa era muito séria, achei que
era só diversão.
– É bem sério, e a Jackeline é bem brava! Então, não posso sair da linha! –
Dou risada sozinho.
– Bom, então, vou te desejar boa sorte – ele diz meio desanimado.
– E você, está com alguém? – pergunto por perguntar, não tenho muito
interesse em saber da vida do Carlão, somos amigos, mas cada um tem sua
vida.
– Nada sério, saindo com algumas garotas, só curtição, eu realmente ainda
não estou preparado para dar esse passo que você deu.
– O que você acha de marcarmos um jantar? Eu levo a Jackeline, assim você
conhece melhor ela, e você... – Penso um pouco, se o Carlão levar uma
periguete a Jack vai surtar. – Escolhe uma garota decente para levar com
você, não pode ser puta, nem periguete, arruma uma que dê para apresentar,
tipo para a família!
Ele gargalha do outro da linha.
– Tudo bem, quando podemos fazer isso? – ele diz animado.
– Pode ser amanhã, ou hoje, você quem sabe, não temos nenhum
compromisso.
– Tudo bem, amanhã. Vou pensar numa mulher para levar.
– Podemos fazer lá em casa, o que você acha? – Sugiro.
– Perfeito, Rui. Às 20h estarei lá!
****
Descemos as escadas e enquanto o Rui vai beber algo, sigo para a cozinha.
– Ficarei para te ajudar, Jackeline! – A empregada diz.
– Oh, Jô, não quero atrapalhar sua vida.
– Não vai atrapalhar. Eu costumo ficar quando o Doutor Rui faz esses
jantares, não me incomodo.
– Ok! – Sorrio para ela. – Ele fazia esses jantares para quem? – pergunto
enciumada.
– Não sei dizer, não conhecia as pessoas.
– Ah, claro! – falo constrangida, ela é muito discreta.
Volto para a sala e o encontro bebericando um vinho na sala.
Sento ao seu lado, pego sua taça e bebo um pouco de vinho.
– Jack, meu pai está querendo conhecer sua família. Vamos combinar um
final de semana para trazer suas velhinhas em nosso apartamento, e então
convidamos meus pais para virem também.
Olho para ele preocupada.
– Rui, minhas velhinhas não são do tipo comportadas, acho complicado
juntá-las com sua família.
– Mas nós iremos, está decidido! Isso é muito importante para o meu pai –
ele diz incisivo, não me dando muita chance de retrucar.
– Ok, mas não me responsabilizo pelas consequências.
Ele me olha de lado.
– Você tá meio chatinha hoje, né? Será a TPM? – ele diz com deboche.
Sorrio.
– Deve ser!
Ele vai dizer algo, mas a campainha toca, ele levanta, pega em minha mão e
seguimos juntos até a porta.
O Rui abre a porta e então vejo seu amigo e uma mulher muito bonita, alta,
morena, ela veste um vestido colado ao corpo, e que corpo! Ela é do tipo
mulherão...
– E aí, Rui! – O cara abre um sorriso largo, abraça o Rui, bate em suas costas,
e finalmente me olha.
– Olá, Jackeline! Como vai? – Ele estende sua mão para mim, e aproveita
para dar uma boa escaneada em meu corpo.
Esse amigo do Rui não é muito certo das ideias, concluo.
Finalmente ele puxa a mulher para junto dele.
– Me deixem apresentar uma amiga, essa é a Helen!
A mulher me olha estranhamente, nem um pouco simpática, mas como eu
que estou recebendo as pessoas, resolvo fazer a minha parte.
– Prazer, Helen! – A cumprimento com um sorriso.
– Prazer, Jackeline! – Ela sorri, mas é um sorriso daqueles falsos, que se
força o sorriso.
Então ela se vira para o Rui e sorri, e não sei por que, mas achei o seu sorriso
para o Rui diferente, como se o conhecesse.
– Como vai, Rui? – ela diz de um jeito tão íntimo.
Não aguento, a pergunta vem como um foguete até minha boca, e falo:
– Vocês se conhecem? – Acho que o tom saiu mais esganiçado do que eu
gostaria.
Ela vai dizer algo, mas o Rui a interrompe.
– Não, não nos conhecemos. Muito prazer, Helen! – ele diz, aperta a mão
dela rapidamente, e diz em seguida. – Vamos entrar, vocês bebem alguma
coisa? Eu e a Jack estávamos bebendo um vinho.
Olho para a garota, e a vejo me olhando.
Ela disfarça, cochicha algo no ouvido do Carlão, e volta a me olhar.
Não gostei dela!
O Rui serve vinho para eles e abraça minha cintura, mantendo meu corpo
contra seu peito.
Os dois homens fazem alguns comentários, mas o clima está estranho, meio
pesado.
Tento puxar papo com a garota, mas ela me ignora duas vezes, e ao invés de
falar comigo, fica puxando papo com o Rui.
Oh, que tipinho estranho esse Carlão trouxe para jantar conosco.
– Rui, posso pedir para servir? – cochicho em seu ouvido.
Ultimamente tenho me sentido mal quando demoro para comer, então, neste
exato momento, me sinto levemente zonza, e não é por causa do vinho,
porque apenas beberiquei o vinho do Rui.
Preciso marcar uma consulta com minha médica, talvez esteja com anemia.
– O que vocês acham de jantarmos? – O Rui diz simpático.
– Por mim, tudo bem! – A tal Helen diz com sua cara de antipática.
– Confesso que estou com fome! – O amigo do Rui diz empolgado.
Nos levantamos todos juntos.
– Eu vou até a cozinha avisar a Jô para nos servir – falo para o Rui.
A mulher pergunta onde é o banheiro, e deixa os homens sozinhos.
Falo rapidamente com a Jô, que já está arrumando a mesa de jantar, e logo
retorno para onde os dois estavam conversando, me aproximo, eles estão
entretidos, nem notam minha presença, e então eu escuto o Rui dizer:
– Eu já comi a piranha, Carlão!
Meu coração dá um salto.
– O que você disse, Rui? – falo num impulso.
Ele vira assustado.
– Oi, Jack, você estava aí? – Ele sorri, mas não me parece muito feliz em me
ver.
– Cheguei agora... Desculpe, eu ouvi você dizer que “comeu a piranha”, é
isso? Que piranha? – O sangue sobe.
– Eu não disse isso, eu disse “eu comi a picanha”. – Ele ri novamente, parece
meio estranho. – Eu estava contando para o Carlão que levei um cliente para
comer uma picanha deliciosa.
O interrompo.
– Quando? Não fiquei sabendo disso.
– Um dia desses, Jack, caralho, não lembro o dia, depois te levo lá... – Ele
volta a falar com o amigo, muda de assunto, me abraça novamente e me
aconchego ao seu peito.
Vejo a morena voltando, ela se rebola inteira, parece fazer de propósito, para
chamar a atenção dos homens.
Já disse né, não gostei dela!
– Vamos nos sentar à mesa, a empregada irá servir o jantar! – digo
rapidamente, estou sentindo um torpor, devo estar com a pressão baixa.
Seguimos para a mesa linda que o Rui tem em sua sala de jantar, todos se
acomodam e a Jô serve uma saladinha de entrada, em pequenos bowls, uma
mistura de manga, morangos, folhas verdes, pequenos tomates e outros
vegetais.
Essa foi a sugestão de minha mãe, ela aprendeu a fazer em um programa de
culinária.
Todos comem em silêncio, apenas eu cochicho no ouvido do Rui.
– Adorei essa salada, e você?
– Deliciosa, minha deusa, parabéns!
Sorrio.
– Mas eu não fiz a salada! – respondo envergonhada.
De repente a mulher invade nossa conversa.
– Eu acho que te conheço de algum lugar, Rui! – A periguete diz com um
sorriso enigmático.
– Acho difícil! – O Rui responde de imediato, nem ao menos levanta o olhar
para a mulher.
O Carlão entra no assunto.
– O Rui tem razão, Helen – ele diz e sorri para mim. – Está gostando da vida
de casada, Jackeline?
Sorrio e quando vou falar, a tal da Helen me atropela:
– Como assim? Você casou, Rui?
O sangue sobe de novo, essa piranha conhece o Rui, e eu vou matar um.
– O que você tem a ver com a vida do Rui, o sua... – Iria dizer piranha, mas
me controlo. – Me levanto de sobressalto e sinto a mão do Rui segurar meu
braço.
Vejo o Carlão olhar para o teto e bufar.
– Eu sempre falava do Rui para a Helen, Jackeline. Então, é como se ela
conhecesse o Rui há muito tempo, não é Helen? – Os dois trocam olhares
intensos.
Ela olha para mim e sorri novamente com aquele jeito falso.
– Isso mesmo, de tanto ouvir falar do Rui, me sinto íntima dele! – Ela encara
o Rui, e tenho vontade de matar ela!
Bufo nervosa.
A mão do Rui segura minha cintura gentilmente, me fazendo sentar.
– Deusa, se acalma, eles são nossas visitas! – ele cochicha discretamente no
meu ouvido.
Viro meu rosto para olhá-lo e sorrio falsamente.
– Tudo bem!
Voltamos a jantar, quero dizer, já não estou conseguindo jantar mais, garfo a
salada e olho para a piranha, e minha vontade é enfiar o garfo nela.
– Então, Jackeline, como eu estava dizendo, você já se acostumou a viver
com o Rui? Ele me disse que não faz muito tempo, aliás, há quanto tempo
vocês estão juntos, mesmo? – O tal do Carlão insiste.
– Estamos juntos há uns seis meses, mais ou menos, e eu passava mais tempo
aqui do que na minha casa, então não foi muito difícil me acostumar à nova
vida! – respondo tentando ser simpática, mas a verdade é que essa mulher
está me causando um estresse enorme.
– Então vocês estão juntos há seis meses? – Ela olha para o Rui, segura a taça
de vinho e faz um gesto bem sensual com seus lábios.
Que tipo de piranha esse Carlão trouxe? Ela está se insinuando para o meu
homem!
Ohhh!!!
O Rui olha para ela, parece meio incomodado, então resolvo cortar a
conversa dessa biscate.
– Você é bem curiosa, não é mesmo, Helen? O que você tem a ver com a
minha vida e do Rui? Você é amiga dele? – É fato, desci do salto, ou melhor,
despenquei, e estou quase metendo a mão na cara dessa mulherzinha.
Ela me olha, dá risada e toma o vinho, e meu sangue está cada vez mais
quente, borbulhando.
– Vamos pedir para servir os pratos quentes, Jack? – Ele me olha meio
nervoso.
Olho para a biscate e vejo o Carlão cochichando em seu ouvido, parece meio
bravo.
– Vamos! – Rosno, esse jantar está saindo pior do que esperava.
O Rui berra com sua voz grossa e poderosa:
– Josalice!!!
A mulher vem correndo da cozinha, deve ter se assustado com a finesse do
Rui.
– Pois não, Doutor Rui? – ela diz assustada.
– Os pratos quentes, rápido! – ele diz apressado.
– Então, Carlão, como eu estava te dizendo...
O Rui começa a falar sobre um caso, desses famosos, que estão passando na
mídia. Os dois ficam entretidos, olho para a biscate, a biscate olha para mim e
sorri bem provocativa.
Não estou entendendo essa mulher. – Penso comigo mesma.
A Jô traz os pratos quentes, eu estava tão empolgada em comer sua comida,
mas com essa confusão toda, perdi a fome.
Como um pouco, mas logo deixo a comida de lado.
– Não está com fome, Jack? – O Rui cochicha em meu ouvido.
Olho de rabo de olho e vejo a vadia nos olhando, então resolvo mostrar quem
manda nesse lugar.
– Não, amor! – Olho para ele, seguro seu rosto, ele me olha confuso, mas
antes que ele possa dizer algo, tasco um beijo daqueles bem gostosos,
indecentes, escandalosos, eu não faria isso, mas essa biscate está me
provocando.
Aliás, ando muito irritada, talvez eu realmente esteja para menstruar, minha
TPM é um inferno em minha vida.
Separo meus lábios do Rui e sorrio para ele.
– Te amo, Rui! – falo baixinho, limpo o batom dos seus lábios, enquanto ele
me olha, parece congelado, talvez surpreso com meu desatino.
Olho para a mesa, vejo os dois olhando para nós, e tenho muita vontade de
rir, gargalhar.
Acho que ando descompensada emocionalmente.
– Gostou da comida, Carlão? A empregada do Rui cozinha muito bem – falo
bem falsa.
Ele disfarça, dá um sorriso amarelo.
– Gostei muito, Jackeline! – Ele balança a cabeça e volta a comer.
Olho para a cretina e sorrio provocativa.
– E você, Helen, gostou da comida? – falo bem boazinha.
– Como só saladas e grelhados, não gosto de comidas pesadas, preciso cuidar
do meu corpo! – ela diz provocativa.
Ela não sabe com quem está falando.
– Você usa seu corpo para ganhar a vida? – Todos me olham assustados, e de
novo, tenho vontade de gargalhar, só faltei chamá-la de prostituta! Mas
resolvo amenizar. – Quero dizer, é dançarina, modelo, essas coisas? – Bebo
um pouco de água, não posso beber nada de álcool, caso contrário vou dar
um vexame hoje.
Ela me olha furiosa e tento não rir.
– Não, sou secretária. Mas gosto de me cuidar, não quero ficar gorda e
horrorosa como algumas mulheres que conheço.
Olho para ela, quero dizer, a fuzilo com os olhos.
Será que ela falou isso para mim?
– Também sou secretária, e do Rui, né, amor? – Olho para ele, acaricio seus
cabelos, beijo seu rosto, e tenho dó dele, acho que estraguei seu jantar com o
amigo.
– É, Jack! – ele diz, parece meio sem paciência.
– Sério? Você é a secretária dele? – Ela dá uma risada debochada. – Agora
está explicado!
Oh, meu Deus, essa mulher está me irritando.
– Explicado? Explicado o que, querida? – Nós duas nos encaramos, mas o
grito do Rui me tira do meu desatino.
– Josalice!!!
A Jô vem desesperada atender seu patrão louco.
– Tire a mesa. – Ele olha para seus convidados. – Todos já comeram, não é
mesmo?
Vejo o Carlão jogar seu garfo e faca no prato, o coitado ainda estava
comendo.
– Sim, pode retirar! – O Carlão fala com a boca cheia.
– Então, Jô, traz o café.
Ela tenta interrompê-lo.
– Mas e a sobrem...
– O café, Josalice, porra! – ele diz grosseiro com ela.
– Ai, Rui, que jeito de falar com a Jô! Ela só iria dizer...
Ele me interrompe, com aquele seu olhar lança chamas.
– Fica quietinha, Jack!
– Grosso! – sussurro.
Vejo a Jô chegando com a bandeja de café, e acho que suas mãos estão
tremendo, porque o barulho de xícaras batendo é irritante.
– Precisa de ajuda, Jô? – falo com pena dela.
Ela sorri meio nervosa.
– Pode deixar, Jackeline!
Ela serve o café em tempo recorde.
– Então, Rui, a gente já está indo. Agradeço ao jantar, Jackeline, estava
maravilhoso!
Olho para o Carlão, e fico com dó dele.
– Você não comeu nada, Carlão. Quer levar uma marmitinha?
Ele me olha confuso.
– Não, não precisa. Estou de regime, estou com uma barriguinha saliente... –
ele diz tentando ser simpático.
Ele repousa o guardanapo na mesa.
– Obrigado, mas eu e a Helen precisamos ir. – Ele dá uma olhada esquisita
para a Helen.
O Rui se levanta, pega em minha mão, e seguimos os dois até a porta.
Quando o Rui vai abrir a porta, me lembro de um maldito licor que fiz a Jô
comprar de última hora e que nem tocamos nele, poxa!
– Rui, esqueci de oferecer a eles o licor.
Ele me interrompe.
– Fica para uma próxima vez, Jack. O Carlão está com pressa, e também não
gosta de licor.
Eles se entre olham.
– É isso mesmo. Preciso ir, Jackeline! – Ele se despede de mim. – Um dia
desses, eu apareço para tomar um café com você.
– Como assim, Carlão? Que história é essa de tomar café com a Jackeline? –
O Rui diz indignado.
Olho para o Rui, ele parece se estranhar com o amigo.
– É o jeito de falar, Rui, mas que porra! – Ele puxa a tal Helen. – Vamos,
Helen.
Os dois entram no elevador e o Rui fecha a porta antes que o elevador feche.
– Nossa, a gente nem se despediu da piranha da Helen!
Ele tenta ficar sério, mas acaba rindo.
– Percebi que você não gostou muito dela! – Ele caminha até a mesa, senta e
berra o nome da coitada da Jô novamente. – Josalice!!!
A Jô aparece desnorteada na sala.
– Traz os pratos quentes, eu ainda estou com fome!
Olho para a Jô, e não consigo não rir, e a vejo rindo a caminho da cozinha.
– Vem, Jack, me faça companhia, aqueles dois estavam tirando minha fome!
– Você conhecia ela, Rui? Seja sincero.
– Nunca vi na minha vida, mas pode ser que ela tenha me visto em algum
lugar. – Ele balança sua cabeça. – Eu nunca vi mais morena e nem mais loira,
aliás, que mulherzinha esquisita que o Carlão está saindo.
– Verdade!
Me sento ao seu lado, e resolvo comer um pouquinho, parece que o mal-estar
até passou com a saída dos dois.
****
Dias depois...
Passado o fatídico jantar com o amigo do Rui, resolvo ir jantar com minha
mãe, mas, dessa vez, tem que ser sozinha, por que preciso arrumar um jeito
de fazer um teste de gravidez, e tem que ser num lugar tranquilo. Não pode
ser no trabalho, porque se der positivo, eu posso ter um ataque de nervos. Em
casa também não irá dar certo, pois o Rui pode aparecer, então o único lugar
que sobrou é a casa da minha mãe.
Sigo para a sala do Rui, já o avisei que irei na casa de minha mãe, só preciso
avisar que estou saindo.
Abro a porta, ele tira seus óculos e me olha.
– Já está saindo, Jack? – Ele pergunta.
– Já, Rui! – Sigo até sua mesa, dou a volta, sento em seu colo, encho seus
lábios de beijos, e não tenho vontade de largar dele.
Acho que estou ficando pegajosa, preciso cuidar disso.
– Se você quiser, eu vou com você! – ele diz carinhoso.
Mal sabe ele o que pretendo fazer.
– Pode sair um pouco, de repente marca com o esquisito do Carlão! – Ele dá
risada.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir, fico um pouco,
depois vou para casa!
Sinto um incômodo.
– Tudo bem! – Me levanto do seu colo. – Comporte-se, Doutor Rui
Figueiredo, você está em minha mira. – Olho pelo meu ombro.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – ele diz irônico.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! – Faça um movimento com os dedos e
mando um beijo para ele. – Te amo!
– Eu também, te aguardo em casa.
– Combinado!
Finalmente saio, pego minha bolsa e sigo para meu carro.
Alguns metros antes do apartamento de minha mãe, paro em uma farmácia,
vejo alguns testes de gravidez e então escolho um, levo até o caixa e depois
de alguns minutos, estou chegando ao endereço de minha mãe.
Pela primeira vez venho sozinha, o Rui sempre está comigo, não tenho do
que desconfiar dele, eu que disse que iria sozinha, e que ele poderia sair com
seus amigos.
De certa forma, acho que estou evoluindo.
Quero confiar nele.
A chegada à casa da minha mãe é sempre cercada por uma emoção meio
descontrolada.
Sempre choro, sempre me descontrolo, e acabo descontrolando todo mundo.
Beijo e abraço minha mãe como se não nos víssemos há um ano, sendo que
todas as semanas nos vemos, às vezes de duas a três vezes, depende do meu
estado emocional.
– Ok, Jack, se controle! – ela diz me empurrando. – Pare de chorar, que
coisa! – diz sem paciência.
Enxugo minhas lágrimas, e falo magoada.
– Parece que só eu sinto sua falta, você nunca está com saudades de mim.
– Oh, filha, como você é dramática! – ela diz rindo, limpa meu rosto, e me
olha. – Está tudo bem com você? Por que esse choro todo? Existe algo de
errado com você? Você e o Rui não estão se dando bem? – ela diz
preocupada.
– Não, não é isso. Estamos muito felizes, de verdade! – Sigo até minha vovó.
– Você está bem, vó?
– Sim, meu anjo, estamos felizes por você. – Então ela olha para minha
barriga e a acaricia. – Pode contar para sua avó, tem bebê aqui dentro? – ela
diz em tom de segredo.
Arregalo meus olhos.
– Não, vovó, não é isso! – respondo indignada, e preocupada.
– Eu quando estava grávida de sua mãe chorava como se fosse uma manteiga
derretida, somos muito parecidas, Jack. Eu sonhei com isso, sabia?
Meu coração dispara, sinto uma moleza nas pernas.
– Vovó, eu não quero ter filhos agora. Ainda é muito cedo, sabe?
– Oh, minha filha, então não deveria ficar agarrando seu homem daquele
jeito, assim virá um filho atrás do outro, vocês dois são bem fogosos. – Ela dá
risada.
Reviro meus olhos.
– Ok, me deixe ir até o banheiro! – Dou um beijo em minha tia, pego minha
bolsa e sigo para meu antigo quarto. – Mãe, vou usar o banheiro do meu ex-
quarto, tudo bem?
– Claro, Jack! O quarto está do jeitinho que você deixou – ela diz carinhosa.
Sigo apressada, fecho a porta do quarto, abro o banheiro, tomo coragem e
abro a embalagem do teste de gravidez.
– Ok, Jack, agora é a hora! – falo para mim mesma.
Coleto meu xixi, e fico com o bastonete em minha mão, sem coragem de
enfiá-lo dentro do recipiente.
De repente, a porta abre, me assusto com a chegada da minha mãe e derrubo
todo o líquido do recipiente, e deixo o teste cair no chão, piso nele com o
sapato, para escondê-lo, e olho para minha mãe.
– O que foi mãe? Você me assustou? – Tento disfarçar.
– Achei que não tinha papel higiênico em seu banheiro, me deixe colocar no
armarinho. – Ela dispensa os rolos embaixo da pia. – Pode ficar à vontade.
Ela sorri e sai, e solto o ar que estava guardando nos pulmões.
– Merda, merda, merda!!! – bufo irritada, esmurrando a pia. – Perdi a porra
do teste! – Me agacho e limpo a sujeira que fiz, pego o teste, e o jogo no vaso
sanitário. – Não será hoje que descobrirei se estou grávida.
Capítulo 77
RUI FIGUEIREDO
D epois do desastroso jantar com o Carlão, não nos falamos mais, quero
dizer, eu mandei uma mensagem para ele, e o amaldiçoei por toda a
eternidade.
Caralho, desde quando a Helen tem cara de mulher que se apresenta para a
família?
Bem, pelo menos eu não a apresentaria para minha família, talvez porque a
conheço bem demais, e sei que ela não presta.
Quero dizer, para foder ela presta, mas não para ter um relacionamento.
Mas é muita falta de sorte.
Então, de repente, me lembro que o Carlão passou a atender a empresa onde
ela trabalha, e eu fui o imbecil que o indiquei.
É que na época o Carlão estava meio fodido, tinha se separado recentemente,
a mulher o deixou só com as calças. Então, para ajudá-lo, cedi alguns clientes
meus para ele.
Sério, eu não lembrava mais disso, mas também não sabia que a Helen já
tinha aberto as pernas para o Carlão.
Foi isso, fiz uma boa ação com o amigo, e quase me fodi.
Mas que raiva daquela garota, mesmo acompanhada com o Carlão ela ficou
se insinuando para mim!
Tudo bem, sei que sou gostoso, tenho um pau irresistível, mas agora tenho
uma dona.
Dou risada sozinho.
Brincadeiras à parte, eu sei qual era a intenção da Helen, era me foder com a
Jackeline.
Ela não se conformou de me ver em um relacionamento sério, ela se acha
irresistível, a mais gostosa, a melhor na cama, mas ela não chega aos pés da
minha deusa.
Então, depois que a Jack viu aquelas mensagens, eu a bloqueei totalmente em
meu celular.
Mulher magoada e rejeitada é o demônio em forma de gente.
Então me lembro da Priscila, e me benzo, que Deus me livre daquele encosto.
Dou risada sozinho, pareço a Jack falando, porra!
E então a Jack entra na minha sala, hoje ela está meio tristinha, não sei o que
está acontecendo com ela.
Será que o problema é comigo? Nunca morei com ninguém, pode ser que, às
vezes, eu seja meio grosseiro com ela.
Tento não pensar sobre isso, agora quem não quer desistir dessa merda sou
eu.
Demorei pra caralho para tomar a decisão, mas agora que achei a mulher
ideal, a que combina comigo, não desisto dessa porra nem fodendo.
Que a Jackeline não me ouça, mas agora quem não vive sem ela é o idiota do
Rui!
– Já está saindo, Jack? – pergunto a vendo se aproximar de minha mesa.
– Já, Rui!
Ela se senta em meu colo, e me enche de beijos.
Adoro esse jeito carinhoso, espalhafatoso, e exagerado dela.
Mas, ainda assim, a sinto estranha, não sei dizer, tem alguma coisa de errado
com a Jackeline.
– Se você quiser, eu vou com você! – Insisto, mas dessa vez ela não quer
minha companhia, parece que está enjoada de mim.
– Pode sair um pouco, de repente marque com o esquisito do Carlão! – ela
diz e dou risada.
Acho que a Jack não foi muito com a cara do Carlão, e a presença da Helen
só complicou mais a situação.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir, fico um pouco,
depois vou para casa. – Abro o jogo, não vou mentir, estou me esforçando
para ser o cara que prometi a ela.
Ok, eu sei que menti em relação à Helen, mas é que a Jack não entenderia.
Ela é muito ciumenta, brigaria comigo o resto do mês.
– Tudo bem! Comporte-se, Doutor Rui Figueiredo, você está em minha mira
– ela diz possessiva. Aliás somos os dois, formamos um casal bem
complicado.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – digo com ironia, para relaxá-la.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! Te amo! – Ela se despede.
– Eu também. Te aguardo em casa – respondo pensativo, ela está estranha.
– Combinado! – ela diz antes de fechar a porta.
****
Dias depois.
A pressão do meu pai pelo encontro das famílias está enchendo meu saco.
Eu já percebi que a Jack está tentando fugir desse momento, eu até a entendo,
ela tem medo das suas velhinhas, e entre nós, ela tem razão.
Aquelas três juntas são de matar.
Ok, mas minhas desculpas chegaram ao fim, preciso marcar a porra da data,
caso contrário, vou matar meu pai de ansiedade.
O velho pirou agora que sabe que eu e a Jack estamos... bem... casados?
Não posso fugir disso, tenho um medo da porra dessa palavra, mas caralho,
casamento é isso, seu idiota! – Esbravejo comigo mesmo.
A chamo pelo ramal.
– Vem até aqui, Jack!
– Tá bom, chefinho! – Ela brinca.
Já até me acostumei com o jeito que ela me chama, adoro quando ela me
chama de chefinho.
Ela entra na minha sala, caminha até a mim, abraço seu corpo junto ao meu e
falo:
– Jack, preciso de uma data para a porra do encontro entre nossas famílias!
Ela afasta seu corpo do meu, vira de costas, mexe nervosa nos cabelos.
– Rui, não vai dar certo! – ela diz nervosa. – Oh, Rui, sua mãe... – Ela fecha
seus olhos.
Sigo até ela, seguro seu rosto a fazendo me olhar.
– Eu entendo sua preocupação, mas faz parte, moramos juntos, temos um
relacionamento sério. Estamos tipo... casados, Jack! As famílias precisam se
conhecer.
Ela sorri.
– Estamos tipo casados! – ela repete rindo.
– É, minha deusa... – Puxo sua cintura, unindo seu corpo ao meu, sinto uma
fome louca por essa mulher, vontade de pegar ela de tudo o que é jeito. – Faz
isso pelo seu maridinho! – Faço voz de boiola, enfio meu rosto no meio dos
seus cabelos, beijo seu pescoço cheiroso. – Caralho, Jack, estou com um
tesão de te pegar em cima dessa mesa! – Subo sua saia, apalpo seu bumbum
grande e gostoso – Oh, minha delícia, vamos rapidinho.
– Oh, Rui, vamos esperar chegar em casa. – Ela sussurra, mas já não impõe
resistência.
Então, sigo até a porta, tranco-a, e volto apressado.
– Vira, minha gostosa! – A faço deitar seu corpo sobre a mesa, levanto sua
saia, demoro-me um pouco acariciando seu bumbum perfeito, me inclino um
pouco, beijo, passo minha língua. – Você é uma delícia, Jack.
Ouço seus gemidos.
– Fode logo, Rui! – ela diz apressada.
Abro com desespero minha braguilha, tiro meu pau para fora, o acaricio um
pouco, apenas para admirar um pouco a visão do paraíso.
– Que bunda você tem, Jack! – Enterro meu pau dentro dela, ela geme. –
Você gosta assim? – Bato de leve em seu traseiro.
– Gosto! – Ela sussurra.
– Então, vou continuar. – Bato de novo, enterro meu pau até o final, ela geme
alto. – Fala que quer mais, Jack!
Estou insano de desejo.
– Hummm, mais, Rui! Desse jeito... Ohhh. – Ela geme alto, e isso me excita
demais.
– Assim, gostosa? – Fodo forte, sem dó, gosto quando ela grita desesperada.
– É, Ruiii! – Sorrio com seu desespero.
Faço de novo, ela geme, se esfrega no meu pau.
– Mais, Rui, ahhhh, isso, eu vou gozar. – E seus sons de prazer enlouquecem
meus ouvidos.
Enterro meu pau em sua buceta úmida, quente, e o prazer aumenta, e
finalmente gozo, e tenho vontade de gritar, mas me controlo.
Seguro suas mãos, e relaxo meu corpo sobre o seu.
– Foi gostoso, Jack? – pergunto em seu ouvido.
– Foi, amor! – ela diz lânguida.
Me afasto um pouco, a gente se recompõe.
– Agora... – Fecho meu zíper. – A data, Jack.
Ela sorri.
– Pensei que dando uma rapidinha com você, eu conseguiria te enrolar! – ela
diz com cara de safada, se pendura em meu pescoço e diz: – Você quem sabe,
neste final de semana, o que você acha?
– Perfeito! – Beijo seus lábios e sorrio. – Vou ligar para o meu velho. – Sigo
para minha mesa. – Ele está ansioso, Jack, você não tem ideia o quanto – falo
feliz.
– Eu gosto do seu pai, Rui, aliás você é muito parecido com ele – ela diz
enquanto segue para meu banheiro privativo. – O problema é sua mãe!
– Não se preocupe com ela, deusa. Só dá uns toques para suas velhinhas, vê
se consegue que elas sejam um pouco discretas, tá bom? – Olho para a Jack,
ela sorri.
– Tarefa difícil, mas vou tentar!
****
Estou sentado no sofá da sala da casa da mãe da Jack, meu pé ganhou vida
própria e bate nervosamente no chão de taco de madeira, que está solto, faz
barulho quando bato o pé.
Estou nervoso e compulsivo.
– O que caralho elas estão fazendo, meu Deus? – Bato os dedos no braço do
sofá.
Então, dona Amélia aparece na sala.
– Pronto, Rui! – Dona Amélia diz, e me admiro com sua elegância. – Estou
bem? A Jackeline que comprou essa roupa para mim, estou me sentindo um
pouco exagerada! – Ela diz sem jeito.
Sorrio, a mãe da Jack é uma figura.
– A senhora está muito bonita, perfeita!
Suas bochechas coram ao meu elogio.
– E as outras? – falo ansioso.
– Vou checar. – Ela sai apressada, e depois de longos minutos todas
aparecem juntas.
Tenho vontade de rir, mas não o faço, seria desagradável.
A tia da Jackeline está vestida num modelo 1.950, ela é sem noção.
– Vocês estão lindas! – falo bem-humorado.
– Oh, Rui, a Jackeline comprou roupas novas para todas nós, mas minha irmã
insistiu em vestir esse vestido velho, e cheio de traças.
– Velho? – A mulher diz estressada... – Você é velha! Velha e invejosa! –
Reviro meus olhos, começou cedo a confusão.
– Senhoras... – Sorrio. – Vamos indo, a Jack deve estar nervosa com nossa
demora.
Elas se recompõem, ajeitam suas roupas e sua mãe diz.
– Iremos nos comportar, Rui, prometemos à Jack.
Todas balançam suas cabeças, parecem crianças.
– Então, podemos ir? – pergunto em pânico, essa família da Jack é maluca.
– Sim, vamos logo, quero ver minha neta, tenho sonhado muito com ela. –
Vovó sai apressada na frente, e apesar da idade, ela é muito ágil. – Você está
cuidando bem da minha princesinha? – Ela me encara dentro do elevador.
– Claro, Dona Maria! Não sou louco de tratá-la mal – respondo com humor.
– É bom mesmo. – Ela me olha atravessado.
Seguimos em silêncio até o carro, hoje estou com a SUV, que é maior e mais
confortável.
– O carro é esse aqui. – Abro a porta de trás para elas.
– Oh, que belo carro querido, mas um pouco alto para mim. – Olho para dona
Maria, encalhada entre o banco e a calçada.
– Deixe que ajudo a senhora. – Pego a vovó no colo e a enfio no banco. –
Pronto, vovó, está confortável? – Sorrio para ela.
– Você colocou a mão em minha bunda, eu deveria me incomodar com isso,
mas vou fingir que não vi! – Ela ralha e se arruma no banco.
Dona Ofélia tenta levantar sua perna para subir no carro, mas a saia longa,
justa, e sem recortes não permite.
Enrugo minha testa, isso não dará certo.
– Só um momento, Senhor Rui – ela diz, tenta de novo, e de novo, e de
repente um barulho de tecido rasgando, fecho meus olhos... O tecido rasgou
de ponta a ponta, deixando a tia da Jackeline quase de calçola na rua. – Oh,
meu Deus! – ela diz apavorada. – Amélia, sua maldita, foi você que jogou
praga, sua...
A vovó e Dona Amélia se curvam de tanto rir.
– Dona Ofélia, acho melhor a senhora subir e se trocar, estamos atrasados –
bufo nervoso ao olhar no relógio.
– Inferno, puta que pariu... – E assim ela segue em direção ao prédio,
segurando o vestido rasgado e xingando.
Ligo o carro, coloco o ar condicionado em 18 graus, estou pingando de suor e
de nervoso.
Finalmente vejo sua tia vindo em nossa direção, e tenho que confessar, agora
ela está bem melhor.
– Agora sim! – A mãe da Jack diz debochada.
– Não me enche, Amélia! – ela diz mal-humorada. – Vamos, mocinho, esse
seu carro me causou um prejuízo inestimável.
– Desculpe, Dona Ofélia...
Ela não me deixa terminar a frase.
– Vamos logo!
Fecho meus olhos e inspiro.
Vai ser engraçado esse encontro.
Capítulo 78
JACKELINE BARTOLLI
ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL
VOLUME 2
Por favor, Deixe uma Avaliação
Espero que você tenha gostada do livro. Ficarei muito feliz se você postar
uma avaliação sobre ele na Amazon.
Receber avaliações sempre me emociona, e eu estou ansiosa para ler o que
você achou do livro.
Se você tem alguma crítica ou sugestão que possa melhorar este livro ou
encontrou algum erro, por favor, envie um e-mail para
yviswriter.books@gmail.com.
Você também pode me seguir no Instagram (Instragram.com/Yvis_Writer),
ou no Facebook (Facebook.com/Yvisswriter).