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A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

Relacionamentos BDSM:
TPE (Total Power Exchange – Troca Total de Poder).
É a forma mais intensa de uma relação, onde o submisso dá total autonomia ao Dominante
para governar todos os aspectos da sua vida. O bottom é escravo dentro e fora de cena. Esse
tipo de relacionamento é mais frequente entre Mestre e escrava.
PPE (Partial Power Exchange – Troca Parcial de Poder).
É onde o bottom assume a postura de submisso na sessão e no relacionamento. Nesse caso, o
bottom tem direito de tomar a iniciativa e até mesmo de opinar. Praticamente, ele decide até que
ponto o Top pode ou não comandar. É a modalidade D/s mais comum.
EPE (Erotik Power Exchange – Troca de Poder Erótico).
Nessa tríade o bottom assume o papel de submisso apenas nas sessões. Fora dela, o
relacionamento entre Top e bottom toma outro rumo, algo mais convencional como amigos,
namorados, companheiros ou até mesmo casamento.
Nome dado aos bottoms (há mais do que os descritos aqui, mas como não vou citá-los no livro,
achei desnecessário colocar).
Servo (a): uma ou várias pessoas que servem a alguém.
Submisso (a): pessoa que submete a outra por prazer. Seu foco é a submissão.
Masoquista: pessoa que sente prazer na dor. Geralmente não são submissos, são pessoas
distintas que não gostam de jogos de dominação. É raro quando acontece o contrário. Buscam
apenas a relação S/m.
Escravo: são os que vivem mais intensamente dento da relação. Se entregam em maiores
proporções do que servos, sentem mais, seus limites são maiores devido à intensa entrega. Seus
fetiches são literalmente baseados no prazer do Top.
SAM: (Smart Ass masochist). São bottoms masoquistas não submissos, quer dizer, são submissos
apenas para provocar o Top. Assume ser submisso apenas para provocar e receber castigos.
Siglas usadas nas sessões ou fora delas, e a explicação de algumas práticas.
Dungeon: calabouço.
BBW (Big Beautifull Woman): Mulheres gordas, bonitas e atraentes.
Cunt Totura: intensa estimulação ou dor causada nos genitais femininos.
Safeword: palavra de segurança. Safe é um direito elementar e fundamental para todos os
bottoms. Usado – com sabedoria – para parar uma sessão ou cena.

Bases ou pilares do BDSM

SSC – São, seguro e consensual.


O SSC foi a primeira tríade a ser criada para a segurança de todos os participantes do estilo
de vida BDSM, porém devido a alguns acontecimentos rumurosos, no qual deixou a comunidade
BDSM preocupada, o caso foi parar na lista da USENET americana, onde foram discutidos e
definidos muitos desses princípios. Diante das discussões, críticas e diferentes conceitos, o SSC foi
consagrado como uma forma razoável de consensualismo, e que que devido às críticas e
observações fora acrescentado algumas bases dentro do SSC:
RACK: Perversão Consensual Consciente de Risco.
R – Risk Aware – Determinação de Risco: Onde ambos ou todos os parceiros estão bem
informados sobre os riscos envolvidos na sessão.
C – Consensual: Ciente dos riscos, ambos ou todos os parceiros têm, de bom entendimento, o
consentimento preliminar para se envolver na referida atividade.
K – Kink – Perversão: A referida atividade pode ser classificada como sexo alternativo.
RISSCK: Fetiche Consensual, Seguro e Sã com Riscos Informados.
Base mais usada na relação 24/7. Análise minuciosa de riscos. É usada em técnicas mais
complicadas, ainda assim, segura e são. O RISSCK possui palavra de segurança.
PRICK: Perversão Consensual de Riscos Informados baseados na Responsabilidade Pessoal
Atividades NÃO seguras, praticadas consensualmente por ambas as partes. Usada em cenas.
PR – Responsabilidade pessoal: Significa que a responsabilidade em primeiro lugar vem de
quem pede a atividade e em segundo lugar de quem a aplica.
I – Informado: A responsabilidade de como será feito e aplicado é avaliada e transferida
para o autor.
CK – Fetiche consensual.
Nessa base os riscos não são analisados, apenas assumem as consequências e as
responsabilidades sobre eles, sob um termo assinado por ambas as partes. Geralmente usado em
cenas hardcore. Tudo é permitido, desde que os responsáveis assinem o termo.
CCC: Committed, Compassionate and Consensual. Comprometido, Compassivo e Consensual.
Comprometido: Ligado a algo ou a alguém responsável. Ambos estão comprometidos um com o
outro e o Top é responsável pelo bottom.
Compassivo: Compadecido, piedoso. O Top faz o que bem entender com o bottom – com
responsabilidade – estando este à mercê do bom senso do Top.
Consensual: Autorização, permissão, acordo. Todas as atividades devem envolver o
consentimento integral de todos os envolvidos.
Quinze anos atrás...

Willian

L orraine, para mim era a garota mais linda da faculdade. Ela tinha altura
mediana, com curvas o suficiente para levar qualquer homem à loucura.
Seu cabelo era de um loiro tão claro, que ao sol parecia ser branco e
eram longos até à cintura. Os seus cílios e pelos do braço eram tão loiros quanto os dos seus
cabelos, seus olhos variavam de um verde a um azul, dependendo da cor da roupa ou sobre a luz
do sol. Seu rosto era anguloso e delicado, tinha o contorno da boca em formato de coração...tudo
nela era extremamente simétrico.
Entretanto, apesar da beleza harmoniosa, ela tinha um olhar de mulher frustrada e, ao mesmo
tempo, de menina travessa. Era como se ela estivesse esperando para se descobrir. Eu entendia
bem aquela frustração, às vezes sexo era tão sem graça... Como se faltasse algo. Às vezes eu
sentia a intensa necessidade de bater, xingar, morder, dar umas boas bofetadas, mas não tinha
coragem. O medo era algo real, tanto quanto o desejo. Era uma guerra contínua, eu pressentia
que ela tinha a mesma necessidade, ou talvez, desejos e fantasias similares.
Aos poucos fui me aproximando, tentando de alguma maneira descobrir seus desejos e seus
segredos. Eu queria saber porque uma mulher tão linda era tão frustrada. Suas respostas evasivas
e muitas vezes mordazes, não me faziam recuar, pelo contrário, instigava-me ainda mais. Ela era
como um quebra cabeça, aproximar-me dela foi a coisa mais difícil que já tive que fazer em
relação a uma mulher. Ela era como uma concha, arredia, estava sempre sozinha e eu nunca a
tinha visto com um homem. Às vezes eu me perguntava se valia o esforço... Nossas conversas eram
sem nexo e muito evasivas.
Um certo dia, eu a encontrei chateada, tentei conversar, porém sua frustração era tanta, que
ela não falava coisas que fizessem sentindo. Resmungava palavras incoerentes, alguns murmúrios
de ofensas masculinas e nada mais. O desejo de mandar a garota ir à merda era enorme, porém
minha curiosidade não me permitia, ela me instigava diariamente.
Algumas semanas depois do seu desabafo nada comum, ela parou para conversar comigo,
estava mais receptiva e mais aberta a um diálogo. Ali eu parei de tentar entendê-la. Era
desconcertante de muitas maneiras, parecia um quebra cabeça faltando peças, talvez até mesmo
com peças de outro jogo. Entretanto ela havia me surpreendido em me convidar para sair. Eu
queria foder aquela loira até arrancar dela toda aquela frustração, ainda assim, não aceitei seu
pedido de imediato. Disse que daria a ela um retorno, que precisava verificar alguns arranjos que
eu havia feito para aquele fim de semana. Ela aceitou numa boa, afinal eu não esperava o convite
e acreditava que não tinha vindo de algo pensado, mas sim impulsivo.
Eu queria fazê-la esperar, apenas pela satisfação, pelo prazer. Aquela ideia me agradava
muito mais do que o próprio encontro. Eu corri meses atrás dela, então era justo devolver a
gentileza. Passei os próximos dois dias sem falar com ela, assim também ela o fez, “a mulher era
dura na queda”, pensei intrigado. Deixei rolar naturalmente. Claro que a expectativa para sábado
era além do habitual, mais como uma ansiedade, um frio na barriga, sentia-me como se fosse a
minha primeira vez.
Mandei um sms para ela dizendo que estaria em sua casa depois das sete da noite. Pensei
que, se ela tivesse a fim de sair comigo no sábado, não teria marcado um encontro com outra
pessoa. Entretanto, havia outra coisa me incomodando, eu desejava algo mais excitante, não era
apenas ansiedade, era o desejo de realizar todas as minhas fantasias que aumentavam em
velocidade alarmante. Tinha algo nela que me despertava aqueles desejos como ninguém mais, era
incontrolável e um pouco aterrador. Definitivamente uma explosão de adrenalina.
Ela não respondeu à minha mensagem e, diante disso, resolvi não aparecer. Na segunda-feira
fui para a faculdade como se nada tivesse acontecido no sábado. Ela tinha me convidado para
sair, disse que ia ver, mandei mensagem dizendo que iria e depois ela não respondeu nada, então
não fui. Era simples assim, entretanto, não pareceu ser tão simples para ela. A mulher simplesmente
me ignorou – apesar de seus olhares mordazes dirigidos a mim – nada mais aconteceu. Volta e
meia eu percebia que ela estava me encarando, mas quando eu olhava, ela virava o rosto. Era um
jogo infantil, mas a sensação era boa.
Eu resolvi esperar, afinal, se ela tivesse interesse em sair comigo, ela voltaria a me procurar.
Durante toda a semana ela se manteve firme, ficou na dela e eu na minha. Estava respeitando o
espaço dela, de modo que fiquei no meu canto e tentei ser o mais paciente possível. Na sexta-feira
ela não se aguentou e veio falar comigo, um erro dela, claro. Ela teve a semana inteira para falar
comigo e não disse uma única palavra, quando foi na sexta-feira, me deu um ultimato do tipo: ou
dá ou desce. Acreditei nela e para não perder a gata, aceitei sair com ela naquele mesmo dia.
Toda a minha euforia, ansiedade, tensão, stress, frustração e medo, eu liberei à tarde no
ringue. Mais de três oponentes depois, senti a carga de adrenalina ceder um pouco, não muito, o
suficiente para obter um pouco de controle das minhas emoções. O desejo que eu tinha de pegar
aquela garota era fora do comum. Todos aqueles profanos desejos, fantasias e um bocado de
putaria, elevava meu patamar de ansiedade. Eu não sabia o que significava, mas estava em todo
lugar. Era como um outro eu, não existia para outras pessoas, mas era o meu companheiro diário.
Eu cheguei à sua casa, por volta das sete da noite, não tínhamos um horário definido. Saí do
carro e bati a campainha da casa. Eu não era um moleque, fui criado para ser um homem com
princípios, porém isso era eu, não fazia a menor ideia de como era a garota em relação aos seus
pais, então sim, a situação era um pouco enervante. Não tive tempo para processar o nervosismo,
pois a garota saiu de dentro da casa, com um vestido preto colado em suas curvas e botas de
cano longo e salto alto. Aquelas botas possuíam um “foda-me”, fora do comum.
Ela entrou no meu carro antes mesmo que eu tivesse tempo para tomar um fôlego. Aquelas
botas eram incrivelmente sexys, a mulher era ainda mais linda quando usava preto. Não conseguia
acreditar no que meus olhos viam, tanto que banquei o tolo, ficando parado na porta da casa
dela. Ela era o tipo de mulher que não entregava nada, mas o olhar safado estava lá para quem
sabia identificar. Meu pau pulsou com todas as possibilidades, principalmente com a de fodê-la,
usando aquelas malditas botas.
O cheiro de sândalo assaltou meus sentidos assim que entrei no carro, acentuando minha
confusão por longos segundos. Eu simplesmente não conseguia tirar os olhos dela, já os seus eram
perspicazes, aquele que mostravam que ela havia acertado em cheio, e ela tinha. Porra a mulher
estava fantástica!
— Estou feliz em satisfazê-lo. — comentou, irritada. — Sempre tenho esse feito, mas acabo me
frustrando depois.
Pensei em uma réplica rápida para dar a ela, mas nada vinha... ao menos não no momento.
Arranquei com o carro antes que ela decidisse que não era uma boa ideia e voltasse para casa.
Aos poucos fui me acostumando com sua presença exuberante e extraordinária. Por longos minutos
eu apenas dirigi, tentando veemente obter um pouco do meu controle. Apertei o volante,
descarregando um pouco de adrenalina que corria pelo meu sangue. O desejo de agarrá-la pelos
cabelos e enfiar o meu pau dentro de sua boca até que ela engasgasse, era esmagador.
— Acredito que, independentemente de se tornar uma relação ou apenas uma noite... —
Comecei lentamente, a fim de fazê-la entender o que eu queria para a noite. — ...o diálogo é
sempre a melhor saída.
— Talvez... — disse, pensativa. — ...ou talvez nem sempre as pessoas estão dispostas a ouvir.
— Ou algumas vezes não sabem explicar. — sugeri, tentando mostrar a ela que eu a entendia
mais do que ela imaginava.
— Fica difícil ser ouvida quando nem eu sei o que quero.
— Eu te entendo.
— Duvido muito disso. — afirmou erroneamente, com uma pitada de sarcasmo.
Não gostei da sua reação, primeiro porque ela não me conhecia, havíamos conversado
algumas vezes sim, apenas coisas sem importância, um papo cotidiano. Segundo, a Lorraine não
tinha ideia de quantas pessoas existiam com a mesma dificuldade em se expressar ou com pouco
conhecimento sobre elas mesmo.
— Porque acredita nisso? — indaguei, intrigado.
— Porque você é um garoto. — respondeu, deixando-me irritado.
Garoto? A palavra desceu acidamente pela minha garganta. Eu queria bater em sua bela
bunda, até ela comer a palavra. A ideia de deixar aquela parte tão lindamente arredondada
vermelha com as marcas da minha mão, deixou-me muito excitado. Pigarreei incomodado com as
cenas que minha mente criava. Um roxo, quase negro, talvez um vermelho sangue... Lágrimas
derramando dos seus olhos... Porra! Engoli em seco o nó na garganta. Minha mente não parava,
pelo contrário, ela trabalhava em dimensões que iam além do aceitável.
— Não concordo com você. — rebati friamente, com o intuito de deixar claro que seu
comentário havia me ofendido. — Não acho justo você me julgar pelos seus casos malsucedidos.
— Duvido que saiba explorar a sexualidade de uma mulher como ela necessita, mas que não
sabe o que deseja.
— É retórico. — repliquei, tentando fazê-la compreender. — Agora há pouco disse que o
diálogo era a melhor saída.
— Palavras não explicam o meu desejo. — E ali estava sua frustração, era tão grande quanto
a minha.
A minha vontade de bater na hora do sexo era assustadora. Eu tinha desejos estranhos com
agulhas, facas, cordas, algemas... coisas que para muitos era motivo de internação e cadeia. Às
vezes – até mesmo para mim – era horrendo e distorcido. Muitas vezes até eu mesmo me julgava.
Eu gostava de vídeos pornôs onde a mulher era violentada, onde ela era espancada e mais,
gostava quando ela era humilhada. Havia algo extremamente erótico naquelas cenas e me dava
muito tesão. E também havia o desejo crescente em subjugar uma mulher. Estava em mim o desejo, o
anseio de controlar a situação, não era questão de ego, talvez fosse um pouco, mas era algo nato,
estava em mim e ponto final.
A garota ao meu lado era observadora, conversava pouco, respondia com réplicas mordazes
e era muito reservada. Para algumas pessoas, aquele lado dela podia ser cansativo, para mim era
individualidade e privacidade. Algo em mim, desejava explorar aquele ocultismo, ir a fundo nos
seus desejos. Queria ser o único a desvendá-la...
— Está a fim de explorar esse lado desconhecido? — indaguei, receoso e ao mesmo tempo
esperançoso.
— O que tem em mente?
— Descoberta, diálogo, algumas explorações... Algo diferente do habitual.
Como tomar umas bofetadas, morder, apertar, espancar aquela bunda gostosa... Obviamente
não disse nada daquilo que minha mente projetava, mas quem sabe? Talvez ela precisasse de um
sexo mais duro, assim como eu precisava ser mais agressivo.
— Gosto da ideia, mas não sei se vai dar certo...
— Tudo bem se você não quiser ir. — respondi honestamente, porém um pouco frustrado com
sua dúvida.
Não adiantaria em nada tentar ajudar, se ela se negava a tentar algo diferente. A exploração
era a melhor saída para os dois. O desconhecido, as fantasias enterradas, deixar sair aquela
frustração através de sexo-dialogado. Algo do tipo, gosta disso? Um pouco mais duro, mais fácil,
mais assim ou assado. Seria um teste de paciência, mas o intuito não era se descobrir? Para mim
era válido, meditei calmamente.
— Eu quero, só estou cansada de tentar e continuar na mesma.
— Não custa tentar. — incitei, tentando fazê-la entender que podia ser prazeroso a busca
pela descoberta. — Podemos experimentar coisas diferentes, vamos testando um ao outro até
sabermos que caminho seguir.
— Certo.
— Podemos ir para um motel ou prefere a minha casa? — Não faria outra pergunta. Não
daria a ela a chance de voltar atrás. Ela tinha apenas duas escolhas: motel ou minha casa.
— Mora sozinho?
— Sim, meus pais moram em São Paulo.
— Eu acho que prefiro o motel.
— Sem problemas.
— Se eu não gostar...?
— Eu paro. Juro para você, que não vou fazer nada contra a sua vontade.
Jamais faria algo que ela não quisesse. Muitas vezes meu tamanho passava a impressão
errada para as pessoas em geral. Eu tinha 1,96 cm, era lutador de boxe e fazia faculdade de
educação física. Nunca precisei tomar bomba na minha vida, minha genética era hereditária. Minha
mãe era uma mulher alta e meu pai não ficava atrás. Além de sua altura ele tinha 120kg de pura
massa muscular. Ele e meu avô foram profissionais no boxe, minha paixão pelo esporte vinha deles.
Jamais usei da força física para subjugar alguém, independente do sexo.
Morávamos no Recreio dos Bandeirantes e eu curtia um motel que tinha ali na avenida das
Américas. Era um dos melhores motéis da região, quartos muito bem equipados, uma hidro
gigantesca e mais, um sofá erótico de frente para o espelho que dava para ver tudo, de todos os
ângulos.
Ao chegarmos ao motel olhei para ela, pensando em uma maneira de dizer que se ela
quisesse desistir, aquele era o momento. Depois que estivéssemos lá dentro, então seria à minha
maneira. Não queria assustá-la, pelo contrário queria deixá-la à vontade para decidir ficar ou
partir.
— Você quer seguir em frente?
— Sim. — respondeu prontamente, me fazendo agir e pedir uma suíte.
Ela desceu me acompanhando, com passos firmes, ombros retos e expressão determinada.
Cada um tinha uma maneira de agir dentro de um motel, a minha preferência era foder, depois
curtir o local e depois, foder novamente. Contudo, naquele dia se tratava de exploração, o ato da
penetração não estava em primeiro lugar. Eu queria testar, sentir, provar e avançar.
—Vamos às regras. — comentei, assim que entramos.
— Regas? — indagou, mordendo os lábios.
Ela estava nervosa e a percepção do seu estado, elevou meu tesão. A mordida que ela deu no
seu lábio inferior quase a feriu, chamando-me a atenção. Era erótico, gostoso e eu queria mais,
queria ser eu a morder ali, naqueles lábios macios.
— Sim. — afirmei, me aproximando, fazendo ela recuar para trás.
— Que tipo de regas?
— Estamos no escuro aqui. — comentei, voltando a me aproximar. — Precisamos estar cientes
do que vamos fazer, sentir, desejar e explorar.
— Ok... — concordou, estremecendo.
Não pude evitar de sorrir ao ver seu medo. Seus olhos estavam arregalados, o queixo
tremendo, corpo arrepiado e ela torcia uma mão na outra. Interessante... por mais certo que fosse
mantê-la calma, minha mente dizia para assustá-la ainda mais.
— Se você disser pare, eu paro. — afirmei, dando mais um passo em sua direção. — Vou
testar várias coisas que eu tenho em mente, mas se você não estiver disposta a testar isso ou aquilo
é só me avisar.
— O que... o que... você pretende... — Ela não estava nervosa, estava apavorada.
Eu tinha o dobro do seu tamanho em altura e largura. A ideia de um homem tão imponente
diante dela, a deixava acuada. Parecia um coelhinho assustado. Resolvi retroceder e dar a ela
espaço ou não sairíamos do lugar. Voltei para perto da cama e me sentei a fim de ficar em
igualdade. Talvez o meu tamanho era opressor demais para a garota. A ideia era explorar os dois
lados, os dois desejos e me impor não estava funcionando.
— Vem aqui. — pedi, na tentativa de fazer uma abordagem diferente.
Mesmo amedrontada, ela fez o que pedi sem tirar os olhos dos meus. Havia neles um tipo de
desafio, ela não recuava, não encolhia sua postura e mais, seus passos eram firmes. Tudo nela era
contraditório ou eu estava fazendo a leitura errada.
Ela tinha um belo corpo, curvas acentuadas, quadril largo e uma bunda... As roupas que ela
usava escondiam toda aquela beleza. Eu nunca tinha reparado no seu corpo, pois seus cabelos e
olhos chamavam muita atenção. E também, para mim, particularmente, quanto mais cheinha, melhor.
— Tire seu vestido. — Ela fez sem delongas, aparentemente era confortável com seu corpo.
Gostei disso.
Ela não usava calcinha e sua bocetinha era depilada, o que foi uma agradável surpresa. Seus
seios eram redondos, do tipo certo para minhas mãos, com mamilos rosados. Coloquei minha mão
nas suas costas, puxando-a para perto de mim. Meu rosto ficou na altura dos seus seios, com a
boca salivando, abocanhei aquela preciosidade, chupando-o por completo, enquanto amassava o
outro, ternamente.
Não senti nada vindo dela, nenhum tremor, nenhum gemido e nem aquela vontade de me
puxar para perto dela. Suas mãos ainda estavam ao lado do seu corpo. Era a hora de conversar.
— Não gosta assim?
— Eu não sei...
Ela sabia, só não sabia explicar. Puxei sua nuca para mais perto de mim, mordendo a pele do
seu pescoço, saboreando a sensação de ter tocado em uma parte sensível dela, os pelinhos do seu
corpo ficaram arrepiados com o contato. Toquei seus seios de um jeito mais forte, puxando seus
mamilos e torcendo-os. Ela gemeu com o contato mais agressivo. Puxei novamente, dando uma
pequena beliscada, fazendo-a gemer ainda mais alto. Ela gostava de dor e eu estava gostando
de proporcionar. Guardei aquela informação para mais adiante, a ideia era explorar e conhecer.
Toquei sua bundinha, passando o indicador em suas curvas exuberantes. Ela apertou o bumbum
em expectativa. Hmm... “Interessante”, pensei animado. Aparentemente ela gostava de sexo anal,
ou gostava da possibilidade daquele orifício ser explorado.
— Já foi fodida aqui? — indaguei, colocando a ponta do meu dedo em seu cuzinho.
— Na..nãoo... — gemeu, apertando ainda mais a bunda, prendendo meu dedo ali.
— Fique em suas mãos e joelhos. — pedi, colocando-me de pé.
Ela subiu na cama ficando de quatro, dando-me uma bela visão. Fiquei de joelhos atrás do seu
corpo, lambendo sua coluna até chegar ao seu orifício virgem. Uma parte altamente sexual a ser
explorada, mas não naquele momento. Aos poucos ela foi se soltando. Eu seguia fazendo
perguntas de como ela gostava, se ela preferia mais forte ou mais agressivo. Aquela noite foi de
grandes descobertas, todas muito bem executadas, sem qualquer espaço para frustrações.
Depois daquela noite, nossos encontros passaram a ser apenas sexuais. Eu gostava daquela
forma e ela parecia não se importar. Estávamos juntos como um casal, mas a intimidade, a
sexualidade a ser explorada era a única coisa fundamental entre ambos. Desde a nossa primeira
noite, ela foi se mostrando mais segura, mais receptiva e aos poucos foi se soltando. Começou a
compartilhar os seus desejos, as suas sacanagens e até mesmo as suas fantasias. Ela gostava de
ouvir sacanagens, gostava de mordidas e gostava muito de apanhar na hora do sexo. Eu estava
eufórico, pois havia encontrado o que tanto queria. Com ela a necessidade era muito mais que
foder, era todo um ato, uma fantasia a ser realizada.
Na medida em que ficávamos mais ousados, eu tentava procurar por objetos que nos fariam ir
além do que estávamos habituados, ao invés de usar apenas bocas e mãos, passamos a usar
alguns equipamentos e brinquedos sexuais. Em uma de muitas noites que tivemos, eu a vendei,
amordacei e algemei suas mãos. Ela estava tão eufórica, tão receptiva com a situação que revolvi
elevar o patamar e peguei uma cinta. Entre chicotadas na bunda e nas coxas, ela exigiu nas
costas. Mesmo com medo decidi fazer, pois além do desejo dela, também era o meu. Obviamente
tomei muito cuidado com suas partes mais sensíveis, contudo, o tesão foi libertador. Quanto mais ela
apanhava, mais ela exigia e mais eu me satisfazia.
Entretanto, com o uso excessivo das práticas, vieram as dores. Eu tentava cuidar dela o máximo
que eu conseguia e entendia. Comprei uma pomada anti-inflamatória, chamada hirudoid – indicada
para traumas e contusões na pele – para passar nos vergões que a cinta deixava. Muitas vezes,
sentia-me extremamente excitado ao ver suas contusões e noutras amedrontado. Ainda assim, ela
se recusava a parar e para o meu completo deleite se recusava a diminuir. Ela sempre vinha com
algo diferente, mais ousado e, às vezes muito mais agressivo. Eu amava sentir aquele poder e
amava a sua satisfação em receber.
Certa vez, ela pediu para usarmos grampos de roupas. Eu não tinha a menor ideia do que
fazer com eles, mas ela dizia que a intenção era descobrir, então tentei. Alguns nos seus mamilos,
lábios, virilhas e até mesmo em sua boceta. O seu clitóris era espancado por mim sem piedade, ela
gozava forte e, como eu amava provocar dor nela, ousava ainda mais colocando naquele monte
duro um prendedor, apertando-o com o objeto. Ela delirava de prazer quando fodia sua bunda
ao mesmo tempo que a batia com a cinta. Era o ápice do prazer para os dois. Amava quando
enterrava todo o meu pau na sua boca, levando-o até à sua garganta. Ela babava gostoso e
chorava enquanto o chupava. Aprendeu a fazer garganta profunda, segurado a respiração,
mantendo-o lá dentro, tanto quanto eu queria. Ela era fantástica!
Com todas aquelas atividades, a ideia de ficar apenas na cama tornou-se cansativa. Resolvi
fazer da minha garagem um lugar para nossas façanhas sexuais. Reformei todo o lugar conforme
nossas necessidades. Eu adorava amordaçar sua boca usando uma fita adesiva para obter o
resultado que eu desejava. Aquela sensação de debilidade por parte dela, de subjugá-la, de
submetê-la aos meus desejos era o que mais me despertava, a parte que eu mais gostava.
Naquela garagem fizemos de tudo. Eu algemava suas mãos acima da cabeça deixando-a nas
pontas dos pés, enquanto usava tudo o que tínhamos adquirido para aqueles momentos que
compartilhávamos.
Durante quase três anos fomos amigos, cúmplices, parceiros, companheiros e namorados. Eu me
apaixonei por Lorraine. Amava o que tínhamos, amava cuidar dela, e mais, amava fazer amor com
ela depois de todas as torturas. Por muitas vezes chegamos a pensar que éramos doentes por
desejar algo tão profano, no entanto, aquele desejo que ela tinha de apanhar e o meu de
provocar dor, era algo arraigado em nós dois. Ela gostava, eu gostava, então para ambos a
situação era aceitável e muito prazerosa.
Entretanto quanto mais eu tinha, mais eu queria. Aos poucos, algumas coisas foram ficando
mornas e outras frias. Sentia-me limitado e por mais que inventássemos uma coisa ou outra, dias
depois acabava caindo na mesmice. Eu tinha desejos mais profundos, como: sentir o seu medo, o
seu pavor, queria ver seus olhos horrorizados pelos atos causados por mim. Com todos aqueles
conflituosos desejos e sentimentos, resolvi cometer um ato de pura loucura, mas que para mim era
uma fantasia. Eu decidi sequestrá-la. Esperei alguns minutos até ela sair da faculdade e, a segui de
perto, até uma rua próxima à casa dela onde havia um terro baldio. Estacionei o carro e corri
atrás dela, colocando a mão na sua boca, evitando que ela gritasse.
— Fique de boca fechada. — exigi, colocando um lenço na sua boca, não usei a fita com
medo de ela ficar sem respiração.
Totalmente imobilizada por mim, coloquei-a dentro do porta malas, com o capuz no rosto e
mãos amarradas.
— Não ouse gritar.
Durante todo o trajeto até à minha casa, ela não gritou, se gritou não ouvi. Meu desejo e tesão
aumentavam violentamente, na medida que nos aproximávamos. Obviamente ela reconheceu minha
voz, contudo não diminuía em nada seu pavor. Ela foi privada de seus sentidos, contando apenas
com a audição, ampliando ainda mais as sensações, consecutivamente, seu medo. Eu usei e abusei
dela, encontrando o meu prazer, em meio aos seus gritos de horror e medo. Eu senti tanto tesão,
tanta euforia que não conseguia explicar. Ela também sentiu, sua bocetinha ficou encharcada e ela
gozou em total abandono. Naquele dia esbofeteei sua cara e fodi seu rabinho em todas as
posições. Foi de longe, a experiência mais excitante que tivemos.
Lorraine também tinha suas fantasias e jamais desistiu de ousar ou de tentar algo mais novo,
contudo as nossas práticas foram diminuindo gradativamente. Ela deixou de ir à minha casa como
antes, havia uma época que ela ia todos dias, então alternávamos os jogos para ela não se
machucar gravemente. Tentei chegar a ela, conversar para tentar entender seu distanciamento, mas
ela se recusou a dizer dando desculpas sobre trabalho da faculdade, TCC e outra coisas. Eu
estava apavorado com a ideia de perder a minha garota. Eu tentei dar a ela o espaço que ela
queria, não pressionei e não fiquei insistindo para ela ir lá em casa.
Na última noite em que estivemos juntos, ela apareceu em minha casa com um açoite de couro
cru trançado. Ao ver aquela maravilha em suas mãos, não pensei duas vezes. Eu a levei para a
garagem e algemei suas mãos acima da cabeça, esticando seu corpo como as cordas de um
violino. Ela acorrentada, entregue ao prazer, com seus dedinhos dos pés tocando levemente o chão,
era a visão mais magnífica que eu conhecia. Não amordacei sua boca, pois se ela dissesse não,
então eu pararia. Desci o açoite em suas costas, fazendo-a balançar pelo impacto do couro
batendo na carne.
Tentei controlar minha força o máximo que conseguia, entretanto era inevitável os vergões
aparecerem na pele. O sangue começou a escorrer de alguns deles, a ação me chocou, me deu
medo, seria impossível não ficarem marcas permanentes. Eu sabia que se não me controlasse eu a
machucaria seriamente. Embora soubesse disso, o prazer de vê-la marcada e sangrando por mim,
foi incalculável. Quanto mais ela sentia dor, mais prazeroso era para mim.
Eu não avancei mais, depois décima quinta chicotada, eu parei pirando com aquela loucura.
Peguei seu pequeno corpo nos braços e a levei para o banheiro. Esperei a banheira encher e a
coloquei na água quente. Seus gemidos foram profundos, havia satisfação, contentamento, mas
também havia muita dor. Massageei os músculos do pescoço, costas – cuidando para não tocar nos
vergões – panturrilhas e pés. Ficamos ali durante um longo tempo, tempo o bastante para ela se
sentir letárgica. Depois lavei suas costas com sabonete neutro, cuidando para não aumentar sua
dor. Depois do banho, coloquei-a na cama, apliquei a pomada e me deitei ao seu lado. O
sentimento que havia ali, não era de prazer, era de pesar. Eu não deveria ter ido tão longe...
— Você está bem? — indaguei aflito.
— Estou ótima!
— Eu não acredito. — retorqui, chateado e preocupado. — Eu exagerei hoje.
— Estou me sentindo muito bem, apesar da fome.
Ela estava mentindo, tinha alguma coisa acontecendo. Eu pressentia que tinha exagerado, não
sabia se pelo medo de perdê-la, ou se frustrado por não saber qual era o real motivo daquela
situação extrema.
— Vou preparar algo para você comer. — anunciei, chateado com suas mentiras.
— Obrigada, aprecio isso.
Eu fiz tudo que eu sabia fazer e o que ela gostava. Eu a alimentei, tratei, cuidei e mimei. Dei a
ela naquela noite dois orgasmos apenas com a boca. O misto de sentimentos que eu estava
experimentando, era inexplicável. Eu odiava e amava na mesma proporção. Eu amava as marcas
que tinha deixado nela, os sentimentos experimentados enquanto a surrava... Entretanto, vendo
agora o seu estado debilitado, eu comecei a me arrepender, não de ter feito, mas de ter perdido o
controle em não parar na hora certa.
Lorraine, simplesmente desapareceu depois daquela noite. Claro que, como estudávamos na
mesma faculdade, eu a via. Porém, ela decidiu se afastar e, como muitas vezes me questionei e
fiquei confuso, dei a ela o espaço que eu achava que ela precisava. Entretanto, num certo dia, eu
a vi com um cara. A cena foi como levar um soco no estômago. Ela era a minha garota, a minha
menina, e doeu pra caralho ver a mulher que eu amava com outro homem.
Passei longos meses difíceis tentando encontrar uma justificativa do seu envolvimento com outro
cara e, uma alternativa para trazê-la de volta. Sofri sua perda como jamais imaginei que sentiria
por uma mulher. Ela era extremamente importante na minha vida. Compartilhamos momentos únicos
de descobertas, prazer e fantasias. Muitas vezes era ela que me mantinha focado, centrado,
sempre me ajudando a aceitar os meus desejos, medos e receios. Nosso envolvimento era maduro,
era prazeroso, dividíamos dúvidas, éramos amigos, não somente amantes. Gostávamos das mesmas
músicas, não compartilhávamos dos mesmos gostos para livros ou filmes. Ela gostava de massa e eu
de salada. Em muitos aspectos ela era o meu avesso.
Por diversas vezes eu tentei me aproximar de outra garota, tocava seus seios de forma mais
dura para sentir a menina e, ao primeiro grito de dor eu parava e amenizava o toque.
Obviamente dava a garota o melhor orgasmo de sua vida, enquanto eu, seguia frustrado e
acorrentado a Lorraine.
Passei a pesquisar na internet sobre tudo o que havíamos vivido. Tentando achar algo ou
alguém que compartilhasse da mesma situação e prazer. A diversidade me deixou chocado e um
pouco perplexo em saber que não era o único com todos aqueles desejos. Comecei a estudar
muito, passei a entrar em comunidades para bater papo com outras pessoas. Busquei por livros,
apostilas e relatos sobre o assunto. Aprendi que BDSM era um estilo de vida e que Lorraine jamais
seria feliz em uma relação baunilha, pois sua essência estava em sentir dor para sentir prazer. Era
parte de quem ela era, ficaria ainda mais frustrada do que a época em que nos conhecemos, pois
agora ela sabia que tipo de sexo a satisfazia não só como mulher, mas principalmente como
masoquista.
Terminei minha faculdade dois anos depois e logo em seguida, resolvi fazer administração de
empresas. Tinha terminado meu curso muito cedo, então resolvi ampliar meu conhecimento. Não era
a minha intenção, mas como havia terminado cedo meu primeiro curso, achei interessante fazer
outra coisa, caso algum dia quisesse ampliar minha academia, fazendo dela uma rede. Não sabia
dizer ao certo, meu avô teve a dele, meu pai tinha uma e eu a minha. Contudo, sentia que não era
aquilo que eu realmente queria.
Durante anos, meu tempo livre entre as aulas e meu trabalho, era fazer pesquisas sobre o
estilo de vida. Tudo aqui no Brasil era limitado, não tinha acesso fácil a clubes com temáticas e não
conhecia pessoas com o estilo de vida. Cheguei a ir para fora do Brasil nas férias, para conhecer
um pouco mais daquele estilo de vida. Conheci muitas pessoas que viviam a relação S/m há anos,
assim como haviam aqueles que preferiam apenas a relação D/s. Comecei a praticar em objetos
inanimados e cheguei a comprar um manequim de academia para usar como apoio. Praticar e
praticar, saber usar a força sem se exceder. Eu queria encontrar alguém como Lorraine, que
conhecia seus desejos e aceitava. Que estava aberta a explorar nossos limites, que estivesse ávida
em aprender e tentar coisas diferentes. Alguém que gostasse da dor, tanto quanto eu gostava de
proporcionar. Alguém que fosse honesta, sincera e verdadeira com seus sentimentos.
Durante todo o tempo de aprendizado, pude perceber o quanto fui negligente em nosso
relacionamento. O quanto fui irresponsável com seu estado físico e emocional. Não tinha o menor
conhecimento e ainda assim, continuei no escuro ao invés de buscar por informações. Eu percebi o
quanto da minha ignorância poderia ter terminado mal, eu podia ter matado Lorraine e acabado
com minha vida. Foi um grande erro, um ato falho e que jamais voltaria a se repetir.
Seis anos depois que terminei minha faculdade, conheci Paulo na empresa onde eu trabalhava.
Eu tinha deixado minha academia sobre a supervisão de um amigo, enquanto buscava por algo
que realmente me trouxesse satisfação profissional. Um certo dia, vi sua namorada visitá-lo e não
foi a garota que me chamou a atenção, mas sim a coleira que ela usava. Eu não quis ser invasivo
ou inconveniente, entretanto a curiosidade venceu meu discernimento.
Procurei uma maneira discreta de fazer a abordagem e deu certo. Ele foi bastante receptivo,
passamos a conversar diariamente. Saíamos juntos para tomar uma cerveja, para jogar bola ou
apenas para jogar conversa fora. Entre uma conversa e outra, durante trocas de informações e
diante de minha pouca experiência no universo BDSM, ele acabou se tornando um tipo de guia por
assim dizer.
Ele viu que eu tinha muita vontade de aprender e que respeitava muito o estilo de vida. Não
era apenas fetiche ou algum distúrbio da minha personalidade, era de fato a minha natureza.
Acabamos nos tornando grandes amigos. Logo depois, ele me apresentou Jhonatan. Eu gostei do
homem de cara, um cara sério, compenetrado e muito conhecedor sobre o BDSM. Ele estava
concluindo um grande projeto para um clube extremamente privado, que apenas associados
poderiam entrar.
O projeto me encantou logo de cara. Todo o processo de construção, até mesmo o contexto
ligado à fantasia, estavam no projeto. O castelo sem dúvida seria um marco do BDSM no Brasil. Eu
fiquei excitado com as expectativas. Obviamente o lugar não viria a público, até porque, os
BDSMers eram poucos naquela região. Diante disso, a ideia era espalhar apenas por grupos
específicos, como bares onde se praticava o BDSM, munches e rodas de amigos.
Ele me ofereceu um emprego para gerenciar os monitores que ficariam responsáveis pela
masmorra, assim que o projeto fosse concluído. Eu aceitei sem pensar duas vezes. Poder trabalhar
e viver naquele estilo de vida era algo que nunca almejei, mas que ao mesmo tempo se encaixava
perfeitamente, mesmo não sendo para aquilo que eu havia me formado.
Willian – Lord Fire

Dias atuais...

M eus olhos ardiam devido ao produto de má qualidade entregue pelos


fornecedores. Provavelmente haviam trocado o produto imaginando
que não faria a menor diferença, mas fez e eu precisava relatar ao
Jhonatan na reunião que foi marcada por Paulo para esta manhã. O dia estava encerrando e com
ele meu expediente. Sentia-me exausto, começava a pensar que umas férias cairiam muito bem.
Entrei no restaurante, seguindo diretamente para a mesa que Jhonatan – Dom Riddle – se
encontrava. O homem não parecia melhor que eu, estava abatido e com olheiras profundas.
Seguia sendo uma loucura continuarmos trabalhando daquele modo. Coloquei para ele a situação
com as tochas, e logo em seguida Paulo – Mestre Shadow – e Marco – Lord Evil – seguido por sua
escrava, sentaram-se à mesa para a reunião, com a submissa ajoelhando ao lado de seu Dono.
Obviamente, devido à seriedade do assunto, Marco dispensou sua escrava. Foi impossível não
ver o esgotamento físico da pequena, de modo que acabei comentando seu estado, levando uma
repreensão do homem. Mesmo não gostando, fiquei calado, afinal ele tinha todo o direito de achar
ruim, mas eu também me reservava no direito de ficar incomodado com a situação.
Temas variados foram discutidos na reunião, mas o ponto principal eram as férias. A ideia foi
muito bem recebida por todos. Eu queria ir para São Paulo ver uma pequena masoca que me
agradava muito. Infelizmente a relação de longa distância não funcionava para mim. Meu prazer
era infringir dor, era punir, humilhar e, sem um contato físico era impossível.
Deixei o castelo indo direto para casa. Durante o pequeno trajeto a música do U2 lembrou-me
de Lorraine. Durante todos aqueles anos, seguia me recordando dela, às vezes era com carinho,
noutras com raiva e mágoa. Ela ajudou-me a encontrar, aprender e introduziu-me – indiretamente –
para o estilo de vida que eu tinha agora. Era grato por isso, entretanto minha gratidão começava
e terminava ali. Soube que ela havia se casado e vivia em um relacionamento baunilha. Balancei a
cabeça consternado... um baunilha jamais daria a ela a satisfação que ela necessitava. Não havia
jeito daquela mulher ser feliz e seguir com sua vida ignorando o que tanto seu corpo implorava
para ter, era uma batalha amarga e perdida para ela.
Ao chegar em casa fui direto para o banheiro tirar o cheiro do produto das tochas, da
essência das velas e de todo sexo da noite. Era um cheiro agradável, mas que muitas vezes, como
naquele momento, era opressor. Havia muito tempo que eu não fazia uma sessão com uma
masoquista. As poucas submissas que haviam no clube não suportavam minhas sessões e as que
podiam vir a suportar, estavam encoleiradas.
A frustração me corroía como nada mais. Refrear, restringir, maneirar, diminuir, limitar e atenuar
eram palavras ditas quase diariamente para mim. Difícil manter o controle, sabendo que seu limite
era muito mais elevado. Eu não me satisfazia com sessões de dominação, eu precisava infringir dor,
precisava ver minha pequena masoca gemendo, chorando, amedrontada e implorando por mais,
não por menos.
Saí do banheiro, caindo rapidamente sobre a cama. Estava exausto demais para me secar e
vestir. Frustrado demais para me satisfazer com uma punheta e irritado demais por não pensar em
outra coisa que não fosse a ordinária da Lorraine e da pequena submissa encoleirada de Marco.
Peguei no sono, sonhando com uma mulher que eu jamais poderia ter novamente e com a outra que
eu não sabia como ajudar.

***

Voltei para o clube no início da tarde do dia seguinte. Era sábado, dia de maior movimento no
clube. Entrei no escritório a fim de começar os trabalhos no grupo do facebook e nas atualizações
das postagens do nosso site. Tínhamos vários e-mails de alguns associados com contos eróticos,
variados tipos de sessões, alguns instrumentos novos e algumas dicas sobre o SM. Todos os tipos de
e-mails que traziam algo válido, eram postados na página do castelo. Sempre procurávamos dar o
melhor a todos os visitantes, curiosos e associados.
Qualquer clube que levava o estilo de vida BDSM a sério, regia-se por um conjunto de normas
e no Castelo não era diferente. Havia um código de conduta e práticas no qual eram
estabelecidas regras de orientação comportamental, que especificavam os valores e os princípios
do estilo de vida BDSM. Todos eram obrigados a ler e assinar, antes de ganhar o passe de
associado. Obviamente essas regras eram estendidas aos grupos do Facebook e ao site do Castelo
Savage. Todos sabiam como funcionava, poucos aceitavam e outros raros eram admitidos.
Era exatamente por conta das normas, que fiquei um pouco confuso em admitir uma mulher
chamada Suzana ao grupo do Facebook. Fazia parte do meu trabalho orientar os associados
através do grupo e também dispor para os usuários as informações sobre o BDSM. O grupo era
fechado, de modo a que qualquer pessoa pudesse encontrá-lo nas pesquisas, contudo ser aceito
era outra coisa. Dar total atenção aos usuários e integrantes do grupo, ajudar uma pessoa que
procurava por informações, poder esclarecer suas dúvidas e muitas vezes ajudar a se aceitar
dentro do estilo de vida BDSM, era gratificante.
Entretanto, não havia nada no perfil da Suzana que pudesse indicar suas preferências.
Geralmente fotos nos perfis de Dominadores, submissas, coleiras, algumas cenas ou até mesmo de
alguns equipamentos, eram delatoras de suas preferências. Claro que o meu primeiro pensamento
foi que ela deveria estar perdida, de qualquer forma pelo sim pelo não, aceitei a sua entrada no
grupo saudando-a e aguardei para ver se ela veria meu post e responderia.
Às vezes a curiosidade levava a pessoa a verificar primeiramente as postagens, ler alguns
comentários ou até mesmo verificar o arquivo do grupo que sempre tinha – disponível para os
usuários – algumas apostilas ou material sobre as práticas.
Assim que ela respondeu, eu fiz as apresentações com a intenção de deixá-la à vontade para
fazer qualquer pergunta ou tirar dúvidas sobre os tópicos discutidos no grupo. Contudo, sua
resposta ao dizer que não precisava de nada e que estava apenas curiosa, acionou um alerta.
Aquele não era um grupo para não fazer nada, as pessoas entravam no grupo para saber sobre
BDSM. Não gostando de sua resposta, chamei Jhonatan em privado. Eu odiava ter que atrapalhar
o cara em suas férias, mas ele sempre deixou claro que adesão de baunilha no grupo tinha que
passar por ele, então como ele era meu chefe faria como combinado:
Lord Fire: Temos uma curiosa perdida. — comentei com ele, chamando-o em privado no seu
perfil do facebook.
Esperei alguns momentos, ele estava on-line, aliás nós todos sempre estávamos, mas nem
sempre estávamos disponíveis para responder de imediato.
Dom Riddle: Solicite uma amizade, se ela aceitar, chame-a em privado. Talvez ela se sinta mais
confortável dessa forma.
Lord Fire: Ok!
Dom Riddle: Me passa o perfil dela para eu dar uma olhada.
Passei o perfil dela para ele, enquanto olhava uma foto dela. A mulher era bonita, olhos
verdes puxadinhos, e não sorria. Séria demais e sem qualquer outra foto do seu corpo, apenas de
rosto. O que mais me deixava confuso com toda a situação, era o fato de estar usado um perfil
pessoal ao invés de um fake. Enviei a solicitação como ele havia pedido e para minha surpresa ela
aceitou o convite. Obviamente a sua curiosidade era muito maior que do que ela deixava
transparecer.
Todas as abordagens que tentei com ela, havia sido em vão. Ela era arredia como ninguém
que eu tivesse conhecido, usava de arrogância e um pouco de falta de educação também. Suas
respostas mal-educadas, davam-me formigamento nas mãos.
Estava perplexo com o comportamento ousado da mulher. Se fosse uma submissa era
completamente desproporcional e não era um comportamento adequado para uma Domme ou
switcher. Nada explicava sua falta de educação diante da minha abordagem e se fosse do
universo BDSM era totalmente incomum com um Dominador.
Lord Fire: Não acredito que seja uma submissa e também se fosse uma Domme estaria mais
receptiva.
Dom Riddle: Eu a vi. Não falei com ela, apenas estávamos no mesmo restaurante no Rio.
Lord Fire: Acha que ela tem algum interesse no meio?
Dom Riddle: Não tenho nenhuma ideia, mas saberei muito em breve.
Lord Fire: Bom para você, pois minha mão está coçando com a vontade de ensinar a ela boas
maneiras.
Dom Riddle: Quem não gosta de um bom desafio?
A questão não era gostar, era achar um bom desafio. Era treinar alguém que tivesse disposta
a aprender, uma submissa que ainda não tivesse sido descoberta ou que até tivesse, mas que
também oferecesse algum tipo de desafio. Independentemente das duas questões, eu não queria
nenhuma delas.
A submissão era uma parte que não me atraía. Estava à procura sim, de uma masoquista
para um relacionamento EPE, contudo eu ainda não tinha encontrado uma bottom que me fizesse
desejar seguir adiante.
Deixei minha sala a fim de começar os preparativos para a noite. Desci até ao calabouço,
cumprimentando alguns associados que encontrava pelo caminho. Havia uma grande movimentação
no castelo nos finais de semana, independente do horário. Observei se todas as tochas estavam
acessas, se as velas dos castiçais eram novas, se os equipamentos foram limpos e higienizados
pelos funcionários. Todas as verificações necessárias para o começo da noite.
Aquela parte não era minha obrigação, mas como Marco estava ocupado demais fazendo
sessões com sua submissa, resolvi fazer eu mesmo as verificações daquela área.
— Saudações, Lord Fire. — cumprimentou-me, Domme Darkness entrando no meu caminho com
um sub na coleira.
Ela tinha quase o mesmo tamanho que o meu e a similaridades terminavam ali. A raia de
maldade da Domme não era algo que eu respeitava muito. Ela não era só ruim, ela era cruel e
pérfida. A sua maldade não era erótica ou sexual. Eu não aprovava, contudo cabia a mim não
interferir, muito menos julgar, somente respeitar.
Meu lado sádico adorava torturar, espancar e causar dor, mas tudo dentro do consensual,
erótico, sensual e sexual. Irritantemente algumas pessoas achavam que por serem Dominadores,
podiam burlar os limites alheios e fazer as coisas à sua maneira. Eu não concordava com suas
atitudes, contudo, mantinha-me calado. Não era da minha conta, nem da de ninguém mais.
— Saudações, Darkness.
Eu sempre tive muito cuidado com as bottoms que faziam sessões comigo. Tratava suas feridas
pois era uma particularidade minha. Eu gostava de tocar a pele machucada, gostava de verificar
minhas marcas e gostava de sentir sua pele estremecer sob o meu toque. O seu medo, o terror de
ser tocada novamente também me dava prazer. Meu prazer estava sempre ligado à dor delas.
— Acho que meu animal está à procura de alívio, não concorda? — sorriu, mostrando o
pequeno aparelho que controlava as voltagens do plug anal.
O sub usava uma sunguete em vinil com plug anal, uma mordaça bola que o fazia babar por
todo o peito. O suor que escorria por seu rosto, indicava o desespero em que ele se encontrava
para segurar o seu orgasmo. Era muito excitante presenciar aquele controle, de certa forma era
louvável. Era manter domínio sobre o seu corpo, usando apenas o controle da mente. Ele parecia
muito bem adestrado, mas acreditava que não estava sofrendo o suficiente, pelo menos não para
mim. Nunca fiz uma sessão com um bottom homem, não era um desejo que eu tinha, pois para mim,
tinha que haver sexo, meu pau tinha que estar enterrado na minha masoca até às bolas depois de
cada sessão.
— Hmm... acredito que ele pode esperar mais um pouco. — decidiu a Domme, sabendo que
jamais teria uma resposta minha.
Eu não interferia nas relações, nunca. Não apenas porque achava intrusivo, mas porque cada
Dominador agia e pensava de forma diferente. Entretanto, aqui dentro do clube eu ficava de olhos
bem abertos, já tive relato que um “bottom” usou a safeword e ela não sessou a prática. Como não
tivemos nenhuma notificação vindo do próprio, nada pôde ser feito. E também tinha o fato de que
não sabíamos em que base o acordo fora feito, então diante disso, era simplesmente inaceitável
interferir em suas sessões. Cabia apenas ao submisso fazer a denúncia.
Enquanto ela seguia para a sessão de spanking, continuei meu monitoramento nas tochas e
castiçais, entretanto os sussurros e o choro alto de uma submissa, chamou-me a atenção. As salas
do clube eram separadas, no entanto, nenhuma delas eram fechadas com portas. Havia uma
pequena restrição entre o espaço que as pessoas ficavam para observar e o palco da cena.
Qualquer um podia olhar, mas em hipótese alguma poderia interferir. Apenas os monitores como eu
ou meus subordinados, podiam zelar pelo submisso.
Os casos em que exigia uma interferência eram muito raros, algumas situações eram no Water
Bondage, içamento, eletroestimulação ou escarificação. Aquelas práticas eram feitas apenas por
Dominadores extremamente experientes. Não era uma obrigação nos demais clubes, mas no
Castelo era uma exigência de Jhonatan. Em qualquer uma daquelas práticas, havia uma
obrigatoriedade por parte do Dominador em chamar um colega experiente naquela prática, para
assistir à sua cena. A ideia não era que a pessoa interferisse na cena, mas que estivesse ali para
dar suporte caso os envolvidos na cena viessem a precisar.
Tínhamos médicos de plantão no Castelo para qualquer eventualidade. A regra servia para
evitar que os submissos tivessem qualquer problema físico, neurológico ou psicológico. Por se tratar
das leis, Jhonatan evitava qualquer contratempo, dando todo o tipo de suporte para os associados.
Conforme seguia pelo corredor, mais alto ficava o choro. Os sussurros já não eram abafados,
eram risos altos e mordazes. Os pelos do meu corpo ficaram arrepiados ao ouvir o choro
lamentoso da submissa. O som era extremamente erótico e muito excitante. Parei diante da porta,
vendo a pequena submissa de Lord Evil com mãos e joelhos no chão, e sobre suas costas uma
mesinha com copos de bebidas dos demais dominadores que participavam da cena. Ela tinha um
plugue eletrochoque, de pequena voltagem, envoltos de sua vagina. Ela chorava com a intensidade
dos choques, e obviamente não podia se mexer, pois a finalidade era aceitar o castigo, sem deixar
os copos caírem. Ela era um objeto, uma mesa e mesas não se mexiam.
— Saudações, Lord Fire. — cumprimentou-me, Lord Evil aumentando consideravelmente as
ondas de choque na pequena sub.
Seu corpo inteiro estremeceu, fazendo os copos tintilarem sobre a mesa colocada em suas
costas. Eu teria ido muito além... Colocaria nela um gancho anal com duas esferas, amarrando a
ponta aos seus cabelos, trazendo sua cabeça para trás. Todas as vezes que ela relaxasse a
posição, as esferas abririam ainda mais seu orifício, aumentando seu desconforto e humilhação,
estimulando ainda mais o meu prazer. Colocaria grampos nos seus dedos e usaria grampos com
peso extra nos mamilos, ainda não satisfeito, usaria a cane na planta dos seus pés. A cena criada
por mim, deixou-me excitado, era muito melhor do que a que eu presenciava.
— Saudações, amigos.
— Essa cadela precisa de uma boa lição. — anunciou, fazendo a submissa estremecer. —
Aparentemente ela acha que pode falar e fazer as coisas como quer, como se tivesse o direito de
decidir. — sorriu Lord Evil, com um olhar mordaz em direção à sua cadela. — Vou ensinar a ela
quem manda, a quem ela pertence e quem ela deve servir. — Sabia que ele havia falado aquilo
mais para mim, do que para ela.
Não fiquei para ver o que ele faria com ela. Marco era um cara estranho, muitas vezes nos
chocamos devido às diferenças de opiniões. Agora, lamentava profundamente ter comentado
noutro dia, que ela estava mancando. Não era como se eu observasse a mulher o tempo todo...
tudo bem, talvez fosse, mas era ligado à proteção e cuidado. Entretanto, como foi discutido na
reunião, todos nós estávamos exaustos, e Marco vinha trabalhando todos os dias, com sua submissa
a tira colo. Para mim, era inadmissível aquele tipo de comportamento. Aquele tipo de tortura não
era erótico ou sexual e se fosse um castigo, já tinha deixado de fazer sentido.
O trabalho do Marco era como o meu: eu gerenciava a masmorra e ele o calabouço. Até à
troca feita na reunião passada, passávamos dia e noite aqui e a pequena sub o seguia para cima
e para baixo em um salto de dez centímetros. Para mim, era abusivo e estava fora das bases do
BDSM.
Paulo jamais trouxe sua submissa para o clube em uma noite que não fosse sua folga ou que
estivesse preparando uma sessão para os dois. Jhonatan também achava desnecessário, mas
ninguém dizia nada, porque não era da conta de ninguém. Ela tinha todo o direito de negar
permanecer naquela situação, bastava apenas expressar seus sentimentos ao seu Dono e se, mesmo
assim não fosse concedido, então ela podia tirar a coleira e seguir seu caminho.
Não era erótico, não era sexual, não havia prazer em ver uma mulher cansada, caminhando
para cima e para baixo o dia inteiro. Não era agradável aos olhos.

***

Passamos o final de semana sem problemas. Jhonatan era controlador por natureza e pensar
que ele havia saído de férias sem pestanejar era quase ilusório. Ou o homem confiava muito em
mim e no Paulo, ou estava cansado demais para rejeitar a oferta de umas férias. Quanto ao Marco
eu me reservava no direito de não pensar nele, pois ao fazê-lo, sua pequena sub acabava
acompanhando o pensamento.
— Você parece agitado. — comentou Paulo, assim que deixamos a masmorra. Eram quase seis
horas da manhã e estávamos exaustos.
— A falta de uma masoquista está subindo à cabeça. — caçoei, tentando evitar o assunto.
Obviamente existia muitas masoquistas no Rio, o problema era que meu trabalho não me
permitia sair e aqui no clube, devido ao acesso restrito, elas eram raras. Não era comum um
masoquista aqui, a menos que estivesse acompanhada, e as submissas com limite alto para a dor,
estavam encoleiradas. Então minhas opções eram bem baixas.
— Sabe o que é bom nesse estilo de vida e que às vezes acaba sendo intrusivo? —indagou,
Paulo com ironia.
— Uma desculpa bem pobre quando quer se meter onde não foi chamado. — zombei,
sarcástico.
— Estou falando sério.
— Sei que está, mas isso não importa. — Não importava para ninguém que ela fosse
maltratada além do consensual. Somente a mim, aquilo incomodava.
Eu ainda era novo naquele estilo de vida. Nunca tive uma relação duradoura com uma
masoquista além de Lorraine, e naquela época eu nem sabia o que estava fazendo. Não tive a
oportunidade de viver uma relação naquele estilo de vida. Tudo o que eu conhecia partia do Paulo
e do Jhonatan. Os dois me ajudavam, os dois tentavam de alguma maneira me explicar o que a
ciência jamais explicou. O comportamento de um sádico ainda era uma incógnita. Eu vivia minha
vida tranquilamente, tinha gostos peculiares, era um cara reservado e minha opinião eu guardava
para mim. Contudo, eu jamais mentiria para Paulo, podia até omitir o assunto, mas não mentir.
— Importa para mim, Willian. — rebateu, Paulo seriamente. — Somos amigos de anos e tenho
sido seu guia, se algo o preocupa, então talvez eu possa te ajudar. Sempre fui honesto com você.
— O fato da submissa de Marco estar aqui todos os dias, incomoda-me muito.
— Eu te entendo, mas até que ela nos peça ajuda, sabe que não podemos fazer nada.
— Podemos falar com ele e proibi-lo de trazê-la para cá todos os dias. — tentei argumentar.
— Deveria ter uma regra de trazer as submissas apenas nos dias de folga. Afinal ele é pago
para trabalhar, não para usar todas as salas com cenas ilimitadas com ela e depois arrastá-la
para todos os lados sem uma pausa para descansar.
— Ele faz sessões diariamente? — indagou Paulo, fazendo-me ranger os dentes.
— Não sessões diárias, mas todos os dias ele a arrasta para o trabalho.
— Eu não sabia que eram todos os dias.
— Ele vai quebrá-la, vai destruir sua estrutura emocional, ela não vai suportar por mais tempo.
Para alguns Dominadores, era comum e usual fazer algumas sessões durante a semana ou mais
de uma cena no dia, isto se a submissa tivesse um período para descansar, para se curar e se
recompor, o que não era o caso. Eles seguiam fazendo sessões e depois ela o seguia por todos os
lados em cima dos malditos saltos sem uma pausa. Eu só não a via quando os dois se retiravam, o
que não era por muito tempo. Ele pegava turnos dobrados e quando não estava trabalhando,
estava em sessões com ela. Não dividia sua atenção com outra submissa, a fim de dar a ela um
tempo para recuperar. Seu cansaço não ficaria só no físico, em breve seria psicológico.
— Eu vou ficar de olho e quando Jhonatan voltar, vamos tomar uma providência. — Olhou-me
nos olhos, antes de dar sua ordem como gerente. — Não ouse interferir, não esqueça que mesmo
sendo meu amigo, aqui dentro, você ainda é um funcionário.
— De acordo, chefe. — Deixei sua companhia completamente irritado, prometendo a mim
mesmo que nunca mais voltaria a tocar no assunto.
Obviamente se alguém dissesse algo e quisesse minha opinião, eu daria sem pensar duas
vezes, mas partindo de mim, nunca mais. Havia algo perturbador naquelas sessões, naquele
comportamento dela e no dele. Ela nunca desobedecia, nunca! Eu jamais vi aquela submissa
levantar o olhar e se me perguntasse de que cor eram seus olhos, eu não saberia responder. Os
seus cabelos eram uma cortina entre o mundo e ela. Ela havia se fechado nele de um jeito
profundo como se não houvesse mais nada ao seu redor. Ela havia ficado imune à dor e à
humilhação. Nada mais a despertava. Para mim, a pequena estava quebrada.
Era de suma importância fazer as negociações, conversar bastante com o Dominador sem
pressa, sem afobação. As negociações de Paulo com Patrícia demoraram mais de um ano e no final
deu muito certo. Os dois estavam juntos há cinco anos. Era uma relação bonita e esperava que
vindoura também. Meter os pés pelas mãos, trocando meia dúzia de palavras, achando que eram
suficientes para conhecer e se entregar para uma pessoa, era um erro grave e que podia terminar
de uma forma muito ruim.

Paulo – Mestre Shadow

A situação não era tão simples, como ele queria que fosse. Estávamos falando de uma situação
que deixava de ser consensual para uma agressão com abuso físico e psicológico. Não tínhamos
acesso ao contrato do casal, nem tínhamos tanta intimidade com o mesmo, já que Marco era um
Dominador extremamente reservado. Eles viviam suas fantasias que foram combinadas, acordadas
e consentidas pelos dois, não cabia a ninguém julgá-los por suas escolhas, também havia o fato de
que não sabíamos em qual base os dois haviam acordado. No entanto, havia algo que também me
incomodava...às vezes eu me perguntava o quanto daquela fantasia havia se tornado algo real
para ele...alguns Dominadores perdiam o equilíbrio e muitas vezes acabavam prejudicando a
relação e consequentemente a submissa.
Elas eram sensíveis quando se tratava do seu psicológico. Nós as moldávamos daquela forma.
Entramos na sua cabeça, mexemos com suas estruturas em vários níveis e em todos os sentidos. A
bottom, principalmente a que era escrava, estava ligadas ao seu Mestre de uma maneira
profunda. O vínculo de dependência unilateral ao seu Mestre era extremamente intenso.
A sub de Marco – pelo que pude perceber – era extremamente passiva, sem vontades ou
iniciativas, por isso não havia vindo falar conosco, porque o amava, ela o idolatrava, o servia e
para ela, ele não tinha ultrapassado seus limites. Cabia ao Marco colocar o trem descarrilhado nos
trilhos e não aos demais Dominadores. Obviamente se aquilo ultrapassasse a barreira da
sanidade, então sim, agiríamos interferindo cuidadosamente na relação. Contudo, até que
acontecesse, cabia a nós não nos envolvermos.
Sabia que para Willian era muito mais difícil, além de ser novo naquele estilo de vida, ele
havia conhecido a essência de uma masoquista. Ele cuidava da namorada, dava carinho, atenção e
amor, ele permitia que ela tivesse um tempo de cura. Mesmo com tanto cuidado, ela ainda era
independente, tinha vontades e desejos próprios, não se submetia e não era passiva. A submissa de
Marco era cobrada diariamente, da forma que ele acreditava ser dentro do consensual para os
dois.
O que não era aceitável, era ele fazer sessões seguidas com ela, sem dar uma pausa.
Entretanto se a submissa fosse experiente, se ela seguia de pé, e fazendo tudo o que ele
comandava sem desmaiar, sem passar mal, sem ter qualquer desequilíbrio físico emocional, então
ele sabia o que estava fazendo e consequentemente sabia qual era o limite dela e até que ponto
ele podia explorar. Como o gerente geral, eu não concordava com a submissa vindo todos os dias,
mas como nunca foi uma regra, eu estava de pés e mãos atados até Jhonatan retornar.

***

Na segunda-feira normalmente era nossa folga, mas como Jhonatan seguia de férias e minha
paty estava no Rio, resolvi ir trabalhar. Odiava ficar sozinho, odiava sentir a falta dela, pior, tinha
receio do que estava começando a sentir. Nunca tinha parado para pensar no amor, pois nunca
havia sentido tal coisa, mas agora... com minha paty... o que tínhamos era algo raro, um nível alto
de cumplicidade, sua entrega, carinho, respeito, dedicação, amizade, lealdade, química, confiança,
caráter, subserviência, tudo nela me completava. Todos os sentimentos que se desenvolveram com o
passar dos anos, foram se amplificando, tornando-se mais intensos e mais solidificados, que tornou
impossível não surgir um sentimento mais forte.
Ao contrário de alguns amigos do nosso meio, eu acreditava que aquele tipo de sentimento,
com o passar dos anos, era inevitável. Não conseguia imaginar como um relacionamento como o
nosso, com tamanha intensidade e entrega, podia nos deixar imunes ao amor. Não havia
dominação para os sentimentos, você não controla o que sente, você controla a mente, mas não
pode evitar sentir, era imaturo de quem pensasse o contrário. O amor era um sentimento imenso
que surgiu dentro de uma relação verdadeira sobre o estilo de vida BDSM. Não fora algo
baunilha que veio para o D/s. Não... o que sentia pela paty era honrado e honesto e não era algo
que eu sufocaria ou ignoraria. Obviamente não daria a ela o direito de achar que ela tinha mais
direitos dos que realmente tinha e não me deixaria mais fraco, pelo contrário, me deixaria mais
atento e com o pulso ainda mais forte.
Entrei no escritório indo direto para a minha mesa. Havia muita coisa para fazer, então
comecei a verificar a lista de compras que eu tinha que providenciar naquela manhã para
abastecer o clube, quando meu telefone tocou. O som indicava que era minha paty. Alegrava-me
saber que ela se preocupava comigo. Era satisfatório.
Bom dia, Mestre!
Patrícia Oliveira às 09:00
Eu podia responder à sua mensagem na hora, mas que sentido tinha? Que graça teria se eu
respondesse imediatamente? Ela não sentiria aflição, nem expectativa ou até mesmo felicidade
quando minha mensagem aparecesse para ela. Eu amava torturá-la, então esperei quase dez
minutos para responder.
Bom dia, minha cadelinha. Dormiu bem?
Paulo Vasconcelos às 09:08
Sua resposta veio rapidamente, como se ela já tivesse escrevendo e pronta para voltar a
enviar outra mensagem.
Desculpe-me Mestre. Não quero atrapalhar o Senhor em seu trabalho.
Patrícia Oliveira às 09:08
Satisfeito com sua preocupação e um pouco irritado com sua ansiedade, a repreendi...
Eu te fiz uma pergunta.
Paulo Vasconcelos às 09:15
Ou ela tinha dedos mágicos ou novamente ela já tinha a resposta pronta, pois sua mensagem
veio em seguida...
Desculpe-me fazê-lo esperar Mestre, não era minha intenção. Não dormi muito bem. As noites sem
o Senhor são completamente vazias.
Patrícia Oliveira às 09:15
“As minhas também estavam se tornando vazias, minha pequena paty”, pensei afetuosamente.
Obviamente não diria isso a ela. Cada um agia da forma que lhe convinha. Eu gostava de elogiar
quando ela me agradava e de castigá-la quando merecia, ou torturá-la apenas porque tinha
vontade de fazê-lo, sem expressar meus sentimentos. Contudo, eu diria a ela que a amava, mas
também não era algo que eu falaria diariamente ou constantemente. Eu podia expressar aquele
sentimento de outras formas e a forma que eu mais gostava era estalando meu chicote.
Sou grato por seus sentimentos. Precisa de alguma coisa, minha cadelinha?
Paulo Vasconcelos às 09:32
Obrigada por perguntar, Mestre de mim. Sim, eu gostaria de saber se o Senhor me permite
almoçar com minha chefe hoje e também preciso saber se posso contar a ela o motivo da minha
demissão.
Patrícia Oliveira às 09:33
Eu conhecia muito pouco da chefe da minha paty, porém o suficiente para saber que ela era
uma mulher fria e exigente. Não gostava de pensar na minha menina sendo vítima de preconceito,
mas também sabia que ela tinha uma relação de trabalho e também de amizade com a mulher.
Acreditava na sua postura em lidar perfeitamente com a situação, entretanto não queria que ela
fosse exposta de forma cruel.
Você tem minha permissão, contudo não ouse extrapolar os limites e não permita que ela a
humilhe, só eu tenho esse direito. Fui claro, minha cadela?
Paulo Vasconcelos às 09:47
Perfeitamente, Mestre! Estou honrada com sua confiança e jamais ousaria decepcioná-lo. Contudo,
acredito que o modo mais viável de dar a ela maiores informações, seria em um local onde eu me
sentisse mais à vontade. O Senhor me permitiria convidá-la para ir até SEU apartamento para
jantarmos?
Patrícia Oliveira às 09:48
Todos nós tínhamos limites, tanto eu quanto minha paty. Se havia algo que eu jamais
ultrapassaria, eram seus limites. Eu os respeitava e muito. Aquele apartamento não era meu, mas
sim da minha cadela. Tínhamos feito algumas modificações para nossas práticas e acabei me
mudando para lá, depois de ter vendido o meu, para comprar minha casa em Teresópolis.
Aquele era um limite que eu não ultrapassaria, o que era dela, pertencia a ela e ponto final.
Jamais usaria de subterfúgios desonrosos para conseguir algo que não me pertencia. Gostava de
sua obediência e também gostava de saber que ela queria minha permissão para levar a mulher
até ao apartamento, o lar que compartilhávamos juntos. Contudo, a forma que ela colocou a
situação me incomodou muito. Senti uma leve ironia na sua mensagem usando letras maiúsculas
para afirmar algo que não era verdadeiro, não gostei. Além de uma repreensão, ela seria
castigada para saber exatamente qual era a nossa situação.
Meu apartamento, Patrícia? Lembre-se de escolher suas palavras, cadela! Sim, você pode levar a
chefe para o SEU apartamento. Não ouse me enviar outra mensagem.
Paulo Vasconcelos às 09: 55
“Ela tinha realmente que estragar tudo?”, pensei irritado. Jamais considerei aquele
apartamento como meu e sim, como o lugar onde compartilhávamos nossos momentos, nossa
privacidade e algumas vezes, momentos baunilhas. Assistindo algum filme, comendo uma pipoca ou
fazendo um jantar. Nunca levei outras pessoas para sessões ou cenas dentro daquele apartamento,
sempre respeitei a sua privacidade e aquele era um lugar íntimo para nós dois. “Ah... minha
pequena vadia... você pagaria muito caro por ter me irritado tanto”, pensei chateado.
Lamento profundamente desconsiderar seu pedido, Mestre. Entretanto, meu ato não foi falho, já
que eu pertenço ao Senhor de corpo e alma. Tudo o que é meu é seu. Portanto, partindo desse
princípio e sabendo exatamente qual é o MEU LUGAR, é que fiz a pergunta se eu poderia levá-la ao
SEU apartamento.
Sempre sua escrava, eternamente sua cadela, vadia e putinha, paty
Patrícia Oliveira às 09:57
Ela realmente havia me corrigido? Essa escrava realmente tinha usado e continuava usado de
ironia para falar comigo? Eu estava pasmo com sua atitude... parecia outra pessoa enviando as
mensagens. Não era um comportamento que eu esperava dela. Ela estava usando letras maiúsculas
para impor seu ponto de vista, humilhando-me no processo. Agora vejo como foi um erro dividir o
seu espaço.
Não me empurre, cadela! Você não vai gostar do resultado.
Furioso e nada contente com seu comportamento, Mestre Shadow
Paulo Vasconcelos às 10:05
Daquela vez eu esperava que ela não tentasse uma nova abordagem, gostava de um desafio,
mas não de forma desrespeitosa. Ela tinha minha total atenção para expor tudo o que pensava e
de como se sentia, contudo jamais dei a ela o direito de me rebater, corrigir, desobedecer e ainda
ironizar.
Havia uma linha tênue entre tortura e castigo. Basicamente a tortura vinha do prazer, eu queria
causar dor nela usando da prática para me satisfazer. Queria vê-la chorando, gemendo com suas
costas e bunda vermelhas, apenas para o meu prazer. Eu não precisava de uma justificativa, fazia
porque sentia vontade, porque gostava de puni-la. Contudo, não buscava dessa prática
constantemente, pois sempre havia uma pequena parte dela, aquela mais masoquista que sempre
tentaria ser impertinente para conseguir tal prazer.
Infelizmente, aquela busca pela dor, às vezes levava a um ponto sem retorno. Foi exatamente o
que aconteceu com Caroline. Tínhamos um acordo, ela era a minha submissa e não uma escrava
como minha paty. Gostava de ter outra submissa para equilibrar a relação, para dar a paty um
momento de pausa, para buscar na outra peça, um prazer diferente.
Caroline foi uma decepção, por assim dizer. Durante nossa negociação, ela foi completamente
submissa, havia nela alguns traços de rebeldia, algo que sempre chama a atenção de um Mestre,
quando o próprio gosta de um bom desafio. Com o passar do tempo, fui observando que muito de
seu comportamento era extremista, exagerado e muitas vezes dramático. Sua insistente
desobediência apenas para ser castigada, era cansativa e muito desconcertante. Muitas vezes sua
atitude me deixou envergonhado. Eu não queria mais continuar daquela forma e seu último
rompante me fez perceber que ela jamais se submeteria, pois pude perceber que o seu perfil era
de uma BRAT.
Já o castigo... não... o castigo muitas vezes não feria a carne, mas sim o orgulho. Ele era muito
menos intenso em dor física do que uma tortura, contudo havia nele um fato muito mais extenuante,
que era a dor psicológica. Aquele tipo de dor era mais relevante que qualquer outra que
sangrava. A vergonha do desagrado ao Mestre, a falha dela em servi-lo, a falta de conduta que
refletia diretamente ao seu ensinamento, a vergonha por expor ele... Tudo, toda a situação era
muito pior. Ela se sentia humilhada, ultrajada e muitas vezes se arrependia instantaneamente.
Caroline se sentiu assim quando castiguei minha paty no lugar dela. Não precisei encostar um dedo
nela, mas saber que minha escrava estava levando todas aquelas chicotadas por conta do seu
mau comportamento a fez retroceder, mas era tarde demais. Ela me empurrou sem pensar nas
consequências. Eu tirei sua coleira sem ouvir suas desculpas.

***
Naquele mesmo dia à noite, eu me sentia um pouco agitado. Andava de um lado para o outro,
a ponto de me cansar e ir para a academia do castelo, com a finalidade de gastar um pouco de
toda aquela energia. Eu podia fazer uma sessão, entretanto, meu acordo com minha escrava, era
de envolver outra submissa depois de conversamos sobre o assunto. Era um pedido por parte dela,
a fim de estar preparada psicologicamente para me ver com outra submissa. Era aceitável fazer
isso por ela e para falar a verdade eu sabia o quanto aquilo a deixava incomodada... Eu sabia o
quanto ela me amava e não agia de forma leviana com seus sentimentos. O trabalho era árduo,
conversávamos, trocávamos ideias e eu sempre levava em conta sua opinião. Não adiantava nada
eu encoleirar outra submissa, se minha escrava não estivesse à vontade com a situação.
Obviamente a decisão era minha, mas eu tinha que usar o bom senso para que o relacionamento
desse certo entre três pessoas, era necessário a compatibilidade entre elas.
Nada sem o consentimento da minha menina, era saudável. Muitas vezes o TOP acabava
extrapolando com as ideias de hierarquia, eclipsando as vontades do bottom por achar ser um
treinamento. Insistir até o bottom aceitar a condição, não faz parte do treinamento para superar
limites. Tudo isso era evitado na negociação, era ali que o TOP e o bottom veriam a
incompatibilidade. Patrícia aceitou ter uma irmã, desde que essa fosse adicionada à nossa relação
se ambos estivessem em comum acordo. Já a minha paty eu jamais, nunca, em nenhum momento
permitiria que outro Dominador a tocasse. Ela era minha, pertencia a mim, eu a possuía. Era
possessivo e extremamente ciumento quando se tratava dela.
***

Mesmo estando suado e desgastado fisicamente, os exercícios não foram suficientes para me
satisfazer. O meu desejo era de espancar aquela sua bunda por ainda estar no Rio, por ela ter me
respondido e por achar que eu não faria nada, apenas por ela estar lá e eu aqui. Sim, era dali
que vinha toda a minha frustração. Mesmo estando naquele nível de agitação, não sentia desejo
de buscar por outra submissa, meu desejo era ter a minha vadia na coleira, aguentando tudo o
que eu estava disposto a dar a ela e, eu faria, assim que sua chefe deixasse nosso apartamento
começaria com seu castigo, mesmo à distância.
Depois de tomar um banho, subi para a masmorra para fazer meu papel como gerente.
Mesmo sendo uma segunda-feira, o lugar seguia movimentado, não tanto como nos finais de
semana, mas alguns associados usavam o castelo para tirar férias, por isso o movimento constante
no clube. As masmorras não eram tão usadas como as salas no Dungeon, o lugar era mais para
cenas. Havia cadeias, jaulas e tronos. O lugar fora projetado para representar um castelo do
século XVlll com o intuito de fomentar as cenas, inclusive com equipamentos para práticas
medievais. Era escuro, iluminado apenas por tochas. A intenção aqui em cima era deixar o lugar
mais aterrador, aumentando o prazer e as expectativas dos associados.
— Bem-vindo ao trabalho. — saudou-me, Marco ao se aproximar, com sua cadela se
arrastando atrás.
Aquela foi a primeira vez que me dei o direito de observar a escrava. Ela tinha os ombros
caídos, o cabelo bagunçado cobrindo o rosto – provavelmente por ter vindo de uma sessão, assim
eu pensava – a cabeça voltada para o chão, não somente os olhos. Então era impossível verificar
seus olhos e sua maquiagem estava borrada, deixando longos riscos em sua bochecha. Era a única
parte do rosto dela que dava para ver. A pouca roupa que ela usava estava mal colocada, sua
meia tinha furos em vários lugares. A única coisa inteira eram os sapatos, tudo o resto uma
desgraça completa.
— Alguém precisa trabalhar.
— Estou de folga.
— Mesmo quando não é... — comentei, apontando para o estado caótico de seu brinquedo.
— Ela está de castigo e eu de folga. — rebateu, friamente. Tudo bem que hoje ele estivesse
de folga, veríamos amanhã qual seria sua resposta.
Qualquer um podia ver que aquele comportamento repetitivamente diário já tinha se excedido
ao castigo. Sua submissa não precisava parecer uma mendiga para ser castigada, entretanto, se
aquele era o seu desejo, quem era eu para discutir? Se ele queria que ela parecesse uma pedinte,
que assim fosse. Eu preferia manter minha cadela saudável, bonita e agradável para os meus
olhos, mesmo sob um castigo. Ver sua beleza radiante, sua maquiagem bem aplicada – mesmo que
depois fosse borrada por suas lágrimas – seus cabelos brilhantes, suas unhas feitas, sua bocetinha
bem depilada, toda linda para eu usar e abusar, era prazeroso.
Ver outros Dominadores babarem por aquilo que jamais teriam, era uma massagem para o
meu ego. A sua cadela não despertava nada além de pena. Talvez fosse uma cena de humilhação,
de qualquer forma eu não tinha que estar interferindo, ainda assim, era constrangedor ver tal
abandono. ‘Talvez Willian não estivesse exagerando, no final das contas”, pensei preocupado.
— O Dungeon está sob sua supervisão e aparentemente anda bastante abandonado.
— Não sei o que andam falando para você, mas...
— Ninguém me disse nada. — cortei-o veemente. — Eu vejo, inclusive agora. — Não esperei
por uma resposta dele, saí de lá indo atrás do Willian.
Não foi necessário ir muito longe, os gritos e choros da sela próxima ao trono, indicavam sua
presença ali. Não que fosse uma regra, mas quase sempre era certeira. Caminhei naquela direção,
percebendo que meus instintos em relação ao meu nobre amigo, eram certeiros.
Willian era um grande homem, seus braços eram como toras grossas e seu pescoço era algo
inexplicável. As veias saltantes demonstravam sua força e sua concentração em não se exceder.
Infelizmente quase sempre acontecia, dificilmente encontrávamos uma masoquista aqui e as play
partner disponíveis, tinham limite baixo para dor.
Um sádico tortura a masoquista pelo prazer que aquilo lhe proporciona. O prazer vem da dor,
do terror, da humilhação e do sofrimento que ele infringe a ela ou a ele. Eles são extremamente
incomuns, sua natureza psicológica nata vem da essência da pessoa. Não são criados, são nascidos
assim. Willian muitas vezes esconde sua natureza, dissimulando-a quando o comportamento social
exige. Ele gosta de atormentar, gosta de ironizar e faria isso o tempo todo, se não tivesse um
grande domínio sobre sua mente.
Quando o conheci, fiquei extremamente preocupado com suas andanças sem rumo. Ele não
tinha um apoio, um controle e muitas vezes sentia medo da intensidade dos seus desejos, justamente
por não conseguir controlar seu lado sádico. Fiquei impressionado com o fato ele não ter matado
sua namorada, a garota masoquista que ele amava. Entrar no estilo de vida, abraçar quem ele
era, foi a melhor coisa que o aconteceu. Ele aprendeu a dominar a sua força, aprendeu práticas,
aprendeu a respeitar os limites, mesmo que significasse sair de uma sessão frustrado. Eu seguia
observando, seguia conversando e aconselhando, tudo para evitar que algo ruim acontecesse.
Uma das características do sádico era sua ausência de culpa, mas também não era indiferente
em relação à peça que lhe dava prazer. Existia uma harmonia, uma sintonia com a dor da peça,
uma paixão às avessas, uma satisfação na mesma proporção que a dor sentida pela masoquista.
Eles formavam uma unidade, quase como dois corpos num mesmo espaço. E o casal à minha frente
demonstrava essa unidade, essa ligação entre os dois, onde o prazer dele era causar dor e para
ela era buscar e sentir essa dor.
Willian tinha a submissa com as mãos amarradas acima da cabeça, com os pulsos presos em
uma grade de sustentação ligada ao teto. As pernas estavam separadas por uma barra de
extensão, com os tornozelos presos nas argolas fixadas ao chão. Ela não podia sair do lugar,
apenas desviar de um lado para outro, mas sem muito sucesso. Nos braços, pescoço, lateral dos
seios, virilha, lábios vaginais e a parte de dentro da coxa estavam cobertos de prendedores,
apenas os dos mamilos e do seu clitóris eram grampos específicos com pesinhos extra. Ele tinha na
mão um flogger com caudas de aço, que usava para açoitar a submissa, arrancando um por um
dos prendedores.
Aquele flogger era uma maravilha, mas se usado com muita força poderia cortar a pele. Eu o
usava na minha paty, quando ela se comportava muito bem e eu queria lhe fazer um agrado. Ela
adorava gozar com a queimação, ardência e o prazer que ele trazia à sua pele. Pensar na minha
cadela e em dar prazer a ela, lembrou-me que eu precisava dar a ela um castigo. Tirei o celular
do bolso observando a hora. Ainda era muito cedo, mas em breve ela receberia uma ligação
minha.
Voltei minha atenção para a cena, percebendo que a submissa estava suportando muito bem a
dor. Ele batia o flogger em lugares estratégicos, a fim de arrancar os objetos. O manuseio do
objeto em sua mão era perfeito, uma dobra dos punhos com força exata para deixar a pele
marcada. Os gritos da sub foram ficando mais altos, conforme os objetos das partes mais sensíveis
foram arrancados pelas tiras de aço. Ela tentava se contorcer, mas sem muito sucesso devido às
contenções.
Willian seguia concentrado, mas a cada tentativa de desvio dela, arrancava dele um sorriso
mordaz. Quanto mais perto ele ficava de sua virilha, mais alto ela gritava. Seu corpo estava
coberto de riscas vermelhas e em alguns lugares começavam a sangrar. Ela seguia aguentando
firme. Não era uma prática hard, até uma submissa bem preparada aguentava. No momento em
que ele chegou nos prendedores vaginais, além dos gritos vieram as lágrimas. Willian não parava
a ação, era a dor dela que proporcionava o seu prazer. Ela suportou a dor muito bem, havia
ficado apenas os grampos de mamilos e o do clitóris. Ele baixou suas mãos, amarrando-as
novamente nas argolas do chão, junto aos pés. A posição parecia meio desconfortável, ela podia
baixar e levantar seu traseiro, mas sem sair do lugar.
Ele foi até ao canto e pegou um cavalete de madeira, regulando-o na altura exata para
colocar no vão de seus braços e coxas. Logo, ele voltou com dois grampos de regulagem
colocando na nádega da submissa, de um lado, levando as correntes até a boca, fazendo com que
ela mordesse a corrente, e prendendo a outra ponta do outro lado da bunda. A posição com os
grampos deixava seu orifício exposto e se ela movimentasse a cabeça, as correntes apertariam
ainda mais os grampos, aumentando a dor expondo ainda mais seu orifício.
Lord Fire ficou atrás da peça observando sua obra de arte e também com a finalidade de
aumentar o medo e a ansiedade da submissa. Não satisfeito pegou uma venda colocando nos
olhos dela. Ela começou a mexer nas restrições, aparentemente ela não gostava de ter sua visão
restringida. Ele tinha acertado em cheio. Agora sim, havia um brilho de satisfação em seus olhos.
Ele foi até à sua case, retirando de lá uma vara de vime de 60cm extrafina. Andou envolta da
submissa várias vezes, sem nunca a tocar.
A cada segundo, a ansiedade dela aumentava e consequentemente o medo. Por longos minutos
ele balançou a vara no ar, usando o assovio para atormentar e aterrorizar, preparando a
submissa para o que estava por vir. No momento em que ele ficou atrás dela para começar a cunt
tortura, ela já estava suando e tremendo. Diante de sua exposição, ele usou a vara para açoitar
seu orifício e vagina. Ao primeiro impacto da vara com aquele lugar particularmente sensível e
extremamente prazeroso, ela gritou e gemeu na mesma proporção.
Gostei daquela bottom, ela tinha um limite alto para dor e, Willian percebendo isso, pegou um
remo de unhas para testar o limite dela. Parou para conversar com ela, observando seu estado,
pulsação, e as unhas das mãos. Permitiu que ela tomasse água e depois voltaram para a cena.
O remo era como um ralador, usado para tortura o instrumento tirava sangue. Ele deve ter
percebido a tensão na sala, pois levantou a cabeça olhando diretamente para mim. Eu não podia
interferir e muito menos dizer a ele o que fazer, meu papel como guia era ajudar e orientar, não
interferir.
Sem esperar pela resposta que jamais teria, voltou sua atenção para a pequena e bateu uma
vez. Ela gemeu no primeiro contato, no segundo, no terceiro, no quarto ela chorou, no quinto ela
gritou, no sexto ela começou a entrar em pânico, puxando as restrições tentando se desviar dos
golpes. Ele diminuiu o ritmo, voltando para a vara. Excelente! Por mais de uma hora ele continuou a
sessão, até estar satisfeito ao ponto de permitir que ela gozasse. Talvez fosse uma grande
oportunidade para ele... Os dois poderiam trabalhar juntos, conversar e quem sabe chegar a um
acordo.
No final ele a mandou para o banheiro enquanto limpava e higienizava os equipamentos.
Assim que ela voltou, ele aplicou a pomada anti-inflamatório em todas as suas marcas. Havia
satisfação em tocar a pele machucada, ver as marcas feitas por ele, o gemido que ela dava ao
ser tocada no lugar extremamente sensível... Ele terminou de arrumar a cela, enquanto ela
aguardava pacientemente ao seu lado. Aparentemente ele seguiria em frente...
— Vou me ausentar por algumas horas. — comunicou-me, ao se aproximar com a masoquista,
seguindo-o.
— Parabéns pela cena.
— Superou as expectativas.
Acenei concordando e ele se foi, parando apenas para dar ordens aos monitores das
masmorras e conversar com a Domme Naga, que estava substituindo-o em seus horários de folga,
como agora. Aquela era a responsabilidade que Marco não tinha. Willian faziam sessões em seus
horários de folga, já Marco estava usando seu horário de trabalho para praticar, era errado e eu
precisava relatar aquilo ao Jhonatan.
Deixei a masmorra depois de falar com a Naga e desci para o dugeon. O ambiente ali era
totalmente diferente, parecia mais receptivo, menos tenso. As pessoas dançavam, bebiam e até
comiam. Por volta das dez e meia da noite meu telefone tocou, imaginando que seria minha cadela
peguei-o do meu bolso visualizando o nome de Jhonatan na tela.
— Jhonatan, como vai, homem? — indaguei, saindo do dungeon para conseguir ouvir melhor.
— A chefe da Patrícia sofreu um acidente na porta do prédio onde vocês moram.
Um medo como nunca havia sentido antes se instalou rapidamente por todo o meu sistema.
Todas as imagens possíveis e inimagináveis apareceram diante dos meus olhos. O medo de
perguntar como a minha paty estava e não receber a resposta que eu esperava, deixou-me com
um nó na garganta.
— E a Patrícia? Ela estava no carro? — indaguei, aflito e angustiado. — Ela está bem?
Naquela altura eu já não andava, eu corria pelos corredores do castelo em direção à saída. A
resposta de que ela estava bem, não me convenceu. Ela podia estar bem fisicamente, mas e o seu
psicológico? O quanto ela viu do acidente e o quanto sua amiga estava machucada? Eu já estava
no carro quando anunciei a ele que estava descendo para o Rio. O único pensamento racional que
veio à minha mente foi de enviar uma mensagem para o Willian assumir meu lugar até que eu
retornasse. Não haveria mais quinze dias, sem chance, depois desse susto, minha escrava voltaria
comigo para Teresópolis.

Willian – Lord Fire

E stava satisfeito com a sessão e com a pequena masoquista, mas para a


minha infelicidade ela morava em Goiânia, longe demais. Tinha vindo até
ao castelo sobre o pedido de um associado amigo, que era um play
patner de Darkness. “Aparentemente a Domme conhecia muita gente interessante”, pensei
impressionado. Eu nunca quis um bottom homem, mesmo que Paulo dissesse que eles eram mais
resistentes à dor, ainda me recusava a estar com um.
A cena com a pequena ao meu lado fora extasiante. Passei um longo tempo apreciando suas
feridas, amando sua carne estremecer sob minhas carícias. Contornei cada uma delas, fazendo a
ferida voltar a sangrar, a cadela gemer e, meu tesão aumentar. Era excitante, envolvente e muito
tentador...
Estava pronto para elevar o patamar da sua dor, quando o meu telefone tocou, com uma
mensagem de Paulo, dizendo que a chefe de Patrícia havia sofrido um acidente e que Jhonatan
ficaria com elas, até que ele chegasse.
Eu estava com tanta raiva, que decidi manter minha boca fechada. Porra! Tinha mais de dois
meses que eu não fazia uma sessão e quando finalmente encontrei uma pequena masoquista, tinha
que encerrar minha noite pela metade.
— Fim de noite para nós dois, pequena. — anunciei, dando uma bofetada final em sua bunda.
Coloquei minhas roupas e saí, deixando-a no quarto que eu tinha reservado para a noite.
Muita sorte a do Paulo que eu estava saciado – longe de estar satisfeito – ou ele teria que
contar com outra pessoa para ficar em seu lugar. Eu tinha uma noite inteirinha para ficar com a
masoquista, aproveitar ao máximo do prazer que ela era capaz de me proporcionar, ao invés
disso, era obrigado a trabalhar.
Passei a noite andando pelos corredores mal-humorado, cumprimentando os associados até
que no início da madrugada, me deparei com Darkness e Lord Evil na cruz de Santo André, com
sua escrava amarrada a ela. Evitando ser visto, me encostei na pilastra adiante, com pouca visão,
apenas o suficiente para ver a sub e as costas de Darnknees. Da pequena não havia reação
nenhuma, nenhum murmúrio. Seus ombros estavam caídos e sua cabeça baixa. Seu corpo não
demonstrava nenhuma reação, entretanto, os dois seguiam gritando, rindo e conversando. Nada,
nenhum sinal vinha da pequena. Ela estava totalmente ausente.
— Não gosto disso. — comentou Naga, pegando-me de surpresa.
Não respondi, não era da minha conta. Aliás era e não era. Era mais do que deveria, porque
eu me importava com a pequena e não era porque ela não era minha, de modo que não cabia a
mim tomar providências. Não era Mestre e ainda era novo na cena, quem era eu para dizer ou
fazer qualquer coisa? E também, se fosse eu no lugar ele, não iria gostar de uma intromissão e, se
ela fosse minha, não estaria nessa situação.
— Darkness não respeita a safeword e Lord Evil não respeita limites.
— Já falou com alguém a respeito disso?
— Assim como você, não interfiro, não me envolvo, mas não sou imune à situação.
— Às vezes penso que estamos sendo negligentes e noutras, vejo que não é da minha conta.
— Não é da conta de ninguém, pois ninguém sabe os limites do bottom, além do próprio Dono.
— confirmou, dando voz aos meus pensamentos. — Contudo, eu acho que isso aí já ultrapassou
todos os limites de qualquer submisso, masoquista, escravo e servo... São quase o que? Duas
semanas de maus tratos?
Não sabia dizer... havia começado a me importar há pouco tempo, quando comecei a perceber
que a menina estava sempre de cabeça baixa, mancando e desalinhada, o que aconteceu antes,
eu não tinha a menor consciência.
— Eu nunca reparei antes Naga. — disse, honestamente. — Acho que comecei a reparar de
um tempo para cá.
Não dissemos mais nada, apenas ficamos lá, observando a pequena ser humilhada sem
demonstrar nada. Os risos pérfidos de Darkness com os comandos do Marco para um corpo
ausente, me deixou enojado. Não havia prazer nenhum naquilo ali, ela não reagia a nada. Que
tipo de dominação era aquela? Que prazer ele tinha se ela não sentia nada? Não conseguia
entender...
— Eu nunca vi o rosto dela, sempre de cabeça baixa, sempre mal vestida, sempre alheia a
tudo o resto.
— Então ela já chegou aqui assim?
— Eu não lembro. — disse, confusa. — Quando algo não é da sua conta não te chama
atenção. Eu só tenho notado isso de umas semanas para cá.
— Já falou com ela?
— Nunca.
— São de sanidade, integridade, sensatez e maturidade das pessoas envolvidas na relação.
Eu repito esse mantra na minha cabeça todos os dias. Eu sei que não há um consenso na liturgia do
BDSM, mas se há algo que serve para todos são os pilares e as bases do nosso estilo de vida. Eu
acredito que cada um escolhe a sua regra e vive da maneira que melhor se adequa à filosofia do
casal. Afinal, quem manda no meu Reino, sou eu, certo? Partindo desse princípio é que nunca
interferi. Eu não sei o que ficou acordado entre eles, não sei quais são os limites dela e não sei em
que ponto isso é uma fantasia vivida por eles perante nossos olhos, ou o quanto disso é real e
doentio. O que eu posso dizer, que parte da minha humilde opinião, a de um sádico cru no estilo de
vida e, que não tem experiência na relação, é que quanto mais penso nas bases, menos as vejo
nesse casal.
— Estou de acordo com você e, compartilho de sua opinião, mas...
— Sim...
Saímos os dois de lá antes que fossemos vistos pelos demais. Eu evitaria qualquer situação com
Marco, primeiro porque não sabia mais como agir perto ele. Segundo porque o que sempre vinha
me incomodando e que, agora começava a criar raízes, era que ele não estava são. Recluso
demais, antissocial, ninguém podia dizer nada sem que ele ficasse nervoso. Suas respostas quando
não eram evasivas, eram repetitivas. A desculpa era sempre a mesma e, aparentemente o único a
ver aquilo era eu e Naga.

***
No início da tarde do dia seguinte, Jhonatan me enviou uma mensagem dizendo que voltaria
para casa e Paulo tiraria as férias no seu lugar. A razão disso era que ele estava trazendo uma
moça que gostaria de conhecer o estilo de vida. Honestamente eu não sabia o que pensar àquele
respeito... Riddle nunca foi do tipo de aceitar baunilhas no castelo, eles eram encrencas na certa.
Passei a executar o trabalho de Paulo, deixando Naga no controle da masmorra. Eu não
gostava da ideia de ficar no escritório, contudo sabia que todos mereciam aquelas férias, inclusive
eu. Estava concentrado na papelada burocrática dos fornecedores, quando Marco entrou na sala.
— Saudações, nobre colega. — saudou-me, com a voz pingando a sarcasmo.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram ao ver o sorriso mórbido nos seus lábios e os olhos
injetados de sangue. Tentei não dar muita atenção à sua presença ali, pois se ele partisse para
cima de mim naquele estado, eu não responderia por minhas ações. Se bem que ele não seria
louco se tratando do tamanho do seu oponente, certo?
— Saudações, Marco.
Continuei meu trabalho, separando a lista de pedidos das velas e das bebidas. Levantei meus
olhos, ao ouvir o som da cadeira à minha frente sendo arrastada por ele. Olhei em volta e pela
primeira vez notei a falta de sua submissa.
— Procurando por ela? — indagou, ainda sarcástico.
Eu não me faria de desentendido, afinal de quem mais estaríamos falando? Não era ela o
ponto de todas as nossas estranhas discussões?
— Eu deveria?
— Não, não deveria. — afirmou, deixando seus olhos em fendas.
— Então você já tem sua resposta.
Não dava uma merda para o cara que estava sentado à minha frente. Todo o respeito que eu
tinha por ele ou por suas práticas foram perdidos há muito tempo, devido ao seu comportamento
exacerbado.
— Você a deseja, você quer a minha cadela! — Pasmo era pouco, eu estava perplexo.
Ele estava completamente errado. Eu apenas me preocupava com ela, mas jamais diria isso a
ele. Afinal todos nós trabalhávamos no mesmo lugar, era ridículo criar atritos com colegas de
trabalho. Eu sabia meu lugar e jamais ousei dirigir a palavra a ela, nunca. Nem na frente dele, nem
nas suas costas. Então era irrelevante o que eu pensava ou sentia.
— Jamais vou tirar a coleira dela, Willian!
O autocontrole era fundamental no estilo de vida na qual vivíamos. Se ele não podia controlar
– seus vícios, suas emoções, sua tendência a explodir – ele não podia controlar outra pessoa. Se
antes eu estava incomodado, agora eu estava preocupado.
Não disse nada a ele, não queria estender aquela conversa sem propósito, então continuei
fazendo o meu trabalho, até receber uma mensagem de Jhonatan dizendo que ele havia
retornado. Coloquei-me de pé e sem dizer nada, saí do escritório deixando-o sozinho.
Eu tinha que parar de me preocupar com os dois, o problema era que ao fazer isso, poderia
estar colocando a credibilidade do castelo abaixo. Jhonatan precisava saber o que estava
acontecendo, mas não por mim, ele tinha que ver por conta própria.
Atravessei o jardim que ligava o castelo à sua casa, me deparando com uma voz feminina,
irritadiça e com uma reposta mal-educada... A baunilha! Sim, ela definitivamente era um problema.
— Você está cego? Não consegue olhar as escadas e ver que estou com a perna engessada,
não parece óbvio para você?
Assoviei alto diante de tamanha falta de respeito. Olhei para Riddle incrédulo e depois para a
garota ao seu lado que tinha um colar cervical e uma perna engessada. Eu a reconheci de
imediato quando ela se virou, era a garota do facebook. Arqueei uma sobrancelha em direção ao
Jhonatan mas ele não disse nada, porém a pequena inclinação no canto direito de sua boca,
insinuava que ele estava se divertindo com a situação.
Observei os olhos da mulher correr meu corpo dos meus joelhos até ao meu peito, apenas
onde o colar permitia que ela visse. O medo estava gravado em seus olhos. Eu usava calças de
couro, um cinturão largo e uma regata preta. Era uma roupa medieval, era responsável pela
masmorra, de modo que tinha que entrar na cena, parecendo um carrasco
— Quem é ela, Riddle? — perguntei mais para ver sua reação, pois eu já sabia quem ela era.
— É a Suzana, Lord Fire. — respondeu ele, entrando na brincadeira.
A mulher entrou em pânico, pedindo para ir embora e seguiu mancando sem se preocupar em
ter cuidado com o seu estado. Jhonatan fez uma piada com ela me fazendo gargalhar. Ela
estremeceu visivelmente de medo. Gostei da reação dela, parecia outra mulher, bem diferente da
que tinha me destratado na conversa que tivemos.
Riddle pegou a garota no colo passando-a para mim. Seu corpo inteiro voltou a estremecer
sobre as minhas mãos. Eu gostei da reação dela mas evitei atormentá-la. Tentei passar para ela
tranquilidade, tinha surtido efeito, até ela saber que eu era um Sádico. A garota começou a chorar,
deixando-me chocado. Que diabos Jhonatan queria com aquela mulher? Ela não tinha controle
emocional, se assustava por qualquer coisa e ainda estava toda machucada. Seria ela a chefe de
Patrícia? Se fosse, o mundo em que vivíamos era bem pequeno.
Sem saber explicar ao Riddle porque a mulher estava chorando, saí do seu apartamento
deixando os dois sozinhos. Ela havia respondido ao comando dele, talvez a instabilidade emocional
dela vinha das divergências de opiniões. Esperava que fosse esse o caso, pois para Jhonatan
chegar ao ponto de trazer a baunilha para cá, era porque estava realmente interessado nela.

Patrícia – {slave paty} Mestre Shadow

Percebi no Mestre de mim, uma pequena mudança, uma muito sutil, mas estava lá, conseguia
ver e mais, conseguia sentir. Sabia que havia extrapolado na minha mensagem e agora lamentava
profundamente por tê-lo feito. Fui desrespeitosa ao debater com o Senhor sobre o apartamento.
Eu apenas queria colocar para Ele a forma como me sentia, o quanto Ele significava para mim,
entretanto, fiz de forma errada e impulsiva. E para piorar a situação eu tinha usado letras
maiúsculas para fazer meu ponto. Foi desonroso e totalmente desproporcional minha atitude e por
isso, eu acreditava que seria castigada.
Sentia um aperto no meu coração, uma necessidade quase incontrolável de tentar ajeitas as
coisas, mas sabia que era melhor não tentar antes que Ele viesse falar comigo. Antecipar-me só o
deixaria ainda mais irritado, já tinha passado por esta situação e sabia o quanto ele reprovava
minha impulsividade.
Não era minha intenção magoá-lo, muito menos desrespeitá-lo. Contudo, era um ser humano
que estava em constante aprendizado, iria cometer erros e iria falhar – obviamente não servia
como desculpa para a minha audácia. Ninguém mais do que eu me condenava por isso, procurava
ser detalhista, organizada, muitas vezes perfeccionista, mas infelizmente não estava livre de erros.
Lamentavelmente, para minha completa infelicidade, cometi um erro com o Mestre de mim. O
castigo vinha em doses homeopáticas, no momento em que cometia a minha falha, eu já começava
a lamentar e o arrependimento era imediato. Para mim, era a pior coisa que podia acontecer. Ver
a decepção nos olhos do Mestre, fazia-me sentir impura, pequena, desonrosa e muitas vezes suja.
Eu preferia mil vezes uma surra de cane ou de seu chicote com fios de aço, do que sua indiferença
e sua decepção. Aquilo doía na alma, era tão agonizante que me faltava o ar.
— Patrícia! — Veio sua ordem de comando.
O fato do Senhor usar meu nome ao invés do meu apelido carinhoso já demonstrava o quanto
Ele estava insatisfeito comigo. Com o coração apertado, fui atendê-lo rapidamente.
— Mestre de mim. — respondi, de joelhos com a cabeça baixa e sem invadir seu espaço.
Eu estava envergonhada demais para olhar em seus olhos. Eu tinha certeza que se o fizesse
começaria a chorar, deixando-o ainda mais desapontado. Por longos minutos fiquei ajoelhada na
porta esperando por Ele. A espera era ruim, mas o que estava por vir era muito pior, como disse:
em doses homeopáticas.
— Quando começamos a nossa relação, tínhamos como objetivo mútuo, conhecermos um ao
outro. Todo o início envolve aprendizado e adaptações feitas diariamente. Não foi uma tarefa fácil
conhecer você, você me conhecer e os gostos um do outro. Também não foi fácil moldá-la ao meu
jeito.
Naquele ponto eu já estava tremendo e lágrimas transbordavam dos meus olhos. Tínhamos uma
história, foram longos anos de muito aprendizado da minha parte e subserviência. Eu o amava de
todo o meu coração e alma, era tudo o que eu tinha para entregar a Ele. Foi um erro tolo da
minha parte e agora eu estava com medo. Não medo da dor, mas sim o medo por saber que a
minha falha o tinha desapontado.
— Só que, esse período de adaptação já passou. Você me conhece e sabe como eu gosto das
coisas. Eu sei que você está em constante aprendizado, sei que em alguns momentos você vai errar
assim como eu também, não sou imune a erros. Contudo, em nossa relação TPE, a que eu e você
concordamos mutuamente em nossa negociação, você deu-me o direito de corrigir, ensinar e
castigar você conforme os meus desejos. Abriu mão do seu direito de escolha, você decidiu me
servir, decidiu colocar o seu bem-estar nas minhas mãos, confiando em mim essa responsabilidade.
Estou errado?
— Não, Mestre.
Eu não conseguia controlar o pavor que estava sentido e o remorso por tê-lo decepcionado
tanto. Sua voz demonstrava o quanto Ele estava desapontado com o meu comportamento
inapropriado. A sensação era horrível, dolorosa e amarga.
— A minha intenção é educar você. Desta forma fará com que você aprenda e reflita sobre o
seu erro.
O castigo era uma forma de me construir e reconstruir, me humilhar, me envergonhar e me
colocar em meu devido lugar e, ao mesmo tempo, fazer com que refletisse sobre os meus atos. O
castigo era um momento de dor, reflexão e aprendizado. Eu precisava dizer a Ele o quanto eu
lamentava pelo meu erro, o quanto me sentia desonrosa por tê-lo feito.
— Peço licença para me expressar, Mestre a quem pertenço.
— Escolha bem suas palavras, Patrícia.
—Lamento profundamente o meu ato falho, Mestre. O meu comportamento foi inadequado e a
forma como me expressei foi insultante. Estou envergonhada e triste por ter cometido um erro tão
tolo. A minha missão é servi-lo e amá-lo incondicionalmente e, eu tenho feito tudo isso por amor.
Fazer o Mestre feliz, atendendo a todas as suas exigências e o seu prazer, é a minha recompensa.
Sou profundamente grata por me permitir ser sua escrava. Peço perdão ao Mestre por tê-lo
chateado e decepcionado. Lamento a situação mais do que posso expressar em palavras.
— Vem aqui, Patrícia!
“Era ruim, muito ruim”, pensei angustiada. Cada passo que eu dava, sentia-me como se
estivesse à beira do precipício. Parei ao seu lado, ajoelhando-me aos seus pés. Suas mãos vieram
para o meu pescoço, tirando minha coleira. Comecei a chorar em completo desespero, chorei muito,
era um misto de dor e angústia. Sentia-me como se metade de mim estivesse sendo arrancada.
— O que sente sem ela, Patrícia?
— Dor... muu...uiitaaa...dor... — Mal consegui responder, a dor era tanta que eu estava
sufocada.
— Essa coleira não representa apenas que eu a possuo. Ela representa o seu respeito para
comigo, sua honra, sua conduta, sua obediência e mais, a sua subserviência. Ela significa o laço que
existe entre nós, implica a sua servidão a mim, sem reservas. Você me serve, me agrada, me
obedece e me honra. Você tem privilégios, mas não tem direitos. Você se orgulha disso, Patrícia?
Limpei minhas lágrimas, tentando me recompor um pouco. Eu não precisava pensar nas
palavras para expressar o orgulho que eu tinha em pertencer a Ele.
— Tenho muito orgulho de pertencer ao Mestre, a quem entrego minha alma. Tenho orgulho do
Senhor maravilhoso a quem reverencio. Não me sinto diminuída por me ajoelhar aos seus pés, pelo
contrário, quando o faço, é com orgulho por ser a escrava que o Mestre escolheu para possuir. Sou
grata por ter a oportunidade de compartilhar minhas fantasias com o Senhor, por ser a puta que
lhe proporciona prazer, por ser a cadela que usa sua coleira e a escrava que o serve. Por essas e
por outras várias razões é que tenho orgulho da minha condição. Não da minha condição de
escrava, mas de ser sua escrava, não por ter um Mestre, mas por ser o Senhor esse Mestre.
— Quero que pense em suas palavras, Patrícia. Quero pense no que esse apartamento tem
significado para nós todos esses anos e, mesmo sabendo que em escritura ele é seu, eu sei que ele
é nosso em todo o resto. Você feriu meu orgulho ao me lembrar de forma irônica que ele era meu,
quando na verdade não é.
Eu não queria que Ele pensasse assim, não era dessa forma que eu queria que Ele visse, não
foi assim que que quis me expressar. Eu estava tão confusa... deixar a Suzana sozinha... sair do
Rio... me mudar para Teresópolis...
— Posso me expressar, Mestre?
— Não, você não pode. E até que eu mande, você também não pode me chamar mais assim.
— exigiu, colocando minha coleira na gaveta. — Agora vá para o seu quarto, tire suas roupas e
fique de joelhos até que eu diga o contrário.
Olhei para minha coleira dentro da gaveta e instintivamente toquei meu pescoço...eu me sentia
completamente nua sem ela. Como iria chamá-lo? Como passaria a viver sem Ele? Ele não me
queria mais?
— Não me faça esperar, Patrícia. — O olhar Dele era um misto de severidade e reprovação
e, eu lamentei ser responsável por aquele olhar.
Ao ficar de pé, senti uma leve perda de equilíbrio, mas ele não vinha do meu estado físico,
vinha do meu emocional, da perda que estava sentindo. Durante os últimos cinco anos que vivi
servindo-o, jamais pensei no término da minha subserviência. Eu fazia tudo, da melhor maneira
possível, sempre com o intuito de agradar, de fazê-lo feliz, de proporcionar ao Senhor o melhor de
mim. Eu vivia minha vida de acordo com suas exigências, mas minhas atitudes, minha postura, meu
comportamento eu fazia por amor. A minha entrega era por amor a Ele.
Eu o amava com tudo o que eu tinha, com toda a minha honestidade, lealdade, confiança,
credibilidade, carinho, respeito, honra e caráter. Eu não parei, um único momento em todos esses
anos, para pensar no que seria da minha vida a partir do momento em que Ele tirasse minha
coleira. Sempre me dediquei ao máximo, sempre dei tudo de mim e, nunca precisei pensar que um
dia eu não seria suficiente.
Não era arrogância, não era por achar que era a melhor, mas pelo fato de que eu sempre
dei o meu melhor. De ouvir e absorver, de aprender e praticar, de Ele ensinar e eu me educar, de
servir sem esperar nada em troca, de amar com idolatria, sem esperar reconhecimento. Ficar
atenta e me antecipar às suas necessidades e exigências, realizando-as mesmo antes que Ele
solicitasse. Tentar todos os dias superar suas expectativas, de ser para Ele além do esperado. Era
me desnudar por Ele, para Ele e sempre para o prazer Dele.
Não voltei a olhar para Ele, não conseguiria sair de lá, sem me jogar aos seus pés e implorar
por seu perdão e, eu faria, se eu soubesse que daria resultado. No entanto, eu sabia melhor,
conhecia o Mestre e uma atitude mesquinha como aquela, só o deixaria ainda mais irritado. Então
como uma boa escrava e sabendo que estava correndo o risco de perder o meu lugar como sua
submissa, fui para o quarto. Obedecendo às suas ordens, tirei minhas roupas e me ajoelhei
conforme Ele havia exigido.

Paulo – Mestre Shadow


Quando a disciplina era aplicada mediante uma falha minha, eu me sentia muito pior que ela.
Falhei em não deixar claro o posicionamento diante da minha mudança para o seu apartamento.
Não foi algo planejado, simplesmente aconteceu. Eu vendi meu apartamento para comprar uma
casa em Teresópolis que era meu sonho e a oferta era irrecusável. Unindo assim, o agradável em
conquistar o lugar e a necessidade em estar perto do meu trabalho.
Durante um ano inteiro, trabalhamos em cima do nosso contrato. Eu estava constantemente
viajando para fora do Brasil, a fim de buscar o melhor para a construção do castelo. Depois de
finalmente estarmos de acordo nas negociações e, assinar o contrato, Patrícia passou a ser minha
escrava. Logo depois, surgiu a oportunidade da venda do meu apartamento. Ela voltou para o
apartamento dela, pois ainda trabalhava no Rio e, eu ficava no hotel nas minhas folgas.
Estávamos em um relacionamento há pouco mais de um ano e, entre idas e vindas, estadias em
hotéis e o cansativo deslocamento, resolvi aceitar o seu pedido e ficar no seu apartamento. Com
isso veio a necessidade de usar o outro quarto para nossas sessões, o nosso próprio dungeon. Não
foi algo impulsivo, foi uma atitude pensada, conversada e de comum acordo de ambas as partes.
Então sim, eu falhei em continuar ali, em um lugar que era seu. O fato de ser Mestre dela, não me
dava o direito de me tornar proprietário do imóvel que ela possuía. Apenas ela, me pertencia.
A falha foi minha, por não deixar claro a minha condição ali dentro, e a dela na relação. Não
gostei da sua ironia, nem do seu rebate na minha palavra e muito menos de sua desobediência em
me responder.
Cada Dominador disciplinava de uma forma diferente, minha paty odiava ser ignorada. Ela
tinha pavor da minha indiferença e era esse o meu castigo para ela. Claro que me preocupava
muito o seu estado emocional antes, durante e depois de cada castigo, mas ela precisava aprender
três lições: a de não me responder, a de nunca me repreender e de jamais ser irônica com seu
Mestre.
Como eram três lições, o castigo viria em três etapas: a primeira seria a minha indiferença. O
segundo seria tirar sua coleira e não permitir que ela me chamasse de Mestre. Em terceiro a
humilhação por ter sido irônica, um ato que eu abominava. Jamais permiti a ela tamanho
desrespeito.
Durante toda a tarde fiquei tomando as providências necessárias para desmontar o quarto
que usávamos para nossas sessões. Wagner era um amigo que instalava as aparelhagens para o
dungeon e que também era um Dominador associado do clube. Contratei outra empresa para
embalar todas os seus quadros e móveis, tudo iria para minha casa em Teresópolis. Eu não queria
tirá-la abruptamente do seu ambiente, sem suas coisas. Ela era caprichosa, gostava de decoração
e tinha toda uma parafernália de objetos decorativos.
Eu tinha planejado uma viagem para nós dois a Natal, mas a ideia agora não era tão boa
quanto antes. Precisava pensar um pouco mais, estava extremamente chateado para sair de
viagem com seus outros castigos ainda para serem aplicados.
Saí do meu escritório indo para o nosso quarto, era pouco depois das seis, então ela tinha
ficado cerca de cinco horas ajoelhada. Eu sabia sem sombra de dúvidas que ela tinha se
comportado exatamente como eu havia lhe pedido.
Abri a porta do quarto, vendo-a ajoelhada com o corpo coberto de suor. Seu cabelo estava
grudado nas costas e na testa. Deixar que ela ficasse a tarde inteira dentro do quarto, fazia parte
do castigo. Seus olhos estavam vermelhos e seu pequeno nariz não estava diferente, lábios
inchados... Sua visão era magnífica.
— Vá tomar seu banho, se alimente e depois me encontre na sala.
— Sim, Senhor!
Voltei para o meu escritório e peguei sua coleira. Por cinco anos nunca havia tirado dela,
nunca havia questionado aquela situação e, ainda agora, não era a minha intenção. Ela era uma
escrava extremamente dedicada e ávida para aprender. Ouvia com atenção, estava sempre
disposta, seguia minhas exigências e muitas vezes até se antecipava. Eu não tinha queixas de sua
subserviência. Contudo seu comportamento foi inadequado, ela me deixou chateado e até
envergonhado, então eu precisava aplicar a disciplina.
As pessoas não desistiam do carro porque o pneu tinha furado, ou desistiam dos filhos porque
eram desobedientes. Ao contrário, aproveitavam aquela situação para aprender a trocar um pneu
e ensinar ao filho a ser uma pessoa melhor. A analogia se aplicava aqui, não desistiria da minha
pequena escrava por ela ter me desobedecido, ela iria tirar algo bom daquele castigo, ela iria
refletir sobre o seu comportamento e pensar mais em suas atitudes.
Liguei a televisão na sala, me sentei e coloquei sua coleira ao meu lado. Ela passou por mim
quase quinze minutos depois e foi para a cozinha preparar algo para comer. Eu almocei muito mal,
pois a comida não estava do meu agrado ou talvez porque a situação tinha me deixado muito
irritado. Agora estava morrendo de fome e, ela não tinha me perguntado se eu queria algo para
comer. Eu esperei para ver o que ela faria. Eu não duvidava que ela prepararia algo para mim,
entretanto, devido ao seu abalo emocional, aguardei para ver qual seria sua atitude.
O desgaste emocional não foi só dela, foi meu também. O horror em pensar que Patrícia
estivesse dentro do carro na hora do acidente, fora sem precedentes. Tinha dormido muito mal,
estava chateado e magoado com ela, contudo, resolvi esperar que a situação de Suzana se
resolvesse, para colocar minha escrava em seu lugar. Diante disso, acabei pegando no sono no
sofá da sala. Ao acordar ela estava ajoelhada à minha frente.
— Já comeu?
— Não, estava esperando o Senhor acordar. Não estou acostumada a fazer antes do Senhor.
Não, ela não tinha aquele hábito, costume que ela mesmo havia criado, sem precisar que eu
pedisse. Ela não almoçava antes de mim, nem mesmo quando estávamos longe um do outro.
Sempre que ela saía para o almoçar, ela me ligava pedindo permissão para comer. Só que eu
tinha mandado ela comer e ela mais uma vez tinha desobedecido uma ordem minha.
— Vá se alimentar e depois vá para sua cama. — Agora eu aplicaria o outro castigo, ela
comeria sozinha. — Eu vou comer sozinho.
Ainda ajoelhada, olhou para a coleira ao meu lado e lágrimas grossas transbordaram dos
seus olhos. O sentimento de perda era muito grande, pois dentro da relação D/s a coleira era um
marco na relação e na vida da submissa. Ela era importante em muitos sentidos, principalmente no
valor sentimental. No valor de pertencer ao Mestre, de ser alguém para Ele.
— Posso usar o banheiro, Senhor?
— Sim.
Esperei que ela fizesse sua refeição e se retirasse antes que eu fosse para a cozinha. Eu
estava morrendo de fome, ainda assim, a minha ausência era o castigo dela, então me mantive
firme. Assim que ela foi para o quarto, eu me levantei e fui surpreendido pela bela mesa colocada
para mim, na sala de jantar.
Ela havia feito uma lasanha – uma das minhas comidas favoritas – mantendo-a aquecida no
réchaud, um vinho e pudim de leite condensado. O pudim já estava pronto, mas a lasanha ela
havia feito agora à noite. Apreciei a lasanha e o vinho de bom grado. Ela tinha uma excelente
mão na cozinha.
Depois fui dormir no escritório por dois motivos, o primeiro era que eu queria deixar claro
para ela, o quanto ela havia me desagradado e, como o apartamento era dela, assim também o
era o quarto e a cama. Segundo para deixar claro a minha decepção.

***

Na manhã seguinte, me levantei e fui fazer minha rotina matinal. Assim que entrei no banheiro,
percebi meus itens de higiene arrumados sobre o balcão da pia e minha roupa dobrada em cima
do suporte de toalhas do banheiro. Eu não a tinha visto, mas sabia que ela ainda estava em casa,
pois o cheirinho de café permeava o ar. Eu não queria que ela fosse trabalhar, tínhamos muitos
assuntos para serem discutidos, era assim que eu queria, era assim que seria.
Saí do quarto, passei na sala para pegar a coleira e fui para a cozinha. A ideia era que ela
visse a coleira, fazendo-a se lembrar do quanto ela era importante para ela. Ao entrar, me
deparei com uma cena que me deixou louco de tesão. Patrícia tinha tarefas para serem cumpridas
durante o dia sobre o meu comando e, eu tinha esquecido de dizer a ela que não precisava
cumprir suas tarefas naquele dia. Ela estava com o cabelo preso, usava uma maquiagem suave e
estava completamente nua. Ver suas curvas exuberantes, aquela bunda redonda, coxas grossas e
seios fartos... Fiquei de pau duro e aquele não era um bom momento para satisfazer os meus
desejos.
— Bom dia, Senhor! — cumprimentou-me, de cabeça baixa.
— Bom dia. — respondi, ocupando meu lugar à mesa, colocando a coleira na minha perna. —
Vai trabalhar?
— Não, Senhor. — respondeu, gentilmente. — Antes do acidente eu já tinha pedido demissão
para Suzana e agora não faz sentindo nenhum eu voltar.
Ela serviu meu café e esperou, ajoelhada ao lado da mesa. Tomei o meu café calmamente,
fazendo-a se contorcer ao meu lado. Gostava daquilo, do seu desespero, de sua ansiedade, da
vontade enorme que ela tinha em falar comigo. Todas aquelas reações faziam parte do
aprendizado, ela tinha que aprender a se comportar, a respeitar minha palavra e a me obedecer.
Ela era minha escrava, minha posse, meu objeto.
— Hoje à tarde, vamos ter alguns visitantes aqui para desmanchar o dungeon. — comentei,
medindo sua reação.
Ela não disse nada, mas começou a chorar. A ansiedade era um sentimento muito intenso.
Provinha de momentos de perigos reais e imaginários, como no caso dela. Ela não sabia o que
estava acontecendo, mas eu podia imaginar os absurdos que estavam passando por sua cabeça. A
sensação de nervosismo, mal-estar, coração acelerado, suor e medo, eram reações que o corpo
tinha diante da ansiedade.
— Sim, Senhor.
— Vai escrever em um papel mil vezes a frase: Não devo desobedecer ao Mestre. — exigi.
— Sabe o porquê disso, Patrícia?
— Porque fui uma escrava desobediente.
— Acha que merece o castigo?
— Sim, Senhor. Mereço ser punida por não obedecer ao Mestre e o desagradar ironicamente.
Deixei a cozinha para que ela tomasse o seu café. Esperava que os rapazes não demorassem
demais para vir desmanchar o quarto, esperava ansiosamente pelo seu próximo castigo.
Pouco antes do almoço ela voltou com a tarefa do seu castigo pronta. Lágrimas grossas
continuavam a cair dos seus olhos, deixando-os inchados e vermelhos. A maquiagem estava
borrada e o suor escorria por todo o seu corpo, ela estava uma bagunça emocional.
— Muito bem. — disse, pegando as folhas de papel de sua mão. —Agora vá tomar um banho
e depois volte para a sala.
— Obrigada, Senhor.
Eu conhecia Patrícia muito bem, ela era muito aberta aos seus desejos, medos e receios. Eu
conhecia seus limites, ledo engano de quem achava que uma escrava não tinha limites. Todos
tinham, inclusive os Dominadores. Mesmo ela assumindo um compromisso de total servidão e
entrega, ela ainda tinha medo e alguns receios, que foram conversados quando fizemos nossa
negociação.
Havia duas práticas da qual ela não gostava – não era um limite rígido – o medical play e a
escarificação. Ela tinha horror de expor sua bocetinha e orifício para todo mundo ver. Ela não
gostava da introdução de espéculos, agulhas, facas e cateter. Eu concordava com ela em uma, eu
também não gostava de escarificação.
Contudo, cabia a mim escolher a melhor forma de apresentar e introduzir cada uma das
práticas ao nosso relacionamento. Mesmo não gostando da prática medical play, aos poucos fomos
trabalhando com seus limites, fui introduzindo alguns objetos mais suaves. Hoje, ela já aceitava os
espéculos e também suportava o contato com agulhas, mas ainda se envergonhava em expor sua
bocetinha, eu gostava da ideia de ela guardar aquela parte tão íntima somente para mim, mas
agora, ela precisava aprender que da mesma forma que eu dava a ela alguns privilégios, também
tinha o direito de tirá-los. Ela era o meu brinquedo para brincar quando eu quisesse e meu objeto
para fazer dele o que eu desejasse.
O porteiro tinha acabado de me avisar que o meu amigo acabava de chegar para desmontar
o dungeon. Ela não sabia que ele era um Dominador e, seu próximo castigo seria a humilhação de
estar sendo exposta.
Ela voltou para a sala de banho tomado – ainda nua – no momento em que a campainha
tocava. Ela parou no meio da sala, não sabendo como agir. Com a cabeça baixa, esperou o meu
comando.
— Abra a porta, Patrícia. — Ela não respondeu, mas voltou a chorar convulsivamente.
Eu estava profundamente decepcionado com ela. A ideia de dividir o apartamento tinha sido
dela e, eu acreditei que seria uma coisa boa. Ela feriu de verdade meu orgulho, insinuando uma
situação que não era real, colocando-a de forma inadequada. Não gostei, ela tinha que aprender
que suas escolhas tinham consequências, que sua ironia, rebeldia e sua desobediência, lhe trariam
um castigo. Era iria aprender a refletir e pensar muito, antes de voltar a me ofender.
— Simmm...Seeennhhoorrr.
Ela abriu a porta com o queixo no peito. A vergonha vinha em ondas, ela nunca foi sujeita
àquele tipo de castigo. Eu sempre peguei leve, mas ela realmente tinha extrapolado os meus limites
em suas mensagens.
— Wagner. — cumprimentei-o, educadamente.
— Paulo. — retribuiu, sem olhar para a minha cadela.
— Mostre a ele o quarto, Patrícia.
Ela ficou estática, estava tão envergonhada que seu corpo inteiro estava vermelho. Bom, ela
aprenderia agora, qual era o seu lugar. Entre lágrimas, gemidos e soluços ela pediu que Wagner
a seguisse.
Depois de deixar Wagner e os dois rapazes – que eram seus dois submissos – no quarto, ela
voltou para a sala. Eu tinha imaginado o quadro completamente diferente, tinha pensado em uma
viagem para nós dois, sair um pouco, descansar, espairecer a cabeça, entretanto ela tinha mudado
completamente meus planos com o seu comportamento. Eu seguia chateado e indignado com sua
insinuação e desobediência.
— Vá para o quarto e coloque as minhas coisas em uma bolsa. — exigi, deixando-a sozinha
na sala.
Passei um longo tempo conversando com os rapazes enquanto eles desmontavam toda a
aparelhagem. A nostalgia em ver tudo aquilo sendo embalado era sem precedentes. Se estava
doendo em mim, estava nela também. Tínhamos compartilhado muitos momentos ali dentro,
aprendendo seus limites, ensinando, buscando mais prazer, informação, tudo o que fizemos e
aprendemos um com o outro em mais de quatro anos, aconteceu ali naquele quarto.
Eles terminaram de desmontar os aparelhos e embalar tudo no meio da tarde. Wagner
deixaria tudo em minha casa em Teresópolis, conforme havíamos combinado. Eu não tinha
almoçado, mas também não sentia fome. Eu só queria sair daquele apartamento o quanto antes.
Procurei por Patrícia na casa, encontrando ajoelhada ao lado da cama, de frente para a minha
mala.
— Estou saindo. — Anunciei atrás dela, observando seu corpo inteiro estremecer com a notícia.
— Quando eu tiver tempo, volto a entrar em contato com você.
— Peço permissão para me expressar, Senhor. — pediu, aterrorizada e desesperada.
— Seja breve.
— A minha entrega, a minha subserviência e minha submissão são genuínas. Não estou aqui
tentando passar uma postura da qual não tenho conhecimento e muito menos vontade. Sei quem
sou, sei o quanto aprendi e o quanto tenho que aprender. Não me entreguei ao Senhor de forma
leviana, quando o fiz, estava preparada para o fazer de corpo e alma. — Parou para limpar as
lágrimas e respirou fundo, antes de continuar...
— Não existem pessoas perfeitas, para ser submissa é necessário se abster de pensamentos
baunilhas, de controlar emoções, corpo e mente, de se doar e estar disposta a aprender. Nem tudo
são flores, já tive os cacos da minha privacidade rompida, por pessoas que diziam ser amiga, irmã
e continuei caminhando servindo com o coração. Já tive medo, tristeza, mas também tive momentos
de contentamento e nunca duvidei de quem eu era e, jamais tive vergonha das minhas
necessidades. Eu encontrei o Senhor nessa estrada. Eu encontrei a alegria de ser possuída por um
Mestre genuinamente preocupado, esforçado, centrado, ético e de um caráter único. Eu o amo com
tudo o que eu sou, eu o amo profundamente. O que sinto pelo Senhor não é ilusório, não faz parte
de uma fantasia e muito menos de uma cena. É real, é palpável. Posso sentir e tocar na mesma
proporção. Dito isso, lamento do fundo do meu coração a vergonha, a mágoa e o
descontentamento que lhe causei. Nunca! Jamais! Em momento algum, tive a intenção de destratá-lo
ou humilhá-lo. Eu fiz, mas sem intenção de fazê-lo. Peço perdão pelo meu erro. Diante disso, por
tudo o que represento, por tudo o que sou como submissa, escrava, cadela e mulher, eu imploro e
rogo que o Senhor reconsidere sua partida.
Jamais poderia expressar o que as suas palavras significaram para mim, contudo, eu não
podia voltar atrás. Errar era natural, mas voltar com a palavra era errado. Daria a ela um poder
que ela não tinha, demonstraria diante dela, uma fraqueza minha. Eu não podia permitir que suas
palavras acaloradas tivessem efeito sobre o seu castigo. Ela tinha, de fato, me tocado
profundamente, mas não para retroceder. Entretanto, eu podia dizer que voltaria em breve, para
amenizar, não diminuir, o seu sofrimento.
— Agradeço de coração, suas palavras. — disse, sendo completamente honesto ao meus
sentimentos. — Ainda assim, eu vou sair. Eu preciso descansar, estou exausto fisicamente, tenho
trabalhado anos sem férias. Não era o que eu tinha em mente, mas diante da situação, fui
obrigado a mudar meus planos. Assim que eu estiver melhor, voltamos a conversar.
Peguei minha mala e com o coração acelerado por deixar para trás a minha menina, saí do
apartamento que durante anos foi um lugar onde recebi e dei muito prazer. Já no estacionamento,
ao tirar a chave do carro do bolso, percebi que a sua coleira ainda estava lá, eu quase voltei
atrás, mas preferi seguir, mesmo sabendo que era errado deixá-la pensando que eu a tinha
deixado de vez. Não era aquela a minha intenção, mas como ser humano eu estava chateado e
magoado. Ver toda aquela aparelhagem ser desmontada, deixou-me vulnerável. Parte da nossa
história estava dentro daquele quarto. Exagero? Talvez, mas era assim que eu me sentia.
Willian – Lord Fire

E u havia combinado com Riddle de tomarmos café juntos, entretanto no


meio do caminho me deparei com um Scat e, agora, ao chegar ao
restaurante me deparo com Lord Evil e sua submissa. Quase voltei atrás,
embora a ideia de atormentar Suzana fosse bem-vinda, a companhia do cara não era. Ela tinha
um instinto enorme para o perigo, jamais faria mal a ela, contudo sua reação a mim me deixava
envaidecido.
Cumprimentei a todos, mas sem olhar para as duas mulheres presentes. Marco ainda estava
entalado na minha garganta e eu faria que Jhonatan visse o que estava acontecendo.
Ele mesmo havia me ensinado e, eu acreditava naquela lição, que quando possuíamos algo,
seja o que for, precisávamos estar conscientes de todas as funcionalidades e seu estado de
preservação. Se era válido para objetos inanimados, era ainda mais para um ser humano. Nas
relações D/s sempre havia uma parte que comandava e a outra que obedecia. Era uma regra,
não havia a ideia de duas pessoas comandarem ao mesmo tempo, entre si. E a pessoa que estava
ali, amarrada, amordaçada e vendada, depositava sobre seu Senhor, uma confiança de total
entrega, tanto física, quanto vital. O Dominador jamais poderia perder o controle sobre a submissa,
que mesmo confiando a ele todo aquele poder, ainda merecia o respeito.
Sempre era bom ter em mente que uma das questões mais elementares do BDSM era nunca
danificar sua peça. Eles eram um presente, entregue a nós Dominadores, com todo o carinho,
devoção e respeito. Eram especiais, tinham um valor real: a sua entrega e confiança. Não era um
presente comprado, era conquistado. Era da responsabilidade do Dominador o respeito à peça
que ele cativou e encoleirou. Ela merecia toda a atenção e carinho. Usando desse ensinamento que
para mim, foi de grande ajuda para entender a extensão das relações, também era por aquele
ensinamento que eu abominava a maneira que Marco travava sua escrava.
Fiquei para tomar café com eles, porém eu o ignorei. Centrei minha conversa apenas com
Suzana, que ainda seguia com medo. Entre uma conversa e outra me ofereci para ser seu guia, e
mostrar a ela todas as instalações do hotel. Sem esperar uma resposta dela, Jhonatan assumiu o
controle, exigindo que ela fosse comigo.
Eu sabia que muitas salas do calabouço ainda estavam ocupadas, então ao passo dela – pois
estava com a perna engessada – andamos pela área recreativa do castelo, dando um tempo para
que todas as práticas lá embaixo fossem encerradas.
O pavor e o medo que ela sentia conforme íamos descendo para o calabouço era tangente.
Obviamente eu tentei deixá-la o mais confortável possível, contudo havia algo nela que me fazia
atiçar ainda mais o seu medo, mas não o suficiente para causar pavor, apenas proporcional às
suas palavras.
Aproveitei que ela estava observando detalhadamente os castiçais, sofás e toda a decoração
e, acelerei meus passos para me certificar de que não havia nenhuma sessão daquele lado.
Todavia, meu intuito em ajudar, acabou prejudicando a moça, assim que voltei eu não a encontrei.
Irritado por ter sido imprudente, voltei por todo corredor e as salas próximas, mas sem sucesso.
Na medida que os minutos passavam, mais preocupado eu ficava, não com sua vida, mas com
sua segurança. Um erro dela, a colocaria em um bocado de problemas ali dentro. Já estava pronto
para ligar para o Jhonatan, quando ouvi uma conversa desconcertante dentro do banheiro. Mesmo
sabendo que era errado esperar, eu o fiz. Eu queria saber se eu estava certo no meu julgamento
em relação à Darkness e, eu estava. A voz de comando da Domme e seu intuito de criar uma
situação errônea ficaram bem claros para mim.
— Suzana? — Intervi, antes que a situação saísse ainda mais do controle.
Ao seu grito de socorro, invadi o banheiro, vendo Darkness com seu tamanho total, em cima da
garota e seus cabelos em punho.
— Que diabos está acontecendo aqui? — indaguei, furioso com a audácia da Domme.
Ela jamais deveria tocar aquilo que não pertencia a ela, não era só uma regra, era ética. A
moral do Dominador estava em suas atitudes, em sua respeitabilidade, caráter e principalmente na
sua conduta.
— Olá, nobre colega. — cumprimentou-me, com desdém. — Olha só o que eu encontrei aqui.
— Suzana estava apavorada, seu medo não era erótico, não era consensual e eu não gostei de
ver como Darkness a submetia.
Ela não tinha encontrado nada, ela tinha causado uma situação de propósito. Contudo, ela não
tinha a menor ideia de onde havia se metido, Jhonatan jamais deixaria que ela tocasse com um
dedo na garota.
— Vamos conversar, Darkness. — pedi calmamente, mas já pegando meu celular para avisar
Riddle, da situação no banheiro.
— Regras são regras e ela quebrou uma.
— Riddle é seu mentor. — anunciei, arqueando a sobrancelha, insinuando a merda que era, se
meter com o homem errado. — Ela é uma baunilha e está conhecendo o estilo de vida agora.
— Parece que ele não a tem ensinado muito bem. — insinuou a Domme, arrancando de
Suzana seu lado protetor para com o Dominador, piorando ainda mais a situação.
— Mantenha a boca fechada, Suzana! — vociferei, irritado. — Eu vou ligar para o Riddle,
Darkness. Não ouse tocar nela sem o consentimento dele.
— Eu estou no meu direito, Lord Fire.
— Vamos ver o que o dono do castelo e das regras vai dizer. — repliquei mordaz.
Disquei o número de Riddle me afastando um pouco das duas, mas sem tirar os olhos de
Suzana. Para o bem dela, esperava que ela não abrisse novamente a boca, a situação poderia
piorar e muito.
Ele atendeu a ligação no primeiro toque...
— Temos um problema. — Trinquei o maxilar, irritado por estar naquela situação e ter
colocado a garota nela também.
— Pedi que você cuidasse dela!
Ele não precisava me avisar, eu tinha cuidado da menina, só não tinha imaginado encontrar
Darkness ali, àquela hora da manhã. Muito menos, criando uma situação para sujeitar a garota
daquele jeito.
— Estamos no banheiro do calabouço, na ala de spanking.
— Estou descendo.
Desliguei o telefone e voltei a me aproximar das duas, Darkness ainda tinha o cabelo da
garota em punhos. Era desnecessário aquele tipo de abordagem.
— Você sabe que está se excedendo, certo?
— Ela não me respeitou!
— Juro que isso não é verdade, Lord Fire.
— Ela está me chamando de mentirosa? — indagou, Darkness incrédula.
— Suzana, apenas fique de boca fechada.
Porra! Que mulher exasperante! Ela não via que a situação estava bem ruim para o lado dela?
Qual a ideia de complicar mais? Ser punida?
— Solte-a. Agora! — Veio a ordem de Riddle atrás de mim.
Rapaz! O homem estava furioso! Eu nunca tinha visto Riddle agir daquela maneira em relação
a uma submissa, quem diria a uma baunilha. Fiquei de lado e deixei que ele passasse para
conversar com Darkness que protelou em soltar a moça. Era uma situação extremamente
desconfortável, pois tínhamos regras a serem cumpridas e erámos responsáveis pelas pessoas que
trazíamos como convidados para o clube. Ele tinha feito as regras e infelizmente, agora teria que
cumprir uma delas, aplicando uma punição – mesmo que não tenha sido proposital – pela falta de
respeito com uma Domme.
Para o azar de Darknees e meu completo alívio, Riddle não permitiu que ela aplicasse a
punição. Eu deixei em evasiva que tinha achado a situação proposital, não bancaria o fofoqueiro,
não era o meu papel ali dentro. Às vezes ser Dominador e trabalhar dentro de um clube de
dominação era uma merda. Muitas vezes era impossível separar as duas coisas. Eu gostava do meu
trabalho, aliás eu amava o que eu fazia, infelizmente, ali dentro, também tinha picuinhas e guerra
pelo controle como em qualquer outro lugar.
Para minha surpresa e, aparentemente a de Riddle, a pequena baunilha, permitiu a punição,
dando um belo exemplo de superação, controle e submissão. Ela agiu brilhantemente na hora do
spanking. Estava impressionado com a pequena.
Obviamente, não fui o único a ver aquela peculiaridade, Darkness confrontou Riddle pelo
comportamento da menina. Eu vi nele, um olhar de posse, de desejo e vontade. Ele queria a menina
e talvez tivesse moldando-a à sua maneira. Particularmente, eu não achava errado. Entreguei a ele
o roupão de Suzana comentando o comportamento dela, ele apenas acenou, pegando a pequena
nos baços e levando-a para casa.
— Ele parece bastante territorial. — confabulou, Darkness, fazendo-me ranger os dentes. —
Ainda me pergunto porque ela está sem coleira, se ela obedece apenas ao comando de Riddle.
— A questão aqui, Darkness é a ética. — disse, mordaz. — É a falta dela que gera grandes
conflitos e problemas.
Não esperei para ouvir sua resposta. Eu estava começando a ver um lado feio do BDSM, do
qual jamais imaginei. Obviamente tanto aqui dentro, quanto lá fora, existiam pessoas que achavam
que por terem um certo tipo de controle e dominação, podiam vir aqui e pegar qualquer uma das
sub para si, ou agir de forma abominável, assediar a sub de outra pessoa ou de uma que estava
sob a responsabilidade de outro Dominador, como no caso de Suzana. Ou até mesmo de pessoas
invejosas que faziam qualquer coisa para acabar com o relacionamento alheio.
Pessoas assim mereciam o banimento e a indiferença. Eram lixos, escórias que infelizmente, na
maioria das vezes, apenas varríamos para debaixo do tapete. Não podia continuar assim, não ali
dentro, não em um lugar onde tínhamos um grupo seleto de associados que pagavam para viverem
suas fantasias. Eles viam o castelo como um mundo paralelo ao baunilha. Aqui dentro, eles podiam
viver todos os seus desejos e fantasias sem correrem o risco de serem vítimas de preconceito. Era a
ideia fundamentalista de Jhonatan quando construiu o castelo. Era fazer desse lugar único, com
tudo o que tínhamos direito. Academia, restaurante, boate, hotel, lojas e suas variedades. A única
coisa que não tinha naquele lugar era um cinema, de resto, estava tudo ali.
Saí do castelo para ir embora, mas decidi passar na casa de Jhonatan para saber como
estava a pequena. Entrei no seu apartamento e não o vi na sala, aproveitei para esperar por ele
deitado no sofá. Estava exausto, louco para dormir e descansar meu corpo saturado. Não demorou
muito para ele aparecer. Conversamos por longos minutos a respeito da moça, da sua reação ao
spanking e sobre o fato dele não colocar uma coleira nela, ao menos para sua proteção.
Jhonatan era um cara honrado, o homem vivia o BDSM desde que nasceu. Foi criado por um
Mestre e uma escrava que viviam aquele estilo de vida. Ele não conheceu outro mundo que não
fosse esse. Ele se negava a tocar na garota, se negava a colocar uma coleira nela e mais, se
negava em dar aos dois o prazer que ambos queriam. Era louvável seu controle diante daquela
situação.
Para muitas pessoas que estavam entrando no BDSM agora, existia uma a transição entre o
mundo baunilha e o universo BDSM. Era difícil aceitar aquela mudança tão facilmente, pois
vínhamos de um conceito totalmente diferente. Tínhamos um padrão imposto pela sociedade, que de
certa forma era arraigado, foi assim que crescemos e amadurecemos. Contudo, havia um lado
totalmente libertador, não só sexual, mas também pela forma de pensar e agir. Eu acreditava que
essa transição era um tipo de limbo, ficávamos oscilando entre excursões aqui e vivendo lá. Doía
pra caralho aquelas dúvidas, aquele estado inerte. Era confuso e muitas vezes a pessoa não
conseguia fazer a transição sozinha, precisava de alguém ao seu lado para fazer essa passagem
com maior aceitação e sabedoria.
Eu não consegui, eu precisei e busquei por ajuda. Muitas vezes me senti doente por desejar
coisas tão obscuras, afinal desejar a dor do outro, a humilhação e ver o terror na outra pessoa
para sentir prazer, era de muitas maneiras além de aterrador para mim, como doentio para os de
fora. Depois de Lorraine eu caí nesse limbo, eu queria abraçar aquele lado, porém quanto mais eu
buscava, pior eu me sentia. Estudei muito, viajei muito e ainda hoje, era cru de muitos ensinamentos.
Vivíamos constantemente buscando por informações, por técnicas e aperfeiçoamento não só como
TOP, mas também como ser humano.
A pedido de Jhonatan, fiquei para almoçar com eles. Se ele achava que a pequena precisava
se acostumar com os Dominadores à sua volta, então que assim fosse. Ele teria as mãos cheias
para os próximos quinze dias, a garota tinha uma língua afiada e mais, ela não se calava, se tinha
razão ela defendia sua razão com unhas e dentes. Um desafio sem dúvidas.

Patrícia – {slave paty} Mestre Shadow

Eu vivi uma relação baunilha por um tempo, senti carinho, paixão, mas nunca devoção, nunca o
amor. Sentia uma necessidade da qual, para muitos no mundo baunilha, era visto como falta de
personalidade. Gostava de deixar as pessoas no controle, de decidirem por mim... Não era um ato
falho no meu caráter, era uma necessidade da qual eu não tinha conhecimento.
Eu fui introduzida no universo BDSM pelo Mestre Shadow. Senti a garganta se fechar ao
pensar Nele... Ele havia me ensinado muita coisa e ainda seguia ensinado. Ele foi o primeiro Mestre
que eu tive, entreguei-me a Ele há mais de cinco anos e tenho me dedicado até então. Quando
entramos nas negociações, Ele havia dito que iniciávamos uma etapa difícil, não apenas na minha
vida, mas, na de ambos. Seria aprendizados difíceis e que da minha parte, teria que haver muita
força de vontade e determinação.
Ele disse que da parte Dele também haveria dificuldades, que muitas vezes Ele me ouviria
falar sobre o seu cansaço físico e mental, das confusões de emoções e relutância em aceitar o que
eu era e minhas necessidades. O conflito entre o que era ético e moral. Que como Mestre, estaria
sempre ao meu lado, que caberia a Ele me dar todo o estímulo necessário para prosseguir, pois o
propósito de ambos, era que a relação fosse gratificante e prazerosa para as duas partes.
Tudo o que Ele havia me falado, tinha se concretizado. Eu tinha colocado minha vida nas mãos
de um Mestre que era correto, íntegro e honrado. Ele tinha me moldado, lapidado o que tinha de
melhor em mim e extinguido pensamentos e sentimentos baunilhas. Havia me dado liberdade sexual,
soltando as amarras que trancavam as minhas fantasias. Com Ele aprendi a ser uma pessoa melhor,
a me dar valor e a me tornar mulher.
Todos os dias eu aprendia algo mais, o meu aprendizado era diário. Às vezes com a liturgia,
com práticas, com dinâmicas ou até mesmo com a relação a dois. Claro que às vezes
compartilhávamos momentos baunilhas, afinal o conceito de são, era exatamente saber diferenciar
a fantasia da realidade. Levávamos a sério nossa relação TPE, como escrava eu tinha tarefas a
serem cumpridas. Muitas vezes eu passava horas com um plug anal, grampos de mamilos e outras
vezes era obrigada a me masturbar ao telefone para Ele. Minha alimentação era balanceada,
feita por uma nutricionista e minhas roupas eram escolhidas por Ele. Eu usava o que Ele queria e
do jeito que Ele queria.
Estudava práticas, aprendendo a superar meus limites. Eu tinha pavor de agulhas e algumas
de minhas tarefas era usar agulhas em alguns pontos do meu corpo para perder o medo.
Posteriormente, sendo cuidadosa com o manuseio e o descarte delas. Obrigações com o lar, com as
coisas do Mestre e sempre aprendendo a diferenciar minhas emoções baunilhas das de uma
escrava. Eu não o possuía, era Ele quem me possuía, por isso aprender a administrar o ciúme foi
uma das coisas mais difíceis que tive que aprender. Ele ainda existia, lá no fundo, bem lá no meu
íntimo, mas aprendi a lidar com ele, a fim de evitar sobrepor a minha vontade à do Mestre.
Eu jamais teria conseguido chegar aqui, se não fosse sua paciência, seu controle, sua vontade
de ensinar e mais, seu pulso firme para me guiar no caminho correto. Nunca imaginei que poderia
ter tamanho cuidado e respeito, como tive com Ele. E muitas vezes achava que não era
merecedora, por isso, sempre me mantive à frente nos meus afazeres, nunca esperando por suas
ordens o tempo todo. Sempre me antecipando, pois eu já o conhecia, eu sabia dos seus gostos,
hábitos e costumes, então para mostrar a Ele que minha entrega era genuína, era íntegra,
verdadeira e minha subserviência era real, eu sempre dava o meu melhor, muitas vezes era até
perfeccionista, pois Ele merecia e eu fazia com amor e devoção.
Desde a sua partida, não sabia o que fazer ou como agir. Estava em um estado catatônico.
Sentimentos conflituosos invadiam minha mente fazendo-me questionar – inapropriadamente – em
como eu deveria seguir. Eu tinha ordens diretas do Mestre, mas desde que Ele se foi, sem saber se
ainda era sua posse, não sabia como proceder. Aquela situação me matava, acabava comigo.
Sentia-me em uma casa, sem portas e janelas... A minha dependência a Ele, não era física, era
emocional. Eu dependia Dele para seguir adiante, de continuar com minhas tarefas, com os meus
afazeres e com minha serventia. Não via uma vida onde Ele não existia, onde minha entrega e
subserviência não eram mais necessárias.
Por mais que o estado inerte tentasse me alcançar, levando-me para um lugar escuro e recluso,
eu tentava arduamente lutar contra. Era errado, o Mestre não gostaria de me ver daquela forma.
Tentei muito não parar para pensar em como seria minha vida sem Ele, mas era impossível. Tocava
meu pescoço – lugar que antes ocupava sua marca – sentindo a imensidão do vazio ali. E mais uma
vez o lugar escuro tentava me alcançar...
Eu precisava de alguma coisa, de qualquer sinal de que ele voltaria e que perdoaria minha
falha, meu erro. Passei horas olhando para o meu celular, esperando... aguardando... sempre
esperançosa que sua ligação ou mensagem viria, mas nada veio. No instante que o meu celular
tocou – pela primeira vez desde de que Ele havia me deixado – meu coração voltou a bater. Com
a esperança guerreando com a razão, olhei para o aparelho, vendo o nome de Suzana na tela.
Eu atendi sua ligação, tentando ao máximo não passar para ela o que eu estava sentindo.
Afinal, o Senhor Riddle estava mostrando o estilo de vida a ela e, eu não queria e não podia
permitir que meus problemas a afastasse ou desse a ela dúvidas sobre o universo BDSM. Ouvi
atenciosamente tudo o que ela me dizia e, como era um hábito meu perguntar ao Mestre se eu
podia falar ao telefone, eu cometi aquele erro com ela.
Fiquei longos minutos sem saber o que fazer, mas a mentira já tinha saído e uma palavra
proferida, não tinha retorno. Voltei ao telefone sentindo a amargura da mentira descer como
veneno. Eu não mentia, nunca. Por pior que fosse meus sentimentos, meus conflitos, eu sempre falava
a verdade.
Saber que a Domme Darkness havia mentido sobre o comportamento de Suzana não me caiu
bem. Eu tinha visto a Domme ignorar várias vezes a Safeword de seus submissos. Compartilhei
daquela situação com o Mestre, apesar de não poder interferir até que tivesse uma denúncia
partindo de um sub, Ele me garantiu que jamais permitiria que ela se aproximasse de mim. Aceitei
suas palavras, mantendo-me tranquila, mas não fui incólume aos meus colegas.
Para minha infelicidade não ficou só nisso. Certo dia eu peguei seu sub falando mais de duas
vezes a Safeword e ela não parou. Eu não interferi, mas ao me aproximar da cena, acabei tirando
a atenção do sub da Domme. Ela provocou meu castigo. Tinha certeza que o Mestre tinha
acreditado na minha palavra, mas devido à falta de honra da Domme, acabei sendo punida pelo
Senhor para servir de exemplo.
Apesar da minha revolta com a Domme, o meu pesar por ter mentindo para minha amiga,
vinha em ondas...mentir era feio, distorcido, machucava as pessoas, feria de várias formas. Mais
uma desobediência... mas a quem eu diria? Se o Mestre estivesse aqui eu nem precisaria ter
mentido, na verdade nem foi um ato pensado, era um hábito meu me dirigir a Ele sempre.
Durante esses dias, meu maior inimigo era o tempo. No relógio, os ponteiros pareciam estarem
colados, a hora não passava, os minutos seguiam no mesmo ritmo. A dor era constante, a
insegurança era companheira e o pavor era minha sombra. Eu ainda seguia cumprindo todas as
suas ordens, era uma maneira que eu tinha de fazer sua presença constante. Continuava me
alimentando por puro desejo do Mestre, pois para mim não havia fome, somente dor.

***

Dois dias depois da sua partida, estava tentando arduamente não entrar em desespero,
quando meu celular tocou com uma mensagem do Mestre, perguntando que número Suzana
calçava. Achei estranho, mas respondi prontamente, acrescentando que ela só usava até salto dez.
Depois esperei...esperei... e nada mais veio. Nenhuma ordem, nada... absolutamente nada... eu
comecei a chorar incontrolavelmente. Eu sentia na alma a sua ausência, era algo que jamais
desejaria a alguém.
Mesmo diante de tanta angústia, não me arrependia de nada, de nenhum segundo que passei
servindo-o. Sempre tive a certeza que tínhamos algo especial e, mesmo agora sabendo que havia
a possibilidade de eu não pertencer mais a Ele, os momentos que vivemos juntos ficariam marcados
para sempre na minha memória. Eu sempre iria me orgulhar de um dia ter pertencido ao Mestre
Shadow.
Lorraine

Quinze anos atrás...

E u tinha dezenove anos, alguns quilos a mais, mas nada que me fizesse
entrar em dieta, pelo contrário, meus quadris largos e seios fartos com
barriga lisa, chamavam a atenção de muitos homens. Homens que não
significavam absolutamente nada para mim. Odiava caras novos que não sabiam como tocar uma
mulher, principalmente porque naquela fase estavam mais preocupados com o seu ego do que em
satisfazer. Eu gostava de homens bem mais velhos, coroas principalmente, no entanto, todos com os
quais eu saí eram tão ruins de cama quanto os novatos. Melosos demais, queriam tocar em todos os
lugares, mas no fim, não conseguiam me satisfazer.
Frustração era uma palavra que me definia. Os homens com quem eu saía não tinham pegada.
Aquela pegada gostosa, com força brutal e um pouco violenta também... Não violência física, mas
sexual... eu tinha desejos... muitos... eu queria ser tocada por mãos firmes e pesadas, por homens
que sabiam o que queriam e tomavam. O meu desejo era obscuro e muitas vezes aterrador e por
conta deles eu me isolei, me fechei em minha sexualidade. Para evitar qualquer abordagem dos
garotos, resolvi usar calças largas e camisetas maiores, tudo para afastar homens indesejáveis.
Era um círculo vicioso de casos malsucedidos, de noites que começavam com expectativas e
terminavam em frustrações. Eram toques de borboletas, como se eu fosse me quebrar ao ser
tocada. Eram beijos sem desejos, sem paixão, sem química. Eram conversas vazias e sem propósito.
Eu queria mais, meu corpo desejava mais.
Muitas vezes me excitava quando me tocava um pouco mais forte... beliscava meus seios,
apertava meu clitóris e apenas sentindo aquela pequena dor, eu ficava mais eufórica. Aprendi em
minhas excursões solitárias sobre a minha sexualidade que a dor trazia o meu prazer. Na hora
tudo era sensual, proveitoso e muito prazeroso, mas depois... depois vinha a solidão, a confusão, o
medo... Sentimentos que abafavam meus desejos e me puniam como nada mais.
Eu tinha conhecido um cara que tinha uma pegada mais forte, mas nada além de algumas
palmadas. Eu o tinha assustado tanto com os meus pedidos, que ele simplesmente sumiu, nunca mais
nos falamos. Provavelmente achou que eu era louca. E agora havia aquele garoto que mais
parecia um trator do que um homem. Sim, ele era alto e com ombros muito largos. Várias vezes eu
o peguei me olhando e, por diversas vezes me peguei pensando em como seria ter suas mãos
grandes sobre o meu corpo...
Eu não tinha mais paciência para qualquer tipo de abordagem vinda de garotos da
faculdade, aparentemente minhas roupas largas não os reprimiam como eu imaginava que faria,
principalmente ele, Willian. Fui obrigada a admitir que o cara era legal, insistente e se fosse
honesta, diria que ele era persistente. Tentei ser a garota pé no saco, daquelas chatas que todas
as respostas eram evasivas, tudo para constrangê-lo, porém, quanto mais eu tentava, mais insistente
ele ser tornava.
Para parar com aquela tortura e fazer com que o garoto simplesmente desistisse, resolvi
convidá-lo para sair. Ele foi pego de surpresa com o meu abrupto convite, percebi isso e
aparentemente ele também, pois inventou uma desculpa qualquer para me dar um fora. Aceitei na
boa, afinal era exatamente aquilo que eu queria.
Durante toda a semana evitei o cara, contudo, ele não se deu por satisfeito e acabamos
combinando de sair. Aquela foi a melhor decisão que já tomei, Willian sabia exatamente o que eu
procurava e desejava. Ele foi para mim uma grande revelação, proveitosa e satisfatória.
Nossos desejos eram diferentes, porém satisfatórios para os dois, enquanto o meu era sentir
dor, o dele era de provocar a dor. Aos poucos fomos nos aproximando, aumentando a intensidade
dos nossos desejos e explorando-os mais e mais.
Em casa a situação era ruim, era filha única, portanto, todos os olhares eram direcionados a
mim frequentemente. Algumas vezes era possível esconder as marcas dos nossos desejos, noutras
era extremamente difícil, principalmente quando era abraçada ou beijada pelos meus pais.
Muitas vezes fui questionada pela minha mãe sobre as marcas de sangue nas minhas roupas,
mas eu tentava desconversar. Eu menti muitas vezes dizendo que estava fazendo muay thai e que a
luta me deixava roxa e às vezes acabava machucando. Até que por um tempo aquilo serviu de
desculpas, mas minha mãe passou a ficar desconfiada. Então, quando as marcas sangravam,
procurava ficar na casa do Willian por pelo menos dois dias, a fim de evitar transtornos na minha
casa.
O meu erro dentro daquelas mentiras foi nunca dizer ao Willian o que estava acontecendo em
minha casa. Tínhamos cumplicidade, éramos amigos, parceiros e nos amávamos, apesar de ele
nunca ter dito, eu sabia que ele também me amava.
Minha mãe continuava insistentemente me observando, fazendo perguntas sobre a luta e até
desejou ir junto um dia. Eu sabia que a mentira tinha perna curta e eu já não podia sustentar
aquela mentira por mais tempo. Ao invés de aceitar levá-la para um lugar que não existia, fui me
afastando aos poucos de Willian, mesmo que aquilo me matasse. A ideia nunca foi terminar, era
apenas diminuir, dar um tempo em nossas fantasias. Matava-me fazer aquilo, ainda mais sem dizer
a ele, mas era necessário, pelo menos até minha mãe se acalmar.
Claro que apesar de parecer fácil em pensamento, não foi em ações. Eu sentia falta do homem
que eu amava, das coisas que compartilhávamos juntos. Não apenas o que fazíamos, mas do sexo,
da sua companhia e eu odiava estar me afastando dele, sem ao menos dar um motivo válido, dizia
apenas que era por conta da minha TCC, outra mentira inventada. Era errado, mas o medo de
perdê-lo era muito maior do que a mentira que eu estava criando.
Na semana onde tudo desmoronou, eu tinha ido com o meu pai a uma agropecuária comprar
algumas coisas que meu avô havia pedido a ele, que estavam faltando no sítio. Ração para os
animais que meu avô criava no sítio, alguns venenos e outras coisas mais. Enquanto meu pai fazia o
pedido, andei pela loja observando as prateleiras, quando me deparei com uma variação enorme
de cordas e chicotes.
Meus pensamentos indevidamente ou devidamente foram diretos para Willian. Passei a mão
naquele chicote imaginando qual seria a sensação daquele couro nas minhas costas...Fiquei
excitada só em pensar na dor que causaria. Um arrepio de medo e excitação percorreu meu corpo
inteiro.
— É uma peça muito bonita. — disse meu pai.
Assustei-me com sua abordagem tão próxima. Não tinha percebido sua aproximação.
—Que susto, pai!
— Você estava tão envolvida... — incitou ele.
Olhei para o chicote de couro marrom, passando os dedos nos trançados bem trabalhados,
sentindo um desejo enorme. Meu corpo estava excitado com a expectativa e os pelinhos
arrepiados. Eu não podia dizer ao meu pai, mas eu queria muito aquela peça.
— Acha que o vovô vai gostar? — indaguei, sem deixar ele perceber o quanto eu adorei
aquele chicote.
— Eu duvido que ele use isso no azulão... — disse meu pai, se referindo ao cavalo que meu
avô tinha e considerava como filho. — mas acredito que como peça decorativa ele até aprecie.
— Acho que vou levar. — anunciei rapidamente.
Eu queria aquela peça, queria sentir a queimação do couro na minha pele. Eu desejava muito,
mais do que conseguia pôr em palavras.
— Coloque junto com os pedidos do seu avô, se está certa que ele vai apreciar.
— Mesmo que ele não use ... — eu vou, pensei mentalmente — ele vai gostar do presente. —
concluí, sorrindo.
— Vá em frente.
Eu fui muito em frente, mais além do que imaginei quando adquiri aquela peça. Os olhos do
Willian ao ver aquele chicote em minhas mãos, era algo que eu guardaria para o resto dos meus
dias. Era ansiedade, prazer, satisfação e medo. Se eu soubesse que tudo terminaria daquela
forma, jamais teria feito.
O prazer foi imensurável, a satisfação suprema. Nunca havia sentido nada tão intensamente
prazeroso. No entanto, quando ele parou, eu sabia que aquela seria a última vez que estaríamos
juntos. A dor que eu senti quando ele me colocou na cama, não era prazerosa era horrível, ela
vinha com o remorso e a perda. Eu fiz aquilo, eu incitei, eu levei o chicote e aceitei a surra. Eu via o
horror nos olhos do Willian e lamentei profundamente fazer aquilo com ele, lamentei tê-lo colocado
naquela situação.
O corte teria que ser abrupto, sabia sem sombra de dúvidas que não havia como eu esconder
aquelas marcas da minha família. Então eu jantei e esperei estar bem o suficiente para me colocar
de pé e fui embora. Havia combinado com os meus pais que estaria em casa mais cedo, pois
iríamos para o sítio na manhã seguinte.
Aquele foi o pior fim de semana da minha vida, além da dor horrível que estava sentindo no
meu corpo, a minha rejeição de ir para a piscina, levantou as suspeitas da minha mãe. Então como
quem não quer nada, ela sugeriu aos meus tios que me jogassem na piscina e mesmo com minha
recusa, eu não fui ouvida e minhas súplicas não foram atendidas.
O horror ao ver meu corpo daquela forma foi tamanha, que minha família estava pronta para
deixar o sítio e ir para o Rio atrás do Willian. Eu nunca senti tanto medo por alguém como senti
naquele dia. Eu implorei, chorei, gritei e esperneei. Eu jurei que foi por prazer, que eu havia
consentido e pedi por isso. Meus pais não acreditaram em nenhuma palavra minha, mas se
acalmaram quando concordei que nunca mais voltaria a sequer falar com Willian. Para salvar a
vida do homem que eu amava, aceitei.
Ir para a faculdade e não olhar para ele foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer. Era
uma tortura e aquela tortura não era prazerosa, era dolorosa, sentia-me como se a minha metade
tivesse sido arrancada de mim, e de fato tinha.
Minha mãe não se acalmou e não faria até que me visse casada com um homem que ela
achava decente. Namorar com alguém que jamais entenderia meus desejos, foi o meu castigo. Era
uma tortura sem fim. Ela insistia diariamente que eu arrumasse um namorado e sem dar importância
para a minha falta de vontade, acabou fazendo por mim. Aceitei calada.
Comecei a namorar com Júlio, o filho de um amigo do meu pai. Ele era tão inútil quanto o cinto
de uma calça jeans apertada, servia apenas de decoração. O pior de tudo, foi ter que desfilar
com essa pária na faculdade. A dor que senti quando vi Willian nos vendo juntos foi sem
precedentes, doía nele, mas em mim? Em mim mais, muito mais.
Ficamos noivos e nos casamos em menos de seis meses, a minha vida era o inferno, mas
certamente a de Júlio não seria melhor. O homem era chato, romântico e meloso. Era tudo o que eu
mais odiava em um homem. Obviamente eu gostava de carinho, mas era de um carinho diferente.
Durante sete anos vivemos uma desgraça completa. Não erámos compatíveis só no sexo, era
em tudo. Nossas filosofias não se cruzavam. Eu o odiava com tudo o que eu tinha, era injusto, mas
era a única forma que eu tinha de fazê-lo me deixar. Eu queria que ele fosse embora, que ele
pedisse a separação, assim eu não precisaria continuar com minha promessa, afinal eu já havia
feito tudo o que a minha família havia imposto e depois do divórcio eu seguiria com a minha vida e
viveria da maneira que me agradava.
A sua insistência em termos filhos era diária, eu não queria, jamais colocaria uma criança no
mundo com um homem que eu não amava, em um relacionamento que não era saudável e um
casamento que estava fadado ao fracasso. Diante da minha relutância e da minha ausência na
relação, Júlio pediu o divórcio. Finalmente eu estava livre, assim eu pensava...
Era inútil e imaturo da minha parte, achar que o divórcio me traria alguma liberdade, claro
que dentro de uma relação foi sim libertador, mas diante dos meus problemas emotivos,
sentimentais e sexuais, eu ainda seguia presa.
Logo depois da minha separação a primeira coisa que eu fiz, foi ir até à casa de Willian, foi
onde descobri que não era mais dele, ele a tinha vendido há alguns anos. Na academia, a única
resposta que eu obtive era que ele havia mudado de cidade, sem mais. Odiei aquilo, odiei
profundamente saber que nunca mais iria ter a oportunidade de me desculpar, de dizer a ele o
porquê de ter feito tudo aquilo.
Eu tentei seguir com minha vida, tentei esquecê-lo, mas tudo em vão. Quanto mais eu tentava,
mais vívidas eram minhas memórias. Eu as cultivava todos os dias, pois elas me davam satisfação,
satisfação que durava pouco. Eu precisava de mais, precisava ser tocada, precisava voltar a ter
tudo que um dia fora tirado de mim.
Abri uma loja de roupas íntimas e aos poucos fui acrescentando itens sexuais e, quanto mais
aumentava a procura, mais objetos diferenciados eu trazia. Tinha de tudo, desde brinquedos a
equipamentos. Roupas de vinil, máscaras, açoites, chibatas, floggers, chicotes, dildos de todas as
formas e tamanhos, vibradores, plugs e muitas roupas de fetiches. Acreditava que minha loja era
uma das mais completas do Rio.
Estar em contato com pessoas que tinham desejos sexuais extravagantes e diferentes, fez com
que eu descobrisse o universo BDSM. Uma das minhas clientes mais assíduas era uma submissa, seu
nome era Cintia, ela era uma cabeleireira de mão cheia, uma das melhores que eu já havia
conhecido. Havíamo-nos tornado muito amigas, ela e o marido me deram muito material para
estudar. Eu aprendi muita coisa, me inteirei de muitas práticas e o remorso ao saber o quanto eu
havia exigido de Willian aumentou consideravelmente. Eu tinha exigido tanto dele, que
provavelmente se continuássemos juntos, ele teria me matado.
Marco e Cintia me convidavam para ir em munches, em casa de amigos onde haveria algumas
cenas e uma vez me levaram ao dungeon do Pedro. Eu tinha ido apenas duas vezes, quando Cintia
me avisou que se mudaria para Teresópolis. Aquela notícia doeu muito, tínhamos criado um vínculo,
erámos amigas, quase irmãs. A perda foi dolorosa, mas desejei a ela muita sorte, para os dois,
pois gostava também de Marco. Durante longos meses relutei voltar para aquele lugar. Tentei muito
duro evitar estar com outra pessoa que não fosse Willian, tudo em vão. Eu tentei algumas vezes,
mas não era o que eu queria, não era o que eu precisava e estava bem longe de ser o que me
satisfazia. Então aceitei minha situação e parei de procurar.
Paulo - Mestre Shadow

A ndei pelo clube, conversando com alguns amigos os quais não via a uma
longa data. Desde que o castelo havia sido construído, não havia mais
ido a nenhum outro clube, tínhamos tudo ali, então não havia necessidade
de procurar outro local para práticas. Muitos desses lugares eram extremamente reservados e
escassos de equipamentos.
As associações do castelo vinham aumentando gradativamente e muitos dos amigos que eu
conhecia de longa data, já haviam sido convidados para participar. Infelizmente, para muitos o
poder aquisitivo do hotel, impedia sua associação. Eu entendia o Jhonatan, afinal tínhamos todos os
tipos de acomodações disponíveis para os usuários e, eles não pagavam um centavo a mais, além
da mensalidade da associação. Bebida, comida, hospedagem, academia e toda a área de lazer
estavam incluídos na mensalidade. O que ficava de fora eram as boutiques e o spa, que eram
terceirizadas, mas por proprietários que conheciam o universo BDSM.
— Ei Paulo! — cumprimentou-me, Pedro, um colega das antigas. — Saudações nobre amigo.
— Saudações amigo. Como vai? — retribuí seu aperto de mão.
Pedro era um cara gente fina, ele tinha construído o local com intuito de fazer dele seu
dungeon particular. Entretanto, devido à procura por um ambiente assim, não apenas de seus
amigos mais próximos, mas também de amigos de amigos, ele acabou ampliando o lugar, fazendo
dele um ambiente onde todos tivessem acesso. Era um bar comum na parte debaixo, mas ao subir
as escadas, parecia um mundo novo, com grande variedade de equipamentos. Era pequeno, mas
aconchegante e muito organizado.
— Muito bem e você?
— Bem também. Obrigado por perguntar.
— Sozinho hoje?
Eu não tinha conseguido viajar, tinha ficado no Rio em um hotel. Precisava pensar, colocar
minha cabeça no lugar e acalmar minha raiva. Um Dominador jamais encostava em sua submissa
quando não tinha controle de suas emoções e, apesar de lamentar estar longe dela, fiz para
salvar nossa relação.
— Minha escrava está em casa.
— Está disposto a um novo desafio?
Um novo desafio era sempre muito bem-vindo, apenas não estava interessado em encoleirar
outra cadela, mas fazer uma sessão com outra não era ruim, pelo contrário, ajudaria a relaxar.
— Talvez...
— Vamos lá, eu vou te mostrar algo que está me incomodando há alguns dias.
Aceitei ver o desafio e subi junto a ele para o andar de cima, onde estava o dungeon. O lugar
estava lotado, muitos Dominadores e submissos por todos os lados. Fui surpreendido por perceber
que ele havia aumentado o lugar, deixando-o mais amplo e suplementando de equipamentos. A
decoração era de muito bom gosto. Gostei bastante dos acréscimos e modificações que ele fez ali.
— Olha a loira ali. — pediu, apontando por uma loira incrivelmente intoxicante.
Ela tinha curvas exuberantes, olhos verdes intensos e o cabelo tão loiro que eu podia jurar que
eram brancos. Uma bela mulher sem dúvidas. Postura reta, sorriso generoso e olhos observadores.
Não tinha postura de uma Domme, talvez fosse uma Switcher.
— Uma Switcher?
— É o que ela passa para você?
— SAM? — tentei novamente.
— Masoquista.
— Um enorme desafio com toda aquela postura.
— Não são todas?
Imediatamente a imagem de Willian apareceu na minha cabeça. Ele sem dúvidas estava
preparado para aquele tipo de desafio. Ele era bom, centrado, tinha controle de suas emoções e
um sádico – que apesar de ser novo – excelente com suas técnicas.
— O que faz aqui?
— Não encontrou ninguém e os que encontrou não foram longe nas negociações.
— Ninguém? — indaguei, incrédulo.
— Não... Inteligente, mordaz e muito auto suficiente.
Olhei para a mulher em questão, analisando minunciosamente seus traços...ela tinha o
semblante relaxado, não demonstrava ansiedade – como se previsse que nada aconteceria – não
parecia estimulada com as cenas à sua volta, eu podia jurar que estava entediada.
— Ela não é o tipo de masoquista que tem suas necessidades atendidas por um Dominador.
— Ela precisa de um sádico. — afirmei, o óbvio.
— Exatamente e eles são raros.
— Eu conheço um.
— Ele não vai conseguir atender às suas necessidades só por ter um braço pesado. Sabe o
quanto mais necessário será preciso.
— Já disse que conheço um.
— É um achado.
— Ele é. — afirmei, categoricamente. — Estava à solta, pegando um pouco daqui e dali.
Viajou para fora a fim de conhecer mais, mas seguia frustrado e ainda segue. As submissas no
clube não conseguem suportar uma sessão com ele e, as que tentaram, falaram a Safe em uma
hora de sessão.
— Vai trazer ele aqui ou vai levá-la para lá?
— Não sei...
Existia uma diferença entre as submissas e as masoquistas. O submisso encontrava o prazer na
servidão, na subserviência e, gostava de dor moderada. A linha tênue ente prazer e a dor. Cabia
ao Dominador conhecer o limite de sua submissa, aplicando práticas leves, evoluindo
gradativamente.
A masoquista não se submetia, era muito raro encontrar uma submissa masoquista. Para a dor,
para saciar sua necessidade na dor, seus limites eram elevados. Não havia uma linha tênue era dor
e prazer. Ela só sentia prazer, se sentisse dor e, apenas um sádico poderia proporcionar isso a ela.
O motivo era único, o prazer dele era o avesso ao dela. Ele só se satisfazia com a dor dela e ela
só se satisfazia com a dor que ele proporcionava. Então não, não adiantava ser apenas um
Dominador.
O Dominador podia até ter traços de sadismo, algumas sessões mais intensas, práticas mais
severas, contudo, não chegaria perto do que a masoquista necessitava. O sádico não cobrava a
submissão de uma masoquista, mas com certeza cobraria o respeito de forma mais dolorosa. O
sádico começava sua torturava psicologicamente, ela iniciava ali e partia depois para a dor física.
— Olha, está difícil mantê-la aqui. — disse, Pedro com preocupação genuína. — Nenhum
Dominador consegue chegar até ela e, ao ver seu comportamento nada submisso, está passando
uma mensagem errada às demais submissas que estão aqui.
— Gerando conflitos. — Concluí por ele.
— Para muitos é um jeito desrespeitoso de tratar o Dominador.
— Os leigos. — comentei, sério.
Os que não sabiam sobre as diferenças entre submissão, masoquismo, BRAT e SAM pensariam
que o bottom tinha um mau comportamento, quando na verdade tínhamos que considerar a
natureza de cada pessoa. Algumas pessoas eram mais fáceis de lidar, outras mais rebeldes.
No Sádico, a relação era baseada no prazer/dor, em como ele uniria o prazer com a
intensidade e, a forma que ele proporcionaria a ela e, consequentemente a ele também. A partir
do momento em que a masoquista dissesse sim à sua entrega, então ela seria o que o Sádico
quisesse e ponto final.
— Sim.
— Vou falar com Willian, se ele aceitar vir aqui, tudo bem.
— Senão... vai levá-la para lá?
— Não sei se ela pode pagar pela associação...
— Não sei muito dela. O que sei é que ela é divorciada, não tem filhos, vive sozinha e tem
uma loja de sex shop.
Bem, se ela tinha uma loja de sex shop, talvez ela pudesse ganhar a associação instalando sua
loja dentro do castelo. Contudo, sua instalação ali iria depender da diversidade de produtos que
ela poderia proporcionar.
— Eu preciso falar primeiramente com Willian e, depois consultar Jhonatan.
— Eu só não quero abandoná-la. Ela parece indiferente, mas ela só está perdida.
— Entendo isso mais do que pode imaginar.
— Vai falar com ela?
— Ela é uma SAM?
— Não, ela não causa desobediência. Ela é aquilo que você está vendo. Às vezes se frustra e
com uma abordagem errada acaba gerando divergências de opiniões com os outros.
Olhei novamente para a mulher, me perguntando qual era a melhor maneira de chegar até
ela...talvez ela estivesse cansada de uma abordagem normal ou habitual. Muitas vezes ficava
cansativo e exaustivo, pois ela já estava aqui há algum tempo acumulando frustrações, de modo
que não fosse mais receptiva a mais uma abordagem de um Dominador não Sádico.
— Eu vou tentar chegar até ela.
— Espero que tenha sucesso.
Caminhei diretamente em sua direção, sem tirar os olhos dela. Ao sentir minha intensidade,
olhou para cima e se remexeu no banco incomodada com minha presença. “Perfeito”, pensei,
aliviado. A ideia era prendê-la a mim para que eu pudesse ajudá-la. Aquela ligação mental, não
precisava ser de um Sádico, bastava ter controle para se conectar a ela, mas também não era o
tipo de olhar baunilha. O objetivo, não era de foder ou ganhar a garota da noite, o meu objetivo
era de mostrar quem eu era e, deixar claro que a mim, ela devia o respeito.
— Boa noite. — cumprimentei-a, me sentando ao seu lado.
— Boa noite. — Ela devolveu meu cumprimento, desviando o olhar.
Não era o que eu queria, para chegar até ela, eu precisava que ela estivesse olhando
diretamente nos meus olhos.
— Você vai olhar em meus olhos, para que possamos conversar.
— Estou cansada de conversas. — replicou, irritada.
— Não pedi nada e também não perguntei o que você estava sentindo.
Ali eu tive sua atenção. Bom, para falar com ela eu não tinha que ser educado, não por ela
não merecer, mas por saber que ela estava profundamente magoada, perdida e seguia frustrada.
Cabia a mim uma abordagem mais severa para que ela entendesse que eu estava ali, não para
tê-la, mas para ajudá-la.
— Esse lugar não vai proporcionar o que você está procurando.
Ela não disse nada, mas também não desviou o olhar. A sua raiva, frustração saía em ondas
gigantescas e, eu entendia muito bem o que ela estava passando.
— Sabe o que é pior?
— Me diga você.
— Eu sei que não. — suspirou, cansada. — Mas ainda é melhor estar aqui, vendo todas as
cenas, do que estar enlouquecendo em casa.
— Qual o seu nome?
— Lorraine. — Olhei a mulher à minha frente, tentando fazer a ligação...
Quais eram as chances? Não podia ser...será? Esse mundo era muito pequeno, não era? Agora
mais do que nunca estava interessado na pequena masoquista ao meu lado. Willian foi
apaixonado por sua Lorraine, de olhos verdes e cabelos loiros quase brancos. Olhei para a mulher
ao meu lado, me perguntando como não havia feito aquela conexão antes...
—Você fugiu disso uma vez, porque está aqui agora? — perguntei, sem rodeios.
— Quem é você? — indagou estupefata e um pouco desconfiada.
— Você não me respondeu.
— Não sei do que está falando.
— Sorte a sua não ser uma submissa e gostar da dor. — afirmei, sério. — Estou aqui para te
ajudar, mas se você me tratar de forma desrespeitosa vou sair e levar embora comigo a chance
de ter suas necessidades atendidas. Talvez a única.
Durante longos minutos ela apenas me olhava. Havia confusão, raiva, dor e medo. Ela era
transparente quando se permitia, quando estava vulnerável.
— Eu tive um namorado que sabia exatamente o que eu precisava e me dava isso.
— Sim e você fugiu.
Ela ficou por outros longos minutos me olhando. Talvez buscando respostas ou procurando
saber se eu estava falando a verdade. Qualquer que fosse a resposta, ela assentiu respondendo:
— Eu não tive escolha. — sorriu sem vontade. —Era isso ou ele iria parar na cadeia.
Várias situações passaram na minha cabeça. Muitas delas compreensivas outras nem tanto. Eu
lembrava perfeitamente de Willian me dizer que os dois eram maiores de dezoito anos e, que tudo
que viveram juntos foi consensual e que muitas vezes ela mesmo foi insistente em algumas práticas.
— O que aconteceu? — indaguei, desconfiado.
— Minha mãe andou percebendo alguns dos meus machucados. — informou, chateada. — Eu
tentava, na maioria das vezes, esconder.
— Ela viu o que ele havia feito.
— Ela começou a ficar em cima, me perguntando, sondando e às vezes me inspecionando.
— Como tudo ocorreu?
— Na última vez que estivemos juntos... — parou abruptamente, relembrando o passado.
Havia no canto dos seus lábios, a insinuação de um sorriso. Ela tinha gostado dele, ela tinha
retribuído, apenas um infortúnio os separara. O preconceito fazia aquilo com as pessoas. Era a
pior forma de acabar com um relacionamento que podia ser vindouro e duradouro. Talvez...
apenas talvez, tenha sido bom, os dois amadureceram e Willian aprendeu a controlar um pouco
mais suas técnicas, se aperfeiçoou e hoje era melhor do que foi no passado.
— Tínhamos ido muito além do habitual. Eu gostava, ele sabia o quanto eu amava estar com
ele.
— Talvez ele não saiba.
— Você o conhece? — indagou, surpresa e com um brilho cristalino nos olhos.
— Sim. — afirmei, evasivamente. — Você ainda não me disse o que aconteceu.
— Eu já respondi às suas perguntas!
— Eu decido quando você terá suas respostas.
— A situação saiu do controle, ok? — respondeu irritada. — A minha família me viu sangrando
e cheia de vergões... foi impossível esconder deles. Eles me deram um ultimato: ou eu me separava
ou ele pararia na cadeia.
— Você tinha mais de dezoito anos.
— Tinha dezenove. — replicou, com a voz embargada de emoção. — Eu queria estar com ele
mais do que qualquer outra coisa. Ela me humilhou, me expôs na frente de toda a minha família.
Meu pai ficou furioso, meus tios queriam ir atrás dele... foi uma confusão gigantesca.
— O que aconteceu depois?
— O de sempre. — sorriu, sem humor. — Minha mãe se tornou uma maria casamenteira e me
fez casar com um cara que ela achava “decente” e, a sua ideia de decência terminou em divórcio
sete anos depois.
“Talvez fosse o cara com quem Willian a tinha visto”, pensei cautelosamente. Havia duas
versões naquela história: a que ele tinha visto e a que ela tinha vivido. Viver em uma relação
baunilha dever ter sido inferno para ela. Por isso muitos casamentos não davam certo. A pessoa
podia até ser compatível com a outra na filosofia, mas no sexual as coisas complicavam e muito. A
necessidade de um nem sempre era atendida pelo outro. No universo BDSM aquele tipo de
situação era evitado na negociação. A incompatibilidade era vista ali, bem antes do início da
relação. A mentira vinda de um lado ou de outro ou até mesmo de ambas as partes, dava início a
uma relação fadada ao fracasso.
— E você soltou suas amarras.
— Ainda me sinto amarrada, atada ao pé da cama.
— Pensei que estivesse divorciada
— Eu estou. — sorriu, afetuosamente. — Mas veja a minha situação, ainda continuo sem
liberdade.
— Eu vejo isso de forma diferente. — confessei, começando a passar meu ponto de vista.
— Como você vê?
— Foi bom para o Willian se afastar de você. — afirmei, trazendo lágrimas aos seus olhos. —
Ele cresceu, amadureceu, se informou mais, praticou mais e também ganhou mais domínio sobre os
seus desejos. Ele podia ter matado você se continuasse sem instrução alguma.
— Ele era gentil depois das práticas. — contou, limpando as lágrimas. — Não tínhamos
nenhum aparato, não sabíamos a extensão dos nossos desejos. Quanto mais nós tínhamos, mais
queríamos.
— Eu entendo isso, mas você precisa entender o quanto é perigoso praticar sem conhecimentos.
— Vai me dizer onde ele está?
Trinquei o maxilar odiando a ideia de negar a ela aquela informação. Ele era meu amigo, meu
aluno e um cara decente. Eu tinha sim, receios do que ela iria significar na vida dele. Seria ela o
interruptor que ligaria seu lado sádico sem controle? Estaria ele pronto para reatar de onde eles
pararam? Ou talvez todas aquelas minhas dúvidas não cabiam a mim respondê-las e sim a ele?
Aquela era uma reposta que eu não tinha. Minha cadela fazia falta, sempre conversávamos sobre
as variadas situações de uma submissa – mesmo Lorraine não sendo uma — ter uma opinião dela,
podia me dar uma perspectiva diferente.
— Não vou. — confessei, arrancado dela um soluço involuntário. — Mas eu vou falar para ele
onde encontrar você.
— Ele não vai vir. — Eu também acreditava que não, mas não custava tentar.
— Vou pegar seu número. — afirmei, tentando encontrar uma solução. — Eu tenho algumas
coisas em mente, mas que não dependem apenas de mim.
— Por favor? — implorou, chorando. — Eu só preciso vê-lo, juro que não vou causar uma
cena.
— Não vou retroceder. — voltei a afirmar. — Já disse que vou falar com ele e te ligo para
dizer como foi.
— E se ele não quiser me ver?
— Então eu vou apresentar alguns amigos meus que podem tentar te ajudar.
— Você não entende, não é? — indagou, irônica. — O que nós dois temos não pode ser
desfeito. O laço que criamos é inquebrável.
— Então não precisa ter medo de ser rejeitada.
Ela me passou o número do seu celular implorando que eu entrasse em contato. Deixei sua
companhia e o bar, voltando para o hotel. Estava na hora de tirar a minha cadela do castigo.

Lorraine

Dias atuais...

Assim como todos, passei a fazer pesquisas na internet, meio de comunicação que me deixou
próxima de muitas pessoas. Um lugar onde pude desfrutar e realizar muitas das minhas fantasias.
Desejos inconfessáveis e frustrados que guardei durante muito tempo...
Obviamente, como em qualquer situação, tudo o que se torna repetitivo se torna cansativo,
então parei de procurar por fantasias virtuais e me foquei nas reais. Eu tive uma série de
encontros casuais com Dominadores, quase todos resultados em fracassos. A necessidade de
comandar alguém, era parte de quem eles eram e eu não me submetia, não era o que eu
procurava. Alguns eram bons em práticas hards, mas eu não me encaixava na submissão. Eu até
gostava de ser comandada na hora da sessão, mas a minha aceitação começava e terminava ali.
O fato de nenhum deles ser Sádico, também impedia qualquer tipo de relação duradoura.
Limitei seguir adiante em qualquer negociação se o TOP não fosse Sádico. Era besteira
perder tempo com alguém que não tinha estrutura para atender às minhas necessidades. A maioria
dos frequentadores do calabouço do Pedro, eram Dominadores, alguns com traços sádicos, mas
nada além disso. Era frustrante...eu sabia o que queria e procurava por isso. Não era um fetiche,
era uma parte vital, sexual e emocional minha. A busca pelo prazer era uma filosofia de vida.
Cada um sabia o que queria, o que convinha e o que esperava.
Pensar em todas aquelas dificuldades, em situações que já passei e que provavelmente ainda
passaria até encontrar um TOP, era quase desestimulante. Pensei várias vezes em desistir, a busca
era dolorosa. Cada novo encontro, cada nova conversa, sempre surgia uma nova esperança, a
possibilidade de um relacionamento real. No entanto, nada de novo acontecia... Se eu fosse
honesta o suficiente, poderia dizer que o meu maior desejo estava em reencontrar o Willian, do
que qualquer outro Sádico. A minha vontade e, talvez parte do meu desespero, era em encontrá-lo
novamente.
Eu sentia muita falta da Cintia, era em momentos como aqueles que eu precisava de alguém
para conversar...como sentia-me sozinha... Eu tinha outros amigos, muitos eram casais baunilhas,
outros eram do meio BDSM. Eu sempre era convidada para ir em casa de amigos para assistir uma
apresentação, workshop, uma sessão, uma prática nova ou algo do tipo. Muitas coisas me
despertavam o desejo e, eu até tentei muitas daquelas práticas, mas era apenas isso, um dia, uma
noite, um momento, nada mais.
Era difícil de me desfazer ou cortar as amarras do passado, quando o mesmo fazia parte da
minha história. Era difícil cortar os laços com algo que me fez bem, que foi fundamental para o
meu amadurecimento como mulher e realização sexual. Era difícil esquecer, quando o que eu mais
queria era lembrar. Era doloroso deixar ir, quem mais queria perto. O que me restava? De todas
as minhas lutas, de tudo o que eu passei durante anos, não foi por amar o Willian? Sabia que não
era saudável, mas eu precisava daquele encerramento, precisava dar a ele as respostas que ele
merecia ter e eu precisava do meu perdão.
Olhei para o meu celular percebendo que já estava na hora de ir. Durante meses evitei voltar
ao dungeon do Pedro, não por achar o lugar ruim, mas por estar sem companhia, não gostava de
ir lá sozinha, mas agora já não me restava outra alternativa. Sim, era sem nenhuma expectativa
porque duvidava que conheceria alguém.
Eu tive vários casos de uma noite, sentia-me como se tivesse regredindo ao invés de evoluindo.
Claro que há quinze anos atrás isso era um tabu muito maior do que era hoje, alguns homens até
se estimulavam, mas era só isso. Estar com um Dominador para uma cena era ainda melhor do que
passar por um baunilha imaturo com tesão para violência.
Talvez fosse desestimulante ficar ali, no meio de Tops e bottoms, mas eu não queria perder o
contato com o universo BDSM, queria sentir o cheiro... ouvir os lamentos... o barulho da carne sendo
açoitada... os gemidos de prazer... o erotismo dentro daquele lugar era envolvente.
Eu nunca vivi uma relação D/s ou S/m, tudo que vivi foi mediante o que eu e Willian sentíamos
e desejávamos. Não era o correto, mas também discordo de quem diz que não era saudável, pois
era, era consensual, nós dois queríamos e aceitávamos, então para ambos era saudável sim. Talvez
não fosse seguro, éramos crus e também tinha o fato de que não tínhamos técnica, no entanto,
erámos livres e vivíamos nossas fantasias de acordo com as nossas necessidades e desejos.
Tínhamos criado um vínculo e eu amei e ainda amava tudo que compartilhamos juntos.
Entrei no dungeon, cumprimentando alguns conhecidos e tomando meu lugar no canto do salão.
Eu não gostava de chamar a atenção, principalmente porque odiava ser bruta ou antipática com
as pessoas. E falando honestamente, havia Dominadores que não aceitavam um não como resposta.
O fato de estar ali não me obrigava a fazer uma cena ou aceitar qualquer Dominador. Eu os
respeitava muito, mas meu respeito terminava quando o Deles se excedia.
O Pedro era um Dominador muito ético. Ele tinha duas escravas e as duas formavam uma
unidade, eram mais unidas que irmãs de sangue. Gostava de ver as duas juntas, era excitante. Deu
muito certo para os três o relacionamento.
Do meu canto, observei todos os participantes, fui abordada por dois Dominadores, mas que
gentilmente eu recusei e estava quase indo embora, quando o vi chegar. Ele era o tipo de homem
que não podia ser ignorado. Era imponente e muito alfa. O tipo Dominador que passa confiança e
respeito. Não fiquei olhando em sua direção, pois não queria passar a impressão errada, porém,
eu sentia seus olhos sobre mim. Era desconfortável e até um pouco opressivo.
Apesar do desconforto fiquei intrigada com o homem, então ao perceber que ele estava se
aproximando, fixei meus olhos Nele. Não era desrespeito, era genuína curiosidade.
A sua abordagem foi diferente de tudo que eu já tinha experimentando, ele era franco, direto
e muito exigente. Ele me irritava e me envolvia na mesma proporção, a palavra desconcertante era
um eufemismo.
A situação ficou ainda mais incômoda, ao pressentir que Ele sabia mais de mim do que o
esperado. A esperança surgiu e junto com ela uma avalanche de emoções. Ele sabia do Willian,
melhor ele o conhecia e sabia onde ele estava. Eu queria desesperadamente ter respostas sobre o
seu paradeiro, mas sabia que ele não falaria.
Mesmo diante da minha insistência, do meu apelo, sabia que sua lealdade estava com Willian.
Era doloroso estar tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Eu chorei, em parte de alívio por
saber que ele estava bem, mas a outra parte, a mais egoísta, chorei de raiva por não ser
compreendida e não ter a resposta que eu precisava e buscava.
Ele se foi, com a promessa que mesmo o Willian não voltando a falar comigo, ele me ajudaria.
Naquela altura eu não sabia o que mais queria, se era alguém para uma relação real ou me
desculpar com Willian. As pessoas não entendiam que eu precisava daquele encerramento. Ou
talvez fosse eu, ainda presa a um passado que jamais voltaria. Era uma tortura viver daquela
forma.
Voltei para casa naquele dia, exatamente como eu odiava: cheia de expectativas...
Paulo - Mestre Shadow

N a manhã seguinte fui acordado pela ligação da empresa que faria o


transporte das coisas da Patrícia para Teresópolis, marcando a
desmontagem e embalagem dos móveis para amanhã de manhã.
Agradeci, deixando tudo acertado. Eu precisava falar com ela, mas não tão cedo.
Usei meu tempo para caminhar na praia, tomar um banho de mar e pensar na situação. Eu
amava minha escrava e, aquele sentimento estava tornando difícil manter o mesmo padrão de
disciplina. O sentimento era novo para mim, ainda estava aprendendo a lidar com ele e a
administrá-lo. Deixava tudo confuso, mas não menos intenso, pelo contrário era tudo mais profundo
e mais doloroso também.
Voltei para o hotel depois do almoço, tomei um banho e acabei adormecendo. Acordei no final
da tarde com a ligação de Jhonatan. Ele comentou os progressos que havia feito com Suzana e
queria saber o número que ela calçava, pedindo a informação da paty. Obviamente falar com ela
não era possível, então disse que iria perguntar. Desde que saí, aquela era a primeira vez que
entrava em contato com ela. Mandei uma mensagem perguntando o número e ela respondeu
prontamente. “Sim, minha cadelinha tinha dedinhos mágicos” pensei, sarcástico. Passei a ele todas
as informações que ela havia me enviando, finalizando a conversa.
Para Jhontan era muito difícil pedir a ajuda de alguém, não por orgulho, talvez até fosse um
pouco, mas o homem sempre foi autosuficiente. Era um dos poucos homens que conheci, que sempre
buscava por seus objetivos sem esperar pelas pessoas ou por qualquer tipo de ajuda. Era nobre e
honrado.
Uma hora depois de sua ligação, estava no apartamento de Patrícia. Durante todo o trajeto
pensei em diversas situações e muitas delas em como colocaria para ela tudo o que eu estava
sentindo, escolhendo as palavras certas sem passar a ela um poder que ela não tinha. Obviamente,
sentia o coração acelerado e até um pouco de ansiedade. Era natural e normal o organismo reagir
daquela forma. Eu a amava e para mim não havia reação melhor do que aquela.
Não pedi para ser anunciado, mas também não usei a chave do apartamento que ela havia
me dado. Toquei a campainha e esperei. Longos minutos se passaram e nada. A ansiedade foi
minguando, enquanto a irritação aumentava. Ela não trabalhava mais, não era o dia de sua saída
para o mercado, então onde diabos estava a Patrícia? Toquei mais uma vez a campainha e voltei a
esperar.
Desistindo de esperar, peguei a chave do apartamento no instante que ela abria a porta. Ela
estava horrível. O cabelo bagunçado, vestida em um roupão que já tinha visto dias melhores,
olheiras profundas e tristeza nos seus olhos. Meu olhar capturou o dela, mantendo-a no lugar.
— Você está horrível.
— Não estou nos meus melhores dias. — Arqueei uma sobrancelha diante de sua resposta.
Nunca fui indiferente aos seus sentimentos, muito menos à sua dor. Ela sim, foi errada em me
tratar com tamanha falta de respeito.
— Parece que o castigo não foi suficiente. — comentei, sério e irritado na mesma proporção.
— É uma morte lenta. — respondeu, chorando. — Sinto que a dor vem de gota em gota.
Doses homeopáticas. Uma hora dor, arrependimento, outra solidão e quando acho que vai terminar,
vem o desespero e mais dor. É um ciclo vicioso.
— Acho que me enganei... bati no apartamento errado?
— Passei todos esses dias me perguntando se ainda era sua escrava, agora o Senhor está
aqui. Estou confusa em como prosseguir, não sei o meu lugar. E se não sei o meu, também não sei o
do Senhor.
A primeira lição de um Dominador era aprender a ter controle. Ele precisava ter controle para
poder controlar alguém. Em uma sessão essa perda de controle poderia significar a vida da
submissa. Eu tinha perdido o controle da minha cadela, duas vezes. A primeira vez foi em ter vindo
morar com ela no seu apartamento, sem deixar claro que a minha permanência ali, não fazia
daquele lugar meu. A segunda, foi sair daqui como parte do seu castigo, tirando sua coleira sem
deixar claro para ela sua condição. Não deixei uma ordem e não enviei uma também. Eu me
excedi, perdendo o controle.
— Vire-se! — Estava na hora de colocar a nossa relação em seu devido lugar.
Rapidamente ela se virou, tirou o roupão e se ajoelhou, me dando uma visão privilegiada do
seu belo traseiro redondo. Traseiro esse, que em breve estaria vermelho com a minha marca. Ela
sabia sua posição, só estava confusa e com um pouco de razão. Tirei a coleira de dentro do meu
bolso, voltando a colocar em seu pescoço. Os soluços vieram em seguida. Lágrimas grossas caiam
de seus olhos. Sem esperar mais tempo, agarrei seu cabelo, arrastando-a para dentro do
apartamento.
— Vou ensinar a você, qual exatamente é o seu lugar. — disse, com seus cabelos em punhos.
— Sim, Senhor.
— Deite-se sobre o braço do sofá e coloque esse belo traseiro no alto.
Enquanto ela se deitava, retirei meu sinto e o dobrei. Alisei sua bunda, apreciando a sensação
de estar novamente com a minha cadela. Beijei, acariciei, mordi e depois me afastei. Durante
alguns minutos, apenas observei aquele belo traseiro, antes de começar o spanking. As primeiras
cintadas deixaram suas nádegas vermelhas. O spanking era uma prática gradativa, começava
levemente e aos poucos ia aumentando a intensidade.
— Quem é o seu Mestre?
— O Senhor! — exclamou, chorando.
Bati mais algumas vezes, alternando de um lado a outro, daquela vez, aumentando mais a
intensidade. Coloquei suas pernas no meio das minhas, segurando-a no lugar.
— Qual é o seu lugar, cadela? — indaguei, puxando-a pelos cabelos.
— A de escrava, Mestre!
Longos minutos depois, comecei a obter a cor que eu queria. Passei a mão pelos vergões na
pele, fazendo seu corpo estremecer diante do contato. Lentamente desci meu dedo para sua
bocetinha, notando a umidade, o seu prazer em meio à dor. Não daria prazer a ela, ela ainda não
tinha merecido aquele privilégio.
— A quem você pertence? — indaguei, mordendo seu ombro.
— Ao Mestre Shadow.
Estava louco de tesão e de pau duro, no entanto não podia me render ao desejo. Primeiro
porque precisávamos conversar, segundo porque eu precisava me controlar. E terceiro, eu ainda
não tinha me dado por satisfeito. Entreguei-me aquele momento, amando a sensação de ter seu
corpo sob o meu comando, obtendo da minha escrava sua obediência e subserviência. Sua bunda
estava de um vermelho vivo e em outros pontos roxo. Vergões largos adornavam aquele traseiro
que muitas vezes fora a minha perdição.
Eu conhecia minha paty, sabia de seus gostos e preferências. Eu sabia que alguma coisa a
tinha perturbado por ter me enviado aquelas mensagens burlando minhas regras. O próximo passo
seria o aftercare, um momento em que muitas submissas precisavam de toda atenção. Algumas
vezes, depois do spanking, minha paty sentia frio, garganta seca e precisava de cuidados
específicos com seu emocional.
Coloquei seu corpo sobre o sofá, fui buscar a água e o cobertor. Entreguei a ela a garrafa
d’água, enquanto ela bebia eu enrolava seu corpo no cobertor. Havia uma grande preocupação,
também com seu estado emocional. Alguns sentimentos afloravam no decorrer do spanking, muitos
eram verbalizados outros não eram tão óbvios a ponto de ela conseguir processá-los. Às vezes ela
mencionava o sentimento de vazio, de perda, humilhação, remorso e às vezes até raiva, não de
mim ou da punição, mas do seu comportamento.
— Agora vamos conversar. — disse, colocando-a no meu colo enrolada ao cobertor. — Diz
para mim, o que aconteceu com você no dia em que me enviou as mensagens?
— Eu surtei com a ideia de não trabalhar mais. — confessou, enxugando as lágrimas. — Eu
não gosto de ficar sozinha o dia inteiro, ociosa e muitas vezes sem ter com quem conversar.
— Patrícia, porque não me disse isso no dia em que exigi sua saída do trabalho?
Porra! Tínhamos uma relação de cumplicidade, sempre dei espaço a ela para falar, para
expor seus sentimentos. Nunca proibi minha paty de trabalhar, eu só não queria que ela ficasse tão
longe e sozinha no Rio.
— Não tinha processado o sentimento, me senti tão confusa, tão perdida.
— Você sabe como isso tudo poderia ser evitado?
— Sim, eu deveria ter dito ao Mestre, como me sentia.
— Sim, você tinha o dever de me dizer. — concordei, chateado. — Lembro-me perfeitamente
de ter dito para deixar o trabalho, mas nunca disse a você que não poderia voltar a trabalhar,
pelo contrário, quero muito que venha trabalhar no castelo, estamos precisando de uma secretária
executiva.
Ela se remexeu no meu colo, fazendo uma careta com a dor, deixando meu pau ainda mais
duro. Trinquei o maxilar, olhando-a atentamente. Não sabia qual era a sua intenção, mas estava
ficando ruim me segurar.
— No castelo? — indagou surpresa e um pouco curiosa.
— Sim, no castelo.
— E eu serei sua secretária ou a do Jhonatan? — agora ela estava em modo profissional. Eu
quase sorri ao ver o conflito em seus olhos.
— Acredito que vai ser melhor se você for a de Jhonatan. — respondi, pausadamente. — Não
sei como seria ter minha escrava como secretária, então para evitar conflitos vamos manter uma
relação a nível profissional.
— Eu acho que seria o mais sensato. — ponderou, mordendo os lábios. — Eu errei, Mestre. —
confessou, se sentando. — Lamento não ter colocado em palavras o que estava sentindo.
Honestamente, pensei que o Senhor havia me proibido de trabalhar.
— Você é minha, me pertence, me serve e me obedece. Você é meu brinquedo, meu objeto,
minha peça para tratar como eu quiser. Você me deu esse direito.
— Eu sei, Mestre.
— Partindo desse princípio, os meus desejos veem em primeiro lugar. — Olhei-a diretamente
nos olhos, a fim de mostrar a ela a minha verdade. — Eu entendo as suas necessidades, nunca fui
leviano ou negligente a elas. Exatamente por respeitar os seus limites, é que sempre permiti que
você trabalhasse, pois sei o quanto é importante para você e também sei o quanto é ruim ficar em
casa ociosa.
— Eu perdi meu controle.
— Sim, você perdeu. Eu nunca disse que você não poderia arrumar um trabalho, pelo
contrário, até acho bom você se ocupar, evoluir e crescer profissionalmente. Sempre desejei mais
para você Patrícia. No entanto, no momento em que seu trabalho no castelo começar a interferir em
nossa relação, então teremos um problema.
— Eu lamento muito, Mestre. — falou, com voz embargada de emoção. — Eu me precipitei,
interpretei seus desejos de forma errada e acabei decepcionando o Senhor.
— Não vou negar que foi uma grande decepção, paty. — confessei, chateado, limpando suas
lágrimas. — Não ouse confundir mais as coisas. O apartamento é seu, você pode trabalhar e não
ouse mais me desobedecer nem usar de ironia para dizer como você se sente.
— Desculpe-me Mestre. O Senhor me perdoa?
Levantei seu queixo com os dedos e baixei minha boca para a sua. Podíamos sim viver uma
relação 24/7, mas não podíamos viver o BDSM 24 horas, sete dias por semana. Tínhamos nossas
vidas, nosso trabalho, nossos amigos e nossa rotina. Éramos pessoas com gostos diferentes para o
sexo, para a sexualidade e para o prazer. Porém, como em qualquer outro relacionamento, tudo
que era excessivo, tornava-se enjoativo.
— Eu ainda a quero, minha pequena escrava. Aprenda com seu erro e não volte a repeti-lo.
— Eu tenho algo para confessar ao Mestre de mim. — Relatou sem jeito, rebolando o seu
traseiro no meu pau. “Cadelinha descarada”, pensei grato por ter minha menina em meus braços.
— Estou ouvindo.
— Eu menti para Suzana, hoje de manhã.
Não era o que eu esperava ouvir, Patrícia não mentia e odiava mentiras. A minha preocupação
era mais com o seu estado emocional, ela deveria estar muito abalada para chegar a esse ponto.
Porém, antes de tirar qualquer conclusão, esperei que ela me contasse o que havia acontecido.
— Conte-me o que aconteceu.
— Ela me ligou e como de costume, sempre peço ao Senhor permissão para falar ao telefone.
Não foi minha intenção mentir, apenas foi um hábito e acabei pedindo a ela para esperar
enquanto eu pedia sua permissão.
— E o que fez depois?
— Tentei segurar o choro, pois ela precisava de mim. Não queria expor nosso relacionamento,
nem a nossa situação para ela e acabar confundindo-a.
— É errado, mas eu entendo.
— Não foi um impulso, Mestre. Eu me senti tão mal depois, como se eu tivesse bebido algo
amargo.
— Não faça novamente, paty. Pense bem antes de responder, você não perde nada
mentalizando as palavras que vai proferir. Isso ajuda a não se expressar mal e a não mentir.
— O arrependimento aconteceu instantaneamente e também, não queria compartilhar com ela
algo tão particular. Naquele momento era ela que precisava de mim.
— Como ela está?
— Ela foi castigada por causa da Domme Darkness. — Seu lado rebelde voltou a aparecer.
Patrícia odiava Darkness por uma situação que passamos há tempos atrás. A Domme jurou que
minha paty, havia atrapalhado a concentração do seu bottom, quando na verdade minha menina
tinha ouvido claramente o sub dizer a Safeword e ela ignorou, continuando com a sessão. Tive que
punir minha cadela para servir de exemplo e odiei cada minuto, pois sabia que aquela punição
vinha da desonra de uma Domme. Infelizmente, para tomarmos uma atitude, era necessária uma
queixa formal do submisso. As regras eram para todos; TOPs e bottoms. Qualquer membro do
clube que se sentisse de alguma forma lesado pelo bottom ou Top, tinha o direito de apresentar
uma queixa, e todas as providências cabíveis, dentro das regras de associação seriam tomadas.
— O que disse a ela?
— Que não gostava dela e que me mantinha longe. — contou-me, levantando o queixo
impertinentemente.
Não havia como dominar uma pessoa por completo. Até porque, que graça teria uma submissa
que não despertava o seu desejo de dominar? Não era essa a beleza da submissão? Conseguir
fazer a submissa se submeter, aprender e dobrar não era o objetivo do Dominador? Minha paty
era uma constante.
— Vou ter que falar sobre isso com Jhonatan. — afirmei exausto. — Eu pensei que estaria de
férias, mas estou vendo que vou precisar subir ao castelo amanhã bem cedo.
— Aconteceu mais alguma coisa?
— Sim. — Voltei a me lembrar de Lorraine... — Pequena, diga-me uma coisa.
— Sim, Mestre.
— Acha que sua conversa com Suzana foi proveitosa? Deu a ela uma oportunidade diferente
sobre a qual ela vivia?
— Acredito que sim, tanto que ela está lá hoje. Uma parte em efeito ao Senhor Riddle, mas
acredito que despertei nela uma curiosidade.
Poderia dar certo com Willian? Ele daria outra chance a Lorraine? A ideia era boa, porém eu
odiava interferir. Se fosse pensar pelo lado Sádico, sim, era uma boa aposta. O problema vinha
depois. A que ponto ela seria boa para ele, ou o quanto a sua volta o deixaria abalado? Não
podia negar o meu medo de arriscar e cometer um erro grave na tentativa de ajudar. Entretanto,
cabia a mim, interferir e decidir por eles? Willian era cru no SM, mas era maior de idade e
responsável por suas escolhas.
Encostei minha cabeça no sofá, fechando meus olhos, com minha cadela no colo. Estava
cansado e o que eu mais queria agora, era relaxar com um bom sexo e dormir.
— O Senhor parece cansado.
— Exausto, para falar a verdade. — O castigo a minha paty, tinha cobrado seu preço.
Não apenas a peça sofria com o castigo, mas o Dominador que a aplicava também. Estávamos
ligados, um erro dela, uma desobediência, estavam ligados à minha falha para com ela. Era meu
dever como Mestre estar atento às suas necessidades e eu não vi a preocupação da minha paty,
em relação ao seu trabalho. Não expliquei direito o que eu queria, havia apenas exigido.
— O Senhor, quer uma massagem?
A ideia era tentadora, muito tentadora. Estava tão cansado que mal conseguia abrir os olhos.
Anos de trabalho árduo, viajando para fora, voltando ao trabalho, tentando conciliar minha vida
pessoal com a correria da construção do castelo...Todos aqueles anos, estavam começando a
cobrar seu preço. Eu não era um garoto, tinha cinquenta anos de idade e ficar tanto tempo
trabalhando, dia e noite, era uma loucura. Uma loucura que eu amava, mas nem por isso se
tornava menos cansativo.
— Amanhã o pessoal da mudança virá para desmontar e embalar as suas coisas para levar a
Teresópolis. — anunciei, sem abrir meus olhos. — Vai ter uma manhã cheia empacotando suas
coisas pessoais, mas assim que você terminar, vai subir para Teresópolis, levando o essencial, o
restante a empresa fica a cargo.
— Vai levar minhas coisas para lá? — indagou toda animada, me fazendo abrir os olhos e me
deparar com seu sorriso largo.
— Ah minha cadelinha... O que diabos vou fazer com você?
— O que eu fiz, Mestre?
— Eu errei em não explicar a você como eu queria as coisas. — Tentei esclarecer, dando
ênfase na situação. — Entenda que eu jamais tiraria você do seu trabalho, da sua casa e de perto
das suas coisas, sem pensar no quanto isso a afetaria. É uma mudança drástica, você precisa se
sentir em casa e por isso vamos sim, levar suas coisas.
— Obrigada Mestre! — Minha paty, pulou no meu colo, me abraçando.
A fricção de sua bunda no meu pau, levou-me à loucura. Eu estava cansado sim, mas eu
precisava da minha cadelinha. Agarrei seus cabelos, segurando sua cabeça no lugar e não a beijei
como ela esperava. Tomei meu tempo provocando sua boca, passando a língua no canto dos seus
lábios, mordendo o inferior, depois o superior... Ela suspirou abrindo a boca. “Tão ávida”, pensei.
Eu a beijei lentamente, como se não houvesse nada mais a fazer. A cadela beijava bem, rendeu-se
ao beijo em total abandono.
Terminei o beijo, observando-a atentamente. Ela estava sem fôlego, com os lábios inchados e
corada. Seus olhos estavam vermelhos, assim como seu nariz. O cabelo bagunçado, como nunca
tinha visto antes. Ali vendo seu estado caótico, todas as incertezas se perderam, eu a amava
profundamente.
Tirei o cobertor deixando à vista todas aquelas curvas, aquele quadril magnífico, aqueles seios
fartos, belas pernas grossas e longas... Ela era meu brinquedo no dungeon, meu objeto no prazer,
a cadela sob o meu comando, a vadia na minha cama. Eu era o seu Mestre e ela minha escrava.
Tudo nela era perfeito e se encaixava adequadamente a mim.
Passei o dedo no seu pescoço, descendo até aos seus seios, circulando o mamilo sem tocar. O
arrepio do seu corpo, deixou os mamilos turgidos, implorando por atenção.
— Monte-me. — exigi, querendo sua bocetinha aberta, exposta para mim.
Ela estava nua, completamente vulnerável para eu fazer o que quisesse. Arrastei meus olhos
para o V entre suas pernas, apreciando o brilho da umidade, a prova do seu desejo, a sua
entrega ao meu toque. Tirei meu pênis para fora e encaixei no meio de suas pernas, penetrando-a
lentamente. Escorreguei suavemente para dentro do seu canal, sentindo os músculos me apertarem
ali dentro. Em meio ao êxtase, ela começou a balançar.
— Fique parada! — ordenei, friamente.
Estava longe de começar e mais longe ainda de terminar. Mantive-me ali dentro, enquanto
brincava com seus mamilos. Apertando-os entre o polegar e o indicador, até deixá-los duros.
Tomeis seus lábios, desta vez duramente, mordendo o lábio a ponto da dor. Suas mãos vieram para
os meus cabelos, segurando minha cabeça no lugar. Atrevida!
— Coloque suas mãos atrás das costas e não as tire de lá.
— Desculpe-me, Mestre.
Deslizei minha mão mais para baixo, recolhendo sua umidade dali. Ela estremeceu com o
contato, tragando a respiração rapidamente. Levei meus dedos à sua boca, compartilhando com
ela sua essência. Voltei a mover meus dedos para perto do seu clitóris, circulando em volta, mas
não tocando o lugar onde daria a ela o seu prazer. Era uma tortura deliciosa tê-la assim, com meu
pau enterrado em sua boceta, impedindo-a de rebolar ou me tocar, ou até mesmo gozar.
Para chegar àquele controle, foram anos de treinamento. Passávamos horas trabalhando,
fazendo sessões, ela estudando e praticando em casa para conseguir controlar o seu orgasmo.
Continuei fazendo círculos lentos, torturantes, tocando seus lábios em volta do meu pau, depois indo
até ao seu orifício e voltando ao seu clitóris, porém ainda sem tocar.
— Mestre...
— Você não tem permissão para gozar, cadela. — Aumentei o ritmo, torturando-a ainda mais.
Ela apertou os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro, evitando chegar ao
clímax. Retirei meu dedo, dando um tempo a ela para se recuperar. Ela abriu seus olhos com
frustração gravada neles.
— Fique de costas para mim, apoie seu tronco nas minhas pernas, mas não o retire de dentro
de você. — Estiquei minhas pernas para dar a ela um pequeno amparo.
De costas para mim, deitada sobre minhas pernas, deixando sua bunda no alto – decorada
com as minhas marcas – com meu pau enterrado na sua boceta, o seu ânus piscava por atenção.
Pegando um pouco de sua lubrificação no meu dedo, circulei seu orifício, antes de enterrar meu
dedo completamente dentro ele. Enquanto sua boceta agarrava meu pau, abrindo e fechando seus
músculos, os do buraco de trás seguravam meu dedo dentro, agarrando-o e sugando-o
avidamente.
— Tão gulosa...
Alarguei seu orifício em meio aos seus gemidos e gritos desesperados. Eu já tinha levado
aquilo muito adiante, precisava dela tanto quanto ela precisava de mim. Tirei um preservativo do
meu bolso, retirando o meu pênis de dentro e o envolvendo na borracha. Na posição de costas e
ainda deitada, enfiei meu pau em seu cuzinho, em um único impulso. Ela gritou, gemeu e chorou,
evitando desesperadamente gozar sem uma ordem minha.
— Muito bom, minha menina. — elogiei, agarrando os seus cabelos trazendo-a para perto de
mim, fazendo com que ao se sentar, me enterrasse no seu orifício até às bolas.
— Agora eu quero que grite, minha putinha. — E ela fez, em total abandono.
Agarrei seus seios, amassando-os, apertando, puxando os mamilos e rolando entre os dedos.
Aumentei a pressão com cada beliscão, sentindo o seu orifício me apertar mais e mais. Ela estava
ensopada, a respiração errática e os pelinhos do seu corpo arrepiados. A sensação era boa e a
entrega deliciosa. Mordi seu pescoço, enquanto manipulava um mamilo. Com a outra mão, apertei
seu traseiro dolorido, arrancando dela um gemido afiado.
— Dolorida?
— Sim, Mestre.
— Ótimo.
Minha putinha rebolou, pulou e gritou sobre o meu pau. Era intenso, viciante e muito prazeroso.
Eu amava foder minha cadela.
— Você não tem permissão para gozar, minha vadia.
Esbofeteei seu clitóris várias vezes, enquanto ela gritava desesperada, evitando seu orgasmo.
Acalmei seu corpo, massageando suas costas, dando beijos suaves em seu cabelo, esperando que
sua respiração se acalmasse. Assim que o fez, retirei-a do meu colo ficando de pé, retirando o
preservativo.
— Fique de joelhos e abra a boca. — exigi, ávido para ter sua boca no meu pau.
O throatfuck era uma das práticas que eu não abria mão, eu gostava de vê-la babar e
engasgar com o meu pau na sua garganta. Agarrei seus cabelos segurando-a no lugar, enquanto
ela me segurava dentro de sua boca. Tampava seu nariz, mantendo-a ali e depois a soltava. Por
diversas vezes repeti o movimento. Tentei duramente me segurar, mas estava louco para gozar. Seu
gemido, o barulho que ela emitia ao sufocar, ampliava ainda mais o desejo.
— Abra a boca. — ordenei, colocando minhas bolas na boca dela.
Enquanto ela me chupava, eu massageava meu pau, me preparando para gozar.
— Não engula. — exigi, tirando minhas bolas da sua boca.
Agarrei seus cabelos, massageando meu pau até gozar. Jatos de sêmen foram disparados
para dentro de sua boca e em seu rosto.
— Engole. — exigi, passando o que ficou de fora em todo o seu rosto, marcando-a com o meu
cheiro.
Enfiei meu pau dentro de sua boca, terminando meu orgasmo dentro daqueles lábios sedosos,
a boca quente... Porra! Perdi o fôlego com a imagem dela, ajoelhada aos meus pés, com meu pau
enterrando em sua garganta. Ela sugou e lambeu, até que me desse por satisfeito.
— Você não vai gozar até que eu diga o contrário.
— Como quiser, Mestre.
— Vá para a cama mais cedo. — ordenei, ajeitando minhas roupas. — Amanhã de manhã
estarei subindo para Teresópolis e espero você lá.
— Obrigada por não ter desistido de mim, Mestre. — agradeceu, beijando minha mão e meus
pés.
— Descanse bem, cadelinha. — Beijei seus cabelos, antes de ir para porta. — Não tome
banho até amanhã de manhã. Quero que durma com o meu cheiro.
— Sim, Mestre. Será um prazer fazê-lo. — disse, com uma carinha de cadelinha manhosa. —
O Senhor não vai ficar?
Eu sabia que ela iria perguntar, mas eu não voltaria a dormir no seu apartamento. A situação
havia saído do controle quando me permiti atender ao seu pedido de permanecer ali. Claro que a
vontade era grande, muita mesmo! Estava cansado e me sentia sonolento, mas eu precisava fechar
minha conta no hotel e pegar minhas coisas que estavam lá. O hotel ficava no caminho para
Teresópolis.
— Hoje não, cadelinha.
Deixei o apartamento aliviado por finalmente ter terminado o seu castigo.

***

Entrei no castelo já sentindo a euforia do lugar. Adorava o clube, amava o cheiro, as músicas e
a companhia agradável de meus amigos e companheiros. Desci direto para o restaurante,
encontrando, Naga, Mituso, Fire, Evil – sem sua escrava – e logo depois chegou Jhonatan, todo
animado.
Tirando Willian, que com seu lado sarcástico adorava atormentar todo mundo, os demais não
comentaram a alegria de Riddle. Apesar de me manter calado, eu fiquei curioso. A reunião
inesperada teve grandes progressos e o nome de Darkness foi citado em várias eventualidades
por sua falta de ética.
Aquele lado era preocupante, além do mais, eu também tinha minhas reservas quando se
tratava sobre aquele assunto. Comentei com Jhonatan e ele não gostou de eu ter escondido aquela
informação, entretanto não cabia a ele, até aquele dia, era pessoal. Sem mais delongas, jurei a ele
que se ela encostasse em um fio de cabelo da minha cadelinha, ela pagaria caro.
Conversamos por mais alguns segundos e depois ele se foi, provavelmente para verificar
Suzana. Eu tinha outras coisas em mente, a minha ida ali não era puramente social, eu precisava
falar com Willian e eu o faria antes de voltar para casa. Patrícia estava subindo hoje do Rio e eu
queria estar lá para ajudar com os ajustes necessários na casa.
Enviei uma mensagem para ele me encontrar no estacionamento. Não queria que nossa
conversa fosse interrompida e também não queria passar mais tempo ali. Eu tinha contratado uma
equipe de limpeza que estaria na minha casa em breve. Eu não tinha comprado móveis para a
casa, as poucas coisas que eu tinha, veio do antigo meu apartamento. Minha paty resolveria
aquele problema muito em breve. Sempre fui um homem que apreciava o bom gosto e eu tinha
encontrado uma cadela que apreciava tanto quanto eu. Ela tinha um excelente dom para
decoração. A casa em si parecia abandonada e eu não gostava daquela imagem.
— Se você fosse uma mulher, eu diria que esse encontro seria puramente sexual. — comentou,
sarcástico.
— Eu vou bem também. — caçoei.
— Corta o papo, já nos cumprimentamos mais cedo.
— Está certo. — concedi, trincando os dentes. — Eu conheci Lorraine.
O cara risonho, sarcástico e tranquilo não estava mais ali, agora eu via um homem frio,
insensível e impassível. O sorriso mordaz que ele deu em seguida, seria aterrador, do tipo que
faria minha paty correr para longe. Eu conhecia mais, eu sabia que aquilo vinha de um desejo
obscuro e também de muita mágoa.
— O que pretende com isso? — indagou, mordaz.
— Honestamente?
— Vá em frente.
— Eu não sei. — confessei, chateado. — A única coisa que posso dizer a você foi o que
conversamos.
— Fez sessão com ela? — Sua pergunta abrupta, me tirou do ar por alguns segundos. A sua
raia de possessividade era tangente e transparente.
— Não. — afirmei, evitando quebrar um vínculo que eu respeitava muito.
— Não posso com isso, Paulo. — falou, irritado. — Uma coisa era saber que o cara era
baunilha, outra completamente diferente é saber que um Dominador está dando a ela o que só eu
posso dar. Ela me pertence, mesmo eu negando isso todos esses anos.
— Eu acredito que ela realmente te pertence.
Eu não daria a informação sem que ele me pedisse. Não era um ato de maldade, era de
preocupação genuína com um amigo. Eu tinha tudo o que ele precisava, bastava apenas me pedir,
pois a partir daquele momento, eu já não era mais responsável pelo segredo, nem pela situação.
— Ela está sozinha?
— Sim.
— Desembucha, Paulo.
— Separada, tem um sex shop, não tem filhos e não encontra nenhum Sádico que satisfaça as
suas necessidades. Está vulnerável, confusa e muito frustrada.
— Ela escolheu assim.
— Não, ela não escolheu.
— Eu vi, Paulo. — afirmou, furioso. — Ela se afastou, foi embora sem dizer tchau e ainda saiu
desfilando com o maldito baunilha.
— Não foi escolha dela.
— Não acredito nisso.
— Pois deveria, tem muito mais nisso do que você consegue ver ou imaginar.
Ele parou analisando minhas palavras por longos minutos. Eu via em seus olhos a confusão, a
dor e a mágoa. Willian ainda amava Lorraine.
— O que ela te disse? — perguntou, cautelosamente.
— Isso você vai ter que perguntar para ela. — afirmei, abrindo a porta do meu carro.
Mãos grandes me impediram de entrar no carro. Olhei para o meu amigo vendo-o muito
perturbado. Eu lamentava a situação, mas ele tinha que entender que o outro lado da história
cabia apenas a ela contar.
— Não faça isso. — pedi, friamente.
— Você joga uma bomba de quinze anos no meu colo e vai embora sem me dizer nada? —
indagou, irritado. — Pensei que o Sádico aqui fosse eu.
— Você precisa ouvir dela.
— Então me diga onde eu a encontro.
— O que quer, Willian?
— Não sei... — disse, perturbado, passando a mão na cabeça. — Foder, marcar seu corpo,
torturá-la por ter me deixado, arrancar gritos de dor, ver o sangue escorrer de sua pele
translúcida. Eu não sei!
— Ela é uma bela mulher.
— Não precisa me dizer isso.
— Ela também não se curva.
— Você também não precisa me dizer isso.
— Eu gostei dela.
— Agora eu vou matar você! — ameaçou, me fazendo rir.
Durante longos minutos ninguém disse nada, mas eu via sua luta interna, seu medo, seus receios
e mais, sua dúvida. Ele precisava ouvir dela, que ela o tinha salvado de várias maneiras, ou seria
eu a dizer aquilo? Não sabia dizer... estava correndo o risco de não contar a história completa e
ele não procurar por ela. Eu precisava fazer com que os dois sentassem e conversassem sobre o
passado.
— Acho que ela é perfeita para você. — arrisquei, esperando tirar ele uma reação.
— Eu também. — assumiu, consternado. — Eu tentei durante anos arrancar essa sensação de
perda, essa falta perturbadora que ela me fazia. Tentei buscar outros caminhos, mas não consigo.
Sinto que nada me completa, que nada me satisfaz.
— Eu acredito que o Sádico e masoquista então ligados de uma forma profunda. O vínculo
que vocês dois criaram é intenso, vejo isso em você e vi isso nela também. Vocês tiveram uma
ligação e se prenderam a ela. Acredito que todos nós temos nosso tempo e talvez o seu só tenha
chegado agora. Você se preparou, estudou, praticou e ficou muito bom em ler nuances. Você já
teve várias sessões e soube parar quando preciso e avançar quando necessário. Você não tinha
isso com ela. Estavam cegos.
— Eu jamais a machucaria.
— Mas machucou. —retorqui, calmamente. — Talvez não a tenha quebrado, mas a feriu o
suficiente para que a mãe dela o quisesse na cadeia.
— Eu... Eu... Não... — Willian estava chateado, era bem claro o quanto ele ficou perturbado
ao saber que a tinha ferido. — Não foi por maldade.
— Não foi. Mas foi por falta de conhecimento. Por isso estou dizendo que talvez o tempo de
vocês dois seja agora.
— Como eu a encontro?
— Estou impressionado de vocês não terem se encontrado antes. — comentei, sorrindo. Porém
não disse a ele que ela era frequentadora assídua do dungeon do Pedro. — Aqui. — Peguei o
número dela, passando para ele.
— O que diabos vou fazer?
— Eu não tenho respostas para tudo, sabe? — caçoei. — Pense e analise a situação. Se você
prefere falar, então ligue para ela. Talvez ainda não seja o momento de vê-la até que você
absorva o fato dela estar de volta.
— Obrigado, Paulo.
— Eu não vou me casar com você.
— Não me lembro de ter pedido. — disse sorrindo, mas sem tirar os olhos do papel.
Nos despedimos e eu fui embora, observando pelo retrovisor ele pegar o celular com o
número dela em mãos. Vínculo entre parceiros era algo difícil de explicar...
Willian – Lord Fire

P assei longos minutos olhando para o meu celular e o pedaço de papel,


com seu número gravado nele. O quanto eu a havia machucado? Eu a
tinha visto muitas vezes depois, porém nunca percebi nada... talvez fosse
a minha dor ao perdê-la, que não tivesse me permitido ver tão atentamente. Nunca foi a minha
intenção machucá-la.
Lembro-me perfeitamente da última vez que estivemos juntos... Sim, ela ficou bastante ferida
naquele dia. Eu tentei deixá-la o mais confortável possível. Havia dado banho, tratado suas costas
e feito o jantar. Entretanto, pensando claramente na situação, também lembro de ter sentido que
aquela noite havia sido uma despedida... como se ela soubesse que não estaríamos mais juntos,
talvez ela soubesse, apenas eu não sabia.
Era impressionante como o tempo era o senhor de todas as coisas... Hoje, jamais deixaria a
situação ir tão longe e, também não deixaria de notar sua distância. Ler as nuances, o desconforto,
saber quando parar e prosseguir, saber quando estava sendo prazeroso ou desconfortável, tudo o
que eu aprendi, me daria indícios de que a situação não estava satisfazendo a outra parte, que
algo estava acontecendo, que somente uma parte estava envolvida...
Irritado por estar protelando aquela situação por mais tempo, disquei seu número e esperei.
— Alô? — Fechei os olhos saboreando aquela voz.
Porra! Quanto tempo havia passado? Ela ainda continuava com o mesmo tom de voz, era
suave... Estaria ela com os cabelos da mesma cor? Seus cabelos eram a coisa que mais me
fascinava naquela época.
— Precisamos conversar.
— Willian?
— Que lugar você frequenta?
— Willian, é você? — Encerrei a chamada, sentindo uma certa euforia por dentro.
Ahhh... ela ia aprender como eu gostava das coisas... Talvez ela tivesse desaprendido, mas
voltaria a pegar o ritmo rapidinho, desta vez não com o Willian, mas com o Lord Fire. Voltei para o
castelo com as mãos suando e o coração batendo violentamente. Aquele tipo de desejo só era
despertado antes de uma sessão. Com ela, vinha antes, durante e continuava depois.
Com ela, só com ela, eu já não me importava que ela estivesse no Rio e eu aqui, era prático,
rápido de resolver o problema. Em duas horas ela estaria aqui ou eu lá. Sem ponte aérea, sem
quilômetros de distância, sem transtorno. Estávamos à distância de uma ligação apenas.
Meu telefone vibrou na minha mão, olhei para o aparelho vendo o seu número na tela. Não
precisava gravar no celular, eu já tinha feito na memória.
— Onde? — Atendi, voltando a pergunta anterior.
— Calabouço do Pedro.
— Estarei lá.
— Quando?
— Quando sentir vontade. — respondi, tornando a desligar o telefone.
Eu precisava das minhas férias, agora mais do que nunca. Quinze dias para conversamos,
acertar os ponteiros e se ela estivesse disposta, partiríamos para as negociações. Ela era minha e
eu provaria isso a ela. Daquela vez sem um bunda mole de um baunilha e sem chances para outro
Dominador. Eu não precisava me preocupar com outro Sádico, não éramos muitos e, se até hoje ela
não havia encontrado um, então não havia um tão próximo. Podia sim, ter Dominadores com traços
sádicos, mas não o suficiente para atender às suas necessidades.
— Parece contente. — incitou, Marco ao se encontrar comigo no corredor.
— Eu estou. — respondi, passando por ele assoviando.
Havia algo que me incomodava no Marco, não só no seu péssimo comportamento com sua
escrava, eram além, algo mais profundo. Não sabia dizer o que era, pensei uma vez que fosse
descontrole emocional, talvez até fosse, mas não sabia dizer ao certo. Havia algo mais ali... No
entanto, não era o momento para analisar a situação.
Eu precisava falar com a pequena de Goiânia, saber se ela ainda estava no Rio. Eu precisava
dela para diminuir minha euforia, eu precisava me acalmar e obter controle das minhas emoções.
Eu não sabia o que esperar do meu encontro com Lorraine e para evitar qualquer deslize da
minha parte, qualquer erro, eu precisava me aliviar. Disquei o número do seu amigo e aguardei.
— Alô?
— É o Matheus?
— Sim, quem fala?
— Sou Lord Fire, a pequena me deu esse número para entrar em contato com ela. Ela está?
— Claro, Senhor! Vou chamá-la.
Esperei ele chamar a pequena masoquista com carinha de sapeca, enquanto pensava onde a
levaria antes de me encontrar com Lorraine. Cochichos, burburinhos e alguns risinhos eram possíveis
serem ouvidos, enquanto eu aguardava pacientemente a moça atender o telefone.
— Saudações Lord Fire. — Gostava da voz dela, também gostei bastante da sessão que
tivemos.
— Saudações, pequena. Como vai?
— Eu vou bem, e o Senhor?
— Bem também. — sorri, ao ouvir seu tratamento. — Você vai estar ocupada na quinta-feira?
Não era noite da mina folga, mas eu tinha certeza que podia contar com a Naga. Fazíamos
trocas quando um ou outro precisava.
— Não Senhor.
— Quero ver você.
— Quer que eu vá ao castelo? — indagou, confusa.
— Não, pequena. Estou descendo para o Rio.
— Claro! Será uma honra.
— Honra e prazer, acredito. — disse, sorrindo.
— Sem dúvidas, Senhor.
Passei a ela tudo o que eu queria para aquele dia e peguei seu endereço. Um bom plano se
formava... Meu telefone tocou e eu atendi sem olhar o visor.
— Alô?
— Willian, precisamos conversar... — Voltei a desligar o telefone.
Nós iríamos conversar, mas não quando ela queria e do jeito que ela esperava. Ela tinha saído
sem dizer nada e agora voltava, logo seria sobre os meus termos. Eu não queria uma escrava e
sabia que Lorraine jamais submeteria. Eu teria um árduo trabalho com ela.
Particularmente, eu não tinha vontade de dominar e muito menos de ter uma submissa em uma
relação TPE. Eu queria sim, tentar uma relação EPE com Lorraine, afinal, ela tinha sido a única
mulher que amei a minha vida toda. Ela foi a única que atendeu, submeteu e aceitou tudo o que eu
estava disposto a dar a ela. O que fizemos no passado, sem conhecimento, tinha sido sim perigoso,
mas criou um vínculo entre nós. Era bobagem lutar contra o que eu queria. Vinha fazendo aquilo
durante todos esses anos e não saí do lugar, estagnei. Foi proveitoso, exatamente como Paulo
acreditava, eu adquiri conhecimento, busquei por informações, passei a praticar com mais
responsabilidade e habilidade. Cresci como ser humano, amadureci como Sádico e aumentei meus
conhecimentos.
Eu conhecia a Lorraine da minha mocidade, a de agora, eu não fazia ideia de como era. A
necessidade pela dor, com o passar dos anos ela não diminuía, pelo contrário, se intensificava. A
masoquista, juntamente com o Sádico, trabalhavam mutuamente para elevar os seus limites, dentro
do consensual e do seguro. Contudo, quanto mais tempo a peça ficava sem abranger seus limites,
mais sensível ela ficava à dor.
Durante todo o dia ela continuou insistentemente me ligando. Eu atendia e desligava. Gostava
daquela tortura, gostava de sua insistência, contudo, no final da tarde eu já estava cansado
daquele jogo. Na sua última ligação, eu atendi finalizando o assunto.
— Você quer um encontro, você o terá.
— Obrigada, Willian!
— Quinta-feira no calabouço do Pedro. — Desliguei o telefone, bloqueando seu número.
Eu tinha uma sessão para fazer agora e precisava me concentrar ao máximo na bottom que
estaria comigo. Ela não era uma masoquista, mas tinha um limite alto para dor, já tínhamos feito
uma sessão antes, eu sabia o limite dela e montaria uma cena conforme foi acordado entre nós.
Pela primeira vez, não sentia euforia para uma sessão, tudo parecia monótono diante do que
estava por vir na quinta-feira. Obviamente, eu ainda tinha que falar com a Naga, mas eu
duvidava que ela me negaria cobertura, erámos parceiros e eu podia confiar nela para assumir a
masmorra.

Patrícia – {slave paty} Mestre Shadow

Ele voltou! Ele me perdoou! Eu tenho minha coleira de volta! Eu o amava! Ele me queria! Eu
ainda era sua escrava!
Eu passei boa parte da noite cantarolando aquelas palavras. Eu sabia que precisava dormir
para pegar a estrada no dia seguinte, todavia a euforia não me permitia. Eu tinha conseguido
passar pelo meu castigo, ganhei minha coleira de volta e o perdão do Mestre de mim. Não tinha
como controlar todos aqueles sentimentos. A minha bunda ardia, doía como há muito tempo não
acontecia. Contudo a dor era bem-vinda. Ela lembrava que eu ainda tinha um Mestre, indicava o
meu erro, a minha entrega, o meu carinho, devoção e amor a quem eu pertencia.
Com a cabeça mais fria, sentindo-me mais tranquila, era mais fácil racionalizar a situação.
Percebi que muito da minha dor e sofrimento, era devido ao meu emocional. A minha entrega a Ele,
era o que realmente me dava prazer. A batalha entre servir com prazer e, fazer tudo de forma
perfeccionista era que me fazia errar. E os erros cabia ao Mestre a quem pertencia, a orientação
e o castigo, para que eu aprendesse com eles e não voltasse mais a errar.
A complexidade da nossa relação, me fez questionar sobre o meu erro e as consequências que
ele me trazia. Foi então que eu percebi, que errar era uma maneira de estar constantemente em
crescimento. Não se aprende sem erros. Claro que provocar um erro por vontade de ser
castigada não era algo ruim, o problema estava na constante daquele ato. Existia uma grande
diferença entre provocar uma situação na qual deixaria o Mestre desapontado e usar de rebeldia
para ser castigada.

***

Eu mal tinha fechado meus olhos e o sol já nascia. Eu havia desobedecido ao Mestre por não
ter dormindo quando Ele mandara. No entanto, a euforia era tanta, que acabei virando de um
lado ao outro na cama, sem conseguir pregar os olhos.
Peguei meu celular para mandar uma mensagem a Ele.
Bom dia, Mestre de mim!
Sua cadela, putinha, escrava paty
Patrícia Oliveira às 7:00 hs
Enquanto esperava por sua resposta, levantei-me para tomar banho e tirar o cheiro do Mestre
do meu rosto e corpo. Minha vagina latejava, estava dolorida e sensível. A necessidade de gozar
intensificou-se ainda mais com o atrito que a toalha causou ao me enxugar. Desesperada para tirar
minha mente das minhas necessidades sexuais, fiz minha higiene e voltei para o quarto. Ele ainda
não tinha enviado nada. Aquela espera dava aflição e angústia, mesmo conhecendo o Mestre,
nunca sabia o que esperar Dele. Fui para a cozinha passar um café, antes que o pessoal da
mudança chegasse.
Bom dia, cadelinha! Dormiu bem?
Paulo Vasconcelos às 7: 28 hs
Veio sua mensagem quase meia hora depois. Eu jamais fiz o Mestre a quem eu pertenço
esperar e, mesmo estando ansiosa com a espera, nada mais importava quando via sua mensagem
chegar.
Não muito, Mestre. Estava eufórica demais para conseguir dormir. Quando consegui pegar no
sono, já era tarde.
Sua cadela, putinha, escrava e sempre disposta, paty
Patrícia Oliveira às 7:28 hs
Tomei o meu café calmamente saboreando o seu delicioso aroma e tentando arduamente
controlar minha ansiedade. O porteiro chamou, dizendo que o pessoal da mudança havia
chegado. Liberei a entrada e corri para o quarto para me vestir. Eu sempre ficava nua em casa,
usava roupas apenas para sair. No início do nosso relacionamento, era uma tarefa que eu tinha
que cumprir, pois não gostava do meu corpo. Mestre de mim havia me ensinado que quanto mais
eu me conhecia, quanto mais explorasse minha sexualidade, mais eu passaria a amar minhas
curvas.
Eu tinha um corpo plus size e apendi a amar minhas curvas, minha barriga arredondada e
minhas coxas grossas. Aprendi a me valorizar, a me amar e me descobrir como mulher. Algumas
vezes era difícil controlar minhas emoções e, palavras erradas, situações constrangedoras
acabavam me afetando. Ainda estava em aprendizado, por isso seguia nua pela casa inteira.
Abri a porta para atender os homens da mudança, sentido a apreensão se instalar
rapidamente. Oito homens enormes invadiram minha casa, com caixas, sacos bolhas e ferramentas.
Geralmente não ficava intimidada com a presença de tantos homens, entretanto, eu tinha fotos
seminua espalhadas por todo apartamento. As fotos era um passatempo do Mestre, muitas delas
eram altamente sexuais.
O desconforto aumentou, quando um deles caminhou, parando diante de uma delas assoviando
alto. Eu estava de quatro em frente a uma cadeira, vestindo apenas meias 3/8, com saltos e minha
coleira. Estava completamente exposta naquela foto. O homem diante da foto, olhou lascivamente
em minha direção, com um sorriso nojento nos lábios. Odiei aquele homem, odiei ao ponto de me
sentir enjoada.
Sem esperar que a situação saísse do controle, corri para a cozinha, a fim de ligar para o
Mestre, ignorando sua última mensagem. Da cozinha eu podia ouvir os comentários pejorativos,
risadinhas constrangedoras e burburinhos. As lágrimas vieram, embaçando minha visão.
— Você não respondeu à minha mensagem. — relatou, friamente ao atender o telefone.
— Mestre, a empresa que o Senhor contratou, sabe do nosso estilo de vida? — perguntei,
chorando.
— O que aconteceu, paty? — indagou, preocupado.
— Não estou confortável aqui. — murmurei, baixinho soluçando diante do desconforto. — Tem
oito homens aqui dentro, mexendo em tudo, nas minhas fotos, assoviando... Tem um olhando minha
foto, fazendo piadinhas e comentários pejorativos. Estou com medo.
— Acalme-se, paty. — pediu em tom de comando.
Respirei fundo tentando fazer como Ele pedia, mas não conseguia com todas as risadas na
sala. Trabalhamos anos, com minha sexualidade e agora, eu sentia tudo escoar pelo ralo, com
todas as piadinhas maldosas que vinham da sala.
— Mestre... — lamentei, chorando.
—Saia do apartamento, agora.
— Mas... e minhas coisas?
— Eu vou ligar para a empresa. Pegue suas roupas e venha para Teresópolis.
— Estou saindo.
— Paty?
— Sim, Mestre?
— Algum deles tocou em você?
— Não! — Ele respirou pesadamente pelo telefone, diante da minha negação. Mestre estava
tentando manter a calma para me acalmar, mas odiava a situação tanto quanto eu.
— Pegue o que eu mandei você separar ontem e venha imediatamente para casa.
— Certo. Até mais, Mestre.
— Não desligue o telefone. — vociferou, me fazendo estremecer. — Eu vou ficar na linha até
você entrar no seu carro.
Corri para o meu quarto limpando as lágrimas, escolhendo as malas que eu podia carregar.
Conectei o fone de ouvido no celular e o coloquei no bolso, para liberar as duas mãos.
— O que está fazendo, cadelinha?
— Estou no quarto pegando minhas malas.
— Onde eles estão?
— Ainda na sala.
— Fique calma, eu estou aqui, estou com você.
— O que digo a eles?
— Não diga nada, já estou na outra linha com a empresa.
Peguei as malas que continham minhas peças íntimas, material de higiene e uma outra com
roupas comuns. As outras eu teria que deixar, não daria para levar em uma única viagem e, assim
que deixasse o apartamento, não voltaria.
— Porquê a demora, paty? — Podia sentir sua ira pelo telefone. Odiava quando me via
dentro daquele tipo de situação.
— Já estou deixando o quarto.
Passei pela sala, não olhando diretamente para nenhum deles, mas pelo canto do olho, percebi
que um deles estava ao telefone. Não queria ficar mais que o necessário, saí do apartamento,
batendo a porta atrás de mim. Estava muito nervosa, a ideia de qualquer um deles abrisse a porta
e viesse atrás de mim era aterradora.
— Cadelinha, onde você está?
— Esperando o elevador.
— Eu já falei com o dono da empresa. — relatou, calmamente. — Quero que respire fundo e
tente se acalmar.
Eu tentei fazer como Ele me instruía, mas a ideia de ainda estar ali, não me ajudava a
concentrar no exercício. O elevador chegou, me fazendo respirar fundo. Empurrei minhas malas
com os pés, entrando rapidamente no elevador.
— Graças a Deus. — murmurei, esquecendo que estava no áudio com o Mestre.
— Eu fico onde nisso? — indagou, brincalhão.
— Desculpe-me, Mestre. Agradeço ao Senhor por ter ficado comigo.
— Não me agradeça. Se eu estivesse aí, você não teria passado por isso.
— Não penso assim, Mestre. — descordei, humildemente. — Acredito que a pessoa é o que é,
independente das circunstâncias. Sua presença ali, o faria se comportar, mas não se calar. Ele
podia não falar na sua frente, mas falaria nas costas.
— Infelizmente você tem razão.
— Obrigada, Mestre. — agradeci, me sentindo mais calma. — Cheguei à garagem.
— Ainda vou seguir com você. — afirmou veemente. — Preciso ter certeza que você está
calma o suficiente para dirigir.
— Eu estou melhor, Mestre.
— Tem certeza, minha paty?
— Tenho sim, Mestre.
— Bom, nos vemos em breve. Venha pela BR116.
— Certo. Até mais, Mestre.
— Até breve, cadelinha.
Aquela era uma dura realidade, contemplava durante o trajeto. Quando era mais nova, ainda
na escola, sempre fui alvo de piadinhas, de gozação e de todo o tipo de bullying. Sempre fui
gordinha, desde de muito novinha sofria com o excesso de peso. Fazia dietas rigorosas, academia
e nada funcionava para mim. Algumas vezes cheguei a tomar remédios para emagrecer. Parei de
fazer aquele tipo de loucura quando conheci o Mestre.
Emagreci, um pouco devido às atividades físicas necessárias para o meu condicionamento físico
nas sessões, mas não o suficiente para deixar de ser uma plus size. Senhor de mim, amava minhas
curvas e me fez aceitar e amar elas também. Foi um trabalho árduo, não apenas de aceitação,
mas também de valorização, autoestima e amor próprio.
Eu não podia fazer ninguém me aceitar, se eu mesma não tinha aquele cuidado para comigo.
Precisei trabalhar o meu psicológico aceitando o fato de que minha estrutura era gordinha. Eu
tinha seios fartos, um bunda grande, minhas coxas roçavam uma na outra quando andava, mas fui
aprendendo que mesmo emagrecendo, elas ainda seriam assim. Então a aceitação era o único
caminho.
A primeira vez que fizemos uma sessão em um clube eu quase morri de vergonha. Não
consegui controlar meu emocional, meu corpo e minha cabeça não estava na cena. Fui punida
severamente por colocar meus desejos acima dos do Mestre. Por depreciado e colocado defeito,
em seu brinquedo.
Era muito ruim quando as pessoas te apontavam o dedo, sempre vendo uma gorda ao invés
de um ser humano. Mesmo que você estivesse ali, sendo amiga, para dar apoio, oferecendo ajuda,
ainda assim, ao invés de apontarem como: “minha amiga Patrícia”, era; “aquela minha amiga
gordinha”. Outras vezes: “você está linda, mas precisa emagrecer”, ou “você precisa ter amor
próprio, cuidar mais de você, está desleixada”.
A tortura psicológica quando se estava acima do peso era diária e infinita. Sempre havia
alguém para me lembrar do que eu via no espelho todos os dias. Nenhum magro sabia o que era
ser gordo e o quanto era difícil perder peso.
Não importava o quanto eu tentasse, qualquer pessoa que tem um objetivo, se não tiver um
incentivo, não conseguia ir adiante. Principalmente se aquele incentivo fosse fundamental para o
seu emocional. Trabalhar arduamente em uma esteira, controlar a alimentação, passar um mês
inteiro se torturando para perder dois quilos, que para você fora um milagre e, chegar uma
pessoa dizendo: “não vejo nenhuma diferença, precisa ser mais perseverante”, era desestimulante.
As pessoas não tinham ideia do quanto aquilo, ao invés de ajudar, atrapalhava ainda mais.

Lorraine

Não havia como expressar a euforia que eu estava sentindo. Ouvir sua voz foi a melhor coisa
que me aconteceu nesses últimos quinze anos. Eu queria falar, queria ouvir, queria me explicar,
obviamente todos os meus desejos foram ignorados e de uma forma muito mal-educada.
Prometi ao Dominador da noite passada que não faria uma cena, porém Willian não tinha me
dado uma opção, ele nem sequer me ouviu! Eu tinha tantas esperanças naquela ligação... Tantas
noites sonhando com aquele momento... e quando aconteceu, fui ignorada.
Eu insisti, liguei e voltei a ligar. Ele me atendia, mas não me deixava falar! Que ódio! Não era
mais fácil ele simplesmente ignorar ou dizer que não tinha o menor interesse em falar comigo? Já
não tinha sido torturada tempo demais? Casar-me com um homem que eu não amava, ser afastada
de quem eu mais queria por perto, viver uma relação que odiava... Estava tão cansada... Sentia-me
sem rumo, sem uma perspectiva de que as coisas ficariam melhores...
— Você está bem, Lorraine? — Olhei para cima, vendo minha amiga e confidente do outro
lado do balcão.
Eu estava na loja e fiquei completamente perdida em meus pensamentos, alheia ao que estava
à minha volta. A ligação de Willian tinha me abalado profundamente, tanto que não a tinha visto
entrar na loja.
— Cintia! — exclamei, saindo do meu estupor, indo abraçá-la.
— Você parecia tão distante... — comentou, abraçando-me afetuosamente.
— Eu senti tanto a sua falta! — confessei, chorando.
— Eu também senti a sua.
Ficamos abraçadas por um longo tempo... Eu precisava tanto daquele abraço, daquela ternura,
de um ombro amigo, um apoio... Tanta coisa tinha acontecido, tantas experiências ruins eu tinha
vivido... Aquela caminhada era árdua e dolorosa. Só quem vivia a sensação de que estava
faltando algo essencial para sua existência, era que sabia o quanto aquilo machucava.
Eu tinha tentado uma relação baunilha e não tinha dado certo. Por algum tempo até que era
legal, mas quando toquei no assunto BDSM com o cara, ele correu léguas. Era assim há anos atrás
e continuava assim ainda hoje.
— Eu vim aqui desabafar e vejo que você também precisa fazer o mesmo. — disse, Cintia, se
afastando.
— Não consigo deixar o passado para trás e é ainda pior quando ele surge do nada... —
confessei, puxando-a para trás do balcão.
— Encontrou seu grande amor? — indagou, curiosa.
— Não, ele apenas me ligou.
— Bem, parece que sua história é mais interessante que a minha.
— Vou fechar a loja. — Precisava muito conversar com ela e a minha funcionária tinha saído
para fazer serviço de banco. — Temos muito que conversar.
— Não, Lorraine. — negou, triste. — Eu não tenho muito tempo, não posso demorar aqui no
Rio.
Olhei para minha amiga, notando olheiras e uma tristeza profunda nos olhos. Ela não sorria e
as lágrimas caiam sem parar.
— Então vou ouvir você primeiro e se tivermos tempo, falo sobre mim depois.
— Eu não posso mais viver daquela maneira. — desabafou, sentando-se na cadeira em frente
à minha mesa. — Eu não consigo mais ser quem eu era, me sinto mal, sinto que não é certo, não
consigo me encontrar... Estou tão perdida!
Eu estava chocada! Eu nunca pensei que um dia veria Cintia daquela maneira. Se havia algo
que eu admirava naquela mulher, era sua força, sua coragem de abraçar sua sexualidade, a de
assumir sua condição de escrava. Eu não conseguia acreditar!
— Cintia, o que está acontecendo?
— Estou destruindo o meu casamento, enlouquecendo o Marco e não consigo seguir de forma
diferente. Sinto-me um trem desgovernado. Não estou conseguindo lidar com toda a pressão que
ele está fazendo!
Definitivamente não conseguia acreditar no que ela estava contando. Eu convivi com os dois,
eles me ajudaram a amadurecer, a evoluir, me deram conselhos, instruções... Eu não tinha a menor
ideia de que um dia eles ficariam naquela situação.
— Já conversou com ele sobre o que você está sentindo?
— Já, mas ele não aceita.
Observei-a atentamente para saber se aquilo realmente estava acontecendo e se eu estava
ouvindo certo. Marco jamais iria impor algo a Cintia, não era assim que o relacionamento deles
funcionava. Aliás dentro do BDSM tudo tinha que ser consensual.
— Não aceita? — indaguei, incrédula.
— Não... Quer dizer...
— O que realmente está acontecendo, Cintia?
— Eu não quero mais aquela vida!
Eu estava perplexa com a atitude da Cintia, parecia outra mulher falando comigo. Eu vivi um
relacionamento baunilha ruim. Vivi sete anos com uma pessoa que eu odiava, em um casamento
forçado e completamente frustrada sexualmente. Eu sabia com certeza que depois que assumimos
nossa sexualidade, dificilmente conseguiríamos viver uma relação baunilha. O sentimento de perda,
de falta, de insatisfação arruinava tudo!
— O que fez você mudar de ideia?
Ela não me respondeu, olhou para a porta da loja, como se reunindo os seus pensamentos. Eu
deixei ela tomar seu tempo, afinal, não havia nada a ser feito, se aquela era a sua decisão.
— Eu tive uma criação diferente... — disse, com a voz embragada de emoção. — Meus pais
eram evangélicos, eu cresci naquele meio, conheci pessoas que viviam daquela forma... — parou,
limpando as lágrimas. — No final do ano, fui para a casa dos meus pais, minha mãe estava muito
doente e acabou morrendo.
— Lamento muito, Cintia.
— Ela só pediu que eu vivesse a minha vida conforme os ensinamentos, do jeito que ela havia
me educado.
— Cintia...
— Eu não posso! — gritou, em meio às lágrimas. — Ela só queria o melhor para mim, queria
que eu fosse uma mulher decente.
Eu conhecia bem aqueles conceitos...minha família não tinha os mesmos? E eles nem eram
evangélicos. Eu lamentava a confusão que ela estava sentindo, mas seria bem pior se ela abrisse
mão de quem era para satisfazer a mãe morta.
— Acho que você deve dar um tempo, pensar um pouco mais, espairecer a cabeça. Tentar
chegar a um acordo com o que você quer para você e o que você pensa que quer para você.
— É o que eu estou tentando fazer, mas o Marco insiste em me levar ao clube.
— Pediu a ele esse tempo? Falou para ele como se sentia?
— Não conseguimos conversar. — relatou, enxugando as lágrimas. — Ele fala que tem me
dado tudo o que eu quero, mas ele não tem tido o que ele precisa.
— Bem... se tratando do estilo de vida que nós temos, para ele deve estar sendo bastante
difícil.
— Não posso permitir que meu marido fique com outra!
Chocada! Eu estava pasma com a atitude daquela mulher. Como uma pessoa podia mudar
tanto e tão drasticamente? Eu nunca imaginei que Cintia deixaria de ser uma submissa. Ela sabia
como funcionava a relação, ela aceitou isso ao se casar com Marco. Estava vendo egoísmo e
hipocrisia da parte dela, diante da situação. Ela sabia que o BDSM estava ligado à sexualidade e
ela sabia que a troca de poder era fundamental para o marido e Dono.
— Eu acho que você está sendo um pouco egoísta.
— Está do lado Dele?
— Claro que sim! — afirmei, veemente. — Ele precisa de uma submissa e você está negando
isso a Ele e também proibindo que Ele tenha outra.
— Não é assim...
— É claro que é. — rebati. — Você mudou drasticamente sem aviso, Ele foi pego
desprevenido. Está perdendo a esposa e a escrava ao mesmo tempo. E o pior é que tudo isso está
acontecendo por conta de uma pessoa que nem está mais entre nós.
— Você não entende! —gritou, totalmente fora de controle.
— Eu não tenho que entender nada, você é que precisa entender a situação Dele, parar para
pensar e tomar uma decisão.
— Não quero me separar do meu marido.
— Não quer se separar, não quer continuar sendo submissa Dele e também não quer que Ele
tenha o que precisa. — resumi, amargamente.
Passei anos da minha vida vivendo daquela forma. Júlio jamais quis saber sobre BDSM. Ele
repudiava aquele estilo de vida veemente. Ele tinha tudo o que queria: uma esposa, uma casa, uma
vida confortável e família na volta, já eu, eu não tinha nada. Não o amava, não era feliz e odiava
reuniões familiares, pois o único assunto era de quando teríamos filhos. Eu não era feliz naquela
relação e não tinhaas minhas necessidades sexuais atendidas. Foram os piores anos da minha vida.
— Foi um erro ter vindo aqui. — disse ela, colocando-se de pé.
— Você está pensando em si mesma, Cintia. — falei, segurando seu braço. — Pense nos anos
que viveram juntos, em tudo que construíram ao longo do caminho. No amor, carinho, respeito e
confiança que tinham um pelo outro. É uma história, uma vida. Vale a pena perder tudo isso só
porque sua mãe acha que é errado?
— Não é assim tão simples. — recusou, balançando a cabeça.
— Não amava o que tinham? O que vocês dois compartilhavam? Pense no quanto você
amadureceu, evoluiu como mulher e quanto prazer essa relação trouxe para você. Tem certeza que
não vai sentir falta disso?
— Eu sei que você sofreu com seu casamento...
— Não Cintia, você não sabe. — disse, honestamente. — Você não tem ideia do que é viver
uma vida de dor, amargura e decepção. Não sabe o que é se anular para ver seus pais felizes,
não sabe o que é ter que sorrir, quando tem vontade de chorar. Não sabe o que é perder quem
mais ama.
— Não, eu não sei.
— Mas a esse passo saberá muito em breve.
Cintia me olhou aterrorizada. Obviamente ela não tinha pensado na ideia de uma separação.
No fato de que ela teria que viver sozinha. Ela não tinha ideia de como a vida dela poderia ficar
pior do que estava. O que quer que a mãe havia dito a ela no seu leito de morte, havia mexido
profundamente com seu emocional e psicológico. Era triste ver uma relação onde duas pessoas se
amavam e se respeitavam mutuamente acabar daquela maneira, por puro preconceito.
— Eu não sei o que fazer, não tenho com quem conversar, estou confusa...
— Estamos conversando e o meu conselho é que você converse com Marco. Ele é seu melhor
amigo e também é seu marido. Fale com ele sobre seus medos e receios. Eu tenho certeza que Ele
vai te ouvir.
— Ele me quer como escrava!
— Não... Ele quer a esposa Dele de volta.
— Não é tão simples assim...
— Eu não disse que era. — aproximei-me dela, abraçando-a afetuosamente. — Eu sei que
você precisa de um tempo e, pelo que conheço do Marco, tenho certeza que Ele te dará esse
tempo.
— Eu o amo tanto, Lorraine.
— Então pense ainda mais, pense com carinho. Não deixe que os princípios da sua mãe
destruam a relação de vocês dois.
— Eu preciso ir, não disse a Ele que viria ao Rio.
— Não pediu ao Marco para vir aqui? — indaguei, incrédula.
— Não preciso de uma permissão, não mais. — respondeu amargamente.
O que quer que a mãe dela havia dito, surtiu efeito. A mulher à minha frente não era em nada
parecida com a Cintia que um dia eu conheci. Aquela mulher doce, de sorriso gentil, de cabelos e
olhos brilhantes, confiante, alegre e apaixonada. Não... a Cintia que estava na minha frente
parecia infeliz e amargurada.
— Se é o que quer, que assim seja. — respondi, no mesmo tom. — Contudo, olhando para
você agora, não vejo felicidade nenhuma em sua escolha. Vai ficar sozinha Cintia como jamais
imaginou.
— Adeus, Lorraine.
Eu não disse nada, estava chocada demais para conseguir proferir qualquer palavra. Eu tentei
ajudar, tentei aconselhar, tentei mostrar a ela o lado feio do preconceito, do quanto aquilo
machucava e manipulava. Tudo em vão... ela acreditava que aquele estilo de vida era errado e ia
destruir seu casamento por pensar que o que a mãe disse – o que quer que tenha sido – era o
melhor para ela.
Eu já vivi aquilo, já passei por todo aquele caminho e ainda vivia a crua realidade que não
podia simplesmente ignorar quem era. Eu tentei viver sem o masoquismo, tentei viver uma relação
baunilha, mas não foi tão simples ou tão fácil como dizem por aí. Ter um marido e tentar viver uma
relação S/m paralela era impossível. Haveria marcas, sangramento, lesões... Era impossível
esconder aquilo de um cônjuge. Se a minha mãe, que não me via nua, que não dormia comigo,
percebeu, imagina um marido que conhece cada pedacinho do meu corpo? Não dava para viver
uma segunda pele.
Patrícia – {slave paty} Mestre Shadow

D uas horas depois de muita reflexão, chegava à casa do Mestre de mim.


O lugar era lindo, muito verde em volta e tinha uma bela vista da Pedra
do Sino. Saí do carro respirando o ar frio da serra. Eu gostava muito
dali, não me importava muito com a praia, meu corpo estava fora dos padrões para andar por lá.
Era difícil caminhar por um lugar tranquilamente, quando era vítima de preconceito.
— Você não parece nada bem. — comentou, Mestre me abraçando por trás.
— Acho que não. — confessei, encostando minha cabeça no seu peito. — Fazia um bom tempo
desde que fui vítima desse tipo de preconceito.
— Vamos entrar para conversar.
— Podemos conversar caminhando? — pedi, gentilmente. — Eu realmente gosto muito desse
lugar.
— Vou trancar a casa, podemos almoçar fora também. — sugeriu, Mestre de mim.
— É uma ideia muito boa, Mestre.
— Eu já volto.
Não demorou muito para Ele voltar e, de mãos dadas começamos a passear pelas ruas. Eu
aprendi com o meu castigo, estava pensando nas palavras, a fim de me expressar da melhor
forma possível o que estava sentindo. Caminhamos por cerca de uma hora, até chegarmos ao
centro. Tinha um restaurante ali, com uma comida excelente e ambiente muito agradável. A
decoração era rústica e muito aconchegante.
— Aceita subir a ladeira? — perguntou, sorrindo.
— Claro! — exclamei, animada.
Era um grande desafio subir aquela ladeira. Era ruim vir ali de carro, pois não tinha
estacionamento, mas sempre insistíamos. A comida era boa e valia a pena suar um pouco para
chegar ao local. Assim que chegamos, fomos atendidos rapidamente e o Mestre pediu um vinho
para tomarmos antes do almoço. Era hora de começar a falar...
— Acredito que já tenha uma resposta. — incitou, servindo o vinho.
Por ordem do Mestre de mim, eu não precisava chamá-lo de Mestre em locais públicos. No
mundo baunilha, éramos Paulo e Patrícia. Muitas vezes eu ficava sem jeito, achava desrespeitoso,
mas se o Mestre queria assim, que assim fosse.
— Levei um bom tempo refletindo sobre tudo.
— Isso é muito bom, minha menina.
— Não são as estrias, os quilos a mais ou as celulites que me incomodam. — afirmei,
calmamente. — É o constrangimento de não estar nos padrões da sociedade, a de não ser
aprovada que me apavora.
— Você espera aprovação de quem? — indagou, friamente. — E para quem você se acha
insuficiente?
Não respondi, não tinha respostas para as suas perguntas. Peguei a minha taça e comecei a
brincar com o liquido, balançando de um lado para o outro. Enquanto estava sozinha, todos
aqueles sentimentos ruins me cercavam, alfinetando meus pensamentos e minha autoestima. Na
frente do Mestre, eu sentia vergonha por se quer ter pensado no assunto. Ele colocava de uma
forma que parecia ser tão banal aqueles tipos de pensamentos.
— Você vê onde está o problema? — indagou, chamando minha atenção. — É tudo na sua
cabeça, Patrícia.
— Nem sempre é assim, Paulo. As pessoas olham torto, comentam, fazem piadinhas. — remexi-
me na cadeira, incomodada com seu olhar. — Essas coisas incomodam.
— Porque você quer agradar a alguém que não faz parte da sua vida. — resumiu, lacônico.
— Porque iria querer agradar a uma pessoa que não a acha suficiente por conta de alguns
rompimentos inofensivos na pele?
— Eu não sei responder, Paulo. Eu apenas me sinto mal.
— Sente-se mal porque para você conta o que outras pessoas pensam. — afirmou, friamente.
— Vivemos em um universo paralelo aos baunilhas, onde esses pequenos detalhes são
insignificantes. Eu deixei marcas em sua pele muito mais profundas que estrias e eu não a vejo
sentir vergonha disso ou sente e eu não estou sabendo?
— Não Paulo! — neguei rapidamente. Começando a entender onde Ele queria chegar. — Eu
me orgulho muito de cada uma delas.
— Então qual é o ponto aqui?
—Eu fiquei acanhada, incomodada, insegura e muito transtornada.
— Eu até entendo a situação, porque você estava exposta, diante de homens que não sabiam
respeitar a arte. Contudo, não justifica sua baixa autoestima.
— Por um momento senti que tudo o que havíamos trabalhado todos esses anos, tinha sido
destruído. — resumi, chateada.
— Uma excelente maneira de me ofender.
— Desculpe-me, foi um erro de expressão.
Estava tentando muito duro controlar meu emocional. Mesmo que a minha razão insistisse que
aquele tipo de situação era irracional, minha autoestima dizia o contrário. Algo lá no fundo, não
estava contente. Foram raras as vezes que questionei sobre meu corpo depois de ter me tornado
sua escrava. “Aparentemente aquele aprendizado seria constante”, pensei chateada.
— Quanto mais rápido você aprender que as marcas que você possui fazem parte de sua
história de vida, mais cedo você deixará de colecionar outros tipos de marcas.
— Elas são profundas, Paulo.
— Claro que são! Você as alimenta, as cultiva. Você coleciona, juntando mais e mais todos dias.
Esse tipo de marca é invisível, mas pode doer uma vida inteira.
— É irracional para os que estão de fora. Para quem vive a situação é perfeitamente racional.
— repliquei mordaz.
— Então talvez eu tenha que te ensinar de uma maneira irracional, o que para mim, Seu
Mestre, a quem a possui, parece ser bastante racional.
— Paulo...
— Vamos almoçar e terminar essa conversa em casa.
Apertei minha bunda já machucada, imaginando a punição que viria. Almoçamos calmamente,
fazendo um comentário aqui, outro ali. O Mestre de mim, até havia feito algumas brincadeiras,
tudo para deixar o ambiente mais leve. “Talvez a punição não fosse tão ruim”, pensei agitada.

***

Fomos embora de táxi, obviamente meus receios eram verdadeiros, a sua pressa em chegar
em casa demonstrava isso. Assim que entramos em casa, veio sua voz de comando.
— Tire suas roupas.
Tirei as minhas roupas rapidamente, dobrando e colocando em cima do sofá. Meu corpo inteiro
estava arrepiado, mas não era do frio, era do desconhecido, do que estava por vir. Mestre de mim,
tomou seu tempo, andando à minha volta... me circulando... olhando-me de cima a baixo. Poucos
minutos depois, passou os dedos nos pontos onde eu tinha estrias e celulites. Fiquei tensa diante da
sensação desagradável que surgiu.
— Você tem estrias na bunda. — disse, com voz fria e distante. Eu ouvia apenas um eco, como
se meus ouvidos estivessem entupidos. — Tem grandes buracos na coxa, acredito serem as celulites,
estou certo?
— Sim, Mestre. — respondi, batendo o queixo com o nervosismo que surgiu.
— Tem uns buracos na bunda também. — relatou com desdém. — Seus seios são caídos... —
comentou, pegando-os pelos bicos e soltando. — Tem gorduras sobrando aqui... — relatou,
apertando a gordura extra na minha cintura. — Tem coxas extremamente grossas...
Naquele ponto, eu já estava chorando. Todos aqueles defeitos apontados pelo Mestre,
tornavam-se muito piores. Fazia com que tudo parecesse exponencialmente maior. Os buraquinhos,
já não eram pequenos, eram crateras enormes.
— Seu corpo é desproporcional. Você está muito acima do peso e mais, nada em você é
simétrico.
Eu chorei. Chorei como uma criança de cinco anos. A única coisa que não fiz foi espernear,
todo o resto era igual. Eu babava, chorava e soluçava como se tivesse perdido meu brinquedo
favorito.
— Você me desagrada com esse comportamento. — disse, o Mestre, segurando meu queixo
duramente. — Nada disso aqui... — demonstrou apontando para o meu corpo. — pertence a você.
Voltou a circular meu corpo, ficando atrás de mim.
— Essas bolinhas, risquinhos e gordurinhas são o meu parque de diversão. O conjunto inteiro é
para o meu prazer. — agarrou meus cabelos, trazendo minha cabeça para trás. — Eu escolho
quando e a forma como vou me divertir. Você é o meu objeto, a minha peça, o meu brinquedo, meu
animal de estimação.
— Sim, Mestre.
— Você ainda não entendeu, que você me desrespeitou subestimando o meu brinquedo. Você
permitiu que outras pessoas ferissem o que me pertence.
— Eu não quis isso, Mestre.
— Não quis, mas permitiu. Não era a intenção, mas fez. Não procurou por isso, mas encontrou.
E ao invés de você erguer a cabeça e mostrar o orgulho que você tinha em me pertencer, mostrou-
se fraca diante da adversidade. Você permitiu que tudo o que eu ensinei a você, fosse mandado
para o ralo!
— Não era minha intenção...
— Essa palavra odiosa, pequena e insignificante está banida do seu vocabulário. — vociferou,
batendo em minha boca. — Não ouse dizer novamente que não teve a intenção, pois teve! Teve
quando permitiu que aquelas escórias atingissem o que me pertencia. Deixou que as piadinhas a
magoassem, a ferissem sobrepondo todo o meu ensinamento. Tudo o que trabalhamos
cuidadosamente.
Odiava fazer aquilo comigo, odiava quando as pessoas me atingiam daquela forma. Ele tinha
toda a razão: eu permiti que eles me atingissem, me permiti acreditar que merecia pouco.
— Siga-me! E venha de joelhos, cadela. Não esqueça que você é meu animal.
— Perfeitamente, Mestre.
Coloquei mãos e joelhos no chão e o segui por toda a casa. Era um passeio... fomos ao jardim,
depois à garagem, passamos pelo corredor dos fundos e voltamos novamente para dentro da
casa. Eu sabia que Ele estava me castigando, mas Ele também estava procurando uma maneira de
se acalmar. Mestre jamais tocaria em mim, estando nervoso ou irritado.
— Fique onde está. — ordenou, deixando-me no corredor.
Ele entrou no dungeon e voltou com um conjunto de cordas de sisal e algemas de couro. Fechei
os olhos imaginando o tipo de castigo que viria a seguir... Aquela corda... no meio das minha
pernas... passando pela minha vagina... Argh! Estremeci com a dor que viria a seguir.
— Siga-me. — Eu o obedeci, prontamente.
Seguimos para o meio do jardim, parando em frente a uma árvore que ficava no centro do
quintal. Tínhamos vizinhos de todos os lados e aos poucos o desconforto começou a aparecer.
— Fique de pé. — comandou, friamente.
As algemas foram colocadas nos meus pulsos e presas em um galho alto, alto o suficiente para
que ficasse apenas com os dedinhos do pé encostados no chão. Logo em seguida veio a corda. Ele
a amarrou na argola da minha coleira, passando onde eu mais temia, no meio das minhas pernas,
subindo pelas costas e depois no galho e de volta na minha coleira. Uma respiração, um balançar
faria a corda roçar no meu clitóris. Era doloroso e também prazeroso.
— Vai ficar aí por uma hora e, não ouse me desrespeitar gozando.
— Sou sua escrava para o Seu prazer, farei como desejar, Mestre.
Fiquei ali, sozinha, exposta para quem quisesse ver. Quem não tinha vizinhos curiosos? Todo o
mundo tinha e o medo de ser vista por qualquer uma daquelas pessoas – que a partir daquele dia
– seriam meus vizinhos, era aterrador. O vento frio que soprava, deixou os pelinhos do meu corpo,
arrepiados e, o desconforto me fez estremecer movendo os pés, consequentemente a corda. O sisal
raspou na minha vagina me tirando o fôlego. Era dor, dor erótica, prazer e desconforto. A
sensação era quase enlouquecedora.
Por um longo tempo eu fiquei ali, agradando ao Mestre de mim, para o seu prazer e vontade.
Procurei descansar um pouco meus pés, tirando alternadamente cada um do chão, logo, não fora
uma boa ideia, os músculos das minhas costas e ombros, começaram a protestar de dor. Perdi o
controle e acabei me desequilibrando, fazendo a corda roçar fortemente na minha vagina,
arrancando lágrimas dos meus olhos.
— Ahhh... — gritei, em agonia.
— Isso é o que acontece, quando você tenta burlar sua punição. — comentou, Mestre de um
lugar que eu não conseguia ver.
— Só tentei amenizar a dor na panturrilha, Mestre.
— Eu quero que você sinta dor e desconforto. — comentou, rindo. — Esse é exatamente o meu
desejo e o intuito da punição.
— Como desejar, Mestre. — respondi, humildemente.
— Na sua tentativa, você se machucou?
— Eu não sei dizer... acredito que tenha me excedido.
“Esperava fervorosamente não ter danificado o brinquedo do Mestre de mim, ou minha
punição não teria mais fim”, pensei, lamentando o ocorrido.
— Abra as pernas, deixa eu ver se você se feriu.
Olhei à minha volta, observando se havia algum vizinho curioso nos observando. Estava
extremamente envergonhada, sentia-me humilhada.
— Você está tentando me irritar? — indagou, furioso.
Não respondi, tinha me excedido com aquele comportamento mesquinho. Independente do meu
desconforto, servir ao Mestre a quem pertencia, era uma honra, o meu prazer era fornecer a Ele o
seu prazer. Abri minhas pernas, gemendo ao fazê-lo quando a corda roçou naquela parte sensível.
Provavelmente tinha me machucado, estava muito dolorido. Mestre de mim, soltou a corda,
mantendo as algemas. Tirou o sisal delicadamente, cuidando para não voltar a roçar ali,
despachando-a no chão.
— Não está sangrando. — disse, o Mestre olhando minha vagina. — Não vou colocar as
cordas novamente, mas devido à sua tentativa de burlar o castigo, vai ficar aí mais meia hora.
— Como desejar, Mestre.
Eu fiquei naquela posição por mais meia hora, como era o desejo do Mestre. Minha mente
começou a vagar em vários anos diferentes da minha vida, todos eles em cima de situações
constrangedoras e preconceituosas que eu havia vivido. Ninguém é normal, todos têm defeitos,
falhas e muitas delas são – infelizmente – no caráter. Era incrível como eu sabia e como eu
conseguia analisar tudo aquilo metodicamente, mas sem conseguir colocar em prática.
Claro que durante meu aprendizado eu racionalizava e conseguia evoluir, mas ao primeiro
constrangimento tudo voltava em ondas gigantescas. Comecei a chorar, lembrando-me das
privações, das ofensas, da amargura que eu sentia sempre que era lembrada, de forma
pejorativa, das falhas que haviam no meu corpo.
As pessoas não se importavam, eram cruéis em apontar, atingir e ferir, sempre se achando
donas da razão. Havia um abismo enorme entre a pessoa com perfeitos padrões da sociedade e
nós, os defeituosos. Eu estava cansada, não queria sentir pena de mim ou permitir que as pessoas
me atingissem. Eu queria seguir em frente com minha vida sem que a crueldade alheia me atingisse.
Obviamente era muito mais fácil pensar na saída do que realmente procurar por ela.
A verdade era muito mais profunda. Eu queria que meus pais me aceitassem, queria ser
recebida por eles da mesma forma que fui recebida pelas pessoas do universo BDSM. Não que
bottoms e Tops fossem perfeitos, mas ao menos aqui, no círculo de amigos que eu tinha, não era
vista como a “Paty gordinha”.
— Foi uma grande reflexão, eu presumo. — comentou, Mestre de mim, soltando as minhas
mãos.
Os músculos da minha panturrilha e ombros protestaram com a mudança de posição.
Honestamente, eu tinha parado de me importar onde estava e o que estava à minha volta. Estava
envergonhada por ter me deixado abalar tanto, por algo que não deveria me atingir. Eu tinha
escolhido esse estilo de vida, onde pessoas não se importavam com esses pormenores, onde era
aceita e acolhida pelas pessoas que compartilhavam o mesmo estilo de vida.
— Acredito que sim, Mestre.
— Bom, agora venha ver o resultado. — Ele andou em direção à casa e eu o segui, com mãos
e joelhos no chão.
Agora, não me importava mais com quem pudesse estar me vendo naquela situação. Eu não
podia e não iria deixar ninguém mais me afetar daquela forma. Era a minha vida, o meu corpo e
minha autoestima, cabia apenas a mim e ao Mestre poder julgar. Não que fosse fácil, como em
decisões, mas se houvesse estímulo – e eu tinha – se houvesse força de vontade, então eu
conseguiria.
Paramos diante da porta do calabouço e Ele entrou acendendo todas as luzes. O quarto era
grande e tinha vários aparelhos, mas nem de longe era como o que tínhamos em meu apartamento
no Rio. Na verdade o Mestre de mim ficava aqui muito pouco, todos os seus momentos de folga, Ele
descia para o Rio.
— Fique de pé diante do espelho. — Rapidamente fiz como Ele havia pedido, vendo a
estranha mulher que refletia no espelho.
Cabelo bagunçado, olhos vermelhos, boca inchada, nariz escorrendo e rastros de lágrimas
sobre a maquiagem borrada. Minhas mãos e joelhos estavam sujos e vermelhos.
— O que você vê? — perguntou, friamente.
— Uma bagunça.
— Exatamente! — exclamou, chateado. — Acha que mereço isso? — indagou, segurando
fortemente o meu queixo. — Acha realmente que você precisa cair tanto para provar algo para
alguém que não se importa nem um pouco com você ou que nem faz parte da sua vida?
— Não Mestre! O Senhor não merece!
— E você paty? Acha válido passar por toda essa angústia e sofrimento por pessoas que você
jamais verá novamente?
— Foi irracional, Mestre de mim. Lamento profundamente ter permitido ser atingida em algo
que vínhamos trabalhando por tanto tempo.
— Então como ousa dar esse tipo de tratamento... — falou, agarrando meus cabelos em
punho, virando meu rosto novamente para o espelho. — ao que me pertence?
— Lamento ter permitido que outras pessoas me ferissem.
— Você fez! Você anulou o que eu pensava, o que eu gostava e sobrepôs tudo ao que os
outros julgam ser defeituoso.
— Eu me sinto odiosa por ter feito, por ter permitido e por achar que eu tinha esse direito.
— Quais são os seus deveres, cadela?
— Lealdade e devoção ao Mestre. Servir em todos seus desejos e caprichos. Ser fiel física e
emocionalmente. Proporcionar ao Mestre prazer e distração. Ficar à disposição do Dono vinte e
quatro horas por dia, sete dias por semana. Ser paciente, amorosa, carinhosa, respeitosa e
educada. Ser castigada por uma infração ou mau comportamento. Ser punida quando ou como for
o desejo do Mestre. Jamais deixar de usar a minha coleira, símbolo da minha condição, entrega,
subserviência e de posse do Mestre de mim. Jamais ter um orgasmo sem que me seja permitido.
Reconhecer minha inferioridade como cadela, objeto, peça, brinquedo e escrava. Obedecer ao
Senhor sem questionamento.
— Está de acordo com isso, paty?
— Completamente, Mestre. — afirmei, veemente. — Estou de acordo com nossa negociação.
Sou completamente feliz com minha entrega e subserviência. Em nenhum momento, jamais questionei
a minha condição em nossa relação.
— Excelente! — exclamou se afastando.
Pelo espelho eu vi o Senhor pegando um chicote de cinco pontas. Durante todos os anos em
que estávamos juntos – de comum acordo – fomos ampliando nossos limites aos poucos. Mestre de
mim foi introduzindo uma prática ou outra, mas sempre conversávamos, trocávamos ideias e Ele
sempre me perguntava se eu estava disposta a aceitar um novo desafio. Sempre sendo
responsável com o meu estado físico e emocional. Aquele chicote foi um dos primeiros que Ele
introduziu em nossas práticas. Aos poucos fui me acostumando com a dor que Ele causava, ainda
assim, não sabia se podia suportar mais do que dez chicotadas.
— Qual é o seu único direito nas práticas?
— Dizer a safe quando eu me sentir incomodada ou se tiver chegado ao meu limite.
— E na relação, vadia?
— Entregar a coleira, Mestre.
— Então porque achou que tinha o direito de sentir, pensar e falar mal do meu brinquedo? —
indagou, friamente. — Quem permitiu você se sobrepor aos meus sentimentos, pensamentos, desejos
e vontades? — encolhi-me, ao ouvir aquelas palavras.
Foi um erro tolo da minha parte. Eu via meu corpo nu todos os dias, eu convivia com ele.
Aprendi a aceitar minhas imperfeições, aprendi a amar e valorizar minhas curvas. Era incrível como
tudo era psicológico e muitas vezes até irracional. Aquele tipo de sentimento não acrescentava
nada a mim, passei boa parte da minha vida tentando agradar aos outros e só fui infeliz.
— Ninguém, Mestre.
— Eu contei vinte e três estrias no seu corpo, você vai levar uma chicotada para cada uma
delas.
Oh Merda! Aquele chicote era coisa do mal, apesar da dor prazerosa que ele proporcionava.
Não era masoquista, contudo, o meu limite para a dor era alto, talvez não tanto para vinte e três
chicotadas. Fechei meus olhos e respirei fundo. Eu confiava plenamente no Mestre de mim e, se Ele
achava que eu conseguiria, então eu também acreditava que sim.
— Obrigada pela punição, Mestre. — agradeci, humildemente. — Aceito-a de coração
aberto, sou merecedora de cada uma delas.
— Bom, se outras pessoas têm o poder de te atingir com todas essas besteiras ideológicas
impostas por uma sociedade mesquinha, insensível e inescrupulosa, então você tem controle de não
se mover. — disse, antes de se afastar — Comece a contar alto para que eu possa ouvir. E não
ouse se desviar delas. — ordenou, calmamente.
— Como desejar, Mestre.
— Não esqueça de usar sua safe se for demais para você.
— Obrigada, Mestre. Eu prometo usar apenas se necessário e com muita responsabilidade.
A dor do chicote era diferente de tudo que eu já havia sentido. Ela não era uma dor que
vinha aos poucos, como a do flogger ou chibata. Ela espalhava-se rapidamente na primeira
lambida. Eu a sentia em todos os lugares, mutuamente. A primeira picada, quase me colocou de
joelhos.
— Uma! — gritei, gemendo de dor.
— A quem você deve agradar, cadela? — perguntou, agarrando meus cabelos com força.
— Somente ao Senhor!
Voltou a se afastar e longos segundos se passaram, quando a lambida veio novamente, agora
na bunda.
— Duas!
Minha bunda ainda estava sensível da noite anterior. Ali, naquele local já machucado doeu
ainda mais. Lágrimas grossas brotaram dos meus olhos. Eu precisava desesperadamente me
concentrar não apenas na dor, mas encontrar o meu prazer em meio a ela.
— Eu gosto do seu corpo, ele me agrada muito. — confessou o Mestre, ao se aproximar
passando os dedos na pele marcada.
Novamente, Ele se afastou e mais uma vez o chicote desceu, agora nas minhas costas.
— Três! — Gritei urrando de dor, tentando desesperadamente não me mexer. Estava muito
ruim me manter no lugar sem algum amparo.
Enquanto eu tentava tomar fôlego, o Mestre de mim foi até ao aparelho de som para escolher
uma música. A música O fortuna de Carmina Burana, em uma versão remixada por Tiesto,
preencheu o silêncio dentro do quarto.
A melodia da música deixou a punição erótica. Meu medo aumentou drasticamente. Não era
uma boa combinação; dor/punição/música, pelo simples fato de amar as três coisas. A batida da
melodia mudava tudo, mudava toda a sensação. Elevava dor/prazer para prazer/dor. Era erótico
e extremamente sensual. Apesar de ficar receosa em perder o controle, era exatamente daquela
conexão que eu precisava.
— Quatro! — gritei, sendo pega de surpresa.
— Cinco!
— Seis! — dei um passo adiante, evitando a qualquer custo cair de joelhos.
— Sete!
Ali, achei que iria gozar. Mesmo sentindo o ardor, a dor pungente na pele, eu queria que Ele
continuasse.
— Eu amo suas curvas, elas suportam o que posso dar a você. — comentou, Mestre, voltando
a se aproximar e apertando minhas coxas. — Gosto de sentir toda essa massa em volta da minha
cintura, em meias negras... — Elogiou mordendo meu pescoço.
A mesma música, tocava agora em tom lírico, mudando drasticamente a sensação da sala,
tornando-a idílica.
— Oito!
— Nove!
— Dez!
— Onze! — Ele parou vindo novamente para a minha frente e tocou meus seios.
— Tão gostosos...formosos... — elogiou, amassando meus seios. — Perfeitos para a minha
diversão. — sorriu, baixando os lábios, mordendo o mamilo, enviando um raio de desejo para a
minha vagina. — Eles enchem minhas mãos... — cobriu os dois, apertando-os fortemente.
— Mestre de mim... — gemi entre lágrimas de desespero. Estava há dias sem gozar e meu
corpo implorava por aquele alívio.
— Eu não deveria, mas vou tornar isso mais fácil para você. — Afastou-se, voltando logo
em seguida com as algemas. — Vai ser melhor se você estiver restringida e ter onde se apoiar.
Mestre de mim, colocou as algemas nos meus pulsos, elevando meus braços para prendê-los
acima da minha cabeça nas vigas de contenção. A diferença da posição só ajudaria no meu
equilíbrio, mas de todo o resto, só fazia aumentar ainda mais o meu desejo.
— Dance para o Mestre, minha escava. — exigiu se afastando.
— Doze!
— Treze!
— Qua...torze! — Argh!
Era demais, era além do que imaginava. A dor no meio das minhas pernas sobrepunha-se a
todo o resto. Eu estava extremamente excitada, podia sentir a umidade molhando minhas coxas.
— Quinze!
— De-zes-seis! — gritei, urrando de dor.
Tranquei minhas pernas, tentando aplacar a dor furiosa que pulsava em meu clitóris. Comecei
a chorar descontroladamente. Não aguentava mais. Minhas costas estavam pegando fogo, minha
bunda – ainda dolorida de ontem – estava ardendo e minhas pernas estavam bambas.
— Estou impressionado, minha cadelinha. — elogiou, Mestre tocando minha vagina. — Tão
molhadinha... — mordi os lábios, sentindo o gosto metálico do sangue. — Quer gozar, cadelinha?
— Por favor, Mestre! Eu estou implorando ao Senhor!
— Agora sabe o quanto o seu corpo me satisfaz? — indagou, segurando meu queixo. —
Sente o quanto ele me pertence? Eu o controlo, eu o domino.
— Sim, Mestre de mim!
— Ele me excita. — afirmou, encostando sua ereção na minha bunda. — Estou de pau duro,
completamente embriagado por suas curvas redondas e suaves.
O seu elogio foi como pregos firmemente cravados no meu ego. Olhei para o espelho, vendo
uma mulher totalmente diferente. Estava suada sim, um pouco descabelada, mas havia
sensualidade. Minha pele estava rosada, meu corpo trêmulo, havia em meu olhar prazer, tesão... e
no do Mestre de mim, havia satisfação. Ele passou os dedos nos lábios rosados da minha vagina,
deixando uma sensação de formigamento naquela área. Os músculos do meu corpo já tensos se
apertaram, joguei minha cabeça para trás, evitando olhar qualquer coisa que não fosse a cena
erótica diante do espelho.
— Você não pode gozar. — Fechei os olhos, na busca de qualquer outra coisa para pensar,
que não fosse seus dedos em minha vagina.
— Estou tentando, Mestre!
— Bom... muito bom, minha menina.
Novamente Ele se afastou estalando o chicote várias vezes no chão. Meu corpo inteiro tremia
na espera da próxima chicotada. Entretanto ela não veio. Levantei minha cabeça para olhar no
espelho o que o Mestre estava fazendo, quando as caldas acertaram minhas costas.
— Dezessete!
— Dezoito! — Fechei meus olhos, em busca de alívio. Precisando desesperadamente de algo
que me tirasse daquela dor agonizantemente.
Eu não falaria minha palavra segura. A urgência em gozar, a dor que eu sentia no meio das
minhas pernas eram maiores que as causadas pelo chicote. Eu podia suportar mais cinco.
— Dezenove!
— Vinte! — Mais três, só mais três.
Aquela espera era interminável! Meus músculos gritavam em protesto e o suor escorria por
todo o meu corpo. Eu estava exausta, emocionalmente e fisicamente. Ouvi a porta do quarto sendo
aberta e com lentidão abri meus olhos, para ver que estava sozinha no quarto. “Oh Deus! Mestre
me deixaria aqui sozinha por quanto tempo mais?”, pensei, desesperada. Lágrimas grossas
rolaram dos meus olhos, com a agonizante sensação de que aquela tortura não teria um final tão
rápido quanto eu previa.
Encostei minha cabeça no meu braço e voltei a fechar meus olhos. Os músculos das minhas
pernas gritavam, os das minhas costas urravam e meus pulsos já estavam dormentes. Meu corpo
inteiro zumbia, cada parte cantando uma música diferente.
— Vinte um! — gritei, urrando pela dor inesperada.
— Vinte dois!
— Vinte...ohh... vinttt...
Na última meu corpo inteiro relaxou, fazendo-me desabar, ficando presa apenas pelos pulsos.
— Estou aqui, minha doce menina.
Em um misto de dor e prazer, de pesar e alegria, eu chorei com seu tratamento carinhoso. Ele
soltou meus pulsos, suportando o peso do meu corpo, nos sentando no chão. Mãos suaves e gentis
acariciavam meu cabelo, carinhosamente.
— Shhh... estou com você, minha menina.
Ficamos por um longo tempo ali, sentados no chão, com meu corpo sobre o seu colo, recebendo
elogios e palavras gentis. Momentos depois a dor erótica foi substituída pelo ardor pungente da
pele machucada. Tudo ardia, pegava fogo.
— A banheira está pronta esperando por você. — informou Mestre de mim, colocando-se de
pé. — Vamos lá, cadelinha. Eu vou cuidar de você.
Com sua ajuda, coloquei-me de pé, fazendo um esforço hercúleo para colocar um pé à frente
do outro. Caminhamos lentamente até ao quarto, de onde eu ouvia o barulho da água
transbordando da banheira.
— Eu acho que fiz uma bagunça no banheiro. — anunciou Mestre, sem graça.
— Eu limpo depois. — afirmei, com voz fraca, trôpega de sono.
— Não, você vai ser mimada e depois vai dormir.
— Obrigada, Mestre de mim.
— Você mereceu, cadelinha.
Eu tinha razão, o banheiro estava alagado, fazendo Mestre de mim gemer ao se deparar com
a bagunça.
— A equipe de limpeza passou a manhã inteira aqui, limpando toda a casa para a sua
chegada. — comentou, fazendo-me encolher diante de suas palavras.
Eu tinha estragado tudo com o meu comportamento. Mesmo sabendo que era inapropriado, me
senti bem ao ser punida, serviu para me fazer pensar e colocar minha cabeça no lugar.
O Senhor ajudou-me a entrar na banheira, cuidando para que eu não caísse. A pele
machucada entrou em contato com a água quente, fazendo um arrepio reverberar por todo o meu
corpo. Encostei a cabeça no aparador da banheira, sentindo meus músculos relaxarem.
— Obrigada pela punição, Mestre de mim. — agradeci, humildemente. — Eu sei que foi
necessária e, estou grata por ter um Dono ético e moral, que sabe a dosagem certa para me fazer
ver as coisas como elas realmente são.
— Essa é uma guerra que você perde, cadelinha. — disse, massageando minhas pernas. —
Você precisa escolher suas batalhas e essa não é uma que valha a pena. Seu corpo é o seu
templo, se você não o amar e respeitar sua forma, ninguém mais fará por você.
— O Mestre faz. — comentei, gentilmente.
— Eu faço, mas não parece ser suficiente. — disse, friamente.
— Com certeza é, Mestre. Não afirmo isso levianamente, eu gosto como o Senhor me olha,
toca, usa... Como me faz sentir desejada, sexy... O que aconteceu foi um lapso que não voltará a
se repetir. — jurei, veemente.
Ele cravou as mãos em uma parte particularmente dolorida, me fazendo gemer. Meus músculos
estavam atados em nós.
—Hmmm...
— Isso é bom?
— Maravilhoso, Senhor.
Meus braços, pernas, pés e costas foram massageados até os nós serem desfeitos. A água
quente com o efeito da massagem, deixou-me letárgica e sonolenta.
— Não vá dormir, ainda não terminamos.
A irritação era algo que muito raramente eu sentia. Contudo, diante da minha dor e do meu
cansaço, seu lembrete me deixou irritada. Permaneci calada, afinal, tinha dado ao Mestre todo o
direito ao meu corpo e, confiança era a base de uma relação. Eu tinha certeza que Ele sabia do
meu cansaço físico e mental. Aguardei pacientemente todo o meu corpo ser massageado e lavado.
Lábios quentes e úmidos tomaram posse dos meus, exigindo minha língua. Não havia urgência
naquele beijo, apenas a dolorosa lentidão, que fazia meu corpo inteiro se aquecer. Sua mão se
moveu para o meu seio, massageando e circulando os mamilos lentamente. Voltei a sentir o desejo
disparar pelo meu corpo rapidamente.
— Hmm... — gemi, com o toque prazeroso de suas mãos.
— Você não tem permissão para gozar.
“Claro que não, aquela tortura era infinita”, pensei mal-humorada.
— Como quiser, Mestre. — disse, emburrada.
— Vamos sair daqui, preciso ver suas costas e passar a pomada. — exigiu sorrindo.
Saí da banheira com sua ajuda, apenas para o Mestre continuar com sua tortura. Ele me secou,
passando a mão por todo o meu corpo já aquecido, desperto e muito excitado, para atormentar
ainda mais o pobre coitado, já tão castigado. Ele tinha um pequeno sorriso nos lábios e nos seus
olhos, reverência. Eu estava mal-humorada, mas não podia deixar de perceber o quanto aquela
punição foi boa para mim. Ela não só me fez perceber o quanto eu estava errada, como também
me fez ver o quanto era valorizada pelo Mestre de mim. O quanto Ele realmente se importava com
minha estrutura física e psicológica.
Aprender a se amar e se valorizar diante de todas as críticas, preconceitos e bullying era uma
tarefa árdua, mas que cabia apenas a mim, aceitar ou ignorar. Não era uma tarefa fácil, era
ainda mais difícil aprender a conviver com as diferenças, sabendo que eu fazia parte delas.
Obviamente não era a única, a minha estrutura era um dos pontos de maior crítica na sociedade,
mas haviam mais, muito mais.
Todos os tipos: cor, raça, credo, religião, estilo de vida, sexualidade, etc... O diferente era
inaceitável, não era cabível em um meio onde se prezava o certinho, o correto, o que era passível
de moral – dentro dos costumes, vindo de séculos passados. A mente humana não evoluía em moral
e sexualidade, ela permanecia a mesma. E quando acontecia de uma pequena mudança, as
pessoas se revoltavam, cada um dando uma opinião diferente e os que diferiam desse pensamento
hipócrita, eram taxados como inadequados.
— Para quem está proibida de gozar, você até que está se comportando muito bem. —
comentou, Mestre me trazendo de volta. — Quer dividir comigo o que está acontecendo aí dentro?
— Acredito que uma epifania. — sorri, letárgica.
— Hmm... e a que conclusão chegou?
Entramos no quarto e fui guiada pelo Mestre diretamente para a cama. Ao me deitar, senti
meus músculos queimarem com a ardência. A excitação cedeu, dando espaço para o cansaço. Não
percebi o quanto estava exaurida até me deitar. A perda de sono da outra noite, estava
começando a cobrar seu preço.
— Então? — incitou, Mestre me trazendo de volta das minhas divagações.
— Que as pessoas não evoluem, que os conceitos moralistas vindos de séculos passados,
continuam os mesmos.
— Interessante sua colocação, mas porque acha isso?
— Porque ainda lutamos contra as mudanças. O que os antigos pensavam séculos atrás, ainda
é lei hoje. O certinho, o correto, o moral, a cor, a raça, a religião, tudo gera motivos para conflitos
e às vezes acaba em morte. As pessoas têm medo das mudanças, tudo gera discórdia e é motivo
para uma discussão que sempre acaba em briga, guerra ou morte, por haver opiniões diferentes.
Eu já conheci pessoas que tentaram suicídio por serem vítimas de preconceito. Só depois que o
preconceito avançou para o bullying, é que passou a ser levado mais sério.
— Estive em uma discussão como essa, noutro dia... — comentou, passando a pomada nas
minhas costas.
— Sobre suicídio?
— Sim. Tem pessoas que têm a comum ideia de achar que uma pessoa quando quer se matar
cometendo o suicídio, não deixa recado avisando ou uma carta, algo do tipo.
— Eu vi muitos gritos de socorro. Ele não vem apenas de uma carta ou ato impensado, como
muitos acreditam ser o suicídio. As pessoas tentam chamar a atenção de muitas formas e, muitas
vezes são interpretadas de forma errônea. E esse ato acaba sendo o último, dando fim ao
sofrimento.
— Eu também vejo assim. Um comportamento exacerbado, uma excessiva necessidade em
beber, usar drogas ou até mesmo de causar escândalos. Acredito que todos esses comportamentos
é uma maneira de chamar a atenção, de pedir ajuda para um problema real, algo muito profundo.
Depressão é coisa séria e não deve ser levada de forma leviana.
— Eu também não concordo com pensamentos e críticas de pessoas que acreditam que esse
ato, é de pura covardia. — resmunguei, chateada com aqueles pensamentos mesquinhos.
— Pelo contrário, precisa de muita coragem para tirar a própria vida. Esse ato resume em
liberdade. — concluiu, Mestre dando voz aos meus pensamentos. — A pessoa que sofre disso, não
consegue ver outra saída, não consegue analisar a situação por estar extremamente debilitada
psicologicamente, vulnerável emocionalmente e doente de depressão.
— Eu tenho alguns pensamentos sobre coisas que venho observando, mas que no momento não
posso compartilhar com o Senhor.
— Pode dividir comigo sobre o que é? Não quero nada perturbando você.
— Estou estudando algumas coisas... — gemi, ao sentir suas mãos na minha bunda. Aquele
lugar estava extremamente sensível. — sobre estados psicológicos dentro da submissão.
— É um estudo bastante profundo e que desperta muita curiosidade.
— Sim. Estou aprendendo muito sobre sub-drop, sub-space e sub-burnout. — Suas mãos ficaram
suspensas no ar, por alguns segundos.
— Não quero ser invasivo, mas você está despertando minha curiosidade.
— Posso pedir ao Senhor mais alguns dias para que eu possa ter algumas respostas, antes de
compartilhar dos meus pensamentos?
— Vou aguardar. — anunciou, fechando a pomada. — Você tem belas marcas aí.
— Eu gosto muito delas.
— À noite vamos ao castelo, quero exibi-las.
— Não acredito que possa usar roupas, Mestre.
— Não pode... — disse prontamente. — irá nua. — anunciou, sorrindo largamente.
— Oh!
— Agora durma, quero você disposta à noite.
Saiu fechando a porta do quarto. Merda! Uma coisa era usar roupas sensuais, outra
totalmente diferente era estar completamente nua. Era um teste, eu sabia com certeza que o Mestre
estava me analisando. Esperava fervorosamente que eu passasse com louvor ou minhas punições
durariam dias! Mesmo minha pele estando debilitada para punições mais severas, Mestre de mim
tinha ideias muito boas para me punir de outras formas. Como dizia Buzz em Toy Story: “Ao
infinito... E além! ”
Willian – Lord Fire

A ndei pelo castelo à procura de Naga. Eu precisava falar com ela com
urgência, nenhum dos meus planos daria certo, se eu não conseguisse
que ela ficasse no meu lugar.
—Algum de vocês viu a Naga? — indaguei aos monitores que estavam na masmorras.
— Calabouço, chefe.
— Obrigado!
Desci para o calabouço atrás da Domme. Eu precisava muito rever Lorraine, ainda tinha um
compromisso com a pequena de Goiânia... Que diabos! Eu nem me lembrava do nome da menina...
Que confusão...
— Naga! — chamei-a, assim que a vi.
— Algum problema?
— Eu preciso de cobertura para amanhã à noite, pode quebrar essa para mim?
— Amanhã é a festa de aniversário do meu filho, Willian. — Ahh merda! Como eu havia
esquecido daquilo? Porra! — Willian, lamento de verdade.
— Relaxa, Naga. — pedi, honestamente. — Eu vou dar outro jeito.
Eu precisava pensar... Tínhamos acordado de eu ficar durante a semana à tarde e ela à noite,
e nos finais de semana ela à tarde e eu à noite. Nesta semana, havíamos trocado a quinta-feira
por causa do aniversário do filho dela e eu tinha esquecido daquele detalhe. O calabouço do
Pedro abria às 19:00hs... Não dava para mim... eu teria que encontrar com Lorraine durante o dia
e, provavelmente teria que cancelar meu encontro com a pequena. Ou eu podia trazer a pequena
para o castelo junto comigo, quando subisse para Teresópolis. Faria com ela a sessão aqui no
castelo.
— Então na sexta você fica para mim à noite?
— Pode contar.
— Obrigada, Naga!
Deixei o castelo depois de almoçar com Jhonatan e fui para casa, precisava dormir e
descansar. Apesar do cansaço físico o meu emocional trabalhava furiosamente. Eu queria me
encontrar com Lorraine, mesmo não sabendo onde o encontro nos deixaria, eu precisava vê-la. Eu
tentei durante anos esquecer aquela mulher, tentei seguir com minha vida... Era difícil desatar os
laços, esquecer quem foi fundamental para o meu crescimento, tinha um fator muito importante
também, Lorraine foi a única mulher que amei a minha vida toda. Aparentemente seguia amando.

***

Deitado em minha cama, peguei o telefone e disquei seu número. Eu precisava conversar com
ela, voltar a ouvir sua voz...
— Willian!
— Oi Lorraine, como vai? — perguntei, sentindo pesar, dor, mágoa e nostalgia.
Quantos anos havia se passado desde a última vez que tinha ouvido sua voz? Sair daquele
jeito... sem me dar qualquer explicação... Porra! Como aquela falta de respostas machucava...
— Precisamos conversar, por favor!
— É o que estamos fazendo, eu acho...
— Não foi como você pensou, nada daquilo era para ter acontecido.
Fechei meus olhos, lembrando-me da angústia que vivi por meses a fio. Ver a mulher que eu
amava com tanta devoção, com outro cara machucou pra caralho!
— Mas aconteceu... porquê agora, Lorraine? Porque está tentando entrar em contato comigo?
— Preciso me explicar, pois juro por Deus que há uma explicação.
— Não vou poder ir ao calabouço do Pedro na quinta-feira, como havíamos combinado.
— Por favor, Willian, não faça isso, precisamos conversar.
— Eu machuquei você... — fechei meus olhos, relembrando aquela noite... Foi errado de muitas
maneiras, eu me excedi... — Foi muito ruim, Lorraine?
— Não vou por um curativo, Willian, foi sim, muito ruim.
— Lamento mais do que posso pôr em palavras. Nunca foi a minha intenção machucar você.
— Eu sei e, também não vou me eximir da culpa. Sou tão culpada quanto você. Talvez até
mais, afinal fui eu que levou o chicote, fui eu que pedi e implorou para ser açoitada.
— Você sempre tentando tirar a minha responsabilidade. —afirmei chateado. — Pare com
isso Lorraine.
Eu odiava quando ela fazia isso, como se fosse a única a desejar e querer. Nunca fui um
fantoche nas suas mãos, eu queria aquilo tanto quanto ela.
— Não quero brigar, não era essa a intenção. — pediu, chorando — Quero conversar com
você, explicar o que aconteceu.
— Lorraine, eu não posso descer para o Rio. Eu até tentei, mas não tem ninguém para ficar no
meu lugar.
— Descer para o Rio? — perguntou, surpresa. — Onde você está morando?
— Em Teresópolis.
— Então me deixe subir, por favor?
A ideia de voltar a vê-la me apavorava, mas ao mesmo tempo me trazia uma certa euforia.
Tínhamos muito que conversar e eu estava criando uma situação que existia apenas na minha
cabeça. E se a sua intenção era apenas explicar e não voltar para mim, como eu estava
prevendo? De nada adiantaria criar expectativas.
— O que você quer de mim, Lorraine?
— Se eu dissesse que o meu maior sonho era continuar de onde paramos, iria acreditar?
— Então porque você foi embora, porra!
— Porque você iria parar na cadeia se eu não fosse. — disse, chorando. — Toda a minha
família viu o que fizemos na última noite. Eles queriam ir atrás de você, minha mãe me obrigou a
deixar você. Eu não tive escolha!
— Já parou para pensar que eu era um homem de vinte anos e responsável por minhas
ações? Teria sido menos doloroso ir para a cadeia, do que ver você com outro cara sem me dar
nenhuma satisfação.
— Você está sendo injusto comigo, Willian. Passei anos da minha vida presa a um casamento,
com um homem que eu odiava, vivendo uma vida de merda. — relatou, chorando. —Você me
conhecia bem, sabia que jamais deixaria você e o que tínhamos para ficar com um baunilha.
Quando me conheceu, viu o quanto eu estava frustrada com minha vida sexual, como pôde pensar
que eu estaria procurando alguém para me casar?
Eu não pensei, honestamente eu só senti: dor, raiva, amargura e mágoa por ver a mulher que
eu amava com outro cara. Nunca pensei em outra situação, que não fosse a traição. Éramos dois
adultos, responsáveis por nossas escolhas. Como iria adivinhar?
— Essa sua mania de tomar a frente, de decidir por mim, de tirar as minhas escolhas... essas
coisas me deixam louco, Lorraine. Você tem que parar com isso, tem que me deixar decidir. Era a
minha vida! O meu ato falho, o meu erro, eu tinha que decidir querer ir ou não para a cadeia.
— Você teria escolhido a cadeia!
— Eu teria. — afirmei, categórico.
— Eu jamais colocaria você lá. — jurou, veemente. — Era a minha escolha!
— Era a minha também!
— Jamais iria expor a nossa vida, os nossos desejos e nossas fantasias, para um delegado.
Ninguém iria entender, não fazem agora, não fariam naquela época.
Quantas pessoas passaram ou ainda passariam por aquele tipo de situação, sendo vítimas de
preconceito? Quantos relacionamentos seriam prejudicados por pessoas que achavam que o
correto e moral era o que elas pensavam ou o que a sociedade impunha? Viver seus desejos, suas
fantasias, era o que tinha de melhor no sexo. Poder eximir preconceitos, pudores e moral era
libertador. Eu amava o que era, amava o que fazia e de forma alguma mudaria a minha
trajetória.
— O que você aprendeu sobre os seus desejos, Lorraine?
Eu queria muito saber aquela resposta. Queria saber em que pé estávamos. Não sentia
satisfação em dominar, nem em educar e seria um grande desafio para mim e consequentemente
para ela. Eu duvidava que Lorraine se submetesse... Não fez quando nova, não faria agora, não
era o que ela gostava. Pelo menos eu achava que não.
— Conheci o BDSM através de um casal de amigos. Eles me abriram os olhos, por assim dizer.
Estudei muito, li muita coisa, fui a encontros, munches e ao dungeon do Pedro.
— Você tem um Dominador?
— Não há um osso submisso no meu corpo, Willian. — riu, me fazendo sorrir.
— Senti falta disso. — confessei, honestamente.
— Eu também senti. — respondeu, afetuosamente. — Vai me perdoar, Willian?
— Senti muita mágoa, Lorraine. Fiquei extremamente chateado e perdido, foi muito pior
porque eu não sabia o que estava acontecendo. — confessei, chateado. — Apesar de sentir que
tinha algo errado naquela última noite em que ficamos juntos, não tive coragem de perguntar.
Diversas vezes me peguei pensando onde eu tinha errado, onde foi que eu me excedi e porque eu
estava te perdendo. Foram longos meses de dúvidas, raiva e mágoa.
— Se eu tivesse contado, teríamos perdido os últimos três meses que passamos juntos. Não
importa o que faríamos diferente agora, pois o que aconteceu no passado ficou para trás.
Amadurecemos, talvez de uma forma mais dolorosa, mas foi muito útil de muitas maneiras.
— Isso é certo. — Ficamos em silêncio, sem ter mais o que dizer.
Odiava aquele abismo, mas agora éramos adultos, com pensamentos e atitudes diferentes. Eu
ainda estava absorvendo o fato de que ela estava aqui, e que estávamos ao telefone.
— O que pretende fazer, Willian?
— Sobre o que?
— Sobre nós.
Eu não tinha resposta para aquela pergunta, estava sim, louco para vê-la novamente, mas o
medo de não ser como eu almejava estava impedido de dar aquele passo. Sim, eu estava receoso
porque agora, neste momento, eu não confiava nela.
— Você tem praticado?
— Não...
— Não de forma alguma ou não muito?
— Não muito... é frustrante Willian.
— Você sabe do que gosta, conhece seus limites?
— Nada mudou, Willian.
— Não foi o que eu te perguntei.
— Tem algumas práticas que já fizemos e que eu ainda gosto. Há outras que eu gostaria de
conhecer.
— Fale-me sobre as que você gosta.
— Spanking, Rough Sex, RapePlay, BreathPlay, WaxPaly... — meu pau ficou duro, só em
imaginar as cenas que eu poderia fazer com ela. — humilhação, bondage e privação dos sentidos.
Há outras que eu gostaria de experimentar, mas nunca tentei.
— Não domino todas as práticas, muitas tenho conhecimento, mas também nunca tive uma play
partner que quisesse tentar. O que acha da NeedlePlay?
— Tenho pavor a agulhas. — Ela não disse mais nada, mas eu sabia qual seria a próxima
pergunta, o problema era que eu não tinha resposta. — Então você está disposto a nos dar outra
chance?
— Eu não confio mais em você e não sei se podemos trabalhar isso.
— Eu lamento muito.
— Eu também.
Por longos minutos ficamos apenas ali, em meio ao silêncio. Havia muita coisa a ser digerida.
Agora eu sabia que ela teve muitos motivos – todos justificáveis – para me deixar, ainda assim, era
difícil confiar. A confiança era um fator fundamental em qualquer tipo de relacionamento, mas no
BDSM era primordial. O bottom colocava sua vida nas mãos do Top. Confiava nele para guiar,
conduzir, ensinar, treinar, moldar e praticar. Sem a confiança, não havia relacionamento, e no meu
caso com Lorraine, eu tinha receio até mesmo de começar uma negociação. Ela tinha um péssimo
hábito de decidir as coisas e fazê-las sem me consultar. Ela não somente tomava suas decisões,
como as minhas também e isso era muito ruim no aspecto confiança, por outro lado, era muito
satisfatório no aspecto punição.
— Nos dê outra chance, Willian? Por favor, estou implorando por isso.
— Eu preciso pensar... — disse, chateado. — Eu não confio em você para seguir uma ordem
minha, para me dizer o que está sentindo de verdade, para compartilhar comigo algo que está
incomodando você e mais, eu não confio em você para deixar de tomar as decisões por mim.
— Eu só posso mostrar que mudei, se você me permitir, porque acredito que palavras não vão
fazê-lo mudar de ideia.
— Não, não vão.
— Eu sei que errei, mas foi pensando em você, no seu melhor.
— A decisão era minha. — retorqui, irritado.
— Você ia acabar com sua vida!
— E você acabou com a nossa! — explodi, furioso com sua tentativa de me fazer mudar de
ideia.
— Eu acabei com a minha vida, Willian. Foram sete anos de miséria. Aliás, não só com a minha,
mas com a do meu ex marido também.
— Bom, ele vai aprender a nunca mais tocar naquilo que não o pertence.
— Então eu pertenço a você? — indagou, melosa.
— Naquela época, sim. — respondi, friamente.
— Ok, Willian. — disse, rendendo-se. — Minha maior vontade era de pedir perdão a você e
contar o que realmente aconteceu. Acredito que já tenha feito as duas coisas.
— Sim, já fez.
— Adeus, Willian.
— Adeus, Lorraine.
Eu odiava onde estávamos. Odiava estar envolvido emocionalmente com uma pessoa da qual
eu não confiava. Eu tentei vários relacionamentos, mas nenhum foi satisfatório. Até tentei um
baunilha, mas era impossível manter um relacionamento na base da confiança, vivendo duas vidas.
Foi só contar para a garota que era um Sádico que ela saiu correndo, eu teria rido da situação se
não tivesse tão pasmo com o seu comportamento.
Era um absurdo como as pessoas eram ignorantes sobre o BDSM. Eu tinha a plena convicção
que se o BDSM não tivesse essas siglas, seria algo como Consensual Sex. Na verdade, o poder
estava com os bottoms, se eles não aceitassem, se não permitissem, não haveria nenhum Top. A
troca de poder era essencial nesse estilo de vida. Sem bottom, sem poder.

***

Voltei para o castelo depois de uma tarde mal dormida. Eu não tinha que trabalhar naquela
noite, mas eu tinha combinado uma sessão e precisava estar lá. Eu tinha organizado a sala de
acordo com o combinado com a bottom. Eu não conhecia seus limites, mas confiei em sua palavra e
nas práticas que ela havia me dito que já tinha praticado.
Durante todo o tempo da sessão – que não durou muito – eu fiquei observando a sub bem de
perto. Respiração, pulsação, as unhas das mãos e seu estado emocional. A pequena não durou uma
hora. Eu odiava mentiras, odiava quando elas me colocavam naquela situação. Era muito frustrante.
Aqui estava o cerne do problema: submissas 50 tons. As mulheres aficionadas por Grey entravam
nesse mundo, achando que encontrariam um CEO que daria a elas tudo em troca de umas boas
palmadas. Era um absurdo e muito irresponsável.
Aqui tínhamos todos os tipos de profissionais: professores, técnicos, advogados, médicos,
empresários, contadores, bibliotecários e várias outros profissionais. Somos pessoas comuns, que
trabalha e estuda. Claro que tem alguns com um poder aquisitivo maior, mas se o bottom vinha com
a ideia de entrar no BDSM para se dar bem, mordeu a corda errada. Vai aprender de uma forma
bem dolorosa que esse estilo de vida não é brincadeira. Não estávamos ali para brincar de
chicotinho e enfiar dedo no cuzinho.
O BDSM é pautado em protocolos, em liturgia, em regras, em bases, eu diria até meio
engessado. Claro que podemos evoluir, afinal, estamos em constante aprendizado. O que não
pode acontecer são as pessoas entrar nesse estilo de vida e fazer o que bem entende. Criar o seu
próprio BDSM e agir conforme lhe convém, isso não existe. Quer viver o BDSM então siga as
regras, aprenda sobre liturgia e respeite a hierarquia. O Top manda, o bottom obedece.
Obviamente, dentro do que foi acordado entre ambas as partes, se não está de acordo, então não
inicie uma relação ou entregue sua coleira. Não há meio termo, se foi negociado, se foi acordado,
se foi permitido, então foi consensual. O bottom e o Top estavam de comum acordo, então era
consensual.
O que aconteceu aqui, nesta sessão, foi que a pequena ordinária dizia ter limite alto para dor,
estava frequentando o castelo há mais de seis meses e tinha feito várias sessões com outros
Dominadores. Eu conversei com ela por vários dias, não vou mentir, fiquei empolgado com seu
conhecimento, mas era só isso. Ela relatou com maestria muitas das cenas que eu tinha preparado.
Eu confiei nela, confiei que ela realmente havia praticado, mas era uma mentira, uma grande
mentira.
Ela não tinha ideia do que eu estava fazendo, podia ver o horror em seu olhar. O problema
era que, aquele olhar me excitava e muito e, mesmo excitado, perguntei se ela estava bem e ela
respondia que sim, então eu continuei. Ela berrou na primeira chicotada que dei nela, até aí tudo
bem, cada uma respondia de uma forma diferente. Troquei a cena, peguei as velas para amenizar
um pouco, mas quando voltei ao chicote, a mulher simplesmente entrou em desespero. Eu nunca
tinha visto nada igual. Foi humilhante.
Obviamente a submissa 50 tons, seria banida de sua associação. Eu passaria de tolo perante
meus amigos e associados do castelo, por conta de uma apaixonada por CEO. Ela sabia muita
coisa, disso eu não tinha dúvidas, mas saber e experimentar são coisas totalmente diferentes.
A bagunça está nas fontes mal-intencionadas da internet. Homens que se dizem Dominadores,
querendo sexo fácil, submissas que se dizem de alma, só porque são apaixonadas por 50 tons... A
lista de fraude era grande... Nudes, ordens, comandos, dinheiro e mais ordens... tudo pela internet...
Não se pode viver o BDSM sem contato físico. Não pode se submeter a alguém, sem confiar, sem
acreditar, sem conhecer, sem sentir...
O BDSM está virando uma bagunça porque as bases e os protocolos não estão sendo
seguidos. As pessoas trazem suas frustrações baunilhas para o BDSM e querem por aquilo que
pensam como verdade, como regra a ser seguida. BDSM não é igualitário, não é justo e não é
puro, então se a pessoa vem para este estilo de vida, tem que saber que aqui tem hierarquia e
verticalidade; um manda e o outro obedece e ponto final.
—Eu lamento, Fire. — disse, Naga vindo ao meu encontro.
— Patético! — respondi, irritado. — É vergonhoso, humilhante e completamente
desproporcional.
— Ela esteve com outros dois Dominadores aqui no castelo.
— Ela me disse isso, eu cheguei a ver, mas não consegui encontrar em contato com nenhum dos
dois enquanto negociávamos a sessão.
— O que ela passou para você?
— Tudo o que eu preparei aqui. — respondi, apontando para a sala. — Nenhum desses
aparelhos estão aqui sem o consentimento dela. Ela disse que experimentou tudo, Naga. Sabia
muito bem as práticas e as técnicas aplicadas, mas infelizmente, ela não passa de um dicionário
BDSM ambulante. — Naga riu.
Cara a Domme simplesmente caiu na gargalhada. Eu fiquei pasmo com sua atitude. Estava
extremamente irritado com ela, porra! A situação já era bem ruim sem sua gargalhada.
— Relaxa, Fire. — pediu, tentando se conter. — É que eu já ouvi isso antes e se eu soubesse
que era dela que o outro Dominador estava falando, eu teria te avisado.
— Ele também acha isso?
— Sim, um dicionário ambulante. — Agora era eu quem estava sorrindo.
— Apesar de estar rindo, não é nada engraçado. Passei vergonha aqui.
— Não passou não. — refutou a Domme. — Todo o mundo sabe o Top que você é, as pessoas
te conhecem e o respeitam muito.
— Estou morrendo de vergonha.
— Bobagem, era ela que deveria sentir vergonha.
— Pensando assim, é pior ainda. Como foi que eu não vi isso? Aliás, quem foi que permitiu a
adesão dela aqui? — indaguei, inconformado.
— Ela foi indicada. — disse Naga, com desdém. — Acho que a pessoa achou que ela era
uma sub de grande conhecimento.
— Forçou a barra querendo transformar em erudição, algo que é primal, animal e visceral.
— Ela teve a sorte de pegar você. — falou, Naga baixinho. — Se ela pega a Darkness a
história seria bem diferente.
— Ela bem ia ter o que merecia.
— Pensando por este lado... — concordou, Naga sorrindo.
—Você tem uma maldade aí também, não é?
— Faz tempo que não coloco em prática...
Havia um olhar nostálgico em Naga. Um daqueles que eu conhecia muito bem e sabia também
como era se sentir daquela forma.
— Qual o problema?
— Darkness. — Resumiu tudo, com apenas um nome. —Ela parece estar sempre no lugar
errado na hora mais inoportuna. — comentou, com desdém. — Meu sub era meu marido. — disse,
magoada. — Tínhamos uma relação muito madura e equilibrada. Ele era um ótimo marido, pai e
um sub muito adestrado. — sorriu, piscando o olho. — Estávamos em conflito com algumas práticas
que para mim, eram um limite rígido.
— E ainda tem gente que pensa que não temos limites. — disse consternado.
Era ilusório acharem que Tops não tinham limites... absurdo isso! Haviam parafilias e fetiches
que não estávamos dispostos a fazer, que não erámos adeptos. Eu não curtia muita coisa e se
dentro das negociações aquelas diferenças não fossem vistas, resultaria em término de uma
relação que começou com mentiras. Talvez não fosse o caso da Naga, mas por ele nunca ter dito
nada a ela era que as coisas tinham chegado ao fim.
— Todos nós temos e, aquele era um. — disse ela, dando de ombros. — Então ele conheceu
Darkness e o resto é história.
— Uou! Está me dizendo que Darkness pegou seu submisso? — indaguei perplexo.
— Não sei dizer ao certo quando tudo começou, mas ela deu a ele o que ele queria, o que eu
não podia.
— Não justifica.
— Isso não importa mais, já está feito.
— Ele continua sendo seu marido? — indaguei, perplexo, confuso e muito curioso.
— Até tentei, mas sabe? É difícil perdoar quando as duas coisas estão ligadas. — relatou,
triste. — Você acha que tem um casamento e uma relação sólida, baseada na confiança, no afeto,
no carinho e respeito. Quando uma parte desmorona a outra dificilmente fica em pé. A gente
nunca sabe qual delas sustenta a relação inteira.
— Estou passando por isso.
— Eu não sabia que você tinha uma relação baunilha. — disse, curiosa.
— Não tenho, mas já tive. — disse, evasivamente.
— Bota pra fora, acabei de contar os cacos da minha vida. — pediu, irredutível.
— Vou organizar essa bagunça e já nos falamos.
— Não vou a lugar algum.
— Imaginei que não. — pisquei sorrindo.
Guardei todo o meu equipamento, higienizei a mesa que havíamos usado e limpei a área. Não
havia muito o que ser feito, nem tive tempo de começar a sessão e a garota já tinha gritado a
safe. Balancei a cabeça chateado...
Deixei tudo organizado e saí da sala com Naga ao meu lado. A Domme poderia ser de
grande ajuda, já que ela tinha passado por uma situação similar à minha.
— Foi há quinze anos... — comecei, enquanto caminhávamos pelo corredor da masmorra. —
Começamos juntos. Fomos amigos, cúmplices, parceiros, namorados, amantes, mesmo sem
conhecimento, era uma relação S/m. Ela era o meu mundo, mas a família descobriu e o resto é
história.
— Sorte a sua não ter parado na cadeia.
— Pensei que fosse uma escolha minha. — disse, chateado.
— Bobagem! — disse, refutando com as mãos. — A escolha era dela.
— Discordo completamente — rebati, agora incomodado.
— Bem, eu teria saído fora para salvar a sua pele. — afirmou, irredutível. — Jamais teria
prestado queixa contra o homem que eu amava. Acorda Willian, nem tudo é sobre você.
— Não disse que era.
— Mas o faz ser.
— Ela tinha a obrigação de me dizer.
— Isso depende de como estava a situação.
— Não acho que justifica.
— Tem sim, uma justificativa. — afirmou, irredutível. — Conte-me a história toda e eu vou te
mostrar onde ela está.
Sentamos ao lado do bar na área do trono que ficava na masmorra. De lá, conseguíamos ver
todas as celas e ficar atento a qualquer problema com os monitores. Durante longos minutos eu
narrei para ela os acontecimentos com a Lorraine, de como era a nossa relação e depois dela.
Contei sobre a nossa conversa e como sentia-me confuso em relação a ela.
— Particularmente, não vejo isso como uma traição. — disse, Naga. — Se meu escravo tivesse
conversado comigo, exposto o problema de uma forma diferente da que eu via, provavelmente as
coisas teriam sido diferentes. Eu poderia tê-lo dado para um Mestre integro, para que seu fetiche
fosse realizado. Eu não via problema nenhum nisso, mas ele decidiu agir por conta própria.
— Não confio mais nela. — disse chateado. — Tenho medo de tentar e acabar mal
novamente.
— Você não confia nela ou não confia nela para dizer quando você ultrapassa os limites
dela?
Abri a boca várias vezes, mas nada saía. Eu não tinha uma reposta.
— Talvez seu problema nem seja confiança. — comentou, me chamando a atenção. — Você
está com medo de cometer o mesmo erro outra vez.
— Não é medo.
— É, e até você aceitar o fato de como seres humanos somos falhos, você não vai conseguir se
relacionar com ninguém. — resumiu, taxativa. — Você tem que entender que até um Mestre com
anos de BDSM comete erros. Seria surreal pensar de forma diferente.
— Eu preciso pensar.
Eu estava muito confuso em relação a Lorraine e a nós. Era difícil superar uma perda quando
não se tinha um motivo. Foram anos com a ideia de traição, pensamento errado, mas que foi
alimentado e nutrido. Soltar as amarras era quase uma piada.
— Eu queria que ele tivesse vindo falar comigo, antes de tomar uma decisão tão cruel. —
confessou, Naga me trazendo de volta.
— Eu sei bem como se sente.
— Não confunda as coisas, são situações diferentes.
Não ia bater boca com ela. Eu tinha minha opinião formada, talvez fosse errada, mas eu
precisava de tempo para processar o outro lado.
— Você falou com a Darkness? — perguntei, trocando de assunto.
— Estou esperando o momento certo. — respondeu, irônica. — O que é dela, eu guardei.
— E seu marido?
— Isso que é o mais estranho... Ele está namorando uma baunilha.
— Desculpe dizer isso, mas ele parece inconstante, Naga.
— Já não é mais da minha conta.
— Fora isso, vocês têm uma relação legal?
— Não muito... eu tolero pelo meu filho, mas às vezes...
— Não deve ser fácil.
— Não é, dói muito. — respirou fundo, antes de continuar. — Não é fácil para um sub
entregar a coleira, mas também é bem difícil abdicar de um submisso. Abrir mão, tirar a coleira
sabendo que ele te completa em muitos aspectos... Não é fácil, Willian.
— Eu lamento de verdade.
Não havia mais nada a ser dito, tínhamos uma vida além do castelo que poucos tinham
conhecimento. Sabíamos pouco da vida um do outro e por mais que tentássemos uma relação
amigável, às vezes era difícil devido a correria e horários tumultuados.
Tínhamos associados de todos os lugares do Brasil e Jhonatan tinha amigos de fora, que
vinham conhecer o castelo. Por conta disso, o movimento ali era constante e diário. Férias e folgas
era destino certo para a maioria deles. Além do mais, a cidade era turística, proporcionava
diversidade a todos os associados. Bom para quem vinha desfrutar, mas para quem trabalhava, às
vezes, era exaustivo.
Voltei para casa depois da noite frustrante que tive no castelo. O desejo de voltar a ligar
para Lorraine bateu forte, mas refutei a ideia. Eu precisava pensar, colocar minha cabeça no lugar
e analisar toda a conversa que tive com Naga.

Paulo – Mestre Shadow

A ideia de irmos ao castelo não deu certo. Minha pequena paty, estava sentindo muita dor nas
costas, então resolvi dar a ela um pouco de carinho e prazer. Ela merecia, afinal, tínhamos elevado
o seu limite para a dor hoje e, eu estava completamente satisfeito com seu comportamento. Era
prazeroso para mim, como seu Mestre, saber que evoluíamos dia após dia. Saber o limite e até
onde podia ir, era essencial em uma relação de entrega e controle.
Eu queria colocar um vibrador em sua vagina e levá-la nua para o castelo, onde ela poderia
mostrar suas belas curvas e exibir as marcas que eu havia deixado em seu corpo. Porém, diante
da sua dor e ardência, resolvi que ficaríamos em casa. Também era importante saber quando
retroceder e diminuir. Apesar de me servir, de se entregar a mim, ela ainda era um ser humano e
merecia total atenção com seu estado físico e emocional. Um Dominador jamais poderia colocar
seus desejos e vontades acima do bem-estar de uma submissa.
Entrei no quarto, sendo recebido pela bela visão do seu traseiro nu e suas costas com minhas
marcas. O tesão voltou com tudo. Era prazeroso de muitas formas, principalmente no orgulho em
saber que a minha pequena correspondia a todas as minhas expectativas.
— Como se sente, minha paty? — indaguei entrando no quarto, me sentando ao seu lado.
— Como se minhas costas estivessem pegando fogo. — respondeu, manhosa. — E também me
sinto excitada, prazerosa, mas não satisfeita.
Sim, a vida ao lado da minha baixinha jamais seria monótona. Eu gostava de sua boca esperta
e atrevida, afinal, a arte de dominar era fazer com que a outra parte se submetesse. Era a sua
entrega genuína que me dava poder e prazer.
— O que você quer, minha paty? — perguntei, tocando seu corpo levemente.
— Hmm... — resmungou, gemendo.
— Isso não é uma resposta. — disse roçando meus lábios suavemente nos seus ombros, em
seguida, afastei-me para ver sua disposição.
— Por favor, Mestre de mim?
— Não sei o que você quer, então não posso te ajudar. — respondi, passando a língua em seu
pescoço, subindo e descendo.
— Se o Mestre permitir, se o Senhor achar que mereço... — suspirou gemendo, quando toquei
a sua orelha com a língua. —gostaria que o Senhor permitisse que eu gozasse.
— Você quer gozar, minha cadelinha? — indaguei, mordendo sua orelha.
— Sim, Mestre. Por favor?
Foi claramente a resposta que eu estava esperando. Deitei-me ao seu lado, erguendo suas
mãos para cima e arrebatando sua boca em um beijo forte e exigente. Minha paty se rendeu a
mim, separando os lábios e aceitando minha língua, que estava ávida para explorar sua boca.
Deslizei minha mão para as suas costas, acariciando suavemente, adorando e idolatrando
minhas marcas. A posse que eu sentia ao tocá-la daquela forma era sem precedentes. Dei a ela
um tempo para respirar, enquanto explorava seu pescoço. Minha paty arqueou sua coluna, um sinal
clássico de pedido, ela queria mais. “Tão ávida...”, pensei satisfeito
Afastei-me para tocar sua pele nua, passando os dedos suavemente por todas aquelas curvas
exuberantes. Minha paty tentou arduamente manter-se quieta, enquanto eu explorava, sem pressa
o seu corpo. No entanto, as pequenas contrações musculares, demostravam que seu controle estava
por um fio. Gostava de atormentá-la, gostava de elevar seus limites e testar seu controle.
Ainda de roupas, deitei-me atrás dela rodeando-a com o braço, pressionando beijos lentos em
seu pescoço, enquanto meus dedos brincavam com seu mamilo intumescido. Seu corpo informava o
seu completo desespero, arqueando-se para mim, encostando sua bunda gostosa no meu pau que
estava extremamente duro, pressionando no zíper da calça jeans.
A excitação da minha cadelinha era latente, o cheiro de sexo permeou o ar dentro do quarto.
A brisa fresca que entrava pela janela aberta, não era a única responsável pelos pelinhos
arrepiados do seu corpo. Continuei minha exploração, traçando seu quadril lentamente, descendo
para sua pélvis, encontrando seu púbis liso e macio. Ela suspirou e gemeu, mas não se mexeu e tão
pouco gozou, mesmo estando completamente excitada e na borda.
— Boa menina! — elogiei, apreciando seu controle.
Paty se contorcia sobre a minha tortura, gemendo e pedindo com o corpo que eu tocasse a sua
boceta, mas eu ainda não tinha me dado por satisfeito. Eu a queria completamente em êxtase.
Cada toque meu, era projetado para atormentar, sempre se aproximando, mas nunca tocando
onde ela realmente queria e desejava. Ela lutou para liberar os braços, comportamento inútil, pois
ao invés de afrouxar, só me fez segurar com mais força. Cada gemido seu, só me incitava ainda
mais, em usar meus dedos para gerar um prazer ainda mais angustiante.
— Mestre?
— Sim, minha cadelinha?
— Por favor?
— Quieta! — exigi, em tom de comando. — Você está absolutamente perfeita. — elogiei,
colocando-me de pé.
Os gemidos de paty foram baixos, mas eu a conhecia bem suficiente para saber que eram
gemidos mau humorados. Comecei a tirar minhas roupas, silenciando-a efetivamente. Observei-a
sorrindo quando seus olhos dispararam para o meu pau e desceram por todo o meu corpo. O
desejo, a admiração e a idolatria estavam gravados neles.
Seus lábios se separam e em seus olhos havia a expectativa e o desejo de colocar aquela
boca carnuda e deliciosa no meu pau. Caminhei lentamente até ao seu lado da cama, ficando de
frente para ela, com a cabeça do meu pênis na altura de sua boca.
— Você me quer na sua boca, cadela?
— Sim, Mestre. — Segurei meu pau pela base, e esfreguei a cabeça em seus lábios.
Sua língua ávida, lambeu o pré-sêmen saindo da ponta do meu pênis. Aquela boca era o
paraíso, sua língua era diabólica. Minha cadelinha sabia chupar como nenhuma outra submissa que
eu já tive. O calor úmido de sua boca cercou meu pênis, fazendo-me trincar os dentes, evitando
passar vergonha ao gozar tão precocemente. Lambidas dolorosamente lentas desciam por todo o
meu comprimento e de volta para a ponta. Minha menina aplicou a sucção exata na cabeça, me
deixando nas pontas dos pés, para em seguida massagear minhas bolas. Levou-me até à sua
garganta, puxando lentamente para trás, cravando os dentes na cabeça inchada, levando-me ao
desespero completo.
— Se divertindo, cadela? — indaguei, puxando seus cabelos em punho.
— Minha diversão é lhe proporcionar prazer, Mestre.
— Tão atrevida... — afirmei, traçando sua boca com o polegar. Sua língua lambeu o dedo e o
sugou para dentro. — Fique de quatro. — exigi, excitado. — Coloque essa bela bunda para cima
e abra suas pernas.
Muitos Dominadores que viviam o estilo de vida e muitos que eu conhecia pessoalmente,
afirmavam que a relação D/s não envolvia sexo. Era apenas um ato sexual de entrega,
subserviência e dominação. Eu acreditava que podia ser sim desta forma para parceiros, mas
para um casal que se relacionava da forma como eu e minha cadela, que tínhamos um vínculo,
cumplicidade e amor, era impossível deixar essa parte de fora.
Eu gostava de meter gostoso em sua boceta, sentir seu canal apertar meu pau, sugando-o
para dentro. O BDSM não era um estilo de vida engessado como muitas acreditavam, estávamos
constantemente evoluindo como ser humano e como Dominadores. Buscando sempre em melhorar,
aprendendo práticas novas e superando limites. Obviamente, o que não podia ser mudado era a
liturgia e as bases.
Para uma ótima relação, a confiança, lealdade, honestidade e o consenso eram essenciais.
Particularmente o sexo, para mim, era aceitável e natural fora das sessões, dentro das sessões eu
preferia me focar apenas nas práticas.
Olhei para a sua boceta, vendo seus lábios vaginais molhados de sua excitação. Passei os
dedos em volta, recolhendo sua lubrificação, mas nunca tocando onde ela realmente desejava.
— Mestre, por favor?
— Tão ansiosa... — comentei, fazendo círculos lentos na sua entrada. — tão cremosa... —Inseri
um dedo lentamente, arrancando dela um suspiro. Sem pressa, sem urgência, apenas apreciando o
momento.
O tormento, a sensação de poder, de controle, de saber que ela faria apenas o que eu
quisesse era o que me estimulava, me excitava. A sua subserviência nunca foi questionada por mim.
Ela era uma aluna ávida para aprender e muito dedicada. O controle era afinado e exercitado
todos os dias, em diversas situações aumentando e intensificando consideravelmente o prazer de
ambos.
Movi minhas mãos para cima, acariciando seus mamilos calmamente. Massageando e
comprimindo, apenas atormentando fazendo com que seu prazer se elevasse. No momento em que
comprimi os bicos turgidos, ela resfolegou tencionando o corpo. Voltei a descer minha mão para
sua boceta, acariciando com firmeza seu clitóris.
— Mestre! — exclamou, minha cadelinha, completamente excitada. — Ohhh... Por favor? —
implorou, fervorosamente.
Eu, como um Mestre benevolente, resolvi dar à minha menina o seu primeiro orgasmo daquela
noite. Passei o dedo lentamente em volta do seu clítoris uma vez, duas vezes antes de dar
permissão a ela. Sua cabeça balançava de um lado para o outro e seu corpo estava trêmulo,
tensionado, louco para receber o prazer que tanto almejava.
— Goze para mim, minha putinha.
Seu canal pulsou, sugando meu dedo para o seu interior. Seu corpo estava trêmulo e sua
respiração rasa. Empurrei dois dedos nela, duro e rápido e ela se entregou em seguida.
Deslizava meus dedos dentro e fora, enquanto o polegar fazia círculos em seu clitóris. Minha
putinha gozava gritando e gemendo em total abandono.
— Ahhh... Mestre!... Ohhhh..
Eu estava duro, louco para deslizar meu pau dentro dela, o desejo me consumindo como nada
mais, mas eu ainda não tinha dado a ela a satisfação que eu queria. Avancei até à cômoda onde
guardava nossos brinquedos e peguei um vibrador bullet e voltei para minha menina.
— Ainda não me dei por satisfeito, minha putinha. — confessei, brincando com seu clitóris com
o vibrador. — Vamos brincar um pouquinho mais, afinal de contas você não está satisfeita, não é
mesmo?
—Mestre, eu não... — Silenciei-a, colocando o vibrador em sua vagina.
Minha pequena cadela se mexeu e remexeu tentando escapar do contato do aparelho. No
momento em que liguei o vibrador, ela tentou fugir do contato.
— Quieta! — ordenei, batendo em sua bunda marcada.
— Hmm... — gemeu a descarada, gostando de ser açoitada.
— Gosta disso, não é minha putinha? — indaguei puxando seus cabelos, trazendo sua cabeça
para trás. — Gosta quando a açoito dessa maneira, quando deixo sua pele marcada, não é?
— Eu amo ser marcada pelo Senhor, Mestre. — confessou sem fôlego, quando aumentei a
velocidade do vibrador. — Amo suas marcas, seu caprichos e desejos. Amo ser sua puta, cadela e
escrava. Amor ser castigada e açoitada pelo Mestre a quem pertenço.
— Eu sei que sim, minha escrava. — afirmei, descendo minha boca para a sua. Exigindo dela
sua entrega.
Beijava sua boca, chupava sua língua, mordia seus lábios conforme aumentava a velocidade
do vibrador. Minha menina remexeu, roçando sua bela bunda no meu pau. A dolorosa dor no meu
membro aumentou consideravelmente. Ela estava me desafiando impertinentemente.
— Você quer meu pau na sua boceta, cadela?
— Sim, Mestre. Por favor?
— Ainda não o mereceu, vadia! — ralhei, inserindo o vibrador em sua vagina, depois comecei
a massagear seu clitóris.
— Ohhh... Mestre! — gemeu, descontrolada.
— Vai gozar novamente, putinha.
Naquela altura, não sabia se a tortura era dela ou minha. Meu pau estava pesado e pré-
sêmen saía da cabeça em abundância. Lambi seu clitóris, inserindo um dedo em seu orifício,
enquanto o vibrador zumbia dentro do seu canal. Não demorou muito para ela explodir em outro
orgasmo.
— Ajoelhe-se. — exigi, tirando o brinquedo de dentro da sua vagina.
Como uma cadela obediente, minha menina se ajoelhou, ficando de frente para o meu pau.
Seus olhos estavam brilhantes, sua pele suada e os cabelos grudados na testa. Era uma imagem
perfeita e linda de tirar o fôlego. Eu a teria fotografado naquele exato momento, se eu não tivesse
com o pau tão dolorido. Minha menina olhava para o meu corpo com desejo gravado nos olhos,
sua língua saiu molhando os lábios, lábios sedosos que em breve estariam em torno do meu pau.
— Vamos lá, minha menina. Sabe bem o que fazer.
E ela fez, com aquela maestria que somente ela sabia.
Willian – Lord Fire

S aí do castelo, passei em casa apenas para tomar um banho e peguei a


estrada rumo ao Rio. Eu estava apreensivo diante do que estava por vir,
não tinha a menor ideia de qual seria a sua reação quando me visse ou
vice versa. Controle era algo que gostava em mim, mas por longos minutos, deixei que minha mente
vagasse descontroladamente. Imagens de nós dois juntos era o que inundava minha mente. Aqui
dentro eu podia fantasiar, eu podia criar diversas punições para ela, no entanto, nada daquilo
mudaria as reservas que eu ainda tinha sobre ela.
A conversa com a Naga não saía da minha cabeça... “ Não confia nela ou não confia em você
para estar com ela?”... Não tinha resposta, mas a pergunta martelava o tempo todo. Era aquele o
meu receio em voltar a vê-la? Para mim tudo aquilo parecia absurdo. Sim, eu posso tê-la
machucado, pelo fato de não termos informações e experiência, mas mesmo até hoje, diante de
tanta informação, erramos em algumas práticas. As cosias podem sair erradas em um piscar de
olhos. Não estava procurando uma justificativa, estava apenas dizendo que o meu receio não vinha
do meu erro.
Não seria hipócrita ao dizer que a ideia de estar com ela não me atiçava. Claro que atiçava,
claro que me despertava, contudo havia o receio... eu não confiava mais nela, talvez pela mágoa
que guardei por muito tempo. Era justificável, mas não aceitável. Que porra de homem eu era em
não assumir meus erros? Eu teria ido para a cadeia apenas se ela desse a queixa... Frustração me
corroía como nada mais. Aquela dúvida pendia entre nós. Eu sei e entendo o quanto ela sofreu em
todos aqueles anos, mas eu não cheguei a perguntar se ela faria a queixa. “Teria ela feito?”,
perguntei a mim mesmo. Também era algo que eu não tinha respostas.

***

Duas horas depois chegava ao Rio, sendo saudado pelo calor escaldante que fazia. A
primavera estava próxima e o calor começava, se despedindo do inverno. Eu não tinha ideia de
onde era a loja de Lorraine e teria que parar para ligar para ela ou apenas enviar uma
mensagem.
Olhei à volta procurando uma vaga para estacionar, assim que encontrei uma, parei e desci.
Respirei profundamente, sentindo o cheiro da maresia, sol, bronzeador e suor. Eu amava essa
cidade e sentia muita falta da praia. “Precisava vir aqui mais vezes”, pensei nostálgico. Tirei o
celular do bolso e escrevi rapidamente uma mensagem para Lorraine, perguntando onde era sua
loja. Como sempre ela não me respondeu, ao contrário, fez outra pergunta. Estava começando a
me cansar daqueles jogos. Ao invés de enviar outra mensagem, apenas liguei para ela.
— Estou ficando cansado, Lorraine. — confessei frustrado. — Estou tentado a colocar um
ponto final nessa história. — Rapidamente ela me passou o endereço e desligamos.
Fiquei por ali um longo tempo, apenas observando o movimento na praia. Tinha algo muito
relaxante em ver as pessoas entrarem no mar, correrem pelo calçadão e as crianças brincando... A
nostalgia era tão grande que chegava a ser sufocante. Eu precisava das minhas férias... eu queria
correr, nadar e viajar. Sentia falta disso, mas amava o meu trabalho, mesmo sendo exaustivo,
amava o que fazia e amava a vida que havia escolhido para mim.
Voltei para o carro e fui no sentido que ela tinha me passado. Pela primeira vez, desde que
voltei a saber sobre ela, consegui manter sobre controle, minhas emoções. Algo dentro de mim
mudou, talvez a falta de respostas ou o não saber do porquê de tudo aquilo ter acontecido que
me deixava angustiado. Eu estava excitado sim, mas não mais incomodado, apenas receoso.
Eu esperava sentir muitas coisas, estava preparado para a avalanche de emoções que viram
ao vê-la, no entanto, no momento em que entrei na loja e a vi, nada do que esperei aconteceu.
Talvez minha mente estivesse pregando uma peça, talvez todo o meu emocional não fosse tão
vulnerável. Podia apenas dizer que ao vê-la, não senti aquele frisson que pensei que sentiria. Eu
senti apenas paz.
Eu não conseguia discernir exatamente o que era, mas era uma tranquilidade sem precedentes.
Como se eu estivesse voltando para casa. Talvez fosse exatamente isso, talvez ela fosse a minha
casa.
Ela ainda não tinha me visto, mas no momento em que sentiu minha presença, ela se virou e
meu mundo parou... novamente esperei a avalanche de emoções, mas o sentimento de paz era
transbordante. Respirei fundo, um pouco confuso de como estava me sentindo e a cumprimentei.
— Olá, Lorraine. — Ela não disse nada, apenas se jogou nos meus braços. Foi então que a
avalanche veio.
O seu cheiro... o seu corpo... o seu calor... Tudo! Absolutamente tudo era como antes. Ela estava
mais madura sim, mas ainda era a minha menina. Seu corpo tremia contra o meu. Suas emoções
eram tão fortes quanto as minhas. Eu precisava ser racional, eu precisava colocar uma certa
distância, mas eu não conseguia, eu simplesmente não podia. Talvez até não quisesse.
— Como é bom ver você novamente. — disse ela, com seu rosto no meu peito.
— É bom ver você também. — Ela se afastou e eu pude ver, dentro daqueles lindos olhos, o
quanto ela esperava de verdade por aquele reencontro.
Durante longos minutos apenas nos olhamos. O desejo estava lá, gravado em seus olhos, nos
pelinhos arrepiados do seu corpo e se eu fosse mais longe, podia dizer que ela estava excitada.
Tínhamos muito o que dizer, contudo havia algo muito além de palavras, apenas entendimento,
aceitação. Eu errei, ela errou e infelizmente o preconceito nos separou, mas estávamos aqui, um
diante do outro e não conseguíamos dizer absolutamente nada.
— Eu não sei o que dizer. — disparou, um pouco intimidada e acanhada.
— Então não fale. — respondi, tocando levemente seu rosto. Ela fechou os olhos e se entregou
ao momento.
Ela ainda tinha os cabelos da mesma cor de quando a conheci. Amava aquele tom, era
fascinante. Seu corpo havia mudado, mas todo o resto seguia o mesmo. Talvez um pouco de dor e
mágoa nos olhos, mas nada que realmente a diferenciasse. Todos aqueles sentimentos faziam parte
de sua trajetória de vida, era normal e natural.
Eu tinha um milhão de perguntas, outros milhões de respostas, mas nada naquele momento
realmente fazia-se necessário. Eu só fiquei ali, olhando seus olhos e seu sorriso. Era definitivamente
como voltar para casa depois de uma longa temporada longe.
— Eu não posso ficar por muito tempo, mas não pude evitar de vir ver você.
— Estou feliz que tenha vindo. — confessou, com os olhos cheios de lágrimas não derramadas.
— Também tenho tanta coisa para falar, mas parecem tão fúteis neste momento. — Eu a entendia,
era exatamente assim que eu me sentia.
— O que sente agora?
— Paz. — respondeu, prontamente. — Como se tudo estivesse finalmente em seu devido
lugar.
— Não está com medo de estar comigo novamente?
— Não, não estou.
— Teria dado queixa? — indaguei abruptamente. Obviamente não era aquela a minha
intenção, eu apenas não conseguia tirar aquela pergunta da minha cabeça.
— Jamais! — respondeu, enfaticamente. — Hoje eu entendo com mais clareza como as leis se
aplicam, mas naquela época o primeiro sentimento foi de medo, depois pavor, raiva e dor. Ela nos
separou, mas eu jamais faria mal a você.
Eu não sabia o que dizer ou pensar, mas o alívio que senti ao ouvir suas palavras foi
instantâneo. Eu cheguei a duvidar de sua decisão. Era confuso e distorcido.
— Sei que não tenho direito de pedir nada, mas não posso deixar de desejar
desesperadamente o que tínhamos. — confessou, balançando a cabeça, um pouco perdida,
envergonha e consternada. — Sei bem que não podemos voltar de onde paramos, mas podemos
estar juntos. Eu quero isso, quero mais do que posso expressar.
Eu não podia negar que eu também queria, mas também tinha um fator que eu não podia
negar, por mais que eu tentasse, por mais que quisesse, eu não confiava nela. Não pelo que
aconteceu, mas pela forma como lidou com a situação. Ela resolveu e decidiu por mim, uma situação
que só cabia a mim responder. Ela não agiu honestamente ao me esconder o que estava
acontecendo, não falou comigo, não se abriu. Agiu por conta própria e me magoou muito. E isso eu
não podia ignorar.
— Tem coisas e situações que me incomodam profundamente dentro do que aconteceu. —
falei, olhando-a diretamente nos olhos. — Nunca dei a você o direito de decidir por mim e sempre
me mantive aberto às suas dúvidas, medos e receios. Você tomou a situação por conta própria e
não compartilhou comigo as suas decisões. Isso quebrou a confiança que eu tinha em você e a
confiança é a base de tudo em qualquer situação ou estilo de vida.
— Eu não tive escolhas, Willian. — rebateu impertinentemente, levantando o queixo.
— Você tinha a escolha de dividir comigo o que estava acontecendo, ao invés disso, preferiu
me deixar no escuro, como se eu fosse um garoto escondendo dos pais por ter feito algo errado.
Eu estava completamente sozinho, perdendo a mulher que eu amava. O mundo à minha volta
desabava e você não se deu o trabalho de dividir comigo a situação.
— Eu não pensava assim. — disse, relutante. — Na minha cabeça a situação era com a minha
família, a decisão cabia a mim e eu fiz o melhor que pude.
— É aí que discordamos.
— Podemos ficar aqui horas debatendo como eu deveria ter agido. — comentou, frustrada.
— Eu tenho justificativas que para você não são aceitáveis, mas que para mim, eram perfeitamente
contundentes. — Ela desviou os olhos para que eu não visse a dor que refletia neles, mas eu vi, vi
no momento em que entrei ali. — Eu paguei um preço bem alto devido às minhas escolhas. Hoje
penso que teria dado um foda-se para todo o mundo, mas há quinze anos atrás as coisas eram
bem diferentes.
— Eu teria te acolhido. — confessei, chateado. — Teria dado a você a vida que merecia, teria
feito você muito feliz. — Balancei a cabeça consternado...
Eu realmente acreditava naquilo? Eu realmente teria sido o homem ideal para ela ou o Paulo
tinha razão sobre nós? Talvez, no final das contas, ela tinha razão. Sua decisão podia não me
agradar, mas foi o melhor para nós dois. A ideia de voltar a machucá-la como fiz naquela época
era aterradora.
— Eu não tinha essa certeza, porque não queria me impor a você. Tínhamos uma vida inteira
pela frente, éramos tão jovens... — comentou, chorando.
Eu a puxei para os meus braços e a abracei apertado. Eu não tinha ideia para onde iriamos a
partir dali. Também não tinha certeza do que significávamos um para o outro e mesmo receoso, eu
estava louco para estar com ela novamente.
Não conversamos muito mais, eu precisava voltar pois tinha uma pequena para levar ao
castelo e montar a nossa cena. Eu estava desanimado e esperava que no decorrer do dia, a
situação mudasse.

***
Durante todo o trajeto de volta para Teresópolis, eu não conseguia tirar da minha mente o
desejo de que fosse outra mulher sentada ao meu lado e não a pequena goiana. Certamente ela
correspondia às minhas expectativas, mas não era ela quem eu desejava com fervor.
Montei nossa sessão de acordo com o que havíamos negociado. Tínhamos uma linha de
raciocínio muito parecida e a cena foi bastante satisfatória. Gostei de como as coisas seguiram,
principalmente da reação de Suzana, ela parecia muito concentrada.
Depois de terminar a cena, providenciei um quarto no hotel e deixei o motorista de Jhonatan
sobre aviso para levar a pequena para o Rio na manhã seguinte. Eu não estava a fim de
estender a noite e nem de sexo. Cuidei para que as suas necessidades fossem atendidas pós cena
e fui para casa, depois de falar com Naga.

***

Nos próximos dias, eu segui pensando muito mais em Lorraine, do que pretendia. Contudo,
havia algo libertador em falar com alguém que me conhecia muito antes de eu entrar no estilo de
vida. Trocávamos referências, falávamos sobre as práticas que gostávamos e sobre as que ela
tinha preferência.
Eu sabia o motivo pelo qual nossos assuntos eram sobre o BDSM, pois para ambos, era mais
seguro e menos doloroso. Eu não queria, mas eu tinha que tocar no assunto do seu casamento,
quando se tratava dela, eu queria saber sobre tudo. Talvez... sabendo de sua história, seria uma
maneira de voltar a confiar nela novamente. Provavelmente falar sobre tudo, conversar sobre o
tempo em que ficamos separados era o mais sensato e, de fato foi.
Ouvi a dor em sua voz sobre os relatos em ter que conviver sete anos com uma pessoa que ela
não amava... Eu não conseguia entender como ela conseguiu viver por tantos anos com alguém sem
amar ou no mínimo gostar da pessoa. Para mim era incompreensível. Ela teve seus motivos, tomou
sua decisão – que mesmo não me agradando – para ela, naquela época, foi a melhor diante da
situação.
Percebi que aos poucos íamos nos aproximando, nos conhecendo e mais, nos envolvendo. Foi
libertador e eu não sentia mais receio sobre ela, mas a cautela existia em qualquer negociação. Eu
precisava vê-la em cena, eu queria ver como ela correspondia às práticas e para isso acontecer,
ela teria que vir ao castelo, contudo, eu não estava preparado para ter Lorraine como associada.
Reparei que a loja dela era muito bem equipada e tinha uma enorme variedade de objetos e
brinquedos. Não seria difícil para ela conseguir sua associação através de sua loja, porém ainda
havia reticências. Suspirei cansado... Paulo tinha aproveitado seus últimos cinco dias de férias para
viajar com sua pequena e para meu desespero, seria Jhonatan a sair, agora que Paulo tinha
voltado.
Andei pelo castelo procurando por ele. Eu precisava conversar sobre como as coisas estavam
entre mim e Lorraine e não havia ninguém melhor que ele para me entender. Não demorou muito
para encontrá-lo no restaurante, juntamente ao Jhonatan.
— Bom dia, Paulo, Jhonatan. — cumprimentei-os, me sentando.
— Parece exausto. — comentou, Jhonatan com preocupação genuína nos olhos.
— Moído, eu diria.
— Aguenta mais quinze dias? — perguntou, Paulo tomando a frente.
— Claro.
— Pensei que a troca com Naga iria facilitar para você. — incitou, Jhonatan com o cenho
franzido.
— Facilitou e muito, ao menos agora posso dormir. — disse, piscando. — O problema é que já
faz um tempo que não tiro férias e o cansaço se acumulou.
— Preciso descer ao Rio, mas prometo não me estender. — anunciou, Jhonatan.
— Tire seu tempo, eu vou ficar bem. — disse a eles.
O garçom veio tirar nossos pedidos e assim que voltou com eles, eu avancei esfomeado. Porra!
Nada melhor que um café da manhã bem quentinho.
— E quanto aquele outro assunto, Willian? — indagou, Paulo com preocupação genuína.
Como falar para eles, como eu me sentia? Eu não tinha o menor problema em me abrir com o
Paulo, eu até gostava, principalmente quando o assunto era Lorraine. Talvez eu me sentisse um
pouco constrangido frente ao Jhonatan porque tínhamos visões diferentes sobre os sentimentos
dentro do BDSM, no entanto, eu precisava responder à pergunta de Paulo e falaria honestamente.
— Eu a amo, isto é um fato. — confessei, fazendo com que Jhonatan se engasgasse com seu
café.
— Parece contagioso — disse, seriamente.
— O quê? — Eu e Paulo perguntamos juntos.
— Nada. — mofou, voltando a tomar seu café. Olhei para Paulo que apenas deu de ombros.
— Continue... — incitou, Paulo.
— Antes de saber sobre tudo, eu fiquei dividido e receoso, não confiava nela. — confessei,
chateado. — Ela não veio falar comigo, não se abriu, não dividiu o problema e simplesmente
desapareceu. Fica difícil voltar a confiar, mas estamos trabalhando nisso.
— Não se apresse. — pediu, Jhonatan. — Vocês têm todo o tempo das negociações para
voltar a se conhecerem, para ver se podem confiar um no outro e mais, para ver se ambos
correspondem às necessidades um do outro.
— Sim, eu entendo. — acenei, confirmando. — Estamos conversando todos os dias pelo
telefone, obviamente não é a forma mais correta, mas é a única possível no momento.
— Ela não tem condições de se associar, Willian? — indagou, Paulo.
— Não quero me apressar, por isso nunca tocamos no assunto dela vir ao castelo. Estou sendo
cauteloso, não quero meter os pés pelas mãos e depois de ela estar aqui, me sentir obrigado a
ficar com ela.
— É a melhor conduta. — elogiou, Jhonatan. — Não há necessidade em ter pressa. Você
precisa estar cem por cento certo de que confia nela e ter a certeza de que ela vai falar a
verdade quando algo não estiver bem com ela ou com a prática.
— Você pelo menos se sente confortável quando está com ela? — perguntou, Paulo
preocupado.
— Estive com ela uma vez e sim, gostei bastante de voltar a vê-la.
— Olha, Willian... — começou Jhonatan meio sem jeito. — Eu não acredito no amor no nosso
estilo de vida, ok? — disse, seriamente não me pegando de surpresa, pois eu já sabia que ele não
acreditava nos sentimentos dentro do nosso estilo de vida. — Sentimento pode nos confundir e
errar na hora da leitura sobre a personalidade da peça. — Ouvir aquilo foi um balde de água
fria e me fez questionar sobre a minha situação, porém me mantive calado. — Procure ser
imparcial e cético. Observe-a, analise-a e veja se é realmente o que você procura. Estar envolvido
com uma pessoa que já mentiu para você, que já agiu e tomou decisões por você, pode não ser
uma boa aposta.
— Esse foi o meu receio desde o início. — comentou, Paulo. — Eu não queria interferir, mas
sabia que pelo menos, deveria lhe dizer onde encontrá-la. Eu concordo com o Jhonatan para ser
imparcial e cético.
— É complicado porque quando a vejo a única vontade que tenho é de fodê-la até o
esquecimento. — resmunguei, chateado.
— E onde entra o BDSM nesse desejo? — indagou, Jhonatan seriamente.
E aquela pergunta desceu como uma avalanche... Eu a amava, mas o meu desejo era de estar
com ela e não praticar. “Eu a queria para mim, mas não a queria como minha masoquista?”, pensei
confuso.
— Agora entendo o que você diz em ser cético e imparcial.
— Como disse, você precisa levar isso lento.
— Mas Willian, você não consegue vê-la com outro Dominador, certo? — perguntou, Paulo.
— Mas esse não é o meio, Paulo. — cortou, Jhonatan. — Ciúmes não é racional. Esse tipo de
emoção não pode ser a base para uma relação que já foi um fracasso no passado.
— Talvez se ele a visse com outro Dominador em uma cena, ele conseguiria separar as coisas.
— insistiu, Paulo.
— Ou ele poderia ter um encontro baunilha com ela e talvez, depois disso, a tirasse do sistema
de vez. — resumiu, Jhonatan
— Um reencontro? Algo que daria a ele um ponto de partida... — comentou, Paulo.
Aquela conversa toda era loucura. Eu não precisava ver Lorraine com um Dominador para ter
certeza que não me sentiria bem. Contudo, a ideia de ficar com ela de uma forma baunilha não
era ruim... e se Jhonatan estivesse certo, sobre ser apenas emocional? E se o que eu sentia por ela
fosse algo que nutri durante todos esses anos, mas que no final não era o que eu realmente
procurava?
— Ao invés de ajudar vocês colocaram mais dúvidas. — confessei, irritado.
— Não acho um problema você sair com ela, jantar, dançar e fazerem sexo. O problema está
em tê-la como sua masoquista. Talvez ela não seja a melhor peça para você. — resumiu, Jhonatan.
— Eu a conheci, Jhonatan, acredite quando eu digo que da parte dela também é emocional.
Ela ama de verdade o Willian.
— Então veja... — começou ele, irônico. — ...Onde vocês veem amor, eu vejo insanidade. Eles
tinham um relacionamento não convencional. Não vou chamar de BDSM porque dentro da liturgia a
única coisa que havia entre os dois era o consenso. — resumiu, lacônico. — Não tinham
maturidade, estrutura e responsabilidade. Viveram uma paixão da mocidade e trouxeram de
forma errada para fase adulta. Os dois cultivaram um sentimento, mas quem garante que é
verdadeiro? Houve mentiras, traições, falta de diálogo, perdas e danos, então onde entra o amor
nisso? — indagou, seriamente. — Só porque vocês dois descobriram que tinham desejos diferentes,
mas que se completavam, não quer dizer que era uma relação, era apenas uma exploração desses
desejos. Você quase a matou e por muito pouco não foi preso, então novamente, onde está o amor
nisso? Vocês tiveram anos para viver, aprender, amadurecer e evoluir. Diante de tudo o que eu e
Paulo ensinamos para você, diante de tudo o que você viu e viveu no BDSM acha realmente que
essa relação é saudável e pode ser vindoura?
O silêncio que caiu na mesa foi sepulcral. Jhonatan sabia como colocar as palavras de forma
clara, esclarecedora e muito dura, diga-se de passagem. Eu não podia me dar ao luxo de ignorar
o que ele havia dito, até eu mesmo, muitas vezes me questionei sobre o que eu sentia e
aparentemente voltava à estaca zero. Eu não podia negar o desejo que eu sentia por ela e
também não podia ignorar o fato de que quando pensava nela, não pensava como masoquista...
Era muito confuso... Eu estava exausto, casado fisicamente e emocionalmente abalado.
— Bom... — incitou, Paulo. — Acho que Jhonatan te deu muito no que pensar.
— Sempre que falamos sobre o BDSM eu nunca a vi como minha masoquista. Sim, eu tenho
desejos por ela e não vejo como separar, no momento, o que sinto com o que eu preciso. Parecia
para mim, que as coisas estavam ligadas, mas não estão.
— Então mantenha uma relação apenas baunilha com ela. — resumiu, Paulo.
— Eu acho que é a melhor saída. — concordou Jhonatan. — Não há necessidade de pressa.
Você vem fazendo um trabalho muito bom com a masoquista de ontem, que por sinal, corresponde
muito bem às suas expectativas. E como para mim, BDSM não envolve sexo, acho natural e normal
você ter as duas, desde que ambas estejam de comum acordo
— Não vejo Lorraine aceitando-o com outra masoquista. — comentou, Paulo com sarcasmo.
— Algo que deve ser trabalhado. — disse, Jhonatan.
— A pequena de ontem não mora aqui, ela é de Goiânia. — disse, chateado.
— Pode ser um empecilho, mas não um problema. Você pode sair daqui em um domingo à
noite e voltar na terça à tarde.
— Não vai funcionar, Jhonatan.
— Se você não tentar, nunca vai descobrir. — resumiu, sorrindo. — Porque para sexo, você
tem Lorraine, certo? — resumiu, colocando-se de pé. — Tenho alguns assuntos para resolver que
não podem esperar mais. Antes de sair passo em sua sala para falar com você, Paulo. Boa sorte,
Willian. — desejou, se retirando do restaurante.
Eu não conseguia imaginar a cena que ele havia descrito... Como conseguiria viajar duas ou
três vezes ao mês para Goiânia para ter uma sessão? Era meio louco e cansativo. Além do mais,
como Paulo havia dito: não havia maneira de Lorraine aceitar ser minha namorada ao mesmo
tempo em que eu tinha uma masoquista, porque na cabeça dela ela poderia ser duas coisas e
para falar a verdade, na minha também.
— Não vá por esse caminho, Willian.
— Acha louco também?
— Não, pelo contrário, acho ponderável, mas quanto ao sentimento, cada um pensa de uma
forma diferente. Eu acho totalmente aceitável o que ele disse em todo o resto.
— Explique.
— Eu apenas não desistiria. Porém, estou falando de mim, isso não serve como conselho.
— Não quero desistir. — confessei, chateado.
— Então tente. — incitou, abertamente. — Não comece uma relação S/m com Lorraine. Vá
para o baunilha, veja como vai se sentir ao estar com ela novamente. Leve isso lento, não há motivo
algum em apressar as coisas.
— Certo.
— Agora, quanto ao seu cansaço... o que faz aqui esta hora da manhã?
— Vim para falar com você, precisava conversar...
— Certo, já conversamos, agora vá para casa, Willian, você está morto e ainda segue de pé.
— resumiu, colocando-se de pé
— Eu não consigo dormir...
— Tente, meu amigo. — Bateu no meu ombro, antes de deixar o restaurante.
Minha cabeça estava explodindo de perguntas! Como diabos iria conseguir seguir adiante com
a ideia de ter uma namorada e uma masoquista? Para mim, as duas coisas se completavam... não
conseguia conviver em uma relação BDSM 24/7 e também não conseguia viver sem um
relacionamento BDSM, então ondei diabos eu ficaria? Apenas com o baunilha? Não era uma boa
aposta, pelo menos, não para mim.

Patrícia – {slave paty} Mestre Shadow


Tínhamos chegado de Parati na noite anterior e mesmo com o cansaço da viagem, eu estava
animada para começar a trabalhar. Diante da promessa do Mestre de mim, de que, ali dentro eu
seria apenas uma secretaria, eu estava ainda mais ansiosa. Por alguns minutos pensei que não
daria certo, mas como confiava Nele, sabia que daríamos um passo de cada vez.
Apliquei uma maquiagem suave e separei um terninho com saia lápis e saltos alto. Eu adorava
salto dez e nunca foi um problema para mim andar ou trabalhar com eles. Estava prendendo meu
cabelo em um coque elegante, quando Mestre de mim entrou no quarto.
— Bom dia, Mestre.
— Bom dia, minha menina. — Tínhamos quartos separados, apesar de dormirmos juntos, não
compartilhávamos os armários.
Notei pelo canto do olho, que Ele havia se sentado em uma poltrona que havíamos comprado
juntos quando decoramos a casa. Foi um dos dias mais divertidos que tivemos, desde que me mudei
para sua cassa.
Eu não sei o que havia me dado, mas me senti extremamente sensual naquele momento. Vê-lo
ali, me observando, olhando atentamente para os meus movimentos, me deixou excitada. Então, me
sentindo atrevida e um pouco perversa, fui até à cômoda e peguei um par de meias 3/8 de seda
negra, sentei-me na cama e ergui a perna, enquanto lentamente colocava a meia. Obviamente não
houve qualquer reação do Mestre, Ele era controlado demais para se deixar levar. Porém, sua
reação não me abalou, pois estava acostumada e também não diminuiu meu entusiasmo.
Ergui a outra perna colocando a outra meia, levantei-me e coloquei meus saltos. Ali eu tive uma
reação sua, um resfolegar suave, mas audível. Virei de costas para o Mestre e soltei o roupão, eu
estava completamente nua, usava apenas as meias e os sapatos. Eu sabia o quanto o Mestre
gostava de me ver com saltos altos, era um fetiche e eu amava satisfazê-lo.
Voltei novamente para a cômoda – ainda de costas para Ele – e tirei de lá, um conjunto preto
de lingerie. Coloquei o sutiã, ressaltando bem meus seios e depois me abaixei para colocar a
calcinha e foi ali que eu o peguei. Ele gemeu alto.
— Sentindo-se atrevida essa manhã, minha cadelinha?
— Talvez... — disse, me virando para Ele. — Não sabia que o Mestre era um voyeur.
— Gosto de vê-la.
— Hmm... — murmurei, indo até à roupa que havia separado para essa manhã.
Eu não vi, nem mesmo ouvi, mas no momento em que fiz questão de me abaixar para colocar a
saia, Ele já estava lá, com seu membro teso encostado em minha bunda. A excitação aumentou
drasticamente. Coloquei-me ereta e virei o pescoço para vê-lo.
— Eu amo você. — confessou, com a voz embargada de emoção.
Eu sabia, no fundo eu sentia o seu amor. Obviamente jamais iria questioná-lo. O seu amor era
um presente único que eu conservaria e cuidaria com todo o meu coração. Claro que a sua
declaração me deixou ainda mais atrevida.
— É emocional. — disse, seriamente.
—Sim, é. — respondeu, simplesmente. No entanto, nem Ele e nem eu, saímos do lugar.
Estávamos em nossa bolha, em um momento único para ambos.
— Isso é questionável? — indaguei mordendo os lábios, evitando sorrir.
— Duvido muito disso.
— Uma emoção baunilha. — afirmei, levantando a sobrancelha.
— Isso é questionável. — sorriu, beijando meu ombro.
— Amor é uma emoção única e poderosa.
— Estou aprendendo. — afirmou, colando seu corpo ao meu. Suas mãos agarraram meus
quadris, pressionando minha bunda contra seu pênis.
— Bem, você sabe... — comecei lentamente, lambendo os lábios. — Isso requer medidas
drásticas.
— Possessivo... — resmungou, me segurando firme. — ciumento, controlador e dominante.
— Acalorado, eu diria.
— Altamente discutível. — argumentou, mordendo minha orelha.
— Requer medidas drásticas. — gemi, não querendo perder a rodada.
— Estou de acordo. — E foi ali que eu perdi, virei-me para Ele e com muita audácia, eu o
beijei. Sabia que era errado, mas fiz assim mesmo.
— Isso não te dá um poder que você não tem. — afirmou, o Mestre sem fôlego.
— Jamais pensaria assim. — afirmei, veemente. — E também jamais usaria desse presente
para ser impertinente.
— Essa é a minha menina. — Ele voltou a me beijar assumindo o controle.
Moldei meu corpo ao seu e devolvi o beijo com ternura e amor. Retribuindo e agradecendo o
seu sentimento.
Pela primeira vez, fizemos amor. Foi lento, suave e muito excitante. Suas mãos e boca estavam
em todos os lugares. Eu o sentia não apenas fisicamente, mas emocionalmente e intimamente. Foi um
dos momentos mais lindos que tivemos.
O amor era um sentimento poderoso, único e indescritível. Quando acontece dentro do nosso
estilo de vida, ele se torna ainda mais acentuado, porque tudo o que você precisa para ser
duradouro, já foi conquistado e era regado dia após dia. A confiança, empatia, carinho, cuidado,
disciplina, castigo, compreensão, respeito, evolução e aprendizado, eram constantes e diários. A
união de duas pessoas que sabiam o que queriam e buscavam por isso.
A caminhada era longa e árdua. Ledo engano de quem acreditava que o BDSM era apenas
chicotinho e um Dominador rico. Infelizmente as pessoas usavam desses estereótipos para camuflar
a verdade. BDSM era duro, doloroso, cru e havia uma hierarquia que devia regiamente ser
respeitada. Não era fácil e nem sutil. A entrega, a serventia, a submissão não era para qualquer
um. Abrir mão do controle, se entregar a alguém e confiar que a pessoa vai ser responsável por
sua vida era a coisa mais difícil a ser feita. Eu fui presenteada e tive muita sorte ao encontrar um
Mestre integro e responsável. Infelizmente, nem todo mundo tinha a mesma sorte.
— Perdi você. — comentou, Mestre sem fôlego ao meu lado.
— Não... estou bem aqui. — afirmei, carinhosamente. — Estou muito honrada pelo sentimento,
Mestre. Agradeço de coração e de coração eu juro ao Senhor que vou cuidar muito desse
sentimento.
— Ele não vai tornar as coisas mais fáceis para você.
— Não desejo que nada mude.
— Não vai, minha menina. — jurou, voltando a me beijar. Aquele beijo foi dominador, havia
reverência, mas ele também me marcava como sua. Era simplesmente poderoso.
Infelizmente, aquele momento não durou muito pois ambos tínhamos que ir trabalhar. Tive que
tomar banho novamente, o que não foi muito do agrado do Mestre, mas eu precisava, íamos
trabalhar e eu não podia ir com cheiro de sexo.

***

Durante o dia me concentrei em todas as finanças e agendamento para com os clientes.


Tínhamos que ter um dia específico para pagamentos de fornecedores e recebimento de produtos.
A coisa toda funcionava de forma aleatória e constante, aquilo precisava de organização. Fiquei
tão envolvida no trabalho que não percebi a hora passar, quando dei por mim, já era duas da
tarde, tinha definitivamente pulado o almoço.
Atordoada olhei para cima, vendo o Mestre de mim ou melhor o Paulo me observando
atentamente...
— O quê? — soltei, abruptamente. Ele não respondeu e sua falta de resposta me fez pensar
em minha resposta... — Bem... as vezes acabo perdendo a noção da hora.
— Você precisa se alimentar.
— Evidentemente que sim, mas me perdi nessa bagunça. — anunciei, apontado as pastas e
lista de fornecedores em cima da mesa.
— Bagunça? — indagou, franzindo o cenho.
— Desorganização. — enfatizei, mordendo os lábios. Era meio confuso ter o Mestre ali e ser
apenas sua secretária.
— Isso não explica saltar o almoço.
— Para mim parece bastante justificável. — respondi, recebendo de Paulo um olhar frio.
— Você tem uma hora de almoço, porque usar desse tempo onde você pode relaxar, para
continuar trabalhando?
“Que fofo”, pensei carinhosamente. Ele só estava tentando cuidar de mim, era compreensível.
Mesmo trabalhando juntos e com a promessa de que eu seria apenas a “secretária”, era difícil
deixar de se preocupar.
— Vou pedir para entregarem meu almoço aqui. — resumi, calmamente. — Assim, não perco
meu horário de almoço.
— Não gosto disso.
— Inicialmente não vejo outra alternativa. — afirmei, não retrocedendo. Eu sabia que estava
empurrando, mas eu precisava saber se aquela junção daria certo. — Quero deixar tudo
organizado antes de Jhonatan voltar. Vou copilar todos esses dados e colocá-los no programa que
vou instalar na rede. Assim será mais fácil de procurar e organizar os pedidos e datas de
pagamento.
— Datas de pagamento?
—Sim. Não vamos fazer pagamentos todos os dias. Já escrevi um e-mail para todos os nossos
fornecedores esclarecendo que a partir de hoje, todos os pagamentos serão feitos apenas na
segunda-feira. E o recebimento de mercadorias, apenas na sexta.
— Muito eficiente. — O elogio não estava apenas nas palavras, mas também em seu olhar.
— Eu sei. — afirmei, sentindo-me a menina super poderosa. — Vou enviar o e-mail para sua
caixa de entrada, para sua aprovação.
— Faça isso. —acenou, concordando.
Assim que enviei o e-mail para ele e terminei de separar as pastas de fornecedores, resolvi
dar uma pausa para comer alguma coisa. Eu não gostava da ideia de desapontá-lo, apesar de
ser sua secretária aqui no castelo, eu ainda seguia sendo sua escrava lá fora e eu tinha ordens
rigorosas sobre a minha alimentação.
— Vou ao restaurante comer alguma coisa.
— Almoçar Patrícia, você vai se alimentar adequadamente. — Não era um pedido, era uma
ordem. Eu sabia que tinha regras a serem cumpridas e não o desobedeceria novamente. Sabia o
quanto era importante uma refeição adequada.
— Sim e já vou deixar a cozinha avisada para entregarem meu almoço diariamente.
— Não faz bem pular o almoço.
— Eu sei e não vai voltar a se repetir.
— Aprecio isso.
— Até breve.

***

A semana correu tranquilamente, de fato, foi muito bom trabalhar com o Paulo. Aprendemos
muitas coisas juntos e tanto eu quanto Ele estávamos satisfeitos com a mudança junto aos
fornecedores. Claro que apesar da organização, veio também o tumulto com o primeiro dia de
pagamentos. A fila no corredor era grande, mas era mais fácil de lidar do que sermos
interrompidos a cada dez minutos quando uma ordem de pagamento chegava.
Aos poucos fomos caindo em uma rotina agradável. Willian ficou com a organização da
divisão dos produtos, Paulo com as ordens de pagamentos e eu com os pedidos, o que tornou o dia
no escritório muito mais fácil para todos.
Na noite em que Jhonatan chegou, estávamos no castelo. Mestre de mim ainda estava me
poupando, pois em nossa última sessão, minha pele havia ficado machucada e o tempo de
recuperação era de suma importância para evitar qualquer tipo de infecção.
Jhonatan se aproximou do Mestre de mim para conversar e obviamente eu não pude deixar
de ouvir a conversa. Saber que Suzana e Ele haviam feito a negociação e que ela estava de volta
ao castelo foi uma notícia agradável. Eu sei que a caminhada dela estava apenas começando, que
em sua frente havia um caminho longo e árduo, porém, eu desejava que ela se encontrasse e que
fosse perseverante e feliz. Durante muitos anos e até atualmente eu continuava aprendendo,
estudando e juntos, Mestre de mim e eu, trabalhávamos testando nossos limites e práticas novas.
Carinhosamente, pedi ao Mestre de mim para poder ver Suzana, o que não foi possível
naquele dia. Quando o assunto girou em torno de Lord Fire e Evil eu fiquei tensa. A pequena sub
do Lord Evil estava extremamente debilitada, o que era notável para qualquer um que a
observasse. Eu acreditava que era depressão, compartilhei isso com o Mestre de mim, mas como Ele
havia dito “não se envolva em uma relação, não podemos fazer nada até que ela peça por
ajuda”. Eu estava começando a me cansar daquela resposta. Jamais deixaria de dizer como me
sentia ao Mestre de mim, aprendi nas duras penas o quanto é ruim guardar ou omitir qualquer
informação. Eu nunca, jamais deixaria uma sessão seguir adiante se eu não estava me sentindo
bem.
Eu sentia muita dor quando estava no meu ciclo. Tudo em mim ficava mais sensível, até um
simples puxão de cabelo me fazia chorar. Mestre de mim evitava me tocar naqueles dias do mês.
Não demorava muito, três ou quatro dias, mas eram dias reservados apenas para mim. Eram dias
que eu extrapolava em minha dieta, eu comia chocolate praticamente o dia todo. Chorava por
qualquer coisa e tinha cólicas horríveis. Sempre que pensava nisso, ficava imaginando como a sub
de Lord Evil ficava em seu período...
— Onde você está, cadelinha? — perguntou, Mestre de mim, olhando-me atentamente.
— Na Suzana, no meu ciclo e na submissa do Lord Evil. — respondi, calmamente.
Ele me olhava sem conseguir responder. Abriu a boca várias vezes e nada saía. Eu não sabia
o que dizer, eu tinha aquela facilidade de pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Aliás as
mulheres tinham essa facilidade. Podíamos trocar de um assunto ao outro em frações de segundo.
Era natural e normal. Pelo menos eu achava que sim.
— Seu clico só começa semana que vem...? — murmurou confuso.
— Sim, Mestre.
— Hmm... — resmungou, mas não disse nada. Era evidente que Ele estava tentando ligar as
três coisas juntas, mas não conseguia. Deixei para lá, em algum momento Ele desistiria de tentar
entender como funcionava a cabeça das mulheres.
Ficamos mais algum tempo no castelo, antes do Mestre de mim decidir que era hora de irmos
embora. Assim que passamos pela sessão de spanking eu parei para olhar uma cena, onde Lord
Evil espancava a bunda de sua submissa. Nada daquilo fazia sentido para mim. Sua cabeça
estava pendurada, suas mãos soltas nas algemas e seus pés estavam sangrando.
Eu fiquei tão chocada com a inércia daquela sub na cena que não percebi, apenas dei um
passo adiante. Rapidamente meu braço foi agarrado e puxado bruscamente, olhei para cima
vendo o Mestre de mim furioso.
— Vamos para casa, agora!
— Não! — neguei, revoltada. — Aquilo... — disse, apontando para a sub. — ... não parece
prazeroso. Ela está machucada e parece ausente! Não vai fazer nada? Vai ficar olhando como
todo o resto aqui? — Eu não sabia o que havia dado em mim, mas sentia meu sangue fervendo.
— Patrícia, já chega! — Sua ordem de comando reverberou por todo o meu corpo. Senti um
arrepio frio na espinha.
Olhei novamente para a cena, sentindo um aperto no coração. Odiava aquilo, odiava o quanto
as pessoas eram omissas. Derrotada, sentindo-me completamente impotente, afastei-me da cena e
segui o Mestre de mim, para fora do castelo.
Durante todo o trajeto nada foi dito, nem por Ele nem por mim. Eu estava além de muito
abalada, completamente irritada. Odiava a omissão, era para mim, um dos piores defeitos do ser
humano. No estilo de vida em que vivíamos, tínhamos que ter o bom senso, raras eram as vezes em
que havia a necessidade de interferir em uma relação, mas quando havia algo anormal, a
interferência tinha que acontecer. Aquilo não era BDSM era cárcere privado, abuso, estupro e
violência. Não fazia o menor sentido para mim Jhonatan continuar mantendo aquela situação no
castelo.
— Já chegamos. — anunciou, Mestre friamente.
Desci do carro fechando a porta atrás de mim, caminhei até à entrada esperando Ele abrir a
porta. Eu não estava com a cabeça baixa, eu sentia a rebeldia prestes a explodir. Durante anos eu
fui tratada com carinho, respeito e sempre tive meus momentos respeitados. O meu corpo era
respeitado, meus sentimentos e meu psicológico. Ver algo como aquilo não fazia o menor sentido...
todos os anos que passei sofrendo bullying se tivesse alguém lá, se alguém tivesse me protegido,
minha vida não teria sido tão dolorosa como foi. Era irracional para mim observar as pessoas
negando ajudar alguém que precisava de ajuda.
— Você precisa entender... — começou o Mestre assim que entramos.
— Eu não tenho que entender nada. — cortei-o, com aço na voz. — Não preciso entender,
não tenho que aceitar e também não tenho que compactuar com isso.
— O que demônios deu em você? — indagou, colocando as mãos nos quadris.
— Ela não vai pedir por ajuda! — gritei, irritada. — Ela não vai porque ela está depressiva,
ela não vai porque está dominada psicologicamente. Ela jamais vai até você ou ao Jhonatan
porque ela não está ali! Ela está tão profundamente enterrada em sua cabeça que apenas
desistiu. — Limpei as lágrimas que caiam em cascata dos meus olhos.
— O que você quer que eu faça?
— Você é o gerente do castelo, melhor amigo do dono e mais, você é um Dominador, se diante
de tudo isso você não souber o que fazer então estamos fadados ao fracasso.
— Patrícia...
— Não... — neguei, exaurida. — Eu não tive ninguém para me proteger e quanto mais eu
sofria pelo preconceito, mais eu me fechava. Eu estava sozinha! As pessoas compactuam para a
crescente desse tipo de comportamento. Eu só não posso lidar com isso e achar que é normal e
natural. Aquilo já foi muito além do aceitável, pior, vai arruinar a ética do castelo muito em breve.
— Se o mandarmos embora, ela pode não resistir.
— Ela já está perdida, Paulo. — afirmei, inconformada.
— Eu preciso falar com o Jhonatan sobre isso, mas eu prometo a você que vamos achar uma
solução.
— Pelo menos desta vez não está me dizendo que não pode interferir.
— Já terminou?
— Estou sugada e você jamais vai entender. Nunca esteve lá.
— Patrícia, você pode até não acreditar, mas eu entendo o seu lado. Eu sei o quanto você
estava quebrada, mas precisa entender que não podemos simplesmente dizer para parar. Ela é
adulta e pode fazer isso por ela mesma. É difícil saber até que ponto aquilo é real ou uma
fantasia. E se for algo que ela goste? E se for uma fantasia vivida por eles?
— Você realmente acredita que aquilo é uma fantasia? Acha realmente que o estado dela é
normal? — indaguei incrédula. — Então está me dizendo que tudo que aprendi em relação a
palavra segura, ao bem-estar, a consensualidade são irrelevantes?
— Pensamos de forma diferente, agimos de forma diferente. Não generalize. — respondeu,
friamente. —Eu jamais trataria você daquela forma.
— Então acredita que tem algo errado?
— Sim, eu acredito que há algo muito errado ali.
— Então faça alguma coisa, por favor? — implorei, ajoelhando aos seus pés. — Estou
implorando para que você interfira, converse com ele ou com ela. Peça ao Jhonatan para observar
a situação de perto. Alguém precisa fazer alguma coisa! — pedi, chorando.
— Eu vou. Eu prometo a você que vamos fazer algo a respeito.
— Obrigada, Mestre.
— Agora sou seu Mestre?
— Sou toda sua para o que tiver em mente, Mestre. Vou respeitar e aceitar qualquer decisão
tomada pelo Senhor, mas não me arrependo da explosão que tive.
— Não quero que se arrependa dos seus pensamentos, angústias, medos e receios. No entanto
você precisa aprender a controlar o seu emocional, Patrícia. A falta de respeito é algo que eu
abomino e muito em uma submissa.
— Eu sei disso, Mestre. — concordei, mordendo os lábios. — Mas eu não posso conviver com o
fato de que eu não fiz nada por ela se algo ruim acontecer. Não posso simplesmente ignorar o que
eu vi.
— Vá para o quarto, tome um banho e vá dormir. — ordenou, cansado. — Você não vai
visitar Suzana como parte do seu castigo e, também não vai dormir comigo.
— Como desejar, Mestre.
Cansada fui para o banheiro tomar meu banho. O sentimento de impotência sobrepunha-se a
qualquer outro. Eu não me arrependia do que disse, mas lamentava a falta de respeito para com
Ele. Foda-se! Eu não conseguia tirar a cena da minha cabeça. Eu só não conseguia...
Esperava profundamente que o Mestre entendesse minha explosão e não visse aquilo como
abuso pelo fato Dele me amar. Jamais usaria daquele sentimento para me beneficiar ou ser
desrespeitosa. Droga! “Que diabos aquela sub estava fazendo à vida dela?”, pensei chateada.
Resignada saí do banheiro e fui para a minha cama de cadelinha. Ela era aconchegante, mas
não como os braços do Mestre à minha volta, não como sua respiração no meu pescoço e não
como suas pernas jogadas sobre as minhas. Era tão confortável como poderia ser em um
acampamento.
Mestre de mim já estava deitado, então apaguei a luz e me acomodei. Em poucos minutos a
inquietude começou a surgir. Comecei a rolar de um lado para outro sem conseguir uma posição
confortável para fechar meus olhos e dormir.
— Como se sente? — indagou, Mestre preocupado.
— Derrotada. — confessei, voltando a chorar. — Não consigo tirar a cena da minha cabeça.
Eu não posso conviver com esse sentimento de impotência. Odeio saber que ela está sozinha e
vulnerável. Odeio saber que não posso arrebentar a cara dele.
— Parece estar te afetando mais do que imaginei.
— Eu sou uma escrava. — afirmei, calmamente. — Amo servir ao Mestre de mim. O que faço,
a minha entrega e serventia são completamente genuínas. Faço porque o amo, faço porque me
amo e faço porque me sinto bem ao fazê-lo. Quando me entrego ao Senhor, faço de coração.
Então quando vejo aquela mulher naquele estado, me sinto completamente sem chão. Não vejo
prazer nem serventia naquilo.
Ficamos por longos segundo sem dizer nada, estava começado a me acalmar quando ouvi
Mestre de mim se levantar e colocar um cobertor em cima de mim.
— Durma bem, minha paty.
— O Senhor também. — desejei, sentindo-me um pouco mais calma.
Eu não precisava trabalhar na manhã seguinte. Meus horários eram de segunda a sexta das
oito da manhã às dezenove horas. Uma hora a mais que o habitual para não precisar trabalhar
aos sábados. O sono veio logo em seguida. Foi tumultuado e perturbador.

Paulo – Mestre Shadow

P asmo era pouco, eu estava perplexo. Jamais vi em minha pequena uma


explosão como aquela. Aquele tipo de comportamento passava uma
impressão errada, e no caso de Marco tornava a situação ainda mais
perturbadora. Eu nunca tinha olhado uma cena dele de perto e mesmo que minha paty não tivesse
visto nada, eu teria entrado em ação. Obviamente não fui rápido o suficiente. Simplesmente não
dava mais para protelar a situação, alguma atitude teria que ser tomada.
Não acordei minha cadela quando me levantei. Passei a noite inteira observando seu sono
conturbado. Odiava quando as coisas a afetavam daquela maneira, era tão claro como o dia o
quanto aquela cena a tinha incomodado. Fui para o castelo com um sentimento de dever e de
obrigação.
Não encontrei Jhonatan no escritório, então fui para o meu, a fim de colocar o trabalho em
dia. Não demorou muito para ele aparecer. O cenho franzido e a boca em linha fina,
demonstravam que ele não estava em seu melhor dia e, de fato, não estava. Quando contei a ele
que tive que disciplinar minha menina por conta da submissa de Marco eu vi a tempestade em seus
olhos. Assim como eu, ele havia feito o mesmo com sua escrava.
O problema maior era que ele havia visto a pequena no dia anterior já com os pés
sangrando. Eu e minha paty vimos à noite, o que agravava ainda mais a situação. Não dava mais
para continuar daquela maneira, e para piorar as coisas, Willian entrou no escritório relatando
que Naga ouviu a sub falar a SAFE duas vezes e a sessão não foi interrompida.
A ideia do Willian em colocar a submissa de Evil em contato com paty e a felina não era ruim,
mas fazer Marco aceitar isso sem perceber era outra história. Também tinha o fato de que se o
dispensássemos, não estaríamos resolvendo o problema e sim jogando-o para baixo do tapete.
Jhonatan mesmo furioso, foi sensato em sua decisão. Após receber uma mensagem, saiu me
deixando com Willian. Eu não tinha ideia do que Willian estava tramando, mas sabia que eu não
iria gostar, pois ele protelou muito antes de soltar a bomba.
— Acho que vou trazer Lorraine para o encontro.
— Eu não acho uma boa ideia. — refutei, rapidamente.
— Eu acho. — enfatizou, ainda andando de um lado para outro. — Ela passou por uma
situação mais ou menos parecida. Viveu em um casamento abusivo, não da parte dele, mas da
família. Talvez ela possa ajudar.
— Entendi seu ponto de vista. — assenti, calmamente. — Você precisa falar com Jhonatan.
— Acha que ele vai se opor? — indagou preocupado.
— Em se tratando de Jhonatan e sua felina, eu não arriscaria um palpite.
— A vinda dela poderia ser uma desculpa para o Marco. Ela pode trazer uns produtos do sex
shop. Poderíamos dizer a ele que se trata de um workshop para submissas.
— Uma excelente ideia. — afirmei, de acordo. — Só que eu acho que Marco não vai permitir
ela vir.
— Eu também acho, mas não custa tentar.
— É a única alternativa que nos resta.
— Bobagem! Posso colocar aquele idiota pendurado na parede e mostrar a ele o que é uma
submissão forçada.
— Acalme-se homem.
— Estou tentando. — resmungou frustrado.
Ao imaginar a situação que ele descreveu, comecei a rir. A ideia de ter Marco pendurado era
cômica.
— Que diabos?
— Marco... — disse, entre uma gargalhada e outra.
Eu simplesmente não conseguia parar de rir, era contagiante em graus elevados. O pior de
tudo era que eu tinha o mesmo desejo, mas com Darkness. Eu acreditava e falando honestamente,
esperava que ela pisasse em meu calo novamente. Só mais uma vez, apenas uma mais seria o
suficiente para mim. Nada se resolve com violência, mas a humilhação perante todos os associados
a colocaria na lista negra do BDSM. Tirar a máscara desses Dominadores inescrupulosos estava no
topo da minha lista.
— Estou morrendo de vontade de colocar minhas mãos nele. — anunciou, Willian minutos
depois. — Você não tem ideia do quanto esse cara já me chateou e o quanto eu me sinto
incomodado com aquela sub naquele estado.
— Patrícia ficou furiosa. — confessei, a contra gosto. — Eu nunca a vi daquele jeito, confesso
que depois que sua raiva passou e conseguimos conversar, comecei a entender o quanto daquela
situação a incomodava.
— Foi muito ruim?
— Sim, porque ela já teve muitos problemas que não são iguais, mas que se parecem muito na
omissão. Eu tive que jurar que daria um basta nessa situação.
— Essa situação não incomoda você, Paulo? — perguntou, com genuína curiosidade.
— Willian... — comecei, tentando por meus pensamentos em ordem, para dizer a ele
exatamente como eu via a situação. — ... vou te dizer o mesmo que disse à Patrícia; eu não sei o
que foi acordado entre eles, onde nós vemos abuso, pode ser uma cena de humilhação acordada
entre os dois. Também tem o fato de que eu nunca interferi em uma relação, acho feio e abusivo. E
confesso que eu nunca tinha percebido a situação, até você vir me falar. Não é como se eu ficasse
olhando a submissa de outro Dominador. Pode passar a impressão errada.
— Eu entendo, mas... Porra! Ela ficar mancando, trabalhando ao lado dele... Quer dizer,
trabalhando não, fazendo cenas e passando dia e noite aqui. Eu acho um absurdo e abuso de
poder.
— Patrícia acha que ela está depressiva.
— Literalmente quebrada. Não há reação nenhuma por parte dela.
Não dissemos mais nada, cada um perdido em pensamentos. Eu não sabia como agir, o que
fazer... O problema todo era de nós interferirmos e depois ela dizer que era o que queria. Era
complicado...
— Se você o chamasse para conversar?
— Já tentei falar com ele e ele disse para eu não me meter.
— Ele disse a mesma coisa para mim.
— Eu acho que Jhonatan vai falar com ele... — comentei, preocupado. — Mas não agora, ele
está treinando a Suzana e isso requer tempo.
— E para quando fica o encontro com as subs?
— Eu vou falar com a Patrícia para ver se ela arruma algo e também Jhonatan precisa
concordar.
— Sabe, quando encontrei o BDSM achei que tinha encontrado uma filosofia de vida bem mais
evoluída. Hoje vejo que os problemas lá de fora são os mesmos aqui dentro. A questão toda fica
ainda mais absurda porque o bottom literalmente confia sua vida ao Top.
— Fica pior porque aqui dentro, muitas vezes, escondemos a sujeira embaixo do tapete. Lá
fora as pessoas percebem, famílias interferem ou a polícia.
— Isso quando as vítimas dizem algo. — disse, Willian.
— Exatamente...
— É retórico, aqui também temos o mesmo problema. — concluiu, Willian. — E se chamarmos
alguma autoridade?
Um arrepio frio reverberou por toda a minha espinha me fazendo gelar até aos ossos. Uma
coisa era você achar que tinha algo errado, outra totalmente diferente era envolver uma
autoridade na situação. Além do castelo ser fechado, seríamos acusados de cúmplices. Não
acabaria bem para ninguém e só deixaria margem para Marco sair daqui, atrapalhando a
tentativa de ajuda para a sub.
— Vamos com calma, Willian.
— Deve haver entre os associados algum policial, psicólogo, delegado, advogado...qualquer
uma autoridade que possa ajudá-la.
— Eu vou verificar isso, mas não posso fazer absolutamente nada sem a permissão do
Jhonatan.
— Eu aprecio muito isso.
— Eu duvido que Jhonatan pense da mesma forma.
— Eu sei que isso pode ser ruim para o castelo, mas algo precisa ser feito. Estamos falando de
uma vida aqui.
— Eu sei... — murmurei consternado por perceber que tínhamos deixado a situação ir longe
demais.

Willian – Lord Fire

Esperei passar o final de semana para descer ao Rio e ter meu primeiro encontro com
Lorraine. Conversávamos por horas todos os dias ao telefone e todos os dias nos aproximávamos
ainda mais. Eu segui o raciocínio de Jhonatan em parte, eu estaria com ela, porque era algo que
eu queria muito, mas manteria à margem uma relação S/m. Precisávamos voltar a nos conhecer
para dar um passo adiante. Eu queria estar com ela em todos os sentidos e não estava disposto a
abrir mão disso.
Chegando ao Rio, fui direto para o endereço que ela havia me dado de sua casa. Não
demorou muito para eu encontrar o local. Desci, observando a casa simples, mas muito bem
cuidada. Bati a campainha e aguardei, logo em seguida minha menina apareceu. Ela era como um
dia quente no inverno. Seu sorriso irradiava felicidade.
— Bom dia! — Não dei bom dia, avancei no momento em que ela abriu o portão, grudei em
sua cintura e a beijei.
A beijei faminto, até meio desesperado. Eu queria muito ir devagar, mas porra! O desejo de
marcá-la, de vê-la gemendo de dor e prazer, de satisfação, era quase incontrolável.
— Bem, isso que eu chamo de bom dia. — comentou, sem fôlego.
— Quarto, agora!
— Pensei que iriamos devagar...
— Acredite, pequena está lento... muito lento.
— Oh!
— O quarto, Lorraine.
Ela se virou e correu para o quarto comigo em seu encalço. Assim que entramos, puxei seus
cabelos, segurando-os em punho, enquanto beijava sua boca novamente.
Eu não me via fazendo sexo baunilha, mas eu podia apimentar a situação para que não
ficasse tão sem graça. Eu sabia o quanto ambos desejávamos nos entregar, mas não era o
momento. Mordi seus lábios forte, sugando-os depois. Ela gemeu alto e eu podia apostar que sua
boceta estava molhada.
Desci minha boca, para o seu pescoço enquanto atormentava seus mamilos com puxadas
agressivas e beliscões.
— Willian...
— Nem bem começamos e já está implorando?
— Por favor? — choramingou, no momento em que meus dentes cravavam seu pescoço.
— Não... — respondi me afastando, encontrando seus olhos embaçados, o pescoço vermelho e
as maçãs do rosto coradas. “Tão linda...”, pensei, atordoado.
— Onde fica a cozinha?
— Hum?
— A cozinha?
— Lá fora. — Revirei os olhos e deixei o quarto à procura da cozinha.
Entrei no cômodo abrindo portas e gavetas à procura de objetos que apimentariam o sexo.
Peguei uma colher de pau e uma carretilha de cortar pizza. Voltei para o quarto com os objetos
em mãos. Lorraine abriu os olhos de par em par quando me viu com os utensílios nas mãos. Ela
abriu a boca para perguntar, mas a cortei antes disso...
— Tire suas roupas. — pedi com um tom de voz, que não dava abertura para discutir.
Fiquei ali, observando-a tirar peça por peça. Seu corpo não havia mudado muito. Um pouco
mais de quadris – que para mim eram perfeitos – seus seios estavam maiores e todo o resto seguia
igual. Ela era linda há quinze anos atrás, hoje ela era extraordinária. Sua boceta era depilada,
lisinha... olhar para aquela parte que durante anos pertenceu apenas a mim, deu-me água na
boca.
— Vem aqui. — Ela veio rapidamente, se colocando à minha frente.
Joguei os objetos sobre a cama, voltando a beijar sua boca, tocando seus seios como eu sabia
que ela gostava e eu também. Eu a queria excitada antes de fodê-la além da razão. Fui
empurrando-a lentamente para a cama até ela cair sobre ela, com o meu corpo e minha boca
colados nela. A sensação de estar com ela novamente era incrível.
— Abra as pernas e agarre seus joelhos. — pedi ofegante, colocando-me de pé.
Peguei a colher que havia soltado no colchão e parei diante dela, observando a sua boceta
rosada e molhada. Acariciei sua entrada com o dedo, fazendo-a gemer em resposta. Eu circulei,
acariciei, mas não toquei em seu clitóris, eu a queria se contorcendo de excitação.
Peguei a colher e passei na parte de trás de suas coxas e em sua bunda, logo depois dei a
primeira batida. Voltei a acariciar a parte afetada com a colher e voltei a bater. Observava sua
reação a cada batida, sua bunda e coxas estavam vermelhas e em alguns lugares começando a
ficar roxo. A mistura de dor e prazer, deixaram seus gemidos mais altos e mais pronunciados, a
vontade de continuar era grande, mas era o momento de parar. A falta de prática a tinha deixado
menos receptiva à dor.
Observei suas pernas vermelhas e sua bunda roxa, apreciando as marcas que havia deixado
em sua pele. Não era uma cena, não tínhamos combinado nada, então era suficiente para
apimentar o sexo.
— Fique de quatro. — exigi, tirando minha roupa.
Aquela bunda deliciosamente vermelha foi minha perdição. Arranquei um preservativo de
dentro do bolso e o coloquei, me aproximei da cama agarrando seus quadris, puxando-a mais
para a ponta. Lentamente passei os dedos em seu canal, admirando o quanto ela estava molhada.
Alcancei a carretilha ao lado para começar a brincar. Aquele objeto deixava marcas maravilhosas
e a dor que causava, dependia da força que se colocava.
— Tão receptiva. — comentei, passando a carretilha com força suficiente para causar dor em
suas costas.
Segurei meu pênis pela base e, sem acariciar ou avisar, introduzi meu pau em seu canal, ao
mesmo tempo em que voltava a passar a carretilha. Sua boceta apertou, resistindo à invasão.
—Willian! — Seu grito agudo me congelou no lugar.
Trinquei os dentes ao perceber o quanto ela estava extremamente apertada. Balancei a
cabeça chocado e muito apreensivo com a ideia de tê-la machucado.
— Há quanto tempo está sem sexo? — indaguei, irritado.
— Cerca de três anos.
— E não pensou que deveria ter me dito isso?
— Eu estou bem — respondeu, estremecendo. — Não foi a penetração, foi a carretilha.
Olhei as pequenas gotas de sangue saírem dos riscos da carretilha. Cerrei os dentes frustrado
ao ver a situação. A falta de prática fazia com que a masoquista sentisse mais dor do que era
acostumada. A minha irritação saía em ondas. Retirei meu pau lentamente do seu canal, arrancando
a maldita borracha dele.
— Não foi a penetração, Willian. Juro a você.
— Vou cuidar das suas costas. — disse, ignorando seu lamento, indo para o banheiro. Ela não
tinha banheira, então liguei o chuveiro e deixei a água correndo enquanto voltava para o quarto.
— Venha, vou lavar suas feridas.
— Você é muito frustrante! — exclamou, irritada.
— Você não imagina o quanto.
Eu a levei para o banheiro, deixando a água correr em suas costas e nádegas. Meu pau
voltou à vida quando seu corpo estremeceu ao fazer contato com água.
— Quer tomar banho comigo? — perguntou ela, com a voz sensual.
— Não.
— É sério, Willian eu estou bem.
Não respondi, não sabia porque estava sendo tão frio, na verdade eu sabia, só não queria
aceitar. Eu simplesmente estava apavorado com a ideia de voltar a machucá-la. A ideia de perdê-
la novamente por uma falta de controle da minha parte, foi o que me impediu seguir adiante.
— Eu juro, Willian, não foi ruim, eu só...
— Está com limite baixo para dor. — falei, concluindo por ela.
— Faz muito tempo. — confessou, balançando a cabeça.
— Eu sei...
Mais uma vez Jhonatan estava certo. A ideia de começar com o baunilha foi extremamente
sensato. Eu precisava ir com calma se quiséssemos trabalhar juntos na relação S/m. Ela não estava
pronta e aparentemente nem eu.
Peguei a toalha e desliguei o chuveiro. Ela aceitou minha mão, deixando o box. Sequei as suas
costas suavemente, evitando que a fricção da toalha fizesse com que os cortes voltassem a sangrar.
Meu corpo reagiu ao dela, ao secar seus mamilos. Gotinhas de água escorriam do seu cabelo,
caindo entre o vale dos seus seios. Baixei minha boca, lambendo gota por gota. Subi com a língua
acariciando seu mamilo, antes de prendê-lo entre os dentes e em seguida sugá-lo com força.
— Ahhh... — ela gemeu, jogando a cabeça para trás, dando-me mais acesso.
Soltei seu mamilo indo para o outro, dando a ele a mesma atenção. Abri suas pernas e toquei
sua boceta. Massageei seu clitóris enquanto sugava seu mamilo, não demorou muito para ela
explodir na minha mão. Com as pernas trêmulas e sorriso bobo no rosto, peguei-a nos braços e a
levei para o quarto, baixando seu corpo sobre a cama.
Caminhei até à minha calça, tirando outro preservativo e o colocando. Voltei para a cama e
antes de tomá-la novamente, descei minha boca para o seu clitóris, sugando-a a ponto da dor.
—Ohh Deus! — gemeu, tentando sair das minhas mãos.
— Fique quieta! — pedi, dando um tapa em seu púbis.
— Eu não consigo! — Era por aquele motivo que eu odiava sexo baunilha. Sem amarras, sem
contenção, não havia nada para prendê-la como eu queria.
Segurei sua cintura mantendo-a firmemente no lugar, enquanto assaltava sua boceta com a
boca. Eu alternei entre mordidas, lambidas e sugadas até ela explodir em minha boca. Seus
gemidos eram altos, ela tentava se livrar, mas a mantive cativa sob minhas mãos. Seu corpo tinha
uma camada de suor, suas pernas estavam trêmulas e ainda assim eu não parei. Eu passei anos da
minha vida sonhando em fazer isso novamente, em estar com ela outra vez.
Evitei seu clitóris tempo suficiente para ela se recuperar, para logo depois voltar a chupá-lo
novamente. O sabor da sua boceta na minha boca deixou-me excitado, ela tinha cheiro natural,
sua vagina cheirava como deveria ser. Tudo nela me fascinava, a verdade era que eu nunca havia
superado, Lorraine e esperava que nunca mais acontecesse de nos separar. Era normal e natural
desejar que a mulher que amava com todas as forças permanecesse ao meu lado.
— Eu não consigo mais, Willian.
— Mais uma e então eu vou fodê-la até que você goze no meu pau, novamente.
— Ohhh... — gemeu, enfiando as unhas no meu coro cabeludo. “Se eu tivesse cabelos, ela
teria arrancado um punhado”, pensei sarcástico.
Continuei chupando seu clitóris, gemendo, enviando vibrações para aquele pacote de nervos.
Ela voltou a gozar, tentando desesperadamente me afastar do meio das suas pernas. Eu a soltei
agarrando seus tornozelos, colocando-os nos meus ombros, deixando-a bem exposta para
penetrá-la.
Observei seu rosto, enquanto a penetrava até às bolas com uma única investida. Seu corpo se
esticou, sua vagina protestou e eu nunca estive mais excitado. Ela me apertava sem piedade
alguma. Trinquei os dentes enquanto investia duro dentro dela.
— Mais forte! — exigiu, extremamente excitada.
Se ela queria mais forte, eu daria a ela mais forte. Retirei-me dela e a virei de costas,
trazendo seu belo traseiro vermelho para cima. Voltei a penetrá-la, investido duro, enquanto
voltava a bater em sua bunda já vermelha. Cada vez que minha mão descia, seu corpo estremecia
e sua boceta me apertava. O suor escorria pelo meu rosto e peito, meus dentes estavam trincados
e o pensamento que eu tinha que esperá-la me fazia estremecer.
Com mais algumas investidas, seu corpo estremeceu e os espasmos dentro da sua vagina
indicavam seu orgasmo, além do seu grito agudo. Voltei a segurar sua cintura investido mais rápido
e batendo forte dentro dela, até sentir minhas bolas encolherem e disparar jatos de porra dentro
da merda da camisinha. Minhas pernas estavam dormentes e minha respiração ofegante. Porra! A
mulher ia acabar me matando.
Exausto, retirei-me dela e fui para o banheiro descartando a camisinha no lixo. Entrei embaixo
da água quente, deixando que ela fizesse o seu trabalho. Nunca fui do tipo de ter DR depois do
sexo. Ficar trocando ideias e falando sobre futilidades não era comigo. Esperava que ela se
lembrasse disso.
Lorraine

desejo de ir até ele bateu forte, mas eu conhecia Willian o suficiente para saber que não era
O do tipo de conversas depois do sexo. A situação era constrangedora, pois compartilhamos um
sexo incrível e ao terminar ele simplesmente se afastou. Eu não gostava de homens românticos e
melosos, mas voltar a estar com ele era diferente, desta vez era diferente... ao menos eu
imaginava que sim... Bufei irritada com o meu raciocínio, eu sabia como Willian era, não haveria
romance e nem trocas de beijinhos apaixonados. Claro, havia excitação e paixão na hora do sexo,
mas depois... não... depois não havia nada. Deixaríamos o quarto e conversaríamos sobre tudo o
que aconteceu, como eu me sentia, se estava machucada e outras coisas a respeito do momento.
Nada sobre nossa relação. Ele era assim e ponto final.
Ele saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e sem olhar para mim, vestiu a sua
cueca e calça jeans. Eu fui para o banheiro odiando o fato de que, ao menos daquela vez, Ele
podia ter cedido e me tratado diferente. Estremeci diante do pensamento... O que eu queria afinal
de contas? Um relacionamento baunilha? Balancei a cabeça consternada, odiava me sentir
vulnerável, odiava a ideia de que pensava em romance com Ele ao invés de uma relação SM.
***

Depois do banho saí do quarto encontrando Willian sentado na cama.


— Como se sente? — perguntou, olhando-me nos olhos.
— Eu estou com minha bunda dolorida, mas me sinto perfeitamente bem. — Parei sorrindo. —
Longe de estar saciada.
— Seu limite para dor está bem baixo. Não esteve praticando? — Pisquei confusa.
— Pensei que tínhamos conversado sobre isso.
— Sim, mas nunca imaginei que você não brincava com você mesma.
— Não é a mesma coisa... — respondi, cautelosa. — Inicialmente eu até tentei, mas chega um
tempo que vira em frustração.
— Entendo... Nós vamos com calma, não quero apressar nada e também vejo que nem você,
nem eu, estamos prontos para uma relação SM.
— Uma relação baunilha... — comentei, sentindo a amargura daquela palavra na minha
língua.
— Você tem todo o direito de não gostar, mas no momento é o que eu tenho para te oferecer.
Ouvir aquilo foi como um tapa. Tudo bem que ele queria ir devagar, mas porra! Uma relação
baunilha não era o que eu esperava.
— O que você realmente quer? — perguntei, completamente irritada com a proposta absurda
que ele havia feito.
— Nós dois precisamos nos conhecer.
— Eu conheço você.
— Não... — negou, sorrindo friamente. — Você conheceu o garoto que eu era há quinze anos
atrás. Eu sou um homem bem diferente agora, Lorraine.
— Então isso é um namoro? — Observei-o bem de perto analisando sua expressão e no
momento em que ele fez uma careta eu soube que ele também não gostava nada daquela ideia.
— Você precisa de rótulos?
— Eu quero saber onde estou aqui, Willian.
— Bem, eu quero estar com você, mas não vou assumir uma relação SM sem ter a certeza de
que é o ideal para nós dois.
— Então até lá você irá praticar com outras bottoms. — respondi, laconicamente.
— Talvez sim, talvez não... Isso é subjetivo, Lorraine.
Eu estava chocada e para falar a verdade profundamente magoada. Eu não esperava isso
dele, vínhamos conversando há algum tempo, passando horas ao telefone e por um momento pensei
que ficaríamos juntos.
— Eu acho que você está confundindo as coisas aqui. — repreendeu-me, friamente.
— Então me explique. — pedi, indo para a cômoda colocar uma roupa. Essa conversa não era
uma que eu gostaria de ter estando nua.
— Começamos de uma maneira errada. Somos pessoas totalmente diferentes agora.
Precisamos ir com calma e cautela, aprender um com o outro. Qual o motivo da sua pressa?
— Não quero um romance e muito menos uma relação baunilha.
Eu me sentia muito confusa, eu tinha uma ideia totalmente diferente do que ele estava me
propondo. Aquela vulnerabilidade que não pensei que tinha, não estava me deixando pensar ou
ser razoável.
— Então não rotule. — falou, categoricamente. — Eu trouxe muita coisa para você estudar.
Apostilhas, livros que eles vão ajudar você a saber realmente o que eu espero dessa relação. Eu
quero muito poder marcá-la, sentir sua pele estremecer sobre o meu toque. Ouvir você gemer, ver
você chorar pela dor. Poder ver seu corpo explodir em múltiplos orgasmos... Sim, eu quero tudo
isso, quero te proporcionar muita dor e prazer, mas vou devagar, não vou cometer o mesmo erro
da primeira vez, Lorraine.
— Entendo...
— Olha, eu vou pegar o material que eu trouxe para você e se você realmente estiver
interessada em aprender e evoluir, basta ler.
— Claro. — aceitei, concordando. Eu também me sentia confusa, provavelmente era a melhor
alternativa para nós dois.
Enquanto ele ia até o carro, comecei a ajeitar o quarto, estava uma bagunça assim como eu me
sentia. Por um lado, o lado prático, sabia que era a coisa certa a se fazer. Porém o outro lado,
aquele da garota de quinze anos atrás, não deixava de sentir magoada por não ter aquilo que
havia perdido.
— Não fique assim. — pediu, Willian me pegando desprevenida. — Precisamos ir devagar. Eu
quero estar com você, mas não quero fazer isso precipitadamente. Estamos amarrados ao passado
e as coisas mudaram, para mim e para você. — Se aproximou colocando o dedo no meu queixo,
erguendo minha cabeça para encarar meus olhos. — Somos as mesmas pessoas, mas
amadurecemos nossas ideias. Pensamos de forma diferente, agimos de forma diferente, evoluímos.
Acredite em mim quando eu digo que gostaria de tocar um foda-se e realizar todas as minhas
fantasias, mas eu estaria agindo da mesma forma que agi quando éramos jovens e sabemos bem,
como tudo terminou.
— Não era o que eu esperava, mas vou aceitar. Estou tendo um tempo duro para dar sentido
a isso tudo.
— Sei como se sente, não decidi isso do dia para a noite e levei um tempo para aceitar
também. — Olhou-me nos olhos, antes de abrir um largo sorriso. — Odeio DR depois do sexo, isso
não mudou, mas achei fundamental colocarmos tudo em pratos limpos.
— Já está indo embora?
— Não, estou indo foder você novamente. — disse, se aproximando ainda mais.
Ele tinha um sorriso fácil nos lábios, mas seus olhos estavam em chamas. Os músculos da minha
vagina se apertaram com a ideia de tê-lo ali dentro novamente. Talvez, se Ele continuasse
apimentando o sexo não seria tão ruim quanto imaginava.
— Acho que gosto bastante dessa ideia. — Lambi os lábios ao sentir seu pau na minha
barriga. Willian já estava pronto para uma segunda rodada.
— Se só acha, então preciso corrigir para que você tenha certeza. — rebateu, mordendo o
lóbulo da minha orelha, deixando-me sem fôlego.
— Hmm... o que tem em mente?
— Uma porrada de putaria.
— Vá em frente. — Ele encerrou a conversa mordendo o espaço entre meu pescoço e ombro.
Joguei a cabeça para o lado dando mais espaço a Ele, apreciando a dor causada pela mordida.

Patrícia – {slave paty} Mestre Shadow


Eu pensei que com o retorno de Jhonatan ao castelo, as coisas iriam mudar, mas para o meu
completo deleite, ele permitiu que eu continuasse com Paulo, pois ele queria dar a Suzana a
oportunidade de trabalhar ali. O choque foi grande. Olhei em volta me perguntando onde Suzana
ficaria, afinal, eu tinha trabalhado muito nos últimos dias, organizado e mantendo o administrativo
em ordem.
— Algum problema, Patrícia? — indagou Jhonatan confuso com minha falta de resposta.
— Não quero ser indiscreta, mas o que Suzana faria aqui?
— Não é indiscrição. — disse ele sorrindo. — Ela vai ficar trabalhando comigo. Assim que ela
pegar a situação, então vou me retirar e começar a usar do meu tempo para marketing do castelo.
Vou viajar para cidades próximas, fazer o “boca a boca”, já que pretendo manter o castelo fora
dos padrões normais de publicidade e propaganda.
— Já tentou mala direta? — indaguei, curiosa.
— Já fizemos isso para pessoas que conhecíamos. — disse, Willian.
— Tem alguma ideia? — perguntou-me, Paulo.
— Muitas, mas não para o tipo de publicidade sigilosa como Ele quer.
— Não acha isso efetivo?
— Não... Acho que é muito limitado. — respondi, mordendo os lábios. Eu tinha mil ideias para
divulgação, mas nenhuma delas correspondia ao que ele queria.
— Por favor, continue.
— Eu procuraria sites de BDSM de escala séria, para a propaganda. Apenas pessoas que
compartilham o nosso estilo de vida, ou que têm alguma curiosidade acessam à esse tipo de site.
Também usaria blogs do qual acreditamos na procedência para também fazer a publicidade.
— Mas isso seria exponencial, não é o que eu quero.
— Talvez sim, talvez não. Aposto que há algum tipo de questionário a ser respondido para
aderir à associação? — perguntei, duvidosa.
— Sim há. — afirmou, Paulo. — Ele é bem extenso.
— Mas ele é completo? Pode haver perguntas que acabam limitando as respostas. Aposto que
se o questionário for bem elaborado, podemos eliminar só por ele futuros associados indesejáveis.
— Parece promissor. — anuiu, Willian.
— Eu iria ainda mais longe. — declarei, animada. — Eu acho viável fazer munches para a
propaganda do castelo, até workshops para ficar mais divertido.
— Mas seria completamente aberto. — rejeitou, Jhonatan com uma careta.
— Não mesmo! — rebati rapidamente. — Só participaria quem fosse convidado por um
associado. Poderíamos colocar esses encontros nas segundas à noite. Temos salões disponíveis para
isso. Podemos fazer um vídeo do hotel, mostrando aos visitantes todas as nossas acomodações e
também a vasta área para as práticas.
— Eu gosto muito da ideia, Jhonatan. — concordou, Paulo aquecendo meu coração. Ter o
apoio Dele era importante para mim
— Eu acho que esse tipo de boca a boca só daria certo se fosse um bar como o de Pedro.
Para um nível muito mais elevado como o castelo, eu acredito que passaria uma ideia errada,
deixaria a propaganda muito pobre. O dono do Castelo procurando por associados não passa
uma boa impressão.
— Ela é brilhante e pensa muito além. — elogiou, Willian sorrindo.
— Estou acostumada com as exigências de Suzana, aprendi muito com ela.
— Vamos manter isso em sigilo, assim que eu resolver alguns assuntos com Suzana, vamos
voltar a conversar. — pediu Jhonatan. — Parece que a filiação das duas aqui vai ser bem mais
divertido e promissor. — disse ele ao Paulo.
— E muito mais excitante. — confessou, piscando para mim.
Apertei minha bunda sentindo-me excitada. Meu corpo estava em estado de recuperação, a
última vez que praticamos foi no dia em que cheguei a Teresópolis, quinze dias atrás. Estava
sentindo muito falta de ter a mão do Mestre sobre mim. Aparentemente Ele também sentia o mesmo,
já que olhou para mim e começou a rir.
— Em breve pequena, muito em breve.
— Acho que isso é assédio. — comentei, voltando ao trabalho.
Eu não olhei para ver sua reação, mas os seus resmungos eram audíveis e meu esforço para
manter uma cara neutra foi fracassada, quando Willian simplesmente explodiu em gargalhadas.
Juntos, todos nós acabamos rindo diante da situação inusitada.

***

Durante os próximos dias, fiquei à disposição de Jhonatan para ajudá-lo com o novo
programa para pedidos e faturamento. Ele era muito sério e extremamente rigoroso. Eu tinha uma
curiosidade quase insuportável de perguntar a Ele sobre Suzana, mas não o fiz, além de ser
intrusivo, Jhonatan jamais deu esse tipo de liberdade para mim. Obviamente devo ter deixado isso
claro a ele, porque ele disparou me pegando de surpresa...
— Você vai acabar engolindo a língua se continuar mordendo-a dessa maneira.
— Eu... Ah... É,.. — engoli em seco, gaguejando e corando da cabeça aos pés.
— Respira, Patrícia.
— Hmm... Ok...Certo... — Respirei fundo tentando relaxar.
— Agora me diga o que está incomodando você? — Merda! Ele não ia deixar aquilo passar...
— Eu só... era só... queria... Suzana...ela tá bem? — soltei rapidamente, atropelando as
palavras.
Jhonatan me olhava como se eu tivesse duas cabeças ou estivesse possuída. Ok, eu não estava
no meu melhor momento. Ele me deixava nervosa e me fazia atrapalhar com as palavras. Tinha
olhos frios que era até constrangedor ficar olhando. Engoli em seco, esperando sua repreensão.
— Eu não sei se fico chocado ou chateado. — respondeu, sem tirar os olhos de mim.
— Eu... ah... vou ali... — Tentei sair do escritório correndo, ao menos aquela era a ideia, mas
fui parada quando Ele me segurou no braço.
— Respire, Patrícia. — pediu, Jhonatan calmamente. — Você não precisa sair correndo, foi
apenas uma pergunta e de maneira alguma foi ofensiva.
Respirei fundo várias vezes morrendo de vergonha, podia sentir as minhas bochechas quentes
e provavelmente vermelhas.
— Eu não sabia como você iria reagir, eu só queria saber como ela está.
— Ela está muito bem e se o Paulo permitir, você pode vê-la essa semana.
— Obrigada! — Agradeci timidamente. — Estou com muitas saudades dela.
— Posso ver... — sorriu, me surpreendendo.
Sem saber como agir, virei as costas e saí do escritório. “Que situação estranha e esquisita”,
pensei confusa. Ele era sempre tão fechado e vê-lo sorrindo foi até assustador.
No caminho para a sala do Paulo, deparei-me com Lord Evil e sua submissa. Parei sem saber
se deveria prosseguir ou não, nunca tinha me encontrado com eles estando sozinha. Observei
atentamente os dois, pareciam estar discutindo, a voz dela era quase inaudível. Não sei como
aconteceu ou porque aconteceu, mas o bofetão que ela recebeu foi audível no corredor vazio do
castelo.
Parei de respirar quando os olhos do Lord Evil voltaram em minha direção.
— Precisa de alguma coisa? — perguntou friamente. Os seus olhos fecharam em fendas
enquanto Ele agarrava o braço da sub.
— Não, estava indo para o escritório do Paulo. — respondi, observando-o vir em minha
direção. — E vocês precisam de alguma coisa? — perguntei, impertinente sem a menor vontade de
recuar, no entanto, meu coração trovejava dentro do peito.
Fechei minhas mãos em punho, odiando o fato de que não podia fazer absolutamente nada.
Foquei na submissa conforme eles se aproximavam. Era impossível ver o rosto da mulher, o seu
estado era tão caótico que me fez engolir a bílis.
— Não, nem mesmo de interferência. — respondeu Ele, tirando minha atenção da sub.
Entendo bem o recado, passei por eles, indo em direção ao escritório.
Entrei na sala do Mestre de mim, sem olhar para cima e acabei tropeçando em Willian. Meu
coração estava disparado no peito, minhas mãos suavam e minha respiração era superficial.
O desejo violento de interferir era como nada mais que já houvesse sentido. Eu não sabia
explicar, mas era aterrador até mesmo para mim.
— Com pressa, pequena?
— Não, eu só não o vi. — Passei por ele sem dizer mais nada.
—Você está bem, Patrícia? — indagou, Mestre de mim com preocupação na voz.
— Não, mas também não é o momento de falarmos sobre isso. — Não olhei para cima para
ver como Ele havia recebido minha resposta.
Estávamos no trabalho e eu gostava muito de como havíamos conseguido separar as coisas. Eu
não faltaria ao respeito com Ele, mas também tinha medo de como iria reagir, Willian se eu abrisse
minha boca. As coisas podiam ficar ruins muito rapidamente e apesar de querer ajudar, eu não
queria causar uma confusão onde a polícia seria necessária.
— Eu disse que você poderia voltar a trabalhar se o seu trabalho não fosse um problema
para mim, mas aparentemente, ele está começando a me incomodar.
Não respondi, respirei várias vezes dentro e fora tentando desesperadamente não cair em
prantos. Aquele homem era odioso, perturbado e pior, estava manipulando a submissa. Aquilo era
um crime, abuso de poder, assédio e violência.
— Patrícia! — A voz do Mestre caiu em mim como chicote. Fui pega desprevenida e acabei
saltando, colocando a mão no peito.
— Jesus! Quer me matar do coração? — Olhei para o Mestre e aquilo se tornou minha
perdição, comecei a chorar desesperadamente.
Odiava aquela debilidade, tinha pavor das consequências, caso interferisse erroneamente, na
relação dos dois. Agora eu entendia como o Mestre se sentia.
— Vou pegar um copo de água para ela. — anunciou, Willian, me fazendo estremecer.
— Não! — Gritei alto demais, fazendo os dois me olhar como se tivesse perdido minha
cabeça. Verdade seja dita: eu estava perto.
Eu não queria que Willian lá fora. Não queria que ele visse o que eu vi ou as coisas sairiam
do controle rapidamente. Mestre de mim, já havia dito o quanto aquela situação era repudiada
por ele.
— O que está acontecendo, minha paty? — indagou, Mestre me abraçando.
Tomei várias respirações a fim de controlar as lágrimas.
— Vi Lord Evil discutindo com sua submissa. — Os braços do Mestre ficaram tensos à minha
volta, mas não disse nada, me dando permissão para continuar. — Eu deixei a sala de Jhonatan e
me deparei com os dois no corredor. Eles discutiam mesmo! E do nada Ele deu uma bofetada nela.
Quando viu que eu estava vendo a puxou pelo braço, levando-a embora.
— Ele falou com você? — indagou, Mestre com um tom de aço em sua voz.
— Perguntou se eu precisava de alguma coisa e respondi que não. Então perguntei se Ele
precisava, Ele disse que não e que também não precisava de interferência.
— Está indo longe demais! — vociferou, Willian me fazendo estremecer. — As coisas estão
saindo do controle na nossa cara e não fazemos nada!
— Eu vou dar uma olhada na associação dele e ver com o Jhonatan se podemos pedir a
cópia do contrato da negociação entre eles.
— Se ele tiver um. — argumentou, Willian.
— Pela associação podemos ter uma ideia. — rebateu, Paulo. — Eles são obrigados a colocar
na associação as práticas que estão acostumados a fazer.
Tanto Willian quanto eu, ficamos olhando para o Paulo esperando que Ele fosse até aos
arquivos de associados e olhasse as informações. Quando reparou que nós dois o encarávamos,
percebeu que queríamos aquilo para ontem.
Enquanto Ele buscava pelos arquivos, comecei a ficar impaciente. Mordi os dedos, ruí as unhas
e nada de respostas, por fim, dei-me por vencida e fui até aos arquivos ajudá-lo. Ao ver me
mexer, Willian acabou fazendo o mesmo.
Depois de horas de busca, descobrimos que não havia nenhum contrato de associação,
assinado por Marco e sua submissa.
— Isso não é possível, tem que estar em algum lugar aqui. — reclamou, Paulo chateado. Eu
não disse nada, mas ao olhar para Willian, tive a impressão que ele pensava a mesma coisa que
eu.
Marco tinha acesso aquela sala, apesar de ele não ter acesso aos arquivos. Só quem tinha
acesso era Paulo e Jhonatan, os únicos que podiam ou não recusar uma solicitação. Eu tinha o meu,
mesmo sendo submissa de Paulo, fui obrigada a assinar concordando com os termos e normas do
castelo. Eu mesma pagava pela minha associação, obviamente trabalhando no castelo recebi um
desconto, ainda assim, não permiti que o Mestre de mim, pagasse por mim. Não queria continuar
dependente Dele, caso algum dia Ele me tirasse a coleira. Aquele era um clube respeitável que eu
gostaria de continuar frequentando.
— Não pode ser... — lamentou, Paulo frustrado. —Todos nós assinamos o contrato, eu tenho
certeza disso.
— Há algum outro lugar onde esses contratos são guardados? — perguntei, apreensiva.
— Não... Todos eles ficam nesta sala e apenas as solicitações na sala de Jhonatan.
— Então talvez ele tenha se perdido por lá. — argumentou, Willian fazendo Paulo pensar por
alguns minutos...
— Não acho provável.
— Bem, podemos verificar. — rebati, indo para a porta.
— Patrícia, precisamos falar com Jhonatan primeiro.
— Então vamos falar com ele. — Deixei a sala determinada a procurar o contrato de
associação. O inferno iria congelar antes de eu desistir de tentar ajudar.
Bati na sala de Jhonatan e entrei, não esperei ele responder. Ao me ver, arqueou uma
sobrancelha questionadora.
— Eu preciso do contrato de associação do Marco e sua submissa.
— Porque quer esse contrato? — O tom de sua voz era frio e seu olhar calculista. Eu estava
em um terreno perigoso aqui, sabia disso, mas não iria recuar.
— Porque...
— Porque ela viu Marco maltratando a sub e a agredindo fisicamente. — respondeu, Paulo
me cortando com olhar que dizia: isso não vai ficar assim.
Fiz uma careta irritada com a situação. As coisas tinham ido longe demais e ninguém fazia
nada. As desculpas já não eram mais cabíveis, algo ruim estava acontecendo e agora que
Jhonatan estava de volta, era o momento de começar a resolver a situação.
— Você tem certeza disso? — indagou, Jhonatan com cenho franzido.
— Absoluta!
— Os contratos ficam na sala de Paulo, comigo só as solicitações.
— Já procuramos em todos os arquivos. — relatou, Willian. — Não há nenhum contrato
assinado por Marco naquela sala.
— Então pensamos que ele estaria aqui. — solicitei sem acreditar no que falava e Jhonatan
percebeu isso.
— O que acha que aconteceu, Patrícia?
— Ele sumiu com o contrato. — respondi rapidamente, fazendo Paulo praguejar baixinho. —
Posso estar errada, mas duvido muito disso. — continuei, me recusando a ficar calada sobre o que
eu pensava a respeito daquele assunto.
— E vocês dois acreditam que o contrato está em minha sala. — resumiu, Jhonatan olhando
para os homens.
— Eu quero acreditar que sim. — respondeu, Paulo.
— Eu estou com a pequena. — disse, Willian apontando para mim.
— Não está. — afirmou, Jhonatan rapidamente. — Não fico com nenhum deles aqui. Não há
muitos arquivos e os que tenho... — apontou para a pilha em cima da mesa que eu ocupava
anteriormente. — ...estão aí em cima. Eu tenho certeza que ele assinou, porque fiz o mesmo com
vocês.
— Estou esperando apenas o seu sinal para falar com Lorraine.
— Quem é Lorraine? — indaguei, confusa.
— Minha menina. — respondeu, Willian com um brilho nos olhos.
— Oh!
— Eu acho que procurar aqui é uma perda de tempo. — falou, Jhonatan. — Também acredito
que ele esteja com o contrato.
— Merda! — xingou, Paulo irado.
— Eu não esperava outra coisa. Eu avisei que a merda era grande, mas a cautela de vocês
sobrepôs o bom senso e agora a menina está acuada e sendo agredida fisicamente. — acusou
Willian, irado.
Paulo e Jhonatan tiveram a decência de corar e desviar os olhos. Eu entendia a posição de
ambos, mas toda aquela cautela tinha realmente colaborado para que a situação piorasse.
— Eu tenho alguns assuntos pessoais que não vou adiar em hipótese alguma. — afirmou,
Jhonatan não dando espaço para replica. — Até lá, Patrícia e Suzana não podem fazer nenhuma
besteira para alertar Marco. E Willian marca com Lorraine para ela vir falar comigo.
—Estou saindo de férias hoje. — anunciou, Willian me deixando de boca aberta.
— Hoje? — Nós três perguntamos juntos.
— Eu preciso desse tempo, estou exausto.
— Só mais alguns dias, Willian. — pediu, Jhonatan. — Eu vou liberar você por 30 dias, se
você me der mais alguns dias.
— Tudo bem. — concordou, sorrindo.
— Agora voltando ao assunto de Marco... — começou, Jhonatan.
— Não vou fazer nada, mas também não vou garantir que se eu o ver agredindo-a
novamente...
— Você vai nos chamar imediatamente. — cortou-me, Willian, tirando um gemido de Paulo e
um olhar duro de Jhonatan.
— Você tem isso. — assenti, piscando para Ele.
— Ainda acha que é uma boa ideia? — indagou, Paulo ao Jhonatan, apontando na minha
direção.
—Totalmente.
***

Depois daquele dia, eu não vi mais a submissa de Marco no castelo. Não que eu estivesse
procurando por eles, no entanto a ideia de que Ele havia percebido que estávamos tramando
algo, deixou-me com um gosto amargo na boca. Sentir-me-ia mais tranquila se eu pudesse vê-la,
mesmo que para ela fosse uma tortura, ao menos eu saberia que ela estava viva. Preocupada com
essa ausência, perguntei ao Willian sobre eles e mesmo repudiando a situação, ele disse que os
dois seguiam no clube quase diariamente.
Eu visitava Suzana quase todos os dias depois do trabalho. Eram momentos curtos, mas
bastante proveitosos. Eu estava muito feliz por ela e por Jhonatan. A evolução de Suzana era
palpável, ela estava brilhante e muito feliz.
Naquela manhã quando Mestre e eu chegamos ao castelo, fomos surpreendidos por Jhonatan
e seu convite...
— Gostaria que os dois fossem nossas testemunhas. — pediu Ele, radiando felicidade. Eu não
aguentei e acabei chorando.
O contrato e o encoleiramento era um momento único e de muita felicidade para um bottom. O
sentimento de pertencer a um Mestre era indescritível. Até hoje lembrava-me daquele momento
onde Mestre de mim, havia me dado a coleira... foi sem dúvidas um dos momentos mais felizes da
minha vida. A partir daquele momento, me entreguei confiando minha vida a Ele.
— Eu adoraria! — aceitei, em meio às lágrimas. Mestre de mim me abraçou afetuosamente,
também aceitando o convite.
Durante todo o dia ficamos envolvidos na cerimônia de Jhonatan e Suzana. Ele havia pedido
nossa ajuda para a decoração e jantar, eu aceitei feliz da vida. Não tinha muitas pessoas, até
porque era uma cerimônia muito íntima.
Na hora do contrato, como testemunhas, estavam presentes, eu, Mestre de mim e Lord Fire.
Suzana entrou na sala radiando felicidade e, como uma boa empresária, não deixou de ler o
contrato calmamente. Aprovei aquilo. Tínhamos sim que confiar e acreditar ou nada daria certo. No
entanto a cautela era essencial naquele caso. Eu, particularmente, sabia que era desnecessário
pelo fato de se tratar de Jhonatan, mas independente disso, todo o bottom tem o dever de ler o
contrato calmamente para ver se o que foi acordado entre ambas as partes estejam realmente
escritos ali. Aquele era o momento em que ambos, Top e bottom, começariam uma relação. Os dois
juntos estariam se comprometendo em um relacionamento de entrega e controle, de submissão e
dominação.
Aquele contrato tiraria qualquer dúvida sobre o comportamento de ambos. Exatamente, por
aquele motivo, era que havíamos procurado o contrato de associação de Marco, pois através dele,
saberíamos se havia consensualidade ou não no comportamento de ambos.
Após assinar o contrato, Suzana foi abraçada afetuosamente por Jhonatan e eu, como uma
manteiga derretida, acabei chorando pelo elo que os dois acabavam de firmar. Assim que fui
autorizada, abracei minha amiga, desejando a ela toda felicidade e descoberta do mundo.
O BDSM não era bonito, não era fácil e também não era uma brincadeira. Era um estilo de
vida que todos que aderiam levavam muita a sério. Era árduo e a entrega de um bottom tinha que
ser genuína.
Alguns dias eram mais difíceis que outros. A subserviência era diária e analisada
constantemente pelo Top. O prazer vinha em servir, em honrar. Vinha da entrega, da lealdade e
cumplicidade. E para muitos, que entravam no BDSM pensando em 50 tons, desistiam quase que
imediatamente. Muitas mulheres se deslumbraram com uma história fictícia e tentaram trazer aquilo
para a vida real. Infelizmente, para elas, descobriram de uma forma dolorosa que não havia
flores, nem corações.

Willian – Lord Evil

D epois do jantar em comemoração à cerimônia de Jhonatan, estava


preparado para descer ao Rio a fim de encontrar Lorraine, quando
Jhonatan me chamou.
— Willian, eu não esqueci do outro assunto. Você pode trazer Lorraine esta semana.
— Estou indo vê-la agora, se tiver tudo bem posso trazê-la amanhã.
— Faça isso, vamos ver se conseguimos reunir todas elas.
— Espero que não seja tarde demais. — concluí, chateado.
— Ela ainda está viva, Willian. Com tudo o resto ela pode lidar. — Não disse nada, porque
não concordava com ele. Algumas feridas simplesmente não cicatrizavam.
Deixei o castelo com vários pensamentos correndo pela minha mente. Eu podia ver que esta
decisão era sensata, mas não era a solução. Sabia que a ideia era minha, mas já não acreditava
em um resultado eficaz.
Não liguei para Lorraine avisando que estava indo, apenas sabia que precisava vê-la.
Estávamos há mais de dois meses juntos e eu não tinha mais dúvidas de como me sentia sobre ela.
Obviamente tínhamos muito o que trabalhar, mas estávamos prontos para dar o próximo passo.
Ela vinha lendo todas as apostilas que eu havia levado para ela. Conversávamos por horas ao
telefone, tirando dúvidas, falando sobre práticas e sobre suas fantasias. Eu queria saber tudo
sobre ela, todos os seus desejos mais profanos, ela continuava safada como sempre, no entanto ela
estava mais audaciosa, muito mais. E eu como um bom apreciador de putaria, estava adorando
aquela descoberta.

***
Quase três horas depois eu batia sua campainha. Aguardei alguns minutos e nada dela
aparecer. Voltei a bater a campainha e continuei sem resposta. Peguei meu celular e enviei uma
mensagem para ela. Sua resposta veio rápida, dizendo que estava no banho. Mandei outra
mensagem dizendo para ela abrir o portão pois eu estava aqui fora, esperando por ela.
Longos minutos se passaram, já estava perdendo a cabeça quando minha menina apareceu
com os cabelos molhados, vestida apenas com um roupão. Meu corpo respondeu ao dela
rapidamente. O tecido agarrava a sua pele, mostrando suas curvas que eu tanto amava.
— Não me importo de ser recebido assim sempre. — disse, passando por ela.
— Não esperava por você, mas vou manter seu pedido em mente.
— Melhor entrarmos. — Não esperei uma resposta dela, assim que ela trancou o portão,
agarrei sua mão levando-a para dentro.
Coloquei seu corpo contra a porta da sala e a beijei. Não foi um beijo apaixonado, nem
controlador, foi exigente. Não havia espaço para recusa, apenas entrega. Minha língua duelava
com a dela, meus dentes mordiam seus lábios e seus gemidos me levavam à loucura. Afastei-me
ofegante, mas não deixei de tocá-la. Mordi o lóbulo da sua orelha sentindo-a estremecer sob
minhas mãos.
— Vamos adiante, pequena. — revelei, mordendo seu pescoço. — Preciso de muito mais do
que estamos tendo.
— Eu concordo.
— Um passo de cada vez. Vamos começar lento e evoluir gradativamente.
— Eu preciso de suas mãos em mim, por favor? — choramingou, excitada.
Olhei em volta procurando algo que nos desse um pouco de êxtase. Eu não tinha trazido nada
comigo. Tínhamos muito o que conversar, mas no momento minha prioridade era deixar sua pele
marcada.
— Você tem um cinto?
— Algo melhor que isso. — disse, sorrindo perversamente, fazendo-me estremecer.
— O quê? — indaguei, engolindo em seco.
— O chicote, eu o tenho guardado até hoje.
Dei um passo para trás sentindo a tensão se instalar rapidamente. Eu adorei aquele chicote,
apesar de trazer lembranças não muito boas. O problema era que agora, eu queria ir lento e
aquele chicote fazia um grande estrago na pele.
— Não... Não é o momento ainda.
— Tudo bem. — aceitou desanimada. — Vou pegar o cinto.
— Traga lenços. — pedi, calmamente. Não iria permitir que a euforia estragasse tudo. Não
era o momento e ponto final.
Enquanto esperava por ela ajeitei a sala, arrastando a mesa de centro e tirando qualquer
móvel de perto do sofá, tudo para evitar que ela se machucasse. O espaço era apertado e não
me dava muitas opções. Peguei uma cadeira, coloquei no centro da sala e aguardei por ela.
— Aqui. — Peguei o cinto e os lenços de suas mãos, jogando-os no sofá.
— Escute, nós vamos apenas nos divertir. Não vou me exceder, isso não é uma cena, vai ser
apenas mais apimentado do que o simples sexo.
— Tudo bem, estou adorando a ideia.
— Está de acordo?
— Estou!
— Você confia em mim?
— Claro que sim!
— Fique nua e sente-se na cadeira, com a cabeça apoiada no encosto.
Tirei minha camisa e tênis, enquanto ela se ajeitava na cadeira. Peguei um dos lenços e
amarrei seus dois pulsos, passando o lenço embaixo da cadeira. Depois amarrei seus dois
tornozelos nos pés da cadeira. O último lenço, usei para vendar seus olhos.
— Tudo bem?
— Sim.
— Os lenços estão machucando?
— Não.
— Bom. — Deixei a sala e fui em direção à varanda, peguei a cestinha de prendedores e
voltei para a sala.
— Onde estão seus brinquedos?
— Na primeira gaveta da cômoda. — Lorraine estava com a respiração rasa, e eu podia
apostar que também estava excitada. — O que vai fazer?
Não respondi, saí da sala em direção ao quarto. Abri a gaveta que ela havia dito e me
surpreendi ao ver uma foto antiga de nós dois. Olhei para a foto por um longo tempo, tentando me
relembrar daquele dia... A emoção era poderosa e muito agridoce. Deixei a foto de lado e olhei a
gaveta, um pouco chocado com a quantidade de brinquedos de Lorraine. No entanto, fazia sentido
ela ter tantos deles, afinal ela era dona de uma sex shop. Peguei um plug anal, grampos de
mamilos, um flogger, um vibrador bullet com controle de voltagem e um vidrinho de lubrificante.
Voltei para a sala, ajoelhei-me atrás das suas costas colocando os brinquedos ao meu lado.
Passei a língua em sua nuca fazendo-a estremecer. Peguei o plug anal e o lubrifiquei.
— Arraste sua bunda para fora do acento.
A posição deixaria sua bunda bem levantada, expondo seu orifício para eu poder brincar.
Passei o lubrificante ali e introduzi o plug. Os músculos estavam soltos devido à posição e também
tinha o fato de que ela vinha praticando conforme havíamos combinado.
— Agora tente levantar um pouco. — Assim que o fez, introduzi em sua vagina o vibrador. —
Agora sente-se e fique ereta. — pedi, pegando os grampos de mamilos.
Toquei seus seios e os massageei antes de torcer os mamilos. Ela gemeu profundamente,
mostrando-me que estava apreciando. Coloquei-me ao seu lado e desci minha boca para o mamilo
sugando-o para dentro da minha boca. Atormentei o pequeno botão até estarem vermelhos e
duros. Dei o mesmo tratamento ao outro e finalizei colocando os grampos de mamilos. Olhei para a
cestinha de prendedores descartando a ideia.
Afastei-me do seu corpo, bastante satisfeito com a cena improvisada. Peguei o flogger
apreciando o couro de primeira qualidade das tiras e comecei a bater, primeiro em suas costas,
depois pernas e bunda. Alternei as batidas de acordo com o meu gosto e ao mesmo tempo ia
aumentando a velocidade do vibrador.
No momento em que sua pele estava bem marcada, longe da minha satisfação, mas suficiente
para o momento, larguei o flogger, soltei seus pés e mãos, mas mantive seus olhos vendados.
Peguei-a pelo braço, levando-a até ao sofá e a deitei sobre o braço do mesmo.
— Coloque suas mãos para cima e mantenha suas pernas juntas.
— Ok. — respondeu ofegante.
Retirei um preservativo do bolso e o coloquei. Aquele seria o nosso próximo passo, uma visita
médica para fazermos todos os exames e controle de natalidade.
Coloquei a camisinha e retirei o plug anal. Eu estava louco para foder sua bunda, eu amava
como ela rebolava e gritava quando a fodia ali. Aumentei mais uma vez a velocidade do vibrador
e a penetrei lentamente, porém, em uma única investida, só parei quando estava totalmente dento
dela.
— Ohhh... — gemeu, Lorraine. Era o céu, era o paraíso, podia sentir as vibrações do aparelho
no meu pau.
Agarrei seus cabelos com uma mão e com a outra o seu pescoço mantendo-a no lugar
enquanto investia duro, suas pernas começaram a se debater no momento em que ela gozou. Eu
ainda estava longe e ela precisava aprender a se controlar mais. Retirei-me dela lentamente e
arranquei a camisinha.
— Fique de joelhos. — exigi um pouco chateado com sua falta de controle. Colocando o
vibrador no máximo apreciei a sua reação.
— Oh Deus! — engasgou, juntando as pernas.
— Ele não vai te ajudar, pequena. —anunciei, sorrindo friamente. — Agora abra a boca e me
leve até à sua garganta.
Eu fodi sua boca com muito tesão. O throatfuck era uma das práticas que eu adorava. Sentir
os lábios macios envoltos do meu pau, enquanto sua língua massageava e sua garganta me
apertava, era muito prazeroso. Ela gemia descontrolada conforme seu clímax chegava novamente.
As vibrações emitidas por ela, me acertaram em cheio. Disparei dentro da sua boca, fazendo-a
tomar todo o meu gozo.
Retirei sua venda me deparando com seus olhos cheios de lágrimas e desejo. Minha menina
estava louca para ser fodida novamente, infelizmente para ela, eu não estava disposto a
proporcionar seu alívio, afinal, ela havia gozado sem esperar uma ordem minha. Desliguei o
vibrador fazendo-a suspirar de alívio.
— Você precisa aprender a se controlar mais, gozar quando nem bem começamos é broxante.
— Desculpe, não consegui controlar.
Não gostava disso, era desconcertante e frustrante de várias maneiras. Tirei os grampos dos
seus mamilos, fazendo-a ofegar pela dor. Também não dei nenhum tratamento a eles. Lorraine
passou os braços tentando afagar os seios para diminuir a dor.
— Vá tomar um banho, enquanto arrumo a sala. — Ela acenou e disparou para o quarto.

***
Assim que entrei no quarto, ela já estava de banho tomado e vestida. Não gostei. Eu a queria
nua, queria ver suas costas e mais, queria apreciar as marcas que havia deixado nela.
— Vou tomar um banho, quando voltar quero que esteja nua. — Ela assentiu e eu fui para o
banheiro.
Não demorei muito no banho, era tarde, estava cansado e ainda tinha que dizer a ela sobre a
visita ao castelo. Eu deixei o banheiro nu e a encontrei como havia pedido, deitei-me ao seu lado e
comecei a observar as marcas vermelhas que havia deixado em suas costas, bunda e pernas... Era
extremamente excitante passar a mão sobre os vergões, observar os pelinhos se arrepiarem e seu
corpo estremecer com o contato. Eu podia passar horas apenas atormentando a pele machucada.
— Você vai subir amanhã de manhã comigo para o castelo. — anunciei, puxando-a para os
meus braços.
— Eu vou?
— Sim, você irá.
— Estou surpresa.
— Jhonatan quer falar com você sobre um assunto no castelo.
— É sobre o workshop?
— Sim, também.
— Não vai me dizer, não é?
— Se fosse para eu te dizer, não precisava você ir ao castelo.
— Certo.
— Como foi para você? — perguntei, mudando de assunto. Não queria passar na frente de
Jhonatan e também não sabia o quanto ele estava disposto a revelar para ela.
— Bem, já que estamos praticando a confiança e honestidade, vou ser bem direta.
— Vá em frente.
— Frustrante. — respondeu ela, deixando-me tenso. — Sinto que posso levar muito mais e
quando acho que vamos subir um nível, você para.
— Você gozou em menos de cinco minutos depois que estive dentro de você. — respondi,
irônico.
— Estou falando da dor, quanto ao orgasmo, sei que preciso me controlar.
— Não vou avançar rapidamente como está pedindo. — disse, friamente. — Acredite quando
digo que para mim também é frustrante, mas você não está pronta para mais.
— Então o que vai ser?
— Funciona mais ou menos como o spanking — argumentei, dando de ombros. — Vamos
começar lento e aumentando gradativamente.
— Essa espera é angustiante.
— Pensei que tivesse concordado com isso.
— Eu concordei, mas não quer dizer que é menos frustrante por saber. — Eu ri antes de
morder o seu pescoço. Ela gemeu, esfregando sua bunda no meu pau.
— Sem mais frustrações para você, pequena.
— Willian!
— Vai aprender a esperar, nem que seja na base da frustração.
— Você é mau.
— Um grande elogio vindo de você. — sorri, me ajeitando para dormir. Caímos no sono logo
em seguida.

***

Na manhã seguinte, sentia Lorraine extremamente apreensiva. Nervosa até demais para uma
simples conversa. Esperei para ver até onde ela levaria seu silêncio, eu não queria forçar nada,
ela teria que vir a mim naturalmente, principalmente se tratando de algo que era de suma
importância para ambos.
— Willian, nunca falamos sobre isso, mas você se importa de eu fazer minha adesão ao clube?
— Sim, por dois motivos. — Não pude olhar para ela pois estava dirigindo, mas ouvi seu
suspiro. — O primeiro porque ainda não é o momento e você saberá em breve o motivo. Segundo
porque quando o fizer quero que seja através da sua loja, assim vai ampliar seu negócio e
também receber desconto.
— Eu sempre ouvi falar do castelo, mas não faço ideia de como é por dentro.
— Extraordinário. Não vejo outra palavra para descrevê-lo.
— Estou nervosa, mas também estou excitada com a ideia de o conhecer por dentro. Vai me
apresentar tudo, não é?
— Claro! — sorri com seu pedido, lembrando-me de como foi com Suzana... Claro que com
Lorraine não seria tão aterrador, mas eu podia torná-lo, caso eu quisesse.
— Esse seu sorriso é assustador. — Balancei a cabeça, ela não tinha ideia do quanto minha
imaginação era fértil.
Chegamos a Teresópolis pouco antes do almoço e seguimos direto para o castelo. Queria ter
Lorraine junto aos meus amigos, ver como seria entre eles.
— Uau! — exclamou ela, quando entramos no estacionamento.
— Espere até ver por dentro.
— Mal posso esperar!
Juntos fomos direto para a sala de Jhonatan. Eu não queria prolongar mais do que o
necessário, honestamente eu esperava que ela aceitasse o pedido de ajuda, para marcamos o
quanto antes o encontro. Parei frente à porta de Jhonatan e bati.
— Entre. — Gritou ele lá de dentro
— Pronta? — perguntei a Lorraine, ao sentir sua mão suada sob a minha.
— Acho que sim... — respondeu, duvidosa. — Você está fazendo tanto segredo desse
encontro que estou receosa.
— Relaxa, não é nada demais. Só não cabia a mim dizer mais detalhes.
— Ok.
Eu entrei com ela atrás de mim. Percebi que Jhonatan não estava sozinho, Patrícia, Paulo e
Suzana estavam no escritório. A apreensão se instalou rapidamente, eu não queria pensar no quão
ruim a notícia podia ser... Tínhamos esperado demais ou será que ele sumiu com ela? As perguntas
vinham como avalanches, as possibilidades cada uma pior que a outra.
— Ele parece doente. — comentou, Patrícia me observando de perto.
— Estávamos nos preparando para ir almoçar. — anunciou, Suzana, permitindo-me voltar a
respirar.
— Pensei no pior.
— Foi o que pareceu. — disse, Paulo.
— Esta é Lorraine. — anunciei, trazendo-a para frente. — Lorraine, aquele sentado é
Jhonatan. A pequena ali é a Patrícia, escrava de Paulo. A morena com olhos de gato é Suzana,
escrava de Jhonatan. E o Paulo você já o conhece.
— Olá a todos!
— Que bom que pôde vir, Lorraine. Satisfação em conhecê-la. — disse, Jhonatan se
apresentando.
— Olá, seja muito bem-vinda! — desejou, Patrícia. Suzana não a cumprimentou, olhou para
Jhontan pedindo permissão, antes de fazê-lo.
— É claro, felina.
— Olá, Lorraine. — disse, timidamente. — Também lhe desejo boas-vindas.
— Sou grata por ter a oportunidade de conhecer os amigos de Willian.
— Olá Lorraine, fico feliz que no final das contas tudo deu certo.
— Olá Paulo. — retribuiu o cumprimento, corando em um vermelho ardente. — Estamos
caminhando, conversando, voltando a nos conhecer. É um pouco frustrante porque a ansiedade se
eleva a cada dia, mas Willian é um controlador por natureza, então ele consegue manter as coisas
equilibradas.
— Isto é muito bom. — elogiou, Jhonatan. — Correr antes de aprender a andar fará com que
chegue mais rápido, mas é mais amargo e doloroso.
— Sem contar que não é instrutivo. — concluiu, Paulo. — Muita coisa pode se perder no meio
do caminho. Tenho trinta anos de BDSM e sempre tenho algo novo para aprender.
— Certo, vamos ao assunto que a trouxe aqui. — Cortei a conversa, realmente interessado nos
arranjos que estavam por vir.
— Por favor, sente-se, Lorraine. — pediu, Jhonatan calmamente.
Lorraine

E u estava nervosa e apreensiva, no entanto, fui muito bem recebida por


todos. As mulheres presentes eram belíssimas o que me deixou um pouco
constrangida, porém, no momento em que vi a aceitação em seus olhos,
senti-me realmente bem-vinda.
Jhonatan tinha um olhar aguçado e um tom de aço em sua voz. Era do tipo alfa. Seu olhar era
frio e calculista, por um breve momento senti a necessidade de me curvar. O ar em volta dele
gritava poder. Nunca conheci um Dominador com aquele nível de confiança, controle e poder.
Sentei-me esperando ansiosamente para o que Ele tinha para me pedir, todos à nossa volta,
acabaram fazendo o mesmo. Apenas Willian permaneceu de pé, atrás de mim.
— O pedido que vou te fazer é de extrema urgência. — começou Jhonatan, olhando-me
atentamente.
— Vá em frente.
— Suzana fez um acordo de confidencialidade para você assinar, antes de eu dividir com
você o problema. — A mulher em questão se aproximou, trazendo o contrato.
Eu havia feito faculdade de administração, então entendia bem sobre aqueles contratos e,
também sabia que não havia valor algum dentro daquela situação. Assinei o contrato sem ler.
Jhonatan trincou o maxilar não gostando do meu comportamento e Suzana me olhava preocupada.
— Sei como funciona, também sei que não tem valor algum aqui. Não era necessário o
contrato, já que não pretendo dizer nada a ninguém a respeito do que for dito aqui.
— Espero contar com sua colaboração.
— Você já a tem, ou não estaria aqui.
— Eu gosto dela. — anunciou, Patrícia sorrindo.
Olhei para ver a reação de Willian, porém os olhos Dele estavam em Jhonatan, fiquei
apreensiva, pois sabia que havia uma comunicação ali que eu não entendia.
— Lorraine, o assunto é bem sério. — anunciou Jhonatan, deixando a sala em completo
silêncio. — Estamos com um problema de segurança aqui no castelo, envolvendo uma Dominador e
uma submissa. — Engoli em seco, mas não disse nada, esperei que Ele continuasse.
— Nós temos um contrato que todos os associados devem assinar quando sua adesão é aceita.
Todos nós assinamos esse contrato. — relatou, Paulo calmamente. — Dentro dele vem normas
específicas que devem ser cumpridas, tanto para o bom funcionamento do clube, quanto para a
proteção de todos os associados.
— Há aqui no castelo um casal que está com sérios problemas. Paulo e Willian já tentaram
falar com Ele e o mesmo não dá abertura para uma conversa. A submissa não veio até nós para
relatar os maus tratos. — disse, Suzana. Eu não entendi onde o “nós” entrava ali. Pensei que elas
fossem apenas submissas, mas aparentemente também trabalhavam aqui.
— Durante uns meses já vimos várias situações inadequadas. Inicialmente pensávamos que era
uma cena, afinal, não tínhamos acesso ao contrato do casal, diante disso não tínhamos o direito de
interferir. — confessou, Willian. Ele estava extremamente chateado com aquela situação, podia ver
isso.
Cansada de ficar sentada e rodando minha cabeça de um lado para outro, coloquei-me de
pé. Precisava olhar para todos eles, enquanto tentava dar sentido às informações que estava
recebendo e tentando ligar todas elas com a minha presença ali. Para mim, não fazia menor
sentindo, eu nem era associada do clube.
— A ideia de ter você aqui, é para que você faça uma ponte entre a submissa e nossas
escravas. — respondeu, Jhonatan ao meu pensamento. — Willian deu a ideia de um workshop
para submissas, assim, poderíamos convidá-la fazendo com que Suzana e Patrícia tivessem a
oportunidade de se aproximar dela.
A minha presença ali fazia sentido, todo o resto não. Ele era dono do clube, era fácil demais
resolver aquele assunto. Tinha algo mais ali que ninguém estava me dizendo e eu não deixaria
passar, afinal eu estaria envolvida na situação também.
— Porque você não o chamou aqui para conversar? Afinal você é dono desse lugar.
— Porque eles esperaram demais e a situação passou do abuso para agressão física. —
confessou, Willian chateado. — O nosso medo agora é que, ao ser chamado por Jhonatan, ele
acabe saindo do castelo e levando-a com ele. Não podemos arriscar, estamos falando não apenas
do emocional ou psicológico de uma submissa, mas da vida de uma mulher.
— Vocês acham que diante da situação ele permitirá que ela vá a esse encontro? —
perguntei mais por desencargo de consciência. Não acreditava que Ele iria permitir que ela fosse.
— Precisamos acreditar que sim. — disse, Patrícia. — Temos que encontrar alguma maneira de
chegar até ela.
— Eu vou dizer uma coisa... — comecei, calmamente. — Além de Willian, nunca vivi uma
relação dentro do BDSM, mas eu conheci um casal extraordinário que me mostrou muita coisa. Eu já
li e já debati com eles sobre a dominação psicológica. Eu duvido que ela dê ouvidos a qualquer
uma de vocês se ela estiver dominada nesse nível. É uma batalha inglória. Ela não vai falar, caso
contrário já o teria feito.
— Nós precisamos tentar. — insistiu, Patrícia.
Eu percebi que de todos eles, ela era a mais emotiva do grupo, a que estava mais
preocupada com a situação. Willian podia estar chateado, mas nem de longe a situação o
incomodava tanto quanto a ela.
— Qual o nome do Top e da bottom? — indaguei, olhando para Jhonatan.
A sala caiu em um silêncio sepulcral. Ninguém disse nada por longos minutos. Pior, nenhum deles
olhavam para mim. Incredulidade era um eufemismo, eu estava perplexa com a falta de respostas,
tanto que acabei soltando uma piada.
— Ahhh vamos lá, vocês acabaram de me informar que todos têm um contrato de associação,
então nele há o nome do casal, certo?
— O contrato sumiu. — confessou, Patrícia.
— Sumiu? — repeti a palavra sem acreditar. — Sumiu, como?
— Acreditamos que Ele tenha confiscado o contrato.
— Associados tem acesso ao escritório? — Jesus! Aquele castelo era uma bagunça!
— Não, mas ele é um dos funcionários. — afirmou, Paulo a contra gosto. — Especificamente
gerente do calabouço.
— Maravilha! — zombei, sarcástica.
— Lorraine... — repreendeu-me Willian.
— Não me venha com “ Lorraine”. Vocês não sabem o nome do associado que está agredindo
uma submissa, que por sinal o próprio é funcionário de vocês. O que deixa a situação ainda mais
absurda, é que o mesmo roubou o próprio contrato de associação debaixo dos seus narizes. Estou
certa ou falta alguma coisa?
— Nós sabemos o nome dele, não sabemos o dela. — disse, Suzana
— Para falar a verdade nós nunca nem vimos o rosto da submissa. Ela sempre anda de
cabeça baixa. — completou, Willian me deixando ainda mais pasma.
— Inacreditável! — exclamei, olhando para Jhonatan. — Você tem ideia da repercussão
negativa que esse caso pode ter? Irá destruir a credibilidade do seu castelo.
— Por isso contamos com sua descrição.
— Sim, mas diante dos relatos aqui, você percebe que todo o mundo já viu o comportamento
de ambos, certo? Quem está nesse estilo de vida já deve ter percebido a situação. Como vai fazer
para parar isso, caso Ele não permita que ela venha ao encontro?
— Vou ter que chamá-lo, não há outra alternativa.
— Qual o nome do cara, afinal um homem como esse não deve ser chamado de Dominador.
— Marco Aurélio Santos. — O mundo parou de girar por longos segundos... Eu tentei
duramente não acreditar no que estava diante dos meus olhos.
Calmamente – uma calma que eu não tinha, diga-se de passagem – repassei a conversa com
Cintia no dia em que ela foi à minha loja... Não podia ser... Eu não queria acreditar... Marco amava
Cintia, eu vi, presenciei a relação dos dois. Eu convivi com ambos... Não... Não era...
— De jeito nenhum! — Explodi furiosa.

Continua...

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