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Às minhas leitoras que me acompanham desde o início de minhas primeiras

publicações, e me incentivaram a tornar este sonho realidade.


Prólogo
na vitrine da loja a minha frente, uma loja de lingeries muito chique.
O lho
Nem estou podendo gastar tanto dinheiro assim, mas hoje comemoro
aniversário de namoro, quatro anos mais precisamente, e estou precisando dar
uma apimentada em meu relacionamento.
Namoro com o Renato desde meus 23 anos, o conheci na faculdade, eu
cursava Psicologia, ele Contabilidade.
Engatamos nosso namoro desde então. Sou apaixonada por ele, mas, às
vezes, tenho dúvidas que esse sentimento seja recíproco.
De fato, eu nunca tenho certeza se ele irá se lembrar desta data. Confesso que
nos últimos anos ele não tem se lembrado. Aliás, o Renato vive com a cabeça
na lua, não vou me frustrar se ele esquecer.
– Ok, vamos lá! – falo para mim mesma, criando coragem e entrando na loja.
Uma vendedora com cara de esnobe me olha com desdém.
Devo ter cara de pobre! – Concluo.
– Olá, querida! Posso ajudá-la? – ela diz com aquela cara esnobe, como se
fosse dona da loja, e não uma vendedorazinha qualquer.
Quero deixar bem claro aqui, nada contra vendedoras, mas odeio essas
vendedoras que se acham!
– Sim, estou procurando um espartilho preto. – Sorrio, tentando ser
simpática.
– Oh, qual o número que você usa? – Ela me olha de lado, como se visse uma
porpeta enorme a sua frente.
– Bom, aí que está o problema, eu uso 42, mas meus seios são um pouco
grandes, e a bunda também... – Reviro meus olhos, odeio essa herança
familiar, mistura de tudo um pouco, italianos, portugueses, e sei lá mais o
que.
– Certo! – Ela entorta os lábios me analisando, e eu tenho vontade de
esbofetear essa mulher.
– Qual o problema, querida?! Você não tem numeração grande, é isso?! –
falo irritada.
– Desculpe, mas não temos numeração para você. É melhor procurar uma
loja de Plus Size! –Ela me olha como se eu fosse uma mortadela enorme e
gordurosa.
– Eu não tenho nada contra a loja de Plus Size, mas eu não uso 50! Qual o
maior número que você tem? – falo quase perdendo minha paciência.
Ela demonstra que está irritada.
– Vou checar. Só um momento, por favor. – E ela sai para os fundos da loja,
usando um manequim 36, provavelmente por isso ela acha todo mundo
gordo.
Depois de alguns minutos insuportáveis, não sou o tipo que tem muita
paciência, a magrela volta com alguns pacotes nas mãos.
– Achei algumas numerações maiores, vamos ver se os seus seios cabem aqui
dentro! – Ela dá uma olhada para a minha comissão de frente, um pouco
avantajada demais.
Sorrio, pego os pacotes e sigo com eles para o provador.
– Fique à vontade, qualquer coisa me chame.
Fecho a porta, tiro minha camisa, e tento colocar o primeiro espartilho. Quase
sufoco a mim mesma, me mato para fechar os ganchos, e quando me olho no
espelho, vejo que meus mamilos ficaram para fora da taça do sutiã. Fiquei
ridícula!
– Oh, merda! – Tiro nervosamente o espartilho e pego outro, parece maior,
acho que vai servir.
Mais 10 minutos de sofrimento, estou suando em bicas, e concluo que a
colocação dessa maldição deve ter sido inventada por um homem.
– Por que nós mulheres nos sacrificamos tanto para ficar sexys para os
homens, será que eles merecem mesmo isso?!
Olho-me no espelho, meus peitos estão saltados e enormes na taça do sutiã,
mas ficou bem sexy.
Coloco minhas mãos na cintura, ajeito o espartilho ao meu corpo.
– Tô gostosa! – Sorrio ao me olhar no espelho.
– Ok, agora falta comprar uma calcinha indecente, uma meia liga, e o sapato
alto, mas vai ser o que tenho mesmo.
Tiro aquela maldição dos infernos, volto a colocar a minha roupa e olho em
meu relógio.
– Cacete, vou me atrasar! Oh, meu Deus! – penso desesperada.
Minha vida profissional não é grande coisa. Desde que me formei estou
tentando engrenar minha profissão de psicóloga, mas o salário é muito ruim,
e esse é o quinto consultório que trabalho nos últimos seis meses.
Sinceramente, não acho que vai dar certo, o dono do consultório é um
psiquiatra pirado, com cara de louco, e acho que ele não gosta muito de mim.
Chego ao balcão e vejo a balconista de papo furado com a outra funcionária.
– Olha benzinho, vou levar esse aqui! – Ela me olha admirada.
– Serviu?! – Ela faz cara de surpresa, e eu tenho vontade de mandá-la se
danar.
– Acho que sim, caso contrário eu não estaria levando! – Balanço minha
cabeça de um lado para o outro.
Imbecil!
– Mais alguma coisa? – ela pergunta sem vontade.
– Uma calcinha bem indecente, para fazer conjunto com esse espartilho e
uma meia liga – falo apressada. – Mas tem que ser a jato, querida, estou
atrasada.
Ela me olha assustada, coloca sobre o balcão alguns modelos de calcinha e a
meia liga.
– A calcinha é GG, acho que serve em você! – Ela dá uma olhadinha de lado
para minha bunda.
– M, florzinha! A bunda é grande, mas nem tanto! – Enrugo minha testa, essa
mulherzinha está me dando nos nervos.
– Ok, aqui está. – Ela me mostra as calcinhas e escolho uma.
– Perfeito! Meu namorado vai pirar hoje à noite! – Dou risada.
Ela finge rir.
Entrego meu cartão de crédito para ela.
– Rápido, amorzinho! Não tenho a vida inteira – falo sem paciência.
Vejo-a revirando os olhos.
– Não foi autorizado – ela diz com um sorriso satisfeito no rosto, me olhando
de lado, e me entregando o cartão.
– Como assim?! – Falo indignada.
– Você não tem outro cartão? – Ela sorri.
– Passa esse. – Entrego meu outro cartão.
Ela passa, e sorri novamente.
– Também não foi autorizado.
– Puta que pariu! – xingo. – Passa no débito.
Agora ferrou de vez! Conta estourada, sem limite de crédito, cheguei ao
fundo do poço.
Capítulo 1
JACKELINE BARTOLLI

C hego esbaforida ao consultório. A recepcionista me olha por cima dos


seus óculos de grau, é uma senhora de uns 90 anos, tudo nesse
consultório é velho e antiquado. Mas eu preciso desse maldito salário, e
por isso sempre trago um bombonzinho para a velhinha, quem sabe ela não
convença o psiquiatra louco que sou boazinha e que mereço uma chance.
– Boa tarde, Dona Magnólia! – falo sorrindo. – Não esqueci o seu bombom!
– Deposito o bombom em sua mesa, com um sorriso idiota no rosto.
– Obrigada, Jackeline, mas você não me ouviu dizer que sou diabética?! – Ela
me olha de lado, e faço cara de retardada.
É que essa velha fala tanto que resolvi não prestar muita atenção no que ela
diz, então acho que não ouvi essa parte.
– Oh, Dona Magnólia, me desculpe! Vou trazer da próxima vez um diet, bem
gostoso! – Sorrio novamente.
Ela revira seus olhos e continua com suas anotações.
– Algum paciente, Dona Magnólia? – falo ao abrir a porta do meu
consultório.
Ela olha em sua agenda de 1.950.
– Não, você não tem nenhum horário marcado. Parece que os pacientes não
estão gostando muito de sua terapia, Jackeline! – Ela diz com toda a
franqueza típica de sua idade, me fazendo odiá-la cada vez mais.
– Eles estão gostando sim, já tenho... – penso longos segundos, tentando
lembrar quantos pacientes tenho, mas por fim, reviro meus olhos. – Leva
algum tempo para conquistar a confiança, é assim mesmo...
Volto a caminhar para minha sala.
– Querida! – Ela me chama.
– Oi, Dona Magnólia! – falo tentando manter a calma.
– Eu acho que você não leva jeito para a Psicologia, não sei como você
conseguiu concluir seu curso! – Ela me olha com aqueles olhos azuis
esbugalhados.
– Olha aqui, Dona Magnólia... – Puxo o ar e quando iria falar umas verdades
para essa velha enxerida, a porta do consultório abre e Doutor Hamilton entra
com seu charuto a postos, baforando fumaça para todos os lados.
– Boa tarde, doutor! – falo com uma humildade irritante.
– Boa tarde, Dona Jackeline! – Ele diz do alto de sua arrogância. – Podemos
conversar em minha sala?
Sinto meu coração gelar.
Olho para a velha asquerosa e vejo um sorriso de canto de boca, ela
realmente me odeia.
– Claro! – respondo fingindo uma alegria espontânea, seguindo-o em direção
ao andar superior.
Ele abre a porta de sua sala, e começo a sentir minha rinite ganhando vida
própria, uma coceira insuportável no nariz. Odeio o cheiro de sua sala, cheira
a coisas velhas e mofadas.
– Sente-se. – Ele diz ríspido.
Puxo a cadeira a sua frente, que deve pesar uma tonelada, com certeza
metade das árvores da Amazônia estão nessa sala.
– Pois não, doutor, no que posso ajudá-lo? – Falo falsamente.
Ele me encara e bafora o maldito charuto na minha cara, me fazendo coçar o
nariz, e espirrar três vezes.
– Já faz alguns meses que você está trabalhando neste consultório, e apesar
de minhas tentativas de indicar pacientes para você, nenhum deles retornou.
Isso me faz pensar que você não está qualificada o bastante para trabalhar
como nossa terapeuta.
Abro a boca, tento pensar em algo para dizer que possa me defender, mas não
consigo, minha mente trava, assim como minha voz.
Sinto meus olhos encherem de lágrimas, não posso chorar, não quero chorar,
mas acabo chorando.
– Eu preciso desse emprego! – falo depois de me esvair em lágrimas, sem que
o velho louco fale uma palavra se quer.
– Sinto muito, Dona Jackeline! A senhora está dispensada. – Ele me encara
com seu olhar distante e vazio.
Levanto de sobressalto e enxugo minhas lágrimas nervosamente.
– Quer saber, vai se danar, Doutor Hamilton! O senhor é um louco, e sua
secretária, também! – Viro as costas, abro sua porta e fecho-a com uma
pancada que faz o sobrado inteiro estremecer.
Sigo a passos duros até a minha ex-sala, não olho para a velha louca, passo
por ela como um avião.
Recolho tudo o que é meu, coloco em um envelope, abro a porta e encaro a
secretária dos infernos.
– Quer saber, Dona Magnólia, eu acho que a senhora está com Alzheimer, por
isso diz que nunca tem um filho da puta que ligue para marcar consulta
comigo. – Ela me olha atônita. – Nunca te suportei, velha maluca. – Sigo para
a porta diante de seu olhar assustado, mas antes de sair, desabafo. – Por que
você não fica em casa cuidando dos seus gatos, e assim dá lugar para uma
pessoa mais jovem trabalhar? Velha caquética! – Bato a porta com toda a
força, e saio bufando para a rua.
****
Caminho pela rua sem destino, não posso ir para casa agora, não tenho
coragem de dizer a minha santa mãezinha que fui demitida pela vigésima vez.
Entro na estação do metrô, me sento em um dos inúmeros bancos e fico
observando o vai e vem de pessoas.
Houve um tempo em que eu acreditava que seria uma boa terapeuta. Mas
hoje, de tanto ouvir que não levo jeito para a coisa, estou começando a
concluir que as pessoas devem estar certas.
O único problema de tudo isso, é que não sei o que fazer. Desde que me
formei estou numa luta frenética tentando construir minha carreira como
terapeuta. Não sei fazer outra coisa além de dar conselhos para as pessoas,
tentar ajudá-las a resolver seus problemas, encontrar seu caminho...
Oh, que frustração!
Penso em meu falecido pai e choro. Que decepção ele teria comigo, o
pobrezinho gastou o que não tinha para me pagar uma faculdade, e olha só no
que deu.
Penso também em minha mãe, a pobrezinha não se cansa de dizer que sou
seu orgulho. Como posso dizer para ela que meu chefe disse que não sou
qualificada para trabalhar como terapeuta?!
Não sei como dar essa notícia para ela, para minha tia, e para minha avó!
É isso mesmo, vivo com três mulheres que já cruzaram o cabo da Boa
Esperança, ou seja, já estão na terceira idade, ou melhor idade, como as
pessoas gostam de chamar. Elas não se cansam de me dizer que estou ficando
velha, que engordei, que estou comendo demais, que preciso me casar, que
preciso ter filhos...
Meu pai eterno, que bagagem pesada você me deu!
Lembro-me da minha amiga Carolina, minha melhor amiga desde que tenho
sete anos, crescemos juntas, e estamos envelhecendo juntas.
– Cruzes, como estou deprê! – falo em pensamentos.
Ok, vou ligar para ela, quem sabe ela me faça sorrir um pouco.
A ligação completa:
– Fala, gostosa!
Tenho que confessar algo, minha melhor amiga é lésbica, mas juro que não
temos nada! Somos simplesmente amigas, ou amigos, nem sei direito como
tratar a relação que temos.
– Carol, menos! Não quero que ninguém ache que você é meu macho! – falo
revirando meus olhos.
– Está azeda?! Já sei, o Renatinho não te comeu direito ontem! – Ela explode
em uma risada insana.
Acho que ela está fumando um baseado, não vejo motivo para tanta graça.
– Benzinho, eu não moro com o Renatinho. Então, é lógico que ele não me
comeu ontem, mas vai me comer hoje, e como vai! – Falo com escárnio.
– Ui, que poderosa! – Ela ri feito uma hiena. – Mas me diz aí, que novidade é
essa, você não costuma me ligar do consultório!
Respiro fundo, não tenho por que guardar segredo da Carol, ela é minha
confidente, sabe tudo sobre minha vida.
– Fui dispensada, Carol! – Sinto meus olhos arderem.
– De novo, Jack! – Sua voz mostra decepção.
– Carol, o psiquiatra louco disse que não sou qualificada para ser uma
terapeuta. – Começo a chorar.
– Jack, desculpe, mas preciso concordar com ele.
Arregalo meus olhos, enfurecida.
– Carol, você é uma...
Ela me interrompe.
– Jack, sou sua amiga, não vou mentir para você. Essa não é sua praia, você
é muito confusa! Como alguém confuso pode tentar ajudar quem está
confuso? Só vai dar confusão!
– Vai se ferrar, Carolina! – esbravejo.
– Eu vou arrumar um emprego para você, mas você não pode reclamar. Vou
arrumar algo que você ganhe bem, e não tenha tanto trabalho!
Reviro meus olhos.
– Duvido, Carolina! O que seria? Garota de programa, por exemplo?!
Ela ri do outro lado da linha.
– Secretária. O que você acha?
Dou uma risada louca.
– Carol, sou muito desorganizada para ser uma secretária! – bufo exausta. –
E não tenho experiência, não levo jeito para essas coisas. Acho que vou ser
gari, assim perco umas gordurinhas!
– Como você é exagerada! Quem vê, até pensa que é gorda!
– A mulher da loja de lingerie me chamou de gorda, pediu para eu ir
comprar o espartilho que eu procurava na loja de Plus Size!
Ela dá uma risada escandalosa do outro lado da linha.
– Provavelmente você estava vestida com as camisas do seu pai, pode falar!
– ela diz irônica.
– Não me enche! – respondo sem paciência.
– Jack, eu já disse que você precisa aprender a se vestir! Você se veste muito
mal, e essas roupas te deixam gorda.
– Eu gosto das minhas roupas, gosto de me vestir despojada. Não estou
preocupada com a opinião da vendedora, o Renato me ama como sou...
– Ah, tá! Bom, você quem sabe, eu já te disse, você está perdendo seu tempo
com aquele mosca morta. Ele não te merece, Jack.
Ok, não vou dar ouvidos à Carolina, ela não gosta do Renato, e o Renato
não gosta dela.
– Tá bom, Carol, só queria conversar um pouco com você. Preciso dar um
tempo, não quero chegar em casa e ver as três velhotas chorando quando eu
der a notícia da minha demissão.
– Eu estava falando sério sobre a vaga de secretária! – ela diz séria. – É
para ser secretária do Doutor Rui. Ele é um gato, mas está praticamente
casado, então, não se empolgue.
Bufo sem paciência.
– Acho que não vai dar certo, Carol. Eu não serei escolhida! – falo sem
ânimo.
– Ok, não custa nada tentar. Vou ver como está o processo de seleção e nos
falamos depois. Um beijo, gostosa! – ela desliga antes que eu possa xingá-la.
Capítulo 2
JACKELINE BARTOLLI

C hego em casa depois de longas horas plantada na estação do metrô.


Pego o elevador, e logo estou abrindo a porta do nosso humilde
apartamento.
Moramos no mesmo apartamento há anos, essa foi a única herança que meu
querido pai nos deixou, mas o prédio é velho e decadente, o elevador quebra
todas as semanas e o encanamento vive dando problemas. Mas, não posso
reclamar, se minha mãe dependesse de mim, viveríamos de aluguel, pois
nunca consegui construir nada com meu salário.
Entro na sala e vejo minhas três idosas assistindo a novela das seis, elas são
viciadas em novelas e programas jornalísticos, aqueles que só falam sobre
desgraças.
– Oi, minhas velhinhas queridas! – falo animada.
Vejo minha tia bufando, ela é uma senhora de aproximadamente 60 anos,
solteirona, e que não admite ser chamada de velha. Aliás, ela ainda espera
encontrar seu príncipe encantado nos bailes dedicados à terceira idade.
– Oi, querida! – Minha mãe se levanta e vem ao meu encontro. – Você está
meio abatida hoje, não comeu direito?! – ela diz acariciando meu rosto.
– Mãe, nem todos os problemas são gerados por falta de comida – respondo
meio sem paciência. – Se estou gorda, é por culpa sua, que só pensa em me
fazer comer! – digo irritada.
– Ingrata! Você não está gorda, imagine! – Ela sai rebolando seu traseiro
grande, e vejo de onde herdei esses quadris exagerados. – Vou terminar seu
jantar, você está muito pálida.
– Não, mãezinha, não precisa. Vou jantar com o Renato, hoje é nosso
aniversário de namoro! – falo sorrindo.
Sento-me no sofá, abraço e beijo minha vozinha de quase 80 anos (mais ou
menos, ninguém tem certeza de sua idade).
– Tudo bem, vovó? – Acaricio seus cabelinhos brancos.
– Tudo, querida! – Ela alisa minhas coxas grossas. – E quando esse moço vai
te pedir em casamento? Está na hora, meu amor!
Minha tia se levanta e me olha com um sorriso debochado.
– Mamãe, essa aí não irá se casar mais. Está ficando velha, já começou a cair
tudo, e não vai ficar para tia, porque nem irmãos ela tem!
Fecho os olhos e respiro.
– Titia, a senhora que é uma velha encalhada! Só tenho 27 anos, ainda tenho
muito tempo para me casar – falo com desdém, me levantando e seguindo
para meu quarto.
– Amélia, sua filha está muito malcriada, não aceito esse tom comigo! – ela
diz nervosa para minha mãe.
Saio assobiando para meu quarto, já estou acostumada com as piadinhas sem
graça de minha tia, ela é um porre.
Fecho a porta, tiro minha roupa e sigo para meu banheiro, meu quarto é o
único com banheiro privativo. Minha santa mãezinha cedeu seu antigo quarto
para mim, logo que meu pai faleceu, há cinco anos.
Finalizo meu banho, passo meus cremes para celulite, estrias, gordura
localizada, e sei lá mais o que. Ainda tenho fé que eles façam efeito, e que eu
não vire tudo o que minha querida tia não cansa de me amaldiçoar.
Seco meu cabelo e passo uma chapinha para deixá-lo mais liso e sensual.
Meu cabelo castanho escuro é bonito ao natural, levemente encaracolado até
a altura dos ombros, mas gosto do efeito de vê-lo liso, me sinto diferente.
Termino de arrumá-lo, faço uma maquiagem forte em meus olhos, que são
castanhos, mas ficam muito bonitos quando os valorizo com máscara para
cílios e um delineador preto.
Tenho muitos traços italianos, os olhos levemente puxados, a boca grande e
carnuda. Dizem que os seios grandes também são herança da parte italiana da
família, mas a bunda grande vem dos portugueses, assim como as coxas
grossas.
Me olho no espelho e gosto do resultado.
Não me acho uma mulher linda, mas tenho traços bonitos e marcantes.
Confesso que não gosto muito do meu corpo, adoraria ter seios pequenos,
pernas longas e finas, bunda pequena. Ser uma mulher carnuda tem muitas
desvantagens, como por exemplo, dificuldades na hora de comprar roupas.
Sigo para meu quarto com uma toalha amarrada ao corpo, abro meu guarda-
roupa e olho com desânimo.
Talvez a Carol tenha razão, preciso comprar roupas mais femininas. Adoro
conforto e despojamento, gosto de camisas soltas, calças de tecidos leves e
que não grudam em minhas pernas. Não sou o tipo de mulher que gosta de
mostrar suas curvas, quero dizer, eu gosto de mostrar minhas curvas, mas só
para o homem que amo.
Vejo um vestido tipo envelope marfim e o pego no cabide.
– Ok, acho que você ficará bem em mim! – falo para mim mesma.
Adoro vestidos, eles são muito confortáveis, e esse me deixa bem sexy, por
causa do decote em V na frente.
Tiro da sacola a calcinha e o espartilho, infelizmente não consegui comprar a
cor que queria, o único que serviu foi o vermelho. Confesso que não sou fã da
cor vermelha, mas ela cai bem em mim, morenas ficam bem de vermelho.
Coloco primeiramente a calcinha indecente. Fiz questão de me depilar
completamente, a calcinha é muito pequena, e não caberia dentro da mata que
se formou no meio das minhas pernas.
– Ok, agora é a hora mais difícil: o maldito espartilho! – falo alto meus
pensamentos.
Eu poderia muito bem pedir ajuda a minha mãe, mas ela ficaria horrorizada
ao ver como irei vestida na casa de meu namorado. Não que ela não saiba da
minha vida sexual, ela não é boba, mas daí me ver vestida feito uma cortesã,
tem uma diferença muito grande.
Depois de muito sacrifício, consigo fechar todos os ganchos, ajeito meus
seios dentro da meia taça e me olho no espelho.
– Só se ele for gay para não gostar de me ver vestida desse jeito – falo para
mim mesma, me sentindo insegura, ultimamente tenho estado assim.
– Depois de quatro anos de namoro é normal que o casal se distancie um
pouco, são as famosas crises do relacionamento, é só isso – penso alto.
Quando conheci o Renato, ele era apenas um estudante de Contabilidade,
muito inteligente e capaz. Com o passar do tempo, ele foi crescendo
profissionalmente, e atualmente ele é controller de uma grande empresa,
mora num belo apartamento numa região nobre, tem um belo carro, e um
belo salário.
Somos diferentes em muitas coisas, mas nos apaixonamos, e temos tentado
conviver com nossas diferenças.
Retiro o vestido do cabide e o coloco pelos meus ombros, o amarro por
dentro, e finalmente faço o laço lateral externo, para prendê-lo ao meu corpo.
Me olho novamente no espelho, ajusto ele ao meu corpo, e como esperado,
meus seios se sobressaíram no decote transpassado, o sutiã meia taça os
deixou ainda maiores, mais sensuais.
Ajeito meu cabelo, checo se está tudo ok, pego minha bolsa e saio em direção
à sala.
– Já estou indo! – digo as tirando da hipnose televisiva.
– Nossa! Como você está bonita, filha! – Minha mãe diz com as mãos nos
lábios.
– Tá é gorda, Amélia! Olha o tamanho dos peitos dessa menina, parece que
está amamentando.
Fuzilo minha tia com os olhos.
– Vai se danar, tia! – Saio pisando duro com meu salto alto.
Às vezes, tenho vontade de colocar minha tia em um asilo, mas aí eu mataria
minha avó de desgosto, então sigo aguentando seus desaforos.
Minha mãe me acompanha até a porta.
– Não liga para ela, Jack. Sua tia está meio esclerosada. – Ela gira os dedos
ao redor da cabeça.
– Eu não ligo, mãezinha. – Beijo seu rosto. – Talvez eu durma no
apartamento do Renato, não se preocupe comigo.
– Mas e o seu trabalho, você vai trabalhar assim amanhã? – Ela me olha
esquisita.
Reviro meus olhos.
– Não sei, depois vejo isso. – Me despeço dela e sigo para o elevador.
****

Apesar da minha falta de grana, tomei um táxi, pois não queria ser estuprada
no ônibus. Moro na periferia, e apenas o trajeto até um ponto de táxi já foi
complicado, me chamaram de tudo, bocetuda, gostosa, peituda, Fafá de
Belém, enfim, não vale a pena falar a lista de obscenidades.
Finalmente o táxi estaciona em frente ao prédio do Renato, aqui é o paraíso!
Eu adoraria morar com ele, mas ele nunca mencionou nada do tipo.
Respiro fundo e sigo para o portão.
Apesar de sermos namorados há muito tempo, o porteiro ainda precisa me
anunciar, o que me causa certa revolta. Tenho tentado controlar meu gênio,
não sou “flor que se cheire”, mas também não quero perder o namorado.
O portão é aberto e sigo para os elevadores. O prédio que o Renato mora é
lindíssimo, cheiroso – adoro cheiros –, tudo novo e requintado.
Em alguns minutos estou em frente à sua porta de entrada, toco a campainha
e aguardo enquanto ele abre a porta.
Um barulho na fechadura, e finalmente o vejo.
– Oi, meu gato! Tudo bem?! – falo melosa, o abraçando e beijando
apaixonada.
– Está empolgada hoje, Chuchu! – ele diz se afastando de mim e seguindo
pelo seu apartamento.
Fecho os olhos e bufo irritada.
Isso é jeito de receber a namorada, poxa! – Penso.
– Estou com saudades, só isso! – O sigo pela sala. – Você sabe que dia é
hoje? – Me sento ao seu lado no sofá.
– Quarta-feira, dia de jogo. Não inventa de sair, Jack, sem chance, hoje tem
um jogo imperdível – ele diz zapeando os canais, e sinto um nó no estômago.
Talvez a Carol tenha razão, esse cara não me merece.
Puxo o ar, e tento espairecer. Ele é assim mesmo, não posso querer mudá-lo,
me apaixonei por ele sabendo como ele era.
– Hoje completamos quatro anos de namoro, sabia? – O olho carente.
Ele me olha de lado, dá um sorriso insosso.
– Sério?! – Ele volta a olhar para a televisão. – Passou rápido, Chuchu, nem
percebi!
– Vamos comemorar? – Acaricio seus cabelos, beijo seu pescoço... E ele se
levanta.
Reviro meus olhos, essa situação está se repetindo demais para o meu gosto.
Que merda de frieza é essa?!
– Então, vou pegar um vinho, para a gente comemorar. Mas como disse, hoje
é dia de jogo, não vamos sair, Jack! – Ele pisca para mim.
Respiro e inspiro com força, tento contar mentalmente até 10.
Ele retorna com as taças e com um vinho, coloca o líquido nas taças e me
oferece uma.
– A nós! – Ele bate em minha taça.
– Ao nosso amor! – Encosto minha taça a dele, o olhando intensamente, bebo
o vinho e me aproximo dele. – Estou com saudades, Rê... – Aproximo meu
corpo do dele, procuro seus lábios, o beijo com paixão, mas não sinto o
mesmo dele.
Em minutos estou com meu vestido pendurado pelo meu corpo, e ele sem sua
calça de agasalho, velha e surrada.
– Que negócio é esse, Chuchu? – ele diz assim que meu vestido é tirado
completamente.
– Uma surpresa para você! – falo e beijo seu pescoço, sua orelha, estou em
brasas! Sou uma mulher muito fogosa, adoro sexo, mas meu companheiro
não parece dividir do mesmo fogo que eu. – Gostou? – Subo em seu colo,
ávida para sentir seu membro dentro de mim.
– Legal! – ele diz simplesmente, me sinto decepcionada, mas tento não
pensar muito sobre isso. Em minutos estamos transando como dois coelhos,
foi tudo muito rápido, frio, sem paixão, sem amor.
Me deito ao seu lado no sofá, acaricio seu peito, e não suporto mais. Por que
ele não se empolgou nem com o espartilho, por que nada mais o empolga em
mim?!
– Você não gostou do espartilho? Pensei que você iria pirar quando me visse
assim! – falo decepcionada.
– Ficou legal, Chuchu, eu já disse! – Ele se levanta, pega sua calça e a coloca.
– Só isso, legal?! Não estou gostosa, sexy, sensual, só legal?! – falo
mostrando minha decepção.
– Jack, não me leva a mal, mas você não está com corpo para vestir um
negócio desses. Olha só para os seus peitos, mal cabem nesse negócio! –
Abro a boca, tento falar, mas as palavras param em minha garganta, e meus
olhos enchem de lágrimas.
– Você está me chamando de gorda, é isso? – falo ressentida.
– Não, não é isso! – Ele passa suas mãos pelos cabelos. – Mas seria bom se
você começasse a malhar um pouco, ou correr. Tem um monte de garotas do
meu trabalho que estão correndo a noite, junto com nossa equipe de corrida, é
muito legal, você iria gostar, e te deixaria com um corpo bacana!
– Eu não gosto de correr, e meus peitos são grandes mesmo, Renato. Não tem
muito jeito, a não ser que eu faça uma cirurgia para reduzi-los! – falo
magoada. – Eu sempre achei que você gostasse do meu corpo como ele é!
Me levanto.
– Eu gosto do seu corpo, ele é legal, só que você está meio... – Ele enche as
bochechas de ar, e tenho uma vontade louca de dar um chute no meio do saco
dele.
Esse filho da puta me comeu durante quatro anos, e agora diz que estou
gorda!
– Você também não está grande coisa, Renato! Aliás, está muito magro, essas
corridas estão te deixando seco, parece que está passando fome! – Pego meu
vestido do chão, raivosa. – Gostava mais quando você tinha uma barriguinha,
bochechas redondas, você era mais bonito, não suporto homem caveira!
A raiva está me corroendo por dentro.
– Só você que acha isso. As garotas por aí não têm essa opinião, elas piram
no meu corpo! – ele diz com um sorriso idiota.
Tenho vontade de voar em seu pescoço e torcê-lo até ele ficar sem ar.
Jogo meu vestido pelos meus ombros, tento arrumá-lo, mas estou muito
nervosa para isso.
– Os homens por aí também piram no meu corpo, não me chamam de gorda,
mas sim de gostosa. Só você que não curte meus peitos grandes, a maioria
dos homens adoraria cair de boca neles. – Pego minha bolsa, coloco meus
sapatos nervosamente e saio andando possessa para a porta.
– Jack, espera, não é nada disso! – Ele anda apressado atrás de mim.
Olho para trás e mostro o dedo do meio para ele.
– Vai se foder, Renato! Procure uma daquelas magrelas sem bunda e sem
peito para comer! – Bato a porta do seu apartamento com toda a força e
aperto nervosamente o botão do elevador.
Eu deveria ter lido meu horóscopo hoje, provavelmente dizia para eu não sair
de casa e não falar com ninguém, devo estar em meu inferno astral.
Capítulo 3
JACKELINE BARTOLLI

O elevador abre rapidamente, vejo um homem parado no fundo com a


cabeça baixa, entro feito um furacão, estou espumando de raiva!
Seleciono o térreo, e olho para frente, mas não vejo nada, minha visão
está vermelha.
Aquele filho da puta vai me pagar! – penso furiosa.
Um tranco no elevador, as luzes se apagam, e em seguida uma luz de
emergência acende.
– O que foi isso?! – pergunto assustada.
– Provavelmente acabou a energia elétrica. – Ouço uma voz grossa e
aveludada, olho para o meu lado e lá está um belo exemplar da raça
masculina. Isso sim é homem e não o traste do Renato, mas não estou com
esse pique todo, estou odiando a raça masculina.
Meu coração acelera, não sou dada a medos, mas ficar num elevador parado
no meio do caminho não me parece algo muito acolhedor.
– Talvez devêssemos ligar para o bombeiro? – falo assustada, pegando meu
celular e vendo que o maldito está sem sinal.
– Eles devem estar ligando o gerador, tenha calma! – Olho para o homem e o
vejo olhando indiscretamente para o meu decote.
Suspiro com força.
Mais alguns segundos e nada do elevador voltar. Olho novamente para o
homem, e lá está ele olhando novamente para o meu decote.
Que filho da puta tarado dos infernos! – penso com raiva.
– O senhor está com algum problema, ou é tarado mesmo?! – falo enfurecida,
estou de péssimo humor.
Ele sorri, o filho da puta tem um sorriso maravilhoso! Aliás, ele é
maravilhoso, mas acho que irei me tornar lésbica, estou de saco cheio dos
homens.
Ele não responde, continua sorrindo.
– Não contei nenhuma piada, e se você não parar de olhar para o meu decote,
vou sentar a mão na sua cara! – falo fora de mim, acho que estou com o diabo
no corpo.
– Desculpe, mas é que a senhora se esqueceu de fechar o vestido! – Ele
sinaliza com a cabeça, e vejo meu vestido escancarado, mostrando o
espartilho, os peitos saltando na meia taça, um verdadeiro vexame.
Me desespero tentando arrumar o vestido, mas o problema é que não o prendi
por dentro, então terei que abri-lo inteiro para arrumá-lo.
Oh, merda de vida!
– Feche os seus olhos, eu preciso arrumar meu vestido – falo nervosa,
segurando o decote que está escancarado.
Seu sorriso que era apenas um sorriso de lado, agora está de ponta a ponta.
– Eu já vi tudo, mas se você prefere assim... – Ele vira seu rosto de lado, e em
seguida se vira de costas para mim.
Fecho meus olhos e respiro fundo, e arrumo o maldito vestido, o odiando, e o
espartilho, e todo o resto que me cerca.
– Pronto, posso me virar?! – Ele pergunta com uma ponta de cinismo na voz.
– Pode! – falo com uma carranca maior que o elevador.
Ele vira em minha direção, olha por cima dos cílios, e lá está aquele sorriso
de cafajeste no rosto.
Ai que ódio!
Um novo solavanco no elevador, e ele volta a descer.
Suspiro aliviada.
Que vergonha, meu Deus! Não vejo a hora de sair desse elevador.
Olho de relance para o homem, ele mexe em seu celular, parece ler uma
mensagem. Aproveito que ele está entretido, e resolvo olhá-lo com mais
cuidado, ele é alto, cabelos castanhos, não muito escuros, cortados
perfeitamente, e estão levemente molhados. Seu rosto é em formato de
losango, um rosto másculo, bem feito, sua barba começa a crescer, dando um
ar meio selvagem a ele. Os lábios são finos, mas bonitos, e o nariz combina
perfeitamente com seu rosto.
Ele é muito bonito, se veste muito bem e exala um perfume inebriante.
De repente ele levanta seus olhos e me encara, e nos primeiros minutos é
difícil desviar meus olhos dos seus, eles são profundos e sedutores, lindos em
um tom acinzentado, com pontinhos dourados.
Ele é muito bonito.
Desperto com o elevador abrindo, mais do que depressa saio e caminho a
passos barulhentos até a saída do prédio.
Paro ao chegar à rua.
– Para onde eu vou? – Sinto as lágrimas voltarem aos meus olhos. – Não
quero voltar para casa e ouvir as piadinhas idiotas da minha tia.
Enxugo uma lágrima que escorreu pelo meu rosto, acho que quero beber,
então pego meu celular e ligo para a Carol.
A ligação chama, mas cai na caixa postal, falo meia dúzia de nomes feios, e
então vejo um carro daqueles pretos e elegantes parar ao meu lado.
Olho confusa, só falta agora acharem que estou fazendo ponto nesse lugar!
O vidro abre vagarosamente e vejo aquele pedaço de mau caminho.
– Tudo bem? Precisa de uma carona?
Fico entre a surpresa e a confusão.
Ele levanta suas sobrancelhas diante de minha letargia.
– Eu... – Nem sei o que falar, estou mais dura que pau de tarado, de repente
uma carona viria a calhar, realmente não estou em situação de pagar um novo
táxi.
O celular toca, vejo a foto da Carol, volto a olhar para ele, e desisto.
– Não, obrigada! – Tento sorrir, mas estou muito constrangida pela cena do
elevador.
Ele balança a cabeça, dá um sorriso contido, e sai vagarosamente, me
deixando meio abobada.
Eu deveria ter aceitado a carona, e transado a noite inteira com esse cara ele
deve ser muito melhor de cama que o inútil do Renato.
Atendo a Carol.
– Carol, você acaba de atrapalhar minha carona, eu iria pegar carona com
um cara magnífico!
Ela dá risada.
– Cachorra! – ela diz maliciosa. – Então, por que você me ligou se tinha uma
carona com um cara magnífico?
– Quero beber até cair! Me leva para beber, Carol, pode ser nos inferninhos
que você frequenta. Talvez eu escolha uma garota para ficar essa noite,
estou de saco cheio de homens.
– Oba, pode ser euzinha?! – ela diz e ri ao mesmo tempo.
– Não, você não vale. Seria blasfêmia, você é como uma irmã! – Sorrio
sozinha.
– Onde você está, em casa? – ela diz rapidamente.
– Não, estou em frente ao apartamento do Renato. Acabei de brigar com ele,
e não quero vê-lo pelo resto do ano – falo nervosa.
– Ok, estou indo até aí. Não demoro muito! – Ouço sua voz apressada.
– Não demora, Carol, senão vão achar que estou fazendo ponto neste lugar!
Ela dá uma gargalhada.
– Aproveite, se for um bofe bonitão, cai pra cima, amiga! – ela diz
debochada.
– Vai à merda, Carolina! Estou te esperando! – Desligo a ligação.
****

O lugar escolhido por minha amiga para bebermos é um inferno GLS, eu não
deveria me assustar, ela só frequenta esses lugares.
– E aí, gostou do point?! – ela diz sorrindo, animada.
– Bem alternativo, Caroleta, mas estou me sentindo um bife suculento! Essas
lésbicas não têm vergonha na cara, só faltam me engolir viva! – falo meio
assustada, não tenho nada a ver com esse lugar, estou me sentindo uma
extraterrestre.
– Vem comigo. – Ela passa seu braço pela minha cintura, tipo minha
namorada. – Vamos fingir que somos um casal, assim elas te deixam em paz.
Entorto meu nariz, meus lábios, não nasci para isso, gosto de homem, com
pau bem grande, não suportaria me atracar com outra mulher.
Urgh!!!
Chegamos a uma mesa abarrotada de pessoas entre homens e mulheres, mas
aqui é tudo às avessas, os homens são mulheres, e as mulheres são homens.
Meu Deus, acho que sou muito antiquada para esse mundo atual, apesar de
psicóloga, não consigo ver muito sentido no homo, o legal é o hétero, os
encaixes perfeitos, a delicadeza de um, com a rudeza do outro, enfim...
Ok, mas não sou preconceituosa, sou amiga da Carolina há muito tempo, já
sei de sua preferência por meninas desde os 18 anos. Tenho convivido com
isso com muito respeito, continuamos amigas, sua preferência sexual não a
torna menos amiga que outra garota.
– Se senta aqui, Jack. – Ela me coloca ao lado de um cara lindo, mas
infelizmente, bichona louca, completamente louca, foi só abrir a boca para
vê-lo desmunhecar inteiro.
Rapidamente sou apresentada a todos, nunca tinha vindo a um lugar desses
com a Carol. Mas até que está sendo divertido, seus amigos são muito
alegres, falantes, adorei, estou apaixonada por eles.
Depois de beber muito, levanto-me para ir ao banheiro.
– Aonde você vai, Jack? – A Carol fala preocupada.
– Preciso mijar, oras bolas! – falo tonta e completamente bêbada.
– Quer que eu vá junto? – ela diz.
– Não, Carol! Me deixa, eu não sou criança! – Saio tentando firmar o salto
alto, e andar no meio da confusão de homens e mulheres que se esfregam, se
beijam, e dão risada enlouquecidamente.
Finalmente vejo a minha frente o que deve ser o banheiro, mas antes que
possa alcançar a porta, sou agarrada pela cintura, olho assustada e vejo uma
mulher lindíssima.
– Oi, gata! – ela diz cheia de intimidade.
– Oi! – Me afasto e tento tirar suas mãos da minha cintura.
– Podemos nos conhecer? Estou te observando há horas, você é linda, parece
a Sofia Loren, sabia? – ela diz toda sedutora.
– Ah, tá, já me disseram isso antes – falo toda sem jeito. – Já estou
acompanhada, minha namorada está logo ali, aquela morena linda, sou
apaixonada por ela, não a troco por nada, não sei se você me entende?! –
Pisco para ela com um ar de cumplicidade.
– Oh, você é namorada da Carol. Eu a conheço, já ficamos algumas vezes.
Levanto minhas sobrancelhas, agora fodeu, ela conhece a Carol.
– Que coincidência! Mas, estou quase mijando nas calças, dá licença! – Saio
de fininho, deixando a mulher me olhando com curiosidade.
****

Respiro aliviada ao sair do banheiro, mas o alívio foi momentâneo. Quando


chego a nossa mesa lá está ela, a morena que me interpelou a pouco,
conversando com a Carol.
A Carol me vê, dá um sorriso largo, e suspeito que ela já saiba do meu
encontro com a garota.
– Vem, amor! Estava contando de você para a Lili – ela diz com seu jeito
extrovertido.
Reviro meus olhos, maldita hora que inventei de vir aqui.
Me sento ao seu lado, a Carol abraça minha cintura e beija meus cabelos.
– Essa aqui é meu amor, Lili. Não chega perto dela, ok?! – ela diz mudando
seu humor de branco para negro.
– Oh, claro! – A garota se levanta, sorri e se afasta.
– Carol, que mico! Me larga! – Me afasto dela, que cai na gargalhada. – Acho
que tá bom por hoje, foi uma bela imersão no mundo GLS.
– Tá bom, meu tesouro! Então, vamos! – Ela pega em minha mão, e me puxa.
– Precisa mesmo ficar me pegando o tempo todo? Não curto cheiro de
bacalhau, Carol! – falo mal-humorada.
– Se você quiser ir sozinha, vai, sua tonta, você vai ver o que é cheiro de
bacalhau! – ela diz brava. – Estou querendo te proteger, você não faz meu
tipo. – Ela revira os olhos.
Pego em sua mão, e a deixo me tirar daquele lugar dos infernos.
Respiro aliviada ao pisar na rua e sentir a brisa fria da noite.
– Desculpe, Caroleta, acho que fui meio grossa com você. Te amo,
irmãzinha! – Beijo seu rosto.
– Oh, Jack, você está fedendo a bebida! – Ela faz cara feia. – Ok, eu nunca te
levo muito a sério, principalmente bêbada.
– Que bom. – Estendo meu dedinho para ela. – Vamos fazer as pazes.
– Oh, amiga, você está tão bêbada! Quer dormir na minha casa? Sua mãe não
vai gostar de te ver desse jeito – ela diz com uma cara de pesar.
– Tá bom, mas não vamos dormir juntas, você pode querer abusar de mim –
falo dependurada em seu ombro.
Ela bufa, mas não fala nada.
****

Acordo de sobressalto.
– Vamos, Jack! Vai tomar um banho, vou te levar comigo no escritório,
assim você já conversa com o meu chefe.
Arregalo meus olhos.
– Não! Eu não posso ir a uma entrevista de emprego vestida assim! – falo
apavorada, levanto e vejo que estou só de camiseta. – Quem colocou isso em
mim?
– Eu, sua bebum! – ela diz apressada, vestindo uma calça social, camisa e
blazer.
– Hum, você está tão bonita! – falo para descontrair.
– Eu empresto uma roupa para você, deve servir. Não temos um corpo tão
diferente, só esses peitos e o traseiro, mas vou escolher algo mais larguinho.
– Ela sai em disparada para seu guarda-roupa. – Vai, Jack, não posso me
atrasar! – A ouço berrar.
Finalizo meu banho, enrolo uma toalha no corpo e sigo para o quarto da
Carol.
– Jack, eu tenho essas opções. Veja o que você acha que fica melhor em você
– ela diz me olhando. – Vou preparar um café, acho que você ainda está
bêbada! – Ela revira os olhos.
Olho desanimada para as roupas, uma calça com blazer, camisas e blusas.
Balanço minha cabeça negativamente, duvido que algo irá me servir.
Sorrio ao ver uma embalagem de calcinha nova, a Carol é tão carinhosa.
Coloco a calcinha, pego um top que ela deixou, óbvio que ficou pequeno,
mas vai ter que servir, caso contrário terei que ir com os peitos soltos, e isso
não é uma boa ideia.
– Ok, vamos começar com este vestido.
A vejo entrando no quarto, ela torce o nariz.
– Tá meio indecente, Jack! – Ela balança a cabeça vendo meus peitos
saltando pelo decote.
Tiro ele e jogo sobre a cama.
– Talvez a camisa, ela é larguinha, ganhei de aniversário da minha mãe, ela
nunca acerta a numeração! – Ela me olha de lado.
Coloco a camisa, abotoo, até que serviu, mas os últimos botões ficaram tipo,
estourando!
Me olho no espelho desanimada.
– Ficou bom, Jack. Coloque a calça – ela diz apressada.
Enfio a calça, a fecho e viro de costas para me olhar no espelho, reviro meus
olhos.
– Minha bunda não cabe nessa calça! – falo irritada.
– Cabe sim, só ficou um pouco justa, mas ficou muito legal! – Ela faz uma
cara de malícia. – Você tem um corpão, Jack, só você não gosta dele. – Ela
sorri maliciosa.
Fecho os olhos e respiro, coloco o blazer e o meu sapato alto.
– Tá bom? – Olho para ela insegura.
– Hum, parece uma advogada! – ela diz sorrindo. – Bem gostosona, é claro!
Bufo de raiva, sentindo-me muito chamativa, mas é isso ou nada.
– Tem certeza que seu chefe poderá me atender hoje, não podemos fazer isso
outro dia?
– Jack, eu pedi pelo amor de Deus para ele entrevistar você! Nem sei se já
escolheram alguém, mas ele gosta muito de mim, e por isso abriu uma
exceção.
– Ele quer te comer, é isso?! – falo com desdém.
– Não, ele sabe que sou lésbica. Ele me ama porque sou foda, não perco um
processo, sou a melhor do escritório, amiga! – ela diz orgulhosa, se rebolando
toda.
Sorrio, porque eu amo essa garota, e torço muito por ela! Sua vida não foi
fácil, ela teve muitos problemas familiares, um dia desses eu conto para
vocês.
– Então, vamos, antes que eu desista, ou essa calça parta ao meio! – Ela dá
um tapa no meu bumbum e sai correndo.
– Te mato, Carol! – Grito irada.
Capítulo 4
JACKELINE BARTOLLI

D urante o caminho até o escritório onde a Carol trabalha, ela me fala um


pouco sobre seu chefe.
– Então o cargo é só temporário?! – pergunto com desânimo.
– Hello, Jack!!! – Ela estala os dedos. – A mulher ficará seis meses de
licença, dá tempo de você se encaixar muito bem em outro departamento, é
só mostrar serviço. – Ela me olha enfezada.
– Eu sei, mas duvido que eles já não tenham alguém em vista, vai ser só
perda de tempo.
– Pessimista, como só você sabe ser! – Ela revira os olhos.
– Ok, mas o que eu vou dizer para ele? Nunca fui secretária! Estou em
pânico, Carolina! – falo brava.
– Amiga, o trabalho é moleza. A secretária dele passava o dia todo lixando as
unhas, ela não fazia nada! – ela fala com desdém. – É mais para controlar a
agenda do Doutor Rui, comprar passagens aéreas, xerocar documentos, é
moleza.
Ela pisca para mim.
– Certo! – A olho sem credibilidade. A Carolina é muito inteligente, tudo é
moleza para ela, agora eu, me acho uma tapada.
Ela entra no estacionamento de uma casa, na verdade um pequeno prédio de
dois andares, mas é uma construção moderna e imponente.
– É aqui, Jack. Se comporta, tá?! – Ela me olha. – E segura sua língua, você
fala muitas besteiras. – Ela sorri.
– Vai se foder! – falo meio cantado.
Desço insegura, olho para o prédio todo cheio de vidros e uma placa gigante
na frente com o nome do escritório.
A sigo em direção à entrada. Uma garota muito bonita, loira, cabelos
escorridos e olhos claros, está sentada elegantemente numa recepção
sofisticada.
– Bom dia, Doutora Carol! – ela diz com um sorriso encantador.
– Bom dia, Karen! Essa aqui é uma amiga, Jackeline, ela tem um horário com
o Doutor Rui. Ele já chegou?
Ela me olha longamente.
– Ainda não. Quer que eu a leve até a recepção do doutor? – Ela se levanta
mostrando um belo par de pernas, esguias e longas, do jeito que gostaria que
fossem as minhas.
– Acho melhor, estou meio atrasada. – A Carol olha em seu relógio de pulso,
e em seguida para mim. – Jack, vá com a Karen, depois dou um pulinho para
falar com você, tenho uma reunião agora, e estou atrasada – ela cochicha. –
Por sua culpa!
Sorrio.
– Obrigada, amiga! – Mando um beijo com os lábios e a vejo saindo
apressada pelas escadas longas e sinuosas que dão no andar superior. –
Então...? – Olho para a loirinha, que está me olhando indiscretamente.
Será que ela acha que sou a namoradinha da Carol?
Ela sorri sem jeito.
– Vamos? – Ela sai andando em minha frente parecendo uma modelo.
Como gostaria de ter um corpo como este! – Suspiro e me lembro do babaca
do Renato, e a raiva volta.
– Pode se sentar aqui, o doutor já deve estar chegando.
– Obrigada! – Me sento em uma das poltronas espalhadas em uma pequena
recepção.
Os minutos passam sem que o chefe da Carol chegue.
Olho pela décima vez no relógio. Estou plantada nesta recepção há uma hora,
e nada desse doutorzinho chegar. Que descaso, poxa!
De repente, um furacão passa por mim, sinto o vento se movimentar, assim
como um cheiro inebriante no ar.
Mal tive tempo de ver o doutorzinho, ele entrou e fechou a porta, e nem me
falou um bom dia!
– Oh, ele deve ser um daqueles advogados insuportáveis!
O seu perfume continua inebriando a recepção, é um misto de fragrâncias
amadeiradas com cítricas e levemente doce. Tento me lembrar de onde
conheço esse perfume, mas então a voz tipo um trovão chama pelo meu
nome.
– Jackeline Bartolli!
Sinto aquele friozinho no estômago, um medo, não aguento mais fazer
entrevistas em minha vida.
Me levanto, ajeito a calça, o terninho, e caminho a passos inseguros até a sala
cuja porta ficou semiaberta.
Empurro a porta vagarosamente, a sala é enorme. Vejo a esquerda uma mesa
de reuniões, a abro mais um pouco e então vejo sua mesa ao fundo, ele está
de cabeça baixa, anotando ou assinando coisas energicamente.
– Pode entrar – ele diz ainda de cabeça baixa.
Caminho relutante até sua mesa, olho-o de cabeça baixa.
– Sente-se – ele diz sem ao menos me olhar.
Que cara mais mal-educado! – penso.
Olho para a cadeira e me sento, e então ele levanta a cabeça e meu coração
fica gelado.
É o cara do elevador!
Eu não ando numa maré de muita sorte! Qual a chance de uma coisa como
essa acontecer? 0,00000000001, e aconteceu com a Jackeline.
Oh, mulherzinha azarada! – penso o olhando atônita.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos que parecem eternos.
Será que ele não me reconheceu? Isso seria um alívio!
– Deu tudo certo ontem? Quero dizer, arrumou um táxi, ou uma carona? – ele
diz sério, nenhuma ponta de sarcasmo ou cinismo.
– Sim, deu tudo certo – respondo no automático, minha garganta está seca, e
meu coração disparado.
Ele abaixa seus olhos, mexe nervosamente nos papéis a sua frente, e volta a
me olhar, e parece que estou nua em sua frente.
Esse homem tem um jeito de olhar que deveria ser proibido.
– Me fale um pouco sobre você, sua experiência profissional.
Me arrumo na poltrona, mexo em minhas mãos.
O que vou dizer, meu Deus? Aliás, o que estou fazendo aqui?
Volto a olhar para ele.
– Talvez eu não seja a pessoa certa para esse cargo, estou aqui por insistência
da minha amiga. – O olho aflita.
– A Carolina? – Ele cruza seus braços em seu peito, e que peito, ele é todo
grande, musculoso e sexy.
Sinto um começo de calor.
– Isso, ela mesma – respondo sem graça.
– Você não quer nem mesmo tentar, já está desistindo?! – Ele se mexe na
cadeira, e cruza seus braços em cima da mesa.
Me sinto acuada, ele me encara tanto, que estou ficando nervosa.
– Sou formada em Psicologia, trabalhava em consultórios como terapeuta,
nunca trabalhei de secretária.
Ele me olha intensamente.
Ai, que nervoso, se eu pudesse sairia correndo agora mesmo.
– Certo. – Ele balança a cabeça. – Não gostaria de tentar?
Abro a boca, e o vejo olhando para meus lábios, e sinto uma quentura dentro
de mim.
Meu Deus, que calor!
Me ajeito novamente na poltrona.
– Claro que quero. Eu perdi meu emprego, não estou em situação de me
negar a trabalhar. – Falo de cabeça baixa, e então volto a olhar para ele, o
vejo olhando novamente para meus peitos e como reflexo olho para meu
colo, e lá está o motivo, os botões se abriram.
Fecho os olhos, e me amaldiçoo por estar usando uma camisa dois números
menores do que uso de costume.
Corro meus dedos nervosamente pelos botões, acho que estou vermelha como
sangue.
Vejo-o se levantando, ele segue até a janela e volta.
– Quer fazer uma experiência, Jackeline? – Ele me olha a distância.
O olho nervosa, abro a boca, fecho, será que ele está falando sério?!
– Quero, claro que quero! – respondo nervosamente.
– Você pode começar hoje se quiser. Minha secretária irá ganhar bebê, ela
não vem mais. – Ele se senta a minha frente, e bebe a água que está sobre sua
mesa.
– Oh! – O olho confusa. – Tudo bem, mas não terá ninguém para me explicar
o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço – ele fala com um sorriso de canto de boca,
apoia seu cotovelo no braço da cadeira e fica me encarando.
Puxo o ar.
Algo me diz que talvez isso não dê muito certo.
Nunca mais eu tinha sentido tanta atração por um homem, esse cara é pura
tentação.
– Claro, você, isso é óbvio! – falo as palavras atrapalhadamente. – Ok, então,
por onde começo?
Oh, por que ele me olha tanto? Isso me deixa tão nervosa.
Ele se levanta.
– Vou te mostrar sua mesa. – Ele segue em minha frente, fico admirando o
conjunto da obra, e balanço minha cabeça.
– O que acho que estou fazendo secando a bunda do meu chefe?!
Ele abre a porta da sala e me olha, e levanto-me de sobressalto.
– Vamos, Jackeline!
Meu nome fica tão lindo na sua boca.
Oh, céus, o que está acontecendo comigo? Devo estar no meu período fértil.
Sigo até ele, ora olhando para baixo, ora olhando para ele.
O alcanço na porta, ele faz uma menção com a mão para eu passar e sigo na
frente, sentindo aquele cheiro maravilhoso que inebria de seu corpo.
– Você ficará aqui – ele diz muito próximo a mim.
O olho de lado, e sinto uma energia irresistível.
– Tudo bem! – Olho para a mesa, depois para ele. – O que devo fazer? – Olho
para ele com cara de retardada.
Cacete, nem sei o que uma secretária faz!
– Bom, por enquanto, nada. – Ele puxa a cadeira para mim. – Sente-se. – Ele
indica a cadeira, estamos muito próximos, acho que estou começando a sentir
uma espécie de claustrofobia, eu preciso de espaço, preciso que esse homem
saia de cima de mim.
Me sento rapidamente.
Ele se inclina sobre mim, me afasto sentindo aquele perfume delicioso em
minhas narinas.
Vejo-o digitando algo no computador, a tela inicializa, ele volta a se afastar e
me olha.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas, essas coisas! –
Ele coloca suas mãos ao redor de sua cintura. – Você vai pegando o jeito aos
poucos, fique tranquila. As coisas mais complicadas eu passo diretamente
para os advogados, você será mais uma assistente...
Não sei se é só impressão minha, mas ele parece meio nervoso.
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo para vermos
algumas pendências. Por enquanto, atenda ao telefone, anote os recados, e se
for algo urgente, você pode me chamar por este botão aqui. – Ele pressiona
uma tecla no telefone, e ouço o telefone de sua sala tocar.
– Ok! – Balanço minha cabeça.
– Bom, por enquanto é isso. – Ele vira de costas e sai como um furacão.
Solto o ar que estava preso em meu peito.
Jesus, o que aconteceu aqui?
****

Estou há uma hora sentada nesta mesa sem absolutamente nada para fazer.
Ouço a vibração do meu celular na bolsa, o pego discretamente, e vejo que é
a Carolina.
– Oi, Carol! – falo meio cochichando.
– Desculpe, Jack, eu não consegui voltar para falar com você. Mas e aí,
como foi a entrevista? – ela diz com voz de culpada.
– Uma merda! Como você imaginou que seria? – falo com sarcasmo.
– Jack, você não mentiu como te falei? O que custa contar uma historinha,
poxa?!
– Eu não contei uma historinha, mas consegui o emprego! – Sorrio
discretamente.
– O que?! – ela fala exaltada. – Como assim, mas já?!
– Sei lá, Carol, o homem pediu para eu fazer uma experiência, o que eu iria
dizer? Eu topei, e estou aqui, nem sei por onde começar! – falo nervosa.
Ela dá uma risada escandalosa.
– Caramba, Jack, não sabia que você era poderosa desse jeito! – Ela
continua rindo. – O que você fez para o insuportável do meu chefe te
contratar assim, do nada? Você mostrou seus peitos para ele?! – ela ri
escandalosamente.
Penso em contar que de alguma forma eu já mostrei meus peitos para ele,
mas desisto, a Carolina é muito escandalosa.
– Carol, por favor, me poupe – falo sem paciência. – Confesso que estou
meio apavorada, não sei se isso vai dar certo!
– Jack, fique sabendo de uma coisa, se ele te contratou é porque ele gostou
de alguma coisa em você, não sei se é essa comissão de frente que você tem,
ou a de trás, ou sua lábia, amiga. Então, esquece essa parte de “eu acho que
não vai dar certo”! – ela fala com ironia. – Parabéns, e boa sorte, querida!
E saiba de uma coisa, esse homem parece um trator desgovernado.
– Obrigada pelo conforto, isso vai me ajudar muito! – Sorrio amarelo.
– Vamos almoçar juntas? – ela sorri. – Eu pago, sua dura, eu sei que você só
tem dinheiro para hot-dog! – Ela continua rindo.
– Tudo bem, te espero, tá? Beijos e obrigada.
Capítulo 5
RUI FIGUEIREDO
Flashback on

T ermino de me arrumar e sigo para o elevador.


Confesso que hoje é um dia daqueles que eu gostaria de sair para beber
com os amigos, ver mulher bonita e me divertir, a última coisa da lista seria
jantar com a Priscila.
Isso pode parecer meio irônico, estamos há alguns meses para nos casarmos,
eu não poderia me sentir assim, iremos dividir o mesmo teto, mas o fato é que
me sinto desmotivado, cansado e desgastado de nosso relacionamento.
Tudo poderia ser facilmente resolvido, era só dar um basta nisso, não sou um
cara dado a sentimentalismos ou arrependimentos. Mas a questão é que seu
pai é meu sócio, e se existe uma grande burrada que fiz na minha vida, foi me
envolver com a filha do meu sócio.
Eu sou um grande idiota.
Construí esse escritório do nada, aí veio a oportunidade de me unir ao melhor
escritório de advocacia da região, pertencente a um grande ex-juiz, o Doutor
Albuquerque, e então tudo começou.
A Priscila é uma jovem advogada, linda e brilhante, no começo me encantei
com ela, começamos a nos relacionar, aí de repente tudo ficou sério, temos
uma diferença grande de idade, ela tem 23 anos e eu tenho 35. Eu não queria
nada sério, mas tudo aconteceu de uma forma que não consegui controlar, ela
é jovem, mas muito astuta, e quando vi, já estava enrolado até o último fio de
cabelo.
A sociedade com seu pai de alguma forma me forçou a assumir este
compromisso, e agora estamos de casamento marcado, e eu mal sei como
cheguei a essa situação.
Estou entretido trocando mensagens com uma periguete que saio de vez em
quando, só para desestressar e aliviar a tensão, quando o elevador para.
Não me dou ao trabalho de olhar quem entrou, mas o perfume que sinto me
chama a atenção, é suave, muito feminino e marcante, então levanto meus
olhos e vejo uma deusa a minha frente.
Pela sua expressão a noite não foi muito boa, e pelo estado de sua roupa ela
saiu às pressas, deixando para mim a bela visão de seu espartilho, um par de
peitos pelo quais eu daria um milhão de reais para me afogar neles, e todo o
resto.
Caralho, que mulher gostosa!
Subitamente o elevador para, as luzes apagam, mas rapidamente a luz de
emergência acende.
– O que foi isso?! – ela diz assustada, saindo um pouco do seu estado de
transe, pelo visto a briga foi feia!
– Provavelmente acabou a energia elétrica – respondo, e ela me olha, e não
consigo deixar de notar o quanto ela é bonita, sensual.
Seus olhos levemente puxados dão a ela um ar exótico, assim com sua boca
grande e carnuda.
Como ela é linda!
– Talvez devêssemos ligar para o bombeiro? – ela diz nervosa, olhando para
seu celular.
É impressionante como as mulheres são desesperadas de nascença.
– Eles devem estar ligando o gerador, tenha calma! – Olho para ela, mas não
consigo desviar meus olhos dos seus seios, é a visão do paraíso, caralho!
Ela desvia os olhos de mim, nem percebeu o estado de seu vestido, mas
também não vou avisá-la, não agora, preciso olhar mais um pouco para ela e
imaginar o que seria tê-la na minha cama.
Estou num estado de enfeitiçamento, se ela não estivesse tão brava eu poderia
tentar conhecê-la, quem sabe esticar um pouco a noite, e que se fodesse a
Priscila.
Finalmente, ela volta a olhar para mim, com aquele olhar de gata selvagem,
não deu tempo de disfarçar, ela me pegou secando cada pedacinho do seu
corpo, essa mulher é uma loucura.
– O senhor está com algum problema, ou é tarado mesmo?! – Tenho vontade
de rir do seu jeito, e acabo rindo.
A cena é lamentável, eu e ela sozinhos num elevador quebrado, ela seminua
na minha frente, e eu tendo que fingir ser bom moço.
– Não contei nenhuma piada, e se você não parar de olhar para o meu decote,
vou sentar a mão na sua cara!
Sério, ela é muito brava, me deixe explicar a situação antes que eu apanhe
aqui dentro.
– Desculpe, mas é que a senhora se esqueceu de fechar o vestido! – falo
educadamente, usando meu português perfeito, e tentando segurar meu riso,
mas tá difícil.
– Feche os seus olhos, eu preciso arrumar meu vestido – ela diz
nervosamente, tentando arrumar o vestido, e segurá-lo para que eu não veja a
sua lingerie.
Sorrio mais, eu já vi tudo, o vestido estava completamente aberto. Vi sua
calcinha, a meia liga, suas pernas, tudo o que ela está tentando esconder de
mim.
– Eu já vi tudo, mas se você prefere assim... – Viro de costas, apenas para não
a deixar ainda mais constrangida.
Se ela soubesse o prazer que eu estava em vê-la na minha frente, ela não se
esconderia de mim, e de meu pau que está duro por sua causa.
– Pronto, posso me virar?! – falo cinicamente.
– Pode! – ela responde ainda nervosa.
Me viro e olho para ela, tento ser discreto, dou apenas um olhar discreto, mas
não consigo deixar de sorrir, ela realmente é uma mulher encantadora.
Um novo tranco e o elevador volta a funcionar, e é uma pena, de repente eu
poderia tentar conhecê-la.
Sinto uma trepidação no celular, o pego no bolso e vejo que a Priscila deixou
uma mensagem.
Ela é o tipo de mulher pegajosa, carente e ciumenta, apenas alguns minutos
de atraso já geram um estresse desnecessário. Se ela soubesse o quanto estou
de saco cheio dela!
Digito rapidamente uma resposta:
“Priscila, estou preso no elevador do prédio, mas que eu saiba não temos
nenhum compromisso, só iremos jantar, não sei por que desse estresse todo.”
Dou um enviar e volto a olhar para a gata selvagem e a encontro me olhando,
é como se não conseguíssemos desviar os olhos um do outro, ela é muito
sedutora, impossível não me se sentir atraído por ela.
O elevador chega ao térreo, a deusa do espartilho vermelho sai sem nem se
despedir de mim, mas pelo menos consegui ter uma visão de sua parte de
trás, ela é realmente um espetáculo de frente, de lado, e de ré.
Que caralho de mulher gostosa! – falo sozinho no elevador, que já chegou à
garagem, enquanto arrumo meu pau dentro da calça.
Saio do elevador, entro rapidamente em meu carro, e como se o destino
estivesse conspirando ao meu favor, lá está ela, parada mexendo
nervosamente em seu celular.
Quem será o babaca que dispensou essa deusa?
Mesmo contra todos os alertas que me dizem para não fazer isso, eu faço,
paro o carro ao seu lado e pergunto:
– Tudo bem? Precisa de uma carona?
Ela me olha confusa, com aquela boca deliciosa semiaberta.
Caralho, que porra de tesão louco é esse que estou sentindo por essa mulher?!
– Eu... – Ela começa a falar, mas a merda de seu celular toca.
Mas que merda, que porra de azar!
– Não, obrigada! – Ela curva suavemente seus lábios, eu ainda não a vi
sorrindo, mas ela deve ficar linda sorrindo.
Não há muito que fazer, aliás, não sei o que de fato eu queria fazer, a porra da
Priscila está me esperando faz uma hora...
Sorrio para ela e sigo meu caminho.
****

Acordo assustado, olho no meu celular e percebo que perdi a hora.


Olho ao meu lado e vejo a Priscila, reviro meus olhos e bufo exausto.
Ontem, nossa noite foi um inferno, brigamos até não podermos mais. Por fim,
jantamos em seu apartamento mesmo, depois demos uma trepada sem graça,
peguei no sono e acabei ficando por aqui.
Talvez o encontro com aquela mulher tenha me deixado meio desnorteado,
perdi a paciência com a Priscila, brigamos, pedi para darmos um tempo, ela
se desesperou, chorou feito uma louca, e por fim, tudo acabou em sexo.
Minha vida está uma merda!
Agora a Priscila está dormindo como um anjo, mas quem a conhece sabe que
essa aqui é o demônio em pessoa.
Meu Deus, onde fui me amarrar? Ela é igual a sua mãe, uma piranha nojenta
que chifra seu pai até hoje, provavelmente a Priscila será igual. Não sei como
me livrar dessa mulher sem acabar com minha sociedade com seu pai.
Ok, preciso me levantar e ir para o escritório, pego minha roupa no chão e
começo a colocá-la rapidamente, ainda quero voltar para casa, tomar um
banho decente e ir para o escritório.
Olho a agenda do celular, preciso ver se tenho algum compromisso. Estou
fodido, a porra da secretária resolveu dar à luz antes da hora, e a outra
secretária não poderá começar essa semana.
Já arrumei uma secretária, uma profissional experiente, acostumada com a
rotina de um escritório de advocacia. Sou um cara exigente, preciso de
alguém a minha altura para me auxiliar.
Olho para agenda e vejo a merda de uma entrevista.
Bufo irritado e olho para o teto.
– Por que fui marcar essa entrevista? Eu já escolhi uma secretária, cacete! –
falo em pensamento.
Mas, me lembro de que foi a Carolina que me pediu para entrevistar sua
amiga. Ela insistiu tanto, e como é uma das minhas melhores advogadas, quis
fazer um agrado para ela, só para não deixá-la chateada, mas eu já sabia que
não iria dar certo, a profissional para essa vaga já foi escolhida.
– Ok, foda-se. Vou chegar atrasado, a garota que espere! – penso alto, pego
minhas coisas e saio sem me despedir da Priscila.
Chego rapidamente ao meu apartamento, tomo um banho rápido, me arrumo
e sigo apressado para pegar meu carro.
O elevador desce, e de repente para no andar que aquela mulher de ontem
entrou, um cara entra e me olha.
– Bom dia! – falo educadamente.
Ele responde com um rosnado, parece que está meio chateado com a briga de
ontem. O analiso enquanto estamos no elevador. A minha deusa do espartilho
vermelho é muita areia para esse caminhãozinho, ele não tem jeito que
aguenta o tranco de uma mulher como aquela, eu conheço mulher, e aquela
deve ser um furacão na cama.
Abaixo a cabeça e sorrio, quem sabe eu a encontre novamente depois de uma
briga com esse pangaré, e aí resolvo o problema dela, pelo pique desse cara
ela deve estar bem mal comida.
Logo estou em meu carro a caminho do escritório, o trânsito está um caos!
Olho repetidamente no meu relógio, tenho um monte de coisas para fazer, e
sem secretária será um inferno.
Após longos minutos, estaciono meu carro em uma das vagas do escritório.
Depois de anos pagando aluguel, hoje tenho minha sede própria, construída
por mim, quero dizer, pelo meu dinheiro.
Me sinto realizado, a sociedade com o Doutor Albuquerque foi muito
vantajosa, trouxe muitos clientes, e algumas facilidades. Ele é um ex-juiz
influente, é sempre bom ter uma parceria com uma pessoa como ele.
Entro na recepção e logo vejo o sorriso largo e de devassa da recepcionista.
Linda e vadia! Adora quando a chamo para um almoço, tipo executivo, é
claro!
– Bom dia, Karen!
– Bom dia, Doutor Rui! O senhor tem uma moça para entrevistar em sua sala,
a Carolina que trouxe – ela diz me seguindo até as escadas.
– Ok, obrigado! – falo apressado, não estou com muito tempo, pelo visto ela
achou que eu marcaria algo para hoje.
Olho novamente no relógio, estou atrasado pra cacete, com um monte de
coisas atrasadas, minha vida está um inferno!
Maldita secretária! Por que foi engravidar, porra?!
Entro na recepção que antecede minha sala, mal vejo a moça que está
sentada, entro com pressa. Antes de qualquer coisa, preciso liberar algumas
coisas pendentes de assinatura, não posso perder tempo com alguém que não
me interessa.
Assino rapidamente alguns documentos, mas é melhor atender logo essa
mulher e dispensá-la, assim acabo com essa agonia.
Olho o papel que a Carolina colocou sobre minha mesa com o nome da moça,
e chamo-a alto.
– Jackeline Bartolli!
Percebo-a entrando pelo barulho da porta, mas não me dou ao trabalho de
parar com o que estou fazendo.
– Pode entrar – digo enquanto assino os documentos.
Vejo pelo canto de olho que ela está parada em frente à minha mesa, então
falo:
– Sente-se! – levanto meu olhar e não acredito no que estou vendo. É ela, a
minha deusa do espartilho vermelho.
Ficamos nos olhando durante alguns segundos, acho que ela está tão surpresa
quanto eu, é lógico, não tinha como sabermos sobre isso, era impossível.
Ok, não posso fingir que não nos encontramos. Por mais constrangedor que
tenha sido, a gente se conhece, da pior forma possível, mas a gente se
conhece.
Bem, acho melhor agir com profissionalismo, aqui é meu escritório, eu até
posso ter ficado empolgado ontem com ela, mas uma coisa não tem nada a
ver com a outra.
– Deu tudo certo ontem? Quero dizer, arrumou um táxi ou uma carona? –
digo seriamente, tentando colocar um pouco de moral na minha fala.
– Sim, deu tudo certo – ela responde séria, e talvez um pouco constrangida.
Ok, essa surpresa me deixou um pouco tonto. Tento recobrar a minha linha
de raciocínio, mexo nos papéis sobre a minha mesa, e então volto a olhá-la.
– Me fale um pouco sobre você, sua experiência profissional.
Ela se mexe nervosamente na poltrona, mexe em sua mão, ela está nervosa, é
lógico que está. Eu também estou um pouco, não vou negar.
– Talvez eu não seja a pessoa certa para esse cargo, estou aqui por insistência
da minha amiga. – Ela diz de uma forma meio apavorada, talvez tenha sido a
surpresa de me encontrar.
– A Carolina? – pergunto por perguntar, eu sei que foi a Carolina. Mas vamos
lá, já que ela está aqui, por que não entrevistá-la?
– Isso, ela mesma – ela responde mostrando desconforto.
– Você não quer nem mesmo tentar, já está desistindo?! – Insisto, não sei
muito bem o que quero com isso, eu não posso contratá-la. Mas a questão é
que preciso conhecer essa mulher, nem se for para passarmos pelo menos
uma noite juntos.
Continuo a olhando com firmeza e já percebo seu desconforto, eu sei que sou
assim, consigo deixar as pessoas acuadas apenas com um olhar, essa é uma
das minhas armas da profissão.
– Sou formada em Psicologia, trabalhava em consultórios como terapeuta,
nunca trabalhei de secretária.
Continuo a olhando, estou fascinado por essa mulher, mas ela não é o tipo
que se entrega facilmente, ou que esteja se derretendo por mim, não dá para
dar uma cantada nela e marcar para nos vermos hoje à noite.
Eu preciso de tempo para conquistá-la...
– Certo. – Tento pensar em algo, mas que porra, o que vou dizer para ela:
“Vamos sair hoje à noite? Eu como você, passa a minha vontade e aí te deixo
em paz”?
– Não gostaria de tentar? – falo do nada.
Tentar o que?! Eu já contratei a porra da secretária...
Caralho, eu sei que parece loucura, e quem está tomando as rédeas dessa
conversa é minha cabeça de baixo, eu não estou racionando direito com essa
mulher a minha frente.
Ela me olha confusa, deve ser confuso mesmo ser contratada dessa forma, e
então abre levemente aqueles lábios carnudos e vermelhos, e tenho vontade
de agarrá-la aqui mesmo.
– Claro que quero. Eu perdi meu emprego, não estou em situação de me
negar a trabalhar. – ela responde de olhos baixos, então vejo os botões de sua
camisa abertos, provavelmente eles abriram agora, eu não deixaria de
perceber isso. Ela nota que estou olhando e os fecha nervosamente.
Uma maldita ereção cresce no meio das minhas pernas. Caralho, o que está
acontecendo comigo?!
Levanto, sigo para a janela, preciso espairecer, mas a verdade é que estou
louco por essa mulher.
– Quer fazer uma experiência, Jackeline? – falo contra todos os alertas que
dizem que não posso contratá-la, eu já contratei outra mulher. Mas quer
saber, foda-se, eu quero a Jackeline, o pessoal do RH que se vire com a outra
secretária.
– Quero, claro que quero! – ela responde mostrando surpresa.
– Você pode começar hoje se quiser. Minha secretária irá ganhar bebê, ela
não vem mais. – Nem eu acredito que estou fazendo isso, volto a sentar, olho
para ela, e tomo um pouco de água para me acalmar. Acho que estou fazendo
uma grande burrada, mas depois a gente conserta isso.

– Oh! – Mais uma vez aquela boca linda se curva de um jeito que imagino
milhares de coisas, pornográficas basicamente. – Tudo bem, mas não terá
ninguém para me explicar o serviço?
– Eu, eu irei te explicar o serviço. – Tento conter o sorriso que se formou
dentro de mim, ela não sabe a burrada que estou fazendo contratando-a.
– Claro, você, isso é óbvio! – ela fala nervosamente, pelo visto a deixo
nervosa, e isso é bom, adoro saber que provoco coisas nela. – Ok, então, por
onde começo?
Me levanto, penso um pouco, nem sei por onde começar com ela, mal sei o
que a antiga secretária fazia.
Foda-se! Sigo em direção à porta, abro-a e me dou conta que ela continua
sentada.
– Vamos, Jackeline!
Fico admirando-a enquanto ela caminha até mim, ela não é uma mulher
tímida, mas eu a deixo sem graça. Hoje ela está bem-comportada, mas não
menos gostosa, a calça marca bem suas curvas, ela é o tipo de mulher que dá
para derrapar e se arrebentar todo, tem mais curvas do que a estrada Rio-
Santos.
– Você ficará aqui – digo muito próximo a ela, sentindo seu cheiro gostoso,
suave.
Ela não é tipo de mulher que se lambuza de perfume, seu cheiro é suave,
frutado, cheiro de mulher, de fêmea.
O meu pau volta a pulsar dentro da minha boxer, que tesão essa mulher me
provoca, isso é insano.
– Tudo bem! O que devo fazer? – Ela me olha intensamente, mal eu sei o que
dizer para ela, quero dizer, eu poderia ir direto ao assunto, mas não pegaria
bem.
– Bom, por enquanto, nada. Sente-se. – Puxo a cadeira para ela.
Inicializo o seu computador, nem eu sei por onde ela deve começar, mas
enfim, depois a gente vê isso.
– Talvez eu precise que você faça algumas ligações, cartas, essas coisas.
Você vai pegando o jeito aos poucos, fique tranquila, as coisas mais
complicadas eu passo diretamente para os advogados, você será mais uma
assistente...
Caralho, que merda que estou falando, e... fazendo?!
– Bom, eu preciso resolver algumas coisas, depois te chamo para vermos
algumas pendências. Por enquanto, atenda ao telefone, anote os recados, e se
for algo urgente, você pode me chamar por este botão aqui. – Mostro para ela
o botão do telefone, estou me sentindo um idiota.
– Ok! – Ela balança a cabeça em entendimento.
– Bom, por enquanto é isso. – Me viro e volto para minha sala o mais rápido
possível, preciso resolver o problema que criei, eu não preciso de duas
secretárias.
Sento em minha mesa e disco o telefone do responsável pelo RH.
– Ferreira, é o Rui! – falo depressa.
– Bom dia, Doutor Rui! Como vai?
Interrompo-o, ele fala demais.
– Eu preciso que você cancele a contratação daquela moça que escolhi para
ser minha secretária...
Ele gagueja.
– Mas Doutor Rui, fizemos tantos testes nas candidatas, e você disse que
aquela era a ideal... – ele diz indignado, e eu sei que ele tem razão, eu estou
ficando louco...
– É, eu sei, mas é que arrumei uma outra candidata, muito melhor, ela é mais
preparada para o que preciso. Enfim, dispensa a outra, e entra em contato
com a Jackeline, é esse o nome dela. Ela já começou hoje, é só ligar na mesa
dela, pedir seus documentos, informá-la sobre salário, benefícios... Bom,
você sabe como é o trâmite.
– Ok, já que o doutor prefere assim... – ele fala desanimado, mas eu o
entendo.
Fiz o coitado selecionar 30 garotas, e agora escolho uma que ele nem viu na
frente, realmente não sou mais o mesmo.
– Isso, eu prefiro assim. Bom dia, Ferreira... e não esquece de falar com a
Jackeline! – Desligo o telefone, e inspiro.
Eu sei que estou fazendo uma merda do tamanho do mundo, e mal sei por
que estou fazendo isso!
Esfrego meu rosto e olho para o teto.
– Quando a Priscila vir a Jackeline, ela vai ter um treco! – Fecho os olhos e
inspiro.
Capítulo 6
JACKELINE BARTOLLI

M euCarolina.
celular vibra em minha bolsa, o pego rapidamente e vejo a foto da

– Oi, Carol! – cochicho.


– Desce, Jack. Estou te esperando na recepção, vamos almoçar! – ela diz
rapidamente.
– Preciso pedir para o meu chefe, você não acha? – falo insegura.
– Avisa, Jack. Aproveita e já verifica como será o seu horário de almoço,
essas coisas... – ela diz sem paciência.
– Tá bom, até daqui a pouco! – Desligo a ligação, e coloco o celular no
bolso.
Céus, como tudo é difícil se tratando desse homem! – penso agoniada.
Tudo bem, ele é seu chefe, Jackeline! – falo para mim mesma. – É só bater na
porta e dizer que irá almoçar, não parece tão difícil assim. – continuo falando
sozinha, já me disseram que psicólogos são todos meio loucos, e tenho que
concordar.
Me levanto vagarosamente, checo os botões da camisa, arrumo a calça, o
blazer, e sigo para a porta de sua sala.
Dois toques na porta e ouço o vozeirão dele, um arrepio passa pelo meu
corpo. Ele tem uma voz linda! Adoro homens com voz grossa,
principalmente na hora do “rala e rola”.
Empurro a porta vagarosamente e o vejo em sua mesa, ele está usando óculos
de grau, o que o deixa ainda mais sexy, aliás, tudo fica sexy nesse homem.
– Com licença! – falo com cuidado.
Ele me olha sobre seus cílios.
– Pode entrar, Jackeline. Não precisa de tantas formalidades quando precisar
falar comigo! – ele diz secamente.
– Ah, claro, me desculpe! – falo sem graça.
Entro, fecho a porta e caminho até sua mesa. Ele levanta seu olhar, encosta-se
a sua cadeira e fica me encarando.
Sério, esse homem me deixa nervosa.
– Pode falar! – ele diz finalmente.
– Você precisa de alguma coisa? – pergunto insegura.
Ele parece pensar um pouco e então diz:
– Não, agora não. Talvez mais tarde, gostaria de passar algumas coisas para
você fazer... – Ele tira seus óculos, e volta a me olhar.
– Bom, então, posso almoçar? – falo timidamente. – Vou rapidamente, daqui
a pouco estou de volta.
Me sinto patética.
– Ok. – Ele balança sua cabeça. – Você tem uma hora de almoço, não precisa
correr. – Ele se inclina sobre sua mesa. – Senta um pouco, Jackeline.
Novamente aquele gelado no estômago.
Me sento rapidamente, checo os botões da camisa, e quando o olho, ele está
com um sorriso torto no rosto.
– A camisa não é minha, está um pouco apertada! – falo em desatino. Aliás,
por que estou dando satisfações a ele?
Ele sorri, um sorriso contido, sem mostrar seu piano lindo e branquinho.
– Está tudo bem? Alguma dúvida? O Ferreira já conversou com você? – ele
diz rapidamente.
– Ferreira, não. Quero dizer, um homem me ligou do departamento pessoal, e
pediu para eu ir ao RH às 15h – respondo.
– Perfeito! – ele se estica em sua cadeira, mostrando seu belo tórax e bíceps,
através da camisa branca que se ajusta perfeitamente ao seu corpo. – Estou
meio enrolado hoje, me desculpe se não estou conseguindo te dar atenção.
– Imagine, fique tranquilo – falo embaraçada.
– Gostaria que você passasse o período da tarde comigo, assim vou
explicando para você as coisas, enfim, como funciona o escritório.
Engulo em seco, é muita tentação passar horas ao lado desse ser pecaminoso.
– Tudo bem, então... – Me levanto. – Estou saindo agora. – Tento sorrir, mas
fico muito sem graça ao lado dele.
– Bom almoço, Jackeline! – Ele sorri levemente, coloca seus óculos e volta
seus olhos ao que estava fazendo.
Suspiro aliviada e sigo para encontrar com a Carolina.
****
Seguimos a pé até um restaurante próximo ao escritório. Olho
demoradamente a fachada do lugar, é muito chique para o meu gosto.
– Carol, aqui parece um pouco caro para um horário do almoço. Por que não
vamos a um lugar mais simples? – falo incomodada.
– Jack, hoje eu pago, vamos comemorar seu novo emprego! Se sinta feliz, e
pare de orgulho, sua caipira!!! – ela diz desaforada.
Enrugo minha testa.
– Você é bem grossinha, Carolina! Não quero que você gaste comigo! – falo
chateada.
Ela puxa meu rabo de cavalo, e beija meu rosto.
– Pare de ser boba! Seu namorado não costuma te levar a restaurantes chiques
como este? – ela diz enquanto esperamos o garçom nos atender.
Reviro meus olhos. Acho que a última vez que ele me levou a um restaurante
foi em seu aniversário, com a companhia de sua ilustre mãe e irmã, as duas
insuportáveis da família.
– Não, Carol, ele não me leva em nenhum lugar. Quero dizer, temos ido à
padaria do seu bairro, mas é uma padaria bem chique! – falo pensativa.
Ela me olha de soslaio.
– Eu não suportaria esse cara por um dia sequer, muito menos por quatro
anos. Mas já que você não tem amor próprio, siga em frente. Saiba que você
só está perdendo tempo, ele nunca vai assumir um relacionamento com você.
– Ela me olha com firmeza.
– Eu sei, não precisa repetir isso o tempo todo – bufo cansada.
– Continuarei falando, você é tipo criança, só aprende por osmose! – Ela
sorri.
Logo estamos sentadas em uma mesa, pedimos nossos pratos e conversamos
animadamente. Sempre temos muitos assuntos, apesar da preferência sexual
da Carol, adoramos conversar, inclusive sobre seus casos, eu acho tudo muito
engraçado.
– Como é mesmo o nome dela, Carol? – pergunto novamente, eu sei que ela
disse o nome de seu caso mais recente, mas não prestei atenção.
– Mirela, Jack, Mirela! Você está com Alzheimer?!
Dou risada, acho o jeito da Carolina muito engraçado, ela é meio cômica em
tudo que fala.
– Mas, e aí, a transa é legal?! – pergunto curiosa.
– Legal? É do caralho, Jack, ela é um furacão!!! – Ela gargalha.
Reviro meus olhos, não sei como mulher com mulher pode ser um furacão,
mas enfim...
– Que ótimo! – falo sem muita empolgação.
– E o sexo com o Renatinho, como anda? – ela diz irônica, entre uma garfada
e outra.
– Sinceramente? – A olho de lado. – Sem graça, sem paixão, sem pegada! –
falo com desânimo.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro.
– Se o sexo ainda fosse bom, eu entenderia, mas nem o sexo é bom, Jack! –
ela diz indignada.
– Acho que ele fez macumba pra mim, não sei o que me prende a ele – falo
aflita.
– Eu já disse, você tem medo. Medo de não encontrar mais ninguém, de ficar
sozinha, e de virar motivo de chacota para suas velhinhas! – ela diz me
encarando com seus olhos castanhos enormes.
– Talvez – respondo, mas antes que possa continuar nossa conversa, vejo
aquele homem lindo entrando no restaurante, e fico meio abobada.
– O que foi? – Ela vira seu pescoço e olha na direção que estou olhando. –
Oh, nosso chefe, ele é muito gato! Mas não se empolga, Jack, ele tem dona, e
apesar de jovem, essa aí é cobra venenosa.
Então, me dou conta que ele está acompanhado. Ela é alta, magra, os cabelos
claros, mas à custa de muitas luzes, está vestida com um tailleur impecável,
saia e blazer na cor marfim. Ela é muito elegante, bonita...
– Não estou me empolgando! – falo sem graça, tentando desviar meus olhos
deles, mas não consigo, quero ver o rosto da garota.
– Certo, mas eu te conheço muito bem, Jack, e você está babando pelo Rui! –
Ela sorri, jogo um pedaço de pão em sua cara, ela desvia e ri. – Eles estão de
casamento marcado, e namoram há pouco mais de um ano, mas eu sei o
motivo, o Doutor Rui se associou ao pai da arrogante. O Doutor Rui não dá
ponto sem nó, ele é muito ambicioso.
Desvio meu olhar do casal, olho para a Carol um pouco surpresa.
– Sério? Ele é interesseiro, é isso?! – falo feito uma boba inocente.
– Não, o escritório sempre foi dele, mas ele se associou ao Doutor
Albuquerque para crescermos, e está dando certo. Ele não está dando o golpe
no baú, mas é um homem objetivo, se casar com a filha do seu sócio parece
bem atraente, ajuda nos negócios.
Olho de canto de olho para eles, o clima não parece muito romântico, ele está
sério, enquanto ela fala sem parar.
Reparo um pouco na garota, ela é bem jovem, deve ter por volta de 25 anos.
Ela tem rosto perfeito, nariz pequeno, boca pequena e olhos azuis, grandes e
lindos.
Seu corpo é o meu sonho de consumo, magra, seios pequenos, quadris
pequenos e pernas longas e esguias.
Me sinto uma baleia perto dela.
– Jack, pare de olhar para eles!!! – Desperto de meu desatino invejoso, me
odeio quando fico invejando outras mulheres. Cada uma tem sua beleza, é
assim que minha santa mãe sempre diz.
– Ela é linda, Carol! Você não acha? – As palavras saem da minha boca sem
que eu tenha controle.
– Você é linda, Jackeline! Prefiro sua beleza a dela, ela é sem graça, parece
uma boneca andrógena. Você não, Jack, você é exótica, misteriosa! – Ela me
olha intensamente.
– Ando me sentindo tão feia, Carol! Acho que estou depressiva, não gosto de
nada em mim. – Sinto as lágrimas virem aos meus olhos.
– Jackeline Bartolli, quer parar com isso? – ela diz furiosa. – Sabe quem te
deixa assim? – Seu namoradinho, aquele gay enrustido, e sua tia esclerosada.
Jack, se der tudo certo neste emprego, vá morar sozinha, pelo amor de Deus,
e largue aquele traste.
Olho assustada para ela.
– Gay enrustido?!
– Pra mim, seu namorado queima a rosca de vez em quando. Que homem não
se empolgaria com uma mulher como você ao seu lado? – Ela me olha com
carinho. – Você é linda, gostosa, inteligente, gentil, companheira, atura
aquele mosca morta há quatro anos...
– Carol, eu não sou tudo isso! Sou chata, mal-humorada, tenho uma TPM
filha da puta, não consigo parar em um emprego! – falo desanimada. – Só
você e minha mãe me acham o máximo, não sou tudo isso!
Ela revira seus olhos.
– Vamos mudar de assunto, odeio quando você fica nesse baixo astral. – Ela
volta a comer, e volto a olhar para o casalzinho.
Eu realmente não tenho interesse nele, apesar de lindo, gostoso e sexy, eu sei
que não temos nada a ver, é só coisa de mulher, temos a mania de fantasiar
coisas. Toda mulher fantasia um encontro ardente, principalmente quando
encontramos um homem como este.
Sorrio.
Eu só quero o emprego, e quem sabe fazer tudo que a Carolina me sugeriu.
Seria bom dar uma reviravolta em minha vida, mudar os ares, as pessoas, de
repente isso me faria bem.
****
Procurei terminar nosso almoço sem olhar novamente para a mesa do Doutor
Rui, realmente ando insuportavelmente de baixo astral.
Caminhamos em um silêncio confortável em direção ao escritório, então
quebro o silêncio.
– Carol, não sei que roupa vestir amanhã! – Olho para ela. – Você sabe, me
visto parecendo uma artista plástica. – Torço meus lábios. – Não tenho
roupas para trabalhar num lugar sofisticado como este.
Ela me olha longamente.
– E se fossemos hoje à noite fazer umas compras? Pelo menos para você
sobreviver até o seu pagamento.
A olho desanimada.
– Carolzinha, eu estou quebrada, não tenho limite nos meus dois cartões,
estou com as faturas atrasadas, e usando o limite da minha conta corrente.
Estou na lama, não posso gastar mais nada!
A que ponto cheguei! Estou falida, completamente falida!
– Jack, aonde vai seu dinheiro? Sua tia, sua avó e sua mãe são aposentadas, o
que acontece que você vive fodida?! – ela diz exaltada.
– Carol, não sei se você me entende, mas não posso ficar pedindo dinheiro
para minha avó e para minha tia para pagar as contas. Só minha mãe me
ajuda, e ela ganha uma miséria de aposentadoria.
– Como assim, elas moram no apartamento que seu pai deixou para você e
para sua mãe, e elas não precisam ajudar você em nada?
– Oh, Carol, isso é tão complicado, elas são idosas!
– Ok, Jack, não posso me meter na vida de vocês, mas para mim aquela sua
tia não tem nada de esclerosada. Ela é muito esperta, pega a pensão dela e de
sua avó e enfia no bolso, e deixa vocês duas se ferrando. Odeio aquela velha!
– ela diz possessa.
– Vou pedir para minha mãe falar com elas, já pedi outras vezes, mas parece
que nunca dá certo. Estou de saco cheio de tudo, Carol! – falo sem paciência.
Ela coloca a mão em sua testa.
– Eu vou comprar algumas roupas para você, e você me paga quando puder.
Tudo bem assim? – Ela me olha com carinho.
– Não, não está tudo bem! – Fecho a cara. – Vou me virar com o que tenho,
quando receber renovo meu guarda-roupa, não posso dever para mais
ninguém, Carol! – falo chateada. – Estou devendo uma grana para o Renato,
acho que está de bom tamanho!
– Ele não deveria cobrar nada de você, amiga! – Ela me olha chateada. – Ele
está bem pra cacete, é o controller de uma empresa, você tem ideia quanto ele
ganha?!
– Não, não tenho ideia, ele não fala sobre essas coisas comigo, mas não
somos casados, certo? Não faz sentido o cara pagar minhas contas.
– Eu já paguei as contas de muitas namoradas. Quando eu amo, eu faço
qualquer coisa pela pessoa, é assim que funciona o amor! – Ela me olha
intensamente.
Às vezes acho a Carol meio esquisita, mas melhor não pensar sobre isso.
– É, cada pessoa ama de um jeito, Carol. O Renato me ama daquele jeito
meio rústico! – Balanço a cabeça.
– Daquele jeito meio ogro, você quer dizer! – Ela ri.
Dou risada.
– Sim, ele é um ogro!!! – Passo minha mão por sua cintura a abraçando e
seguimos em direção ao escritório, do mesmo jeito que fazíamos desde os
nossos sete anos de idade.
Capítulo 7
RUI FIGUEIREDO

A vejo saindo de minha sala, e aproveito para admirar seu belo traseiro
redondo e arrebitado.
Fico a imaginando sem roupa, deve ser uma loucura! E mais uma ereção fora
de hora, estou me sentindo um garoto de 20 anos, mas que porra!!!
Tento voltar minha atenção para o processo que estou analisando, ela me
tirou o foco, e estou quase chegando à conclusão que ela como secretária não
dará muito certo.
Advogado precisa de atenção, uma secretária feia e silêncio.
Ok, vou terminar de ler isso e irei almoçar. Se pretendo passar a tarde com
minha deusa do espartilho vermelho ao meu lado, preciso acabar de ler essa
porra, ou estarei arruinado.
Mais alguns minutos, o celular toca e o olho de relance. A foto da Priscila
trepida em minha mesa, e minha paciência também.
– O que ela quer agora, porra?! – penso alto.
Atendo em viva voz.
– Oi, Priscila! Qual o problema?
– Oi, amor! Que tom é esse? Parece que está falando com uma
desconhecida! – ela diz num tom magoado.
Bufo cansado.
– Desculpe, é que estou enrolado analisando um processo, gostaria de
terminar isso antes de sair para o almoço. – Giro meu pescoço de um lado
para o outro, estou tenso pra cacete, preciso de uma massagem, e a visão da
Jackeline de espartilho volta a minha cabeça.
Estou obcecado por essa mulher, completamente doente.
– Bom, tenho uma notícia, não sei se é boa ou ruim, estou chegando ao seu
escritório, pensei em almoçarmos juntos, faz tempo que não fazemos isso! –
ela diz carente. – Desculpe por ontem, Rui, ando tão insegura, estressada
com nosso casamento, você sabe...
A interrompo, não estou com paciência para ouvir suas histórias.
– Tudo bem, me deixe terminar a leitura do processo, é o tempo de você
chegar – falo rapidamente, não quero voltar ao assunto de ontem, já me
desgastei demais com este assunto.
– Um beijo, meu amor! – ela diz melosa.
– Outro.
Desligo rapidamente.
Eu estava acabando de ler o documento quando ela chegou.
Um toque na porta, e ela entra.
– Oi, já cheguei! – ela diz com um sorriso.
Tento sorrir.
– Oi! Um minuto, Pri, se senta aí, por favor! – Volto ao que estava fazendo,
logo termino e olho para ela. – Tudo bem?
– Tudo, e você?! – ela diz estranhamente.
– Um pouco cansado. – Me levanto, pego meu paletó e sigo para a porta. –
Vamos? – Olho para ela, que continua sentada.
– Eu sei que dormimos juntos, mas não nos vimos pela manhã. Normalmente
os casais se beijam quando se veem! – ela diz enquanto caminha em minha
direção.
Passo minhas mãos por sua cintura e a beijo rapidamente, mas ela enlaça meu
pescoço com os braços, fazendo com que nosso beijo seja mais demorado,
profundo.
– Me desculpe por ontem! – ela diz novamente, me deixando ainda mais
irritado.
– Eu já disse que está tudo bem! – Volto a caminhar para a porta, mas ela
segura minha mão e me faz olhá-la.
– Não parece, Rui, você está distante! – Tento não me desesperar e jogá-la
pela janela.
– Priscila, isso está começando a ficar chato, eu sou assim, não sou um cara
meloso e romântico. Eu sou prático e objetivo, e se você não gosta do meu
jeito, é bom revermos tudo, não vou mudar para você! – A encaro
profundamente.
Ela me olha calada, então fala:
– Ok, me desculpe. Ando um pouco abalada, é por causa dos preparativos
para o casamento. – Ela dá um sorriso fraco.
– Então, vamos! – Pego em sua mão e seguimos pelas escadas que dão acesso
à rua.
Passamos pela recepcionista que nos olha de canto de olho, ela odeia a
Priscila, quero dizer, todas as mulheres desse escritório odeiam a Priscila. Ou
é por ela ser minha noiva, ou é pelo seu jeito arrogante e prepotente, ela se
acha a dona de tudo, e faz questão de mostrar isso para todos.
Tento não pensar muito sobre isso, ela nunca poderia trabalhar comigo, eu
não a suportaria aqui. Mas a questão é que seu querido pai tem sugerido isso
com certa frequência, e eu tenho desconversado descaradamente.
Seguimos calados em direção ao restaurante que costumamos ir, é um lugar
refinado e a comida é ótima. Gosto do lugar porque poucos funcionários
podem frequentá-lo, e assim, caso a gente brigue, não teremos uma plateia
conhecida.
Espero enquanto o garçom escolhe um lugar para nos sentarmos, o lugar está
repleto de pessoas, logo somos colocados em uma mesa. Sentamos e
imediatamente ela começa a falar sobre um processo que está cuidando para o
pai. Tenho que confessar, a Priscila é muito inteligente e capaz, mas também
tem a sorte de ser filha de um dos melhores juristas do país, aí fica mais fácil.
Ela fala compulsivamente. Sou advogado, adoro o que faço, mas existem
momentos que gostaria de falar sobre qualquer coisa, menos sobre processos,
réus, acusados, e essa porra toda.
É estressante namorar com uma advogada, acabamos só falando sobre esses
assuntos, nunca relaxamos.
Fazemos nossos pedidos e peço um vinho para relaxar. Essa mulher me
estressa, me deixa tonto, ela fala demais.
Olho um pouco para as mesas ao nosso redor, para relaxar, tirar um pouco o
foco do que a Priscila fala, e então eu a vejo. A Jackeline está acompanhada
da Carolina, as duas estão almoçando sozinhas.
Penso um pouco, será que a Jackeline e a Carolina...?
Será?!
– Porra, que desperdício! Aquela mulher maravilhosa... – penso desanimado.
– Rui, você ouviu o que eu te disse?! – Ouço a voz estridente da Priscila,
volto a olhá-la rapidamente.
– Claro! – Bebo um gole de vinho.
– Então, do que eu falava? – ela diz com a testa franzida, e uma expressão
brava.
– Sobre o caso... – falo displicente.
– Eu pedi sua opinião, amor, por favor? – Ela me olha com seus olhos pidões,
carentes, insuportáveis.
Por que será que não aguento mais a Priscila, meu Deus?!
– Eu faria... – Dou minha opinião rapidamente, não ouvi o que ela disse. Mas,
falo o que faria apenas para me livrar dela.
– Por isso que eu te amo! Você é o melhor, sabia? – Ela pega em minha mão
por cima da mesa e a acaricia.
– Obrigado! – Sorrio para ela.
Vejo a Jackeline e a Carolina se levantarem e seguirem animadas para a rua.
Caralho, será que a Jackeline é lésbica também?
– Tudo bem, Rui? O que você está olhando? – Ela vai olhar, mas puxo seu
rosto e beijo-a rapidamente.
– Só um cliente, mas deixa para lá, não vou atrás dele, é constrangedor.
Ela sorri e acaricia meu rosto.
– Vamos tentar jantar hoje à noite, quero ir a um restaurante bem romântico,
estou sentindo falta disso, estamos distantes – ela me olha feito uma
cadelinha carente e mal-amada.
Talvez seja verdade, ando sem saco para a Priscila, prefiro qualquer outra
mulher, menos ela.
– Vamos sim. Mas desta vez, por favor, espere eu chegar, não fique me
mandando mensagens, ou fazendo ligações, eu odeio isso, Priscila! – falo
tenso.
Ela se arruma na cadeira, parece magoada.
– Eu te amo, Rui! Muito, demais, sabia?! – Ela me encara com seus olhos
grandes e azuis.
É engraçado como podemos mudar a opinião sobre uma pessoa. Quando vi a
Priscila pela primeira vez, a achei a mulher mais linda do mundo, aqueles
cabelos escorridos e loiros, os olhos muito grandes e muito azuis, seu corpo
alto e esguio, mas tudo é uma questão de ponto de vista. A beleza é relativa,
pode ser alterada com o tempo, já não vejo graça nela, sua beleza externa é
apenas um chamariz.
– Eu também! – Acaricio seu rosto. – Podemos ir? Estou com muitas coisas
para fazer.
– Claro. – Ela sorri fraco.
Peço a conta e em minutos seguimos para o escritório.
– Onde você deixou seu carro? – pergunto quando chegamos ao prédio.
– Está logo ali, não tinha lugar em sua garagem. – Ela se esgueira, enlaçando
meu pescoço e me beijando. – Posso subir tomar um café com você?
– Outro dia, eu realmente estou com muitas coisas atrasadas! – A beijo
rapidamente. – Nos vemos à noite! – Mais um beijo rápido.
– Chegue às 19h, pode ser?
– Vou tentar, mas não te prometo. – Me afasto dela, e espero enquanto ela
caminha até seu carro.
Ela acena, giro nos calcanhares e saio apressado para o interior do escritório.
Passo pela recepcionista sem a olhar, essa aí é mais uma que já enjoei,
preciso arrumar outra para me divertir. Talvez a Jackeline, se ela me quiser, e
se não for lésbica também!
Sacudo minha cabeça, parece que toda mulher que me interesso é lésbica,
porra!!!
Já chega a Carolina que é um mulherão, decidida, competente, linda, mas
lésbica, caralho?!
Subo as escadas rapidamente, chego a minha sala, e lá está a minha deusa. A
observo enquanto ela está entretida com o celular, provavelmente trocando
mensagens com aquele figura que encontrei no elevador. Ela tem um rosto
lindo, e hoje com o cabelo preso em um rabo de cavalo, dá para ver com
perfeição seu rosto.
– Boa tarde, Jackeline! – falo alto.
Ela se assusta, se atrapalha com o celular e me olha com aqueles olhos
grandes e expressivos, ela parece uma gata.
– Boa tarde! – ela diz me olhando com um sorriso contido, nervoso.
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas coisas! – Passo por
ela, e a sinto atrás de mim. – Sente-se, eu já volto. – Sigo para o meu
banheiro privativo, primeiramente preciso escovar os dentes.
Volto rapidamente e a encontro sentada em frente à minha mesa, com um
caderninho em suas mãos.
Ela me olha enquanto me aproximo, ensaia um sorriso, e tenho vontade de
rir, eu a deixo muito nervosa, e isso é engraçado.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me ajude a
digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas? – A olho enquanto ela
caminha insegura até mim.
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas, acho que sei. –
Ela diz de um jeito engraçado.
– Ok, sente-se aqui. – Puxo minha cadeira para ela e ela me olha confusa. –
Sente-se, Jackeline! – digo incisivo.
– Tudo bem! – Enquanto ela senta, puxo uma cadeira para ficar ao seu lado.
Pego alguns documentos.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! – Ela me olha
com aqueles olhões lindos, parece assustada com tudo.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas – ela diz
constrangida.
– Perfeito! – Levanto rapidamente, me inclino sobre ela, aproveitando para
sentir seu cheiro feminino e sensual, e clico sobre o ícone do aplicativo. –
Pronto, vamos começar.
Volto para minha cadeira, a percebo tensa, muito tensa, e sorrio por dentro.
Eu sei que estou fazendo merda, mas a sensação de ter essa mulher aqui se
sobrepõe aos problemas, ela tem um magnetismo que me deixa louco.
Ela se ajeita em minha cadeira, coloca seus dedos sobre o teclado e começo a
ditar para ela uma carta que normalmente eu mesmo faria para não perder
tempo, mas como não estou raciocinando direito, cá estou eu voltando no
tempo, como se fosse um advogado inexperiente, ditando uma carta para a
secretária...
Capítulo 8
JACKELINE BARTOLLI
a minha mesa rapidamente, pego minha nécessaire e sigo para o
C hego
banheiro feminino, faço minha higiene, um rabo de cavalo, passo um
batom vermelho e volto para minha mesa.
A porta da sala do Doutor Rui está aberta, respiro aliviada, ele ainda não
voltou de seu almoço, talvez estique até um motel.
Reviro meus olhos.
Desde quando cuido da vida de meus chefes? Ele que coma e se lambuze
daquela loirinha insossa.
Falo com desdém, e dor de cotovelo.
Me ajeito em minha cadeira e ouço o celular vibrar em minha bolsa, o pego e
lá está a tão sonhada mensagem do meu namorado.
Desde ontem o filho da puta não me liga, não manda mensagens, nada.
Ok, deixe-me ver o que o maldito tem a dizer.
“Oi, Chuchu, espero que não esteja mais brava comigo. Estou enrolado
esses dias, não posso vê-la, estamos em fechamento de balanço. No final de
semana podemos ir jantar na casa da minha mãe? Ela tem me cobrado,
sabe?”
Fecho os olhos e tento controlar a vontade louca de mandá-lo se foder, o seu
balanço e sua mãe também.
Olho para o teclado do celular e não sei o que escrever, ele é simplesmente
patético, um imbecil ao quadrado.
Enfim tomo coragem e escrevo minha resposta.
“Como vai, namorado querido? Ainda estou com raiva de você, aliás, não
sei quando vai passar. E quanto a jantar na casa da sua mãe, não estou com
saco, ela é insuportável, assim como sua irmã e seu filho bastardo. Prefiro
ficar em minha casa, vendo filmes antigos com minhas três idosas, comendo
pipocas, e batendo uma siririca, acho que sairei ganhando.
E, me procure só quando estiver a fim de fazer um programa decente, de
casal normal, estou cansada de seus programas para maiores de 60 anos.
Passar bem!”
– Boa tarde, Jackeline! – Dou um pulo na cadeira, quase deixando o celular
cair no chão, olho para cima e vejo aquele ser angustiante.
– Boa tarde! – Tento sorrir.
Por que estou sempre nervosa quando falo com esse homem?
– Venha comigo, preciso que você me ajude com algumas coisas! – ele diz
daquele jeito decidido, me levanto e o sigo.
– Sente-se, eu já volto. – Ele segue para um banheiro que existe dentro da sua
sala, mas volta rapidamente.
– Melhor você se sentar aqui ao meu lado, preciso que você me ajude a
digitar algumas cartas. Você sabe fazer cartas?
Oh, meu Deus, era só o que me faltava!
– Bom, não sei exatamente o que você quer dizer com cartas, acho que sei –
falo em pânico.
– Ok, sente-se aqui. – Ele puxa sua cadeira para eu me sentar, e o olho
confusa, será que ele quer que eu me sente em sua cadeira? – Sente-se,
Jackeline! – Estremeço com seu vozeirão.
– Tudo bem! – respondo rapidamente, me sento, e o vejo puxando uma
segunda cadeira ao meu lado.
– Vamos usar o Word. Você conhece este aplicativo, certo?! – Ele me lança
aquele seu olhar de advogado inquisidor, que adoro, mas ao mesmo tempo
me enerva.
– Sim, eu costumava usá-lo para anotar em minhas consultas.
Respiro um pouco aliviada, ao menos sei digitar rapidamente, depois de anos
anotando os problemas de meus pacientes, pelo menos isso eu sei fazer
direito.
– Perfeito! – ele diz rapidamente, e de repente vejo aquele homem enorme em
cima de mim, aquele cheiro inebriante, o calor que exala de seu corpo...
Oh, meu pai eterno, me ajuda, assim não vou aguentar!
– Pronto, vamos começar – ele diz após abrir o aplicativo na tela.
Ele começa a ditar uma carta, ou sei lá o que é isso, e finalmente termina.
O olho de canto de olho, e o vejo lendo o material na tela.
– Ok, mas precisamos formatar isso! – Ele me olha, e me sinto uma
retardada.
O que ele quer dizer com formatar, meu Jesuzinho?!
– Você pode ser mais claro, o que seria formatar? – digo completamente
envergonhada.
Ele sorri de lado, daquele jeito parecendo um cafajeste, tudo nele parece de
cafajeste. Ele deve ser um cafajeste, e aquela noiva é só de fachada.
Ele se levanta novamente, se inclina sobre mim, e minha vontade era agarrar
esse homem, tirar sua roupa, e me perder nesse monte de músculos.
Ok, mas não faço isso, não sou nem louca, então reteso cada músculo do meu
corpo. Como ele pode fazer isso com tanta naturalidade?
De repente, sua mão cobre a minha sobre o mouse, olho por entre meus cílios,
se sua mão é enorme, fico imaginando o resto. Mas não consigo não ficar
tensa, sinto cada músculo do meu corpo tensionado.
– Marque todo o texto, Jackeline, deste modo. – Ele move o mouse de forma
a iluminar todo o texto. – E selecione essa formatação. – Ele seleciona um
formato para o texto.
Seguro minha respiração, está sendo um inferno tê-lo desse jeito em cima de
mim, sinto seu hálito de pasta de dente no meu rosto, o cheiro de creme de
barbear, e se eu virar de lado, eu irei beijá-lo, ele não deixou espaço para eu
me mover.
O que ele pensa que está fazendo?! – penso atordoada.
– Ok, eu posso fazer isso! – falo em pânico, preciso de espaço para respirar.
Acho que sou claustrofóbica a homens, quero dizer, ao Doutor Rui.
Ele levanta seu corpo e volta a sentar.
– Vamos colocar a data lá em cima – ele diz suavemente.
Digito rapidamente a data e olho para ele.
– Mais alguma coisa? – Ele me encara por segundos intermináveis, olha para
os meus lábios, fico sem graça, volto a olhar para a tela do computador, fecho
meus olhos e solto o ar suavemente, acho que toda vez que ele me encara eu
perco o ar.
Que homem é esse, meu Jesus Cristinho?
– Ok, só mais uma coisa. – Ele volta a se levantar, novamente se inclina
sobre mim, rosto contra rosto, pega o mouse e abre um segundo arquivo,
onde vejo sua assinatura digitalizada. – Vamos colar essa assinatura no final
da carta.
Seleciono a imagem, graças aos céus eu sei fazer isso, e coloco no final da
carta.
– Está bom assim? – pergunto relutante, e volto a olhar para ele.
– Está ótimo! Imprima, por favor – ele diz com naturalidade.
Novamente fico insegura.
– Posso pedir para imprimir, é só isso? – Olho para ele, ele fecha os olhos e
sorri.
Ok, sou uma tapada.
– Só isso, Jackeline!
Ouço o barulho da impressora embaixo de sua mesa, em um suporte. Pego a
carta, dou uma olhada rápida e entrego para ele.
– Ok, vamos para a próxima. Salve esse arquivo e abra um novo – ele diz
rapidamente, e faço tudo isso como uma tartaruga de 100 anos, não tenho a
menor prática com informática, prefiro escrever, adoro escrever com as mãos.
Abro o arquivo, ele começa a ditar uma nova carta, e como não sou tão burra
assim, finalizo, formato e coloco sua assinatura.
Mas, não satisfeito com a tortura, ele se posiciona atrás de mim, se inclina e
lê o documento.
– Ok, pode imprimir – ele diz, e respiro aliviada o vendo se afastar.
Vejo ele andando pela sala e o observo pelo canto do olho. Ele parece um
pouco tenso, sei lá, incomodado.
De repente, ele está ao meu lado novamente, pega um documento e o lê
rapidamente.
– Vamos lá, Jackeline? – Olho para ele, ele está com seu cotovelo amparado
no apoio da cadeira, segura seu queixo e me olha.
– Ok! – respondo voltando a olhar para a tela.
Ouço sua voz grave e aveludada, ele tem uma voz deliciosa, sexy e sedutora.
– É isso, formate e imprima, essa é a última – ele diz em minhas costas.
Pego a impressão, me viro e a entrego.
– Mais alguma coisa? – pergunto incomodada, eu sei que preciso me
acostumar com sua presença, mas não precisa ser tudo de uma vez, e tudo no
mesmo dia.
Ele dá um sorriso, sexy e sedutor.
– Acho que por hoje está bom, já está na hora de você ir até o RH. – Ele se
levanta e devolve a poltrona ao seu lugar. – Obrigado!
Sorrio de leve.
– Por nada! – Me levanto, sigo para a porta, me sento em minha mesa e
respiro aliviada.
– Ok, não foi tão difícil assim, eu me acostumo – falo em pensamento.
****

Sigo pelos corredores do escritório e logo vejo uma placa indicando o RH. À
medida que caminho, vejo algumas pessoas circulando, elas me olham
confusas, algumas sorriem, outras apenas me medem.
A porta onde fica o RH está aberta, existem algumas pessoas trabalhando, e
ao fundo um homem de meia-idade.
Assim que entro na sala ele levanta seu olhar e diz:
– Jackeline?
– Sim, sou eu mesma. – Dou um sorriso amarelo, nunca me senti tão
deslocada em um emprego, me sinto uma fraude.
– Venha comigo! – Ele segue para fora da sala, abre uma porta e vejo uma
pequena mesa de reuniões, ele fecha a porta e me olha. – Sente-se, Jackeline.
Sento-me a sua frente, apoiando meus cotovelos na mesa, me sinto nervosa.
– Preencha essa ficha, por favor! – Ele me entrega um formulário e uma
caneta.
Começo a lê-lo, dados pessoais, feito. Segunda parte, formação acadêmica,
ok, preencho rapidamente. Terceira parte, experiência profissional.
Paro e penso um pouco, mas não há muito que pensar, começo a discorrer
sobre os consultórios que trabalhei, e foram vários, minha rotatividade
assusta.
Entrego para ele e sorrio.
Ele devolve o sorriso, lê rapidamente o documento, e me olha com aquela
cara de indagação.
– Você nunca trabalhou de secretária?
O olho por segundos eternos, mas o que vou dizer, é isso, nunca fui
secretária.
– Minha experiência profissional é a que você está vendo. – Talvez eu tenha
sido um pouco grossa, mas, também, pra que ele tem que perguntar o que já é
óbvio?
– Oh, me desculpe. É que o Doutor Rui disse que a senhora era a mais
qualificada...
Ele se cala, parece ficar sem graça, e volta a sorrir.
– Está ótimo! Eu preciso de seus documentos, para prepararmos o contrato de
experiência.
– Ok, está aqui. Só minha carteira profissional que não, não vim preparada. –
Entrego meus documentos para ele.
– O Doutor Rui pediu para te passar as informações sobre o cargo, salário,
benefícios, essas coisas. – Ele me entrega um papel, leio vagarosamente, e me
assusto com o salário.
– Está certo esse valor aqui?! – falo admirada, o salário é ótimo, maravilhoso,
não chega perto do que eu ganhava como terapeuta.
– Sim, o cargo de assistente do Doutor Rui é muito importante, de muita
responsabilidade, por isso a remuneração ser a altura – ele diz com certa
entonação na voz, dando mais importância ainda ao cargo.
– Oh, claro, eu sei disso! – falo sem jeito.
– Você precisa de algo, alguma dúvida? – ele diz.
– Não, acho que não, se eu tiver eu ligo para você. É Ferreira seu nome, né?
Ele balança sua cabeça.
– Isso mesmo! – Ele estende sua mão para mim. – Muito boa sorte, Jackeline!
Me levanto rapidamente.
– Obrigada!
Ele sai na minha frente, o sigo, ele se despede e entra em sua sala novamente.
Ainda estou meio tonta com tudo o que está acontecendo em minha vida,
ganhei na loteria e não posso perder o bilhete.
Eu preciso me tornar a melhor secretária que ele já teve, e de preferência,
hoje! Não posso perder tempo, e nem minha chance.
Sigo em direção a minha sala pisando nas nuvens e com um sorriso no rosto,
isso é bom demais para ser verdade!
– Obrigada, meu Deus! – falo em pensamentos.
****

O resto da tarde seguiu morosa, ainda não me sinto à vontade para


interrompê-lo, mas já atendi algumas ligações, anotei alguns recados, aos
poucos começo a me familiarizar, pouco, mas já é um começo.
É final de tarde, 18h, estou inquieta, não sei o que fazer. Não sei se posso ir
embora, então tomo coragem e sigo para sua sala.
Bato suavemente e entro. Como ele disse, não posso ficar com tantas
formalidades.
– Com licença! – falo constrangida.
Ele levanta seus olhos dos papéis e me olha através dos óculos, ele fica lindo
de óculos, e não deve ter noção disso.
– Pois não? – ele diz formalmente, me sinto um pouco acuada, mas vou
adiante, adentro sua sala e sigo até sua mesa.
– Gostaria de saber se posso ajudá-lo em mais alguma coisa! – Ele encosta
suas costas em sua cadeira, apoia seu braço no apoio e me olha longamente.
Se ele soubesse como isso me enerva, ele não faria isso.
– Eu até preciso de sua ajuda! – Ele dá um sorriso de lado, e isso só me deixa
ainda mais nervosa. – Mas, para o primeiro dia está bom. Amanhã
continuamos, irei te passar mais algumas coisas, enfim... – Ele tira seus
óculos e morde a haste, tudo nele é sensual, provocante.
Tento sorrir, mostrar naturalidade.
– Então, está bom! Você se incomoda se eu for embora? – falo pisando em
ovos.
Novamente aquele sorriso de cafajeste.
– Não, claro que não! Te vejo amanhã, às 8h! – Ele continua mordendo a
haste dos óculos, e me olhando.
– Ok, então, boa noite! – Me viro e saio sob seu olhar sobre mim.
Talvez esse seja o seu jeito mesmo, eu é que estou imaginando coisas, mas
me sinto um bife suculento, porque não é só um olhar, ele me devora com
aqueles olhos lindos.
Capítulo 9
JACKELINE BARTOLLI

C hego em casa rapidamente, a Carol me deu carona e isso foi maravilhoso,


eu nem sabia como voltar para minha casa daquele bairro.
Ela para o carro e me olha.
– Você se vira amanhã, Jack. Fica difícil para eu vir buscá-la, você mora
muito longe! – ela fala com uma careta.
– Imagine, Carol! Eu me viro, pego o metrô, depois um ônibus, acho que
consigo chegar às 8h, é só me levantar às 5h. – Faço um bico.
– Oh, Jack, que dózinha de você! Se você quiser passar a semana na minha
casa, tem um quarto vago, eu não ligo, você sabe! – Ela me olha com aqueles
olhos castanhos lindos.
Apesar de toda essa pose de mulher firme e decidida, a Carol é um doce,
gentil e delicada. Ela usa uma máscara de mulher masculinizada, ela não é
assim.
Às vezes, para se ter sucesso na vida profissional, é preciso bancar a durona,
caso contrário todo mundo te atropela. As mulheres sofrem muito com isso,
só eu que sei, ouvi muitas mulheres reclamando de sua vida profissional.
Não é fácil ser mulher em um mundo controlado por homens.
– Não, Carol. Não quero te incomodar, eu sei que você gosta de levar suas
namoradas... E eu não vou me sentir bem, você me entende, né? – A olho
com carinho.
– Eu não faria isso se você estivesse em minha casa, Jack! – Ela me olha
ofendida. – Eu te respeito...
Dou risada.
– Oh, Carol, deixa de frescura! – Sorrio. – Me deixe ir, estou sumida desde
ontem, minha mãezinha deve estar preocupada com sua filha encalhada.
Ela balança a cabeça e sorri, beijo seu rosto e saio do carro feliz.
Antes de entrar em nosso prédio, me esgueiro na porta de seu carro e falo:
– Não agradeci a você pelo emprego... – A olho com carinho. – Obrigada,
minha amiga maravilhosa! Eu não sei como seria minha vida se não
conhecesse você!
Ela sorri encabulada.
– Seria muito sem graça! – Ela acaricia meu rosto. – Eu faço qualquer coisa
por você, não reparou ainda? – E ela me encara, às vezes isso me deixa sem
jeito, mas hoje não.
– Tchau, obrigada de novo! – Me despeço dela e sigo para o prédio onde
moro.
Conto a novidade para minhas velhinhas pela terceira vez, e parece que elas
são surdas.
– Muito estranho isso, filha. Será que ele não está interessado em seu corpo?
Esses homens de negócios são todos uns devassos! – Minha mãe diz em tom
de segredo, enquanto janto sozinha na cozinha, com ela ao meu lado.
– Oh, mãe, você não viu a noiva dele. É uma mulher linda, perfeita, parece
uma modelo, não sou nenhum pouco interessante perto dela! – Termino de
comer minha sala, e afasto o prato.
Ela olha aquilo e faz cara de indignada.
– O que é isso? Você não comeu nada!
– Estou de regime a partir de hoje. Estou enorme, mãe, preciso emagrecer.
Por favor, me ajude, não faça nada bom ou gostoso e me obrigue a comer só
saladas, estou no meu limite! – Falo feito uma metralhadora.
Me levanto, vou até a pia e tomo uma água.
– Jackeline, onde você está gorda? Você tem um corpo maravilhoso, são só
curvas, meu anjo! Você puxou a família de seu pai, as italianas são assim,
lindas e carnudas!
Dou risada.
– Gordas, todas umas gordas! Minhas primas são gordas, minhas tias, todas
são gordas e peitudas!
Ela abana a mão.
– Você está dando muita bola para sua tia, ela é uma encalhada e invejosa!
Nunca teve um corpo bom, sempre foi feia! – ela cochicha.
Sorrio.
– Estou de regime, preciso perder uns 10 quilos. Quero pesar 60 quilos.
– Você parecerá doente!!! – ela ralha furiosa.
Volto para meu quarto, me sento em minha escrivaninha, e inicializo meu
computador que tem quase a minha idade, eu o usava na época da faculdade.
Espero que ainda funcione, preciso pesquisar um pouco sobre esse mundo
das secretárias.
Navego por um site de busca, digito secretárias, mas aí vem um mundo de
coisas.
– Não, vou tentar cursos para secretárias.
Pressiono a tecla ENTER, e começam a aparecer as opções.
Navego brevemente e acho um curso online, entro no site e até que o preço
não é abusivo.
Penso um pouco, estou fodida completamente, mas agora tenho um salário
incrível, pego meu cartão de débito e me matriculo no curso.
– Ok, talvez seja um bom começo!
Logo estou navegando pelo site, e me surpreendendo com as coisas que leio.
Passei mais de duas horas navegando pelo site, e já estou com meus olhos
ardendo, bocejando feito uma leoa. Preciso dormir, caso contrário amanhã
não conseguirei me levantar.
Desligo meu computador, vou me deitar, mas me lembro de escolher uma
roupa para trabalhar amanhã.
Abro o guarda-roupa e o olho desanimada.
Trabalhando como terapeuta nunca tive preocupação em me vestir bem,
elegante. Mas agora como secretária, e naquele ambiente onde todos se
vestem como se fossem a uma festa, não posso ir de camisa solta e calça
legging.
– Merda!!! – Me sento na cama.
Volto para o guarda-roupa e começo a tirar as roupas que tenho, até que acho
uma saia godê numa cor café com leite, até os joelhos. Eu a comprei para ir a
um casamento, nunca fui muito boa em me vestir, mas essa deve servir.
Procuro por uma camisa mais adequada, encontro uma branca com as mangas
¾, ela foi feita sob medida, então fica justinha na cintura, e acomoda meu
busto sem maiores problemas. Separo um sapato alto creme e um sutiã
branco, deixo tudo sob uma poltrona, e desmaio em minha cama.
****
O despertador toca ruidosamente, tateio completamente bêbada de sono, ele
cai e ouço o barulho de vidro se espatifando no chão, me sento na cama e
xingo mal-humorada.
– Droga, droga, droga!!! – Esse deve ser o décimo relógio que quebro, odeio
qualquer som me acordando de manhã, não coloco o celular despertar porque
acho que eu o jogaria na parede.
Desço da cama com cuidado, sigo para o banheiro praticamente dormindo,
ligo o chuveiro e me enfio embaixo dele com os olhos fechados.
Lembro que tenho horário e que não posso me atrasar, então acelero meu
banho. Em minutos saio, me enxugo, passo minha parafernália de cremes,
enrolo a toalha em minha cabeça e sigo para o quarto.
Coloco a calcinha e o sutiã rendados, adoro lingeries, se pudesse, gastava
todo o meu dinheiro em lingeries lindas, delicadas e sedutoras. Pena que o
panaca do Renato não repara nisso! Aliás, no que ele repara?
– Talvez em shorts de lycra, camisetas de tecidos especiais para suar...
Babaca!
Coloco minha roupa e me olho no espelho.
Talvez eu não devesse usar saia godê, meus quadris largos não combinam
muito com isso. Viro de costas, e parece que minha bunda fica ainda maior
assim.
Fecho os olhos.
– Por que me deprecio tanto, meu Deus? – Inspiro com força.
Ajeito minha camisa dentro da saia e estico o tecido. Minha sorte é que não
tenho barriga, minha cintura é fina, caso contrário eu realmente seria uma
porpeta completa.
A camisa tem um tecido fino e delicado. Pedi para uma costureira do prédio
fazê-la, ela é linda, mas um pouco transparente, então pego o terninho da
Carol e jogo por cima.
Olho no relógio e me surpreendo com o horário.
Não vai dar para secar o cabelo, me desespero. Sigo apressada para o
banheiro, passo um rímel, e um delineador, o batom vermelho e borrifo meu
perfume predileto, uma nota suave, delicada, a marca é francesa, mas é um
produto fabricado no Brasil, então cabe no meu bolso.
Não sou muito vaidosa com roupas, mas sou vaidosa com meu corpo, com
minha pele, adoro perfumes, lingeries, cremes, maquiagens. É estranho isso,
acho que pareço com meu falecido pai, ele também não era muito vaidoso
para se vestir, por isso a Carol diz que visto suas camisas. Isso é um exagero,
meu pai era um homem de um metro e noventa, eu não sou tão alta, tenho
uma altura mediana, um metro e sessenta e sete, ou oito, sei lá.
Penteio meu cabelo, passo um leave-in para não armar durante o dia, ele é
ondulado naturalmente, comportado, eu gosto do meu cabelo.
Inspiro, pego minha bolsa e saio de fininho, não quero acordar ninguém,
ainda é cedo demais.
O caminho até o metrô é demorado, e de salto alto é uma tortura. Preciso me
lembrar de colocar uma sapatilha da próxima vez, e o sapato só no escritório.
Pego o metrô aliviada, odeio sair de madrugada, me sinto muito insegura de
andar sozinha nas ruas vazias.
Depois de longas horas de condução, chego ao escritório e me surpreendo,
cheguei adiantada.
Vejo o portão fechado, tudo fechado, e aí me lembro de que chegar cedo
pode ser um problema.
– Ok, não vou me estressar com isso. – Olho ao redor, talvez tenha um lugar
para eu tomar um café.
Ando alguns metros e vejo um boteco, daqueles bem simples. Não sou uma
mulher fresca, nunca fui, então entro e não tem praticamente ninguém, me
sento em uma mesinha e um homem vem me atender.
– O que seria, princesa? – Ele sorri com meia dúzia de dentes faltando.
– Um café com leite. O senhor tem pão de queijo? – pergunto um pouco
incomodada com seu olhar de tarado.
– Não, meu bem, mas faço um Bauru de lamber os beiços! – Ele sorri, e torço
meus lábios.
Não vou mentir, adoro comer, e ao pensar em um lanche de Bauru o meu
estômago ronca, aquela salada de ontem a noite não conseguiu tapar o buraco
que tenho no estômago. Graças à minha santa mãe, que sempre cozinhou
maravilhosamente, tenho um apetite de leão.
– Vou passar! – Balanço a cabeça. – Só o café com leite.
Estou morrendo de fome, mas terei foco. Preciso perder 10 quilos, cinco são
só de coxa, mais cinco de bunda, o peito não diminui nem com reza brava.
Termino meu café da manhã de mendigo, olho no relógio e resolvo voltar
para o escritório.
O portão continua fechado, xingo mais um pouco, levantei tão cedo para ficar
plantada no meio da rua, isso é de matar!
Os minutos passam, meus pés latejam, minhas pernas doem, e resolvo me
sentar em um pequeno degrau.
Me sinto ridícula, mas confortável, já até tirei o salto alto, e estou com meus
pés livres e soltos. Sinto sono, encosto na grade e fecho os olhos, e estou
quase dormindo quando ouço meu nome.
– Jackeline, o que você está fazendo aí? – Abro meus olhos assustada, e vejo
aquele homem enorme, lindo e cheiroso na minha frente.
Pisco meus olhos algumas vezes, levanto e esqueço que estou sem sapato, o
coloco toda atrapalhada, arrumo minha postura e sorrio.
– Bom dia, Doutor Rui! Cheguei um pouco cedo! – digo sem graça.
– Muito cedo! – Ele olha em seu relógio de pulso, que por sinal é
maravilhoso.
Meu pai era louco por relógios, ele adorava frequentar uma feira de
antiguidades, ou simplesmente coisas velhas, ele enlouqueceria ao ver o
relógio do Doutor Rui.
– É, tive medo de não chegar no horário, então sai um pouco cedo de casa –
falo constrangida, segurando minha bolsa com as duas mãos, torcendo-a
nervosamente.
– Certo! – Ele passa seus olhos ao longo do meu corpo, até chegar aos meus
olhos. – Você está muito bonita hoje, aliás, como sempre.
Enrubesço, não sou de enrubescer, sou uma mulher acostumada a mandar se
foder quem me incomoda. Mas com ele é diferente, me sinto muito
constrangida em sua frente, mas também, acho que nunca conheci um homem
como ele.
Confesso que não sou uma mulher muito vivida, perdi minha virgindade aos
18 anos com um namorado de escola, e namorei mais uns dois caras até
conhecer o Renato. De lá para cá não me relacionei com mais ninguém,
estamos há quatro anos juntos, ininterruptos.
– Obrigada! – falo finalmente, sentindo o calor tomar conta do meu rosto.
Ele sorri levemente.
– Vamos entrar? – Ele faz um gesto com a cabeça e vejo o portão automático
aberto.
– Claro! – Sigo em sua frente, sentindo seus olhos experientes me analisando.
O espero abrir a porta, ele me dá passagem para entrar. Ele é um cavalheiro,
canalha e cafajeste, mas um cavalheiro.
Ele fecha a porta, e me dou conta que estamos somente nós dois naquele
lugar enorme, subo as escadas e o sinto atrás de mim, o que não é nada
confortável.
Por que ele não fica ao meu lado, cacete?! – penso brava, com aquela
sensação de estar nua na sua frente.
Chegamos em minha sala, ele passa por mim, abre sua sala e entra. Respiro
aliviada, sento em minha mesa, mas logo ouço seu vozeirão me chamar, tomo
um susto, e coloco minha mão no peito.
– Jackeline!
– Esse homem vai me matar do coração! – penso alto.
Sigo para sua sala, ando até sua mesa, ele tira algumas coisas de sua pasta,
coloca seus óculos e me olha.
– Sente-se. – Ele me olha com firmeza, e o vejo passando seu raio X por meu
corpo. – Vamos continuar com o que estávamos fazendo ontem? – Ele sorri.
– Sim, claro! – Fico confusa. – Você quer que eu use o seu computador?
– Só um minuto, deixe eu me organizar. – Ele sorri novamente, e chego à
conclusão que estou apaixonada por seu sorriso, é lindo, atraente e perfeito.
Fico o admirando enquanto ele arruma suas coisas, ele é metódico, focado e
sério. Fala pouco, olha muito, e me analisa o tempo todo.
– Sente-se ao meu lado, Jackeline. Preciso te explicar algumas coisas – ele
diz entretido com uma montoeira de papéis.
Dou a volta em sua mesa, puxo uma cadeira, me sento ao seu lado e sinto
aquele perfume maravilhoso. Sua sala é toda cheirosa, mas estar junto dele é
melhor, porque seu perfume é simplesmente delicioso.
– Ok, esses são alguns processos que estou cuidando, cada uma daquelas
cartas diz respeito a um processo desses. Por favor, pegue as cartas. – Me
estiro em sua mesa e pego as cartas que estão em um dispenser para
documentos, e quando volto o encontro olhando para minha bunda.
Seguro as cartas, o olho feio, ele percebe e disfarça.
– Está vendo aqui? – Ele me mostra o nome no topo do processo. – Procure a
carta que diz respeito a este cliente.
Procuro e entrego a ele, me sinto uma criança aprendendo coisas básicas.
– Ok, faça isso com as outras, e prenda cada carta a seu processo, não pode
haver confusão! Apesar de parecer algo idiota, é importante!
Balanço minha cabeça afirmativamente, e faço o que ele me pediu. Olho pela
sua mesa procurando por clipes, e os vejo ao seu lado.
– Eu preciso de clipes! – Faço cara de idiota.
– Fique à vontade! – Ele afasta seu corpo da mesa.
Olho para ele constrangida, terei que me esgueirar em cima dele, que merda!
– Com licença! – falo me esgueirando até o lugar onde estão os clipes, olho
de lado e percebo o quão constrangedora é essa cena, estou com meu corpo
praticamente em cima dele, com meu traseiro apontando para a lua.
Ele fez de propósito, esse cara é um filho da puta.
Volto para minha posição, termino de prender cada carta ao seu processo e os
coloco na sua frente.
– Você colocará cada processo em um envelope com uma etiqueta para não
haver confusão. Ok? – Ele me olha com firmeza.
– Ok! – falo insegura, nunca fiz etiquetas em minha vida.
– Você sabe fazer etiquetas? – Ele me encara, acho que ele é o psicólogo
aqui, não eu.
Fecho levemente meus olhos, não aguento e sorrio.
– Me desculpe, Doutor Rui! Eu não sei, mas aprendo, eu me viro!
Ele me olha e sorri, e sorrio mais, porque me sinto uma débil mental perto
dele.
– Jackeline, eu te contratei sabendo de suas deficiências, não precisa mentir
para mim!
Sorrio novamente, acho que é de nervoso, minha vontade é gargalhar, me
sinto uma idiota completa.
– Claro! Eu não sei fazer, é isso. – O olho feito uma cadelinha perdida na rua,
pedindo ajuda.
Ele me olha de lado, longamente, com um sorriso indecifrável no rosto.
– Então, vamos lá, minha aprendiz! – Ele se posiciona em frente ao seu
computador, o liga, entra no aplicativo e me olha sorrindo. – Quase tudo que
fizermos será neste aplicativo, você seleciona aqui! Está vendo? – Ele me
olha de lado.
– Sim! – Olho vidrada para seu computador.
– Escolha esse modelo. – Ele clica e aparecem na tela as etiquetas. – Você
digita o nome do cliente e pronto, manda imprimir, mas antes coloca um
formulário de etiqueta, você tem em algum lugar do seu armário, atrás de
você. Você faz isso em sua mesa? – Ele me olha sério e pensativo.
– Claro, fique tranquilo! – Sorrio sem graça.
– Então, vá para sua mesa, você tem tudo em seus armários, envelopes,
etiquetas, todos os materiais de escritório, arrume isso. Terei que ir ao Fórum,
você irá comigo. – Ele volta sua atenção ao computador e fico o olhando
confusa, mas ele volta a me olhar. – Pode ir, Jackeline, eu preciso de alguns
minutos para resolver algumas coisas, você tem 30 minutos até sairmos.
Abro levemente minha boca para falar algo, mas não sai nada, levanto e saio
com os processos em minhas mãos.
– O que vou fazer num Fórum com ele?! – penso atordoada.
Capítulo 10
RUI FIGUEIREDO

A olho saindo da minha sala e sorrio.


– Onde fui me meter? Ela não sabe nada, absolutamente nada, terei que
ensiná-la tudo! – bufo cansado.
Mas aí, me lembro de seu sorriso encantador, e do quanto ela é linda e
gostosa. Está difícil tomar alguma decisão sensata vendo aquela boca grande,
carnuda e vermelha, e aquela bunda magnifica dançando em minha frente.
Mal percebo quando minha mente começa a imaginar coisas eróticas com
aquela boca, e meu pau se movimentar em minha boxer.
Tiro meus óculos, esfrego meus olhos, e os fecho.
– Ok, foco, Rui, senão você vai perder todos os processos!
E aí lembro-me de que vou levá-la comigo até o Fórum, para fazer o que não
sei, nunca fiz isso desde que me tornei um advogado de sucesso, levo outros
advogados, os menos experientes, nunca a secretária.
Atualmente, cuido apenas dos processos grandes e milionários, os menores e
menos complicados ficam para os advogados que me auxiliam no escritório.
Além disso, eu tinha uma secretária que me ajudava a administrar o
escritório, mas agora eu tenho uma aprendiz, então além de ter que cuidar de
tudo sozinho, ainda tenho que ser professor de uma aluna muito gostosa.
Foi surreal vê-la dormindo na porta do escritório, ela não é uma mulher
comum. A Priscila nunca faria isso, ela é sofisticada demais, mas também,
chata demais.
A Jackeline é linda, mas sem glamour, sofisticação, ela tem uma beleza
rústica, e mesmo se vestindo com simplicidade ela parece uma deusa.
Ela está linda hoje, apenas com uma saia simples e uma camisa que mostra
seu sutiã rendado, adoro lingeries femininas, adoro ver mulheres em sua
intimidade, e sem querer já sei mais sobre a Jackeline do que ela sonha.
Passo as mãos pelos meus cabelos, preciso deixá-la um pouco longe de mim,
só assim consigo trabalhar, depois me divirto mais um pouco. Será divertido
levá-la a um Fórum, e prazeroso, estou precisando relaxar e ela me faz
relaxar, seu jeito é simples, leve, sem as complicações que o dinheiro traz às
pessoas.
****
Olho no meu relógio de pulso, viro meu pescoço de um lado para o outro, já
voltei a ficar tenso. Uma ligação da Priscila é o suficiente para acabar com
meu dia.
Me estico em minha cadeira e pressiono o botão para falar com a Jackeline.
– Pois não! – ela diz, e eu sorrio, tudo nela me faz sorrir.
– Nós já vamos sair, Jackeline. Está tudo pronto? – pergunto.
– Sim, já estou pronta! – ela responde, e a sinto nervosa.
– Ok, me aguarde – desligo, sigo para o banheiro, em seguida coloco meu
terno e sigo para a recepção.
A vejo tomando uma água, me posiciono em frente à sua mesa e sorrio.
– Podemos ir?
Ela me olha com aqueles olhos de gata assustada.
– Sim! – Ela se levanta nervosamente, pega sua bolsa, os envelopes, e me
segue em silêncio.
Chegamos à recepção, a Karen olha confusa para mim e para a Jackeline,
deve achar que ela é minha mais nova amante.
– Vou ao Fórum, preciso resolver alguns assuntos. A Jackeline irá comigo,
então anote os recados, depois você me informa. – Ela balança a cabeça
surpresa.
Sigo até meu carro, entro e vejo a Jackeline se sentar ao meu lado.
Em alguns minutos estamos seguindo em direção ao Fórum, coloco uma das
músicas que gosto, adoro músicas tocadas apenas no piano, são relaxantes,
perfeitas para um advogado tenso.
– Linda música! – ela diz com um sorriso contido.
– Adoro músicas tocadas, piano principalmente! – A olho de lado, seu perfil é
muito bonito, o nariz delicado e fino, contrasta com as maçãs do rosto, ela
tem traços fortes, e uma pele linda. – Qual a sua origem, Jackeline? –
pergunto de repente.
Ela me olha surpresa.
– Italiana, mas tem português também! – ela diz séria. – Acho que tem mais
raças, mas não me lembro. – Ela sorri, mas é um sorriso tímido. Eu a deixo
tímida e isso é bem engraçado, não combina com a mulher que conheci no
elevador.
A olho um pouco mais, é verdade, ela tem traços italianos.
– É verdade, eu estava confuso, mas realmente você tem cara de italiana –
falo descontraído, não sou sério o tempo todo, só quando estou no escritório,
minha profissão exige isso.
– Você se acertou com seu namorado? – pergunto do nada.
Ela me olha, parece surpresa.
– Como você sabe que eu tinha ido à casa do meu namorado? – Ela sorri
debochada.
– Não é namorado, é só um “casinho”?! – Dou um sorriso, isso me anima,
quanto menos sério, melhor.
Ela sorri novamente.
– Você acertou, eu estava no apartamento do meu namorado. Estamos juntos
há quatro anos! – Ela muda sua expressão, parece ficar triste.
Desanimo, quatro anos é tempo pra caralho.
– Vocês tinham brigado, por isso você estava daquele jeito? – A olho de lado,
tento não rir, mas a cena foi engraçada, e acabo sorrindo.
Ela me olha e segura um sorriso, ela tem senso de humor, eu sei que tem.
– É, tínhamos brigado, fiquei nervosa, acabei saindo daquele jeito que você
viu. – Ela abaixa sua cabeça, coloca o cabelo que cai sobre seu rosto atrás da
orelha, remexe suas mãos em seu colo, e me olha novamente. – Esquece
aquele dia, tá?
A olho demoradamente, esse pedido é tão difícil, porque se não fosse aquele
dia, ela não estaria aqui hoje, fiquei louco por ela desde aquele dia.
– Vou tentar, não prometo. Eu realmente gostei do que vi! – Ficamos nos
olhando por segundos eternos...
Ela desvia seus olhos dos meus, e de repente aperta minha coxa, olho para
frente e freio bruscamente, quase me enfiei atrás de um carro.
– Porra, que merda eu iria fazer! – Esbravejo nervoso, olho para minha coxa
e vejo sua mão ainda apertando-a.
De repente, ela se toca do que está fazendo, e me olha constrangida.
– Ah, meu Deus, me desculpe! – Ela tira sua mão envergonhada.
– Doeu, Jackeline! – Dou risada. – Você tem uma mão forte.
Ela tenta não sorrir, mas abre um sorriso imenso, ela tem uma boca enorme e
linda.
– Desculpe, desculpe mesmo! – ela diz mexendo as mãos nervosamente, e aí
me lembro de que ela tem origem italiana, e gesticula muito.
– Perdoada, se não fosse você eu teria batido. Desculpe, não costumo dirigir
mal assim. – Olho para ela novamente, aliás, não consigo parar de olhar para
ela.
– Se você não olhar para frente, acho que vamos bater! – Ela arregala seus
olhos de gata, me fazendo olhar para frente, e dou de cara com uma lanterna
vermelha acesa enorme.
Bufo irritado e piso no freio novamente.
– Ok, acho melhor a gente conversar depois – falo constrangido, agora quem
está com vergonha sou eu, estou me saindo um idiota perto dela.
Finalmente estaciono em frente ao Fórum.
– É aqui – digo rapidamente e logo estou fora do carro, colocando meu terno.
Ela segue ao meu lado, a olho novamente, ela é séria, e apesar de já ter
sorrido várias vezes hoje, não é tão fácil quebrar sua guarda.
– Quer tomar um café? Estamos adiantados – falo novamente, estou ansioso,
confesso.
– Sim, eu aceito. – Ela sorri discretamente.
– Ok, vamos a uma cafeteria logo ali. – Sinalizo para ela.
Seguimos em silêncio.
Entramos na cafeteira, pego em seu braço e a conduzo até uma mesinha.
Nos sentamos e pergunto:
– O que você quer tomar, um café, chá?
– Um café com leite! – Mais um sorriso contido, eu queria que ela se soltasse
mais comigo, mas está tão difícil.
Não estou acostumado com mulheres tão contidas, normalmente elas abrem
as pernas antes que eu possa perguntar o seu nome.
– Ok, eu estou com fome, não tomei café da manhã hoje, vou comer alguma
coisa. Vou pedir para nós dois, tudo bem? – falo levantando minha mão para
a atendente.
– Obrigada, Doutor Rui, mas eu quero só o café com leite – ela diz séria.
– Ok! – Sorrio para ela.
Nossos pedidos chegam, a observo tomando seu café com leite
delicadamente, aqueles lábios vermelhos, tudo nela me fascina.
– Você conhece a Carolina há muito tempo, Jackeline? – Eu não aguentava
mais de curiosidade, ela tem namorado, mas é bem comum elas serem
bissexuais.
– Desde pequenas, morávamos no mesmo prédio, estudamos no mesmo
colégio, somos muito amigas! – ela diz com um sorriso carinhoso, mostrando
seu sentimento pela Carolina.
Balanço minha cabeça afirmativamente, confesso que estou com uma
curiosidade monstro, não sou um cara de me segurar. Como dizem, sou como
um trator em tudo.
– Onde você mora, Jackeline? – pergunto.
– É longe, bem longe, acho que você não deve conhecer – ela diz mostrando-
se sem graça.
– Conheço tudo nessa cidade, me fale, deixe eu te surpreender. – Faço
charme.
– Fica na Zona Leste da cidade, é um antigo bairro de italianos – ela diz
tímida.
– Oh, talvez a Mooca?! – falo divertido, fazendo-a sorrir, ela fica linda
sorrindo.
– Isso, bingo! – Ela brinca. – Moro lá desde pequena, meu pai era italiano,
minha mãe portuguesa.
– Ele é falecido? – pergunto interessado. – Você mora com sua família?
– Faleceu há cinco anos – ela diz séria. – Moro com minha mãe, uma tia e
uma avó. – Ela parece constrangida.
Sorrio surpreso, conheço poucas mulheres que moram com a família.
– Deve ser engraçado, quatro mulheres juntas! – Sorrio pensando na confusão
que deve ser.
– Nem sempre. Elas são ranzinzas, reclamonas e bisbilhoteiras! – ela diz com
seus olhos lindos e expressivos. Ela sorri com os olhos, é isso, seus olhos
sorriem, bem interessante isso.
– Oh, é verdade, eu tenho um pai e uma mãe já idosos, eles costumam ser
assim, por isso, não moro com eles! – Sorrio ao lembrar de meus pais, faz
tempo que não nos vemos.
– Alguém é advogado? – ela pergunta de um jeito leve.
– Meu pai! Como você adivinhou? – pergunto a olhando profundamente,
queria muito conhecer mais essa mulher, pena que está na hora de irmos.
– Não adivinhei, foi um palpite – ela diz mexendo em sua xícara, enquanto
devoro um lanche. Costumo comer muito, mas também malho muito, caso
contrário ficarei gordo, e sou muito vaidoso.
– Ele é advogado, mas eles moram no interior, ele ainda trabalha, puxei a ele,
somos dois obcecados. – Não sei por que, mas me sinto muito à vontade com
a Jackeline. Olho em meu relógio e vejo que precisamos ir. – Temos que ir, já
está em nossa hora! – falo apressado e levanto a mão para a atendente.
– Ok! – Ela se arruma na cadeira.
Pago a conta, levanto-me, dou passagem a ela, gosto de vê-la de costas, essa
visão é privilegiada, não vou mentir, adoro uma bunda grande.
Chegamos à rua, pego em seu braço e a conduzo em direção ao Fórum.
– Para uma descendente de italianos você fala pouco, Jackeline! – falo
debochado, ela realmente fala pouco.
– Acho que você não iria gostar de conhecer meu lado italiano. Eu falo
muito, Doutor Rui! – Ela sorri, e parece envergonhada.
– Pode me chamar só de Rui, Jackeline, não gosto muito de formalidades!
Ela me olha, parece confusa.
Talvez eu esteja exagerando, minha antiga secretária só me tratava por
Doutor Rui, todos no escritório me tratam assim. Mas é que não gosto de vê-
la me chamando de doutor, isso me incomoda.
Ela me olha e dá um sorriso tímido.
– Tudo bem, como você preferir! – Ela abaixa a cabeça, a levanta, e volta a
me olhar. – Ok, se é para ser assim, então pode me chamar de Jack. É mais
fácil, mais rápido e sem formalidades! – ela diz descontraidamente, do jeito
que quero que ela seja comigo.
– Perfeito, Jack! – Sorrio para ela e entramos no elevador.
Ela me olha sorrindo, linda, encantadora.
– Perfeito, Rui! – Ela brinca.
Volto a olhar para frente.
Acho que tem alguma coisa de errado nisso tudo, eu não sou assim, mas
também não estou muito a fim de me preocupar com isso agora.
Capítulo 11
JACKELINE BARTOLLI

E stamos numa sala reservada, parece que isso é uma audiência, não
entendo nada de Direito.
Me sento em uma cadeira enquanto vejo o Doutor Rui, ops, talvez só Rui, se
sentar à minha frente, em uma mesa com algumas pessoas chiques e
engravatadas. Não me dei ao trabalho de perguntar quem eram as pessoas,
mas parece que tem a ver com um dos processos que o ajudei a montar.
Reviro meus olhos, não acho que o ajudei de fato, estou mais para uma
estagiária em processo de aprendizado do que uma secretária.
Olho enquanto ele gesticula e fala energicamente à mesa, e sorrio. Ele fica
bonito até mesmo nervoso.
Não gostaria de ser sua noiva, ela deve ter mais chifres que um rebanho
inteiro de touros. É difícil imaginar um homem como este fiel, ele é muito
bonito, rico e cafajeste. Ele está me cantando descaradamente, e eu sou sua
secretária.
As horas passam, aproveito para admirá-lo, ele parece muito bom no que faz,
mas eu já sabia disso antes de conhecê-lo. A Carolina é sua fã, não digo
apaixonada, porque ela é lésbica, senão acho que seria.
Percebo que a reunião acabou, vejo as pessoas apertando as mãos umas das
outras e sorrindo.
Acho que o acordo deve ter sido satisfatório.
Ele se levanta e vem em minha direção com um sorriso no rosto.
– Você me deu sorte, Jackeline! – ele diz estendendo sua mão para mim, me
ajudando a levantar.
– Que bom, fico feliz! Chegaram a um veredito? – Sorrio meio tímida, tenho
medo de falar alguma besteira.
– Sim, deu tudo certo, eles aceitaram o acordo! – ele diz animado, olha em
seu relógio e diz: – Vamos almoçar antes de voltarmos para o escritório? Ou
você tem algum compromisso? – Ele me olha intensamente.
É tudo muito novo para mim, me sinto meio perdida com tudo o que está
acontecendo. Mas quem sou eu para não aceitar um almoço com o chefe.
– Não tenho nenhum compromisso, agradeço o convite! – respondo
prontamente. Vou me acostumar mal, de bandejão para restaurantes chiques.
– Então, vamos! – Ele sorri e caminha ao meu lado em direção aos mesmos
elevadores que subimos.
Chegamos à saída rapidamente, ele nos direciona para seu carro que está
estacionado dentro do Fórum.
– Alguma preferência de comida? – Ele me olha de lado, parecemos até... sei
lá, isso não está parecendo um relacionamento profissional.
– Sem preferências, cavalo dado não se olha os dentes! – falo debochada.
Ele dá aquele sorriso sexy e liga seu carro.
– Então eu escolho, estou com fome hoje! – Ele me olha de lado, e tenho
vontade de dizer a ele que comecei minha dieta ontem, mas não o faço, seria
bem constrangedor.
O vejo digitar no GPS um endereço, ele entra em uma avenida e depois de
alguns minutos ele estaciona seu carro em frente a uma... cantina!
Oh, meu Deus!!!
Ele me olha e sorri.
– O que você acha?! Pensei em você, italianos adoram massa! – ele diz muito
simpático, seria uma grosseria eu dizer que estou fugindo de massas.
– Adorável, obrigada pela atenção... – penso em dizer sobre minha
preferência por saladas, mas ele já desceu do carro, deve estar com uma fome
de leão.
O ascensorista abre a porta para mim, sorrio e saio, e fecho os olhos.
Será que seria muita falta de educação pedir uma salada?
Ele para ao meu lado, sinto sua mão enorme em minhas costas.
– Vamos, italiana? – ele diz com um sorriso.
– Vamos! – Sorrio, tentando mostrar uma empolgação que não tenho.
Meia dúzia de pessoas se aproximam dele para cumprimentá-lo, alguns
clientes, outros funcionários, ele parece uma celebridade.
Ele me posiciona em sua frente, e sigo o garçom que nos leva até uma mesa,
nos sentamos e ele me olha sorrindo.
O acordo deve ter sido muito bom, ele está radiante.
– Você parece uma celebridade! – falo discretamente.
– Sou fã de comida italiana, e das italianas também! – ele diz num tom
divertido, sorrio, acho que isso foi só uma brincadeira. – Venho sempre aqui,
mas não dá para vir com a Priscila, ela não come nada, só mato!
Imagino, com aquele com corpo! – penso, mas não falo.
O olho decidida, preciso acompanhá-lo, caso contrário serei uma decepção.
– Oh, claro, mulheres adoram fazer regimes! – falo para descontrair.
O garçom traz os cardápios, olho tudo aquilo salivando, estou com uma fome
de leão. Desde ontem praticamente não como, então, tenho certeza que esse
carboidrato todo cairá como uma bomba em meu corpo e vai ir direto para a
bunda, tenho certeza disso.
– Já decidiu, Jackeline? – Ele sorri. – Ainda não me acostumei a chamá-la de
Jack.
– Não precisa me chamar de Jack, foi só uma sugestão. – falo sem jeito.
– Eu gosto de Jack, é só uma questão de tempo! Então, o que vai ser?
O olho constrangida, mulheres gostam de enganar a si mesmas, quando
saímos com um bofe comemos saladas e bifes grelhados. Sozinhas, um quilo
de macarrão e um frango inteiro.
– O que você sugere? Você deve conhecer o que é bom aqui – falo
timidamente.
– Mas a italiana aqui é você, quero sugestões!
Sorrio encabulada, ele me deixa sem graça assim, nem sou tão italiana como
ele diz.
– Rui, sou uma italiana falsificada, só como espaguete à bolonhesa, não
entendo nada de comida italiana, se fosse portuguesa acho que me sairia
melhor!
Ele gargalha, não achei tanta graça no que eu disse, mas enfim.
– Ok, Jack, então eu escolho! – Ele olha para o cardápio. – Eu adoro esse
daqui, são umas trouxinhas com uma mistura de amêndoas, queijo brie, e
mais um monte de coisas, o molho você escolhe, pode ser branco ou
vermelho.
– Parece muito bom! – A saliva está quase escorrendo pela minha boca. –
Vou te acompanhar, prefiro o molho vermelho. – E penso que na verdade
prefiro o branco, com muito creme de leite e muito queijo, mas é muita
caloria para um almoço só, terei que ficar um mês sem ver pão na frente.
– Você toma um vinho comigo? – ele diz de um jeito muito sedutor, parece
até que iremos para um motel depois disso, o que não seria uma má ideia, eu
queimaria essa comida toda e tiraria a larica que estou de sexo. Se depender
do Renato, vou viver a base de vibradores.
– Se meu chefe souber que estou bebendo no horário de trabalho, posso ser
demitida! – falo em tom de segredo e ele sorri.
– Fique tranquila, seu chefe não ficará sabendo, isso é entre nós! – ele diz
sedutor, e me encara por alguns segundos. Disfarço, pego a taça de água que
está sobre a mesa e bebo.
Agradeço a chegada do garçom, o Rui faz nossos pedidos e volta a me olhar.
Oh, minha santinha, preciso arrumar um assunto para conversar com ele, isso
é muito constrangedor.
– Há quantos anos você tem o escritório? – pergunto despretensiosa.
– Há dez anos, comecei logo que me formei, era uma sala no centro da
cidade, um muquifo na verdade! – ele diz descontraído. – Fui crescendo aos
poucos, depois aluguei uma casa, e há dois anos consegui fazer essa
construção onde estamos.
– História bonita! É muito difícil começar um negócio, começar do zero –
comento.
– Meu pai me ajudou muito, ele é advogado, mas eu não quis trabalhar com
ele, preferi começar sozinho. Sou meio burro, teria sido mais fácil, mas quis
bater a cabeça sozinho! – Ele diz remexendo a taça de água.
Sorrio o ouvindo contar sua história, não parece aquele homem que a Carol
dizia, frio, e calculista, parece apenas uma pessoa lutadora, querendo vencer
na vida.
– E você, Jack, por que escolheu Psicologia? – O vinho já foi colocado sobre
nossa mesa, ele beberica, enquanto me olha.
– Sei lá! – digo displicente. – Sempre gostei de ouvir os problemas dos meus
amigos, gostava de dar conselhos, achava que era boa nisso, entender as
pessoas. – Enquanto falo olho para um ponto cego da mesa, então volto a
olhá-lo, e o vejo me olhando profundamente. – Hoje em dia, sei que me
enganei, isso não basta para ser uma boa profissional.
Ele torce levemente seus lábios.
– Nem sempre é fácil ter sucesso em nossa profissão, isso não quer dizer que
você não tenha talento. – Ele mexe em sua taça. – Às vezes, tem o fator sorte
também.
– Talvez! – Inspiro. – Não sei dizer, só sei que não tive sucesso! – falo e olho
para ele, que me olha muito, e gostaria de ter coragem de dizer para ele parar
de me olhar desse jeito, é muito enervante.
Agradeço ao ver nossos pratos.
– O atendimento aqui é muito rápido! – falo ao ver o garçom se afastar.
– É que sou cliente vip, Jackeline! – Ele pisca para mim, e eu quase desmonto
na cadeira.
– Sorte a minha! – Pisco para ele, porque também sei fazer esse jogo.
Ele fica me olhando e sorri, acho que o surpreendi com minha brincadeira.
Talvez eu nunca tenha comido nada tão gostoso em minha vida, esse negócio
que ele pediu é para comer de joelhos. Mas, como a etiqueta diz, não limpo o
prato, minha vontade é pegar um bom pedaço de pão italiano e passar no
molho que sobrou, e comer até o último pedaço, mas é por isso que estou
desse tamanho. Então, deixo duas trouxinhas, com dor no coração, e no
estômago também.
– Não gostou, Jack?! – ele diz olhando para meu prato.
– Adorei, comi praticamente tudo! – falo falsamente.
– Vieram cinco pedaços, Jack! – ele diz indignado, e tenho vontade de
explicar para ele o problema que tenho com minha bunda e minhas coxas,
mas não o faço, ele não é meu amigo gay, ele é um homem lindo, que tem
uma noiva maravilhosamente magra.
– Já estou satisfeita, juro! – Faço um sinal com as mãos unidas. – Mas, te
garanto, nunca comi nada igual, é maravilhoso!
Ele sorri e pega uma trouxinha de meu prato, e olho aqui meio embasbacada,
ele é muito comilão.
– Você é bom de prato, Doutor Rui! – falo brincando, pois ele comeu todos
os pães da cesta, seu prato, e está acabando de comer o que restou do meu.
– Jackeline, se há uma coisa que gosto é de comer! – ele diz divertido, talvez
com uma ponta de cinismo, o que me leva a pensar que essa frase tenha duplo
sentido.
– Que bom que você não engorda, não é mesmo? – falo admirada, ele tem um
corpo magnífico, duvido que ele tenha problemas para engordar.
– Engordo, claro que engordo, mas eu malho todos os dias na academia que
tenho em casa, tenho um personal trainer que me ajuda, caso contrário eu
estaria bem gordinho. – Ele ri debochado.
– Que ótimo! – falo invejosa.
Ele olha em seu relógio de pulso.
– Você toma um café comigo? – ele diz todo cavalheiro, o que me faz pensar
que namoro com um ogro da idade média.
– Sim, adoro café! – respondo simpática, e preocupada com a taça de vinho
que tomei, parece que tudo está mais leve e solto, não sei como será minha
produtividade na parte da tarde.
Ele levanta o braço e pede os cafés.
Confesso que me surpreendi com a sensação boa que foi ficar com ele esse
período da manhã, pois diferente do que eu pensava, ele é leve, alegre e
divertido, e apesar de suas cantadas discretas, ele foi um cavalheiro a maior
parte do tempo.
Terminamos o café.
– Obrigada pelo almoço, adorei esse lugar, a comida é maravilhosa, pena que
não posso comer como você! – digo e ele dá um sorriso largo.
– Que bom que você gostou, agora já tenho companhia para vir aqui! – ele
me lança aquele olhar sedutor, mas tento não cair em sua teia.
– Sim, você arrumou uma companhia, mas não pode ser sempre, caso
contrário, em pouco tempo não passarei naquela porta! – Ele dá uma risada
contagiante.
– Você é linda, Jack, não se preocupe com isso!
O olho desconcertada, talvez enrubescida, e tento me recompor.
– Obrigada pelo elogio, mas continuo preocupada com o tamanho daquela
porta, talvez eu não caiba nela.
Ele sorri novamente, pega em minha mão e a beija.
– Obrigada pela companhia, você é encantadora!
Sorrio sem jeito.
Ele é um verdadeiro Casanova, muito galanteador. Se eu fosse mais
inocente, estaria em sua cama em poucas horas.
Capítulo 12
JACKELINE BARTOLLI

O caminho de volta para o escritório foi especialmente agradável.


Diferente do que eu imaginava, o Doutor Rui é muito falante, transmite
uma energia e uma vivacidade que empolga e anima até um defunto.
A distância entre o restaurante e seu escritório não é grande e nem demorada,
e eu agradeci, porque ficar com esse homem num espaço tão pequeno me
causa certo nervosismo.
Ele estaciona seu carro e me olha.
– Obrigado novamente pela companhia! – Ele sorri.
– Por nada, eu que agradeço! – falo sem graça, não estou acostumada com
tanta educação e cavalheirismo.
Ele sai do carro e o acompanho até a porta do escritório.
A recepcionista o vê e se levanta rapidamente.
– Boa tarde, Doutor Rui! – Ela sorri largo e só falta se jogar em cima dele. –
Posso ir à sua sala? Tenho alguns assuntos para tratar com você! – ela diz
parecendo uma cachorrinha carente.
A olho com dó, talvez ela esteja com ciúmes, mal sabe ela que não estou a
fim de me tornar a nova amante de seu chefe.
– Trate esses assuntos agora com a Jackeline. – Ele diz sério, destoando do
homem que eu vi agora a pouco, e se dirige a mim. – Por favor, Jackeline,
veja os assuntos e depois fale comigo. – E o olho enquanto ele caminha até as
escadas e sobe rapidamente.
Volto a olhar para a recepcionista e sorrio para amenizar o clima, ela ficou
com uma cara de quem comeu e não gostou.
– Pois não, Karen? – A olho com cara de boazinha.
Ela me olha confusa, segurando alguns papéis na mão.
– Oh... – Ela parece perdida.
– Pode falar, algum problema?! – falo para irritá-la.
– Não! – Ela me olha com firmeza e pega um papel. – Aqui estão os recados
para o Doutor Rui. – Olho para a folha e vejo algumas ligações, com
anotações ao lado.
– Ok. – Olho para ela novamente. – Mais alguma coisa?
Ela me olha, parece sem graça.
– Essas correspondências chegaram hoje também. – Ela me entrega algumas
cartas.
Sério que ela queria subir até a sala dele para passar algumas ligações e
correspondências?
Oh, como ela é carente, deve estar com saudades de sentar no colo no
chefinho! – penso com um sorriso malicioso no rosto.
– Tudo bem, eu passo para ele. – Olho com um sorriso. – Mais alguma coisa?
– De novo, quero deixá-la sem graça.
– Não, é só isso mesmo – ela diz constrangida.
– Então, tudo bem. – Viro para sair, mas volto. – Obrigada por me ajudar
com as ligações.
E saio me rebolando, é gostoso tirar o doce da boca de uma criança grande e
descarada.
****

Escovo rapidamente meus dentes, repasso meu batom vermelho e volto para
minha mesa.
Já começo a gostar daqui, é tudo tão bonito, com cheiro de coisa nova, e
minha sala é tão confortável e bem decorada!
– Quero muito que esse emprego dê certo! – penso.
Repasso em minha mente tudo que li ontem no curso online para secretárias.
Número um: ser prestativa.
Ok, me levanto e pego a lista de ligações da Karen, sigo com ela e as
correspondências até a sala do meu chefinho lindo, acho que vou chamá-lo
assim na intimidade.
Dois toques na porta, e a abro.
– Com licença. – Olho em direção a sua mesa, e o vejo com seus óculos, ele
lembra o Clark Kent, em sua figura de jornalista, ele está lendo alguns
documentos.
– Pode entrar, Jackeline! – Ele ainda não se acostumou com meu apelido,
mas quer saber, acho que forcei a barra, não precisava ter dito aquilo, acho
que me empolguei.
Sigo até sua mesa sob seu olhar, ele encosta suas costas na cadeira e me olha
com o rosto de lado.
Eu compreendo a Karen, é difícil não cair no charme desse homem.
– Aqui estão as ligações, e algumas correspondências – falo com firmeza,
está na hora de eu assumir minha postura segura, não sou assim tão medrosa,
nunca fui.
Ele me olha por alguns segundos, volta a sua posição, olha para o papel, risca
alguns nomes e me devolve.
– Ligue para os que não estão riscados, diga que é minha secretária. Pergunte
no que pode ajudar, e depois você me passa os assuntos. – Ele retorna ao que
estava fazendo.
– Ok! – Olho para o papel e depois para ele, mas ele já está absorvido por
aquele papel a sua frente, giro nos meus calcanhares e volto para minha mesa.
Me sento, olho para a lista de ligações e tomo coragem.
Ok, eu sei fazer isso. Não é tão difícil, Jackeline.
Ligo para o primeiro número.
Um homem atende, leio seu nome na anotação da recepcionista.
– Boa tarde, Senhor Macedo! Aqui é Jackeline, a secretária do Doutor Rui
Figueiredo! – Sinto meu coração explodindo em meu peito.
– Boa tarde, Senhora Jackeline! Como vai?
Solto o ar que estava preso em minha garganta.
– Bem, obrigada, e o senhor?
Giro meus olhos, apressada para resolver logo esse assunto.
– Muito bem! – Ele pigarreia. – Bem, estou há alguns dias precisando falar
com seu chefe, é a respeito de um processo que entreguei à sua firma de
advocacia.
– Certo – falo relutante.
– Paguei uma fortuna para esse malandro cuidar disso, e até agora não
tenho uma posição... – Ele começa a ficar nervoso, e eu em pânico.
Merda, por que ele mesmo não ligou para esse maluco?! – penso.
– Oh, eu entendo... – Pensa, Jackeline, como saio dessa? – Então, Senhor
Macedo, eu preciso me posicionar quanto ao seu processo, para saber como
está o andamento... – falo relutante.
Ele me interrompe bruscamente.
– Cadê o seu chefe? Eu quero falar com esse filho da puta agora!!! – Ele
esbraveja no telefone.
Meu coração dispara.
– Oh, ele não está, senhor, mas eu o ajudarei com isso... – falo em pânico, se
o filho da puta do meu chefe não quis falar com ele, deve ter um motivo.
– Eu irei até o escritório de vocês, vou quebrar tudo! Eu quero falar com
esse maldito!!! – ele grita, eu afasto o telefone e xingo mentalmente o meu
chefe.
– Ele viajou, Senhor Macedo, para os Estados Unidos. Existe um processo
muito complicado com a justiça americana, ele anda com sua cabeça a mil
por hora, com certeza ele não se esqueceu do senhor. Não, com certeza, não,
ele tem muito respeito e consideração por seus clientes... – Abaixo minha
cabeça, e seguro minha testa com a mão.
Jesus, onde me enfiei?!
– Espero que sim, senhora... – Ele gagueja.
– Jackeline! – falo rapidamente.
– Isso, eu quero uma posição sobre o meu processo ainda hoje, senão
colocarei fogo nessa birosca – ele grita de novo, e eu pulo na cadeira.
– Oh, não será necessário incendiar o escritório, o senhor teria um processo
contra danos ao patrimônio, não seria aconselhável. – Nem eu sei de onde
tirei isso, acho que li em algum jornal.
– Ok, Dona Jackeline, eu espero sua ligação o mais rápido possível, caso
contrário irei visitá-la, e não será nada agradável.
– Claro, eu retornarei para o senhor em breve, e assim que toda essa
confusão passar, o senhor poderá nos visitar e tomar um café. Tenho certeza
que foi só um mal-entendido.
– Espero! – ele diz mais calmo. – Passar bem... – Ele bate o telefone na
minha cara com toda força.
Desligo o telefone, cubro meu rosto e inspiro com força.
Meu Deus, como resolvo isso?
Mas antes que eu possa pensar, ouço palmas discretas. Olho assustada em
direção à porta do escritório do meu chefe filho da puta e lá está ele, com o
corpo apoiado no batente da porta, um sorriso no rosto, aquele sorriso de
cafajeste, e batendo palmas suavemente.
– Parabéns, Jackeline! – Ele segue até minha mesa. – Você me surpreendeu!
– Ele me olha com um sorriso.
– Isso foi um teste?! – falo atônita.
– Mais ou menos, eu realmente não queria falar com esse cara, ele anda meio
nervoso. – Ele torce os lábios. – Mas você se saiu melhor do que eu,
provavelmente eu teria mandado ele se foder, você tem muito jogo de
cintura! – Ele se inclina sobre minha mesa e ficamos muito próximos, eu
sinto o cheiro de pasta de dente, e vejo de pertinho aqueles olhos lindos.
– Certo. E o que faço agora? – falo absorvida pelo seu olhar.
– Deixa comigo, vou pedir para um advogado ligar para ele e passar o status
do seu processo. Assim que estiver resolvido, você liga para ele e marca um
café, aqui na empresa, nunca marque nada com um cliente sem que eu saiba,
e de preferência que seja aqui, dentro do escritório. – Sua expressão muda,
ele fica sério e sei lá, parece possessivo.
Oh, será que o Doutor Rui tem distúrbios de comportamento? É só o que me
faltava!
– Sim, claro, não pretendo tomar café com ninguém, era só para acalmá-lo! –
respondo meio acuada, vendo aquele homem enorme em cima de mim e sua
expressão séria.
– Certo, melhor assim. – Ele se distancia. – Pode fazer as outras ligações. –
Ele volta a seguir para sua sala.
– Doutor Rui! – O chamo assustada. – Algum outro cliente desta lista está
bravo com você?
Ele dá uma gargalhada, e eu tenho vontade de socá-lo.
– Não, os outros estão calmos! – Ele me olha divertido, me sinto uma
marionete na mão deste homem, que parece se divertir com minha
inexperiência. – Pode ligar, te garanto que ninguém vai querer incendiar
nosso prédio.
Ele vira as costas e entra em sua sala, deixando o rastro de seu perfume
viciante.
Reviro meus olhos e volto à minha “Lista de Schindler”.
O próximo cliente é uma mulher.
– Boa tarde! Senhora Maria Helena? – pergunto temerosa.
– Sim, ela mesma! – Uma voz altiva e levemente grave.
– Sou a Jackeline, secretária do Doutor Rui Figueiredo – falo devagar,
esperando pela próxima explosão.
– Oh, como vai? E a Valquíria, não trabalha mais com o Rui? – ela diz com
intimidade.
– Parece que foi ganhar bebê, estou cobrindo ela – falo insegura, nem sei
quem era sua antiga secretária.
Ela dá uma risada.
– Espero que a criança não seja dele! – Ela continua rindo.
Abro levemente meus lábios, entre o choque e a surpresa.
Será que ele só tem cliente esquisito? E que história é essa da criança ser
dele?
Cruzes, que homem complicado!
– Oh, eu realmente não sei! – falo sem graça. – Gostaria de saber se posso
ajudá-la, o Doutor Rui está muito ocupado com alguns processos grandes e
complicados...
Ela me interrompe, e chego à conclusão que ele mentiu, só tem encrenca
nessa lista.
– Me poupe, querida. Eu sei que o Rui não quer me atender, ele acha que sou
alguma idiota, ele não atende meu celular, não retorna minhas mensagens, e
agora está fugindo de mim.
Fecho os olhos, e os cubro com a mão.
– Bem, estou aqui para ajudá-la. – Suspiro. – Quer deixar algum recado, ou
me dizer do que se trata o assunto, eu posso tentar resolver...
– Meu assunto é pessoal, querida, nada que você possa resolver. – ela diz
num tom meio irritado. – Diga a ele que se ele não me ligar, irei
pessoalmente ao seu escritório.
Oh, todo mundo quer vir ao escritório do Doutor Rui, pelo visto ele está
cheio de visitas inesperadas.
– Certo, darei o recado – falo pausadamente.
– Ele continua namorando aquela criança? – ela diz com um tom de inveja.
– Criança? – pergunto confusa, será que ela está falando da tal Priscila?
– Sim, aquela menina idiota que ele arrumou para se divertir.
Reviro meus olhos, ela deve ser um antigo caso, descartado e magoado.
– Oh, Senhora Maria Helena, eu sou nova aqui, não sei nada sobre a vida do
Doutor Rui. Mas, direi que você ligou, e que precisa falar com ele com
urgência. Está bem assim? – falo simpática.
– Sim... – Ela funga, e percebo que está chorando. – Jackeline, esse filho da
puta me trocou por uma mulher vinte anos mais jovem, você sabe o que é
isso?!
Oh, meu Deus, ele é pior do que pensei, e ainda diz que não tem mais
ninguém bravo na lista.
– Oh, que coisa chata, sinto muito! – falo revirando meus olhos. – Os homens
são assim mesmo, Maria Helena. – Uso um tom íntimo. – Eu sei muito bem o
que é isso, tenho quase 30 anos e meu namorado não é grande coisa também.
A ouço suspirar.
– Fomos muito apaixonados um pelo outro, mas você sabe, com o passar do
tempo já não temos o mesmo corpo, e aí eles se livram da gente e pegam uma
com a metade da nossa idade.
Jesus, agora serei conselheira amorosa, era só o que me faltava.
– O importante é se valorizar, Maria Helena. Não o procure mais, mostre
que você está em outra, você me parece uma mulher excepcional, devem ter
muitos homens interessantes querendo conhecê-la, ter um relacionamento,
não se rebaixe, é isso que eles querem. – Assumo minha postura de
terapeuta, é isso que me resta.
– Oh, querida, você é um doce de pessoa, bem diferente da antiga secretária.
Provavelmente aquela “zinha” era mais uma de suas amantes.
Oh, ele realmente tem mais mulheres que um sheik árabe! – penso.
– Não a conheci, seria feio falar mal dela! – Tento ser política. – Mas, enfim,
adorei conhecê-la, Maria Helena, e desejo sorte, levante a cabeça, se
valorize, nós mulheres temos tendência a nos depreciar. – Falo cheia de
vontade. – E escute uma coisa: uma mulher de 40 é muito melhor do que uma
de 20. Explore sua experiência, se solte e vivencie com plenitude sua melhor
idade, você não é mais uma gatinha, agora você é uma tigresa!
A ouço rindo espalhafatosamente.
– Nossa, você é muito melhor que minha terapeuta! Que pena que não se
formou em Psicologia, teria sido uma terapeuta excepcional!
Faço cara de idiota, nunca fui valorizada por isso, e agora como secretária,
ouço que deveria ter sido terapeuta.
Oh, meu Deus, minha vida é realmente bem engraçada.
– Obrigada! Espero que dê tudo certo em sua vida. – Faço voz de terapeuta e
desligo.
Doutor Rui, você é um grande idiota! – penso irritada.
Termino de fazer as outras ligações que me restavam, minha expectativa era
bem ruim, mas até que me surpreendi, os outros eram realmente clientes
querendo falar com ele, nenhuma amante ou cliente psicopata.
Suspiro aliviada, pego minhas anotações e sigo para sua sala.
A mesma coisa de sempre, dois toques, abro a porta e o vejo falando no
telefone, ele sinaliza com a mão para eu entrar, caminho até ele, e ele
gesticula com os lábios:
– Sente-se!
Ele conversa compenetrado com alguém no telefone, usa muitos termos
técnicos de advogado, gesticula muito, parece até um italiano, e finalmente
quando desliga me olha e sorri.
Tenho vontade de chamá-lo de palhaço, mas não o faço, preciso do emprego.
– Pois não, terminou as ligações? – Ele descansa seu braço no apoio da
cadeira, segura seu queixo e me olha.
Não aguento, eu tenho que falar sobre a Maria Helena.
– Terminei, e aproveitei e fiz uma sessão de terapia com a Maria Helena, ela
está muito magoada com você, parece que você está fugindo dela, mas acho
que nos livramos desse encosto, não sei até quando, mas enfim... – Olho para
ele e não consigo deixar de sorrir.
Ele dá um sorriso contido, de canto de boca, e me olha daquele jeito que dá
vontade de pular em seu colo, e penso na Karen, e de novo, me sinto em
dívida com ela.
– Se você se livrou dessa mulher, vou te dar um presente, pode escolher o que
você quiser! – Ele me olha com um sorriso, ele tem uma boca linda, e deve
ser uma loucura tê-la...
Oh, meu Deus, o que estou fazendo?! Olhando para meu chefe e imaginando
pornografias com ele.
Olho para ele de lado.
– Promessa é dívida, estou anotando aqui em meu caderninho! – Finjo
escrever. – Pelo tamanho do pacote, talvez um carro, assim não precisarei
mais pegar ônibus. – Brinco, por que me sinto à vontade com ele, e é
estranho isso, só nos conhecemos há dois dias!
Ele dá risada.
– Oh, saiu cara essa ligação, pensarei duas vezes da próxima vez! – Ele volta
a sua posição, cruza seus braços na mesa e me olha intensamente. – O que
mais?
O olho sem graça, talvez eu tenha exagerado na brincadeira.
Discorro sobre as outras ligações num tom profissional.
– Perfeito, Jack, parabéns! Você está se saindo melhor do que eu imaginava.
– Oh, obrigada, mas não acho que fiz muitas coisas, ainda preciso melhorar
muito! – Me levanto. – Quer alguma ajuda, precisa de algo? – falo em um
tom profissional.
Ele me olha longamente, sorri, balança a cabeça.
Sério, esse homem me enerva muito.
– Peça para a copeira trazer um café e uma água para mim. – Ele olha em seu
relógio. – Acho que por hoje está bom, abra seu e-mail, eu enviei algumas
coisas para você, dê uma olhada, se tiver dúvidas, me fale.
– Tudo bem! – Dou um sorriso contido, daqueles que só movemos os lábios,
sem mostrar os dentes. – Com licença.
Me viro e saio depressa de sua sala, e sempre tenho aquela sensação de estar
sendo observada, e isso é bem irritante.
Capítulo 13
JACKELINE BARTOLLI

C onforme ele me pediu, abro pela primeira vez meu e-mail e vejo as coisas
que ele me passou. Me sinto animada, porque aos poucos começo a me
sentir útil e não um vaso de samambaia.
Alguns assuntos eram internos e precisei ligar para alguns advogados colegas
da Carol, me apresentei e fiz o que ele me pediu. Outros assuntos eram
ligações externas, processos para arquivar, e algumas coisas administrativas,
como controle de material de escritório, pagamento de contas, entre outras
coisas.
Anoto tudo com atenção em meu caderno (conforme li em meu curso online)
e vou riscando conforme finalizo um trabalho. Termino de ligar para as
pessoas que ele mencionou e sorrio satisfeita ao ver que consegui fazer tudo,
e que não precisei pedir ajuda ao meu mestre lindo.
O telefone toca em minha mesa, já é final de tarde, o atendo prontamente.
– Jackeline, boa tarde!
– Oi, Jackeline, aqui é da administração. – Uma voz engraçada fala meio
abafada, mas logo cai na risada.
– Carol? – pergunto insegura.
– Oh, Jack, você quase caiu na minha pegadinha! – Ela ri feito uma tonta.
– Ei, Carolina, não temos mais 15 anos! – Reviro meus olhos.
– Mas eu adoro te fazer pegadinhas. Você é bem distraída, cai em todas... –
Ela continua rindo.
– Fala, advogada, no que posso ajudá-la? – pergunto tentando ser formal.
– Ui, que voz mais sexy, é assim que você fala com nosso chefe?! – ela diz
maliciosa.
– Não!!! – respondo indignada.
– Fiquei sabendo que você passou quase o dia todo fora com ele. Foram
para um motel, foi isso?
Arregalo meus olhos, como assim, ela já sabe disso?!
– Carolina, você me conhece, e sabe que tenho um relacionamento sério.
Quem falou isso para você?! – falo exaltada.
– Calma, minha flor, estou brincando. Mas que todo mundo está sabendo que
o chefe agora te leva a tiracolo, isso é verdade! – Ela ri.
– Que coisa mais chata! – falo chateada. – Sou nova aqui, Carol, estou
fazendo o que ele me pede.
– Eu sei, bobinha, mas ele é bem espertinho. Ele não tentou nada? Pode me
contar! – ela diz em tom de segredo.
– Não! – falo com veemência. – Eu só o acompanhei a um Fórum, e... –
penso se digo que almoçamos juntos, mas foda-se. – ...e almocei com ele, e
isso foi ótimo, pois não tenho dinheiro para nada!
– Hum, ele nunca fez isso com nenhuma secretária, sabia?! – ela diz em tom
malicioso.
– Talvez, porque as outras eram secretárias de fato. Eu não sei nada, e esta
foi a forma dele me fazer entender o seu trabalho – bufo irritada. – Sei lá,
Carol, não me enche com isso.
– Tá bom, mas só te digo uma coisa: esse homem é perigoso, tome cuidado
com ele! – ela diz séria.
– Ok, obrigada por avisar – reviro meus olhos.
– Bom, só queria saber se está tudo bem? – ela diz carinhosa.
– Está! Aos poucos estou pegando o jeito, mas está sendo muito legal,
interessante! – falo animada.
– Que bom! Estou cheia de trabalho, vamos ver se almoçamos amanhã? –
Ela diz animada.
– Carol, estava pensando em trazer um lanche e comer por aqui. Tomamos
um café, o que você acha?
Ela bufa do outro lado da linha.
– Eu pago, meu Chuchu! – Ela imita o Renato.
– Não, obrigada. Quando eu receber meu salário, estou cheia de depender
dos outros! – falo decidida.
– Você é uma chata, Jack! Depois nos falamos, um beijo.
Desligamos a ligação.
Olho distraída para meu celular sobre a mesa e vejo uma mensagem
piscando.
Abro a mensagem e me surpreendo, é do Renato.
“Oi, Chuchu, tudo bem? Bom, eu sei que te disse que estava enrolado essa
semana, mas pensei em sairmos para comer uma pizza, enfim, não quero que
você fique chateada comigo, eu te amo muito.”
Oh, pizza?! – penso desanimada.
Parece que tudo me remete a carboidratos, todo mundo quer me ver gorda,
até o Renato, que me chamou de gorda na lata.
Mas eu queria me acertar com ele, sinto sua falta. São quatro anos juntos, não
quatro dias, eu gosto dele, e queria muito que déssemos certo.
Respondo:
“Não posso comer pizzas, me chamaram de gorda recentemente. Talvez uma
salada, um suco.”
Vejo que ele está digitando uma mensagem:
“Jack, desculpe por aquele dia, você é uma mulher linda.”
Leio a mensagem e me sinto emotiva, a opinião dele sobre mim é muito
importante. Ele é muito mais que meu namorado, somos grandes amigos
antes de tudo.
Respondo:
“Obrigada, mas acho que estou meio gorducha. Então, não quero comer
pizza, mas quero te ver, estou com saudades!
Um novo toque de mensagem chegando, a abro rapidamente.
“Ok, então vamos a um lugar que só faz saladas e grelhados, conheci com o
pessoal da corrida, você vai gostar. Pode ser às 21h, no meu apartamento?”
Oh, ele sabe que não tenho carro, por que ele faz isso?
Respondo irritada.
“Eu irei direto do trabalho, e você precisará me levar para casa, não tenho
roupa para me trocar e estou em um trabalho novo, depois te conto.”
Ele responde em seguida.
“Ok, Jack.”
Olho em meu relógio de pulso, já passa das 18h, acho que já posso ir.
Ok, mas antes preciso ver com meu chefinho lindo e palhaço. Então, sigo até
sua sala, bato na porta e o encontro na mesa de reunião, com muitos papéis a
sua frente.
Ele levanta seu olhar, tira seus óculos de super-homem e me olha
intensamente.
– Quer uma ajuda? – falo solicita, mas de fato, estou preocupada que agora
tenho um compromisso, e mesmo que eu não esteja muito longe do
apartamento do Renato, terei que pegar um ônibus.
Ele me olha e então diz:
– Não, pode ir!
Respiro aliviada.
– Boa noite, e até amanhã! – Sorrio para ele.
– Boa noite, Jack! – ele diz sério, compenetrado, e volta ao que estava
fazendo.
Ele trabalha muito, e lê muito, e isso deve ser muito cansativo.
Sigo até minha mesa, ajeito as coisas, guardo o que preciso na gaveta, desligo
meu computador, e sigo para a saída.
Passo pela Karen, que me olha de lado.
– Até amanhã, Karen! – falo simpática, mas não ouço a resposta.
Sorrio, ela é muito tonta.
****

Chego a um ponto de ônibus, pergunto para algumas pessoas se conhecem


alguma linha que passe na avenida mais próxima ao apartamento do Renato,
e depois de muita confusão e discussão entre os passageiros, descubro a linha
que preciso tomar.
Balanço minha cabeça, e penso:
– Como é duro ser pobre!
Logo vejo o ônibus que me disseram, faço sinal, subo, e depois de algum
tempo consigo me sentar próxima à saída.
O trajeto é rápido, essa é a vantagem do transporte coletivo. Logo estou
caminhando pela avenida, ando alguns metros, chego ao prédio do Renato e
respiro aliviada, pois o salto alto está me matando.
Aperto o interfone e vejo o porteiro atender.
– Boa noite! Vou ao apartamento 1.501, sou a noiva do Renato. – Reviro
meus olhos, porque tenho que passar por isso sempre que venho aqui, isso é
tão humilhante.
– Um momento, moça! – O rapaz diz, e após alguns segundos retorna. – Ele
não está atendendo, provavelmente não está no apartamento.
Arregalo meus olhos, não posso ficar plantada aqui, merda!
– Oh, o senhor não pode me deixar entrar? Eu espero na recepção – falo
irritada.
– Qual o seu nome? Deixe-me ver se a senhora está autorizada pelo Senhor
Renato a entrar.
– Jackeline Bartolli! – falo nervosa.
Ele demora alguns minutos e retorna.
– Infelizmente não consta seu nome aqui, me desculpe! – Ele fecha sua
cabine.
Olho para cima e tento segurar as lágrimas.
Será que isso é normal? Na verdade, parece que tudo em nosso namoro é
anormal, esquisito...
Fico em pé ali, feito uma árvore, olhando os carros passarem. Tento ligar para
o babaca, mas a ligação cai direto na caixa postal, e resolvo mandar uma
mensagem.
“Renato, já cheguei a seu apartamento, e como não estou autorizada a subir,
estou plantada feito uma árvore aqui na rua. Por favor, venha rápido, senão
irei embora.”
Checo diversas vezes para ver se ele leu minha mensagem, mas nada.
Respiro fundo e seguro a vontade de chorar, caminho até o final da calçada,
espero o movimento dos carros para que eu possa atravessar, e então um
carro preto para no meio fio, abre o vidro, e eu o vejo.
– Tudo bem, Jackeline? – É o Doutor Rui, parece que ele sempre me encontra
em situações constrangedoras.
– Oi, que coincidência o encontrar! – falo sem graça.
– O que você está fazendo aqui? – Ele franze sua testa. – Quero dizer, por
que você está aqui na rua? Imagino que você veio no apartamento do seu
namorado. – Ele me olha de lado.
– É verdade! – Inspiro. – Mas ele não está, e não posso entrar, não tenho a
chave de seu apartamento, então estou indo embora – falo de uma vez,
tentando manter o resto de dignidade que ainda me resta.
Ele me olha por longos segundos, e então fala:
– Quer esperar por ele em meu apartamento? – Ele me olha sério.
Minha cabeça pensa, mas não consigo chegar a um veredito, acho que não é
uma boa ideia.
– Acho que não, eu não consigo falar com ele... – Me sinto tão mal,
humilhada.
– Tudo bem, você sobe, espera um pouco, se ele não se comunicar com você,
você vai embora. – Ouço um barulho de destravamento de portas. – Dê a
volta, você entra pela garagem comigo.
Me sinto muito envergonhada.
– Ok! – Dou a volta em seu carro e entro. – Não quero incomodá-lo, eu já
estava indo embora.
– Não se preocupe, eu não tenho nenhum compromisso, iria ficar em casa
mesmo. – Ele dá de ombros, olha para frente e segue com seu carro até a
entrada do estacionamento.
Em alguns minutos ele estaciona, abre sua porta e o sigo até o elevador.
Ficamos em um silêncio pesado, estou incomodada, acho que deveria ter ido
embora e pronto.
– Eu moro na cobertura! – ele diz apertando o último andar. – Não gosto
muito de apartamentos, sempre morei em casas, mas não seria conveniente
para um cara sozinho – ele diz despreocupado. – Mas, a cobertura dá uma
liberdade maior, e menos encheção de saco com vizinhos.
Sorrio para ele, mas não estou no clima de sorrir, estou com vontade de
chorar.
– Também moro em apartamento, e a vizinhança é de matar, é batucada dia e
noite!
Ele sorri, parece entender que não estou muito bem.
O elevador abre e parece ser privativo, estamos dentro do seu apartamento,
que por sinal é uma coisa de louco, maravilhoso. Apesar de o Renato morar
no mesmo prédio, seu apartamento é muito diferente, o do Rui é enorme e
impecável, parece saído de uma revista.
Ele adentra no apartamento, e de repente, um filhote de urso vem em minha
direção e petrifico. É um cachorro grande e peludo, com cara de bonzinho,
mas vai saber.
– Bóris! – ele diz enérgico, o animalzinho para e sai correndo atrás dele, pula
e lambe o dono inteiro, e vejo pela cara de felicidade do Doutor Rui, que a
felicidade é recíproca. – Esse aqui é meu mascote – ele diz após o cachorro
sossegar. – Ele não faz nada, mas lambe muito.
Sorrio ao ver aquele bicho lindo e peludo se sacudindo todo a minha frente.
– Ele é lindo e fofo! – Me agacho à sua frente e recebo um beijo de língua,
não foi recíproco, só ele me beijou. – Oh, você é bem danadinho! – digo me
levantando toda babada.
– Oh, Jackeline, acho melhor você ir até o lavabo! – Ele indica com a mão o
local, com uma cara de riso.
Caminho até o lavabo que é lindo, tudo aqui é lindo, estou babando feito seu
cachorro.
Tiro o batom com o papel higiênico e lavo meu rosto, a língua do cachorro
lambeu minha boca, nariz e testa. Repasso meu batom e saio, e vejo o Doutor
Rui sentado no sofá com o seu mascote do lado, todo feliz, parece sorrir.
– Ele passa o dia todo sozinho? – pergunto me sentando ao seu lado.
– Eu pago um rapaz para passear com ele duas vezes por dia, mesmo assim
ele é muito ansioso! – Ele alisa o pelo do cachorro, parece adorá-lo.
– Lindo, pena que não tem modos, fica beijando uma desconhecida sem
pedir! – falo olhando para o bichinho que sorri para mim.
– Ele é esperto! – Olho para o Doutor Rui e ele faz aquela cara de cafajeste.
– Vem aqui, Bóris, mas sem beijos! – Chamo o cachorro que vem todo se
rebolando, para na minha frente e fica me olhando com aqueles olhos de
pidão. – Adorei você!
– Ele também gostou de você. – Olho para o Doutor Rui e ele está com
aquele seu olhar que me incomoda. – Bebe alguma coisa, Jackeline? – Ele se
levanta e o observo caminhando até um local cheio de bebidas.
– Não, obrigada – falo sem graça, é tão estranho estar em seu apartamento.
– Me faça companhia – ele diz olhando para mim, e vejo uma garrafa de
vinho em sua mão.
Penso um pouco, acho que preciso relaxar. O que há de errado em uma taça
de vinho?
– Vou aceitar, não estou mais no horário de trabalho, e meu chefe não está
vendo! – Brinco.
Ele abre aquele sorriso sedutor.
– O Bóris não me larga, acho que foi amor à primeira vista – falo vendo o
cachorro se apoiar em minhas pernas, e deitar sua cabeça em meu colo.
– Desculpe, Jackeline, eu vou colocá-lo para fora! – Ele faz menção de tirar o
cachorro.
– Não, eu amo cachorros, e o seu é lindo demais, dá vontade de levar para
casa – falo o olhando apaixonada. – Nunca tive um, nosso apartamento não
comporta animais, mas sempre me diverti com os bichos dos outros. – Falo
enquanto acaricio o pelo macio do bichinho.
Vejo a taça a minha frente e a pego.
– Obrigada! – Imediatamente tomo um gole. Estou tentando me controlar,
mas estou uma pilha de nervos.
– Você disse que namora há quatro anos, é isso? – ele pergunta sentando-se
ao meu lado.
– Isso! – falo chateada.
– Todo esse tempo e você não tem a chave do apartamento do seu noivo? –
ele diz enquanto bebe seu vinho.
– Não somos noivos, só namorados, ele não mora há muito tempo aqui, deve
ser por isso... – Desconverso, pego o celular e olho novamente para o
aplicativo de mensagens, e vejo que ele não leu minha mensagem ainda. –
Ele deve ter entrado em alguma reunião de última hora, ele é o controller de
uma grande empresa.
Não sei por que estou falando isso, me sinto patética, nada na minha vida
mudou desde que ele foi promovido, há dois anos, ao contrário, ele só está
cada vez mais estranho comigo.
– Moro aqui há cinco anos, não conheço muitas pessoas, mas acho que já vi o
seu namorado, nos cruzamos no elevador.
O olho constrangida.
– Não quero te atrapalhar, Rui. Fique à vontade, o Bóris me faz sala! – Olho
para ele sem graça.
Ele termina de tomar seu vinho.
– Se você não se incomoda, eu vou tomar um banho. – Seu olhar é diferente,
não sei, talvez carinhoso. – Mas, fique à vontade, tem uma área externa, pode
abrir a porta e ir lá para fora, enfim... – Ele diz parecendo também sem graça
com minha presença.
– Ok, obrigada! – digo novamente, e vejo-o seguir para uma escada.
– Sério, Bóris, não sei o que vou fazer quando encontrar o babaca do meu
namorado. Talvez cortar o pinto dele fora e dar para você comer, o que você
acha? – Olho para o bichinho que me encara. – Você parece seu dono, fica
me encarando, eu não gosto disso, sabia?
Oh, acho que estou ficando doida, agora converso com animais! – penso.
– Vamos, Bóris, me mostre a área externa, você deve gostar de ir lá fora.
****
A noite está linda, com uma lua enorme, muitas estrelas, aqui de cima é tudo
mais bonito, a cidade, a lua, as estrelas.
Deve ser muito bom namorar num lugar desses.
Sou uma idiota romântica, o dono desse apartamento não me parece o cara
mais romântico do mundo, ele é um belo de um comedor de mulheres, deve
ter visto mais bucetas que um ginecologista.
Ando pelo ambiente extasiada, nunca estive num lugar como este. Uma linda
mesa de madeira com cadeiras confortáveis enfeita o ambiente, e do lado
esquerdo há uma pequena área de churrasqueira, tudo feito com muita
sofisticação, e uma piscina acima do nível do piso. Subo os três lances de
escada e chego a um deck, e encontro uma linda piscina, apenas com uma
raia, mas perfeita para dar um mergulho. Olho ao redor e vejo muitos vasos,
grandes e imponentes, circundando o ambiente, tudo é muito bonito, de bom
gosto.
Toda a área externa é circundada por uma proteção de vidro transparente, me
sento em uma espreguiçadeira grande, parece um sofá, e olho a cidade, aqui é
muito lindo.
De repente, sinto um molhadinho em meu rosto, olho assustada e lá está o
mascote tarado do Doutor Rui, ele subiu na espreguiçadeira e se sentou ao
meu lado.
– Você é muito dado, menino! Puxou ao seu pai, é?! – falo acariciando sua
cabeça. – Você me parece uma companhia deliciosa de se ter. – Ele me olha
sorrindo. – Ok, você merece um beijo, por que realmente me fez esquecer a
grosseira do meu namorado ogro. – Me inclino e beijo sua cabecinha. – Você
é lindo! – Mais um beijo, estou amando esse cachorro.
– Ele vai ficar mal-acostumado, Jack!
Puxo o ar, será que ele ouviu o que eu disse?
Olho de lado e o vejo, e me falta o ar.
Ele está vestindo uma calça jeans bem despojada e uma camiseta branca
justinha ao corpo, mostrando seu tórax e braços definidos e fortes.
Que homem, meu Deus, queria muito ser a tal Priscila! – penso enfeitiçada.
– Estamos conversando um pouquinho, é ótimo conversar com cachorros,
eles não respondem, não reclamam, é só amor e atenção! – falo em tom de
brincadeira.
– Acho que ele está meio abusado. – Ele diz se sentando em uma cadeira
confortável próxima a minha. – A noite está boa para ficar aqui. – Ele me
olha.
– Adorei aqui, é muito lindo, nunca estive em uma cobertura e realmente a
visão é privilegiada – falo com sinceridade.
– Confesso que não venho muito aqui fora, preciso fazer isso mais vezes! –
Ele olha para fora do prédio. – Mais uma taça de vinho, Jack? – ele diz se
levantando.
– Preciso checar meu celular! – Me levanto com ele e vejo o Bóris atrás de
mim, e sorrio.
Minha bolsa está sobre o sofá, busco o celular no bolso dianteiro e o olho
ansiosa.
Nenhuma ligação, nenhuma mensagem.
Puxo o ar, eu não acredito que ele me mandou vir até aqui e simplesmente me
esqueceu, ele tinha obrigação de me ligar, me avisar...
Vejo novamente uma taça de vinho na minha frente, sorrio, mas de verdade,
eu não deveria estar bebendo assim, não aguento bebida, e de estômago
vazio, pior ainda.
– Obrigada! – Pego o vinho. – Deve ter acontecido alguma coisa! – falo
constrangida, sentindo seu olhar sobre mim.
– Talvez a bateria do celular acabou e ele não consegue falar com você, ou
mandar uma mensagem!
– É verdade, talvez eu devesse ir até seu apartamento, ele pode estar lá! – falo
sentindo a ansiedade tomar conta de mim.
– Vamos lá, eu te levo até o apartamento dele, se ele não estiver lá, eu te levo
para sua casa – ele diz sério, com uma leve ruga em sua testa.
– Oh, você é muito gentil, mas não se preocupe comigo, eu me viro. – Coloco
a taça de vinho pela metade sobre uma mesinha lateral e pego minha bolsa.
Ele se posiciona ao meu lado e sinto aquele cheiro maravilhoso me inebriar.
– Eu faço questão! – Ele faz um gesto com a cabeça para que eu siga na
frente, entramos no elevador, e logo ele abre no andar do Renato.
– Eu vou descer apenas para ter certeza que ele está aí! – ele diz quando
saímos do elevador.
Estou tão confusa que não falo nada, apenas ando relutante até a porta de seu
apartamento e ouço uma música ao fundo.
Meu coração dispara, olho para trás e vejo o Rui um pouco atrás de mim.
Crio coragem e aperto a campainha.
Ouço uma voz masculina se aproximar e de repente a porta abre e vejo um
cara sem camisa.
– Oi, pois não? – ele diz com um sorriso no rosto.
– Quem é você? – Sinto o sangue subir.
– Desculpe, quem é VOCÊ?! – Sua voz sai levemente efeminada, e não nega
sua preferência sexual.
Meu coração está do tamanho de uma ervilha, a Carol tinha razão!!!
– Eu sou a namorada do Renato! E você, é o que dele? – pergunto tentando
não pirar e quebrar tudo a minha frente.
De repente ouço a voz do Renato ao fundo.
– Léo, o que você está fazendo aí? – E ele aparece com os cabelos molhados,
colocando uma camisa e fica branco e mudo. – Jack! – ele diz desconcertado,
abotoando a camisa rapidamente. – Esse é meu amigo Leonardo, ele chegou
hoje de viagem, ele vai passar a noite aqui e vai embora amanhã. – Ele me
olha constrangido. – Você se lembra dele, ele fez faculdade comigo...
O ignoro.
– Eu te liguei e te mandei uma mensagem Renato – falo tentando conter
minha fúria. – Tínhamos combinado que eu te encontraria aqui! – falo entre
os dentes e olho para o cara, que abaixa a cabeça constrangido.
– Oh, desculpe, Jack! Eu me atrasei um pouco, e o porteiro disse que você
tinha ido embora, eu estava indo neste momento até sua casa. – Ele diz
nervoso.
– Você não sabe mais usar o celular, é isso?! – Pergunto irônica.
– Oh, meu celular! – Ele tateia a calça. – Devo ter deixado no carro.
Desculpe, Jack, eu realmente me atrasei, precisei buscar o Leonardo no
aeroporto.
Olho para o Renato, e fico imaginando desde quando ele come homens e eu
não percebi, eu simplesmente tenho relacionamento com um gay, e não sabia.
Eu sou uma psicóloga, deveria ter notado isso, sua falta de interesse por mim,
o fato dele nunca fazer sexo oral, seu culto pelo seu corpo, a vaidade
exacerbada, sei lá.
Fecho os olhos e respiro.
– Talvez eu devesse ir para um hotel, Renato! – O amigo gay diz.
– Oh, não, não faça isso, eu já estou indo embora! – Viro as costas e dou de
cara com o Rui nos olhando.
O Renato pega em meu braço e me faz olhá-lo.
– Jack, não é nada disso, eu sei o que você deve estar pensando... – ele diz
cochichando. – Eu só quis ser gentil o deixando ficar aqui em casa, ele veio
para um congresso aqui em São Paulo.
Puxo meu braço e o olho com raiva.
– Você me usou todo esse tempo para encobrir sua falta de coragem para
assumir sua preferência por homens! Você é nojento, Renato, eu nunca mais
quero te ver na minha frente!!! – Viro e saio a passos apressados, sentindo as
lágrimas inundarem meus olhos, entro no elevador e nem percebo que o Rui
entra comigo.
– Jack, vamos até meu apartamento, você se acalma primeiro, depois eu te
levo para sua casa – ele diz quando a porta fecha.
Limpo minhas lágrimas, mas uma nova sequência de lágrimas começa, não
consigo parar de chorar, e então sinto braços ao redor do meu corpo, e um
peito forte contra meu rosto.
Soluço de choro, de raiva, de dor.
Não sei o que é pior, ser trocada por uma mulher, ou por um homem.
Ouço o barulho da porta do elevador se abrindo, me afasto do Rui, ele pega
em minha mão e me leva para dentro do apartamento.
– Acho melhor você beber isso. – Ele me entrega a taça de vinho que eu
estava bebendo.
Viro de uma vez.
– Talvez eu queira mais uma taça! – O olho em meio à inundação de lágrimas
que está em meus olhos.
Me sento no sofá e fico olhando para o líquido que sobrou dentro da taça,
estou destruída por dentro.
Acho que preferia ser trocada por uma mulher, me sentiria menos humilhada.
De repente, vejo o bocal da garrafa enchendo minha taça, olho para cima e
vejo os seus olhos me observando.
– Sinto muito, Jack! – ele diz meio sem jeito, parece envergonhado de ter
presenciado a cena surreal do meu namorado com seu caso gay.
Balanço minha cabeça, estou em choque, só consigo sentir vontade de chorar,
e choro, e quando vejo, estou novamente no peito do Rui, que se sentou ao
meu lado, e me emprestou seu peito para eu chorar.
– Quer mais uma taça? – ele diz me vendo virar a quarta taça de vinho.
– Eu vou ficar bêbada! – falo me sentindo meio tonta.
– Bom, é uma forma de relaxar e esquecer o que você viu. – Ele me olha
parecendo sentir dó de mim.
– Ok. – Levanto a taça para ele novamente, e penso como vou conseguir
dizer a minha mãe, minha avó e minha tia, que namorei durante quatro anos
um gay enrustido, que me comia só para não fazer feio para a família e para a
sociedade.
Volto a chorar.
– Calma, Jack, tem coisas piores na vida! – ele diz acariciando meus cabelos.
– Nesse momento, essa é a pior coisa que poderia ter acontecido na minha
vida! – falo chorando.
– Não, existem coisas piores. – Ele me puxa novamente para seu peito, fecho
os meus olhos e me permito sofrer um pouco por causa daquele maldito,
covarde e traiçoeiro.
De repente, me dou conta que estou alugando o colo e o apartamento de um
cara que mal conheço, e que ele é meu chefe.
Eu estou doida, o que estou pensando?!
Me levanto de súbito e limpo meu rosto.
– Desculpe, Rui! Eu vou embora – falo envergonhada. Pego minha bolsa,
levanto e sinto uma leve tontura. – Agradeço muito tudo que você fez por
mim. – Enxugo novamente meu rosto que está completamente ensopado.
– Ei, você não pode ir embora assim! – Ele me segura. – Vamos fazer uma
coisa, eu faço algo para a gente comer e depois te levo.
Ele me encara com aquele olhar decidido.
– Eu já te incomodei demais – falo meio tonta, bebi demais, não poderia ter
feito isso.
– Tudo bem, eu te faço trabalhar em dobro, assim você compensa! – Ele me
olha e sorri.
– Ok, eu estou meio tonta, não vou conseguir chegar a lugar nenhum assim! –
Me sento novamente.
– Fique aqui, vou fazer alguma coisa para comermos e já volto.
Relaxo minha cabeça no encosto do sofá, vejo o peludinho do seu cachorro se
sentar ao me lado, e me olhar curioso.
– Os humanos são tão complicados, Bóris! – Encosto minha cabeça a do
cachorro, fecho os olhos e não percebo quando pego no sono.
Capítulo 14
RUI FIGUEIREDO

S igo para a cozinha meio atordoado.


Caralho, o que foi aquilo?!
O namorado da Jackeline é gay, e ela estava com ele há quatro anos!
Porra, que raiva daquele cara, como ele consegue ser gay com uma namorada
como aquela, linda, gostosa, cheirosa.
E não é só isso, ela é uma mulher inteligente, divertida, espirituosa.
Qualquer homem gostaria de ter uma mulher dessas ao seu lado, e não um
marmanjo peludo!
Porra, que nojo! Não sou homofóbico, mas que me dá nojo, dá!
Mulher é bom demais, como alguém pode preferir um homem? Isso não entra
na minha cabeça.
Mas, enfim, estou me sentindo mal, eu até tinha segundas intenções com a
Jackeline. Eu sei que não presto, sou um canalha, mas não agora a vendo
sofrer desse jeito, não gosto de ver mulher chorando, sofrendo, esse
realmente é meu ponto fraco.
Paro no meio da cozinha e nem sei o que fazer, eu tinha planos de sair hoje à
noite, espairecer um pouco, beber, e “conhecer” alguma garota, mas aí vi
minha deusa na frente do prédio, completamente desnorteada.
Parece até uma coisa, a gente está sempre se encontrando, mesmo que eu não
queira. Eu a dispensei no meio de um monte de coisas para fazer, mas ela está
sempre no meu caminho, parece coisa do destino, e olha que não acredito
nisso.
Sorrio ao me lembrar do ataque de amor do Bóris com ela, parece que somos
iguais, e ele fez o que eu queria, beijar aquela boca grande e carnuda, como
gosto de sua boca, mas não é só a boca, gosto de tudo na minha deusa do
espartilho.
Bom, eu sei que a história de seu namorado a chateou demais, mas também
tem o lado bom, aquele verme não está mais na vida dela, vai ficar mais fácil
para mim.
Abro a geladeira e procuro algo para fazer, não sou nenhum mestre cuca, mas
eu me viro.
Pego uma tigela com salada lavada, alguns queijos, frios, e coloco tudo sobre
o balcão.
Acho que dá para matar a fome.
Bom, me deixe chamá-la, se pretendo atravessar a cidade para levá-la em
casa, ao menos preciso comer alguma coisa.
Sigo para a sala, olho para o sofá e fico surpreso.
– Porra, Bóris, o que você está fazendo aí? – olho para o cachorro, ele está
dormindo junto com a Jackeline. – Cachorro safado, já está dormindo com a
garota que estou a fim, Bóris!
Cochicho em seu ouvido puxando-o para a lavanderia.
– Parece até que você lê mentes, Bóris. Você nem chega perto da Priscila, já
com a Jackeline, só falta ir embora com ela. – Ele me olha com aquela cara
de bobo, sempre rindo e balançando o rabo.
Eu adoro esse peludo, e parece que a Jackeline também.
– Ela gostou de você, Bóris, mas se comporta, tem que ir com calma, mulher
não gosta de macho carente.
Ele abana o rabo feliz, posso dar bronca, colocar para fora, ele sempre está
feliz.
Volto para a sala e a vejo dormindo encolhida no sofá.
– O que eu faço com você, Jackeline? – falo confuso, ela parece tão frágil.
Me aproximo dela, penso em acordá-la, mas desisto. Ela bebeu demais, não
está em condições de ir para casa.
Quer saber, foda-se, não vou levá-la, ela passará a noite aqui!
Eu até posso ser um mulherengo dos infernos, mas também tenho coração,
uma irmã e uma mãe, quero cuidar da Jackeline.
A puxo suavemente do sofá, ela está para lá de Bagdá, e então a coloco em
meu colo.
– Ela está desmaiada! – falo sozinho, a vendo completamente relaxada, não
mostrando nenhum sinal de resistência. – Ok, Jackeline, não sei o que você
irá achar disso, mas hoje você dorme na casa do Rui, ou seja, no covil do
lobo. – E dou risada sozinho, caminhando em direção às escadas.
Por sorte a porta do quarto de hóspedes está aberta, entro com cuidado para
não esbarrar com ela em alguma coisa, e a coloco sobre a cama.
Arrumo seus cabelos que estão sobre seu rosto, e por mais que não queira,
fico a admirando.
– Ei, Jackeline, você é muita tentação! Estou me controlando muito para não
me aproveitar de você! – Cochicho acariciando seus cabelos escuros. – Você
é muito linda!
Fecho meus olhos, abro e vejo aquela boca linda entreaberta, e sem que eu
tenha noção inclino-me sobre ela, estamos a centímetros de distância, olho
salivando para sua boca, e dou um pulo ao ouvir um latido.
Franzo minha testa e olho ao meu lado.
– O que você está fazendo aqui? – cochicho bravo para o meu cachorro, que
surtou de uma hora para outra.
Ele abana o rabo.
– Tá feliz por que, seu maníaco?! – O vejo olhando para a Jackeline. – Que
porra é essa, Bóris? Me deixa em paz um minuto com a garota!
Ele faz menção de subir na cama, me levanto de sobressalto.
– Você não vai dormir com ela, vamos arrumar uma fêmea bem bonita para
você, essa é minha! – falo com o cachorro como se fosse um maluco. – Se
bem que você foi castrado, sinto muito, Bóris, mas você estava mijando a
casa toda, só existe um macho alfa aqui, e sou eu! – O puxo pela coleira e o
faço descer as escadas.
Volto para o quarto, coloco as mãos na cintura e admiro aquela bela fêmea.
– Eu e o Bóris temos os mesmos gostos, estamos loucos por você, Jackeline!
– Sussurro a olhando dormindo de lado, as mãos juntas ao lado do rosto,
parece um anjo, mas eu sei que essa mulher é uma diaba linda e gostosa.
A olho vestida e não sei bem o que faço, ela irá amanhecer toda amassada.
Ok, não estou muito preocupado com isso, confesso, eu quero tirar sua roupa,
não estou conseguindo me controlar, o maníaco sou eu, não o Bóris.
– Me desculpe, minha deusa, mas vou te deixar mais confortável, tenho
certeza que você não ficará brava comigo, será para o seu bem.
Me sento na cama, aproveito que ela está de lado, abro o zíper de sua saia e a
puxo delicadamente por seus quadris, e aos poucos sua pele levemente
morena vai surgindo e uma calcinha branca de renda muito sensual. Passo sua
saia por suas coxas grossas, torneadas, simplesmente lindas, ela tem pernas
lindas demais.
Fecho meus olhos por um momento, estou com muito tesão, muito mesmo,
minha ereção está explodindo dentro da minha calça.
– Caralho, por que estou fazendo isso? – Sem que eu consiga controlar,
coloco minha mão delicadamente sobre seu bumbum.
Caralho, que bunda é essa, Jackeline? Foi feita a mão! – Deslizo suavemente
minha mão nos contornos de sua bunda, sua pele parece de veludo, ela é
muito macia.
Me levanto de sobressalto, esfrego meu rosto, aliso meus cabelos.
– Eu não estou aguentando isso, mas ao mesmo tempo, o que estou fazendo
não é certo, ela está bêbada, Rui! Isso é praticamente estupro, caralho!
Ando pelo quarto, tentando acalmar minha cabeça de baixo, estou parecendo
um animal.
Porra, nunca estive tão louco por uma mulher!
Inspiro profundamente, olho novamente para ela, agora completamente
relaxada, os braços estendidos atrás de sua cabeça, exibindo todo o seu corpo.
– Caralho, olha o tamanho dessa buceta!
Aperto meu pau sobre a calça.
– Amigo, não vai ser hoje que você vai se afogar nessa mulher. Te prometo
que vamos fazer isso, mas não poderá ser hoje!
Ok, Rui, falando de novo sozinho, e agora com seu pau, isso não está indo
bem.
Me sento novamente na cama, fico a observando feito um tarado, e sem o
menor pudor, sigo meus dedos até os botões de sua camisa, e começo a abri-
la delicadamente, e aos poucos seus peitos vão surgindo por detrás do seu
sutiã de renda branco.
– Você é linda, Jackeline, e vai ser minha, só minha! – E faço o que não
deveria fazer, me inclino sobre ela e descanso meus lábios sobre os seus
suavemente, e sem que eu espere, ela abre seus lábios.
Fecho meus olhos com força.
– Eu não posso fazer isso!
Mas, não deu para segurar, porque sua língua começou a roçar a minha, e aí
não aguentei, mergulhei minha língua naquela boca deliciosa.
Cubro sua mão com a minha e ela corresponde ao meu beijo com paixão.
E de repente ouço um latido forte e inoportuno. Me levanto com o coração na
boca e vejo o Bóris novamente no quarto.
Me afasto da Jackeline, ela não acordou, deve estar sonhando com uma
trepada, e deve ser comigo, não é possível que seja com o bicha do seu
namorado.
– Bóris! – sussurro enérgico e aponto com o braço para a porta. – Sai daqui,
agora!
Mas o porra do cachorro descobriu o amor e começa a latir, e me desespero.
Me levanto para mandar esse cachorro para os infernos, mas ele começa a
brincar de pega-pega comigo, sobe na cama e se aninha ao lado da minha
deusa.
– Bóris, acho que te deram alguma coisa, você está muito esquisito! – falo
com as mãos na cintura. – Você estragou tudo, Bóris, vai ficar de castigo por
uma semana, sem passeio e sem biscoitos.
Mas, ele não está muito preocupado, principalmente depois que a Jackeline
resolveu abraçá-lo.
Bufo, olho para o teto, e xingo o Bóris de tudo o que é nome.
– Ok, você resolveu protegê-la contra seu dono mau, eu até te entendo! – falo
olhando para ele, e a cobrindo com uma colcha. – Eu só vou tirar a camisa,
Bóris, só para ela ficar confortável. Não precisa me morder, amigão!
Confesso que estou meio temeroso com esse cachorro, ele realmente acha
que a Jackeline é sua fêmea. Acho que vamos ter que lutar pelo território,
esse bicho é meio selvagem, e eu nem sabia.
Me sento na cama e começo a puxar sua camisa delicadamente por seus
braços. O Bóris me olha desconfiado.
– Ok, Bóris, não vou fazer mais nada. Vou deixá-la para você essa noite, mas
saiba que as coisas não funcionam assim no mundo dos humanos.
O problema de viver sozinho, é que assimilei essa mania de conversar com
meu cachorro, isso é bem estranho.
Termino de tirar sua camisa, e fico por alguns minutos admirando seus belos
peitos, grandes, redondos, e firmes.
Acaricio mais uma vez seus cabelos, e beijo suavemente seus lábios, esse
beijo me deixou ainda mais louco por ela.
– Boa noite, minha deusa! – Fico a olhando fascinado, e desperto com um
rosnado. É isso mesmo?!
Olho para o Bóris.
– Cara, você não está legal hoje! – Me levanto preocupado. – Ok, fica aí com
sua fêmea, e não faz nada com ela, é só para olhar! – Cubro seus seios com a
colcha. – Se comporta, Bóris, amanhã converso com seu adestrador, talvez
você precise relaxar um pouco, uma piscina, quem sabe uma namoradinha. –
Enquanto falo, vou andando de costas, vai saber o que esse cachorro maluco
está a fim de fazer comigo.
– Boa noite, amigão! – Deixo a porta semiaberta, dou uma última olhada e o
vejo deitando sua cabeça na barriga da Jackeline.
Balanço minha cabeça de um lado para o outro.
– Os feromônios da Jackeline devem ser poderosos, nunca vi o Bóris assim! –
Sigo para o meu quarto. – Preciso de um banho frio e de uma punheta, estou
com o saco doendo, porra!
Capítulo 15
JACKELINE BARTOLLI

D esperto com uma sensação de cabeça pesada, tento abrir meus olhos, mas
a claridade do quarto me deixa meio cega.
Tateio ao meu lado, estou completamente desnorteada, então sinto uma coisa
peluda e macia.
Forço meus olhos a abrirem, viro de lado e dou de cara com aquele ser
peludo e lindo.
– Bóris, o que eu estou fazendo dormindo com você? – Franzo minha testa e
viro para olhar para o quarto onde estou, e sinto um nariz gelado no meu
rosto e muitas lambidas. – Oh, Bóris, eu dormi na casa do seu dono e
completamente bêbada.
Arqueio minhas sobrancelhas e fecho meus olhos.
– Meu Deus, que vergonha! – penso.
Apoio meus braços ao redor do meu corpo e me sento, e então me dou conta
que estou só de CALCINHA E SUTIÃ.
– Meu Deus!!! – falo com meus olhos arregalados. – Será que seu dono e
eu... – Olho para o Bóris, que me olha como se eu fosse a melhor coisa que
aconteceu em sua vida. – Bóris, me diz que não fiz isso, por favor!
Ele se aproxima de mim e me dá mais beijos.
– Oh, Bóris! – Coloco minhas mãos sobre meu rosto. – Chega de beijos,
Bóris! Eu preciso ir embora.
Olho ao meu redor, procuro pelas minhas roupas e as vejo no final da cama.
– Será que tem um banheiro aqui? – Olho ao redor e vejo uma porta. – Deve
ser ali. – Pego minhas roupas e saio quase correndo até lá, fecho a porta e me
olho no espelho. – Céus, estou parecendo uma bruxa.
– Ok, eu sei que estou com pressa, mas preciso ao menos tomar um banho. –
Olho para frente e vejo uma banheira maravilhosa. – Seria incrível mergulhar
em você, querida, mas acho melhor não, estou aqui de penetra! – Tiro minha
calcinha e meu sutiã, ligo a torneira do chuveiro e vejo um mundo de água
cair sobre mim, gelada! – Oh, merda! – Fecho rapidamente a torneira. – Estou
bêbada ainda! – Seleciono a torneira correta, e deixo a água esquentar.
Lavo rapidamente meu corpo, o cabelo molhou levemente, mas dane-se, não
dá para lavá-lo.
– Toalha! – falo alto, em pânico. – Cacete, como não pensei nisso? – Olho ao
redor do banheiro, e não tem uma filha da puta de uma toalha. – Céus,
quantas cagadas juntas! – Fecho os olhos e tento pensar em alguma coisa,
mas não tem nada a se pensar, a não ser que eu vista a roupa sobre o corpo
molhado, não tenho como me enxugar. – Merda, merda, mil vezes merda!
Jackeline, sua burra!!!
Desligo a torneira, olho mais uma vez ao redor e penso em me enxugar com o
papel higiênico, não isso não vai dar certo.
– Ok, você vai ter que abrir essa porta e achar alguma coisa para se enxugar,
querida! – falo para mim mesma.
Piso no chão frio, molhando tudo a minha frente e esbravejo!
Abro a porta e vejo o Bóris deitado sobre a cama e me olhando sorrindo, com
aquela cara feliz.
– Gostou de me ver nua, seu safado! – falo para ele, e de repente a porta abre,
e meu coração gela, e dou um grito ao ver o Rui a minha frente, e tento me
cobrir com meus braços, mas não dá, né, tem muita carne para tampar.
Ele fica me olhando. Ele está sem camisa, só de calça social e sem sapatos.
Oh, meu Deus, que calor que estou sentindo!
– Sai, Rui!!! – grito desesperada, morrendo de vergonha.
– Tá. Desculpe, Jack! – Ele vira de costas, meio atrapalhado. – Você precisa
de alguma coisa? – Ele diz posicionado na porta.
– Uma toalha – falo quase em um grunhido.
– Ok, eu já trago! – Ele sai, quase choro de vergonha, e volto correndo para o
banheiro. – Meu Deus, não sei como vou olhar de novo para esse cara!
– Jack, a toalha! – Ouço sua voz grossa e sedutora, e um toque na porta.
Dou um pulo de susto.
– Obrigada. Pode deixar pendurada na porta. – Não quero olhar para ele,
estou com muita vergonha.
Espero um pouco, abro a porta e vejo a toalha pendurada na maçaneta, a pego
desesperada e me enxugo rapidamente.
Pego minha lingerie e coloco, em seguida a camisa, a saia, e suspiro aliviada
passando as mãos pelo tecido, ajeitando o que está levemente amassado.
Me olho no espelho, ajeito meu cabelo passando os dedos entre os fios, não
tenho maquiagem, aliás, nem sei onde está minha bolsa.
Estou horrível! – Penso desesperada.
Olho para o teto e respiro, agora terei que olhar para aquele ser angustiante, e
não sei como.
Abro a porta do banheiro vagarosamente, e respiro aliviada ao ver o quarto
vazio, quero dizer, meu novo amor está me esperando.
– Oi, menino! A barra está limpa? – Ele abre sua boca e parece sorrir para
mim. – Estamos íntimos demais, já dormimos juntos e você me viu sem
roupa, isso está indo depressa demais, não costumo ser assim! – Enquanto
falo, procuro por meus sapatos, mas acho que devem ter ficado lá embaixo,
acho que os tirei no meio da bebedeira, e aí lembro do Renato, mas balanço
minha cabeça energicamente.
– Agora não, seu filho da puta, depois penso em você! – falo comigo mesma.
Procuro por minha bolsa, gostaria de passar ao menos um batom, mas não a
acho. Então, crio coragem e decido sair do quarto e chamá-lo.
– Rui! – falo da porta do quarto onde estou, e ele aparece de um quarto em
frente ao meu, lindo, cheiroso, e colocando sua gravata.
Ele sorri, e não deveria fazer isso, por que é muito angustiante olhar para esse
homem, ele é lindo demais.
– Oh, não sei como me desculpar! Funcionário bêbado não é bem visto, eu
sei disso... – falo desconcertada, mas ele não parece muito preocupado com
isso.
– Está tudo bem, Jack! O importante é que você está bem, e me desculpe ter
entrado no quarto sem bater, fiquei preocupado com você. – Ele me olha
intensamente.
– Tudo bem, eu que invadi sua casa – falo sem graça. – Muito obrigada por
tudo, Rui! Mas, acho melhor eu ir para casa, preciso me trocar e tentar
trabalhar, mas pode deixar que ficarei até mais tarde, compensarei as horas de
atraso. – Ele começa a caminhar em minha direção, novamente aquele gelado
no estômago se apodera de mim.
– Calma, Jackeline. Eu sou seu chefe, não um carrasco nazista! – Ele sorri, e
eu tento sorrir também, mas não consigo com esse homem lindo na minha
frente, ele me deixa muito nervosa.
– Que bom, né? – Sorrio amarelado. – Mas, eu só estou trabalhando há dois
dias, não seria aconselhável fazer tantas cagadas juntas.
Ele sorri largo e espontâneo, ele é muito charmoso, sexy e sedutor.
– Vamos fazer o seguinte: eu te levo a uma loja feminina que temos na
vizinhança e você compra alguma coisa para vestir. – Ele sorri e eu choro,
não tenho condições financeiras de comprar nem uma bala, muito menos uma
roupa de uma loja vizinha ao seu apartamento.
– Oh, seria maravilhoso, mas eu não estou podendo – falo constrangida. –
Mas, eu prometo que não me demoro.
Ele me interrompe.
– Vou fazer melhor. Eu faço um adiantamento para você, verba para roupas.
O que você acha? – Ele sorri novamente e fico olhando aquela boca, e me
vem uma lembrança estranha, acho que sonhei que beijava o Rui, será que
isso é possível?
– Oh, Rui, estou muito constrangida com essa situação. Por favor, me deixe
voltar para minha casa...
Ele me olha sério.
– Vai demorar muito, Jack! Você irá perder seu dia todo, eu preciso de você
no escritório!
– Oh, claro, me desculpe! – falo sem graça. – Eu ficarei com essa roupa
mesmo.
Não termino de falar, ele balança a cabeça negativamente.
– Tá, eu aceito sua verba adiantada! – Desisto, ele não vai me deixar ir para
casa, muito menos trabalhar dois dias com a mesma roupa.
– Então, podemos ir? – ele diz ajeitando sua gravata e pegando um paletó em
uma cadeira.
– Claro! – Olho para meus pés. – Você sabe dos meus sapatos?
Ele dá uma risada linda e contagiante.
– Devem estar perdidos por aí, a noite foi bem agitada! – Ele sai andando
pelo corredor dos quartos.
Estanco em pânico.
– Rui! – Ele me olha pelo ombro. – Nós não fizemos nada, não é mesmo?! –
O olho envergonhada.
– Não, Jack, você estava bem mal, só tirei sua roupa para você ficar mais
confortável. – Ele dá mais um daqueles sorrisos molha calcinha. – Vamos,
podemos tomar café em algum lugar.
Meu Deus, se a noiva desse cara souber que ando para cima e para baixo com
seu homem, serei esfolada viva.
****

Dou um beijo na cabecinha do seu cachorro.


– Adorei te conhecer, Bóris, nos vemos por aí! – falo me levantando e
acariciando sua cabecinha e entro no elevador junto com o Rui, e o cachorro
entra junto. Olho para o Rui e ele está olhando feio para o cachorro. – Acho
que ele quer ir comigo, Rui, você perdeu seu cachorro. – Brinco.
– Bóris, sai! – ele diz enérgico, mas o Bóris mexe com seu focinho em minha
mão. – Você está ficando chato, Bóris! – Ele pega na coleira do cachorro e o
coloca para fora do elevador, e ele late bravo.
– Coitadinho, ele fica muito sozinho. – falo o olhando com dó, mas o
elevador fecha, e ouço seu latido forte. – Você passeia com ele de vez em
quando? Ele deve estar carente. – Olho para o Rui e o vejo revirando seus
olhos.
– Ele passeia duas vezes ao dia com o adestrador! Não se preocupe com o
Bóris, ele está precisando namorar um pouco! – ele diz despreocupado, e me
olha de lado.
Volto a olhar para frente, segurando minha bolsa com força.
Oh, minha santinha, esse homem sabe mais sobre mim do que deveria! Ele
sabe que usei um espartilho para seduzir meu namorado gay, que sou
chifruda, já me viu de calcinha e sutiã, e também nua em pelo.
Puxo o ar esgotada, está difícil manter a dignidade assim.
Depois de alguns minutos, ele estaciona seu carro em frente a uma loja
chiquérrima, e tenho vontade de chorar, deixarei meu salário todo em uma
única peça.
– Vamos, eu te acompanho! – ele diz decidido e sai do seu carro.
Eu nunca pisei numa loja como essa, nem na calçada. Minhas roupas são de
lojas de departamento, então estou muito constrangida, queria sair correndo
daqui.
Logo que entramos uma mulher muito bonita e bem vestida em um tailleur se
aproxima com um sorriso pronto e falso.
– Posso ajudá-los? – ela diz tentando ser simpática, mas eu a acho um nojo.
O Rui olha para mim.
– O que você gostaria de ver, Jack?
O olho desconcertada.
– Talvez um vestido, tipo tubinho. – Olho para a moça.
Pensei na roupa mais básica possível, e talvez mais barata.
Ela sorri.
– Venha comigo! – A sigo em direção ao interior da loja, que tem cheiro de
coisas novas e uma fragrância deliciosa.
A vejo mexendo nas araras, ela pega alguns vestidos e me mostra.
– O que você acha?
Olho para os vestidos insegura, minha bunda e meu busto sempre me
atrapalham.
– Talvez seja melhor você experimentar! – ela diz rapidamente. – Vamos ao
provador.
Olho de relance para o Rui e o vejo vasculhando as araras, provavelmente
escolhendo um presente para a noiva.
Tiro minha roupa e vejo a moça olhando para meu busto, provavelmente
prevendo que nada servirá nele.
Coloco o vestido rapidamente, e ele já dá uma encalhada na bunda, e o busto
fica muito apertado.
– Tenho dificuldades com as numerações, por causa do meu corpo – falo sem
graça.
– Ok, talvez duas peças, assim ficará mais fácil. Escolhemos uma numeração
para cada parte do corpo. Só um momento, vou buscar. – Ela fecha a porta e
esbravejo irritada.
A porta abre, e vejo uma montoeira de roupas em suas mãos.
– Oh, querida, estou com um pouco de pressa, estou atrasada para o meu
trabalho.
– Seu namorado pediu para você experimentar essas roupas. – Ela sorri
maliciosa.
– Meu namorado?! – falo sem graça, e ela sorri de novo.
– Aproveita! – Ela pisca, e eu bufo, eu que terei que pagar essa conta, e nem
sei como, com a montoeira de dívidas que tenho.
Ela pega a primeira peça, um vestido de seda florido, muito chique, lindo,
com um decote em V na frente.
O visto rapidamente.
– Fico ótimo no seu corpo, ele realmente sabe escolher roupas para você! –
Mais uma vez aquele sorriso idiota.
Me olho no espelho, ficou realmente muito bonito no corpo, ela tem razão,
poucas roupas caem bem em mim na primeira, sempre tenho que fazer
ajustes.
– Posso ver quanto é? – Olho para a etiqueta, e quase tenho um treco. – Ok,
vamos para o próximo.
Ela coloca a minha frente uma camisa de seda vermelha, e uma saia clara,
tipo lápis, até os joelhos.
– Vamos colocar essas duas peças juntas! – ela diz entregando a camisa para
mim.
– Não gosto muito de vermelho! – digo abotoando a camisa.
– Mas você fica muito bem, foi ele quem escolheu! – ela diz com um sorriso
no rosto. – Seu namorado tem muito bom gosto, veja isso! – Ela me entrega a
saia.
A coloco e vejo minha bunda enorme no espelho.
– Oh, fico muito bunduda com ela! – digo incomodada.
– Se eu tivesse uma bunda dessas, eu nunca me esqueceria de deixá-la bem a
mostra – ela diz com malícia.
Reviro meus olhos.
– O conjunto ficou perfeito, querida! Você está muito elegante, não tem nada
de vulgar em ter uma bunda como a sua, e se ele não se incomoda, qual o
problema? – Ela pisca.
Tenho vontade de dizer que ele não é meu namorado, mas dará muita
conversa, esqueço isso.
– Ok, você não tem alguma coisa mais simples? – falo preocupada.
– Eu trouxe esse tailleur, veja o que acha! – Ela me entrega um tailleur azul
escuro, bem-comportado, e uma blusinha para colocar por baixo.
– Faz mais meu estilo – falo feliz.
Coloco a blusinha de alças, que de comportada não tem nada, quero dizer, o
problema são meus seios, eles sempre tornam qualquer roupa sensual.
Coloco a saia acima das coxas.
– Ok, essa cor disfarça meu volume – falo olhando para meu traseiro.
Coloco o blazer e ficou ótimo, abotoo os botões, está certo que os peitos
ficam aparecendo no decote, mas foda-se, estou com pressa.
– Gostei desse! Quanto é? – Olho para a etiqueta e quase morro, mas fecho os
olhos, pois não terá nada barato nessa loja. – Vou levar esse.
– E as outras peças? – Ela diz recolhendo tudo.
– Hoje não. Talvez outro dia eu volte. – falo bem mentirosa. – Eu vou vestida
nele, tive um problema, e estou vestindo a mesma roupa de ontem... – Falo
constrangida.
Ela sorri.
– Eu sei como é, de vez em quando perco a hora e durmo na casa do meu
namorado, e isso é sempre um problema! – Ela sorri maliciosa. – Me deixe
tirar as etiquetas. – Ela tira delicadamente. – Ok, podemos ir.
Pego meus sapatos para colocá-los.
– Oh, esqueci, ele pediu para você experimentar esses sapatos. – Ela segura
em sua mão um scarpin preto maravilhoso, de verniz, com um salto alto e
grosso.
– É muito lindo, mas acho melhor não experimentar, vou me apaixonar.
Antes que eu possa sair correndo, ela se abaixa à minha frente, e os coloca
em meus pés.
Essa mulher é boa no que faz! – penso.
– Veja se está te machucando – ela diz a minha frente.
Ando um pouco e parece que estou pisando em nuvens.
– É muito confortável! – falo com uma dor no coração. – Mas, não posso
levá-lo.
– Ok!
Ela sai na minha frente, coloco meu sapato, pego minha bolsa e a
acompanho, e encontro o Rui com o celular na mão, digitando algo.
Ele me olha sorrindo.
– Escolhi esse! – falo sem graça, passando a mão pelo tailleur.
Ele me olha de lado.
– Você está muito bonita! – Ele sorri torto e sinto calor, muito calor. – E as
outras peças, o sapato, você não gostou?
– Eu gostei, claro que gostei! Aqui tudo é muito bonito, mas hoje será só esse
conjunto, obrigada! – Cochicho.
– Vou pedir para embrulhar tudo! – Ele sinaliza para a vendedora, e diz alto:
– Vamos levar tudo!
Arregalo meus olhos, apavorada.
– Rui, você está sendo maravilhoso, mas eu não posso gastar tanto assim,
tenho muitas dívidas para pagar com meu salário. – Me aproximo dele e
sussurro, não quero chamar a atenção de todo mundo para minha pobreza.
– Vou te dar de presente, não se preocupe! – Ele desvia de mim e segue até o
caixa.
O olho atônita e ando depressa até ele.
– Rui! – O cutuco. – Por favor, não me faça sentir mal – falo baixo, quase
suplicando.
Ele me encara profundamente, e leva uma de suas mãos até meu rosto e o
acaricia, e sinto um gelado no estômago.
– Relaxa, Jackeline! Aproveite que estou bonzinho hoje! – ele diz com um
sorriso, e fico ali o olhando feito uma idiota.
Então, a vendedora pede seu cartão, ele entrega, e o olho completamente
confusa.
A moça entrega as sacolas para mim.
– Obrigada, e volte sempre! – Ela sorri, devolvo um sorriso amarelo, e sinto
uma mão grande em minhas costas.
– Vamos, Jack. – Sigo atônita ao seu lado. – Ele pega minhas sacolas, e
coloca no banco de trás. – Tem uma cafeteria aqui perto, vamos andando, é
logo ali na esquina.
Minha vontade é dizer que já vou indo, mas não tenho a menor ideia de como
voltar. Estou numa rua chique da cidade, nem sei se ônibus circulam aqui,
devem ser proibidos.
– Ok! – Sorrio discretamente, e o sigo em mais um desatino da minha vida,
isso tudo parece um sonho, mas não faço questão de acordar.
Capítulo 16
JACKELINE BARTOLLI

E ntramos em uma cafeteira, a mais chique que entrei em toda a minha vida.
De verdade, estou mais acostumada com botecos e padarias.
– Pode sentar-se, Jack. Eu já volto.
O acompanho com o olhar, ele pega seu celular, o coloca no ouvido e começa
a falar, ou discutir.
– Espero que não seja por minha culpa! – penso.
Uma moça se aproxima.
– Gostaria de fazer seu pedido? – ela diz simpática.
– Não, vou esperar aquele cavalheiro ali. – Aponto discretamente para meu
chefe maravilhoso, que fala e gesticula nervosamente.
Aproveito que ele está distante e ligo para minha mãezinha, ela deve estar
preocupada.
O telefone toca duas vezes e ela atende.
– Mãe, bom dia! – falo temerosa, ela é uma portuguesa muito brava.
– Jackeline Bartolli, onde você está desde ontem, e sem me dar notícias?!
Eu falei que ela é brava.
– Mãe, me desculpe, mas é que aconteceram algumas coisas, não dá para
falar por telefone. – Vejo o Rui caminhando em minha direção. – Só queria
avisá-la que estou indo para o meu trabalho, à noite conversamos.
O Rui se senta à minha frente, parece irritado, ele me olha e sorrio para ele.
Ela começa a falar, reclamar, xingar...
– Mãe, eu já estou desligando, até depois! – Desligo em sua cara e vejo o Rui
me olhando.
– Estava falando com minha mãe, dando sinal de vida. – Sorrio sem graça.
– Vamos fazer os pedidos? – Ele levanta seu braço. – O que você quer
comer? Aqui tem uns muffins divinos, quer experimentar um?
Meu estômago está roncando, e ao pensar em um muffin, ele grita, mas não,
minha meta é perder 10 quilos.
– Obrigada, mas quero só um café com leite e um pão de queijo.
Ele torce seus lábios.
– Bom, por causa da senhora não jantei ontem. Então, preciso de um lanche,
caso contrário vou passar mal – ele diz irônico.
A moça chega, ele faz os pedidos, e o olho envergonhada.
– Rui, estou muito envergonhada por tudo o que aconteceu desde ontem. Me
desculpe pelo vexame com meu ex-namorado, pela bebedeira, pela cena no
quarto... – falo remexendo em algo na mesa, nem consigo olhá-lo, então sinto
seus dedos em meu queixo, me fazendo olhar para ele.
– Não se sinta envergonhada, Jack! Está tudo bem, eu já disse isso! – Ele
solta meu queixo e dá um sorriso. – Você não teve culpa em relação àquele
cara, sinto muito, você perdeu quatro anos de sua vida com um... – Ele não
termina a frase.
– Gay? – digo constrangida.
– Isso. – Ele me encara. – Beber fazia parte, eu te estimulei, você precisava
relaxar. – Ele sorri novamente. – E te ver nua foi um prazer. – Ele me encara
com aqueles olhos de predador.
Enrubesço e abaixo meus olhos, a moça chega, e agradeço.
– Obrigada! – O olho de relance, pego a xícara e bebo o leite, e o vejo me
encarando. – Rui, você tem o costume de encarar as pessoas? – Ele vira seu
rosto de lado e dá um sorriso engraçado. – Essa é a forma de intimidar seus
oponentes? Isso me deixa meio nervosa!
Ele me olha surpreso, mas eu precisava dizer isso.
– Te incomoda como eu te olho?! – ele diz sedutor.
– Um pouco, me deixa nervosa! – falo o encarando, porque isso está me
incomodando.
– Por que te deixa nervosa? – Ele me olha de lado, com um sorriso torto no
rosto, e me arrependo de ter dito isso.
– Não sei, só sei que me deixa nervosa. – Dou de ombros.
Ele sorri.
– Você também me deixa meio nervoso! – Sinto um gelado no estômago,
seus olhos mergulham nos meus, ele olha para minha boca.
Ele mexe demais comigo e ele é meu chefe, não quero perder meu emprego.
– Então, estamos quites, enervamos um ao outro! – Disfarço, tomo meu café
com leite e ele continua me olhando. – Está vendo, é isso que eu não gosto! –
falo meio rindo e ele sorri.
– Não tenho muito controle sobre isso, sou assim – ele diz finalmente, de um
jeito sincero, com um sorriso de menino.
– Quer experimentar, Jack? – ele diz ao morder seu lanche. – Esse é muito
especial, adoro os lanches daqui.
Sorrio, por que ele tem um jeito espontâneo, e apesar dessa figura altiva e
imponente de advogado de sucesso, seu jeito de ser é acessível, simples e
acolhedor.
– Não, estou de regime! – Fecho meus olhos.
Não era para falar sobre isso, Jackeline!
– Por quê? Você tem um corpo ótimo! – ele diz meio engraçado.
Me sinto constrangida, ele não é meu amigo gay ou minha amiga Carol para
eu reclamar de minha bunda, peito e coxas.
– Coisas de mulher, adoramos fazer regimes! – falo para descontrair.
Ele balança a cabeça e volta a devorar seu lanche.
Termino meu café com leite e meu pão de queijo, e o espero terminar seu
lanche.
Nunca me imaginei tendo um relacionamento tão íntimo com um chefe. Sem
dúvida, esse é o emprego mais inusitado que arrumei, e com o chefe mais
incrível.
– Rui! – Ele me olha novamente. – Obrigada pela oportunidade que você está
me dando, vou me esforçar muito para não te decepcionar.
Falei de coração, ele está sendo tão incrível para mim, acho que nunca
conheci alguém que me ajudasse tanto, quero dizer, tem a Carol, mas somos
amigas de infância.
Ele dá um sorriso lindo, e eu me apaixono cada vez mais pelo seu sorriso e de
repente, aquela mão enorme acaricia meu rosto, e novamente sinto um gelado
no estômago.
– Não precisa agradecer, Jackeline. – Seus olhos mergulham nos meus, e
ficamos assim por segundos intermináveis, e novamente ele olha para os
meus lábios, e sinto uma vontade irresistível de beijá-lo, e o vejo se
aproximando...
Não posso fazer isso, então me afasto.
– Preciso ir ao banheiro. – Dou um sorriso nervoso, levanto e saio em direção
aos fundos da cafeteria.
Entro no banheiro, me apoio na pia e fecho meus olhos, sentindo meu
coração disparado no meu peito.
– Oh, senhor, eu não posso me apaixonar pelo meu chefe, isso é contra as
regras de boa convivência! – falo em pensamento, sentindo meu corpo inteiro
tremer, num misto de excitação e desejo.
– Eu não posso, eu preciso desse emprego, e não de um amante – falo baixo,
somente para mim mesma.
Abro a torneira, jogo uma água em meu rosto e me olho no espelho.
– Estou horrível hoje! – falo ao me ver sem maquiagem. – Ok, foi só um
deslize, está tudo bem! – Puxo o ar, seco meu rosto e volto para nossa mesa.
Ele me olha e diz:
– Podemos ir, ou você quer comer aquele muffin?! – Ele diz divertido.
Sorrio, ele sabe como me relaxar.
– Oh, não me pergunte de novo, não sei se conseguirei resistir! – digo
descontraída. – Talvez numa próxima vez, quando eu não estiver de dieta.
Ele sorri, levanta seu braço e pede a conta.
– Vamos, Senhorita Jackeline, você precisa trabalhar muito hoje! – ele diz
descontraído.
– Tudo bem! Estou preparada, chefe! – Sorrio e o acompanho.
****
O caminho até seu escritório foi silencioso, ele colocou aquela música
agradável que costuma ouvir, e me deixei relaxar e não ficar pensando muito
no que aconteceu na cafeteria.
Ele estaciona seu carro e vejo que a recepcionista já abriu o escritório.
Não vai pegar bem eu chegando com o chefe, serei o assunto do dia, da
semana, e do mês. – Penso desanimada.
O Rui pega um molho de chaves e me entrega.
– Vou deixar com você, para caso você chegue primeiro. Para desativar o
alarme é só pressionar esse botão.
Ele sai do carro e eu fico olhando para aquela chave em minha mão.
O percebo me esperando, então saio rapidamente de seu carro, e sorrio, tenho
essa mania, fico sorrindo toda hora, acho que é de nervoso.
Acho que preciso voltar às minhas sessões de análise, ando meio
desequilibrada! – Penso.
– Vamos! – Ele coloca sua mão enorme em minhas costas e me faz entrar em
sua frente, fecho os olhos e adentro a recepção e vejo os olhos da Karen
pousar indiscretamente sobre nós. – Bom dia, Karen! – ele diz rapidamente e
segue na minha frente.
– Bom dia, Karen! – falo sem graça. – Alguma ligação ou recado para o
Doutor Rui?
Ela me olha com desdém.
– Não, nenhum recado!
– Ok, obrigada. – Sigo para as escadas, mas ela me interrompe.
– Vocês tinham alguma reunião agora de manhã? Não vi nada na agenda do
Doutor Rui. – A olho de lado, e vejo malícia em seu olhar.
– Não, não tínhamos nenhuma reunião. – Me viro para frente e sigo pelas
escadas, sentindo seu olhar sob mim.
Reviro meus olhos, com certeza serei o assunto do dia.
Me sento à minha mesa, ajeito minhas coisas, ligo meu computador e me
assusto novamente com a voz de trovão do meu chefe.
Fecho meus olhos, me levanto e sigo para sua sala.
Abro a porta e o vejo em sua mesa, ele levanta seus olhos, e o vejo de óculos.
Já cheguei à conclusão que tenho um fetiche por esse homem de óculos, ele
fica muito sexy. Quero dizer, ele é muito sexy.
– Pois não? – Caminho até ele e sorrio por dentro ao vê-lo me encarando
durante todo o trajeto.
Preciso me acostumar com isso.
– Vamos ver alguns assuntos... – Ele aponta para a cadeira a sua frente.
Me sento e ele começa a falar feito uma metralhadora.
– Doutor Rui (ele está muito profissional, acho melhor tratá-lo assim), posso
pegar meu caderno, para não esquecer? – falo sem graça.
– Ok! Rápido, Jackeline!
Balanço minha cabeça e saio apressada até minha mesa, em segundos estou
de volta.
– Pronto! – O olho e sorrio, e ele descarrega um caminhão em meu colo.
– O escritório vai fazer 10 anos e farei uma recepção para os funcionários,
para comemorarmos – Ele diz enquanto olha para os papéis a sua frente. –
Então, você cuidará disso para mim. Eu quero que seja um coquetel, nada
muito formal, farei no meu apartamento, ele comporta bem os trinta
funcionários.
O olho atônita.
– Eu nunca organizei um evento. – Olho para ele temerosa.
– Ok, anote o telefone da minha casa, minha empregada a ajudará com essas
coisas, ela já fez isso antes.
Anoto rapidamente o número que ele me passa.
– Você entendeu tudo ou está com alguma dúvida? – Ele me olha com
aqueles olhos lindos.
Abro levemente minha boca, e o vejo a olhando, então desisto do que iria
falar, na verdade esqueci, esse homem me excita e me desconcerta só com
um olhar.
– Não! – Me levanto. – Se eu tiver alguma dúvida, te pergunto depois. –
Começo a andar meio de costas.
– Você ficou muito bonita com esse tailleur, deveria comprar outros. – O
olho surpresa e balanço minha cabeça.
– Claro, depois eu compro outro. – E me lembro que esqueci todas as sacolas
em seu carro. – Eu esqueci minhas coisas em seu carro. – O vejo pegando a
chave e jogá-la em um supetão para mim, a pego no reflexo.
– Boa de reflexos! – Ele sorri e volta a sua leitura.
– Aham! – Viro de costas, reviro meus olhos e volto para minha sala.
****

Trabalhei como gente grande durante todo o período da manhã, então no


horário do almoço o vejo abrindo a porta de sua sala.
– Vou sair para o almoço, Jackeline! – ele diz enérgico.
– Ok! – respondo.
– Qualquer coisa, ligue em meu celular. – Ele sai andando.
– Doutor Rui, uma coisinha... – Ele para e me olha com a testa franzida. – Eu
não tenho seu celular.
Ele sorri, volta para trás, olha para minha mesa, pega meu celular, digita feito
um doido, e de repente seu celular toca.
– Agora estamos conectados. – Ele sorri novamente e volta a caminhar em
direção à saída.
O olho meio tonta, ele realmente parece um trator desgovernado.
Termino de fazer algumas coisas que estavam faltando, deixarei o período da
tarde para ver a questão da recepção.
Me assusto com um toque na porta, olho e vejo a Carol, e sorrio.
– Oi, Jackeline! – ela diz irônica.
– Oi, Carolina! – Sorrio para ela.
– Então, posso almoçar com a assistente do Doutor Rui, ou tenho que marcar
hora? – ela diz bem palhaça.
– Boba! – Me levanto e pego minha bolsa. – Um lugar baratinho, tá? – Faço
cara de coitadinha.
– Oh, que roupa é essa?! – Ela me mede.
Reviro meus olhos.
– Podemos conversar no restaurante? – Viro minha cabeça de lado.
– Claro! – Ele passa seu braço por minha cintura e beija meu rosto. – Você
está linda, sabia? – Ela cochicha em meu ouvido.
– Eu sei, estou muito gostosa hoje! – Dou uma gargalhada, e descemos
animadas as escadas.
Depois de alguns minutos, estamos em um restaurante daqueles por peso,
mas o lugar é muito charmoso.
– Não tem restaurante simplesinho por aqui, Caroleta? – falo preocupada.
– Jack, estamos numa região muito sofisticada da cidade, a maioria dos
restaurantes são chiques, se acostume!
Suspiro desanimada, não sei como sobreviverei até o pagamento.
Pego meia dúzias de folhas, um grelhado, nos sentamos em nossa mesa e a
Carol olha para o meu prato.
– Tá de penitência, Jack?
Olho para seu prato e vejo que ela pegou tudo que tinha de gostoso no buffet.
– Carolina, nem todo mundo nasceu com uma solitária no estômago! – falo
com desdém. – Quero perder 10 quilos.
Ela arregala seus olhos.
– Está doida, Jack? Você vai parecer doente!
– Você e minha mãe fizeram reunião? Vocês gostam de dizer as mesmas
coisas! – Brinco.
Ela revira os olhos.
– Carol, preciso te contar uma coisa. – Ela me olha surpresa. – Descobri que
o Renato é gay.
Ela se engasga, bato em suas costas com força, e desesperada.
– Para, Jack, está doendo! – ela diz se encolhendo. – Ô italiana forte! – ela
esbraveja. – Como assim, você o pegou na cama com um cara?
– Mais ou menos, foi a maior confusão, Carolina. Mas só para resumir, ele
me deu um cano ontem, fiquei plantada na frente do seu prédio, aí o Doutor
Rui chegou, eles moram no mesmo prédio. – Ela arregala seus olhos, mas
continuo. – Ele me fez subir com ele, para esperar o desgraçado, aí, como o
Renato não retornava minha ligação fui até seu apartamento e ele estava com
um cara. Eu até me lembro dele da época da faculdade, mas agora o cara está
muito gay, sabe, aquela vozinha irritante. – falo com raiva.
– Oh, Jack! – ela fala com o queixo caído. – Eu sempre soube que ele
queimava a rosca, aquele jeitinho nunca me enganou. – ela diz brava. – Quer
que eu quebre a cara dele? Eu adoraria!
A Carolina sempre foi diferente, então enquanto eu frequentava as aulas de
Jazz, ela praticava Kickboxing. E só para resumir, ela foi o irmão que eu não
tive, quando algum menino me ofendia, ou incomodava, ela batia neles, ela é
o máximo!
– Carol, você não tem mais idade para sair quebrando a cara de um homem,
você é uma advogada. – Dou risada. – Já pensou se você chegar ao escritório
com o olho roxo, o Doutor Rui te mata.
Ela gargalha.
– E aí, como está seu relacionamento com o chefe? – Ela faz cara de malícia.
– A Karen anda falando coisas interessantes de vocês dois.
– Essa menina é uma víbora, hein? – digo puta. – Carol, eu dormi na casa
dele ontem à noite.
Ela se engasga de novo, mas logo se recompõe.
– Vocês estão transando, mas já?! – ela diz incrédula.
– Não, eu não dormi com ele, eu disse que dormi em seu apartamento! – falo
indignada. – Ele estava comigo quando encontrei o Renato, ele me levou
novamente para seu apartamento, eu enchi a cara de vinho e dormi!
Ela me encara com seus olhos grandes.
– Nossa, Jack! – Ela bufa. – Caramba, que confusão.
– Nem fala, Carolina. – Inspiro. – A Karen me viu chegando com ele.
– Ok! – Ela balança a cabeça. – E essa roupa, você não disse que não tinha
dinheiro?
– Ele comprou para mim. – Não olho para ela, são muitas coisas ao mesmo
tempo.
– Como assim?! – Ela me olha desesperada. – Ele está comprando roupas
para você?
– Deixa para lá, Carol – bufo exausta. – Ele é muito gentil, me deu de
presente. – Evito olhá-la.
Ela dá uma gargalhada.
– Tá virando amante do chefe!
A olho ofendida.
– Ele não está me comendo, Carolina! – falo brava.
– Mas, pretende comer... – ela diz.
– Não, eu não quero! – digo decidida.
– Ok! Vamos ver.
Olho para ela, mas ela já desviou seus olhos de mim.
****

Me despeço da Carolina, sigo para minha sala e vejo a sala do Doutor Rui
aberta.
Ok, me deixe ver se a sala do meu chefe está em ordem. Ele não é do tipo
bagunceiro, mas os papéis sobre sua mesa estão em desordem.
Coloco meus cabelos atrás da orelha e começo a organizar os papéis, os
colocando em alinhamento. Arrumo as canetas e lápis que estão espalhados, e
percebo que seus lápis estão todos sem ponta, então os aponto com um
apontador elétrico que existe em sua mesa.
Seus óculos de super-homem estão jogados sobre a mesa, então os coloco
dentro de seu porta-óculos.
Sigo para sua mesa de reunião, a arrumo, aponto os lápis, arrumo as cadeiras,
e quando me viro, me surpreendo ao vê-lo em pé, me olhando.
Fico sem graça.
– Oi, boa tarde! – Sorrio nervosa. – Estava dando uma ajeitada em sua sala,
espero que você não se incomode! – falo insegura.
Ele sorri e segue para sua mesa.
– Eu não me incomodo. – Ele tira seu terno, coloca sobre um apoio, então me
olha e sorri. – Gostei, Jackeline! – Ele olha para sua mesa.
– Que bom! – Sorrio e começo a caminhar para minha mesa.
– Espere – ele diz. – Sente-se aqui, vamos tomar um café.
Respiro e o vejo pegar o telefone e falar com a copeira.
– Então, como foi sua manhã? Conseguiu fazer as coisas que te passei? – Ele
cruza seus braços atrás de sua cabeça, mostrando aquele bíceps maravilhoso.
Tento prestar atenção em outras coisas.
– Sim. Deixei apenas a questão do coquetel para ver agora à tarde. – Sorrio.
– Que bom! – Ele cruza seus braços sobre a mesa, um toque na porta e a
copeira entra.
Olho para ela e sorrio.
Ele espera ela sair, então volta a me olhar, pega sua xícara e toma seu café.
– Então, como foi seu almoço? – Ele me olha.
Fico confusa com sua pergunta.
– Foi bom, almocei com a Carolina, ela me levou a um lugar charmoso! –
falo sem graça.
– Ah, claro! – Ele me encara. – Você é bissexual, Jack?
Arregalo meus olhos e quase derrubo todo o café sobre minha roupa.
Devolvo a xícara para a mesa e o olho atônita.
– Nãooo!!! Eu nunca tive nada com a Carolina, nem com nenhuma outra
mulher!
Oh, que cara mais indiscreto!
– Me desculpe, não quis ofendê-la, mas você é minha funcionária... – ele diz
meio sem graça.
– Tá, mas e se eu fosse lésbica, qual o problema?! – falo indignada.
– Problema nenhum, eu só queria saber! – ele diz ainda com aquela cara de
bobo.
– Ok! – Me levanto. – Acho melhor eu ir trabalhar, tenho que ver aquela
questão – falo atrapalhada.
– Tá! – ele diz sem jeito. – Qualquer dúvida, pode me perguntar, Jackeline. –
Não espero ele terminar de falar, saio andando constrangida.
Bufo irritada.
– Cacete, como ele é curioso!
Capítulo 17
RUI FIGUEIREDO

N unca fui um cara romântico, dado a paixões avassaladoras. Me considero


um homem prático, objetivo, e quando preciso, frio em minha relações.
Confesso que não sei se algum dia amei de verdade, minha maior paixão é o
Direito e minha família. Amo demais meus pais e minha irmã, alguns anos
mais nova do que eu, e que mandei para os Estados Unidos para estudar na
melhor faculdade do mundo, Harvard.
Quando conheci a Priscila, eu mantinha um relacionamento com aquela
mulher que pedi para a Jackeline falar, a Helena.
Conduzi o divórcio de seu antigo marido, um empresário milionário, depois
de uma traição digna de respeito. Deixei o cara alguns milhões mais pobre, e
minha conta mais gorda.
A Helena é alguns anos mais velha do que eu, mas como qualquer mulher
rica e fútil, ela esconde sua idade por trás de cremes e cirurgias plásticas. Ela
é lindíssima, e se apaixonou por mim, o que é meio normal, as mulheres se
apaixonam por mim com facilidade.
Confesso que às vezes isso pode ser um saco. Eu quero sexo e diversão, não
relacionamentos, mas elas sempre querem colocar uma argola em nosso dedo
anelar esquerdo.
Enfim, quando conheci o Doutor Albuquerque e resolvemos fazer uma
parceria, o pacote incluía sua linda e ambiciosa filha.
Começamos a sair, transar, a Priscila nunca foi muito dada a cerimônias,
transamos em nosso primeiro encontro. Daí em diante ela grudou em mim, e
não vou mentir, eu deixei, por que sou prático, e queria muito a associação
com seu pai, e isso aconteceu, talvez por influência dela, tenho que
concordar.
Bom, a Helena continua no meu pé, até sai com ela algumas vezes depois que
conheci a Priscila. Logo eu e a Priscila engatamos um namoro, mas não gosto
de me prender a uma única mulher, e isso parece ser um problema para a
Priscila. Ela já percebeu que não sou muito fiel, e resolveu ter chiliques todas
as vezes que sumo, pode até ser que eu não esteja com outra mulher, mas
agora minha vida virou um inferno, essa mulher está me enlouquecendo.
A noite que aconteceu a tragédia da Jackeline, o telefone não parou de tocar,
é lógico que deixei no silencioso, eu não queria assustar a minha deusa.
Era para eu ligar para a Priscila pela manhã, mas aí dei de cara com aquela
mulher espetacular completamente nua no quarto ao lado do meu.
Eu sei que estou acostumado a ver mulher nua, mas a Jackeline não é igual às
outras, ela tem alguma coisa que me deixa louco.
Não sei se são seus peitos gigantes, ou aquela bunda, e aí me lembro da
maciez da sua pele, de suas curvas perigosas, e não consigo controlar a
décima ereção que essa mulher me provoca.
Estou obcecado por ela, e isso está se refletindo em meu relacionamento com
a Priscila.
Eu sempre consegui contornar o ciúme exacerbado da Priscila, mas agora que
a Jackeline apareceu na minha vida, não consigo mais pensar com clareza, é
meu pau que está conduzindo as coisas, e com isso, só está dando merda.
Quero deixar claro, não sinto nada romântico em relação à Jackeline, é só
sexo.
Ok, a Jackeline tem um jeito de ser encantador, mas não me importo muito
com isso, é na cama que a quero, e eu a terei!
Estou sentado a minha mesa, tivemos uma manhã bem interessante, aliás, a
segunda da semana. Não vou mentir, adoro a companhia dela, simples,
alegre, inteligente e encantadora!
Nunca dei presentes a mulheres que não fossem minhas amantes, costumo ser
generoso com meus casos, mas ela ainda não é meu caso. Na verdade, eu
comprei aquelas roupas por prazer, porque ela é uma mulher linda e senti
vontade de presenteá-la, se pudesse compraria a loja inteira para ela.
Relaxo minhas costas em minha cadeira e fico a imaginando nua, com uma
bela joia em seu pescoço, no meio de seus seios generosos, eu gostaria de
enchê-la de joias e roupas caras.
Fecho os olhos e balanço minha cabeça.
Eu não estou legal, preciso resolver logo isso, mas está meio difícil
convencê-la do meu charme, ela é mais resistente do que eu imaginava.
Tudo bem, a gente quase se beijou na cafeteria, foi por muito pouco, mas eu
acho que ela é honesta, talvez o fato de eu ser seu chefe a incomode.
E eu achando que a contratando seria mais fácil de conquistá-la.
Bufo irritado.
Bom, pelo menos agora sei que ela não tem um caso com a Carolina, aos
poucos as coisas clareiam, eu só preciso ter paciência, ela não é tão fácil
quanto as outras, mas eu sei que ela já está na minha teia.
Meu celular vibra em cima da mesa, vejo que é a Priscila e bufo irritado. Já
brigamos hoje pela manhã, quando ela me ligou na cafeteria.
Penso um pouco. Ok, deixa eu me livrar dela.
– Alô! – Atendo irritado.
– Rui, sou eu de novo! – ela diz feito uma cadelinha carente. – Rui, me
desculpe se perdi a paciência de manhã, mas é que você está muito estranho
comigo.
Olho para o teto e bufo exausto.
– Priscila, estou cheio de preocupações aqui no escritório. Por favor, me dá
um tempo, tá?
– Como assim, me dá um tempo?! – ela diz indignada. – Estamos de
casamento marcado, não podemos dar um tempo! – Ela se exalta, e eu perco
a cabeça.
– Eu quero um tempo, Priscila, não me importa se estamos de casamento
marcado, que se foda, eu não estou aguentando isso! Eu tenho um escritório
renomado para cuidar, não posso ficar lidando com sua infantilidade e
insegurança.
– Você não pode fazer isso! – Ela chora.
– Eu posso e já estou fazendo! Eu não vou me casar, você está
transformando minha vida num inferno!
Ela se desespera.
– Rui, por favor, não faça isso, eu vou melhorar, eu já te disse! Eu só preciso
ter certeza que você me ama, mostra para mim! – Ela soluça. – Eu sei que
você é um cara prático e objetivo, mas pessoas assim também são
românticas.
Esfrego meu rosto nervoso.
– Eu não sou – falo enfático. – Eu quero um tempo, Priscila. Por favor, não
me ligue mais. – Ela tenta falar, mas não a deixo. – Eu te procuro quando
estiver tudo bem. – Suspiro. – Eu preciso desligar, tenho uma reunião daqui
a pouco.
Desligo a ligação.
Coloco minha cabeça entre minhas mãos.
Caralho, eu acabei nosso relacionamento por telefone três meses antes do
nosso casamento. Acho que o Doutor Albuquerque não irá gostar disso.
Ok, ele vai ter que entender. Eu não quero me casar, quero ficar solteiro até
meus 70 anos, e se possível, comendo garotas de 18.
É isso, não quero mulher no meu pé, não quero me casar, não quero ser fiel, e
ponto.
O telefone volta a vibrar, mas não atendo, é ela.
– Priscila, você que cavou isso tudo, não fui eu – falo para mim mesmo.
Ando pela minha sala, ela me deixou nervoso, e penso na Jackeline. Adoro
quando ela vem a minha sala, aquele perfume feminino, quero dizer, acho
que aquele é seu cheiro, adoro o cheiro que ela exala.
Sento-me e aperto o botão de seu ramal.
– Jackeline, venha até minha sala. – Relaxo em minha cadeira e fico a
olhando enquanto caminha até a mim.
Ela ficou muito bonita com essa roupa, elegante, mas acima de tudo, muito
gostosa. Olho para suas pernas, que pernas...
Sorrio ao vê-la, essa mulher me faz bem.
– Sente-se. – Ela me olha séria, parece meio brava comigo, acho que foi a
história dela com a Carolina, mas quero que se foda, eu precisava saber.
– Pois não? – Ela continua séria, a olho de lado, sobre o que vou falar com
ela? Já falei sobre tudo.
– Você conseguiu falar com minha empregada, já começou a planejar o
coquetel?
Ela olha para o seu caderno e acho isso engraçado, ela é toda organizada, mas
isso é muito bom.
– Sim, ela foi muito gentil, me falou tudo que precisamos comprar, me
passou o nome do buffet que foi contratado, inclusive perguntou se eu queria
que ela cuidasse disso...
Interrompo-a, porque quero ela faça isso.
– Não, você que vai cuidar disso. – Ela me olha temerosa, eu sei que às vezes
sou um pouco ríspido demais, mas esse é meu jeito de ser, não estou bravo
com ela.
– Claro, nem pensei nisso, só estou te dizendo – ela diz insegura.
– Ok, vamos tomar um café? – Eu mesmo não acredito que estou fazendo
isso, tenho trabalho para o resto da minha vida, e estou batendo papo furado
com a secretária gostosa.
– Acho que não vou dormir hoje, não estou acostumada a tomar tantos cafés.
– Ela sorri.
– Ok, se você perder o sono, você me liga. Conto para você algumas piadas,
você vai cansar de tanto rir, aí você dorme!
Ela abre um sorriso enorme e não consigo deixar de olhar para os seus lábios,
e me lembro do nosso beijo ontem à noite, foi demais, e eu queria muito
repetir isso.
Porra, por que ela não abaixa a guarda e se entrega? Eu sei que ela também
quer!
– Você gosta de contar piadas? – ela pergunta meio sorrindo.
– Gosto, mas só para os amigos, porque normalmente são muito sujas para
uma dama. – Sorrio para ela.
– Oh, então não vai adiantar eu te ligar. – Ela finge estar decepcionada.
Ela pode até não fazer isso de propósito, mas ela é muito provocante,
sedutora.
– Posso falar sobre outras coisas. Que tipo de coisa você gosta de conversar,
ou falar no telefone? Eu sou muito criativo! – Falo malicioso, porque adoro
uma sacanagem, e adoraria ligar para Jackeline e falar umas baixarias, e
faríamos sexo por telefone. Ajeito meu pau em minha boxer, não preciso
dizer que ele já deu sinal de vida, aliás, a vida do meu amigo está difícil, mas
vou compensá-lo.
Percebo que ela enrubesceu, e isso me faz rir, ela não é puritana, nem tímida.
Quando penso em falar algo mais íntimo, por que nosso papo começa a me
empolgar, e eu acho que também está empolgando-a, alguém bate na porta.
– Pode entrar. – Sorrio para ela.
É a copeira, ela deixa nossos cafés, volto a olhar para a Jackeline, e vejo que
a deixei nervosa.
– Obrigada, Dona Maria. – Espero a mulher sair.
Ok, a porra da copeira estragou nosso clima, estávamos indo muito bem, mas
tudo bem, tentarei por outro caminho.
– Você está bem? Quero dizer em relação ao seu ex. – Ela me olha.
– Acho que sim. – Eu percebo relutância, ela não gosta de falar sobre sua
vida íntima.
– Vocês tinham um relacionamento normal na cama?
Ela me olha estranho, será que forcei a amizade?
– Rui, acho meio complicado falar sobre isso com você! – Ela gagueja um
pouco, a peguei desprevenida, adoro fazer isso com as mulheres.
– Fique à vontade, Jackeline. Me considere um amigo, seu terapeuta! –
Relaxo na cadeira e acabo rindo.
O que penso que estou fazendo?
Ela sorri, acho que ela já percebeu que não é bom me levar muito a sério, sou
meio maluco mesmo.
Ela remexe seu pires e me olha, e eu tenho certeza que agora saberei tudo
sobre ela, mas a merda da porta abre num solavanco, e quando penso em
xingar, vejo a louca da Priscila.
Me levanto de sobressalto, agora tenho certeza que vai dar merda!
– Oi, Priscila. O que você está fazendo aqui? – falo sério, vejo a Jackeline se
levantar rapidamente, a Priscila vira seu olhar para ela, e vejo ódio.
Pronto, tenho certeza que ela irá culpar a Jackeline pelo fim do nosso
relacionamento.
Ela não tira seus olhos da Jackeline.
– Quem é ela? – ela diz entre os dentes.
– Minha secretária, seu nome é Jackeline. – Olho para a Jackeline, que parece
constrangida. – Pode ir, Jackeline, depois te chamo para continuar com o que
estávamos fazendo.
– Ok. – A Jackeline se levanta, mas a louca da Priscila entra em sua frente.
– Por acaso é por ela que você terminou comigo? Ela é sua amante? – ela diz
descontrolada, medindo a Jackeline de cima a baixo, talvez com um pouco de
inveja, tenho certeza que ela gostaria de ter um corpo como o da minha
deusa.
Caminho rapidamente, e antes que a maluca resolva estapear minha
secretária, seguro em seu braço e a faço olhar para mim.
– Não, ela não é minha amante! – falo baixo, mas muito ameaçador.
– Jack, pode ir – falo raivoso, mas não é com a Jackeline, é com essa garota
descontrolada.
Eu e a Priscila nos encaramos por alguns segundos, a porta fecha, eu largo
seu braço e volto para minha mesa.
– Priscila, vá embora! – A encaro nervoso.
– Eu não vou, não sem saber por que você está terminando nosso
relacionamento! É por causa dessa piranha?! – ela berra.
Fecho meus olhos, minha vontade é colocá-la para fora sem dar satisfações.
– Eu não vou discutir com você, Priscila, aqui é o meu trabalho. Eu te pedi
um tempo, eu preciso respirar um pouco, você está me sufocando! – falo
nervoso.
– Eu prometo que vou melhorar! – Ela suplica, tenta me abraçar e me beijar,
mas me esquivo.
– Eu preciso de um tempo, pelo amor de Deus! – Exalto minha voz. – Você
está me atrapalhando, atrapalhando meu trabalho.
– Para que você precisa de um tempo, para conhecer outras mulheres, para se
divertir?! – ela diz exasperada.
– Vai embora, Priscila! – falo exaltado, sigo até a porta e a abro. – Outro dia
conversamos, hoje não, e muito menos aqui! – Falo incisivo.
Ela me olha cheia de raiva, sai e eu bato a porta.
Merda, maldita hora que me envolvi com essa garota.
Capítulo 18
JACKELINE BARTOLLI

S aio da sala do Doutor Rui meio atordoada e sento em minha mesa.


Confesso, achei que iria apanhar daquela mulher, ela estava realmente
muito brava, e pelo que entendi, é porque eles terminaram, quero dizer, ele
terminou com ela.
Não consigo deixar de sorrir, mas em seguida balanço minha cabeça
negativamente.
O que estou pensando? Que agora poderei namorá-lo? Estou louca! – Penso.
Mas não deu tempo de me acalmar, logo a porta abre, e vejo a Priscila saindo
da sala de seu ex-noivo, espumando feito um touro.
Não tenho medo dela, mas evito olhá-la, porque não quero confusão. Eu sei
que ela está achando que eu e ele somos amantes, não que isso não seja uma
boa ideia, mas não somos, e não quero ser, então é melhor evitar maiores
problemas.
Olho para o monitor de meu computador, tento disfarçar, mas ela está a fim
de brigar. Quando me dou conta, ela derruba todas as coisas da minha mesa, e
me olha feito uma louca.
– Olha aqui, sua piranha de décima categoria! – ela diz com o dedo em riste
no meu rosto. – Não pense que você irá acabar com meu relacionamento! O
Rui me ama, só estamos em crise – ela diz nervosa.
Não sou de levar desaforo, então me levanto e encaro aquela coisa mal-
amada.
– Eu não tenho culpa que você está com problemas em seu relacionamento,
eu sou apenas a secretária, não me culpe pelo seu fracasso – falo séria e com
muita raiva, quem ela pensa que é para me chamar de piranha? – Resolva
seus problemas com ele, e pense bem a próxima vez que me chamar de
piranha, talvez eu não tenha tanta paciência! – A olho com firmeza.
– Cala boca sua... sua... insignificante. Assim que eu e o Rui nos acertarmos,
a primeira coisa que farei é colocá-la na rua! – ela grita e meu coração
acelera, tenho vontade de estapeá-la, mas tento me controlar, eu realmente
preciso desse emprego.
– Fique à vontade! – Volto a minha mesa, olho para o computador tentando
ignorá-la, e a vejo sair batendo seco seu salto alto.
A olho pelo canto do olho, sentindo muito ódio dessa garota, ela é esnobe e
arrogante, e se acha dona desse lugar. Se eles realmente reatarem, estarei
perdida, e na rua.
****

É final de tarde, checo em meu relógio de pulso o horário, já faz algum tempo
que o Doutor Rui está trancafiado em sua sala com dois advogados.
Não nos falamos depois da visita ilustre de sua ex-noiva, ou noiva, não estou
muito preocupada com isso, quero essa encrenca longe de mim.
Mas, aí, me lembro de nossa conversa de louco, antes da megera chegar, e
dou risada.
Que conversa era aquela que estávamos tendo?
É fato que ele estava querendo avançar a linha tênue de secretária e de chefe,
e sinceramente, eu estava quase caindo em sua teia. Mas aí aquela louca
chegou, e de certa forma agradeci, pois ele é muito envolvente, é difícil não
se entregar ao seu charme.
Me estico um pouco na cadeira, já estou com todas as cotações para o
coquetel, só falta mostrar para ele, mas acho melhor fazer isso depois, talvez
amanhã. Está tarde, só quero mesmo que esses advogados saiam para eu
poder ir embora.
É constrangedor entrar em sua sala no meio de uma reunião, então espero um
pouco mais, olho para a caixa de mensagens de meu celular, e lá está uma
mensagem do meu ex-namorado.
Bufo com raiva, mas abro a mensagem.
“Jack, precisamos conversar, já liguei diversas vezes em seu celular, mas
você está me ignorando. Estive ontem em seu apartamento e você não dormiu
lá. Tudo aquilo foi um mal-entendido, eu não tenho nada com o Léo, somos
amigos. Não sou homossexual, caralho! Eu não tenho preconceito, somos
amigos desde a faculdade, assim como você é da Carolina. Por favor, essa
história não pode vazar, imagine se minha família desconfia de um negócio
desses! Por favor, me liga, vamos jantar, fazer o que você quiser, eu
realmente quero me acertar com você.”
Idiota, ele acha mesmo que me engana, eu é que sou uma tapada que nunca
havia percebido isso antes. Tenho dó do Renato, ele nunca irá assumir sua
preferência homossexual, sua família é muito tradicional e conservadora, eles
nunca o aceitariam, seu pai principalmente, aquele ser ignorante, sem cultura
e grosseiro.
Escrevo uma resposta.
“Renato, fique tranquilo, nunca contarei a ninguém o seu segredo. Mas, por
favor, seja sincero comigo, assuma isso, eu não mereço ser enganada por
uma vida inteira, isso é realmente monstruoso da sua parte. Eu desejo um dia
me casar, ter filhos, então me deixe em paz, me deixe conhecer um HOMEM
que realmente me queira para ser sua esposa, e não uma namorada de
fachada. Seja homem pelo menos nisso. Me deixe em paz, não quero vê-lo
nunca mais!”
Ele realmente me ligou diversas vezes, aliás, nunca em nossa vida de
namorados recebi tantas ligações dele. Mas, a verdade é que estou muito
magoada, não é justo ser usada assim, eu sempre o respeitei e amei, não o
perdoo por me usar.
Penso com tristeza no tempo que perdi ao lado daquele enrustido dos
infernos, sempre tão mal-amada, suplicando por amor e carinho. Por que fiz
isso, por que não vi que ele não me amava? Era só um joguinho de aparência,
e a Jackeline caiu feito uma idiota!
Eu realmente não levo jeito para a Psicologia, eu deveria ter percebido isso,
não é possível!
De fato, acho que eu sempre forcei a barra com ele, nos conhecemos um dia
por acaso na faculdade, eu estava comprando um lanche, ele também, então
começamos a conversar na fila. Ele era bonitinho, mas muito tímido,
introvertido, e eu sempre fui muito falante. Comecei a pegar carona com ele
até o metrô. O tempo foi passando, e me enervava o fato dele nunca querer
ultrapassar a linha da amizade, talvez tentar um beijo. Aí, num belo dia eu
tomei a iniciativa, e na hora de me despedir dele, tasquei um beijo, daqueles
de desentupir pia.
Oh, mas ele era tão tímido que me deixava nervosa, ficamos um tempo só nos
beijinhos, até que novamente a Jackeline atacou o cara, foi dentro do carro
dele, na rua onde ele estacionava o carro, aliás, que perigo o que fizemos. Eu
tomei a iniciativa de novo, não teve jeito, e transamos pela primeira ali no
carro mesmo.
Confesso que não foi legal, o cara não tinha o menor jeito, parecia uma
britadeira desgovernada, não gostei, mas com o passar do tempo foi
melhorando... e depois, piorando!
Assumo, eu tive culpa, acho que ele nunca foi a fim de mim.
Olho para a mensagem que mandei, ele não a leu, então largo o celular ao
meu lado, e sigo para meu computador.
Gostaria tanto de conhecer alguém especial, que me fizesse feliz, que me
tirasse do chão, uma paixão avassaladora! Estou precisando disso, sexo de
verdade, que falta estou sentindo disso!
Ok, eu sei que isso parece coisa de mulher encalhada, mas quando vejo, estou
entrando em um site de relacionamentos.
Eu sei, isso é o fim do túnel, mas eu não ligo, tantas pessoas conhecem o seu
grande amor nesses sites, de repente eu sou a próxima, meu príncipe está
dentro dessa telinha, eu só preciso vasculhar.
Faço meu cadastro rapidamente, preciso de uma foto, olho para a câmera do
meu computador, ok, vou fazer isso.
Tiro algumas fotos, faço algumas caras e bocas, e por fim, escolho a que
fiquei melhor. Tudo bem que eles preferem foto de corpo inteiro, mas não
estou a fim de vender meu corpo, eu sou muito mais do que uma bunda e um
peito.
Me descrevo rapidamente.
“Tenho 27 anos, sou romântica, adoro conversar, jantares a luz de velas,
ganhar flores, ir ao cinema, viajar...”
Tenho vontade de dizer que gosto de sexo, sexo de verdade, mas resolvo não
dizer isso, caso contrário minha caixa postal irá encher de propostas
indecentes para encontros tórridos.
Meu Deus, se eu gosto de tudo isso, por que eu ainda namorava o Renato?
Oh, mulher burra!!! – Me xingo mentalmente.
Ok, termino minha descrição e olho brevemente alguns perfis de homens que
estão à disposição.
É muito estranho conhecer alguém assim, sem ter aquela primeira impressão,
olho no olho, mas eu realmente não sei como conhecerei outros homens
enfurnada dentro de um apartamento, e com três senhoras.
É isso ou nada.
Um barulho na porta e de repente os dois advogados saem animados, eles me
olham, sorriem simpáticos, sorrio para eles, e vejo meu chefe olhando a tela
do meu computador. Me desespero, minimizo, mas já é tarde, ele me encara
com um sorriso cínico no rosto.
– Você costumar procurar por encontros nestes sites, Jackeline?
O olho horrorizada.
– Claro que não! Eu tinha um namorado, eu não saia com outros homens, não
sou o tipo de mulher infiel, Doutor Rui! – falo indignada.
O vejo se aproximando, ele se posiciona em minhas costas, e como sempre se
inclina sobre mim, e abre a maldição do aplicativo. Então, ele começa a abrir
minhas informações.
Oh, céus, que vergonha!
– Doutor Rui, por favor, isso é pessoal.
– Eu sei, mas então, por que você estava fazendo isso em seu trabalho? – Ele
me olha inclinado sobre mim, me dando a visão perfeita de seus lindos olhos,
de sua boca, de sua pele, e do perfume que ele exala.
– Me desculpe, eu só estava tentando passar o tempo. Nunca mais abrirei este
tipo de site aqui no escritório – falo constrangida, tento pegar no mouse para
fechar o site, mas ele não deixa.
– Ok, mas me deixe ver o que temos aqui. – Ele dá um sorriso debochado.
Tudo bem, eu mereço, por ter sido uma idiota e ter entrado em um site de
relacionamento em meu trabalho, agora meu chefe terá mais um motivo para
me constranger.
Me encosto na cadeira, fecho meus olhos e deixo o vexame se concluir.
– Certo! – Ele fecha o site e se senta em minha mesa, de frente para mim, me
dando uma visão gloriosa de seu corpo.
Esse homem é lindo.
– Você acha mesmo que alguém neste site está interessado em conhecer
alguém para ter um relacionamento, Jack? – Ele me encara desafiador.
– Acho! – Balanço minha cabeça. – Sei de pessoas que se conheceram assim.
Evito olhá-lo.
– E quem são essas pessoas? – Ele cruza seus braços, me encara, olho-o
nervosa.
– Sei lá, já ouvi dizer, não me lembro agora – respondo irritada, quem ele
pensa que é, afinal?
– Jack, você não precisa disso. Isso é uma roubada! – Ele se levanta e segue
para sua sala.
Reviro meus olhos.
– Você precisa de mim, quer que eu faça alguma coisa? – pergunto sem
graça.
Ele torce seus lábios e finge pensar.
– Você quer um encontro, Jack? – Ele me olha com um sorriso enigmático.
– Doutor Rui, esquece isso. Eu só estava querendo passar o tempo, sei lá! –
bufo irritada.
– Ok. – Ele passa suas mãos pelos cabelos, e isso o deixa tão sexy! – Quer
jantar comigo?
Abro levemente a boca, estou realmente surpresa.
– Não acho uma boa ideia – falo confusa.
– Claro que é uma boa ideia, eu sou um cara solteiro, você também é, não há
nada que nos impeça de jantarmos juntos. Qual o problema de fazermos isso?
– ele diz com uma naturalidade irritante.
– Você é meu chefe, eu sou sua secretária, não quero ser sua amante se é isso
que você pretende – digo sem delongas.
Ele me encara realmente bravo.
– Só quero levá-la para jantar, quem falou que a quero como minha amante?!
– ele diz sério.
Abro novamente a boca, surpresa, sem graça e envergonhada.
Só estou fazendo merdas, eu só queria enfiar minha cabeça em um buraco e
sumir.
– Desculpe, eu não acho nada. – Desvio meus olhos dos seus. – Eu... eu às
vezes falo demais.
Ele se inclina novamente sobre minha mesa e me encara desafiador.
– Ok, eu te desculpo! – Ele se levanta. – Pode ir embora.
O vejo indo com pressa para sua sala, ele bate a porta e eu finalmente respiro.
Oh, merda, será que ele ficou chateado comigo?
Deixa pra lá, pelo menos falei o que queria. O que está feito, está feito!
****

Finalmente chego em casa.


Jesus, meus pés doem como a morte, acho que preciso colocá-los em uma
bacia com sal grosso.
Abro a porta, as velhinhas estão animadas assistindo a novela.
– Jack! – Minha mãe grita. – Oh, a Mariana finalmente se entregou para o
Roberto, venha ver.
Reviro meus olhos, me nego a assistir essas novelas, elas estão nojentas.
– Não, mãe. Vou tomar banho! – Dou um beijo em cada uma delas.
Minha mãe me olha de lado.
– Que roupa é essa? Já lavei a roupa da Carolina, não fique pegando roupas
emprestadas, isso é muito feio! – ela diz mal-humorada.
– Eu comprei esse conjunto. O escritório que trabalho é muito chique, não
posso ir mal arrumada.
Ela olha para as sacolas.
– Fez compras, querida? – ela diz sorrindo.
– Só algumas coisas, para poder trabalhar decente! – Sorrio. – Vou tomar um
banho, estou muito cansada.
Entro no meu quarto, desabo sobre a cama e jogo meus sapatos para a lua.
– Sério, amanhã vou de sapatilhas, não aguento esses saltos.
Me levanto preguiçosa, sigo para o chuveiro, e em alguns minutos estou
comendo minha salada de folhas e um grelhado.
Eu odeio saladas e grelhados, não sei como irei perder dez quilos.
– Jack, essa salada não vai te alimentar, coma mais alguma coisa! – Minha
mãe diz desesperada.
– Não, não e não!!! Dez quilos, mãezinha, preciso me pesar para saber se
perdi alguma coisa! – Falo animada. – Vou estudar um pouquinho, estou
fazendo um curso pela internet.
– Oh, que ótimo! E o Renatinho? Ontem ele esteve aqui!
– Eu sei, nos desencontramos. – Desconverso. – Me deixa estudar, mãe.
Ela faz uma cara feia e sai.
– Ok, vamos lá.
Abro o site do curso e começo a lê-lo, duas horas depois estou morta de sono.
Bocejo alto, me estico na cadeira, e me lembro do site de relacionamentos.
Não vou negar, estou curiosa para saber se alguém se interessou por mim.
Entro rapidamente no site com meu ID e senha e pronto, a caixa de
mensagens pisca, então a abro curiosa, com um sorriso no rosto.
– E não é quem tenho mensagens! – falo para mim mesma.
Abro o perfil do cara que me mandou uma mensagem, até que ele é
bonitinho, arrumadinho. Claro que não chega aos pés do Doutor Rui, mas eu
também não chego aos pés de sua noiva, então, acho que terei que me
contentar com homens como esse.
Leio sua mensagem:
“Oi, Jackeline! Meu nome é Luís Alberto, tenho 40 anos e estou procurando
por uma companheira como você, romântica, sonhadora e linda! (ponto para
ele, sorrio) O que você acha de marcarmos um encontro, para nos
conhecermos? Não gosto muito dessa história de trocar mensagens, prefiro o
corpo a corpo (o que ele quer dizer com isso?).”
Me sinto meio nervosa com essa história de marcar um encontro com um
desconhecido. Mas quem disse que há muita diferença em conhecer alguém
numa boate e marcar um encontro com ele?
Dane-se, começo a digitar uma resposta.
“Olá, Luís Alberto! Podemos marcar sim. Alguma sugestão de dia e
horário?”
Envio.
Ouço um bip no computador, e sua mensagem na tela.
– Apressadinho ele.
Sorrio empolgada.
“Estou louco para te conhecer! O que você acha amanhã, depois das 18h?
Trabalho próximo ao shopping. O que você acha de marcarmos na entrada,
então podemos sair, ir a algum lugar mais tranquilo?”
Oh, como assim, lugar mais tranquilo?
Não, não e não, vai ter que ser no shopping mesmo.
Respondo:
“Que coincidência! Também trabalho próximo ao shopping, mas prefiro te
encontrar na área de alimentação, em frente a um restaurante árabe, se você
quiser podemos jantar ali mesmo.”
Alguns segundos, e a resposta aparece em minha tela.
“Tudo bem, vamos nos conhecer melhor. Numa próxima marcamos em outro
lugar. Chegarei lá às 18h30, aproximadamente.”
Respondo.
“Perfeito para mim. Nos encontramos amanhã, boa noite.”
Ele responde com uma carinha feliz e suspiro aliviada.
É isso, eu quero conhecer pessoas novas, interessantes, e esquecer
definitivamente meu fracassado romance com o Renato.
Vida nova, Jackeline!
Desligo meu computador e me aconchego em minha cama, e ao invés de
dormir, fico pensando no Doutor Rui.
Seria tão fácil e delicioso ser sua amante, mas eu sei que as coisas não
funcionam deste jeito, possivelmente assim que ele enjoasse de mim, eu seria
descartada como uma roupa velha. Não quero mais isso para mim, quero ser
amada, respeitada, não suporto mais ser brinquedo para os homens.
Fecho meus olhos e depois de alguns minutos, durmo pesadamente. Estou
exausta.
Capítulo 19
JACKELINE BARTOLLI

O despertador toca estridentemente, me causando uma irritação enorme. O


desligo delicadamente, não posso quebrar mais um relógio, isso já está
fora de controle.
Sigo sonolenta para meu banheiro, abro a ducha e deixo a água quente me
acordar.
Logo estou pronta, com meus cremes devidamente passados e com a toalha
ao redor do meu corpo, olhando para meu guarda-roupa.
– Talvez eu devesse colocar esse conjunto de saia e camisa vermelha. A
vendedora me elogiou tanto! – Falo olhando para a roupa sobre a poltrona.
– Ok, vou caprichar! Quem sabe o rapaz que irei encontrar não seja o
príncipe que estou esperando!
Coloco uma lingerie bonita, mas não pretendo tirar minha roupa para ele, é só
porque gosto de ficar bem vestida na minha intimidade. Abotoo a camisa
vermelha e me olho no espelho.
– Fico bem de vermelho, é que eu realmente não estou acostumada a usar
muitas cores. O Renato sempre foi estraga prazer, sempre colocando defeitos
quando eu me arrumava muito.
Xô, coisa ruim!
Pego a saia creme e passo-a pelos meus pés, fecho o zíper em minhas costas e
a ajeito ao meu corpo.
– Sério, meus quadris estão enormes! Preciso perder isso, e com urgência!!! –
Torço meus lábios.
Arrumo a camisa dentro da saia, me ajeito em frente ao espelho e suspiro.
– Estou bem vestida, isso é fato. Mas, me incomoda um pouco esse excesso
de bunda, mas vou fazer o quê?
Sigo para o banheiro, acabo de secar meus cabelos, mas os deixo ao natural,
passo batom, delineador e máscara para cílios, e pronto!
Coloco uma sapatilha baixa, pego meu sapato novo, lindo e chiquérrimo e
coloco em uma sacola, jogo um casaco preto por cima dos meus ombros e
saio apressada para mais um dia ao lado do chefe mais lindo do mundo.
****
Não fiquei surpresa ao chegar ao escritório e encontrar tudo fechado.
Eu acho que posso dormir um pouco mais, não preciso chegar tão cedo ao
meu trabalho.
Pego a chave que o Doutor Rui me deu, abro o portão e em seguida a porta de
entrada.
Está tudo silencioso, o que me causa certa aflição, não estou acostumada a
ficar sozinha, acho que sou um pouco medrosa.
Mas, respiro fundo e sigo para minha sala.
Acendo as luzes e sinto aquele perfume delicioso no ar, é o cheiro do
perfume do Doutor Rui, esse ambiente já está impregnado com seu cheiro.
Abro sua sala e sorrio, adoro estar aqui, me sinto bem. Sigo até as janelas e
abro as persianas, e um pouco a janela, para entrar ar fresco.
Vou até sua mesa, ajeito seus papéis, arrumo os lápis, canetas, a mesa de
reunião, enfim, olho ao redor e fico satisfeita, estou me esforçando para ser
uma boa secretária, para fazer jus ao meu salário.
Volto para minha sala, ligo meu computador, arrumo minhas coisas, e vejo
que ele me enviou um e-mail, o abro curiosa.
“Jackeline, bom dia! Não irei para o escritório agora pela manhã, estou
listando abaixo as coisas que gostaria que você fizesse na minha ausência.
Qualquer dúvida, me ligue!”
Engraçado como sinto um desânimo ao saber que ele não virá agora pela
manhã, já estou acostumada com sua presença, com seus gritos me
chamando, com seu perfume.
Balanço minha cabeça negativamente, não posso me apegar, não somos
amigos, não há porque sentir sua falta.
Imprimo seu e-mail e começo a verificar as coisas que ele me pediu, e assim
minha manhã passa em meio a telefones, cartas, arquivamentos e e-mails para
algumas pessoas.
Sinto-me bem, porque apesar de nunca ter feito isso na minha vida, acho que
levo jeito.
Sorrio feliz.
É engraçado como alguém pode ser sentido apenas pelo cheiro, e esse é o
caso do Doutor Rui. Eu o senti chegar, mas não pelos seus passos, ou pela
sua voz, mas sim pelo seu cheiro.
– Boa tarde! – ele diz, e mesmo antes dele dizer eu já havia sentido sua
presença.
Levanto meus olhos, ele está parado em frente à minha mesa.
Sinto uma batucada no peito, ele está lindo hoje.
– Boa tarde! – digo me ajeitando na cadeira.
– Algum recado? – Ele me olha de lado.
– Alguns, você quer que eu te diga agora, ou... depois? – Falo sem graça ao
vê-lo olhar para o decote da minha camisa, e penso em checar se o botão se
abriu, mas seguro a vontade, e o encaro decidida.
Ele desvia seus olhos.
– Venha a minha sala – ele diz rapidamente, gira em seus calcanhares e entra
como um furacão em sua sala.
Checo de imediato minha camisa e o botão não está aberto, mas da posição
que ele estava, provavelmente a visão era privilegiada. Talvez eu devesse
colocar alguma coisa para fechar melhor esse decote.
– Jackeline! – ele grita, me atrapalho toda, pego meu caderno e saio
apressada para sua sala.
A porta ficou aberta, então sigo para sua mesa, e o vejo fuçando em sua pasta
e colocando coisas sobre a mesa.
Assim que ele percebe que entrei, ele me olha, quero dizer, me escaneia, ele é
mestre nisso, em me deixar constrangida.
– A roupa ficou muito bem em você. – Ele me olha intensamente.
– Ficou sim. Obrigada, eu realmente adorei! – Me sento a sua frente.
Ele sorri de leve, parece meio mal-humorado hoje.
– Você quer que eu peça um café para você? – digo boazinha, quero me
redimir de ter sido um pouco grossa com ele ontem.
Ele sorri.
– Pode pedir. – Ele coloca seus óculos.
Me levanto, pego seu telefone e disco para a copeira, e logo o percebo
olhando novamente para o meu decote.
Ele é realmente perverso! – Penso.
Me ajeito de lado, esperando que a copeira me atenda, mas aí o vejo olhando
para minha bunda. Isso realmente não vai funcionar, esse homem é muito
tarado.
Pigarreio.
– Está gripada, Jack? – Ele dá um sorriso de lado.
– Minha garganta está pegando um pouco! – Dou um daqueles sorrisos sem
mostrar os dentes, e o olho pelos cílios. – Perdeu alguma coisa? – Olho para
trás, e ele dá uma risada realmente safada.
– Não, não perdi nada! – Ele segura seu riso.
Faço o pedido para a copeira e me sento.
– Então, quais são os recados? – Ele se arruma em sua cadeira, ajeita seus
óculos e me olha.
– Claro. – Abro meu caderno um pouco nervosa, porque esse olhar dele em
mim me enerva, e começo a discorrer sobre as ligações e recados para ele.
– Tudo bem! – ele diz após eu terminar de falar sobre seus recados. – Mais
alguma coisa? – Ele relaxa em sua cadeira.
– Ficou faltando eu te falar sobre as cotações para o coquetel. – Ele me
interrompe.
– Agora não, vamos conversar no período da tarde. – Ele vira seu corpo para
o computador. – Pode almoçar se quiser – ele diz sem me olhar, ele tá meio
azedo hoje.
– Tudo bem! – Me levanto e sigo para a porta, mas como reflexo olho para
trás e o vejo relaxado em sua cadeira me olhando enquanto caminho para a
porta.
Ah, Doutor Rui, você é muito sem vergonha.
– Bom almoço, Jack! – Ele sorri para mim, inspiro com força.
Filho da puta tarado!
****

Sigo até a copa do escritório, hoje trouxe meu lanche, não posso me dar ao
luxo de almoçar fora.
Entro delicadamente e vejo a copeira lavando algumas coisas.
– Com licença, será que posso fazer um lanche aqui? – falo um pouco
cuidadosa, não conheço a copeira, aliás, só falo com ela quando o Doutor Rui
pede algum café ou água.
Ela se vira rapidamente.
– Claro, Senhora Jackeline! Fique à vontade. – Ela limpa suas mãos e vem ao
meu encontro. – Me deixe arrumar a mesa para você.
A copa do escritório é simplesmente um charme, decorada com motivos
retrôs, com uma linda mesinha de vidro e cadeiras feitas em um acrílico
vermelho transparente, tudo nela é lindo e de bom gosto.
– Oh, não precisa se preocupar comigo, eu me ajeito – falo constrangida,
vendo a mulher toda preocupada, colocando um apoio para pratos, copos e
talheres, deixando tudo perfeito, como se eu estivesse em um restaurante.
Mal sabe ela que eu trouxe um mísero lanchinho de queijo branco e peito de
peru com salada.
Ela não se deixa abalar com o que digo, logo a mesa está arrumadíssima.
– Oh, muito obrigada, mas só vou comer um lanche – digo sem jeito.
– Temos suco aqui, o Doutor Rui trata muito bem seus funcionários – ela diz
orgulhosa.
– Eu aceito, esqueci de trazer algo para tomar – digo constrangida.
De fato, eu não tinha nada para trazer, deveria ter feito um suco de laranja,
mas achei que não daria tempo.
Ela enche um copo com suco para mim, e me olha sorrindo.
– Obrigada! – Sorrio de volta. – A senhora está servida, é só um lanchinho...
Ela abana suas mãos acanhada.
– Não, obrigada, fique à vontade. – Ela volta para sua pia, coloco meu celular
em cima da mesa e como vagarosamente meu lanche.
Acho que isso é melhor que salada. – Penso.
Enquanto como, aproveito para ler notícias, ou fofocas em meu celular e não
percebo alguém se sentar à minha frente.
– Com licença! – Levanto meus olhos e dou de cara com um rapaz moreno,
bem bonito, todo engravatado, aliás, todos os homens aqui usam terno e
gravata.
– Claro, fique à vontade! – respondo.
Ele estende sua mão para mim.
– Sou o Fernando! Você é a Jackeline, não é mesmo?
O cumprimento.
– Sim, sou a secretária do Doutor Rui – respondo um pouco sem graça.
O Doutor Rui deveria ter me apresentado para as pessoas, é tão chato
trabalhar num lugar que a gente não conhece ninguém.
– Eu já sabia, a Carolina contou que você estava começando. – Ele tira algo
de uma sacola. – Se você não se incomodar, vou fazer companhia para você –
ele diz discretamente.
– De jeito nenhum, eu já estou acabando – digo apressada.
– Não precisa ficar com pressa, eu não mordo! – Ela dá um sorriso largo e
sedutor.
Todos os homens deste escritório devem fazer curso com o Doutor Rui.
– Não estou com pressa – digo constrangida. – Eu realmente já acabei meu
lanche.
Termino de tomar meu suco, me levanto e levo meu copo até a pia.
– Bom almoço! – falo ao passar pelo Fernando.
– Que pena que não pude usufruir de sua companhia! – ele diz galanteador. –
Talvez um dia eu convide a secretária do chefe para almoçar.
Abro a boca para responder, ele me deixou meio sem graça, mas aí ouço o
vozeirão do meu chefe.
– Tudo bem por aqui, Jack?! – ele me olha meio ameaçador. – O Doutor
Fernando parece que não está se comportando adequadamente! – ele olha de
lado para o rapaz.
O Fernando dá risada.
– Como assim, chefe? – O rapaz diz sem graça. – Só disse que um dia desses
vou convidar sua secretária para um almoço! – Ele dá de ombros e eu fico ali
feito uma panaca, nem sei o que dizer.
Olho para o Doutor Rui, e lá estão aqueles olhos semicerrados, e não sei
muito bem o que ele quer dizer quando me olha assim.
– Eu já almocei, dá licença. – Olho para o rapaz. – Prazer, Doutor Fernando!
– E saio apressada da cozinha.
Esse meu chefe é bem possessivo.
****

Escovo rapidamente meus dentes, repasso meu batom, ajeito meus cabelos e
volto para minha mesa.
Vejo a porta fechada, provavelmente o Doutor Rui já voltou, caso contrário a
porta estaria aberta.
Abro meu e-mail, e vejo alguns retornos de alguns assuntos que ele pediu
para eu resolver para ele.
Ele está bem silencioso hoje, normalmente ele me chama umas quinhentas
vezes. Estou surpresa, talvez um pouco decepcionada, ele é um colírio para
os olhos.
Fecho meus olhos e tento não pensar muito sobre isso, é tudo tão estranho, os
sentimentos que ele me causa, admiração, atração, mas medo também. Como
a Carolina disse, ele é um homem muito perigoso.
Meu ramal toca e vejo que é ele.
– Pois não? – falo séria.
– Venha a minha sala – ele diz em seu tom sério e compenetrado.
Olho no meu relógio de pulso e me surpreendo ao ver as horas, são 17h45,
está quase no horário que marquei com o cara.
Oh, espero que não seja nada demorado. Bato em sua porta e entro.
Ele está com seus óculos em sua mesa de reuniões, processos e mais
processos espalhados na mesa.
Me aproximo da mesa e tento não o interromper, mas ele me vê e se estica na
cadeira, deve estar exausto, de repente me vem a imagem mais absurda do
mundo, eu massageando aqueles ombros magníficos. Tenho vontade de rir,
sou hilária!!!
Dou um sorriso forçado.
– Posso te ajudar? – Ele tira os óculos, coça os olhos, parece muito cansado.
– Sente-se, quero sua ajuda com esses processos – ele diz sério, parece meio
rabugento hoje.
Me sento ao seu lado, coloco meus antebraços sobre a mesa e fico o olhando.
Ele olha para os papéis a sua frente, parece meio confuso.
– Acho que preciso de um café antes. Por favor, peça para a copeira trazer
café e água para nós – ele diz rapidamente e volta a colocar seus óculos.
Não falo nada, apenas me levanto e vou até o telefone que fica em sua mesa,
mas não vou dar a chance dele ficar vendo meu traseiro, me posiciono na
frente de sua mesa, pego o telefone e falo com a copeira.
Ele me olha de canto de olho, ele é muito sem noção.
Sorrio por dentro.
– Ok. – Tento sorrir, quebrar o gelo, ele é sempre tão bem-humorado.
Ele me entrega alguns papéis, pede para grampeá-los juntos, ok, um trabalho
para uma aprendiz, caiu como uma luva para mim.
Faço isso com uns cinco processos, ficamos em silêncio, um silêncio pesado,
tenho vontade de puxar papo, mas ele não me parece muito bem hoje.
Olho em meu relógio de pulso, 18h15, daqui a pouco tenho o maldito
encontro.
Ele segue lendo um documento.
– Acabou, posso ir? – Ele me olha sobre seus óculos.
– Está com pressa hoje? – ele diz com seus braços apoiados na cadeira,
pernas cruzadas despojadamente.
– Não! – digo, mais aí me lembro que marquei com o rapaz. – Quero dizer,
eu tenho um compromisso daqui a pouco. – O vejo franzindo a testa. – Mas,
eu posso terminar aqui, fique tranquilo – falo meio atrapalhada, ele me deixa
atrapalhada.
– Qual o compromisso? – Ele tira seus óculos e me encara.
Sempre tão indiscreto e bisbilhoteiro!
Abro a boca, mas desisto, não tenho por que mentir, que se foda.
– Um encontro! – digo constrangida e desvio meus olhos dos dele.
– Tem a ver com aquele site? – De repente ele está com os dois braços sobre
a mesa, parece até que contei que estou grávida.
– É... tem a ver! – digo corajosa, ele não é meu pai, ou meu irmão, que tanto
que ele cuida da minha vida?
Ele dá uma risada, mas não é uma risada de quem está feliz, é uma risada
estranha.
– Jackeline, você tem noção do que você está fazendo? – Ele me encara,
parece bravo.
– Tenho, vou me encontrar com uma pessoa, qual o problema, Doutor Rui? –
O encaro, porque eu preciso colocar esse homem no lugar dele.
– Rui! Você se lembra, não gosto que me chame de Doutor Rui! – Ele se
levanta, sai andando pela sala. – O problema, Jackeline, é que você pode estar
indo se encontrar com um marginal, ou um maníaco, sei lá, o que você sabe
sobre esse cara?
Ele se inclina na mesa a minha frente e me encara.
Minha mente ferve, será que é tão perigoso assim?!
– Mas eu vou encontrá-lo na área de alimentação do shopping, não pode ser
tão perigoso assim, e se eu ver que o cara é perigoso, eu dispenso ele. – Dou
um sorriso no final da frase.
– Você acha que está escrito na cara dele essas coisas?! Não dá para saber,
Jackeline, talvez você só vá descobrir isso quando estiver dentro de um
motel, esquartejada, aí não terá jeito! – ele diz bravo, parece até que sou filha.
Arregalo meus olhos, nossa, que cara exagerado.
– Desculpe, Doutor Rui... – ele me interrompe bruscamente.
– Rui, Jackeline, Rui!!! – ele fala exaltado.
– Tá, Rui, eu não tenho 18 anos, tenho 27, estou mais próxima dos 30 do que
nunca, não sou retardada, eu conheço um maníaco, ou tarado, ou sei lá o que!
– falo nervosa. – Não se preocupe, eu sou maior e vacinada!
– Então vá para o seu encontro, Jackeline. Espero que o cara não esteja
armado e não te leve para um beco escuro.
– Nossa, você conseguiu me deixar preocupada! Você não tem uma irmã ou
uma prima para cuidar?! – Me levanto brava.
Oh, eu não deveria ter falado assim com ele!
– Tenho uma irmã e eu cuido dela, você não sabe como.
– Tá – falo irritada. – Eu posso ir, ou você precisa de mais alguma coisa?! –
falo em frente a ele, estamos os dois em pé, parecemos um casal em crise,
que coisa mais estranha.
– Pode ir, e boa sorte! – Ele vira de costas para mim e sai andando para sua
mesa.
****

Pego minha bolsa e sigo em direção ao shopping, mas quer saber, ele
conseguiu me deixar preocupada.
Mas que merda!
Depois de alguns minutos de caminhada, entro no shopping, ele não é muito
longe do escritório, mas a pé e de salto foi um pouco demorado.
De repente, começo a ficar nervosa, já me arrependi de ter entrado nesse site,
e de ter marcado um encontro.
Mas, eu vou, não é o Doutor Rui que vai melar a minha noite, agora eu vou
até o final.
Sigo de elevador até a área de alimentação, o nervosismo começar aumentar à
medida que me aproximo do local do encontro.
Olho para as mesas que ficam em frente ao restaurante que falei, não há
nenhum homem sentado próximo, de repente me vejo torcendo para que ele
não venha.
– Ok, Jackeline, se acalme. O Doutor Rui é que é o maníaco, ele que não para
de olhar para os seus peitos e para sua bunda!
Escolho uma mesa para me sentar, mas antes compro uma água.
Olho em meu relógio são 18h55, mas tudo bem, eu cheguei atrasada, ele
também poderá chegar.
Tomo minha água distraída, quando de repente, um homem para a minha
frente.
Levanto meu olhar com um sorriso.
Sério, a foto não parece em nada com esse homem, talvez há 10 anos atrás,
agora ele tá bem gorducho, cheio de bolsas embaixo dos seus olhos, cabelo
ralo, e a barba está por fazer.
Me puno mentalmente, talvez o Rui estivesse certo, pelo visto ele conhece
bem esses sites.
– Jackeline?! – ele diz com um sorriso completamente amarelo, mas amarelo
mesmo, deve ser fumante.
– Sim, e você é o Luís Alberto? – Tento sorrir.
– Isso! – Ele passa seus olhos pelo meu corpo, e sinto um arrepio de medo. –
Você é bem mais bonita pessoalmente.
Engulo em seco, não posso dizer o mesmo dele, ele mentiu, ele não tem a
aparência da foto.
– Obrigada. – Sorrio. – Vamos nos sentar – falo sem graça.
Ele se senta à minha frente.
– Desculpe o atraso, me enrolei um pouco no escritório – ele diz, e chego à
conclusão que ele tem um bafo de onça.
Oh, meu Deus, que roubada, Doutor Rui!
Tento enrolar um pouco, depois invento algum compromisso.
– Então, o que você faz, quero dizer, você trabalha do que?
– Atualmente, trabalho de courier, era isso ou nada, perdi meu emprego há
um ano e meio atrás – ele diz remexendo suas mãos.
– Courier, não conheço, o que faz? – pergunto interessada.
– Motoboy, é que a empresa que trabalho é meio chique, e eles dão esse nome
aos motoboys! – Ele sorri, e vejo que ele está com dois dentes faltando.
– Oh, sinto muito, está difícil encontrar emprego. – Tento ser compreensiva,
ele é só mais uma pessoa vítima do desemprego, quem sou eu para julgar seu
emprego.
– E você, princesa, faz o que? – Ele olha novamente para meu corpo, e me
vem à mente o que o Doutor Rui disse.
– Secretária, mas estou em experiência, estava desempregada também! –
Tento ser simpática, não gostei dele, mas não vou diminuí-lo.
– Você é realmente muito bonita, estou lisonjeado de ter aceitado se
encontrar comigo – ele diz meio babão, o mau hálito está queimando minhas
narinas, disfarço, coloco a mão sobre meus lábios e nariz, e finjo bocejar.
– Oh, você também é muito... tem... você está ótimo! – Sou muito ruim para
mentir, não consigo dizer que ele é bonito.
– Não precisa mentir, engordei um pouco! – Ele bate em sua pança gorda. –
Mas, vou me cuidar, principalmente se arrumar uma namorada bonita como
você!
Sério, acho que não gosto do jeito que ele me olha, talvez ele seja maníaco.
– Bom, estamos aqui para nos conhecermos, não é mesmo? Se não der em
nada, pelo menos seremos amigos... – Começo a ficar nervosa.
– Não estou querendo fazer amizade, quero uma namorada, alguém para
fod... – Ele interrompe a frase, e me pego com os olhos arregalados.
– Ah, tá... – Olho no meu relógio. – Então, eu marquei com você, mas não
posso demorar, tenho um curso, não posso chegar muito atrasada.
De repente, sinto sua mão em minha coxa, me afasto da mesa assustada, mas
antes que eu possa fazer ou falar alguma coisa, ouço aquela voz grossa e
deliciosa ao meu lado, e tenho vontade de me jogar em seus braços.
– Jackeline! – ele diz me encarando, seus olhos continuam com aquela
expressão de bravo, mas ele está aqui, e vai me ajudar a me livrar desse
candidato a tarado.
Me levanto rapidamente.
– Oi! – Sorrio para o Doutor Rui, acho que nunca estive tão feliz em vê-lo. –
Então, minha carona para o curso chegou! – Olho para o homem, ele está
com aquela cara de panaca.
Estendo minha mão para ele.
– Foi um prazer te conhecer! – Viro para o Rui. – Podemos ir? – Ele balança
sua cabeça de um lado para o outro, deve estar rindo de mim por dentro.
– Sim, Jackeline, podemos ir! – Ele pega no meu braço e sai me arrastando
pela área de alimentação.
Olho para ele sorrindo.
– Obrigada, acho que ele era tarado!
Ele não diz nada, só balança a cabeça.
Capítulo 20
RUI FIGUEIREDO
Flashback on

B ufo irritado em minha mesa, essa Jackeline está se achando.


Não quero ser um cara arrogante, mas não existe mulher que não queira
sair comigo, todas querem, porque sou foda, mamãe dava banho em mim
com mel.
Ela conseguiu me irritar, porque já está na hora dela abrir as pernas, não deve
ser tão difícil assim, a não ser que ela namorasse o gay de propósito, e tudo
fosse uma armação, ela é lésbica e namorava um gay, tudo perfeito, e eu que
sou o idiota.
Olho em meu relógio de pulso, são 19h30, ela já foi embora, então ligo para o
rapaz que cuida da área de TI da empresa.
Ele atende rapidamente.
– Guilherme, é o Rui, sobe aqui na minha sala!
– Seu Rui, eu já estava saindo, você me pegou aqui por acaso. – Interrompo-
o bruscamente.
– Não quero saber, Guilherme! Se precisar, você cobra hora extra! – Desligo
o telefone.
A porta abre e vejo o Guilherme a minha frente.
– Pois não, Seu Rui? – ele diz meio temeroso, e não é por menos, a Jackeline
me deixou bem puto.
Me levanto da minha cadeira e sigo em sua direção.
– Vamos até o computador de minha secretária. – Passo por ele, sento-me a
mesa dela, digito a senha de entrada. – Eu preciso que você descubra a senha
que ela está usando para acessar esse site. – Digito o nome do site que ela
estava procurando por companhia.
Bufo irritado, eu convido ela para sair, e ela procura por um encontro na
internet.
Vai entender uma mulher dessa.
– Oh, ela está querendo arrumar namorado, chefe? – ele diz com um sorriso
de retardado no rosto. – Sua secretária é bem gost... – Interrompo ele.
– Não termina a frase se não quiser perder seu emprego! – Ele desfaz o
sorriso que estava no rosto, começa a acessar alguma coisa, em seguida anota
algo no papel e me entrega. – Esse é o login e a senha, chefe.
– Perfeito, pode ir! – digo apressado. – Guilherme, só um aviso, essa
conversa não pode sair daqui, se mais alguém souber sobre isso, você está na
rua, e encrencado. – O olho com firmeza.
– Fica tranquilo, Seu Rui, eu sei como funcionam as coisas no escritório, o
senhor já deixou claro, não quero ter um processo, me dá licença... – Ele sai
de cabeça baixa.
Olho aquele papel, o enfio no bolso e volto para minha mesa.
Flashback off
****

O celular toca, olho ao redor completamente perdido, estou num motel.


Amparo-me em meus cotovelos, olho ao meu lado, e vejo uma ruiva.
– Caralho, a noite foi boa, mas eu não me lembro de nada!
Saio da cama com uma puta dor de cabeça, aos poucos as lembranças da
noite passada vêm à minha mente, fui a uma boate, encontrei alguns amigos,
bebemos muito, arrumamos umas garotas, e cá estou eu.
– Oi! – Ouço uma voz feminina, olho para trás e vejo a garota acordada.
– Oi, tudo bem? – Ela sorri, até que ela é gostosinha, mas não vou querer
repetir o que fizemos ontem. – Vou tomar um banho, depois conversamos.
– Quer companhia? – Ela levanta, caminha em minha direção e coloca os
braços em meu pescoço. – A noite foi muito boa, gostaria de repetir?! – ela
diz sedutora.
– Não estou legal, gata! – Caminho até minha calça. – Quanto é seu
programa? Pode ir embora se quiser! – Olho para ela com minha carteira na
mão, seu rosto se transforma.
– Eu não sou uma garota de programa, eu te disse ontem, sou estudante de
Direito! – ela me fuzila com os olhos.
Fecho os olhos, não sei o que dizer.
– Desculpe, qual o seu nome mesmo? – digo confuso.
Ela sai caminhando nervosa até o que devem ser suas roupas. Coloca seu
vestido, sua calcinha, os sapatos, e eu a olho confuso.
– Você é um cretino, Rui, e me faça um favor, vá se foder!!! – Ela caminha
até a porta do quarto, abre e some.
Inspiro aliviado.
– Melhor assim! – Sigo para o banheiro.
****

Já estou pronto, mas ainda continuo no quarto do motel.


Checo minha caixa de mensagens, milhares de mensagens da chata da
Priscila, talvez eu a bloqueie para sempre.
Vejo que existem algumas ligações do seu pai, fecho meus olhos e tento ter
calma, eu preciso falar com esse cretino, só não sei se consigo hoje.
Olho em meu relógio de pulso, preciso falar com a Jackeline, mas não quero
ouvir sua voz, estou de péssimo humor hoje, então envio um e-mail para ela,
e já aproveito e digo as coisas que preciso que ela cuide para mim.
Já que ela não quer foder comigo, então vai ter que trabalhar!
Me deito na cama, aperto a tecla de discar e espero a ligação completar, e já
ouço a voz do Doutor Alburquerque.
– Bom dia, Doutor Rui! – ele diz formalmente.
– Bom dia, Doutor Albuquerque! Como vai? – Uso o mesmo tom dele.
– Não sei dizer, recebi uma notícia de minha filha que me afligiu muito! –
Ele se cala.
– Ela já conversou com o doutor? Eu pedi um tempo, eu e sua filha não
estamos nos dando bem, não vou me casar para ter que fazer meu divórcio
depois de um mês de casado! – falo na lata, não sou de dar voltas.
– Entendo. – Novamente aquele silêncio nervoso. – Doutor Rui, eu pensei
que tivéssemos uma parceria...
Interrompo-o.
– E temos, o meu relacionamento com sua filha não tem nada a ver com isso,
o nosso acordo não previa um casamento e amor eterno! – Fecho os olhos,
estou pegando pesado, eu sei que isso vai dar merda.
– Você está um pouco alterado, talvez devêssemos conversar pessoalmente,
não quero tratar um assunto como este por telefone.
Bufo cansado.
– Ok, estou a caminho do seu escritório, podemos conversar agora?
– Tudo bem, pode vir! – Ele desliga antes que eu possa falar ok.
Saio do motel e sigo para casa, preciso me trocar antes de ir para o escritório.
Durante o caminho, tento montar uma estratégia para me sair bem dessa
enroscada que me enfiei.
Passo em casa voando, logo estou estacionando o carro em frente ao
escritório do Doutor Albuquerque e espero alguns minutos de olhos fechados,
sempre faço isso antes de uma audiência, me concentro, não posso perder o
foco, não posso esquecer nenhum detalhe.
Ok, respiro e inspiro, saio do carro e sigo para a recepção.
Logo estou em uma sala, andando em círculos feito uma galinha doida, hoje
não é um bom dia para conversar com o Doutor Albuquerque.
A porta abre e os dois entram, pai e filha, e tenho vontade de matar os dois.
Ela me olha intensamente, parece magoada.
– Oi, Rui! – ela diz sem graça.
– Oi Priscila! Como vai? – Ela não responde, se senta e fica me olhando.
– Como estão as coisas Rui? – Seu pai se aproxima, segura minha mão com a
sua e me abraça calorosamente.
– Está tudo bem! – Olho de um para o outro. – Pensei que iriamos conversar
somente eu e você, Albuquerque.
A Priscila enruga sua testa, mostrando sua falta de controle. Ela não deveria
estar aqui, mas ela quer usar o poder de seu pai.
– Oh, meu caro Rui, vamos nos acertar. Minha filha participou de cada
detalhe desta parceria, nada mais natural que ela esteja aqui conosco.
Balanço minha cabeça negativamente.
– Não, eu fechei esse acordo com você, não foi com a Priscila. – Olho para
ela. – Desculpe, Priscila, não é nada pessoal, mas isso não irá funcionar. –
Sigo em direção à porta. – Eu voltarei outro dia, Albuquerque, quando eu
possa conversar em particular com você. – Abro a porta e saio.
Foda-se todo mundo, estou de saco cheio dessa família.
****

Sigo para meu escritório, coloco uma música, preciso me acalmar, estou
muito nervoso hoje.
Depois de alguns minutos, estou estacionando meu carro no escritório, passo
pela recepcionista sem cumprimentá-la.
Subo as escadas e finalmente chego à sala da Jackeline, ela está de cabeça
baixa anotando alguma coisa em seu caderno, parece não me notar, então
falo:
– Boa tarde!
– Boa tarde! – ela responde se remexendo nervosamente na cadeira.
Qual o problema dela comigo?
– Algum recado? – pergunto, mas já começo a salivar vendo-a vestindo o
conjunto que escolhi para ela, eu sabia que ela ficaria linda com essa roupa.
– Alguns, você quer que eu te diga agora, ou... depois? – Ela fica sem graça,
dei na cara que estava olhando o vão entre seios, mas não tive culpa, o decote
da camisa que está expondo mais do que deveria.
Disfarço.
– Venha a minha sala – digo rapidamente, seguindo para minha sala.
Me sento e vejo que ela ainda não entrou, mas que porra de mulher teimosa.
– Jackeline! – Berro seu nome.
Ajeito minhas coisas sobre a mesa, a vejo a minha frente, e não consigo
deixar de olhá-la, ela está muito gostosa com essa roupa.
– A roupa ficou muito bem em você – digo admirando-a.
– Ficou sim, obrigada, eu realmente adorei! – ela responde com um sorriso.
– Você quer que eu peça um café para você? – Ela parece querer me agradar,
minha sala está toda organizada, janelas abertas, talvez esteja com remorso
por ter me dispensado ontem.
Tento sorrir.
– Pode pedir.
A acompanho com o olhar enquanto ela segue até o telefone, se debruça
levemente, expondo para mim seus seios, mas ela logo percebe, vira de lado,
o que foi perfeito, agora vejo sua bunda maravilhosa.
Caralho, ela está um espetáculo com essa saia, tenho uma vontade louca de
me levantar, e encoxar essa bunda com meu pau, mas me controlo.
Quando eu pegar essa mulher, ela vai se arrepender de ter se feito de difícil.
Não consigo tirar meus olhos de sua bunda, ela é redonda, arrebitada, tenho
vontade de meter minha mão, apertar, mas aí a ouço pigarrear, olho e a vejo
me olhando enfezada.
– Está gripada, Jack? – pergunto cínico.
– Minha garganta, está pegando um pouco. – Ela tenta sorrir, mas eu já a
conheço, ela odeia que olhem para seu corpo, a Jackeline realmente é uma
figura. – Perdeu alguma coisa?! – ela diz me encarando, e não consigo
controlar um sorriso, ela é engraçada.
– Não, não perdi nada! – digo irônico.
Ela fala com a copeira e logo volta para sua cadeira.
– Então, quais são os recados? – pergunto enquanto relaxo em minha cadeira.
Ela passa rapidamente os recados, a Jackeline está me surpreendendo muito,
para quem nunca fez isso, ela está perfeita.
Estou cansado hoje, estou precisando relaxar, e enquanto a vejo caminhar
para porta, fico imaginando a Jackeline no meu colo, isso seria perfeito hoje.
De repente, ela olha para trás, e me pega a olhando indiscretamente.
– Bom almoço, Jack! – digo com minha maior cara de pau, ela faz uma cara
feia e sai, e dou mais risada.
Acostume-se comigo, Jackeline!
****

Ligo na mesa da Jackeline, mas ninguém atende. Na verdade, preciso apenas


de um envelope, então como não sou nenhum inútil, vou até sua sala, e vejo
sua bolsa sobre a mesa.
Pelo visto ela não saiu para almoçar.
Ando meio obcecado pela Jackeline, não vou mentir para mim mesmo, me
importo mais com ela do que deveria, então, quando me dou conta, estou
descendo as escadas e seguindo para a copa.
De fato, eu gostaria de convidá-la para almoçar, mas não posso dar na cara
esse meu interesse por ela, pelo menos para as pessoas do escritório. Meu
jogo é entre mim e ela, não quero que ninguém saiba o que há entre nós.
Antes mesmo de entrar na copa, ouço a voz de um dos nossos advogados, ele
diz empolgado: “– Que pena que não pude usufruir de sua companhia! Talvez
um dia eu convide a secretária do chefe para almoçar.”
Eu não deveria me incomodar com as cantadas dos advogados sobre ela, aqui
só tem homem filho da puta, mas é que a Jackeline é minha, eu a contratei
para ser minha, e não vou admitir que ela se relacione com ninguém, ou será
comigo, ou com ninguém!
– Tudo bem por aqui, Jack?! – A olho enciumado, é isso, sinto ciúmes dela, e
isso é ridículo. – O Doutor Fernando parece que não está se comportando
adequadamente – falo olhando para o Fernando, esse galinha dos infernos,
mas vou colocá-lo no lugar dele com a mesma urgência que o colocaria na
rua se estivesse cantando uma mulher minha.
– Como assim, chefe? – ele responde. – Só disse que um dia desses vou
convidar sua secretária para um almoço...
Encaro a Jackeline, se ela sair com alguém desse escritório, no dia seguinte
ela está na rua.
– Eu já almocei, dá licença – ela diz nervosa, dirige-se para o Fernando e sai.
– Prazer, Doutor Fernando!
Desconverso, pergunto sobre um processo que ele está cuidando para mim,
aproveito e tomo um suco, pego uma maçã e volto para minha sala.
****

O período da tarde foi foda, estou com vários processos grandes e


complicados, e não ando muito focado.
A tarde se arrastou comigo enfurnado dentro de minha sala, não chamei a
minha deusa nenhuma vez para relaxar meu dia, mas já estou com saudades
dela.
Cubro meu rosto com as mãos e dou uma risada.
Nada como uma mulher difícil para atormentar minha cabeça.
Ok, estou no meu limite, preciso de uma dose homeopática de Jackeline, só
para acalmar minha já atormentada mente.
Ligo em seu ramal, ela logo atende:
– Pois não? – Eu gosto muito de sua voz, é doce, melodiosa.
– Venha a minha sala – digo em tom sério.
Ela entra, continuo com o que estou fazendo, não sei no que ela pode me
ajudar, mas sempre tem alguma coisa para fazer.
Peço para ela se sentar, penso um pouco, vou colocá-la para grampear os
processos, peço para ela pedir um café, estou quase dormindo na mesa.
Continuo lendo os processos, ficamos em silêncio, mas não é desconfortável,
gosto da companhia da Jackeline.
Eu poderia tentar novamente levá-la para jantar, mas meu raciocínio é
interrompido pela sua voz.
– Acabou, posso ir? – ela diz mostrando pressa.
– Está com pressa hoje? – pergunto incomodado.
– Não! Quero dizer, eu tenho um compromisso daqui a pouco. Mas, eu posso
terminar aqui, fique tranquilo. – Essa conversa começou a me irritar.
– Qual o compromisso? – pergunto indiscretamente, ela é minha secretária,
tenho o direito de saber sobre sua vida.
– Um encontro! – ela diz claramente constrangida.
Eu não estou acreditando que ela marcou um encontro com alguém daquele
site, eu não consigo entender a Jackeline.
– Tem a ver com aquele site? – pergunto já meio alterado.
– É... tem a ver! – ela diz cheia de coragem.
Cara, essa mulher é pirada, e começo a rir, mas não tem graça essa história,
estou começando a ficar puto.
– Jackeline, você tem noção do que você está fazendo? – pergunto irritado.
– Tenho, vou me encontrar com uma pessoa, qual o problema, Doutor Rui? –
Ela me encara desafiadoramente, e essa história de Doutor Rui está me
irritando, já está na hora dela estar gritando meu nome no meio de uma
trepada fenomenal, estamos andando para trás e não para frente.
– Rui! Você se lembra, não gosto que me chame de Doutor Rui! – Saio
andando pela sala, ela conseguiu estragar meu humor. – O problema,
Jackeline, é que você pode estar se encontrando com um marginal, ou um
maníaco, sei lá, o que você sabe sobre esse cara?
– Mas eu vou encontrá-lo na área de alimentação do shopping, não pode ser
tão perigoso assim, e se eu ver que o cara é perigoso, eu dispenso ele. – Ela
sorri, parece animada com o encontro, nunca conheci uma mulher tão
irritante, a Priscila é chata, insuportável, mas a Jackeline é irritante.
– Você acha que está escrito na cara dele essas coisas? Não dá para saber,
Jackeline, talvez você só vá descobrir isso quando estiver dentro de um
motel, esquartejada, aí não terá jeito! – falo nervoso, essa história mexeu
comigo de uma forma que não sei explicar.
– Desculpe, Doutor Rui... – Ela começa a me chamar de doutor e perco a
paciência.
Talvez um dia eu a deixe me chamar de Doutor Rui, mas talvez com meu pau
em sua boca.
– Rui, Jackeline, Rui!!! – repito exaltado.
– Tá, Rui... – A desgraçada revira os olhos. – Eu não tenho 18 anos, tenho 27,
estou mais próxima dos 30 do que nunca, não sou retardada, eu conheço um
maníaco, ou tarado, ou sei lá o que! Não se preocupe, eu sou maior e
vacinada! – ela diz displicente, parece até que estou falando com minha irmã,
elas são um pouco parecidas, a Juliana é bem folgada, teimosa e, às vezes,
burra.
– Então vá para o seu encontro, Jackeline, espero que o cara não esteja
armado e te leve para um beco escuro. – bufo irritado, eu quero que ela se
foda.
– Nossa, você conseguiu me deixar preocupada! Você não tem uma irmã ou
uma prima para cuidar? – Ela se levanta, parece que consegui tirar sua paz de
espírito, e essa é uma boa notícia, quero que seu encontro seja uma merda.
– Tenho uma irmã e eu cuido dela, você não sabe como – respondo
incomodado.
– Tá! Eu posso ir, ou você precisa de mais alguma coisa?! – Ela me encara
desafiadora, hoje ela está bem folgada, começou a colocar as asinhas de fora,
mas eu vou colocá-la no lugar dela.
– Pode ir, e boa sorte! – Volto para minha mesa, ela me irritou demais.
****

Depois que ela foi embora, tentei retomar o que estava fazendo, mas ela
fodeu com minha concentração.
Não consigo tirar da cabeça essa merda de encontro que ela terá com um filho
da puta.
Volto para minha mesa, digito o nome do site de relacionamentos, insiro seu
login e senha, e fuço indiscretamente sua caixa de mensagens.
Leio a mensagem que ela trocou com o cara e tenho certeza absoluta que esse
encontro é uma roubada. Isso não deveria me incomodar, eu deveria estar
pouco me fodendo para as merdas que ela queira fazer com sua vida.
Ela acabou de sair de um relacionamento com um viado, agora vai procurar
relacionamento em um site que só tem cara cafajeste (ok, eu sou cafajeste,
mas eu me importo com ela).
Esfrego meu rosto, fecho os olhos e tento pensar com clareza, mas a clareza
não vem, eu preciso ver com quem ela está se encontrando.
Pego meu terno, minhas coisas, e saio apressado para o shopping, espero que
a encontre a tempo, antes do estupro, ou coisa pior.
Chego ao meu carro e saio feito um alucinado em direção ao shopping, deixo
o carro com o Valet Parking, ando apressado para os elevadores, mas sou
parado por um porra de um cliente.
– Doutor Rui, que prazer te encontrar aqui! – O homem fala calmamente,
cheio de simpatia.
– Como vai, Arthur? Realmente é um prazer! – Aperto sua mão apressado.
Ele começa a falar besteiras, amenidades, e eu começo a olhar para o relógio.
– Desculpe, Doutor Rui, estou aqui falando, nem perguntei se você tem um
compromisso! – ele diz, e eu agradeço.
– Desculpe, Arthur, estou muito atrasado. Quando der, passe no escritório,
podemos tomar um café e conversar com calma. – Não dou tempo para ele
responder, apenas aperto sua mão e saio meio correndo para o elevador.
A área de alimentação é enorme, passo meu raio X pelo local, às vezes pareço
mais um investigador de polícia do que um advogado, sou um cara meio
neurótico. Como advogado já vi muita coisa ruim por aí, a Jackeline parece
que nasceu no país da Alice, e não no Brasil.
Finalmente a acho, ela conversa com o cara, e balanço minha cabeça ao ver o
figura.
– Caralho, eu sou bem melhor que ele, entre nós, a Jackeline está apelando! –
Sigo vagarosamente em direção a eles, não quero que ela me veja, só quero
observá-los.
De fato, não sei o que vou fazer, estou me sentindo um idiota.
Me sento em uma mesa em sua lateral, ela está entretida com a conversa, mas
não parece muito empolgada, parece nervosa, ela mexe muito as mãos, e isso
já me fala tudo sobre ela.
Pego meu celular para disfarçar, caso contrário parecerei um maluco
observando o casal.
De repente, vejo a mão do cara embaixo da mesa, ele titubeia, mas isso foi o
suficiente para me fazer levantar, mas não cheguei a tempo, o filho da puta
meteu a mão nas coxas da Jackeline.
Porra, o sangue ferveu, ninguém coloca a mão na Jackeline, não antes de
mim.
Chego até ela em segundos, e a pego assustada.
– Jackeline!
Ela se levanta na mesma hora, parece muito feliz em me ver, pudera, eu a
salvei do maníaco.
– Oi! – Ela me olha com um sorriso largo, e penso, filha da puta não me
ouviu, mas agora está feliz em me ver.
– Então, minha carona para o curso chegou – ela diz para o cara, pelo visto já
estava tentando fugir do encontro fracassado.
– Foi um prazer te conhecer! – ela diz para o esquisito, se vira para mim
apressada. – Podemos ir? – Tenho vontade de deixá-la aqui, só para aprender,
mas aí não vou conseguir dormir de preocupação, então apenas balanço
positivamente minha cabeça.
– Sim, Jackeline, podemos ir. – Pego em seu braço, sem maiores delicadezas,
ela me irritou muito hoje.
– Obrigada, acho que ele era tarado! – ela diz muito feliz, e tenho vontade de
colocá-la no meu colo e bater em seu bumbum gostoso.
Mas, tudo bem, minha hora vai chegar.
Capítulo 21
JACKELINE BARTOLLI

E xistem momentos na vida que a gente precisa se redimir.


Eu claramente fiz uma cagada ao marcar aquele encontro, e não vou ser
hipócrita, o Doutor Rui tentou me avisar, ele foi gentil demais comigo, eu o
encheria de beijos, mas não posso, estou me esforçando muito para não fazer
isso, eu realmente adoraria pagar o que ele fez por mim em beijos, abraços...
Fecho meus olhos rapidamente, não posso andar ao lado dele e ficar
imaginando coisas eróticas, isso é muito esquisito.
Estamos seguindo para o estacionamento, ele continua com aquela cara
enfezada, e isso o deixa ainda mais sexy.
Mas eu preciso agradecer, independente de sua cara feia linda, eu preciso
agradecer.
– Doutor Rui. – O chamo cuidadosa.
– Doutor Rui é o caralho, Jackeline! – Ele rosna feito um leão preso em uma
jaula, com fome e estressado.
Arregalo meus olhos, mas ele não me olha, parece muito furioso comigo.
– Não me chama mais de Doutor Rui, caso contrário, a chamarei de Dona
Jackeline! – Ele me olha rapidamente, e volta a olhar para frente.
Enrugo minha testa.
Jesus, que homem mais esquentado.
– Tá bom, eu esqueço às vezes. Eu passo o dia ouvindo todos te chamando de
Doutor Rui, é difícil chamá-lo só por Rui. Você me entende? – O olho de
lado, ele rosna alguma coisa, reviro meus olhos e volto a andar com ele.
Afinal, para onde estou indo com ele? Eu só preciso pegar um ônibus e seguir
para o metrô, mas o vendo nervoso deste jeito, fico temerosa.
– Posso te dizer obrigada? – falo feito uma criança com medo.
Ele me olha de lado.
– Isso é o mínimo que você deve fazer, Jackeline! – ele diz irritado.
Paro a sua frente, o olhando nos olhos, que possuem uma cor muito diferente,
cinzas com algumas manchinhas amareladas.
– Obrigada por ter ido até lá, por ter se preocupado comigo e por ter tentado
abrir meus olhos. – Ele me encara, daquele jeito irritante.
– Eu não fui até lá por sua causa, eu iria jantar, mas aí eu vi você. – Ele dá de
ombros, fico um pouco decepcionada, mas eu realmente exagerei ao achar
que ele iria até lá por minha causa.
– Oh, claro, é que como ainda é um pouco cedo, não pensei nisso! Mas todo o
resto vale, te agradeço por ter me salvado do gordo tarado. – Não consigo
segurar um sorriso, eu sou uma piada.
Aos poucos vejo o sorriso se formando em seu rosto, mas ele não quer sorrir,
fica segurando seus lábios, ele fica lindo assim.
– Pode rir, meu encontro foi um desastre! – Começo a rir, rir muito, eu sou
muito sem noção.
Limpo as lágrimas que saem dos meus olhos, e o vejo controlando seu riso,
ele se aproxima e segura minha cintura, diminuindo a distância entre nossos
corpos, estou a um tris de roçar meus seios em seu peito, sinto um gelado no
estômago, fico séria e tento respirar.
– Não faz mais isso, Jack, é perigoso! – Ele me encara, e mergulho em seu
olhar, e sinto meu coração disparar em meu peito.
Coloco a mão em seu peito, e me afasto.
– Nunca mais! Eu aprendi a lição, prefiro ficar solteirona! – Tento sorrir, mas
o clima entre nós está tão tenso que eu sinto a tensão no ar. – Eu vou pegar
um ônibus, olho para a porta, deve ter algum que vai até o metrô.
– Você não vai a lugar nenhum! – ele diz com seu jeito de advogado
prepotente.
– Vou ficar aqui, no meio do shopping, é isso? – Tento descontrair, ele está
tão sério.
– Você vai jantar comigo, afinal, deixei de jantar por causa de seu encontro
romântico. – Ele coloca a mão em minhas costas e me faz voltar a caminhar.
Tento pensar sobre o assunto, mas não acho que seria uma boa ideia dizer que
não quero. De fato, eu quero, mas é que acho tudo isso muito perigoso, ele é
muito envolvente, está difícil me controlar.
Entramos em seu carro, ele liga o DVD e começa a tocar aquela música
deliciosa, nunca pensei que iria gostar tanto de músicas tocadas no piano.
Tento relaxar, o olho algumas vezes, mas ele está compenetrado no trânsito,
parece meio tenso, e acho tudo isso muito estranho.
– Para onde estamos indo? – pergunto mais para relaxar o clima, não estou
muito preocupada para onde iremos.
– Você vai ver, estamos próximos! – ele diz sem olhar para mim, apenas
dirige seu carro maravilhoso, confortável e sofisticado.
Acho que nunca havia entrado em um carro como este, o carro do Renato é
um modelo antigo, ele tem mania de coisas antigas, parece velho.
De repente ele estaciona, olho para o vidro do passageiro e vejo um
restaurante sofisticado, daqueles que eu nunca entraria se fosse em outra
ocasião. O manobrista abre a porta para mim, saio e logo o Rui está ao meu
lado, com sua mão em minhas costas, já até me acostumei com isso.
– Esse restaurante parece muito sofisticado – falo um pouco incomodada,
confesso que sou uma pessoa simples.
– Um pouco, mas você irá gostar. – Ele me olha de lado, e dá um sorriso
enigmático.
Disfarço meu olhar e sigo ao seu lado, logo um homem elegante nos leva até
uma mesa, remexe em seu bolso, e acende uma vela.
Sorrio com aquilo, e olho para ele.
– Vamos jantar a luz de velas? – falo irônica.
– Algum problema, te incomoda? – Ele vira seu rosto de lado, sorri
levemente.
– Não, eu acho... (iria dizer romântico, mas não posso) lindo, adoro velas! –
Disfarço, o garçom se aproxima trazendo os cardápios.
– O que você quer comer? – ele diz sério, e eu gostaria muito de quebrar essa
dureza dele, mas não sei como.
Olho para o cardápio meio perdida.
– Tenho dificuldade de decidir sozinha, me ajuda? – Olho para ele, um
pequeno sorriso surge em seus lábios.
– O que você acha de pedirmos esse? – Ele mostra o prato no cardápio, vejo o
preço ao lado, uma verdadeira fortuna, mas tento não dar na cara minha cara
de espanto.
– Vou te confessar uma coisa... – Ele me olha interessado. – Acho que não
existe nada que eu não goste, tenho tentado ficar nos pratos mais leves, mas
hoje vou abrir uma exceção, estou em dívida com você! – Sorrio tentando
conquistá-lo.
– Deixa o seu regime para outro dia, Jack, é uma ofensa entrar nesse
restaurante e pedir salada! – ele diz charmoso.
– Certo, você está coberto de razão! Aliás, hoje concordarei com tudo que
você disser! – Brinco.
Ele dá um sorriso genuíno, com cara de Rui. Ele balança sua cabeça e me
olha, e parece que consegui acabar com seu mau humor.
– Você não deveria ter me dito isso, Jack! – Ele me encara, e acho que estou
em uma enroscada. – Usarei sua informação a meu favor.
– Oh, vamos com calma... – Finjo estar preocupada. – Só estou tentando ser
simpática.
– Você precisa me compensar, hoje você foi muito má, vou pensar a melhor
forma de fazermos isso! – Ele me olha sedutor, e me deixo levar, a
companhia dele é tão fácil, deliciosa. – Vamos tomar um vinho, estou meio
tenso hoje, preciso de um vinho para desestressar. – Ele levanta seu braço, e
lembro do vexame em seu apartamento.
– Me lembre de que não posso passar de duas taças! – Sorrio para
descontrair.
– Qualquer problema, te levo para minha casa, te coloco na cama, e o Bóris
dorme com você! – ele diz brincalhão.
– Oh, o Bóris, que saudades dele! – falo saudosa. – Ele está bem? – pergunto
para relaxar.
– Com saudades de você. – Ele me olha sobre os cílios.
– Como você sabe, você fala cachorrez? – Brinco.
– Falo, Jack. – Ele sorri debochado. – São cinco anos juntos, o maior e
melhor relacionamento que já tive, e já falo cachorrez! – O olho
demoradamente, e tento processar sua informação, ele nunca teve
relacionamentos longos e duradouros, é uma pena.
– Leva ele um dia no escritório, para passar o dia com você, eu cuido dele, e
assim mato as saudades! – O garçom chega com o vinho, esperamos ele sair.
– Ou você vai até meu apartamento visitar o Bóris! – Ele bebe o vinho e me
olha sedutor.
Sorrio, ele é cara de pau, mas eu gosto do seu jeito.
– Quem sabe, não é mesmo? – Desconverso.
O garçom volta para anotar nossos pedidos, bebo meu vinho, e estou
começando a ficar acostumada com essa história de vinho.
– Me conte como foi seu encontro – ele diz.
Sorrio constrangida.
– Horrível! – Torço meus lábios. – Ele tinha mau hábito, e ficava em olhando
com cara de tarado! – Ele dá uma gargalhada.
– Culpa sua Jack, você está muito sexy hoje.
O encaro por alguns segundos, e então falo:
– Mas isso não tem nada a ver com o mau hálito! – Disfarço. – E também, a
foto do site não tinha nada a ver com ele atualmente, pelo visto, foi tirada há
10 anos atrás. – Brinco com minha taça.
– Eu te avisei. – Ele me olha de lado.
– Eu sei, não precisa ficar repetindo isso, é meio irritante, sabia? – Ele sorri
novamente, já voltou a ser o Rui que conheço.
– Você que é irritante, Jack! – ele diz meio sério, me encarando, me
enervando muito.
– Não gosto quando você me olha assim. – O olho e ao mesmo tempo desvio
meu olhar.
– Eu te deixo nervosa?! – ele diz me olhando intensamente.
– Sim, eu já te disse isso – falo desviando meus olhos dos seus.
– Eu gosto de ficar te encarando, faz parte da minha tática, gosto de deixar as
pessoas incomodadas, nervosas. Sou assim, Jack! – Ele encosta suas costas
na cadeira.
Sorrio, respiro e inspiro.
– Então, não vou mais me incomodar com isso – falo com desdém.
Sua mão vai até a minha e a acaricia, me fazendo sentir aquele maldito
friozinho na barriga, e por fim ele a leva até seus lábios e a beija.
Ele quer que eu me apaixone por ele, mas eu não quero, e não devo.
O beijo termina, mas ele não larga minha mão, fica roçando seus lábios na
pele do meu dorso. Isso é muito excitante, assim como seus olhos me
encarando.
– Isso é assédio, sabia? – digo quase em um sussurro, sentindo meu coração
na boca.
– Por quê?! – Ele faz cara de inocente.
– Seduzir a funcionária – digo meio mole.
– Eu não estou te seduzindo, beijo na mão é sinal de respeito, aprendi isso
nos livros de história – ele diz num tom debochado.
– Não acho que isso seja falado nos livros de história – falo em um tom
divertido.
– Eu já li isso, não lembro aonde! – Mais um beijo em meu dorso, e estou
salivando, minha boca queria ser minha mão.
– Numa revista de sacanagem?! – Brinco, e roubo mais uma risada
contagiante dele.
– Não, nas revistas de sacanagem se fala de tudo, menos de beijo na mão,
Jack! – Ele franze a testa.
– Não leio muito esse tipo de revista. – Sorrio.
– Pois deveria, dá para aprender bastante coisa. – E ele me olha daquele jeito
sedutor.
– Sério?! – falo em tom divertido. – Prefiro aprender na prática, é mais
prazeroso!
Mais uma risada linda, porque esse homem tem uma boca linda.
Uma música ambiente começa a tocar, olho em direção ao som e vejo alguns
poucos músicos, um piano, e um violino.
– Essa música combina com você – digo ouvindo a música melodiosa
tocando.
– Não vou mentir, adoro isso – ele diz olhando para o lugar onde eles estão.
Bebo meu vinho, esse clima todo está começando a me deixar preocupada.
O olho enquanto ele admira os músicos, ele tem um perfil muito bonito, seus
ossos da face são bem marcantes, muito másculos. Ele é um homem viril,
exala masculinidade, poder, sexualidade.
O sexo com ele deve ser divino.
Seus olhos se voltam para mim e me pegam o admirando como se ele fosse a
estátua de um deus grego.
Tento sorrir, sempre faço isso quando sou pega no flagrante, mas ele continua
me encarando, vejo o garçom e suspiro aliviada.
Olho para o prato a minha frente e só falto babar, o cheiro e a cara, estão me
deixando louca de fome.
– Bom apetite, Jack. – Ele me olha e sorri.
– Para você também. – O olho de relance, e começo a cortar a carne, macia e
suculenta. – Isso é bom demais, Rui – digo saboreando o sabor inigualável.
– Também acho. – Ele sorri levemente e volta a comer.
O prato de restaurante chique é muito pequeno, e isso veio a calhar, eu não
posso comer muito, mas me fartei, porque a comida era divina.
– Maravilhoso, nota 10! – falo satisfeita.
– Falei que você iria gostar! – ele diz descontraído, bebericando seu vinho, a
segunda taça, e eu também, mas sinto aquela leveza típica da bebida
alcoólica.
O garçom se aproxima para encher minha taça, mas recuso.
– Jack, eu vou te levar para sua casa, não precisa ficar preocupada – ele diz
de uma forma leve, me fazendo esquecer que sou sua funcionária.
O vejo chamando o garçom, o maldito enche minha taça e a dele.
– Vamos beber quantas garrafas? – Brinco.
– Sei lá, quantas aguentarmos! – ele diz divertido.
– Eu não aguento mais uma taça, vou começar a contar piadas, iguais às que
você conta para seus amigos – digo debochada.
– Adoro uma piada de sacanagem, pode contar! – Ele finge estar interessado,
aproxima seu corpo da mesa.
– Não, fico tímida, só conto para minhas amigas! – Dou uma risada.
Acho que não posso beber mais, estou me soltando demais.
Ele se levanta, o olho confusa, dá a volta na mesa, pega em minha mão e fala:
– Quero dançar com você – Eu petrifico.
Sorrio sem graça.
– Não sei dançar essas músicas – digo sem graça.
Ele me puxa, me faz ficar em pé, e diz próximo a mim:
– A mulher não precisa saber dançar, porque é o homem que conduz a dama.
– Ele passa seu braço por minha cintura e me conduz até a pista de dança, que
está vazia.
Ele me coloca de frente para ele, olho no olho, passa seus braços pela minha
cintura, aproximando nossos corpos, descanso minhas mãos sobre o seu
peito.
– Me sinto um pouco constrangida. – Torço meu nariz.
– Por quê? – ele diz sorrindo.
– Só nós que estamos dançando...
– Perfeito, gosto de ser o centro das atenções! – ele diz com ironia. – Relaxa,
Jack! – Sua mão sobe em minhas costas, juntando mais nossos corpos.
Me sinto tensa com esse contato físico tão íntimo, mas ele está cada vez mais
próximo de mim, até que eu já esteja sentindo meus peitos contra o seu
corpo.
Meus braços subiram até seu pescoço sem que eu tivesse consciência, agora
estamos literalmente abraçados, sinto sua respiração contra minha orelha, seu
perfume inebriando meu nariz, que agora está em contato com a pele de seu
pescoço.
Fecho meus olhos, isso é bom demais.
– Está melhor agora, Jack? – ele sussurra em meu ouvido, e sinto seus lábios
roçando minha orelha, e isso me causa um arrepio por todo o corpo.
– Sim, está! – Sussurro sem olhá-lo, porque não acho que vou resistir se olhá-
lo agora.
– Você gostou de jantar comigo, foi muito ruim? – De novo aquele sussurro,
seguido pelo seu lábio roçando minha orelha.
Oh, meu pai eterno, como se escapa de um homem como esse?!
– Adorei, Rui – respondo com a respiração irregular.
– Então, por que você não quis vir ontem?
Sorrio contra seu ombro, o sinto se mover, olho para cima e lá estão sem
olhos sedutores em mim.
– Por que você está rindo? – Ele me olha sorrindo.
– Porque você é engraçado! – O olho de soslaio, tento manter minha cabeça
onde estava, entre seu pescoço e seu ombro.
– Você quer que eu te leve para sua casa? – ele pergunta e meu coração
dispara, fico tensa, não respondo. – Jack?! – Ele volta a procurar pelo meu
olhar.
– Acho melhor. – Ele me olha, parece decepcionado, mas por fim sorri.
– Tudo bem, você é quem manda. – Sua mão pega na minha, e me conduz
novamente para a mesa, rapidamente ele pede a conta, e logo estamos em seu
carro.
– Pode me falar seu endereço, vou colocar no GPS para ficar mais fácil – ele
diz sério, talvez decepcionado.
Seria fácil ir para seu apartamento e transar a noite inteira, mas não sei se
seria fácil encará-lo depois no escritório.
Eu realmente não sei lidar com essa situação, tenho três velhinhas que
dependem de mim, eu não quero ser dispensada porque ele não gostou muito
do sexo comigo, mas também, posso ser dispensada porque não fiz sexo com
ele.
Falo rapidamente o nome da avenida, ele digita e começa a dirigir.
Trocamos algumas palavras durante o caminho, de fato, nenhum papo fluía
muito bem, parece que eu consegui azedá-lo novamente.
Tento me concentrar na música, fecho os olhos por alguns minutos, e sem
querer, cochilo, e acordo com ele me chamando.
– Jack, chegamos. – Ele mexe levemente em meu braço, acordo um pouco
assustada, mas logo me situo.
– Peguei no sono, sou péssima quando bebo – falo sem graça.
– Posso te pedir uma coisa? – Ele me olha com uma expressão engraçada.
– Claro! – digo, mas fico preocupada, o que será que ele quer de mim?
– Eu preciso ir ao banheiro, estou apertado pra cacete! – ele diz divertido.
Penso no nosso humilde apartamento, sofás velhos, tudo é velho naquele
apartamento, só eu me salvo. Mas, o que vou dizer, que ele não pode subir?
– Tudo bem, então vamos, não quero te ver todo molhado, parecendo um
velho de 90 anos! – Brinco.
– Ok! – Ele sorri e sai do carro.
O sinto atrás de mim enquanto espero o porteiro abrir o portão.
Finalmente entramos e sigo com ele ao meu lado até o elevador.
Confesso que é um pouco claustrofóbico ficar com o Rui num elevador
nanico como é o elevador de nosso prédio.
Tento não pensar muito, porque daqui a pouco vou ficar nervosa com ele em
nosso apartamento.
– Rui! – Ele está de cabeça baixa, levanta e me olha. – Minhas três velhinhas
não são muito comportadas, então me perdoe se te perguntarem alguma coisa
indiscreta.
Ele sorri.
– Fique tranquila, estou preparado. – Ele dá um sorriso tranquilizador.
– Tá bom. – Tento sorrir.
O elevador abre em nosso andar, são quatro apartamentos por andar, o hall é
um cubículo, pego as chaves na minha bolsa, e posso senti-lo nas minhas
costas, mas não me viro para checar, apenas sigo com minha chave para a
fechadura.
Abro a porta, fecho os olhos e peço a Deus que elas estejam dormindo, mas
logo desanimo.
– Jack, você demorou muito hoje! – Ouço a voz da minha mãe, minha santa
mãezinha controla minha vida como um marido ciumento.
– Cheguei, mãe! – Olho para trás, ele sorri para mim. – Eu trouxe um
amigo... – Olho para ele, nem sei o que dizer, mas ele pisca para mim.
A porta de entrada dá na sala de jantar, que está grudada a sala de estar, as
três velhinhas viram simultaneamente para me olhar e parecem em choque.
Ouço a voz de trovão do meu chefe.
– Boa noite.
Olho para as três, e parecem três retardadas, ninguém fala nada.
– Mãe, ele disse boa noite! – falo sem graça, ela se levanta sem jeito, arruma
sua roupa.
Pobrezinha, não é para menos, nunca entra um homem nesse apartamento,
quero dizer, o zelador vive aqui fazendo consertos.
– Oi, me desculpe, é que não estávamos esperando que a Jack trouxesse
alguém! – ela diz toda envergonhada.
Ele estende sua mão para minha mãe.
– Meu nome é Rui, prazer em conhecê-la.
Olho desconcertada a timidez da minha mãe, o que será que ela está
pensando?
– O prazer é meu! Sou a Amélia, mãe da Jackeline! – ela diz tímida.
Tento tirar a tensão.
– Aquelas são minha tia Ofélia, e minha avó Maria – falo apontando para as
duas velhinhas que se encontram com os queixos caídos no pé.
– Quem é este moço, querida? – Minha vovó linda pergunta, é claro que ela
iria perguntar.
– Um amigo, vovó, mas pode continuar com sua novelinha, ele só vai usar o
banheiro, né, Rui?
Ele sorri, parece achar graça em tudo.
– Mãe, eu vou levá-lo ao banheiro do meu quarto, acho que está mais em
ordem – falo em código, porque o banheiro comum dessa casa é realmente
perigoso.
– Claro, Jack! – ela diz nervosa.
– Vamos, Rui, é por aqui. – Ando em sua frente, abro a porta do meu quarto,
que graças a Deus está em ordem.
– Dá licença. – Ele segue para o banheiro, me sento em minha cama, cubro
meu rosto com as mãos, e tento me acalmar.
Jesus, que provação!!!
Um barulho na porta, me recomponho, levanto e aguardo por ele.
Ele sai cheirando sua mão.
– Esse é seu cheiro, Jack! – ele diz sorrindo.
Ele não parece aquele advogado foda que eu conheço, só um cara lindo e
acessível.
– Já não percebo mais os cheiros, estou acostumada com eles! – Ele se
aproxima de mim, meu coração volta a disparar.
– Então é aqui que você dorme. – Ele olha ao redor.
– Sim, é aqui que durmo e passo a maior parte do meu tempo livre, não gosto
dos programas que minhas companheiras de apartamento assistem. – Ele
sorri, mais um passo em minha direção, o friozinho na barriga aumenta.
– Eu gosto de conhecer as pessoas por inteiro, onde moram, seus familiares,
essas coisas. – Estamos a um palmo de distância, controlo minha respiração,
ela está presa no meu peito, caso contrário estarei respirando como se tivesse
corrido 10 km.
Não respondo ao que ele disse, estou novamente absorvida pelo seu olhar,
seus olhos novamente vão para meus lábios, as batidas do meu coração
aumentam, sua mão segura meu pescoço e ele me beija.
Puta que pariu, que beijo é esse?!
Sua língua envolve a minha de um jeito delicioso, excitante, mas não é só
isso, é a forma como ele move os lábios. Em segundos estou em seus braços,
e meus braços em seu pescoço, em seus cabelos, e um beijo que começou
comportado, de repente está indecente, pornográfico, só falta a gente tirar a
roupa.
– Jack?! – O barulho de porta abrindo me assusta, empurro o Rui para longe
de mim, olho para a porta e vejo minha mãe como a boca semiaberta.
– Fala, mãe! – respondo irritada.
– Não, depois eu falo com você! – Ela encosta a porta e sai.
Olho para ele e vejo um sorriso de cafajeste.
– Foi engraçado, Rui? – pergunto sem graça.
– Foi! – Ele segura o sorriso e me olha. – E foi bom, acima de tudo, muito
bom...
– Eu acho melhor você ir, elas não estão acostumadas com homens em nosso
apartamento – falo constrangida.
– O seu ex não vinha aqui? – ele pergunta sério.
– Não, quase nunca! – Torço meus lábios.
– É verdade, ele é gay! – Ele ri, e eu também, já nem ligo mais para o Renato,
o filho da puta do Rui tomou todos os espaços que ele ocupou um dia.
– Você quer tomar uma água? Deve ter também um chazinho, elas adoram
chá! – Sorrio sem graça.
– Uma água, se não for incomodar, não quero constrangê-la mais. – Ele me
olha de lado.
– Você não está me constrangendo! – Ele volta a se aproximar de mim.
– Um último beijo, para eu dormir bem. – Ele volta a segurar meu rosto, me
sinto mole perto dele.
– Tudo bem, vou fazer essa caridade para você. – Me esgueiro até seus lábios
e o beijo, porque realmente essa boca deve ter alguma droga.
Novamente seus braços me apertam contra seu corpo, sinto meus seios
espremidos contra seu peito e uma ereção enorme contra minha barriga.
Que vontade de quero maisss!!!
Então sinto sua mão em meu traseiro, me assusto e me afasto, mas ele gruda
sua boca novamente a minha e me beija desesperadamente.
Me afasto um pouco, mas sua boca volta a grudar na minha. Será que ele quer
transar comigo no meu quarto?!
– Rui! – falo em meio aos seus beijos, a sua língua deliciosa. – Minha mãe
deve estar atrás da porta esperando por nós.
Ele se afasta e me olha preocupado.
– Sério?! – ele diz com a testa franzida.
– Não, mas é bem capaz que ela bata na porta! – E como se fosse magia, um
toc toc toc.
– Jack?
Balanço minha cabeça e olho para ele, que está com a mão no rosto, e rindo.
– Marcação cerrada, Dona Jackeline! – ele diz irônico. – Eu já vou, não
precisa de água. – Ele me olha. – A gente se vê amanhã. – Ele titubeia. –
Obrigado pela companhia, você é encantadora, Jack.
Me derreto como uma manteiga.
– Eu que agradeço pelo jantar, e pelo salvamento! – Ele sorri. – Eu te
acompanho até lá embaixo.
– Não, não precisa, eu não vou me perder. – Ele segura novamente meu rosto
com uma de suas mãos. – Adorei nossa noite, foi fantástica. – Seus olhos
mergulham nos meus, tão profundos, sedutores.
– Eu também adorei! – Ele se inclina e me beija suavemente, delicadamente,
de um jeito terno, carinhoso, me fazendo sentir plena.
Fecho meus olhos e me entrego à sequência de beijos, todos são curtos,
suaves, mas delirantes.
Que homem, meu Deus!
– Eu já vou, Jack! – Abro meus olhos, e o encaro, ele me levou até as nuvens
e me resgatou. Como será que é fazer amor com ele?
– Ok! – Sigo para a porta do meu quarto, a abro e como se fosse mentira,
encontro as três velhotas em pé no corredor dos quartos. – Perderam alguma
coisa?! – falo brava.
– Estávamos indo para o quarto, querida! – Minha avó diz sorrindo. – Até
logo, rapaz! Volte para jantar conosco, a Amélia é uma cozinheira
maravilhosa, você precisa provar seu bacalhau.
– Virei sim, é só a Jack me convidar! – Sinto sua mão em minha cintura, e o
maldito gelado no estômago. – Boa noite, senhoras!
Passamos por elas e reviro meus olhos ao constatar que elas estão paradas no
corredor olhando enquanto seguimos para a porta de entrada.
Abro a porta, ele sai e me olha.
– Até amanhã, Jack – ele diz meigo, aliás, ele está irreconhecível, esse não é
o Doutor Rui, ele foi abduzido por este homem gentil e carinhoso.
– Até amanhã, obrigada por me trazer nesse fim de mundo! – digo sem jeito,
ele terá uma viagem longa até sua casa.
– Foi um prazer, voltarei aqui para jantar. Fui convidado pela sua avó, é falta
de educação recusar convite de avó! – Ele sorri torto, tenho vontade de beijá-
lo novamente, mas não o faço, preciso me controlar, senão parecerei uma
mulher desesperada.
Ele seleciona o elevador e fico ali o olhando apaixonada, sim, me sinto
apaixonada por ele. Mas logo o elevador abre, ele acena para mim e entra, e
solto o ar.
Jesus, o que foi isso que aconteceu hoje?!
– Jack! – Minha mãe me chama. – Quem é esse homem, de onde surgiu, e
cadê o Renato?!
Ela diz indignada.
– Não namoro mais o Renato. – Sigo para o meu quarto. – Ele é um amigo! –
Não posso dizer que ele é meu chefe, minha mãe não aprovaria, ela é muito
correta.
Sigo para o meu quarto, mas encontro as duas outras fofoqueiras.
– Que homem é esse, Jackeline? – Minha avó diz com a mão na boca. – Que
pão, minha neta, isso sim é homem, não aquela coisa seca que você chamava
de namorado.
Sorrio.
– Gostou, vó? Ele é muita areia para meu caminhãozinho, mas, enfim... – falo
confusa.
Ela dá um tapa em minha bunda e pulo de susto.
– Pelo menos esse traseiro grande serve para alguma coisa, ele está louco
para comer essa bunda! – Arregalo meus olhos horrorizada.
– Mãeee!!! Você ouviu isso? – Minha mãe olha brava para minha avó.
– Sua avó está esclerosando, Jackeline! Vá para seu quarto, amanhã
conversamos.
Sigo para meu quarto, estou em estado de torpor.
Coloco meus dedos sobre meus lábios, fecho meus olhos e sinto uma
excitação louca dentro de mim.
Nosso beijo foi incrível, aliás, há quanto tempo não sou beijada desse jeito?
Sei lá, acho que ninguém nunca me beijou assim.
Nossa noite foi mágica, maravilhosa, ele é incrível, e eu sei que não posso me
empolgar, mas eu quero aproveitar um pouco isso, nem que seja só um
pouco.
Capítulo 22
JACKELINE BARTOLLI

A cordo cedo, antes mesmo do despertador, na verdade, acho que não dormi
de fato, passei a noite sonhando com aquele ser angustiante.
Ainda não caiu a ficha sobre o que aconteceu ontem, a gente se beijou, foi
tudo muito mágico, não me senti como se beijasse meu chefe, ele era outra
pessoa.
Mas, não posso me animar muito, ele me parece uma pessoa bem instável em
relação a mulheres.
Será muito estranho chegar hoje ao escritório e vê-lo novamente, não sei
como devo agir.
Sou uma mulher tradicional, quero dizer, tradicional em relação à
relacionamentos, acho que nunca “fiquei”, sempre tive relacionamentos
sérios e duradouros.
Fui criada em uma família muito tradicional, que preserva e respeita as
relações amorosas, não há casos de traição em minha família, todas as minhas
primas são casadas, construíram famílias, possuem vidas invejáveis, pelo
menos é o que tentam passar para o resto da família.
Fecho os olhos e penso preocupada. Não quero ser a secretária que ele come
quando está entediado, não quero isso para mim!
Mas, foi tão bom...
Oh, que confusão que arrumei para minha vida!
Me levanto da cama e sigo para o banheiro, preciso de um banho para me
renovar.
****

Tiro a terceira roupa e chego à conclusão que só tenho lixo em meu armário.
Por fim, escolho o conjunto de saia e blazer que ganhei, coloco uma blusinha
por baixo, ela é justa, tem um decote reto, cor champanhe, combina com a
saia azul escuro.
Coloco uma sapatilha e guardo o sapato alto em uma sacola.
Penteio meu cabelo, estou cheia de me ver com cabelo solto, e apesar de
curto, o prendo em um rabo de cavalo, coloco um par de brincos grandes,
faço uma maquiagem e sigo apressada para a estação de metrô.
Fico feliz ao chegar ao escritório e verificar que ninguém chegou ainda, logo
estou em minha mesa, e só para não perder o costume, sigo para a sala do
meu chefe, e agora peguete, e sorrio com isso.
Ele largou tudo bem bagunçadinho ontem, a mesa de reuniões está uma zona,
mal sei como organizar isso.
Olho com cuidado cada papel para não os misturar, junto em montinhos,
guardo os lápis e canetas espalhados. Pego seus óculos e levo para a caixinha
onde fica guardado.
Confesso, eu adoro arrumar sua sala, é uma imersão em sua intimidade,
mesmo que seja intimidade profissional.
Me sinto mais íntima dele.
Estou organizando sua mesa, já apontei os lápis, ajeitei os papéis e agora
estou os colocando em uma gaveta e me assusto ao ouvir sua voz, ele parece
um gato, não faz barulho.
Estou inclinada sobre a mesa, então ajeito minha postura, olho para ele e
sorrio.
Cada dia ele usa um terno, um mais lindo e elegante que o outro. Ele sabe se
vestir, tem estilo, elegância.
– Bom dia, Jack! – Ele fecha a porta, e isso não deveria me incomodar, mas
uma batucada começa a dar sinal de vida no meu peito.
– Bom dia! – Tento agir com naturalidade, mantenho um sorriso comportado
no rosto, e o vejo se aproximar, e se aproximar, até que estamos frente a
frente.
– Passou bem à noite? – Ele coloca sua pasta sobre a mesa, e me olha de lado,
com um sorriso contido.
– Passei bem! E você, chegou bem ontem? – Minha respiração já está
acelerada, tive dificuldades de falar com naturalidade, faltava ar enquanto eu
falava.
Mais um passo em minha direção, já sinto o calor do seu corpo, o seu cheiro
me embriagando.
– Deu tudo certo – ele diz pausadamente, me olha muito próximo, estou
salivando para beijá-lo, e então sua mão vai até meu pescoço, ele o acaricia
delicadamente, tenho vontade de fechar os olhos, mas os mantenho firmes. –
Saudades minhas, Jack?! – Ele sussurra, sedutor, envolvente, me sinto
enfeitiçada por ele.
Olho para seus lábios, que vontade de beijá-lo!
– Um pouco. – Minha voz sai quase inaudível, volto a olhar para ele e ele
olha para os meus lábios.
– Essa sua boca é uma tentação, sabia? – ele diz passando o polegar pelos
meus lábios.
Meu pai eterno, fala para ele me beijar logo!!!
– A sua também – digo, quero dizer, gemo.
Se ele me deixa assim só por um beijo, imagine quando a gente se atracar em
uma cama, acho que vou morrer.
– Eu senti falta de você, Jack! – Ele beija meu rosto, próximo dos meus
lábios.
Maldito, ele quer que eu implore por um beijo.
– Ah, é? – Mal sei o que estou dizendo, estou entregue aos beijos que ele
deposita em meu rosto, isso parece inocente, mas é erótico demais.
– A gente pode ir hoje à noite para o meu apartamento? – Ele sussurra em
meu ouvido, passando a língua pela minha orelha, todos os pelos do meu
corpo estão eriçados. – O Bóris pediu para você ir visitá-lo, ele está com
muitas saudades de você.
Dou risada, ele tem senso de humor.
– Hum, se é o Bóris que está pedindo... – Ele morde minha orelha, solto um
gemido. – Ahhh!
Cacete de homem.
– Eu não vejo a hora de ouvir você gemendo assim em cima do meu pau! –
ele diz no meu ouvido, e acho que não vou aguentar a essa tortura.
– Assim não vale, Rui – digo embriagada, sentindo seus lábios descendo pelo
meu pescoço, roçando minha pele.
Seguro seu braço com firmeza, ele é um filho da puta sedutor.
Tento me afastar dele, mas ele segura minha cintura, me puxa para junto dele,
e enfia aquela língua indecente na minha boca.
Oh, meu Deus, esse homem vai me enlouquecer.
Ele colocou fogo em mim, enfio meus dedos entre seus cabelos e o beijo
desesperada.
Seus lábios se afastam de mim e ele me encara, parece louco de tesão.
– A gente pode fazer isso aqui, se você quiser, eu realmente não estou
aguentando mais esperar!
O olho confusa.
– Não tem ninguém no escritório, não se preocupe, ainda é cedo. – Ele volta a
beijar meu pescoço, sua mão vai para o zíper da minha saia.
Minha mente está em confusão, eu quero, mas tenho medo e receio, e de
repente sinto minha saia em meus pés, ele já decidiu por mim.
Sua mão acaricia meu bumbum sensualmente, cada pelo do meu corpo está
em pé. O vai e vem de sua mão em minha pele está me excitando
enlouquecidamente.
Ele tira seu paletó desesperado, pega em minha cintura e me coloca em cima
de sua mesa, e antes mesmo que eu possa pensar, minha calcinha está no
chão, e ele está com seu rosto, mais precisamente sua boca, mergulhada entre
minhas pernas.
Isso é bom, bom demais, eu nunca mais tinha sentindo a sensação
maravilhosa de ter a língua de um homem em meu sexo, e ele é expert nisso.
Estou tentando heroicamente não gemer feito uma cachorra, mas isso está me
deixando alucinada. Fecho meus olhos e me deixo mergulhar nessa sensação,
mas de repente ele para.
– Tira sua blusa, Jack!
Oh, que decepção, eu estava quase lá.
O olho confusa, mas faço o que ele me manda. Fico apenas de sutiã.
– Tira tudo, Jack! – ele diz em desespero.
Oh, meu pai, estou nua, em cima da mesa do meu chefe, isso é loucura.
Ok, mas se é para mergulhar, então que seja de cabeça, tiro meu sutiã e seus
olhos mergulham em meus seios.
– Jack, você é a mulher mais gostosa que já conheci – ele diz com aquele
olhar faminto, e mergulha sua boca em meus seios, e os chupa enlouquecido,
e subitamente seus dedos entram em mim, e começam a me estimular.
Cacete, eu não vou aguentar, e não aguento, gemo alto e desesperada. Acho
que nunca senti tanto prazer, foi incrível.
Enquanto estou tentando voltar da outra galáxia, ele volta a me beijar, ouço
barulho de cinto e zíper, e antes que eu possa pensar, sinto seu membro me
preencher.
Ele não me deixou vê-lo, mas deve ser enorme e grosso, nada comparável
com o Renato.
Enrosco minhas pernas em sua cintura, e o deixo nos levar em meio à paixão.
Depois de estocadas firmes e profundas, ele goza feito um urso.
– Oh, Jack! – ele diz ainda se movimentando dentro de mim e me beijando. –
Você é deliciosa, Jack!!! – ele diz de olhos fechados, me beijando e
gemendo.
Senhor, isso sim é sexo, era disso que eu falava!
Ele se acalma, a gente se olha, e sorri.
– Valeu a pena esperar, foi incrível, mas eu quero mais... – O olho
preocupada, será que ele pretende passar o dia trancado em sua sala,
transando??? – Mas pode ser à noite, eu aguento esperar! – ele diz com um
sorriso cafajeste.
Ele me dá mais um beijo, se afasta, arruma seu amigo dentro da calça, pega
minhas roupas que estão espalhadas, e me olha.
– Tudo bem, Jack? – Sua testa franze.
Me dou conta que fiquei calada, ele disse um monte de coisas, mas estou em
um estado de torpor.
– Claro que está. – Sorrio, coloco minha calcinha, levanto meus olhos e o
vejo olhando para o meu corpo, e isso é bem estranho.
Foi bom demais, mas estou me sentindo estranha, com um sentimento ruim.
Coloco rapidamente meu sutiã, a saia e por fim a blusa.
Ele segura meu rosto e me faz olhar para ele.
– Tá tudo bem mesmo? Você ficou estranha, eu fiz alguma coisa de errado? –
Ele me encara, parece preocupado.
O olho angustiada.
– Rui... – Mordo meu lábio. – Eu não sei se quero isso para mim, foi incrível,
mas não quero ser a secretária que o chefe fica comendo quando está
entediado.
Oh, meu Deus, o que estou falando?
– Eu não vou ficar te comendo aqui se é essa a sua preocupação... – Ele me
olha sério. – Tudo bem, a gente não faz mais isso no escritório, não quero que
você se sinta mal ou usada.
Ele se afasta e me olha com a testa franzida.
Começamos muito mal isso, quero dizer, eu comecei muito mal.
– Me desculpe pela sinceridade, acho que já fui usada por muito tempo, por
um cara que não me amava. – O olho aflita. – Eu não sou esse tipo de mulher
que gosta de sexo sem compromisso.
Oh, meu Deus, quanto mais falo, mais merda sai da minha boca.
– Jack! – Ele fecha os olhos. – Se acalma, você está muito preocupada com
tudo! Somos dois adultos, deixe acontecer, sem moralismos, eu sei que você
mora com três idosas, isso pode te influenciar um pouco... – Ele sorri. –
Vamos nos conhecer.
Ele volta a se aproximar de mim, envolve meu rosto com suas mãos grandes
e macias.
– Relaxa, Jack, você está muito tensa. – Um beijo suave e delicado em meus
lábios. – Você é tão gostosa, Jack, eu precisaria de um mês trancado com
você para passar minha vontade. – Mais um beijo, seguido por uma mordida
em meu lábio inferior. – Eu adoro essa boca. – Mais uma mordida. – A
próxima vez eu quero vê-la chupando meu pau, Jackeline! – Estou pingando
de excitação.
Um toque na porta, e me afasto desesperada.
– Fica calma, Jack! Acho melhor você ir para o banheiro.
– Ok! – Saio apressada em direção ao seu banheiro, fecho a porta e relaxo.
Puta que pariu, eu realmente não levo jeito para amante.
****

Ajeito meu cabelo, minha roupa, e lavo minhas mãos.


Ouço um toque na porta.
Me sinto um pouco ridícula trancada no banheiro do meu chefe, mas eu não
estava preparada para encarar ninguém depois do que fizemos.
Abro a porta, ele me olha com um sorriso.
– Mais calma?
– Sim! – falo sem muita convicção.
Oh, como sou patética!
Saio do banheiro e passo por ele.
– Quer alguma ajuda com aqueles processos de ontem? – Tento reassumir
minha postura profissional.
Ele entorta sua cabeça e me lança um olhar malicioso.
– Jack, acho melhor você ficar em sua mesa, preciso de concentração, e você
me desconcentra muito!
Sorrio, não há dúvidas que ele me faz sentir a mulher mais desejada do
mundo. E isso é muito bom, eu não sabia mais o que era isso.
– Então, vou terminar algumas coisas que meu chefe pediu! – Brinco com
ele.
Continuo andando em direção à porta, viro para trás, e lá está ele admirando
meu traseiro. Mas isso já não me incomoda mais, pisco para ele, roubando
um sorriso digno de propaganda de creme dental.
Fecho a porta de sua sala e me sento em minha mesa, tento me concentrar em
minhas atividades, mas a cena de nós dois juntos não sai da minha cabeça.
Foi bom demais, e eu gostaria muito de repetir.
****

O período da manhã passou voando, meu chefe não saiu de sua sala, entre
reuniões com seus advogados e imersões em seus processos, então o horário
do almoço chegou.
A porta de sua sala abre, o olho rapidamente, ele se aproxima de mim, senta
em minha mesa, e diz:
– Vou sair para almoçar, mas eu volto logo, preciso terminar ainda hoje a
análise daqueles processos. – O olho fascinada, porque ele tem uma figura
que transmite poder, segurança e masculinidade.
– Tudo bem! – respondo meio abobada, esse homem me deixa assim.
– No período da tarde fechamos a questão do coquetel dos 10 anos do
escritório, deixe tudo preparado! – Balanço a cabeça positivamente.
Então sem que eu espere, ele se inclina sobre mim e beija meus lábios, foi
rápido, mas intenso, e me fez ver estrelinhas e sentir um frio no estômago.
Ele se afasta, mas mantém seus olhos em mim.
– Não vejo a hora que essa porra de dia acabe! – ele diz em um rosnado, e
não sei se foi para mim, ou para ele mesmo. – Vá almoçar, Jack! – ele diz
sem olhar para trás, me deixando meio zonza.
Logo depois que o Rui sai, meu celular trepida em minha bolsa, o pego e vejo
que é a Carolina.
Atendo rapidamente.
– Oi, Jackeline Bartolli! – ela diz cínica.
Dou risada.
– Oi, Carolina Gonçalvez. – Ela ri.
– Então, posso ter a honra de almoçar com você hoje? – ela diz cheia de
formalidades.
– Carol, só quando eu receber, não posso me dar ao luxo de gastar dinheiro,
porque eu não o tenho! – falo sem graça.
– Eu pago, sua mocréia! Deixa de ser estraga prazer, sou uma advogada
bem-sucedida, e adoro pagar almoços para mulheres bonitas!
Reviro meus olhos, odeio quando ela fala como um homem.
– Oh, Carol, isso soa tão feio, não fala assim comigo! – falo mal-humorada.
– Ok, mocréia, então me deixe pagar uma merda de um almoço para você.
Como você é chata! – ela esbraveja.
– É que eu trouxe um lanchinho – falo envergonhada.
– Guarde na geladeira da copa, amanhã você faz seu regime de pobre – ela
diz desaforada.
– Ok, não posso demorar, meu chefe disse que não demorará. – Ela me
interrompe.
– Desce agora, não estou com muita paciência com você hoje! – ela diz
autoritária, mas em seguida ri.
– Ok, Carolina, hoje você está nos seus dias! – Desligo meu celular, pego
minha bolsa e sigo para encontrá-la.
Vejo a Carolina num sofá da recepção, entretida com seu celular.
Olho para a recepcionista e sorrio, mas ela desvia seu olhar de mim, parece
meio chateada comigo.
– Carol! – A chamo.
Ela dá um pulo no sofá e continua digitando.
– Vamos. – Ela sai andando apressada. – Só preciso resolver uma coisinha, já
conversamos – ela diz no caminho.
A sigo em direção ao restaurante que fomos em nosso último almoço. Ela faz
algumas ligações, e por fim, chegamos ao restaurante.
Ela guarda seu celular e me olha.
– Hoje o dia está um inferno! – ela bufa.
– Muito trabalho? – pergunto na fila do buffet.
– Sim, muitos processos, estou sobrecarregada. Depois que o Doutor Rui
fechou a parceria com o escritório do Doutor Albuquerque as coisas ficaram
um pouco fora do controle.
– Você já falou com ele sobre isso? – pergunto despretensiosa.
– Oh, o Doutor Rui anda bem inacessível. – Ela me olha de lado. – Fiquei
sabendo que ele terminou seu relacionamento com a loira insuportável, você
sabe me dizer o porquê?
A olho de soslaio.
– Eles brigaram um dia em que eu estava na sala dele, mas eu não sei o
porquê, não sou a confidente do Doutor Rui.
Enquanto falo, minha mente trabalha freneticamente, me sinto constrangida
com essa história entre mim e ele, e apesar da Carol ser minha amiga/irmã,
não sei se contarei.
Ela me olha intensamente.
– Você e ele? – Ela balança sua cabeça de um lado para o outro.
– Não entendi – Desconverso.
– Nada, deixa para lá! – ela bufa. – Então, como está o trabalho, está
gostando? – Ela sorri.
– Estou gostando muito! – falo animada. – Aos poucos estou pegando o jeito,
até que levo jeito para secretária! – Ela me olha de lado, e não consigo deixar
de rir. – Me inscrevi em um curso de secretária pela internet, está me
ajudando um pouco!
Ela dá uma risada.
– Caramba, que empolgação! – Ela me olha com firmeza. – O Doutor Rui
está se comportando?
– Mais ou menos! – Não a olho, a Carolina sempre sabe tudo sobre mim.
– Já rolou? Pode dizer, somos amigas, não vou fazer sermão – ela diz
timidamente.
– Carol, eu sei que você dirá que estou me metendo numa confusão, mas não
consegui resistir a ele, é muito difícil! – Sigo para uma mesa.
– Ok, Jack, você é maior e vacinada, só não se apaixone por ele, porque ele
não se apaixona por ninguém. Já vi muitas garotas aqui do escritório
sentarem em seu colo e o fim de todas foi a rua, não será diferente com você.
– Olho para ela. – Divirta-se, tire uma casquinha, mas não se apaixone.
– Tá bom – respondo desanimada, a gente não manda em nosso coração, não
é tão fácil dizer a ele para não se apaixonar. – E você, me conte um pouco
sobre você! – digo com um sorriso.
– Bom... – Ela estufa seu peito e começar a contar sobre sua vida, sempre
muito movimentada.
Eu sempre invejei a Carol, mas uma inveja boa, porque eu admiro a forma
como ela vive, ela é decidida, resolvida, e vive intensamente.
De alguma forma eu gostaria de ser como ela, livre, sem preocupações, mas o
fato de ter pessoas dependendo de mim sempre me forçou a ser mais
preocupada, ou não, eu que sou assim mesmo e não tenho coragem de
admitir.
Capítulo 23
JACKELINE BARTOLLI

A lmoçar com a Carol sempre me deixa mais relaxada, ela é muito


divertida, alto astral. Eu a admiro demais, torço por ela e quero muito vê-
la feliz. Mas não preciso me preocupar muito com a Carol, porque ela é
muito forte, acho que sua maior preocupação sou eu, e isso é muito
engraçado, porque ela assume a postura de uma irmã mais velha.
Chegamos ao escritório, estou com as bochechas doendo de tanto rir, adoro
ouvir as histórias que ela me conta, principalmente sobre seus amigos gays, é
tudo muito divertido.
– Obrigada pelo almoço, quando eu receber, te convido para almoçar – digo
baixinho, para que a recepcionista não ouça nossa conversa.
– Pode deixar, eu vou cobrar! – ela diz divertida. – Vamos combinar alguma
coisa um dia desses, um cineminha, um chopinho... – Ela faz um bico.
– Vamos, mas me deixe receber, please! – Juntos minhas mãos em sinal de
súplica.
Ela revira seus olhos.
– Chatinha! – Ela beija meu rosto e sai apressada para a sala dos advogados.
Sorrio e caminho para as escadas.
– Jackeline! – A recepcionista me chama.
Olho para trás.
– Pois não? – falo formalmente, afinal, essa menina mal olha na minha cara,
não tenho motivo para ser simpática com ela.
– Tenho alguns recados para o Doutor Rui, ele pediu para passar para você. –
Ela me entrega um papel. – Está gostando do trabalho, Jackeline? – Ela vira
seu rosto de lado, e vejo malícia em sua pergunta.
– Estou. – Desconverso. – Obrigada, Karen. – Viro em direção às escadas e
subo sem olhar para trás, mas sinto seu olhar maligno sobre mim.
Possivelmente ela é apaixonada por ele, como a Carolina disse, e está me
culpando por ele não a querer mais.
É estranho o que sinto, mas não me sinto feliz, ou satisfeita em ter eliminado
supostamente duas adversárias, porque não acho que de fato eliminei
ninguém.
Ok, mas não vou pensar muito sobre isso, caso contrário, irei enlouquecer.
Chego a minha mesa e vejo um bilhete com a letra dele.
“Quando voltar do almoço, venha a minha sala para discutirmos sobre as
cotações para o coquetel.”
Tudo bem, chefinho, mas antes preciso escovar meus dentes – falo em
pensamento.
Sigo apressada para o banheiro, escovo meus dentes, penteio meus cabelos,
pois o rabo de cavalo já havia desmanchado, e os deixo soltos. Passo meu
batom vermelho, adoro batom vermelho, sempre uso o mesmo.
Volto rapidamente para minha mesa, pego em minha gaveta uma pasta onde
coloquei todas as cotações sobre o coquetel, bato na porta de sua sala e entro.
Ele está na mesa de reuniões, usando seus óculos de super-homem, relaxado
em uma cadeira, com um calhamaço de papéis, possivelmente processos.
– Oi, você pediu para eu vir assim que chegasse – falo insegura.
– Isso mesmo. – Ele coloca o processo sobre a mesa. – Sente-se aqui ao meu
lado.
Sigo até ele, a cadeira já foi puxada para mim, e ele me olha com um sorriso.
– Almoçou com quem hoje? – ele diz subitamente, o olho confusa, ele às
vezes é tão enxerido.
– Com a Carolina – falo sem olhar para ele, apenas arrumando os papéis
sobre a mesa.
– Não quero que você almoce com nenhum dos advogados, os homens... –
Ele gesticula com as mãos, parece meio embaraçado com sua própria sandice.
– Certo?! – Ele curva seus lábios em um sorriso, mas meio forçado.
Enrugo minha testa, tenho vontade de mandá-lo se danar, mas aí lembro que
ele é meu chefe, mesmo assim não consigo me calar.
– Qual a razão? – O olho de lado.
– Sigilo, eles vão querer almoçar com você para saber sobre processos, essas
coisas. Você é minha assistente pessoal, sabe muito mais sobre minha vida do
que qualquer outra pessoa aqui, por isso, não quero que você almoce com
nenhum deles. – Olho para ele, mas ele disfarça seu olhar vasculhando os
papéis que coloquei a sua frente.
– Com as advogadas eu posso? – falo para irritá-lo, ele é muito folgado.
Ele me olha sobre os óculos.
– Pode. – Ele volta a olhar para os papéis.
– Mas elas também podem querer saber sobre sua vida. – Ele me interrompe.
– Não quero mais falar sobre esse assunto, Jackeline! – Ele me olha com
firmeza. – O recado já está dado.
Me ajeito na cadeira, meio tonta, confesso.
O Doutor Rui consegue ser bem esquisito, não consigo entendê-lo muito
bem.
– Então, me explique isso... – Ele parece meio irritado, aliás, já percebi que
ele se irrita facilmente.
– Então, essa cotação aqui... – Começo a discorrer sobre cada uma das
cotações.
– Ok. – Ele vasculha os papéis. – Vamos fechar com esse aqui. – Ele me
entrega os papéis. – Organize tudo, então faremos um comunicado para os
funcionários avisando sobre o dia do coquetel. – Ele se levanta, parece
inquieto e segue para sua mesa.
– Quer que eu peça um café para você? – pergunto boazinha, aliás, me sinto
patética, por que faço isso todas as vezes que ele fica irritado?
Pego minhas coisas, me levanto e o vejo olhando para mim.
– Você adora me ver tomando café, não é mesmo, Jackeline? – ele diz com
um sorriso.
Sorrio, até ele já percebeu meu desatino.
– Você prefere chá? – falo debochada.
– Não, eu prefiro você, mas não dá para fazer o que quero agora! – Ele sorri
torto, e sinto aquele maldito gelado no estômago. – Você faria uma
massagem em mim? Estou tenso, Jack!
Balanço minha cabeça, nós dois juntos trabalhando, não acho que isso irá
funcionar.
– Ok, cinco minutos de massagem, apenas massagem! – Ele dá risada.
– Tudo bem, já percebi que você gosta de ditar as regras. – Ele se senta em
sua cadeira. – Já ouvi dizer que as italianas são bem mandonas e bravas.
Dou risada, sigo até ele, dou a volta em sua cadeira, coloco minhas mãos em
seus ombros e começo a massageá-los.
– Está bom assim? – pergunto.
– Isso, Jack! – Ele diz manhoso.
Continuo e realmente percebo os músculos de suas costas duros, tensos,
desço um pouco meus dedos para a parte de trás de suas costas.
– Tudo bem? – pergunto preocupada com seu silêncio.
– Aham! – Ele resmunga.
Eu sei que está delicioso para ele, mas para mim também, e a vontade que
tenho é de beijar seus cabelos, seu pescoço, ele é tão cheiroso!!!
– Jack, vou me inclinar na mesa, assim você desce um pouco! – E assim ele
faz, com os braços cruzados na mesa, ele descansa sua cabeça sobre os
braços, e eu dou risada.
O que ele pensa que sou, sua massagista?
Ok, mas não reclamo, continuo descendo suavemente meus dedos pelos seus
músculos das costas, em sua coluna vertebral, aproveitando para desfrutar um
pouco desse homem delicioso.
– Oh, Jack, você é demais! – Ele sussurra, parece um gato preguiçoso. – Vou
te contratar como minha fisioterapeuta – ele diz rindo.
Não digo nada, apenas continuo desfrutando desse momento, eu adoro ficar
com ele, ao lado dele, é estranho isso, tudo que envolve ele é estranho,
porque sinto uma atração tão irresistível, ele é como um imã.
– Acho que está bom, Jack! Caso contrário eu irei dormir. – Ele se arruma na
cadeira, vira de lado e me olha. – Obrigado, você tem mãos de fada. – Seus
olhos mergulham nos meus, tão intensos, urgentes, como eu queria saber o
que se passa dentro da sua cabeça.
– Estou dispensada? – pergunto para descontrair.
– Por enquanto! – ele diz voltando a sua posição. – Pede o café, agora fiquei
com sono. – Ele sorri.
– Tudo bem, vou pedir da minha mesa – falo rapidamente seguindo para a
porta.
Quanto menos tempo ficar nessa sala melhor.
****

A tarde seguiu tranquila entre gritos chamando por mim, olhares intensos e
urgentes, e finalmente chegamos ao final da tarde.
Confesso que à medida que as horas passam, um nervoso começou a se
instalar dentro de mim.
Eu sei que transamos em sua sala hoje pela manhã, e cá entre nós, foi
incrível, mas eu sei que isso foi só degustação, a cereja do bolo será em sua
casa, e isso está me deixando bem nervosa.
Olho em meu relógio de pulso são 18h, e mal sei o que fazer, mas logo meu
ramal toca, parece que estávamos conversando por telepatia.
– Oi, Jack! Venha até minha sala – ele diz rapidamente.
– Ok. – Sigo para sua sala com a respiração acelerada.
Ele está relaxado em sua cadeira, os óculos em sua mão, em seu costume de
morder as hastes.
– Vem aqui. – Ele me chama com a mão, faço a volta em sua mesa, e me
coloco ao seu lado. – Você já terminou as suas coisas? – Ele gira sua cadeira
e fica de frente para mim.
– Sim, já está tudo certo, vou te passar as datas disponíveis para o coquetel...
– Ele se aproxima mais de mim, ainda sentado em sua cadeira, e me puxa
pela cintura, me fazendo ficar ainda mais próxima dele.
Meu coração dispara.
– Podemos ir? – Ele me olha, tão sedutor, não consigo deixar de me derreter
diante dele.
– Podemos – respondo enfeitiçada.
– Vamos fazer assim... – Ele me olha sério. – Eu não quero que as pessoas
saibam sobre nós, não é por nada, Jack, é apenas porque não quero que
confundam as coisas.
Balanço minha cabeça afirmativamente.
– Eu vou sair primeiro, te espero na próxima rua, do lado direito, mas não
demore, só não quero que alguém nos veja saindo juntos.
– Ok – respondo feito uma retardada, se ele me disser para me jogar da
próxima ponte, acho que me jogo.
Ele se levanta e me beija, e me sinto completamente mole. Que poder é esse
que ele tem sobre mim? Estou perdida!
Separamos nossos lábios, limpo seus lábios que sujaram de batom, ele pega
seu terno e sua pasta.
– Em cinco minutos, Jack! – Mais um beijo, mas foi rápido, e o olho saindo
apressado, e mal acredito que essa pressa toda tem a ver comigo.
****

Passo pela recepcionista.


– Até amanhã, Karen! – falo rapidamente, mal olhei para ela.
Chego à rua, sigo para o lado direito, conforme ele pediu, após 100 metros
entro na pequena viela, e vejo seu carro estacionado.
Respiro fundo e sigo até ele.
Bato gentilmente no vidro, ele se inclina e abre a porta.
– Acho que você demorou 10 minutos! – ele diz com um sorriso.
– Me esqueci de cronometrar! – falo em tom de brincadeira.
Ele liga seu carro e começa a dirigir.
– Pensei em irmos para meu apartamento, eu preparo alguma coisa para a
gente comer. – Ele me olha de lado.
Acho engraçado tudo isso, eu já sei o que iremos fazer, por que ele quer
disfarçar?
– Ok, para mim está ótimo – falo com um sorriso contido.
– Se você quiser podemos jantar em algum lugar. – Ele me olha de soslaio,
não aguento e sorrio.
– Bom, eu queria ver o Bóris, então... – Ele me olha e abre um sorriso
enorme, genuíno, estilo Rui.
– Oh claro, o Bóris, eu tinha me esquecido – ele diz divertido, pega em minha
mão, e a leva até seus lábios, a beijando e me olhando.
– O farol, Rui! – digo preocupada, vendo de soslaio o farol fechando, as
lanternas dos carros ficando vermelhas, e o Rui me olhando.
– Eu falei que você tira minha concentração! – Ele deixa minha mão sobre
sua coxa, e volta a prestar a atenção no trânsito.
Ele mora muito próximo ao seu escritório, quero dizer, de carro é muito
rápido, quando fui de ônibus demorou muito.
Quando ele entra no estacionamento, sinto um arrepio percorrer minha
coluna.
O Renato mora aqui e eu posso cruzar com ele, e isso seria muito
desagradável.
– Rui, só existe um elevador? – pergunto sem graça.
Ele me olha com a testa franzida.
– Eu não queria cruzar com o Renato, isso pode acontecer. – Ele balança a
cabeça.
– Ok, subimos pelo elevador de serviço! – Ele enruga sua testa. – Mas, você
terminou com ele, certo? Ele não tem nada a ver com sua vida. – Ele me olha,
parece irritado.
– Eu sei que não devo satisfações da minha vida a ele, mas é que ele tem me
ligado com certa frequência, ele quer conversar comigo, me manda
mensagens, e eu estou o evitando. – Olho para ele. – Seria desagradável
encontrá-lo.
– Desagradável para ele, não para você! – ele diz mostrando tensão em seu
maxilar.
– Para mim e para ele, Rui! – digo incomodada.
– Porra, o cara é gay, o que ele quer com você? – ele diz enquanto dirige em
direção a sua vaga.
Franzo minha testa, apesar dos pesares, não quero que ninguém fale mal do
Renato.
– Ele disse que tudo foi um mal-entendido, que o Leonardo é um amigo, que
ele não é preconceituoso, enfim... – Mexo em minhas mãos nervosamente.
– É mentira, Jack! – ele diz alterado. – Você não está acreditando nele, não é
mesmo?! – Ele franze sua testa.
– Não, não estou acreditando nele, mas é que sempre fomos muito amigos,
me sinto tão mal de estar o tratando dessa forma – falo meio sem pensar, na
verdade, ando tão incomodada com o que aconteceu entre mim e o Renato.
Existem sentimentos que extrapolam o amor sexual, eu sinto por ele um
sentimento de carinho e afeto, até penso que fiquei com ele por tanto tempo
por causa disso, nos tornamos mais amigos do que namorados.
Ele é uma pessoa cheia de problemas pessoais, inseguranças, traumas de
infância, sua família é tão complicada, acho que sempre fui uma espécie de
porto seguro para ele.
Oh, minha maldita mania de querer ser terapeuta, me sinto como se largasse
um paciente em meio a uma crise de existência.
Estou imersa em meus pensamentos quando me dou conta que ele está me
encarando, o carro já foi estacionado e estou ali, submersa em minhas
dúvidas.
– Você ama esse cara? – ele diz com uma expressão indecifrável.
– Como um amigo – respondo confusa.
Ele bufa irritado.
– Não tem como um homem e uma mulher sentir amor que não seja amor de
homem e mulher! – ele diz irritado.
– Eu consigo, eu o amo como um amigo, quero bem a ele, sei lá – respondo.
Ele balança a cabeça, parece indignado, sai do carro e fica parado me
esperando.
Seguimos em silêncio, ele entra em um elevador, daqueles de carga.
– Jack, eu entendo sua consideração pelo seu amigo gay, mas essa vai ser a
primeira e a última vez que uso esse elevador por causa desse cara! – ele diz
irritado. – Não esqueça, Jack, ele estava te traindo, que seja com um homem,
mas é traição, não queira colocar panos quentes, perdoá-lo, sei lá...
Olho para ele, e tenho uma vontade tão grande de abraçá-lo, me aninhar em
seu peito, como fiz no dia que descobri tudo.
Mas inspiro e fecho os olhos, não há nada entre nós além de sexo.
Engraçado isso, mas eu e o Renato passávamos mais tempo abraçados como
amigos do que como namorados, e quando eu queira avançar para a parte
homem e mulher ele se esquivava.
Mas, ele gostava da parte do carinho, da atenção e do cuidado. Ele é um
homem muito carente, mas carente de afeto no sentindo literal da palavra, sua
família é muito fria, eles são alemães, parecem descendentes diretos de
Hitler.
Sério, aquela família me causava arrepios.
O elevador abre, vejo uma porta branca a nossa frente, ele pega uma chave e
a abre, e entramos em sua cozinha.
– Sua cozinha é muito linda, você sabe fazer alguma coisa? – pergunto para
descontrair, ele ficou incomodado com o assunto do Renato.
– Algumas coisas – ele diz sério.
– Cadê o Bóris? – pergunto animada, tentando melhorar o clima entre nós.
Ele dá um assobio, ouço barulho de patas no piso, e de repente aquele ser
peludo e lindo aparece.
– Oi, Bóris! – falo animada, e ele vem enlouquecido até mim, pula e quase
me derruba. – Calma, menino, assim você me assusta – falo com ele, que me
lambe, mas logo seu dono o puxa.
– Não, Bóris! – ele diz enérgico.
Me agacho.
– Deixe ele, Rui. A gente está com saudades, né Bóris? – falo com ele, que
sai das mãos de seu pai em desatino, e volta a me lamber.
Seguro sua cabeça, e o encho de beijos, ele é a coisa mais peluda e linda que
já conheci.
– Eu também estava com saudades – falo com ele, que sorri para mim. – Eu
pedi para seu dono te levar para o trabalho, poderíamos nos ver mais vezes.
Olho para o Rui, que sorri.
– Você pode vir mais vezes visitar o Bóris, aqui é a casa dele. – Ele sai
andando, me levanto e o acompanho.
– Vou lavar meu rosto, está todo babado! – O Bóris me segue enquanto
caminho atrás de seu dono.
– Vamos subir, Jack, você toma um banho comigo – ele diz me olhando de
lado, e seguindo para as escadas.
Eu sei que estou sendo repetitiva, mas é tudo tão difícil para mim, durante
quatro anos me relacionei apenas com um homem, e em uma semana
conheci, beijei e transei com o Rui, e agora vamos tomar banho juntos.
Oh, como sou confusa, acho que preciso de análise, sou muito complicada.
– Ok! – O sigo como um autômato, e vejo o Bóris me seguindo, mas não me
importo.
Entro em seu quarto, e que quarto, o que me faz sentir muito mal, meu
quarto, assim como meu apartamento inteiro, é uma favela perto do seu
apartamento.
Ele tira seu terno e coloca sobre um mancebo, ele me olha e olha o Bóris ao
meu lado.
– Você não, Bóris, eu já disse que nos quartos, não! – Ele sai puxando o
cachorro pela coleira, em segundos ele volta e fecha a porta. – Ele fica muito
mal-educado quando te vê, Jack, você tem uma influência muito negativa
sobre ele – ele diz divertido.
– Eu fiz apenas duas visitas, eu não consigo influenciar um cachorro apenas
com isso. Acho que ele sempre foi assim, você que não percebeu! – falo com
um sorriso.
– Fica à vontade, Jack. – Ele olha para minha bolsa, eu continuo a segurando
em minha mão.
Olho ao redor e a coloco sobre um móvel.
Volto a olhá-lo, estou me sentindo constrangida, me sinto uma garota de 18
anos. Ele se aproxima, tira meu blazer, e o joga sobre uma cadeira.
– Me ajuda a tirar a roupa. – Ele me olha sedutor.
Um arrepio percorre minhas veias, sigo com meus dedos para sua camisa e
começo a desabotoar os botões.
De repente suas mãos estão em minha cintura e vão para o zíper da minha
saia, em segundos ela cai aos meus pés.
Ele começa a acariciar a pele do meu bumbum e ao mesmo tempo ele aperta,
e isso é muito excitante. Seus dedos roçam as laterais da minha calcinha, e eu
ainda estou nos botões, porque a cada movimento que ele faz, eu paro o que
estou fazendo.
Ele vai descendo lentamente minha calcinha, e de repente seus lábios estão
no meu pescoço, e sua mão acariciando meu sexo.
– Acho que não vou conseguir tirar sua roupa! – falo ofegante.
Ele sorri.
– Eu te ajudo – ele diz com um sorriso torto, em segundos ele abre o zíper e o
botão, tira a calça, a meia e o sapato.
Ele começa a me beijar, sinto suas mãos abrindo os botões da camisa junto
comigo, de repente não há mais camisa, ele já a tirou, e eu continuo beijando
ele, e minhas mãos exploram cada pedacinho de seu corpo, que é cheio de
músculos, ele é forte, ele é lindo!!!
Ele afasta seus lábios dos meus e tira minha blusa, e antes que eu possa
pensar ele já abriu o sutiã, estou completamente nua.
Sem maiores cerimônias ele tira sua boxer, e vejo a generosidade de Deus
com ele, parece que ele passou na fila várias vezes, seu amigo é proporcional
a ele, ou seja, enorme.
– Eu pensei em tomarmos um banho, mas talvez possamos fazer isso depois –
enquanto ele diz, ele vai explorando meu corpo com sua mão grande e macia.
– Eu estou louco para te foder, Jack – ele fala no meu ouvido.
Ele me ergue do chão em seus braços, me deita em sua cama e esquece que
eu estava toda babada de cachorro, e de todo o resto.
Seu corpo enorme cobre o meu, seus lábios começam a descer pelo meu
pescoço, sinto sua língua rodeando as alreolas dos meus seios, ora chupando-
os, ora mordendo-os, ou simplesmente lambendo-os.
A sensação de prazer e excitação me enlouquece, eu quero mais, eu o quero
dentro de mim.
– O que você quer que eu faça, Jack? – Ele sussurra em meu ouvido.
– Me fode, Rui! – Gemo erguendo meus quadris contra seu membro, me
esfregando descaradamente nele.
Ele me penetra de uma vez, grito de excitação, de surpresa, de desejo.
– Assim, Jack? – ele fala com sua voz meio gutural, ele está muito excitado.
– É, assim! – falo ofegante.
– Fala como você gosta. – Ele continua me enlouquecendo com seus lábios
em minha orelha, me arrepiando só com sua voz.
– Oh, eu quero que você me foda com força! – falo embriagada de desejo, e
grito na primeira estocada que ele dá, fui até as nuvens.
– Assim, Jack? – ele diz de novo, e tenho vontade de gritar a cada nova
estocada.
– É! – Grito.
Ele é muito bom nisso.
– De bruços, Jack... – Ele sai de mim, me vira de bruços com uma rapidez
que me deixou tonta, me penetra novamente, segurando meus quadris com
firmeza, e recomeça com a tortura. – Você tem uma bunda muito gostosa. – E
ele massageia minha bunda com suas mãos, e se movimenta deliciosamente
dentro de mim, e de repente sinto um tapa em minha bunda, grito, mas foi
excitante, porque ele bateu e friccionou ao mesmo tempo, e de novo, e de
novo...
E à medida que ele faz isso, minha excitação fica insuportável, grito, gemo e
chego ao orgasmo mais alucinante da minha vida, e logo ouço seus urros de
prazer.
Misericórdia, que sexo foi esse?!
Ele desaba ao meu lado, e me sinto exausta, porque foi muito intenso, nunca
fiz um sexo assim, foi alucinante.
– Foi bom, Jack? – Ele pergunta.
Estou de bruços, então o olho de lado, meus cabelos cobrem meus olhos, mas
ele os retira gentilmente.
– Foi incrível! – respondo olhando-o.
– Para mim, também. – Ele vira de lado, aproxima seu rosto do meu e me
beija.
Adoro ser beijada depois do sexo, acho que toda mulher gosta, então tenho a
impressão que ele leu algum diário feminino, porque parece que tudo que ele
faz tem a ver com o que uma mulher espera de um homem, assim fica mais
fácil fazer as mulheres se rastejarem aos seus pés.
– Vamos tomar banho, você está com cheiro de Bóris. – Enrugo minha testa,
mas antes que eu responda, ele se levanta em um salto e sai glorioso para seu
banheiro.
Apoio meus cotovelos na cama, e olho enquanto ele caminha.
Agora sei que realmente existiram deuses gregos, e o Rui deve ser
descendente de algum deles, ele tem um corpo magnífico.
Ele olha pelo seu ombro, sorrio sem graça.
– Ok, pode olhar, não sou tímido. – Ele dá aquele sorriso cafajeste.
Me sento, ajeito meus cabelos e saio da cama, e caminho em sua direção.
Entro no banheiro, olho ao redor, e fico encantada. O box é enorme, ao lado
uma banheira grande e estilosa, e uma pequena porta onde está escrito sauna.
Ele abre a torneira da banheira.
– O que você acha de tomarmos um banho aqui? – ele diz com seu olhar
intenso.
– Eu vou adorar. – Caminho vagarosamente em sua direção, e me angustio
com a forma que ele me olha, acho que faz quatro anos que não sinto alguém
me desejando tanto, isso é bom, mas me assusta.
– Vem, minha deusa! – Ele estende a mão para mim.
Oiii???
Ele me chamou do que?
Deusa?!
Acho que estou sonhando.
Abro um sorriso imenso, escancarado, porque isso é bom demais.
Ele está dentro da banheira, entro junto com ele e logo sou abraçada e
beijada, de uma forma que não me lembro de ter sido nos últimos quatro
anos.
– Vem, Jack. – Ele se senta na banheira, abre suas pernas, e me encaixo no
meio delas, de costas para ele, mas logo sinto seus braços ao redor da minha
cintura, beijos em meu pescoço.
Esse homem é bom demais!!!
– Você fala pouco, Jack! – ele diz em meu ouvido, mordendo e lambendo
minha orelha.
– Eu já disse que sou uma italiana falsificada! – respondo de olhos fechados.
– Eu não acho que você seja falsificada, mas se for, eu adorei a falsificação, é
perfeita! – Ele sorri contra meu ouvido. – Acho que estou acostumado com
mulheres que falam demais.
Olho de lado para ele.
– Sobre o que você quer que eu fale? – Ele coloca meus cabelos molhados
atrás da orelha.
– Sobre você, sua família, quero te conhecer – ele diz com aquele jeito que o
diferencia do advogado, o deixando mais parecido com um ser comum, e
acessível.
– Oh, você quer saber desde o momento da minha concepção? – Brinco.
– Tudo bem, mas pule a parte do coito, essas coisas! – ele diz divertido.
Me viro de lado, porque gosto de olhar para ele, para esses olhos cinza.
– Tudo começou... – E começo a contar a história da minha família de forma
divertida, porque gosto de fazer isso, afinal meus pais tiveram um romance
escondido da família. Um dia os dois se encontraram numa sorveteira, se
apaixonaram, e então nove meses depois eu nasci.
– Sua mãe se casou grávida? – ele pergunta horrorizado.
– Oh, não faça essa cara, eles se apaixonaram, tiveram uma tórrida tarde de
amor, e nove meses depois, euzinha nasci. Gloriosa minha história, não? –
falo divertida.
– Seus pais eram bem saidinhos para aquela época! – ele diz rindo. – Meus
pais demoraram um pouco mais para consumar o casório, só nasci depois de
um ano.
– Oh, que perda de tempo! – falo rindo.
– Perda de tempo somos nós dois conversando! – Ele me olha com aqueles
olhos de predador.
– Você é bipolar?! Nosso papo estava tão divertido! – Faço um bico.
– Não sou bipolar, mas ficar numa banheira com uma mulher como você
mexe com meu juízo, estou tentando ser simpático, mas meu amigo já está
pronto para a segunda rodada faz tempo.
Me viro de frente para ele, passando minhas pernas entre as suas.
– Ok, estou pronta para o segundo round, depois a gente conversa – falo
decidida, porque se há uma coisa que não nego, é fogo, e depois de anos de
secura, esse homem veio bem a calhar, vou matar toda a minha sede nele, e
quando ele se cansar de mim, pelo menos terei aproveitado ao máximo desse
corpinho maravilhoso.
Ele sorri, segura meu rosto entre suas mãos e enfia aquela língua gulosa em
minha boca.
Lembro que estou devendo a ele um sexo oral, afinal ele disse que queria ver
minha boca em seu pau.
Então, vamos ao que interessa.
Saio de seus beijos, desço meus lábios por seu pescoço, o beijando.
– Hum, Jack, essa boca é uma delicia! – Ele diz de olhos fechados,
ronronando feito um gato.
Continuo com minha tortura, beijo e mordo seu tórax, e aproveito para
passear minhas mãos em seus pelos macios, ele é muito másculo.
Tudo bem que quero torturá-lo, mas a tortura é dupla, porque o cheiro dele
me deixa louca, não vejo a hora de chegar a sua área de lazer.
– Jack, vamos logo com isso, você está me matando – ele diz segurando meus
cabelos, os puxando de leve, levanto minha cabeça e sorrio para ele.
Finalmente cheguei onde queria, seguro seu membro entre minhas mãos e
começo a massageá-lo e lambe-lo, e isso é uma delícia, ele é uma delícia de
homem.
Abocanho aquela coisa grande e gostosa, e me farto, ele é bom demais, mas
ele não me deixa levá-lo ao orgasmo, logo sinto seus dedos em meus cabelos
os puxando.
– Sobe nele, Jack, eu quero te ver engolindo meu pau! – ele diz com uma cara
de desejo que me enlouquece.
– Você que manda, chefinho! – Brinco com ele, me encaixo em sua ereção, e
quase grito de prazer, ele é muito gostoso.
Novamente sua mão grande segura meus cabelos e traz meu rosto para junto
do seu, então aqueles olhos lindos me encaram, e ele diz:
– Aqui não sou seu chefe, somos só Rui e Jackeline! – ele diz sério.
– Desculpe, era só uma brincadeira – falo constrangida, eu tenho essa mania
de falar merdas, não sei por que não paro com isso.
– Não precisa pedir desculpas, só vamos deixar as coisas claras, está bem? –
Ele morde meus lábios de uma forma muito excitante.
– Tudo bem, não vou mais te chamar assim – digo de olhos fechados, me
mexendo vagarosamente em sua ereção.
– Pode me chamar de chefinho no escritório... – Ele me olha e sorri, e volta a
beijar meu pescoço, e vai descendo sua boca deliciosa para meus seios, e os
abocanha guloso. – Seus peitos são maravilhosos, Jack. – Ele os suga e eu
ofego de prazer. – Você é toda gostosa. – Ele suga meus seios, aperta meu
bumbum entre suas mãos aumentando nossos movimentos.
Sinto aquele formigamento, aquela sensação deliciosa se aproximando, e à
medida que aumenta, gemo alto.
– Rui, ah, oh, continua! Ahhh, huuummm, eu vou gozar, Ruiii!!!
– Goza pra mim, gostosa! Isso, grita, Jack, adoro te ouvir gritando – ele diz
enquanto me contorço de prazer.
– Cacete, Rui, você é bom nisso!!! – digo com a respiração descompassada,
abraçada a esse homem que é bom demais.
– Vamos mudar a posição, Jack! – ele diz ao mesmo tempo em que me
levanta, me colocando de joelhos na banheira, e me penetrando por trás.
– Ahhh! – Grito ao senti-lo me preencher com seu negócio enorme.
Seu corpo bate ruidosamente contra meu traseiro, me levando até as nuvens.
Pai do céu, esse homem é muito viril, quente, e eu gostaria de nunca mais sair
do seu quarto.
Em segundos meu parceiro está gemendo e urrando de prazer.
– Caralho, Jack, você é muito gostosa! – Ele me aperta em seus braços, me
fazendo sentir uma sensação de plenitude, que vai além do clímax.
– Quer conversar agora? – Olho para ele que gargalha.
– Acho que agora não – ele diz sem fôlego. – A gente termina o banho, se
veste e desce, e enquanto eu preparo algo para a gente comer, você continua
com suas histórias. – Ele se levanta, estende sua mão para mim, e nos tira da
banheira.
– Fizemos uma bagunçinha mais ou menos aqui! – falo olhando para o
banheiro boiando em água.
– Foi você, Jack! – ele diz com um sorriso divertido.
Entramos embaixo da ducha.
– Teremos algumas horas de intervalo, depois voltamos para terceiro round –
ele diz ensaboando meus cabelos.
– Sério, está tudo cronometrado? – Brinco. – Assim você me assusta!
Ele me olha e sorri.
– Tô brincando, Jack! – Ele me coloca embaixo da ducha, e é tão adorável
seu jeito. – Mas, é mais ou menos isso mesmo!
Abro os olhos e o vejo rindo.
Capítulo 24
JACKELINE BARTOLLI

D esço as escadas acompanhadas do Rui, eu vestida em uma camisa dele


que me cobre como um vestido longo, ele com seu tórax estupidamente
lindo a amostra, e uma bermuda, ele está completamente relaxado.
Seu mascote corre enlouquecido em nossa direção.
– Oi, Bóris! Sem beijos, tá? – Aliso o pelo macio de sua cabeça.
– Vem, Jack, você fica sentadinha enquanto banco o mestre cuca – ele diz
pegando em minha mão e me puxando para a cozinha com ele.
Me sento em uma cadeira.
– Eu posso te ajudar, posso lavar, cortar, o que você acha? – digo me
aproximando dele.
– Por enquanto, não precisa. Fica quietinha, e dá atenção para o Bóris, ele
precisa de muita atenção, esse bicho anda muito esquisito depois que te
conheceu! – Ele me olha e sorri, e fico o observando abrindo armários,
pegando coisas.
– O que vamos comer? – pergunto apenas para curiosidade.
Enquanto converso com ele, aliso o pelo do meu novo amigo, ele realmente
gosta de mim.
– Surpresa, mas você disse que gosta de qualquer coisa, então jiló com nabo,
deve ser gostoso para você! – Ele me olha e sorri.
– Urgh, eu gosto de muitas coisas, mas jiló e nabo é comida de passarinho e
coelho. Aceito uma saladinha. – O Bóris coloca as duas patas no meu colo e
fica me olhando, sorrindo. – Ele está muito carente, Rui, você não dá atenção
para ele.
– Oh, Jack, você não conhece esse cara, ele é um puto de um safado, só está
fazendo isso porque você dá bola pra ele, ele não é assim, só quando você
está aqui. – O Rui olha para o cachorro sério. – Ele estava de castigo, o tirei
recentemente, mas vai voltar, até que melhore seus modos.
Enquanto ele fala, ele olha para o Bóris, que faz cara de coitadinho, parece
que ele entende tudo que o dono fala.
– Não liga para ele, Bóris, eu te entendo. É duro passar o dia sozinho, né? –
Faço cara de boazinha, segurando seu focinho para ele não me lamber.
– Então, Jack, como você conheceu o... – Ele me olha de lado.
– O Renato? – Ele balança a cabeça afirmativamente.
– Na faculdade, ele cursava Contabilidade e eu Psicologia. – Dou uma pausa,
repenso nossa história. – Nos víamos sempre na lanchonete, mas ele era
muito tímido, até que um dia eu puxei papo com ele e assim nos conhecemos.
– Olho de canto de olho para o Rui, mas ele não diz nada, aliás, já percebi
que ele não gosta que eu fale do Renato, mas então, porque a pergunta?!
– Você nunca desconfiou da sexualidade do cara? – Novamente aquele olhar
de canto de olho, ele fica bravo quando falamos desse assunto.
– Acho que sou um pouco desligada, ele é um cara tímido, sempre foi, talvez
isso me deixasse um pouco confusa – falo absorta em meus pensamentos.
– Você sabe que é muito comum homens se casarem com mulheres, e ainda
assim manterem relações homossexuais? Eu conheci um juiz que tinha uma
família, filhos, mas ele dava em cima de mim descaradamente! – Ele me olha,
arregalo meus olhos assustada.
– Nossa, que absurdo! – falo assustada.
– Talvez esse fosse o plano do seu amiguinho, ele iria te levar em banho-
maria, uma trepada por mês, fariam um ou dois filhos, mas ele continuaria
comendo uns caras por aí – ele diz ríspido.
– Rui, não precisa falar assim, eu já entendi, parece que você quer que eu
tenha ódio dele! – falo incomodada.
Ele vira de frente para mim e me encara sério.
– Eu quero que você enxergue, Jack, esse tipo de cara é filho da puta. Ele até
pode construir uma família com uma mulher, mas continuará tendo
relacionamentos homossexuais fora do casamento.
– Eu sei, eu já ouvi muitas histórias. – Ele me olha de lado.
– Então não dê chance para ele se reaproximar de você, pois ele tentará se
aproveitar do seu lado emocional. – Ficamos nos olhando, inspiro com força,
viro minha cabeça de lado e pergunto:
– Porque você está tão preocupado com isso? – Ele me olha surpreso, volta
sua atenção para o que está fazendo.
– Porque gosto de você, quero seu bem, é isso. – Ele dá de ombros.
Levanto e me aproximo dele, passo minha cabeça por baixo do seu braço, me
encaixo entre ele e a pia, e o encaro.
– Obrigada por se preocupar comigo! – Seguro seu rosto entre minhas mãos e
o beijo suavemente, sem pressa, nem desespero, porque é bom demais beijar
ele.
Logo seus braços me envolvem e me apertam contra seu corpo, contra sua
ereção.
– Não consigo me saciar de você, Jack – ele diz em meio ao nosso beijo, que
era calmo e gentil, mas que se tornou urgente e desesperado.
Ele pega em meu bumbum e me levanta em seu colo, sinto algo gelado contra
a pele do meu traseiro, ele me colocou sobre a pia.
Sua boca me engole, suas mãos entram por debaixo da minha camisa,
acariciam meus seios, descem pela minha cintura, acariciam minhas costas,
meu bumbum, depois minhas coxas, ele afasta minha calcinha e me penetra
gentilmente, lentamente e deliciosamente. Gemo de prazer, ele morde meus
lábios, eu enfio as unhas em suas costas e chego ao quarto orgasmo do dia,
seguida por ele.
– Caralho, Jack, isso foi bom demais! – ele diz sem fôlego. – Acho que vou
ter que te deixar na sala. Aqui, junto comigo, não vou conseguir fazer nada! –
ele diz sorrindo.
Encaro seus olhos, é tão bom ficar com ele, e tenho medo disso. Então,
apenas sorrio, dou um beijo rápido em seus lábios e desço da pia.
– Então tá, eu vou me sentar lá fora, ver se hoje a lua está como naquele dia.
– Faço um tchauzinho com os dedos.
Vou até o banheiro, depois sigo para sua área externa, e sou presenteada com
a lua mais linda que já vi.
– Aqui é mágico! – Olho para o céu, lotado de estrelas, com uma lua redonda
e iluminada.
Me sento em uma espreguiçadeira e me delicio com a sensação maravilhosa
que o Rui causa em mim.
Eu o conheço há alguns dias, mas foram o suficiente para me proporcionar os
melhores momentos que já vivi nos últimos tempos.
****

Estou com as pernas dobras contra meu peito, cobrindo minhas pernas com
sua camisa, a noite está bonita, mas um ventinho frio sopra me deixando toda
arrepiada.
Estou há alguns minutos aqui, eu e o Bóris. O abraço junto a mim.
– É bom aqui, não é, Bóris? – Olho de lado para ele, que me olha com aquela
cara linda.
Sinto um beijo em meu pescoço, desperto de meu enfeitiçamento.
– Nosso jantar está pronto! – O Rui me olha em pé a minha frente.
Sorrio para ele, afasto meus braços do Bóris e desço da espreguiçadeira.
Fico em pé, o Rui passa seus braços pela minha cintura e me olha, seus
olhares são quase sempre enigmáticos, ainda o conheço muito pouco.
– Você estava pensando em que? – ele diz com aquele olhar incisivo.
Passo meus braços por seu pescoço, e o olho de lado.
– Alguém já te disse que você é bem enxerido?!
Ele dá uma risada deliciosa.
– Não, acho que não. Não que eu saiba. – Ele controla seu riso. – Mas, por
que sou enxerido? – Ele faz uma careta.
– Porque você está sempre querendo saber tudo, eu tenho meus segredos, não
posso te contar tudo, mal nos conhecemos! – falo intrigada.
– Então você vai pra cama com um desconhecido?! – Ele diz irônico.
– É, de certa forma sim, mas nos conhecemos há uma semana, já sei que você
não é nenhum maníaco, ex-presidiário... – falo em tom de brincadeira.
– Entendi. – Ele balança a cabeça. – Tá bom, Jack, vamos jantar. – Ele tira
suas mãos de minha cintura, pega em minha mão e me encaminha para dentro
do apartamento.
Olho para a mesa de jantar e me surpreendo. Às vezes, parece que o Rui lê
mentes, ou minha descrição no site de relacionamentos. A mesa está posta
com um castiçal no meio, os pratos foram colocados em cima de descansos
de mesa, os talheres estão postos como num restaurante, assim como taças de
vinho, ele é muito perfeito em tudo.
– Você é romântico, Rui? – falo me sentando na cadeira que ele puxa para
mim.
Ele me olha com os olhos semicerrados.
– Não muito, Jack – ele diz com uma expressão engraçada.
– Acho românticos castiçais e velas, quero dizer, jantar à luz de velas é muito
romântico.
– Eu leio pensamentos, e sei que você gosta disso, toda mulher gosta. – Ele
segue até a cozinha.
Eu preferia ouvir que ele fez isso especialmente para mim, mas vou me
contentar com o fato dele pensar nisso, e tornar nosso jantar mais
interessante.
– Quer que eu te ajude? – pergunto sentada, olhando para a cozinha.
– Não precisa – ele diz em voz alta.
Em alguns minutos ele retorna com dois pratos em suas mãos, a comida já
está posta no prato, como num restaurante, tudo bonitinho, sorrio encantada
com seu capricho.
– Oh, que prato mais bonito, isso dá mais fome, sabia? – digo sorrindo para
ele.
– Tenho que confessar que estou tentando te impressionar, não costumo fazer
isso! – ele diz sorrindo.
– Então, tenho que agradecer. – Me levanto da cadeira, dou a volta na mesa
sob seu olhar atento, me sento em seu colo e o beijo delicadamente. –
Obrigada pelo capricho, por tudo, estou encantada! – falo encarando aqueles
olhos sedutores.
Ele não diz nada, mas me beija de novo, daquele jeito delicioso, mordendo
meus lábios, acariciando minhas coxas.
Oh, meu Deus, assim eu não vou aguentar. – Penso excitada.
– Rui, a gente não deveria jantar primeiro? – Sussurro sentindo seus beijos
em meu pescoço, e suas mãos acariciando meus seios.
Ele volta a me olhar, seus olhos estão em chamas.
– Deveríamos! – Ele arruma meu cabelo atrás de minha orelha. – Então, volta
para sua cadeira, você que veio me provocar – ele diz.
– Tá! – Me levanto vagarosamente. – Depois a gente continua. – Mordo meus
lábios, e ele tenta me puxar de novo para seu colo, mas fujo dele. – Depois...
– falo rindo.
– Você é uma menina muito má, Jack! – ele diz com seu jeito de predador.
– Não sou, não, sou bem boazinha! – Faço charme. – Ok, preciso dar minha
nota para esse prato. – Coloco uma garfada em minha boca, fecho olhos e me
delicio. – Hummm, Rui, que delícia! – Olho para ele, que está rindo.
– Esse prato é congelado, Jack, a empregada que faz e deixa pronto para
mim, eu não fiz nada, só esquentei, e arrumei no prato.
Relaxo meus ombros.
– Ai, que decepção! – Faço uma careta.
– Oh, mas eu arrumei direitinho, não arrumei? – Ele faz carinha de
coitadinho.
– Sim, ficou muito bonitinho! – Olho de lado. – Eu iria até aí te dar mais um
beijinho, mas não posso... – De novo faço charme.
Ele sorri torto.
– Quer que eu vá até você? – Ele finge afastar a cadeira.
– Depois... – Faço charme de novo. – Ok, então me deixe provar a comida da
sua empregada. – Faço cara de decepcionada.
– Um dia desses eu faço uma comida para nós dois, hoje eu estava com
preguiça, trabalhei demais agora a noite, sabe? – Ele me olha sobre os cílios,
entre uma garfada e outra.
– Sei, você trabalhou demais... – Brinco.
Terminamos de jantar num clima delicioso, clima de paquera, eu fazendo
charme para ele, e ele para mim.
Fazia tempo que eu não usava minhas armas de sedução, quero dizer, eu até
usava, mas não surtia efeito.
Finalizo minha taça de vinho.
– A comida estava ótima, diga a sua empregada que ela está aprovada. – Pego
meu prato e sigo para a cozinha, mas ele me agarra pela cintura e tira o prato
da minha mão.
– Eu faço as honras da casa, a única coisa que você irá fazer aqui hoje é sexo
comigo!
Caramba, ele é bem diretinho.
O acompanho com o olhar, ele deposita os pratos na pia, volta em minha
direção.
– Vamos subir? – ele diz.
Balanço a cabeça afirmativamente, naquele estado letárgico que fico perto
dele.
Subimos as escadas, entramos em seu quarto e ele não perde muito tempo,
me agarra pela cintura e começa uma nova sessão de beijos.
– Rui, você já ouviu dizer que sexo depois de comer pode dar indigestão? –
falo meio gemendo e meio sussurrando, porque aquelas mãos dele me
enlouquecem, assim como sua boca que não para de me beijar.
– Nunca soube de ninguém que morreu desse jeito. – Ele me leva para cama.
– Ahhh! – Gemo sentindo um dedo dele me penetrar. – Eu também não,
Ruiii!!! – Ele enfia um segundo dedo.
– Está com medo de morrer, Jack? – ele fala e me beija junto.
– Não, mas eu não quero que você morra.
Oh, meu Deus, por que eu falei isso?
Ele para de me beijar e me olha, sorrio para disfarçar.
– Me beija, Rui. – Puxo seus cabelos, fazendo com que sua boca tome
novamente a minha.
– Eu não vou morrer numa trepada, minha deusa. – Ele morde minha orelha.
– Oh, que bom! – Sussurro embriagada por suas carícias. – Eu estava
gostando dos seus dedinhos, Rui... – Mordo a orelha dele.
Acho que o assustei, e ele me esqueceu, então achei melhor avisá-lo, porque
estava bom demais aquilo.
Ele me olha e sorri.
– Tudo bem. – Ele enfia dois dedos dentro de mim e ofego de prazer. – Goza
para mim, minha deusa.
E ele me faz gozar daquele jeito, me beijando e me excitando apenas com
seus dedos.
Esse homem entende tudo de sexo, ele é um professor.
– Assim, Rui!!! – Fecho os olhos e me entrego à sensação de prazer que ele
me causa. – Oh, Rui. – Ofego de prazer. – Oh, que delícia.
– Você que é uma delícia, Jack! – E antes que eu possa me recompor do meu
orgasmo, ele me penetra, e me enlouquece de novo.
Seu corpo se choca contra o meu ruidosamente, gememos de prazer e ele
chega ao orgasmo, e grita meu nome ensandecido.
– Oh, Jack!!! Hum, minha delícia.
Ele dá as últimas estocadas e desaba sobre mim, segurando minhas mãos
acima de minha cabeça, bem estilo dominador.
– Foi demais, Jack... e eu não morri! – Ele se apoia em seus cotovelos, me
olha e sorri.
– Que bom, né? – falo em tom de gozação.
Acaricio seu rosto, seus cabelos, eu adoro ficar olhando para ele.
– Você é demais, sabia? – falo e me arrependo, estou levantando muito a bola
desse cara.
– A mulherada não reclama – ele diz com cara de cafajeste.
– Oh, eu sabia que você diria algo do tipo, mas na verdade, eu só queria te
agradar, não é que você seja aquela BRASTEMP! – Uso uma entonação
diferente, mais engraçada.
– Não adianta disfarçar, Jack! – Ele vira de lado. – Agora o elogio já foi feito!
– Ele acaricia meus cabelos. – Você não gosta de cabelos longos? A maioria
das mulheres gosta – ele diz passeando seus dedos pelos fios.
– Dá muito trabalho, sou uma mulher prática. – Faço uma careta.
– Eu gosto do seu estilo, simples, mas linda!
Sorrio, talvez eu tenha ficado vermelha, senti as bochechas esquentarem.
– Obrigada! – Levo minha mão até seu peito, é tão gostoso ficar acariciando
seus pelos macios, ele tem um tórax delicioso, daqueles que dá vontade de
passar o dia deitada.
– Estou cansado, Jack. – Ele boceja. – Agora é de verdade! – Ele se ajeita no
travesseiro. – Vem cá. – Ele me puxa para junto do seu peito, e eu faço o que
eu mais queria, enfiar meu nariz em meio aos seus pelos, ele é tão cheiroso.
– Boa noite, Rui. Adorei nossa noite juntos.
Ele leva minha mão até seus lábios e a beija.
– Eu também. Boa noite.
Fecho meus olhos e desmaio, esse homem acabou comigo.
Capítulo 25
JACKELINE BARTOLLI

O som de um alarme abafado me desperta e me dou conta que é o som do


meu celular.
Abro os olhos, estou tonta de sono.
Estou dormindo encolhida nos braços desse homem incrível, foi bom demais
passar a noite com ele, na verdade tudo que envolve ele é bom, dormir junto
foi só o aperitivo.
Me levanto sonolenta, sigo até minha bolsa que ficou sobre um móvel e
desligo o alarme. Não sei a que horas ele acorda, mas vou relaxar, estou com
meu chefe, não poderia ser melhor.
Entro em seu banheiro, fizemos a maior bagunça, gostaria de arrumar isso,
mas não sei onde fica nada em sua casa.
Fecho os olhos, faço meu xixi, e volto para a cama, quero aproveitar mais
desse corpo quente e gostoso.
Me encaixo novamente em seu peito, beijo delicadamente seus lábios, e sinto
aquele friozinho no estômago.
Eu não quero me apaixonar por ele, mas vai ser difícil.
Ele dorme tranquilo, não percebeu meu beijo, então me aninho em seu peito,
deposito beijos em seu tórax, e fico ali até o sono voltar.
Não sei quanto tempo dormi, mas novamente ouço um barulho de alarme de
celular. Sinto um corpo quente em minhas costas, seus braços fortes estão me
envolvendo, e isso é gostoso demais.
Ignoro o alarme, é o dele, então ele que tem que acordar.
Ele se mexe, tira seus braços do meu corpo, desliga o alarme e volta a me
abraçar.
– Mais 15 minutos, Jack. – Ele beija meu pescoço, e aperta seus braços ao
redor do meu corpo.
Eu adoro isso, dormir aninhada ao homem que a gente...
Ops, não posso dizer isso, eu ainda não o amo, só estou encantada,
enfeitiçada.
Ficamos mais alguns minutos, 15, como ele disse, e o barulho de alarme
volta.
– Odeio alarme, Rui. – Reclamo.
– Eu também, Jack. – Ele me aninha mais ao seu corpo, sua ereção roça meu
bumbum, acho que é de propósito, ele fica mexendo com seu membro, sorrio,
ele parece aqueles garotões bobos.
– Rui, pare com isso. – Resmungo.
– Eu não tenho culpa, Jack. – Ele ri contra meus cabelos. – Sou assim de
manhã.
– Você é assim o dia inteiro! – Sorrio, mas confesso, sou mal-humorada de
manhã. – Rui, sou mal-humorada de manhã.
– Eu sei como acabar com seu mau humor, Jackeline. – Ele me puxa para
olhá-lo, e invade minha boca sem maiores cerimonias.
– Eu também não gosto muito de beijar antes de escovar os dentes. – Desvio
meus lábios dos seus.
– Você é bem mal-humorada, Jack! – Ele começa a descer seus beijos pelo
meu pescoço, acaricia meus seios com suas mãos, de repente sua língua
passeia pelas minhas alreolas. – Tá melhorando, Jack? – ele diz roçando seu
pau no meio das minhas pernas.
– Um pouco. Você precisa se esforçar mais, Rui. – Me esfrego em sua
ereção. – Talvez se ele estivesse dentro de mim eu melhorasse rapidamente. –
Sorrio.
– Você é bem safada, Jack! – Ele me olha e me penetra. – Assim que você
quer?
Fecho meus olhos, porque eu adoro quando esse homem me penetra.
– Oh, Rui, é, é assim mesmo! – Ele se movimenta vagarosamente, ao mesmo
tempo em que suga meus seios, numa tortura deliciosa.
– Passou o mau humor, Jack? – Ele morde minha orelha, passa sua língua
pela aureolo.
– Acho que sim, preciso gozar primeiro.
Oh, meu Deus, por que estou falando assim?!
Ele dá risada, numa cena muito engraçada, como ele consegue transar e rir ao
mesmo tempo?
– O que está faltando para você gozar, minha gostosa? – Ele beija meu
pescoço, me morde, me suga.
– Eu gosto quando você faz bem forte, Rui! – falo em seu ouvido.
– Então eu vou fazer como você gosta! – Ele dá uma estocada forte, me
fazendo gritar. – Assim, minha gostosa? – Ele morde meus lábios.
– Isso... continua! – Agarro em seus cabelos e o beijo-o desesperada, e à
medida que ele aumenta seus movimentos, gemo de prazer, até finalmente
chegar ao clímax. – Eu estou gozando, Rui... Hum, ahhh, ohhh, Rui...
– Agora sou eu, minha deusa, eu vou gozar bem gostoso em você... – Ele
para. – Ahhh, Jack... Oh, caralho... Porra, que delícia!
Ele abre os olhos, nos encaramos alguns segundos, puxo seu rosto para o meu
e o beijo.
Fazer sexo com esse homem é incrível, estou viciada nele.
– Foi delicioso, Rui, fazer sexo com você é delicioso!
– Com você também. – Ele me dá um selinho. – Que pena que não podemos
passar o dia transando, seria muito bom, você não acha? – ele diz com seu
jeito de cafajeste.
– Oh, seria incrível, mas eu tenho um trabalho, não sei se meu chefe
entenderia se eu dissesse que faltei para transar com um cara muito gostoso e
durante o dia todo.
Ele dá risada.
– Ele iria entender, tenho certeza que sim! Vamos tomar banho, está muito
bom aqui, mas tenho um calhamaço de processos para analisar. Essa minha
profissão é uma merda, Jack! – Ele se levanta, estende sua mão para mim, me
levanto com ele. – Você usa pílulas, né, Jack?
Ele me olha de lado.
– Oh, não, precisamos disso? Pensei que você tivesse feito vasectomia – falo
com ironia.
Ele sorri.
– Eu deveria ter perguntado isso antes, eu sei disso, mas você tinha um
relacionamento antes, então... – Ele me olha sério.
– Eu uso pílulas, Rui, mas se você quiser usar camisinha, tudo bem! – Abaixo
meus olhos, e me vem um pensamento. – Você costuma sair com mais de
uma garota, quero dizer, você está saindo com outra pessoa, além de mim?
– Não! – Ele disfarça, entra embaixo da ducha.
– Se você tem o costume de fazer isso, seria bom que você usasse camisinha,
eu não gostaria de pegar doença de outra mulher.
Ele franze sua testa.
– E você, tem a intenção de sair com outros caras? Talvez eu também precise
me preocupar.
Oh, esse papo está azedando o clima, eu sou mestre em fazer isso, tenho uma
boca maldita.
– Eu não gosto disso, não sei se você se lembra, mas eu disse que não gosto
de sexo sem relacionamento, eu sei que não temos um relacionamento, e
provavelmente você sairá com outras garotas, então...
– Porque você tem tanta certeza que sairei com outras garotas? O que você
sabe de fato sobre mim, Jack?! – Ele me olha bravo.
– Não sei nada, só o que falam de você, e você tem uma péssima reputação
entre as mulheres.
Ele ergue suas sobrancelhas e balança a cabeça, parece indignado.
Aproximo meu corpo do dele, pego o sabonete líquido e começo a passar
pelo seu corpo.
– Rui, me desculpa, eu sou muito sincera, sempre falo o que penso.
Ele me olha sisudo, o vão entre olhos franzidos.
– Eu já percebi.
– Me desculpa se falei alguma bobagem, tá? – Busco seus olhos.
Ele me olha de lado.
– Tá!
– Quer que eu ensaboe você? – pergunto espalhando espuma pelo seu peito,
descendo para sua barriga.
– Você já está fazendo isso! – Ele tenta segurar um sorriso.
– Estou, mas sem sua permissão. – Olho lânguida para ele, não quero
aborrecê-lo, eu sei que ele terá outras garotas, não vou me fingir de tonta, e
não quero que ele me engane.
– Ok, permissão dada, Senhorita Jackeline Franca da Silva. – Ele sorri
debochado.
– Melhor assim, gosto de ver seu sorriso, ele é tão bonito, sabia? – Olho
abobada para ele, não me importo de enchê-lo de elogios.
Tenho como meta de vida ser feliz, falar e fazer o que se passa em minha
cabeça, não quero ter travas, inibições.
É claro que não sou perfeita, mas prefiro fazer e falar o que penso e o que
tenho vontade, do que me arrepender.
Um dia tudo isso vai passar, voltaremos a ser estranhos, assim como
aconteceu com o Renato, mas enquanto houver essa magia, eu quero
aproveitar, falar tudo que sinto, penso, sem fingimentos ou falsidades, sou
muito verdadeira, sempre fui, acima de tudo.
Passo o sabonete por sua pele, vez ou outra olho para ele, e já percebi o
quanto ele é transparente.
– Desculpa, Rui, não queria te deixar zangado. – Ensaboo seu pescoço, seus
ombros.
– Eu não estou saindo com ninguém além de você, Jack. – Ele me olha
seriamente.
– Ok! – Dou a volta em seu corpo, passo minhas mãos pela pele de suas
costas, elas são tão largar e fortes. – Você me avisa se isso acontecer?
Fecho os olhos e seguro o ar.
– Aviso – ele responde.
Desço minhas mãos pela lombar, passo suavemente minhas mãos por suas
nádegas.
Oh, ele é tão perfeito!!!
Ele ri.
– Tudo bem eu ensaboar seu bumbum? – Me esgueiro e apoio meu queixo
em seu ombro.
– Você não existe, Jackeline! – Ele ri.
– Ruiii! – O chamo novamente.
– Oh, Jack, tenho calafrios quando você me chama assim!
Volto a ficar em frente a ele, ensaboo seu rosto, fazendo uma barba com a
espuma, e sorrio com minha brincadeira.
– Quando você se cansar de mim você vai me dispensar?
Ele fecha os olhos e olha para cima.
– Jack, dá um tempo, que monte de merdas que você está falando! – Ele bufa.
– Eu só falo o que penso! – falo emburrada. – Eu não trabalho por hobby,
desde que te conheci quis ficar com você, e só não fiz isso porque você era
meu chefe, mas, enfim, estamos aqui, eu posso procurar outro trabalho se
você achar melhor.
– Jack, por favor, vamos parar com essa conversa! Caralho, você é bem
complicada.
Me afasto dele.
– Ok, nunca mais falarei sobre meus medos e preocupações, serei falsa e
dissimulada com você, fingirei que não sei como funcionam as coisas e agirei
por suas costas.
Ele fecha os olhos de novo.
– Eu entendo seus medos, de verdade, mas não precisa ficar pensando nisso,
eu não vou te demitir, quero dizer, se você fizer uma grande merda eu vou te
demitir, mas não assim, do nada.
– Rui, eu não sou uma mulher chata, sou só sincera, nunca mais falarei sobre
essas coisas com você!
Ele segura meu rosto entre suas mãos e me beija suavemente.
– Você assusta o cara que você conhece dizendo essas coisas, Jack. Não pode
falar tudo de uma vez, fala aos poucos! – ele diz e ri.
– Doutor Rui, você nunca poderá me chamar de falsa, dissimulada ou
traidora, sou um livro aberto, para o bem e para o mal. – Sorrio.
– Eu gosto do seu jeito! – Ele beija suavemente meus lábios. – Você me
enerva um pouco! – Ele beija os cantinhos da minha boca.
Sinto seu membro rijo contra minha barriga, seguro entre minhas mãos e o
fricciono delicadamente.
– Hum, Jack, você me deixa louco! – ele diz engolindo minha boca.
– Eu quero te dar prazer, Rui! – Me separo de seus lábios, ele me olha
profundamente, me agacho a sua frente e o levo ao orgasmo.
Ele me traz para junto dele novamente.
– Eu vou fazer em você também – ele diz me beijando, em seguida se agacha,
e me leva a loucura com sua língua bendita.
Ele volta a me abraçar, beijar, acariciar, e isso é bom demais.
– A gente precisa ir, Jack. – Ele me beija de novo.
– Eu sei, posso terminar de tomar banho? – falo rindo, porque ele me prensou
em seus braços longos e fortes, não consigo fazer nada se ele não me soltar.
– Eu devo te soltar, é isso? – ele diz rindo.
– Sim, talvez fosse bom, eu poderia me ensaboar, lavar meus cabelos – falo
irônica.
– Então, eu vou fazer isso, confesso que gostaria de passar o dia aqui com
você. – Ele se afasta de mim. – A gente pode fazer isso um dia desses, vamos
trabalhar em casa, assim quando a gente cansar, a gente transa, vai ser bem
divertido – ele diz com sua cara de safado.
– Sei, sei... – Brinco ensaboando meus cabelos, e os dele em seguida.
Mais alguns minutos e terminamos o banho.
Ele segue para seu closet, pego minha roupa de ontem e a visto.
Não gosto de usar dois dias seguidos a mesma roupa, mas não posso nem
cogitar ir para casa, ele não irá gostar.
Ele sai do seu closet vestido, lindo demais.
– Eu andei analisando seu guarda-roupa, e estou curiosa, você tem um terno
para cada dia da semana, ou para o mês todo? – pergunto divertida.
Ele entorta seus lábios.
– Tenho muitos ternos, Jack. Nunca contei, mas é difícil eu repetir o mesmo
terno. – Ele sorri.
– São todos lindos, você tem muito bom gosto! – digo sincera.
Ele me olha de lado.
– Obrigado, você me acostuma mal, sabia? – Ele ajeita seu terno. – Você está
sempre me elogiando.
– Sou sincera, lembra? – Arrumo a gola que está virada, e o admiro. – Você
está muito gato.
Ele dá risada.
– Você também! – Ele segura meu rosto e me beija. – Vamos até aquela loja
que te levei aquele dia, para comprar uma roupa nova para você. – Ele sai
andando para a porta.
– Rui, por favor, não! – Imploro.
Ele olha para mim.
– Vamos, Jack, a gente vai tomar café da manhã antes de sair.
****

A mesa de jantar está arrumada, alguns pães, geleias, frios, recipientes com
leite e café.
– Se senta aqui, Jack! Vou pegar mais uma xícara, a Dona Jô não sabe que
tenho visita. – Ele pisca para mim.
Logo ele volta junto com uma mulher com a pele morena jambo, ela é muito
bonita, veste um vestido preto com faixas brancas, é alta e magra, parece uma
modelo.
– Bom dia! – A cumprimento.
– Olá, bom dia! – ela diz simpática, e começa a servir o leite para mim. –
Com café?
– Sim, obrigada.
– Jô, essa é a Jackeline, ela trabalha comigo, você conversou com ela por
telefone – ele diz se servindo.
– Ah, é verdade, obrigada pela ajuda! – falo meio constrangida, agora ela vai
saber que o chefe come a secretária.
– Deu tudo certo? – ela diz solícita.
– Sim, logo, logo, ligo para você para acertarmos os detalhes – falo
rapidamente.
– Então está bom. – Ela olha para o Rui. – Doutor Rui, se o senhor precisar
de mim, estarei na cozinha.
– Ok, obrigado – ele diz educado.
Tomo o café com leite, como um pãozinho maravilhoso, parece feito com
cenoura, ou mandioquinha. Se fosse por minha espontânea vontade eu
comeria a cesta toda, isso é bom demais, mas aí me lembro da meta dos 10
quilos, e pego um só.
Vejo o lanchinho generoso que o Rui prepara para ele e fico com inveja, nada
como ser homem, não ter celulite, estrias e gordura localizada.
Deus tinha algo contra as mulheres, tudo de ruim ficou para nós, não é justo
isso. Bom, tem a história da Eva, talvez ela seja a culpada por tudo. Que raiva
que eu tenho dessa tal Eva!
– Não vai comer mais nada, Jack? – ele pergunta.
– Não, obrigada! – Sorrio.
– Tá dieta? – ele diz rindo.
Me arrumo na cadeira, agora somos íntimos, vou falar.
– Quero perder 10 quilos, eu sei que é uma meta agressiva, então preciso
passar fome.
Ele enruga a testa.
– Por que você quer perder 10 quilos? – ele diz parecendo indignado, só eu
sei meus problemas.
– Porque eu preciso, relaxei e engordei, e preciso perder, tenho uma
predisposição a engordar sempre minha bunda e coxas, e isso me incomoda
muito.
– Eu te acho linda, Jack! – Me derreto. – Seu corpo é assim, Jack, você
precisa se cuidar, mas não precisa ficar fazendo dietas malucas.
Eu sei que não somos amigos do peito, mas me sinto tão bem com ele, que
acabo me abrindo.
– Sabe, Rui, ser mulher é muito difícil. – Ele ri. – Tudo bem, talvez os
homens gostem de bunda grande, peitos fartos, mas eu não gosto, dá muito
trabalho, sabe, numeração, chama muita atenção, eu queria ser bem
magrinha, estilo sua ex ou atual, não sei.
– Ex, Jack! Terminei com ela – ele fala sério. – Bom, não sei se isso pode te
ajudar a lidar melhor com suas curvas, mas eu adoro seu corpo como ele é, se
você fosse magrinha, talvez eu não tivesse tanto tesão por você.
O olho por alguns minutos, e é fato, eu já percebi o tesão que provoco nele, e
isso é realmente incrível, e o ouvir falar isso é ainda mais incrível.
– O Renato me chamou de gorda naquele dia que você me encontrou
praticamente nua no elevador. – Suspiro. – Ele também não gostou do
espartilho, falou que eu não tinha corpo para vestir aquilo. – Meus olhos
enchem de lágrimas.
– Ele não gosta de mulher, Jack! Veste para mim aquele espartilho e você vai
ver o que acontece, vou te virar do avesso. – Dou risada. – Você estava linda
naquele dia, e foi uma pena você não dar bola para mim, teríamos nos
divertido muito.
Espanto as lágrimas dos meus olhos, e sorrio.
– Obrigada pelos elogios, você é o máximo! – Ele pega minha mão e a beija.
– Agora é sério, quero transar com você daquele jeito, talvez a gente compre
um sapato vermelho.– Ele me olha com aquele olhar de predador. – Até hoje
sonho com você naquele espartilho, Jack, você não sabe o tesão que você me
deixou aquele dia.
Dou risada.
– Seu pedido é uma ordem, Rui. Preciso tirar esse trauma, preciso vestir de
novo aquela maldição dos infernos.
Ele gargalha.
– Você não gosta muito de espartilho? – Ele me olha divertido.
– Aperta muito, Rui, você não sabe como aquilo incomoda.
Ele gargalha mais.
– Ok, mas por mim você faz esse sacrifício, não faz?! – Ele me olha com seu
jeito de cafajeste.
– Faço, com muito prazer!!! – Pisco para ele.
Capítulo 26
JACKELINE BARTOLLI

O Rui estaciona seu carro em frente à loja de roupas chiques.


Ele olha para mim e sorri.
– Pode escolher o que você quiser, Jack, estou bonzinho de novo, aproveite!
Ele é muito fofo, mas não sou esse tipo de mulher, não quero um cara para
me bancar, posso dizer que sou um pouco preconceituosa, não estou
vendendo meu corpo em troca de favores materiais.
Me esgueiro pelo banco e acaricio seu rosto.
– Eu não quero nada, Rui! Obrigada por ser tão generoso comigo, mas eu
realmente não gosto disso, deixe para presentear suas outras namoradas.
Ele me olha feio e se esquiva de mim.
– Jack, eu quero te dar um presente, ou vários, não quero fazer isso com
outras garotas, é com você, e não tenho outras namoradas, você está
fantasiando muito com essa história!
Oh, o que faço com esse homem?
– Eu não quero que você fique comprando coisas para mim, você já me paga
um salário maravilhoso para eu trabalhar para você, você me deu uma
oportunidade, por favor, não me faça sentir mal, essas coisas não funcionam
comigo.
– Chata, Jackeline, você é mal-humorada e chata! – Ele estreita os olhos,
seguro seu rosto e o beijo.
– Prefiro beijos a presentes. – Aprofundo nosso beijo, ele segura minha
cintura, e aperta meu corpo contra o seu.
Ele se afasta de mim e me encara com seus olhos lindos.
– Mas eu gosto de presentear quem eu gosto, esse é meu jeito, Jack – ele fala
bem mimoso, ele é tão lindo, mas não é só beleza exterior, ele é uma pessoa
linda.
O olho por alguns segundos.
– Então será a última vez – digo e ele sorri.
– Tudo bem, vamos comprar a loja inteira. – Ele ri e sai do carro, parece uma
criança que irá fazer arte.
Caminho com ele para o interior da loja e penso o quanto uma pessoa pode
ser diferente quando se conhece ela na intimidade.
A vendedora nos vê e abre um sorriso grande.
– Sejam bem-vindos, que bom que voltaram! – ela diz animada.
– Obrigada – respondo um pouco insossa, odeio bajulação.
– Em que posso ajudá-los? – ela diz solícita.
– Ela quer ver tailleurs! – O Rui responde, olho para ele, ele pisca para mim
e sai andando pela loja.
– Ok, então vou escolher algumas coisas para você! Você gostou desse
modelo que está vestindo, posso trazer alguns como esse?
– Tudo bem, talvez umas duas camisas também – falo insegura.
Entro no provador, tiro minha roupa, e logo a mulher volta com aquela
montoeira de roupas.
– Não posso demorar, amiga – falo incomodada, olhando para o relógio.
Ela sorri para mim, está pouco preocupada com meu horário, e entrega um
conjunto de saia e blazer, e mais um, e mais um.
Depois de experimentar vários conjuntos entre saias e calças, camisas,
regatas, estou farta.
– Eu já decidi, vou levar esse aqui! – Pego um conjunto de calça e blazer azul
escuro, e uma camisa creme.
– Só isso, não gostou dos outros? Tudo ficou ótimo em você, nossa confecção
cai muito bem em seu corpo! – ela diz animada.
– Gostei de tudo, mas hoje, é só este – falo taxativa.
– Ok! – Ela sai com as roupas em seu braço, mas a porta abre novamente, é o
Rui.
– Oi, o que você está fazendo aqui? – Ele olha para meu corpo, estou só de
lingerie.
Ele me entrega um par de lingeries.
– Hum, que lindas! – digo animada.
– Comprei algumas lingeries para você! – ele diz seriamente.
– Ah, é?! – pergunto admirada. – E você sabe minha numeração?
– Por isso que eu trouxe esse conjunto, para você ver se acertei a numeração,
experimente! – Vejo um vestido em sua mão. – E esse vestido, quero que
você experimente também. – Ele entrega o vestido para mim.
Sorrio.
– Ok, então me dá licença? – Olho para ele sorrindo.
Ele dá um sorriso torto, safado como só ele consegue ser.
– Vou ficar aqui. – Ele cruza seus braços.
Puxo o ar.
– Ok. – Abro o feixe do sutiã, e o coloco pendurado, olho para o Rui, e ele
está admirando meus seios, já começo a sentir a excitação de estar nua na
frente dele.
– A calcinha também, Jack... – Ele me olha parecendo um voyeur.
Tudo bem, se é para fazer esse jogo, então vou provocá-lo, do jeito que ele
merece.
Viro de costas, tiro minha calcinha sensualmente, empinando meu bumbum,
e deixando minha calcinha cair no chão.
– Gostou, Rui? – Olho pelo meu ombro.
– Adorei, Jackeline! – Ele morde seu lábio, me deixando enlouquecida de
desejo.
Viro de frente, agora estou completamente nua num provador de loja, com
um homem que é pura tentação.
– Você quer me provocar? – ele diz com aquele olhar de luxúria.
– Não! – Falo bem cínica, me aproximo dele, enlaço seu pescoço e beijo seus
lábios suavemente. – Hum, Rui, isso está me deixando excitada. – Sussurro
em seu ouvido, vou até seu membro, que está duro e ereto, e o aperto por
cima da calça. – Você também, Rui? – Mordo sua orelha.
– Jackeline, você é bem safada, do jeito que eu gosto! – Ele aperta minha
bunda com suas mãos, invade minha boca com sua língua maravilhosa e me
beija guloso, e logo suas mãos estão em meus seios, apalpando-os, brincando
com meus mamilos. – Minha gostosa, eu quero te foder aqui! – Abro meus
olhos assustada.
– Não, Rui, era só uma brincadeirinha! – Mas já o vejo abrindo o zíper de sua
calça, e em segundos seu membro está para fora, enorme e glorioso.
– Você me provocou, gostosa, agora não foge de mim. – Ele sorri safado, me
empurra contra a parede, levanta minha coxa, e me penetra, e se eu disser que
não estou querendo, vou mentir, agarro seus cabelos e o beijo cheia de
paixão, ele se movimenta com força e rapidamente. – Eu vou gozar, Jack... –
Ele fala contra meus lábios, geme baixo e morde meus lábios, e goza
gloriosamente.
Meu coração bate freneticamente, continuo o beijando, eu não queria que ele
parasse, mas a vendedora chama, e arregalo meus olhos.
– Jackeline, você precisa de alguma coisa? – A vendedora diz.
– Estou experimentando a lingerie, eu te chamo se precisar – falo sem fôlego.
Ele guarda seu amigo e me olha com aquele sorriso delicioso.
– Coloca a lingerie, Jack, quero ver se acertei o tamanho.
Tento retomar minha consciência, esse homem me deixa louca.
Coloco a calcinha, que por sinal é maravilhosa, bem pequena, praticamente
não cobre meu traseiro, mas é bem sexy.
– Gostei, Jack. – Ele olha para o meu bumbum pelo espelho.
Coloco o sutiã e me surpreendo, ele sabe tudo sobre meu corpo, acertou em
tudo.
– Ficou bom, Rui? – Desfilo para ele.
– Ficou ótimo, Jack. – Ele se aproxima e me beija, e toda a excitação volta.
– Rui, por favor. – O empurro, porque esse cara não tem muito juízo.
Ele faz cara de magoado.
– Fica com ele, Jack. – Ele pisca – Experimenta o vestido. – Ele aponta para
um vestido preto que ele trouxe.
Sorrio abobada, para quem reclamava de falta de sexo, acho que estou agora
no excesso, esse homem tem um fogo fora do normal, mas ele combina
comigo.
Coloco o vestido, o ajeito no corpo, ele é lindo, transpassado acima dos
joelhos, com um decote enorme na frente, o que me faz pensar que não
poderei usá-lo com sutiã.
– É lindo, Rui, mas esse decote na frente... – Faço uma careta e olho para ele.
– Tira o sutiã, para a gente ver melhor. – Ele volta a cruzar os braços.
Tiro o vestido, o sutiã, e volto a colocá-lo.
Me olho no espelho, ficou muito sensual, mas não sei se tenho coragem de
usá-lo, se ao menos não tivesse tanto peito, tudo bem, mas assim...
– O que você achou? – pergunto para ele.
– Você ficou linda! – Ele me olha babando.
Confesso, nunca nenhum homem me elogiou tanto, ele é um gentleman, e me
faz sentir a mulher mais linda do mundo.
– Não sei se tenho coragem de usar, esse decote deixa meus seios muito à
mostra. – Me olho no espelho.
O decote é bem aberto, ultrapassa o limite dos seios, não tenho problemas
com flacidez, meus seios são firmes e empinados, mas é que dá para ver todo
o contorno dos peitos, o que faz com que eu me sinta quase nua!
– Você vai vestir ele comigo, não precisa se preocupar! – Ele me olha de
lado.
– Não estou muito vaca? – Faço uma careta.
– Não, você está linda, sensual, gostosa... – Ele me olha com luxúria.
– Ok, só vou levar se você quiser, eu não tenho coragem de usar uma roupa
como essa sozinha.
Ele me abraça, me beija, fecho meus olhos e me deixo levar, acho que estou
apaixonada pelo Rui. Só penso em ficar em seus braços, esse homem é
realmente perigoso, ele faz a gente se apaixonar em segundos, e eu estou
fodida! – Rui, a gente precisa sair desse provador. – Sussurro contra seus
lábios.
Ele se afasta de mim e sorri.
– Ok, vou te esperar aqui fora. – Ele abre a tranca.
– Tá bom, eu vou me trocar, escolhi esse conjunto aqui! – Mostro para ele.
– Perfeito. Você gostou das outras roupas? Você te dar de presente tudo o que
você gostou, não se preocupe com nada, Jack, preciso que minha assistente
esteja bem vestida.
Reviro meus olhos.
– Claro, chefinho! – Sorrio.
Ele sai, e respiro fundo.
– Tudo bem, não vou me importar com essas coisas, se ele quer me
presentear, que me presentei, que se foda minha opinião!
****

Estamos próximos ao seu escritório, o horário de entrada dos funcionários já


está avançado, possivelmente todos já chegaram, só falta a secretária e o seu
chefe.
– Rui, me deixa alguns metros antes do escritório, acho melhor você chegar
sozinho. – Ele me olha de lado.
– Tudo bem, Jack. Ninguém sabe minha agenda, faz de conta que estávamos
no Fórum. – Ele segura minha mão e a beija.
– Não acho que alguém engolirá isso. O que uma secretária faz com o chefe
no Fórum, sexo? – Ele dá risada.
– Talvez, no banheiro, podemos tentar isso da próxima vez! – Ele dá aquele
sorriso torto lindo.
– Não quero que ninguém fique fazendo suposições a nosso respeito – falo
incomodada.
– Ninguém fará, o escritório é meu, eu sou o chefe, eu que mando! – Ele
estaciona o carro. – Desce primeiro, vou fazer uma ligação para um cliente,
vou em seguida, assim você fica mais tranquila.
– Ok. – Saio do seu carro, e sigo para a recepção.
A recepcionista me olha.
– Bom dia! Algum recado para o Doutor Rui?
– Estão aqui! – Ela me entrega um papel. – O Doutor Rui não vem hoje para
o escritório? – Ela pergunta maliciosa.
– Vem sim, daqui a pouco ele chega. – Sigo para as escadas e reviro meus
olhos.
Essa situação é bem desconfortável.
Sigo para sua sala, e como sempre a arrumo rapidamente, abro as persianas,
janelas, e ele entra, fecha a porta e sorri.
– Preciso acabar de analisar aqueles processos, não deixe que ninguém me
interrompa. – Ele deposita sua pasta sobre a mesa.
– Tudo bem, vou terminar de fechar os detalhes do coquetel. – Sigo para a
porta, e começo meu dia.
Estou com um pouco de medo dessa nova relação minha e do Rui, não sei
como será trabalhar com ele agora que somos de fato “amantes”, mas farei o
possível para separar bem as coisas, só espero que ele também o faça.
****

O período da manhã passou rapidamente, já é horário do almoço, nem sei o


que vou comer, mas meus pensamentos são interrompidos pelo telefone, olho
e vejo que é o Rui.
– Pois não? – Atendo profissionalmente.
– Vem aqui um momento, Jack – ele diz rapidamente.
Me levanto e sigo para sua sala.
Ele está em sua mesa de reuniões, relaxado na cadeira, usando seus óculos de
super-homem, e analisando aquela montoeira de papéis.
– Oi, posso te ajudar? – Sigo até ele, me posiciono próxima, mas não muito,
tenho que colocar meu plano de separar as coisas em ação, então, quanto
mais longe, melhor.
– Vem até aqui, Jack. – Ele enruga sua testa.
Me aproximo mais, ao lado de sua cadeira, ele se arruma, coloca seus óculos
sobre a mesa, e me olha daquele jeito, não sei explicar, mas ele tem um jeito
de olhar que dá vontade de tirar a roupa e se jogar em seus braços.
– Quer almoçar comigo? – ele diz muito charmoso, e eu faria qualquer coisa
que ele me pedisse desse jeito.
– Sim – falo meio sem jeito.
– Mas vamos almoçar aqui na minha sala, não posso perder tempo hoje, você
anda tirando muito a minha concentração, Jack, estou seriamente atrasado em
meus processos. – Ele sorri, se aproxima e passa seus braços pelos meus
quadris, me segurando pelo bumbum, então esfrega seu rosto em minha
barriga, depositando beijos.
Acaricio seus cabelos, e fecho os olhos. Acho que meus planos de separar as
coisas estão gravemente em perigo.
– Você quer que eu peça para algum restaurante? – falo embriagada por suas
carícias.
Ele se afasta um pouco.
– Tem um restaurante que entrega a comida aqui no escritório, é ótimo, me
deixe pegar o telefone. – Ele se levanta e segue para sua mesa, abre a gaveta e
tira um desses encartes de restaurante. – Ligue para lá e peça dois pratos, eu
prefiro carne ou massa, pode escolher para mim. – Ele me entrega o cartão, se
aproxima e me beija. – Quando chegar você traz tudo aqui para minha sala,
nós almoçamos aqui mesmo.
Me separo dele com o coração acelerado.
– Tudo bem! – Me afasto e sigo para minha sala, mas sinto seu olhar em
mim, acho que ele nunca vai perder essa mania.
****

Almoçamos juntos em sua sala, num clima gostoso, apenas conversando


sobre amenidades, sobre os processos que ele está cuidando, sobre coisas do
escritório. Comigo ele não é o cara que eu imaginava, ele é muito melhor.
Sua postura com os funcionários do escritório é muito diferente, ele tem uma
postura fria, distante, pode até ser confundida com uma postura arrogante,
mas comigo ele é adorável, acessível, paciente e compreensivo com minha
falta de experiência.
Não sei o que esse cara viu em mim, ele é muito gentil, carinhoso, cavalheiro,
tudo que eu sempre quis em um homem, mas a verdade é que ele é muita
areia para o meu caminhãozinho.
A tarde passou depressa, aos poucos ele tem passado coisas novas para eu
fazer, tenho me esforçado muito para não o decepcionar e acho que estou
conseguido. Poucas vezes ele pede para eu refazer algum trabalho, já consigo
cuidar das coisas administrativas que ele me passou, enfim, pouco a pouco
sinto que estou conseguindo dar conta do trabalho de secretária, não devo ser
boa como sua outra funcionária, mas estou me esforçando muito para me
superar.
É final de tarde, já estou no meu horário de saída, confesso que não tenho
vontade de ir embora, mas moro longe e não pretendo chegar em casa às 22h,
então acho melhor avisá-lo que já estou indo.
Saio da minha mesa, sigo até sua porta, bato de leve e entro. Ele me olha
através de seus óculos.
– Tudo bem por aí? – falo descontraída.
– Tudo bem! – Ele se estica em sua cadeira, e fica me acompanhando com o
olhar enquanto caminho em sua direção.
– Você precisa que eu faça alguma coisa, ou posso ir embora? – Me sento a
sua frente.
Ele tira seus óculos, relaxa seu cotovelo no apoio da cadeira e morde a haste
dos óculos, adoro quando ele faz isso.
– Quer repetir o que fizemos ontem? – ele diz sedutor, me fazendo sentir um
friozinho na barriga, aliás, essa sensação já se tornou algo comum quando
estou com ele, ele me provoca isso com muito mais frequência do que eu
gostaria que ocorresse.
Na verdade, com o Rui sinto sensações novas e misteriosas, ele mexe com
todos os meus sentidos.
– Preciso voltar para minha casa, ver se minhas três idosas estão vivas e
respirando – falo em um tom divertido, mas a verdade é que eu gostaria
demais de repetir o que fizemos ontem, mas não posso, minha mãe não me
perdoaria se eu sumisse por dois dias seguidos, ela é muito antiquada.
– Que pena, Jack! – Ele se aproxima da mesa, me encara intensamente, me
fazendo sentir completamente dominada. – Tem certeza? Diga que você está
fazendo um curso, que vai sumir por uns dias.
Dou risada.
– Não dá, Rui, mas o convite é tentador, sabia? – Faço charme. – Quem sabe
outro dia!
Ele fica me olhando, parece pensar, e então suspira.
– Tudo bem, pode ir, não tenho nada urgente. – Ele dá de ombros.
– Então, está bom! – Me levanto, fico confusa com relação ao que eu devo
fazer, não é fácil ser caso do chefe. – Até amanhã, Rui. – Faço menção em
caminhar para a porta, mas ele me interrompe.
– Ei, Jack, não mereço nem um beijo de despedida? – Ele faz cara de
coitadinho.
Sorrio, dou a volta em sua mesa, me posiciono no meio de suas pernas,
seguro seu rosto, e me sinto enfeitiçada, fecho meus olhos e cubro seus lábios
com os meus. Sinto suas mãos ao redor do meu corpo, elas acariciam meu
bumbum, minhas coxas, e se eu disser que não estou excitada, mentirei, ele
me coloca em brasas.
Minha intenção era apenas dar um beijo rápido, mas, meu Deus, esse homem
não sabe dar beijo calmo, todos os seus beijos são de paixão, ele é quente,
sensual e erótico.
Ele me puxa para seu colo, me fazendo sentar, e nos beijamos como se
fôssemos transar, e é isso que fazemos.
Ele começa a desabotoar minha camisa, enfia sua boca em meio aos meus
seios, me suga, me chupa e me deixa enlouquecida de desejo.
– Oh, Rui!!! – Gemo louca de desejo.
– Eu vou fechar a porta, Jack! – Ele me levanta, segue apressado até a porta,
a tranca e volta até mim, volta a devorar minha boca, tira minha camisa,
desabotoa minha calça e em segundos estou nua em sua sala.
Novamente estou sobre sua mesa, repetindo a cena do dia anterior, em
minutos ele me leva a mais um orgasmo incrível, me penetra e chega ao seu
orgasmo.
Foi rápido, selvagem, mas com muita paixão, porque ele me beija muito, me
aperta em seus braços, me morde, me chupa, ele é uma amante excepcional,
estou viciada nele.
– Oh, Jack! – Ele respira ruidosamente contra minha face. – Você não quer ir
mesmo para o meu apartamento? Eu te levo para casa depois! – Ele volta a
beijar meu pescoço, minha orelha.
– Eu gostaria muito, Rui, mas eu preciso ir para casa. – Sussurro, entregue
novamente aos seus lábios.
– Quer viajar comigo no final de semana? – ele diz no meu ouvido, abro
meus olhos confusa, será que ouvi direito?! – Jack? – Ele me olha. – Você me
ouviu?
– Ouvi... – O olho surpresa. – Para onde? – pergunto confusa.
– Eu tenho uma casa no interior, na verdade na cidade que nasci, preciso ir
até lá para ver como estão as coisas, faz tempo que não faço isso. – Ele beija
meus lábios suavemente, de um jeito tão sensual. – Me faça companhia, é
chato ir sozinho.
Estou muito surpresa com seu convite, aliás, ando surpresa com tudo que está
acontecendo entre nós, está tudo tão intenso.
– Acho que sim. – Viro meu rosto de lado e sorrio.
– Acha ou tem certeza? – ele diz com um sorriso.
– Tenho certeza! – Seguro meu sorriso, não quero demonstrar a felicidade
que esse convite me causa, já perdi a conta de há quanto tempo não saio da
cidade, aliás, eu nem saia com o Renato, ficávamos apenas em seu
apartamento vendo filmes, jogos e comendo pizza.
– Então está combinado, só que precisamos ir amanhã à noite, é um pouco
longe... – Ele começa a arrumar sua roupa, a camisa já está toda para fora, e...
merda, sujei sua camisa de batom.
– Eu sujei sua camisa. – Passo a mão no local e torço meus lábios, ele deveria
ter tirado, mas esse homem quando pega fogo é difícil até para tirar sua
roupa.
– Tudo bem, eu coloco o terno! Você traz amanhã uma malinha com algumas
roupas – ele diz enquanto me visto.
– Ok, mas o que eu devo levar? – pergunto preocupada.
– Roupas para piscina, alguma coisa para sairmos à noite... – Ele dá de
ombros. – Não precisa se preocupar muito com roupas, a gente vai se divertir
na represa que a casa tem acesso, mas traga um ou dois vestidos para vestir a
noite.
Suspiro preocupada, já não vou a uma praia ou piscina há anos, acho que não
tenho mais biquínis decentes, todos devem estar em péssimo estado.
– Tudo bem! – Termino de me arrumar. – Posso ir agora, chefinho? – Me
dependuro em seu pescoço.
– Pode. – Ele me olha com um sorriso enigmático, me dá um último beijo. –
A gente se vê amanhã.
– Então, até amanhã. – Sigo em direção à porta, com muita vontade de ficar,
mas não posso ir com tanta sede ao pote, tenho medo de me esborrachar.
Chego à porta, a abro e olho para trás, e lá está ele olhando para minha
bunda, ele é muito safado.
– Ficar olhando para a bunda da funcionária dá processo por assédio, sabia? –
falo segurando a porta.
– Eu tenho um bom advogado, ele dá um jeito nisso! – ele diz com um sorriso
lindo. – Tchau, minha deusa.
Sorrio sentindo o friozinho no estômago voltar, sinalizo com os dedos e saio.
Ok, Jackeline, vamos voltar a sua realidade nua e crua, pego minhas sacolas,
minha bolsa e sigo para a saída do escritório.
– Será um inferno pegar um ônibus com essa montoeira de sacolas – falo
sozinha.
Capítulo 27
JACKELINE BARTOLLI

D epois de duas horas, finalmente consigo chegar a minha casa.


Me preparo emocionalmente para o sermão de minha mãe, eu sei que não
tenho 17 anos, mas ela tem problemas, e acha que ainda estou sob suas
rédeas.
As famílias portuguesas são muito antiquadas, protetoras, e resistentes a
mudanças.
Abro o nosso apartamento, sinto o cheiro da comidinha de minha mãe, mas
lembro de minha meta. Tudo bem, o Rui não anda me ajudando muito com
isso, mas minha santa mãezinha irá me ajudar com uma bela salada.
– Oi, boa noite! – falo animada.
– Oi, Senhorita Jackeline! – Minha mãezinha diz brava. – Agora virou
mulher fácil, que fica dormindo na casa de um e de outro?
Franzo minha testa.
– Ei mãe, tenho 27 anos, e não durmo na casa de um e de outro. – Volto a
caminhar em direção ao meu quarto, pelo visto todas esperavam minha
chegada, a cara de minha avó e tia é de total reprovação.
Eu estou muito ferrada com essas três na minha vida.
Abro meu quarto e vejo um buque de flores em cima da penteadeira, sorrio, e
penso no Renato.
– Ele é muito ridículo, agora que não estamos mais juntos ele resolveu me
agradar com flores. – Reviro meus olhos.
– Eu li o cartão, não são do Renato – minha mãe diz atrás de mim.
– Desde quando a senhora lê meus cartões, mãe? A senhora está ficando igual
a essas duas bisbilhoteiras, você não era assim! – falo irritada.
Sigo até as flores, rosas vermelhas, mas não é um arranjo qualquer, é um
arranjo sofisticado, e me vem à mente o Rui. Mas ele não faria isso!
Pego o cartão que está ao lado do vaso, e me surpreendo ao ver que foi ele
mesmo que enviou o arranjo.
Sorrio boba.
“Obrigado pela noite maravilhosa! Você é mulher encantadora, Jackeline.
Ass: Rui.”
Ele sabe como conquistar uma mulher, flores, jantares a luz de velas,
presentes, o que será sua próxima arma de conquista? Confesso, já estou
conquistada, apenas uma noite de amor com esse homem é o suficiente para
se cair em sua armadilha de sedução.
– Este Rui é aquele homem que você trouxe aquele dia, não é, Jackeline? –
minha mãe diz incisiva.
– Sim, é ele mesmo. – Sorrio encantada. – Ele é muito sedutor, mãe, e sabe
como conquistar uma mulher.
– Mas e o Renato, Jack, o que aconteceu? De repente você se apaixonou por
esse homem, de onde você o conhece?
Respiro fundo e resolvo abrir o jogo com ela, não tenho por que esconder
alguma coisa de minha mãe.
– Eu descobri que o Renato estava me traindo, então acabou, mãe, e não acho
que eu o amasse de verdade, acho que estava acostumada com ele. – Ela me
olha incrédula. – E o Rui, então, ele é meu chefe. – A olho disfarçadamente, e
vejo seu olhar de reprovação.
– Você é amante de seu chefe, é isso? – Ela me olha intensamente.
– Amante é para homens casados, ele não é casado, estou saindo com ele. –
Dou de ombros. – Ele é incrível mãe, você não tem ideia.
Ela vira de costas, parece constrangida com o rumo das coisas.
– Oh, Jackeline, será que isso vai dar certo? Esses homens ricos e poderosos
não levam ninguém a sério, muito menos uma secretária. – Ela me olha com
pesar. – Ele irá usá-la, quando não quiser mais, você será demitida.
A olho com tristeza, parece tão óbvio meu futuro com ele, todos pensam
assim, até eu mesma.
– Vou aproveitar enquanto isso não acontece, nunca conheci um homem
como ele. – Olho para as flores. – Quantas vezes recebi flores de algum
homem, mãe?
Seu olhar fica distante.
– Você merece ser coberta de flores e presentes, mas de um homem que
realmente a queira para esposa. – Ela puxa o ar. – Ele só está fazendo isso em
troca de favores sexuais. – Ela olha para as sacolas. – Foi ele quem te deu
esses presentes e aqueles outros?
– Mãe, não vivemos mais em 1.950 – falo incrédula. – Eu não sou uma
prostituta, não faço favores sexuais para ele, é uma troca, eu gosto de sexo,
mãe, e ele me dá o que eu quero, e eu retribuo, não sou virgem há muitos
anos, não sou santa, e nem puritana. Ele é um homem rico, essas coisas
pouco custam para ele, eu não ganhei um carro, um apartamento, não sou sua
puta de luxo, apenas nos relacionamos sexualmente, não há relações afetivas
nisso, ele não me ama, e eu também não o amo. – A olho com firmeza, um
pouco magoada com a forma como ela encara as coisas.
– Não criei minha filha para andar de mão em mão. – Ela parece magoada
comigo. – Seu pai não aprovaria um relacionamento como este, é tão
promíscuo, filha.
Meus olhos enchem de lágrimas.
– Eu não tive sorte de conhecer um cara que me levasse a sério, e me levasse
para o altar aos 23 anos, mãe! Eu sei que era isso que você queria, que eu me
casasse com sua idade, enchesse sua casa de netos... – A olho profundamente.
– Talvez eu nunca case, vou viver de relacionamentos esporádicos, irei curtir
enquanto sou jovem, não quero mais me preocupar com relacionamentos,
parece que todos são fadados ao fracasso. Não acredito mais em histórias de
amor.
Ela começa a chorar, acho que falei demais, eu não precisava jogar em sua
cara toda a minha amargura. Ela não tem culpa se não acredito mais no amor,
acho que isso acabou com meu relacionamento com o Renato.
Eu não sei se algum dia ele me amou, ou só me tolerou como uma amiga boa
e compreensiva.
– Não chora, mãe! – A abraço. – Não se preocupe comigo, me deixe viver
minha vida.
Ela limpa seus olhos e sai cabisbaixa do meu quarto.
Nem eu mesma me entendo, acho que escondo de mim mesma minha
amargura em relação ao amor, porque de fato, nunca fui amada como eu
gostaria.
Gostaria de viver um romance avassalador, daqueles que tira a gente do chão!
Olho para as flores, penso no Rui, e sinto um friozinho na barriga.
– Não, não será com ele que viverei isso, ele não é um homem que procura
um grande amor, ele vive de vários. Assim como ele mandou flores para
mim, ele mandou para mais umas duas ou três mulheres que ele está
interessado.
Ele nunca irá me enganar, é bom demais estar com ele, mas eu já sei o fim, e
ainda estamos no começo.
****

O clima entre minha mãe e eu desandou depois de nossa conversa. Eu sei que
a decepcionei ao dizer que não irei me casar, ter filhos, mas é que não quero
que ela tenha falsas esperanças em relação ao Rui.
Ele é maravilhoso, mas não para casar e ter filhos.
Tomo um banho e coloco um conjunto de short e camiseta para dormir.
Me sento em meu computador, e volta a ler o material do site, estou quase
acabando o curso online.
Confesso que estou aprendendo mais com o Rui do que com o curso, mas não
vou abandonar agora, vou até o fim.
Enquanto tomo um chá, olho para a tela do computador, mas me sinto em
dívida com o Rui, preciso enviar uma mensagem de agradecimento para ele.
Me sento em uma poltrona com as pernas sobre o assento, e digito uma
mensagem.
“Quando cheguei em casa hoje, me deparei com um arranjo de flores lindas.
Não vou mentir, fiquei emocionada, porque adoro flores, principalmente
rosas vermelhas. Elas são lindas, Rui. Obrigada, você é maravilhoso!”
Deixo o celular sobre a mesinha ao lado da poltrona e volto ao meu
computador, mas me surpreendo ao ouvir o toque do celular.
Me levanto rapidamente, olho para a tela e vejo seu nome.
Sorrio e sinto meu coração acelerar, aperto a teclar de atender e me arrepio ao
ouvir sua voz.
– Oi, Jack! Pensei que não tivesse gostado das flores!
Fecho meus olhos e respondo.
– Oi, Rui...
Capítulo 28
RUI FIGUEIREDO

D epois de passar em meu apartamento para me trocar, peguei meu carro e


segui para um bar onde meus antigos amigos de faculdade se reúnem
para beber e falar besteiras, uma vez por semana.
É uma turma grande, alguns já estão casados, outros divorciados, e outros
como eu, se negam a assumir um relacionamento sério.
Depois que assumi o relacionamento com a Priscila meus encontros com
esses amigos ficaram um pouco abalados, pois como já disse, a Priscila é um
porre, e pegava no meu pé por tudo. Eu realmente não sei como consegui
ficar com ela tanto tempo, quero dizer, eu sei como consegui, eu saia com
umas três mulheres ao mesmo tempo, só assim para não me estressar com seu
jeito ciumento, controlador e possessivo.
O fim do meu relacionamento com ela me trouxe uma tranquilidade que eu já
não sabia o que significava.
Eu sei que a pressão de seu pai não cessará com tanta facilidade, não
voltamos a nos encontrar, mas já senti os efeitos do fim do meu
relacionamento com a Priscila. Nenhum processo novo vindo do escritório do
Albuquerque, nenhuma indicação, nada.
Ele quer me comer pelas bordas, me ferrando nos negócios ele acha que irei
reatar meu relacionamento com sua filha. Eu ainda não sei como convencê-lo
que as coisas serão melhores sem relações afetivas em jogo, eu e a Priscila
somos incompatíveis, nunca daríamos certo.
Penso na Jackeline, e chego à conclusão que compatibilidade é o que não
falta entre nós, o sexo é incrível, o tesão que sinto por aquela mulher é louco,
eu nunca senti isso antes, tenho vontade de foder com ela o dia todo, e é uma
pena que ela não quis ir para o meu apartamento hoje.
Confesso que fiquei frustrado, tenho tentado agradá-la de todas as formas
possíveis, mas ela não é um tipo fácil. Eu poderia procurar uma das outras
mulheres que tenho relacionamentos esporádicos, mas...
Balanço minha cabeça energicamente.
– Aquela diaba me castrou, só consigo pensar nela, querer ela... – Penso
irritado.
Logo chego ao bar, encontro a mesa repleta de amigos, a maioria são
advogados, mas existem juízes, procuradores, só tenho amigos fera, mas não
tenho inveja, sou um cara bem sucedido, nunca quis seguir a carreira de
magistrado, odeio essas porras!
Peço uma bebida, converso um pouco com um dos amigos, conto
rapidamente sobre o fim do meu relacionamento.
– Mas, o que aconteceu, quer dizer, você já estava de saco cheio dela fazia
tempo, mas o que aconteceu de diferente que te fez acabar com tudo, alguma
mulher em especial? – ele diz com ironia.
Penso um pouco, eu realmente não fiz nada de caso pensado, talvez minha
obsessão pela Jackeline tenha me dado coragem de terminar com a Priscila,
eu queria a Jackeline, e a Priscila ficava me perseguindo, aquilo me deixou
insano.
– Sei lá, eu conheci uma deusa, mas não acho que foi por causa dela – falo
displicente.
– Até que enfim você abriu o jogo, me fala sobre ela. – Ele me olha com
interesse. – Alguma advogada?
– Não, ela é psicóloga. – Ele ri. – A história é meio longa, mas para resumir,
eu a contratei para ser minha secretária.
Mas uma risada de deboche do meu amigo.
– Então você está comendo a secretária? – ele diz rindo.
– Ela é um espetáculo, cara, uma delícia de mulher – falo e já sinto uma
ereção crescendo em minha boxer.
Maldição de mulher, estou falando que ela deve ter feito algum trabalho para
me amarrar.
– Quando eu vou conhecer? – ele diz interessado, temos esse costume,
gostamos de mostrar nossas conquistas uns para os outros, pedimos nota,
coisa de homem. Mas a questão é que não quero dividir a Jack com ninguém,
ela é só minha.
– Talvez um dia desses, quando eu enjoar dela. – Damos risada. – E você,
alguma mulher interessante? – pergunto despretensioso.
Olho disfarçadamente para meu celular, nenhuma mensagem ou ligação.
Você é uma ingrata, Jack! – Penso irritado, ao me lembrar da correria que fiz
para enviar flores para o apartamento onde a Jackeline mora, queria fazer
uma surpresa para ela. Eu já recebi a notificação de entrega, mas a filha da
puta não se deu o trabalho de agradecer, ela é realmente uma mulher difícil.
Volto a prestar atenção em meu amigo, em suas histórias de conquista. Tento
mostrar interesse, mas essa história está me deixando ansioso, qualquer
mulher já teria me ligado. Por que ela faz esse joguinho de mulher difícil? Eu
sei que ela está caidinha por mim, porra!
As horas passam, algumas mulheres chegam à mesa, é impossível não notar,
elas se vestem sensualmente, prontas para caçar. Um amigo apresenta as
garotas para nós, elas se sentam e começam a conversar com a turma.
Rapidamente percebo o interesse nítido de uma das mulheres em mim, ela é
descarada, não está muito preocupada em disfarçar, mas o som de chegada de
mensagem me chama a atenção.
Abro o aplicativo e vejo uma mensagem da Jackeline.
Até que enfim, Jack! – Falo comigo mesmo.
Abro a mensagem e leio.
“Quando cheguei em casa hoje, me deparei com um arranjo de flores lindas.
Não vou mentir, fiquei emocionada, porque adoro flores, principalmente
rosas vermelhas. Elas são lindas, Rui. Obrigada, você é maravilhoso!”
Um sorriso de satisfação se instala em meu rosto.
Eu preferia que ela tivesse me ligado, não curto muito esse negócio de
mensagens, estou ficando velho, confesso, sou antiquado, prefiro o olho no
olho, ou somente a voz quando não dá para olhar no olho.
Ok, Jackeline, eu quero falar com você, não quero esse negócio de
mensagens.
Seleciono o número, um som de chamada e ela atende.
– Oi, Jack! Pensei que não tivesse gostado das flores!
– Oi, Rui, me desculpe, demorei um pouco, é que estou fazendo um curso de
secretária pela internet – ela diz timidamente.
Dou risada, a Jackeline sempre me surpreende.
– Sério, Jack? Eu não te disse, mas você está se superando a cada dia, não
sei se é o curso, ou seu professor particular!
Ouço sua risada e penso naquela boca vermelha carnuda.
Por que ando tão louco por essa mulher, meu Deus?!
– Acho que é o professor, ele é realmente muito comprometido com sua
aluna – ela diz debochada, e eu adoro seu jeito, ela é sacana, safada,
irônica.
– Gostou das flores, Jack? – falo ansioso, aliás, por que estou tão ansioso
com essa porra?
– Adorei, adoro ganhar flores, sabia? É romântico, Rui, eu sei que você não
é romântico, e só está tentando me impressionar, mas, enfim, elas são muito
lindas, e estão enfeitando o meu quarto.
Ela é uma mulher sonhadora e romântica. Não quero ser sacana com a Jack,
eu gosto dela, de vê-la sorrindo, de presenteá-la, estou encantado com essa
mulher, não vou mentir para mim mesmo.
– Não estou tentando te impressionar – falo indignado. – só quero te ver
feliz!
– Então, você conseguiu! – ela diz manhosa. – Você está numa festa? Está
barulhento aí.
Oh, era só que me faltava, a Jack ciumenta não vai funcionar.
– Eu estou num bar, costumo vir aqui com alguns amigos de faculdade – falo
sério, tenho que tomar cuidado, não quero sair de um relacionamento para
entrar em outro, só quero curtir a Jackeline, não quero relacionamento sério
com ela.
– Oh, isso é muito legal, eu tinha uma turma, mas acabei me afastando deles
quando comecei a namorar, enfim... – Ela corta o assunto. – Preciso revê-
los, talvez eu faça isso.
Acabei de dizer que não quero uma Jackeline ciumenta, mas sem que eu
tenha controle, sinto um incômodo no meu peito.
Solto o ar e deixo esse sentimento ruim de posse que tenho sobre a Jackeline
passar. Ela não é minha, quero dizer, ela é minha, mas não quero ter um
relacionamento sério com ela.
Egoísta, sei lá, acho que sou, ela me faz bem, gosto de ficar com ela, do seu
cheiro de frutas, da sua pele macia, das suas curvas estonteantes, do jeito
que ela geme.
Oh, caralho, eu estou pirando, não vou me apegar, tenho que atingir minha
meta, até os 70 anos, solteiro, comendo todas, de preferência com um terço
da minha idade.
Espaireço.
– Já arrumou suas malas, Jack? – Tento mudar de assunto.
– Sim, vou precisar comprar um biquíni, os meus não estão em condições,
sabe? – Ela é sempre muito simples e sincera em relação a tudo, isso às
vezes incomoda, mas também é uma virtude.
– Ok, Jack, nós compramos juntos. Posso escolher? – falo com malícia e me
lembro do sexo que fizemos no provador da loja, foi excitante demais, essa
mulher é muito excitante, e eu queria vê-la hoje à noite, não estou
aguentando com minhas bolas. – Tá com saudades, Jack?
Oh, merda, estou parecendo um boiola, não estou me reconhecendo...
Ela ri.
– Posso dizer que sim, adoro meu chefinho! – Ele dá risada dela mesma. –
Deve ser bom ter funcionárias que te adoram, não?
– É bom ser querido! – Sorrio, gosto desse jeito que ela trata as coisas, de
uma forma leve, sem cobranças.
– Então, estou quase indo dormir, esse negócio de ficar lendo dá um sono. –
Ela boceja.
Penso nela e salivo, que porra de obsessão por essa mulher.
Olho para a garota que estava a pouco me dando boba, ela deve ter uns 20
anos, é muito bonita, mas quer saber, eu prefiro minha italiana.
– Posso ir até sua casa, Jack? – Coloco minhas mãos sobre meu rosto, o que
penso que estou fazendo? O que vou fazer em sua casa?
– Oi, não entendi, vir aqui?! – Ela mostra surpresa.
– É, quero te ver, talvez passar a noite com você. Será que sua mãe se
incomoda?
Solto o ar, estou parecendo um cara de 20 anos, grudento e carente.
Mas, eu sou assim, daqui a um mês eu não sentirei mais nada por ela, é
tesão, muito tesão, e preciso aliviar isso.
Um silêncio desagradável, se ela disser que eu não posso, vou comer aquela
garota que está me secando, e que se foda o que disse a ela sobre não estar
saindo com ninguém.
– Pode vir, Rui. – Sinto insegurança em sua voz. – Você não vai reparar, meu
quartinho é bem simples, nada comparável ao seu...
Sorrio.
– Não ligo para essas coisas, Jack, eu só quero você! – Apalpo meu amigo,
ele está pulsando, louco para me afogar naquela buceta quente e macia. –
Chego aí em 20 minutos, essa hora não tem trânsito.
Me levanto apressado, pego uma nota em minha carteira, coloco sobre a
mesa e meu amigo me olha confuso.
– Tudo bem, estou te esperando. – Ela sussurra.
Desligo.
– Estou indo, irmão, vou ver minha gostosa! – falo rindo.
Ele me olha de lado.
– Está apaixonado, Rui? – ele diz debochado.
– Só se for pela buceta dela. – Bato em suas costas e saio apressado.
Capítulo 29
JACKELINE BARTOLLI

O lho para o celular enquanto a ligação é encerrada.


Confesso que não esperava por isso, ele virá dormir comigo, aqui no meu
muquifo?! Bom, dormir é o jeito de falar, acho que não iremos dormir muito,
pois euzinha quero me afogar naquele monte de músculos.
Oh, meu Deus, esse homem é uma loucura em todos os sentidos.
Desgraçado, ele faz tudo que gosto, tudo que gostaria que um namorado
fizesse por mim!
Fecho meus olhos e respiro.
Existem homens que são mestres nisso, em encantar, seduzir, e depois, em
largar a gente.
Mas não consigo resistir a ele, é bom demais estar em seus braços, sentir
aquele cheiro que ele exala, aquela boca, aquela língua, aquele pau enorme e
lindo.
Oh, céus, como ele me excita, só de pensar nele, já estou toda molhada.
Balanço minha cabeça energicamente e olho para minha cama.
– Ok, pelo menos preciso trocar a roupa de cama, é o mínimo e o máximo
que posso fazer.
Tiro os lençóis, as fronhas, pego roupas de cama limpas e forro minha cama.
Sigo para o banheiro, enfio tudo dentro do cesto de roupas sujas, tiro a toalha
de banho usada e coloco novas e limpas.
Paro no meio do meu quarto e suspiro.
– Agora é a parte mais complicada, avisar minha mãe que aquele cara gostoso
que estou transando irá dormir comigo em meu quarto.
O Rui é bem maluquinho, e isso é muito excitante.
Sigo para o corredor dos quartos, abro a porta do quarto da minha mãe, ela
está dormindo. Me sento suavemente na beira da cama e a chamo em um
sussurro.
– Mãe! – Nada. – Mãe! – Oh, ela não acorda, aumento o tom de minha voz. –
MÃE!
Ela pula na cama de sobressalto e me olha assustada.
– Desculpe, mãe, é que preciso te dizer uma coisa.– A olho sem graça.
– Jackeline do céu, assim você me mata de susto. – Ela se senta na cama,
passa as mãos pelos cabelos curtos e bagunçados. – O que aconteceu? – ela
diz esbaforida.
– O Rui vem dormir comigo, ele já está a caminho! – Ela me olha assustada.
– Como assim, dormir com você?! – Ela se levanta, parece furiosa.
– Mãe, faz de conta que somos namorados, ele me ligou, perguntou se
poderia vir me ver, e eu disse que sim – falo com cautela.
– Oh, mas ele não é seu chefe, vocês não se viram o dia inteiro? – Ela parece
indignada.
– Sim, mas é que lá somos funcionária e chefe. – Minto, transamos hoje em
seu escritório. – Então, acho que ele está querendo namorar um pouco
comigo – falo debochada.
– Oh, não gosto disso, isso não é coisa de mulher séria! – Ela franze sua testa.
– Mamãe, é o seguinte, a senhora gostando ou não, ele irá dormir comigo
hoje, e eu estou adorando isso. Então, por favor, seja discreta, não apareça no
meu quarto, não bata na porta, não me chame, só em caso de incêndio, ou
morte súbita de alguém! – Me levanto, giro em meus calcanhares e sigo para
a porta.
– Jackeline, você está muito mudada, você não era assim – ela diz com uma
expressão dura.
Tudo bem, nunca fui de trazer homens em minha casa, nem mesmo o
palermo do Renato dormiu aqui comigo, mas não porque eu não queria, ele
que era um... ah, deixa quieto.
– Mãe, não estou fazendo nada demais, tenho 27 anos, sou uma mulher
madura e independente, quero dizer, mais ou menos independente! – Olho
através de meu ombro e mando um beijo com a ponta dos dedos para ela.
****
Estou sentada em minha cama lendo um livro, adoro romances espíritas, essa
coisa de além da vida, gosto de pensar que não deixamos de existir para
sempre, que essa energia de vida não acaba com a morte.
Me assusto com o celular tocando, olho e vejo o nome do Rui.
Meu coração acelera, controlo a respiração para não parecer nervosa.
– Alô!
– Oi, Jack, já cheguei, posso subir? – ele diz com a voz agitada, parece
andar enquanto fala.
– Eu já autorizei sua entrada, estou no terceiro andar, vou te esperar na
porta! – falo rapidamente.
– Ok, estou chegando, minha deusa! – ele diz debochado, e sorrio, adoro
quando ele me chama de deusa, faz muito bem para minha autoestima.
Desligo o celular e me olho no espelho.
Advinha se eu não me arrumei para receber ele?
É lógico, né!
Coloquei uma camisola curta de cetim preto, é muito sensual, comprei para
dormir com o viado do Renato, e lógico que não funcionou.
Realmente eu sou uma lerda, qualquer mulher teria desconfiado, menos a
terapeuta para homossexuais Jackeline Bartolli.
Reviro meus olhos.
– Esquece isso, Jackeline! – falo para mim mesma.
Abro a porta do meu quarto e sigo descalça até a porta da entrada, a abro e
fico com metade do meu corpo para fora, espero que nenhum vizinho me veja
nesse estado.
Ouço o barulho do elevador chegando, minha vontade é ir até em frente ao
elevador, mas não posso, pode haver alguém além do Rui dentro dele.
Finalmente o elevador chega, abre, e meu deus grego sai da cabine, lindo em
uma camisa esporte e calça jeans, ele me olha e sorri.
– Demorei? – ele diz com aquele jeito sedutor, me olhando com volúpia, com
desejo.
– Não, inclusive, acho que você deve ter tomado algumas multas, você
chegou muito rápido! – Abro a porta, ele coloca suas mãos em minha cintura,
se aproxima e me beija.
Abraço seu pescoço com força, juntando nossos corpos e aprofundando nosso
beijo.
Ele apalpa meu bumbum, me aperta contra seu corpo me fazendo sentir sua
ereção enorme contra minha barriga, ofego de paixão, estou louca por ele.
– Vem, Rui! – Pego em sua mão e o levo para meu quarto.
Entramos em meu quarto, fecho a porta e grudo novamente em seus lábios.
Talvez eu pareça meio desesperada, mas que se foda, estou louca por ele.
Suas mãos começam a trilhar um caminho de fogo por baixo de minha
camisola, me acariciando sensualmente, me fazendo gemer contra seus
lábios.
– Jack, eu não aguento esses gemidos, isso me deixa louco! – Ele arranca
minha camisola, olha para os meus seios, mergulha seus lábios gulosos, me
suga, me lambe. – Você é gostosa demais, Jack.
Começo a desabotoar sua camisa, vagarosamente, ora gemendo, ora
ofegando, até que ele para com a tortura e termina de tirar sua camisa. Abre o
cinto, o zíper, tira rapidamente seus sapatos e finalmente está nu na minha
frente.
Acaricio seu peito, sua barriga, e finalmente preencho minha mão com seu
membro grosso e grande. Ele geme, morde meu pescoço, continuo com a
carícia, ele me empurra contra minha cama, me deito, ele abre minhas pernas
e mergulha sua língua maravilhosa em meu sexo.
– Oh, Ruiii! – Gemo alto. – Isso é bom demais, Rui! – Choramingo. – Mais,
Rui. – Ele enfia um dedo. – Ofego de prazer. – Oh, Rui não para. – Gemo, ele
enfia o segundo dedo. – Ahhh, Rui... – Ele aumenta os movimentos de entra e
sai, desliza sua língua deliciosamente em meu ponto de prazer e finalmente
gozo. – Oh, Rui, você é demais, uhhh, ohhh, Ruiii!!!
Ainda estou sob o torpor de um orgasmo fantástico, quando sua boca
lambuzada cobre a minha em um beijo cheio de fome, e paixão.
– Fica de quatro para mim, minha deusa! – Ele diz me encarando com
aqueles olhos sedutores.
– Eu faço o que você quiser, Rui! – Grudo meus dedos em seus cabelos, e o
beijo com paixão.
Separo meus lábios dos seus, eu não queria parar de beijá-lo, mas o roçar de
seu membro em minha intimidade está me deixando louca para tê-lo dentro
de mim.
Me viro de bruços, ele segura meus quadris com força, me encaixa em sua
ereção e começa a se movimentar vagarosamente, beijando e mordendo meus
ombros, minha nuca, meu pescoço.
– Rui, eu adoro isso – falo num sussurro, extasiada com suas carícias.
– O que você adora, minha gostosa? – Uma de suas mãos acaricia meus seios,
gemo mais alto. – Gostosa, acho melhor não fazer muito barulho, a gente não
quer acordar aquelas senhoras simpáticas.
Dou risada e ao mesmo tempo me contorço, sentindo seus lábios roçando
minha orelha.
– Oh, Rui, me fode bem forte! – falo fora de mim, não estou nem aí com as
senhoras que habitam esse apartamento.
Uma estocada forte e profunda, gemo alto.
– Assim, gostosa? – ele diz e bate em meu bumbum, me assusto como da
primeira vez, mas isso é muito excitante, pois ele bate e assopra.
– É, Rui, mas bate devagar! – Sussurro, ele ri, mais uma estocada, um novo
tapa, ele acaricia o local.
– Assim, Jack? – Ele sussurra no meu ouvido, me arrepiando até o último fio
de cabelo.
– Hummm, é... – Gemo.
E seus movimentos aumentam, os tapas em meu bumbum, as carícias, isso é
uma loucura.
Tento segurar os sons que saem da minha garganta, mordo meu travesseiro,
meus lábios, e chego a mais um orgasmo sensacional, nunca senti nada igual.
– Ohhh, uhhh, estou gozando, Rui!!! – falo gemendo.
– Oh, Jack, você me deixa louco. – Seus movimentos ganham intensidade,
ele enfia seus dedos na pele dos meus quadris, para e geme abafado,
controlando seus uivos de prazer, apertando seus dedos contra minha pele. –
Oh, Jack, que gozada fora de série.
Meu coração bate freneticamente em meu peito, espero enquanto ele retoma a
consciência, ele continua se movendo lentamente dentro de mim, gemendo
fraco e baixo. Meus braços tremem, ele é um homem forte e vigoroso, manter
uma relação sexual com ele exige força de meus braços, minhas pernas, e
estou chegando ao meu limite.
– Oh, Rui, preciso me deitar. – Desabo em meu colchão, com minha
respiração ofegante. – Jesus, Rui, acho que preciso fazer musculação, meus
braços não aguentam uma sessão de sexo com você – falo e dou risada.
Ele se deita ao meu lado com uma expressão relaxada, de puro prazer.
– Foi bom, minha deusa? – ele diz com seu olhar sedutor, acariciando meus
cabelos, os tirando do meu rosto.
Cruzo meus braços a minha frente e apoio meu rosto neles.
– Deu para o gasto. – Dou uma risada relaxada. – Foi bom demais, Rui! – O
olho profundamente, tenho vontade de falar muitas coisas, que adoro ficar
com ele, que adoro seu cheiro, a forma que ele faz amor, ops, sexo, mas não o
faço, o Rui não está muito interessado nessa parte, ele é um cara prático e
objetivo.
Ele apoia seu corpo em seus cotovelos, me olha, me analisa.
– O que foi, Jack? Por que você está me olhando assim? – Ele me olha de
lado.
– Nada. Gosto de olhar para você, não sei com quem aprendi isso! – falo com
deboche. – Acho que foi com um cara que conheci no elevador.
Ele sorri.
– Onde está aquele espartilho? Eu quero que você o leve em nossa viagem! –
Ele me olha seriamente.
O olho admirada, ele está levando isso a sério.
Me debruço sobre seu peito, acariciando os pelos de seu tórax.
– Eu coloco na minha mala – falo e acaricio seu rosto, beijo seus lábios
suavemente, ele segura os cabelos de minha nuca delicadamente e pressiona
meus lábios contra os seus.
Sinto uma sede dele tão grande, como se não conseguisse me saciar, nosso
beijo ganha intensidade, fica profundo, cheio de sensualidade, ele puxa meu
corpo para que eu fique em cima dele, e eu mal acredito que ele está excitado
novamente.
– Sobe nele, Jack! – ele diz com seus olhos em chamas, adoro vê-lo desse
jeito, ele se senta na cama, passo minhas pernas ao redor de seus quadris, me
encaixo em sua ereção, e começo a me movimentar deliciosamente em seu
pau.
Suas mãos acariciam meu bumbum, apertando e pressionando meu corpo
contra o seu. Aperto meus braços contra seu pescoço e o beijo
apaixonadamente.
Mais alguns minutos de beijos e carícias, e chegamos ao orgasmo, delicioso,
insano. Descobri um novo vicio, transar com o Rui, estou viciada nesse
homem, e estou perdida.
Gemo contra seus lábios, de olhos fechados, e em seguida sinto seu jato
quente dentro de mim, ele geme e me morde. Acho que um dia desses vou
aparecer com uma marca de dentes em meus ombros.
– Oh, Rui, eu adoro isso! – Sussurro esfregando meu nariz em seus cabelos,
inerte, e entregue aos sentimentos confusos que sinto quando estou com ele.
Ele beija meu ombro, me aperta em seus braços, beija meus cabelos, e eu
gostaria que este momento não terminasse nunca, que congelasse, é bom
demais estar com ele.
Aos poucos voltamos ao normal, o encaro novamente.
– Quer tomar um banho? – pergunto ainda em seu colo, sentindo seu membro
duro dentro de mim, o que me causa certo desejo de recomeçar com nossa
loucura, mas me controlo, ele vai me achar uma ninfomaníaca.
– Quero, estou suado! – ele diz com um sorriso.
Me levanto de seu colo, estendo minha mão para ele e o encaminho para o
banheiro.
Entramos na ducha, lavo seus cabelos, passo sabonete por sua pele, adoro
deslizar minhas mãos por seu corpo forte, nunca estive com um homem tão
másculo, ele é pura tentação.
Ele está relaxado, com seus olhos fechados, numa cena pouco comum, é
difícil vê-lo completamente relaxado, o Rui é um cara tenso, alerta, parece
sempre preocupado, com muitos problemas na cabeça.
– Está gostoso, Rui? – pergunto deslizando minhas mãos por suas costas,
apertando seus músculos.
– Muito, Jack! Por mim, durmo aqui mesmo, embaixo do chuveiro! – Sorrio
e penso que por mim eu nunca mais o deixaria ir embora, eu o prenderia com
algemas em minha cama, ele seria meu prisioneiro sexual.
Sorrio de meus pensamentos eróticos, ele abre os olhos e me olha com um
sorriso.
– Por que você está rindo? – ele diz curioso.
– Oh, não posso contar! – falo divertida, aperto os músculos de sua nuca.
– Por que você não pode contar, tem a ver comigo? – Ele me olha de lado.
– Tem! – Dou risada.
– Então, eu quero saber. – Ele me aperta contra seu corpo. – Eu posso fazer
cócegas em você. – Ele aperta minha cintura com os dedos, dou um grito.
– Não, caso contrário todo mundo vai acordar, eu grito muito com cócegas,
sou muito escandalosa – falo desesperada tirando sua mão de minha cintura,
ele me aperta de novo, me contorço.
– Então, fala. – Ele me olha com um sorriso.
– Tá bom! – Seguro meu riso. – Imaginei prendê-lo em minha cama com
algemas, e te manter como meu prisioneiro sexual. – Dou risada.
– Não é uma má ideia! – Ele torce seus lábios. – Você gosta dessas coisas,
Jack?! – Ele me olha malicioso.
– Nunca algemei ninguém, mas parece excitante. – Nos encaramos.
– Então vou comprar umas algemas, mas vamos tirar na sorte quem ficará
algemado – ele diz debochado.
– Oh, não, o desejo é meu, meu fetiche, você algemado só para mim, durante
sete dias!
Ele gargalha.
– Caralho, vou sair morto da cama, e desnutrido.
Abraço seu pescoço.
– Mas, eu irei cuidar de você, dar comidinha na boca, tirar seu xixi... – Dou
risada da minha insanidade.
– Oh, Jack, você me coloca fogo sabia?! – ele diz e novamente vejo aqueles
olhos sedutores me olhando.
– Rui, você parece que tem 20 anos. – Seguro seu membro entre minhas
mãos, nunca vi nada igual, esse homem é uma máquina de sexo.
– Você não viu nada, Jack! – ele diz com malícia, me vira contra o azulejo,
pressiona seu corpo contra o meu e roça seu membro contra minha bunda. –
Vamos transar a noite inteira, gostosa. – Ele sussurra em meu ouvido, e não
duvido disso, esse homem é demais.
****

O alarme do celular toca, mas não estou em condições de me levantar, esse


cara acabou comigo.
Estou babando contra meu travesseiro, o Rui me abraça mais junto ao seu
corpo, e isso é demais para mim, me enrosco nele e durmo novamente.
Acho que ouvi o despertador tocar mais umas três vezes, mas não consigo me
levantar.
Jesus, fizemos sexo até ficarmos esgotados, isso não é muito normal, quero
dizer, para meu padrão, nunca estive com alguém com tanto vigor sexual, ele
não cansa, não brocha, é tudo que uma mulher quer.
O abraço mais um pouco, cheiro sua pele, beijo seu pescoço e me aninho a
ele.
Daqui a pouco levanto. – Penso completamente tonta de sono.
Adormeço novamente e acordo com o som de alguém me chamando. Eu sei
que deveria ter passado a chave, mas quem falou que meu quarto tem chave.
Estou tonta, mal sei onde estou, mas a voz que vem aos meus ouvidos me faz
voltar aos poucos de meu estado de desmaio, abro os olhos com dificuldades,
me afasto um pouco dele, olho para a porta e vejo minha avó parada nos
olhando.
Me sento de sobressalto, tento achar o lençol, mas que merda, não acho.
– Vó, por favor, dá licença! – falo apavorada, procurando o lençol nas laterais
da cama.
– Menina, vocês não me deixaram dormir a noite inteira – ela diz com uma
naturalidade de quem fala bom dia. – Você está atrasada, seu despertador está
tocando há horas! Vamos Jackeline, saia dessa cama, e leve esse homem com
você! – E ela vira seu rosto de lado e olha meu deus grego, ele está
completamente nu, descoberto, e não acorda por nada desse mundo, parece
que está morto.
– Jackeline, que homem! – Ela coloca sua mão sobre os lábios.
Me levanto nua, não estou nem aí.
– Vó, sai do meu quarto, vá cuidar da sua vida! – A empurro para fora, fecho
a porta e respiro.
Meu Deus, que mico, ela disse que não a deixamos dormir a noite inteira.
Oh, que vergonha.
Olho para minha cama, agora o Rui está de lado, dormindo profundamente.
Subo novamente na cama e acaricio seus cabelos.
– Rui, acorda!
Ele resmunga.
Puxo seu corpo, ele parece morto, dou risada.
– Rui, a gente precisa trabalhar! – Estou inclinada sobre ele, ele não se mexe,
beijo seus lábios diversas vezes. – Acorda, Rui!
– Oh, Jackeline, você acabou comigo! – Ele reclama de olhos fechados, e vira
seu corpo de lado.
– Abusei de você? – Faço voz de boazinha. – Coitadinho do Rui, ele é tão
inocente, eu me aproveitei dele! – Brinco, tento fazer cócegas nele. – Acorda,
Rui, você é um advogado, tem um escritório renomado para zelar, muitos
processos e clientes nervosos te aguardando.
Ele sorri de olhos fechados.
– Estou morto, Jack! – Ele não abre os olhos. – Vou reclamar para sua mãe,
você é uma ninfomaníaca.
Gargalho.
– Oh, Rui, nem fala nisso, minha avó viu seu bilau! – Ele vira de sobressalto,
e arregala seus olhos.
– Como assim? – Ele apoia seu corpo em seus cotovelos.
– Ela entrou no quarto e disse que não a deixamos dormir! – O olho
admirada. – Será que fizemos tanto barulho assim?
Ele ri.
– Um pouco, né, Jack?! – ele diz com sarcasmo. – Sua cama faz muito
barulho, vou te dar uma cama nova! – Ele se levanta e pega seu celular que
está em uma mesinha. – A gente precisa ir, Jack, vamos chegar atrasados.
Vem, faça as honras da casa e dê banho em mim.
O olho divertida, pulo da cama e o sigo até o banheiro.
****

Terminamos nosso banho, e eu realmente dei banho no Rui, ele está com
muita preguiça. Aliás, ele está tão fofo, queria ele para mim, só para mim,
será que isso é possível?
Coloco uma de minhas roupas novas, ele já está vestido me olhando.
– Gostou, Rui? – Coloco minhas mãos na cintura, e faço pose para ele.
– Está linda! – ele diz preguiçoso. – Cadê o espartilho, Jack? – ele diz com
seu olhar intenso.
Sorrio, vou até meu guarda-roupa, o tiro da gaveta, a calcinha e a meia liga,
me agacho e coloco em minha mala.
– Pronto, chefinho! – Brinco.
– Não é para me chamar de chefinho fora do escritório! – ele diz me
segurando pela cintura, me prensando contra seu corpo.
– Oh, mas eu gosto de te chamar de chefinho! É só uma brincadeirinha, igual
a das algemas! – Ele gargalha.
– Não podemos nos esquecer de comprar as algemas. Estou louco para te
prender na cama, Jackeline! – Ele me solta. – Podemos comprar mais alguns
acessórios, ele me olha de lado, malicioso.
– Tipo o que, chicotes? – Torço meus lábios.
– Você curte umas chicotadas, Jack? – Ele ri.
– Não, não sou masoquista, talvez uns tapinhas no traseiro, isso é excitante! –
Ele abre um sorriso largo, ele tem uma boca linda e deliciosa.
– Ok, sem chicotes, só uns tapinhas!
O empurro para a porta.
– Estamos atrasados, meu chefe vai me matar! – falo irônica.
Ele pega minha mala e me segue.
****

O cheiro na sala é anormal para o horário, aroma de café e bolo.


Estranho isso, mas logo descubro, nossa pequena mesa redonda de madeira
está posta, tudo bonitinho, com capricho, usando as louças portuguesas da
minha avó.
Olho para o Rui, ele franze sua testa, e minha mãe aparece com um bolo de
laranja, sua especialidade.
Oh, adoro bolo, quentinho principalmente.
– Bom dia, Dona Amélia! – o Rui diz, minha mãe olha para nós dois.
– Bom dia, Senhor Rui, passou bem a noite? – Abaixo minha cabeça e dou
risada.
Ele sorri.
– Passei bem, obrigado. – Ele aperta minha mão.
– Bom dia, mãe! Não precisava ter se preocupado, nós estamos um pouco
atrasados! – Olho para o Rui.
– Jackeline, seria uma desfeita com sua mãe, não são 10 minutos que irão
atrapalhar a gente – ele diz com um sorriso para a Dona Amélia, e a vejo se
desmanchando.
Oh, Rui, você está fazendo tudo errado, ela quer te conquistar, e fazer você se
casar com sua filha encalhada! – Penso com ironia.
– Ok. – Sorrio, e o puxo para a mesa. – Obrigada, mãe! – A olho com
carinho.
– Se sente com a gente, dona Amélia – ele diz simpático.
– Deixe que eu sirvo vocês – ela diz enchendo nossas xícaras com café e
leite.
Corto um pedaço de bolo, coloco em um pratinho para ele, depois para mim,
e salivo de vontade de devorar esse bolo inteiro.
Jesus, tanto sexo me deixou esfomeada.
Tomamos café da manhã em um silêncio meio esquisito, confesso que estou
com vergonha, será que todo mundo ouviu a gente? Oh, meu Deus, eu
deveria ter seguido o conselho do Rui, e me controlado.
Ele termina seu café e segura minha mão por debaixo da mesa.
– Obrigado, dona Amélia, adorei o bolo – ele sorri para ela.
– Oh, imagine, fiz correndo, apenas para vocês tomarem café da manhã – ela
diz timidamente.
– A senhora tem um sotaque português forte – ele diz despreocupado.
Termino meu café com leite.
– Terminei. – Sorrio para ele.
– Sim, meus pais eram portugueses, vim mocinha para o Brasil, e conheci
meu marido aqui, ele era italiano, a Jack parece muito com ele. – Ela me olha
com aquele olhar de amor, admiração.
Sorrio para ela, eu sei que ela sente falta dele, eles eram tão unidos, se
amavam tanto.
O Rui me olha, sorrio sem graça para ele.
– Sua filha é encantadora, dona Amélia, parabéns!
Acho que estou roxa de vergonha, ele que é um encantador de mulheres.
Vejo o sorriso satisfeito da minha mãe, com certeza ela achará um monte de
coisas, que inclusive ele será meu prometido. Mal sabe ela que o Rui é um
colecionador de mulheres.
Ele aperta minha coxa, tipo me avisando que temos que ir, faço menção de
me levantar, mas ouço um barulho no piso, e minha vovozinha aparece na
sala de jantar.
– Bom dia, meus queridos! – ela diz com seu sotaque carregado de um
português original da cidade do Porto.
– Bom dia, vovó! – falo preocupada, minha avó é muito pentelha.
– Bom dia! – O Rui diz, parece meio constrangido, afinal ele já sabe que ela
viu seu bilau, aliás, ela o viu nu em pelo.
– Já estamos de saída, vovó. – Me levanto. – Senta aqui, mamãe fez o bolo
que a senhora adora.
O Rui se levanta, ela o olha demoradamente.
– Querida, da próxima vez que trouxer seu namorado para dormir com você,
me avise que tomarei um calmante. Não consegui dormir a noite inteira, você
é muito escandalosa!
Fecho meus olhos e rezo para Nossa Senhora de Fátima me dar paciência.
Só passo vergonha com minha avó.
Olho para o Rui, e ele está tentando segurar seu riso.
– Então, bom dia senhoras! – ele diz mais do que depressa.
– Tchau, mãezinha, tchau, vovó! – Beijo rapidamente o rosto das duas, e sigo
apressada em direção da porta.
– Jackeline, que mala é essa? – Minha mãe diz com a testa franzida.
Poxa, me esqueci desse detalhe, não avisei ela que irei passar o final de
semana fora.
Quando vou responder o Rui se antecipa.
– Dona Amélia, a Jackeline vai me acompanhar em uma viagem nesse final
de semana, tenho que resolver algumas coisas na cidade que nasci, mas fique
tranquila, eu cuidarei bem dela! – E ele sorri para minha mãezinha, de novo
aquele sorriso sedutor, ele seduz até as velhinhas, meu Deus!
– Oh, claro, imagine, só fiquei surpresa, ela não me disse nada! – Dona
Amélia diz constrangida, talvez por ser tão controladora com sua filha quase
trintona.
– Desculpe, mãe, acabei me esquecendo. – Tento sorrir. – Nós já vamos. –
Sigo apressada para a porta.
Preciso sair dessa casa logo, antes que minha tia acorde e aí o circo estará
montado definitivamente.
Capítulo 30
RUI FIGUEIREDO

O lho para o meu lado direito, a Jack disfarça.


Estamos dentro do elevador do prédio onde ela mora, acabamos de tomar
café da manhã com sua simpática mãe, mas tivemos a felicidade de encontrar
sua avó, uma velhinha também muito simpática, e sem papas na língua.
A Jackeline vem de uma família simples, mas parece que são cheios de
valores familiares, eu gosto disso, gosto de tradições, dessa cultura europeia,
do cuidado de sua mãe com ela.
Tenho uma família menos calorosa, meu pai sempre foi um homem duro,
objetivo, um advogado perfeito. Minha mãe não é muito carinhosa, mas
sempre foi cuidadosa com nossa educação, ela é uma mulher austera,
pertencente a uma das famílias mais tradicionais de Taubaté, onde nasci.
Meu pai teve que trabalhar duro para ser aceito por sua família, ele era pobre,
ela rica, mas ele não se deixou abater pelas diferenças, se tornou o melhor
advogado de sua cidade, conquistou o respeito de sua família, e finalmente se
casou com ela.
Eles possuem uma história de amor interessante, muito romântica para meu
gosto, mas enfim, apesar de ser um cara frio e egoísta, não nasci de
chocadeira, tive mãe e pai.
Não consigo segurar um sorriso, balanço minha cabeça.
– Eu disse, Jack, talvez um pouco menos de barulho, gemidos, eu adoro, mas
as senhoras simpáticas poderiam acordar.
Ela me olha enfezada.
– Oh, que vergonha, Rui! – ela diz constrangida.
– Vamos pensar que colocamos um pouco de diversão na vida pacata de sua
avó e sua mãe! – Sorrio para ela.
Ela dá risada.
Porra, tivemos uma noite incrível, a Jackeline é incrível, essa mulher tem um
fogo da porra.
Caralho, trabalhei duro essa noite para satisfazer essa mulher, eu bem disse
quando a vi pela primeira vez, ela é um furacão, e haja pica para acalmar essa
buceta.
– Gostou da nossa noite, Jack?! – A provoco, adoro fazer isso, ela bem que
tenta ser comportada, mas ela é uma devassa, uma safada muito gostosa.
– Um pouquinho! – Ela ri. – Eu disse, deu para o gasto! – Ela me provoca.
– Quer terminar aqui no elevador? – A encurralo no cubículo estreito, encaro
seus olhos castanhos grandes, eles são muito expressivos.
Qualquer conversa com a Jackeline acaba em uma ereção, ela tem um poder
sobre meu pau que eu desconhecia, não posso ficar perto dela que tenho
vontade de foder, ando meio sem controle.
– Para, Rui! – Ela sorri. – Seria bem excitante, mas não daria tempo, são só
três andares.
Beijo seu pescoço, esfrego meus lábios em sua orelha e passo minhas mãos
pelo seu bumbum gostoso.
– A gente pode terminar isso no escritório, o que você acha? – Esfrego minha
ereção em sua barriga.
– Não, Rui! – ela diz manhosa, adoro esse jeito que ela fala, parece uma gata.
– Ok, terei alguns dias para conseguir satisfazê-la! – O elevador abre, pego
em sua mão e saímos rapidamente.
Seguimos para meu carro.
– Não vou conseguir passar em casa, Jack. – Olho para ela. – A gente passa
no final da tarde e aproveitamos para pegar o Bóris, ele vai com a gente. –
Ela sorri, aliás, ela fica mais feliz quando vê o Bóris do que quando me vê.
– Oh, vou passar um final de semana com o Bóris? – ela diz animada.
– Não, você vai passar um final de semana comigo! – Levanto minhas
sobrancelhas, não é possível que eu tenha que dividir a Jack com aquele
pulguento.
– Você tem ciúmes do Bóris? – Ela ri.
– Claro que não! – Disfarço, pareço meio bobo quando estou com a
Jackeline, preciso endurecer um pouco, esse cara molenga não sou eu.
– Vai fazer bem para ele ficar um pouco com você, ele deve sentir sua falta –
ela diz como se fosse terapeuta de cães.
– Quer fazer uma sessão de análise com ele, Jack? – Brinco.
– Ok, Rui, não vou mais falar do Bóris. Você tem ciúmes de mim com o
Bóris, isso é nítido para mim. – Ela balança sua cabeça.
Reviro meus olhos, era só o que me faltava, eu com ciúmes de um cachorro.
****

Chegamos ao escritório, e novamente aquela situação constrangedora, não


podemos chegar juntos, mas também não gosto dessa história de deixá-la na
esquina, isso é ridículo, não somos amantes, ninguém aqui é casado.
– Vamos, Jack! – Saio do carro, ela me olha confusa. – Eu não devo nada
para ninguém.
Saio andando em sua frente, também não precisamos chegar de mãos dadas,
isso também é exagero.
– Bom dia, Karen! – falo rapidamente, seguindo para as escadas.
– Doutor Rui... – Ela me segue, acho que não percebeu que cheguei com a
Jackeline. – Eu tenho um assunto particular para falar com você, posso subir
até sua sala?
A olho meio confuso, mas que porra de assunto particular?!
– Tá bom, vamos subir – falo rapidamente, subindo as escadas.
Entramos na minha sala, ela fecha a porta antes que eu possa falar alguma
coisa.
– Pode falar, Karen. Qual o problema? – Me sento em minha cadeira e ligo
meu computador.
Ela se senta à minha frente.
– Bom, eu estou prestando vestibular, pretendo fazer o curso de Direito.
– Que ótimo, Karen! – falo distraído.
– Então, eu queria saber se você pode me dar uma bolsa de estudo, meu
salário não é suficiente para eu pagar o curso! – Ela me olha carente.
– Ok, quando você tiver o resultado do vestibular me procure para ver o que
podemos fazer. – A olho com firmeza, quero dispensá-la logo, não posso
perder tempo com esse tipo de assunto.
Ela dá a volta na mesa, e logo me vem à mente suas intenções.
Transei muitas vezes com essa garota aqui nessa mesa, assim como transei
com a Jackeline. Mas, hoje não estou a fim, estou cansado da minha noite
quente com a Jackeline, talvez outro dia.
– Faz tempo que a gente não transa, Doutor Rui! – Ela se insinua. – Estou
com saudades.
A Karen é uma garota de 19 anos muito bonita, sempre gostei de loiras, ela
tem o estilo da Priscila, loira, magra e alta.
Se eu fosse a comparar com a Jackeline, não haveriam comparações, elas são
muito diferentes. Primeiro, porque a Jackeline é uma mulher, não tem nada
de menina, ela é experiente, sabe o que quer, e seu corpo, vamos dizer que
não há comparações também, a Jackeline é muito mais gostosa.
– Talvez outro dia, Karen, estou atrasado hoje, tenho muitas coisas para fazer.
– Ela me olha decepcionada, dá um sorriso sem graça, e sai rapidamente.
Enquanto ela caminha até a porta, admiro seu corpo.
Tudo bem, ela é gostosinha, mas a bunda da Jackeline me deixa louco, é
muita gostosura, tenho vontade de morder aquela mulher inteirinha.
Sempre me envolvi com mulheres tipo modelos, a Jackeline não está dentro
desse padrão de beleza, mas ela é linda demais, gostosa, e acho que preciso
parar de pensar nela. Estou precisando trabalhar, hoje ela não pode entrar
muito nessa sala, caso contrário não irei conseguir fazer nada.
Capítulo 31
JACKELINE BARTOLLI

O lho curiosa enquanto a Karen sobe com o Rui para sua sala.
Já percebi há dias que a Karen anda rondando o Rui, está sempre
procurando um motivo para ir até sua sala, mas agora que trabalho com ele,
ficou mais difícil para ela.
Um sentimento de ciúmes toma conta de mim quando chego à minha mesa e
vejo a porta fechada.
Confesso, não será tão fácil assim dividi-lo com outras mulheres, nunca
estive em um relacionamento aberto, onde cada um sai com quem quiser, sou
possessiva, ciumenta, quero dizer, não sou nenhuma ciumenta neurótica, mas
não acho que reagirei bem se souber que ele está transando com outra
mulher.
Prefiro não saber.
Arrumo minhas coisas, ligo meu computador e tento espairecer. A porta abre,
olho pelo reflexo e vejo a Karen saindo com cara de poucas amigas.
– Bom dia, Karen! – falo em um tom neutro, profissional, não posso arrumar
inimizades aqui, este é meu trabalho.
– Oi! – Ela passa por mim, mas antes de ir embora me direciona um olhar
maligno, ela não disfarça a raiva que sente por mim, e isso é muito
desagradável.
Reviro meus olhos, era só o que me faltava, uma inimiga em meu trabalho.
Ok, mas quero que ela se dane, tenho quase 30 anos, não vou me preocupar
com uma menina boba de 20 anos.
Verifico meus e-mails, aos poucos começo a me familiarizar com a rotina do
escritório, os assuntos do Rui começam a passar por mim naturalmente,
também começo a conhecer as pessoas, nem que seja só por e-mail, ou
telefone.
Logo que tenho um tempinho vou até sua sala, não quero atrapalhá-lo, mas
também não posso ignorar que preciso saber se ele precisa de alguma coisa.
Abro sua porta, ele está entretido com seus processos e me olha sobre os
cílios através de seus óculos.
– Oi, só queria saber se posso te ajudar em alguma coisa! – digo rapidamente.
– Obrigado, Jack, está tudo sob controle, só preciso que você peça meu
almoço aqui, não quero perder tempo! – ele diz seriamente, parece absorvido
pelos papéis que está lendo.
– Tudo bem, o que você quer comer? – pergunto parada em frente a ele, e
vejo um sorriso malicioso em seu rosto.
Será que esse homem só pensa em sexo?
Tento não sorrir, mas não consigo, eu já o conheço, e conheço todos seus
pensamentos pecaminosos.
Ele dá um sorriso torto.
– Uma carne, estou precisando repor minhas energias! – Ele sorri debochado.
– Tudo bem, eu vou pedir para às 13h! – Giro nos meus calcanhares, não
posso ficar muito tempo com esse homem que já começo a sentir ondas de
calor subindo pelo meu corpo.
Depois de arrumar a mesa de reuniões para o Rui almoçar, aproveito para
almoçar rapidamente numa lanchonete perto do escritório.
Faz dias que não falo com a Carol, mas é sempre assim, ela é ocupada, e não
quero ficar grudada, ela tem seus almoços com o pessoal do escritório,
enfim...
O período da tarde passou em meio a muitas coisas, termino de fazer os
pedidos para o coquetel do escritório, envio um e-mail para o Rui, e ligo para
sua empregada.
Ela atende.
– Oi, Dona Jô, é a secretária do Doutor Rui, a Jackeline – falo simpática.
– Olá, Jackeline! No que posso ajudá-la?
– Bom, só queria te passar a data do coquetel, precisarei de sua ajuda para
receber o pessoal do buffet, mas tentarei chegar cedo para te ajudar com
isso.
– Ok, fique tranquila, o Doutor Rui gosta muito de fazer jantares, coquetéis,
estou acostumada com isso – ela diz com segurança, parece uma empregada
de alto nível, ela não é uma Maria ninguém.
– Então, está ótimo. Acho que estou mais perdida do que você, mas nos
falamos semana que vem. Obrigada, Dona Jô.
Ela se despede e respiro aliviada, menos um problema para resolver.
Termino de fazer algumas cartas que ele me pediu, ele está muito sério hoje,
aliás, eu conheço dois Rui´s, o Rui advogado, e o Rui amante. Um não tem
nada a ver com o outro, o advogado é bem frio, distante, o amante é
acessível, quente e próximo, muito próximo.
Olho de soslaio para o relógio do computador, já são 18h30, não sei a que
horas sairemos, mas hoje tanto faz.
Penso no que faremos hoje, quero dizer, no final de semana, e sinto uma
ansiedade, ele é intenso, isso ninguém pode negar. Não tenho ideia como será
nosso final de semana, mas estou empolgada, porque adoro sua companhia,
principalmente quando estamos fora desse escritório. Não que ele me trate
mal aqui, mas eu me sinto melhor quando estamos fora do ambiente
profissional, me sinto mais livre para ser eu mesma.
Meu ramal toca, olho e vejo que é ele.
– Pois não? – Atendo formalmente.
– Vamos, Jack? – ele diz seriamente.
– Quando você quiser – respondo.
– Ok, arrume suas coisas, já estamos indo – ele diz de um modo objetivo, às
vezes ele é assim.
Desligo meu computador, guardo minhas coisas na gaveta, faço algumas
últimas anotações em meu caderno, para que eu não me esqueça de fazê-las
na segunda-feira.
A porta abre e com ela seu perfume invade minha sala.
– Já estou pronta – digo rapidamente, pego minha bolsa, dou a volta em
minha mesa e o sigo em direção às escadas.
Temos tido sorte de não encontrar os funcionários nesses nossos passeios
pelo escritório, mas daqui a pouco todos saberão do nosso “caso”, eu tenho
certeza disso.
Respiro aliviada ao ver que a recepcionista já foi embora.
O sigo até o carro, em instantes já estamos a caminho de seu apartamento.
O olho disfarçadamente, ele está diferente, parece tenso, decido não falar
nada, mas me bate uma insegurança, sua mudança de humor foi drástica, e
isso me deixou incomodada.
– Algum problema, Rui? – Me xingo em pensamento, tenho uma língua
maldita, que tem vida própria e fala demais.
– Não, Jack. – Ele me olha de lado, rapidamente. – Estou com alguns
processos meio complicados, é só isso. – Ele sorri fraco.
– Ok. – Volto minha atenção ao trânsito, mas estou com uma agonia, esse não
é o Rui que eu conheço.
Ele estaciona seu carro na garagem do prédio, e aí me lembro do Renato.
Caramba, já pensou se encontro ele, vai ser uma situação muito desagradável!
Mas, não vou pedir para entrar pelo elevador de serviço, hoje o Rui não está
de bom humor, infelizmente.
O sigo em direção ao elevador, nem percebi que ele pegou minha mala.
– Você está sério, Rui.
Ok, eu sou assim, não consigo ficar com alguém do meu lado e ficar feito
uma múmia.
– Não é nada, Jack. Preciso de um banho para relaxar, talvez uma massagem.
– Ele me dá aquele sorri lindo, que adoro.
– Ok, eu providencio a massagem! – Brinco com ele.
Chegamos ao seu apartamento, ele abre a porta, assobia e seu mascote vem
feliz recebê-lo, e a mim também, estamos ficando cada vez mais íntimos.
Me agacho para recebê-lo, seguro sua cabeça e dou beijos em suas orelhas,
em sua cabecinha.
– Oi, menino lindo! – Seguro seu focinho para ele não me babar toda. –
Você vai passear com seu pai, sabia? – digo olhando para o Rui.
– Eu não sou pai desse bicho, no máximo somos amigos – ele diz debochado.
– Ok! – Reviro meus olhos e balanço minha cabeça com desdém.
– Vamos, Jack, quero tomar um banho de banheira com você. – Ele pisca
para mim, e chego a pensar que não vamos viajar para lugar nenhum.
Ele deixa minha mala sobre sua cama e segue para o banheiro, ouço barulho
de água caindo, e um perfume gostoso invade o quarto.
– Tira sua roupa – ele diz voltando para o quarto, ele já está sem roupa,
completamente nu.
O olho admirada.
– Tá! – respondo.
Tiro meu blazer, coloco sobre sua cama, a camisa, os sapatos altos e a saia,
tiro minha lingerie, e sigo para o banheiro.
Ele está dentro da banheira, a água já está no meio da sua cintura, ele estende
sua mão para mim.
– Vem!
Passo minhas pernas pela banheira e encaixo-me no meio de suas pernas.
– Oh, que água deliciosa! – digo extasiada com a sensação boa de estar
dentro de uma banheira.
– Você gosta de espuma? – ele pergunta com um vidrinho na mão.
– Gosto! – O olho de lado e sorrio.
Ele despeja o líquido dentro da água, e em instantes a banheira começa a ficar
repleta de espuma.
– Tá cansado, Rui? – Acaricio seus braços que estão ao redor do meu corpo.
– Um pouco, acho que dormimos pouco essa noite. – Ele beija meus cabelos,
ele é muito carinhoso.
– Podemos nos levantar bem cedo, é melhor que viajar à noite, você não
acha? – Ele olha para os meus lábios.
– Talvez. – Ele se inclina um pouco e me beija, vagarosamente, ternamente,
de um jeito gostoso, mas não menos excitante. – Fica de frente para mim,
Jack.
Me ajeito em seu colo, passando minhas pernas por seus quadris, o encaro,
mas logo ele envolve meu rosto com suas mãos e me traz para um beijo
intenso, cheio de sensualidade, mas com um toque diferente, que não sei
dizer o que é.
Sua ereção começa a crescer em meio as minhas pernas.
– Senta nele, Jack! – ele diz em meio ao nosso beijo.
Levanto meus quadris, e me encaixo em sua ereção, ofego de prazer ao senti-
lo dentro de mim. Suas mãos conduzem os movimentos de meus quadris
contra seu corpo, ele está calmo, mas intenso, seu beijo que estava calmo
começa a ficar mais profundo.
Sinto um começo de amortecimento, ofego e seguro seus cabelos, os puxando
com paixão.
– Rui, eu vou gozar! – Sussurro contra seus lábios, ele aumenta a pressão
contra meu corpo.
– Eu também, Jack! – Ele enterra seus dedos contra a pele de meu bumbum,
ofega, geme, morde meus lábios. – Oh, Jack!!! Uhhh, você é uma delícia,
Jack! – ele diz com sua testa descansando na minha.
O olho enquanto nossas respirações voltam ao normal.
Engraçado como pela primeira vez fizemos um amor ou sexo calmo, mas foi
maravilhoso.
Desço meus lábios em direção aos seus, o beijo carinhosamente.
– Foi delicioso, Rui! – Sussurro o olhando a centímetros de distância.
Ele sorri, e percebo como é bom quando ele sorri, odeio quando ele fica sério.
Descanso minha cabeça no vão do seu pescoço.
– Se a gente ficar aqui, vamos dormir – ele diz num tom leve. – Acho melhor
a gente tomar um banho, e saímos, já estou recuperado – ele fala malicioso.
– Ok, você quem sabe. – Me levanto de seu colo. – Eu sei dirigir, mas não
vou me oferecer para dirigir seu carro, só sei dirigir carros básicos. – Estendo
minha mão para ajudá-lo.
– Certo, se eu precisar você terá que dirigir meu carro. Mas não vamos com o
carro que costumo usar, vamos usar um modelo SUV, é melhor para levar o
Bóris.
Ele segue para o chuveiro e tomamos banho juntinhos, e só para não perder o
costume ensaboo seus cabelos, o seu corpo, e não sei explicar, mas
desenvolvemos em alguns dias uma intimidade que não consegui ter com o
Renato em anos de convivência.
Isso é tão estranho.
****

Seguimos em direção ao seu carro, eu segurando a coleira do Bóris, que


caminha muito feliz em companhia de mim e de seu dono, e o Rui carrega
nossas malas.
Paramos em frente a um carro enorme, alto e robusto.
– Grande esse carro! – falo admirada. – Não sou capaz de dirigir esse
pequeno caminhão.
Ele me olha e sorri.
– No final das contas, todos são iguais, Jack. É só uma questão de costume. –
Ele abre a porta de trás do carro, os bancos são de couro cor caramelo, esse
carro é tão ou mais bonito que o outro. – Entra, Bóris.
Solto a coleira do Bóris que entra com muita naturalidade, parece muito
acostumado a passear nesse carro.
Acompanho enquanto o Rui coloca uma espécie de cinto de segurança para
cães no Bóris, e acho isso muito engraçado.
– Ok, Jack, já podemos ir. – Ele dá a volta no carro, abro a porta do
passageiro e entro, e olho para trás.
– Está bom aí, Bóris? Você é muito chique, até usa cinto de segurança!
Seguimos para a avenida e em pouco tempo pegamos uma estrada.
– Quanto tempo leva a viagem? – pergunto vendo-o dirigir compenetrado.
– Mais ou menos 2h30! – Ele me olha rapidamente.
– Ok. – Relaxo minha cabeça no assento do carro, e tento não dormir,
gostaria de conversar com ele, mas ainda temos uma barreira entre nós, uma
barreira de intimidade, nossa intimidade é sexual, não temos uma intimidade
como pessoas, sei pouco sobre ele, e também não me sinto muito à vontade
para perguntar.
– Conversa comigo, Jack. – Ele me olha com um sorriso.
Parece até que ele lê meus pensamentos.
– Não sei sobre o que conversar, hoje você está sério. – Ele me olha de lado e
respira forte.
– Tive um problema com um processo grande que estava em nosso escritório,
o cliente retirou ele. – Percebo sua testa franzir. – Era um processo
milionário, e eu iria ganhá-lo, perdi noites pensando sobre isso, tentando
arrumar a melhor saída para ganharmos.
Percebo pela sua feição o quanto isso está deixando-o nervoso.
– E qual foi o problema? – pergunto com cuidado.
– Esse processo foi uma parceria entre meu escritório e do Doutor
Albuquerque, o pai da Priscila. O cliente avisou hoje que o processo será
tocado pelo escritório dele, e eu sei que não foi uma decisão do cliente, mas
sim daquele filho da puta.
Olho para seu perfil, cada linha do seu rosto tencionou, a mandíbula está
travada.
– Mas deixe isso para lá, resolvo essa questão na semana que vem, não
adianta ficar puto, estragar meu final de semana. – Ele segura minha mão e a
beija. – Desculpe se estou um pouco bravo, você ficou me devendo a
massagem. – Ele sorri.
– É verdade, mas não deu tempo. – Aproximo meu corpo do dele, beijo seu
rosto carinhosamente, passo meu nariz pelos seus cabelos, e cochicho em seu
ouvido. – Depois eu faço se você quiser.
Ele me olha de lado com um sorriso.
– Eu quero! – Ele coloca minha mão sobre seu membro, rijo e ereto.
Esse homem é extremamente sexual, ou eu que o provoco sem perceber, eu
só dei um beijo em seu rosto, cheirei seus cabelos, não é possível que isso
seja o suficiente para excitá-lo, ou será?
Depois que ele me contou sobre seu problema, ele relaxou um pouco,
comentou algumas coisas sobre o escritório, aos poucos ele começa a confiar
mais em mim, me confia coisas particulares, e me sinto muito bem com isso.
Paramos rapidamente em um desses postos de conveniência no caminho, o
Rui tomou um café, o Bóris fez xixi, tomou água e depois de alguns minutos
voltamos para a estrada.
Confesso que estou começando a ficar com sono, mas estou me esforçando
para não o deixar sozinho. Tento contar coisas sobre minha carreira pouco
convencional de psicóloga, sobre os casos engraçados que precisei lidar,
sobre meu último emprego com o psiquiatra maluco e sua secretária de 90
anos. E foi bom, porque eu o fiz rir um pouco, parece que tenho o dom de
fazê-lo rir, ele acha tudo que conto engraçado.
– Você é cômica, Jack, deveria fazer aqueles shows de “Stand up Comedy”!
– Ele ri.
– Oh, que exagero, jamais conseguiria ficar 60 minutos fazendo as pessoas
rirem, não sou tão criativa.
– Eu acho que você leva jeito, você é engraçada! – Ele me olha de lado,
segura um riso.
– Você que tem um senso de humor acima da média, ri de tudo!
– Ok, você não quer admitir seu lado cômico, não estou te chamando de
palhaça, é sério, você faz qualquer desgraça ficar engraçada!
Sorrio com sua constatação, acho que sou assim, tento tirar barato de tudo, é
um jeito de ver as coisas de uma forma mais leve.
– Estamos chegando, Rui? – Olho para o Bóris, deitado no banco, exausto. –
Eu e o Bóris estamos de saco cheio.
Ele me olha e faz uma cara feia.
– Eu que deveria estar de saco cheio, estou dirigindo, tenso, você dois estão
só curtindo. Na volta você dirige, Jack!
– Não, a viagem está ótima, se precisar esticar até Belo Horizonte, fique
tranquilo, estou adorando ficar nesse carro, ele é muito confortável. – Olho
para o Bóris. – Não é, Bóris? Dá um latido para dizer que concorda! – O
Bóris abana o rabo.
O Rui balança sua cabeça e sorri.
– Já estamos chegando, reclamona.
– Oh, que alívio. – Me estico no banco e sigo com minha mão até a nuca do
Rui. – Tá tenso Rui? Vou adiantar uma massagem para você! – Massageio
delicadamente os músculos do seu pescoço.
– Hummm, assim está melhor! – ele diz manhoso.
Depois de mais meia hora chegamos a sua cidade, ele dirige entre as ruas, e é
interessante como cidades do interior são charmosas.
Entramos em um condomínio, vejo apenas casas de alto padrão, e de repente
ele para em frente a uma casa muito bonita, uma construção moderna, com
um pé direito alto, ele pega um controle remoto no porta luvas e abre o
portão.
– Chegamos! – ele diz.
– Linda essa casa! – digo admirada. – É da sua família ou sua? – pergunto
confusa, por que ele teria uma casa tão grande e bonita no interior?
– Essa é minha, meus pais ainda moram aqui, mas em outro condomínio.
Ok, não digo nada, o Rui é um cara bem-sucedido, não custa nada para ele
manter duas casas.
Ele estaciona o carro, desliga e me olha.
– Vamos, Jack! – Saímos do carro, ele solta o Bóris que sai correndo para a
parte de trás da casa. – Quero te mostrar a represa, o Bóris adora nadar nela.
Ele parece outro, renovado, parece adorar esse lugar.
Caminhamos de mãos dadas em meio a um gramado, muitas plantas
ornamentais, o lugar é lindo, bem cuidado, ele deve ter um caseiro.
Finalmente chegamos à parte de trás da casa e fico admirada com a vista,
uma linda represa toma conta de todo o horizonte, está muito escuro, mas a
iluminação das casas em torno da represa possibilita uma visão limitada, mas
bonita do local.
– Que lindo é aqui, Rui! – digo encantada.
Um grande gramado enfeita a parte posterior de sua casa, uma linda piscina
está toda iluminada, vejo um deck e uma parte coberta, o lugar é incrível.
– Esse é meu lugar preferido no mundo – ele diz com seu olhar perdido na
imensidão escura da represa. – Adoro esse lugar.
– Não é para menos, durante o dia deve ser ainda mais lindo. – Ele me puxa
para próximo da represa, caminhamos por um deck alto, que avança em
direção à represa. Paramos, ele me abraça pelas costas, me aninho em seus
braços, o vento está frio, mas é bom estar assim com ele.
– Gosto de ficar aqui pensando na vida – ele diz de uma forma íntima, parece
que está dividindo comigo um segredo.
– Parece ótimo mesmo. – Viro meu corpo de frente para ele e olho em seus
olhos. – Aqui parece perfeito para namorar. – Sorrio, e o faço sorrir também.
– Sim, é perfeito, podemos fazer isso se você quiser. – Ele aproxima seus
lábios dos meus e me beija carinhosamente, acaricio seus cabelos, suas
costas, ele se afasta um pouco. – Me deixa te mostrar a casa. – Voltamos a
caminhar em direção a casa. – Eu tenho uma pessoa que cuida da casa para
mim, e pedi para sua esposa preparar alguma coisa para comermos. – Ele me
olha de lado.
– Perfeito, Rui. – Sorrio e o acompanho.
A porta que dá acesso ao jardim é de vidro, então através dela posso ver uma
sala maravilhosa, sofás confortáveis num estilo rústico enfeitam o ambiente, a
decoração é um misto de rústico com moderno, num equilíbrio que só pode
ter sido conseguido com a ajuda de um arquiteto.
– Adorei aqui, é lindo! – digo admirada.
– Vamos subir, quero te mostrar os quartos – ele diz seguindo para as escadas
que dão num mezanino.
Entramos em um quarto, grande, arejado, com portas balcão que dão acesso a
uma varanda enorme, com vista para a represa. Os pisos são todos de
madeira, num estilo rústico, mas de muito bom gosto. O quarto é decorado
com móveis de madeira, parecem feitos especialmente para esse ambiente,
tudo combina. Uma cama enorme está no meio do quarto, uma colcha de
matelassê branca cobre a cama, tudo é refinado, com um toque de revista de
decoração.
– Gostou, Jack? – Ele me abraça pela cintura.
– Adorei, sua casa é linda! Você contratou um arquiteto para decorar? É tudo
tão perfeito! – digo admirada.
– Contratei, eu não levo jeito para essas coisas! – Sigo até a varanda, me
encosto ao parapeito e olho para a represa. – Vamos descer e comer alguma
coisa, meu estômago está roncando – ele diz abraçado as minhas costas,
passando seu nariz pelos meus cabelos.
Fecho meus olhos, eu adoro quando ele faz isso.
– Vamos! – respondo extasiada.
****

Entramos em uma cozinha, e como tudo na casa, os armários são em madeira,


cobertos com uma pintura estilo patina. Vejo uma linda mesa de madeira e
mármore, as cadeiras são lindas, feitas em madeira com entalhes de tartarugas
no encosto.
A empregada deixou tudo arrumado, os pratos e os talheres sobrepostos em
sousplat de madeira, que enfeitam a mesa.
Um grande vaso repleto de orquídeas foi posto no centro da mesa, tornando o
ambiente encantador, delicado.
– Vou pedir para ela nos servir. – Ele segue até um telefone.
– Não precisa, Rui. Eu posso fazer isso! – falo rapidamente, seguindo até ele.
Ele franze sua testa.
– Relaxa, Rui. Não sou dondoca, sei fazer essas coisas! – falo com
simplicidade.
Ele dá de ombros.
– Se você não se incomoda.
– Não, não me incomodo! – Sigo até a copa, vejo uma travessa dentro do
forno, a retiro e coloco sobre um balcão.
Sinto a presença do Rui atrás de mim, olho e o vejo encostado no balcão.
– Ok, estou achando as coisas. – Sorrio para ele.
Em alguns minutos já descobri o que iremos comer, galetos no forno, um
arroz com brócolis, e batatas souté.
Levo as coisas para a mesa de jantar e nos servimos sozinhos.
Foi fácil, a pessoa deixou tudo pronto, era só comer.
Terminamos de comer.
– Vamos tomar um vinho na varanda, Jack. – Ele pega a garrafa que
estávamos bebendo, pego as taças e o sigo.
Ele relaxa em um sofá grande e confortável que está colocado
estrategicamente em uma área coberta, mas ao ar livre.
– Aqui é maravilhoso! – falo ao me sentar ao seu lado, ele passa seu braço
pelos meus ombros me aninhando mais junto a ele.
E assim conversamos e bebemos, e é engraçado dizer isso, mas parece que
nos conhecemos tão bem. Eu não sou muito de falar, apesar de descendente
de italianos, mas acho divertido contar para ele histórias engraçadas sobre
minha família, sobre meus antigos pacientes, gosto de ver ele relaxado,
sorrindo.
– Vou fechar uma casa para você fazer um show, Jack! – Ele me olha e ri. –
Você ficará rica.
Acho que ele está meio altinho.
Esgueiro-me e sento em seu colo, abraçando seu pescoço, beijando seu rosto.
– Adoro ficar com você, Rui! – digo olhando em seus olhos.
Que se foda, eu quero dizer isso, não gosto de ficar me controlando o tempo
todo.
– Eu também, Jack! – Ele enfia seus dedos entre meus cabelos, traz meu rosto
para junto do seu e me beija sensualmente, e isso é bom demais, seus beijos
são bons demais, essa língua dele é gostosa, macia, quente.
Sinto minha excitação crescendo à medida que nosso beijo vai ganhando
intensidade, suas mãos começam a acariciar meu corpo, me apertar junto a
ele.
– Acho melhor a gente subir, Jack! – ele diz de olhos fechados, me beijando.
Me assusto quando ele me pega e sai andando comigo no colo.
Eu sei que não sou magrinha, e não peso pouco, mas me sinto uma pluma, ele
é forte, e não tem dificuldades de subir comigo para seu quarto.
****

A sensação de ser carregada no colo é muito boa, me sinto uma princesa.


Ele me deita delicadamente sobre sua cama, nossos lábios não desgrudam um
do outro. O Rui se deita sobre mim, e ficamos ali namorando literalmente,
muitos beijos, mãos deslizando sobre minhas pernas, entrando por baixo do
vestido que coloquei em seu apartamento, e finalmente adentrando minha
calcinha, e me penetrando com seus dedos.
Ofego de prazer, e me movimento contra sua mão, estou louca de desejo, e
em instantes estou gemendo, chegando ao orgasmo apenas com um toque de
suas mãos.
– Eu adoro seus gemidos, Jack. – Ele me beija, e fala ao mesmo tempo.
Meu coração bate rápido, minha respiração está ofegante, e acordo do meu
torpor ao sentir seu pênis me penetrar, duro, ereto, e terrivelmente delicioso.
O Rui puxa minha perna, e me encaixa melhor em seu corpo, sinto suas mãos
no decote do meu vestido, um puxão e todos os botões se rompem, me
deixando com o vestido dependurado em meu corpo.
Ele se move deliciosamente dentro de mim, ao mesmo tempo que beija meu
pescoço, e os beijos descem pelo meu colo, ele tenta tirar meu sutiã, mas o
resto do vestido o impede, então ele o puxa com força, rompendo o cetim
delicado que unia os bojos.
Abro meus olhos assustada, mas logo fecho, ele abocanha ferozmente meus
mamilos, os suga passa sua língua macia, e me leva a loucura.
– Oh, Ruiii... – Ofego de prazer.
Ele segura meus cabelos da nuca, os puxa, me inclino mais em sua direção,
ele volta a me beijar.
– Jackeline, você me deixa louco! – ele diz com seus olhos em chamas, e
desce novamente seus lábios em direção aos meus seios, e volta a me torturar.
– Oh, Rui, me fode mais forte!!! – peço desesperada.
Ele coloca minhas pernas sobre seus ombros, e fode com força, com vontade,
grito, gemo, e chego ao orgasmo.
Jesus, que homem maravilhoso! – Penso atordoada.
– Agora é minha vez, Jack, vou gozar, gostosa, ohhh, hummm, hammm!!! –
E ele faz muito barulho, parece um urso enfurecido. – Caralho, Jack, acho
que vou morrer! – Ele desaba ao meu lado, respirando ruidosamente.
Me viro de lado e o olho sorrindo, seu peito sobe e desce desesperadamente.
– Deus que me livre te matar, e quem vai me satisfazer? – falo com um
sorriso cínico, ele me olha e ri.
Me aproximo dele, porque depois que faço amor, sexo, sei lá, quero ficar
perto, quero acariciar, beijar, sou assim.
Passo meus braços pelo seu tórax, ele passa seus braços ao redor do meu
corpo e me puxa para junto dele, sorrio feliz. Beijo seu peito, aspiro seu
cheiro de homem, e me vem uma vontade louca de dizer que o adoro, mas
fecho meus olhos e me seguro.
Não tem nada a ver dizer isso!
Fico ali, abraçada a ele, aspirando seu cheiro delicioso, e nem percebo
quando pego no sono e durmo profundamente.
Capítulo 32
JACKELINE BARTOLLI

A cordo sentindo beijos pelo meu corpo, e essa é a melhor sensação do


mundo, até mesmo para alguém mal-humorada ao acordar como eu.
Sorrio, sentindo cócegas em meu bumbum, ele passa sua língua no vão entre
minhas nádegas, e isso me arrepia toda, me causa um tesão desesperador.
A tortura de beijos e línguas está muito boa, não consigo segurar pequenos
gritos de prazer.
O peso de seu corpo cobrindo minhas costas me causa uma excitação enorme,
sinto-me molhada, ele me excita apenas com seu cheiro.
– Bom dia, minha deusa! – Fecho meus olhos e inspiro, esse homem me
enlouquece apenas com um bom dia rouco e sonolento.
– Bom dia, Rui! – Sussurro, sentindo seus beijos em meu pescoço, e o roçar
de seu membro no meio das minhas pernas.
Que jeito de acordar mais maravilhoso.
– Eu já escovei os dentes, Jack! – Ele sussurra em meu ouvido, me
arrepiando toda. – A gente pode se beijar agora? – Ele procura meus lábios,
apoio meus braços levantando levemente meu corpo, me viro de lado e o
deixo me beijar.
Na verdade, o que me incomoda é o fato de eu não ter escovado os meus
dentes, mas ele falou de um jeito tão delicioso que esqueci essa minha
necessidade de higiene matinal.
Ele me beija faminto, puxa meus cabelos, me fazendo inclinar mais meu
corpo, me penetra, e começamos nossa primeira transa do dia.
Acho que nunca transei tanto em minha vida, nem com o Renato que fiquei
quatro anos, ele não tinha vontade de fazer sexo comigo, e agora eu sei o
porquê.
Aliás, namorei quatro anos com ele, me sentindo pouco atraente, achava que
era porque eu estava fora do peso. Acho que comecei a desenvolver meus
complexos em relação ao meu corpo desde que o conheci, não se sentir
desejada pelo homem que se está apaixonada pode fazer com que nos
sintamos pouco atraente, feias, gordas, enfim, um homem pode acabar com a
autoestima de uma mulher.
Muitos gemidos, urros de prazer e finalmente chegamos ao orgasmo.
Ele se deita ao meu lado e sorri para mim, e se eu disser que esse sorriso
consegue levar para bem longe meu mau humor matinal, não mentirei.
– Dormiu bem, Rui? – Acaricio seu rosto, mas ele leva minha mão até seus
lábios e a beija.
Me derreto com seus gestos, ele é um gentleman até quando faz sexo.
– Dormi, aliás acho que morri durante oito horas, não me lembro de nada,
quero dizer, lembro que desabei ao seu lado, depois de fazermos sexo
deliciosamente. – Ele me olha malicioso.
– Ufa, achei que você não iria se lembrar do que fizemos! – Brinco, mais
beijos em minha mão me fazendo sentir muito especial. – O que faremos
hoje? – pergunto casualmente.
– Iremos levantar, tomar banho – ele fala preguiçosamente. – Aí tomaremos
café da manhã no jardim, ouvindo os passarinhos. – Ele me olha com um
sorriso muito meigo. – Vamos dar uma volta de barco na represa. – Ele olha
para o teto. – Tomaremos um banho de piscina, depois tem o almoço... –
Sorrio do seu jeito.
– No meio disso tudo faremos sexo, muito sexo! – Ele me olha, e sinto um
friozinho no estômago, ele é muito sedutor.
– Por mim está ótimo, adorei a programação. – Sorrio para ele.
Ele se levanta e pega em minha mão.
– Então, vamos começar com o banho. – Me levanto preguiçosa e vejo meu
vestido pendurado em meu corpo, assim como meu sutiã.
– Eu gostava desse vestido, Rui, não era para destruir ele – digo fazendo
charme.
Ele me puxa para junto dele, tira os restos mortais do meu vestido e do meu
sutiã.
– Vamos comprar outro, assim como seu biquíni.
– Oh, eu tinha esquecido isso, não tenho biquíni. – Torço meus lábios, ele se
aproxima de mim, e morde meu lábio inferior.
– Nós vamos comprar um. – Ele pega em minha mão e me leva para o
banheiro.
****

Coloco outro vestido, ele é soltinho, com cara de praia, esse não tem botões
na frente, não dá para rasgar.
Me sento na cama e espero o Rui acabar de colocar sua roupa, ele coloca uma
sunga vermelha com duas listras brancas laterais, ele fica muito gato de
sunga, muito gostoso.
– Nossa, que bombeiro lindo! – falo e dou risada de meu comentário.
Ele me olha com um sorriso torto.
– Bombeiro? – Ele se olha no espelho.
– É, bombeiros usam sungas vermelhas. – O olho de lado. – Tenho uma tara
por bombeiros.
Ele balança a cabeça de um lado por outro, parece indignado com meu
comentário.
– Brincadeirinha, Rui, nunca sai com um bombeiro. – Tento consertar o que
disse.
– Mas tem uma tara por eles? – Ele me olha sério.
– Tenho uma tara por você, de sunga vermelha! – Ele sorri, e já sei que é
muito vaidoso, adora que eu fique levantando sua bola.
Ele coloca uma bermuda e uma camiseta branca.
– Vou comprar uma camiseta vermelha, um short vermelho, levamos uma
mangueira para o quarto, e brincamos de bombeiro – ele diz divertido.
Gargalho escandalosamente.
– E para que a mangueira? – Arregalo meus olhos. – Estou contente com a
sua mangueira! – Olho para sua área de lazer.
Agora é a vez de ele gargalhar.
– Oh, Jack, você é maluca, vamos tomar café da manhã!
Ele abre a porta do quarto, e me surpreendo ao ver o Bóris deitado em frente
à porta, tão carente!
– Oh, Bóris, você dormiu aqui, bebê? – Me agacho a sua frente, e ele se
desmancha todo, deitando e mostrando a barriguinha para eu acariciar. – Oh,
Rui, coitadinho, ele dormiu aqui, sem tapete, no chão frio.
Olho para o Rui e ele revira os olhos.
– Bóris, você é um caso perdido. – Ele caminha para as escadas, me deixando
sozinha com o Bóris.
– Você não é um caso perdido. – Me inclino e encho o cachorro de beijos,
estou completamente apaixonada pelo Bóris, e talvez pelo dono dele também,
mas esse é outro problema, e não quero pensar agora.
****

A mesa preparada para nosso café da manhã é digna de um hotel.


– Quantas pessoas tomarão café com a gente? – digo divertida.
– Não gostou, minha deusa? Tudo isso é para você! – ele diz ironicamente.
– Eu adorei! – Me sento em seu colo. – Mas é um pouco de exagero, não é?
Ele sorri e me dá um selinho.
– Senta aqui, Jack! – Ele puxa a cadeira ao seu lado para mim.
Começamos a tomar o café da manhã e me controlo para não devorar aqueles
pãezinhos maravilhosos. Que inferno de dieta, vou emagrecer de tanta
vontade que passo.
Terminamos o café, o Rui limpa seus lábios com o guardanapo e me olha.
– Existe um centro comercial aqui perto, vamos até lá para você comprar seu
biquíni, o sutiã e o vestido. – Ele ri.
– Eu brinquei quanto ao vestido, só preciso do biquíni. – Me levanto e o sigo
em direção ao carro.
Vejo o Bóris nos seguindo, eu abro a porta ele passa por mim, passa pelo meu
banco e se senta no banco de trás.
– Ele pode ir com a gente? – pergunto para o Rui.
Ele olha para o Bóris, que está com aquela cara feliz.
O Rui revira seus olhos.
– Vamos deixá-lo ir, acho que ele está precisando passear um pouco.
Logo estamos no tal centro comercial, olho para a calçada e vejo muitas lojas
abertas, mas não são lojinhas simples, é uma avenida repleta de lojas chiques,
o lugar deve ser frequentado pelas pessoas ricas da região.
Ele para o carro, e olha para mim.
– Ok, Jack, você dá uma olhada em algumas lojas, e vê se gosta de alguma
coisa. – Balanço positivamente minha cabeça e o acompanho em direção as
lojas, eu, ele e o Bóris, agora sem coleira.
Olho algumas vitrines, e finalmente acho uma loja onde vendem biquínis.
– Vamos ver aqui, Rui? – Paro em frente à loja.
– Tudo bem! – ele diz.
Entramos na loja e a mulher fica olhando para o cachorro.
– Se não puder entrar com cachorro, nós vamos embora. – O Rui diz incisivo,
pegando a mulher de surpresa.
– Não, claro que pode, ele é lindo, talvez precise tomar água, eu posso
arrumar um pote para ele! – Dou risada, ela só falta ir buscar ração para o
Bóris.
– Não, não precisa! – o Rui diz displicente.
– Eu quero ver biquínis – falo para a vendedora para disfarçar a situação.
– Bom, deixe eu te mostrar. – Ela olha para os meus seios. – Acho que tenho
alguma coisa. – Ela não termina a frase.
Reviro meus olhos.
Em segundos ela traz várias opções, coloca sobre o balcão e começa a
mostrar para mim.
– Acho melhor eu experimentar, ficará difícil escolher sem ver no corpo –
falo para ela.
– Ok, vamos até o provador. – Ela me ajuda a levar os biquínis.
Entro no provador, fecho e ouço a voz do Rui.
– Pode deixar, eu vou ajudá-la a escolher o biquíni. – Sorrio, mas desta vez
não dá para transar no provador, esse aqui é muito pequeno.
Tiro minha roupa e coloco o primeiro biquíni, ficou bem escandaloso.
– Rui, dá uma olhada.
Ele abre a cortina do provador, dá uma boa escaneada, e sorri.
– Gostei – ele diz simplesmente.
– Achei que meus peitos não cabem direito, ficou muito pequeno. – Tento
ajeitar a parte de cima do biquíni, mas não dá mesmo, metade dos meus
peitos estão para fora.
– Eu gosto assim. – Ele olha para meus peitos, parece salivar.
– Está escandaloso, não está? Seja sincero, sem taradice!
Ele ri ruidosamente.
– Me deixa ver sua bunda – ele diz descaradamente, me fazendo rir.
Me viro.
– Está gostosa pra caralho, Jack. Leva esse – ele diz incisivo.
Reviro meus olhos.
– Vou experimentar mais um, tchau. – Fecho a cortina e o ouço rindo.
Coloco o próximo, e ficou ainda pior que o primeiro.
– Merda! – Xingo baixinho.
Troco, coloco mais um e me olho no espelho, esse é mais decente, cobriu
melhor meus peitos, me viro para olhar o bumbum, a calcinha também é
maior.
– Gostei! Rui, dá uma olhada nesse. – O chamo.
Ele abre a cortina, me olha e enruga a testa.
– Está muito grande, Jack – ele diz e me olha com cara feia.
– Eu não acho, é assim que eu gosto. – Ajeito a parte de cima e a de baixo.
– Mas, eu não gosto... – Ele entra dentro do provador, fecha a cortina e me
agarra. – Leva o primeiro, quero que você fique bem gostosa para mim, só
para mim. – Ele me encara com seus olhos sedutores, hoje eles estão num
tom tão bonito, parecem azuis.
– Pareço uma biscate com aquele biquíni! – falo o empurrando com as mãos
em seu peito.
Ele ri.
– Somos só nós dois, Jack. Fica gostosa para mim, vai? – ele diz daquele jeito
que me desmancho. – Leva os dois, assim você fica mais feliz!
Sorrio.
– Tá bom, o indecente eu visto só quando estiver com você, se formos a
algum lugar que existam mais pessoas, eu uso o outro, tá? – digo esmagada
em seus braços.
– Ok. – Ele me beija. – Você ficou bem com esse também. – Ele apalpa
minha bunda, dá um tapa e sai.
– Filho da puta! – Xingo baixo.
Ouço a voz da vendedora.
– Querida, seu namorado pediu para você experimentar esses vestidinhos. –
Ela coloca sua mão pela cortina e me entrega dois vestidos.
Os olho demoradamente, são lindos, ele tem muito bom gosto, adoro tudo
que ele escolhe para mim.
Os coloco sobre o biquíni, são curtos, mostram completamente minhas
pernas, mas ficaram ótimos em mim. Eu gosto de vestir roupas curtas, só não
gosto quando estou avulsa, e pareço querer chamar a atenção, mas estando
com o Rui eu não me importo de usar.
Abro a cortina e entrego tudo para a vendedora.
– Ficaram ótimos! – Já estou vestida, então saio à procura do Rui e o
encontro mexendo em seu celular.
Disfarço, se fosse sua namorada pegaria esse celular e debulharia cada
mensagem recebida, mas como não sou, me contento em ficar me remoendo
de curiosidade.
– Oi! – falo ao chegar, ele me olha sorri, e guarda o celular.
– Gostou dos vestidos? – ele diz muito fofo.
– Gostei, ficaram bem curtos, mas acho que você gosta assim, bem devassa!
– faço uma careta.
Ele ri divertido.
Finalmente voltamos para sua casa, subo para o quarto, coloco o biquíni
indecente e um dos vestidos por cima.
Em segundos estou descendo para encontrá-lo, e novamente o pego no
celular, ele parece escrever uma mensagem.
Eu sei que não temos nada, é só sexo, mas me incomoda essa troca de
mensagens, então só para irritá-lo pego meu celular no bolso do vestido, me
sento em uma cadeira confortável e começo a escrever uma mensagem para a
Carolina.
Faço barulho com os pés, apenas para ele me ver.
Ele disfarça, guarda seu celular e se aproxima de mim.
– Vamos, Jack? – Ele olha para o meu celular.
– Só um minuto, preciso responder uma mensagem. – Nem olho para ele,
apenas escrevo besteiras para a Carol, e sorrio, tudo faz parte de minha
vingança.
Guardo o celular no bolso, olho para ele e sorrio.
– Pronto!
– Alguma coisa urgente? – Ele me olha sério, parece incomodado.
– Não. – Saio andando na sua frente.
Vejo uma lancha incrível estacionada no píer em frente à casa.
– É esse aqui? – Olho para trás e o vejo andando vagarosamente, com aquele
olhar enigmático que só ele consegue ter.
– É, é esse – ele diz sério. – Quem era, Jack?
Tenho vontade de rir, mas não o faço.
– Só conto se você me contar com quem você tanto se comunica no celular. –
O olho com firmeza, ele desmonta, disfarça.
– São assuntos do trabalho. – Ele me olha.
– Os meus são familiares. – Sorrio provocativa.
Ele passa por mim, entra no barco e me estende a mão.
Olho ao redor da embarcação, e não consigo deixar de ficar admirada, luxo
pouco é bobagem, eu moraria em seu barco, é muito melhor que meu
apartamento.
– Gostou, Jack? – ele diz com um sorriso, parece orgulhoso de seu barco.
– É lindo, quero um desses para morar! – Brinco.
– Tem até cama, sabia? – Ele aponta com a cabeça em direção a uma
portinha. – Depois te mostro, podemos estrear se você quiser! – ele diz
malicioso.
Tiro meu vestido, coloco sobre um banco almofadado, viro para olhá-lo, e lá
está o devorador de mulheres me secando.
Desfilo para ele, porque sou bem provocativa, e já que ele gosta de meu
corpo, me deixe aproveitar disso.
– Gostou do meu biquíni novo? – O provoco.
Ele mexe sua cabeça positivamente.
– Vou tomar um solzinho. – Sigo para uma parte onde existem colchonetes
grandes, o barco é enorme.
Ele liga o barco, e começa a navegar vagarosamente, me sento para admirar o
lugar, é incrível, não é à toa que ele disse que gosta daqui.
– Aqui é lindo, Rui! – digo para ele, que parece absorvido pela paisagem.
O olho mais um pouco, apenas para aproveitar seu momento de relaxamento,
ele é um homem tão bonito, não me admira ter tantas mulheres em seu pé.
Ele está usando um óculos escuro tipo aviador, seus cabelos contra o sol
ficam mais claros, e ele está sem camisa, mostrando toda sua masculinidade.
Que homem, Senhor, obrigada pelo presentinho, vou aproveitar enquanto
durar! – digo em pensamento.
Sigo até ele, porque ele tem algum imã que não me deixa ficar longe, me
sinto tão atraída por ele que não consigo passar muito tempo ao seu lado sem
querer tocar, sentir...
– No que você está pensando? – Paro ao seu lado, ele me faz sentar em seu
colo.
– Nada em especial, apenas refletindo sobre a vida. – Ele me olha e sorri.
– Profundo isso – falo brincando.
Ficamos um pouco em silêncio, eu o admirando, e ele absorvido em seus
pensamentos. Deito minha cabeça no vão de seu pescoço, beijo sua pele,
acaricio seus cabelos.
– Eu vou ancorar, assim podemos curtir um pouco o lugar. – Ele segura em
minha cintura, me colocando em pé, e aciona alguma coisa que começa a
fazer barulho. – Me deixe ver se a âncora está descendo.
O acompanho com o olhar, ele checa algo na lateral do barco, o barulho
cessa, ele volta para onde estávamos, desliga o motor do barco, me olha e
sorri.
– Agora sou todo seu, Jack!
– Quero conhecer lá dentro. – Ok, eu não deveria ser tão ninfomaníaca, mas
também estou curiosa para saber o que tem dentro dessa portinha.
Ele sorri, pega em minha mão e me leva para dentro da cabine.
****

O ambiente é maior do que eu imaginava, uma cama de casal embutida,


armários, uma pequena cozinha e uma saleta. O lugar é perfeito, dá para fazer
uma viagem longa e morar aqui, deve ser incrível.
– Quer estrear, Jack? – ele diz me abraçando pelas costas, esfregando sua
ereção na minha bunda. – Nunca transei com ninguém nesse barco.
Oh, será que isso é um elogio.
– Então eu quero, se já tivessem vindo muitas mulheres aqui, eu não iria
querer! – falo com ironia.
Ele ri, esfregando seus lábios em meu pescoço, me beijando, e mordiscando.
– Deita, Jack. – Ele me leva para a cama, tira sua roupa, cobre meu corpo
com o seu, e recomeçamos nossa orgia viciante.
Ofego de prazer e gozo ruidosamente, confesso que nunca tinha tido tantos
orgasmos em minha vida, o Renato não fazia sexo oral em mim, não me
estimulava, os únicos orgasmos que tive com ele foram proporcionados por
mim mesma.
Meus gemidos de prazer são seguidos pelos seus, altos, barulhentos e
sensuais, os sons que saem de sua garganta são deliciosos, me deixam
novamente excitada.
– Você é demais, Jack! – ele diz ofegante, desaba sobre meu corpo, o abraço
e me deixo levar pelo momento.
– Você também, Rui. – Sussurro em seu ouvido.
– Não pode dormir – ele me diz com um sorriso. – Vamos subir, eu coloquei
um vinho branco na geladeira do barco, vamos beber lá fora.
– Tudo bem! – digo preguiçosa.
****

Navegamos por mais algum tempo, bebemos o vinho que ele trouxe,
conversamos um pouco, namoramos, e por fim voltamos para sua casa.
– Vou deixar o barco aqui, se você quiser podemos dar uma volta novamente
mais tarde – ele diz enquanto ancora o barco no píer de sua casa.
Coloco novamente meu vestido, e com sua ajuda desço do barco.
– Jack, pode ficar à vontade, não tem ninguém na casa, somos só nós dois e o
Bóris.
– Tudo bem, quando chegarmos à piscina eu tiro o vestido. – Caminhamos
até sua casa, a água da piscina parece ótima, adoro nadar.
– Vou dar um mergulho – ele diz tirando sua roupa.
– Daqui a pouco eu vou. – Tiro meu vestido, coloco sobre a espreguiçadeira,
me estiro na cadeira e tomo um pouco de sol.
Desperto com pingos de água sobre meu corpo, olho e vejo meu deus grego
todo molhado sobre mim.
– Vai ficar aí feito um jacaré? – ele diz divertido.
– Acho que vou, deu uma preguiça – falo me espreguiçando.
– Vem, Jack, vamos tirar essa preguiça. – Ele pega em minha mão e me
levanta da espreguiçadeira. – A água não está fria.
– Ok. – Crio coragem, sigo com ele até a piscina, desço pelas escadas, e me
surpreendo com a temperatura agradável da água. – Está ótima, vou nadar um
pouquinho – digo o vendo sentado na beira da piscina.
Nado um pouco, mas como estou fora de forma logo estou cansada, paro em
meio as suas pernas, me apoiando nelas.
– E aí minha sereia, já cansou? – ele diz com um sorriso de lado.
– Cansei, estou fora de forma – digo com uma careta.
Ele se segura em seus bíceps e desce para a piscina.
Como sempre, e para não perdemos o costume, começamos a nos beijar,
porque isso é meio compulsivo, Rui e Jackeline juntos, o único resultado é
sexo.
Estou prensada contra a parede da piscina, seus beijos são famintos, urgentes,
até parece que não transamos há uma semana, e não há algumas horas. Sinto
sua ereção enorme roçando minha barriga, me excitando.
– Rui, acho melhor a gente parar – falo contra seus lábios, sem ar.
– Estamos sozinhos, minha deusa – ele diz rouco, excitado e louco de desejo.
Ele me puxa para seus braços, me encaixando contra sua ereção, sinto sua
ereção roçando minha calcinha do biquíni, ele o afasta e me penetra.
Se eu disser que tudo isso não me excita, estarei mentindo. É excitante fazer
amor a céu aberto, em uma piscina, com o homem mais incrível que já
conheci.
– Tá gostoso, Jack? – ele diz no meu ouvido, me mordiscando, beijando.
– Tá, Rui, continua! – Gemo de prazer.
Seus movimentos aumentam, meu coração acelera, a gente se beija, ele me
aperta contra seu corpo, gemo alto, ele aumenta seus movimentos e goza.
– Oh, Rui! – Fecho os olhos e beijo-o loucamente.
Ele continua seus movimentos, só que agora vagarosamente, gemendo
baixinho.
– Rui? – Ouço uma voz grave o chamando.
Meu coração gela, olho para o Rui, mas ele não parece ter percebido, ele
continua de olhos fechados, se movimentando dentro de mim, parece querer
dar duas sem sair de dentro.
– Ei, Rui? – A pessoa chama de novo e me desespero.
– Rui, tem alguém aqui! – Ele abre os olhos e me olha.
– Quem? – Ele me olha confuso.
– Não sei! – Desço de seu colo, arrumo meu biquíni, e então vejo um homem
vindo em nossa direção, ele é um senhor, e pelo que posso ver, parece com o
Rui, numa versão mais velha. – Rui, acho que é seu pai! – falo apavorada.
– Jack, não posso sair daqui, minha ereção está enorme! – Ele me puxa para
sua frente, me abraça e fala. – Oi, pai, como o senhor sabia que eu estava na
cidade? – ele diz amistoso, como se nada estivesse acontecendo.
Sorrio constrangida vendo o homem se aproximar da piscina, e atrás dele
uma senhora, tão distinta quanto o homem, os dois estão vestidos
elegantemente, parece que vão a um casamento.
– Encontrei seu caseiro agora a pouco, e ele me disse que você chegou ontem
– ele diz nos olhando na piscina. – Você vai sair dessa piscina, ou vamos ter
que ficar conversando desse jeito?! – o homem diz meio irritado.
Ele me afasta de seu corpo.
– Vamos sair, Jack – ele sussurra para mim.
– Rui, eu não posso sair da piscina vestida desse jeito! – digo entre meus
dentes.
– Jack, vai por mim, é melhor você sair, será pior se você ficar aqui na
piscina. – Ele pega em minha mão e me leva para as escadas.
Fecho meus olhos e me amaldiçoo por estar vestida nesse biquíni, eles vão
me achar uma piranha oferecida.
Os dois estão parados em frente à piscina, o Rui sai primeiro, me dá sua mão
e me ajuda a sair. Nunca me senti tão constrangida, estou me sentindo nua no
meio de um monte de pessoas, e essas pessoas me olham como se eu
estivesse nua.
– Pai, mãe, essa aqui é a Jackeline. – O Ruiz diz meio sem graça, é, ele está
sem graça.
– Olá, prazer! – digo, quero dizer, gemo, queria desesperadamente pegar meu
vestido, mas ele está a metros de mim.
A mulher me olha com desprezo, deve achar que o Rui me pegou na última
boate de putas que ele passou, o homem disfarça, simplesmente me ignora.
Oh, Rui, como te odeio! Por que você não me avisou que seus pais poderiam
vir até aqui? – falo em pensamentos.
Sorrio para os dois, olho para chão, e por fim, peço licença e vou pegar meu
vestido e o coloco sobre o corpo molhado, o que não me ajudou muito,
continuei parecendo uma atriz de filme pornô, agora bem sensual, com o
vestido colado aos meus peitos e a minha bunda.
Volto a me aproximar deles, o homem me dá uma olhada discreta, a mulher
me olha descaradamente, parece que não foi muito com minha cara.
Mas o Rui é um gentleman, ele me puxa para junto dele, me abraça pelas
costas, me molhando ainda mais, e me mantém junto a ele.
– Bom, não sabíamos que você estava acompanhado, vamos fazer um
churrasco em casa, queríamos que você fosse.
Rezo em silêncio, pedindo pelo amor de Deus que o Rui arrume uma
desculpa, não quero ir.
– Bom, então... – O Rui se atrapalha.
– Você nunca vem para cá, filho, e quando vem não vai nos visitar, que
história é essa? – A mulher diz autoritária.
– Tá, nós vamos. – o Rui diz e eu gostaria de poder dizer que ficarei aqui,
mas é lógico que não posso.
– Vá se secar, Rui, vamos conversar um pouco, o caseiro está cuidando do
nosso churrasco, vamos juntos! – Seu pai diz, parece indiscreto, fica olhando
para meu vestido, parece se divertir com minha pose de biscate.
Ok, agora sei a quem o filho puxou, o pai é tarado e o filho também.
– Tudo bem. Vem, Jack. – Ele pega em minha mão e me encaminha com ele
para a casa, deixando os dois velhos nos observando.
Entramos na casa e olho para o Rui.
– Rui, eles devem estar achando que sou atriz de filme pornô – digo irritada.
Ele ri ruidosamente, me levando apressado pelas escadas.
– Relaxa, Jack, não estou muito preocupado com a opinião deles – ele diz
relaxado, não parece se importar muito.
– Você poderia ter me avisado que havia a possibilidade deles virem aqui –
digo chateada.
Ele abre a porta do banheiro, liga a torneira e me enfia sem maiores
cerimônias dentro do chuveiro.
– Rui, eu disse para você... – Ele me interrompe.
– Qual a diferença, Jack? Tanto faz, isso só iria te deixar preocupada. – Ele
tira meu biquíni, pareço uma boneca na sua mão.
Paro de falar, e o observo lavando meus cabelos, depois os deles, parece um
robô apressado. Em instantes terminamos nosso banho, ele pega as toalhas,
me enxuga apressado, e eu só fico o olhando.
– Rui, eu posso me secar! – digo em meio ao seu desatino.
Ele me olha.
– Tá, vamos logo, meu pai é meio impaciente – ele diz apressado, se secando
apressadamente e saindo do banheiro.
– Devo me vestir como? – pergunto confusa. – Seus pais parecem que vão a
um casamento!
Ele ri.
– Fica à vontade, Jack, não precisa se preocupar com isso! – ele diz pegando
uma roupa em sua mala.
– Ok. – Pego o segundo vestido que ele comprou, coloco um sutiã, a calcinha
rendada, e o vestido! – Me olho no espelho. – Está bom assim? – Olho para
ele insegura.
– Você está linda, Jack! – Ele se aproxima beija meus lábios suavemente,
segurando meu rosto. – Vamos descer... – Ele pega em minha mão e
descemos apressados para o jardim.
Respiro fundo e tento pensar coisas positivas, eu não esperava encontrar
ninguém, muito menos seus familiares, mas, agora que deu tudo errado, a
única coisa que tenho a fazer é ser simpática e sorrir.
Capítulo 33
JACKELINE BARTOLLI

V ejo seus pais sentados numa mesa de madeira grande que existe no
jardim, os dois conversam discretamente, falando baixo, mas quando nos
avistam, disfarçam e param de falar.
Começo colocar em prática o meu plano, abro um sorriso no rosto enquanto
nos aproximamos da mesa.
Sua mãe vira o rosto em nossa direção, sua expressão é dura, ela é antipática,
meio arrogante, mas tento não pensar muito sobre isso, ela não é minha
sogra, não precisa gostar de mim, e nem eu dela.
Ela olha para o Rui e fala na lata, sem rodeios.
– Onde está a Priscila?
O sorriso que estava em meu rosto se desfaz, abaixo minha cabeça
instantaneamente, o Rui puxa duas cadeiras para nós dois sentarmos.
– Não sei, não a tenho visto – ele diz calmamente. – Vocês bebem alguma
coisa? Tenho um vinho branco na geladeira – Ele segura em minha mão, me
causando uma sensação boa, ele é um cavalheiro, obviamente não quer que
eu me sinta mal.
– Como assim, vocês são noivos! – a velha fala alterada, ele a interrompe.
– Éramos, não somos mais, eu esqueci de avisá-los.
Jesus, acho melhor eu inventar uma dor de barriga, não quero participar dessa
lavagem de roupa suja.
– Eu preciso ir ao banheiro! – Cochicho próximo a seu ouvido, me levanto e
saio em direção a casa.
Olho para o céu, e peço uma tempestade ou um tsunami, qualquer coisa que
impeça que esse churrasco aconteça.
Sigo para o banheiro na parte de baixo da casa, faço xixi, lavo minhas mãos e
arrumo meus cabelos, que ainda estão molhados, pingando.
Eu não posso voltar para lá agora, então sigo para o quarto do Rui, eu vi um
secador em seu banheiro, resolvo secar meu cabelo e estar um pouco mais
apresentável para sua família.
Termino, passo um batom discreto rosa claro, coloco uma sandália, ao invés
das rasteirinhas que estava usando, tomo coragem e volto para minha tortura.
Saio pela porta de vidro, e percebo que o clima continua tenso, mas o que vou
fazer, me trancar dentro de casa?
Quando chego à mesa a conversa cessa, o que me provoca muito mal-estar,
mas o Rui pega em minha mão novamente, a leva até seus lábios e a beija.
Sua mãe olha cada movimento, parece possessa com ele, mas por fim ele
repousa minha mão em seu colo, e fica brincando com meus dedos.
– Então, pai, como estão os negócios? – ele diz para quebrar o clima pesado.
– Tudo bem! – O velho se mexe na cadeira.
– O que você faz, Jackeline? – Sou pega de surpresa com a voz de seu pai.
O olho confusa, mas que merda, o que devo responder?
– Eu... eu... – Gaguejo.
– Ela trabalha no meu escritório – o Rui diz antes que eu fale besteira.
Sua mãe dá uma risada sarcástica.
– Fazendo o que? – ela diz.
A olho indignada, o que eu fiz para ela? Não tenho nada a ver com seus
problemas e do seu filho.
– Ela é minha secretária, mãe.
A velha surta, dá uma risada alta, a olho assustada.
– Acho que já podemos ir para casa – seu pai diz rapidamente, olha no
relógio. – Já está no horário do almoço.
Ele se levanta, segura na mão da mãe do Rui e os dois saem andando para a
saída do jardim, olho-os desconcertada.
Será que não é melhor eu não ir? Eles vão me tratar mal, eu tenho certeza!
O Rui me olha, parece constrangido.
– Acho melhor eu não ir – falo incomodada.
– A gente fica só um pouco. Não ligue para minha mãe, Jack, ela só está
brava porque não falei para eles sobre o fim do meu relacionamento com a
Priscila, ela gosta muito dela.
– Você acabou seu relacionamento três meses antes do seu casamento e não
contou para sua família?! – pergunto incrédula.
– Odeio que se intrometam em minha vida – ele diz displicente.
Balanço minha cabeça afirmativamente, mal sei o que fazer, mas também não
posso abandoná-lo sozinho.
– Vamos, Jack, prometo que não vou deixar ninguém tratá-la mal. – Ele se
levanta, me puxa para junto dele. – Fique tranquila, você não deve nada para
ninguém, você está comigo porque eu quero, minha mãe que se foda.
O Rui não é muito de falar palavrões, acho que só o ouço falando palavrões
no meio de nossas transas, então me surpreendo ao ouvi-lo dizer que quer que
sua mãe se foda.
– Tudo bem – digo simplesmente.
****

A casa de sua família é imponente, eles são muito ricos, só existem mansões
no bairro onde moram, e a casa deles é uma delas.
A entrada do condomínio é cercada de seguranças, só devem viver os
milionários nesse lugar.
Eu e o Rui estamos em silêncio, ele parece um pouco tenso, mas a todo
momento ele pega em minha mão e a beija, ele me trata com muito carinho.
– Vamos, Jack! – Ele me olha e sai de seu carro, saio do carro e o
acompanho.
Ele entra pelo jardim e segue para onde deve ser a área de lazer.
Olho admirada a construção linda, tirada de uma revista. Um jardim
verdejante, repleto de canteiros de flores encanta os olhos. Nunca estive em
um lugar tão lindo, tão bem cuidado.
Logo à frente vejo algumas pessoas, e chego à conclusão que será ainda pior,
não seremos só nós, eles têm visitas.
– Rui, quem são essas pessoas? – falo num gemido.
– Alguns amigos dos meus pais – ele diz seriamente.
– Rui, eles vão a alguma festa, ou é normal se vestirem desse jeito? – falo
com ironia, ao ver as mulheres com vestidos sofisticados com tecidos finos e
delicados. – Estou me sentindo uma perua, Rui.
Ele ri, e eu quero matá-lo.
– Jack, fodam-se eles! – ele diz de novo a palavra foda-se, e acho que isso
ocorre com frequência quando ele está nervoso.
Ele aperta minha mão junto a sua, e tenho vontade de chorar, ou
simplesmente sair correndo.
À medida que nos aproximamos, os olhares começam a se voltar em nossa
direção. Sua mãe me olha e logo desvia seu olhar de mim, me sinto
constrangida, as outras mulheres são senhoras, devem ter a idade da minha
mãe, por volta dos 55, 60 anos, mas a aparência delas em nada lembram a da
minha querida mãe, são mulheres ricas e poderosas, estão vestidas de uma
forma que minha mãe nunca sonhou se vestir.
– Boa tarde! – O Rui diz com sua voz grossa e poderosa, todos, inclusive os
homens olham para nós.
– Boa tarde! – digo num sussurro.
Os homens se aproximam com entusiasmo, cumprimentam o Rui
calorosamente, ele apenas me apresenta como a Jackeline, eles estendem suas
mãos educadamente para mim, e retribuo os cumprimentos sem muito
entusiasmo, gostaria de sair correndo daqui.
As mulheres o cumprimentam também, mas de forma discreta, mal olham
para mim, quero dizer, elas me medem, devem achar que sou uma atriz pornô
que ele conheceu em sua última visita a uma boate de streep tease.
Peço pelo amor de Deus para o Rui não me deixar sozinha com essas pessoas,
mas à medida que o tempo passa e as conversas começam a ficar mais
acaloradas entre os homens, me sinto sobrando no papo, eles são todos
empresários, advogados, é impossível eu manter um papo com eles.
As mulheres estão sentadas em uma mesinha redonda, tomo coragem, e sigo
até lá.
– Com licença, posso me sentar com as senhoras? – Tento ser simpática,
sorrir, mas não tenho muito retorno, elas apenas balançam suas cabeças.
Sua mãe se levanta e sai em direção a casa, e me sinto tão mal com isso.
A olho constrangida, abaixo minha cabeça e suspiro.
– Faz tempo que você está com o Rui? – Desperto de meu desespero, uma
das senhoras se dirigiu a mim, acho que isso é um bom presságio.
– Não, nos conhecemos há pouco tempo – digo seriamente, não tenho
vontade de falar sobre isso, nem sei o que posso dizer sobre nós.
– Vocês estão namorando? – A outra pergunta.
– Não, não somos namorados! – respondo inquieta. Até que ponto elas irão
para saber sobre nós?
As sobrancelhas delas se levantam, não sei o que acham sobre isso, mas não
parecem achar muito bom.
– A Raquel está abalada, sabe, Jackeline, é isso! – Uma mulher muito bonita
diz. – O Rui iria se casar daqui a alguns meses, e de repente aparece com
outra mulher em sua casa, não teve o respeito de dizer para a família de seu
rompimento com a Priscila – ela diz indignada.
– Talvez ele não tenha certeza do seu rompimento com a Priscila, por isso ele
não falou nada para seus pais. – Não sei por que disse isso, mas de repente,
me veio isso à mente, talvez ele tenha a intenção de voltar com ela, por isso
não alarmou a família toda sobre o rompimento.
– Oh, claro, talvez seja isso. – A mulher diz surpresa. – A Raquel vai ficar
muito satisfeita! Me desculpe, Jackeline, eu sei que você não tem nada a ver
com isso, mas ela gosta muito da Priscila, ela é uma jovem advogada linda e
brilhante. O Rui e ela fazem um casal lindo, você me entende?
À medida que ela fala, sinto uma agonia por dentro, uma vontade de chorar.
– Sim, entendo – respondo apática. – Será que tem um banheiro aqui que eu
possa usar? – digo apressada, tentando controlar minhas emoções.
A mulher loira aponta para um local.
– É logo ali, querida. – Me levanto e sigo para o local, e sinto como se todos
olhassem para mim, estou me sentindo tão mal aqui.
Abro a porta e me encosto a ela, e sinto um furacão dentro do meu peito.
Seguro as lágrimas, respiro e inspiro com força.
– Eu não posso chorar – falo em silêncio, mas algumas lágrimas rolam pelo
meu rosto.
O que pensei que havia entre nós? É só sexo, diversão, você sabe disso,
Jackeline! – falo em pensamento.
Eu sei disso, mas no final das contas, estava sendo tão bom esses últimos dias
com ele, que acho que no fundo eu estava fantasiando coisas, é isso.
Um toque na porta me faz despertar dos meus pensamentos, limpo meu rosto
apressada, ligo a torneira, lavo minhas mãos, me olho no espelho, abro a
porta, e o vejo, e um gelado percorre meu coração.
– Tudo bem, Jack? – ele diz preocupado.
Tenho tanta vontade de abraçá-lo, mas não o faço, engulo tudo que ouvi, que
senti, e que está me corroendo.
– Está tudo bem – digo sem emoção.
– Fica comigo, não precisa ficar com as amigas da minha mãe, eu não me
importo que você participe da conversa dos homens, ninguém vai contar
piada suja – ele diz divertido me fazendo sorrir.
– Tá bom! – Engulo em seco o que iria dizer, ou seja, a que horas podemos ir
embora?
Chegamos à área onde eles estão, estamos de mãos dadas, sua mãe já voltou
para a mesa, me olha de soslaio, um olhar de desprezo, disfarça e volta a
conversar com suas amigas.
O Rui se senta, e me faz sentar em seu colo, tento sair, mas ele me segura
com força pela cintura.
– Fica aqui! – ele diz autoritário, parece um ogro possessivo.
Reviro meus olhos e fico onde ele me colocou.
Um cheiro maravilhoso de churrasco começa a tomar conta do ambiente, um
senhor todo uniformizado começa a servir, e agradeço por poder me sentar
em uma cadeira. É maravilhoso ficar no colo do Rui, mas apenas quando
estamos sozinhos.
Confesso que perdi o apetite, seria bom conviver com esse pessoal por algum
tempo, eu emagreceria 20 quilos, eles me causam arrepios e falta de fome.
Belisco algumas coisas, mas nada comparável ao jeito Jackeline de ser, meu
estômago está dando voltas, não estou suportando o olhar de sua mãe sobre
mim.
O Rui se inclina um pouco sobre minha cadeira.
– Você não está comendo nada, Jack! – ele diz com a testa enrugada.
– Estou de dieta – falo com sarcasmo.
– Daqui a pouco vamos embora, está bom? – Ele coloca uma de suas mãos
em meu rosto, o acariciando e me beija, de um jeito que sinto borboletas em
meu estômago.
Tento me esquivar, mas ele segura meu rosto, parece querer que todos vejam
nosso beijo escandaloso.
– Rui! – falo contra seus lábios. – Isso é constrangedor.
Ele me olha com um sorriso de moleque.
– Você fica com vergonha, Jackeline? Você normalmente é tão safada, não
deveria sentir vergonha – ele diz com seu jeito sedutor, safado, aliás, quem é
muito safado é ele.
– Rui, eu sou safada, mas dentro de quatro paredes, e de preferência só eu e
você – respondo.
Ele me olha a centímetros do meu rosto, com um sorriso sedutor, me
segurando.
– Eu adoro essa boca, sabia? – Fecho meus olhos, apenas para passar a raiva
que estou sentindo do que ele está fazendo, mas ele novamente me beija, um
beijo de língua delicioso, guloso, cheio de sensualidade, me causando um frio
no pé da barriga.
Ele deve estar querendo irritar sua mãe, só pode ser.
– Ei, Rui, vamos deixar para namorar mais tarde. – Ouço uma voz masculina,
e chego à conclusão que foi um homem alto e simpático que conversou um
pouco comigo, apenas sobre amenidades.
O Rui se afasta de mim e dá um de seus sorrisos lindos e sedutores.
– Depois a gente continua, minha gostosa – ele sussurra, sela meus lábios
com um último beijo e volta sua atenção a conversa.
À medida que ele se afasta percebo o porquê do aviso de descolar lábios,
estão todos olhando para nós, um verdadeiro vexame.
Ai, Rui, que raiva de você! Penso ao olhar os rostos indiscretos me fitando.
Ele pega em minha mão, a leva até seus lábios e se levanta.
– Nós já estamos indo – ele diz descontraído, não há uma ponta de
constrangimento nele.
Me levanto com ele, mais do que depressa.
– Mas ainda é muito cedo! – Seu pai diz com cara de decepcionado.
– Eu e a Jackeline ainda temos umas coisas para fazer. – O Rui me olha de
lado, sorri, parece provocativo.
Então, ele me arrasta junto com ele, cumprimenta os homens primeiramente,
e eles se despedem de mim. Em seguida seguimos para as mulheres, todas o
abraçam e beijam, parecem conhecê-lo desde criança, e quando chega minha
vez, me sinto como se tivesse uma doença contagiosa, apenas falam de longe
comigo.
Acho que mereço, afinal me deixei levar por ele, e estou vestida de uma
forma pouco comportada, todas devem me achar uma piranha de quinta.
Respiro aliviada quando chegamos ao seu carro.
– Desculpe, Jack, eu sei que minha mãe não se comportou bem – ele diz
parecendo realmente incomodado, culpado.
– Tudo bem, se eu estivesse no lugar dela, talvez reagisse do mesmo jeito.
Não entendo por que você não contou para eles sobre sua decisão, a não ser
que não seja uma decisão séria, e que tenha a intenção de reatar.
Ele me olha sério.
– Eu não tenho 20 anos, Jack, minhas decisões são sérias!
– Ok, mas desistir de um casamento é um negócio sério, não é justo com sua
ex-noiva deixar que ela resolva tudo. Imagino que havia uma festa, uma
cerimônia envolvida, pessoas para desconvidar, acho que sua atitude foi, no
mínimo, egoísta. – Olho para o vidro do passageiro, não sei por que estou
falando essas coisas, não tenho nada a ver com sua vida, mas é que essa pose
dele de que está tudo bem me irrita.
Ele passa alguns longos minutos pensando, enquanto dirige, e então vira em
minha direção e fala:
– Você tem razão, preciso resolver isso, eu realmente não tenho a intenção de
reatar com a Priscila, eu não a amo, e de uns tempos para cá, não suporto sua
presença. Talvez isso explique o porquê de não querer casar com ela. – Ele
me olha.
– É, não dá para casar com alguém que a gente não suporta, pode até não
amar, mas não suportar fica difícil – falo surpresa com sua declaração.
– Eu não quero me casar, nunca, não suporto a ideia de viver o resto da vida
amarrado a alguém! – ele diz como se fosse um desabafo.
O olho surpresa, talvez decepcionada.
– Oh, talvez isso explique o fato de você não ter se casado ainda. – Mexo em
minhas mãos. – Você não deseja ter filhos? – O olho de soslaio.
Ele franze sua testa, parece incomodado com esse assunto.
– Não, terei sobrinhos, eles serão como se fossem meus filhos – ele diz sem
emoção, parece frio e distante, talvez esse seja seu verdadeiro eu, o Rui
caloroso e carinhoso é apenas uma fachada para me conquistar, no fundo, no
fundo, sou apenas uma distração para um homem rico e entediado, que só vê
as mulheres como objetos de prazer.
– Eu sonho em me casar, pode parecer clichê, mas quero alguém para
envelhecer ao lado, ter filhos, dois, acho que é um bom número... – falo para
provocá-lo. – Não vejo graça em viver a vida sem um grande amor, sem
pensar em ter uma família, pode até ser que eu não consiga ter uma, mas esse
é meu desejo, não tenho vergonha de dizer isso.
– Todas as mulheres querem isso, só pensam nisso, parece que não sabem ser
felizes se não tiverem alguém ao lado.
– Ninguém é feliz sozinho.
Ele não responde, também decido que o assunto acabou, azedou na verdade.
Fico calada, decepcionada, é bom demais estar com ele, mas saber que ele
pensa desse jeito é ruim, causa um vazio, pois eu sou alguém muito diferente,
desejo muito ser mãe, ter uma família linda e feliz, um marido maravilhoso,
carinhoso e apaixonado por mim.
Mas as relações humanas mudaram muito, as pessoas hoje em dia só pensam
em si, e em seus desejos, não há mais a entrega, o altruísmo, não há mais
espaço para o amor.
O silêncio volta a rondar o espaço pequeno do carro, pesado e constrangedor.
O assunto não o agrada, isso é fato, e por isso o clima romântico que havia
entre nós acabou.
Chegamos em sua casa, ele estaciona na garagem, desce em silêncio e segue
para o interior da casa.
Sigo para o jardim e vejo o Bóris vindo em minha direção, ainda bem que ele
está aqui.
Me sento em uma espreguiçadeira grande e confortável, ele se senta ao meu
lado, deita sua cabeça em meu colo e ficamos os dois ali, absorvidos pela
paisagem, pelo silêncio quebrado apenas pelos sons dos pássaros.
– A vida é complicada, Bóris, sorte sua ter nascido cachorro – digo alheia a
tudo, só pensando na minha vida, nas pessoas que conheci, namorei, amei.
Não acho que realizarei meus sonhos nessa vida, talvez na próxima, isso se
eu não nascer cachorro, gato, pássaro.
Nosso final de semana estava tão bom, que pena que seus pais encontraram
seu caseiro. Poderíamos ainda estar naquele clima romântico.
Me deito na espreguiçadeira e me deixo levar pela sensação boa do sol em
mim, do pelo macio do Bóris entre meus dedos e da brisa quente que bate em
minha pele.
– Vou dormir um pouco, Bóris, é bom dormir quando a gente fica triste.
Fecho meus olhos e adormeço.
Capítulo 34
RUI FIGUEIREDO

E stava tudo indo bem até que meus pais chegaram.


Eu sabia que poderia acontecer isso, afinal, estou na mesma cidade que
eles moram, mas eu não pretendia ficar passeando com a Jack pelas ruas,
passaríamos mais tempo dentro de casa, na represa, e no máximo sairíamos a
noite. Mas, acho que não estou com muita sorte, então quando a Jack
interrompeu meu momento de glória, gozar e continuar excitado, com direito
a gozar duas vezes sem sair de dentro, eu não acreditei.
A situação foi engraçada, mas pela expressão nos rostos dos meus familiares,
eles não acharam nada engraçado quando viram a Jack estonteante em seu
biquíni indecente, mostrando toda a generosidade do homem lá de cima com
ela.
Eu sabia que quando meus pais soubessem do fim do meu relacionamento
com a Priscila, a coisa não ficaria muito boa, e não foi diferente.
Porra, eu não sei qual a fascinação que os pais têm em ver seus filhos
casados, porque a gente não pode ser feliz solteiro? Aliás, pela quantidade de
casamentos desfeitos que acompanho como advogado, está provado que esse
é o contrato mais falido que existe, a instituição do casamento é uma mentira,
não tenho dúvidas sobre isso.
A cara de reprovação de minha mãe e de espanto de meu pai não negam a
surpresa e o espanto deles ao me verem com minha deusa.
Talvez eu tenha agido como um moleque ao não contar para eles, mas é que
não estou a fim de dar satisfações a ninguém sobre minha vida. Cometi um
erro ao deixar as coisas chegarem ao ponto que chegaram, e agora não quero
ouvir ninguém me dizendo o que devo ou não fazer, a vida é minha, e quero
que foda-se o mundo, ninguém me fará voltar atrás.
Tentei ao máximo não deixar a Jack constrangida com tudo isso, mas eu sei o
quanto minha mãe consegue ser felina, arrogante e preconceituosa.
Ok, tenho que confessar, o churrasco foi um desastre, porque para piorar
minha mãe e meu pai haviam convidado seus amigos para participarem.
A Jack é uma mulher encantadora, mas seu corpo chama atenção demais, e
essas velhas mexeriqueiras já devem estar supondo muitas coisas, como por
exemplo, que a Jack é uma piranha qualquer.
Para mim é fato, mulher muito gostosa incomoda, o companheiro
primeiramente, dá um ciúme da porra de ver outros homens a desejando, e as
mulheres invejosas em segundo lugar, que gostariam de ter um corpo cheio
de curvas e de abundância.
Confesso, sou fissurado pelo corpo da Jack.
Mas, não tenho muito o que fazer sobre isso, não posso mudar a opinião de
ninguém, e também não quero, a Jack não é minha namorada, noiva, nada, só
estamos juntos por conveniência, gosto de ficar com ela, o sexo entre nós é
incrível, mas é só isso.
Seguimos para o meu carro, a cara da Jack não está muito boa, mas não tenho
o que fazer, não planejei esse encontro, foi uma coincidência infeliz.
– Desculpe, Jack, eu sei que minha mãe não se comportou bem. – Quebro
nosso silêncio, não gosto de vê-la séria, chateada.
– Tudo bem, se eu estivesse no lugar dela, talvez reagiria do mesmo jeito.
Não entendo porque você não contou para eles sobre sua decisão, a não ser
que não seja uma decisão séria, e que tenha a intenção de reatar.
A olho seriamente, do que ela está falando? Não sou um moleque, não
romperia um casamento por diversão.
– Eu não tenho 20 anos, Jack, minhas decisões são sérias.
– Ok, mas desistir de um casamento é um negócio sério, não é justo com sua
ex-noiva deixar que ela resolva tudo. Imagino que havia uma festa, uma
cerimônia envolvida, pessoas para desconvidar, acho que sua atitude foi, no
mínimo, egoísta! – ela diz como se quisesse me dar uma lição de moral, é por
isso que não suporto relacionamentos, as mulheres têm essa mania de dizer o
que devemos fazer.
Mas, tudo bem, talvez eu tenha feito as coisas de uma forma meio
atrapalhada, rompi e pronto, mas não tenho a intenção de reatar, então é bom
que eu me certifique que ela desconvidou as pessoas, devolveu os presentes,
enfim, não quero voltar atrás.
– Você tem razão, preciso resolver isso, eu realmente não tenho a intenção de
reatar com a Priscila, eu não a amo, e de uns tempos para cá, não suporto sua
presença. Talvez isso explique o porquê de não querer casar com ela – digo
sem remorsos, ou emoções.
– É, não dá para casar com alguém que a gente não suporta, pode até não
amar, mas não suportar fica difícil. – Ela parece surpresa, talvez indignada
comigo.
– Eu não quero me casar, nunca, não suporto a ideia de viver o resto da vida
amarrado a alguém! – desabafo, porque eu realmente não suporto a ideia de
viver com alguém, sou um cara solitário, gosto de viver sozinho, de trocar de
mulheres quando me encho delas.
Eu quero que a Jackeline saiba quem eu sou, não quero enganá-la, ou deixar
que ela romantize, se ela é sincera, eu sou mais.
– Oh, talvez isso explique o fato de você não ter se casado ainda... Você não
deseja ter filhos?
Franzo minha testa, fico tenso, odeio esse assunto, odeio tudo que envolva
relacionamentos.
– Não, terei sobrinhos, eles serão como se fossem meus filhos – respondo.
– Eu sonho em me casar, pode parecer clichê, mas quero alguém para
envelhecer ao meu lado, ter filhos, dois, acho que é um bom número... Não
vejo graça em viver a vida sem um grande amor, sem pensar em ter uma
família, pode até ser que eu não consiga ter uma, mas esse é meu desejo, não
tenho vergonha de dizer isso – Ela diz com firmeza, parece não se incomodar
de falar de seus sentimentos, anseios.
– Todas as mulheres querem isso, só pensam nisso, parece que não sabem ser
felizes se não tiverem alguém ao lado.
Que conversa de louco é essa que estamos tendo? Eu não quero falar sobre
isso com a Jackeline, estou com ela porque ela é divertida, leve, me faz bem,
mas parecemos um casal discutindo sobre nosso futuro. Mas que porra, por
que chegamos a esse ponto?
– Ninguém é feliz sozinho – ela diz, parece querer me provocar, mas ela não
me provoca, porque não vivo sozinho, sempre tenho companhia, nunca falta
mulher querendo ficar ao meu lado, e não preciso casar com nenhuma delas,
é só dar uns presentes, levá-las para passear que elas ficam felizes, e eu
também, no final é isso, não sei por que complicar.
Chegamos em casa, estaciono o carro, e sigo para o interior da casa, essa
merda de assunto me deixou irritado, se ela quiser, que venha atrás de mim, e
eu sei que ela virá.
Me sento em um sofá confortável, zapeio minhas mensagens, só tem
mensagem de mulher, elas ficam loucas no final de semana, tem meia dúzia
que gostaria de estar aqui comigo, talvez eu tenha escolhido a mais
complicada, a mais geniosa, eu deveria saber disso, afinal, quando a encontrei
no elevador ela parecia uma onça, essa mulher não deve ser nada fácil.
Dispenso as periguetes, talvez durante a semana eu saia com uma delas, a
menos complicada e mais devassa. Confesso que ainda estou na fissura pela
Jack, a filha da puta me pegou de jeito.
Penso nela e olho no relógio.
É, ela não virá atrás de mim, ponto positivo para ela, não gosto de mulher
chiclete. – Penso um pouco irritado, pois era isso que eu queria, que ela
viesse como uma cachorrinha atrás de mim.
– Tudo bem, Jack, aproveite enquanto o feitiço dura. Quando isso acabar, não
terá mais um Rui faminto e insaciável. – Me levanto e sigo para o jardim.
Balanço a cabeça ao vê-la deitada em uma espreguiçadeira, ela e o Bóris.
Quem vê a cena, diz que a dona do cachorro é ela, e não eu.
Me aproximo dela, tiro o Bóris da espreguiçadeira, acaricio seus cabelos,
olho para seu rosto, sereno, suave. Não posso mentir para mim mesmo, a Jack
tem mais poder sobre mim do que eu gostaria, mas isso vai passar, sempre
passa.
Me inclino sobre ela, beijos seus lábios, eu adoro essa boca, mas também
adoro esse corpo, essa pele macia, seu cheiro.
Ela abre os olhos, parece sonolenta.
Não estou a fim de conversar, já conversamos muito, e isso me deixou
irritado.
A beijo sem maiores explicações, ela corresponde, nosso beijo ganha
intensidade, sinto seus dedos entre meus cabelos, enfio minha mão por
debaixo do seu vestido, afasto sua calcinha e sinto a umidade entre suas
pernas, eu sei que a excito muito, ela já está pronta, como sempre.
– Eu quero foder você, Jack! – falo faminto, salivando.
Ela me olha intensamente.
– Então me fode, Rui! – ela diz sensual, sedutora, essa mulher me deixa
louco.
A pego no colo e saio a beijando em direção a casa, em instantes subo as
escadas, abro e fecho a porta do meu quarto, coloco-a sobre a cama, arranco
seu vestido, e mergulho meus lábios em sua buceta quente, molhada e
deliciosa.
Em instantes a levo ao orgasmo.
Adoro o cheiro da Jack, o gosto do seu sexo, dos seus beijos.
Tudo bem, estou inebriado em uma espécie de paixão por ela, mas é algo
momentâneo, carnal e sexual.
Essa pequena discussão mexeu comigo de um jeito estranho, quero possui-la
logo. Então, em instantes arranco minha bermuda, não me dou o trabalho de
tirar a camiseta, estou com pressa, a penetro feito um animal, e gozo em
poucos minutos.
Me deito sobre ela, e fico por alguns minutos abraçado à Jack, eu gosto disso,
desse silêncio, de sentir seu corpo, seu cheiro de mulher, sua pele macia em
contato com minhas mãos.
Desperto do meu estado de letargia.
– Vamos dar uma volta de barco, Jack? – falo mais calmo, acariciando seus
cabelos, e olhando para seus olhos.
– Tudo bem, eu gostei de passear de barco. – Ela sorri, e isso se reflete em
mim, estamos bem novamente.
São estranhos os sentimentos que ela causa em mim, quero estar bem com
ela, preciso senti-la, e saber que ela está feliz, que não está chateada comigo.
Ela acaricia meu rosto, me olha profundamente, me encanta, me enfeitiça.
Volto a beijá-la, e em instantes recomeçamos com o sexo, e isso é fato, o
sexo entre mim e a Jackeline é algo novo para mim, não sei dizer como, só
sei dizer que com ela é diferente.
Capítulo 35
JACKELINE BARTOLLI

O dia hoje foi complicado, começou bem, mas teve a visita dos pais do Rui,
o almoço e o clima azedou completamente. Achei que o final de semana
estava perdido, mas aí ele apareceu enquanto eu dormia na
espreguiçadeira, me beijou sem maiores cerimônias e em instantes estávamos
novamente em sua cama, fazendo sexo loucamente, não menos delicioso que
os outros, não existe sexo ruim com o Rui, mas ele estava diferente.
Fecho meus olhos e tento espantar esses pensamentos, estamos bem de novo,
a nuvem escura foi embora, e deixou apenas um sol maravilhoso.
Estou sentada em uma almofada grande e macia em seu barco, ele ancorou no
meio da represa, e pediu para eu esperar um pouco, entrou na cabine e
sumiu.
Aproveito esses minutos de paz, fecho meus olhos e deixo a brisa bater em
meu rosto. Adoro sentir a natureza, adoro coisas simples como o calor do sol,
a carícia do vento. Gosto também dos dias de chuva, do frio, amo sentir a
vida.
Um beijo suave em meu pescoço e desperto da minha meditação, abro os
olhos e sorrio ao vê-lo me olhando.
– Eu fiz algo para a gente comer, eu sei que você está com fome, não comeu
nada no churrasco.
– Não estou com fome. – Minto, estou varada, mas não posso deixar a
verdade vir à tona.
Ele ri, pega em minha mão e me puxa para um canto do barco, vejo uma
mesinha, uma tábua de frios e um vinho branco.
– Duvido que você não queira experimentar da minha especialidade.
Sorrio e me sento ao seu lado, pego algo e coloco em minha boca.
– Muito bom, você quem fez, é sua especialidade? – Brinco.
– Ok, isso não é bem uma especialidade, mas sou bom de arrumar. Ficou
legal, não ficou? – ele diz divertido, adoro vê-lo assim, e odeio vê-lo frio e
egoísta.
Escolho um pedaço de queijo e salivo, que queijo mais gostoso.
– Hum, ficou lindo, você já fez curso de como decorar pratos? – De novo tiro
sarro dele.
– Maldade, Jack, eu aqui querendo te agradar e você me tratando com
descaso. – Ele faz cara de magoado, mas eu sei que é só charme.
Seguro sua cabeça entre minhas mãos, e dou um beijo demorado em seus
lábios.
– Obrigada, Rui, você é um gentleman. – Ele sorri satisfeito e entrega uma
taça de vinho para mim.
– Estou ao seu dispor! – ele diz cheio de charme.
Passamos algumas horas conversando sobre amenidades, coisas que ele já
fez, viagens, sobre ele basicamente, então ele pergunta:
– E você, já viajou para fora do país? Me conta o que já fez!
Torço meus lábios, nunca fiz nada, tenho 27 anos, e mal conheço as cidades
dos outros estados do Brasil.
Confesso, tive uma vida sem graça.
– Nunca sai do Brasil, fiz poucas viagens, não sou muito aventureira – digo
sem jeito, acho que de fato nunca tive dinheiro para nada disso, nasci em uma
família muito simples, meu pai sempre ganhou pouco, ele nunca teve uma
profissão, era operário em uma fábrica, minha mãe nunca trabalhou fora,
enfim, somos como muitas pessoas, mas tive uma vida feliz, sempre tive
muito amor e atenção, isso compensa o resto.
– Não tem vontade de viajar, conhecer outros lugares? – ele pergunta, com
aquele olhar penetrante, intenso e indagador.
– Tenho, talvez algum dia. – Tento não falar muito sobre isso, porque depois
que conheci seus pais, percebi que o Rui não é só rico pelo trabalho dele, ele
é um homem rico de berço.
– Você não está muito falante, Jack, tem alguma coisa te incomodando? – O
olho intrigada.
O Rui é uma caixinha de surpresas, às vezes tão frio e distante, e às vezes tão
preocupado e presente.
É difícil entender esse homem.
– Não! – respondo despreocupada, talvez nossa conversa depois do
famigerado churrasco tenha me deixado meio amortecida, não sei dizer, sou
assim, já tomei tanta porrada da vida que acho que não sinto mais nada,
apenas aceito de bom grado os momentos felizes, as coisas boas. – Está tudo
bem, às vezes sou assim, mais introspectiva.
– Me desculpe se fui um pouco grosso com você. – Ele evita me olhar,
disfarça.
– Você não foi grosso comigo, só foi sincero – respondo encarando seu rosto,
ele me olha rapidamente, mas logo disfarça e volta a olhar para o horizonte. –
Me desculpe se me intrometi em sua vida, não tenho nada a ver com o seu
relacionamento, com sua vida, ou da sua família. – Ele me olha pensativo. –
Tenho uma língua muito grande, às vezes ela não cabe em minha boca.
Ele ri de minha piadinha idiota.
– Eu gosto do seu jeito, eu já te disse isso antes. – Ele acaricia meu rosto,
coloca meu cabelo que está em meu rosto atrás de minha orelha, e me encanta
com o seu olhar.
– Seus olhos são lindos, Rui – falo sem pensar, adoro tudo nele, mas também
não preciso ficar babando feito um buldogue.
– Os seus também são lindos, Jack! Você é linda! – Ele me encara, e eu viro
gelatina.
Oh, ele sabe como desestruturar uma mulher.
– Talvez você precise de óculos Rui, quero dizer, você já usa um, mas
deveria usá-lo mais – falo encabulada, ele me deixou muito sem graça.
– Só preciso de óculos para ler, enxergo bem de longe! – Ele me encara,
passa seu braço pela minha cintura e me puxa para junto dele, nos deixando a
centímetros de distância. – Você é linda, Jack!
Sorrio, continuo sem graça, já ouvi muitos elogios, mas todos de baixo calão,
ser chamada de linda é algo profundo. Eu não sou linda, eu sei disso, mas ele
me faz sentir linda, talvez seja algo de dentro para fora, me sinto plena
quando estou com ele, porque o Rui é um tipo de homem que faz a mulher
que está com ele se sentir assim, linda, gostosa, plena.
– Obrigada – sussurro, e já sinto meu coração disparado, um amortecimento
nas pernas, eu já senti isso antes, e sei o que significa.
Não espero que ele me beije, já passei dessa fase, eu quero que se fodam as
convenções, invado sua boca com a minha, e ele me coloca em seu colo, e
apenas nos beijamos, nos acariciamos, e isso é bom demais. Aos poucos ele
me deita no banco, cobre meu corpo com o dele e transamos ali, no meio de
uma represa, a céu aberto.
Não tiramos nossas roupas, foi um sexo meio selvagem, daqueles que
fazemos em lugares indiscretos, parecendo cachorros no cio.
Aos poucos nos acalmamos, e cada vez fica mais claro para mim, a atração
sexual que existe entre nós é forte demais, não conseguimos ficar juntos sem
nos tocar, me sinto em brasa quando estou com ele, faria sexo em qualquer
lugar, apenas pelo impulso e descontrole que sinto quando estou com ele.
Isso é bom, mas ruim ao mesmo tempo.
– Quer voltar, Jack? – ele diz manhoso, enchendo meu rosto de beijos.
Por que ele faz isso comigo, me deixa tão apaixonada?
– Você quem sabe – respondo de olhos fechados, embriagada de prazer.
– Ok, eu ficaria o dia inteiro aqui com você, só fazendo o que estamos
fazendo, mas a gente pode voltar e curtir um pouco a casa, a piscina. – Ele se
inclina sobre mim, estou deitada. – De noite saímos, existem muitos
restaurantes legais na cidade, você vai gostar.
– Tudo bem, não sou muito complicada, topo qualquer coisa – falo com
sinceridade e simplicidade, apenas gosto de ficar com ele, e me assusto com
esse sentimento que cresceu dentro de mim.
Como em tão pouco tempo esse homem ganhou tanto espaço em meu
coração?
Mais um beijo, rápido, mas não menos delicioso, ele se levanta, arruma sua
bermuda. Arrumo meu biquíni, estou praticamente nua, mas de qualquer
forma, cubro os principais.
****
Não sei quando foi a última vez que passei um dia tão adorável quanto o de
hoje, realmente não me lembro.
Horas esticadas no sol, revezando entre um mergulho e outro, muitos beijos e
muitas guloseimas.
– Você está acabando com minha dieta, Rui! – digo depois de me deliciar
com uma taça de sorvete.
Ele é jeitoso, engraçado, me cobre de mimos, não vou mentir, ele é incrível,
está o tempo todo me oferecendo coisas, me dando beijos, ele é apaixonante,
pena que tenha um lado negro, aquele que odeia relacionamentos.
– A gente está fazendo bastante sexo, Jack, uma coisa compensa a outra – ele
diz, e ri ao mesmo tempo.
Sorrio do que ele diz, e o beijo lambuzando seus lábios de sorvete.
E assim seguimos até o final da tarde, deliciosamente, no melhor final de
semana da minha vida.
****

Entramos no banheiro em meio a muitos beijos, arranco sua roupa, ele tira
meu biquíni. Ele abre a torneira do chuveiro, e começa a ensaboar meu corpo,
e isso é uma tortura, sua mão escorregando pelos meus seios e trilhando um
caminho ardente até o meio das minhas pernas.
Não, não vou mentir, eu nunca conheci um homem que me fizesse sentir
tanto prazer.
Ele me toca e eu gemo.
Enquanto a gente se beija, ele me enlouquece com seus dedos, me
estimulando e me invadindo.
Minha respiração acelera, ofego de prazer e chego novamente ao orgasmo.
– Oh, Rui, que delícia... – Gemo descontrolada, enfiando minhas unhas em
suas costas, beijando sua boca, e me entregando por completo.
– Geme, Jack, pode gemer bem alto, gostosa! – ele diz enquanto me
enlouquece de prazer.
Volto a terra, abro meus olhos e encontro os dele, felinos e cheios de desejo.
– Agora eu quero você – eu digo ao mesmo tempo em que saio beijando seu
corpo, agacho-me e envolvo seu membro com minha boca, e levo-o ao
orgasmo.
– Jack!!! – Ele geme meu nome, segura meus cabelos, e os puxa, ele foi para
outro planeta, e voltou. – Caralho, Jack, foi demais.
O abraço e o beijo novamente, confesso, acho que sou ninfomaníaca. Morro
de tesão por esse homem, e vou levá-lo a exaustão se não me controlar.
– Jack, acho que você vai me deixar de cama – ele diz sem fôlego. – Que
fogo da porra que você tem! – ele diz me prensando contra a parede e me
penetrando.
– Você também tem fogo, Rui – falo em meio as suas investidas contra meu
corpo, fortes, profundas e deliciosas.
– Eu morro de tesão por você, Jack! – ele diz insano, e mais uma vez
deliramos em nossa orgia de sexo.
Ele descansa sua testa na minha e respira de boca aberta, parece que vai
morrer.
– Caralho, isso está parecendo uma competição, Jack! – ele diz e ri. – Qual de
nós dois vai dizer que desiste? – ele fala rindo.
– Acho que sou eu, estou cansada e com sono! – digo exausta.
– Sem chance de dormir, Jackeline, vamos jantar fora, dispensei a esposa do
caseiro.
– Você não tem nada na geladeira? Comemos qualquer coisa! – digo de olhos
fechados, deixando a água cair em minha cabeça.
– Quero sair um pouco, não aguento mais fazer sexo com você – ele diz e eu
arregalo meus olhos, e ele cai na risada.
– Acordou, Jackeline? – Ele ri mais, ensaboando seus cabelos. – Estou
brincando, era só para te acordar – ele diz divertido. – Vou te levar num
restaurante bem romântico, eu sei que você é romântica, gosta de jantares a
luz de velas, ganhar flores...
O olho confusa.
– Como você sabe disso? – Ele me olha confuso, dá um sorriso sem graça.
– Adivinhei, não estou certo? – Ele faz uma cara engraçada.
– Sim, adivinhou, mas não precisa fazer nada disso – falo arredia, para que
fazer isso se ele não é assim?
– Eu gosto de te ver feliz, sorrindo... – Ele segura meu rosto e me olha dentro
dos olhos, me fazendo sentir as borboletinhas no estômago.
– Ok, faça o que quiser – respondo me sentindo embriagada por seu olhar.
– Então, vamos terminar esse banho, antes que eu desista – ele diz bocejando
feito um urso.
Coloquei o vestido que ele me deu na primeira vez que fomos àquela loja
chique. Ele é justo na parte de cima, levemente rodado abaixo da cintura e
com estampas florais.
O tecido leve e delicado dá ao vestido um caimento sensual, assim como o
decote no busto, ele me deixou muito feminina e chique.
Arrumo meu cabelo em um coque, coloco meus brincos de argola e faço uma
maquiagem.
Me olho no espelho e me sinto bonita, o sol me deixou com a pele levemente
dourada, sexy.
– Podemos ir? – Ele me abraça pela cintura, beija meu pescoço, viro meu
rosto e beijo o canto de seus lábios.
– Podemos. – Me viro para o olhar. – Você está muito gato, sabia?
Ele está irresistível, apenas uma camisa branca e uma calça jeans escura o
deixam muito bonito.
– São seus olhos, Jackeline! – Ele pisca, fazendo charme. – Vamos, minha
deusa.
Sorrio e o sigo em direção à porta.
Em instantes chegamos ao restaurante, e que restaurante!
Tudo bem, acho que até hoje não tinha frequentado tantos lugares
sofisticados, isso é fato, o Renato é um mão de vaca dos infernos.
Mas, enfim, não quero lembrar do Renato.
Sentamos em um mesa, o garçom acende a vela, o lugar é ligeiramente
escuro, dando um ar romântico, me sinto especial hoje, de muitas formas.
– Lindo aqui, Rui! – digo encantada. – Obrigada por me trazer num lugar tão
bonito.
– Você merece, minha deusa! – Ele leva minha mão até seus lábios e a beija.
– Vamos comer o que? – Ele pega o cardápio e começa a escolher nosso
prato.
A noite não foi menos especial do que o dia, comemos num clima leve,
porque não dizer romântico.
Uma banda de música instrumental toca ritmos suaves e românticos.
– Esse restaurante é muito romântico – falo bebericando meu vinho.
Ele se levanta e pega em minha mão.
– Então, vamos dançar – ele diz e me arrasta para a pista de dança, onde
alguns casais dançam.
– Você gosta de dançar, né, Rui? – digo me divertindo com seu rompante.
Ele segura minha mão junto ao seu peito, a outra em minha cintura, une
nossos corpos, e começamos a dançar.
Dançamos com os olhos vidrados um no outro, cada centímetro dos nossos
corpos colados.
Mais uma coisa para a minha lista de coisas que nunca fiz, dançar juntinho,
embalada apenas pelo som harmonioso que sai dos instrumentos musicais.
– Você não me respondeu, você gosta de dançar? – pergunto novamente.
– Gosto! – Ele me encara, daquele jeito sedutor, me deixando sem ar.
– O que mais você gosta, Rui? – pergunto enfeitiçada pelo seu olhar.
– De você, Jack, de ficar com você, de te beijar, do seu cheiro, da sua boca. –
Enquanto ele fala, seus lábios vão depositando beijos em meu rosto, pescoço,
beijos delicados, singelos. – Do sexo, Jack, você é viciante! – Um gelado
percorre meu estômago, e parece chegar ao coração.
Fecho os olhos e apenas me deixo levar por ele.
– Você é o mestre da conquista, Rui! – digo de olhos fechados, e então sinto
seus lábios sobre os meus, macios, quentes.
Seus braços me apertam contra o seu corpo e ele aprofunda o beijo.
– Vamos embora, Jack. – Ele pega em minha mão e sai rapidamente da pista
de dança, em instantes estamos no carro.
Acaricio seus cabelos e beijo seu rosto enquanto ele dirige, novamente ele
está com pressa, afoito, parece um garotão de 20 anos.
Chegamos a sua casa, ele sai me arrastando para seu quarto, parece que vai
tirar o pai da forca.
Ele começa a tirar meu vestido, mas o faço esperar.
– Espera, deixa eu fazer uma surpresa para você – falo com um sorriso no
rosto.
– Vai demorar? – ele diz parecendo salivar.
– Não! – Pego minha mala e sigo para o banheiro.
Tiro meu espartilho, a calcinha e a meia liga da mala.
Em segundos estou despida, colocando o espartilho, e bufando de raiva
enquanto prendo os ganchinhos.
Me olho no espelho, ajeito o espartilho ao meu corpo, e relembro quando nos
conhecemos e sorrio.
– Ele é um devasso, sempre foi. – Respiro e inspiro, e saio do banheiro, e o
encontro deitado na cama, mostrando toda a sua virilidade, com uma ereção
pronta.
Ele me vê e se senta na cama em um solavanco, e me olha de um jeito que me
faz esquecer tudo que passei naquela noite em que briguei com o Renato.
– Oh, Jack, que visão do paraíso! Vem aqui, minha delícia! – ele diz com
seus olhos de devorador de mulheres.
Caminho até ele sensualmente, ele segura minha cintura e mergulha sua boca
maravilhosa em meus seios, apalpando meu bumbum, apertando-o entre suas
mãos.
– Você é linda, Jack! – Ele me deita, e começa a me enlouquecer com sua
boca, sua língua, que explora cada pedacinho da minha intimidade, descendo
beijos pelas minhas coxas, em minhas pernas inteiras, em meu pé. Dou
risada, porque sinto tesão em cada pedaço do meu corpo onde ele beija. Ele
volta a me beijar, massageia meu clitóris, beija meu pescoço, volta a me
atormentar sugando meus seios.
– Oh, Rui, eu não aguento... – Falo em soquinhos, tentando controlar o tesão
que sinto. – Me fode, Rui! – sussurro puxando seus cabelos, enquanto ele
beija meus seios, e me estimula com seus dedos.
– Não precisa pedir duas vezes, minha deusa! Vira, Jack, quero ver esse
bumbum gostoso. Quero te foder de quatro, minha delícia!
Me viro, me apoiando em meus braços, ele me penetra, geme de prazer,
aperta minhas nádegas, mais um estocada...
– Oh, Jack, minha gostosa! – Ele geme meu nome.
– Mais, Rui!
Ele me penetra forte.
– Assim, gostosa? – ele diz com sua voz gutural.
– É, Rui... – Ele me penetra com força. – Ahhh... – Grito de prazer. – Mais,
Rui... – Gemo alto.
– Caralho, Jack, assim eu não aguento. – Mais uma estocada, junto com um
tapa em meu bumbum, grito de surpresa, de prazer, adoro quando ele faz
isso.
– Vai, Rui, me mata de prazer. – E ele começa, seu corpo se choca contra o
meu, duro, insaciável, assim como os tapas, as massagens. – Eu vou gozar,
Rui. – Gemo alto, escandalosa, devo ter acordado todos os vizinhos. – Ohhh,
Rui!!! – Desabo meus braços, empino minha bunda, e ele se acaba, uma,
duas, três vezes, e seus urros de prazer reverberam no quarto, na casa, no
bairro inteiro. – Jesus, que loucura! – falo para mim mesma, ele desaba ao
meu lado, relaxo meu corpo e tento respirar, estou ofegante.
Ele fica de olhos fechados, respirando feito um louco. O olho preocupada e
acaricio seu rosto.
– Rui, você está bem? – Sinto um pânico dentro de mim.
Ele abre os olhos e ri.
– Tá com medo que eu morra, Jack?
Relaxo e dou risada.
Credo, sou muito preocupada!
– Acho que estou exigindo muito de você, você já está meio velhinho! –
Brinco e ele ri ruidosamente.
– Tenho 35 anos, mas meu corpinho é de 20! – ele diz orgulhoso.
Reviro meus olhos, o abraço, me deito em seu ombro e cheiro seu pescoço.
Estou apaixonada por esse homem, não há o que fazer.
– Rui, meu dia foi maravilhoso, obrigada! – falo cansada, apenas sentindo seu
peito subindo e descendo. – Quero dormir.
Ele se mexe, fica de lado.
– Me deixa tirar isso de você, se vira de costas. – Me viro preguiçosa, ele vai
abrindo os ganchos que prendem o espartilho e beija minhas costas. – Dorme,
minha deusa, eu só vou tomar uma água. – O sinto me cobrindo com uma
colcha e apago, literalmente.
Capítulo 36
JACKELINE BARTOLLI

Q ueMefinal de semana incrível!


espreguiço na varanda do quarto do Rui, olhando a linda represa a
minha frente.
Estou vestindo sua camiseta, não sei para que trouxe camisolas se não as uso,
não consigo colocar nada bonito para dormir, ou melhor, não uso nada para
dormir.
O sol está a pino, mais um dia lindo nos espera, fecho os olhos e deixo o sol
quente aquecer meu rosto, adoro essa sensação de olhar para o sol e sentir seu
calor em minha pele.
Mas meu sossego durou pouco, logo sinto braços fortes ao redor da minha
cintura, me apertando contra uma ereção matutina.
Sim, esse homem é o deus do sexo, deve haver um, existe o deus da beleza,
do amor, e deve haver o do sexo, e o nome dele é Rui.
– Bom dia, minha deusa! – ele diz no meu ouvido, mordiscando minha
orelha, esfregando sua barba rala contra minha pele. – Como você acorda e
me deixa sozinho na cama? – ele diz manhoso, com sua voz rouca de sono.
– Bom dia! – O olho de lado. – Você estava dormindo tão gostoso, não quis
te acordar. – Beijo suavemente seus lábios.
Ele me vira para ele, segura meu rosto entre suas mãos e me beija
profundamente.
Aquele friozinho no estômago aperta, acaricio seu peito, seus pelos macios,
sua barriga. Já estou pronta, molhada, encharcada, ele não pode me beijar que
fico assim.
– Vamos para a cama – ele diz com seu olhar de predador, me coloca em seu
colo, abre a cortina do quarto, me deita em sua cama e pronto, o dia começou
como sempre, com muito sexo.
****
Coloco meu biquíni mais decente, prendo meu cabelo em um coque, coloco
um short curto e uma blusinha por cima do biquíni.
Volto para a varanda, o Rui está tomando banho, e enquanto isso, volto a
olhar para a represa, estou apaixonada por esse lugar.
Me sento de joelhos numa poltrona confortável, colocada na varanda, meu
peludo preferido se senta ao meu lado, acaricio seu pelo macio, beijo sua
cabecinha e ficamos nos curtindo. Foi amor à primeira vista, ele me ama e eu
o amo.
– Vamos, Jack! – Ouço a voz grossa do Rui, ele aparece de cabelos
molhados, short e camiseta, tão despojado, nem parece o advogado fodão que
conheço.
Me levanto, pego em sua mão que ele estendeu para mim e o sigo para o piso
inferior. A mesa de café da manhã está estendida e repleta de coisas
deliciosas.
Nos sentamos, comemos e conversamos, estamos tão íntimos, parecemos um
casal de namorados, mas não somos, não posso me esquecer disso.
– O que vamos fazer? – pergunto ao terminar meu café.
– O que você quer fazer? – ele diz me puxando para seu colo. – Você que
manda, Jack!
Sorrio, beijo seus lábios.
– Só quero ficar com você, não importa fazendo o que – digo apaixonada, é
uma merda, mas é isso, estou apaixonada por ele.
Ele sorri, parece satisfeito, obviamente.
– Estou com saudades de conduzir meu barco, se você não se incomodar
podemos dar uma volta novamente, existe um restaurante do outro lado da
represa, ancoramos lá e almoçamos. – Ele acaricia meu rosto. – O que você
acha?
– Perfeito, adorei! – Saio do seu colo. – Posso ir assim, ou preciso me
arrumar?
– Não. – Ele entorta seus lábios. – Para que, você está linda assim!
– Oh, não estou linda, short e camiseta, talvez seja melhor um vestidinho por
cima do biquíni, vou trocar. – Sigo apressada para sua casa, antes mesmo
dele responder, não confio mais na opinião do Rui, da última vez apareci
feito uma perua na frente de sua família, não quero mais passar por isso.
****

Passamos um dia maravilhoso, almoçamos em um lugar incrível, e agora


chegou a hora de voltarmos.
Arrumo minhas coisas em minha mala, termino de colocar minhas sandálias e
estou pronta, aguardando enquanto o Rui conversa com seu caseiro.
Bom, na verdade ele foi até a casa de seus pais, se despedir deles, e agora está
conversando com o caseiro, eu fiquei com o Bóris em sua casa.
Ouço barulho de passos na escada e logo meu deus grego aparece em seu
quarto.
– Oi! Deu tudo certo? – pergunto por educação, não pretendo mais me meter
em sua vida pessoal.
– Deu tudo certo! – Ele abraça minha cintura e me dá um beijo rápido. –
Podemos ir? Não quero chegar muito tarde em casa.
– Sim, está tudo arrumado – digo rapidamente.
Ele pega minha mala, a sua e caminha para a porta.
– Vem, Jack!
Caminho junto com ele, ele guarda as coisas em seu carro, e enquanto isso,
ajeito o Bóris no banco de trás.
– Você fez xixi, Bóris? – Ele abana o rabo. – Acho que sim, né? – Beijo sua
cabecinha e sigo para o banco do passageiro. – Estamos prontos, Rui.
– Ok, passageiros, então vamos começar nossa viagem – ele diz divertido, me
olhando com um sorriso no rosto.
– Você pode me deixar em minha casa? – digo assim que pegamos a estrada.
Ele me olha de lado, parece incomodado.
– Por quê? Pensei que iriamos para o meu apartamento, e amanhã você vai
comigo para o escritório – ele diz com a testa levemente franzida.
– Ah! – Penso. – Bom, eu não trouxe uma roupa de trabalho.
– Você veste o seu tailleur que ficou em meu apartamento, não vejo nada
demais. – Ele me olha rapidamente.
– Tudo bem, Rui! – respondo rapidamente. – Estou adorando nosso final de
semana, só pensei em te deixar respirar um pouco. Não está cansado de mim?
Ohhh! Reviro meus olhos no mesmo momento que digo, isso soou tão
carente!
Como sou idiota.
Ele sorri.
– Não, não estou cansado de você. – Ele me olha de canto de olho. – Você
está cansada de mim?
Bom, não sou só eu que estou parecendo carente.
Sorrio feliz.
– Não, ainda falta muito para ficar cansada de você! – falo em tom
debochado.
– Então, vamos aproveitar – ele diz sedutor.
– Vamos! – respondo sorrindo e beijando seu rosto.
****

Depois de horas na estrada, chegamos ao seu apartamento.


– Vamos relaxar na banheira, Jack – ele diz subindo as escadas que levam aos
quartos. – Estou morto de cansado.
– Tudo bem! – Beijo a cabecinha do Bóris e o sigo para o seu quarto.
Logo estamos dentro da banheira.
Me sento e em seguida o Rui senta entre minhas pernas.
– Vou fazer massagem em você. – Cochicho em seu ouvido e começo a
massagear seus ombros, pescoço e desço para as costas. – Gostou?
– Hummm! Muito, Jackeline, você tem mãos de fada – ele diz preguiçoso. –
Vamos ficar mais um pouquinho.
– Tudo bem! – Beijo seus cabelos, acaricio seu tórax, e aproveito esses
minutos deliciosos ao lado desse homem incrível.
Vou sentir falta dele durante a semana, porque no escritório não podemos
desfrutar desses momentos de intimidade, preciso me acostumar com nossa
vida dupla.
Percebo sua respiração profunda, ele cochilou, mas a água começa a ficar
fria, e preciso acordá-lo.
– Rui, vamos sair, a água está esfriando! – Sussurro em seu ouvido.
– Peguei no sono – ele diz despertando. – Vamos sair, pedimos alguma coisa
para comer, e dormimos cedo, Jack. Você acabou com todas as minhas
energias! – ele diz rindo, e sai da banheira.
– Oh, Rui, que injustiça, parece até que te obriguei a fazer alguma coisa,
ainda nem compramos as algemas! – falo brincando, e seguindo-o para a
ducha.
– Poxa, temos que ir a um sexy shop, faremos isso durante a semana – ele diz
malicioso.
– Era brincadeirinha, você não está levando isso a sério, né?! – falo
ensaboando seus cabelos.
– Claro que estou! Vamos fazer compras, chicotes, algemas, vibradores, o
que mais podemos comprar? – ele diz irônico.
– Sei lá, nunca fui a um lugar desses! Mas, os chicotes serão para eu usar em
você – digo preocupada.
– Vamos fazer umas coisas diferentes, Jack! – Ele sorri, parece estar
adorando a ideia. – A gente vê o que tem de interessante no sexy shop.
Reviro meus olhos, ele está muito empolgado, não sei se quero experimentar
coisas diferentes.
– Ok, Rui, depois vemos isso – digo rapidamente.
– Quer transar, Jack? Essa história me deixou excitado. – Ele olha para o seu
amigo, depois para mim.
Sorrio do jeito dele, parece um garotão, mas um garotão muito gostoso, não
resisto a ele.
– Rui, você é ninfomaníaco! – Dou risada.
Ele me agarra pela cintura, me fazendo gritar de surpresa.
– Acho que sou, Jack, você me deixou assim. – Então ele invade minha boca
com a sua, e voltamos a nossa maratona de sexo.
****

É indescritível a sensação boa de dormir ao lado do Rui, quero dizer, grudada


ao Rui. Ele é um homem muito carinhoso, atencioso, gentil, ele é um
príncipe, mas tem o seu lado negro, não posso me esquecer disso.
Adormeço acolhida em seus braços, já acostumei com essa vida de casal, é
bem estranho isso, mas me acostumei com ele como se o conhecesse há
quatro anos. Parecemos almas gêmeas, combinamos muito, nos damos bem, e
quando fazemos sexo, é um negócio explosivo, nunca senti isso com
ninguém, química pura, das mais perigosas, ele é fogo e eu, a gasolina.
Desperto com beijos suaves e molhados em meus lábios, abro levemente
meus olhos, e encontro os seus, cinzas como uma tempestade. Seus olhos
mudam de cor, ora são claros, quase azuis, e ora são de uma cor cinza
profundo. São lindos, sedutores, misteriosos e hipnotizantes.
– Bom dia! – falo com um sorriso, aliás, nunca estive tão bem-humorada nas
primeiras horas do dia, acho que é o efeito paixão, muito hormônio da
felicidade correndo solto no corpo causa essa sensação de felicidade
indescritível.
– Bom dia, minha deusa! – ele diz com sua voz rouca, arrumo seus cabelos
com minhas mãos, pois estão bagunçados dando a ele um ar de menino, ele
fica lindo quando acorda. – Hoje é segunda-feira. Odeio segundas-feiras,
Jack!
Ele parece mal-humorado, é estranho vê-lo mal-humorado, porque ele é um
cara bem-humorado.
Ele se levanta e segue para o banheiro, o sigo preguiçosa, me esticando feito
uma cobra. Tivemos uma noite muito quente, então parece que cada músculo
do meu corpo está cansado, como se eu tivesse feito ginástica.
Acho que vou emagrecer, faço muito exercício quando estou com esse
homem.
Entramos na ducha, ele fecha os olhos e fica embaixo da água. Abraço sua
cintura e esgueiro-me para beijá-lo.
– Tá mal-humorado, Rui?
Ele sorri torto, tão sexy.
– Estou, Jack, hoje é meu dia!
Abraço seu pescoço e procuro seus lábios.
– Eu vou te ajudar a acabar com esse mau humor – falo bem-humorada.
O beijo, acaricio seu corpo, e por fim envolvo seu pênis com minha boca.
– Hummm, Jack, você é demais! – Ele geme feito um gato.
Eu queria levá-lo ao orgasmo, mas sou interrompida.
– Vem, gostosa, eu quero te foder! – Ele me coloca de costas para a parede,
me penetra, puxa meus cabelos fazendo com que meu rosto fique de lado, o
olhando. – Fala para eu te foder, Jack!
Esse homem é muito sensual.
– Me fode, Rui! – falo ofegante.
Sinto uma estocada forte, ele puxa mais meus cabelos, me causando um
misto de dor e prazer.
– Fala de novo, Jack! – Ele me beija guloso, com vontade, parece querer me
engolir nesse beijo.
Afasto meus lábios dos seus.
– Me fode, meu homem! – falo gemendo, mas um puxão nos meus cabelos.
– Você me deixa louco, Jack! – Ele morde meu pescoço. – Eu sou seu
homem, é isso? – Mais estocadas e estou gemendo.
– Você é meu homem, Rui! Me fode, meu homem!
Uma mordida em meu ombro, e tenho certeza que ficarei roxa.
Uma, duas, três estocadas...
– Minha gostosa! – Sua voz sai gutural, ele segura meus seios entre suas
mãos e começa a me foder alucinadamente.
Pai eterno, eu vou morrer! – Penso, deliro, e gozo estridentemente, ele atingiu
meu âmago, o fundo do meu ser, esse homem é demais, ele não existe, deve
ser um robô feito para o sexo.
– Caralho!!! – ele grita, e geme, e urra, e parece que vai morrer também.
Sinto seus braços me apertando em um abraço, seu coração contra a pele das
minhas costas, sua respiração rápida, quente e macia em minha pele.
– Caralho, Jack, que trepada animal!
Descanso minha testa no azulejo, estou tremendo inteira, como se cada
músculo do meu corpo estivesse esgotado.
Ter relações sexuais com um homem como esse leva à exaustão, literalmente.
Ele me vira para olhá-lo.
– Estou bem melhor agora, Jack! – Ele abre um sorriso grande, lindo.
Que boca mais linda que ele tem.
– Que bom, Rui! – falo esgotada.
– Vamos tomar banho, hoje é dia de trabalho, Senhorita Jackeline, seu chefe
é bem exigente, e hoje você vai ter que trabalhar muito – ele diz animado,
parece outro, realmente sexo é o remédio para esse homem.
– Oh, você me deixou cansada, Rui! – falo de olhos fechados, sonolenta.
– Pode deixar, minha deusa, eu vou cuidar de você! – Sinto suas mãos
labuzadas de sabonete em meu corpo, mas isso não vai dar certo, porque isso
me excita demais.
– Não, Rui, deixa que eu me lavo, é melhor! – Pisco para ele, ele ri e volta a
tomar seu banho.
****

Tomamos café da manhã rapidamente, sigo com o Rui para a porta, mas antes
converso com sua empregada, essa semana será o coquetel do escritório, e
confesso, estou bem nervosa com isso.
– Está tudo certo para o coquetel, Rui – falo enquanto entramos no elevador.
– Qualquer dúvida, me fala, Jack. Eu sei que isso é novo para você, não
precisa ficar constrangida de me perguntar – ele diz carinhoso, compreensivo.
– Tá bom. – Me assusto quando o elevador para no andar do Renato, cada
músculo do meu corpo fica tenso.
A porta abre e dou de cara com o Renato, ele me olha surpreso.
– Oi, Renato! – falo num sussurro, sinto a mão do Rui segurar a minha, ele
me puxa para junto dele e abraça minha cintura.
– Oi, Jack! – Ele me olha, olha para a cena, ou seja, eu nos braços do Rui,
disfarça e abaixa a cabeça.
Fecho meus olhos e sinto uma tristeza, meus olhos enchem de lágrimas.
Por que estou me sentindo assim?
Eu nunca mais retornei uma mensagem, uma ligação dele, ele tentou falar
comigo muitas vezes, mas é que depois que conheci o Rui não consegui mais
pensar nele, simplesmente o Rui me envolveu em sua teia, não deixou espaço
para mais ninguém.
A descida do elevador foi uma tortura, eu, o Renato e o Rui, aliás, os dois
com R, devo ter uma queda por homens com a letra R.
O elevador abre na garagem, ele sai sem se despedir de mim, some na
garagem, e meu peito aperta. Não é assim tão fácil esquecer um
relacionamento de quatro anos, ele foi importante para mim, não me amou
como eu esperava, mas eu o amei. Não sou uma pessoa fria que já esqueceu o
que aconteceu entre mim e ele. Ele me decepcionou muito, mas também me
fez feliz muitas vezes.
O Renato é muito diferente do Rui, introspectivo, tímido, caseiro, mas ele é
amigo, fomos muito amigos, ele era meu melhor amigo, me dava muitos
conselhos.
Me sinto tão triste de nosso relacionamento ter acabado assim!
Sigo de mãos dadas com o Rui para seu carro, calada, absorta em meus
pensamentos.
Ele me olha de lado, disfarço e tento dar um sorriso.
– Tudo bem, Jack? – ele diz já dentro do carro.
– Tudo bem – falo sem vontade, não quero falar sobre isso.
– Parece que esse cara mexe com você – ele diz secamente, olho para ele, e
vejo uma expressão dura. Será que ele tem ciúmes de mim?
– Namoramos quatro anos, fico triste de termos terminado de uma forma tão
ruim – falo sem o olhar.
Ele não diz nada, acaricia meus cabelos, pega minha mão e a beija.
– Eu estou aqui, Jack!
Sorrio, é claro que ele está aqui, não há dúvidas disso.
– Eu sei que você está aqui. – Sorrio.
– Então, esquece ele.
O olho surpresa, ele tem inseguranças, e isso é bem estranho. Porque um
homem como o Rui, não parece sofrer de nenhum dos males dos seres
humanos, ele parece acima de tudo isso, seguro, resolvido, dono de seu
coração, da sua mente, da sua vida.
Me esgueiro até ele, aproveito o sinal fechado e o beijo, é assim que esqueço
meus problemas, nesses lábios.
Ele segura meu rosto e me beija, sinto aquele gelado no estômago, uma
vontade louca de dizer...
NÃO, eu não amo o Rui, é paixão, amar é mais profundo, estar apaixonado é
algo superficial, passa, amar é para sempre, não se deixa de amar alguém.
Eu amo o Renato, o amo acima do amor de homem e mulher, temos uma
história juntos, eu sei que isso parece louco, mas eu nunca o esquecerei.
Uma buzina nos faz afastar nossos lábios, ele me olha profundamente, sinto
uma pressão no peito e respiro fundo, ele me tira o ar.
– O trânsito, Rui – digo o acordando do seu feitiço, porque ele às vezes me
olha tanto, isso é tão confuso.
Ele sorri, segura minha mão, a leva até sua coxa e a deixa descansando ali.
Respiro e inspiro, eu preciso falar com o Renato, conversar com ele, não
posso terminar nosso relacionamento desse jeito!
****

Nossa chegada ao escritório foi triunfal, três advogados estavam


estacionando seus carros na garagem, a recepcionista já havia chegado, e nos
olhou indiscretamente quando saímos do carro do Rui.
– Merda! – Esbravejo em silêncio.
O Rui sobe a passos largos as escadas do escritório, suas pernas longas, e
seus passos decididos não são páreos para os meus. Mas, também, não me
esforcei para acompanhá-lo, o deixei ir à frente.
Cumprimento os advogados, a recepcionista, e subo para o andar que
ficamos.
Deixo minhas coisas em minha mesa e entro na sala do Rui.
– Quer que eu arrume sua sala? – pergunto.
Ele está arrumando suas coisas em sua mesa, ele é metódico, e acho isso
engraçado.
– Fique à vontade, Jack – ele diz apressado. – Preciso terminar de analisar
esse processo.
Ele segue para a mesa de reuniões e eu sigo para minha rotina, abro as
janelas, as persianas, organizo sua mesa, aponto seus lápis, e quando percebo,
ele está me olhando.
Tenho vontade de me sentar em seu colo e enchê-lo de beijos, ele fica lindo
de óculos, tenho um fetiche de transar com ele com esses óculos, mas me
controlo, ou melhor, controlo a ninfomaníaca que existe dentro de mim.
Preciso me tratar!
– Já estou indo embora, chefinho – digo divertida, e logo saio de sua sala, não
quero começar com essa história de sexo no trabalho, eu sei que ele gosta, e
eu também, mas não quero, não aqui.
O dia seguiu preguiçoso, mas com muito trabalho, o Rui está sério, absorto
em seus processos.
É meio da tarde, almocei com ele em sua sala, estou absorvida em meu
trabalho quando meu celular vibra em minha bolsa, o pego rapidamente e
vejo a foto do Renato, e sinto um gelado no peito.
Eu sabia que aquele encontro não ficaria por isso mesmo.
Atendo, não fugirei mais desse confronto, precisamos conversar.
– Alô! – digo com o coração acelerado.
– Oi, Jack! Resolveu me atender? – ele diz sério, sem sarcasmo na voz.
– Sim, acho que precisamos conversar. Já não estou com tanta raiva de você,
agora consigo falar sem deixar meu temperamento me levar a um ato de
loucura! – Desabafo, tudo isso está acontecendo por culpa dele, não minha.
– Eu não quero conversar por telefone, precisamos falar pessoalmente – ele
diz tenso, o conheço muito bem. – Você pode hoje à noite? Eu vou te buscar
em seu trabalho.
Respiro e inspiro.
Que situação mais confusa me meti, é estranho porque estou com o Rui, mas
ao mesmo tempo não estamos, não temos um relacionamento, não devo
satisfação da minha vida a ele, assim como ele não deve a mim.
– Eu vou até seu apartamento, não precisa me buscar – falo de uma vez. – A
que horas posso chegar sem que eu seja surpreendida por um encontro seu
com algum amigo? – falo com sarcasmo, ainda estou puta com ele, não tenho
como negar isso.
– Sem piadinhas idiotas, Jackeline, aquilo não foi um encontro. – Ele altera
sua voz. – Consigo chegar às 19h, tudo bem para você? – ele diz com sua voz
mais dura.
– Tudo bem. Até às 19h, Renato. – Finalizo a ligação, e inspiro com força.
****

É final de tarde, mais precisamente 18h, daqui a pouco terei que encontrar o
Renato, e mal sei como será esse encontro.
O meu ramal toca e vejo que é o Rui.
– Será que ele irá querer que eu vá para seu apartamento? – penso alto.
Eu adoro ficar com ele, mas hoje preciso voltar para minha casa, ver minha
mãe, sinto falta dela, me preocupo demais com ela e com minhas velhinhas.
E também, tem o encontro com o Renato, enfim, hoje não dá.
– Oi, Rui! – Atendo.
– Vem aqui, Jack – ele diz rapidamente e desliga.
Sigo para sua sala, estou com saudades dele, na verdade do contato físico,
esse final de semana só me fez ficar mais louca por ele. Mas, sou adulta, sei
me controlar, não quero confundir as coisas, sou sua funcionária.
Entro em sua sala, ele está em sua mesa, papéis espalhados, ele tira os óculos
e me olha.
– Tudo bem? Quer ir para o meu apartamento? Podemos jantar, depois te
levo embora – Ele é tão fofo, eu o adoro, e queria muito ficar com ele, mas
hoje não vai dar.
– Rui, hoje não dá, eu preciso ir para casa. – Ele me interrompe.
– Eu te levo, depois que jantarmos. – Ele parece tão carente de mim, e eu
dele, mas eu marquei com o Renato, e preciso dizer isso a ele.
– Rui, o Renato me ligou, pediu para conversarmos, marquei de ir ao seu
apartamento, vou sair daqui e irei para lá.
Ele me encara com uma expressão muito estranha, os olhos cerrados, o vão
entre os olhos franzidos, acho que ele não gostou muito da notícia.
– O que você vai fazer no apartamento daquele cara? Ele te enganou, Jack! –
Ele se levanta alterado, me sinto acuada.
– Eu sei, mas ele pediu para conversarmos, eu preciso dar uma chance para
ele se explicar. – Respiro. – Independente de qualquer coisa, tivemos um
relacionamento, Rui. Eu levo essas coisas a sério, ele não era um cara que eu
pegava de vez em quando, ele era meu namorado, dividimos muitos
momentos juntos.
– Foda-se isso, Jackeline! – ele diz nervoso e se vira de costas. – Então, você
conversa com ele, e depois vai para o meu apartamento.
O olho confusa, não posso ficar com a preocupação de terminar de falar com
o Renato para ir para o apartamento do Rui.
– Hoje não, Rui, é confuso, não sei quanto tempo demorarei com o Renato –
falo inquieta, ele me deixa nervosa com seu jeito.
Ele me encara com as mãos na cintura e balança sua cabeça.
– Tudo bem, você quem sabe, pode ir embora, não preciso mais de você. –
Ele vira de costas e segue para seu banheiro.
Fico por alguns segundos parada no meio de sua sala, atônita.
Que merda foi essa? Não temos nada, ele não gosta de relacionamentos,
então por que está bravo comigo?!
Que se foda você, Rui! – falo em pensamento, sigo para minha mesa, pego
minhas coisas e vou embora. – Ele é muito confuso e folgado, estou de saco
cheio de homens mandando em mim.
Capítulo 37
JACKELINE BARTOLLI

C hego ao prédio do Renato, e do Rui também, e isso é bem estranho, nunca


estive em uma situação como essa.
Sigo a passos inseguros em direção ao elevador, pressiono o andar do Renato
e espero enquanto ele não chega.
Relembro mentalmente tudo o que quero falar para ele, não sei se tudo
seguirá no script que desenhei em minha mente, mas tentarei, dessa vez
falarei tudo que está engasgado em minha garganta.
O elevador abre em seu andar, respiro fundo e saio, paro em frente ao seu
apartamento, a lembrança de minha última visita aqui martela em minha
cabeça, toco a campainha e logo ele está em minha frente.
Ficamos nos olhando por alguns segundos, ele está abatido, não sei se por
minha causa, mas não o acho muito bem.
– Oi! – digo embaraçada, sem graça.
– Oi, Jack. – Ele se afasta da porta. – Entra.
Caminho como uma estranha dentro de seu apartamento, confesso, me sinto
mais à vontade no apartamento do Rui, do que no do Renato.
– Quer beber alguma coisa? – ele diz sem jeito, parece constrangido também.
– Não, obrigada – respondo parada no meio do caminho.
– Eu pedi uma massa para jantarmos – ele diz de um jeito tímido. – Vamos
até a mesa de jantar.
O sigo em direção à sala de jantar, vejo uma mesa posta de uma forma que
ele não costuma fazer, parece ter caprichado em cada detalhe.
– Sente-se, Jack, vou buscar os pratos. – Ele sai rapidamente, me sento, tomo
um pouco de água que está em uma taça, respiro e inspiro, não vejo a hora de
acabar com tudo isso.
Ele volta rapidamente, vejo um refratário em suas mãos, ele coloca sobre a
mesa, tira a tampa e vejo uma massa, daquelas bem saborosas, e que ele não
costuma comer desde que resolveu ser maratonista.
– Deixou de lado sua dieta de carboidratos? – pergunto com ironia.
– Não estou de dieta – ele diz seco. – Posso te servir? – ele diz cuidadoso,
humilde, não parece o Renato que conheço.
– Sim, obrigada. – respondo parecendo um robô, não estamos sendo nós
mesmos, estamos tentando ser civilizados.
Ele me serve, em seguida serve seu prato, e se senta à minha frente.
– Tudo bem com você, Jackeline? Não sabia que você já tinha me
substituído, e logo por aquele playboy colecionador de mulheres! – ele diz
sério, ríspido.
Mastigo a porção de massa que coloquei na boca, acho que esse jantar não
dará certo.
– Antes de falarmos sobre mim, fale sobre você, Renato – digo o encarando,
ele larga seus talheres e me encara também.
– Eu não sou gay, não admito que você insinue isso de mim! Conheço o
Leonardo há muito tempo, não sou um cara preconceituoso, ele me ligou
pedindo para ficar em meu apartamento, e eu não vi problema.
Relaxo minhas mãos em meu colo, respiro e começo a falar.
– Talvez minha desconfiança não venha apenas pelo fato de você estar com
um gay em seu apartamento, mas porque você não mostrava mais interesse
sexual por mim.
Ele me interrompe.
– Casais tem crises, Jackeline, às vezes achamos que não gostamos mais da
pessoa que temos um relacionamento, ficamos de saco cheio... – Ele mexe
em seu prato nervosamente. – Eu amo você, mas andava confuso, você é uma
pessoa difícil, carente, só pensa em sexo.
Arregalo meus olhos surpresa.
– Qual o problema de gostar de sexo?! – falo indignada.
– Nenhum, mas você é ninfomaníaca, e eu não, esse é o problema! – Ele me
encara.
– Eu não sou ninfomaníaca, você que é anormal – falo alterada.
– Jack, por favor, não vamos brigar – ele diz tentando mostrar calma. – Ok,
talvez eu ande sem libido, trabalho pra cacete, vivo um bagaço, só tenho
vontade de dormir. Não tenho uma vida fácil, só estou onde estou porque
trabalho muito, não nasci playboy, não tenho pai rico, ou eu trabalho ou estou
na merda.
– Eu sei disso! – bufo cansada, não sei o que pensar.
Ele parece tão sincero, tão honesto comigo, estou tão confusa, tão insegura.
– Por que você estava com aquele cara? Quando você o conheceu? Desde
quando está me traindo com ele?
O olho atônita.
– Eu nunca te traí! Eu... eu... – Me atrapalho, não sei como contar para ele
como tudo aconteceu.
– Esse cara não presta, Jackeline, eu o vejo cada dia com uma mulher. Porque
você foi se envolver com um tipo como esse, só para me magoar, para me
atingir, é isso? – ele diz magoado, parece tão verdadeiro.
– Não sei por que me envolvi com ele, apenas me envolvi... – respondo
acuada. – Me senti tão diminuída quando te vi com aquele cara, queria te
magoar também, me envolver com o Rui foi uma forma.
Ele empurra seu prato e me encara com uma expressão dura.
– Eu quero você de volta, Jackeline! – O encaro confusa e surpresa. – Eu amo
você, sempre amei, desde o dia que nos encontramos pela primeira vez na
faculdade, você é a mulher da minha vida, com quem quero construir uma
família, ter filhos...
O interrompo.
– Não parece, Renato, vivo como se fosse seu caso, tenho que ser anunciada
para subir ao seu apartamento, namoramos há quatro anos e nunca falamos
em casamento, em planos para o futuro... – bufo nervosa. – Suas palavras não
falam por suas ações, você nunca me tratou como se me quisesse como
esposa, estou mais para um caso, alguém que precisa pedir licença para vir ao
seu apartamento. – Meus olhos enchem de lágrimas.
Ele se levanta, segue para a porta e o olho confusa.
O que ele está fazendo? Eu estou falando com ele, droga! – Penso irritada.
Ele volta rapidamente, para ao meu lado e coloca um molho de chaves em
cima da mesa.
– A chave do apartamento está aqui, é sua, você não precisa mais ser
anunciada! – Ele me olha aflito, parece nervoso.
– Talvez eu não queira mais, agora já passou, estou em outra. – Me levanto
rapidamente, dou a volta na mesa, mas ele entra no meu caminho, me segura
e fala:
– Jack, eu sei que errei com você, mas vamos fazer o seguinte, dá uma
chance para nós dois, para a gente se acertar, e eu te prometo, vou me
esforçar para ser o cara que você espera, eu não quero te perder! – Então ele
segura meu rosto entre suas mãos e me beija.
É estranho dizer, mas não sinto mais a paixão de antes, a urgência, a vontade
de ser dele.
O beijo do Renato é diferente do beijo do Rui, falta algo, talvez a paixão que
o Rui transmite, mas o Rui é um grande conquistador, cada beijo dele faz
parte de um plano de conquista, eu sou só um número em sua lista de
conquistas, agora sou eu, mas daqui a pouco haverá outra em sua cama.
Penso no que o Renato disse, que ele é um playboy colecionador de mulheres,
até o Renato sabe da fama do Rui.
Me deixo ser beijada, ele se afasta e me olha profundamente.
– Faz amor comigo, Jack?
Titubeio, não sei se devo fazer isso, estou tão envolvida pelo Rui, mas ao
mesmo tempo, lembro que não significo nada para ele, talvez o Renato esteja
sendo sincero, foi tudo um mal-entendido.
Ele beija meu rosto, meu pescoço, fecho meus olhos e tento pensar no que
sentia por ele, no quanto queria estar bem com ele.
– Eu amo você, Jack! – ele diz me encarando, seu olhar profundo e intenso,
ele parece tão sincero.
Fecho meus olhos e tento não pensar muito, me deixo levar por ele, pelos
seus beijos, seus carinhos.
– Vamos para o quarto. – Ele pega em minha mão e me leva para seu quarto,
volta a me beijar, tira meu blazer, tiro sua camiseta, e assim, em instantes
estamos os dois nus, ele me deita, me penetra e transamos da forma mais sem
graça possível.
Ele goza, se deita ao meu lado e me sinto mal, não é assim com o Rui. O sexo
com ele tem tanta paixão, é tão diferente, me sinto desejada, e não somente
possuída, mas aí me lembro de que ele não me ama. O que adianta o sexo ser
magnífico se não tem amor?
Eu queria os dois, amor e sexo incrível, mas parece que tenho que escolher,
ou tenho amor, ou tenho o sexo maravilhoso.
– Renato, eu preciso de um tempo, estou confusa, sabe? – Me levanto e
coloco minhas roupas.
Ele se levanta apressado, para em minha frente e me olha aflito.
– Como assim, Jack? Você me ama, sempre me amou, a gente vai se casar...
– Para de ficar me falando isso, você nunca falou sobre nos casarmos! Por
que agora fica com essa história?! – falo irritada.
– Ok, Jack. – Ele segura meu rosto entre suas mãos e me força a olhá-lo. – Eu
nunca falei porque queria primeiro me estabilizar financeiramente, mas a
gente pode se casar no ano que vem, o que você acha? – Ele me olha, parece
aflito.
Nunca me senti tão confusa em minha vida, sempre quis ouvir essas palavras
dele, mas agora, parece que tudo perdeu o sentido, já não faz mais o efeito de
antes.
– Não sei. Por que você nunca me disse nada disso, por que precisou a gente
se separar para você me dizer essas coisas, o que mudou?
– Jack, nada mudou, mas eu nunca me vi sem você, você faz parte da minha
vida, não consigo me imaginar longe de você. – Ele me olha angustiado. –
Me perdoa se te magoei, eu não sou igual a aquele cara que você estava, não
sou rico ou sofisticado. – Ele sai andando pelo apartamento. – Eu não sei o
que houve entre vocês, eu só sei que amo você, e queria uma chance, é isso! –
Ele volta a me olhar.
Estou aqui olhando para o Renato, mas meus pensamentos estão no Rui. Por
que aquele filho da puta apareceu em minha vida, só para me deixar confusa?
– Eu estou confusa, Renato, me deixe pensar um pouco – respondo decidida.
– Eu vou embora, conversamos depois, me deixe pensar um pouco, não quero
agir por impulso.
– Você não me ama mais? – ele pergunta ansioso.
– Não sei, estou confusa, até agora a pouco eu estava com raiva de você,
magoada e decepcionada. Não é fácil retomar algo se quebrou, Renato.
Ele para a minha frente, mexe no cabelo nervoso.
– Ok, eu vou te dar um tempo para refletir sobre isso.
– Isso, será melhor para nós dois, eu preciso ir, minha mãe deve estar
preocupada. – Pego minha bolsa.
– Eu vou te levar. – Ele segue para a porta, nem sempre foi assim, o Renato
odeia ir até o bairro que moro.
Seguimos em silêncio pelo elevador, caminhamos até seu carro, entramos e
continuamos o caminho todo em silêncio.
Depois de longos minutos ele estaciona em frente ao meu prédio, olho para
ele e digo:
– Obrigada pela carona. – O olho de lado.
– Por nada. – Ele se inclina sobre mim e me beija, e novamente penso no Rui,
no quanto gosto dos seus beijos, e porque o beijo do Renato perdeu
totalmente a graça para mim.
Separamos nossos lábios e o olho agoniada. Queria tanto retomar nosso
relacionamento, gosto da sensação de conforto que meu relacionamento com
ele trazia, o Rui é muito intenso, uma montanha russa de emoções, de
desejos. Não sei se que quero isso para mim, quero ser feliz, construir uma
família, amar e ser amada.
– Tchau, Renato! A gente se fala. – Abro a porta do seu carro e saio, e o vejo
me olhando enquanto sigo para o portão.
– Te amo, Jack! – ele diz antes que eu feche o portão e suba as escadas.
Não fui capaz de dizer o mesmo, não sei mais o que sinto por ele.
****

Minha noite foi um inferno. Confusão, medo e preocupação rondaram meu


sono sem me deixar em paz.
Pela primeira vez em minha vida, me sinto completamente perdida. Adoro
estar com o Rui, adoro tudo nele, mas sei que o que temos não existe, se optar
por ficar com ele, estou deixando meu relacionamento de anos em troca de
um relacionamento fadado ao fracasso.
O Rui nunca irá me amar, ele é um colecionador de mulheres, essa é a melhor
descrição para ele.
Mas, é bom demais estar com ele! Que homem, meu Deus, ele é viciante.
Amo o Renato, mas não é um amor romântico, não existe química entre nós,
ele não me excita. O sexo ontem foi um desastre, faltou tudo, e a sensação
que senti quando acabou foi péssima.
Não sei o que há com o Renato, mas ele não tem paixão por mim, amor,
talvez, mas não tem paixão.
Sigo em direção ao trabalho me sentindo mal como nunca me senti, dividida
entre o certo e o errado. O certo seria ficar com o Renato, ele é o meu porto
seguro, sempre foi. O Rui é o errado, mas onde encontro tudo que quero,
paixão, desejo, descontrole...
Adoro estar com ele e estou morrendo de saudades dele.
Caminho em direção ao escritório, olho no relógio, ainda é cedo, ele não deve
ter chegado. Sinto uma insegurança, ele ficou tão bravo comigo ontem. Como
será que ele estará hoje?
Tem também o fato de eu ter transado com o Renato, não sei o que ele achará
disso. Não o entendo, não sei o que ele quer de mim, se é que ele quer
alguma coisa de mim além do prazer.
Chego ao escritório, pego a chave em minha bolsa e o abro. Sigo pelas
escadas, o ambiente está vazio e sem vida. Deixo minhas coisas sobre minha
mesa, abro a porta de sua sala e sinto seu perfume.
– Como adoro seu cheiro, Rui! – falo comigo mesma.
Sua mesa de reuniões está uma bagunça, arrumo tudo cuidadosamente. Sigo
para sua mesa, arrumo tudo com carinho, adoro cuidar dele, das suas coisas.
De repente sinto uma tristeza, talvez tudo isso não dure muito, se eu não
quiser mais me relacionar com ele, pode ser que ele não me queira mais como
secretária. Então, me dou conta que esse emprego pode ser uma fraude, só
estou aqui para fazer sexo com ele.
Mas, como um homem poderoso como ele pode colocar um cargo tão
importante em jogo apenas por causa de algumas trepadas? Ele pode ter isso
com quem quiser, não precisa ser comigo! A não ser que seu nível de
insatisfação ande beirando o absurdo, e ele realmente não se satisfaça com
ninguém, e a Jackeline foi a sua solução mais viável.
Minha cabeça está fritando, confusão, medo e insegurança.
Quero vê-lo logo, preciso vê-lo logo, e então como se os deuses fizessem
uma mágica, ouço sua voz sexy, grossa e sedutora.
– Bom dia, Jackeline! – ele diz sério.
Me viro para olhá-lo, ele caminha até sua mesa, não parece o meu Rui, e sim
apenas o advogado frio.
– Bom dia! Tudo bem? – O olho insistentemente, mas ele não olha para mim,
abre sua pasta e começa a tirar suas coisas.
– Tudo bem! – Ele me olha, seu olhar é cortante, intenso. – E então, como foi
ontem com seu namorado?
Remexo o monte de papéis que estão em minhas mãos, penso sobre o que
aconteceu, não sei se devo contar o que houve.
– Conversamos muito... – Começo a falar, mas ele me interrompe.
– Transaram? – Ele me encara, sinto um gelado no peito, um medo.
– Transamos – falo o encarando.
– Eu também, sai com uma garota ontem, estava precisando relaxar, foi
incrível, fazia tempo que não fazia isso.
O olho desconcertada, como ele tem coragem de dizer isso para mim, assim,
com esse descaso, essa frieza?
– Que bom, Rui. – Deixo o monte de papéis sobre sua mesa e caminho para a
porta, saio e desabo sobre minha cadeira, olhando para o computador e tenho
vontade de chorar.
– Oh, meu Deus, por que fui me envolver com esse cara? – Fecho os olhos e
respiro, tento espantar o ardor que sinto em meus olhos, vontade de chorar,
gritar e esmurrá-lo.
Eu transei com o Renato, mas foi uma merda, eu iria dizer isso, que pensei
nele o tempo todo, que me senti a pior das mulheres, que o adoro, que estou
apaixonada, e que só fiz tudo aquilo porque ele não me quer, ele só quer meu
corpo e o prazer que proporciono a ele.
A porta abre em um solavanco, e ele sai, olho para ele, mas sua expressão é
impassível, dura e distante.
– Estou saindo, não devo voltar hoje. – Ele segue para o corredor que dá nas
escadas e some.
Durou pouco, muito pouco, mas fez um estrago em enorme, um buraco fundo
e vazio em meu peito.
Capítulo 38
RUI FIGUEIREDO

U mquefinal de semana não foi o suficiente para matar o desejo e a compulsão


sinto pela Jackeline.
Fecho os olhos e tento me concentrar, essa mulher bagunçou minha vida.
De um homem centrado, focado, estou me saindo um cara idiota, que só
pensa em uma única mulher, em ficar com ela, em transar com ela, em beijá-
la...
Fecho os olhos e tento não fazer o que quero, que é chamá-la em minha sala,
tirar sua roupa e transar com ela feito um louco. Estou viciado naquela buceta
gostosa, no cheiro da Jack, estou louco por ela.
É final de tarde, não vejo a hora de poder ir embora e passar o resto da noite
enroscado naquele corpo gostoso.
– Jackeline, o que você fez comigo? – falo alto, tentando exorcizar o medo
que tenho de me apaixonar.
Eu não quero isso, não posso e não vou me entregar a esse sentimento, é só
tesão, muito tesão.
Ok, vamos terminar com essa tortura, ligo em seu ramal e a chamo em minha
sala.
Ela entra, a olho fascinado, mas tento não transparecer o quanto ela mexe
comigo.
– Tudo bem? Quer ir para o meu apartamento? Podemos jantar, depois te
levo embora – digo de uma vez, não gosto de rodeios, joguinhos, eu quero
ela, e isso é tão simples quanto querer tomar água.
– Rui, hoje não dá, eu preciso ir para casa... – Ela começa a falar, mas a
interrompo, eu sei que ela quer ver sua mãe, mas eu faço o sacrifício de
atravessar a cidade, apenas pelo prazer de ficarmos juntos algumas horas.
– Eu te levo, depois que jantarmos. – Estou me saindo um perfeito idiota,
pareço um cachorrinho carente, estou me odiando, esse não sou eu.
– Rui, o Renato me ligou, pediu para conversarmos, marquei de ir ao seu
apartamento, vou sair daqui e irei até lá.
Sinto uma pressão no peito, uma raiva tão grande, como ela ainda pode
pensar naquele porra?!
– O que você vai fazer no apartamento daquele cara? Ele te enganou, Jack! –
Não consigo controlar a raiva que sinto.
– Eu sei, mas ele pediu para conversarmos, eu preciso dar uma chance para
ele se explicar. Independente de qualquer coisa, tivemos um relacionamento,
Rui. Eu levo essas coisas a sério, ele não era um cara que eu pegava de vez
em quando, ele era meu namorado, dividimos muitos momentos juntos.
– Foda-se isso, Jackeline! Então você conversa com ele, e depois vai para o
meu apartamento – respondo ríspido e nervoso, um ciúme louco pulsa no
meu peito, a Jackeline é minha.
– Hoje não, Rui, é confuso, não sei quanto tempo demorarei com o Renato –
ela diz decidida.
Ok, não me rastejarei por essa mulher, nem por ela, nem por nenhuma, eu
quero que ela se foda.
– Tudo bem, você quem sabe, pode ir embora, não preciso mais de você! –
Viro as costas para ela e sigo para o banheiro, estou uma pilha de nervos.
Jogo uma água em meu rosto uma, duas, três vezes.
Me olho no espelho, e não me reconheço, não sofro por mulher nenhuma,
nunca! Eu quero que a Jackeline se foda, ela e seu namorado viado.
Volto para minha sala, pego meu celular e seleciono o contato da mulher
mais gostosa que já conheci, a mais linda.
Alguns toques e ela atende.
– Alô, Rui? Nossa, quanto tempo! – Sua voz sai melosa e sedutora.
– Oi, Helen! Tudo bem com você?
– Agora melhor! Pensei que você já tinha se casado, nunca mais me
procurou! – ela diz.
– Não, não vou me casar mais, estou solteiro, livre, desimpedido e carente! –
Ela ri deliciosamente.
– Eu estou namorando! – ela diz e bufo com raiva. – Mas, eu abro uma
exceção para você! Estou com muitas saudades, Rui, e só estou namorando
porque você não me quis...
Reviro meus olhos, gostosa, mas extremamente carente, odeio isso.
– Eu te quero, Helen, hoje! Que horas posso te pegar? – Mais risadas, é uma
cachorra, adora um pau, do jeito que eu gosto.
– Agora! Já estou excitada, Rui!
– Eu também, gostosa! Chego aí em 20 minutos.
Desligo, pego minhas coisas e saio de minha sala feito um furacão.

Você vai se arrepender, Jackeline! – falo em pensamento ao passar por sua


sala e ver que ela já foi embora.
****

O caminho até o trabalho da Helen foi feito em tempo recorde, ela é


secretária de um cliente. Comi e me lambuzei dessa mulher durante um
tempo, mas aí ela começou a me pressionar por um relacionamento e eu já
estava com a Priscila, então precisei dispensá-la.
A vejo em pé em frente ao prédio, ela usa um vestido colado ao corpo, ela
possui muitas curvas, mas nada comparável à Jack, nenhuma mulher é
comparável a Jack.
Balanço minha cabeça, e a mando se foder mentalmente.
Ela mexe no cabelo preto, escorrido e longo, sorri ao me ver, e sai se
rebolando inteira. A Helen é gostosa, mas não se compara à Jack.
Fecho os olhos e me puno mentalmente, eu não vou pensar mais na Jack, a
Helen é pura perdição, eu quero ela.
Ela caminha até o carro, entra e sinto seu cheiro, um pouco enjoativo, doce
demais, mas tudo bem, vou suportá-lo por algumas horas.
– Tudo bem, gostosa? – pergunto, sorrio.
– Muito melhor agora. – Ela dá um sorriso de devassa, enfio meus dedos
entre seus cabelos e a puxo para um beijo.
Logo ligo o carro e dirijo em direção ao motel mais próximo.
Conversamos um pouco, quero dizer, ela fala o tempo todo, mulheres falam
demais, a única exceção é a Jack.
– Sai da minha mente, sua diaba dos infernos! – falo mentalmente.
Chegamos ao motel, entramos, e não dou muito tempo para a Helen, começo
a arrancar sua roupa, em instantes ela está nua, e eu também.
– Calma, Rui! Você está muito apressado – ela diz em meio a minha loucura.
– Você não gosta assim, Helen? – Puxo seus cabelos.
– Oh, assim você me machuca. – Ela reclama, inspiro e expiro, solto seus
cabelos, adoro fazer isso na Jack, ela grita, geme, ela nunca reclama, ela
adora tudo que faço. – Como você gosta que te foda? – falo em seu ouvido.
– Devagar, seja carinhoso – ela diz, e tento controlar o leão enlouquecido que
está dentro de mim, não sou delicado no sexo, não sou carinhoso, eu gosto de
sexo selvagem.
– Eu não sou delicado no sexo, Helen – falo tenso, daqui a pouco vou brochar
com essa mulher.
Tento me concentrar na simples tarefa de foder essa mulher de quatro, ela
tem uma bunda gostosa, mas a da Jack é deliciosa.
Caralho, que porra de obsessão! – Penso e começo a perceber minha falta de
foco, não dá para transar e pensar em outra mulher.
Eu preciso fazer o que gosto, senão vou brochar.
Meto com força, e bato em sua bunda.
– Não, Rui, eu não gosto assim! – Ela se afasta, e como se fosse uma
maldição a porra do meu pau rateia e fica mole.
Oh, Jackeline, como te odeio! – Penso nervoso.
Isso não vai funcionar, eu estou com raiva, não dá para transar com ninguém
com raiva.
– Não vai dar, Helen, não está legal. – Pego minha calça que está no chão, a
camisa, começo a abotoar tudo com pressa. – Vamos embora.
Ela me olha atônita, no meio da cama, pernas abertas dando uma bela visão
de sua buceta, mas aquela filha da puta não sai da minha cabeça, não vou
conseguir.
– O que aconteceu com você, Rui? – ela diz, e eu tenho vontade de mandá-la
se foder.
– Você me brochou, Helen! Não gosta de nada, reclama de tudo, vai se foder!
Pede um táxi, vou deixar o dinheiro sobre a mesa. – Saio insano em direção à
porta, deixo uma nota sobre a mesa e largo a mulher lá.
Uma raiva pulsa dentro de mim, nunca estive tão puto com uma mulher,
minha vontade é ir até o apartamento daquele gay dos infernos, arrancar a
Jackeline de lá pelos cabelos e mostrar para ela do que ela gosta, de um pau
grosso e grande, eu sei como tirar o fogo daquela mulher, não aquele
pangaré.
Chego a minha casa em minutos, subo raivoso para o meu quarto, me enfio
embaixo da ducha gelada, e me masturbo, preciso gozar, e a visão da minha
deusa vem a minha cabeça, gloriosa em seu espartilho vermelho.
E gozo em segundos...
****

Tive uma noite de cão, literalmente. Passei praticamente a noite toda na área
externa do apartamento, eu e o Bóris, bebendo vinho, ouvindo música e
comendo azeitonas.
Uma dor de cabeça dos infernos pulsa em meu cérebro, entro na piscina
apenas de boxer, e passo algumas horas lá dentro tentando me acalmar.
Ok, amanhã vou estar melhor, eu vou ficar bem, só preciso me acalmar,
encho mais uma taça de vinho, a bebo em um gole.
Começo a sentir o relaxamento do vinho, saio da piscina e sigo para meu
quarto, preciso dormir, amanhã é um novo dia, vou estar melhor, tenho
certeza disso.
Me deito em minha cama e sinto o perfume da Jackeline em meus
travesseiros e nos lençóis. Levanto ensandecido e arranco tudo da cama,
parece que estou louco.
Deito por cima do colchão e vejo o Bóris se aninhando em meio aos lençóis
jogados no chão.
– Gosta do cheiro dela, Bóris, seu traidor? – Acho que minha voz está
levemente embaralhada, talvez eu esteja um pouco bêbado.
Desperto ao som do celular, uma dor de cabeça me incomodou a noite inteira,
mas não tive coragem de me levantar para tomar um remédio.
Me levanto destruído, vejo o Bóris deitado sobre os lençóis, parece amuado,
esse cachorro está esquisito ultimamente.
– Sai daí, Bóris, vai passear lá fora. – Rosno, pareço tão canino quanto ele.
Sigo para o banheiro e ligo a ducha fria.
– Porra! – Grito ao sentir a água gelada em minha pele.
Em minutos estou pronto, desço, tomo uma xícara de café preto e vejo a
empregada.
– Bom dia, Doutor Rui! – ela diz simpática.
– Bom dia, Jô!
– O coquetel será amanhã, está tudo certo, falta apenas sua secretária me ligar
para combinarmos... – A interrompo.
– Ligue no escritório e fale com ela, não quero saber sobre esse assunto. –
Pego minha pasta e sigo para a porta.
****

Enquanto dirijo em direção ao escritório uma inquietação pulsa em meu


peito, eu quero vê-la logo, isso é fato, mas ao mesmo tempo, não quero, estou
com raiva dela.
Estaciono, cumprimento a recepcionista, mas ela me interrompe no caminho
das escadas.
– Doutor Rui! – Ela me chama.
– Oi, Karen! – Rosno.
– Podemos conversar em sua sala? – Ela se insinua.
– Não, não podemos, estou com pressa! – Sigo para as escadas, meu humor
está de péssimo a insuportável.
Chego à sala da Jackeline, ela não está lá, então entro em minha sala e a vejo.
Uma aceleração cardíaca começa em meu peito, uma ansiedade, uma vontade
de tê-la em meus braços.
– Bom dia, Jackeline! – digo sério.
Sigo para minha mesa, preciso manter minha postura de advogado frio e
distante, e é isso que faço, ela não me tem em suas mãos.
– Bom dia, tudo bem? – ela diz com sua voz doce, adoro sua voz, o seu
cheiro, ele inebria minhas narinas, suave, feminino.
– Tudo bem! – A olho de relance, estou insano para saber sobre a merda da
sua visita aquele gay maldito, não me aguento e pergunto: – E então, como
foi ontem com seu namorado?
– Conversamos muito... – Ela começa a falar, mas não consigo me controlar,
eu quero saber se ela transou com ele, é isso que quero saber, porque não
suporto a ideia de dividir a Jackeline com outro homem, ou meio homem.
– Transaram? – A interrompo, com uma pressão no peito, brochei por causa
dessa mulher, e se ela tiver transado com outro homem vou odiá-la por isso.
– Transamos... – ela diz, e meu ego vira pó, ela me trocou por um viado, é
isso. Isso é demais para mim!
– Eu também, sai com uma garota ontem, estava precisando relaxar, foi
incrível, transamos pra cacete.
– Que bom, Rui. – ela diz, parece decepcionada comigo, deposita os papéis
sobre minha mesa e sai de cabeça baixa.
É isso, Jackeline, é assim que as coisas funcionam com o Rui Figueiredo.
Me sento em minha mesa, esfrego meu rosto, tento relaxar, mas não consigo,
não vou conseguir trabalhar aqui, junto com ela.
Eu fiz uma grande merda ao contratar a Jackeline, preciso me livrar dela.
Pego minhas coisas e sigo para a porta, preciso espairecer, vou ao Fórum,
talvez visite o Albuquerque, preciso cuidar da minha vida.
Abro a porta e a vejo sentada, olhando para o computador desligado.
Me sinto satisfeito, paguei na mesma moeda.
– Estou saindo, não devo voltar hoje – digo sem olhá-la, preciso me acalmar,
talvez passe o dia em casa, não sei o que vou fazer, confesso, sinto-me meio
perdido.
****

Aproveito minha ida ao Fórum para conversar com alguns amigos juízes,
passei algumas horas lá, tratei de algumas pendências, enfim, até que minha
manhã foi proveitosa. No final das contas, minha manhã foi muito melhor do
que ficar na minha sala.
Saio do Fórum e ligo para o Albuquerque.
Ele atende no segundo toque.
– Bom dia, Rui! Como vai? – ele diz secamente.
– Bem, e você Albuquerque?– respondo com o mesmo tom, sério e distante.
– Muito bem! Então o que o levou a me ligar? Está sumido há dias! – Sinto
malícia em sua voz, mas ignoro.
– Ando muito ocupado, cuidando dos meus clientes, enfim, gostaria de
convidá-lo para um almoço, o que você acha?
– Oh, talvez eu não consiga ir... – O sinto relutante.
– Nós precisamos conversar sobre o caso dos Martinez, eu ainda não engoli
o fato dele tirar o processo do meu escritório, e já fiquei sabendo que voltou
para o seu... – Faço um minuto de silêncio. – Se você tem a intenção de
acabar com nossa parceria fique à vontade, mas vamos formalizar isso, não
aceito retaliação, isso é baixo e antiprofissional.
– Desculpe, do que você está falando? – Ele finge estar indignado.
– Você sabe, Albuquerque, você é macaco velho, mas eu não sou idiota, e
tenho um pai influente também! – Ele fica em silêncio.
– Tudo bem, acho que precisamos conversar... – Ele faz uma pausa. – Você
magoou demais minha filha, Rui, estou tendo problemas com ela. Você não
foi homem o suficiente para romper com seu relacionamento com
hombridade, rompeu feito um moleque irresponsável, não é assim que se age.
Penso sobre o que a Jackeline me disse, ela tem razão, não agi como homem.
– Eu sei, estava sob forte pressão, da sua filha, obviamente. Ela forçou esse
casamento, eu não queria, não me sinto preparado para assumir um
matrimônio... – Ele me interrompe.
– Você tem 35 anos! Quando você acha que terá idade suficiente para
assumir um matrimônio?! – ele diz alterado.
– Não sei, talvez nunca. Não acredito no matrimônio, conduzo todos os dias
divórcios, as pessoas parecem que se casam já pensando em se separar, não
quero isso para mim.
O ouço bufar no telefone.
– Sou casado há 24 anos, e sou feliz – ele diz.
– Não acredito nisso, é mentira. A Priscila sempre me falou que o casamento
de seus pais é de fachada, vocês não dividem a mesma cama, você tem
amantes, e ela também.
– Que absurdo é esse, do que você está falando? – ele diz nervoso.
– Eu não disse nada, sua filha que disse! – respondo com ironia.
– Rui, acho melhor conversarmos num restaurante discreto e acertarmos
nossas arestas. Vamos jantar no All Seasons essa semana.
– Ok, me confirme o dia e horário. – Desligo e respiro.
Vai ser foda, mas tudo é foda, então que se foda, vou assumir as merdas que
fiz.
Capítulo 39
JACKELINE BARTOLLI

O dia e a tarde se arrastaram.


Termino de acertar os últimos detalhes do coquetel com a empregada do
Rui por telefone. Desligo e enfio minha cabeça entre as mãos e bufo cansada.
Meu dia foi uma merda! Sem o Rui aqui me sinto inútil, ele não me ligou,
não mandou mensagens, ou e-mails, simplesmente desapareceu.
Penso em tudo que aconteceu entre nós desde o princípio e fico desolada, eu
sabia que isso não daria muito certo, talvez depois desse coquetel eu peça
minhas contas, não vai dar para trabalhar nesse clima hostil que há entre nós.
Olho meu celular e vejo uma mensagem do Renato.
Oh, que merda, não estou a fim de falar com você Renato! – falo comigo
mesma.
Abro a mensagem, e a leio:
“Oi, Jack! E aí como você passou de ontem para hoje? Pensou sobre nós?
Pensei em fazermos algo hoje à noite, talvez jantar fora, você escolhe o
local. Espero seu retorno.”
Por que a vida é assim? Quando desistimos de uma coisa ela vem para nós de
mão beijada, é sempre assim.
Não tenho vontade de vê-lo, quero bem ao Renato, mas não tenho vontade de
vê-lo, estou chateada com o Rui, e isso está me incomodando muito.
Eu sei que transei com o Renato, mas é diferente, ele era meu namorado, não
sai por aí procurando homens para transar. Ele, ao contrário, foi caçar mulher
e me jogou isso na cara da forma mais vingativa possível.
Odeio ele por isso, mas ao mesmo tempo, queria que ele me entendesse.
Oh, que confusão, vou parar de pensar nisso, chega dessa história!
Arrumo minhas coisas e sigo para o ponto de ônibus, amanhã é o coquetel, e
isso por si só já está me deixando nervosa.
****
Minha noite foi uma lástima, novamente o Rui ficou atormentando meus
pensamentos.
Me deito em minha cama, estou cansada, mas não consigo dormir.
Me forço a pegar no sono, caso contrário, parecerei um zumbi.
Algumas poucas horas de sono e estou olhando para o teto. Não dormi nada,
mas resolvo levantar e tomar um banho.
Seco meus cabelos e aproveito para fazer uma maquiagem, passo meio quilo
de corretivo em minhas olheiras, não dormi nada e isso se reflete na minha
aparência cansada.
Sigo para o meu guarda-roupa, hoje tem o coquetel, não sei como devo me
vestir.
Olho demoradamente para minhas roupas, e decido colocar o vestido florido,
ele é um pouco decotado, mas vou disfarçar colocando um blazer por cima.
Coloco a sapatilha, o salto alto numa sacola e sigo para o elevador.
Ontem conversei longamente com minha mãe, contei tudo que estava
acontecendo, e como eu esperava, ela acha que devo ficar com o Renato, ela
confia nele, o conhece há muitos anos, e o acha sério e responsável, apesar de
devagar pra cacete.
Não quis dizer a ela da minha súbita paixão pelo Rui, disse apenas que estava
muito envolvida por ele, falei que o sexo com ele é incrível, e quase a matei
de vergonha.
Ainda dou risada com sua resposta:
“Jackeline, não quero saber de sua vida íntima, deixe isso para contar a sua
amiga Carolina. Eu prefiro saber apenas das coisas menos cabeludas.”
Eu amo conversar com minha mãe, ela é tão sábia, e se eu for pensar apenas
pelo lado racional, o Renato é minha melhor opção. Porém, serei uma mulher
frustrada se me casar com ele, porque terei que me fechar sexualmente, ele
não aceita minhas fantasias sexuais, fetiches, ele é bloqueado sexualmente,
isso é fato.
O Rui não é uma opção, ele é apenas uma aventura, mas para viver essa
aventura terei que abrir mão do Renato, e não sei se quero fazer isso.
A viagem até o escritório passou rapidamente, uma vez que me vi imersa em
meus pensamentos.
Chego ao portão e vejo o carro do Rui, e sinto um gelado no peito.
Abro o portão e sigo para o interior do prédio, subo as escadas
delicadamente, para não fazer muito barulho com o salto, chego a minha sala
e a porta da sua está fechada.
Coloco minhas coisas sobre a minha mesa, ligo meu computador, respiro e
inspiro para ganhar coragem, bato em sua porta e entro.
Ele não se dá ao trabalho de levantar seu olhar, está com um processo nas
mãos, óculos apostos, e uma feição dura e fria.
– Bom dia, Rui! – Me aproximo de sua mesa, ele me olha por cima de seus
óculos.
– Bom dia! – Ele volta a ler.
– Quer que eu arrume sua sala? – Olho ao redor, mas de fato não há muito
que fazer. – Vou abrir as persianas. – Sigo para a janela, mas ele me
interrompe.
– Não quero que abra as persianas, estou com dor de cabeça, não quero
claridade em minha sala. – Ele não me olha enquanto fala, parece um robô.
– Eu tenho um medicamento para dor de cabeça em minha bolsa, eu tenho
muitas enxaquecas. – Ele me interrompe.
– Eu não quero, estou bem assim. – Franzo minha testa, ele está um porre
hoje.
– Quer um café? Eu posso ir fazer um para você – Me sinto uma idiota
querendo agradá-lo.
– Não! – Ele me encara friamente. – Quero ficar sozinho, tenho que ler esse
documento e você está me atrapalhando.
Ai, que raiva dele!
Giro em meus calcanhares e saio pisando duro em direção a minha sala.
– Grosso, mal-educado, sem consideração, idiota... – E assim a lista de
xingamentos continua.
Me sento em minha mesa, abro meu e-mail e vejo um monte de e-mails dele
para mim.
Abro um por um, e vejo apenas seus comentários... “Toque esse assunto,
resolva isso...”
Ok, se assim que ele quer que seja, não nos falaremos pessoalmente, apenas
por e-mail.
O período da manhã se arrastou, sinto meu estômago começando a reclamar,
olho no relógio do computador e vejo que é horário do almoço. O barulho de
salto nas escadas me chama atenção, mas logo vejo a dona do barulho, a
maravilhosa Karen sobe com uma sacola do restaurante preferido do Rui, ela
sorri maliciosamente ao passar por mim, bate em sua porta e entra.
Não suportei isso, então não sai para almoçar, fiquei até que ela saísse, uma
hora depois. Uma raiva louca se apoderou de mim, gostaria de entrar na sala
dele agora e quebrar todos os seus objetos de arte.
Imbecil, esnobe, mimado e cretino. – Vocifero para mim mesma.
Pego minhas coisas e saio para almoçar, mas não consigo, tomo apenas um
suco de laranja, e fico remoendo o que ele está fazendo comigo.
Decido acabar com isso agora, não sou mulher de vagabundo, não vou ficar
vendo-o levar mulheres para sua sala para comê-las, como se eu fosse uma
idiota.
Sigo para o escritório insana.
Não quero saber a merda que será minha vida sem emprego, só quero
terminar com essa merda que eu mesma criei.
– Boa tarde, Jackeline! – Olho para aquela vaquinha e tenho vontade de
unhar seu rosto todo, maldita garota oferecida.
Apenas não respondo, ela quer me provocar, e conseguiu.
Chego a minha mesa, deposito minha bolsa e sigo para sua sala, bato na porta
e entro.
Agora ele está em sua mesa de reuniões, parece satisfeito depois de ter
trepado com a Karen.
– Preciso falar com você – falo sem maiores rodeios.
– Agora não posso, estou ocupado. – Ele volta a olhar para o processo em
suas mãos.
– Foda-se que você está ocupado. – Ele me olha assustado. – Quero te
comunicar que não trabalho mais para você, estou pedindo demissão.
Ele fica me olhando atônito, deposita os papéis sobre a mesa e me olha.
– Qual o problema? Por que você está pedindo demissão? – Ele se levanta e
vem em minha direção.
– Não quero mais trabalhar para você, é isso. – Recuo com sua proximidade.
– Seja mais precisa. Por que você não quer mais trabalhar comigo, o que eu
fiz, ou o que te fizeram?
– Pare de me encher o saco, não quero mais trabalhar para você e ponto.
Você quer que eu faça uma carta de demissão? – Tento sair, mas ele segura
meu braço.
– Fica aqui, Jackeline, eu não disse que você pode sair! – Ele me encara
desafiador. – Eu não aceito sua demissão.
Ele se aproxima de mim, me segurando com firmeza.
– Eu não perguntei se você aceita, isso é fato, ninguém é obrigado a trabalhar
para quem não quer – falo raivosa.
– Você não pode abandonar seu emprego, caso contrário você terá que pagar
um salário para mim, ou trabalhar durante 30 dias. – Ele me encara com seus
olhos cinza tempestuosos. – Eu não vou dispensá-la do aviso prévio, preciso
de você, e você não vai me largar na mão.
– E se eu pagar? – Penso e me desespero, eu não tenho dinheiro para pagar
ele.
– Você tem o seu salário para me pagar? – ele diz irônico.
– Posso arrumar o dinheiro – falo desafiadora.
– Então arrume, caso queira sair sem cumprir os 30 dias de aviso prévio. –
Ele larga meu braço e segue para sua mesa.
– Você é um idiota, Rui! – Viro em direção à porta e saio bufando de raiva.
****

Não nos falamos mais depois do meu rompante de raiva, e ele não saiu mais
daquela maldita sala.
Mando um último e-mail para ele, preciso ir para a porra de seu apartamento,
tem o coquetel, e eu preciso ajudar sua empregada com os últimos detalhes.
“Preciso sair agora, sua empregada está me esperando para checarmos os
últimos detalhes do coquetel.”
Vejo uma resposta sua em seguida, fecho os olhos, respiro e o abro:
“Estou saindo agora, me espere que iremos juntos.”
Merda! – esbravejo mentalmente.
Logo a porta de sua sala abre, ele passa por mim como se eu fosse um vaso
de flor, o olho atônita.
– Vamos, Jackeline! – ele diz ríspido, na porta da sala.
Reviro meus olhos e o xingo mentalmente.
– Idiota!
Pego minha bolsa e o sigo, passo pela recepcionista que nos olha
indiscretamente.
– Nos vemos daqui a pouco no coquetel, Karen! – ele diz para ela, e vejo o
sorriso de satisfação da vaquinha.
O sigo em silêncio, entro em seu carro e permanecemos como se fossemos
dois desconhecidos dentro de um ônibus.
Ele estaciona seu carro na garagem do seu prédio, sai do carro e anda para o
elevador, me ignorando literalmente.
Que ódio de você, Rui. – Penso.
Enquanto subimos no elevador, ele mexe irritantemente em seu celular,
fazendo questão de me mostrar que se diverte com o que está escrito.
– Idiota! – Puts, falei alto, era só para pensar, mas acabei falando, ele me
encara bravo.
– Você me chamou do que? – ele diz desafiador.
– Idiota! – falo sem medo.
– Por que sou idiota? – Ele sorri de lado, se divertindo comigo.
– Você é idiota e ponto, não vou ficar te dando explicações! – falo raivosa,
mas a porta de seu apartamento abre, vejo muitas pessoas, um frenesi, uma
confusão, e resolvo ignorá-lo, saio à procura da Jô, e me esqueço dele.
****

Está tudo organizado, e os primeiros funcionários começam a chegar, não vi


mais o Rui, ele subiu para seu quarto e não desceu mais.
Para espairecer um pouco e desestressar, descobri onde esconderam o Bóris,
na lavanderia, e agora estou com ele.
A cena pode parecer bem estranha, estou sentada no chão, de vestido e salto
alto, acariciando o Bóris, não estou para esse clima de festa de escritório, mal
conheço as pessoas, nunca fui apresentada a ninguém.
Sinto o trepidar do meu celular no bolso do blazer, pego-o e vejo que é a
Carol, atendo rapidamente.
– Oi, Carol! – Tento não demostrar o quanto estou desanimada, estou aqui
apenas porque sou obrigada, queria mesmo era ir embora.
– Oi, Jack! Cadê você? Já cheguei à casa do Doutor Rui e não te achei!
– Oh, fui ao banheiro. Onde você está? – Me levanto preguiçosa.
– Na parte externa, estou te esperando, quero te apresentar a alguns colegas
advogados, todos querem conhecer a secretária do Doutor Rui! – Ela ri
debochada.
– Ah, tá, não estou nesse clima todo, mas estou indo até aí. – Lavo minhas
mãos no banheiro da empregada e sigo para a festa.
A cozinha está uma loucura, muitas pessoas trabalham na preparação dos
coquetéis e dos quitutes que estão sendo servidos.
Sigo insegura para a sala, vejo muitas pessoas, engravatados em sua maioria,
e o meu deus grego, ele tirou seu terno, está vestido despojado em uma calça
jeans e uma camisa preta, ele está lindo.
Passo por ele e o vejo me olhando de rabo de olho, ele conversa
descontraidamente com uma advogada, eu já a vi algumas vezes, uma mulher
jovem e bonita, mas procuro não pensar muito sobre isso, preciso espairecer.
Finalmente chego à área externa, a Carolina me vê de imediato, abre um
sorriso largo e acolhedor e vem ao meu encontro.
– Onde você estava, Jack? – Ela cochicha. – Achei que você tinha ido
embora.
– Me sinto constrangida aqui, acho que vou embora, já fiz tudo que tinha que
fazer. – Ela me olha brava.
– Ei, que baixo astral! Vem, vou te apresentar para alguns colegas! – Ela pega
em minha mão e me arrasta para uma rodinha de homens.
Antes que chegássemos à rodinha todos já estavam olhando para nós, sorrio
constrangida, e tento não pensar muito sobre o mau humor que estou hoje.
– Essa aqui é a Jackeline, minha amiga e secretária do Doutor Rui – ela diz
orgulhosa, e cada um dos advogados se apresenta para mim, um mais gato
que o outro.
Começamos a conversar, eles perguntam um pouco sobre mim, contam um
pouco sobre eles, fazem piadas, se divertem contando coisas uns dos outros.
É uma turma divertida, e parecem adorar a Carolina.
Estou bebendo um espumante e rindo das piadinhas dos colegas da Carolina
quando ela cochicha em meu ouvido.
– O nosso doutor não tira os olhos de você. – Olho para ela assustada e ela ri.
– O que você fez para deixá-lo assim? – ela diz maliciosa.
Franzo minha testa, e me seguro para não olhar.
– Deixe de ser indiscreta, Carol! – Ralho com ela.
– Ok, vou fingir que não vejo. – Ela sai andando, penso em sair da rodinha,
mas logo um advogado bonitão puxa papo.
Começo a conversar, ele é um cara muito divertido, fala sobre coisas
engraçadas do escritório, e quando vejo estou rindo, ele é muito simpático.
– Posso participar do papo? – Sinto um arrepio percorrer minha coluna, essa
voz me desestrutura.
– Claro, Doutor Rui! Estava contando para a Jack algumas peculiaridades do
escritório. – O rapaz diz simpático.
Sorrio para ele.
– Vocês dois já são íntimos, a Jackeline já te deixou chamá-la de Jack?! – O
Rui diz e fico tensa. Que merda que ele está falando?!
– Nem perguntei se ela se incomodava que a chamasse de Jack, acho que não
tem problema né, Jackeline? – ele diz sem graça.
– Não. Pode me chamar assim, eu prefiro! – respondo constrangida.
– Eu preciso da Jackeline por um momento. Você nos dá licença, Augusto? –
O Rui diz seco e antipático.
– Fique à vontade. – O rapaz sai meio sem jeito.
Ele segura em meu cotovelo e me conduz para um lugar menos
movimentado, para e me olha.
– Pois não, Doutor Rui? Qual o problema, está faltando gelo no champanhe?
– Ele me fuzila com o olhar.
– Qual era a piadinha engraçada que a estava fazendo rir tanto? – Ele
pergunta num rosnado, e eu caio na risada, acho que estou meio bêbada.
– Ele estava me cantando – falo para irritá-lo.
Ele cerra seus olhos em uma linha fina e desafiadora.
– Você está brincando, isso pode custar o emprego dele. Ninguém canta
minha secretária! – Ele olha para os meus lábios, e para provocá-lo mordo
meu lábio inferior.
– Sou livre e desimpedida. – Bebo um gole longo da minha bebida.
– Você bebeu demais, Jackeline – ele diz bravo.
– Só assim para te aturar! – Desvio dele e saio andando a passos duros em
direção à festa.
Logo vejo a Carol, ela me chama e me apresenta mais algumas pessoas, a
conversa está animada, ou eu que estou animada demais, mas meu sossego
acaba logo, uma voz grossa e sexy sussurra em meu ouvido, me fazendo me
arrepiar toda.
– Eu quero conversar com você, sobe para o meu quarto! – ele diz e sai, mas
o ignoro, quero que ele se foda.
A festa segue, e graças à Carolina, não foi um fiasco para mim, ela me
apresentou a todos os funcionários, e me fez sentir bem.
– O chefe está mal-humorado, Jack. Você tem alguma coisa a ver com isso? –
Ela cochicha no meu ouvido.
– Não, não tenho nada a ver com isso. – Olho para ele e o vejo me olhando,
mas desvio meus olhos logo que vejo a vaca da Karen grudada ao seu lado.
– Piranha! – Penso alto.
– Quem é piranha? – A Carol diz curiosa.
– Ninguém, Carol. – Viro meu espumante no gargalo. – Acho que vou
embora, já está tarde – falo com a Carol, mas logo um advogado bonitão se
oferece para me levar.
– Eu te dou uma carona! – ele diz animado.
– Não precisa, moro um pouco longe... – Ele me interrompe, a Carol me
cutuca.
– Eu faço questão, é tarde para uma dama ir embora sozinha! – ele diz
sedutor, me fazendo rir.
– Ok, vou pegar minha bolsa, mas eu realmente não quero incomodá-lo –
digo sem graça.
– De jeito nenhum, eu faço questão. – Ele repete.
– Tudo bem. Só um momento, vou pegar minha bolsa. – Saio andando em
direção ao local que coloquei minha bolsa, pego-a, e estou retornando, mas
sou impedida pelo trator mais lindo do mundo.
– Aonde você vai? – ele diz discreto, com a voz baixa e controlada.
– Embora. – Tento sair, mas ele me segura.
– Eu quero conversar com você, depois te levo. – Ele rosna.
– Eu não tenho nada para conversar com você, a não ser que eu tenha que
limpar a sujeira do apartamento, mas isso não consta no meu contrato de
trabalho! – falo com cinismo.
A bebida me deixou confiante demais, estou mostrando todo meu
descontrole, e isso é muito ruim.
– Jackeline, você está me irritando muito. – Ele sussurra ameaçador.
– Me larga, ou vou perder minha carona – falo agitada, tentando me livrar de
sua mão.
O rapaz que iria me dar carona se aproxima com a Carol, tento sorrir para não
transparecer a cena absurda.
– Vamos, Jackeline? – O advogado diz, e o Rui aperta meu braço
disfarçadamente.
– Obrigado, Joaquim, mas a Jackeline não pode ir agora, ela precisa
conversar com o pessoal do buffet, enfim... – Ele sorri falsamente me
apertando.
O advogado se despede e sai com a Carol, com um olhar indiscreto de quem
percebe o mal-estar entre mim e o seu chefe.
– Me solte. – Rosno parecendo uma leoa selvagem. – Por que você não sobe
com sua recepcionista para o quarto e trepa com ela, ao invés de ficar me
enchendo o saco?
– Porque eu quero trepar com você, de tudo que é jeito, te fazer gritar até o
bairro inteiro acordar... – Enquanto ele fala, meu coração dispara, e sinto uma
excitação crescendo dentro de mim.
– Eu não sou mulher de vagabundo, Rui, não faço parte de seu harém de
mulheres que você come e joga fora!
– Você é minha, Jackeline. – Ele me olha estreito. – Sobe para meu quarto e
fique lá até eu chegar, e se você for embora ou para o apartamento daquele
gay dos infernos, eu te busco, e te trago até aqui nem que seja pelos cabelos.
– Ele vocifera selvagem. – Não brinca comigo, você não me conhece.
Sinto uma batedeira louca no meu peito, minha respiração sai irregular, forte,
pode parecer loucura, mas ouvi-lo falar assim me excita demais.
– Você é louco! – Tento sair do aperto de sua mão.
– Louco por você! – ele diz me olhando com seu olhar intenso, me fazendo
tremer inteira. – Sobe agora, e me espere nua. Quero você, Jackeline, de
todos os jeitos, até você estar exausta!
Não consigo pensar ou piscar, esse homem me deixa tonta e louca, quero que
ele me vire do avesso.
– Me solte, caso contrário não conseguirei fazer o que meu chefe está
mandando! – falo desafiadora.
Ele se aproxima, parece que vai me beijar, mas recua.
– Sobe, eu já estou indo...
Ele me solta, disfarço e começo a caminhar em direção às escadas, percebo
alguns olhares indiscretos em mim, talvez tenham percebido a cena nada
convencional da secretária e do chefe se engalfinhando no meio de uma festa
do escritório.
Já estou próxima das escadas que dão acesso ao seu quarto, e de repente,
aparece na minha frente a Karen oferecida.
– Aonde você vai? – ela diz com a mão na cintura, parecendo a dona do
apartamento.
Dou risada.
– O que você tem a ver com a minha vida? Por acaso você é a dona deste
apartamento? – falo cínica.
– Você é uma piranha, Jackeline, está pensando que o Doutor Rui é seu... –
Ela joga de lado seu cabelo maravilhoso. – Eu que irei passar a noite com ele.
Giro meus olhos, estou descrente com a cena, ela quer brigar para ver quem
dorme com o chefe?
Não, ela não me conhece, eu não brigo por homem.
– Sério, Karen? – Dou risada. – Jesus, como você está carente, ele não te
comeu direito hoje, foi isso? – Ela tenta bater em meu rosto, mas seguro seu
punho e o dobro com raiva. – Some da minha frente, sua garota oferecida,
caso contrário, vou deixar esse rostinho bonito cheio de hematomas, sou
muito boa de briga. – A empurro com raiva e subo as escadas bufando
nervosa.
Jesus, onde fui me meter!
****

Entro em seu quarto e olho ao redor para ver se não existem vestígios de suas
últimas trepadas.
Odeio a ideia de transar com ele sabendo que ele esteve aqui com outras
mulheres.
Sou ciumenta, possessiva e não sei o que estou fazendo nesse quarto, e na
vida desse homem.
Penso no Renato e me sinto mal com tudo isso, não menti para ele, disse que
estou confusa, não retornei sua mensagem.
Sigo para o banheiro, quero tomar um banho, estou cansada e suada.
Tiro minhas roupas, as penduro em um gancho, e sigo para a ducha.
Adoro tomar banheiro em seu apartamento, a ducha é maravilhosa, a água sai
forte e poderosa, relaxando todos os músculos que estão tensos.
Deixo a água quente e forte cair sobre meu rosto, apoio minhas mãos no
azulejo e relaxo os músculos do meu pescoço que estão tensos e doloridos.
Não ouvi quando ele entrou no banheiro, tão pouco quando ele entrou no box,
só me dei conta de sua presença quando ele abraçou meu corpo, senti seus
pelos macios em minhas costas e sua ereção contra meu corpo.
Apesar de surpresa, não me movi e nem reclamei, apenas me entreguei aos
seus beijos em meu pescoço, nuca, e a carícia de suas mãos em meus seios, o
roçar de seus dedos dentro de mim, fortes, poderosos e ágeis.
Ele sabe como me tocar, a intensidade, a velocidade e a pressão, em segundos
estou com o coração acelerado, a respiração descompassada, gemendo, e
gozando...
– Oh, Rui!!! – Gemo alto. – Hummm, ahhh, assim, Rui...
– Goza pra mim, minha deusa! – Ele sussurra em meu ouvido, ao mesmo
tempo em que chupa e morde minha orelha.
Viro para olhá-lo, enlaço seu pescoço e começo a beijá-lo, insana, louca e
possessiva.
Eu não quero dividi-lo com ninguém, eu o quero só para mim! – Penso aflita,
e passo toda essa aflição para o meu beijo.
Ele levanta uma de minhas pernas e me penetra, enrosco-me ao seu corpo, e
deixo-o nos levar para outro mundo.
Ele urra, geme e goza.
– Você é minha, Jack, só minha! – ele diz contra meus lábios, sem folego.
– Serei só sua se você for só meu – respondo, abro os olhos e o encaro.
– Eu sou só seu – ele diz me olhando intensamente.
– Não é, de ontem para hoje você transou com duas mulheres, isso não é ser
só meu! – Me afasto dele.
– E você transou com o gay do seu ex-namorado. – Ele desliga a ducha e sai
do box.
– É diferente, fomos namorados, havia sentimento entre nós, não sou uma
piranha que sai transando com homens desconhecidos – falo magoada.
– Você não respeitou o fato de estarmos juntos – ele diz de costas enquanto
se enxuga.
– Rui, você não é o tipo de homem que pode cobrar isso de uma mulher, você
é mulherengo, odeia relacionamentos, e não quer nada de mim além de sexo.
Ele se vira para me olhar, parece irado com o que eu disse.
– Eu te desrespeitei enquanto estávamos juntos? Você ficou sabendo que eu
saí com alguém, transei com alguém? Você não me conhece de fato,
Jackeline, você acha que sabe tudo sobre mim, mas você não sabe! – Ele sai
do banheiro, parece enfurecido comigo.
Pego uma toalha, me seco de qualquer jeito, a enrolo no meu corpo e volto
para o seu quarto, ele se deitou em sua cama, e olha para aquele maldito
celular.
Oh, que vontade de pegar esse aparelho feito pelo diabo e o jogar daqui de
cima, seria um prazer vê-lo se espatifar lá embaixo.
– Marcando algum encontro, Rui? – falo possessa.
Ele olha para mim, sobrancelhas levemente arqueadas, coloca o celular sobre
a mesinha de sua cama, levanta e segue até mim, e sinto medo, esse homem
tem um jeito que às vezes me amedronta.
Tento não me mover e não mostrar que estou temerosa.
Ele para a minha frente, seu corpo encostado ao meu, ele levemente inclinado
sobre mim, só falta me engolir com seus olhos.
– Você está me irritando com essa história. – Ele rosna, arranca minha toalha
e a joga na lua.
– Eu gosto quando você fica irritado – falo com deboche, confesso, adoro
irritá-lo.
Ele agarra em meus cabelos me fazendo arquear meu rosto, segura minha
cintura contra seu corpo e fala:
– O que mais você gosta, Jackeline? – Ele chupa e morde meu pescoço,
roubando gemidos desesperados da minha garganta.
– Eu gosto quando você me fode, com força! – falo, sussurro, gemo.
– E quando bato na sua bunda gostosa? – Um tapa, uma massagem, e já me
sinto toda molhada.
– Dói, mas eu gosto! – Sussurro entregue a ele.
Jesus, desde quando sou masoquista?
– Oh, Jackeline, você é uma diaba em forma de mulher. – Ele me joga na
cama, segura minhas mãos acima da minha cabeça e me olha com aquela
expressão que me dá medo, mas me excita. – O sexo com aquele merda foi
bom? – Ela fala, quero dizer, ele rosna, parece insano de ódio.
– Não! – Sussurro. – Com você é bom...
– Então, por que você transou com ele? – Ele vocifera, parece enlouquecido
de ciúmes, e isso só me deixa mais louca por ele.
– Não sei, estava confusa – falo baixo, olhando-o profundamente.
– Você nunca mais irá transar com esse cara, você me entendeu? – ele diz
possessivo, parece um homem das cavernas.
– E você, nunca mais vai transar com a piranha da sua recepcionista? – falo
ciumenta.
– Eu não transei com ela, só queria te provocar – ele diz, e segura um sorriso
de canto de boca.
– Você está mentindo, vocês ficaram uma hora naquela sala – falo raivosa.
– Não fala de novo que sou mentiroso, não vou ter mais paciência com isso –
ele diz bravo.
– Tá bom, então você não comeu ela? – falou com um sorriso de satisfação.
– Não, Jackeline – ele diz sorrindo.
– Oh, Rui, isso me deixa tão feliz – falo sorrindo.
– E o que ganho com isso, por ter sido fiel a você? – Ele esfrega sua ereção
em minha barriga.
– O que você quiser! Sou sua, Rui.
Ele muda sua expressão, parece um animal selvagem, então invade minha
boca com sua língua macia, quente, ele parece louco, desesperado,
machucando meus lábios, puxando meus cabelos, e me penetra, sem
delicadezas, ou romantismos.
O Rui é meio bruto, selvagem, mas eu adoro isso, adoro como ele faz sexo.
Ele goza ruidosamente, parece um leão nervoso e desaba sobre mim.
Meu Jesus Cristinho, que homem!
Beijo seus cabelos, acaricio suas costas, eu não queria nunca mais que ele
saísse de mim.
Como adoro esse homem! – Penso, sentindo um gelado no peito.
Ele acalma sua respiração, se deita ao meu lado e fica calado.
Junto meu corpo ao seu, ele me abraça, me puxa para junto dele.
– Tudo bem? – pergunto insegura, odeio quando ele fica assim.
– Tudo! – Ele dá um sorriso contido, beija minha testa. – Preciso dormir,
Jack, não dormi nada a noite passada.
Sorrio.
– Eu também, fiquei a noite inteira brigando com você, em sonhos, é claro. –
Me inclino sobre ele rindo.
– Já tinham me dito que as italianas eram geniosas, mas eu não imaginava o
quanto! – Ele dá um sorriso contido, parece cansado.
– Te adoro, Rui! – falei, não era para falar, mas não aguentei segurar o que
sinto por ele, é maior do que mim.
Ele sorri.
– Eu também! – ele diz sorrindo.
Me inclino mais sobre ele, beijo seus lábios suavemente, carinhosamente, um
sentimento forte cresce dentro de mim, me preenche, me invade, é bom
demais estar com ele.
Descanso meu rosto ao lado do seu, grudada a ele, beijo suas bochechas
repetidamente, delicadamente, sentindo seu cheiro gostoso de creme de
barbear. Ele segura minha mão sobre seu peito, aninhando-a em meio a sua.
Sinto uma paz tão grande ao lado dele, é tão diferente de quando estou com o
Renato.
– Boa noite, minha deusa! – Ele sussurra com sua voz grossa.
– Boa noite, meu deus grego! – falo e dou risada.
Ele ri, vira seu rosto de lado e beija meu nariz.
Capítulo 40
JACKELINE BARTOLLI

E stou dormindo profundamente, envolvida num sonho muito bom, meu pai
faz parte desse sonho, ele está simplesmente me conduzindo para o altar,
meu vestido de noiva é lindo e escandalosamente sensual, do jeito que o
Rui gosta que me vista.
Não vejo meu noivo no altar, mas sei que é o Rui, sinto que é com o Rui que
estou me casando, estou com um sorriso no rosto, olho para meu pai, ele
parece tão feliz e realizado.
A música que toca ao fundo é a mesma que ouvi no carro do Rui, uma música
linda tocada apenas no piano. Meus olhos enchem de lágrimas, esse deve ser
o momento mais feliz da minha vida, eu vou me casar com o Rui e estou
muito apaixonada por ele.
Olho para as pessoas ao redor da igreja, todas sorriem e gesticulam palavras
de carinho e apoio, volto a olhar para o altar, e o sorriso que estava em meu
rosto se esvai, não estou indo me casar com o Rui, quem está no altar é o
Renato.
Estanco no meio do caminho, meu pai me olha confuso.
– O que foi, minha princesa? – ele diz confuso.
– Pai, o que o Renato está fazendo no altar? Irei me casar com o Rui! – falo
sentindo meu coração apertar no peito.
– Jackeline, o Rui se casou com sua antiga namorada, a Priscila, você não se
lembra? – ele diz com seus olhos emocionados.
– Não, é mentira, pai, eles romperam, ele não se casou com ela! – digo
apavorada.
– Casou sim, olhe para o altar, ele é seu padrinho de casamento, junto com
sua esposa.
Olho novamente para o altar, e vejo o Rui e a Priscila de mãos dadas, e um
bebê no colo dele, ele sorri, parece muito feliz.
Meus olhos inundam de lágrimas.
– Eu não posso fazer isso. Eu não amo o Renato, eu amo o Rui! – Giro em
meus calcanhares, levanto meu vestido para não tropeçar, e começo a correr
para fora da igreja, mas algo me segura, não consigo me mover, então ouço a
voz do Renato, me viro e o vejo.
– Jack, não faça isso comigo, eu te amo, vamos ser muito felizes! – ele diz
com seu olhar de piedade.
– Eu não posso, eu não amo você! – respondo chorando.
– Não precisa me amar, eu vou te dar tudo o que você quer, uma família,
filhos, um marido... – Ele sorri, vejo uma expressão estranha no seu rosto,
uma pessoa chega ao seu lado, olho e vejo o Leonardo, ele beija o rosto do
Renato e me olha.
– Seremos uma família, Jack, eu, você e o Renato. – O Renato beija os lábios
do Leonardo.
– NÃOOOOO!!!!!! – Grito, literalmente, e acordo suada, assustada e com o
coração na boca.
A voz do Rui me tira do meu pesadelo.
– O que foi, Jack?– Ele acende o abajur, alisa meus cabelos, e limpa as
lágrimas que estão no meu rosto. – Você teve um pesadelo, foi isso?
Olho para ele, ainda vivenciando a sensação horrível do pesadelo.
– Foi, foi um pesadelo horrível! – Cubro meu rosto com as mãos.
Sinto seus braços ao redor do meu corpo, aninho meu rosto em seu peito,
cheiro-o e o beijo diversas vezes.
– O que foi, Jack, quer falar sobre o seu sonho? – ele diz beijando meus
cabelos.
– Não, eu não quero! – digo aflita.
Ele se deita, trazendo meu corpo para junto do seu.
– Então, vamos voltar a dormir. – Ele me abraça forte junto a ele. – Está tudo
bem, foi só um sonho, dorme, Jack.
****

O pesadelo se foi, não voltei a sonhar, só dormi e foi um sono tranquilo.


Desperto sentindo o perfume que me viciei desde que conheci o Rui, estou na
mesma posição que ele me colocou quando voltamos a dormir. Olho de
relance em seu relógio digital, ainda é cedo, mas quero amar o Rui, muito,
estou precisando o sentir em mim, saber que sou sua, que ele é meu.
A sensação do pesadelo voltou ao meu coração, acho que não suportaria
saber que o Rui se casou com alguém. Eu sei que nos conhecemos a pouco
tempo, que eu não deveria sentir isso, mas estou louca de amor por ele, e sei
que posso sofrer muito com isso.
Passeio minhas mãos pelo seu corpo, pelos seus braços, ele é todo musculoso,
forte, exala masculinidade e virilidade.
Beijo seu pescoço, ele se mexe, olho para seu rosto e o vejo abrindo seus
olhos.
– Bom dia, Rui! – Desço minhas mãos por sua barriga, seguro seu membro
entre minhas mãos, ele sempre amanhece excitado, o acaricio em toda sua
extensão, que por sinal não é pouca.
Ele sorri preguiçoso.
– Jeito bom de acordar, Jack. – Ele segura meu rosto entre suas mãos, me
trazendo para um beijo, mas para no meio do caminho. – Eu não escovei os
dentes – ele diz divertido.
– Me beija logo, Rui! – digo sem paciência.
Ele sorri e me beija devagar, preguiçoso, deliciosamente.
Correspondo ao seu beijo, mas não deixo de acariciá-lo, ele geme em meus
lábios.
Distancio meus lábios dos seus, sorrio, o beijo novamente.
– Eu quero te dar prazer, Rui, muito prazer! – Ele me olha com seu olhar
intenso, cheio de sensualidade e desejo.
Beijo seu pescoço, seus ombros, passo minha língua por sua orelha, volto
para sua boca, voltamos a nos beijar, ele aperta minhas nádegas entre suas
mãos, mas volto a beijar seu corpo, beijo seu tórax, mordo seus mamilos.
– Não, Jack! – Ele arqueia seu corpo, acho que isso dá muito tesão nele.
– Eu queria as algemas, Rui, por que você não comprou ainda? – digo
segurando suas mãos, do jeito que ele faz comigo.
– A gente compra hoje – ele diz cheio de tesão.
– Fica quietinho, agora é minha vez – falo cheia de atitude, adoro dominar
também, gosto de ser dominada, mas gosto de dominar.
Beijo sua barriga, mordo seus gominhos de músculos, vou lambendo até
chegar ao meu objetivo. Envolvo meus lábios ao redor de seu pênis,
chupando e lambendo.
– Oh, Jack, isso é bom demais! – ele diz de olhos fechados.
Aumento os movimentos com minha boca, ele segura meus cabelos, os puxa
levemente e então em fração de segundos, me vejo de bruços na cama.
– Eu quero te foder, Jack! – Ele sussurra em meu ouvido, e me penetra
deliciosamente.
– Então, me fode! – Gemo alto.
As primeiras estocadas são calmas.
– Jack, sua buceta é deliciosa, sabia? – Ele continua a se movimentar calmo,
sensualmente, de um jeito excitante.
– O seu pau também, Rui! – Sussurro em meio as suas investidas.
– Como você quer que eu te fodo, minha gostosa? – Ele sussurra em meu
ouvido, seu corpo cobrindo totalmente o meu, sinto o seu peso sobre meu
corpo, seus braços ao redor dos meus, estamos literalmente na posição de
cachorrinho.
Viro meu rosto para beijá-lo, a gente se beija, ele me fode vagarosamente.
Separo meus lábios dos seus, a gente se olha, e isso é tão incrível.
– Eu gosto desse jeito, mas também gosto com força, adoro tudo que você faz
em mim, Rui.
Ele volta a me beijar, envolve meu corpo em seus braços, segura meus seios
entre suas mãos, e me fode forte, coloco toda minha força em meus braços,
gemo, grito e gozo, ele sabe onde fica meu ponto G, talvez, o H, Y, Z...
– Ruiii!!! Ohhh!!! – Sinto meus braços fraquejarem, mas ele logo segura seu
peso com seus braços, seus movimentam aumentam, ficam duros, profundos,
ele urra ensandecido, e explode em um orgasmo barulhento e delicioso.
– Ohhh, Jack!!! – Ele morde minhas costas, puxa meus cabelos. –
Caralhooo!!! – Ele berra. – Porra, Jack, que foda deliciosa!!! – Ele sussurra
em meu ouvido, se acalmando vagarosamente, e finalmente parando. – Porra,
que foda do caralho!!! – ele diz de novo, e desaba ao meu lado, daquele jeito
que acho que ele vai morrer.
Nunca transei com alguém tão intenso, juro que vou voltar para a academia,
não tenho condicionamento físico o bastante para transar com o Rui, ele
acaba comigo, literalmente.
Desabo na cama, minhas coxas e meus braços tremem pela força que fiz em
me manter na posição de cachorrinho.
Minha respiração não está menos ofegante que a dele, o sexo entre nós é
intenso demais.
Pego sua mão e levo para meus lábios, e a beijo, ele me olha de lado e sorri.
– Jeito bom de acordar! – ele diz de novo.
– Acho que não vou me levantar nunca mais dessa cama. – Dou risada.
– Eu te levanto, minha deusa! – Ele vira meu corpo e me pega no colo com
uma facilidade tão grande que me sinto uma pluma.
– Rui, você é tão forte – falo enganchada em seu pescoço, beijando seu rosto.
– Isso é bom, não é? – ele diz manhoso.
– Muito bom, mas acho que preciso ficar mais forte para aguentar você. – Ele
dá uma risada contagiante.
– Estou pegando pesado, é isso? – Ele me coloca no chão do box, e liga a
torneira do chuveiro.
– Não. – Abraço sua cintura o trazendo para junto de mim. – Adoro sua
pegada, não precisa mudar nada!
Ele ri de novo.
– Então podemos repetir, acho que já estou pronto! – Ele olha para o seu
amigo.
Jesus, esse homem não cansa.
– Você tem certeza que não tem 20 anos? – Dou risada.
– Eu menti para você, tenho 22 anos, e corpinho de 35 – ele diz debochado,
beijando meu pescoço.
– Você é lindo, Rui! – falo inebriada pela névoa de paixão que nos circunda.
Ele vira meu corpo contra a parede.
– Você que é, Jack! – ele diz sedutor, beijando meu pescoço.
– Você só gosta de me comer vendo minha bunda? – O olho pelo meu ombro.
Ele enterra seu membro dentro de mim, aproveita que estou olhando de lado
e me beija.
– Eu gosto de te comer de tudo que é jeito, mas confesso que adoro sua
bunda. – Ele a aperta entre suas mãos. – Ela é gostosa demais, Jack. – Uma
estacada forte. – Posso dar uns tapinhas? Adoro fazer isso! – ele diz no meu
ouvido, passeando sua língua em meu pescoço e em minha orelha.
Ele me excita com essa história de tapinhas, isso é fato, adoro que ele faça
isso.
Dou risada, esfrego minha bunda contra seu corpo.
– Pode bater, meu homem – falo sensualmente.
Ele segura forte em meus quadris, dá uma estocada forte e profunda.
– Não fala assim, Jack, eu não aguento. – Ele bate com força, massageia. –
Assim minha gostosa, você gosta quando faço assim? – Mais uma estocada,
mais um tapa, eu grito, gemo, e fico encharcada.
– Gosto, Rui! Continua... – Gemo alto.
– Jackeline, você não sabe o que faz comigo. – Sua voz sai gutural, sinto sua
boca em meu pescoço, ele beija, chupa, morde, bate em meu bumbum, e goza
ruidosamente.
Pai eterno, que surra literal de pica.
Descanso minha testa no azulejo e tento normalizar minha respiração.
– Jackeline, eu sou louco por você! – ele diz beijando meus cabelos, e
respirando ruidosamente.
Mais uma vez aquele friozinho no estômago. Gostaria de acreditar que isso
signifique que ele também está apaixonado por mim, mas acho que não. Sua
loucura tem a ver com o sexo.
– Eu também sou louca por você! – falo baixo, mas logo ele me vira para
olhá-lo, aquele olhar intenso e profundo, ele fecha os olhos e me beija,
vagarosamente, deliciosamente.
Sinto seus braços ao redor do meu corpo, ele me aperta em seus braços e isso
é bom demais.
– Vamos terminar nosso banho, Jack. Eu não aguento uma terceira vez, eu
menti, não tenho 22 anos – ele diz sorrindo.
****

O caminho para seu escritório foi tranquilo, porque de um jeito estranho


estamos na mesma sintonia, como um casal de namorados.
Ele entra na rua do seu escritório, eu sempre fico tensa quando chegamos,
olho para ele de lado, ele percebe, pega em minha mão e a beija.
– Não precisamos esconder que temos um relacionamento, somos solteiros,
eu pago minhas contas, você as suas, então... – Ele me olha e sorri.
– Temos um relacionamento? – Enrugo minha testa.
– Temos. – Ele estaciona seu carro na garagem, e me olha. – Você gosta de
dar nome aos relacionamentos?
– Não, só estou um pouco confusa, eu posso te chamar do que? – Olho para
ele e sorrio. – Meu amante? – Torço meu nariz.
Ele dá risada.
– O que você gostaria que eu fosse para você? – O olho confusa, por que ele
tem que fazer perguntas tão difíceis?
– Namorado! – Viro meu rosto de lado, falo timidamente, isso é muito
esquisito.
Ela abaixa a cabeça, dá risada.
– Tudo bem, então, somos namorados.
Eu não acredito muito nisso, eu e o Rui namorando, será que isso é sério?!
– Você não gosta de relacionamentos – falo seriamente. – Não precisa forçar
a natureza, podemos continuar como estávamos.
– Não quero me casar, é diferente, mas gosto de namorar – ele diz com uma
simplicidade irritante.
– Ah, claro, sua síndrome é a respeito de relacionamentos duradouros! – falo
desanimada.
– Não, minha síndrome é a respeito de um contrato ultrapassado e falido
chamado matrimônio, não acredito em casamentos, sou um advogado,
divorcio pessoas todos os dias, cheguei a essa conclusão depois de anos de
profissão.
– Eu acredito no casamento, viver para sempre com a mesma pessoa, ter
filhos! – Olho para ele.
Ele olha para frente, fica sério.
– Não quero nada disso, Jack. – Ele me olha com uma expressão tensa, seus
lábios formam uma linha dura, assim como o meio dos seus olhos, que
formaram uma ruga de tensão.
– Tudo bem, não precisamos querer as mesmas coisas, ninguém jurou amor
eterno, que seja eterno apenas enquanto dure. – Tento sorrir, mas esse assunto
me incomoda, gosto dele de verdade, e sei que vou sofrer, mas sou
masoquista e quero viver esse relacionamento, mesmo sabendo que não há
promessas para um futuro.
Ele coloca uma das suas mãos em meu rosto, me olha intensamente, olha para
meus lábios, e me beija do jeito mais profundo possível, me fazendo sentir
um frio na barriga, um arrepio na espinha, e as famosas borboletas no
estômago.
Ele se afasta e me encara com seus olhos enigmáticos.
– Sem cobranças, Jack.
– Sem cobranças – respondo. – Mas quero fidelidade, esse é o mínimo que
preciso para ficar com uma pessoa.
– Tudo bem. – Ele balança levemente sua cabeça e me dá mais um beijo. –
Vamos! – Ele sai do carro.
****

O escritório ainda está vazio, então entramos e subimos de mãos dadas.


Minha cabeça está confusa, o Rui me deixa confusa, não acredito muito que
ele vá me levar a sério.
É estranho eu pensar assim e ainda querer me relacionar com ele!
Sou masoquista, está provado.
– Vamos ao shopping no horário do almoço, para você comprar algumas
roupas – ele diz assim que chegamos a minha mesa.
– Rui, não gosto dessa história de você comprar uma roupa por dia para mim,
não está certo! – Falo com sinceridade, não sou esse tipo de mulher que gosta
de viver às custas do “namorado”.
– Então, deixe algumas roupas suas na minha casa, assim você resolve esse
problema. – Ele segue para sua sala e me deixa com o queixo levemente
caído.
Deixar algumas roupas em sua casa?
Isso está indo bem depressa.
Depois penso sobre isso, agora preciso trabalhar.
****

Meu ramal toca, vejo que é o Rui, e pelo horário provavelmente é para
almoçarmos.
– Oi, chefinho! – Brinco ao atender.
– Vamos almoçar? – ele diz com um tom animado. – A gente compra uma
roupa para você, e aquelas algemas!
Seguro meu riso, mas acabo explodindo em uma risada.
– Ah, as algemas! – falo rindo.
– Isso, vamos providenciar nossos acessórios, aquele apartamento hoje vai
pegar fogo! – Ele diz com um tom sacana.
Mas, aí me lembro que tenho casa, e que não posso abandonar minha mãe.
– Rui, não posso hoje! – falo com cuidado.
– Porque, porra? – Afasto o telefone do meu ouvido, ele gritou, é isso?!
– Ei, eu não admito que você grite comigo, ouviu?! – falo nervosa.
– Desculpe! – ele diz mais calmo. – Eu te levo para sua casa, mas mais tarde,
depois de jantarmos, enfim... – Ele fala cauteloso.
Meu padrinho Cícero, de onde saiu esse homem? Ele está muito mal-
acostumado, pelo visto a mulherada se curvava a ele como se ele fosse um
Deus.
Cacete, que gênio do cão ele tem!
Eu adoro ficar com ele, então vou abrir uma exceção, mas não será sempre,
ele não pode achar que manda em mim.
– Tá bom! – respondo mais calma.
– Desculpe, Jack! – ele diz de novo.
– Está desculpado, só não grita de novo comigo, não sou mulher de
malandro. – Desligo o telefone.
Em cinco minutos a porta abre e ele sai poderoso como só ele pode ser.
– Vamos, italiana brava – ele diz divertido.
– Eu, brava, acho que não – falo provocativa, pego minha bolsa, levanto e ele
me abraça.
– Já pedi desculpas, desmancha a cara feia – ele diz de um jeito divertido, me
levando a pensar que ele tem dupla personalidade.
Forço um sorriso.
– Está bom assim? – Ele segura meu rosto e me beija, e morde meus lábios. –
Adoro seu jeito, Jack.
– Eu também gosto do seu, mas só o lado bonzinho, aquele outro que gritou
comigo, dispenso. – Passo por ele e ganho um tapa na bunda. – Ei, tá bem
saidinho, posso te processar por assédio! – Brinco.
Ele dá risada, passa por mim, segura minha mão e me puxa para as escadas.
Puxo o ar, não sei se estou preparada para assumir esse relacionamento na
frente de todos do escritório.
Passamos pela recepcionista e ela não conseguiu disfarçar sua cara de espanto
ao nos ver de mãos dadas, ela simplesmente focou em nossas mãos da forma
mais descarada possível.
– A Karen é fofoqueira, daqui a algumas horas todos saberão que saímos de
mãos dadas! – digo ao entrarmos em seu carro.
– Você se importa com isso? Eu não! – ele diz enquanto manobra seu carro.
– Eu não me importo, só estou te dizendo – respondo cuidadosa, mas por
outro lado feliz.
Acho que ainda não caiu a ficha, estou namorando com meu chefe, e ele é
tudo de bom, só espero que isso dê certo.
****

O caminho que ele segue não é o mesmo do shopping.


– Rui, para onde vamos? Esse não é o caminho... – Ele me interrompe.
– Vamos buscar nossos brinquedinhos. – Ele me olha e sorri muito devasso.
Reviro meus olhos.
– Rui, eu tenho vergonha de entrar num lugar desses – digo desesperada.
– Por quê? Você vai comigo, escolhemos nossos brinquedinhos e pronto.
– Eu sei que é assim, mas eu tenho vergonha, vai você sozinho. – Olho para o
vidro do passageiro.
– Nem fodendo, você que veio com essa história de algemas, agora encare
seus fetiches, Dona Jackeline! – ele diz rindo.
– Oh, meu Deus, por que fui falar sobre isso com você? – Tampo meu rosto
com as mãos.
– É, Jack, você falou com o cara errado, adoro uma sacanagem, e não vejo a
hora de te prender a minha cama – ele diz com sua cara de depravado.
– Eu que vou te prender, e não você a mim! – falo indignada.
– Pronto, você só poderá me prender se entrar comigo no sexy shop, caso
contrário, sem acordo.
Bufo com raiva, sou depravada, mas entre quatro paredes e com ele, agora
entrar num sexy shop para escolher brinquedinhos é muito fora de questão.
Ele estaciona em frente a um sobrado grande com vidraças nas paredes,
manequins mostram alguns dos fetiches dos seus compradores, e em outras
vitrines manequins vestem fantasias de empregadas, bombeiros, e sei lá mais
o que!
– Vamos, não vejo a hora de explorar esse lugar! – ele diz animado.
Jesus, que vergonha!
Saio do carro feito um rato assustado, nunca me imaginei num lugar desses.
– Rui, não podemos comprar por site? – Fico parada a porta do passageiro,
rezando para ele gostar de minha ideia.
– Não, não dá para ver. O legal é pegar na mão, sentir, essas coisas...
Levanto minhas sobrancelhas.
Estou bege com esse homem.
– Rui, eu vou me esconder atrás de você, não quero que ninguém me veja
entrando nesse lugar.
Ele gargalha ruidosamente, estende sua mão para mim, fecho meus olhos e
entramos naquele lugar dos infernos.
Uma vendedora estilosa sorri quando entramos, me escondo atrás do braço do
Rui, ele me olha e ri.
– Vocês precisam de ajuda? – Ouço a voz da moça, mas me nego a olhar para
ela.
– Queremos ver umas algemas! – ele diz com sua voz de cafajeste. – Minha
namorada adora esse negócio de algemar, essas coisas...
Ele me puxa, fazendo com que eu fique na frente do seu corpo.
– Relaxa, Jack, vamos nos divertir. – Ele sussurra em meu ouvido.
A moça me olha, dou um sorriso insosso para ela, e vejo a minha frente tipos
diferentes de algemas.
– Aqui estão alguns modelos – ela diz muito profissionalmente, sem sorrisos,
olhares, nada.
– Você escolhe, Jack – ele diz no meu ouvido.
Reviro meus olhos, vejo uma forrada com uma camurça, provavelmente não
machuca.
– Acho que essa aqui. – Aponto para a bendita.
– Quer experimentar, para ver se serve? – ela diz simpática, me fazendo corar
de vergonha.
Pego o negócio e seguro um riso, viro de frente para o Rui e pego em seu
pulso.
– Me deixe provar em você. – Sorrio, porque não estou acreditando que
estamos fazendo isso.
Ele me olha com seu sorriso de cafajeste, coloco as algemas nele e sorrio
mais.
– Perfeito, Rui, é assim que irei mantê-lo de agora em diante.
– Tira essa porra, Jack, não gostei muito da sensação. – Dou uma risada
espalhafatosa e tampo minha boca.
– É só de brincadeirinha! – Abro a algema e dou para a vendedora. – Vamos
levar.
– O que mais vocês precisam? – ela diz séria. – Temos chicotes, vibradores,
vendas, todos os acessórios para “maso” ou “sado”!
Arregalo meus olhos.
– Oi?! – falo sem pensar. – Não somos nada disso. – Cuspo as palavras.
O Rui ri descaradamente em minhas costas e fala no meu ouvido:
– Um vibrador, talvez, para dar uma apimentada.
Seguro o riso, ele é terrível.
– Uma venda – falo rapidamente.
– E um vibrador – ele fala em seguida.
– Oh, claro, só um minuto! – ela diz se distanciando um pouco de nós.
– Rui, acho que está bom, né? Vamos começar aos poucos, para eu me
acostumar.
– Tudo bem, Jack, vou dar uma volta, só para ver o que temos por aqui. – Ele
sai andando pelo espaço aberto, onde existem roupas e acessórios em
exposição.
A moça volta e coloca uma série de vibradores e vendas sobre o balcão.
– Veja o que você acha, esse aqui faz isso. – Ela desanda a falar sobre o
funcionamento dos vibradores, estou roxa de vergonha, nunca conversei com
ninguém sobre isso, muito menos com uma desconhecida.
– Querida, qual o melhor? – falo rapidamente, vendo se o Rui não está por
perto.
– Esse aqui, é elétrico, funciona com bateria, e aumenta muito mais o prazer,
você vai adorar! – ela diz como se vendesse um aparelho para depilação.
Reviro meus olhos.
– Então, embrulha esse – falo rapidamente.
– E qual venda? – Ela me olha interrogativa.
Escolho uma preta de cetim.
– Essa aqui, está ótimo – falo apressada. – Me deixa chamar meu namorado,
ele está um pouco empolgado com essa coisa toda.
Ela dá um sorriso contido, e saio rapidamente para chamar o Rui.
– Pronto, Rui, já escolhi nossos brinquedinhos. Podemos ir? – falo
apressada.
– O que você acha disso? – Ele me mostra uma lingerie/biquíni de um tecido
parecendo um couro, cheio de coisas metálicas, típico dessas dançarinas de
boate de streep tease.
– Meus peitos não cabem aí! – falo rapidamente.
– Cabem sim! – Ele olha para a fantasia e depois para os meus peitos. – Vai
ficar do jeito que eu gosto, vou levar. – Ele sai andando para a vendedora.
Minha vontade é pegar uma fantasia de bombeiro, só para irritá-lo, mas quero
ir embora logo, talvez outro dia.
Capítulo 41
JACKELINE BARTOLLI
divertido entrar num sexy shop, penso, não falo, porque se falar
A tépodequeserfoique o Rui vá se empolgar com essa história.
Estamos indo em direção ao shopping.
– E aí, gostou das nossas compras? – ele diz me olhando de lado, com um
sorriso safado no rosto.
– Gostei, não vejo a hora de testar as algemas em você, ver se são bem
resistentes! – Dou risada.
– Eu quero testar o vibrador, vi que você comprou um cheio de coisas. – Ele
me olha. – Você costumar usar um desses?
Abro levemente minha boca, fico rosa, vermelha e por fim, roxa.
– Eu... – falo indignada, não posso dizer a ele que como o Renato era devagar
pra cacete, tive que comprar um desses para acalmar a ninfomaníaca que vive
dentre de mim. – Não, claro que não... – Olho para o vidro do passageiro.
Ele explode em uma risada insana, olho para ele desconcertada, enrugo
minha testa, e falo:
– Para de rir, Rui.
– Como você é mentirosa, Jack!!! – Ele limpa seus olhos que estão cheios de
lágrimas. – Está na cara que você usa.
Como assim, está na cara que eu uso? Que absurdo é esse?
– Rui, você é muito indiscreto e enxerido, e você não tem nada a ver com o
que faço quando estou sozinha! – falo brava.
– Agora eu tenho, e não quero que você use isso sozinha, você tem a mim e
cacete, não é possível que não estou conseguindo acabar com o seu fogo! –
Ele enruga sua testa.
Levanto minhas sobrancelhas chocada.
– Se eu quiser, eu uso, você não manda em mim! – falo para desafiá-lo, e
irritá-lo é lógico.
– Não vai, não – ele diz feito uma criança.
Me esgueiro em cima dele.
– Eu não vou usar porque não quero, e porque você está dando no couro! –
Dou risada, abraço seu pescoço e dou muitos beijos em seu rosto.
– Você é louca, Jack! – Ele olha para o lado e ri.
– Louca por você! – Cochicho em seu ouvido.
Ele me olha e sorri, mas como estamos no meio do trânsito, volto para o meu
lugar e logo chegamos ao shopping.
– Vamos almoçar primeiro, Jack, estou morrendo de fome – ele diz
estacionando seu carro.
– Tudo bem, agora já fui trabalhar assim, não vejo necessidade de comprar
alguma coisa.
– Eu quero comprar, não reclama – ele diz segurando em minha mão e indo
rapidamente em direção aos elevadores.
Entramos no elevador que está vazio, ele me prensa contra a barra que separa
o vidro da cabine, o elevador é panorâmico, abraço seu pescoço e ficamos
nos olhando, tipo namorados mesmo, quer dizer agora somos namorados, e
isso é bem maravilhoso, agora ele é só meu.
Acaricio seus cabelos, ele fecha os olhos, parece um gato manhoso, me
esgueiro um pouco mais e alcanço seus lábios, e o beijo suavemente,
delicadamente.
O bip do elevador avisa que chegamos ao nosso andar, ele abre os olhos e
sorri.
– Vamos, Jackeline Bartolli! – ele diz divertido.
Entramos num restaurante chique do shopping, esperamos o garçom arrumar
um lugar para nos sentarmos, mas não demorou muito, logo estamos em uma
mesa no meio do salão.
Olho disfarçadamente ao redor, e então vejo a Priscila, ela e um homem mais
velho.
O Rui olha o cardápio.
– Vamos pedir esse aqui, Jack, não demora muito para preparar, estou com
tanta fome que sou capaz de comer essa mesa. – Não tenho tempo de falar
sobre a Priscila, ele chama o garçom e faz o pedido, eu nem vi o que ele
pediu. – Traz uns pãezinhos, umas coisinhas para petiscar – ele diz para o
garçom e volta a me olhar. – Tudo bem? Você ficou séria.
– Sua ex-noiva está aqui, logo ali. – Indico com o olhar.
Ele olha rapidamente.
– Que merda de coincidência. – Ele bufa irritado. – Eu preciso cumprimentar
a Priscila e seu pai, infelizmente e não sei até quando, temos uma parceria,
não posso ignorá-los simplesmente.
Dou de ombros.
– Claro, fique à vontade, é só não beijar ela na boca. – Só depois que falei
que me dei conta da asneira que disse.
Ele revira os olhos, se levanta e sai.
O acompanho com os olhos enquanto ele caminha até eles, ela logo o vê e
abre um sorriso enorme, provavelmente não me viu ainda.
O Rui cumprimenta primeiramente o velho, que o abraça calorosamente,
depois estende a mão para ela, que o olha decepcionada.
O sorriso de seu rosto se esvai.
Observo o jeito do Rui, ele está bem sério, altivo. Percebo o homem o
convidando para se sentar com eles, mas ele aponta em minha direção, os
olhos da Priscila seguem até a mim, me olham longamente, disfarço, desvio o
olhar, mas a sinto me olhando, me fuzilando.
Logo vejo o Rui voltando para nossa mesa, dou um sorriso contido para ele.
– Tudo certo? – pergunto por perguntar, não estou interessada em saber
desses assuntos particulares dele.
– Tudo certo! – Ele me olha, o garçom chega trazendo alguns pães e
antepastos. – O Doutor Albuquerque nos convidou para sentar com eles, mas
não achei uma boa ideia. – Ele sorri divertido.
Olho disfarçadamente para a mesa deles, e a vejo nos olhando. Ela irá acabar
com o nosso almoço, não suporto comer com alguém me olhando.
– Eles já estão indo embora, estão esperando o café – ele diz e me pega
olhando para ela.
– Tudo bem. – Sorrio novamente.
Logo os vejo levantando e respiro aliviada.
– Temos um compromisso essa semana, Jack! – ele diz entre uma garfada e
outra.
– Sério? Que tipo de compromisso? – Saboreio a comida que ele pediu.
– Um jantar dos magistrados, daqui a dois dias, é black tie! – Ele me olha por
entre seus cílios longos.
Torço meus lábios, nunca fui a um evento tipo black tie, mas sei que é
chique, que os homens se vestem feito pinguins e as mulheres como se
fossem a casamentos.
– Não sei o que vestir, nunca fui a um lugar desses – falo com simplicidade,
sou simples demais para o mundo do Rui.
– Aquele vestido preto, eu a fiz comprar por causa dessa ocasião – ele diz
com um sorriso no rosto.
– Irei mostrar metade dos meus peitos para seus amigos magistrados, é isso?
– O olho de lado, esse homem quer me matar de vergonha.
– Jack, você não sabe o quanto ficou linda naquele vestido, não tem nada de
vulgar, é só um decote. Muitas mulheres que frequentam esse evento vestem
roupas muito mais escandalosas do que seu vestido, acredite em mim, eu não
a colocaria numa situação constrangedora.
Suspiro.
– Vou confiar em você, não vou mentir, não estou acostumada a ir nesses
lugares, sou bem caipirinha, Rui – falo constrangida.
– Isso só te torna mais interessante, sabia?
Dou risada.
– Oh, você é um cavalheiro, gentil, educado, e me faz sentir a mulher mais
linda do mundo – falo emocionada, nunca me senti tão plena em toda minha
vida, ele me faz sentir linda, poderosa, isso é o máximo.
Ele pega em minha mão que está sobre a mesa, e a leva até seus lábios, e a
beija demoradamente.
– Você é minha deusa, Jack! – ele diz me olhando com seus olhos penetrantes
e lindos.
Sinto um gelado no estômago, uma sensação boa, uma emoção.
– Você é demais. – Sussurro. – Te adoro, Rui!
Ele beija novamente minha mão, fecho os olhos apenas com isso, ele me leva
até as nuvens.
– Vamos acabar de almoçar, quero comprar umas roupas para você, essas
ficarão em minha casa – ele diz depositando minha mão na mesa.
O olho atônita, ele está renovando todo o meu guarda-roupa, isso é
maravilhoso, mas me sinto mal, como se estivesse explorando ele.
– Rui, não precisa, amanhã eu trago algumas coisas da minha casa. – Suplico.
Ele pisca.
– Eu que mando, Senhorita Jackeline. – Ele volta a comer e desisto, ele não
vai me ouvir, ele é bem teimoso.
****

Como eu imaginava, o Rui escolheu uma dessas lojas de grife feminina para
comprar minhas roupas novas.
Praticamente ele escolheu tudo que comprei, porque confesso: número um,
não tenho gosto, e número dois, me sinto mal de escolher qualquer coisa,
como se estivesse assaltando a carteira dele.
Nunca me vesti tão bem em toda minha vida, e nem com roupas tão caras, o
valor das minhas roupas envergonham meu guarda-roupa, que é um modelo
de 1.940, assim como minha cama, minha mãe adora coisas provençais
(velhas!), então tudo em nossa casa é antigo como minha avó, e a única coisa
que os deixa mais bonitinhos é que foram pintados de branco.
Tudo bem, mas não vou me fingir de rogada, estou feliz com minhas roupas
novas, e com o cara incrível que conheci, que não mede esforços para me
agradar, nunca fui tão mimada em minha vida, o que me faz pensar que o
Renato me tratava muito mal.
Não, não posso fazer isso, comparar pessoas, isso é feio.
Enquanto o Rui paga as minhas compras, checo meu celular, e vejo a
centésima mensagem do Renato.
Abro a mensagem:
“Jack, acho que já te dei tempo o bastante para você pensar. Chega desse
joguinho, tivemos uma crise em nosso relacionamento, mas a gente se ama,
sempre se amou. Por favor, esquece a história do Leonardo, eu juro por
minha família, não sou gay, sou homem, gosto de mulher, da minha mulher.
Te prometo que o ano que vem nos casamos, são só seis meses, você já pode
começar a ver as coisas, agora é pra valer. Por favor, me liga, caso
contrário ficarei de plantão em seu apartamento até que você fale comigo. Te
amo.”
Acabo de ler e me assusto ao ver o Rui ao meu lado, lendo a mensagem.
– Que porra é essa, Jackeline?! Que história é essa de se casar o ano que
vem?! – ele diz com uma expressão tensa no rosto, sua voz sai mais grossa e
mais brava.
Respiro fundo, ele não pode ficar lendo minhas mensagens, não faço isso
com ele.
– Rui, é feio isso que você fez, eu não fico escondida bisbilhotando suas
mensagens! – Guardo o celular na bolsa, mas ele pega no meu braço.
– Responde essa porra agora! – ele diz com seu olhar estreito e perigoso.
– Como assim? – falo atônita.
– Responde essa mensagem, fale que não ama mais ele, que ele é gay sim, e
que não tem porra nenhuma de casamento, e que você está comigo, Rui
Figueiredo, e que se ele continuar mandando mensagens para você, vou
mostrar para ele o que um homem de verdade faz.
Arregalo meus olhos.
– O que você vai fazer com ele? – pergunto preocupada.
– Com certeza não é enfiar meu cacete no rabo dele! Pega essa merda e
responde agora – ele diz irritado.
É, acho melhor eu responder a mensagem, o Rui parece meio nervoso, talvez
ele enfie um cabo de vassoura no rabo do Renato.
Pego o celular, olho para ele meio temerosa, ele não é um ogro, mas ele é
bem possessivo. Isso me excita nele.
Oh, meu Deus, porque acho que tudo me excita nele? A questão agora é
séria!
Não consigo deixar de sorrir, porque minha mente perversa está sempre
pensando sacanagens com o Rui.
– Por que você está rindo, Jackeline? – ele fala bravo.
Abraço seu pescoço num rompante de loucura, e aperto, aperto muito meus
lábios contra os seus, adoro tudo nesse homem.
Ele me afasta, delicadamente.
– Não me enrola, Jack, escreve essa merda, eu quero ver o que você vai
escrever! – Ele gesticula nervoso.
– Eu gosto do seu jeito possessivo! Me excita, sabia? – Olho para ele de lado,
ele ri, balança a cabeça.
– Escreve, Jackeline! – Ele volta a ficar sério.
– Calma, meu celular é meio lentinho! – Abro o contato do Renato, não quero
ser grossa com ele.
Penso um pouco e começo a escrever.
“Renato, não estou fazendo joguinho, acho que agora é para valer, acabou.
Sinto muito, gosto muito de você, sempre serei sua amiga, quero bem a você,
desejo que você seja feliz, encontre seu caminho, e que ache uma pessoa que
te faça bem, feliz e realizado. Obrigado pelos momentos felizes que passamos
juntos. Eu vou sempre te amar, como amigo, conte sempre comigo.”
Quando vou apertar o botão de enviar o Rui me assusta.
– Não envia, eu quero ler! – Ele pega o celular da minha mão. – Onde você
fala sobre mim aqui? Não estou conseguindo achar. – Ele franze sua testa. –
Essa mensagem não está legal, tem que ser mais incisiva, parece carta de
amor! – Ele vira seu rosto de lado e me olha enfezado.
– Não achei necessário ficar dando satisfações da minha vida – respondo
irritada. – Não quero atacá-lo com essa história, ele já nos viu juntos, sabe
que estou saindo com você, talvez nos veja novamente. – Coloco uma mão
sobre o rosto do Rui e acaricio. – Não gosto de magoar as pessoas, tenho
carinho por ele, apesar de tudo que aconteceu, não consigo ser vingativa.
Ele segura minha mão contra seus lábios e a beija carinhosamente.
– Não marque nada com esse cara, não vá a seu apartamento, não fique de
conversa escondida com ele, não vou aceitar isso! – ele diz sério.
– Tudo bem. – O olho com firmeza. – Você fará o mesmo por mim, não
ficará com conversa com suas periguetes? Se eu souber que você saiu com
alguém, eu nunca te perdoarei, Rui.
Ele me olha profundamente, parece pensar sobre nossa conversa, então diz:
– Fique tranquila, Jack, você tem minha palavra. Eu não sou um moleque. –
Ele pega em minha mão e sai andando a passos largos em direção aos
elevadores.
****

É final de tarde, olho no relógio, já passam das 18h, mas não vou apressar o
Rui, ele passou a tarde toda lendo essas porcarias desses processos.
Urgh, é muita coisa para ler, sinto até náuseas só de pensar, eu nunca poderia
ser uma advogada.
Ele me passou muitas coisas para fazer hoje, então aproveito enquanto ele
não sai de sua sala e termino alguns assuntos pendentes.
Meu celular vibra sobre a mesa, fecho os olhos, se for o Renato não posso
atendê-lo, o Rui pode sair da sala e isso pode gerar alguma confusão. O pego
para desligar, mas vejo que é a Carol, e respiro aliviada.
– Oi,Caroleta! – falo animada.
– Oi, Jack! Tudo bem? – ela diz um pouco estranha.
– Tudo e você? Tá meio estranha, Carol!
– Bom, vou logo ao assunto, a jararaca da recepcionista espalhou para o
escritório todo que você é o novo caso do Doutor Rui. É verdade? Você não
iria me contar isso?
Respiro fundo.
– Essa menina é uma cobra venenosa! – falo sem paciência. – Não sou o
novo caso do Doutor Rui, sou sua namorada! – falo feliz, com um sorriso no
rosto.
– Que?! – Sua voz sai estridente. – Desculpa, Jack, mas isso não faz muito
sentido.
– Por quê? Ele disse que somos namorados – falo feito uma idiota
apaixonada.
– Jack, o Doutor Rui é um mulherengo, a única namorada que ele teve e que
recebeu esse título foi a Priscila.
Reviro meus olhos, odeio aquela Priscila, mas isso não vem ao caso.
– Foda-se, Carol, estamos juntos, não importa o título que você queira dar.
Dormi em sua casa de ontem para hoje, temos saído sempre, e ele me fez
romper definitivamente com o Renato. Acho que isso significa alguma coisa,
não?
– Sei lá, só não quero que você se machuque. Não confio nele, Jack! – Seu
tom é sério. – Toma cuidado para não se machucar, ele é um homem
instável, rico demais, poderoso demais, isso mexe com o raciocínio da
cabeça de cima e de baixo.
Respiro e inspiro, ela me deixou preocupada, mas balanço minha cabeça e
tento não pensar muito sobre isso, não sou inocente, eu sei quem ele é,
embarquei nessa por livre e espontânea vontade, e se der alguma coisa
errada, não foi por falta de gente me avisando.
– Fique tranquila, estou me divertindo um pouco, Independente de qualquer
coisa, ele é um homem incrível, Carol, me faz feliz, me faz sentir linda, nunca
me senti assim com ninguém.
– Oh, Jack, você está caidinha por ele, espero de coração que ele não te
machuque, porque se isso acontecer, eu o machucarei, e será fisicamente!
Dou risada, ela é engraçada, parece um irmão bravo.
A porta abre e sinto o cheiro do homem mais perfumado do mundo.
– Vou desligar, depois nos falamos – digo apressada, e o vejo se
posicionando na minha frente, enorme e desafiador, sua cara não é boa, ele
é ciumento demais. – Beijos, Carol! Boa noite!
Desligo.
Olho para ele sorrindo.
– Era a Carol, mandou um beijo para você! – Brinco.
Ele relaxa suas feições.
– Vamos? – ele diz impaciente.
– Vamos! – digo animada. – Não vejo a hora de te prender ao pé da cama.
Ele dá uma risada gostosa, e relaxada.
– Sou cachorro para ficar no pé da cama? – ele diz rindo.
– Você já deve ter sido chamado de cachorro por algum caso ofendido, tipo a
Helena! – Pego minha bolsa.
Ele segura em minha mão.
– Não, ninguém me chamou de cachorro, talvez, filho da puta, desgraçado, e
outros nomes mais pesados – ele diz divertido.
Descemos as escadas, a fofoqueira já foi embora, então respiro aliviada. Logo
estamos em seu carro em direção ao seu apartamento.
Estarei mentindo se disser que não estou um pouco ansiosa, nunca usei nada
mais ousado com namorados, essa será a primeira vez. Espero que dê tudo
certo.
****

Chegamos ao prédio do Rui, e isso sempre me causa um mal-estar, tenho


medo de encontrar o Renato, não quero encontrá-lo.
Descemos de seu carro, ele pega minhas sacolas, e as carrega para mim,
sempre muito cavalheiro, e seguimos para o elevador, e respiro aliviada
quando chegamos ao seu andar.
Um barulho de patinhas e de repente o Bóris aparece, feliz e radiante.
– Oi, Bóris! – Me agacho para recebê-lo, e ganho muitas lambidas, é fato,
agora ele me ama mais do que ao Rui.
Olho para o Rui, ele está parado incrédulo.
– Perdeu, playboy, o cachorro agora é meu! – Brinco, me levantando.
– Ei, Bóris, eu também cheguei! Dá para esquecer um pouco a Jackeline? –
ele diz andando atrás de nós, pois o Bóris só pensa em mim, fazer o que?
O olho por entre meu ombro, e dou risada.
– Perdeu o cachorro! – Brinco de novo, olho para o Bóris. – Cadê a bolinha,
Bóris? Vai pegar! – E ele sai correndo.
– Como você sabe que ele gosta de brincar com a bolinha?! – ele diz
indignado.
– Adoro cachorros, e sei tudo sobre eles, sou psicanalista para cães – falo
fazendo charme.
O Bóris vem correndo com a bolinha, ele é tão fofo, pego de sua boca e jogo,
e lá vai ele, faço isso três vezes.
– Agora chega, né, Bóris! – O Rui pega a bolinha e não devolve. – Vem,
Jack, vamos subir.
– Depois a gente brinca mais, Bóris. Agora preciso prender seu pai ao pé da
cama, vamos nos divertir um pouquinho! – O Rui olha para mim e dá risada.
Eu o divirto muito, e não é só na cama, o faço rir muito, e adoro isso, porque
ele fica lindo rindo.
Subo com ele para o seu quarto, ele é daqueles que entra tirando a roupa.
– Rui, é mais romântico se você me deixar tirar sua roupa. – Faço charme, e
começo a desabotoar sua camisa.
– É que você demora muito, Jack, estou com um tesão da porra. – Ele me
agarra pela bunda, apertando contra seu corpo.
Sorrio e vou beijando seu peito, e sentindo seu cheiro gostoso.
– Adoro seu cheiro, Rui – digo inebriada por seu cheiro, que não é só o
perfume, é o seu cheiro mesmo, ele tem um cheiro meio amadeirado, cheiro
de macho mesmo.
Ele esfrega seu nariz em meu pescoço e vai depositando beijos, suaves,
molhados, eu adoro isso.
Passo minhas mãos pela pele de sua barriga, quente, macia e musculosa.
– Hum, Jack, tira logo essa porra. – Ele segura meus cabelos entre os dedos
de sua mão, e os puxa levemente, fazendo com que eu dê passagem para sua
boca em meu pescoço e minha nuca.
– Não consigo! – Sussurro, e antes que eu possa dizer mais alguma coisa, ele
tira sua camisa, desabotoa sua calça, tira os sapatos, a boxer e as meias.
O olho atônita, sou tão devagar e ele tão depressa.
Ele abre o blazer que estou vestindo, o zíper da minha saia, puxa a blusinha
linda que ganhei hoje, aliás, estou só com roupas novas, até o sutiã e a
calcinha.
– Minha gostosa! – Ele sussurra ao me ver só de lingeries. – Vou te deixar
assim, eu gosto de te ver de lingerie – ele diz com olhar de desejo. – Quer
tomar banho, Jack?
Ele diz, mas já está me empurrando para a cama.
– Você quem sabe – respondo, gemo, adoro sentir seu corpo sobre o meu, ele
é tão grande, másculo.
Um click e percebo que ele colocou as algemas em mim, arregalo os olhos.
– Não foi isso o combinado! – falo indignada.
– Não combinei nada, só disse que deixarei você usar essas algemas em mim.
– Ele sorri, e começa a beijar meu pescoço e desce para os meus seios. –
Vamos tirar isso, está me atrapalhando. – Ele tira o sutiã apressado.
Arqueio meu corpo ao sentir seus lábios sugando meus mamilos, as mãos
presas me agoniam, quero tocá-lo.
Gemo, me contorço de prazer, e sinto algo sobre meus olhos.
– Agora serão só sensações, Jackeline. Você está presa, e sem ver nada! – ele
diz em meu ouvido, roçando seus lábios na minha pele, me enlouquecendo de
desejo.
– Oh, meu Deus, assim eu não vou aguentar! – Minha respiração sai
ofegante.
– Vai sim, minha deusa, eu vou te enlouquecer! – ele diz selvagem, sua voz
sai rouca, sedutora, me fazendo arrepiar até o último pelo do corpo.
Sua boca vai descendo pelo meu corpo, parece que as sensações agora são
maiores, me sinto ainda mais sensível.
Ele acaricia o meio das minhas coxas e vai subindo até chegar a minha
intimidade, enfia um dedo, gemo alto, dois dedos e ofego de prazer.
– Geme, Jack! Grita meu nome, Jack! – ele diz com a voz gutural, em um
entra e sai dentro de mim, com beijos e chupadas por meu corpo todo.
– Ruiii!!! – Gemo alto, enlouquecida de desejo. – Ahhh!!! – Não estou
aguentado, é muita tortura de prazer. – Não para, Ruiii – Arqueio meus
quadris em direção a sua mão, me movimento junto com ele, e finalmente
gozo loucamente. – Ohhh, ohhh, Rui, você é demais, Rui!!!
E antes que eu possa me recuperar ele me vira de bruços e enterra seu
membro dentro de mim, duro, com força.
– Grita, Jack! – Uma estocada forte, dura e profunda.
– Ahhh! – Grito e gemo.
Outra, e mais outra, e mais outra, e acho que acordei até São Jorge!
Grudo nos lençóis do jeito que posso, e ele urra ensandecido, pior do que eu,
ainda bem que somos só eu, o Rui e o Bóris. Somos muito escandalosos.
Ele desaba ao meu lado, não o enxergo e estou presa, isso é agoniante.
– Foi delicioso, Jack!
– Foi, Rui, meio agonizante esse negócio de não enxergar e não poder se
mover... – Dou risada, e tento tira a venda com minhas mãos, mas ele a puxa
antes.
– Pronto, agora você pode ver seu macho – ele diz divertido. – Você gostou,
Jack? – Ele franze seu cenho.
– Foi muito bom! – Sorrio, ele me coloca novamente na posição normal, e se
posiciona em cima de mim, pesado e grande.
– Eu gostei desse negócio de te amarrar – ele diz sedutor.
– Ah é, e não vai desamarrar nunca mais? – pergunto olhando-o com um
sorriso.
– Acho que não. – Ele se levanta, olha pelo seu ombro e segue para o
banheiro.
– Ruiii! – Grito – Me solta! – falo desesperada.
Ele ri ruidosamente.
– O que eu ganho com isso? – ele diz divertido.
– Como assim? – falo indignada tentando me levantar. – Vou me vingar de
você, Rui! Você ficará uma semana algemado, vou comprar um chicote.
Ele volta, me deita de novo, invade minha boca com a sua, e me beija de um
jeito que me sinto encharcada.
– Eu quero mais, Jack! – ele diz contra meus lábios, me penetrando.
Gemo baixo ao senti-lo duro e ereto dentro de mim.
– Eu não vou poder te algemar hoje? – Sussurro.
– Não sei, vou pensar no seu caso!
– Então me fode! Sou toda sua, meu macho gostoso! – Sussurro, encaixo
minhas pernas ao redor de sua cintura e me entrego novamente a esse homem
maravilhoso.
Capítulo 42
PRISCILA ALBUQUERQUE

E ushopping.
e meu pai estamos almoçando em um restaurante sofisticado, dentro do

Confesso que fui eu que escolhi o local, fica perto do escritório do Rui, e
sugeri este restaurante pensando nele, na possibilidade de nos encontrarmos.
Já faz mais de uma semana que ele terminou comigo, ando sensível, abalada
emocionalmente. Eu esperava que ele fosse me procurar, que fossemos nos
acertar, mas ele simplesmente me ignorou como se eu fosse apenas mais uma
de suas amantes.
– Vamos pedir um café, querida? – Ouço a voz de meu pai, e desperto de
meu pesadelo pessoal.
– Pode pedir, papai! – O garçom anota nosso pedido e sai, volto a olhar para
o nada e então eu o vejo.
Existem pessoas que tem o poder de iluminar nosso dia, o Rui sempre foi
assim para mim, desde que o conheci, aos meus 16 anos.
Eu era apenas uma menina para ele, temos uma diferença grande de idade,
mas aos meus 16 anos eu já sabia que era com ele que queria me casar.
Ele nos cumprimenta friamente, distante, apenas um aperto de mão.
O que fiz para perdê-lo de uma hora para outra? O que aconteceu?
Meu pai e ele se cumprimentam rapidamente.
– Que prazer te ver, Rui! – Meu pai diz, ele sempre gostou muito do Rui.
O Rui é aquele tipo de profissional que é referência no que faz, sua
competência, astúcia e percentual de sucesso, o levou a ser considerado o
melhor na área da família, sua especialidade. Mas, ele é bom em qualquer
assunto jurídico, ele é lindo, competente, rico, e solteiro. O sonho de qualquer
mulher e eu o tinha, em três meses nos casaríamos, mas aí...
– Venha se sentar conosco, Rui! – meu pai diz animado.
Eu tenho pressionado meu pai para usar sua influência com o Rui, a meu
favor, é lógico, mas isso não tem surtido efeito.
– Obrigado, Albuquerque, mas eu estou logo ali! – Ele olha para uma mesa e
então eu a vejo.
Toda mulher tem um sexto sentido, o meu me diz que essa piranha é a
responsável pela mudança de rumo da minha vida.
De noiva do cara mais almejado em meu círculo de amizades, passei a ser a
noiva largada três meses antes do casamento.
Todo o meu ódio e frustração tem nome, e se chama Jackeline, a secretária
piranha do Rui.
Olho para ela e não consigo disfarçar o ódio que sinto por essa mulher.
Como ele pode me largar por uma mulher desqualificada como essa?
Vagabunda, deve ter colocado um litro de silicone para ficar daquele jeito.
Ela é horrível, só tem bunda e peito, sou muito melhor do que ela!
O que ele viu naquela rampeira?
Ele se despede de nós e volta para a mesa, não consigo desviar meus olhos
deles. Eu não acredito que fui trocada por uma secretária.
– Vamos filha, e, por favor, pare de olhar para aquela mesa. – Papai se
levanta e o sigo em direção a porta.
Sinto um nó no estômago, não consigo me conformar de perdê-lo. Eu vivi
minha adolescência sonhando com esse cara e consegui conquistá-lo. Como
pude perdê-lo a alguns meses de nosso casamento?
Lágrimas enchem meus olhos.
– Priscila, esqueça o Rui, por favor! – meu pai diz pela centésima vez.
– Não consigo. – Lágrimas inundam meus olhos. – Eu o amo, pai, e o quero
de volta.
– Dê um tempo a ele, o deixe se divertir um pouco, logo ele verá que você é a
pessoa certa. – Ele me olha com carinho. – Aquela mulher é só uma
distração, você será a esposa.
Sorrio e tento acreditar nisso.
– Vamos resolver isso, por enquanto se acalme. – Me aninho no peito do meu
pai, e tento acreditar no que ele diz.
Saímos do restaurante, e por mais que eu não queira, volto a olhar para o
interior do ambiente através das paredes de vidro do local.
Os dois se olham como se fossem namorados, ele segura sua mão e a leva aos
seus lábios e a beija.
Sinto uma dor infinita em meu peito.
– Priscila, vamos! – meu pai diz impaciente, e me dou conta que estou parada
no meio do corredor do shopping, olhando para os dois como uma voyeur
masoquista.
– Eu odeio essa mulher, pai! – Rosno, e tenho vontade de entrar naquele
lugar e matá-la. – Ela não vai tirar o Rui de mim.
– Priscila, por favor, tenho compromissos hoje à tarde, acho melhor você ir
para casa, descansar um pouco, você não está bem. – Sinto o braço de meu
pai em minha cintura, ele me puxa em direção aos elevadores.
– Pai, você precisa me ajudar a acabar com isso, use a parceria que você tem
com ele para fazê-lo reatar comigo. Suborne, use suas armas, pai, o senhor
não é santo, eu sei que você tem como colocar o Rui contra a parede! – falo
insana.
– Priscila, eu não posso usar minha influência para fazer alguém se casar com
você, isso é loucura! – Ele me olha nervoso. – Você precisa usar suas armas
femininas para reconquistá-lo, seja lá o que essa mulher fez, você pode fazer
melhor! Você é linda, inteligente e sedutora, só precisa deixar de lado esse
seu lado infantil e inseguro.
Me solto dele, odeio que falem assim comigo.
– Não sou infantil, muito menos insegura! – Esbravejo.
– Ok, então seja mais mulher, e menos menina, eu sei que você só tem 23
anos. Essa mulher é mais velha, parece experiente, o Rui é um homem de 35
anos, ele não é mais um garotão, não adianta tratá-lo como se ele fosse um de
seus antigos namorados.
Penso um pouco sobre isso.
É fato que tenho dificuldades de lidar com o Rui, em todos os sentidos.
Morro de ciúmes dele.
Acho que não consigo satisfazê-lo sexualmente, ele vivia atrás de outras
mulheres, não vou me enganar.
Ele tem uma energia sexual que não o acompanho, talvez às vezes também
não goste das coisas que ele faça. Que ele nunca saiba disso, mas sua atitude
na cama me assusta, ele é incandescente sexualmente, às vezes, chego a
pensar que sou frigida, não consigo sentir prazer, chegar ao orgasmo, mesmo
que ele me estimule muito.
Me sentia toda dolorida depois de uma transa com ele, mas ele queria a noite
inteira, eu ficava exausta, ele nunca cansava, parecia um louco.
Conversei com diversas amigas, elas acham isso o máximo, acho até que
gostariam de me trair só para sair com o Rui, talvez algumas tenham feito
isso. São um bando de vadias, loucas para dar para o advogado solteiro e rico.
Preciso me abrir com ele, dizer das minhas dificuldades, pedir paciência para
ele, só quero ser amada, talvez se ele fosse mais gentil!
Talvez eu deva procurar minha ginecologista, pedir conselhos, sei lá, estou
muito confusa.
Capítulo 43
JACKELINE BARTOLLI

D escanso meu rosto sobre o peito do Rui e sorrio, ele me enganou, e não
pude usar a droga das algemas nele.
Mas não me importo, eu vou enganá-lo, e quando ele menos imaginar, estará
algemado.
Me aninho mais ao seu peito, dou beijos e cheiro ele.
Adoro esse homem!
Ele pediu aqueles combinados japoneses para jantarmos, e não saímos do seu
quarto desde que chegamos ao seu apartamento, transamos, tomamos banho e
comemos aqui.
Somos ninfomaníacos, está provado, não vou fugir da realidade.
Talvez eu seja masoquista, ainda não tenho certeza.
Dou risada sozinha de novo.
– O que você tanto ri, Jack? – Levanto meu rosto e o vejo com uma cara de
riso.
– Estava pensando algumas coisas engraçadas. – Me debruço sobre seu peito.
– Com você, algumas ideias que estou tendo. – Torço meus lábios.
Ele se levanta rindo.
– Quer que eu te leve para sua casa? – ele diz em pé, nu e glorioso.
Que homem, papai do céu!
– Não quero te incomodar – falo timidamente, fico com dó dele, é tão longe.
– Você não me incomoda, vou dormir com você. – Ele segue para seu closet.
Vejo a algema em cima da mesinha ao lado da sua cama, corro e pego, e
coloco junto com minhas coisas.
Dou risada sozinha, parecemos duas crianças.
O sigo até o closet.
– Você vai passar a noite comigo em meu humilde quarto? – Faço charme,
abraçando as suas costas, beijando sua pele.
– Eu gostei muito do seu quarto, ele tem seu cheiro, sua cara... – ele diz
carinhosamente.
– Tenho cara de velha, é isso? Meu quarto é provençal, provençal na língua
dos pobres, é coisa velha e antiga. – Passo minhas mãos em seu peito peludo.
– Eu acho bonito e esse tipo de móvel é romântico. Você é uma mulher
romântica, estou certo? – Ele me olha sobre seu ombro, passa uma camiseta
por sua cabeça.
Me coloco a sua frente.
– Sou romântica, muito romântica! – O encaro.
– Eu sei disso. – Ele acaricia meu rosto e me olha intensamente. – Não sou
muito romântico, Jack, mas estou me esforçando para não te decepcionar.
Sorrio feliz, eu já percebi que ele faz coisas que eu gosto, jantares românticos
à luz de velas.
– Você é o máximo, sabia? – Me esgueiro e o beijo suavemente.
– Não precisa dizer, eu já sabia. – Ele ri de sua piadinha, e ganha uma
mordida nos lábios.
– Se veste, Jack, o caminho até sua casa é longo, e ainda iremos brincar um
pouquinho mais de papai e mamãe – ele diz debochado.
– Vou avisar minha avó que hoje é dia de tomar o calmante. – Dou risada e
saio apressada de seu closet.
Me visto rapidamente, coloco as algemas na parte de trás da saia, nas minhas
costas. Coloco o blazer para disfarçar e dou risada sozinha.
Se ele pensa que não irei prendê-lo, ele está muito enganado.
– Rindo de novo, Jack? – ele diz descontraído.
– Sou uma pessoa feliz, por isso estou sempre rindo. – Coloco meu sapato e
sigo até ele.
Ele pega uma sacola e sai na minha frente, possivelmente são suas roupas de
trabalho.
É engraçado como ele é grudentinho, e eu adoro isso, adoro dormir com ele.
Ele é meu ursinho de pelúcia, bem gostoso por sinal.
****

Eu já havia avisado a minha mãe que o Rui viria dormir comigo essa noite,
então não foi surpresa ao chegar e ver que todas as minhas companheiras de
apartamento estavam acordadas.
Chegamos mais ou menos às 23h, bem tarde para o costume delas.
Enquanto coloco a chave na porta, recebo beijos em meu pescoço.
Eu já entendi mais ou menos como o Rui funciona, então esses beijos são os
primeiros sinais de que ele quer sexo.
– Rui, se comporta. – Cochicho e abro a porta.
O barulho da televisão ligada denuncia que alguém está acordada, então entro
com o Rui em meu encalço, olho para a sala e vejo as três assistindo
televisão.
Reviro meus olhos.
– Oi, mamãe, oi, vovó, oi, titia! – falo tentando ficar calma diante da falta de
liberdade que tenho.
– Oi, querida! – Minha mãe se levanta e segue até nós. – Boa noite, Senhor
Rui – ela diz sem graça.
– Boa noite, Dona Amélia! Pode me chamar só de Rui, não sou tão velho
assim – ele diz todo sedutor, estendendo sua mão para ela, em seguida beija o
dorso de sua mão, e vejo minha mãe se derretendo.
Ele segue até a sala onde estão as outras duas anciãs, minha avó e minha tia.
– Boa noite, Dona Maria! – Ele segura em sua mão e beija, a deixando com
cara de tonta.
– Boa noite, meu filho, faz tanto tempo que um homem não beija minha mão!
– Acho que a vi vermelha.
Olho para minha mãe, e sorrimos uma para outra.
Ele segue até tia Ofélia, e faz o mesmo.
– Boa noite, Dona Ofélia! – ele diz e minha tia se derrete.
Ele lembrou o nome das duas, e isso é muito cavalheiro de sua parte.
– Espero que as senhoras não se incomodem que eu passe a noite com a
Jackeline – ele diz, caminha até mim e abraça minha cintura.
Minha avó se levanta e caminha lentamente até nós.
Sinto um frio no estômago, minha avó é muito indiscreta, tenho medo do que
ela vá falar.
– Imagine, fique à vontade, filho, só não façam muito barulho, tenho um sono
muito leve. Da última vez que você esteve aqui minha noite foi um inferno,
que disposição vocês dois tem... – E ela olha para o teto.
Reviro meus olhos, coloco a mão na boca e pigarreio.
– Vovó, por favor! – falo baixo, mas ela não ouve.
– Hemmm? Fale mais alto, Jackeline! – Reviro meus olhos.
– Nada, vovó... – Seguro a mão do Rui. – Vamos, Rui! – O puxo levemente.
– Que pressa, Jackeline! Deixe o rapaz conversar um pouco com suas
velhinhas – ela diz e sorri, segura na outra mão do Rui e o puxa para o sofá.
Oh, meu Deus, isso não irá dar certo.
Ele a segue com um sorriso, parece se divertir com isso.
Ela se senta e o faz sentar ao seu lado, coloca a mão na coxa dele, e tenho
medo, minha vovó anda meio esquisita ultimamente.
– Então, meu filho, quais são as suas intenções com a minha neta? – Ela diz,
e me desespero.
Sigo apressada até eles e me sento ao lado do Rui.
– Vovózinha, está tarde para bater papo, amanhã nos levantamos muito cedo,
deixe isso para outro dia.
– Oh, Jackeline, que falta de educação, sou a mais velha dessa casa, me
respeite, na ausência do seu pai eu preciso cuidar de você! Imagine que vou
deixar alguém se aproveitar da minha netinha, ela é muito boba, Senhor Rui.
– Ela continua falando feito uma metralhadora. – Aquele moço, o loiro,
enganou minha neta por quatro anos, eu nunca gostei daquele magrelo... –
Ela olha para o Rui seriamente. – Você pretende se casar com minha neta?
Jesus, o que eu faço?!
– Mamãe, está na hora de dormir. – Minha mãe pega na mão da minha avó e
tenta a tirar do sofá.
– Espere, Amélia, ele não me respondeu...
Não sei onde enfiar minha cabeça, minha avó assusta qualquer pretendente a
namorado.
– Vovó, por favor! – Imploro.
– Dona Maria, eu e a Jackeline estamos nos conhecendo, então falar em
casamente ainda é meio cedo, sabe? – O Rui responde cuidadoso.
– Como assim, vocês já dormiram juntos, já se conhecem muito bem, meu
filho. O que mais você quer saber sobre minha neta? Me pergunte que eu
falo! Ela é uma menina de ouro, dedicada, trabalhadora, puxou ao pai, não é
muito prendada, mas a Amélia dá um jeito nisso, em um mês essa moça está
pronta para se casar – ela diz levemente irritada.
Me desespero, pego em sua mão e ajudo minha mãe a tirá-la do sofá.
– Vovozinha, você vai espantar meu namorado, por favor, pare de falar essas
coisas. – Cochicho em seu ouvido.
– Jackeline, deixe de ser boba, esses moços de hoje precisam de uma prensa,
caso contrário ficam nesse lenga-lenga. Quero saber a data do casamento.
Eu minha mãe arrastamos a velhinha para o quarto dela, sob reclamações e
xingamentos.
– Mãe, dá um calmantezinho para ela, ela está agitada.
– Oh, Jackeline, não traga mais esse rapaz para dormir aqui, é só confusão.
Faço cara de brava.
– Ele vai dormir aqui quantas vezes forem necessárias, vocês precisam se
acostumar com isso. – Deixo as duas no quarto da minha avó, sigo para a sala
e me arrepio todo ao ver minha tia conversando com o Rui.
Meu pai eterno, hoje está difícil.
– Vamos, Rui, estou com sono – falo com um sorriso falso no rosto.
Ele me olha, sorri, segura a mão da minha tia e a beija, vejo ela suspirar.
– Boa noite, dona Ofélia! – Ele a deixa no sofá, sob o efeito de
enfeitiçamento que ele provoca nas mulheres.
Sorrio para ele.
– Desculpe, minha vovó tá meio. – Giro o dedo indicador ao redor da cabeça.
Ele ri, me dá um selinho, segura em minha mão e seguimos para o meu
quarto.
Caramba, que confusão.
****

Fecho a porta do meu quarto, quero dizer, apenas encosto, preciso resolver o
problema da fechadura, não dá para ficar trazendo o Rui aqui e fazermos
nossas festinhas de porta aberta.
Olho para ele e dou risada.
– Sua avó é bem direta, objetiva, gostei dela. – Ele ri. – Ela teria sido uma
grande advogada.
O abraço pelo pescoço e deposito muitos beijos em seus lábios, ele é tão
perfeito que até assusta.
Não vou mentir, o Renato passou por isso, mas ele não teve nem um
centímetro do jogo de cintura e delicadeza do Rui, ele foi tão grosso com
elas.
Ele é grosso, um perfeito ogro.
– Obrigada, Rui, pela paciência, elas são idosas, não sabem o que dizem. –
Tento disfarçar.
Ele me olha com um sorriso.
– Sua avó sabe o que está falando, ela quer te casar e pronto! – Ele me encara
com aqueles olhos sedutores.
– Vamos esquecer minhas anciãs, agora quero só pensar em você, e sem
roupa. – Puxo sua camiseta sem maiores cerimônias, mostrando aquele tórax
lindo, e arrancando uma risada gostosa do meu deus grego.
– Cheia de atitude – ele diz parado a minha frente, apenas olhando enquanto
tiro sua calça, o sapato, e em segundos o meu deus grego está nu em pelo, do
jeito que gosto de vê-lo.
– Não gosto de te ver de roupa. – Sorrio maliciosa.
– Nem eu a você. – Ele tira meu blazer, puxa a blusinha, e graças a Deus já
coloquei as algemas na bolsa, caso contrário ele as veria agora.
Agora estamos os dois nus, nos beijando loucamente no meio do meu quarto.
De repente ele me ergue, me coloca em cima de minha escrivaninha, empurra
tudo que está sobre ela, e me penetra.
– Está com pressa, Rui? – Sussurro de olhos fechados.
– Um pouco, gostosa, talvez essa história de casamento tenha um efeito
contrário em mim, ao invés de me brochar, me deixa mais excitado.
Enlaço sua cintura com minhas pernas, me apoio na mesinha e
enlouquecemos um ao outro.
– Não faz barulho, Jack! – Ele cobre meus lábios com os seus, famintos,
gulosos, me sufocando.
– Hum, Rui... – Tento gemer baixo. – Tô gozando... – Sussurro.
– Eu também, minha deusa! – Ele fecha seus olhos e solta sons sensuais,
baixos e controlados.
Ficamos abraçados durante alguns segundos, apenas ouvindo a respiração um
do outro.
– Te adoro, Rui! – Olho para ele e o beijo cheia de amor, porque é isso, eu
não faço mais sexo com ele, eu faço amor, mas não posso dizer essa palavra:
amor, ela assusta os homens.
– Eu também, Jack! – ele diz, ele nunca fala por conta própria, não acho que
dirá algum dia.
Espanto esses pensamentos da minha cabeça, não quero estragar o que há
entre nós, é bom demais, não preciso de declarações de amor, ele está aqui
comigo, e isso é a maior prova que ele sente algo por mim.
– Vamos tomar banho? – falo preguiçosa.
– Acho que estou precisando me deitar, tenho feito muito exercício... – Ele
segue para minha cama. – Conheci uma mulher... – Ele me olha de uma
forma engraçada. – Ela é I N S A C I Á V E L!!! – Ele enfatiza a palavra,
arregalando os olhos. – Porra, acho que desde que a conheci emagreci uns
cinco quilos, tá foda! – Ele despenca em minha cama, fazendo o colchão
pular, é de molas.
– Que engraçado, acho que conheci um N I N F O M A N Í A C O!!! – Faço
como ele, enfatizo a palavra e arregalo meus olhos. – O cara só pensa em
sexo! – Reviro meus olhos. – Não sei se perdi cinco quilos, mulher só perde
peso quando pega uma virose, e tem que ser daquelas bravas! – Deito em
cima dele, passando minhas pernas pelos seus quadris.
Olho de relance para minha bolsa, ela está em minha mesinha de cabeceira,
aberta, e estrategicamente com as algemas à mostra.
Me esgueiro em cima dele, um dos meus braços segue para a bolsa, tiro as
algemas delicadamente, e as deixo sobre a bolsa.
– Estou cansado, Jack! – Ele faz charme, mas já estou sentindo seu amigo em
mastro em minha barriga.
– Eu acho que ele não está! – Olho para minha barriga.
Ele gargalha.
Me inclino em cima dele novamente, deixando meus seios a disposição para
seus lábios, e ele os suga cheio de vontade.
Seguro suas mãos acima de sua cabeça, enquanto ele está empolgado com
meus seios, levo minha mão até minha bolsa e pego as algemas.
Tenho vontade de rir da minha travessura, mas me seguro.
Sem que ele perceba, e rapidamente, fecho as duas algemas ao redor do seu
pulso.
Ele para o que está fazendo e me encara com os olhos arregalados.
Tento segurar o riso, a cara que ele fez foi muito engraçada.
– Jackeline, tira esse troço de mim! – Ele parece apavorado com a ideia de
ficar algemado.
Dou uma gargalhada, pareço meio louca.
– Rui, sua cara é impagável, quer que eu tire uma foto sua algemado? – Ele
me olha feio. – Oh, Rui, assim é chato, você só quer fazer, não quer receber!
– Faço um bico.
– Jack, não gosto dessas coisas de algemas, acho que tenho problemas, medo
de ser preso, já fiz umas cagadas em minha vida profissional – ele diz sério.
– Mas aqui não é profissional, quero dizer, eu sou profissional, do sexo, e só
sua! – falo para ele relaxar, ele ficou tenso, de verdade, inclusive seu amigo
brochou.
Volto a ficar em cima dele, começo a beijar seu pescoço, desço para seu
tórax, mordo seus mamilos, e ele se apavora.
– Não, Jack! Esse negócio, não! – ele diz, mas seu amigo ficou empolgado.
– Deixa, Rui! – falo melosa, me esfregando toda nele, volto a lamber seus
mamilos e os mordo levemente.
– Oh, puta que pariu! – Ele se contorce. – Está bom, Jack!
– Ainda não, meu gostoso! – Pego a venda na bolsa. – Trouxe isso. – Sacudo
a venda em frente a ele.
– Jackeline, eu vou te matar quando você me soltar. – Ele rosna.
– Não vai, não! – Brinco com ele, coloco a venda e volto a beijá-lo. – Está
gostoso, Rui? – Passeio minhas mãos pelo seu corpo, massageio seu membro.
– Oh, Jackeline! – Ele engole em seco.
Vou descendo meus lábios pelo seu corpo, beijo cada pedacinho desse
homem, e vejo seus pelos se eriçarem.
Ele se contorce.
– Já está bom, Jack.
– Ainda não, Rui! – Roço meus seios em seus lábios, deixo ele saborear um
pouco, volto a beijá-lo, vou descendo meus lábios por seu corpo inteiro,
envolvo seu membro com minha boca e ele geme.
– Me solta, Jack. – Ele geme, mas não paro, quero levá-lo até o orgasmo. –
Caralho!!! – Ele se contorce, fica tenso, e de repente sinto o jato, forte e
quente. – Porra!!! – Ele grita e arregalo os olhos, se ninguém acordou agora,
foi um milagre.
Seu peito sobe e desce desesperadamente, alguns sons de prazer ainda saem
da sua boca, volto a beijá-lo, e finalmente tiro a venda de seus olhos.
– Acabou, meu prisioneiro sexual! – Sorrio o olhando piscar diversas vezes,
seus olhos estão incomodados com a luz. – Gostou?
Ele dá risada.
– Você é louca! – ele diz rindo.
– Tudo bem, eu sei que sou louca, mas foi bom, você gostou da
brincadeirinha? – Insisto.
– Foi, foi bom, uma loucura boa – ele diz incomodado com as algemas. –
Agora, tira essa porra, não gosto disso!
Pego a chavinha na minha bolsa e as tiro.
– Rui, relaxa, é só uma brincadeira, não precisa ficar nervoso!
Ele se senta na cama e esfrega seus pulsos, eles estão vermelhos.
– Eu não estou nervoso! – Ele tenta sorrir, mas realmente ele não gosta dessa
brincadeirinha.
– Desculpa! – falo ajoelhada na cama, talvez com cara arrependimento.
Ele me olha com malícia, me agarra pela cintura, grito de susto, e de repente
me vejo embaixo dele.
– É assim que eu gosto! – ele diz poderoso em cima de mim, segurando meus
braços acima de minha cabeça, dominador, possessivo, mostrando toda sua
virilidade.
– Eu também gosto assim, adoro ser dominada por você. – Sussurro, nossos
rostos estão a centímetros de distância, seus olhos estão cor de chumbo, o seu
jeito é meio selvagem.
– O que você quer que eu faça em você? – ele diz com sua voz grossa, baixa
e ameaçadora.
Sinto seu membro roçando minha entrada, ele não se cansa, é viril e
insaciável.
– Me fode, meu homem. – Sussurro contra seus lábios.
– Oh, Jack, você não sabe o que faz comigo! – ele diz com sua voz gutural.
Então, ele me penetra, e voltamos para nossa terceira rodada aqui em casa,
em meio a muitos beijos, chupadas e mordidas.
Muitos gemidos, sussurros de prazer e finalmente caímos exaustos.
Mais uma noite incrível, com o cara mais incrível que já conheci.
****

Acordar sentindo beijos por todo o meu corpo, é assim que tem sido minha
rotina.
O Rui pode ser muitas coisas, mas nunca poderei dizer que ele não é o cara
mais carinhoso do mundo, o mais atencioso, às vezes, o acho romântico
também.
Ele é o sonho de qualquer mulher.
Talvez ele ainda vá mostrar seu lado negro para mim, mas por enquanto, eu
só tenho conhecido um lado, e esse lado parece compensar todos os outros.
Ele é incrível, nunca conheci alguém que me fizesse sentir tão feliz.
Eu não sei ao certo o que ele sente por mim, mas o que fazemos tem
sentimento, não é só sexo, eu tenho certeza.
– A gente fez muito barulho, Rui? – Cochicho em seu ouvido, ao mesmo
tempo em que dou beijos em seu rosto, orelha.
– Provavelmente! – Ele ri, enquanto acaricia minhas costas e meus cabelos. –
Vamos nos levantar, gostosa, tenho muitas coisas pra fazer hoje, não posso
namorar o dia todo. – Olho para ele lânguida, apaixonada, ele beija minha
testa.
– É uma pena, mas você tem razão. – Me apoio em seu peito. – Nossa noite
foi maravilhosa, adoro quando você dorme aqui, é tão emocionante! – Sorrio,
porque acho que sou uma menina grande e travessa.
– Você gosta de emoções, Jack? – Ele me olha enigmático. – Vou ver o que
consigo fazer a respeito disso. – Ele bate em meu bumbum e se levanta.
– Ai, Rui, assim não gosto, quero a massagem! – Faço cara feia, vendo o
vergão vermelho que ele deixou.
– Não posso, minha delícia, eu não vou resistir a você, e aí vamos começar
tudo de novo, e só vamos chegar amanhã no escritório. – Ele sorri e segue
para o meu banheirinho. – Jack, é hoje o evento, não se esqueça de levar o
seu vestido, sapato, essas coisas, você se arruma em meu apartamento – ele
grita do banheiro.
Olho para o teto insegura, mas espanto minhas inseguranças, vai ser legal,
tenho certeza disso.
Capítulo 44
JACKELINE BARTOLLI

C oloco meu vestido preto em uma sacola, assim como uma sandália preta
alta, com alguns strass em suas tiras.
Escolho algumas lingeries, maquiagens, perfume e acessórios.
Enquanto estou no quarto, o Rui está tomando café da manhã com minha
mãe.
Sorrio, as coisas entre nós estão indo tão bem que dá até medo, mas sempre
me lembro do que aconteceu em sua casa no interior, seu ataque de nervos
quando falamos sobre relacionamento, as coisas que ele disse, enfim, não
posso me esquecer disso.
Sigo para a sala, minha mãe conversa animada com ele, parece tão à vontade,
ele é um doce com ela, perfeito.
Suspiro e adentro a sala.
– Podemos ir? – Paro ao seu lado, ele me olha com um sorriso.
– Temos que ir, Dona Amélia, obrigado pelo café da manhã – ele diz
simpático, se levanta e segura minha mão.
– Imagine, pode vir quando quiser! Aliás, estou devendo a você um bacalhau!
– Minha mãe diz animada e me olha. – Combine com ele, Jack, talvez no
final de semana, o que você acha, Rui? – Ela o olha ansiosa.
– Pode ser...
O interrompo.
– Eu combino com o Rui, mãe, e depois te falo. – Beijo sua testa. – A gente
precisa ir, bom dia!
Saímos rapidamente, entramos no elevador, ele segura meu rosto e beija
meus lábios carinhosamente.
– Pode combinar com ela, Jack. Eu não me incomodo de vir almoçar com
elas – ele diz carinhosamente.
Meu coração infla, estamos indo tão depressa com tudo, e mal sei onde
iremos parar.
Me sinto-me em queda livre, sem onde me segurar, sem destino, tempo ou
distância, apenas caindo.
– Obrigada, Rui, pelo carinho com elas – falo sentimental, acho que estou
entrando em minha TPM, comecei com aquele sentimentalismo exacerbado,
vontade de chorar por nada, a segunda parte disso são meus nervos à flor da
pele.
Ele beija minha testa, me abraça e o elevador abre.
Seguimos para o seu carro e logo estamos indo em direção ao escritório.
****

Ele para seu carro na garagem do escritório, em sua vaga particular, mas já
vejo muitos carros estacionados.
O prédio foi projetado de modo a ter um estacionamento na parte de trás, mas
sua vaga fica logo na entrada.
Deixo minha sacola no banco de trás, saio do carro, ajeito a camisa preta de
seda dentro da calça tipo pantalona.
Me sinto tão elegante, nem pareço a mesma Jackeline, estou chique demais.
Desperto dos meus pensamentos com um beijo na minha nuca, olho de lado e
vejo aquele sorriso.
– Vamos, você está linda hoje! Quero dizer, você está sempre linda.
Sorrio feito uma adolescente apaixonada, completamente derretida.
– Você também está lindo! – digo sorrindo.
Ele pega em minha mão e seguimos para o escritório.
A Karen olha para nós dois com aquele seu olhar felino, cheio de inveja.
– Bom dia, Karen! – O Rui diz displicente, me puxando com ele para as
escadas.
– Bom dia, Doutor Rui! – Ela me olha de canto de olho e sinto arrepios,
talvez deva andar com um alho na bolsa, para tirar a mandiga que essa garota
está colocando em mim.
– Bom dia, Karen! – falo rapidamente, mas não dou muita atenção a ela.
Chegamos a minha sala, ele me dá um beijo e me olha intensamente, daquele
jeito que sinto palpitações no coração.
– Tenho que finalizar a análise daquele processo, não deixe ninguém me
atrapalhar. – Ele acaricia meu rosto, me deixando lânguida e apaixonada. –
Só você pode me atrapalhar. – Ele sorri malicioso, me dá mais um beijo, e
tenho uma vontade louca de tirar sua roupa e grudar em seu pescoço.
Mas não posso, fizemos bastante sexo ontem e hoje pela manhã, acho que
está bom, Jackeline ninfomaníaca.
– Preciso ganhar essa porra, caso contrário o filho da puta do Albuquerque
terá mais um motivo para me sacanear.
Sorrio para ele compreensiva, ele parece preocupado ultimamente, talvez seja
essa sociedade com seu ex-sogro.
– Quer que eu arrume sua sala? – falo meio mole, acariciando seus cabelos da
nuca.
– Pede um café para nós dois, depois você arruma. – Ele beija meus lábios
suavemente, e segue para sua sala.
Ajeito minhas coisas, ligo para a copeira e peço para ela trazer os cafés.
Entro em sua sala, ele tira seus óculos, me olha e sorri.
– Vem aqui, Jack – ele diz virando sua cadeira de lado. – No meu colo – ele
diz sedutor, e eu me derreto.
– Sem sacanagens, chefe, você tem muito trabalho hoje. – Me sento em seu
colo.
– Quem falou que estou pensando em sacanagens? – ele diz com um sorriso
travesso, pega sua xícara e beberica seu café.
– Eu conheço todas as suas caras, você não me engana mais. – Pego minha
xícara e bebo meu café, numa cena muito interessante.
Onde já se viu a secretária se sentar no colo do chefe para tomar café!
– Gostei desse novo jeito de tomar café! – ele diz malicioso.
Termino meu café e dou um beijinho rápido em seus lábios.
– Vou abrir suas persianas. – Me levanto e sigo para as janelas. – Você pode
voltar a trabalhar, não precisa ficar olhando a bunda da secretária – falo
sarcástica, o vendo admirando meu traseiro descaradamente.
– Não canso de olhar a bunda da secretária, ela é muito gostosa – ele diz com
sua cara de tarado.
– Rui, não podemos, se lembre do processo milionário e do Doutor
Albuquerque. – Sigo para a porta. – Acho melhor eu ir para minha sala, meu
chefe é muito tarado – falo divertida, paro na porta e mando beijos para ele,
que me olha e sorri.
Fecho a porta e inspiro com força.
– Estou completamente apaixonada por ele, e verdadeiramente fodida. –
Balanço minha cabeça e tento esquecer esse probleminha que criei para mim
mesma.
****

A manhã passou rapidamente, o Rui me passou tantas coisas para fazer que
agora mal respiro.
Mas, tudo bem, estou gostando muito disso, adoro trabalhar para ele,
especialmente para ele.
Sorrio ao ver ele me chamando pelo ramal interno.
– Pois não, chefinho? – falo brincando.
– Vamos almoçar, secretária gostosa? – ele diz com sua voz ensopa
calcinhas.
– Será um prazer chefinho! E onde almoçaremos, em sua sala? – pergunto.
– Como você sabe? – ele diz descontraído.
– Já sei tudo sobre meu chefe. – Brinco.
– Quase tudo – ele responde.
– Verdade, quase tudo. Mas você também não sabe tudo sobre mim, então
estamos quites. – O provoco, não posso deixá-lo totalmente seguro sobre
mim, essa é minha tática.
– Ah, é? – Sinto uma mudança no seu tom de voz, como eu esperava, no
fundo ele é bem previsível.
– É, chefinho, tenho muitos segredos. – O provoco novamente. – Mas, então,
o que você quer comer? – Disfarço, fazendo um jogo que também sei jogar,
ele pode ser bem experiente na sedução, mas não sou uma garotinha inocente,
sei como o deixar inseguro.
– Você! – ele diz enfático.
Dou risada.
– Eu perguntei qual o prato que você quer comer! – falo rindo.
– Você nua em cima da minha mesa – ele diz sério, me provocando aquele
friozinho no pé da barriga.
– Rui... – começo a dizer, mas ele me interrompe.
– Pede os pratos, e enquanto esperamos, você mata minha fome de você. –
Sua voz sai baixa, sensual. – Vem, Jack, estou te esperando.
Desligo o telefone, pego o cardápio em minha mesa e ligo para o restaurante,
peço seu prato predileto e uma salada para mim.
Sigo para sua sala, e assim que abro a porta, ele se levanta de sua mesa.
– Tranca a porta, Jack. – Ele segue em minha direção. – Quais são os seus
segredos? – Ele segura meus cabelos, daquele jeito possessivo.
– Se eu te contar não serão mais segredos! – falo provocativa.
Ele beija meu pescoço.
– Você não pode ter segredos comigo. – Ele me olha intensamente, um
pequeno vinco se forma entre seus olhos.
– E você pode ter comigo? – Sussurro, passeando meus dedos entre seus
cabelos.
– Eu não tenho segredos – ele diz, mas percebo que ele não foi sincero.
– Eu também não. – Faço seu jogo, ficamos nos encarando.
– Você é terrível, Jackeline. – Ele balança sua cabeça. – Sabe como
enlouquecer um homem. – Ele invade minha boca, faminto, urgente. – Quero
você nua, Jack – ele diz em meios aos nossos beijos.
Desabotoo minha camisa, abro a calça que cai aos meus pés, ficando apenas
de lingerie e sandálias altas.
Ele abre meu sutiã, o joga sobre a mesa, depois a calcinha.
– Tira sua camisa, Rui – falo em meio aos nossos beijos.
Ele a desabotoa com pressa, em segundos ele a joga sobre uma cadeira, me
levanta sobre sua mesa de reuniões, abre sua braguilha e sem maiores
cerimônias me penetra.
– Você é feiticeira, Jack? – ele diz me encarando cheio de desejo, se
movimentando deliciosamente. – O que você fez comigo, feitiçaria? – Ele
puxa meus cabelos, me fazendo arquear meus seios, dando acesso aos seus
lábios.
– Sou feiticeira, Rui – respondo sensualmente, entregue às suas carícias. –
Isso... – Gemo de prazer. – Ai, Rui. – Reclamo diante de uma mordida em
meu pescoço, depois um beijo, mais carícias de sua língua deliciosa em meus
seios.
– Jack, eu não vou aguentar, eu vou gozar! – Ele geme alto, puxo seus
cabelos e beijo-o apaixonada.
Ele volta de sua viagem e me olha.
– Eu não te fiz gozar, não é mesmo? – ele diz meio sem graça.
– Eu adoro fazer a... sexo com você, não necessariamente preciso gozar todas
as vezes, apesar que você me faz gozar a maioria delas. – O olho nos olhos,
não estou mentindo.
– Mas eu quero que seja bom para você também.
– Mas foi ótimo, Rui... – Puxo sua cabeça em direção a minha, olho para seus
lábios. – Eu adoro tudo que envolve você, você me faz feliz, plena. – Olho
nos seus olhos, sinto uma inquietação no meu peito, é o amor pulsando, uma
vontade louca de me declarar para ele. Mas antes que eu fale, ele me beija,
intenso, de um jeito delicioso, sinto o friozinho na barriga, a adrenalina
correndo feito louca em minhas veias.
– Você é maravilhosa, Jack! – ele diz me encarando, sinto um gelado no
peito.
Nos olhamos intensamente, mas o telefone toca, ele desvia seus olhos dos
meus.
– Eu vou atender.
– Tudo bem. – Desço de sua mesa e pego minhas roupas.
– É o nosso almoço. Se troca no banheiro, a Karen está subindo.
****

Termino de escrever um último e-mail, olho no relógio e vejo que já são 19h,
o dia voou, estou cansada, queria ir embora e ficar o resto da noite deitada
com o Rui, não fazer nada, apenas ficar o beijando a noite inteira.
A porta abre, o olho surpresa e o vejo com seu terno, sua pasta, e um sorriso
de comercial de creme dental.
– Vamos, Jack? – ele diz animado. – Terminei de analisar aquela porra!
Agora é só esperar a audiência... – Ele pisca. – Já ganhei!
Sorrio com seu jeito, ele é tão confiante, absoluto no que faz, competente, me
sinto fascinada com seu jeito, gostaria de ser segura assim. Como será que se
consegue essa autoconfiança? – Meu chefe me fez trabalhar muito hoje, estou
muito cansada. – Faço charme, desligando meu computador.
– Vou te dar um aumento – ele diz com um sorriso.
– Eu já tenho um salário maravilhoso, e também eu ainda nem recebi meu
primeiro salário, como posso ter aumento? – falo indignada.
– O pagamento é amanhã, Jack! – ele diz andando na minha frente.
– Ai, que dia maravilhoso, adoro dia de pagamento! – digo feliz, não vejo a
hora de pagar minhas dívidas, e acho que ficarei sem dinheiro novamente,
mas tudo bem, irei me controlar e no mês que vem estará tudo certo.
Ele sorri, parece se divertir com minha felicidade, ele não sabe o que é ser
assalariado, deve ser muito bom ser o patrão.
O sigo em direção às escadas, e já começo a sentir certo nervosismo ao
pensar nessa tal festa que iremos.
Ok, é só uma festa. Se acalma, Jack – falo para mim mesma.
****

Chegamos ao seu apartamento, brinco um pouco com o Bóris e em seguida


sigo o Rui em direção ao seu quarto.
– Eu vou tomar banho, Jack. – Ele me olha de lado.
– Eu já vou, só preciso colocar meu vestido em seu armário, para não
amassar. – Pego o cabide com o vestido e entro em seu closet.
É estranho ver um pequeno espaço do seu armário com roupas minhas.
Aos poucos tenho invadido sua vida, sua casa, durmo mais aqui do que em
minha casa, e agora invadi seu guarda-roupa.
Nada disso foi premeditado, na verdade ele próprio tem feito com que as
coisas aconteçam dessa forma.
– JACK!– Ele berra do banheiro, me apresso em pendurar meu vestido, e
deixo minha sacola em um canto da parede.
Tiro minha roupa, deixo tudo sobre uma poltrona e sigo para o banheiro.
Entro no box, abraço suas costas e beijo.
– Tá apressadinho, Rui? – Cochicho no seu ouvido, acariciando seu tórax.
Ele ri.
– Você precisa dar banho em seu homem, Jack! – ele diz manhoso, me
levando a pensar que ele está muito mal acostumado.
– Rui, você está muito manhoso, sabia? – Coloco shampoo em minha mão e
massageio seus cabelos.
– Faz massagem em minhas costas, Jack, igual aquele dia – ele diz de olhos
fechados, bem dengoso.
Me posiciono em suas costas, passo sabonete líquido em sua pele e aproveito
para massagear seus músculos.
– Assim, Rui? – pergunto massageando seu pescoço.
– Isso, Jack, continua. – Ele espalma suas mãos na parede, enquanto
massageio suas costas. – Tá bom, caso contrário, não conseguirei ir a lugar
nenhum além da minha cama.
– Eu vou tomar banho, Rui! – Coloco seu shampoo em minhas mãos e
massageio meus cabelos, mas logo sinto suas mãos deslizando pelo meu
corpo.
Sorrio.
– Rui, me deixa tomar banho. – Resmungo sentindo seus lábios em meu
pescoço.
– Não dá, Jack, eu não resisto a esse corpo, você é muito gostosa! – Ele
aperta meus seios entre suas mãos.
– Ai, Rui! – Gemo de prazer.
– Você quer fazer amor aqui ou na cama? – ele diz mordiscando minha
orelha, mas o que realmente me chamou a atenção foi a palavrinha que ele
disse.
Abro meus olhos e o encaro.
– Eu quero fazer amor com você em sua cama – respondo.
Ele me olha com um sorriso.
– Seu pedido é uma ordem, minha deusa. – Ele me enrola em uma toalha, me
pega em seu colo, e sai me carregando para o quarto.
– O que vamos usar hoje, Jack? Talvez o vibrador? – ele diz com seu corpo
sobre o meu, e um sorriso travesso no rosto.
Dou risada.
– Ah, Rui, vamos do jeito convencional hoje!
– Você não está curiosa para experimentar aquele troço? – ele diz animado.
– Hoje não! – Beijo seus lábios delicadamente. – Hoje eu quero só papai com
mamãe, estou cansada, na TPM.
Ele beija meu pescoço.
– Está desanimada, Jack? – Mais beijos, descendo pelo meu corpo.
– Não, mas eu fico mais sensível nesses dias, Rui – falo manhosa. – Preciso
de muito carinho.
Ele volta a me beijar.
– Eu vou te dar muito carinho, minha oncinha! – ele diz divertido, e eu
gargalho.
– Eu estou falando sério, Rui – falo lânguida e manhosa.
– Eu também estou falando sério. – Ele desce seus beijos no meio das minhas
coxas, roçando seus lábios em minha pele sensível. – Eu adoro seu cheiro,
Jack. – Ele me cheira. – E seu gosto... – Ele passa sua língua macia em meu
sexo, arqueio meu corpo de desejo, esfrego-me nele.
Sua boca desliza em minha intimidade de uma forma deliciosa, me
incendiando por dentro.
– Ahhh, Rui!!! – Gemo alto, chegando ao orgasmo. – Ooohhh, hummm. –
Puxo seus cabelos, louca de paixão.
De repente, o vejo por cima de mim, ele me preenche com seu membro.
– Você gosta assim, Jack? – Ele me encara enquanto se move sensualmente
em cima de mim.
– Adoro, Rui. – O puxo para um beijo.
– Você gosta de papai e mamãe, Jack? – ele diz sorrindo.
Oh, porque ele pergunta tanto? Eu não quero conversar, só quero seus beijos.
– Eu não quero conversar, Rui, quero que você me foda!
– Porra, Jack, estou tentando ser atencioso, romântico! – ele diz fingindo
estar magoado.
– Eu gosto de ser beijada durante o sexo. Me beija, Rui, bem gostoso.
– Assim, Jack? – Ele pergunta no meio dos meus lábios.
– Isso. – Abraço seu pescoço e o beijo com vontade.
– Oh, Jack! Eu vou gozar, minha gostosa! – Ele geme calmo, nem parece o
Rui que conheço. – Hummm, Jack!!!
Ele está de olhos fechados e o observo, sua expressão é de entrega e de puro
prazer.
Foi delicioso, calmo, carinhoso, de um jeito diferente, aliás, tenho
experimentado com o Rui diferentes formas de se amar.
Adoro todas, sem exceção, mas gosto de vê-lo desse jeito, ele parece tão
conectado comigo.
Ele abre seus olhos, cinzas como uma tempestade.
– Foi delicioso, Rui. – Acaricio seu rosto másculo.
– Foi sim. – Ele me encara. – Você gosta assim? – Ele sorri.
– Gosto de todos os jeitos. Adoro você, Rui! – Beijo seus lábios
apaixonadamente.
Ele se afasta.
– Vamos nos arrumar, eu sei que você está cansada, mas eu realmente preciso
ir nessa merda, é importante... – O Interrompo.
– Eu sei e eu quero ir, quero saber o que é uma festa black tie – falo fazendo
caras e bocas.
Ele levanta sorrindo e me puxa da cama.
– Vamos nos trocar então...
****

Estou ainda enrolada na toalha de banho, fazendo minha maquiagem e


arrumando meu cabelo, quando vejo meu deus grego aparecer no banheiro.
Sorrio enfeitiçada.
Ele está demais, se é que isso é possível, eu o acho o cara mais lindo do
mundo, e parece que quanto mais gosto dele, mais lindo ele fica.
– Você está lindo, Rui! – falo abobada.
Ele me abraça pelas costas, enche meu pescoço de beijos.
– Fica bem linda para mim, vou te esperar lá embaixo. – Apenas suspiro de
amor.
Eu adoro vê-lo de terno e gravata, e de smoking então, ele está só mais
irresistível.
Inspiro profundamente.
Ok, preciso ficar à altura desse homem, nada menos do que linda. – Penso
preocupada.
****

Ajeito o coque que fiz em meu cabelo, usei um gel do Rui para manter os fios
comportados, checo se a maquiagem não está borrada.
Deixei meus olhos bem maquiados, um batom vermelho, só para não perder o
costume, coloco um par de brincos bonitos para valorizar o penteado e
finalmente coloco o vestido.
Me olho no espelho de seu closet, de frente, de lado, e finalmente, de costas.
Não posso negar que estou bonita, elegante, mas o decote me deixa muito
sensual.
Confesso que sou tímida, não na intimidade, aliás, não sou nem um pouco
tímida na intimidade, mas sou tímida com meu corpo, não gosto de expor
minhas curvas, nunca gostei.
Sempre vesti camisas e blusas largas, odiava ver os olhos dos homens sobre
meus seios, meu bumbum, não gosto de chamar a atenção.
Na verdade, gosto de me expor, de seduzir e usar meu corpo, mas apenas com
os homens que me relaciono. Eu adoro ver o que faço com o Rui, o que meu
corpo provoca nele, e por isso estou me vestindo desse jeito chamativo, quero
agradá-lo, somente a ele.
Tento ajeitar o decote indecente do vestido, apenas para não expor muito
meus seios, mas é impossível, então o vejo no espelho.
– Demorei muito? – Seguro na lapela de seu smoking.
Ele beija meu pescoço, me fazendo sentir uma fornalha dentro de mim.
– Não, você não demorou, eu esperaria minha vida inteira por você – ele diz
no meu ouvido, me arrepiando, e me causando uma felicidade que vai além
de mim.
Sorrio apaixonada, de olhos fechados, sentindo seus lábios me beijando o
pescoço, o rosto, suas mãos roçando meus seios através do decote.
– Oh, Rui, não faça isso! – reclamo, já me sinto molhada.
– Você está demais, Jack! – Agora suas mãos invadiram o decote, brincam
com meus mamilos.
Ele me vira de costas, beija minhas costas, acaricia meu bumbum, desce mais
um pouco e encontra meu sexo encharcado, pronto para ele.
Ouço barulho de cinto, zíper, e como eu imaginava, ele me invade.
Me inclino sobre o móvel a minha frente e me entrego.
– Ruiii!!! – Gemo alto, a sensação deliciosa de prazer chegando.
– Oh, Jack!!! – Ele geme e goza. – Você é demais, Jack! – Ele beija minhas
costas.
Alguns minutos de loucura e ele volta à terra.
– Você está linda, Jack! – ele diz no meu ouvido, me fazendo sorrir. –
Podemos ir?
Sorrio e olho para ele. Que loucura de homem, Senhor!
– Podemos! – respondo. – Tem certeza que não estou muito escandalosa?
Ele vira seu rosto de lado, me olha demoradamente, e então volta a olhar para
meu rosto.
– Não, você está linda! – Ele segura minha cintura. – Não quero nenhum
homem perto de você, você ficará o tempo todo ao meu lado.
– Claro, eu não pretendo fazer amigos, muito menos ficar longe de você! –
falo com ironia.
– Então vamos, minha deusa. – Ele beija minha testa, num gesto tão
carinhoso.
Pego minha bolsinha de mão e o acompanho em direção à porta.
Entramos no elevador, abraço sua cintura e repouso meu rosto em seu peito.
Seus braços me envolvem, me sinto tão protegida ao lado dele.
Logo estamos em seu carro, me sento ao seu lado e o recorte transpassado do
vestido da cintura para baixo abre, expondo boa parte das minhas pernas.
Ele passa suas mãos por toda a extensão das minhas coxas.
– Toma cuidado quando se sentar, Jack, não quero que ninguém veja a
calcinha da minha mulher. – Sorrio do seu jeito.
Adoro quando ele me chama de “minha mulher”.
– Tudo bem, meu macho – respondo divertida, o fazendo rir.
Seguimos para o lugar da festa num clima delicioso, ele me conta um pouco
sobre esse encontro que acontece todos os anos, é uma confraternização de
juízes, procuradores, os melhores advogados do país, só tem gente poderosa,
foi isso que entendi.
– Sua ex-noiva estará lá? – pergunto desviando meus olhos dele.
– Talvez sim, o pai dela é um ex-juiz aposentado, ele é muito influente, e
apesar de aposentado, continua bastante atuante – ele diz sério.
– Por mim, tudo bem. Só perguntei por curiosidade. – Seguro minhas mãos
no colo.
– Eu resolvi aquelas pendências com ela, na verdade com o pai dela, entrei
em contato com a empresa que contratamos para cuidar dos preparativos do
casamento, pedi para cancelar tudo, enfim... Está tudo resolvido. – Ele me
olha de lado. – Eu que havia pagado tudo, a família dela não teve nenhum
prejuízo, só eu que me fodi com tudo isso.
O olho de lado, ele também me olha.
– Melhor assim, né Rui? – Confesso que fiquei feliz em saber que ele não irá
se casar mais com aquela loira metida a besta.
– Muito melhor! – Ele sorri, e não consigo deixar de sorrir para ele. – Agora
sou só seu, Jackeline.
Sorrio surpresa, confusa, eu não o entendo muito bem, nunca sei o que ele
quer dizer com o que diz, mas é bom ouvir que ele agora é só meu,
independente do que isso signifique.
– Só meu, e costumo ser muito violenta quando isso não acontece – falo em
tom de brincadeira.
– Estou com medo dessa italiana, espero não provocá-la – ele diz divertido.
Finalmente chegamos ao local do evento, e como eu imaginava, o lugar é
estupidamente lindo.
Dois manobristas abrem as portas para nós, um deles segura em minha mão e
me tira do carro.
Sorrio divertida com a cena, acho tudo tão forçado.
Olho para o Rui e o vejo rindo de mim.
Ele pega em mim mão.
– Vem, minha deusa. – Ele beija minha testa novamente, e eu adoro isso,
adoro seus beijos de língua, mas esse beijo que ele me dá na testa é tão
carinhoso.
Seguimos para o interior do local, solto a respiração vagarosamente, o lugar é
muito luxuoso, os lustres que caem do teto parecem saídos de um filme
antigo, milhares de cristais imensos e escandalosamente lindos.
Centenas de mesas estão espalhadas pelo local, castiçais e velas acesas dão
um clima mágico ao local. As mesas estão preparadas para o jantar, mas a
maioria das pessoas estão em pé, circulando pela área livre do salão.
Garçons vestidos elegantemente servem bebidas borbulhantes em taças finas
e longas.
– O que você está achando? – Ele cochicha em meu ouvido.
– Que isso é muito chique para meu gosto. – Faço uma careta, ele me olha e
ri.
Continuamos caminhando entre as pessoas bem vestidas, glamorosas,
chiquérrimas. Percebo muitos olhares sobre nós, e não sei dizer se tem a ver
comigo, com ele, ou com nós dois juntos.
Logo os primeiros conhecidos começam a aparecer.
Um homem aparentando a idade do Rui o abraça, ele me olha longamente,
sorri e estende sua mão para mim.
– Prazer, sou o Carlos, amigo desse cara, nos formamos juntos na faculdade –
ele diz simpático.
Estendo minha mão para ele.
– Prazer, Carlos! Sou a Jackeline. – O Rui me abraça pelas costas.
– Jackeline! – Ele balança a cabeça, parece pensar. – Você é a secretária do
Rui, é isso? – Ele olha para o Rui rapidamente, volta a olhar para mim.
Olho para o Rui de soslaio, nem conversei com ele sobre isso, o que posso
dizer sobre nós?
– É... – respondo insegura.
– Isso, Carlão, a Jack é minha secretária, e namorada!
O cara dá uma risada escrachada.
Olho de lado para o Rui e franzo minha testa.
– Ele é assim mesmo, Jack, não liga. – O Rui cochicha em meu ouvido.
Ele para de rir, tenta se recompor.
– Desculpe, Jackeline. – Ele disfarça. – Então, Rui, como estão as coisas? –
Ele beberica sua bebida e olha disfarçadamente para meu decote.
– Tudo certo, Carlão, trabalhando muito. – O Rui pega uma taça de
espumante, dá um gole e entrega para mim.
– Certo. – O cara parece meio sem graça. – Bom, vou dar uma volta, ver se
acho os amigos, depois conversamos. – Ele balança a cabeça em minha
direção, olha novamente para o meu decote e sai andando.
– Bem estranho seu amigo. – As palavras saem da minha boca antes que eu
possa processar.
– É que você deixa os homens meio tontos, minha deusa! – Ele sussurra em
meu ouvido, beija minha orelha, me vira de frente para ele, beija suavemente
meus lábios. – Vamos circular um pouco.
Voltamos a caminhar, o Rui cumprimenta muitos homens, a maioria são
homens, acompanhados, é claro, mas o ambiente é masculino, as mulheres
são apenas um adereço, algo para enfeitar, não vi uma mulher que
aparentasse ser uma juíza, promotora ou advogada.
– Aqui é tipo um clube dos bolinhas, Rui? As magistradas não são
convidadas? – falo baixo, estamos parados em um canto.
– Não, existem muitas magistradas aqui. Você quer conhecer alguma? – Ele
me olha seriamente.
– Não, não acho que elas queiram me conhecer, mas é que você só
cumprimenta homens, as mulheres não parecem ter muito espaço nesse
ambiente.
– Vou te apresentar para uma juíza! – Ele me puxa, mas estanco.
– Não, eu não quero conhecer ninguém, era só uma observação, Rui! –
Sussurro, o encarando.
– Tudo bem, fique calma, vamos andar um pouco, não precisa ficar em
pânico, Jack! – Ele me olha seriamente.
Puxo o ar, estou parecendo um rato assustado, preciso relaxar, bebo um
pouco do espumante, preciso de álcool no sangue, esse lugar me causa
calafrios.
Vejo uma roda de pessoas, homens, mulheres, e percebo que o Rui está indo
naquela direção.
Ok, Jackeline, você está acompanhando o cara, seja simpática, agradável!
Respiro fundo, tomo o último gole de espumante e entrego a taça para o
primeiro garçom que aparece em minha frente.
As pessoas da rodinha o veem, ele parece uma celebridade, é bem conhecido,
logo ouço as pessoas dizendo: “Olha o filho do Figueiredo, aí!”.
Ah, claro, seu pai é advogado, deve ser conhecido também. – Penso.
As pessoas o abraçam, e ele fica tão lindo sorrindo, estou babando nele,
preciso me recompor.
– Essa aqui é minha namorada Jackeline! – Ele diz para um homem.
– Prazer... – Ele estende sua mão para mim. – Que linda jovem, Rui! – O
homem diz.
Então, ele me apresenta para mais um senhor, e outro, e outro, e não aguento
mais conhecer pessoas, não me lembro do nome de mais ninguém.
– Jack, essa é Doutora Angélica... - Ele sorri para uma mulher de cabelos
grisalhos, curtos, bem ajeitados, parece ter uns 60 anos.
Estendo minha mão para a mulher.
– Ela é juíza, Jack! – ele diz divertido. – A Jackeline estava incomodada,
Doutora Angélica, porque não havia visto mulheres magistradas aqui – ele
diz sorrindo.
– Oh, minha querida, existem muitas, não se preocupe, estamos em todos os
lugares, e é melhor que seja assim, o mundo não funciona direito sem as
mulheres – ela diz imponente, poderosa.
Sorrio encantada.
– Prazer. – Aperto sua mão animada. – Estou feliz de conhecer uma juíza,
não aguento mais cumprimentar homens poderosos.
Ela dá uma risada encantadora.
– Você faz o que querida, é advogada? – Ela pergunta, e eu me sinto meio
deslocada.
– Ela é psicóloga, e minha namorada! – o Rui responde, parece que ser sua
namorada é um posto de poder.
Ela sorri, parece meio confusa, talvez ela conheça a talzinha da Priscila.
– Eu vi seu pai, Rui, ele está por aí com sua mãe. – Meu sorriso se esvai do
meu rosto.
Que merda!
– Eu não o vi ainda – o Rui responde, começa a falar sobre outros assuntos,
ele pega outra taça de bebida, beberica, entrega para mim, e assim passamos
mais alguns minutos com essa senhora, que é bem simpática, agradável. – Foi
um prazer te ver, doutora – Nos despedimos da mulher e voltamos a andar
entre as pessoas.
Mais alguns magistrados, advogados, amigos do Rui, estou tonta de tantas
pessoas que conheci, não me lembro do nome de mais ninguém, só da juíza,
do seu amigo Carlos, e de dois ou três advogados que ele me apresentou, e
que foram muito simpáticos comigo.
E então, os seus pais surgem, como se tivessem vindo do nada (ou das
trevas!).
Seu pai está muito elegante, ele é bem bonitão, talvez uma versão do Rui com
seus sessenta e poucos anos. Sua mãe é uma senhora muito bonita, altiva,
uma madame da alta sociedade, se veste impecavelmente, parece saída de
uma revista de celebridades.
Seu pai aperta sua mão vigorosamente.
– Tudo bem, filho? – ele diz com aquele olhar paterno, parece ter muito
orgulho do filho.
– Tudo bem, pai, mãe. – Ele beija o rosto da mãe, ela me olha daquele jeito
esnobe.
– Boa noite! – falo discretamente, não me movi do lugar, se eles não gostam
de mim, também não vou gostar deles.
– Como vai, Jackeline? – O pai dele diz educadamente, se lembrou do meu
nome, que milagre!
– Muito bem, obrigada! – respondo polidamente, meu braço está enganchado
no braço do Rui, segurando sua mão.
– Se lembra da Jackeline, mãe? – ele diz para sua mãe nojenta, ela me olha
com desdém, apenas balança a cabeça para mim.
Seu pai começa a conversar com o filho, eles parecem se falar muito por
telefone, os assuntos que falam são recentes, sobre processos que vi o Rui
analisando.
Olho discretamente para sua mãe, e a vejo me medindo, tento me ajeitar junto
ao Rui, na verdade estou tentando me esconder, me sinto mal vestida na
frente de sua mãe, ela deve me achar uma biscate.
Ele me puxa pela cintura, me abraçando de lado, passo meu braço pela sua
cintura, de um modo que tampe o recorte lateral do meu vestido e disfarce o
decote.
– O jantar já está sendo servido, Antony! – Sua mãe diz mal-humorada.
– Podemos jantar todos juntos, Rui, venham conosco! – Seu pai diz
simpático, disfarço meu mal-estar e desvio meus olhos de sua mãe.
– Tudo bem para você, Jack? – Ele segura meu queixo e me encara.
Sorrio.
– Tudo bem – falo sem emoções, preciso fazer meu papel de sua
acompanhante, e esquecer todo o resto.
Ele beija suavemente meus lábios e me encara com aqueles olhos
acinzentados, que parecem me engolir.
– Vamos, minha deusa! – Ele pisca para mim.
Solto o ar e caminho ao seu lado em direção aos seus pais, que já estão
sentados em uma mesa mais adiante.
Capítulo 45
RUI FIGUEIREDO

O encontro com meus pais era inevitável, eu sabia que eles estariam aqui,
meu pai não falta a nenhum desses encontros.
Também será inevitável o encontro com a Priscila e sua família, mas eu
precisava vir a essa festa, preciso dos contatos que encontro aqui, pessoas
influentes, importantes.
Estou conversando com meu pai, apesar de não trabalharmos juntos, cada um
de nós tem seu escritório, estamos sempre trocando ideias sobre os processos
que estamos trabalhando.
Meu pai é meu melhor amigo, meu professor, minha referência de vida. Devo
a ele todo o meu sucesso profissional, sem ele eu não teria chegado onde
estou, até hoje aprendo com ele, nos falamos quase que diariamente, enfim...
Depois que ele me viu com a Jackeline, ele me ligou para saber o que estava
acontecendo, ficou chateado comigo, obviamente. Ele gostaria que eu me
casasse, tivesse filhos, mas está difícil disso acontecer, ele terá que se
contentar com os netos e netas que a Juliana dará a ele.
– O jantar já está sendo servido, Antony! – Minha mãe diz para meu pai.
Minha mãe está um porre, e está tratando a Jackeline de um modo que me
desagrada muito.
Tudo tem limite, ela pode até estar chateada com o fim do meu
relacionamento com a Priscila, mas daí tratar mal a Jack, ela está indo longe
demais.
– Podemos jantar todos juntos, Rui, venham conosco. – Meu pai sugere, eu
realmente não estava a fim de fazer isso, pela Jack é claro, mas essa situação
é bem chata, pouco vejo meus pais, e não ficar com eles hoje seria uma
ofensa.
Espero meus pais se distanciarem de nós, seguro o rosto da Jack e pergunto:
– Tudo bem para você, Jack?
Ela sorri para mim e responde:
– Tudo bem.
Beijo suavemente seus lábios lindos, ela está linda hoje, a mulher mais linda
desse lugar.
Não vou mentir mais para mim mesmo, a Jackeline não é uma mulher
qualquer com quem saio de vez em quando, eu a assumi como minha
namorada, me sinto ciumento e possessivo em relação a ela.
Ela me causa um turbilhão de sentimentos, coisas novas, inesperadas.
Tudo começou no dia em que ela transou com seu ex-namorado, nunca havia
me sentido daquele jeito.
Enlouqueci de ciúmes dela, foi estranho, muito estranho, e então foi aí que
decidi oficializar nosso relacionamento, quero dizer, dar nome ao que temos.
Que se foda a opinião das pessoas, eu sei que ninguém está entendendo nada,
namoro minha secretária, a trouxe a um encontro de magistrados, mas
também a um encontro de famílias. Aqui, ninguém traz amante, caso,
piranha. Os que são solteiros, como o Carlão, vêm sozinhos, não trazem
periguetes, essas coisas.
Então, se a Jack está comigo, é porque o que temos é sério, é assim que as
pessoas leem esse nosso relacionamento.
– Vamos, minha deusa! – digo para a Jack, ela é uma grande companheira,
não reclama de nada, está sempre sorrindo, simpática.
Nos sentamos à mesa que meus pais escolheram, vejo minha mãe medindo a
Jackeline, talvez eu devesse ter escolhido um vestido para ela menos
chamativo, mas que se foda minha família.
Ela está linda, a Jack é elegante, ela não tem jeito de piranha, ela é apenas
sensual, gostosa, tem um corpo estonteante.
Que se foda o moralismo da minha família, não tenho mais idade para me
preocupar com isso.
Nos sentamos juntos, tomei o cuidado para não deixá-la perto da minha mãe.
Que Deus me perdoe, mas minha mãe é insuportável, temos um
relacionamento muito complicado, não suporto seu jeito de dondoca, somos
ricos sim, mas ela vive como se fosse dona do mundo.
Só eu sei o quanto meu pai trabalhou e trabalha para manter o luxo que minha
mãe vive, ela gasta aos tubos, vive como se fosse uma princesa, não move um
prato do lugar, tem empregadas até para acordá-la de manhã.
Talvez meus complexos contra casamento tenham começado com meu
relacionamento com minha mãe.
Não nos damos bem, isso é fato, já não moro com eles há muito tempo, logo
que entrei na faculdade.
Ela é uma mulher mandona, irritadiça, controladora, quer controlar até os
pensamentos do meu pai, e dos filhos. No meu caso nunca, nunca deixei.
Com certeza meu pai a ama mais do que qualquer coisa neste mundo, isso
não há dúvidas, ninguém suporta alguém assim por tanto tempo.
Reviro meus olhos ao olhar para ela.
Me perdoe, meu Deus, mas minha mãe é uma bruxa! – falo em pensamentos,
e como reflexo beijo os cabelos da Jack, não quero que ninguém a trate mal,
ela é muito importante para mim.
– Tudo bem, Jack? – Cochicho em seu ouvido.
Ela me olha e sorri.
– Tudo, Rui!
A Jackeline mexe demais comigo, aqui dentro, lá no fundo, ela me causa uma
inquietação no peito.
Tenho vontade de dizer que a adoro, mas não o faço, apenas a beijo.
A gente se olha, tenho vontade de beijá-la de novo, mas ela não deixa e se
afasta sorrindo.
– Só mais um beijinho, Jack! – falo carente, me sinto tão idiota quando estou
com a Jackeline.
Mas, nosso momento de paz durou pouco, logo ouço uma voz que não me
agrada, é meu sócio e ex-sogro.
Olho e vejo os três, a Priscila, seu pai otário, e sua mãe piranha.
Que família!
Me levanto, pego na mão da Jack, a fazendo ficar ao meu lado, e então
encaro o problema a minha frente.
Até que o Doutor Alburquerque é bem falso, ele finge estar tudo bem, mas
sua filha e sua esposa não disfarçam o ódio mortal que sentem por mim.
Abraço a cintura da Jack, a colocando à minha frente.
Eu já tenho 35 anos, já passei da fase que me incomodo com alguém, ou com
alguma coisa.
Se alguém me encher o saco, eu mando se foder.
O Albuquerque me olha, olha para sua filha, parece constrangido com a cena.
– Como vai, Rui? – Ele estende sua mão para mim.
– Bem, obrigado. Essa é a Jackeline – digo rapidamente.
– Boa noite, Jackeline! – ele diz educadamente, o Albuquerque é um homem
vivido e experiente, espero que não confunda as coisas, que ache que eu deva
satisfações da minha vida pessoal para ele.
Olho para a Priscila e sua mãe, elas estão ao lado da minha mãe, e me
indigno ao ver minha mãe abraçada a Priscila, ela quer me provocar, me
irritar, é isso.
– Vamos sentar conosco, Albuquerque? – Minha mãe diz, e eu sei que ela
quer me provocar, e deixar a Jackeline constrangida.
– Não, obrigada, Raquel! – ele diz educado. – Estamos numa mesa com meus
colegas magistrados – ele diz arrogante, ele gosta mesmo de viver no meio
dos juízes poderosos, meu pai sempre foi apenas um amigo qualquer para ele.
Aliás, meu pai e o Doutor Albuquerque são amigos de longa data, nossas
famílias se conhecem e convivem há anos, minha mãe conhece a Priscila
desde que ela era uma menina, aliás, eu também.
De fato, nunca reparei muito na Priscila, não me lembro muito dela, tudo
entre nós começou numa festa de aniversário de casamento de meus pais, eles
fizeram uma festa em sua casa, chamaram todos os amigos e aí reencontrei a
Priscila. Ela já havia se tornado uma adulta, e então tudo começou ali.
Respiro aliviado os vendo partir, mas a Priscila dá uma última olhada para
mim, disfarço, e desvio meus olhos dela.
Hoje, pensando friamente, não sei por que me envolvi com a Priscila, ela não
tem nada a ver comigo, é jovem demais, tola demais, infantil demais. Que se
foda que ela é bonita, o que eu tinha na cabeça quando me envolvi com essa
menina?
Caralho, será que eu iria me casar com ela se não tivesse conhecido a
Jackeline? Porra, como um homem solteiro pode fazer merdas na vida!
Vejo o garçom trazendo os pratos, o jantar começa a ser servido, troco
algumas palavras com meu pai, nenhuma com minha mãe.
De fato, ela está de cara virada para mim, desde que me viu com a Jackeline.
Ela acha que me importo com isso, mas não me importo, prefiro assim.
Beijo os cabelos e o rosto da Jack a todo o momento, porque quero que
minha mãe saiba que ela não é uma piranha que encontrei na rua.
– Vamos jantar, Jack? – Cochicho para a Jackeline, ela está tão calada, mais
do que de costume.
Eu preciso tirá-la dessa mesa, eu sei que a presença da minha mãe a
incomoda.
Ela me olha e sorri, começa a comer, mas mal toca no prato, como quando
fomos ao churrasco na casa dos meus pais.
Termino meu jantar.
– Vamos dar uma volta – falo em seu ouvido e pego em sua mão. – Dá
licença pai, eu vou cumprimentar alguns conhecidos.
– Claro, filho, vá. Depois nos falamos. – Ele bate em minhas costas e sigo em
direção ao segundo salão.
Andamos um pouco, olho para a Jackeline, ela ensaia um sorriso.
– Melhor agora, Jack, eu sei que minha mãe te incomoda. – Ela disfarça.
– Não tenho nada contra ela, mas ela não gosta de mim – ela diz séria, parece
chateada.
Isso me incomoda demais, não gosto de vê-la assim, minha mãe ofuscou seu
brilho, ela se apagou.
– Ela não precisa gostar de você. Eu gosto de você, muito, Jack! – Seguro seu
rosto e a beijo, não me importando que estamos no meio de um monte de
pessoas.
Ela se afasta de mim, parece constrangida.
– Tenho vergonha de beijar em público – ela diz sem graça.
Dou risada do seu jeito, a Jack é comportada e devassa, uma verdadeira
contradição em forma de mulher.
Uma banda toca músicas instrumentais no segundo salão, não sou nenhum
dançarino, mas curto esse negócio de dançar, mas apenas acompanhado.
Me lembro de quando ainda era criança, minha mãe sempre tocou piano,
então enquanto ela tocava suas músicas, eu era obrigado a dançar com
minhas tias e suas amigas. São lembranças boas da minha infância,
adolescência.
– Vem, Jack! – A levou para a pista de dança, ela me olha sorrindo.
– Já começou, pé de valsa? – ela diz divertida.
– Não é melhor dançar, do que ficar sentada olhando as pessoas? – pergunto,
a apertando contra meu corpo, e segurando sua mão contra meu peito.
– Muito melhor. – Ela sorri, a beijo delicadamente, não quero chamar a
atenção de todos, mas a vontade que tenho não é essa, adoro explorar essa
boca com minha língua, tenho sede da Jackeline, ela é viciante.
Enquanto dançamos conto para ela algumas histórias sobre essas festas, já vi
de tudo, casamentos desfeitos, briga de homens, briga de mulheres, enfim,
pode-se se divertir aqui também.
Ela ri muito, parece que passou seu mal-estar em relação a minha mãe.
Agora a música é lenta, ela passa seus braços pelo meu pescoço, dançamos
nos olhando, ela acaricia meus cabelos, eu acaricio suas costas.
– Eu queria ir embora, Jack, e fazer uma festinha com você lá em casa. – Ela
sorri e me beija suavemente.
– Então, por que a gente não vai embora? – ela diz manhosa, depositando
beijos suaves em meus lábios.
– Vamos ficar mais um pouco, tem um juiz que preciso trocar algumas
palavras, puxar o saco dele. – Dou risada. – Eu odeio isso, mas preciso fazer
esse jogo. – Abraço mais ela, enfio meu rosto em seu pescoço, a cheirando,
beijando sua pele.
Aquela palavra vem novamente a minha boca, mas não falo.
Tenho problemas com sentimentos, não acho que já amei alguém. Já gostei
de algumas garotas, principalmente em minha adolescência, mas nunca me
entreguei, mergulhei de cabeça.
Não consigo, antes que isso aconteça eu desisto, pulo fora.
A música termina, me afasto e a beijo rapidamente.
– Vamos ver se eu acho o cara, assim ficamos livres para ir embora. – Saio
caminhando em direção ao primeiro salão, andamos um pouco, olho ao redor
e finalmente o acho.
– Achei meu alvo. Vamos lá, Jack!
O juiz em questão é um importante juiz da vara da família, onde sou muito
atuante, se bem que hoje em dia meu escritório tem especialistas em todas as
frentes, não gosto de me focar só em uma coisa, mas acabo sendo referência
nesse assunto.
O cumprimento, apresento a Jackeline, e começo a conversar.
Graças ao meu pai, tenho acesso a todas as pessoas desse círculo jurídico,
ainda jovem eu circulava com meu pai entre essas pessoas.
Ainda sou conhecido apenas como o filho do Doutor Figueiredo, mas não me
importo. Às vezes, sou reconhecido apenas como Rui Figueiredo, já me
importei com isso no passado, mas o amadurecimento traz coisas boas, como
constatar que é bom ser filho do Doutor Figueiredo, tenho orgulho de ser seu
filho.
A Jack se dependura em meu ombro e cochicha em meu ouvido.
– Posso ir ao banheiro? – ela diz de uma forma engraçada.
Apenas balanço a cabeça e continuo minha conversa com o juiz, mas não
consigo deixar de olhá-la enquanto ela caminha em direção aos banheiros.
Tento disfarçar e conversar com o juiz, ele fala mais do que sua boca,
concordo com a cabeça e olho para a Jackeline, uma dúzia de olhos
masculinos acompanhando seu gingado, ela está gostosa demais, e eu não
quero deixá-la sozinha.
– Então, Doutor Rui, sobre aquele processo em questão... – Eu gostaria de ir
buscá-la no banheiro, mas esse assunto é muito importante, então aquieto
meu mostro interno e presto atenção no juiz.
Capítulo 46
JACKELINE BARTOLLI
black tie segue a todo vapor, eu e o Rui dançamos muito, ele gosta
A festa
muito de dançar e isso é muito legal.
Se houve algo negativo, foi o encontro com sua mãe, seu pai não me trata
mal, ele meio que me ignora, mas não posso dizer que ele me destratou, até
lembrou meu nome.
Já a velha megera me tratou mal, e ainda por cima queria que a insuportável
de sua ex-noiva ficasse na mesma mesa que estávamos.
Agora estamos conversando com um juiz importante, o cara fala mais que o
homem da cobra, estou cansada, com meus pés latejando, e morrendo de
vontade de fazer xixi.
Não vou aguentar até o final dessa conversa, vou explodir.
Me esgueiro próximo ao ouvido do Rui e cochicho apenas para ele ouvir:
– Posso ir ao banheiro? – falo como se fosse uma criança.
Ele me olha discretamente, balança a cabeça positivamente e saio
caminhando para um lugar que acho que ficam os banheiros.
O banheiro é tão chique quanto o salão, vejo batom, perfume, desodorantes e
lencinhos umedecidos a disposição, e um cheiro delicioso no ar.
Entro na primeira cabine a disposição, e faço cinco litros de xixi.
Saio rapidamente e me surpreendo ao ver a Priscila, ela retoca seu batom.
Respiro fundo e tento seguir para a pia mais distante da sua, mas parece que
ela está aqui propositalmente.
– Oi, piranha, aonde você pensa que vai vestida desse jeito? Aqui não é seu
puteiro! – Ela para atrás de mim, enquanto lavo minhas mãos.
Respiro e inspiro vagarosamente, tentando controlar meus nervos. Sigo até
onde estão depositadas pequenas toalhas de mãos, olho discretamente pelo
espelho e vejo todas as mulheres que estão no banheiro nos olhando.
Não, eu não vou me rebaixar, bater boca com essa garota, ela quer isso, ela
quer que eu me comporte como uma qualquer, eu não vou fazer isso.
Desvio dela para sair do banheiro, mas ela me segura pelo braço.
– Você é uma piranha nojenta, e eu vou acabar com sua vida se você não sair
da vida do Rui! – Ela vocifera descontrolada em meu rosto, sinto o cheiro
forte de bebida alcóolica, deve ter bebido feito uma louca.
Olho para sua mão com ódio.
– T I R E A S S U A S P A T A S D E M I M! – Rosno controladamente
para ela, meus olhos estão cerrados, estou a um triz de pegar em seus cabelos
e arrancar um por um.
A maldita me chamou de piranha, eu não estou aguentando o ódio que estou
sentindo dessa garota.
Puxo meu braço.
– Não vou me afastar do Rui, foi ele quem veio atrás de mim, ele não te quer
mais, perdeu, patricinha! – Desvio dela, mas ela agarra em meu coque e parte
para cima de mim.
Agarro aqueles cabelos falsos e puxo com toda a força, mas ela me unha para
se defender, puxa meu vestido e só ouço o barulho de tecido rasgando.
Algumas mulheres separam nós duas, sinto sangue nos meus lábios, ela
vocifera feito uma louca, me xinga, parece completamente louca, uma
funcionária do banheiro coloca um papel higiênico sobre meus lábios,
percebo que estou praticamente nua, uma das alças do vestido rasgou, estou
com meus seios de fora, seguro o tecido e então olho para a vagabunda e vejo
a mãe do Rui a acalmando.
– Ela é uma vagabunda, Raquel, uma prostituta, o Rui deve ter conhecido ela
em alguma dessas boates de putas – ela diz enquanto a mãe do Rui limpa suas
lágrimas, arruma seus cabelos, e me olha com um desprezo que dói. –
Piranha, você não deveria estar aqui, você não pertence a este lugar, volte
para seu ponto, vá rodar bolsinha. – Enquanto a mãe dela e a mãe do Rui a
carregam para fora, vejo meia dúzia de olhos me olhando como se eu tivesse
tuberculose, apenas a funcionário do banheiro me ajuda, me coloca sentada
em uma cadeira e arruma meus cabelos que estão espalhados pelo meu
rosto...
– Eu vou arrumar seu vestido, tenho linha e agulha aqui, eu faço isso
rapidamente, não se preocupe – ela diz diante de meu estado, tremo inteira,
de nervoso, de raiva, e de vontade de matar aquela garota.
Tento não chorar, mas estou tão nervosa que não consigo segurar minhas
lágrimas, e soluço de nervoso.
– Se acalme, não se mexa, caso contrário irei machucá-la com a agulha.
Coloco a mão em minha boca para segurar os soluços, e vejo sangue, olho
para o espelho a minha frente, e vejo um vergão enorme em meu rosto,
chegando até meus lábios.
– É inveja, amiga. Pelo visto tem a ver com homem, não é mesmo? – A
mulher diz.
– Sim... – respondo com raiva.
Ela termina de dar os pontos em meu vestido.
– Ficou bom, nem dá para ver, mas é melhor mandar a uma costureira – ela
diz sorrindo.
– Obrigada, eu não tenho coragem de sair assim daqui! – Choro vendo meu
rosto arranhado, uma marca vermelha arroxeada se formando, e um leve
inchaço ao redor.
– Vou passar um lencinho nos machucados, ela arranhou seus braços,
também! – Olho para meu corpo, vejo marcas de unhas pra todos os lados,
braços, busto, garganta...
Fecho meus olhos e tento controlar meu ódio.
– Eu preciso avisar... – Mas não deu tempo de terminar a frase, um trator
desgovernado entra no banheiro feminino, lindo e cheiroso, as madames que
estavam no banheiro ficam assustadas com sua presença.
– O que aconteceu, Jack? – Ele se agacha a minha frente.
– Sua ex-noiva enlouqueceu, Rui! Ela precisa de tratamento psiquiátrico,
internação, com direito a colete para loucos.
– Que merda é essa, Jack? – Ele passa seus dedos pelos arranhões. – Você
está bem? – ele diz com um olhar culpado.
– Eu quero ir embora – falo e desabo em lágrimas.
Ele beija meu rosto, limpa minhas lágrimas.
– Desculpe por isso, Jack! – Ele tira rapidamente seu smoking e o coloca
sobre meus ombros. – Vem, vamos embora. – Ele me levanta me abraça e me
encaminha para fora do banheiro.
Escondo meu rosto em seu peito, estou com tanta vergonha, parece que todos
ouviram as coisas que essa maluca disse.
Saímos do banheiro e seu pai aparece a nossa frente.
– O que houve, filho? – ele diz preocupado.
– Aquela maluca da Priscila, aquela garota tem problemas sérios – ele diz me
abraçando contra seu peito. – Eu vou embora, vou levar a Jack em um
hospital, ela está cheia de arranhões, mulher louca dos infernos.
– Tudo bem – ele diz sem graça.
Olho mais adiante, e vejo a maluca vindo em nossa direção, com o rosto todo
borrado de maquiagem, parecendo uma louca.
– Rui, por favor, vamos sair daqui, a louca da Priscila está vindo de novo –
falo com a voz engasgada.
Se eu não estivesse num lugar como esse, eu quebraria a cara dessa loira
falsificada, mas eu não posso fazer isso aqui.
Ele passa seu braço pelos meus ombros e saímos depressa, olho para trás e
vejo o pai do Rui segurando a maluca.
Logo entramos em seu carro, fecho meus olhos e tento não pensar no que
aconteceu. Sinto beijos em meu rosto, abro meus olhos e vejo aqueles olhos
cinza lindos.
– Vamos a um hospital, tá? – ele diz carinhosamente.
– Não precisa – respondo emotiva.
– Precisa sim. – Ele liga o carro e sai dirigindo.
Me aninho em seu terno, fecho meus olhos e tento esquecer o vexame.
****

A enfermeira termina de limpar os arranhões e passa delicadamente um


medicamento em meu rosto e meu pescoço.
– Você vai passar esse medicamento umas quatro vezes ao dia, não vai tomar
sol, e vai higienizar para não inflamar. – Balanço minha cabeça
positivamente.
– Ok, você está pronta. Eu cobri o arranhão do rosto, apenas por estética,
amanhã estará melhor, não estará inchado.
– Tudo bem, obrigada. – Me levanto e vejo o Rui sentado em uma cadeira.
– Vamos, Jack? – Ele se levanta e pega em minha mão.
A enfermeira entrega uma receita para mim.
– Aqui estão os nomes dos medicamentos para passar, em três dias você já
não verá mais os vergões.
– O rosto dela não ficará com essa marca? – Ele me puxa para seus braços.
– Não, mas fuja do sol enquanto estiver com o ferimento aberto. Se quiser,
coloque um curativo tipo micropore, como eu fiz.
– Ok. Obrigado. – Ele se despede e seguimos pelos corredores do hospital.
– Amanhã você não precisa trabalhar, Jack! – Ele me olha. – Você fica no
meu apartamento.
– Não precisa, eu irei sim – falo desanimada, fiquei chateada de ver como a
mãe dele tratou aquela desgraçada, e me olhou como se eu fosse uma piranha.
Estou me sentindo tão humilhada.
– Rui, sua mãe viu tudo – falo sem o olhar, apenas caminhando, absorta em
meus pensamentos.
– Eu sei, Jack. Ela que me avisou que vocês tinham brigado – ele diz sério.
– O que ela disse para você?
– Que você tinha batido na Priscila. – Engulo em seco, ainda por cima eu que
passarei por barraqueira. – Mas eu sei que não foi você quem provocou essa
situação, não precisa se explicar, eu tenho certeza que você não faria isso.
Meus olhos enchem de lágrimas, para piorar estou em minha TPM, sensível
como uma flor.
– Ainda bem que você não me acha uma barraqueira, que saio brigando em
banheiros de festas. – Limpo uma lágrima que escorreu pelos meus olhos.
Ele me abraça junto ao seu corpo, beija minha cabeça.
– Vamos esquecer isso, Jack.
Me aninho em seu peito.
– Tudo bem!
****

Pela primeira vez desde que nos conhecemos, dormimos juntos sem fazer
nada, absolutamente nada.
De fato, e com certeza, ele percebeu que não estou nesse clima, fiquei com
uma coisa ruim dentro do peito, uma raiva, uma vontade louca de me vingar
daquela garota.
Também fiquei com a imagem daquelas mulheres todas me olhando como se
tivessem descoberto um segredo, me senti uma puta, alguém realmente
desqualificada para estar naquele lugar.
Chorei diversas vezes durante a noite, estou um porre, odeio TPM, me deixa
tão frágil.
A única coisa boa de tudo isso é ter o Rui do meu lado, tanto fisicamente,
como no que diz respeito ao apoio.
Ele está tão carinhoso comigo, tão atencioso.
Demorei a conseguir dormir, passei horas pensando em tudo o que aconteceu,
no jeito que sua mãe me tratou, de seus olhares sobre mim, nunca me senti
tão mal em minha vida.
Mas o sono foi chegando, aninhada no peito do Rui, sentindo o calor do seu
corpo, seu cheiro gostoso, e seus carinhos.
****

Abro meus olhos vagarosamente, estou meio confusa, olho ao meu lado e não
vejo o Rui.
Levanto levemente meu corpo, estou com minha cabeça pesada, e sinto uma
sensação de ardor onde estão os arranhões.
Onde está o Rui? – Penso alto.
Vejo minha bolsinha de mão sobre sua mesinha de cabeceira, a pego, tiro
meu celular de dentro, vejo a hora e me assusto.
– Cacete, 10h da manhã!
Coloco as mãos em minha cabeça, sinto meu couro cabeludo dolorido, e o
ódio volta ao meu coração.
– Oh, meu Deus, eu não podia ter deixado de ir trabalhar. – Me levanto
vagarosamente, minha cabeça dói muito, pego o celular novamente e ligo
para o Rui.
Ele atende no primeiro toque.
– Bom dia, Jack! Você está bem? – ele diz carinhoso.
– Bom dia, Rui! Por que você não me acordou? – falo brava.
– Hoje você vai ficar quietinha, amanhã se você estiver melhor, você
trabalha – ele diz bem-humorado. – Não ouse ir embora ou vir trabalhar,
Jack, eu vou almoçar com você em casa.
Sorrio, me sinto melhor só de falar com ele, ele faz tão bem para mim.
– Rui, eu não quebrei uma perna ou um braço. São só arranhões, sabia? –
digo rindo.
– Tudo bem, mas vamos esperar sumir esse ferimento do seu rosto.
– Vai demorar, não posso me esconder, eu tinha um monte de coisas para
fazer hoje – falo preocupada.
– Amanhã vemos isso. Qualquer coisa, você pode trabalhar do meu
computador pessoal, eu tenho um escritório lá embaixo, vá até lá, tem uns
livros. Relaxa, Jack, hoje você está de folga.
– Obrigada, Rui, você é um chefe maravilhoso! – falo emotiva, com vontade
chorar, aí que merda de TPM.
– Só chefe? Namorado não conta? – ele diz manhoso.
– Os dois, um homem maravilhoso. – Brinco. – Preciso tomar um remédio
para dor de cabeça, você tem aqui na sua casa? – Coloco minha mão na
testa, odeio enxaquecas, mas tenho muitas.
– Tenho na cozinha, está em um dos armários, vá tomar café, fique à
vontade, a casa é sua – ele diz com uma voz suave, carinhosa. – Estou com
saudades de você, Jack. – Meus lábios se curvam num sorriso imenso. – Não
estou mais acostumado a vir para o escritório e não tê-la aqui.
Fecho meus olhos, e sinto aquele gelado percorrer meu estômago.
Ai, Rui, eu te adoro tanto! – Penso.
– Eu também estou com saudades de você – Falo dengosa. – Você vem
almoçar aqui comigo? – Faço charme. – A gente pode namorar, eu estava
tão chata ontem.
– Daqui a pouco estou aí, eu já avisei a empregada que você ficou dormindo,
e que almoçarei em casa.
– Tá bom. Vou tomar um banho, devo estar com cara de bruxa. – Passo meus
dedos sobre meu rosto, olho para os meus braços, vergões vermelhos e
levemente arroxeados aparecem em todos os lugares, parece que briguei com
um gato.
Que ódio daquela garota.
Aquela cobra venenosa não tem unhas, ela tem garras, nunca vi nada igual,
essa cena demorará para sair da minha cabeça.
– Tenho uma reunião agora, Jack, depois conversamos. – Ouço vozes em sua
sala.
– Um beijo, Rui! Te adoro! – falo apaixonada.
– Eu também, até mais tarde. – Ele desliga.
Tiro sua camiseta, a calcinha, me olho no espelho do seu quarto e desanimo.
Passo os dedos pelo meu pescoço, estou cheia de vergões, nem percebi
quando ela fez isso, mas ficou feio, ela tirou minha pele. Próximo dos meus
seios tem outro, grande e profundo, provavelmente foi nesse momento que
ela rasgou meu vestido.
Sigo para o banheiro.
Vejo sobre a pia os meus medicamentos, não me lembro em que momento ele
comprou, acho que dormi em seu carro, estava tão nervosa que não me
lembro de nada.
Tiro o curativo do rosto e vejo a marca deixada, e meus olhos enchem de
lágrimas. Ela quase atingiu meu olho, a marca é enorme, me deixou horrível!
As lágrimas escorrem pelo meu rosto, trazendo ardor sobre o machucado.
Fecho meus olhos e tento me acalmar, abro a ducha do chuveiro e entro
embaixo da água, sinto o ardor sobre os ferimentos.
Encho minha mão de sabonete e esfrego energicamente onde ela arranhou.
Cobra venenosa, deve ter veneno em suas unhas, nunca senti tanto ódio por
alguém.
Finalizo meu banho, me seco delicadamente e passo os medicamentos
prescritos pelo médico.
Volto para o quarto do Rui, e penso confusa como irei me vestir.
– Ok, você deve ter um roupão, Rui! – Sigo para seu closet.
Vasculho entre os cabides e então acho um roupão grande e confortável.
– Acho que ele nunca usou, ainda tem cheiro de novo – falo alto.
O coloco sobre meu corpo, e parece que estou vestindo um cobertor, é
enorme, mas bem confortável e fofinho.
Volto para o banheiro, seco meus cabelos, e faço um curativo sobre o
ferimento da minha bochecha, não estou me sentindo bem com isso no meu
rosto.
Me olho no espelho, estou meio pálida, mas é por causa da enxaqueca, estou
me sentindo péssima.
Coloco meu celular no bolso do roupão e desço vagarosamente as escadas em
direção à sala.
O Bóris está deitadinho em um lugar da sala, e quando me vê sai
enlouquecido em minha direção.
– Oi, Bóris! – Acaricio sua cabeça. – Fica calmo, hoje eu não estou muito
bem! – falo devagar. – Vem comigo, vamos procurar um remedinho.
Entro na cozinha e vejo sua empregada.
– Bom dia, Jô! – falo sem graça.
– Oi, bom dia, Jackeline! Você está bem? O Doutor Rui me disse que você
não está muito bem hoje, precisa de alguma coisa?
Sorrio de seu rompante, nunca a vi falar tanto.
– Estou com uma enxaqueca maior que o mundo, preciso muito de um
remédio sossega leão, você me ajuda a achar? – falo pausadamente, a cabeça
dói só de falar.
Ela caminha depressa, abre um armário alto e pega uma caixinha de
medicamentos.
– Aqui está, Jackeline, tome dois, vamos ver se você melhora, enxaqueca não
costuma passar com esse tipo de medicamento. – Ela torce seus lábios.
– Ok, obrigada, Jô. – Sigo até um filtro de água, mas logo ela pega o copo,
enche de água e me entrega.
– Vou fazer um chazinho para você. Quer comer alguma coisa?
– Não, só um chazinho, me sinto enjoada – falo desanimada. – Acho que vou
me deitar, para ver se melhoro.
Volto para o quarto do Rui, me deito em sua cama, e logo vejo o Bóris
deitando do meu lado.
– Seu pai não vai gostar disso, Bóris! – Aliso seu pelo macio. – Mas, ele não
está aqui, né? – Beijo sua cabecinha. – Vamos dormir um pouquinho.
Fecho os olhos, e sinto minha cabeça pulsando, a dor diminui um pouco, mas
não me deixa dormir, mas logo ouço um toque na porta, olho e vejo a Jô com
uma bandejinha nas mãos.
– Seu chazinho, Jackeline! – ela diz sorrindo. – Trouxe uns biscoitinhos
amanteigados, não é bom ficar com o estômago vazio.
– Obrigada, Jô, você é um anjo. – Me sento na cama, ela sai discretamente, e
tomo o chá vagarosamente.
Pego um biscoitinho e coloco na boca, mas me dá enjoos, então pego outro e
dou para o Bóris.
– Gostou, Bóris? Quer mais um? – Entrego mais um para ele. – Não vamos
abusar, não sei se seu pai vai gostar disso. – Coloco minha mão sobre a testa.
– Preciso me deitar, estou tão mal hoje.
Abraço o bichinho peludo do Rui, fecho os olhos e consigo adormecer.
****

Não sei quanto tempo dormi, mas quando acordei havia um homem lindo do
meu lado, me beijando e me abraçando.
O Bóris já não está mais em sua cama, e o Rui não está mais vestido.
Sorrio contra seus lábios, ele levou a sério a história de namorarmos.
– Estou com saudades, Jack! – ele diz me beijando, abrindo o laço do roupão
e explorando meu corpo com suas mãos.
– Eu também, Rui! – Sussurro contra seus lábios, abraço seu pescoço e
aprofundo nosso beijo.
– Você está melhor, minha deusa? – Seus beijos descem para meu pescoço,
ele acaricia meus seios.
– Acabei de melhorar – falo manhosa. – Oh, Rui. – Gemo ao sentir sua língua
em meu sexo, quente, macia e alucinante.
Seguro seus cabelos entre meus dedos, minha respiração fica acelerada, me
esfrego em sua boca e o amortecimento começa.
– Ahhh... Ruiii!!! – Gemo alto. – Hummm, ahhh, que delícia...
Sinto sua boca novamente em meus seios, seu membro entrando
vagarosamente dentro de mim.
– Uhmmm! – Gemo ao senti-lo.
– Você é tão gostosa, Jack! – Ele me olha com suas bolinhas cinzentas e
profundas.
Ele se apoia sobre seus cotovelos, me encaixo em seus quadris e enquanto ele
me beija, seu corpo se movimenta contra o meu, calmo, mas intenso, e seus
beijos cobertos de paixão.
– Eu vou gozar, Jack. – Ele fecha seus olhos e geme sensualmente, aquela
expressão linda que ele fica, adoro vê-lo nesse momento. – Oh, Jack, que
delícia. – Ele relaxa sua cabeça no vão de meus ombros. – Minha gostosa,
não me canso de você! – Ele beija meu pescoço e relaxa seu corpo sobre o
meu, grande e pesado.
Beijo seus cabelos diversas vezes, adoro tanto esse homem.
– Te adoro, Rui! – Sussurro baixinho, quase que só para eu ouvir.
– Eu também, Jack – ele diz, ele sempre diz isso, nunca fala por conta
própria, eu queria tanto que ele falasse.
Sinto um ardor nos olhos e as lágrimas inundam meus olhos.
Odeio TPM!
Disfarço, tento limpar as lágrimas que escorreram pelo meu rosto, mas ele
levanta seu rosto e me olha.
– O que foi, algum problema? – Ele enruga sua testa.
– Não, é que os seus remédios não funcionam direito com minha enxaqueca,
minha cabeça ainda está doendo – falo disfarçando.
Ele limpa meu rosto.
– Me fale o nome do medicamento que você costuma usar, eu vou ligar numa
farmácia que entrega aqui no prédio, em 15 minutos eles estarão aqui. – Ele
se afasta, pega seu celular sobre sua cabeceira, e aperta uma tecla. – Qual o
nome, Jack?
– Oh... – Me sento na cama e falo o nome rapidamente, logo a pessoa o
atende, ele faz o pedido, devolve o telefone sobre a cabeceira e me olha.
– Vamos tomar um banho rápido, dá tempo. – Ele pega em minha mão.
– Tudo bem. – Tiro o roupão do meu corpo, e o sigo para o banheiro.
Ele já está embaixo da ducha, abro o box e entro com ele. O vejo passando
seus olhos pelos meus braços, pescoço, seios.
– Você passou o medicamento hoje pela manhã? – Ele passa seus dedos,
suavemente sobre meu rosto. – Vamos tirar isso, dizem que é melhor que o
ferimento respire.
– Tá muito feio, fica melhor coberto. – Sinto seus dedos tirando o curativo
que fiz, ele olha para o meu rosto, o beija carinhosamente e me abraça
apertado.
– Desculpa, Jack. Eu que provoquei isso, você não tem culpa de nada. – Ele
me olha com uma ruga de tensão no rosto. – Mas isso vai sumir de seu rosto,
não fique preocupada.
– Eu sei. – Me aninho em seu peito, acariciando suas costas largas. – Lava
meu cabelo, Rui – falo manhosa.
Me deixe aproveitar desse excesso de cuidados comigo, é tão bom!
– Tá manhozinha, Jack? – ele diz sorrindo, e passando o shampoo em meus
cabelos.
– Um pouquinho, estou doentinha. – Dou risada da minha manha. – Preciso
de carinho para ficar boa.
Ele sorri, massageia meu couro cabelo, me coloca embaixo da ducha, passa
as mãos pelos meus cabelos tirando a espuma, e eu fico apenas de olhos
fechados, sentindo a sensação deliciosa de ser cuidada, adoro isso.
Suas mãos começam a ensaboar meu corpo, e isso me dá um tesão louco, mas
me controlo, nem doente meu fogo apaga. Ele me vira de costas, passa suas
mãos pelas minhas costas, no meu bumbum.
– Que bunda linda você tem, Jack! – Ele beija meu pescoço, ofego de desejo.
– Tá doendo muito sua cabeça, Jack? Eu queria tanto mais uma vez! – Ele
acaricia meu sexo.
– Eu quero, Rui. – Minha respiração sai acelerada, assim como meu coração
está.
– Eu vou fazer bem devagar, está bom? – Ele sussurra em meu ouvido,
espalmo minhas mãos no azulejo e o sinto dentro de mim. – Está bom assim?
– Ele se movimenta vagarosamente, beijando minhas costas, acariciando
meus seios.
– Está, Rui, continua, está delicioso. – Gemo baixo.
Ele me aperta contra seus braços, os movimentos ganham intensidade, ele
morde minhas costas e goza...
– Ohhh... Jackeline, eu estou viciado em você! – Ele dá suas últimas
estocadas, geme baixo e para, e sinto sua respiração em meu pescoço, forte,
quente.
Ele beija minha cabeça.
– Tudo bem, Jack? – Ele pergunta preocupado.
Viro-me para olhá-lo.
– Tudo. Foi bom, Rui, muito bom – falo sentindo uma moleza em minhas
pernas.
– Me deixe finalizar o banho, a farmácia deve estar chegando – ele diz
apressado, ensaboando seus cabelos.
****

Me sento na mesa com o Rui, a empregada dele deixou tudo arrumado, mas
estou mal hoje, nada me apetece.
Na verdade, sou assim quando tenho TPM, acho que estou pior porque fiquei
muito tensa ontem, e juntou as duas coisas, tensão nervosa com tensão
menstrual.
Eu confesso, estou um porre!
– Come alguma coisa, Jack! – ele diz pela terceira vez.
– Não quero, Rui. Não estou muito bem hoje! – digo desanimada.
– A dor de cabeça não melhorou? – ele diz preocupado.
– Diminuiu, mas estou com mal-estar. – Tomo um pouco de suco, e dou um
pedacinho de carne disfarçadamente para o Bóris.
– Jack, eu estou vendo você dando comida para o Bóris. – Ele sorri.
– É só um pedacinho! – Faço charme.
– É por isso que ele não sai do seu lado, você está acabando com toda a
educação que dei para ele – ele diz bem-humorado.
– Deve ser chato só comer ração, Rui – falo preguiçosa.
– Ele vai ter dor de barriga, aí você vai ter que limpar a sujeira dele.
Arregalo meus olhos.
– Oh, não pensei nisso, vamos dar um remedinho para ele? Ele comeu
biscoitinhos também – falo preocupada.
– Não, agora você vai arcar com as consequências... – Ele se levanta. –
Preciso voltar para o escritório, Jack, estou sem secretária, ela está doentinha
hoje! – Ele me levanta da cadeira. – Fica deitadinha, vou chegar cedo, está
bem? – Ele segura meu rosto e me beija carinhosamente.
– Ok, mas você me leva para minha casa à noite?
Ele enruga sua testa.
– Não, você não vai embora hoje. – Ele me olha com a testa franzida. – Quer
que eu ligue para sua mãe? Ela gosta de mim, eu digo que você precisa ficar
alguns dias em minha casa. – Ele sorri.
Reviro meus olhos.
– Minha mãe cuida de mim, Rui. Aqui em não tenho minhas coisas, e estou
muito chata. – Reclamo.
– A Jô cuida de você, vou pedir para ela comprar o que você precisar. – Ele
segue para a porta. – Eu volto cedo, fica quietinha, Jack, coloca um filme na
televisão.
Ele me dá uma última olhada da porta, pisca para mim e me manda um beijo
com as mãos.
Suspiro apaixonada, eu gosto de ficar aqui, mas quer saber, sinto falta da
minha casa, da minha mãe, ela sabe como cuidar das minhas enxaquecas, ela
tem seus chazinhos milagrosos.
Capítulo 47
RUI FIGUEIREDO

S igo para o escritório, acabo de almoçar com a Jack, quero dizer, só eu


almocei, ela não comeu nada, aliás a Jack não está bem, nunca a vi assim,
ela está abatida, desanimada.
Penso nos arranhões que a maluca da Priscila fez nela e sinto uma raiva fora
do normal da Priscila.
Não sei se é isso que a está incomodando, ou é a tal da TPM?
Confesso, nunca me importei muito com as inconstâncias da Priscila, muito
menos das outras mulheres que eu saia, eu simplesmente as ignorava e
procurava por outra.
Mas, não consigo fazer isso em relação à Jackeline. Eu simplesmente não
consigo não me importar com ela, me importo muito, estou incomodado com
essa história da Priscila, não me conformo de vê-la toda machucada.
Fecho os olhos e me puno mentalmente, eu deveria ter ido até o banheiro
quando vi a Priscila caminhando naquela direção, mas não achei que ela faria
algo.
Não estou acostumado com esse tipo de coisa, achei que a Priscila era
civilizada, mas me enganei, ela é descontrolada emocionalmente.
Não sei ao certo o que faço, talvez conversar com o pai dela, tenho um pouco
de medo de gente maluca, sei lá, vai que a Priscila resolve terminar o que
começou na Jack.
Eu não vou deixá-la trabalhar esses dias, a Priscila pode aparecer no
escritório. Sou neurótico, não confio nela, tenho medo que ela tente fazer
alguma contra a Jack.
Já decidi que ela também não irá para sua casa, quero ela perto de mim, gosto
de cuidar da Jack, ela é manhosa, dengosa, adoro o jeito dela.
Sorrio ao pensar nela, e penso em tudo que vivemos até agora, a cada dia que
passa ela se torna mais importante para mim, a cada dia que passa gosto mais
dela.
Me sinto confuso em relação a isso, gosto de tê-la por perto, gosto que ela
trabalhe comigo, me incomoda o vazio que ela provoca quando resolve ir
para sua casa.
Normalmente, esse seria o momento de pular fora, eu preciso sair com outras
mulheres, estou fiel demais para o meu gosto, estou envolvido demais por
ela.
Ok, Rui, uma coisa de cada vez – falo para mim mesmo.
– Por que não curto um pouco isso, por que não me deixo levar
simplesmente?
Eu gosto de sua companhia, gosto dela, gosto do seu jeito, gosto do sexo, por
que eu deveria procurar outras mulheres?
Acabei de sair de um relacionamento, e estou entrando em outro, isso não me
parece muito sadio.
Chego ao escritório, estaciono meu carro e sigo para a recepção.
A Karen está especialmente feliz hoje, deve ser porque a Jack não está aqui.
– Boa tarde, Karen! – A cumprimento rapidamente.
– Boa tarde, Doutor Rui! – A vejo saindo de sua mesa. – Quer uma ajuda? Eu
vi que a Jackeline não veio hoje, aconteceu alguma coisa com ela?
Realmente a Jackeline tem razão, a Karen é fofoqueira.
– Nada, ela está doente. – Começo a subir as escadas. – Peça um café para
mim, e suba que irei passar algumas coisas para você fazer.
Ela abre um sorriso de devassa, balanço minha cabeça e subo.
****

Entro no computador da Jack, olho se ela tem e-mails importantes e vejo a


Karen subindo com o meu café.
– Obrigado, Karen! – Pego o café de sua mão. – Sente-se aqui, eu já volto.
Ok, eu sei que eu falava da possibilidade de trair a Jack, mas acho que não
será hoje, da última vez que tentei traí-la eu simplesmente brochei, acho que
não estou pronto ainda para comer outra mulher.
Pego alguns documentos que precisam ser protocolados no Fórum, levo para
a sala da Jackeline e entrego para a Karen.
– Preciso que você mande protocolar esses processos no Fórum. – Entrego
para ela os documentos, ela me olha decepcionada, talvez achasse que sua
ajuda seria sexual, tento não rir com a situação. – Esses aqui precisam ser
enviados ao escritório do Albuquerque, e esses aqui você arquiva. Tudo
certo, alguma dúvida?
Ela me olha com a boca levemente aberta, ela tem uma boca deliciosa, já fez
loucuras com ela.
Fecho meus olhos e tento me concentrar no que interessa.
– Não, eu sei como fazer – ela diz sem muito animo.
– Obrigado, Karen! – Entro na minha sala e respiro.
Caralho, acho que sou maníaco sexual, só penso em sexo!
****

É final de tarde, trabalhei pra cacete hoje, tenho que confessar que a Jack tem
sido uma excelente assistente, e sua ausência hoje foi desastrosa para o meu
dia.
Mas, tudo bem, eu me viro, e também consigo que a Karen me ajude com
algumas coisas.
Vamos ver como ela estará amanhã, de qualquer modo, não quero que ela
venha trabalhar toda machucada, sei lá, estou me sentindo mal com isso,
culpado.
Meu celular toca e vejo o contato do meu amigo Carlão na tela.
Sorrio, tenho certeza que ele quer saber sobre a Jackeline, ele é um
putanheiro dos infernos.
O atendo no segundo toque.
– Fala, Carlão! – Atendo animado, já imaginando o que ele dirá.
– Então, Rui, quem é a gostosa? – ele diz rindo.
– Eu disse, é minha secretária, o nome dela é Jackeline! – falo sério.
– Então vocês estão namorando? – Ele ri. – Não acreditei muito nisso, por
acaso, essa é sua tática para despistar a loira?
– Não estou muito preocupado com a Priscila. – Dou uma pausa, não sei ao
certo o que dizer sobre mim e a Jack. – Eu e a Jack estamos saindo, nada
sério, o que você achou dela? – pergunto, só para não sair do script, é assim
que agimos entre nós, não posso mudar meu estilo.
– Gostosa, bem gostosa! – ele diz malicioso. – Quando não estiver mais a
fim, me dá o contato dela. – Ele ri, não gosto muito da brincadeira, mas
também não posso bancar o babaca, somos assim, gostamos de tirar barato
dos nossos casos.
– Pode deixar, te aviso quando descartá-la! – falo sem emoção, talvez me
sentindo mal de ter falado assim, mas balanço minha cabeça. A Jack é uma
mulher incrível, mas o que temos é temporário, não vou bancar o cara
ciumento e possessivo, não na frente desses caras, e virar motivo de piadas.
– Então, queria te fazer um convite! – ele diz animado.
– Manda cara, qual convite? – falo meio preocupado, não tem convite desse
cara que não inclua mulheres, ele é pior, muito pior do que eu.
– Eu fui naquele clube que os caras disseram, conheci duas garotas, elas são
um espetáculo cara. – Ele diminui sua voz. – Sai com uma delas, e... irmão, a
mulher é uma loucura. – O interrompo, ele enrola demais.
– E onde entro nessa, Carlão? – falo impaciente.
– Marquei com as duas lá naquele clube, vamos lá cara, parece que a amiga
é tão devassa quanto a que saí.
Penso na Jack.
– Não dá cara, a Jackeline está lá em casa esses dias – falo e coloco a mão
sobre minha testa.
– Tá casado, Rui? – Ele ri. – Não sai mais com os caras, não aceita convite
de putaria, não estou te reconhecendo.
Penso rapidamente.
– Hoje não dá, talvez amanhã. Me liga, Carlão, eu tenho uma reunião agora,
estou fodido! – Disfarço, e tento dispensá-lo.
– Tudo bem, vou até lá hoje, combinei com os caras, é aniversário do Beto.
Se der, dá uma passada lá, se a patroa te deixar, é claro! – Ele dá uma
risada enfadonha.
– Vai se foder, Carlão, depois a gente se fala!
Finalizo a ligação, e fico pensando alguns segundos.
Não posso fazer isso com a Jackeline, e eu não me sinto à vontade de sair.
Que merda, estou cada vez mais castrado pela aquela mulher.
****

Olho no relógio, já são 19h, finalizo a reunião com os advogados.


– Obrigado, pessoal, está bom por hoje. – Pego meus papéis e sigo para
minha mesa.
– Doutor Rui, você tem cinco minutos? – A Carolina diz antes de sair da
minha sala.
– Pois não, Doutora Carolina? – falo formalmente, agora minha vida está
complicada, a Carolina é amiga da Jack, então não posso sair da linha.
Aliás, as coisas complicaram na minha vida de uma hora para outra.
– Eu estou muito sobrecarregada... – ela diz incisiva. – Eu sei que todos os
advogados estão, então por que não contratamos alguns estagiários para nos
ajudar?
– Entendo... – Penso um pouco. – Vou conversar com o RH sobre esse
assunto, depois te dou um retorno. – Sorrio para ela.
– Ok, obrigada! – Ela sai com sua postura determinada em direção à porta.
Gosto muito da Carolina, ela é muito competente, aliás, vou torná-la uma das
associadas do escritório, talvez até o final do ano, preciso pensar qual o
melhor momento.
Tiro meus óculos, coço meus olhos, e quando abro, vejo a Karen a minha
frente.
Ela já tirou seu uniforme, está vestida em uma minissaia e uma blusinha justa
ao corpo. Não vou me fingir de santo, ela está gostosa pra caralho.
– Pois não, Karen? – digo profissionalmente.
– Eu já estou indo embora, Doutor Rui. – Ela se aproxima da minha mesa
sensualmente. – Será que você pode me dar uma carona? Estou indo para o
cursinho, é bem próximo do seu apartamento.
Disfarço meu olhar, essa garota está a fim de me arrumar problemas.
– Talvez eu demore mais um pouco. – Recuo, estou me saindo um perfeito
idiota. O que está acontecendo comigo?
– Eu posso te esperar, esse horário os ônibus estão muito cheios. – Ela olha
para o seu corpo. – É desagradável pegar ônibus vestida desta forma.
Olho para ela e tenho vontade de dizer: “Então por que você veio vestida
deste jeito se te incomoda andar de ônibus?”, mas não digo, apenas balanço a
cabeça.
– Tudo bem, me espere na mesa da Jackeline! – Volto a colocar meus óculos
e a olho saindo da minha sala.
É, hoje tá foda, e está difícil pra caralho manter o foco.
****

Termino de enviar os últimos e-mails do dia, desligo meu computador e me


estico em minha cadeira.
O dia foi foda hoje, estou cansado pra cacete!
Coloco meu terno, algumas coisas em minha pasta executiva e saio em
direção à recepção.
Abro a porta e vejo a Karen com sua saia minúscula conversando no telefone
da Jackeline, ela me olha, desconversa com a pessoa e desliga.
– Podemos ir, Doutor Rui? – ela diz insinuante, ela é uma garota muito
esperta, desde que a contratei ela se joga em cima de mim descaradamente.
Eu sei que não sou santo, mas essa aí é bem vadia.
– Sim, podemos ir! – Sigo em direção às escadas, ela me segue.
Logo estamos em meu carro, ela se senta ao meu lado, olho como reflexo
para suas pernas e é como se ela estivesse só de calcinha, não dá para ver a
saia.
Ela me olha, sorri e cruza as pernas.
Respiro e inspiro, e tento controlar minha compulsão por mulheres.
Seguimos em silêncio, tento me concentrar apenas na música que toca.
– Você parece cansado, Rui! – ela diz e sinto uma de suas mãos em minha
nuca.
– Um pouco, Karen – respondo um pouco tenso.
– Porque não tomamos alguma coisa juntos? Tem um bar muito legal
próximo do cursinho. – Ela me encara, seus olhos são muito bonitos, a Karen
é uma garota muito bonita, mas como se fosse uma maldição a Jackeline vem
a minha cabeça.
Ela deve ter feito algum trabalho para me amarrar, eu não consigo tirá-la da
minha cabeça.
Sorrio.
– A Jackeline está me esperando em casa! – Seu sorriso diminui e ela tira sua
mão de minha nuca.
Dirijo mais alguns metros e estaciono o carro em frente ao seu cursinho.
– Entregue, Karen! – digo aliviado, essa garota é uma tentação dos infernos.
Ela sorri, inclina seu corpo sobre o meu e me beija nos lábios.
Pela primeira vez na minha vida, recuso uma mulher. Me afasto dela, me
sinto constrangido com a situação, eu realmente não estou conseguindo trair a
Jackeline, e não sei se isso é bom ou ruim.
– Obrigada! – ela diz sem graça.
– Por nada. – Ela sai do carro e relaxo.
Puta que pariu, o que está acontecendo comigo?!
****

Chego ao meu apartamento, olho ao redor e não vejo ninguém, nem o Bóris.
Subo as escadas, ouço risadas e um latido.
Abro a porta de meu quarto curioso, e lá estão a Jackeline e o Bóris vendo
televisão, numa cena muito interessante.
– Desde quando esse cara vê televisão na minha cama e come pipoca, Jack? –
falo divertido, não consigo ficar bravo com a Jackeline, e muito menos com o
Bóris.
Ele me olha com cara de coitadinho, o Bóris sabe que não pode subir na
minha cama, mas desde que a Jackeline entrou em nossas vidas, essa casa
está uma bagunça, eu não mando em mais nada.
– Oi, Rui. – Ela sorri para mim, tira a coberta do seu corpo e vem me receber
vestida em uma camiseta minha. – Desculpe, é que é tão chato ver televisão
sozinha! O Bóris adora filmes com cachorros, sabia? – Ela se dependura em
meu pescoço.
Abraço sua cintura e a encaro, ela me causa um sentimento bom, algo que
nunca senti antes.
– Nunca convidei esse cara para ver filmes em minha cama, você está o
acostumando muito mal, Jack!
– Só um pouquinho, Rui. – Ela me beija. – Você está cansado? Vou preparar
a banheira para você, depois posso fazer massagem nos seus pés, o que você
acha?
Sorrio e começo a tirar meu blazer.
– Perfeito! Mas eu tenho chulé, Jack! – falo de gozação.
– Oh! – Ela faz cara feia e tampa o nariz. – Tudo bem, eu passo um creminho
para disfarçar. – Ela ri e segue para o banheiro.
– Você parece melhor – digo a vendo animada.
– Sim, acho que descansei tanto que estou bem. Amanhã eu irei trabalhar, tá
bom? – ela diz enquanto abre as torneiras da banheira e eu tiro minha camisa.
– Não, fica mais um dia aqui, eu não me importo, a Karen está me ajudando –
falo despreocupado, jogando minhas roupas no cesto para roupas sujas.
– A Karen?! – Ela para o que está fazendo e me olha.
– Isso, ela sabe bastante coisa da rotina do escritório. – A olho de relance.
– Ah, claro! – Percebo uma mudança em sua atitude, ela ficou séria.
– Qual o problema, Jack? – A puxo para me olhar.
– Nenhum! – Ela sorri, disfarça, mas eu sei que ela tem ciúmes da Karen.
– Ela só está me ajudando enquanto você não volta, apenas coisas simples. –
Acaricio seu rosto. – O ferimento está fechando, daqui a pouco terá sumido. –
Beijo o local ferido.
A Jack tem um rosto lindo, vê-lo assim me deixa muito irritado.
– É verdade. – Ela termina de tirar minha calça e a boxer. – Pronto, agora
você pode entrar. – Ela segue em minha frente, tira minha camiseta e a
calcinha, e só de vê-la sem roupa fico excitado.
A sigo com o olhar enquanto ela entra na banheira e se deita me olhando.
– Vem, Rui! – Ela me olha com aquela expressão que adoro.
– Ok, Jackeline, já estou indo. – Entro na banheira, e me encosto ao seu
corpo, e sinto seus braços envolvendo meu corpo, assim como suas pernas.
– Eu vou fazer massagem, Rui! – ela diz em meu ouvido, sinto um arrepio, e
não consigo segurar uma ereção.
– Meu pau tinha outros planos para nós dois, Jack. – Levo sua mão até ele, a
fazendo acariciá-lo.
– Você quer que a massagem fique para depois? – Ela beija meu pescoço,
minha orelha.
Um novo arrepio percorre meu corpo, essa mulher me deixa louco.
– Isso, Jack... Sobe nele, minha deusa... – A puxo para meu colo e
começamos nossa noite do jeito que mais gosto.
Capítulo 48
JACKELINE BARTOLLI

D esperto preguiçosa, olho ao meu redor e não vejo o Rui.


Tivemos uma noite maravilhosa ontem.
Acabei passando minha segunda noite consecutiva no apartamento do Rui.
Eu havia combinado com ele que trabalharia hoje, mas pelo visto ele me
enganou e não me acordou.
Olho em meu celular e vejo que não é muito tarde, então resolvo ir para o
escritório, não tenho por que ficar aqui o dia todo, estou me sentindo bem
hoje.
Sigo para o banheiro, logo estou trocada, olho no espelho do banheiro, o
ferimento em meu rosto já começou a sumir, então disfarço com um pouco de
maquiagem, a camisa cobre os arranhões do braço, está tudo perfeito.
Desço as escadas e encontro sua empregada na cozinha.
– Bom dia, Jô! – A cumprimento na porta da cozinha.
– Olá, Jackeline, bom dia! Pensei que você não iria trabalhar hoje. – Ela sorri.
– O Doutor Rui me disse que você passaria o dia em casa.
– Eu já estou bem, não gosto desse negócio de passar o dia em casa. – Faço
uma careta.
– Então tome seu café da manhã, se sente, eu já te sirvo um café quentinho –
ela diz animada.
Sigo para a mesa.
Confesso que todo esse mimo me deixa feliz, mas não gosto de me acostumar
com coisas que não fazem parte da minha vida.
Sorrio ao vê-la com uma xícara de café e um suco de laranja.
– Pode deixar, Jô, eu me viro – falo ao vê-la arrumando a mesa com muitas
guloseimas.
– Imagine, é um prazer, Jackeline! – Ela sorri novamente, aliás, ela é tão
simpática comigo.
Ela termina de ajeitar as coisas na mesa de jantar.
– Você quer escolher alguma coisa em especial para vocês jantarem?
Paro minha xícara no meio do caminho.
Acho que ela está pensando que agora moro com o Rui.
– Não Jô, eu... então... não acho uma boa me intrometer nas coisas do Rui –
falo com cuidado. – Hoje mesmo quero voltar para minha casa, faz alguns
dias que estou aqui, preciso ir embora.
Ela me olha sem graça.
– Tudo bem, com licença.
Finalizo meu café da manhã e sigo para o elevador.
****

O caminho até o escritório foi tranquilo.


Adentro o prédio e passo pela recepção vazia, sigo para minha sala e me
surpreendo ao ver minha mesa bagunçada e o computador ligado.
Ok, não vou mentir, senti um certo incômodo com isso, mas inspiro e expiro,
deixo minhas coisas sobre a mesa e sigo até a porta da sala do Rui, bato e
entro.
O problema de se estar envolvida com seu chefe é que não se sabe mais onde
termina o relacionamento e se começa a vida profissional.
O fato de ver aquela loira oferecida em sua sala, sentada ao seu lado, da
mesma forma que ele costumava fazer comigo, me azedou.
– Jack, o que você está fazendo aqui? – Ele se levanta rapidamente, como
quem é pego de surpresa.
Ok, tudo bem, eu o peguei de surpresa.
– Eu acho que trabalho aqui – falo irônica.
Ele sorri e caminha até mim.
– A Karen estava me dando uma ajuda – ele diz sem graça, e me vem um
sentimento ruim ao coração.
Ele insistiu tanto para eu ficar em sua casa, para não vir trabalhar, talvez ele
realmente me quisesse longe daqui!
– Ok – respondo tentando manter uma postura profissional. – Estarei em
minha mesa. – Viro as costas e saio caminhando em direção à porta, abro e
saio.
Se ele estiver me enganando, ele vai se arrepender.
****

Demorou cinco minutos, então a porta abriu e a Karen saiu gloriosa, com um
sorriso satisfeito no rosto.
– Dá licença, Jackeline, eu vou terminar essas coisas em minha mesa! Ela
pega alguns papéis e sai desfilando seu corpo maravilhoso no uniforme pouco
comportado para um ambiente de trabalho.
Fecho meus olhos e tento controlar meu temperamento, mas meu ramal toca e
vejo que é ele.
– Pois não? – falo seca.
– Vem até a minha sala, Jack.
Solto o ar e faço o que ele mandou.
Entro em sua sala, ele me encara enquanto caminho até ele.
– Tudo bem, Jack?
– Tudo ótimo! – respondo tentando ser civilizada.
– Não parece. – Ele me olha sério.
Minha vontade é tirar satisfação com ele, mas isso não faz muito sentido,
aqui é seu escritório, e essa piranha é sua funcionária.
– Você precisa de alguma coisa, Rui? Eu preciso ver alguns assuntos que
ficaram pendentes – falo irritada.
– Vem até aqui, Jackeline – ele diz incisivo, mas eu não estou a fim.
– Não, eu tenho muitas coisas para fazer, quero dizer, já não sei se tenho,
minha mesa já estava sendo ocupada por outra funcionária, meu computador
estava sendo usado por ela, e também, ela estava quase sentada em seu colo.
Ele dá risada, mas eu não estou achando nada engraçado.
Estou com um nível de irritação alto, no auge da minha TPM, e com meus
nervos bem afetados.
Ele se levanta e vem em minha direção, e se eu fosse ele, eu não faria isso. O
Renato costumava dizer que na TPM eu sou um cavalo!
– Ei, Jack, se acalma! A Karen estava me dando uma ajuda, eu te disse isso
ontem.
Dou um sorriso falso.
– Que tipo de ajuda ela te deu, Rui? Por acaso envolveu sexo?
Ele gargalha e isso só piora minha irritação.
– Você é muito ciumenta, Jackeline! – ele diz com sarcasmo.
Lanço um olhar assassino para ele e decido sair de sua sala e não ir adiante
com isso, não estou muito bem hoje para esse tipo de conversa.
– Dá licença, Rui. – Viro as costas para ele, e quando começo a caminhar
para a porta ele me segura, e faz eu olhar para ele.
– Você gosta de me deixar falando sozinho? – Ele me encara. – Eu estava
passando umas coisas para a Karen fazer, mas já que você é teimosa e não
ficou descansando em meu apartamento, pode reassumir sua função, não
precisa ficar brava por causa disso!
– Eu não estou brava! – Puxo meu braço, tento voltar a caminhar, mas ele me
impede. – Você pode me soltar, Rui? – falo irritada, muito irritada.
– Só se você me disser que está tudo bem. – Ele me puxa para junto de seus
braços.
– Está tudo bem. – Rosno. – Agora me solta – falo muito irritada.
– Só se você me der um beijo. – Ele me encara, olho no olho, com um
começo de sorriso nos lábios.
Fecho os olhos e respiro, volto a olhar para ele e o beijo rapidamente, apenas
um selinho.
– Assim não, Jack, caralho! – Ele me olha contrariado. – Eu quero um beijo
de verdade!
– Eu não estou a fim, Rui! – Tento me livrar dele, mas ele me segura com
força.
Então, ele enfia seus dedos entre meus cabelos, traz meu rosto até o seu e
mergulha seus olhos nos meus, intensos, profundos.
– É assim que quero que você me beije, Jackeline! – Seus lábios cobrem os
meus, urgentes, famintos, gulosos.
Eu não tinha a intenção de retribuir seu beijo, mas ficou difícil e quando me
dei conta, já estava com meus braços enganchados em seu pescoço,
retribuindo seus beijos com paixão.
Depois de me beijar muito, ele afasta nossos lábios, mas continua me
segurando.
– Está tudo bem agora? – ele diz me olhando intensamente. – Não aconteceu
nada entre a recepcionista e eu.
Seus olhos estão grandes e ameaçadores, mas não recuo, olho-o da mesma
forma.
– Espero que não, Rui! – respondo.
– Você pode ter certeza disso! – Ele me olha sério.
– Ok, me desculpe. Estou um pouco irritada hoje! – falo sem graça, talvez eu
tenha agido feito uma dessas namoradas loucas.
– TPM, Jack? – Ele me olha de lado.
– É, estou em meus piores dias, Rui – falo constrangida.
Ele continua me segurando.
– O que te acalma nesses dias? – ele diz com um sorriso safado no rosto.
Tento não rir, mas não consigo.
– Não sei, Rui!
– Beijos? – Ele beija meu pescoço. – Você ficou calminha agora.
Ai, que raiva dele.
– Te odeio, Rui! – Sussurro entregue aos seus carinhos. – Me deixa ir.
– Só quando você disser que me adora – ele diz em meu ouvido.
Oh, como ele é irritante... e delicioso!
– Te adoro – falo baixo, ele está de tão bom humor.
– Mais alto, Jack, eu não ouvi – ele diz em meu ouvido.
Fecho os olhos e sorrio.
Olho em seus olhos.
– Te adoro, Rui! – Sorrio. – Está bom assim?
Ele dá um sorriso torto, lindo.
– Está meio desanimado, mas tudo bem. – Ele me dá um último beijo. – Pode
ir, minha oncinha! – Ele dá um tapa em minha bunda.
Rosno, faço cara feia e o vejo seguindo rindo para sua mesa.
****

Meu celular toca e vejo que é a Carolina.


Nos falamos ontem, contei o que tinha acontecido, enfim, ela ficou muito
brava.
– Oi, Carol! Tudo bem?
– Oi, Jack! Queria saber como você está hoje? – ela diz carinhosa.
– Eu estou bem, inclusive estou trabalhando! – respondo animada.
– Que bom! Então, hoje você vai pagar meu almoço! Você já recebeu,
querida! – Ela brinca.
– Tudo bem, vamos aproveitar enquanto ainda tenho dinheiro em minha
conta! – Dou uma risada.
– Ok. Te encontro na recepção! – ela diz rapidamente.
– Só vou avisar meu chefe! – Sorrio.
– Seu bofe, Jack! Você é nada menos do que a namorada do Doutor Rui
Figueiredo. – Ela ri. – Você não é fácil, mulher! – Mais risadas.
– Tá, depois nos vemos!
Desligo.
Bato em sua porta e entro.
Espero ele terminar uma ligação, ele me olha e sorri.
– Posso sair para almoçar? – pergunto.
Ele franze sua testa.
– Nós vamos almoçar juntos! – ele diz sério.
– Oh, eu disse para a Carol que iria almoçar com ela. – Choramingo.
– Hoje não, marca para outro dia! – ele diz autoritário.
– Como assim, Rui? E se eu quiser almoçar com ela hoje?
– Você almoça outro dia, hoje nós vamos almoçar em casa! – Ele pega seu
terno.
Oh, ele é muito folgado e mandão.
– Rui, você não manda em mim, sabia?! – falo nervosa.
– Jack, por favor, desmarca com a Carolina, vocês almoçam outro dia, hoje
você fica comigo.
Faço um bico e saio.
Ligo pra Carol, ouço cinco minutos de xingamentos, olho para cima e vejo o
Rui parado a minha frente.
– Vamos, minha deusa? – ele diz com seu sorriso mais lindo no rosto, e como
consequência, esqueço tudo, não consigo ficar brava com ele.
– Vamos, mandão! – Sorrio.
****

Chegamos ao seu apartamento, ele segue para as escadas apressado.


– Jack, avisa a Jô que almoçamos em 30 minutos – ele diz. – Depois você
sobe. – Ele pisca e eu reviro meus olhos.
Logo estou subindo para seu quarto, faço o Bóris descer as escadas e entro.
O vejo em seu computador pessoal, ele digita energicamente.
– Tudo bem? Nunca te vi trabalhando em casa! – Me sento em sua cama.
– É um assunto pessoal, prefiro usar o computador de casa.
– Tudo bem. – O observo digitando em sua escrivaninha. – Quer que eu te
deixe a vontade, Rui? – pergunto um pouco constrangida.
– Não! – Ele sorri. – Pode ir tomar um banho, eu irei em seguida!
Reviro meus olhos, tudo se resume a sexo com o Rui.
Tiro minha roupa, abro a ducha do chuveiro e tento não molhar meu cabelo,
logo sinto suas mãos em meu corpo, macias e experientes.
Seus beijos em meu pescoço me amolecem, e parece que toda aquela irritação
foi embora.
– Está gostoso assim, Jack? – Ele pergunta em meu ouvido, explorando meu
sexo com seus dedos.
– Ah! – Gemo baixo. – Continua... assim... mais... ah, Rui... – Meu coração
bate descontrolado. – Eu te adoro, Rui... ohhh... hummm... – Me contorço de
prazer. – Foi delicioso! – falo de olhos fechados.
– Agora é minha vez, Jack! – O sinto me penetrando vagarosamente. – Como
você quer, minha deusa? Assim devagarzinho? – Ele segura meus quadris e
me penetra lentamente.
– Eu adoro assim, mas eu sei que você gosta mais forte.
– Não, Jack, eu quero te foder, não importa como! – ele diz no meu ouvido.
Sinto cada pelo do meu corpo arrepiado.
– Eu gosto mais selvagem, Rui! – falo contra seu rosto, beijando o canto dos
seus lábios.
– Assim? – Ele penetra forte, e morde meu ombro.
– Isso! – Sussurro. – Pode ir com força! – Ele aperta seus dedos contra a pele
dos meus quadris.
– Oh, Jack... – Mais uma mordida, agora no meu pescoço, mais uma
estocada. – Assim, minha deusa? – ele diz no meu ouvido.
– Assim, meu homem! Me fode bem forte, eu quero te sentir inteiro! – Gemo
alto e sinto uma nova estocada forte e profunda.
– Eu vou gozar, Jack. – Ele solta um gemido forte e sensual. – Ohhh... ohhh,
minha gostosa, eu estou gozando!
Sinto um misto de dor e prazer, então ele relaxa suas mãos contra meus
quadris, enfia sua cabeça no vão do meu ombro e descansa.
Ele beija meu ombro.
– Eu deixei uma marca em você, Jack. – Mais beijos em meu ombro.
Ele não me surpreende, ele é tão intenso, estou cheia de marcas roxas pelo
corpo.
– Não tem problema, Rui! – Descanso minha cabeça na parede.
– Vamos terminar nosso banho, estou morrendo de fome! – ele diz com um
sorriso.
– Você está sempre morrendo de fome, sabia?! – falo irônica.
– Eu gasto muita energia com você, Jackeline! – Ele ri ensaboando seu corpo.
– Nem estou conseguindo mais fazer meus treinos, você não me deixa em
paz! – ele diz divertido.
– Oh, então eu não vou mais dormir em sua casa! – Finjo estar magoada.
– Você vai sim... – Ele ri bem-humorado.
Terminamos nosso banho e seguimos para o seu quarto.
****

Depois de almoçarmos em sua casa, seguimos direto para o escritório.


– Obrigado pela companhia! – Ele segura meu rosto delicadamente e me
beija.
– Eu que agradeço pelo almoço – respondo abobada de amor. – Quer um
café, Rui? – pergunto o vendo seguir para sua sala.
– Mais tarde! – Ele sorri e segue para sua mesa.
Tenho que confessar que uma sessão de sexo com o Rui levou para longe
minha TPM.
A tarde seguiu preguiçosa, resolvo descer até a copa para tomar um café e
fazer um para o Rui.
Antes de entrar na copa, vou ao banheiro. Fecho a cabine e termino de fazer
meu xixi, e aí ouço vozes, da Karen e de uma estagiária que anda com ela.
Penso em sair da cabine, mas escuto...
“E aí, o que aconteceu ontem? Eu vi você entrando no carro do
nosso big boss na hora da saída. Aliás, vocês demoraram muito para irem
embora, o que estava rolando?”
Elas riem e eu sinto uma taquicardia em meu peito.
“Adivinha? Transamos em sua sala. Ele me comeu bem gostoso...” – A
Karen diz, seguida por uma risada.
“Mas e a secretária?” – A estagiária pergunta.
“Não sei, não suporto aquela mulher, ela se acha! Mas o Rui é louco por
mim, ontem ele me levou para o cursinho, ele queria ir para outro lugar, mas
eu não quis, já perdi muitas aulas, se eu não conseguir entrar em uma
faculdade, minha mãe me mata!”
“Eu vi os dois saindo hoje para almoçar juntos, ele parece muito envolvido
por ela, Karen” – a estagiária diz.
“Ele é assim mesmo, mas daqui a pouco ele se cansa dela, mas agora que ele
terminou com a advogada, acho que tenho mais chances, ele gosta de
garotas mais jovens e loiras.”
Fico na indecisão de sair da cabine e acabar com a raça dessa piranha, mas eu
quero saber mais...
“Eu preciso voltar para minha mesa, Karen, senão aquela bruxa da Carolina
vai me esfolar viva, depois você me conta mais.”
Ouço a porta abrindo, saio enlouquecida pensando encontrar a Karen, mas ela
saiu com sua amiguinha.
Meu sangue pulsa em meu cérebro. Minha respiração sai acelerada e um ódio
assassino sufoca meu coração.
– Como ele pode me enganar desse jeito? – Algumas lágrimas descem pelo
meu rosto, mas não vou me permitir chorar por esse verme.
Lavo meu rosto, respiro fundo e sigo para fora do banheiro.
Passo pela recepção e a ordinária da Karen não está lá.
Subo furiosa, entro em sua sala sem bater, e a vejo inclinada sobre ele, o
decote do blazer escancarado, do jeito que ele gosta, eles estão rindo, mas
quando ele me vê, disfarça. A Karen arruma seus cabelos e segue em direção
à porta, mas antes de sair dá um sorriso de satisfação para mim.
Tento pensar qual a melhor forma de fazer isso, talvez com uma faca, mas
não tenho uma, e concluo que é melhor assim.
– Algum problema, Jack? A Karen estava me entregando... – Não o deixo
terminar a frase, bato com toda a minha força em sua cara.
Ele coloca sua mão sobre seu rosto e me olha surpreso.
– Você não me engana mais, Rui! – Meus olhos enchem de lágrimas. – Eu
achei que você era homem, mas não, você é um cara imaturo, egocêntrico,
alguém que só cresceu na idade, mas que continua agindo como um idiota de
18 anos.
– Do que você está falando, Jackeline?! – Sua voz sai baixa, ameaçadora,
mas eu não tenho medo dele.
– Pergunta para sua recepcionista! – Saio andando a passos firmes, mas ele
me segura.
– A gente já conversou sobre isso hoje, Jackeline! – Ele me olha com suas
pupilas dilatadas. – Qual o seu problema, porra?!
– Nenhum! Tira suas mãos de mim! – Puxo meu braço com força.
– Jackeline, você é louca, eu já te disse que eu não tenho nada com essa
garota! – Ele passa as mãos pelos cabelos. – Porra, por isso que odeio
relacionamentos, a gente já conversou sobre isso, pula essa parte.
– Eu também não gosto de relacionamentos, aprendi isso com você – falo
com ódio. – Eu vou embora, não trabalho mais para você, me avise por
mensagem quando for o momento para assinar meu desligamento.
Saio pela porta da sua sala, pego minha bolsa e desço as escadas tão depressa
que quase caio e saio rolando.
Eu adoraria dar uma surra nessa Karen, mas não quero ficar aqui mais
nenhum segundo.
O caminho até minha casa foi uma tortura. Não consegui soltar uma só
lágrima, mas meu peito está sufocado, assim como minha garganta, parece
que existe algo parado no meio dela.
Abro a porta da sala, minha mãe me vê e vem feliz me receber.
– Oi, filha! Que bom que você chegou cedo hoje! – Beijo seu rosto. – Está
tudo bem, Jack?
– Eu estou com muita enxaqueca, mãe, vou me deitar. – Sigo para o meu
quarto, nem ao menos cumprimentei minha tia e avó.
– Ok. Eu vou preparar um chazinho pra você!
– Ótimo, agora quero ficar sozinha!
Capítulo 49
RUI FIGUEIREDO

E uOdeio
sempre achei que não suportaria uma mulher como a Jackeline.
mulher brava! – Esbravejo puto.
Enquanto a olho sair furiosa pela porta, tento controlar a raiva que estou
sentindo.
– Ela me chamou do que? Imaturo e egocêntrico, é isso?!
Caralho, eu não admito isso! Ela mexeu com o cara errado!
Ando pela minha sala feito um animal nervoso.
O que aconteceu, porra?! O que afinal a deixou tão nervosa?!
Não posso acreditar que ela ficou daquele jeito porque a Karen estava em
minha sala!
Tudo bem, eu confesso que essa garota é uma diaba safada, fica se jogando
para cima de mim descaradamente, e pelo visto não ficou satisfeita com o que
aconteceu no dia anterior.
Mas a Jackeline não viu nada de mais.
Ok, eu preciso esclarecer isso com a Karen.
Ligo em seu ramal e peço para ela subir em minha sala.
Um toque na porta e a vejo entrando.
Seu sorriso não nega sua satisfação por eu chamá-la novamente.
– Pois não, Doutor Rui? – Ela sorri e se coloca ao meu lado da mesa.
– Você andou conversando com a Jackeline? – falo incomodado, de fato, nem
eu sei como falar sobre esse assunto.
– Como assim? – ela diz sorrindo.
– Você falou alguma coisa para a Jackeline sobre eu e você? – Insisto.
– Não! – Ela me olha de lado. – Eu nunca conversei com sua secretária, aliás,
ela é muito esnobe, nunca me cumprimentou, é mal-educada e me trata como
se eu não existisse. – Ela se aproxima mais. – Ela não gosta de mim, e tenho
certeza que está louca para me prejudicar junto a você. – Ela continua. – Ela
está sempre fazendo comentários maliciosos sobre mim para outros
funcionários.
Enrugo minha testa.
Não consigo ver a Jackeline fazendo fofoca, ela não gosta da Karen, mas
também não fica falando mal dela.
Porra, era só o que me faltava, lidar com as picuinhas entre a Karen e a
Jackeline.
– Certo! – falo irritado. – Tudo bem, pode ir.
– Doutor Rui, eu gosto muito de atendê-lo neste trabalho de secretária... – A
olho curioso. – Eu não me incomodaria de trabalhar como sua secretária. –
Ela se coloca praticamente no meio das minhas pernas. – Você parece tenso,
quer que eu te relaxe um pouco? – A vejo seguindo com os dedos até minha
braguilha.
Apesar de estar tenso pra cacete, não acho uma boa ideia deixar a Karen fazer
um boquete em mim.
– Karen, eu preciso resolver um problema agora, qualquer coisa eu te chamo.
Ela me olha decepcionada.
– Tudo bem. – Ela começa a caminhar para a porta, mas para e me olha. – A
Jackeline não irá trabalhar mais no escritório? Eu a vi indo embora.
A olho por alguns segundos, nem eu sei o que será da Jackeline na minha
vida, mas nesse momento eu não tenho condições de responder a essa
pergunta.
Simplesmente não sei o que quero.
Talvez fosse melhor que ela não voltasse mais, acho que fui longe demais
com ela, me envolvi e permiti que ela se envolvesse também!
De repente, era isso que eu precisava para acabar com esse relacionamento.
É isso, estou de saco cheio da Jackeline, ela me irritou demais com o que fez,
e se ela pensa que irei atrás dela, ela está muito enganada.
– Não sei, Karen! – respondo, não fui capaz de dizer que ela não voltará.
****
É final de tarde, alongo um pouco minhas costas, minha tarde foi uma merda,
essa história da Jackeline acabou com meu dia.
Resolvo dar uma passada no clube que o Carlão me falou.
Na verdade, clube é o jeito de dizer, é um puteiro de alto nível, um lugar
exclusivo para homens, executivos em sua maioria.
Eu preciso relaxar, voltar à minha antiga vida, aquela que eu tinha antes de
conhecer a Jackeline, e ver meu mundo organizado e metódico virar de ponta
cabeça.
Arrumo minhas coisas e sigo para o meu carro.
– Até amanhã, Karen! – digo rapidamente, mas ela se levanta.
– Posso pegar uma carona com você, Doutor Rui? – ela diz carente.
– Não! – digo secamente, a Karen está começando a me incomodar, não estou
gostando de seu jeito intrusivo. – Tenho um compromisso.
Não me dei o trabalho de checar sua expressão.
Entro no meu carro e sigo como um autômato para o lugar combinado.
Será bom rever meus amigos, hoje é um dia especial, é o aniversário de um
dos caras, estou precisando me desligar um pouco do trabalho, enfim...
Depois de alguns minutos de trânsito, chego ao local, entrego meu carro para
o manobrista e sigo para o interior da boate.
A música alta e o cheiro de cigarro me incomodam um pouco.
Acho que estou ficando velho! – Penso incomodado.
Logo vejo meus amigos em uma mesa grande, muita bebida e muita mulher.
O primeiro a me ver é o Carlão, ele levanta o braço animado, parece feliz em
me ver.
– Agora sim, irmão! – Ele aperta minha mão e bate energicamente em minhas
costas.
– E aí, cara? – O cumprimento rapidamente e sigo para cumprimentar os
outros amigos.
Converso um pouco com cada amigo, e então me sento ao lado do Carlão,
vejo duas garotas ao seu lado, logo ele as apresenta e a loira cola ao meu
lado.
Provavelmente o Carlão fez isso de propósito, ele sabe que adoro loiras.
– Meu nome é Jéssica! – Ela se apresenta, seu sorriso é perfeito, assim como
seu corpo. – Eu estou disponível, caso queira passar a noite comigo.
Sorrio para ela, preciso beber um pouco, apesar da beleza da garota, não
estou me sentindo empolgado.
– Tudo bem, Jéssica, mas acabei de chegar então...
– Ok! – ela diz sorrindo, se aproxima de mim e acaricia meus cabelos.
Eu não quero pensar na Jackeline, mas ela vem a minha cabeça, e com isso
um sentimento ruim.
Hoje você não vai estragar minha noite! – falo em pensamentos.
Sinto beijos em meu pescoço, e como se fosse uma maldição, sinto uma
ojeriza, um sentimento ruim, de rejeição em relação à puta.
Obviamente que ela quer garantir seu cliente, e por isso está tentando me
seduzir o mais rápido possível.
Eu sempre me diverti com isso, mas hoje não está fazendo efeito.
Ela está me incomodando.
– Gata, me dá um tempo... Eu estou meio nervoso, me deixe relaxar um
pouco sozinho. – Tento não ser grosseiro, mas pela sua cara, ela não gostou
muito.
Me levanto, caminho entre as pessoas, assisto um pouco ao show
de pole dance, mas não vou mentir para mim mesmo, não estou num bom dia
para vir aqui, infelizmente a Jackeline conseguiu acabar com meu dia e
minha noite.
– Não gostou da garota, Rui? – Desperto dos meus pensamentos, o Carlão
está ao meu lado.
– Ela é linda, gostosa, mas não estou com pressa, ela que espere. – Tomo um
gole do meu uísque.
– Quer trocar? Pode ficar com a morena, pensei em te deixar a loira por causa
das suas preferências! – Ele ri discretamente.
Olho para a mesa e vejo a garota, ela deve ter uns 19 anos, é linda, mas eu
estou muito fodido, a Jackeline é uma desgraça na minha vida, não consigo
pensar em sexo sem ela.
– Ela é bem gostosa, mas estou cansado, cara, preciso beber um pouco
primeiro e relaxar.
– Tudo bem, irmão, não tenho preferência. Também podemos fazer um
programa juntos, a gente pega as duas, pode ser bem divertido! – ele diz com
malícia.
– Valeu, vou pensar em sua proposta. – Sorrio sem muita vontade.
Volto a sentar na mesa, uma curiosidade monstro lateja em minha cabeça,
então pego meu celular, olho as mensagens e vejo que a Jackeline enviou
uma para mim.
Isso não deveria me surpreender, ou mexer comigo, mas não consigo
controlar a ansiedade que sinto.
Abro a mensagem e tenho vontade de matá-la.
Ela fotografou uma carta de demissão e me enviou por WhatsApp.
– Jackeline, sua sorte é que estamos a mais ou menos 30 quilômetros de
distância – falo para mim mesmo.
Uma raiva fora do normal pulsa em meu cérebro.
Eu não vou aceitar essa merda! – Esbravejo sozinho, e escrevo.
“Essa merda não tem valor jurídico nenhum para mim. Se você deseja pedir
demissão, leve essa porra pessoalmente ao departamento de RH.”
Mulher maldita, conseguiu acabar com qualquer possibilidade de uma noite
de sexo que eu teria com uma dessas putas.
Me viro rapidamente para o meu amigo.
– Eu preciso ir, cara, estou com um problema. – Coloco uma grana sobre a
mesa para pagar minha bebida, o Carlão me olha incrédulo.
– Alguém morreu? – Ele pergunta.
– Mais ou menos, talvez eu mate alguém! – respondo nervoso e saio.
****
Acordo com minha cabeça estourando, sigo para o banheiro e logo estou
descendo as escadas.
A mesa de café da manhã está posta, mas não sou capaz de comer, continuo
nervoso, na verdade preciso resolver essa questão com a Jackeline ou vou ter
um ataque cardíaco.
Durante o trajeto para o escritório tento formular algum plano em relação à
Jackeline, mas não consigo, estou bloqueado mentalmente.
Olho para ver se ela leu minha mensagem, provavelmente sim, agora só
queria saber qual sua próxima loucura.
Chego ao escritório muito cedo, sigo para minha sala, mas não consigo deixar
de olhar para sua mesa, e um sentimento de perda invade meu coração.
Eu não quero perdê-la, essa é a droga da verdade.
– Eu te odeio, Jackeline, por te invadido meu coração desse jeito e me
tornado dependente de você – falo para mim mesmo.
Eu mal sei o que tenho que fazer, eu realmente não sei o que fiz de tão errado
para deixá-la daquele jeito!
Ok, a primeira coisa a fazer é avisar meu gerente de RH. Ele não pode aceitar
nenhum pedido de demissão dela.
Escrevo um e-mail para o gerente, ele não vai entender nada, aliás, ninguém
me entende mais.
Agora é só esperar, eu tenho certeza que ela virá.
****

Estou em reunião com dois advogados, estamos montando a estratégia para


uma audiência.
Estou quase achando que a Jackeline não virá mais, olho compulsivo para o
meu celular, às vezes para checar o horário, às vezes para checar se não há
uma mensagem dela.
A filha da puta está a fim de estragar mais um dia da minha vida, mas como
se fosse um milagre, o telefone toca.
– Só um minuto! – Sigo apressado para minha mesa.
– Rui! – falo energicamente.
– Doutor Rui, ela chegou! – O gerente diz em código, e chego à conclusão
que desde que contratei a Jackeline estou desmoralizado com esse cara, essa
mulher está me fazendo de gato e sapato.
– Enrola ela, não aceita a porra da carta, e diga que ela precisará cumprir o
aviso prévio.
– E se ela quiser pagar? – ele diz apático.
– Ela não irá ter dinheiro – bufo cansado. – Preciso de 15 minutos para
terminar uma reunião, não a deixe ir embora, eu irei conversar com ela.
– Doutor Rui me desculpe perguntar, mas o que aconteceu? O senhor
desconfia que ela irá mover um processo contra o senhor por assédio, é isso?
– O gerente diz sem graça.
– Não, porra! – Esbravejo estressado. – Só faça o que estou mandando, não
a deixe ir embora, ou você será demitido!
Desligo a ligação e sorrio para os advogados.
– Vamos terminar logo isso, eu tenho um assunto complicado para resolver!
****
Estou quase arrancando meus cabelos, os porras dos advogados não chegam a
um acordo, e o merda do gerente está me ligando desesperado.
– Ok, caralho, já que vocês dois não chegam a um acordo então vai ser do
meu jeito! – Esmurro a mesa e os dois me olham assustados. – A reunião
acabou.
Eles esbravejam.
– Doutor Rui, só mais um momento, eu queria te explicar o meu ponto de
vista.
– Não estou com tempo nem paciência, Doutor Augusto. Se quiser, discuta
seus pontos com a Doutora Carolina, vou passar esse processo para ela.
Sigo até meu telefone, ligo para o gerente e aviso que estou indo.
– Doutor Rui...
– Não me enche, Augusto, caso você não queira ser demitido – digo
autoritário, pego o meu terno e sigo pelos corredores do escritório, em
direção à sala de reuniões onde a Jackeline está, e se eu disser que não estou
nervoso, estarei mentindo.
Estou uma pilha de nervos!
Olho para a porta fechada, respiro e inspiro, nunca me senti tão nervoso por
causa de uma mulher.
Bato na porta e entro, ela me olha, me fuzila com o olhar.
Eu preciso ter calma com ela.
– Obrigado, Ferreira. Pode ir – falo para o meu gerente do RH.
Ele sai acuado, pelo visto a minha oncinha assustou ele.
Olho para a Jackeline, ela me olha duramente, ela está especialmente
deliciosa hoje, com uma calça jeans e uma blusinha branca marcando seus
seios. A Jackeline é minha perdição, sinto uma atração insuportável por ela.
– Eu preciso ir – ela diz, mas a interrompo.
– Eu preciso saber o que fiz de tão sério para deixá-la desse jeito.
Ela dá um sorriso amargo.
– Você não sabe, não perguntou para sua recepcionista? – ela diz com ironia.
– Não sei, e também não vou sair por aí perguntando... Isso é entre eu e você.
O que eu fiz? Eu realmente não sei!
– Você está saindo com a Karen, e se aproveitou dos dias que fiquei em sua
casa para transar com ela em sua sala, levá-la para o cursinho, e sei lá mais o
que vocês fizeram. – Sua voz começa embargar, ela para de falar.
– Eu não fiz nada disso, Jack, eu disse para você que não tenho nada com
essa garota.
– Então por que ela está dizendo por aí que vocês transaram, ou transam? –
ela diz chorando.
– Eu não sei, ela deve ser louca! Eu não quero esconder nada de você, então
admito que dei carona para ela até o cursinho que ela frequenta, mas foi só
isso.
Ela me olha confusa, limpa seus olhos.
– Eu não sei se consigo acreditar em você, Rui!
Passo minhas mãos pelo meu rosto e bufo nervoso.
– Ok, Jackeline. – Sigo até o telefone, mas ela me interrompe.
– O que você está fazendo? – Ela me olha indignada.
– Ligando para a Karen, vou pedir para ela vir até aqui, vamos esclarecer essa
situação! – Ligo para a recepção, a Karen atende. – Karen, venha até a sala de
reuniões azul, preciso esclarecer um assunto com você.
– Claro, Doutor Rui! – ela responde solícita.
Olho para a Jackeline e me sento a sua frente.
– Vamos ver quem está mentindo, mas de antemão te garanto, não sou eu,
tenho muitos defeitos, mas não sou mentiroso.
Ela desvia seus olhos de mim, penso em dizer outras coisas, mas a porta abre
e a Karen entra na sala.
Capítulo 50
JACKELINE BARTOLLI

O uço o ranger da porta do meu quarto, estou encolhida em minha cama, os


olhos estalados, não consigo dormir, não consigo desviar meus
pensamentos do Rui e daquela garota piranha.
Gostaria de enforcá-la como se enforca uma galinha, e o Rui, eu tiraria o que
ele tem de mais precioso, gostaria de guilhotinar seu pau, e dá-lo para seu
lindo cachorro comer.
Minha mãe entra e vejo mais uma xícara de chá em sua mão.
– Mãe, não aguento mais tomar chá. – Choramingo.
– As cólicas passaram, querida? – Ela me olha com pesar.
– Passaram sim, não precisa se preocupar comigo, eu estou bem! – Beijo seu
rosto.
– Jack, você pode enganar muita gente, mas não sua mãe! – Ela me encara. –
O que aconteceu, por que você está assim?
Não suporto quando minha mãe fala assim comigo, então faço o que estou
tentando heroicamente não fazer... chorar!
– O Rui estava me traindo com uma garota bem mais jovem, mais bonita e
mais interessante do que eu! – Soluço. – Ele só estava me usando.
– Eu te avisei, Jackeline, esses homens ricos e poderosos não prestam, filha!
– Ela limpa minhas lágrimas. – Por que você não procura seu ex-namorado?
Eu sei que ele não é como esse tal de Rui, mas ele é sério, trabalhador e ama
você!
A olho desanimada.
– Eu não o amo mais! Não sinto mais nada, e quando transamos... me senti
tão mal, não consigo pensar em sexo com ele, como posso voltar para ele
assim. Eu amo o Rui, mãe! – Limpo as lágrimas que escorrem pelo meu
rosto, respiro. – Mas eu vou superar isso, vou digitar agora mesmo minha
carta de demissão e acabar logo com isso!
Me levanto delicadamente, pois agora além de tudo, estou com cólicas. Sou
uma daquelas mulheres batizadas pelo papai do céu.
Eu não tenho dúvidas que ele não gostou muito de sua última criação!
Ele caprichou nos detalhes, além das dores que possivelmente terei no parto,
ainda sofro todos os meses com intermináveis cólicas, enxaquecas, e uma
TPM dos infernos.
Oh, pai, o que de tão mal fizemos a você para merecer tantas coisas juntas?!
Talvez nosso presente por passar por isso seja a maternidade, é isso que
minha santa mãe diz.
Segundo ela, não existe momento mais lindo na vida de uma mulher.
A dádiva de poder gerar outro ser explica tudo e compensa tudo.
Acho que talvez esse seja o motivo para eu querer tanto me tornar mãe. Sofro
tanto todos os meses, então quero meu prêmio por passar por isso desde
minha adolescência.
Digito rapidamente uma carta, imprimo, assino, pego meu celular e fotografo.
– Ok, seu filho de uma puta, você nunca mais verá minha cara! – falo para
mim mesma.
Entro em seu contato no WhatsApp e anexo a carta.
– Está feito, mamãe. Se Deus quiser, nunca mais ele irá me ver – falo para
minha mãe.
Ela se levanta da minha cama e acaricia meus cabelos.
– Tente dormir, Jack. Você está abatida, filha.
Olho enquanto ela sai, mas não a vejo, só vejo o Rui.
– Eu irei superar isso, não será um babaca pretensioso que irá acabar comigo.
Encolho-me em minha cama e tento dormir.
****

O sono finalmente chega, mas no meio da madrugada acordei achando que


meu útero sairia pela minha vagina.
Uma cólica maior que o mundo faz eu me contorcer na cama.
As lágrimas descem pelo meu rosto, e como se o cordão umbilical entre mim
e minha mãe nunca tivesse sido cortado, ela aparece.
– Tudo bem, Jack? – ela diz como sempre apavorada.
– O remedinho mãe, a maldição voltou! – falo fraca.
– Oh, Jack, me prometa que irá procurar um médico para ver isso, não é
normal sentir tantas dores! – Ela me entrega o medicamento e a água.
– Mãe, já fui várias vezes ao posto de saúde, estou esperando há um ano para
fazer um exame – falo desanimada. – Eu estava esperando para usar a
assistência médica do escritório, mas, enfim... deixa pra lá!
– Vou esquentar a bolsinha térmica. – Ela sai em disparada, logo volta com a
bolsa térmica, coloca sobre minha barriga e me olha preocupada. – Posso ir
dormir, ou você quer um chazinho?
Tento sorrir para ela.
– Não aguento mais tomar chá. Pode dormir, o remédio já começou a fazer
efeito.
Ela sai do quarto cansada.
Relaxo um pouco, espero enquanto a bolsa permanece quente, então me
levanto e sigo para o banheiro, preciso de um banho, estou suada e suja.
Volto para minha cama e então pego o celular para ver as horas.
São 5h da manhã.
Vejo notificações de mensagens, entro e me deparo com a mensagem mal-
educada do Rui.
Leio e esbravejo.
Ele é um maldito, e quer me fazer passar pela situação constrangedora de ir
ao seu escritório.
– Merda! – Jogo o celular longe. – Idiota... – xingo ele.
Vou tentar dormir mais um pouco, depois vejo isso.
Me deito novamente e adormeço.
****
É estranho acordar e saber que não tenho mais um emprego.
Sinto uma tristeza tão grande!
Penso em me vestir e ir até seu escritório, mas não estou em condições.
Me sinto péssima, não estou bem para pegar um ônibus, metrô, parece que fui
atropelada por um caminhão.
Passei a manhã toda deitada, só saí do quarto para beber água.
Estou cochilando, quando ouço a voz da minha avó.
– Oi, meu bem, sua mãe me disse que você não está muito bem! – ela diz da
porta. – Você está sentindo enjoos? – A olha surpresa com a pergunta.
– Não, vovó. Mas, já estou melhor. – Me sento na cama.
– Eu passava muito mal quando estava grávida de sua mãe.
Arregalo meus olhos.
– Vovó, eu não estou grávida, são cólicas – falo enfática.
– Não precisa esconder isso da sua avó, eu imaginava que isso iria acontecer,
do jeito que vocês dois passaram aquela noite... – Ela revira seus olhos. – Ele
irá se casar com você, não? Se não casar, acabo com a raça dele! Sou velha,
mas ainda guardo a arma de seu avô, vou resolver isso na bala, minha neta,
deixe comigo!
Coloco minha mão na cabeça.
Meu Deus, é muita confusão para a vida de uma mulher só. Deve ser por isso
que nunca tive muita sorte no amor, essas três não deixam.
– Vovó, esquece isso, não estou grávida! – Me levanto e sigo para o banheiro.
Acho que depois dessa história, vou vomitar de verdade.
****

Termino de me vestir e me olho no espelho.


Coloquei apenas uma calça jeans e uma blusinha de malha branca.
Se existe algo de bom em tudo isso, é que emagreci, constato ao sentir a calça
dançando um pouco em meus quadris e coxas.
Pego um blazer preto e o coloco para disfarçar meus seios, respiro fundo e
sigo para o elevador.
– Tchau, mãe, até mais tarde – falo da porta.
– Você não esqueceu de colocar o seu remédio na bolsa, Jack? – ela diz
preocupada.
– Não, estou levando o kit primeiros socorros. – Tento fazer um pouco de
humor.
– Vá com Deus, meu amor.
Aceno do corredor e entro no elevador.
Levei quase duas horas para chegar ao escritório do Rui, entro na recepção e
não consigo disfarçar o ódio que sinto pela Karen.
Ela também não gosta de mim, então apenas ignoramos uma a outra.
Sigo até o departamento de Recursos Humanos, cumprimento alguns
advogados que encontro no caminho.
Paro no balcão de atendimento, o gerente se levanta rapidamente e vem ao
meu encontro.
Parece até que ele estava esperando por mim.
– Olá, boa tarde! – falo um pouco nervosa. – Eu já conversei com o Doutor
Rui sobre isso, eu gostaria apenas de entregar minha carta de demissão. –
Entrego para ele o envelope.
– Ah, claro! – ele diz estranho. – Só um momento, Jackeline, me aguarde um
minuto. – Ele segue até sua mesa, pega seu telefone e faz uma ligação.
Ele deve estar avisando o Rui, meu coração dispara, eu não quero vê-lo,
preciso ir embora.
Aguardo ansiosa seu retorno.
– Você me acompanha, Jackeline? Preciso conversar com você sobre seu
desligamento. – Ele pega em meu braço e me encaminha ao longo do
corredor, abre uma sala e entramos.
– Sente-se, Jackeline. Você quer beber alguma coisa, chá, café, suco? – Ele
segue até o telefone.
Confesso que estou surpresa, nunca fui tão bem tratada em um desligamento,
normalmente eu era escorraçada dos consultórios, mal me deixavam pegar
minhas coisas.
– Um chá de erva doce – respondo sem graça.
Ele se senta à minha frente.
– Existe algo que você queira dizer, Jackeline, a respeito do seu
desligamento? – Ele me encara. – Alguma reclamação, enfim.
– Não, só estou com pressa. Tem como você agilizar isso? – falo nervosa.
A copeira entra com as bebidas, sorrio para ela, voltamos a ficar sozinhos.
– Você não gostou do trabalho? – Ele insiste.
– O Doutor Rui sabe das razões de minha demissão, se você quiser saber
mais sobre isso, fale com ele – respondo irritada. – Me diz uma coisa, o que
estamos esperando? Eu preciso ir embora!
– Ok, só mais um minuto, minha funcionária está preparando a documentação
do desligamento. – Ele se levanta. – Deixe-me cobrá-la. – Ele sorri sem graça
e disca um número. – Ela já está terminando.
Ele sorri novamente, parece nervoso.
– Você chamou o Doutor Rui? – Me levanto de sobressalto, só a ideia de o
ver me deixa nervosa. – Eu não vim aqui para falar com ele, já conversamos,
não tenho nada para falar com ele! – Minha voz sai levemente alterada.
– Não. Se acalme, Jackeline, beba seu chá – ele diz pausadamente, parece
tomar cuidado com as palavras.
Volto a sentar, meu estômago dá voltas.
Ficamos em um silêncio desconfortável, e então a porta abre e me sinto
aliviada, mas então o vejo entrar na sala, sua presença é algo que não consigo
descrever, ele é magnânimo, parece um Deus, imponente, poderoso e lindo!
Eu posso estar o odiando, mas não consigo controlar os batimentos cardíacos
que ele me causa, assim como uma moleza nas pernas e uma dificuldade em
respirar.
A impressão que tenho é que com sua chegada o oxigênio do ambiente
diminuiu, assim como o ar condicionado parou de funcionar.
Um calor fora do normal me abate.
– Obrigado, Ferreira! Pode ir – ele diz para o gerente.
– Eu preciso ir – falo nervosa, me sinto fraca perto dele, não acho uma boa
ideia ficarmos sozinhos.
Ele me interrompe. – Eu preciso saber o que fiz de tão sério para deixá-la
desse jeito.
Um sorriso amargo surge em meus lábios, como ele pode ser tão falso
assim?!
– Você não sabe, não perguntou para sua recepcionista? – digo com ironia.
– Não sei, e não vou sair por aí perguntando... Isso é entre eu e você. O que
eu fiz? Eu realmente não sei!
Eu não conheço o Rui como conhecia o Renato, mas se ele estiver mentindo
ele é um grande ator.
– Você está saindo com a Karen, e se aproveitou dos dias que fiquei em sua
casa para transar com ela em sua sala, levá-la para o cursinho, e sei lá mais o
que vocês fizeram. – Vomito as palavras, e começo a sentir minha voz
embargar com as lágrimas.
Paro de falar, não quero chorar na frente dele.
– Eu não fiz nada disso, Jack, eu disse para você que não tenho nada com
essa garota.
Ele parece tão sincero.
– Então por que ela está dizendo por aí que vocês transaram, ou transam? –
Não consigo segurar as lágrimas, elas inundam meus olhos.
– Eu não sei, ela deve ser louca! Eu não quero esconder nada de você, então
admito que dei carona para ela até o cursinho que ela frequenta, mas foi só
isso – ele diz exasperado.
Me sinto tão confusa, como vou saber se ele está sendo sincero comigo, estou
tão envolvida por ele que o mais fácil seria acreditar no que ele diz.
Limpo meus olhos e falo o que meu coração me diz:
– Eu não sei se consigo acreditar em você, Rui!
Ele esfrega seu rosto nervoso, e em seguida segue até o telefone.
– Ok, Jackeline.
– O que você está fazendo? – O olho confusa.
– Ligando para a Karen, vou pedir para ela vir até aqui, vamos esclarecer essa
situação!
– Karen, venha até a sala de reuniões azul, preciso esclarecer um assunto com
você – ele diz seriamente.
Ele se senta à minha frente, me encara com seu olhar intenso, urgente, e então
diz:
– Vamos ver quem está mentindo, mas de antemão te garanto, não sou eu,
tenho muitos defeitos, mas não sou mentiroso.
Não consigo manter meu olhar no seu, tento controlar o furacão que está
dentro de mim, mas então a porta abre, e aquela aprendiz de piranha entra
sorridente, mas quando me vê fica séria, e volta a olhar para o Rui.
– Pois não, Doutor Rui? – De novo aquele sorriso de piranha.
– Sente-se – ele diz duro e frio.
Ela puxa uma cadeira ao lado dele, e sinto novamente aquela sensação ruim
de ciúmes.
– Karen – ele diz olhando para suas mãos sobre a mesa. – Não sei se você
sabe, ou percebeu... – Ele me olha –, mas eu e a Jackeline temos um
relacionamento. – Ele olha para ela. – Somos namorados.
Olho para ele constrangida, confusa, sei lá o que estou sentindo.
Olho para a Karen, e pareço sentir o ódio em seu olhar.
O silêncio se instala na sala, o Rui me olha insistentemente.
– Bem, a Jackeline ouviu você dizendo, ou ficou sabendo por outra pessoa...
– O interrompo.
– Eu a ouvi dizendo, ninguém me contou, eu estava no banheiro, ela entrou
com sua amiguinha estagiária e então ela começou a contar que você a tinha
comido em sua sala. – Olho para os dois.
– Ela está mentindo, Doutor Rui – ela diz com uma expressão autêntica, sem
rastros de mentiras, nada que mostre que ela esteja mentindo.
Essa garota é muito mais perigosa do que parece.
– E eu mentiria por que, para qual propósito? – falo indignada.
– Para me prejudicar, você não gosta de mim, diversas pessoas me disseram
que você fala mal de mim! – Ela me encara sem um pingo de
constrangimento. – Você se finge de santa, Jackeline, mas você é uma víbora.
Estou quase arrancando seus olhos com minhas unhas.
Vagabunda dos infernos!
Ela é uma atriz, a melhor de todos os tempos.
– Eu querendo te prejudicar?! – falo irônica, com ódio, eu vou matá-la. – Eu
quero que você morra, não estou nem aí para você, sua aprendiz de piranha! –
Me levanto e o Rui se levanta junto.
– Fica calma, Jack! – ele diz tenso. – Estamos aqui para esclarecer essa
situação.
– Esclarecer o que? Que essa garota é uma atriz, que ela está virando o jogo
contra mim? – Minhas mãos tremem de nervoso.
– Está vendo, Doutor Rui? Estou aqui agindo com educação, e essa mulher
me ofendeu me chamando de piranha!
Bufo feito um cavalo selvagem.
– Jack, sem xingamentos, vamos apenas conversar.
Me levanto bruscamente, bato na xícara de chá, a derrubando no chão,
causando um estardalhaço na sala.
– Eu não preciso passar por isso, não vou participar desse teatrinho – bufo
com raiva. – Sabe o que acho? Que vocês dois estão mancomunados nesta
história, e mais, que você é uma piranha, Karen, e você Rui, merece a
funcionária que tem. – Sigo para a porta alucinada de ódio. – Coma e se
lambuze dessa piranha!!! – grito ensandecida.
Caminho com pressa no corredor, limpando minhas lágrimas que inundam
meu rosto.
– Jackeline!!! – ele grita meu nome, viro para o olhar, vejo a piranha atrás
dele, e sigo louca para a porta, mas ele me alcança, me segura e o vejo
respirando feito um touro selvagem. – Volte para aquela sala! – ele diz entre
seus dentes.
– Não volto, você não manda em mim! – Puxo meu braço.
– Então eu vou te levar a força! – ele se inclina sobre mim e de repente me
vejo sendo carregada em seu ombro, feito um saco de batatas.
– Me coloca no chão!!! – grito histérica.
Subitamente sou jogada em uma cadeira e um Rui selvagem me encara.
– Não sai daí, Jackeline, eu não estou brincando! – Sua voz sai baixa, mas me
causa calafrios.
Confesso, agora fiquei com medo dele.
– Karen!!! – Ele berra, a víbora entra com o rabinho entre as pernas.
Ele esfrega seu rosto energicamente e olha para ela.
– Você está demitida, Karen!
Ela olha para ele consternada.
– Doutor Rui, eu não fiz nada disso, essa mulher não presta, ela que é uma
piranha.
Ele a interrompe com um dedo em riste em seu rosto.
– Cala a boca, Karen, e peça desculpas para a Jackeline pela confusão que
você armou, pelas suas mentiras, e por chamá-la de piranha! – Ele segura em
seu braço e a faz ficar de frente para mim.
Ainda estou em estado de choque, não consigo desviar meus olhos do Rui.
– Eu não vou pedir desculpas para essa piranha! – ela diz descontrolada.
– Então, você será demitida por justa causa, e não conte comigo para indicá-
la para nenhum emprego. – Ele segue até o telefone e fala nervoso com a
pessoa do outro lado da linha. – Prepare a documentação para o desligamento
da Karen, por justa causa, peça para alguém a escoltar dentro do escritório,
não a quero acessando mais nada aqui dentro.
Ele desliga a ligação, ficamos alguns segundos, os três nos encarando, mas
então o gerente do RH chega e olha para nós confuso.
– Não entendi direito, Doutor Rui. A demissão agora é da Karen? – O homem
olha para o Rui desconsolado. – E a Jackeline?
– Eu falei o nome da Jackeline? – O Rui pergunta nervoso. – Eu não quero
mais ver essa garota aqui dentro, some com ela daqui.
Ele pega em meu braço e me levanta feito um ogro da idade média.
– Me solta! – Choramingo.
Ele me olha desafiador, sua testa está franzida.
– Não fale mais nada, Jackeline, você vai comigo! – Ele aperta meu braço e
sai me arrastando para fora da sala.
– Eu vou te processar, Doutor Rui, por assédio, eu vou acabar com sua raça!
– Apenas ouço a voz da Karen.
O Rui para e olha pelo seu ombro.
– Faça isso, terei um prazer imenso de foder com sua vida, Karen! – Ele volta
a caminhar, me arrastando pelos corredores como se eu fosse uma criança.
– Eu posso andar sozinha, você pode me largar! – Puxo meu braço.
– Cala a boca, Jackeline, você não sabe o quanto me deixou nervoso. – Ele
rosna, parece furioso comigo.
Resolvo me calar e obedecê-lo.
Não vou negar o sentimento de amor que estou sentindo por ele. O Rui me
surpreendeu, eu não esperava que ele fizesse isso, na verdade, eu não achava
que ele acreditaria em mim.
Não sei, eu simplesmente achava que ele acreditaria nela.
A vida surpreende a gente, agora só espero que ele melhore seu humor.
Confesso, estou me sentindo uma criança com medo dos pais!
Capítulo 51
JACKELINE BARTOLLI

O Rui abre a porta de sua sala e me empurra para dentro.


Olho para ele enfezada, afinal, acho que agora chega dele me tratar feito
uma boneca.
Ele tira seu terno e o joga sobre um sofá, coloca as mãos na cintura e me
encara furioso.
– Vamos lá, Jackeline, me explique por que você acha que eu estaria
mancomunado com a Karen para te enganar! – Ele parece indignado. – Que
tipo de homem você pensa que sou? – Ele me encara enfurecido. – Somente
de ontem para hoje você me acusou de ser um cara imaturo, egocêntrico,
falso e dissimulado.
O olho envergonhada, talvez a TPM tenha colaborado para minha explosão
de nervos, mas de qualquer modo, agora já falei.
– Me desculpe se exagerei na dose, mas eu acho que tive motivos para
desconfiar, e também você mereceu ouvir umas verdades – pronto, falei.
Ele balança a cabeça.
– Pelo visto você não irá assumir que cometeu um erro, um engano! E
também não se arrependeu do que fez e falou!
– O que está feito, está feito... Não tenho como desfazer o que falei. – Dou de
ombros.
– Pode sim, peça desculpas para mim, caralho! – ele diz nervoso. – Você não
acha que deve isso a mim?
– Mais ou menos, Rui! Você foi conivente com a postura dessa garota
durante muito tempo, gostava e se aproveitava da falta de massa encefálica
dela... Você não é santo! – falo sem medo.
Ele me olha exasperado.
– Eu mandei a garota embora, Jackeline, por sua causa! O que mais você
quer? – ele diz indignado.
Eu gostaria de dizer que adorei o que ele fez, mas não posso levantar muito
sua bola.
– Nada! – Mexo em minhas mãos. – Obrigada.
– Não fale isso só para me agradar. Fale de coração, Jackeline!
– Obrigada por me defender, eu apreciei muito isso! – Não consigo segurar
um começo de sorriso.
– Você é louca, Jackeline, e quer me enlouquecer junto!
– Pare de me chamar de louca, eu não gosto disso! – respondo irritada.
Ele olha para o teto, esfrega o rosto e volta a me olhar.
– Você precisa se redimir de todo o nervoso que me fez passar. – Ele
finalmente sorri. – Te dou uma chance para provar que você merece meu
perdão.
Dou uma gargalhada, ele se acha mesmo!
– Rui, é o contrário, você que precisa provar que merece o meu perdão. –
Sorrio.
Ele gargalha.
– Somos um casalzinho bem difícil, você não acha? – ele diz de bom humor.
– Não vamos chegar a lugar nenhum assim.
– Concordo! – respondo cínica.
– Então... – Ele me olha de lado.
– Então o que? – Seguro um riso.
Ele se aproxima de mim.
– Você quer ficar bem comigo novamente, ou prefere continuar brigando? –
ele diz sedutor.
Agora estamos cara a cara, seu perfume invade minhas narinas, assim como o
calor do seu corpo.
– Rui, eu quero confiar em você – falo seriamente. – Não me sinto feliz de ter
desconfiado de sua honestidade, mas a confiança é algo muito difícil de ser
conquistada... Eu preciso ter certeza que você é honesto comigo. – Ele me
encara seriamente. – Não estou pedindo para você passar o resto da sua vida
comigo, só estou pedindo para não me enganar. – O encaro. – Eu entenderei
se você não quiser ficar mais comigo, mas enquanto eu te fizer feliz, permita
que eu seja a única, isso é importante demais para mim!
Ele me olha profundamente.
– Tudo o que você quiser, Jack! Desde que te conheci só penso em você, só
quero você. Por que você não acredita que eu posso ser um cara legal?
– Eu quero acreditar, mas às vezes...
– Confia em mim, Jack! – ele diz tão fofo.
Deslizo minhas mãos pelo seu peito, por cima da camisa e me esgueiro em
direção aos seus lábios.
– Eu vou confiar, Rui! – sussurro e o beijo.
Acho que essa briga só colocou mais fogo em nós dois.
Sua boca invade a minha sem maiores cerimônias. Engolimos um ao outro,
em mais um beijo ardente, daqueles que se quer unir os corpos em um só, em
uma confusão de mãos, bocas, línguas e carícias.
Meus dedos se enroscam em seus cabelos, puxando-os com desespero.
Ai, que delícia de beijo, mas eu quero mais, eu preciso dele em mim!
– Eu quero você, Jack! – ele diz contra meus lábios, segurando meus quadris
com força, e esfregando sua ereção contra minha barriga.
Sinto seus beijos em meu pescoço, ele começa a tirar minha blusinha, mas aí
eu lembro de um detalhe, estou menstruada.
Que merda!
– Rui, não vai dar... – Ele para o que está fazendo e me olha.
– Por quê?! – ele diz indignado.
– Eu estou nos meus dias – falo sem graça.
Ele fica me olhando confuso, parece não entender, então falo de novo:
– Menstruação, sabe?
Ele me olha decepcionado.
– Sério, Jack? – ele diz contrariado.
– Sério, Rui!
Ele pensa um pouco.
– Eu não me importo, a gente faz assim mesmo, vamos para minha casa. –
Ele segue apressado para sua mesa, pega as coisas com pressa, enfia tudo na
sua pasta e coloca o terno. – Vamos! – Ele estende sua mão para mim.
– Pode ser meio nojento, Rui – falo incomodada, nunca fiz sexo neste estado.
– A gente faz no chuveiro. – Ele sorri. – Não se preocupe, eu não vou
desmaiar! – Ele pisca, com uma cara de moleque.
Pego minha bolsa e o acompanho.
****

Em poucos minutos chegamos ao seu apartamento, e confesso que estou


começando a não me importar mais com o Renato.
O Rui sai apressado de seu carro, dá a volta e abre a porta para mim.
Ele não costuma fazer isso.
– Vamos, minha oncinha, eu quero ver toda essa braveza agora na cama – ele
diz divertido.
Saio do carro e o encaro.
– Hoje não prometo meu melhor desempenho. – Faço uma careta.
– Ok, esqueci daquele detalhe, mas vamos nos divertir de qualquer jeito! –
Ele segura minha mão e sai andando apressado em direção aos elevadores.
Não lembrava mais o que era ser beijada dentro de um elevador, prensada
contra as paredes de aço.
Estou me sentindo na adolescência, quando não há lugar para nada, muito
menos para se dar uns amassos.
Finalmente o elevador chega ao último andar, ele afasta seus lábios dos meus
e me encara com seus olhos cinzas.
– Sou louco por você, Jack! – ele diz sério, sinto aquele friozinho no
estômago, e uma vontade louca de dizer as três palavrinhas mágicas, mas não
falo.
– Eu também, Rui! – Seguro seu rosto entre minhas mãos, o olho e beijo de
novo, apaixonada, loucamente apaixonada.
Ele segura minha cintura, se afasta e diz:
– Vamos namorar num lugar decente. – Ele sorri e me leva para dentro do
apartamento, e logo vejo o meu amor peludo.
Me agacho a sua frente e o deixo me encher de lambidas.
– Saudades de mim, Bóris? – Seguro sua cabeça. – Eu também, bebê!
– Bebê?! – Ouço a voz do Rui num tom indignado.
Olho para ele.
– Me empresta o Bóris, deixa eu chamá-lo de meu bebê. – Olho para o Bóris,
que sorri para mim. – Você gosta de ser chamado assim, não gosta, Bóris? –
Ele late, e eu caio na risada. – Ele me entende, Rui!
O Rui me levanta.
– O Bóris pode esperar para ter sua atenção, eu não posso, Jack! Vamos
subir, minha gostosa! – Ele me aperta contra seus braços, apalpando meu
bumbum. Você fica muito gostosa de calça jeans, sabia? – Um beijo em meu
pescoço, seguido por um gemido de prazer.
– Você gostou, Rui? – sussurro entregue aos seus beijos.
– Adorei, quero te ver mais vezes assim! – Uma mordida em minha orelha,
solto um gritinho de prazer.
– Vamos subir, não estou aguentando mais isso! – Ele sai me arrastando pelas
escadas que dão acesso ao seu quarto.
Entramos com ele me agarrando, me beijando e arrancando minha roupa.
– Me deixe tomar banho primeiro, Rui! – falo ao me ver só de calcinha.
Ele começa a tirar sua roupa.
– Ok, cinco minutos, é o tempo de eu tirar minha roupa!
Sigo para o banheiro, ligo a ducha e logo vejo a mancha vermelha no piso do
chão.
Oh, isso é tão desagradável!
Um barulho na porta, e meu deus grego entra glorioso, eu o acho o homem
mais lindo e também inteligente do mundo.
– Está pronta, minha delícia? – ele diz sedutor.
– Eu não consegui me ensaboar, você foi muito rápido! – Reclamo.
– Estou com pressa – ele diz com um sorriso safado e me beija. – Depois a
gente faz isso, agora preciso me afogar em toda a sua gostosura, Jack! Você é
a mulher mais gostosa do mundo! – ele diz e eu dou uma risada
espalhafatosa, de prazer, de felicidade.
– Então se afoga em mim, Rui! Sou sua, só sua, meu homem! – sussurro.
Ele me encara, me levanta em seus braços, me encaixo em sua ereção, e
gemo.
Seu corpo me prensa contra a parede de azulejos, e então ele enterra seu
membro até o final do meu ser.
– Ahhh, Rui! – Gemo de prazer.
– Oh, Jack, minha delícia! – ele diz de olhos fechados, e começa a me foder,
e me beijar, e a me enlouquecer de prazer.
Algumas estocadas, e ele goza ruidosamente.
Ficamos abraçados, sinto sua respiração forte em meu pescoço, e seu peito
subindo e descendo rapidamente.
– Foi um pouco depressa, Jack! – Ele me olha meio culpado. – Prometo que
na próxima vez vou esperar por você!
Seguro seu rosto entre minhas mãos.
– Tudo bem! – O beijo delicadamente. – Mas, acredite em mim, foi
maravilhoso, porque sexo para mim é mais que um orgasmo!
Ele sorri.
– Não romantiza, Jack! – ele diz com um sorriso.
– É verdade, Rui! – digo enquanto desço de seu colo.
– Ok, sem polêmicas! – ele diz relaxado ensaboando seus cabelos.
Sinto uma cólica em minha barriga, olho para baixo e vejo o resultado, uma
mancha de sangue se forma onde estou, meu fluxo está muito intenso, parece
que tem aumentado com o passar do tempo.
Olho para cima e o encontro olhando a cena.
– Eu falei que poderia ser nojento! – falo aborrecida.
– Você está bem? É normal sangrar tanto assim? – Seu rosto ficou tenso.
– Meu fluxo este mês está muito forte! – Me sinto constrangida com a cena. –
Me desculpe.
Ele me interrompe.
– Não peça desculpas, eu não tenho nojo, é só seu sangue, não tem nada de
nojento nisso. Mas fiquei preocupado, me parece um pouco demais, você não
acha?
– Sim, um pouco demais! – Pego a duchinha para limpar. – Preciso ir a um
médico, mas eu estava sem assistência médica, será que já posso usar a do
escritório? – pergunto um pouco constrangida.
– Claro que pode, na verdade desde o seu primeiro dia de trabalho, ninguém
te avisou sobre isso? – Ele enruga sua testa.
– Não, eu também não tenho uma carteirinha.
Ele bufa nervoso.
– Eu resolvo isso amanhã, tá bom? – Ele segura meu rosto e me beija. – Se
você não estiver bem, nós não fazemos mais, Jack!
– Eu estou bem. Eu quero mais... – Sorrio apaixonada.
****

Terminamos o banho, me enrolo em uma toalha e sigo para o quarto.


Vejo o Rui já vestido.
– Nossa, você está muito rápido hoje!
– Eu vou descer e colocar nosso jantar no forno. – Ele me beija rapidamente.
– Pedi para a Jô deixar pronto!
– Sério? Mas como você sabia que faríamos as pazes? – O olho de lado.
– Sei lá. Não fiz nada de errado, Jack, não tinha por que não nos acertarmos!
– ele diz com simplicidade.
Sorrio feliz.
– Eu já desço, tá? – Sigo para seu closet. – Vou pegar uma camiseta sua
emprestada.
Ele apenas pisca para mim e sai do quarto.
Pego em minha bolsa um absorvente interno e o coloco rapidamente antes
que um desastre aconteça.
Escolho uma camiseta do Rui e a cheiro demoradamente, adoro o cheiro de
suas roupas.
Volto para o quarto, pego um analgésico que uso para as cólicas, preciso
tomar antes que as dores fiquem insuportáveis, e sigo para as escadas.
O vejo agitado, arrumando a mesa, colocando as travessas, e sorrio encantada
com seu jeito.
Ele é bem independente, mais do que eu.
– Cheguei! – falo animada.
Ele sorri para mim.
– Já está tudo arrumado, madame. – Ele brinca. – Sente-se que vou servi-la.
– Aí que bonitinho! – falo em tom de brincadeira. – Faltou o avental, Rui.
– Vou providenciar para o próximo jantar. – Ele enche minha taça de vinho, e
me lembro do meu analgésico.
Será que faz mal beber? Não, acho que não.
Beberico um pouco de vinho com o comprimido.
Ele traz a última travessa, e começa a servir nossos pratos.
– Eu posso fazer isso, Rui! – falo incomodada, vendo ele me tratar como uma
princesa.
– Não se mova do lugar. Acho que já te disse um dia, a única coisa que você
irá fazer aqui é sexo, Jack!
Dou risada!
– Um dia você me deixa fazer uma comida para você? – pergunto
timidamente. – Sei fazer alguns pratos portugueses, minha mãe me ensinou!
– Claro, Jack, é só dizer, a cozinha é sua! – Ele sorri. – Estou louco para
conhecer seus dotes culinários.
– Combinado! – respondo.
Nosso jantar segue num clima romântico, e, às vezes, penso que é mentira
que ele não seja romântico.
Ele é sim, e eu o acho muito romântico!
– Jack, eu preciso saber se existe mais alguma coisa que esteja te
incomodando, ou alguém? – Ele me encara seriamente.
Penso um pouco.
– Não. Está tudo bem, Rui. – Sorrio.
– Ok, Jack, então vamos combinar uma coisa, antes de você explodir, você
conversa comigo, mas sem bater na minha cara ou me ofender! – ele diz com
um sorriso.
Sorrio constrangida.
– Desculpe bater em seu rosto, quando fico nervosa perco a cabeça.
– Eu percebi! – Ele arregala seus olhos.
– Você me desculpa? – faço charme.
– Só se você vier até aqui – ele diz sedutor.
Caminho até ele e paro a sua frente.
– Estou aqui, o que você quer que eu faça? – Coloco meus cabelos atrás da
orelha.
– Sente-se aqui! – Ele aponta para seu colo.
– Com muito prazer! – Sorrio e caminho para seu colo, enlaço seu pescoço. –
E agora?
– Agora quero beijos! – ele diz manhoso, me surpreendendo com seu jeito.
Deposito beijos molhados em seu rosto.
– Assim? – falo dengosa, esfregando meus lábios em sua orelha.
– Adoro isso, Jack! – ele diz manhoso.
– O que mais você gosta, Rui? – sussurro em seu ouvido.
– De te foder, Jack! – Suas mãos acariciam meus seios deliciosamente. – Que
pena que você não está muito bem hoje! – ele diz com seus olhos cheios de
desejo.
– Eu não estou doente, apenas estou com a torneirinha do meu útero aberta! –
falo debochada.
Ele dá risada.
– Você quer, Jack? – ele diz manhoso, beijando meu pescoço e me deixando
louca de desejo.
– Quero, Rui! – respondo de olhos fechados.
– Então, vamos subir, minha gostosa! – Ele me segura, me levantando em seu
colo.
Chegamos a seu quarto em segundos, ele me coloca sobre sua cama, se deita
sobre mim, tira minha camiseta e começa a beijar meu pescoço, seios,
barriga... e para!
– Rui, eu também quero beijar seu corpo.
Ele me olha sorrindo.
– Fique à vontade, minha deusa. – Ele se deita ao meu lado, me debruço
sobre ele e começo a depositar beijos em seu pescoço, tórax, barriga, até
chegar ao seu pênis, o envolvo com meus lábios e começo a enlouquecê-lo.
Ele puxa meus cabelos, enlouquecido de desejo.
– Quer que eu faça você gozar assim, meu homem gostoso? – falo sedutora.
– Não! Eu quero te foder, Jack! – Ele me puxa para junto do seu corpo. –
Sobe nele, minha deusa!
Estou tão excitada que não penso duas vezes, que se foda minha
menstruação.
Me esfrego deliciosamente em seu membro, e em segundos estou gozando
ruidosamente.
– Ai, que delícia, Rui!!! – gemo de olhos fechados, entregue completamente a
sensação de prazer.
Me deito sobre seu peito e ele vira nossos corpos de posição, agora em cima
de mim. Seus movimentos são fortes, duros, sinto um pequeno desconforto,
tento relaxar, ele continua, a dor aumenta, mas antes que eu possa avisá-lo,
ele explode de prazer.
– Ohhh, Jack, minha gostosa... Caralho!!! – Ele rosna. – Oh, que delícia,
Jack! – ele diz sem fôlego, e com um sorriso lindo no rosto. – Cada dia que
passa o sexo entre nós está melhor, sabia? – Ele me encara com um olhar
vivo, intenso.
– Sabia! – Acaricio seu rosto, seus cabelos, e me vem de novo aquela vontade
louca de dizer que amo ele! – Te adoro! – falo cheia de emoção.
– Eu também, Jack!
Sorrio para disfarçar minha decepção.
– Acho melhor você ir para o chuveiro, antes que a torneirinha comece a
vazar... – Ele dá risada.
– Então sai de cima de mim, garanhão! – Brinco com ele.
Ele sai, sigo apressada para o chuveiro e como esperado, lavo o banheiro de
sangue.
Estou odiando isso!
****

Estou dormindo profundamente, enroscada ao corpo do Rui.


Adoro esfregar minhas pernas em suas pernas peludas.
Ele é todo másculo, gostoso, e agora, só meu!
É madrugada quando as primeiras cólicas começam a dar sinal de vida, tento
ignorar, mas elas não são do tipo que se ignora.
Me encolho um pouco, mas a dor aperta, sento na cama e mal consigo chegar
até minha bolsa, pego o comprimido e tento engolir sem água.
Me agacho no chão, a dor vai para minhas pernas, suo frio e sinto arrepios e
náuseas, as dores realmente são de matar.
Sem querer, gemo de dor, e ouço a voz do Rui.
– Jack, o que você está fazendo aí no chão? – ele diz confuso.
– Estou com cólicas, já vai passar. Me deixe um pouco aqui – falo, sussurro e
gemo.
Estou de olhos fechados, então só sinto seus braços me levantando e me
colocando sobre a cama.
– O que eu posso fazer para te ajudar, Jack? – ele diz com agonia na voz.
– Eu já vou melhorar, eu já tomei o remédio! – Fecho os olhos e seguro mais
uma contração. – Odeio ser mulher! – Esbravejo.
Sinto seu corpo contra o meu, ele me abraça junto a seu peito e acaricia
minha barriga.
– Ajuda se eu fizer isso, Jack? – ele diz próximo do meu ouvido, beija meus
cabelos.
Sinto sua mão grande e macia massageando em círculos ao longo da minha
barriga, e isso me causa uma sensação boa.
– Ajuda, Rui! – sussurro com meus olhos cheios de lágrimas.
Ficamos abraçados, aos poucos as dores vão acalmando até que consigo
adormecer novamente.
Mas, durou pouco, o remédio não está fazendo efeito, e agora eu sei o
porquê, eu bebi, então possivelmente o efeito do medicamento foi cortado.
Não tenho mais nenhum comprimido em minha bolsa! – Penso desesperada.
Me levanto delicadamente para não acordar o Rui, e tento controlar a dor que
sinto.
Desço as escadas vagarosamente, sento no meio delas, espero a dor passar e
volto a descer até que chego à cozinha.
Vasculho a caixinha de medicamentos dele, mas não tem nada parecido com
o que tomo, mas também, aqui é a casa de um homem, homens não tem
cólicas, menstruação, e constato pela décima vez, papai do céu era machista.
Tomo dois comprimidos de um analgésico qualquer, estou me sentindo uma
viciada em analgésicos, sigo para sua sala, deito em seu sofá e aguardo a dor
passar... Mas, ela não passa!
Choro encolhida no sofá, e me amaldiçoo por não ter comprado mais uma
caixa desses comprimidos.
– Que dor dos infernos, meu Deus! – falo para mim mesma.
Me assusto com a claridade em meu rosto.
– Jack, o que está acontecendo com você? – ele diz com uma expressão de
preocupação.
– Eu preciso de remédio para minhas cólicas, eu não tenho mais nenhum, e os
seus não fazem efeito para mim! – respondo tentando manter a calma, mas
meu rosto está molhado de lágrimas.
Ele se senta no sofá ao meu lado e me abraça forte.
– Por que você não me acordou? – ele diz bravo.
– Não queria incomodar você!
– Vamos em algum hospital! Eu não entendo nada sobre o que você tem, mas
não consigo mais ver você assim. – Ele me pega no colo. – Vamos nos vestir.
Apenas me encolho em seus braços, só quero que alguém tire essa dor de
mim.
****

A caminho do hospital me contorço de dor e deixo o Rui desesperado.


– Calma, Jack! Já chegamos! – Ele sai do carro apressado, me pega em seu
colo e me leva para dentro do hospital. – Vou te deixar aqui um pouco, vou
conversar com a enfermeira.
Rosno um sim, e espero que isso não demore, pois acho que não vou mais
aguentar isso, acho que vou desmaiar.
Ouço a voz do Rui, mas minha visão e consciência estão longe, e de repente,
apago, e isso é maravilhoso.
Desperto aos poucos, não sinto mais nenhuma dor, e por um momento, tive
medo que tivesse morrido, mas o som de algumas vozes me faz abrir os
olhos, e então vejo o Rui e um médico conversando.
Tento me levantar, mas sou impedida por um cateter enfiado em meu braço,
olho e vejo uma bolsa de soro conectada a mim.
Estou me sentindo fraca, sonolenta.
– Rui! – o chamo, ele logo me olha e vem ao meu encontro.
– Oi, Jack! – Ele acaricia meus cabelos. – Você está melhor? – ele diz com
seu rosto tenso.
– Estou! – respondo meio confusa. – Estou me sentindo meio sonolenta.
– Bom dia, Jackeline! – Olho ao lado do Rui e vejo o médico.
– Bom dia! – falo meio rouca.
– Este é o Doutor Marcelo, ginecologista. – O Rui explica.
– Prazer! – falo desanimada.
– Jackeline, há quanto tempo você sente essas cólicas intensas?
– Eu sempre tive, mas acho que tem piorado com o passar do tempo! –
respondo cansada.
– O seu namorado disse que você também está com um sangramento
exagerado.
– Sim, é verdade!
– Injetamos em você um analgésico e um anti-inflamatório potente,
normalmente usamos esses medicamentos em pacientes que possuem uma
enfermidade chamada endometriose. Você já ouviu a respeito disso?
– Não, quero dizer, já ouvi, mas não sei o que é. – O Rui se senta ao meu lado
da cama e acaricia meus cabelos.
– A mulher com endometriose apresenta fragmentos do endométrio fora do
útero. Endométrio é a parte interna do útero, responsável pela menstruação.
Neste caso, o local mais comum de implantação dos fragmentos é a região
pélvica, onde ficam aderidos a uma ou mais estruturas, tubas uterinas,
ovários, bexiga, intestino e outros órgãos.
O olho preocupada.
– Eu tenho isso? – Engulo em seco.
– Pela minha experiência, eu posso afirmar que sim. Mas, para termos
certeza, você fará alguns exames de imagem.
– Eu devo me preocupar com isso? Quero dizer, é algo que irá me levar à
morte? – Minha respiração sai ofegante.
O Rui segura minha mão.
– Não, de jeito nenhum! – Ele sorri e eu também. – Mas a endometriose traz
algumas consequências.
– Como o que? – pergunto nervosa.
– Você precisará saber lidar com a dor, existem muitos medicamentos e até
cirurgia para isso, mas não existe a cura. Além disso, por volta de 30% das
mulheres com esse diagnóstico tem dificuldades de engravidar. Infelizmente,
a endometriose afeta geralmente os ovários, e isso pode provocar a
infertilidade da mulher.
Meus olhos enchem de lágrimas.
– Eu não conseguirei ser mãe, é isso? – sussurro com a voz embargada.
– Não temos certeza do grau da sua endometriose. Mas, não se preocupe
ainda, Jackeline. Vamos aguardar seus exames, para termos certeza do seu
diagnóstico. – Ele sorri.
Fecho meus olhos e tento processar as informações que recebi.
Eu não acredito que isso esteja acontecendo comigo.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
– Jack, ele não tem certeza, é só uma suposição!
Abro meus olhos e encontro os do Rui. Ele parece tão preocupado comigo.
– Ele parecia tão certo a respeito do diagnóstico! – falo aflita.
– Eles vão interná-la aqui por um dia, você fará alguns exames, tenho certeza
que nada disso será confirmado!
Olho para um ponto cego, perdida em meus pensamentos.
– Espero que sim! – respondo mais para mim mesma.
Capítulo 52
RUI FIGUEIREDO

E nquanto espero a Jack fazer seus exames, tento organizar minha vida
profissional.
Nunca estive numa situação como essa, sem secretária, sem recepcionista, e
ausente do escritório.
Sou um cara controlador, gosto de manter meu escritório sob meu controle.
Tenho dificuldades para delegar, melhorei muito, mas existem assuntos que
ainda controlo pessoalmente.
Então, em momentos como esses, percebo que preciso melhorar ainda mais,
pois se um dia eu tiver um problema qualquer, que me impossibilite de
trabalhar, eu estou fodido!
Ligo rapidamente para uma empresa de RH, e peço para enviar para meu e-
mail alguns currículos de recepcionista.
– Senhor Rui, quais as características para o cargo? – A atendente pergunta.
– Bom, tem que ter boa aparência, ser bonita, jovem, por volta dos 18 anos,
esperta, comunicativa, simpática e... loira! – Termino a frase e olho para a
Jack, ela está dormindo.
– Ok, irei selecionar algumas candidatas e envio para seu e-mail e do seu
gerente de RH.
– Perfeito. Obrigado!
Encerro a ligação, enfio minha cabeça entre minhas mãos e bufo cansado.
Meu Deus, eu nunca me imaginei envolvido com uma mulher tão
complicada.
A Jack foi um presentinho de Deus para mim, irresistível, encantadora,
sedutora e deliciosa, mas também uma caixinha de surpresas, em todos os
aspectos.
Não sei como ela reagirá ao saber o resultado dos exames.
Quero muito que ela não tenha essa doença, pois ela é muito mais complicada
do que eu esperava.
Enquanto ela dormia, e eu já sabia do diagnóstico pelo médico de plantão,
pesquisei na internet sobre o assunto, e fiquei preocupado.
Não sei qual será o nosso futuro, mas eu sei do seu sonho de ser mãe.
Não será comigo, mas poderá ser com outro cara.
A ideia de vê-la com outro homem me deixa nervoso.
Bufo irritado.
Ainda não quero pensar no fim do relacionamento que temos, é bom demais,
a gente realmente combina, e apesar das recentes brigas e da constatação que
a Jack tem uma personalidade forte pra cacete, eu não quero perdê-la.
Agora é pra valer, embarquei de corpo inteiro nesse relacionamento.
Até a pouco tempo, eu ainda estava brincando de namorar, mas agora percebi
que com a Jackeline isso não vai funcionar.
Ou eu a assumo, ou sumo da sua vida. Escolhi a primeira opção, e vou
cumprir com a minha palavra.
Acho que estava mal-acostumado, envolvido com mulheres fáceis e sem
personalidade. Conhecer a Jackeline me fez ver que existem mulheres pelas
quais vale a pena mudar.
Me sinto bem com minha decisão, não quero e não vou decepcioná-la.
A vejo se mexer na cama, estou no corredor para não acordá-la, então volto
para o quarto.
– Oi, bela adormecida! Já acordou? – pergunto ansioso.
É estranho ver o outro lado de uma pessoa, a Jackeline sempre me pareceu
uma mulher forte, decidida, e que não aparenta fragilidade.
Mas, hoje ela não está assim. Sinto medo em seus olhos, apreensão, ela está
frágil, ela precisa de mim!
Me sento ao seu lado da cama e acaricio seu rosto.
– Cadê o sorriso, Jack? – Ela sorri fraco.
– Estou cansada de ficar aqui, queria ir embora! – Ela desvia seus olhos de
mim desanimada.
– Agora falta só mais um exame! – falo para animá-la.
– Pode ir, Rui, você não precisa esperar. Aliás, você está fazendo tanto por
mim, não sei como te agradecer! – Ela segura minha mão.
– Pode deixar que sei como você pode agradecer! – falo malicioso,
arrancando um sorriso lindo de seus lábios. – Sua mãe ligou, eu atendi e
expliquei tudo.
– Ela deve estar preocupada!
– Não se preocupe, eu a tranquilizei.
– Obrigada! – Ela sorri fraco. – Já saiu algum resultado?
– Não. O médico virá até o quarto no final do dia, acho que ele trará todos os
resultados – digo apreensivo. – Vai dar tudo certo, Jack!
– Tomara, Rui! Não quero ter isso, tenho tantos sonhos! – Ela tenta disfarçar,
mas percebo as lágrimas que inundam seus olhos.
Ela está tão frágil!
– Ei, vamos pensar positivo! Mesmo que você tenha esse problema, existe
tratamento, não é como um tumor maligno, é só um presentinho de grego que
recebeu quando nasceu! – Tento sorrir, brincar com o assunto, mas de fato
quem é boa nisso é ela.
A Jack que gosta de se divertir com suas desgraças.
Ela enxuga suas lágrimas e tenta sorrir.
– Eu vou te ajudar, Jack, você não está sozinha! – falo emocionado, difícil
isso acontecer comigo, mas é fato que a dor da Jack se tornou a minha dor.
Não a quero sofrendo, farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-la.
– Assim eu choro mais! – ela diz com os lábios tremendo. – Me abraça, Rui.
Meu peito aperta.
– Claro, minha deusa, eu faço tudo que você quiser! – A abraço forte, como
se pudesse passar nesse abraço a força que ela precisa.
Não sei ao certo o que sinto pela Jack, é forte, é verdadeiro, mas não é amor!
É carinho, é afeto, vontade de cuidar, de tê-la comigo.
Não sei o que é amor, parece que nasci desprovido desse sentimento!
Nos afastamos, seguro seu rosto entre minhas mãos, deposito beijos por toda
a sua face, o gosto salgado de suas lágrimas inunda meus lábios, mas não
ligo, pois é bom demais estar com ela, mesmo que esse não seja o melhor dos
nossos momentos.
– Obrigada, Rui! – ela sussurra. – Eu... – Ela me olha intensamente. – Eu... –
A sinto titubear.
– O que foi? – A encaro curioso.
– Nada, só queria te agradecer por estar aqui comigo! – ela diz carinhosa.
Inclino-me sobre ela e cubro seus lábios com os meus.
A beijo sem pressa, sem a paixão que costumamos dividir um com o outro.
É só carinho, querer bem!
– Adoro essa boca, sabia? – digo próximo aos seus lábios. – Acho que não
consigo mais te beijar sem querer mais, eu até achei que conseguiria, mas não
consigo!
Ela sorri, me abraça forte e beija meu rosto.
– Você é o homem mais incrível que já conheci! – Ela volta a me olhar, olhos
brilhantes, e expressivos. – Mas, não se ache, pois também tem muitos
defeitos!
Gargalho, ela não dá ponto sem nó!
Um toque na porta e então uma enfermeira entra.
– Está pronta, Jackeline? Vamos fazer o último exame, então você estará livre
de mim! – A mulher diz simpática.
Ela se arruma na cama, mas a enfermeira pega uma cadeira de rodas.
– Você irá aqui, mocinha! Não posso tirar o soro ainda.
A Jack faz uma careta, o que me faz rir.
– Então tá, fazer o quê?
Sigo as duas pelo corredor do hospital.
Não nego minha apreensão, parece até que sou eu que sou o paciente.
Capítulo 53
JACKELINE BARTOLLI

S igo pelos corredores do hospital onde estou e sinto meu coração acelerado.
Acho que esse será o quinto exame que faço hoje. Agora farei o último e
talvez o mais importante, é uma ressonância da minha região pélvica, onde
essa maldição de doença costuma se espalhar.
Já rezei tanto para que eu não tenha essa tal de endometriose, que estou
exausta emocionalmente.
E se eu não puder ter filhos?
Não, não pensarei negativamente, como o Rui disse, esse problema tem
tratamento.
Penso no quanto ele está sendo companheiro comigo, seu carinho, atenção, e
a fortuna que está gastando!
Nunca conseguirei pagá-lo por isso!
Não sei o que seria de mim se não tivesse conhecido o Rui.
Agora, pensando bem, acho que os primeiros sinais dessa doença surgiram
em mim por volta dos meus 20 anos, não tenho certeza.
Nem sempre senti tantas dores, o que me assustava mais era o fluxo intenso,
cheguei a ter anemia, mas minha mãe achava que era porque eu vivia fazendo
regimes. A partir dos meus 25 anos, aproximadamente, as dores passaram a
ser insuportáveis, antes me deixavam de cama, mas minha mãe me tratava
com suas receitas milagrosas.
Sei lá, talvez eu tenha sido irresponsável em não ter me cuidado, mas é que
depois da morte do meu pai nossa situação ficou tão difícil, que evitei a todo
o custo gastar com coisas que não fossem necessárias.
Desde então, vem piorando, mas como eu não tinha uma assistência médica,
e o atendimento público é péssimo, não me cuidei direito, fui levando,
tomando remédios caseiros, analgésicos.
Mas, enfim, nada posso fazer em relação a isso, agora já foi!
Finalmente chegamos à sala de exame, um rapaz me leva até uma maca
grande, onde existe um aparelho enorme.
Ele me posiciona embaixo do aparelho, me dá algumas recomendações e o
exame começa.
Fecho meus olhos e tento pensar coisas boas.
Controlo minha respiração, estou quase ofegante.
Depois de longos minutos ele avisa que terminou e respiro aliviada.
Saio da sala de exames e encontro o Rui sentado em um banco, ele me olha e
sorri.
– Pronto? – ele diz com um sorriso.
– Sim, agora é só esperar o médico – respondo.
A enfermeira chega apressada, e nos interrompe.
– Vamos voltar para o quarto, Jackeline, o médico encontrará vocês lá! –
Sorrio para ela, e me contento em ser escoltada em uma cadeira de rodas até
meu quarto.
Me deito novamente na cama, o Rui se senta ao meu lado.
– Você está se sentindo bem, quer comer alguma coisa? Eu posso ir buscar na
lanchonete! – ele diz carinhoso.
– Eu não vi você comendo nada, Rui! – falo preocupada com ele.
– Fiz um lanche rápido na lanchonete, no jantar me alimento melhor! – ele
diz arrumando meu cabelo atrás da minha orelha. – Quer que eu compre um
pão de queijo? Eu sei que você adora! – Ele sorri.
– Não precisa, esse soro tirou minha fome. – Acaricio seu rosto, mas o seu
celular toca.
Ele olha para o display.
– Preciso atender, é do escritório! – Ele se levanta.
– Fica à vontade! – Me sento na cama, pego meu celular e ligo pra minha
mãe.
– Mãe, é a Jack!
– Jackeline do céu! Que agonia, filha! – ela diz apavorada, quero dizer,
minha mãe é sempre apavorada.
– O Rui não te explicou? – pergunto.
– Sim, mas eu precisava falar com você! Você está bem? Já fizeram os
exames? Esse rapaz é muito bom para você, preciso agradecê-lo
pessoalmente...
– Mãe, está tudo bem, mas ainda não tenho o resultado dos exames. Depois
te ligo para dizer, não sei se pedirei para o Rui me levar, ele está muito
cansado! – cochicho, o olhando falar freneticamente no corredor.
– Estou rezando para que não seja nada sério, eu também tinha essas
cólicas infernais, você puxou a mim, é só isso! – ela diz com simplicidade.
De repente me vejo pensando na minha mãe e na possível herança que ela
me deu.
– Mãe, por que você não teve outros filhos? – falo cuidadosa.
– Não consegui mais engravidar, você foi meu único presente de Deus! – ela
diz com seu jeitinho de mãe extremamente doce e meiga.
– Você não foi ao médico para ver isso? – falo incomodada.
– Não, no meu tempo não havia esses médicos todos e não tínhamos dinheiro
para essas coisas! Mas, por que você está perguntando isso?
Olho novamente para o Rui, e o vejo rindo no telefone, e por mais que não
queira, me vejo enciumada.
– Nada, é só curiosidade. Teria sido bom ter tido irmãos – falo com meu
pensamento longe. – Vou desligar, mãe, eu te amo! – falo emocionada.
– Eu também, querida! Se cuida e não se preocupe comigo e com as outras,
eu me viro por aqui, estamos bem.
Penso na vida de sacrifício da minha mãe, trancada dia e noite dentro
daquele apartamento, cuidando da minha avó e da minha tia. Sempre quis
dar a ela uma vida melhor, mas percebo o quanto isso é difícil, tudo se
resume a dinheiro, sempre ele.
– Tchau, mãe, manda um beijo para a vovó!
Desligamos a ligação.
Me ajeito na cama, olho para o Rui, agora ele parece checar suas mensagens,
e me vem àquela vontade louca de saber com quem ele se comunica.
Pode ser apenas profissional, mas...
Tento espairecer, pego novamente meu celular e checo as mensagens.
Vejo uma mensagem da Carolina e sorrio!
Abro seu contato e leio a mensagem.
“Jack, o escritório todo está falando do babado forte que houve entre você e
o Doutor Rui. Alguns mais exagerados juram que ele te colocou no ombro e
saiu te carregando para uma sala de reunião.”
Respondo sorrindo.
“Parece até mentira, mas foi verdade.”
A vejo digitando online.
“Meu Deus, me conta essa história!!! E a história da Karen, o que houve?
Ela sumiu e minha estagiária disse que ela foi demitida, e que você foi a
responsável por isso.”
Olho para o Rui, agora ele digita no celular.
Volto minha atenção a minha conversa com a Carolina.
“Carol, aquela piranhazinha estava querendo envenenar o Rui contra mim,
ela levou a dela.”
“Nem fala, odiava aquela garota, ela só tinha beleza, caráter nenhum.
Então, mas o que houve que vocês dois não vieram para o escritório?
Trepando até agora? Risos!”
Dou risada.
“Tive mais uma daquelas crises de cólicas, estávamos juntos, passei muito
mal e ele me trouxe a um hospital. Estou fazendo alguns exames, tomei uns
medicamentos, tipo sossega leão. Agora estou esperando os resultados,
parece que tenho endometriose. Você conhece isso?”
Aguardo enquanto ela digita.
“Já ouvi dizer, mas não sei nada sobre o assunto. Depois me conta, agora
fiquei preocupada.”
Respondo:
“Tudo bem. Depois conversamos. Um beijo.”
Ela responde:
“Outro, Jack.”
Volto meu celular para a mesinha de apoio do quarto.
O Rui está novamente falando no telefone, parece nervoso, gesticula muito.
E então um médico entra no quarto, me sento novamente com o coração na
boca.
– Jackeline Bartolli? – ele diz sério.
– Sim! – respondo ansiosa, olho para o Rui, ele está olhando para nós, mas
parece enrolado na ligação.
– Eu sou o ginecologista de plantão... – Ele mexe nos envelopes em suas
mãos. – Dei uma olhada em seus exames, e o diagnóstico de endometriose se
confirmou! – ele diz, mas eu já havia me conformado com o diagnóstico do
outro médico.
– E então? O outro médico havia dito alguma coisa sobre o grau.
O Rui entra na sala e cumprimenta o médico.
– Através da ressonância consegui ver muitos locais onde há endométrio
instalado, útero, trompas e ovários. Apenas com uma vídeolaparoscopia
teremos certeza do quando ele comprometeu seu órgão reprodutor, mas de
antemão, digo que a doença não atingiu órgãos importantes como o intestino
e bexiga, isso me deixa um pouco mais tranquilo.
Tento ver com otimismo o que ele disse.
– Recomendo que você procure seu ginecologista com urgência, para que ele
possa seguir adiante com o diagnóstico da doença, apenas com os exames de
imagem não conseguimos ter noção do quanto a doença comprometeu seus
ovários, por exemplo.
– Como assim? – pergunto preocupada.
– Somente com a incisão de uma câmara em seu útero, conseguiremos ver o
quanto o órgão reprodutor está realmente comprometido, em alguns casos é
necessário retirar os ovários, e até mesmo o útero. Existem casos em que o
risco de câncer no colo do útero é eminente, então a retirada do órgão é a
melhor coisa a se fazer.
Um bolo se forma em minha garganta e meu coração dispara.
Tento segurar as lágrimas, mas não consigo.
O Rui entra na conversa.
– Então, o que precisamos fazer para tratar a doença, evitar que piore?
– Claro. – O médico pega em sua mão algumas prescrições. – Aqui está o
nome do anticoncepcional que você deverá usar, ele ajudará a controlar o
fluxo, isso ajudará no controle da doença, e ajudará também evitar a
formação de novos cistos em seus ovários. Através dos exames pude notar
que você já tem esse problema. – Ele pega um novo papel. – Aqui estão os
nomes dos medicamentos que você usará quando estiver sentindo dor.
Me sinto em estado de torpor, angustiada, triste.
– Ok. – Pego os papéis.
– Procure um bom ginecologista para te acompanhar, eu deixei anotado aí o
nome de uma colega, ela é especialista no assunto. – Ele me entrega os
exames. – É muito importante acompanhar a evolução da doença e, se
necessário, intervir através de cirurgia.
Penso preocupada no problema que agora tenho em minha vida. Nunca mais
poderei ficar sem uma assistência médica.
Não quero e não posso ser dependente do Rui.
Oh, meu Deus, só peço que não me abandone! – Sinto meus olhos arderem.
– Você já está liberada, Jackeline! – Ele aperta minha mão. – Boa sorte!
– Obrigada! – Olho para o médico enquanto ele sai.
– Vamos, Jack? – O Rui me olha carinhoso. – O que você acha de tomarmos
um banho e sairmos um pouco para relaxar?
Penso em dizer que não quero, mas acho que isso me fará bem.
– Tudo bem! – Sorrio.
– Então, vamos! Tem um lugar ótimo que quero que você conheça.
****

Entramos em seu apartamento, e logo vejo o Bóris vindo atrás de mim.


O abraço forte e beijo, animais fazem bem quando a gente não está muito
legal. O Bóris está sempre por perto quando preciso dessa energia boa que ele
transmite.
– Tudo bem, menino? Passeou bastante hoje?– pergunto feito uma doida.
– Vem, Bóris! – Seu dono o chama, parece enciumado com o excesso de
atenção que ele me dá.
Ele acaricia o Bóris, joga a bolinha algumas vezes, e então me olha.
– Vamos subir, tomar um banho, e então saímos para jantar. – Ele me abraça,
beija meus cabelos. – Eu sei que você não está nesse clima todo, mas faz bem
sair um pouco, espairecer.
– Claro, eu quero sair sim, não adiantará nada ficar de velório! – Sorrio para
ele.
– Então, vamos... – Ele segura em minha mão e me conduz em direção as
escadas, entramos em seu quarto. – Pode tomar seu banho primeiro, eu vou
descer até o meu escritório, preciso responder a alguns e-mails, o sinal de
internet no hospital estava péssimo.
– Tudo bem! – Sorrio para ele.
Tiro minha roupa vagarosamente, além da notícia bombástica, ainda estou me
sentindo levemente drogada, os remédios que tomei são realmente fortes, me
deixaram com uma sensação de torpor.
Entro no box e vejo a poça de sangue se formar aos meus pés, e sinto um ódio
fora do normal de mim, do meu corpo.
– Porque fui nascer com isso? – falo em meio às lágrimas.
Termino o banho, coloco apenas a calcinha e o sutiã, não estou em clima de
sair, queria ficar sozinha, talvez em minha casa, com minha mãe.
Me enrolo na toalha, me deito na cama no Rui e deixo algumas lágrimas
rolarem livremente, preciso chorar para exorcizar a dor que estou sentindo.
Os minutos passam sem que o Rui suba, aquela névoa causada pelos
medicamentos começa a fazer efeito, não consigo controlar o sono que me
domina. Apesar de ter passado o dia cochilando, ainda assim me sinto
sonolenta e cansada, então, sem que eu me dê conta, adormeço
profundamente.
Capítulo 54
RUI FIGUEIREDO
lho para meu relógio de pulso, estou demorando muito, daqui a pouco a
O Jack irá desistir de sairmos.
Finalizo o que estou fazendo, fecho meu computador e me estico na cadeira.
Ok, Rui, você ainda tem mais uma tarefa difícil, animar a Jack, talvez fazê-la
esquecer um pouco tudo isso que está acontecendo em sua vida.
Acaricio um pouco o Bóris, por um milagre ele está comigo no escritório,
talvez porque a Jack tenha ido tomar banho, ele tem uma preferência por ela,
mas eu não me importo.
– Agora fica aqui, amigão. Eu vou namorar um pouco aquela mulher que
você adotou como dona – converso com o Bóris, só para não perder o
costume.
Subo as escadas, e como se ele entendesse minha língua, ele fica sentado no
final das escadas, me olhando com sua cara de bobo.
A porta do quarto está levemente encostada, entro e a vejo deitada em minha
cama.
Balanço minha cabeça, bufo cansado, o jantar não vai rolar.
Me aproximo um pouco, a vejo encolhida abraçada ao meu travesseiro, e sem
querer sorrio.
– Minha deusa, não sei como você conseguiu isso, mas a verdade é que não
consigo ficar longe de você!
Me sento ao seu lado e acaricio os contornos de seu corpo.
– Você é minha perdição, Jack – sussurro.
Estou louco de vontade de foder essa mulher, eu sei que seu estado não é dos
melhores, mas eu preciso disso.
Que se foda o seu estado!
Tiro minha roupa, a jogo no chão e me deito ao seu lado, encaixando meu
corpo a suas costas.
Cheiro sua pele e beijo seu ombro, onde aparece uma marca que deixei.
Estou sempre mordendo a Jack, pareço cachorro, porra!
Beijo seus cabelos, sua orelha.
– Jack! – cochicho em seu ouvido.
Ela se mexe.
– Rui, me desculpa, eu peguei no sono! – ela diz sonolenta. – Eu vou me
arrumar.
Beijo seu pescoço.
– Não, vamos ficar aqui, acho que você não está muito bem para sair! –
Acaricio sua barriga, ela geme como uma gatinha.
Sigo com minha mão até o fecho do seu sutiã, o abro e tiro ele.
Acaricio seus seios macios e volumosos, adoro os seios da Jack, aliás, eu
adoro tudo nela, seu corpo cheio de curvas, seus excessos, seu cheiro, a
maciez da sua pele.
Ela não é o estereótipo de mulher que sempre sai, mas ela me enfeitiçou, não
consigo mais ver graça nas outras, só nela.
Beijo e cheiro suas costas, seu pescoço.
– Você me deixa louco de tesão. – Esfrego minha ereção em seu bumbum
grande e gostoso.
Desço minha mão em direção a sua buceta, acaricio seu clitóris, ela geme
baixo.
– Oh, Rui!
– Você gosta assim, Jack? – falo em seu ouvido, chupo, mordo seu pescoço,
ela me deixa louco de tesão.
– Gosto! – ela sussurra.
– Pede para eu fazer mais.
Engulo sua orelha, minha vontade é morder a Jack inteira.
– Eu... quero... hummm... Oh, Rui!!! – Sua voz sai ofegante.
– Fala, Jack: eu quero mais, Rui! – cochicho em seu ouvido, paro de
estimulá-la.
– Eu quero mais, Rui! – Sorrio ao perceber seu desespero.
Volto a estimulá-la.
– Assim, minha gostosa? – Mordo seu ombro.
– Aiii! – ela reclama. – Isso, assim... – ela diz ofegante, aumento os
movimentos, ela geme alto, se contorce, se estica como um cobra e goza.
– Goza, Jack, isso, minha deusa, goza para o seu homem. – Estou insano de
desejo de me enterrar em sua buceta. – Eu quero te foder, Jack, você está com
aquele troço? – Desço um pouco minhas mãos, retiro sua calcinha, e acho o
cordão que sai de sua buceta, e sem maiores cerimônias o puxo.
– Rui! – Ela me olha assustada, mas caralho, eu não tenho nojo de mulher, de
menstruação, eu deveria ter sido um ginecologista.
Me levanto rapidamente, descarto aquele troço no vaso sanitário e em
segundos estou de volta.
– Rui, você não deveria ter feito isso! – ela diz incrédula.
– Feito o que, minha deusa? – Mergulho minha boca em seus seios, e encerro
o assunto.
O tesão que estou não me deixa prosseguir muito com as preliminares,
estamos há muito tempo sem sexo, quero dizer, muitas horas, e isso é muito
para mim. Então, não consigo me segurar, eu preciso me enterrar logo dentro
dela.
Seguro suas mãos no alto de sua cabeça, adoro dominá-la, e olho em seus
olhos, ela fica linda quando fazemos sexo.
Enfio vagarosamente meu pau dentro dela, preciso sentir gentil com a Jack.
– Eu vou fazer devagar, minha deusa, eu não vou te machucar! – falo olhando
em seus olhos, ela nos meus.
– Você nunca me machuca, Rui! – Ela fecha os olhos. – Me beija! – Sua boca
fica entreaberta, linda, deliciosa.
– Que boca linda que você tem, Jack! Você é toda linda! – Me movimento
vagarosamente. – Minha gostosa! – Mais uma estocada. – Sou louco por
você, Jack! – Beijo-a com vontade.
Mais uma estocada, vagarosa, estou me segurando para ser gentil, eu sei às
vezes sou bruto, mas não hoje, ou enquanto ela estiver assim.
– Oh, Rui! – Ela se mexe contra meu pau.
– Você quer mais, Jack? – falo num rosnado, ela não sabe o que faz comigo.
– Quero mais forte, não gosto assim! – ela diz e dou risada, eu quero ser
gentil, mas ela não me deixa.
– Assim, minha delícia? – Faço um movimento forte, me enterrando inteiro
dentro dela.
– Ahhh! – Ela geme. – Issooo!!!
– Oh, Jack! – Enlouqueço, e esqueço a história de ser gentil e fodo forte, e em
segundos chego ao orgasmo. – Oh, caralho, Jack!!!
Fico de olhos fechados, meu coração querendo saltar pela boca.
Solto suas mãos, ela me abraça e me beija feito uma alucinada.
– Calma, Jack! Estou sem fôlego! – Reclamo, ela é uma taradinha deliciosa,
pena que não podemos foder a noite inteira.
Ela me olha sorrindo.
– Foi delicioso, Rui!
– Para mim, também! – digo rindo feito um bobo, ela me deixa assim. – A
gente precisa de um banho, a coisa deve estar meio complicada. – Faço uma
careta.
Saio vagarosamente de dentro dela, olho e vejo o mundo ficar vermelho.
Caralho, nunca vi nada igual!
– Ok, Jack, não sai daí, eu vou pegar uma toalha, a situação está pior do que
eu pensava! – Me levanto e saio apressado para o banheiro.
Cacete, a empregada vai achar que estripei alguém em minha cama.
Levo a toalha para ela.
– Desculpa, Rui, eu arrumo tudo isso! – ela diz apressada, sem graça, indo
para o banheiro.
– Jack, está tudo bem, eu vou levar os lençóis para a lavanderia, qualquer
coisa eu me machuquei – falo para acalmá-la.
– Nossa, que tipo de machucado faz isso? Talvez um pênis decepado? – ela
diz divertida.
Seguro meu pau entre minhas mãos.
– Não fala isso, nem de brincadeira, Jack! – Saio carregando os lençóis para a
lavandeira.
Porra, essa mulher é meio louca, preciso tomar cuidado com o que faço, caso
não queira ter meu cacete tirado fora.
****

Me sento com a Jack na mesa de jantar, a empregada já deixou nosso café da


manhã pronto.
A Jô entra com meu café expresso na mão.
– Aqui está, Doutor Rui! – ela diz atenciosa como sempre.
– Bom dia, Jackeline! Tudo bem? – Ela cumprimenta a Jack, já percebi que
ela está puxando o saco da Jack.
Realmente, não é muito normal uma mulher passar tanto tempo na minha
casa. Acho que nem mesmo a Priscila dormiu tantas vezes no meu
apartamento.
– Tudo, Jô! E você? – Elas trocam gentilezas, mulher é tudo igual.
– Eu vi os lençóis estendidos no varal. Não precisa se preocupar, Jackeline,
estou acostumada a lavar as coisas do Doutor Rui! – A empregada diz, a Jack
se engasga e dou risada.
– Oh, claro! – A Jack diz sem graça, pega sua xícara e bebe seu café com
leite apressada.
Olho enquanto a empregada sai, ela está vermelha, e então falo:
– Em que momento você foi lavar os lençóis? Eu não vi – digo enquanto
bebo meu café.
– Logo que você dormiu. Eu te enganei, não poderia deixá-la lavar os lençóis,
a toalha, é contra meus princípios – ela diz de uma forma engraçada.
Apenas dou risada, a Jack é diferente de qualquer outra mulher que eu tenha
conhecido e ponto.
****

Chegamos ao escritório, é estranho não ver a Karen na recepção, eu já estava


acostumado com aquela tentação todos os dias, mas ao mesmo tempo, sinto
um alívio.
Seguimos de mãos dadas em direção ao andar superior, é bom ter a Jack
novamente no escritório.
É estranho como ela conseguiu se tornar parte da minha vida em tão pouco
tempo.
Eu poderia estar enjoado dela, mas não enjoei.
Também poderia estar incomodado por passarmos tanto tempo juntos, mas
isso também não me incomoda.
Chegamos a sua sala, beijo seus lábios, sua testa.
– Preciso escolher algumas candidatas para o cargo de recepcionista, depois
passo o telefone delas para você marcar uma entrevista – falo enquanto sigo
para minha sala.
– Tudo bem! – Ela sorri e se senta em sua mesa. – Daqui a pouco arrumo sua
sala.
– Não precisa, Jack. Hoje você precisa trabalhar muito, tem coisas pra cacete
para você fazer. – Sorrio e sigo para mais um dia.
****

Finalmente o dia termina.


Acho que preciso de férias, não aguento mais ficar analisando processos,
audiências, estou de saco cheio de tudo isso. – Penso alto, sozinho na minha
sala.
Relaxo um pouco na minha cadeira, seleciono o ramal da Jack.
– Vem aqui, minha deusa, estou com saudades de você!
Caralho, isso soou tão meloso!
– Já estou indo, chefinho! – ela diz com sua voz doce.
A porta abre, e vejo aquela mulher linda vindo em minha direção.
– Senta aqui, Jack! – Aponto para meu colo. – Quando acaba essa merda de
menstruação? Não aguento mais essa seca de sexo! – Beijo seu pescoço.
– Mais alguns dias, Rui!
– Ok... – Sorrio para ela, penso um pouco, não quero parecer grudento, mas
estou sendo grudento, caralho! – Você vai comigo para o meu apartamento?
Ela acaricia meus cabelos, me olha, e eu já sei o que ela irá dizer.
– Preciso ir para minha casa, minha mãe está ansiosa para saber como foram
os exames, enfim...
– Tudo bem! – falo, mas não é isso que sinto, mas é melhor assim, preciso me
distanciar um pouco da Jack, estou precisando respirar um pouco, ficar longe
dela.
– Posso ir agora? Demoro um pouco para chegar em casa. – Ela deposita
beijos pelo meu rosto.
– Não faz isso, Jack. – Coloco sua mão sobre meu pau, ele está duro, ereto e
louco por ela.
Puxo seu rosto para junto do meu e a beijo profundamente.
– Até amanhã, Rui! – Ela se afasta, levanta e sai caminhando vagarosamente
em direção à porta.
– Toma cuidado, Jack – falo a vendo sair.
Ela para na porta e me manda um beijo.
– Boa noite! – ela diz.
– Boa noite!
Ela fecha a porta e tento voltar ao que estava fazendo, mas não consigo.
Então, sem ter muito controle sobre minhas atitudes, me levanto de
sobressalto, e caminho apressado até a porta.
– Jack! – Ela está nas escadas, volta e me olha surpresa. – Eu vou te levar.
Ela me olha surpresa.
– Não precisa, estou acostuma...
Não a deixo terminar a frase.
– Vou pegar minhas coisas! – Volto para minha sala, fecho os olhos, e
concluo que estou mais fodido do que imaginava.
****

Estaciono o carro em frente ao seu apartamento.


– Pronto, Jack! Entregue! – Sorrio.
– Obrigada, Rui, mas não precisa fazer isso. Já estou acostumada, não me
incomodo de andar de transporte público!
– Mas eu me incomodo! – Seguro seu pescoço, a beijo com vontade, eu
realmente não queria que nossa noite acabasse ainda.
– Quer subir? – ela diz quando afastamos nossos lábios.
Eu realmente gostaria de subir, mas não posso, melhor não.
– Não, não precisa. Amanhã a gente se vê. – Um último beijo, mas logo me
forço a deixá-la ir, essa carência não está legal.
– Tchau! – Ela me beija de novo. – Obrigada!
Ela sai do carro, e fico aguardando enquanto ela entra em seu prédio.
Ainda permaneço alguns minutos parado em frente ao seu prédio, e então
decido, vou dar um carro de presente para a Jack, é isso.
****

Saio da loja de automóveis próximo a minha casa, e a única certeza que tenho
é que nunca dei um presente tão caro para uma namorada.
Está saindo meio caro esse namoro! – Penso alto, dirigindo em direção ao
meu apartamento.
Depois de alguns minutos, estou de banho tomado, toalha na cintura, deitado
em minha cama, sem a menor noção do que fazer.
Zapeio a televisão, olho alguns programas, mas por fim, desisto, estou me
sentindo meio perdidão.
Eu poderia ligar para o Carlão, mas aí me lembro de que ele vai querer ir a
algum puteiro, e não estou a fim.
– Ok, você tinha uma vida antes de conhecer a Jackeline, que tal voltar a ela?
– falo comigo mesmo. – Tipo o que?
Não estou a fim de me exercitar, mas estou precisando, não treino há
praticamente um mês, o personal trainer já até desistiu de me ligar.
– Tudo bem, vou correr um pouco na esteira! – Coloco uma roupa
confortável e desço para a minha academia particular, que fica num espaço ao
lado da área de lazer.
Uma hora e meia de corrida e o resultado sou eu, o chão e a esteira
encharcados de suor.
Sigo até um dos aparelhos, exercito um pouco os braços, tórax, e finalmente
paro.
– Estou morto, Bóris! – falo com o cachorro, que se deitou ao meu lado. –
Vamos lá, Bóris, preciso tomar um banho e jantar, depois a gente pode ligar
para a Jack. – Penso um pouco. – Não, lembra a história de macho carente?
Então, acho melhor não, amigão.
Capítulo 55
JACKELINEBARTOLLI

S ubo no elevador entorpecida pelos beijos do Rui, é uma pena que ele não
tenha aceitado subir, teria sido muito bom, aliás, essa história de vivermos
grudados um ao outro está fazendo um estrago enorme.
Não consigo mais ficar longe dele!
Às vezes, o sinto carente, sei lá, o Rui não combina muito com essa
definição, mas quando nos despedimos, o senti tão carente de mim!
Balanço minha cabeça!
– Não veja coisas onde não existe, Jackeline! O cara não é capaz nem de
dizer um “te adoro” para você. – Penso alto.
Ok, ele diz que é louco por mim, mas acho que é sexualmente.
Tudo se resume a tesão, sexo, desejo carnal.
Estamos juntos há praticamente um mês, num relacionamento intenso, nos
vemos todos os dias, passamos o dia juntos, quase todas as noites, e até os
finais de semana, mas não o sinto entregue de corpo e alma.
A gente se curte, se dá bem na cama, nos divertimos, rimos, mas
relacionamentos não são feitos só disso.
Balanço novamente minha cabeça.
– Vá com calma, Jack! – falo para mim mesma.
Talvez, todas as notícias a respeito da minha saúde tenham me deixado para
baixo.
É bom estar com ele, mas não teremos um futuro juntos, será sempre assim.
Ele não quer nada mais sério, e eu, talvez não tenha muito tempo para
enrolar, não sei quanto tempo tenho ainda para conseguir engravidar, se é que
engravidarei.
Chego ao meu andar, pego minha chave e entro.
– Jack! – Minha mãe vem apressada me receber.
– Oi, mãe! O que foi, tudo bem? – Estranho seu jeito.
Ela me empurra para a cozinha.
– A senhora está esquisita, o que foi? – digo preocupada.
– Advinha quem está aí – ela diz desanimada.
– Quem, mãe? – A imagem do Renato vem a minha cabeça, mas isso não faz
sentido.
– O Renato! – Ela cochicha. – Eu o coloquei em seu quarto, porque sua tia e
sua avó começaram a falar umas besteiras, então achei melhor deixá-lo lá.
– No meu quarto, mãe! – A olho aborrecida.
– É, não tinha outro lugar! – Ela faz cara de coitadinha.
– Tá bom, vou conversar com ele! – Sigo para a sala, antes beijo o rosto de
minha avó, minha tia. – Tudo bem, meninas? – falo para disfarçar.
– Estou de namorado novo lá no salão, Jackeline, ele é um homem lindo,
lembra seu namorado, o... o... como ele chama mesmo, Reginaldo? – Faço
uma careta.
– Rui, tia! Que bom, espero que agora dê em casamento, vou adorar ser sua
madrinha.
Me sento ao lado da minha avó.
– Tudo bem, vovó? – Acaricio seus cabelinhos brancos.
– Querida, o magricelo loiro está aí, mas não dê muita atenção a ele, o outro
moço é muito melhor, que homem, minha neta! Você viu o tamanho dele,
Amélia? Eu o vi pelado, e o negócio dele me assustou, filha. – Tampo a boca
da minha avó.
– Vovó, por favor, não fale essas coisas, é muito chato! – cochicho.
– Chato é ficar velha, quem me dera ser jovem e ter um homem daquele, não
sairia do quarto com ele. – Ela dá uma gargalhada. – Infelizmente, o seu avô
não era bem-dotado, o negócio dele era muito pequenino! – Ela faz uma cara
feia, mede com os dedos o tamanho.
Olho para minha mãe e ela parece desconsolada.
– Oh, meu pai! Ela está cada dia pior, Jack! – Minha mãe coloca a mão na
cabeça.
– Vovó, eu preciso ir falar com ele.
– Não esqueça o que eu disse, Jackeline, não dê atenção a esse pau de virar
tripa! Ele tem cara de que tem pinto pequeno. – Saio rapidamente da sala,
respiro e abro a porta do meu quarto, e vejo o Renato sentado em uma
poltrona, lendo um de meus livros espíritas.
Ele se levanta constrangido.
– Desculpe, eu só estava dando uma olhada, sua mãe pediu para te esperar
aqui! – Ele diz humilde, daquele jeito que o deixei da última vez.
Não gosto de vê-lo assim, queria ver o Renato de antes, ogro, sem educação.
– Oi, Renato! – Fecho a porta. – Você deveria ter me avisado que viria aqui.
Ele me interrompe.
– Se eu avisasse, você não viria para casa, me evitaria.
– Desculpe... – Olho para o chão. – Você está bem, o que houve? – falo
constrangida.
– Sobrevivendo, sinto sua falta, de um jeito que não achei que sentiria! – Ele
me olha entristecido, ele continua com sua expressão de desolação, e isso me
deixa mal.
– Renato, por favor, segue adiante, será melhor para nós dois.
– Para mim, não, talvez para você! – Ele me olha de cima a baixo. – Você
está diferente, parece que o cara está te comprando com roupas, talvez joias
também.
Enrugo minha testa.
– Você está me chamando do que, interesseira? – falo com raiva.
Ele esfrega seu rosto.
– Não, desculpe, não vim aqui para fazer isso. – Ele se aproxima de mim. –
Eu queria te ver, saber se você está bem, penso demais em você, e sonhei
esses dias com você, não foi um sonho muito bom, então queria ter certeza
que você está bem.
Meu coração aperta, sempre fomos muito conectados, ele sempre sabia
quando eu não estava bem.
– Descobri que tenho uma doença no útero, chama-se endometriose! – Me
sento na cama.
– Eu tenho uma funcionária que tem isso, é um pouco grave... – Ele me olha
preocupado. – Você está bem?
– Tenho sentido muitas cólicas, muito sangramento. Mas você já sabia disso,
lembra? – digo sem graça.
– É verdade, me desculpe, nunca desconfiei que fosse o que a Luiza tem, ela
se ausenta dias do trabalho, você sempre foi tão forte, aguentava firme.
Sorrio.
– Acho que sou resistente à dor, mas esses dias tive uma crise muito séria, o
Rui me levou ao hospital... – Olho para ele, ele desvia o olhar de mim. – Fiz
alguns exames e então chegaram ao diagnóstico.
– Você e o playboy continuam juntos? – Ele parece tão magoado comigo.
– Sim! Estamos namorando, Renato.
– Duvido que seja pra valer, ele não é o tipo de cara que leva uma mulher a
sério – ele diz com ódio no olhar.
– Talvez você não o conheça tanto quanto acha conhecer, vocês só se viam
no elevador – falo com ironia.
– Conheço as pessoas, sou um líder de equipe, não preciso de muita coisa
para saber que tipo de cara ele é, mas, você não é uma menina tola. – Ele se
levanta. – Eu trouxe um presente para você. – Ele tira um pacote de uma
sacolinha. – É igual ao da minha mãe, você sempre disse que queria um colar
igual aquele.
– Oh, Renato... – Sinto meus olhos encherem de lágrimas.
Ele não fez isso!
Eu sempre adorei um colar que sua mãe carregava na garganta, era uma joia
de família, mas era lindo. Apenas um colar de ouro branco, e uma pedra
lapidada chamada malaquita.
Sua mãe dizia que tinha recebido de sua bisavó, e que ela tinha propriedades
de cura, fortalecimento espiritual, e mais algumas coisas que não me lembro.
Ele pega o pacote, vejo uma caixa de veludo vermelha, ele a abre, e lá está o
colar mais lindo do mundo.
Nunca gostei de joias, mas essa é especial, não sei dizer, sempre me fascinei
com essa joia de sua mãe.
Duas lágrimas caem dos meus olhos, por que ele está complicando ainda
mais as coisas?
– Renato, eu não posso aceitar – digo sem querer magoá-lo.
– Eu sei que demorei em te dar isso, mas é que nunca encontrei essa pedra,
mas recentemente um amigo foi para Tailândia, pedi para ele ver se achava, e
então ele trouxe. – Ele pega o colar em suas mãos. – Aceita, Jack, não estou
pedindo nada em troca.
– Eu não mereço... – As lágrimas escorrem pelo meu rosto, estou
emocionalmente frágil, e ele não está me ajudando em nada com isso.
– Merece sim. – Ele sorri. – Pelo tempo que me aguentou, sou um cara
complicado, eu sei disso – ele diz um pouco amargo. – Não sei se encontrarei
alguém que me entenda como você me entendeu, Jack!
Respiro fundo, não sou completamente imune as suas palavras, eu só queria
que fôssemos compatíveis na cama, sinto muito carinho por ele.
Ele se aproxima mais e mais.
– Dá licença – ele diz com seu olhar de menino tímido e coloca o colar em
meu pescoço. – Ficou lindo em você, o verde combina com a cor da sua pele.
Passo meus dedos pela pedra.
– Obrigada, Renato! – Enlaço seu pescoço com meus braços e o abraço forte,
e sinto seus braços em minha cintura, num abraço cheio de sentimentos.
Ficamos assim por alguns segundos, mas não quero que ele confunda as
coisas, então me afasto, seco as lágrimas do meu rosto.
– Obrigada, de verdade! Não vou mais tirar do meu pescoço – digo de
coração.
– Espero que não esconda por causa daquele cara. – Ele cerra suas
mandíbulas.
– Não! Nenhum homem me põe medo, Renato! – digo decidida.
– Eu sei disso, talvez você coloque medo nos homens, não o contrário! –
Sorrio com sua piadinha. – Quer sair para jantar? Imagino que você não
comeu ainda.
Oh, meu Deus, como ele é insistente! Eu não conhecia esse lado do Renato.
– Eu estou muito cansada, e as cólicas já começam a dar sinal de vida, então,
vou tomar meu remédio e me deitar, amanhã acordo muito cedo.
Ele levanta a mão, acho que está cansado das minhas ladainhas.
– Ok, não precisa ficar se explicando, eu já vou! – Ele me olha intensamente.
– Tudo bem, vou te levar até a porta. – Viro nos calcanhares e saio andando
rapidamente até a porta.
Passo pela sala como um furacão, não posso dar chance das minhas idosas
dizerem alguma besteira.
O espero no meio do corredor dos elevadores, aperto o botão do elevador e o
sinto parar a minha frente, a milímetros de distância.
Olho para cima, sem graça com a situação, e então ele me beija, e eu permito
pela segunda vez.
Mas as borboletas na barriga, assim como a moleza nas pernas e os
batimentos cardíacos acelerados não acontecem.
Me afasto rapidamente e o elevador abre.
– Obrigada, Renato, o colar é lindo!
– Te amo, Jack, e se você me permitir, eu continuarei sendo seu amigo. – Ele
entra no elevador. – Mudei de prédio, estou em outro endereço, se quiser
conhecer meu novo apartamento, me liga. – Ele pressiona o botão, fazendo a
porta se fechar.
Encosto na parede, e fico alguns minutos olhando para o teto.
Minha vida seria tão mais fácil se eu estivesse com ele, ele quer casar
comigo, quer ter filhos.
Será que vale a pena eu continuar nesse relacionamento com o Rui?
Ele é apaixonante, carinhoso, atencioso, mas não pode me oferecer o que
quero!
Mas eu os sentimentos, o que faço com eles?
Talvez eu devesse ser prática, objetiva e fria, como o Rui.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto.
– Não sei o que fazer, eu só queria ser mãe, eu quero muito ser mãe, será que
é pecado querer tanto assim? – falo comigo mesma.
– Jack! – Desperto dos meus pensamentos.
– Oi, mãe!
– Vamos jantar? Estou aflita, quero saber sobre o resultado dos exames, filha.
Sigo até ela.
– Tudo bem.
– Que colar é esse? Que coisa mais linda, filha! Foi o Rui que te presenteou?
– Ela segura a pedra entre seus dedos.
– Não, foi o Renato!
Ela larga a pedra e me olha.
– O Renato? – Sua expressão não nega sua surpresa.
– É! Estranho, não é mesmo? – Sigo para o interior do apartamento.
– Ele está usando todas as armas para te ter de volta, não esperava isso dele,
sempre foi tão desligado, esquisito – ela diz com uma careta.
– Às vezes, uma separação, um namorado novo, causam mudanças que não
esperávamos. – Penso um pouco.
Passo pela sala.
– Jackeline, o que é isso em seu pescoço? – Giro meus olhos ao ouvir minha
vovozinha gagá me chamando.
– Nada, vovó, é só um colar. – Penso em seguir para meu quarto, mas ela se
levanta e vem ao meu encontro.
– Me deixe ver isso. – Ela olha atenta para a pedra. – Quem te deu isso, foi o
loiro sarnento?
Reviro meus olhos.
– Vovó, não fala assim dele! Sim, foi ele. – Tento sair, mas ela não me deixa.
– Isso aqui tem cara de macumba para atrapalhar sua vida. Tira isso, não
deixe esse fedelho estragar seu relacionamento com aquele moço bonito! –
Ela olha para minha mãe. – Amélia, eu já te disse que vi o bilau do rapaz, é
enorme. – Tampo meus ouvidos e sigo para o meu quarto.
– Jesus, minha avó está cada dia pior.
****

Termino de colocar meu tailleur, me olho no espelho e acaricio a pedra do


colar. A blusinha regata creme realçou a cor da pedra, o verde ficou vibrante.
Não consegui mais tirá-lo, estou fascinada por ele.
Existem poucas coisas materiais que eu queria tanto, e esse colar era um
deles.
O que irei dizer para ao Rui sobre ele?
A verdade?
Torço meus lábios.
Não sei se ele entenderá, então posso apenas dizer que foi um antigo presente
do Renato.
É isso, contarei meia verdade.
O caminho até o escritório foi especialmente tranquilo, desço do ônibus e
caminho vagorosamente em direção ao escritório, passo em uma cafeteria,
tomo um café com leite e como um pão de queijo rapidamente, e finalmente
sigo para o escritório.
Me surpreendo ao chegar e ver o carro do Rui estacionado.
Ele chegou cedo hoje!
Sorrio, porque apesar das coisas que pensei ontem, eu o adoro, e estou louca
de saudades dele.
Abro o portão que ainda está trancado, abro a porta e subo as escadas.
O cheiro do seu perfume segue durante todo o caminho, e parece um imã que
me leva a ele.
Coloco minhas coisas sobre minha mesa, bato na porta e entro.
Ele me olha por cima de seus óculos.
– Bom dia! – falo sorrindo.
Caminho até ele, e como se eu revivesse o passado, o vejo mastigando a haste
de seus óculos, e me olhando com seu sorriso enigmático.
– Bom dia, minha deusa! – Ele vira sua cadeira de lado, me segura pelo
bumbum trazendo meu corpo para junto do seu, me inclino sobre ele e o
beijo, e é tão diferente do beijo do Renato.
Acaricio seus cabelos, olho nos seus olhos, queria tanto dizer que o amo, mas
não posso, não quero, eu preciso ouvir primeiro dele isso.
– Tudo bem? – ele diz me encarando.
– Tudo, e você? – Ficamos nos olhando, e é estranho, parece que nós dois
estamos num compasso de espera.
– Tudo bem... – Ele se afasta de mim. – Que colar é esse, nunca te vi usando
nada no pescoço, é novo? – Ele enruga a testa, e meu coração dispara.
Ele é muito observador, não imaginava que perceberia tão rapidamente.
– Não, eu o tenho há algum tempo, foi um presente. – Desconverso, sigo para
suas janelas. – Posso abrir?
– Pode sim. – O vejo se levantando, ele me abraça pelas costas, beija meu
pescoço. – Quem te deu?
Um gelo passa pelo meu estômago.
Eu não conheço o Rui tanto assim, mas eu já percebi que ele é bem
possessivo.
Mas, não quero mentir, então falo a verdade.
– Foi o Renato! – digo e no mesmo momento ele se afasta de mim.
– Por que você está usando um presente de seu ex-namorado? – ele diz
irritado.
– O objeto não tem culpa de quem o deu, eu adoro esse colar, não vejo
problema de usá-lo! – falo incisiva.
– Eu vejo! – ele diz com sua cara brava, e de homem mandão.
– Eu não vejo! – Sigo para a próxima janela.
– Tira ele, Jack! – ele diz autoritário.
Respiro fundo, fecho meus olhos, e inspiro.
– Não consigo entender por que eu deveria tirá-lo. – O olho seriamente. –
Você deve ter presentes que ganhou da Priscila e que ainda usa, talvez uma
gravata, uma camisa, eu não vejo problema nisso.
– Não uso nada que ela me deu, a Priscila tinha gostos bem esquisitos,
provavelmente eu já dei para a empregada. – Ele enruga sua testa. – Não
quero que você use nada que aquele cara te deu.
Ele segue para sua mesa.
– Rui, me entenda, eu amo esse colar, não porque ele me deu, mas porque
adoro essa pedra.
Céus, por que esse carnaval todo por causa de um colar?
O Rui é tão complicado de vez em quando.
– Vamos a uma joalheria do shopping na hora do almoço, eu vou comprar um
colar para você com essa pedra!
Dou uma risada louca.
– Não, as coisas não funcionam assim comigo. – O encaro. – Eu sei que você
tem dinheiro, pode comprar quase tudo que quiser, mas eu não estou à venda
– bufo irritada. – Estou feliz com esse colar, não quero outro.
Sigo para a próxima janela, mas ele me interrompe, me puxa pelo braço e me
faz olhá-lo.
– Se você gosta de mim e respeita o fato de estarmos juntos, você irá tirar
esse colar, porque ele é um presente de seu ex-namorado – ele diz bravo. –
Normalmente eu não precisaria te dizer isso, você deveria saber que nenhum
homem aceitaria isso. Guarde isso, e dê para uma filha quando você tiver.
O encaro por alguns minutos.
– Talvez eu não tenha filhos, e muito menos filhas, e não terei sobrinhos, nem
sobrinhas, não tenho irmãos.
Ficamos nos encarando por segundos intermináveis.
– Por favor, Jack, não seja uma pessoa tão teimosa, nenhum cara aceitaria
isso, acredite em mim!
Solto o ar que estava segurando, ele me deixa muito nervosa.
– Ok! – Abro o fecho do colar rapidamente, o pego na mão e saio andando
para a porta, mas novamente sinto sua mão em meu braço.
– Não fica brava comigo! – Ele enfia seus dedos entre meus cabelos, acaricia
minha nuca. – Minha oncinha... – ele diz sorrindo. – Eu vou te dar um colar
com essa pedra, você não precisa usar esse. – Ele beija meu pescoço me
fazendo fechar os olhos. – Eu não quero brigar, Jack. – Ele me aperta em seus
braços, procura meus lábios e me beija de um jeito que vejo estrelinhas.
Acho que nunca conhecerei alguém que me faça sentir o que sinto com o Rui,
essa sensação é única, e boa demais!
– Eu não quero outro colar! – falo contra seus lábios.
– Mas eu vou te dar. – Ele me beija de novo.
– Eu não quero! – Paro de beijá-lo e o encaro.
– Por favor, Jack, como você é difícil. – Ele se afasta de mim. – Toda mulher
gosta de ganhar presentes. – Ele se senta em sua cadeira.
– Eu não sou “toda mulher”, eu sou Jackeline Bartolli, dona de uma
personalidade marcante, senhor... Qual o seu nome mesmo?
Ele dá risada.
– Jackeline Bartolli, se eu soubesse que você era assim, nunca teria me... –
Ele para de falar. – Te contratado. – Ele dá um sorriso.
– Ok, vamos esquecer essa história de colar e tudo mais. – Reviro meus
olhos. – Quer um café, chefinho?
Ele passa sua mão pelo rosto, parece cansado, e o dia nem começou.
– Tá cansado, Rui? – Vou até sua mesa.
– Muitos problemas na cabeça, minha cara Jackeline. – Ele fecha os olhos e
relaxa em sua cadeira.
Me posiciono em suas costas, aperto seus músculos dos ombros, do pescoço.
– Está gostoso, chefinho? – falo em seu ouvido, o beijando.
– Não me provoca, Jack, você não sabe a vontade que estou de te foder. – Sua
voz sai levemente rouca, me provocando um gelado no pé da barriga.
– Eu queria que você me fodesse, sabia? – Mordo sua orelha.
Ele vira sua cadeira rapidamente, me agarra pela cintura, me fazendo sentar
em seu colo.
– Vamos no banheiro, acho que dá... – Não o deixo terminar.
– Não dá, Rui, a gente precisa de um chuveiro. – Seguro seu rosto entre
minhas mãos.
– Então na hora do almoço, depois de comprarmos seu colar.
– Sem colar, Rui, eu só quero você. – O beijo apaixonadamente, mas um
toque na porta me assusta, pulo de seu colo como se fosse uma adolescente
pega no fragrante pelos pais.
Ele ri.
– Pode entrar.
Vejo o gerente de RH.
– Bom dia, Doutor Rui, Jackeline... – Ele me olha sem graça. – Algumas das
candidatas para recepcionista chegaram. Você quer que eu faça algum teste?
– Pensei que eu deveria marcar as entrevistas? – pergunto incomodada.
– Eu achei melhor deixar o Recursos Humanos cuidar disso – ele me diz em
um tom mais baixo. – Bom, já que elas já chegaram, eu posso entrevistá-las,
depois vejo se é necessário um teste adicional apenas com as que gostei.
– Tudo bem. Posso pedir para elas aguardarem na antessala da Jackeline?
– Sim. – O Rui me olha. – Você recebe as moças, e traz os currículos para
mim?
– Claro. – Sigo com o Gerente de RH até minha sala.
– Eu já volto com as candidatas! – o homem diz seguindo para as escadas.
****

Quero deixar claro que não tenho nada contra loiras, na verdade, eu as invejo.
Gosto de ser sincera, e aqui não mentirei, acho as loiras estonteantes.
Houve uma época da minha vida, que achava que poderia ser loira, então, por
volta dos meus 18 anos, encharquei meus cabelos com descolorante e fiquei
parecendo um travesti. Daquele dia em diante, resolvi me conformar com
minha morenice.
Mas, o fato de ver um desfile de loiras estonteantes na minha sala, provocou
em mim certa revolta.
Por que só tem candidata loira?
Essa é a pergunta que lateja em minha mente, e que irei descobrir daqui a
pouco.
Cada uma das quatro loiras se senta a minha frente, pernas cruzadas, aliás,
todas são altas, magras, e de novo, estonteantes.
Que raiva, elas são todas clones da vaca da Karen.
Então é isso, ele gosta de loiras, como sou idiota, a Priscila é loira, a Karen
era loira, e a próxima recepcionista será loira.
Jackeline sua idiota, esse cara é um safado inveterado.
Sorrio para as donzelas, todas em sua tenra idade, não devem ter mais que 19
anos, ele também gosta de bebês.
– Olá, qual o nome de vocês? Preciso achar aqui o currículo para o Doutor
Rui entrevistá-las. – Tento ser simpática, mas não consigo.
Cada uma das princesas me diz seu nome, imprimo os currículos que ele
tinha me enviado pelo e-mail, e vejo o histórico profissional delas.
Que engraçado as lindezas só trabalharam em eventos como recepcionistas,
ou em feiras, tipo a feira do automóvel, todas são como modelos, nenhuma
fez nada da vida, uma das lindezas frequenta a faculdade de Moda, a outra de
Hotelaria, e as duas outras apenas fizeram cursos “de modelo”.
Sorrio novamente para elas, elas não têm culpa.
Coloco novamente o colar que o Renato me deu.
Quer saber, não levarei o Rui muito a sério, ele é um cretino.
– Aguardem um momento, daqui a pouco o Doutor Rui chamará por vocês! –
Sigo para sua sala.
Abro e entro, e ele olha novamente para o colar.
– Qual o problema, Jackeline? Achei que tinha sido claro com você! – ele diz
nervoso.
Não me dou ao trabalho de responder.
– Qual o pré-requisito para ser a recepcionista de seu conceituado escritório?
– Não o deixo responder. – Talvez loira? – O encaro cheia de raiva. – Alta?
Magra? Estudante de Moda? Hotelaria também serve?
Ele pisca os olhos nervosamente.
– O gerente de Recursos Humanos que selecionou – ele diz sem graça.
– Como você é mentiroso! – Ele tenta me interromper, mas não o deixo. –
Você não tem vergonha na cara. – Estou enfurecida. – Qual o teste que você
fará agora? Um boquete, uma sentada no colo, o que mais?
Sinto meu coração na boca, meus nervos estão à flor da pele.
– Não é nada disso, Jackeline, mas que porra! – Ele se levanta, vem em
minha direção, mas coloco minha mão bem aberta em sua frente.
– Não chegue perto de mim, não o levarei mais a sério! Você é um palhaço,
Rui Figueiredo! – Saio batendo meu salto alto, mas ele entra na minha frente,
se posiciona na frente da porta, me impedindo de sair.
– Jackeline, seja uma pessoa razoável, eu preciso de uma pessoa com boa
aparência para recepcionar os clientes, não estou preocupado com a faculdade
que ela faz, e o fato de ser loira foi coincidência.
Não suporto ser enganada, nem tratada como uma idiota, então perco a
cabeça, e bato pela segunda vez em seu rosto.
Ele me olha enfurecido, mas não se move.
– Não sou idiota nem retardada, talvez você precise de garotas assim para se
relacionar, mas não será comigo. – Sinto minha cabeça latejar. – Sai da minha
frente.
– NÃO!!! – Ele grita, respira feito um touro enfurecido, fecha os olhos,
balança sua cabeça. – Ok, Jackeline, então qual a sua opinião a respeito do
melhor perfil para uma recepcionista de um escritório de advocacia?
– Qualquer um! Loira, morena, negra, ruiva, velha, nova, gay, diversidade,
meu caro Rui Figueiredo... – bufo com raiva. – Existem muitas pessoas
inteligentes que poderiam ocupar esse cargo, e engrandecer o atendimento do
seu escritório.
Ele coloca suas mãos sobre seu rosto, bufa feito um touro, e volta a me olhar.
– Ok, Jackeline, você venceu. Dispense as garotas, você irá escolher “a nova”
ou “novo candidato”, talvez um gay, você disse isso, não é mesmo? – Ele
enruga sua testa.
Então, num movimento rápido ele arranca o colar do meu pescoço, me
deixando atônita.
– Você quebrou meu colar! – falo indignada.
– Vou guardar isso para você, tenho um cofre, ele ficará bem lá. – Ele sai da
porta, e caminha a passos largos para sua mesa.
– Você não tem esse direito! – falo possessa.
– Assim como você tem o direito de interferir na contratação dos meus
funcionários, eu tenho o direito de interferir no que você usa. – Ele se senta
em sua mesa, coloca o colar em sua gaveta. – Vai, Jackeline, dê uma
desculpa para as meninas, diga que a secretária do chefe não gostou delas.
Olho para ele com a boca semiaberta.
Estou incrédula!
– O que eu digo? – pergunto confusa.
– Se vira, Jackeline! E me deixa sozinho, você já me irritou demais, o
correspondente a uma semana inteira.
Saio da sala dele, olho para as garotas sem graça.
– O Doutor Rui está muito ocupado, então, eu irei entrevistá-las. – Sorrio de
novo, eu fiz uma grande cagada. – Vocês me acompanhem até uma sala,
faremos uma entrevista em grupo.
Elas sorriem meio sem graça, apenas uma garota parece interessada de
qualquer modo.
****

Nos sentamos em uma mesa redonda, olho uma por uma, elas não parecem
gostar muito da mudança de planos.
– Então, me fale um pouco sobre você, Larissa, é isso? – Começo pela mais
simpática.
– Bom, tenho 18 anos, ainda não comecei minha faculdade, na verdade meus
pais estão sem grana para pagar – ela diz sem graça.
– E o que você quer prestar? – pergunto com o currículo dela em minhas
mãos.
– Quero fazer Gastronomia, adoro cozinhar, aprendi com minha avó, mas
essa faculdade é bem cara, e o curso é diurno, fica difícil trabalhar e estudar...
– ela diz desanimada. – Talvez eu faça administração, apenas para ter uma
faculdade.
– Você já tentou uma dessas bolsas de estudos do governo? – Sinto pena da
garota.
– Não, preciso primeiro entrar em algum curso, é complicado – ela diz,
parece inteligente, esperta.
– Certo... – Penso um pouco. – Você gosta de lidar com pessoas, do trabalho
de recepcionista?
– Mais ou menos, mas me dou bem nessas feiras, a aparência ajuda.
Desanimo.
– Você poderia escrever para mim uma redação? O assunto que você quiser!
– Entrego para ela um bloco de papéis.
– Ok. – Ela sorri, e concluo, ela é muito bonita, não serve para ser a secretária
do Rui, irei morrer de ciúmes.
Sigo para a próxima.
– Você é a Patrícia, é isso?
– Sim! – ela responde, não parece muito simpática.
– Me fale um pouco sobre você.
– Meu sonho é trabalhar em um grande hotel, tipo o Gran Hyatt. Também
penso em trabalhar em cruzeiros, adoro viajar...
– Sei, e porque você não tenta um trabalho como este? Por que está se
candidatando a um cargo num escritório de advocacia?
– Oh, não sei, minha mãe disse para eu tentar.
– Entendo... – Olho para essas meninas com pesar, todas estão perdidas. – Se
eu fosse você, tentaria apenas o que você quer de fato, não faça o que não
gosta, só te trará frustração.
Ela sorri timidamente
– Obrigada pelo conselho. Estou dispensada? Não gosto muito de escrever,
aliás, sou péssima.
Olho para ela decepcionada.
– Tudo bem, pode ir.
Termino de entrevistar as outras duas, e não vejo nada muito diferente, todas
perdidas, mal sabem por que estão aqui.
Por fim, apenas duas quiseram fazer a redação, as outras duas simplesmente
desistiram apenas pelo fato de ter de escrever.
Lamentável.
Finalmente termino a entrevista.
Sigo com os currículos para minha sala, mal sei o que fazer com as anotações
que fiz, não quero e não vou escolher a próxima recepcionista.
Sigo para a sala do Rui, bato na porta, ele me olha por sobre seus óculos.
Ele não está para conversa, então vou logo ao assunto.
– Não achei justo dispensar as meninas sem ao menos entrevistá-las, então
tomei a liberdade de fazer isso. – Coloco os currículos sobre sua mesa. –
Aqui estão minhas anotações a respeito de cada uma delas, mas duas delas
desistiram quando pedi para escreverem uma redação.
Ele nem ao menos me olha, então viro em meus calcanhares e sigo para a
porta.
– Escolha você, tire esses papéis daqui! – Ele pega os papéis em sua mão e os
direciona para mim.
– Eu não vou escolher ninguém! – Abro a porta e saio, mas me surpreendo
com a porta abrindo.
Ele sai nervoso, joga os currículos sobre minha mesa.
– Eu já disse, você irá escolher “A” profissional ou “O” profissional para este
cargo. – Ele me encara intensamente. – Não quero falar mais sobre este
assunto, Jackeline, a responsabilidade agora é sua!
Ele dá as costas para mim, entra e bate a porta de sua sala com força.
Olho para a cena incrédula.
Oh, que merda que fiz!
Capítulo 56
RUI FIGUEIREDO

A ndo freneticamente pela minha sala, eu não estou acreditando no que


aconteceu à pouco.
A Jackeline é louca!
Tudo bem, talvez eu tenha sido um grande idiota, preciso apenas de uma
recepcionista, se será loira, morena ou cinza, tanto faz.
Certo, ainda tenho minhas recaídas, não resisto à mulher bonita, adoro estar
rodeado delas, mas não estava planejando comer a próxima recepcionista.
Bom... pelo menos por enquanto.
Dou risada.
Não, acho que não, a Jackeline realmente me pegou de jeito.
Aliás, insisto, ela é louca, mas estou apaixonado por ela, essa é a verdade nua
e crua.
Coloco minhas mãos sobre meu rosto, e tento me acalmar.
– Da próxima vez que ela bater em meu rosto, ela vai levar o dela, essa é a
última vez.
Abro a gaveta e olho o maldito colar.
Será que ela está falando a verdade?
Se a Jackeline estiver me enganando, eu a mato. E ele, aquele bicha
enrustida, eu ainda vou provar para ela que aquele cara queima a rosca.
Mais alguns passos pela minha sala, olho pela janela para espairecer, e meu
celular toca.
Ando até minha mesa, é uma ligação do Doutor Albuquerque.
Bufo nervoso, não é um bom momento para falar com ele, mas enfim, preciso
voltar meu foco para o trabalho.
– Bom dia, Doutor Rui! – ele diz em tom formal.
– Bom dia, Albuquerque! Como vai?
– Bem, e você? – ele diz num tom meio estranho.
– Tudo certo! – respondo distraído.
– Gostaria de marcar com você aquele almoço ou jantar que combinamos.
Precisamos rever nosso acordo de negócios.
Enrugo minha testa, isso não está me cheirando bem, talvez agora melou de
vez. No fim das contas, acho que o acordo só existia por causa de meu
relacionamento com a Priscila.
Sou um idiota, achava que era pela minha competência.
– Ok, quando você quer fazer isso? Acho melhor um jantar, estou com muito
trabalho, tenho evitado almoços de negócios.
– Estou com um pouco de pressa, o que você acha de hoje à noite?
Oh, ele está com pressa, pelo visto a merda é grande.
– Certo, como você quiser. – Penso um pouco, não quero que sua filha vá,
mas como posso dizer isso sem ofendê-lo? – O jantar será apenas eu e você,
correto?
– Não, Doutor Rui, minha filha é minha parceira de negócios, trabalhamos
juntos, ela amarrou todo o negócio que fizemos, então, nada mais natural
que ela esteja junto.
Fecho os olhos e bufo exausto.
Que merda que arrumei para a minha cabeça, ele pensa que sou burro, que
irei ceder apenas por causa de alguns processos que ele manda para mim.
Gosto de dinheiro, mas não vendo minha alma ao diabo.
Ok, eu já vendi no início da minha carreira, mas não vendo mais.
Estou consciente que irei perder essa merda, será ruim, mas sobrevivo sem
eles.
– Tudo bem, escolha o restaurante. Prefiro que seja às 21h, o que você acha?
– Gosto do All Seasons, é discreto, às 21h, até lá!
– Ok!
A ligação é finalizada.
Perfeito, meu dia começou bem complicado, espero que pare por aí.
****

Olho em meu relógio de pulso, estou com meu estômago dando voltas,
preciso almoçar!
Me levanto, coloco meu terno e sigo para a porta, mas paro por alguns
segundos.
Eu tinha planos de almoçar com a Jackeline em meu apartamento, não
iriamos só almoçar, é lógico, mas isso foi antes dela fazer aquela ceninha
ridícula.
Ok, ela está me dominando um pouco, mas só um pouco, e apesar de estar
louco de tesão por ela (infelizmente quando brigamos isso piora), não vou
ceder ao charme daquela filha da puta.
Saio de minha sala e a vejo digitando em seu computador.
– Estou saindo para o almoço. – Não me dou ao trabalho de olhar para ela,
mas aí me lembro da confusão que ela armou por causa da recepcionista,
então volto. – Já começou a selecionar os novos candidatos? – Ela me olha
confusa, seus lábios vermelhos levemente abertos, que boca linda que essa
mulher tem... Foco, Rui, caralho! – Quero uma pessoa iniciando até o início
da próxima semana, Jackeline, não posso ficar com a recepção abandonada.
Eu te dou dois dias para me apresentar as opções.
– Rui, eu nunca fiz isso na minha vida, por favor.
A interrompo.
– Peça ajuda ao Recursos Humanos, em dois dias quero ver as opções, e até o
final da semana precisamos definir quem será o novo, ou a nova profissional.
– Ok! – Ela me olha desanimada.
Giro em meus calcanhares e saio apressado, agora ela conhecerá o seu chefe
de fato. Nunca fui bonzinho com funcionário, ela está muito mal-acostumada.
****

Escolho um restaurante de massas tranquilo, quero almoçar em paz, sem


funcionários ou clientes aparecendo para me cumprimentar.
Enquanto almoço, penso na merda do jantar de hoje.
Será um porre jantar com aqueles dois, não queria ir sozinho, então penso na
Jack.
Quero mostrar para aqueles dois que não devo satisfação da minha vida a
eles, preciso mostrar para a Priscila que não estou nem aí para ela, e para esse
acordo fajuto que fechamos.
É isso, a Jackeline irá comigo, talvez ela não goste da ideia, mas que se foda,
ela está comigo, então precisa me acompanhar em todos os lugares, até
mesmo naqueles menos agradáveis.
Pago a conta e me lembro da história do colar.
Sou um cara marrento, e apesar de já estar com seu presente encomendado,
eu cumprirei com o que disse, comprarei a merda desse colar, nem que seja a
última coisa que eu faça na minha vida.
Sigo pelos corredores do shopping e entro na primeira joalheria que encontro.
Vejo uma atendente, pego o colar dela em meu bolso e mostro para a moça.
– Gostaria de ver o que você tem de joia feita com essa pedra.
Ela pega a joia na mão.
– Essa é uma pedra mineral, não trabalhamos com esse tipo de material, mas
a joalheria no final do próximo corredor trabalha. – Ela sorri.
– Só por curiosidade, você pode avaliar esse colar? – Estou curioso para
saber do que se trata o presente daquele bicha.
– Claro, só um momento, vou mostrar para o nosso joalheiro.
Tamborilo meus dedos no balcão de vidro, olho algumas joias, e então a
moça retorna.
– Essa é uma peça sem valor comercial, o colar foi feito de prata, essa pedra é
bem comum, facilmente encontrada... É uma peça barata, comprada em lojas
comuns, não foi comprado em uma joalheria.
Sorrio, esse cara é um merda mesmo.
– Tudo bem, obrigado.
Sigo para o corredor que ela me falou, alguns minutos de caminhada, chego à
joalheria, e vejo diversas peças feitas em pedras minerais.
– Boa tarde! – Uma linda loira me cumprimenta.
Sorrio para ela e tiro a peça do bolso.
– Gostaria de ver as peças que você tem nessa pedra.
Ela olha o colar.
– Malaquita, eu adoro essa pedra, é cheia de histórias sobre seus poderes de
cura.
– Ah, sei, poderes de cura, não acredito muito nisso, mas enfim, minha
namorada gosta dela. Você tem alguma joia bem bonita, tipo um cordão
longo?
– Você pode me acompanhar, vou te mostrar alguns modelos!
Me sento em uma poltrona, ela traz algumas caixas com diversos modelos,
vejo um bonito, ela é formada por três correntes de ouro, uma curta, uma
média e outra longa, perfeitas, com pequenas pedras ao longo das correntes,
ela é fina e delicada, combinará com a Jack.
– Muito bonita essa! – Pego em minha mão. – Qual o preço? – Ela diz e
quase caio de costas.
– Não está muito caro? Me falaram que essa pedra é comum!
– Mas nosso trabalho é artesanal, essas pequenas pedras são lapidadas
manualmente, e cravejadas na corrente, é um trabalho muito delicado, feito
pessoalmente pelo nosso joalheiro, é uma peça única, você tem muito bom
gosto. – Ela sorri e eu choro.
– Tenho uma mania besta de escolher sempre as joias mais caras!
Ela dá risada.
Jackeline, você não merece tudo isso, você é ingrata, encrenqueira, e não
confia em mim.
Penso olhando para a peça em minha mão.
– Ok, eu vou levar – falo mal-humorado.
– Leve também os brincos, para combinar com o colar – a vendedora
malandra diz, espertinha, viu minha cara de idiota.
– Ok, embrulha tudo, e faz um desconto, está muito caro! – Ela ri novamente,
parece meio devassa, mas acho melhor eu me comportar.
Saio da loja com um puta mau humor, ela não está merecendo ganhar tantos
presentes, mas não consigo resistir a ela. Mas tudo bem, eu vou querer meu
presente também.
Penso no maldito jantar, a Jack não tem roupa para ir.
Tudo bem, Rui idiota, vai lá, gasta mais dinheiro com aquela ingrata.
Entro numa loja de roupas femininas.
Olho alguns modelos na loja e então vejo um vestido preto, um pouco abaixo
dos joelhos, o decote nas costas é grande, e há uma fenda na parte de trás. Ele
é muito sexy, a Jack ficará linda nele.
– Pois não, posso ajudá-lo? – Uma vendedora se aproxima.
Pego o vestido da arara, o olho com cuidado, o tamanho será esse mesmo,
apesar da Jack ter seios grandes e um bumbum realmente avantajado, ela não
é gorda, apenas muito gostosa.
– Vou levar esse, embrulhe para presente! – Saio andando para o caixa, a
mulher corre atrás de mim.
– O senhor não quer ver mais alguma coisa? – ela diz simpática
Penso nos malditos sapatos.
– Aqueles sapatos, número 37, e mais nada! Nos últimos dias gastei mais
dinheiro com minha namorada do que imaginei gastar em um ano.
Ela percebe meu mau humor e sai andando.
Logo estou saindo do shopping e seguindo para o escritório.
****

Subo as escadas do escritório com aquela caixa enorme e a pequena sacola


das joias.
Talvez a Jack entenda mal tudo isso, é só ela brigar comigo que recebe
presentes.
Tudo errado.
Eu deveria ter pensado melhor antes de comprar tudo isso.
Merda!
Entro em sua sala e ela me olha rapidamente.
– Boa tarde, Rui! – Ela faz voz de boazinha, já conheço a Jack, faz merda
depois quer se redimir, faz voz doce, cara de boazinha, ela acha que me
engana.
Despejo a caixa grande e a pequena sacola em sua mesa, ela me olha
assustada.
– Hoje à noite você irá comigo em um jantar profissional, comprei um
vestido para você me acompanhar.
– Oh, obrigada... – Ela me olha sem graça.
– A outra sacola é o colar, você não merecia por tudo que fez hoje, mas sou
um homem de palavra.
Saio caminhando para minha sala, fecho a porta e inspiro com força.
Hoje meu dia está uma merda.
Capítulo 57
JACKELINE BARTOLLI

T ento controlar a curiosidade que se apoderou de mim, e que quer abrir


essa caixa linda e ver o vestido que o Rui comprou para mim.
Também estou com uma curiosidade enorme de saber a respeito desse jantar
de negócios, com quem iremos.
Agora, com relação ao colar não aguentei de curiosidade, e abri
discretamente o pacote que ele trouxe, e quase desmaiei.
Não desmerecendo o colar que o Renato me deu, mas o do Rui é muito mais
bonito, delicado, chique.
Ele tem muito bom gosto.
O colar do Renato é mais rústico, a pedra está em estado natural, é muito
bonito, mas não é delicado.
Olho com atenção cada detalhe do colar do Rui, as pequenas pedras envoltas
no ouro, e espalhadas ao longo dos três colares.
É tão lindo!
Achei que ele estivesse com raiva de mim, mas se ele estivesse, ele não me
daria um presente desse.
Sorrio encantada e então vejo os brincos, lindos e delicados.
Engraçado como um homem pode surpreender uma mulher.
O Rui é bruto, meio selvagem, mas muito delicado nos detalhes, nos
pequenos gestos, em suas atitudes, ele é um gentleman, é isso!
Não dá para agradecer agora, ele está arisco como um cavalo selvagem. Não
sei como será esse tal de jantar, o clima entre nós está péssimo.
Será que exagerei de novo?
Oh, ando com meus nervos tão afetados, por qualquer motivo explodo, são
esses hormônios malditos, mexem com meu humor, com minha paciência, e
com meu bom senso.
Guardo rapidamente as joias, e a porta abre num solavanco.
Odeio quando ele fica assim, parece um cavalo.
– Vamos! – ele diz sem olhar para mim, apenas seguindo em direção ao
corredor que dá nas escadas.
– Você quer mesmo que eu vá? Porque dá forma como você está me tratando,
será muito desagradável.
– Tente consertar o estrago que você fez, se redima, peça desculpas, você
nunca faz isso! – Ele me olha com seus olhos estreitos, bravos.
– Rui, por favor, não vamos retomar esse assunto, você não sairá como santo
– falo nervosa.
O que ele acha que sou, idiota? Ele acha que acreditei que o RH selecionou
somente loiras para a entrevista com o chefe safado?
Ah, vai se catar, Rui Figueiredo.
Ele pega a caixa da minha mão, e sai andando na minha frente.
Faço umas caretas, reviro meus olhos e o sigo até o carro.
Ele guarda a caixa do vestido no porta-malas e entra no carro.
– Quero te pedir desculpas apenas por uma coisa, o tapa em seu rosto, não
vou mais fazer isso, me desculpe! – falo sincera, não gosto de violência
física, mas tenho um gênio do cão, sou muito explosiva, herança do meu
falecido pai.
– Se houver outra vez, eu revidarei. Me desculpe a Lei Maria da Penha, mas
deu, tomou! – Ele arregala seus olhos, e o olho magoada.
Será que ele teria coragem de bater em meu rosto?
E como se ele tivesse lido minha mente, ele diz:
– Jack, eu não faria isso, tive muita vontade, mas não tenho coragem. No
entanto, não veja isso como uma nova chance para repetir o que fez, não
tolerarei novamente! – Ele me encara com seus olhos cinza, hoje eles estão
escuros, e cerrados.
Já percebi que ele fica assim quando está bravo.
– Entendi! – Me esgueiro em seu banco e beijo seu rosto, carinhosamente, e
cochicho em seu ouvido. – Me desculpe, apenas pelo tapa! – Sorrio no final,
e ele abaixa a cabeça e ri, e volta a me olhar.
– Você é meio doida, eu tenho certeza disso! – Ele dá um sorriso de moleque,
e fica lindo assim.
– Talvez eu fique lá por volta dos meus 80 anos, minha vovozinha já está
ficando, fala cada coisa que envergonha até o papai do céu. – Acaricio seu
rosto. – Rui, não tente nunca me enganar, sou esperta, macaca velha.
Ele fica sério.
– Não estava tentando te enganar! – Ele liga o carro e começa a manobrá-lo.
Seguimos alguns metros da rua onde fica seu escritório, então falo:
– Você gosta de loiras. Quero dizer, não estou perguntando, estou afirmando.
– Gosto de mulher, Jackeline! – Ele me olha enfezado. – Buceta, peito
grande, bunda grande, igual a sua. – O olho assustada. – Se gostasse tanto de
loiras não estaria com você, e sim com uma loira. – Ele olha ligeiramente
para mim, depois para o trânsito. – Entendeu ou quer que eu desenhe?
Faço uma careta.
– Ok, Rui. Vamos parar com isso! – Fecho minha cara, e volto a olhar para
frente.
Entramos em seu prédio, e agora fico mais aliviada ao saber que o Renato
não mora mais aqui.
O sigo para dentro do elevador, e não aguento de curiosidade, então
pergunto:
– Com quem iremos jantar? Eu sei que não conheço ninguém, mas só por
curiosidade. – Olho de lado para ele.
– Você conhece! – Ele me olha. – O Doutor Albuquerque e sua filha.
Arregalo meus olhos.
– Aquela vadia que me unhou toda? Eu não vou. – O elevador abre e saio em
disparada, e quase caio com aquele bicho enorme pulando em cima de mim. –
Bóris, tenha modos – falo brava.
– Você vai, e vai se comportar como uma lady, educada e gentil.
– Não, eu não vou! Aliás, se eu for, vou dar uma surra nela!
Ele joga a caixa em cima do sofá e gargalha.
– Vamos parar, Jackeline, chega de confusão por hoje. – Ele relaxa no sofá. –
Tudo bem, você não suporta a Priscila, e ela não suporta você, mas preciso
encontrar os dois a negócios. Talvez ele queira cancelar nosso acordo, não é
um encontro de amigos, não espere gentilezas dos dois, mas preciso de você
comigo. Por favor, não se negue a me acompanhar.
Oh, ele falando assim, com essa carinha que ele faz.
Respiro fundo e inspiro, não resisto a ele!
– Posso jogar uma taça de vinho na cara dela? Tem que ser tinto, para
manchar sua roupa! Se bem que queria jogar ácido.
Ele dá uma risada gostosa.
– Pode, mas só no final. Preciso primeiramente resolver essa pendência, se
você jogar o vinho no começo do jantar, aí não irei resolver nada! – ele diz
de bom humor, aliás, ele se recompõe tão facilmente de nossas brigas, se
fosse outro cara, passaríamos dias sem falar um com o outro.
Aliás, minhas brigas com o Renato sempre foram assim, ficávamos dias sem
nos falar.
– Tudo bem, eu irei, tentarei me comportar, mas somente se ela se comportar.
Nunca mais aquela mulher me ofenderá, Rui, e nem colocará suas mãos em
mim.
Ele gesticula com as mãos.
– Perfeito, combinado. – Ele se levanta. – Ela não fará nada na minha frente,
ela tem certo medo de mim, não sei por que, costumo ser tão civilizado. – Ele
ri e caminha em direção as escadas.
– Civilizado – falo alto, e começo a segui-lo. – Colocar mulheres nos ombros,
jogá-las em cadeiras, às vezes puxar os cabelos, morder... estilo homem das
cavernas.
– Oh, isso é romântico, Jack, é sinal de amor pela fêmea! – ele diz irônico,
num tom leve, brincando.
Entramos em seu quarto, ele fecha a porta antes que o Bóris entre, me pega
pelos cabelos, naquele estilo homem das cavernas, e me faz encará-lo.
– Assim é estilo homem das cavernas, Jack? – Ele roça seus lábios nos meus,
e isso me deixa louca de desejo.
– Isso, você parece um homem das cavernas. – Ele puxa mais meus cabelos,
abrindo caminho pelo meu pescoço, morde e chupa, e isso me deixa louca de
tesão. – Rui, por que você me morde tanto? – falo meio rindo, meio
choramingando. – Às vezes, isso dói.
Ele beija o local.
– Tenho esse negócio com mordidas, acho que conviver muito tempo com
um cachorro me deixou meio canino.
Gargalho do que ele disse.
– Eu gosto das suas mordidas – falo entregue, como uma perfeita masoquista.
Ele tira meu blazer, joga-o no chão e puxa novamente meus cabelos.
– Oh, Jack, estou com tanta fome de você, se você soubesse.
Ele me beija selvagem, batendo nossos dentes, mordendo meus lábios, e me
causando um amortecimento.
O sinto abrindo minha saia, descendo minha calcinha, e em seguida subindo
suas mãos por baixo de minha camisa, e de repente um puxão, os botões se
rompem, me afasto de susto, mas ele me puxa novamente para junto de seu
corpo, me aperta, me esmaga contra seu peito.
– Oh, minha gostosa! – Ele rosna.
Ele tira minha camisa pelos meus braços, desce seus beijos para meu colo,
abre o sutiã e abocanha meus seios.
Meu pai, que homem mais gostoso!
– Rui, vamos para o banheiro! – falo em meio a sua loucura, ele é delicioso,
ardente, adoro esse jeito que ele me pega.
Caminhamos atracados um ao outro em direção ao banheiro, começo a tirar
sua camisa, abro o cinto, botão e o zíper. Ele tira seu sapato de qualquer jeito,
logo a calça cai ao chão, puxo a boxer e já sinto sua ereção contra meu corpo.
– Não consigo tirar sua camisa, Rui – falo em meios aos seus beijos.
Ele tira suas mãos do meu corpo e começa a tirar sua camisa.
Entramos no box, e em segundos estamos atracados novamente, agora contra
a parede de azulejos, num frenesi de bocas, mãos, carícias...
– Isso, Rui, me fode – falo insana de desejo, o sentindo me penetrando.
Ele enfia com força sem membro, uma, duas, três vezes.
– Assim, Jack? – Ele morde meu pescoço, e fode com força. – Oh, minha
gostosa, eu não vou aguentar muito tempo, Jack.
– Oh, Rui, continua, Rui, isso, eu vou gozar. – E gemo alto, e ele aumenta
seus movimentos, unho suas costas, ele me morde, e finalmente para, e sons
roucos e sensuais saem de sua garganta.
– Caralho, Jack! – Ele respira pesadamente, beija meu pescoço. – Foi
incrível, puta paulada deliciosa.
Dou risada de sua definição para o que fizemos.
– Paulada? – falo com ironia.
Ele me olha e ri.
– Trepada, gozada, sei lá – ele diz divertido. – Mas foi incrível, delicioso.
Procuro seus lábios e o beijo novamente.
– Eu adoro você, Rui, muito! – falo contra seus lábios, tenho vontade de
perguntar o que ele sente por mim, mas não o faço.
– Eu também, Jack! – Ele beija meus cabelos. – Vou ligar o chuveiro.
– Ok!
Inspiro decepcionada.
Se ele soubesse como é importante ouvir o que ele sente por mim!
– Marquei com eles às 21h. Você consegue se arrumar em quarenta minutos?
– Ele pergunta enquanto ensaboa os cabelos.
– Consigo! – Disfarço minha decepção, o sexo foi maravilhoso, não vou
estragar esse momento por causa disso.
****

Termino de secar meus cabelos e ajeitá-los.


Não tenho como fazer nada demais, não tenho minhas coisas aqui, então
apenas os deixo soltos, lisos e comportados.
Faço uma maquiagem leve, não tenho maquiagem em minha bolsa, apenas
batom, máscara para cílios e um lápis de olhos, que uso para delinear.
Sigo para o quarto, e então, vejo o vestido sobre a cama, lindo, preto e bem-
comportado.
O Rui já desceu para a sala, pego o vestido em minhas mãos e o coloco
rapidamente.
Caiu como uma luva.
O decote na frente é discreto, não mostra meus seios, apenas um pouco do
colo, ele tem mangas longas, justinhas aos braços. Passo minhas mãos ao
longo do corpo, fiquei tão magrinha com ele.
Sorrio satisfeita.
Sigo até o closet, e me olho no espelho.
– Nossa, deslumbrante! – falo olhando o decote das costas, enorme, mas
muito elegante.
Olho para a minha bunda, enorme como sempre, mas o preto disfarça, o
vestido é todo justo ao corpo, estou me sentindo linda.
Volto para pegar meu sapato alto, mas vejo sobre a cama um par de sapatos
pretos e altos, lindos.
– Oh, Rui, você pensa em tudo! – Sorrio apaixonada.
Ele pode ter muitos defeitos, ser mulherengo, não gostar de compromissos,
mas ele é tão atencioso comigo.
Coloco o par de sapatos, e ando até o closet, desfilo em frente ao espelho e
sorrio satisfeita.
É bom estar deslumbrante perto daquela loira maldita.
Me lembro de colocar o colar, volto para o banheiro, o pego da caixa de joias,
prendo em meu pescoço, coloco os brincos e me olho no espelho.
– Simplesmente lindos! – Olho deslumbrada para a joia, nunca tive nada
igual.
Sigo para as escadas, e logo estou na sala, o Rui está sentado
confortavelmente no sofá, digitando mensagens, como sempre!
– Oi! – falo levemente irritada.
Ele finaliza o que está fazendo rapidamente, guarda o celular, me olha e sorri.
– Você está demais, Jack! – Ele caminha até mim, com aquele olhar, me
devorando.
Paro a sua frente e dou uma voltinha com as mãos na cintura.
– E então, fiquei bem com este vestido? – Faço charme.
– Perfeita, minha deusa! – Ele segura minha cintura, me traz para junto do
seu corpo. – Linda, você está linda! – Ele me encara, e sinto palpitações em
meu coração.
– Você também está lindo! – Seguro seu rosto entre minhas mãos, e o beijo
delicadamente, para não tirar o batom, mas ele abre aquela boca deliciosa
dele, e envolve a minha em um beijo faminto, cheio de sensualidade.
Sinto suas mãos apertando meu bumbum, colando meu corpo contra o seu,
seu membro duro se esfregando em minha barriga.
Afastamos nossos lábios ofegantes, e vejo o contorno dos seus lábios
completamente manchados de batom.
– Você tirou todo o meu batom! – Abraço novamente seu pescoço, o beijo
novamente, mas me afasto rapidamente, não podemos fazer nada, para que
ficar se torturando. – Vamos, Rui, depois continuamos.
Ele me olha decepcionado.
– Tudo bem. Não vamos demorar.
– Vou limpar esse batom, Rui. – O puxo até o lavabo, e logo estamos
seguindo para o restaurante.
****

Um manobrista abre a porta do passageiro para mim, desço com sua ajuda,
mas logo o Rui aparece ao meu lado, coloca sua mão em minha cintura e me
encaminha junto com ele para a entrada do restaurante.
O local é refinado, chique e silencioso.
Ouço apenas um leve zum zum zum ao fundo, mas as pessoas falam baixo,
cochicham.
Acho que ricos não falam alto, ponto negativo para mim, filha de italiano, às
vezes me empolgo e falo meio alto.
Faço uma careta ao ver aquelas pessoas elegantes e ricas me olhando.
Dou uma leve olhada para meu vestido, para checar se não há algo de errado,
e então o Rui diz:
– Vem, Jack, a mesa é aquela ali! – Ele gesticula com a cabeça, e logo vejo a
loira maldita e seu pai numa mesa de canto.
Meu coração dispara ao vê-los, o Rui me olha de lado, aperta minha mão
contra a dele, e beija meus cabelos, num gesto simples, mas muito carinhoso.
Sorrio para ele, e então chegamos à mesa.
A loira me olha com uma cara de surpresa, ela não esperava que ele me
trouxesse.
Sorrio provocativa para ela, mas minha vontade é voar em seu pescoço.
– Boa noite! – O Rui diz com um sorriso no rosto, ele também é bem
provocativo.
O velho levanta, parece meio assustado, me olha de cima a baixo, e então
estende sua mão para o Rui, que o cumprimenta.
– Essa é a Jackeline, você deve se lembrar dela. – O Rui diz, estendo minha
mão para o velho, e ignoro sua filha.
– Boa noite! – falo falsamente, apenas fazendo meu papel de acompanhante
do Rui.
– Como vai, Priscila? – O Rui se dirige a Priscila, que apenas dá um sorriso
amarelo para ele, ela me olha, me fuzila com os olhos.
– Vamos nos sentar? – O homem diz constrangido, parece sem graça com
minha presença.
O garçom puxa a cadeira para mim, o Rui se senta ao meu lado, e logo pega
minha mão, e a segura em seu colo.
O garçom começa a anotar o pedido de bebidas, então cochicho no ouvido do
Rui.
– Quero vinho tinto! – Ele me olha sorrindo e me dá um selinho.
Oh, estou quase pulando de felicidade, e louca para jogar o vinho nela e
manchar sua linda camisa de seda rosa claro e sua saia tipo lápis creme.
Capítulo 58
RUI FIGUEIREDO

A cara da Priscila ao me ver com a Jackeline foi impagável.


Tenho vontade de rir, mas não o faço, poderei ser mal interpretado, e não
pretendo estragar o clima do jantar.
Eu nunca quis me casar, por que a deixei chegar tão longe?
Eu estava louco?!
Tudo bem que ela chama atenção pelo seu estilo, sua altura, os cabelos
grandes e loiros, e seus olhos, que realmente são muito bonitos, mas é só.
Ela é uma mulher sem graça na intimidade, muito inteligente, mas muito
chata!
Porra, e se for falar na cama então, uma negação, a mulher parecia frígida,
nada a empolgava.
Enfim, em nada se assemelha ao furacão chamado Jackeline.
A Jack é meu número, combinamos demais na cama.
Tudo bem, vou admitir, sou ambicioso, e me deixei levar pelas facilidades
que meu relacionamento com a Priscila trouxe, seu pai abria caminhos,
facilitava processos, enfim.
É um tanto vergonhoso admitir isso, mas me envolvi com ela por grana e
poder. A vida é cheia dessas situações, e quando vemos, estamos metidos em
relacionamentos que não nos levam a nada, mas que nos trazem alguns ou
muitos benefícios.
O garçom chega a nossa mesa e começa a anotar os pedidos, então a Jack se
esgueira em minha direção e cochicha em meu ouvido.
– Quero vinho tinto! – Ela sorri, e eu também.
Ela está doida para aprontar com a Priscila, mas eu a entendo, e concordo que
a Priscila está merecendo uma lição, que, no entanto, não chegará aos pés do
que fez à Jack.
Apenas concordo e beijo de leve seus lábios.
A Jack está linda, suas curvas fartas e deliciosas parecem dançar embaixo do
tecido fino e sensual do vestido.
Mas, acima de tudo, ela está elegante.
Passo meus dedos entre os seus, e seguro sua mão junto a minha coxa. Não
vou negar o sentimento bom que ela causa de estar aqui comigo.
Tenho vontade de beijar sua mão, aliás, tenho vontade de beijá-la o tempo
todo, mas me controlo, não estou a fim de provocar a Priscila, eu sei que ela
ainda gosta de mim.
Confesso, a presença da Jackeline acabou com a pose do velho Albuquerque.
Ele está salivando pela Jack, mas isso não me incomoda, porque eu sei que a
minha oncinha não me trocaria por um velho rico e brocha, se ele fosse mais
jovem, talvez eu não gostasse de sua cara de cobiça ao olhar para ela, mas na
sua idade ele não é mais páreo para mim.
E sem querer, me vem à cabeça a imagem do ex-namorado da Jackeline.
Aquele cara me incomoda, e muito, mas depois penso nisso.
Fazemos os pedidos dos pratos, penso em acabar com o clima desagradável
que se instalou na mesa, mas o Albuquerque interrompe meus pensamentos.
– Então, Rui, como está seu pai? Faz algum tempo que não nos falamos. –
Ele pergunta bebendo seu vinho.
– Ele está bem, nos falamos hoje, como sempre, ele irá tirar umas férias com
minha mãe, eles irão visitar minha irmã nos Estados Unidos.
– Oh, que ótimo, eu e a Lorena estamos planejando ir para a França no final
do ano, ela e a Priscila adoram ir até lá para gastar dinheiro nos ateliês de
roupas! – Ele olha para a filha e sorri, mas a Priscila está com uma expressão
péssima. – E sua irmã, como vai? – Ele pergunta amistoso, me deixando
confuso com relação ao rumo desse jantar.
– Está muito feliz, o ano que vem ela termina sua especialização. Não sei se
ela voltará, ela conheceu um americano, está apaixonada, e estão pensando
em se casar. – Sorrio ao pensar em minha irmã.
Sempre fomos muito amigos, confidentes, mas ainda não tive coragem de
falar para ela sobre a Jack.
– Oh, que ótimo! A Raquel que não irá gostar de saber sobre isso, ela sempre
diz que não vê a hora da filha voltar. – Ele sorri, olha novamente para a
Jackeline, e então ouço a voz da Priscila.
– Então, Rui, sabe aquele concurso para promotor de justiça? Eu passei! – ela
diz radiante e arrogante. – Vou me afastar das atividades junto ao escritório
do meu pai, porque irei trabalhar na Promotoria de Justiça aqui de São Paulo,
junto com aquele promotor muito seu amigo, o Fernandez, você se lembra
dele? – Ela dá um sorriso satisfeito.
– Parabéns, Priscila! Mas eu e o Fernandez não somos amigos e você sabe
muito bem disso! – digo tenso, cada músculo das minhas costas se retesaram.
O que essa filha da puta quer dizer com isso? – Penso nervoso.
Eu tive um problema sério quando estava no início da minha carreira, me
envolvi com clientes que não deveria, mas o dinheiro era bom, e acabei
cedendo. Eu era jovem, arrogante e pretensioso, achava que sabia tudo sobre
a vida.
Mas me fodi, é lógico, a Promotoria de Justiça, esse tal de Fernandez e sua
equipe, descobriram o esquema fraudulento que a empresa estava metida, e o
idiota do Rui era o advogado dos caras, então entrei no bolo e por pouco não
fui preso, e quase destruí minha carreira de advogado.
Por incrível que pareça, quem me livrou da condenação foi o Doutor
Albuquerque, ele era o juiz do caso e me absolveu.
Mas é bom lembrar, meu pai pagou uma pequena fortuna para ele fazer isso.
Nada foi de graça, e o Doutor Albuquerque não é santo.
Tento desconversar, esse assunto me deixa tenso.
– Então, Albuquerque, sobre o que você queria falar comigo? – Beberico meu
vinho, e tento relaxar, os músculos do meu pescoço endureceram
completamente.
Olho de relance para a Priscila, ela está com um sorriso no rosto, não gosto
disso.
Os pratos chegam, aguardamos enquanto o garçom se retira, então ele volta a
me olhar.
– Bem, gostaria de dar a notícia sobre o afastamento da Priscila do escritório!
– Ele olha tenso para a filha, observo cada olhar de um para o outro. O que
esses dois filhos da puta estão aprontando para mim? – Eu e a Lorena
estamos muito felizes pela Priscila. – Desgraçado, desviou o assunto de novo.
– Você sabe, a Priscila estudou muito, este é seu sonho desde menina. –
Tamborilo meus dedos na mesa nervosamente, estou com um nó no meio do
estômago. – Então, por mais que irei sentir a falta dela no escritório... – Ele
segura sua mão sobre a mesa, e a afaga. – acho que será melhor para ela. – Os
dois se olham novamente, e já não sei mais nada, só sei que estou tenso e
preocupado.
Que vontade de mandar os dois se danarem, eu não estou interessado em
saber o que a Priscila irá fazer da vida dela, porra!
– Que ótimo, fico feliz pela Priscila, desejo sorte e felicidades em sua nova
atividade! – Olho firmemente para ela, que bebe seu vinho e sorri.
– Iniciei essa semana minhas atividades na promotoria. Eu sou fã do Doutor
Fernandez, ele é espetacular.
– Que pena que não posso dividir com você essa admiração, eu o acho um
promotor arrogante, metido a besta, e que se acha dono do mundo. – Me
mexo em minha cadeira, esse assunto está me deixando nervoso. – Aliás, não
suporto promotores, todos são insuportáveis, e eles também me odeiam,
talvez porque não conseguem vencer um caso quando sou o advogado do réu!
Ela dá uma risada sarcástica, e agora quem quer jogar o vinho nela sou eu.
Maldita garota, algo me diz que ela vai querer infernizar minha vida.
– Sério, Rui? Você tem amigos promotores, estranho dizer isso. – Ela me
encara. – Ele está querendo retomar alguns casos antigos, processos mal
resolvidos.
Ela me encara, não desvio meus olhos dela, agora tenho certeza, ela quer se
vingar de mim da forma mais baixa possível.
Minha mente ferve, não tenho mais 25 anos, sou frio e calculista, não vou
entrar no jogo dessa piranha mimada.
– É para isso que ele é pago, aliás, você também será paga para isso – digo
feito um cavalo, perdi a pose, minha vontade é pegar essa garota pelo
pescoço, e colocá-la em seu lugar. – Aliás, que fique claro para você, Priscila,
você será uma funcionária pública, não é como se estivesse acima do bem e
do mal.
– Oh, vamos nos acalmar, promotores e advogados nunca se deram muito
bem. – o Albuquerque dá risada, só queria saber do que. – Mas no final são
os juízes que decidem, não é mesmo? – Ele dá uma olhada sisuda para sua
filha, talvez pedindo para ela se comportar.
Sinto a mão da Jackeline repousar sobre a minha, a apertando suavemente.
Se a Jack não estive aqui eu falaria umas verdades para a Priscila e seu pai.
Os dois não são santos, e eu conheço muito bem os casos que estão
envolvidos. Mas, não vou lavar roupa suja na presença da Jackeline, ela não
precisa saber desse monte de merda que estamos todos envolvidos.
– A comida está ótima, vamos jantar antes que esfrie! – O bonachão do
Albuquerque diz, e agora entendo o porquê dessa reunião.
– Então, Albuquerque, como ficará nossa parceria? Você continua tendo
interesse nela, ou prefere desfazê-la? – Decido encerrar esse jantar o mais
breve possível, estou com uma raiva louca desses dois.
– Bem, Rui, esse é o segundo assunto! – Ele pigarreia. – Como você deve
estar percebendo, não temos mandando muitos casos para seu escritório. –
Ele mexe em seus talheres. – Minha filha montou uma pequena equipe de
advogados para tocar os casos mais complicados, sob minha supervisão, é
claro. – Ele me olha, parece constrangido. – Então, não acho que valha muito
a pena continuar com nosso negócio. – Ele me olha seriamente.
– Perfeito Albuquerque, vou providenciar o distrato do nosso contrato, deixe
que meus advogados façam isso. – Limpo meus lábios, aperto levemente a
coxa da Jack, a avisando que já estamos indo. – Obrigado pelo jantar, mas
estamos com pressa. – Olho de lado para a Jack, estou insano de ódio. –
Ainda quero foder com minha mulher a noite inteira.
Oh, eu sei, isso soou muito grosseiro, mas eu precisava dizer isso.
Seguro em seu pescoço, e a beijo indiscretamente, não dou tempo da Jack
reclamar, desgrudo meus lábios e levanto, pego em sua mão a fazendo se
levantar, e antes que eu possa pensar vejo um movimento rápido da
Jackeline.
Ela não se contentou em jogar seu vinho na Priscila, ela jogou o meu vinho e
o dela, e com tanta força que respingou para todos os lados, inclusive no
velho Albuquerque.
– Isso é para você nunca mais se meter comigo! – A Jack diz feito uma onça,
e preciso segurá-la, ela faz menção de querer partir para cima da Priscila.
Não consigo segurar uma risada ao ver a Priscila toda tingida de vermelho,
seu rosto melecado, os cabelos, ela tenta se limpar nervosamente.
– Sua piranha maldita! – A Priscila diz e no mesmo momento vejo o braço da
Jackeline passar por mim, e sua mão se estatelar no rosto da Priscila.
Enrugo meus olhos, deve ter doído, os tapas da Jack doem, essa italiana tem
uma força na mão!
– Sua va... – A Priscila começa a dizer, tenta revidar, mas entro na frente na
Jackeline.
– Se você colocar novamente a mão na Jackeline, ela irá te processar, tiramos
fotos do que você fez a ela e temos testemunhas (mentira). Ficará bem
complicado para uma promotora ter seu nome envolvido em brigas em
banheiros, principalmente no evento mais importante dos magistrados! – falo
com raiva. – Você se tornou uma promotora, isso não a torna melhor que
ninguém, nem imune a nada! Seu teto agora é de vidro, minha cara Priscila,
ande na linha também, caso contrário também posso foder com sua vida!
A Jack puxa meu braço, meu coração está disparado, e respiro insanamente.
Eu sei que arrumei uma inimiga perigosa, mas não tenho medo, não sou um
advogado qualquer, e sem falsa modéstia, hoje sou um dos melhores do país.
– Vamos, Rui! – A Jack diz, e desperto do meu ataque de nervos.
Olho ao redor, todos os olhares estão sobre nós, fizemos uma puta baixaria,
justamente no All Seasons, o melhor e mais silencioso restaurante da cidade.
Caralho, desde que conheci a Jack minha vida deu uma boa animada, andava
meio sem graça, agora virou notícia de revista de fofoca.
– Isso, vamos. – Sorrio para ela, pego em sua mão e saio rapidamente do
restaurante.
Alcançamos a rua, o manobrista entrega o carro, entro e olho para a Jack.
– Estou morrendo de fome, de você e de comida! – Dou risada, e ela também.
– Vamos num lugar que possamos fazer as duas coisas.
Ela apenas balança a cabeça, parece meio assustada comigo.
Capítulo 59
JACKELINE BARTOLLI

O Rui estaciona seu carro em um motel, daqueles grandes, luxuosos e


imponentes.
Ele está sério, tenso, e parece preocupado.
Nem tudo saiu como ele esperava, acho que é isso, mas não foi só o fato dele
perder sua parceria com o tal do juiz, acho que tem a ver com a história da
Priscila se tornar promotora.
Ela é uma vadia, mas uma vadia bem inteligente, não é qualquer um que se
torna promotor.
Mas, também, não estou nem aí para ela, quero que ela se dane.
Penso com prazer no banho de vinho tinto que dei nela, e, sem querer, em seu
pai.
Sorrio sozinha.
Ela ficou toda lambuzada, e ainda teve o tabefe que dei em seu lindo rosto,
senti os ossos da sua face contra minha mão, coloquei tanta força no tapa que
minha mão ficou ardendo e melecada de vinho.
Oh, que prazer que senti, queria ter batido mais, mas tudo bem, acho que está
de bom tamanho.
– Vamos, Jack! – O Rui sai do carro.
O acompanho em direção às escadas do lugar e entramos num quarto
luxuoso, rodeado por uma linda cama, muitos espelhos, uma hidromassagem
imensa, um lugar para jantar, uma pista de dança, e uma piscina.
Caraca, nunca estive em um motel tão legal! – Penso.
– Lindo esse quarto! – digo admirada, andando pelo lugar, e então vejo o Rui
se jogar na cama.
Ele não está legal!
Me aproximo dele, ele está de olhos fechados, então me sento ao seu lado,
acaricio seus cabelos e me inclino sobre ele.
– Você está bem? – pergunto.
Ele abre seus lindos olhos, lindos e enigmáticos, me encara por alguns
segundos, silencioso, apenas me olha, e então ensaia um sorriso.
– Estou bem, Jack! – Ele acaricia minhas costas.
– Quer conversar comigo, desabafar, me contar o que está te incomodando? –
Continuo o olhando fixamente, e acariciando seus cabelos.
– Não tem nada me incomodando, só fiquei um pouco nervoso com o jantar,
com aqueles dois, é só isso. – Ele me puxa para mais perto. – Vim até aqui
para esquecer aquele encontro enfadonho, e não para falar sobre ele.
Ele coloca meus cabelos atrás da minha orelha, e me puxa para um beijo,
calmo, profundo e delicioso.
Voltamos a nos olhar, ele continua estranho, então começo a depositar beijos
pelo seu rosto, pescoço, orelha.
– Quer que eu relaxe você, Rui? – falo em seu ouvido, ao mesmo tempo,
começo a desabotoar sua calça. – Tenho um método infalível para relaxar, é
uma receita de família. – Brinco.
Ele sorri.
– Quero conhecer esse método, Jackeline – ele diz irônico.
Olho para ele, o beijo novamente e enfio minha mão dentro de sua boxer, ele
geme alto.
– Ohhh... – Ele dá risada. – Vamos com calma, my lady!!!
Seguro seu membro entre minhas mãos, apertando o volume generoso, duro e
ereto.
– Se há algo que nasci desprovida, é de calma, my lord!!! – Brinco com ele.
Então, desço rapidamente sua calça, tiro seus sapatos, meias, e volto a me
posicionar em cima dele, apenas de vestido.
Começo a desabotoar sua camisa, depositando beijos pelo seu peito.
– Relaxa, Rui! – falo e o beijo novamente, contínuo o sentindo tenso. – O que
você quer que eu faça em você? – falo enquanto vou descendo beijos pelo seu
tórax, sua barriga.
– Está bom assim. Pode continuar, Jack! – ele diz de olhos fechados.
Abocanho seu membro e o chupo com vontade.
– Oh, Jack! – Ele puxa meus cabelos. – Tira seu vestido, quero você nua,
adoro te ver nua, esse seu corpo me deixa louco! – ele diz apressado, me
ajudando a tirar o vestido.
Tiro o vestido e volto a acariciá-lo, mas ele senta e me puxa para junto dele.
– Quero foder você, minha delícia! – Rapidamente ele me posiciona sobre
ele, e me preenche com seu membro. – Isso, Jack... – ele diz de olhos
fechados. – Vai, minha gostosa, se mexe nele.
Me mexo sensualmente sobre ele, em movimentos de sobe e desce, me
inclino sobre seu peito, nos beijamos, ele muda nossa posição, agora estou de
bruços, ele por cima, adoro essa posição!
Ele se mexe deliciosamente dentro de mim, apesar de o sentir tenso, ele não
está bruto, ou selvagem, ele está intenso, seus movimentos são fortes, assim
como seus beijos em meus ombros, suas mordidas, tudo me excita, me deixa
insana de desejo.
– Ahhh, Ruiii! – falo ofegante. – Isso, continua, ohhh, não para... ahhh, uhhh!
– E gozo, e ele segura minhas mãos, e me fode forte, mais uma vez, e de
novo...
– Ahhh! – Grito, seus movimentos são profundos e intensos.
E ele continua, mais forte, mais intenso.
– Ruiii!!! – Grito de novo, parece que ele vai me quebrar ao meio, e quando
acho que não vou aguentar, ele para e geme alto.
– Ohhh, Jackeline!!! – Sua voz grossa e poderosa reverbera pelo quarto. –
Caralho!!! – Ele se mexe mais uma vez... – Hummm... – Mais uma vez e ele
desaba sobre mim.
Eu sei que toda a força física foi dele, mas estou esgotada, exausta.
Desta vez, ele acabou comigo.
– Oh, Rui, me desculpe, mas você está muito pesado – falo sufocada pelo seu
peso, adoro tê-lo sobre mim, mas não dá.
Ele se deita ao meu lado, fecha os olhos e respira pesadamente.
Deito ao seu lado, beijo seu rosto diversas vezes, e falo:
– Te adoro, Rui!
Ele me abraça junto a seu corpo, e ficamos em silêncio.
Ok, ele não vai dizer que me adora.
Me levanto, ele abre os olhos e me olha confuso.
– Preciso ir ao banheiro! – Sigo para o banheiro, abro a ducha e deixo a água
cair sobre meu corpo.
– Está tudo bem, Jack? – Ouço sua voz, então abro os olhos.
– Tudo bem – respondo automaticamente.
– Você parece estranha, eu fiz alguma coisa que você não gostou? – Ele entra
no box.
– Não, é que você nunca diz o que sente por mim, é estranho isso...
Ele me interrompe.
– Eu sempre falo, claro que falo! – ele diz indignado, como se fizesse
declarações de amor de um em um minuto.
– Você só fala “eu também!” – Olho para ele, ele me olha e ficamos em um
silêncio incomodo.
– Jack, eu gosto de você, não preciso ficar te dizendo isso a todo o momento
– ele diz irritado.
– É que é bom ouvir algo além de “eu também!” – O encaro novamente.
– Não estou bem hoje para falar sobre isso, me desculpe! – Ele termina de se
ensaboar, sai do box e me deixa sozinha.
Olho para ele incrédula.
Fecho os olhos e tento pensar com clareza.
– Hoje não é um bom dia para cobrar isso dele. – Penso. – Talvez outro dia,
ele não está legal hoje, Jackeline, deixe de ser imatura.
Ok, bufo com raiva, mas consciente, não vou mais falar sobre isso!
Termino o banho, seco meus cabelos, sigo para o quarto, pego minha bolsa e
termino de me arrumar.
Me embrulho em um roupão fofinho e macio, e o encontro deitado na cama,
encostado a algumas almofadas, e zapeando os canais.
Deito ao seu lado, o abraço apertado e beijo seu rosto.
– Está tudo bem, Rui, não vamos brigar.
Ele me olha de lado, me beija suavemente e passa seus braços pelo meu
corpo, me aninhando junto a ele.
– Preciso comer, Jack! Vamos pedir alguma coisa?
– Claro, escolhe alguma coisa para você, eu provei do meu prato, estava
delicioso.
– Ok, deixa eu pedir. – Ele segue até o telefone, e volta para mim.
– Quero aproveitar o que tem neste quarto, que tal irmos até a piscina? – falo
para animá-lo.
– Ok. – Ele se levanta, tiro meu roupão e o sigo até a piscina.
– Nossa, que água mais quentinha – falo me agarrando ao seu pescoço.
– Quer namorar aqui? – ele diz manhoso.
– Como você adivinhou? – respondo apaixonada, e entregue.
Então, ele começa com seus beijos, suas carícias, e quando me dou conta,
estamos transando dentro da piscina do motel, e, por sorte, não sujamos a
água.
Ficamos abraçados, apenas sentindo a respiração um do outro, e então a
campainha toca.
– Seu jantar chegou! – Olho para ele.
– Vamos lá!
****

Ficamos num silêncio agradável enquanto ele janta, vez ou outra ele coloca
um pedaço de alguma coisa em minha boca, eu apenas bebo o vinho que ele
pediu.
– O que você achou do banho de vinho que dei na Priscila? – falo com
deboche.
– Perfeito, melhor que isso, só virando a garrafa inteira na cabeça dela. – Ele
dá risada, parece ter adorado o que fiz. – O tapa também foi legal, senti em
mim, você colocou bastante força, deve ter doído.
Dou uma risada divertida.
– Adorei ter batido nela! – Bato palmas feito uma louca, e ele balança a
cabeça, parece não acreditar na minha alegria.
Ele volta a comer, e eu beberico seu vinho.
– Rui, por que ela estava te provocando com a história do tal de Fernandez?
Ele para de comer, me olha seriamente, e então desvia seus olhos de mim.
– Nada, Jack, é que esse cara é um desafeto que tenho, já estivemos frente a
frente no tribunal, ele não gosta de mim, e eu dele.
– Você ficou tão nervoso com ela, achei que havia algo a mais. – Olho para
ele, e ele me olha, então desvia seus olhos de mim, parece incomodado com
esse assunto.
– Não, não há nada demais, apenas ela me irritou com seu jeito, com suas
provocações.
Dou de ombros.
– Entendi! – Disfarço, não vou insistir, mas acho que há mais do que
simplesmente provocações.
Espero ele terminar de comer, ele se estica na cadeira e me olha
sensualmente.
– O que faremos agora? – ele diz.
Sorrio do seu jeito.
– Não sei! – O olho de lado. – Alguma sugestão? – Faço charme.
Ele se levanta, pega em minha mão e me puxa para a pista de dança.
– Vamos dançar? – falo rindo ao me ver no centro da pista, ele liga as luzes
piscantes, e coloca uma música lenta.
– Isso, my lady! Como você adivinhou? – ele diz brincando, abre o laço do
meu roupão e me deixa nua na pista de dança.
– Vamos dançar sem nenhuma roupa? Talvez eu pudesse ficar com o roupão!
– Olho para o roupão no chão.
– Nua, Jackeline! Se fosse possível queria vê-la o tempo todo nua, minha
deusa. – Ele tira a toalha que está em sua cintura, e mostra toda a sua
virilidade.
Que homem mais lindo, senhor!
– Então, tá! – A música começa a tocar, ele me abraça pela cintura, eu o
abraço pelo pescoço, e ficamos nos olhando, e dançando.
Sorrio da situação, é difícil resistir a ele vestida, nua então, é quase
impossível.
– O que foi? – ele diz com um sorriso de canto de boca. – Não gostou de
dançar assim?
Dou risada.
– Gostei, mas é que tem um negócio duro na minha barriga.
Ele olha para seu pau.
– Não consigo controlar esse cara, ele é meio compulsivo – ele diz
debochado.
– Sério?! Nunca percebi isso! – Brinco.
Voltamos a ficar em silêncio, ele me aperta mais ao seu corpo, sinto sua
respiração em minha orelha, e então sua voz baixa, rouca e sedutora.
– Eu te adoro, Jack!
Sinto um gelado no peito, uma coisa boa, eu queria que ele dissesse isso
todos os dias, desse jeito, ou olhando em meus olhos.
Tudo bem, eu preferia um “eu te amo”, mas vou me contentar com um “eu te
adoro”, acho que evoluímos muito desde que nos conhecemos.
Me afasto um pouco de seu peito, o olho emocionada e sorrio.
– Satisfeita agora?
– Sim, muito! – respondo.
Ele se inclina sobre mim, envolve meus lábios com os seus e me beija, de um
jeito diferente, intenso, apaixonado, cheio de sentimentos.
E assim, mais uma vez esquecemos nossas diferenças, os seus problemas, os
meus problemas, e nos encontramos e nos perdemos um no corpo do outro,
numa sintonia, e numa harmonia que nunca senti com ninguém.
Se não é amor o que sentimos um pelo outro, deve ser algo muito próximo, é
bom demais estar com ele, sentir que sou sua, e que pelo menos por
enquanto, ele é meu!
****

Semanas depois.
Entro no consultório da médica especialista em endometriose.
Nos cumprimentamos rapidamente, ela é bastante objetiva, um tanto quanto
seca, mas parece competente.
Falo rapidamente do meu histórico, ela olha todos os exames que fiz no
hospital e então, finalmente fala, e agradeço, já estava ficando agoniada, essa
mulher parece uma múmia.
– Então, Jackeline, não tenho dúvidas sobre seu diagnóstico, mas pedirei um
exame de vídeolaparoscopia para analisarmos melhor o seu útero, ovários,
enfim, é assim que procedo normalmente. Pela imagem dos exames seus
ovários não parecem muito comprometidos, mas é importante checarmos isso
com cuidado.
– Doutora Mariana, quero muito ser mãe, você acha que será possível? – falo
com cuidado, tenho medo da resposta, mas não posso evitar esse momento.
– Não sei, Jackeline, isso dependerá do quanto a doença comprometeu seus
ovários! – Respiro fundo. – A endometriose pode comprometer seriamente os
óvulos, os tornando enfraquecidos, difíceis de serem fecundados. Mas, ainda
assim, uma fertilização in vitro pode ser a solução, seu útero está ok, você
pode manter uma gestação, enfim. Tudo dependerá do que vermos neste
exame.
– Certo! – A olho entristecida. – Podemos marcar para logo, não aguento
mais a agonia de esperar para saber se poderei ser mãe ou não!
Ela dá um sorriso insosso.
– Você é casada? – Ela olha discretamente para minha mãe esquerda.
– Não! – Me sinto constrangida.
Ela levanta levemente suas sobrancelhas, talvez pensando porque estou com
tanta pressa se nem casada sou!
– Oh, claro, preciso examiná-la, deite-se na maca.
Sigo para um biombo, tiro minha roupa e me deito na maca.
Ela faz o exame de toque, e então fala:
– Sinto seus ovários um pouco endurecidos, possivelmente são cistos que se
formaram em função da doença.
– Mais uma notícia ruim, não é mesmo? – Seguro as lágrimas.
Ela não diz nada, o que me parece um sim, mas uma notícia ruim.
– Você pretende tentar engravidar de imediato, ou somente para o futuro? –
ela diz cuidadosa.
– Não tenho um macho interessado em me engravidar, então será para o
futuro.
Pela primeira vez, vejo seus dentes, ela sorri, pelo visto gosta de uma
piadinha sarcástica.
– Bom, então vamos seguir com os exames e cuidar de você. Pode se
levantar. Não vejo necessidade de uma cirurgia para retirada dos excessos,
mas precisarei vê-la a cada seis meses, não vamos descuidar, se você ainda
quer ser mãe, e espero sinceramente que o seja, não podemos deixar a doença
avançar em seu útero.
Sorrio, no final das contas, ela parece ter coração.
– Doutora, só mais uma dúvida. – Ela me olha interessada. – Esse
procedimento in vitro é eficaz, e... eu nunca conseguirei engravidar da forma
convencional?
– Jackeline, cada caso é um caso, existem mulheres que precisam fazer a
inseminação várias vezes, porque muitas vezes o óvulo não vinga quando é
colocado no útero. Quanto à outra pergunta, as chances são muito pequenas,
porque suas trompas estão comprometidas, o que impede o espermatozoide
conseguir fecundar o óvulo. Será muito difícil, quase impossível, mas...
– Oh, que merda! – Fecho os olhos e respiro. – Qual o custo desse
procedimento, quero dizer da fertilização in vitro?
– Uns dez mil reais por procedimento...
Arregalo meus olhos.
– Oh!!! – falo admirada. – E normalmente quantos procedimentos são
necessários?
– Depende, existem mulheres que fazem até dez inseminações, ou mais. Mas,
também, já vi casos em que apenas três foram suficientes, enfim, cada caso é
um caso.
No mínimo preciso ter trinta mil reais, o que não é pouco.
– Ok! – respondo desanimada.
Enquanto ela faz as prescrições médicas, penso no que ela disse.
Se houvesse a chance de engravidar pelo método natural, eu teria coragem de
enganar o Rui e engravidar dele, e sumiria, já que ele não quer ser pai.
Mas, pela primeira vez na minha vida, não preciso me preocupar com
camisinhas e pílulas, porque não irei engravidar.
E penso no custo dessa merda de fertilização in vitro, uma pequena fortuna,
não é qualquer casal que pode fazer isso, as chances de eu me tornar mãe
estão cada vez mais difíceis.
Merda de vida!
****

Chego ao escritório do Rui desanimada.


Tudo bem, vamos ver o que ela verá no próximo exame, talvez eu não possa
ter filhos e pronto, então arrumarei um gato para criar, já tenho o Bóris que é
meu filho adotivo, posso pegar também um hamster.
Deixo minha bolsa sobre a mesa, bato de leve na porta do Rui e entro.
Ele tira seus óculos e sorri.
– Oi, Jack, pensei que você iria me abandonar hoje! – ele diz bem-humorado.
Sigo até ele.
– Senta aqui! – Ele me puxa para o seu colo. – E então, como foi a consulta?
– ele diz carinhoso.
Deito minha cabeça em seu ombro, estou tão desanimada.
– Nada de diferente, vou fazer mais um exame, é invasivo, precisarei ficar um
dia inteiro no hospital. – Ele beija minha cabeça.
– Não fica desanimada, Jack! – Ele puxa meu rosto para olhá-lo. – Está tudo
bem, ou teve alguma coisa nova que a médica disse? Não esconda nada de
mim, eu quero saber tudo!
Ele me encara curioso, mas nem somos um casal querendo engravidar, por
que tenho que ficar dando detalhes?
– Não, ela não disse nada que o outro médico já não tivesse dito. – Me
levanto do seu colo. – Não é nada, Rui, só fico desanimada com esse
problema, com as consequências dele, enfim, coisas minhas.
– Entendo. – Ele se levanta, vem até mim, segura meu rosto entre suas mãos
e me olha. – Vamos almoçar em minha casa hoje, tem uma coisa que quero te
dar. – Ele sorri, e acabo sorrindo junto.
– O que é? – digo curiosa, no final, sou como todas as mulheres, não me
aguento de curiosidade.
– Surpresa! – Ele me beija demoradamente, e sinto uma coisa boa, preciso
tanto dele do meu lado, ele é uma pessoa tão forte, me sinto tão bem quando
estou com ele.
Então, o abraço forte, retribuo seu beijo, e tento esquecer essa história de ser
mãe, isso anda mexendo com minha sanidade, preciso esquecer um pouco
isso.
Afastamos nossos lábios, mas volto a abraçá-lo forte, intensamente, e ele faz
o mesmo.
– Quer conversar, Jack? – ele diz no meu ouvido.
Eu queria falar para ele todos os meus medos, mas será estranho, e parecerá
que estou de algum modo o forçando a me assumir, querer ter um filho
comigo.
– Não, só quero carinho – falo abraçada a ele.
Respiro fundo, espanto minhas angústias e me afasto dele.
– Estou melhor, estava precisando de um abraço, e um beijo, é só isso. – Sigo
para a porta, e ele fica parado no meio de sua sala. – Vou trabalhar, chefe, vá
trabalhar também. – Aceno para ele e fecho a porta.
****

Seguimos para o seu apartamento num clima romântico, andamos muito


românticos um com o outro.
Na verdade, à medida que o tempo passa, nosso namoro está cada vez
melhor, e, às vezes, esqueço que o Rui era aquele cara cafajeste que conheci
há poucos meses atrás.
Ele leva minha mão até seus lábios, e a beija longamente.
– Você está melhor agora? Você chegou um pouco abatida da consulta, tem
certeza que não houve nada demais lá? – Ele me olha intensamente.
– Rui, as chances de algum dia eu ser mãe são pequenas, e isso mexe muito
comigo! – Meus olhos enchem de lágrimas. – Mas esse é um problema meu,
então, não quero falar sobre isso.
Disfarço, olho para o vidro do passageiro.
– Tudo que diz respeito a você me interessa, Jack! – Ele puxa meu queixo
para eu olhá-lo. – Sou seu amigo, converse comigo.
– Não tenho muito o que conversar sobre isso, e estou cheia desse assunto –
falo irritada.
– Oh, que mudança de humor! – Ele me olha enfezado.
– Me deixa, Rui, por favor! – falo estressada.
– Ok! – Ele tira sua mão de mim e ficamos em silêncio.
Logo ele entra em seu prédio e estaciona em um lugar diferente.
– Por que paramos aqui? – pergunto curiosa.
– Eles estão fazendo manutenção na iluminação, não posso usar minha vaga.
– Ele me olha, dá um sorriso contido e sai do carro.
Saio do carro e sigo até ele, que segura minha mão e me olha.
– Quer ver sua surpresa agora ou depois? – Ele sorri.
O olho confusa e sorrio.
– Agora – falo rapidamente, então ao invés de ir para o elevador ele segue
adiante.
– Para onde estamos indo? – pergunto confusa.
Mas antes que ele responda, chegamos a sua vaga, e diferente do que ele
disse, não há nenhuma manutenção no local, vejo apenas um carro preto
estacionado em sua vaga.
Olho para ele confusa.
– Essa é a sua surpresa! É seu, Jack! – ele diz com um sorriso lindo, parece
meio tímido.
Olho para o carro, estou meio abobada, não acredito nisso. Ele me deu um
carro de presente?
– Rui, não entendi! – falo entorpecida, surpresa, tudo junto.
Ele segue até o pneu do carro, pega algo e volta até a mim.
– Quer que eu desenhe, Jack? – Ele entrega uma chave para mim e sorri.
Sinto uma emoção no meu peito, uma taquicardia, eu não acredito que ele fez
isso, ele não deveria ter feito isso.
– Rui, eu não posso aceitar – gaguejo, meus olhos enchem de lágrimas. – Eu
não mereço, é um presente muito caro, e...
– Mas eu já comprei! Se você não aceitar, eu vou ficar muito chateado. –
Olho para ele com meu rosto encharcado de lágrimas, volto a olhar
petrificada para o carro, é lindo demais, um sonho.
E então, já que não posso dizer não, explodo de felicidade, agarro seu
pescoço, e começo a beijá-lo feito um louca, em todos as partes de seu rosto.
– Obrigada, Rui! – falo e o beijo simultaneamente, e ele ri, parece adorar
meu rompante de loucura, e de felicidade. – Oh, Rui, porque você fez isso? É
loucura. – Seguro seu rosto entre minhas mãos, cheio de marcas de batom
para todos os lados. – Obrigado, Rui, eu amo você! – Oh, não era para falar
essas palavrinhas, mas elas explodiram no meu peito.
Agarro novamente seu pescoço, e mergulho meus lábios nos seus, com tanta
fome, e com tanta vontade que esqueço onde estamos. – Quero fazer amor
com você, dentro do carro! – Ele se afasta de mim e me olha surpreso.
– Aqui, na garagem?– Ele me olha perplexo.
– É... – Pego a chave. – Como abre ele? – falo atrapalhada.
O Rui aperta um botão, uma luz vermelha acende.
– Vamos, Rui, me fode no meu carro novo! – falo ensandecida, excitada, e
louca por ele.
Ele me olha de lado e sorri daquele jeito que adoro vê-lo, bem safado.
– Você quem manda, patroa! – ele diz irônico, abre a porta e entra. – Vem,
Jack, será meio desconfortável, mas a gente dá um jeito!
Oh, mas minha libido está na lua, nada será mais prazeroso do que transar
com o homem dos meus sonhos, no carro dos meus sonhos.
Entro do lado do passageiro e sinto aquele cheiro característico de carro
novo, e sorrio.
– Ele é lindo, e cheiroso, e é meu! – Pulo no pescoço do Rui de novo, e em
seu colo, e começamos a nos beijar feito dois loucos.
Ele abre minha camisa, tira meus seios para fora e os engole, e parece que
isso nunca foi tão prazeroso, estou louca de tesão.
Então, começo a desabotoar sua calça, o zíper...
– Rui, tira logo isso – falo desesperada. – Eu quero que você me foda, Rui. –
Seguro seus cabelos, os puxos, e mergulho novamente meus lábios nos seus,
e o beijo desesperada, excitada, louca por ele.
Em um movimento rápido ele desce sua roupa.
– Pronto, Jack! Sou todo seu, minha taradinha! – ele diz com um sorriso
safado no rosto.
Minha saia já está na minha cintura, então apenas afasto minha calcinha e
subo em sua ereção.
Fecho os olhos e sinto um prazer alucinante.
– Oh, Rui, seu pau é o mais delicioso do mundo – falo louca de tesão.
Ele dá uma risada.
– E a sua buceta a mais gostosa que já provei – ele diz rouco e sensual.
Suas mãos se espalmam em meu bumbum, e o apertam, e começamos com os
movimentos, e com os beijos, e finalmente nossos gemidos, a loucura do
clímax e finalmente o silêncio, apenas nossas respirações são ouvidas.
– Eu sei que todas as nossas transas são incríveis, Rui, mas essa parece que
foi mais – sussurro em seu colo, de olhos fechados, apenas sentindo meu
coração batendo desenfreado.
– Também achei! – Ele sorri. – Talvez, porque nunca fizemos sexo em um
carro, então teve um gostinho diferente – ele diz meio ofegante. – Está calor
aqui dentro, né?
Olho para ele, seu rosto molhado de suor, e aí percebo que as gotas de suor
escorrem pelo meu pescoço, costas...
– Um calor dos infernos! – Dou risada. – Obrigada, Rui, não sei como te
agradecer, é um presente maravilhoso, muito caro, muito valioso.
Ele me olha sério, profundamente.
– Não precisa agradecer, minha deusa. Você merece cada mimo que eu fizer
a você! – O olho hipnotiza. – Você é a mulher mais incrível que já conheci.
Fico emocionada novamente, e começo a chorar, ele me abraça forte.
Tento me controlar, enxugo as lágrimas do meu rosto e sorrio.
– Obrigada! – O olho sorrindo. – Adorei, é lindo!
Ele sorri.
– Pronto, era só isso que eu precisava saber – ele diz.
O abraço novamente, e sinto como se o carro estivesse pegando fogo.
– Vamos sair daqui, estou morrendo de calor. – Dou risada.
– Oh, pensei que você iria querer dar uma segunda, e eu precisaria dizer que
não dá, Jack, preciso tomar um banho, estou com minhas costas molhadas de
suor.
Dou risada de novo, estou muito feliz.
Encho novamente seu rosto de beijos.
– Tudo bem, vou te deixar em paz, mas só por alguns minutos. – Saio do seu
colo. – Passaremos nosso horário do almoço transando, Doutor Rui
Figueiredo.
Ele dá uma gargalhada e sai do carro.
Capítulo 60
RUI FIGUEIREDO

D esde meu encontro com a Priscila e seu pai, naquele jantar desastroso,
não consigo mais dormir em paz.
Algo em meu íntimo, um sexto sentido, não sei, mas algo me diz que terei
problemas com a Priscila, só não sei quando.
Eu preciso me abrir com alguém sobre isso, mas não pode ser com a Jack.
Tenho sido sincero e honesto com a Jack desde que assumimos nosso
relacionamento, mas não tenho coragem de contar a ela sobre meu passado.
Me sinto envergonhado, gostaria de esquecer essas coisas que fiz, para
sempre, mas não consigo, e a prova disso está nos arquivos da promotoria,
onde agora tenho uma inimiga de peso.
Pego meu celular e ligo para o meu pai, estou precisando falar com ele.
A ligação completa.
– Rui! Como vai, filho? – ele diz animado como sempre.
– Bem, pai. E o senhor? – respondo.
– Tudo certo, analisando um processo complicado. – Ele sempre está
enrolado, o que me leva a pensar que meu pai nunca irá se aposentar. – Mas,
então, o que houve, você me parece preocupado?
Meu pai me conhece muito bem, é impossível esconder algo dele.
– Pai, a Priscila está agora na promotoria de São Paulo.
– Oh, que surpresa, não sabia que ela estava se preparando para isso.
– É, ela sempre quis isso e agora conseguiu! – falo irônico. – Lembra-se do
promotor Fernandez? Ela irá trabalhar com ele!
– Oh, como se esquecer daquele pé no saco... – Ele bufa irritado. – Mas, Rui,
seja direto, o que está te preocupando? Já se passaram muitos anos, seu
processo foi arquivado e você absolvido.
– Estive em um jantar com o Albuquerque e sua filha, talvez a Priscila ainda
achasse que havia chances de retomarmos nosso relacionamento, mas o fato
de eu ter levado a Jackeline comigo acabou destruindo qualquer
possibilidade de voltarmos.
– Você gosta dessa moça, Rui? Essa tal Jackeline?
Me sinto constrangido de falar sobre sentimentos com meu pai, mas não
posso esconder da minha família o que está havendo entre mim e a Jack.
Estou apaixonado por ela, estamos juntos, e cada dia que passa estamos
mais envolvidos.
Acho que está na hora da minha família aceitá-la!
– Sim, gosto, e gostaria que vocês a conhecessem melhor. Ela é muito
especial para mim.
– Claro, a traga novamente para passear em nossa cidade, mas peça para
ela colocar roupas mais comportadas. – Ele dá uma gargalhada, e não
consigo deixar de rir com ele. – Ela assustou um pouco sua mãe, você
conhece a Dona Raquel, ela é muito tradicional, acabou tendo uma falsa
impressão da moça.
Reviro meus olhos.
– A Jackeline não é uma mulher qualquer, pai. Ela só estava vestida daquele
jeito para me agradar – falo me sentindo culpado.
– Tudo bem, Rui. Sou homem, percebi que vocês estavam em momentos de
intimidade, o problema é sua mãe, mas não se preocupe com isso! – Ele fica
quieto por alguns segundos. – Será que agora terei chances de ser avô por
parte do meu filho primogênito?
Penso um pouco...
– Não sei, pai! – respondo pensativo, estou apaixonado pela Jack, mas isso
não quer dizer que queira me casar com ela, ter filhos, essa é outra história.
Ainda é muito cedo para pensar nisso, faz poucos meses que estamos juntos.
Fico em silêncio, mas meu pai retoma o assunto.
– Bem, vamos voltar ao que estávamos falando. Qual sua preocupação com
relação à Priscila?
Respiro e inspiro pesadamente.
– Ela está magoada por tudo o que aconteceu, e aproveitou a ocasião em que
estávamos todos reunidos para sugerir que o promotor Fernandez tem a
intenção de retomar antigos casos. A verdade, pai, é que ela quer se vingar
de mim, porque mulher rejeitada é pior que ex-mulher – bufo exausto. –
Estou preocupado, se esse assunto cair em mãos erradas, ou vazar, minha
reputação de advogado honesto e respeitado irá por água abaixo, estarei
arruinado.
– Não acredito nisso, Rui. O caso está arquivado há anos, você foi absolvido
pelo Albuquerque!
– Sei lá, pai, o senhor pagou pela minha absolvição, e o tal do Fernandez
nunca engoliu isso, pode ser que agora ele ache um jeito de desenterrar essa
merda. – Me levanto e ando em círculos pela minha sala.
– Tudo bem, Rui, fique calmo. Vou pensar num jeito de descobrirmos se há
algum movimento na promotoria para rever o seu caso.
– Certo, mas tome cuidado com quem o Senhor fala, o Albuquerque tem seus
contatos.
– Fique tranquilo, eu também tenho minhas fontes. – Ele sorri.
– Obrigado, pai, e não fale nada sobre isso com minha mãe! Ela
pode querer falar sobre o assunto com a mãe da Priscila e aí a merda está
feita.
– Claro, não falarei nada. Cuide-se, filho, e traga novamente essa moça
aqui, quero conhecê-la melhor.
Sorrio.
– Sim, farei isso. Um abraço.
Desligo.
Me jogo em um sofá confortável de minha sala e tento me acalmar.
Em nada adiantará ficar nervoso.
Talvez a Priscila só quisesse mesmo é infernizar minha vida.
Ok, preciso da minha deusa para me acalmar, e então faço a coisa que ela
mais odeia no mundo, berro bem alto seu nome e dou risada de mim mesmo.
– Jack!!!
A porta abre num solavanco e minha oncinha preferida aparece com sua cara
assustada.
– Quem morreu? – ela diz brava. – Você precisa de um megafone? Eu posso
providenciar para você, Rui – Ela fecha a porta.
Sorrio para ela.
– Estou precisando de uma massagem, Jack! Faz isso para o seu chefinho
querido? Pode tirar a roupa e ficar à vontade! – Começo a abrir os botões da
minha camisa.
– Não, Rui, eu tenho um mundo de coisas para fazer – ela diz apavorada, me
fazendo rir do seu desespero.
– Relaxa, Jack, acho que você está tensa. – Caminho até ela, jogo minha
camisa na cadeira.
– Não, Rui! – ela diz rindo. – Nem mais um passo! Eu preciso trabalhar, Rui,
me deixa em paz! – Agarro sua cintura.
– Agora não, Jack! Agora é hora de namorarmos um pouco. – Começo a
depositar beijos em seu pescoço. – Vamos foder bem gostoso, Jack. – Abro o
zíper de sua saia e tranco a porta.
– Rui você está muito mal-acostumado! – Ela reclama, mas já está de olhos
fechados, completamente entregue. – Oh, meu Deus, eu tenho tantas coisas
para fazer, e ao invés disso estou trancada com meu chefe safado.
Dou risada.
– Você não vive mais sem o seu chefe safado! – Apalpo seus seios deliciosos.
– Não quero mais você vestida com essa blusa, se vestir, não tira o blazer –
falo faminto e ciumento. – Esses seios são só meus, não quero ninguém
olhando para eles. – Abocanho seus mamilos rosados.
– Ahhh... – ela geme. – Mas foi você que me deu essa blusinha! – ela
sussurra.
– Mas só pode usar ela para mim. – Volto a sugar seus mamilos.
– Oh, Rui! – ela geme. – Depois fazemos isso, estou cheia...
A interrompo.
– A gente faz rapidinho, Jack! Preciso relaxar, minha deusa, estou tenso pra
caralho! – A coloco sobre a mesa de reuniões, abaixo minha calça, afasto sua
calcinha e a penetro deliciosamente. – Tá gostoso, minha delícia? – Me
movimento vagarosamente dentro dela.
– Sim! – ela diz em um gemido. – Hummm, que delícia, me beija! – Ela abre
levemente sua boca vermelha, me enchendo de tesão.
Fodo forte sua buceta.
– Você gosta assim, Jack?
Ela geme alto.
– Gosto, Rui! Ahhh, continua...
– Assim? – Faço com força, do jeito que ela gosta.
– Isso... – Mais um gemido de prazer. – Não para, eu vou gozar! – ela diz
com os olhos fechados.
Invado sua boca com a minha, e fodo com força, segurando suas coxas, e
pressionando seu corpo contra o meu.
E então explodo de prazer, em ondas alucinantes, parece que não vou parar
nunca de gozar, mas por fim, a exaustão do sexo me atinge, e finalmente
paro.
Fui até outra galáxia, sexo com a Jackeline é sempre incrível.
– Que delícia, Rui! – Ela relaxa sua cabeça em meu ombro.
Abro meus olhos e encontro os dela, brilhantes e vivos.
– Valeu a pena perder uns minutos comigo? – Faço charme.
– Sempre vale a pena! – Ela me encara. – Te amo, Rui! – Seus olhos ficam
ansiosos.
Essa é a segunda vez que ela diz que me ama, e isso é bom demais.
– Eu também, Jack! – Volto a beijá-la, ainda não estou preparado para falar
essas palavras, elas têm um significado muito forte para mim, só quero falá-
las de verdade quando tiver certeza absoluta que é isso que sinto.
Sou complicado no amor, tenho medo de me entregar, ela precisará ter calma
comigo.
Separamos nossos lábios, ela segue para o banheiro para se arrumar, ajeito
minha camisa, e logo ela volta.
– Sua mãe gostou do carro? – pergunto curioso.
Ela sorri.
– Claro, ela não é boba nem nada! Levei as três para darem uma volta
comigo, as levei para tomar um sorvetinho! – Ela dá uma risada. – Foi
cômico, Rui.
– Que bom, mas hoje você fica comigo, um dia sim e outro não, para
ninguém ficar com ciúmes! – A abraço novamente, a Jack me passa uma
energia boa, ela tira meu estresse, meu mau humor.
Está certo que de vez em quando ela me estressa e me deixa de mau humor,
mas uma coisa tem compensado a outra.
– Então agora me deixa ir, grudentinho. Tenho que trabalhar, Rui. – Ela
choraminga. – Já estou com os dois candidatos que quero te mostrar. – Ela
faz uma careta.
Afasto-me dela e sigo para minha mesa.
– Quer adiantar alguma coisa? – Me sento, coloco meus óculos e volto para
meus processos.
– Você está com um tempinho?
– Para você, sempre. – Relaxo em minha cadeira.
– Vou buscar os currículos, já volto! – Ela sai e volta apressada, a Jack é uma
excelente profissional.
Eu nunca imaginaria que ela se sairia tão bem como minha assistente, eu só
queria conquistá-la, e olha só no que deu.
Ela se senta a minha frente, e me entrega os currículos.
– Rui, talvez eu não seja a pessoa mais qualificada para escolher a pessoa que
ficará na recepção do seu escritório, eu fiquei com ciúmes de você, por isso
armei aquela confusão toda. – Sorrio de sua confissão. – Não quero mais ver
loiras circulando por aqui, sou possessiva, é isso.
Volto a relaxar em minha cadeira e a olho sorrindo.
Oh, mulherzinha difícil! – Penso.
– Então, o que você quer dizer com esse discurso? – A olho intensamente. –
Posso dar um palpite? – Não a deixo responder. – Você não selecionou
nenhuma mulher, é isso?
– Selecionei, sim. Mas ela não é uma modelo, mas é inteligente, sabe falar e
escrever, tem 25 anos, enfim, é uma pessoa comum.
– Certo, e o que mais? – Cruzo meus braços.
– A outra pessoa... – Ela mexe nervosamente em seus papéis.
– Sei... – Já vi que vem bomba.
– É um gay.
Dou uma risada alta e escrachada.
– Gay? Qual a sua fascinação por gays, já não chega o seu ex-namorado?
Ela faz uma careta.
– Você não tem certeza que ele é gay.
Me irrito com a necessidade que ela tem de defender esse maldito.
– Nem você, Jack. Às vezes, parece que você quer que ele seja homem de
verdade, talvez ainda tenha planos de voltar com ele. – O nível de minha
irritação aumentou, odeio falar sobre esse cara.
– Rui, por favor, não estamos falando sobre isso, e nem eu estou interessada
em ninguém! – ela diz indignada. – Caramba, me deixe falar sobre o
candidato.
Respiro e inspiro para me acalmar.
– Fala, seja rápida. – respondo estressado.
– Ele é um menino de 20 anos, cursa Direito, é muito inteligente, tem uma
ótima postura, não é afetado, se é isso que te incomoda. – Ela solta o ar
ruidosamente. – Ele foi tão bem nos testes que fiz, ele escreve muitíssimo
bem. E está tão empolgado para trabalhar em um escritório de advocacia. –
Ela me olha intensamente. – O entreviste, só para você saber do que estou
falando.
– Não sei se daria muito certo, prefiro uma mulher, elas se dão melhor no
atendimento.
– Entre nós, você tem preconceito, não tem? – Ela me olha seriamente.
– Não, a Carolina é homossexual, eu sei disso, e nem por isso tenho
preconceito contra ela.
– Mas ela é mulher, não tem nenhum advogado gay em seu escritório. – Ela
me encara.
Que mania que essa mulher tem de se meter com meus funcionários, porra!
– Jack, não me diga que agora você quer meter o seu dedinho podre nos meus
advogados? – A encaro realmente bravo. – Caralho, que mania que você tem!
– Não quero saber de seus advogados, só fiz uma observação. – Ela se
levanta. – Vamos fazer o seguinte, peça para o departamento de Recursos
Humanos escolher a candidata do seu jeito, não quero me meter com seus
funcionários.
Ela pega seus papéis, e sai nervosa em direção à porta, mas antes que ela a
abra eu grito.
– Voltei aqui, Jackeline!!! Estamos conversando, caralho!!! – falo nervoso.
Ela para com a mão na maçaneta, vira em minha direção e me olha com sua
cara de italiana folgada.
– Pois não?
Ela é muito folgada, merecia uns tapas em seu bunda gostosa.
– Aqui, Jackeline! – falo autoritário.
Ela caminha sensualmente, exibindo um bico do tamanho do mundo.
– Você está merecendo levar uns tapas em seu bumbum gostoso, sabia?
Ela segura seu riso.
– Pode dar, eu gosto! – ela diz bem safada.
Sorrio, ela adora me provocar.
– Talvez à noite eu queira bater bem forte, te fazer gritar até o vizinho do
andar de baixo reclamar para o zelador.
Ela solta uma gargalhada, no final, a Jack é uma devassa deliciosa.
– Marque para os dois virem aqui conversar comigo, o mais rápido possível,
você está demorando demais com isso.
Ela sorri satisfeita, no final das contas, estou fazendo tudo que ela quer, mas
tudo bem, talvez eu precise oxigenar um pouco minhas ideias.
– Obrigada por confiar em mim. – Ela se senta em meu colo, me abraça e me
beija.
– Não disse que confio em você. – A provoco.
Ela se levanta nervosinha.
– Jack, controla seus nervos, caralho!
Ela me olha por cima de seu ombro e sorri.
– Tchau, seu chato!
Então, ela sai rebolando seu traseiro delicioso, e sem querer já estou
imaginando sacanagens, e como será nossa noite de sexo.
Capítulo 61
JACKELINE BARTOLLI

A credito que estou vivendo a melhor fase da minha vida, estou plena no
amor, estou feliz com meu trabalho, e minha vida está maravilhosa como
nunca esteve.
Tudo bem que ainda existem problemas que me incomodam, como por
exemplo, a endometriose, mas tenho procurado não pensar muito sobre isso,
estou me cuidando, farei o tal exame que a médica pediu, enfim, não tenho
como controlar isso. No final das contas, estou nas mãos de Deus, é ele quem
dirá se um dia serei mãe.
Estou aguardando a chegada dos dois candidatos para o cargo da recepção, e
confesso que estou ansiosa, foi muito difícil escolher uma pessoa que me
agradasse, mas acima de tudo, pensei no escritório do Rui, alguém que
contribua de fato, e que não sirva apenas para embelezar o ambiente.
Tenho que confessar, amei o rapaz, ele é maravilhoso, inteligente, agradável,
mas também fiz questão de escolher uma garota, ela é bonita, inteligente e
formada.
Sei lá, havia outras pessoas interessantes, é muito difícil escolher alguém para
uma vaga, tentei usar meu bom senso e um pouco do meu conhecimento em
Psicologia, não sei se fui feliz, espero que sim.
A campainha toca, e como não temos recepcionista, desço as escadas
apressada, acho que estou ficando com as pernas musculosas, de tanto subir e
descer escadas.
Mas, tenho que dizer, não me importo de estar trabalhando em dobro, faço o
que o Rui me pedir, ele é maravilhoso para mim, me sinto em dívida com ele
por tudo que ele tem feito, o carro, os exames médicos...
Abro a porta e dou de cara com o rapazinho, o nome dele é Alexandre.
– Bom dia, Alexandre! – Estendo minha mão para ele.
– Bom dia, Jackeline! – Ele me cumprimenta sorrindo, ele é muito simpático,
sorri muito.
Adorei ele.
– Entre, o Doutor Rui está esperando por você – falo rapidamente, ando
muito agitada, nunca trabalhei tanto em minha vida, mas como disse, estou
adorando.
Ele me acompanha pelas escadas, parece um pouco tenso, tento descontrair,
pergunto do trânsito, da faculdade.
No final das contas, acho que uso minha faculdade de Psicologia no meu dia
a dia, confesso que não consigo aplicar meus conhecimentos em mim mesma,
talvez meu psicólogo agora esteja sendo o Rui, ele me entende mais do que
eu imaginava.
Bato na porta do Rui e entro.
Um geladinho toma conta do meu estômago, estou insegura, não sei se ele
gostará das pessoas que selecionei.
– Rui, esse é o Alexandre.
O Rui tira seus óculos de super-homem, olha para nós, ensaia um sorrindo e
segue em nossa direção.
– Prazer, Alexandre. – Ele estende sua mão para o menino.
– Prazer, Doutor Rui! Já ouvi muito falar do senhor lá em nossa faculdade,
nosso professor de Direito de Família sempre o cita em alguns casos. – O
rapaz descamba a falar, eu disse que ele é muito simpático, e esperto.
Olho para o Rui e vejo sua cara de satisfação, ele é bem vaidoso, e saber que
seu nome é referência em uma faculdade o deixou nas nuvens.
– Que ótimo, Alexandre, vamos nos sentar! – Ele indica a mesa de reuniões.
– Pode ir, Jack, depois te chamo.
Ele me olha sorrindo.
Oh, eu queria tanto ficar e participar da entrevista, tenho medo que o Rui seja
grosso com o rapazinho.
Saio decepcionada, volto para minha mesa e aguardo enquanto a entrevista
não termina.
Os minutos passam sem que a porta se abra, estou começando a ficar nervosa,
então ouço a voz do Rui e os dois saem da sala.
O Rui conversa animado com o garoto, ele estende a mão para ele, e diz:
– Obrigado, Alexandre, a Jackeline entrará em contato com você! – Ele me
olha e volta para sua sala.
Olho para o rapaz ansiosa, e sigo com ele pelo corredor.
– Deu tudo certo na entrevista? – pergunto com cuidado.
– Sim, foi muito boa. – Ele diz animado. – Mas, vamos ver se ele gostou de
mim, normalmente o fato de ser gay atrapalha um pouco, as pessoas ainda
têm preconceito no trabalho.
– Oh, entendo – falo preocupada, será que o Rui cometeu alguma gafe? –
Mas, se tiver que ser, será, não é mesmo? Eu gostei muito de você! –
Chegamos à recepção. – Obrigada por ter vindo, e boa sorte!
– Obrigado, Jackeline! – Ele se despede e vai embora.
Saio correndo pelas escadas, chego à sala do Rui sem fôlego, abro a porta e
olho para ele ansiosa.
– Gostou dele? – Ele levanta seus olhos dos seus processos e me olha.
– Está ansiosa, Jack? – Ele cruza seus braços atrás de sua cabeça, mostrando
aqueles bíceps maravilhosos.
Sigo até sua mesa, me sento em seu colo, passo meus braços pelo seu
pescoço.
– Diz o que achou dele!
Ele dá risada.
– Esperto, inteligente, gostei dele, e é meu fã, isso sempre ajuda.
Sorrio feliz.
– Sabia que você iria gostar do rapaz, eu já conheço um pouco meu advogado
preferido. – O encho de beijos nas bochechas.
Ele me abraça junto ao seu corpo.
– Quer namorar um pouco? Estou com saudades da minha oncinha! – Ele
beija meu pescoço e sorrio.
Adoro quando ele me chama de oncinha, acho tão bonitinho.
– Foi delicioso ontem à noite, Jack. – Ele acaricia meus seios. – Você estava
deliciosa. – Ele segura meus cabelos entre suas mãos, os puxando levemente.
– Você gritou tanto, delícia! – Sorrio contra seus lábios.
– Acho que acordamos o prédio todo! – respondo envergonhada de mim
mesma.
Oh, como é difícil namorar um chefe como o Rui, porque ele só pensa em
sexo o dia todo.
– Eu preciso ir, Rui, a outra candidata deve estar chegando! – O beijo
rapidamente. – Vou voltar para minha mesa, depois namoramos! – Ele segura
minha nuca, me beija novamente, e já começo a sentir a excitação tomar
conta de mim, não sei o que acontece com a gente, não podemos ficar juntos
por muito tempo que já começamos com as sacanagens.
Oh, que calor!
Levanto do seu colo, mas ele me puxa, e a campainha berra lá embaixo.
– Falei que ela estava chegando. – Limpo seus lábios. – Eu já volto com a
garota.
Desço rapidamente para a recepção, abro a porta e lá está a candidata. Ela é
muito bonita, mas tentei não ser hipócrita, mulheres bonitas existem em todo
lugar, não adiantará em nada tentar fugir disso, e se o Rui for um cafajeste,
ele irá atrás delas e pronto.
– Bom dia, Cristiane! Como vai? – Estendo minha mão para ela.
– Tudo bem, Jackeline e você? – Ela é muito simpática, tem um sorriso lindo,
branco e perfeito, mas não é só isso, ela é muito inteligente, tem um
português perfeito, e não tem nada de pretensiosa.
Sinto um ciúme latejar em meu peito, às vezes, sou insegura, sempre acho
que serei traída pelo Rui, e isso é muito ruim, preciso confiar nele.
– Vamos subir, o Doutor Rui está aguardando por você! – Confesso que não
estou tão esfuziante com ela, como estava com o garoto.
No final das contas, sou uma tonta, uma idiota.
Bato de leve na porta, a abro e vejo o Rui olhando pela janela.
Ele olha para nós e sorri.
– Rui, essa é a Cristiane! – Ele se aproxima, e faz o mesmo que fez com o
Alexandre, estende sua mão para ela.
– Prazer, Cristiane! Sente-se, por favor. – Ele indica uma cadeira, e fico o
observando, e sem notar procuro por rastros de uma possível recaída sua.
Solto o ar, viro de costas e sigo para a porta.
Estou ficando paranoica.
– Jack! – Viro para olhá-lo. – Fique, participe da entrevista comigo.
Sorrio para ele.
– Não há necessidade, eu já entrevistei a Cristiane, e estou com muitas coisas
para fazer. – Volto a caminhar para a porta.
Sento em minha mesa e respiro, eu preciso confiar nele, seria ridículo
participar dessa entrevista só porque é com uma mulher.
Volto às minhas atividades e me surpreendo quando a porta abre, e apenas a
garota sai.
A entrevista com o rapaz foi bem mais demorada.
Me levanto rapidamente e sorrio para ela.
– Tudo bem? – Caminho com ela pelo corredor.
– Sim, ele me perguntou algumas coisas, e me pediu para aguardar um
contato seu, espero que ele tenha gostado de mim. – Olho para ela, a acho
meio decepcionada.
Estendo minha mão para ela.
– Assim que tiver a decisão do Doutor Rui, te ligo. Obrigada por ter vindo. –
Me despeço rapidamente, e volto correndo para nossa sala.
Dois toques na porta e a abro apressada.
O Rui está digitando algo em seu computador, apenas me dá uma olhada
rápida.
– O que achou da garota? – falo ansiosa.
– Boa também. – Ele continua com o que está fazendo.
– E então, já se decidiu? – Me sento a sua frente.
Ele tira seus óculos, relaxa em sua cadeira e me olha, mordendo a haste dos
óculos.
– Estou pensando. – Ele me lança seu olhar enigmático. – Talvez... – Ele não
termina a frase.
– Já sei, você gostou mais da garota, tem mais o perfil do escritório – falo
desanimada.
Ele balança sua cabeça negativamente.
– Você não me conhece de fato, Jackeline.
– Ah, é?! Então, talvez o rapaz? – falo surpresa.
– Sim, gostei mais do Alexandre. É esse o nome dele, né? – Ele sorri.
Sorrio satisfeita.
– Sim. Confesso, você me surpreendeu, Rui.
– Sou um cara surpreendente, Jackeline. – Ele me olha com sua expressão
sedutora. – Agora quero meu presente, tranque a porta.
Dou risada.
– É pra já, chefinho lindo!
****

Um mês depois.
O tempo tem voado desde que conheci o Rui e que comecei a trabalhar em
seu escritório.
Parece mentira que estamos juntos há mais de três meses.
Hoje farei aquele exame solicitado pela médica, acabei demorando um pouco,
mas é que estava tendo dificuldades com a agenda da médica, e com a minha.
Mas, enfim, hoje é o grande dia, talvez eu tenha péssimas notícias, estou
tentando me preparar psicologicamente.
Este mês tive novas crises de dor, faltei um dia, no outro fui trabalhar, mas
não suportei de dor, e o Rui acabou me levando para o hospital.
Está difícil, mas tento não desanimar.
Às vezes, no meio das crises de cólicas, tenho vontade que tirem meu útero
fora e assim nunca mais sentirei dor na minha vida!
Sigo para a sala do Rui, preciso avisá-lo que já estou saindo.
Bato em sua porta e entro.
– Já estou indo, mas o Alexandre está a par das minhas pendências, ele é
muito esperto e está pronto para te auxiliar no que for preciso – falo
preocupada.
Ele me puxa para o meio de suas pernas, me abraça pelos quadris.
– Fique tranquila, eu me viro com o Alexandre. – Ele beija minha barriga, e
isso me remete a uma gravidez, e me sinto angustiada, fazendo meus olhos
encherem de lágrimas. – O que foi, Jack? – Ele segura meu rosto.
Puxo o ar.
– Nada, só estou um pouco preocupada com o que a médica encontrará em
meu útero. – Evito olhar para ele.
Ele se levanta e me abraça.
– Fique calma, vai dar tudo certo. – Um beijo em meus cabelos. – Estarei lá
no final do dia. – Mais beijos em meus cabelos, ele é o homem mais
carinhoso que já conheci, só perdendo para o meu falecido pai.
– Tá bom, o táxi já deve estar lá embaixo. – O beijo rapidamente, aceno e
saio.
****

Depois de passar pelos trâmites burocráticos do hospital, sigo para um quarto


que está reservado para mim.
O seguro médico que o Rui disponibilizou para mim é simplesmente o
melhor.
Ajeito minhas coisas no armário do quarto, visto a camisola hospitalar e
aguardo até que a enfermeira volte para me buscar.
Enquanto espero ligo rapidamente para minha mãe.
– Mãe, é a Jack! Está tudo bem por aí? – falo apressada.
– Oi, filha! Claro que está e você?
– Estou bem, aguardando a médica para fazer aquele procedimento. – Olho
para minhas unhas, estão todas roídas, ando nervosa por causa desse exame.
– O Rui está com você? – Ela confia tanto nele, estranho isso.
– Não, mãe, mas ele virá no final do expediente do escritório.
– Tudo bem! Dará tudo certo, estou fazendo uma novena para Nossa
Senhora de Fátima. – Percebo sua voz embargar. – Ela está olhando por
você, querida.
– Está tudo bem, mãe. Não sei qual será o resultado, mas estou preparada.
Respiro profundamente.
– Você voltará para casa hoje? – Ela pergunta carente. – Eu cuidarei de
você, você precisa de repouso, Jack.
– Não sei mãe, verei o que o Rui quer fazer, mas provavelmente ele me
levará para casa amanhã mesmo.
Terei que fazer um repouso de sete dias no mínimo, não tenho por que ficar
em sua casa, preciso de descanso e nenhuma atividade sexual.
– Está bem, Jack, sua avó e sua tia estão mandando um beijo para você. Boa
sorte, filha.
Desligamos a ligação.
Coloco o celular em meu colo e relaxo minha cabeça nos travesseiros, mas
um som de chegada de mensagem me chama a atenção.
Abro o aplicativo de mensagens e vejo uma notificação da Carolina.
“Amiga, me desculpe não poder te acompanhar neste momento, mas
se precisar irei buscá-la, isso se o maridão não for.”
Sorrio com sua mensagem e respondo.
“Fique tranquila, estou bem, e o Rui virá ficar comigo, amanhã terei
alta. Ficarei ausente do escritório esta semana, essa merda de exame me
deixará de molho por alguns dias.”
Vejo-a digitando:
”Boa sorte e depois me ligue para dizer o resultado do exame. Te amo,
Jack.”
Digito em seguida:
“Eu também, irmãzinha!”
A porta abre e uma enfermeira entra com uma cadeira de rodas.
– Podemos ir agora, Jackeline? Sua médica a está aguardando!
Sorrio desanimada.
– Claro, não vejo a hora de acabar com isso.
****

Acordo sozinha em meu quarto, estou com um soro em meu braço, tento me
levantar, mas sinto uma dor incômoda na barriga.
– Ai! – Reclamo, e então vejo o Rui.
Ele estava sentado em uma poltrona.
– Oi, como você está? – ele diz com um sorriso. – Cheguei faz um tempinho,
e já conversei com sua médica. – Ele acaricia meus cabelos, e me olha
intensamente.
– Que bom que você está aqui. – Acaricio seu rosto.
Ele desliza sua mão pela minha barriga e a acaricia suavemente.
– Tá doendo, Jack? – ele pergunta preocupado.
– Um pouquinho, uma espécie de cólica. – Respiro fundo e pergunto: – E aí,
ela te disse como estão as coisas dentro de mim? – falo ironicamente.
Ele se afasta um pouco, passa as mãos pelo seus cabelos e então me olha.
– Um dos seus ovários está comprometido, mas o outro está ok, ela fez
algumas cauterizações onde havia necessidade, mas no geral está tudo bem,
Jack! Daqui a pouco ela virá até aqui e te explicará melhor, confesso que sou
meio lento nessas coisas.
Um dos meus ovários está comprometido. – Penso aflita.
Respiro fundo e tento não chorar.
Ele se aproxima de mim, se inclina e me beija, vagarosamente,
carinhosamente, me fazendo sentir as famosas asas de borboletas no
estômago.
Achei que nunca mais sentiria isso, as famosas sensações de quando se é
adolescente, mas com o Rui eu sinto, muitas sensações, deliciosas e
maravilhosas.
Separamos nossos lábios, e ficamos olhando um para o outro, estou tão
apaixonada por ele.
– Eu te amo, Rui! – As palavras saem de meus lábios sem que eu tenha
controle.
Ele não diz nada, apenas volta a beijar suavemente meus lábios, meu rosto,
me fazendo sentir aquele gelado no estômago, e um pulsar de desejo.
Oh, meu Deus, como aguentarei ficar tanto tempo sem fazer amor com ele?
– Não poderemos transar, Rui, não me torture – sussurro.
– Eu sei, Jack. – Ele volta a me olhar. – Uma semana, ou mais, não sei como
conseguiremos esse feito! – Ele faz uma careta.
A porta abre, ele se afasta de mim e vejo a médica.
– Tudo bem, Jackeline? – ela diz seriamente.
– Sim, estou com um pouco de dor, um incômodo.
– É assim mesmo, depois a enfermeira virá aplicar um anti-inflamatório em
você. – Ela se senta ao meu lado da cama.
– Como estão as coisas em meu útero? – pergunto ansiosa.
– Encontrei alguns focos da doença, então precisei fazer algumas
cauterizações, mas eu já esperava isso. – Ela me olha intensamente. – Um dos
seus ovários foi gravemente comprometido, não há chances de utilizar seus
óvulos do ovário esquerdo no caso de uma fertilização in vitro.
Engulo em seco, ela é muito direta, sem rodeios.
– E o outro ovário, ainda está vivo? – pergunto debochada.
– Sim, está em melhores condições, temos algumas chances de sucesso no
caso de você querer engravidar. – Ela respira pesadamente. – É isso,
Jackeline, agora peço que você faça um repouso durante sete dias, para que as
incisões cicatrizem. Depois você poderá voltar a sua vida normal. – Ela se
levanta. – Essa noite você ficará no hospital, mas amanhã pela manhã você
poderá ir para casa. Cuide-se e volte em meu consultório daqui a um mês.
Quer ver como você está.
Ela segue para a porta.
– As prescrições médicas estão com a enfermeira, qualquer dúvida, me ligue
no celular. Até logo. – Ela faz um movimento com a cabeça para mim e para
o Rui e sai.
Solto o ar que estava prendendo em meus pulmões.
– Acho que não falei muitas besteiras, certo? – O Rui me tira dos meus
pensamentos.
Sorrio para ele.
– Não, deita aqui comigo, quero sentir seu cheirinho. – Ele sorri para mim. –
Já te falei que adoro seu perfume?
Ele se encaixa ao meu lado, me abraça pela cintura e beija meus cabelos.
– Não. Quer saber o nome para você me presentear? – ele diz divertido.
– Depois, agora estou meio sonolenta. Vou dormir de novo, mas não sai
daqui, quero ficar sentindo esse cheirinho de Rui. – Ele sorri, fecho os olhos e
tento esquecer meus problemas.
Ele está aqui comigo, e isso é bom demais, preciso começar a mudar meus
planos de vida, talvez a adoção de um gatinho, enfim...
Fecho meus olhos e adormeço.
Capítulo 62
JACKELINE BARTOLLI

E nquanto tomo banho, verifico as pequenas marcas em minha barriga, as


incisões já estão sumindo, e com isso, a penitência de não poder fazer
amor com o Rui.
Estou subindo pelas paredes! Nunca pensei que estivesse em tal grau de
vício, mas talvez essa semana de abstinência forçada tenha servido para testar
o nível de fidelidade do Rui comigo.
Bem, está certo que não foi uma abstinência completa, temos feito um tipo de
sexo que não mata totalmente a vontade, mas dá uma aliviada.
Oral, mais precisamente!
Dou risada, pois é lógico que aquela máquina de sexo não ficaria
completamente de descanso, aliás, o Rui deve ter problemas, ele só pensa em
sexo.
Oh, confesso, euzinha também.
Termino meu banho, e visto um vestido soltinho e curto, daqui a pouco o Rui
chegará a meu apartamento, pois apesar desse período afastada do trabalho,
ele vem me ver todos os dias.
Preferi ficar em minha casa, apesar da insistência do Rui para ficar em seu
apartamento, mas não quis dar trabalho para sua empregada, e seria uma
ofensa a minha mãezinha não permitir que ela cuidasse de sua filhinha quase
trintona.
Saio em direção à cozinha, hoje minha mãe está preparando sua
especialidade, bacalhau com batatas ao murro, tudo por causa do Rui, ela é
meio puxa saco dele.
A abraço pelas costas e beijo suas bochechas gorduchas.
– Oh, Jackeline, que susto! – ela diz brava.
– O cheiro está muito bom, quero ver se a senhora não perdeu o jeito. – Me
sento à mesa da cozinha para observá-la.
– Você precisa aprender a fazer esse prato, Jackeline. Está na hora de você
aprender a ser uma dona de casa!
– Cruzes, mãe! Não quero ser uma dona de casa, talvez aprender a cozinhar,
mas odeio trabalhos domésticos! – Coloco meus pés sobre a cadeira, para não
pressionar minha barriga.
– Jack, estou para te perguntar uma coisa. – Ela dá uma pausa.
– Diga, mãe. Por que o suspense? – Mordo uma maçã para diminuir a fome.
– Já que esse moço parece gostar tanto de você, e não consegue desgrudar um
só dia, por que vocês não se casam? – Ela vira em minha direção e me olha.
Ajeito-me na cadeira, tomo coragem e digo:
– Ele me disse um dia que nunca irá se casar ou ter filhos. – Ela arregala seus
olhos.
– Como assim?! – ela diz indignada. – E qual o futuro que você espera com
ele?!
– Não sei, mãe. Eu resolvi ser feliz e esquecer um pouco essa história de
casamento e filhos. – bufo cansada.
– Então, vocês poderiam morar juntos, já que ele não quer se casar. – Ela
insiste.
– Mãe, eu não vou cobrar isso do Rui, somos adultos, ele gosta de ter o
espaço dele.
Ela me interrompe.
– Qual espaço, Jackeline? Se ele não está aqui com você, você está com ele
em seu apartamento! – ela diz nervosa. – Eu não entendo os jovens de hoje
em dia, são tão complicados! – Ela solta o ar.
– Mãe, eu estou feliz apenas namorando ele, não comece novamente a me
pressionar por casamento. Parece até que você não me aguenta mais!
Ela me olha seriamente.
– Não é nada disso, eu só quero vê-la feliz e realizada como mulher. Mas,
tudo bem, vamos esperar e ver se ele toma uma atitude de homem! – Ela joga
a colher na pia, e sai em direção ao seu quarto.
Olho para um ponto cego da mesa.
– Talvez minha mãe tenha razão, passamos mais tempo juntos do que
separados, seria tão mais fácil se morássemos juntos. Mas, não quero pensar
sobre isso, porque não quero me decepcionar.
Desperto de meus pensamentos com o som da campainha, me levanto e saio
apressada para a porta da entrada, a abro e vejo meu deus grego.
– Boa noite, minha deusa! – ele diz com seu sorriso lindo.
Passo meus braços pelo seu pescoço, me esgueiro até seus lábios, e o beijo
apaixonadamente.
Sinto suas mãos em minhas costas, deslizando suavemente, e me apertando
contra seu corpo.
– Hummm, que saudades de você, Rui! – Me afasto um pouco, e deposito
pequenos beijos em seus lábios.
– Eu também, minha deusa! – Ele me olha com seu par de olhos lindos. –
Você passou bem hoje? – ele diz seriamente.
– Sim, não senti mais aquela dorzinha chata. – Me afasto dele. – Liguei para
a médica, ela me prescreveu um remedinho, ela disse que são gazes que se
formaram por causa da cirurgia.
Pego em sua mão, e o levo até a sala, onde estão minha tia e minha avó.
– Boa noite, senhoras! – ele diz gentilmente, segue até elas e beija suas mãos.
– Como a senhora está, dona Maria?
Dou risada de seu jeito.
– Estou muito bem, Senhor Rui, mas aqueles bombonzinhos que você trouxe
me deram dor de barriga!
Fecho meus olhos.
– Vovó! – A chamo e ela me olha. – Se a senhora não tivesse comido a caixa
inteira no mesmo dia, eles não teriam feito mal.
Ela sussurra alguns desaforos.
– Da próxima vez eu trago outra coisa. – O Rui diz simpático, cumprimenta
minha tia e volta para meus braços.
– Que tomar um banho antes do jantar? – falo baixo, apenas para ele ouvir.
Ele sorri e balança sua cabeça afirmativamente.
– Então, vem. – O puxo para meu quarto. – Pode ir tomando banho, vou
avisar minha mãe que você chegou.
Abro a porta do quarto dela e entro, ela está enxugando seus cabelos.
– Mamãe, o Rui já chegou, mas ele vai tomar um banho. Então, não precisa
se apressar, tá? – Coloco a mão na maçaneta, mas ela me interrompe.
– Jack, lembre-se que você está de repouso e não pode fazer nada com esse
moço! – Ela arregala seus olhos.
– Eu sei, mãe! Não temos feito sexo! – falo indignada.
– Eu não tenho certeza disso. – Ela me olha enviesado. – Seja lá o que vocês
andam fazendo, peço que você tome cuidado e que sejam mais discretos,
existem outras pessoas que moram nesse apartamento.
A olho exasperada.
– Mãe, a senhora que não está sendo discreta. – Dou de ombros e saio.
Aff, essas merdas de paredes não seguram o menor gemido de prazer, que
ódio!
Abro a porta do quarto e ouço o barulho de chuveiro.
Sigo atrás de meu deus grego, e ele já está finalizando seu banho.
Ele sai do box, e sinto ondas de calor pelo meu corpo ao vê-lo nu, molhado,
não aguento mais essa secura de sexo.
O agarro pelo pescoço, e começo a beijá-lo feito uma louca, ele tira meu
vestido desesperado.
– Jack, você não está facilitando as coisas – ele diz faminto, engolindo meus
lábios.
– Vem, Rui! Apaga meu fogo, meu bombeiro! – Dou risada, e o puxo para o
meu quarto, tiro minha calcinha e sutiã, e em segundos ele está com sua boca
no meio das minhas pernas, me enlouquecendo de prazer.
– Ah, Rui... – falo em soquinhos. – Isso!!! – Fecho os olhos, puxo seus
cabelos. – Ohhh!!!
Sua língua macia e quente me tortura de prazer, e logo um amortecimento
insuportável, e finalmente o clímax.
– Oh, Ruiiiiiii!!! – Gemo alto seu nome, puxo seus cabelos e finalmente
relaxo, e sinto sua boca na minha, um beijo selvagem, faminto.
– Jack, eu não estou aguentando, alivia seu macho! – Ele me puxa, senta na
cama e agora é a minha vez de me esbaldar nesse homem delicioso.
O sugo com vontade, em movimentos de vai e vem, ele segura meus cabelos
entre suas mãos e, os puxa com força.
– Oh, Jack, que boca maravilhosa! – ele diz com sua voz rouca. – Continua,
eu vou gozar, gostosa! – Ele puxa mais meus cabelos e geme de prazer. –
Caralho, que delícia, Jack! – Seus olhos estão fechados e com uma expressão
linda.
Ele se deita em minha cama, deito de bruços sobre seu peito e ficamos
abraçados, apenas acariciando o corpo um do outro.
– Faltam só dois dias, Rui – cochicho próxima ao seu ouvido. – Você aguenta
mais um pouco?
Ele me olha de lado.
– Eu aguento, mas não sei você! – Ele dá uma risada gostosa.
– Eu também aguento, seu bobinho. – Me aninho mais ao seu corpo.
Cheiro e beijo seu pescoço.
– Eu te adoro, Rui! Você me adora? – O olho ansiosa.
– Adoro, Jack! – Ele segura meu rosto e me beija.
– Muito? – falo em meio aos seus beijos.
– Muito, Jack! – Mais beijos.
– Fale mais vezes, eu gosto tanto de ouvir isso! – digo aflita.
– Está bem, eu vou falar mais vezes. – Ele me abraça junto ao seu corpo.
Me aninho em seu peito forte e gostoso, cheiro e beijo seus pelos macios,
mas um toque na porta nos chama atenção, e em seguida a voz da minha mãe.
– Jack, o jantar já está na mesa.
Olho para o Rui.
– Minha mãe é uma empata foda! – Torço meu nariz.
Ele me olha de lado, e diz:
– Eu não posso falar mal da sogra, pega mal!
Oh, ele é tão fofo!
Mordo seu lábio inferior.
– Você é muito gostoso. – Dou um beijo barulhento em seus lábios. – Vem,
Rui, eu não posso ficar sozinha com você, é perigoso demais. – O puxo da
cama.
– Caralho, acho melhor eu comprar aqueles comprimidinhos azuis, acho que
não vou dar conta de você quando acabar esse repouso.
Gargalho, o abraço e beijo.
– Você me faz tão feliz, Rui! – Olho em seus olhos completamente
apaixonada.
– Você também, Jack. – Ele me olha sorrindo. – Depois eu dou mais um trato
em você. – Ele apalpa minha perseguida, me dando um susto. – Talvez eu
precise de um extintor!
Dou uma risada escandalosa, coloco minha roupa e finalmente saímos do
quarto.
****

Seguimos para a sala de jantar, vovó, titia e mamãe nos esperam na mesa,
parecem um pouco ansiosas por nós, batem os talheres nos pratos, nos copos.
– Oh, finalmente os pombinhos saíram do ninho de amor! – vovó diz. – E por
falar nisso, quando sai o casamento, meu filho?
– Sim, o casamento. – ele diz constrangido, mas logo entro no assunto.
– Sem data marcada, vovó, ainda é muito cedo para falar sobre isso. –
Desconverso. – Nossa, o cheiro está maravilhoso, mãe! Estou louca para
provar seu bacalhau!
Nos sentamos rapidamente.
– Finalmente vou provar o bacalhau da Dona Amélia! – O Rui diz com um
sorriso, ele tem um sorriso lindo, tenho vontade de beijá-lo todas as vezes que
ele sorri, aquela boca....
Céus, devo estar ovulando, ando especialmente com minha libido em alta.
Ovulando???
Eu bem que poderia tentar agora.
Oh, mas a médica disse que não consigo engravidar sem uma inseminação.
Mas, o que custa tentar?
– Jackeline! – Ouço a voz da minha mãe e a olho assustada.
– Oi, mãe! Desculpe, eu estava distraída!
– Sirva seu namorado! – Ela faz uma cara feia.
– Claro. – Pego o prato do Rui e coloco um pouco de cada coisa, ele é bem
comilão, então não economizo na quantidade.
– Oh, Jack, assim vou virar uma bola de futebol – ele diz divertido.
– Quero você bem gordinho, assim nenhuma mulher vai te paquerar! –
cochicho para ele.
– Tem mulher que gosta de homens gordinhos! – ele diz sorrindo.
– Jackeline, estou de namorado novo. – Titia diz animada. – Ele é bem mais
novo do que eu, um homem muito interessante.
Tento segurar a risada.
– Titia, a senhora voltou a inventar que é fazendeira, ou algo do tipo? –
Minha mãe me cutuca.
– Claro que não! Desde quando sou de inventar coisas?
– Desde sempre, titia, não precisa mentir para nós, somos sua família!
– Amélia, cuide da língua da sua filha, caso contrário eu a arranco
pessoalmente. – Ela se altera, faz menção de se levantar, mas minha mãe
intervém a segurando.
– Ofélia, por favor, temos visita, e a Jack só está brincando com você.
Olho para o Rui, ele disfarça, fala alguma coisa com a vovó, os dois se dão
muito bem, talvez porque vovó o ache parecido com um artista de sua época,
e vive dizendo o quanto ele é lindo.
Voltamos a jantar em paz, e o saldo no final do jantar é uma garrafa de vinho
do porto vazia.
– Me deixe buscar a sobremesa. Fiz pastéis de Belém, espero que você goste,
Rui! – Mamãe diz animada, o vinho a deixou com as bochechas vermelhas, e
um bom humor que eu não via há tempos.
– Adoro, Dona Amélia! Pode trazer! – O Rui diz também animado, o vinho
também fez efeito para ele.
Entre um gole de vinho do porto e outro, e algumas piadinhas infames do
Rui, minha avó acaba fazendo xixi nas calças, e então, o jantar termina em
meio à correria de levá-la para o chuveiro.
– Oh, Rui, me desculpe, minha mãe tem incontinência. – Minha mãe diz
constrangida.
– Não se desculpe, Dona Amélia. Tenho uma avó também, e a situação dela
não é muito diferente, fique tranquila.
– Já vou me retirar, fiquem à vontade – ela diz se retirando da sala, onde
conversávamos um pouco.
Mamãe sai rapidamente e então pergunto:
– Você nunca falou da sua vovozinha! – falo curiosa.
– É mentira, ela já morreu há uns 50 anos atrás – ele diz com a maior cara de
pau. – Só queria deixar a sua mãe à vontade, vovó também fazia xixi nas
calças! – E ele ri muito.
– Você tomou muito vinho do porto, Rui! Aliás, tomou por mim e por você!
– falo debochada. – Adoro vinho do porto, pena que não pude tomar nem um
golinho.
– Então, deixa eu te beijar para você sentir o gosto. – Ele segura minha
cabeça entre suas mãos, e me dá um daqueles beijos molha calcinha.
Oh, meu pai eterno, eu não estou aguentando!
– Rui, por favor, para! – digo desesperada, com o coração na boca e a
calcinha encharcada. – Assim eu não aguento!
– Jack, e se a gente fizer bem devagar? Eu não coloco tudo...
O olho completamente confusa, louca de desejo por ele.
– Será, Rui? E se der merda?
– Bem devagar, Jack. Eu prometo. – Ele beija meu pescoço, acaricia meus
seios.
Não consigo resistir, levanto e puxo ele pela camiseta que está vestindo.
– Vamos logo, não aguento mais essa tortura!
****

A porta abre num solavanco, se chocando contra a parede, enquanto nós dois
nos beijamos como se não nos víssemos desde o último inverno.
De repente o sinto tirando meu vestido, eu a sua camiseta, ele puxa meu sutiã
com força, arrebentando o fecho (esse é o terceiro no mês, não aguento mais
comprar lingeries).
Ele tira sua calça, a boxer, e em segundos estamos os dois nus.
– Calma, Rui! – falo ao vê-lo faminto sobre mim.
Ele beija e chupa meu corpo inteiro, até chegar à minha buceta e chupa e suga
com desespero.
– Ah, meu Deus! – falo desesperada de desejo.
Ele volta a me beijar, e então me penetra, vagarosamente, e sinto como se
fosse uma viciada em drogas ao reincidir no vício.
A gente se beija mais calmo, ele me penetra gentilmente.
– Tudo bem, Jack? – ele diz ofegante. – Posso continuar?
– Tudo bem, continua – sussurro agarrada aos seus cabelos.
– Jack, eu estou com muito tesão, não vou aguentar por muito tempo – ele
diz com seu olhar de desejo.
– Tá bom. Se solta, Rui, pode gozar!
Ele puxa meus cabelos, suga meus seios, aumenta seus movimentos, e então
urra feito um leão.
– Rui, não faz barulho! – Tento controla-lo, mas é impossível, o vinho o
soltou de um jeito que ele se esqueceu da vida.
Oh, mais foi maravilhoso, delicioso.
O abraço e beijo, não queria que ele parasse, queria transar a noite inteira
com ele.
Finalmente ele relaxa sobre mim, segurando seu peso sobre seus cotovelos,
olhos fechados, e a respiração ofegante.
– Foi demais, minha deusa! – Ele me olha e sorri. – Mas, eu ainda estou
morrendo de tesão, será que não podemos repetir?
Então, sinto sua ereção entre minhas pernas, abro levemente minha boca,
estou surpresa com a rapidez de sua recuperação.
– Rui, não vamos abusar. Eu resolvo seu problema, mas de outro modo, tá
bom? – Seguro seu rosto entre minhas mãos e beijo seus lábios
apaixonadamente.
– Tudo bem, fiquei meio empolgado. – Ele sorri com sua cara de safado. –
Você está sentindo alguma coisa, será que fizemos merda?
– Não, está tudo bem. – Volto a beijá-lo, a excitação aumenta, e esqueço que
estou de repouso, e que não deveríamos ter transado. – Rui, talvez a gente
possa fazer de novo.
Ele me olha com um sorriso.
– Vira, gostosa, quero te comer olhando essa bunda linda!
– Tudo o que você quiser, meu homem!
****

Uma pequena mancha de sangue em minha calcinha é a prova que fizemos


merda ao iniciar nossas atividades sexuais antes da hora.
Volto do banheiro preocupada, uma leve cólica está me incomodando.
O Rui já foi embora logo cedo, me levantei para fazer seu café da manhã, e
fizemos sexo de novo.
É fato, chegamos ao nosso limite!
Pego o celular da médica e resolvo ligar para ela e dizer sobre o ocorrido.
– Olá, doutora! É a Jackeline Bartolli! – falo temerosa.
– Olá, Jackeline! Tudo bem, querida? – ela diz simpática, aos poucos ela
está se tornando mais receptiva comigo.
– Tudo, doutora, quero dizer, mais ou menos... – Roo uma unha que já está
no toco.
– O que aconteceu? – Sua voz parece preocupada.
– Eu estou com um pequeno sangramento, não é muito, mas...
– Estou um pouco perdida no tempo. Faltam quantos dias para o final de seu
repouso, Jackeline?
– Dois dias. Quero dizer, um dia, praticamente.
– Por acaso você iniciou suas atividades sexuais?
– Oh, então, sim. Sabe, doutora estava um pouco difícil, eu e meu namorado
dormimos juntos todos os dias, então...
– Ok, ok, não precisa explicar, mas então pare de novo, vamos esperar uns
três dias para estancar o sangramento, provavelmente houve alguma fissura.
Mas não é nada grave, caso contrário o sangramento seria maior.
Suspiro aliviada.
– Oh, que bom que não é nada grave! – Suspiro.
– Jackeline, agora é para valer, sem relações sexuais por três dias, depois
você poderá namorar à vontade com seu namorado! – Ela dá risada.
Sorrio, ela está de bom humor, talvez seu marido tenha resolvido comê-la
esta noite – Penso divertida.
– Ok, combinado. Obrigada, e desculpe incomodá-la.
– Imagine, mas você teve sorte, acabei de sair de um parto, adoro trazer
bebês ao mundo. – Ela sorri novamente, e sorrio com ela. – Essa moça tem
endometriose, Jackeline, e conseguimos engravidá-la somente por
inseminação, não desanime, conseguiremos engravidá-la também.
Meus olhos enchem de lágrimas.
– Quem sabe, não é mesmo? Bom dia, doutora.
Desligo e inspiro com força.
Mesmo que ela tenha tido sucesso, havia um homem querendo ver sua
mulher grávida, então, ainda tenho um problema.
Ok, uma coisa de cada vez, e que o Rui me perdoe, mas tentarei pelo método
convencional, e sem sua aprovação, se acontecer, aí penso sobre isso.
Seja o que Deus quiser.
Junto minhas mãos e faço uma prece em silêncio.
Capítulo 63
RUI FIGUEIREDO

O lho entediado para o monitor do computador.


Os dias passam devagar sem a Jack no escritório.
Sinto falta do seu jeito doce e divertido, dos seus ataques de nervos, e de seu
temperamento bravo, marrento e irritante.
Mas apesar de tudo isso, ela me conquistou, e não consigo disfarçar o
desânimo que sinto sem ela no escritório.
Não vou negar, estou completamente apaixonado pela Jackeline, e não
consigo mais ficar longe dela.
Talvez esse esteja sendo o relacionamento mais intenso que já tive em meus
35 anos.
Estamos vivendo o equivalente de anos, em meses, e isso me assusta.
Pode ser que para a Jack tudo isso seja pouco, eu sei que ela quer e espera
mais de mim, mas eu sei que estou fazendo muitas coisas, coisas que nunca
fiz por outra mulher.
A Jack quer casar e ser mãe, e talvez nesse sentido estamos em rota de
colisão.
Não consigo me ver nessa situação, não me vejo pai de uma criança.
Tenho muitos amigos casados, e todos são unânimes em dizer, o
relacionamento muda demais depois do casamento, e com a chegada dos
filhos, piora ainda mais.
Não quero me casar, somos felizes do jeito que estamos, para que complicar?
Dois toques na porta e ela se abre, e vejo o assistente da Jackeline.
Só eu mesmo para concordar com as loucuras daquela italiana maluca.
– Com licença, Doutor Rui! – O Alexandre diz.
Ele é muito atencioso, mas um pouco exagerado, talvez muito exagerado, e
isso está me irritando.
– Pode falar, Alexandre!
– Anotei alguns recados para o senhor.
– Pode dizer... – Volto a digitar em meu computador.
Ele começa a discorrer sobre os recados e então ouço o nome daquela maldita
garota.
– Priscila Albuquerque, ela disse que é promotora. Será que anotei certo? –
Ele me olha confuso.
– Sim, está correto! – O encaro com atenção. – O que ela disse?
– Para o doutor entrar em contato com ela com urgência, ela deixou este
número aqui! – Ele me entrega um bilhete.
Fecho meus olhos e inspiro.
– Merda! – Esbravejo.
– Desculpe, Doutor Rui, não entendi!
O olho irritado.
– Eu disse merda, Alexandre. Entendeu agora?
Ele me olha assustado.
– Oh! – Ele diz sem graça. – O senhor precisa de mais alguma coisa, um café,
uma água, um suco?
O olho de lado, isso já tá me enchendo o saco.
– Alexandre, deixe para puxar o saco da Jackeline. Ela é a sua chefe, ok? –
bufo irritado.
– Desculpe, Doutor Rui. Só estou fazendo o que ela me mandou! – Ele me
olha constrangido.
– Ela pediu para você puxar o meu saco?
– Não, claro que não, apenas para cuidar do seu bem-estar.
Balanço minha cabeça.
A Jackeline é maluca!
– Tudo bem, obrigado! Pede um café para mim.
E lá vai o assistente da Jackeline, rebolando feito uma menina.
Rui, você não é mais o mesmo – falo comigo mesmo.
Pego o papel com a anotação do telefone da Priscila e olho demoradamente.
– O que essa filha da puta quer comigo? – falo sozinho.
Preciso resolver isso, caso contrário, não conseguirei dormir.
Digito rapidamente o número, dois toques e a ligação completa.
– Promotoria, Priscila Albuquerque falando!
– Como vai, promotora? Aqui é o Doutor Rui Figueiredo! – falo com
deboche.
– Oh, que surpresa! Você nunca me retornou uma ligação tão rapidamente,
Doutor Rui! – ela diz com ironia.
– Pois é, agora você é uma promotora, antes você era apenas a namorada
chata que pegava no meu pé, dia e noite!
A ouço bufar no telefone.
– Desculpe se eu era uma namorada chata, Rui! – ela faz voz de boazinha. –
Mas te garanto uma coisa, como promotora serei mais do que
chata, serei implacável!
Não aguento sua arrogância, caio na risada.
– Oh, agora fiquei preocupado, Priscila! Então, a que devo a honra de sua
ligação?
– Não acho uma boa conversamos por telefone, prefiro resolver esse assunto
pessoalmente. O que você acha?
– Não sei do que se trata, então não acho nada – falo para irritá-la.
– Ok, Rui, vou adiantar o assunto! A reabertura do processo da promotoria
contra você!
Um arrepio percorre minha coluna.
Mulher maldita!
Tento manter a calma.
– Priscila, não confunda as coisas, os nossos antigos problemas de
relacionamento não podem interferir em sua função como promotora – falo
nervoso.
– Realmente, você tem razão, Rui! Mas, prefiro conversar com você
pessoalmente, hoje à noite, às 20h no Maximiliano. E não leve aquela
mulher! – Ela altera sua voz. – Nos vemos lá!
Um som oco, ela desligou o telefone em minha cara.
Respiro fundo.
Eu preciso arrumar um jeito de me livrar da Priscila, como, eu não sei.
****

Olho para meu celular, preciso ligar para a Jack e avisá-la que hoje não a
verei.
Não quero mentir para ela, mas ela não entenderá se eu disser que preciso
jantar com minha ex-namorada.
Ok, apenas uma pequena mentira, somente hoje, Jack.
Seu celular toca pela terceira vez e então ela atende.
– Oi, Rui, eu estava no banho. Tudo bem?
– Oi, minha deusa, está tudo bem, só um pouco cansado! – Faço manha, e
dou risada de mim mesmo.
Tenho que confessar, estou mimado, a Jack está acabando com minha
imagem de advogado frio e calculista.
– Eu faço uma massagem bem relaxante em você. Já está chegando? – ela
diz ansiosa.
Talvez eu tenha acostumado a Jack mal esta semana, quero dizer, desde que
nos conhecemos.
– Jack, não poderei ir te ver hoje, tenho que jantar com um cliente.
Um silêncio desagradável se instala entre nós.
Merda, ela não gostou ou não está acreditando.
– Sério? – Sua voz muda.
Ok, Rui, assuma sua posição de macho desse casal, e mostre que você não é
um cara dominado.
– Então, Jack, apesar de fazer algum tempo que não faço isso (mais
precisamente desde que a conheci e me tornei um cordeirinho), eu preciso de
vez em quando sair com clientes, jantar com eles, às vezes acompanhá-los
em alguma boate, enfim...
– Sei. – Ela faz uma pausa. – O cliente é homem ou mulher?
Que caralho, por que ela tem que tornar isso ainda mais difícil?
– Homem, Jack! – bufo irritado.
– Qual o nome dele?
Reviro meus olhos.
– Confia em mim, Jack!
Um silêncio pesado e então ela diz:
– Tudo bem! Bom jantar, Rui! A gente se fala amanhã! – Ela desliga e bufo
nervoso.
Volto a ligar para ela.
– Oi! – Sinto a irritação em sua voz.
– Jack, um relacionamento se constrói com confiança. Você confia em mim?
– Confio... – ela diz titubeante.
– Será apenas um jantar de negócios. Não preciso procurar por outras
mulheres, eu tenho tudo que preciso em você!
Ouço sua respiração forte no telefone.
– Tudo bem, Rui, não estou dizendo nada! Apenas perguntei quem era.
– É um cliente novo, você não conhece.
– Ok. Bom jantar, Rui – ela diz mais calma.
– Obrigado! Boa noite, minha deusa.
Penso em dizer o quanto gosto dela, mas acabo desistindo, não gosto de ser
meloso.
– Boa noite!
Ela desliga, poderia ter dito que me ama.
Ok, Rui, não seja patético.

****

O restaurante Maximiliano é um daqueles restaurantes antigos e tradicionais,


e que é frequentado em sua maioria por magistrados.
Deixo meu carro com o manobrista e sigo em direção à entrada do
restaurante.
Logo uma hostess me leva até a mesa reservada para a ilustre Priscila
Albuquerque.
Ela sempre adorou usar o nome do pai para abrir portas e facilitar sua vida.
Dou uma respirada profunda e sigo em sua direção, e como reflexo ela me vê,
e abre um sorriso sedutor para mim.
Estou acostumado a ver a Priscila vestida em seus vestidos sérios e
comportados, então, fico surpreso ao vê-la em um vestido preto curto, com
detalhes em renda.
Provavelmente ela se vestiu assim para me impressionar.
Ela está realmente muito bonita e sexy!
– Olá, Priscila! – A cumprimento formalmente, mas ela se aproxima e me
abraça.
– Oi, Rui! – Ela fica hesitante, e então beija meu rosto. – Como você está?
Ela retorna para seu assento.
Me sento a sua frente.
– Bem, um pouco atarefado demais, mas não posso reclamar. – Sorrio,
aproveito que o garçom chegou e peço uma taça de vinho. – E você? Me
conte como está sua vida como promotora! – A encaro.
Ela remexe em sua taça.
– Ainda estou tomando conhecimento das rotinas do departamento,
aprendendo, enfim, ainda é muito cedo, cheguei à promotoria há dois meses!
– Que ótimo! – Remexo os talheres, mas não estou com paciência. – Então,
Priscila, o porquê desse jantar, o que você quer? – Vou direto ao assunto.
Ela sorri.
– Eu sempre admirei seu jeito objetivo... – Seu olhar intenso mergulha nos
meus. – Vamos pedir os pratos?
– Vamos! – Pego o cardápio e chamo o garçom com pressa. – Vou comer
este aqui! – Mostro para o garçom minha escolha. – E você, Priscila? – Falo
impaciente.
– Vou querer este – ela diz com um sorriso.
O garçom sai e voltamos a nos encarar.
– Então? – falo impaciente.
– Primeiramente, quero que você saiba que não sou sua inimiga. – Olho para
ela descrente. – Não vou negar a decepção e a mágoa que você me causou,
mas eu sei que tive culpa, agi feito uma menina inexperiente e insegura com
você.
A olho admirado, até que enfim ela assumiu suas fraquezas.
– Que bom que você entendeu o que houve.
– Sim, entendi... – Então sua mão segura a minha sobre a mesa. – Eu amo
você, Rui, e estou disposta a esquecer tudo o que houve entre nós, e
recomeçar, do início, sem cobranças e ciúmes desnecessários, vou aceitá-lo
como você é.
Olho para sua mão sobre a minha e confesso, estou surpreso com o rumo da
conversa.
Eu não esperava por isso.
– Priscila, talvez seja tarde para retomarmos esse assunto, eu gosto muito de
você, mas não acho que daremos certo juntos, somos incompatíveis em
muitas coisas – falo com cuidado, tento ser compreensivo, não magoá-la.
– Nós queremos as mesmas coisas, Rui, somos muito compatíveis. Somos
ambiciosos, queremos poder e dinheiro. Esquece a história do casamento, dos
filhos, eu sei que você não quer isso, que você não suporta crianças. – Ela
sorri. – Eu lembro bem quando visitamos minha amiga, a Vanessa, você não
suportou ficar cinco minutos ouvindo o choro do bebê!
Relembro esse dia fatídico.
Talvez naquele dia eu tive certeza que não suportava crianças. O choro
daquele bebê quase me enlouqueceu!
Passo minhas mãos pelo meu rosto.
A Priscila tem esse poder sobre mim, somos parecidos em alguns aspectos,
temos algumas coisas em comum, mas é só isso, eu não a amo.
– Priscila, eu não amo você! – falo com sinceridade.
– Eu não me importo, eu só quero uma chance, para te mostrar que posso ser
melhor do que essa tal de Jackeline. Ela é uma distração, Rui, mas ela não
combina com você, você precisa de uma mulher a sua altura, alguém que te
faça alcançar seus objetivos. O que uma mulher como aquela pode oferecer a
você, sexo, prazer, diversão? É isso mesmo que você quer? Esse homem não
é o mesmo que conheci há anos atrás!
Porra, que confusão que essa mulher está fazendo em minha cabeça.
Sim, a Priscila é inteligente, perspicaz, e está usando todo o seu talento como
advogada para dar um nó em minha mente.
O garçom chega com nossos pratos.
– Hum, adoro a comida daqui! – ela diz com um sorriso vencedor no rosto,
talvez percebendo que conseguiu plantar em meu íntimo a dúvida.
– Eu também gosto! – respondo aéreo.
Confesso que o magnetismo e a sensualidade da Jackeline me enfeitiçaram
desde que a vi pela primeira vez.
Seu poder sobre mim é sexual, sinto uma atração irresistível por ela, e talvez
por esse motivo me perdi dos meus planos de vida, dos meus sonhos, dos
meus objetivos.
Com ela por perto não consigo pensar em mais nada, me sinto envolvido em
uma névoa de sexualidade e prazer que me cegam!
Sim, a Jackeline é uma grande distração, ela me cega, me sinto embriagado
quando estou com ela.
– Então, como estão os negócios? – Seus olhos azuis brilham como cristais.
Existem mulheres lindas e mulheres inteligentes. A Priscila consegue ser as
duas coisas.
Agora, a vendo novamente em sua realidade, relembro o que me encantou e
fascinou nela.
– Tudo bem, talvez agora um pouco menos pungentes com a derrocada de
seu pai. – Olho para ela, e então ela sorri.
– Eu posso dar um jeito nisso, Rui, é só você querer. – Seus olhos me
encaram. – Meu pai faz tudo o que eu quiser! Ele manda prender e soltar,
Rui!
Confusão e insegurança mexem com minha mente.
Eu não posso me deixar levar tão facilmente pelo que a Priscila diz, porra!
Caralho, a Priscila é muito mais perigosa do que parece, ela me deixou
confuso, e tirou de mim todas as certezas que eu tinha.
– Vou pensar sobre isso. – Finalmente digo.
– Tenho mais uma coisa para te dizer. – Ela descansa os talheres sobre a
mesa. – Eu não menti a respeito do Fernandez querer ferrar com sua vida, e
foi por isso que aceitei trabalhar na promotoria. – Olho para ela incrédulo.
– Não inventa, Priscila.
– Você duvida? Eu passei no concurso para juíza também, e você sabe da
minha capacidade! Mas, eu preferi a promotoria, e por sua causa!
– Sim, você é muito inteligente, arrogante, pretensiosa e mente bem!
Ela dá uma risada satisfeita.
– Eu fiquei sabendo que o promotor queria te ferrar, Rui, através de um
contato do meu pai. Ele quer fazer isso por causa do último caso que você o
destruiu, o fez passar por incompetente e o desmoralizou perante sua equipe.
– E daí? – Coloco mais uma garfada em minha boca.
– E daí que ele reabriu seu caso, ninguém sabe, e eu fingi que te odeio e que
quero te foder para ter acesso ao que ele está fazendo.
– Não mente, Priscila! Isso é muito sério! – falo tenso.
– O que você quer que eu descubra para você? Quer uma cópia do material?
Eu arrumo. – Ela sorri e então chego à conclusão que ela está dizendo a
verdade.
– Sim, eu quero! – respondo.
– Ok! Podemos marcar amanhã à noite para eu te mostrar? Só que prefiro que
seja em meu apartamento. – Ela sorri.
Penso na Jackeline, mas a minha sobrevivência é mais importante, eu preciso
da Priscila para me ajudar!
– Tudo bem, às 21h!
Capítulo 64
JACKELINE BARTOLLI

D esligo a ligação
enganada.
do Rui com a nítida impressão que estou sendo

O seu discurso bonito de que “relacionamentos são construídos com


confiança” não me convenceu, assim como o jantar com um cliente.
Sim, sou uma mulher desconfiada, ciumenta, e infelizmente não confio
completamente no Rui.
Sigo para a cozinha para tomar uma água e vejo minha mãe começando a
preparar o jantar.
– Mãe, o Rui não virá hoje! – Tento não transparecer minha decepção, até
ontem falávamos do grude que vivemos um com o outro.
Até parece uma coisa, quando tudo vai bem, algo acontece para estragar.
– Ah, é? – Ela me olha surpresa. – O que aconteceu?
Apesar de dividir com minha mãe cada momento da minha vida, existem
momentos que prefiro me calar. Seu excesso de preocupação comigo, às
vezes, me sufoca e me atrapalha.
– Nada, mãe, ele tem seus compromissos profissionais. É só isso! – Deixo o
copo sobre a pia.
– Você ficou chateada, eu vejo pela sua expressão.
Odeio quando minha mãe resolve dar uma de psicóloga.
– Impressão sua, estou cansada de ficar em casa, estou precisando voltar ao
trabalho, é só isso! – Volto para o meu quarto.
Sinto uma vontade louca de ligar para ele, mas não o faço. Apenas fico
remoendo o sentimento ruim em meu peito.
De repente, me vem à lembrança a época quando conheci o Rui, ele ainda
namorava a Priscila e eu tinha pena dela, dizia que sua cabeça loira tinha
mais galhos que uma árvore de Natal.
Não, não serei a próxima.
Tenho muitos defeitos, mas ser omissa e corna não fazem parte desta lista.
Talvez, meu desejo insano de ser mãe me deixe confusa e insegura.
Começo a fantasiar um mundo romântico e perfeito, e então esqueço quem
sou, do meu verdadeiro eu.
Quero ser mãe, mas não serei capacho de ninguém.
Talvez ele não me conheça de fato, quero dizer, já mostrei para ele do que
sou capaz.
Pego um livro que estou lendo e me distraio, mas o celular toca, meu coração
dá um salto, mas vejo que é a Carolina.
Atendo rapidamente, a Carolina sempre está por perto quando preciso dela,
ela é meu anjo da guarda.
– Oi, Carol! – Atendo feliz, estou com saudades dela.
– Oi, minha amiga doentinha! – Ela brinca. – Como está o dodói? Já sarou?
Sua voz sai doce e delicada, parecendo uma criança.
– Sim, estou quase de alta. Só não posso fazer sexo, mas tudo bem! – falo
desanimada.
– E o Doutor Rui Figueiredo está lidando bem com isso?
– Sim, acho que sim! – O desânimo volta a minha voz.
– Está tudo bem, Jack? – ela diz preocupada.
– Claro, só um pouco cansada desse marasmo.
– O pessoal do escritório tem perguntado de você! – Ela sorri. – Você é uma
lenda, amiga! – Ela dá risada.
Sorrio.
– Lenda? Mas, por quê?
– Por que você está mudando nosso chefe, quem esperaria vê-lo trocando
uma recepcionista gostosa por um gay? – Ela dá risada.
– Que bom, pelo menos estou o ajudando a evoluir em algo!
– Você parece desanimada, Jack. O que houve?
– Não é nada, apenas desconfianças – desabafo.
– Como assim? O que aquele babaca fez? – ela diz irritada.
– Nada que eu saiba, apenas fiquei com a pulga atrás da orelha.
– Quer falar sobre isso?
– Não, não se preocupe, estou precisando trabalhar, uma semana em casa
está mexendo com meu raciocínio.
Ela sorri novamente.
– Vamos almoçar quando você voltar ao trabalho, para fofocarmos um
pouco? Sinto falta de você! Esse cara não te deixa em paz, Jack.
– Você está certa, estou precisando me desligar um pouco do Rui.
– Isso mesmo. Bom, me deixe ir, vou dançar um pouco com minhas amigas
Drags.
Reviro meus olhos.
A Carolina é bem maluquinha!
– Vai lá, Carol, divirta-se por mim.
– Beijos, querida.
Desligamos a ligação.
Volto a minha leitura, logo o jantar fica pronto, mas não sinto fome, apenas
belisco um pouco e volto ao meu quarto.
Aos poucos o sono chega, e apesar de sentir falta do corpo quente do Rui,
adormeço.
****

Não tive uma noite de sono tranquila. Muitos sonhos confusos e agitados não
me deixaram descansar completamente.
Finalmente os sonhos cessaram e consigo dormir em paz, mas uma sensação
em meus lábios me desperta.
Beijos???
Abro os olhos e me surpreendo ao ver o Rui sobre mim.
– Bom dia, minha deusa! – Ele me olha com um sorriso.
O olho confusa.
– Que horas são? – Me apoio em meus cotovelos.
– Um pouco cedo, mas eu queria te ver antes de ir para o trabalho. – Ele me
encara seriamente. – Sentiu minha falta ontem? – Um novo beijo em meus
lábios. – Eu senti, Jack! Não consigo ficar por muito tempo longe de você!
Passo meus braços por seu pescoço, o abraço forte e sinto uma emoção no
peito.
Eu o amo tanto!
Mas, preciso voltar ao planeta terra, então pergunto:
– Como foi o jantar? – Volto a olhá-lo, analisando cada reação sua.
– Foi bom, nada de mais, não se preocupe com isso! – Ele se levanta, segue
até minha escrivaninha, então vejo uma cesta de café da manhã. – Trouxe
isso para você!
Seu sorriso sai tímido, parece sem graça, não sei dizer.
– Querendo me agradar, Rui? Parece até que fez algo de errado! – O olho de
lado, não estou acostumada com tantos mimos.
Sua testa franze, mas ele segue com a cesta até a minha cama.
– Não fiz nada de errado. – Ele me olha com o semblante sério. – Apenas
quero te agradar, porque você é muito especial para mim.
É fofo da parte dele me trazer uma cesta de café da manhã, mas isso não me
compra, valho muito mais do que isso.
– Sou só especial? – O encaro. – Não me contento em ser só especial, quero
mais que isso.
Ele deposita a cesta linda em meu colo.
– O que mais você quer, Jackeline? Você é uma mulher muito difícil de
agradar, sabia? – Seu olhar é intenso, urgente.
– Quero ser amada, respeitada e única, Rui! Nada menos do que isso, não me
contento com pouco, sou egocêntrica no amor, possessiva e ciumenta, e se
você quiser me enganar, não conseguirá.
Ele se levanta, passa as mãos pelos cabelos, parece nervoso e então volta a
me olhar, de uma forma profunda e urgente.
– Você é tudo isso para mim, Jack! Eu juro. – Nossos olhares se encontram, e
nos olhamos por segundos intermináveis.
Porque ele não fala o que sente por mim?
Não aguento mais isso, eu preciso saber...
– Você me ama, Rui? Eu preciso ouvir isso, para ter certeza que é isso que
você sente por mim.
O percebo hesitante, então ele me olha profundamente e diz:
– Sim! Eu te amo, Jack!
Sinto um misto de felicidade e excitação.
Pela primeira vez ele diz que me ama, talvez de um jeito meio estranho, num
momento meio tenso, mas ele disse.
Coloco a cesta ao meu lado.
– Vem aqui, Rui! – Acaricio o lençol ao meu lado.
Ele caminha vagarosamente em minha direção, parecendo um felino, seus
olhos fitam os meus profundamente, então ele se senta ao meu lado.
Acaricio seu rosto, estou em um estado de enfeitiçamento.
– Fala de novo que me ama – sussurro com meu rosto próximo ao seu.
Então, ele me encara e diz:
– Eu amo você, Jackeline!
O olho profundamente, coração batendo depressa, e respiração
descompassada.
– Sou a mulher mais feliz do mundo, sabia? – Enfio meus dedos entre seus
cabelos, e acaricio seus fios sedosos e macios.
Olho para os seus lábios, e encontro seu olhar no meu.
– Me beija, Rui!
Vagarosamente, seus lábios cobrem os meus, fecho meus olhos e me deixo
levar pela sensação incrível que ele me proporciona.
Sua língua macia percorre cada pedacinho da minha boca, ora sugando, ora
mordendo meus lábios, minha língua, me causando prazer e desejo, tudo de
uma vez, e da forma mais plena possível.
Ele me aperta em seus braços, puxo seus cabelos, unimos mais nossos lábios,
uma boca engolindo a outra, a sede de amor nos enlouquece.
De repente, começamos a tirar um a roupa do outro.
Agora nossos beijos são desesperados, sinto o amortecimento de seus lábios
contra os meus, seus dentes me mordendo, e sua língua descendo pelo meu
pescoço, colo, seios.
Ajudo-o a terminar de tirar sua roupa, então ele repousa seu corpo sobre o
meu.
Sinto sua pele quente contra a minha, ofego de prazer e desejo.
Seu membro roça minha entrada deliciosamente.
– A gente pode transar, Jack? – ele diz ofegante, mordendo e chupando meu
pescoço.
Não consigo raciocinar direito, é muito desejo, é muita vontade de tê-lo em
mim.
E então o sinto me penetrando.
– Rui, a médica disse... – Paro de falar com seus primeiros movimentos.
Ele volta a beijar meu pescoço.
– O que você disse, Jack? – ele sussurra.
Suas mãos prendem as minhas mãos junto as suas, ele aumenta seus
movimentos contra meu corpo, duros, fortes, profundos.
– Nada! – sussurro entregue aos seus beijos. – Continua.
Fecho meus olhos e me deixo levar pelo nosso amor.
Muitos beijos, gemidos e finalmente o êxtase.
Ficamos abraçados, coração batendo depressa, respiração ofegante, e uma
sensação estranha de paz e felicidade.
Só com ele me sinto assim, como se o mundo parasse, e só existíssemos nós
dois.
– Eu te amo, Rui! – O abraço forte.
– Eu também te amo, Jack!
Procuro por seus olhos, e a gente se olha demoradamente.
– Você vai passar o dia comigo? – Ele se afasta, se apoiando em seus
cotovelos.
– Bem que eu queria! – Ele sorri. – Só vim matar as saudades, eu preciso ir
embora! – Ele acaricia meus cabelos. – Gostou da surpresa?
– Adorei! – Acaricio seus cabelos. Obrigada pela cesta! Vamos comer
juntos?
– Claro! – Ele se senta na cama. – Se você achou que eu iria recusar, se deu
mal, Jack! – Ele dá risada.
Começo a desfazer o laço, tiro o papel celofane.
– Ela deve ser para duas pessoas, é muito grande. – Pego um morango e
coloco em sua boca.
– Hummm... – Ele faz uma cara maliciosa. – Isso é bem sensual.
– O que é sensual? Comer morangos? – Mordo um, e aproveito para
sensualizar a mordida.
– Isso, você comendo morangos, essa sua boca... – Ele morde meus lábios. –
Oh, Jackeline você não sabe o que faz comigo! – Ele tira a cesta do meu colo
e invade minha boca com a sua. – Estou com fome de você, Jack... – Ele me
beija com gula. – Vamos terminar com isso logo! – Ele puxa meu corpo por
cima do seu e recomeçamos com nossa loucura de amor e sexo.
****

A gente se abraça e se beija como se fossemos passar o resto do ano


separados.
– Eu te espero amanhã, Jack – ele diz com meu rosto entre suas mãos,
encarando meus olhos. – Não aguento mais aquele cara atrás de mim, quero
minha oncinha de volta.
Sorrio com sua brincadeira.
– Não vejo a hora de trabalhar, não consigo mais passar o dia com essas três,
elas me enlouquecem!
Ele dá risada, beija minha testa, meu nariz, meus lábios e por fim meu
queixo.
– Te adoro, minha deusa!
O abraço forte.
– Eu também! Mais um beijo, Rui.
Ele me beija rapidamente.
– Ok, agora eu preciso ir, Jack, era só pra dar um bom dia, e já está no
horário do almoço, e eu ainda estou aqui. – Ele sorri. – Você é uma péssima
influência para mim, sabia?
– Não sou, não! – Faço uma careta.
– A gente se vê amanhã! – Ele segue para o elevador. – Você se incomoda se
eu sair hoje à noite? Vou encontrar meus amigos!
Eu gostaria de dizer, sim eu me incomodo, mas acho que não pegaria bem.
– Tudo bem! – falo simplesmente.
– Te prometo que chegarei cedo em casa!
– E como terei certeza?
Ele me olha por alguns minutos, e então diz...
– Eu te ligo quando chegar em casa, e coloco o Bóris para falar com você!
Dou risada.
– Duvido! – falo com deboche.
– Então, me aguarde! – Ele pisca para mim e então o elevador se fecha.
Bufo cansada.
Confiança, tudo se resume a isso.
Capítulo 65
RUI FIGUEIREDO
Flashback on

E uPriscila.
havia esquecido o quanto um jantar pode ser cansativo ao lado da

Ela pode ser uma mulher linda, inteligente, mas não deixa de ser chata, e
tediosa!
Então, sem que eu tenha controle, deixo um bocejo escapar da minha boca,
disfarço, balanço a cabeça e tento mostrar algum interesse ao caso
complicado que ela explica animadamente.
Mas, já cheguei ao meu limite, olho para meu relógio de pulso, e então digo:
– Desculpe, Priscila, mas eu preciso ir. Amanhã cedo tenho um julgamento
complicado, ainda terei que me preparar.
Ela me olha, parece decepcionada por tê-la cortado no meio da explicação de
um processo de mais de cem páginas.
É estranho imaginar que consegui conviver aproximadamente um ano e
poucos meses com essa mulher. Ela tem compulsão por trabalho, ela só fala
sobre processos, e eu quero esquecer essas merdas quando saio do escritório!
Então, como se fosse um vício, a Jack vem em meus pensamentos.
Estou sentindo sua falta.
Que saudades da minha deusa, dos nossos assuntos, do seu jeito leve,
divertido, do seu cheiro, da sua pele macia.
Por alguns minutos e pela décima vez meus pensamentos viajam até ela.
Me sinto mal pelo que estou fazendo, eu prometi a Jack ser sincero e honesto,
mas não é isso que estou fazendo.
Merda, nunca fui fiel em minha vida, gostaria de voltar a ser o Rui de antes,
mas não consigo!
– Oh, claro! – ela diz constrangida. – Você pode me dar uma carona? Vim de
táxi, meu carro não pode circular hoje. – Ela sorri. – Rodízio, sabe?
Não engoli muito bem essa desculpa, mas seria desagradável dizer que não
posso lhe dar uma carona.
– Tudo bem, eu te deixo em seu apartamento! – Me levanto e seguimos em
direção à entrada do restaurante.
O caminho até seu prédio segue pesado, uma vez que o papo entre nós não
está fluindo normalmente.
Claramente, a Priscila está querendo forçar a barra comigo, mas não há mais
clima entre nós, o encanto acabou, o tesão, tudo, não sinto mais nada por ela.
– Entregue, promotora! – Brinco com ela.
– Quer subir? Podemos tomar um vinho juntos! Eu tenho aquele vinho
californiano que você adora. – Ela sorri sedutora, mas não estou a fim, e nem
me sinto seduzido por ela.
– Obrigado, Priscila, mas eu realmente estou cansado.
Ela sorri fraco.
– Obrigada novamente, Rui! O jantar foi maravilhoso! – Ela se inclina sobre
meu banco, e ameaça me beijar, mas logo viro minha face e ela beija o canto
dos meus lábios.
– Por nada, Priscila!
Ela disfarça o mal-estar, e então diz:
– Nos vemos amanhã às 21h, certo? – Ela me olha ansiosa.
– A princípio sim, mas qualquer mudança de planos eu te aviso.
Ela me olha mais uma vez e então deixa o carro, e respiro aliviado.
****

Finalmente chego em casa, o Bóris vem desanimado me cumprimentar.


Jogo a bolinha para ele, que a pega, se deita e fica me olhando.
– O que foi? – Me agacho a sua frente e aliso seu pelo. – Saudades da Jack, é
isso? Logo, logo ela virá te ver. – Me levanto. – Vamos, Bóris, hoje você
dorme comigo, afinal eu sou seu dono, é de mim que você precisa sentir falta.
Olho para ele e entendo seus sentimentos.
– Ela é feiticeira, Bóris, ela deixou nós dois viciados nela! – Caminhamos
pela escada. – Nós, machos, somos fracos, é só aparecer um belo par de
pernas... – Penso um pouco. – De peitos! – Começo a sentir meu pau dando
sinal de vida. – E de bunda, Bóris! – Me jogo na cama. – Estou com uma
saudade do cacete daquela mulher. – Aliso seu pelo.
Mas, a que horas vou vê-la se tenho que ir na Priscila amanhã?
– Oh, merda, Bóris, eu me enfiei numa encrenca maior que o mundo – bufo
exausto. – Eu preciso saber o que aquele cara quer fazer contra mim, eu
preciso da Priscila do meu lado, Bóris.
Caralho, cacete, porra, merda de passado.
Tiro minha roupa e volto a me deitar.
– Amanhã vejo o que faço. – Fecho os olhos e adormeço.
Flashback off
****

Acordo muito antes do meu horário.


Um maldito sentimento de culpa pulsa no meu peito.
– Essa é a maldição do amor, Bóris, a gente se sente culpado até de respirar
mais forte o perfume de outra mulher. – Me enxugo rapidamente. – Eu vou
até lá, cara, caso contrário não terei paz o meu dia inteiro.
Me visto e sigo para a porta.
Antes de ir para sua casa, passo em uma floricultura 24 horas e compro uma
cesta de café da manhã para ela.
Tudo bem, talvez eu esteja dando na cara, cesta de café da manhã e nem ao
menos ela faz aniversário, ou é dia dos namorados, ou outra data qualquer,
mas estou precisando fazer algo para me sentir melhor.
O trânsito está tranquilo, ainda é cedo, então em pouco tempo chego ao seu
apartamento.
Peço para o porteiro ligar no interfone, e logo sou autorizado a entrar.
O elevador abre em seu andar, a porta está aberta e sua mãe me espera com
uma cara de sono daquelas.
– Bom dia, Dona Amélia! Desculpe o horário.
Ela abana as mãos.
– Está tudo bem. Entre e fique à vontade, preciso me trocar. – Ela olha para
seu corpo, parece constrangida vestida em um roupão rosa salmão, e segue
apressada para seu quarto.
Seguro a cesta em uma das minhas mãos e sigo para o quarto da Jack, abro e
sinto o cheiro de seu perfume, delicado, frutado e feminino. Ela está
dormindo profundamente com seus braços estendidos atrás da cabeça, uma
camisola indecente, uma calcinha pequena e sensual (é claro que foi um
presente meu, não suporto vê-la comportada).
Deposito sua cesta em uma mesinha de escritório, tiro meu paletó e sigo até
ela.
– Saudades de você, minha deusa! – Beijo suavemente seus lábios, ela se
mexe, mas não acorda.
A olho dormindo por alguns segundos, ela fica linda dormindo, serena,
calma, nem sempre ela é assim, mas adoro o jeito da Jack, até seus chiliques!
Sorrio novamente, que loucura a minha vida se tornou depois que conheci
essa italiana esquentada.
Beijo novamente seus lábios, eles são tão macios, carnudos, sua boca é um
convite ao pecado, seu corpo inteiro, e é por isso que estou perdido, fodido e
dominado.
É verdade que a Jack é uma grande distração, mas a melhor delas, e a única
que quero ter.
Não é só sexo com a Jack, é muito mais que isso.
– Eu só preciso resolver essa merda, minha deusa, eu prometo que não vou te
trair – falo comigo mesmo, alisando seus cabelos, e tentando me desculpar de
estar a enganando.
Se a Jack descobre isso, não haverá um Rui vivo para contar história.
– Acorda, minha preguiçosa. – Beijo novamente seus lábios, e então ela abre
seus olhos confusa.
– Bom dia, minha deusa! – Sorrio ao ver sua cara sonolenta, e talvez mal-
humorada, ela tem esse defeito, e só fica bem-humorada depois de ter um
cacete no meio das suas pernas.
– Que horas são? – ela diz com a voz rouca, sensual.
– Um pouco cedo, mas eu queria te ver antes de ir para o trabalho. Sentiu
minha falta ontem? – falo meloso, volto a beijá-la. – Eu senti, Jack! Não
consigo ficar por muito tempo longe de você.
Oh, que merda de sentimento que me domina quando estou com ela, e sem
ela também, estar apaixonado é uma merda, a gente se transforma, e se torna
um grande idiota.
Ela me abraça forte, e isso é bom, é melhor do que palavras.
– Como foi o jantar? – Ela me olha seriamente, parece desconfiada, e é fato,
sinto-me transparente perto da Jack, sem máscaras, encenações, sou eu em
meu estado puro, mas não posso contar sobre o jantar, ela não irá entender.
– Foi bom, nada demais, não se preocupe com isso. – Preciso tirar o foco
dessa merda de assunto, então sigo até a escrivaninha e pego a cesta. –
Trouxe isso para você!
– Querendo me agradar, Rui? Parece até que fez algo de errado! – Ela me
encara, parece minha mãe quando eu fazia coisas erradas, o que acontecia a
maior parte do tempo.
Caralho de mulher observadora, parece que lê minha mente.
– Não fiz nada de errado. Apenas quero te agradar, porque você é muito
especial para mim – respondo acuado, com um medo da porra que ela
descubra o que ando fazendo.
– Sou só especial? – Ela me encara com aqueles olhos desconfiados, e chego
à conclusão que estou pagando por todos os meus pecados, me apaixonei pela
pior (ou melhor) mulher que poderia haver. – Não me contento em ser só
especial, quero mais que isso.
Me sento ao seu lado, coloco a cesta em seu colo e tento ter calma, a Jack é
uma mulher esperta demais.
– O que mais você quer, Jackeline? Você é uma mulher muito difícil de
agradar, sabia?
– Quero ser amada, respeitada e única, Rui! Nada menos do que isso, não me
contento com pouco, sou egocêntrica no amor, possessiva e ciumenta, e se
você quiser me enganar, não conseguirá.
Caralho, será que ela está desconfiando de algo?
Meu coração bate forte, tento me controlar, levanto, passo minhas mãos pelos
meus cabelos, e então digo:
– Você é tudo isso para mim, Jack! Eu juro. – A gente se olha
demoradamente, não sei exatamente o que fazer, ou falar, só quero que ela
confie em mim.
– Você me ama, Rui? Eu preciso ouvir isso, para ter certeza que é isso que
você sente por mim.
Tenho dificuldades de falar sobre sentimentos, já devo ter falado que amo
alguém, mas provavelmente não sentia isso.
Pela Jack é diferente, estou apaixonado por ela, preciso dizer o que sinto para
que ela acredite em mim.
– Sim! Eu te amo, Jack! – As palavras saem com dificuldade, não fluiu como
eu queria, talvez se ela tivesse esperado o momento certo.
– Vem aqui, Rui! – Seu olhar muda, está mais terno, não existe mais o vinco
entre seus olhos.
Caminho em sua direção e me sento ao seu lado da cama.
– Fala de novo que me ama – ela diz com seus olhos castanhos vivos e
expressivos, sua mão acaricia meu rosto delicadamente.
Ela gosta de me fazer sofrer, de me castigar, e de provar quem manda nessa
relação.
Mas, como um cachorrinho querendo agradar sua dona, repito o que ela quer,
tudo para ver a Jackeline feliz e calma.
– Eu amo você, Jackeline! – Talvez agora as palavras tenham saído com mais
naturalidade, estou tenso pra caralho, me sinto um cara de 18 anos
apaixonado.
Ela me olha profundamente, um sorriso se forma em seus lábios.
– Sou a mulher mais feliz do mundo, sabia?
Ela acaricia meus cabelos, e olho salivando para seus lábios, mas antes que
eu mesmo faça isso ela pede.
– Me beija, Rui!
Foi um beijo cheio de sentimentos, de amor, de saudades.
Em pouco tempo já estamos sem roupa, minha boca explora cada pedacinho
do corpo delicioso da Jack.
É muito tesão o que sinto por ela, mas é mais que isso, caso contrário já teria
acabado.
Antes de penetrá-la me certifico que podemos seguir adiante, mas está difícil
de segurar o tesão que sinto.
– A gente pode transar, Jack? – digo ofegante, ela demora para responder,
geme com meus beijos, se esfrega em minha ereção, então esqueço tudo e a
penetro.
Nossas respirações ofegantes, seus gemidos, os meus gemidos e então ela diz
algo, mas estou para lá de Bagdá, volto a beijar seu pescoço.
– O que você disse, Jack? – pergunto, ao mesmo tempo que enterro meu pau
dentro dela, ela geme alto, fala alguma coisa, de novo não entendo, volto a
beijá-la, mais gemidos, esqueço de tudo e de todos, e então gozo.
Ela me abraça forte e diz:
– Eu te amo, Rui!
– Eu também te amo, Jack!
A gente volta a se olhar, e nunca foi tão bom gostar de alguém.
– Você vai passar o dia comigo? – Ela pergunta, me apoio em meus
cotovelos.
– Bem que eu queria. Só vim matar as saudades, eu preciso ir embora!
Gostou da surpresa?
– Adorei! – Seus dedos deslizam pelos meus cabelos, e isso me dá um prazer
e uma preguiça insuportáveis. – Obrigada pela cesta! Vamos comer juntos?
– Claro! Se você achou que eu iria recusar, se deu mal, Jack. – Estou me
saindo uma verdadeira usina, preciso voltar a me exercitar, só faço sexo e
como, vou ficar gordo.
– Ela deve ser para duas pessoas, é muito grande. – Ela coloca um morango
em minha boca, depois outro em sua, mas não é um gesto simples e inocente,
ela me instiga, me seduz, me excita.
– Hummm, isso é bem sensual! – digo já sentindo a excitação e o desejo
tomando conta de mim.
– O que é sensual? Comer morangos? – Ela faz de novo, ela quer me
provocar, a Jackeline é uma filha da puta sedutora.
– Isso, você comendo morangos, essa sua boca... – Mordo seus lábios. – Oh,
Jackeline você não sabe o que faz comigo! Estou com fome de você, Jack. –
A beijo faminto. – Vamos terminar com isso logo. – A coloco sobre meu colo
e recomeçamos, e isso é viciante, estou viciado, louco e apaixonado.
****

É começo de noite, estou sozinho no escritório, tiro meus óculos, arrumo os


papéis dentro da gaveta e relaxo minhas costas na cadeira.
Não estou nem um pouco a fim de ir ao apartamento da Priscila, eu mais ou
menos sei qual a sua intenção. Ela quer me seduzir e me levar para a cama.
Talvez eu sempre tenha sido muito óbvio, mulherengo e filho da puta. Mas,
algumas coisas mudaram de alguns meses para cá, talvez seja o efeito
Jackeline em minha vida.
Ok, mas é minha carreira que está em jogo, então eu vou até lá, e quem sabe
consigo resolver essa merda logo.
Coloco minhas coisas pessoais em minha pasta, pego as chaves do carro e
meu celular, visto meu terno e saio de minha sala.
Antes de sair, olho para a mesa da Jackeline, está toda bagunçada, bufo
irritado, não vejo a hora da Jack voltar, esse menino está me deixando louco.
O trânsito até meu apartamento está tranquilo, logo estou tomando um banho,
escolho uma camisa e uma calça jeans, coloco os sapatos e em alguns
minutos estou seguindo para o apartamento da Priscila.
A sensação ruim volta ao meu peito, é errado o que estou fazendo, mas é por
uma causa justa.
Não vou pensar mais nisso, apenas faça o que tem que ser feito, Rui, seja frio
e objetivo, a Jackeline não precisa saber disso.
Em minutos estou estacionando meu carro em frente ao prédio da Priscila,
fico em silêncio dentro do carro por alguns minutos, tento me concentrar,
então respiro fundo e saio.
A entrada está autorizada, apenas sigo para o elevador, em segundos estou
em frente ao seu apartamento.
Ela mora em um belo prédio, seu pai não economizou no apartamento,
iríamos morar aqui, escolha dela, é lógico. Na verdade, eu sempre achei que
essa merda não daria certo, acho que andava meio drogado naqueles tempos.
Crio coragem e aperto a campainha, a porta abre e lá está a versão Priscila
vestida para seduzir o Rui.
Ela é bem previsível.
– Você está muito bonita, Priscila! – falo com um sorriso no rosto.
– Que bom que você gostou, pensei em você! – Ela abre a porta para que eu
entre.
Olho para a sala, pequenas velas enfeitam o ambiente, um cheiro agradável
paira no ar.
Ela segue até a cozinha, e retorna com duas taças de vinho branco.
– E se eu disser que não estou bebendo? – Ela para no meio do caminho, fica
sem graça.
– É sério isso? Você sempre gostou de vinho!
– Estou brincando. – Aceito o vinho e tomo um gole. – Safra 1.980, esse eu
conheço.
Ela abre um sorriso.
– É o seu preferido! Sei tudo sobre você, Rui! – Ela se aproxima, deixando a
distância entre nós de centímetros, e mergulha seus olhos azuis em mim. –
Suas comidas prediletas, a marca de roupas que você usa, o lugar que você
mais gosta, suas preferências sexuais.
Sorrio de sua pretensão.
Por que ela acha que sabe tudo sobre mim? Não sou um cara tão óbvio, e ela
nunca foi uma especialista em mim, ao contrário!
– Então me diga, qual minha comida preferida? – A testo, vamos ver o que
ela sabe sobre mim.
– A mediterrânea, você adora ir ao restaurante Tanit! Acertei?
Sorrio.
– Não, Priscila, adoro comida italiana. – Queria dizer que também adoro as
italianas, na verdade uma italiana, mas não quero provocá-la.
– Oh! – Ela me olha sem graça. – Mas você gosta da cozinha mediterrânea.
– Gosto, gosto de comer qualquer coisa. Sou bom de prato, Priscila. – Penso
em dizer do que gosto de comer de fato, mas também deixo pra lá.
Ela sorri, tenta disfarçar sua mancada.
– Bom, então me deixe dizer qual o seu lugar predileto. – Ela pensa. – A
Grécia, você adorou aquela viagem que fizemos, disse que o lugar era
maravilhoso.
– É verdade, a Grécia é linda, mas eu prefiro minha casa de campo, adoro
olhar para a represa. No final das contas, não sou tão óbvio assim. – Passo
por ela e sigo para sua sala.
– Ok, só estou dando mancadas, mas é que você é muito fechado, nunca
falava muito sobre você – ela diz nervosinha, aliás, ela sempre foi assim, por
qualquer motivo ficava nervosinha, ela é muito mimada.
– O que mais gosto no sexo, Priscila? – Me sento em seu sofá e a olho com
um sorriso, enquanto bebo o vinho.
Essa vai ser foda, e eu sei que ela não vai acertar.
– Oh, talvez sexo selvagem, dar uns tapas, foder com força, essas coisas! –
Ela não parece muito animada em descrever meu jeito de fazer sexo, acho
que é porque ela nunca gostou.
Mas, ela acertou, e dou uma gargalhada, porque realmente sua descrição foi
engraçada.
– Porra, Priscila, e não é que você acertou!
Ela revira os olhos, parece não gostar muito do meu ataque de riso, se fosse a
Jackeline ela estaria em cima de mim, me enchendo de beijos, ela adora
quando dou risada, e diz que fico lindo rindo.
Oh, merda, a Jackeline, não posso pensar nela agora.
Controlo meu riso, e então volto a minha atenção a ela.
– Ok, Priscila, era só uma brincadeira. Então, vamos lá, estou louco para
saber o que o filho da puta de seu chefe está fazendo.
– Vamos jantar primeiro, eu estou morta de fome! – Ele se senta
sensualmente em seus joelhos, se inclina um pouco sobre mim, beija meu
pescoço. – Quer me foder gostoso, Rui? Eu prometo que faço tudo que você
gosta, do jeito que você gosta! – Sua voz sai sensual, lânguida.
Oh, caralho, isso não começou bem.
– Priscila, você tem certeza que tem algo para me mostrar, ou só me chamou
até aqui para tentar me seduzir? – Me levanto irritado.
Ela me olha frustrada.
– Claro que tenho! – Ela caminha até mim. – Mas, vamos nos divertir um
pouco. Por que você está tão sério, Rui? – Ela passa seu braço pelo meu
pescoço, beija meu pescoço, meus lábios, mas seguro seus braços, os tirando
do meu pescoço e me afasto.
– Eu não estou a fim, Priscila, não me leve a mal, mas...
– Mas o que? Você agora é fiel? – Ela dá uma risada debochada. – Me poupe,
Rui, aquela piranha não está com essa bola toda.
Eu sei que preciso ter calma com a Priscila, preciso da ajuda dela, mas, peraí,
ela não pode chamar a Jackeline de piranha, caralho!
– Ela não é uma piranha, e talvez ela esteja com essa bola toda. – Viro de
costas, tento me acalmar. – Vamos comer o que? Não pretendo me demorar,
amanhã tenho que me levantar cedo.
Ela revira os olhos.
– Pensei em pedirmos comida japonesa. O que você acha?
– Por mim, tudo bem! – Coloco minhas mãos na cintura, tento voltar a minha
postura altiva, preciso ser mais frio, estou muito emocional.
– Ok, vou pedir aqueles combinados que costumávamos pedir! – Ela segue
até sua cozinha.
Bufo cansado, fecho os olhos, e tenho um início de feeling que há algo de
errado nesse encontro.
Depois de alguns minutos, ela volta.
– Já pedi, mas deve demorar uns 40 minutos! – Ela se senta novamente no
sofá, liga o DVD e uma música harmoniosa começa a tocar. – Relaxa, Rui,
você está tão estressado.
– Priscila, mostra logo o que você tem para me mostrar, então ficarei mais
tranquilo e relaxado – falo em pé, no meio da sala.
Novamente ela revira os olhos, segue para seu escritório e volta rapidamente
com um envelope em mãos.
– Só consegui isso, mas é por enquanto. – Ela me entrega o envelope.
Abro com pressa, e então vejo cópias do meu antigo processo, nada novo,
nada que me dê pistas sobre o que o promotor esteja fazendo.
Jogo o envelope sobre o sofá com raiva.
– Que porra é essa? Não tem nada aqui!
– Tirei cópia do que encontrei sobre a mesa dele, mas vou conseguir mais
coisas, me dê um tempo. Por enquanto, eu só sei que ele está revendo seu
caso, não sei ao certo o que ele fará contra você.
– Oh, que estória mais estranha, Priscila! – falo nervoso. – Será mesmo que
existe alguma coisa, ou você só está inventando?
Ela se levanta e vem até a mim, e me encara.
– Eu preciso de mais tempo, para que ele confie em mim.
Esfrego meu rosto, eu sou um grande idiota, ela só está usando essa merda
para se aproximar de mim, não existe nada.
Volto a olhar para ela.
– Ok, quando você descobrir algo você me liga. Agora vou embora, perdi a
fome! – Sigo para a porta, mas ela me segura.
– Ei, espera, vamos jantar, conversamos um pouco... Eu prometo que eu vou
descobrir o que ele está fazendo, mas fique, por favor! – Ela me olha com
súplica.
– Não vai dar, lembrei que tenho uma coisa para resolver hoje. A gente se
fala, manda lembranças para seu pai! – Abro a porta e saio, a raiva pulsa em
meu peito.
Como fui idiota, ela não sabe porra nenhuma, ou simplesmente não existe
porra nenhuma.
Rui seu idiota, essa mulher te enganou direitinho.
Capítulo 66
JACKELINE BARTOLLI

O lho para o relógio sobre a mesinha de apoio do quarto, são 21h40, ele
deve estar saindo agora.
Maldito! – Esbravejo sozinha.
Eu até queria ser uma namorada moderna, daquelas que não liga que seu
homem saia para beber com os amigos, coisa e tal, mas não consigo.
O Rui ainda não conseguiu o certificado de homem fiel, ele está de
experiência, não conheço seus amigos, nem o lugar que eles costumam ir.
E se for um daqueles puteiros, cujas garotas de programas são verdadeiras
beldades?
Oh, que ciúmes são esses que estou sentindo!
Jogo o livro que estou lendo longe e então meu celular toca.
Corro até minha escrivaninha, e vejo seu nome no display.
Nossa, será que ele já voltou para casa?
Não, impossível.
– Alô!– Atendo rapidamente.
– Oi, minha deusa! O que você está fazendo?
Ouço uma música de fundo, ele parece estar em seu carro.
– Nada, apenas lendo um livro! – respondo curiosa. – Onde você está?
– No carro! Quer sair comigo?
Sorrio, e apesar de já ter passado dessa fase, continuo sentindo uma euforia
quando ouço sua voz.
– Como assim? E o encontro com seus amigos? – pergunto surpresa.
– Dei uma passada rápida, mas não estava com muito saco para ficar lá.
Então, já estou chegando em sua casa. Vamos sair para comer alguma
coisa? Não jantei ainda!
Meu sorriso atravessa a porta, não consigo disfarçar a felicidade em saber
que ele não está bebendo e paquerando com seus amigos.
– Claro, eu já jantei, mas te faço companhia.
– Chego em 20 minutos, fica bem linda para mim! Arruma as suas coisas, na
volta seguimos para o meu apartamento, o Bóris está com saudades de você.
– Ele dá risada.
– Tudo bem! Eu também estou com saudades dele, comprei até um
presentinho, na verdade um brinquedinho bem barulhento, ele vai adorar! –
Sorrio.
– Não, Jack, eu odeio esses brinquedos, O Bóris é compulsivo e ansioso, ele
passa o dia inteiro fazendo barulho... – Sua voz sai desanimada.
– Relaxa, Rui, ele é criança, precisa se divertir. – Corro para o meu guarda-
roupa. – Posso vestir um vestido vermelho, justo, e que me deixa bem
gostosa? – Sorrio, pego o vestido do cabide e coloco contra meu corpo.
– Pode! – Sua voz sai esganiçada. – Mas é muito escandaloso?
Oh, o Rui está me saindo bem ciumentinho!
– Ah, Rui, é do jeito que você gosta! Vou colocar, aí você diz o que acha! –
falo animada.
Eu tenho esse vestido há anos, mas me sinto muito constrangida de vesti-lo,
pois minha bunda fica enorme nele, assim como meus peitos. O modelo é
muito sensual, as costas ficam em evidência, e só comprei porque a louca da
Carolina insistiu muito, era para irmos ao casamento de um conhecido.
Mas hoje, eu quero vesti-lo para o Rui, porque quero ficar muito linda para
ele e gostosa, sensual.
Oh, tem a merda do recesso de sexo.
Mas, nem sangrou mais, e eu preciso namorar ele, muito, ando numa fome de
Rui.
E estou ovulando.
Pego o termômetro, vou medir minha temperatura.
Li na internet, sobre aquele método para engravidar que se mede a
temperatura, é meio confuso de se explicar, mas, eu preciso transar com o
Rui para dar certo.
– Ok, minha delícia, eu estou chegando!
– Tá bom, um beijo!
– Outro.
Desligamos.
Me olho no espelho de corpo inteiro, de costas, de frente, e então torço meus
lábios.
– O que você achou, mãe? Me sinto um pouco escandalosa com esse vestido.
Minha mãe está sentada em minha cama, observando enquanto me visto.
– Você está linda, Jack! Aproveite enquanto é jovem e tem esse corpo
maravilhoso, olha para mim agora – ela diz desanimada. – Mas, aonde vocês
vão essa hora? Você não está muito chique filha?
– Mãe, o Rui só me leva a lugares maravilhosos, lindos e chiques! – falo
orgulhosa.
Durante anos frequentei padarias, nada contra elas, mas o Renato tinha
condições de me proporcionar lugares melhores.
Mas isso é passado, e o meu presente é um sonho, nunca achei que viveria
momentos tão incríveis em minha vida.
O interfone toca.
– Mãe, vai lá, eu preciso terminar minha maquiagem. – Sigo apressada para o
banheiro, passo rapidamente a máscara para os cílios, o batom, borrifo meu
perfume.
Termino de colocar meus brincos e a porta do meu quarto abre, e o meu deus
grego entra, e me olha demoradamente.
Ele torce seu nariz, os lábios e então diz:
– Você está gostosa demais, Jack. Não sei se quero dividir essa visão com
mais alguém. – Ele segue até mim. – Acho que ficarei enciumado. – Suas
mãos se espalmam em meu traseiro, o apertando com vontade, e unindo
nossos corpos de uma forma excitante.
Sinto um cheiro doce, diferente, mas logo a proximidade de seus lábios meus,
do se rosto, e da sua pele me inebriam, o cheiro amadeirado de seu perfume,
e do creme de barbear se misturam, me causando um bem-estar.
– Minha mulher gostosa. – Ele invade minha boca com sua língua gulosa, me
sugando e se enroscando na minha de um jeito sensual e erótico.
Adoro o seu cheiro, o seu gosto, esse jeito que ele me beija, me pega, me
fode.
Oh, céus, que fogo que sinto quando esse homem me beija!
– Hummm, Rui, que delícia! – Sinto seu dedo invadindo minha intimidade,
uma leve pressão, afasto meus lábios dos seus, gemo de prazer, desço meus
lábios para seu pescoço, beijo sua pele, e...
Aquele cheiro adocicado invade minhas narinas, então desperto do meu
enfeitiçamento, desço um pouco mais meu nariz, cheiro sua camisa, e aquele
cheiro está em todo lugar.
Minha respiração acelera, abro meus olhos e o empurro bruscamente.
– Que perfume é esse que está em todo lugar, na sua camisa, no seu pescoço?
– Minha voz sai descontrolada, estou espumando de raiva.
Ele me olha confuso.
– Não sei! – ele diz confuso.
Puxo sua camisa com força, e o faço cheirar.
– Esse perfume, Rui!!! – Estou descontrolada, gritando.
– Calma, Jack! – Ele tenta me acalmar, mas eu surto, devo ter gritado muito
alto, porque a porta abre e três senhoras me olham assustadas.
– Não foi nada, Dona Amélia, me deixe conversar com a Jack – ele diz
constrangido.
Meu peito sobe e desce desesperado, sinto-me como um touro enlouquecido.
– Tudo bem! – Minha mãe me olha assustada. – Estarei aqui ao lado. – Ela
tira as velhinhas assustadas do meu quarto e fecha a porta.
– Com quem você estava, Rui? Não me engane, seu filho da puta! –
Esbravejo descontrolada.
– Eu não estava com ninguém. – Ele se aproxima de mim, mas o empurro
nervosa.
– Não me toca, Rui! – Minha voz sai embargada.
– Jack, eu estive em um bar, havia homens e mulheres lá, eu conhecia umas
garotas – ele fala nervoso, sua testa franzida, olhos estreitos. – Elas me
abraçaram quando cheguei, e na saída, o perfume pegou em minha roupa, foi
isso, porra!
Solto o ar com força, pelas minhas narinas.
Confusão e insegurança.
Será que é verdade?
– Você está todo impregnado desse perfume de puta! – Berro novamente, um
ciúme louco se apoderou de mim.
– Eu não estive com ninguém, caralho! – Ele passa as mãos pelos cabelos
nervosamente. – Jack, se eu estivesse te traindo eu estaria aqui agora? – Ele
me olha indignado. – Pensa com clareza, Jack! Se fosse para traí-la eu estaria
com a garota, eu tinha dito que não viria hoje aqui, mas não, eu estou aqui,
Jack!
Me viro de costas transtornada.
Eu preciso me acalmar! Penso em silêncio.
Mas, sua voz embriaga meus sentidos, assim como seus beijos nos meus
cabelos, aos poucos ele une seu corpo contra o meu, passa seus braços ao
redor do meu corpo e me aperta mais contra o seu peito.
– Eu te amo, Jack! Não troco você por ninguém – ele diz no meu ouvido, aos
poucos ele vira meu corpo em sua direção. – Você acredita em mim? – Seus
olhos estão cinza como uma tempestade.
Respiro profundamente.
Não há por que ele mentir para mim, ele não precisava estar aqui, eu não o
esperava, então preciso acreditar no que ele diz.
– Acredito! – falo com a voz fraca.
Ele volta a me abraçar.
– Oh, Jack, como você é brava! Meu Deus!
Sorrio contra seu peito e novamente aquele cheiro vem ao meu nariz.
Me afasto de seu corpo e sigo decidida para o banheiro.
– Jack, o que houve agora? Caralho! – ele diz cansado.
Volto com o frasco do meu perfume e começo a borrifar em toda sua camisa.
– Jack, eu vou morrer sufocado com esse excesso de perfume... – Ele tosse,
espirra e vira o rosto diante do meu desatino.
– O único perfume de mulher que você pode exalar é o meu, Rui! – Borrifo
em seu pescoço.
– Chega, Jack! – Ele se afasta de mim. – Porra, estou enjoado agora. – Ele faz
uma careta.
– Pronto, agora estou satisfeita, e nunca mais quero sentir perfume de outra
mulher em você!
Ele gira os olhos, olha para o teto e bufa.
– Ok, Jackeline. É você quem manda, não é mesmo?
– Isso, sou eu quem mando, e você é só meu! – Seguro o colarinho de sua
camisa, e falo nervosa, olhando em seus olhos.
Ele dá um sorriso cafajeste.
– Eu gosto de te ver assim, minha italiana! – Ele puxa minha cintura com
força. – Quer que eu te fodo? Assim seu cheiro vai ficar em mim, como seu
perfume!
Seguro seus cabelos com força, junto nossos rostos, a gente se olha
profundamente, meus lábios roçam os seus sensualmente.
– Quero, Rui! – sussurro contra seus lábios. – Me fode, meu homem, só meu,
de mais ninguém – falo e o beijo possessiva.
Ele me pega em seu colo, coloca sobre minha escrivaninha, desce suas calças
e me penetra.
– Assim, Jack? – Uma estocada forte e profunda.
– Isso! – Ofego de prazer. – Continua.
De novo, gemo alto.
– Geme, minha gostosa! – ele diz insano de desejo.
– Ahhh! – Gemo alto. – Ohhh, Rui... eu vou... hummm, gozar!!!
Então, ele segura meus cabelos entre suas mãos, os puxa com vontade, beija,
morde e chupa meu pescoço e de repente, urra, geme e por fim me abraça, e
fica alguns minutos ofegante, como se fosse morrer.
– Caralho, minha deusa, acho que dessa vez elas ouviram tudo! – Ele me olha
com um sorriso lindo.
– Será? – Deposito beijos pelo seu rosto, pescoço. Foi tão bom que nem
lembrei desse detalhe.
– Vamos terminar isso lá em casa! – ele diz manhoso, de olhos fechados,
entregue aos meus beijos.
– Tudo bem! – Seguro seu rosto entre minhas mãos, e o olho profundamente.
– Rui, você jura para mim, foi isso mesmo?
– Juro, acredita em mim! – Ele me abraça. – Eu te amo, Jackeline! Agora é
pra valer!
Sorrio do seu jeito.
– Antes não era?
Ele se afasta, arruma sua roupa.
– Mais ou menos! – ele diz divertido. – Vamos sair um pouco, depois iremos
para o meu apartamento.
– Tudo bem. – Sigo para o banheiro, termino de me arrumar e saio, e o vejo
deitado em minha cama, pensativo. – Já estou pronta, podemos ir!
Ele dá um pulo e sorri.
– Claro, vou te levar numa boate hoje, você irá gostar! – Ele pega em minha
mão e abre a porta.
Seguimos até a sala e então todas olham em nossa direção.
– Graças a Deus vocês se acertaram! – Vovó diz e se levanta. – Eu e seu avô
tínhamos brigas feias, e tudo se resolvia quando eu pegava o rolo de
macarrão.
O Rui coloca sua mão sobre a boca, esconde um riso.
– Tá bom, vovó! – Beijo sua mão. – Nós já vamos.
– Seu avô era um belo de um sem vergonha, minha neta. Ele andava atrás das
quengas. – Reviro meus olhos.
– Eu sei, vovó. A senhora já me contou das escapulidas do vovô, vamos
esquecer isso! – Tento me livrar dela, mas ela me segura pela mão.
– Você, mocinho... – Ela olha para o Rui. – Faça o favor de andar na linha. O
rolo de macarrão ainda está vivo, não me custa nada usá-lo em você!
Sinto um apertão em minha mão, é o Rui com pressa e medo da vovó Maria.
– Fique tranquila, Dona Maria, e guarde o rolo de macarrão, não será
necessário usá-lo. – Ele sorri para vovó.
– Seus dentes são lindos, rapaz! Ande na linha se não quiser perdê-los! –
Vovó dá seu último recado e volta para o sofá. – Vão com Jesus, Nosso
Senhor, e vê se casem logo, não aguento mais essa fornicação aqui nesse
apartamento!
Olho para o Rui, ele arregala os olhos, diz um boa noite e saímos de cabeça
baixa.
O elevador fecha e ele diz com um sorriso:
– Formicação foi foda, Jack! A gente faz amorzinho!
Dou risada.
– Oh, Rui, até disso você tira barato?
– A vovó não está muito feliz com nossa formicação, Jack – ele diz e cai
numa risada contagiante.
Capítulo 67
PRISCILA ALBUQUERQUE
Flashback on

F olheio as páginas de um antigo álbum de família. As fotos são da época


em que eu tinha aproximadamente 17 anos.
Era aniversário de meu pai, nossa mansão estava cheia de seus amigos
importantes.
O pai do Rui era um deles, visto que os dois são velhos amigos.
Aliás, na maioria dos nossos eventos eu esperava ansiosa a chegada da
família Figueiredo, na verdade, o único que me interessava era o Rui.
Passo meus dedos pelo homem da minha vida, o Rui. Na época ele devia ter
30 anos, já havia se tornado um advogado de sucesso, e nem me notava.
Mas eu já alimentava naquela época sonhos de um dia me casar com ele. Me
lembro que naquele dia tentei ser notada dando um banho de vinho tinto nele,
mas só consegui levar uma bronca do meu pai, e um olhar assassino de sua
então namorada.
Ele sempre estava acompanhado de alguma piranha, cada evento era uma, e
cada uma mais linda que a outra.
Olho para a loira biscate ao seu lado, e unho a foto com raiva.
Penso na tal Jackeline e no ódio assassino que sinto por ela.
Em nosso último encontro tive vontade de matá-la, e apesar de tê-la unhado
inteira, a desgraçada acabou com meu cabelo, ela tirou tufos inteiros, e até
pouco tempo eu ainda sentia dores em meu couro cabeludo.
A porta do meu quarto abre e vejo minha mãe entrar.
Fecho o álbum rapidamente e disfarço pegando o celular.
– Você não vai sair hoje, querida?
– Não, não estou com vontade, vou aproveitar para ler um caso que estamos
analisando na promotoria.
– Você não está saindo com ninguém, Priscila? Achei que você estivesse
saindo com aquele promotor bonitão!
– Quem? – pergunto sem interesse.
– O Doutor Fernandez! – Ela sorri maliciosa.
– Oh, mãe, o cara é barrigudo, careca e tem mau hálito! – Reviro meus olhos.
– Eu sei, mas é bom ter bons “amigos”, querida! – Ela acaricia meus cabelos.
– Não precisa transar com ele, apenas o seduza, assim quando você menos
esperar, ela estará apaixonado por você!
A olho atônita.
– Ele é casado, mãe! – Me levanto de sobressalto.
– Seu pai também era, e daí? Ele se separou... – ela diz com naturalidade.
– Talvez por esse motivo nenhum dos meus meio irmãos queiram contato
comigo, não é mesmo? Sou filha da piranha da secretária que trepava com o
chefe! – bufo com raiva. – Me poupe dos seus conselhos, mãe.
– É por isso que você perdeu o Rui, Priscila, e para a secretária piranha! – Ela
sorri debochada. – Enquanto você fizer pose de princesa e puritana, esse cara
não vai te querer, porque a secretária é melhor que você e ela conseguiu
conquistá-lo!
– Cala a boca, mãe!!! Saia do meu quarto!!! – As lágrimas escorrem pelo
meu rosto.
– Priscila, eu quero abrir seus olhos, me escute, seduza o Rui, o leve para a
cama, arrume um jeito de tirar fotos da cena, e envie a essa mulher, foi assim
que acabei com o casamento do seu pai. Ele ficou bravo comigo durante um
tempo, mas depois esqueceu – ela diz sem nenhum pingo de arrependimento.
– A tire do seu caminho primeiro, ele está apaixonado por ela.
A interrompo nervosa.
– Ele não está apaixonado por ela!
– Está, eu sou uma mulher vivida e sei o que estou falando. Ele não vai
desistir dela, a faça desistir dele! – Ela se levanta e sai do meu antigo quarto,
na casa dos meus pais.
Ainda tenho o costume de dormir aqui, principalmente quando estou me
sentindo solitária.
Será que deveria seguir o conselho da minha mãe?
Ok, não tenho nada a perder, mas primeiramente preciso convencê-lo a sair
comigo.
– Oh, acho que não dará certo! – Penso um pouco. – Meu pai, eu preciso de
sua ajuda.
****

Não foi fácil convencer meu pai a convidar o Rui para um jantar.
Bufo com raiva.
– Pai, use como argumento a questão da parceria, vamos pressionar ele
cancelando, afinal você só fechou isso por minha causa!
– Priscila, que confusão você arrumou em minha vida por causa desse rapaz.
Tente focar seus pensamentos agora em seu novo trabalho, você queria tanto
ser promotora, se sinta feliz com isso! – Meu pai diz aborrecido.
Não aguento mais ouvi-lo me criticar, isso é muito desgastante para mim.
– Eu queria ter passado no concurso para juíza, mas o senhor não me ajudou
com isso! – digo magoada.
– Não dá para comprar todo mundo, Priscila! Desta vez não deu certo,
tentaremos novamente, quem sabe não temos mais chances da próxima vez.
– Papai, eu não vivo sem o Rui! Por favor, me ajude! – Imploro. – Eu preciso
do senhor, ele não aceitará um convite meu sem um motivo.
– Ok. Mas, essa é a última vez. Por favor, me deixe fora dessa sua história
com o Rui, estou cansado disso. Use suas armas para conquistá-lo, e não me
envolva mais nessa confusão. Estamos combinados?
– Sim, claro – respondo acuada. – Já tenho um plano em mente, deixe
comigo, papai. – Sorrio feliz.
****

Semanas depois.
O procurador Fernandez não é o tipo de homem que me atrai.
Beirando os 40 anos, ele é o tipo de homem que possui um corpo flácido e
desengonçado, resultado de horas debruçado sobre livros, comendo
guloseimas e sanduíches, e nenhuma atividade física.
Desde que cheguei à promotoria percebi seus olhares indiscretos sobre mim.
Tenho consciência da minha beleza e inteligência, e do poder de sedução
sobre os homens.
Nunca quis seguir os passos da minha mãe, quero me casar por amor, e não
por dinheiro.
Tudo bem que o Rui é um homem rico, mas eu sou apaixonada por ele desde
que ele era apenas um advogado mediano.
Me sento em frente a mesa do promotor, sorrio sensualmente, e sem querer
faço exatamente o que minha mãe sugeriu, começo meu plano de seduzi-lo.
– Você tem um minuto, doutor?
Ele para o que está fazendo, e me olha com um sorriso.
– Claro, Priscila! – Ele cruza seus braços na mesa. – E então, como estão as
coisas? Já está mais familiarizada com a rotina do departamento?
– Sim, aos poucos estou me habituando! – Sorrio para ele. – Queria te pedir
uma coisa!
– Fique à vontade. – Mais um sorriso, ele está louco por mim.
– Gostaria de dar uma olhada em um antigo caso, já arquivado e tudo mais, é
só por curiosidade.
– Não vejo problema. Qual o réu ou os réus?
– Oh... – Fico temerosa de dizer, mas então crio coragem e digo. – Um
advogado, Rui Figueiredo.
– Seu ex-noivo. É dele que estamos falando? – Uma ruga aparece entre seus
olhos.
– Sim, ele mesmo, tenho curiosidade de conhecer este caso, foi meu pai que o
absolveu, então, fiquei interessada.
– Certo. – Ele muda sua expressão. – Eu e seu pai não tínhamos a mesma
opinião sobre esse caso, você sabe disso!
– Sei, claro que sei – respondo acuada. – Mas, eu não estou aqui para
esclarecer essa situação, quero apenas conhecer o processo que quase colocou
aquele filho da puta nas grades! – Sorrio tentando obter sua confiança.
– Você tem raiva dele, Priscila? – Ele pergunta com certa satisfação na voz.
– Sim, ele praticamente me largou no altar! – Sorrio fraco.
– Você deve saber que não gosto dele. Já tivemos muitos embates no tribunal,
ele ganhou, não por sua competência, mas porque é um maldito de um
pilantra.
Vejo a raiva em seus olhos.
Apesar de tudo, sei que o Rui é honesto e competente, e o promotor odeia ele
por isso.
– Então, você se incomoda se eu der uma olhada no processo? – Faço uma
expressão angelical.
– Tudo bem, fique à vontade. – Me levanto, mas ele me interrompe. – Aceita
almoçar hoje em minha companhia?
Sorrio.
– Claro, pensei que nunca seria convidada para almoçar com o chefe!
****

Quando tive a ideia de jantar com o Rui e meu pai, não havia em minha
mente a possibilidade daquela piranha aparecer com o Rui. Mas, por incrível
que pareça, ele teve essa audácia.
Eu também não havia planejado nada com meu pai sobre o que iríamos falar,
com exceção de sua decisão a respeito do fim da parceria entre eles, o que há
tempos meu pai queria, uma vez que a mesma só aconteceu por minha
insistência.
Na época, eu achava ingenuamente que, ao assinar um contrato com meu pai,
ele não teria coragem de me deixar.
Ledo engano.
Acontece que ao ver aquela mulher acompanhando o Rui, e fazendo o papel
que era meu por direito, surtei, e acabei contando uma história fantasiosa
sobre a reabertura do antigo processo de lavagem de dinheiro que o Rui
participou como advogado.
Resumindo, o saldo final do jantar foi desastroso. Além de ver o Rui se voltar
contra mim, acabei levando um banho de vinho e um tapa na cara daquela
desqualificada.
O sangue subiu e só não acabei com a raça daquela piranha, porque meu pai e
o Rui interviram.
Mas, naquele dia decidi que não deixaria as coisas como estavam. Não vou
perder o Rui para uma secretária de quinta categoria.
Algum tempo depois, tomei coragem e liguei novamente para o Rui, usei o
mesmo discurso sobre a reabertura do processo da promotoria contra ele, e
como um patinho, ele caiu em minha história.
Marcamos um jantar, tentei seduzi-lo, mas não obtive êxito.
Ele realmente parece enfeitiçado pela piranha.
Uma nova tentativa, agora em meu apartamento.
Como não havia um processo para mostrar, tirei apenas cópia do antigo
processo.
Coloquei uma câmera escondida em meu quarto, e assim o plano sugerido
pela minha mãe entrava em ação.
Mas, mais uma vez fui surpreendida por um surto de homem fiel vindo
justamente do cara mais mulherengo que já conheci.
Eu não estou em meu melhor momento, muito menos com sorte.
Frustração e ódio tomaram conta de mim.
Se o Rui acha que pode me humilhar e sair ileso com isso, ele está enganado.
Espere para ver do que sou capaz, Rui!
Falo comigo mesma, após acabar com uma garrafa de vinho sozinha, e
espatifar na parede a taça de vinho que ele tomava.
Flashback off
Capítulo 68
JACKELINE BARTOLLI

O lugar que o Rui escolheu para me levar é simplesmente deslumbrante.


Quando ele me disse que me levaria a uma boate, logo pensei que seria
um daqueles inferninhos que costumava ir com a Carol.
Mas, eu realmente não conheço nada nessa cidade, e a Carol só frequenta
inferninhos!
O lugar é sofisticado, lindo e bem frequentado, dividido em vários ambientes,
separados por gêneros de música, havendo também um piano, bar e um
restaurante.
– Vamos primeiro dar uma passeada para você conhecer a boate. – O Rui diz
animado, enquanto me leva a cada um dos ambientes.
– Como você conhece aqui? Já veio com alguém? – Minha pergunta sai meio
atravessada, talvez preocupada em saber que ele frequentava o lugar com a
insuportável de sua ex-namorada vaca.
– É de um amigo e cliente, um milionário que não tem onde enfiar seu
dinheiro, então investe em casas noturnas.
Sorrio aliviada.
– É muito bonito, de bom gosto, eu achava que seria... tipo um inferninho! –
falo despreocupada.
– Eu não te levaria a um inferninho! – Ele desvia o olhar, mas volta a me
olhar. – Você costumava ir a esses lugares?
Penso um pouco.
– Já fui com a Carolina, mas não gosto. Fui apenas por falta de opção! –
Sorrio, mas ele não sorri.
– Certo! – ele diz simplesmente e continua a caminhar sob o barulho de
música alta, luzes piscantes, e gente bonita e alegre circulando pelo local. –
Vamos tomar uma bebida antes de jantar? – Finalmente ele me olha.
– Sim, eu quero. Já acabaram os remédios que eu estava tomando, estou
liberada!
Ele dá um sorriso, mostrando aquela boca linda, não resisto, seguro seu rosto
e o beijo.
Separo nossos lábios e digo o que explode em meu coração.
– Eu te amo, Rui!
Ele para de andar, coloca uma de suas mãos em meu pescoço, acaricia, me
olha profundamente, e diz a centímetros de distância de meus lábios.
– Eu também, minha deusa! Estou enfeitiçado por você! – Ele olha para os
meus lábios, roça seus lábios nos meus, abro meus lábios para ele me beijar,
mas ele me tortura apenas roçando seus lábios, me atiçando, me colocando
fogo.
Não aguento, estou salivando, então seguro sua nuca, selando nossos lábios e
o faço me beijar na marra.
Ele separa seus lábios dos meus sorrindo.
– Que pressa, Jack! Me deixe fazer o meu joguinho de sedução!
Seguro os cabelos de sua nuca, os puxos e encaro seus olhos sedutores.
– Não gosto desse joguinho, você já me seduziu, conquistou, não fique me
torturando.
Ele me aperta em seus braços, juntando nossos corpos, roçando seu membro
em mim.
– A noite só está começando, Jack, deixe de ser apressada!
Relaxo, acho que estou tensa com tudo que aconteceu em meu quarto.
– Tudo bem, Rui Figueiredo. Tome as rédeas de nossa noite! – Brinco.
– Ok, vamos beber alguma coisa, para dar uma animada! – ele diz divertido.
Depois da terceira taça de vinho, já me sinto leve e desinibida, então não foi
difícil me soltar nos braços do homem dos meus sonhos, e dançar e rodopiar
até ficar tonta.
– Rui, se você continuar fazendo isso, eu vou vomitar em sua camisa linda –
falo e dou risada.
Ele sorri, encaixa novamente meu corpo ao seu, e me beija, e acaricia minhas
costas.
– O que você acha de jantarmos agora? – ele diz em meu ouvido, beijando e
mordendo minha aréola.
– Simmm... – Gemo, com os pelos do corpo todos eriçados, e uma excitação
no meio das pernas que me enlouquece. – Vamos!
Abro meus olhos e o encontro me encarando.
– Você é a mulher mais linda que já conheci, Jack! – Ele beija meu pescoço.
– E a mais gostosa... – Mais um beijo molhado, seguido de uma leve
mordida.
Um gemido escapa de meus lábios.
– Ohhh, Rui, pare com isso, eu não estou aguentando mais. – Mais uma onda
de arrepios pelo corpo, um gelado no estômago, e uma umidade incontrolável
no meio das pernas.
– Amo você, Jack! – Abro novamente meus olhos, e encontro os seus, e esse
momento é mágico.
Se um dia reclamei que ele não falava sobre seus sentimentos, parece que
agora ele descambou a falar, talvez seja o efeito do vinho, só sei que ele está
especialmente romântico hoje.
– Eu adoro quando você fala que me ama. – Envolvo mais seu pescoço com
meus braços, trago sua cabeça para junto da minha e o beijo com vontade,
sem inibições, apenas paixão, amor, e uma sensação maravilhosa de
felicidade, algo que nunca experimentei antes.
– Vamos jantar, então podemos ir embora, e nos amar o resto da noite – ele
diz com seus olhos em chamas, intensos, urgentes.
– Vamos! – falo com meu coração acelerado, uma moleza nas pernas, e uma
vontade insuportável de tê-lo em mim.
Enquanto ele janta, belisco um petisco delicioso feito com nada menos do
que jiló assado em tirinhas finas e crocantes, tomo vinho, e falo besteiras para
ele rir.
Já disse que adoro ver ele rir, porque seu sorriso é lindo, do tipo que ilumina,
enche meu coração de amor, e me faz gostar dele cada vez mais.
Ele segura sua barriga, rindo descontroladamente.
– Chega, Jack! Eu não aguento mais rir, vou ter uma indigestão! – ele diz
com os olhos cheios de lágrimas.
Eu adoro contar para o Rui minhas histórias de quando era terapeuta, porque
ele simplesmente ri de tudo, acha tudo engraçado, eu nem acho tão
engraçado, mas ele acha.
É fato, ele tem um excelente senso de humor.
Então, como estava dizendo, eu apenas contei o caso de um paciente com
problemas de relacionamento com mulheres, basicamente.
Está certo que o cara era hilário, tinha um tique nervoso enervante, daqueles
que pisca e puxa a cabeça, gaguejava, e tinha uma mania de limpar os
ouvidos e depois cheirar os dedos.
Oh, isso era nojento, o cara era nojento, parecia meio seboso, do tipo que não
toma banho frequentemente. Foi constrangedor dizer para ele que a primeira
coisa a se fazer era tomar banho e ficar cheirosinho. Não dá para pegar
mulher cheirando a cecê e a sebo sujo.
Enfim, esse era apenas um dos pacientes muito estranhos que “tentei” ajudar,
se eu quisesse daria para escrever um livro.
– Ok, a sessão piadas está encerrada por hoje! – falo com ironia.
– Você é uma ótima companhia, sabia? – Ele me olha com um olhar
diferente.
– Você também é, adoro ficar com você! Costumo enjoar das pessoas, sou
um pouco chata, mas não de você, nunca enjoo de você! – falo apaixonada.
Me esqueci de dizer, também sou do tipo que não aguenta ficar por muito
tempo com uma mesma pessoa, me canso fácil, talvez por isso não tenho
tantas amigas, não gosto de grude, de “nhenhenhe”.
Oh, eu tenho consciência, sou bem chata e esquisita, talvez por isso tenha
seguido para a Psicologia, todo psicólogo tem um pouco de louco.
– Confesso que já percebi que, às vezes, você é chata. – Ele dá risada, e leva
um guardanapo na cara, e ele continua. – ...irritante, mal-humorada...
Faço uma cara feia.
– Ah, é? Você acha tudo isso de mim?– Finjo estar magoada, de fato, sou
tudo isso mesmo.
– É, mas você tem sorte, sou louco por você de qualquer jeito!
Não consigo não sorrir, e me sentir plena, esse é o tipo de relacionamento que
sonhei em minha vida, amor, admiração e “farpas” (isso soou estranho).
– Eu também sou louca por você! Talvez um pouco mais louca do que
deveria, mas eu sou!
Ele sorri novamente, segura minha mão e a beija demoradamente, fazendo as
borboletinhas voarem freneticamente em meu estômago.
– Vamos embora derrubar aquele prédio? – ele diz com seu olhar de predador
de mulheres.
– Oh, a noite promete, Doutor Rui! Hoje você terá que trabalhar muito! –
Brinco com ele.
Ele pega novamente em minha mão e me levanta, me coloca na frente do seu
corpo e saímos do restaurante.
****

Eu sempre fui muito contida em meu relacionamento com o Renato, talvez


porque ele era gelado como um freezer, nunca houve paixão por parte dele,
mas acho que isso é dele, ele não é dado a explosões de sentimentos.
Eu costumava dizer que o Renato não sentia medo, frio, calor, alegria ou
tristeza, suas expressões e reações eram sempre as mesmas, impassível, como
se ele tivesse aplicado muitas doses de botox no rosto, e assim as expressões
sumiram.
Em contrapartida, o Rui é todo sentimentos, suas emoções estão à flor da
pele. Talvez como advogado ele seja bem contido, mas não comigo.
Amor, paixão e volúpia.
A chegada a sua casa aconteceu em meio a uma correria, ele me arrastando
pelas escadas do apartamento, não me dando tempo de dizer um oizinho para
o coitadinho do Bóris.
A porta do quarto é fechada com um baque, e mal tenho tempo de respirar,
ele enrosca seus dedos entre meus cabelos puxando, engolindo meus lábios,
subindo meu vestido e mergulhando sua mão em meu sexo, faminto, e insano
de desejo.
Ele tenta tirar meu vestido, mas o cordão que o prende as costas é confuso,
então ele me deixa com metade do vestido na cintura, mergulha seus lábios
em meus mamilos, suga-os, morde, guloso, intenso e cheio de paixão.
Ainda em pé vejo minha calcinha cair no chão, ele se agacha a minha frente e
engole minha buceta com sua língua deliciosa, me levando até as nuvens.
– Ohhh... Ruiii... – falo em soquinhos.
Puxo seus cabelos.
– Eu vou gozar, Rui... Ohhh... – Gemo descontrolada.
Ele ainda está de roupa, então o vejo tirar a calça rapidamente.
– Vira, gostosa! – ele diz apressado, me colocando de quatro sobre sua cama
e enterrando seu membro dentro de mim de uma vez, grito de surpresa e
excitação.
– Isso, grita, Jack! Grita bem alto! – Ele segura meus cabelos em um rabo de
cavalo, e puxa-os com vontade, em seguida sinto um tapa forte em meu
traseiro, grito novamente. – Quer mais, Jack? – ele diz insano, me fodendo
com força.
– Quero, Rui! Me mata de prazer, meu homem – sussurro, gemo e grito de
novo.
E mais um tapa, uma estocada, e uma sequência louca de tapas e penetrações
vigorosas, ele sobe sobre meu corpo, insano e louco de paixão, meus braços
quase não aguentam a loucura do sexo e então ele explode de prazer,
gemendo feito um louco.
Pai eterno, o que foi isso?
– Oh, puta que pariu! – ele diz. – Porra, que delícia, minha deusa – ele diz
ainda sobre mim, respirando ruidosamente.
– Foi demais, meu homem! – Olho sobre meu ombro e sorrio, e o vejo
sorrindo. – Você é demais, Rui!
Mais um sorriso orgulhoso, beijos em meu pescoço, em meus ombros, e por
fim, uma mordida, ele adora me morder.
– Eu te amo, Jack! – ele diz em meu ouvido, e nunca foi tão bom ouvir isso, e
vindo dele, o cara mais improvável, que achei que era gelado e sem
sentimentos.
Meus olhos enchem de lágrimas, eu realmente não esperava que isso pudesse
acontecer.
– Eu também, Rui, muito, demais...
Ele me vira sobre a cama, nos fazendo deitar um ao lado do outro, me abraça,
me beija e ficamos em um silêncio maravilhoso, apenas sensações, emoções e
uma névoa de amor pairando no ar.
Estar amando, acho que não existe nada melhor no mundo. – Penso antes de
adormecer.
Adormecemos nessa mesma posição, e nem me dei conta que dormi com o
vestido enrolado em minha cintura.
****

Semanas depois.
Dia após dia, construímos nossa relação que não é feita só de sexo, mas não
vou negar, tem muito sexo.
Passados alguns meses juntos, eu sabia que teria que rever seus pais, o Rui
me disse que precisava ir visitá-los, e que eu iria com ele novamente.
– Jack, eles sabem que agora temos um relacionamento, tipo... sério! – Ele
sorri com sua cara de cafajeste.
– Tipo sério, quer dizer sério, eu espero! – Dou um olhar assassino para ele.
– Brincadeirinha! – Ele me agarra pela cintura, sentado em sua cadeira. –
Vou assumir Jackeline Bartolli para minha família, como a mulher da minha
vida.
Gargalho eletrizada, ele gosta de me deixar boba de amor.
– Serão somente seus pais? – pergunto insegura. – Aquelas madames metidas
a besta estarão lá? Talvez eu deva comprar um vestido Channel? Esse é o
mais caro que existe, não entendo muito de marcas de grife!
– Sei lá, deve ser! – Ele ri. – Mas não se preocupe, é só se vestir
comportadinha, nada de ficar mostrando esses peitos gostosos. – Ele beija
meus seios por cima da camisa. – Nem essas pernas... – Ele enfia suas mãos
por baixo da saia, sobe, aperta minhas coxas, depois meu bumbum. – E talvez
tentar não mostrar tanto esse bumbum.
Dou risada, mas é porque fiquei excitada com essa apalpação toda.
Recobro minha postura.
– Chega de me apalpar, Doutor Rui. – Me afasto dele com um cara divertida.
– Você escolhe as roupas que devo levar, não sei me vestir, e sua mãe é
chique demais.
– Perfeito, deixe comigo! – Ele dá um tapa em minha bunda.
– Ui, Rui! – Faço uma careta, e fricciono o local. – Então, vou voltar ao meu
trabalho, tenho muitas coisas para fazer.
Me viro e saio rebolando, de propósito, é lógico, e o ouço assobiar.
Paro na porta e o vejo me olhando com sua cara de tarado, mas apenas mando
beijos para ele e saio feliz.
****

E o final de semana chegou, e com ele a tortura da visita aos pais do Rui.
Confirmo se coloquei tudo em minha mala, a fecho e bufo nervosa.
Apesar de ter colocado na bolsa de viagem alguns vestidinhos curtos, saias e
biquínis, o Rui fez questão de comprar para mim alguns vestidos e conjuntos
mais comportados. Como ele disse, desta vez, preciso estar comportada.
Mas, será melhor assim, pois não será fácil rever a nojenta de sua mãe.
– Tudo certo, Jack? – Ele sai do banheiro enxugando seus cabelos e
mostrando toda a sua gostosura de macho.
– Tudo arrumado. – Tento controlar a minha ninfomaníaca, e não o agarrar
pela terceira vez, mas aí me lembro de que precisamos transar muito para
aumentar minhas chances de ficar grávida.
Oh, meu Deus, se o Rui descobre minhas intenções com seus espermas, ele
me mata, ou simplesmente me abandona.
Me levanto da cama, estou vestindo apenas uma saia e um modelo de sutiã
muito sensual de renda, sigo até ele feito uma pantera.
– Eu já conheço esse olhar, Jack – ele diz me encarando.
– Ah, é? – Seguro seu pênis. – Então, você sabe o que eu quero. – Beijo seus
lábios, depois o pescoço, percorro sua barriga com minha mão, o excito e
provoco.
– Jack, estamos atrasados, precisamos ir. – Ele reclama, mas já está de olhos
fechados, se deliciando com minhas carícias.
– Só mais uma vez, meu bombeiro! Eu estou pegando fogo! – Brinco e
mordo sua orelha, depois seu maxilar, seu queixo.
– Que fogo, Jack! Haja mangueira para te acalmar! – Ele me coloca em sua
cama, e antes que eu tire minha roupa, ele já está enterrado até o último
centímetro dentro de mim. – Assim que você gosta, minha delícia?
Seguro seus cabelos e o encaro.
– É assim mesmo, Rui! Me fode com força, meu homem gostoso! – Invado
sua boca com a minha, e enlouqueço de prazer em seu corpo.
Minutos insuportáveis de prazer, o clímax, e então nossos gemidos
reverberam pelo quarto e possivelmente pelo apartamento todo.
Ele relaxa seu peso sobre mim, e aos poucos vai retornando à realidade.
– Que loucura você é, Jackeline! – ele diz depositando beijos em meu rosto. –
Te amo, minha deusa!
Ele me olha intensamente, seguro seu rosto entre minhas mãos, e o beijo
apaixonadamente.
– Eu também, Rui! Podemos ir agora, se você quiser!
– Você primeiro acaba comigo, depois diz que quer pegar duas horas e tanto
de estrada? Jack, você não gosta do seu macho.
Dou risada.
– Oh, Rui, desculpa se cansei você! – falo bem boazinha, enchendo suas
bochechas de beijos. – Tá melhor agora, ou quer mais beijinhos? – Brinco
com ele.
Ele se levanta e me olha.
– Vamos terminar isso logo, prefiro ir hoje. – Ele segue para o closet, ajeito
minha roupa, coloco uma camisa e termino de me arrumar.
Em minutos, estamos na estrada, eu, o Rui e o, agora NOSSO, mascote.
****
Depois de longos minutos na estrada, chegamos a sua cidade, e parece que já
me sinto familiarizada com o lugar. O cheiro que paira no ar é diferente,
talvez por estarmos próximos a área rural, onde existem fazendas, gado e
plantações.
Como da outra vez, seguimos para o píer que dá acesso à represa.
– Vamos ver se a represa continua onde a deixei? – ele diz sorrindo, e apesar
de horas na estrada, ele parece renovado.
Talvez, esse seja o efeito que esse lugar causa nele.
Caminhamos de mãos dadas até o píer, paramos, ele abraça minhas costas,
beija meus cabelos e ficamos ali, apenas observando a paisagem noturna da
represa.
– É bom ficar aqui. Dá uma paz, né? – falo relaxada em seu abraço,
acariciando seus pelos macios dos braços, sentindo a quentura que vem do
seu peito em minhas costas, uma sensação boa de acolhimento, de proteção.
Ele beija meu rosto, e esfrega sua pele na minha, pequenos pelos fazem
cócegas em minha face.
Finalmente ele beija minha orelha e diz num sussurro.
– Vamos dormir, minha deusa? Estou morto de cansado!
Me viro para olhá-lo, seus lindos olhos estão vermelhos de sono.
– Vamos, vou colocar meu bebezão para dormir. – Brinco, beijo suavemente
seus lábios, ele volta a me encarar, me beija novamente e a excitação volta.
– Vamos, Jack, eu aguento mais uma, a última do dia! – E ele me pega no
colo, dou um grito de excitação.
– Sou pesada, Rui, me coloca no chão – falo manhosa, não querendo de fato
que ele faça isso.
– Para mim, você é uma pluma! – Ele sorri, me beija, e assim, seguimos para
seu quarto, e terminamos nossa noite como sempre, com muito amor.
****

O dia amanhece ensolarado, sem nuvens, apenas um sol maravilhoso que já


está a pino.
Me alongo em frente a varanda do seu quarto, e me delicio com a visão da
represa, alguns barcos já estão navegando, Jet Skys, e pessoas se exercitam
em canoas e stand-up paddle.
Como sempre, estou vestida em uma camiseta dele, a camisola é muito
indecente para aparecer em público.
Um abraço em minha cintura, beijos em meu pescoço, e o cheiro de barba
feita inebria minhas narinas.
– E, então, o que faremos? – pergunto abraçada aos seus braços.
– Antes de irmos almoçar com meus pais, vamos dar uma volta de barco, já
estão trazendo ele! – Ele me puxa em direção ao quarto. – Vamos tomar
banho juntos. – Ele pisca para mim.
Me penduro em seu pescoço e saímos nos beijando em direção ao quarto,
depois no banheiro, ele tira minha camiseta, eu tiro sua boxer, e nos enfiamos
em meio a beijos e carícias dentro do chuveiro.
Em minutos estou grudada a parede, com um homem enorme em minhas
costas.
– Empina esse bumbum lindo para mim, Jack! – Ele segura meus quadris e
me penetra.
Gemo baixo, mas à medida que a excitação aumenta, seus movimentos, e sua
mão estimulando meu clitóris, explodo de prazer e esqueço de tudo, gemo e
grito seu nome.
– Oh, Jack, você me deixa louco! – E seus gemidos sensuais e roucos enchem
meus ouvidos de prazer. – Te adoro, minha deusa! – ele diz em meu ouvido,
abraça minha cintura e fica em silêncio, respiração ofegante e o coração
disparado. – Pronto, agora posso começar meu dia. – Ele morde minha
orelha. – Está bom para você, ou quer mais? – Sinto seu nariz em meu
pescoço, ele me beija, me morde.
– Acho que você quer mais, Rui! – Sorrio. – Você é tão viril. – Fecho meus
olhos, sentindo seu membro roçando em meu bumbum. – Como você
consegue se recuperar tão rápido?– Sussurro.
– Acho que esse é o efeito Jackeline em mim. Esse corpo delicioso me deixa
louco, o cheiro da sua pele. – Ele volta a passar o nariz em minha pele do
pescoço. – Vamos, Jack, na cama. – Ele me tira do chuveiro, nos enxugamos
rapidamente, e voltamos a nos amar.
****

Me olho no espelho do quarto, passo minhas mãos pelo vestido, viro o


pescoço de lado, e analiso se estou decente e à altura da velha megera.
O vestido é tipo frente única, mas a parte de trás cobre boa parte das costas, o
tecido é grosso, floral, reto até a cintura, e depois levemente rodado até os
joelhos.
É simples, mas elegante, e fiquei ainda mais bonita com o bronzeado que
peguei no barco.
Coloco a sandália alta, branca e delicada, que comprei junto com o vestido.
Prendo meu cabelo em um coque, passo um gloss nos lábios, uma
maquiagem leve nos olhos e estou pronta.
Desço as escadas, e encontro o Rui digitando em seu celular, o que me causa
certa irritação.
– Cheguei! – digo de sobressalto, ele me olha surpreso, enfia o celular no
bolso e levanta.
– Você está linda, Jack! – Ele enlaça minha cintura, beija minhas bochechas,
e então me olha com rugas na testa. – O que foi, que bico é esse?
Respiro fundo e falo:
– Rui, eu sei que você resolve assuntos profissionais pelo celular, mas hoje é
sábado, não acho que exista algo tão urgente que você precise resolver.
Então, eu realmente gostaria de saber o que tanto você olha e digita nessa
merda! – O olho de lado, e o vejo surpreso, com as sobrancelhas levemente
arqueadas.
– Jack, tenho um grupo de amigos que se comunica por mensagem, às vezes,
é algo sério, às vezes, é só piada. É só isso, não precisa ficar com esse bico!
Passo por ele.
– Espero que seja só isso mesmo! – Me sento em um sofá, o Bóris se senta
comigo, acaricio seu pelo, e tento me acalmar.
– Você quer ver as mensagens? Não tenho nada a esconder, só peço
desculpas, às vezes eles enviam umas coisas meio pesadas. – Ele dá um
sorriso fraco.
Solto o ar.
– Não, não quero ver, confio em você! – digo, mas não é isso que penso,
estou com as mãos pinicando para olhar esse maldito celular.
– Então, vamos. Não queremos fazer minha família ilustre esperar por nós,
não é mesmo? – Ele estende sua mão para mim, me levanto e ele novamente
me abraça e me encara. – Está tudo bem mesmo, não quer olhar as
mensagens? Não tenho nada a esconder, estou falando sério.
Relaxo, e deixo um sorriso curar meu mau humor momentâneo.
– Está tudo bem, não quero ver nada. Já disse, confio em você.
Ele beija suavemente meus lábios.
– Então vamos, Jackeline Bartolli, enfrentar a megera da sogra! – Ele me olha
de lado, e não consigo segurar um riso.
– Você que disse que ele é megera, eu não disse nada! – falo com sarcasmo.
****

Novamente me vejo com o coração angustiado ao entrar na mansão da


família Figueiredo.
Bom, eu acho isso uma mansão, é uma casa grande, com um jardim enorme,
enfim, não me importo muito com isso.
Minhas mãos estão geladas, e um frio no estômago me incomoda.
Caminhamos pelo jardim, o Rui me olha de lado e aperta minha mão.
– Tudo bem?
– Tudo. Apenas um pouco nervosa! – falo simplesmente.
– Fique calma. Seja você mesma, Jack, não estamos aqui para a aprovação da
minha família. – Ele me olha carinhoso.
Sorrio nervosa.
– Ok! Posso contar minhas histórias como terapeuta? – Brinco.
Ele dá uma gargalhada.
– Pode, acho que meu pai vai se divertir.
– Estou brincando, vou ficar muda, a Carolina costuma dizer que falo muitas
besteiras.
Ele me olha de lado.
– Eu não acho!
Finalmente alcançamos a área de lazer da casa, vejo seu pai e sua mãe
sentados em cadeiras de descanso, ela com um chapéu com uma aba enorme
cobrindo seu rosto e ombros.
Ela é muito madame! – Penso, revirando os olhos.
Seu pai está vestindo uma bermuda longa e camisa polo, claras, parece até
que irá jogar golfe.
Ele se levanta ao nos ver, e vem ao nosso encontro.
– Finalmente vocês chegaram! – O velho fala animado, ele é simpático como
o Rui (ou o contrário), aliás, o sorriso dele é o sorriso do pai.
Ele estende sua mão para mim e me olha carinhosamente, sinto uma empatia
por ele.
– Como vai, Jackeline? Seja bem-vinda a nossa casa! – ele diz tão
educadamente, e tão gentil que sinto uma coisa boa no peito.
– Estou bem, e o senhor? – O cumprimento. – Muito obrigada!
Ele abraça calorosamente o Rui, beija o seu rosto, e cochicha discretamente
em seu ouvido.
O Rui sorri, e volta a segurar minha mão.
– Venham – ele diz caloroso.
Olho para a megera, ela não moveu um músculo do lugar, parece presa à
cadeira.
Mais alguns metros e alcançamos o lugar que eles estavam sentados, seu pai
conversa animadamente com o Rui, eles parecem dois amigos, e não pai e
filho.
Finalmente a velha tira seu rabo fedido da cadeira, e vem nos cumprimentar.
– Olá, mãe! – O Rui a abraça. – Tire esse chapéu, é falta de educação
cumprimentar as pessoas com isso. – Ele joga seu chapéu sobre a mesa, não
consigo deixar de rir com seu desatino de filho malcriado.
Ela faz uma cara feia para ele, mas volta a abraçá-lo, e então olha para mim, a
namorada mal quista.
– Boa tarde, Dona Raquel! Como vai? – Estendo minha mão para ela, tento
vestir minha máscara da indiferença, mas tenho náuseas ao ver sua cara de
madame nojenta, insuportável e metida.
– Bem, Jackeline! – ela diz segurando minha mão como se tivesse nojo, um
contato rápido, sem pressão.
Odeio gente assim, sou filha de italiano, do tipo que abraça com vontade,
aperta as mãos como se fosse quebrar os ossos, sou calorosa e afetuosa em
minhas relações, e não suporto gente superficial.
Estico meus lábios em um sorriso artificial, estamos eu e ela interpretando.
– Vamos nos sentar? – Seu pai diz simpático, puxando uma cadeira para
mim.
Penso com desânimo qual será o assunto que conversarei com eles. Se eu
entendesse de chapéus, eu puxaria papo com a megera, diria que seu chapéu é
muito bonito.
Mas, resolvo apenas sorrir, e não falar besteiras.
Sentamos eu e o Rui, um ao lado do outro, ele segura minha mão junto a sua,
vira de lado, beija meus cabelos, e cochicha em meu ouvido:
– Te adoro, minha deusa!
Sorrio constrangida, mas me sinto feliz, e amada.
– Então, Jackeline... – Levanto meus olhos ao ouvir meu nome, mas graças a
Deus é o pai do Rui que está me chamando. – Já está acostumada a trabalhar
com o Rui? Os funcionários dele costumam dizer que ele é um trator
desgovernado! – Ele sorri debochado.
Sorrio sem jeito. O que irei dizer? Que adoro trabalhar com o Rui,
principalmente porque fazemos pit-stops durante o dia, e transamos feito dois
coelhos em sua sala?
– Ele é um ótimo chefe, e no final das contas todos os adoram, é só fachada,
faz parte falar mal do chefe! – Seu pai dá uma risada escancarada, acho que o
Rui puxou ao pai, ri de tudo.
– O Rui me disse que você é terapeuta! – Ele enche uma taça de vinho para
nós dois, e acho que estou me tornando alcoólatra, nunca bebi tanto em
minha vida.
– Sim. Quero dizer, eu era. – Beberico o vinho, preciso me acalmar.
– Por que mudou de profissão? – Ele insiste e me desespero.
– Oh... – Começo a dizer, mas o Rui me interrompe.
– A Jack não gostava muito do que fazia. Ela nasceu para ser secretária, a
melhor que já tive. – Ele me olha com um sorriso, e eu me desmancho.
– Não estou com essa bola toda. – Tento disfarçar. – Nunca tinha trabalhado
como secretária, estou aprendendo muitas coisas com o Rui.
Olho de soslaio para sua mãe, ela me olha com indiferença.
Me sinto mal com sua presença, ela bem que poderia entrar e não sair mais de
sua casa.
– Se o Rui está dizendo é porque é verdade. Ele costuma ser bem sincero,
Jackeline. – Ele sorri para mim novamente. – Você é filha de italianos, é
isso?
Acho que isso é um interrogatório, me sinto em uma sala de polícia.
– Sim, da parte do meu pai, minha mãe é portuguesa.
– Nossa família também tem portugueses... – Ele começa a falar
animadamente.
Passados alguns minutos, vejo uma empregada toda de branco, parecendo
uma pombinha da paz, ela cochicha algo no ouvido da Dona Raquel
insuportável.
Isso, ela é insuportável como a loira vaca da Priscila!
Ela se levanta.
– Com licença, preciso checar o andamento do almoço! – Ela segue
elegantemente pelo jardim.
Seu vestido é feito de um tecido leve, esvoaçante, ela é bem magra, altiva.
– Vou ao banheiro, Jack, eu já volto! – ele diz em meu ouvido. – Pai, cuide
da Jackeline para mim. – Ele olha para seu pai, em seguida sai caminhando a
passos largos em direção a casa, na mesma direção que sua mãe foi.
– Então, Jackeline, como eu estava dizendo, eu adoro comida portuguesa,
temos um restaurante português na região... – Ele volta a falar animado da
cultura portuguesa, e quando percebo, estou conversando animadamente com
o pai do Rui, ele é muito agradável.
Capítulo 69
RUI FIGUEIREDO

E nquanto a Jack se arruma, zapeio as mensagens que chegaram no celular.


Dou risada ao ver o desespero da mulherada, tem uma que apelou para
um nude para lá de erótico, mais precisamente de sua buceta, escancarada na
frente da câmera.
Leio a mensagem rapidamente.
“Rui, ela está com saudades de você!”
Dou risada sozinho.
Essa deve estar numa seca desgraçada.
A outra lembra que não nos vemos há meses, e por fim me convida para um
final de semana em sua casa em Angra dos Reis.
Essa aqui é bacana, filha de um deputado corrupto, cheia da grana e devassa
pra caralho.
Mais uma mensagem, e me surpreendo, é da Helen. Depois da minha
brochada não tínhamos nos falado novamente.
“Oi, Ruizinho! Tudo bem com você? Você não estava muito bem quando nos
vimos, mas agora estou sozinha, se quiser sair para beber e conversar...
Estou com saudades de você, me ligue!”
Não estou a fim, Helen!
Deleto o conteúdo dessas e de outras mensagens de antigos casos, mas antes,
envio a mídia da buceta da garota para meus amigos verem, e escrevo:
“Essa aqui é bem gostosinha, devassa, e está carente. Quem estiver a fim, eu
passo o contato.”
Meia dúzia levanta a mão, pode até ser tribufu, o importante é que
tenha buceta, e faça qualquer coisa na cama... e fora dela, também!
Dou risada com as mensagens.
“Casou, Rui?”
“Tá brocha?”
“Virou viado?”
“Se não vai comer, eu como!”
“Sumiu...”
E assim vai.
E então, a voz da Jack me desperta, e a vejo linda no vestido novo que
comprei para ela.
– Cheguei! – ela diz com uma expressão séria.
Guardo rapidamente o celular no bolso, levanto e sigo até ela.
– Você está linda, Jack! – Ela fica petrificada, e talvez eu já saiba o motivo, a
porra do celular, ela anda implicando com ele.
– O que foi, que bico é esse? – pergunto.
– Rui, eu sei que você resolve assuntos profissionais pelo celular, mas hoje é
sábado, não acho que exista algo tão urgente que você precise resolver.
Então, eu realmente gostaria de saber o que tanto você olha e digita nessa
merda! – Ela diz irritada.
Não achei que ela seria tão direta, mas isso me preocupou, se ela vir essa
mensagem que enviei para meus amigos, talvez dê merda.
Resolvo ser sincero (pelo menos um pouco).
– Jack, tenho um grupo de amigos que se comunica por mensagem, às vezes,
é algo sério, às vezes, é só piada. É só isso, não precisa ficar com esse bico.
Ela passa por mim, parece meio estressada com o assunto.
Preciso desabafar algo, eu reclamava da Priscila, mas a Jack parece uma
general, é brava pra cacete, enfezada e mandona.
Caralho, eu estou fodido com essa mulher! Mas, não dá mais para voltar
atrás, pular fora, ela me conquistou, me enfeitiçou, estou louco por ela.
– Espero que seja só isso mesmo. – Ela se senta com o Bóris ao seu lado.
Como sempre, o traíra me abandona quando ela está por perto.
Apesar do medo da porra que estou, faço o que tem que ser feito.
– Você quer ver as mensagens? Não tenho nada a esconder, só peço
desculpas, às vezes eles enviam umas coisas meio pesadas. – Ensaio um
sorriso, mas a verdade é que estou com um medo da porra que ela aceite
minha sugestão.
Como um bom advogado, às vezes, blefo. Se der certo, perfeito, se não der,
estou fodido!
Solto o ar.
– Não, não quero ver, confio em você.
– Então, vamos. Não queremos fazer minha família ilustre esperar por nós,
não é mesmo? – Pego em sua mão e a levanto do sofá, e como um maníaco
insisto. – Está tudo bem mesmo, não quer olhar as mensagens? Não tenho
nada a esconder, estou falando sério.
Respiro aliviado, finalmente ela sorri.
– Está tudo bem, não quero ver nada. Já disse, confio em você.
Beijo seus lábios e brinco com ela.
– Então vamos, Jackeline Bartolli, enfrentar a megera da sogra!
– Você que disse que ela é megera, eu não disse nada! – ela diz com um
sorriso, pelo visto adorou ouvir chamar minha mãe de megera.
Mulher é tudo igual, todas odeiam a sogra.
****

É sempre um desafio apresentar uma namorada a minha mãe.


Não que eu tenha feito isso muitas vezes, mas ela acabou conhecendo
algumas mulheres que me relacionei ao longo da minha vida adulta.
É fato que dona Raquel não é simpática, e graças a Deus não puxei a ela.
Mas a questão é que estamos há algum tempo em sua casa, sem que ela faça o
mínimo esforço para ser simpática com a Jackeline.
Isso já está começando a me irritar, e está difícil controlar minha vontade de
falar umas merdas para ela, e então a oportunidade acontece.
A empregada cochicha em seu ouvido, ela pede licença e segue em direção a
casa, aproveito a ocasião e invento uma desculpa para falar com minha mãe
sozinha.
– Vou ao banheiro, Jack, eu já volto! – sussurro em seu ouvido.
Olho para o meu pai e falo em código.
– Pai, cuide da Jackeline para mim.
Ando a passos rápidos em sua direção. Entro na cozinha e a vejo
experimentando os pratos.
– Oi, mãe! Podemos conversar um minuto? – Ela me olha de soslaio, então
dá algumas orientações à empregada e me segue até o escritório do meu pai.
Entramos calados, e então falo:
– Mãe, sei lá, mas talvez por educação você poderia se esforçar um pouco
para ser simpática com a Jackeline. – Sorrio provocador. – Não precisa gostar
dela, só seja educada e simpática!
Ela me lança um olhar assassino.
– Não vou me esforçar a nada. Seu pai que inventou essa história, só estou
suportando isso porque não posso fazer nada! – Ela tenta sair, mas eu a
seguro.
– A senhora pode fazer sim, seja educada e simpática. A Jackeline não é
nenhuma piranha ou coisa assim, estamos juntos, eu gosto dela, e não
admitirei que a senhora a trate mal.
Ela puxa seu braço.
– Não admito que você fale assim comigo! E me faça um favor, não traga
mais essa biscate em minha casa. – Uma raiva fora do normal se apodera de
mim.
– Biscate são as suas amigas! A Jackeline não virá mais aqui, e eu também
não! – Viro as costas e estou saindo insano, mas ela me interrompe.
– Rui, não vá embora. – A olho com sarcasmo.
– E quem falou que irei? – Sorrio. – Essa casa também é do meu pai, e é por
isso que estou aqui.
Passo por ela como um raio.
Eu realmente gostaria de ir embora, mas ficarei pelo meu pai.
Chego ao jardim e vejo meu pai gargalhando.
Relaxo e sorrio, a Jack já começou a contar seus casos cômicos.
Ela é uma palhacinha linda.
Confesso que nunca conheci uma mulher tão singular quanto a Jack. Ela
consegue ser divertida, brava, carinhosa, doce, mandona, e por fim, a melhor
parte, um vulcão sexual.
Me sento ao seu lado, seguro sua mão e digo:
– Posso rir um pouco?
Meu pai limpa os olhos.
– Parabéns, Rui! Sua namorada é uma mulher muito divertida, além de ser
muito bonita e simpática.
A Jack já jogou seu feitiço sobre meu pai, o velho tá caidão por ela.
– Estava contando para seu pai por que desisti da Psicologia. – Ela sorri
debochada.
– Então, continue, quero ouvir também.
Depois de alguns minutos de distração, onde meu pai também resolveu contar
histórias engraçadas, minha mãe surge sem graça no jardim.
– Já está tudo arrumado. Podemos almoçar, Toni? – Ela finge que não existo,
fazia tempos que não brigávamos.
Climão do caralho para um almoço em família!
– Sim. – Ele pega na mão da Jackeline, me causando surpresa e espanto. –
Vamos, Jackeline, nossa cozinheira é muito boa, você irá gostar muito da sua
comida.
Olho para meu pai, depois para minha mãe e a vejo incrédula olhando para
seu marido.
Hoje ele dorme na casinha do seu cão preferido, um São Bernardo que pesa
mais de 50 quilos! – Penso divertido.
Sorrio com a cena. Eu tinha certeza que a Jack encantaria meu pai, seu jeito
simples e espontâneo conquista qualquer pessoa. É uma pena que minha mãe
provavelmente está envenenada pela Priscila e sua mãe.
Dou de ombros e sigo os dois em direção à casa.
Capítulo 70
JACKELINE BARTOLLI

D epois de minutos de descontração ao lado do pai do Rui, finalmente a


megera nos chama para o almoço.
Aliás, o pai do Rui é uma graça, tão divertido, alto astral, inteligente.
Agora já sei a quem o Rui se parece. Eles têm o mesmo jeito, são tão
parecidos, até nas frases.
Apesar de toda a gentileza do Doutor Toni (ele se chama Antony), ao se
sentar à mesa junto com a Dona Raquel, o constrangimento volta e a fome
some.
A mesma empregada uniformizada nos serve, e é tanta formalidade que me
sinto mal.
– A comida está boa, Jackeline? – Seu pai pergunta com um sorriso no rosto.
– Sim, Doutor Toni, ótima! – respondo acuada, sentindo um nó no estômago,
e remexendo a comida.
– Você gosta de carne de pato? – Ele olha para o meu prato. – Não a estou
vendo comer.
– Está uma delícia, é que me alimento devagar!– Disfarço, enfio um pedaço
de carne na boca, e mergulhamos novamente no silêncio.
Um silêncio pesado se instala no ambiente, parecem todos mudos, apenas o
barulho de talheres batendo nos pratos, e então sinto um gelado em meu
braço, olho assustada e vejo um filhote de urso, mas esse é realmente grande,
o Bóris é filhote perto dele.
– Oi, coisa linda! – falo extasiada, e minha loucura por cachorros vem à tona.
Parece que tenho um imã para eles, todos me amam.
Paro de comer imediatamente, e tenho vontade de me ajoelhar no chão e
acariciar o cão lindo.
Então ouço a voz irritante da mãe do Rui.
– Oh, quem deixou esse bicho nojento entrar em casa? – ela diz estressada.
A olho consternada. Como ela pode dizer que ele é nojento?
Acaricio a cabeça do cão e vejo o pai do Rui se levantar e vir em minha
direção.
– Desculpe, Jackeline, o caseiro deve ter deixado o Frederico se soltar. – Ele
o pega pela coleira.
– Pode deixar, pai. A Jack gosta de cachorros! – O Rui me olha sorrindo.
– Tenho fascinação por eles. – Olho para o bichinho com cara de carente, e
penso que se ele desse uma mordida na velha megera seria bem interessante.
O pai do Rui segura o bichinho.
– Esse aqui é meu companheiro, estamos juntos há um tempão, mas ele já
está velho, assim como eu! – Ele dá risada. – Vou colocá-lo para fora. Depois
se você quiser, o solto no jardim, minha esposa não gosta muito de cachorros.
– Ele olha de lado para a mulher, parece meio irritado.
Doutor Toni sai com o cachorro, olho por entre os cílios para a megera, e
resolvo ir ao banheiro, o clima está péssimo, e foi uma péssima ideia ter
vindo aqui, não dá para forçar a natureza, ela não me suporta, e eu também
passei a não suportá-la.
– Vou ao banheiro. Onde fica? – cochicho no ouvido do Rui.
– Eu te levo até lá! – Ele empurra sua cadeira e sai.
Franzo minha testa, mas não dá para impedi-lo, ele já está me esperando na
porta.
O sigo até uma porta, ele a abre e vejo um lavabo enorme, o equivalente a
dois banheiros do meu apartamento.
Entro, o Rui entra comigo e fecha a porta, o olho confusa.
– Rui, por favor, me deixa sozinha. O que vão achar que estamos fazendo
aqui?
Ele sorri malicioso, se aproxima de mim, me acuando contra a pia de
mármore que ocupa uma parede inteira.
– Rui, por favor! – Imploro.
Ele segura minha cintura, gruda seu corpo ao meu, e começa a depositar
beijos em meu pescoço.
– Por favor, por que, Jackeline? – ele diz rouco, lambendo e beijando minha
orelha.
Coloco minhas mãos em seu peito.
– Por favor, não faça isso. Volte para a mesa! – Não aguento suas carícias,
fecho meus olhos e me entrego à sensação deliciosa que ele me causa.
Ele enfia sua mão por baixo do meu vestido, sobe pelas minhas coxas, as
acariciando, para em minha calcinha e começa a descê-la vagarosamente.
Tento empurrá-lo, mas ele parece uma rocha.
– Não, Rui! Agora é sério, não vamos transar no lavabo da casa dos seus pais.
– Tento parecer brava, mas não consigo.
– Será que não vamos mesmo? – ele diz com sua cara de cafajeste.
Ele abre o zíper de sua calça, arregalo meus olhos.
– Rui, nãooo! – Mas ele foi mais rápido do que eu, me colocando sobre a pia,
e me penetrando de uma vez.
– Não, Jackeline? – ele diz debochado, depositando beijos molhados em
meus lábios, e se movimentando lentamente dentro de mim. – Você não quer
mesmo? Quer que eu pare?
Ai, que delícia de homem!
– É, a gente não deveria! – falo de olhos fechados, me entregando a sua
loucura.
Seguro seus cabelos entre meus dedos, os puxos levemente, o beijo, gemo
baixo, e finalmente gozo.
– Hummm, Ruiii!!! – Gemo baixo, me controlando. – Por que você faz essas
coisas?
Estou embriagada, ele me embriaga, e só faço loucuras quando estamos
juntos.
– Você gosta de uma loucura, Jack! Você é safada e gostosa! – Ele aumenta
seus movimentos. – Eu vou gozar, minha deusa, bem gostoso, do jeito que
você gosta. – Então ele joga sua cabeça para trás e geme, tão macho, tão viril.
Seguro sua cabeça e faço-o voltar a me beijar, e a gente se beija loucamente,
e finalmente paramos, e ficamos um olhando para o outro.
– Foi bom, delícia? Pra mim, foi demais – ele diz com seu olhar intenso.
– Foi bom, sempre é bom! – Sorrio e desço da pia. – Mas não deveríamos de
ter feito isso! Agora que sua mãe terá certeza que sou uma vadia.
– Não fala isso, Jack, ninguém sabe o que fizemos. Somos um casal
apaixonado, que não consegue ficar muito tempo sem sexo. – Ele dá um
sorriso fraco.
– Eu sei... – Tento sorrir, mas não consigo, estou com um sentimento ruim
dentro de mim. – Rui, não consigo mais ficar no mesmo ambiente que sua
mãe.
Ele me olha entristecido.
– Desculpe, mas ela não gosta de mim, não me sinto bem aqui. A gente pode
ir embora? – Desabafo.
Ele segura meu rosto entre suas mãos grandes, me olha intensamente e beija
suavemente meus lábios.
– Tudo bem, Jack! – Ele se arruma e lava suas mãos. – Eu vou voltar para a
mesa, vamos apenas esperar o café. Pelo meu pai, está bem?
– Claro! Seu pai é um doce, adorei ele. – Sorrio sem graça. – Esquece o que
eu disse, se quiser ficar mais um pouco, ficamos.
Ele me interrompe.
– Não, podemos ir, ficamos bastante tempo. – Ele abre a trava da porta. –
Espero por você na sala de jantar.
Ele fecha a porta, espalmo minhas mãos sobre a pia e me olho no espelho.
– Será que sou tão ruim assim? – Sinto meus olhos lacrimejarem, mas não
permito que as lágrimas sigam adiante.
O problema não sou eu, é ela!
Faço minhas necessidades, ajeito meu vestido e volto para minha penitência.
****

Quando chego à mesa eles estão conversando em um tom de voz baixo,


diminuo o passo, mas logo percebem que cheguei e o pai do Rui sorri.
– Venha, Jackeline! Estamos te esperando para comer a sobremesa – ele diz
cheio de hospitalidade.
– Obrigada! Desculpem se demorei um pouco. – Me sento ao lado do Rui, ele
volta a segurar minha mão, a leva até seus lábios e a beija.
Eu adoro isso, adoro que beijem minha mão, acho isso tão romântico.
O Rui é romântico, só que ele não descobriu isso ainda.
Sorrio para ele, que inclina seu rosto em minha direção, me beija próximo a
orelha e cochicha:
– Te amo, Jack!
Um friozinho percorre todo o meu estômago.
Olho para ele e apenas gesticulo com meus lábios.
– Eu também.
Evito olhar para a sogra megera, mas vejo a empregada trazendo uma
travessa com pequenos recipientes, cada um é um tipo de doce.
Vejo o Rui pegando dois de uma vez, e acho engraçado.
– Você vai ficar gordinho! – cochicho em seu ouvido.
– Eu faço bastante exercício com você. – Ele pisca para mim.
Escolho uma das sobremesas, e finalmente todos terminam, não vejo a hora
que sirvam o café e que acabe essa tortura.
– Vamos tomar o café na varanda? – Seu pai se levanta, o Rui pega em minha
mão e o seguimos para uma varanda linda.
Nos sentamos em uma mesa redonda, e novamente ficamos em silêncio.
Eu até não sou de falar tanto assim, mas está sendo muito difícil ficar calada.
Ai, que nervoso!
Enrosco meu braço ao do Rui, unindo nossas mãos, e me encaixo ao seu
corpo, sentindo seu cheiro, seu calor. Adoro tanto ele, se a mãe dele soubesse
o quanto!
O Rui e o pai começam a conversar, falam sobre pessoas, depois sobre
processos, e quando acho que vou dormir de tédio, o café chega.
Finalmente terminamos a maldição do café.
– Pai, nós já vamos! – O Rui se levanta, e percebo que está ignorando sua
mãe, na verdade, os dois não trocaram uma só palavra desde que chegamos.
Me sinto mal ao pensar que é por minha culpa, amo tanto minha mãe,
imagino que o Rui também ame a sua. Não gostaria de ser motivo de
discórdia entre os dois.
– Agradeço terem vindo! Espero que você volte para nos visitar, Jackeline! –
Seu pai diz.
Sorrio ao apertar sua mão.
– Obrigada, Doutor Toni. Adorei o almoço, muito obrigada pelo convite!
Me volto para a Dona Raquel e estendo minha mão para ela.
– Obrigada, Dona Raquel. – Tenho vontade de dizer que não quero vê-la
nunca mais em minha vida, mas infelizmente, não posso.
Ela segura minha mão daquela forma irritante, mas para provocá-la, aperto
com firmeza, e mantenho o aperto, e a olho dentro dos seus olhos, que são
acinzentados como os do Rui.
Um leve movimento de sobrancelhas mostra que ela não gostou do meu
aperto de mãos, mas apenas sorrio.
– Vamos, Jack! – O Rui me puxa para a saída sem se despedir de sua mãe.
****

Finalmente chegamos à casa do Rui, e nunca foi tão bom chegar a esse lugar.
Me esparramo em um sofá, e logo meu bicho peludo vem se aninhar a mim.
– Posso dormir um pouco, Rui? Me deu um sono! – falo preguiçosa.
– Claro, vou me trocar e relaxar um pouco lá fora! – Ele me beija
delicadamente. – Depois eu acordo vocês dois!
O ouço subir as escadas, mas o relaxamento é tanto que durmo em segundos.
Não sei quanto tempo dormi, mas quando acordo o céu está vermelho, e o sol
se pondo.
Olho ao redor e não vejo o Rui, então me levanto e sigo para o jardim, e o
encontro dando algumas braçadas na piscina.
Me sento em um puff gigante e fico o admirando enquanto ele nada.
Finalmente ele para na borda da piscina.
– Oi, preguiçosa! – ele diz divertido, passando as mãos pelos cabelos e rosto.
– Dormi demais! Por que você não me chamou? – Faço um bico.
– Achei melhor não te acordar, você poderia ficar mal-humorada – ele diz
debochado.
– Eu, mal-humorada, imagine! – Brinco. – Vem, Rui, estou com saudades –
falo manhosa, estendendo minha mão para ele.
– É pra já, minha delícia. – Ele fricciona seus braços na borda da piscina e sai
num impulso.
– Oh, que homem mais lindo! – falo babando naquele corpo másculo e vejo
sua expressão orgulhosa.
Ele se inclina sobre mim, respingando gotas para todos os lados.
– Vamos subir? Tomamos um banho e depois saímos para jantar fora. O que
você acha?
Enlaço seu pescoço.
– Perfeito. – Seguro seu rosto e o beijo demoradamente.
Ajudo-o a se enxugar com a toalha e seguimos para o interior da casa.
****

Depois de namorarmos, tomarmos banho e depois namorarmos novamente,


finalmente estamos prontos.
Coloco um dos vestidos que ele me deu, é elegante, comportado e me deixa
bonita.
Termino de colocar a sandália alta, prendo novamente meus cabelos em um
coque e finalizo a maquiagem.
– Estou bem, Rui? – Giro a sua frente, atrapalhando sua visão do programa
que ele está vendo.
– Está linda, Jack! – Ele se senta na cama. – Podemos ir agora? – Ele boceja.
– Já estou ficando com sono!
O puxo da cama.
– Vamos, Rui, estou morrendo de fome – reclamo. – Mal comi na casa dos
seus pais.
Ele se levanta rapidamente e logo estamos em seu carro, a caminho do
restaurante português que o pai do Rui sugeriu.
A cidade é pequena, então em pouco tempo estamos no lugar.
O clima é bem alegre, com toalhas quadriculadas em verde e vermelho
(imitando a bandeira portuguesa) cobrindo as mesas, e decorações e fotos que
remetem a Portugal.
– Adorei aqui! – falo animada, ouvindo uma música portuguesa ao fundo.
– Bem típico, Jack. Sua avó iria adorar. – O Rui diz despreocupado.
Sorrio do seu jeito, no fundo, ele adora minha vovó pentelha.
Logo estamos sentados, escolhendo os pratos que iremos comer.
– Pede um vinho do Porto, Rui. Estou com vontade desde aquele dia em
minha casa – falo empolgada com nossa noite.
Começamos a conversar e então o Rui para de falar, sorri e olha para a porta.
– Eu não acredito que estou vendo esse cara. – Ele sorri. – É um amigo de
infância, Jack. Eu não o vejo há uns dez anos.
Olho para trás e vejo um rapaz alto, da idade do Rui, com uma mulher
também da nossa idade, bem bonita, ruiva de olhos azuis, vindo em nossa
direção com um sorriso.
O Rui se levanta e abraça calorosamente o rapaz. Me levanto também, e
cumprimento a sua mulher, ela é bem simpática.
– Porra, cara, quanto tempo não te vejo! – O rapaz diz sorrindo muito. – Até
que você não está tão velho assim! – ele diz divertido, batendo nos ombros do
Rui.
Então ele olha para mim.
– Prazer, meu nome é Gabriel, sou amigo do seu... – Ele olha de relance para
a mão do Rui, então ri. – Sei lá o que esse cara é seu!
Oh, ele é muito simpático.
Estendo minha mão para ele.
– Namorados!
Ele dá uma risada divertida.
– Ainda namorando, Rui? Está na hora de casar, brother!
Então ele apresenta sua esposa.
– Essa aqui é a mulher da minha vida e mãe dos meus filhos – ele diz bem-
humorado.
Os dois começam a conversar, enquanto isso, converso amenidades com sua
esposa, que é uma daquelas mulheres meigas, delicadas e que sorriem o
tempo todo.
Mas, logo o garçom chega com nossos pratos.
– Eu vou deixá-los jantarem em paz. – O rapaz diz rapidamente. – O que
você acha de ir amanhã à nossa casa, Rui? Minha esposa ganhou bebê faz
pouco tempo, mas podemos fazer um churrasco, assim colocamos o papo em
dia!
O Rui me olha interrogativo.
Apenas balanço minha cabeça positivamente, eles trocam telefones, se
despedem, e voltamos ao nosso jantar.
****

Tivemos uma daquelas noites muito especiais, dançamos ao som da banda de


músicas típicas de Portugal, e foi muito divertido, o Rui é muito divertido.
É madrugada quando chegamos a sua casa, subimos para o quarto, ele tira
minha roupa, eu a dele, e nos amamos calmamente, sem aquela urgência que
é comum nas nossas transas.
Muitos beijos apaixonados, muitos olhares longos e profundos, e finalmente
nos entregamos um ao outro, numa sintonia e harmonia perfeitas.
Depois do clímax, aquela sensação de paz e felicidade toma conta de nós, e
nos entregamos ao cansaço, e finalmente adormecemos um grudado ao
outro.
– Te amo, Rui! – cochicho em seu ouvido, antes de adormecer totalmente.
– Eu também, Jack – ele diz com sua voz levemente rouca.
Olho para ele e decoro cada traço do seu rosto.
Nunca estive tão apaixonada por alguém, e isso me causa um medo, uma
ansiedade.
Se eu engravidar, o que é difícil, mas ainda assim existe uma chance pequena
de acontecer, eu posso perdê-lo.
Enfio meu rosto em seu pescoço, cheiro e beijo sua pele.
Um sentimento de culpa se apodera do meu coração, não é certo enganá-lo,
fazer algo sem seu consentimento.
Está decidido, não continuarei com esse plano maluco de engravidar. Não é
assim que se faz, não é certo, não sei onde estava com a cabeça quando
resolvi parar de tomar a pílula.
Preciso apenas esperar minha próxima menstruação e retornarei a pílula.
Abraço seu peito, o cheiro e beijo novamente.
– Te amo, Rui! – Adormeço em seguida.
****

Desperto com a luz do dia em meus olhos, e uma sensação de que poderia
dormir o dia todo.
Me espreguiço na cama, e logo sinto o corpo do Rui junto ao meu.
Estou tão acostumada a dormir com ele!
Adoro esfregar minhas pernas nas suas, sentir as cócegas que seus pelos
macios fazem em minha pele. Mas, também gosto da sensação de plenitude
que sinto quando estou com ele.
Amar é maravilhoso, mas causa um medo, principalmente quando se sabe
que a pessoa que se está amando nem sempre foi um exemplo de homem
sério e fiel.
Penso em sua mania de ficar no celular, eu sei que isso é muito comum
atualmente, até mesmo uma espécie de doença da humanidade moderna. Eu
também faço isso, mas não é do jeito que ele faz.
Ele é um daqueles homens que está sempre checando mensagens, e isso me
irrita demais, e apesar de ter dito que não queria ver as mensagens, uma
pulguinha não para de buzinar em minha orelha.
Eu deveria ter visto as mensagens, apenas para me sentir mais segura, e ter
certeza que ele não se comunica com ninguém.
Fecho os olhos e bufo.
Ele passa o dia comigo, as noites também, como ele pode me trair assim?
Não, eu não vou mexer em seu celular, preciso acalmar os ciúmes que tenho
dele.
Me abraço a ele, enfio minhas pernas no meio das suas, e o calor da sua pele
contra a minha pele nua, aquele seu cheiro amadeirado, masculino e excitante
entra em minhas narinas, e não consigo segurar a excitação que sinto em meu
sexo.
Beijo seu pescoço, seu peito, esfrego minhas pernas nas suas, acaricio sua
pele com minhas mãos, e então ele abre os olhos preguiçoso, mal consegue
mantê-los abertos.
– Bom dia, Rui! – Me ergo um pouco em meus braços, deposito pequenos
beijos em seus lábios. – Dormiu bem, meu urso? – falo brincando.
– Dormi, Jack. Mas ainda estou com sono. – Ele abraça meu corpo, me
fazendo deitar novamente. – O que você quer, minha deusa? Está empolgada
logo cedo? – Ele esfrega seu pênis contra meu corpo e beija meu pescoço.
– Vamos namorar, Rui? – falo manhosa, sentindo seus beijos pelo meu
corpo.
– Já estamos namorando. – Ele me olha e ri, e de repente sinto um dedo
entrar em mim. – É isso que você quer? – Ele me olha com sua cara de
safado. – Talvez mais um?
Dou risada de seu jeito divertido.
– Talvez aquele grandão? – Brinco.
– Qual? – Enquanto ele diz, seu dedo entra e sai deliciosamente dentro de
mim.
– Aquele que fica dependurado no meio das suas pernas, o famoso tripé! –
Brinco.
Ele para o que está fazendo e dá uma gargalhada.
– Tripé? – Ele me olha rindo. – Então coloca o tripé na sua boca, quero ver o
que você faz com ele.
– Com todo prazer! – Me esgueiro em seu corpo e começo a sugar seu
membro.
– Engole ele, Jack! – ele diz com seu olhar de desejo.
Faço o que ele pede, mas antes que ele goze, ele me faz parar.
– Quero dentro de você, delícia! Fica de quatro! – Faço o que ele pede. –
Isso, Jack, que bunda mais linda você tem! – Ele acaricia minha pele. – Um
dia desses, Jack... – Ele me penetra. – A gente podia fazer algo diferente... –
Sinto seu dedo acariciar entre minhas nádegas. – O que você acha?
Gemo ao seu contato, a sensação de prazer com ele dentro de mim, a sua voz
grossa em meu ouvido.
– Tá bom, podemos fazer – sussurro, entregue às suas caricias, agora em
meus seios.
– Talvez hoje? – Novamente ele acaricia o local.
Estou muito excitada, e de fato, ele está sempre insinuando que quer, e por
que não?
– Tudo bem – sussurro.
– Serei cuidadoso, tá! – De novo sua voz grossa e sensual em meu ouvido. –
Colocarei bem devagar... – Ele estimula o local com seu dedo. – Está
gostoso, Jack?
Meu coração está disparado, e uma excitação louca tomou conta de mim.
– Tá, pode continuar... – Ele continua com a penetração e com a estimulação
com seus dedos.
De repente ele tira seu membro de mim, e enquanto estimula meu clitóris, me
penetra por trás.
– Relaxa, Jack! – Ele beija meu pescoço, e aos poucos relaxo, e finalmente
ele está todo dentro de mim, e a sensação é incrível. – Está gostoso, posso
continuar? – Mais beijos e mordidas em meu pescoço, ombros, costas.
Minha excitação está na lua.
– Continua... – Minha voz sai fraca, estou louca de desejo.
Seus movimentos ganham vigor, assim com seus dedos em meu ponto de
prazer, e a excitação, o amortecimento, o prazer de tê-lo em mim, e então...
– Oh, Rui... – Gemo alto, e o prazer vem em seu ponto máximo, em ondas
alucinantes, tudo dobrado, e melhor, e mais intenso.
E seus gemidos e seu urro de prazer preenchem o quarto, insanos, vigorosos,
como tudo nele.
– Caralho, Jack... – Mais um urro, e aos poucos ele vai se acalmando. – Foi
demais, Jack! A melhor de todas.
Fecho meus olhos e desmonto na cama.
Foi intenso pra cacete, delicioso demais, e cansativo.
– Foi demais, Rui! – Olho para ele ao meu lado, meus cabelos bagunçados no
rosto, e sou incapaz de me mover.
– Você é demais, Jack, a mulher mais incrível que já conheci.
Meu sorriso se esparrama em minha face.
– Você também é o cara mais incrível que já conheci. – Sorrio, embriagada
de amor. – Eu amo você, de um jeito que nunca amei alguém.
Ele me olha por segundos intermináveis, indecifráveis, de um jeito que
parece ler minha alma, meu âmago.
– Eu também, Jack! Nunca senti por ninguém o que sinto por você! – Ele
acaricia meus cabelos, me beija lentamente. – Te amo, minha deusa!
O abraço junto a mim, e nos beijamos por longos minutos, apenas beijos,
carinho e amor.
Finalmente paramos e nos olhamos intensamente.
– Vamos tomar um banho, para passar a preguiça? – ele diz carinhoso.
– Sim, mas hoje estou especialmente preguiçosa, Tenha paciência comigo,
estou meio lenta. – Seguro sua mão e me levanto.
– Não achei você lenta agora a pouco. – Ele me olha com uma cara
engraçada.
– Engraçado, né? Não sou lenta para essas coisas.
Ele dá risada, e seguimos para o chuveiro.
****

A casa onde mora seu amigo e a esposa é um encanto, e lembra aquelas casas
americanas, que não possuem portões, grades, ou cercas elétricas. Mas, óbvio
que fica em um condomínio de casas, num bairro muito arborizado, um
pouco afastado de onde o Rui tem sua casa, e próximo da estrada.
Como da outra vez que vim a sua cidade, o céu está limpo, sem nuvens,
apenas um sol maravilhoso enfeita o céu azul e límpido.
– Que casa mais fofa! – digo assim que ele estaciona seu carro no meio fio,
desço do carro e o encontro logo ao meu lado.
– Esse meu amigo se formou em Medicina, e a esposa era enfermeira, se
conheceram no hospital onde trabalhavam, acabaram se apaixonando e
casaram há muitos anos, acho que logo que ele se formou.
– Que legal! – falo animada, aguardando enquanto eles não atendem a
campainha.
Finalmente o Gabriel aparece com um bebê no colo, lindo demais, daqueles
gordos, bochechas rosadas, olhos incrivelmente azuis, como os da mãe.
Sorrio encantada, talvez babando feito uma doida, e com as mãos pinicando
para pegar o bebê em meus braços.
– Bom dia, pessoal! Desculpe a demora, eu estava ajudando a Melissa trocar
os bebês. – Ele diz animado.
– Os bebês? – pergunto curiosa.
– Sim, tivemos gêmeos, eles estão com oito meses. – Ele vai falando
enquanto entramos na casa.
– Oh, ele é um bebê lindo! – falo extasiada mexendo nas mãozinhas da
criança.
Esqueci por alguns minutos do Rui, aquele bebê se tornou o centro das
minhas intenções.
Vejo sua esposa descendo as escadas, com mais uma cópia daquele bebê
lindo.
– Oi, Jackeline! Que bom que vocês vieram! – Ela me abraça com o bebê no
colo.
– Que lindos seus bebês, estou encantada! – Acaricio os cabelinhos loirinhos
e finos do bebê.
– Vamos para o jardim, o Gabriel já está arrumando as coisas.
Seguimos todos para a área externa da casa, e confesso, continuo ignorando o
Rui e só tenho olho para os bebês.
– Quer que eu te ajude com o outro bebê? Parece que o Gabriel está meio
atrapalhado. – Tento não parecer ansiosa, mas não consigo controlar a
vontade que sinto de segurar um dos bebês.
– Oh, seria ótimo, assim ele consegue fazer as coisas. – Ela o chama. – Deixe
que a Jackeline me ajude com o Jonathan.
Sigo sorrindo até ele, pego aquele bebê no meu colo e parece que sinto meu
coração inflar.
– Parabéns, Melissa! Eles são lindos! – falo e acaricio o bebê, que me encara
como se eu fosse o bicho papão. – Adoro esse cheirinho que eles têm. – Beijo
sua cabecinha, cheiro, e sinto uma emoção por dentro.
– Você e o Rui não pretendem se casar? – Ela pergunta enquanto
caminhamos para sua cozinha.
– Acho que não, o Rui não é o tipo de homem que quer se casar – falo
despretensiosamente, mas ela me olha decepcionada.
– Sério? – Ela arregala seus olhos azuis. – Achei que vocês...
– Não, nós não temos planos de casar.
– Você não quer se casar, ter filhos? Você parece gostar tanto de crianças!
– Eu gosto mesmo, mas... – Dou de ombros.
E os minutos foram passando, talvez no melhor dia da minha vida, acho que
nunca passei tanto tempo cuidando de bebês.
Enquanto os dois homens conversavam no jardim e preparavam o churrasco,
eu e a Melissa demos papinhas para os gêmeos, depois trocamos suas
caquinhas, e por incrível que pareça, não senti nojo das sujeirinhas deles.
Estou em estado de graça, e acho tudo que vem deles é maravilhoso, até o
regurgito do pequeno Jonathan em meu colo, que me fez colocar uma roupa
emprestada da Melissa.
– Oh, Jackeline, me desculpe! – ela diz sem graça, tentando limpar meu
vestido. – Coloque esse meu vestido de grávida, acho que servirá em você. –
Ela olha para o meu corpo. – Enquanto isso, irei colocar seu vestido para
lavar e secar, daqui a alguns minutos estará pronto.
– Está tudo bem, Melissa. – Enfio seu vestido de grávida, que apesar de justo
no busto, coube, mas ficou um pouco curto demais, já que sou mais alta que
ela, talvez um pouco indecente nos seios, mas resolvi me esconder um pouco
no quarto dos bebês, até que meu vestido estivesse pronto. – Posso ficar aqui
com eles, enquanto meu vestido não fica pronto?
– Claro! Vamos aproveitar e dar banho neles, assim o tempo passa mais
depressa! – Ela pega um dos bebês, tira sua roupinha, e enquanto isso, cuido
do outro.
– Sua ajuda está sendo maravilhosa, Jackeline! De vez em quando recebo
algumas visitas que não gostam muito de ajudar com os bebês, nem toda
mulher gosta de crianças, quero dizer, elas gostam, mas só quando elas estão
no colo das babás!
Dou risada da sua constatação.
– Você não tem babás para te ajudar? – pergunto sentada com o bebê em meu
colo, acariciando e brincando com suas mãozinhas, e sem querer me vejo
com os olhos cheios de lágrimas, talvez eu não consiga ter um desses para
mim.
– Jackeline! – A ouço me chamar, eu tinha ido até outro mundo, no meu
mundo interior, e nem notei que ela falava comigo.
– Desculpe, Melissa, me distrai com seu bebê. – Tento disfarçar uma ou duas
lágrimas que escaparam de meus olhos.
– Algum problema, Jackeline? Por que você está chorando? – Ela vem até
mim com o bebê enrolada em uma toalha.
– Sabe, Melissa, talvez eu nunca consiga engravidar, tenho um problema
sério em meu útero, trompas e ovários. – Desabafo. – Um dos meus ovários
já está comprometido, e o outro também deve estar caminhando para isso. –
Mais lágrimas escorrem dos meus olhos. – Daqui a algum tempo terei que
tirar meu útero, a médica disse que normalmente quem tem meu problema
desenvolve câncer no futuro, enfim, não sei se serei mãe um dia.
Tento me recompor, limpo as lágrimas, e então olho para ela, e vejo seu rosto
molhado, ela simplesmente caiu no choro comigo.
– Me desculpe! – falo constrangida, ela vivendo seu melhor momento da
vida, e eu estragando tudo com meus problemas.
– Sinto muito, Jackeline, muito mesmo, de verdade! – Ela me abraça junto
com o bebê, e choramos as duas juntas.
Nos afastamos em meio às lágrimas descontroladas.
– A gravidez me deixou muito sensível, me desculpe o descontrole. – Ela
coloca o bebê dormindo no berço. – Vamos dar banho no Flavinho? – Ela
pega o bebê do meu colo. – Prepare-se para dar banho em um bebê,
Jackeline! Já fez isso em sua vida? – Ela sorri, e sorrio junto.
– Nunca, acho melhor você não confiar em mim.
Ela dá risada.
– Faremos juntas, sou enfermeira de berçário, ensinei muitas mamães a
darem o primeiro banho em seu bebê. – Ela tira a roupa do seu filho, e o
coloca em meu colo. – Vamos lá, vou te ensinar.
Capítulo 71
RUI FIGUEIREDO

S empre procurei não me apegar muito às mulheres que me relacionava, e


também mantinha uma postura mais distante e fria, assim ficava mais fácil
sair dos relacionamentos quando não mais atendiam ao meu objetivo, que
era basicamente, diversão e sexo.
O meu relacionamento com a Jackeline começou completamente diferente do
meu padrão, talvez porque ela é diferente das outras mulheres, sempre foi
contida, arredia e difícil!
Então, como se fosse um castigo, eu que cai em sua armadilha.
Estou de quatro pela Jackeline! Está certo que ela também fica de quatro por
mim, mas no sentido literal da palavra.
E falando nisso, que foda deliciosa tivemos hoje pela manhã. Porra, foi
demais!
E penso nela pela vigésima vez.
O que tanto ela faz com a esposa do Gabriel? Caralho! – Penso irritado.
Nunca fui um cara muito carente, ou do tipo ciumento, mas ultimamente...
Ok, confesso, às vezes tenho umas recaídas, fico ciumento com a Jack, mas é
que ela é do tipo mulherão, e chama muito a atenção com aquele corpão
cheios de curvas, de abundâncias.
Ela é gostosa pra caralho!
Mas que porra de demora é essa?
Olho no relógio novamente, pela quinta vez para ser mais preciso.
Sério, ela deve ter esquecido que veio comigo, ela simplesmente desapareceu
com a esposa do Gabriel, parece que enlouqueceu quando viu aquele monte
de bebês.
Tudo bem, não é um monte, são dois, mas é o suficiente para enlouquecer
qualquer um. Quero dizer, parece que a Jack não enlouquece, e pelo visto
arrumou um emprego de babá.
– Ei, Gabriel, será que está tudo certo lá em cima? As duas desapareceram!
O Gabriel me olha com um sorriso, enquanto prepara nosso churrasco.
– É por aí mesmo, cara, esses anjinhos dão um trabalho da porra! – Ele ri
divertido, junta as mãos e fala. – Graças a Deus a Jackeline está dando uma
força, caso contrário você teria que fazer o churrasco sozinho – Ele bufa
cansado. – A filha da puta da babá largou a Melissa na mão, ela anda
estressada pra caralho.
Ele balança a cabeça, e chego à conclusão que quem está estressado é ele.
– Eu imagino! – Reviro meus olhos ao me colocar em seu lugar. – Confesso,
cara, não nasci para isso, nasci sem esse dom! – Brinco.
– Ninguém nasce, a gente aprende, e quando eles nascem a gente se apaixona
e fica mais fácil de superar essa loucura.
– Tô fora! – Viro a lata de cerveja no gargalo.
Ele ri novamente.
– Encontrei seus pais há uns oito meses atrás, antes dos gêmeos nascerem. –
Ele me olha de canto de olho. – Eles disseram que você estava noivo de uma
garota, parece que a conheço, é aqui da cidade, certo?
– É verdade, filha do juiz, o Albuquerque. Lembra dele? – falo
despreocupado.
– Porra, quem não lembra? O cara mandava na cidade! – Ele faz uma cara
feia. – Mas, e aí, o que aconteceu? Lembro que tinha até data para o
casamento, e se não me engano, sua mãe entregou um convite para minha
mãe.
– A Jackeline aconteceu! – Dou risada de mim mesmo.
Engraçado eu admitir isso, agora passado alguns meses, mas foi isso mesmo,
minha deusa do espartilho vermelho me deixou louco, me esqueci de tudo e
de todas.
Ele dá uma risada alta e espontânea.
– Sério, amor à primeira vista? – Ele tira barato. – Mas, então, o
relacionamento é sério?
Ele me olha de lado.
– Sim! – A resposta sai meio estranha, como já disse, odeio falar de
sentimentos, principalmente com um amigo.
– Você está pensando em assumir o relacionamento, tipo casar? Já está na
hora, brother! – Ele me olha engraçado.
Dou risada, achei que só mulheres eram pressionadas a casar.
Penso um pouco antes de responder.
Talvez pela primeira vez em minha vida, começo a pensar em viver com
alguém, quero dizer, com a Jack.
Passamos mais tempo juntos do que longe um do outro, e eu finalmente
admito que esteja amando. Então, talvez esteja na hora de viver um
relacionamento de verdade, dividir o mesmo teto, a mesma cama.
– Estou pensando em morarmos juntos, mas não quero me casar de papel
passado, essas merdas, talvez fazer um test drive, ver se consigo viver com
uma mulher.
Ele dá uma gargalhada.
– Tá na hora, Rui! Assim você vai ser avô, ao invés de pai, caralho! – Ele dá
risada.
– Uma coisa de cada vez. Falei em morarmos juntos, não ter filhos! – digo
irritado.
Me sinto uma mulher trintona, que todo mundo quer ver casada e grávida,
caralho!
– Mas e a Jackeline, ela também pensa assim? Quero dizer, ela parece bem
empolgada com crianças, talvez ela queira ser mãe! – ele diz sério.
– A Jackeline tem um problema sério no útero, provavelmente ela não
conseguirá ter filhos – respondo pensativo. – Talvez por esse motivo penso
em morarmos juntos, não corro o risco de ser pai de surpresa, ela está
praticamente estéril.
Não me sinto orgulhoso de dizer isso, talvez o assunto me incomode, porque
se trata da Jackeline, a mulher que amo.
– Isso é foda! – Ele comprime os lábios. – Cara, se a Melissa não
engravidasse acho que nosso casamento teria acabado, ela quase me
enlouqueceu com essa porra!
– Sério? Qual o problema dela? – pergunto por perguntar, aliás, ando cada
vez mais especialista em problemas femininos.
– Sei lá cara, o ciclo menstrual dela é todo atrapalhado, ela tem umas merdas
nos ovários, coisa de mulher. Sou cardiologista, não entendo nada de bucetas,
quero dizer, entendo o básico, só o que preciso.
Caímos na risada.
– Mas, então, como vocês conseguiram? – pergunto por curiosidade.
Aliás, não sei por que de uma hora para outra resolvi me preocupar com essas
coisas.
– Fertilização. Não havia outro jeito, ela simplesmente não engravidava!
– É... A médica da Jack disse que no caso dela a fertilização poderia resolver,
mas eu realmente não quero, cara! Eu amo a Jackeline, mas nosso
relacionamento para por aí, não quero filhos.
– Ok, Rui, sem estresse, cada um pensa de um jeito. – Ele sorri. – Eu sou
louco por esses carinhas, não troco o choro deles pelas minhas noites
tranquilas... É legal pra caralho... só vivendo esse momento para saber.
Ficamos em silêncio.
Acho que evolui pra cacete desde que conheci a Jack, mas daí querer ter
filhos, é demais pra mim.
****

Finalmente o churrasco fica pronto, o Gabriel segue para chamar as damas, e


então as duas descem apenas com um dos anjinhos do Gabriel.
– Desculpem a demora, eu e Jackeline estávamos brigando com meus
meninos, um deles resolveu lavar o vestido da Jackeline de vômito – ela diz
rindo, mas eu só de ouvir isso sinto náuseas, olho para a Jack, e tenho aquela
compulsão em cheirá-la.
Confesso, não suporto aquele cheiro de azedo.
– Ela lavou meu vestido, Rui! – ela cochicha em meu ouvido, vendo minha
cara de nojo.
A Jack se senta ao meu lado, imediatamente grudo minha mão na dela, daqui
ela não sai mais, chega de bebês por hoje.
– Eu preciso pegar umas coisas na cozinha. – A Melissa diz, e a Jack
imediatamente se oferece para ajudá-la.
Tá foda hoje.
– Eu pego para você. – A Jack diz solícita.
– Oh, você não saberá onde está, fique com o Flavinho para mim, eu vou até
lá.
Fecho meus olhos rapidamente, eu achava que a história tinha acabado, mas
acho que só quando formos embora.
Vejo o sorriso enorme da Jack ao pegar o bebê no colo, suas covinhas nas
bochechas ficam em evidência, e isso só acontece quando ela sorri de
verdade.
É uma merda, ela adora essas coisinhas pequenas e trabalhosas.
– Ele não é lindo, Rui? – Ela levanta o bebê para eu ver, joga ele para o alto,
brinca, beija.
Oh, acho que estou irritado com isso.
Finalmente a mãe da coisinha retorna.
– Pronto, Jackeline, obrigada. – Ela faz menção de pegar o bebê, mas a Jack
grudou nele.
– Deixa ele comigo mais um pouquinho, daqui a pouco vamos embora, e
dificilmente os verei de novo. – Mais brincadeiras, o bebê gargalha em seu
colo.
– Ei, Rui, faz um desses para a Jackeline se divertir! – A Melissa diz, o
sorriso da Jack some, o meu também, ficamos tensos. – Eu estava brincando
– ela diz sem graça, e inventa algo para fazer.
E novamente a Jack se esquece de mim, e só tem olhos para esse anãozinho,
ele até que é bonitinho, mas chora, faz cocô pra caralho, vomita.
Não, não estou a fim.
– Jack, devolve o bebê pra mãe dele – cochicho no ouvido da Jack, que me
olha indignada.
Mas, então a Melissa diz:
– Vou tirar uma foto sua com o Flavinho, Jackeline. Cadê seu celular,
Gabriel? – Ela pega o celular do marido, ajusta a câmera, e click. – Pronto,
depois tiro de você com o Jonathan – ela diz animada. – Preciso gravar seu
número de celular no meu aparelho, para batermos papo de vez em quando.
Reviro meus olhos.
O churrasco é servido, o bebê começa a reclamar, chora, faz aquele
escândalo, e dorme no colo da Jack.
A olho de relance, e ela parece absorvida pela coisinha pequena e sedutora,
seus olhos estão vidrados no sono do bebê, e suas mãos acariciam o tempo
todo ele, os cabelos, as mãozinhas, as bochechas.
Bufo pensativo, talvez angustiado.
Talvez um dia eu queira, talvez por ela, mas não agora, daqui uns cinco anos.
Preciso de um tempo, é muita coisa para um cara só, até ontem eu vivia como
uma cara de 20 anos, e de repente, querem me casar e me dar filhos.
O Gabriel chama a minha atenção, voltamos a conversar, e assim me distraio
dessa loucura que foi vir à casa dele.
Já é final de tarde quando resolvemos ir embora, estou exausto só de ver o
trabalho que os gêmeos do Gabriel dão.
Agora o segundo já acordou, e a Jackeline já grudou nele também.
A Jack é meio obsessiva por crianças – penso preocupado.
– Acho melhor irmos, Jack, precisamos arrumar as coisas e pegar a estrada –
falo meio de saco cheio.
– Tudo bem! – Mais beijos no bebê, ela não cansa. – Tira a foto dele,
Melissa, quero uma recordação desses lindos – ela diz agarrada ao bebê.
A Melissa faz uma sessão de fotos da Jackeline com seus bebês, algumas
minhas também com o Gabriel, e finalmente podemos ir.
– Caralho, Jack, você passou o tempo todo com os filhos da Melissa, e
nenhum comigo!
Merda, isso soou bem gay, mas as palavras estavam me sufocando, eu
precisava dizer.
– Credo, Rui! Você tem ciúmes de dois bebezinhos, que coisa mais estranha!
– Ela faz uma cara feia.
– Não tenho ciúmes de ninguém, mas é que você mal se sentou ao meu lado e
me fez companhia.
– Achei que você queria colocar o papo em dia com seu amigo – ela diz
displicente.
– Porra, haja assunto, ficamos umas seis horas na casa deles.
Ela me olha rindo, se inclina sobre meu banco, me abraça, me beija, e tenho
que dizer, adoro isso.
– Tá carentinho, Rui? – Mais beijos em minhas bochechas. – Agora sou só
sua. – Ela envolve meu pescoço com seus braços. – Te amo, meu bebezão
lindo! – ela diz em meu ouvido, sorrio feito um idiota apaixonado.
Ela volta para seu banco.
– Depois que o Gabriel enviar as fotos dos bebês, você me envia? Fiquei tão
apaixonada por eles.
Olha para ela, e vejo seus olhos sonhadores.
Tento não pensar muito sobre isso, não posso me sentir responsável ou
culpado, nos conhecemos há alguns meses, as coisas não funcionam assim
comigo.
Capítulo 72
JACKELINE BARTOLLI

F inalmente chegamos a casa do Rui e confesso, estou em estado de graça.


Tenho certeza que nasci para ser mãe, daquelas bem babonas, exageradas,
e protetoras.
Amei passar minha tarde com a Melissa e seus bebês, e se morássemos na
mesma cidade, não sairia de sua casa, a ajudaria criar seus filhos, tipo ama de
leite.
Espreguiço-me na cama, depois de uma sessão de sexo com o Rui e um
banho, não sinto vontade de fazer mais nada de minha vida, além de dormir.
Me sinto tão molenga esse final de semana, meio lenta, preguiçosa, acho que
ando trabalhando demais para o meu chefe carrasco lindo.
Ele sai do banheiro glorioso, como só ele pode ser.
Que corpo esse homem tem, por isso morro de ciúmes dele.
Mas, não é só o corpo, é esse rosto másculo, tudo é harmonioso nele, como
um deus grego.
E novamente a maldição do celular vem aos meus pensamentos, ando
obcecada por ele, quero dizer, para saber com quem o Rui tanto dedilha sua
tela.
– Ainda assim, Jack? – Ele enruga sua testa, e enxuga seus cabelos. – Pensei
que já estivesse trocada. Precisamos ir, gostosa!
– Rui... – falo manhosa. – Será que não poderíamos dormir aqui hoje, saímos
amanhã bem cedo! – Bocejo cansada. – Estou tão cansada, não foi fácil
ajudar a Melissa com aqueles bebês lindos!
Ele balança a cabeça levemente, e mal acredito que ele ficou com ciúmes dos
bebês, o Rui é tão bobinho.
– Tem certeza? Você vai dormindo no caminho, é mais fácil chegarmos hoje
à noite, amanhã será corrido. – Ele coloca a toalha na cintura e caminha até
mim.
– Por favor, Rui, estou me sentindo tão cansada. – Bocejo de novo. – Queria
tanto dormir aqui, gosto tanto da sua casa, é tão gostoso dormir aqui, com
esses passarinhos piando e enchendo o saco de manhã.
Ele dá risada e se senta ao meu lado da cama.
– Está tudo bem com você? Normalmente você tem mais pique do que eu! –
Ele acaricia meus cabelos e me olha intensamente.
– Sim, estou bem, apenas cansada, e com muito sono. – Puxo ele para junto
de mim. – Vamos dormir bem juntinhos, meu ursinho!
Ele sorri de novo, que boca linda esse homem tem.
– Será que você aguenta mais um pouco? Vou fazer um lanche para nós! –
Ele se levanta, pega uma bermuda que está sobre um sofá confortável que
existe em seu quarto.
– Vou descer com você, caso contrário, dormirei, e meu estômago está
roncando. – Ele vai pegar sua camiseta, mas eu a pego primeiro. – Ainda
lenta, sou mais rápida que você, Doutor Rui Figueiredo. – Brinco com ele,
enlaçando seu pescoço, e olhando para seus olhos lindos. – Adorei nosso
final de semana, como sempre.
Ele sorri levemente, abraça minha cintura e me beija longamente, me fazendo
sentir borboletinhas e outras coisas no estômago e em outras partes do corpo.
– Vamos comer, depois namoramos mais um pouco – ele diz com seu olhar
intenso, aquele que me conquistou, e que não me deixou mais sair de sua
vida.
****

O celular do Rui toca às 5h da manhã, e tenho vontade de desligá-lo, voltar a


dormir e não trabalhar hoje.
– Vamos, Jack, você que pediu para irmos embora hoje! – Ouço sua voz,
estou babando literalmente, com minha cabeça enfiada no travesseiro, a
levanto com os olhos fechados, zonza de sono.
– Que horas são, Rui? Não dá para dormir mais 15 minutos? – Minha cabeça
volta a despencar sobre o travesseiro.
Sinto um movimento no colchão, abro lentamente meus olhos e vejo o Rui de
banho tomado.
– Está na hora, preguiçosa. – Ele tira a coberta que está sobre mim. – Vamos,
Jack, a gente toma um café no caminho.
– Oh, Rui, parece que não dormi nada, estou com tanto sono! – Choramingo.
– Quer que eu te leve para o banheiro no colo, e te coloque embaixo do
chuveiro?
– Nãooo!!! – Arregalo meus olhos e o vejo rindo divertido. – Eu já vou. – Me
levanto lentamente, e caminho meio cambaleando para o banheiro. – Parece
que bebi ontem, estou meio zonza.
Ele me abraça pelas costas e sai me escoltando até o banheiro, liga o
chuveiro, e me enfia embaixo da ducha (dormi nua, como sempre).
– Quer que eu te ensaboe, ou você se vira? – Abro meus olhos preguiçosa.
– Eu me viro – resmungo. – Estou mal-humorada, só para você saber.
Ele revira os olhos e sai rindo do banheiro.
Depois de duas horas e tantas de estrada, finalmente chegamos a sua casa.
Dormi o caminho todo, e ainda assim estou com sono, parece que fui mordida
pelo mosquito do sono.
Coloco uma roupa de trabalho, ele também, a empregada faz dois cafés
expressos para nós e pães de queijo.
Engraçado, eu nunca tinha visto pão de queijo eu sua casa, agora sempre tem
no café da manhã.
Sorrio sozinha com a constatação que ele pediu para ela fazer para mim.
Me esgueiro no banquinho que estamos sentados, e beijo seu rosto
demoradamente.
– Você pediu para fazer pão de queijo para mim? – pergunto cheia de
charme.
– Eu não! – ele diz indignado.
Mas eu sei que sim, ele nunca dá o braço a torcer, mas eu sei que foi ele, ele
me mima o tempo todo, é o cara mais especial que já conheci, da forma dele,
mas sim, ele é muito especial.
– Te amo, Rui Figueiredo, por pedir para a Jô fazer pão de queijo para mim.
Sou viciada neles, só falta um doce de leite para ficar perfeito.
Ele me olha de canto de olho e dá um sorriso contido.
– Amanhã eu sei que terá doce de leite, você faz tudo que eu quero. – Dou
uma risada divertida.
– Não vai ter, não! Se vira, Jackeline, vá ao mercado e compre. – Ele desce
do seu banquinho, abraça minha cintura e me beija. – Qual a marca que você
gosta?
Caio na risada.
– Não falei? – Encho seus lábios de beijos, rindo e beijando. – Te adoro, Rui!
– Mais beijos. – Muito, sabia? – Volto a olhá-lo nos olhos.
– Chega de namoro, Jackeline, vamos trabalhar. – Ele dá um tapa na minha
bunda e sai andando pela sala. – Chega de dar pão de queijo para o Bóris. Ele
está ficando gordo, Jackeline.
O Rui parece que tem olhos nas costas, que saco! Disfarço e escondo
rapidamente o pão de queijo que estava dando para o cachorro.
– Que pão de queijo? Imagine que dou pão de queijo para o Bóris! – Jogo o
pãozinho discretamente e saio correndo atrás do Rui, agarro sua cintura e
seguimos para o elevador.
****

O período da manhã se arrasta, me sinto cansada, preciso dormir cedo hoje, e


não fazer sexo.
Meu ramal toca, atendo e ouço a voz da Carolina:
– Bom dia, sumida! – ela diz animada como sempre.
– Bom dia, advogada! Como foi seu final de semana? – falo entretida com a
organização dos papéis a minha frente.
– Bom! Saí com a Mirella, fomos a um show, depois a um motel, e você já
sabe! – Ela ri.
Reviro meus olhos.
– Eu e o Rui fomos para o interior, almocei com a sogra megera, quase
morro de indigestão, mas deu tudo certo. – Torço meus lábios. – Também
conheci um casal de amigos dele, a esposa do cara teve gêmeos, Carol, você
não tem ideia como eles são lindos!
– Legal, amiga! Esse namoro está bem sério, hein!
Sorrio.
– Está muito legal! Ele é um cara incrível, Carolzinha, estou loucamente
apaixonada por ele! – falo sonhadora.
– E ele, será que também está? – ela diz intimidadora.
Giro meus olhos.
– Acho que sim! Pelo menos ele disse... – falo indignada.
– Tá bom, só estou te enchendo o saco, ele parece apaixonadíssimo por você!
E também, entre nós, quem não se apaixonaria por Jackeline Bartolli? Essa
italiana é apaixonante. – Ela brinca.
Dou risada.
– Podemos almoçar hoje, Jack? Estou com saudades de você, faz tanto tempo
que não batemos papo!
Puxo o ar e concordo com ela, não tenho tido tempo para ela, estou sempre
com o Rui.
– Claro, vamos almoçar! Eu pago hoje, estou em dívida com você. – falo
animada.
– Ok, mas eu quero ir naquele restaurante dos bacanas! – Ela ri. – Eu pago
o meu, e você o seu, assim não te exploro.
– Fique tranquila, Carol, não tenho mais dívidas, e meu chefe vive pagando
meus almoços. Finalmente não estou dura!
Damos risadas.
– Combinado, às 13h, lá embaixo!
– Ok, beijos!
Desligamos.
Um toque em meu ramal e vejo que é o Rui.
– Oi, chefinho lindo! – Brinco.
– Vem aqui, gostosa – ele diz com sua voz grossa e sexy.
– É pra já!
Me levanto animada, abro sua porta e o vejo em sua mesa.
– Tudo bem? No que posso ajudá-lo? – Finjo formalidade.
– Senta aqui no colo do seu chefinho lindo – ele diz com sua cara de safado.
Dou a volta em sua mesa, abraço seu pescoço, me sento em seu colo, dou um
beijo gostoso nele, volto a olhar para ele e sorrio.
– Pronto, mais alguma coisa? – falo irônica.
– Queria te avisar que vou almoçar com um cliente! – Ele acaricia meus
cabelos. – Vou sair agora, devo demorar umas duas horas, esse cara fala pra
caralho, é enrolado e compulsivo. – Ele revira os olhos. – Odeio almoçar com
ele, mas ele é milionário, e eu adoro o dinheiro dele.
Dou risada.
– Tudo bem, peça uma massa, assim ele ficará cheio e com sono. Ah, enche a
cara dele de vinho.
Ele balança sua cabeça.
– Boa ideia. Talvez, depois ele venha até o escritório, para assinar o contrato,
de repente o vinho ajude com isso, vou seguir sua sugestão.
Ele segura meu rosto e me beija.
– Bom almoço, Jack! – Ele levanta nós dois, segue até seu terno. – E nada de
comer lanches.
– Tá bom, vou almoçar com a Carolina.
– Ok! – Mais um beijo, agora na testa. – Se comporta, aquela Carolina é meio
doida.
Sorrio, e o acompanho com o olhar até a porta.
Ele acena para mim, e eu fico ali o olhando apaixonada.
****

A Carolina escolheu um restaurante do shopping bem legal, de comida árabe.


Aconchegamo-nos a uma mesa, começamos a conversar, e assim que nossos
pratos chegam, ouço uma voz masculina, olhamos para cima e quem está lá é
o Doutor Fernando, aquele meio galinha que ficou me paquerando assim que
comecei a trabalhar no escritório.
– Posso me sentar com as senhorinhas? – ele diz em tom de brincadeira.
Eu e a Carol trocamos olhares desanimadas, afinal, a ideia era um almoço de
amigas. Mas fazer o que?
– Claro, pode se sentar! – respondo imediatamente, e a Carol reitera meu
convite.
Os dois trocam algumas palavras, mas logo sou incluída no assunto.
O Doutor Fernando é do tipo galanteador, charmoso, sedutor, e que parece
estar o tempo todo jogando charme para cima das mulheres.
Dou risada sozinha, eu e a Carol parecemos duas adolescentes nos cutucando
embaixo da mesa, e tentando disfarçar que estamos rindo não para ele, mas
sim DELE!
Disfarço, sorrio de algumas piadinhas, brincadeiras que ele faz, ele é tão
óbvio que dá até tédio!
E então, tomo um susto ao ver o Rui em minha frente.
Cacete, o que ele está fazendo aqui?
– Oi, Rui! – falo meio desconcertada, sua expressão é aquela que não gosto,
sua testa está franzida, e os olhos cerrados.
– Olá! – Ele olha para todos, então pega em minha mão e diz:
– Vocês se incomodam que eu roube a Jackeline de vocês? Eu preciso
apresentá-la a um cliente. – Ele sorri, mas eu sei que este é seu sorriso falso.
– Rui, eu convidei a Carol para almoçar, então preciso ficar e pagar a conta! –
Tento sorrir, mostrar descontração, mas ele me levanta a força.
– Vou avisar ao garçom que a conta dessa mesa é por minha conta. – Ele sorri
de novo daquele jeito falso, e me arrasta para sua mesa.
– Rui, por favor, eu não quero almoçar com você e seu cliente! – falo brava.
– Você quer o que, Jackeline? – Ele para e me encara enfurecido. – Almoçar
com aquele porra do Fernando? Você pensa que não vi o jeito que
conversavam, seus sorrisos para ele?
Arregalo meus olhos incrédula.
– Você está doido? Eu apenas estava sendo simpática, sorrir faz parte!
Céus, o Rui está doente!
– Chega, Jackeline! Você irá almoçar comigo, e não quero mais falar sobre
isso! – Ele entrelaça minha mão na sua e sai caminhando a passos largos pelo
restaurante.
Meu pai eterno, esse homem é problemático!
Finalmente chegamos à sua mesa, um homem com cara de bonachão me
cumprimenta.
– Então é essa a felizarda? – Ele se levanta. – Muito prazer. – Ele me
cumprimenta com um sorriso.
– Ela mesma! – o Rui responde sério. – Jackeline, esse é nosso cliente, o
Senhor Salim!
Cumprimento o senhor, estou sem graça.
O que será que o Rui disse para ele?
– Então, como estávamos falando... – O Rui começa a falar energicamente,
parece meio nervoso, estressado, vira a taça de vinho de uma única vez no
gargalo, chama o garçom apressado, e diz:
– Veja o que a moça quer comer, traga mais um vinho, e inclua a conta
daquela mesa em minha conta! – Ele diz tudo secamente, me fazendo sentir
um gelado no estômago.
– Não quero nada, eu já havia terminado meu prato – respondo irritada.
O assunto entre os dois continua, me sinto entediada, mas resolvo ficar em
silêncio e não arrumar briga com o Rui.
Olho com espanto os dois secarem a segunda garrafa de vinho.
O Rui não conseguirá trabalhar hoje.
Ele já está mais relaxado, calmo, então sinto sua mão em minha coxa, num
movimento de sobe e desce excitante, em seguida seus dedos começam a
subir minha saia, até atingir minha calcinha.
Abro levemente minha boca em sinal de surpresa, seguro sua mão, mas ele
força a passagem, e logo seu dedo está roçando meu sexo por cima da
calcinha, devagar e excitante.
O celular do cara toca, agradeço aos céus, me inclino em direção ao ouvido
do Rui.
– Rui, por favor, tira sua mão daí! – cochicho.
Ele me olha com um sorriso, beija meus cabelos, e segue com sua boca até
minha orelha:
– Só se você gozar para mim! – Um beijo suave, que me faz arrepiar inteira.
Sorrio provocativa, passo minha mão por baixo da toalha, encontro seu
volume generoso, duro e ereto, o aperto com força e o faço soltar um
pequeno grito.
– Ai, caralho! – Ele geme de dor.
O homem devolve o celular para a mesa, e olha assustado para o Rui.
– Tudo bem, Doutor Rui? Algum problema? – Ele parece realmente
preocupado, então olho para o Rui e percebo que estou apertando demais suas
bolas.
– É o nervo ciático. Não se preocupe, às vezes, ataca do nada! – ele diz, e
tenho vontade de gargalhar.
Alivio o aperto e sorrio para ele.
– Está melhor agora, Rui? – Acaricio seus cabelos, e o olho sorrindo.
Ele tira minha mão do meio das suas pernas, e a segura com firmeza.
– Agora estou, minha deusa! – ele diz irônico.
Cruzo minhas pernas para impedi-lo de avançar novamente em área proibida,
beberico sua taça de vinho, e dou risada das piadas que o Rui conta para o
cliente.
O homem está pra lá de Bagdá, vermelho feito um pimentão, e rindo até da
história triste da morte de sua esposa.
– Eu adoro esse rapaz, Jackeline! – ele diz sentimental. – O Rui é como
alguém da minha família.
O Rui dá um apertão em minha mão, e relembro que o Rui disse que só
queria o dinheiro dele.
Coitadinho!
– O Rui também tem muito apreço pelo senhor, não é Rui? – Aperto sua
coxa.
– Claro! O Senhor Salim, é o tio que nunca tive! – Os olhos do homem
enchem de lágrimas, ele está caindo de bêbado.
Oh meu Deus!
– Acho que precisamos ir, Rui! – Sorrio para o homem. – O senhor veio
dirigindo? – pergunto em pânico.
– Não se preocupe, querida, estou bem! – Ele tenta se levantar, mas não
consegue.
Olho para o Rui.
– Oh, Rui, você embebedou o cara! – cochicho.
– Eu não, você que disse para encher a cara dele de vinho!
– Eu não quis dizer isso! – falo desesperada. – Vamos levá-lo para o
escritório, ele não pode ir embora assim.
****

Olho pela terceira vez o homem deitado na recepção da minha sala, roncando
feito uma motosserra.
Reviro meus olhos e sigo para a sala do Rui.
Entro sem bater.
– Rui, não dá para trabalhar com aquele cara roncando em minha sala! – Faço
um bico.
– Então fica aqui na sala do seu chefinho lindo, minha deusa! – ele diz meio
mole, deixando claro que ele também não tá legal.
– Oh, Rui, onde já se viu beber desse jeito? Você e o cliente estão bêbados! –
falo brava.
– Faz amor comigo, Jack, que minha bebedeira passa! – Ele se levanta e vem
em minha direção.
– Não, Rui! Seu pau nem vai subir!– falo irritada com a situação.
– Não sobe o caralho, dá uma olhada nisso aqui! – Ele abre sua calça e coloca
aquele negócio grande e duro para fora.
O olho assustada.
– É, parece que está funcionando, né! – Me afasto um pouco. – Guarda isso,
Rui, o cara pode acordar...
Ele gargalha, está bêbado de verdade.
– Ele vai acordar só amanhã, Jack! – Mas alguns passos e estou prensada
contra sua mesa. – Quero te foder, gostosa... – Ele me coloca sobre sua mesa.
– E tem que ser agora, estou com um tesão da porra.
Aquela boca gulosa invade a minha com pressa, em seguida um puxão em
minha blusa faz os botões cederem, expondo os meus seios no sutiã.
Sua língua macia percorre toda a minha pele, se demorando ao redor das
alreolas, lambendo e sugando deliciosamente.
– Ruiii!!! – Gemo de prazer.
– Você quer o meu pau dentro de você, Jack? – Ele acaricia meu sexo com os
dedos, de uma forma erótica e sensual.
– Quero, Rui! – respondo de olhos fechados.
– Então pede, Jack.
– Oh, Rui... – Seu dedo me penetra.
– Pede, Jack: “Enfia seu pau em minha buceta, Rui.”
Oh, que tortura!
– Enfia seu pau, Rui... – Gemo alto.
Ele beija meu pescoço.
– Primeiro vou lamber ela inteirinha, Jack, adoro sua buceta – ele diz
sensualmente, com sua voz baixa e rouca.
Ele mergulha sua língua em mim, me fazendo ofegar de prazer.
– Ahhh!!!
Jogo minha cabeça para trás e me entrego à sensação de prazer que ele me
proporciona. E os movimentos aumentam, e a intensidade, e finalmente o
êxtase, seguido de um arrepio de prazer, gemidos, um amortecimento e o Rui
me penetra, intenso, com movimentos rápidos, firmes, fortes e de repente ele
explode de prazer.
– Oh, Jackeline! – Ele segura meu rosto entre suas mãos e me beija faminto.
– Você me mata de prazer, Jackeline! – Uma expressão de puro prazer toma
conta de seu rosto.
Olhos fechados, a respiração rápida, ficamos assim por alguns segundos,
desfrutando desses momentos de puro prazer.
– Foi gostoso, delícia? – Ele sussurra em meu ouvido. – Eu adorei, queria
mais.
Sorrio contra seu peito.
– Foi gostoso, muito gostoso! – Beijo seus lábios. – Preciso me arrumar, tira
esse negócio gostoso de dentro de mim, por favor! – falo em tom de
brincadeira.
– Ele quer mais – ele diz com seu jeito safado.
Então, ouço alguém bater na porta, empurro o Rui para longe de mim.
– Rui, guarda esse negócio! – Desço da mesa toda atrapalhada, tento fechar a
camisa, mas existem muitos botões arrancados no desespero do Rui. – Rui,
minha camisa não fecha! – Ele pega seu terno e joga em cima de mim, e
então diz:
– Pode entrar! – Ele alisa sua camisa, arruma a gravata e sorri, como sempre.
A porta abre e vejo o Senhor Salim entrar, ele está péssimo.
A gravata frouxa foi deixada assim de propósito pelo Rui, para que ele não
morresse sufocado. Seu pescoço gordo não suportaria a pressão dela.
Ele está suado e vermelho, e passa suas mãos nervosamente pela testa.
O Rui caminha até ele animado.
– Sente-se aqui, Senhor Salim, a Jackeline irá providenciar um café para nós.
– Então ele me olha. – Jack, café e água, e imprima o contrato para
formalizarmos a consultoria jurídica. – Ele pisca, e não tenho como não rir, o
Rui é muito engraçado.
****

Chegamos ao seu apartamento em meio a sua comemoração a respeito da


assinatura do contrato.
– Porra, sua ideia de encher a cara do libanês foi perfeita, Jack! – ele diz no
elevador. – Ele nem reclamou do valor! – Ele ri divertido.
– Eu não queria embebedar o cara! Eu estava brincando, Rui! – reclamo.
Andamos em direção à sala, ele se joga no sofá, o Bóris pula em cima dele e
o enche de lambidas.
Sento ao lado dos dois, e perdemos alguns minutos entre afagos e carinhos
em seu mascote carentinho.
– Vamos subir, minha gostosa, vamos comemorar, você diz onde você quer ir
hoje – ele diz enquanto subimos a escada.
– Quero dormir, Rui! – Entramos em seu quarto e ele me olha surpreso.
Tiro seu terno e coloco em um mancebo, e me jogo em sua cama.
– Como assim, Jack? Vamos comemorar!
– Tô cansada, Rui! – Bocejo feito uma leoa.
– Que desânimo é esse? Vamos comemorar em um lugar legal. – Ele se senta
ao meu lado da cama e acaricia minhas pernas.
– Tá bom, mas posso dar uma dormidinha enquanto você toma banho?
Ele me dá um beijo rápido.
– Vinte minutos, Jack. – Ele dá um tapinha em meu bumbum e segue para o
banheiro.
Relaxo em sua cama, abraçada ao seu travesseiro.
Quando começo a pegar no sono, ouço o toque do meu celular. Abro meus
olhos preguiçosa, me levanto, pego minha bolsa, o celular, e vejo o nome da
Melissa, minha nova amiga.
Sorrio e atendo.
– Oi, Melissa! – Atendo-a feliz.
– Oi, Jackeline! Tudo bem?
– Tudo ótimo.
Trocamos algumas palavras, pergunto dos bebês, falamos sobre besteiras e
então ela me pergunta:
– Você já viu as fotos que o Gabriel enviou para o Rui?
Levanto as sobrancelhas.
– Não, ele não me disse nada!
– Oh, esses caras são todos tapados! – Ela ri, e ouço ao fundo o chororô dos
bebês. – Você está com ele agora? Dá uma olhada, as fotos ficaram lindas!
A curiosidade toma conta de mim.
– Estou em seu apartamento, ele está tomando banho agora, mas o celular
dele está bem aqui, vou fuçar nas mensagens dele e achar as fotos que o
Gabriel enviou! – Sorrio. – Depois te ligo para avisar se achei as fotos. Um
beijo, Melissa!
Pego o celular do Rui no aparador, desbloqueio a tela e entro. O aplicativo de
mensagens está na primeira tela, titubeio um pouco, me sinto constrangida de
mexer em seu celular.
– Dane-se! – digo finalmente para mim mesma.
Abro o bendito, vejo muitos contatos, muitos rostos de mulheres, não me
aguento de curiosidade, escolho uma aleatória e abro:
“Oi gostosão! Tô com saudades, me liga para sairmos.”
Meu coração dá um salto, chamo a vagabunda de meia dúzia de nomes feios.
– Filho da puta! – Esbravejo, sentindo uma raiva louca dele.
Ele mentiu para mim!
Escolho um novo contato, e quase jogo o celular na parede.
Um par de peitos siliconados aparece na minha frente.
A vadia mandou uma foto nua da cintura para cima. A cara dela já fala tudo.
– Piranha! – falo comigo mesma.
Meu peito sobe e desce rapidamente, estou respirando como um touro
nervoso.
E vejo outras mensagens, convites para sair, declarações de saudades, enfim,
ele continua como antes, não mudou nada.
Como fui inocente em acreditar nesse cara, ele me enganou direitinho!
Uma desilusão toma conta do meu coração.
Acreditei tanto nele.
Limpo as lágrimas que desceram pelo meu rosto, e então ele abre a porta do
banheiro e me vê com seu celular em meu colo.
– O que você está fazendo, Jack? – Suas sobrancelhas se curvam numa
expressão brava e de quem não gostou de me ver com seu celular.
– A Melissa me ligou avisando que o Gabriel havia enviado as nossas fotos
para o seu celular. – Tento controlar a raiva e a decepção que estou sentindo.
– Achei que não havia nada de mais em entrar em suas mensagens e olhar as
fotos que o Gabriel enviou para você. Mas, acabei me levando pela
curiosidade, vi muitos contatos de mulheres e então entrei em alguns, e aí
descobri por que você perde tanto tempo com essa merda! – Jogo o celular na
cama.
Me sinto estranhamente calma, talvez amortecida, talvez eu já esperasse isso
dele.
Uma vez galinha, sempre galinha.
Me levanto sob seu olhar confuso e pego minha bolsa.
– Jack, espera! Eu não sai mais com nenhuma dessas mulheres desde que
estamos juntos... – Ele segura meu braço.
– Então, o que significam essas mensagens? Que tipo de homem deixa ex-
casos cadastrados em seu celular? – Meu tom de voz está terrivelmente
calmo. – Você não é sério, Rui, você só estava brincando comigo esse tempo
todo. – Tiro meu braço de sua mão, desvio dele com um bolo na garganta.
Ele entra rapidamente na minha frente, impedindo que eu saia.
– Jack, eu não me comunico com nenhuma dessas mulheres. – Ele esfrega
seu rosto. – Você tem razão, eu não deveria tê-las mantido aí, mas não houve
má intenção da minha parte. Eu sou fiel a você, não duvide de mim! Eu disse
que te amo, eu nunca disse isso para ninguém. Acredite em mim, eu deleto
essas mensagens que elas enviam, é coisa de homem, temos algumas manias
idiotas, mas isso não é traição, Jack.
Ficamos nos olhando segundos intermináveis, mas não dá para dizer que está
tudo bem.
Não consigo.
– Eu vou embora. Por favor, me dá licença! – Pego na maçaneta, mas ele me
impede.
– Por favor, Jack, acredita em mim!
– Eu acreditei, Rui, e olha o que encontrei. Você é falso e mentiroso. –
Algumas lágrimas descem pelo meu rosto. – Por favor, me deixe ir embora.
– Não, eu não vou deixar! – ele diz com um olhar angustiado. – Você mesma
pode bloquear quem você quiser, não vamos brigar por causa disso. Eu sei
que errei, mas não foi para te enganar. Foi imaturidade minha, Jack!
Viro minhas costas para ele, ando pelo quarto e me sento na cama.
Ele vem até mim, se ajoelha a minha frente, e me entrega seu celular.
– Você faz isso, ok? – ele diz com cara de cachorro sem dono.
Estou confusa, mas acima de tudo, estou me sentindo enganada, ele
conversava com essas mulheres pelas minhas costas.
Não acredito mais nele.
Olho novamente para ele, depois para o celular.
Entrego o celular para ele.
– Eu vou embora! Não quero mais saber das suas histórias, Rui! – Me levanto
rapidamente, e saio pela porta.
Ele me alcança.
– Do que você está falando? – Ele me encara enfurecido.
– Que não quero mais esse relacionamento cercado de histórias mal contadas,
de mentiras, armações. Desisto de você, volte para sua vida de playboy
comedor de garotinhas e de piranhas! Não gosto de homens como você, não
sei por que me deixei cair em sua lábia! – Puxo meu braço e volto a caminhar
para as escadas, mas antes de sair, largo as chaves do carro que ele me deu,
assim como os documentos.
Nunca precisei de homem para me sustentar, vou sobreviver sem ele.
Capítulo 73
RUI FIGUEIREDO
u não queria deixá-la ir embora assim, achando que eu sou um filho da
E puta, e que a estou enganando gratuitamente. Mas, não consegui, naquele
momento, ver um jeito de convencê-la de que tudo foi um mal-entendido.
Tenho consciência que foi cagada minha, eu não precisava manter aquelas
garotas nos meus contatos de mensagens, mas achava divertido dividir com
meus amigos as conversas, mídias, essas merdas.
Ok, também tem aquele negócio do ego, ser assediado pela mulherada faz
bem para a autoestima.
Mas, no final das contas, nada disso valia a pena, era só curtição, nunca levei
nada disso a sério.
De fato, eu não sabia mais o que era ser exclusivo de uma única mulher, nem
mesmo na época da Priscila. Eu a traia desde o início, nunca gostei dela de
verdade, era tudo um jogo, um negócio, nunca levei a sério o que tínhamos.
Mas, não é assim com a Jack, estou apaixonado por ela! Estou levando a
sério nosso relacionamento, estou me dedicando, e melhorei pra cacete, não
digo 100%, mas 80%, e esses 20% dizem respeito a essas coisas, pequenos
detalhes, coisas bobas, mas que para uma mulher faz uma diferença enorme.
Eu até deletei e bloqueei alguns contatos, das mais chicletes, e acabei
deixando esses talvez por comodismo, babaquice, coisa de homem, temos
essa necessidade de provar nossa masculinidade.
Me deito na minha cama, olho para o teto e tento pensar em algo que a faça
me perdoar.
A Jackeline é uma mulher difícil, não vai ser fácil convencê-la que não
troquei mensagens com essas mulheres, que não sai, e que não tinha a
intenção de fazer isso.
– Merda! – Esbravejo sozinho.
A noite estava boa pra cacete, nosso dia foi ótimo, fechamos um contrato que
queria há tempos, iríamos comemorar, e a noite acabaria boa como sempre, a
gente se amando e dormindo juntos.
Justamente agora, que resolvi que está na hora de virar homem, assumir um
relacionamento de verdade.
Não estou com muita sorte com a Jack.
Ok, a deixarei esfriar a cabeça, amanhã conversamos, quero dizer, se ela for
trabalhar.
Fecho meus olhos e me puno mentalmente pela burrice.
– Agora a merda está feita, preciso achar um jeito de consertar! – Me levanto
e sigo para cozinha.
****

Tive uma daquelas noites de merda, remoendo o que aconteceu, e tentando


achar um jeito de conseguir seu perdão.
Tomo um banho e me visto rapidamente, quero chegar cedo ao escritório,
provavelmente ela estará lá, e teremos um tempo para conversarmos antes do
pessoal chegar (prefiro estar sozinho com a Jack, ela costuma gritar um
pouco quando fica nervosa).
Logo estou no meu carro, ansioso para ver se a Jackeline foi para o trabalho,
ou chegar à conclusão que a situação está ainda pior do que eu pensava.
Abro a garagem e estaciono meu carro, sigo para a porta de entrada, e
percebo pelas luzes apagadas que ela não chegou ainda.
Um certo desânimo me abate, algo me diz que ela não virá.
Começo minha rotina, despacho alguns e-mails, leio outros, as horas passam
rapidamente e logo está no horário de entrada dos funcionários, me levanto,
sigo até sua sala, está vazia e do jeito que ela deixou no dia anterior.
Ok, ela não vira, é isso!
Ligo rapidamente para a recepção, o rapaz atende.
– Bom dia, Alexandre! – falo sem muito ânimo.
– Bom dia, Doutor Rui! – Ele, ao contrário, fala com energia, animação, e a
voz mais esganiçada que da Jackeline.
– Por acaso a Jackeline ligou para você, avisou alguma coisa? Ela não
chegou ainda!
– Sim, ela me ligou a pouco, disse que não virá hoje, assuntos particulares –
ele diz em tom de fofoca. – Ela pediu para ajudá-lo, então, assim que eu
terminar algumas coisas que estou fazendo, subo a sua sala.
– Ok, não tenho pressa, qualquer coisa eu te ligo! Obrigado! – Desligo a
ligação desanimado.
Essas coisas que me irritam em um relacionamento, essas picuinhas,
desentendimentos, brigas idiotas.
Odeio isso, não tenho saco, nem paciência.
Ok, ok, fui eu que provoquei a confusão, então eu tenho que dar um jeito de
consertar.
****

Ligo pela terceira vez no dia para o gerente do RH.


Como da outra vez, ele deve me achar o cachorrinho de estimação da
Jackeline, aquele que ela joga para o alto, veste fantasias de dias das bruxas,
de papai noel...
Me sinto um idiota na mão dessa mulher.
Ele atende rapidamente.
– Boa tarde, Doutor Rui!
– Boa tarde, Ferreira! E então, ela te ligou?
Dá uma certa vergonha de dividir com meu funcionário dos Recursos
Humanos a situação ridícula que me encontro. Minha secretária e namorada
me abandona, não me atende, não lê minhas mensagens, e preciso evitar que
ela peça demissão sem falar comigo.
– Então, Doutor Rui, nada ainda! – ele responde sem graça. – O doutor quer
que eu ligue para ela, converse? Talvez eu consiga convencê-la a vir
trabalhar, entendo que houve algum problema entre vocês. Brigas de casal, é
isso?
Está vendo? É disso que falo, minha moral tá na lama por causa da
Jackeline.
– É, brigamos ontem, ela ficou chateada comigo, e resolveu se vingar não
vindo trabalhar! – Dou um sorriso idiota. – Mulher é uma merda, Ferreira,
elas fazem uma confusão dos infernos na vida da gente, é por isso que tem
tanto viado por aí!
Ele dá risada.
– Verdade! – Ele volta a sua postura séria. – Já percebi que a Dona
Jackeline é um pouco explosiva.
Que caralho, agora ele acha que somos amigos, e vai falar mal da Jackeline
para mim?
Era só o que me faltava!
– Impressão sua, ela é bem centrada, só está brava comigo! – falo
seriamente. – Então, vamos continuar monitorando. Se ela vier com a
história de carta de demissão você rasga, se enviar por e-mail, você
desconsidera, se for por telefone, diga que ela precisa falar com o dono
dessa porra. Combinado, Ferreira?
– Claro, Doutor Rui. Fique tranquilo.
Desligo, relaxo em minha cadeira e bufo cansado.
É isso, Rui, você é o rei das cagadas.
****

É meio da tarde, ainda não consegui falar com a Jack, apesar de tentar ligar,
enviar mensagens e tudo mais, mas ela não está a fim de falar comigo, então
tenho uma ideia.
Ligo para o Alexandre, ele atende rapidamente.
– Pois não, Doutor Rui?
– Alexandre, anota aí o endereço que vou te passar. – Termino de falar o
endereço da Jack. – Agora você irá tentar descobrir o telefone fixo deste
endereço, você tem o número do apartamento, o nome da Jackeline, e da mãe
dela, acho que não será muito difícil, tente através do site da empresa de
telefonia.
– Ok, Doutor Rui. – Ele parece confuso. – Mas não é mais fácil ligar no
celular da Jackeline?
Dou risada de mim mesmo, como vou dizer ao garoto que ela não atende seu
chefe, namorado e capacho?!
– Faça o que mandei, Alexandre, e não pergunte demais! – Falo mal-
humorado, e desligo.
Alguns minutos e o menino me liga.
– Doutor, o senhor tinha razão, consegui no site da empresa de telefonia. –
Ele sorri feliz com sua conquista.
– Ok, me passe então! – falo apressado, anoto o número que ele dita. –
Obrigado, Alexandre, volte ao seu trabalho.
Olho para o número e dou risada:
– Vamos ver se você não vai falar comigo, Jackeline!
Disco o número, demoram um pouco para atender, e então a voz da
vovozinha da Jack vem ao telefone.
Fecho meus olhos e bufo, acho que não vai dar certo essa ligação!
– Boa tarde, Dona Maria, aqui é o Rui... – Não deu tempo de terminar a
frase, ela começou a me xingar. – Dona Maria, deixe eu me explicar... –
Tento falar, mas essa velhinha tem um esgoto na boca, então desligo.
Meu Deus, a vovó da Jack não é nada fácil, não me admiro a Jack parecer
com ela.
É impossível falar, ela só me xinga e promete quebrar minha cabeça com o
rolo de macarrão.
Estou perdido com a família da Jackeline.
Espero mais alguns minutos, tento novamente, e agora é a voz da mãe da
Jack, respiro aliviado.
– Dona Amélia, boa tarde... – Ela também me interrompe, todas estão de mal
comigo.
– Fale logo, Doutor Rui, não estou com paciência para seu lenga-lenga!
Giro meus olhos, eu preciso de sua mãe como minha aliada, ela não pode
ficar com raiva de mim!
– Dona Amélia, houve uma mal-entendido entre eu e sua filha, eu a amo de
verdade. – A ouço bufar no telefone. – Inclusive, eu quero pedir permissão
para a senhora, para levá-la para morar comigo. Estamos juntos há alguns
meses, eu adoro sua filha, não tenho outras mulheres, eu juro para senhora!
Sou um homem honrado, às vezes, cometo alguns erros, mas é porque sou
meio burro! Eu respeito a Jackeline, ela é uma mulher maravilhosa, eu
nunca a trairia por diversão... – Fico em silêncio. – A senhora acredita em
mim?
Me sinto meio idiota com a situação, implorando pelo perdão da mãe, mas é
isso aí, a Jack se apoia muito na mãe, então se ela convencê-la a conversar
comigo, será mais fácil.
– Oh, Doutor Rui, você é tão confuso... – ela diz sem muita paciência
comigo. – Mas, já que você quer assumir seu relacionamento com a
Jackeline, acredito em você. Mas já tem data marcada, ou é só para
convencer ela a te atender? – ela diz brava.
Porra, a mãe da Jack quer se livrar da filha, que inferno de pressão.
– Por mim pode ser hoje, se ela quiser, é lógico. Ela está muito brava
comigo, Dona Amélia? – Enrugo minha testa, preocupado com a resposta.
– Um pouco... – Ela faz silêncio. – Na verdade, ela está muito brava, uma
arara! – Ela ri, então dou uma relaxada, pelo visto, a mãe da Jack já está
acostumada com seus “pitis”.
– Ah, eu também estou chateado, Dona Amélia! Foi uma vacilada minha,
coisa de homem, mas não tenho nenhum caso, essas merdas, a Jackeline já
me dá bastante trabalho, ela é brava, mal humorada, e não me deixa em paz
um minuto. Acho que a senhora entende do que estou falando, não é mesmo?
Me sinto à vontade com a mãe da Jack, ela é uma senhora simples, mas bem
inteligente, parece aquelas mães sábias, cheia de conselhos para dar, gosto
dela, está aí uma sogra que quero ter.
– Entendo, entendo sim, não precisa explicar meu filho, eu já percebi! – Ela
parece um pouco constrangida, talvez eu tenha exagerado, acabei me
abrindo um pouco demais com a sogra. – Vamos, fazer o seguinte, venha
jantar aqui em casa, farei um bacalhau, percebi que você gostou da minha
bacalhoada! – A sinto relaxada, já conquistei a sogra, tenho certeza disso. –
Então, você poderá conversar com a Jack, ela é geniosa, mas é uma menina
muito doce, Doutor Rui, será uma esposa maravilhosa.
Oh, será que ela pensa que iremos nos casar?
Preciso deixar claras as coisas, para depois não apanhar de todo mundo
junto.
– Dona Amélia, iremos morar juntos, não é um casamento.
– Tudo bem, não tem problema. Os jovens hoje em dia são mais práticos, não
querem casar, mas o importante é que você a respeitará como uma esposa.
Estou certa? – ela diz meio brava.
– Claro, como uma esposa, companheira, é tudo igual no final das contas,
não é mesmo? – falo cuidadoso. – Amo muito a Jack, farei de tudo para
darmos certo!
Ela fica em silêncio.
– Dona Amélia? – A chamo preocupada.
– Estou aqui, um pouco emocionada, não quero empurrar minha filha para
fora de casa, não é isso, mas quero que ela seja feliz, construa uma família,
tenha filhos...
Oh, aquela palavrinha maldita, mas resolvo não corrigi-la a respeito disso,
posso contrariá-la e aí acabou a bacalhoada.
– Entendo a senhora, ela será feliz vivendo comigo, não sou uma pessoa
muito difícil – falo para descontrair.
– O problema é ela, né, Doutor Rui? A Jack tem um gênio dos infernos.
Dou risada sozinho.
– Eu já percebi, mas eu consigo domá-la, eu já aprendi como controlar
aquela italiana!
Ela dá risada, e eu também, eu Dona Amélia já somos amigos.
– Então, estamos combinados, Doutor Rui! Te espero para o jantar.
– Sim, chegarei cedo, preciso de algum tempo para convencer a Jack a não
me jogar pela Janela. – Ela ri novamente. – Ah, Dona Amélia, gostei
daqueles pastéis de Belém, faça de novo!
– Oh, claro, pode deixar, vou comprar também um vinho para nós.
A interrompo.
– Não, o vinho é por minha conta, faço questão! – Antes de desligar, me
lembro de um detalhe. – Dona Amélia, não conte para ela
sobre morarmos juntos, quero falar com ela pessoalmente sobre isso.
– Claro, fique tranquilo!
Nos despedimos, giro meu pescoço, e me preparo emocionalmente para
enfrentar minha oncinha.

****

Estaciono o carro em um desses empórios onde vende produtos importados.


Listo mentalmente o que preciso comprar:
Bombons para a vovó, flores para a sogrinha, duas garrafas de vinho
português (uma garrafa ficará de presente para as velhinhas encherem a cara).
Enquanto ando pelos corredores, tento lembrar se preciso de mais alguma
coisa.
– Ok, já comprei um perfuminho para a tia da Jack, só para deixá-la mais
afável, e não arrumar encrenca com a Jack. – Penso alto.
Para a Jack comprei um anel, tipo noivado, mas não é noivado, é de
compromisso, espero deixá-la mais calma, mulheres adoram joias, então,
talvez consiga que ela me perdoe mais facilmente, enfim, achei que essa era
uma boa forma de me redimir dos meus erros.
Dou risada sozinho, parece que estou comprando a família da Jack, mas não é
isso, mulher gosta de um agrado, se sentem importantes, e tudo mais.
Acabo de comprar os itens, sigo para o caixa e logo estou em meu carro.
Enquanto dirijo em direção a sua casa, penso mentalmente no que irei falar
com ela. Mas, não sei ao certo, a Jack é uma caixinha de surpresas, só espero
que ela esteja mais calma.
Estaciono o carro em frente ao seu prédio e sigo com as sacolas para a
portaria.
Me sinto meio patético, nunca fui de fazer essas coisas, mas talvez esse seja
um novo Rui, mais afável, simpático, doméstico, e... família.
É, é isso, é uma mudança positiva, para melhor, ficar comendo cada dia uma
mulher é meio sem graça, no começo é bom, mas depois fica cansativo.
O porteiro anuncia minha chegada, e logo estou no elevador, batendo meu pé
insistentemente no chão.
Confesso, estou meio nervoso.
O elevador abre em seu andar, toco a campainha, e logo Dona Amélia abre a
porta e sorri para mim.
Ufa, acho que estou com sorte.
– Boa noite, Dona Amélia! – falo com um sorriso, usando todo meu charme.
– Trouxe isso para a senhora... – Entrego um buque de tulipas para ela.
Ela abre um sorriso largo, fica vermelhinha e tímida.
– Oh, muito obrigada! Não precisava se incomodar com isso.
– Espero que goste dessas flores. São tulipas, a senhora conhece? – Ela abre a
porta e entro na sala de jantar.
– Sim, são maravilhosas! Entre, Rui.
Entrego a sacola com as garrafas para ela.
– Aqui estão os vinhos, trouxe duas garrafas, a outra fica para uma próxima
vez!
– Não precisava... – ela diz sem graça. – Quer que eu avise a Jack, ou você
prefere ir direto ao seu quarto? – Ela me olha meio enviesado.
– Ela está muito brava ainda? – Enrugo minha testa.
Ela diminui a voz, e fala em tom de segredo.
– Um pouco, mas depois que você conversar com ela, tudo ficará melhor! –
Ela sorri.
– Tudo bem, me deixe cumprimentar as outras senhoras. – Sigo até a sala de
estar. – Boa noite!
A vovó me olha esquisito, e não gosto do olhar dela.
– Então o senhor teve coragem de vir até aqui, depois de ter colocado os
cornos na minha neta. – Ela se levanta, e a vejo pegando algo do lado do sofá.
Oh, caralho, essa velhinha deve estar de brincadeira.
– Dona Maria, fique calma, foi um mal-entendido, eu nunca faria isso com a
Jackeline. – Dou alguns passos para trás. – Eu trouxe seus bombons, esses
aqui são feitos com licor de frutas, a pessoa da loja disse que não existe nada
melhor no mundo.
Ela me olha de lado.
– Você está tentando me comprar com esses bombonzinhos sem graça?
– Não, claro que não, eu nunca faria isso, mas se a senhora não quiser, eu dou
para a mãe da Jack.
A vovó melhora sua expressão e coloca o rolo de macarrão de lado.
– Quero experimentar esses bombons, espero que não me deem novamente
dor de barriga. – Ela pega a caixa mal-humorada.
– Não coma tudo de uma vez, Dona Maria, um ou dois por dia está bom.
Ela faz uma cara feia, mas pega a caixinha.
– Obrigada, querido. E espero que sua desculpa para minha neta seja muito
boa, ela está uma fera com você!
Respiro aliviado ao vê-la voltar para sua poltrona.
– Dona Ofélia, trouxe esse perfume para a senhora ir aos seus bailes. – Ela
escancara os dentes (ou talvez a dentadura), se levanta animada, pega a
caixinha do perfume e imediatamente o borrifa em seu corpo.
– Que delícia! – Ela sorri. – Espero conquistar um homem bem bonito com
essa colônia, quem sabe um igual a você! – Ela me olha de lado, meio
estranho.
Será que a tia da Jack está me paquerando na cara dura?
Oh, velhinha assanhada!
Balanço minha cabeça levemente.
– Com certeza a senhora conquistará. – Me afasto um pouco, ela se encheu de
perfume, e meu nariz já começa a reclamar. – Vou conversar com a Jackeline,
me deem licença!
Coço meu nariz, o perfume é bom, mas se colocado em excesso fica bem
enjoativo.
– Dá licença, Dona Amélia, vou até o quarto da Jack. – falo meio temeroso.
– Fique à vontade, eu avisei a ela que você viria jantar conosco. Ela não
gostou, mas quem manda aqui sou eu – ela diz cheia de personalidade, aliás,
o que não falta nessa família de mulheres é personalidade.
Sorrio levemente e sigo para seu quarto.
A porta está fechada, ouço um som, possivelmente de televisão, respiro
fundo, bato na porta e ouço:
– Rui, se for você, vá embora! Eu não quero falar com você! – ela está brava.
Fico parado com cara de idiota, mas eu já estou aqui, não vou embora.
Abro a porta e a vejo sentada em sua cama com cara feia.
– Eu falei para você ir embora, você pode até enganar minha mãe, mas a
mim, não – ela diz com seu jeito de italiana enfezada.
Fecho a porta.
– Vamos conversar, Jack, eu sei que errei, mas não te trai, eu juro pela saúde
do meu pai! Eu até juraria pela da minha mãe, mas aí talvez você ficaria feliz
se ela adoecesse. – Faço uma piadinha idiota, doeu até em mim.
– Você é um idiota, Rui. – A cara feia continua.
– Um idiota que te ama, que é louco por você!– Tento me aproximar um
pouco de sua cama, mas ela fica brava.
– Não se aproxime, eu não disse que você pode, aliás, você não deveria estar
aqui! Vá jantar com minha mãe, você convenceu ela, não eu.
– Oh, Jack, não seja assim, eu tenho tentado ser o cara que você quer,
melhorei pra caralho, e continuo melhorando... – Dou um passo em sua
direção. – Eu já tirei todas aquelas mulheres do meus contatos, bloqueei,
enfim, eu sei que deveria ter feito isso antes, mas não fiz, e admito meu erro.
– Não estou interessada! – Ela desvia seus olhos de mim, pega um livro e
finge lê-lo. – Era só isso? Pode ir.
– Trouxe um presente para você. – Sigo até sua cama, e me sento ao seu
lado.
– Eu não quero presentes, e não disse que você poderia se sentar em minha
cama!
Não consigo não rir com seu jeito.
– Não tem graça, Rui, eu não te perdoei, não disse que está tudo bem. É sério
o que você fez, sabia?– Ela me olha furiosa. – É muita falta de respeito o que
você fez, e como saberei o que você conversava com elas?
– Eu não conversava com elas, eu juro! – A encaro seriamente.
– E por que mantinha os contatos lá? – Ela pergunta indignada.
– Coisa de homem, Jack. Homens e mulheres são diferentes, não tente nos
entender totalmente! – falo irritado.
Ela bufa nervosa.
– Queria ver se eu ficasse recebendo fotos de paus de outros homens em meu
celular, ou se outros homens ficassem me convidando para sair! – ela diz
magoada.
– Eu também não iria gostar. Confesso que foi imaturidade minha, Jack,
estou amadurecendo com você!
Ela não consegue segurar um sorriso.
– Me perdoa, não farei mais esse tipo de coisa. Pode checar meu celular
quando quiser, você nunca mais encontrará nada, fique tranquila – falo com
sinceridade.
Ela mexe em suas mãos, e então me olha.
– Será que posso confiar em você, Rui? – ela diz com seus olhos tristes.
– Pode, Jack, você tem minha palavra. – Pego sua mão, levo até meus lábios
e a beijo demoradamente. – Eu amo você, minha oncinha!
Ela sorri novamente.
– Eu também amo você...
Capítulo 74
JACKELINE BARTOLLI

M uitas coisas aconteceram desde que conheci o Rui, boas e ruins, mas
uma certeza eu tenho, ele mudou minha vida.
Talvez eu devesse agradecê-lo por ter me feito ver a realidade, ou seja, que o
Renato não me merecia.
Tê-lo conhecido me deu uma outra perspectiva da minha vida, do que sou, e
de como posso ser amada e desejada.
Não posso negar o quanto ele me faz feliz e realizada como mulher.
Mas a decepção que senti ao ver aquelas mensagens é grande demais, eu não
esperava que ele ainda tivesse contato com aquelas piranhas oferecidas.
Onde já se viu uma mulher se prestar ao papel de enviar uma foto nua para
um homem?
Acho que sou muito antiquada, mas o fato é que não me conformo com essa
história de nudes!
É mania, está na moda, mas eu acho um absurdo!
Oh, que piranha maldita, eu deveria ter pego o telefone da vagabunda, e
acabado com a raça dela!
Fecho os olhos e tento me acalmar.
Estou há horas no meu quarto, pensando a respeito do que vou fazer da minha
vida.
Não consegui ir para o escritório, estou com muita raiva dele.
Mas, também, não posso sumir do meu emprego, querendo ou não, ele é meu
chefe, recebo um salário pelo que faço, não é só amor, então, não posso fugir
da minha responsabilidade.
Seguro meus joelhos contra meu peito, e olho para o nada, passei o dia de
pijama, é meio da tarde, e ainda estou assim.
A porta abre e vejo minha mãe.
– Oi, Jack, ainda assim?
Ela vem até a mim, se senta nos pés da minha cama e acaricia meus pés.
– Estou desanimada, mãe! – digo sem vontade.
– Ele ligou aqui em casa!
Enrugo minha testa confusa.
– Como assim? Ele não tem o telefone aqui de casa!
Ela dá de ombros.
– Sei lá, então ele descobriu, conversei um pouco com ele. – Ela me olha com
firmeza. – Jack, talvez você devesse dar uma chance do Rui se explicar
novamente, ele me pareceu tão sincero, filha!
Oh, esse cara é muito esperto, ele já enrolou minha mãe.
– Mãe, eu já conversei com ele, não há muito o que dizer, ele é um safado, e
não perdeu a mania de trepar com várias mulheres ao mesmo tempo –
respondo cheia de raiva.
– Jack, pense com clareza! Vocês estão o tempo todo juntos, em que
momento ele saiu para encontrar alguma mulher?
Solto o ar com força.
– Não sei, talvez quando ele diz que vai almoçar com algum cliente!
Criatividade é o que não falta no Rui!
– Não, não acredito nisso. Ele parece muito apaixonado por você, homens
apaixonados não fazem isso. – Ela se levanta. – Jack, me desculpe, mas eu
acredito no seu namorado, e o convidei para jantar conosco.
Arregalo meus olhos incrédula.
– Mãeee... como você pode fazer isso comigo?
– Quero que você dê uma chance para ele dizer o que aconteceu, você ama
tanto esse moço, Jack! Olha só seu estado, você passou o dia neste quarto,
chorando, se lamentando, não comeu, não se trocou, parece uma morta viva!
Viro meu e me deito na cama.
Ela é uma traíra.
– Não quero mais papo com você, mãe, e quando ele chegar, diga que não
quero falar com ele! Acho que só a vovó me entende, também, o vovô
colocava mais galhos nela do que uma floresta inteira. – Olho para minha
mãe. – Você deve ter meios-irmãos por aí, mãe, e devia procurá-los, já que é
a favor dos homens colocarem chifres em suas mulheres.
– Não fale besteiras, Jack, sua avó sempre foi muito ciumenta, papai era um
santo, trabalhava dia e noite, e ela era assim como você, ciumenta,
desconfiada – ela ralha nervosa. – Vou até o mercado buscar algumas coisas
que preciso, e veja se toma um banho e fica bonita para seu namorado, com
certeza deve haver muitas mulheres querendo um homem como ele.
Ela vira de costas e toma uma almofadada no traseiro.
– Jackeline! – ela diz nervosa. – Me respeite.
– Isso é para a senhora nunca mais dizer isso. – Empino meu nariz, me
levanto e sigo para o banheiro, acho que preciso de um banho.
****

A campainha toca e meu coração dá um salto ornamental, um triplo carpado.


É assim que se fala? Não importa, o que importa é que não quero falar com
ele.
Ok, eu até tomei um banho, passei meus cremes, meu perfume, batom, e vesti
uma roupa decente, quero dizer, me arrumei para o safado do Rui.
Ah, como me odeio, e neste exato momento, o colchão está me pinicando
inteira, de vontade de levantar e ir até a sala vê-lo e matar a saudade que
estou sentindo dele.
Oh, meu Deus, que inferno de sentimento é esse que toma conta da gente,
tirando o raciocínio lógico, a vergonha na cara, e a noção do que é certo e
errado?
– Rui, seu maldito sedutor, ladrão de corações! – penso alto, mas falo
baixinho, vai que ele entra no quarto.
Sim, eu quero vê-lo, e quero que ele me convença que não havia segundas
intenções naqueles contatos (não sei como, isso é tão óbvio para mim).
Deixo a televisão ligada, me sento na minha cama, e espero como uma
penitente até que ele venha até meu quarto.
E então, um toque na porta, um novo salto triplo no meu coração, seguido de
uma arritmia, respiração rápida e um certo amolecimento nas pernas.
Será que é normal um homem provocar isso em uma mulher?
Eu respondo, não é, mas é que o Rui é o homem mais sedutor que já conheci
em minha vida, me sinto embriagada por ele.
– Foco, Jackeline, pelo amor de Deus! – falo para mim mesma, antes que eu
levante abra a porta, tire sua roupa, e faça o que mais quero.
Tudo bem, crio coragem e falo:
– Rui, se for você, vá embora! Eu não quero falar com você!
É mentira, eu quero falar com ele, mas preciso fazer certo charme.
Mas, é obvio que ele não me obedece e então a porta abre, e ele entra
magnânimo como só ele pode ser, e seu perfume me inebria.
Ele está tão lindo hoje!
Respiro fundo e me esforço de verdade para manter minha postura, não posso
arrefecer, ele não merece.
– Eu falei para você ir embora, você pode até enganar minha mãe, mas a
mim, não – digo com firmeza.
Ele fecha a porta, me olha profundamente, e diz:
– Vamos conversar, Jack, eu sei que errei, mas não te trai, eu juro pela saúde
do meu pai! Eu até juraria pela da minha mãe, mas aí talvez você ficaria feliz
se ela adoecesse.
Ai, que piadinha mais idiota, ele me irritou profundamente com isso.
– Você é um idiota, Rui!
– Um idiota que te ama, que é louco por você! – ele diz com seu jeito sedutor,
me causando aquele friozinho na barriga.
Céus, como é difícil! Mas não posso ceder, ele é falso.
Ele tenta se aproximar, mas me apavoro, não consigo resistir muito a ele, a
distância é sempre mais segura.
– Não se aproxime, eu não disse que você pode, aliás, você não deveria estar
aqui! Vá jantar com minha mãe, você convenceu ela, não eu.
– Oh, Jack, não seja assim, eu tenho tentado ser o cara que você quer,
melhorei pra caralho, e continuo melhorando... Eu já tirei todas aquelas
mulheres dos meus contatos, bloqueei, enfim, eu sei que deveria ter feito isso
antes, mas não fiz, e admito meu erro.
Nem percebi quando ele se aproximou, aquele olhar intenso me deixa tonta.
Preciso parar de olhar para ele, então pego um livro e disfarço.
– Não estou interessada! Era só isso? Pode ir!
– Trouxe um presente para você. – Ele se senta em minha cama, e como eu
esperava, ele está derrubando minhas defesas.
– Eu não quero presentes, e não disse que você poderia sentar na minha
cama! – Tento heroicamente manter minha postura dura, mas está difícil.
Um sorriso ilumina seu rosto, mas não é para ele sorrir, não estamos falando
sobre amenidades.
– Não tem graça, Rui, eu não te perdoei, não disse que está tudo bem. É sério
o que você fez, sabia? É muita falta de respeito o que você fez, e como
saberei o que você conversava com elas?
– Eu não conversava com elas, eu juro! – Ele me encara com seu olhar
intenso e profundo.
– E por que mantinha os contatos lá? – pergunto indignada, não consigo
entender ele, parece maluco.
– Coisa de homem, Jack. Homens e mulheres são diferentes, não tente nos
entender totalmente! – Ele se altera, fica irritado.
– Queria ver se eu ficasse recebendo fotos de paus de outros homens em meu
celular, ou se outros homens ficassem me convidando para sair!– respondo
magoada, ele não se colocou em meu lugar, eu deveria pedir para algum
amigo gay da Carol enviar a foto de seu negócio para mim.
– Eu também não iria gostar. Confesso que foi imaturidade minha, Jack,
estou amadurecendo com você!
Oh, Rui, como você é cretino! Ele ainda tem coragem de assumir que é um
homem de 35 anos com cabeça de 20.
Oh, meu Deus, onde fui amarrar meu bode?
– Me perdoa, não farei mais esse tipo de coisa. Pode checar meu celular
quando quiser, você nunca mais encontrará nada, fique tranquila! – ele diz
com sua cara de cachorrinho sem dono, ele fica tão gostoso quando faz essa
carinha de coitadinho.
Olho para minhas mãos confusa, me sinto uma tonta de acreditar nele, mas
também, meu coração pede para eu perdoá-lo.
Que indecisão, meu Deus!
– Será que posso confiar em você, Rui? – Finalmente olho para ele e
pergunto, quero tanto acreditar nele, quero tanto que ele não esteja me
enganando.
– Pode, Jack, você tem minha palavra! – Ele segura minha mão e a beija
demoradamente. – Eu amo você, minha oncinha!
Um friozinho percorre toda a minha espinha, me fazendo sorrir, e me fazendo
sentir a mulher mais feliz do mundo.
– Eu também amo você...
Me ajoelho na cama, ao seu lado e seguro seu rosto entre minhas mãos.
– Se você pisar na bola de novo, eu mato você, ou melhor, eu mato ele! –
Dou uma olhada para sua braguilha.
Ele abre um sorriso largo, aquele que adoro.
– Vou andar na linha, minha deusa, até mesmo porque, não quero ser um
eunuco.
– Te amo, Rui! – Começo a depositar beijos pelo seu rosto, cheios de amor,
de saudades, acho que não vivo mais sem ele. – Por favor, chega de
surpresas.
Ele me abraça pela cintura.
– Eu vou ser um bom menino, minha deusa! Eu juro!
Olho para ele e dou risada.
– Não gosto de bons meninos, gosto de meninos maus, mas só na cama! –
falo com malícia.
Ele me deita na cama e me encara com aqueles olhos lindos.
– Você só pode gostar de um menino mau, e o nome dele é Rui Figueiredo,
Jackeline! – ele diz com aquele olhar possessivo, que adoro, adoro vê-lo
assim.
– Então vem, meu menino mau, não aguento mais de saudades de você! – O
puxo para um beijo, daqueles que sugam até os neurônios, intenso, selvagem,
urgente.
Tiramos nossas roupas com pressa.
– Tem que ser rápido, Jack, elas estão esperando por nós para jantar – ele diz
em meio aos nossos beijos desesperados.
– Tá bom... – Solto um gemido, ele me penetrou. – Aiii, que delícia, Rui!
Enquanto ele se movimenta dentro de mim, seus lábios vão depositando
beijos pelo meu pescoço, depois nos meus seios.
– Hummm, minha gostosa! – Ele suga e lambe minhas alreolas.
– Oh, Ruiii!!! – Gemo e me contorço de prazer. – Mais, meu homem, bem
forte!
Puxo seus cabelos e me esfrego em seu corpo.
– Assim, Jack? – Um estocada forte, profunda e sem querer solto um grito. –
Não grita, gostosa.
– Não consigo, Rui. – Mais uma estocada. – Aiii, Ruiii!!! – Minha respiração
sai em soquinhos. – Continua!!!
Ele enfia sua língua deliciosa em minha boca, me beija faminto e aumenta
seus movimentos contra meu corpo, puxo seus cabelos, unho suas costas e
finalmente gozo, foi demais.
– Oh, Rui, você é demais! – falo sem forças.
– De quatro, Jack. – Ele me vira com pressa, me fode feito um louco e goza
em segundos, controlando os sons que saem de sua garganta, apertando meus
quadris, e finalmente parando.
– Caralho, Jack, que delícia!
Me deito vagarosamente e o puxo para junto de mim, o abraço e procuro por
seus lábios, e nos beijamos.
– Te amo, Jack! – ele diz com seus olhos bem abertos, vivos e intensos.
Sorrio enfeitiçada.
– Eu também!
Ele beija minha testa ternamente, acaricia meus cabelos, e eu apenas fecho
meus olhos, me sentindo como uma gatinha manhosa.
– Eu tenho uma proposta para te fazer!
Olho para ele, não quero pensar nisso, mas penso: proposta de casamento,
será?
Uma batucada se instala em meu peito.
– Proposta? – Tento controlar a ansiedade.
– É... – Ele acaricia meus cabelos e sorri. – Quer morar comigo?
Eu sei que pensei em casamento, mas o efeito de sua proposta foi o mesmo,
então a emoção toma conta de mim, meus olhos enchem de lágrimas.
– Morarmos juntos? – pergunto de novo, porque não estou acreditando,
estamos há tão pouco tempo juntos, quero dizer, daqui a pouco faz seis
meses, ainda assim é pouco.
Mas já ouvi histórias de pessoas que se conhecem, e em menos de um mês já
estão se casando, e essas são as uniões que dão mais certo, ninguém precisa
de quatro anos para ter certeza que ama alguém e que quer passar o resto da
vida juntos.
– Isso, assim acabamos com esse vai e vem, roupas suas espalhadas para
todos os lados. – Ele ri. – A gente se dá bem, Jack, se gosta, estamos sempre
juntos, adoro sua companhia, dormir e acordar com você.
Sorrio feito uma tonta, e não consigo controlar as lágrimas que escorrem pelo
meu rosto.
– Eu quero, Rui, muito... – Procuro seus lábios, e o beijo apaixonadamente.
Me afasto um pouco, e tento me recompor, estou tremendo.
– Prometo que me comportarei, não farei muita bagunça e não serei chata,
quero dizer, só um pouquinho! – Dou risada.
Ele dá risada.
– Eu sou bonzinho, deixo você fazer um pouco de bagunça! – Ele enxuga
meu rosto com suas mãos. – Mas, agora, meu apartamento será sua casa
também, então você também terá obrigações... – Ele se levanta.
– Ah, é? – O admiro andando pelo meu quarto. – Tipo o que?
– Sei lá, coisas de mulher, cuidar das compras, da empregada, do Bóris... –
Ele me olha sobre o ombro e sorri, e entra no banheiro. – Não é só alegria,
Jackeline, tem tristeza também.
Tento me controlar e não dar um grito de felicidade.
Encho meus pulmões de ar e sorrio feito uma louca.
Preciso gritar, então enfio minha cabeça no travesseiro e dou um grito
contido.
Oh, meu Deus, muito obrigada!
Pulo da cama, faço uma dancinha louca, dou alguns pulos, e finalmente me
recomponho e sigo para o banheiro atrás do meu amor!
****

Seguimos para a sala de jantar, a mesa já está posta, mamãe e as outras estão
na sala vendo televisão e tricotando, literalmente, elas adoram tricô.
– Chegamos, mãe! – digo timidamente, diante de seu sorriso malicioso.
– Então, vamos jantar, está tudo pronto! – Ela caminha feliz para a cozinha,
ajudo vovó a se levantar, e vejo minha tia cochichando no ouvido do Rui.
Oh, velhinha assanhada, é só ver o Rui que ela se arruma toda.
– Hum, que perfume é esse? – pergunto meio incomodada, o cheiro é meio
enjoativo, sinto um certo mal-estar com aquele cheiro.
– É meu, Jackeline, o seu namorado trouxe pra mim. Não é uma delícia? – ela
diz animada, se derretendo e olhando para ele.
– É sim, mas acho que a senhora passou demais, está um pouco forte! –
Tampo meu nariz, e sinto um arrepio.
– Eu também gostei, querido. Traga um para mim, também! – vovó diz
segurando a mão do Rui.
Ele faz o maior sucesso com a velhinhas, elas ficam acesas quando ele vem
ao nosso apartamento e traz presentes.
Sorrio.
– Pode deixar, vovó, eu compro um para a senhora! – digo rapidamente,
chega de despesas para o Rui.
– Não, Jack, eu faço questão de presentear a vovó! – ele diz e ela escancara a
dentadura.
– Isso, meu querido, me chame de vovó!
Ele beija a mão da vovó, e acho que ela vai explodir de felicidade.
Finalmente começamos a jantar, e hoje, diferente da outra vez, não gostei
muito do bacalhau, o gosto está estranho.
– Não gostou, filha? Você não comeu nada! – minha mãe diz chateada.
– Achei que dessa vez o gosto está muito forte... – Faço uma careta. – A
senhora comprou da mesma marca?
– É o mesmo, Jack, como comprei muito da última vez, congelei.
– Deixa pra lá, mãe, mas adorei as batatas! – falo para animá-la.
Olho para o Rui, ele nem para conversar, está muito entretido com seu prato.
– Gostou, Rui? – pergunto em seu ouvido.
– Muito, Jack, está muito bom – ele diz guloso.
Beberico o vinho do porto, e conversamos mais um pouco, hoje estão todas
muito comportadas, devem ter levado um “pito” da minha mãe.
Aliás, ela é bem brava quando quer.
O Rui é o último a terminar seu jantar, mamãe serve seus famosos pastéis de
Belém, e finaliza com um cafezinho.
Ela adora quando jantamos com elas, ela capricha em tudo, desde a colocação
da mesa, até o último detalhe.
O Rui se remexe em sua cadeira, olho para ele e o vejo mexendo em seu
bolso.
– Senhoras, gostaria de dividir com vocês uma decisão que eu e a Jack
tomamos hoje! – Ele me olha sorrindo. – Nós iremos morar juntos!
Vovó dá um grito, pulo na cadeira, olho para ela assustada e a vejo juntando
as mãos em posição de oração.
– Oh, Jesus, Nosso Senhor ouviu minhas preces! – ela diz como se fosse uma
oração. – Eu e a Amélia sempre sonhamos com esse momento, que nossa
menina fosse levada para o altar...
Fecho meus olhos, tudo na minha família é um problema.
– Vovó, só corrigindo, não vou para o altar, vamos morar juntos!
Ela me olha indignada.
– Como assim? Minha neta só sai de casa de véu e grinalda!
Mamãe interfere rapidamente, cochicha enérgica no ouvido da vovó, que fala
alguns palavrões, esbraveja, mas por fim, parece entender a situação.
– Então, vovó... – O Rui olha para minha avó, parece cuidadoso. – Não
precisamos nos casar, a gente se ama, queremos ficar junto, eu vou respeitar
sua neta independente do papel assinado, enfim...
– Eu também acho um absurdo não haver casamento... – Titia diz cheia de
razão. – Eu até tenho o vestido guardado, é um modelo copiado da Coco
Channel.
– Aquele que a senhora fez em 1.960, tia? – pergunto, e tento não rir. – Acho
que as traças já comeram ele!
– Oh, Jackeline, como você é irritante, desde que nasceu é assim,
extremamente irritante! O senhor não sabe a cagada que está fazendo ao se
juntar com essa menina – ela diz nervosa. – É isso, Jackeline, você só está
juntando os trapos com esse homem, se ele te levasse a sério te levaria para o
altar, como o Luiz Alberto queria fazer comigo, mas sua avó, essa velha
coroca, não deixou.
Arregalo meus olhos com o ataque de nervos da minha tia.
– Coroca é você, Ofélia... – Vovó se altera. – Aquele sem vergonha tinha uma
mulher em cada bairro, sua burra!
Coloco minha mão sobre minha testa, é impossível fazer algo sério com
minha família.
– Vamos parar com essa algazarra!!! – Abro meus olhos assustada com a voz
alterada da minha mãe. – Esse é um momento feliz, e estamos comemorando,
e ninguém tem nada a ver com a vida da minha filha! Ouviu, Ofélia? – As
duas se encaram, parecem duas adolescentes em pé de guerra.
– Não quero saber da vida da sua filha! – Titia tenta se levantar, mas mamãe
a segura com firmeza, ela sempre foi assim enérgica, sempre mandou na
família inteira, adoro mamãe, sempre tão poderosa. – Fique aí, o Rui ainda
não terminou de falar.
Então mamãe sorri para o Rui, bem calminha.
– Continue, Rui! Me desculpe, famílias compostas só de mulheres são assim
mesmo.
Olho para o Rui, e tenho até dó dele, mas ele tira de letra essas confusões,
deve até achar divertido.
– Fique tranquila, Dona Amélia, minha família também tem essas coisas.
Toda família tem, não é mesmo? – Então o vejo tirar uma caixinha do bolso e
me falta o ar. – Como eu estava dizendo... – Ele olha para mim sorrindo. –
Iremos morar juntos, mas é um compromisso sério, então eu comprei um
presente para minha deusa! – Ele abre a caixinha e eu puxo o ar, agora de
verdade.
Um anel, daqueles que tem uma pedra grande, sextavada, e incrivelmente
brilhante.
– Rui... – Coloco meus dedos sobre minha boca, os olhos ardem com as
lágrimas querendo explodir em meus olhos. – Que lindo.
Ele pega o anel na caixinha, segura minha mãe esquerda e o coloca.
– Te amo, minha deusa! – Ele cochicha, olhando em meus olhos, e acho que
nunca me senti tão emocionada em minha vida.
Tudo bem, houve a morte do meu pai, mas esse tipo de emoção não é boa de
ser lembrada.
Olho para o anel deslumbrante, ele me surpreendeu, me encantou e me
deixou nas nuvens.
O abraço num rompante de felicidade, e tasco um beijo daqueles de
desentupir até o último cano da cidade, porque sou filha de italiano, e sou
explosiva nas emoções.
Me afasto só um pouco, apenas para olhar em seus olhos, tão brilhantes, tão
intensos...
– Te amo, Rui! – As lágrimas caem livremente. – Obrigada, não precisava
disso...
Ele segura meu rosto, me dá mais um beijo.
– Te amo, Jack, e vou te fazer muito feliz!
E a gente se beija de novo, simplesmente esquecemos onde estávamos.
– Está bom, queridos! Se quiserem, voltem para o quarto! – Ouço a voz da
minha mãe, me recomponho, sorrio para o Rui, ele limpa meu rosto.
– Desculpe, mamãe! – falo ainda embriagada pelo momento.
– Me deixe ver, Jackeline! – vovó diz curiosa.
Estico minha mão para todas verem, sorrindo feito uma idiota.
– Parece com aquele que a Jackeline Kennedy tinha, provavelmente ganhou
do John Kennedy!
A olho admirada, vovó é bem antenada, e tem uma memória invejável.
– Sabia, Rui, o nome da Jackeline foi em homenagem a Jackeline Kennedy –
mamãe diz, ela sempre me contava essa história quando eu era criança. – Sou
fã daquela mulher, uma pena que seu casamento tenha tido um fim tão
trágico...
Interrompo minha mãe, falar de desgraça a essa hora traz mau agouro.
– Chega, mãe, não gosto muito dessa história! – falo séria, mas sorrio no final
da frase. – Obrigada pelo nome, adoro me chamar Jackeline.
– Eu agradeço ao jantar, Dona Amélia, mas pensei de eu e a Jack irmos para
nossa casa! – Ele me olha com um sorriso, e eu, acho que vou explodir de
alegria, mal acredito no que está acontecendo. – A senhora se incomoda?
Ele é tão bonitinho, fica pedindo autorização para minha mãe, como se eu
ainda a obedecesse.
– Claro que não! – ela diz feliz, estava louca para se livrar de mim. – Vamos
fazer assim, eu arrumo as malas da Jack, e ela vem pegar esses dias.
De repente, sinto uma tristeza ao pensar que deixarei minha mãe, minha avó e
minha tia (a gente não se dá bem, mas se ama) e começo a chorar!
– O que foi, Jack? – O Rui tenta me consolar, mas estou chorando feito uma
criança.
Olho para minha mãe, e choro mais, me levanto e vou até ela, dou um abraço
longo e dolorido, e a faço chorar também.
– Oh, Jackeline, pare com isso, filha! – Ela esfrega minhas costas. – Nos
veremos sempre, e vamos falar sério, você nunca está em casa, vive na casa
do seu namorado, qual a diferença?
Tento me recompor, enxugo meu rosto.
– É que... – Minha voz embarga. – Vou sentir sua falta! – falo e choro de
novo, estou incontrolável.
Sinto um corpo quente e macio em minhas costas, um abraço apertado, me
viro e mergulho naquele peito macio, cheiroso, e é como se o cheiro dele
tivesse o dom de me acalmar.
Ele me passa tanta segurança.
Alguns beijos em meus cabelos, e sua voz em meu ouvido.
– Está mais calma? Podemos ir?
Respiro fundo, tiro meu rosto de seu peito e volto a olhar para minha mãe.
– Eu já vou, mãe, chega de despedidas, senão vou chorar de novo... – Saio
rapidamente da sala de jantar, sigo para o meu quarto, pego minha bolsa, olho
para minhas coisas e mordo meus lábios, a emoção está à flor da pele.
– Vamos, Jack? – A voz do Rui me tira dos meus pensamentos.
Sorrio para ele.
– Vamos!
Capítulo 75
RUI FIGUEIREDO
Algumas semanas depois.

A experiência de dividir a mesma casa


complicada, mas interessante e divertida.
com uma mulher pode ser

Aos poucos a Jack vai se sentindo mais segura, mais à vontade com sua nova
vida.
Ainda é muito cedo, faz apenas algumas semanas que ela veio morar comigo,
então ainda estamos nos ajustando às novidades.
Confesso que não tenho sentido muita diferença, nosso relacionamento
sempre foi muito intenso, e isso me tornou muito dependente da Jackeline,
ligado a ela.
Aos poucos estou retomando minha vida, voltando às minhas antigas
atividades.
Então, hoje eu e a Jack iremos começar com as aulas de condicionamento
físico.
O personal trainer já chegou. Enquanto aguardo a Jack descer, começo a
correr na esteira.
– A patroa não virá, Rui? – O professor pergunta impaciente.
– Ela estava se vestindo, daqui a pouco ela aparece – respondo
despreocupado, mas de repente, ela aparece na porta da minha academia
particular, e eu quase me esborracho na esteira.
Que porra de roupa é essa? A Jack está doida?
– Oi, bom dia! – ela diz simpática. – Desculpe a demora!
– Imagine, fique tranquila! – O puto do treinador arreganha seus olhos e
saliva feito um bulldog.
Ela não irá se exercitar desse jeito, a não ser que ela queira que eu arrebente a
cara desse filho da puta que está secando minha mulher.
Desligo a porra da esteira.
Começamos mal essa aula.
Pego em seu braço.
– Vem cá, Jack! – A levo para fora da academia, e a arrasto até a sala de
estar.
– Rui, o que foi? – ela diz nervosinha.
– Que porra de roupa é essa, Jackeline? – Minha voz sai meio alterada, eu
realmente estou querendo arrancar os olhos daquele cara.
– Como assim? – Ela me olha indignada. – Não é assim que as mulheres se
vestem para ir à academia? Top, calça legging, tênis... – Ela coloca as mãos
na cintura e me olha.
– As outras mulheres podem, mas a minha mulher, não. Troca essa roupa,
coloca uma calça larga e uma camiseta. Não quero que o filho da puta do
professor fique olhando para o seu corpo.
Saio caminhando em direção à academia.
– Então, não vou mais fazer essa merda! Você já me irritou, Rui! – Ela sai
bufando em direção às escadas.
Esfrego meu rosto, sigo apressado até ela e a seguro novamente.
– Jack, se troca e vem fazer a porra da aula – falo de saco cheio. – Assim não
dá, Jack, você está muito gostosa, e eu serei obrigado a quebrar a cara do
professor se ele olhar de novo para a sua bunda! Entendeu agora? – Tento ter
calma, tudo é novo para nós.
Ela gira os olhos.
– Ok, vou trocar de roupa, mas se você disser que não está legal de novo, eu
desisto! Vamos ver se acho uma burca em meu armário! – Ela se solta de
mim e sai caminhando enfezada.
Respiro fundo, volto para a academia, dou um sorriso insosso para o
professor e tento voltar para minha corrida.
Alguns minutos depois, ela aparece novamente e sorrio ao vê-la.
Agora sim, ela entendeu meu recado, colocou uma calça de moletom larga e
uma camiseta minha, bem grande.
Ela sorri para o professor e vem em minha direção.
– E agora, Rui? Estou decente, ou preciso colocar um vestido até os pés? –
ela diz irônica.
Dou risada.
– Ficou perfeito, minha deusa, isso tudo é só meu, não quero ninguém
almejando minha mulher!
– Hum, Rui, isso soou tão possessivo! – ela diz debochada.
– Eu sou possessivo, porra! – Faço cara de macho, de vez em quando preciso
colocar o pinto na mesa, caso contrário, a Jack quer mandar em tudo.
– Posso voltar à aula agora? – ela pergunta irônica.
– Só se der um beijo em mim primeiro! – Brinco com ela, adoro irritar a Jack.
Ela se esgueira sobre a esteira e me beija rapidamente.
– Pronto, agora vou me exercitar! – ela diz cheia de charme.
– Não se cansa muito, Jack, ainda quero dar uma paulada antes de ir para o
escritório! – Não consigo não sorrir com minha frase.
Ela arregala os olhos, faz uma cara feia.
– Rui!
– Vai lá, gostosa!
Esqueço um pouco da Jack, e volto ao meu treino.
Eu sempre gostei de treinar com esse cara, mas agora com a Jack treinando
comigo, não está dando muito certo.
Bufo irritado.
Se ele colocar de novo a mão na coxa da Jackeline...
E ele coloca, e o sangue sobe, me levanto do aparelho que estou treinando e
sigo até eles.
– Reinaldo, vem aqui um momento. – Tento controlar meus ciúmes, e não dar
na cara o meu incômodo. – Com relação ao treinamento da Jackeline... –
Penso qual a melhor forma de dizer isso, mas não acho, então vomito. – Não
quero mãozinha boba! Passe o treino para ela e seja discreto, não quero
apalpação na minha mulher. – Sorrio para relaxar o clima. – Fui claro?
– Desculpa, Rui! Se toquei na sua garota foi na boa, sem malícia...
O interrompo antes que ele fale merda e eu quebre os dentes dele.
– Perfeito, é só não tocar nela! – Volto ao que estava fazendo, e a vejo me
olhando, então dou uma piscadela para a Jack.
Caralho, que porra de aula, vai dar meio dia, mas não vai dar o horário que
termina essa merda!
****

Faz algum tempo que não falo com meu grupo de amigos, eu até troco
mensagens com eles, mas agora tenho sido mais cuidadoso com o conteúdo.
Então, quando vejo o celular vibrar em minha mesa, e o nome do Carlão no
visor, já meio que sei qual será sua conversa.
Atendo de pronto.
– Fala, Carlão! – falo animado.
– E aí, Rui? O que tá acontecendo com você cara, sumiu?
Tenho que concordar que realmente sumi, talvez precise dar uma passada no
encontro dos caras, apenas para mostrar que não estou completamente
dominado.
– É verdade, ando na correria, muito trabalho, a Jackeline, enfim... – falo
despreocupado, girando um lápis entre meus dedos.
– Ainda tá saindo com a secretária? Pelo visto a foda com ela é boa, cara! –
ele diz malicioso.
– Estamos morando juntos – falo e me preparo para ouvi-lo.
– O que?! – Sua voz sai alta. – Você está morando com a garota? Sério, Rui,
eu não estou acreditando! – Ele parece indignado.
– É sério, cara, já faz algumas semanas, mas o namoro já estava sério, então
nada mais natural do que morarmos juntos!
Engraçado como esse assunto já está totalmente resolvido em minha cabeça.
– Eu estou bem surpreso, não achava que a coisa era muito séria, achei que
era só diversão.
– É bem sério, e a Jackeline é bem brava! Então, não posso sair da linha! –
Dou risada sozinho.
– Bom, então, vou te desejar boa sorte – ele diz meio desanimado.
– E você, está com alguém? – pergunto por perguntar, não tenho muito
interesse em saber da vida do Carlão, somos amigos, mas cada um tem sua
vida.
– Nada sério, saindo com algumas garotas, só curtição, eu realmente ainda
não estou preparado para dar esse passo que você deu.
– O que você acha de marcarmos um jantar? Eu levo a Jackeline, assim você
conhece melhor ela, e você... – Penso um pouco, se o Carlão levar uma
periguete a Jack vai surtar. – Escolhe uma garota decente para levar com
você, não pode ser puta, nem periguete, arruma uma que dê para apresentar,
tipo para a família!
Ele gargalha do outro da linha.
– Tudo bem, quando podemos fazer isso? – ele diz animado.
– Pode ser amanhã, ou hoje, você quem sabe, não temos nenhum
compromisso.
– Tudo bem, amanhã. Vou pensar numa mulher para levar.
– Podemos fazer lá em casa, o que você acha? – Sugiro.
– Perfeito, Rui. Às 20h estarei lá!

Ligo para o ramal da Jack, ela atende rapidamente.


– Oi, gostosa, temos um compromisso amanhã à noite. O Carlão irá jantar
com a gente, lá em casa. – Enquanto falo, assino alguns papéis.
– Ah, é, que legal, mas... eu devo fazer o que? – ela diz confusa.
Dou risada sozinho, a Jack está toda atrapalhada sem sua mãe.
– Ligue para a Jô e combine com ela para fazer um jantar para nós! – falo
com paciência.
– Tá. E qual será o prato, Rui? – Ela se desespera. – Eu não entendo nada
dessas coisas, me ajuda!
Balanço levemente minha cabeça.
– Jack, essa é sua parte, se quiser, peça ajuda para sua mãe, mas é melhor
que não seja bacalhau, nem todo mundo gosta... – Digito a senha no meu
computador. – Você cuida disso para nós? Me deixe voltar ao trabalho. –
Desligo o telefone e me estico na cadeira.
Vamos ver o que a Jack consegue fazer sozinha.
****

Entro no elevador e bato meu pé no chão de mármore impaciente.


Olho no meu relógio de pulso, assim vamos chegar atrasados, caralho!
– Jack, dá uma acelerada.
Ela vem correndo, ela e o Bóris, agora ele me abandonou de vez, vive atrás
da Jack, nem lembra mais de mim.
– Ei, Bóris, você fica! – Puxo sua coleira enérgico para colocá-lo para fora do
elevador.
– Oh, Rui, não fala assim com ele! – Ela se agacha no chão. – Mamãe vai
trabalhar, mais tarde estamos de volta, Bóris. Fica bem bonzinho! – Ela enche
ele de beijos, e chego à conclusão que o Bóris está bem boiola desde que a
Jack entrou em sua vida.
– Jack, não mima tanto o cachorro! Ele é macho, fica mal para ele essa
melação toda.
Ela revira os olhos.
– Você também gosta de carinho, Rui! – Ela se dependura em meu pescoço,
beija meu rosto, meus lábios.
– Mas eu sou seu macho, você precisa cuidar de mim, me dar carinho,
atenção – falo e dou risada de mim mesmo, ando tão esquisito ultimamente.
– E o Bóris é meu bebê. – Ela ri no meu ouvido.
Penso com desânimo que a Jack está descarregando seu lado maternal com o
Bóris. Isso pode ter um lado bom, mas me incomoda um pouco, gostaria que
ela esquecesse um pouco essa sua loucura por ser mãe.
Tento não pensar muito nisso, não dá para controlar tudo, aos poucos ela vai
se acalmar.
– Está tudo certo com o jantar? – A abraço pelas costas, beijo seus cabelos,
sua orelha.
– Sim! A Jô irá fazer várias coisas, assim fica mais fácil acertar. Você
conhece a namorada dele, sabe o seu estilo? – ela diz manhosa, esfregando
seu rosto no meu, enquanto dou beijos em suas bochechas.
Confesso, estou muito apaixonado pela Jack.
– Não, não vejo o Carlão faz tempo, e não perguntei quem é a garota! – falo e
penso preocupado, o Carlão é meio sem noção, vai que ele traz uma daquelas
garotas de faculdade que ele tá comendo.
Porra, vai pegar mal, mas foda-se, vai pegar mal para ele, não para mim, não
tenho nada a ver com isso.
****

O dia passa rapidamente, eu e a Jack estamos em perfeita sintonia no


trabalho. Ela já sabe como gosto das coisas, eu já sei como lidar com ela, o
pessoal do escritório já a conhece e respeita, aos poucos ela está tomando
conta de quase toda a parte de administração do escritório, me deixando mais
livre para cuidar da parte jurídica, que é onde preciso ter foco.
O celular toca, e vejo a foto do meu pai.
Faz algum tempo que não nos falamos, ele foi para o Estados Unidos visitar
minha irmã, então apenas trocamos algumas palavras, nada muito particular,
como é o caso da minha recente decisão de morar com a Jackeline.
Atendo o telefone rapidamente.
– Boa tarde, filho! Acabamos de chegar ao Brasil! – ele diz animado, parece
estar ainda no aeroporto.
– Boa tarde, pai! Que bom! Então, como foi a viagem, tudo certo? –
pergunto.
– Tudo certo, só sua mãe que está um pouco abatida, por causa do efeito do
Jet Lag, mas daqui a dois dias ela já estará bem! E você e a Jackeline, como
estão?
Sorrio, é bom saber que meu pai aceitou a Jack, minha mãe eu meio que já
sabia que poderia rejeitá-la, mas também, eu não estou muito preocupado
com isso.
– Estamos bem... – penso um pouco, preciso contar para ele. – Eu e a Jack
estamos morando juntos, pai! Faz algumas semanas, na verdade aconteceu
logo que vocês viajaram, então não tive muito tempo de te contar.
– Oh, que surpresa boa! Parabéns, Rui – ele fala entusiasmado. – Isso é
muito bom, filho, está na hora de você assumir uma mulher, ter uma família,
e a Jackeline me parece uma jovem encantadora, acho que você fez a escolha
certa!
Penso em dizer sobre a parte de “ter uma família”, mas dará muito assunto,
e não estou a fim de alongar isso.
– Ela é encantadora! O senhor tem razão, fiz a escolha certa! – falo
pensativo.
– Bom, então quando você irá nos convidar para um almoço ou jantar em
sua casa? Precisamos comemorar esse momento!
Sorrio, mas me sinto preocupado, minha mãe foi extremamente desagradável
na última vez que nos vimos.
– Não sei, pai, vamos combinar – respondo sem muita vontade.
– Quero conhecer a família da sua... companheira? Posso chamá-la assim? –
ele diz divertido.
– Sim, companheira, acho que somos mais do que namorados agora! –
Sorrio com essa constatação.
– Então como você quer fazer? Leve os pais da Jackeline até nossa casa,
para que eu possa conhecê-los.
Enrugo minha testa e torço meu nariz.
– A Jack morava com a mãe, uma avó e uma tia, essa era a sua família, e...
Pai, não sei se dará muito certo. – Penso um pouco. – Vamos fazer assim, eu
combino com a Jack, talvez seja melhor o senhor vir aqui para São Paulo,
fazemos um encontro em meu apartamento, será mais simples para a família
dela.
– Perfeito, eu e sua mãe nos hospedamos em algum hotel, não iremos te
incomodar. Vou esperar sua ligação, não demore, quero comemorar esse
momento com você! – Sinto emoção em sua voz, e concluo o quanto é
importante para o meu pai que eu tenha alguém, parece que ele tem medo
que eu fique velho e sozinho.
– Ok, pai. Converso com a Jack e ligo para o senhor – falo com carinho. –
Bom retorno para vocês, e diga à mamãe que estou com saudades dela – falo
com dificuldade, a relação entre eu e minha mãe nunca foi fácil, e parece
que piorou nos últimos tempos.
– Pode deixar filho, eu falo. Nós amamos muito você! – ele diz emotivo,
tenho um pai muito carinhoso, e talvez essa foi minha sorte. Minha carga
emocional vem toda dele, minha doce mãe não é muito dada a rompantes de
carinho e nem de amor, ela é fria e distante, sempre foi.
– Eu também amo vocês! Se cuida, pai! – Desligo com uma sensação
estranha no peito, acho que é saudades, sou meio frio, como minha mãe, mas
também herdei o lado emotivo do meu pai, ainda bem.

****

Finalmente o expediente termina, minha cabeça está explodindo, fazia tempo


que não tinha casos tão complicados, longos e extenuantes.
Ligo no ramal da Jack, estou precisando da minha dose diária de Jackeline.
Ela até pode ser brava, às vezes, mal-humorada, irritante, mas ela é o
equilíbrio que preciso, seu jeito doce, carinhoso e leve me desestressa,
acalma...
Ela demora um pouco a atender.
– Oi, chefinho! – ela diz apressada. – Não me diga que você quer pedir
alguma coisa, a gente precisa ir embora.
– Primeiro, por que demorou para atender? Segundo, sou seu chefe, se eu
pedir, você me obedece!
Ela gargalha, não está nem aí para o fato de eu ser seu chefe.
– Ai, está com a macaca hoje? – ela diz divertida.
– Vem aqui, Jack! Estou precisando de carinho – falo manhoso.
– Rui, vamos para casa, aí eu encho você de carinho – ela diz apressada.
– Vem aqui, Jack, mas que porra de mulher teimosa! – falo sem paciência.
– Ai, Rui, você está chato! – Ela bate o telefone na minha cara.
A Jack abre a porta e me olha enfezada.
– Fala logo o que você quer, eu prometi para a Jô que chegaria cedo em
casa, para a gente checar os últimos detalhes.
– Jack, não vamos receber o presidente dos Estados Unidos, é só um jantar...
– bufo cansado. – Da próxima vez combino em um restaurante, assim você
fica mais calma.
Ela segue até a mim.
– O que foi, o que você quer? – ela diz com um bico.
– Senta aqui! – Aponto para o meu colo. – Estou com minha cabeça
explodindo, preciso de carinho.
– Tudo bem, era só falar, eu vou pegar um remedinho para você. – Ela se
levanta. – Rui, você está ficando muito manhoso. – Ela sorri e segue para sua
sala.
Ela volta com o medicamento, traz uma água e tomo rapidamente.
– Podemos ir embora agora? – ela diz apressada.
– Podemos. Mas, Jack, eu ainda quero chegar em casa, tomar um banho, e
fazer um amorzinho com você, nada de pressa, você está muito agitada hoje.
– Me levanto e sigo até onde está meu terno.
– Tudo bem, Rui. Nós faremos o que você quiser, tá bom? – ela diz agitada, e
aí me lembro de uma coisa, que estou há tempos para perguntar para ela.
Sigo até sua mesa.
– Jack, quando vem sua menstruação? – Ela para, me olha meio surpresa,
ensaia um sorriso.
– Estou meio perdida com a data, eu deveria ter anotado, mas agora não sei. –
Ela desvia os olhos de mim, enfia os papéis de sua mesa na gaveta, parece
meio nervosa.
– Mas, você toma o anticoncepcional, depois que termina, mais ou menos em
três dias o fluxo desce. Não é assim que funciona? – pergunto incomodado.
– É, é assim que funciona, preciso ver minha cartela, não sei quantos faltam...
– Ela me olha novamente, sorri, mas não é um sorriso normal. – Vou ver isso
quando a gente chegar em casa.
– Você está tomando o anticoncepcional, não está, Jack? – A olho com
firmeza.
– Sim, claro que estou... – Ela desvia de mim. – Vou até seu banheiro, é
rapidinho! – Ela sai apressada.
Esfrego meu rosto nervoso.
Não, ela não faria isso comigo, e para a Jack engravidar não é tão fácil assim.
Giro meu pescoço estressado.
Ok, estou imaginando coisas.
– Vamos, Rui! – Ela sorri, pega sua bolsa e sai na minha frente.
– Vamos, Jack!
Capítulo 76
JACKELINE BARTOLLI

A lém do nervosismo que eu já estava sentindo por causa dessa merda de


jantar, agora soma isso ao fato do Rui estar desconfiando de mim.
Enquanto voltamos para casa, tento lembrar quando parei de tomar o
anticoncepcional, mas simplesmente não me lembro, me perdi nas datas,
aconteceram tantas coisas que acabei me esquecendo desse detalhe tão
importante!
Porque não anotei isso em algum lugar? Merda! – penso preocupada.
Sinto sua mão em meu pescoço, ele o acaricia suavemente e me olha com
ternura.
– Tudo bem? Não precisa ficar nervosa com o jantar, o Carlão é um antigo
amigo da época de faculdade, ele não tem frescuras.
Sorrio para ele, o Rui tem sido tão maravilhoso pra mim, estamos tão felizes,
tão apaixonados um pelo outro.
Mas a questão não é o jantar que está me angustiando, mas sim minha
menstruação.
Fui tão imatura ao tentar engravidar sem seu consentimento!
Quando tomei a decisão de parar a pílula, simplesmente não medi as
consequências, apenas agi por impulso, estava abalada com a descoberta da
endometriose, com a possibilidade de nunca engravidar, de perder meu útero,
estava sob forte pressão emocional.
Mas agora, depois de raciocinar direito, percebo que estou vivendo um
momento maravilhoso com o Rui, e se eu engravidar contra sua vontade,
estragarei tudo que conquistei com ele.
Oh, meu Deus, me ajuda! – penso aflita.
E sem querer, estou desejando que a gravidez não tenha ocorrido.
Eu quero ser mãe de um bebê do Rui, mas eu preciso que ele queira também,
caso contrário, minha tentativa será um desastre.
Chegamos a sua casa, sigo até a cozinha, vejo com a empregada os últimos
detalhes e então subo para o quarto.
Ainda me sinto um pouco perdida em sua casa, não é como se fosse minha.
De fato, me sinto de férias, com aquela sensação de saudades do meu
apartamento.
É estranho isso, aqui é muito melhor, mais confortável, mas falta algo, falta
aquela sensação de lar, do aconchego materno. Nunca imaginei que sentiria
tanta falta da minha casa, da minha mãe, da minha avó, e até da minha tia
chata!
Não sei o que tenho, mas estou emocionalmente instável, choro escondida, às
vezes, fico desanimada, só quero dormir.
Mas, não deixo o Rui perceber essa minha fraqueza, porque ele está tentando
de verdade me fazer feliz, e que eu me sinta em casa.
Aliás, ele me mima o tempo todo, faz tudo o que gosto e quero. Como posso
dizer para ele que estou me sentindo triste?
Oh, meu Deus, como mulher é um bicho complicado! Por que somos tão
instáveis, por que esses malditos hormônios mexem tanto com a gente?
Sigo para o banheiro, ele já está na ducha, tiro minha roupa, entro no box, o
abraço, acaricio seu tórax forte e gostoso, beijo suas costas, eu amo cada
pedacinho do Rui.
Logo os beijos começam, as carícias, e em pouco tempo estamos atracados
um ao outro, num frenesi de corpos, e finalmente o êxtase, seguido de uma
sensação de preguiça, de esgotamento.
Ele beija meu pescoço delicadamente.
– Vamos sair do banho, delícia, daqui a pouco o Carlão chega com sua
namorada! – ele diz em meu ouvido.
Me sinto esgotada, com vontade de dormir e acordar somente amanhã, mas
crio coragem e digo:
– Vamos, quero que você me ajude a escolher uma roupa adequada!
Saímos do chuveiro, nos enxugamos e ele diz:
– Quero você bem linda, Jack!
– Ok, então, me ajuda!
– Vamos lá dar uma olhada em suas roupas.
Sigo o Rui em direção ao closet, agora divido com ele seu armário, mas ele é
enorme, não precisei espremê-lo para ajeitar minhas coisas.
– Então, deixe-me ver... – ele diz empolgado.
– Talvez esse aqui! – Ele pega um suéter de malha, estiloso, com recortes nos
ombros e uma saia de seda, tipo lápis, num tom de magenta, muito bonita.
Aliás, ainda nem usei essas duas peças que ele me deu. – O que você acha,
Jack? – Ele me mostra as roupas.
– Pode ser. – Pego as peças, e começo a colocar minha lingerie.
– Tudo bem, Jack? Você está tão calada, séria, você não costuma ser assim! –
Ele me olha intensamente, e isso me deixa nervosa.
– Está tudo bem, Rui! – Disfarço e sigo até o espelho, mas logo o vejo atrás
de mim.
– Eu fiz ou falei alguma coisa que te magoou? – O Rui me encara com um
olhar meigo, e me sinto muito mal de estar enganando ele.
Gostaria muito de me abrir com ele, de falar logo o que fiz, mas aí estragarei
o jantar e talvez nosso relacionamento.
– Não é nada, Rui! – Sorrio forçada. – Você tem sido perfeito, maravilhoso,
viu? – O abraço forte, ele procura meus lábios, nos olhamos por alguns
segundos.
– Eu te amo, Jack! – ele diz bem sério, me encarando profundamente, me
fazendo sentir uma emoção no meu peito.
– Eu também. – Beijo suavemente seus lábios, uma, duas, três vezes. –
Muito, Rui!
– Não me provoca, Jack, estamos atrasados – ele diz com seu olhar sedutor,
segurando minha cintura, e apertando meu corpo contra o seu.
– Não estou te provocando. – Sorrio. – Mais um beijinho. – Procuro seus
lábios, mordo, beijo, e tenho vontade de mais.– Talvez dê tempo, Rui. –
Mordo sua orelha.
– Hummm, Jack, adoro esse fogo, minha gostosa! – Ele segura minhas
nádegas, aperta com força, beija minha boca com urgência, e vai descendo,
descendo, até chegar ao meio das minhas pernas. – Coloque seu pé em meu
ombro!
Faço o que ele pede, e sinto sua língua gostosa, macia, quente, e ofego, gemo,
puxo os seus cabelos.
– Oh, Ruiii!!! Hummm... – E tenho um orgasmo delicioso.
Me assusto ao ser pega no colo, não tenho tempo de nada, em segundos estou
em sua cama.
– Eu gostaria de fazer daquele outro jeito, Jack – ele diz com seu corpo sobre
o meu, se esfregando em mim. – Quero comer essa bunda gostosa, você
deixa?
Oh, meu Deus, ele pedindo assim, no meu ouvido, me mordendo, me
lambendo, sou capaz de qualquer loucura.
– Deixo, Rui! – falo, meio gemendo.
Ele se deita, me coloca de joelhos ao redor de sua cintura, mas de costas para
ele.
– Eu quero assim, Jack! – ele diz com sua voz rouca. – Vou passar algo para
ficar mais prazeroso, tá bom?
– Sim. – Fecho os olhos e o sinto entrar em mim, gentilmente, ele é sempre
gentil quando fazemos assim. – Tá gostoso, Rui, pode continuar.
Ele movimenta seu quadril contra o meu corpo, solta sons roucos e sensuais.
– Está delicioso, Jack! – ele fala baixo. – Posso me empolgar um pouco
mais?
Sorrio.
– Pode. – Minha voz sai num sussurro.
Seus movimentos ganham intensidade, agora são fortes, decididos, viris.
Tento não me empolgar e fazer muito barulho, mas sua empolgação tomou
conta de mim.
De repente, já não estou mais naquela posição, estamos de quatro, ele
alucinado, eu uma cachorra no cio. E o que era para ser uma trepadinha
rápida, virou uma fodida daquelas.
Finalmente ele goza, sem restrições, barulhento, viril, com seu jeito macho de
ser.
Sinto cada parte do meu corpo tremer com seu peso, finalmente ele se
recompõe, e posso relaxar meu corpo sobre a cama.
– Foi do caralho, Jack! – Ele desaba ao meu lado, e mantém aquele sorriso
pós foda.
– Foi sim, meu gostoso! – Me aninho ao seu peito. – Tomara que eles
atrasem, Rui, estou morta!
Ele beija minha cabeça e se levanta.
– Deixa eu me aprontar, Jack, se quiser, descanse mais um pouquinho.
O olho desanimada, estava tão gostoso no peito quentinho dele, assim não
tem graça.
– Eu também vou terminar de me vestir.
****

Descemos as escadas e enquanto o Rui vai beber algo, sigo para a cozinha.
– Ficarei para te ajudar, Jackeline! – A empregada diz.
– Oh, Jô, não quero atrapalhar sua vida.
– Não vai atrapalhar. Eu costumo ficar quando o Doutor Rui faz esses
jantares, não me incomodo.
– Ok! – Sorrio para ela. – Ele fazia esses jantares para quem? – pergunto
enciumada.
– Não sei dizer, não conhecia as pessoas.
– Ah, claro! – falo constrangida, ela é muito discreta.
Volto para a sala e o encontro bebericando um vinho na sala.
Sento ao seu lado, pego sua taça e bebo um pouco de vinho.
– Jack, meu pai está querendo conhecer sua família. Vamos combinar um
final de semana para trazer suas velhinhas em nosso apartamento, e então
convidamos meus pais para virem também.
Olho para ele preocupada.
– Rui, minhas velhinhas não são do tipo comportadas, acho complicado
juntá-las com sua família.
– Mas nós iremos, está decidido! Isso é muito importante para o meu pai –
ele diz incisivo, não me dando muita chance de retrucar.
– Ok, mas não me responsabilizo pelas consequências.
Ele me olha de lado.
– Você tá meio chatinha hoje, né? Será a TPM? – ele diz com deboche.
Sorrio.
– Deve ser!
Ele vai dizer algo, mas a campainha toca, ele levanta, pega em minha mão e
seguimos juntos até a porta.
O Rui abre a porta e então vejo seu amigo e uma mulher muito bonita, alta,
morena, ela veste um vestido colado ao corpo, e que corpo! Ela é do tipo
mulherão...
– E aí, Rui! – O cara abre um sorriso largo, abraça o Rui, bate em suas costas,
e finalmente me olha.
– Olá, Jackeline! Como vai? – Ele estende sua mão para mim, e aproveita
para dar uma boa escaneada em meu corpo.
Esse amigo do Rui não é muito certo das ideias, concluo.
Finalmente ele puxa a mulher para junto dele.
– Me deixem apresentar uma amiga, essa é a Helen!
A mulher me olha estranhamente, nem um pouco simpática, mas como eu
que estou recebendo as pessoas, resolvo fazer a minha parte.
– Prazer, Helen! – A cumprimento com um sorriso.
– Prazer, Jackeline! – Ela sorri, mas é um sorriso daqueles falsos, que se
força o sorriso.
Então ela se vira para o Rui e sorri, e não sei por que, mas achei o seu sorriso
para o Rui diferente, como se o conhecesse.
– Como vai, Rui? – ela diz de um jeito tão íntimo.
Não aguento, a pergunta vem como um foguete até minha boca, e falo:
– Vocês se conhecem? – Acho que o tom saiu mais esganiçado do que eu
gostaria.
Ela vai dizer algo, mas o Rui a interrompe.
– Não, não nos conhecemos. Muito prazer, Helen! – ele diz, aperta a mão
dela rapidamente, e diz em seguida. – Vamos entrar, vocês bebem alguma
coisa? Eu e a Jack estávamos bebendo um vinho.
Olho para a garota, e a vejo me olhando.
Ela disfarça, cochicha algo no ouvido do Carlão, e volta a me olhar.
Não gostei dela!
O Rui serve vinho para eles e abraça minha cintura, mantendo meu corpo
contra seu peito.
Os dois homens fazem alguns comentários, mas o clima está estranho, meio
pesado.
Tento puxar papo com a garota, mas ela me ignora duas vezes, e ao invés de
falar comigo, fica puxando papo com o Rui.
Oh, que tipinho estranho esse Carlão trouxe para jantar conosco.
– Rui, posso pedir para servir? – cochicho em seu ouvido.
Ultimamente tenho me sentido mal quando demoro para comer, então, neste
exato momento, me sinto levemente zonza, e não é por causa do vinho,
porque apenas beberiquei o vinho do Rui.
Preciso marcar uma consulta com minha médica, talvez esteja com anemia.
– O que vocês acham de jantarmos? – O Rui diz simpático.
– Por mim, tudo bem! – A tal Helen diz com sua cara de antipática.
– Confesso que estou com fome! – O amigo do Rui diz empolgado.
Nos levantamos todos juntos.
– Eu vou até a cozinha avisar a Jô para nos servir – falo para o Rui.
A mulher pergunta onde é o banheiro, e deixa os homens sozinhos.
Falo rapidamente com a Jô, que já está arrumando a mesa de jantar, e logo
retorno para onde os dois estavam conversando, me aproximo, eles estão
entretidos, nem notam minha presença, e então eu escuto o Rui dizer:
– Eu já comi a piranha, Carlão!
Meu coração dá um salto.
– O que você disse, Rui? – falo num impulso.
Ele vira assustado.
– Oi, Jack, você estava aí? – Ele sorri, mas não me parece muito feliz em me
ver.
– Cheguei agora... Desculpe, eu ouvi você dizer que “comeu a piranha”, é
isso? Que piranha? – O sangue sobe.
– Eu não disse isso, eu disse “eu comi a picanha”. – Ele ri novamente, parece
meio estranho. – Eu estava contando para o Carlão que levei um cliente para
comer uma picanha deliciosa.
O interrompo.
– Quando? Não fiquei sabendo disso.
– Um dia desses, Jack, caralho, não lembro o dia, depois te levo lá... – Ele
volta a falar com o amigo, muda de assunto, me abraça novamente e me
aconchego ao seu peito.
Vejo a morena voltando, ela se rebola inteira, parece fazer de propósito, para
chamar a atenção dos homens.
Já disse né, não gostei dela!
– Vamos nos sentar à mesa, a empregada irá servir o jantar! – digo
rapidamente, estou sentindo um torpor, devo estar com a pressão baixa.
Seguimos para a mesa linda que o Rui tem em sua sala de jantar, todos se
acomodam e a Jô serve uma saladinha de entrada, em pequenos bowls, uma
mistura de manga, morangos, folhas verdes, pequenos tomates e outros
vegetais.
Essa foi a sugestão de minha mãe, ela aprendeu a fazer em um programa de
culinária.
Todos comem em silêncio, apenas eu cochicho no ouvido do Rui.
– Adorei essa salada, e você?
– Deliciosa, minha deusa, parabéns!
Sorrio.
– Mas eu não fiz a salada! – respondo envergonhada.
De repente a mulher invade nossa conversa.
– Eu acho que te conheço de algum lugar, Rui! – A periguete diz com um
sorriso enigmático.
– Acho difícil! – O Rui responde de imediato, nem ao menos levanta o olhar
para a mulher.
O Carlão entra no assunto.
– O Rui tem razão, Helen – ele diz e sorri para mim. – Está gostando da vida
de casada, Jackeline?
Sorrio e quando vou falar, a tal da Helen me atropela:
– Como assim? Você casou, Rui?
O sangue sobe de novo, essa piranha conhece o Rui, e eu vou matar um.
– O que você tem a ver com a vida do Rui, o sua... – Iria dizer piranha, mas
me controlo. – Me levanto de sobressalto e sinto a mão do Rui segurar meu
braço.
Vejo o Carlão olhar para o teto e bufar.
– Eu sempre falava do Rui para a Helen, Jackeline. Então, é como se ela
conhecesse o Rui há muito tempo, não é Helen? – Os dois trocam olhares
intensos.
Ela olha para mim e sorri novamente com aquele jeito falso.
– Isso mesmo, de tanto ouvir falar do Rui, me sinto íntima dele! – Ela encara
o Rui, e tenho vontade de matar ela!
Bufo nervosa.
A mão do Rui segura minha cintura gentilmente, me fazendo sentar.
– Deusa, se acalma, eles são nossas visitas! – ele cochicha discretamente no
meu ouvido.
Viro meu rosto para olhá-lo e sorrio falsamente.
– Tudo bem!
Voltamos a jantar, quero dizer, já não estou conseguindo jantar mais, garfo a
salada e olho para a piranha, e minha vontade é enfiar o garfo nela.
– Então, Jackeline, como eu estava dizendo, você já se acostumou a viver
com o Rui? Ele me disse que não faz muito tempo, aliás, há quanto tempo
vocês estão juntos, mesmo? – O tal do Carlão insiste.
– Estamos juntos há uns seis meses, mais ou menos, e eu passava mais tempo
aqui do que na minha casa, então não foi muito difícil me acostumar à nova
vida! – respondo tentando ser simpática, mas a verdade é que essa mulher
está me causando um estresse enorme.
– Então vocês estão juntos há seis meses? – Ela olha para o Rui, segura a taça
de vinho e faz um gesto bem sensual com seus lábios.
Que tipo de piranha esse Carlão trouxe? Ela está se insinuando para o meu
homem!
Ohhh!!!
O Rui olha para ela, parece meio incomodado, então resolvo cortar a
conversa dessa biscate.
– Você é bem curiosa, não é mesmo, Helen? O que você tem a ver com a
minha vida e do Rui? Você é amiga dele? – É fato, desci do salto, ou melhor,
despenquei, e estou quase metendo a mão na cara dessa mulherzinha.
Ela me olha, dá risada e toma o vinho, e meu sangue está cada vez mais
quente, borbulhando.
– Vamos pedir para servir os pratos quentes, Jack? – Ele me olha meio
nervoso.
Olho para a biscate e vejo o Carlão cochichando em seu ouvido, parece meio
bravo.
– Vamos! – Rosno, esse jantar está saindo pior do que esperava.
O Rui berra com sua voz grossa e poderosa:
– Josalice!!!
A mulher vem correndo da cozinha, deve ter se assustado com a finesse do
Rui.
– Pois não, Doutor Rui? – ela diz assustada.
– Os pratos quentes, rápido! – ele diz apressado.
– Então, Carlão, como eu estava te dizendo...
O Rui começa a falar sobre um caso, desses famosos, que estão passando na
mídia. Os dois ficam entretidos, olho para a biscate, a biscate olha para mim e
sorri bem provocativa.
Não estou entendendo essa mulher. – Penso comigo mesma.
A Jô traz os pratos quentes, eu estava tão empolgada em comer sua comida,
mas com essa confusão toda, perdi a fome.
Como um pouco, mas logo deixo a comida de lado.
– Não está com fome, Jack? – O Rui cochicha em meu ouvido.
Olho de rabo de olho e vejo a vadia nos olhando, então resolvo mostrar quem
manda nesse lugar.
– Não, amor! – Olho para ele, seguro seu rosto, ele me olha confuso, mas
antes que ele possa dizer algo, tasco um beijo daqueles bem gostosos,
indecentes, escandalosos, eu não faria isso, mas essa biscate está me
provocando.
Aliás, ando muito irritada, talvez eu realmente esteja para menstruar, minha
TPM é um inferno em minha vida.
Separo meus lábios do Rui e sorrio para ele.
– Te amo, Rui! – falo baixinho, limpo o batom dos seus lábios, enquanto ele
me olha, parece congelado, talvez surpreso com meu desatino.
Olho para a mesa, vejo os dois olhando para nós, e tenho muita vontade de
rir, gargalhar.
Acho que ando descompensada emocionalmente.
– Gostou da comida, Carlão? A empregada do Rui cozinha muito bem – falo
bem falsa.
Ele disfarça, dá um sorriso amarelo.
– Gostei muito, Jackeline! – Ele balança a cabeça e volta a comer.
Olho para a cretina e sorrio provocativa.
– E você, Helen, gostou da comida? – falo bem boazinha.
– Como só saladas e grelhados, não gosto de comidas pesadas, preciso cuidar
do meu corpo! – ela diz provocativa.
Ela não sabe com quem está falando.
– Você usa seu corpo para ganhar a vida? – Todos me olham assustados, e de
novo, tenho vontade de gargalhar, só faltei chamá-la de prostituta! Mas
resolvo amenizar. – Quero dizer, é dançarina, modelo, essas coisas? – Bebo
um pouco de água, não posso beber nada de álcool, caso contrário vou dar
um vexame hoje.
Ela me olha furiosa e tento não rir.
– Não, sou secretária. Mas gosto de me cuidar, não quero ficar gorda e
horrorosa como algumas mulheres que conheço.
Olho para ela, quero dizer, a fuzilo com os olhos.
Será que ela falou isso para mim?
– Também sou secretária, e do Rui, né, amor? – Olho para ele, acaricio seus
cabelos, beijo seu rosto, e tenho dó dele, acho que estraguei seu jantar com o
amigo.
– É, Jack! – ele diz, parece meio sem paciência.
– Sério? Você é a secretária dele? – Ela dá uma risada debochada. – Agora
está explicado!
Oh, meu Deus, essa mulher está me irritando.
– Explicado? Explicado o que, querida? – Nós duas nos encaramos, mas o
grito do Rui me tira do meu desatino.
– Josalice!!!
A Jô vem desesperada atender seu patrão louco.
– Tire a mesa. – Ele olha para seus convidados. – Todos já comeram, não é
mesmo?
Vejo o Carlão jogar seu garfo e faca no prato, o coitado ainda estava
comendo.
– Sim, pode retirar! – O Carlão fala com a boca cheia.
– Então, Jô, traz o café.
Ela tenta interrompê-lo.
– Mas e a sobrem...
– O café, Josalice, porra! – ele diz grosseiro com ela.
– Ai, Rui, que jeito de falar com a Jô! Ela só iria dizer...
Ele me interrompe, com aquele seu olhar lança chamas.
– Fica quietinha, Jack!
– Grosso! – sussurro.
Vejo a Jô chegando com a bandeja de café, e acho que suas mãos estão
tremendo, porque o barulho de xícaras batendo é irritante.
– Precisa de ajuda, Jô? – falo com pena dela.
Ela sorri meio nervosa.
– Pode deixar, Jackeline!
Ela serve o café em tempo recorde.
– Então, Rui, a gente já está indo. Agradeço ao jantar, Jackeline, estava
maravilhoso!
Olho para o Carlão, e fico com dó dele.
– Você não comeu nada, Carlão. Quer levar uma marmitinha?
Ele me olha confuso.
– Não, não precisa. Estou de regime, estou com uma barriguinha saliente... –
ele diz tentando ser simpático.
Ele repousa o guardanapo na mesa.
– Obrigado, mas eu e a Helen precisamos ir. – Ele dá uma olhada esquisita
para a Helen.
O Rui se levanta, pega em minha mão, e seguimos os dois até a porta.
Quando o Rui vai abrir a porta, me lembro de um maldito licor que fiz a Jô
comprar de última hora e que nem tocamos nele, poxa!
– Rui, esqueci de oferecer a eles o licor.
Ele me interrompe.
– Fica para uma próxima vez, Jack. O Carlão está com pressa, e também não
gosta de licor.
Eles se entre olham.
– É isso mesmo. Preciso ir, Jackeline! – Ele se despede de mim. – Um dia
desses, eu apareço para tomar um café com você.
– Como assim, Carlão? Que história é essa de tomar café com a Jackeline? –
O Rui diz indignado.
Olho para o Rui, ele parece se estranhar com o amigo.
– É o jeito de falar, Rui, mas que porra! – Ele puxa a tal Helen. – Vamos,
Helen.
Os dois entram no elevador e o Rui fecha a porta antes que o elevador feche.
– Nossa, a gente nem se despediu da piranha da Helen!
Ele tenta ficar sério, mas acaba rindo.
– Percebi que você não gostou muito dela! – Ele caminha até a mesa, senta e
berra o nome da coitada da Jô novamente. – Josalice!!!
A Jô aparece desnorteada na sala.
– Traz os pratos quentes, eu ainda estou com fome!
Olho para a Jô, e não consigo não rir, e a vejo rindo a caminho da cozinha.
– Vem, Jack, me faça companhia, aqueles dois estavam tirando minha fome!
– Você conhecia ela, Rui? Seja sincero.
– Nunca vi na minha vida, mas pode ser que ela tenha me visto em algum
lugar. – Ele balança sua cabeça. – Eu nunca vi mais morena e nem mais loira,
aliás, que mulherzinha esquisita que o Carlão está saindo.
– Verdade!
Me sento ao seu lado, e resolvo comer um pouquinho, parece que o mal-estar
até passou com a saída dos dois.
****

Dias depois...
Passado o fatídico jantar com o amigo do Rui, resolvo ir jantar com minha
mãe, mas, dessa vez, tem que ser sozinha, por que preciso arrumar um jeito
de fazer um teste de gravidez, e tem que ser num lugar tranquilo. Não pode
ser no trabalho, porque se der positivo, eu posso ter um ataque de nervos. Em
casa também não irá dar certo, pois o Rui pode aparecer, então o único lugar
que sobrou é a casa da minha mãe.
Sigo para a sala do Rui, já o avisei que irei na casa de minha mãe, só preciso
avisar que estou saindo.
Abro a porta, ele tira seus óculos e me olha.
– Já está saindo, Jack? – Ele pergunta.
– Já, Rui! – Sigo até sua mesa, dou a volta, sento em seu colo, encho seus
lábios de beijos, e não tenho vontade de largar dele.
Acho que estou ficando pegajosa, preciso cuidar disso.
– Se você quiser, eu vou com você! – ele diz carinhoso.
Mal sabe ele o que pretendo fazer.
– Pode sair um pouco, de repente marca com o esquisito do Carlão! – Ele dá
risada.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir, fico um pouco,
depois vou para casa!
Sinto um incômodo.
– Tudo bem! – Me levanto do seu colo. – Comporte-se, Doutor Rui
Figueiredo, você está em minha mira. – Olho pelo meu ombro.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – ele diz irônico.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! – Faça um movimento com os dedos e
mando um beijo para ele. – Te amo!
– Eu também, te aguardo em casa.
– Combinado!
Finalmente saio, pego minha bolsa e sigo para meu carro.
Alguns metros antes do apartamento de minha mãe, paro em uma farmácia,
vejo alguns testes de gravidez e então escolho um, levo até o caixa e depois
de alguns minutos, estou chegando ao endereço de minha mãe.
Pela primeira vez venho sozinha, o Rui sempre está comigo, não tenho do
que desconfiar dele, eu que disse que iria sozinha, e que ele poderia sair com
seus amigos.
De certa forma, acho que estou evoluindo.
Quero confiar nele.
A chegada à casa da minha mãe é sempre cercada por uma emoção meio
descontrolada.
Sempre choro, sempre me descontrolo, e acabo descontrolando todo mundo.
Beijo e abraço minha mãe como se não nos víssemos há um ano, sendo que
todas as semanas nos vemos, às vezes de duas a três vezes, depende do meu
estado emocional.
– Ok, Jack, se controle! – ela diz me empurrando. – Pare de chorar, que
coisa! – diz sem paciência.
Enxugo minhas lágrimas, e falo magoada.
– Parece que só eu sinto sua falta, você nunca está com saudades de mim.
– Oh, filha, como você é dramática! – ela diz rindo, limpa meu rosto, e me
olha. – Está tudo bem com você? Por que esse choro todo? Existe algo de
errado com você? Você e o Rui não estão se dando bem? – ela diz
preocupada.
– Não, não é isso. Estamos muito felizes, de verdade! – Sigo até minha vovó.
– Você está bem, vó?
– Sim, meu anjo, estamos felizes por você. – Então ela olha para minha
barriga e a acaricia. – Pode contar para sua avó, tem bebê aqui dentro? – ela
diz em tom de segredo.
Arregalo meus olhos.
– Não, vovó, não é isso! – respondo indignada, e preocupada.
– Eu quando estava grávida de sua mãe chorava como se fosse uma manteiga
derretida, somos muito parecidas, Jack. Eu sonhei com isso, sabia?
Meu coração dispara, sinto uma moleza nas pernas.
– Vovó, eu não quero ter filhos agora. Ainda é muito cedo, sabe?
– Oh, minha filha, então não deveria ficar agarrando seu homem daquele
jeito, assim virá um filho atrás do outro, vocês dois são bem fogosos. – Ela dá
risada.
Reviro meus olhos.
– Ok, me deixe ir até o banheiro! – Dou um beijo em minha tia, pego minha
bolsa e sigo para meu antigo quarto. – Mãe, vou usar o banheiro do meu ex-
quarto, tudo bem?
– Claro, Jack! O quarto está do jeitinho que você deixou – ela diz carinhosa.
Sigo apressada, fecho a porta do quarto, abro o banheiro, tomo coragem e
abro a embalagem do teste de gravidez.
– Ok, Jack, agora é a hora! – falo para mim mesma.
Coleto meu xixi, e fico com o bastonete em minha mão, sem coragem de
enfiá-lo dentro do recipiente.
De repente, a porta abre, me assusto com a chegada da minha mãe e derrubo
todo o líquido do recipiente, e deixo o teste cair no chão, piso nele com o
sapato, para escondê-lo, e olho para minha mãe.
– O que foi mãe? Você me assustou? – Tento disfarçar.
– Achei que não tinha papel higiênico em seu banheiro, me deixe colocar no
armarinho. – Ela dispensa os rolos embaixo da pia. – Pode ficar à vontade.
Ela sorri e sai, e solto o ar que estava guardando nos pulmões.
– Merda, merda, merda!!! – bufo irritada, esmurrando a pia. – Perdi a porra
do teste! – Me agacho e limpo a sujeira que fiz, pego o teste, e o jogo no vaso
sanitário. – Não será hoje que descobrirei se estou grávida.
Capítulo 77
RUI FIGUEIREDO

D epois do desastroso jantar com o Carlão, não nos falamos mais, quero
dizer, eu mandei uma mensagem para ele, e o amaldiçoei por toda a
eternidade.
Caralho, desde quando a Helen tem cara de mulher que se apresenta para a
família?
Bem, pelo menos eu não a apresentaria para minha família, talvez porque a
conheço bem demais, e sei que ela não presta.
Quero dizer, para foder ela presta, mas não para ter um relacionamento.
Mas é muita falta de sorte.
Então, de repente, me lembro que o Carlão passou a atender a empresa onde
ela trabalha, e eu fui o imbecil que o indiquei.
É que na época o Carlão estava meio fodido, tinha se separado recentemente,
a mulher o deixou só com as calças. Então, para ajudá-lo, cedi alguns clientes
meus para ele.
Sério, eu não lembrava mais disso, mas também não sabia que a Helen já
tinha aberto as pernas para o Carlão.
Foi isso, fiz uma boa ação com o amigo, e quase me fodi.
Mas que raiva daquela garota, mesmo acompanhada com o Carlão ela ficou
se insinuando para mim!
Tudo bem, sei que sou gostoso, tenho um pau irresistível, mas agora tenho
uma dona.
Dou risada sozinho.
Brincadeiras à parte, eu sei qual era a intenção da Helen, era me foder com a
Jackeline.
Ela não se conformou de me ver em um relacionamento sério, ela se acha
irresistível, a mais gostosa, a melhor na cama, mas ela não chega aos pés da
minha deusa.
Então, depois que a Jack viu aquelas mensagens, eu a bloqueei totalmente em
meu celular.
Mulher magoada e rejeitada é o demônio em forma de gente.
Então me lembro da Priscila, e me benzo, que Deus me livre daquele encosto.
Dou risada sozinho, pareço a Jack falando, porra!
E então a Jack entra na minha sala, hoje ela está meio tristinha, não sei o que
está acontecendo com ela.
Será que o problema é comigo? Nunca morei com ninguém, pode ser que, às
vezes, eu seja meio grosseiro com ela.
Tento não pensar sobre isso, agora quem não quer desistir dessa merda sou
eu.
Demorei pra caralho para tomar a decisão, mas agora que achei a mulher
ideal, a que combina comigo, não desisto dessa porra nem fodendo.
Que a Jackeline não me ouça, mas agora quem não vive sem ela é o idiota do
Rui!
– Já está saindo, Jack? – pergunto a vendo se aproximar de minha mesa.
– Já, Rui!
Ela se senta em meu colo, e me enche de beijos.
Adoro esse jeito carinhoso, espalhafatoso, e exagerado dela.
Mas, ainda assim, a sinto estranha, não sei dizer, tem alguma coisa de errado
com a Jackeline.
– Se você quiser, eu vou com você! – Insisto, mas dessa vez ela não quer
minha companhia, parece que está enjoada de mim.
– Pode sair um pouco, de repente marque com o esquisito do Carlão! – ela
diz e dou risada.
Acho que a Jack não foi muito com a cara do Carlão, e a presença da Helen
só complicou mais a situação.
– Hoje é quinta, vou ao bar que os meus amigos costumam ir, fico um pouco,
depois vou para casa. – Abro o jogo, não vou mentir, estou me esforçando
para ser o cara que prometi a ela.
Ok, eu sei que menti em relação à Helen, mas é que a Jack não entenderia.
Ela é muito ciumenta, brigaria comigo o resto do mês.
– Tudo bem! Comporte-se, Doutor Rui Figueiredo, você está em minha mira
– ela diz possessiva. Aliás somos os dois, formamos um casal bem
complicado.
– Eu me comportarei, Jackeline Bartolli – digo com ironia, para relaxá-la.
– Então, já estou indo. Até mais tarde! Te amo! – Ela se despede.
– Eu também. Te aguardo em casa – respondo pensativo, ela está estranha.
– Combinado! – ela diz antes de fechar a porta.
****

Não me dou ao trabalho de ir para casa trocar de roupa e me encher de


perfume.
Hoje não vou caçar, só rever os amigos mesmo.
Chego ao bar cedo, vejo alguns gatos pingados, os solteiros chegam mais
tarde, quando o bar começa a lotar.
Cumprimento alguns amigos, trocamos algumas ideias, peço uma bebida, e
aos poucos a mesa começa a lotar.
As primeiras periguetes se aproximam, puxam papo. Olho ao redor, está
lotado, muita mulher bonita, barulho e confusão.
Acho que estou ficando velho, não estou curtindo essa agitação toda,
falatório, música alta, cheiro de cigarros, misturados ao de perfume.
– Acho que deu meu horário, cara! Estou cansado! – falo para um dos
amigos.
– É cedo Rui, a mulherada ainda está chegando! – O cara fala animado.
– Porra, brother, não deu tempo de te contar, mas agora estou morando com
minha namorada. Então, não estou autorizado a pegar ninguém, só uma gripe,
no máximo. – Ele dá risada, pergunta mais algumas coisas e finalmente
consigo ir embora.
Olho no relógio, para o padrão Rui, é cedo pra caralho!
Vamos ver para o padrão Jackeline.
****

Chego silencioso ao apartamento, apenas algumas luzes estão acesas,


caminho em direção as escadas, mas de repente tomo um susto ao ver o Bóris
descer as escadas feito um louco.
– Ei, garoto, cadê sua dona? – O acaricio e o sigo pelas escadas.
Abro a porta, e encontro a Jack já deitada.
Tiro minha roupa, tomo um banho rápido, retorno para o quarto e me
aconchego ao corpo gostoso da Jack.
É impossível deitar com a Jack e não me sentir excitado. Esse seu cheiro me
deixa louco. Então, quando percebo, meu pau já está em mastro, minha mão
já a acaricia feito um tarado e meus lábios beijam sua pele sedosa dos
ombros. Estou morrendo de tesão, caralho!
Ela se mexe levemente.
– Boa noite, minha deusa! – Beijo seus lábios. – Eu já cheguei.
Ela abre seus olhos sonolenta.
– Oi, que horas são? – A general pergunta.
Me esgueiro ao redor da cama, pego o celular, aperto o display e mostro o
horário para ela.
Ela espreguiça seu corpo se enroscando ao meu.
– Parabéns, Rui! Você chegou cedo! – Ela sorri e se aninha ao meu peito. –
Boa noite, meu amor! Estou com muito sono!
– Boa noite, Jack! – A abraço ao meu peito, meio decepcionado, pensei que a
noite seria mais longa para nós dois.
Mas, fazer o quê? Quem chega por último não tem direito a sobremesa, então
apenas me contento em tê-la em meus braços e adormeço do mesmo jeito que
fazemos todos os dias.
****

Dias depois.
A pressão do meu pai pelo encontro das famílias está enchendo meu saco.
Eu já percebi que a Jack está tentando fugir desse momento, eu até a entendo,
ela tem medo das suas velhinhas, e entre nós, ela tem razão.
Aquelas três juntas são de matar.
Ok, mas minhas desculpas chegaram ao fim, preciso marcar a porra da data,
caso contrário, vou matar meu pai de ansiedade.
O velho pirou agora que sabe que eu e a Jack estamos... bem... casados?
Não posso fugir disso, tenho um medo da porra dessa palavra, mas caralho,
casamento é isso, seu idiota! – Esbravejo comigo mesmo.
A chamo pelo ramal.
– Vem até aqui, Jack!
– Tá bom, chefinho! – Ela brinca.
Já até me acostumei com o jeito que ela me chama, adoro quando ela me
chama de chefinho.
Ela entra na minha sala, caminha até a mim, abraço seu corpo junto ao meu e
falo:
– Jack, preciso de uma data para a porra do encontro entre nossas famílias!
Ela afasta seu corpo do meu, vira de costas, mexe nervosa nos cabelos.
– Rui, não vai dar certo! – ela diz nervosa. – Oh, Rui, sua mãe... – Ela fecha
seus olhos.
Sigo até ela, seguro seu rosto a fazendo me olhar.
– Eu entendo sua preocupação, mas faz parte, moramos juntos, temos um
relacionamento sério. Estamos tipo... casados, Jack! As famílias precisam se
conhecer.
Ela sorri.
– Estamos tipo casados! – ela repete rindo.
– É, minha deusa... – Puxo sua cintura, unindo seu corpo ao meu, sinto uma
fome louca por essa mulher, vontade de pegar ela de tudo o que é jeito. – Faz
isso pelo seu maridinho! – Faço voz de boiola, enfio meu rosto no meio dos
seus cabelos, beijo seu pescoço cheiroso. – Caralho, Jack, estou com um
tesão de te pegar em cima dessa mesa! – Subo sua saia, apalpo seu bumbum
grande e gostoso – Oh, minha delícia, vamos rapidinho.
– Oh, Rui, vamos esperar chegar em casa. – Ela sussurra, mas já não impõe
resistência.
Então, sigo até a porta, tranco-a, e volto apressado.
– Vira, minha gostosa! – A faço deitar seu corpo sobre a mesa, levanto sua
saia, demoro-me um pouco acariciando seu bumbum perfeito, me inclino um
pouco, beijo, passo minha língua. – Você é uma delícia, Jack.
Ouço seus gemidos.
– Fode logo, Rui! – ela diz apressada.
Abro com desespero minha braguilha, tiro meu pau para fora, o acaricio um
pouco, apenas para admirar um pouco a visão do paraíso.
– Que bunda você tem, Jack! – Enterro meu pau dentro dela, ela geme. –
Você gosta assim? – Bato de leve em seu traseiro.
– Gosto! – Ela sussurra.
– Então, vou continuar. – Bato de novo, enterro meu pau até o final, ela geme
alto. – Fala que quer mais, Jack!
Estou insano de desejo.
– Hummm, mais, Rui! Desse jeito... Ohhh. – Ela geme alto, e isso me excita
demais.
– Assim, gostosa? – Fodo forte, sem dó, gosto quando ela grita desesperada.
– É, Ruiii! – Sorrio com seu desespero.
Faço de novo, ela geme, se esfrega no meu pau.
– Mais, Rui, ahhhh, isso, eu vou gozar. – E seus sons de prazer enlouquecem
meus ouvidos.
Enterro meu pau em sua buceta úmida, quente, e o prazer aumenta, e
finalmente gozo, e tenho vontade de gritar, mas me controlo.
Seguro suas mãos, e relaxo meu corpo sobre o seu.
– Foi gostoso, Jack? – pergunto em seu ouvido.
– Foi, amor! – ela diz lânguida.
Me afasto um pouco, a gente se recompõe.
– Agora... – Fecho meu zíper. – A data, Jack.
Ela sorri.
– Pensei que dando uma rapidinha com você, eu conseguiria te enrolar! – ela
diz com cara de safada, se pendura em meu pescoço e diz: – Você quem sabe,
neste final de semana, o que você acha?
– Perfeito! – Beijo seus lábios e sorrio. – Vou ligar para o meu velho. – Sigo
para minha mesa. – Ele está ansioso, Jack, você não tem ideia o quanto – falo
feliz.
– Eu gosto do seu pai, Rui, aliás você é muito parecido com ele – ela diz
enquanto segue para meu banheiro privativo. – O problema é sua mãe!
– Não se preocupe com ela, deusa. Só dá uns toques para suas velhinhas, vê
se consegue que elas sejam um pouco discretas, tá bom? – Olho para a Jack,
ela sorri.
– Tarefa difícil, mas vou tentar!
****

Eu não deveria estar surpreso, ou nervoso, mas a ideia de juntar minha


família e a da Jackeline está causando um tsunami na minha vida.
A Jackeline está insuportável!!!
Só com muito amor para se aguentar uma mulher dia e noite!
Sou um herói, eu sei disso!
– Não fala comigo, Rui, eu estou muito nervosa! – ela diz quase arrancando
seus cabelos.
– Caralho, mas eu vou falar com quem? Com a vizinha, Jackeline? – falo
nervoso. – Vamos logo buscar sua família, porra! – repito pela quinta vez.
– Espera, eu ainda não terminei com a Jô! – Ela me empurra, saindo do
quarto, me largando com cara de idiota.
Fecho os olhos, bufo, xingo meia dúzia de nomes feios, e por fim pego minha
carteira e celular e desço as escadas.
– Jack, eu vou sozinho, pode ficar aí e... Josalice!!! – Berro o nome da
empregada, que aparece enxugando as mãos nervosamente. – Faz um chá
para a Jackeline, e cuide para que ela não tenha um troço.
Ela balança sua cabeça positivamente.
– Pode deixar, Doutor Rui!
Caminho em direção à porta de entrada, e de repente, a Jack entra na minha
frente.
– Desculpe, Rui! Estou tão nervosa... – ela diz e começa a chorar.
Ok, o que posso fazer além de abraçá-la e tentar acalmá-la? Aliás, estou
tentando fazer isso desde ontem.
– Calma, Jack, dará tudo certo! – Beijo sua testa e a faço olhar para mim. –
Irei buscá-las, fique aqui, tome um chá ou um uísque, o que você achar
melhor! – Ela sorri.
– Você conversa com elas, reza a missa? – ela diz preocupada.
– Pode deixar, prometo levá-las para passear, alguns presentes, já sei como
lidar com aquelas moças! – Ela dá risada e fica linda, toda vermelha de choro,
mas linda. – Tome um banho de banheira, vai te fazer bem.
– Parece uma boa ideia!
Me despeço e saio.
O que não faço por você, Jackeline? – Penso em voz alta, concluindo no que
se tornou minha vida desde que a conheci.
****

Estou sentado no sofá da sala da casa da mãe da Jack, meu pé ganhou vida
própria e bate nervosamente no chão de taco de madeira, que está solto, faz
barulho quando bato o pé.
Estou nervoso e compulsivo.
– O que caralho elas estão fazendo, meu Deus? – Bato os dedos no braço do
sofá.
Então, dona Amélia aparece na sala.
– Pronto, Rui! – Dona Amélia diz, e me admiro com sua elegância. – Estou
bem? A Jackeline que comprou essa roupa para mim, estou me sentindo um
pouco exagerada! – Ela diz sem jeito.
Sorrio, a mãe da Jack é uma figura.
– A senhora está muito bonita, perfeita!
Suas bochechas coram ao meu elogio.
– E as outras? – falo ansioso.
– Vou checar. – Ela sai apressada, e depois de longos minutos todas
aparecem juntas.
Tenho vontade de rir, mas não o faço, seria desagradável.
A tia da Jackeline está vestida num modelo 1.950, ela é sem noção.
– Vocês estão lindas! – falo bem-humorado.
– Oh, Rui, a Jackeline comprou roupas novas para todas nós, mas minha irmã
insistiu em vestir esse vestido velho, e cheio de traças.
– Velho? – A mulher diz estressada... – Você é velha! Velha e invejosa! –
Reviro meus olhos, começou cedo a confusão.
– Senhoras... – Sorrio. – Vamos indo, a Jack deve estar nervosa com nossa
demora.
Elas se recompõem, ajeitam suas roupas e sua mãe diz.
– Iremos nos comportar, Rui, prometemos à Jack.
Todas balançam suas cabeças, parecem crianças.
– Então, podemos ir? – pergunto em pânico, essa família da Jack é maluca.
– Sim, vamos logo, quero ver minha neta, tenho sonhado muito com ela. –
Vovó sai apressada na frente, e apesar da idade, ela é muito ágil. – Você está
cuidando bem da minha princesinha? – Ela me encara dentro do elevador.
– Claro, Dona Maria! Não sou louco de tratá-la mal – respondo com humor.
– É bom mesmo. – Ela me olha atravessado.
Seguimos em silêncio até o carro, hoje estou com a SUV, que é maior e mais
confortável.
– O carro é esse aqui. – Abro a porta de trás para elas.
– Oh, que belo carro querido, mas um pouco alto para mim. – Olho para dona
Maria, encalhada entre o banco e a calçada.
– Deixe que ajudo a senhora. – Pego a vovó no colo e a enfio no banco. –
Pronto, vovó, está confortável? – Sorrio para ela.
– Você colocou a mão em minha bunda, eu deveria me incomodar com isso,
mas vou fingir que não vi! – Ela ralha e se arruma no banco.
Dona Ofélia tenta levantar sua perna para subir no carro, mas a saia longa,
justa, e sem recortes não permite.
Enrugo minha testa, isso não dará certo.
– Só um momento, Senhor Rui – ela diz, tenta de novo, e de novo, e de
repente um barulho de tecido rasgando, fecho meus olhos... O tecido rasgou
de ponta a ponta, deixando a tia da Jackeline quase de calçola na rua. – Oh,
meu Deus! – ela diz apavorada. – Amélia, sua maldita, foi você que jogou
praga, sua...
A vovó e Dona Amélia se curvam de tanto rir.
– Dona Ofélia, acho melhor a senhora subir e se trocar, estamos atrasados –
bufo nervoso ao olhar no relógio.
– Inferno, puta que pariu... – E assim ela segue em direção ao prédio,
segurando o vestido rasgado e xingando.
Ligo o carro, coloco o ar condicionado em 18 graus, estou pingando de suor e
de nervoso.
Finalmente vejo sua tia vindo em nossa direção, e tenho que confessar, agora
ela está bem melhor.
– Agora sim! – A mãe da Jack diz debochada.
– Não me enche, Amélia! – ela diz mal-humorada. – Vamos, mocinho, esse
seu carro me causou um prejuízo inestimável.
– Desculpe, Dona Ofélia...
Ela não me deixa terminar a frase.
– Vamos logo!
Fecho meus olhos e inspiro.
Vai ser engraçado esse encontro.
Capítulo 78
JACKELINE BARTOLLI

C heco com a Josalice se tudo está conforme combinamos.


– Jackeline, tome o chazinho de camomila, você está um pouco nervosa!
– A Jô diz preocupada.
– Não estou um pouco nervosa, Jô, estou uma pilha de nervos! – Viro o copo
de chá no gargalo.
– Está tudo certo, Jackeline. Pode subir tomar um banho, se arrumar, eu
recebo seus sogros se eles chegarem! – ela diz atenciosa.
– A mãe do Rui não vai muito com minha cara Jô! – falo em tom de segredo.
– Que isso fique entre nós – cochicho como se alguém estivesse nos ouvindo.
– Claro, sou muito discreta – ela diz.
– Eu já percebi. – Sorrio nervosa. – Então, vou subir e me aprontar.
Giro nos calcanhares e subo para os quartos.
A ideia do Rui não é ruim, então encho a banheira de água, coloco alguns
sais, e me esparramo nela.
Tento relaxar um pouco com a água quentinha em meu corpo, acabo
cochilando e acordando com o barulho de alguém batendo na porta.
– Jackeline? – É a voz da Jô.
– Oi, pode entrar! – respondo assustada.
– Seus sogros chegaram! – Ela sorri e eu choro.
Merda, cadê o Rui.
– O Rui chegou? – pergunto aflita.
– Ainda não. Você quer que eu sirva algo para eles? – ela pergunta.
– Ofereça um vinho, eu já estou indo. – Puxo a toalha de banho, me enxugo
rapidamente e sigo apressada para o closet.
Escolhi para vestir hoje um vestido bem-comportado, amarelo, assim a
jararaca não terá um “ai” para dizer de mim.
Coloco os sapatos altos de verniz, o colar que o Rui me deu, meu anel,
prendo meu cabelo em um coque e passo apenas máscara em meus cílios,
batom, e um pouco de blush nas maçãs do rosto.
Me olho no espelho.
– Estou bem, sem exageros – falo para mim mesma.
Ok, agora a parte mais difícil, encarar a família dele, quero dizer, sua mãe,
seu pai é muito gentil.
Crio coragem, desço as escadas vagarosamente e então chego à sala.
Dou uma daquelas respiradas bem profundas, coloco um sorriso no rosto e
sigo até onde os dois estão sentados.
– Boa tarde! Desculpem se demorei um pouco – falo com o coração na boca.
O pai do Rui se vira para me olhar, abre um sorriso largo, e se levanta.
– Olá, Jackeline! Quanto tempo! – Ele me abraça bem apertado.
– Fizeram boa viagem? – pergunto nervosa.
– Sim, foi tudo ótimo! Raquel, venha cumprimentar a Jackeline – ele diz
enérgico.
A mulher se levanta com um bico maior que o mundo.
– Olá, Jackeline! Como vai? – Sua voz sai áspera, ela tem um jeito de falar
meio arrogante.
Então ela me olha com desdém e volta a sentar.
Tento não me abalar com isso.
– Estou bem – respondo constrangida com sua frieza.
Então, o pai do Rui segura em meu antebraço e sai andando comigo em
direção à área externa.
– Como estão as coisas? – ele diz animado. – O Rui me contou que agora
vocês estão morando juntos.
– Isso mesmo! – respondo meio sem jeito. – Faz pouco tempo, ainda estamos
nos acostumando um ao outro.
Ele faz alguns comentários, fala do tempo, pergunta de mim, do trabalho...
Me sinto meio zonza, mas acho que é de fome, não comi nada hoje.
– Vamos nos sentar um pouco. – Sugiro preocupada com meu mal-estar.
– Claro! – Ele me encara. – Você está bem? Está parecendo um pouco pálida!
– Não comi nada hoje, acho que é isso! – Me sento no mesmo sofá da bruxa.
– Espere um momento, vamos resolver isso. – Ele sai em disparada para a
cozinha, xingo a mim mesma por ter aberto minha latrina.
– A senhora quer comer alguma coisa, Dona Raquel? O Rui foi buscar
minhas... família! – Sorrio. – Mas, eles já devem estar chegando! – Tento ser
simpática.
– Oh, não se incomode comigo, estou muito bem! – ela diz altiva, parece uma
rainha.
Reviro meus olhos, e então vejo o pai do Rui com uma bandeja.
Me crucifico.
Eu que devia estar servindo os dois, sou uma péssima anfitriã.
Ele coloca sobre uma mesa de centro uma série de frios, bem estilo Rui.
Até nisso se parecem.
– Vamos petiscar enquanto o Rui não chega! – ele diz sorrindo.
– Oh, Doutor Toni, eu que deveria fazer isso, não o senhor... – falo
constrangida e percebo a Dona Jararaca sorrir debochada.
– Fique tranquila! Não tenho frescuras na casa de meu filho, quero dizer,
agora é a casa do meu filho e sua... – Ele disfarça e não termina a frase.
– Vou comer um desses. – Petisco alguns frios, e então ouço um barulho na
porta. – Devem ser eles, só um momento. – Me levanto, uma nova tontura,
mas me recomponho, e sigo até a porta.
Antes que eu alcance a porta, vejo o quarteto entrar, a voz e o sotaque de
minha avó podem ser ouvidos na outra esquina do bairro.
Ela está ficando surda, então falar alto a ajuda a escutar melhor
(brincadeirinha).
– Oi, como vocês demoraram! – choramingando.
O Rui gira os olhos e já imagino que não foi fácil o trajeto até aqui.
– Jackeline, minha neta, esse seu marido queria nos matar do coração – ela
diz apavorada. – Quase me mijei toda de medo. Onde fica o banheiro desse
lugar? – Ela segura no meu braço, parece realmente apertada.
– Por aqui, vovó. – A levo até o banheiro.
Retorno, olho para o Rui e pergunto.
– O que você fez, Rui, para apavorar assim minha vozinha?
Minha tia não o deixa responder, ele passa as mãos pelo rosto nervoso.
– Ele correu, minha santa, correu como um louco, quase mata a todas nós,
estava vendo a hora que ele beijaria o próximo poste! – Ela se benze. –
Nunca mais ando de carro com esse moço! Ele é louco, Jackeline, não tem
juízo.
Olho para o Rui.
– Oh, Rui!
– Jack, ou eu acelerava ou iríamos chegar aqui para o jantar, porra! – Ele me
dá um selinho. – Preciso beber, essas três quase me enlouqueceram.
Ele passa por mim desnorteado.
Então vejo minha mãe.
– Mãe, como você está bonita! – falo orgulhosa
– Obrigada, filha – ela diz timidamente. – Que bonita sua nova casa! – Seus
olhos brilham de encantamento.
– Gostou? O apartamento do Rui é lindo, não é? – respondo meio sem graça,
ainda não sinto que isso tudo é meu, ou que seja minha casa.
A sensação é estranha, como se tudo fosse provisório.
– Agora é o seu apartamento também, filha! – Ela me chama a atenção.
– Eu sei mãe, preciso me acostumar, ainda é tudo muito novo para mim.
Minha tia cochicha em meu ouvido.
– Acertou no homem querida, cheio da grana! – ela diz maliciosa.
– Que coisa feia, tia! – ralho com ela.
Ela revira seus olhos e cochicha no ouvido da minha mãe.
– Jack, vamos apresentar sua família aos meus pais! – O Rui diz, parece um
pouco estressado.
– Vamos, claro! – Faço uma oração em silêncio. – Mãe, vem comigo. – Pego
em sua mão, e a levo até os pais do Rui. – Tia, vá buscar a vovó...
O Rui se adianta.
– Dona Amélia, essa aqui é minha mãe, Dona Raquel! Mãe, Dona Amélia é a
mãe da Jack, aquela é a sua tia Ofélia, e sua avó Maria.
Minha mãe já sabe toda a história sobre mim e dona Raquel, então não é
novidade para ela que a mulher é um nojo.
– Muito prazer! – Minha mãe diz timidamente.
O pai do Rui se mete no meio.
– Ninguém me apresenta? – Ele diz bem-humorado. – Sou Antony, pai desse
jovem aqui! – Ele segura com firmeza o braço do Rui, parece muito
orgulhoso do filho.
Logo ele está apertando as mãos de todas as três, muito animado, e simpático.
– Vamos nos sentar, estávamos eu e a Jackeline comendo essas besteiras
enquanto vocês não chegavam.
Sorrio com seu jeito, ele é tão simpático, não sei como pode ser casado com
uma mulher tão antipática.
O pai do Rui fala muito, mal dá espaço para alguém falar.
– Seu pai está falante hoje! – falo em tom de brincadeira.
– Melhor assim, Jack. Antes ele falando do que sua tia e sua avó! – Ele bufa
cansado.
– Elas deram muito trabalho? – cochicho em seu ouvido, bem carinhosa, ele
merece muito carinho, só de aguentar essas três ele é um santo.
– Puta que pariu! – Ele bufa novamente.
O abraço discretamente e beijo seu rosto.
– Obrigada, meu amor!
Ele me olha e sorri.
– Obrigada, não. Quero um pagamento bem gostoso!
Dou risada do seu jeito.
– Ok, você escolhe qual o pagamento que você quer, ou como você quer! –
falo maliciosa.
– Eu já sei! – Ele bebe seu uísque. – Opção dois...
Dou risada de novo.
– E o que é a opção dois?
– Opção dois é o... – Ele não termina de falar, porque um alvoroço se instala
na sala.
Olho confusa, e então vejo vovó colocando terror.
– A senhora se acha melhor que nós, fica aí com essa pose de rainha da
cocada...
Meu pai, me socorre.
– Mãe, cala a boca da vovó!
Minha mãe dá a volta na sala e levanta minha avó do sofá, e diz:
– Desculpem, mamãe está um pouco agitada com a viagem. – Ela ri, mas
acho que é de nervoso.
A vovó se senta ao meu lado.
– Não gostei dessa mulherzinha metida.
– Vó, por favor! – Imploro.
– Jackeline, sou uma mulher de quase 80 anos, não gosto de falsidade.
– Ok, vovó, mas só hoje, não fale grosserias para ninguém, por mim ,vovó!
Ela cochicha alguns palavrões e finalmente se cala.
Aos poucos o assunto volta à rodinha de pessoas, e realmente vovó tem
razão, Dona Raquel destoa do grupo.
Finalmente a Jô avisa que o almoço está servido.
Nos levantamos, e mantenho minha avó ao meu lado.
O clima poderia estar desagradável com a atitude hostil da mãe do Rui, mas
não está, porque o pai do Rui e ele mesmo falam muito, fazem brincadeiras, e
contam piadas, deixando o clima leve e agradável.
– O almoço estava ótimo, Jackeline! – O pai do Rui diz cavalheiro.
– Obrigada, Doutor Toni. Mas, as honras são da Josalice, a empregada do
Rui.
– Nossa empregada, Jack! – O Rui me corrige pela segunda vez.
– Isso. Ainda não me acostumei. – murmuro.
– E você, Dona Amélia, está feliz com a união do Rui e de sua filha? – O pai
do Rui pergunta, me deixando meio nervosa.
Minha mãe limpa a garganta e diz com firmeza:
– Sim, eu, minha irmã e minha mãe, estamos muito felizes. O Rui é um rapaz
maravilhoso. – Olho para o Rui e vejo seu sorriso satisfeito. – Ele é muito
amoroso, atencioso, e apaixonado pela minha filha, e isso é tudo que uma
mãe quer. Ele se tornou meu filho de coração. – Ela cobre a mão do Rui com
a sua e se emociona, e me emociono junto.
– Obrigado, Dona Amélia! – O Rui diz emocionado, é difícil vê-lo assim,
mas já o conheço o suficiente para saber todas as suas nuances. – O
sentimento é recíproco. – Então ele beija a mão de minha mãe.
Ele é lindo demais.
Meus olhos enchem de lágrimas.
Mamãe se recompõe e sem que eu esperasse, ela diz:
– E a senhora, Dona Raquel? Está feliz com a união dos nossos filhos?
O Rui aperta minha coxa, engulo em seco, olho por entre os cílios para a
víbora e ouço...
– Não podemos escolher para nossos filhos quem queremos para eles. – Ela
se cala.
Abaixo meus olhos entristecida.
– A senhora não sabe o que está perdendo, criei com esmo minha Jackeline,
não somos ricas, mas ela é uma moça educada, religiosa e de família.
Tento impedi-la de continuar, mas não consigo, ela está magoada por mim,
por ver o jeito que a mulher me trata.
– Não estou muito preocupada com isso. – A víbora responde.
Ouço a voz do pai do Rui ao fundo, provavelmente tentando controlar a
cobra.
– Mas deveria! – Mamãe se altera, levanta da cadeira e encara a bruxa.
– Mãe, por favor... – Suplico a segurando.
– Me desculpem, mas não consigo me sentar à mesa com uma pessoa que não
queira bem a minha filha! – Minha mãe diz magoada.
– Rui, me ajuda, minha mãe está perdendo a cabeça. – Me levanto
rapidamente. – Mãe, por favor, vamos tomar um arzinho.
Meu coração bate freneticamente.
O Rui dá a volta na mesa, tenta tirar minha mãe.
– Me desculpe, Rui, por estragar seu almoço. Vamos pedir um táxi para
irmos embora.
Me desespero com a situação.
Foi muito pior do que eu pensava, minha mãe estragou tudo.
– Por favor, mãe, não faça isso! – falo chorando.
– Me deixe, Jackeline!
Fecho os olhos e ouço novamente a voz da víbora...
– Não sou obrigada a gostar de sua filha... – Me viro lentamente para olhá-la.
– -Meu filho era noivo de uma jovem brilhante como ele, eles iriam se casar
em alguns meses, mas então sua filha apareceu, seduziu meu filho usando
roupas escandalosas, parecia uma prostituta quando a vi na casa de meu filho.
Foi rápido, muito rápido, mas quando me dei conta, minha mãe estava em
cima da megera, arrancando seus cabelos, e a xingando de tudo o que é nome.
– Ninguém chama minha filha de prostituta. – Minha mãe diz insana,
arrancando os cabelos da velha.
Correria, confusão, gritaria...
Fiquei parada no meio da sala de jantar, desnorteada, vendo as duas se
engalfinhando, enquanto o Rui e seu pai tentavam desgrudar as duas, e vovó
e titia gritavam gritos de guerra do tipo: “arrebenta ela, Amélia!”
De repente, sinto novamente aquele torpor, minha visão escurece, uma falta
de ar, um mal-estar...
– Rui! – Só tive tempo de dizer isso, tudo escureceu, tentei me segurar em
algo, mas minhas pernas vieram abaixo.
Senti apenas o impacto do meu corpo sobre o chão.
Apaguei literalmente.
****

Desperto sentindo o mundo girando.


– Jack! Jack! – A voz do Rui buzina no meu ouvido.
– Está tudo girando – falo tonta.
– Eu vou ligar para o meu amigo e pedir para ele mandar uma ambulância. –
Ouço o pai do Rui dizer.
– Calma, pai, ela só ficou nervosa. – O Rui acaricia meus cabelos. – Você
está melhor, Jack?
– Rui, ela bateu a cabeça na queda! – Ouço a voz nervosa do pai do Rui. –
Vamos levá-la logo a um hospital.
Me apavoro com a ideia de ir a um hospital, fazerem exames em mim, e por
fim o Rui descobrir.
Oh meu Deus!
– Não, não precisa! – Minha voz sai fraca.
Mamãe chora ao meu lado.
– Foi tudo minha culpa! Me desculpe, Jack! – ela diz aos prantos.
– Está tudo bem, mãe... – Tento me sentar, minha cabeça está girando. – Me
deixe subir para o quarto.
O Rui segura minha mão, me amparo no sofá, a vertigem aumenta, dá um nó
em meu estômago, e de repente, um jato de vômito incontrolável lava o chão
e todos que estavam próximos.
– Oh, porra! – O Rui xinga, dei um banho nele.
– Minha Virgem Maria, leve essa menina para o médico! – Minha mãe diz
apavorada.
– Preciso me deitar! – falo, choro e me deito no sofá novamente, fecho os
olhos e tudo gira.
– Rui, se você não a levar no médico, eu levo! – Seu pai pega em minha mão.
– Espera, pai! Mas que caralho! – ele diz nervoso. – Eu preciso me trocar,
porra! Josalice!!! – ele grita histérico. – Limpa essa sujeira! Oh, meu Deus,
que nojo! – Ele reclama.
Tampo meus olhos com minha mão e tento me recompor.
Alguns segundos se passam, um zum zum zum irritante na sala, todos
cochicham, parece que estou nas últimas!
De repente, sinto o meu corpo ser levantado.
– Vamos, Jack, a gente vai até um hospital.
– Não precisa... – reclamo.
– Fica quietinha, Jack, só não vomita em mim novamente.
– Eu irei com minha filha! – Minha mãe diz.
– Eu também... – Minha avó diz.
– Eu também... – Minha tia diz.
O Rui bufa.
– Vocês ficam aqui, logo dou notícias da Jackeline! – O Rui diz apressado.
– De jeito nenhum, todas iremos! – Mamãe diz nervosa.
– Ok, ok, vocês vão com meu pai! Pai, leve elas. Vou colocar a Jack deitada
no banco de trás.
A sensação do elevador descendo em nada está colaborando com minha
vertigem e com meu estômago.
Quando finalmente chegamos ao térreo, estou completamente nauseada.
– Me põe no chão, Rui!
– Por quê? – Ele me olha confuso.
– Vou vomitar...
Foi o tempo de ele me colocar no chão e eu lavá-lo.
– Oh, Jack, mas que merda!
Começo a chorar, estou grávida, agora tenho certeza.
– Não chora, Jack! – Ele me pega no colo de novo. – Você ficou muito
nervosa, foi isso. É só tomar um sorinho com um sossega leão. – Ele sorri.
– É... – respondo sem humor.
O caminho até o hospital foi um inferno, uma salivação louca, vontade de
vomitar, cabeça girando.
Finalmente me colocam em uma maca. A enfermeira coloca aqueles
medidores de pressão.
– Oh, a pressão dela está muito baixa! Você é gestante, querida? – A
enfermeira diz tirando minha pulsação.
O Rui olha assustado para a enfermeira.
– Não! – digo rapidamente.
– Vou chamar a médica para te examinar!
Suo frio de medo.
Olho para o Rui, ele olha para mim.
– Daqui a pouco você estará melhor! – ele diz carinhoso.
Concordo com a cabeça.
Uma moça jovem chega apressada.
– Olá, Jackeline! – Ela checa meu coração, meus olhos... – Quando foi a data
de sua última menstruação? – Ela me olha com firmeza.
– Não me lembro! – Olho de relance para o Rui.
– Você já foi mãe, Jackeline?
– Não! – respondo tensa.
– Usa algum método anticoncepcional? – Enquanto ela fala, olho o Rui.
Ele se afastou da cama, anda nervosamente pela sala, esfrega seu rosto.
– Jackeline?
– Pílulas.
– Ok. Vamos colher seu sangue, e verificar se não há o risco de uma
gravidez, enquanto não fica pronto, vamos colocar em você um soro com um
medicamento para diminuir essa vertigem e para náuseas também. – Ela sorri.
A enfermeira tira meu sangue, e em seguida coloca o soro em minha veia.
– O exame leva uns 15 minutos para ficar pronto! – ela diz com um sorriso. –
Eu já volto.
Fecho meus olhos e tento não pensar que daqui a pouco descobrirei se meu
grande sonho está concretizado.
Mas, não sei qual será a reação do Rui. Provavelmente, será péssima.
– Jack, tem alguma coisa que você queira me falar? – Ele me encara
seriamente.
– Não. Vou tentar dormir, Rui, estou muito tonta ainda.
Fecho meus olhos e o ouço bufar nervoso.
Logo a tontura passa, e cochilo.
****

Desperto com um barulho em meu ouvido. Abro os olhos, e encontro meia


dúzia de olhos em mim.
– Acordou, filha? – minha mãe diz apavorada. – Estamos todos muito
preocupados com você, Jack!
– Eu estou melhor, talvez eu já possa ir... – Olho para o Rui.
– Não, Jack, precisa aguardar o médico ou a médica virem até o quarto, não
sabemos o que você teve ou tem. – Ele arregala seus olhos claros.
Minha avó e minha tia se sentam em um sofá e contam histórias de desgraças,
doentes terminais, erros médicos, bactérias hospitalares, e então um homem
com um jaleco branco entra no quarto, olha aquele mundo de gente e fala:
– Todos estão aqui por causa da Jackeline? – Ele pergunta bem-humorado. –
Essa moça deve ser muito querida.
Ele se aproxima, e me examina novamente.
– A pressão já voltou ao normal, assim como a pulsação. – Ele sorri. – O
senhor é o companheiro da Jackeline? – Ele sorri para o Rui.
– Sim...
Sinto uma taquicardia.
– Gostaria de parabenizá-lo, sua esposa está grávida!
Meu Deus!
Acho que agora vou desmaiar de vez.
– Grávida?! – Ouço essa palavra dezenas de vezes, como em um eco, em
diferentes tons.
– Sim... – ele diz sorrindo. – Essa moça está gravidíssima! Parabéns,
Jackeline, desejo a você e ao bebê muita saúde!
Não consigo responder, apenas repito a frase.
– Eu estou grávida! – falo comigo mesma.
– Você já pode ir para casa. Se tiver mal-estar, tome esses medicamentos,
mas procure uma obstetra para orientar você.
Ele olha para todos.
– Parabéns, família! – Faz um gesto com a cabeça e sai.
Olho para todos, e sinto um misto de emoção e surpresa.
– Você está grávida, Jack! – mamãe diz extasiada. – Nossa Senhora do bom
parto ouviu minhas preces!
O pai do Rui se aproxima da cama, aperta e beija minha mão com tanto
carinho, que me emociono.
– Obrigado, Jackeline! Essa criança será muito amada e querida por nossa
família. Estou muito emocionado. – Seus olhos brilham com as lágrimas.
Olho para o Rui, mas ele não olha para mim.
Recebo cada beijo e abraço da minha família, então, o pai do Rui tira todos
do quarto, deixando nós dois sozinhos.
Finalmente ele me olha, e não tem alegria em seu olhar.
– Você me enganou, Jack! Engravidou pelas minhas costas.
Uma emoção forte vem ao meu peito.
– Eu... – Penso em mentir, dizer que foi sem querer, mas não posso fazer isso,
preciso assumir o que fiz. – Me desculpa, Rui, eu confesso, parei de tomar o
anticoncepcional logo que soube que havia perdido um dos meus ovários, não
pensei muito, apenas no meu desejo de ser mãe, fui egoísta, eu sei! – As
lágrimas inundam meus olhos. – Não achei que conseguiria, acho que foi um
milagre... Eu quero esse bebê, Rui, e se você não quiser, não se preocupe, eu
vou tê-lo sozinha.
– Eu confiei em você, Jackeline, você agiu pelas minhas costas. – Ele parece
indignado comigo. – Eu nunca deixei nenhuma mulher entrar assim na minha
vida, achei que você era diferente, mas acho que a única preocupação que
você tinha esse tempo todo era foder comigo para engravidar.
– Não é verdade – falo magoada. – Eu amo você!
– Não tenho mais certeza disso, aliás, em relação a nada que diz respeito a
você! Você me usou, Jackeline, para engravidar do filho que você tanto
queria. Não tem nada a ver comigo, eu sou só o trouxa que te deu os
espermatozoides, não é mesmo? – Seu tom de voz sai cortante, cheio de raiva
e rancor.
– Eu me apaixonei por você muito antes de tudo isso, Rui! Nunca planejei
engravidar de você, mas não me culpe por ter esse sonho... Você nunca iria
concordar, porque para você isso não é importante. Eu nunca quis me
aproveitar do nosso relacionamento, talvez eu não achasse que engravidasse
de fato, aos poucos estou ficando estéril. Mas eu engravidei, e do homem que
amo, e se você me ama de verdade, você me perdoará e ficará feliz, que não
seja por você, mas por mim! – Limpo minhas lágrimas.
– Eu não consigo! – ele diz friamente. – O que você fez foi um daqueles
golpes baixos para arrancar dinheiro de um idiota desavisado.
Suas palavras entram no meu coração e me ferem de verdade.
– Eu não preciso de você para ser mãe, não preciso do seu dinheiro, do seu
nome, de nada seu, você nem verá a cara dele, não se preocupe! – Me
levanto, pego minha bolsa, desvio do seu corpo, abro a porta e saio pelo
corredor.
Vejo minha mãe conversando com minha tia e minha avó, o pai do Rui me
olha confuso, mas não dou tempo dele se aproximar.
– Vamos pegar um táxi! – Sigo na frente.
– Aonde você vai, Jackeline? E o Rui? – minha mãe diz nervosa.
– Não tem mais Rui, mãe, acabou! – falo aos prantos.
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ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL

VOLUME 2
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