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Eu, Derek Rosewood, nunca irei me casar.

Nunca. Mais.
Recém-saído de um divórcio amargo, só
existe três coisas que eu dou uma mer*a: minha
filha, minha carreira e minha solteirice.
Um advogado de profissão e um
casamento feliz com o meu trabalho, eu
deixo o drama para o tribunal e mantenho
as mulheres no comprimento de um
braço. Seus frágeis corações de
lantejoulas estão mais seguros assim. E,
além disso, não estou em condições de
oferecer a elas o amor e atenção que tão
estupidamente buscam de mim.
Acredite em mim, não sou o que elas
precisam. Não depois do que eu passei.
Não é até que sou atribuído como
tutor de uma propriedade para uma herdeira
distante e enigmática, que encontro minhas
fronteiras profissionais – e pessoais –
empurradas para o esquecimento. Somos
completamente errados um para o outro.
Emocionalmente indisponíveis. Amargos.
Cansados. E devo cuidar dos seus melhores
interesses. Protegê-la.
Mas isso não deveria acontecer. E por
essa razão, eu apelo para a quinta emenda.

*A Quinta Emenda à Constituição dos Estados Unidos assegura aos


norte-americanos o direito de permanecer calado e evitar assim a
autoincriminação, assim como a proteção contra buscas e
apreensões descabidas.
CAPÍTULO 1

Derek
— Ela não receberá os visitantes hoje. — Uma mulher com lábios finos
vermelhos e um coque escuro passa a mão na frente do vestido e endireita sua coluna.
— Você terá que voltar outra hora.
Ela tenta fechar a porta antes que eu possa me opor, mas a bloqueio com a
ponta polida de meu preto sapato Oxford.
— Sou o tutor nomeado pelo tribunal. — Retiro um cartão de visita de um
bolso interno, branco com o logotipo de Rosewood e Rosewood na parte superior. —
Advogado Derek Rosewood. Ela está me esperando.
A mulher franze os lábios, pegando o cartão da minha mão com apreensão.
Seu olhar afiado move entre o logotipo em relevo e meu rosto.
— Ela está indisposta. — A mulher devolve o cartão como se eu fosse algum
vendedor ambulante. — Por favor, telefone antes de vir na próxima vez.
— Minha secretária ligou. Ontem. Falou com um Thomas Gambrel,
administrador da casa. — Olho para a monstruosa propriedade. A ampla entrada da
frente corre o risco de me engolir completamente. — Foi-me dito para passar às duas
horas.
Levanto o meu pulso, puxando a manga do meu terno para mostrar o meu
relógio para ela.
— Três minutos mais cedo — eu digo. — Mas estou mais do que disposto a
esperar se a Sra. Randall precisar de mais tempo para se fazer apresentável.
Mantenho uma cara neutra, uma postura autoconfiante, e as minhas opiniões
para mim mesmo. Ninguém sabe quanto tempo essa tutela vai durar, mas se eu vou
verificar Serena Randall em uma base regular, é imperativo que eu tenha um bom
relacionamento com seus funcionários. A última coisa que Rosewood e Rosewood LLP1
precisa são de rumores fúteis manchando o nosso bom nome. Muitos advogados têm
visto suas carreiras desfazer-se em pedaços porque seus egos obtiveram o melhor
deles em momentos difíceis.
Eu escolho minhas batalhas. Sempre escolhi. Sempre irei.
— Sinto muito, acredito que não peguei o seu nome. — Injeto um pouco de
leveza no meu tom, na esperança de quebrar esta estúpida atitude defensiva da parte
dela. Estou aqui simplesmente para proteger o patrimônio e a Sra. Randall.
A mulher faz uma pausa, tomando um fôlego, e o libera de uma só vez. —
Eudora Darcy.
Ela dá um passo para trás e levanta o queixo.
— Tudo certo. Entre e espere na sala. Verei o que posso fazer. — Eudora abre
a pesada porta e faz um movimento para eu entrar. Ela não tenta esconder seu
desagrado, mas não deixo isso me incomodar. Além disso, é preciso muito mais do
que um olhar complacente em um rosto azedo e enrugado para estragar meu humor.
Tiro meu chapéu e espero os meus olhos se ajustarem à fraca luz. É um dia
de abril digno de cartão postal. Carvalhos estão brotando. Robins2 estão cantando.
Tulipas estão em flor. É um maldito filme da Disney.
Mas aqui, eu mal posso ver além da minha mão estendida.
Poeira e escuridão enchem meus pulmões e faz cócegas no meu nariz, abafo
uma tosse. Do que eu recolhi, esta é uma propriedade familiar centenária, e os pais
de Serena estão exigindo que ela passe a residir aqui durante a vigência da tutela.

² Limited Liability Partnership – Sociedade de Responsabilidade Limitada

2
— Espere ali, por favor. — Eudora aponta para um cômodo com contornos
sombreados de mobiliário antes de dar alguns passos e ligar uma pequena lâmpada.
— Eu me esforçarei para enviar a Sra. Randall logo.
Com as mãos cruzadas, ela se afasta, seus sapatos silenciosamente tocando
ao longo dos pisos de mármore.
E assim eu espero.
Um minuto passa, depois outro, depois mais dez. Pego meu telefone e estreito
os olhos para a tela brilhante no quarto escuro. Uma patética barra. Tento e envio
uma mensagem para a minha secretária jurídica informando sobre uma pilha de
arquivos que deixei na minha mesa esta manhã. A mensagem não vai por duas vezes,
mas é encaminhada na terceira vez.
Meu telefone apita quando mensagens enchem minha tela de uma só vez. Em
poucos segundos, o meu polegar paira sobre duas selfies de alguma mulher que eu
encontrei uma semana atrás fazendo topless. O que há com as mulheres pensando
que selfie de topless resolve tudo? Eu não liguei para ela por uma razão. E a razão é
porque o nosso pequeno encontro não significava nada. Foi divertido, mas agora eu
terminei com ela. Poderia jurar que fui bem claro quando ela estava engasgada com o
meu pau pela terceira vez naquela noite. Eu não repito. Não tenho relacionamentos.
Não namoro.
Pelo amor de Deus, tenha um pouco de respeito por si mesma, Amanda.
Apago suas fotos e vejo uma cópia de Great Expectations3 sobre a mesa de café.
A julgar pela capa, estou disposto a apostar que é uma primeira edição. A coisa tem,
provavelmente, cento e cinquenta anos de idade, e os Randalls o tem como um livro
de mesa de café comprado na Barnes and Noble4.

3Great Expectations (Grandes Esperanças) é um livro escrito por Charles Dickens, que conta a história
de Philip Pirrip. É dividido em três volumes e foi adaptado para o cinema e para a TV várias vezes. Foi
escrito durante a era vitoriana.

4 Barnes & Noble, Inc. é a maior livraria varejista dos Estados Unidos, operando principalmente
através de sua cadeia de livrarias, Barnes & Noble Booksellers localizada na Quinta
avenida de Manhattan. Conhecida por grandes varejos de alta qualidade, muitas contendo lojas de
café como a Starbucks, e por descontos competitivos de best-sellers.
Belcourt Manor está no meio do nada, em algum lugar entre Rixton Falls e
Manhattan e definitivamente fora dos caminhos usuais. Rodeado por exuberantes
matas verdes e bosques de carvalhos majestosos, seu auge foi certamente em uma
era passada.
Apesar de parecer o tipo de lugar que Jay Gatsby5 poderia ter dado uma festa
ridiculamente incrível, não posso imaginar que este é o tipo de lugar que uma herdeira
de vinte e poucos anos gostaria de passar seus dias. Mas cada um na sua.
— Posso pegar algo para beber, Sr. Rosewood? — Eudora pergunta. — A Sra.
Randall mudou de ideia. Ela descerá em breve.
— O que a senhora da casa bebe? — Guardo meu telefone no bolso, limpando
a garganta.
Os lábios de Eudora apertam e sorriem antes de seu rosto adquirir uma
expressão indiferente. — Suponho que isso depende da hora do dia. A esta hora, ela
toma chá. Gostaria do seu quente ou gelado?
— Gelado. Obrigado.
Ela desaparece, e faço uma varredura da sala. A luz fraca que a lâmpada emite
é suficiente para destacar as espessas tapeçarias cobrindo a janela de dois andares
atrás do sofá, e um espelho dourado cobre a parede atrás de mim. Minha mão desliza
ao longo do sofá sob as minhas coxas. Veludo. Macio como a pele.
Ficando aborrecido e um pouco irritado com a tentativa de ver através de toda
essa escuridão, eu levanto e sigo em direção à janela, puxando a tapeçaria para o
lado. O quarto inunda com luz e partículas de poeira, enviando-as rapidamente para
os meus olhos. Estreito os olhos, protegendo-os com a mão, e volto para a porta.
E então, a primeira coisa que eu vejo é o cabelo dela.
Vermelhos acobreados. Brilhantes.

5 James Gatz, mais conhecido como Jay Gatsby (Dakota do Norte, 1890 - Long Island, Setembro
de 1922) é o personagem-título do magnum opus de F. Scott Fitzgerald, The Great Gatsby (1925),
Gatsby é um bilionário, contrabandista e herói de guerra norte-americano. O personagem tornou-se
um arquétipo de homens americanos que pretendiam aderir a alta sociedade, e nos EUA, o nome
tornou-se sinônimo desses empresários de sucesso que tiveram passados obscuros.
— Essa tapeçaria é um Auclair. Século dezesseis. É chamado, Caça de
Pégasus. Mas de qualquer modo, por favor, coloque suas mãos sobre ele. — Sua voz
corta o ar espesso.
E então eu vejo seus olhos.
Azul mais que azul. Iluminado por dentro.
— Serena. — Eu movo em direção a ela, minha mão estendida, e me esforço
para respirar com a visão dela. — Derek Rosewood. Seu tutor. Prazer em conhecê-la.
— Meu tutor financeiro — ela me corrige. Nossas mãos se encontram, e as dela
são delicadas, sem esmalte. — Não preciso de um tutor. Na verdade, eu não preciso
de um tutor financeiro, também, mas, aparentemente, você faz uma série de más
decisões, e a próxima coisa que você sabe, seu pai está cortando-a e sentenciando-a
a vida neste calabouço e sua madrasta ligando para seu advogado na discagem rápida.
— Vamos? — Aponto para o sofá e a deixo sentar primeiro.
Eudora reaparece, colocando uma pequena bandeja na mesa de café diante de
nós. Um vapor sai do bule de chá de porcelana, um saquinho de chá descansa em
uma extremidade, e um copo de chá gelado em um cálice de cristal do outro lado.
— Açúcar? — Os olhos de Serena encontram os meus.
— Por favor.
Ela pega um torrão de açúcar com uma pequena colher e deposita no meu
copo, mexendo rapidamente. Quando termina, ela bate a colher na borda três vezes e
a coloca ao lado antes de me entregar o copo.
Observo como ela prepara sua bebida com movimentos lentos e deliberados,
como se tivesse todo o tempo do mundo.
E suponho que ela tenha.
— Mm. — Ela traz a xícara à boca, tomando um gole cuidadoso, e percebo que
ainda tenho que pegar a minha. — Este sofá pertenceu a Wallis Simpson, Duquesa
de Windsor. Ela era uma amiga da família dos meus bisavôs. Sabia que o rei Edward
VIII abdicou do seu trono por ela. O que é louco. E romântico.
— Acho que ouvi isso uma vez. Sim — minto. Não sei nada sobre a história
real britânica, mas posso mentir com o melhor deles.
— A rainha-mãe odiava Wallis. Drama não conhece status social.
— Ou algumas pessoas são atraídas a ele. Mariposas às chamas. Não podem
evitar.
Serena revira os olhos encovados.
— Você sabe por que estou te dizendo essas coisas, Derek? — Ela pergunta,
com os olhos azuis alertas e as sobrancelhas levantadas.
Seus lábios rosados estão puxados para um meio-sorriso, e não posso evitar,
mas sinto como se ela estivesse dois passos à minha frente, me testando, sondando-
me. Não posso imaginar crescendo com esse tipo de riqueza e privilégio, mas posso
imaginar o que pode fazer a uma pessoa.
Independentemente disso, eu não posso ler esta menina para salvar a minha
vida. Ela está tecendo uma teia de intrigas, e estou completamente preso. Na maioria
das vezes, posso entender alguém em menos de dois minutos. Algumas palavras,
algumas observações da linguagem corporal e linguística – você tende a descobrir uma
ordem ou modus operandi.
Mas Serena não é tão simples.
— Não tenho ideia, Serena. — Eu a espelho em tom e postura. Ela está
particularmente cautelosa, e preciso suavizá-la, se puder.
— Porque estou entediada. — Ela se levanta e suspira, passando a mão na
frente da sedosa túnica lavanda envolvendo seu suave corpo. — Quando você vive em
isolamento social em um maldito museu, você se torna um barril de conhecimento
inútil.
E, aparentemente, intensamente amargo.
— E você não está ajudando em nada. — Seus olhos azuis se fixam nos meus.
— Eu? — Tento não rir. Em vez disso, eu me lembro que ela não está em seu
juízo perfeito. Se estivesse, eu não estaria aqui.
— Apenas me olhando assim. — Seu perfeito nariz enruga, e ela libera um
pequeno suspiro suave antes de tomar outro gole de chá. — Encarar é rude, Derek
Rosewood.
— Não estou encarando.
— Mas você está. Você deveria ter visto a forma como a sua boca estava quando
me viu aqui um minuto atrás.
Ela é uma mulher bonita. Profundamente atraente. Tão ofuscante. Olhar para
ela é como olhar para o sol. Se eu olhar por muito tempo, não serei capaz de ver
qualquer outra coisa. Da cabeça aos pés, ela é requintada. Eu tenho que reconhecer.
Mas essa vaidade faz com que caia alguns níveis. Vaidade não é atrativa em ninguém.
— O que você está falando? — Levanto, mas não vou para ela.
— Você olhava para mim como se eu fosse alguma... louca. — Os olhos de
Serena caem para o grosso tapete amontoado aos nossos pés.
E então eu entendo.
Isto absolutamente não é sobre sua beleza.
Ela coloca uma onda vermelha suave e brilhante atrás da orelha. Seu cabelo
está dividido, e um lado paira sobre seu ombro. O vermelho acobreado sobre sua
túnica lavanda, e o sol quente da tarde faz brilhar sua tez leitosa.
— Serena. — Limpo minha garganta, movendo-me dois passos mais perto. —
Não acho que você está louca. Não conheço você. Ainda não, de qualquer maneira. Só
estou aqui para fazer o meu trabalho. Estou aqui para proteger seu patrimônio e fazer
com que o seu dinheiro seja devidamente distribuído até a tutela terminar. Isso é tudo.
Não estou aqui para julgá-la. Não estou aqui para ser intruso ou invasor. Eu quero
que você esteja confortável. Você é minha prioridade.
Seus olhos azuis se levantam para encontrar o meu, e a expressão dela
suaviza. Os lábios em forma de coração de Serena relaxam, mas apenas por uma
fração de segundo.
— Perdoe-me por falar besteira, por... tudo isso. — Esta mulher tem
atrevimento, e não tem medo de usá-lo. Posso malditamente respeitar isso. Ela
descansa uma mão sob o cotovelo oposto e olha pela janela, parecendo poder fazer
bom uso de uma bebida e um cigarro. — Você está na folha de pagamento do meu
pai. E você trabalha para ela.
— Ela?
— Minha madrasta malvada. — Seus olhos muito azuis reviram, e sua voz é
tingida com irritação indisfarçável. — A incomparável Veronica Kensington-Randall.
O nome soa familiar, e tenho certeza que passei sobre ele quando meu pai
deixou a atribuição de tutor no meu colo esta manhã, mas daí a trabalhar para
alguém, não é assim.
— Eu não a conheço — digo. — Serena, eu trabalho para você. Ninguém além
de você. O juiz designou um tutor de sua propriedade. Rosewood e Rosewood foi
escolhida como uma solução não-tendenciosa. E aqui estou eu.
— Você acha que eu sou paranoica, não é?
— Nem um pouco. — Minto. Tipo. Não tenho uma fodida ideia do que pensar
dessa mulher, mas estou completamente absorvido por tudo nela. O jeito que ela fala.
Seus movimentos corporais fluidos. Seu talento para arquear dramaticamente a
sobrancelha, o jeito que ela descaradamente salta para conclusões e se recusa a pedir
desculpas.
Ela tem toda a minha atenção, seja ela boa ou ruim.
— Veronica convenceu o mundo inteiro que eu sou louca. Não posso pôr o pé
em Manhattan agora. Nenhum dos meus amigos sequer enviou um único desejo de
melhora. Não que eu esteja doente, mas você sabe.
— Com amigos assim...
Ela chicoteia o seu olhar para mim, deixando-o escorrer lentamente pela
minha lapela, como o mel, antes de levantá-lo novamente. — Tem certeza que você
nunca ouviu falar de Veronica?
— Nunca.
Serena sopra um sopro leve, seus lábios rosados entreabertos como se
estivesse se divertindo. — Que caverna você tem vivido?
Ela desliza no sofá novamente, o qual uma vez pertenceu a uma mulher cujo
nome agora me escapa, e relaxa, envolvendo as mãos em torno de sua xícara de chá.
Eu tomo o lugar ao lado dela, devagar, cautelosamente.
— As minhas prioridades não envolvem manter-se em quem é quem. Os estilos
de vida dos ricos e famosos não são de nenhum interesse para mim. Sem ofensa.
— Não estou ofendida. E por que eles estariam? — Ela sorri um sorriso fugaz,
uma pitada inesperada de compaixão em seu tom. — Brilho e glamour não são nada
senão uma fachada. Nossas vidas são incrivelmente mundanas, e gastamos uma
quantidade trágica de dinheiro tentando provar que somos especiais.
Ela ri. Uma vez.
— Você acha que é especial, Sr. Rosewood? — Ela pergunta.
— Eu acho que não sou qualificado para fazer esse julgamento. — Corro a
palma da mão pela minha fina gravata preta. — Posso dizer para você quem é especial
para mim, mas não posso dizer se eu, eu mesmo, sou especial. Isso não é para eu
decidir.
— Homem sábio. — Ela toma um gole da sua xícara de chá, olhando para
frente.
Um jardineiro com uma grande tesoura apara o arbusto cheio na frente da
janela da sala de estar, moldando-o e prestando atenção nas bordas. Nós assistimos
em silêncio até que ele se move ao longo do arbusto aparado na forma de um impecável
retângulo quando terminou.
— Sua casa é linda — eu digo. — A propriedade, os jardins. Impecável. Você
tem muita sorte de passar o seu tempo de recuperação em um lugar tão bonito.
— Este lugar é uma fortaleza, uma prisão disfarçada. Ninguém com menos de
setenta anos de idade deveria precisar viver aqui. — Ela bufa, adquirindo um tom
mais duro comigo. — Sem internet. Serviço de telefonia celular fraco no melhor dos
dias. Estou completamente cortada do mundo exterior.
Limpo minha garganta, olhando para longe.
— Sinto muito. — Ela se vira na minha direção. — Este medicamento que
estou tomando me deixa irritada e embaralha os meus pensamentos. Não posso
manter uma única linha de pensamento antes de descarrilar. Eu juro, sou bem-
humorada, e essa não sou eu.
Sua voz é suave agora, e seu rosto se estremece.
— E essas dores de cabeça. Deus, elas são terríveis. É por isso que mantenho
a casa tão escura. — Sua voz suaviza a um sussurro de desculpas.
Não perco tempo, eu levanto e fecho a tapeçaria de séculos de idade. — Melhor?
— Obrigada. — Suas dramaticamente belas características são reduzidas a
sombras no escuro, mas faz muito pouco para mascarar sua beleza. — Peço desculpas
se fui brusca com você, Derek. Você é a primeira pessoa com quem falei em mais de
45 dias que não tem seu salário pessoalmente assinado por Veronica.
— Sério?
Ela balança a cabeça, elegantemente levantando uma perna em frente da outra
e descansando a mão sobre o joelho. Seu olhar é fixo em um relógio dourado que
descansa em um envoltório de mármore. A face do relógio brilha branco na sala
escura. Tenho que aventurar a adivinhar que os minutos escorrem um pouco mais
lentos por estas bandas, e que por si só é suficiente para deixar qualquer pessoa
normal um pouco louca, desconsiderando tudo ao redor.
— Eu costumava ter uma vida — diz Serena. Seus lábios arqueiam em um
sorriso morno enquanto ainda olha para as mãos. — Uma bela vida estimulante e
gratificante. Eu tinha amigos. Um noivo. E uma instituição de caridade. Pessoas que
dependiam de mim. Um propósito. Tive uma boa vida, Derek. E então eu a perdi. Perdi
até a última parte dela, e não sei como isso aconteceu. Então eles disseram que eu
estava louca, e agora você está aqui, e tudo que eu sei é que nada mais faz sentido.
— Por que não me conta o que aconteceu? Sua versão de tudo. Comece pelo
início.
Ela olha para mim pelo canto dos olhos, lábios franzidos enquanto balança a
cabeça.
— Com todo o respeito, eu prefiro não fazer — diz ela. — Revivo esses
momentos diariamente. Além disso, tudo o que você precisa saber deve estar na ordem
do tribunal. Eu me comportei de forma imprudente dois meses atrás, e foi
completamente fora da minha personalidade. A psiquiatra da minha madrasta pensa
que sou instável o suficiente para me prejudicar. E para danificar o futuro da minha
propriedade. Então Justice Harcourt disse que não estou apta para administrar
minhas finanças neste momento, e agora aqui estamos.
— Não estou interessado no que eles pensam. — A minha declaração capta a
sua atenção, e seu corpo muda, se alinhando com o meu. — Eu quero saber a sua
versão de tudo. Estou do seu lado, Serena. Tudo o que você me disser permanecerá
entre nós. Não posso fazer o meu trabalho corretamente a menos que eu tenha todos
os fatos.
Serena está calma, e vejo o pensamento em seus azuis brilhantes. — Tudo que
você precisa fazer é gerenciar meu patrimônio, conselheiro. Você não precisa de fatos.
Precisa de um orçamento.
Antes que eu possa refutar, ela boceja, levanta e aperta sua túnica em torno
dela.
— Sinto muito, Derek. Estou exausta. — Serena força um sorriso educado. —
Suponho que você só desejava se apresentar hoje? Talvez você possa vir outra hora, e
podemos ter uma conversa mais aprofundada sobre as minhas finanças. Enquanto
isso, deixe Eudora ou Thomas saber o que precisa e garantirei que chegue ao seu
escritório.
Eudora desliza do canto onde estava escondida e segura Serena pelo cotovelo
para guiá-la.
— Vem, Sra. Randall. Vamos levá-la para a cama onde você pertence. —
Sussurra Eudora, mas fala alto o suficiente para que eu a ouça.
Um peso se instala na boca do estômago enquanto as vejo sair.
— Serena — eu chamo.
Ela para, voltando-se para mim. — Sim?
— Eu voltarei amanhã. Você estará em casa?
— Amanhã é sábado. Você trabalha aos sábados? — Ela arqueia a sobrancelha
esquerda.
— Geralmente não.
— Não quero você faturando meu orçamento para frívolos finais de semana. —
Ela se endireita.
— Esse é por conta da casa — digo.
Seu nariz enruga. — Não entendo.
— Estou fazendo de você uma prioridade — digo, olhando para Eudora. —
Minha prioridade número um.
Eudora puxa o braço de Serena, e dão mais um passo.
— Quero ter certeza que você tem tudo o que poderia precisar o mais
rapidamente possível — acrescento, antes que ela se afaste muito.
Meu olhar se move entre seu olhar curioso e o grunhido de desaprovação de
Eudora.
— Eu voltarei amanhã de manhã. Às dez horas — digo.
Nossos olhos se encaram no escuro, e juro ver seus lábios se contorcerem em
um lampejo de um meio-sorriso. Ou talvez eu esteja imaginando.
— Eu estarei esperando por você.
CAPÍTULO 2

Serena
— Ele era agradável ao olhar, não era? — Deito em minha cama de dossel
enquanto Eudora afofa os travesseiros atrás de mim. Não é como se eu preciso que
ela faça. Não sou impotente. Mas ela gosta de cuidar de mim. Ela sempre insiste. —
Quero dizer, ele tem advogado arrogante escrito sobre ele e acho que é alérgico a
sorrir, mas ele era simpático o suficiente.
O rosto de Eudora está tenso. Ela esconde sua opinião de mim.
— Vamos — digo, puxando as cobertas no meu colo. Gosto de provocá-la,
porque ela pode ser extremamente tensa. — Seja honesta.
— Não há como negar que ele é um homem bonito. Mas honestamente, eu não
penso muito bem dele. — Suas palavras são apressadas e seus olhos não encontram
os meus. Ela aponta para a lâmpada na minha mesa de cabeceira, e eu aceno.
Desligando-a, ela olha ao redor do quarto.
— Alguma razão especial? — Eu a provoco.
Eudora para de agitar e esvoaçar, descansando suas palmas em seus quadris,
e exala com seus lábios finos e vermelhos. Seus olhos cinzentos encontram os meus
na escuridão, e seu rosto redondo inclina para o lado.
— Só estou te protegendo. Isso é tudo. — Ela estala sua língua. — Um
advogado alto, moreno e bonito, em um terno extravagante valsa por aqui, e você está
sozinha, com o coração partido e se curando, e para mim, isso apenas cria uma receita
para o inominável. Você não é como as outras meninas, Serena. Eu tenho dito isso
sua vida inteira. Todo cuidado é pouco. Você precisa se proteger de homens como ele.
Homens como ele.
Nós duas sabemos que ela se refere ao meu ex-noivo. Eu ainda não conheço o
Sr. Rosewood, mas sei o suficiente para garantir que ele não é nada como Keir
Montgomery.
— Você é encantadora por se preocupar assim. — Afundo nos travesseiros de
penas cuidadosamente dispostos atrás de mim. Eudora está com a nossa família
desde que eu tinha oito anos, o ano que a minha mãe morreu. — Mas eu só elogiava
a aparência dele, não o avaliava como um potencial marido.
Às vezes, Eudora era a coisa mais próxima que eu tinha de uma mãe. E é por
isso que me dói olhar em seus olhos e recusar oferecer a ela um grama de minha
confiança. Veronica a tem em sua discagem rápida, e estou absolutamente certa que
Eudora mantém um registro dos meus movimentos diários e reporta de volta. Ela é
nada mais do que um conjunto extra de olhos e ouvidos – um servo obediente com
um cheque de pagamento.
Mas não posso culpá-la. Ela precisa desse emprego, e Veronica a paga
generosamente.
Meu pai se aproxima do final dos seus oitenta anos e está perdendo sua mente,
uma bolinha de cada vez. No dia em que se casou com Veronica, há três anos, ela
assumiu a gestão de seus funcionários e deu a todos eles aumentos generosos, férias
e subsídio de férias adicionais.
Eles comiam na palma da mão dela como passarinhos desde então.
Eudora faz apenas o que ela diz. Mas é realmente lamentável, porque até
Veronica chegar, eu amava Eudora como se fosse da família.
Ela era a minha família.
— Você acha que fui muito dura com ele? Deus, ele provavelmente pensa todos
os tipos de pensamentos pitorescos sobre mim agora. — Eu rio, divertida.
— Você dá a todos um momento difícil na primeira vez que os encontra. —
Eudora dá de ombros. — É o que você faz, Serena. Você os testa. Ver o quanto você
pode se safar. Você faz isso desde criança. Acredite em mim. Falo por experiência
própria.
Eudora passa a mão pela minha testa, como se minha suposta condição fosse
física e não psicológica.
— Boa noite. — Puxo as cobertas até o pescoço.
Ela ri, divertida. — São apenas quatro horas, querida.
— Boa noite, por agora.
— Eu vou acordá-la por volta das sete. Você precisa tomar a sua medicação,
então.
Fecho meus olhos e finjo dormir até ouvir o clique da porta. Uma passada
rápida da minha mão embaixo do meu travesseiro, e acho os comprimidos de mais
cedo. Eu quis jogá-los pela descarga, mas quando Eudora irrompeu aqui para me
dizer que o meu novo advogado estava aqui para me ver, eu não tive a chance.
Eu esqueci completamente da minha reunião com o Sr. Rosewood, mas para
ser justa, não foi intencional. Esses remédios, por vezes, me deixam esquecida.
Eudora insistiu em mandá-lo embora, mas eu não permitiria isso. Alguém do
lado de fora é uma dádiva de Deus nos dias de hoje.
Esperando mais um minuto para estar segura, eu agarro os comprimidos e
vou na ponta dos pés ao banheiro para jogá-los intocados na privada. Uma rápida
descarga e eles se foram para sempre, perdidos nas entranhas antigas de uma mansão
antiga.
Ignorar a última dose me fez sentir um pouco mais coerente, como se meu
juízo estivesse voltando, peça por peça. E quero que meu juízo. Eu preciso do meu
juízo. Não posso ficar escondida atrás dessas paredes de pedra como uma criminosa
por mais tempo.
Preciso sair daqui. Preciso recuperar minha liberdade financeira. Minha
independência. Meu bom nome. E farei o que for preciso.
CAPÍTULO 3

Derek
— Não fique até muito tarde. — Minha secretária jurídica, Gladys, permanece
na minha porta, a pesada bolsa pesando no ombro curvado. — Quer que eu busque
algum jantar e o traga para você?
Ela verifica o relógio, e verifico o meu.
Sete horas de uma sexta-feira à noite.
Se fosse o meu fim de semana com Haven, eu estaria muito longe agora,
rolando no chão da sala de estar com a minha pessoa favorita de quatro anos de idade,
brincando com Barbies ou revezando com o seu programa favorito, Doc Mcstuffins6,
enquanto esperamos nossa pizza metade queijo e metade supremo chegar. É a nossa
tradição na noite de sexta-feira.
Bem, todas as outras noites de sexta-feira.
Eu vivo para meus fins de semana com Haven.
É provavelmente por isso que eu trabalho tanto. Enfurnado no escritório de
advocacia e enterrado na minha carreira me faz esquecer o som do silêncio esperando
por mim em casa quase todas as noites da semana.
— Só vou terminar aqui. — Dou um aceno com os lábios fechados, e ela
balança a mão para mim.

6Doc McStuffins (No Brasil e em Portugal: Doutora Brinquedos) é uma série de televisão infantil. A
série é sobre uma menina de seis anos que pode consertar os brinquedos, com uma pequena ajuda de
seus bichos de pelúcia.
— Não ouvi isso um milhão de vezes. — Ela balança as chaves do carro e segue
pelo corredor de azulejos. O baque da porta da frente e o tilintar da chave ecoam
através do vazio prédio um momento depois.
A ordem judicial de Serena Randall descansa diante de mim, junto com o resto
de seu arquivo. Tenho me debruçado sobre os detalhes desde que voltei de Belcourt
Manor esta tarde.
À primeira vista, ela parece bem. Um pouco cansada. Um pouco rude. Mas
isso é compreensível. A maioria dos casos que envolvem um tutor são um pouco mais
extremos do que o dela. Geralmente, pessoas incapacitadas mentalmente ou
fisicamente são as que precisam de tutores, não herdeiras empertigadas com um
toque para dramáticas sobrancelhas levantadas e afiada honestidade.
Esfrego os olhos cansados e solto os papéis na minha mesa, puxando o meu
laptop para mais perto. Armado com nada além de tempo e Google, tenho a intenção
de cavar fundo e entender isso. Tenho a sensação que obter informação dela será
como arrancar os dentes7. Isso não é nada que não possa ser remediado com alguma
boa perseguição cibernética à moda antiga.
Começo com uma pesquisa sobre a madrasta, Veronica Kensington-Randall, e
então percebo. Ouvi falar dela antes. Ela esteve em algum drama jurídico nos anos
noventa. Meu pai era obcecado com esse programa. Costumava gravá-lo em VHS e
assistir os episódios repetidamente, citando os personagens a cada chance que tinha.
Ela era linda em seu auge. Pernas longas e bem torneadas. Um bronzeado da
Califórnia. Lustrosas mechas loiras de praia. Um sorriso de concurso de beleza.
Segundo a Wikipédia, ela foi casada quatro vezes e divorciou três vezes. Parece
que ela gosta dos velhos e doentes.
Clico em Imagens e abro as mais recentes. Parece que atualmente ela está
combatendo os cinquenta anos com enchimentos e Spanx8. Parece que, até
recentemente, ela raramente era vista sem o amoroso marido, Harold Randall, que
facilmente tinha idade para ser pai dela.

7 Algo extremamente difícil.


8 Modeladores corporais
Clássico.
Isso não é incomum, especialmente ao longo dos milionários de sangue azul
da Nova Inglaterra.
Homem idoso que toma uma esposa-troféu mais jovem. Os filhos se sentem
ameaçados. Esposa quer garantir seu direito ao patrimônio da família. Segue o drama
legal.
Sorrio.
Isso será fácil.
Tão logo Serena se sinta cem por cento, vamos ter de provar que ela está em
seu juízo perfeito, e então eu pessoalmente garantirei que a sua participação no
patrimônio da família continue intacta, todas as suas finanças voltarão ao seu
controle, e eu seguirei o meu caminho. Direito imobiliário é um pequeno hobby de
qualquer maneira. Nada me agrada mais do que ver aqueles gananciosos, idiotas e
egoístas não perseverar.
Dinheiro – ou o medo de ter não ter nada – pode fazer coisas horríveis a pessoas
boas. Testemunhei em primeira mão em muitas ocasiões.
O celular apita no meu bolso, e o pego para ler uma mensagem de uma das
minhas irmãs.

DEMI: Ei, venha hoje à noite para sair com a gente. Royal quer batê-lo em
Batalha Naval. Ele diz que você deve a ele um jogo.
EU: Sim, de quinze anos atrás. Diga a ele para deixar ir. Está no passado.
DEMI: Ele diz que você está apenas com medo de perder.
EU: Nunca perco.
DEMI: Ele quer saber se você está desistindo.
EU: Nunca. Dê-me uma hora.

Coloco o celular de lado e clico na superabundância de imagens de Veronica


inundando minha tela. Elas são todas iguais, seu corpo inclinado com a mão no
quadril, e seus lábios vermelhos desenhados em um sorriso malicioso.
Cansado, fecho essa guia e faço uma pesquisa no Google sobre Serena, só que
não estou preparado para as manchetes que enchem minha tela.

SOCIALITE CAI EM DESGRAÇA


A VERDADE SOBRE A HERDEIRA SERENA RANDALL
O QUE CAUSOU O COLAPSO MENTAL DE SERENA RANDALL?
A LINHA DO TEMPO DO COLAPSO PÚBLICO DE SERENA RANDALL
HERDEIRA DESONRADA ENVOLVIDA EM AMARGO TÉRMINO AMEAÇA A PRÓPRIA
VIDA

— Jesus, Serena. — Abafo minhas palavras com a palma da minha mão,


arranhando a sombra de barba de cinco horas. Clico logo em tudo, abrindo, pelo
menos, uma dúzia de guias, e preparo para tragar tudo.
De acordo com estes artigos, a cerca de dez semanas atrás, Serena encontrou
seu noivo na cama com não uma, mas duas mulheres. Amigas dela, nada menos.
Naquela mesma semana, ela tomou muitas pílulas junto com uma garrafa de vinho e
fez seu motorista deixá-la no JFK9. Enquanto estava lá, ela pediu um bilhete de
primeira classe para o próximo voo para o aeroporto de Heathrow, em Londres, mas
foi negado devido à falta de identificação. E sua óbvia embriaguez.
A segurança do aeroporto foi chamada, e Serena passou a lutar com eles. Ela
gritou palavrões, causou uma cena, e arrancou mechas de cabelo. Logo depois, ela foi
retirada e colocada involuntariamente em uma prisão psiquiátrica após ameaçar ferir
a si mesma, e sua madrasta, aparentemente, correu para estar ao lado dela.
Uma avaliação de saúde mental foi encomendada e Serena foi internada por
oito dias. Dois dias depois de ser libertada, ela jogou seu carro de uma ponte
centenária em uma pequena cidade ao norte da propriedade Belcourt. Aparentemente,
a água debaixo da ponte não era profunda o suficiente para arrastá-la, mas o impacto
foi suficiente para fazer com que ela batesse a cabeça no volante e ficasse
inconsciente.

9 Aeroporto John F. Kennedy, também conhecido como JFK, situa-se em Nova York.
Um fazendeiro passando pelo local a encontrou e salvou.
Após uma semana em um hospital psiquiátrico particular não revelado no
interior de Nova York, ela foi liberada e enviada para viver na residência Belcourt da
família, onde passou a fazer uma série de compras caras. Carros italianos de luxo.
Diamantes. Alta costura. Ofertas para compra de imóveis sem conhecê-los. Ela gastou
mais de onze milhões de dólares ao longo de quatro dias.
Sua madrasta solicitou uma tutela de emergência, pedindo para ser tutora de
Serena, o que foi negado devido a alegações não especificadas dadas em nome de
Serena por seu advogado na época.
O juiz aprovou um tutor para o seu patrimônio, alguém para gerenciar o fundo
fiduciário de Serena e a dotação de seu dinheiro para a manutenção e conservação de
Belcourt Manor durante a sua ocupação. Rosewood e Rosewood LLP foi atribuída por
um juiz que cursou Direito com o meu pai, e os Randalls concordaram.
Fecho o meu laptop e percorro a pilha de papéis na minha mesa em busca da
avaliação de saúde mental dela. Notas do médico mencionam pensamentos suicidas
e se refere ao seu comportamento como, Maníaco e irresponsável, mas não há
nenhuma menção de um diagnóstico bipolar. Há uma nota se referindo a ansiedade
aguda e a possibilidade de depressão situacional de curto prazo, mas afirma
claramente que Serena não tem história de diagnósticos de saúde mental. Também
parece que o médico receitou alguns antidepressivos comuns, prescrição de soníferos,
e benzos10, conforme necessário.
Não admira que ela esteja se sentindo deslocada atualmente.
O celular apita mais uma vez, e encontro outra mensagem de Demi.

DEMI: Você vem ou o quê? Já passou mais de uma hora.

Puxo uma respiração longa e expiro, verificando o tempo. Merda. Ela está
certa. Passou mais de uma hora, e estive tão imerso nestes artigos de Serena que não
percebi isso.

10 Tranquilizante.
Envio uma mensagem de volta dizendo a ela que estou indo e desligo a
lâmpada atrás do meu laptop.
Um minuto depois, estou dirigindo a leste da cidade, onde a minha irmã e seu
namorado vivem enquanto ele termina a faculdade de direito. Vinte minutos mais
tarde, eu paro na garagem.
Demi cumprimenta-me na porta antes de eu ter a chance de tocar a
campainha, envolvendo os braços em volta dos meus ombros enquanto me puxa para
dentro.
— Você age como se não me visse há anos. — Tiro meus sapatos assim que
entro.
— Só estou realmente feliz por sairmos todos juntos novamente. É como nos
velhos tempos. — Ela dá um salto feliz, e a sigo para a sala, onde o meu melhor amigo
de infância tem duas tábuas de plástico de Batalha Naval arrumadas e preparadas.
— O que há com você ultimamente? — Demi estatela-se no sofá e enfia uma
perna debaixo dela. — Quaisquer julgamentos emocionantes que eu deveria saber?
Sorrio insinuantemente. — Se houvesse quaisquer processos em curso, eu não
seria capaz de dizer nada, mas atualmente, tudo é resolvido fora do tribunal. Menos
despesa dessa forma. Não há uma enorme demanda por advogados em Rixton County,
acredite ou não.
Houve um tempo em que o nosso pai foi um promotor da comarca, mas as
horas esgotantes o roubaram de sua família, assim que, ao longo dos anos, ele abriu
a Rosewood LLP, e eu me juntei após terminar a faculdade de direito. Agora fazemos
um pouco de tudo, mas a reputação dele de seus dias no tribunal solidificou sua
reputação como um dos advogados mais procurados no estado. Eu fico com os casos
que escorrem, aqueles que ele não quer aceitar. E os aceito com um sorriso no rosto,
porque é assim que você lida com Robert Rosewood. Você fica com o que você
consegue, e não reclama até ganhar o privilégio.
É como o arquivo de Serena pousou no meu colo.
— Então, o que você faz para passar o tempo? — Demi pergunta.
— Assumo alguns projetos paralelos. Direito imobiliário. Direito familiar. Nada
muito excitante. — Eu sento em frente a Royal.
— Pronto para ter seu traseiro chutado? — Royal empurra a minha metade do
jogo Batalha Naval sobre a mesa do café.
— Posso prometer para você que não acontecerá hoje à noite. — Eu sento no
chão em frente a ele.
Demi pula para cima, correndo para a cozinha, e retorna com duas Heinekens
e sua Us Weekly11.
— Você ainda lê essas coisas? — Provoco.
Ela deposita nossas garrafas sobre a mesa e se enrola no sofá novamente,
abrindo a revista no meio, porque Deus nos livre ela começar do início de algo, ao
menos uma vez na vida.
— Só Deus pode me julgar. — Ela esconde o rosto atrás da capa aberta, e uma
foto no canto me chama a atenção.
— Ei, deixe-me ver isso — digo.
Demi abaixa a revista brilhante e arqueia a sobrancelha. — Isso?
— Sim. — Eu a roubo da mão dela e examino a manchete.

TEMPOS DE DESESPERO DE SERENA RANDALL

— Você a conhece? — Aponto para a foto de uma Serena chorando na capa,


muito possivelmente parecendo a mulher mais triste que eu já vi.
— Eu a conheço? Hum, não. — Demi provoca. — Sei sobre ela? Sim. Quem
não sabe?
— Eu não — diz Royal. — Nunca ouvi falar dela.
— O que você sabe sobre ela? — Pergunto.
Demi coloca a revista de lado e reposiciona, inclinando e sorrindo como se
estivéssemos prestes a falar de trabalho. De dia, ela dá aulas para o jardim de
infância. À noite, ela é uma aficionada por fofocas de celebridades. Nada de errado
com interesses amplos, suponho.

11
Revista americana.
— Bem — ela começa. — Ela é esta bela herdeira. Acho que o pai dela é dono
de alguma grande indústria de aço? Ou talvez seja um fabricante de pneus? Não sei.
Algo industrial. Multi-multi-multi-milionário. Ela é filha única, e a mãe morreu
quando era pequena. De qualquer forma, ela estava noiva de Keir Montgomery, o filho
mais novo do presidente dos Estados Unidos. Foi um romance relâmpago. Aconteceu
super-rápido. Os blogueiros de fofocas enlouqueceram. Os paparazzi comeram. Eles
eram fofo juntos. Imagem perfeita. Ela nunca esteve tão apaixonada, e todos
pensavam que seria ela quem o tiraria da vida de mulherengo. Ele suavizou por ela,
sabe? Todos pensaram que seria ela quem o acalmaria e mudaria seus modos. E, na
mesma veia, ele a mudou também. Ela era conhecida por nunca namorar ou se
aquietar. E ela estava completamente encantada com ele. Cabeça aos ventos. Mas,
então, ela o pegou na cama com duas de suas melhores amigas. Falo de suas melhores
amigas desde a infância. Isso tem que machucar, sabe? Primeiramente, ela lidou com
isso o melhor que pôde, mas então as pessoas começaram a fofocar, escrever sobre
ela e tornar toda a situação pior do que já era. Ela foi humilhada publicamente e nem
sequer fez nada de errado. Tudo o que ela fez foi dar o seu coração para o cara errado.
Demi coloca a mão sobre o seu coração, e sinto uma pontada de aperto
simpático no meu peito. Os artigos on-line sensacionalizam tudo, mas o resumo de
Demi humaniza.
— De qualquer forma, tudo o que ela queria fazer era sair da cidade um pouco.
Deixar o frenesi da mídia esfriar. Dar às pessoas tempo para passar para a próxima
história quente. Mas então, acho que ela apareceu no aeroporto toda intoxicada,
esqueceu a carteira, e não a deixaram entrar no avião, e tudo foi por água abaixo. —
Seus ombros caem e seus olhos enrugam. — Mas isso não faz sentido.
— O que não faz sentido?
— Serena Randall nunca foi assim. Ela nunca foi dramática. Ela era a epítome
da classe. Ela nunca foi de fazer uma cena. Quer dizer, ela tentava ficar longe de tudo
isso. Por que pioraria as coisas para si mesma? — O rosto de Demi está tão retorcido
como um ponto de interrogação.
— As pessoas tomam decisões ruins o tempo todo. Lapso temporário de
julgamento — eu digo. — Talvez estivesse ferida e desesperada.
— Não sei. — Minha irmã cai para trás e puxa sua revista em seu colo,
mastigando o canto interno do seu lábio. — Simplesmente não faz sentido para mim.
Mas o que eu sei?
Royal pigarreia. — Em todo o caso. C4.
— Perde — eu digo. — A1.
— Acerta. — Royal geme, e sorrio. Sete anos mais tarde, e ele ainda coloca
seus navios nos pontos de canto. Algumas coisas nunca mudam.
Jogo o jogo, tendo muitos acertos com alguns salpicados acidentes, mas minha
mente está em outro lugar.
Enquanto afundo três navios de Royal, funcionando principalmente no
automático, minha cabeça está ocupada montando esse quebra-cabeça de Serena
Randall.
— Se está entediado, não precisa continuar jogando — diz Royal.
Balanço minha cabeça, bocejando e arrastando uma respiração renovadora.
— Você diz isso só porque está perdendo. Vamos lá, vamos continuar.
— D5 — diz ele.
— Acerta. — Coloco um pino vermelho em meu navio de guerra e assisto o meu
adversário regozijar. — Sim, sim. E7.
Mais alguns movimentos, e ganho o jogo, como prometido.
— Vou para a cama, caras. — Demi levanta, se alongando e joga a revista no
braço do sofá.
— Sim, eu deveria ir. Verei um cliente na parte da manhã. — Eu levanto.
— Você está trabalhando em um sábado? — Pergunta Royal.
— Sim, não é nada. Nem mesmo estou cobrando.
— Não diga isso ao paizinho.
Royal está de pé, movendo-se para o lado de Demi e colocando a mão na parte
inferior das costas dela. Ela fuça sua bochecha contra o peito dele e cantarola com
este olhar asquerosamente sonhador no rosto. É muito bonito, e é a minha irmã e
meu melhor amigo de infância, e não preciso ver isso.
— Vou me retirar — digo, abaixando e pegando a revista de fofocas. —
Obrigado por isso.
—Hey — diz Demi.
Mas é tarde demais. Eu estou levando. Nunca comprarei uma dessas.
— Eu a devolverei — prometo, fechando a porta da frente. Assim que estou no
carro, acendo a luz e encontro o artigo de Serena.
É uma reportagem de duas páginas, o lado esquerdo a mostra em dias
melhores e o lado direito a mostra sendo retirada do aeroporto JFK algemada, seu
cabelo desgrenhado e raias de rímel escorrendo sob seus olhos. O comentário abaixo
resume os acontecimentos relatados que antecederam a fatídica noite, e várias fontes
são citadas dizendo, Serena não foi ela mesma desde então, ou eles estão, preocupados
com a herdeira, ou estão, esperando que ela seja capaz de voltar disso mais forte do
que nunca.
O que é engraçado, porque distintamente me lembro de Serena mencionar que
nenhum de seus velhos amigos foi vê-la uma vez que as coisas tomaram um rumo
para o pior.
Lanço a revista de lado como o lixo que é e me afasto da garagem. Demi precisa
encontrar coisas melhores para fazer em seu tempo livre.
Essas coisas não são nada além de mentiras de qualquer maneira, e não estou
interessado nisso.
Só estou interessado na verdade.
CAPÍTULO 4

Serena
Estou vestida às nove e meia, meu estômago cheio com um café da manhã leve
e uma pitada de borboletas inesperadas. As pílulas desta manhã foram para a
descarga e estão muito longe. Eu me sinto alerta e coerente, pronta para me encontrar
com Derek e deixá-lo ver por si mesmo quão completamente desnecessária essa coisa
toda é.
Ando pelo corredor norte da propriedade, a casa tem quinze ou mais cômodos
inúteis cheios de artefatos inúteis. Alguns anos atrás, o plano era transformar
Belcourt em um museu de turismo, um lugar que gerasse uma renda. Ideia de
Veronica. Mas continuou vazio, exceto pelo pessoal que o manteve, até que eu fui
sentenciada a viver atrás dessas paredes graças às manipulações por trás das
câmeras da minha adorável madrasta.
Odeio Veronica, e particularmente não odeio ninguém.
Espere.
Retiro o que disse
Keir. Odeio Keir também.
A casa cheira tão antiga quanto parece. Algumas pessoas podem encontrar
conforto nisso. Eu não. Este lugar não faz nada, a não ser me lembrar dos verões que
passamos aqui quando criança, antes da mamãe morrer. Com certeza, essas são boas
lembranças, mas me enchem de tristeza.
E culpa.
Porque quanto mais velha fico, menos eu me lembro dela, e me detesto por
isso.
E inalar esses cheiros familiares me faz sentir mais falta dela, me dói
fisicamente.
Deslizo por trás das portas duplas para a sala Magnolia, uma sala que a
segunda ex-mulher do meu pai nomeou e decorou. Eu gostava de Catherine. Ela era
verdadeira, tranquila e de fala mansa. Sua união durou um total de dois anos antes
de deixá-la por alguma hostess de vinte e poucos anos em sua trattoria12 favorita de
NYC13.
Pobre Catherine. Ela realmente amava meu pai. Ela ainda o amava tanto que
concordou em não assinar um acordo pré-nupcial.
Idiota.
Pessoas com dinheiro vivem uma vida de conveniência. E quando você tem
todo o dinheiro do mundo, o amor muitas vezes cai nessa categoria.
Diante de uma janela alta, eu olho para a entrada e assisto a chegada de Derek.
Eu me afasto após um momento e desço as escadas. Certamente, há melhores
maneiras de ocupar o meu tempo.
— Sra. Randall. — Eudora me para na parte inferior da escada. — Sr.
Rosewood acabou de chegar. Onde você o receberá esta manhã?
Meus ombros sobem e descem ao contemplar a minha resposta. O espaço não
deve ser muito íntimo. E deve ser bem iluminado. Neutro. Profissional.
— Traga-o para a sala de jantar. Vamos nos encontrar na mesa. E envie o chá,
por favor — digo. — Obrigada.
Poucos minutos passam, e estou sentada à cabeceira de uma mesa tão antiga
quanto esta casa, e ainda em condições quase novas. Reis e rainhas festejaram nesta

12 Restaurante dotado de cozinha própria e caracterizado por uma atmosfera familiar.


13 New York City
mesa, ou assim a história diz. O som de passos ecoa da entrada, e limpo minha
garganta, alisando uma mecha de cabelo no meu ombro esquerdo.
— Por aqui, por favor — ouço Eudora dizer.
Derek aparece um momento depois, e tento ignorar o seu traje casual de calças
cáqui escura e uma camisa pólo azul marinho. Ele parece mais apto para uma partida
de golfe do que uma reunião com um cliente. Então, novamente, é um sábado. Eu não
fui tão dura com ele ontem, eu poderia provocá-lo um pouco. De qualquer forma, ele
parece bem, e odeio pensar isso porque esse é o último lugar que minha mente precisa
estar.
— Serena, bom dia. — O cabelo chocolate escuro de Derek está perfeitamente
penteado, sem um fio fora do lugar, e ele anda na minha direção com uma mão
estendida. — Maravilhoso vê-la novamente.
Levanto e aceito o seu aperto de mão, determinada a tratá-lo com o mesmo
respeito e cortesia que ele me mostrou ontem.
— Igualmente — digo. — Por favor, sente-se.
Eudora fica por muito tempo, como se eu fosse incapaz de lidar com qualquer
coisa sozinha. Eu atiro para ela um pedido silencioso por espaço na forma de um
olhar rápido, e ela calmamente sai caminhando.
— Então. — Derek saca um bloco de notas e uma caneta da cor de ônix polido
e levanta o olhar para mim. — O que eu gostaria de fazer hoje, Serena, é ter uma ideia
de suas despesas regulares, e a partir daí, podemos acertar um orçamento de base. E
uma vez que isso seja definido, podemos descobrir um orçamento para os extras. Vou
dizer, como tutor, que recomendarei que fique com números modestos, dado o seu...
delicado estado.
Minha língua passa ao longo do meu lábio inferior, e dou um sorriso de cabeça
erguida. — Pareço delicada para você?
— Você não parece — diz ele. — Mas, aos olhos da lei, você não é
completamente você mesma agora. Não serei capaz de alocar qualquer financiamento
para grandes compras neste momento.
— Lá se vai aquele Aston Martin que eu estava de olho.
Ele sorri, e meus olhos caem sobre a covinha na bochecha esquerda. Ele só
tem uma, mas é meio que perfeitamente certa onde está.
— Você se importa? — Aponto para o seu bloco de papel, e ele desliza por cima
da mesa. A caneta é quente e suave contra a minha palma. Pressionando a ponta no
bloco amarelo, tento anotar algumas estimativas, e então, congelo.
Meses atrás, eu tinha um representante RP14 contratado. Tinha contas de
limpeza a seco e manicure e pedicure semanalmente. Saía regularmente e viajava
internacionalmente pelo menos duas vezes por mês. Frequentava uma academia e
aluguei um apartamento na Lexington Avenue, em Manhattan.
Vivi uma vida vergonhosamente extravagante, e não tenho certeza se estou
confortável anotando esses tipos de números exorbitantes na frente de um estranho,
advogado ou não.
Escrevo alguma besteira, números modestos. Algo melhor do que nada, e se o
dinheiro estiver no banco, então que assim seja, mas pelo menos ele será liberado e
em meu poder novamente. Não é como se eu estivesse desesperada e necessitando de
um representante RP agora. E não poderia dizer onde é o salão de beleza mais próximo
nesta área.
— Aí. — Deslizo de volta para ele, e ele verifica o papel, sobrancelhas franzidas.
— Ok — ele diz, levantando a mão no queixo. — Isso é possível, dado seu estilo
de vida antes de tudo desmoronar. Agora me diga o quanto você gostaria, como extra.
Não quero chamar isto de mesada, mas... basta pensar nisso como o seu dinheiro
para diversão.
Diversão. Isso é um conceito que não conheço há muito tempo.
— Quanto você acha que é razoável? — Eu me inclino para trás na cadeira,
cruzando as pernas. Quando eu morava na cidade, era típico gastar quatro dígitos por
semana em restaurantes finos. Outros quatro dígitos – ou mais – em excursões de
compras regulares. E depois, claro, havia viagens. Alguns destinos são obviamente
mais caros do que outros. — Vinte, trinta mil por mês?
Digo para testá-lo, avaliar a reação dele.

14 Relações Públicas
Derek engasga com sua saliva, e é exatamente o tipo de resposta que eu
esperava.
Para ser justa, esta foi a vida que meu pai criou para mim. Ele é um bastardo
velho controlador com um fraquinho por sua filha e prova viva de como o dinheiro
distorce a realidade. Depois que mamãe morreu, ele encheu minha vida com as coisas
boas, como se belos vestidos, conjuntos de chá e valiosos pôneis de pedigree
pudessem preencher o vazio sombrio que ela deixou. Após a faculdade, ele insistiu
que eu vivesse na cidade e levasse o meu tempo tentando descobrir o que eu queria
ser neste mundo, e ele subsidiou todos os meus caprichos.
Mas ainda assim, nunca me senti tão vazia.
Até que eu conheci Keir.
Abafo uma risada. — Você deve pensar que eu sou de outro planeta.
Ele se recompõe e respira profundamente, contraindo seus lábios cheios.
Maldição, ele é o homem mais bonito que eu já vi. Não é justo para um homem ser
tão bonito. Ele está além do que é normal. Esses cílios escuros. Esse queixo talhado.
Seu olhar ardente.
— Bem. — Seu olhar é intenso, inabalável. — Você meio que é.
— Não podemos escolher como nascemos. — Não peço desculpas. Só afirmo
verdades.
— Você está absolutamente certa. — Ele pega a caneta, tocando-a levemente
na borda do bloco. — Só estou tentando aceitar tudo isso, e ao mesmo tempo,
descobrir o que um juiz poderia pensar se eu entregasse esses números para ele. Eu
quero que você esteja confortável, mas não posso ter a minha firma acusada de
apropriação indevida dos próprios fundos que foram contratados para proteger.
— Veja. Só quero ser capaz de sair daqui de vez em quando. Quero me sentir
uma pessoa normal. Não tenho um carro. Não há internet, porque Deus nos livre de
bater nos tetos antigos e cavar uma linha no jardim Inglês para que alguns cabos
possam percorrer este lugar, e seria bom ir a algum lugar aqui e conseguir pelo menos
duas barras no meu telefone. Não tenho dinheiro. Meus fundos estão congelados.
Veronica tem os meus cartões de crédito. Sinto que estou sendo mantida contra a
minha vontade aqui, e sempre que protesto isso, me dizem que é assim que eu vou
melhorar e isso não durará para sempre, mas já passou mais de dois meses, Derek.
— Serena. Serena. — Ele levanta a palma da mão, mas ainda estou vomitando
as palavras que venho desejando falar desde que cheguei aqui. — Serena. Ok.
Entendi.
— Não, você não entende. Porque se entendesse, você se importaria menos
sobre as minhas finanças e mais sobre como me ajudar a provar que não sou louca.
Você está do meu lado, certo?
— Absolutamente.
— Então. Me. Ajude. A. Conseguir. Minha. Vida. De. Volta. — Pressiono meu
dedo contra a mesa de madeira com cada palavra.
Derek empurra o polegar e o indicador contra as têmporas, respirando
ruidosamente antes levantar o olhar da mesa para o que eu tenho certeza que é uma
visão um pouco patética. Normalmente não sou de mostrar minhas cartas ou deixar
minhas emoções falarem mais alto, e a vulnerabilidade não é realmente minha coisa,
mas tempos desesperados...
— Você quer sair daqui um pouco? — Ele pergunta.
A tensão no meu pescoço e ombros desaparece, e luto contra o impulso de
gritar: — SIM! — A plenos pulmões.
— Se você estiver confortável, podemos sair no meu carro — diz ele. — Só um
pitoresco passeio pelo interior. O ar fresco pode ser bom para você.
Sento-me ereta e forço uma reação tardia, optando por não parecer um
cachorrinho ansioso e jogar toda a minha credibilidade pela janela.
— Isso seria legal. Sim. — Domando a minha emoção, eu deixo a cabeceira da
mesa e recupero um casaco de tweed cinza da sala de casaco.
Derek espera por mim na porta, mas o som de passos rápidos faz o meu
coração acelerado parar.
— Onde vocês dois acham que vão? — Eudora está ofegante, uma bandeja de
chá derramado em suas mãos. Para uma mulher de sua estatura magra, ela está
realmente muito fora de forma. Você pensaria que uma mulher próxima dos sessenta
e quatro anos teria algum tipo de resistência. — Serena, você não pode sair de casa,
lembra?
— Será um passeio rápido — Derek responde por mim. — Minha cliente
poderia aproveitar uma mudança de cenário. Não vou demorar. Eu cuidarei bem dela.
Ele pisca, mas a julgar pela careta de Eudora, isso não fez nada para corrigir
a situação. Imagino que ela está furiosa por dentro.
— Talvez devêssemos telefonar para o Dr. Rothbart? — Os olhos de Eudora
vão entre os nossos. — Ver se ele acha que é uma boa ideia. Você sabe, passos de
bebê.
— Eudora. — Eu encosto meu queixo contra o meu peito. Dói em mim falar
com ela de uma forma condescendente, mas ela está sendo totalmente inadequada.
Para não mencionar rude com o Sr. Rosewood. — Eu ficarei bem. É apenas um
passeio. Vamos, Derek.
Nós nos apressamos em direção à porta da frente antes que ela tenha outra
chance de se opor, e Derek me leva para o lado do passageiro de seu SUV preto.
— Obrigada — digo, alisando as mãos sob as minhas coxas e me preparando
para entrar.
O sorriso em minha boca desaparece quando algo chama a minha atenção, e
minha garganta aperta, tornando-me momentaneamente incapaz de respirar.
— Derek. — Levanto a Us Weekly do assento do passageiro e examino a capa,
reconhecendo instantaneamente a minha foto lamentável na parte inferior e a
manchete terrivelmente imprecisa.
— Sim?
Girando para encará-lo, eu a bato contra o peito dele. — Por que você teria
isso? Sabe o quão terrível é isso? Não são nada além de mentiras. Por que você iria
querer ler mentiras sobre mim? Pensei que estivesse do meu lado?
A revista cai sobre seus sapatos brilhantes ofensivamente, e aperto meu
casaco, me preparando para a caminhada de volta para a porta.
— Serena, volte aqui. Não é nada disso. — Há uma risada em seu tom.
Mas isso não é engraçado para mim.
Esta é a minha vida.
CAPÍTULO 5

Derek
A porta da frente para Belcourt bate com um boom sinistro antes de alcançá-
la, e o pesado tilintar da fechadura me diz tudo o que preciso saber.
Bato três vezes separadamente.
Ninguém atende.
Puta que pariu.
Não posso estragar tudo. E com certeza não quero que ela pense que não sou
profissional ou não totalmente confiável por causa de um infinitamente pequeno mal-
entendido.
Puxando minha manga esquerda, verifico meu relógio, e então descanso as
mãos em meus quadris, de pé sobre os degraus de pedra de séculos de idade. É quase
10:30hs. Para não mencionar, que a minha caneta e bloco de notas ainda estão lá
dentro.
Praticar a lei é a minha paixão. Sou implacavelmente obsessivo sobre ela. Meu
profissionalismo é a minha reputação, e só fica atrás do meu pai. Se eu sair daqui
hoje, estou admitindo a culpa de certo modo. Admitindo o fracasso.
Assim eu ficarei.
Ficarei o tempo que for preciso.

Reclinado no assento do motorista do meu SUV com a viseira abaixada, eu sou


acordado por vários toques rápidos na minha janela. Lentamente levanto e ligo o carro
a fim de abrir a janela. O sol já desceu, e suponho que seja cerca de cinco, talvez seis
horas.
Eu me entretive o melhor que pude antes, teimosamente ignorando o meu
estômago roncando e resistindo ao impulso de correr até a cidade para uma refeição
rápida.
— Por que você ainda está aqui? — A visão da cabeça e dos ombros de Serena
enche minha janela. Seus olhos azuis brilham no sol do fim de tarde. Sua cabeça
treme, e antes que me seja dada a chance de responder, ela levanta um prato coberto
por um pano ao meu nível. — Aqui. Bettina fez o jantar. Achei que, se você é teimoso
o suficiente para se sentar em minha calçada durante sete horas, o mínimo que posso
fazer é mostrar um pouco de hospitalidade.
Ela olha para mim como se odiasse e, ao mesmo tempo, apreciasse por eu ter
ficado.
— Obrigado. — Eu pego o prato coberto com o pano.
— Não que eu queira. Mas é a coisa certa a fazer. — Seus braços cruzam no
peito. Mesmo chateada, seus azuis ainda são hipnotizantes pra caralho.
Ela ainda está chateada comigo. Eu entendo. Mas assim que eu tiver a chance
de explicar, isso tudo acabará. Talvez nós vamos até rir disso. Eu acho que é hilário.
— Entre. — Aceno para o lado do passageiro.
— Não vou. — Seus braços se cruzam com mais força, e ela não fica parada.
— Vamos.
Encaramo-nos, e não recuo.
— Pelo menos me permita explicar — acrescento.
— O que há para explicar? Você aparece na minha casa com esse lixo em seu
carro. — Ela sopra um suspiro frustrado. — E devo simplesmente ficar bem com isso?
Porra, Derek, você deveria gerir o meu dinheiro e está enchendo a cabeça com artigos
de fofocas. Você tem alguma ideia de como isso me faz sentir?
Sua mão esquerda levanta para o pingente de ouro pendurado em seu pescoço.
— Entendo completamente — digo. — Mas assim que você ouvir a minha
explicação, juro que você se sentirá melhor sobre isso.
Ela bufa, olhando para longe. — Você pensa assim, não é?
— Confie em mim.
Uma brisa quente balança seus cabelos brilhantes, e ela olha para mim
novamente enquanto tira uma mecha de seus olhos azuis brilhantes.
— Entre. Deixe-me explicar. Se você ainda não confiar em mim, tudo bem.
Sairei daqui e você pode designar um novo tutor. Sem peso nas minhas costas. Mas
eu serei condenado se estive sentado aqui por todo o maldito sábado apenas para me
afastar sem me defender.
Depois de uma excruciante luta de deliberação e prolongado silêncio, Serena
olha para seus pés.
— Estou de chinelo — diz ela. — Não estou vestida para um passeio.
— Como exatamente uma pessoa se veste para um passeio? — Eu pisco, e ela
luta contra um forte sorriso. — Vamos lá, entre. Eu explicarei tudo... depois que eu
comer.
Coloco o pano no painel e descasco um garfo envolto em plástico. Não tenho
certeza o que é isso, mas cheira divino, e é um inferno de muito melhor do que
qualquer coisa que eu poderia ter pegado de um posto de gasolina na cidade.
Serena entra, e a vejo olhar com indiferença seus arredores. Felizmente, eu
escondi a revista sob o banco do passageiro. Fora da vista é onde aquela coisa
pertence.
— Eu como lentamente — digo. — Me desculpe. Prefiro saborear minhas
refeições, e um prato como este vale a pena saborear.
Suas longas pernas se cruzam, e ela enfia os dedos entre elas. — De qualquer
modo. Aproveite, conselheiro.
Quando acabo, coloco o prato no console central e ligo o motor.
— Algum lugar especial que você gostaria de ir? — Pergunto.
Seu rosto ilumina, e seu olhar afiado recai sobre a tela colorida no centro do
meu painel à medida que configuro o GPS. Um segundo depois, eu acelero, e Serena
balança a cabeça.
— Basta dirigir. — Ela salta impaciente. — Somente... me tire daqui.
Saímos para uma estreita estrada pavimentada forrada em carvalhos e
seguimos a oeste em uma estrada remota. Nova York é linda na primavera, com todas
as árvores e colinas sinuosas, e espero que a nossa pequena excursão traga a ela uma
sensação de calma, se nada mais.
— Então. — Limpo minha garganta, preparado para me defender no caso da
Us Weekly. — A revista.
O olhar de Serena se fixa em mim. — Sim, conselheiro. Sou toda ouvidos.
— Quando perguntei ontem sobre o seu passado, você me cortou. Achei que
era uma fonte de trauma emocional para você, e não querendo causar mais imerecida
angústia emocional, eu fiz um pouco de pesquisa na Internet, tentando juntar o que
pude.
Sua boca cai, mas a corto.
— Espere. Não terminei — digo. — Quando terminei no escritório, eu fui para
casa da minha irmã para uma visita e ela estava lendo esse lixo. Assim que vi sua foto
na capa, eu senti que, como seu advogado, eu precisava saber o que era dito.
— Mas é tudo mentira.
— Exatamente. Estou bem ciente disso, Serena. Mas, como qualquer bom
advogado sabe, as mentiras ditas sobre você são tão importante quanto a verdade.
Mentiras perdem casos. Mentiras arruínam vidas.
Ela bufa, olhando para frente. — Você está certíssimo.
— Então, com certeza, eu não estava nem um pouco entretido por aquele
pedaço inútil de ficção.
Serena se vira para mim, sua expressão suavizando quando encontro o seu
olhar. Ela enfia uma mecha de cabelo de fogo atrás de uma orelha cravejada de
esmeralda.
— Obrigada, Derek. Aprecio isso. Eu não olhei para um tabloide ou li um blog
de fofocas desde antes de tudo desmoronar. Prefiro não saber o que as pessoas dizem
sobre mim. Acho que eu desmoronaria se lesse tudo. Da forma como eu costumava
fazer.
— Mulher sábia. — Desço ao longo de outra estrada que conduz até uma colina
ventosa coberta de árvores e casinhas completamente escondidas. Está ficando mais
escuro agora, a sugestão de um pôr do sol enchendo o horizonte. — Meu pai sempre
disse que o que as outras pessoas pensam de nós não é da nossa conta.
Serena educadamente sorri insinuantemente. — É provavelmente mais fácil
viver com essas palavras quando você não é uma figura pública.
— Verdade.
— Independentemente disso, evitar todos esses artigos desagradáveis tem sido
uma lufada de ar fresco. Na cidade, as pessoas não pensam duas vezes antes de dizer
o que dizem. Acham que fazem um favor, mas fazem isso apenas esperando uma
reação. — Ela olha para baixo, para as unhas nuas, e imagino que uma mulher como
ela não está acostumada a vê-las tão simples.
— Absolutamente.
— Deus, eu adoraria uma manicure. — Ela segura a mão diante de seu rosto.
— Sinto falta delas. É incrível como o tom perfeito de esmalte pode ser o suficiente
para iluminar seu dia.
— Nós vamos garantir que haja uma abundância de espaço no seu orçamento
para manicures e pedicures regulares. — Minha ex-esposa era viciada nisso, embora
eu não a mencione. Na maioria das vezes, finjo que ela não existe, e então meus
sonhos são esmagados quando pego Haven todas as outras sexta-feira e vejo que ela
está viva e bem, vivendo o sonho americano com o marido número dois.
— Não sou superficial — ela atenua seu pedido. — Ou vaidosa.
— Esse pensamento não me passou pela cabeça nenhuma vez.
— Só fui criada para cuidar de mim. Ter orgulho em como me apresento ao
mundo.
— Não somos todos nós?
— Às vezes, eu queria não me importar. Aposto que eu poderia passar dias
descansando em calças de moletom e um rabo de cavalo.
— Então por que você não faz? — Olho em sua direção.
Sua boca aperta e ela olha pela janela, perdida em pensamentos, oferecendo
nada além de um simples — Hmm.
Serena se instala em seu assento, seu corpo relaxa, quase derretendo, como
se estivesse achando mais fácil ficar perto de mim do que inicialmente previsto.
— Talvez eu faça — ela acrescenta. E então ri. — Eudora acharia que eu fiquei
louca de verdade, então.
Paramos em um sinal de Pare, e espreito por cima do painel.
— Qual caminho? — Pergunto. — Esquerda? Direita? Direto?
— Você quer que eu escolha? — Sua mão espalha sobre o peito e brinca com
um colar de ouro com pingente enquanto passa os dentes ao longo de seu lábio
inferior. — Oh, hmm. Direto?
— Isso é uma pergunta ou uma ordem? — Brinco.
A boca de Serena se abre pela metade e ela bate no meu ombro, deixando sua
mão um segundo a mais do que eu esperava. — Basta ir direto. Não vamos complicar
isso, ok? Apenas dirija.
O céu escureceu nos minutos que se passaram desde que saímos de Belcourt,
e eu ligo o rádio através dos controles no volante.
— Que tipo de música você gosta? — Levanto um dedo. — E não me diga que
Chopin ou alguma besteira assim, porque não vai me impressionar. Você é jovem.
Você tem um pulso. Diga-me o que você gosta, ou me ajude a não sujeitá-la a Rádio
ESPN.
— Não, não! Não faça isso. — Minha mão paira sobre o número quatro pré-
definido e Serena solta. — Eu gosto... eu meio que gosto... de tudo.
— Tudo? — Levanto uma sobrancelha.
Ela balança a cabeça. — Sim. Tudo.
— Mas qual é o seu favorito? Você tem que ter um favorito.
— Você nunca vai acreditar em mim se eu te disser. — Serena respira
pesadamente.
— Me teste.
— Rock clássico. Tenho uma coleção enorme de vinil. Pelo menos, eu
costumava ter. Tenho certeza que está guardada em algum lugar. De qualquer forma,
eu tenho um caso de amor secreto com Led Zeppelin, Bob Seger, Steve Miller Band...
— ela recita um pouco mais, e, enquanto isso, eu pressiono o número um pré-definido.
A face de Serena se ilumina quando Tom Petty, American Girl, começa a tocar
nos alto-falantes. Aumento o volume, e ela insinua uma dança feliz em seu assento.
Eu a observo o melhor que posso do assento do motorista, completamente
transformada no espaço de uma única canção. Ela murmura junto com a música,
com os ombros torcendo e elevando com cada batida do bumbo.
Pressionando meu pé no acelerador, subimos morros e costa, descemos vales,
a rodovia forrada por lindas árvores brotando. Um sinal à direita nos diz que Walworth
Township está a três quilômetros à frente, e o limite de velocidade diminui para trinta
e cinco.
A canção termina, e The Stones toca a seguir à medida que nos aproximamos
de uma placa de Pare com uma luz vermelha intermitente que nos fornece quatro
saídas.
— Nunca vi alguém ganhar vida assim — digo.
— Deve ser todo esse ar fresco. — Suas bochechas coram e se desfaz. — Tenho
me sentido tão apática ficando no Belcourt. É incrível o que um pouco de música e
uma mudança de cenário pode fazer para o espírito. Embora, agora me sinto
completamente ridícula. Posso te assegurar, normalmente não costumo transformar
um carro em uma boate.
— Não, não. Não. Não se sinta dessa forma.
Viro à esquerda no sinal de Pare e vejo uma ponte à frente. Serena agarra a
maçaneta da porta quando nos aproximamos dela, seu corpo congelando.
— O quê? O que é isso? — Pressiono meus freios.
Ela fecha os olhos, engolindo respirações profundas. — A Ponte.
Olho em frente e de volta para ela. — E o que tem isso?
— É o lugar onde sofri meu acidente.
— Oh. Merda. Foi aqui? — Arrasto minha mão pelo meu queixo e dou marcha
ré. — Nós não precisamos ir por este caminho.
— Não, não. Está tudo bem. — Seus olhos azuis estão abertos agora. — Foi
apenas um pequeno acidente de condução no inverno. A ponte estava escorregadia.
Deve ser seguro agora. Continue.
— Você tem certeza?
Ela morde o lábio inferior e pisca lentamente, finalmente concordando. — Sim,
basta ir.
Eu vou devagar, dirigindo não mais do que vinte quilômetros por hora. Quando
chegamos ao final da ponte, uma grade de metal remendada indica onde o carro dela
deve ter batido e caído.
— Bom. Eles consertaram tudo. — Ela dá um olhar à grade antes de olhar
para frente. — Esse foi o momento mais aterrorizante da minha vida. Eu realmente
pensei que ia morrer.
Nós nos afastamos da ponte, e viro à direita no cruzamento seguinte, o que
nos leva a outro trecho da rodovia. Uma placa nos diz que estamos a vinte e quatro
quilômetros da cidade mais próxima.
— Você pensou que ia morrer? — Pergunto.
Sua mão repousa sobre o peito, que sobe e desce rapidamente.
— Sim. Eu estava dirigindo, e um pequeno gato correu pela ponte, e eu não
queria atingi-lo, então pisei nos freios. Não estou acostumada a dirigir no inverno.
Tinha acabado de nevar, e acho que houve uma camada de gelo por baixo. Ou isso é
o que me disseram. Enfim, eu caí da ponte através das grades quebradas. Pousei na
água abaixo. Graças a Deus, não era muito profundo.
— Mas. — Arranho o lado da minha cabeça, olhando-a, e observando a estrada.
— Estou confuso.
— Sobre o quê? — Ela bate seus cílios, olhando para frente.
— Os artigos, a declaração do médico... — digo — todos dizem que foi uma
tentativa de suicídio. Que você se jogou da ponte para se machucar.
— O quê? — Sua voz é estridente, descrente. — Quem disse isso?
— Os tabloides, por exemplo. O qual, sim, eu sei. Mas a declaração do Dr.
Rothbart também disse que foi uma tentativa de automutilação — digo. — Você não
viu o relatório médico? Aquele apresentado ao tribunal?
— Não, claro que não. Meu último advogado cuidou de tudo isso.
— Por que o médico diria isso?
— Por que eu tentaria me matar jogando meu carro em 60 centímetros de
água? — Ela ri, mas seus olhos estão vidrados. — Você sabe o quão ridículo que
parece? Se fosse me machucar, eu gostaria de encontrar uma maneira menos
dramática de fazê-lo. Acredite em mim. Eu nunca faria dessa maneira.
— Então você não tentava se machucar?
— Absolutamente não.
— Por que você ficou em uma instituição de saúde mental particular após o
acidente?
— Um o quê?
— O relatório do médico disse que você estava internada em uma instituição
particular em Nova York.
Com a boca travada, Serena ela olha pela janela, com o corpo inclinado para
mim. — Bati minha cabeça no volante e sofri uma concussão leve. Fui examinada por
nosso médico da família – em Belcourt – e atribuída a uma enfermeira em casa por
uma semana. Não passei uma noite longe daquela maldita prisão desde que meu pai
me obrigou a me mudar para lá.
— Isto não está batendo. — Arrasto a mão pelo meu cabelo e pressiono as
costas no assento de couro preto. Minha mão esquerda aperta o volante. — Por que o
Dr. Rothbart arriscaria sua licença e reputação mentindo assim? Por que daria
evidências falsas arriscando ser preso?
Serena inclina a cabeça contra o encosto de cabeça, os olhos focados no rádio.
— Dinheiro.
— Sua madrasta?
— Tem que ser ela. Ela tem acesso às contas de meu pai. Você pode colocar
um preço sobre qualquer coisa nestes dias.
— Ela quer a sua herança.
— Sim, conselheiro. Como você descobriu isso?
— Então ela está tentando provar que você não está bem, tentando
fundamentar que você ou o seu fundo fiduciário precisam de algum tipo de assistência
gerenciada, e que você não deve receber completamente a sua parte.
— Exatamente. Meu fundo fiduciário é uma porcentagem de todo o patrimônio
de meu pai. Noventa e sete por cento. Ele está no final dos oitenta anos. Seus dias
estão contados. Uma vez que ele se for, eu herdarei centenas de milhões, e ela ficará
com uma pequena ninharia em comparação. Menos da metade de um por cento, se
bem me lembro. Definitivamente não é o suficiente para manter seu estilo de vida
atual.
— Então, como provar que você é louca pode ajudá-la?
— Ela está tentando fazer o meu pai mudar o testamento desde que se
casaram. Ele quer ter certeza de que o dinheiro que seu pai e ele trabalharam a vida
inteira dure e que não será gasto de forma descuidada ou insensatamente. Ela passou
os últimos anos tentando convencê-lo de quão irresponsável eu sou, o que não poderia
estar mais longe da verdade. Veronica é aquela com o problema de gastos. Eu não dou
a mínima para o dinheiro. É mais um fardo do que qualquer outra coisa. Só não quero
que ela fique com ele. Ela não o ama. Ela só ama a riqueza dele.
— Certo. Deixe-me ver se entendi. — Limpo minha garganta. — Se ela
conseguir convencer ao seu pai que você não está em seu juízo perfeito, ele mudará o
testamento e a deixará com mais dinheiro do que Deus.
— Sim. — Serena arrasta os dedos através de uma longa mecha vermelha. —
Suponho que ela não conseguiria tudo, mas certamente conseguiria mais do que seu
quinhão. Tenho certeza de que eu receberia um pequeno valor de algum tipo, mas
esse é o princípio da coisa.
— Concordo plenamente.
— Não posso deixar que isso aconteça. — Serena coloca a mão no meu braço.
— Não vai.
A expressão de Serena se desvanece. — Só quero minha vida de volta. Quero
o meu bom nome de volta. Quero que a verdade seja conhecida. E quero Veronica
exposta antes que seja tarde demais.
— É uma longa ordem, mas posso fazer isso.
— O que quer dizer com você pode fazer isso? Olá. — Ela aponta para si
mesma. — Não sou uma donzela indefesa em perigo.
— Mas você meio que é. — Não posso deixar de admirar a determinação dela.
O fato de não querer confiar em mim é adorável para caralho.
— Não, não. Odeio isso. — Sua cabeça treme, seu cabelo roça seu rosto.
— Certo. Entendo. Você é uma mulher forte e independente. Mas
independentemente disso, você precisa de mim. Você precisa de mim, quer você goste
ou não. Você não pode fazer isso sozinha.
Ela libera uma exalação dramática, seu cotovelo apoiado contra a porta.
— Não me ferre. — Ela se vira e aponta um dedo para mim. — Falo sério,
Derek. Eu preciso saber que posso confiar em você. Que você não está nisso por você
mesmo. Que não está aqui para ordenhar o que sobrou do meu fundo fiduciário.
— Um pouco insultado por sua insinuação, mas você tem a minha palavra. —
Desenho um X em meu peito e levanto a palma da mão. — Direito patrimonial é minha
paixão de estimação. Acredite ou não, casos como o seu não são totalmente incomuns.
— Assim, isso será fácil, então? — O tom de Serena é mais leve, esperançoso.
— Nós precisamos apenas provar que o Dr. Rothbart está na folha de pagamento dela
e que ele mentiu. Encontrar um médico imparcial para me avaliar e provar que não
estou planejando me ferir, e que não preciso de um tutor ou medicamentos
psiquiátricos. E então temos que provar que Veronica planejou tudo.
— Não será fácil, Serena. Isso não é um filme. — Coloco minha mão sobre a
dela, e os nossos olhos se encontram.
Segundos depois, seus ombros caem e sua testa encosta na janela do
passageiro. — Então, eu estou presa com você por um tempo?
— Não aja como se você estivesse desapontada — eu brinco.
Seus lábios em forma de coração abafam uma risada, e me pergunto se ela
sorriu mais hoje do que fez em um longo tempo.
— Devemos levá-la de volta para casa — eu digo, depois de perceber que o sol
se escondeu oficialmente atrás do horizonte. — A última coisa que precisamos é atrair
a atenção. Veronica não pode saber que estamos de olho em seus negócios. Quanto à
equipe Belcourt, eu sou simplesmente o seu tutor e nada mais. Não vamos discutir
nada relacionado à Veronica enquanto estivermos nos terrenos de Belcourt,
entendeu?
— Sim, conselheiro.
— Por sinal, essas grandes compras que você fez? — Pergunto.
Suas sobrancelhas se encontram. — Que grandes compras?
— Os onze milhões de dólares em carros esportivos, roupas, joias...
A expressão em seu rosto me diz tudo que eu preciso saber. — Oh Deus. Sério?
— Foi mencionado na ordem judicial. Como você não sabe disso?
— Derek, eu estive medicada e dopada. Não há muita coisa que eu me lembre
depois de todo o incidente do aeroporto. Eles me deram tranquilizantes,
benzodiazepínicos, pílulas para dormir... — ela inclina seu queixo e enterra o rosto
nas palmas das mãos. — Eu não tinha ideia que era assim tão mau.
— Então Veronica fez algumas compras irresponsáveis em seu nome para
mostrar ao seu pai que você não era capaz de gerir as suas finanças no estado em que
estava.
Serena afasta uns fios de cabelo vermelho-acobreado de seu rosto. Posso dizer
que ela quer chorar com o peso de pura frustração, mas talvez a medicação ainda
correndo em seu organismo a entorpeceu demasiadamente.
Nós viramos, voltando para Belcourt e andamos em silêncio. Evito a ponte de
propósito, tomando uma rota alternativa e estendendo a nossa viagem de volta em
alguns minutos muito necessários.
No momento em que paro na entrada circular, vejo Eudora escondida atrás de
uma janela com cortinas. A porta da frente se abre um momento depois, e ela está de
pé, observando e esperando, como se nós estivéssemos atrasados.
— Não sabia que eu tinha um toque de recolher — Serena murmura baixinho,
voltando-se para mim. — Vê como isso é ridículo? Tenho vinte e cinco anos. Vinte.
Cinco.
— Você deve ir embora — digo.
— Perdão? — Seus olhos brilham o suficiente para me dizer que eu já despertei
seu interesse. — Ir embora, como ir embora de Belcourt?
— Sim.
— E aonde eu iria, exatamente? Não estou pronta para mostrar o meu rosto
na cidade. Esse é o único lugar onde me sinto em casa. Aqui e uma pequena casa a
duas horas de Londres. É onde eu tentava ir naquela noite no aeroporto JFK.
Sua voz morre.
— De qualquer forma — ela suspira, os dedos envolvendo a maçaneta da porta.
— Você deve se mudar para uma pequena cidade onde ninguém a conheça —
digo.
— O que? Como... de onde você é? — Sua risada morre quando percebe que
não estou brincando.
— Ninguém te conhece lá. Exceto, talvez, Demi.
— Sua irmã?
— Sim. A entusiasta de fofocas de celebridades nascida e criada em Rixton
Falls.
— Rixton Falls? Esse é o nome da sua cidade natal?
Concordo.
— Soa pitoresca. Há uma cachoeira, eu presumo?
— Várias.
Nós olhamos pelo painel, observando Eudora dobrar os braços e bater o pé.
Ela verifica o pulso dela.
— Ela não usa um relógio. — Serena revira os olhos. — Obrigada pelo passeio
pelo campo hoje. Eu precisava disso. Eu me senti um pouco mais como eu mesma
esta noite.
Ofereço um meio sorriso e levanto os dedos do volante para um aceno de adeus
rápido.
— Você tem um endereço de e-mail? — Pergunto quando ela sai.
Ela balança a cabeça. — Sem internet aqui. Lembra?
— Devemos providenciar uma internet via satélite.
— Sério?
— Sim. Pedirei a minha secretária para ligar e agendar uma instalação. Eu
gostaria de ser capaz de alcançá-la em todos os momentos. Em particular. Seu celular
não é confiável, e telefones fixos não são seguros.
— Parece bom. Boa noite, conselheiro.
Seus dentes brancos mordem o lábio inferior, embora eu ache que ela não sabe
que está fazendo isso, e gentilmente fecha a porta do carro ao sair. De onde me sento,
eu posso dizer que Eudora está agitada, e fico apenas o tempo suficiente para vê-la
desaparecer lá dentro.
Preciso afastá-la destas pessoas.
Ela não está segura aqui.
CAPÍTULO 6

Serena
— Seu pai e Veronica ligaram quando você estava fora. — Eudora me segue
até a escadaria sinuosa que leva a minha suíte.
— O que você disse a eles? — Chicotei ao redor, parando no oitavo degrau.
Eudora cobre seu coração com uma mão enrugada. — Que você estava
dormindo, é claro.
Expiro e subo o resto dos degraus, um pouco sem fôlego quando chego ao topo.
— Os medicamentos deviam ter sido tomados a mais de uma hora atrás —
Eudora diz quando cruzo o limiar para o meu quarto. — Eles estão em sua mesa de
cabeceira.
— Vou tomá-los depois que eu tomar banho.
Eudora olha para os remédios, depois para mim. — Você parece muito alerta
recentemente. Se sentindo melhor?
Desabotoando a camisa diante do espelho, eu faço uma pausa no terceiro
botão e giro em sua direção. — Muito. Obrigada por perguntar.
Ela me conhece melhor do que ninguém, e a sensação nauseante na boca do
meu estômago me diz que ela vê claramente através de mim.
— É aquele advogado, não é? Você é doce com ele. — Suas palavras são
agitadas, descontente. — É como se você flutuasse desde ontem à tarde.
Eu rio e volto para os meus botões. — Não. Absolutamente. Você está
imaginando coisas.
Ela se aproxima, examinando-me até que eu contorço ligeiramente. — Você
está corando.
— Ele é um homem simpático — digo. — E é agradável aos olhos. Mas, depois
de tudo o que aconteceu com Keir, eu estou bastante insultada pelo fato de você me
acusar de querer saltar novamente para o namoro. E ele é meu tutor. Violaria seus
padrões profissionais e minha ética pessoal. Por favor. Sem mais indiciamentos
frívolos.
Ela bate as palmas das mãos ao longo de seus quadris e bufa. — Estou apenas
te protegendo, isso é tudo.
— Certo. Você disse isso antes. — Puxo a blusa dos meus ombros, de pé em
nada além de um sutiã e leggings de couro preto que estão muito grandes e lamento
por minhas curvas no espelho. Comida simplesmente não tinha o mesmo sabor nos
últimos dois meses. Eu culpo a medicação.
— É justo. — Ela está ao meu lado. — Você é uma jovem muito bonita. Ele é
um homem bonito, que sabe que você é mais rica do que Deus. E ele é encantador.
Serena, ele é essencialmente um desconhecido, e você entrou no carro com ele. E se
ele a levasse a algum lugar?
— Ok. Isso é o suficiente. — Eu rio. — Não sou uma criança subindo em um
carro com um estranho dando doces. Sou uma mulher adulta. Você me viu sair com
ele. Nós duas sabemos quem ele é. Não vejo mal algum. Você sabe que você parece
ridícula, certo?
Saio das minhas leggings e pego um pijama de cetim da minha gaveta da
cômoda do meio. Após escolher tudo, vou ao banheiro para me lavar. Eudora segue,
encostada na porta.
— Basta ser inteligente sobre isso — ela adverte. — Não me importo quão doce
ele é com você. Como ele faz você se sentir. Você não pode confiar nele. Não pode
confiar em nenhum deles.
Coloco uma linha de creme dental na minha escova elétrica e atiro-lhe um
olhar com a cara franzida, debatendo se discuto ou apaziguo por agora.
— Entendi, — digo. Estou muito cansada para brigar com Eudora, e conheço
suas tendências retrógradas muito bem. Cresci com elas. — Ele é indigno de
confiança, e não confiarei nele.

Quando viro a esquina para a sala de jantar na terça de manhã e vejo Veronica
e meu pai sentados à cabeceira da mesa, tudo que posso fazer é não me engasgar com
minha saliva.
— Bom dia, querida. — Veronica levanta, sua testa vítrea refletindo o lustre
aceso acima. Ela está vestida com narciso amarelo15 da cabeça aos pés, a cor favorita
do meu pai, embora pareça horrível contra sua pele laranja. Alguém tão mal não deve
usar cores felizes.
Eu tremo quando ela me chama de qualquer termo carinhoso, o que só
acontece quando meu pai está presente.
— Oi, papai. — Ignoro Veronica e sento ao lado do meu pai, que está vestido
com um aveludado agasalho da marinha. É tudo o que ele parece usar agora.
Distantes estão os dias em que ele nunca seria visto usando nada além de seus
favoritos ternos italianos sob medida. Deslizo minha mão sobre a de meu pai, e ele
olha fixamente para frente.
— Ele não está completamente ele mesmo hoje. — Veronica limpa a garganta
e senta do outro lado dele. — Ele teve outro episódio esta manhã. Continuou me
chamando de... Maggie.
Meu peito aperta.
Era o nome da minha mãe.
— Foi como se ele tivesse esquecido completamente que década em que
estamos — lamenta, mas não acho que ela se preocupa com ele. Acho que está mais
preocupada com a sua janela de oportunidade desaparecendo.
— O que você faz aqui? — Pergunto.

15
Acho interessante ela não me visitar em semanas, e agora ela está aqui. Poucos
dias após eu fugir de Belcourt por duas horas.
Eudora deve ter mencionado algo.
— Eu queria informá-la. — Ela pisa sobre as palavras com cuidado, com os
olhos estreitos sobressaindo por todo o cômodo. — Seu pai me deu uma procuração
como única a tomar as decisões médicas. A procuração em conjunta que tínhamos
está temporariamente suspensa, dado o seu estado atual.
— O quê? Não. Você não pode fazer isso.
— Não, não, querida. Seu pai decidiu. — Com uma expressão indiferente, ela
cruza as pernas. Então, novamente, normalmente é. O rosto da mulher está tão
preenchido que ela mal consegue sorrir.
— Meu pai? O homem que não sabe quem você é na metade do tempo? —
Minha voz se levanta. — Ele não está em condições de fazer alterações como essas, e
você sabe disso.
— E você não está em condições de tomar decisões sobre cuidados de ninguém,
incluindo você. Eu precisava fazer o que é melhor para a família.
Eu poderia dar um tapa nela, e não sou uma pessoa violenta. Um milhão de
palavras voa por minha mente, ameaçando fazer um desvio para os meus lábios.
Mas me lembro do conselho de Derek. Não podemos deixá-la saber que
estamos sobre ela. Isso só dificultará as coisas.
— A família? — Zombo. — Você não é uma parte desta família, Veronica.
— Eu me importo com você, querida. — Ela se inclina sobre a mesa, colocando
a mão sobre a minha, mas a arranco. Sua expressão é falsamente calorosa, mas seu
toque é frio como gelo. — Sei que você não acredita, mas eu sou. Eu amo meu Harold,
e parte de amar Harold é amar a filha dele.
— Não se sente aqui na minha mesa e me alimente mentiras na frente do meu
pai doente. Tenha um pouco mais de respeito. — Levanto-me, olhando para o meu pai
em seu estado catatônico. Seus espasmos faciais, e seus olhos quase voltam à vida.
Ele olha para mim, depois para Veronica.
— Senhoras, o que está acontecendo? — Pergunta ele, parecendo por um
momento um pouco lúcido.
Os lábios de Veronica vacilam e dançam quando ela olha para mim.
— Papai, você sabia que Veronica é a única tomando as decisões médicas? —
Pergunto.
Ele cruza os carnudos nódulos dos dedos das mãos em sua barriga bulbosa,
suas espessas sobrancelhas brancas reúnem no meio.
— Sim, Serena. Tomamos essa decisão juntos. — Suas palavras quebram meu
coração. Ele só pensa que tomaram a decisão juntos. Eu conheço manipulação
quando a vejo. — Você não está bem, princesa. Assim que você voltar a si mais uma
vez, tudo voltará ao jeito que era.
— Então, se algo acontecer com você – Deus me livre – você está bem com
Veronica tomando todas as decisões médicas para você? — Cruzo os braços, olhando
para a minha madrasta, a encarnação do mal.
Seu rosto relaxa, e ele olha em frente, gemendo e resmungando baixinho. Ele
se mexe, desconfortável em sua cadeira de rodas. E então olha para mim, o rosto
torcido como um ponto de interrogação.
— Quem é Veronica? — Ele pergunta.
Jogo minhas mãos no ar. Apenas assim, ele se foi. E é tarde demais, porque
Veronica já assovia seu caminho para a fortuna da família. No dia que meu pai estiver
ligado a uma máquina, ela será a primeira pessoa a dizer aos médicos para puxar o
plug – assumindo que ela consiga ficar com a herança em primeiro lugar.
Pelo menos enquanto ela dividia o poder de tomar as decisões médicas, havia
salvaguardas em vigor.
— Ele tem seus momentos, Serena. Por favor, não fique frustrada — diz
Veronica. — Acredite em mim quando digo que essas decisões foram discutidas
durante seus momentos coerentes.
— Certo. — Meus lábios formam uma linha dura. — Isso é tudo o que você
veio fazer aqui? Você vai embora agora?
Bettina irrompe através de portas duplas com uma bandeja cheia de comida.
— Bem, eu pensei que poderíamos desfrutar de um lindo café da manhã juntos
— diz Veronica. — Faz semanas desde que dividimos uma refeição, e é uma manhã
tão bonita. Pensei que talvez pudéssemos sair com você? O ar fresco pode ajudar.
Você saiu muito, querida?
Sua pergunta é um teste. Disso eu tenho certeza.
— Tenho uma abundância de ar fresco, — digo. — Entretanto, seria bom ter
um carro. Você sabe, para que eu possa realmente deixar os arredores de vez em
quando.
— Oh, meu amor, isso não é uma boa ideia. O Dr. Rothbart não quer você
dirigindo até que seus medicamentos estejam equilibrados. É por isso que você tem
um motorista de plantão. Se quiser sair, basta ligar para Jameson, e ele vem buscá-
la.
— Ele está à duas horas de distância, e ele é o seu motorista, e você o usa
todos os dias.
— Então nós vamos contratar um novo motorista para você. — Veronica
levanta uma sobrancelha para a chef de cozinha e aponta para o pátio. — Você viveu
na cidade por um longo tempo. Condução não é realmente o seu forte. Deixe isso para
os profissionais, não é? Isso é o que Randalls fazem melhor.
Ela ri.
— Tomarei o café da manhã no meu quarto — eu digo a Bettina. Girando no
meu calcanhar, não perco tempo me movendo em direção as escadas.
— Serena, não se afaste de mim, — Veronica grita atrás. Não ouço seus passos.
E ela não me perseguirá. Não é o estilo dela. — Dr. Rothbart passará aqui esta semana
para outra avaliação. Não parece que você está melhorando muito.
Eu a ouvi gritar palavras como: excessivamente emocional, uma vergonha para
a família e comportamento irracional inaceitável. E a deixo dizer o que precisa dizer.
Em breve, eu vou embora. Provarei que ela estava errada. Provarei que ela é uma
criminosa. E tudo isso será uma distante memória.
Eu vôo até as escadas e para a minha suíte prisão, batendo a porta atrás de
mim como uma princesa mimada, e caramba, a sensação é boa por dois segundos.
Um choque para meu frio coração quando vejo a assistente pessoal de
Veronica, Julia, vasculhando minhas gavetas.
— Que diabos você pensa que está fazendo? — Eu voo para ela, agarrando seu
pulso e arrancando-o das minhas coisas.
Ela está congelada. Um cervo nos faróis. — Sinto muito, Serena.
— Perguntarei mais uma vez. — Eu a liberto, cruzando meus braços. — O que
você está fazendo?
Falando apressadamente, ela olha a porta.
— Você não sairá do meu quarto até que me diga, Julia. — Bloqueio sua visão
da saída. — Isso é totalmente inapropriado. Veronica sabe que você está aqui?
Seu olhar me diz tudo que eu preciso saber – tudo o que eu suspeitava.
— Ela te colocou nisso — digo.
— Por favor — ela diz. — Me deixe ir. Não quero ser uma parte disso.
— O que você estava procurando? — Pergunto.
Julia deixa a cabeça cair. — Por favor, não faça isso, Serena. Eu só fazia o que
me disseram. Não posso perder meu emprego.
— Você não vai — digo. — Apenas me diga.
— Pílulas — ela deixa escapar, com o rosto vermelho. — Era para eu ver se
você estava guardando as pílulas. Veronica estava preocupada que você estivesse
guardando-as para poder se matar.
Meus punhos apertam. Chega de mentiras e ilusões.
Precisa acabar.
Foi longe demais, e isso foi longe demais.
Preciso sair daqui, mesmo que seja para Rixton, onde Derek sugeriu.
— Saia — digo através de uma mandíbula apertada. — E é melhor eu nunca
pegá-la aqui novamente.
CAPÍTULO 7

Derek
Inclinando sobre a mesa de Gladys na quarta-feira, eu escorrego um impresso
de ontem.
— O que é isso? — Ela pergunta.
— Horton Internet via satélite — digo. — Preciso que você ligue para eles e
solicite uma instalação de emergência em Belcourt Manor.
— Posso fazer isso? — Ela empurra os óculos para cima da ponte de seu nariz
irregular e lê as letras miúdas.
— Como curador do espólio de Serena Randall, eu estou autorizando-a a fazer
isso.
Ela pega o telefone, embalando o receptor em seu ombro, e tecla o número do
papel.
Levantando a minha pasta, eu caminho passando pelo escritório do meu pai,
entrando e dizendo Olá. Ele está misturando seu café, como normalmente faz a esta
hora. Espero até ele terminar. Ele precisa ter uma relação precisa entre o açúcar e o
creme ao café, e o vi despejar demasiados copos perfeitamente bons apenas porque
algo estava destoando um pouco.
— Filho. Bom dia — diz ele, tomando um gole de sua caneca e acenando com
a cabeça quando o sabor é do seu agrado. — Teve um bom fim de semana?
— Eu tive — digo. — Eu me encontrei com Serena Randall no sábado.
Ele torce o rosto. — Em um sábado? Por que você faria isso?
— Ela não foi capaz de me atender por muito tempo na sexta-feira — digo. —
E fiz uma pequena pesquisa sobre o caso na sexta à noite. Eu tinha mais algumas
perguntas. Queria conhecê-la um pouco melhor.
Papai suspira, alisando a palma da mão sobre sua gravata xadrez enquanto se
inclina para se sentar. As linhas que enquadram os lados da sua boca flexionam
profundamente conforme ele olha para frente. Já vi esse olhar antes. Ele está
pensando demais sobre algo.
— Esta é a tarefa de tutor financeiro, correto? — Ele pergunta.
— Certo.
— Você não precisa pesquisar nada, Derek. Você simplesmente estabelece um
orçamento e relata os fundos recebidos e enviados para os tribunais, como previsto.
Você está fazendo mais trabalho do que o necessário.
Fecho a porta e sento em frente a ele. — É aí que você está errado.
Sua cabeça se inclina para um lado, e ele desliza o dedo ao longo de seu
espesso bigode escuro. Eu costumava pensar que o fazia parecer intimidante. Agora
só me faz lembrar Tom Selleck16 no seu auge.
— Na superfície, este é um caso simples de tutela — digo. — Raspe a superfície
e olhe de novo? É um caso imobiliário. A madrasta está tentando provar que a filha é
mentalmente desequilibrada para que possa fazer o pai mudar o testamento. Ela está
pagando as pessoas para fazer declarações falsas. Até mesmo o acidente de carro foi
uma farsa.
Papai se inclina para frente, com o dedo no ar. — Espere um minuto. Você tem
provas disso?
— Trabalhando nisso.
Ele massageia seu dedo médio contra sua têmpora, exalando um gemido. —
Os Randalls são uma família muito proeminente e poderosa. Eles têm um monte de
dinheiro e um monte de recursos. Você não pode manchar os nomes deles porque

16 Thomas William Selleck, conhecido por Tom Selleck, é um ator e produtor de cinema norte-
americano. Na década de 1980, interpretou o detetive particular Thomas Magnum na célebre série de
televisão Magnum, P.I..
você acha que sentiu o cheiro de fraude. Você precisa ter evidência sólida antes de
fazer uma única acusação, ou o seu nome estará lama. O nosso nome.
— Um dos relatórios psiquiátricos referencia Serena tentando acabar com a
vida dela jogando seu carro de uma ponte em Walworth Township — digo. — A ponte
era de dois metros acima do chão, e o riacho abaixo dela tinha apenas meio metro de
profundidade. Se alguém tenta terminar com a sua vida, por que fariam isso ali?
— Porque não estão em seu juízo perfeito no momento. — Seus braços cruzam
sobre o peito, e sua cabeça se inclina na direção oposta.
Eu ignoro. Ele não a conheceu ainda. Ele se ele ver por si mesmo como ela
está mentalmente, isso responderá a pergunta dele.
— O relatório do médico afirmou que ela permaneceu em uma instituição
psiquiátrica particular em Nova York após o acidente — digo. — Serena afirma que
ela nunca deixou Belcourt. Ela alegou que foi avaliada por um médico, tratada para
uma concussão leve, e monitorada em casa por uma enfermeira durante a semana
que seguinte.
— Encontre essa enfermeira. Encontre alguém para corroborar a história dela.
— Fácil, não é? — Pergunto. — Errado. Nós suspeitamos que essas pessoas
estão na folha de pagamento da madrasta dela. Ela está pagando pelas declarações
falsas deles. Confessar tudo teria consequências importantes para todos os
envolvidos. Não será fácil.
Papai se inclina para frente, apoiando os cotovelos contra a parte superior do
vidro polido da escrivaninha de nogueira. — Você está procurando sua própria merda,
se continuar assim.
Choramingo. — Você não tem fé.
— Acho que você é um homem inteligente fazendo uma coisa tola.
— O que aconteceu com fazer a coisa certa? — Fico olhando para o velho diante
de mim, os ombros sobrecarregados com o peso de todos os fardos de outra pessoa.
— O que aconteceu com a justiça?
Ele se inclina para trás, sua cadeira rangendo e estalando quando gira para
encarar a janela ao seu lado.
— Pergunto-me isso a cada dia. — Ele balança a cabeça, e pela segunda vez
na minha vida, acho que a magia em torno da fachada do meu pai é mais ilusão do
que qualquer outra coisa. — Às vezes, você faz o que é melhor para sua carreira, e,
por vezes, isso nem sempre é o melhor para seus clientes.
Suas palavras são um soco no meu intestino, e encontro-me sem fala por um
momento.
— Então o que você está dizendo?
— Eu estou dizendo. — Seus olhos encontram os meus. — Você é jovem. Você
tem muito a aprender. Tem uma longa carreira pela frente. Atenha-se aos casos
seguros por agora. Fique com o que você sabe. Não se envolva nesse drama familiar
dos Randalls, a menos que você seja contratado explicitamente para fazê-lo, e mesmo
assim, eu o encaminharia para algum tubarão em Manhattan para quem estes casos
são tão comuns.
— Você acha que eu não sou bom o suficiente para assumir esse caso. — Deus,
eu sinto que tenho treze anos de idade, porra. — Então, passar a maior parte dos
meus vinte anos estudando lei foi para nada.
— Você é um advogado muito bom, Derek. — Papai bate o punho fechado sobre
a mesa, e suas canetas saltam em uníssono. — Muito bom.
— Mas o que?
— Você percebe o quão ruim isso vai parecer? — Suas sobrancelhas escuras
se encontram. — Você está contratado para cuidar do dinheiro dela, e agora você está
enfiando o nariz onde não te pertence, convencendo-a que há um caso que precisa ser
faturado, trabalho extra para ser feito. Você não fará isso de graça, Derek.
— Claro que não. — Deus nos livre da prática desperdiçar uma única hora
faturada. — E eu sou um profissional. Isso não terminará mal. Serena é uma boa
pessoa. Ela merece o nome dela de volta. Sua reputação. Sua herança.
— Como é essa Serena? — Seu tom muda. Ele está me atraindo.
— Por que isso importa?
— Como você a descreveria?
Eu rio para mim mesmo, mantendo uma cara séria. Eu o tenho. — Você quer
que eu diga que ela é linda. Quer que eu diga que ela é adorável, inteligente e o epítome
da graça e classe, e então você me acusará de estar interessado nela, e então alegará
que meu juízo está nublado, e eu deveria ser removido da minha função de tutor.
Sua mandíbula se sobressai, cruzando os braços. — Você pensa como seu
velho. Um passo à frente.
— Ela é minha cliente. Isso é tudo o que ela será. Nenhuma fronteira será
cruzada. Nenhum bom nome será manchado. Sou um profissional.
Ele me estuda, um olho estreitado.
— Você tem a minha palavra — digo.
O telefone do meu pai toca – oportuna interrupção – e ele aperta o botão do
alto-falante com um dedo.
— Derek está com você? — A voz de Gladys perfura meus tímpanos.
— Sim, Gladys. Estou aqui.
— Kyla está na linha dois. — Ela desliga.
— Que diabos Kyla quer numa quarta-feira? — Papai me dá um olhar
interrogativo, e reviro meus olhos antes de voltar para o meu escritório, porque não
tenho ideia do caralho.
Gemo no receptor quando estou na minha mesa um momento depois. — O que
você precisa?
Minha ex-esposa bufa. — Sempre tão animado para falar comigo.
— Haven está bem?
Sua pausa envia uma corrente elétrica pelo meu peito.
— É claro que ela está bem, Derek. — Ela cospe suas palavras através do
telefone. — Sugerir o contrário é apenas... não é legal.
— Então por que você está me incomodando no escritório no meio da semana?
Você não deveria estar na aula de Pilates? Ou quartas-feiras são barras? Não, espere.
Ioga quente. Meu erro.
Kyla suspira. — Você só está com raiva que meu corpo parece melhor agora
do que sempre, e pela primeira vez, você não desfruta.
— Sim, sim — digo. — Estou bem ciente de que o seu rabo esculpido é para o
novo homem em sua vida. Ou devo dizer velho? Ele não é o dobro da sua idade?
Ela não responde, e sorrio de orelha a orelha com a imagem dela espumando
de raiva silenciosamente em sua cozinha caiada de branco e repleta de sol em algum
entediante pequeno bairro suburbano a duas horas de distância. Aposto que ela tem
a cozinha mais grandiosa da sua rua, e a ironia é que Kyla não cozinha. Não sabe
sequer ferver água.
— E o seu ponto? — Ela atira de volta com um tom irregular que corta pior do
que uma faca de manteiga sem corte.
— Eu acho... acho que não tenho um? — Seguro uma risada no meu tom.
Deus, como eu amo ferrar com Kyla. Alguns dias é a melhor coisa sobre tê-la como
ex-mulher. — Eu acho... acho que eu só queria lembrá-la que você é casada com um
cara com bolas enrugadas de homem velho.
Eu a ouço bater o telefone no balcão. E então fica silencioso. Mas ela ainda
está lá. Posso ouvi-la farfalhando ao redor.
— Já terminamos? — Ela repreende um momento depois. — Por favor, tenha
um pouco mais de respeito pelo padrasto de sua filha.
— Você quer dizer vovô Padrasto? — Afasto o telefone para que ela não me
ouça rindo. Quando volto, ela está me repreendendo. — Em minha defesa, Haven veio
com essa.
— Certo. Duvido que Haven veio com essa sozinha.
— Ok, pode ter sido um esforço conjunto.
— Cresça, porra, Derek. Sério. Cresça.
Na maioria das vezes, eu sou o epítome de crescido. Mas, às vezes, a vida pode
ser tão fodidamente brutal que a única maneira que eu posso lidar com isso é tendo
um senso de humor. Quem se casa com o amor de sua vida, tem uma linda menina
bebê, cria esta porra de bela vida juntos, e depois chega em casa mais cedo na sexta-
feira antes do dia dos Namorados para encontrar um cirurgião plástico de sessenta
anos de idade, o qual fez os implantes mamários dela, cravando-a por trás enquanto
ela está dobrada sobre as costas do sofá?
Porra hilariante. Não posso fazer essa merda.
Nesse ponto, ela havia feito as mamas há um ano. Lembrei-me, porque no dia
em que ela parou de amamentar Haven, ela afirmou que eles foram arruinados e exigiu
que eu pagasse para consertá-los. Pelo que eu sabia, a atração dela começou no dia
em que ele sentiu as mamas panquecas dela no exame de número quatro.
Cinco mil por novos DDs17. Dezenas de milhares perdido no acordo de divórcio.
E um terço da minha renda mensal indo direto para a sua bolsa sob a forma de apoio
à criança, enquanto ela brinca de dona de casa sexy para o Dr. Herbert Hodge IV.
E graças ao maravilhoso juiz da vara de família com quem tivemos o prazer de
lidar – quem, aparentemente, está preso em 1992 – Haven pode me ver todos os fins
de semana, feriados alternados, e duas semanas no verão. Nenhuma quantidade de
advocacia ou prolongar o caso faria esse velho ceder.
Ao final do julgamento, estávamos todos esgotados, e, no final, foi Haven quem
sofreu. Minha filha doce e inocente, presa em um cabo de guerra entre duas pessoas
que nunca deveriam ter estado juntas em primeiro lugar.
Nunca esquecerei o primeiro ano do nosso casamento e o olhar de decepção
no rosto de Kyla quando percebeu que o advogado de cidade pequena com quem ela
casou não compraria uma simpática casa de meio milhão depois de tudo.
Acho que ela deveria ter feito a sua investigação.
E também nunca esquecerei a sensação de observar Kyla lutando com a
maternidade; voltar para casa às seis horas da noite e encontrar uma garrafa meio
vazia de vinho no balcão e o bebê envolto em uma fralda encharcada de urina.
Acho que se pode dizer que ambos os nossos sonhos foram destruídos nos
primeiros dois anos.
— Você terminou? — Ela pergunta. — Posso ouvi-lo rindo.
— Tudo bem, tudo bem. O que diabos você precisa, Kyla?
— Herb me levará em uma viagem surpresa de esqui; saímos na quinta-feira e
voltamos no domingo. Você precisará pegar Haven amanhã.
— Não é o meu fim de semana. Isso significa que eu fico com seus dois fins de
semana seguidos? — Rezo para que ela diga que sim. Vivo para os fins de semana
com a minha filha.
— Obviamente.

17 Aumentar o tamanho dos seios.


— Esqui e Herb? E se ele quebrar o quadril?
— Derek.
— Ok, eu posso pegá-la, mas ela não tem pré-escola18 na sexta-feira?
— Ela pode faltar.
— Amo as prioridades, Kyla. Impressionante. A mãe do ano.
— Eu estou autorizada a fazer uma viagem de esqui com meu marido. Ao
contrário de alguns maridos, Herb realmente me mima. Ele me ama. Vive para me
fazer feliz.
— Porque o mundo deve girar em torno de você. Naturalmente.
— Podemos ter uma conversa que não pareça como se estivéssemos
retrocedendo dez passos? Estou cansada de brigar com você.
— Nós não estamos brigando. Isso não é uma briga.
— Você está sendo hostil.
— Pobre escolha de palavras. Franco funcionaria melhor. Estou sendo franco.
— Você está sendo rude. Sinto que você só quer me punir por conseguir a
custódia de Haven. É tudo do que se trata. Você ainda está amargo.
— Ela deveria estar comigo, e você sabe disso. Você disse várias vezes que não
queria ser mãe. Era uma dona de casa com uma babá em tempo integral. Que porra
isso diz sobre você? — Minhas palavras são energéticas, meus nervos em carne viva
mais uma vez. — O juiz nunca deveria ter concedido para você nada que não fosse a
visitação no fim de semana.
— As mães nunca devem ser separadas de seus filhos.
— As mães que colocam seus filhos em primeiro lugar — a corrijo. — E você
não se enquadra nessa categoria.
— Você está dizendo que eu não amo a nossa filha? — A quantidade de
descrença em seu tom é preocupante. Então, novamente, eu sempre soube que Kyla
era uma cadela delirante.

18 A pré-escola (também conhecida como maternal ou jardim de infância) é um estabelecimento de


ensino ou espaço de aprendizagem oferecendo educação infantil para crianças entre as idades de três
e cinco, antes do início da escolaridade obrigatória no ensino primário.
— Isso é exatamente o que estou dizendo.
— Derek, eu realmente preciso de você para dividir a guarda comigo, assim
como a Dr. Sarah nos ensinou.
Ah sim. Como eu poderia esquecer as fodidamente caras quarenta e seis horas
gastas com a nossa terapeuta familiar judicial naquelas gloriosas semanas pós-
divórcio?
— Isso não está ajudando em nada — diz ela. — Precisamos chegar a uma
resolução pacífica e falar um com o outro com respeito e amor.
Eu tremo. Nunca poderia respeitar Kyla, e com certeza não a amo, nem mesmo
como a mãe da minha filha. Não mais.
— Tenha-a pronta às sete horas na quinta-feira — digo. — Eu a devolverei no
domingo à noite. Hora habitual.
Batendo o telefone, inalo uma baforada de ar, pegando a foto na minha mesa
de Haven sorrindo no verão passado, com seu cabelo preso e segurando uma pipa da
Minnie Mouse. A única coisa boa que sai disso é passar mais tempo com ela.
Uma batida na porta traz a minha atenção para Gladys, que está com um
cartão pressionado contra o peito.
— A internet por satélite para a Sra. Randall está pedida. — Ela olha para o
seu cartão. — Tive que implorar e pedir para um gerente, mas quinta-feira será feita
a instalação. Eles estarão lá entre oito e dez da manhã.
— Excelente. Você pode ligar para Belcourt Manor e informar Serena?
— Eu farei.
Pego meu casaco e as chaves, levantando para sair.
— Aonde você vai?
— Preciso comprar um computador para a Sra. Randall, e pretendo entregá-lo
pessoalmente. Voltarei mais tarde. Você sabe como me encontrar se precisar de
alguma coisa.
CAPÍTULO 8

Serena
— Sra. Randall, você esperava companhia? — Eudora está na minha porta
quarta à tarde, enquanto folheio uma cópia terrivelmente chata da Vogue na minha
cama.
— Não. — Saio da cama. — Quem é?
Eudora hesita. — É... o Sr. Rosewood.
Espio pela janela e vejo sua SUV preta abaixo.
— Tem alguma ideia do que ele precisa? — Ela pergunta. — Ele esteve aqui no
sábado.
— Não definimos completamente o orçamento — digo, lembrando que ainda
tenho a caneta e o bloco de notas. E então eu minto. — Ele mencionou que voltaria
esta semana.
Eudora suspira. — Ele espera por você na sala de estar.
— Diga a ele que eu logo descerei. Por favor, ofereça uma bebida enquanto ele
espera.
Ela sai, fechando a porta, e vou me refrescar, rezando para que eu não cheire
como se estivesse deitada na cama durante todo o dia, e depois me pergunto o porquê.
Não estou aqui para impressionar Derek Rosewood.
— Oi. — Coloco meu cabelo atrás das orelhas quando o vejo e não me permito
a sorrir. Sua caneta e bloco de notas estão pressionados contra o meu peito.
A pasta de couro de Derek repousa a seus pés, parecendo mais cheia do que o
normal hoje.
— Existe algum lugar onde possamos discutir algumas coisas em particular?
Inclino a minha cabeça, atirando-lhe um olhar curioso.
— Não é sobre... — Sua voz é um sussurro.
— Sim — digo, levando-o a uma sala na extremidade oposta da casa. — Me
siga.
Poucos minutos depois, nós estamos sentados no escritório, uma mesa de
mogno antiga cercada por prateleira após prateleira das primeiras edições de clássicos
recolhidos e organizados pela minha avó ao longo dos anos.
Derek repousa sua bolsa em cima da mesa e abre as fivelas, puxando um
computador fino, dourado.
— Sua internet via satélite será instalada amanhã de manhã, entre oito e dez
horas — diz ele.
— Sim, a sua assistente ligou esta manhã e me disse.
— Eu quero que você use este computador. — Ele desliza por cima da mesa
para mim. — Configurei um e-mail privado e seguro, o qual eu gostaria que você
usasse. E nós vamos configurar este scanner biométrico de impressão digital que lhe
dará acesso a este computador e tudo nele. Ninguém além de você.
— Chique. — Sorrio.
Ele pega um pequeno scanner conectado a um cabo USB e o conecta, abre o
laptop e digita algumas teclas.
Cinco minutos depois, a minha impressão digital é digitalizada e gravada, e ele
me mostrou como acessar meu e-mail.
— Isso é muito James Bond — digo.
— É muito necessário.
Pratico a digitalização e logout algumas vezes.
— Como esconderei isso de Eudora? — Pergunto.
— Não há necessidade. — Ele se inclina na cadeira bamba. — Ela saberá que
você tem internet. Está tudo bem para você ter um computador. Ela não precisa saber
para que você o usa. De qualquer modo, assine a Netflix. Tenha uma maratona de
House of Cards, por tudo que me importa. Entretenha-se. Não é saudável para uma
mulher jovem estar isolada do jeito que está. Se ela perguntar, diga a ela que eu lhe
atribuí um orçamento de entretenimento, e esta foi a sua primeira compra. Vamos
faturar na propriedade. Eles não se deixam enganar.
— Este endereço de e-mail...
— É somente para você e eu. Não dê a ninguém. É seguro, mas não preciso de
ninguém tentando invadi-lo. Isto é um modo de comunicação confidencial entre
advogado/cliente. Seu telefone fixo pode ser facilmente grampeado. O seu serviço de
telefonia celular é de má qualidade no melhor dos casos. Isto é como você vai chegar
até a mim. Meus e-mails vão direto para o meu telefone. Eu serei notificado no
segundo que você enviar alguma coisa.
— Eu agradeço. Mas o que vamos fazer a respeito... — eu não posso dizer isso.
Concordamos em não discutir sobre ela sob este teto.
— Precisamos ir a algum lugar e conversar. Novamente. — Ele enterra o rosto
nas mãos e sopra por entre os dedos. — Mas saímos na última vez que te visitei. Pode
levantar uma bandeira vermelha para os seus... guardas.
Reviro meus olhos. Guardas. É exatamente o que eles são.
Derek estava certo no último sábado quando disse que eu precisava sair daqui.
Preciso me mudar para algum lugar, longe de Belcourt e seus cozinheiros,
governantas e jardineiros, todos observando cada movimento meu. Até mesmo
Eudora.
Especialmente Eudora.
— Que tal este fim de semana? — Proponho. — Podemos nos encontrar, então.
Não parecerá suspeito se passou uma semana desde o nosso último passeio. Talvez
possamos torná-lo regulares – passeios no campo no sábado à tarde?
— Eu ficarei com a minha filha neste fim de semana.
Meu coração afunda, embora eu diga que não.
— Você... você tem uma filha? — Minha mão vai para o meu colar, brincando
com meu pingente de âncora enquanto sorrio. — Nunca soube disso. É só, você é tão
jovem. Mas digo isso em um bom sentido.
— Haven foi uma surpresa — diz ele. — Não planejávamos ter filhos. Não
naquele momento. Eu estava no meu último ano da faculdade de direito. Não
estávamos casados há muito tempo. Em todo caso.
— Bem, tenho certeza que você é um pai adorável, e tenho certeza que a Sra.
Rosewood é uma mulher de muita sorte.
— Sra. Rosewood — diz ele, ficando com um gosto amargo na boca. — Agora
atende por Sra. Hodge.
Minha cabeça levanta quando nossos olhares se encontram, e cubro meu
coração. Acho que faz sentido. Ele disse que ficaria com sua filha no fim de semana.
— Sinto muito. Eu não fazia ideia.
— Você não tem nada que se desculpar. — Ele endireita a gravata. — Agora,
de volta aos negócios.
— Sim. Certo. — Eu me inclino, abaixando minha voz. — Eles vieram na terça-
feira. Veronica e meu pai. Agora, é ela quem tomará as decisões médicas pelo meu
pai.
— Foda-se. — Ele bate o punho contra a mesa. — Ela sabe o que faz.
— Como ela pode fazer isso? Meu pai está claramente nos estágios iniciais de
demência, e minha situação é temporária.
— Se seu pai expressou seus desejos e estava em um estado coerente com o
advogado presente, não é inédito. Mais provável que ela o tenha em algum tipo de
vídeo ou gravação de áudio, provando o estado de espírito dele. Há... maneiras de
contornar certos protocolos. Ou ela poderia ter pagado o seu amigo médico uma
bolada para levá-lo a escrever uma declaração dizendo que seu pai estava em seu
juízo perfeito no momento.
— Recentemente ele está chamando-a pelo nome da minha mãe. Eu não ficaria
surpresa se ele achasse que ela era minha mãe quando concordou. Mas, claro, eu não
estava lá. Nunca saberei.
— Precisamos nos mover rapidamente sobre tudo isso — sussurra Derek. —
Não temos tempo a perder.
— Há outra coisa — abaixo a minha voz e me aproximo. — Domingo, quando
eles estavam aqui, eu subi para o meu quarto e encontrei a assistente dela
vasculhando minhas gavetas. Eu a peguei em flagrante. Ela correu para fora do meu
quarto depois que a obriguei a me dizer o que procurava. Evidentemente, Eudora sabe
que não estou tomando meus medicamentos, e Veronica disse para sua assistente
que acha que eu estou guardando-os para me matar.
Reviro meus olhos.
— Outra manipulação viciosa — digo. — Mais mentiras. Apenas outra maneira
dela alegar que não estou bem.
Derek sopra uma respiração pesada. — Precisamos tirá-la daqui. Agora. Foda-
se a internet. Foda-se o laptop que explodiu seu orçamento de entretenimento de
Abril.
— Para onde eu vou? — Dou de ombros. — Conte-me. Onde?
Derek faz uma pausa, olhando ao redor da sala, depois para o lustre de
madeira que centraliza o teto. As pontas dos dedos apontam para um v e seus olhos
voltam ao meu.
— Você vem para Rixton Falls — ele diz. — Comigo.
CAPÍTULO 9

Derek
Se meu pai estivesse aqui, ele estaria com o rosto vermelho e gritando no meu
ouvido, me dizendo como isso é errado. Como cruza todas as fronteiras profissionais
que aprendi ao longo dos anos. Ele me diria que sou um idiota. Vou arruinar a
reputação Rosewood e matar a minha carreira no processo.
Mas não me importo.
Não é como se fosse para sempre. É uma solução temporária, de curto prazo.
— Eu não posso. — Serena olha para o lado, e tenho certeza que ela está
tentando se imaginar vivendo com um completo estranho.
— Sei que não é o ideal — digo. — Mas você pode morar comigo até que
possamos encontrar um lugar de sua preferência. Temos acesso ao seu fundo
fiduciário agora, e habitação em Rixton Falls é extremamente acessível. Vamos
encontrar algo que você vai adorar, e no curto prazo, você pode ficar no meu quarto
de hóspedes. Você terá que dividir o banheiro com Haven, mas ela só estará em casa
nos fins de semana.
— Quanto tempo eu ficaria?
— O quanto precisasse. — Dou de ombros. — Pode ser alguns dias, poderia
ser mais longo. Quero que você encontre um apartamento que você goste. Você pode
ficar lá por meses. Estes casos tendem a se arrastar. Já ouvi falar de casos imobiliários
que duraram anos. Reconheço que eu acho que o de vocês não irá, dada a lamentável
saúde de seu pai.
— Não posso me aproveitar. Certamente há um hotel próximo?
— Você quer sair de uma mansão de cinco mil metros quadrados para um
quarto de hotel de trinta e sete metros quadrados? Com roupa de cama questionável
e um café da manhã continental19? Pare de ser teimosa e apenas fique comigo. Como
eu disse, é temporário. Não para sempre.
Serena olha para as unhas nuas, cutucando-as e depois para.
— O que você está pensando? — Pergunto.
Ela suspira. — Não estou muito entusiasmada com a ideia de ser dependente
de você, se você quer a minha honesta opinião.
— Que escolha você tem? Não está segura aqui. Não precisa de pessoas
vasculhando seus pertences pessoais. Não precisa de pessoas espionando cada
movimento seu e restringindo-a do mundo exterior. — Eu estendo a mão para o outro
lado da mesa e pego a mão dela. — Entendi. Isso é assustador para você. Será uma
grande mudança. Eu não tenho uma empregada doméstica ou um chef ou uma
lavadeira. Moro em um apartamento de cobertura no topo de uma fábrica de pão velho
no centro de Rixton Falls. É um pequeno apartamento de solteiro, mas é espaçoso e
aberto, e a vista noturna é incrível para caralho, e tenho uma geladeira cheia de
cerveja e bebidas alcoólicas. É como Manhattan, se encolher para talvez um centésimo
do tamanho.
Serena funga. — Um mini-Manhattan?
— Sim. Um mini-Manhattan. — Levanto.
— Aonde você vai? — Seu rosto fica sério.
— Vá embalar. — Aponto para a porta. — Sairemos em dez minutos.
Estalando os dedos, eu movimento para ela se levantar, e então aponto para a
porta. — Eu vou esperar no salão. Embale rapidamente e espere uma merda de
toneladas de perguntas de Eudora. E lembre-se, não há nada a mantendo aqui. Você
tem acesso a suas finanças através de mim agora. E pode viver em qualquer lugar que
desejar. Você não está mais presa aqui. Você é livre.

19
É um café da manhã bem simples.
CAPÍTULO 10

Serena
Acho uma enorme mala Louis Vuitton estufada debaixo da cama que
pertenceu a Catarina. Sacudo a poeira, e rolo isto pelo corredor até a minha suíte,
prosseguindo para esvaziar a maioria das minhas gavetas.
Eu varro o conteúdo do meu balcão do banheiro em uma bolsa plástica e a
jogo no topo, sentando na tampa para garantir que o zíper feche completamente.
— Bom Deus, Serena, o que diabos você está fazendo? — A voz de Eudora me
faz saltar tão rápido, que caio da mala. — O que é isso?
— Eu vou embora. — Puxo a mala da minha cama e seguro pelo cabo.
— Você está muito enganada se acha que permitirei que você saia com esse...
com esse advogado cobra.
Eu ri. — Ele não é uma cobra.
— Não confio nele.
— E eu não confio em você. — As palavras ignoram meu filtro e escapam
através dos meus lábios. Estou tão chocada ao ouvi-las como ela. Minha mão cobre
meus lábios enquanto nossos olhos se encontram.
Seu rosto cai, sua boca se abre, e ela dá um passo atrás.
— Serena, você não quis dizer isso. — Os olhos cinza de Eudora se enchem de
água, e me sinto terrível apesar de todas as razões que eu tenho para não confiar nela.
— Você é como uma filha para mim. Eu praticamente criei você desde...
Mantenho uma distância segura dela no caso dela tentar me impedir de sair.
— Você trabalha para Veronica agora. Eu sei que você diz as coisas a ela.
Merda.
Derek vai me matar. Não deveria mencionar qualquer coisa relacionada à
Veronica para qualquer um da equipe Manor.
— Faço como sou instruída. — A cabeça de Eudora se inclina, coordenando
um pedido de desculpas tácito com os olhos. — Meu amor por você é tão forte como
nunca. Nunca duvide disso. Eu sempre quis somente o que é melhor para você.
— Não posso mais ficar aqui — digo. Preciso acabar com essa conversa antes
de escorregar novamente. — Não preciso me explicar, e não espero que você entenda.
— Você não tem uma escolha. — Sua voz falha, e quando eu olho em seus
olhos, nós duas sabemos que seu argumento é inválido.
— Isso não é verdade — digo. — Não preciso ficar aqui. Não mais.
— Veronica vai... — a voz de Eudora esmaece, indo a lugares muito escuros
para falar.
— Veronica fará o que quiser. Deixe-a. — Coloco minha mão em seu braço. —
Eu... eu não posso ficar.
Eu a solto, incapaz de lhe dar uma explicação melhor do que isso por medo
que as notícias possam viajar rapidamente.
— Aonde você vai? — Ela pergunta atrás de mim.
Eu paro, minha mandíbula relaxa à medida que procuro uma melhor resposta.
— Não sei. Derek me ajudará a encontrar um lugar para mim.
Nossos olhos se encontram, e por um momento, ela oferece um sorriso meio
quebrado, seus olhos enevoam. Se as circunstâncias fossem diferentes, ela me pediria
para telefonar ou escrever, para me manter em contato para que ela saiba que estou
bem.
Quebra meu coração saber que não posso.
Os tempos mudaram.
A confiança foi quebrada.
— Adeus, Eudora. — Escorrego minha mão ao longo do corrimão da escada,
minha outra segurando a alça da minha mala.
— Espere. — Eudora acena as mãos freneticamente, e corre por mim, pelo
corredor. Ela retorna momentos depois com dois frascos de comprimidos. — Por favor,
não se esqueça de levá-los. As instruções estão no frasco.
Eu pego as pílulas dela, mas não tenho intenção de engoli-las, e não sei por
que ela está forçando-as em mim quando sabe que não vou tomá-las. Talvez seja por
isso, para que ela possa dizer que tentou quando Veronica enlouquecer com ela por
não tentar me impedir mais duramente.
Mas não é como se ela pudesse me impedir de qualquer maneira.
— Obrigada. — Com isso, eu fui embora, arrastando minha mala conforme
descia as escadas, e soltando um suspiro de alívio ao ver Derek de pé entre a porta
da frente e a sala de estar.
— Você está pronta? — Ele pega a minha bagagem. Estou imediatamente
constrangida com o seu peso, mas joguei tudo o que eu poderia precisar. Não planejo
voltar para Belcourt Manor para nada, nunca mais.
Os próximos segundos são um borrão.
Mas então é só nós.
Quando nós dirigimos para longe, deixando uma nuvem de poeira atrás de
nós, ocorre-me que estou oficialmente livre.
Neste momento, ninguém me controla. Ninguém me diz como viver ou onde
viver ou me prende.
Estou aterrorizada.
Mas estou mais animada.
— A que distância fica Rixton Falls? — Pergunto.
— Noventa e quatro minutos — diz ele, sem pausa, esticando e pressionando
a pré-definição de rádio clássico. Coming Home, por Cinderella, toca suavemente dos
alto-falantes.
— O código é 5821. Top secret. — Derek digita o código da porta após uma
rápida viagem de elevador.
Cruzo meus dedos como uma escoteira honrosa. — Não contarei a ninguém.
Ele abre a porta, e sou cumprimentada com um loft industrial totalmente
aberto, com janelas do chão ao teto com vista para um aconchegante centro de
entretenimento e um pequeno rio ao oeste salpicado com pequenas embarcações.
— Não é o que você está acostumada — diz ele.
— Não, está tudo bem. — Balanço minha mão.
— Preciso voltar ao escritório e terminar o meu dia, mas eu te mostrarei o seu
quarto e farei um tour rápido — diz ele. — Apenas se sinta em casa. Sirva-se de tudo
o que quiser. Assim, uh, fique fora do meu quarto.
Minha mente vai imediatamente para lugares sujos quando os nossos olhos se
encontram, e a minha sobrancelha esquerda se levanta por vontade própria.
Derek sorri, não confirmando nem negando as minhas suspeitas atrevidas, e
o sigo por um corredor que se divide em dois. Nós viramos à esquerda.
— Este é o quarto da Haven. — Ele empurra uma porta, e sou impactada com
tinta rosa claro e cartazes de pôneis de carrossel e sereias. A cama dela é uma imagem
floral abstrata, e há muitas cores juntas ao mesmo tempo, mas sorrio, aceno e digo
que é adorável.
Isso me lembra de como um homem pode decorar para uma menina.
Completamente sem noção, mas um A pelo esforço.
— Aqui é o banheiro que você vai compartilhar. — Ele bate na porta quando
passamos. — Duas pias, assim você não terá aquela com respingado de creme dental.
— Apreciado.
— E aqui está o seu quarto. — Ele empurra a porta, e sou cumprimentada com
um quarto pomposo com grandes janelas, pintura cinza nas paredes, mobiliário
moderno de meados do século e pisos de concreto preto. O quarto grita solteiro. —
Desculpa. Eu o decorei.
— Está tudo bem — digo.
— Você pode mudar o que quiser — diz ele. — Não ficarei ofendido. Este quarto
não é usado.
— Acho fofo você ter decorado. — Mordo um sorriso entretido. — Você não
ouve falar de muitos homens heterossexuais escolhendo cores e móveis.
— Eu literalmente apenas abri um catálogo Oeste Elm e comprei tudo na
primeira página que vi. Mas se isso conta como decorar e você está impressionada
com isso, então estamos bem.
— Pelo menos você é honesto.
Derek coloca a minha mala na cama para mim e descansa as mãos nos
quadris. — Então, esta é a minha casa. A cozinha, sala de estar e tudo mais, você viu
quando entramos pela primeira vez. Isto conclui a minha visita.
Bato nele de leve no peito. Ele é sólido sob o meu toque, e percebo que estou
perto o suficiente para cheirá-lo. O fraco cheiro de seu banho da manhã enche meus
pulmões, e dou um passo atrás, percebendo quão completamente inadequado é
pensar nesse tipo de coisa em um momento como este.
— Onde você dorme?
— No outro lado do apartamento.
Meu sorriso desaparece, e vou a minha mala. — Eu vou me instalar. Você pode
voltar para o escritório agora. Estarei aqui quando você voltar.
— Tudo bem. — Sua mão desliza no bolso e recupera as chaves. — Eu te
mostrarei Rixton formalmente esta noite quando eu voltar. Talvez possamos jantar em
algum lugar. A menos que você cozinhe. Você cozinha?
Balanço minha cabeça. — Na verdade não.
— Imaginei isso.
Ele pisca, e talvez eu devesse ficar ofendida, mas não estou.
Não sei o que estou sentindo. Tudo o que sei é que embora devesse me sentir
uma estrangeira com tudo isso, me sinto estranhamente confortável.
CAPÍTULO 11

Derek
Ouço a TV antes de abrir a porta, e quando entro, encontro Serena deitada no
sofá, descuidadamente trocando de canais e os olhos colados na tela como um zumbi
paralisado.
— Hey — eu digo.
Ela vira a cabeça, piscando os olhos e reorientando-os em mim.
— Você esteve assistindo TV desde que saí? — Pergunto.
Ela se levanta, subindo na ponta dos pés e alongando. Em algum momento,
ela mudou para algo mais confortável – um chique pijama rendado, aparentemente –
e o pequeno top de algodão que usa se levanta à medida que se estende, mostrando
um pedaço da lisa barriga.
— Vergonhoso, eu sei. — Ela desliga a TV. — Era isso ou bisbilhotar,
atravessando os limites do quarto.
— Espero que você esteja brincando. — Deixo cair a minha bolsa na ilha da
cozinha e abro a porta da geladeira, pegando uma Heineken.
Sério. Ela não gostaria do que encontraria lá dentro. Tenho uma gaveta cheia
de preservativos no meu banheiro, e uma variedade de algemas, gravatas de seda e
vendas de olhos no criado mudo. Não estou dizendo que sou um mulherengo, mas
sou um homem americano com sangue quente pulsando, e passo por fases de tempos
em tempos. E durante essas fases, nada me parece melhor do que remediar com
algumas boas e antiquadas fodas sem marras.
— Claro que estou. Que tipo de convidada eu seria se invadisse sua privacidade
assim? — Ela dá um passo em direção à ilha.
— Você bebe cerveja? — Pergunto.
Ela olha a garrafa verde na minha mão, e torço a tampa até que assobie.
— Na verdade não.
Eu a empurro para ela. — Você beberá hoje à noite.
Ela traz ao nariz, dá uma fungada, e então prova. Seu rosto enruga. É amargo
para ela, mas ela se acostumará com isso.
Eu agarro outra e sento em uma banqueta.
— Então é isso o que você faz depois do trabalho? — Ela senta ao meu lado.
— Às vezes...
— O que você faz quando não está bebendo sozinho?
— Vejo amigos. Família. — Eu a checo pelo ombro. — Só porque eu trabalho,
não significa que não tenha uma vida.
— Eles dizem que beber sozinho é indicativo de um problema.
— Eu digo que está cheio de merda. — Tomo um gole de cerveja. — Nada
melhor do que uma cerveja gelada depois de um longo dia.
— É estressante? — Ela pergunta. — Ser um advogado?
Tomo outro gole e encolho os ombros. — Às vezes.
— Você não vai me perguntar o que eu faço?
Eu viro para ela e inclino a cabeça, me sentindo culpado por supor que ela era
a princesa do Park Avenue em tempo integral.
— E o que você faz, Serena? — Pergunto.
— Eu sou a CEO e fundadora de uma organização sem fins lucrativos que
promove o aumento da consciência para a segurança Náutica — ela diz. — As coisas
estão paradas desde os últimos dois meses, mas antes disso, nós éramos bastante
ativos. É mais trabalho do que as pessoas pensam, e na maioria das vezes, as pessoas
riam quando eu dizia que tinha um emprego. Tem tanto trabalho como qualquer outro
trabalho tem. Eu fazia quarenta, às vezes cinquenta horas por semana.
— Você sente falta?
Ela balança a cabeça. — Sinto falta de ajudar as pessoas. Espalhar a
consciência. Minha mãe morreu em um acidente de barco.
— Sinto muito.
Ela tomou um longo gole e não vacilou ou franziu neste momento. — Faz
realmente muito tempo.
— Você quer aquele tour pela cidade? — Pergunto. — Quer sair do
apartamento? Eu não poderia ficar enfiado aqui o dia todo.
— Claro — ela diz.
Viro o resto da minha bebida na pia. — Há um restaurante no final da rua.
Vamos comer primeiro, e então eu te mostrarei o que você perdeu durante toda a sua
vida.
Dou uma piscadela, e ela anda suavemente, indo pelo corredor para seu quarto
a fim de se arrumar, e fico em pé aqui como um idiota, perguntando o que diabos esse
sorriso está fazendo no meu rosto e por que no inferno, após dedicar minha vida
amorosa para ninguém além de mim durante os últimos dois anos, estou aqui de pé
com um estômago cheio de malditas borboletas por causa de uma mulher que mal
conheço.
Afasto tudo e me lembro de ser profissional. Para não pensar sobre quão
fodíveis são aqueles lábios em forma de coração. Para não me concentrar em quão
macia sua pele seria pressionada contra a minha. Em como seria a sensação de correr
meus dedos naquelas mechas vermelhas brilhantes.
Isto. Não. É. Um. Encontro.
E em honra a isto não ser um encontro, eu troco meu terno por um par de
jeans rasgado e uma desbotada camisa do Aerosmith que comprei em um brechó há
cinco anos.
— Pronto? — Minutos depois, Serena caminhada pelo corredor nos saltos, com
as pernas envoltas em couro e uma diáfana blusa marfim caída em seus ombros. Seu
cabelo é trançado em uma trança solta para baixo de um ombro, e seus lábios estão
pintados de vermelho.
Não demorou mais que cinco minutos, e agora ela está vestida como se
fôssemos a um encontro.
— Sim. Ok. — Tento não tropeçar nas minhas palavras, tento não olhar por
muito tempo, e me esforço para impedir o meu pau de crescer. Mas acho que pode ser
tarde demais. — Vamos.

Ela cheira como uma loja de departamentos. De uma boa forma. Como
perfume, roupas novas e velas chiques.
Como toda renovada.
E isso é exatamente o que ela está.
Em um determinado dia, Rixton Falls cheira a água. Cercada por cachoeiras,
riachos de pesca e uma enseada originada pelo Atlântico, estamos à mercê da direção
do vento. Às vezes, a brisa é fresca e me lembra de férias. De pescar com meu avô. De
sua mofada casa do lago nostálgico. Outras vezes, a brisa é fétida, levando o cheiro
nauseante de peixes mortos e dejetos humanos provenientes da estação de tratamento
de água ao norte da cidade.
Mas esta noite, Rixton Falls cheira a um milhão de dólares.
Mas também poderia ser porque eu estou meio passo atrás dela. Aquelas
pernas tomam passos alongados, e embora nós tenhamos todo o tempo do mundo,
ela se move como se estivesse com pressa de chegar a algum lugar.
— Ei, mais devagar. — Coloco minha mão em seu ombro como um freio
improvisado, puxando-a para mim.
— Desculpe. — Ela se vira para mim, afastando uma mecha de cabelo do rosto.
— Na cidade, eu ando rápido. Acho que esqueci onde estava por um segundo.
— Sim. Acontece o tempo todo. As pessoas estão constantemente confundindo
Rixton Falls e Manhattan.
Os lábios de Serena espalham largamente e ela gentilmente dá um soco no
meu braço.
— Aqui estamos. — Aponto para um toldo verde acima de um café pitoresco
com quatro janelas largas. Não é ostentoso, e não é o tipo de lugar que eu levaria um
encontro ou alguém que estou tentando impressionar, mas esse é o ponto. É neutro.
Seguro a porta e a sigo. A anfitriã nos coloca ao lado de uma janela da frente
com uma vista deslumbrante dos transeuntes da Rua Vine. Serena pergunta se eu
me importaria se ela beber vinho esta noite, e me ofereço para dividir a garrafa com
ela. Seria rude deixá-la beber sozinha.
A TV sobre a área do bar mostra flashes de algum discurso presidencial de
emergência e o café está tranquilo. Enquanto o presidente Montgomery divaga sobre
um terremoto devastador na Indonésia que destruiu muitas vidas, meu coração
afunda. Nós estamos despachando tropas, ele nos diz. Eles estão pedindo socorristas,
voluntários, suprimentos. Qualquer coisa que possamos dar, eles precisarão lá.
Serena coloca o garfo ao lado do seu prato e dobra suas mãos na frente da
boca. — Você acha que poderia liberar algum dinheiro de meu fundo? Eu gostaria de
doar alguma coisa.
— Absolutamente. Vamos descobrir alguma coisa. Eu gostaria de doar
também.
— Tão trágico. — Ela balança a cabeça, olhando a comida meio comida como
se não tivesse coragem de terminá-la agora. — E ficamos apenas sentados aqui,
comendo esta refeição encantadora e nos preocupando com nossos próprios
problemas.
— Faremos o que pudermos daqui — asseguro-a.
Serena observa a TV mais uma vez, atenta a cada palavra que o presidente diz.
— Você foi noiva do filho dele, Keir, não é mesmo? — Pergunto.
Os olhos dela encontram os meus. — Sério? Você o trará? Agora?
Pego meu vinho e tomo um gole para ganhar tempo. — Acho que me senti
confortável o suficiente para lhe perguntar sobre ele. Desculpe-me.
Ela se recusa a olhar para mim enquanto cruza e descruza as pernas, e
descuidadamente olha para um menu de bebidas até eu terminar o meu jantar.
Quando o nosso garçom finalmente traz a nossa conta, eu escorrego algum dinheiro
dentro. Ela disse menos de duas palavras para mim desde que eu mencionei Keir.
— Pronta? — Pergunto.
Serena pega a sua bolsa e levanta, empurrando sua cadeira. Seus lábios
carnudos estão enrugados, suas sobrancelhas unidas. Neste ponto, não estou certo
se ela ainda está com raiva de mim ou se pensa em seu ex. Independentemente disso,
eu nunca deveria ter dito nada, e isso serve como um lembrete de por que eu não
namoro.
Eu não entendo as mulheres.
Só posso apreciá-las. Não há nada que eu amo mais do que correr minhas
mãos ao longo de suas curvas, devorar a doçura quente entre as suas coxas e me
deleitar com o afundar de suas unhas contra a carne das minhas costas.
Mas aí é onde termina.
As mulheres trazem drama. E complicações. E na maioria das vezes, elas são
mais problemas do que valem.
E posso dizer isso porque cresci com três irmãs. Suas vidas amorosas foram
preenchidas com mais drama e angústia do que um filme Lifetime20. Espero o mesmo
na adolescência de Haven, uma vez que ela é meio-Rosewood e uma garota. Graças a
Deus, eu tenho muito tempo antes desses dias chegarem.
Nós saímos. No momento em que o ar fresco atinge os nossos rostos, Serena
pega meu braço e me puxa para o lado.
— Eu não deveria ter explodido com você lá. — Seus olhos descansam nos
meus lábios, como se olhar nos meus olhos deve ser evitado a todo custo. Ela abaixa
o queixo contra o peito, cruzando os braços. — Não quero falar sobre Keir. Não gosto
de pensar nele. Não preciso de quaisquer lembretes ocasionais, ok?
— Serena, está tudo bem. Eu não deveria tê-lo trazido. Foi insensível. —
Esfrego a minha mão ao longo de seu braço, apesar do fato de normalmente não ser
do tipo reconfortante. Meio que apenas... aconteceu. Ela levanta o olhar para o meu.
— Mas, por favor, se tiver um problema comigo, não se afaste. Não posso lidar com a
besteira do tratamento do silêncio. Minha ex-esposa...
Não termino a frase. Não preciso. Não deveria ter dito nada, e realmente não é
da conta dela.
— Somente... não faça isso novamente. — Eu deixo meu braço cair ao meu
lado, e ela assente. — Como seu advogado, não pode haver nenhuma besteira entre

20 O Lifetime é um canal pago, estado-unidense de entretenimento. Possui programação voltada para


mulheres ou apresenta mulheres em papéis principais.
nós. Você precisa ser honesta e aberta comigo, e eu farei o mesmo. Vamos manter
isso profissional. Salvar o drama para a sala de audiências.
— Absolutamente. — O vento chicoteia o cabelo em seu rosto, emoldurando
seus olhos azuis brilhantes por uma fração de segundo.
— Esta noite acabou ou você ainda quer o seu tour oficial? — Caminhamos de
volta para o meu apartamento.
— Um tour ainda seria bom.
Deslizo minhas mãos no bolso e pego o meu chaveiro. A caminhada até a
garagem é de pelo menos quinze minutos, e estou mais do que bem para dirigir.
— Tudo certo. Vamos fazer isso. — Nós prosseguimos, e o celular vibra no meu
bolso. Uma verificação rápida, e me encontro sendo o sortudo destinatário de outra
selfie em topless de Amanda, só que desta vez ela está sentada com as pernas abertas
no balcão do banheiro, os dedos três dedos profundamente dentro de sua boceta lisa.
Adorável. Eu envio uma mensagem rápida, lembrando-a que o envio de fotos nuas
através de mensagens de texto é uma contravenção na maioria dos estados. Um crime,
em alguns.
Ela responde com um rápido: — Foda-se.
E isso deve cuidar disso.
Guardando o celular, eu deslizo as mãos nos bolsos e observo a forma como
Serena anda. Ela desliza. Flutua. Olhando para os toldos e placas de rua, o céu
noturno derrama luz quente em seus cabelos vermelhos.
Quando eu menos espero, ela se vira, para e espera que eu a alcance.
— Estou andando muito rápido de novo? — Ela pergunta.
Coloco minha mão na parte inferior das suas costas, e avançamos. — Não,
Serena. Você é perfeita.
CAPÍTULO 12

Serena
Esta cidade é elegante. Pitoresca. Modesta mais do que qualquer outra coisa.
Como a maioria dos lugares, tem partes boas e ruins. Ruas históricas cheias de
charme e bairros recém-desenvolvidos com garagens com três carros idênticos. Centro
de negócios e entretenimento. É mais montanhosa do que eu esperava, e as ruas são
largas e arborizadas. Ainda não ouvi as sirenes ou vi sequer um patife jogar um copo
da Starbucks na calçada.
É o tipo de lugar onde uma pessoa poderia criar uma família e não pensar
duas vezes. O tipo de lugar que eu sempre desejei conhecer quando criança, embora
nunca tenha compartilhado exatamente isso com ninguém.
— Este é o lugar onde eu cresci. — Derek para em frente de uma grande casa
azul com uma arrebatadora varanda que se estende na frente.
A janela da frente brilha calorosamente com lamparina e o brilho de uma
televisão.
— Papai está provavelmente assistindo ao noticiário das nove. Mamãe está
provavelmente acabando as palavras cruzadas de hoje. Não vemos muito esse
pequeno pedaço americano nestes dias.
— Isso é adorável. — Suspiro suavemente e tento imaginar os pais dele. — Eles
estão casados há muito tempo?
— Quase trinta anos.
— Bom para eles. — Não posso tirar meus olhos da casa dele. Quero ver tudo.
Experimentar isso. É tudo o que eu sempre quis. A antítese da infância que eu
conhecia. — Isto parece um belo lugar para crescer.
— Tipo, não é Belcourt Manor, mas tivemos uma casa na árvore. E você não
pode ver no escuro, mas nosso quintal traseiro tem um campo de beisebol, o que
sempre foi bom no verão.
— Não, ela é linda. — Eu me viro para ele e o pego me observando. — Você é
muito feliz por ter crescido aqui.
Derek ri. Ele não me leva a sério. E como poderia? Dias atrás, eu pedia um
subsídio de trinta mil por mês para entretenimento como alguma idiota fora da
realidade.
Ele se mexe no carro e pressiona o pé no acelerador. A grande casa azul
desvanece-se enquanto assisto do meu retrovisor. Derek me leva a cada parque em
que ele já bateu um home run quando criança, ele me leva até a caixa d’ água que
tombou em 1995 após ser atingida por um raio, e então me mostra o parque do cão e
onde o seu melhor amigo de infância, Royal, costumava viver quando se encontraram
pela primeira vez.
— Eu estou desesperado aqui — ele admite após uma hora. — Acho que
mostrei para você literalmente tudo o que há para ver em Rixton Falls. E posso ter
compartilhado demais alguns detalhes, por isso peço desculpas sinceras.
— Foi um tour extenso — digo. — Aprecio esse serviço que faz de tudo,
conselheiro. Muito bom.
— Pronta para voltar?
— Estou. — Dobro minhas mãos em minhas coxas à medida que nos
aproximamos de uma luz vermelha, e Derek mexe no volume do rádio. E no espelho
retrovisor. E ajusta a temperatura. A luz fica verde e aceleramos, andando em silêncio
até chegar à garagem dele.
Uma chamada de telefone toca de seus alto-falantes, e ele atende.
— Ei, o que você está fazendo? — Uma voz de mulher enche o carro.
— No carro. — A voz dele é baixa, bem normal. Como se tentasse ser legal e
calmo. Como se não tivesse acabado de me levar a uma excursão de sua infância como
um bobo adorável. Como se ele não tivesse notado eu olhando quão boa a bunda dele
parece naqueles jeans rasgado. Como se ele não olhasse para os meus lábios como se
quisesse devorá-los desde o segundo que saí do quarto de hóspedes.
Olho através da janela e tento me concentrar em qualquer outra coisa. Há uma
placa de loja de joias. Uma lata de lixo verde. Uma caixa de correio. Uma loja de
cupcake.
— O que você precisa, Demi? — Ele pergunta.
Demi.
Irmã dele.
Eu expiro, educadamente fingindo não ouvir, como se isso fosse mesmo
possível quando a voz dela está explodindo nos alto-falantes.
— Você me mandou uma mensagem anteriormente sobre levar Haven na
sexta-feira de manhã à escola, e liguei para dizer que Royal não tem aula na sexta-
feira, e ele poderia levá-la, se estiver tudo bem — diz ela. — Preciso trabalhar. Mamãe
tem uma consulta médica às dez. Sua única opção é Royal.
— Sim, estou bem com isso. Ele ficará na pré-escola por duas horas e meia
esperando-a, certo? — Pergunta Derek. — Ele não vai a lugar nenhum?
A risada ofegante de Demi enche os alto-falantes. — Ele não deixará o local.
Nem mesmo se algum homem em uma van aparecer dizendo que tem filhotes.
Derek revira os olhos, seus lábios cheios retorcendo.
— Royal protegerá Haven com a vida dele. Você sabe isso — diz Demi. — Ele a
levará, esperará lá e a trará para casa. Mamãe ficará com ela a tarde, certo?
— Certo. — Derek desliza sua palma ao longo do volante, seu peito expandindo
e caindo quando respira profundamente e solta.
— Não se preocupe. Nós temos isso. Não se estresse, ok? — Demi consola seu
irmão. — Haven está em boas mãos. Tenho certeza que a amamos mais do que
amamos você, e nós tipo que te amamos muito.
A boca perfeita de Derek se alarga por um rápido segundo. — Sim, sim. Ok.
Agradeça a Royal por mim.
— Eu farei. — Demi termina a chamada.
— Então. — Ele se vira para mim. — Essa é Demi, a legítima proprietária da
Us Weekly sob seu assento.
Posso sorrir disso agora. Gosto dela. Ela parece ser prática e adoro observá-la
provocando seu irmão, porque tenho a impressão de que não há muitas pessoas que
regularmente lhe dão uma porcaria.
E ele está sempre tão sério, sendo por isso que eu o chamo de conselheiro. Ele
precisa desencanar.
Crescendo, eu sempre quis um irmão. Alguém para brigar. Alguém para amar
incondicionalmente. Alguém para compartilhar os bons e os maus momentos.
Mas sempre foi apenas eu.
Completamente solitária
— Ela parece legal — digo.
— Ela passou por algumas coisas nos últimos seis meses. — Ele desliga a seta
e vira para a garagem. — Foi noiva desse cara. Ele tinha outra pessoa. Engravidou a
outra menina sem o conhecimento de minha irmã. Cancelou o noivado. Entrou em
um acidente de carro quando ia ver a outra mulher...
— Você está falando sério?
— Sim. Ele ficou em coma durante duas semanas. Aparentemente, ele fez
algumas coisas horríveis e escondeu da minha irmã. — Derek balança a cabeça. —
Tipo, era como se tudo apenas borbulhou para a superfície de uma só vez. E então, o
ex dela apareceu do nada.
— É aquele... Royal?
— Sim — diz Derek. — Eles estão juntos agora. O outro cara está muito longe.
O último que eu fiquei sabendo, ele estava sob prisão domiciliar e se preparando para
o julgamento. Ele estará fora por um longo tempo.
— O que ele fez?
— Roubou muito dinheiro de um monte de gente. — Ele vira em seu lugar
reservado e coloca em ponto morto antes de desligar o motor. — Esquema de Ponzi21.
Fraude de cartão de crédito. Esse tipo de coisas.
— Que terrível.
— Não deixe esta pacata cidade enganá-la. Temos tanto drama quanto a
próxima cidade.
Saímos de seu carro e nos dirigimos para o edifício, e juro que senti o traço
das pontas dos dedos na parte inferior das minhas costas quando ele abriu a porta.
Mas quando o vento pega minha blusa, estou convencida de que só estou imaginando.
No momento em que chegamos ao apartamento dele, meus pés doem, os saltos
cortam minha carne, mas meu coração bate tão rápido que dificilmente notei. A
constatação de que eu tive uma grande noite com Derek me atinge quando o vejo
digitar o código para destrancar a porta.
Pela primeira vez em muito tempo, eu fui capaz de me concentrar em algo que
não fosse a minha situação desanimadora.
Mas nada disso importa. Não estou à procura de um lugar para pendurar o
meu coração, e tenho certeza que não procuro dá-lo tão cedo. Além disso, a ideia de
estar com alguém é sempre melhor do que a realidade.
Derek abre a porta e me empurra para dentro. Ele sai de seus sapatos e os
deixa ordenadamente em um tapete azul marinho na entrada. Baseado na tarde que
passei sozinha em sua casa, eu posso dizer que ele gosta de suas coisas de
determinada maneira. Tenho quase certeza que ele perceberia se eu colocasse o sal e
a pimenta no armário na ordem errada ou se as revistas em sua mesa de café fossem
embaralhadas.
Estamos na entrada como dois adolescentes desajeitados tentando encerrar
um primeiro encontro. Rindo através de nossos narizes. Contato visual intermitente.
Um bocejo falso.

21 Um esquema Ponzi é uma sofisticada operação fraudulenta de investimento do tipo esquema em


pirâmide que envolve o pagamento de rendimentos anormalmente altos ("lucros") aos investidores, à
custa do dinheiro pago pelos investidores que chegarem posteriormente, em vez da receita gerada por
qualquer negócio real.
— Obrigada pela exibição essa noite — digo.
— Só quero que você se sinta confortável. Sei que você está fora do seu
elemento aqui.
— Você dá a todos os seus clientes o tratamento VIP? Ou é apenas comigo? —
Estou meio brincando, meio não. Quero a resposta dele mais do que posso admitir em
voz alta.
— Não. Só você. — Ele não hesita, mas sua expressão benigna desaparece na
seriedade dos nossos olhos se encarando.
— Por que eu? — Minha voz quebra. Meu olhar não.
— Não sei. — Ele olha para o lado.
— Vamos. — Eu rio, minha cabeça cai para o lado. — Você pode fazer melhor
do que isso. Por que você é tão bom para mim? Não fui a mais gentil com você nos
primeiros dois dias. Você deve pensar que eu sou mimada e completamente delirante.
Não imagino que haja muita simpatia em mim. Então, por que fazer isso? Por que me
hospedar?
As palavras do meu pai ecoam na minha mente. Minha vida inteira ele me
convenceu de que qualquer homem com menos do que nós apenas me amaria pelo
meu dinheiro. E posso apenas imaginar se Eudora nos visse agora. Louca fumegante.
Louca de bater o pé. Ela me daria uma bronca e me diria que ele tem algo na manga.
— Bondade não exige sempre segundas intenções, Serena. Pelo menos não de
onde eu venho. — Sua boca endurece, e me concentro nos cílios escuros emoldurando
seus olhos ainda mais escuros. Ele tem olhos bonitos, especialmente para um homem.
Talvez seja isso que faça com que ele pareça tão ameaçador e confiável. — Fui
convocado para proteger sua propriedade, mas não posso, de boa fé, deixá-la lá
quando testemunhei a forma como as pessoas tratam você.
— Sou uma menina grande, Derek. Você poderia ter me deixado lá. E você não
o fez. Eu só quero saber o porquê. — Dou de ombros, como se minha pergunta não
fosse grande coisa. Mas é.
— É apenas a maneira como fui criado. Se você vê alguém em apuros, você os
ajuda. — Suas bochechas esvaziam e ele descansa as mãos em seus quadris estreitos.
— Certo, mas eu sou a primeira cliente que você convidou para vir viver com
você. Isso meio que leva o termo ajudar a um nível totalmente novo, você não acha?
De alguma forma, o espaço entre nós diminuiu. Não tenho certeza se ele se
moveu na minha direção ou se eu movi para dele, mas aqui estamos, partilhando o
ar, respirando um ao outro. Meu coração martela no meu peito, e meus olhos estão
duramente fixos nos dele.
— O que você quer que eu diga? — Ele balança a cabeça. Está irritado comigo.
Ele não gosta de onde esta conversa está indo.
— O que aconteceu com nenhuma merda entre nós? — Escorrego a mão no
meu quadril. — Suas palavras.
— Não há nenhuma merda entre nós.
— Mas você não está sendo honesto comigo. Você está se isolando.
— Porque você está buscando respostas para perguntas que eu não poderia
dar agora.
— E por que isto?
— São respostas que não tenho.
— Respostas que você não tem? Ou respostas que você não quer dar? — Dou
um passo em direção a ele, e ele não bate um cílio. Ele estuda meu rosto. Estudo o
dele. Mentalmente, refaço todos os passos que nos levaram a este momento nesta
noite.
Nosso jantar e passeio foram bons o suficiente. A conversa foi fácil. Eu estava
confortável. Nós dois nos tratamos como adultos, ignorando os toques, olhares e
qualquer que seja o inferno que estava no ar hoje à noite, e que tornou impossível
negar que alguma coisa mudava.
Mas de alguma forma, acabamos aqui de qualquer maneira, nadando em um
mar de tensão, perguntando-nos coisas que nunca se espera precisar saber.
Derek geme, seus lábios apertados e os olhos cor de chocolate focados. — Não
faça isso, Serena.
Ofereço um ha sarcástico e inclino a minha cabeça. — Não faça o que, Derek?
— Não oriente a conversa desta maneira — diz ele. — Você sabe muito bem
onde está indo.
Eu me faço de idiota. — Não tenho ideia do que está falando.
— Brinque com fogo o quanto quiser, mas eu me recuso a tirar vantagem de
você. Não explorarei qualquer coisa remotamente inapropriada com você, porque você
é minha cliente. O que viola o Código Moral. Brincar com você poderia me jogar em
água escaldante. Eu não vou arriscar. — Ele se inclina, e fecho meus olhos, sentindo
o seu lábio pincelar um lado do meu rosto. — Por mais tentador que seja.
Ele se afasta.
— Então, lamento informá-la que não vou beijá-la — diz ele, — Apesar do fato
de que isso é tudo o que eu pude pensar desde o momento em que você saiu do quarto
esta noite.
Meu estômago vira, e mordo o lábio inferior.
Eu sabia disso.
— Eu realmente gostaria que você não tivesse dito isso. — Olho para ele.
— E por quê?
— Porque isso muda as coisas. — Levanto um ombro e o deixo cair. — Agora,
toda vez que eu olhar para você, eu pensarei em como você quer me beijar. E como eu
provavelmente deixaria.
A língua de Derek roça o lábio inferior por uma fração de segundo, e meu
coração está em queda livre.
— Você é bom, Derek — digo. — Você mostrou mais bondade comigo do que
eu mereço. Sinto-me confortável perto de você. Sou eu mesma perto de você, e não
posso dizer que eu já fui realmente eu mesma perto de alguém. É como se as paredes,
a fachada... nada disso é necessário com você. Você é verdadeiro e genuíno. Não
conheço ninguém assim. Não pessoalmente.
— Sinto muito que eles não ajam como eu de onde você vem — diz ele. — Mas
antes que você sequer tente me embarcar em alguma fantasia de namorado em sua
cabecinha, deixe-me aconselhá-la vivamente para poupá-la do aborrecimento e deixe
ir.
— Não quero sair com você. — Meus lábios se enrolam nos cantos. Ele
entendeu tudo errado. — Não quero nada. Apenas gosto de como me sinto perto de
você. Isso é tudo. É algum tipo de crime, conselheiro?
Meu professor de história sempre me disse que a minha boca me meteria em
problemas algum dia. Eu era muito honesta, ele me diria. Claro, isso foi depois de
chamá-lo para ver a bunda da minha melhor amiga no corredor entre o primeiro e o
segundo período. Entre outras coisas.
Não posso evitar. Eu falo as coisas como as vejo, e sempre agi assim. Não sou
boa em fingir. Sou horrível em ser algo que não sou. É fisicamente doloroso engolir as
próprias palavras que às vezes ficam na ponta da minha língua.
— Olha. — Ele dá um passo para longe de mim, e sinto meu interior
deflacionar. — Foi uma semana intensa. Bebemos hoje à noite. Tivemos um bom
tempo juntos. Você se sente melhor sobre a sua situação e está redirecionando esses
sentimentos em relação a mim. Mas posso assegurar para você, eu não sou o que você
precisa.
— Como você sabe o que eu preciso? — Eu zombo, dando-lhe um olhar que
começa em sua cabeça e termina em seus pés antes de subir novamente. — Você não
sabe nada sobre mim.
— Você está certa, Serena. Eu não sei nada sobre você. — Ele dá mais um
passo para longe. — Você é minha cliente. Estou deixando você ficar aqui até se
recompor e nós arrumarmos sua propriedade. Não vamos complicar as coisas.
— Você não acha que já chegamos ao complicado? Cristo, Derek, você acabou
de admitir que pensou em me beijar a noite toda, e eu basicamente disse que queria
que você me beijasse. — Arrasto os dedos pelo meu cabelo e puxo uns fios. — Agora
você quer que a gente saia e finja que essa conversa nunca aconteceu?
— Nós somos adultos. Acho que podemos lidar com isso. — Ele está de pé na
ilha agora, como se não pudesse ficar longe o suficiente de mim.
— Nós somos adultos? É por isso que você está me tratando como uma
leprosa?
Ele exala, seus ombros tensos caindo.
— Você continua se afastando cada vez mais de mim — acrescento. — Do que
você tem medo?
Sem hesitar, Derek voa em minha direção, mantendo sua boca a centímetros
da minha e fazendo o meu coração pular na minha garganta.
— Não tenho medo de nada, Serena. Mas não quero feri-la. Estou mantendo
minha distância agora. — Os restos desbotados de sua colônia da manhã invadem os
meus pulmões.
— Me machucar? — Pergunto.
— As mulheres olham para mim, e elas vêem uma coisa — diz ele, sua
mandíbula apertada. — Faço um par de coisas boas, me esforço para não ser um
babaca, e as mulheres vêem o tipo de cara que elas pensam que podem se apaixonar.
E casar. E não sou esse homem. Nem mesmo perto.
— Quem disse qualquer coisa sobre o casamento? Pensei que falávamos de um
beijo. — Eu inalo sua respiração quente, provo o vinho doce e imagino sua língua de
veludo pressionada contra a minha. — Acredite em mim, você não é meu tipo.
— O sentimento é mútuo.
Suas palavras picam, mas as aceito. Eu as mereci justamente.
— Eu estaria mentindo se dissesse que não o acho extremamente atraente —
digo. — Não significa que eu queira casar com você. E estou insultada por você me
colocar na mesma categoria de todas aquelas meninas cujo principal objetivo na vida
é amarrar o primeiro solteiro que vêem e roubar seu sobrenome.
— Falo sério, Serena, esqueça essa conversa. Estou exausto. Preciso estar no
escritório as sete amanhã de manhã. Não tenho tempo para continuar essa discussão
descontroladamente irresponsável, a qual eu juro para você que não irá a lugar
nenhum
Imagino-o em um tribunal, todo adaptado, atirando perguntas uma após a
outra, usando as palavras com astúcia e estratégias, a sua influência palpável. Meu
corpo se aquece de dentro para fora. O pensamento dele lutando o bom combate,
defendendo os indefesos e corrigindo erros me deixa elétrica.
Agora eu oficialmente entendo o apelo dos super-heróis. Homens que fazem
coisas para o bem maior são sexy. Homens que fazem coisas boas e demonstram uma
quantidade ridícula de autocontrole quando as mulheres estão se oferecendo para ele
são ainda mais sexy.
— Estamos entendidos? — Ele olha para baixo de seu nariz perfeitamente reto,
e estudo o modo como suas feições são nada mais que proporcionais e simétricas. Não
é justo o meu advogado ser tão ridiculamente atraente, estando exposto em uma
prateleira ao mesmo tempo em que está a apenas um fio de cabelo fora do alcance.
Há um comando em sua voz que substitui as ideias tolas girando em minha
mente, e silenciosamente me lembro que estou na casa dele. Sou a convidada dele.
Não fui criada para me comportar dessa maneira, especialmente por causa de um
pequeno beijo idiota.
— Acho que não era para acontecer. — Minha voz é um suave sussurro, e viro,
indo para o meu quarto.
— Do que você está falando?
— O beijo. — Eu paro, me virando para encará-lo, nada além de honestidade
em minhas intenções. — Estava mais curiosa do que qualquer coisa. Acho que nunca
vamos saber.
—É o melhor. Acredite em mim.
— Sim. Você provavelmente está certo. — Encaro a frente e sigo pelo corredor
novamente, sussurrando sob a minha respiração — Eu o feriria antes que você seque
tivesse a chance de me machucar de qualquer maneira.
CAPÍTULO 13

Derek
— Você acordou cedo. — Derramo uma caneca de café quando Serena vem na
ponta dos pés do seu lado do meu apartamento, cabelo vermelho empilhado em um
coque bagunçado em cima de sua cabeça e uma pitada de pele cremosa espreitando
de debaixo da camiseta do pijama de algodão. — Café?
Ela boceja, tomando uma banqueta. — Por favor.
Sirvo-lhe um copo, perguntando quanto tempo vamos dançar ao redor do que
aconteceu ontem à noite.
— Aí está. — Eu deslizo-a pela ilha, e nossos olhos se encontram. Não há nada
lá. Não há palavras não ditas. Nenhuma ameaça de retornar ao tema da conversa de
ontem à noite.
Bom.
Meu olhar pousa sobre os lábios cor de rosa, um movimento de autopunição.
Ela percebe. E eu sei o suficiente.
Ainda assim, Serena não diz nada, levantando a caneca fumegante à boca, me
observa recolher minhas coisas.
— Dormiu bem? — Empurro uma pilha de papeis dentro da minha bolsa,
seguido pelo laptop.
— Essa cama é celestial — diz ela.
Eu ri. — Isso ou você estava realmente esgotada. Qual é o seu plano para hoje?
— Pensei em procurar uma casa — diz ela. — Colocar esse novo laptop em
uso.
— A senha do Wi-fi é Haven2012.
— Obrigada — diz. — Vou me lembrar disso. Alguma área que você recomende?
— Hershfield Park é grande. Assim como Marigold Heights. Fique longe de
Pilton Street e a Main. Má área.
— Entendi.
— Pegarei Haven esta noite depois do trabalho. — Eu coloco minha bolsa sobre
meu ombro e olho a imagem de Serena na cozinha banhada pelo sol da manhã,
sentada confortavelmente na ilha da minha cozinha. Sua língua desliza ao longo de
seus lábios, lambendo o café fresco e sorri. Acho que ela está fazendo isso de
propósito, mas não posso ter certeza. Como ela disse na noite passada, eu não a
conheço. — Suponho que você estará louca para sair nesse ponto. Posso passar e
buscá-la. É uma viagem de duas horas.
Serena endireita as costas e coloca o copo na frente dela. — Oh, hum. Certo.
Eu vou junto. Se estiver tudo bem com você.
— Eu não perguntaria se não estivesse. — Minha resposta é bastante curta, e
quase me sinto um idiota.
— A que horas? — Sua voz é doce, despretensiosa. Quase indulgente.
O que me faz sentir um idiota ainda maior por dispensá-la ontem à noite.
Mas maldita seja, ela precisa acreditar em mim quando eu digo que não sou o
que ela precisa.
Talvez eu não devesse ter mencionado o beijo. Eu estava brincando com fogo,
e sabia disso. E me arrependi no instante em que as palavras deixaram meus lábios,
pois se verifica que Serena Randall é tanto uma incendiária quanto eu sou.
Independentemente disso, o que Kyla fez me deixou cicatrizes profundas que
ainda precisam se curar. A ideia de casamento, de passar o resto da vida com uma
pessoa, tem zero apelo para mim. Tanto quanto eu sei, ninguém pode ser
verdadeiramente confiável, e todo mundo é um mentiroso egoísta quando as condições
forem adequadas.
Emoções frívolas tendem ao entediante bom senso, e os sentimentos estúpidos
que algumas pessoas chamam de amor tende a transformar brilhantes homens em
teimosos idiotas incompetentes. Não vejo o ponto de amar ou casar ou qualquer coisa
que poderia roubar o direito dado por Deus de um homem ser feliz.
Talvez eu costumasse ver. Não mais.
Agora eu só quero me divertir.
E minha cliente multimilionária é a última pessoa com quem eu deveria ter
qualquer tipo de diversão.
— Desça às cinco horas. Eu a pegarei em frente. — Fecho a porta atrás de mim
e dou o fora dali.
CAPÍTULO 14

Serena
Sabia que era uma viagem de duas horas, mas nunca soube que duas horas
poderia parecer uma eternidade.
— Você se importa? — Aponto para o rádio. Derek nos fez ouvir rock de
botequim desde que saiu de Rixton Falls, e estou farta.
— Vá em frente. — Suas mãos em cima do volante e os olhos focados na
estrada.
— Como foi o trabalho? — Odeio soar como uma esposa. Não é intencional.
Aposto que ele odeia isso também. — Aconteceu alguma coisa interessante?
Sua mandíbula enrijece e flexiona, e ele balança a cabeça antes de suspirar.
— Apenas outro dia.
Decido que não conheço esse Derek. Ele é mal-humorado, rabugento e não
conversará comigo, não importa quão ridículo seja o tema. Resumi um episódio de
Judge Judy22 para ele vinte minutos atrás, pensando que poderia capturar um pouco
da atenção dele dada a sua linha de trabalho. Foi a primeira vez que assisti esse
programa, e estava completamente cativada, de uma forma que nunca estive antes.

22 Judge Judy é um programa judicial real baseado nas decisões da juíza americana aposentada do
tribunal de família de Manhattan, a juíza Judy Sheindlin. O programa apresenta Sheindlin julgando
na vida real pequenas disputas de reivindicação dentro de um tribunal montado. Todas as partes
envolvidas devem assinar contratos em que concordam com a decisão de Sheindlin.
Mas não recebi sequer um levantar de sobrancelha dele, apenas um
comentário ríspido sobre como todos esses programas são falsos.
É tentador perguntar se ele está de mau humor, mas temo que obviamente
não ajudará a situação, então evito essas palavras a todo o custo. Também evito trazer
todo o tratamento silencioso e o acordo anti besteira que pensei que tínhamos.
Simplesmente enfiarei isso no meu bolso para outro dia, porque sou uma
mulher e é isso que fazemos. Guardamos o material para mais tarde, para o caso de
precisar dele algum dia. E com os homens, nós sempre descontamos dentro desse
chip. Eles são tão temperamentais como nós, embora nunca vão admitir isso em um
milhão de anos.
Ele conduz para uma rampa de saída ao lado da Interestadual e vira em
direção a um pequeno bairro suburbano com uma fonte na entrada e novas casas
disfarçadas de velhas. Estacionamos diante de uma casa vitoriana com uma porta
preta brilhante e um alpendre branco, e a porta da frente se abre.
Um doce anjo, bochechuda, com cabelos brancos como a neve desce os
degraus da varanda da frente, quase tropeçando, correndo em direção ao SUV de
Derek. Ele sai, sorrindo pela primeira vez durante todo o dia, e levanta-a em seus
braços. Seus braços a engolfam, e ele a envolve e gira com ela. Suas pernas ficam
penduradas molemente e seus braços rigidamente sobre os ombros dele.
Da porta, uma mulher magra com uma tez bronzeada e cabelo loiro areia está
com os braços cruzados, observando-os. Ela não sorri como uma mãe poderia sorrir
ao ver seu filho esmagadoramente feliz. A mulher só observa, com os olhos mortos e
inexpressivos.
Derek move Haven para seu quadril e anda para a varanda da frente, onde a
mulher estende uma mochila coberta de reluzentes pôneis cor de rosa. Ela a solta
antes que ele tenha a chance de alcançá-la.
Ele a pega do chão, atirando-lhe um olhar quando Haven não pode ver.
— Obrigado — ele diz.
O olhar da mulher se move para o carro, e assisto sua expressão cair quando
me vê. O som de sua voz irritante trilha através das janelas abertas, e ela está
apontando, fazendo perguntas. Repreendendo-o por não ter contado a ela sobre mim
com antecedência.
Ela empurra Derek e caminha rapidamente para a janela aberta do lado do
motorista.
— Oi. — Seu sorriso é tão falso quanto os seios. — Sou Kyla. A mãe de Haven,
ex-mulher de Derek.
Obviamente.
— E você é? — Ela pergunta, seus cílios batendo docemente.
— Sou uma amiga de Derek — digo. — Uma amiga de trabalho.
— Você é uma advogada?
— Não exatamente. — Eu ajo timidamente. Uma mãe que fica em casa. Sei
como mulheres como ela funcionam, e não estou prestes a causar problemas para
Derek depois de tudo que ele fez por mim.
Derek está atrás dela agora, deixando Haven deslizar pela sua perna antes de
abrir a porta de trás e colocá-la em sua cadeirinha.
— A Sra. Randall é uma cliente minha — diz Derek. — Ela ficará comigo
temporariamente até que encontre uma casa própria.
Se o ciúme pudesse andar e falar, ele seria exatamente como Kyla. Seus olhos
furtivos enquanto seus lábios enrugam.
— Derek, você precisa checar isso comigo. Não estou exatamente confortável
com a minha filha ficando em uma casa com alguém que eu não conheço. — Kyla
puxa um pingente de diamante em seu pescoço, deixando a pedra se perder entre seu
decote.
— Sim, eu não sabia disso. — Suas palavras são tão secas quanto são
sarcásticas. — Você vai superar isso, tenho certeza. Você tende a superar a maioria
das coisas rapidamente. Você sempre foi resistente.
Kyla zomba, dando um passo para trás na grama luxuriosa. Ela está com os
pés descalços, usando nada mais do que um curto top e shorts brancos curtos, e me
pergunto se ela sempre se veste desta forma quando sabe que verá seu ex-marido.
— Nós estaremos no Carradine Lodge, em Beeker Vale — diz ela. — Escrevi o
número e coloquei na bolsa de Haven.
Um rápido olhar para a parte de trás me diz que Haven não está nem um pouco
chateada com deixar a casa de sua mãe. Ela sorri de orelha a orelha, suas pernas
chutando o assento da frente do carro enquanto diz a Derek que precisamos ir.
Nossos olhos se encontram. Os dela é puro azul gelo. Claro e angelical. Ela
olha com os olhos arregalados.
— Tchau, meu anjo! — Kyla beija a ponta dos dedos e acena para Haven.
Haven não nota. Ela só olha para mim.
Derek entra. No momento em que sai da garagem, Kyla cruza os braços, ainda
em pé em seus degraus da frente, o rosto torcido em uma careta desagradável.
— Não se preocupe com ela — Derek diz baixinho. — Ela é uma pequena alma
perdida.
— Essa é uma boa maneira de colocar.
Ele olha através do espelho retrovisor para a filha vertiginosa, e entendo. Ele
está protegendo-a. Seu amor por Haven é maior do que seu ódio por sua ex-esposa.
Derek Rosewood é um bom homem.
— Papai, quem é a senhora bonita no banco da frente? — Pergunta Haven.
— Esta é minha amiga, Serena — diz ele. — Ela ficará em nossa casa por um
tempo. Você vai compartilhar seu banheiro com ela, ok?
— Certo. — Haven sorri, dando de ombros e rindo.
— Prazer em conhecê-la, Haven. Obrigada por compartilhar seu espaço comigo
— eu digo. Ela cora.
— Papai, eu estou com fome! — Haven grita assim que atingimos a
interestadual.
— Você está com fome? — Ele olha para ela através do espelho retrovisor. —
São sete horas. Sua mãe não fez o jantar para você?
— Não — diz Haven, bocejando. — Ela disse que você me alimentaria. Ela
estava muito ocupada arrumando as malas.
Derek murmura algo baixinho, sacudindo a cabeça. Suas mãos apertam com
força o volante envolto em couro.
— Tudo bem, baby, — diz ele. — Nós vamos jantar.
Derek se vira para mim.
— Totalmente bom para mim — eu digo.
— Demorará um pouco para chegar em casa.
— Eu sei. — Estendo minha mão sobre o console e bato em sua perna. —
Derek, está tudo bem. Estou apenas passeando. Você faz o que precisa fazer.
Seu rosto fica mais suave agora, e ele me lembra o homem que conheci no
início da semana. O homem ainda meio sério com o olhar benevolente.
Ele alcança o rádio, sintonizando-o em alguma estação da Disney,
conseguindo provocar um grito encantado do banco traseiro.
Eu me ajeito para a longa viagem, fora do meu elemento e meio que amando.
CAPÍTULO 15

Derek
— Seu cabelo é realmente bonito. Como Ariel.
Estou do lado de fora da porta de Haven, onde Serena está sentada ao lado da
cama da minha filha, lendo seu Green Eggs and Ham23 antes de deitar. Espreito lá
dentro, assistindo Haven correr os dedos através das ondas de seda vermelha de
Serena.
Serena descansa o livro no colo e sorri. — Obrigada, Haven. Você tem um
cabelo muito bonito também.
Ao longo das últimas três horas, as duas tornaram-se amigas rapidamente, e
posso honestamente dizer que eu nunca vi Haven tão encantada com alguém. Nem
mesmo sua própria mãe. Ou suas amorosas tias.
Haven sorri, apertando seu rosto contra o braço de Serena. — Minha mãe diz
que cabelo bonito é importante.
As sobrancelhas de Serena se levantam, e ela não perde tempo para responder.
— Há muitas coisas que são mais importantes do que o cabelo bonito.
— Como o quê? — Minha filha pergunta.
— Como um coração bonito.
— Como se parece um coração bonito? É rosa?

23 Ovos Verdes com Presunto, escrito por Dr. Seuss, é fenômeno de vendas na literatura de língua
inglesa.
— Um coração bonito não se parece com nada. — Serena abraça Haven e dá-
lhe um aperto. — Um coração bonito significa que você é uma garota legal. Isso
significa que você ajuda os outros. E você é boa. E prestativa.
— Oh. — Haven boceja, afundando nas cobertas. — Eu quero um coração
bonito.
Serena sai da cama e puxa as cobertas até o queixo de Haven. — Se você quer
um coração bonito, tudo que você precisa fazer é ser gentil.
— Você tem um coração bonito, Serena.
Serena sorri. — Obrigada.
— Eu vou ter quatro anos em duas semanas — Haven indica orgulhosa. —
Você virá à minha festa?
— Oh? — Serena é pega de surpresa. — Eu adoraria. Podemos falar com seu
pai sobre isso na parte da manhã, ok?
Haven rola, enfiando um coelhinho de pelúcia debaixo do braço. — Boa noite,
Serena.
— Boa noite, querida.
Serena levanta, apertando o peito enquanto anda na ponta dos pés para fora
do quarto de Haven. Fechando a porta atrás dela, ela se inclina.
— Você estava nos observando? — Sussurra.
— Claro. E foi fodidamente adorável. Você é boa com ela.
Serena levanta seus dedos delicados até sua clavícula e luta contra um sorriso
satisfeito. — Obrigada, mas não tentava impressioná-lo. Para o registro.
Certo.
Caminhamos para a sala ao lado, Serena passeando e esticando os braços
acima da cabeça. Durante toda a noite, Haven disparou pergunta após pergunta para
Serena. Queria sentar com Serena. Falar com ela sobre pôneis e Barbies. Eram duas
ervilhas em uma pequena vagem muito esquisita24, e estaria mentindo se eu dissesse
que não me fez olhar para esta mimada princesa americana sob uma luz
completamente nova.

24 Muito semelhantes.
— Você gosta de crianças? — Pergunto ao chegar à cozinha.
— Essa é uma pergunta aleatória. E sim. — Ela pega sua bolsa e retira seu
telefone. — Continuo esquecendo que posso realmente usar essa coisa agora.
Passo pelo correio desta manhã, rasgando lixo e contas, fazendo a triagem e
empilhando.
— Cinco chamadas não atendidas. — Suas unhas clicam na tela em rápida
sucessão. — E três mensagens de voz... tudo de Eudora.
Olho para cima, observando sua expressão se transformar e se desvanecer
enquanto escuta as mensagens. Depois de um minuto, ela desliga e coloca a frente do
telefone virada para baixo sobre o balcão.
— Bem. — Ela limpa a garganta. — Eudora foi colocada em licença sem
pagamento hoje.
— Pelo que? — Particularmente, eu nunca me importei com aquele velho saco,
mas odeio ouvir sobre qualquer um podendo potencialmente perder o emprego.
— Aparentemente, Veronica foi para Belcourt com o Dr. Rothbart e não ficou
nada satisfeita por eu ter saído. — Serena cruza os braços, estreitando os olhos. —
Precisarei ligar para Eudora amanhã e ver se posso tirar algo mais dela.
— Não há nada nos documentos judiciais que dizem que você é obrigada a
viver em Belcourt.
— Eu sei.
— Não é culpa de Eudora você ir embora.
— Eu acho que Veronica esperava que Eudora tivesse mais controle sobre
mim. — Serena passa uma palma ao longo do frio balcão de mármore. — E ela meio
que tinha. Até que parei de tomar os remédios.
— Quando você parou?
— Uma semana atrás. — Seus corajosos olhos azuis se levantam. — Eu não
podia ficar mais um dia sob a orientação de prescrições desnecessárias. Eu estava tão
fora de mim, Derek. Tudo que fiz foi dormir. Estava constantemente exausta. E
dormente. E desligada. Tenho certeza que essas drogas são maravilhosas para as
pessoas que precisam delas, mas realmente me deixaram confusa. O ridículo é que
eu acreditava que precisava delas em primeiro lugar. Só queria parar de sentir tudo
por um tempo...
— O Dr. Rothbart as prescreveu?
— Sim.
— E ele é a pessoa que você suspeita que esteja na folha de pagamento de
Veronica?
— Absolutamente.
Empurro minha correspondência para o lado e me inclino do outro lado da
ilha. — A primeira coisa que faremos amanhã será uma petição para ver um médico
em Rixton Falls. Uma vez que você for liberada, eu pedirei o encerramento da tutela.
Os lábios rosados de Serena se elevam, sua expressão iluminada. — Sério?
— Você está claramente em seu juízo perfeito. Ninguém pode negar isso.
— Então, simples assim, tudo acabará? E quanto a Veronica? E as mentiras?
— Essa é uma questão completamente separada. Por enquanto, vamos nos
concentrar em anular a tutela. Em minha opinião, é completamente desnecessária, e
não foi nada mais do que uma jogada de Veronica que saiu pela culatra.
— Verdade. A única razão pela qual ela pediu ao tribunal em primeiro lugar
foi para que ela pudesse ter o controle sobre as minhas finanças. — Serena varre seus
cabelos vermelhos de seu pescoço, reunindo-os em suas mãos e puxando-os para
cima do ombro. — De qualquer forma, eu te deixarei livre em breve, Derek. Aprecio
tudo o que você está fazendo. Não conheço qualquer outro advogado que teria feito
tudo isso para mim como você fez. — Ela se levanta da banqueta.
— Indo para a cama?
— Estou.
— Você está cansada?
— Na verdade não.
— Nem eu. — Minha garganta está seca, contraída. Sei o que estou fazendo.
Sei onde isso leva. E com fodida certeza, eu sou mais esperto que isso. — Você quer
uma bebida? Estou prestes a tomar uma cerveja, e não quero que você pense que eu
tenho um problema por beber sozinho.
— Hmm. Manipulador.
— Persuasivo. — Dou-lhe um meio-sorriso.
— Grande diferença.
— Maçãs com laranjas25.
Nossos olhares se encontram através da ilha, e ela suspira.
— Bem. Dê-me uma cerveja. — Serena estende a sua mão, e pego uma garrafa
verde da geladeira atrás de mim, removo a tampa na borda do balcão antes de entregá-
la.
Pego uma para mim e aceno em direção à sala de estar. Preciso admitir que
não era inteiramente tortuoso ter companhia por aqui ultimamente. Um homem pode
ficar cansado do nada, a não ser o som de seus próprios pensamentos ecoando ao
redor de um apartamento de solteiro dia após dia vazio.
— Nunca tive uma gota de álcool até completar vinte e um anos. — Serena
toma um gole de cerveja, graciosamente levantando e abaixando a garrafa.
— Você nunca quebrou um armário de bebidas de seu pai como uma
adolescente rebelde?
— Ha. Nunca tive o privilégio de desfrutar esses anos de adolescência rebelde.
— A palma da mão desliza em sua garrafa. — Fui para um colégio interno só de
meninas até meu último ano na escola, e fui para Wellesley depois disso. Não tive
tempo de fazer nada rebelde até que era uma adulta crescida vivendo sozinha, e então,
onde está a diversão nisso? Patético, não é?
— Não patético em tudo. — Dobro uma perna na frente da outra, inclinando-
me para ela, me encontrando rapidamente perdido em um estado de fascínio. — Você
é uma raridade. Você sabe disso, certo?
— Essa é uma boa maneira de colocar. — Ela sorri.
— Eu gostaria de poder proteger Haven assim. Abrigá-la. Mantê-la focada na
escola e longe de problemas. — Tomo um gole da bebida. — É o sonho de um pai se
tornando realidade.

25 Embora não seja o significado inicial, ocasionalmente, a frase maçãs com laranjas é usada para
descartar a nítida diferença observada entre duas coisas que não são muito diferentes
Serena balança a cabeça. — É a pior coisa que poderia fazer por ela. Acredite
em mim. Protegê-la demais fará com que ela acabe tomando más decisões, porque
não terá suficientes erros do passado para guiá-la na direção certa.
— Falando por experiência?
Seus olhos se fecham, reabrindo lentamente. — Infelizmente, e o último erro
foi o maior de todos eles.
— Patético — digo.
— Eu sei. Queria não ter caído tão rápido. Era tudo tão novo e excitante, e
ele...
— Não você. Ele. É patético um homem pisar na mulher que o ama. — Minha
voz é um grunhido de desgosto. — Não vale a pena chorar por ele.
— Quem disse que eu chorei por ele?
— Apenas assumi. Isso é o que as mulheres fazem, certo? Elas choram. Tenho
três irmãs. Acredite em mim, eu sei o que acontece quando seus coraçõezinhos de
lantejoulas são quebrados.
— Coraçõezinhos de lantejoulas? Por favor, Derek, prossiga. Adoro quando você
fala idiota comigo.
— Eu tentava ser fofo.
— Não está funcionando. Tente mais. — Serena revira os bonitos olhos e coloca
sua cerveja em um porta copos ao lado dela. — De qualquer forma, para o registro,
conselheiro, eu não chorei sobre Keir. Fiquei magoada. Estava com raiva. Estava
amarga. Fui humilhada. Chorei por um monte de coisas. Mas não chorei por ele.
— Eu me corrijo. Por favor, perdoe a minha suposição, Sra. Randall. —
Escorrego meu braço ao longo das costas do sofá, meus dedos a centímetro do seu
ombro delicado. A cerveja já está correndo por mim, me deixando caloroso e
descontraído, confortável e sonolento.
— Chorei por causa das coisas que eles escreviam sobre mim... pelas amizades
perdidas... — ela olha para o lado, a mão cobrindo metade de sua boca. — A traição
é...
— Sei tudo sobre a traição.
— Então não tenho que explicar nada. Você entende.
— Entendo.
— De qualquer forma, podemos falar de outra coisa? — Ela pisca rapidamente
e se vira para mim.
— Por que você não recita outra pequena história sobre a rainha-mãe?
Serena ri. — Deus, você deve ter pensado que eu sou a maior idiota. E sinto
muito por ter gritado com você por maltratar a tapeçaria. É uma reprodução de
qualquer maneira. Ninguém no seu perfeito juízo usaria um Auclair original para
cobrir uma janela.
— Você estava tendo um momento difícil — digo. — Você é uma santa em
comparação com alguns dos idiotas com quem lido regularmente.
Ela pega sua bebida, toma três goles modestos até que acaba, e levantando,
olha em direção à cozinha.
— Indo para outra? — Pergunto.
— Estou encerrando a noite, conselheiro.
Uma onda de decepção me varre, e mentalmente bato no meu cérebro de
macaco idiota por me importar.
Serena dá um passo na minha direção, tentando passar entre a minha perna
e a mesa de café, e no segundo passo ela tropeça no meu pé. Instintivamente, eu a
alcanço, colocando minhas mãos debaixo dos braços dela.
E derramando minha cerveja em sua camisa no processo.
— Ah, merda. Sinto muito. — Eu levanto, minhas mãos ainda sobre ela, e olho
para a blusa transparente. Seus mamilos estão duros, projetando-se através do que
parece ser um sutiã de renda, e ela desperdiça pouco tempo encobrindo.
Meu pau pulsa, mas eu viro meu calcanhar e pego uma toalha de uma gaveta
da cozinha antes que ela tenha tempo de notar qualquer protuberância. Quando volto,
ela já está desabotoando a blusa, o tecido grudando em sua pele cremosa.
Eu entrego a toalha para ela e detecto os fios molhados e encharcados de
cabelo caindo pelas costas.
— Tem no cabelo também. — Seguro suas mechas vermelhas na minha mão.
— Você precisará de um banho.
Ela olha o corredor que leva à área do Haven. — Não quero acordá-la.
— Use o meu.
— Pensei que sua área estivesse fora dos limites. — Sua cabeça se inclina,
estreitando os olhos.
— Eu farei uma exceção. Só por essa noite. Desde que eu apenas esvaziei toda
a minha Heineken em sua extravagante camisa.
— Apreciado. Você lavará a minha roupa também? — Ela dá um passo em
direção a minha porta e a sigo, imaginando qual seria o sabor da cerveja contra sua
leitosa carne branca, a forma como os mamilos endurecidos poderiam se sentir contra
a minha língua.
Meu coração dispara, trovejando no meu peito enquanto caminhamos para o
meu quarto, e encontro-me desejando que estivéssemos caminhando para o meu
quarto por outras razões.
Acendo a luz no interior do banheiro e aponto o chuveiro com azulejos.
Agarrando uma toalha de linho do armário, eu a coloco na borda do balcão.
— Sinta-se em casa. — Eu digo e saio rapidamente. Se ficar por muito mais
tempo, minha mente precisará de um próprio banho.
— Espere — ela chama.
Quando me viro, a blusa está em seus pés, e ela está de pé diante de mim em
um sutiã de renda pura e leggings apertadas.
Juro por Deus, se eu dissesse uma palavra agora, soaria como um esganiçado
pré-adolescente, então ao invés, eu elevo minhas sobrancelhas.
— Preciso de uma toalha de mão. E você tem condicionador? Só vejo xampu
aqui. — Ela morde o lábio inferior. — Desculpa. É só que se eu vou tomar um banho
adequado...
Abro a porta do armário, pego uma toalha e lanço para ela. Não posso dar mais
um passo em direção a ela ou arriscarei perder todo o controle. Uma menina bonita,
embebida em cerveja, de pé em um diáfano sutiã no meu banheiro, me faz sentir como
um viciado enfrentando seus demônios com zero autocontrole.
— Eu vou pegar o seu condicionador. — Caminho rapidamente para a porta,
meu coração batendo em meus ouvidos, e pego um frasco roxo de condicionador de
uma bolsa de cosméticos no quarto. Levantando-o para o meu nariz, eu curiosamente
inalo o aroma e sorrio quando os doces aromas de frutas cítricas e lavanda enchem
meus pulmões.
Quando volto para o banheiro, ela está encostada ao balcão, seu corpo nu
enrolado em uma toalha e o chuveiro ligado. Vapor enche o cômodo.
— Demorou bastante. — Ela pega o frasco, piscando, a mão livre segurando a
toalha para não escorregar. — Obrigada.
Estou atordoado, me esforçando para não fazer os mesmos movimentos que
eu estou morrendo de vontade de fazer. Fecho a porta do banheiro, tiro a minha
camisa e visto as calças de pijama, rastejando debaixo das cobertas da cama e ligando
a TV na ESPN. Masturbar é a coisa mais próxima que eu vou chegar a um banho de
água fria.
Dez minutos depois, o som de água corrente cessa. Um pouco depois, ela sai
do meu banheiro em uma nuvem de vapor, seu liso cabelo molhado penteado e sua
toalha enrolada apertado o suficiente para levantar a clivagem em uma posição
lisonjeira.
— Sente-se melhor? — Pergunto, deslizando minhas mãos atrás da cabeça.
Estou sem camisa, somente os lençóis puxados até a minha cintura, porque dois
podem jogar este jogo.
Além disso, eu posso ou não ter feito várias dezenas de flexões e abdominais
um minuto atrás.
— Você sempre dorme sem camisa? — Ela sorri, e seus olhos varrem o meu
quarto. Então sou enviado para um estado menor de pânico até que eu me lembro
que todos os meus brinquedos estão escondidos em seus devidos lugares. Serena
anda, parando para me dar uma segunda olhada.
— Todas as noites.
— Você não fica com frio?
— Qual é o ponto da conversa? — Finjo bocejar. — Ou apenas procura uma
desculpa para se embasbacar?
— Isso é presuntivo, você não acha? — Seus olhos ganham vida contra o brilho
da TV no meu quarto escuro. — E arrogante.
— Nem um pouco. — Eu me sento, estendendo a mão para o controle remoto
para silenciar um comercial de Viagra. — Estive o suficiente em torno de mulheres
para saber como vocês operam. Vocês soltam pistas sutis, esperando que as
peguemos. Mas no fundo, toda mulher espera que cada homem leia sua mente, porque
nenhuma de vocês quer fazer o primeiro movimento, e é um inferno de muito mais
fácil para vocês desfilarem com quase nada do que chegarem e dizerem que querem
ser dobradas sobre o pé da cama e serem fodidas até que não possam andar direito.
Os lábios de Serena ondulam, e ela bufa. — Sim, toda mulher não quer nada
mais do que ser fodida.
Saindo da cama, eu movo em direção a Serena, e sinto imensa satisfação
quando a pego respirando rápido. Ela engole de forma audível e levanta o queixo até
seu olhar se fixar no meu.
— Você me quer, Serena — digo. — E não direi que não sinto o mesmo. Mas
eu te disse, isto não acontecerá.
O cheiro de sabão de sua pele permeia o ar em torno de nós, enchendo cada
inalação que eu tomo. Lambo meus lábios, minha língua dolorida para explorar cada
polegada perfeita de Serena Randall e lamentando os segundos que passam sem
sequer um gosto.
Se fosse qualquer outra mulher, eu a teria saboreado por agora. Teria
experimentado tudo o que há para experimentar. Teria minha cota dela e a deixado
satisfeita e querendo mais, e a mandaria embora sabendo que não haveria mais nada.
— Nós dois somos adultos — diz ela, com a voz um sussurro. — Podemos fazer
o que queremos fazer.
— Eu sou o seu tutor. Não posso dormir com você e gerir o seu dinheiro, ao
mesmo tempo. Enorme conflito de interesse, Serena. Enorme. — A frustração na
minha voz só é igualada pela frustração do meu pau latejante. — Há ramificações
profissionais que acompanham relações sexuais advogado-cliente.
Sua mão levanta, lentamente, ternamente, até que sua palma segura a parte
inferior do meu maxilar. Encaramo-nos, e ela exala.
— Não quero o que você acha que eu quero — diz ela. — Isso é sobre o que isto
é realmente. Culpe sua ética profissional o quanto quiser, mas no fundo, você está
com medo de que eu vá esperar algo que você não será capaz de me dar. E você não
poderia estar mais errado.
— Então o que você quer?
— Quero me divertir. —Serena encolhe os ombros. — Quero me sentir
desejada. Quero esquecer as últimas onze semanas da minha vida, mesmo que seja
apenas por uma hora. Preciso de uma distração, Derek. Uma doce escapada.
— Sabe quantas vezes eu ouvi isso? — Eu zombo. — Toda mulher diz que só
quer se divertir.
— As mulheres mentem às vezes. Mas eu não. Sou tão brutalmente honesta
como eles vêm.
Sorrio, silenciosamente concordando. Pelo menos ela está certa sobre uma
coisa.
Sua mão deixa o meu rosto, deixando um ponto frio em seu lugar.
— Não quero me apaixonar novamente — ela diz com um encolher de ombros,
sem preocupação. — O amor machuca. Sexo é bom.
— As mesmas palavras pelas quais eu vivo.
— Mais uma razão que você deve apenas nos dar o que você quer. — Serena
me estuda.
— Você se arrependerá disso — eu digo.
— Eu juro que não vou.
Eu me aproximo, deslizando minha mão ao longo de seu pescoço, o polegar
levantando o ponto sensível abaixo de seu queixo até que nossas bocas estão
perfeitamente alinhadas.
— Se isso for à merda... se isso não terminar bem — digo, — Te aviso que você
é a responsável.
— Justo.
— E se você não quer nada a ver comigo no momento em que terminar —
acrescento — Não diga que não avisei.
CAPÍTULO 15

Serena
Os lábios dele esmagam os meus, e estou leve. Eletricidade irradia dos meus
dedos para os dedos dos pés, e os meus dedos levantam para o seu cabelo espesso e
escuro. Puxando. Apertando. Seu corpo pressionado contra o meu, e eu derreto.
De repente, estou congelando, mas meu corpo está em chamas. Minha toalha
é recolhida aos meus pés, meus seios nus pressionados contra o peito quente de
Derek.
Seus lábios comandam, as pontas dos dedos viajam pela minha nuca e se
enterram no meu cabelo molhado.
Meu sexo pulsa para ele, e sinto uma maciez entre as minhas coxas. Sua mão
esquerda desliza pelo meu corpo nu, acariciando minhas curvas e serpenteando ao
redor do meu quadril, segurando minha bunda. Ele me puxa contra ele, com mais
força, sua boca quente e necessitada contra a minha.
Eu o bebo com cada inalação. O cheiro de seu sabonete exala da minha pele
cheia de vapor e invade os pulmões, e o cheiro amadeirado de sua quente pele enche
minhas narinas.
— Porra, você sabe como beijar um homem — ele rosna, pressionando seus
quadris contra os meus até o contorno de seu membro pulsante pressionar contra
mim apenas no ponto certo.
Minha paciência diminui, minha respiração me escapa, e quase não consigo
pensar direito quando ele me ergue contra ele, me levantando e me depositando no
centro de sua cama.
Rodeada por roupa de cama emaranhada, meus braços o alcançam, meu corpo
deseja seu peso. Ele rasteja sobre mim, a cama se deslocando abaixo de nós, e abaixa
seus lábios nos meus mais uma vez. Meus lábios vibram com cada beijo, cada
arranhão das nossas línguas e cada dança de nossas bocas. Quando ele se move para
o meu pescoço, um rastro de beijos salpicados traz vida nova a cada respiração. Sou
levada para mais longe da realidade, para um lugar que só existe em sonhos – um
lugar destinado para aqueles corajosos o suficiente para encontrá-lo.
Meus dedos correm no escuro cabelo macio enquanto sua boca viaja para
baixo. Ele trabalha o seu caminho do meu pescoço até o oco entre os meus seios,
parando para dar igual atenção aos meus mamilos acordados. Sua língua move em
meus botões sensíveis antes de abandoná-los para a minha barriga.
E ele vai ainda mais baixo.
Suas mãos deslizam ao longo da minha parte interna das coxas, e o meu
estômago afunda com seu toque. Beijos provocantes a centímetros da minha umidade
precedem o deslizar do seu dedo entre a minha costura.
Engulo um longo suspiro e expiro com um gemido mais fraco, dando um
sorriso picante.
É só quando a língua roça minhas dobras que meu corpo convulsiona com a
provocação do orgasmo surgindo.
Derek geme contra o meu sexo, sua língua lambendo e rodando enquanto suas
mãos pressionam minhas coxas para se abrirem mais.
— Relaxe — ele sussurra; sua respiração um doce calor contra o interior das
minhas coxas trementes.
Minha cabeça afunda no centro da cama, e respiro profundamente, minhas
mãos segurando meus seios inchados enquanto tento impedir meus quadris de
resistir com cada impulso de sua língua.
Derek leva o seu tempo, apreciando o meu gosto e recusando-se a correr. Ele
não está com pressa. Ele não está ansioso para empurrar o seu pau profundamente
na minha garganta. Meu prazer é o dele.
— Você é tão doce — ele geme entre os golpes lânguidos de sua língua,
puxando meu clitóris em sua boca e girando sua língua suavemente. — Eu poderia te
devorar por dias.
Meu coração bate descontroladamente no meu peito. Eu poderia deixá-lo me
consumir por dias. Mas as ondulações correndo sobre o meu corpo ameaçam levar
esta noite a um fim tragicamente prematuro.
— Derek — sussurro, sentando. Estendo a mão para ele, minha mão
envolvendo seus duros bíceps, e afastando-o da minha buceta. — Quero provar você
agora...
Seus lábios se contorcem em um sorriso, e meu olhar viaja para o contorno do
volume de suas calças. Gananciosa com a luxúria, eu mergulho a mão sob o cós e
seguro seu pau latejante. Ficando de joelhos, eu bombeio o seu comprimento e trago
minha boca para sua ponta, traçando meus lábios com sua dureza.
Envolvo minha boca ao redor dele, sua circunferência enchendo tudo o que
tenho. Uma gota de pré-sêmen salga minha língua, e engulo com um sorriso satisfeito.
Com a minha boca molhando seu eixo e minha língua rodando a cabeça, ele solta um
gemido.
A mão de Derek agarra meu cabelo molhado em um rabo de cavalo, afastando-
o do meu rosto e controla o nosso ritmo. Seus quadris balançam quando ele bombeia
em minha boca quente, e o som fraco do meu nome deixa os lábios por meio de
sussurros lamentados.
Quando ele se retira de meus lábios, ele sobe por cima de mim, seu pau
deslizante e molhado pressionado contra as minhas coxas.
Tão perto.
Elevo meus quadris, um convite do tipo, e deslizo meus braços debaixo dele.
Minhas mãos descansam na parte inferior das suas costas e apressadamente
pressiono-o dentro de mim.
Derek se inclina, pegando um mamilo entre os dentes e o soltando antes de
sair da cama e ir ao banheiro. Ele volta segundos depois, um pacote de alumínio
dourado entre os dedos, e sobe em cima de mim novamente.
Bombeando seu pênis com uma mão, ele rasga o pacote entre os dentes,
cuspindo o invólucro de lado e embainhando a si mesmo.
Seus olhos nunca deixam o meu enquanto seus dedos mergulham entre
minhas dobras.
— Deus, eu amo o que faço com você — ele suspira. Seu corpo paira
centímetros sobre do meu, e minha respiração engata em antecipação. Com seu pênis
em suas mãos, ele arrasta a cabeça entre minhas dobras. — E olhe o que você faz
comigo.
Sorrio, meu lábio inferior meio-mordido.
— Você tem certeza que quer fazer isso? — Ele pergunta.
Meu sorriso se desvanece.
Agora ele está apenas ferrando comigo. Torturando-me. Arrastando isso de
propósito.
— Cale a boca e me foda já, conselheiro. — Minhas mãos pressionam contra
sua mandíbula angular, e levanto a minha boca para a dele, silenciando qualquer que
seja a observação espertinha que ele planejava dar. Meus quadris mexem debaixo
dele, e propositadamente escovo seu protuberante pau.
Minhas palavras são grosseiras. Impaciente. Carentes.
E não me importo.
Derek desliza dentro de mim em um só golpe, auxiliado por minha excitação.
Seu corpo pesa sobre o meu, me pressionando. Estou presa debaixo dele. Quente.
Segura. Excitada.
Seu ritmo é lento no início, mas em questão de segundos, torna-se apressado.
Impiedoso.
Estou com problemas por querê-lo, por cobiçar um homem que não deveria, e
esta é minha deliciosa punição.
Impulsos escorregadios cobertos com o atrito, seu pau enchendo-me, a
pressão apenas certa. Seu musculoso peito liso desliza sobre o meu, convidando os
meus dedos a traçar as ondulações de seu abdômen. Não me canso de tocar Derek.
Seu corpo é um sonho. Seu olhar me faz derreter. Sua resolução e determinação de
não me foder eram meramente um entrave menor.
Sempre soube que valeria a pena. Eu sabia que seria incrível.
Nossos olhos se encontram no escuro, seus impulsos exigentes e implacáveis.
Se isso é ser ferrada, vou deixá-lo me ferrar em qualquer dia da semana.
Não há amor ou sensibilidade na forma como Derek fode. Mas essa é a forma
como deve ser. Isso é sexo e apenas sexo.
É exatamente o que eu queria.
Não posso reclamar. E não vou.
Nunca pedi corações e flores.
Tudo que eu pedi era o seu corpo sobre o meu.
Uma distração doce de uma realidade brutal.
Derek agarra meus quadris e nos rola. Escarranchada em seu pênis, meus
joelhos enterrados nos lençóis, eu balanço e moo, observando seus olhos
reivindicando cada centímetro de meu corpo. Suas mãos viajam para os meus seios,
segurando, provocando e brincando enquanto cavalgo. Relaxo meu pescoço, deixando
meu cabelo cair em meus ombros em uma cascata lenta, a parte inferior das minhas
costas arqueando com cada movimento.
Sua mão esquerda trilha pelo meu quadril, escorregando em volta do meu
quadril até pressionar o polegar contra o meu clitóris. Círculos rápidos com pressão
suficiente me trazem mais perto da borda, até o ponto do não retorno.
Para o fim desta noite.
Empurro mais forte, meu cabelo chicoteia sobre meus ombros com cada
movimento, e seus quadris encontram o meu impulso por impulso até que nós dois
estamos envolvidos em nossas próprias doces liberações.
Caio sobre ele, mal capaz de me mover e avidamente não querendo.
Meu cabelo está meio seco agora, uma ondulada confusão pegajosa ao longo
do meu pescoço e ombros. Levanto o meu olhar para Derek, nossas bocas no limbo,
a meros centímetros de distância. Nós dois sorrimos, bêbados do sexo, e ele varre o
cabelo do meu rosto.
Seu pênis ainda repousa dentro de mim, latejante e pulsante, mantendo-nos
conectados por alguns instantes finais.
— Isso tão valeu a pena. — Sento-me uma vez que recupero o fôlego, saindo
dele.
Ele leva o seu tempo rastejando de sua cama e caminha para o banheiro para
se limpar. Pesco minha toalha do chão, mas ele a rouba quando retorna.
— Hey — digo.
— Não terminei de olhar para você ainda. — Há uma arrogância de posse em
seu tom.
— Oh? — Coloco a mão no meu quadril e puxo os ombros para trás. Minha
prima, Araminta, me disse uma vez que não há nada que excita mais os homens que
confiança. Nada. Você pode ser a garota mais esfarrapada no universo, mas se atuar
em quarto como se fosse a coisa mais sexy que já andou nesta terra, você atrairá a
atenção de um homem. E então eles não serão capazes de ter o suficiente de você.
— Quero ver o que eu fiz para você. — Suas mãos deslizam em volta da minha
cintura, e ele me puxa para mais perto. Ele levanta a mão para a minha bochecha
vermelha, arrastando-a entre os meus seios antes de depositar um esperado beijo
suave nos meus lábios. Sua mão livre mergulha entre as minhas coxas, mergulhando
em minha suavidade e deslizando para dentro. Uma deliciosa invasão. — Só porque
nós acabamos, não significa que você precisa correr tão rapidamente. Estou insultado.
Faz um homem se sentir usado.
Meus quadris moem contra seus dedos, meu sexo sensível e delicado, meu
corpo querendo mais.
— Nunca pensei que fosse do tipo de afagar. — Estou sem fôlego novamente.
— Quem falou em afagar? — Derek cai na cama novamente, levando-me com
ele. Subo em cima dele, minhas coxas escarranchadas em seus quadris e os nossos
dedos entrelaçados.
Não sei o que é isso.
Não sei o que significa.
Só sei que é divertido, e isso é tudo que eu quero com isso.
Suas mãos determinadas seguram meus quadris, e ele se senta. Estamos face
a face, a boca desenhada em sorrisos ridiculamente satisfeitos, e o cheiro de sexo
paira no ar.
— Não consigo parar de tocá-la. — Ele aperta seus lábios nos meus, seus dedos
arrastando pelas minhas costas até que estão perdidos no meu cabelo mais uma vez.
Sua mão reúne minha juba emaranhada, puxando até que a carne do meu pescoço é
exposta ao ar da noite. Sua respiração é quente contra minha pele, e cada parte de
mim sabe que eu poderia fazer isso mais uma vez se ele pedir. — Eu quero você,
Serena. Quero você mais uma vez.
Meu núcleo pulsa com suas palavras, e inclino meu queixo, meus olhos
encontrando os dele no escuro.
— E isso não acontece — diz ele. — Porque não deixo que isso aconteça.
— Você não repete? — Espero que ele não possa ouvir o tom de decepção na
minha voz.
Derek arrasta os dentes ao longo de seu lábio inferior, balançando a cabeça.
— Nunca.
— Mas você quer. Comigo.
Ele balança a cabeça. — Você é deliciosa para caralho, Serena. Seu gosto. Seu
toque. Mas você precisa entender, não significaria nada. Não para mim.
Prendo minhas mãos ao longo de sua mandíbula e reviro os olhos. — Derek.
Já basta.
Eu o silencio com um beijo. Um beijo intenso, carregado, que convoca toda a
determinação que tenho. Sinto que ele me respira enquanto nossas línguas
escorregam e roçam.
— Olha. — Suspiro, me afastando. — Posso te beijar, só assim, e não sentir
nada. Posso dormir com você e não vê corações e borboletas. Não vou me apaixonar
por você porque fizemos sexo. Eu gostaria que você acreditasse em mim quando digo
que não quero nada de você. Não assim.
Ele não diz nada, apenas olha para mim, seus olhos estudando sua réplica em
silêncio.
— Começo a pensar que você é quem está fixo nessas questões. Sua constante
necessidade de me lembrar que você é algum tipo de solteirão é preocupante, Derek.
Quer dizer, a quem está tentando convencer? — Eu saio de seu colo. — Vamos só...
não falar sobre isso, ok? Vamos apenas fazer o que é bom e esquecer o resto.
— Tudo bem. — Ele suspira, suas costas caem, suas mãos apoiadas sobre as
coxas musculosas. Eu poderia então rastejar para o colo dele novamente, se não
estivesse tentando provar um ponto agora.
— De qualquer maneira. Esta noite foi a primeira vez que eu me senti meio
humana em meses. — Pego minha toalha do chão, enrolando-a em volta do meu corpo
e recolho-a debaixo dos meus braços apertado. — Então, obrigada por deixar de lado
a sua ética profissional e viver um pouco.
Dou uma piscadela, optando por deixar esta noite com uma lembrança melhor.
Derek age como se fosse ele com problemas de confiança, ele que tem uma aversão a
qualquer coisa que faz o coração apertar um pouco fortemente.
Ele não poderia estar mais errado.
Derek me observa sair, não tentando me impedir desta vez, e vou na ponta dos
pés para o meu quarto, relaxando os músculos cansados em um mar de almofadas e
lençóis frios, morrendo de vontade de saber se ele está repetindo a nossa noite em sua
mente assim como eu estou.
CAPÍTULO 17

Derek
— Quem é Serena? — Minha mãe não me cumprimenta com seu tradicional,
Olá, meu amor, quando pego Haven sexta-feira depois do trabalho. Ela abre
amplamente a porta da frente, com as mãos no quadril. — Haven não parou de falar
sobre a menina com o cabelo da sereia desde que Royal a deixou mais cedo.
— Ah, é? — Olho para a minha filha no pé da escada, sua língua saindo pela
lateral da boca enquanto tenta manobrar os pés nos fluorescentes sapatos que
piscam.
Pré-escolares.
Não é possível guardar um segredo de nada.
— Sim, Derek. Então, quem é ela? E porque ela está na sua casa? — O olhar
da minha mãe é implacável.
— Ela é uma amiga. E é temporário.
Minha mãe me conhece muito bem, é por isso que os seus lábios moldam em
uma profunda carranca em resposta a minha resposta casual.
— Vamos, Haven. — Estico minha mão. — O que você quer jantar?
— Não faça isso.
— Não fazer o quê?
— Não me ignore quando eu lhe fizer uma pergunta.
— Você está criando algo do nada. — Eu olho além dela. Haven pula ao redor
do foyer dos meus pais — Vamos lá, baby. Vamos.
— Você se divorciou há dois anos. Nem sequer mencionou uma mulher na
minha presença. E agora sua filha diz que uma mulher está morando com você. —
Mamãe cruza os braços. — Estou autorizada a sondar. Sou sua mãe. É meio que o
meu trabalho.
— Meio. — Encontro o seu olhar com um sorriso.
Ela bate no meu peito. — Não fique espertinho comigo. Quem é ela?
— Ela é uma cliente.
Mamãe dá um passo atrás, de queixo caído. — Seu... seu pai sabe sobre isso?
— Não, e eu apreciaria se ficasse assim até eu ter a chance de explicar.
— Então você dirá a ele?
Minha hesitação provoca um suspiro dela. — Você não pode esconder as coisas
do seu pai. Ele vai descobrir, e ficará muito chateado. E você sabe como ele fica.
Haven espreme entre minha mãe e eu, deslizando a mão na minha.
— E é por isso — eu digo, — que é do seu interesse fingir que essa conversa
nunca aconteceu.
Damos um passo para a varanda da frente, e minha mãe segue.
— Posso pelo menos conhecê-la? — Ela grita. É um teste.
— Não, porque não é assim. — Puxo a mão de Haven e caminhamos mais
rapidamente para a calçada.
Mamãe está nos degraus da frente, observando-me colocar a minha filha no
banco de trás. — Tudo bem, Derek. Estou cansada de sondar. Por agora.
— A vovó faz um monte de perguntas. — Haven franze o nariz. — Por que ela
faz tantas perguntas, papai?
— Porque é isso que as avós fazem — digo, beijando-a no alto da cabeça e
inalando o cheiro de seu xampu de pêssego.
— Vovó Karen não faz tantas perguntas.
— Vovó Bliss é especial. — Fecho a porta, encontrando minha mãe logo atrás
de mim.
— Você vai dizer ao seu pai. — Mamãe dá a palavra final e volta para a calçada
antes que eu possa protestar.

— Papai? — Haven pergunta quando estamos a dois quilômetros da minha


casa.
— Sim, baby?
— Você acha que Serena tem um coração bonito?
Eu encolho, abafando um sorriso. Crianças fazem as perguntas mais
aleatórias, mas esta parece um pouco mais densa do que o que eu estou acostumado
de Haven.
— O que significa isso? — Pergunto.
— Serena diz que um coração bonito é quando você é gentil e agradável com
as pessoas.
Poderia dar-lhe a resposta complicada: a verdade.
Ainda não conheço Serena muito bem. Não sei se ela é amável e gentil com as
pessoas. Mas ela tem sido boa para mim. Boa o suficiente, pelo menos.
Foi um longo dia e estou exausto, então dou a resposta fácil. — Sim, Haven.
Serena tem um coração adorável.
— Não, um coração bonito.
— Ok. Um coração bonito.
— Eu dei a metade do meu bolinho para a vovó hoje. Isso significa que eu
tenho um coração bonito?
— Sim. Sim. Isso é chamado de partilha. É uma coisa boa.
— Serena pode vir à minha festa de aniversário?
A pergunta de Haven me pega desprevenido, e quase avancei através de uma
placa de Pare de quatro sentidos. Paramos bruscamente, e respiro profundamente,
apertando os dedos ao redor do volante.
— Não sei, baby — eu digo. — Sua festa de aniversário é daqui duas semanas.
Serena pode ter planos até então.
— Perguntei a ela na noite passada e ela disse para te perguntar.
Droga.
— Tudo bem. Eu falarei com ela sobre isso e deixo você saber. — Mentir para
minha filha de quase quatro anos de idade não é um momento brilhante e reluzente
na minha vida, mas não incomodarei Serena sobre ir à festa de aniversário da minha
filha. Merda. Não quero nem estar lá. Kyla escolheu um tema de princesa este ano, e
maldição, decidiu que nada menos do que cinco das princesas da Disney favoritas de
Haven estarão lá em traje de gala.
Se fosse por mim, eu a levaria ao jardim zoológico, a deixaria alimentar uma
girafa e um passeio a camelo. Apenas nós dois.
— Tia Demi nos convidou para jantar hoje à noite — mudo de assunto.
—Yay! Tia Demi! — Haven grita atrás de mim, chutando a parte de trás do meu
assento. — Serena pode ir?
— Qual é a sua obsessão com Serena? — Sorrio.
— O que ovisessão quer dizer? — Ela pergunta.
— Não importa. — Balanço minha cabeça e paro no estacionamento. Foda-se.
Vamos convidar Serena. A garota precisa comer, e ela é tecnicamente uma hóspede.
Eu não deveria deixá-la se virar sozinha.
Eu paro na minha casa e envio uma mensagem para Demi colocar outro lugar
na mesa. Ela vai surtar quando vir quem eu estou trazendo. Não ficaria surpreso se
ela tiver um derrame. Ela nunca conheceu uma celebridade, pelo o que eu sei, e ela
parecia saber muito sobre Serena na semana passada.
Desligo o motor e saio, pegando Haven e segurando sua mão enquanto
entramos.
Haven pula, balançando meu braço enquanto caminhamos.
Quando chego ao meu apartamento, escuto os sons da TV derivando por baixo
da porta. Quando abro a porta, o lugar está estranhamente silencioso.
— Serena — eu chamo.
Nenhuma resposta.
— Papai, onde está Serena?
A boca do meu estômago está pesada e rija. Não conversamos desde a noite
passada, quando transamos como dois adolescentes hormonais incapazes de manter
nossas mãos longes um do outro. Eu não experimentara tão pouca moderação desde
que conheci Kyla – quando Kyla era alguém completamente diferente. Quando Kyla
era meio que maravilhosa.
Ou, como eu gosto de dizer agora, quando Kyla era uma propaganda falsa.
— Serena. — Tento novamente.
Ainda sem resposta.
— Espere, baby. — Solto a mão de Haven e marcho para o corredor. O quarto
de hóspedes está aberto. Todas as coisas dela estão lá.
Exceto Serena. Serena desapareceu.
CAPÍTULO 18

Serena
Passeei pela calçada do prédio de Derek, minha bolsa pendurada em um
ombro cansado e meus pés doendo das horas explorando a pequena cidade nesta
tarde.
Desfrutei de um cupcake em uma padaria. Almocei em um café na calçada.
Brinquei com filhotes de cachorro em uma loja de animais de estimação. E ajudei um
grupo de velhinhas a localizar a loja de antiguidades após percorrerem cento e vinte
e cinco quilômetros para ver.
Um SUV Infinity preto para na garagem e estaciona no meio-fio. A janela do
passageiro se abre, e me aproximo.
— Hey. — Dou um pequeno aceno, meu corpo enrijece ao vê-lo como se
lembrasse instantaneamente das coisas que ele me fez a menos de vinte e quatro
horas antes. — Aonde vocês vão? Oi, Haven.
— Oi, Serena! — Haven acena. — Nós vamos para a tia Demi. Quer vir?
Olho para Derek. — Nós vamos jantar na minha irmã. Suba. Ela colocou um
lugar para você.
— Oh, hum. — Poderia dizer para ele que não estou com fome. Que me
empanturrei a tarde toda. Que não estou totalmente certa de que posso me sentar
diante dele, com a família dele, não menos, e não pensar um milhão de pensamentos
sujos.
— Vamos, Serena! — Acena Haven.
— Sim. — A voz de Derek está seca. — Vamos.
Estou recebendo vibes mistas dele, e um frio suor escorre pela minha coluna.
Ele quer que eu vá? Ele não quer? Estamos estabelecendo um precedente perigoso?
Eu deveria encontrar a família dele? O que eles sabem sobre a minha situação?
— Você realmente quer que eu vá? — Dirijo a minha pergunta a ele.
— Sim. — Ele me dá uma resposta curta e usa uma expressão que não consigo
ler.
Levanto uma sobrancelha, e uma brisa galopante bagunça meu cabelo em
volta do meu rosto. É noite agora e esfriou. Estou vestida para uma tarde amena de
primavera.
Agarrando a maçaneta da porta, eu entro, silenciando o confuso comentário
bagunçando os meus pensamentos e coloco o cinto.
— Fiquei surpreso de não encontrá-la quando chegamos em casa — diz ele
vários quarteirões abaixo.
— Só fui caminhar — eu digo. — Há algumas pequenas lojas realmente
agradáveis nesta área.
— Uma nota teria sido bom. — Ele aciona a seta, olhando para frente.
— Estou em apuros? — Eu meio que bufo.
— Não. É apenas uma coisa de cortesia.
— Sinto muito. — Escondo a minha risada com a palma da minha mão. Se
tiver sorte, talvez ele me puna mais tarde. — Deixarei um bilhete na próxima vez.
— Apreciado.
— Meu telefone realmente funciona aqui, sabe. Você poderia ter ligado.
Ele alcança o rádio, sintonizando na estação da Disney para abafar a nossa
conversa.
— Você estava preocupado comigo? — Olho para ele.
Seu carro reduz até parar em um sinal vermelho, e ele se vira para mim. —
Sim. Eu meio que estava.
Ninguém nunca se preocupou comigo. Nem mesmo o meu próprio pai. Ele
sempre paga outras pessoas para se preocuparem comigo.
— Em todo o caso. — Eu expiro e conto sobre um filhote pug que segurei hoje
chamado Munch. Ele tem seis semanas de idade e com a mais amável mordida, e
quase saí de lá com ele no bolso. Não estou em posição de ter um cão. E nunca tive
um animal de qualquer espécie. Mas ele era o cara pequeno mais doce com grandes
olhos castanhos, e foi um grave caso de amor à primeira vista.
— Papai, nós podemos ter um cachorrinho? — Haven grita acima da música,
deixando claro que a música não a impediu de ouvir a conversa na frente.
— Não. — Derek corta.
Paramos em uma rodovia, indo em direção a outra cidade pequena. Acho que
é preciso um tipo especial de pessoa para amar a vida da cidade pequena. Alguém
com uma natureza feliz. Alguém que ama a paz, tranquilidade e quietude. Alguém
perfeitamente capaz de ficar a sós com seus próprios pensamentos. Alguém que não
se preocupa em comparar a sua felicidade com a da pessoa ao lado.
Derek certamente parece assim.
— Minha irmã — diz ele quando paramos em um rancho amarelo em um
grande terreno de esquina. Um Subaru mais velho está estacionado na rua. — Pode
ou não surtar ao vê-la.
Sorrio. — O quê? Por quê?
— Ela é... meio que fã. O que eu não sabia até a semana passada.
Encontro fãs o tempo todo, apesar de que toda a noção de uma herdeira
socialite ter fãs não faz absolutamente nenhum sentido para mim, mas quando a Page
Six fala sobre você ou Us Weekly publica uma foto sua, você se torna alguém.
Eu não tinha escolha, mas é o que é. Preciso respeitar que existem pessoas lá
fora que sabem meu nome e meu negócio e que algumas delas acreditam que gostam
de mim, a minha versão pública.
— Está tudo bem, Derek. — Solto o cinto de segurança e saio, endireitando
minha blusa e deslizando minha bolsa sobre meu ombro. — Tenho certeza que ela é
adorável.
Derek leva Haven pela mão, levando-a até a porta da garagem, onde digita um
código e caminha como se fosse o dono do lugar. Talvez as pessoas de cidades
pequenas façam isso? Famílias de cidade pequena, pelo menos?
— Toc, toc. — Ele abre a porta e põe a cabeça no que parece ser a cozinha. —
Estamos aqui.
O aroma de molho de tomate é levado em uma brisa de ar quente à medida
que entramos.
Uma jovem mulher com grosso cabelo escuro preso no alto da cabeça voa ao
redor da cozinha, mexendo nas panelas fervendo no fogão e em um temporizador
sonoro no forno.
— Hey, hey — Demi chama, de costas para nós. — Só estou terminando. Vocês
vão se sentar na sala de estar. Royal chegará a qualquer minuto.
Haven tira os sapatos e foge como se esteve aqui umas mil vezes e sabe
exatamente para onde ir.
Demi veste um par de luvas de forno nas mãos e puxa uma panela de pão de
alho do forno, afastando a fumaça que escapa antes de silenciar o temporizador.
Tirando as luvas, ela enxuga a testa e se vira para nós, seus olhos
desembarcam primeiro em Derek e depois em mim.
Ela congela, sua boca aberta. — Oh. Uh. E-eu...
— Serena, esta é a minha irmã, Demi. Demi, esta é Serena Randall. Ela é
minha cliente, e está ficando em Rixton Falls. Temporariamente. — As mãos de Derek
estão cruzadas na frente de seus quadris, e me pergunto se ele é sempre tão formal.
O sorriso de Demi começa e acaba, seus olhos nervosos. A mulher age como
se estivesse presa entre um aperto de mão e uma reverência, então eu faço um favor
a ela e me inclino para um abraço. Duvido que alguém aqui beije as bochechas, e não
quero assustá-la mais do que já está.
Ela derrete contra mim, exalando e me inspirando, retornando meu abraço
com um apertado abraço. O cheiro de xampu de farmácia e spray corporal de
framboesa enche o ar que eu respiro. Ela é autêntica. Ela é real. Eu amo isso.
Eu me afasto e ofereço um sorriso caloroso. — Tão bom te conhecer.
Demi se abana, os restos de fumaça do forno circulando nós três. — Se eu
soubesse que você vinha, eu teria feito mais que espaguete.
— Eu amo espaguete. — Dou de ombros.
Derek coloca a mão no meu ombro.
Não sei por quê.
Mas persiste. E cai para a parte baixa das minhas costas.
E me deixa à vontade.
É como se ele soubesse que estou fora do meu elemento, e não é que eu precise
de sua garantia, ou conforto, mas é um gesto simpático, e ele não precisa fazer isso.
Demi nos observa atentamente, examinando cada movimento de seu irmão até
que ele desliza entre mim e a geladeira, desaparecendo em outro cômodo.
— Você gostaria de alguma ajuda? — Ofereço.
A irmã de Derek cora, olhando ao redor de sua modesta cozinha como se
tivesse algum tipo de razão para estar envergonhada, e balança a cabeça.
— Está tudo bem, Serena. Posso te chamar de Serena? — Ela cambaleia da
pia para o fogão, reunindo um coador, pegador e uma faca de pão.
— Claro — eu digo. — Tem certeza que não quer uma ajuda?
Ofereço minha ajuda, sabendo muito bem que vou parecer uma idiota
desastrada que não sabe nada de cozinha, mas parece ser a coisa educada a fazer
neste caso, e talvez vá ajudá-la a superar o choque inicial de preparar o jantar para
alguém que sempre vê apenas nas páginas brilhantes de uma revista.
— Hum. — Ela olha ao longo do seu balcão. — Se você quiser, pode escorrer o
macarrão do espaguete?
Pego um par de luvas de forno e coloco o coador na pia. Isso eu posso fazer.
— Há quanto tempo você mora aqui? — Pergunto, derramando
cuidadosamente a panela de água fervente no filtro.
— Desde o Natal,— diz ela. — Sou professora substituta em uma escola aqui
na cidade, e Royal vai à escola de direito. Bem, ele faz pré-direito26 agora. Mais dois
anos, e ele termina, então ele vai para a faculdade de direito.
— Ele se juntará a Rosewood e Rosewood?
Demi serra fatias de pão de alho quente na panela. — Acho que não. Ele quer
seguir uma direção diferente.

26 Nos Estados Unidos, pre-direito refere-se a qualquer programa de estudos realizado por um
estudante com vista a estudar em uma faculdade de direito.
— Bom para ele. Presumo que seu pai lhe daria um emprego em um piscar de
olhos. Poderia não ser fácil se afastar de um emprego garantido após a faculdade.
Demi faz uma pausa, olhando para mim. — Quero dizer, ele está seguindo seu
coração, mas acho que há um pouco de mágoa entre meu pai e Royal. Ele não vai
admitir isso, mas algo aconteceu há muito tempo, e meu pai não acreditou em Royal
e... não vou te aborrecer com os detalhes, mas realmente o machucou, e eu só acho
que ele não quer depender do meu pai, sabe? Acho que ele quer esculpir o seu próprio
caminho.
— Muito admirável.
A porta da garagem abre e um homem incrivelmente bonito, com escaldantes
olhos azuis, cabelo escuro cortado em cima e raspado nas laterais, e tatuagens
cobrindo seus antebraços entra, deixando cair uma bolsa de couro ao lado do fogão.
Ele não me vê, só vai para ela.
— Ei, baby. — Ele beija Demi, lento e suave, a mão deslizando até o lado de
seu pescoço, e quando se afasta, ele me vê. — Oh, me desculpe. Não vi você aí.
— Tudo bem. — Sorrio e aceno.
— Esta é Serena — diz Demi. — Serena, este é o meu Royal.
Seu Royal. Amo isso.
Apertamos as mãos, sua postura endireitando e seu olhar, para meu alívio,
não me reconhecendo.
— Cheira ótimo. — Ele dá um tapinha na bunda de Demi e sai, e o ouço
cumprimentar Derek no cômodo ao lado enquanto Haven grita.
Demi bufa pelo nariz, sacudindo a cabeça. — Haven ama Royal. Eles são
parecidos. Agem como se conhecessem a vida inteira, e ela só o conheceu no Natal
passado.
— Alguns homens são apenas ótimos com crianças, como se viesse
naturalmente para eles.
— Derek é assim. Ele deve conseguir um título de Pai do Ano. — Seus lábios
formam uma linha dura. — Ainda não posso acreditar que Kyla ganhou a custódia.
Desculpa. Provavelmente estou dando mais informação do que você gostaria.
— Tudo bem.
— Acho que cada família tem drama, certo?
— Tão verdade.
— O jantar está pronto — Demi grita para a sala. A mesa da cozinha já está
arrumada. Cinco lugares. Guardanapo de papel. Finos pratos de cerâmica com um
padrão floral azul na borda. Os copos não combinam, todos cheios com grandes cubos
de gelo. Ela me vê observando o arranjo de mesa e cora. — Desculpa. Algum dia, nós
vamos ter porcelana chinesa e pratos que combinem.
— Não, não — digo. — Amei isso.
E falo sério. É simples. Caseiro.
Um lembrete de que as coisas não precisam ser perfeitas para ser
perfeitamente maravilhoso.
Haven e os homens chegam, e todos nós sentamos quando Demi traz a comida
para o centro da mesa nos incompatíveis utensílios de servir em tons de verde oliva e
amarelo mostarda. Adquiridos de outra pessoa, se eu tivesse que adivinhar.
— Cheira delicioso, Demi. Muito obrigada por preparar este belo jantar para
nós esta noite — digo.
— Cala a boca, Derek. — Demi chuta Derek debaixo da mesa, e estou confusa.
— Ele estava a dois segundos de tirar sarro da minha comida. Fique sabendo que
melhorei muito, querido irmão.
Os lábios de Derek lutam contra um sorriso e ele finge estar chocado. — Você
é uma grande cozinheira. Eu não estaria aqui se não fosse.
— Você só está aqui porque não quer cozinhar para Haven. Vamos ser
verdadeiros por um minuto — Demi dispara.
— Algumas coisas nunca mudam. — Royal diz com a boca cheia de espaguete.
A comida é passada para mim, e pego uma pequena porção desde que meu
estômago ainda está cheio de minhas indulgências da tarde.
— Veja, agora você a assustou para longe da minha cozinha. — Demi aponta
para o meu prato.
Derek atira-lhe um olhar, então se vira para mim. — Eu estava brincando.
Demi sabe cozinhar. Eu não a faria comer aqui se ela não pudesse.
— Não, não. — Aceno. — Eu almocei mais tarde no Maraschino hoje.
— O café na calçada em Radcliff Street? — O rosto de Demi se ilumina.
— Sim, esse é o lugar — digo.
Ela esmaga o braço de Royal. — É lá que precisamos ir no sábado. Eu estava
morrendo para experimentar. Ouvi dizer que eles têm pudim de pão e canela de
morrer.
— Em que ela está te enredando neste fim de semana? — Derek diz em voz
baixa, olhando para Royal.
Royal sorri. — Antiguidades. Ela está animada com coisas velhas.
— Coisas velhas? — Bufa Derek.
Demi fica ereta, agitando a massa ao redor de seu garfo. — Desde Brooks, eu
apenas fiquei animada com coisas anti-materialista. Não me importo com brilhantes
coisas novas. Ou coisas caras. Gosto de coisas com história. Coisas que importam.
Ela coloca a mão sobre a de Royal, e seus olhares se encontram, seguido por
sorrisos lânguidos.
Derek revira os olhos. — Esta semana é coisas velhas. Na próxima semana
será coisas que a lembram da infância. Pulseiras tapas27. Caixas organizadoras.
Bonecas Troll. O que estou esquecendo?
Demi joga a cabeça para trás, rindo, e a mesa treme quando ela chuta a canela
de Derek mais uma vez.
— Mini game, Tamagotchi, Boneca Polly, Barbie da Casa, Popples28, Geleia...
— ela divaga.
— Eu tinha Gak — adiciono.
Meu pai fez Eudora me levar para a Universal Studios uma vez, e eles tinham
uma loja da Nickelodeon. Eu tinha nove anos, e Eudora me deixou comprar um case
de Gak de todas as cores.
— Nunca esquecerei o cheiro — acrescento.

27

28
— Como você pode? Era horrível — Demi diz, seu nariz enrugado. — Deixava
suas mãos fedidas quando brincava com ele.
— Mas, entretanto, era muito divertido. — Costumava arrancar pedaços de
Gak e colocá-lo pela casa para irritar a nossa empregada, que estava inteiramente
enojada pelo fato de que alguma menina iria querer brincar com gosma fedorenta
quando tinha uma perfeitamente boa casa de bonecas no quarto ao lado.
— Acho que Delilah tem a minha velha caixa organizadora. — Demi faz
beicinho. — Ela sempre roubava coisas de mim. Nunca tive que me preocupar com
Daphne, entretanto. Ela não mexia nas minhas coisas.
— Daphne era inteligente — Royal entra na conversa.
— Quem é Delilah e Daphne? — Pergunto.
— Nossas irmãs mais novas — Derek responde, mastigando.
— Elas são gêmeas — Demi acrescenta. — Você nem imaginaria. Elas são
super diferentes e não são nada parecidas.
— Portanto, vocês são quatro? — Pergunto.
Derek confirma. Ele não apenas tem a casa de infância que eu sempre sonhei,
mas ele tem a perfeita grande família para acompanhar.
Bom para ele.
Suspiro, pegando outra porção do espaguete de Demi, o qual está delicioso em
sua simplicidade. Tenho certeza que o molho é de caixinha e de massa pronta, mas é
bom mesmo assim.
— Você não está dizendo muito, senhorita Haven — digo para a pequena loira
com molho de tomate manchando seu rosto. Ela sorri, olhando para mim, em seguida,
para o pai dela.
— Ela estava com fome — Derek diz, despenteando o cabelo dela.
— Papai. — Ela afasta a mão dele do cabelo dela. — Você vai estragar meu
cabelo.
— Não é legal, Derek. — Demi joga junto.
Isto marca o primeiro jantar que tive, até a presente data, onde a conversa não
gira em torno de cada convidado tentando superar o outro. Nada era superficial. Nada
era forçado. Nada centrado em torno do dinheiro ou férias luxuosas ou listas de espera
ou fofocas da alta sociedade.
O melhor de tudo, ninguém perguntou sobre mim. Não houve perguntas
curiosas. Nenhuma busca por informação. Nada para me fazer contorcer no meu lugar
e desejar ter ficado em casa.
— Estou cheio — Royal declara um pouco mais tarde.
Derek esfrega o estômago esculpido e se inclina, exalando. Demi suspira. Olho
para o meu prato vazio.
Royal se levanta, seu prato na mão, e se inclina para beijar a cabeça de Demi.
— Obrigada, mama.
Estou ao lado dele, me oferecendo para levar os restantes dos pratos vazios. —
Deixe-me lavar.
— Não. Não posso. — Demi me descarta.
— Eu insisto. — Sorrio, sabendo muito bem que nunca lavei um prato na
minha vida e que é hora de aprender. — Eu ficaria honrada.
Demi olha para Derek, buscando aprovação, e ele dá de ombros.
— Por que você não me ajuda, Derek? É o mínimo que podemos fazer, já que
sua irmã tão graciosamente abriu a casa dela para nós esta noite. — Levanto minhas
sobrancelhas. Se eu estarei com os cotovelos afundados em água e sabão, assim pode
ele.
— Sim, Derek. — Demi cruza os braços, lábios pressionados e olhos animados.
Ele se levanta, desabotoando os punhos da camisa branca e enrolando-os,
seus olhos fixos nos meus.
Meu coração pula.
Ignoro.
— Vamos, Haven, vamos brincar com Lego na sala de estar. Seu pai limpará
minha cozinha. Vamos, antes que ele mude de ideia. — Demi segura a mão de Haven
e elas seguem Royal.
Assim que temos a cozinha para nós, eu dou uma boa olhada em volta e
percebo plenamente a considerável tarefa que eu acabei de aceitar.
— Pronto? — Pergunto.
Ele balança a cabeça, os lábios apertados, e caminho para a pia, pegando uma
rolha na borda e ligando a água quente.
— Você ainda está bravo comigo? — Pergunto.
Estamos separados dos demais por uma única parede, mas eles bem que
poderiam estar a mundo de distância. Agora, somos apenas nós.
— Nunca estive chateado — diz ele.
— Você mal está falando comigo — digo, deixando a minha outra pergunta
sem resposta. Isso é realmente sobre a noite passada?
— Simplesmente não tenho nada a dizer. — Ele pega uma garrafa meio vazia
de detergente e aperta-a na corrente de água.
— Você estava realmente preocupado comigo?
— Sou meio que responsável por você agora. Eu gostaria de saber onde você
está. — Ele geme. — Jesus, eu soo como Eudora.
Concordo. — Você soa.
— Não é desse jeito.
— Eu sei.
Derek desliga a torneira, mergulhando suas mãos – as mãos que percorriam
livremente o meu corpo na outra noite – na mistura com sabão e pesca uma esponja.
— Eu lavo. Você seca — diz ele, pegando um prato sujo e molhando-o na água.
Estamos braço com braço, e em poucos minutos, nós temos um sistema viável.
Eu lhe entrego uma concha coberta de molho quando ele não está prestando atenção
e ele se vira, roçando-a em sua camisa branca.
— Oops.
— Merda. — Ele dá um passo atrás, examinando a bagunça vermelho-cereja
em sua camisa branca.
Minhas mãos se levantam até a minha boca. — Meu Deus. Sinto muito.
Pego um pano e o mergulho em água, trazendo-a para a mancha e passando,
mas a água infiltra e escorre, deixando a mancha rosada e sua camisa branca
transparente.
Acho engraçado, mesmo porque não foi intencional.
Derek dá mais um passo atrás. — Serena, pare. Isso não é uma competição de
camisa molhada.
— Uma o quê? — Meu nariz enruga quando me faço de boba. Ele realmente
está ficando nervoso por causa de uma estúpida camisa. — O que é uma competição
de camisa molhada?
Ele afasta o grudento tecido molhado de seu corpo e suspira.
E é precisamente o momento em que enterro o pano na água mais uma vez e
jogo-o em seu peito, criando outra mancha molhada. A boca cheia dele é puxada em
uma careta até que ele olha para cima e vê a malícia em meus olhos.
— Sério? — Ele vai em direção a pia e desliza a mão sobre a superfície da água
suja em um largo gesto que molha a minha blusa de cor creme até que está igualmente
tão transparente quanto a camisa dele.
Meu queixo cai quando a água se transforma rapidamente de quente para frio
e minha camisa gruda na minha pele.
— Ok, isso não é justo. — Espirro água nele novamente, desta vez acertando
o rosto dele.
— Oh, não, querida. Isso é justiça. Acredite em mim. Eu sei tudo sobre a
justiça. — Ele desliza rapidamente sobre o topo da água até que uma bolha de bolhas
com aroma de flor de maçã cai no meu cabelo.
— Isso é tudo que você tem? — Eu envio as bolhas no chão, a cabeça inclinada.
Derek bate na água com detergente com uma mão aberta e uma onda jorra,
acertando nós dois simultaneamente.
Eu acho que ele fez isso de propósito.
Ele sorri.
Oh sim. Ele absolutamente fez isso de propósito.
Olhando para o nosso estado atual, nós também poderíamos estar aqui
seminus neste momento.
— Tudo bem, tudo bem. Trégua. — Estendo minha mão.
— Trégua. — Ele encontra-a, e uma corrente de eletricidade passa entre nós.
Seu olhar encontra o meu, e depois cai.
Mais baixo.
Mais baixo ainda.
Ainda segurando minha mão, ele me puxa contra ele. — Vamos.
— Aonde vamos?
CAPÍTULO 19

Derek
— O que estamos fazendo aqui? — Serena estremece ao pé das escadas do
porão. Estamos cercados por paredes e pisos de concreto, e vigas de piso; nas
entranhas do pequeno rancho que Royal e Demi alugam.
— Tire a sua blusa. — Aponto para o secador.
Os delicados dedos trêmulos de Serena trabalham os botões pérola frisado da
blusa de cor clara, e faço o mesmo. — Quanto tempo isto levará? Está congelando
aqui.
Ela puxa o tecido encharcado de seu corpo, seu sutiã igualmente molhado.
— Você precisará me dar isso também — eu digo, fingindo que não me dá
grande prazer ver o incrivelmente sexy corpo dela mais uma vez.
As mãos de Serena cobrem seus bojos de renda. — Por quê?
— Seu sutiã está molhado. Se você colocar sua camisa seca, só a encharcará
completamente.
Seus brilhantes olhos azuis reviram, e ela estende a mão atrás das costas,
abrindo o fecho e deslizando as alças de cetim em seus ombros suaves.
— Bem. Aqui. — Ela cobre os seios com um braço, entregando-me. — É na
verdade um tecido que só permite lavagem a seco, mas...
— Não temos tempo para esse tipo de informação sobre roupa íntima.
— Muito obrigada por esse pedacinho de informação, Conselheiro Óbvio.
Coloco seus itens juntamente com a minha camisa no secador de Demi e ligo
no máximo, o ciclo de secagem rápida. O timer lê vinte minutos. Se tivermos sorte,
ninguém virá nos procurar nesse tempo. Serena Randall, de topless em um porão
úmido de alguém, não é algo pelo qual eu quero ser responsável.
Embora, para ser justo, eu meio que sou.
Mas ela começou.
Acontece que tenho a intenção de terminar.
— Por que você está se cobrindo? — Eu me inclino contra a máquina de lavar,
os braços cruzados e os olhos alegres. — Eu te fodi ontem à noite e agora você quer
ser tímida?
A língua de Serena roça o lábio inferior e ela mantém a cabeça erguida. — Só
estou sendo modesta e respeitosa na casa de sua irmã. E este não é um momento
sexual para mim.
Eu sorrio, me movendo em direção a ela. — Não é?
Ela engole, seus olhos fixos nos meus. — Não.
— Você quer que seja?
— Pensei que você não repetia?
— Eu não repito. Também não trabalho aos sábados, não trago os clientes
para casa comigo, e com certeza não trago clientes para jantar na casa de minha irmã.
— Então o que você está dizendo?
Ela me inspira, e os meus dedos rastejando com toda a intenção de tocar cada
parte dela outra vez.
Minha mão segura o seu rosto, nossos lábios alinhados. Cada grama de
autocontrole que já tive está subindo à superfície e evaporando como se nunca
existisse em primeiro lugar.
— Estou dizendo que quebrei todas as regras com você — eu respiro as minhas
palavras contra seus lábios cheios, a segundos de possuí-la.
— Por quê? — Seus cílios vibram lentamente. — Por que eu?
— Eu gostaria de saber. — Esmago seus lábios entreabertos com um beijo, e
ela geme em minha boca como se precisasse da liberação mais do que eu.
Passei a maior parte do dia olhando para o espaço, sonhando com a noite que
compartilhamos e me perguntando por que, pela primeira vez em anos, eu não podia
esperar para tocá-la novamente. Para experimentar tudo novamente.
E de novo.
E de novo.
Minhas mãos escorregam até a sua cintura, e a iço para o zumbido vibrando
do secador, abrindo suas coxas até que elas estão montando minha cintura. Seus
braços engancham em volta dos meus ombros, seus dedos descendo até a minha nuca
e se perdem no meu cabelo enquanto nossas línguas se encontram entre beijos
frenéticos.
Seus seios pressionam contra o meu peito, seus mamilos rosados vivos e
endurecidos, raspando ao longo da minha pele conforme ela se move.
Sua pele de modo algum arrepiada, mas aquecendo a cada segundo.
Minha boca abandona a dela, e deposito uma trilha de beijos mordidos pelo
seu pescoço até que sua cabeça cai para trás e suas unhas cavam a carne de meus
ombros. Devoro sua doce pele, abaixando-me entre os seios e circulando a minha
língua em torno de um mamilo endurecido.
O porão é fresco e úmido, mas todo o calor que precisamos nos circunda em
uma nuvem de nossa própria luxúria. Minhas mãos rastejam até suas coxas,
trabalhando os botões de sua calça jeans e puxando-as para baixo.
O secador balança debaixo dela, e ela se inclina para trás, apoiando suas mãos
enquanto arrasto um dedo ao longo da calcinha de seda e da sua virilha molhada.
Empurrando o tecido embebido, eu desejo seu gosto na minha língua.
Minha cabeça entre o ápice de suas coxas, eu arrasto minha língua ao longo
de sua costura antes de circular seu clitóris inchado.
Serena geme, e levanto a minha mão à sua boca. Precisamos ficar quietos. E
sermos rápido.
O tempo está passando.
Ela leva o meu dedo entre a boca, levemente mordendo e chupando enquanto
devoro sua inchada boceta lisa, e meu pau palpita, apreciando o fato de que seu corpo
quer o meu.
O secador cantarola, e as coxas de Serena tremem. Sua respiração acelera, e
ela leva a mão no meu cabelo, puxando enquanto goza contra a minha boca em ondas
trementes.
Quando ela termina, eu levanto, puxando-a do secador e em meus braços.
Sua mão pressiona seu peito, e ela está tão sem fôlego quanto estava na noite
passada.
— Puta merda, Derek. — Suas palavras são suspiros exasperados. — Não
esperava isso.
— Nem eu.
O secador vibra, rudemente interrompendo qualquer merda que isto foi, e pego
uma pitada de decepção em sua expressão delirantemente satisfeita.
Eu passo por ela, abrindo a tampa e retiro nossas camisas quentes. Quando
nos vestimos e subimos, Demi está conduzindo o nosso trabalho de lavar prato, o qual
foi abandonado, e trabalhando freneticamente na pia, evitando o contato visual a todo
custo.
CAPÍTULO 20

Serena
Haven dorme na volta para casa.
Luar destaca o belo perfil de Derek, e me pego olhando-o com olhares laterais.
Não falamos, embora não tenho certeza do que há para falar. Após o encontro
no porão, Derek murmurou alguma desculpa sobre levar Haven a tempo de colocá-la
na cama e fugimos de lá.
Demi totalmente sabia. Como não poderia? Nós fomos para o andar de cima
parecendo um gato que comeu o canário, ou no caso de Derek...
A volta para casa leva apenas vinte minutos, e Derek carrega sua filha
dormindo até seu apartamento, deitando-a enquanto apago as luzes. Ela não acorda.
Nem uma única vez. E estou um pouco desapontada porque gostei de ler uma história
para ela dormir na noite anterior. Nunca fiz isso antes; foi doce e relaxante, seu cabelo
cheirava a xampu de pêssego, e ela queria segurar minha mão.
— Eu estava pensando — digo a Derek depois que ele gentilmente fecha a porta
de Haven.
Ele me encara, uma sobrancelha levantada, e aponta para a sala de estar. Sua
mão pressiona meu ombro esquerdo enquanto me acompanha para longe do corredor
de Haven.
— O que você estava pensando? — Ele pergunta.
— Após a tutela ser dissolvida — digo, — eu estava pensando que eu deveria
voltar para a cidade.
Derek franze a testa. — Você está pronta para isso?
— O que estou fazendo aqui? — Passei toda a tarde me fazendo esta pergunta.
— Me enfurnando em sua casa, me escondendo do resto do mundo como se eu fosse
algo frágil. Esta não sou eu. Não quero mais me esconder. Quero voltar à cidade,
enfrentar esses babacas que eu costumava chamar de amigos e dar algo novo para
eles fofocarem. Page Six teria dias de glória se soubessem o que Veronica fez comigo.
— Serena. — Derek coloca a mão no meu braço e se aproxima. — Não direi
onde você deve viver ou o que fazer, mas se for fazer isso, precisa ser pelas razões
certas. Voltar para poder jogar com esses idiotas é a última razão pela qual você deve
ir.
Puxo meu braço de seu aperto e desabo no sofá, olhando para uma tela de TV
desligada do outro lado da sala.
— Não fica cansativo? — Ele pergunta.
— Desculpe-me? — Dirijo-me em direção a ele.
— Viver para todos os outros. Sua vida é tão ampliada e analisada. Não sei
como fazer isso.
— É tudo que eu já conheci. — Minhas mãos se cruzam no meu colo. — Não
sei viver de outra maneira. Queria saber. Queria ter crescido em uma grande casa
azul com um grupo de irmãs e dois pais que fossem loucos um pelo outro, mas não é
isso que eu tive. Não é quem eu sou.
Derek senta ao meu lado. — O passado não importa o quanto você acha que
importa. Concentre-se no aqui e agora. O que você pode fazer hoje, agora, o que fará
de melhor amanhã?
— Malhar? — Mordo um sorriso e me afundo nas almofadas.
— Falo sério, Serena. — Os olhos de Derek se estreitam, e ele se afasta de mim.
Estendo a mão para o braço dele, puxando-o para mais perto. — Estou
brincando. Você estava tão sério, e não quero mais falar sobre isso. Isto me deixa
triste.
— Vê? — Derek bufa, com a cabeça inclinada. — Você está voltando correndo
para a própria vida que se recusa a falar porque te deixa triste.
— Tudo bem. — Eu me endireito. — Vamos falar sobre as minhas alternativas
então. Eu posso ficar nesta cidade, onde ninguém me conhece, onde não tenho
amigos, nenhuma vida social, nada além de você. E podemos ficar juntos para um
futuro previsível, e você pode me lembrar todos os dias que é este solteirão, e não faz
isso e não faz aquilo e não significa nada.
Derek se inclina para trás, me estudando. — Por que você está virando isso
sobre mim agora?
— Não estou. Só estou dizendo que não há nada para mim aqui.
— Você não veio aqui para encontrar alguma coisa. Você veio aqui para
escapar.
— E me sinto tão presa, Derek. — Eu me inclino, os cotovelos sobre os joelhos
e a cabeça em minhas mãos. — Estive aqui dois dias, e sinto que estou tão isolada
quanto antes. Não me interprete mal. Sou grata. Prefiro estar aqui a estar em Belcourt,
mas ainda estou sozinha.
Ainda estou só.
Derek sopra uma respiração forte por entre os lábios concisos. — Não quero
isso para você. Eu só tentava ajudar.
Coloco minha mão sobre a dele. — Eu sei. Não estou chateada. Estou apenas
dizendo...
— Você não quer mais ficar aqui.
Ele diz tão facilmente – as palavras que estavam presas na ponta da minha
língua desde esta tarde. Passei em uma pequena boutique com um toldo verde sobre
a porta e lembrou-me da pequena loja na rua do meu antigo apartamento em
Lexington. E isso me deixou com saudades da cidade. Da vida. De estranhos sem
rosto. E emoção. E o tipo de energia que me fez sentir como um milhão de dólares29
no pior dos dias.

29
Se sentindo ótima
E então eu almoçava em um pequeno café na calçada, e o garçom era o mais
doce homem idoso em uma boina cinza. Ele me deu um pão extra, me disse que eu
tinha o sorriso mais caloroso que ele já viu, e que eu o lembrava de sua falecida esposa
quando falava.
Você não consegue esse tipo de serviço na cidade.
Depois disso, eu entrei em uma loja de animais e segurei um filhote de
cachorro. A mulher atrás da caixa registradora perguntou se eu tinha um quintal, e
pensei do terraço compartilhado no meu prédio e o pequeno pedaço de grama
compartilhada por todos os cães do prédio.
Beijei o topo da cabeça do filhote de pug e o coloquei no lugar dele depois disso.
Quando saí da loja de animais, pensei no que poderia ser comprar uma
pequena casa encantadora, com um grande quintal, em uma pequena cidade. A mera
ideia me deixou quente por dentro, e senti meu coração ficar muito perto desse calor,
como uma criança curiosa atraída para uma chama de vela bruxuleante.
Então a apaguei.
E então Derek parou e me convidou para a casa da irmã dele.
— Eu gosto de estar aqui — digo.
— Você não precisa mentir.
— Mas sinto falta da minha casa. — Olho além da janela, para a vista
arrebatadora de uma cintilante Rixton Fall à noite. Não é nada comparado a Nova
York, mas é quase similar. Vou para a janela, puxo uma respiração profunda, e
envolvo meus braços em volta da minha cintura.
Um momento depois, o calor das mãos de Derek desliza sobre meus braços, e
seu corpo pressiona minhas costas.
Viro-me para encará-lo. — O que você está fazendo?
Nossos olhos se encontram, e os dele seguram uma tempestade de emoções.
Confusão. Excitação. Ousadia.
— Não vá, Serena. Ainda não. — Sua voz é baixa, seu pedido firme.
— E por quê?
Ele solta um gemido frustrado, embora eu pense que suas frustrações são
dirigidas para ele. — Não sei. Esqueça que eu disse qualquer coisa.
— Boa noite, conselheiro.

Eu fico quieta o resto do fim de semana, deixando Derek passar tempo com a
filha, e enterrando-me nos livros que peguei em uma loja da esquina.
Também assisto nada menos que três filmes Lifetime e assisto uma temporada
completa de House of Cards – recomendação de Derek.
Entre os programas e os livros, encontro-me perdida em pensamentos, me
perguntando se eu deveria ficar – por razões desconhecidas – ou ir.
As palavras de Derek ecoam na minha mente, não o pedido dele para eu ficar
por mais tempo, mas sua advertência. Ele não é o que eu preciso. Ele não é o que eu
realmente preciso. E o mesmo é verdadeiro para ele.
Nós não pertencemos um ao outro, embora nossos corpos discordem.
Eu deveria ir.
Talvez não amanhã. Talvez não esta semana. Mas logo.
CAPÍTULO 21

Derek
— Você está atrasado em vinte minutos. — Kyla desce os degraus da frente de
sua McMansion Victorian no domingo à tarde como uma tormenta. Quanto mais ela
se aproxima, mais eu noto a ridícula quantidade de maquiagem cobrindo o seu rosto
queimado pelo vento e o contorno pálido ao redor de seus olhos marcando o lugar
onde ficaram seus óculos de esqui.
— Havia muito trânsito. — Eu saio e vou ao banco de trás.
— Às quatro horas de um domingo? — Sua mão voa para seu quadril.
Qualquer outra mãe estaria bajulando sua filha, desde que não a viu por vários
dias, mas Kyla está mais preocupada em me repreender por nada.
— Você tem um lugar para estar? — Desato Haven e levanto-a de sua
cadeirinha.
— Na verdade, sim. — Ela levanta a cabeça. — Herb fez reservas no novo
restaurante francês em Hawthorne. É a quarenta e cinco minutos de carro, e nossas
reservas são para daqui a quarenta minutos.
— Haven vai comer comida francesa? — Coloco minha filha na grama e ela
corre para a porta da frente, parando uma vez para me mandar um beijo. Ela espera
enquanto eu finjo pegá-lo no ar, e então desaparece lá dentro.
— Não levaremos Haven. — Kyla fala rapidamente, os olhos correndo por mim.
— Temos uma babá.
— Você está brincando comigo, Kyla? — Há um rosnado na minha garganta, e
estou a dois segundos de entrar, agarrar Haven e levá-la para casa comigo. Mas não
estou disposto a ser preso por causa dessa imbecil, porra, e então ela tem sorte. —
Você não vê a nossa filha há quatro dias, e me apressa para devolvê-la no domingo à
noite para poder ir a um encontro com a porra do Herb?
— Nós estivemos na lista de espera por meses. — Kyla bate o pé. — Recebemos
a ligação quando voltávamos para casa. Não esperávamos isso. Completamente no
último minuto.
Como se tornasse isso mais aceitável.
— Isso é uma porra incrível. — Balanço minha cabeça, enfiando os dedos pelo
meu cabelo e puxando, meus dentes rangendo. Vou ao banco de trás, agarrando a
bolsa de Haven, e a enfio nos braços de Kyla. — Você não merece ser a mãe dela,
porra, e você sabe disso.
Sua mandíbula trava. — Você não acabou de dizer isso para mim, Derek.
Eu entro no carro, e sua expressão suaviza quando se move até a janela do
motorista.
— Onde está a sua bela amiguinha? — Seu tom de voz é doce. Ela está
sondando.
Ligo o motor e dou marcha ré.
— Tudo bem, não me responda. — Bufa Kyla. — Oh, não se esqueça. Haven
ficará com você no próximo fim de semana também. Estarei em um evento de vendas
para um designer local, e depois, Herb me levará para a cidade por um tempo. Ela
apenas ficaria no caminho. E precisamos conversar sobre o verão, porque ele chegará
logo. Passaremos seis semanas na Europa, e isso é muito para uma criança de quatro
anos de idade, então ela precisará ficar com você. Além disso, temos de falar da creche
de verão. Suponho que você quer me ajudar a entrevistar babás. Simplesmente não
tenho paciência para passar o dia todo, todos os dias com uma criança de quatro anos
de idade. Além disso, ela ficará com a minha mãe em São Francisco por um mês antes
de retornar a pré-escola.
Viro-me para ela lentamente, e minha mente está farta. — Pode enviar tudo
isso para mim em um e-mail, por favor?
As sobrancelhas de Kyla arqueiam. — Hum, claro, tudo bem.
Idiota do caralho.
Arranco de sua garagem, mentalmente construindo meu caso de custódia,
conforme conduzo as longas duas horas de volta para casa.

— Teve uma boa viagem? — Serena cumprimenta-me quando retorno, embora


não esteja no melhor dos humores. Ela permanece na ilha da cozinha, me estudando.
— Tudo bem?
Eu gemo, resmungando besteiras e afastando-a.
— Ok, eu não vou incomodá-lo. — Serena se afasta de mim, dando um passo
em direção ao corredor. — Está ficando tarde, então... tenha uma boa noite.
— Você tem uma reunião amanhã. Dez da manhã — percebo que me esqueci
de dizer a ela durante o fim de semana, mas para ser justo, ela praticamente me evitou
desde sexta-feira a noite.
Serena, que agora está no meio do corredor, para e se vira. — Com?
— Um psiquiatra local — digo. — O nome dela é Dra. Lia Perez. Ela vai liberar
você, e assim que eu tiver a declaração dela, eu arquivarei os papéis e pedirei aos
tribunais para cancelar a tutoria.
Seu rosto se ilumina, e acho que ela correria para os meus braços agora se eu
não estivesse tão mal-humorado.
— Obrigada, Derek.
— Eu vou buscá-la às nove e meia. Não se atrase.
Vou para o meu quarto, não esperando ela responder. Até onde estou
preocupado, não há mais nada para falar sobre qualquer outra coisa que esteja em
causa. Ela quer ir, e com certeza eu não tentarei impedi-la.

Dissemos duas palavras para o outro durante toda a manhã de segunda-feira.


Agora estou sentado na sala de espera da clínica de saúde mental particular
da Dra. Lia Perez, folheando uma cópia esfarrapada de Mens Fitness de outubro do
ano passado. Já passaram duas horas agora. Teria sido melhor se não estivesse
esperando.
— Sr. Rosewood? — A enfermeira da Dra. Perez abre uma porta. — Você pode
voltar agora.
Eu a sigo por um corredor com papel de parede com desenhos de cereja. Este
lugar costumava ser um Cama e Café30. Agora é um lugar aonde os moradores vêm
para derramar seus corações partidos para as pessoas que são pagas para ouvir.
Nunca descobri o valor de derramar sua alma para alguém que está só
financeiramente investido no cuidado, mas isso é apenas comigo.
— Aqui. A médica sairá logo. — A enfermeira aponta para uma porta de
madeira brilhante, e eu pego um vislumbre de Serena já sentada na frente da mesa
da médica.
Suas pernas estão cruzadas, ela balança o pé, e treme como se tivesse motivo
para ficar nervosa.
Dra. Perez valsa quando sento. Ela é pequena, na casa dos quarenta anos,
com cabelo preto que emoldura o rosto que os óculos tentam esconder. Se eu tivesse
que adivinhar, diria que ela é tão reservada quanto à pessoa seguinte. Ouvir segredos
das pessoas durante a vida tende a fazer isso com uma pessoa, e falo por experiência.
A médica aperta minha mão. — Sr. Rosewood, prazer em conhecê-lo
pessoalmente.
— Igualmente. — Solto sua mão macia e achato a minha gravata enquanto
sento.
Serena me observa, mastigando o interior de seu lábio.
— Então — ela diz. — Passei um tempo com a Sra. Randall, e não vejo
nenhuma razão pela qual ela precise de um tutor para o seu patrimônio.
A boca da Dra. Perez se espalha em um largo sorriso, e seus olhos se revezam
entre Serena e o meu.
Serena exala lentamente, reajustando as pernas e sentando-se ereta. Ela está
aliviada.
— É uma excelente notícia — eu digo.

30 Acomodações para dormir uma noite e uma refeição da manhã, fornecidos em pousadas e pequenos
hotéis.
— Minha avaliação deve estar digitada e pronta até o início da próxima
semana. Geralmente solicito sete a dez dias úteis, mas dadas as circunstâncias
atenuantes de Serena, não quero que ela precise esperar tanto tempo.
— Nós apreciamos isso, doutora. — Falo por nós dois. Quanto mais cedo ela
se for, mais cedo eu posso tirá-la da minha maldita cabeça. Ela está correndo lá dentro
como um loop desde o dia em que a conheci.
Sabia que era um erro. Tocá-la. Beijá-la. Tudo isso foi errado.
Eu queria resistir.
Mas eu a queria mais.
Inferno. Agora, eu provavelmente precisarei passar o caso de propriedade para
outra pessoa. Deixar que ele lide com o Show de Merda de Veronica Kensington-
Randall. Lavar as mãos desta família.
Quando me levanto da cadeira, percebo que não terminamos de discutir isso
ainda. Dra. Perez e Serena trocam olhares intrigados, e eu recupero, verificando o
relógio e mencionando uma entrevista imaginária que tenho ao meio-dia.
— Claro — diz a Dra. Perez. — Deixarei vocês dois irem. Serena, eu te dei meu
cartão. Quero que você entre em contato comigo se precisar de alguma coisa. Parar a
sua medicação sem supervisão médica foi muito arriscado, mas estou contente de
ouvir que você está indo bem. Ligue se alguma coisa mudar, ok?
— Obrigada, doutora. — Serena pega sua bolsa e para antes de seguir-me até
a porta.
Quando chegamos ao meu carro, ainda não dissemos muita coisa um para o
outro. Mas estou bem com isso. Ela não é minha namorada. Nós transamos uma vez.
Não preciso ficar na ponta dos pés em torno dela. Não preciso suavizar nada
mais. Dei o melhor de mim, e não devo nada.
Ela deve considerar-se afortunada.
Não abro minha casa para ninguém, especialmente não na presença de Haven.
Balanço minha cabeça, envergonhando-me porque eu malditamente sabia.
Quem se importa se ela é igualmente bela e imprevisível? Quem se importa se
ela é incrível com a minha filha? Quem se importa se ela comeu o espaguete de Demi
sem uma queixa e depois se ofereceu para lavar os pratos?
Mulheres como Serena são comuns. Poderia ir à cidade esta noite e trazer cinco
delas para casa apenas como ela.
Porra.
Não, não posso.
— Você continuará me dando o tratamento do silêncio? — Serena pergunta
quando estamos quase em casa.
— Não estou te dando o tratamento do silêncio. — Aperto o volante. — Só tenho
muitas coisas na minha mente. Não no clima para conversa trivial.
— Ouch.
Porra.
— Não quis dizer isso — acrescento.
Serena olha pela janela, recusando-se a olhar em qualquer lugar em minha
direção. Acho que eu mereço isso.
Eu a deixo na frente do meu prédio e volto ao trabalho, só que não espero
encontrar o meu pai sentado na minha cadeira, de braços cruzados e as sobrancelhas
franzidas.
Ele se levanta, arrastando o polegar ao longo de seu bigode. — Derek. Entre e
sente-se. Precisamos conversar.
CAPÍTULO 22

Serena
Meu telefone toca na metade de Days of Our Lives. Silencio a TV e puxo meus
ossos preguiçosos em uma posição sentada, arrastando o meu iPhone em toda a mesa
de café de Derek e apertando os olhos para identificar a chamada.
Poppy?
Pigarreio e sento em linha reta. — Olá?
— Meu Deus. Serena? — Os agudos de Poppy explodem através do alto-falante.
— Não posso acreditar que você atendeu.
Revirando os olhos, eu reúno toda a positividade que tenho e me forço a fingir
estar feliz por ouvir dela. Onde ela estava doze semanas atrás? Onde estava quando
eu estava escondida na Prisão Belcourt?
— Você está bem? Está tudo bem? Estive tão preocupada com você — diz ela,
sem fôlego e animada.
Sério? Ela está preocupada comigo? Pelo que eu sabia, pessoas preocupadas
ligavam e checavam seus amigos.
— Estou bem — eu digo. — Resolvendo algumas coisas, mas estou bem.
— Oh, graças a Deus. — Poppy ri. — Tentei me aproximar de você por meses.
Corri para Veronica na Bergdorf31 não muito tempo depois... do incidente no
aeroporto... e ela disse que você buscava ajuda médica, se recuperando em Belcourt,
e que não aceitava visitas. Mandei flores. Você as recebeu?
Eu me inclino, as sobrancelhas se unindo. — Flores?
— Sim. Rosas cor de rosa. Sua favorita. E caixas de chocolate europeu daquela
pequena loja na Madison. Até mandei um pacote de cuidados com esmalte,
hidratantes para o rosto, revistas e óleos essenciais. Coisas aleatórias que eu pensei
que poderia animá-la.
— Poppy, eu nunca recebi nada. Tem certeza que enviou para Belcourt?
— Positivo.
— Por que eles iriam ser interceptados?
— Nenhuma ideia. — Ela sopra um fôlego para o receptor. — Isso é muito
estranho. De qualquer forma, onde você está agora? Quando volta pra casa?
— Estou em uma pequena cidade chamada Rixton Falls. Meu advogado está
aqui. — Eu paro aqui. Não há nenhum sentido em dar mais informações do que o
necessário. Não até eu saber o que ela realmente quer.
— Nunca ouvi falar disso. Quando volta pra casa? Estou com saudades de
você. Todo mundo sente a sua falta.
Meu peito aperta por um momento. Quero acreditar que todos eles sentem
minha falta. E talvez alguns deles tenham tentado chegar até a mim. Nunca saberei.
— Você ficará feliz em saber que Natasha e Tenley foram essencialmente
banidas do nosso pequeno círculo social. — O tom de Poppy é baixo. É o tom que ela
usa quando compartilha informações privilegiadas. Fofoca. — Depois do que fizeram
com Keir... o que fizeram com você...
Ela não precisa continuar. Nenhum ponto em requentar os piores momentos
da minha vida.

31 Bergdorf Goodman é uma loja de departamento de produtos de luxo com base na Quinta Avenida
em Manhattan, em Nova York.
— Sabe, todos nós pensamos que elas armaram para Keir. Natasha estava
sempre com inveja de você, e Tenley sempre quis o que você tinha. Ela copiou sua
maquiagem, seu corte de cabelo, seus sapatos e bolsas. E ainda roubou seu estilista.
— Poppy divaga, e deixo de ouvi-la por um segundo.
— Não me importo se elas armaram para Keir. Ele mordeu a isca. Isso é tudo
que importa. Não há volta a partir daí. Nunca confiarei nele novamente.
— Oh, querida, eu sei. — Poppy geme em simpatia. — A coisa toda foi tão
horrível. Isso nunca deveria ter acontecido com você. Você não merecia isso. De
qualquer forma, é seguro voltar para casa agora.
— Do que você está falando?
— Natasha está de férias nas Maldivas nos últimos dois meses. Supostamente.
E Tenley voltou para Los Angeles para ficar com seu papaizinho32. Eu ficaria chocada
se as duas mostrarem suas caras nesta cidade novamente. — O telefone é abafado
por um momento. — Desculpa. Acabaram de entregar a minha refeição. Estou ficando
tão cansada de frango, brócolis e batata-doce. Não tenho uma verdadeira refeição há
meses. Ei, você deveria voltar neste fim de semana. Minha irmã finalmente se mudou,
então eu tenho um quarto de hóspedes.
— Não sei.
— Oh, vamos lá — ela lamenta. — Vou mandar meu motorista para buscá-la
na parte da manhã, e ele a deixará na noite de domingo. Você está longe há muito
tempo. Sinto falta de você. Falo sério. Você era minha melhor amiga. Ainda é. Você
sabe que eu gosto de você um milhão de vezes mais do que qualquer das outras
cadelas.
Eu sorrio.
— Por favor? — Ela pergunta. — Não me faça implorar.
Contemplo a minha resposta em silêncio.

32 Um rico homem mais velho que derrama presentes sobre uma jovem mulher em troca de sua
companhia e favores sexuais.
— Não aceito um não como resposta — ela diz. — Dê-me seu endereço, e
enviarei Carlos para ir buscá-la às nove horas da amanhã. Quando foi a última vez
que arrumou o seu cabelo? Posso chamar Katinka e ver se ela a espreme na agenda
dela. Podemos fazer algumas compras depois. Jantar no Giuseppe na Quinta. Beber
no Bar Gray. Qualquer coisa que você quiser fazer.
Parece bom. Realmente parece. Enfio o meu cabelo atrás da minha orelha,
meus dedos passando na minha face sorridente.
Eu aceito. — Tudo bem, Poppy. Envio o endereço por mensagem para você.
— Yay! Estou tão animada. Você não tem ideia.
Uma segunda ligação aparece, e afasto o telefone. É Eudora.
— Preciso ir — eu digo.
— Não se esqueça de me mandar a mensagem.
— Não esquecerei. — Termino a ligação de Poppy e aceito a chamada. —
Eudora, olá.
— Serena. — Ela está sem fôlego. — Estou tão feliz por você atender.
— O que está acontecendo? Tudo bem?
— Não.
Meu coração cai, e afundo nas almofadas. — O que está errado?
— Seu pai — ela diz. — Ele caiu. Bateu com a cabeça. Não conseguiu levantar.
Acho que ele pode ter quebrado algo também.
Tantas questões correm em minha mente, como: por que Eudora estava com
ele? O que aconteceu com seu status de licença não remunerada? Mas nada disso
importa agora.
— Onde está Veronica? — Minha pergunta vem como uma exigência irritada.
— Não sei, querida — diz Eudora. — Ela saiu esta manhã. Disse que tinha
negócios a tratar fora da cidade e não voltaria até depois do anoitecer.
Claro.
— Onde ele está? — Pergunto.
— A ambulância acabou de levá-lo para Amherst Good Samaritan Hospital,
apenas saindo de Hilldale Estate. Você deveria ir.
— Eu chegarei lá o mais rápido possível. — Termino a ligação, meus dedos
tremendo, minha mente dispersa enquanto pesquiso através de meus contatos o
número de Derek.
Não tenho certeza por que o meu instinto é pedir ajuda para ele em primeiro
lugar, mas meus dedos estão a segundos de apertar o botão Ligar quando a porta do
apartamento dele se abre.
Ele fica na porta, pasta na mão, gravata frouxa no pescoço. Olho para o relógio,
mal passou de uma e meia. Ele ainda não deveria estar em casa.
Os passos pesados de Derek enchem o apartamento. A julgar pela tempestade
em seus olhos e a tensão em seus ombros, ele ainda está no mesmo humor que estava
nesta manhã. Talvez até mais.
Mas não posso pensar nele agora, ou na sua birra de homem ou sua reação
ridiculamente exagerada por não conseguir o que queria comigo.
Minhas mãos tremem, e o telefone desliza por entre meus dedos, caindo no
tapete debaixo de mim com um baque duro. Eu voo para baixo e o agarro, levantando
e dando pequenos passos até a cozinha, onde ele olha as correspondências como se o
enojasse.
Ele para por um momento, olhando para mim, em seguida, para a
correspondência e para trás. Seu rosto aperta. — O que você tem?
— Hum. — Meus lábios parecem anestesiados, minha voz vacilante. — Eu...
— O quê? Diga.
— Meu pai caiu. Ele está no hospital. — Meus olhos ficam enevoados, e pisco-
as para sumirem. — Preciso estar com ele, e eu...
Ele pega as chaves do balcão, sua expressão dura de repente suaviza. —
Vamos.
CAPÍTULO 23

Derek
A sala de espera em Amherst Good Sam cheira a alvejante. As paredes brancas,
cadeiras cinzentas e cartazes pregados com dicas sobre como evitar a gripe me
cercam. A viagem levou duas horas, com Serena e eu principalmente ficando com nós
mesmos.
Ela parecia distante, e não a fim de falar.
Acho que estávamos na mesma página.
Pego uma cópia desbotada da National Geographic e finjo ler, porque a mulher
sentada à minha esquerda é aparentemente incapaz de entender dicas sociais.
Não, eu não quero falar com você.
Não, eu não quero saber seu nome.
Não, eu não me importo porque você está aqui.
Não, eu não vou te dizer de onde eu sou.
Não, eu não me importo se você gosta do meu terno.
Não, eu não vou te dizer onde comprei meus sapatos.
Seu sotaque nasal de Long Island esteve berrando no meu ouvido durante
vinte minutos seguidos, e graças a Deus, o telefone tocou e ela atendeu o telefonema.
Usei essa oportunidade para me desculpar, caminhar para este lado do hospital e
fingir me perder na procura de máquinas de venda automática.
Quando voltei, ela tinha ido embora.
E então ela voltou.
Agora ela bate as extremamente longas unhas de acrílico contra uma mesa
lateral e reclama sobre a chuva que supostamente chegará esta semana.
— Realmente sinto muito — finalmente digo, me levantando e me movendo
para o lado oposto da sala de espera.
A mandíbula da mulher cai, e a ouço me chamar de idiota.
Mas valeu a pena.
Estou escondido em um canto sossegado da área de espera quando minha
mente envia flashes desta tarde, meras horas antes.

— Derek, venha e sente. Precisamos conversar. — O polegar do meu pai corria


ao longo do seu espesso bigode enquanto se levantava da minha cadeira de escritório.
Fechei a porta e me preparei para uma palestra sobre algo que ele pensa que eu
fiz ou não fiz.
Ele se sentou na ponta da minha mesa, as mãos cruzadas sobre o peito
apertadas duramente, seus olhos penetrantes e estreitos.
— Você está abrigando Serena Randall? — Meu pai não perdeu tempo.
— Estou.
— Por que. No inferno. Você faria isso? — Seus braços descruzam para o punho
poder bater na mesa de mogno. Um frasco de canetas agita e tomba. Ele apontou o dedo
polegadas do meu rosto. — Eu disse especificamente que você não devia se envolver
dessa maneira, e você me deu sua palavra, Derek. Prometeu que não cruzaria a linha.
E agora ela está morando com você?
Porra Demi.
Eu deveria ter dito a ela para não dizer nada, mas estava com tanta pressa para
sair de lá na outra noite que não tive a chance.
— Justice Harcourt nomeou nossa firma para lidar com a tutoria de Serena
Randall. Você sabe por quê?
Não respondi, assumindo que era uma pergunta retórica.
— Você sabe por que, Derek? — Suas palavras foram acompanhadas com um
spray de saliva. — Porque nós temos uma reputação íntegra. Uma que eu passei toda
a minha carreira construindo. Uma que eu me recuso a deixar você manchar porque tem
uma coisa por um pedaço de bunda sexy com uma gorda conta bancária.
Ele se inclinou mais perto, sua loção pós-barba queimando minhas narinas.
— Você percebe como isso parece? Deus o ajude se a mídia pegar um vento
disso. — Ele bateu o punho mais uma vez. — Não serei uma piada porque o meu filho
não pode manter seu pau em suas calças. E nem sequer me fale sobre as repercussões
profissionais das suas indiscrições. Jesus, Derek.
Entendi que meu pai estava chateado. Entendi que não havia mudado sua
percepção da verdade. E compreendi que não havia nada que eu poderia dizer ou fazer
para mudar o que já havia sido feito.
— Posso lhe assegurar, estou apenas buscando o melhor para ela. Não há amor,
não há romance, nada dessa natureza — eu disse. — Serena Randall é uma cliente e
apenas uma cliente. A reputação da empresa não está em risco.
Seu rosto suavizou apenas ligeiramente. Ele queria acreditar em mim. Mas
também odiava estar errado em suas convicções.
Ele deslizou da minha mesa, se erguendo, seus olhos redondos nunca deixando
os meus. — Não me ferre mais, Derek. Não se ferre mais. As mulheres não valem metade
do problema que são. Exceto sua mãe. Ela é uma maldita santa.
Exatamente. Ela era uma santa por aturar a sua bunda cabeça-dura nos últimos
trinta anos.
Meu pai foi para a porta, um sinal de esperança de que sua pequena palestra
finalmente chegava ao fim.
— Não — disse ele, apontando o dedo mais uma vez. — Não se envolva com ela.
Não admita a ninguém que ela está morando com você. Não cruze a linha.
Queria perguntar, — Ou o quê?
Mas já sabia a resposta.
— Você não tem nada com que se preocupar — eu disse. Independentemente de
tudo o que aconteceu ou vai acontecer, Serena deixou perfeitamente claro que não quer
nada comigo depois disso. Eu sou o advogado dela. Seu tutor. Nada mais. Nada menos.
— Não há nada entre a Sra. Randall e eu.
Nada mesmo.
— Bom. — Ele bufou. — Porque estou enviando a madrasta dela para você. Ela
apareceu chorando esta manhã, exigindo saber o paradeiro de Serena. Ela está
preocupada com a filha e a propriedade, e será você quem garantirá que isso não é o
que parece
A porta bateu.
Isso não foi coisa de Demi, afinal. Foi Eudora.
Cinco minutos depois, Gladys liberou a senhora Randall. Veronica Kensington-
Randall. Em pessoa. Todo um metro e setenta dela. Um metro e oitenta, se você contar
seus saltos de fundo vermelho.

Serena surge de um longo corredor branco, sua boca se transformando em um


sorriso calmo enquanto caminha para mim.
— Ele ficará bem — ela diz, exalando e sentando ao meu lado. — Ele tem uma
concussão da queda e algumas costelas quebradas. Estava com muita dor, mas estão
começando a amenizar isso para ele.
— Isso é bom.
— Obrigada. — Serena coloca a mão sobre a minha. — Obrigada por deixar
tudo e me trazer aqui. Significa o mundo.
Concordo com a cabeça, virando a página da revista que finjo ler.
— Ele ficará aqui por dois dias, pelo menos — ela diz. — Mas está em boas
mãos.
— Bom.
Seu rosto aperta. — Você vai parar? O que aconteceu com a regra de não
besteira? Você tem agido estranho desde que me pediu para ficar.
Dou de ombros. — Não faço ideia do que você está falando, Serena. Este sou
eu. Às vezes não estou com disposição para uma conversa. Não é um crime.
Suas pernas se cruzam, e ela se inclina na cadeira da sala de espera
desconfortável, sacudindo a cabeça.
— O quê? — Pergunto.
— Você apenas não é quem eu pensava que fosse.
— Isso é o que você ganha por pensar que entendeu alguém com menos de
duas semanas para conhecê-los. — Viro outra página. — Conhecer alguém leva um
longo tempo. E você poderia estar com alguém durante anos e nunca realmente
conhecê-lo. Mas eu discordo.
O estalar dos saltos no piso atrai nossa atenção para as portas de vidro
deslizantes da entrada. Veronica Kensington-Randall, ainda vestindo o traje Chanel
de tweed ridiculamente rosa de horas antes, vem como uma tormenta através do
lobby.
— Oh, Deus. — O corpo de Serena fica tenso. — Aqui vem a Bruxa Malvada
da Costa Leste.
Veronica nos vê imediatamente, e os punhos apertam em seus lados. Ela vem
em nossa direção, e se eu tivesse que adivinhar, ela está se ressentindo do fato de que
fomos capazes de chegar aqui primeiro. Talvez se não tivesse ficado rondando Rixton
Falls, tentando descobrir onde Serena estava, ela chegaria aqui mais cedo.
Recusei-me a dizer-lhe onde eu morava, nem confirmei que Serena estava, de
fato, ficando comigo. Se ela quer o meu endereço, ela pode sacar seu Mini iPad e fazer
uma busca rápida no Google como o resto do mundo.
E isso é o que há de errado com pessoas como ela. Elas têm direito. Elas dão
uma ordem e esperam que seja cumprido como se fôssemos todos gênios sob suas
ordens.
— Você de novo. — Ela bufa, revirando os olhos estreitados.
Ela não se importa muito comigo, especialmente depois da nossa pequena
reunião no meu escritório esta manhã. Meu pai queria que eu acalmasse as coisas,
mas ele esquece – meu trabalho é estritamente buscar os melhores interesses de
Serena. Veronica não é uma parte desse quadro, especialmente com toda a sujeira
que estou prestes a cavar em cima dela.
Simplesmente lhe assegurei que Serena estava em boas mãos. Sua
propriedade ficou praticamente intocada. E que ela não tinha nada com o que se
preocupar.
Então mostrei a saída para ela.
— Mais uma vez? — Pergunta Serena.
— Sim — digo. — Eu tive o nítido prazer de conhecer sua madrasta no início
desta tarde. Ela fez uma visita a Rosewood e Rosewood.
— Por que você faria isso? — Serena olha duro para Veronica.
— Estava preocupada com você. — Veronica cruza os braços contra o peito.
— Mentirosa. — O nariz de Serena enruga. — Você não aguentava perder o
controle sobre mim, mas eu tenho notícias para você...
— Serena. — Coloco minha mão em seu colo para silenciá-la. — Não diga mais
nada.
Veronica sorri, sua expressão excessivamente confiante. Muito autoconfiante.
— Mas... — protesta Serena.
— Como seu advogado, eu estou instruindo-a a não falar mais nada. —
Levanto, dobro o braço e me ofereço para escoltar Serena. Ela hesita antes de deslizar
a mão na dobra do meu cotovelo, os olhos vagueiam para Veronica e depois para os
meus. Viro-me para a senhora Randall. Seria tentador avisá-la, deixar escapar que
estamos no caminho certo para dissolver a tutela e que pediremos que o poder de
tomar as decisões médicas seja alterado.
Mas eu sei melhor.
Vamos manter nossos cartões perto do peito.
E quando chegar a hora, nós vamos ganhar.
Isto é, se eu ainda estiver representando-a até então.
— Tenha uma ótima noite, Veronica. — Puxo Serena para perto, e saímos de
Amherst Good Sam, voltando para Rixton Falls.
— Obrigada. — Serena me observa com o canto do olho enquanto nos dirigimos
para casa.
— Só faço o meu trabalho.
— Você é bom no que faz — diz ela.
Dou de ombros.
Ela me observa do assento do passageiro. — Gosto de ter você do meu lado.
CAPÍTULO 24

Serena
Estou bem acordada na noite de quinta, e é quinze para meia-noite. Agora
seria um grande momento para uma daquelas prescrições de ansiolíticos que Eudora
esteve empurrando goela abaixo semanas atrás, mas sei que estou melhor sem elas.
Derek esteve fora a noite toda. Ele saiu por um tempo para encontrar Royal e
comer um hambúrguer tarde da noite e beber cerveja, e não voltou desde então.
Pensando sobre isso, ele saiu a maior parte da semana. Trabalhando até tarde.
Saindo cedo. Tenho certeza que ele fez pelo menos sessenta horas esta semana, e uma
garota poderia pensar que ele a evitava se fosse uma garota muito insegura para seu
próprio bem.
Entretanto, recuso-me a levar isso para o lado pessoal. A vida é muito curta.
Quando o vejo, finjo que está tudo bem, porque se há algo que os Randalls são bons
é fingir que está tudo bem quando absolutamente não está.
Na maioria das vezes, de qualquer maneira.
Uma pilha de livros descansa perfeitamente na mesa de café. Eles são grandes.
Cheio de fotos de carros antigos e aviões. Fotografia de época. Os tipos de coisas que
fazem uma pessoa pensar muito.
É calmo aqui. Muito quieto. E não há nenhuma parte de mim pronta para cair
no sono ainda.
Quinze minutos atrás, eu passei pelos canais de TV de Derek, encontrando,
em sua maioria, comerciais e reprises de Friends, e optei para o som do silêncio ao
invés disso.
Decidi ir para casa neste fim de semana para visitar Poppy durante dois dias.
Não disse a Derek ainda.
Do nada, a porta se abre e Derek aparece na porta. As chaves penduradas em
suas mãos, balançando quando sai de seus sapatos. Ele está em jeans e uma camisa,
um traje casual para uma noite casual com só os caras.
— Como foi o jantar? — Pergunto, folheando um livro de Ansel Adams da mesa
de café. Lá vou eu, soando como esposa dele novamente.
Ele desaparece no apartamento, retirando as chaves e a carteira de seus bolsos
e colocando seu telefone para carregar na cozinha.
— Foi bom — diz ele.
— Como está Royal?
— Ele vai bem.
Mordo meu lábio para me impedir de dizer algo pelo qual vou me arrepender.
Não entendo como ele pode ser tão bom para mim, tão bom, e, em seguida, recusar-
se a participar de uma simples conversa. Pode me fazer bem dar a ele o benefício da
dúvida no momento. Talvez me irrite menos. Digo a mim mesma que ele está cansado
e deixo para lá.
— Por que você ainda está acordada? — Ele caminha pela sala, parando
quando alcança o sofá. — Você está sentada aqui no escuro?
Concordo com a cabeça, olhando para o livro cobrindo meu colo.
— Como você pode ver? — Ele chega mais perto, clicando em uma lâmpada e
luz suave inunda o espaço que nos rodeia.
— Obrigada.
— Quer companhia?
Meu olhar encontra o dele. — Oh. Hum. Certo.
— Isso é um sim?
— Sim. — Estudo seu rosto tragicamente lindo. Se apenas Derek Rosewood
fosse mediano e normal – por dentro e por fora – então talvez eu não estivesse olhando
para ele, desejando seus dedos no meu cabelo e seus lábios esmagando os meus.
— Você parece insegura.
— Só não quero aborrecê-lo com conversa trivial — brinco. Lambendo meu
dedo indicador, eu viro uma página.
Ele senta ao meu lado. — Meu tio Edgar me deu este livro bem antes de morrer.
E então ele me deu a câmera dele no testamento. A coisa esteve guardada no meu
armário por anos. Não pude levar-me a aprender a usá-la.
— Por que não?
— Não sei. Talvez eu vá quebrá-la. Talvez eu tire fotos de merda. Isso, e isso
me lembrar muito dele.
— Você está com medo.
— Não estou com medo. — Ele zomba.
— Meu Deus. Eu acho que finalmente descobri.
— Duvido.
Coloco minha mão no meu coração, viro meu corpo e então estou de frente
para ele. — Se algo deixa você desconfortável – fisicamente, emocionalmente, seja qual
for – você empacota-o e o coloca em uma prateleira para que não precise olhar para
isso novamente. Você finge que não está lá para que não precise sentir.
— Quão certa.
Reviro os olhos, batendo em seu peito endurecido. O tecido jersey de sua
camisa se apega a seus músculos, acentuando os picos e vales que eu só recentemente
comecei a desfrutar.
Sem perceber num primeiro momento, encontro-me sorrindo. Este é o Derek
que eu prefiro. Um pouco relaxado. À vontade. Disposto a conversar.
— Por que você está sorrindo assim? — Ele pergunta.
— Não estou. — Tento manter uma cara séria. E falho. — Desculpa. Tentava
fazer o que você faz.
— Que é o quê?
— Negar tudo — digo. — Você nega, nega, nega, mesmo quando a verdade te
encara descaradamente na cara.
Sua boca torce e ele balança a cabeça. — Na verdade não.
Cutuco seu ombro. — Você está fazendo isso agora.
— Negar uma falsa acusação é diferente de negar verdades autoevidentes,
Serena.
— Diga o que quiser, conselheiro.
Ele abre um meio sorriso, e quase compensa pelo resto deste dia horrível. —
Por que você me chama de conselheiro, de qualquer maneira?
— Porque é extravagante e dramático e você precisa se levar um pouco menos
a sério. — Levanto, sentindo uma pitada de calorosa sonolência caindo sobre mim,
mas os dedos de Derek seguram meu pulso, e ele me puxa para o seu colo. — Olá.
Minhas pernas escarrancham-no, e fico confortável. Eu poderia perguntar o
que ele está fazendo. Poderia fingir resistir. Mas não há motivos para lutar contra uma
batalha perdida. Nós dois sabemos como isso terminar, as intenções que se dane.
— Não estou pronto para você ir ainda. — Sua voz é baixa e gutural, e os
nossos olhos estão presos um no outro.
— Eu ia para a cama...
— Sim. — Suas mãos deslizam sobre minhas coxas, lentas e intencionais, e
ele segura minha bunda enquanto se levanta. — Mas você ia à direção errada.
Meus braços descansam em seus ombros, e ele me leva para o quarto, me
colocando na extremidade da sua cama king-size. Suas mãos trabalham seu cinto e
seu olhar me bebe. Ele se arrasta por cima de mim, e inalo o cheiro de colônia cara e
cerveja.
Seus braços me prendem, e me sinto segura. Dividida. Protegida.
Quando seu corpo encontra o meu, eu absorvo o peso dele, minhas mãos
avidamente puxando a bainha de sua camisa até que esteja sobre a sua cabeça. Seu
delicioso cabelo escuro está despenteado, e corro meus dedos por ele enquanto seus
lábios descem sobre os meus lábios.
As mãos de Derek escorregam entre a minha barriga e a dele, trabalhando nas
minhas leggings e puxando-as para baixo das minhas coxas enquanto se levanta
sobre mim. De joelhos, ele corre um dedo sob o cós da minha calcinha de renda,
deslizando-as sobre a minha pele antes de forçar para baixo de meus quadris.
Ele as desliza completamente pelas minhas pernas, atirando-as de lado e
voltando para mais. Minhas mãos trabalham em sua calça jeans, roçando o contorno
da dureza presa atrás da boxer de seda. Ele ganha vida quando finalmente o liberto,
e aperto minhas mãos contra o seu peito, silenciosamente pedindo para ele deitar de
costas.
Escarranchando suas coxas, eu me inclino e agarro a sua dureza em minhas
mãos, trazendo a ponta do seu pênis para os meus lábios e lhe presenteio com golpes
suaves, a minha língua passando por seu comprimento.
Suas mãos estão no meu cabelo, puxando, arrastando, orientando conforme
encontro um ritmo que parece ser melhor para ele. Faço uma pausa por um momento,
bombeando-o em minhas mãos, e olho em seu escuro olhar hipnótico.
Meu coração salta uma batida de forma cafona, e em vez disso, tento focar no
fogo queimando em meu núcleo.
Isto é físico. Não emocional.
Minha boca retorna à sua circunferência latejante, mas ele desliza a mão sob
meu braço e me puxa por cima dele. Eu o escarrancho, minha buceta dolorida
pastando seu pênis, pele tortuosamente para a pele. Ele está completamente focado
em mim, suas mãos cobrem meu peito e se deslocam para a minha bunda, provocando
antes de se arrastar para as minhas coxas.
Não tenho certeza de como fomos de mal falando a discutir fotografia, e a
enroscar nua em sua cama, mas acho que a resposta é irrelevante.
Aqui estamos.
Estamos fazendo isso.
Nada no mundo pode nos parar hoje à noite.
Sua mão esquerda levanta o meu queixo, segurando minha mandíbula. Seu
polegar traça meu lábio inferior, e ele leva minha boca para a dele.
— Cabeceira esquerda. Gaveta superior, — ele sussurra.
Eu me inclino sobre ele, puxando a gaveta, à espera de encontrar um estoque
de preservativos. Em vez disso, encontro brinquedos. Brinquedos para adultos.
Vários.
— Oh. — Faço uma pausa. Está escuro, mas essas coisas me encaram claro
como o dia.
— Deve haver uma caixa... — ele diz. — É roxa...
— Estou à procura de preservativos, certo?
— Sim.
Finalmente vejo a caixa roxa e arranco um pacote da faixa. — Aqui.
Ele rasga a folha entre os dentes, e movo de lado enquanto ele embainha a si
mesmo. Contei nada menos que dois pares de algemas. Algo de couro. Várias vendas.
Vibradores futurísticos, e alguns vibradores de néon extras.
— Você – você usa isso? — Pergunto quando ele me puxa sobre o seu colo.
Seus lábios entortam, e seus dentes perfeitos iluminando a escuridão. —
Serena.
As mãos de Derek apertam meus quadris, e ele orienta-me para ele. Deslizo ao
longo do seu eixo, suspirando enquanto ele me enche.
Com a mão na base do meu pescoço, ele puxa a minha boca para a dele,
depositando um único beijo. — Não uso isso com você porque não preciso. Você é o
suficiente. Você é tudo o que eu preciso.
Deixo uma cortina de cabelos esconder meu sorriso aliviado quando meus
quadris balançam para trás e para frente contra o seu pau grosso.
Ninguém nunca me disse que eu era o suficiente.
Ninguém nunca me fez sentir como se eu fosse o suficiente.
Eu levanto e salto, criando atrito e calor, me perdendo na escuridão de seu
quarto e na segurança de seus braços, nesse santuário temporário que eu nunca
pensei encontrar na pequena cidade de Rixton Falls.
Sua boca gananciosa só é comparável com suas mãos gananciosas, e ele é
dono de cada polegada de mim enquanto me concentro na sensação de sua carne
dura entrando e inundando-me uma e outra vez. Ele aperta um peito inchado,
levantando o mamilo à boca e sacudindo-o com a língua antes dos dentes arrastarem
sobre o broto sensível.
Não precisamos de conversa trivial quando nossos corpos podem falar tudo.
Meus quadris moem, lentamente, provocativamente. Quero que isso dure.
Quero que isso dure para sempre. Mas meu corpo está correndo freneticamente para
a linha de chegada.
Pressiono meus lábios na carne quente do seu peito liso, provando-o.
Devorando-o. Querendo me lembrar para sempre de tudo sobre este momento, porque
em algum lugar dentro de mim, estou convencida de que essa será a última vez.
Nós somos muito diferentes.
Seguimos dois caminhos completamente diferentes.
Vivemos em dois planetas completamente diferentes.
E um destes dias, se não tomarmos cuidado, vamos colidir.
Ele diz que não é do tipo que se estabelece. Mas não acredito nele.
Ele pode negar, negar, negar.
Mas eu sei.
Ele está caindo por mim.
E isso não acabará bem.
CAPÍTULO 25

Derek
— Falei com uma velha amiga no início desta semana. — Serena está em meus
braços, meus dedos traçando suavemente círculos em seu ombro, o que vai contra
tudo o que eu defendo.
Eu não abraço. Não sou doce. Não valorizo pequenos momentos silenciosos ou
anseio a sensação de uma mulher em meus braços pós-sexo.
Se fosse qualquer outra pessoa, eu estaria assistindo-a se vestir, lançando um
elogio ou dois para fazer uma média, e esperando ela calçar seus sapatos e caminhar
rapidamente para a porta.
Meu pau ainda está duro, ainda molhado da excitação dela. O cheiro de sexo
e inibições perdidas enche meus pulmões, e seu gosto permanece na minha língua.
— Ah, é? — Minha cabeça repousa contra um travesseiro.
— Voltarei para a cidade no sábado de manhã.
Meu olhar encontra o dela.
— Apenas para o fim de semana. Volto domingo. — Ela limpa a garganta,
pressionando a mão no meu peito e descansando sua bochecha lá. — É apenas algo
que eu preciso fazer.
Não acho que seja uma boa ideia, mas não é da minha conta. Ela é dona de si.
Pode fazer o que quiser.
— Meus amigos, eles sentem minha falta — diz ela. — Eles querem que eu
volte para casa. E eu sinto falta de casa também. Mas o tempo todo em que estava no
telefone, tudo que eu podia pensar era como eu ia sentir falta dessa pequena cidade.
— Ela ri. — O que é ridículo, porque estive aqui por tão pouco tempo. — Sua voz cai
para um suave sussurro. — E então eu me perguntava se seria de você que eu ia
sentir falta.
Ela se senta, colocando uma mecha de cabelos vermelho atrás da orelha.
Nossos olhos se encontram no escuro.
— E então eu percebi que seria ridículo, porque só te conheço a uma semana.
— Ela solta uma risada ofegante, nervosa, e seus olhos se movem para as mãos, que
estão malditamente perto de tricotar uma camisa neste momento. — Não sei por que
estou dizendo isso. Acho que o meu ponto é, eu não tenho ideia do que quero. E sei
que você me pediu para ficar em Rixton Falls um pouco mais. Com você.
Ela olha para mim, e o mundo para ao nosso redor.
— Não tenho ideia por que você quer que eu fique — ela diz. — Acho engraçado,
porque você passou todo esse tempo me dizendo para ficar longe, que você é incapaz
de ser qualquer coisa que eu preciso... e é realmente o contrário.
— O que você está falando? — Quebro o meu silêncio. Seus pensamentos são
como sementes de dente de leão espalhadas ao vento, indo a todas as direções.
— Você é Family Ties33 e eu sou Sex and the City. Nossos mundos nunca vão
se unir, não importa o quão quente o sexo é. — Seu cabelo cai sobre os ombros,
emoldurando seu bonito rosto. — E podemos fingir que o que quer que isso seja é
apenas sexo, mas ambos sabemos melhor. Este é um terreno escorregadio, Derek.
— Você queria isso — eu a lembro. — Lembra?
Serena se afasta, deslizando para mais perto da borda da cama, e esse
momento se desvanece diante dos meus olhos.
— Eu queria o que você oferecia. — Inclina a cabeça. — Você não deveria ter
me pedido para ficar, Derek. Isso não fazia parte do acordo. Isso... mudou as coisas.
— Explique
— Eu só queria me divertir com você. Não quero que isso se transforme em
algo...

33 Family Ties (Caras & Caretas no Brasil) é uma conhecida sitcom norte-americana da NBC,
originalmente transmitida na década de 1980, entre os anos de 1982 e 1989.
— Você está lendo muito nisso. — Eu gemo.
— Estou?
Nós nos sentamos em silêncio. Não posso responder a pergunta dela. Não
tenho uma resposta. Tudo o que sei é que nos últimos dois anos, toda mulher que eu
conheci era igual. Cópias em carbono de rainhas do drama. Comuns. Básicas.
Desesperadas para agradar. Desesperadas para serem amadas. E pela primeira vez
em muito tempo, eu conheci uma mulher que mexeu com algo na parte mais profunda
de mim.
Uma mulher que me fez questionar minhas convicções.
Uma mulher que me fez quebrar todas as regras que eu já coloquei.
Serena sai da cama, sem nem uma vez tirar os olhos de mim. — Eu voltarei
domingo à noite. Acho que nós poderíamos precisar desses dias longe de qualquer
maneira. Isto está apenas... movendo muito rápido. Tornando-se algo que nunca
deveria ser.
E assim, ela saiu.

Na sexta-feira, eu vou trabalhar cedo e sigo direto para pegar Haven à noite.
Sábado de manhã, eu acordo bem cedo e saio com minha filha para comer o café da
manhã, então não preciso assistir Serena sair.
CAPÍTULO 26

Serena
Sábado de manhã, sou recebida com gritos de alegria e uma Poppy pulando
em mim. Ela envolve seus braços magros em volta dos meus ombros e aperta.
— Acho que você sentiu minha falta. — Eu sorrio, quase engasgando com seu
perfume de gardênia, ainda me aquecendo na sua familiaridade.
— Não posso acreditar que você está aqui. — Ela se afasta, sorrindo de orelha
a orelha. E então faz beicinho. — Nunca fique tanto tempo longe novamente. Não está
certo. A cidade não foi a mesma sem você. Meus fins de semana não foram os mesmos
sem você.
— Acho difícil de acreditar nisso. Você sempre fez um bom trabalho de colorir
a cidade por si só.
— Ainda assim. Eu senti sua falta. — Ela engancha o braço no meu e me leva
para seu apartamento. — Vem. Sente. Vamos nos atualizar.
Poppy parece bem. O mesmo brilhante cabelo saltitante em um tom perfeito
de loiro Gwyneth Paltrow. O mesmo corpo de Pilates. O mesmo deslumbrantemente
sorriso branco.
Eu a sigo para a sala branca e afundo no sofá coberto de linho Chesterfield.
Ela assume a cadeira diante de mim, me estudando com uma testa franzida e uma
carranca.
— O quê? — Pergunto.
— Você parece acabada. — Ela diz isso de uma forma delicada, mas não
diminui o golpe.
— Eu tinha outras prioridades, P.
— Ainda. Quando foi a última vez que cortou o cabelo? E fez suas unhas. Essas
cutículas. — Ela franze o nariz. Com amor. Assim que ela é.
A primeira vez que encontrei Poppy estava na seção de sapatos na Bergdorf.
Nós duas queríamos a última bota de montaria Gucci tamanho 37. Não foi bonito no
início, mas de alguma forma, saímos de lá como amigas com um acordo de custódia
conjunta rabiscado no verso de um recibo enquanto fazíamos planos de nos encontrar
para almoçar.
— De qualquer forma. — Pops agita sua mão. — Estou te dando um dia de
mimos. Cabelo. Unhas. Facial. Massagem. Compras. Jantar e bebidas. Você estará no
céu, meu amor.
— Você é a melhor, P. Eu precisava tanto de um fim de semana de meninas.
Você não tem ideia. — Puxo minhas pernas para cima e relaxo. Seu apartamento tem
a melhor vista, e já fiquei aqui muitas, muitas vezes. Era como uma segunda casa
para mim por um tempo. Ainda parece ser.
Embora agora, está muito mais silencioso com Paige ausente.
Ela verifica o delicado Rolex em seu pulso esquerdo e acena para que eu me
levante. — Ok, nós precisamos ir. O nosso primeiro compromisso é daqui a quarenta
minutos.
Recolhemos nossas coisas e vamos em direção ao elevador, descendo para o
saguão.
— Algo está diferente em você. — Ela me estuda enquanto descemos para o
andar principal. As portas soam e abrem, e ela me observa com o canto do olho a
medida que avançamos para a porta giratória. Seu motorista está estacionado diante
do grande toldo verde.
— Tudo está diferente em mim.
Seus lábios torcem. — Não. Você tem um brilho sobre você.
— Sério? Porque há poucos minutos, você dizia e repetia sobre quão horrível
eu pareço.
Seu motorista abre a porta do passageiro e nós entramos, deslizando ao longo
do couro preto do banco de trás de seu Town Car.
— Não é isso. — Ela me estuda mais fixamente. — É como se você estivesse
iluminada por dentro. Você tem um brilho interno. Do tipo que você não consegue
com maquiagem.
Eu expiro, rindo. — Ok.
— Você está transando. — Ela bate em sua coxa magra. — É isso aí. Quem
você está fodendo, Serena?
Esfrego os lábios, reprimindo um sorriso Cheshire34. — Não seja ridícula. Com
quem eu me juntaria agora?
— Excelente pergunta — diz Poppy. — Importa-se de responder?
— Não.
Ela aperta a parte de trás do meu braço como uma criança de cinco anos de
idade, e a empurro.
— Quem você está fodendo? — Ela não vai desistir. Ela é um maldito cão com
um osso de carne. Poppy segura o queixo a la Sherlock Holmes. — Espera. Você está
morando com seu advogado agora...
Encaro a janela para que ela não possa ler minha expressão.
— Meu Deus. Você está fodendo seu advogado. — Poppy dá um pequeno salto,
como se acabasse de resolver o quebra-cabeça mais interessante do mundo. — Ele é
quente?
Não respondo.
— Olhe para mim. — Ela agarra meu ombro, me sacudindo. — Você não pode
me ignorar para sempre. Conte. Como ele é? Como se parece? Ele é bom na cama?
Como isso aconteceu?
Conhecendo Poppy, e sabendo muito bem que ela não vai desistir até conseguir
o que quer, eu respiro profundamente e me viro para ela.
Eu conto tudo.
E é bom colocar tudo para fora.

34 O gato de Alice no País das Maravilhas


É bom falar sobre ele, falar sobre alguns dos melhores dias no meu recente
passado.
E sorrio o tempo todo – o que quer que isso signifique.

Esta noite, eu sou uma nova mulher – por fora. Novo cabelo. Novas roupas.
Nova maquiagem. Esmalte fresco.
Poppy, dramática como é, tirou uma foto de antes e depois. Não tinha
percebido quão acabada eu estava até que as vi lado a lado. Mas em minha defesa,
estar escondida em Belcourt não exige um tratamento glamoroso diário.
— Como se sente, amor? — Poppy estica, esfregando meu braço. — Você está
in-crível.
Sorrio, olhando ao redor do Bar Gray lotado. Todo mundo está vestido com
esmero. Todo mundo está morrendo de vontade de estar aqui. Esta noite. Como se
não houvesse outro lugar mais importante para passar uma noite de sábado. Todo
mundo está aqui para ver e ser visto.
Meu corpo está coberto por um vestido marinho de bandagem, e saltos de
couro – que dizem foda-me – em um tom nude cobre meus suaves pés polidos.
— Esse vestido parece fantástico em você. Você perdeu peso? — Poppy
pergunta.
Meu olhar se volta para o dela, e pela primeira vez, eu percebo o quanto não
quero ter essa conversa. Há coisas mais importantes para falar do que peso, roupas
e aparência.
Eu era realmente insípida assim antes?
Cruzo as pernas e viro meu corpo em direção Poppy quando pedimos bebidas
no Bar Gray.
— Vamos falar de outra coisa — eu digo.
Um bartender usando um coque masculino com um rosto de bebê para na
nossa frente, batendo no balcão do bar e perguntando o que beberemos hoje à noite.
Poppy pede dois champanhes antes de eu ter a chance de protestar.
— Estamos celebrando hoje à noite. — Ela coloca a clutch35 na bancada e sorri.
— O que estamos comemorando?
— Um, o fato de você estar aqui. — Ela faz uma cara de boba, como se a razão
fosse óbvia. — E o fato de que iremos colocar sua vida de volta nos trilhos.
— De volta aos trilhos? — Repito. — Não sei, P. Estou em um lugar estranho.
Tentando descobrir o que eu quero. Onde quero ir. O que eu quero fazer. Fazendo-me
perguntas difíceis. E há tanta coisa que eu não te disse ainda...
O barman retorna com nossas bebidas, e nós levantamos nossos copos.
— À Serena, retornando para a sua vida — Poppy brinda. Ela ignora as minhas
palavras e bate sua taça na minha. Tomando um gole, seus olhos correm sobre o meu
ombro. — Ok, não me odeie. Não fique brava...
— Poppy. — Meu coração afunda, minha voz fraca em meu peito. — O que.
Você. Fez?
Ela desliza de sua banqueta com finesse e desaparece atrás de mim em um
mar de clientes arrumados demais, e quando vejo quem toma seu lugar, eu quero
vomitar.
— Serena. — Keir senta ao meu lado, puxando sua banqueta mais perto até
que seu joelho repousa contra a minha coxa.
Não posso respirar, e tudo gira. Quando viro para procurar Poppy, é tarde
demais. Ela está muito longe. E estou muito mais que brava com ela. Estou furiosa.
— Eu sei que você não esperava me ver hoje à noite — diz ele, inclinando-se.
Seus lábios escovam a minha orelha enquanto ele fala as palavras apenas para me
agradar. — E talvez eu não seja digno de estar em sua presença, mas eu precisava vê-
la. Serena, eu estava desesperado.
Eu me inclino para longe, agarrando o meu champanhe e engolindo o resto.
Essa fraca bebida não pode fazer muito por mim, mas é melhor do que nada.

35
— Estes últimos três meses sem voc, — diz ele, — foram pura tortura. Não fiz
nada, a não ser me chutar. Eu senti a sua falta, Serena. Peguei a melhor coisa que já
me aconteceu, e joguei fora.
Nada disso importa.
Está no passado.
Nunca esquecerei. Nunca darei uma segunda chance para ele.
Abro minha clutch e coloco uma nota de vinte sob a minha taça vazia,
deslizando do banco e caminhando rapidamente para o banheiro, a fim de poder dar
um telefonema e sair daqui.
Quando chego ao banheiro das mulheres, há uma fila de pelo menos uma
dúzia de mulheres, e Keir está a poucos passos atrás de mim. Quando me alcança,
ele conecta seu braço no meu e me puxa para o lado. As mulheres perto de nós notam,
banqueteando-se com o homem lindo de cabelo escuro penteado e ombros largos
envolto em um terno ridiculamente caro.
Sussurram uma com a outra. Apontando. Babando. Sorrindo. Fingindo por
um momento que elas são eu – a única destinatária da atenção total de Keir
Montgomery.
Se elas soubessem.
— Não corra. — Keir fecha o espaço entre nós, e encontro-me apoiada contra
uma parede. — Nós precisamos conversar.
— Não há nada para conversar.
Seu olhar segura o meu, recusando-se a me deixar ir. Odeio que depois de
tudo o que aconteceu, ele ainda possa exigir a minha atenção da maneira como fez na
primeira vez que nos encontramos em Washington, DC.
Eu fui visitar a minha prima, Araminta, e ela me levou para uma sala
subterrânea, conhecida apenas por um seleto grupo e quem é quem no mundo
político. No início, tudo o que vi foram homens vestidos em preto – agentes do Serviço
Secreto. Mas então eu o vi.
Ele me escolheu em um mar de mulheres, e quando olhou para mim, tudo ao
meu redor desvaneceu-se em ruído de fundo. Keir se aproximou de mim de uma forma
que nenhum outro homem se aproximou, com determinação em seu passo e más
intenções atrás de seu sorriso sexy. E quando falou comigo, eu acreditei em cada
palavra que ele disse. Eu derreti naquela noite, de uma forma que nunca derreti para
ninguém. Ele abateu a minha determinação, quebrou minha resistência, e reivindicou
o meu corpo não uma, mas duas vezes, em um apartamento com uma vista do
horizonte.
Mas ele não desapareceu na manhã seguinte como eu esperava. Ele ficou,
insistindo em trocar números. E veio para a cidade na semana seguinte.
Não conseguimos ter o suficiente um do outro.
Não era um relacionamento – era um vício.
Houve um tempo em que eu estava dependente da forma que Keir Montgomery
me fazia sentir. Eu dei todo o poder para ele. Dei o meu coração – o que marcou a
primeira vez que eu dera a alguém o meu coração. E andei cegamente em meio ao
caos e devastação que era o mundo dele.
Os tablóides nos amaram.
Eles escreveram artigos detalhando as relações e aventuras passadas dele, e
me rotularam como a garota que finalmente mudou Aquele que não pode ser mudado.
Eu era uma princesa americana obstinada, herdeira de uma fortuna e sem defeito. E
ele era um príncipe americano, filho do presidente. Conhecido por ser mulherengo e
galanteador. Estávamos ambos marcados publicamente como sem vontade de sermos
domesticados – até que nos encontramos.
Acreditava que o que tínhamos era especial.
— Serena. — Keir afastou meu cabelo do rosto, inclinando-se até que nossas
bochechas se tocaram. Suas mãos deslizam pelos meus braços, e meu corpo recua ao
seu toque. — Podemos ir a algum lugar e conversar?
— Não. — Balanço minha cabeça e o afasto. — Não há nada para conversar.
Agora vá. Você nunca deveria ter vindo aqui esta noite.
Enfio minha bolsa debaixo do braço e ensaio mentalmente todas as coisas que
eu vou dizer para Poppy quando alcançá-la novamente. Todo o dia foi programado por
ela. O Dia de Spa. O bar. Dizer a Keir onde estar e quando estar.
Isso é o que queria dizer sobre colocar a minha vida de volta nos trilhos.
— Eu ainda te amo, Serena. — Keir engancha as mãos no cinto, empurrando
o paletó para trás e mostrando seus quadris estreitos. Seu rosto se contrai. — Então,
eu apenas deveria deixá-la ir? Deixar você ir embora, apenas assim?
Sorrio. — Sim. Você fez isso uma vez. Tenho certeza que pode encontrar a força
para fazer novamente.
Eu passo por ele, através de dois agentes do Serviço Secreto que não vi antes,
e caminho rapidamente para sair do bar.
Através de uma tempestade de música pulsando e clientes conversando, ouço
chamarem meu nome mais e mais e mais.
Mas ignoro.
Vou sair, e ele não pode me impedir.
Dois táxis estão parados do lado de fora do bar, e rezo para que eu possa
chegar a um deles antes de mais alguém. Quando chego à porta da frente, um táxi se
afasta e um grupo de mulheres se aglomera do lado de fora do segundo.
— Serena! — Ele grita meu nome de novo, mais forte, mais intenso, recusando-
se a me deixar ir.
Vozes altas.
Luzes piscando.
Homens que não são Keir chamam meu nome, gritando perguntas em rápida
sucessão.
— Serena! Você voltou com Keir Montgomery?
— Serena, você perdoou Keir por te trair?
— O casamento está de pé?
— Serena, você pode me tirar uma foto?
— Olha aqui!
Estou cega pelo flash de pelo menos uma dúzia de câmeras dos paparazzi. A
multidão é tão espessa que mal posso percorrê-los. Clientes e fotógrafos me rodeiam,
bloqueando qualquer chance que tenho de sair, e para uma rua movimentada de
Manhattan, não há um único táxi à vista.
— Venha comigo. — Uma mão segura meu braço, mas estou cega pelo flash,
incapaz de ver quem está me puxando para o lado e para fora da loucura
descontrolada.
Meus olhos se ajustam a tempo de ver que estou sendo levada para um SUV
preto – um que já entrei muitas vezes. Um agente abre uma porta e Keir me ajuda a
entrar, e não luto contra isso, porque não é como se eu tivesse outra opção no
momento.
Brilhantes flashes iluminam o interior do banco de trás, apesar da tonalidade
escura nas janelas.
— Você está bem? — Ele pergunta, com a mão no meu joelho.
— Estou bem. — Rejeito seu toque, afastando-me. — Diga para me deixarem
no Gramercy.
Ficarei em um quarto hoje à noite, longe de Poppy, longe de Keir, longe de tudo
isso. E amanhã, eu voltarei para Derek em Rixton Falls.
Nunca fui de confiar em ninguém, mas agora, realmente seria bom uma dose
de sua calma. Apesar de tudo, ele foi a minha rocha desde o momento em que entrou
na minha vida.
Ele é a rocha que eu nunca soube que precisava – a rocha que eu nunca quis
precisar.
Ele é a calma em toda a loucura.
O peso do olhar de Keir me faz estremecer. Minha pele coça, como se fosse
alérgica a ele. Olho pela janela do passageiro e verifico se há placas de rua para medir
quão perto estamos de chegar ao hotel, e fico maravilhada com o fato de que ele não
está usando esse tempo para falar comigo.
O SUV para na entrada do Gramercy, e abro a porta antes que pare
completamente.
Keir corre atrás de mim. — Há algo que você precisa saber.
Eu paro, cruzo os braços e viro o rosto para ele. — Duvido disso.
Um táxi freia parando atrás do SUV, e um grupo de paparazzi sai. Os flashes
começam novamente. Tenho certeza que uma foto de Keir e eu vale um belo dinheiro,
considerando o meu colapso público, as fofocas e escândalos que provocaram o final
do nosso noivado.
Olho o lobby. Eles não são permitidos lá dentro. Eu preciso entrar.
Keir se aproxima, pressionando seu peito quase contra o meu e olhando
profundamente em meus olhos. — Eu te amo, Serena e eu errei. Admito. Assumo total
responsabilidade por arruinar o que tínhamos. Mas você deve saber que Veronica me
colocou nisso. Ela pagou a nós três um monte de dinheiro. Você foi sabotada.
Meu estômago cai. Eu vou vomitar. Olho para o olhar arrependido de Keir e
não sinto nada, apenas raiva inunda minhas veias. Eu bateria nele se não fossem os
fotógrafos.
— Você deveria ter me amado. — Levanto minha voz. — Como você pôde, Keir?
— Fiz a mesma pergunta para mim todos os dias. — Eu mal o ouvi com a
gritaria dos paparazzi. — Posso entrar e explicar? Eu vou te contar tudo o que você
precisa saber.
Cada parte de mim quer gritar com ele e dizer que não. Mas ele tem
informações que eu preciso. Informações que ajudarão Derek e nosso caso contra
Veronica.
— Desde que explicar seja tudo o que você pretende fazer. — Eu me viro e
caminho até a porta do lobby, pesco minha carteira da minha clutch e respiro
profundamente.
Sua mão encontra a base das minhas costas e ele sussurra em meu ouvido
que cuidará do quarto esta noite. E então me diz para ir até o bar, dizendo que eu
precisarei de uma bebida antes de começar.
CAPÍTULO 27

Derek
Deito minha filha no sábado à noite e fico ao lado da cama dela, observando-
a dormir por um minuto. Seu cabelo loiro branco está espalhado no travesseiro rosa,
e ela posiciona as mãos em forma de oração sob sua bochecha esquerda. Não me
importa o que alguém diz, Haven Rosewood é um anjo. Meu anjo. Assassinaria por
esta menina, o que diz muito, desde que eu trabalho para o lado certo da lei.
Passamos o dia inteiro juntos fazendo qualquer coisa que ela queria fazer.
Sorvete. Parque. Museu das crianças. Passeio de bicicleta com a avó Bliss. Pizza.
Legos. Barbies.
Dez minutos atrás, ela pediu para ir para a cama, e ela nunca faz isso.
Durante todo o dia, concentrei-me em minha filha, e fiz tudo ao meu alcance
para ignorar a avalanche de perguntas que eram como ruídos de fundo na minha
cabeça. Passei uma hora sentindo que eu precisava saber o que Serena estava
fazendo. Com quem ela estava. Se ela voltaria. E então me tirei disso, dei-me
mentalmente um discurso de ânimo, e me lembrei que a vida pessoal de Serena
Randall não é da minha conta.
Ela é minha cliente. Eu sou o advogado dela.
Não sou o namorado dela.
Nem quero ser o namorado dela.
Este é o tipo de merda que dá aos relacionamentos um mau nome. As pessoas
passam muito tempo fixando-se em outras pessoas, coisas fora de seu controle, e
nunca estão realmente felizes. Passam suas vidas viciadas em picos e vales, altos e
baixos.
Não é uma maneira de viver, e certamente não é a maneira que eu pretendo
passar o resto desta vida que eu tenho para viver.
Após fechar a porta de Haven, afundo na poltrona de couro na sala de estar e
pego meu telefone. Meus dedos pairam acima da tela enquanto verifico minhas
mensagens.
Tenho uma mensagem, mas não é dela.

KESLEY - Estou do lado de fora! Deixe-me entrar.


EU - Fora... Onde?
KESLEY - Sua porta, idiota. Depressa. Não estou ficando mais jovem.

Resmungando para mim mesmo, eu me levanto da cadeira e caminho até a


porta, olhando pelo olho mágico. Com certeza, lá está Kesley Black, ex-amiga de foda
extraordinária. Eu a conheci logo após o meu divórcio, ambos recentemente solteiros
e nenhum de nós em busca de qualquer coisa séria. Ela não é de Rixton Falls, mas
vem aqui a negócios ao longo do tempo, e sempre me procura quando está na cidade.
Kesley é a verdadeira definição de uma amiga de foda, e, nesse sentido, ela vale seu
peso em ouro.
Mas, pela primeira vez desde que a conheço, meu pau tem sequer uma
contração muscular quando olho pelo olho mágico e vejo a pequena roupa apertada
abraçando a superabundância de curvas que ela veste tão bem.
Abro a porta e ela mergulha em meus braços, pressionando os DDs contra
mim enquanto pula em seus saltos pontudos.
— Olhe para você! É possível que você tenha ficado mais bonito desde que o vi
pela última vez? — Suas mãos deslizam até meu peito e ela me inspira, levantando
na ponta dos pés para me beijar, mas não retorno. Kesley faz beicinho, um fio de
cabelo tingido de loiro caindo em seus olhos verdes. — O que está errado?
— Primeiramente, a minha filha está aqui, então você precisa falar baixo.
— Oh. Merda. Desculpe. — Ela morde o lábio. — Eu não sabia.
Nós entramos, e ela tira os saltos, instantaneamente perdendo dez centímetros
e ficando logo abaixo do queixo. Seu braço engancha no meu e ela me puxa para a
sala de estar, se sentindo em casa como fez dezenas de vezes antes.
— O que você está esperando? — Ela dá um tapinha no assento ao lado dela.
Eu hesito. — Kes, eu não estou no clima.
Ela faz beicinho, braços cruzando contra o peito, elevando-os ainda mais do
que estavam antes.
— Eu me arrumei toda para você. — Ela segura o pulso debaixo do nariz, e
move-o para o meu. — Usei até mesmo o seu perfume favorito.
— Foi uma longa semana. — Levanto minhas mãos atrás da cabeça,
entrelaçando os dedos e bocejando. — Estava realmente indo para a cama.
Seu rosto enruga. — Sério? Às nove horas de um sábado à noite?
— Certo.
— Não voltarei para Rixton Falls por mais dois meses. Você me deixará
esperando assim? — Ela faz beicinho novamente, do jeito que costumava fazer quando
a fazia implorar por meu pau. A menina tinha uma coisa para o jogo dominante e
submisso, e quem era eu para não satisfazer a fantasia de uma mulher? Kelsey lê
meu rosto por um momento. — Meu Deus. Você conheceu alguém.
— Não. — Balanço minha cabeça, olhando para longe dela e para a visão do
céu noturno atrás dela, e mais uma vez, encontro-me me perguntando o que Serena
está fazendo agora.
— Mentiroso. — Ela pega um travesseiro e atira em mim de brincadeira. —
Como ela é?
Eu sento ao lado dela, com as pernas abertas e as mãos apoiadas no meu colo
enquanto olho fixamente para a tela da TV piscando. Talvez se eu entediá-la até a
morte, ela vá embora por conta própria.
— Não há ninguém — asseguro-lhe enquanto percorro os canais.
— Tem certeza?
— Sim.
— Bom. — Ela sobe no meu colo, esgueirando os pulsos no meu pescoço. —
Eu não queria desistir de você para outra pessoa.
Kesley se inclina para um beijo, e sem pensar, eu me afasto.
O que diabos está errado comigo?
— Derek. — Ela senta-se ereta, seus braços caindo dos meus ombros. — Por
que está sendo tão estranho?
— Eu te disse. Não estou no clima.
Kesley sai do meu colo, caindo em uma piscina de rendição submissa entre
meus joelhos. Seus dedos perdem pouco tempo trabalhando o botão da minha calça
jeans. Meu pau só fica lá, recusando-se a se levantar.
Sua língua desliza ao longo de seu lábio superior. — Talvez eu possa colocá-lo
no clima...
Eu movo de lado, levanto e ajusto minha camisa bagunçada. — Kes, você
precisa ir.
Ela levanta lentamente, suas bochechas queimando. Tenho certeza que ela
está humilhada, mas é o que é. Eu tentei avisá-la.
Colocando uma mecha de cabelo loiro atrás da orelha, ela olha para mim com
os olhos cheios de lágrimas. — Você não me acha mais sexy?
Jesus Cristo.
É por isso que garotas como Kesley são estritamente amigos de foda. Não há
muito conteúdo, exceto um foco intensamente desnecessário no exterior.
Insípida.
— Você é sexy como o inferno, Kesley — eu digo, colocando minha mão em seu
braço.
— Há outra pessoa. — Sua voz falha, e vejo agora que ela nutria a esperança
de que o nosso pequeno arranjo um dia se transformaria em algo mais. Nunca vi isso
vindo. Ela sorri com os olhos enevoados. — Certo. Bem. Só espero que ela te faça feliz.
Não respondo, escolhendo nem confirmar nem negar suas alegações.
— A vida é muito curta, certo? — Ela funga, roçando a ponta do seu nariz
contra a parte de trás da sua mão e olhando para mim como se desejasse que fosse a
vez dela. — Se você encontra alguém que faz você quebrar as regras, você precisa
segurar e nunca deixar ir.
Concordo. — Algo parecido.
Porra. Mais parecido com tudo assim.
— Se cuide, Derek. — Ela se move em direção à porta, calçando seus saltos
foda-me, e se vira para mim, levantando a mão até a minha bochecha. — Ela é uma
mulher de sorte, quem quer que seja. Só me prometa uma coisa.
— O que?
Ela coloca um dedo contra o lado esquerdo do meu peito. — Se você realmente
se importa com ela, deixe-a entrar aqui.
Coloco minha mão sobre a dela e a afasto. Não deixei ninguém entrar aqui em
mais de dois anos, e sequer estou certo que essa coisa estúpida ainda funciona.
— Obrigado pelo conselho, Kes. — Infelizmente, não vou precisar dele.
— Se eu soubesse que fevereiro seria nossa última vez, eu teria usado aquela
estúpida fantasia de empregada doméstica francesa que você sempre quis que eu
vestisse. — Ela ri, seus olhos verdes se iluminam. Tudo sobre Kesley é bonito e
simples, e apesar de nunca tomar um tempo para conhecê-la muito bem, tenho
certeza que um dia ela encontrará um homem de muita sorte.
— Espero que você encontre o que procura — digo. — Me desculpe, eu não
poderia dar o que você queria.
— Sem arrependimentos. — Ela encolhe os ombros, sorrindo, e alcança a
porta.
E com isso, o meu acordo com Kesley Black foi oficialmente dissolvido.
Vou para cama, colocando o meu telefone no criado mudo, e o verifico uma vez
última vez, como um idiota doente de luxúria, e não encontro nada. Rolando para o
local onde reivindiquei o corpo de Serena em outra noite, eu pego o travesseiro no
qual ela enterrou a cabeça quando entrei por trás dela. Cheira a ela. Agarrando o
tecido felpudo, eu o lanço pelo quarto.
Não estou bravo com ela.
Estou com raiva de mim e minha ridícula incapacidade de puxar minha cabeça
para fora da minha bunda e parar de me lastimar como um imbecil.
CAPÍTULO 28

Serena
Terminamos nossas bebidas no bar e seguimos até a suíte que Keir reservou
para falar em privado. Sento-me no lado mais distante de um sofá e cruzo as pernas,
sintonizando minha completa atenção em sua direção.
— Tudo bem — eu digo. O coquetel que acabei de desfrutar corre em mim,
deixando tudo quente e leve, apesar dos acontecimentos desta noite. — Conte-me
tudo. E fique desse lado da sala. Não acho que você seja capaz de manter suas mãos
para si mesmo hoje à noite.
Keir mistura um Belvedere e refrigerante do mini-bar e se aproxima. Ele desliza
o paletó dos ombros e se senta em uma mesa para dois a uns sólidos dois metros de
distância, sem tirar os olhos de mim. A maneira como ele me bebe me faz desejar o
tempo em que éramos felizes, quando o nosso amor era brilhante e novo, e quando os
nossos futuros eram um delicioso devaneio que rapidamente moldávamos em
realidade.
— Fiz muitas coisas das quais não me orgulho. Nunca aleguei ser perfeito.
Tenho um número vergonhoso de arrependimentos para um homem da minha idade.
— Keir gira um copo de cristal entre o polegar e o indicador, afastando o olhar por um
segundo antes de voltar seus olhos azuis oceano na minha direção. — Mas machucá-
la? Esse é o maior arrependimento de todos eles.
— Se você está tentando conseguir a minha simpatia, não está funcionando.
— Minhas palavras são secas e insensíveis, e ele merece cada uma delas.
— Veronica se aproximou de mim há alguns meses. — Ele limpa a garganta,
tomando um gole de sua bebida. — Ela me pediu para jantar com ela porque tinha
uma proposta para fazer. Achei que tinha a ver com o casamento, e como um
obediente futuro genro, eu concordei.
Ele abaixa a cabeça, correndo o dedo ao longo de sua testa.
— Em vez disso — ele diz. — A proposta dela envolveu me pagar para ter
relações sexuais com duas amigas suas e garantir que você visse. — Ele balança a
cabeça, bufando. — Quinze milhões de dólares para comprar a minha infidelidade.
— Jesus, Keir. Por quê? — Meus lábios tremem. A dor familiar no meu peito é
o meu coração quebrando novamente. — Você sabia que eu tinha dinheiro. Você se
casaria comigo. Você não precisa do dinheiro. Cristo, sua família tem dinheiro. Eu
significo tão pouco para você?
— Não, não. — Sua mandíbula aperta. — Você significava o mundo para mim,
Serena. Você ainda significa.
— Não entendo por que você concordaria com algo assim, especialmente
quando não estava exatamente falido em primeiro lugar.
— Minha família tem dinheiro, com certeza, mas não verei uma onça dele até
que eles estejam mortos, e vamos admitir, Montgomerys tendem a viver eternamente.
— Ele suspira, como se fosse uma coisa ruim. — E honestamente, secretamente eu
me ressentia por você ter que cuidar de nós depois que nos casássemos. Eu queria
trazer algo para a mesa. Não queria ser um sanguessuga patético.
— O que fez você pensar que eu ainda me casaria após encontrar você fodendo
duas das minhas melhores amigas?
Ele balança a cabeça, puxando o lábio inferior entre os dentes e soltando uma
risada derrotada. — É exatamente isso. Eu não estava pensando. Acho que eu fiquei
cego com os cifrões, porque eu realmente acreditava que você me perdoaria. Pensei
que nosso amor era poderoso o suficiente para passar por isso. Pensei que seria um
pequeno contratempo.
Faço uma cara feia. — Um pequeno contratempo. Você está brincando comigo?
— Eu sei. Estava tão envolvido na oferta dela que não pensei. Apenas aceitei.
E você deve saber que Natasha e Tenley não são suas amigas, porque elas não bateram
um cílio quando apresentei a ideia a elas.
Eu ronco, cutucando um fio no braço do sofá.
Cadelas.
Embora, acho que eu poderia dizer agora que elas me fizeram um grande favor.
Eu teria casado com um homem estúpido o suficiente para afirmar que me ama e
imprudente o suficiente para pensar que eu perdoaria suas indiscrições egoístas.
Olho ao redor da sala, meus olhos sobre as lâmpadas caras e o moderno papel
de parede, e nada disso me faz sentir em casa.
Se eu pudesse estar em qualquer lugar agora, eu estaria descansando no sofá
de Derek, no apartamento dele, implicando com ele e fingindo que não estava
loucamente atraída por ele e a dois segundos de saltar sobre ele.
— Por que Veronica iria fazer isso comigo? — Olho para Keir, que está
desanimado cuidando de sua bebida como se ele fosse a vítima.
— Não sei, Serena. Acho que ela queria apenas te ferir. Tirar a única coisa que
você já amou. Ela queria que você desmoronasse. — Ele suspira fortemente, olhando
para mim novamente. — E isso é exatamente o que você fez.
CAPÍTULO 29

Derek
Pingos de suor se formam em minha testa quando volto da minha corrida
domingo à noite. Levei Haven para sua mãe mais cedo, e voltei para uma corrida,
porque, aparentemente, eu precisava de mais do que uma viagem de duas horas para
limpar a minha cabeça.
Removo minhas roupas e entro no chuveiro, minha respiração estabiliza e os
meus pensamentos, finalmente, limpam, e quando saio, meu telefone está vibrando
contra o balcão banheiro.
É Demi.
— O que está acontecendo? — Atendo, vapor nublando minha tela quando o
coloco em viva-voz. Agarrando uma toalha, eu me seco e a envolvo confortavelmente
ao redor da minha cintura.
— Graças a Deus você atendeu. — A voz de Demi está ofegante, e meu coração
afunda.
— O que? O que é? — Não suporto quando ela faz isso comigo e ela sabe disso.
— Você já ouviu?
— Ouvi o quê? — Minhas mãos apertam minha toalha até que meus dedos
estão brancos.
— Estou on-line — ela diz. — Há esta história pipocando. E imagens. De ontem
à noite.
— Sobre o que?
— Serena.
Há uma sensação de aperto no peito que leva toda a força que tenho para
ignorar, e uma mistura de emoções roubam as minhas palavras e me deixam
temporariamente sem palavras.
— Está tudo no site da Page Six. Radar Online. TMZ. — Demi exala no telefone.
— Aparentemente, Serena estava com Keir Montgomery na noite passada. Há fotos
deles saindo de um bar e indo para o Gramercy Hotel. Você sabia que ela voltaria para
a cidade para vê-lo?
Vejo vermelho por um momento. E depois preto. Não tenho certeza de quanto
tempo passa, mas termina quando ouço Demi repetindo meu nome mais e mais.
— Ainda estou aqui — eu digo.
— Ok, porque há mais.
— Jesus Cristo.
— De acordo com uma fonte, Page Six diz que Serena esteve fisicamente
envolvida com o tutor dela, advogado Derek Rosewood, de Rosewood e Rosewood, LLP.
— Foda-se. — Bato meu punho contra o granito, mas não sinto nada.
É exatamente por isso que eu não queria me envolver.
Relações sexuais advogado-cliente violam os código modelo e Regras Modelo.
Isto é ruim. Isto é muito, muito ruim. E eu sabia melhor. Porra eu sabia
melhor.
— Obrigada pelo aviso, Dem. — Termino a chamada e tento terminar de me
arrumar enquanto simultaneamente assimilo as fotos de Serena e Keir que enchem a
internet.
Em uma foto, em frente ao hotel, a mão dele descansa na parte inferior das
costas dela e ele está se inclinando para perto, sussurrando no ouvido dela.
Não consigo pensar direito.
Não posso ver direito.
E quando finalmente saio do meu quarto, a primeira coisa que vejo é ela.
CAPÍTULO 30

Serena
— Hey. — Estou em pé no meio do foyer do apartamento dele, o meu coração
se recuperando do salto que levou quando ouvi o barulho da maçaneta. Eu estive aqui
por pelo menos, meia hora, e não tinha certeza se ele estava se escondendo de mim.
Ou se ouviu as últimas fofocas.
Derek passa por mim, caminhando para a cozinha e mais ou menos fingindo
que não estou lá.
— Você e Haven tiveram um bom fim de semana? — Eu sigo, falando para as
costas dele.
— Por que você está aqui?
Minha mão levanta lentamente para o meu peito. — Me desculpe?
Quando ele se vira para mim, sua expressão é dura, preenchida com o tipo de
ressentimento que ele provavelmente reserva para a ex-mulher.
— Você foi à cidade para ver o seu ex — diz ele. — Aquele que te fodeu.
Eu rio. Ele viu os artigos. — Eu posso explicar.
— Isso não será necessário.
— Claramente, você leu os artigos, e você sabe tão bem quanto eu que eles
simplesmente escrevem o que querem escrever. — Eu contorno a ilha da cozinha e me
aproximo. — Tudo o que vende. Não precisa ser verdade.
— Eu vi as fotos. — Ele se afasta de mim, sua mandíbula treme e aperta. —
Mas isso não importa, porra, porque você não é minha. Você não pertence a mim. Não
sou seu namorado. Mas diga-me, Serena, porque Page Six está relatando que você
tem um relacionamento sexual com seu advogado? Você entende o que isso significa?
O que isto poderia potencialmente fazer para a minha carreira?
Eu me inclino sobre a borda da ilha, cotovelos e rosto enterrado nas mãos. —
Sinto muito, Derek.
— O que diabos você fez, Serena? Para quem você disse? Por que você...
Eu me atrevo a olhá-lo nos olhos. Para encarar o que eu fiz. — Assumo total
responsabilidade.
— Quão honrosa você é. — Ele se move para a pia, de costas para mim mais
uma vez.
— Eu fui à cidade para visitar Poppy. Ela é uma das minhas melhores amigas.
— Eu exalo. — Era. Era uma das minhas melhores amigas.
— Sabe, realmente não importa uma porra neste momento. — Ele dá uma
espécie de meio sorriso. — O dano já foi feito. Só é preciso que uma pessoa apresente
uma queixa contra mim, e uma investigação será iniciada.
— Não podemos simplesmente negar tudo?
— Sim, porque advogados mentindo durante a sua própria investigação não é
cem por cento de motivo para exclusão permanente.
— Estávamos tendo um fim de semana de meninas — eu digo. — Foi bom falar
sobre algo bom para variar, e falei sobre você. O quanto nós nos divertimos. Como
você é maravilhoso na cama...
— Nem venha com essa.
Eu o ignoro porque ele precisa ouvir isso, e esta pode ser a última vez que eu
tenho a chance de dizer a ele.
— Saímos para beber na noite passada. Keir apareceu. Poppy o avisou — eu
digo. — Aparentemente, eles estavam conversando, e ela queria voltássemos a ficar
juntos. Ela pensou que estava ajudando. De qualquer forma, Keir não me deixava em
paz. E os paparazzi apareceram, e eu não tinha como sair de lá, então ele me deixou
em um hotel.
Derek ri. Ele não acredita em mim. E isso é justo. Sei quão inacreditável minha
história parece, mas cada palavra é verdade, ele que escolha acreditar ou não.
— Quando eu ia embora, ele me parou. Disse que tinha uma confissão a fazer
— continuo. — Eu o deixei subir para que pudéssemos conversar em privado.
Ele me encara, seus lábios perfeitos torcidos em um sorriso de escárnio. —
Pareço tão ingênuo para você, Serena?
— Ele me disse que Veronica armou tudo. Ela pagou quinze milhões de dólares
para ele me trair e garantir que eu o pegasse. Ela queria que eu visse, para ficar
chateada. Ela queria que eu ficasse desequilibrada para colocar as rodas do seu plano
mestre em movimento.
— Oh. Ok. Então, eu entendo. Desde que ele foi subornado, está tudo bem
agora. Você vai perdoá-lo. Voltar para a sua antiga vida e aquelas desovas de Satanás
dos seus amigos. Boa porra de viagem.
Minhas sobrancelhas arqueiam e se encontram, e me aproximo dele. Algo
assume o controle. Não sei o que é. Tudo o que sei é que em segundos, a palma da
minha mão está ardendo do tapa que eu acabei de dar nele, e ele fica ali, estóico e
imóvel, aceitando-o como um homem sem alma.
— Não — eu digo. — Não torna tudo bem. Eu não o perdoei. E não dou
segundas chances.
Antes que ele tenha a chance de responder, estou na porta. Saindo.
No momento em que alcanço a calçada do apartamento dele, percebo que não
tenho nenhuma bolsa. Sem carteira. Sem telefone.
Não tenho ideia de para onde ir, mas não posso voltar lá. Derek não está em
um estado de espírito em que eu posso argumentar com ele, e ele tem todo o direito
de estar com raiva de mim. Sua carreira está em jogo, e pelo quê?
Porque eu egoisticamente o seduzi.

Meu pé dói em minhas sapatilhas, e uma brisa sopra minha blusa enquanto
ando pelas calçadas do centro de Rixton Falls.
Não sei onde estou ou o que horas são. Só sei que ainda não estou pronta para
voltar.
O barulho de pneus no cascalho chama a minha atenção para um pequeno
carro parado na rua, e a janela do lado do motorista rola para baixo.
— Serena? — Chama uma voz de mulher.
Após a olhar mais de perto, eu reconheço a motorista imediatamente.
— Demi. — Ando na direção dela e forço um sorriso no meu rosto.
— O que você faz aqui? Onde está meu irmão?
— Só estou andando. Ele está em casa.
Ela me estuda, franzindo a testa. — O que ele fez agora?
Eu ri. — Está tudo bem.
— Você parece triste. Ele foi um idiota, não foi? O que ele fez? — Seu rosto cai.
— Isto é por causa das imagens, não é? Os artigos?
Meu lábio inferior treme. — Ele não fez nada. Fui eu.
Demi enruga seus lábios. — Entre. Vamos conversar.
Dirigimos pelo que parece horas, e Demi fala sobre quão difícil seu irmão pode
ser, como ele necessita que uma pessoa especial lhe dê uma chance, em primeiro
lugar, como ela só o ama porque ele é família e se ele não fosse, ela o rotularia de um
idiota gigante que só se preocupa com sua carreira e sua filha. Ela diz que está dizendo
a ele durante anos para se abrir um pouco mais. Para ser mais agradável. Para deixar
as pessoas entrarem. E então ela me diz sobre o divórcio e Kyla e como a única vez
em que ela o vê sorrir mais é quando ele está com Haven.
E então ela me diz que se eu quiser voltar com Keir, que eu não deveria deixar
Derek me dissuadir. Que eu sou dona de mim, e preciso fazer o que é melhor para
mim.
— Obrigada, Demi. Mas você precisa saber, eu não voltei com Keir — eu digo
depois de um tempo. — E, na verdade. Derek não fez nada. Fui eu.
— Psh. — Ela golpeia o ar. — Meu irmão não é perfeito. Você não precisa arcar
com a culpa. Cada briga é meio a meio. Isso é o que nosso pai sempre diz.
Olho pela janela por um momento, recolhendo meus pensamentos.
— Posso ter dito a uma amiga sobre... nossas indiscrições. — Engulo a bola
sólida na minha garganta. — E ao que parece, essa amiga não era uma amiga tão boa
depois de tudo, porque ela vendeu essa informação.
Demi inala rapidamente, a mão sobre a boca. — Que terrível, Serena.
— Então, Derek está chateado — digo. — E com toda razão. Ele estava com
tanta raiva. Realmente não quero voltar para lá. Acho que deveria dar espaço para
ele.
— Pra onde você vai?
— Não tenho ideia. Todas as minhas coisas estão lá. Minha carteira. O meu
telefone. — Descanso meu cotovelo contra a porta e pressiono minha testa contra a
minha mão. — Ele estava furioso, e eu não pensei. Eu corri.
— Você ficará comigo. — Demi para em um sinal de Pare e se vira para mim.
— Não posso fazer isso com você.
— Eu insisto. — Ela balança a cabeça. — Você pode ficar com a gente, o tempo
que precisar. E amanhã, quando meu irmão estiver no trabalho, eu a levo a casa dele
para você poder entrar e pegar suas coisas.
— Uau... Obrigada, Demi. É muito amável.
Ela sorri, seu olhar suave e maternal, e imediatamente desejo que nós
fôssemos melhores amigas. Tudo nela é genuíno e doce, e nenhuma vez ela comentou
sobre qualquer coisa remotamente relacionada à minha aparência.
— Não é nada. — Ela golpeia a mão e vamos para a casa dela.
Não tenho certeza de quando verei Derek novamente, mas a este ritmo, não
tenho certeza se ele alguma vez vai querer me ver novamente.
CAPÍTULO 31

Derek
Quatro dias atrás Serena saiu do meu apartamento.
Três dias atrás eu voltei do trabalho para encontrar o quarto de hóspedes
vazio.
Dois dias atrás, por um capricho e depois de consumir nada menos que seis
garrafas de Heineken, eu liguei para cada hotel em um raio de cinquenta quilômetros
para ver se ela estava em algum.
Ela não estava.
Ontem meu pai foi forçado a me colocar em licença remunerada durante a
investigação de terceiros de uma queixa apresentada contra mim por dormir com uma
cliente.
Pelo o que sei, Serena fez as malas e voltou para a cidade. Provavelmente está
com aquele playboy imbecil que é incapaz de tirar uma foto que não inclua seu usual
sorriso maroto.
Mas ela não é oficialmente o meu problema mais.
Sua tutela foi passada para uma advogada associada do escritório, e ela lidará
com a petição de Serena daqui em diante.
Para todos os efeitos, já não estou amarrado a Serena Randall, embora os
tablóides não parem de falar sobre nós desde domingo. Rumores e especulações são
tudo que eles têm. Uma revista chegou a publicar uma foto antiga do meu anuário e
entrevistou uma mulher que eu nunca conheci que supostamente era uma ex-
namorada da faculdade.
Mas nada disso importa.
O dano está feito.
Estou sob investigação, e meu nome está ligado ao dela da pior maneira
possível.
Tudo que eu tinha que fazer era dizer não.
Mas uma dose de Serena Randall foi o suficiente para me tornar um viciado
insensato.
CAPÍTULO 32

Serena
Já passaram duas semanas desde que eu saí do apartamento de Derek, e uma
semana atrás, eu recebi um telefonema de uma advogada chamada Shayla que
trabalha na empresa dele. Ela disse que meu caso foi passado para ela, e não pedi os
detalhes.
Não precisava.
Ele não quer ter nada a ver comigo.
E não posso culpá-lo.
Nossa audiência foi na sexta-feira e, a partir daquela tarde, eu estava
oficialmente livre dos grilhões da ridícula tutela.
— Você está arrumando suas coisas? — Demi fica na porta do quarto na
pequena casa que divide com o namorado. O quarto é pequeno, mal cabe uma cama
de casal, mas foi um dos lugares mais acolhedores que já chamei provisoriamente de
casa.
Não quero ir.
— Estou — eu digo.
Demi faz beicinho. — Foi tão bom ter você por perto.
— Obrigada por me deixar ficar aqui — digo. Todas as vezes que protestei por
sua bondade e insisti em procurar um hotel, Demi se recusou. E por isso, eu sou
grata, porque estar sozinha com os meus próprios pensamentos nestas últimas
semanas provavelmente não teria sido a melhor coisa para mim.
— Vamos à casa dos meus pais hoje para brunch. — O rosto de Demi se
ilumina. — Minha mãe faz os melhores rolos de quiche e canela, e minhas irmãs estão
na cidade, e sei que adorariam conhecê-la.
Minha respiração pega na minha garganta, porque a primeira coisa que vem à
minha mente é o pensamento de ver Derek novamente.
Eu não posso.
Não posso ir lá sabendo que eu poderia vê-lo, sabendo que o simples
pensamento dele faz meu estômago torcer em uma centena de nós.
Minhas mãos se fecham quando dobro minhas roupas e as coloco
ordenadamente no fundo da minha mala. — Não posso me aproveitar.
— Você não iria se aproveitar. Minha mãe adora cozinhar para visitas. Ela
estaria radiante. — Demi entra no quarto, sentando na extremidade da cama. — E
meu pai é... ele é muito parecido com Derek. Ele é acaba gostando. Mas é inofensivo.
Ele vai te amar. Sério.
— Demi. — Suspiro, sentindo meus olhos arderem. Tento piscar as lágrimas,
mas é tarde demais.
No outro fim de semana, Demi tentou me convencer a participar da festa de
aniversário de Haven. Aparentemente Haven falou sobre mim novamente,
perguntando se eu ia. Quebrou meu coração, mas eu simplesmente não conseguia.
Não podia deixar as coisas estranhas e desconfortáveis, e não estava inteiramente
certa que Derek gostaria de me ter lá de qualquer maneira.
— Se isto é por causa de Derek — Demi se arrasta mais perto, as pernas
cruzadas e inclinando-se, — eu acho que ele não está na cidade, querida. Pelo que
fiquei sabendo, ele viajou por um tempo.
Levanto uma sobrancelha. — Sério?
Dei a Demi ordens estritas para não contar a Derek que eu estava com ela, e
disse a ela para não mencionar o nome dele perto de mim, a menos que fosse
absolutamente necessário. Não queria tornar as coisas mais difíceis do que já eram.
— Sim. — Demi franze o canto dos lábios. — Disse que precisava se afastar
um pouco. Fazer algumas reflexões. E deixe-me dizer, esse é não meu irmão. Ele não
foge assim. Algo deve estar realmente incomodando-o.
— Para onde ele foi?
— Nova York. — Demi exala, inclina a cabeça e olha sorrindo para mim. — E,
Serena?
— Sim.
— Meu irmão odeia a cidade.
CAPÍTULO 33

Derek
Vários dias em Manhattan não é a minha ideia de um período de férias, mas
não estou prestes a admitir que fui na esperança de poder encontrá-la.
Eu fui capaz de encontrar um hotel com um spa de bem-estar anexado, e
passei a maior parte da minha estadia recebendo massagens e aterrando meu centro
nestas ridículas sessões de meditação que foram incluídas no meu pacote de bem-
estar.
Eu me senti um idiota, e posso ou não ter feito piadas o tempo todo, mas
depois de tudo o que aconteceu nas últimas duas semanas, eu percebi que poderia
precisar de algum tipo de tranquilidade na minha vida.
Parti um pouco renovado e revigorado. E durante a maior parte, não estive
consumido com tudo sobre Serena Randall.
Às onze horas da manhã de domingo, eu estaciono na garagem de meus pais.
Eles não estão me esperando, mas os conheço. Neste momento mamãe está servindo
o brunch desde que me lembro, e minhas irmãs mais novas estão na cidade.
Um momento em família deve me fazer algum bem.
Vejo o carro de Demi estacionado na rua quando vou até a passarela, e meu
pai me cumprimenta das cadeiras de Adirondack vermelhas na varanda da frente.
Royal está sentado ao lado dele, aparentemente verificando as estatísticas de beisebol
em seu telefone.
— Derek.
— Oh, hey — eu digo. — Não vi vocês aí. Por que não estão lá dentro?
— Só vim aqui para ter alguma paz e sossego.
Royal revira os olhos. — Bando de Fofoqueiras lá dentro.
Papai levanta a mão e finge que elas estão conversando. Seu olhar estreito se
move para o meu, e ele sorri. — Não ajuda que há um bônus na mistura de hoje. É
como uma maldita irmandade lá dentro.
Olho para Royal, em seguida, para o meu pai, e minhas sobrancelhas se
encontra no meio. Royal olha para o meu pai e minha paciência diminui.
— O que vocês não estão me dizendo? — Coloco a minha mão no quadril assim
que a porta da frente se abre.
— Eu deveria avisá-los que o brunch está pronto. — Serena me vê e congela,
sem piscar.
E o meu coração deixa de bater em meu peito.
Antes que eu tenha a chance de reagir, ela se foi. A porta se fecha.
— Aí está sua resposta. — O tom de Royal é meio-seco, meio divertido.
— O que ela faz aqui? — Aponto a minha pergunta para ambos, virando em
direção ao meu pai. — E como você está bem com isso?
Papai dá de ombros e levanta. — Aparentemente, ela está morando com Demi
e Royal nas últimas duas semanas.
— Você está brincando comigo, Royal? — Cuspo o nome dele. — Você não
poderia ter me contado?
— Eu estava sob ordens estritas. — Suas sobrancelhas se levantam. — Ela
não queria que você soubesse onde estava. Eu tinha que respeitar isso.
Papai se move para o meu lado, me examinando, parecendo estar a dois
segundos de outro sermão.
Só que ele inspira, conecta uma mão em seu cinto, e então levanta a outra
para o meu ombro, apertando.
— Não estou sempre certo sobre tudo — papai diz, seus lábios sobressaindo.
— Na maioria das coisas. Mas não tudo. E como eu descobri à medida que estou
ficando mais velho, eu não sou o melhor conselheiro onde os corações estão
envolvidos.
Ele se encaminha para dentro, e fico com Royal.
— O que diabos isso significa? — Pergunto.
Royal balança a cabeça e encolhe os ombros. — Ele é o seu pai. Você descobre
isso.
Meu pai, que aparentemente estava entrando, sai novamente.
— Ela é uma garota legal — diz ele, arrastando os dedos sobre os lados de seu
bigode. Ele olha por cima do ombro, olhando ao longo da rua antes de estalar a língua.
— Não é culpa dela você ter estragado tudo.
Ele desaparece.
— Em outras palavras, tudo isso é culpa sua. — Royal sorri, e eu poderia socá-
lo.
Mas eles estão certos.
Tudo isso é culpa minha.
Eu perdi o controle.
E a deixei ir embora.
As mulheres estão sentadas ao redor da mesa quando nós entramos.
— Derek! — Mamãe aperta as mãos contra o peito quando me vê. — Nós não
esperávamos por você, querido. Entre, sente-se.
— Já era hora. — Minha irmã mais nova, Daphne, se levanta quando me vê,
me abraçando. — Senti sua falta, dorkus majorkus.
Eu sento ao lado dela.
No lado oposto de Daphne está Delilah... que se senta ao lado de Serena...
quem sequer olha para mim.
— O que, nada de amor para mim? — Delilah se inclina, seu cabelo escuro se
soltando. Ela sai de sua cadeira. — Bem. Eu o farei, desde que você parece ser alérgico
a este lado da mesa.
Delilah me dá um abraço por trás, praticamente me sufocando, e mamãe se
mexe para Royal sentar ao lado dela.
— Podemos comer agora? — Papai bufa da cabeceira da mesa.
— Sim, Robert. — Mamãe olha para mim quando fala, e não posso lê-la. Não
tenho certeza se ela sabe. O que disseram sobre mim. O que ela pensa sobre Serena.
Mas tenho certeza que vou descobrir. — Royal, você agradeceria?
Eu rio. Quando criança, Royal sempre odiou quando mamãe pedia para ele
agradecer. Provavelmente ele é a pessoa menos religiosa sentada nesta mesa, mas a
última coisa que ele quer é decepcionar Bliss Rosewood. Ela praticamente o criou, e
ela é a única figura materna de verdade que ele já conheceu.
Um minuto depois, a comida é passada e o tilintar de prata na porcelana enche
a sala de jantar.
— Então, Serena — mamãe diz com um sorriso. — Demi me disse que você
estudou na Wellesley?
— Sim — ela responde. — Estudei Ciência Política e Relações Internacionais.
Nunca a teria atrelado a uma graduada em Ciência Política. Com certeza
explica sua atração para o imbecil, Keir Montgomery.
— Você é muito corajosa por querer uma carreira na política — papai diz,
tomando um gole de suco de laranja. — Não é para os fracos de coração.
— Não sei o que eu estava pensando, para ser honesta. — Ela ri levemente. —
Em retrospecto, foi um pouco idiota ir nessa direção. Acho que eu estava seguindo os
meus interesses no momento e não pensando a longo prazo. Acho que eu não toleraria
uma vida na política neste clima atual.
— C'est la vie36. — Daphne suspira, empurrando-a comida ao redor.
— Viva e aprenda — diz Demi. — Há sempre uma pós-graduação.
— Serena, Demi também me disse que você esteve na cidade — mamãe
continua. — Como você gosta da vida em Nova York?
No momento em que ela começa a responder, eu me encontro olhando para
um prato vazio. Esquartejei a minha comida como um maldito pagão em minha débil
tentativa de me concentrar em algo, e não no fato de que Serena está sentada a meros
metros de distância.
— Nova York é uma cidade muito vibrante — diz Serena. — Ritmo acelerado.
Sem piedade. O tipo de lugar que você poderia se encontrar e, em seguida, se perder
novamente.

36 Assim é a vida
Daphne se inclina para trás em sua cadeira, sua mão em seu coração. —
Poétique.
— Sinto que preciso de tradutor do Google com esta aqui. — Royal aponta para
Daphne.
— Oh, hush. — Mamãe bate no braço do Royal. — Ela está encantada com a
língua desde que era uma menina.
— Dois semestres depois, temos a nossa própria estudante de intercâmbio
estrangeira. — Brinca Delilah.
Do canto do meu olho, eu vejo quando Serena se inclina mais perto de Daphne,
colocando a mão em seu braço e piscando. — J'aime Paris37.
Eu me sirvo um segundo copo de suco de laranja que não preciso e cerro os
dentes durante o nosso brunch. Quando todo mundo termina e a cozinha se torna
uma agitação de conversa, pratos empilhados e água corrente, eu desapareço no
porão, em meu quarto de infância.
Sempre pareceu maior quando eu era criança.
Sentado no chão com as costas contra as portas do armário, eu puxo as cordas
da guitarra acústica que eu implorei aos quatorze anos. Papai pagou por aulas por
três anos, mas desistiu quando o esporte se tornou um foco maior para mim em meus
anos juniores e seniores do ensino médio.
Dedilhando um acorde simples, fico maravilhado com o fato de retornar com
tanta facilidade à minha memória. Acho que a minha cabeça não é recheada com a
lei e ordem depois de tudo.
A maçaneta da porta balança, e olho para cima. Royal entra, fechando a porta
atrás dele, e se senta na beira da minha cama.
— Você está se escondendo? — Ele pergunta.
— Não. Só queria um pouco de paz e tranquilidade.
— Mmm, hmm. — Eu o sinto me observando. — O que você está tocando?
— Nada. Acordes.

37 Eu amo Paris
— Essa coisa costumava ser duas vezes o seu tamanho. Agora parece um
pequeno ukulele38 em seus braços. — Bufa Royal. — Que merda adorável.
Eu a empurro de lado, colocando-a em seu suporte, e deslizo minhas mãos
atrás da cabeça, entrelaçando os dedos.
Os sons de vozes femininas flutuam do outro lado da porta e Royal e eu
trocamos olhares.
— Por que elas estão vindo para cá? — Meu rosto aperta. Isto parece o colégio
mais uma vez.
O porão foi sempre minha área, mas minhas irmãs e suas pequenas amigas
tagarelas não perdiam tempo estacando sua reivindicação. Depois de muitas brigas,
meus pais declararam como um cômodo familiar neutro e território compartilhado –
a amarga derrota que eu nunca superei até que fosse tarde demais para ainda me
importar.
— Terceira porta à direita — ouço Delilah gritar.
Um segundo depois, a porta do porão é aberta, e uma Serena boquiaberta fica
congelada na minha porta.
— Eu estava procurando o banheiro — diz ela depois de alguns segundos de
silêncio com a língua presa.
— A terceira porta, — digo, apontando. — Esta é a segunda.
Ela permanece, presa em meu olhar.
Royal olha para ela e para mim, e corre as palmas das mãos ao longo de suas
coxas, levantando-se. — Bem, isso é onde eu os deixo para resolver o que diabos vocês
precisam resolver. Desculpe, pessoal, mas aquele brunch foi todos os tipos de
estranho, e culpo vocês dois.
Ele dá um aperto atrás de Serena, levando-a a entrar no meu porão, e fecha a
porta atrás dela.
— Sinto muito — diz ela. — Não tinha ideia que estaria aqui hoje. Demi disse...
— Não se preocupe com isso.

38 O ukulele é um instrumento musical de cordas beliscadas, geralmente com 4 cordas de tripa ou


com materiais sintéticos como nylon, nylgut, fluorocarbono, entre outros.
Serena morde o lábio inferior, segurando-o entre os dentes e me bebendo como
se tivesse passado anos desde que me viu.
— É verdade? — Ela pergunta. — Você realmente foi para Nova York?
Levanto-me, porque parece incrivelmente juvenil ter uma discussão desta
natureza sentado no chão. Isso não é a porra do ensino médio.
Serena me observa, a respiração engatando quando me aproximo.
— Eu defendo a quinta emenda — digo.
— Você estava me procurando. — Ela não pergunta. — Por quê?
— Para ser totalmente honesto — eu passo minha mão ao longo da minha
mandíbula e me aproximo. — Não sei por que eu queria encontrá-la ou o que eu faria
quando a encontrasse. Acho que só precisava vê-la uma última vez.
— Uma última vez? — Seu bonito rosto se inclina, seus olhos presos nos meus.
— Tudo o que tínhamos terminou no dia em que saiu e nunca mais voltou, —
digo. — Só queria ver se eu ainda sentiria o mesmo quando a visse novamente.
— O mesmo o quê?
— Do mesmo jeito que eu senti na primeira vez que te vi — digo. — E precisava
saber se eu havia imaginado tudo isso. Se foi tudo da minha cabeça.
Inclinando o queixo, ela revira os olhos, soltando uma lufada de uma risada.
— Você não imaginou nada, Derek. Foi real. Tudo.
— Como você sabe? Como sabe que não foram reações químicas, ego e o tipo
de besteira que faz com que pessoas inteligentes façam coisas estúpidas?
— Por causa da dor. — Seu olhar se levanta para encontrar o meu. — A dor
física de saber que você machucou alguém com quem se importava. Isso significa que
é real.
Expiro lentamente e depois inalo o perfume inebriante de seu doce perfume
citrus exalado de sua doce pele macia.
Eu quero beijá-la.
Eu preciso beijá-la.
Preciso dela.
Antes que eu possa me conter, meus dedos estão em seu cabelo, a minha boca
na dela. A única coisa que posso fazer neste momento é silenciar meus pensamentos
e fazer o que parece natural.
Ela não resiste. Ela derrete. Seu corpo cede, aceitando a força do beijo quando
caímos sobre a cama de solteiro no centro do meu quarto de criança.
— Você é um tolo. — Serena desliza os dedos pelo meu cabelo, e sinto seus
bonitos lábios se curvarem quando me beija. — Um idiota.
Não discordo dela.
Se me apaixonar por ela faz de mim um tolo, então eu sou culpado.
— Eu sabia que você seria minha no momento que eu vi você — eu exalo
minhas palavras, meus lábios nos dela. Minha mão desliza sobre suas calças,
segurando sua bunda perfeitamente arredondada. — Eu não conseguia respirar. Isso
é o que você faz comigo, Serena.
Seus dedos deslizam para o meu pescoço, e ela se afasta, seus olhos azuis
cintilantes descansando nos meus e, em seguida, caindo para a minha boca antes de
me puxar para outro beijo.
— Senti sua falta — ela sussurra, beijando a minha boca até o meu ouvido.
Ela puxa minha orelha entre os dentes, mordendo, chupando, e soltando. Esta mulher
está faminta por mim. Faminta. — Não deixei Demi falar de você. Não queria saber o
que você fazia ou se sentia a minha falta. Só tornaria as coisas mais difíceis.
Abro as coxas dela com a força de meus quadris no cio, e ela geme, mordendo
o lábio.
— Eu estava tão fodidamente preocupado com você. — Mordo e beijo sua
clavícula, e ela suspira, agarrando minha camisa. — Não faça isso de novo, Serena.
Não fuja desse jeito.
— Conselheiro? — Ela sorri, seus lábios vermelhos e cheios.
— Sim?
— Pare de falar e faça alguma coisa comigo, pela qual nós dois provavelmente
nos arrependeremos mais uma vez.
CAPÍTULO 34

Serena
Derek empurra dentro e fora de mim, suas estocadas duras e punitivas.
Ávidas. Possuindo. Com cada deliciosa inserção, sua carne quente fricciona contra a
minha. Nós poderíamos continuar a noite toda, mas o som de risos e muita conversa
do lado de fora da porta destrancada significa que teremos que ser rápidos.
Nossos lábios estão selados e trancados, nossas mãos não conhecendo limites.
Seu gosto na minha língua, o seu corpo contra o meu – é puro céu.
Minutos mais tarde, meu corpo treme quando o acúmulo corre através do meu
núcleo e enfraquece as minhas coxas trêmulas. Gemo na boca dele, e ele conhece o
meu corpo. Sua dureza latejante me enche, entrando em mim ainda mais e mais
rápido enquanto eu cavalgo a corrida mais doce que já conheci.
Quando gozo, o meu corpo flácido e ainda se recuperando, ele se retira de mim,
bombeando seu comprido eixo até seu esperma escorrer na minha barriga lisa. Olho
para ele, meus lábios arqueando-se nos cantos e minha expressão certamente
deliciosamente delirante.
— Estou me apaixonando por você, Serena — diz ele. — E não sei como parar.

— Eu amo a sua família. — Estou deitada na cama de Derek, nos braços de


Derek, domingo à noite. Saímos da casa de seus pais juntos, e ele me levou até a casa
de Demi para pegar as minhas coisas.
Ninguém fez perguntas. Ninguém fez piada ou olhou por muito tempo com o
canto dos olhos. É como se todos soubessem que isso aconteceria muito antes de nós.
E tão ridículo quanto pareça, Demi se tornou uma das melhores amigas que
eu já tive. Melhor – como a mais doce, mais gentil e mais altruísta. Após o fim de
semana na cidade e tudo o que aconteceu com Keir, eu tive que romper as coisas com
a minha última amiga restante. Embora ache que eu sequer poderia chamar Poppy
de amiga depois de tudo isso.
Ela estava perturbada, implorando o meu perdão e pedindo desculpas,
alegando que não sabia que Veronica havia armado com Keir, mas ela nunca deveria
ter me colocado nessa posição para começar. Nunca deveria ter me atraído para a
cidade para um Fim de semana das meninas, se tudo o que queria fazer era me colocar
novamente no caminho do caos e da destruição de Keir.
No final da nossa conversa, eu disse a ela que a próxima vez que ela falar com
a Page Six, ela terá notícias do meu advogado.
Ela desligou depois disso, e nos dias que se seguiram, os artigos de fofoca
pareceram morrer.
Ou pelo menos é o que me disse Demi.
Recusei-me a olhar.
— Você é um homem de sorte — eu digo. — Tudo o que você tem é tudo com
o que eu sempre sonhei quando crescia.
— Acho que eles são ok. — Ele arrasta as pontas dos dedos ao longo do meu
braço, olhando para o teto.
Meu rosto está pressionado contra o seu peito nu, e o thrum suave do seu
coração batendo enche meu ouvido.
— Queria que você não tivesse que trabalhar amanhã — digo com um gemido
desanimado passando meus dedos sobre seus abdomens definidos. — Poderíamos
ficar na cama o dia todo. Fazer todo tipo de travessuras.
Ele exala uma risada.
— Já estou tentando-o? — Provoco.
— Não vou trabalhar amanhã — diz ele. — Estou em licença remunerada.
Pulo para cima, de frente para ele. — O que? Por quê?
— Alguém nos reportou. — Mesmo no escuro, vejo sua mandíbula tremer e
apertar.
— Reportou pelo quê?
— Uma relação sexual com um cliente durante a representação é motivo para
disciplinar um advogado — diz ele. — Qualquer um pode denunciar na Ordem dos
Advogados do Estado. Todas as denúncias precisam ser investigadas. Licença
remunerada é um protocolo na nossa empresa.
— O que vai acontecer depois?
Derek suspira, a boca torcendo ao lado. — Melhor cenário, sou repreendido
em particular. Na pior das hipóteses, sou temporariamente expulso. Ou
completamente impedido.
— Jesus, Derek. — Meus dedos tremem, levantando aos meus lábios. — Isto é
tudo culpa minha.
— Não ficarei impedido — diz ele.
— Como você sabe?
— Dormir com você viola o código do modelo e Regras Modelo, mas não é motivo
para expulsão. Eles gostam de lançar isso para assustar as pessoas.
— Você poderia ser temporariamente expulso?
— Talvez. — Ele reposiciona os travesseiros atrás dele, ficando de repente
desconfortável. — Mais provável é eu enfrentar uma censura pública. Eles emitem
uma repreensão por escrito para ficar no meu arquivo na empresa, e será um registro
público. Qualquer um que procurar o meu nome ou solicitar o meu arquivo terá
acesso à carta. Eles saberão o que eu fiz.
— Isso é tão ruim. Isso o seguirá pelo resto de sua carreira. — Nunca me senti
tão horrível. — Sinto muito, Derek. Eu só queria me divertir com você. Não sabia que
isso levaria a tudo isso...
— Eu tentei avisá-la. — Ele pega a minha mão, levando-a aos lábios e
depositando um beijo. Quando me puxa contra ele, ele se aninha no meu cabelo, seu
hálito quente contra a minha orelha. — Não quero mais falar disso, Serena. O que
está feito, está feito.
Derek dorme em poucos minutos, mas não consigo relaxar. Minha mente se
ocupa com pensamentos cheios de culpa que se recusam a desaparecer.
Ele parece tão calmo quando dorme, mas por trás da fachada de sonho está
um homem atravessando o inferno...
...tudo por minha causa.
Meu estômago se agita, torcendo, afundando. Estou mal por causa do que fiz
para ele. Ele tinha uma carreira incrível pela frente, e arruinei tudo como uma mancha
negra permanente que ele nunca mereceu.
Sigo contornando sua mandíbula com meu dedo, delicadamente passando
sobre seus lábios cheios, e depois percorro a ponte reta de seu nariz perfeito.
Posso me ver com este homem. Posso me ver casando com ele, tendo seus
bebês, morando na periferia de alguma bela cidade pequena e calma como Rixton
Falls. Posso me ver ser feliz pela primeira vez.
Quando olho para Derek Rosewood, eu vejo meu próprio cavaleiro de armadura
brilhante e meu feliz para sempre que nunca pensei conhecer.
Mas nada disso importa.
Destruí este homem por egoísmo.
Quebrei suas paredes impenetráveis como se fossem nada, tudo porque eu
estava curiosa, solitária e almejando uma distração.
Eu o convenci a violar a sua ética profissional, e agora ele está pagando o preço
final.
Eu poderia ter amado tanto este homem.
E talvez eu estivesse bem nesse caminho...
Mas nada disso importa agora.
Ele não precisa da minha bagagem. Não precisa estar com alguém que não
sabe o que quer ou aonde vai na metade do tempo. Ele nunca iria querer colocar o pé
na minha grande cidade, a vida de paparazzi, de qualquer maneira, eu não o
sujeitaria.
Esta noite foi um erro – um delicioso imprudente erro.
Mas isso não pode acontecer novamente.
Derek merece algo melhor do que eu. Ele merece mais do que posso dar para
ele. Ele merece uma mulher que não vá curvá-lo até que ele quebre porque é tudo que
ela já fez com qualquer homem que se atreveu a mostrar-lhe uma onça de afeto.
— Adeus, Derek. — Sussurro uma despedida final para o homem mais bonito
que eu já conheci e escorrego para fora, na calada da noite.
CAPÍTULO 35

Derek
Dois meses depois

Gotas de chuva batem contra o para-brisa da minha longa limusine alugada,


e o meu condutor liga o limpador de para-brisa. Eles gritam contra o vidro, então
levanto o painel de privacidade, meu queixo tenso em antecipação para o que está por
vir.
Do lado de fora do tribunal Tweed em Manhattan, vários membros da
Associated Press se reúnem sob guarda-chuvas pretos.
Mantenho um olho nas portas principais, procurando a porra da garota que
destruiu meu coração não uma, mas duas vezes.
Ontem de manhã, me deparei com um artigo online sobre Veronica
Kensington-Randall e a suposta fraude imobiliária. Aparentemente, após Serena fugir
de mim, ela voltou para a cidade e contratou um inferno de um advogado que não
perdeu tempo em montar o processo contra a madrasta de Serena.
De acordo com os artigos, há vários testemunhos de ex-funcionários, bem
como declarações cooperativas de Keir Montgomery, Eudora Darcy e Julia May. O
médico, Kevin Rothbart, que ajudou Veronica, perdeu sua licença, mas saiu da prisão
em troca de testemunhar contra a cadela má.
Hoje é o dia da acusação, e estou cem por cento certo que Serena está aqui
com o advogado dela.
O flash de câmeras agarra a minha atenção quando um grupo de ternos foge
do tribunal e entra no enxame da mídia.
Eu a encontro dentro de segundos, sua cabeleira cor de fogo destacando-se
entre um mar de preto.
Saindo do meu carro, eu levanto a minha mão no ar e grito o nome dela. Vejo
quando seus olhos digitalizam a rua em busca da minha voz familiar.
Quando nossos olhos se encontram, eu meio que esperava que ela corresse.
Ela é incrivelmente boa nisso. Mas em vez disso, seus lábios cheios arqueiam em um
meio sorriso e o mundo parece parar.
O frenesi da mídia desaparece no fundo, e os flashes das câmeras não me
incomodam. Tudo o que vejo é ela.
Tenho esperado muito tempo por este momento. Dois meses, para ser mais
preciso.
Mas pensei que seria diferente.
Pensei em ficar com raiva, ir para ela apenas para repreendê-la por arruinar a
única coisa boa que ela e eu já conhecemos.
Em vez disso, eu estou aqui como um idiota apaixonado, tentando recordar a
sensação de seus lábios nos meus. Almejando a suavidade de seu cabelo emaranhado
em meus dedos. O ceder de sua barriga nua sob meu toque. O som de sua respiração
no meu ouvido, pedindo mais, suspirando o meu nome.
Com um guarda-chuva sobre a cabeça, ela atravessa a multidão e vem em
minha direção.
— O que você está fazendo aqui? — Seus olhos brilham mesmo em uma manhã
nublada de junho como esta.
— Li sobre a acusação — digo. — Pensei que você poderia precisar de um apoio.
Seus lábios se levantam nos cantos.
— Isso, e tenho tentado localizá-la por uma porra de meses. — Eu me aproximo
dela, e ela levanta o guarda-chuva sobre nós dois. Eu o tomo dela, fechando e abrindo
a porta do passageiro da minha limusine.
— Entre.
Ela fica perfeitamente imóvel, os saltos de seus sapatos de fundo vermelho
quase cavando o pavimento à medida que uma multidão de pessoas se aglomera.
— Serena, está tudo bem? — Um homem surge no meio da multidão,
caminhando para o lado dela. Ele parece familiar, e assim que sua expressão cai, eu
percebo porquê.
— Sim, Keir — ela diz com as sobrancelhas franzidas.
— Eu vim — diz ele. Dois homens de terno preto e óculos flanqueando seus
lados. — Queria apoiá-la. Esperava que pudéssemos conversar. Talvez ir para algum
lugar? Só nós dois? Tenho tentado entrar em contato com você... seu advogado disse
que estava fora do país.
Não posso acreditar que este imbecil tem a audácia de tentar roubá-la bem
debaixo de mim, e serei amaldiçoado se permitir isso.
Colocando minha mão na parte inferior das costas dela, eu a guio mais perto
do meu carro e lhe atiro um olhar que diz tudo.
— Ela vai comigo — anuncio.
Keir se aproxima mais, sentindo sua oportunidade escorregar. — Serena, se
precisar de alguma coisa, eu estou aqui. Eu adoraria conversar. Você precisa desse
fechamento. Nós precisamos desse fechamento.
— Entre. — Aceno em direção ao carro.
Ela olha para ele, depois para mim. Aparentemente, ela me considera o menor
de dois males, porque depois de um momento pensando, ela entra.
— Você me odeia? — Seus olhos procuram os meus assim que sento ao lado
dela.
— Não.
Como eu poderia?
— Eu tive que ir. — Ela cruza as mãos no colo, olhando para baixo como se
isso respondesse a pergunta que em dois meses de noites sem dormir não conseguiu
fazer sentido. — Eu fiz bastante dano. Você merecia algo melhor. Fomos descuidados.
Imprudentes. Você e eu juntos era uma combinação perigosa.
— Perigosa?
— Sim. Nós estávamos fazendo exceções. Quebrando nossas próprias regras.
— Ela suspira. — Sua carreira estava em risco por causa do que nós fizemos. Não
estávamos pensando.
Uma horda de paparazzi nos envolve, seus flashes tentando penetrar as
janelas escuras que nos cerca.
— E depois há tudo isso. — Ela aponta. — Estar comigo significa que você
viverá a sua vida sob um microscópio. Você não merece isso. Você merece uma vida
pacata em Rixton Falls, longe do circo de horrores que minha vida se tornou.
— Você se importa comigo, Serena? — Minhas narinas queimam quando exalo.
— Claro que sim. Que tipo de pergunta é essa?
— Então por que você não permitiu que eu tomasse essa decisão por mim
mesmo? — Meus dedos se levantam até as minhas têmporas enquanto olho pela
janela, vendo além das câmeras e fotógrafos gritando. — Posso ignorar esses imbecis.
Eles não me incomodam. O que me incomoda é quando alguém toma para si o meu
direito dado por Deus de tomar minhas próprias decisões de vida.
Ela cruza os braços, olhando por mim. — Tudo bem. Justo. Mas não vou pedir
desculpas por fazer o que eu achava que era certo naquele momento. Meu coração
desejava apenas o melhor para você, e não me importo se você acredita em mim ou
não.
— Onde você estava? — Faço a próxima pergunta que tem perturbado a minha
alma nas últimas oito semanas.
— Uma pequena casa fora de Londres — diz ela. — É aonde eu vou para fugir.
— Pare. Porra. De. Fugir. A cada vez que as coisas ficam difíceis. — Estou em
ebulição, mas não me importo. Ela não parece nem um pouco assustada comigo. —
Venha para casa, Serena.
— Casa? — Ela bufa, dando-me um incrédulo olhar. — E onde poderia ser?
— Comigo. — Eu seguro sua mão na minha, correndo o polegar ao longo de
suas suaves unhas polidas no tom mais rico de cinza cashmere que já vi. — Você
pertence à Rixton Falls. Comigo. Com Haven. Com minha família. Queremos você lá.
Você é querida ali, Serena.
Ela olha através da janela, mantendo sua mão na minha, e vejo seu olhar
encarar os vidros.
— Não é isso que você procura? Algum sentido na vida? Um lugar para
pertencer? Pessoas que não vão usar você ou cagar em cima de você por causa de
uma maldita fofoca? — Exponho meu caso. — Estou aqui para dizer que você
encontrou. Você não precisa procurar mais. Porque, Serena, você me pertence.
Serena retorna seu olhar para os meus, seus ombros afundando enquanto
exala.
— Você precisa entender — diz ela, — Se quiser ficar comigo, a vida como você
conhece nunca será a mesma novamente.
Não hesito. — A vida não foi a mesma desde o momento em que coloquei os
olhos em você.
Tomando sua outra mão, eu a puxo para o meu colo quando o motorista para
no tráfego.
— E não acho que eu poderia voltar se eu tentasse — digo. — Na verdade, eu
não quero voltar. O que quer que estivesse quebrado dentro de mim começou a curar
por causa de você.
Seguro seu rosto com minhas mãos, guiando seus lábios contra os meus.
— Eu não digo isso há muito tempo. — Meus lábios se movem contra os dela
entre beijos. — Mas, Serena, em algum lugar ao longo do caminho, eu me apaixonei
por você.
Sinto seu sorriso, seus dedos cavando na minha nuca quando ela se afasta e
olha nos meus olhos. — Eu também te amo.
— Venha para casa comigo. — Não peço. Exijo. Porque, com certeza, não vim
até a porra de Nova York para aceitar um Não como resposta.
— Não sei. — Sua resposta vem na forma de um suspiro cansado.
— O que você não sabe?
— Não sei se eu sou o que você precisa.
— Isso não é para você decidir. — Eu me inclino mais perto. — E, além disso,
estou te dizendo. Você é o que eu preciso. Você é a única coisa que eu preciso.
Brincando com o lábio inferior, ela inala um longo ar fresco e assente. — Sim.
Eu voltarei para casa com você, Derek.
— Prometa-me uma coisa — eu digo.
— Qualquer coisa. — O cabelo vermelho-acobreado cobre seu rosto doce, mas
tudo que eu vejo é o seu brilhante olhar azul.
— Quando as coisas ficarem difíceis, e sabe que elas ficarão, porque admito
que não sou o idiota mais fácil de amar — eu digo. — Independentemente do que fizer,
não fuja.
— Prometo.
— Sem besteira também. Sem paredes. Só você e eu contra o mundo. Vamos
descobrir as coisas juntos quando ficar difícil.
— Eu gosto disso. — Ela rouba um doce beijo antes de descansar a cabeça no
meu ombro. — É exatamente o que eu preciso.
Corro minhas mãos até as coxas dela, agarrando sua bunda perfeita e tendo o
lábio inferior entre meus dentes.
— Não posso esperar para chegar em casa. Onde você pertence. Em nossa
cama. — Minhas palavras são um grunhido gutural. Meu pau é uma bomba-relógio.
— Você é a coisa mais magnífica que eu já coloquei os olhos, Serena. E nunca a
deixarei ir.
EPÍLOGO

Serena
Cinco anos depois

O barulho de cascalho sob os pneus sinaliza o retorno de Derek da empresa.


São cinco e meia. O jantar está no forno, e as meninas estão correndo ao redor do
quintal, perseguindo borboletas e rindo.
Haven é uma incrível irmã mais velha para Hadley, e as duas são inseparáveis
no melhor dos dias. No pior dos dias, elas brigam como todas as irmãs fazem, e isso
é tudo que podemos fazer para não rir.
Ele é tão bom com elas também. Ele as compreende. É paciente, sábio e
compassivo. Elas têm tanta sorte de chamá-lo de pai, assim como eu de chamá-lo de
meu marido.
Derek está acostumado com brigas de meninas e, a julgar por algumas das
histórias que ele conta sobre suas irmãs mais novas, eu posso ver porquê.
Quanto a mim, eu amo o barulho. O caos. A risada. As lágrimas. Não trocaria
isso por nada, porque isso – isso é o que a vida realmente é.
Meu marido há maravilhosos quatro anos atravessa o gramado da nossa
chácara restaurada, parando para beijar a doce bebê Harper em meus braços antes
de beijar o topo da minha cabeça.
— Olá, meu amor — digo. Sou incapaz de franzir a testa em sua presença,
porque depois de tudo o que aconteceu, Derek Rosewood ainda é a minha felicidade.
Ninguém jamais lutou por mim do jeito que ele fez. Ele estava lá sempre. Nos
altos e baixos. Ficou comigo após as acusações contra ele fossem documentadas, e
nunca me culpou uma única vez quando recebeu uma advertência particular. Ele
torceu por mim quando Veronica se declarou culpada no julgamento e quando o juiz
se recusou a honrar o pedido do advogado dela de uma pena reduzida. Derek também
estava lá quando Veronica deixou meu pai depois do julgamento, ao perceber que não
receberia um único centavo da propriedade, e ele estava lá no dia em que meu pai
morreu pacificamente em um centro de cuidados paliativos.
Nós somos mais ricos do que o pecado. Nossas contas estão preenchidas com
centenas de milhões de dólares – e pretendemos doar a maior parte. Mas o nosso
amor? Esta bela vida que criamos? É inestimável.
— O que tem para o jantar? — Ele pergunta.
— Lasanha — eu digo. — Receita de Bliss. Demi e Royal vêm também. Disse a
Kyla para não passar por aqui até depois de sete. Quero que Haven tenha uma boa
refeição antes de seu fim de semana com a mãe.
Pouco depois de Derek e eu oficializarmos tudo, ele lutou pela custódia total
de Haven e ganhou. Nunca vi os Rosewoods tão felizes, mas acho que a pequena alma
mais feliz era Haven. Ela pertence a Derek.
A nós dois.
— Apreciado. — Ele sorri, olhando para mim como se tivesse ganhado na
loteria. Mas não é nada novo. Ele vem fazendo isso desde o dia em que me pediu em
casamento na cachoeira Mariposa mais de quatro anos atrás.
— O quê? — Pergunto.
— Por que você é tão boa para mim? — Derek se inclina, roubando um beijo.
Tenho certeza que tenho gosto de molho de tomate e alho, mas ele não se queixa.
— Papai, papai! — Minha ruiva Mini-Mim, Hadley, corre até Derek, sem fôlego,
e envolve seus braços de três anos de idade em torno das pernas dele.
Ele coloca a maleta no chão e a pega. Seus pequenos membros envolvendo seu
pescoço e ela beija o rosto dele, enquanto Haven, em seus nove anos de idade, pula
sobre ele, quase fazendo Derek perder o equilíbrio.
— Oi, papai. — Haven o abraça de lado, e ele bagunça seu fino cabelo loiro. —
Sentimos saudades de você.
— Eu também senti sua falta, baby. — Ele a puxa para perto, seu olhar
voltando ao meu. — Senti falta de todas vocês.
— Nós amamos você, papai. — Haven escova seu rosto contra o paletó,
irradiando um sorriso banguela.
— Eu também te amo — diz ele. — Vamos entrar. Vá se lavar para jantar. Tia
Demi e tio Royal estarão logo aqui.
O sol se põe cedo nesta sexta-feira de final do Outono, pintando o céu em rosas
quentes e laranjas e amarelos. Não foi até me mudar para o interior que comecei a
apreciar o por do sol.
Percebi, ao longo dos últimos cinco anos, que perdi muitas coisas na minha
vida. O cheiro da chuva na grama. A rajada de luz solar filtrando desimpedida através
da escuridão no início da manhã. Caminhadas agradáveis e acenos de vizinhos.
Cozinhar deliciosas refeições partindo do zero, porque isso é mais conveniente do que
pedidos para viagem de um restaurante moderno com uma espera de duas horas.
O braço de Derek engancha no meu cotovelo, e ele me para a fim de roubar
um beijo rápido.
— Eu te amo — ele sussurra com seus lábios contra os meus.
— Eu te amo mais.
Nós cinco entramos, onde o nosso pug, Munch, dorme e ronca em sua cama
ao lado da lareira. A cozinha está perfumada com lasanha da minha doce sogra, e as
meninas com impaciência tomam seus lugares enquanto Derek coloca delicadamente
uma Harper muito sonolenta em seu berço.
Demi e Royal chegam a tempo, e as meninas saem da mesa e correm para a
porta para recebê-los com risos e gritos. Elas dificilmente podem envolver seus braços
ao redor da barriga inchada de Demi, que tem a data prevista se aproximando. Eles
esperam um menino a qualquer momento, e planejam chamá-lo de Beckett, e as
meninas estiveram eufóricas escolhendo sapos de pelúcia e macaquinhos azuis para
o chá de bebê de Demi no próximo fim de semana.
O timer no fogão emite um sinal sonoro, e retiro o jantar enquanto todos se
instalam.
Esta é a minha vida agora.
Estou apaixonada por cada belo, desafiador, momento imperfeito dela.
E não trocaria isso por nada no mundo.

Fim

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