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Pensar fora da caixa resultou na melhor noite da minha vida.

Até descobrir que o homem com quem passei é meu novo chefe.
Ir a uma festa secreta onde as roupas são opcionais não era meu
objetivo de vida.
Mas quando o convite exclusivo acaba na minha caixa de correio por
acidente… bem.
Quem não ficaria curioso? Não é como se eu fosse fazer alguma coisa.
O belo estranho que conheço tem planos diferentes.
Um olhar para a festa lotada e, uma hora depois, estamos estendidos
sobre a seda.
Nossa noite juntos é gloriosa. Sem nomes e sem arrependimentos.
Mas eu tinha esquecido que sempre há um preço a pagar pelo prazer.
Eu descubro o custo quando começo meu estágio.
Porque quem é o novo CEO investidor de risco?
Tristan Conway, também conhecido como meu belo estranho.
Poderoso, determinado, intrigante... e solteiro.
Ah, e ele quer me ver em seu escritório.
Pensar fora da caixa me colocou nessa confusão.
Agora, se eu pudesse parar de pensar no chefe...
Estou separando correspondências indesejadas quando meus
dedos passam por cima de um grosso envelope dourado. Meu endereço
está escrito à mão na frente em letras pretas extensas, mas não há nome.
Mentalmente, revejo todos os meus amigos que podem se casar... não,
não e não.
Envelope dourado na mão, afundo na cadeira da cozinha e o viro.
Tem um selo de cera preta. Estampada nele está uma máscara, do tipo
que as pessoas usam em bailes de máscaras nos filmes. Eu nunca recebi
nada assim.
Se isso é lixo eletrônico, ficou muito elegante.
Pode ser para a inquilina anterior? Só moro neste estúdio há um
mês. Melhor ter certeza... Rasgo o envelope com uma faca de cozinha e
tiro um convite de cartolina com letras impressas em ouro.

Prezada Rebecca Hartford,

É um novo mês e isso significa novos pecados para explorar. Junte-


se a nós no Halycon Hotel às 22h do sábado seguinte e use a máscara que
o acompanha como prova de convite.
Não se esqueça que o sigilo é divertido, os telefones não (ninguém
gosta de mexericos) e todo mundo fica melhor de renda. Ou despido. Mas
estamos nos adiantando…
O prazer é todo seu
The Gilded Room

Oh Deus.
Li o convite duas vezes para analisar todas as insinuações.
The Gilded Room? Todo mundo fica melhor despido? Rebecca
Hartford, sua atrevida!
Esta pode ser a piada prática mais elaborada que eu já recebi.
Olhando dentro do envelope, encontro uma máscara forrada com
delicada seda preta, duas penas ondulando acima dos olhos recortados
como sobrancelhas. Joias negras cobrem a metade inferior e três
palavras estão escritas em letra cursiva dourada ao longo da borda.
Unidos no prazer.
Ok.
Talvez não seja uma piada prática.
Abro meu laptop e digito The Gilded Room na barra de pesquisa.
Vários artigos de jornal foram escritos sobre a organização, mas
nenhum deles traz fotos. Clico para abrir aquele intitulado Uma noite no
mundo de prazer da elite.
O que leio faz meus olhos se arregalarem. The Gilded Room é um
dos segredos mais bem guardados de Nova Iorque, principalmente
porque os que estão nele não querem ser conhecidos. Eles não querem
ser vistos, ouvidos e, principalmente, não retratados. The Gilded Room
garante o anonimato de seus membros de alto nível, muitos dos quais
pagam mais de vinte mil dólares por suas afiliações anuais.
Eu rolo para baixo, meus olhos examinando parágrafo após
parágrafo incrível.
As regras são simples. Não é convidado ninguém que não seja rico,
bonito ou ambos. Quem for apanhado com um telefone é imediatamente
expulso… e as mulheres têm todo o poder nestas festas. Há rumores de
políticos participando de festas da Gilded Room, jogadores de futebol,
bilionários e magnatas da mídia... mas se eles foram, o jornalista não
conseguiu encontrar ninguém disposto a falar. Parece que este é o único
local entre os escalões superiores de Nova Iorque onde citar nomes não
é a norma.
Fecho meu laptop e olho para a máscara e o convite, agora sobre a
mesa do sofá. Quem tinha sido Rebecca Hartford, para ser convidada
para uma festa como esta? Eu sei que a inquilina anterior havia deixado
o país, meu senhorio me disse que ela havia recebido uma oferta de
emprego em Hong Kong. Entrar em contato com ela sobre isso parece
fora de questão.
E se eu mesma for?
A ideia me faz sorrir. Festas secretas de sexo para os ricos? Não
sou rica, nem festeira. Estou interessada em sexo, no entanto. Já faz
muito tempo desde a última vez…
O que eu estou pensando? Claro que não vou.
Jogo o convite e a máscara na cesta de papel e a tampa fecha-se
decididamente atrás deles. Além disso, tenho coisas a fazer, como me
preparar para o estágio da minha vida. Eu trabalhei muito duro para ser
aceita no Programa de profissionais junior da Exciteur Global, e meu
primeiro dia como estagiária é na segunda-feira.
Eu tenho coisas para fazer antes disso.
Conseguir três novos pares de meias para combinar com minhas
roupas profissionais. Desempacotar as últimas caixas da mudança.
Agendar um horário no DMV 1 para atualizar minha carteira de
motorista para Nova Iorque em vez da Pensilvânia.
Participar de uma festa de sexo secreto não está nessa lista.
Levo quase uma hora e outra caixa de mudança desempacotada
antes de pegar o convite e a máscara de volta na cesta de papel. De pé na
frente do espelho do banheiro, coloquei a máscara preta adornada com
penas.
Eu pareço moderadamente bonita. Cabelo fino e escuro, e mais do
que o meu quinhão, graças à minha mãe italiana. Bastante baixinha, mas
gosto de pensar que sou pequena. Olhos que são uma espécie de verde
turvo. Dizia que você tinha que ser rico ou bonito para entrar...
Puxo minha camiseta velha e surrada para fazer um decote em V.
Cortesia de um peito extraordinariamente grande, nunca visto nada tão
revelador. Mas eu tinha acabado de desempacotar o vestido preto que

1 Departamento de trânsito.
comprei na liquidação do ano passado. Aquele que mostrava muito
decote... Posso me passar por Rebecca Hartford? Ou pelo menos bonita
o suficiente para ser admitida?
— Uma aventura antes da verdadeira começar na segunda-feira
— digo ao meu reflexo mascarado.

Uma vez ouvi dizer que as mulheres têm três tipos de banho. O
primeiro, uma lavagem rápida do corpo. O segundo, uma lavagem rápida
de cabelo e corpo. O terceiro? Esse é o banho de encontro, onde as coisas
são esfregadas, depiladas e profundamente condicionadas.
Acontece que descobri um quarto banho, o banho estou-indo-a-
uma-festa-de-sexo-da-elite. Tem muitos elementos do banho número
três, como depilar e esfregar, mas inclui alguns minutos de pânico no
chão do chuveiro.
Minha mente se apega às palavras que li online, que as mulheres
têm todo o poder. Se eu não gostar, eu vou embora. O Halycon Hotel é
um dos mais bonitos da cidade, então não é como se eu estivesse
entrando em um sindicato do crime organizado.
Pelo menos eu digo isso a mim mesma.
São quase dez e meia quando chego ao hotel. Meus saltos altos
estalam no chão enquanto caminho para a recepção. Meu convite e
máscara estão seguros e protegidos em minha bolsa, prontos para
serem sacados no lugar de uma identidade.
— Boa noite, senhorita. — diz um atendente do hotel. Seus olhos
mergulham no V profundo do meu vestido preto antes de retornar aos
meus olhos.
E é por isso que costumo usar decotes altos.
Um rubor sobe em seu pescoço. — Você está aqui para a festa
privada?
Eu fecho meu casaco. — Sim.
— O elevador à sua esquerda. — ele diz — e direto para o
trigésimo segundo andar. Divirta-se, senhorita.
— Obrigada. — E como não consigo resistir, acrescento: —
Pretendo fazer isso.
Eu ando sozinha no elevador, meus olhos acompanhando o
número cada vez maior de andares na tela. Tornou-se uma maneira
infalível de manter meu medo de altura sob controle. Concentro-me nos
andares que estou passando e logo, acabou. Eu ainda dou um suspiro de
alívio quando saio.
Hora do show, Freddie.
Coloco a máscara e amarro os fios de seda juntos, ignorando a
maneira como meu coração dispara em meu peito com os nervos. A cena
que me espera é extremamente normal. Um corredor vazio e uma porta
aberta com uma mulher bonita vestida de preto na frente, seu rosto
irradiando profissionalismo calmo.
Ela enfia um iPad debaixo do braço. — Bem-vinda, senhorita.
— Obrigada.
— Uma apresentação já foi concluída, mas a próxima deve
começar agora.
Concordo com a cabeça, como se eu entendesse a que ela está se
referindo. — Ótimo, obrigada.
Ela estende a mão com um olhar de expectativa em seus olhos. —
Certo — eu digo, procurando em minha bolsa para entregar a ela meu
cartão de convite. Não peça identidade, não peça identidade…
Mas ela apenas olha e me dá outro sorriso, este mais de amigo para
amigo. — Bem-vinda, senhorita Hartford. Não se esqueça de registrar
seu telefone à direita, depois de entrar.
— Claro.
Ela empurra a cortina que bloqueia a porta. O contraste é nítido
do corredor claro do lado de fora para as salas mal iluminadas e cheias
de fumaça além. Um cheiro paira no ar... algo denso, como magnólia e
incenso.
Um homem vestido apenas com calça preta e gravata, sem camisa
para cobrir o peito largo à mostra, me dá as boas-vindas. — Vou
registrar o seu casaco, senhorita.
— Sim, obrigada. — eu digo, encolhendo os ombros. Ele registra
e volta, com a mão estendida. — Oh! Certo. — Eu entrego a ele meu
telefone.
Seu sorriso de resposta me faz pensar que não estou disfarçando
meus nervos tão bem quanto pensei. — Vou colocar seu telefone aqui —
diz ele, abrindo uma das cem caixas de segurança idênticas. — O código
é gerado automaticamente e você receberá um recibo impresso com
ele... aqui está. Só você sabe disso. Não o perca.
— Tudo bem — murmuro. — Incrível.
Ele me dá outro sorriso encorajador, desta vez com um toque de
humor. — Divirta-se e lembre-se de que estamos aqui a qualquer
momento se precisar de ajuda ou tiver alguma dúvida.
— Obrigada.
Segurando minha bolsa com força, eu entro no espaço principal.
As primeiras impressões me atingem em flashes. Renda branca e salto
alto. Cortinas de seda preta do teto. Homens em ternos impecavelmente
ajustados e máscaras escuras.
As pessoas se misturam, algumas em pé, outras reclinadas em
sofás. Uma linda mulher passa por mim de lingerie. É do tipo imponente,
com ligas e meia-calça.
— Champanhe, senhorita? — um garçom pergunta, segurando
uma bandeja de taças. Assim como o homem que registra o casaco, ele
está sem camisa.
— Sim, obrigada. — murmuro. Caminhando por entre a multidão
de pessoas em uma espécie de admiração atordoada, acho que vejo
pessoas que reconheço. É difícil dizer com as máscaras, mas não
impossível, e alguns descartaram completamente as suas. Uma mulher
é âncora de notícias e eu a vi na TV dezenas de vezes. Um homem alto e
de ombros largos tem cara de jogador de futebol. Se eu estivesse mais
interessado em esportes, o nome dele teria vindo à minha mente, mas,
como é o caso, eu me contento com olhares furtivos em sua direção.
Garrafas de champanhe com rótulos dourados ocupam uma parede
inteira.
Isso é riqueza como eu nunca vi antes. É o playground de uma
pessoa rica, um estudo de como os ricos se divertem.
Então eu vejo.
A performance.
Há um palco elevado no meio da sala, e o que está acontecendo
nele faz com que a versão de Macbeth do meu clube de teatro do ensino
médio pareça uma brincadeira de criança. Duas mulheres vestidas de
lingerie circulam um homem em uma cadeira, com as mãos algemadas
atrás dele. Uma passa as unhas proprietárias pelo peito esculpido do
homem, a outra desliza a mão pela coxa nua.
Meus olhos estão grudados na cena.
E ainda ao meu redor, os convidados da Gilded Room continuam a
se misturar em vários estados de nudez, como se três pessoas não
estivessem envolvidas em preliminares muito públicas na nossa frente.
Uma mulher mascarada de quarenta e poucos anos passa por
mim, puxando um homem atrás dela pela gravata. Ela me lança um olhar
triunfante. — A próxima apresentação deve ter pirotecnia — diz ela.
Eu dou a ela um sorriso fraco. — Exatamente o que esta festa
precisa. Fogo.
— Gosto de você! — ela fala por cima do ombro. — Sinta-se à
vontade para se juntar a nós mais tarde!
Juntar-se a eles, uau. Eu sorrio para o meu champanhe e olho para
o outro lado da sala, esperando encontrar mais pessoas famosas. Não há
como meus amigos acreditarem em mim, mas ainda quero garantir que
esta noite se transforme na melhor história possível.
Meu olhar se demora em um homem do outro lado da sala. Como
a maioria dos homens aqui, ele está de terno, mas é um dos poucos que
não usa máscara. Não está falando com ninguém também. Ele apenas se
encosta na parede e assiste à apresentação com os braços cruzados
sobre o peito.
Parece que ele vai ficar de fora.
Eu troco minha taça vazia de champanhe para uma cheia e me
inclino contra a parede oposta a ele. Não há nada de familiar nele, mas
não consigo desviar o olhar.
Seu olhar se encaixa no meu, e o foco do laser deixa claro que ele
está bem ciente do meu olhar. Ele levanta uma sobrancelha.
Meus lábios se curvam no sinal universal de oi, e aí. É o sorriso que
você dá a um homem em um bar para que ele saiba que você quer que
ele venha. É descarado.
Um grupo de convidados para no meio da sala e desvia nosso
contato visual. Eu olho para o meu champanhe com o coração batendo
de repente. Eu vim aqui para observar, sem planos de participar...
Mas uma garota pode flertar, não pode?
Quando o vejo novamente, ele não está mais sozinho. Uma mulher
passa a mão pelo braço dele de uma maneira que seria fácil de ler,
mesmo se não estivéssemos em uma festa de sexo da elite.
Afasto-me da parede e dou uma volta na sala. Há uma batida
constante e forte emanando dos alto-falantes, inebriante em seu poder.
Muitos dos convidados que estavam se misturando deixaram de lado a
conversa simples, e eu passei por um homem que estava tirando o sutiã
de sua parceira enquanto conversava sobre imóveis em Nova Iorque.
Encontro um canto escuro do espaço para onde me refúgio, longe
dos casais em vários estados de nudez. Eu nunca observei outras
pessoas... bem. Talvez seja hora de declarar esta pequena aventura
encerrada.
É quando ele aparece ao meu lado com um copo de cristal na mão.
O cabelo castanho se ergue sobre uma testa forte e o quadrado de
sua mandíbula coberto por uma barba por fazer de dois dias. De perto,
é ainda mais difícil desviar o olhar dele.
Ele levanta a sobrancelha para mim novamente, mas não diz nada.
Ele apenas se encosta na parede ao meu lado e nós olhamos para a
multidão em silêncio.
Tomo outro gole do meu champanhe para manter meus nervos
sob controle. Quem é ele? Um magnata da mídia? Uma celebridade que
não reconheço? O herdeiro de uma família política? Durante esta noite,
ele é um estranho, assim como eu.
— Então? — Eu pergunto, observando-o através dos olhos
semicerrados da minha máscara. — Você está planejando se
apresentar?
Seus lábios se curvam como se eu tivesse feito uma piada. —
Eventualmente — ele admite. — Embora falar seja frequentemente um
dos passatempos menos agradáveis nesses eventos, comparativamente
falando.
Molho meus lábios. — Não se for bem feito.
— Qual passatempo? — ele pergunta, a diversão é uma corrente
oculta no rico tom de barítono de sua voz. — Fazer bem as coisas é um
dos meus passatempos favoritos.
— Ser modesto não é, eu estou supondo?
Ele se vira, e eu tenho que olhar para cima para encontrar seu
olhar escuro. — A modéstia é proibida na Gilded Room.
— Isso está no livro de regras? — Eu pergunto. — Acho que perdi
esse ponto.
Seus lábios se curvam em um sorriso torto. — Eu não acho que
você leu o livro de regras, considerando que é sua primeira vez aqui.
— O que te faz pensar isso?
— Você me perguntou se eu estava planejando me apresentar.
— E isso me entregou?
Seu sorriso se alarga. — Existem apenas duas regras rígidas
nessas festas. O primeiro é o anonimato completo. O segundo? Mulheres
iniciam. Os homens não podem falar a menos que elas falem com eles.
Oh. As mulheres detêm todo o poder. Certo.
Gemendo, eu me inclino contra a parede. — Eu me entreguei tão
facilmente, não é?
— Ainda não, você não fez. — diz ele, diversão brilhando em seus
olhos. — Quais são seus pensamentos até agora?
— Da Gilded Room?
Ele inclina a cabeça em um sim.
Olho para os convidados que se misturam. As pessoas estão se
deslocando para corredores e salas separadas e, no palco, uma das
mulheres está agora... oh. Uau.
Ela está fazendo sexo oral no homem amarrado à cadeira. A cabeça
dele é jogada para trás de prazer enquanto a dela se move em um ritmo
experiente.
— Eu não tinha ideia do que esperar quando vim aqui esta noite.
Não sabia o quão... controlado seria o hedonismo. — Desvio os olhos da
performance coreografada. — Também cheguei à triste conclusão de
que provavelmente acho que tenho a mente mais aberta do que
realmente tenho.
Ele levanta uma sobrancelha, pés de galinha fracos se espalhando
ao redor de seus olhos. Trinta, talvez, ou trinta e cinco. Não mais do que
uma década mais velho que eu. — Não está acostumado a ver outras
pessoas fazendo sexo?
— Não pessoalmente — eu admito.
Ele sorri com minhas palavras. — Não há obrigações aqui. Você
pode passar sua primeira vez apenas admirando a paisagem.
Desfrutando de algumas bebidas. Conversando.
Minha expressão de consternação deve ter sido clara, porque ele
levanta uma sobrancelha. — Isso não lhe interessa?
— Bem, acho que não gosto da ideia de ser uma voyeur. Parece
intrusivo, de alguma forma.
Ele vira o rosto, mas eu pego o sorriso. — A maioria das pessoas
aqui gosta de ser observada. Uma porta fechada significa fora dos
limites, mas portas abertas significam que qualquer pessoa é livre para
assistir ou participar.
— Outra das regras que eu não sei. — eu digo, tomando um gole
do meu champanhe. Agora que estou aqui, agora que estou falando com
esse homem... Não estou mais nervosa. É como uma experiência
extracorpórea, e a Frederica Bilson, que deveria estar nervosa, nem sabe
que está aqui. Deixei-a no corredor.
— Não há muitas regras.
— Me esclareça? — Eu pergunto. — Eu odiaria me envergonhar
ainda mais.
Ele sorri, um sorriso lento e largo que faz meu estômago apertar.
A iluminação fraca lança sombras sobre seu rosto. — Seria um prazer.
— diz ele. — Você já conhece a primeiro e a mais importante.
— As mulheres iniciam a conversa?
— Sim, assim como sexo. — diz ele. — Os homens podem sugerir
isso, se tiverem conversado com elas, mas é considerado mais
apropriado que a mulher fale as palavras.
Eu engulo contra a secura na minha garganta. — A Gilded Room é
grande em consentimento, então.
— É, sem falar na segurança. Você não vai vê-los, mas há guardas
posicionados por toda a festa.
— Há?
Lentamente, dando-me tempo para reagir, ele estende a mão e
coloca as mãos nos meus ombros. Elas estão quentes e firmes enquanto
ele me vira para o canto oposto. — O homem atrás. Mascarado, vestindo
uma cueca de couro?
— Isso é segurança?
— Sim. Está vendo o fone de ouvido?
Eu estreito meus olhos. Suas mãos ainda estão em mim, quentes
através do tecido fino do meu vestido. — Não. Ele está muito longe.
— Bem, está lá. E você deveria verificar sua visão.
— Ei, isso não é legal.
Sua risada é rouca quando ele me vira em direção ao bar. — Um
dos homens sentado, bebendo um uísque. Ele está vestindo um terno.
— Eles bebem no trabalho?
Suas mãos escorregam dos meus ombros. — É provável que seja
suco de maçã. Ninguém aqui quer se sentir protegido, então eles se
misturam. Tudo faz parte da ilusão.
— A ilusão?
— Que todos nós estávamos aqui esta noite, que esta é uma festa
de verdade, que não fomos examinados e selecionados.
Há verdade nisso, suponho. Seguranças uniformizados
estragariam o clima. — Então eles intervêm se alguém ficar muito
turbulento?
— Sim, mas isso raramente acontece. Poucos pagam para entrar
aqui apenas para tentar uma proibição vitalícia. — Ele levanta seu copo
de cristal e bebe, a longa coluna de sua garganta se movendo.
— Você não está usando uma máscara. Essa não era uma das
regras?
Ele me lança um olhar. — Algumas regras podem ser quebradas.
— Pelas pessoas certas?
Ele levanta um ombro em um encolher de ombros elegante. Não
negando, não confirmando. Uma suspeita cresce em minha mente, e eu
estreito meus olhos para ele. — Você não é o dono da Gilded Room, é? O
condutor?
— Cristo, não.
— Você sabe muito sobre como isso funciona.
— Não é minha primeira festa — ele responde. Um segundo
depois e sinto o calor de sua mão em meu braço. — Quer se sentar?
Ele acena para um sofá vazio próximo, ainda mais escondido na
sombra. Uma batida de nervos explode sob meu esterno. Sua mão cai. —
As mulheres têm todo o poder. — ele me lembra. — Você diz a palavra
e eu vou deixá-la sozinha pelo resto da noite.
— Qual é a palavra?
— 'Vá embora' geralmente funciona, mas são duas palavras.
Eu ri. — Vou ficar com isso, então. Embora não seja muito
educado.
— Você pode adicionar por favor a ela, se quiser.
— Que gentil de sua parte. — Afundamos no sofá, o couro frio sob
minhas pernas. Eu as cruzo e aperto o champanhe contra o peito como
uma arma. — Então você é regular?
— Eu suponho que você poderia me classificar assim. — Ele passa
o braço pelas costas do sofá, a mão descansando em algum lugar atrás
da minha cabeça. Nós dois olhamos para a multidão de pessoas. O que
parecia tão organizado quando cheguei, agora está desorganizado, com
as pessoas divididas em pares ou grupos menores. E querido Deus, uma
mulher está completamente nua em um sofá do outro lado da sala.
Completamente, cem por cento nua. Ela está no colo de um homem, as
mãos dele em seus seios. Outra está trabalhando entre as pernas
abertas.
Eu engulo com a visão. — Atores também?
— Eu duvido. — ele murmura. — Eles simplesmente se
inspiraram.
Talvez meu silêncio diga tudo, porque ele ri baixinho, esticando as
longas pernas à sua frente. — Eu tenho que dizer, linda, que você me
deixou curioso.
— Curioso?
— Sim. Como uma mulher como você acabou recebendo um
convite para a Gilded Room?
Eu franzo a testa. — Uma mulher como eu?
— Tão claramente puritana. — ele diz, encontrando meu olhar
com um dos seus. — Alguém que ama estar no controle. Que teme deixar
rolar.
— Eu não tenho medo de deixar rolar.
Ele levanta uma sobrancelha e eu solto um suspiro. — Tudo bem,
eu tenho, mas tenho certeza que todo mundo tem em algum grau. Você
acha que isso está me segurando aqui esta noite?
— Não sei. Você acha que está?
— Não tenho certeza. — eu digo. — Até agora estou assistindo a
uma performance de sexo ao vivo... bem, quase sexo, enquanto converso
com uma perfeita estranha. Eu diria que já estou deixando rolar.
Seu sorriso pisca. — Não é mais quase sexo.
Eu olho para o palco e depois me afasto rapidamente, meu olhar
voltando para o rosto dele. Seu sorriso se alarga com a minha expressão.
— Eu não estou chocada. — eu protesto.
— Claro que não.
— Nem um pouco puritana.
— Então olhe. — ele desafia.
Então eu faço. Eu me viro em direção ao palco, para onde uma das
mulheres está montando o homem algemado à cadeira. A expressão de
prazer em seu rosto deixa claro que ele carrega o peso da contenção com
alegria. A batida do meu sangue aumenta enquanto eu os observo, o
movimento sedoso de seus quadris e o brilho em seus olhos. A maneira
como eles se deleitam conosco observando-os.
— Ok — murmuro. — Entendo.
— O apelo?
— Sim.
Sua risada profunda rola sobre minha pele como um trovão suave.
— Afinal, não me oponho tanto a ser um voyeur.
— Acho que tem seus atrativos. — Molhei meus lábios e arrastei
meu olhar do palco para ele. — Sabe, acho que o anonimato também.
— Certamente sim. — ele concorda. — Mesmo que você conheça
alguém aqui dentro, você não tem permissão para reconhecê-lo.
Minhas sobrancelhas se erguem. — Digamos que eu saiba seu
nome. Eu não teria permissão para chamá-lo por ele?
— Não. Algumas pessoas quebram isso, no entanto.
— Os casais que vêm aqui devem.
— Eles são os piores infratores. — Ele inclina a cabeça para trás
e sorve o resto do líquido âmbar em seu copo, um relógio grosso em seu
pulso. Parece caro.
— Mas você não está aqui com alguém?
— Eu não estou. — ele confirma, passando por mim para colocar
o copo na mesa. O movimento traz consigo o aroma de uísque e sândalo.
— Nem você.
— Como você tem tanta certeza?
— Duvido que um parceiro seu a deixaria sozinha por tanto
tempo.
— Bem, duvido que eu teria um parceiro que colocasse tão pouca
fé em mim a ponto de ter que me vigiar constantemente.
Seus olhos brilham. — Ah, não foi isso que eu quis dizer. Não, ele
não seria capaz de ficar longe do problema em que você pode estar se
metendo.
Eu olho para baixo para minha taça de champanhe e para longe da
força de seu olhar. — Você é bom nisso.
— Elogiar uma mulher? — Ele bufa, mas acho que é mais para ele
do que para mim. — Eu tento o meu melhor.
Eu inclino minha cabeça e o observo. Aqui na alcova escura, com o
incenso da festa misturado com uma intimidade inebriante, parece que
eu poderia perguntar qualquer coisa a ele. — O que você costuma fazer
nessas festas?
— Procurando inspiração?
— Talvez eu queira saber com quem estou lidando. — murmuro.
Ele se recosta no sofá, puxando os ombros para trás. — O que
acontece nessas festas não sai delas.
— Bem, nós estamos em uma festa na Gilded Room. — eu digo. —
Portanto, falar sobre façanhas passadas não quebraria essa regra.
Seus lábios se curvam, um reconhecimento da brecha. — Sabe,
continuo tentando descobrir se você entrou na Gilded Room por causa
de seu cérebro ou de sua beleza, e é muito difícil decidir.
— Tem que ser um ou outro?
Ele mostra um braço pela festa. — A maioria das pessoas aqui
paga para ser membro, os homens com mais frequência do que as
mulheres, depois de serem aprovados pelo comitê de seleção. Mas
sempre há algumas mulheres que não o fazem e que recebem a adesão
apenas por sua aparência.
— Bem, isso parece machista.
Ele ri, a mão atrás de mim roçando a pele nua do meu ombro. —
Então você não é uma dessas mulheres. Você poderia ser, no entanto.
Eu franzo a testa para ele, o que só o faz sorrir ainda mais. — Então
eu sou uma das mulheres que poderiam ter se beneficiado de uma
brecha que é em si bastante sexista?
— Nunca afirmei que meus elogios eram politicamente corretos.
— Não, você não fez. — Ignorando o ressurgimento dos nervos,
tiro os saltos e puxo as pernas para cima do sofá. Seus dedos não saem
do meu ombro. — Eu vi você falando com uma mulher mais cedo. Você
foi abordado por alguém?
— Várias pessoas — ele reconhece. — Mas você sorriu para mim
do outro lado da sala. Eu disse a elas que fui chamado.
Os nervos aumentam um pouco. — Oh. Eu era tão intrigante?
— Eu nunca tinha visto você aqui antes.
Eu faço minha voz provocante. — E você viu alguém que parecia
precisar de orientação? Que gentileza sua em estender a mão.
— Eu sou um santo.
— Eu disse a você que gosto dessa coisa de anonimato, — eu digo
— e eu gosto. A ideia de que não temos ideia do que a outra pessoa faz
durante os dias. Talvez você tenha passado o dia inteiro trabalhando
como cirurgião em um hospital infantil.
Ele levanta uma sobrancelha. — Não fui honesto quando disse que
era um santo.
— Então talvez você tenha passado o dia inteiro fugindo do
Departamento de Polícia de Nova Iorque, porque é o chefe de uma
quadrilha de crime organizado.
Eu me viro para ele no sofá, e ele responde da mesma forma, sua
mão livre pousando na minha coxa. O toque é casual, mas a aceleração
do meu coração não é. — Você acha que estou prestes a fazer uma oferta
que você não pode recusar?
— Você pode tentar. Mas é emocionante não saber, você não
acha?
— Isso é. Tenho uma princesa europeia ao meu lado? Uma jovem
atriz de Hollywood? Uma cirurgiã que trabalha em um hospital infantil?
— Nunca saberemos.
— Um completo mistério — ele concorda.
— Eu gosto disso. Embora pareça estranho não ter um nome para
chamá-lo, ou mesmo referir-se a você na minha cabeça.
Seus olhos brilham com diversão calorosa. — Há uma tonelada de
coisas pela qual você pode me chamar.
Eu me aproximo, encostando-me na parte de trás do sofá. — Sabe,
você veio falar comigo. Mesmo que você não tivesse permissão para isso.
Ele levanta uma sobrancelha. — Eu fiz. Mas esperei que você
falasse primeiro. — Sua voz fica mais profunda, algo que eu deveria
ouvir de um Jumbotron 2 , narrando um filme, escutando no meu
audiobook favorito. Ela desliza sobre minha pele como uma carícia
sombria.
— Apesar de todas as mulheres que se aproximaram de você.
Apesar da… performance fascinante atualmente em exibição.
Sua mão desliza um centímetro acima da minha coxa, o único lugar
onde estamos nos tocando. Um polegar roça a bainha do meu vestido
preto. — Existe uma pergunta aqui em algum lugar?
— Não tenho certeza se estou pronta para perguntar.
— Estou perfeitamente confortável onde estou. — ele murmura.
— Então não precisa me perguntar nada.
— Eu poderia reformular, na verdade. Então é mais como uma
hipótese.
Seus lábios se curvam novamente. — Uma hipótese? Claro.
— Considerando que você se aproximou de mim e considerando
o que costuma fazer nessas festas, eu...
— O que você acha que eu costumo fazer nessas festas — ele
intervém. — Tenho a sensação de que muito disso é conjectura.
— Você está me dizendo que não participa?
Seu sorriso torna-se volúvel, uma sobrancelha levantada. — Eu
participo.
Nervos misturados com desejo inebriante e vertiginoso
percorrem meu estômago. Qual seria a sensação de sua mão mais acima
na minha perna? Seus lábios nos meus?

2 Um jumbotron, às vezes chamado de jumbovision, é uma exibição de vídeo usando tecnologia de


televisão de tela grande. A tecnologia original foi desenvolvida no início de 1980 pela Mitsubishi
Electric e Sony, que cunhou JumboTron como uma marca em 1985.
Eu sou corajosa o suficiente para fazer isso?
— Claro que sim. — eu digo. — Você provavelmente está em alta
demanda.
Ele estende a mão livre para passá-la pelo cabelo curto e escuro,
liso por entre os dedos. — Raramente sou elogiado por mulheres.
— Você gosta disso?
Balançando a cabeça em descrença, ele pega minha taça de
champanhe da minha mão e a leva aos lábios. Há diversão em seus olhos
enquanto ele toma um grande gole.
— Roubando minha bebida?
— Acho que preciso mais do que você.
— Eu sou tão desafiadora?
— Não. — diz ele, seu polegar se movendo em um círculo no meu
joelho. — E sim. Esta conversa não é nada parecida com as que tive na
Gilded Room antes.
— Oh. — Eu estreito meus olhos para ele. São todas discussões
sobre sexo, então? Embora eu suponha que é disso que estamos falando
também, mas não muito diretamente.
— Eu posso ver você pensando de novo — diz ele. — Puritana.
Eu franzo a testa. — Esse não pode ser o apelido que você está me
dando.
— Oh? Como você gostaria que eu a chamasse? — Vendo minha
expressão, ele ri novamente. Está tão sombria quanto das outras vezes.
— Vou surpreendê-la, então.
Eu limpo minha garganta. — Ainda não fiz minha pergunta
hipotética.
— Você estava se perguntando se eu queria dormir com você. —
diz ele. — E a resposta é sim.
Minha garganta fica seca, mas não desvio os olhos de seu olhar fixo
no meu. — Oh. Certo. Ok.
— Eu vi você do outro lado da sala, o jeito que você sorriu para
mim, e eu sabia que queria você embaixo de mim.
Molhei meus lábios. — Isso é mais parecido com como suas
conversas com mulheres costumam acontecer aqui?
Ele balança a cabeça. — Não, elas são muito mais clínicas.
— Bem, suponho que você raramente tenha que seduzir alguém
aqui. — murmuro, ainda me recuperando de suas palavras anteriores.
Sua mão desliza mais alto, estabelecendo-se em torno da curva da parte
externa da minha coxa.
— Estou achando divertido.
— Então é isso que estamos fazendo. — Eu traço meu dedo ao
longo da borda da taça de champanhe, e seus olhos acompanham o
movimento. — Seduzindo um ao outro.
— Toda conversa não é uma forma de sedução?
— Definitivamente um chefe da máfia. — eu respiro.
Sua risada surpresa parece quente contra a minha pele. — Você
pode pensar o que quiser sobre mim.
Eu coloco a mão em seu peito largo e observo lá, meus dedos
espalmados contra a força sob sua camisa. Ele é mais tangivelmente
masculino do que os homens com quem costumo interagir, como se
tivesse sido assado e endurecido em aço. Se é assim que os homens na
casa dos trinta são, estou perdendo. Ou talvez seja apenas o tipo de
homem que frequenta lugares como a Gilded Room?
— Não sei se sou ousada o suficiente para isso — admito.
Seu sorriso é reconfortante. — Vamos ter que tentar e ver. Outra
regra da Gilded Room é que não há expectativas.
Eu deslizo minha mão até seu pescoço, tentando passar meus
dedos pela barba por fazer áspera que cobre sua mandíbula quadrada.
— Existem algumas coisas que podemos tentar no conforto deste sofá.
— Concordo. Mas vamos nos livrar disso primeiro... — Ele
estende a mão lentamente, me dando tempo para protestar. Eu não,
ficando imóvel enquanto ele desamarra a máscara e a tira do meu rosto.
— Aqui — ele murmura. — Bem melhor.
Nós pairamos, quase nos tocando, enquanto a doce sensação de
proximidade toma conta de mim. Meus olhos se fecham enquanto ele
enfrenta a distância entre nós e pressiona seus lábios nos meus. O beijo
é competente e caloroso, e meu corpo reage a ele como uma flor ao sol.
O calor se espalha pelos meus membros e minha boca se abre para ele
em uma expiração suave.
Sua língua acaricia meu lábio inferior, sua mão curvando-se em
torno de minha coxa em um aperto firme. Meus nervos derretem em face
disso, não há nada contra sua habilidade, seu calor, a maneira como meu
corpo se aquece.
Esta é a coisa mais fácil do mundo.
Ele levanta a cabeça, apenas o suficiente para falar. — Eu não acho
que beijar será um problema — ele murmura.
Eu respondo beijando-o novamente, capturando sua risada de
resposta contra meus lábios. Minha mão desliza para cima em seu
cabelo, os fios grossos sedosos por entre meus dedos. Ele rosna em
minha boca enquanto eu puxo.
Este é um risco que vale a pena correr. Não há como dizer quando
terei um homem como este me tocando novamente, um homem bonito
que exala poder e competência e humor negro e astuto.
— Eu não sou essa garota. — digo a ele.
Suas mãos agarram meus quadris, puxando-me apertado contra
ele. — Eu sei. — diz ele, com a voz rouca. — Isso só me faz te querer
mais.
As palavras provocam arrepios deliciosos na minha pele. Com ele
em alta conta, com minha própria bravura, passo uma perna sobre seu
colo e monto nele. Podemos estar escondidos nesta alcova escura, mas
ainda estamos em uma festa e há pessoas andando por aí.
Suas mãos correm pelas laterais do meu vestido, passando pelos
meus seios. — Beije-me de novo, Puritana.
— Não é meu apelido. — eu digo a ele, e ele sorri. Eu o cubro com
meus lábios e estamos mais uma vez perdidos na química entre nós, em
qualquer mágica que aconteça quando seus lábios e os meus se
encontram. Meu desejo pulsa em sintonia com a batida da música,
hipnótica e sensual. Abaixo de mim, o pau duro dele é uma evidência de
seu próprio desejo. A surpresa me faz interromper o beijo.
Ele não perde o ritmo, passando para o meu pescoço. Uma grande
mão segura meu seio e passa o polegar pelo tecido, encontrando o ponto
firme do meu mamilo sem esforço. — Eu quero você. — diz ele, os lábios
contra a minha pele. — Você quer encontrar um quarto desocupado?
Eu engulo contra a secura na minha garganta. — Ainda há uma
terceira apresentação. Ouvi dizer que haverá pirotecnia.
— Acho, — ele murmura — que temos todo o fogo de que
precisamos bem aqui.
Seu braço é forte em volta da minha cintura enquanto
caminhamos pela festa. Passamos pela mulher nua no sofá ocupada
pelos dois homens dando prazer a ela. Ela me pega observando e me dá
um sorriso largo e presunçoso. Olha o que eu peguei.
Eu me inclino para o estranho ao meu lado. — Não para você? —
ele murmura.
Eu balanço minha cabeça. — Acho que isso requer mais
hedonismo do que tenho em mim.
— Você sabe o que eles dizem. — diz ele. — Sob as circunstâncias
certas, qualquer um fará qualquer coisa.
— Veja, é você dizendo coisas assim que o coloca na coluna da
máfia. — Virando em um corredor escuro, passamos pela porta aberta
de um quarto de hotel... só que não está desocupado. Eu desvio meus
olhos imediatamente dos corpos nus se contorcendo na cama. — Oh
meu Deus.
Eu posso ver seu sorriso na luz fraca. — Nem todo mundo gosta
assim. Afinal, muitas portas aqui estão fechadas.
— Isso é bom.
— Mas esta não está — diz ele, parando em uma porta que está
entreaberta. O quarto interior é sem graça e decorado com bom gosto.
Mas mais importante? Está vazio.
Passo por ele e entro no quarto. A cama parece enorme atrás de
mim, enfeitada com lençóis de hotel de aparência inócua. — Eu me
pergunto o que a Gilded Room diz aos hotéis que alugam. Eles sabem o
que está acontecendo?
Ele tem uma mão na porta entreaberta, um sorriso irônico nos
lábios. — Ah, eles sabem. O que você acha, Puritana? Porta aberta ou
fechada?
Eu afundo na cama. — Apenas nós, eu acho.
Ele a fecha com um clique decisivo, mas o sorriso em seu rosto me
deixa saber que ele não esperava outra resposta. — Absolutamente bem
por mim, linda.
Nós nos encaramos por algumas longas respirações. Sem palavras,
apenas olhares, e a cada momento que passa os nervos e o desejo em
meu estômago ficam mais aguçados.
— Você precisa se acostumar comigo de novo? — ele pergunta.
Eu me inclino para trás em minhas mãos e dou um simples aceno
de cabeça. Com os lábios torcidos em humor irônico, ele tira o paletó e o
joga para trás. Suas mãos grandes se erguem para desabotoar sua
camisa. Eu observo como centímetro após centímetro de peito largo, de
pele morena que fica à mostra, musculoso e cheio de pelos.
Ele para quando a camisa cai dele. — Continue me olhando assim.
— Não é difícil. — eu respiro.
Sua camisa se junta ao paletó atrás dele, e meus olhos seguem os
sulcos de seu abdômen até o cinto de couro. Seu peito largo sobe a cada
respiração. Sinto como se acidentalmente tivesse entrado em uma das
minhas fantasias mais profundas e sombrias. Porque tudo nele, desde os
olhos escuros e dominadores até o queixo quadrado e os ombros largos,
transmite poder. Ele pode não ser da máfia, mas é alguma coisa, esse
homem, e aqui está ele comigo, parecendo que mal pode esperar para
me ter. Mas ele está esperando, porque por mais poder que ele
normalmente exija, aqui as mulheres são as que mandam.
Nunca me senti tão poderosa na minha vida. A emoção disso corre
como um segundo pulso sob minha pele. — Você está muito longe. —
digo a ele. — Eu quero te tocar.
— Então me toque.
Suas palavras são suaves e sedosas, mas o desafio por trás delas é
inconfundível. Eu acabo com a distância entre nós e estendo a mão, meus
dedos se arrastando em seu peito. Ele suga uma respiração enquanto eu
traço o leve V de seus quadris. Sulcos fortes de músculo se movem sob a
pele.
— Você ainda não fez a pergunta. — ele murmura.
Minhas mãos descansam no cinto de couro, meus olhos encontram
os dele. — Você dormirá comigo?
— Não hipoteticamente?
Eu balanço minha cabeça em resposta muda.
Sua resposta também não é em palavras. Não quando ele pega
meu cabelo em suas mãos, o peso pesado e escuro dele, e o empurra para
o lado. Eu me viro para ele e ele encontra o zíper do meu vestido,
puxando-o para baixo em um movimento suave. A bainha preta me
liberta de seu alcance.
Seus olhos escurecem enquanto percorrem meu corpo, minha
roupa íntima, o sutiã e calcinha de renda combinando. Talvez eu tenha
dito a mim mesma que iria apenas assistir, não me divertir, mas... uma
pequena parte de mim tinha certeza de que estaria pronta. Apenas no
caso de acontecer.
— Tão linda. — ele murmura, fechando as mãos em volta da
minha cintura. A veia competitiva em mim ruge para a vida. Eu quero
enfrentar este desafio, para agradá-lo como sei que ele vai me agradar.
Eu quero ser o melhor sexo que esse homem já teve.
Eu o beijo com a força dessa convicção, e ele responde da mesma
forma, me puxando contra ele. Um beijo flui para o próximo, cada um
deles apertando a dor por dentro. Nós nos separamos quando suas mãos
encontram o fecho do meu sutiã.
Eu estendo meus braços enquanto ele o abre, os olhos observando
enquanto a meia taça libera meus seios. Ele suga uma respiração
sombria e estende a mão, as mãos afastando o tecido. Eles podem ser
uma dor de cabeça quando estou comprando sutiãs esportivos, mas elas
sabem como deslumbrar.
— Lindos pra caralho. — ele repete e se inclina para chupar um
mamilo em sua boca. Eu inalo com a sensação, mas rapidamente se
transforma em um gemido quando ele acrescenta seus dentes. — Eu
queria ver isso descoberto a noite toda.
— É por isso que você queria falar comigo, hein? — Minha mão se
emaranha em seu cabelo e meus olhos se fecham com as sensações. Os
homens nunca prestam atenção suficiente aos meus mamilos, mas ele
sim.
Aproveito o momento para desfazer a fivela de seu cinto, mas ele
empurra minhas mãos para longe quando alcanço o zíper. — Deite-se na
cama. — ele me diz.
Então eu faço, esticando-me no lençol luxuoso, e coloco meus
cotovelos embaixo de mim para ver como ele abre o zíper. Minha
garganta fica seca com a visão.
Ele está duro e grosso em seu aperto, e é maior do que eu
esperava. Observo enquanto ele se acaricia lentamente uma, duas, três
vezes. — Estou tão duro por causa de você, Puritana. — diz ele. — Tenho
estado desde que você me beijou lá fora como se você me quisesse mais
do que sua próxima respiração.
Nossos olhos se encontram.
Eu me viro, rastejando em direção à beira da cama. Prazer e poder
e este homem fazem minha cabeça girar, dando origem a uma confiança
que eu não sabia que tinha no quarto.
Ele se aproxima da cama, gemendo quando eu o tomo em minha
boca. — Cristo — ele murmura. — Bem desse jeito…
Dou tudo de mim, como se fosse um esporte e estou mirando a
medalha de ouro. Minha mão está fechada na base dele, minha língua
girando sobre a cabeça inchada. Há tanto dele, minhas entranhas doem
com o pensamento de levá-lo todo para dentro.
E ele tem um gosto bom, de homem, desejo e necessidade. Sua mão
passa pelo comprimento do meu cabelo, uma maldição escapando dele
enquanto eu encolho minhas bochechas e chupo o comprimento dele em
minha boca.
— Você. — ele rosna. — Eu preciso provar você.
Suas mãos estão em meus ombros, e então sou virada, minhas
pernas arrastadas para a beira da cama. A escuridão em seus olhos está
queimando, seu olhar no meu é um que nenhuma mulher jamais
confundiria. Não sei se já me olharam assim antes.
Ele agarra minha calcinha e dá um único comando. — Levante.
Eu levanto meus quadris e observo enquanto ele puxa a calcinha
pelas minhas pernas e a joga pra trás, descartada, deixando-me
totalmente nua com um homem cujo nome eu nem sei.
E é a coisa mais poderosa que já fiz.
Não há hesitação em seus movimentos seguros, a maneira como
seus lábios traçam meu corpo do meu peito até o osso ilíaco. Ele afasta
minhas pernas, acomodando-se entre elas como um homem faminto por
uma refeição.
Uma palavra abafada contra mim, que mal consigo entender.
Maravilhosa.
Mas então seus lábios estão ocupados de outra forma, sua língua
e boca deixando um rastro de fogo ardente em minha pele sensível. Eu
suspiro quando ele adiciona seus dedos, circulando e se espalhando.
Ele fecha os lábios sobre o botão sensível no ápice e eu me inclino
contra sua cabeça, o toque é demais, mas ele não cede. Não, ele usa a
língua em vez disso e desliza um dedo dentro de mim.
A doce intrusão é tudo. Não consigo pensar em seu toque, não
consigo formar palavras. Tudo gira em torno dele, começa e termina
com esse homem entre minhas pernas, se dedicando à tarefa como se
fosse eu quem estivesse fazendo um favor a ele.
O prazer surge dentro de mim, alimentado por sua língua. No
momento em que atinge meus membros, é tarde demais. Meu orgasmo
me lava como um maremoto. Isso faz minhas pernas apertarem contra
suas costas, meus quadris subindo. Ele continua passando por tudo isso,
sua língua ficando lânguida e lenta.
Ainda estou olhando para o teto quando ele desliza minhas pernas
para fora de seus ombros, sua mão acariciando preguiçosamente entre
minhas pernas. — Uau. — eu respiro. — E aqui estava eu, planejando
abalar o seu mundo.
Sua risada baixa e masculina desliza pela minha pele como seda.
— Sentir você gozar contra meus lábios acabou de fazer isso, Puritana.
— Acho que não sou mais Puritana.
— Bem, você não está mais usando nada de renda. — Ele fica ao
pé da cama e me puxa com ele, até que eu esteja deitada bem na beirada.
Observo enquanto ele pega uma camisinha do bolso de trás.
— Outra regra. — diz ele, mordendo o pacote. — Preservativos,
sempre.
Eu engulo ao ver seu comprimento, parecendo dolorosamente
duro. Ele enrola a camisinha com um movimento certeiro. Um flash de
nervosismo passa por mim. Ele é grande e já faz um tempo.
Grandes mãos acariciam minhas coxas separadas. — Eu acho…
— O que, linda? — Seu polegar roça meu clitóris e eu estremeço.
— Teremos que ir devagar, eu acho.
Ele segura minha cabeça em suas mãos e me beija profundamente,
sua língua macia, acariciando com perfeição contra a minha. Minhas
pernas relaxam por conta própria, o peso de sua ereção contra minha
coxa. — Devagar é. — ele me diz. — Confie em mim, Coração.
Coração?
O carinho é muito melhor do que puritana, encharcando minhas
defesas. — Eu confio.
— Bom. — Ele agarra a si mesmo, acariciando para cima e para
baixo ao longo da abertura entre minhas pernas. Nós dois assistimos
enquanto ele empurra, uma respiração escapando por entre os dentes
cerrados. A doce queimadura de sua intrusão é real. Eu assobio um
suspiro, virando minha cabeça para o lado.
— Olhe para mim. — ele me diz, segurando minhas pernas para
que fiquem planas contra seu peito.
Eu faço, mordendo meu lábio contra a sensação de centímetro
após centímetro me preenchendo. Ele vai devagar, até que a queimadura
de seu comprimento se transforme em um tipo diferente de fogo.
— É isso. — ele murmura, enterrado ao máximo. Ele fecha os
olhos. — Foda-se, você é gostosa.
Abro minha boca para responder, mas minhas palavras se
transformam em um suspiro quando ele começa a se mover. Uma
estocada. Duas estocadas. Puxo o edredom e tento segurar enquanto ele
gira os quadris em movimentos profundos.
Acho que nunca fui fodida tão profundamente antes.
— Você sabe o quão bom é ter você dentro de mim? — Eu
pergunto a ele, estendendo a mão para segurar um dos meus seios. Seus
olhos semicerrados acompanham o movimento, um rosnado saindo de
seus lábios enquanto eu toco meu próprio mamilo.
Dê a ele o melhor sexo de sua vida, Freddie, eu me lembro. Tudo
sobre este homem exige que os outros ao seu redor subam ao seu nível,
e eu não sou diferente.
Seus quadris batem nos meus, e eu sei que o treinamento acabou
agora. — Sim — eu gemo, arqueando minhas costas. — Por favor... me
dê isso.
Sua respiração sibila e então eu estou meio levantada da cama,
suas mãos apoiando meus quadris. Eu suspiro com a intensidade do
novo ângulo. Ele está tão fundo, tão fundo, e eu digo isso a ele.
Sua risada de resposta é sombria com prazer e orgulho. — Então
você vai me sentir — ele geme. — Então você vai se lembrar de mim.
A ideia de que não faria isso é ridícula, de que isso não se tornará
uma lembrança gloriosa em minha mente. Ele olha para mim com olhos
semicerrados de prazer, meus tornozelos um em cada lado de seu rosto.
Ele é glorioso.
— Eu posso sentir cada centímetro de você dentro de mim. —
murmuro. — Foda-me assim, não pare. Por favor, não pare.
Ele acelera, os músculos do pescoço tensos. Ele gosta de conversa
suja, então. Ele faz algo com os quadris, muda o ângulo... e oh Deus.
Atinge um ponto dentro de mim que eu não sabia que tinha, o prazer
subindo como uma tempestade através de mim mais uma vez. Este é um
homem que conhece o corpo de uma mulher.
Eu vou gozar de novo.
Fechando meus olhos, transformo-me numa confusão de suspiros
e gemidos. — Por favor. — eu imploro a ele. — Eu preciso de você, eu
preciso disso... estou tão perto.
Seus quadris aceleram até que ele está socando em mim, a
velocidade é demais, a pressão é demais. Seu polegar acaricia meu
clitóris e eu gozo.
Estou vagamente ciente dos gemidos, mas sua voz corta tudo isso.
— Foda-se sim, Coração, assim mesmo. Bem desse jeito. — Um
grunhido de prazer dele e eu abro os olhos, tendo que ver isso. Suas
belas feições masculinas estão relaxadas de prazer, quadris batendo em
mim com estocadas desesperadas. Pode ser a coisa mais erótica que eu
já vi.
Eu sinto a pulsação de seu pau dentro de mim quando ele atinge
seu ápice, enterrado bem no fundo. Meus olhos nunca deixam seu rosto
enquanto ele desfruta das sensações.
Eu sei que nunca vou esquecer essa expressão.
Quando ele abre os olhos, eles estão inundados de satisfação e
prazer. Ele vira a cabeça e pressiona um beijo suave no meu tornozelo.
— Sua boceta quase cortou minha circulação sanguínea quando você
gozou em volta do meu pau.
Minha risada é ofegante, cansada. Ele abaixa minhas pernas na
cama e sai de dentro de mim, desaparecendo para jogar fora a
camisinha. Segundos depois ele se deita ao meu lado na cama e eu me
viro para ele por instinto, minha cabeça em seu ombro. Um momento
depois, seu braço está ao meu redor.
— Eu acho que não sou mais puritana. — murmuro. — Você vai
ter que pensar em um novo apelido para mim agora.
Ele ri, o som retumbando no peito sob minha mão. — Eu acho que
vai demorar mais de uma noite para desfazer suas amarras
adequadamente.
Eu corro minhas unhas pelo punhado de pelo em seu peito, me
perguntando quanto tempo isso vai durar. Temos o quarto a noite toda?
Por hora?
Qual é o protocolo em festas como esta? Não tenho certeza se
abraçar na cama faz parte disso, mas ele não faz nenhum esforço para se
mover, seu braço mantém meu corpo apertado contra o dele.
E é maravilhoso, pele contra pele, seu corpo quente e firme ao
toque.
— É muito estranho não saber seu nome. — eu comento, me
apoiando em um cotovelo.
Ele levanta uma sobrancelha. — Você não está tentando quebrar
uma regra aqui, está?
— Eu? Eu sou uma seguidora de regras por completo. — eu digo,
descansando minha cabeça na minha mão. — É só que agora eu dormi
com um homem e não tenho nada para me referir a ele na minha cabeça.
Seu sorriso se alarga em algo perversamente pensativo. Ele
estende a mão e passa os dedos pelo meu cabelo comprido, as pontas
fazendo cócegas em meus seios nus.
— O melhor que você já teve — ele sugere. — Amante do ano. Um
deus do sexo.
— Um deus do sexo?
Ele faz uma careta fraca. — Sim, não um.
— Você é muito cheio de si, você sabe.
Ele bufa, os dedos se fechando em torno de um dos meus mamilos.
Ele brinca com ele preguiçosamente, olhos escuros encontrando os
meus. Eles estão sem fundo agora, o mesmo homem com quem lutei no
sofá uma hora atrás.
Quem é esse homem?
— Há uma diferença, — diz ele — entre ser cheio de si mesmo e
saber o seu valor.
Certo. — E o seu valor é medido em ouro?
Seus lábios se movimentam. — Diamantes, Coração.
Gemendo, eu me estico ao lado dele. Ele ri enquanto se apoia em
um cotovelo, acariciando minha barriga com a mão. — Estou me
afastando do chefe da máfia.
— Oh? — Sua mão desliza para baixo, provocando entre minhas
pernas com dedos seguros. — Como assim?
— Você fode como um homem que faz seu próprio negócio sujo.
Os dedos param e uma sobrancelha se ergue. Nossos olhos se
encontram e se fixam por um momento que se estende até a eternidade,
em algo real, assustador e terno.
Eu quero conhecer este homem.
Eu sei disso até os dedos dos pés, apesar da natureza artificial
desta reunião, a cláusula de não nomes, o fato explícito de que nossas
vidas não poderiam ser mais diferentes.
Seus lábios se contraem, o feitiço quebrado. — E você é
observadora demais para o seu próprio bem.
— Existe uma coisa dessas?
E então, dor de todas as dores, ele olha para o relógio grosso em
seu braço. Reconheço o pequeno logotipo no mostrador do relógio.
Sim, definitivamente mundos diferentes.
— Você tem que está em algum lugar?
— Infelizmente sim. — Seus dedos me dão um golpe final e
preguiçoso e, para minha eterna surpresa, ele inclina a cabeça para me
beijar uma vez entre minhas pernas em despedida.
Ele pega sua roupa enquanto eu assisto, virando-se de bruços. —
Eu estava prestes a te perguntar quando festas como essas terminam,
mas você chegou antes de mim.
— Sou mais um instrutor do que um professor. — Ele me olha de
uma altura não inferior a um metro e oitenta, talvez um metro e oitenta,
afivelando o cinto da calça. — Você parece fantástica deitada assim, a
propósito.
— Obrigada. — Eu me apoio em um cotovelo, sabendo que meus
seios estão lindos assim. O propósito dessas festas é sexo ótimo, incrível
e descomplicado.
Sexo sem compromisso.
Sexo que não vem com expectativas.
— Você vai me instruir sobre um ponto final?
Ele balança a cabeça, abotoando a camisa. — Estou me sentindo
generoso.
— Você tem permissão para fazer sexo com o mesmo convidado
em outra festa?
— Ah. — Seu sorriso pisca torto. — E isso é hipotético?
— Claro.
— É permitido. — diz ele, e o calor em seus olhos deixa claro que
não sou a única pensando nisso.
Parece que ainda não terminei de ser Rebecca Hartford, afinal.
Pegando minha máscara do chão, ele se aproxima de mim na cama.
Ele está completamente vestido agora.
— Minha beleza desmascarada. — ele murmura, amarrando a
máscara em fios de seda de volta ao redor da minha cabeça. — Foder
você tem sido o ponto alto do meu mês.
— Que estranho. — eu digo. — Foi apenas o ponto alto da minha
semana.
Ele dá uma risada surpresa, seus dedos sob meu queixo. Ele
levanta meu rosto para o dele e me dá um beijo final e demorado, um
que fala não de despedidas, mas de promessas não ditas. — Vejo você
por aí, Puritana.
Eu o interrompo quando ele está com a mão na porta, minhas
palavras saindo de mim. — Diga-me uma coisa verdadeira sobre você.
Ele faz uma pausa, seu olhar percorrendo meu corpo nu com
inconfundível admiração. — Se você não tivesse falado comigo esta
noite, eu teria quebrado as regras e feito isso primeiro. — diz ele. Ele me
dá um sorriso torto e fecha a porta atrás de si.
Meu primeiro dia na Exciteur Consulting começa com uma
apresentação de pelo menos quinze minutos longos. Eu olho para a
esquerda e para a direita para meus colegas Profissionais Juniores, o
eufemismo sofisticado da empresa para estagiários remunerados e os
vejo tomando notas diligentemente.
Por isso, voltei a anotar as minhas.
A Exciteur Consulting recruta anualmente três estagiários para
este programa de um ano, um dos mais prestigiados do setor. Exciteur
Consulting pode não ser um nome familiar, mas eles estão por toda
parte. Aconselhando uma grande empresa médica sobre publicidade?
Exciteur Consulting. Contratado para supervisionar a revisão
estratégica de um conglomerado falido? Exciteur Consulting. Veio uma
invasão alienígena ou o apocalipse, não tenho dúvidas de que eles
seriam contratados no local por sua experiência em gerenciamento de
crises.
A apresentação termina em êxito e somos enviados para nossos
diferentes departamentos. A mulher que chama meu nome é loira, tem
cabelos curtos e está na casa dos quarenta. — Frederica Bilson?
— Sim.
— Você está comigo.
Pego minha bolsa e bloco de notas, seguindo seus passos por um
corredor coberto de vidro.
— Eleanor Rose. — ela me informa por cima do ombro. — Serei
sua supervisora enquanto você estiver trabalhando conosco no
Departamento de Estratégia.
— É um prazer conhecê-la.
— Sim, eu tenho certeza. — Ela digita o código de uma porta e
entramos em um saguão com elevadores. — Estratégia está no décimo
oitavo andar. Somos um sistema de circuito fechado, Srta. Bilson.
Aconselhamos a gestão e todas as diferentes equipes de consultoria, mas
nunca falamos com pessoas de fora.
— Entendi.
— E porque eu sei como as pessoas falam, quero garantir que
você ouça de mim primeiro. Você não foi minha primeira escolha para
este cargo, mas li seu currículo e acredito que você se sairá bem aqui.
Ai.
Mas não tenho dúvidas de que também o farei,
independentemente de suas preferências. Eu passei por três rodadas de
entrevistas para ser contratada aqui e acertei todas. Então eu comparo
seu tom rápido e profissional com o meu. — Eu entendo e aprecio sua
honestidade.
Há aprovação em seu olhar. — Achei que sim. Vou apresentá-la à
equipe e ao seu espaço de trabalho e definir sua primeira tarefa.
— Estou pronta. — eu digo e quero dizer isso, praticamente
roendo as unhas. Do meu cabelo alisado aos saltos que usei dentro do
meu apartamento por uma semana para me acostumar, nunca estive tão
preparada na minha vida.
Eleanor me conduz por um segundo conjunto de portas, usando
seu cartão-chave para entrar. — Você receberá o seu até o final do dia.
— Excelente.
Ela faz uma pausa com a mão em uma divisória, olhando para uma
paisagem de escritório espaçoso com um punhado de mesas. Escritórios
de vidro individuais alinham-se na parede dos fundos. — Esta é a sua
casa pelos próximos doze meses. A divisão de Estratégia Corporativa.
— Lar doce lar — eu digo.
Bufando, ela me leva a uma mesa vazia, falando nomes enquanto
passamos. — Aquele é Toby, você trabalhará de perto com ele. Aqui está
Quentin, ele é responsável pela implementação estratégica.
Quentin me dá um aceno azedo e volta para seu computador. —
Mais um MBA de cara nova. — comenta. Está claro que não é um elogio.
— A Exciteur só contrata os melhores. — respondo com ironia.
Tanto Eleanor quanto Toby riem disso. — Aqui está sua senha. —
ela me diz. — Acomode-se, familiarize-se com o seu computador e
voltarei para lhe dar sua primeira tarefa em uma hora.
E é isso.
Eu afundo em minha nova cadeira de escritório e observo
enquanto ela se retira para um escritório no canto, a porta de vidro se
fechando atrás dela.
— A rainha do gelo. — Toby diz ao meu lado. Eu pulo com sua
proximidade repentina e ele desliza para trás, com um sorriso tímido em
seus lábios. — Desculpe. — diz ele, ergue a mão para ajustar os óculos
laranja-claro. — Ao contrário de Eleanor, assustar você não era minha
intenção.
— Ela queria me assustar?
— Intimidação é o nome do jogo nos primeiros dias por aqui. —
Ele dá de ombros, imperturbável. — Mas Quentin e eu não somos assim.
— Não me meta nisso. — retruca Quentin. Com seu terno mal
ajustado e cabelos pretos como tinta, ele me lembra um certo burro
perpetuamente triste em um desenho infantil.
Toby revira os olhos. — Ele vai se animar.
— Eu não vou. — diz Quentin.
— Você sempre se anima. — Toby responde. — Não lute contra o
inevitável. De qualquer forma, seja bem-vinda! Qual o seu nome?
Eu estendo minha mão. — Freddie.
— Freddie?
— Abreviação de Frederica, mas eu nunca uso isso.
— Freddie então. — ele confirma, recostando-se na cadeira. Uma
constituição esbelta, uma camisa de grife e um sorriso ansioso. — Você
não pode imaginar como estou feliz em ter uma nova colega de trabalho.
— O último foi ruim?
— Ele não era exatamente ruim, ele apenas…
— Continuou furtando suas canetas. — diz Quentin. — Eu lhe
disse para repreendê-lo sobre isso, Toby.
Meu novo colega de mesa dá de ombros. — De qualquer forma, ele
se foi agora e você está aqui. A nova e brilhante aquisição da Exciteur.
Eu rio, cruzando as pernas. — Aquisição?
— A empresa está mirando alto. Cada novo contratado é
altamente educado, jovem e faminto. — Toby pisca para mim. — Assim
como você e eu.
— Tudo graças ao nosso novo líder destemido — murmura
Quentin.
Eu digito minha senha no novo e elegante computador que chamo
de meu. — Novo líder destemido?
— Ah, isso é bom demais. Quentin, temos que dar a ela todos os
detalhes.
— Não sou pago para fofocar. — é sua resposta.
Toby revira os olhos e se vira para mim. — Cerca de um ano atrás,
a Exciteur foi comprada por um grupo de capitalistas de risco, a Acture
Capital.
Eu concordo. — Eu li sobre isso.
— Certo. Bem, eles colocaram um deles no comando da empresa.
A propósito, não estou falando de fofoca. Mas estamos na Estratégia, e
isso significa que interagimos muito com a alta administração.
— Certo. — Foi uma das razões pelas quais eu quis este
departamento.
— Bem, o novo CEO tem... altos padrões.
— Ele é um idiota exigente. — acrescenta Quentin, finalmente se
virando na cadeira do escritório.
Toby olha por cima do ombro, mas a paisagem do escritório
permanece inalterada.
Quentin bufa. — Ele não está aqui. Ele nunca está aqui.
— Isso não é verdade. Eu o vi conversando com Eleanor em seu
escritório uma vez.
— Não, você não viu.
Toby balança a cabeça. — Eu não sei por que você não acredita em
mim sobre isso. Ele esteve aqui, pelo menos uma vez.
— Eu acredito que você acha que o viu falando com Eleanor em
seu escritório uma vez.
— Por que isso seria tão impensável? — Eu pergunto. Conheço a
nova liderança pelo nome de minha pesquisa, mas não fazia ideia de que
eram tão peculiares. É claro que tenho mais a aprender.
— Ele não viria aqui pessoalmente. — diz Quentin. — Ele enviaria
um de seus lacaios e eles nos convocariam para o trigésimo quarto
andar.
— Só para esclarecer, estamos falando de Tristan Conway aqui?
Toby olha por cima do ombro novamente e Quentin balança a
cabeça com a paranoia. — O próprio, em toda a sua glória capitalista de
risco. Desde que compraram a Exciteur, ele vem cortando
departamentos não lucrativos e promovendo outros. Houve muita
rotatividade de pessoal.
Concordo com a cabeça, recostando-me na cadeira. — E nós o
encontramos muito em reuniões?
— Não. — diz Quentin.
— Não nos encontramos com Tristan Conway. — Toby continua,
seus braços se movendo enquanto ele gesticula. — Recebemos ordens
de Tristan Conway e do COO ou chefe de departamento.
— Não falamos com ele, não olhamos para ele, não existimos para
ele. — continua Quentin.
Eu não posso deixar de sorrir. — Isso é uma coisa de trote? Você
está exagerando nisso para chocar? Porque você pode me considerar
chocada.
Toby ri. — Gosto da sua atitude, Freddie, mas nós não estamos.
— Muito sério — acrescenta Quentin.
— Tudo bem, anotado. Vou ficar bem longe dele. Silenciosamente,
juro nunca deixar de olhar para ele, no entanto. Isso soa como mais
respeito do que um CEO deveria receber. Ele não é da realeza.
Toby se vira para Quentin. — Você viu o e-mail de Ação de Graças
que eles enviaram?
O outro bufa. — Sim. Patético.
— Que e-mail?
— A administração está planejando um almoço de Ação de Graças
para a empresa no próximo mês.
— Toda a empresa?
— O escritório de Nova Iorque — ele esclarece. — O quartel
general. De qualquer forma, ao que tudo indica, a própria direção servirá
a comida, como um gesto de agradecimento por todo o nosso trabalho.
Quentin bufa. — Mal posso esperar para ver Clive Wheeler ou
Tristan Conway servindo purê de batatas para duzentas e cinquenta
pessoas.
— Isso soa como uma péssima ideia — eu concordo, abrindo o
software de e-mail no meu computador. Há um endereço de e-mail pré-
registrado esperando por mim.
f.bilson@exciteur.com
As palavras me fazem sorrir. O meu nome, ao lado da Exciteur, a
empresa que está na vanguarda neste momento. Lutei com mais de dez
dos meus antigos colegas da Wharton para conseguir esta vaga, para não
falar de todos os outros candidatos.
Eu brinco com isso um pouco, mudando a frase de finalização pré-
escrita que é adicionada ao final de cada e-mail. Frederica Bilson,
Estagiária Profissional Junior, Departamento de Estratégia.
Sorrindo, troco Frederica por Freddie. Ninguém neste mundo me
chama de Frederica, com exceção de meus avós, mas, pelo que sei,
nenhum deles trabalha na Exciteur.
Nas próximas horas, Toby me mostra como funciona, e até
Quentin ajuda. Eles me apresentam os projetos em que estamos
trabalhando e não demoro muito para saber que os dois trabalham
muito bem juntos, apesar das brincadeiras. Ou talvez por causa disso?
Tenho certeza que vou descobrir.
Eleanor me mostra o local e me informa sobre o primeiro de vários
projetos nos quais devo ajudar. Quando caio de volta na cadeira do
escritório naquela tarde, minha caixa de entrada está lotada de e-mails.
A maioria deles é automatizada e abrange toda a empresa. Outros
são de Quentin, Toby ou Eleanor, todos com “Bom saber” ou
“Informações para você ler” na linha de assunto.
Essa é a minha leitura noturna marcada para esta noite.
Meu olhar se detém em um envio corporativo, um e-mail
intitulado “Um agradecimento às tropas”, Foi enviado de
t.conway@exciteur.com, o próprio CEO do diabo, aparentemente.
Meu sorriso se alarga enquanto leio o e-mail. É uma bobagem
corporativa clássica, provavelmente nem mesmo algo que ele mesmo
escreveu, agradecendo a todos os funcionários por seu trabalho árduo.
Sob minha liderança, a empresa dobrou seus lucros. Um orgulho humilde,
Sr. Conway.
Sorrindo, eu leio até o último parágrafo. Não se esqueça de anotar
sobre o almoço de Ação de Graças no próximo mês, o presente da empresa
por todo o trabalho árduo e longas horas que você se dedicou. Sei que você
não vai querer perder.
Vejo minha chance de entrar na brincadeira de Toby e Quentin.
Não há nada como um golpe oportuno na alta administração para se
tornar um com os colegas de trabalho, todos vocês nas fossas juntos.
Então eu avanço e escrevo um comentário sarcástico.

Você acha que a administração acredita genuinamente que todos


marcaram um X gigante e animado em seu calendário para o almoço
de Ação de Graças? Talvez ele devesse servir um pouco de
humildade com o purê...

Alguns minutos depois, espio da minha mesa para a de Toby, mas


ele está concentrado em seu trabalho e não responde. Eu posso esperar.
Uma hora depois, Quentin se levanta de sua mesa e anuncia que vai para
casa. Eleanor logo faz o mesmo, me dizendo para ir embora.
Toby me dá um bocejo. — Vamos, Freddie. Tudo ainda estará aqui
amanhã.
Não há reconhecimento do meu e-mail sarcástico. Um pavor
gelado me dá um soco no estômago. — Apenas me dê um minuto, e
podemos sair juntos.
Abro a pasta de mensagens enviadas no meu e-mail e rolo para
baixo. Talvez não tivesse sido entregue? Não, tinha...
Então eu vejo.
O e-mail não foi entregue a Toby porque não o reenviei. Não, eu
acidentalmente cliquei em responder. Na linha do destinatário está um
endereço de e-mail que dói de olhar.
t.conway@exciteur.com
O bastardo que inventou o e-mail deveria ser enforcado e
esquartejado, decido, olhando para os ícones brilhantes na minha tela.
Tenho uma secretária que vasculha minha caixa de correio, marcando
os e-mails importantes como não lidos para eu dar uma olhada. Ela é boa
no que faz.
Mas ainda tem cento e sessenta e três esperando por mim?
Nesse ritmo, vou precisar de outro expresso antes das nove horas.
Eu só tive metade do meu primeiro, de qualquer forma. Joshua
arrancou-o da minha mão quando estendeu a mão para pegar outro
croissant.
Sim, meu filho come croissants agora. Não sei quando ele ficou tão
chique, mas acordou um dia e perguntou se poderíamos trocar os bagels
de Nova Iorque por croissants, pronunciado quase perfeitamente. Levei
dois dias para aprender sobre uma nova garota em sua classe,
recentemente se mudou para cá com sua família de Paris. O nome dela é
Danielle e meu filho a ouviu perguntando se o refeitório da escola tinha
croissants um dia.
Então agora estou preso comendo coisas esquisitas todas as
manhãs com meu filho antes de ser atacado em massa por pequenas
mensagens eletrônicas. Para uma empresa de consultoria, a maioria das
pessoas na Exciteur Global não é particularmente boa em consultar seu
próprio julgamento antes de enviar um e-mail.
Então, eu trabalho na lista, respondendo à medida que avança.
Não. Sim. Agende a reunião. Eu te ligo amanhã.
Estou franzindo a testa quando abro um de f.bilson@exciteur.com.
Não é um endereço que eu reconheça.

RE: Um Agradecimento às Tropas

Você acha que a administração acredita genuinamente que todos


marcaram um X gigante e animado em seu calendário para o almoço
de Ação de Graças? Talvez ele devesse servir um pouco de
humildade com o purê...

Sinceramente,
Freddie Bilson,
Estagiária Profissional Junior,
Departamento de Estratégia

Meus olhos releram o e-mail uma vez. Duas vezes. Servir um


pouco de humildade?
Apesar da insolência das palavras, a frase me faz bufar. Esse filho
da puta acha que sabe mais do que eu, não é? Minha mão paira sobre o
botão avançar, pronta para informar ao RH que tipo de pessoa
contratamos como parte do programa anual de estagiários. O Sr. Bilson
seria demitido na hora.
Mas se eu fizer isso, estarei cumprindo a própria reputação contra
a qual estou tentando trabalhar. Nos primeiros meses nesta empresa,
tive que cortar coisas que não estavam funcionando e voltar ao cerne do
que a Exciteur faz de melhor. A liderança anterior havia perdido o
equilíbrio e eu tive que corrigir o curso. Mas estou ciente de que muitas
pessoas na empresa não veem dessa forma.
Não posso despedir este jovem por ser insolente. Nem mesmo por
ser tão incompetente a ponto de não saber a diferença entre o botão de
encaminhar e o de responder. Não significa que eu não possa lhe ensinar
uma lição, no entanto.
Clicando em responder, digito uma resposta sarcástica que deve
fazê-lo tremer em seus sapatos Oxford recém-comprados.

RE: Um Agradecimento às Tropas


Freddie,

Que prazer ouvir diretamente de um dos membros mais


inexperientes da nossa empresa. Uma pessoa com opiniões tão
espirituosas como a sua está naturalmente inclinada a
compartilhá-las, então, por favor, diga-me o que, além da
humildade, você gostaria que fosse servido com o seu purê?

Tristan Conway
CEO da Exciteur Global

Então eu apertei enviar e me inclinei para trás na minha cadeira,


imaginando o terror que acabou de subir pela espinha do meu mais novo
funcionário quando ele viu meu nome em sua caixa de entrada,
percebendo seu erro. Ele não havia enviado o comentário a um amigo
da empresa.
Duvido que obterei uma resposta. Não, em algum lugar mais
abaixo no prédio, um cérebro está disparando em todos os cilindros.
Serei demitido? Serei repreendido?
E ele nunca mais cometerá o mesmo erro. Balançando a cabeça,
mergulho de volta na pilha de e-mails. Eles precisam ser concluídos
antes que minhas reuniões diárias comecem.
Mas ele responde - uma hora depois, o e-mail está lá, piscando
para mim no topo da minha caixa de entrada de e-mail.

RE: Um Agradecimento às Tropas

Sr Conway,

Obrigada pela sua resposta rápida. Embora eu possa ser uma


pessoa de opiniões espirituosas, reconheço que não tenho a
experiência que você tem, como você apontou. Como tal, acho que
dei todos os conselhos não solicitados que deveria, pelo menos
por enquanto.

Sinceramente,
Freddie Bilson,
Estagiária Profissional Junior,
Departamento de Estratégia
Olho para o e-mail por alguns segundos. Ele realmente respondeu,
e não foi um pedido de desculpas ou medo abjeto. Apesar de tudo, tenho
um respeito relutante pelo estagiário arrogante. Eu esperava que ele
ficasse em silêncio e não me enfrentasse dessa forma. Muito poucos
nesta empresa consideram me dizer o que realmente pensam, pelo
menos não na minha cara.
Não tenho tempo para isso, e Freddie provavelmente é como
todos os outros jovens que a Exciteur contrata. Eles são uma dúzia de
centavos, os MBAs recém-formados que pensam que fizeram sucesso
por conseguir uma posição de estagiário aqui, quando na realidade não
sabem absolutamente nada e estão no degrau mais baixo da escada.
Meu instinto é cavar mais fundo neste, no entanto. Por mais que
me doa admitir, talvez ele tenha descoberto algo com seu primeiro e-
mail.

RE: Um Agradecimento às Tropas

Freddie,

Um curso de ação sábio, se eu não estivesse especificamente


pedindo seu conselho agora. Você parece ter a impressão de que
meus funcionários não estão nada entusiasmados com o almoço de
Ação de Graças. Diga-me por que você acredita que esse é o caso.

Tristan Conway
CEO da Exciteur Global

Aperto enviar e me pergunto se estou sendo um bastardo sem


coração, forçando-o a falar isso. Uma pessoa mais legal deixaria claro
que não enfrentaria nenhuma repercussão por falar o que pensa. Mas
não tenho tempo para mimar funcionários, e foi ele quem me mandou o
e-mail, por engano ou não.
Esqueço tudo sobre Freddie Bilson nas próximas horas. Há muitos
incêndios para apagar e não há tempo suficiente.
Nunca há tempo suficiente.
Minha mente volta ao fim de semana passado, encontrando os
contornos daquela noite de sábado sem esforço. Nunca tinha sido tão
difícil superar uma festa do Gilded Room. A imagem de seu cabelo
escuro solto ao redor dos ombros estreitos, o vestido preto justo e as
curvas atraentes por baixo, parece gravada em meu cérebro.
Fecho os olhos e a vejo nua na minha frente, esparramada na cama
do hotel. Todas as curvas que toquei, a curva de seu pescoço, os seios
fartos. A maneira como ela gemeu sem artifício ou fingimento.
Sem mencionar a aparência dela enquanto conversávamos. A
confiança em seus olhos, tão em desacordo com as súbitas explosões de
nervosismo ou timidez. Os convidados da Gilded Room mudam com
frequência, e raras são as vezes em que dormi com a mesma hóspede
duas vezes. Mas é melhor ela estar na próxima festa.
E é bom que ela também esteja me procurando.
Deixá-la depois de apenas algumas horas juntos foi uma decisão
difícil. Mas nunca ficava muito tempo nessas festas, não quando Joshua
estava em casa com a babá. Sei que ele a adora e não sente minha falta...
mas não posso justificar ficar longe de casa mais tempo do que o
necessário.
Mas foi por pouco com ela.
Passando a mão pelo meu rosto em frustração, reabro meu
servidor de e-mail. Nas horas desde a última vez que lidei com isso, você
não sabe, aumentou de novo?
Eu juro, eles se reproduzem na minha caixa de entrada.
E você não sabe, há um de Freddie Bilson esperando por mim.

RE: Um Agradecimento às Tropas

Sr Conway,

Sou uma nova contratada em sua empresa, mas farei minha melhor
avaliação da situação, conforme você pediu. Seus funcionários
parecem estar intimidados ou com medo de você. Se isso se deve
ao seu estilo gerencial ou ao seu histórico, não sei dizer.
O plano da gerência para um almoço de Ação de Graças na sala de
descanso como um agradecimento não parece repercutido com a
equipe, embora eu admita que só interagi com uma amostra
limitada. Talvez eles prefiram um dia de folga ou um bônus, se o
objetivo é realmente recompensá-los por um ano de trabalho duro
e ansiedade?
Este é o meu conselho solicitado, Sr. Conway, com base em menos
de vinte e quatro horas de experiência de trabalho em sua
empresa. Estou ansiosa para aprofundar minha compreensão da
Exciteur e ser útil para a empresa. Você não vai ouvir conselhos
não solicitados de mim novamente.

O melhor,
Freddie Bilson,
Estagiária Profissional Junior,
Departamento de Estratégia

Eu me inclino para trás na cadeira, cruzando os braços sobre o


peito. Bem, ele tem coragem, vou dar-lhe isso. Ele respondeu ao que eu
pedi a ele, curto e conciso, sem sutilezas e banalidades desnecessárias.
Exceto as duas últimas frases, quero dizer. Reconheço um apelo
flagrante para ser autorizado a ficar quando vejo um.
Mas não estou planejando demitir Freddie. O que ele disse sobre
os funcionários da empresa soa verdadeiro, mesmo que eu não quisesse
admitir para mim mesmo. O último ano foi brutal para muitas das
pessoas que ainda trabalham neste edifício. Eles viram colegas de
trabalho demitidos e cargos reorganizados. Muito foi sacrificado no
altar de margens de lucro cada vez maiores. Eu sei que eles estão
intimidados e com medo.
Eu sorrio quando percebo exatamente o que fazer, pegando meu
telefone e discando o ramal familiar para Clive, o COO. Afinal, Freddie é
um estagiário em Estratégia. Se ele quiser contribuir para a Exciteur...
talvez possamos colocá-lo no comando do Dia de Ação de Graças.
Já se passaram quatro dias desde o fiasco com F maiúsculo. Acho
que sempre me lembrarei disso. “O Fiasco” quando eu, Frederica Bilson,
subestimei como é fácil confundir o ato de encaminhar e responder a um
e-mail.
Todos os e-mails que enviei desde então são verificados três e
quatro vezes para garantir que cheguem ao destinatário certo. Toby
tinha me visto fazer isso uma vez e riu, me chamando de neurótica.
Eu não tinha contado a meus colegas de trabalho sobre o Fiasco,
mas a qualquer momento esperava que Eleanor saísse da caixa de vidro
que funcionava como seu escritório e me informasse que meu estágio
havia terminado. Que veio da mais alta autoridade.
Mas ela não o fez, e também não tive notícias de Tristan Conway
desde que respondi ao último e-mail. Isso me dá dois resultados
possíveis. Um, eu usei a quantidade certa de insolência e
arrependimento para ganhar seu respeito. Ou dois, ele está se
preparando para me demitir e ainda não fez isso.
A cada hora que passava, eu me inclinava mais para a opção um,
mas isso não me impediu de atualizar ansiosamente meus e-mails. Esta
semana já tinha sido muito excitante para mim. Novo emprego. Enviar
um e-mail acidentalmente ao chefe do chefe do meu chefe com um
insulto. Dormir com o homem mais magnético que já conheci. Tudo isso
em menos de sete dias.
Sério, isso deveria me render algum tipo de medalha.
— Uh-oh — Toby murmura em sua mesa. — Alguém está no
caminho da guerra.
Quentin e eu olhamos para cima para ver Eleanor avançando
sobre nós, seus saltos batendo com facilidade profissional no chão.
— Freddie — diz ela. Quentin e Toby voltam ao trabalho, e meu
estômago revira. É isso.
— Sim?
— Acabei de receber uma ligação da administração. Eles estão
reunindo todos os Profissionais Junior para algum projeto
interdepartamental. — Ela solta um suspiro. — E ainda é sua primeira
semana. Tentei explicar que você precisava primeiro se estabelecer em
seu departamento, mas eles foram inflexíveis.
Eu limpo minha garganta. — E isso veio da administração?
— Sim. Eles não me disseram mais nada. — O olhar em seus olhos
deixa claro que ela considera isso um descuido da parte deles.
— Onde você me quer?
— Você deve ir para a sala de conferências seis no trigésimo
quarto andar.
Trigésimo quarto andar é o último andar. O andar da
administração. Aquele em que Quentin e Toby me avisaram que iríamos
para descrições de projetos, onde não falamos, conversamos ou olhamos
para a administração.
— Agora mesmo?
— Agora mesmo. — ela confirma. — Eu me juntaria a você, mas
parece que são apenas estagiários.
Pego meu bloco de notas, minha bolsa e empurro minha cadeira
para trás. — Vou subir agora, então. Obrigada por me avisar.
— Claro — diz Eleanor. — Deixe-me saber o que está acontecendo
quando você voltar.
— Sim, farei isso.
Toby me dá um sinal de positivo e boa sorte enquanto caminho em
direção aos elevadores. Eu dou a ele um sorriso confiante, ignorando o
olhar apocalíptico nos olhos de Quentin. Também estou ignorando o
poço de nervos no estômago, colocado lá por palavras como
gerenciamento.
Ficarei cara a cara com Tristan Conway?
Eu passo minhas mãos sobre minha saia lápis e luto contra os
nervos familiares que vêm com andar de elevador, cortesia do meu
medo de altura. O espelho confirma o que já sei. Cabelo em um rabo de
cavalo baixo e arrumado. Maquiagem simples. Saia lápis azul marinho e
blusa cor de lavanda. Vista-se para impressionar, minha mãe sempre
gosta de dizer.
Paro do lado de fora da sala de conferências seis com os ombros
retos, pronta para a batalha, e bato.
— Entre. — A voz de um homem.
Eu entro no espaço bem iluminado. Em uma ponta de uma mesa
está um homem de quarenta e poucos anos, cabelos levemente grisalhos
nas têmporas, óculos no nariz.
— Olá, Sra... — ele olha para sua lista. — Frederica Bilson?
— Essa sou eu.
— Meu nome é Clive Wheeler e sou o Diretor de Operações da
Exciteur. Estamos esperando seus dois colegas aqui também, e então
vou informar a todos vocês. Não deve demorar. — Ele olha para o papel
e murmura: — Pelo menos espero que não.
Sento-me do outro lado da mesa e mantenho uma voz profissional.
— Parece bom. Isto é para um projeto interdepartamental? Minha
supervisora não foi totalmente informada.
— Sim, de certo modo. Foi ideia do CEO, na verdade. — Ele não
está dizendo isso, mas está lá no tom de sua voz. Ele não tinha aprovado.
O poço de nervos no meu estômago cresce. — Soa interessante.
— Interessante é a maneira certa de descrevê-lo. — ele concorda,
olhando para o telefone. — 'Crie um espírito natalino.' Essas foram suas
palavras exatas.
Merda. Espírito natalino?
As chances de isso ser sobre o Dia de Ação de Graças e meus e-
mails aumentam drasticamente. A porta de Clive se abre e eu volto meu
olhar para o caderno. Se for Tristan Conway, ainda não estou pronta.
Não se ele realmente tivesse convocado uma reunião sobre o Dia de
Ação de Graças e convidado os estagiários.
— Eu cuido dessa reunião, Clive. — A voz é suave e sombria, um
barítono tão adequado para recantos escuros em festas quanto para
salas de reuniões.
É familiar.
— Tem certeza?
— Sim. Afinal, a ideia foi minha.
Eu mantenho meus olhos no notebook. Não pode ser.
— Não posso dizer que estou chateado. — Clive admite.
Olhando para cima, vejo o COO desaparecendo pela porta ao lado,
deixando-me sozinha com o homem encostado na parede oposta. Ele é
alto e usa terno, braços cruzados sobre o peito largo.
Mas é em seus olhos que meu olhar se fixa.
Olhos que eu tinha visto rir e me desafiar apenas alguns dias atrás.
Olhos que eu tinha visto fechados de prazer. Meu desconhecido
anônimo. O chefe da máfia sombria.
O leve arregalar dos olhos é o único sinal de surpresa. — O que
você está fazendo aqui?
Minha mão se fecha em um punho sobre a mesa. Se meu estômago
era uma bola de nervos antes, agora está detonado em borboletas. —
Sou um dos profissionais juniores aqui. Fui convocada para uma
reunião.
— Impossível.
Eu balanço minha cabeça. — Comecei na segunda-feira passada.
Ele apoia as mãos na mesa de conferência, a sala encolhendo com
sua presença. Ele é tão impressionante sob a luz do dia, quando não há
como negar o quadrado de sua mandíbula ou as maçãs do rosto
salientes.
— Os três estagiários são todos do sexo masculino. — ele me diz.
Segure-se, bonito. — Não, eles não são.
— Quem é você?
— Eu sou Freddie.
Ele balança a cabeça. — Freddie é um homem.
— Bem, eu não sou.
— Claramente. — ele murmura.
— Freddie é a abreviação de Frederica. — eu digo. — Frederica
Bilson.
Ele solta um suspiro frustrado, inclinando-se para trás da mesa. —
Porquê você está aqui? Como você está aqui?
Eu franzo a testa para ele e encontro uma lasca de coragem em
meio à confusão. — O que você quer dizer? Candidatei-me a este
emprego há seis meses. Passei por entrevistas e testes. Fui escolhida e
contratada, e comecei esta semana. — Há suspeita em seu olhar, mal
escondida. Isso irrita algo em mim. — Por que? Você acha que eu escolhi
você como alvo no fim de semana passado?
A breve pausa deixa claro que ele estava suspeitando disso.
Aperto as mãos sobre a mesa para evitar que tremam. — Bem, eu
não fiz. Eu não tinha ideia de quem você era.
Ele levanta uma sobrancelha, mas eu o encaro de volta, ainda
incapaz de acreditar que é realmente ele. Sentado aqui na minha frente.
— Tudo bem — ele resmunga. — Suponho que poderíamos
encontrar um departamento diferente para você. Talvez outro dos
escritórios da Exciteur Global.
Encontrar seu olhar é a parte difícil. Balanço a cabeça e olho para
algum lugar acima dele, ignorando os olhos que tanto me cativaram na
semana passada. — Não fiz nada de errado e escolhi o Departamento de
Estratégia. Não é justo que eu seja realocada por causa de algo que
aconteceu fora do trabalho, muito menos antes de meu emprego
começar. — Eu limpo minha garganta e me forço a acrescentar: — Com
todo o respeito, senhor. Porque você é Tristan Conway?
— Da última vez que verifiquei, sim. — Ele cruza os braços sobre
o peito. — Tudo bem. Você fica, Freddie.
— Excelente, e não direi uma palavra sobre o que aconteceu no
fim de semana passado. — eu digo. — Eu me lembro de suas instruções.
O anonimato era a regra número um, e vou mantê-la.
Ah, dizer isso foi um erro.
Olhando em seus olhos escuros, observando a memória crescer e
queimar neles... isso acende o mesmo em mim. Eu não deveria ter
trazido palavras como fim de semana passado e instruções para esta sala
de conferências. A memória cresce entre nós até escaldar minhas
bochechas e me forçar a desviar o olhar.
— Eu apreciaria se você não o fizesse. — diz ele finalmente.
— Ótimo. — eu digo. — E para que conste... eu não queria enviar
aquele e-mail para você.
Ele levanta uma sobrancelha. — Imaginei.
— Não vai acontecer de novo.
— Aprendeu a diferença entre responder e encaminhar?
Meu rubor queima. — Sim, Sr. Conway.
Alguns segundos tensos de silêncio se passam, nenhum de nós
desviando o olhar. Eu sou a única que quebra primeiro. — Os outros
estagiários devem estar aqui em breve.
Ele concorda. — Em alguns minutos. Dei instruções para que
Freddie fosse o primeiro aqui.
A maneira como ele diz meu nome deixa claro que não me
perdoou pelo pecado de não ser homem. Quero revirar os olhos para ele,
mas a diferença de poder entre nós me impede. Não somos mais
estranhos na escuridão.
Nunca mais seremos.
Qualquer pequena esperança que eu tivesse de receber outro
convite entregue por engano, de fugir para uma festa e encontrá-lo...
morre e murcha em meu peito.
— Você pediu para eu estar aqui para que você pudesse me
repreender
— Algo nesse sentido. — Ele puxa uma das cadeiras e se senta,
esticando as longas pernas à sua frente. O relógio grosso brilha em seu
pulso, o mesmo que eu senti contra a minha pele quando ele passou as
mãos sobre mim.
Eu engulo. — Vá em frente então. Estou pronta.
Seus lábios se curvam em um humor inesperado, os dedos
batendo contra a mesa. — Bem, já que você discordou de quase tudo que
a empresa planejou para o próximo mês, estou colocando os estagiários
no comando da celebração do Dia de Ação de Graças da Exciteur.
Eu o encaro.
Ele olha de volta para mim.
— Perdão?
— Vocês três, — diz ele, com a voz suave — terão a chance de
praticar suas habilidades de gerenciamento de projetos. Você deve
apresentar suas ideias a mim e aos organizadores do evento. Considere-
nos, considere-me, um cliente. Como estagiária de Estratégia, você
naturalmente será a líder da equipe.
— Naturalmente. — murmuro.
— Você vai se reportar à administração em uma semana com suas
sugestões sobre como devemos mostrar algum apreço do Dia de Ação
de Graças aos funcionários. Quero cronogramas, resultados projetados,
orçamentos. — Seu sorriso é perverso, o mesmo que causou arrepios na
minha pele apenas alguns dias atrás. — Você claramente acha que sabe
mais do que eu, Freddie, e eu sei que você gosta de um desafio.
O bastardo.
Ele olha para mim como se estivesse me desafiando a me opor,
como se soubesse que está sendo duro, mas me deixando saber que não
vai desistir só por causa do fim de semana passado. Ele também não
deveria. O passado foi o passado, o presente é o presente e não quero
tratamento especial de Tristan Conway.
Eu coloco minha voz em tom profissional. — Obrigada por esta
oportunidade, Sr. Conway. Não vou decepcionar.
Ele levanta uma sobrancelha. — Tenho certeza que você não vai,
Srta. Bilson.
Quais são as chances?
Muito baixas, é isso. Nunca encontrei ninguém da Gilded Room no
trabalho, e apenas algumas vezes o fiz em um ambiente privado. Mas
Frederica Bilson é estagiária da minha empresa, então está fora dos
limites, ela está praticamente usando um cone de trânsito neon na
cabeça. A lembrança perfeita da noite de sábado está manchada para
sempre agora, sabendo que ela me conheceu, o verdadeiro eu. E eu não
sou um chefe da máfia.
Eu me inclino para trás na cadeira e pressiono as palmas das mãos
contra os olhos. O jovem estagiário insolente que escreveu aqueles e-
mails era certinho.
Não consigo fazer com que as duas imagens dela se fundam em
uma só na minha cabeça.
A megera de cabelos escuros, tímida e sedutora de sábado.
A jovem adequada, com saia lápis encontrando meu olhar através
da mesa de conferência.
O objetivo de ir para a Gilded Room é fornecer anonimato - para
garantir que eu permaneça no controle. Eu tinha erguido uma fodida
parede de concreto de três metros entre minha vida privada e minha
vida profissional, e de alguma forma ela conseguiu agarrá-la como uma
bela, mas mortal erva daninha.
E é claro que ela está na Estratégia de todos os departamentos, o
único lugar que estou convencido que tem vazamento de informações
para nossos concorrentes. Nossos movimentos de negócios foram
antecipados por outras empresas de consultoria com muita frequência
para que fosse simplesmente uma coincidência. Estive de olho no
departamento no mês passado... e agora minha visão envolverá uma
mulher de quem conheço o gosto, mas a quem não posso voltar para
repetir.
O telefone na minha mesa vibra e eu pressiono o botão do alto-
falante. — Sim?
— A escola de seu filho está em linha, Sr. Conway.
A St. John's Prep está sempre me ligando, e é apenas sobre meu
filho a cada três vezes. As outras? Você quer doar para o bazar da escola?
Acompanhante de uma viagem ao Zoológico do Bronx? Participar da
venda de bolos? É tão perda de tempo quanto induto de culpa.
— Passe-os.
Estalos estáticos e, em seguida, uma voz profissional na outra
linha. — Sr. Conway?
— Estou aqui. Joshua está bem?
— Ele está, mas diz que está com dor de estômago e quer ir para
casa. — Seu tom de voz é de desculpas. — Ele não queria que ligássemos
para você, senhor.
Já estou pegando meu celular. — Estarei aí em dez minutos.
— Oh, isso é perfeito. Estaremos esperando por você.
Desligo e fecho meu laptop de trabalho, guardando-o na pasta.
Joshua raramente tem dores de estômago e nunca quer voltar da escola
mais cedo. Mil cenários diferentes passam pela minha cabeça. Eu tinha
esquecido alguma coisa? Uma consulta médica, o aniversário da morte
de sua mãe... não e não.
Eu paro na mesa da minha secretária. Ela olha para cima de sua
tela, seu rosto estalando na máscara profissional que ela sempre usa. —
Preciso que reagende meus compromissos da tarde, — digo — e mude
todas as reuniões das três da tarde para reuniões por telefone. Estarei
trabalhando em casa.
Ela já está digitando no teclado. — Claro senhor. Está tudo bem
com Joshua?
Cecilia sabe tudo sobre tudo e desde que assumi a Exciteur. Ela é
inestimável. — Sim. — eu respondo, já indo para os elevadores. — Vejo
você amanhã.
Eu me pego batendo o pé no chão de aço durante todo o caminho,
e sei que não poderei me livrar da minha preocupação até chegar a St.
John's. Ryan para o carro na zona de desembarque e eu disparo para fora
do carro, subindo as escadas para o antigo prédio de tijolos.
Joshua, Joshua, onde você está...
Ele está esperando com a Sra. Kim dentro da porta principal da
escola, sentado em um banco e chutando as pernas na frente dele. Ele
me lança um olhar tímido sob uma cabeça de cachos escuros.
— Obrigada por ter vindo. — diz a Sra. Kim. — Sinto muito por
ligar para você durante o horário de trabalho, mas acho que Joshua
estava realmente sofrendo.
Ele se curva com as palavras dela, um braço envolvendo seu
estômago.
— Você fez certo ao ligar — eu digo. — Obrigado por me avisar.
Sua expiração é de alívio. Ela estava preocupada que eu ficaria
com raiva? Talvez eu não tenha escondido meu aborrecimento com as
ligações de venda de bolos tão bem quanto pensei.
Joshua e eu saímos da escola, e estendo a mão para passar a mão
pelo cabelo dele.
— Olá, pai.
— Ei, garoto. Uma dor de estômago, hein?
— Sim.
Hum. — Está muito ruim para tomar sorvete no parque a caminho
de casa?
Ele olha para mim, os olhos sérios por trás dos óculos. — Acho que
o sorvete pode melhorar.
Eu pressiono meus lábios para não sorrir. — Então é sorvete,
garoto.
Joshua deixa sua mochila no carro e Ryan dá partida, voltando
para o apartamento. Então, caminhamos para casa, lado a lado e com as
mãos nos bolsos. Os altos carvalhos do Central Park acenam no final da
rua. Um oásis neste mundo de pedra.
— Você teve matemática e inglês esta manhã?
Ele concorda. As lapelas da camisa de seu uniforme estão tortas e
eu estendo a mão e as corrijo para ele, ignorando seu bufo de irritação.
— E? Como foi?
— Matemática estava bom. O inglês também estava bom.
Tínhamos que recitar um poema e depois contar para a classe o que
achávamos que significava.
Minhas sobrancelhas se erguem. — Um que você mesmo
escreveu?
— Não, de um livro. — Sua voz escurece. — Pegamos um para
cada um e então tivemos que ficar ao lado de nossas mesas e lê-los em
voz alta.
— Como foi?
— Tudo bem, eu acho. Eu tinha um fácil.
Então não foi por isso que ele teve dor de estômago. Entramos no
parque e ambos observamos um cachorro correndo na nossa frente, sua
coleira arrastando atrás dele na grama escura. Um adolescente vem
correndo atrás dele.
— Ve? — Eu digo. — É por isso que não temos cachorro.
— Eu seguraria a coleira. — protesta Joshua. — E não precisamos
de um cachorro grande.
— Não somos uma família de cachorros pequenos.
— Somos uma família sem cachorros. — ele murmura. — Eu
quero de morango.
— Boa escolha. Acho que vou tomar o de manga.
Ele geme. — Você sempre toma o de manga.
— É o meu favorito, garoto. — Eu corro minha mão por sua cabeça
de cachos grossos novamente. Ele nunca vai me fazer parar de fazer isso,
nem mesmo quando ele for tão alto quanto eu. Sua mãe tinha
exatamente esses cachos.
— Se você conhece, não mude — ele cita com um suspiro. É um
dos meus ditados favoritos.
— Exatamente. Além disso, você também gosta de manga.
— Sim, mas não o tempo todo.
— Estou velho e firme em meus caminhos.
— Você não é tão velho. — ele franze a testa. — O pai de Mike está
na casa dos cinquenta!
Eu bufo. Aos trinta e quatro anos, acho bom que meu filho não me
considere tão velho. Mas aos nove anos, acho que todos os adultos são
velhos. — Bem, as pessoas têm filhos em idades diferentes.
— Ou elas ganham filhos em idades diferentes, como você me
ganhou.
— Exatamente assim, sim.
Ele não parece chateado com isso. Para Joshua, a morte de seus
pais não é algo que ele lembra. Ele só sabe da queda do avião de minha
irmã e do marido dela nas Montanhas Rochosas pelo que lhe contaram,
mesmo que estivesse vivo naqueles dias terríveis em que as equipes de
resgate procuravam o avião fretado. Ele tinha dois anos.
Assinei os papéis de adoção de Joshua seis dias depois que seus
pais foram oficialmente declarados mortos.
Paramos na barraca de sorvete no lado leste do Central Park. Fica
a poucos passos do nosso apartamento, e é um lugar que frequentamos.
Alguns podem nos chamar de regulares. Como Larry, por exemplo.
— Meus regulares! — ele chama, vendo-nos aproximar. — E olhe
para você, homem bonito. Em um uniforme como seu pai.
Joshua olha para Larry na barraca de sorvete. — Papai não está de
uniforme.
— Um terno é quase como um uniforme — eu digo.
— Sim, bem, não é como um policial ou um bombeiro. Eles salvam
vidas. E — acrescenta — eles têm cachorros!
Larry me lança um olhar compreensivo. Ele ouviu o desejo de
Joshua por um cachorrinho por meses, senão anos. — Os cães deles são
cães de trabalho, homenzinho. Eles fazem parte da força. Chocolate de
novo?
— Não, obrigado. Morango para mim.
— Morango. — Larry não me pede o meu, pois nunca muda. Um
minuto depois, pago nossos dois sorvetes, um de manga e outro de
morango.
— Vejo vocês na próxima semana, pessoal.
— Obrigado, Larry — eu digo. Joshua se vira com um foco
obstinado em seu sorvete. Pegamos o caminho mais longo para casa,
passamos pelo lago. Joshua olha para mim surpreso quando vou para
um dos bancos do parque, mas não protesta.
Eu estico minhas pernas na minha frente. É um lindo dia de
outono, estou no parque com meu filho e tenho sorvete na mão.
Hora de fazer um pequeno trabalho investigativo.
— Quando começou a dor de estômago?
Silêncio quando ele para de lamber o sorvete. — Pai…
— Sim?
Ele suspira. — Eu realmente não tive dor de estômago.
Eu mordo meu lábio para não sorrir. Se há uma coisa em que meu
filho é péssimo, é em mentira. Espero que ele nunca cresça e aprenda.
— Oh? O que aconteceu então?
Ele olha para o chão abaixo de nós, esticando uma perna para
chutar uma pedra errante. — Eu não queria que eles ligassem para você.
Eu sei que você está ocupado.
— Nunca muito ocupado para você.
— Eu pensei que eles ligariam para casa, e Marianne poderia vir
me buscar.
— Marianne não está autorizada a buscá-lo durante o horário
escolar. Só a família está. — Eu tive que assinar renúncias para a escola
para permitir que Marianne e Ryan pegassem Joshua depois que as aulas
terminassem. A St. John's Prep leva a segurança tão a sério quanto leva
a educação, uma das muitas razões pelas quais a escolhi.
Joshua está quieto, mas é um tipo de silêncio pesado. Ele está
trabalhando em alguma coisa, e seja o que for, é grande. Eu dou um tiro
no escuro.
— Tinha algo a ver com a garota nova? A francesa?
Ele geme, jogando a cabeça para trás contra o banco. — Pai, está
sendo terrível!
Bingo. Eu jogo meu braço atrás dele no banco, puxando-o para
mais perto. — Diga-me.
— Ela não sabe que eu gosto dela.
— Mhm.
— Pensei em contar a ela, — diz ele sério — mas e se ela também
não gostar de mim?
— Pode acontecer — eu admito. — Isso é sempre um risco.
— Então eu decidi que deveria me tornar amigo dela primeiro, e
conhecê-la, e então dizer a ela quando eu souber que ela pelo menos
gosta de mim como amigo.
— Muito inteligente. — eu comento.
— Mas eu ouvi Dexter dizendo a ela hoje que ele gosta dela. E ela
disse que gostava dele também. — Seus ombros se curvam para a frente,
e eu observo enquanto o sorvete de morango cai em sua mão, esquecido.
— Ah, garoto. Isso é péssimo.
— Isso é. — diz ele. — É muito, muito péssimo.
Estendo a mão e limpo sua mão. — Mas você sabe, vocês dois estão
na mesma classe agora. Você a encontrará durante todo o ano letivo,
talvez até no próximo ano. E ela pode mudar de ideia.
— Dexter é horrível.
Eu sei que Dexter já foi considerado um amigo em nossa casa. Na
verdade, acho que ele esteve em nosso apartamento para brincar, mas
guardo esse comentário para mim. — Danielle pode mudar de ideia. As
meninas fazem isso às vezes. Meninos também, você sabe.
Ele suspira o suspiro do amor não correspondido. — Mas quando?
— Eu não sei, garoto. Pode nunca acontecer, mas você não pode
perder a esperança. Tente ser amigo dela independentemente. Você
ainda quer conhecê-la, não é?
— Eu acho que sim. — ele murmura.
— Porque ela é legal e engraçada?
— A mais legal.
— Então você será amigo dela, porque isso ainda é uma ótima
coisa para se ser, e espero que os sentimentos dela mudem.
Silêncio enquanto ele digere isso. Quando ele termina, ele pula do
banco. — Vamos para casa.
— Dor de estômago curada?
Ele revira os olhos. — Eu nunca tive uma, pai.
— Certo. — Sorrindo, jogo nossas coisas em uma lata de lixo
próxima e coloco a mão em suas costas, entre as asas de suas omoplatas.
— Ela vai mudar de ideia.
Mas sua mente já seguiu em frente, ao que parece. — O que vamos
fazer no Dia de Ação de Graças?
— Para o dia de Ação de Graças?
— Maria vai com a família para o Canadá. Turner está
comemorando na casa de seu avô em Martha's... em algum lugar.
— Vineyard — corrijo.
— Vineyard — ele repete. — O que vamos fazer, pai?
Sua pergunta me deixa perplexo. Nos anos anteriores, sempre
comemoramos com minha mãe, que vem da Flórida para as férias.
Comida e alguns jogos, assistindo ao desfile na TV. Isso tinha sido o
suficiente antes.
— A vovó não vem este ano. — eu digo. — Ela está indo para Nova
Orleans com alguns amigos de sua comunidade de aposentados. — Ela
se sentiu culpada por isso, mas eu ouvi em sua voz que ela queria ir. Eu
disse a ela para fazer isso e que, em vez disso, a veríamos no Natal.
— Eu sei disso. — diz Joshua. Salta para um parapeito baixo e
começa a andar em linha, um pé na frente do outro. — Mas o que
estamos fazendo? Podemos fazer o que quisermos, pai.
— Acho que podemos. O que você quer fazer?
Ele pensa, estendendo os braços para se equilibrar. Aos nove anos,
ele é grande o suficiente para pensar que não precisa mais segurar
minha mão, mas eu ando ao lado dele por precaução. — O pai de Mike
está organizando um Dia da Empresa Familiar para o Dia de Ação de
Graças.
— Um dia da empresa familiar?
— Sim. É como uma grande feira, e ele disse que vai ter algodão
doce para todos os funcionários e seus filhos.
— Onde o pai de Mike trabalha?
— Coney Island.
Isso explica as coisas. — Bem, minha empresa não é bem assim.
— Não sei como é a sua empresa — reclama. — Tive que explicar
na aula algumas semanas atrás e inventei coisas.
— Eu compro empresas, depois certifico-me de que funcionem e
depois as vendo. — Já expliquei isso a ele antes, mas entendo que não
faz muito sentido para uma criança.
Joshua salta do parapeito e aterrissa perfeitamente, com os
joelhos dobrados. — O que você está fazendo para sua empresa no Dia
de Ação de Graças?
Como estou tendo essa conversa com meu filho, logo após ter com
Frederica Bilson? Eu nem sou uma pessoa de festa. Mas quando encaro
o olhar amplo e brilhante de meu filho, sei que é hora de me tornar um.
Joshua não merece nada além do melhor, mas ele está preso a mim, e eu
vou ter que me animar.
— Não é o suficiente — eu admito. — Eles têm trabalhado muito
duro para mim, mas eu não disse isso a eles.
— O Dia de Ação de Graças é a época do ano para contar coisas
assim às pessoas — ensina Joshua. — No ano passado, escrevemos notas
de agradecimento aos nossos colegas com coisas que gostamos neles.
Talvez você devesse fazer o mesmo em sua empresa?
— Talvez eu devesse — murmuro, colocando a mão na parte de
trás de sua cabeça. — Você é inteligente, garoto.
Ele olha para mim. — É por isso que eu fingi uma dor de estômago.
Nunca tive uma antes, então sabia que eles levariam a sério.
Eu sorrio de volta para ele. — Inteligente, mas no futuro, não
corremos quando as coisas ficam difíceis.
— Eu sei, pai.
Uma hora depois, quando estamos seguros e protegidos em nosso
apartamento com vista para o Central Park, sento-me em meu escritório
doméstico e abro meu laptop.

Assunto: Celebração de Ação de Graças da Empresa

Srta. Bilson,
Seu orçamento para este projeto acaba de aumentar
significativamente. Tão significativamente, de fato, que não há
limite algum para suas sugestões iniciais. Talvez algo que inclua as
famílias dos funcionários?
Pense grande, Puritana.

Tristan Conway,
CEO Exciteur Global
Eu pressiono o controle remoto para mudar os slides na tela. Ao
meu lado, William e Luke se deslocam para o lado, olhando para o nosso
público. — Então, — eu digo — aqui estão todas as três opções para fácil
comparação. Não hesite em nos informar o que vocês pensam.
Tristan e Clive olham para nós do outro lado da sala de reuniões,
ladeados por duas mulheres do RH da Exciteur e da equipe de
planejamento de eventos. Tristan bate os dedos na mesa e estuda o slide
em exibição com uma expressão inescrutável.
As três opções em exibição têm orçamentos, cronogramas e
conceitos claros. Um almoço de Ação de Graças na empresa, onde
alugamos um restaurante próximo. A segunda opção, um bônus em
dinheiro em mãos para todos os funcionários, em uma escala móvel.
A terceira? Alugar o Wilshire Gardens no Central Park por uma
noite, o parque de diversões que é montado por alguns meses a cada
outono. Convidar todos os amigos e familiares… e reservar um bar
próximo para os solteiros irem depois.
É escandalosamente caro, mas o e-mail de Tristan pedia
especificamente para que fosse para a família. Ele também incluiu o
apelido. Puritana. Tirado do ambiente íntimo onde havíamos
concordado em deixá-lo e levado para o local de trabalho. Eu apaguei
isso antes de encaminhar o e-mail para Luke e William e dizer a eles que
tínhamos que fazer algo grande.
E agora Tristan não diz nada.
Apenas olhando para as três opções, seus olhos se estreitaram em
pensamento. As pessoas em ambos os lados dele olham. Uma vez, duas
vezes. Esperando seu veredito.
Cruzo os braços sobre o peito, recusando-me a mostrar qualquer
nervosismo. — O que você acha?
— A opção três é viável dentro do prazo? — Tristan pergunta.
Eu concordo. — Absolutamente. Já entramos em contato com o
parque de diversões para perguntar sobre a disponibilidade.
Clive franze a testa. — O custo é considerável.
— É alto em comparação com as outras duas, — admito — mas
em termos de aluguel de um local, é realmente bastante acessível.
Tristan dá um aceno lento, seu olhar no meu. — Certo. Bem, vamos
com a opção três. Obrigado pela excelente apresentação.
Os olhos se voltam para ele e há um momento de silêncio
atordoado.
— Senhor. — disse uma das mulheres — isso vai exigir um corte
significativo em nosso orçamento de pessoal para este ano.
Tristan acena com a mão. — Vamos reabastecê-lo com nossos
retornos do quarto trimestre. Estou bem ciente de que os cortes que
fizemos no ano passado afetaram a moral. Quantos de vocês, do meu
lado da mesa têm filhos?
Clive se junta às mulheres concordando que sim, mesmo que não
sigam o raciocínio por trás da pergunta de Tristan.
— E todos vocês passaram muitas noites aqui. — ele continua. —
Não, vamos alugar Wilshire Gardens por uma noite e ter um Dia de Ação
de Graças em Família, tudo por conta da empresa.
Eu limpo minha garganta. — Excelente escolha, senhor. Luke,
William e eu começaremos a planejar imediatamente. Teremos os
contratos de aluguel para a empresa assinar até o final da semana.
— Está certo. — Tristan se afasta da mesa de conferência. Os
outros se esforçam para fazer o mesmo, arrumando as notas. — Nós
terminamos aqui, então. Senhorita Bilson, gostaria de uma palavra antes
de retornar ao Departamento de Estratégia.
Eu dou um aceno rígido, dolorosamente ciente de como suas
palavras causam olhos arregalados entre os outros. William e Luke se
aglomeram ao meu lado enquanto desligo meu laptop de trabalho.
— Não acredito que ele escolheu a feira. — William resmunga,
enrolando o cordão. — Achei que era um beco sem saída.
— Mostra o que sabemos sobre gerenciamento. — Luke
murmura. Ambos olham por cima dos ombros antes de me dar boa sorte.
A porta se fecha atrás deles, e depois que um curioso Clive sai da sala,
somos apenas Tristan e eu.
Ele aponta para uma cadeira ao lado dele. — De quem foi a ideia
de Wilshire Gardens?
Sento-me do outro lado da mesa. — Minha, senhor.
— E como você pensou nisso?
— Você mencionou a família em seu e-mail. Não há muitas opções
por aqui que interessem às crianças, mas ainda funcionam para os
funcionários que não têm nenhuma. — Uma rápida pesquisa no Google
da área me deu poucas opções, e foi apenas nossa sorte que o parque de
diversões estava na cidade para a temporada de férias.
— Acontece que foi uma excelente sugestão.
— Obrigada. — O silêncio se estende entre nós e eu limpo minha
garganta. — Desculpe, mas por que você me pediu para esperar?
— Eu queria perguntar a você quem primeiro pensou na ideia.
— Entendo. Embora, sem Luke ou William aqui para me corrigir,
eu poderia simplesmente reivindicar o crédito pela ideia deles.
Sua sobrancelha se ergue. — Você está?
— Não. — eu admito.
— Eu duvidava que você estivesse.
— Ainda assim... na frente de todas aquelas pessoas, senhor. Elas
podem começar a pensar em algo desagradável, ou a... suspeitar.
Tristan passa a mão pelo cabelo, os lábios pressionando em uma
linha apertada. Levo um momento para reconhecer que é para não rir.
— Nenhuma alma nesta sala sabe da minha participação em uma
determinada sala. Eles certamente não sabem sobre a sua. Como eles
iriam suspeitar?
Eu pressiono minhas mãos espalmadas na mesa na minha frente.
— Reputações são coisas preciosas. Tenho certeza que os outros
estagiários vão me perguntar mais tarde o que você queria discutir em
particular, e se eu não tiver uma boa resposta, os rumores podem se
espalhar.
Os traços de diversão deixam seu rosto. — Eu não gosto do que
você está insinuando.
— Bem, eu também não, mas isso não muda os fatos.
— Eles não vão falar. Eles sabem que não podem fazer isso. — Ele
acena com a mão grande, e talvez isso funcione em seu mundo. Poder e
prestígio superam tudo.
Não no meu.
— Por que você se candidatou a esta empresa?
Minhas sobrancelhas se erguem. — Isso é o que você realmente
queria saber?
— Sim. Você foi inflexível da última vez, dizendo que trabalhou
duro para chegar até aqui e que queria o Departamento de Estratégia
em particular. Diga-me o porquê.
Prendo meu lábio inferior entre os dentes. Ele está brincando? A
Exciteur tem uma das melhores reputações no que diz respeito à
consultoria. É uma empresa multinacional prestes a ingressar nas Cinco
Grandes empresas de consultoria, transformando-as nas Seis Grandes.
A resposta deve ser óbvia.
Mas a intensidade em seu olhar não é nem um pouco brincalhona.
É um lado dele que eu havia percebido no último fim de semana, mas só
depois de conhecê-lo aqui é que eu o vi em toda a sua glória. O bonitão
pode até brincar, mas seu coração é sério.
— Eu era a primeira da turma na Wharton, — digo. — MBA.
Trabalhar em consultoria é um sonho para um graduado em
administração. Nenhuma outra área permite que você obtenha tanta
exposição comercial.
— Wharton?
Eu concordo. Não foi fácil, nem financiar meus estudos nem as
aulas. — Ambos bacharelados e MBA.
— Então você está aqui para aprender.
— Absolutamente.
— Por que estratégia?
Eu encontro seu olhar. — Meus cursos favoritos na faculdade
eram todos sobre estratégia de negócios e gestão estratégica. É a arte de
conectar o passado com o presente, para criar o futuro. O departamento
de estratégia é onde as decisões reais são tomadas. Está bem. Não há
outra área que me interesse tanto.
Ele dá um aceno lento. — A estratégia é a alma de uma empresa.
— Exatamente. As empresas vivem ou morrem com base na
solidez disso, e a Exciteur tem alguns dos melhores estrategistas
corporativos do país.
— Do mundo. — ele corrige.
Eu sorrio, mas não me oponho. Ele provavelmente está certo.
Ele se recosta na cadeira e cruza os braços sobre o peito. Apesar
de saber o nome dele agora, Tristan Conway ainda é um mistério tão
grande quanto era naquela festa escura. Não sei o passado dele, a idade
dele. Seus interesses e hobbies.
— O que foi isso? — Eu pergunto. — Uma segunda entrevista?
Seus lábios se curvam. — Eu nunca consigo falar com os
estagiários. Pensei em mudar isso.
— Então por que Luke e William tiveram que sair?
— Você sabe por que eles tiveram que sair.
Eu me afasto do magnetismo de seus olhos, os nervos dançando
na minha espinha. — Este Dia de Ação de Graças em Família pode ter
começado como uma punição, — eu digo — mas eu gostaria de
agradecer. Já que você escolheu o parque de diversões, este pode se
tornar o maior projeto que participo durante meu tempo aqui.
— Punição?
— Por conta do meu primeiro e-mail. — eu digo. Apenas a
lembrança disso é mortificante, mas eu não desvio o olhar do seu. — Eu
percebo que talvez tenha sido mais direta do que você está acostumado.
Suas sobrancelhas se erguem. — Você não acha que minha equipe
me diz a verdade?
— A julgar pelo que vi hoje, todos os seus funcionários na sala
ficaram surpresos quando você escolheu a opção do parque de
diversões, mas apenas Clive realmente falou sobre suas dúvidas… e
apenas uma vez.
— Você não parece compartilhar a apreensão deles.
Eu solto um suspiro. — Eu realmente quero trabalhar aqui, Sr.
Conway. Mas acredito que já lhe dei motivos para me demitir com
aquele e-mail inicial... mas você não o fez. Espero que não o faça no
futuro.
— Essa é uma grande aposta. — ele comenta, mas um sorriso
brinca em seus lábios. — Para constar, não lhe dei este projeto como
punição.
— Não?
— A Freddie que respondeu aos meus e-mails, que ainda não se
desculpou, a propósito, recusou-se a recuar. Eu queria ver do que aquela
pessoa era capaz quando tivesse a oportunidade.
Oh. — Eu não vou desapontá-lo.
Tristan dá um único aceno. — Eu não espero que você faça isso.
Nossos olhos se encontram e se fixam, o contato visual
prendendo-me no lugar. Como aconteceu na festa, onde atravessou a
multidão de convidados que se misturavam e a música pulsante para me
prender onde eu estava. Desta vez, há apenas uma mesa de conferência
entre nós, e está silenciosa o suficiente para ouvir um alfinete cair.
Minha voz está fraca quando a reencontro.
— Isso foi tudo, Sr. Conway?
Ele limpa a garganta antes de responder. — Sim. E se for
perguntado, sinta-se à vontade para contar a verdade aos seus colegas.
— A verdade?
— Que eu queria saber quem teve a ideia vencedora.
Eu me levanto, juntando meu laptop e notebook, segurando-os
como um escudo contra o meu corpo. — Obrigada.
Ele bate os dedos na mesa, grande demais para esta sala de
conferências. Ele ameaça me engolir inteiro. — E a senhorita Bilson?
— Sim?
— Apesar dos problemas que isso causou, estou feliz por você ter
escolhido esta empresa.
— Eleanor é durona, — Toby me diz — mas ela é justa. Sua
franqueza geralmente é o melhor. Facilita o meu trabalho.
Quentin pega sua cerveja. — Você deveria estar feliz por não estar
aqui durante a aquisição de Conway, no entanto.
— Ela era má naquela época?
— Todo mundo era mau naquela época. — Ele balança a cabeça,
os olhos rastreando minha mão ao redor do copo de uísque na minha
frente. Ambos ficaram surpresos quando eu pedi, como a maioria dos
homens. Adoro surpreendê-los. Como se eles tivessem o monopólio das
bebidas? Por favor.
— A aquisição foi tão dramática assim? — Eu pergunto.
Toby levanta uma sobrancelha. — Você conheceu Conway.
Imagine ele na frente de toda a empresa, anunciando que três
departamentos seriam extintos até o final do mês.
Eu faço uma careta. Não é difícil imaginar as linhas determinadas
do rosto de Tristan, o movimento de seu braço enquanto ele fala as
palavras sem afetação ou equívoco. Dizendo às pessoas em massa que
elas teriam que encontrar um novo emprego.
— Mas isso tornou a empresa mais forte. — admite Quentin,
passando a mão pelo cabelo comprido demais. — Você não pode culpar
o bastardo por isso.
Concordo com a cabeça, meus dedos apertando meu copo. Quando
eu sugeri tomar uma bebida depois do trabalho com meus colegas de
trabalho, eu não esperava que Tristan Conway nos seguisse. Mas aqui
está ele, o tema escolhido.
O sorriso de Toby se alarga. — Sem mencionar o fator
entretenimento. Nunca há um dia chato quando ele está no prédio.
Empregados correndo.
— Quer dizer que você está correndo. — diz Quentin. — Eu nunca
corri na minha vida.
— Eu vi você correndo na semana passada, quando Clive desceu
para falar com Eleanor.
Quentin cruza os braços. — Você precisa comprar óculos novos.
— Fiz isso no mês passado, muito obrigado. — Toby se vira para
mim, piscando. — Óculos de grife pela metade do preço.
— Eles parecem ótimos — eu digo. Os aros laranja
complementam seu elegante terno azul-marinho e combinam com as
cores de sua gravata. — Toby, você disse que tinha um encontro neste
fim de semana?
— Sim. Só espero que esse cara não seja tão horrível quanto o
último com quem marquei.
— O cara do fantoche de meia. — Quentin murmura.
— Cara do fantoche de meia? — Eu pergunto.
Toby dá um aceno sério. — Cara do fantoche de meia. — ele
confirma, despejando seriedade suficiente nas palavras que eu levanto
minhas mãos em derrota.
— Não diga mais.
— Eu não vou. Esses detalhes iriam assombrá-la.
Dou um falso estremecimento. — Onde você está indo com o cara
novo?
— Vamos caminhar pelo High Line. Ele nunca esteve lá.
— Ele é novo em Nova Iorque? — Quentin pergunta.
Toby assente. — Veio de outro estado. O coitado não conhece as
linhas do metrô.
Tomo um gole do meu uísque. — Ei, eu sou de fora do estado. O
que é o High Line?
— Oh, querida. — diz Toby. Quentin balança a cabeça e pega sua
cerveja, a manga grande demais exibindo um relógio digital.
Estendo as mãos apaziguadoras. — É tão ruim assim, não é?
— O pior, receio. — Toby põe a mão na minha. — Você vai me
deixar te mostrar a cidade? Por favor?
— Não diga sim. — adverte Quentin.
— Silêncio — Toby retruca. — Ele só está aborrecido porque me
ofereci para ir às compras com ele e dar algumas dicas construtivas. Ele
recusou.
— Minhas roupas estão perfeitamente bem.
— Você está certo — Toby concorda, um pouco rápido demais. —
Elas estão.
Eu sorrio, olhando entre eles. — Você sabia que vocês dois são
como um velho casal?
— Não, não somos. — protesta Quentin.
Toby balança a cabeça para mim. — Muito fofo, mas não tente
desviar. Quando você se mudou para a cidade?
— Um mês e meio atrás.
— E onde você mora?
— Upper West Side. — eu digo, mas vendo seus olhos
arregalados, eu me apresso em explicar. — Ah, é minúsculo. Estou
praticamente alugando uma caixa de sapatos no último andar. Uma
velha senhora está alugando para mim e ela achou que eu parecia
confiável. Honestamente, sei que tenho sorte de tê-la encontrado...
mesmo que seja a caixa de sapatos mais cara pela qual já paguei.
— Outra em Manhattan. — Toby diz a Quentin. — Veja, é por isso
que você deveria abandonar o Brooklyn e se juntar a nós.
— Não. — diz Quentin.
— Imagine o quão mais curto será o seu trajeto.
— Brooklyn tem alma. Sem ofensa. — ele acrescenta para mim.
— Não me ofendi. — eu digo. — Deveria?
Mas eles se transformaram em uma discussão, e eu sorrio,
observando. As faíscas estão voando. Não sei se Quentin gosta, mas se
ele fizesse... hmm.
Meu telefone vibra no meu bolso. Uma vez. Duas vezes. Puxando-
o, é um número de Nova Iorque que não reconheço. Pode ser trabalho,
mesmo que as chances disso sejam pequenas.
— Me deem um minuto, pessoal. — eu digo, saindo da cabine.
Eu apertei em atender. — Frederica Bilson.
— Freddie?
— Sim, sou eu. — Contorno alguns alunos cantando, abraçados
uns aos outros, e vou direto para a porta.
— Há muito barulho do seu lado.
— Sim, sinto muito por isso. Me dê um momento... — Abro a porta
e saio para o ar fresco de Nova Iorque. — Quem é?
— Tristan Conway. — responde a voz profunda.
— Sr. Conway?
— O próprio. — ele repete, a voz seca. — Estou interrompendo
sua noite?
— Não. Bem, saí para beber com alguns dos meus colegas de
trabalho. Acabei de sair.
— Bom. — diz ele.
Não consigo pensar em absolutamente nada para responder.
Como ele conseguiu meu número? Por que ele está ligando? Não nos
falamos desde a reunião em seu escritório há mais de uma semana.
— Estou ligando por causa do trabalho. — diz ele.
— É sobre o Dia de Ação de Graças da Família? Porque está tudo
a postos para o fim de semana.
— Não, não é sobre isso. — Uma batida de silêncio. — Talvez seja
melhor falar sobre isso quando você não estiver cercada por
funcionários da Exciteur.
— Eu não estou cercada. Eu vim para fora.
— Ainda assim, acho melhor termos essa conversa quando você
estiver em um lugar onde ninguém possa ouvir. Me ligue quando você
chegar em casa.
— Ligar para você, Sr. Conway?
— Sim. Isso está relacionado ao trabalho, senhorita Bilson, mas
acho melhor não termos essa conversa no local de trabalho.
A curiosidade corrói minhas entranhas. — Eu ligo para você assim
que chegar em casa. Quando é tarde demais?
— Estarei acordado. — é a resposta curta. — Falo com você em
breve, senhorita Bilson.
E então ele desliga.
Eu fico olhando para o meu telefone por alguns longos segundos.
Ele não pode estar ligando para me demitir, pode? Não. Eu pensei que o
tinha convencido de desistir de mudar meu estágio para uma empresa
diferente também.
Relacionado ao trabalho.
Mas acho melhor conversar fora do escritório.
— Está tudo bem? — Toby pergunta quando volto para dentro.
Ele tirou o paletó e o colocou inocentemente entre ele e Quentin no lado
da cabine.
— Absolutamente. — eu minto.
O céu escureceu para um preto profundo de meia-noite quando
finalmente chego em casa, no meu prédio, cumprimentando o porteiro
do lado de fora. Não sei quando deixarei de achar surreal o fato de morar
em um prédio com porteiro.
Nova Iorque é minha casa agora.
Retificando, penso, enquanto destranco a porta do meu pequeno
estúdio no último andar. Esta caixa de sapatos cara é minha casa agora.
A única janela oferece vista para os telhados do prédio oposto. Às vezes
há pombos neles. É fascinante.
Sento-me na cama e pego meu telefone. Passa um pouco das onze,
mas ele me disse que estaria acordado.
Tristan atende após o primeiro sinal. — Você saiu tarde.
Eu me irrito com a clara desaprovação em seu tom. — Ainda não
é meia-noite, mas se fosse, seria problema meu.
— Você pode ter um desempenho inferior ao seu padrão normal
amanhã no trabalho. — ele aponta. — Isso faria com que fosse da minha
conta.
— Eu garanto a você, eu sempre atuo no auge da minha
habilidade.
— Como quando você confunde o botão de encaminhamento e
resposta na interface de e-mail?
Um golpe baixo, Sr. Conway. Eu empurro meu cabelo para trás do
meu rosto e solto um suspiro. — Talvez tenha sido uma jogada calculada
— digo, o uísque que bebi falando por mim. — Talvez eu quisesse causar
impacto. Deixar minha marca. A maioria dos estagiários são esquecíveis,
você sabe. Eu não quero ser um deles.
O silêncio é breve e surpreso. Então ele ri sombriamente e eu fecho
meus olhos enquanto o som me lava. Imagino-o ao meu lado no sofá da
Gilded Room, com as feições marcadas pela sombra e pelo desejo.
— Você não é esquecível, Freddie. — ele promete. — Se evitar
esse destino era sua missão, considere-a cumprida.
— Não esperava alcançar o sucesso tão cedo.
— E ainda assim você fez. — Outra pausa. — Para onde você foi
esta noite?
— Um bar perto do trabalho.
— Você pegou um táxi para casa?
— Eu andei. — eu digo, cavando meus dedos no edredom grosso
debaixo de mim. Como estou deitada aqui, tendo essa conversa com ele?
— Você andou? Você mora perto do bar, então?
— Sim, Upper West Side. Fomos para o bar ao lado do trabalho.
— Andar não é necessariamente seguro.
— Este bairro é um dos mais seguros da cidade. Além disso, havia
pessoas na rua. Você volta para casa sozinho?
— Freddie…
— Sr. Conway.
Há uma diversão relutante em sua voz. — Espero que seus colegas
de trabalho a satisfaçam.
— Eles são pessoas adoráveis. — eu digo. — Você disse que isso
era relacionado ao trabalho, senhor?
— Eu disse. Você sabe, não é necessário que você me chame de
senhor.
— Seus outros funcionários sim.
Ele suspira. — Você tem razão. A propósito, foi por isso que liguei
para você.
— Para discutir como devo chamá-lo? Acredito que já tivemos
essa conversa antes. — As palavras são arriscadas, lembrando a nós dois
da noite que não devemos falar.
A voz de Tristan fica sombria. — Nós conversamos. — diz ele. —
Eu também não acredito que tenhamos acertado alguma coisa.
— Você é difícil de definir.
— Impossível. — diz ele. — Eu nunca deixei ninguém tentar.
Eu respiro fundo. — Por que você me ligou, senhor?
— Acredite ou não, é relacionado ao trabalho.
— Então você disse, sim.
— Também é sensível.
— Informação confidencial?
— De certo modo. Diga-me, Freddie, onde você se vê no final deste
estágio?
— Minha ambição é a informação confidencial?
— Engraçado. — diz ele, mas o profundo barítono de sua voz soa
como se ele estivesse sorrindo. — Não. Você se vê com um emprego fixo
aqui?
— Potencialmente. — eu digo. — Não descarto a possibilidade e,
se me oferecessem, provavelmente diria que sim.
— É bom saber.
— Para onde essa conversa está indo?
— Tenho uma proposta para você. — diz ele.
Meu cérebro entra em curto-circuito.
Ele não pode estar dizendo o que eu acho que ele está dizendo,
pode? Eu pressiono a mão no meu esterno enquanto as palavras fluem.
— Tristan, eu não posso fazer isso. Você não pode me pedir isso. Eu não
sou do tipo que...
— Cristo, Freddie, eu não estou pedindo isso a você. Não.
Eu relaxo de volta na cama, meu coração disparado no meu peito.
— Ok.
— Eu deveria ter formulado de forma diferente. — Um som
frustrado, e posso vê-lo na minha frente, passando a mão pelo cabelo
grosso. — Não, eu não pediria isso. Isso é sobre o Departamento de
Estratégia.
— Isso é?
— Acredito que temos um espião.
Eu franzo a testa. — Alguém está passando informações?
— Sim. Nossos concorrentes estão ficando sabendo sobre as
estratégias de negócios que estamos propondo para nossos clientes, e
isso não aconteceu apenas uma vez.
— Como você sabe?
— Eu tenho minhas fontes. — diz ele.
— E você tem certeza que está vindo do setor de Estratégia?
— Eu eliminei as outras possibilidades. Estratégia e
administração são as únicas pessoas que lidam com essas informações,
e sei que não é a administração.
Eu viro de lado. — Você quer que eu mantenha meus olhos e
ouvidos abertos?
— Sim. Você é nova, você é uma estagiária. Pode haver muitos em
seu departamento que pensariam em ignorá-la.
— Obrigada. — Mas estou sorrindo.
— É a perda deles. — diz ele. — Sem mencionar que ninguém vai
suspeitar que você tenha ouvido da gerência. Pelo que eles sabem, você
e eu nunca conversamos fora da reunião de Ação de Graças.
Os rostos dos meus colegas de trabalho piscam diante de mim.
Toby. Quentin. Eleanor. As três mulheres que trabalhavam em nosso
escritório que nunca me deram mais do que um aceno educado.
— Não é bom saber que uma das pessoas com quem estou
trabalhando não está na mesma equipe.
A voz de Tristan se aprofunda. — Eu sei. Estou pagando a um deles
pelo privilégio de trair minha empresa.
— Eu vou fazer isso. Claro que eu vou.
— Bom. — diz ele. — Acho que é melhor que isso fique fora da
empresa.
— Tudo bem. O que isso significa, exatamente? Eu só relato o que
encontrar para você por telefone?
— Sim. — é sua resposta rápida. — Nós mantemos isso fora dos
servidores de e-mail da empresa, não falamos sobre isso no trabalho.
— Soa como um plano.
— Excelente. — diz ele. — Talvez finalmente peguemos esse
bastardo.
Não posso deixar de perguntar: — Por que eu?
— Porque não você? — ele retruca.
— Quero dizer, por que você confia em mim?
Há uma batida de silêncio, estendendo-se entre nós. Onde ele está
em Nova Iorque? Talvez ele more apenas a alguns quarteirões de
distância e esteja sentado sozinho em seu apartamento, assim como eu.
— Confio na sua ambição, — diz finalmente — porque a
reconheço.
O chão que estamos pisando treme abaixo de mim. É um elogio,
mas é mais do que isso. É reconhecimento. Ele penetra em meu peito e
me aquece enquanto se espalha. — Você ainda está no escritório?
— Não. — diz ele. — Estou em casa.
— Você foi para casa sozinho?
Sua voz é divertida. — Não, eu não fiz. Eu não dou conselhos que
eu mesmo não sigo.
— Isso é incomum.
— Na verdade, estou olhando para o parque. Eles começaram a
montar a feira de diversões.
Seu apartamento tem vista para o Central Park. Não deveria me
surpreender, mas surpreende. Imagino-o parado em frente a janelas que
vão do chão ao teto, uma mão no bolso da calça e a outra segurando o
telefone.
— Parece bom?
— Parece grande. — diz ele. — Enviarei a você os nomes de
algumas pessoas amanhã. Elas não são funcionários, mas quero que
tenham acesso ao Dia da Família de Ação de Graças.
— Claro. Parceiros de negócios seus?
Sua voz é seca. — Mais como alguém cobrando um favor.
— Vou fazer isso imediatamente.
— Bom.
Nenhum de nós diz nada, mas sua presença é algo palpável do
outro lado da linha. Eu não quero desligar.
E acho que ele também não quer.
Fechando meus olhos, eu expiro a admissão. — Perceber que
enviei o primeiro e-mail foi mortificante.
Sua voz suaviza. — Imaginei.
— Mas você sabe... eu não sinto muito.
— Nem eu, Freddie. — ele murmura. — Nem eu.
O dia chegou.
Em vez de uma tarde normal de sexta-feira no Exciteur, o
escritório mudou para o Central Park. Vejo Eleanor entrando na feira de
diversões com uma adolescente loira ao seu lado, os olhos da garota
brilhando quando avistam uma barraca de algodão doce.
Sim, foi uma boa ideia.
— Temos segurança na entrada com listas de nomes. — Reece diz
ao meu lado. Quinze anos mais velha do que eu, a planejadora de eventos
da Exciteur não ficou nem um pouco satisfeita ao receber instruções de
três estagiários. Eu dei a ela todo o poder que pude para neutralizar isso
e aceitei cada uma de suas sugestões.
— Isso é excelente.
— Tudo deve correr bem agora. — diz ela. Seu telefone toca e ela
olha para baixo. — Só que alguém esqueceu de colocar a placa de aluguel
particular na saída, e agora há uma fila. Droga... — Ela desaparece no
caminho em um passo determinado.
Luke balança em seus calcanhares ao meu lado. Ele é estagiário no
departamento de vendas e seu sorriso é tão largo quanto gigante. — Não
acredito que conseguimos isso.
— Nunca pensei que eles aceitariam isso em primeiro lugar. —
diz William. — Quem sabia que todas essas pessoas tinham filhos?
— Como eles fazem isso? Trabalhei até às nove todas as noites na
semana passada. — Luke diz. — Os outros do meu departamento
estavam lá comigo.
Eu amarro novamente o cós do meu casaco, puxando-o mais
apertado em volta de mim. Não há calor no ar do final de novembro. —
É bom que a empresa esteja fazendo isso, então. Dando-lhes tempo para
se divertirem.
Examino a multidão, espantada com o número de pessoas. A
Exciteur realmente emprega tantas pessoas? Quando estamos todos
empilhados uns sobre os outros no prédio de andares altos no Upper
West Side, não há como saber.
Meu olhar se prende a uma figura alta. Ele está vestindo um casaco
azul marinho sobre o terno, um lenço cinza em volta do pescoço. Seu
cabelo grosso está puxado para trás, a barba de alguns dias sem se
barbear acentuando o quadrado de sua mandíbula.
Eu ainda posso ouvir sua voz profunda em meu ouvido. Sentir o
peso de seu corpo contra o meu.
— Freddie?
— Desculpe?
Luke sorri para mim. — Você estava completamente perdida por
um momento. Você está animada para o bar mais tarde?
— Um sim. Absolutamente. — Enfio as mãos no bolso do casaco.
— Vou dar uma volta, ver se está tudo em ordem. Falo com vocês depois.
Abro caminho pela feira meio vazia, tentando localizá-lo
novamente. Passo por Toby e Quentin brincando no lance do anel e
sorrio para mim mesma. Tristan é alto o suficiente para se destacar...
deveria estar aqui em algum lugar.
Eu viro a esquina em um jogo de carnaval e lá está ele.
Tristan Conway, encostado no balcão de uma cabine de jogos. Ele
está com a mão no ombro de um garoto de cabelos escuros. Pisco, mas a
imagem não desaparece.
— Posso tentar, pai? — o menino pergunta.
Tristan entrega a ele um jogo de dardos. — Mantenha o cotovelo
firme e aponte para os balões.
— Eu sei. — diz o menino.
Um sorriso aparece no rosto de Tristan. — Claro que você sabe.
Seu filho, por que ele tem um filho, mira e lança o primeiro dardo.
É quando Tristan olha por cima do ombro. Nossos olhos se encontram.
Estou presa.
— Olá — diz ele.
Eu engulo. — Oi. Não queria emboscar vocês dois assim.
— Isso não é um problema. — Tristan olha para o menino, mas
ele está profundamente concentrado. — Bom trabalho na feira.
— Obrigada. Tudo o que fiz foi reservar, no entanto. — Eu dou um
sorriso torto, minha mente ainda funcionando. Tristan Conway é pai.
— Assuma o crédito — ele me aconselha.
— Ok.
O menino se vira. — Não acertei nenhum.
— Tente de novo — diz Tristan, estendendo um novo conjunto de
dardos. — Realmente se concentre em mirar.
O menino puxa para trás um cacho escuro que caiu sobre a testa.
Eu diria que ele tem nove, dez. — Vou acertar um desta vez.
— Claro que vai, garoto. — Tristan deve ter percebido minha
curiosidade, mas não diz nada, apenas passa a mão pelo pescoço. Sua
mandíbula está tensa.
Seu filho me vê e me dá um pequeno aceno, com os dardos na mão.
— Olá.
— Olá — eu digo.
Tristan gesticula para mim. — Essa é a Frederica. Ela trabalha
para mim.
— Eu sou Joshua. — seu filho diz educadamente. — É um prazer
conhecê-la.
— Também é um prazer te conhecer. Você está jogando dardos?
— Sim. Você deve acertar os balões. Se você acertar três deles,
ganha um prêmio.
— Qual é o prêmio?
Ele se vira para a cabine. A garota que comanda está de lado, com
os olhos grudados no telefone. Mas o teto está coberto de bichos de
pelúcia pendurados em cordas. — Eu não tenho certeza.
Tristan aponta para uma placa na parede. — Três acertos e você
pode escolher qualquer bichinho de pelúcia.
— Qual desses você escolheria? — Eu pergunto, dando um passo
ao lado dele. Minha mão vai para minha carteira, procurando moedas.
— Acho que quero o elefante gigante.
Joshua me dá um sorriso, tingido de timidez e prazer. — Você
gosta de elefantes?
— Eles são um dos meus animais favoritos — eu digo.
— Eu os vi algumas vezes. — ele oferece. — Papai e eu fomos para
a Tailândia no ano passado com a vovó no Natal. Visitamos um santuário
de elefantes. — Ele pronuncia santuário com muito cuidado, me fazendo
sorrir.
— Isso é incrível.
— Isso é. — Ele faz uma pausa, olhando para seu pai antes de
voltar seu olhar para mim. — Você sabia que eles têm as melhores
memórias de qualquer animal?
— Oh, eu sei, isso não é legal?
— O mais legal. — ele concorda. — Você quer jogar dardos
também? Pai, ela pode pegar alguns dardos?
Tristan abre a boca, mas eu o adianto, tirando duas moedas da
minha carteira. — Eu vou jogar.
— Bem, suponho que isso significa que eu também devo. — diz
Tristan. Ele acena para a adolescente que gerencia o estande. Ela aceita
minhas moedas, mas Tristan lhe dá uma nota de vinte. — Dê-nos um
balde.
Ela sorri, mas não diz nada. Alguns segundos depois, há um
suprimento quase ilimitado de dardos entre nós.
Eu levanto minha sobrancelha para ele. Tristan apenas dá de
ombros, pegando um. — Esta é uma boa prática de tiro ao alvo.
Joshua mira, a língua apertada entre os dentes. Ele erra por pouco.
— Caramba. — diz ele. — Pai, sua vez. O que você vai escolher se ganhar?
Tristan pesa um dardo na mão. Meus olhos acompanham a força
de sua mandíbula, os fracos pés de galinha nas bordas de seus olhos. Ele
não pode ser mais de dez anos mais velho do que eu, mas tem um filho
desta idade. É difícil sobrepor a imagem dele aqui, conversando com seu
filho, com o homem que conheci na Gilded Room.
Tristan Conway, o enigma.
— Não sei. — Ele aponta, mandíbula tensa, e joga. Um balão
estoura com um estalo alto.
— Bem feito!
— Obrigado, garoto.
— Se eu ganhar, acho que também quero um elefante. — Joshua
me diz, pegando um dardo. — Embora eu ache que as baleias são mais
legais.
— Baleias?
— Temos assistido muito ao Blue Planet. — esclarece Tristan. Sua
voz é profunda, controlada... mas há um tom de embaraço aí?
Não consigo imaginá-lo relaxando na frente da TV, ponto, mas
menos ainda assistindo a um documentário sobre a natureza com uma
criança. Mas enquanto penso nisso... surge uma imagem dele fazendo
exatamente isso. Minha impressão do homem muda novamente,
tornando-se ainda mais atraente.
— Eu vi O Blue Planet. — eu digo. — Parece incrível. Eu realmente
quero aprender a mergulhar um dia e obter meu certificado.
— Você quer? — Joshua pergunta. — Eu realmente quero tentar
também. Supostamente, sou muito jovem.
— Você é muito jovem. — diz Tristan. — Não há nada de
supostamente sobre isso. Mas vamos mergulhar quando você for mais
velho.
— Papai e eu gostamos de viajar — Joshua me diz. — Nós vamos
a algum lugar em todas as minhas férias escolares.
Eu sorrio para esse garoto tagarela, olhando dele para Tristan. Os
olhos são os mesmos, mas um par está olhando para mim aberto e
excitadamente, o outro com algo como cautela. — Sua vez — Tristan me
diz, apontando para o dardo ainda na minha mão. — Vamos ver o que
você consegue.
Eu lanço e erro, mas meu segundo tiro faz um balão explodir. Eu
faço um gesto de vitória. — Um já foi, faltam dois.
Joshua olha entre nós antes de fixar seu olhar nos balões à
distância. Tristan lhe entrega um dardo silenciosamente. Ele mira…
E um balão estoura.
— Sim! — Ele cumprimenta Tristan. — Isso foi incrível.
— Foi — confirma Tristan. — Você realmente pegou o jeito.
Nossos olhos se encontram sobre a cabeça de Joshua. Talvez ele
possa ver as perguntas nos meus, mas Tristan apenas me dá um único e
elegante encolher de ombros. Ele se volta para os balões.
Onde está a mãe de Joshua? Tristan é divorciado? Viúvo? A
curiosidade queima mais forte em meu estômago, o desejo de desvendar
seus segredos. Joshua acerta outro balão. Ele grita com um estalo
audível, tirando-me dos meus pensamentos.
— Legal — diz Tristan. — Apenas mais um…
São necessárias mais duas tentativas, mas ele acerta uma terceira.
Ele nos dá high fives depois disso, seus cachos balançando enquanto ele
pula. — Sucesso!
— Sucesso — ecoa Tristan. — Qual bichinho de pelúcia você
quer?
Joshua examina o teto. Não tem baleia, mas tem golfinho. Ele
aponta para o elefante. — Aquele.
— Realmente? Boa escolha. — eu digo.
— Eu sei. — diz ele, com a confiança suprema de uma criança. Ele
o enfia debaixo do braço e nos afastamos da cabine, deixando a
adolescente navegando nas redes sociais.
Tristan põe a mão no ombro de Joshua. — Eles estão aqui. — diz
ele calmamente.
Joshua fica imóvel, seu olhar examinando a multidão. Não vejo
nada fora do comum. Apenas pessoas circulando, uma criança
segurando algodão-doce. À distância, posso distinguir Toby e Quentin
em um Bate-Bate.
— Oh — Joshua diz fracamente. — Ela chegou.
— Claro que ela chegou. — diz Tristan. — Vá em frente, vamos
falar com eles.
Mas eles já nos viram, aparentemente, um homem de meia-idade
e uma mulher com uma garota da mesma idade de Joshua caminhando
em nossa direção. A garota está sorrindo, seu cabelo louro em uma
trança.
— Olá, Joshua — ela diz com uma voz acentuada. Francês?
— Oi — ele murmura.
— Esse lugar é do seu pai?
Ele não diz nada. Tristan interrompe, estendendo a mão para os
pais. — Tristan Conway, o pai de Joshua. Obrigado por ter vindo.
— Obrigada por nos convidar. — a senhora diz, e ela é
definitivamente francesa. — Ainda não conhecemos nenhum pai da
escola de Danielle.
— Não, as pessoas gostam de ser reservadas. Mas tenho certeza
que haverá uma oportunidade de conhecer outras pessoas em breve. —
diz. — Haverá uma venda de bolos ou uma caminhada logo.
Ok, esta é a minha deixa para sair. Não só conheci o filho dele,
como agora estou invadindo seu convívio com outros pais.
Dou um passo cuidadoso para trás. — Eu vou te ver…
— Você quer ir na roda gigante? — Joshua pergunta a Danielle.
Sua voz é alta. — É muito alto.
— Ah, posso, mamãe?
— Eu vou com eles — diz Tristan. — Eu estarei na cabine atrás
deles.
— Por que não? Estaremos na barraca de cachorro-quente,
Danielle.
Joshua se vira para mim. — Você e papai podem ir em uma cabine
e Danielle e eu em outra.
— Eu não…
— Parece bom. — Tristan interrompe.
— Você vai cuidar disso? — Joshua me entrega o elefante de
pelúcia e eu agarro a pelúcia. A longa tromba desce pelo meu braço. Abro
a boca para protestar, mas as crianças já estão indo para a roda-gigante.
Uma mão leve nas minhas costas e Tristan está me direcionando atrás
deles.
— Desculpe por isso. — ele murmura.
— Não, tudo bem. — murmuro de volta. A roda-gigante não é tão
alta, é? É no Central Park. Não estamos falando de Six Flags aqui.
Eu deveria ser capaz de fazer isso.
Eu posso fazer isso.
— Estes eram seus convidados especiais?
— Sim — diz ele. — Danielle é uma amiga de Joshua da escola.
— Eu não sabia que você tinha um filho.
Sua respiração é silenciosa, mas audível. — Eu sei.
— Me desculpe se eu... me intrometi lá atrás. Acho que você não
gosta de misturar negócios com sua vida privada.
— Não. — ele diz — não gosto.
— Anonimato. Entendo.
Quando ele abre a trava da roda-gigante, ele me dá um olhar
sombrio que me dá arrepios na espinha. O cara que comanda a atração
acena para Danielle e Joshua se sentarem na carruagem, e as crianças
entram, conversando o tempo todo.
— Eu estarei bem atrás de vocês. — Tristan diz a eles. — Chame
se precisar de alguma coisa e fiquem quietos na cabine.
— Eu sei, pai. — responde Joshua.
Tristan estende um braço para nossa cabine. — Depois de você.
Minhas mãos seguram o elefante com força. É apenas uma roda-
gigante, Freddie. E eu li pessoalmente as diretrizes de segurança da feira
de diversões antes de reservá-la. O que pode dar errado?
Entro na cabine e sento no banco de metal frio. Ele oscila
precariamente enquanto Tristan me segue, dobrando suas longas
pernas no espaço. Sua coxa pressiona contra a minha nos limites
apertados da cabine.
O atendente fecha a trava de metal atrás de si, recuando. — Todo
mundo pronto?
Não, eu penso. Como faço para sair disso?
— Sim. — Tristan diz de volta.
O mecanimos entra em ação e nossa cabine balança com o súbito
solavanco do movimento. Agarro a barra de metal à nossa frente e me
concentro no calor dele ao meu lado, evidente mesmo através do tecido
grosso de nossos casacos.
— Isso ficou muito bom — diz ele. — Você fez um ótimo trabalho.
— Obrigada. — Começamos nossa subida, as pessoas e as
arquibancadas abaixo de nós encolhendo a cada centímetro que
subimos.
Eu fecho meus olhos.
— Agora você conheceu Joshua.
Concordo com a cabeça, minhas palavras emergindo através dos
dentes cerrados. — Ele é adorável.
Tristan limpa a garganta. — Não falo sobre minha família no
trabalho. Também não faço isso em festas.
— Eu entendo. Anonimato e tudo isso.
— Sim. — Ele se mexe na cabine e ela balança embaixo de nós. Eu
pressiono meus lábios em uma linha apertada.
Não vou abrir os olhos de jeito nenhum até que estejamos seguros
de volta ao chão.
— Freddie? Você está bem?
— Sim, absolutamente.
— Você ficou completamente branca. — Sua voz fica mais baixa,
e quando ele fala de novo, está mais perto do meu ouvido. — Você não
gosta de altura.
— Não sou membro do fã-clube, não. — Uma inspiração, uma
expiração. Isso é tudo que eu tenho que fazer.
— Por que diabos você veio até aqui comigo?
Dou uma pequena sacudida no bichinho de pelúcia em minhas
mãos. — Seu filho me pediu para proteger seu elefante.
— Freddie… — Sua voz está frustrada, e tão, tão perto. Tenho que
abrir os olhos para espiar.
Ele está a apenas alguns centímetros de distância e me observa
com uma pequena ruga em sua testa. Concentro-me em seus olhos. —
Está tudo bem — murmuro. — Eu só tenho que me concentrar em não
entrar em pânico.
— Isso mesmo. — Ele fica quieto por um instante, mas depois tira
uma luva de couro e arranca uma das minhas mãos do elefante. Eu
aperto seus dedos com força e fecho meus olhos novamente. Sua pele é
quente e ligeiramente áspera contra a minha, minha mão
desaparecendo completamente dentro da dele. — São apenas duas
voltas.
— Duas?
— Ficará tudo bem. Apenas respire, ok?
— Estou respirando. — Eu inclino minha cabeça para trás contra
o assento e aumento meu aperto em sua mão. — Respirar é a única coisa
que posso fazer agora.
— Então vamos nos concentrar nisso — ele murmura, mas eu não
faço o que me mandam. Eu me concentro em sua mão e sua voz também.
É profunda e calmante, como velvet amassado derramado em uma
xícara escura de café expresso.
— Fale comigo?
— Tudo bem. Então… os elefantes são o seu animal favorito.
Agora posso atribuir isso à lista de coisas que sei sobre você.
— Deve ser uma lista bastante curta — murmuro.
— Não tão curta. Fiz várias observações.
Apesar de mim mesma, meus lábios puxam. — Tenho certeza de
que não quero ouvir todas.
— Bem, nem todas estão aptas para uma conversa educada. Não
significa que elas ainda não fazem parte da lista. É mental. Não se
preocupe.
— Eu não vou.
— Eu diria que a vista é incrível, mas não acho uma boa ideia você
abrir os olhos agora.
Eu os fecho com mais força. — Estou fingindo que estamos no
chão.
— Continue fingindo.
Meu cabelo levanta com a brisa e eu me inclino para ele, como se
pudesse me esconder da altura. Se está ventando, devemos estar no
topo.
Não pense nisso, não pense nisso, não pense nisso.
Eu ouço o farfalhar de outra luva sendo removida, e então minha
mão está segura nas duas dele. A sensação me ancora. — Você está bem
— diz ele. — Eu estou com você.
Uma inspiração profunda. Uma respiração profunda.
Meus dedos apertam os dele. — Obrigada. Isso é... levemente
humilhante.
— Não é. Além disso, você não estaria aqui se não fosse por mim.
— Isso não torna menos embaraçoso. — murmuro. Se alguma
coisa, torna-se ainda mais. Ele não apenas sabe o quanto detesto alturas,
mas também sabe que as enfrentei para passar mais tempo com ele. Eu
deveria ter enviado a ele outro e-mail com as palavras Não consigo parar
de pensar em você e acabar com isso.
— Não sei o que você quer dizer com isso.
Eu dou um pequeno aceno de cabeça. — Deixa para lá.
Seu polegar se move sobre as costas da minha mão em um círculo
pequeno e apertado. — Joshua gostou de você rapidamente — diz ele.
— Eu fiquei surpreso.
Quero fazer mil perguntas, e a única coisa em que posso me
concentrar é manter a calma. — Oh?
— Sim. — Um bufo. — Ele não entende o que eu faço para viver, e
me pergunto se hoje só vai confundi-lo mais.
Meus lábios puxam. — Bem, o capitalismo de risco é um conceito
difícil de explicar a uma criança.
— Isso é. — Sua voz turva, perto do meu ouvido. — Também não
foi um de seus palpites, quando você tentou pensar no que eu
trabalhava.
A memória da Gilded Room toma conta de mim, de nós sentados
assim, eu deitada sobre ele em um sofá em uma alcova escura.
Meu estômago aperta. — Eu não tinha imaginação suficiente.
— Ou capitalismo de risco não parecia sexy o suficiente.
Eu engulo, meus olhos ainda fechados. — Não, é sexy.
Completo silêncio.
Caramba. Abro um olho, apenas para vê-lo me olhando com uma
sobrancelha levantada. A escuridão em seus olhos gira com humor. —
Então você não ficou desapontada por eu não ser um chefe da máfia?
— Sinceramente… fiquei desapontada quando descobri que você
era o CEO da Exciteur.
Sua boca se abre. — Você ficou?
— Sim — murmuro. — Porque isso significa que nunca mais
podemos nos encontrar em uma festa na Gilded Room.
Seus olhos escuros perfuraram os meus, quietos por um longo
tempo. Não vejo a paisagem se movendo atrás dele. Mal registrei o
engate na cabine quando finalmente voltamos da segunda volta,
parando no solo.
Eu falei demais.
Mas então ele murmura algo que desliza pela minha pele como
seda, suas mãos soltando as minhas. — Eu também, Freddie.
O Dia da Família de Ação de Graças transcorreu sem problemas.
Luke, William e eu conseguimos, e mesmo que fosse mais
gerenciamento de eventos do que gerenciamento de projetos, ainda
estou orgulhosa. Sorrindo para mim mesma, dou um passo para trás e
examino as fotos recém-emolduradas na minha cômoda. As fotos que eu
tinha ampliado chegaram pelo correio ontem mesmo, uma do meu avô,
outra dos meus pais.
Três das pessoas mais trabalhadoras que conheço. Também as
três pessoas que mais acreditam em mim. Meus pais compraram uma
garrafa de champanhe quando recebi o e-mail dizendo que tinha sido
aceita no programa de profissionais juniores da Exciteur.
Bem ao lado de suas fotos está meu diploma universitário
emoldurado e alguns livros sobre negócios, completando a vinheta.
É o meu santuário para o sucesso.
Um dia, penso, olhando em volta do meu pequeno apartamento,
não vou mais morar em um lugar sem forno. Tudo o que tenho é um
fogão, um micro-ondas e uma geladeira em miniatura.
Que também está vazia.
Fecho a porta da geladeira e olho para o relógio. A delicatessen na
rua está aberta por mais uma hora... seria minha quarta vez esta semana.
Eu sou sem vergonha o suficiente?
Absolutamente.
Acabei de vestir minha jaqueta quando meu telefone toca, e o
número é familiar, fazendo meu coração disparar. Não nos falamos
desde o Dia de Ação de Graças em Família e nem o vi no trabalho. Não
que eu fosse capaz de falar com ele lá, mesmo se eu o visse.
Eu cliquei em atender. — Olá?
— Freddie.
— Tristan. — Minha mão se atrapalha com a chave. — Como vai
você?
Humor colore sua voz, como se ele estivesse se divertindo com
minha tentativa de normalidade. — Bem. Como vai você?
— Excelente.
— Excelente? Que bom ouvir isso.
— O que posso fazer por você?
— Eu queria ver como você está indo em sua tarefa, aquela sobre
a qual conversamos por telefone algumas semanas atrás.
— O espião no Departamento de Estratégia.
— O mesmo.
Puxo a única cadeira da minha mesa e me sento. — Ainda não
descobri nada. Estou mantendo meus olhos abertos, no entanto. Talvez
quando eu for convidada para reuniões mais importantes.
— Hum. Eu me pergunto se podemos acelerar isso de alguma
forma.
Eu franzo a testa. — Não tenho certeza... quer dizer, quero me
provar pelo meu trabalho.
— Não tenho dúvidas de que você fará exatamente isso, Freddie.
— Obrigada. — Eu me abaixo e calço uma das minhas botas. O
tempo piorou e o frio no ar se transformou em um gostinho de inverno.
— Eu realmente estou tentando ouvir as coisas, no entanto. Não tenho
certeza de quanto mais sorrateira posso ser. Se eu for trabalhar com um
sobretudo e um jornal furado, eles vão começar a suspeitar de alguma
coisa.
A risada profunda de Tristan ecoa pelo telefone. — É quase uma
ideia que vale a pena considerar.
— O espião pode correr, sabendo que estamos atrás dele. Você
teria que pedir o segurança para persegui-lo.
— Ou ela — acrescenta. — Minha empresa está comprometida
com a igualdade de gênero.
— Que nobre da sua parte.
— Todos nós fazemos o que podemos.
Eu mordo meu lábio, sorrindo ao telefone. Não devíamos estar nos
telefonando assim. Falando assim. E, no entanto, aqui estamos nós.
— Obrigada pela semana passada — eu digo. — Na feira.
— Não mencione isso — diz ele.
Mas eu tenho que mensionar. — Desculpe. Eu não deveria ter
entrado naquele passeio em primeiro lugar.
— Eu não deveria ter presumido que você queria — ele retruca.
— A culpa é minha, não sua.
É absolutamente minha culpa, mas não pressiono o ponto. —
Vamos concordar em dividir a culpa, então. Igualdade de gênero e tudo
mais.
— Tudo bem. Estamos realmente tomando uma posição aqui, não
estamos?
— Seremos mencionados nos livros de história.
Ele limpa a garganta. — Pelo menos eu não te peguei em um bar
esta noite. Você está entre os compromissos sociais da noite?
— Eu não vou a bares todas as noites — eu provoco. — Apenas a
cada duas noites.
— Oh, para viver a vida descuidada de um estagiário.
Pego meu gorro, a barriga roncando. — Eu trabalhei até tarde e
depois voltei para o meu apartamento.
— No Upper West Side.
— Sim.
Uma breve pausa, como se estivesse considerando suas próximas
palavras. Mas então elas vêm. — Você sabe que eu também moro no
Upper West Side.
— Eu me lembro — murmuro. — Podemos ser vizinhos.
— Podemos ser.
— Eu estava apenas planejando sair, na verdade.
— Para um bar?
— Não, para uma delicatessen. A que fica na minha rua tem o
melhor sanduíche de pastrami.
— O melhor?
— Sim. Eles também servem comida chinesa, que é uma mistura
interessante, mas de alguma forma eles conseguem.
— Nunca ouvi falar de um lugar como esse nesta área.
— Bem, é muito bom — eu digo. E então, antes que eu possa me
conter — Você quer ir?
Minha pergunta paira no ar entre nós, e dita em voz alta, soa
ridícula. Ele está ocupado. Ele tem um filho, uma empresa e
provavelmente uma geladeira muito mais bem abastecida do que a
minha.
— Tudo bem. — diz ele. — Me mande uma mensagem com o
endereço.
— Eu vou.
— Vejo você em breve — diz ele, desligando.
Olho para o meu telefone meia horrorizada, meia maravilhada.
Tristan Conway vai me encontrar na pequena e pouco sofisticada
delicatessen da minha rua.
Às nove da noite de uma quinta-feira.
Corro para o banheiro e limpo as manchas de rímel sob meus
olhos de um dia inteiro de uso. Uma pitada rápida de blush, uma escova
no meu cabelo escuro... vai ter que servir.
Estou a meio caminho da porta quando percebo que esqueci as
balas de menta. Finalmente pronta para ir. Não, esqueci o perfume. Levo
alguns minutos antes de finalmente me sentir apresentável o suficiente
para me aventurar.
Ele está esperando do lado de fora da delicatessen quando chego.
Encostado na parede de tijolos, as mãos nos bolsos do casaco azul-
marinho.
Eu engulo com a visão. Não há como ele estar aqui, esperando por
mim. Mas ele está.
Ele acena quando me vê. — Freddie.
— Tristan.
— Então este é o seu lugar preferido?
Eu dou a ele um sorriso torto e abro a porta da delicatessen. —
Não critique até experimentar.
Ele levanta a mão em sinal de rendição, um sorriso brincando em
seus olhos. — Eu não vou.
Pedimos um sanduíche de pastrami para cada um e um prato de
batata frita para dividir. O caixa familiar com um gorro me dá um sorriso
largo.
— De volta, hein? — ele pergunta.
— Eu não consigo ficar longe. — eu admito. — Vocês me salvam
quase todas as noites.
— Bem, o prazer é nosso. — Ele lança um olhar para Tristan. —
Fico feliz em ver que você está trazendo amigos também. Impulsiona
nossos negócios.
— A qualquer hora, Kyle.
Tristan e eu nos sentamos nas cadeiras de plástico perto da
vitrine. Há um sorriso nos cantos de seus lábios, um que eu me lembro
da provocação na Gilded Room.
— O que? — Eu pergunto.
O sorriso se transforma em um sorriso. — Eu não esperava por
isso.
— Oh?
— Não. Você geralmente é tão… Adequada. Autocontida. — Ele
levanta uma sobrancelha. — Puritana. Eu não teria pensado que você
seria um regular em um lugar como este.
— Então uma boazinha reformada não pode ir a um buraco na
parede3 para comer? — Balanço a cabeça para ele e pego uma batata

3Geralmente um lugar pequeno e precário (geralmente um bar ou uma boate) que possui
equipamentos, móveis de muito baixa qualidade, etc., mas às vezes oferece a melhor variedade de
entretenimento em qualquer noite.
frita. — Não esperava que alguém que frequenta... bem, os lugares que
você frequenta, fosse tão limitado.
— Mente estreita. — Tristan pega sua própria batata frita, seus
dedos roçando os meus. O pequeno contato envia eletricidade subindo
pelo meu braço. — Estou ofendido, Frederica.
— Frederica?
— Seu nome é lindo. Não sei por que você insiste em ser chamada
de Freddie.
— Eu gosto de Freddie.
Ele balança a cabeça, inclinando-se para trás. A cadeira de plástico
range ameaçadoramente sob seu corpo de um metro e oitenta. — Eu
também, quando não estou me enganando pensando que você é um
homem.
— O engano não foi intencional. — Rasgo o papel que envolve
meu pastrami. — Este aqui é o melhor sanduíche que Nova Iorque tem
a oferecer.
Um olhar para cima revela Tristan, braços cruzados sobre o peito,
olhando para mim.
— Eu disse algo errado?
— Há quanto tempo você disse que mora em Nova Iorque?
— Hum, um mês e meio. Não, quase dois agora.
— Então você não está em posição de julgar o melhor sanduíche
da cidade. — Ele alcança o seu próprio. — Há quase tantos restaurantes
quanto pessoas nesta cidade, e há uma tonelada de pessoas, então isso
quer dizer muito.
Dou uma mordida no sanduíche e os sabores explodem em minha
boca. Pastrami. Coberto de Reuben. Pão de centeio. Limpando a boca
com o guardanapo, balanço a cabeça para ele.
— Não me diga que você é um dos nova-iorquinos esnobes.
— Nova-iorquinos esnobes?
— Sim — eu digo. — Que desprezam tudo o que um turista
gostaria.
Ele dá uma mordida em seu sanduíche, seu olhar não deixando o
meu. Eu espero enquanto ele mastiga. — Bom, certo?
— É bom — ele admite. — Não é o melhor que a cidade tem a
oferecer, no entanto. E só para constar, não desprezo tudo o que um
turista gosta. Eu só... desdenho que eles também estejam aqui.
Eu rio, recostando-me na cadeira. — Esse pode ser o sentimento
mais nova-iorquino de todos os tempos. Apesar do dinheiro que eles
trazem para a cidade, você prefere mandá-los embora.
— Turistas e pombos. — ele murmura, pegando outra batata frita.
— A ruína de todo morador de cidade grande.
Eu balanço minha cabeça. — Então você também é cínico. Você
deve morar na cidade por muito tempo?
— Toda a minha vida.
— Uau. Um nova-iorquino nativo.
— Manhattanite — ele corrige, mas está sorrindo enquanto diz
isso. — Somos muito protetores do status.
— Ah, claro. Meu erro. Eu não pretendia incluir os distritos
externos em minha declaração inicial.
— Eu posso ignorar o erro.
— Obrigada, Sr. Conway. Muito gentil de sua parte.
Ele abaixa o sanduíche. — Sr. Conway. Alguns dias atrás, eu era o
Tristan.
Eu desvio os olhos do peso de seu olhar, de volta para o meu
próprio sanduíche. Um picles perdido escapou. — Isso foi em uma
posição comprometida.
— Protegendo o elefante do meu filho, — diz ele — em uma roda-
gigante do inferno.
Pego outra batata frita. — Exatamente. Onde está seu filho esta
noite?
— Em casa.
Eu olho para ele com surpresa e ele bufa. — Ele não está sozinho.
— Ufa.
— Não sou um pai tão irresponsável. — Tristan se recosta em sua
cadeira de plástico, cruzando os braços sobre o peito, parecendo que
nunca foi irresponsável um dia em sua vida.
Empurro uma mecha de cabelo que escapou para trás. — Então,
como um nova-iorquino nativo, quais são seus lugares favoritos?
Seu sorriso é torto. — Você quer dicas privilegiadas?
— Quero conhecer a cidade. Diga-me para onde devo ir.
— Há uma pequena delicatessen no final da 74th com a West.
Serve ótimos sanduíches de pastrami — ele diz — mas, curiosamente,
eles também têm comida chinesa.
— Cuidado. — eu o advirto.
O sorriso de Tristan é largo e desinibido, deixando-me atordoada.
— Eu nunca zombaria de você, Freddie.
— Claro que não. — Mas estou sorrindo enquanto balanço a
cabeça. — Eu deveria ter pensado melhor antes de pedir conselhos a um
Upper West Sider.
— Há algo de errado com esta área?
— Ninguém fala um com o outro. — eu digo. — Não sei o nome de
uma única pessoa no meu prédio, exceto o porteiro e minha senhoria.
— Isso é Nova Iorque. — Ele levanta uma sobrancelha. — Eu não
sabia que você era tão sociável, puritana.
Eu gemo. — Eu realmente não gosto desse apelido.
— É uma pena, porque eu realmente amo. É como eu te chamava
na minha cabeça antes de conhecer a verdadeira você.
Meus dedos apertam em torno do meu sanduíche. — Então você
pensou em mim depois da festa, hein?
Seus olhos travam nos meus. — Você pensou em mim.
— Você está tão confiante disso.
— Bem? — Ele pergunta, erguendo uma sobrancelha. — Você
não?
— Eu pensei. — eu admito. A tensão entre nós aumenta mais um
ponto, o ar vibrando ao meu redor. — E quando te conheci, não pude
deixar de me perguntar...
— Sim? — ele pede.
— Me pergunto por que você vai a essas festas.
Algo faísca em seus olhos. — Elas são divertidas.
— Sim, bem, elas certamente são. — O calor sobe para minhas
bochechas, mas eu não desvio o olhar do seu. — É isso, então? É um
passatempo divertido.
Seus olhos escurecem. Eu não queria que minhas palavras
soassem como críticas, mas ouvi-las de volta, está lá. E talvez eu o julgue.
Não por ir, não, eu também tinha ido. Mas por se contentar com isso. Ele
está na casa dos trinta, afinal.
— Elas são o que são. — diz ele rispidamente. — Sem amarras,
sem apegos, sem compromissos.
Eu mordo meu lábio. — É simples.
— É simples — ele concorda.
Penso em seu filho, em seu trabalho. O compromisso de fazer da
Exciteur a melhor possível. — Então você não tem tempo para namorar
direito, e a Gilded Room é a segunda melhor opção. — eu resumi.
— Você entendeu tudo, não é?
Meu coração dá um pulo, mas eu dou a ele um sorriso confiante.
— Eu sou uma espécie de leitora de pessoas.
— É mesmo?
— Sim.
— Então, encontrar o espião no Departamento de Estratégia deve
ser um dia de trabalho para você. Diga-me, Freddie, — ele diz,
estendendo a mão para as batatas fritas — por que você está solteira?
— Por que estou solteira?
— Sim. Se você acha que descobriu todos os meus hábitos de
namoro, é justo que eu dê uma olhada nos seus.
— Nesse caso, você deveria estar adivinhando. — eu indico. —
Desde que eu adivinhei o seu.
— Hmm, certo.
— Igualdade e tudo mais.
Ele apoia os braços na mesa. — Deus nos livre de esquecermos a
igualdade. Certo então. É a minha vez de ler você.
— Sou um livro aberto.
— Você acabou de se mudar para a cidade, então ainda não teve
tempo de conhecer alguém. — diz ele. — Isso faz sentido. Mas você
deixou alguém para trás na Filadélfia?
Cruzo os braços e encontro seu olhar com o meu. — Os meus
lábios estão selados.
— Não ajuda. — ele comenta. — Meu palpite é que você não
deixou.
— Eu não?
Tristan se recosta na cadeira, refletindo minha postura de braços
cruzados. Ele se sai melhor. — Acho que você tem medo de homens.
Minha boca cai aberta com isso. — Desculpe?
— Oh, não o tipo de medo que você tem de altura. Refiro-me ao
medo de se decepcionar. Veja bem, Freddie, acho que você gosta de estar
no controle.
— Eu gosto, não é?
— Sim. Você manteve a cabeça baixa e focada na faculdade, nos
estágios, no seu trabalho. Disse a si mesma que não há tempo para
namorar, mas a verdade é que você nunca arranjou tempo... porque isso
te assusta. É o único reino onde você não está no controle.
Eu o encaro, o sanduíche meio comido esquecido na minha frente.
Tristan olha corajosamente para mim com olhos que queimam com
triunfo, e algo mais. Algo que mexe com minha alma com tanta certeza
quanto suas palavras. Reconhecimento.
— Bem. — eu respiro. — Essa foi uma análise e tanto. Agora é
minha vez de me perguntar... você diz a mesma coisa a si mesmo?
Seus olhos se estreitam. — Eu digo a mim mesmo o quê?
— Que você não tem tempo para namorar. Que as festas da Gilded
Room são tudo para o que você tem espaço, colocando a maior parte de
sua energia em sua empresa e família.
— Não tenho muito tempo, é verdade.
Minhas próximas palavras são ofegantes. — E, no entanto, aqui
está você, em uma delicatessen na noite de quinta-feira.
— E, no entanto, aqui estou — ele murmura. — Eu estava certo,
Freddie? Na minha análise?
— Eu estava?
Seus lábios se curvam levemente, cheios na barba por fazer que
escurece a parte inferior do rosto. — Recebi um envelope entregue hoje.
— Você recebeu?
— Era dourado.
Eu mordo meu lábio. — Que legal. Imagino o que pode ser.
— É uma maravilha. — ele concorda. — Estou supondo que você
tenha um semelhante.
Eu não tinha. Momento da verdade, momento da possibilidade...
— Não — eu admito. — Eu não ficaria surpresa se não recebesse
um dessa vez.
Ele levanta uma sobrancelha. — E por que isto?
— Eu posso ter feito algo que é um pouco... contra as regras.
— O que é isso, puritana? Diga-me.
— Bem, tecnicamente falando, o convite que recebi da última vez
foi endereçado a uma ex-inquilina.
Um sorriso se espalha em seus lábios. — Frederica Bilson.
— Eu fui, eu vi, eu conquistei.
— Gozou — ele corrige. — Eu gozei, eu vi, eu conquistei. E você
certamente gozou.
Eu enterro minha cabeça em minhas mãos, incapaz de olhar para
ele. Graças a Deus somos os únicos na delicatessen. — Cristo, Tristan.
Sua risada é desavergonhada. — Então você entrou furtivamente
em uma festa da Gilded Room. Devo dizer que isso desafia minha visão
sobre você.
— Maravilhoso. Podemos perder o apelido agora?
— Não. — diz ele. — Eu me perguntei como você pagou pela
afiliação com o salário de um estagiário... então isso resolve o enigma.
— Não paguei nada.
— Afinal, uma afiliação de beleza — ele reflete. — Bem... deixe-
me colocar desta forma. Se você acabar recebendo um convite, você vai?
Eu olho para ele. Ele está me observando com casualidade
praticada, como se minha resposta não passasse de uma curiosidade.
Mas há um interesse ardente em seus olhos que ele não consegue
mascarar totalmente.
Ele está indo.
E ele está perguntando se eu vou também.
Meu estômago trava com um soco de antecipação enquanto o
desejo me inunda. Estamos brincando com fogo e sempre fui cuidadosa.
Sempre fiz a coisa certa.
Mas agora eu quero ser queimada. — Acho que vou. — digo a ele.
— Se eu receber um convite, claro.
— Bom saber — diz ele, sorrindo. — Talvez eu te veja lá.
— Talvez você veja... Tristan.
Um envelope dourado grosso está esperando por mim quando
volto do trabalho alguns dias depois. Está pousado no meu capacho,
inócuo. Como antes, meu endereço está escrito nele. Como antes, meu
nome não está.
— Bem, bem... vamos ver o que você tem reservado para mim
desta vez. — murmuro, abrindo-o com o dedo. Vale a pena ousar um
corte do papel. Pego o convite impresso em cartolina grossa.
Está endereçado a mim.
Eu, como, Frederica Bilson. Não Rebecca Hartford.
Afundo na cadeira da cozinha com o convite ainda na mão. Isso
tem que ser obra de Tristan, tem que ser. Ele pagou a taxa para mim?
Puxou alguns pauzinhos com o comitê de seleção?
Meus olhos examinam o resto do convite.

Frederica Bilson,

É dezembro e as férias estão chegando. Você sabe o que isso


significa... muitos embrulhos de presente e laços. Ou desembrulhado.
Sabemos qual preferimos.
Junte-se a nós no Winter Hotel no próximo sábado. Deixe seu
smartphone e inibição na porta e lembre-se, o anonimato é a moeda que
faz o mundo girar.

O seu prazer,
A Gilded Room

Parece que o convite tem um batimento cardíaco próprio, e está


batendo tão rápido quanto o meu. Fechando os olhos, vejo o rosto de
Tristan na minha frente, do jeito que ele estava sentado na minha frente
na delicatessen mal iluminada na semana passada. Olhos azuis
profundos. Cabelo escuro grosso. Barba de dois dias ao longo de sua
mandíbula quadrada. Meu estômago aperta com a ideia de dormir com
ele novamente. Desta vez, vamos nos conhecer. Quem somos fora dos
limites da Gilded Room.
E ainda estaríamos escolhendo um ao outro.
Olho para a cômoda em meu quartinho, meu santuário para o
sucesso. Meu avô. Meus pais. Meus livros de negócios e meu diploma.
Dormir com um chefe nunca foi o tipo de movimento que eu quero
fazer. Certa vez, eu ria de mulheres que faziam isso — eu desprezava
isso.
E, no entanto, aqui estamos nós.
Tristan estava certo, o bastardo arrogante, quando disse que
tenho medo de namorar. De alguma forma, ele encontrou meu ponto
fraco e aplicou pressão nele, como se conhecesse meus detalhes apenas
olhando. É o único domínio da minha vida em que nunca consegui me
sentir confiante. Onde o esforço não se correlaciona com o sucesso, onde
não consigo estudar para tirar um A ou trabalhar longas horas para
obter uma boa avaliação de desempenho.
Meus dedos apertam o convite ainda na minha mão. Talvez eu
tenha cansado de ter medo.
Hora de desfazer essas amarras.
Quando o sábado chega, eu repito o mesmo que eu que disse da
última vez estou-indo-a-uma-festa-de-sexo-da-elite-secreta. Depilada.
Esfregada. Contemplei minhas decisões de vida. Seco meu cabelo com
secador.
O vestido que estou usando não é remotamente tão revelador
quanto da última vez... mas é mais justo. Ele se apega à minha pele como
uma segunda pele, de cor vermelho escuro. É um vestido que comprei
com amigas na Filadélfia, do tipo que suas amigas dizem que você tem
que comprar! mas que você não tem a menor vontade de usar no
trabalho ou em bares.
Acontece que tenho a ocasião certa para usá-lo agora.
Chego ao Winter Hotel no momento em que começa a nevar. Os
flocos caem suavemente do céu escuro, girando na calçada como cristais
enviados do céu. Faço uma pausa do lado de fora para pegar alguns em
minha mão enluvada. Sempre adorei a neve. Deve ser um bom sinal.
O elevador para o décimo terceiro andar é suave e ininterrupto.
Eu mantenho meus olhos fixos no monitor para cada andar que passa.
Aprendi a conquistar elevadores. Filadélfia me ensinou como, mas ainda
é um pequeno obstáculo mental todas as vezes, e dou um suspiro de
alívio quando saio.
— Bem-vinda. — diz uma mulher elegantemente vestida de terno.
Ela não está usando nada por baixo do blazer, o V aberto cobrindo
perfeitamente seus seios.
— Obrigada. — eu digo, estendendo meu convite. Ela sorri
enquanto olha para ele.
— Bem-vinda, Frederica. Você tem sua máscara com você?
Eu a tiro da minha clutch. — Eu tenho.
— Então você está pronta para ir. Divirta-se. — Ela puxa uma
cortina e entro no grande salão de baile do Winter e entro em um mundo
de decadência.
Entrego meu telefone ao atendente, mal olhando para ele
enquanto recebo meus números. Porque há uma passarela gigante no
meio do salão, e nela andam mulheres envoltas em seda e pérolas… e
nada mais. Convidados se misturam na passarela, aplaudindo,
assobiando. Enquanto observo, uma convidada é puxada por uma
artista, e ela se junta a eles sem diminuir o passo, tirando o vestido
enquanto caminha pela passarela.
A mesma batida forte e pulsante ressoa nos alto-falantes, e minhas
narinas se enchem com o cheiro de incenso.
— Champanhe?
— Sim, obrigada. — murmuro, aceitando uma taça da bandeja de
um garçom. Atordoada, atravesso a festa em busca de um homem alto e
de ombros largos com quem não devo falar.
Eu não o vejo.
Uma mulher sentada em um sofá vê meu olhar itinerante. Ela me
dá um sorriso e passa a mão sobre o cabelo de seu parceiro. A mão dele
está se movendo entre as pernas dela.
— Junte-se a nós, querida?
— Obrigada, mas estou aqui com alguém.
— Traga-o também. — ela ronrona.
Cristo. — Talvez mais tarde, obrigada.
Ela sorri. — Divirta-se, então. Solte-se.
Certo. Eu aceno para ela e sigo em frente, contornando os
compartimentos cobertos em busca do bar. Algumas pessoas sentam
nos bancos, mas a maioria está vazio.
Tristan também não está aqui.
Ele já havia desaparecido em uma das salas privadas? A festa mal
começou.
Sento-me ao lado do bar e cruzo as pernas, intimamente ciente de
como o tecido vermelho desliza para cima. Meu olhar desliza sobre as
pessoas andando em vários estágios de nudez, mulheres de lingerie
misturadas com homens de terno. Um atendente no canto em uma cueca
de seda me dá um olhar superficial, e eu sorrio. Segurança, assim como
Tristan havia apontado.
Se ao menos ele estivesse aqui.
Meia hora depois, faço sinal ao garçom para mais uma taça de
champanhe. Repito o movimento quarenta minutos depois.
Ainda sem Tristan. E sem telefone, não há nada a fazer a não ser
assistir à performance cada vez mais lasciva no palco. De certa forma, só
posso aplaudi-los, porque não há como eu fazer o que eles fazem. Ter
prazer enquanto estava nua suspensa no teto em seda, com dezenas e
dezenas de pessoas assistindo... Não.
Mas sem Tristan.
O barman sem camisa empurra uma bebida para mim. Ele
descansa em seus braços, me dando um sorriso. — Sua primeira vez
aqui?
Devo parecer patética. — Minha segunda, na verdade.
Há um olhar gentil em seus olhos. — Eu vejo. Você está esperando
ver alguém especial.
Eu franzo a testa. — Tão óbvio?
— Só porque eu já vi isso antes, querida. Os novatos costumam
repetir a primeira noite. Mas os convidados mudam, e a mudança muda
os convidados. Muitos vêm aqui em busca de novos parceiros… para não
repetir os antigos.
— Mas ele disse que estaria aqui. — Mas, mesmo enquanto digo
isso, ouço a fragilidade de minhas palavras. Pareço alguém que levou um
bolo em um bar. Eu presumi que Tristan tinha me feito o convite, que ele
estava tão animado para repetir isso quanto eu... mas ele não está aqui.
Ou se está, já está ocupado, distraído com outra pessoa.
Eu olho para o meu copo. — Você está certo — digo ao barman. —
Sou provavelmente uma segunda frequentadora típica.
Seu sorriso se alarga. — Não se culpe por isso. Há muitas pessoas
aqui que adorariam se divertir.
— Tenho certeza que sim — digo, pensando nos vários olhares
interessados que já recebi de homens. Ninguém veio falar comigo - a
primeira regra da Gilded Room em ação. Eu deslizo da banqueta alta. —
Obrigada pela conversa estimulante.
— A qualquer hora, linda. — Ele acena para mim. — Divirta-se.
Eu dou uma última olhada na sala, bebendo o conteúdo da bebida
que ele me deu. A gim-tônica queima enquanto desce pela minha
garganta. Eu o descarto em uma mesa, ignorando o casal se agarrando
furiosamente ao lado dela, e sigo para os corredores além.
Uma porta aberta revela... oh Deus. Não, não, por que eu pensei
que poderia fazer isso? Se Tristan está por trás de qualquer uma delas,
não quero vê-lo. Isso me mataria. Meus dolorosos sapatos de salto alto
me levam diretamente para a saída. Alguns segundos depois, estou com
meu telefone e meu casaco, correndo para o elevador.
Um sonho impossível, era isso. Mesmo se ele estivesse aqui... e
então? Ele ainda é meu chefe. O CEO da Exciteur, mais velho, mais
experiente, rico. Um pai. Alguém que frequenta um clube como este. E
passei a noite passada na minha cama, assistindo velhas reprises de
Gilmore Girls e fazendo s'mores esquentando chocolate e marshmallows
no micro-ondas.
O que eu estava pensando?
Chegar de volta ao meu minúsculo apartamento é como voltar
para casa pela primeira vez desde que me mudei. Fechando a cidade
para além dela, as tentações, as decepções. Eu tiro meus sapatos e puxo,
puxo, puxo o vestido vermelho apertado. Visto minha calça de moletom
e camiseta velha. Acabei de me sentar na cama, com a cabeça entre as
mãos, quando meu telefone toca com uma mensagem.
Há apenas um pensamento na minha cabeça.
É Tristan, perguntando onde eu estava. Tristan, explicando que
não poderia ir.
Não é.

LUKE
Ei, líder de equipe. Quer tomar um café um dia
desses e deixar eu te mostrar Nova Iorque?

Meus dedos tremem ligeiramente enquanto escrevo a resposta.


Não estou com medo, digo a mim mesma. Eu apenas conheço meu
caminho. E é com caras da minha idade, talvez um estagiário em outro
departamento, e não com o chefe da empresa.

EU
Eu adoraria! Que tal amanhã?
O café é amargo e muito quente, queimando minha garganta. Não
faz nada para neutralizar o poço de ciúme no meu estômago. É um
sentimento que não tenho o direito de sentir, sem falar que não tenho
razão para sentir, e odeio coisas que não têm propósito.
Mas eu odeio coisas que não posso controlar ainda mais.
A neve de ontem ainda não baixou, mas uma leve camada dela
permanece nas árvores do Central Park. Joshua e eu passamos uma hora
no parque mais cedo com uma parada obrigatória no Larry's. Em nossa
casa, nunca é frio demais para tomar sorvete. E o tempo todo eu estava
debatendo a sabedoria de ligar para Frederica.
Ela tinha ido à Gilded Room ontem à noite?
Minha mão aperta a xícara de café. E o que eu poderia fazer sobre
isso se ela tivesse? Eu fiz um favor para conseguir um convite pessoal
para ela, e não foi para que ela pudesse se aproximar de algum
banqueiro bajulador de Wall Street. Não, eu planejava estar lá.
Joshua deveria passar a noite na casa de sua madrinha. Mas um de
seus filhos ficou com mononucleose, então foi cancelado. E com Linda
programada, eu já tinha dado folga para minha governanta e para a babá
no fim de semana. Ou seja, só restava eu.
— Pai?
Eu engulo a amargura. Em vez disso, tive uma noite com meu filho,
pedindo pizza e jogando cartas, e foi ótimo. — Sim?
Joshua passa pelo piano de cauda e vem para ficar ao meu lado
perto das janelas. O piano tinha sido da minha irmã. Joshua não gosta de
suas aulas semanais de piano, mas ainda não o deixei desistir. Jenny
também odiava as dela quando tinha a idade dele.
— Adivinha? — ele pergunta.
— O que?
— Marianne está fazendo lasanha esta noite.
Eu sorrio, bagunçando seu cabelo. — Você perguntou a ela
gentilmente?
— Não precisei perguntar. — Ele dança um pouco com sua calça
de moletom com estampa de baleia, um presente de sua avó. — Ela
ofereceu. Acho que ela sabe que tenho uma prova na escola amanhã.
— Sua agenda está na geladeira, então ela sabe. E você vai se sair
muito bem, garoto.
— Eu sei — diz ele, um pouco rápido demais. — Temos praticado
muito.
— Com certeza. Você quer repassar tudo de novo?
— Não.
— Tudo bem. Faremos isso uma última vez depois do jantar,
então. — Eu o sigo até seu quarto, olhando para o mapa-múndi gigante
acima de sua cama. Isso foi um presente de aniversário meu. Juntos,
riscamos os lugares que visitamos e circulamos os lugares que ainda
estão na lista de desejos.
Entre mim e minha irmã, Jenny era a mundana. Aquela que
aproveitou a chance de um ano de intercâmbio em Sydney, que foi
contra a vontade dos nossos pais mochilar no Sudeste Asiático por cinco
meses. Eu tinha a cabeça voltada para números e para a escola e, depois,
para os negócios. Não há tempo para viagens ou frivolidades.
Isso mudou. Joshua terá visto o mundo quando tiver dezoito anos,
se eu tiver uma palavra a dizer, incluindo os lugares que sua mãe
adorava.
— Você falou com Danielle desde a feira de Ação de Graças? —
Pergunto-lhe.
— Sim. — diz ele, sentando-se de pernas cruzadas em seu último
conjunto de Lego. Ele está fazendo construções mais complexas e as
peças de cada agora chegam aos milhares.
— E?
— Ela achou legal termos a feira de diversões só para nós. Ela
perguntou se era a sua feira de diversões — diz ele, rindo. — Eu disse a
ela que não.
— Estou feliz que vocês dois tenham se divertido.
Ele se deita no tapete, olhando para o teto. — Ela disse que eu era
uma de suas pessoas favoritas na aula outro dia.
— Ela fez? Joshua, isso é incrível.
— Sim. — diz ele, chutando uma das pernas no ar. — Mas ela
também disse que Maria era uma de suas favoritas. E Turner e Dexter.
Eu coloquei minha mão na frente da minha boca para esconder
meu sorriso. — Mhm.
— Então eu não sou o único. — Ele fecha os olhos. — Pai, não
podemos falar sobre isso agora. Eu tenho que me preparar para o meu
teste.
— Tudo bem, tudo bem. Eu só estava curioso.
— Você sempre está curioso — ele me acusa, e agora eu tenho que
rir. Foi o que eu disse a ele por anos, logo depois que ele me fez uma
série de quinze perguntas cada vez mais impossíveis de responder.
— Eu vou deixá-lo sozinho.
— Obrigado. — diz ele. — Falaremos no jantar.
É uma coisa tão adolescente dizer que ainda estou rindo de mim
mesmo quando volto para a sala. O cheiro da lasanha de Marianne vem
da cozinha, carne, tomate e queijo.
Minha mão vai para o bolso. Meu telefone. Minhas reflexões. Sem
Joshua para me distrair, minha mente encontra o caminho de volta para
Freddie e a ferida da noite passada. Eu sei que só há uma maneira de
acabar com o ciúme fervendo dentro de mim.
Eu não deveria, claro. Eu poderia escrever um livro sobre todos os
motivos pelos quais interagir com Frederica Bilson não terminará bem.
Ela não é apenas uma estagiária, mas também uma faminta, com os olhos
postos em construir uma própria carreira. E não sou o jovem que era
antes do acidente de Jenny e Michael, quando os relacionamentos eram
fáceis e divertidos.
E, no entanto, o ciúme queima.
Quando Joshua vai para a cama, disco o número agora familiar.
Ela atende após quatro toques eternos. — Olá.
— Freddie.
— Não tenho mais informações sobre o espião no Departamento
de Estratégia — ela me informa.
Eu solto um suspiro, divertido a despeito de mim mesmo. — Não,
eu não esperava que você tivesse.
— Tudo bem então. — A pergunta paira no silêncio abrasivo. Por
que está ligando, Sr. Conway?
— Como você está?
— Estou bem — diz ela. — Tive um fim de semana relaxante.
Meus dentes rangem com a palavra relaxante. — Me encontre na
delicatessen na rua?
— Desculpe?
— Afinal, esses sanduíches eram alguns dos melhores da cidade.
Estou desejando um.
— Por que?
— Estou com fome — eu digo. Eu não estou.
— Sr Conway…
— Me encontre, Freddie.
— Acabei de voltar para casa e estive fora o dia todo.
Não é um não, mas também não é um sim. — Então você deve estar
com fome. Se bem me lembro, pastrami é o seu favorito.
Ela suspira. — Estarei aí em cinco.
O minúsculo e relutante sim acalma as chamas em meu estômago.
Preciso olhá-la nos olhos quando perguntar sobre ontem. Quando
explicar porque não pude estar lá. Pegando meu casaco no cabideiro,
enfio a cabeça na cozinha onde Marianne está preparando o café da
manhã de amanhã. — Estou saindo por algumas horas, descendo a rua.
— Tudo bem, senhor.
— Se Joshua acordar ou precisar de alguma coisa, me ligue.
— Vou ligar.
A delicatessen está tão brilhantemente iluminada por neons
quanto na semana anterior. Devo ter passado por lá umas mil vezes sem
nunca ter pensado nisso, a apenas dois quarteirões do meu
apartamento.
Ela disse que era na mesma rua dela.
Portanto, não basta que Freddie se infiltre no clube que frequento.
Não basta nem ela começar a trabalhar na minha empresa. Ela também
mora a dez minutos a pé da minha casa e agora, ao que parece, está
ocupando espaço em minha mente sem pagar aluguel.
O que significa que estou praticamente condenado.
Chego primeiro, então me inclino contra o prédio e observo as
ruas ao redor. Não demora muito para eu vê-la. Ela tem um casaco bege
bem enrolado em torno de sua figura curvilínea, cabelos escuros
levantando ao vento. Lábios vermelhos e olhos afiados que se estreitam
quando ela me vê.
— Você veio — eu digo.
— Você insistiu — diz ela.
Abro a porta da delicatessen quase vazia. — Depois de você.
Ela pede apenas um refrigerante, sorrindo para o cara atrás do
balcão. Ele sorri de volta, apaixonado.
A expressão desaparece quando é minha vez de pedir. — Café, se
tiver. Preto.
— Já está indo.
Freddie lidera o caminho para a mesma mesa de antes, bem perto
das janelas e do turbilhão de flocos de neve no ar. Observo enquanto ela
tira as luvas de couro preto, as mãos finas e de dedos longos se fechando
em volta da lata de refrigerante. A visão traz outras imagens à mente,
memórias nas quais seria melhor não insistir. Como sua mão se
fechando em torno de mim.
— Por que você me ligou?
— Eu queria ver você — eu digo. É a verdade.
Freddie olha pela janela. — Não te vi ontem.
Então ela foi para a Gilded Room.
Ela tinha ido, e ela procurou por mim.
— Não consegui. — Ela pode ouvir o arrependimento ardente em
minha voz?
— Eu imaginei isso, sim.
Eu me inclino para trás na cadeira de plástico, minha mão na
cadeira ao meu lado. — Mas você compareceu?
— Depois de tantos problemas para conseguir meu próprio
convite, como eu poderia recusar?
Meus lábios se curvam. — Não foi muito incômodo.
Seu olhar volta para a lata à sua frente, e a pergunta brota de mim,
imprudente e imparável. — Você conheceu alguém?
— Conheci várias pessoas — ela murmura.
O ciúme tem um aperto forte em torno de minhas entranhas,
apertando até eu sentir náuseas. — Várias pessoas, Puritana?
Seus olhos piscam para cima, arregalando quando ela registra o
olhar nos meus. — Oh, não assim, bobo. Falei com algumas pessoas. O
barman, principalmente.
— Você falou com algumas pessoas.
— Sim. — Ela cruza os braços. — Você está se perguntando se
mais alguma coisa aconteceu? Se eu dormir com alguém?
Eu encontro seu olhar. — Você sabe que sim.
— E você deveria saber que não deve perguntar. O que acontece
na Gilded Room fica lá. Foi você quem me ensinou isso.
— Eu sei. — Falar com os dentes cerrados é difícil, mas eu consigo.
— Também sei que não tenho o direito de perguntar.
— Nenhum — diz ela. — Se você está tão preocupado, deveria ter
aparecido.
— Surgiu uma coisa.
— Sim, você disse isso. — Ela apoia as mãos na mesa e se inclina
para a frente. — Como você demonstrou esta noite, você tem meu
número. Você poderia ter me enviado uma mensagem a qualquer
momento antes da festa para me avisar que você não iria aparecer.
O pensamento não tinha me ocorrido. Não mando mensagens de
texto, sem falar que nunca trocamos mensagens, ela e eu. Mas aqui está
ela, com raiva por eu não ter avisado.
O que significa que ela esperou por mim.
Ela se sentou naquele clube e esperou por mim. Inferno, ela até
recorreu a falar com o barman. A ideia de que uma mulher esperou por
mim...
— Você não dormiu com ninguém. — eu digo, certo agora que
estou certo. Freddie revira os olhos, mas eu continuo. — Desculpe. Você
está certa, e eu deveria ter avisado.
Suas palmas caem sobre a mesa entre nós, sua lata de refrigerante
intocada entre elas. — Eu teria apreciado isso, sim.
— Eu não quis deixar você esperando. Na verdade, passei a noite
imaginando todas as coisas que você estava fazendo e ficando mais
infeliz a cada minuto.
Ela bufa, olhando para minha mão na mesa de plástico. Está a
apenas alguns centímetros da dela. — Isso parece um desperdício de
energia.
— Foi.
— Por que você não foi?
Admito o que deve soar como um problema remoto para ela,
independente e jovem como ela é. Está a quilômetros de distância de sua
própria vida. — Meu filho deveria estar em uma festa do pijama, mas foi
cancelado. Não deu tempo de arrumar uma babá.
Os olhos de Freddie suavizam. — Oh. Eu entendo.
— Coordenadamente irritante, no entanto.
— Haverá mais festas. — ela murmura, e o reconhecimento faz
meu corpo apertar. As coisas que eu faria com ela, as coisas que eu a
deixaria fazer comigo. Meu olhar se desvia para o batom vermelho
escuro.
— O que você fez hoje?
Seu olhar se volta para a janela, a neve rodopiante além. — Eu
estava visitando a cidade com um amigo.
E quando eu pensei que estava além do ciúme, ele voltou com
tudo, um amigo indesejado. Faz anos desde que senti algo assim. —
Onde você foi?
— O Met primeiro, e depois jantamos em um lugar em Tribeca.
Havia uma fila. É aparentemente muito popular.
— Medusa?
— É isso mesmo, sim. — De perfil, seu rosto é deslumbrante. Um
nariz levemente arrebitado, como se ela estivesse julgando tudo ao seu
redor, mas com lábios carnudos que sorriem rapidamente e riem se você
passar no teste.
— Estou feliz que você esteja fazendo amigos na cidade.
Seu olhar retorna ao meu. Não há animosidade lá agora, seus olhos
castanhos suaves. — Na verdade, acho que pode ter sido um encontro.
A mulher está tentando me matar? Minha carranca se aprofunda
sem pensamento consciente. Claro que ela está namorando. A mulher é
a porra de um vinte em uma escala de dez.
— Oh? — Eu pergunto, tornando minha voz casual. Eis, mundo,
minhas habilidades de atuação. — Como foi?
— Não tenho certeza se queria que fosse um encontro em
primeiro lugar. — Balançando a cabeça, ela olha para as mãos. — Eu
estava um pouco brava com você, e estava pensando em como você disse
que eu tenho medo de homens. De coisas que não posso controlar. Então
eu disse sim quando ele me convidou.
Meus olhos se arregalam. Acho que ela não percebe, mas sua
honestidade é de tirar o fôlego e tão bonita quanto ela. — Você queria se
testar?
— Acho que sim. Sem contar que não conheço ninguém em Nova
Iorque e quero fazer amigos.
— Você me conhece. — eu digo. Sua sobrancelha arqueada me faz
sorrir, e eu levanto a mão. — Tudo bem, tudo bem. Suponho que
realmente não conte?
— Na verdade, não. — ela admite. — Sem ofensa, mas não me vejo
ligando para você pedindo ajuda se meu aquecedor quebrar e meu
zelador não responder.
— Você poderia, você sabe. Estou a apenas alguns quarteirões de
distância.
O olhar que ela me lança deixa claro que ela me acha ridículo. —
Eu moro em uma caixa de sapatos.
— Então? Isso deve tornar os reparos mais fáceis, não mais
difíceis. — eu digo. Ela balança a cabeça, como se eu estivesse perdendo
um ponto óbvio. Eu apoio meus braços contra a mesa. — Podemos ser
amigos, Freddie.
— Você é meu chefe. Bem, tecnicamente o chefe do meu chefe.
— Claro, somos amigos fora do escritório. Eu pensei que era um
dado adquirido.
Seu sorriso se alarga. — Amigos.
— Amigos — eu concordo. — Então, se você precisar de alguém
para lhe mostrar Nova Iorque ou levá-la ao Met, pode me pedir. Sem
mencionar que posso fazer você passar da fila no Medusa. — As palavras
improváveis saem dos meus lábios, apesar de não ter tempo livre, e o
tempo que tenho dou ao meu filho.
— Isso é porque eu mencionei que tinha um encontro hoje?
— Os dois não estão relacionados.
— Certo. — Ela ri, balançando a cabeça para que as mechas
escuras voem, emaranhadas pela neve e pelo vento. — Se eu não
soubesse melhor, eu diria que você está com ciúmes, Tristan.
— Eu nunca desceria tão baixo. — eu digo. — Essa emoção está
abaixo de mim.
— Ah, claro que está. Muito comum?
— Sem dúvida.
Um sorriso brinca nos lábios que me lembro de beijar muito bem.
— Agora que somos amigos não oficiais, há uma tonelada de coisas que
quero saber sobre você — diz ela.
Eu gemo, olhando para as luzes de néon no teto. — Já estou me
arrependendo disso.
— Vou começar fácil, não se preocupe. Você é simplesmente
fascinante para mim. — A sinceridade em sua voz é inesperada, vazando
pelas minhas rachaduras. — Diga-me por que você vai para a Gilded
Room.
— Eu já te disse.
— Sinto que não era toda a verdade.
Eu arrasto meu olhar de volta para ela, para os olhos que estão
brilhando com humor e amizade, e me vejo pensando em responder à
pergunta. Mesmo que a resposta não seja uma que me pinte da melhor
maneira possível.
Uma sombra ao lado da nossa mesa me detém. — Sinto muito,
pessoal, mas estamos fechando em alguns minutos.
— Oh — Freddie diz com uma carranca, como se ela estivesse
desapontada por não poder falar mais comigo.
Não podemos permitir isso.
— Obrigado por nos avisar.— digo ao funcionário. — Estaremos
fora antes disso.
— Tenham uma boa noite.
— Você também — diz Freddie.
Quando ele sai, estendo a mão e pego a lata de refrigerante de
Freddie. Está cheia. — Você nem provou.
— Eu estava distraída.
Eu levanto meu próprio copo de café para viagem, ainda cheio. —
Eu também.
Ela entende imediatamente. — Seria uma pena jogar isso fora.
— Seria um desperdício, realmente. E estou empenhado em
eliminar todas as formas de desperdício.
Seu sorriso se alarga. — Você é notoriamente comprometido com
a eficiência.
— Então isso não pode ficar. — Eu empurro minha cadeira para
trás e pego meu copo de café, entregando a Freddie suas luvas. —
Mostre-me sua caixa de sapatos e vamos beber no caminho.
Sua respiração falha, apesar da excitação em seus olhos. —
Mostrar onde eu moro?
— Se um dia eu for consertar seu aquecedor, precisarei saber
onde ele está, não é? — Abro a porta e uma rajada de vento fria entra. —
Depois de você, Frederica.
O café está frio e tem gosto de fundo de uma prensa francesa
nunca limpa, mas bebo como se a desculpa esfarrapada de terminar
nossas bebidas fosse real. Flocos de neve se prendem no cabelo escuro
de Freddie.
— Isso não parece real. — diz ela. — Nós dois, caminhando para
o meu apartamento caixa de sapatos.
Maldita seja por ser ambiciosa e inteligente, além de sincera e
tímida. Eu posso lidar com uma ou outra, mas ambas? É mais do que um
homem deveria enfrentar.
— Somos amigos, e isso é uma coisa amigável de se fazer. Como
você encontrou o lugar?
Ela toma um gole de refrigerante. — A dona do apartamento mora
alguns andares abaixo. Acho que costumava ser o lugar onde suas au
pairs moravam, e depois a empregada, quando eles tinham uma. Ela está
sozinha agora, seu marido morreu e os filhos se foram. Uma amiga
minha da Wharton morou lá enquanto estudava para a graduação em
Columbia.
Eu concordo. — Ela colocou você em contato com a proprietária?
Freddie acena com a cabeça, sorrindo calorosamente. —
Geraldine é adorável. Ela não confia facilmente, sabe, então o fato de eu
ter sido avalizada por alguém de quem ela gostava ajudou. Então nos
conhecemos e ela decidiu que também gostava de mim.
— Você parece a candidata perfeita para impressionar mulheres
idosas, Puritana. — eu digo. — Acredito que ela não saiba nada sobre a
Gilded Room?
— Deus, não. E não se atreva a mencionar nada sobre isso
enquanto estivermos lá dentro.
— Você acha que ela está espionando você?
— Provavelmente não, mas não estou disposta a correr riscos.
Paramos em frente a um prédio de pedras cinza, muito parecido
com qualquer residencial do Upper West Side. Freddie acena para o
porteiro. Ele acena de volta, mas me dá um olhar que conheço bem. É a
aparência de você é novo para mim, juntamente com uma dose de
cuidado.
Então Freddie conseguiu encantá-lo também, além do cara que
trabalha na delicatessen e seus colegas estagiários na Exciteur. Não
estou surpreso, porque aqui estou eu, subindo para o apartamento dela
com um café frio na mão que aparentemente estou desesperado para
terminar.
— Eu moro no último andar. — diz ela, parando perto dos
elevadores. — Tenho uma janela, mas não dá para nada. Não se você não
contar alguns telhados, uma sólida parede de tijolos e alguns lugares
onde os pombos pousam.
— Eles contam — eu digo. — O tijolo é... interessante de se olhar.
— Mentiroso — diz ela, entrando no elevador atrás de mim e
apertando o botão superior. Suas mãos se fecham na frente dela e,
enquanto eu observo, ela fica rígida. Seu olhar está fixo nos números dos
andares que mudam no monitor.
Ah. O medo das alturas.
— Não vou julgar onde você mora. — eu digo, levantando uma
sobrancelha para ela. — Se é com isso que você está preocupada.
Seu olhar não vacila, mas ela sorri. — Claro que não. Seu
apartamento tem vista para o Central Park, certo? Lembro de você
dizendo isso ao telefone.
— Sim. — eu admito. — Mas o que é o Central Park comparado a
uma parede de tijolos? Apenas algumas árvores. Nada que eu não tenha
visto antes.
Isso me dá uma risada. — Em oposição ao tijolo.
— Você sabe o que eles dizem, uma vez que você viu uma árvore,
você viu todas elas — eu digo, falando para mantê-la distraída enquanto
o elevador sobe a passo de tartaruga. — Mas tijolos… existem infinitas
nuances. Cores. Texturas. Tamanhos.
Ela quebra seu concurso de olhar fixo com o painel do elevador
para me dar um olhar divertido. — Isso é algum tipo de fetiche, Tristan?
Meu sorriso é torto. — Ah, se você quiser falar sobre...
O elevador geme e para repentinamente. As luzes piscam uma,
duas vezes, antes de se apagarem. Somos engolidos pela escuridão total.
Freddie não grita, mas o suspiro vindo de sua direção é cheio de
tanto terror que eu me movo em direção a ela por instinto.
— Está tudo bem. — eu digo. — Estamos bem.
— Isso não pode estar acontecendo. — Sua voz treme com o
esforço para manter o controle. Minha mão se fecha em torno de seu
braço, seu casaco macio sob meus dedos.
— Respire, Freddie. Respire. Ficaremos bem.
Ela toma respirações profundas e trêmulas. Coloco minhas mãos
em seus ombros e pressiono, como se pudesse ancorá-la apenas com
meu toque.
— Você está respirando?
— Sim — ela sussurra. — Tristan, acho que estou prestes a ter um
ataque de pânico. A qualquer segundo, uma corda pode se romper e nós
despencamos para...
— Não — eu digo com firmeza. — Isso não vai acontecer. Você
sabe o que acontecerá?
— O que? — ela respira.
— Vamos sentar, aqui mesmo, e vamos chamar a manutenção e
também aquele seu porteiro. Eles vão consertar isso em pouco tempo.
— Eu alcanço a parede de aço e, em seguida, gentilmente puxo nós dois
para o chão. Ela segue em um movimento fluido.
Então faço algo que sei que não deveria, mas somos apenas nós
dois aqui e, a julgar pela superficialidade de sua respiração, ela está se
partindo. Então eu a puxo em meus braços.
— Respire, Freddie. Profundamente para dentro, profundamente
para fora.
Ela treme, mas faz o que eu digo, acompanhando minha própria
respiração exagerada. Aperto um braço em volta de seus ombros e seu
cabelo faz cócegas em meu nariz.
— Nós vamos ficar bem. — eu digo. — O elevador parece novo.
Tenho certeza de que um alerta automático já foi emitido.
Porém, o painel do elevador não está aceso. Pressionar o botão de
alarme provavelmente não faria nada. Talvez uma queda de energia? As
mãos de Freddie apertam o fecho do meu casaco, enrolando nas bordas.
— Você sabe o número do seu porteiro?
Ela balança a cabeça, mas depois de mais algumas respirações, ela
fala. — Acho que está no meu telefone.
— Eu vou ligar pra ele.
— Ok. Só me dê um minuto.
Eu a seguro, alisando minhas mãos sobre seus braços, antes que
ela esteja composta o suficiente para enfiar a mão no bolso e me
entregar seu telefone. Há uma notificação esperando por ela em seu
telefone. Uma mensagem.

LUKE
Me diverti muito hoje, Fred. Espero que você me
deixe mostrar a você no próximo fim de semana
também.

Eu clico na mensagem irritante para removê-la - agora não é a


hora, Tristan - embora o nome se imprima em minha mente.
Percorrendo seus contatos, encontro o intitulado Porteiro Tom e aperto
chamar. Coloque-o no viva-voz.
— É o Tom — diz uma voz. — Com o que posso ajudar?
— É Tristan Conway e Frederica Bilson. Entramos no prédio há
poucos minutos e agora estamos no elevador. Parou quando estávamos
aproximadamente no décimo terceiro andar. As luzes estão todas
apagadas e o painel está apagado.
— Merda. — Tom diz, e apesar da falta de profissionalismo, só
posso concordar com ele. — Vou chamar um técnico imediatamente.
Não se preocupem, nenhum de vocês. Isso já aconteceu antes.
Então deveria ter sido consertado antes, eu penso. — Vamos
esperar. Por favor, mantenha-nos atualizados sobre qualquer novidade.
— Claro senhor. Devemos tirar vocês dai em pouco tempo. —
Uma breve pausa. — Está tudo bem com a Sra. Bilson?
Levantando a cabeça do meu ombro, Freddie limpa a garganta. —
Estou bem, Tom.
— Bom. Tudo bem então. Aguardem. — ele diz e desliga.
Uma risada ofegante e assustada borbulha de Freddie. Não
consigo ver seu rosto, mas não preciso ver sua reação. — Aguardarei
bem. — ela ofega.
Eu deslizo meu braço para baixo e círculo sua cintura, evidente
mesmo através da espessura de seu casaco. — Você ouviu o homem.
Venha aqui.
Ela se aproxima. — Você não acha que vamos morrer?
— Eu não — eu digo. — Nem um pouco. Vamos respirar de novo,
Coração.
Respiramos em conjunto por dez respirações longas e lentas,
minha mão se movendo sobre a parte inferior das costas o tempo todo
em movimentos lânguidos.
— Ok — ela sussurra. — Eu estou melhor.
— Bom — murmuro de volta.
— Estou me concentrando em você e não na queda de trinta
metros abaixo de nós.
Minha mão acaricia a parte inferior de seu cabelo, os fios grossos
fazendo cócegas na minha pele. — Concentre-se em mim, então.
Ela limpa a garganta. — Você pode conversar um pouco?
— Ok — eu digo, lançando minha voz para acalmar. — Você disse
antes que queria me conhecer. Há todos os tipos de coisas que eu
poderia lhe dizer, você sabe.
Seu silêncio me diz para continuar, então eu faço, minha mão
subindo para acariciar seu cabelo. É como seda sob a palma da minha
mão. — Nasci e me criei neste bairro. Apenas alguns quarteirões
adiante, na verdade. Não há outro lugar onde eu gostaria de morar, não
permanentemente. Nova Iorque é minha casa.
— Apesar dos pombos e dos turistas. — ela sussurra.
— Apesar deles. — eu concordo. — Talvez seja todo o tijolo desta
cidade que me atrai.
Ela bufa uma vez com humor, uma pequena vitória. Eu estico
minhas pernas na minha frente e aperto meus braços ao redor dela. —
Meu sabor de sorvete favorito é manga.
— Manga?
— Sim. Sorvete de manga, na verdade.
— Isso é incomum.
— Bem, do jeito que eu vejo, estou deixando toda a massa de
biscoito e gotas de chocolate com menta para o resto de vocês. É uma
situação ganha-ganha. Vamos ver o que mais... — Procuro qualquer
coisa sobre mim, qualquer coisa que seja interessante o suficiente para
manter seu foco em mim e longe da altura em que estamos sentados. —
Você me perguntou por que vou à festa da Gilded Room, embora eu já
tenha respondido.
— A verdadeira resposta — ela murmura.
— Certo. A verdadeira resposta. — Suspirando, inclino minha
cabeça contra a parede de aço atrás de nós e desnudo minha alma. — Na
última década, me acostumei com um certo tipo de mulher se
aproximando de mim. Aquela que espera bolsas de grife para
aniversários, dia dos namorados e natais, que estremece com a menção
de um acordo pré-nupcial.
Não que eu tivesse saído com muitas, não com Joshua e meu
trabalho. Não havia nenhuma que eu considerasse transformar em
madrasta, e acho que menos ainda gostariam da tarefa. Joshua seria uma
consequência infeliz de me ter, e minha riqueza, ao invés de um motivo
para ficar.
Mas Joshua nunca foi uma consequência infeliz. Ele pode não ter
vindo até mim naturalmente, mas sobre o meu cadáver ele se sentirá um
fardo.
Os dedos carinhosos de Freddie me fazem perceber que fiquei em
silêncio. Eu cubro a mão dela no meu peito com a minha, envolvendo
meus dedos nos dela. — De qualquer forma. As mulheres que conheço
na Gilded Room não sabem quem eu sou, pelo menos a maioria delas.
Quando alguém fala comigo, sei que não me querem pelo meu dinheiro.
Freddie se contorce em minhas mãos, como se estivesse olhando
para o meu rosto. Talvez ela esteja, mas está muito escuro para qualquer
um de nós ver qualquer coisa. — Mas elas só querem você pelo seu
corpo. — ela sussurra. — Isto é melhor?
Eu movo minha mão até seu braço para segurar sua bochecha na
palma da minha mão. Está molhada, e uso meu polegar para enxugar as
lágrimas de pânico que caíram na escuridão. — É — eu digo. — Talvez
apenas marginalmente, mas é melhor. Como você está, Coração?
— Mantendo tudo sob controle.
— Você quer que a gente respire um pouco de novo?
Ela acena com a cabeça e fazemos outra rodada de dez
respirações. Dentro e fora, lenta e seguramente. Eu acaricio minha mão
sobre seu cabelo. — Nós ficaremos bem, Freddie. Acho que não vai
demorar muito agora.
Ela não me questiona sobre isso, em vez disso está tremendo. —
Frio? — Eu pergunto.
— É só o medo. Deus, eu me sinto uma idiota.
Porra. Eu realmente não quero que ela sinta medo, mas não há
nada que eu possa fazer além de mantê-la distraída. — Você não é idiota.
— eu digo a ela.
— Mas eu sei que sou, porque não há nenhum perigo real. E agora
você está me vendo assim. — Sua respiração acelera até ficar ofegante,
suas mãos no meu peito apertando em garras.
— Ei, nós somos amigos, não somos? Estou aqui e não vou a lugar
nenhum. Apenas se concentre em mim.
— Estou tentando — ela sussurra, mas ela ainda está tremendo
em meus braços. Na escuridão, não consigo ver sua expressão, mas
posso ouvir o pânico crescente em sua respiração.
Então inclino sua cabeça para trás e acaricio seus lábios carnudos
com o polegar, e faço a única coisa que consigo pensar. Eu inclino minha
boca sobre a dela.
Nossos lábios se encontram com suavidade, o medo encontrando
a força. Eu aliso meu polegar sobre sua bochecha e tento transmitir
conforto, estabilidade. Tente afastar a mente dela do pânico.
Em vez disso, ela me puxa para ela.
Sua boca se abre em um suspiro e dedos finos deslizam em meu
cabelo. Eles puxam, enviando arrepios na minha espinha. Beijá-la na
Gilded Room foi como beber o vinho mais doce. Aqui na escuridão ela é
como uísque, e ela queima.
Seus lábios se abrem e eu aceito o que é oferecido, passando
minha língua sobre seu lábio inferior. É suave.
Ela responde subindo no meu colo.
Minhas mãos se deslocam para suas coxas, segurando-a enquanto
ela monta em mim. Na escuridão, não há como dizer onde um de nós
termina e o outro começa, e eu a beijo como se ela fosse a única luz
disponível.
Ela me beija de volta como se confiasse em mim. Como se ela
precisasse de mim tão desesperadamente neste momento quanto eu
preciso dela. Meus dedos cravam em seus quadris, desejando o contato
de sua pele macia em vez do tecido de seu casaco.
Meu corpo inteiro aperta em necessidade.
Ela prende as mãos atrás do meu pescoço, e faz tanto tempo desde
que alguém se agarrou a mim assim, como se ela precisasse de mim e só
de mim neste momento. Seus dentes arranham meu lábio inferior e eu
rio, minhas mãos espalmando suas costas. Então ela quer jogar duro?
Uma luz repentina surge contra minhas pálpebras fechadas. Eu
levanto minha cabeça de Freddie, piscando contra o brilho.
Uma voz cortada ecoa do painel. — Lamentamos muito este
inconveniente. Devemos ter o elevador funcionando novamente em
breve.
— Obrigado. — eu falo.
A linha desliga e volto minha atenção para Freddie, ainda montada
em minhas pernas. Seus olhos estão vermelhos e úmidos, seus lábios
inchados, e eu sei que isso é culpa minha. — Como está?
— Bem. — diz ela, mas o olhar angustiado em seus olhos não
desaparece. Eu aliso minhas mãos sobre as dela e afrouxo o aperto
mortal em meu casaco.
— Vamos ficar de pé.
Ela me dá um olhar que deixa claro que ela acha que sou louco por
sugerir isso, mas eu a ajudo a levantar, meu braço em volta de sua
cintura. Nós balançamos quando o elevador começa a se mover com um
leve solavanco.
Ela enterra o rosto na minha jaqueta e passo a mão em suas costas.
Uma e outra vez até que o elevador deslize para uma parada suave no
último andar. É um emaranhado de braços e pressa em chegar ao
corredor estreito, e então a mão de Freddie encontra a minha e ela está
me puxando para uma porta no final. Suas mãos tremem quando ela
pega as chaves, então eu as pego e destranco a porta.
Ela está tremendo inteira. Ela faz uma pausa no meio de seu
pequeno apartamento e cobre o rosto com as mãos. Não há um som, mas
seus ombros tremem.
Eu fecho a porta atrás de mim e envolvo meus braços em torno
dela. — Você está segura agora. — eu digo a ela. — Você está em casa.
— Isso é tão bobo. — diz ela entre soluços estridentes. — Sinto
muito, Tristan, eu não sei...
— Não é bobo. Essa foi uma situação estressante, e agora acabou.
Claro que você está reagindo a isso. — Eu olho ao redor da sala
procurando um sofá, mas não há nenhum, apenas uma cama enfiada em
um canto do cômodo. Está bem decorada com uma colcha cinza e
almofadas coloridas.
Eu nos puxo em direção a ela e afundamos juntos, ela ainda em
meus braços.
— Você não está. — ela acusa.
— Eu não estou reagindo? — Eu aliso minha mão sobre seu
cabelo, olhando para o teto do pequeno apartamento. A cama tem o
cheiro dela, de perfume floral e xampu e da mulher agarrada a mim.
Estou definitivamente reagindo. — Eu não diria isso. Não foi uma
experiência agradável.
Ela estremece em meus braços. — De agora em diante, só vou
pelas escadas.
— Você mora no décimo quarto andar.
— Então acho que vou ficar em ótima forma.
Eu rio, curvando meus dedos em torno de sua cintura e
segurando-a enquanto ela se acalma. Seu choro diminui tão
rapidamente quanto veio, uma consequência agora da tensão liberada e
não do medo. Acabou completamente quando ela apoiou a cabeça na
mão e olhou para mim.
Eu aliso meu polegar sobre sua bochecha, sobre o rímel levemente
borrado. — Você está bem — murmuro.
Seu sorriso é pequeno, mas verdadeiro. Traços de diversão
brincam em seus olhos. — Não é assim que eu queria que você pensasse
de mim.
— Eu posso pensar em você do jeito que eu quiser. — eu digo. —
Não cabe a você decidir.
Sua risada fraca é ofegante. — Certo.
— E seu medo de altura não me fez pensar mal de você, se é isso
que a preocupa. — Meus dedos se deslocam para sua orelha, traçando a
borda lisa de sua mandíbula. Sua pele é como seda sob meus dedos. Não,
isso só a tornou mais humana para mim, real e falível e doce e cheia de
nuances, com fragilidade para contrabalançar o fogo ambicioso.
E isso só me faz querê-la mais.
Freddie se inclina na minha mão e fecha os olhos. — Como você
sabia o que fazer?
— O que fazer?
— Para me acalmar — diz ela. — Você já dissuadiu as pessoas de
um ataque de pânico antes?
Minha mão escorrega de sua bochecha. — Minha irmã costumava
tê-los.
— Oh, eu vejo. — Dando-me um sorriso de desculpas, Freddie se
levanta da cama e pega um lenço para enxugar os olhos e o nariz. Ela tira
os sapatos e movimenta os ombros para tirar seu casaco bege. Uma
blusa de gola rulê e um jeans escuro se ajustam ao seu corpo, às coxas e
quadris bem torneados, à curvatura da cintura.
Fecho os olhos, mas não adianta, porque ela se acomoda contra
mim na cama. A mão dela no meu peito, a perna dela sobre a minha,
como se estivéssemos deitados assim o tempo todo.
— Costumava ter? — ela pergunta. — Como ela conseguiu que
eles parassem?
Eu olho para o teto. — Ela morreu há alguns anos.
— Oh. Tristan, me desculpe, eu não queria trazer isso à tona.
— Você não poderia saber.
— Ainda. Sinto muito.
— Obrigado — eu digo. Meu casaco está desabotoado e não há
nada além do tecido da minha camisa entre seus dedos e minha pele. Eu
fecho meus olhos. — Eu nunca beijei ninguém para impedi-los de ter um
ataque de pânico, no entanto.
— Não acredito que funcionou — diz ela. O calor de sua expiração
contra meu pescoço faz meu corpo se contrair. A consciência dela está
em toda parte, desde as pontas dos meus dedos até o formigamento em
meus lábios. Meus dedos roçam uma tira de pele nua onde o suéter dela
subiu. — Funcionou muito bem, eu diria.
— Se você está procurando elogios, não a obterá de mim — diz
ela. Mas ela enfia o rosto no meu pescoço em um gesto que parece mais
lisonjeiro do que palavras jamais poderiam.
Minha mão desliza por baixo de seu suéter, com a palma encostada
na parte inferior de suas costas. Uma, duas vezes, corro meus dedos
sobre sua pele. Freddie pressiona um beijo suave no meu pescoço.
Eu roço o fecho de seu sutiã e traço o comprimento de sua coluna.
— Freddie…
Seus lábios continuam a se mover, traçando a borda da minha
mandíbula, encontrando meus lábios com os dela. Ela tem gosto de
doçura e conforto, de sinceros agradecimentos e “eu quero”. Eu a beijo
de volta, nossas bocas se encontrando. O que começa gentil não leva
tempo para pegar fogo. Minha mão se enrosca no comprimento de seu
cabelo escuro.
Freddie geme em minha boca, entregando-se ao beijo de uma
forma tão confiante que ameaça me destruir. É muito precioso. Eu me
mexo, espalhando-a embaixo de mim. Seu cabelo escuro está lindamente
selvagem no edredom abaixo de nós, mas é de seus olhos que eu não
consigo desviar o olhar.
Eles mantêm o desejo e a confiança, hesitantes e maravilhosos.
Suas mãos me puxam para baixo e eu a beijo como se precisasse
dela mais do que do ar, mais do que da própria vida, porque é assim que
me sinto. Após a ligação de ontem, o ciúme, o elevador, segurando-a
tremendo em meus braços, o desejo de fazê-la minha é quase totalmente
consumidor. Eu quero sua pele contra a minha e seus gemidos em meu
ouvido.
E é exatamente por isso que não consigo. Não enquanto ainda
houver lágrimas secas em seu rosto, não quando a adrenalina e o medo
ainda estiverem pulsando em seu sistema. Eu mudo meus beijos de seus
lábios para seu pescoço, alisando seu suéter de volta sobre a extensão
tensa de sua barriga.
Ela se vira para mim com um suspiro frustrado e eu a seguro,
beijando sua testa. Nós mentimos assim por um longo tempo.
— O que vamos fazer, Tristan? — ela finalmente pergunta.
Eu estou me perguntando a mesma coisa. — Não sei.
— Não podemos permitir que ninguém descubra isso.
— Eu sei. — Fechei os olhos com força, lutando contra a excitação
ainda viva em minhas veias.
Freddie respira fundo. — Eu trabalhei tanto para estar onde estou.
E ainda tenho muito trabalho a fazer. Não posso ser a estagiária que
dorme com o CEO para progredir.
As palavras perfeitamente razoáveis são cortantes. É o que sei há
semanas. Ela ainda tem muito a experimentar que não inclui alguém
como eu.
— E eu preciso ter controle, Freddie, mas com você eu não tenho
nenhum.
Há um sorriso resignado em sua voz quando ela fala novamente.
— Então, o que vamos fazer conosco?
— Nós vamos ser amigos — eu digo, alisando minha mão sobre
seu cabelo e odiando a palavra. — Fora do trabalho. Talvez apenas de
longe... mas seremos amigos.
— Amigos — ela repete, como se estivesse saboreando a palavra.
Eu me pergunto se ela acha isso tão amargo quanto eu.
Conheço bem minhas fraquezas, sei onde fraturo e quebro.
Compartilhá-las com Tristan nunca foi meu plano. Mas no espaço de
uma noite, eu dei a ele tudo. Meus ataques de pânico, meu medo de
altura, até mesmo meu medo de namorar, a maneira como me agarrei a
ele mais do que precisava pelo simples prazer de segurá-lo perto. Ele
tinha visto tudo.
O que somos agora não existe, palavra que não cabe no dicionário.
Duas pessoas que se conheceram como estranhos. Que se divertiram
como estranhos, mas que se conheceram como amigos.
Duas pessoas que vivem vidas muito diferentes e têm que cumprir
as regras do local de trabalho.
E, no entanto, ontem tinha acontecido. Eu dei a ele toda a minha
fragilidade, e ele a segurou na palma da mão até que eu fosse forte o
suficiente para recuperá-la.
Não tem como eu esquecer isso. De jeito nenhum eu quero
esquecer isso.
Eu descanso minha cabeça em minhas mãos, me afastando dos
pensamentos dolorosos e dos números na minha tela. Tínhamos sido
sábios em parar ontem, em estabelecer regras e limites. Estou há apenas
dois meses em um estágio de um ano. Ele é um pai solteiro com uma
empresa para administrar.
O mundo só veria uma coisa.
Mas por que, então, parece que cometemos um erro?
— Frederica.
Eu olho para cima. — Sim?
— Preciso de você para uma reunião com um cliente. Vamos nos
encontrar com Nicour em... — Eleanor olha para o relógio — em menos
de trinta minutos, e Clive não pôde comparecer. Eu simplesmente adoro
quando ele cancela no último minuto.
Pego minha agenda, minha bolsa, seguindo-a para fora do
escritório. Toby me dá um sinal de positivo e um boa sorte. Nem uma
única parte de mim pensa que ele pode ser o espião. Meu olhar vagueia
pelas costas de Quentin, mas, apesar de todos os seus murmúrios e mau
humor, também não acho que seja ele.
— Frederica?
— A caminho. — Corro atrás de Eleanor até a sala de conferências
da Estratégia. Com o espírito de economizar tempo e milhas para viajar,
esta é uma reunião digital. Exciteur tem uma configuração de câmera
inteira apenas para esse tipo de coisa.
Quando elas funcionam, é isso.
Eleanor fica cada vez mais estressada enquanto o técnico luta com
a eletrônica.
— Eles estão esperando por nós — ela sibila.
— A qualquer segundo agora… — ele murmura.
Abro meu laptop e me preparo para fazer anotações, anotando
todas as informações que tenho sobre Nicour. A porta da sala de
conferências se abre. Eu não olho para cima, concentrada como estou
nos números na tela.
— Sr. Conway? — Eleonor pergunta. — Eu não sabia que você
estava participando desta reunião.
— Preenchendo o lugar de Clive — ele diz. Uma cadeira é puxada
ao meu lado, uma colônia familiar perfumando o ar. Algo dá um nó no
meu estômago.
Eu olho, mas o olhar de Tristan está focado em Eleanor e no
técnico. Frieza, poder casual em seu rosto. Aqui está ele, um homem feito
para salas de reuniões e relógios de mil dólares, sem vestígios do belo
estranho da Gilded Room ou do homem atencioso em meu elevador
ontem.
Volto meu foco para Eleanor.
— Aqui está. — diz o técnico, recuando. A tela do projetor pisca
uma vez, e então as boas pessoas da Nicour aparecem, sentadas em uma
mesa de conferência muito parecida com a nossa. As discussões
começam, então volto para minhas anotações, concentrando-me nas
palavras que estão sendo ditas e não no homem sentado a poucos
metros de mim.
É difícil, quando ele é tudo em que consigo me concentrar.
Eleanor cede a ele quando ele se digna a falar, mas na maioria das
vezes ele a deixa lidar com o show. Ele veio assistir a performance dela?
Ou ele veio assistir a minha?
Talvez ele tenha decidido que não fui eficaz em encontrar o espião
e optou por resolver o problema com suas próprias mãos.
Tristan é quem encerra a reunião. Minhas mãos ainda estão no
teclado do meu laptop enquanto ele fala, a profundidade de sua voz
enchendo a sala.
— Foi bom entrar em contato com você — diz ele. — Nossa
equipe terá uma nova estratégia de negócios para apresentar a você em
um mês.
— Estou ansioso por isso, Sr. Conway. Obrigado por ter me cedido
seu tempo.
— Claro, Howard — diz Tristan. — Falo com você em breve.
A conversa termina e o silêncio repentino reina supremo. Ele
tamborila com os dedos na mesa. — Nicour é um dos nossos maiores
clientes.
— E eles não conseguirão nada além do nosso melhor — promete
Eleanor.
Eu fecho meu laptop e olho entre eles. Tristan ainda não me deu
um único olhar desde que entrou na sala. É só profissionalismo?
— Excelente — diz ele e se move para ficar de pé, mas Eleanor o
interrompe com a garganta limpa.
— Enquanto estou com você aqui, posso pedir um favor para a
conferência em Boston esta semana?
Ele afunda de volta, levantando uma sobrancelha. — Sim?
— Tenho certeza que você se lembra da nossa estagiária junior,
Frederica Bilson — ela diz, acenando para mim. — Sei que a Estratégia
só está aprovada para quatro participantes da conferência, mas ela tem
muito a recomendá-la. Só tenho elogios para ela e gostaria de incluí-la
também no meu departamento.
Uau.
O elogio faz minhas bochechas esquentarem, mas encontro o olhar
de Tristan com o meu próprio olhar nivelado. Seus olhos são profundos,
insondáveis. Nenhum indício de que ele me reconhece além do cortês.
— Isso tornaria seu departamento o maior que enviaremos para
o evento. — diz ele.
— Estou ciente, — responde Eleanor — mas ela vale a pena.
Uma pontada de calor se espalha pelo meu peito. Elogios dela são
realmente raros, mas aqui está ela, indo para o tatame por mim.
Tristan empurra a cadeira para trás. — Muito bem. Você vai à
conferência em Boston, senhorita Bilson.
— Obrigada, Sr. Conway.
— Agradeça ao sua supervisora, estagiária — diz ele secamente e
acena para Eleanor. Outro golpe de sua colônia me atinge quando ele
passa e, sem se despedir, ele desaparece porta afora. Ela se fecha atrás
dele com finalidade.
Abro a boca, mas Eleanor me interrompe com um sorriso irônico.
— Não me agradeça ainda, Freddie. Vai ser muito trabalhoso.
— Sou fã de trabalho duro.
— Sim, eu notei. É por isso que quero você lá. Vamos precisar de
todas as mãos no convés.
Concordo com a cabeça, pegando meu laptop.
Eleonor sorri. — Nunca conheci um anotador mais diligente.
— Foi útil na faculdade e é útil agora.
— Com certeza. — Ela junta seus próprios papéis, de pé. Uma
carranca marca seus lábios. — Sr. Conway geralmente não é tão... breve.
Eu me concentro muito em parecer agradavelmente interessada.
— Quem sabe o que incomoda a administração?
— Quem sabe, de fato. — Ela balança a cabeça, o cabelo curto
balançando. — Ah bem. Ele será excelente na conferência de qualquer
maneira, tenho certeza.
— Ele é alguma outra coisa?
Eleanor me lança um olhar surpreso. — De fato, Freddie. Às vezes
eu mesma me pergunto isso.
Quando volto para minha mesa, minhas mãos tremem. Não com
medo ou nervosismo, nem mesmo com antecipação. A confusão de
emoções dentro de mim inclui muitas para serem classificadas.
Ontem, ele me segurou como se eu fosse tudo o que ele queria.
Ontem, tudo que eu queria era ele. E ainda assim nós paramos. Por mim,
foi por causa deste trabalho, minha carreira, meu senso de auto-estima.
Ele não é alguém que namora, mas não consigo esquecer as palavras
gravadas em minha mente - a maneira triste como ele falou sobre por
que as mulheres o querem. Não consigo esquecer o jeito que ele é com o
filho.
Eu estava errada?
— Acabei de ouvir as boas novas! — Toby diz, aparecendo na
cadeira de sua escrivaninha. — Você vai para Boston conosco esta
semana!
— Outro par de mãos no convés — diz Quentin de sua mesa, sem
se virar.
— Sem mencionar outra alma pronta para a festa na noite de
quinta-feira. — Toby dança um pouco em sua cadeira. — Você está
pronta, Freddie?
— Sim — eu digo fracamente. — Eu nasci pronta.
Toby segura o crachá da conferência pendurado em um cordão em
volta do meu pescoço, virando-o para um lado e depois para o outro. —
Ainda parece muito bom.
— Não — eu protesto. — Parece que deu um mergulho em uma
xícara de café, porque deu.
— Bem, meio que combina com o seu vestido. É cor de blush.
— Deveria ser pêssego. — Estendo a mão e coloco a mão no
ombro de Toby. — Eu realmente aprecio a conversa estimulante, mas
vamos enfrentar isso. Vou ter que desistir da ideia de um dia enquadrar
isso.
Ele ri. — Você pode imaginar o sociopata que faria isso?
— Você quer dizer eu?
— Se a carapuça servir — diz ele, inclinando-se sobre a mesa de
bebidas que estamos esperando. Menos de quinze minutos após o
término do último workshop, a sala de conferências foi transformada
em um meet-and-greet4 profissional.
— Onde está Quentin?

4Jargão de negócios para um evento antes de uma reunião profissional, seminário , convenção ou
conferência onde você vai conhecer pessoas em sua área para fazer networking.
— Fazendo Networking. — diz Toby, acenando com a mão
desdenhosa.
Eu levanto uma sobrancelha para ele. — Quentin? Networking?
— Ele é bom em bater papo quando quer. Outros, como eu, não
são.
— Toby, você é a pessoa mais sociável que conheço.
— Sim, mas veja, esse é o problema. — Ele levanta sua taça de
vinho para mim em triunfo. — Sou incapaz de ser alguém além de quem
sou, e em lugares como este, ninguém está realmente interessado em
conhecer você. Eles só querem conhecer o você que os ajudará a
progredir.
— Uau. Isso foi incrivelmente cínico.
Ele sorri para mim. — Sou apenas dois anos mais velho que você,
Freddie, e ainda assim muito mais sábio.
— E tão humilde — eu rio, erguendo minha taça de vinho para a
dele. É a única bebida gratuita incluída em nosso pacote de conferência,
mas já vejo participantes indo ao bar para pagar pela segunda.
— Então? — ele pergunta. — O que você achou do seu primeiro
dia?
Eu imito enxugar o suor da minha testa, e ele sorri. — Sim, a
estratégia é sempre enviada para todas as reuniões, apenas no caso de
haver novas táticas para aprender.
— Eleanor me pediu para ir a dois workshops. Ao mesmo tempo.
Quando indiquei que não podia, ela realmente rosnou para o telefone.
Ele bufa. — Sim, os chefes ficam um pouco intensos aqui. É aqui
que eles recrutam novos clientes e batem papo.
Meus olhos se fixam em uma figura familiar por cima do ombro de
Toby, ao longe. Quentin. Seu olhar está fixo em nós... ou pelo menos em
Toby. Não há nenhum dos traços usuais de ironia em seu rosto. Assim
que ele me pega observando, ele se vira, desaparecendo na multidão que
se mistura.
— Uh-oh — diz Toby ao meu lado, prazer óbvio em sua voz. —
Seu encontro está vindo em nossa direção.
— O que?
— Luke, às onze horas.
— Não pensei que Sales estaria aqui.
— O amor encontrará um jeito — Toby brinca, alto demais para o
meu gosto, e então Luke nos alcança. Ele nos dá um sorriso largo e passa
a mão sobre o cabelo curto.
— É claro que a Estratégia está aqui — diz ele.
— Você sabe. — Eu levanto meu copo para o dele. Trocamos
algumas mensagens de texto depois do dia que passamos em Nova
Iorque, mas deixei claro que estou apenas procurando por amizade.
— As vendas também chegaram? — Toby pergunta.
— Sim, foi uma coisa de última hora. Não planejado nem nada,
mas quando meu chefe me perguntou, agarrei a chance. — Ele se move
ao meu lado, nossos cotovelos se tocando.
— Claro que sim. — eu brinco. — Quem pode resistir a jornadas
de trabalho de doze horas e cordões?
— Não se esqueça de uma bebida de cortesia. — Toby ressalta. —
Essa é a chave.
— Mas apenas uma. — eu digo. — Não queremos que os
participantes fiquem turbulentos.
Toby revira os olhos. — Deus, mal posso esperar para ficar
turbulento. Tem um bar ao lado do hotel… então você sabe para onde as
pessoas vão migrar quando isso acabar.
— E eles vão pagar por isso amanhã — Luke diz com uma risada,
olhando para mim. — Acha que vai participar?
Eu dou de ombros. — Provavelmente, mas não vou chegar tarde.
— Você é tão jovem — diz Toby. — Tão idealista, tão motivada.
Eu me lembro desses dias.
Eu sorrio para ele. — Desculpe, esqueci o quão cínico você se
tornou.
— Eu sou o pior.
— Bem, talvez não seja o pior — Luke diz. — Você ouviu Conway
lá no painel?
— Eu pensei que ele estava bem — eu digo.
— Ah, claro que estava. Ele pode convencer qualquer um de
qualquer coisa quando se digna a tentar — diz Toby. — Mas você está
certa. Sua visão da indústria não era necessariamente... otimista, não
para nós, garotinhos.
— Tenho certeza que ele diria que é realista — eu digo.
— Isso só piora as coisas.
— Bem, ele é um capitalista de risco — diz Toby. — Ele assumiu
a Exciteur para garantir que ela ganhasse dinheiro e, quando isso
acontecesse, ele iria embora. Esse é o papel deles.
Eu tomo um gole da minha taça e faço meu tom casual. — Acha
que vai acontecer em breve?
Toby balança a cabeça. — Duvido, mas não posso dizer que sei o
que acontece na administração.
— Ele não está aqui, está? — Lucas pergunta. — Não vejo a Alta
Gerência desde o último painel.
— Acho que não. — respondo, e tenho estado de olho. Tristan tem
estado em reuniões não abertas a gente como nós a maior parte do dia,
mas eu o vi caminhando pelos corredores e, claro, trabalhando no
microfone durante o painel de discussão. A diferença não poderia ser
mais clara - eu, no fundo, fazendo anotações. Ele, sendo entrevistado
sobre o futuro da consultoria.
Luke esvaziou o último gole de vinho, colocando-o decididamente
na mesa à nossa frente. Ele se inclina perto o suficiente para que eu
possa sentir o cheiro de sua loção pós-barba. — Devemos ir para aquele
bar em breve.
Eu faço um som evasivo. Maldito Toby por sorrir ao meu lado, por
saber sobre nosso encontro e por achar isso hilário.
Meus olhos procuram uma saída possível. Mas eles travam em um
par na sala lotada, um par que brilha com intensidade. A queimadura
escalda.
Tristan está aqui.
Seu olhar viaja de mim para Luke, que está mais próximo do que
deveria. Não há nada da civilidade profissional dos últimos dias. Apesar
da distância, posso ler seu rosto perfeitamente. Ele está queimando, está
com raiva e não é tão indiferente quanto finge.
Minha mão treme quando coloco minha taça de vinho na mesa.
Tristan se vira, separando-se da multidão como o Mar Vermelho
enquanto caminha em direção aos elevadores.
Eu forço meu olhar para longe. — Já volto — digo a Luke e Toby.
Se eles respondem, eu não entendo, correndo no meio da multidão.
Como uma mariposa atraída por uma chama, sei que não deveria,
mas não consigo resistir.
Ele se foi quando chego aos elevadores. Apenas um ainda está em
movimento e, enquanto observo, ele para no vigésimo sexto andar.
O último andar.
Me enchendo de coragem, entro em um elevador livre e aperto o
mesmo botão. As portas se fecham atrás de mim e eu me concentro na
respiração, inspirando e expirando, inspirando e expirando, meu olhar
em cada andar que passa. Os elevadores estão mais difíceis do que nunca
desde que o do meu prédio parou. Eu os tenho evitado sempre que
posso, mas aqui e agora, não há como fugir disso.
Eu posso fazer isso.
Nada vai acontecer.
Não pense na possível queda.
O elevador dá um som alegre quando chega ao último andar e eu
dou um suspiro trêmulo de alívio, emergindo em um corredor estreito.
Uma placa aponta para a direita com as palavras Terraço da cobertura
estampadas em letras douradas.
Varandas e telhados são minha criptonita. Eu me esquivo em
direção à porta de vidro. Está escuro lá fora, é dezembro, está frio.
Por que ele subiu aqui?
Envolvendo um braço em volta da minha barriga, abro a porta de
vidro e imediatamente me arrependo. Arrepios percorrem meus braços
nus com o frio no ar.
Um passo para o terraço.
Outro passo.
Estou longe da saliência, mas ainda posso vê-la, cercada e
ameaçadora à distância. Uma figura escura está de pé com as mãos no
corrimão e a cabeça curvada contra o vento frio.
Eu ouso mais um passo à frente. — Tristan?
Ele vira a cabeça. — Freddie?
— Sim.
Soltando o corrimão, ele passa a mão pelo cabelo. O vento
chicoteia seu paletó. — Cristo, você me seguiu até aqui?
— Sim. Ta-rã.
Sua boca se curva, mas é breve. Então ele está tirando seu paletó e
envolvendo-a em volta de mim. Está quente com o calor de seu corpo e
eu me afogo nele. — Obrigada — murmuro, meus dedos enrolando em
torno do tecido. — Por que você está aqui em cima?
Ele balança a cabeça, desviando o olhar de mim para o horizonte
suave de Boston. É menos lotado que o de Nova Iorque. — Você vai pegar
um resfriado — diz ele.
— Parecia que algo estava em sua mente.
Sua boca se contorce em um não-sorriso. — Alguém estava.
Meu estômago parece que vai ceder. — Oh.
— Você, na verdade. — Sua mandíbula aperta, trabalhando firme.
— Eu vi você e o outro estagiário, e o ciúme me atingiu como a porra de
um trem de carga.
— Não é... Tristan…
— Eu sei — diz ele. — Eu não tenho o direito, Freddie. Você me
disse que não pode entrar nisso comigo. Sem mencionar que vocês dois
estavam apenas conversando. Sei que o ciúme é irracional, mas vive
dentro de mim mesmo assim.
— Eu não o quero.
Ele fecha os olhos. — Todas aquelas pessoas lá embaixo, todas
querendo falar comigo. Não por mim, mas pelo que represento. E a única
pessoa com quem eu queria falar era você, mas me aproximar de você
era impensável. Eu também estava com ciúmes disso. Eles podiam
conversar e rir com você e eu não.
— Eu estou aqui agora.
— Por que você está? — ele pergunta. — Por que me seguir até
aqui?
— Nós somos amigos.
— Amigos, sim. Amigos. E, no entanto, penso em você o tempo
todo. A sensação de ter você em meus braços, o seu gosto, os sons que
você fez. Eu quero tanto você, Freddie, e eu não posso ter você, e isso
está me deixando louco.
Minha respiração falha, cada palavra dele é um golpe contra
minha determinação. — Eu não disse que queria ser amiga porque
também não quero isso, Tristan. Vou para a cama esperando que você
me ligue e peça para encontrá-lo na delicatessen. Ando pelos corredores
do trabalho na esperança de esbarrar em você. Eu penso em você o
tempo todo.
Seus olhos estão focados e afiados nos meus. — Eu costumava
estar no controle antes de você — ele acusa.
— Eu também. Você arruinou tudo isso para mim.
— Não posso dizer que sinto muito.
— Nem eu. — eu respiro.
Ele fecha a distância entre nós e coloca uma mão grande na minha
bochecha. Inclina minha cabeça para cima, até bloquear as luzes da
cidade ao nosso redor. — Fique comigo esta noite. — diz ele. — Só nós
dois no meu quarto de hotel. Podemos ser apenas nós. Frederica e
Tristan, e não quem somos no trabalho.
A nota crua de necessidade em sua voz acende o mesmo acorde
em mim, acenando para que eu me junte à sinfonia. E oh, como eu quero.
— Sim. — murmuro.
Sua mão desliza para baixo para segurar a minha. Ele lidera o
caminho, abrindo a porta de vidro e trazendo nós dois de volta para o
calor. Tristan faz uma pausa no elevador. — Você não subiu as escadas?
— Não. — eu digo, balançando a cabeça. — Eu não queria arriscar
sentir sua falta.
Ele me beija com uma intensidade surpreendente então,
machucando meus lábios com a força. Eu saboreio o gosto dele, a força
de seu corpo contra o meu. Cada terminação nervosa parece coque
elétrico por seu toque. — Deus, eu quero você. — ele murmura.
Minhas mãos cravam em sua camisa. — Eu quero você também.
— Nós vamos pelas escadas desta vez. — Sua mão escorrega para
a minha e então estamos caminhando, subindo escadas sem pessoas.
Não deveríamos andar assim em público, mas a ideia de puxar minha
mão da dele é como perder um membro.
Não vamos longe. Ele abre a porta do vigésimo quarto andar e
avançamos na fileira de portas de hotel idênticas.
Tristan destranca a porta no final. — Minha suíte. — diz ele.
Uma rápida olhada para trás no corredor me diz o que eu já sei.
Ninguém está olhando. Não há ninguém para nos ver, para me ver,
ninguém para espalhar boatos. Entro e ele fecha a porta atrás de mim.
Suas mãos acariciam meus braços, fortes e seguras. — Você saiu
para um terraço na cobertura.
Eu me inclino contra ele. — Eu fiz.
— Obrigado.
— Você vale um pouco de medo.
A risada de Tristan envia arrepios na minha pele. — Que elogio,
Frederica. — Suas mãos deslizam para baixo, sobre as mangas de seu
paletó, traçando minha pele nua por baixo.
Eu inclino minha cabeça para trás contra seu ombro. — Eu tenho
saudade de você.
— Não faz tanto tempo. — ele murmura, sua mão deslizando
dentro de seu paletó para descansar na minha barriga. Seu polegar roça
a parte inferior do meu seio.
— Sim — eu digo. — Faz.
Outra risada rouca, e então seus lábios roçam meu pescoço
exposto. — Você tem razão. E todas as noites desde que estive em seu
apartamento, pensei na sensação de você contra mim.
Meus olhos se fecham. — Tristan…
— Sim?
— Quais são as regras?
— As regras, Coração? — Ele alisa o paletó dos meus ombros e ele
cai no chão entre nós.
Incapaz de aguentar mais, eu me viro para ele. — Você me contou
sobre as regras da Gilded Room. Que tal hoje a noite?
Tristan inclina minha cabeça para trás, passando o polegar sobre
meu lábio inferior. — Sem regras — ele murmura. Seu beijo é poderoso
em sua lentidão. Deliberado e metódico. A necessidade da escada ainda
está lá, mas agora está controlada. Mantida em cheque cuidadoso, mas
transbordando abaixo da superfície.
Tristan nos leva para trás até meus joelhos baterem na beirada da
cama do hotel. Ele levanta a cabeça, as mãos segurando minha cintura.
— Freddie…
— Eu sei — digo a ele, puxando sua cabeça para baixo. Porque eu
sei. A necessidade está rastejando sob a minha pele, uma coceira
profunda. — Venha aqui…
Ele geme contra meus lábios. Eu sou levantada e então estou na
horizontal, tudo em um movimento suave, e Tristan não para de me
beijar. Sua mão desliza por baixo da bainha do meu vestido e encontra a
parte de trás do meu joelho. Colocando-o em torno de seu quadril.
Esticados assim, mesmo totalmente vestidos, nossos corpos se
alinham como se fossem feitos um para o outro. Como se fosse tudo para
o que eles sempre foram feitos.
Seus quadris se movimentam uma vez. Duas vezes. Mesmo através
do tecido, a sensação dele contra mim é suficiente para enviar uma dor
pelo meu corpo.
— Tira. — eu digo a ele, minhas mãos se movendo em toda a
extensão de seu peito. Eu preciso tocar sua pele. Tristan se ajoelha e
arranca a camisa em um movimento suave, sem se preocupar com os
botões. Seu peito sobe e desce com a força de sua respiração. Um
punhado de pelos dança em seu peito.
— Freddie — diz ele com a voz rouca, as mãos cravando em
minhas coxas. — Eu preciso muito de você para ir devagar.
Eu alcanço o zíper na lateral do meu vestido. — Você acha que eu
deixaria você ir devagar?
Um sorriso selvagem cruza seu rosto e então ele está lá, puxando
a bainha de mim. O tecido prende em meus seios. Eu me mexo para
ajudá-lo a deslizar para baixo e ele rosna, os olhos acompanhando o
movimento.
Suas mãos permanecem em meus tornozelos, sobre as tiras que
mantém meus saltos no lugar. — Estes ficam.
Concordo com a cabeça, esticada na cama na frente dele. — Como
quiser.
A maneira como ele me observa é minha ruína. Não há nada que
ele possa me pedir agora que eu diga não, nada que eu não tente
satisfazer. O desejo dele alimenta o meu, e o meu inflama o dele, um
círculo no qual mal posso esperar para me perder.
Tristan trilha beijos no meu pescoço, minha clavícula, a nitidez de
sua barba raspando as curvas dos meus seios. Ele enterra o rosto entre
eles com um grunhido, as mãos alcançando o fecho do sutiã. Eu arqueio
minhas costas e suspiro de alívio quando ele se abre.
Tristan se levanta em um braço, os olhos no meu peito enquanto
ele tira o sutiã de mim. Livres, meus seios sobem e descem com minha
respiração, meus mamilos duros.
— Senti falta disso, Freddie.
Minha risada ofegante é interrompida quando ele abaixa a cabeça,
sugando um dos meus mamilos em sua boca. Cada puxão dolorido
espalha fogo líquido através de mim. Ele se move entre as minhas
pernas, o pau duro dele pressionando contra mim mais uma vez.
— Tristan... — Eu imploro, enterrando minha mão em seu cabelo
grosso.
Ele se move, tomando meu outro mamilo em sua boca. Mas ele me
ouve, porque sua mão mergulha sob o cós da minha calcinha.
Minha respiração fica instável quando ele me segura, os dedos se
separando, acariciando. Eu movimento meus quadris contra sua mão em
busca de mais fricção. Ele não me dá. Não, ele tira minha calcinha em vez
disso, jogando-a para o lado.
Mais uma vez, estou nua na frente dele em um quarto de hotel
enquanto ele está meio vestido.
Mas desta vez, ele não está perdendo tempo jogando. Tristan
desfaz o zíper e o pau duro dele salta livre.
— Estou tão duro por você, você não tem ideia. — Ele abre a
carteira, pegando uma embalagem de alumínio. — Você sabe quantas
noites eu passei só pensando em nossa noite juntos na Gilded Room?
Balanço a cabeça, a imagem que suas palavras evocam deixando
minha garganta seca. — Diga-me.
Ele rola a camisinha com um gemido baixo. Uma linha de pelo vai
até o umbigo, músculos tensos sob a pele ainda bronzeada. — Muitas.
Tenho estado duro e me xingado por ter ido embora tão cedo naquela
noite. — ele diz. — Por não ter tido tempo de transar com você mais uma
vez. Pensando que se eu tivesse, eu não desejaria você como eu desejo.
Sento-me, estendendo a mão para seus braços, os músculos duros
como pedra se movendo sob minhas mãos. — Não teria sido o suficiente.
— eu digo. — Uma vez, duas vezes. Eu teria desejado você de novo.
Ele toma minha boca em concordância. É um beijo para devorar.
Um beijo para selar.
Um beijo para reivindicar.
Ele agarra minhas coxas e as separa, se acomodando entre minhas
pernas. Graças a Deus pelas camas altas de hotel e homens altos, porque
o ângulo é perfeito. Ele agarra meus quadris e os usa como alavanca,
enterrando-se dentro de mim com um forte impulso.
Eu suspiro com a sensação repentina, mas é abafada pelo gemido
rouco de Tristan. Seus olhos se fecham em um êxtase doloroso enquanto
ele faz uma pausa, enterrado até o fim.
— Tristan. — murmuro.
Ele sorri e olha para mim, porque ele sabe exatamente o que está
fazendo, negando-nos o movimento. Mas dois podem jogar este jogo.
Eu arqueio minhas costas, deleitando-me com a maneira como
seus olhos acompanham o movimento. A maneira como eles se alargam
quando seguro meus seios. Ele geme com a visão e flexiona os quadris,
empurrando com força dentro de mim.
— Maravilhosa. — ele murmura, seus dedos cravando em meus
quadris enquanto ele desliza dentro e fora.
Eu arqueio minhas costas ainda mais. — Você sabe o quão gostosa
é a sensação de ter você dentro de mim?
Ele empurra tão profundamente que o ar sai do meu peito.
Estendo a mão cegamente e agarro o edredom, segurando enquanto ele
responde, empurrando-nos para mais perto da borda.
Nunca fui levada à loucura por um homem como este. Não há
espaço na minha cabeça para dúvidas ou pensamentos, apenas essa
conexão e o prazer crescente. Ele engancha meus joelhos sob seus
braços e se inclina para frente, até que eu esteja dobrada ao meio e seu
rosto esteja a centímetros do meu.
— Oh meu Deus — eu respiro. — Está tão fundo.
— Muito fundo?
Balanço a cabeça e ele retoma suas estocadas, os quadris se
movendo como um pistão contra mim. Os músculos de seus braços se
contraem, inchando em ambos os lados do meu pescoço. Eu me agarro
ao seu pescoço e beijo a pele aquecida. Diga a ele exatamente o que estou
pensando no momento.
— Eu posso sentir você tão profundamente dentro de mim.
Ele rosna em meu ouvido. — Você não pode falar sujo comigo,
Freddie, ou eu não vou durar.
Eu envolvo meus braços em torno de suas costas. Meu corpo está
perto do limite de prazer e intensidade, tão perto do meu próprio
orgasmo, mas não consigo evitar.
Eu ainda quero ser o melhor sexo que ele já teve.
Então eu aperto meus músculos em torno dele e pressiono meus
lábios em seu ouvido. — Eu quero sentir você gozar dentro de mim.
Ele dá um gemido rouco, seus músculos tensos. Eu o seguro pela
força de sua liberação, enquanto ele empurra com mais força contra
mim, machucando minhas coxas. É a coisa mais gloriosa que já
experimentei.
Tristan, desfeito assim, desfeito da mesma forma que venho me
desfazendo há semanas. Uma perda completa de controle.
Eu cravo meus dedos na vasta extensão de suas costas como se eu
pudesse mantê-lo à força, fundir nós dois juntos.
Ele está me esmagando, mas acho que vou morrer se ele se mover.
— Puta merda. — ele sussurra. Nossos batimentos cardíacos
trovejam um contra o outro, peito a peito, sua pele áspera contra meus
mamilos.
Eu tomo uma respiração profunda e nutritiva. Tristan deve sentir
isso contra ele, porque ele se levanta.
— Você está bem?
Eu concordo.
Ele levanta uma sobrancelha questionadora, o cabelo grosso
caindo sobre sua testa. O gesto mexe com meu coração.
— Você não me machucou. — eu insisto, flexionando minhas
pernas ao redor de seus quadris. Haverá dor amanhã, com certeza, mas
nada disso é desconfortável.
Tristan agarra a base da camisinha ao retirá-la. Eu estremeço com
a falta dele. É tão chocante quanto sua intrusão.
Ele volta para mim em instantes e se deita ao meu lado na cama.
Eu viro de lado, mas ele me para com a mão no meu quadril.
— Ainda não, você não — ele murmura, inclinando a cabeça para
o meu mamilo. Ainda está tenso.
— Mas…
— Eu nunca deixaria você na mão. — Sua mão acaricia a minha
barriga, e oh Deus, ele está circulando naquele ponto novamente. Eu
fecho meus olhos contra as sensações que estão surgindo dentro de
mim. Eu estive bem no limite antes, e agora...
Tristan me puxa sem esforço para o lado e enrola as mãos em volta
das minhas coxas, espalhando-as. Curvando a cabeça. Eu me desfaço ao
toque de seus lábios e língua, fraturando e remontando conforme o
prazer me percorre.
Ele também não para de me tocar. Apenas muda de rápido para
calmante.
Luto para recuperar o fôlego, olhando para o teto branco como
casca de ovo. Minha mão se enrosca em seu cabelo grosso. — Espero que
não tenha ninguém no quarto de hotel ao lado do nosso.
Ele ri contra a minha coxa, seus olhos me dizendo exatamente
como ele se sente sobre si mesmo agora, e é muito bom. — Eu não me
importo se tivesse.
Eu dou a ele um sorriso torto. — Como é que você é sempre aquele
que faz sexo oral em mim? Eu também quero uma chance, você sabe.
— Haverá tempo para isso. — Ele sai da cama e vai até o frigobar.
Viro de barriga para baixo e o vejo servir um copo de água com gás para
nós dois. Admiro as linhas longas e fortes de suas pernas. A extensão
musculosa de suas costas, alargando-se em ombros largos. Cada
centímetro dele fala de confiança e masculinidade, um corpo habitado
por alguém que se deleita com a vida. Tristan me entrega um copo de
água e observa enquanto eu bebo, seus olhos nunca deixando os meus.
Os nervos vibram no meu estômago enquanto nós dois voltamos
para terra depois da nossa alta orgástica. O que isto significa?
Tristan se abaixa e passa o polegar sobre meu lábio inferior. — Eu
tenho que dizer, eu não esperava isso, Puritana.
Eu pego seu polegar entre meus lábios e mordo suavemente.
Ele sorri. — Eu não vou parar de te chamar assim, você sabe, não
importa o quanto você morda.
Meus dentes cravam em seu polegar e ele o puxa com uma risada.
— Pagão.
— Eu também não esperava. — eu digo. — Para ser sincera, não
pensei muito além de chegar ao telhado.
— Sobre isso. — diz ele, colocando o copo na mesinha entre duas
cadeiras de couro. Esta suíte deve ser três vezes maior que a minha. —
De onde veio essa fobia?
Eu descanso minha cabeça em minhas mãos. — Você vai rir.
— Eu duvido muito disso.
— Promete-me que não vai?
— Eu prometo. — diz Tristan, deitando-se ao meu lado na cama.
Eu respiro fundo. — Eu gostava de subir em árvores quando era
pequena. Grandes, pequenas, não importava. Eu escalei todas.
— Não discriminatório — observa Tristan com um aceno de
cabeça. — Admirável.
Eu bato nele com meu ombro e ele ri, passando o braço sobre
minhas costas nuas. Dedos traçam minha coluna. — O que aconteceu?
— Bem, eu caí de uma.
— Você quebrou alguma coisa?
— Não.
— Isso é bom — ele murmura. — Mas Freddie, por que eu iria rir
disso?
— Porque eu caí de um metro e meio.
Suas sobrancelhas sobem e eu balanço minha cabeça para ele. —
Eu sei, não é nada. Eu subia em árvores mais altas do que isso o tempo
todo. Mas depois disso, parei e, de alguma forma, o medo cresceu e
cresceu na minha cabeça.
Tristan pressiona um beijo na minha testa. — Todos nós temos
cicatrizes. Não vou julgar de onde veio a sua.
— E o que seria... — O som estridente do meu celular interrompe
minha resposta. É chocante e nítido nesta pequena bolha que criamos.
Eu voo para fora da cama e vasculho minha bolsa para a coisa
ofensiva, enquanto Tristan está me observando.
É Toby. — Ei?
— Freddie! — ele chama. — Onde você está? Você disse que se
juntaria a nós no bar!
Alguém interrompe, e então reconheço a voz de Quentin. — Por
favor, venha me salvar de ter que falar com mais estranhos. Estou
completamente assustado.
— Você ouviu isso? — Toby pergunta. — Quentin disse por favor!
Onde você está?
— No meu quarto de hotel.
— O que? Você está se sentindo bem?
— Sim, sim, eu não estou…
— Bom! Ou você se junta a nós ou estamos indo buscá-la!
— Eu estarei aí. — eu me ouço dizendo, pegando meu vestido
descartado no chão. — Me pague uma bebida.
Toby vaia. — O bar ao lado do hotel. Vamos guardar um lugar para
você!
— Vejo você em breve. — Desligo e corro em busca da minha
calcinha. As vozes de Toby e Quentin em meu ouvido foram como um
tapa na realidade, um balde de água fria. Todo o centro de conferências,
sem falar no hotel, está lotado de pessoas que conhecemos. Pessoas que
estão ansiosas demais para somar dois mais dois e chegar a vinte e oito.
— Saindo? — Tristan pergunta. Ele está deitado na cama, um
braço atrás da cabeça e um joelho dobrado, como se nada o
incomodasse. Mas seu rosto está ilegível novamente.
Eu coloquei tudo em risco? Não apenas meu trabalho, mas nós
dois também. A amizade nascente, a maneira como ele olhou para mim
no meu apartamento apenas alguns dias atrás. Esse olhar acabou no
momento.
— Sim — eu digo. — Não podemos permitir que as pessoas
saibam sobre isso.
— Eles não estão neste quarto de hotel conosco.
— Não, mas estão no hotel. — Enfio meu vestido e ele me observa
lutar com o zíper em silêncio. Por que diabos eu decidi fazer isso em uma
conferência de trabalho?
As pessoas tinham me visto seguindo-o até o telhado?
Ele me observa procurar minha calcinha. Ele a jogou para o lado,
mas o carpete está irritantemente sem calcinha.
— Ali — ele murmura, apontando para as cadeiras no canto.
Minha calcinha de renda vermelha brilhante está pendurada na ponta
de uma delas. Um rubor sobe pelas minhas bochechas enquanto eu a
deslizo pelas minhas pernas e por baixo do meu vestido.
— Sinto muito por ter que ir tão rápido — digo a ele. — Eu só, eu
não…
— Você não quer que eles suspeitem de nada — finaliza. —
Entendo. Conversamos depois.
Eu dou a ele meu sorriso mais largo, mas até eu posso ouvir o leve
pânico que marca minha voz. — Obrigada.
Ele concorda. — Vá.
Então eu vou, a porta se fechando atrás de mim com um baque
sólido. O corredor ainda está vazio e ninguém me vê correr para os
elevadores na tentativa de sair de um andar em que não deveria estar.
— Poderíamos comprar outro conjunto de agulhas de tricô para
a vovó. Ela gosta disso. — comenta Joshua. Ele chuta um pedaço de neve
perdido na calçada, um dos resquícios finais do tempo do último fim de
semana.
— Não é uma má ideia — eu digo. — Talvez um livro de padrões.
Corda também, talvez. Ou é fio?
— Você só está inventando coisas, pai. Você não tem ideia de
como tricotar.
Eu agarro seu ombro, dando-lhe uma sacudida brincalhona. —
Quem fez de você um especialista, hein?
Ele ri e se afasta de mim, sorrindo sob a cabeça de cachos grossos.
— Eu sei uma tonelada de coisas. Como se eu soubesse que vou
conseguir outro suéter dela!
— Ah, com certeza vai. Faz sentido também, já que estamos indo
para algum lugar frio no Natal.
Demora um momento, mas então seu rosto se ilumina quando ele
entende a piada. Temos trabalhado com sarcasmo e ironia.
— Você tem alguma ideia inteligente para o que Linda pode
querer? — Pergunto-lhe. — Você estava lá ontem à noite.
A madrinha dele era a melhor amiga da minha irmã e, depois que
Jenny morreu, ela intervém sempre que pode. Apesar de ter dois filhos,
ela me ajudou nos primeiros anos de paternidade de uma forma que a
tornou mais deusa do que madrinha aos meus olhos.
Joshua leva um momento para pensar. — Ela reclamou da
máquina de lavar louça.
— Você quer que demos a Linda uma nova máquina de lavar
louça? Ela adoraria isso. — Sempre que posso, tento dizer a Linda e seu
marido que estou aqui para ajudar tanto quanto eles estão para mim.
Estendo a mão e coloco a jaqueta de Joshua de volta no lugar. Está
frio lá fora. Ele me deixa, apesar de odiar a maneira como ela se ajusta
em seu pescoço. — Você vai se encarregar do que compramos para os
filhos dela. — eu digo a ele. — Estou delegando isso a você.
Seu sorriso está de volta. — Sério?
— Absolutamente. — Bem, dentro da razão. Mas ele sabe melhor
do que eu o que eles gostariam, sem mencionar que esta expedição de
compras de Natal deve ser divertida. Outro ponto no meu grande
esquema de criar mais memórias de férias.
Jenny e eu costumávamos assar biscoitos de gengibre com mamãe
na noite anterior ao Natal. Na manhã seguinte, descíamos correndo os
degraus até a árvore de Natal, com um lado decorado com nossos
enfeites e o outro com as coleções de mamãe.
Uma pontada de culpa familiar me atinge. Joshua está com a
aparência de sempre, andando ao meu lado com passos firmes. Mas ele
nunca soube como é ter um irmão ou dois pais. Tudo o que ele vai
lembrar de sua infância sou eu, e não sou Jenny e Michael.
— Olha! — diz Joshua. — É a senhora elefante!
Estou tão focado nele que não percebo quem está caminhando em
nossa direção até que ele a aponta. O casaco de Freddie está amarrado
em torno de seu corpo, um gorro puxado para baixo sobre seu cabelo
escuro. Seus pés estão em botas gigantes, diferente de tudo que eu a vi
usar no escritório. Longe das saias e saltos elegantes.
É sábado e moramos no mesmo bairro.
Seu olhar vai do meu para o de Joshua, e então um sorriso se
espalha em seu rosto. — Olá!
— Oi — diz ele de volta. — Estamos fazendo nossas compras de
Natal.
Freddie faz questão de olhar entre nós dois. — Mas onde estão as
sacolas?
— Acabamos de sair de casa — respondo. Os olhos de Freddie
dançam, sem encontrar os meus. A vermelhidão começa a tingir suas
bochechas morenas. — Como você está?
— Bem. Ótima, quero dizer. Passei a manhã lavando roupa. — Seu
olhar passa de mim para Joshua. — Eu estava na mesma conferência que
seu pai esta semana.
— Em Boston?
— Sim — ela diz. — Ele falou na frente de várias centenas de
pessoas.
Joshua se vira para olhar para mim. — Sério, pai?
— Sim, eu suponho.
— Isso é muito legal — diz ele, com ar de quem pode fazer tais
julgamentos. — Você fez isso também?
Freddie balança a cabeça. — Não, acho que não ousaria.
— Você faria — eu interrompo. — Não tenho dúvidas de que sim.
Seus olhos se voltam para os meus, e há uma pergunta neles que
não consigo decifrar. Não quando foi ela quem saiu correndo do meu
quarto de hotel em Boston como se tivéssemos cometido um pecado.
Não nos falamos desde então.
— Vamos para o Taiti nas férias de Natal — Joshua diz a ela. —
Papai está me levando para nadar com as baleias.
— Sério? Isso é tão emocionante!
— Sim, fizemos muita pesquisa — eu digo.
Joshua assente. — Deve haver baleias jubarte lá nesta época do
ano, migrando da Antártica. Elas param na Polinésia…
— Francesa. — eu preencho.
— Certo, elas param lá para ter seus filhotes. E há tubarões-baleia.
E golfinhos.
Os olhos de Freddie se arregalam. — E você vai nadar com elas?
Isso soa um pouco assustador.
— Não, apenas parece muito, muito legal — diz Joshua.
Não posso deixar de sorrir com a arrogância. Tivemos longas
discussões sobre esse assunto, porque mesmo que ele não admita, ele
também acha que parece um pouco assustador. Eu disse a ele que não
há problema em ficar no barco, mas ele está empenhado em entrar na
água.
— Parece legal de outro mundo — confirma Freddie. — Que
incrível da parte do seu pai levar você até lá.
— Sim, e minha avó também está indo — acrescenta Joshua.
Eu limpo minha garganta. — Onde você vai nas férias, Freddie?
— Provavelmente de volta para casa na Filadélfia. Minha família
extensa comemora junta todos os anos, com todas as minhas tias, tios e
primos. — Ela dá de ombros, com um sorriso irônico no rosto, como se
tivesse descrito algo monótono e comum. — Não é nadar com baleias na
Polinésia Francesa, mas serve.
— Parece adorável — eu digo. Eu quero dizer isso também. Seu
olhar aquece, suas mãos parando onde elas mexeram com a manga de
seu casaco. Olhando para ela, percebo o quanto fui tolo por ter me
machucado por ela ter saído correndo do meu quarto de hotel em
Boston daquele jeito.
Talvez ela esteja arrependida do que fez. Pensando no trabalho
dela, nas possíveis consequências se alguém descobrir... Se ela está com
dúvidas, eu não ajudo.
A voz de Joshua interrompe o silêncio. — Você tem muitos tios e
tias?
Freddie volta a se concentrar em meu filho. A luz do sol do inverno
brilha em seus cabelos negros. — Tenho alguns, sim. Vejamos... três tios
e duas tias. Você tem algum?
Oh não.
— Sim — responde Joshua. — Papai é na verdade meu tio e meu
pai. Eu acho isso muito legal.
Eu fecho meus olhos. Ele não entende como isso soa para as
pessoas, e eu nunca quis esclarecê-lo sobre isso. Mas isso nos deixa com
encontros como este. Deus me ajude se ele sai por aí dizendo isso sem
contexto na escola.
O silêncio de Freddie é chocante.
Eu limpo minha garganta. — Joshua é biologicamente o filho da
minha irmã e do marido dela. Depois que eles faleceram, eu o adotei.
— Eu era pequenininho naquela época. — acrescenta Joshua,
erguendo o dedo indicador e o polegar para indicar o quão pequeno ele
era.
— Sinto muito por isso. — diz Freddie, e então parece não pensar
em mais nada para dizer. Eu não a culpo. A maioria das pessoas tem a
mesma resposta sempre que Joshua quer que elas saibam. Sempre deixo
que ele decida se e quando, tanto com amigos quanto com adultos.
Coloco a mão em seu ombro. — Obrigado. Estamos bem, não é,
garoto?
— Nós estamos — ele confirma.
— Também não queremos mantê-la aqui. Você está indo para
algum lugar...?
O sorriso de Freddie fica triste. — Apenas na mercearia. Boa sorte
com suas compras de Natal.
— Nós provavelmente vamos precisar — eu digo. — Espero que
as lojas ainda não estejam cheias.
Freddie sorri e dá um passo para o lado. — Eu vou deixar você ir,
então. Aproveite seu dia.
— Você também.
— Vejo você no trabalho — ela me diz.
É o último lugar em que nos veremos, com o chão e a burocracia
nos separando. Por mais que eu tenha desejado nas últimas semanas,
entrar no Departamento de Estratégia e conversar com um de seus
estagiários é proibido para mim. Todo o poder do CEO, mas não consigo
escolher com qual dos meus funcionários quero falar.
— Vamos conversar mais tarde — eu digo.
— Tchau! — Joshua fala.
Ela passa por nós na rua. Joshua espia por cima do ombro antes de
puxar a manga da minha jaqueta. — Ela é muito legal.
— Eu também acho.
— Ela é sua amiga, certo?
Eu concordo. — Sim.
Ele me dá uma piscadela solene de dois olhos, ainda não tendo
dominado a arte de usar apenas um. — Eu entendo, pai. Você quer se
tornar o melhor amigo dela primeiro, antes de dizer que gosta dela.
Minha boca se abre, meu cérebro desenha um espaço em branco.
Ele está usando minhas próprias palavras contra mim. Garoto esperto.
— Mas você tem que falar um pouco mais — ele me aconselha,
deixando cair minha manga. — Você estava muito quieto!
Com a revelação surpreendente de que meu filho acabou de me
dar conselhos sobre mulheres, eu o sigo pela rua, me perguntando se o
mundo virou completamente de cabeça para baixo.

Joshua e eu voltamos para o apartamento no final da tarde,


carregando sacolas de coisas. Velas perfumadas, vales-presente,
brinquedos para os filhos de Linda, um livro de tricô para minha mãe.
Joshua vai para o quarto assim que chegamos em casa e me deixa com
meus pensamentos. E como todos os caminhos levam a Roma, meus
pensamentos me levam a Freddie.
A ideia dela lamentando a noite em Boston é uma dor aguda
deslizando entre minhas costelas, alojando-se em algum lugar entre o
tecido mole e meu orgulho. Doeu que ela saiu correndo como ela fez. Mas
doía mais pensar que ela desejava que nunca tivesse acontecido.
Joshua está dormindo profundamente quando ligo para ela
naquela noite. Ela responde após o terceiro toque eterno. — Tristan?
— Ei.
— Oi.
— Está ocupada?
Ela limpa a garganta. — Não, eu não estou.
— A roupa está toda lavada? Compras na mercearia?
— Sim — ela diz, suspirando. — De todas as pessoas em Nova
Iorque, encontrei vocês dois. Quais são as hipóteses?
— Somos ótimas pessoas para se encontrar.
— Vocês são. — ela confirma.
Fecho os olhos enquanto faço a pergunta, como se fosse mais fácil
imaginar o rosto dela diante de mim. É mais fácil imaginar como seus
olhos ficarão quando ela responder. — Você quer se encontrar hoje à
noite? Eu gostaria de conversar com você.
A pausa é excruciante.
— Tudo bem — diz Freddie.
Alívio abençoado desliza através de mim. — A delicatessen?
Outra pausa, esta mais delicada. — Sim. Ou você pode vir até
minha casa, se quiser?
— Absolutamente. Posso estar aí em quinze minutos.
— Eu vou deixar você entrar.
Meus nervos estão em chamas enquanto visto meu casaco e aviso
a Marianne que estarei fora. O ar fresco do inverno também não me
refresca.
A atração por Freddie é inegável. Meus pés me levam até a porta
de seu apartamento sem pensamento consciente, minha mente girando
possibilidades em padrões caleidoscópicos.
Ela abre a porta com uma calça de moletom preta e um suéter, o
cabelo escuro solto em volta do rosto. — Oi — ela murmura.
— Ei — eu digo, uma mão na porta. — Posso entrar?
Ela me deixa entrar. O simples som da fechadura deslizando atrás
de mim envia uma antecipação quente e erótica através de mim. Não
pode ser ajudado.
Estendo a mão para ela, impotente diante de sua proximidade.
Suas mãos estão quentes nas minhas. — Eu sei que a outra noite não foi
o que você planejou. O que qualquer um de nós planejou — eu digo.
Sua boca se abre em uma expiração suave, mas eu continuo. —
Seus colegas de trabalho suspeitaram de alguma coisa quando você os
conheceu?
— Não. De jeito nenhum, na verdade.
— Bom — eu digo, e eu quero dizer isso. — Eu entendo por que
você gostaria de esconder isso deles.
Ela franze a testa. — Eu não queria sair correndo assim. A ideia de
eles estarem no mesmo hotel, de potencialmente ter que responder a
perguntas... de o RH descobrir...
— Eu entendo.
— Foi pânico. Não gosto de entrar em pânico. — Seus olhos se
voltam para nossas mãos entrelaçadas. Um polegar macio acaricia as
costas da minha mão, a menor das carícias.
— Contanto que você não se arrependa. — eu digo. Meu corpo
parece que vai quebrar se ela disser que sim.
Mas Freddie balança a cabeça. — Não me arrependo.
Meus olhos se fecham com o alívio dessas três palavras.
— Como eu poderia? — ela continua. — Quando era tudo que eu
queria há semanas? Você não é o único que está queimando desde a
Gilded Room.
Ela estende a mão e corre o toque frio de seus dedos ao longo da
minha mandíbula. Suave. Segura. Inclino minha cabeça e a beijo, e seus
braços se enroscam em meu pescoço, inclinando-se para mim com a
mesma confiança que demonstrou desde o início. A mesma confiança
que me desfaz.
Por mais que eu ame seu corpo no vestido justo e nos saltos altos,
a sensação dela em roupa de dormir é quase melhor. É fácil deslizar a
mão sob a bainha de seu suéter, alisando a pele da parte inferior das
costas.
Ela tira meu casaco e eu o jogo sobre a única cadeira em seu
estúdio.
— Estou feliz que você está aqui — diz ela, passando as mãos
sobre o meu peito.
— Eu não fui muito ousado em me convidar?
Seu sorriso se alarga. — Não.
Beijá-la é como me perder. Todos os títulos, os papéis, as
preocupações, eles desaparecem. Ela me puxa para frente até que
estejamos de volta em sua cama, nos dedicando a nos beijar. Freddie
dobra um joelho para me encaixar mais confortavelmente contra ela,
mas minha mão nunca sobe mais sob seu suéter do que a curva de seu
quadril.
Quando finalmente levanto minha cabeça, seus lábios estão
rosados e inchados. — Eu não vim aqui apenas para isso, você sabe. —
murmuro.
— Eu sei — ela diz, suas mãos deslizando sob a gola da minha
camisa. — Mas você não está reclamando, está?
— Nunca.
Seu sorriso embaixo de mim é inebriante, me chamando de volta.
Perdemos mais alguns minutos para beijos, mas qualquer tempo
perdido dessa forma nunca é desperdiçado. É ela quem puxa o suéter
pela cabeça.
Eu observo enquanto ele passa sobre a pele morena, e Cristo, ela
não está usando sutiã. A magnificência em exibição desvia todos os meus
pensamentos de ser um cavalheiro.
Eles inviabilizam todos os pensamentos, ponto.
Ela ri quando inclino minha cabeça e chupo um de seus mamilos
em minha boca, apertando-o com força entre meus dentes. Deslizamos
sem esforço para uma intimidade mais profunda do que qualquer outra
que compartilhamos na primeira noite na Gilded Room, uma repetição
de Boston, sem urgência ou hesitação.
Freddie explode antes de mim, agarrando-se aos meus ombros e
gemendo em meu ouvido. Eu desisto, enterrando-me profundamente e
tremendo com o prazer-dor da minha liberação.
Eu descanso contra ela até que o trovão do meu coração se acalme,
até que eu possa ver direito novamente. É com certa relutância que me
levanto e me coloco ao lado dela, envolvendo meu braço em volta de sua
cintura. — Eu sei que não deveríamos — eu digo — mas não consigo me
imaginar cansando disso.
O sorriso de Freddie está cheio de prazer. — Nem eu.
Eu olho ao redor do pequeno apartamento. Da última vez que
estive aqui, não pensei muito nisso, pois estava focado nela. Ela estava
tremendo por causa do elevador parado.
Agora ela está relaxada e lânguida ao meu lado, e o tremor desta
vez não foi de medo. — Então este é o seu reino — observo.
Ela ri. — Sim, se puder ser considerado um reino com menos de
vinte metros quadrados. A propósito, desculpe pelo frio aqui. O sistema
de aquecimento não é bom.
— Não tinha notado. — Eu me inclino e pressiono um beijo em
seu ombro. — Você me manteve aquecido.
Seu sorriso se alarga. — Que frase, Sr. Conway.
— Isso me dá pontos de bônus?
— Metade de um, talvez.
— Você terá que me mostrar o aquecedor mais tarde.
Esquecemos isso da última vez. — Eu aceno para sua cômoda, as fotos
emolduradas lá. — Quem são eles?
Ela se acomoda na dobra do meu braço. — Meus pais e meu avô.
— Da Filadélfia.
— Sim. Bem, meu avô era tecnicamente de Palermo.
— Itália?
— Sim. Ele veio para cá depois da guerra. Não tinha nada, na
verdade, a não ser seus estudos de técnico e algumas frases em inglês.
Aprendeu a falar a língua em poucos meses.
— Isso é impressionante — eu digo, e eu quero dizer isso.
Sua voz aquece. — Ele começou a trabalhar em uma pequena loja
de roupas e, em poucos anos, tornou-se gerente. Abriu sua própria loja
alguns anos depois.
Eu curvo minha mão sobre seu quadril. — E a neta dele fez um
MBA?
— Sim. Ele faleceu há alguns anos, mas conversávamos muito
sobre negócios. Ele gostava de me dar o nome de uma empresa e, uma
semana depois, me perguntava por que eu achava que eles eram bem-
sucedidos. Eu teria que dar a ele minha análise. Ele ouvia, balançando a
cabeça de vez em quando, os olhos pensativos por trás dos óculos. E
então ele me contava o que eu havia perdido e corrigia qualquer
gramática italiana que eu tivesse errado.
O calor no quadro que ela pinta é suficiente para me fazer sorrir.
— Ele parece brilhante — eu digo. — Você fala italiano?
— Sim, mas qualquer um pode dizer que sou americana pelo meu
sotaque.
— Isso ainda é mais italiano do que eu falo. — Meus dedos
percorrem suas costelas nuas, sua pele como seda. — Como você fica
mais interessante toda vez que falo com você?
Ela levanta uma sobrancelha, o sorriso em seu rosto glorioso. —
Eu sou multifacetada assim.
— Você definitivamente é, puritana. Me conta. Qual é a sua grande
ideia de negócio?
— Eu não estou dizendo a você, seu capitalista de risco. Você vai
simplesmente roubá-la.
Eu pressiono uma mão no meu peito. — Você me feriu.
Rindo, Freddie se vira de bruços e descansa o queixo na mão. O
cabelo escuro e sedoso desliza sobre o ombro e faz cócegas no meu peito
nu.
— Essa foi minha maneira sarcástica de dizer que não tenho uma,
pelo menos não ainda. Talvez meu objetivo seja ajudar empresas já
existentes, em vez de começar a minha própria.
— Agora isso soa como um capitalista de risco em formação — eu
indico.
Ela sorri. — Eu quero trabalhar em uma empresa da Fortune 500
algum dia. Eu adoraria morar na Itália por alguns anos e trabalhar em
uma empresa lá. Talvez em algum lugar da Ásia também. Cingapura?
— É adorável lá — eu comento.
— Claro que você foi.
Minha voz fica mais elevada. — Muitas, muitas vezes.
Seu sorriso se alarga. Estendo a mão e traço o punhado de sardas
fracas em seu nariz. Cílios longos e nus tremulam sobre suas bochechas.
— Não vou conseguir ficar longe — digo a ela. — Não quando eu sei que
você me quer também.
Os olhos de Freddie suavizam. — Eu não quero que você fique
longe.
Meu polegar desliza até seus lábios, traçando o contorno. — Fora
do escritório, então.
— Sim.
— Quando é só você e eu — murmuro.
— Só nós — ela concorda, seus lábios roçando os meus com
promessa.
Minhas cartas são terríveis. Dois setes e um cinco, sem falar no
dois, e não há um naipe unificado entre eles. A única estratégia possível
é blefar, mas olhando ao redor da mesa, duvido que algum dos meus
parceiros de negócios da Acture Capital compre. Nós jogamos muitas
vezes.
Carter pega seu copo de uísque, sorrindo um pouco demais para
si mesmo.
Eu estreito meus olhos para ele. — Você é o pior em blefes.
— Ou o melhor — ele contesta.
— Ele é certamente o menos consistente. — diz Victor secamente.
— Você muda suas táticas a cada poucos meses.
— Eu tenho que manter isso afiado — diz Carter, erguendo o copo
para nós. — De nada.
Anthony não diz nada, apenas balança a cabeça para o nosso
parceiro mais jovem. Carter queima com o mesmo tipo de energia que
eu tinha aos vinte e oito anos.
Victor olha para mim por cima de suas cartas. — Como vão as
coisas no mundo da consultoria? Cansado de estar à venda?
— Ainda não. A besta está apenas começando a se virar.
— Apenas? A Exciteur é lucrativa há meses.
— Era lucrativa quando a compramos. — ressalto. — O objetivo
é torná-la ainda mais.
A decisão de adquirir a maioria das ações da Exciteur foi conjunta,
mas a Acture sempre oferece capital humano além de financeiro. Eu
insisti em ser o único a assumir o cargo de CEO.
Carter joga suas cartas na mesa. — Eu dobrei.
Eu sorrio. — Então você estava afinal, blefando?
— Nunca vou contar.
Victor olha para suas cartas e não há um sorriso à vista. O bastardo
pode ser frio, mas ele conhece o seu negócio. — Você já encontrou uma
empresa de mídia que acha que é certa para nós?
Carter se recosta em uma das minhas cadeiras de couro. — Não,
mas estou monitorando algumas. Enviarei a lista curta por e-mail para
todos vocês quando a tiver.
— Bom — eu digo. — Porque você sabe que, se não estiver no
controle de alguma coisa, vamos impingir uma empresa a você.
— Como aquele negócio de casamento — diz Anthony, a ameaça
pairando no ar.
Carter geme. — Por favor, não. Vou encontrar uma empresa de
mídia para comprarmos amanhã.
— Nós brincamos sobre isso — ressalta Victor — mas o Opate
Match pode sair do mercado a qualquer momento. Se vamos fazer uma
oferta, precisamos fazê-la logo.
Pego meu próprio copo de uísque. — Tem potencial global.
Sobrecarga muito pequena. Esforço mínimo. Victor está certo, Carter,
devemos comprá-la logo.
— Posso redigir os papéis para você amanhã — acrescenta
Anthony.
Os olhos de Carter se estreitam com a traição. — Não pense que
eu não entendo o que você está fazendo. Não me oponho a ser o ponto
de partida neste caso, mas serei amaldiçoado se deixar todos vocês
vencerem na vitória fácil.
— Você desistiu — eu indico.
— Isso foi antes de eu saber que isso estava nas cartas. — Ele
aponta para os maços de dinheiro no centro da mesa dobrável. Eu
guardo no armário quando Joshua está em casa, mas ele implorou para
passar a noite na casa de Linda, falando sobre o novo videogame do filho
dela.
— Se estamos jogando pôquer para ver quem tem que assumir a
liderança na Opate Match, — Carter continua — eu exijo uma revanche.
Uma onde as apostas são claras.
Passo a mão no queixo, a barba áspera contra minha mão. — Você
não está errado.
Victor me lança um olhar fulminante. — Seu senso de justiça é
terrível às vezes.
— Só porque você não tem um — eu retruco. Victor St. Clair é todo
humor cáustico e negócios dissimulados, desde o momento em que o
conheci do outro lado de uma mesa de negociações, anos atrás. Na
metade do tempo, não sei por que o toleramos. A outra metade, ele me
lembra, trazendo uma quantia obscena de dinheiro por meio de
aquisições hostis.
— Um jogo final — decide Anthony. — A mão mais fraca tem que
liderar a Opate. Porra, esse é um nome estúpido.
Eu bato meus dedos contra a mesa revestida de veludo. —
Fazemos a eles uma oferta de compra na segunda-feira. Sem
procrastinação desta vez também.
— Sem procrastinação — Carter ecoa, embaralhando as cartas. —
Não vou desistir desta vez, rapazes.
Anthony bufa, cruzando os braços ao meu lado. Se Victor é frio
como gelo, quase rude, Anthony é o ceticismo personificado. Joshua uma
vez se referiu a ele como “meu amigo triste” em um surto de percepção
infantil. Ele também foi meu amigo durante tudo isso. A queda do avião
de Jenny e Michael e a adoção de Joshua.
Eu me inclino contra ele. — Aposto dez mil que Carter desistirá
nos primeiros cinco minutos.
— Eu ouvi isso — Carter resmunga, distribuindo as cartas.
Eu inclino as minhas perto do meu peito, observando enquanto os
outros fazem o mesmo. A mesa cai em silêncio tenso. Ao contrário de
quando jogamos por dinheiro, isso tem apostas reais. Não tenho tempo
para assumir a administração de uma empresa secundária, mesmo que
seja uma mudança pequena e fácil.
A julgar pelos cartões que recebi, provavelmente também não
precisarei. Duas rainhas e um quatro.
— Dar as cartas no river — diz Carter, virando carta após carta
no centro da mesa.
Parece que estamos todos prendendo a respiração.
— Sabe — eu digo — eu acho que há um valor inerente em ter
aquele de nós que é o melhor em termos de romance nisso tudo. Afinal,
é uma empresa casamenteira.
Victor e Anthony entendem instantaneamente.
— Imperativo — concorda o primeiro. — Pelo bem dos negócios.
Anthony assente. — Eu estaria tão propenso a destruir o negócio
quanto a torná-lo lucrativo. Empresa casamenteira para os ricos? Você
sabe que eu acho isso besteira.
Carter mantém os olhos nas cartas. — Eu odeio todos vocês.
Rindo, pego uma carta no river e troco minha quatro. Duas rainhas
e um rei, agora. Eu poderia perder, mas os outros teriam que ter uma
mão e tanto para isso.
— Obrigado por nos receber aqui esta noite — Anthony me diz
enquanto pega sua própria carta.
— Sim — Victor fala lentamente. — O garoto está fora hoje à
noite?
— Fora do apartamento, sim, mas espero que não da cidade. Ele
tem nove anos.
— Certo, certo.
— Ele está na casa da madrinha. Me implorou para ir, sério. Algo
sobre os filhos dela terem um jogo que ele realmente quer jogar.
— Ele está ficando grande — diz Anthony.
— Sim. Só mais alguns anos e terei que lidar com um adolescente.
— Minhas condolências — diz Carter. — Eu me lembro de como
eu era e não tenho inveja de você.
— Vamos torcer para que ele seja um garoto melhor do que você.
Carter sorri para mim. — Vamos torcer.
É mais de uma hora depois, quando o jogo chega ao fim. Carter
desistiu, como era de se esperar, e já desfrutou de sólidos quinze
minutos de piadas sobre o assunto.
Anthony é o último a mostrar suas cartas. Ele as espalha sobre a
mesa de veludo e se recosta na cadeira. — Desculpe, Carter.
Mas as cartas que ele está exibindo não são boas.
— Espere um minuto, no entanto. — Victor se inclina e inspeciona
a incompatibilidade de cartas. É quase um flush, mas consiste em
espadas e paus. — Isso não é um flush. Os naipes estão misturados.
Anthony levanta suas cartas, estreitando os olhos. — Bem, foda-
se. Eu poderia jurar que aqueles dois eram iguais.
— Merda — Carter diz. — Parece que você é nosso especialista
em amor, afinal.
— Anthony 'o Casamenteiro' Winter — acrescenta Victor. — Tem
um toque legal.
Anthony passa a mão pelo rosto, afastando-se da cadeira. — Eu
preciso de outra bebida. E Tristan, estou culpando você por tudo isso.
— Eu?
— Um apartamento de dez milhões de dólares, e você tem
iluminação fraca o suficiente para fazer um homem perder no pôquer.
— Ele para no carrinho que guardo no canto, servindo-se de outro
conhaque. — Uma empresa casamenteira. Cristo.
— Veja como uma oportunidade! — Carter fala. — Você pode usá-
la para encontrar o amor!
— Mais uma palavra sua e você está fora desta empresa —
responde Anthony.
Pego as cartas na mesa e começo a embaralhar. — Vamos voltar
ao dinheiro?
— Não há nada melhor — Victor concorda.
O som do meu telefone atravessa a sala, abafando a música baixa
do meu sistema de alto-falantes. Eu me afasto da mesa. — Um momento.
O número familiar envia uma emoção através de mim. — Olá?
— Oi — diz Freddie. — Sinto muito por ligar para você tão tarde.
Eu sei que você disse que tinha planos para a noite.
— Não é um problema. O que aconteceu?
Sua voz se torna apologética. — Bem, você sabe como você fez
aquela piada sobre o aquecedor?
Minha mente classifica nossas conversas anteriores, as piadas,
golpes e flertes. A piada sobre consertar o aquecedor dela. Foi uma
desculpa lançada entre nós, testando as águas.
— Eu me lembro — eu digo.
— Bem, na verdade está quebrado.
A neve rodopia do lado de fora das janelas, cobrindo a rua com um
pesado cobertor branco. — Está congelando esta noite.
— Sim, o aquecedor escolheu o pior momento possível. O zelador
não está trabalhando hoje à noite, e não consigo encontrar uma loja de
eletrônicos que possa vender um aquecedor de ambiente aberto tão
tarde.
— Seu apartamento deve estar uma geladeira, Freddie.
— Não está quente, não — diz ela com uma pequena risada. — É
por isso que estou ligando. Por acaso você tem um aquecedor de
ambiente que eu possa pegar emprestado? Só por alguns dias.
Olho por cima do ombro para os três homens com quem trabalho.
Eles estão na mesa de pôquer, bebendo, conversando e fingindo que não
estão ouvindo cada palavra que eu digo.
— Eu não, mas tenho algo melhor. Um apartamento
aconchegante.
— Tristan, eu não poderia pedir…
— Você não está pedindo, estou oferecendo. Venha para o meu.
Vamos consertar seu aquecedor amanhã.
— Tem certeza?
— Absolutamente. Faça as malas e venha para cá o mais rápido
possível.
Ela dá um suspiro de alívio que me faz sentir ter três metros de
altura. — Ok — diz ela. — Vejo você em breve.
— Você irá.
Anthony e Carter dão gemidos teatrais assim que desligo.
— Bem, rapazes. — diz Victor. — Acho que isso significa que
estamos sendo expulsos.
Carter balança a cabeça. — Ele tem que aproveitar ao máximo sua
noite sem filhos. Suponho que deveríamos estar felizes por termos
trabalhado na rotação.
— Foda-se vocês.
Anthony balança a cabeça, mas não há ressentimento real em seus
olhos. Na verdade, ele parece satisfeito. — Quem é ela?
A resposta para isso é mais complicada do que eu gostaria de
compartilhar. Alguém com quem trabalho. Uma estagiária,
tecnicamente. Ela é oito anos mais nova que eu.
E ela é a melhor coisa que me aconteceu em anos.
— Uma amiga — eu respondo. — Ela mora perto e o aquecedor
dela quebrou.
— Uma amiga — Carter fala lentamente, bebendo o resto de seu
copo. — Certo, bem, divirta-se com sua amiga.
— Não fique com ciúmes. — eu digo a ele.
Ele me dá um sorriso de lobo de volta. — Eu não estou. Anthony
pode está, no entanto.
— Por que diabos eu ficaria com ciúmes? — ele pergunta, levando
o trio para o meu corredor.
— Porque você está prestes a entrar no mundo do namoro de elite
como um homem solteiro. As damas vão atacar você como abutres.
— Logo quando consegui esquecer isso, — diz Anthony — você o
traz de volta.
— Eu pediria desculpas, mas, você sabe...
— Você não está realmente arrependido?
— Não.
As portas se fecham atrás deles e eles vão embora, sem nenhuma
reclamação genuína sobre terem sido expulsos. Espero alguns minutos
antes de ir para o saguão para esperá-la. Quando ela chega, seu casaco
gigante está bem apertado para protegê-la do frio, flocos de neve
pousados em seu cabelo escuro como as sardas em seu rosto.
Elas estão rosadas pelo vento frio.
Estendo a mão e pego a bolsa que ela está carregando. — Ei.
— Oi — diz ela. — Eu realmente sinto muito por isso, você sabe.
— Não sinta. — respondo, digitando a senha do elevador. —
Vamos consertar seu aquecedor amanhã.
— Eu nem sei o que aconteceu. Em um momento, estava fazendo
muito barulho e calor, e no próximo... silêncio total. Ele não liga. — ela
diz. Ela entra no elevador comigo, mas há uma hesitação em suas feições
que ela não consegue esconder.
— Este é o meu elevador privado — digo a ela. — Só vai para o
meu apartamento. Faço manutenção duas vezes por ano.
Um sorriso trêmulo. — Você está me dizendo que nenhum
elevador seu jamais funcionaria mal?
— Isso é exatamente o que estou dizendo, sim. Não ousaria.
E assim, o passeio acabou. As portas se abrem para o meu
corredor. Freddie sai, olhando em volta, antes de se virar para mim com
alarme em seus olhos. — Seu filho. O que você disse para ele?
— Ele não está em casa esta noite.
Seus olhos suavizam. — Certo. Desculpe, acabei de perceber que
não tinha ideia no que estava me metendo.
— Não precisa se preocupar.
— O que você estava fazendo esta noite?
— Vem. Eu vou te mostrar.
Ela me segue até a sala de estar, ladeada por janelas do chão ao
teto que dão para o parque. A mesa de pôquer ainda está no meio, a mesa
de centro empurrada sem cerimônia para o lado. Quatro cadeiras estão
vazias e abandonadas ao seu redor.
Aos olhos de Freddie, isso pode parecer ostensivo. Exibido. Grita
tudo o que o apartamento dela não gritava. Cada descritor é um
antônimo.
— Uau — ela respira. — A vista deve ser incrível durante o dia.
— Isso é. Especialmente depois que está nevando, na verdade. O
parque inteiro está branco.
Ela passa a mão pelo veludo verde que reveste a mesa de pôquer.
Seus olhos pousam na pilha de notas de cem dólares no centro. Os caras
devem ter esquecido de recolher seus ganhos na saída.
De repente, parece obsceno para mim também. Mas Freddie não
comenta, continuando em direção à parede da galeria perto da TV. Fotos
em preto e branco, todas em molduras escuras.
Observo em silêncio enquanto ela as observa, vendo tudo o que fiz
nos últimos anos. Tudo o que Joshua e eu fizémos, tudo o que vimos e
tudo o que perdemos.
Surpreendentemente, não tenho vontade de cobri-las.
— Esta é linda — murmura Freddie, aproximando-se de uma
grande fotografia em preto e branco de uma costa vulcânica.
Eu limpo minha garganta. — Havaí.
— Oh?
— Joshua e eu pegamos um helicóptero. A foto foi tirada do ar.
Freddie estuda as fotos ao redor. Joshua, ao pé de uma cachoeira
em Yosemite. Ele está sorrindo de orelha a orelha enquanto a água cai
atrás dele em uma queda de 30 metros. Algo minúsculo em comparação
com algo enorme. Outra de Joshua, menor do que é agora, e eu em um
barco no Caribe. Metade de seu rosto pequeno está coberto por um
snorkel. Ele está dando um sinal de positivo para a câmera e um sorriso
sem os dois dentes da frente.
— Você realmente o leva a todos os lugares — murmura Freddie.
— Eu tento, pelo menos.
— Por quê? — Ela percorre a parede da galeria, estudando cada
fotografia por vez.
— Bem, eu quero que ele veja o mundo — eu digo. É a verdade,
mas não é tudo, e minha resposta paira no ar entre nós. Inadequada.
Freddie para com a fotografia final em preto e branco. Jenny está
com um sorriso largo, seus olhos rindo para a câmera. A trança em suas
costas está meio desfeita com o vento forte e mechas de cabelo se
curvam ao redor de sua cabeça como uma auréola.
Ela está de pé em uma ponte com um arnês amarrado em volta
dela.
— Minha irmã. — digo a Freddie.
— A mãe de Joshua?
— Sim. Tirei essa foto logo antes de ela pular de bungee jump pela
primeira vez. Parece que Jenny está nos vendo, olhando além dos anos,
os quilômetros, o abismo que nos separa hoje daquela época. Na Ponte
Rio Grande, no Novo México.
Freddie estremece. — Uau. Não consigo me imaginar fazendo algo
assim.
— Eu pulei atrás dela.
Seus olhos giram de volta para mim. — Você fez o que?
— Jenny não teria me deixado ir tão longe com ela e depois não
pular.
— Você disse pela primeira vez. Ela saltou de bungee jump mais
de uma vez?
— Oh sim. Ela adorava aventura. — Aponto para a parede de
fotos, os testemunhos de nossas viagens, Joshua e eu. Depois do Taiti,
enviarei outra foto para ser emoldurada. — Ela gostaria que seu filho
experimentasse o mundo. Para vê-lo como ela via, como um playground
lindo, complexo e em constante mudança.
A mão de Freddie roça na minha. Seus dedos se enrolam ao redor
dela no mais leve dos apertos. — Você viajava com ela frequentemente?
Eu balanço minha cabeça. — Estava focado na Acture Capital. No
crescimento das empresas que assumi. Ela era a única que não
conseguia ficar parada. Que tinha uma lista tão grande quanto ela com
todos os lugares que queria visitar e coisas para fazer.
Os dedos de Freddie se contraem, e eu olho das fotos familiar de
Jenny para olhos que são suaves, fortes e gentis.
— Joshua se parece com ela — diz ela.
— Ele parece.
— Ele se parece um pouco com você também.
— Bem, eu sou o tio dele.
Um sorriso brinca em seus lábios. — E seu pai, como ele me
informou.
Eu fecho meus olhos. — Eu tenho que dizer a ele um dia como isso
soa quando ele diz isso. Às vezes, eu o imagino contando aos professores
e outras crianças apenas essa informação, sem contexto. Um dia terei a
polícia aparecendo aqui.
— É doce — diz ela. — Ele não parecia chateado quando me
contou.
Meus dedos se enroscam nos dela em uma treliça. — Não é real
para ele.
A sobrancelha de Freddie se ergue em uma pergunta silenciosa,
então sirvo outra fatia dolorosa de mim, auxiliado pelo uísque que tomei
e pela bondade em seus olhos. — Ele estava prestes a completar três
anos quando Jenny e Michael morreram. Ele não se lembra deles. Tudo
o que sabe sobre eles vem de histórias, coisas que lhe contaram. Ele sabe
que teve uma mãe e um pai antes de mim.
Seus dedos apertam os meus. Vá em frente, diz o gesto. E eu
encontro as palavras derramando. — Tentar manter viva a memória
deles é impossível. Eu tento. Mas falar sobre eles é como falar sobre
lendas para ele. Ele gosta de histórias de suas aventuras, mas elas não
são... reais. E se eu nos forçar a pensar nisso, vou apenas deixá-lo triste?
Continuo lembrando-o do que ele perdeu ou deixo-o abraçar a vida que
tem agora? — Olho para Jenny na ponte. Ela olha corajosamente para
mim através do vazio, mas não tem respostas para dar. Nenhuma
orientação ou opinião sobre como estou criando seu filho. O garoto que
ela chamava de sua maior aventura.
— Quando ele começou a me chamar de pai… foi difícil.
— Foi?
Meu olhar muda para a foto em preto e branco de Michael. A dele
fica mais alta do que a de Jenny, a boca séria, mas os olhos sorrindo para
a câmera. Jenny tirou aquela foto, mas ela nunca me disse onde.
— Ele sabe que não tem mãe. Não posso tomar o lugar de Jenny.
Mas eu tomei o de Michael, de todas as maneiras que Joshua vai se
lembrar.
— Você não tomou o lugar de ninguém — Freddie me diz. — Você
interveio, em um momento em que era necessário. Você não acha que
Jenny e Michael entenderiam isso?
— Eles iriam. — Eu passo minha mão livre sobre meu rosto, todas
as maneiras pelas quais eu não sou bom o suficiente passam pela minha
cabeça. As noites em que não chego em casa a tempo de jantar com
Joshua e Marianne. As perguntas curiosas que não respondi tão bem
quanto Jenny responderia. Um leve puxão da mão de Freddie nos leva
além da mesa de pôquer descartada, em direção ao sofá nuvem no canto.
Nós afundamos juntos na suavidade, como se tivéssemos feito isso
mil vezes antes. Como se seu corpo fosse feito para se enrolar ao lado do
meu.
E as palavras continuam vindo.
— Eu sei que todos os dias eles fariam um trabalho melhor
também. Eu sei que sou um substituto. Ser o melhor pai para Joshua é
algo em que vou falhar. — Eu descanso minha cabeça em cima dela,
cheirando xampu floral e Frederica. — Você veio para o calor e, em vez
disso, recebeu esse peso.
Há um sorriso em sua voz quando ela responde. — Eu não me
importo com o peso, Tristan. E eu gosto de conhecê-lo melhor.
Meus olhos se fecham com as palavras. Palavras simples e
inocentes, mas que não me são ditas com sinceridade há anos. Eu me
pergunto se eles já foram ditas.
Sua mão desliza para a minha nuca e os dedos deslizam em meu
cabelo. Toque pelo toque.
— Meu último relacionamento acabou quando adotei Joshua —
admito.
Os dedos de Freddie param por um momento, mas então eles
mergulham mais fundo, as unhas arranhando suavemente meu couro
cabeludo. — Hummm — ela diz. — Imagino que tenha sido um momento
difícil.
— Eu não era um bom parceiro nos meses após a morte de Jenny
e Michael. E ela... bem. Ela se desculpou por isso, mas não estava pronta
para ser madrasta. — Fecho os olhos, imaginando como um simples
toque pode ser tão bom. — Eu posso ver agora que ela não estava nisso
pelos motivos certos.
Freddie faz outro zumbido, aproximando-se. Segundos depois,
seus lábios roçam suavemente contra a borda da minha mandíbula. —
As razões certas — ela repete. — Quais são as erradas?
— Dinheiro, prestígio. Status. — Eu dou de ombros. — Jenny
nunca gostou dela.
— Você me disse que é por isso que vai às festas da Gilded Room.
— Mhm, então eu disse. Em um momento em que eu queria
distraí-la.
Ela sorri. — Foi apreciado. E lembrado.
— Claramente.
— Você disse que pelo menos as mulheres querem você pelo seu
corpo lá.
Eu fecho meus olhos com minhas próprias palavras refletidas de
volta para mim. — Adorável sentimento.
Freddie ri, e eu me desloco para que ela fique no meu colo, joelhos
de cada lado de mim. O tecido macio de seu suéter subiu e meus dedos
roçam a pele da parte inferior de suas costas.
— Diga-me — ela insiste, seu cabelo escuro caindo para frente
como uma cortina. — Você acha que poderia viver sem elas?
— Sem as festas da Gilded Room?
— Sim. Elas são divertidas e eu entendo que elas fornecem...
entretenimento emocionante, mas... é realmente o que você quer?
Meus dedos cravam mais fundo em seus quadris, ouvindo uma
pergunta que ela não fez. Uma pergunta que não fiz.
Uma que paira perto de definir o que somos.
— Não — murmuro. — Não é o que eu realmente quero. Mas não
acho que sou capaz de cuidar do que quero, mesmo que consiga.
Sua respiração falha, os lábios carnudos se abrindo. Mas seus
olhos não se desviam dos meus. — Eu acho — ela murmura — que você
deixou bem claro que nunca dá nada menos do que o seu melhor.
O ar esquenta entre nós, seu elogio se agita dentro de mim. Isso
me obriga a inclinar minha cabeça em seu pescoço e pressionar meus
lábios contra o ponto sensível abaixo de sua orelha. Seus dedos apertam
meu cabelo, um suspiro suave escapando dela.
E eu sei que sempre quero ser o homem por quem ela suspira
assim. O homem a quem ela confia seus medos. O homem em quem ela
confia e a quem se apega.
Então eu a seguro com mais força e nos puxo para ficar de pé.
Suas mãos deslizam pelo meu peito. — Estamos indo a algum
lugar?
— Sim. — Eu a puxo pela sala, pelo corredor, passando pela porta
fechada de Joshua. Mais adiante para a minha.
— Com fome? — Eu pergunto a ela.
Ela balança a cabeça. — Eu comi mais cedo.
— Por quanto tempo seu aquecedor ficou desligado?
— Algumas horas.
— Algumas horas antes de você me ligar?
Freddie dá de ombros timidamente. — Sim.
É isso. Eu a seguro pela cintura e sorrio enquanto ela grita,
jogando-a na minha cama. Ela salta uma vez na superfície larga e abre
os braços, como se estivesse prestes a fazer um anjo de neve. Seu cabelo
é um halo escuro. — Você me disse que estava ocupado esta noite. Não
queria incomodá-lo se não fosse importante.
— Você não morrer de frio é muito importante.
Ela estende a mão para mim, me puxando para baixo na cama. —
Você sabe — ela pergunta, seu sorriso uma coisa maravilhosamente
perversa — que eu concordo com isso?
— Mais uma coisa que temos em comum. — Eu me apoio em meus
cotovelos acima dela, e enquanto seus seios pressionam
tentadoramente contra meu peito, é de seu sorriso que eu não consigo
desviar o olhar.
— Quer saber de uma coisa? — ela pergunta.
— Sim — eu digo, curvando-me para pressionar meus lábios na
pele macia de seu pescoço. Ela emite um som suave, algo entre um
suspiro e um gemido.
— De onde eu estou, você fez um bom trabalho com tudo, Tristan.
— ela murmura. — As coisas não precisam ser perfeitas para valer a
pena.
Eu acordo em uma cama que é grande o suficiente para cinco,
aconchegada profundamente sob os edredons de linho macio. Um braço
pesado está em volta da minha cintura. Minhas pernas se enroscaram
nas de outra pessoa.
Eu sorrio sonolenta. Estou com Tristan em sua cama, tendo
passado a noite. A intimidade que compartilhamos se estabeleceu em
meus ossos, relaxando meu corpo por completo. O prazer persistente da
noite anterior. Uma dor leve e prazerosa.
O quarto gigante está coberto de sombras suaves e cintilações da
fraca luz de dezembro. As linhas fortes do rosto de Tristan estão
suavizadas, o cabelo grosso despenteado. Um homem acostumado a ser
observado, aqui onde ninguém pode observá-lo.
A ternura aperta em meu peito com a visão. Ele pode ser meu
chefe. Pode haver mil coisas em nosso caminho. Mas eu quero esse
homem, com todas as suas dúvidas, defeitos, pontos fortes e habilidades.
Seu braço aperta minha cintura. — Você está acordada. — ele
murmura, sem abrir os olhos.
— Você também.
Seu braço está alguns centímetros mais alto, uma mão se
acomodando em um dos meus seios. Eu aprendi rapidamente que é um
de seus apoios de mão favoritos.
Eu corro a mão sobre seu peito. — Obrigada por ser meu
aquecedor.
— Hmm — diz ele, apertando a mão. — Eu faço meu melhor.
— Você deve ter um grau ou dois de calor a mais do que eu.
— Todos nós temos nossas habilidades. — Ele se ergue sobre um
cotovelo, seus ombros contrastam com ângulos masculinos e agudos
contra a maciez do edredom. — Você realmente tem seios incríveis,
sabia?
É um comentário tão improvisado que eu rio.
Ele levanta uma sobrancelha. — É verdade. Talvez não seja uma
habilidade, mas muito verdadeiro.
Eu espio embaixo do edredom, onde sua mão cobre um deles de
vista. — Eles são bons. — eu concordo. — Mas o tamanho pode ser
bastante irritante. Eu realmente não posso comprar sutiãs esportivos
em lojas normais, por exemplo. As camisas costumam ficar abertas nos
botões.
Tristan franze a testa. — Deve ser difícil.
— Às vezes é um incômodo.
— A gente se pergunta se eles valem a pena. — Ele puxa o
edredom para trás, dobrando-o na minha cintura e inspeciona meus
seios. Sua mão muda de um para o outro e minha risada os faz pular.
— Sim. — ele finalmente anuncia. — Do meu ponto de vista, eles
valem a pena.
— Estou tão feliz em ouvir isso. — eu provoco.
Ele sorri enquanto inclina a cabeça, tomando um dos meus
mamilos em sua boca. Uma picada aguda de excitação corre pelo meu
corpo com o calor. — Não consigo resistir. — ele me diz, enquanto troca
de seios.
— Você me avisou. — murmuro, deslizando minha mão em seu
cabelo. Fechando meus olhos enquanto sua mão se move para baixo
para minha barriga e sobre minhas coxas nuas.
— É um sábado de manhã.
— Isso mesmo. — eu ecoo. — Não precisamos estar em lugar
nenhum.
— Seu aquecedor não está funcionando.
Minha respiração falha quando ele empurra minhas pernas sob o
edredom, seus dedos me encontrando tão nua quanto na noite passada.
— Não. — eu respiro. — Vai estar quebrado da mesma forma em
algumas horas.
— Não há necessidade de pressa.
— De jeito nenhum. — Minhas costas arqueiam com o movimento
suave de seus dedos. Meu prazer vem facilmente, um caminho bem
trilhado nas últimas semanas com ele.
— É isso. — Ele morde suavemente em torno de um mamilo e eu
estremeço contra ele, meus dedos emaranhados em seu cabelo.
Preguiçoso, devagar, sem pressa. Íntimo.
Tristan pela manhã, estou aprendendo, é uma coisa gloriosa.
Eu tento alcançar o pau duro descansando contra meu quadril,
mas seus dedos me impedem. Um deles afunda deliciosamente dentro
de mim.
Sua boca desliza até meu pescoço. — Você sabe o quão gostosa
você é?
— Mmm.
— Dolorida?
Eu balanço minha cabeça, minhas mãos curvando-se em torno de
seu ombro largo. — Só um pouco.
— Bom — ele murmura, adicionando outro dedo. Seus
movimentos ainda são leves e provocantes. Eu movimento meus quadris
e ele balança a cabeça. — Eu nunca vou me cansar disso, Freddie. Nunca
vou parar de precisar de você.
— Isso não parece um problema.
Uma risada rouca. Então sua mão desaparece, deixando-me
desolada e querendo. Ele puxa o edredom para trás e pega um
travesseiro. — De bruços. — ele ordena, a voz rouca de sono e desejo.
Eu olho para ele, duro e dolorido, e obedeço. Ele desliza o travesseiro
sob meus quadris e eu olho por cima do meu ombro para vê-lo ali,
montado em minhas pernas, fortemente pressionado.
— Tristan. — eu digo a ele. Um pedido e uma pergunta.
Ele me dá o sorriso largo e sem filtros que eu mais amo. O de um
homem que adora estar no controle. E então ele me empurra por trás.
O ajuste é confortável assim, a pressão dentro de mim
aumentando a cada centímetro que entra. Só quando está enterrado até
o fim é que ele se deita em cima de mim, cotovelos de cada lado do meu
rosto para suportar seu peso.
Ele está espalhado. Seu corpo em cima do meu, tocando dos pés à
cabeça, seu peito áspero contra minhas costas.
É a coisa mais deliciosa que já experimentei.
— Sim — eu respiro quando ele começa a se mover. Com minhas
pernas ainda juntas, posso sentir cada parte dele.
Ele inclina a cabeça e gentilmente morde meu ombro. O riso
escapa de mim, um que ele ecoa, antes de se transformar em um gemido.
Eu viro minha cabeça contra o colchão e envolvo meus braços ao redor
dele, os músculos tensos e salientes enquanto ele carrega seu próprio
peso. Pressiono meus lábios contra seu braço.
— Não paro de querer você. — ele murmura, a voz dolorida.
— Nem eu. — Ele está me conduzindo na cama, e com o
travesseiro sob meus quadris... A pressão está exatamente onde eu
preciso. — Não pare.
— Nunca.
O prazer se espalha por mim em ondas de choque, minhas mãos
se transformando em garras em torno de seus braços. Não consigo me
mexer, não consigo pensar no prazer do meu orgasmo e Tristan se
movendo dentro de mim. Todo o meu mundo se reduz a sensações.
Como o som de seu gemido rouco em meu ouvido. A sensação de sua
pele quente contra a minha.
Ele descansa sua bochecha contra a minha e murmura as palavras.
— É bom demais.
— Se solte. — eu insisto com ele, carregado no colchão com a
força de seus impulsos de corpo inteiro. — Goze para mim.
Seus quadris perdem o ritmo quando ele goza, rosnando em meu
ouvido com a força disso. Nós dois ficamos ofegantes e relaxados na
cama gigante, seu corpo cobrindo o meu como um cobertor.
Passa-se um longo momento antes de qualquer um de nós falar.
Tristan vai primeiro, rindo baixinho no meu cabelo. — Parecia que você
estava espremendo minha vida, Freddie.
— Não tudo isso, eu espero?
— Não, mas foi muito perto. — Ele pressiona outro beijo na minha
nuca antes de se levantar. Eu faço um som de protesto e ele ri de novo,
uma mão grande batendo de brincadeira no meu quadril. — Eu ficaria
muito chateado comigo mesmo se eu esmagasse você.
Há tanta alegria em sua voz, tão diferente do peso que continha na
noite passada. Eu rolo de costas e pego um travesseiro para apoiar
minha cabeça. — Você pode me acordar assim a qualquer hora.
Seus olhos quentes enquanto deslizam sobre meu corpo. — Eu
não me importaria com isso — diz ele. — Você é incrivelmente linda,
sabia. Já te disse isso? Quão atraente eu acho você?
Apesar do que acabamos de fazer, um rubor se insinua em minhas
bochechas diante da franqueza em seu tom. Com esse homem, ajoelhado
nu na cama ao meu lado, que não tem o menor medo de dizer o que está
pensando.
Sem jogos, sem hesitações.
— Você deixou bem claro, — digo — mas nunca vou me cansar de
ouvir isso.
Ele sorri. — Bom. Também não me canso de dizer.
— Acho que ainda não disse o quanto acho você bonito.
— Oh?
— Foi assim que te chamei na minha cabeça, quando nos
conhecemos. Bonito. — Pego sua mão, brincando com seus dedos. —
Muito melhor do que Puritana, a propósito.
— Ah, mas eu adoro desfazer suas amarras, Frederica. É o meu
passatempo favorito.
— Não estou reclamando disso. — Meu polegar acaricia o dele. —
Eu não sabia que era possível querer tanto alguém.
Seu olhar aquece. — Você não sabia?
— Não. Nunca foi assim antes. Tão fácil, ou tão natural.
— Sem esforço. — ele ecoa. — Eu entendo.
— Você entende?
Um único e claro aceno de cabeça, enquanto nossos olhares se
prendem. Isso é mais do que qualquer um de nós esperava quando
cedemos à atração novamente. Mas, a julgar pela maneira como ele está
olhando para mim, ele não está nem um pouco infeliz com isso. Nem eu.
Uma sensação gotejante me tira dos meus pensamentos. — Oh! Eu
tenho que ir me limpar.
Ele olha para baixo entre as minhas pernas. — Mmm. Fomos
irresponsáveis.
— Sim. Estou tomando pílula, pelo menos.
— E tenho certeza que você toma regularmente.
— Eu tomo. Fiz um check-up há pouco mais de um ano e não
dormi com ninguém desde então.
— Três meses atrás para mim — diz Tristan. — Mas mesmo antes,
eu não ficava com ninguém sem camisinha há anos.
Seu olhar volta para o meio das minhas pernas, demorando-se nas
evidências visíveis ali. — Fico feliz que podemos ignorá-las daqui em
diante. — diz ele, com satisfação em sua voz.
— Eu também. — eu digo, fechando minhas pernas. — Se você
terminou de inspecionar sua obra, acho que devemos tomar banho.
Ele me puxa para fora da cama com uma risada. — Você quer lavar
minha linda assinatura?
— Tenho certeza que você vai me assinar novamente em breve —
eu retruco, entrelaçando nossos dedos. — Agora me mostre a pressão
da água que você deve ter aqui. Estou esperando a perfeição.
— Esse foi o pretexto o tempo todo, não foi? Aposto que seu
aquecedor nem está quebrado.
Abro a porta do banheiro dele. Bingo. O chuveiro de mármore
gigante é mais do que grande o suficiente para nós dois. — Foi tudo uma
confusão. — eu provoco.
Tristan passa por mim para ligar o chuveiro tipo cascata. — Então
me considere um alvo muito feliz.
Eu puxo uma das camisas de Tristan, e ela cai até a metade da
minha coxa. — Devo começar com o café? — Eu chamo.
Ele está no banheiro, escovando os dentes.
— Claro!
Dobro suas mangas, uma de cada vez, enquanto caminho pelo
enorme apartamento. Corredores longos, cômodos ao lado. Um parece
um escritório doméstico, outro uma lavanderia. Um quarto de hóspedes.
A cozinha é uma paisagem brilhante de utensílios de aço
inoxidável e balcões de cozinha de mármore. Alguém organizou
meticulosamente os cereais em frascos de vidro no balcão. Aquele
rotulado como Cocoa Pops tem uma pequena placa ao lado. Apenas nos
finais de semana.
Isso me faz sorrir. Assim como o cronograma anexado à geladeira,
delineando claramente o ano escolar de uma criança. Paro em frente a
cafeteira de Tristan. O aparelho parece mais monstro do que máquina.
— Você tem que ser um barista licenciado para usar essa coisa?
— Eu pergunto à direção geral de seu quarto, mas não há resposta.
Certo. Você provavelmente precisa de walkie-talkies neste apartamento.
Acabei de descobrir onde adiciona água quando um elevador
agudo soa na sala de estar. Alguém está aqui. Puxo a bainha da camisa
de Tristan e vou para a sala. Ele me disse que tem uma empregada e um
motorista. É um pouco embaraçoso ser vista assim, no entanto.
A mulher que encontro na sala de estar de Tristan claramente não
é nenhum dos dois. A neve gruda em sua jaqueta preta, flocos nos cachos
loiros de seu cabelo. Ela é alguns anos mais velha que eu, talvez, com um
par de luvas na mão.
Ela olha para mim como eu olho para ela. Pelo choque em seu
olhar, ela poderia muito bem ter sido confrontada com um unicórnio ou
um yeti.
— Olá. — eu tento. — Eu percebo que não sou quem você
esperava. Tristan está no banheiro.
— Certo — diz ela. — Ok.
— Sou Frederica. — Boas maneiras entram em ação e eu dou um
passo à frente, oferecendo-lhe minha mão. Ela a sacode rigidamente, seu
olhar vagando para a minha camisa. Claramente não é minha.
— Linda. Sou madrinha do filho dele.
Eu sorrio. — Ah, isso mesmo. Ele me contou sobre você. Joshua
ficou com você ontem à noite?
Seus olhos se arregalam ainda mais, mas então ela me dá um
sorriso hesitante de volta. — Isso mesmo. Ele está lá embaixo.
— Bem, isso é bom. Eu provavelmente deveria me trocar. — Eu
olho para a minha camisa. A mortificação belisca meus calcanhares, mas
não deixo entrar. Tristan e eu não fizemos nada de errado.
Bem, não a menos que esta mulher também seja uma
representante do RH da Exciteur.
— Provavelmente. — diz ela.
— Tristan deve terminar a qualquer minuto agora.
— Certo. — diz ela. — Devo dizer que não esperava encontrar
ninguém. Ele não costuma receber convidados.
— Eu vejo.
— Com seu trabalho e seu filho, ele é um homem ocupado.
Eu concordo. — Sim, ele é isso. Você talvez queira uma xícara de
café? Eu ia fazer uma, mas não consigo entender a máquina.
— Não, obrigada. Eu só vim porque...
— Freddie? — A voz forte de Tristan ecoa no corredor, e então ele
surge, vestido com calças e uma camisa mal abotoada. Suas
sobrancelhas se erguem ao ver Linda. — Está tudo bem?
— Sim. — ela o assegura. — Absolutamente. Joshua está lá
embaixo.
— Certo. — A pergunta está clara em sua voz, agora mais fria. —
Não sabia que você estava subindo.
— Tentei ligar antes. Algumas vezes, na verdade. Mas não houve
resposta.
Ele concorda. — Desculpe por isso.
Linda nos dá um sorriso genuíno. — Está nevando. Olhe para fora.
Nos viramos para a parede coberta de janelas e, sim, o Central
Park está coberto por um manto de neve espessa e branca. Minha
respiração fica presa na minha garganta.
— É lindo.
— Joshua está lá embaixo com Mark e Andrew. Eles têm uma
vantagem inicial no parque. Os meninos querem fazer uma guerra de
bolas de neve. Ou construir um boneco de neve. Ou um forte. Eles
continuaram mudando de ideia.
Tristan bufa ao meu lado. — Claro.
— Só subi para contar a você sobre isso e pegar as luvas e calça
de neve de Joshua. Ele me disse onde elas estão.
Tristan assente. — Eu vou acompanhá-los. Vou levar as coisas dele
também.
— Isso funciona. — Ela dá um passo para trás em direção ao
elevador. — Estaremos perto da sorveteria, mas é só ligar se não nos
encontrar.
— Vou ligar.
Ela me dá um pequeno aceno. — Foi um prazer conhecê-la,
Frederica.
— Da mesma maneira.
As portas do elevador se fecham atrás dela, e então estamos mais
uma vez sozinhos. Tristan passa a mão pelo cabelo e passa por mim para
a máquina de café. Alguns cliques pálidos de seus dedos e ela começa a
funcionar. Respondendo ao seu mestre de uma forma que se recusou a
fazer por mim.
— Eu sei que não posso ficar com raiva dela por ter subido, mas
ainda estou. — Ele balança a cabeça, de costas. — Tudo por uma calça
de neve.
— Foi ruim ela ter me visto?
Ele me entrega uma xícara de café que acabou de fazer. — Não.
— Obrigada — eu digo, o calor aquecendo minhas mãos. — Vou
sair em alguns minutos, Tristan.
— Eu não quero que você faça isso. — ele diz, mas o conflito está
em seu rosto.
— Eu sei. Mas você precisa encontrar seu filho e brincar na neve.
— Seu apartamento não tem aquecimento. — ele retruca. —
Ainda não chamei meu eletricista para dar uma olhada.
— Tudo bem, vou dar um jeito.
Sua mandíbula trabalha com a força de seu pensamento. — Eu
nunca o apresentei a uma mulher que estou saindo antes. Não tenho
certeza se é uma boa ideia contar a ele sobre nós, a menos que seja...
bem.
— A menos que seja sério — eu termino, colocando a xícara na
mesa. — Deus, eu entendo, Tristan. Completamente. Deixe-me apenas
arrumar minhas coisas.
Ele me segue pelo corredor, claramente descontente com a
situação. Mas eu quero dizer o que eu disse. Eu entendo. Ele é um pai.
Ele tem outra pessoa em quem pensar. Embora não seja a mesma coisa,
também tenho minha carreira e reputação. Nenhum de nós é totalmente
livre para fazer o que quiser.
Ele se inclina contra a porta e me observa me vestir. — Joshua já
conheceu você. — diz ele.
— Sim, suponho que sim. Duas vezes.
— Certo. Olha, é isso que vamos fazer. Vou chamar o eletricista
imediatamente. Lhe pedir que venha assim que puder para olhar seu
aquecedor. Não deve demorar mais do que algumas horas.
— Isso é perfeito, obrigada.
— Enquanto isso, você se junta a nós no Central Park.
Minhas mãos param no zíper da minha calça jeans. — Você tem
certeza?
— Ele sabe que você e eu somos amigos, e ele conheceu amigos
meus antes. Vou apresentá-la como tal.
— Ok.
— Ok?
Eu sorrio para ele. — Absolutamente. Mas só se você estiver bem
com isso.
— Eu estou. Mas só porque quero ter certeza, e sempre sou
honesto com ele... — Tristan pega seu telefone e me lança um sorriso
desgostoso enquanto o leva ao ouvido. — Joshua tem um telefone para
emergências. Não que esteja sempre carregado, mas vale a pena... ah. Oi,
garoto.
Uma pausa.
— Sim, vou descer com sua calça de neve e botas em alguns
minutos. Você está com seu gorro?
Eu coloco minha camisa e procuro em seu quarto por minhas
meias.
— Bom. Eu tenho uma pergunta para você. Você se lembra da
minha amiga? A senhora elefante?
Meu sorriso surge espontaneamente com isso, e eu olho para onde
ele está. Tristan está sorrindo de volta para mim. — Sim, é ela. O que
você acha de ela nos encontrar no Central Park?
Sento-me em sua cama e coloco minhas meias, ainda olhando para
ele.
Ele ri. — Só se ela estiver bem em ter uma guerra de bolas de neve.
Ok, acho justo.
Eu finjo arremessar uma bola na cabeça de Tristan, e ele se abaixa
para o lado, sorrindo amplamente. — Ok, garoto. Vejo você em alguns
minutos.
Ele desliga o telefone e se encosta na parede. — Ele achou que era
uma ótima ideia.
— Isso é fantástico — eu digo. — Mas senhora elefante?
— É melhor do que Puritana?
— Não. Você realmente precisa trabalhar em seus apelidos.
Tristan me pega pela cintura quando passo, pressionando um
beijo suave em meus lábios. — Coração. — diz ele. — Gosto desse.
Algo vibra no meu estômago. — Eu também, bonitão.
Sorrindo, ele me puxa pelo corredor. — Vamos. Temos bolas de
neve para jogar.
Eu fecho a porta atrás de mim. Meu apartamento está quentinho
em comparação com o ar frio de Nova Iorque, cortesia do eletricista de
Tristan e do aquecedor recém-instalado. Eu tiro minhas botas e penduro
meu casaco antes de ligar para ele.
— Você voltou para casa? — ele pergunta.
— Sim — eu digo a ele. — E você é superprotetor.
Ele suspira na outra linha. — Caminhar para casa à noite ainda é
um risco.
— Um pequeno. Eu estava no bar ao lado do trabalho. Levo quinze
minutos para caminhar.
— Com seus colegas de trabalho?
— Sim. — Sento-me na cama e levanto as pernas. — Sabe, depois
de trabalhar com eles por alguns meses, realmente não acho que o
espião esteja no meu departamento.
Há um sorriso em sua voz. — Não estou surpreso que você pense
isso.
— Não é porque sou tendenciosa.
— Claro que não.
— Eu realmente tenho prestado atenção, você sabe. Para seus
horários e quais chamadas eles atendem. Como eles falam sobre
projetos. Mais ainda, como eles falam sobre você ou Exciteur quando
estamos sozinhos. Mas todos eles parecem leais até os ossos.
— É bom saber. — diz ele.
Afofo um travesseiro atrás de mim. — Eu posso ser uma grande
espiã corporativa. Não sei por que você duvida de mim.
Ele ri então, caloroso e intenso, e o som faz desaparecer os dias
que se passaram desde a última vez que nos vimos. Desde a nossa guerra
de bolas de neve no sábado, só conseguimos uma reunião tarde da noite,
aqui no meu apartamento. Já se passaram quase quatro dias desde
então.
— Eu não duvido de você, Freddie. Eu sei te conheço melhor do
que isso. Mas acho que você traz o melhor das pessoas, incluindo alguém
que pode estar vazando informações.
— Hum. — Tomo um gole do meu chá, contemplando suas
palavras. — Talvez seja eu quem tenha que dar o primeiro passo. Se eu
começar a falar merda sobre a empresa e sua aquisição, eles se sentirão
mais à vontade para deixar sua bandeira de traição tremular.
Ele ri novamente. — Você é uma boa atriz?
— Eu sou boa em tudo. Você não ouviu?
— Eu ouvi. — diz ele. — A apresentação de vendas que você
ajudou Eleanor a fazer hoje recebeu ótimas críticas.
— Sério?
— Sério — ele ecoa. — Ouvi o chefe de vendas falar sobre isso,
sem falar no e-mail que recebemos dos clientes depois.
Solto um suspiro de alívio. — Oh, isso é incrível. Nós realmente
trabalhamos muito nisso, e a estratégia que criamos foi excelente.
— Você vai ter que me dar uma apresentação um dia.
— Sim, bem, passei várias noites trabalhando nisso esta semana.
É melhor que esteja bom depois de todo esse tempo — eu digo. Do outro
lado, ouço o som de seus pés e, em seguida, o fechamento de uma porta.
— Você está no seu quarto?
— Meu escritório em casa. — diz ele. — Você me lembra de mim
quando eu tinha sua idade.
— Quando você tinha a minha idade? Você não é muito mais velho
que eu, senhor.
— Acho que não. — ele admite. — Mas a ambição, quero dizer.
Trabalhando à noite e ansioso para subir na hierarquia.
Meu olhar se fixa nas fotos em minha cômoda, o santuário do
sucesso. Meus pais. Meu avô. — Eu sei que você também trabalha à noite,
Tristan. E o que você realizou é realmente inspirador. A Exciteur está
melhor agora do que antes de você assumir a liderança.
Ele ignora o elogio. — Eu costumava ter sua fome.
— Você não tem ainda?
Há um sorriso em sua voz. — Eu não tenho mais vinte e seis anos.
Há responsabilidades que não posso abandonar por algumas horas
extras no escritório.
Ele está falando sobre seu filho. Joshua, cujo sorriso é largo e fácil
e tem a confiança de uma criança criada com amor. Eu deixo minha voz
com um tom provocante. — Então por que você tem um escritório em
casa? Algo me diz que você passa as noites nele de vez em quando.
— E o que faria você pensar isso?
— Ah, não sei, só de conhecer você? Diga-me que estou errada.
— Você não está. — ele admite. — Muitas vezes respondo os e-
mails à noite. Por que recebo tantos?
Eu rio, virando-me de costas. Olhe para o teto e sinta-se
perfeitamente feliz. — Você recebeu algum de um estagiário
desobediente ultimamente?
— Na verdade, eu não recebi. Continuo esperando, mas sem sorte.
— Esperando isso?
— Isso apimentaria as coisas. Subir direto para o topo da minha
lista de prioridades.
Eu sorrio. — Não acredito que você pensou que eu era um homem.
— Frederica, você se chama Freddie.
— Eu sei. Mas foi divertido, mesmo assim.
Ele suspira, mas é misturado com prazer. — Faz muito tempo
desde que eu vi você. E só se passaram alguns dias.
— Estou feliz que você disse isso primeiro.
— Você não queria admitir isso? — ele pergunta.
Eu passo a mão pelo meu cabelo, desejando que ele estivesse na
minha frente. — Sim, eu gosto de jogar duro assim. Odiaria que pensasse
que gosto de você.
— Que pensamento horrível. — diz ele. — Então você gosta de
mim?
— Eu poderia, sim.
— Hum. Bem, talvez eu goste de você também. — diz ele. Meu
coração incha em meu peito com as palavras, suaves apesar do barítono
áspero de sua voz. — E eu quero levar você para sair. Adequadamente,
em um encontro, apenas nós dois. Em algum lugar em Nova Iorque.
Eu fecho meus olhos. — Não podemos fazer isso. Não sabemos
quando alguém pode nos ver. Ver você, especialmente.
— E isso seria ruim.
— Sim, Infelizmente. Meus colegas de trabalho, aqueles com
quem bebi esta noite? Eles estavam fofocando sobre duas pessoas na
Exciteur que dormiram juntas uma vez, depois da festa de fim de ano do
ano passado. E eles estão em departamentos diferentes. Você e eu? No
que diz respeito à fofoca, somos carne e batatas em comparação com
aquele pequeno aperitivo.
A rica risada de Tristan enche meu ouvido. — Somos mais
saborosos?
— Infinitamente.
— Eu entendo, você sabe.
— Sobre a parte de não sermos vistos juntos em público?
Ele concorda e eu fecho meus olhos para imaginá-lo, sentado na
cadeira de couro em seu apartamento. Braços cruzados sobre o peito e
um sorriso no rosto. — Nós dois temos coisas a perder, mas o preço da
reputação seria mais difícil para você.
— Provavelmente verdade. — eu admito. — Infelizmente.
— Mas não serei o chefe da Exciteur para sempre. — continua ele.
— E você não será a estagiária para sempre.
— Você acha que podemos... continuar até lá? Escondendo?
— Eu posso. — diz ele. — Não estou dizendo que será fácil, mas
por você, claro que posso. A questão é: você pode?
Meu coração acelera. — Sim. Se você pode, por que eu não
poderia?
— Porque é você quem tem uma carreira a construir, uma vida
social a estabelecer. Eu não estaria abrindo mão de nada, Freddie, mas
você... você pode estar. Só me ver à noite, de vez em quando. Sem sair
com mais ninguém. Porque isso teria de ser parte disso.
— Claro — murmuro, a voz seca. Suas palavras sendo absorvidas,
mas não há nenhuma hesitação em mim. Sem medos. — Mas eu estaria
ganhando você, Tristan. Mesmo que seja apenas a portas fechadas.
Ele fica quieto por um momento, o silêncio pesado na linha entre
nós. — Você tem certeza, Freddie?
— Sim.
— Tudo bem — diz ele, e agora há um sorriso em sua voz. —
Ainda não posso oferecer champanhe e jantares à luz de velas em
restaurantes de Nova Iorque, mas posso oferecer refeições caseiras e
companheirismo. Não cozidas por mim, na verdade, e o
companheirismo inclui meu filho. Você está convidada para jantar
amanhã à noite, se você quiser.
Eu tenho que engolir antes que eu possa responder. — Tem
certeza?
— Sim — diz ele. — Ele se divertiu mais com você na luta de bolas
de neve do que comigo. Além disso, acho que ele é mais observador do
que imagino. Outro dia ele se ofereceu para ser meu braço direito, e não
faço ideia de onde ele aprendeu esse termo. Ele tem nove anos, pelo
amor de Deus.
Eu rio, virando de lado na cama. — Isso é doce.
— Ou assustador. Ainda não decidi.
— Estarei aí, Tristan. Amanhã.
— Mal posso esperar. — diz ele. — Você me transformou em um
adolescente, Freddie, e alguns dias sem você de repente são demais.
— Conte-me sobre isso. Trabalho todos os dias em um prédio com
você e não consigo vê-lo.
— Pensei em quebrar as regras.
Eu mordo meu lábio. — Mais do que já quebramos?
— Oh sim. Na semana passada, inventei dez razões diferentes
para ir para a Estratégia.
— Eu não vi você.
— Não fui até o fim com nenhuma delas. — admite. — Entendo o
quanto é importante para você que ninguém descubra.
Verdadeiramente, eu entendo. Assim, mantenho-me no trigésimo
quarto andar.
— Sua torre de marfim — murmuro. — Obrigada por isso. —
Podemos estar cruzando todos os tipos de linhas, mas ele nunca foi nada
além de respeitoso a cada passo do caminho.
Ele limpa a garganta. — Conte-me mais sobre seu avô.
— Realmente?
— Sim, ou seus pais, ou onde você cresceu na Filadélfia. Qualquer
coisa para me impedir de responder a esses malditos e-mails.
Rindo, eu viro de costas. — Acho que posso te salvar desse destino,
bonitão.
— Podemos ir à delicatessen. — digo a Quentin. — Ou no sushi ao
lado.
Ele franze a testa. — Não, eles estão sempre lotados para o almoço.
Toby, você se lembra quando tivemos que ficar na fila por trinta
minutos?
Toby dá um grunhido evasivo de sua mesa.
Quentin não comenta. Você não vai terminar logo? Ou o que o está
impedindo? Nada mesmo. Eu olho para ele, mas seu rosto não revela
nada. Ainda assim, estou convencida de que algo aconteceu. A tensão
entre eles mudou de sabor.
Eu me inclino contra a mesa de Quentin. — Quão tarde vocês
ficaram no bar na outra noite?
Seu olhar desliza para o meu. — Não tão tarde.
— Uh-huh. — Meu rosto é neutro, mas ele estreita os olhos de
qualquer maneira. Eu dou a ele um olhar inocente. Não sei de nada, não
vou falar nada. Um rubor sobe por suas bochechas coradas.
Ele se vira de mim para Toby. — Você terminou?
— Sim, só preciso enviar este e-mail para Clive. Ele está atrás de
mim sobre o projeto Stanton, quer todos os detalhes... Eu nem sei por
quê. — ele resmunga. — Estou reportando a Sharon sobre este caso. Mas
vou me atrasar alguns minutos para o almoço.
Quentin geme ao meu lado, mas não é tão dramático quanto seria
uma semana atrás. Me chame de Sherlock, mas estou no caminho certo
aqui. — Não nos importamos de esperar. — digo a Toby. — Não é
mesmo, Quentin?
Ele me lança outro olhar fulminante. Eu sorrio alegremente de
volta para ele.
Mas então seu olhar vagueia por cima do meu ombro, os olhos
arregalados. É o visual clássico oh merda.
A voz de Eleanor cai como uma foice. — Frederica. Você tem um
momento?
— Claro — eu digo, empurrando a mesa. — No seu escritório?
— Sim. — Não esperando por mim, ela gira em seu salto alto.
Pego meu caderno e caneta. — Vão almoçar sem mim, rapazes.
Quentin geme. — Improvável. Nesse ritmo, meu estômago vai se
devorar e vocês dois serão os responsáveis pela minha morte.
— Nesse caso — Toby responde, digitando com os dedos
furiosamente — eu sugiro que você comece a trabalhar em sua
homenagem.
Eu os deixo com suas brigas e sigo para o escritório de Eleanor,
fechando a porta de vidro atrás de mim. Ela aponta para a cadeira em
seu escritório e olha para mim pela borda dos óculos de armação de aço.
Ela raramente os usa, mas quando o faz, ela passa de uma ave de rapina
gelada a uma bibliotecária intimidadora.
— Excelente trabalho em campo outro dia.
O elogio inesperado me faz sorrir. — Obrigada.
— Os clientes ficaram impressionados e eu mandei um recado aos
meus superiores sobre a importância da sua contribuição.
— Obrigada por isso. — eu digo. — Isso foi muito atencioso.
Ela levanta um dedo. — Não foi atencioso. Eu estava sendo justa.
E se eu não estivesse, você teria o direito de me pedir para fazer isso.
Eu concordo. — Ok, anotado.
— Para dizer a verdade, Freddie, você já superou minhas
expectativas durante seu tempo aqui.
— Obrigada.
Ela me dá um olhar pensativo. — Isso é um pouco incomum, mas
reconheço uma mulher ambiciosa quando vejo uma. Uma posição ficou
disponível, uma que precisamos preencher em breve.
Suas palavras desencadearam uma tempestade de excitação. —
Isso parece interessante.
Ela me dá um sorriso raro. — Sim, pode-se dizer que sim. Uma das
consultoras internacionais do nosso escritório de Milão entrará em
licença maternidade de oito meses. Precisamos substituí-la nesse
período… e quando vi o e-mail, é claro que pensei em você.
Meu estômago aperta em um punho apertado. — Você fez?
— Você fala italiano. Agora, é incomum contratar uma estagiária
junior como você, mas acho que há um potencial real aqui. Este seria um
cargo fixo em tempo integral e, após seus oito meses lá, posso prometer
que a empresa desejará mantê-la. Ou na Itália ou aqui na sede.
— Isso é incrivelmente gentil da sua parte.
Ela levanta um dedo, mas há um sorriso em seus olhos. — Não é
gentil. — diz ela. — Lembre-se, assim como eu não estava sendo
atenciosa antes.
— Certo, eu vou lembrar. — eu digo, sorrindo. — Fico feliz que
você veja o potencial em mim.
— Assim é melhor. — diz ela. — Eu não faria isso se não quisesse
garantir que a empresa a mantenha. Então, se eu tiver sua permissão,
vou recomendá-la ao RH e ao escritório de Milão imediatamente.
Minha garganta seca.
Milão. Itália. Oito meses. Um emprego em tempo integral e um
salário maior do que o de um estagiário. Um pé mais permanente nesta
empresa e uma chance de morar na Itália.
O gigante, em forma de homem, mas é como uma adaga dentro de
mim. Tristan.
Eu tenho que falar com ele sobre isso.
Eu tenho que pensar sobre isso.
— Posso pensar até segunda-feira? — Eu pergunto.
As sobrancelhas de Eleanor se erguem, mas não de desânimo. —
Absolutamente. Muito sensato, levar algum tempo para pensar sobre
suas opções.
— Sim, quero ler um pouco mais sobre Milão. Mas não vou deixar
você esperando mais do que isso.
— Eu agradeço. — Ela se levanta, e eu também, surpresa quando
ela me estende a mão. Como se tivéssemos concluído uma entrevista
informal, o que, de certa forma, suponho que tenhamos. — É bom ver
outra mulher forte se juntando à Exciteur.
Suas palavras atingem bem dentro de mim e torcem o meu âmago.
Tudo o que eu quero, tudo o que sonhei, está ao meu alcance. E não
tenho certeza de qual das duas opções devo escolher.
— Obrigada — eu digo. Parece uma mentira. — Eu agradeço.

A oferta se agita dentro de mim pelo resto do dia. Tudo dentro de


mim está se inclinando para não, que eu não posso desistir do que acabei
de começar com Tristan. Mas dizer não a uma oportunidade por causa
de um homem parece uma traição a tudo pelo que trabalhei tanto. Meu
MBA. Meu avô. A minha família que acredita em mim. Eu mesma, por
trabalhar longas horas.
Minha cabeça e meu coração, dilacerados. É tão clichê que seria
engraçado se não fosse a minha vida. Se não fosse real.
Tristan sorri para mim quando chego em seu apartamento para
jantar com ele e Joshua. Ele está encostado na parede do corredor, com
as mãos nos bolsos, os primeiros botões da camisa abertos. Sem paletó.
Elegância casual e masculina, poder na estrutura de seus ombros.
Uma recepção suave em seus olhos.
— Oi — diz ele. — Como foi a viagem de elevador?
Ele sempre se lembra. — Correu surpreendentemente bem. Eu
não esqueci que é seu elevador, para que nunca funcione mal.
— Isso mesmo. — diz ele, olhos quentes.
— Algo cheira delicioso. — Orégano e alho flutuam como essência
divina pelo ar. — O que tem para o jantar?
— Marianne está fazendo lasanha.
— Você gosta de lasanha? — A voz de Joshua ecoa no corredor um
segundo antes de ele aparecer, virando o corredor com um par de jeans
e uma camiseta com estampa de safári. Outro lugar que eles visitaram?
O sorriso gigante em seu rosto me faz sorrir de volta. — Adoro
lasanha. — digo a ele. — Com muito, muito queijo.
— Queijo é minha refeição favorita.
— Não é realmente uma refeição. — Tristan diz a ele.
— Sim, é. — Joshua responde com o tom de alguém que teve que
explicar isso várias vezes. — Devíamos fazer um tour com você.
— Um tour?
Joshua acena com a cabeça e Tristan entra em cena, com um
sorriso largo no rosto. — Você está certo, amigo. Claro que deveríamos.
Ah, porque eu não estive aqui antes. Não aos olhos de Joshua, de
qualquer maneira. Eu aceno na direção da sala de estar. — Mostre o
caminho, pessoal.
Joshua é tão relaxado e engraçado, o mesmo garoto
despreocupado que ele tinha sido no último fim de semana no parque.
Ele não parece se importar com a minha presença, conversando com o
pai sobre coisas que ele provavelmente falaria mesmo se eu não
estivesse aqui.
Ver os dois interagindo torce algo dentro de mim. Apesar de todos
os seus medos, Tristan é realmente um ótimo pai. Uma olhada em como
seu filho é confiante e gentil deixa isso claro.
Sua governanta não comenta sobre minha presença, mas me trata
com o mesmo nível de conforto natural e sem esforço que ela trata os
outros dois.
— Pai. — diz Joshua quando termina, afastando o prato. — Vamos
fazer s'mores para a sobremesa.
Tristan parece estar lutando contra um sorriso. — S'mores… mas
não vamos acampar.
— Você não precisa estar acampando para tê-los. — Joshua
explica, virando-se para mim. — Você gosta de s'mores?
— Eles são muito bons. — eu admito. — Fiz no micro-ondas outra
noite.
— Você fez?
— Oh sim. É uma das minhas coisas favoritas.
Os olhos de Joshua se arregalam e ele se vira para Tristan. — Ve?
Nossa convidada adora s'mores! Portanto, é meio que nossa
responsabilidade também. Como anfitriões.
Tristan ri, estendendo a mão para passar a mão pelo cabelo de
Joshua. — Vamos fazer s'mores, garoto. Sobre a lareira?
— Sim!
Joshua vai para seu quarto para jogar depois do jantar, com as
palavras felizes de que só falta meia hora para o s'mores. Fomos
instruídos a avisá-lo assim que chegar a hora.
Eu não quero deixar isso. Não quando estou apenas aprendendo
suas vidas, seus segredos. Cativada por seu charme.
Tristan acena com a cabeça em direção ao seu escritório e eu passo
por ele para entrar na caverna. — Obrigada pelo jantar. — eu digo.
Ele cruza a distância até mim. — Foi demais?
— Demais?
— Jantar, aqui. Eu e Joshua.
Eu balanço minha cabeça. — De jeito nenhum.
Ele estende a mão para passar uma mecha do meu cabelo entre os
dedos. — Você tem certeza? Você esteve distraída durante todo o jantar.
— Sua mandíbula se move, o único sinal de desconforto. — Eu sei que
deve ser difícil namorar um homem que é pai. Não ter tempo apenas
para... namorar.
— Não, Tristan, não é isso. — Estendo a mão e enrolo meus dedos
em torno do tecido macio de sua camisa. — De jeito nenhum.
Seu polegar se curva até meu queixo. — Então, o que é?
— Eleanor falou comigo hoje. — eu digo. Precisando dizer as
palavras em voz alta, querendo ouvir sua opinião calma e controlada
sobre isso. Tristan pode entender isso.
— Ela falou?
— Sim. Há uma vaga em seu escritório em Milão.
Seu polegar para ao longo da minha mandíbula. — Isso mesmo. Eu
vi isso em um e-mail hoje, do RH. Eles abordaram você?
Eu concordo. — Eleanor quer me recomendar para isso. É uma
posição de tempo integral. E eu não sei o que fazer.
Sua mão se move novamente, seu olhar observando-a descer pelo
meu pescoço. — É uma boa oportunidade para você.
— É sim.
— E você teria a experiência de viver na Itália. Honrar seu avô.
Falar o idioma.
— Sim, mas…
Tristan balança a cabeça. — Isso é fantástico, Freddie. Entendo
por que eles se aproximaram de você.
Eu aceno, muda.
Seu sorriso se inclina. — Eu sei que você quer ir.
Sim, mas quando olho para o azul profundo de seus olhos, a
decisão não é fácil. Não é realmente uma decisão, não quando me sinto
ligada ao homem na minha frente. Aos meus colegas de trabalho e à vida
que comecei a construir aqui.
Minha garganta fecha. — Pedi um fim de semana para pensar
nisso.
— Bom — diz ele. Muito profissional.
— Sim.
— Você é ambiciosa, Freddie. E corajosa. Duas das coisas que eu
mais gosto em você. Você se sairá brilhantemente na Itália.
— Eu vou sentir sua falta, no entanto. — De alguma forma,
consigo manter minha voz leve. Meu sorriso torto. — Entre todas as
sorveterias e as Vespas.
Ele sorri de volta para mim. — Eu também. Mas eu me odiaria por
segurar você.
Eu me pego concordando. Como se tivéssemos concordado com
isso, como se a decisão tivesse sido tomada, mesmo que meu coração
parecesse se partir. Ele não está reagindo da maneira que eu esperava.
Do jeito que eu precisava.
Tristan inclina minha cabeça para trás e pressiona um beijo em
meus lábios. Está cheio da mesma confiança silenciosa de sempre, mas
algo nele me faz querer chorar. — Vamos. — ele murmura. — Vamos
comer s'mores. Eles não têm isso na Itália, têm?
Eu descanso minha cabeça em minhas mãos, me afastando do
brilho intenso de e-mails não lidos em minha caixa de entrada. A porra
da mesma caixa de entrada que fica cheia toda vez que olho, não importa
quantos e-mails eu continue lendo.
A voz de Jenny volta para mim, como acontece de vez em quando.
Pequenas coisas que ela costumava dizer. Não trabalhe para viver, ela
dizia. Logo antes de partir para uma de suas aventuras ao redor do
mundo, levando-a ao Sudeste Asiático ou às Bermudas ou aos recifes de
coral que abrigam a Gold Coast australiana. Só comecei a ouvir seus
conselhos depois que ela se foi. O que ela me diria nessa situação?
O rosto lindo e delicado de Freddie surge em minha visão. Pele
morena e olhos castanhos, cabelos escuros, uma beleza com fogo nos
olhos. E agora lhe ofereceram o emprego dos seus sonhos. Oh, eu
reconheci a tentativa de esperança em seus olhos enquanto ela me
contava. A guerra de emoções. Ela está em conflito, e é por minha causa.
Eu posso ver tanto de mim em Freddie. A fome em seus olhos. Eu
tinha o mesmo desejo, puro e poderoso, quando tinha a idade dela. Antes
de eu receber Joshua. Nunca me arrependerei de ter cuidado dele, nunca
me arrependerei de assinar aqueles papéis. Ele é a maior lição e o maior
presente de Jenny, como se ela tivesse me dado o bilhete lentamente, um
irmão em forma humana. Ele é uma maravilha.
E, no entanto, lembro-me da sensação inicial de ser retido. De
fazer concessões, de sacrificar pedaços de seu antigo sonho enquanto
tenta dar sentido ao novo. Não posso pedir a Freddie para fazer isso, e
não podemos construir um relacionamento pesado com essa decisão,
sobrecarregado por seu sacrifício. Não sei se sobreviveria.
Ela pode se ressentir de mim um dia, para não mencionar como eu
poderia me ressentir, porque me mataria ser a razão pela qual ela não
consegue o que sonha.
Pego o telefone na minha mesa. Disco o número para o
representante chefe de RH.
Para fazer o quê? Instruí-los a dar-lhe o trabalho?
Ou dizer-lhes para escolher outra pessoa?
Lentamente, desliguei o telefone. Por um longo momento, apenas
o encaro em um silêncio horrorizado.
Não posso interferir nisso. Aconteça o que acontecer, a decisão é
de Freddie, e deve ser baseada apenas nos méritos dela. Minhas
impressões digitais não podem estar nem perto disso. Não se quisermos
ter esperança de sobreviver a isso, como amigos.
Amigos. Eu aguentaria ser apenas amigo dela? Receber pequenos
cartões postais educados da Itália?
Nunca o conhecimento de que ela está no mesmo prédio que eu
nunca queimou tanto como acontece hoje. Sentada apenas alguns
andares abaixo de mim, mas ela poderia muito bem estar do outro lado
do mundo, por todo o bem que isso faz. Não posso levá-la para almoçar.
Não posso mostrar a cidade a ela.
Eu sou impotente.
E eu odeio me sentir impotente. Então abro meus e-mails e digito
um rápido para Gwen no RH, ainda mantendo minha promessa interna
de não interferir. Avise-me quando tiver um candidato viável para o
Milão, escrevo. Quero a vaga preenchida o mais rápido possível.
As emoções dentro de mim param assim que eu envio. Pelo menos
serei notificado quando ela tomar uma decisão. Deve me dar uma
oportunidade de colocar minha cara de jogo para quando ela vier me
contar. Para terminar comigo gentilmente. Dizer-me que ela está
seguindo seus sonhos, do jeito que eu quero para ela. Mesmo que doa.
Não sei se torna mais fácil ou mais difícil não termos muito tempo
juntos antes de ela partir. A festa de fim de ano da empresa é amanhã à
noite. Depois viajo para o Taiti com Joshua, e ela segue para a Filadélfia
para comemorar o Natal com a família.
Uma sucessão rápida e acelerada de batidas na porta do meu
escritório, o padrão familiar. — Entre.
O terno azul-marinho de Clive é um pouco grande demais para sua
forma. Ele está com o mesmo sorriso brando de sempre, mas ele se
alarga quando ele percebe minha carranca.
— Parece que você quer socar alguém — ele comenta. — Eu
deveria sair? Porque não sou voluntário.
— Não, eu estou bem.
— Tem certeza?
— Sim. O que você precisa?
Ele não perde tempo. Essa é uma das coisas que sempre apreciei
com Clive como COO, que ele não está aqui para bater papo ou tentar me
conhecer. Nós administramos um negócio, então vamos começar a
administrá-lo.
— Na verdade, — diz ele, afundando na cadeira em frente à minha
mesa — o que eu quero é uma atualização sobre a situação do espião.
Meu humor piora ainda mais. A porra do vazamento tinha
acontecido de novo, pelo menos se o artigo que Anthony me enviou esta
manhã estivesse correto. Uma empresa rival na esfera de biotecnologia
acaba de revelar seu novo plano de cinco anos, e é quase igual à
estratégia de negócios que desenvolvemos para um cliente.
Eu passo a mão pelo meu cabelo. — Acho que é hora de
começarmos a ampliar nossos horizontes para além da Estratégia.
Ele franze a testa. — Logicamente, Estratégia faz mais sentido. São
os únicos com acesso, se excluirmos o poder executivo. E não está entre
nós.
— Eu sei de fonte segura que provavelmente não é um
funcionário da Estratégia.
— Você sabe?
— Sim. Quero que faça uma lista de todos que sabiam sobre a
estratégia de biotecnologia para Finley. Não deixe ninguém de fora,
incluindo nós dois.
Suas sobrancelhas se erguem. — Ok, claro. Mas só por
curiosidade... quem é sua fonte no Departamento de Estratégia?
O nome paira na minha língua, mas algo sobre o interesse de Clive
me detém. Freddie não merece ser arrastada para isso. — Vou guardar
isso para mim.
— Sim, senhor.
Clive fecha a porta atrás de si enquanto sai, o silêncio do meu
escritório é completo. Do jeito que eu costumo gostar, mas hoje, a
ausência de grades de som. Isso deixa muito espaço para meus
pensamentos.
Um clique no meu teclado desperta meu computador, e já há um
e-mail animado esperando por mim de Gwen no RH.
Boas notícias! Encontramos um estagiário do escritório de
Nova Iorque que seria excelente para o cargo. Só precisamos pontuar
alguns i's e cruzar alguns t's, mas logo teremos a posição
preenchida!
Fecho os olhos e me afasto da mesa, dizendo a mim mesmo que
estou feliz por Freddie, mas tudo que sinto é a felicidade escapando de
minhas mãos.
Eu giro a taça gelada de vinho branco, a marca vermelha do meu
batom nítido contra a borda. Ele não está aqui, mas não consigo parar
de olhar ao redor da festa lotada, procurando por um vislumbre do
homem com quem troquei olhares pela primeira vez do outro lado da
Gilded Room. O homem que grelhava s'mores com seu filho adotivo na
lareira de um apartamento multimilionário. O homem que se recusou a
ser classificado desde o início.
— Terra para Freddie — diz Toby. — Você está bem?
— Oh sim. Absolutamente.
— Você parecia perdida em pensamentos — diz ele. — Espero
que você esteja em algum lugar muito melhor.
— Melhor do que isso? — Eu movimento um braço para a
generosidade. Um dos escritórios da Exciteur foi transformado, e mesas
repletas de comida cercam uma árvore de Natal decorada com bom
gosto. — Do que mais precisamos?
— Ah, não sei. Uma praia. Um aumento. Umas férias mais longas
pela frente. — Toby sugere com um sorriso.
— Deus, eu adoraria umas férias mais longas. O que você está
fazendo nas suas? — Eu pergunto. — Vocês dois?
Quentin franze a testa para a taça, mas lança um olhar de soslaio
para Toby. Toby, que está quase vigorosamente alegre. Quem não fez um
único comentário sarcástico e atrevido sobre Quentin. — Vou ficar em
Nova Iorque. Bem, vou passar as férias com minha família em Jersey,
mas fica a apenas trinta minutos daqui.
Olho para Quentin, mas ele não morde a isca, não faz nenhum
comentário sobre como Jersey não é Nova Iorque. — Eu vou ficar aqui.
— ele diz a nós dois.
— Muito legal. Vocês dois têm alguém com quem sair, então. —
eu digo. — Só para garantir, quero dizer. Sei que passei alguns fins de
semana solitários aqui quando cheguei.
Eles não se olham, mas o nervosismo impregna o ar. Talvez eles
estejam navegando na mesma turbulência que Tristan e eu, trabalhando
na mesma empresa. Mas para eles isso pode significar não mais do que
um tapa na cara. Para mim e Tristan? Uma estagiária junior e CEO da
empresa parece horrível, de ambas as perspectivas.
— Mas não mais, não quando você nos tem. — diz Toby. — Porque
vamos à ópera em janeiro.
Quentin geme com isso, mas eu não. — Sério?
— Sim — Toby diz, tilintando seu copo com o meu. — Vou fazer
de você uma verdadeira nova-iorquina.
— E isso vem de alguém criado em Jersey — Quentin murmura,
mas sua voz é afetuosa. Minha atenção se desvia das brincadeiras que se
seguem para nossos colegas de trabalho que se misturam. Para a
empresa que acabei de conhecer.
E lá está ele, do outro lado da sala. O homem por quem estou me
apaixonando.
Ele está conversando com Sharon e Clive ao longe da sala lotada
de funcionários. Há uma inclinação desconfortável em seus ombros,
como se ele não quisesse estar aqui. Ele aperta as mãos de ambos e
desaparece em direção ao corredor.
Eu o vejo recuar, assim como fiz na conferência em Boston. Mas
não temos um terraço na cobertura aqui. E ele não vai para casa, não
quando ainda não pegou o microfone e desejou a todos aqui um Feliz
Natal.
Meu coração acelera quando digo a Quentin e Toby que esqueci
algo na minha mesa. Em vez disso, pego o elevador até o trigésimo
quarto andar. Há tanta emoção agitada dentro de mim que mal registro
o medo familiar.
Milão é minha decisão, e ainda que Tristan não queria que eu
fizesse aquilo que meu coração está me dizendo. Você é ambiciosa e
corajosa, e é disso que gosto em você. Ele pensaria mal de mim se eu
rejeitasse a Itália?
E pior, eu pensaria menos de mim mesma?
Ando pelo corredor vazio no último andar, passando por
escritórios nos quais nunca entrei. Indo para o grande no final do
corredor com as letras estampadas na porta.
Tristan Conway.
Eu bato e ele responde alguns segundos depois. Sua voz é familiar,
mas não. Porque esse tom profissional não é aquele que eu o ouvi usar
comigo desde... bem. Sempre.
Mesmo na Gilded Room, ele teve suas paredes rebaixadas mais do
que aqui, na empresa que possui e opera.
Ele fecha o laptop quando me vê. — Freddie?
— Oi. — Empurro a porta para fechá-la. — Você está se
escondendo da festa?
— Eu não poderia estar lá embaixo. Além disso, eles não me
querem lá.
— Eles não querem?
Ele empurra a cadeira para trás e se levanta. — Não. Eles querem
fofocar e desabafar. Eles querem falar sobre mim, não comigo.
Eu franzo a testa. — Isso parece triste.
Ele acena com a mão desdenhosa, virando-se para se apoiar em
sua mesa. Não cruzando a distância para mim. Não envolvendo seus
braços em volta de mim ou pressionando um beijo na minha têmpora.
Apenas calmo, controlado, contido. Um homem decidido.
— Nós não nos falamos neste fim de semana — eu digo.
— Eu estive ocupado. Então, imagino, e você? — A voz não é
indelicada, mas é determinada. — Ouvi dizer que você aceitou o
trabalho.
— Não, eu não aceitei. Eleanor me deu uma prorrogação. Eu tenho
até o final da semana — eu digo, dando um passo mais perto, e odiando
a formalidade incomum entre nós.
Tristan me encontra no meio do caminho. Eu me inclino contra
seu peito e ele envolve seus braços em volta de mim, pressionando um
beijo na minha testa. Os pelos de sua mandíbula mal barbeada fazem
cócegas na minha pele. — Você está hesitando? — ele pergunta.
— Eu estou sim.
— Espero que você não esteja hesitando por minha causa — diz
ele. A mão nas minhas costas é suave, mas o aço em sua voz não é.
Algo em meu peito estala. — E porque não?
Ele suspira, ambos os braços ao meu redor. — Porque estamos em
momentos diferentes de nossas vidas — ele murmura. — Porque eu não
posso ser aquele que te segura. Porque este é um sonho seu, Freddie, e
me mataria se você se arrependesse de ter dito não.
Minhas próximas palavras não são bem pensadas. Elas são um
medo dado às palavras e, como um gênio, não podem ser colocadas de
volta em uma garrafa. — O que acontece se eu for? Isso significa que
terminaríamos?
O único aceno contra a minha cabeça é de partir o coração. —
Como pode ser diferente? — ele pergunta.
Há um milhão de coisas em minha mente. Eu posso ficar aqui em
vez disso. Ou você pode deixar de ser o CEO. Podemos fazer à distância. Ou,
pior de tudo, por que você não vem comigo para a Itália?
Mas não seria justo perguntar isso a ele, não quando sei o que ele
teria que sacrificar em troca. O valor que ele atribui a ser um bom pai e
um bom chefe são suas melhores qualidades, e eu não gostaria que ele
as quebrasse, mesmo que estivesse inclinado a isso.
Meus olhos ardem e eu os aperto com força, mas isso apenas
acelera as lágrimas em sua jornada pelo meu rosto.
— Frederica? — Tristan murmura, uma mão alisando a parte de
trás da minha cabeça. — Você está bem?
Eu balanço minha cabeça contra seu peito, e ele suspira, me
pressionando mais perto. Ele pode não dizer uma palavra, mas posso
sentir isso na força de seus braços. Eu sei, ele está dizendo. Eu sei
exatamente.
— Quando eles querem você lá? — ele murmura.
Minhas palavras saem abafadas. — Primeiro de fevereiro. Eu
entendo se você não quiser que continuemos nos vendo, você sabe. Se
eu estiver me mudando.
Ele se inclina para trás, arregalando os olhos quando ele olha para
o meu rosto. Eles ficam suaves quando ele segura minha bochecha, um
polegar alisando minha bochecha marcada por lágrimas. — Nós
podemos — diz ele. — Mas vai tornar as coisas mais difíceis para nós
dois quando você for.
— Sim, pode ser.
— Então você irá para a Filadélfia para comemorar com sua
família.
— E você irá para o Taiti para ver as baleias. — eu sussurro,
minhas mãos presas em sua camisa.
Ele concorda. — E quando voltarmos em janeiro… poderemos ver.
Nos encontraremos para dizer adeus, se nada mais. Estou aqui, Freddie.
Sempre. Só não para segurar você.
Mas e se você não for? Eu quero perguntar. E se a Itália for o que
está me segurando?
A confiança em mim que vejo em seus olhos impede minhas
palavras. Combinado com o olhar de Eleanor quando ela disse o quanto
acreditava em mim. Meu avô, com mais conhecimento de negócios em
seu mindinho do que a maioria das pessoas tinha em todo o corpo.
— Não volte para a Gilded Room. — eu deixo escapar.
Os olhos de Tristan se arregalam. — De onde veio isso?
Eu dou um passo para trás dele. — Tristan, você merece muito
mais do que alguém que só quer você pelo seu corpo, ou pelo seu
dinheiro. Do que algo que é apenas por uma noite.
Sua mandíbula se move, e ele se inclina para trás, as mãos
apoiadas contra a borda de sua mesa. — Você... você quer que eu comece
a namorar corretamente?
As palavras fazem meus olhos arderem de lágrimas. — Não. Sim.
Não sei, mas quero que você seja feliz. Você merece ser feliz.
— Você também. — ele me diz, a voz rouca. — Mais do que
ninguém. Mas me perdoe, Freddie, se ainda não estou no estágio em que
posso lhe desejar um feliz namoro.
Minha atenção se concentra em coisas pequenas e discerníveis. As
linhas miseráveis em seu rosto. A maneira como ele está se segurando.
Meus próprios sentimentos girando fora de controle.
E eu tenho que sair daqui antes que eu perca minha própria
determinação, pedindo a ele para ficar bem comigo. Deixar ele me
segurar, como ele disse. Mas como posso fazer isso?
— Tchau, Tristan — eu digo. Minha voz falha em seu nome.
Sua voz me alcança quando abro a porta de seu escritório. Contra
as luzes de Nova Iorque entrando pela janela, ele parece uma sentinela.
Um guardião quieto, um guerreiro de antigamente. — Tchau, Freddie.
— ele murmura.
A porta se fecha atrás de mim com uma finalidade que machuca e
eu corro pelo corredor em direção aos elevadores, as coisas odiadas e
malditas, e pela primeira vez acho que ficaria feliz se eles me jogassem
todos os trinta e quatro andares para o chão.
Um peito duro me para e eu cambaleio para trás, olhando para o
homem que saiu de seu escritório. — Oh, me desculpe.
Clive segura meu cotovelo um segundo a mais para me firmar. —
Tudo bem. — ele diz, arregalando os olhos ao ver as lágrimas em meu
rosto. — Você está bem?
— Sim, sim, absolutamente. Apenas... alergias. — Parece tão
estúpido falado em voz alta quanto na minha cabeça.
— Alergias? — Clive olha de mim para o escritório no corredor,
para aquelas letras incriminatórias estampadas na porta de carvalho.
Seus olhos se arregalam. — Ah. Eu vejo. Ele te machucou?
O que? — Não, claro que não. Estávamos discutindo trabalho.
— Trabalho? — Ele me solta e dá um passo para trás, estreitando
os olhos. — Você trabalha em Estratégia, certo? Uma das estagiárias
junior. Você organizou aquela coisa de Ação de Graças que ele de
repente decidiu fazer.
Não há como enxugar as lágrimas das minhas bochechas
disfarçadamente, então eu apenas vou em frente, forçando coragem em
meu corpo. — Isso mesmo.
Clive acena com a cabeça. — Interessante. E você tem certeza,
absoluta certeza, de que ele não te machucou?
É uma pergunta estranha. Assim como o brilho em seus olhos, um
brilho que transforma meu estômago de deplorável em desconfortável.
Suspeitas se formam em minha mente. — Ele não machucou.
— Bom. Tive que perguntar.
— Estou saindo. — eu digo, passando por ele. — Boa noite, Sr.
Wheeler.
Clive me dá um aceno de cabeça, o olhar demorado. — Boa noite,
senhorita…
— Frederica Bilson.
— Frederica Bilson — ele ecoa. — Isso mesmo. Boa noite então.

Chego em casa sem soluçar, mas as lágrimas queimam no fundo


dos meus olhos como um penetra ou um convidado indesejado. Elas
estão em boa companhia com as suspeitas que Clive trouxe, torcendo
por medo em meu estômago. Ele percebeu imediatamente que havia
algo entre Tristan e eu.
Minha mão treme em torno do meu telefone. Eu não posso falar
com ele. Não tão cedo.
Ainda não.
E, no entanto, trabalhei por esta carreira, e ele também. Se minhas
suspeitas estiverem corretas... Não tenho outra escolha a não ser ser
profissional e aceitar.
Eu disco o número de Tristan.
Ele leva cinco longos toques para atender. Ele estava de volta na
festa de fim de ano? Ainda no silêncio protegido de seu escritório?
Não há como saber, mas a voz do outro lado está cansada. —
Freddie… — ele murmura.
— Clive me viu saindo do seu escritório. Ele me viu, e ele viu meu...
ele viu que eu estava chorando. Acho que ele somou dois mais dois.
A voz de Tristan se torna competente. — Ok. O que te faz pensar
isso?
Eu ando pelo pequeno espaço do meu apartamento. — Ele sabia.
Ele me perguntou se você me machucou.
— Ele perguntou o quê?
— Ele perguntou duas vezes.
O choque de Tristan do outro lado da linha é profundo. O meu,
porém, não é. Eu não posso ficar em silêncio enquanto as suspeitas
borbulham de mim. — Tem certeza de que ele não é o informante?
— Claro que tenho certeza. — é a resposta, mas algo sobre isso
soa reflexivo. Ensaiado.
— Ele está pedindo informações a Toby, um dos meus colegas de
trabalho. Informações sobre projetos que Toby geralmente não relata a
ele. A última vez que ouvi foi sobre o caso Stanton.
— Ah.
— E lembra daquela reunião, há mais de um mês, em que ele não
pôde comparecer? Você foi no lugar dele.
— Eu lembro. — Uma nota dura rasteja na voz de Tristan. — Sim,
o padrão combina. Ele estava ausente naquele dia por motivos pessoais,
e uma semana depois descobrimos que… Bem. Ele poderia estar
vendendo a estratégia que você apresentou aos nossos concorrentes.
— Então você acredita em mim?
— É plausível. — Um suspiro áspero, e é tudo que eu sinto
também. É um suspiro de que não aguento mais essa merda. — Clive
esteve comigo desde o começo. Ele era meu braço direito quando
assumi, a única pessoa que pareceu receber bem quando a Acture
Capital comprou a empresa da antiga administração.
— Talvez ele não fosse tão receptivo, afinal.
— Não, talvez ele não fosse.
— Mas, Tristan, ele sabe. Sobre nós. — Minha voz fica febril. —
Ele pode usá-lo de alguma forma. Isso pode causar uma publicidade
muito ruim para você.
— Ele não vai usar.
— Como sabemos disso? Podemos detê-lo?
— Nós vamos — repete Tristan, e desta vez não há como
confundir o aço em sua voz. É inflexível. — Se ele for o informante, as
coisas que esta empresa pode fazer... eu cuidarei dele. Ninguém vai
descobrir sobre nós, Freddie. Sua reputação está segura.
— Ok. — Eu afundo na beira da minha cama. — Mas como?
No que diz respeito aos dias, este tem sido intenso demais para o
meu gosto. Se eu dormisse por uma semana, duvido que seria o
suficiente.
— Vou dizer a ele que você era meus olhos e ouvidos em
Estratégia. Dê a ele uma verdade para manter os olhos longe da outra.
Eu aceno lentamente. — Ok.
— Eu cuidarei disso, Freddie. Vá para sua família — diz Tristan.
— Vou mantê-la informada se algo acontecer, mas não deve. Não depois
que eu terminar com ele. — Talvez a crueldade calma sob sua voz
devesse me assustar, a mistura de ameaça e segurança. Mas eu o
conheço e conheço seus valores, e isso me deixa com uma sensação de
paz.
— Obrigada. — eu respiro.
— Você está no seu apartamento?
— Sim.
— Bom. Obrigado por me ligar — Tristan murmura. — Entendo
que foi... difícil. Eu agradeço.
— Claro. Você me pediu para encontrar seu espião, lembra?
Sua voz suaviza. — Então, eu pedi.
— E eu sempre entrego.
— Você sempre faz — ele concorda. — Durma bem, Freddie.
— Eu vou, obrigada.
— E Freddie?
— Sim?
— Feliz Natal.
Abro a boca para desejar o mesmo a ele e a Joshua, mas quando as
palavras saem, ele já desligou. Então eu fecho meus olhos e me recosto
na minha cama, o aquecedor fixo zumbindo alto ao meu lado, e deixo as
lágrimas rolarem.
Peixes em cores vivas rodopiam embaixo de mim no cais,
dançando nas águas cristalinas como se estivessem realizando um
recital de balé com uma música que só eles podem ouvir. Como tantas
coisas no Taiti, eles são lindos. Não poderíamos ter pedido um bangalô
melhor à beira-mar, construído bem na costa.
O lugar é uma maravilha no Pacífico, um paraíso intocado, e já
prometi a Joshua que começaríamos a doar para a conservação marinha
assim que chegássemos em casa para preservar lugares intocados como
este.
E ainda assim.
Porque não há sempre um mas?
O telefone na minha mão está frio, vazio e quase sem sinal. Eu tive
que caminhar até o topo da colina no pequeno povoado para conseguir
sinal suficiente para ligar para Freddie na véspera de Ano Novo.
Mas ela não respondeu. Também não tinha ligado ou enviado uma
mensagem de volta.
Então eu não tentei alcançá-la novamente, em vez disso, mantive
minha promessa de evitar tornar isso mais difícil para ela. Mesmo que a
ideia de ela se mudar pareça uma farpa, enterrando-se cada vez mais
fundo. Nos poucos meses que conheci Frederica, ela abriu caminho sob
minha pele de uma forma que ninguém mais fez. Nenhuma mulher,
nenhuma desde minha ex, e isso foi antes de Joshua. Anos atrás.
Eu abro os e-mails no meu telefone. Faz dias que não olho para
eles, e só à noite, quando Joshua já foi para a cama. Mas agora ele está
descansando dentro do bangalô e posso me esgueirar por alguns
minutos para trabalhar.
Meu advogado respondeu, assegurando-me que temos Clive na
mão. Vender segredos da empresa é uma violação com algumas
ramificações legais sérias, e vamos investigar todas elas.
Eu fecho meus olhos com a memória da conversa. Do rosto
geralmente brando e obsequioso de Clive ficando vermelho de raiva.
Eu era o segundo na fila para assumir esta empresa. A
administração havia me preparado para CEO. E então você e seus amigos
assumiram o controle, e eu fui empurrado de volta para baixo da corrente.
Estava lá, sob a superfície, há mais de um ano. O ódio e a inveja. E
eu não tinha visto.
Então você tentou destruir a empresa como vingança? Eu perguntei
a ele. Isso é uma maneira de homenagear esta empresa ou os
funcionários?
Ele ignorou minhas palavras como se não significassem nada.
Perdidas em seu ressentimento, elas provavelmente não significavam.
Eu tenho sujeira, ele disse com óbvio prazer. Dormir com uma
estagiária, Conway? Como você acha que isso vai parecer na imprensa?
Você será barrado de todos os eventos e funções na cidade, com a situação
atual. Tudo o que verão é um homem sujo e poderoso, abusando de seu...
Eu o cortei.
Se ele quisesse me prejudicar com Freddie, ele teria que se
esforçar mais do que insinuar que algo havia sido coagido ou terrível
entre nós. Se tem uma coisa que não foi, foi isso.
Foi uma das experiências mais puras da minha vida.
Ela era minha informante na Estratégia, eu disse a ele. Você está
tentando desacreditar a funcionária que ajudou a desmascará-lo. Se você
acha que alguém vai acreditar em suas tentativas de salvar a cara, você
está delirando.
E foi isso. Ele foi escoltado para fora do local, todas as suas contas
da empresa foram fechadas, sua comunicação por e-mail nos servidores
da empresa foi apreendida.
A próxima ligação que fiz foi para Eleanor. Eu a informei sobre a
situação, deixando-a saber que Freddie estava se reportando a mim.
Dito corretamente, não era grande coisa. Eu simplesmente fiquei
impressionado com as habilidades de Freddie depois do Dia de Ação de
Graças e pedi a ela para manter os ouvidos e os olhos abertos.
Eleanor ficou discretamente impressionada, em vez de ofendida
por eu ter passado por cima dela. — Nunca gostei de Clive. — ela me
disse. — Algo sobre suas maneiras sempre parecia muito açucarado. —
Enviei a ela o e-mail pedindo que substituísse Clive como minha COO no
dia seguinte.
Desligo o telefone e fecho os olhos contra o sol da Polinésia. A raiva
de Clive ainda queima, mesmo que seja mais por suas ameaças do que
por sua traição. Seu total desrespeito por Freddie, que nunca lhe fez mal
algum.
Freddie.
Todos os pensamentos começam e terminam aí, ao que parece.
Os passos saltitantes de uma criança no cais me fazem virar.
Joshua está de camiseta e shorts, o cabelo despenteado de onde ele
estava deitado na cama gigante do hotel. Ele assistiu a um pequeno
documentário sobre a natureza em seu iPad depois que voltamos da
observação de baleias.
— O que você está fazendo? — ele me pergunta.
— Só pensando. Olhando para o oceano.
Ele se senta de pernas cruzadas ao meu lado no cais. Abaixo de
nós, ondas suaves quebram contra os pilares. — Podemos nadar mais
tarde?
— Pode apostar que vamos. A vovó está lá dentro?
Ele concorda. — Ela está descansando. Ela disse que já esteve em
barcos suficientes esta semana para durar por toda a vida.
Eu rio, bagunçando seu cabelo áspero de sal. — Ela não é uma
pessoa que gosta de barcos.
— Ela disse que tirou fotos hoje, quando você e eu mergulhamos
de snorkel.
— Mas não tão boa quanto a nossa.
Ele me dá um sorriso atrevido. A câmera subaquática que
trouxemos foi útil hoje, quando finalmente nadamos ao lado de um
tubarão-baleia.
— A gente vai pendurar essa em casa, né, pai?
— Com certeza vamos, garoto.
Nós sorrimos um para o outro por alguns segundos e caramba,
meu filho é realmente o melhor. Meu telefone toca e seu sorriso se
transforma em uma carranca. — Pai, você estava trabalhando?
Ele diz a palavra como se eu estivesse ocupado cometendo crimes
violentos aqui no cais. — Acabei de responder alguns e-mails. — digo a
ele, pegando meu telefone. — Vou colocar no silencioso... ah. É do
Anthony.
A carranca de Joshua desaparece. Meu filho conhece e gosta de
Anthony, tendo-o visto com frequência ao longo dos anos. Ele pode ser
quieto e muitas vezes carrancudo, mas Anthony é um bom homem por
completo.
— O que ele disse? — Joshua pergunta. — Você contou a ele sobre
o tubarão-baleia?
— Ainda não, mas vou contar a ele agora. — Sorrindo, clico em
abrir o texto. E rio. — Ele está sendo rabugento.
— Por que?
— Por causa da empresa, dissemos a ele que ele deveria assumir
em seguida.
— Ele não quer?
— Não. — Vendo a expressão de Joshua, me apresso em explicar.
— Não, ele quer. É uma boa oportunidade. Mas é em uma indústria que
ele acha um pouco... boba.
— O que é?
— Uma empresa casamenteira.
Joshua franze a testa, um pequeno franzir entre as sobrancelhas.
— Uma o quê?
— É para adultos que querem encontrar uma esposa ou um
marido, mas estão tendo problemas para encontrar um por conta
própria.
— Oh. — Joshua solta uma risada, balançando as pernas acima da
água. — Isso é bobagem.
— Anthony também pensa assim.
— Há uma tonelada de adultos. Não deveria ser fácil encontrar
alguém para casar?
Eu corro a mão sobre minha mandíbula áspera. Não me dei ao
trabalho de me barbear esta semana, e a sensação é estranha na minha
mão. — Bem, os adultos não querem simplesmente se casar com
qualquer um. É difícil encontrar a pessoa certa.
Joshua dá um aceno sábio. — É por isso que você não se casou,
pai?
— Parte disso, eu suponho. E trabalho muito também.
Seu olhar para o meu telefone deixa claro que meu filho pensa a
mesma coisa. Sem dúvida enfatizado pelos comentários bem-
intencionados de Linda. — Você quer se casar?
— Bem, garoto, eu não sei. Acho que sim, se encontrar a mulher
certa.
Ele protege os olhos e olha para a água infinita à nossa frente. Ele
está um pouco vermelho na nuca, apesar da grande quantidade de
protetor solar que minha mãe tem o cuidado de passar nele. — Gosto da
sua amiga que veio jantar. Freddie.
Eu tento manter o meu nível de tom quando atendo. — Ela é muito
legal, não é?
Ele olha para o peixe abaixo de nós. — Sim. Quando ela voltar, acho
que posso dar a ela meu elefante gigante de pelúcia, aquele que ganhei
na Feira de Ação de Graças.
— Oh? Por quê?
— Ela gostava mais de elefantes do que eu e, além disso, estou
quase velho demais para brinquedos de pelúcia. — Ele se vira para mim
com um sorriso que se parece tanto com o de Jenny que de repente me
sinto com sete anos de novo, olhando para minha irmã mais velha na
idade dele. — Além disso, você quer se casar com ela, não é, pai? Posso
ajudá-lo a convencê-la.
Meu coração se aperta no peito e talvez meu sorriso de resposta
seja um pouco triste, porque o dele vacila. — Você não quer?
— Eu quero. — eu admito. — Mas ela está se mudando.
— O que?
— Sim. Para a Itália.
Ele suspira, olhando para os pés descalços. — Danielle pode voltar
para a França.
— Sério?
— Ela me disse antes de sairmos de férias. Ela ouviu seus pais
dizerem que não ficariam na América para sempre.
Eu sorrio. — Isso ainda pode demorar um pouco. Eles podem ficar
aqui por anos.
Ele dá de ombros. — Eu disse a ela que não queria que ela fosse.
— Você disse?
— Sim. — Um sorriso particular se forma em seus lábios, e sei que
ele está longe. Perdido nas memórias de sua primeira paixão. Eu me
pergunto quando ele vai parar de confiar esse tipo de coisa para mim.
Espero que nunca.
— Então você ainda gosta dela. — eu comento.
Ele concorda. — E eu acho que ela gosta de mim também. Ela
parou de passar tempo com Dexter. Ela sempre se senta ao meu lado.
— Isso é ótimo, garoto.
Seu sorriso se alarga. — Sim. Você pediu a Freddie para não se
mudar?
Eu balanço minha cabeça lentamente. — Não.
— Por que não? Talvez ela não vá. Você sabe, se ela gosta de você
também.
É tão simples, vindo de Joshua. Óbvio. A clareza em sua voz não é
prejudicada por preocupações ou nuances de adultos.
Eu passo a mão pelo meu cabelo, e ele é tão áspero quanto o do
meu filho. — Se eu disser, ela pode ficar. E por mais que eu queira isso,
também sei que se mudar para a Itália é o sonho dela.
Joshua franze a testa em concentração. Ele está realmente
considerando isso, as engrenagens girando em sua mente. — Mas papai,
— diz ele — se você não contar a ela, talvez ela não saiba que você quer
que ela fique.
— Eu acho que ela sabe.
— Achar e saber não é a mesma coisa. — ele me informa,
balançando as pernas. — Sra. Kim sempre diz isso na aula de ciências.
Meus lábios puxam. — Bem, ela está certa sobre isso.
— Eu acho que você deveria dizer a ela. Então ela sabe e pode se
decidir.
Tão simples.
Tão claro.
E, no entanto, suas palavras me levam a uma direção diferente,
uma que eu não havia considerado antes. Ao não perguntar a ela, ao não
dizer explicitamente como me sinto, não estou confiando nela para
tomar suas próprias decisões. Eu não dei a ela o quadro completo. Todas
as palavras que não falei de repente enchem meu peito, obstruem minha
garganta, até que parecem que vão me sufocar.
Joshua me dá um sorriso largo. — Eu estou certo?
— Você está. — eu digo a ele. — Você realmente está.
— Veja, pai, eu também sei das coisas.
— Oh, com certeza, garoto.
Ele é sua própria pessoa, alguém único e separado de mim,
Michael e Jenny. E, no entanto, tenho a estranha sensação de que Jenny
me repreendeu novamente, desta vez do túmulo e por meio de seu filho.
E desta vez, vou seguir o conselho dela de jogar a cautela ao vento.
Joshua se estica no cais ao meu lado, colocando os braços magros sob a
cabeça. É uma pose tão adolescente, mostrando o comprimento de suas
pernas e torso. Os shorts que compramos para ele para esta viagem já
parecem um pouco curtos.
Mas ele tem apenas nove anos.
Isso é o precursor de um surto de crescimento?
— Você tem que parar de crescer, garoto. — digo a ele. — Está
indo muito rápido.
Ele sorri para o céu, um menino sem nenhuma preocupação no
mundo. Um menino que foi corajoso o suficiente para nadar com um
tubarão-baleia hoje. Seu sorriso estava em êxtase quando estávamos de
volta ao barco, meus braços em volta de seus ombros para impedi-lo de
tremer.
— Farei dez anos em alguns meses — ele me informa.
— Não me lembre.
— Você quer que eu seja uma criança para sempre?
Deito-me no cais ao lado dele, meus pés pendurados na borda. O
céu é tão turquesa acima de nós quanto o Pacífico além.
— Eu quero que você seja meu filho para sempre.
Ele ri. — Eu ainda serei seu filho quando crescer.
— Sim, suponho que você esteja certo.
— Você está sendo estúpido, pai. — Ele balança a cabeça, me
cutucando com o cotovelo. — E nós também iremos em aventuras.
Meu coração dói de amor por ele e, pela primeira vez em anos, algo
pica atrás dos meus olhos. Eu olho para os céus acima. Obrigado, Jenny.
— Sim — eu asseguro a ele. — Sempre o faremos.
— Quem sabe? — Toby pergunta. — Pode ter sido qualquer coisa.
Quebra de contrato. Informações privilegiadas. Talvez ele apenas tenha
irritado o Sr. Conway muitas vezes.
Quentin balança a cabeça. — Não, o homem não demitiria alguém
que é produtivo só por causa de sua atitude. Dez dólares que é porque
ele assediou alguém.
— Estamos realmente apostando nisso? — Eu pergunto, minha
mão apertada em torno do meu copo de uísque. No primeiro dia após as
férias de Natal, todo o escritório estava cheio de especulações sobre as
mudanças de pessoal. É um peso para meus ombros o fato de nada estar
relacionado a mim.
— Você não tem nenhuma teoria? — Toby me pergunta. Ele está
sentado na minha frente, seu braço roçando o de Quentin na mesa do
bar. Ambos parecem totalmente relaxados com esse toque casual.
— Eu não tenho. — eu digo. — E para dizer a verdade, duvido que
algum dia descubramos. A administração está sendo muito discreta
sobre isso.
— Essas coisas vazam. Elas sempre vazam.
— Mmm, nem todas as coisas. — murmuro, acenando para eles.
Não posso deixar de deixá-los saber o que eu suspeito, não quando
trabalhamos tão de perto.
Quentin fica imóvel. Toby, no entanto, não. Ele ri. — Freddie, você
sabe?
Eu dou de ombros. — Eu sempre pensei que vocês dois seriam
fofos juntos.
Quentin desvia o olhar de nossa mesa para o bar lotado, um rubor
subindo em suas bochechas. — Fofo. — ele murmura.
Toby dá uma cotovelada nele, ainda olhando para mim. — Embora
agora tenhamos um novo problema.
— Você tem?
Quentin olha para mim, o rosto resignado com carinho. — Me
ofereceram um emprego hoje.
Minhas sobrancelhas se erguem. — O que? Sério?
— Sim. Aparentemente, ofereceram a Eleanor um cargo mais alto,
por assim dizer.
O cargo de Clive. Tem que ser. — Oh Deus, você está dizendo o que
eu acho que você está dizendo?
— Não estou dizendo nada, — é sua resposta fria — pois ainda
não tenho permissão.
— Mas você vê o que isso significa, certo? — Toby pergunta. —
Não somos apenas colegas de trabalho que estão namorando. Agora
estarei namorando meu chefe. Esse é um jogo totalmente diferente com
o RH.
Não consigo deixar de rir, e não há como evitar, apesar da minha
felicidade por eles. A ironia é demais. Toby se junta a nós, mesmo que
esteja rindo por um motivo diferente. — É como um filme ruim, não é?
O que eu faço?
— Você é formado em MBA. — comenta Quentin, e é a primeira
vez que o ouço dizer isso sem nenhum traço de desdém. — Você está em
alta demanda em todos os outros departamentos também.
— Mas então eu deixaria Freddie para trás — diz Toby, tocando
seu copo no meu. — Como ela sobreviveria sem minha orientação?
— Eu me atrapalharia. — eu digo, meu sorriso ficando mais largo.
Por mais feliz que esteja por eles, estou igualmente nervosa por falar
com Tristan novamente. Da próxima vez que o vir, terei que contar a ele
o que decidi.
O que eu disse a Eleanor um dia antes de partir para a Filadélfia.
Que embora tenha apreciado muito a oferta, comprometi-me a
permanecer na sede da Exciteur e a cumprir o cargo para o qual fui
contratada.
No segundo em que disse isso, e no momento em que vi a aceitação
relutante e o respeito nos olhos de Eleanor, me senti completamente à
vontade com minhas decisões. Feliz, mesmo. A Itália ainda estará lá em
alguns anos. Em décadas também. Mas o que estou fazendo agora parece
mais importante.
Tristan é mais importante.
Mas não sei se ele vai menosprezar minha ambição por causa
disso.
Meu telefone toca, vibrando na mesa entre nós. Dou um sorriso de
desculpas para Quentin e Toby e deslizo do banco.
Meu coração para no peito quando o conhecido identificador de
chamadas aparece.
Abro caminho entre as pessoas no bar enquanto atendo, ainda
com a roupa que usei no trabalho.
— Olá?
— Oi, Freddie. — Sua voz profunda é familiar em meu ouvido,
como se as últimas duas semanas de separação não tivessem acontecido.
— Eu gostaria muito de ver você.
Eu engulo. — Eu gostaria disso também. Você acabou de voltar do
Taiti?
— Sim, algumas horas atrás. Posso ir à bodega na sua rua, se
quiser.
Alguém grita ao meu lado em êxtase pós-trabalho e bebe, e eu levo
minha mão ao meu ouvido. — Desculpe, desculpe, estou indo para a
saída.
— Você está em um bar? Oh. Aquele que está perto do trabalho.
— Sim, mas vou embora em breve.
— Não precisa, já estou saindo. Encontro você aí.
— Tristan, eu...
Mas ele já desligou.
Olho para o telefone na minha mão, cegamente, me perguntando
se isso acabou de acontecer. Mas não há como negar o efeito que sua voz
e palavras tiveram em mim. A adrenalina inunda meu sistema e me lança
em ação.
Ele está vindo aqui.
Quando volto para a nossa mesa, pego o casaco pendurado nas
costas da minha cadeira. — Sinto muito, pessoal, de verdade, mas tenho
que ir.
— O que? Por que?
— Acabamos de chegar.
— Eu sei, — eu digo — e eu sinto muito. Mas teremos outras
noites. Parabéns de novo, Quentin.
Ele me dá um sorriso raro. — Obrigado.
— E não se preocupe, vou guardar para mim até que seja oficial.
— Obrigada. As duas coisas eu sei.
Toby pisca. — E não... oh meu Deus. O que ele está fazendo aqui?
Seus olhos estão fixos em um ponto em algum lugar acima do meu
ombro, e eu ainda estou com muito medo de me virar.
— Frederica. — diz ele, abafando os sons ao nosso redor. Minhas
mãos tremem enquanto amarro o cós do meu casaco. Quando me viro...
alí está ele, de terno e sobretudo azul-marinho, o cabelo grosso
salpicado de flocos de neve. Um bronzeado em sua pele.
Vê-lo é como voltar para casa, como se algo clicasse dentro de
mim, e sei que tomei a decisão certa de ficar em Nova Iorque.
— Você veio aqui. — eu digo.
— Eu vim. — ele confirma, olhando para além de mim para Toby
e Quentin. Ele dá um único aceno profissional na direção deles.
— Cavalheiros.
Um olhar por cima do meu ombro me diz que eles estão em estado
de choque total e absoluto.
— Eu preciso falar com a Sra. Bilson por um momento. — diz ele.
— Aproveitem o resto da sua noite. — Ele dá um passo para o lado e
aponta para a saída, o comprimento e a largura dele facilmente nos
dando espaço no bar lotado. Eu me pergunto quem mais aqui é do
escritório. Quem pode estar assistindo.
Mas não consigo me importar.
— Vejo vocês amanhã. — digo a Toby e Quentin.
— Hum, claro. Divirta-se?
Tristan segura a porta da frente aberta para mim e saímos na
calçada movimentada, o ar frio de Nova Iorque dá um conforto para
meus sentidos febris.
— Obrigado por me encontrar. — diz ele.
— Claro. Mas não esperava que você chegasse tão rápido.
— Eu já estava na área.
— Oh. — Eu respiro fundo. — É realmente perfeito, isso, porque
eu tenho que dizer...
Tristan balança a cabeça. — Deixe-me ir primeiro, por favor.
Preciso lhe dizer o que deveria ter dito semanas atrás, antes de você
aceitar o emprego na Itália. O que eu quis dizer.
Minha boca se fecha em minhas palavras. — Você queria?
— Fui um idiota.
— Você foi?
Um sorriso se espalha por suas feições, e combinado com o
bronzeado e o olhar em seus olhos, ele é de tirar o fôlego. Cada
centímetro do belo estranho que conheci na Gilded Room meses atrás.
— Freddie... Frederica. Eu quero você e jurei nunca parar de dizer o
quanto. Foda-se, Freddie, você sabe o quão fundo você rastejou dentro
de mim?
Um aceno de cabeça e suas palavras saem, a paixão brilhando em
seu olhar.
— Eu estava nas águas azuis cristalinas do Taiti com meu filho. Eu
estava determinado a não te impedir de forma alguma. Tentei ficar feliz
por você, genuinamente. Mas você estava naquela viagem junto comigo,
ao meu lado o tempo todo, um fantasma de você. Alguém que eu não
poderia alcançar e agarrar, não poderia compartilhar meus
pensamentos, não poderia dormir à noite pensando nele.
Minha garganta está seca, um deserto de emoção. — Tristan, eu
também quero você. Você sabe que eu quero.
— Eu sei, Freddie, e eu nunca vou tomar isso como garantido
novamente. Então vou te contar o que eu sentia que não podia antes, e
talvez seja egoísmo da minha parte, e se for assim, você está livre para
me odiar por isso. Mas eu não quero que você vá para Milão. Quero que
fique aqui em Nova Iorque comigo.
Abro a boca para responder, mas ele balança a cabeça. — Mas, —
ele intervém — eu sei que você tem seus sonhos e objetivos, e nunca vou
atrapalhar isso. Então, se você quiser, vá para Milão. Estarei lá sempre
que puder. Quantas vezes você me permitir.
Balanço a cabeça para ele, mas estou sorrindo. — Tristan, eu
recusei o trabalho.
— Você fez o quê?
— Eu recusei. — eu digo. Acima de nós, a neve gira em padrões
indecifráveis sob a luz da rua. — Acabei de chegar a Nova Iorque e quero
ficar aqui. Quero trabalhar na sede e quero morar um pouco mais no
meu minúsculo apartamento.
Tristan me agarra pela cintura. — Você está falando sério.
— Eu estou, oh, eu definitivamente estou.
Ele ri, um som profundo e incrédulo, e então inclina o rosto para o
meu. Talvez eu devesse me importar. Pode ter gente do trabalho
passando. Mas não posso, e não quero, porque a sensação de seus lábios
contra os meus é uma promessa e um bálsamo após duas semanas de
incerteza. Ele me beija como se fosse o primeiro de muitos, muitos,
muitos.
— Eu já liguei para meus co-proprietários. — ele murmura
enquanto levanta a cabeça, o polegar roçando meu queixo.
— Ok. Hum, por quê?
— Porque irei renunciar ao cargo de CEO da Exciteur.
— Você está fazendo o quê?
— Eu não vou passar os próximos dez meses do seu estágio me
escondendo, Freddie. — Sua mão desliza pelo meu braço para segurar
minha mão. Dedos longos se entrelaçam nos meus. — Quero te mostrar
a cidade. Levá-la aos meus lugares favoritos, jantar com você em
restaurantes, domingos no parque. Tudo isso.
Agarro as lapelas de seu casaco. — Mas e a Exciteur?
— Um dos meus parceiros de negócios assumirá o cargo de CEO.
— Um traço de confiança maliciosa aparece em seu sorriso. — Ainda
poderei influenciar as decisões nos bastidores.
— Claro que vai. — eu provoco, mas não há nenhuma emoção por
trás disso. Nada pode abafar a felicidade que estoura dentro de mim
como uma represa quebrada. — O que você fará em vez disso?
— Talvez, — ele murmura, abaixando a cabeça novamente — eu
vou tirar uma folga.
— Ah, você vai?
— Mhm. E se isso não funcionar, há uma editora que estou
querendo comprar.
Rindo, eu fico na ponta dos pés e o beijo. Ele pode negar sua fome
o quanto quiser, mas é tão ambicioso quanto eu, e isso não mudou com
a paternidade. — Vamos sair desse frio. — digo a ele quando ele
finalmente levanta a cabeça novamente, nós dois respirando com
dificuldade. — Tenho um aquecedor novinho em folha no meu
apartamento.
Ele me deixa puxá-lo pela rua, sorrindo. — Ohh, você tem?
— Sim, e não acho que você tenha visto.
— É melhor eu subir, então. — diz ele. — Para inspecionar.
QUATRO MESES DEPOIS

A maldita máscara irrita minha pele, lembrando-me porque


raramente a uso. Em vez disso, coloco-a no bolso interno do paletó. O
incenso paira espesso no ar, o cheiro de frutas cítricas e camomila
familiar, mas não desagradável. Olho para os corpos se contorcendo no
depósito que a Gilded Room escolheu para esta ocasião.
Mulheres de lingerie servem bebidas em taças, enquanto um
homem as segue com nada além de um chapéu de policial e shorts. Vejo
um dos principais banqueiros da cidade convidar uma modelo para
sentar em seu colo. Ela concorda, sorrindo com falsa modéstia.
Meu olhar continua, além da performance, até encontrar a única
mulher pela qual estou aqui.
Ela está encostada na parede oposta. O tecido sedoso de seu
vestido vermelho se agarra a cada curva requintada, envolvendo seu
peito de uma forma que convida um homem a se afogar entre aqueles
seios. Cabelos escuros e grossos pendem em ondas soltas por seus
braços e ombros nus. Eu sei como é a sensação na minha pele enquanto
ela me monta, e como deve estar fazendo cócegas na dela agora mesmo.
A máscara que ela usa esconde a maior parte do rosto, mas eu
reconheceria Frederica em qualquer lugar.
Chamo um garçom e substituo meu copo de uísque vazio por
outro. Vir aqui esta noite tinha sido sua sugestão. Já se passaram seis
meses desde que nos conhecemos e, quando propus um jantar para
comemorar a ocasião, ela sugeriu isso.
Eu estava chocado. Intrigado. E o que a senhora quer, ela
consegue.
Uma voz sensual à minha direita me força a quebrar o contato
visual com Freddie. Uma mulher está com a mão no meu braço, as unhas
cravadas no tecido do meu terno.
— Olá estranho. Faz muito tempo que não vejo você por aqui.
Ela é vagamente familiar, com olhos azuis gelados e um queixo
pontudo. — Já faz um tempo. — eu concordo.
Os velhos tempos em que eu frequentava algumas dessas festas
por ano parecem pertencer a uma vida diferente. Aquele em que as
interações com as mulheres eram curtas, diretas, sempre divertidas,
mas nunca sérias.
Uma maneira de manter os relacionamentos à distância, até que
Freddie se recusou a ficar longe. Até que eu não podia deixá-la ir.
— Eu vou para um dos quartos em breve. — a mulher fala
lentamente, sua mão avançando para envolver-se em torno da minha
mão. — Se você quiser se juntar…
Eu a solto com um sorriso plácido. — Desculpe, mas eu fui
apanhado para esta noite.
Seus olhos examinam a área. — E ela deixou você aqui sozinho?
— Por enquanto, sim.
— Uma pena. — olhos azul-gelo dizem com um encolher de
ombros. — É melhor ela cair em si logo.
Enquanto ela se afasta, meu olhar volta para onde Freddie estava.
Mas ela se foi. Tomo um gole do meu uísque e aprecio a familiar
queimação na minha garganta, amplificando o soco da luxúria no meu
estômago. Ela está aqui, em algum lugar, sendo admirada por todos os
homens.
Mas ela vai me escolher.
Sua força, ambição e intelecto feroz ainda não pararam de me
impressionar. Com Victor no comando do Exciteur, o talentoso filho da
puta, ainda sou informado por ele e por Freddie. Então, sei que ela
recebeu a oferta do antigo emprego de Quentin em Estratégia, um cargo
que garantiria um emprego em tempo integral após o término do
estágio.
Eu me inclino contra a parede e examino a multidão em busca de
uma centelha de seda vermelha e cabelo escuro. Algumas das mulheres
aqui estão de lingerie, mas mesmo totalmente nuas não teriam nada no
fascínio de Freddie.
Sua voz me alcança primeiro. — Olá, bonitão.
Eu me viro para encontrá-la encostada na parede ao meu lado, os
braços dobrados sob os seios. O movimento me dá uma visão ainda mais
profunda de seu decote. — Olá. — eu digo.
Ela reajusta sua máscara, um lampejo de territorialismo em seus
olhos. — Já falaram com você.
A vontade de sorrir em triunfo fica mais forte, mas jogo junto,
cruzando os braços sobre o peito. — Sim, já falaram.
— Ela parecia... interessante.
— Eu disse a ela que já estava com alguém.
A compostura de Freddie quebra e seus lábios se abrem no sorriso
que eu mais amo. Amplo e desenfreado e um pouco feroz. Uma boca
gentil, mas nunca fraca. — Estou feliz em ouvir isso. — diz ela.
Eu pego a mão dela na minha, os dedos roçando a pulseira de
diamantes em seu pulso. Fora um presente de aniversário de 27 anos.
Ela não a tirou desde então. — Você viu como os homens a
observaram aqui esta noite?
— Não — diz ela.
Meu polegar suaviza o pulsar rápido de seu pulso. — Eu vi. Já vi
todos olharem para você, para como esse vestido se ajusta ao seu corpo,
para o seu cabelo. Todos eles esperavam que fosse aquele com quem
você foi e falou.
— No entanto, aqui estou. — ela murmura, mudando a mão na
minha. — Falando com você.
Eu inclino minha cabeça. — Olha você aqui. E você quer saber de
uma coisa?
— O que?
Eu me inclino para frente, roçando sua orelha com meus lábios. —
Eu nunca vou me cansar de ser escolhido por você.
Um arrepio passa por sua pele, e nunca vai parar de me excitar,
vendo como posso afetá-la, mesmo depois desses meses de intimidade
cada vez maior. Freddie desliza os dedos entre os botões da minha
camisa. — Obrigada por concordar em vir aqui comigo esta noite.
— Qualquer coisa que você quiser. — eu digo, movendo meus
lábios até seu pescoço. — Mas você se importaria de me dizer por quê?
— Por que não? — ela pergunta. — É divertido.
— É de fato.
Seus dedos apertam minha camisa. — Você uma vez me disse que
não precisa mais disso, não enquanto estivermos juntos. Isso ainda é
verdade?
— Inequivocamente. — eu digo a ela. Através do tecido fino de
seu vestido de seda, minha mão traça o contorno de seu quadril. Eu amo
essas alças.
— Bom. Então esta é a nossa última vez aqui.
Eu sorrio contra sua pele. — Não sentirei falta disso.
— Estamos dizendo adeus a ela esta noite. — ela murmura. — E
eu estou reivindicando você.
Eu inclino sua cabeça para trás para me dar melhor acesso às suas
clavículas. Eu não vou mais longe do que isso, não com todas essas
pessoas olhando... mas não há como negar que uma parte de mim anseia
com a queda de seu peito tão perto do meu rosto. Meus dentes roçam a
fina tira da alça.
— Reivindicando-me? — Eu pergunto.
Freddie dá um único aceno. — Sim. A última coisa que esses
homens e mulheres vão ver esta noite sou eu, levando Tristan Conway
para fora da Gilded Room.
Eu sorrio contra a pele dela, essa mulher feroz e corajosa que foi a
uma festa de sexo para a qual não foi convidada, que seduziu um homem
que se considerava inseduzível e que enfrentou seu chefe quando ela
acidentalmente enviou um e-mail para ele com um insulto. — Você
percorreu um longo caminho, Puritana.
Sua mão desliza para cima para segurar meu cabelo. Um puxão
leve e inconfundível.
Mas meu sorriso não vacila. — Você não odeia mais esse apelido.
— eu desafio.
— Não — ela admite, a mão amolecendo. — Eu não odeio.
— Diga-me quando você quer me levar para fora daqui, e eu vou
segui-la.
Seu sorriso se torna torto quando ela puxa minha cabeça para um
beijo. Ele rapidamente fica aquecido com o corpo dela sob minhas mãos.
Um puxão e ela está pressionada contra mim, aqueles seios lindos um
peso delicioso no meu peito.
— Agora. — ela murmura. Sua mão desliza para baixo para
segurar a minha enquanto ela se vira, levando-me com determinação
confiante através do armazém povoado.
E as pessoas nos observam.
Como eles não poderiam? Ela, linda de morrer e de salto altíssimo,
uma mulher com uma missão. E eu, seguindo-a com a mão ligada à dela.
Minha conquista está se exibindo e, no entanto, não sinto nada além de
orgulho.
Deixe-os vê-la me tirar do mercado para sempre.
Pegamos nossos telefones com o atendente na porta e deixamos a
festa para trás. Freddie entra no elevador à minha frente sem hesitar. Eu
aperto a mão dela na minha e ela olha para cima, sorrindo. Ela
raramente olha mais para o monitor contando os andares.
Ela está desafiando seus limites o tempo todo, agora. Até
estivemos na minha varanda algumas vezes.
— O que? — ela me pergunta, mas ela está sorrindo.
Eu a pego em meus braços e inclino sua cabeça para trás. — Você
se saiu muito bem lá.
Ela lambe o lábio inferior. Um convite claro, e meu corpo se eleva
a ele. As coisas que farei com ela quando voltarmos ao apartamento
dela... Aprendi a trabalhar com as restrições de tamanho.
Sua boca se suaviza em um sorriso encantado. — Você está me
olhando assim de novo.
— Assim como? — Eu toco seus lábios com os meus uma vez, duas
vezes. — Como se eu te amasse, Coração?
Sua respiração falha. — Sim. Assim.
— Bem — murmuro, beijando o canto de seus lábios. — Talvez
seja porque eu amo.
A sensual sedutora diante de mim se transforma em minha
namorada sorridente. — Eu também te amo — ela murmura, com os
braços em volta do meu pescoço. — Muito. Eu não sabia quando te
contar.
— Bem, sempre há um momento ruim? — Eu a beijo novamente.
Esta deve ser a viagem de elevador mais longa da história, mas não estou
reclamando. Ela ri em meus braços, um sol explodindo, e eu sou o único
aqui para absorver os raios. — A primeira vez que você me beijou depois
da primeira noite foi no meu elevador, quando parou. Você se lembra?
Agora, a primeira vez que você me diz que me ama é em um elevador.
Você está tentando se livrar do meu medo por reforço positivo?
— Talvez. Está funcionando?
— Pode ser. — Ela pressiona seus lábios nos meus novamente,
ainda meio sorridente. — Há apenas uma coisa que nos resta fazer em
um.
Minhas sobrancelhas se erguem. — Você está dizendo o que eu
acho que você está?
As portas do elevador se abrem para revelar o saguão iluminado
por velas do antigo armazém do Brooklyn. Freddie ri e me puxa para a
saída. — Você tem um elevador privado — diz ela.
— Você está certa, eu tenho. É quase do mesmo tamanho do seu
apartamento.
— Seja legal. — ela me repreende, os olhos brilhando. — Há outra
coisa que acho que devemos fazer também.
Abro a porta da frente para ela. — Diga-me.
— Bem, lembra da inquilina anterior do meu apartamento?
Rebecca Hartford?
— Aquela cujo convite para a Gilded Room você roubou? Eu
lembro.
— Eu não roubei — Freddie protesta.
Mordo a língua para não sorrir. — Claro que não, Puritana.
— Bem, eu estava pensando que deveríamos mandar flores para
ela. — ela diz, sua mão apertando a minha. — Devemos muito a ela, não
é?
Eu sorrio de volta para ela. — Devemos tudo a ela.
SEIS ANOS DEPOIS

O vento forte chicoteia meu cabelo e arranca mechas de minha


trança apertada. O ar do Novo México é seco e quente, o cintilante Rio
Grande é uma fina serpente d'água a mais de 150 metros abaixo de mim.
É o local exato de onde Tristan e sua irmã pularam de bungee-jumping
há mais de vinte anos.
Tristan e Joshua planejaram nossa viagem para cá desde que ele
tinha dez anos, mas levou tempo, porque você tinha que ter quatorze
anos para poder pular. Tristan insistiu em esperar mais um ano.
O suor escorre pela minha espinha e dou um puxão hesitante no
arnês.
— Vai aguentar. — diz Tristan ao meu lado. Sua voz calma e
familiar me estabiliza. Claro que vai aguentar.
Inspire.
Expire.
Dois operadores de bungee jump soltam o arnês de Tristan com
mãos rápidas e eu agarro o corrimão com força. — E você tem certeza
que gostou?
Seu sorriso é largo sob o cabelo despenteado pelo vento, belas
mechas grisalhas nas têmporas. — Uma corrida como nenhuma outra.
— ele me garante.
Joshua me dá um sorriso quase idêntico. — Foi incrível, Freddie.
Você não vai se arrepender.
Espio por cima da ponte até a queda de quinhentos pés. Já tinha
sido difícil ver meu marido e meu enteado pularem, ambos gritando a
plenos pulmões. — Você foi tão corajoso. — eu digo. — Vocês dois.
Joshua passa a mão pelos cachos e sorri para mim. Para baixo,
porque agora ele é mais alto que eu, e ainda não me acostumei. — Não
foi tão assustador quanto eu esperava. Não quando eu realmente pulei.
Aos quinze anos, ele ainda não está na idade em que é
terrivelmente embaraçoso estar por perto... mas está chegando perto.
Cada viagem que ainda fazemos, onde ele está entusiasmado e investido,
é um tesouro. Tristan passa o braço pelos ombros do filho. Mais alguns
anos e eles terão a mesma altura.
— Sua mãe teria ficado tão orgulhosa de você. — ele diz a Joshua.
— Ou com raiva de mim, por deixar você pular.
— Talvez os dois?
— Muito provavelmente. — ele concorda, puxando Joshua para
mais perto. — De qualquer forma, estou orgulhoso de você, garoto.
Joshua ri. — Também estou orgulhoso de você, pai. Pensei que
você fosse se acovardar no último minuto.
— Quem, eu?
— Sim.
— Eu nunca. — diz Tristan grandiosamente, mas estamos todos
sorrindo. A adrenalina do dia nos levou ao limite em mais de uma
maneira, aqui na ponte para homenagear Jenny e superar medos.
Tristan dá um aperto final nos ombros de Joshua. — Você quer ir
esperar pela vovó e Julie?
Ele balança a cabeça, lançando-me um último sorriso. — Você
consegue.
— Obrigada querido.
Tristan e eu o observamos caminhar cerca de seis metros de volta
para onde Maud está de pé, nossa filha de dois anos aconchegado nos
seus braços. Julie nos observa com a atenção extasiada que só uma
criança maravilhada possui. Nós dois acenamos para ela, e ela acena de
volta, o cabelo escuro balançando ao vento, assim como o meu.
Mamãe vai pular também? ela perguntou antes. Foi fácil, então,
dar-lhe uma afirmativa confiante.
Tristan me vira para longe de nossa família, com as mãos firmes e
pesadas em meus ombros. — Frederica. — ele murmura.
— Tristan. — murmuro de volta.
— Você não tem que fazer isso, você sabe.
— Eu sei, mas eu quero.
Ele não levanta uma sobrancelha questionadora, não comenta.
Apenas me estabiliza com o olhar familiar que promete verdade,
bondade e lealdade. — Você não luta mais com elevadores. Você pode
sentar em uma varanda sem se sentir ansiosa, e até fizemos tirolesa na
Costa Rica. Eu diria que você já venceu esse medo.
Eu balanço minha cabeça. — Esta é a etapa final.
— Tudo bem. Mas se você está se perguntando… você já é a
pessoa mais corajosa que conheço. De longe, Freddie. Você ocupou esse
lugar quando vi você dar à luz a Jules. Não há mais nada a provar,
Coração. E ninguém vai pensar mal de você se você soltar este arnês.
— Você deveria me convencer a fazer isso, não a não fazer.
Seu sorriso pisca. — Tudo bem. Desculpe.
Fecho os olhos e respiro fundo. — Vai acabar tão rápido.
— Realmente rápido. — diz ele. — Num piscar de olhos, na
verdade.
— E depois disso sempre serei a pessoa que pulou de bungee
jump. Posso dizer isso pelo resto da minha vida.
— Você com certeza pode.
Atrás dos meus olhos fechados, eu evoco a foto que estava
pendurada no apartamento de Tristan. Ela está pendurado em nossa
nova casa agora na parede da galeria em constante expansão. Jenny
amarrada em um arnês, sorrindo para a câmera, parada nesta mesma
ponte. Estou fazendo este salto por mim. Por mim, por meu marido, por
meus filhos e pelos pais do meu filho, que nunca tive a chance de
conhecer.
— É cem por cento seguro. — diz Tristan. — Você sabe que eu não
teria deixado Joshua ou você pular aqui se não fosse.
Sim, eu sei disso. Ele fez uma extensa pesquisa antes de virmos
para cá, e alugamos a ponte e a empresa de bungee jumping para o dia
inteiro. Tudo foi verificado quatro vezes.
— Você não será mais puritana se fizer isso.
— Me dê outro motivo?
Seu sorriso se torna torto. — Bem, esta pode ser sua última chance
de fazer algo assim por um tempo, Coração.
— Isso mesmo. — Eu concordo. — Quero começar a tentar
novamente logo depois disso.
— Nós vamos. — ele promete. Nós dois queremos dar a Julie e
Joshua outro irmão, e assim que começarmos, isso estará fora dos
limites. Se tem uma coisa que grávida não deve fazer é bungee jump.
— Ok. — eu digo a ele.
— Ok?
— Estou pronta. Eu estou fazendo isto.
Ele inclina minha cabeça para trás e pressiona um beijo confiante
e determinado em meus lábios. — Você pode fazer absolutamente
qualquer coisa, Freddie.
Ele dá um passo para trás e acena para os profissionais. Ben e
Allan entram em ação imediatamente. Amarrando-me, apertando os
mosquetões e esticando as cordas. Tristan é o último a puxar meus freios
e contrapesos.
— Vai acabar tão rápido. — diz ele.
— Conquistando meu medo. — murmuro.
Damos um ao outro um único aceno de determinação, porque
estamos nisso juntos, mesmo que seja a minha vez de pular agora. Desde
que nos casamos, somos nós dois, uma equipe lidando com a vida.
Trabalho. Joshua. Gravidez. Aniversário. Julie. A cada passo do caminho
temos sido nós, e apesar da falta de sono e do estresse de ser madrasta,
nos amamos mais agora do que naquele primeiro ano. Com a pessoa
certa, o amor só se aprofunda com o tempo.
Portanto, é com confiança que ando em direção à beira da ponte,
sabendo que ele me protege. As pontas dos meus dedos dos pés
ultrapassam a borda da ponte. O Rio Grande acena como uma fita de azul
claro no fundo, mais longe do que posso alcançar.
— Quando você estiver pronta! — Allan fala.
Penso em Joshua e Tristan, corajosos o suficiente para me deixar
entrar em suas vidas. De Maud, que perdeu uma filha, mas lutou para
voltar a ter uma visão nova e ensolarada do mundo.
Penso em meu avô, o homem mais trabalhador que conheço, que
assumiu riscos que eu não poderia imaginar. O que é pular de uma ponte
comparado a deixar sua terra natal para trás?
E penso em mim, ousando dar aquele primeiro passo com Tristan
tantos anos atrás, dois estranhos em uma sala lotada. O que é o medo de
altura comparado ao medo do desconhecido? E já conquistei isso com
minha família ao meu lado. Por mais assustador que seja pular, eles
estarão bem aqui quando eu voltar.
Minha mão desliza do corrimão quando eu o solto, saindo para o
desconhecido, com um sorriso nos lábios.
Um homem só pode lidar com uma certa quantidade de coisas.
Um filho adolescente que decidiu que precisa de vinte minutos no
chuveiro todas as manhãs e mal chega à escola a tempo. Uma negociação
comercial que para de maneira espetacular quando o CEO bate a porta
ao sair. Ah, e quando volto ao escritório, o servidor de e-mail
sobrecarregado me bloqueou do sistema.
É quando minha esposa me envia um texto com as duas palavras
que farão o sangue de todo homem disparar.
Estou ovulando.
As palavras inocentes fazem algo decididamente não inocente ao
meu corpo. Nunca pensei em meu escritório na Acture Capital como um
lugar sexual antes, mas as imagens de Freddie agora dançam pelo
espaço. Curvada sobre minha mesa. Com a saia franzida na cintura no
sofá.
Uma ereção distinta acompanha seu texto, escondida sob o
carvalho de minha escrivaninha.
Sabíamos que aconteceria esta semana. Freddie havia adivinhado
amanhã, mas deve ter chegado cedo. Seu ciclo não é muito regular, como
aprendi nos últimos dois meses. O que significa que estou de plantão
sempre que ela estiver pronta. De todos os trabalhos que tive gosto mais
do meu papel de garanhão.
Escrevo uma resposta rápida.
EU
Você está em casa?
FREDDIE
Saindo da Exciteur agora. Trabalhando em casa o
resto do dia.
EU
Ótimo, mas você não vai trabalhar muito. Eu
estarei lá em breve.

Eu coloco meu telefone no bolso e desligo meu laptop. A maldita


coisa ainda não me mostra meus e-mails, e se não está fazendo sua parte,
por que eu deveria? Não quando minha esposa precisa de mim. Temos
pelo menos duas horas até que Joshua volte da escola e do treino de
natação.
As duas reuniões que marquei para a tarde são secundárias. Nada
que eu não possa empurrar.
Digo isso ao meu assistente.
Ele ergue os olhos da tela. — Reprogramar as duas, Sr. Conway?
— Sim, para amanhã. Não, na verdade, empurre-as para a
próxima semana. Assim é mais seguro.
Ele levanta uma sobrancelha, mas rabisca minhas instruções. —
Vou fazer. Hum, antes de você ir, o Sr. St Clair e sua esposa deixaram uma
mensagem para você. Eles passaram pelo escritório quando você saiu
para almoçar.
— Oh? — Estou mandando uma mensagem para Ryan para trazer
o carro enquanto sigo em direção aos elevadores. O tempo é essencial
aqui. — Diga sim para o que eles quiserem.
— Tem certeza?
Seu tom me faz desligar o telefone. — O que exatamente eles
queriam?
— Convidar você e a Sra. Conway para um jantar no próximo
sábado.
Eu gemo. — Cristo, quantos jantares St. Clair está dando? Esse é o
segundo convite em um mês!
Tom dá de ombros hesitante. — Eu não tenho certeza.
— Claro que não. Certo. Aliás, não diga sim a isso. Vou deixar você
saber amanhã depois de falar com minha esposa.
— Sim, senhor.
Maldito Victor e todos os seus compromissos sociais ultimamente.
O bastardo frio ainda é gelo até o âmago, mas algo mudou depois de
Cecilia.
Não que eu não consiga entender isso.
Eu nunca tinha sido um idiota como Victor, mas havia arestas.
Freddie havia lixado a maioria delas. Meu polegar encontra a borda dura
do ouro ao redor do meu dedo anelar.
Casar com ela foi uma das melhores decisões que já fiz, empatada
apenas com o dia em que assinei os papéis de adoção de Joshua. Minha
linda, corajosa e esperta esposa. Que está ovulando. A necessidade de
estar com ela parece lava derretida sob minha pele, uma urgência que
nunca esperei sentir quando decidimos tentar ter um bebê.
Acontece que querer engravidar sua esposa é um afrodisíaco
extremamente eficiente, e não é como se eu precisasse de um.
Meu telefone toca quando chego ao saguão. Eu atendo sem
diminuir a velocidade. — Conway.
— Sim, olá, aqui é a Sra. Pearl, da St. John's Prep — diz uma voz
culta do outro lado da linha. — Sou uma das professoras de Joshua.
— Sim, oi.
— Desculpe incomodá-lo, mas temo que você ou sua esposa
tenham que buscar seu filho.
— Está tudo bem?
— Com Joshua, sim. Mas, infelizmente, tivemos um alarme de
incêndio com defeito que está tocando sem parar nos últimos quarenta
e cinco minutos e nossos técnicos parecem não conseguir resolvê-lo. —
Um suspiro. — O diretor decidiu que todas as crianças que podem ir
para casa devem fazê-lo. É mais do que um pouco perturbador, como
tenho certeza que você pode imaginar.
Eu fecho meus olhos. Respire fundo.
— Senhor?
— Estarei aí o mais rápido possível.
— Obrigada. — diz ela, a voz aliviada. — Agora vou chamar o
resto da turma...
— Boa sorte. — Eu desligo. Abro a porta do carro, aceno com a
cabeça para Ryan e disco o próximo número.
Freddie atende no segundo toque. — Estou indo para casa agora.
Você já está chegando?
— Eu não. Os planos mudaram.
— Oh não. O que aconteceu?
— St. O John's fechou hoje. Estou indo buscar Joshua.
— Oh, droga. Por que eles tiveram que fechar?
— A porra de um estúpido alarme de incêndio. É como se eles
soubessem que duas pessoas estavam planejando fazer isso. — Afasto
meu celular da minha boca e aceno para Ryan. — Estamos indo para St.
John's.
Ele acena com a cabeça e coloca o carro em movimento.
— Um alarme de incêndio — Freddie repete, rindo um pouco. Ela
está levando isso longe demais. — Bem, ainda temos esta noite, quando
ele for para a cama.
— Sim, mas isso é daqui a algumas horas. Estamos trabalhando
contra o relógio aqui.
Freddie ri de novo, e o som dispara puro desejo pelo meu corpo.
Eu me movo no carro.
— Eu amo como você é dedicado a isso, Tristan. — diz ela.
— Para fazer amor com minha esposa? Você é puritana. Eu sou
dedicado. Dedicado, realmente. — Eu levanto meu olhar para a parte de
trás da cabeça de Ryan e levanto minha voz. — Você não ouviu isso.
— Claro que não. — ele responde.
— Oh, não intimide Ryan. — Freddie diz. — Ele já ouviu todo tipo
de coisa, sem falar que já viu. Lembra quando desmaiei no banco da
frente?
— Oh, sim eu faço.
— Não foi tão sério.
— Claro. Ryan me liga e diz que minha esposa está na sala de
emergência, mas sim. Não tão sério.
— Muitas pessoas têm um apêndice rompido. — O som de
farfalhar ao fundo e, em seguida, o clique revelador de nossa máquina
de café funcionando. — Volte para casa quando puder. Estarei aqui
quando vocês dois chegarem.
— Esteja pronta para mim, Coração.
— Já tirei a calcinha — diz ela. — Estou nua por baixo do meu
vestido.
Eu me inclino para trás contra o encosto de cabeça. — Foda-se,
você é demais.
Outra risada. — Vejo você em breve, bonitão.
Eu mantenho minha cabeça inclinada para trás pelo resto da
viagem e redireciono meus impulsos primários para longe da esposa e
para meu filho. Meu filho, que vai ficar chateado por ter perdido o treino
de natação e o último período escolar.
Percebo o quanto estou errado assim que chego a St. John's.
Joshua está conversando com alguns de seus amigos. Ele olha por
cima do ombro para o carro quando paramos. Volta-se para os amigos e
continua falando. Rindo. Gesticulando com as mãos.
Meu joelho quica no carro. Tentando te dar um irmão aqui, garoto.
Se ao menos você se apressasse...
Ele eventualmente abre a porta do passageiro e entra. Se acomoda
em seu assento e estica as pernas que ficaram mais longas em um
período de tempo suspeitosamente curto.
— Ei — diz ele.
— Oi, garoto. — eu digo. — Seus tímpanos estão danificados?
— Nah, eu estava no laboratório de ciências e não estava tão ruim
lá.
— Coisas como esta realmente fazem você pensar. — eu digo. —
Os sistemas de alarme de incêndio devem funcionar. É muito importante
que o façam. E por que o técnico não conseguiu consertar? Qual é o
treinamento dele, afinal?
Joshua dá de ombros. — Apenas deu defeito, pai.
— Ok, certo. — Eu balanço minha cabeça. — Apontando, não
deveria.
— Bem, às vezes acontecem coisas que não deveriam acontecer.
— diz meu filho, como se ele próprio fosse o poço da sabedoria, e olha
pela janela.
— Desculpe por você ter perdido o treino de natação, no entanto.
Ele apenas dá de ombros. Eu volto para o telefone, respondendo a
alguns e-mails, e ignoro o silêncio meio taciturno. Eles se tornaram mais
comuns à medida que ele envelheceu, mas nunca duram.
Freddie e eu temíamos a adolescência, mas até agora está tudo
bem. Não o perdemos para o lado negro.
— Você tem dever de casa? — Eu pergunto quando chegamos em
nossa rua.
— Alguns. Não muito. É uma coisa fácil.
— Tudo é fácil para você, Einstein.
Ele bufa. — Certo. Eu estava pensando, pai. Tudo bem se eu for
para a casa de David fazer meu dever de casa?
Sei que é um código supersecreto para jogar videogame na casa de
David. Ele mora duas ruas adiante e estuda na escola de Joshua. Ele está
ultrapassando os limites aqui. Fazer o dever de casa depois de chegar da
escola é uma regra rígida em nossa casa.
Mas minha esposa está ovulando.
— David também foi mandado para casa?
Joshua assente. — Sim.
— Tudo bem então. Mas não se esqueça de me mandar uma
mensagem se decidir jantar na casa deles. E você sabe quando precisa
estar em casa.
— Sim, sim, eu sei.
Eu sorrio para a parte de trás de sua cabeça, agora voltada para as
casas por onde passamos. Um garoto tão bom. Mesmo que haja
momentos em que eu suspeite que ele goste mais da minha esposa do
que de mim, não posso reclamar. Eu também.
O carro desacelera e para em frente à nossa casa. — Obrigado,
Ryan! — Joshua fala. Ele sai antes que nosso motorista tenha tempo de
responder.
— Obrigado. — eu ecoo.
Ryan acena no banco da frente. Atira-me um olhar divertido pelo
espelho retrovisor que me permite saber que ele se lembra do que eu
disse a Freddie antes. — Boa sorte, senhor.
Eu sorrio de volta. — Eu agradeço.
Ele dirige pela rua tranquila até nosso estacionamento, e eu subo
os degraus até nossa casa. Bem, casas, para ser exato.
Pensei que desistir do apartamento com vista para o Central Park
seria a coisa mais difícil que já fiz. É onde eu morava quando Joshua
entrou pela primeira vez na minha vida e onde ele guardava suas
primeiras lembranças. Fizemos daquele lugar um lar.
Mas não foi nada difícil.
Não, quando Freddie e eu descemos esta rua tranquila e
arborizada de casas geminadas a um quarteirão de distância, vender o
apartamento passou direto para o topo das minhas prioridades. Assim
que encontramos uma casa para comprar e reformar.
Nós encontramos duas. Nós as convertemos em uma com espaço
suficiente para muitos convidados.
Sem mencionar o residente favorito de Joshua.
Ele está ocupado cumprimentando Garcia quando me junto a ele
no corredor. A gata malhada abre caminho entre as pernas dele, a cabeça
erguida em adoração.
— Eu tenho que fazer um lanche. — ele diz a ela. Levanta o gato
miando e desaparece em direção à cozinha.
Quanto a mim... Vou caçar para minha própria refeição.
Encontro minha esposa em seu escritório doméstico no segundo
andar. Sentada atrás de um computador, cabelo escuro preso em um
rabo de cavalo e dedos voando pelo teclado.
Eu me inclino contra o batente da porta. — Muito ocupada para
mim?
Ela olha para cima e sorri, a alegria é humilde, mesmo depois
desses anos juntos. — Você está em casa!
— Claro que sim.
Ela empurra a cadeira para trás e se levanta. Um vestido justo
colado em seu corpo, e meu sangue sobe, sabendo que ela não está
usando calcinha por baixo.
Tinha tirado para se preparar para mim.
— Joshua está lá embaixo?
— Sim. Ele está indo para a casa de David em breve.
— Ah. — ela diz. Fecha a distância entre nós e me deixa tomá-la
em meus braços. — Sua ideia?
— Não, dele. — murmuro contra seus lábios. Beijo-a uma vez.
Duas vezes. Muito tentado a levantar o vestido aqui e agora.
— Quão conveniente.
— Muito.
Ela morde meu lábio inferior e sai do meu alcance. — Eu vou dizer
olá.
— Mas acabei de chegar em casa.
— E você vai ter que esperar. — ela diz, mas ela está sorrindo.
Passa a mão pelo corrimão enquanto desce as escadas. Eu a sigo,
notando as fotos em preto e branco emolduradas que cobrem as paredes
caiadas da escada. Elas se multiplicaram ao longo dos anos e das viagens.
Não demorará muito até que tenhamos que encontrar um novo local
para as futuras adições.
A voz de Joshua vem da cozinha. — Ei.
— Oi, querido. — diz Freddie. — Eu ouvi sobre o alarme de
incêndio.
— Sim. Sabe, um garoto da minha classe disse que alguém fez isso
de propósito.
— Ah, para sair da escola? Talvez. — Freddie diz. — Embora deva
ser muito difícil de fazer?
— É um mecanismo simples. — responde Joshua. Eu me junto a
eles na cozinha e me inclino contra a ilha ao lado de Freddie, observando
meu filho limpar nosso armário de lanches. Ele está sempre com fome
ultimamente, com surtos de crescimento passando como tempestades.
— David não tem lanches? — Eu noto.
— Sim, mas ele não tem os melhores, então eu disse a ele que
levaria alguns. — responde Joshua. Abre a mochila e os empurra para
dentro.
— Me mande uma mensagem quando chegar lá.
— Pai — ele reclama — ele mora a cinco minutos daqui. Não,
quatro.
— Eu sei. — Eu digo. — Por que você acha que tem permissão
para ir lá em primeiro lugar?
Ele revira os olhos para mim e levanta Garcia do balcão da cozinha.
Aquela gata adora estar em lugares que ela sabe que não deveria. —
Tchau — diz ele.
— Você está com o carregador do seu celular? — Freddie o
lembra.
— Sim.
— Bom. — Ela o para no caminho e dá um beijo em seu cabelo. —
Divirta-se querido e diga olá aos pais de David por nós.
— Sim, ok. — Ele bate na minha palma com a dele, embora seu
olhar deixe claro que high fives não são mais legais. Desaparece pela
porta da frente com um até logo murmurado para a gata dele.
A casa está silenciosa.
Eu olho para Freddie, e ela olha para mim, um sorriso se
espalhando em seu rosto. Eu sinto isso até os meus ossos.
— Então, Sra. Conway. — eu digo. Encurtando a distância entre
nós.
— Sim, Sr. Conway?
— Ouvi dizer que meus serviços foram solicitados.
Ela envolve as mãos em volta do meu pescoço, os olhos brilhando.
— Eles foram. Se não for pedir muito…
— Oh, acho que vou abrir uma exceção para você, senhora. — Eu
inclino minha cabeça e a beijo profundamente, extraindo seu calor e
paixão. O meu já está queimando sob minha pele.
Passo a mão pela lateral de seu corpo, encontrando a curva de sua
cintura e quadril. Alisando a forma firme de sua bunda e descendo até a
bainha do vestido.
— Você realmente? — Eu pergunto.
Ela levanta uma sobrancelha. — Por que você não verifica?
Eu sorrio de volta e começo a empurrar seu vestido para cima.
Estou a apenas alguns centímetros de distância quando o som estridente
do toque do meu telefone ecoa pela cozinha. Uma mensagem de texto.
Continuo minha exploração lenta até sua coxa.
— Pode ser Joshua. — diz Freddie.
Xingando, pego o telefone no bolso de trás. Puxe-o para fora. Não
é Joshua .
— É Anthony — eu digo. — Ele está perguntando se queremos
jantar com ele e Summer esta noite.
— Ela mencionou algo sobre isso na última vez que a encontrei —
diz Freddie. — Isso pode ser muito bom.
Mas ela está beijando meu pescoço enquanto diz isso, suas mãos
desfazendo os botões da minha camisa. Concentrar-me em qualquer
coisa, exceto na necessidade ardente de me enterrar dentro de minha
esposa, é quase impossível.
Eu fecho meus olhos. — Temos planos para esta tarde. E esta
noite.
— Não podemos fazer sexo tantas vezes.
Eu mudo meu telefone para a minha mão direita e deixo a
esquerda continuar até sua coxa. — Você sabe que tento estabelecer um
recorde todo mês.
Freddie ri. Pressiona um beijo no meu esterno. — Sim, eu sei.
Também sou uma participante interessada nisso.
— Mmm, eu sei. E em breve não seremos capazes.
— Não vamos parar de fazer sexo quando eu engravidar. — ela
me diz.
— Não, graças a Deus. Mas terei que ter mais cuidado.
— Não, você não vai — diz Freddie. Já tivemos essa conversa
antes. — Você poderia dizer a Anthony e Summer para virem mais tarde
esta noite? É um grande sinal de que eles estão entrando em contato,
você sabe. Que Anthony quer nos encontrar. Devemos estar lá para ele.
— Merda, eu sei. Já o incomodei por causa disso por muito tempo.
— Você é um grande amigo para ele.
— Eu tenho que ser um grande amigo esta noite de todas as
noites? Não posso adiar? — Eu agarro seu quadril e a inclino para trás,
beijando-a com tanta força que ela engasga. Pressiono minha ereção
contra ela. — Esta noite eu só quero foder minha esposa quantas vezes
eu puder até que eu esteja tão exausto que desmaie.
Freddie ri, sem fôlego contra mim. Alcança meu telefone e digita
com dedos decisivos. — Estou dizendo a eles que estamos ocupados —
diz ela — e sugerindo amanhã à noite.
— Diga a ele que você está ovulando.
— Absolutamente não. — diz ela. — Ah, a mensagem de Joshua
acabou de chegar. Ele chegou a casa de David.
— Incrível. Você respondeu a Anthony?
— Eeeee agora, sim. Feito.
Pego meu telefone de volta e o deslizo pelo balcão da cozinha,
longe do alcance. Então eu alcanço minha linda esposa e a levanto. Ela
envolve seus braços e pernas em volta de mim e desabotoa minha
camisa enquanto eu nos levo até nosso quarto.
Somos multitarefas assim.
Empurro a porta atrás de mim. Mesmo sozinho em casa, é um
hábito que nunca mudamos. Joshua sempre podia voltar para casa mais
cedo.
— Mal posso esperar para entrar em você. — digo a ela. Enrolo
meus dedos em seu rabo de cavalo e tento desfazê-lo, querendo que seu
cabelo espesso se espalhe por entre meus dedos. — Você sabe como ver
sua mensagem me deixou duro no trabalho?
— Achei que sim — diz Freddie. — Você sabe o quanto saber disso
me deixou animada?
— Não, mas mal posso esperar para descobrir.
Eu a levanto sobre a cômoda. Descobrimos que tinha a altura
perfeita para isso e se tornou um móvel que usamos sem piedade.
Apenas não como o fabricante pretendia.
Puxo seu vestido centímetro por centímetro, meus olhos grudados
no que revelo na junção de suas coxas.
Ela disse a verdade.
Sem calcinha, e ela está nua e pronta e lindamente brilhando. Eu
descanso minha mão na parede atrás dela e alcanço meu cinto com a
outra. — Querido Deus, coração, eu preciso estar dentro de você.
— O truque de não usar calcinha funciona sempre. — diz Freddie,
com grande satisfação. Nós dois empurramos minha calça para baixo,
mas quando ela segura minha ereção com uma mão e segura as bolas
gêmeas com a outra, não ajudo. Eu gemo, inclinando minha cabeça para
a dela.
Parece que estou esticado demais.
— Você está explodindo. — ela murmura. — Acho que estamos
olhando para um recorde hoje à noite.
— Eu com certeza - oh, foda-se, Freddie. — Minha respiração se
torna ofegante enquanto ela puxa firme, machucando, do jeito que ela
sabe que eu preciso quando estou tão duro.
Minha mão livre acaricia entre suas pernas e doce Jesus, ela está
molhada e pronta para mim também. Freddie me coloca em posição e eu
flexiono meus quadris, empurrando em seu calor.
Querido Deus, ela é tão gostosa.
É sempre como voltar para casa.
Eu descanso ambas as mãos na parede atrás dela e estabeleço um
ritmo constante, cada impulso espalhando fogo pela minha espinha. Não
há nenhuma maneira que eu vou durar esta primeira vez.
Mas então, o propósito disso não é durar.
Freddie agarra minha camisa, agora desabotoada e pendurada no
meu corpo. Ela faz os pequenos gemidos mais tentadores no ritmo das
minhas estocadas.
E está sem camisinha. Cem por cento sem proteção. Algo sobre
saber que não há proteção envia meus instintos primitivos rugindo.
Desde que ela parou de tomar anticoncepcionais, temos feito sexo
mais selvagem do que nunca. E nos conhecemos em um clube de sexo.
Nunca foi manso para começar.
Concentro-me em não a perder muito cedo e olho para o vestido
dela, cobrindo seu corpo lindo, aqueles seios gostosos. Eles ficam lindos
saltando quando eu transo com ela nesta cômoda.
— Zíper? — Eu resmungo.
— Na parte de trás. — diz Freddie e se inclina para frente. Minhas
estocadas diminuem, mas não param enquanto eu trabalho para baixo.
Ela lida com as mangas como uma profissional e eu abro seu sutiã. Gemo
com a visão que é revelada.
Eles são lindos, grandes e firmes, mamilos rosados duros de sua
excitação. Eu capturo um sob meus dedos e rolo a protuberância dura.
Freddie suspira. Envolve as pernas em volta de mim e crava os
calcanhares nas minhas coxas. — Brinque mais tarde — ela rosna.
Eu sorrio e solto seu mamilo. Em vez disso, capturo o seio dela na
minha mão e quase transborda.
Eu também, aliás.
Eu soco nela rápido e com força, a pobre cômoda tremendo
embaixo dela, mas não tenho piedade. Não enquanto o familiar
formigamento persegue minhas coxas e sobe pela minha espinha.
Freddie passa a unha nas minhas costas e morde meu ombro, e
envia um raio de fogo puro para minha virilha.
— Porra. — Eu volto as duas mãos para a parede e entro nela.
Alcanço o ápice e tenho um orgasmo ofuscante, empurrando para
dentro dela, dando tudo o que sou e tudo o que tenho para dar, tão
profundamente quanto posso.
Parece que meu coração está explodindo.
Eu descanso minha cabeça contra ela e respiro através dela,
depois disso, meu batimento cardíaco é tão estrondoso que posso sentir
em meus ouvidos.
Ainda enterrado dentro dela, inclino sua cabeça para trás e a beijo.
— Eu te amo — digo a ela.
Ela sorri, meio indulgente e meio divertida. Ela me disse que eu
sempre a informo que, quando fazemos sexo, é como um relógio. Tudo
o que sei é que não conseguiria parar, mesmo que tentasse.
— Eu também te amo — ela murmura.
— Cama?
— Cama.
Eu agarro suas coxas e a levanto, ainda dentro dela. Estou
amolecendo, mas não muito, e isso é algo que aperfeiçoamos nos últimos
dois meses.
Conseguimos nos esticar na cama sem interromper o contato.
Freddie me dá um sorriso vitorioso, seu cabelo uma bagunça embaixo
dela. — Sucesso.
— Como tudo o que fazemos. — eu digo. — Podemos tirar isso de
você?
— O vestido? Claro. — Ela se mexe para tirá-lo e eu xingo, o
movimento adicionando atrito ao local onde nos unimos. Sensível, tão
sensível.
Freddie ri. — Desculpe.
— Em breve estarei pronto novamente.
— Bom.
Eu agarro seus quadris para mantê-la imóvel enquanto ela arqueia
as costas, puxando o vestido pela cabeça. Jogando longe.
Minha esposa é incrivelmente linda, sempre foi, e esta é minha
versão favorita. Seu sorriso largo, boca inteligente, olhos brilhantes. Só
cabelo aruinado e corpo lânguido.
Deito-me sobre meus antebraços e suspiro com o prazer de seu
corpo macio contra o meu. Os mamilos fazem cócegas no meu peito. —
Frederica — murmuro.
— Tristan — ela murmura de volta. Levanta os joelhos e faz um
berço com o corpo.
— Adoro tentar engravidar você.
Ela ri, mas para quando os movimentos provocam arrepios
deliciosos em nós dois. Meu pau meio duro se contrai. A cabeça e o
coração estão dispostos e, em breve, ele também estará.
— Você realmente quer — diz ela. Passa a mão pelas minhas
costas. Posso sentir o batimento cardíaco dela embaixo de mim, batendo
tão ferozmente quanto o meu, e se existe felicidade perfeita, é isso. O
paraíso na terra é fazer amor com sua esposa.
— Eu te amo — murmuro. Inclino minha cabeça para sua
clavícula e traço a pele macia.
— Duas vezes em cinco minutos? O que é isso? — Freddie envolve
as pernas em volta da minha cintura e puxa. Eu cedo, descansando todo
o meu peso sobre ela. Ela adora quando eu faço, mesmo que eu esteja
sempre com medo de esmagá-la.
— Você vai ser a melhor mãe — eu digo. — Você já é para Joshua.
Ela sorri contra a minha bochecha. — Aprendi muito sobre ser boa
com você, sabe.
— Mmm. Eu apenas faço o melhor que posso.
— Seu melhor é bastante impressionante, Tristan.
Eu traço sua mandíbula com meus lábios. Encontro sua boca e
beijo-a com todo o meu amor, saboreando-a. Os dedos de Freddie
deslizam em meu cabelo e puxam.
Segunda rodada, onde nós dois tomamos nosso tempo.
Eu alcanço entre nossos corpos e encontro o ponto dela que eu
amo provocar, esfregando meus dedos sobre ele.
Freddie engasga, agarrando meus ombros. E assim, o sangue corre
para minha virilha, e eu endureço dentro dela mais uma vez.
— Olhe para isso. — ela sussurrou. Geme quando minha mão
acelera.
— Sim — murmuro de volta, observando seus olhos
semicerrados e bochechas coradas. — Olhe para isso, querida.

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