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IRRESISTÍVEL
Liliane Borges
1ª Edição
2017
Copyright © 2017 Liliane Borges
Capa: Murilo Magalhães
Diagramação Digital: Denilia Carneiro
Um Cafajeste Irresistível
Liliane Borges
1ª Edição
Janeiro-2017
Rio de Janeiro / Brasil
__________________________________________________
Obrigada!
Um – À Primeira Vista.
Shizune.
Clis
Shizune
Clis
Shizune.
"Somos donos dos nossos atos, mas não donos dos nossos
sentimentos.
Somos culpados pelo que fazemos, mas não pelo que
sentimos.
Podemos prometer atos, mas não podemos prometer
sentimentos.
Atos são pássaros engaiolados. Sentimentos são pássaros
em voo."
Rubem Alves
Clis
Shizune.
Clis.
Levar a Shizune na casa dos meus pais não tinha sido uma boa ideia.
Não por ela, eu adorava a sua companhia, até demais, mas pelas coisas que
ouvi do meu pai.
Enquanto a Shizune estava ocupada com a Maya, ele me chamou para
ir até o jardim.
— Você finalmente derrubou as barreiras, filho? — Perguntou.
— Barreiras? — Já não gostei do início daquela conversa.
— Sim, as barreiras do seu coração. Você está deixando a Shizune
entrar. Ela é uma boa garota, você soube escolher bem. Estou orgulhoso de
você.
A coisa toda parecia ainda pior com ele falando daquele jeito. Eu não
estava deixando a Shizune entrar, eu estava só me aproveitando. Mais do que
o necessário, admito, mas, ainda assim, eu acreditava fielmente nisso. Então,
não, eu não estava deixando a Shizune entrar. Nem ela, nem ninguém. No
entanto, as palavras dele caíram como facas afiadas sobre mim. A Shizune
era mesmo uma boa garota. Ela não merecia ser enganada, nem usada por um
cara como eu.
Eu precisava me afastar, mas quem disse que eu fiz isso?
— Pai, eu não tenho nada com a Shizune — Falei, envergonhado —
Ela é... É...
— Só mais uma? — Ele me interrompeu. Meu pai me conhecia bem.
Sabia como eu levava a vida.
— Mais ou menos — Foi o que eu consegui responder.
— Filho, essa menina parece ser legal. Se você não quer nada sério
com ela, seja homem e a deixe em paz. Porque está na cara que ela está muito
interessada em você.
Eu sei que estava isso era fato, mas o que ele disse em seguida foi uma
apunhalada no meu coração.
— Eu conheço um rostinho apaixonado quando eu vejo, e o dela, com
certeza, é de uma garota apaixonada.
— Isso não é possível, pai, só estamos ficando há uma semana.
— E para se apaixonar tem data ou tempo definido, Clis? — Não
respondi, apenas abaixei a cabeça, me sentindo frustrado.
— Pensa nisso, ela está vindo aí.
Depois que eu a deixei em casa, depois de ter entrado dessa vez e
transado de novo com ela, as palavras do meu pai pairavam na minha mente.
Ela não podia estar apaixonada, podia?
Bom, sem querer ser convencido, eu teria me apaixonado por mim no
primeiro dia. Então, se ela tinha se apaixonado, eu entendia, mas
eu não estava apaixonado.
Ela, sim, podia estar o tanto que ela quisesse, o perigo era se eu me
apaixonasse, e, por enquanto, eu estava seguro, e a crise de consciência que
eu tive mais cedo sobre ser melhor para ela eu me afastar foi para o ralo.
Mais tarde, naquela mesma noite, depois de desistir de tentar dormir, eu
cheguei a uma conclusão: eu ia levar a situação adiante e, se a coisa
começasse a ficar séria, eu sairia fora. Plano de mestre!
Já estávamos na segunda semana de "relacionamento". Eu disse
relacionamento só porque não consegui pensar numa palavra que se
encaixasse melhor para definir o nós tínhamos até aquele momento.
Estávamos na casa dela, e essa foi a primeira noite que eu dormi lá. Se
eu não deixava as garotas dormirem na minha casa, eu muito menos dormia
na casa delas. Mas eu estava muito cansado, e estava tarde, e... Bom, já
esgotei o meu estoque de desculpas.
Voltando ao assunto, eu estava passeando pelos canais da TV, enquanto
ela estourava pipocas de micro-ondas.
Ela usava um shortinho de pijama com estampas da Minnie e uma
camiseta daquela campanha do câncer de mama. Ela estava perfeita.
O que me encantava na Shizune era que ela não ficava tentando me
seduzir ou parecer sexy, porque, para mim, ela era sexy para caralho apenas
com aquele pijama da Minnie.
Claro que ela tinha lingeries sensuais que me deixavam doido, mas a
garota de pijama ali na cozinha concentrada em ouvir os primeiros estouros
das pipocas era a que realmente eu queria. Eu não disse isso!
Ela se aproximou e me entregou a bacia de pipoca, enquanto colocava
os copos com coca na mesinha de centro.
— O que vamos assistir? — Perguntou, sentando ao meu lado.
— Eu não sei. Desisti da TV a cabo. Vamos assistir Netflix? — Ela
balançou a cabeça, concordando, enquanto enchia a boca de pipoca. Tão fina!
— Vamos assistir animes?
— Clis, nem todo nissei gosta de desenho japonês.
— Isso quer dizer que você não...
— Adoro! — Gritou, tomando o controle da minha mão — Vamos
assistir Death Note.
— Credo! Um cara mata pessoas escrevendo o nome delas num livro
demoníaco?
— Tá bom, mocinha, vamos procurar um anime de menininha para
você — Ela disse, rindo da minha cara enquanto eu revirava os olhos —
Vamos assistir Sailon Moon.
— Sailon o que?
— Ah, que pena, não tem a Sailon Moon no Netflix.
— Eu procuro! — Tomei o controle — Eu quero ver os Cavaleiros do
Zodíaco.
— Não, eu procuro! — Ela tomou de volta e saiu correndo.
— Eu procuro! — Saí correndo atrás dela.
Fui atrás dela, que ficava se esquivando de mim atrás do balcão da
cozinha, balançando o controle na mão. Aquilo era tão infantil e tão divertido
ao mesmo tempo...
Consegui me aproximar e a encurralei entre a pia e o balcão, e, quando
nossos olhares se cruzaram, ficou claro que não importava mais quem iria
escolher o anime, porque nós não iríamos mais assistir.
Aquela foi a primeira noite em que ela me mostrou o quanto era
habilidosa com a boca e com as mãos, se é que vocês me entendem.
Eu sei que vocês me entendem, mas também sei que vocês querem me
ouvir dizendo. Okay. Aquela foi a primeira vez que ela me chupou, ali
mesmo na cozinha, e ela fez direitinho.
Fiquei louco. Enquanto ela fazia seu trabalho de mestre, me olhava com
aqueles olhinhos puxados e meio envergonhada. Porra, tão sexy!
Enrolei aquele cabelão na minha mão e ajudei, empurrando-a para
me abocanhar gostoso. Tinha fantasiado essa cena não sei quantas vezes.
Ela, de joelhos na minha frente, e eu, com os cabelos dela enrolados do meu
pulso.
Quando estava quase lá, a afastei gentilmente, peguei sua mão e a levei
até meu pau para que continuasse.
Ela sorriu, o fez, e eu gozei na mão dela.
A Shizune era uma palhaça, ficou brincando com a minha porra na
mão. Depois de tentar passar a mão suja em mim, se levantou e lavou a mão
na pia da cozinha.
Aproveitei. Me encaixei atrás dela e falei no pé do seu ouvido:
— Minha vez.
Peguei-a nos braços e a deitei na mesa da cozinha. Tirei seu shortinho
da Minnie, sua calcinha de renda, e caí de boca literalmente.
Não fui suave, chupei forte, mas alternava com beijos e mordidinhas de
leve. Ela gemia com os dedos envoltos nos meus cabelos. Penetrei dois dedos
nela, que arqueou o corpo totalmente entregue.
Enquanto a fodia com os dedos, circulava seu clitóris com a língua. Ela
não demorou, se entregou rápido ao prazer que a consumia.
Depois disso, a televisão foi desligada, as luzes apagadas, mas nós
continuamos muito acesos no quarto dela.
Naquela mesma semana, continuamos nos encontrando quase todos os
dias. Fomos ao cinema assistir um filme de mulherzinha e passeamos de
mãos dadas no parque.
Fui até o trabalho dela e marquei uma massagem, ela quase caiu de
costas quando me viu. A minha massagem teve um bônus especial, era como
se eu tivesse numa daquelas casas de "massagens" coreanas, mas com uma
japonesa.
No domingo à noite, não tínhamos feito planos juntos e eu precisava
reafirmar para mim mesmo a minha canalhice. Então fui a uma boate na
Barra com meu outro amigo de farra, já que o Stênio casou.
Eu já disse que ainda não acredito que o Stênio se casou? Pois é.
Chegando lá, vocês já sabem, não? Bebidas + mulheres = sexo
selvagem dentro de um carro. Carro dela...
Nove – Massagem Vip.
Shizune.
Clis.
Shizune.
Quando minha mãe avisou de última hora que não poderia comparecer
ao 6° encontro de Dermatologia e Estética, que aconteceria em São Paulo, e
que me mandaria em seu lugar, eu fiquei entre a euforia e a decepção, pois
isso significava alguns dias longe do Clis.
Exatos três dias.
Mas, apesar disso, foram três dias maravilhosos, e seriam perfeitos se
não fosse a saudade que eu sentia dele.
A gente se falava por telefone toda noite, ficávamos mais de horas
conversando, e, na hora de desligar, sempre rolava aquela coisa boba de
quem desliga primeiro. No final, desligávamos juntos no três.
Aproveitei que estava em São Paulo para visitar alguns parentes. Fiquei
na casa da tia Miya, irmã da minha mãe. A filha dela, Minoko, tinha uma loja
online de sex shop, e eu aproveitei para comprar umas coisinhas. Se eu estava
disposta a conquistar de vez o meu cafajeste, eu precisava usar todas as armas
disponíveis.
Ela estava me mostrando uns produtos que, para falar a verdade, eu
nem imaginava como usar, quando vi a fantasia de ninja. "Minha ninja", o
Clis havia me chamado assim várias vezes.
Não pensei duas vezes e a comprei, dentre outras coisinhas. Ah, e ele ia
ter uma surpresinha!
No último dia do encontro, eu tinha combinado de passar a última noite
com a minha tia e ir embora bem cedinho no outro dia, mas eu não fiz isso.
Assim que saí do evento, peguei a estrada. Saí de São Paulo às quatro
da tarde. Eu dirigi quase cinco horas e, no caminho, liguei para Adele. Eu
precisava de ajuda para executar o meu planinho.
— Oi, flor, como estão as coisas por aí? Amanhã você está de volta,
né? — Ela perguntou.
— Amanhã, não, daqui a pouco. Adele, eu preciso da sua ajuda.
— Fala, japa, conta comigo.
— Eu preciso que você providencie morangos, champanhe e pétalas de
rosas.
— O quê? — Ela perguntou, confusa.
Então eu contei a ela sobre o meu plano. Eu sabia que ele poderia se
assustar e sair correndo, mas era um risco que eu tinha correr.
— Japa, eu te adoro, mas eu não vou te ajudar nisso, não. Ajudando
você, eu estarei ajudando-o também. E outra: acorda! Esse cara não te
merece.
— Adele, você prometeu trégua, lembra?
— Isso não significa que eu não continuo pensando o que eu penso
sobre ele.
— Adele, eu não queria ter que partir para a chantagem emocional... —
Eu precisava lembra-la de como as amigas se ajudam independente de suas
opiniões? — Você se lembra de quando o Stênio disse que ia embora? Você
apareceu às três da madrugada, batendo como louca na minha porta. Você
lembra? Você se lembra de quem te ajudou? Quem te aconselhou a ir atrás
dele? Quem foi com você atrás dele?
— Isso é golpe baixo, Shizune!
— Lembra ou não? — Eu insisti.
— É claro que eu me lembro.
— Diz. Eu quero ouvir você dizer.
— Foi você, Shizune, você me ajudou a recuperar o amor da minha
vida. Satisfeita?
— Ainda não.
— Okay — Ela bufou — Eu vou fazer o que você está me pedindo.
Mas, japa, é do Clis que estamos falando. Você pode assustar o cara com
todo esse romantismo. Pensa nisso. Não que eu ache isso ruim, mas ele pode
sair correndo.
— É só uma noite romântica! Eu não vou pedi-lo em casamento.
— Tá. E você quer isso para agora, estou certa?
— Sim, amiga!
— Tudo bem, eu vou providenciar — Ela disse com desgosto.
— Obrigada, obrigada, obrigada! — Falei toda feliz — Agora, deixa eu
desligar, estou dirigindo.
— Shizune, olha a imprudência!
— Calma, mamãe! Eu tô usando a função do carro. Beijos, te amo —
Desliguei.
Quando entrei no meu quarto, tive uma surpresa. As pétalas de rosas já
estavam espalhadas pelo quarto, e, pela cama, a Adele havia trocado a minha
roupa de cama por um lençol branco de cetim, espalhado algumas velas
coloridas e deixado um bilhete em cima do travesseiro.
"Japa, imaginei que você chegaria tarde e cansada, por isso deixei as
coisas mais ou menos preparadas para vocês. Eu não comprei champanhe,
peguei espumante, que tinha em casa. Os morangos já estão lavados, estão
na geladeira. Aproveite!"
Completei a decoração, espalhando alguns leques com escritas em
japonês, e acendi alguns incensos. Então liguei para ele. Fiquei apreensiva,
mas ele logo atendeu, graças a Deus.
Sorri aliviada quando ele logo concordou em vir para cá.
Quando desliguei, corri para tomar banho com óleo perfumado que
comprei da Minoko, sequei o meu cabelo e coloquei a fantasia.
Um terror atravessou meus pensamentos enquanto olhava para minha
imagem no espelho. E se ele achasse ridículo e se realmente corresse?
O bom é que eu não tinha tempo para ficar remoendo os "e se", pois ele
chegaria a qualquer momento.
Corri na cozinha, coloquei o espumante no gelo, peguei os morangos,
coloquei no criado-mudo e acendi as velas. Cerca de dez minutos depois, a
campainha tocou. Ele era pontual.
Eu fiquei em pânico na hora, tive vontade de desistir, chamá-lo para
sair e não deixá-lo se aproximar do meu quarto. Mas, ao contrário disso, eu
respirei fundo, coloquei a máscara e atendi a porta.
E quando ele olhou para mim, vi uma mistura de desejo, excitação e
surpresa em seu rosto. E pela forma como ele praticamente salivava pela
minha fantasia, pude constatar o início de muitas aventuras eróticas que
faríamos juntos. Ou não.
Doze – Ciúmes? Eu?
Clis.
Shizune.
Clis.
Shizune.
Clis.
Shizune.
Clis.
Shizune.
Clis.
Shizune.
Clis.
Eu disse que ferraria com tudo, não disse? Pois é, o grande dia havia
chegado. Naquela manhã, eu acordei decidido a dar um basta na situação.
Eu já estava envolvido demais, tinha transpassado todos os limites,
estava preso até o último fio de cabelo.
Àquela altura do campeonato, eu já não sabia mais se o que eu sentia
era medo de ter meu coração quebrado ou receio de não ser o suficiente para
ela. Na verdade eu sabia sim.
A Shizune era uma garota decente, não acreditava que ela fosse capaz
de fazer o que a Larissa fez. A realidade era que eu não a merecia.
Eu precisava protegê-la de mim mesmo, do cafajeste idiota que eu era,
pois eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, a nossa realidade se chocaria, e o
meu passado não me deixaria seguir em frente, como nunca deixou.
Ela merecia mais, merecia um cara bacana, que quisesse um futuro, que
quisesse estar ao seu lado e envelhecer com ela. Eu não era esse cara.
O arrependimento e a culpa vinham caminhando comigo desde as
palavras do meu pai, as palavras do Stênio e as palavras do Dani
De lá para cá, eu continuei tapando o sol com a peneira, deixando-a se
envolver cada vez mais e me envolvendo também, assumo. Eu estava muito
envolvido com a Shizune, minha vida saíra totalmente dos eixos com ela.
Mas, por um pequeno momento, eu tinha esquecido o quanto eu estava
fodido. Mas então eu me lembrei, e, junto com a lembrança, veio o remorso
por ter sido tão babaca.
Mesmo gostando dela, porque eu gostava muito, mesmo assim eu saí
com outras mulheres. Mas aquele era eu, não era?
Planejei tudo. A convidei para ir ao cinema e a deixei esperando
enquanto eu estava em um bar, apenas observando e esperando o momento
certo para abordar qualquer garota.
Eu sairia dali acompanhado e saí. Segui com a minha acompanhante
para a boate, dançamos, nos esfregamos um no outro, nos agarramos num
canto escuro qualquer e, depois de ter circulado bastante pela boate, — a
mesma que fui com a japa — fui para casa. Acompanhado.
E lá rolou de tudo, porque eu precisava ser o cafajeste que eu sempre
fui para que a Shizune entendesse de uma vez por todas que eu não prestava e
desaparecesse para sempre. Ela continuou me ligando até as quatro da manhã.
Foi quando as ligações cessaram. Eu esperava que ela fosse aparecer durante
a noite. Já tinha perdido a esperança de que ela me pegaria no flagra, quando
a minha campainha tocou de manhã.
Eu não tinha porteiro, e ela não interfonou, devia ter aproveitado a
saída ou entrada de alguém. Quando a vi pelo olho mágico, meu coração
disparou no meu peito. E quando abri a porta, o arrependimento foi como um
tapa na minha cara. A carinha aflita dela de preocupação, se misturando à
confusão e mágoa no momento em que ela colocou seus olhinhos puxados
sobre a garota, partiram meu coração em mil pedaços.
Eu sei que ela devia estar sofrendo, mas, porra, eu também estava. E
em mim estava doendo duas vezes. Eu estava sofrendo e eu era a razão do
sofrimento dela.
Quando ela saiu correndo, eu tive que me segurar para não sair
correndo atrás dela, e isso foi a coisa mais difícil que eu já fiz. No entanto,
me mantive firme, pois, mesmo se eu fosse atrás dela, eu sei que ela jamais
me perdoaria, porque a burrada que eu fiz tinha sido perfeita, digna de um
mestre.
Nem fechei a porta, já me virei para a garota e a pedi para ir embora.
— Problemas no paraíso? — Ela perguntou. Me lembro do sarcasmo na
sua voz.
— Não. O meu único problema no momento é você. Eu preciso que
você vá embora — Sabia que estava sendo rude, afinal, eu tinha fodido a
garota a noite inteira e a estava tratando como lixo. Mas eu era um babaca,
lembram?
Eu pensava que meu coração já tinha sido quebrado antes, que a Larissa
o tinha quebrado, mas depois é que eu fui perceber que ele estivera o tempo
todo inteiro e só se desfez ali, quando eu abri aquela porta. Ninguém havia
quebrado meu coração antes como eu afirmava, eu o tinha o feito. Por
idiotice, eu acabei fazendo com ela a mesma coisa que a Larissa fez comigo.
Mas estava feito, era preciso. Ela, com certeza, ficaria melhor sem
mim.
— Tem certeza que não quer repetir a dose antes? — A garota ainda
disse com uma voz exageradamente sexy alisando meu peitoral.
— Fecha a porta quando sair — Falei, passando por ela em direção ao
meu quarto.
Ainda pude ouvi-la me chamando de babaca antes de bater à porta.
— Me conta uma novidade... — Disse para mim mesmo, me jogando
na cama.
Foi inevitável a sensação de vazio e de arrependimento. Caralho, o que
tinha feito? Tinha expulsado a mulher mais incrível que já conheci da minha
vida, sem dó nem piedade. Um desespero inédito começou a tomar conta de
mim, e cheguei a considerar ir atrás dela.
Não, eu não podia. Ao mesmo tempo que o arrependimento me invadia,
o pânico me aterrorizava. Eu estava refém dos sentimentos que estava
nutrindo por aquela ninja, e eu não queria me sentir assim. Queria minha
liberdade de volta, e a tinha conquistado novamente. Era correr atrás do
tempo perdido e cair na gandaia de vez. Aquele era eu, o cafajeste. Eu faria
isso — pensei, sem o menor ânimo.
Cansado de me martirizar por horas esperando o sono vir, levantei e fui
até a cozinha. Ainda era de manhã, nem café eu tinha tomado, e lá estava eu
abrindo uma garrafa de cerveja. Já estava na minha sexta garrafa quando a
campainha soou.
Levantei sem ânimo para atender, era o Stênio. Do olho mágico, dava
para ver a fúria nos olhos dele:
— O que você fez, seu idiota? — Stênio falou assim que abri a porta
para ele.
— Nada que fosse te deixar surpreso — Falei, ignorando a sua cara
feia. Dei as costas para ele e sentei no sofá, pegando minha companheira
Budweiser.
— Você é um filho da puta. Levanta essa sua bunda inútil desse sofá e
vai consertar a merda que você fez! — Ele disse, esbravejando em pé na
minha frente.
— O que te faz pensar que eu quero consertar alguma coisa? E o que te
faz pensar que tem conserto? Senta aí e pega uma cerveja.
— Eu te defendi, que droga! Eu te apoiei, e você me dá uma facada
dessas nas costas dela. Ela não merece isso, cara!
Eu ia expulsar o cara dali se ele não calasse aquela boca grande dele.
Eu já estava me sentindo culpado o suficiente, não precisava de incentivo.
— Vai embora, Stênio.
— Eu vou dormir no sofá por sua culpa. Desde que você apareceu,
minha vida tá uma merda. Eu discuti várias vezes com a Adele por sua causa!
— Quem mandou você ser idiota e contar nossas farras para sua
mulher. Que idiota faz isso? — Sem contar que ele ainda tinha contado das
minhas farras para a Shizune, mas aquilo já não importava mais.
— Sabe, a culpa é minha — Disse, me ignorando — Eu te conhecia,
era para eu ter sido o primeiro a alertar a Shizune sobre você. Eu deveria tê-la
protegido, pois eu sabia que você não a merecia. Você não merece a japa.
Você tem essa sua vida de merda e acha que está feliz nela, mas você está se
enganando, meu amigo. A Adele foi a melhor coisa que aconteceu na minha
vida, e você está desperdiçando a sua chance de ser feliz por causa de uma
safada que te traiu no passado. A Shizune não é ela, porra!
— Eu já deixei você falar merda suficiente, Stênio — Falei, me
levantando e indo em direção à porta — Sai da minha casa.
— Quem você está querendo enganar? Olha para você! Tá aí se
afogando em bebida — Ele apontou para as garrafas vazias no chão ao lado
do sofá — Você está apaixonado por ela, mas é covarde demais para assumir.
— Sai — Falei com toda a calma que eu podia. Se ele demorasse mais
um segundo ali dentro, eu iria partir para a agressão.
Ele me olhou alguns instantes antes de passar por mim e sair.
— Você é um idiota, Clis! — Gritou do corredor.
Ainda não eram nem onze da manhã, e eu já tinha sido xingado de
babaca e idiota por duas pessoas diferentes. É, eu já estava progredindo —
pensei com sarcasmo.
Mas estava feito. Mesmo que eu quisesse ir atrás dela, a Adele e o
Stênio nunca me deixariam chegar perto. Como eu disse, golpe de mestre.
Eu sei que vocês devem estar se perguntando, além de estarem me
odiando:
Por que ele simplesmente não a dispensou? Precisava fazer
essa canalhice toda?
Eu respondo. Fiz por dois motivos:
Primeiro: Eu não seria o cafajeste que alegava ser se tivesse agido certo
e simplesmente a dispensado, e;
Segundo: Eu tinha que ter a certeza de que ela não me procuraria, ou eu
cederia.
Estava livre, eu poderia voltar para minha vida... Vazia e sem sentido.
Vinte e três – Não Corra, Esperança, Volte Aqui!
Shizune.
Clis.
Shizune.
Shizune.
Clis.
Te vejo errando e isso não é pecado, exceto quando faz outra pessoa
sangrar.
Te vejo sonhando e isso dá medo perdido num mundo que não dá pra
entrar.
Você está saindo da minha vida e parece que vai demorar.
Se não souber voltar ao menos mande notícia.
Cê acha que eu sou louca, mas tudo vai se encaixar.
To aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia.
E não adianta nem me procurar em outros timbres, outros risos.
Eu estava aqui o tempo todo só você não viu...
Pitty – Na sua Estante.
Não consegui assistir até o final. Pausei o vídeo e fiquei sei lá, uns
cinco minutos, encarando a imagem dela na tela.
Puta que pariu! Se o idiota do Stênio estava querendo fazer eu me sentir
culpado, um merda, ele tinha conseguido. Não consegui voltar para a festa,
estava dividido entre ir para algum bar beber até morrer, ou ir atrás dela e
arrancar aquele microfone das suas mãos e beijá-la até que não houvesse mais
ar em seus pulmões.
Liguei o carro e meti o pé dali até o boteco mais próximo.
Já fazia uma semana que a minha ninja tinha aparecido na minha porta.
Uma semana que eu tinha sido um escroto com ela, que parecia ter enfim
entendido o recado. Não me procurou mais, sequer a vi.
Melhor assim, não era? NÃO! Não era, estavam muito ruins meus dias
sem ela.
Meus dias apenas passavam na minha frente. Eu estava me
transformando em um espectador dos meus próprios dias, bebendo em bares
até extasiar a dor, até adormecer meu coração quebrado.
Mulheres? Sequer beijei alguma desde que ela se foi. Transar então?
Muito menos. Só pensava nela, só a queria, só a desejava na minha cama.
Saí do bar meio calambeando e fui dirigindo para a casa. Imprudente,
eu sei, mas aquele era eu. Um cafajeste sem escrúpulos e inconsequente.
No dia seguinte, minha mãe me ligou cedo. O barulho do celular
tocando quase explodiu meu cérebro. Eu pensei em ignorar, mas já estava
fazendo isso a uma semana. Logo ela bateria na minha porta e veria o estado
lastimável em que me encontrava.
Como eu já previa, fui intimado a comparecer à casa dela para almoçar.
Não tive como negar, então coloquei minha máscara de cafajeste e segui para
lá.
Assim que cheguei, ela me olhou com aquele jeito de mãe, que sabe das
coisas. Aquele jeito que sabe que o filho não está bem. Mas, a princípio, ela
ignorou.
Só que, na hora em que estávamos os quatro na mesa, minha mãe, meu
padrasto, minha irmã e eu, o assunto Shizune — meu mais novo tabu — veio
à mesa.
— Filho... — Minha mãe começou — O aniversário do seu pai está
chegando. Vamos fazer uma recepção íntima aqui em casa, somente alguns
clientes e alguns amigos. Traga a Shizune também.
— Mãe, eu acho que não vai rolar — Engoli seco com o olhar mortal
que ela me deu.
— Por quê? Vocês não estão mais juntos?
— Nunca estivemos juntos, mãe.
Ela suspirou, visivelmente irritada:
— Escritório, agora! — Minha mãe se levantou. Olhei para o meu pai,
que apenas deu de ombros, e não tive outra opção a não ser segui-la.
Fechei a porta atrás de mim e encarei seus olhos acusatórios:
— Você a dispensou?
— Mãe, eu já disse....
— Você está querendo me dizer que foi ela quem saiu fora? — Me
olhou determinada.
— Não — Eu disse, desabando no sofá.
Minha mãe suavizou a expressão e sentou-se ao meu lado:
— Filho, essa garota é a primeira depois da Larissa que conseguiu
penetrar aqui — Ela disse, tocando meu peito.
— Você está exagerando — Falei de cabeça baixa.
— Não estou, eu te conheço, filho. Tá na sua cara que você gosta dessa
garota. Olha para você! Tentando parecer indiferente, mas sei que aqui dentro
tá uma bagunça. Por que não dá a ela uma chance? Por que não se dá uma
chance? Você está sofrendo!
— Não posso! — Falei, me levantando — Mãe, a Shizune tem o dom
de me quebrar. Se ela fizer, não me levanto mais.
— Não conheço essa garota direito, mas ela parece gostar de você de
verdade. Mesmo sabendo que você não se envolve, ela preferiu arriscar,
porque te ama, porque ela acreditava poder fazer você amá-la de volta.
Olhei para ela, embasbacado
— Como você sabe essas coisas?
— Me encontrei com o Stênio por acaso — Stênio! Aquele idiota
estava disposto a atrapalhar minha vida — Ele me contou tudo. Contou que
você a dispensou, contou a cafajestagem que fez com a garota. E me contou
ainda que, depois de tudo, ela ainda o procurou. Quer prova maior do que
esta que ela te ama, filho?
— Esse almoço não era para falar da festa, não é? — Perguntei,
ignorando o que ela disse. Ela concordou com a cabeça.
— Na verdade, eu queria que você se abrisse comigo, sem precisar ser
coagido. Mas não deu muito certo.
— Eu a amo — Disparei.
— Admitir isso em voz alta já é um grande passo, filho...
— Não, não é — Interrompi — Isso não muda nada. Não a procurarei,
independente de amá-la, independente de ela me amar de volta.
— Por quê?
— Porque não sou bom o suficiente para ela! — Gritei, e lá estavam as
lágrimas novamente — Tô quebrado, mãe, ela merece alguém melhor do que
eu.
— Não diga que filho meu não é suficiente para alguém! Criei vocês
para o mundo, mas não quero que o mundo os corrompa. A essência de vocês
deve permanecer, e sei que a sua está aí perdida em algum lugar — Apontou
para mim — Eu sei que você é um homem bom e sei que você tem a
capacidade de fazer qualquer mulher feliz, inclusive a Shizune. Então seja o
homem que eu te eduquei para ser e corra atrás do prejuízo!
— Ela não quer saber de mim. Eu a magoei, a humilhei, não tenho nem
cara de chegar nela.
— Se ela te ama de verdade, vai te perdoar. No máximo, vai te dar uma
joelhada no meio das pernas. Merecido, mas vai te perdoar.
Sorri fraco. Eu duvidava muito, mas apenas concordei com a cabeça
para encerrar o assunto.
Saí da casa dos meus pais de cabeça quente, estava com raiva de mim.
Mas tinha direcionado um pouco da minha raiva para o Stênio. Quem ele
pensava que era para se intrometer desse jeito na minha vida? Para envolver a
minha mãe?
Dirigi até a academia cego de raiva, ele iria ouvir umas verdades. Sabia
que a Adele estava lá, já que ela era a dona, mas eu estava muito puto para
deixar para depois.
Entrei na academia pulando a catraca, sem ao menos falar com a
recepcionista. Ela me olhou, incrédula, e pegou o telefone, mas eu já estava
subindo as escadas em direção ao escritório.
Entrei sem bater. A Adele me encarou com o telefone na orelha.
— Tudo bem, Monique — Ela falou para a pessoa do outro lado —
Conheço essa pessoa — Adele desligou e me encarou. O Stênio entrou na
sala na mesma hora e também me encarou, surpreso.
— Clis? O que você faz aqui?
— É com você mesmo que eu quero falar — Disse para o Stênio,
ignorando o olhar mortal da mulher dele — Vim te dar um aviso, cara. Para
de se intrometer na minha vida, você não tem nada que ficar fofocando com a
minha mãe e não tem nada que ficar me mandando vídeos, porra!
— Acho melhor você sair do meu escritório, antes que eu chame o
segurança — Adele me encarou, ficando na frente do marido — Some do
meu estabelecimento, cretino!
Vou te que concordar que a mulher dava medo.
— Clis, me escuta cara — Stênio começou a falar — Não fiz por mal,
só queria te fazer entender...
— Não preciso que você me faça entender nada, porra! Que tipo de
amigo você é? Fica aí empurrando sua amiga para mim, mesmo sabendo que
eu não valho nada! — Respirei fundo, tentando me acalmar — O recado tá
dado — Disse.
Quando comecei a andar em direção a porta, o tal Dani apareceu do
nada.
Não tive nem tempo, o babaca já chegou chegando. Me deu um soco
certeiro no meu olho direito.
— Dani! — Stênio gritou, segurando-o.
— Eu te disse que se você a magoasse...
— Você deve estar é muito satisfeito, babaca! O caminho está livre
para você. Aproveita!
Sem olhar para trás, saí dali. Aquele filho da puta não me enganava.
Todo aquele papinho de melhor amigo para mim não passava de fachada, o
cara gostava dela.
E constatar aquilo doeu, a Ninja estava livre para se envolver com
quem ela quisesse. Não era da minha conta, mas, mesmo assim, doeu.
Vinte e Oito – Gravidez Indesejada?
Shizune.
Clis.
Shizune.
A primeira vez que meu primo gato me beijou, confesso que ainda não
estava preparada. Estávamos voltando de São Paulo, — de carro — cidade
em que o pai dele morava, e paramos num daqueles postos da rede Graal na
Dutra para almoçar.
Desde que Kioshi tinha chegado ao Brasil, não nos desgrudamos mais.
Ele era uma cara muito alto astral, além de lindo, é claro. Não tão lindo
quanto o Clis e nem tão alto quanto ele também, mas não ficava muito atrás,
não.
Eu o levei para conhecer a cidade e para conhecer meus amigos
que, propositalmente, o adoraram. Minha amiga, Adele, já estava até
prevendo sobrinhos de olhinhos puxados — palavras da louca. Mas eu ainda
estava saudosa do bebê que não ia ter com o Clis.
Até para falar da minha nova paquera, aqui estou eu falando do Clis.
Não falei que quem bebe daquela água vicia? Foco, Shizune!
Na noite em que saímos para beber, — sim, meu primo de país de
primeiro mundo também gostava de entornar os canecos — ele me convidou
para ir com ele conhecer o pai.
Eu fiquei lisonjeada e sem graça com o pedido, afinal, mal nos
conhecíamos. Mas aceitei, claro. Meu primo estava uma pilha de nervos por
causa daquele encontro, e ele também precisava de uma tradutora, já que não
falava português e não sabia se o pai ou os irmãos falavam inglês.
Meu primo, como vocês já sabem, foi concebido aqui no Brasil. A mãe
dele veio passear. Aproveitou e muito o Brasil, e os brasileiros também.
Tanto que foi embora grávida e só depois de vinte e sete anos foi que ela
contou para o coitado quem era o pai dele. E detalhe: o dito cujo também
nem sonhava com a existência de um filho asiático.
Foi um chororô só. O pai do Kioshi, seu Hamilton, era um coroa muito
bacana, a esposa dele também. E o Kioshi, de quebra, ainda ganhou mais dois
irmãos. Foi emocionante de ver.
Não nos beijamos quando passeamos pelo Rio, não nos beijamos
quando saímos para beber, e não nos beijamos na grande e tumultuada São
Paulo. Fomos nos beijar no Graal de Guaratinguetá na volta para casa.
Depois que almoçamos, saímos do restaurante para dar mais
uma esticadinha nas pernas antes de prosseguir viagem. Mas acabamos nos
sentando em um banco do lado de fora do restaurante.
É incrível como viajamos por horas sentados, mas, assim que saímos do
carro, sentamos no primeiro banco que avistamos. Não é verdade?
Caralho, estou divagando de novo... Deixa eu voltar para o que
interessa.
Sentados no banco do lado de fora do restaurante, meu primo segurou a
minha mão de repente. Eu, que chupava um picolé de fruta, me assustei com
seu toque:
— Obrigado por ter aceitado vir comigo, Shizune — Ele disse em
japonês, todo formal.
— Que isso! Não precisa me agradecer — Respondi, sorrindo — Eu
fico feliz por ter ajudado.
Ainda estava com um sorriso idiota na cara quando ele se aproximou de
repente e arriscou um selinho.
Fiquei totalmente sem graça. Seus olhinhos não tão puxados quanto os
meus me fitaram tão intensamente. Me deixou tão desconcertada, que desviei
o olhar para a rodovia a nossa frente.
— Desculpe — Kioshi pronunciou em português. Sim, eu havia
ensinado algumas palavras a ele.
— Não peça — Disse, recuperando a minha razão.
Por que eu estava recuando? O cara era um gato e era solteiro, — bom,
ele não tinha aliança — e ia embora daqui a algumas semanas. Então, por que
não aproveitar, não é? Eu não queria marcar o meu corpo com outro cara?
Não queria tirar o Clis de mim? Esse cara estava bem ali na minha frente. Ele
não ia me dar um contrato, mas pelo menos não ia me dar esperança. Meu
primo iria embora e a vida iria voltar ao normal? Por que não?
Agarrei o pescoço dele e o beijei de volta, de um jeito bem
brasileirinho de ser. E olha que ele correspondeu à altura, o japinha tinha
pegada. Foi um senhor beijão. Só nos separamos quando um ônibus de
viagem estacionou bem na nossa frente. Meu primo ainda me deu um beijo
na bochecha e sorriu um sorriso lindo de morrer.
Apesar de ser oriental, eu não me empolgava tanto com caras orientais.
Mas meu primo era tudão. Depois daquele beijo, eu estava mais do que
curiosa para experimentar todo o resto.
O caminho de volta foi bem agradável. Não teve climão por causo do
beijo. Na verdade, teve até umas mãozinhas bobas do meu primo nas minhas
pernas, além de beijos quando parávamos nos sinais de trânsito, já chegando
ao Rio. Mas eu me segurei, deixei-o na casa da minha mãe e fui para a minha,
pois mais tarde iríamos sair para dançar. É claro que, antes de ele descer do
carro, rolaram uns pegas dos bons, que me deixaram ainda mais determinada
a mostrar para o meu primo o porquê da sua mãe ter gostado tanto do
"Brazil".
Mais tarde, depois de quase uma hora me aprontando para sair,
estacionei na frente do prédio da minha mãe e liguei para ele descer. Já estava
tarde, e meus pais já deveriam estar dormindo mesmo. Não valia a pena
subir.
Eu caprichei no visual. Vesti um cropped decotado preto com detalhes
em pedrarias, uma saia bege de cintura alta cheia de babados e muito curta, e
o salto mais alto que eu tinha. Fiz uma maquiagem leve, mas realcei com um
batom vermelho e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo com um leve
topete.
“É hoje que eu arranco o Clis de vez de mim”, eu pensava enquanto
esperava o Kioshi descer.
— Uau! — Meu primo gato disse quando entrou no carro, em
português. Que gracinha! — Você está linda!
— Obrigada! Você também está um gato! — Estava mesmo. Todo
engomadinho com uma camisa de mangas longas dobradas até os cotovelos
por dentro da calça, e com uns sapatos bem diferentes dos que a gente
costuma ver no Brasil. Mas estava lindo.
Quando chegamos à boate, fomos direto para a pista de dança. Meus
amigos já estavam por lá. Até o Dani. E, sim, ele estava acompanhado.
Dancei muito, me acabei mesmo, e o meu primo não ficou para trás,
não. O danado dançava muito bem. Minha amiga me puxou para o banheiro
um tempo depois, morta de curiosidade para saber se tinha rolado algo entre a
gente na viagem.
— Nos beijamos, okay, foi só isso... Por enquanto — Os olhos delas
quase saltaram do seu rosto de tanta empolgação — Hoje a noite promete,
Adele. Hoje eu vou dar para aquele oriental. E muito, ou não me chamo
Shizune Yong — Caímos na risada.
Voltamos para a pista de dança empolgadas. Dancei com o Stênio, com
o Dani, e, graças a Deus, parecia que o clima tenso entre a gente havia
passado. Finalmente, eu tinha meu melhor amigo de volta.
Lá pelas tantas da madrugada, começaram a rolar aquelas músicas mais
lentas, e eu e o Kioshi engatamos numa dança quente e sensual que, nossa,
estava sentindo falta daquilo. De sentir aquele incômodo no ventre, sentir a
calcinha ficando molhada, sabe?
Meu priminho gostoso me apertava toda enquanto dançávamos. Teve
uma hora em que ele me virou de costas e começou a beijar meu pescoço, e a
esfregar sutilmente sua ereção na minha bunda. Pela primeira vez desde o
chute certeiro que o Clis havia me dado, eu não pensei nele.
Eu só pensava em tirar o meu atraso com aquele oriental lindo de
morrer.
Ah, por favor, não me julguem! Foi o Clis quem me dispensou. E eu
sofri igual a um presidiário inocente na cadeia por duas semanas. Eu merecia
ter um pouco de adrenalina correndo nas minhas veias, merecia me sentir
sexy e desejada por um homem lindo e gostoso. E eu precisava demais de
sexo.
O quê? Sou mulher, mas também tenho minhas necessidades. Não
sejam machistas!
Depois de, sei lá, três músicas dançando daquele jeito, eu já não
aguentava mais ficar só esfregando naquilo tudo que o meu primo parecia ter
entre as pernas. Eu precisava ter aquilo tudo dentro de mim. E parece que foi
transmissão de pensamento, porque, na mesma hora, Kioshi me chamou para
ir embora. E justamente quando eu estava me sentindo pronta para avançar
para os finalmente, eu vejo o Clis se materializar em carne, osso
e loirisse bem ali na minha frente.
Minha reação foi não ter reação. Pedi licença ao meu primo e fugi,
deixando-o sozinho e um tanto atordoado na pista de dança. Corri mesmo, ou
pelo menos tentei correr. Aqueles saltos não estavam me ajudando. E quando
eu pensei que tinha conseguido escapar daquele olhar incrédulo do Clis a
pouco metros de mim, senti alguém segurar o meu braço com força.
Eu não precisei olhar para saber quem era.
Trinta e Um – Correr Atrás é o Terceiro Passo.
Clis.
Shizune.
Clis.
Shizune.
Clis.
Depois que a Shizune viajou, eu meio que aceitei que a nossa história
tinha acabado. Eu só não tinha conseguido seguir em frente ainda como havia
planejado.
Eu tinha passado as últimas semanas depressivo demais, bêbado
demais, irritado demais. Estava na hora de parar de ser um idiota e colocar a
cabeça no lugar.
Acabei comprando a casa de praia em Cabo Frio, aquela da coroa
gostosa. E não, eu não transei com ela. Nem cheguei perto, na verdade. Sexo
já era uma palavra quase extinta do meu vocabulário e, por incrível que
pareça, estava bem com aquilo.
Aproveitei o tempo que fiquei recluso em Cabo Frio para pensar na
minha vida.
Surfei, saí para jantar, nadei na piscina da casa, mas não comi ninguém.
Não por falta de pretendentes dispostas a fazer o Clis aqui feliz por alguns
momentos, mas porque eu não quis.
Tinha decidido que aquele babaca que usava as mulheres apenas para o
sexo, não existiria mais. Combinei comigo mesmo de frente para o espelho
que, dali para frente, se aparecesse alguma mulher, eu só pegaria se ela fosse
interessante o bastante para me fazer querer conhecê-la melhor. Não que eu
fosse virar um virjão ou só transar se fosse com uma namorada, mas, pelo
menos, tentaria mudar as minhas prioridades.
Ao invés de comer e dispensar, eu iria pelo menos considerar outros
encontros para conhecer a garota e, quem sabe, começar algo. E, quem sabe...
Esquecer a Shizune.
Espera aí, eu estaria usando a garota do mesmo jeito. Ou não? Cara, é
complicado ser correto.
Enfim, todo o meu discurso de bom moço que quer recomeçar e seguir
em frente foi para o ralo no momento em que eu vi a Shizune novamente.
Quando a vi, esqueci na hora de todas as promessas que havia feito a
mim mesmo. Eu só pensava no que mais eu poderia fazer para que ela me
perdoasse.
Minha ninja estava linda. Eu a vi na praia, caminhando com o idiota do
Dani. Quer dizer, com o Dani. Ser um cara melhor também incluía parar de
xingar as pessoas.
Ela parecia bem, estava corada e tinha uma áurea boa ao redor dela. E
eu sentia tanta falta daquela bondade e simplicidade que emanava da minha
ninja. Ela era pura luz.
Eu, ao contrário, era apenas a sombra do que fui. Mas isso era bom, não
era? Pelo menos eu já não era mais o babaca galinha e cafajeste que
costumava ser.
Minha ninja também me viu. Nossos olhares se cruzaram por segundos
apenas, mas foi o suficiente para derreter meu coração, que, teoricamente —
só teoricamente — estava cicatrizando. Eu só estava me enganando. Meu
coração nunca cicatrizaria se a Shizune não fosse o remédio.
Eu amava aquela japa. No fundo, eu era muito grato a ela por ter me
livrado da minha obsessão. Por ela, eu estava tentando ser um novo homem,
e, graças a Deus, estava conseguindo. Os traumas do passado já não me
assombravam mais. A única coisa que me assombrava era a certeza de que
não iria conseguir esquecê-la, a certeza de que ela ficaria para sempre no meu
coração.
Naquele mesmo dia, mais tardar no comecinho da noite, lá estava eu
parado a alguns metros da clínica de estética, esperando a Shinuze sair.
Exatamente às seis quinze da noite, eu a vi. Shizune se despediu da
garota da recepção e caminhou em direção ao seu carro, estacionado um
pouco à frente.
— Shizune... — Chamei antes que ela abrisse a porta do carro.
O olhar, primeiramente incrédulo e depois gelado, que ela me
direcionou, fez meu peito doer.
— O que você quer, Clis? — Falou com desânimo. Bom, pelo menos já
não era mais raiva.
— Eu quero conversar com você.
— Se é para falar sobre o que você me fez, não estou interessada — Ela
disse, abrindo a porta.
Passei por ela e me encostei na porta do carro, impedindo-a de entrar
— Ei! Desencosta daí!
— Ninja, por favor, me escuta! Estou te implorando... — Falei,
colocando minha mão no rosto dela, que o virou e se afastou.
— Então diz logo, estou esperando!
— Eu te amo — Falei. Simples assim.
Ela arregalou os olhos totalmente surpresa, o que era compreensível,
pois aquilo ainda era inesperado até para mim. Entre aceitar e confessar,
havia uma ponte estreita, muito longa e cheia de obstáculos, mas que
finalmente eu tinha conseguido atravessar. E para minha grande surpresa, foi
como tirar um uma família inteira de elefantes das minhas costas.
Shizune ficou me encarando com uma expressão embasbacada por
tanto tempo, que eu achei que havia conseguido penetrar na
armadura anti Clis que ela havia vestido.
— Uau! Então é isso? — Pigarreou — Você diz que me ama e fica tudo
bem? Eu esqueço que você me traiu, que me humilhou, que esfregou uma
panicat na minha cara, e tudo bem, viveremos felizes para sempre?!
— Por favor, não seja sarcástica. Não é isso. Eu só quero que você
saiba que eu estou apaixonado por você, tô louco de saudade e tô sofrendo
com a sua ausência...
Ela engoliu seco, e sua expressão mudou um pouco. De indiferente, ela
pareceu... nervosa?
— E você descobriu que me ama antes ou depois de me humilhar, de
jogar na minha cara que esteve com outras mulheres enquanto estava
comigo?
— Eu descobri quando te deixei. Por isso, me afastei. Eu tive medo,
medo de quebrar meu coração novamente...
— Aí com medo de quebrar o seu, você resolve quebrar o meu?
— Isso... — Disse, envergonhado. Mas era a verdade. Se eu queria o
seu perdão, precisava ser sincero — Quando eu te conheci, eu só pensava em
manter meu coração seguro.
— É um jeito muito estranho de demonstrar que ama alguém, Clis —
Disse sem me olhar nos olhos.
— Eu sinto muito, ninja.
— Você descobriu que me amava, e o que você fez em relação a isso?
Me magoou, me fez sofrer, me fez de idiota e me afastou de você! Isso é
muito doente, Clis! Você é um filho da puta doente!
— Eu sei que não tem desculpa, mas você não sabe pelo que eu já
passei para ser esse idiota que eu sou hoje.
— Não interessa! Eu não quero saber. O que quer que tenha acontecido
a você, não te dá o direito de passar como trator em cima dos sentimentos dos
outros. Pelo amor de Deus! Eu vi uma mulher nua passeando pelo seu
apartamento. Mesmo assim, eu ainda fui atrás de você. E o que você fez? Me
humilhou!
— Shizune, eu sei que eu não mereço seu perdão, mas eu estou
arrependido para cacete. Você tem que acreditar em mim! — Falei, tentando
abraçá-la, mas ela me empurrou.
— Não! — Ela se afastou ainda mais e limpou as lágrimas.
— Shizune, você me ama?
Eu estava ali para ouvir aquela resposta. Eu precisava saber e eu
desejava mais do que qualquer coisa que ela me dissesse que sim.
— O quê? — Perguntou, engolindo seco.
— Você me ama? — Diz que sim, por favor... Eu repetia em
pensamento.
— Sai da frente do meu carro, Clis! — Mas eu não saí. Ela teria que me
responder primeiro.
— Responde a pergunta.
— Não tenho que te responder nada! — Esbravejou — Tenho coisas
mais importantes acontecendo na minha vida agora, e isso envolve...
— Só te deixo partir se me responder — Interrompi.
— Tô grávida! — Ela soltou de repente.
Uau... Não era a resposta que eu estava esperando.
Grávida? Grávida? Caralho. Grávida?
Do japonês? Eu soube que o idiota, quer dizer, que o primo dela havia
voltado para o Japão. Será que o desgraçado tinha ido embora e a deixado
grávida? Filho da puta!
Engoli seco sem saber o que dizer. A mulher da minha vida estava
grávida de outro cara, e ele não estava mais com ela. O que eu poderia fazer
naquela situação? Pasmem...
— Eu assumo — Eu disse.
— O que? – Perguntou, confusa.
— Eu assumo o seu filho, Shizune. Você só está grávida de outro
porque eu fui idiota demais te afastando de mim. Se você carrega um filho
que não é meu, a culpa é minha. Então eu assumo, não quero nem saber de
quem é — vai que não era do japa, né? Melhor não saber — Eu crio e dou
amor e carinho de pai como o meu padrasto fez comigo.
Minha ninja me olhava catatônica, e o seu silêncio estava me
apavorando.
Eu tinha acabado de dizer a ela que assumiria o filho de outro cara só
para estar com ela. Não só assumiria, eu o amaria. E ela não dizia nada além
de me encarar com aqueles olhinhos estreitos e incrédulos.
— Shizune... — Disse, me aproximando — Diz que aceita, eu vou
amá-lo como se fosse meu.
— Ele é seu, idiota! — Ela gritou, me empurrando.
Me afastei, atordoado, e ela aproveitou o impacto que aquela
informação me causou e entrou no carro.
Meu?
Mulheres, não me culpem por ter pensado que o filho era do primo
dela, afinal, ela viajou com ele. Mas se ela estava dizendo que estava grávida
de mim, e não dele, eu acreditava. O que me levava a crer que, quando ela
desconfiou daquela vez, ela realmente estava.
A ninja estava grávida. Não era do japonês, o filho era meu. Eu,
Cliscristofferson, é que era o pai do filho dela. Eu, caralho!
Minha cabeça deu um giro de 360 graus com aquela informação.
Quando saí do meu estado de choque, — e ultimamente estava sendo
frequente eu ficar sem reação nas calçadas da cidade — corri literalmente
atrás do carro dela.
— Shizune! — Gritei, mas ela saiu em disparada sem olhar para trás.
Respirei fundo, tentando me acalmar, ou acabaria tendo um troço ali
mesmo no meio da rua. Fui caminhando lentamente até o meu carro.
Meu coração estava apertadinho dentro do meu peito quando entrei no
meu carro. Continuei respirando fundo, tentando me acalmar. Fechei meus
olhos tentando refletir sobre aquela notícia.
Eu ia ser pai. Eu queria isso? Ainda não sabia, mas, para quem estava
disposto a assumir filho de outro, eu acho já tinha minha resposta.
Eu iria ser pai, pai do filho da mulher da minha vida, então... Ainda
havia uma chance!
E ela também não havia respondido se me amava. Pelo menos não disse
que não. Sim, eu ainda tinha esperanças e faria de tudo para trazer aquela
mulher para junto de mim. Ela e o nosso filho.
Caramba, eu ia ter um filho!
Fui para casa, dirigindo desatento e sendo invadido por imagens da
minha ninja grávida, por imagens dela de barrigão, e por imagens de nós três
juntos e... Felizes.
Não sei a que horas consegui dormir, mas foi o tempo de raiar o dia
para eu partir para a casa dela. Eu montaria acampamento de frente para o
apartamento dela e só sairia de lá quando ela me ouvisse, quando eu dissesse
a ela que eu queria aquele filho e que não a deixaria desamparada. Eu diria a
ela que eu queria os dois, que eu amava os dois.
Aquela ninja nunca mais se afastaria de mim, ou eu não me chamava
Cliscristofferson.
Eu ia ser pai, caralho! Eu seria o pai!
E antes de sair de casa, eu me fiz uma promessa. A promessa de que
seria o melhor pai do mundo, faria pelo meu filho tudo o que meu padrasto
fez por mim e tudo que o meu verdadeiro pai nunca fez.
Trinta e seis – Você é a Minha Cura, é a Minha
Redenção.
Shizune.
Eu havia planejado contar ao Clis que ele ia ser pai. Claro que sim, era
direito dele. Mas eu não imaginei que eu fosse fazer isso no meio da rua do
jeito que fiz. No entanto, eu jamais poderia imaginar que fosse passar pela
aquela cabeça de vento dele que eu estava grávida de outro.
Pelo amor, ele pensava que eu era como ele por acaso? Não estive com
ninguém depois do pé na bunda traumático que ele havia me dado. Tudo bem
que eu até tentei, mas o importante é que o filho era dele, e ponto.
Ele confessou que amava, e isso foi tão inesperado que, por um
segundo, eu quase esqueci tudo o que ele me fez e pulei no colo dele, me
declarando também. Foi por muito pouco que não fiz isso. Não fiz porque
minha prioridade não era mais o Clis, e sim o meu filho... O nosso filho.
Fiquei tão atordoada de ele pensar que o filho era de outro, que acabei
cuspindo a verdade em cima dele. Só que fui covarde demais para ficar e
encarar sua reação.
Se eu já estava surpresa só por ele ter aparecido sem avisar, imagina
depois de ele se declarar?
Esperei tanto para ouvir aquelas palavras saindo daquela boca vermelha
de fazer inveja a qualquer mulher que, quando ele finalmente as pronunciou,
meus sentimentos já estavam tão massacrados, que a única coisa que eu
consegui pensar foi no quanto ele era hipócrita em achar que eu poderia ter
estado com outros, e no plural!
Nem quero saber quem é o pai!
Que isso! Foi demais para mim.
— A culpa foi sua de ele ter pensado isso, Adele — Reclamei.
Quando saí, atordoada demais para ir a qualquer lugar, acabei parando
na academia, afinal, era para os meus amigos mesmo que eu sempre corria.
— Minha nada! Foi você que disse para ele que havia transado com seu
primo, e isso foi antes de você viajar — Ela se defendeu.
— Tá, tudo bem! Isso também não importa agora, não é? — Falei,
desanimada.
— Me desculpe, japa, eu só pensei em fazê-lo provar um pouquinho do
próprio veneno — Ela disse, arrependida.
— Tá tudo bem, Adele. Só não se mete mais desse jeito na minha vida
— Já estava ficando cansada daquela proteção exagerada da minha amiga,
como se eu fosse uma adolescente imatura e inocente — Eu sou uma mulher
adulta e, por mais que possa não parecer, eu sei lidar com meus problemas.
— Você tem razão. A forma como você está conseguindo lidar com
tudo o que o Clis te fez, eu sinceramente não sei se teria esse sangue frio e
esse orgulho todo.
O que ela disse acabou me deixando surpresa. Logo a Adele? Toda
durona na queda, ficaria dividida se tivesse ganhado uma dúzia de chifres?
— Estou grávida, Adele, não posso me deixar inebriar por algumas
palavrinhas de amor.
— Japa?
— Oi.
— O Clis te ama — Hã? Tinha escutado direito? — Shizune, esse
idiota te ama! Que outro cara iria propor assumir filho de outro assim? Essa é
a maior prova de amor que ele poderia te dar. Olha, eu continuo não gostando
dele, mas não dá mais para negar que ele realmente ama você.
— Adele, você está do lado de quem? — Perguntei, abismada.
— Do seu, é claro, mas, japa, o cara nem quis saber, já foi logo dizendo
que assume. Isso foi... Fofo, você tem que admitir!
— Pelo amor de Deus, não me deixa pior do que eu já estou!
— Tá bom, não falo mais.
— Ótimo.
No fundo, eu tinha que admitir que a atitude do Clis tinha me tocado
profundamente. Claro, depois que a raiva de ele ter achado que o filho era de
outro passou.
Reconheço que a culpa foi minha em parte. Eu não devia ter sugerido
que tinha ido para a cama com o Kioshi. Mas, depois de ele gritar aquelas
barbaridades em pleno corredor do meu andar, não consegui.
Só que, mesmo reconhecendo que errei em parte, eu não podia me dar
ao luxo de me iludir com palavras. Ele tinha me feito sofrer, tinha me feito de
idiota, tinha transado com outras mulheres estando comigo. Não dava para
confiar.
Eu estava com medo. Medo de me iludir novamente com o Clis e ele
me massacrar mais uma vez, ainda mais depois que eu soube que estava
grávida. Não queria passar minha gravidez infeliz e sofrendo por ele. Tinha
que pensar no bebê.
Me despedi da Adele e fui para casa. O dia tinha sido cansativo, e eu
ainda tinha que lidar com os enjoos e com as cólicas. Mas a minha
ginecologista me tranquilizou, dizendo ser normal. Tudo o que eu precisava
era de um banho demorado e uma boa noite de sono.
Quando cheguei em casa, já estava mais calma. Fiz um lanche
saudável. Doutora Adelaide, que é minha ginecologista desde que entrei na
adolescência e amiga íntima da minha mãe, havia me proibido de comer
besteiras. Depois de alimentada, tomei meu banho e fui para a cama.
Meus sonhos foram recheados por um certo cara de olhos azuis e barba
loira segurando uma criança japonesa de cabelos loiros nos braços, e eu tive
dúvidas se eram realmente sonhos ou delírios da minha mente insana.
Acordei bem cedo no outro dia, escovei os dentes, o que era um
martírio. Mas eu não me queixava, todo incômodo só me lembrava que havia
uma vida crescendo dentro de mim.
Já pronta, tomei apenas um copo de leite com achocolatado e comi
alguns biscoitos de água e sal. Esperei um tempo no sofá, para ter certeza de
que meu café da manhã não iria voltar. Quando constatei que não iria colocar
para fora o que comi, peguei minha bolsa, minha chave e meu livro sobre
nomes de bebê. Mas, ao abrir a porta, dei de cara com o Clis, encostado na
parede da frente.
Ele parecia cansado. Suas mãos descansavam nos bolsos da calça jeans,
suas pernas estavam levemente cruzadas, e seu olhar, me desnudando, tirando
tudo de mim. Tirando toda a certeza de que eu não precisava dele na minha
vida.
— Oi.
— Oi.
Eu queria ter revirado os olhos, fechado a cara e mandado ele ir plantar
batata ou catar coquinho, mas a única coisa que fiz foi responder seu
cumprimento.
Nos encaramos em silêncio, e toda vez que aqueles dois oceanos me
aprisionavam, mais de mim ele tirava.
— Podemos conversar?
OK, por mais que eu não quisesse nada com ele, o Clis era o pai do
meu filho. E se ele queria conversar sobre a criança, eu ouviria, né?
— Não posso demorar.
— Eu vou ser rápido — Respondeu rapidamente.
Assenti, dando espaço pra ele entrar.
— Desculpe ter pensado que, bem... Que você estava grávida de
outro... — Já começou indo direto ao ponto.
— Tudo bem, Clis, você teve motivos para pensar assim — Interrompi.
Ele assentiu com a cabeça. Ficamos em silêncio, e era tão
desconfortável aquela situação... Clis me olhava tão profundamente, seu olhar
caía de vez em quando para a minha barriga, já com um pouco mais de dois
meses.
Ainda era impossível saber se eu estava grávida só olhando para mim,
mas seu olhar me deixou constrangida. Era como se ele enxergasse nosso
bebê.
— Você está bem? Está se sentindo bem? Já foi ao médico? — Fez
uma pergunta atrás da outra.
Eu não queria ter achado fofa a preocupação dele, mas foi inevitável.
— Já fui, sim, estamos bem — Respondi, alisando minha barriga. Clis
acompanhou meu movimento com o olhar.
— Shizune, eu vim aqui para te dizer que eu vou assumir a
responsabilidade. Você sabe que o meu pai não fez isso, então eu jamais faria
com você o que ele fez com a minha mãe. Não vou te deixar desamparada.
Eu não estava pronta para aceitar o Clis de volta, mas vendo-o ali na
minha frente falando apenas da paternidade, me excluindo de todo o resto,
fez meu coração doer. Eu estava esperando ele dizer novamente que me
amava, estava esperando que ele insistisse, que implorasse até.
Não queria perdoá-lo, mas esperava que ele tentasse mais. Meio louco,
não é? Coisa de gente biruta que não sabe se quer, mas também não quer
largar. O que eu podia fazer se ele tinha o poder de me confundir daquele
jeito?
— Shizune... — Ele se aproximou, espantando meus pensamentos —
Eu quero criar esse filho junto contigo. Quero que ele tenha uma família.
Junto comigo?
— Clis, eu jamais aceitaria ficar com você só porque estou grávida.
Filho não segura ninguém, não muda nada o fato de que a gente acabou.
— Muda o fato, sim, muda o fato porque eu te amo! — Ele se
aproximou mais um pouco, me encurralando no encosto do sofá — Não estou
querendo voltar por causa de filho. Ontem, quando te procurei, nem sabia da
existência dele. Quero voltar porque não sei mais viver longe de você, não
consigo ficar longe.
Fiquei totalmente sem ação diante daquela declaração.
— Clis...
— Shizune... — Ele segurou meu rosto, e cadê a força pra me esquivar?
Fiquei paralisada, perdida na imensidão daqueles olhos azuis — Me deixa
cuidar de você? De vocês — Disse, colocando a mão na minha barriga.
E lá se foi o restinho de mágoa ou raiva que eu ainda insistia em
guardar. As lágrimas brotaram dos meus olhos, descendo desobedientes pelo
meu rosto. Ele as limpou com os dois polegares e segurou o meu rosto.
— N-não, Clis — Me esquivei — Não posso me deixar levar por
palavras. Os seus atos me machucaram demais. Eu não posso passar por isso
de novo, ainda mais grávida, preciso passar tranquilidade ao bebê. Eles
sentem as coisas. Não quero sofrer, não posso...
— Jamais faria você sofrer...
— Você já fez, Clis! Eu preciso ir — Falei, me afastando dele.
— Ninja, não faz isso! Eu sei que eu mereço seu desprezo, mas acredite
quando eu digo que te amo! Não posso viver sem você — Ele respirou fundo
antes de continuar — Shizune, você é a minha cura, a minha redenção. Eu
sou um outro homem depois de você, e vou ser grato pelo resto da minha
vida. Te quero ao meu lado, iluminando os meus dias, trazendo paz para toda
bagunça que é a minha vida. Fica comigo?
— Clis, por favor, não dificulte as coisas — Eu já estava me
debulhando em lágrimas. — Vai embora.
— Não, por favor. Deixa eu te provar que eu mudei?
— Ninguém muda assim de uma hora para outra, Clis. Não posso me
dar ao luxo de acreditar e amanhã você me apunhalar pelas costas — Ele
balançou a cabeça, assentindo.
O que significa essa balançada de cabeça? Ele desistiu tão fácil assim?
— É sua última palavra? — Perguntou, me encarando com um olhar
carregado de tristeza.
— É. Não... Ai, não sei! Estou muito confusa.
Clis se aproximou novamente e entrelaçou nossos dedos.
— Clis, por favor! — supliquei.
— Você vai me deixar pelo menos participar da vida do meu filho?
— Claro que sim, mas ele ainda nem nasceu...
— Quero estar presente na sua gestação também, por favor, não me
prive disso. Já quer me privar da sua companhia, não me priva de ver meu
filho crescer mesmo no ventre.
— Tá bom — Como proceder depois daquele pedido, senão concordar?
— Amanhã tenho consulta. Vou fazer uma ultra para ver o bebê, ver se está
tudo bem. Você pode ir comigo se quiser.
— Claro que eu quero! — Aquele sorriso, aquele com as linhas de
expressão que eu tanto amava, brotou na face dele.
— Combinado. É amanhã às nove da manhã. Te mando uma mensagem
com o endereço da clínica. Agora você precisa ir, tenho que trabalhar.
— Tá — Ele concordou.
Clis me encarou por mais alguns instantes. Um olhar triste substituiu
seu sorriso perfeito, me deixando destruída, mas eu não estava pronta para
perdoar e não queria. Queria?
Ele sorriu de novo, mas, dessa vez, seu sorriso não alcançou os olhos.
Clis caminhou até a porta e a abriu. Antes de partir, se virou na minha
direção:
— Shizune, você me ama?
— Sim — Minha boca, que, de repente, começou a ter vida própria,
respondeu sem pestanejar.
Com mais um meio sorriso, ele saiu, me deixando paralisada na minha
sala. E os enjoos, que tanto tentei evitar antes de sair de casa, vieram com
força total. E lá está eu abraçada com o vaso novamente.
Trinta e Sete – Foi a Melhor Coisa que Já Fiz.
Clis.
Esperar o dia seguinte para acompanhar a minha ninja até a consulta foi
uma provação. A ansiedade não me deixou dormir. Passei a
noite ligadão, assistindo seriados. Vi a segunda temporada inteira de Bates
Motel e, quando acabou, eu ainda não estava com sono.
Fui tentar dormir, já passava das quatro. Só conseguia pensar que, em
algumas horas, eu veria meu filho, ou filha, sei lá. Não importava. Está bem,
lá no fundo, eu esperava que fosse um menino, só para não correr o risco de
um cara feito eu cruzar o caminho dela.
Eu o mataria, arrancaria os olhos e daria aos corvos, ou eu arrancaria
suas bolas e as jogariam para os cachorros, ou... Ah, esquece, vai, vamos
voltar para o que interessa.
Depois que os pensamentos assassinos de como eu mataria cada um
que magoasse minha princesa cessaram, consegui cochilar um pouquinho,
por duas horinhas apenas.
Quando a ninja me encontrou na recepção da clínica às nove em ponto,
eu parecia um zumbi, ao contrário dela, que estava linda como sempre.
— Oi, Clis — Me cumprimentou timidamente. Mas eu, sem vergonha e
descarado, me aproximei e beijei sua testa.
A recepcionista, que antes me encarava com olhares insinuantes,
fechou a cara para mim e sorriu para Shizune.
— Bom dia, japa — A garota devia ser conhecida dela, os amigos a
chamavam assim.
— Bom dia, Carol — Minha ninja a cumprimentou, entregando o
cartão do plano de saúde.
— A doutora ainda não chegou, parto de emergência. Mas já já ela
estará aqui.
— Tudo bem — Shizune sorriu e sentou-se ao meu lado.
— Você está de quanto tempo? — Perguntei.
Era estranho não saber nada sobre a gravidez. A própria Carol olhou
com curiosidade para a gente, com certeza imaginando que tipo de pai ou até
mesmo que tipo namorado eu era, que não sabia de quanto tempo a
mulher/namorada estava grávida.
— Oito semanas.
— Sente-se bem? Quer dizer, você tem enjoado, ou... Essas coisas de
grávida.
Ela sorriu.
— Tenho tido alguns enjoos matinais e uma leve cólica, nada fora do
normal — Respondeu, olhando para a rua, apertando a alça da bolsa
visivelmente sem graça — Vou pegar um café, você aceita?
— Você pode tomar café?
— Bom, eu acho que sim — Respondeu, sorrindo.
— Vou com você — Levantei e a segui até a pequena copa.
Já estava ficando incomodado de como a recepcionista nos assistia,
como se fôssemos atores encenando em uma peça de teatro.
Quando voltamos à recepção, algumas pacientes já haviam chegado.
Uma, com um barrigão que, nossa, parecia que ia explodir a qualquer
momento. Shizune olhou na direção em que eu olhava e sorriu.
— Será que você vai ficar assim? — Perguntei.
Ela se aproximou do meu ouvido e cochichou — Acho que ela ganhou
peso demais.
— É... — Concordei.
Ficamos nos encarando em silêncio.
Queria dizer tanta coisa, mas, pela primeira vez na vida, eu estava
intimidado. Fora que eu estava em um ambiente totalmente estranho para
mim, rodeado de mulheres grávidas tagarelando sobre fraldas, partos e
estrias.
Shizune desviou o olhar e começou a prestar atenção ao que a mulher
de aparentemente quarenta anos — a que tinha a barriga a um passo de
explodir — dizia.
Ela falava alguma coisa sobre o plano de saúde não cobrir a anestesia, o
que me lembrou de que eu como pai deveria ajudar em qualquer despesa que
a Shizune pudesse ter.
Involuntariamente, toquei a mão dela, que descansava sobre sua
barriga, chamando sua atenção.
Ela se assustou com o meu toque e me encarou, mas não afastou minha
mão dali. Eu meio que paralisei, perdi o que ia falar e fiquei olhando para a
barriga dela.
Tirei a mão de cima da dela e toquei na barriga mesmo. Esperei que ela
me afastasse, mas ela não o fez. Encarei seus olhinhos estreitos, que me
olhavam, tentando decifrar meu próximo passo. Já tinha feito isso no dia
anterior, mas aquele simples gesto enchia meu peito de sentimento tão forte.
Seria a paternidade?
Sorri. Um sorriso que mais parecia uma bufada, mas ela sorriu de volta.
Me aproximei, ficando a centímetros de distância do rosto dela.
Shizune encarou meus lábios, umedecendo os seus. Eu estava pronto para
beijá-la, e parecia que ela também. Só que, infelizmente, a doutora chegou,
quebrando todo o clima e fazendo com que minha ninja escorregasse para
longe de mim.
— Bom dia, meninas — A médica as cumprimentou, sorridente.
Olhou para mim com certa curiosidade, antes de seguir para o
consultório de número dois.
Foi aí que percebi que eu era o alvo dos olhares de praticamente todas
as mulheres que estavam ali, grávidas ou não. Os olhos delas não tinham
cerca e, modestamente ou nem tanto, vocês sabem que eu não era e não sou
de jogar fora. O engraçado é que só tinha mais um cara acompanhando uma
grávida. As demais estavam sozinhas, ou acompanhadas por outras mulheres,
o que me levava a pensar nas várias hipóteses para justificar elas estarem
desacompanhadas dos seus respectivos parceiros.
1 - O marido/namorado estava no trabalho.
2 - Elas fizeram inseminação.
3 - Optaram por produção independente (só usaram o cara mesmo para
engravidar)
4 - Os caras que as engravidaram eram todos filhos da puta.
5 - Eram lésbicas, por isso não tinham um macho (o que levava a
segunda e terceira hipóteses).
— Você pode entrar, Shizune — A secretária falou para minha ninja,
me chamando de volta à realidade.
— Vamos? – A japa me perguntou. Assenti e a acompanhei. Meu
coração foi parar na minha boca, e eu podia jurar que eu estava tremendo.
Entramos e nos sentamos nas cadeiras de frente para a doutora
Adelaide. Ela nos recebeu com um sorriso e estendeu a mão para me
cumprimentar.
— Prazer, eu sou a Adelaide.
— Prazer, Clis.
— Muito bem – Voltou sua atenção para a japa – Shizune, como se
sente, querida?
— Ainda estou sentindo enjoos e cólicas. Tirando isso, estou bem.
— Ok — A médica disse, fazendo anotações na ficha dela — Cadê o
cartão?
— Aqui — Minha ninja entregou um cartão com o desenho de uma
mulher grávida a ela.
— Bom, hoje faremos uma transvaginal, como eu já havia lhe
explicado, e vou te passar alguns exames. Tá tomando o ácido fólico
direitinho?
— Sim.
— Desculpa — Interrompi — Por que ela tem que tomar isso?
Shizune arregalou os olhos, surpresa, enquanto a doutora apenas sorriu.
— O uso do ácido fólico na gravidez serve para diminuir o risco de
lesões no tubo neural do bebê, prevenindo várias doenças, além de diminuir o
risco de parto prematuro.
— Entendi.
— OK. Nós vamos medir a sua pressão, e depois podemos fazer a ultra
— A doutora disse para a minha ninja.
Acompanhamos a médica até outra sala. Uma enfermeira veio,
conduziu a Shizune até uma cadeira e mediu a pressão dela.
— Onze por sete — A moça disse, anotando no cartão de gestante da
ninja.
Onze por sete? Eu não entendia nada de pressão arterial, muito menos
de grávidas, mas onze por sete não estava baixa demais?
— Não está muito baixa? — Perguntei, preocupado.
— É normal a pressão cair no primeiro trimestre da gravidez — Ela me
explicou.
Shizune me encarava, surpresa demais por eu estar perguntando todas
aquelas coisas. Ela ainda não tinha entendido? Quando eu disse que queria
participar, estava falando sério. Queria estar por dentro de tudo, saber de tudo
para saber como ajudá-la a ter uma gravidez saudável e tranquila. Eu só
precisava que ela me aceitasse por perto.
— Shizune, você pode ir até aquele banheiro e tirar a roupa — Agora
era a secretária de antes que falava, entregando o que parecia uma daquelas
roupas de hospital.
Minha ninja assentiu, pegou o saco plástico e foi em direção ao
banheiro.
— Conheço a Shizune desde que ela nasceu, sou amiga da mãe dela —
Doutora Adelaide que já havia retornado a sala e mexia no aparelho próximo
a cama falou — Sempre soube que ela seria uma excelente mãe.
— Ela parece que foi feita para isso — Concordei.
— Sim, mas e você? Sente-se pronto? — Fiquei tentado a não
responder, não era da conta dela, mas me vi assentindo firmemente.
— Farei o impossível para ficar — Ela sorriu, satisfeita.
Minha ninja voltou do banheiro vestindo aquela roupa verde, tentando
esconder o corpo de mim. De mim?
E eu, cafajeste toda vida, não queria ter olhado suas curvas expostas
pela transparência do negócio, mas não consegui. Deu pra ver tudo, caralho!
Se eu não estivesse tão nervoso, teria ficado de pau duro com certeza.
— Deite-se aqui, querida, e abra bem as pernas.
Abra as pernas? Olhei para aquele troço comprido na mão da médica e
meus olhos praticamente saltaram do meu rosto quando ela vestiu uma
camisinha naquilo.
Que porra de exame era aquele?
— Vamos lá. Relaxa o abdômen. Isso, fique bem relaxada.
Encostei-me na parede, vendo aquele troço sumir para dentro da japa.
Puta que pariu! Coitada da criança!
Olhei para ela e vi que ela me encarava. Engoli seco e forcei um
sorriso.
— Sente-se aqui perto dela, Clis, para você poder ver o seu bebê.
O meu bebê!
Vocês não imaginam o impacto que aquela simples frase fez com a
minha pessoa.
Sentei-me na cadeira ao lado da Shizune, toda constrangida, e encarei o
monitor com o coração na mão.
Imagens começaram a aparecer na tela. A médica ia explicando cada
uma, mas eu não conseguia prestar atenção em nada. Fiquei hipnotizado por
aquela imagem preta e desfocada. Era meu filho, meu filho ali. Sem pensar
muito, segurei a mão da ninja e a apertei com força. Ela apertou a minha de
volta e, quando o barulho de um coraçãozinho batendo acelerado começou a
ecoar pela sala, eu pensei que ia desmaiar.
Foi indescritível a sensação que senti. Alegria, euforia, felicidade,
amor: tudo enrolado num mesmo pacotinho.
Chorei, claro que eu chorei, não seria eu se não tivesse chorado. Chorei
contido, segurando a mão dela, que também chorava, não tão contida.
— Nosso filho... — Falei pertinho do ouvido dela, que só balançou a
cabeça, emocionada demais pra falar.
Tempo depois, saímos os dois do consultório, totalmente absortos em
nossos pensamentos.
— Bem, eu já vou... — Ela disse, sem me encarar.
— Shizune... — Pigarreei — Quero te ajudar nas despesas. Sei que
você tem plano de saúde, mas ouvi aquela grávida dizer algo sobre o plano
não cobrir a anestesia se não for parto normal.
— Eu ainda não vi isso, se o meu plano cobre ou não cobre. De
qualquer forma, se eles cobrirem, vão me reembolsar depois. Não se
preocupe. E ainda não sei se quero fazer cesárea.
— Você quer parto normal?
— Não sei, eu ainda não pensei direito sobre isso.
— Entendo. Mas e os remédios?
— Clis, não se preocupe com isso. É sério.
Segurei a mão dela:
— Não me pede para não me preocupar, ninja. O que eu vi ali dentro, o
que eu presenciei foi a melhor coisa que eu já fiz. Eu nunca tive tanta certeza
de ter feito algo bom na minha vida até olhar para aquele monitor. Então não
me diga para não me preocupar. Me preocupo, com você e com ele.
— Tudo bem. Se eu precisar comprar alguma coisa, eu te aviso. Está
bem?
— Obrigado — Ela sorriu e soltou a minha mão.
— Preciso ir.
— OK — Respondi. Shizune me encarou meio confusa, mas não disse
nada. Eu tive uma leve impressão de que ela esperava que eu dissesse algo
mais.
— Tchau, Clis.
— Até mais... — Ela partiu em direção a sei lá onde estava o carro
dela. E eu? Eu fui atrás de ajuda, já estava passando da hora.
Entendam uma coisa, eu não tinha desistido da ninja. Já não tinha
desistido antes de saber que ela estava grávida, ainda mais depois de ouvir o
coração do meu filho. Aí que eu não desistiria mesmo. Eu só percebi que não
adiantaria forçá-la a me aceitar de volta, nem ficar insistindo, ou a cercando
por aí. Eu precisava fazer algo que conseguisse quebrar aquela resistência
dela de uma vez por todas.
Foi por isso que, às quatro da tarde, no mesmo café de sempre, eu
aguardava meu melhor amigo Stênio. É, àquela altura do campeonato, ele já
tinha voltado ao posto de melhor amigo.
— Não posso te ajudar — Ele disse, enquanto mordia um pedaço de
pão de queijo.
— Que porra! Então por que você disse para eu te procurar quando eu
quisesse consertar a merda?
— Isso foi antes, cara, antes de eu saber da gravidez. Agora não faço
ideia de como te ajudar. Mas eu sei quem pode.
Primeiro, eu o chamei de louco, depois, eu o chamei de filho da mãe.
Por último, antes de bater na porta do apartamento dele atrás da sua esposa
megera, eu o chamei de melhor amigo da onça.
— O que você quer aqui? O Stênio não está — Adele disse quando me
atendeu, e já ia batendo a porta na minha cara. Mas fui rápido e coloquei o
pé, impedindo.
— Eu sei com você que eu quero falar. Preciso da sua ajuda — Pronto,
eu tinha sua atenção.
— E o que te faz pensar que eu te ajudaria em alguma coisa?
Eu disse que eu tinha a sua atenção, não que ela ia concordar em me
ajudar.
— Adele... Eu sei que eu não mereço sua ajuda e nada do que eu disser
vai redimir toda a merda que eu fiz, mas eu amo a Shizune e eu a quero de
volta.
A megera arregalou os olhos e, por um momento, eu pensei que ela
tinha se solidarizado com a minha situação.
— Tarde demais. Problema seu. Se manca. Cai fora! — Falou,
prensando a porta no meu pé.
— Ai! — Tive que tirar o meu pé, ou a louca ia me amputar — Adele!
Adele, por favor, eu sou um homem desesperado!
— Não me interessa — Ela gritou do outro lado.
— Se você não falar comigo, eu vou ficar aqui no corredor, gritando e
importunando os seus vizinhos. Olha, já tem um aqui me olhando de cara feia
— Era verdade.
— Mentira! — Então eu perguntei o nome do senhorzinho que
realmente estava me olhando de cara feia, parado na porta do apartamento da
frente.
— O seu Alfredo falou para você respeitar o seu marido — Essa parte
foi mentira, mas funcionou, ela abriu a porta na hora.
— Esse idiota tem problemas mentais, seu Alfredo! Me desculpe por
isso — Tive que me segurar para não rir da cara dela, tentando se explicar
para o vizinho.
— Vê logo o que ele quer e acaba logo com isso! — O velhinho
ranzinza disse, antes de bater com a porta na nossa cara.
— Faz o que ele disse — Falei com cara de menor abandonado.
— Que merda! — Ela rosnou, abrindo a porta — Você tem cinco
minutos!
— Obrigado.
— Estou contando.
— OK, é...
— Desembucha!
— Calma, não me pressiona. É difícil falar sobre essas coisas, eu não
esperava sentir o que estou sentindo de novo por alguém, e...
— Sentir o que? — Me interrompeu.
— Amor.
— Você realmente ama a Shizune, Clis? Porque quem ama não faz as
coisas que você fez, quem ama não magoa o outro. Pelo contrário, faz o outro
feliz. Porque a felicidade do outro é a nossa felicidade!
— Eu sei, Adele, eu sei! Agora eu sei! — Falei quase em um suplício
— Não tem desculpa para o que eu fiz com ela, a não ser o fato de eu ter sido
um covarde. Mas eu amo a sua amiga, amo o nosso filho, e quero ficar ao
lado deles.
— Eu acredito em você — Falou, e eu quase peguei meu celular e pedi
para ela repetir para eu poder gravar.
— Acredita?
— Acredito. Hoje em dia, ninguém assume filho de outro só por causa
de mulher a não ser que ame. Tem que amar demais para fazer isso.
Mas o filho era meu, entendi que ela estava se referindo ao fato de eu
ter dito à ninja que assumia o filho dela, que, na ocasião, eu não sabia que era
meu.
— Eu a amo, com todas as minhas forças. Eu posso fazer a ninja feliz,
Adele. Você pode não acreditar, mas tudo o que eu mais quero é fazê-la feliz
e ser feliz ao lado dela.
— O que você seria capaz de fazer para provar isso? — Perguntou,
olhando bem no fundo dos meus olhos.
— Caso com ela amanhã se ela aceitar, e não é por causa de filho. É
porque não consigo mais ficar longe. Por favor, acredite em mim.
— Tudo bem!
— Tudo bem? Tudo bem você acredita, ou tudo bem você vai me
ajudar.
— As duas coisas. Mas não é por você. Ainda te acho um filho da puta
egoísta e narcisista. No entanto, a minha amiga te ama, e sei que, no fundo,
ela ainda quer você. Vou te ajudar, e acho que sei como amolecer aquela japa
— Sorri aliviado — Mas vai ser do meu jeito!
Tudo bem, não tão aliviado assim.
Trinta e Oito – Um Cantor na Madrugada.
Shizune.
Clis.
Quando a Adele falou que eu teria que cantar para a Shizune, tipo
cantar mesmo, fazer uma serenata debaixo da sacada dela, eu ri. Continuei
rindo até que encarei a carranca de vadia megera que ela tinha. Então engoli
seco e parei de rir:
— Tá falando sério?
— Muito sério, idiota! É a única maneira de balançar o coração da
minha amiga. Acredite, eu sei. Aceita, ou mete o pé — Falou com firmeza,
apontando para a porta.
— Mas eu não sei cantar!
— Sabe falar e fazer merda, então vai servir.
Bufei indignado.
— Tá... E eu vou cantar no gogó? — Perguntei por curiosidade, ainda
não estava considerando.
— Eu vou tocar para você. Tem alguma música em mente?
— Claro que não! — Respondi exasperado. Que louca!
— Então trate de descobrir uma música que expresse todo o seu
sentimento — Ela saiu da sala e voltou com um notebook e fones de ouvido
— Toma — Disse, despejando o notebook e os fones em minhas mãos —
Procura!
Eu quis questionar, quis mandar ela se ferrar, porque eu jamais pagaria
um mico daqueles. Mas a única coisa que fiz foi me sentar no sofá e fazer
exatamente o que ela disse.
A maluca saiu de casa, sem olhar para trás.
Duas horas mais tarde, depois de ouvir centenas de músicas, eu
encontrei uma que expressava justamente o que eu estava sentindo.
Expressava a minha redenção.
Adele entrou no apartamento no exato momento em que eu ouvia a
letra. Trazia seu filhinho nos braços e algumas sacolas de compras.
— E aí? — Perguntou, colocando a criança no chão e indo em direção à
cozinha.
— Acho que encontrei — Falei, brincando com o Ian, que tentava
puxar os fones de ouvido da minha mão.
— Sério? Me mostre.
Ela ouviu a música em silêncio, me deixando bastante ansioso. Fazia
algumas expressões que eu tentava decifrar no processo, mas era impossível.
— Não gostou?
— Até que gostei, mas tenho que aprender a tocá-la. Então desinfeta
daqui e me deixe trabalhar. Me encontre à meia noite em frente ao prédio da
Shizune.
— Sem ensaiar? — Ela gargalhou.
— Já está se sentindo "o" cantor famoso, é? — Dei os ombros — Tá
bom. Passa aqui meia hora antes para eu tentar te ajudar a minimizar um
pouco o seu mico eterno.
Mico. Seria mesmo um mico eterno. E se os vizinhos me tacassem
ovos? E se ela nem aparecesse na janela?
Já estava saindo perdido em meus pensamentos, quando a Adele me
chamou.
— Clis... Eu amo minha amiga, e, só por amá-la, eu vou te ajudar a
consertar essa cagada que você fez. Pisa de novo na bola, e eu vou garantir
que você nunca mais engravide ninguém.
Ignorei a parte da ameaça, me aproximei dela e a abracei. É claro que
ela me empurrou.
— Sai fora, idiota!
— Me desculpe, me empolguei! — Disse, envergonhado. O quê? Até
os cafajestes tem seus momentos de constrangimento!
— Tudo bem. O Stênio me contou o que você passou com a Larissa, eu
conheci aquela cadela — Confesso que senti um desconforto por ela saber,
mas estava na hora de exorcizar de vez aquele demônio da minha vida.
— É passado, e o que eu me transformei depois disso é passado
também.
— É bom mesmo! Olha, até entendo pelo que você passou, mas isso
não justifica sair por aí ferindo o coração das pessoas.
— Com certeza, sei disso agora. E, no final das contas, acabei com meu
coração ferido também.
— Faça minha amiga feliz.
— Eu vou fazer.
Saí de lá até mais tranquilo depois da nossa conversa. A Adele era uma
boa amiga. Apesar de ser uma megera. Minha ninja tinha sorte.
Embora apavorado, ansioso e me sentindo particularmente ridículo, a
uma da manhã parei meu carro de frente para o prédio da ninja. A Adele e o
Stênio pararam logo atrás de mim. Respirei fundo e saí do carro decidido: se
pagar o mico do ano faria a Shizune voltar para mim, eu cantaria não só uma,
mas um repertório inteiro.
— Pronto, Luan Santana? Ou seria Gustavo Lima? — Adele me
alfinetou quando se aproximou.
Ela parecia bem com aquilo. Violão debaixo do braço, sorriso no rosto.
Não dava para saber se ela estava feliz por estar me ajudando com a amiga,
ou só se divertindo as minhas custas.
— Estou pronto.
— OK, eu vou ligar para ela — Adele se afastou e o Stênio se
aproximou, sorrindo. Mas não era um sorriso de zombaria, era um sorriso de
incentivo.
— Estou orgulhoso de você, meu amigo — Ele disse, segurando meu
ombro — Você finalmente se tornou o homem que deve ser. O homem que a
minha amiga merece.
— Devo isso a ela, a minha ninja. Vou ao inferno por ela, Stênio.
— Vamos — Ele concordou, apontando com a cabeça para a esposa.
— Se prepara, Clis, vamos fazer conforme ensaiamos!
Me posicionei debaixo da sacada dela, que ficava no segundo andar do
prédio de frente para a rua, junto com a Adele, e fiquei olhando para cima,
esperando minha ninja aparecer.
Nada.
— Será que ela vem? — Perguntei à Adele, que também encarava a
sacada com o cenho franzido.
Um desespero ameaçou me invadir. Se a minha ninja não saísse na
sacada, era por que ela não me queria mais? Já estava preparado para invadir
o apartamento dela ou começar a gritar implorando por perdão, quando ela
finalmente saiu.
Adele sorriu e começou a tocar seu violão. Respirei puxando todo o ar
possível para os meus pulmões e cantei. Cantei com todo sentimento, com
toda a emoção que explodia em meu peito. Cantei decidido e muito
concentrado, e, graças a Deus, não errei, só desafinei um pouquinho. Não
dava para ver a expressão dela por causa da escuridão, mas eu pedia a Deus
que ela estivesse gostando.
Algumas luzes se acenderam no prédio, e duas vizinhas da Shizune
saíram na sacada e se penduraram no parapeito para me ouvirem cantar. Ouvi
ao longe alguém me mandar calar a boca, mas ignorei. Cantei a plenos
pulmões.
Quando terminei de cantar, me senti bem, me senti leve, mas minha
ninja não esboçou qualquer reação.
— Shizune, eu te amo! Volta para mim! — Gritei tão alto, que mais
luzes se acenderam.
Ela, no entanto, continuou muda.
— Volta, Shizune. Se você não quiser, a gente quer! — Uma das
vizinhas dela gritou. Eu sorri sem graça com aquilo, até minha ninja entrar
correndo para o apartamento. Depois daquela atitude, eu me desesperei.
— Shizune! — Gritei — Droga! Não deu certo, Adele, essa sua ideia
de jerico não deu certo! — Esbravejei.
Adele encarou a sacada com uma expressão confusa, e, depois, me
olhou sem saber o que dizer.
— O que eu faço? — Perguntei. Comecei a andar de um lado para o
outro desesperado — Vou invadir o apartamento dela. Ela tem que me
perdoar Adele!
— Calma, Clis! Dá um tempo para ela.
— Isso, cara! Não vai adiantar pressionar a japa agora — Stênio disse.
— Caralho, Stênio! O que vai ser de mim se ela não me aceitar de
volta?
— Acho que você vai ficar bem — Adele respondeu com um sorriso e
apontou com a cabeça para a portaria do prédio — Vem, Stênio.
— Boa sorte, meu amigo — Os dois se afastaram, e eu acelerei meu
passo na direção da japa. O coração quase saindo pela boca...
— Shizune... Eu... — Ela estava ali na minha frente, me encarando com
aqueles olhinhos puxados e inchados, sinal que havia chorado.
Eu queria pular a parte da conversa e partir logo para cima dela e atacá-
la com beijos e abraços, enchê-la de carinho, mas eu precisava dizer,
precisava expressar tudo o que estava sentindo. E, principalmente, fazê-la
entender que era verdadeiro e que era forte o amor que eu sentia por ela.
Segurei suas mãos, entrelaçando nossos dedos, e olhei bem no fundo
dos seus olhos. Ela encarou nossas mãos, visivelmente abalada, e eu rezava
para que fosse de um jeito bom.
— Não vou te pedir perdão, porque eu sei que não tem perdão para o
que eu fiz. Eu estou te pedindo para me dar uma chance de te mostrar que eu
sou cara certo para você. A gente pode dar certo junto. Você é a mulher da
minha vida, ninja, e eu quero fazer parte da sua — Respirei fundo, encarando
suas lágrimas que desciam desinibidas pelo seu rosto — Você fez meu
mundo mais feliz no pouco tempo que habitou nele. Eu quero você comigo, e
não estou falando de deixar as coisas rolarem para ver o que acontece, eu
estou falando de um futuro. Juntos. Eu te amo, Shizune. Eu te amei desde o
momento em que botei meus olhos em você na festa de aniversário do Ian.
Quando olhei para você, eu já sabia, sabia que era caminho sem volta. Ninja,
você me libertou, você me fez amar novamente, e eu quero demais viver esse
amor contigo. Eu faço o que você quiser, estou te implorando. Fica comigo
para sempre...
— Fala devagar — Sorriu tímida — Respira!
— Preciso botar para fora tudo que está aqui dentro — Bati no peito.
Minha ninja não me deixou concluir a última frase, me calando com
seus lábios. Não dá pra definir a emoção que senti ao tê-la de novo em meus
braços, o seu lugar, a sua morada.
Nos beijamos com tanto sentimento, que parecia que eles
transbordavam de nós. Era quase palpável o amor que sentíamos. Agradeci a
Deus em silêncio, e prometi a ele e a mim mesmo fazer por merecer cada dia
mais aquele amor tão puro. Nada nem ninguém nos tiraria aquilo.
— Uhulll! — As duas garotas gritaram e bateram palmas, antes de
entrarem no apartamento. Sorrimos da situação.
Minha ninja me puxou novamente pela nuca e me deu outro beijo,
longo, suave, molhado, carregado de sentimento.
Como senti falta daqueles lábios!
— Isso é um sim? — Perguntei, segurando seu rosto. Não vi nem um
tiquinho de indecisão naquela face perfeita. Finalmente, eu a tinha de volta —
Olha, eu caso com você amanhã se disser sim.
— Você vai ter que comer muito feijão com arroz ainda para conseguir
me levar para o altar, seu cafajeste! – Ela, disse sorrindo — Mas é um sim.
Sim para tudo o que você disse. Estou te entregando meu coração,
Cliscristofferson, ele é seu. Cuida bem dele, por favor!
E sabe a porra das lágrimas? Pois é, elas caíram novamente assim que
ouvi suas palavras. E, pela primeira vez, eu não estava nem aí. Pela primeira
vez, elas caíam de alegria e eram muito bem-vindas.
— Eu vou cuidar, prometo. Quero cuidar de você e do nosso bebê,
ninja! — Fiz carinho no rosto dela — Quero estar presente, serei o melhor pai
desse mundo.
— Eu sei — Disse, fungando — Nunca duvidei.
Sorri e a abracei, levantando-a no ar, rodopiei com ela em meus braços
e gritei:
— Eu te amo, Shizune Young!
— Ela já te perdoou, babaca! Agora cala essa boca, trabalho amanhã!
— Alguém gritou.
Minha ninja gargalhou.
— Para de escândalo! — Ela falou quando a coloquei de volta no chão
— Vem, vamos subir!
Me puxou com pressa, praticamente corremos em direção ao prédio.
Saudade, ela também sentia. Sorri feito um idiota apaixonado. Mas eu era,
não é?
***
Shizune.
★★★