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Até descobrir que o homem com quem passei é meu novo chefe.
Ir a uma festa secreta onde as roupas são opcionais não era meu
objetivo de vida.
Mas quando o convite exclusivo acaba na minha caixa de correio por
acidente… bem.
Quem não ficaria curioso? Não é como se eu fosse fazer alguma coisa.
O belo estranho que conheço tem planos diferentes.
Um olhar para a festa lotada e, uma hora depois, estamos estendidos
sobre a seda.
Nossa noite juntos é gloriosa. Sem nomes e sem arrependimentos.
Mas eu tinha esquecido que sempre há um preço a pagar pelo prazer.
Eu descubro o custo quando começo meu estágio.
Porque quem é o novo CEO investidor de risco?
Tristan Conway, também conhecido como meu belo estranho.
Poderoso, determinado, intrigante... e solteiro.
Ah, e ele quer me ver em seu escritório.
Pensar fora da caixa me colocou nessa confusão.
Agora, se eu pudesse parar de pensar no chefe...
Estou separando correspondências indesejadas quando meus
dedos passam por cima de um grosso envelope dourado. Meu endereço
está escrito à mão na frente em letras pretas extensas, mas não há nome.
Mentalmente, revejo todos os meus amigos que podem se casar... não,
não e não.
Envelope dourado na mão, afundo na cadeira da cozinha e o viro.
Tem um selo de cera preta. Estampada nele está uma máscara, do tipo
que as pessoas usam em bailes de máscaras nos filmes. Eu nunca recebi
nada assim.
Se isso é lixo eletrônico, ficou muito elegante.
Pode ser para a inquilina anterior? Só moro neste estúdio há um
mês. Melhor ter certeza... Rasgo o envelope com uma faca de cozinha e
tiro um convite de cartolina com letras impressas em ouro.
Oh Deus.
Li o convite duas vezes para analisar todas as insinuações.
The Gilded Room? Todo mundo fica melhor despido? Rebecca
Hartford, sua atrevida!
Esta pode ser a piada prática mais elaborada que eu já recebi.
Olhando dentro do envelope, encontro uma máscara forrada com
delicada seda preta, duas penas ondulando acima dos olhos recortados
como sobrancelhas. Joias negras cobrem a metade inferior e três
palavras estão escritas em letra cursiva dourada ao longo da borda.
Unidos no prazer.
Ok.
Talvez não seja uma piada prática.
Abro meu laptop e digito The Gilded Room na barra de pesquisa.
Vários artigos de jornal foram escritos sobre a organização, mas
nenhum deles traz fotos. Clico para abrir aquele intitulado Uma noite no
mundo de prazer da elite.
O que leio faz meus olhos se arregalarem. The Gilded Room é um
dos segredos mais bem guardados de Nova Iorque, principalmente
porque os que estão nele não querem ser conhecidos. Eles não querem
ser vistos, ouvidos e, principalmente, não retratados. The Gilded Room
garante o anonimato de seus membros de alto nível, muitos dos quais
pagam mais de vinte mil dólares por suas afiliações anuais.
Eu rolo para baixo, meus olhos examinando parágrafo após
parágrafo incrível.
As regras são simples. Não é convidado ninguém que não seja rico,
bonito ou ambos. Quem for apanhado com um telefone é imediatamente
expulso… e as mulheres têm todo o poder nestas festas. Há rumores de
políticos participando de festas da Gilded Room, jogadores de futebol,
bilionários e magnatas da mídia... mas se eles foram, o jornalista não
conseguiu encontrar ninguém disposto a falar. Parece que este é o único
local entre os escalões superiores de Nova Iorque onde citar nomes não
é a norma.
Fecho meu laptop e olho para a máscara e o convite, agora sobre a
mesa do sofá. Quem tinha sido Rebecca Hartford, para ser convidada
para uma festa como esta? Eu sei que a inquilina anterior havia deixado
o país, meu senhorio me disse que ela havia recebido uma oferta de
emprego em Hong Kong. Entrar em contato com ela sobre isso parece
fora de questão.
E se eu mesma for?
A ideia me faz sorrir. Festas secretas de sexo para os ricos? Não
sou rica, nem festeira. Estou interessada em sexo, no entanto. Já faz
muito tempo desde a última vez…
O que eu estou pensando? Claro que não vou.
Jogo o convite e a máscara na cesta de papel e a tampa fecha-se
decididamente atrás deles. Além disso, tenho coisas a fazer, como me
preparar para o estágio da minha vida. Eu trabalhei muito duro para ser
aceita no Programa de profissionais junior da Exciteur Global, e meu
primeiro dia como estagiária é na segunda-feira.
Eu tenho coisas para fazer antes disso.
Conseguir três novos pares de meias para combinar com minhas
roupas profissionais. Desempacotar as últimas caixas da mudança.
Agendar um horário no DMV 1 para atualizar minha carteira de
motorista para Nova Iorque em vez da Pensilvânia.
Participar de uma festa de sexo secreto não está nessa lista.
Levo quase uma hora e outra caixa de mudança desempacotada
antes de pegar o convite e a máscara de volta na cesta de papel. De pé na
frente do espelho do banheiro, coloquei a máscara preta adornada com
penas.
Eu pareço moderadamente bonita. Cabelo fino e escuro, e mais do
que o meu quinhão, graças à minha mãe italiana. Bastante baixinha, mas
gosto de pensar que sou pequena. Olhos que são uma espécie de verde
turvo. Dizia que você tinha que ser rico ou bonito para entrar...
Puxo minha camiseta velha e surrada para fazer um decote em V.
Cortesia de um peito extraordinariamente grande, nunca visto nada tão
revelador. Mas eu tinha acabado de desempacotar o vestido preto que
1 Departamento de trânsito.
comprei na liquidação do ano passado. Aquele que mostrava muito
decote... Posso me passar por Rebecca Hartford? Ou pelo menos bonita
o suficiente para ser admitida?
— Uma aventura antes da verdadeira começar na segunda-feira
— digo ao meu reflexo mascarado.
Uma vez ouvi dizer que as mulheres têm três tipos de banho. O
primeiro, uma lavagem rápida do corpo. O segundo, uma lavagem rápida
de cabelo e corpo. O terceiro? Esse é o banho de encontro, onde as coisas
são esfregadas, depiladas e profundamente condicionadas.
Acontece que descobri um quarto banho, o banho estou-indo-a-
uma-festa-de-sexo-da-elite. Tem muitos elementos do banho número
três, como depilar e esfregar, mas inclui alguns minutos de pânico no
chão do chuveiro.
Minha mente se apega às palavras que li online, que as mulheres
têm todo o poder. Se eu não gostar, eu vou embora. O Halycon Hotel é
um dos mais bonitos da cidade, então não é como se eu estivesse
entrando em um sindicato do crime organizado.
Pelo menos eu digo isso a mim mesma.
São quase dez e meia quando chego ao hotel. Meus saltos altos
estalam no chão enquanto caminho para a recepção. Meu convite e
máscara estão seguros e protegidos em minha bolsa, prontos para
serem sacados no lugar de uma identidade.
— Boa noite, senhorita. — diz um atendente do hotel. Seus olhos
mergulham no V profundo do meu vestido preto antes de retornar aos
meus olhos.
E é por isso que costumo usar decotes altos.
Um rubor sobe em seu pescoço. — Você está aqui para a festa
privada?
Eu fecho meu casaco. — Sim.
— O elevador à sua esquerda. — ele diz — e direto para o
trigésimo segundo andar. Divirta-se, senhorita.
— Obrigada. — E como não consigo resistir, acrescento: —
Pretendo fazer isso.
Eu ando sozinha no elevador, meus olhos acompanhando o
número cada vez maior de andares na tela. Tornou-se uma maneira
infalível de manter meu medo de altura sob controle. Concentro-me nos
andares que estou passando e logo, acabou. Eu ainda dou um suspiro de
alívio quando saio.
Hora do show, Freddie.
Coloco a máscara e amarro os fios de seda juntos, ignorando a
maneira como meu coração dispara em meu peito com os nervos. A cena
que me espera é extremamente normal. Um corredor vazio e uma porta
aberta com uma mulher bonita vestida de preto na frente, seu rosto
irradiando profissionalismo calmo.
Ela enfia um iPad debaixo do braço. — Bem-vinda, senhorita.
— Obrigada.
— Uma apresentação já foi concluída, mas a próxima deve
começar agora.
Concordo com a cabeça, como se eu entendesse a que ela está se
referindo. — Ótimo, obrigada.
Ela estende a mão com um olhar de expectativa em seus olhos. —
Certo — eu digo, procurando em minha bolsa para entregar a ela meu
cartão de convite. Não peça identidade, não peça identidade…
Mas ela apenas olha e me dá outro sorriso, este mais de amigo para
amigo. — Bem-vinda, senhorita Hartford. Não se esqueça de registrar
seu telefone à direita, depois de entrar.
— Claro.
Ela empurra a cortina que bloqueia a porta. O contraste é nítido
do corredor claro do lado de fora para as salas mal iluminadas e cheias
de fumaça além. Um cheiro paira no ar... algo denso, como magnólia e
incenso.
Um homem vestido apenas com calça preta e gravata, sem camisa
para cobrir o peito largo à mostra, me dá as boas-vindas. — Vou
registrar o seu casaco, senhorita.
— Sim, obrigada. — eu digo, encolhendo os ombros. Ele registra
e volta, com a mão estendida. — Oh! Certo. — Eu entrego a ele meu
telefone.
Seu sorriso de resposta me faz pensar que não estou disfarçando
meus nervos tão bem quanto pensei. — Vou colocar seu telefone aqui —
diz ele, abrindo uma das cem caixas de segurança idênticas. — O código
é gerado automaticamente e você receberá um recibo impresso com
ele... aqui está. Só você sabe disso. Não o perca.
— Tudo bem — murmuro. — Incrível.
Ele me dá outro sorriso encorajador, desta vez com um toque de
humor. — Divirta-se e lembre-se de que estamos aqui a qualquer
momento se precisar de ajuda ou tiver alguma dúvida.
— Obrigada.
Segurando minha bolsa com força, eu entro no espaço principal.
As primeiras impressões me atingem em flashes. Renda branca e salto
alto. Cortinas de seda preta do teto. Homens em ternos impecavelmente
ajustados e máscaras escuras.
As pessoas se misturam, algumas em pé, outras reclinadas em
sofás. Uma linda mulher passa por mim de lingerie. É do tipo imponente,
com ligas e meia-calça.
— Champanhe, senhorita? — um garçom pergunta, segurando
uma bandeja de taças. Assim como o homem que registra o casaco, ele
está sem camisa.
— Sim, obrigada. — murmuro. Caminhando por entre a multidão
de pessoas em uma espécie de admiração atordoada, acho que vejo
pessoas que reconheço. É difícil dizer com as máscaras, mas não
impossível, e alguns descartaram completamente as suas. Uma mulher
é âncora de notícias e eu a vi na TV dezenas de vezes. Um homem alto e
de ombros largos tem cara de jogador de futebol. Se eu estivesse mais
interessado em esportes, o nome dele teria vindo à minha mente, mas,
como é o caso, eu me contento com olhares furtivos em sua direção.
Garrafas de champanhe com rótulos dourados ocupam uma parede
inteira.
Isso é riqueza como eu nunca vi antes. É o playground de uma
pessoa rica, um estudo de como os ricos se divertem.
Então eu vejo.
A performance.
Há um palco elevado no meio da sala, e o que está acontecendo
nele faz com que a versão de Macbeth do meu clube de teatro do ensino
médio pareça uma brincadeira de criança. Duas mulheres vestidas de
lingerie circulam um homem em uma cadeira, com as mãos algemadas
atrás dele. Uma passa as unhas proprietárias pelo peito esculpido do
homem, a outra desliza a mão pela coxa nua.
Meus olhos estão grudados na cena.
E ainda ao meu redor, os convidados da Gilded Room continuam a
se misturar em vários estados de nudez, como se três pessoas não
estivessem envolvidas em preliminares muito públicas na nossa frente.
Uma mulher mascarada de quarenta e poucos anos passa por
mim, puxando um homem atrás dela pela gravata. Ela me lança um olhar
triunfante. — A próxima apresentação deve ter pirotecnia — diz ela.
Eu dou a ela um sorriso fraco. — Exatamente o que esta festa
precisa. Fogo.
— Gosto de você! — ela fala por cima do ombro. — Sinta-se à
vontade para se juntar a nós mais tarde!
Juntar-se a eles, uau. Eu sorrio para o meu champanhe e olho para
o outro lado da sala, esperando encontrar mais pessoas famosas. Não há
como meus amigos acreditarem em mim, mas ainda quero garantir que
esta noite se transforme na melhor história possível.
Meu olhar se demora em um homem do outro lado da sala. Como
a maioria dos homens aqui, ele está de terno, mas é um dos poucos que
não usa máscara. Não está falando com ninguém também. Ele apenas se
encosta na parede e assiste à apresentação com os braços cruzados
sobre o peito.
Parece que ele vai ficar de fora.
Eu troco minha taça vazia de champanhe para uma cheia e me
inclino contra a parede oposta a ele. Não há nada de familiar nele, mas
não consigo desviar o olhar.
Seu olhar se encaixa no meu, e o foco do laser deixa claro que ele
está bem ciente do meu olhar. Ele levanta uma sobrancelha.
Meus lábios se curvam no sinal universal de oi, e aí. É o sorriso que
você dá a um homem em um bar para que ele saiba que você quer que
ele venha. É descarado.
Um grupo de convidados para no meio da sala e desvia nosso
contato visual. Eu olho para o meu champanhe com o coração batendo
de repente. Eu vim aqui para observar, sem planos de participar...
Mas uma garota pode flertar, não pode?
Quando o vejo novamente, ele não está mais sozinho. Uma mulher
passa a mão pelo braço dele de uma maneira que seria fácil de ler,
mesmo se não estivéssemos em uma festa de sexo da elite.
Afasto-me da parede e dou uma volta na sala. Há uma batida
constante e forte emanando dos alto-falantes, inebriante em seu poder.
Muitos dos convidados que estavam se misturando deixaram de lado a
conversa simples, e eu passei por um homem que estava tirando o sutiã
de sua parceira enquanto conversava sobre imóveis em Nova Iorque.
Encontro um canto escuro do espaço para onde me refúgio, longe
dos casais em vários estados de nudez. Eu nunca observei outras
pessoas... bem. Talvez seja hora de declarar esta pequena aventura
encerrada.
É quando ele aparece ao meu lado com um copo de cristal na mão.
O cabelo castanho se ergue sobre uma testa forte e o quadrado de
sua mandíbula coberto por uma barba por fazer de dois dias. De perto,
é ainda mais difícil desviar o olhar dele.
Ele levanta a sobrancelha para mim novamente, mas não diz nada.
Ele apenas se encosta na parede ao meu lado e nós olhamos para a
multidão em silêncio.
Tomo outro gole do meu champanhe para manter meus nervos
sob controle. Quem é ele? Um magnata da mídia? Uma celebridade que
não reconheço? O herdeiro de uma família política? Durante esta noite,
ele é um estranho, assim como eu.
— Então? — Eu pergunto, observando-o através dos olhos
semicerrados da minha máscara. — Você está planejando se
apresentar?
Seus lábios se curvam como se eu tivesse feito uma piada. —
Eventualmente — ele admite. — Embora falar seja frequentemente um
dos passatempos menos agradáveis nesses eventos, comparativamente
falando.
Molho meus lábios. — Não se for bem feito.
— Qual passatempo? — ele pergunta, a diversão é uma corrente
oculta no rico tom de barítono de sua voz. — Fazer bem as coisas é um
dos meus passatempos favoritos.
— Ser modesto não é, eu estou supondo?
Ele se vira, e eu tenho que olhar para cima para encontrar seu
olhar escuro. — A modéstia é proibida na Gilded Room.
— Isso está no livro de regras? — Eu pergunto. — Acho que perdi
esse ponto.
Seus lábios se curvam em um sorriso torto. — Eu não acho que
você leu o livro de regras, considerando que é sua primeira vez aqui.
— O que te faz pensar isso?
— Você me perguntou se eu estava planejando me apresentar.
— E isso me entregou?
Seu sorriso se alarga. — Existem apenas duas regras rígidas
nessas festas. O primeiro é o anonimato completo. O segundo? Mulheres
iniciam. Os homens não podem falar a menos que elas falem com eles.
Oh. As mulheres detêm todo o poder. Certo.
Gemendo, eu me inclino contra a parede. — Eu me entreguei tão
facilmente, não é?
— Ainda não, você não fez. — diz ele, diversão brilhando em seus
olhos. — Quais são seus pensamentos até agora?
— Da Gilded Room?
Ele inclina a cabeça em um sim.
Olho para os convidados que se misturam. As pessoas estão se
deslocando para corredores e salas separadas e, no palco, uma das
mulheres está agora... oh. Uau.
Ela está fazendo sexo oral no homem amarrado à cadeira. A cabeça
dele é jogada para trás de prazer enquanto a dela se move em um ritmo
experiente.
— Eu não tinha ideia do que esperar quando vim aqui esta noite.
Não sabia o quão... controlado seria o hedonismo. — Desvio os olhos da
performance coreografada. — Também cheguei à triste conclusão de
que provavelmente acho que tenho a mente mais aberta do que
realmente tenho.
Ele levanta uma sobrancelha, pés de galinha fracos se espalhando
ao redor de seus olhos. Trinta, talvez, ou trinta e cinco. Não mais do que
uma década mais velho que eu. — Não está acostumado a ver outras
pessoas fazendo sexo?
— Não pessoalmente — eu admito.
Ele sorri com minhas palavras. — Não há obrigações aqui. Você
pode passar sua primeira vez apenas admirando a paisagem.
Desfrutando de algumas bebidas. Conversando.
Minha expressão de consternação deve ter sido clara, porque ele
levanta uma sobrancelha. — Isso não lhe interessa?
— Bem, acho que não gosto da ideia de ser uma voyeur. Parece
intrusivo, de alguma forma.
Ele vira o rosto, mas eu pego o sorriso. — A maioria das pessoas
aqui gosta de ser observada. Uma porta fechada significa fora dos
limites, mas portas abertas significam que qualquer pessoa é livre para
assistir ou participar.
— Outra das regras que eu não sei. — eu digo, tomando um gole
do meu champanhe. Agora que estou aqui, agora que estou falando com
esse homem... Não estou mais nervosa. É como uma experiência
extracorpórea, e a Frederica Bilson, que deveria estar nervosa, nem sabe
que está aqui. Deixei-a no corredor.
— Não há muitas regras.
— Me esclareça? — Eu pergunto. — Eu odiaria me envergonhar
ainda mais.
Ele sorri, um sorriso lento e largo que faz meu estômago apertar.
A iluminação fraca lança sombras sobre seu rosto. — Seria um prazer.
— diz ele. — Você já conhece a primeiro e a mais importante.
— As mulheres iniciam a conversa?
— Sim, assim como sexo. — diz ele. — Os homens podem sugerir
isso, se tiverem conversado com elas, mas é considerado mais
apropriado que a mulher fale as palavras.
Eu engulo contra a secura na minha garganta. — A Gilded Room é
grande em consentimento, então.
— É, sem falar na segurança. Você não vai vê-los, mas há guardas
posicionados por toda a festa.
— Há?
Lentamente, dando-me tempo para reagir, ele estende a mão e
coloca as mãos nos meus ombros. Elas estão quentes e firmes enquanto
ele me vira para o canto oposto. — O homem atrás. Mascarado, vestindo
uma cueca de couro?
— Isso é segurança?
— Sim. Está vendo o fone de ouvido?
Eu estreito meus olhos. Suas mãos ainda estão em mim, quentes
através do tecido fino do meu vestido. — Não. Ele está muito longe.
— Bem, está lá. E você deveria verificar sua visão.
— Ei, isso não é legal.
Sua risada é rouca quando ele me vira em direção ao bar. — Um
dos homens sentado, bebendo um uísque. Ele está vestindo um terno.
— Eles bebem no trabalho?
Suas mãos escorregam dos meus ombros. — É provável que seja
suco de maçã. Ninguém aqui quer se sentir protegido, então eles se
misturam. Tudo faz parte da ilusão.
— A ilusão?
— Que todos nós estávamos aqui esta noite, que esta é uma festa
de verdade, que não fomos examinados e selecionados.
Há verdade nisso, suponho. Seguranças uniformizados
estragariam o clima. — Então eles intervêm se alguém ficar muito
turbulento?
— Sim, mas isso raramente acontece. Poucos pagam para entrar
aqui apenas para tentar uma proibição vitalícia. — Ele levanta seu copo
de cristal e bebe, a longa coluna de sua garganta se movendo.
— Você não está usando uma máscara. Essa não era uma das
regras?
Ele me lança um olhar. — Algumas regras podem ser quebradas.
— Pelas pessoas certas?
Ele levanta um ombro em um encolher de ombros elegante. Não
negando, não confirmando. Uma suspeita cresce em minha mente, e eu
estreito meus olhos para ele. — Você não é o dono da Gilded Room, é? O
condutor?
— Cristo, não.
— Você sabe muito sobre como isso funciona.
— Não é minha primeira festa — ele responde. Um segundo
depois e sinto o calor de sua mão em meu braço. — Quer se sentar?
Ele acena para um sofá vazio próximo, ainda mais escondido na
sombra. Uma batida de nervos explode sob meu esterno. Sua mão cai. —
As mulheres têm todo o poder. — ele me lembra. — Você diz a palavra
e eu vou deixá-la sozinha pelo resto da noite.
— Qual é a palavra?
— 'Vá embora' geralmente funciona, mas são duas palavras.
Eu ri. — Vou ficar com isso, então. Embora não seja muito
educado.
— Você pode adicionar por favor a ela, se quiser.
— Que gentil de sua parte. — Afundamos no sofá, o couro frio sob
minhas pernas. Eu as cruzo e aperto o champanhe contra o peito como
uma arma. — Então você é regular?
— Eu suponho que você poderia me classificar assim. — Ele passa
o braço pelas costas do sofá, a mão descansando em algum lugar atrás
da minha cabeça. Nós dois olhamos para a multidão de pessoas. O que
parecia tão organizado quando cheguei, agora está desorganizado, com
as pessoas divididas em pares ou grupos menores. E querido Deus, uma
mulher está completamente nua em um sofá do outro lado da sala.
Completamente, cem por cento nua. Ela está no colo de um homem, as
mãos dele em seus seios. Outra está trabalhando entre as pernas
abertas.
Eu engulo com a visão. — Atores também?
— Eu duvido. — ele murmura. — Eles simplesmente se
inspiraram.
Talvez meu silêncio diga tudo, porque ele ri baixinho, esticando as
longas pernas à sua frente. — Eu tenho que dizer, linda, que você me
deixou curioso.
— Curioso?
— Sim. Como uma mulher como você acabou recebendo um
convite para a Gilded Room?
Eu franzo a testa. — Uma mulher como eu?
— Tão claramente puritana. — ele diz, encontrando meu olhar
com um dos seus. — Alguém que ama estar no controle. Que teme deixar
rolar.
— Eu não tenho medo de deixar rolar.
Ele levanta uma sobrancelha e eu solto um suspiro. — Tudo bem,
eu tenho, mas tenho certeza que todo mundo tem em algum grau. Você
acha que isso está me segurando aqui esta noite?
— Não sei. Você acha que está?
— Não tenho certeza. — eu digo. — Até agora estou assistindo a
uma performance de sexo ao vivo... bem, quase sexo, enquanto converso
com uma perfeita estranha. Eu diria que já estou deixando rolar.
Seu sorriso pisca. — Não é mais quase sexo.
Eu olho para o palco e depois me afasto rapidamente, meu olhar
voltando para o rosto dele. Seu sorriso se alarga com a minha expressão.
— Eu não estou chocada. — eu protesto.
— Claro que não.
— Nem um pouco puritana.
— Então olhe. — ele desafia.
Então eu faço. Eu me viro em direção ao palco, para onde uma das
mulheres está montando o homem algemado à cadeira. A expressão de
prazer em seu rosto deixa claro que ele carrega o peso da contenção com
alegria. A batida do meu sangue aumenta enquanto eu os observo, o
movimento sedoso de seus quadris e o brilho em seus olhos. A maneira
como eles se deleitam conosco observando-os.
— Ok — murmuro. — Entendo.
— O apelo?
— Sim.
Sua risada profunda rola sobre minha pele como um trovão suave.
— Afinal, não me oponho tanto a ser um voyeur.
— Acho que tem seus atrativos. — Molhei meus lábios e arrastei
meu olhar do palco para ele. — Sabe, acho que o anonimato também.
— Certamente sim. — ele concorda. — Mesmo que você conheça
alguém aqui dentro, você não tem permissão para reconhecê-lo.
Minhas sobrancelhas se erguem. — Digamos que eu saiba seu
nome. Eu não teria permissão para chamá-lo por ele?
— Não. Algumas pessoas quebram isso, no entanto.
— Os casais que vêm aqui devem.
— Eles são os piores infratores. — Ele inclina a cabeça para trás
e sorve o resto do líquido âmbar em seu copo, um relógio grosso em seu
pulso. Parece caro.
— Mas você não está aqui com alguém?
— Eu não estou. — ele confirma, passando por mim para colocar
o copo na mesa. O movimento traz consigo o aroma de uísque e sândalo.
— Nem você.
— Como você tem tanta certeza?
— Duvido que um parceiro seu a deixaria sozinha por tanto
tempo.
— Bem, duvido que eu teria um parceiro que colocasse tão pouca
fé em mim a ponto de ter que me vigiar constantemente.
Seus olhos brilham. — Ah, não foi isso que eu quis dizer. Não, ele
não seria capaz de ficar longe do problema em que você pode estar se
metendo.
Eu olho para baixo para minha taça de champanhe e para longe da
força de seu olhar. — Você é bom nisso.
— Elogiar uma mulher? — Ele bufa, mas acho que é mais para ele
do que para mim. — Eu tento o meu melhor.
Eu inclino minha cabeça e o observo. Aqui na alcova escura, com o
incenso da festa misturado com uma intimidade inebriante, parece que
eu poderia perguntar qualquer coisa a ele. — O que você costuma fazer
nessas festas?
— Procurando inspiração?
— Talvez eu queira saber com quem estou lidando. — murmuro.
Ele se recosta no sofá, puxando os ombros para trás. — O que
acontece nessas festas não sai delas.
— Bem, nós estamos em uma festa na Gilded Room. — eu digo. —
Portanto, falar sobre façanhas passadas não quebraria essa regra.
Seus lábios se curvam, um reconhecimento da brecha. — Sabe,
continuo tentando descobrir se você entrou na Gilded Room por causa
de seu cérebro ou de sua beleza, e é muito difícil decidir.
— Tem que ser um ou outro?
Ele mostra um braço pela festa. — A maioria das pessoas aqui
paga para ser membro, os homens com mais frequência do que as
mulheres, depois de serem aprovados pelo comitê de seleção. Mas
sempre há algumas mulheres que não o fazem e que recebem a adesão
apenas por sua aparência.
— Bem, isso parece machista.
Ele ri, a mão atrás de mim roçando a pele nua do meu ombro. —
Então você não é uma dessas mulheres. Você poderia ser, no entanto.
Eu franzo a testa para ele, o que só o faz sorrir ainda mais. — Então
eu sou uma das mulheres que poderiam ter se beneficiado de uma
brecha que é em si bastante sexista?
— Nunca afirmei que meus elogios eram politicamente corretos.
— Não, você não fez. — Ignorando o ressurgimento dos nervos,
tiro os saltos e puxo as pernas para cima do sofá. Seus dedos não saem
do meu ombro. — Eu vi você falando com uma mulher mais cedo. Você
foi abordado por alguém?
— Várias pessoas — ele reconhece. — Mas você sorriu para mim
do outro lado da sala. Eu disse a elas que fui chamado.
Os nervos aumentam um pouco. — Oh. Eu era tão intrigante?
— Eu nunca tinha visto você aqui antes.
Eu faço minha voz provocante. — E você viu alguém que parecia
precisar de orientação? Que gentileza sua em estender a mão.
— Eu sou um santo.
— Eu disse a você que gosto dessa coisa de anonimato, — eu digo
— e eu gosto. A ideia de que não temos ideia do que a outra pessoa faz
durante os dias. Talvez você tenha passado o dia inteiro trabalhando
como cirurgião em um hospital infantil.
Ele levanta uma sobrancelha. — Não fui honesto quando disse que
era um santo.
— Então talvez você tenha passado o dia inteiro fugindo do
Departamento de Polícia de Nova Iorque, porque é o chefe de uma
quadrilha de crime organizado.
Eu me viro para ele no sofá, e ele responde da mesma forma, sua
mão livre pousando na minha coxa. O toque é casual, mas a aceleração
do meu coração não é. — Você acha que estou prestes a fazer uma oferta
que você não pode recusar?
— Você pode tentar. Mas é emocionante não saber, você não
acha?
— Isso é. Tenho uma princesa europeia ao meu lado? Uma jovem
atriz de Hollywood? Uma cirurgiã que trabalha em um hospital infantil?
— Nunca saberemos.
— Um completo mistério — ele concorda.
— Eu gosto disso. Embora pareça estranho não ter um nome para
chamá-lo, ou mesmo referir-se a você na minha cabeça.
Seus olhos brilham com diversão calorosa. — Há uma tonelada de
coisas pela qual você pode me chamar.
Eu me aproximo, encostando-me na parte de trás do sofá. — Sabe,
você veio falar comigo. Mesmo que você não tivesse permissão para isso.
Ele levanta uma sobrancelha. — Eu fiz. Mas esperei que você
falasse primeiro. — Sua voz fica mais profunda, algo que eu deveria
ouvir de um Jumbotron 2 , narrando um filme, escutando no meu
audiobook favorito. Ela desliza sobre minha pele como uma carícia
sombria.
— Apesar de todas as mulheres que se aproximaram de você.
Apesar da… performance fascinante atualmente em exibição.
Sua mão desliza um centímetro acima da minha coxa, o único lugar
onde estamos nos tocando. Um polegar roça a bainha do meu vestido
preto. — Existe uma pergunta aqui em algum lugar?
— Não tenho certeza se estou pronta para perguntar.
— Estou perfeitamente confortável onde estou. — ele murmura.
— Então não precisa me perguntar nada.
— Eu poderia reformular, na verdade. Então é mais como uma
hipótese.
Seus lábios se curvam novamente. — Uma hipótese? Claro.
— Considerando que você se aproximou de mim e considerando
o que costuma fazer nessas festas, eu...
— O que você acha que eu costumo fazer nessas festas — ele
intervém. — Tenho a sensação de que muito disso é conjectura.
— Você está me dizendo que não participa?
Seu sorriso torna-se volúvel, uma sobrancelha levantada. — Eu
participo.
Nervos misturados com desejo inebriante e vertiginoso
percorrem meu estômago. Qual seria a sensação de sua mão mais acima
na minha perna? Seus lábios nos meus?
Sinceramente,
Freddie Bilson,
Estagiária Profissional Junior,
Departamento de Estratégia
Tristan Conway
CEO da Exciteur Global
Sr Conway,
Sinceramente,
Freddie Bilson,
Estagiária Profissional Junior,
Departamento de Estratégia
Olho para o e-mail por alguns segundos. Ele realmente respondeu,
e não foi um pedido de desculpas ou medo abjeto. Apesar de tudo, tenho
um respeito relutante pelo estagiário arrogante. Eu esperava que ele
ficasse em silêncio e não me enfrentasse dessa forma. Muito poucos
nesta empresa consideram me dizer o que realmente pensam, pelo
menos não na minha cara.
Não tenho tempo para isso, e Freddie provavelmente é como
todos os outros jovens que a Exciteur contrata. Eles são uma dúzia de
centavos, os MBAs recém-formados que pensam que fizeram sucesso
por conseguir uma posição de estagiário aqui, quando na realidade não
sabem absolutamente nada e estão no degrau mais baixo da escada.
Meu instinto é cavar mais fundo neste, no entanto. Por mais que
me doa admitir, talvez ele tenha descoberto algo com seu primeiro e-
mail.
Freddie,
Tristan Conway
CEO da Exciteur Global
Sr Conway,
Sou uma nova contratada em sua empresa, mas farei minha melhor
avaliação da situação, conforme você pediu. Seus funcionários
parecem estar intimidados ou com medo de você. Se isso se deve
ao seu estilo gerencial ou ao seu histórico, não sei dizer.
O plano da gerência para um almoço de Ação de Graças na sala de
descanso como um agradecimento não parece repercutido com a
equipe, embora eu admita que só interagi com uma amostra
limitada. Talvez eles prefiram um dia de folga ou um bônus, se o
objetivo é realmente recompensá-los por um ano de trabalho duro
e ansiedade?
Este é o meu conselho solicitado, Sr. Conway, com base em menos
de vinte e quatro horas de experiência de trabalho em sua
empresa. Estou ansiosa para aprofundar minha compreensão da
Exciteur e ser útil para a empresa. Você não vai ouvir conselhos
não solicitados de mim novamente.
O melhor,
Freddie Bilson,
Estagiária Profissional Junior,
Departamento de Estratégia
Srta. Bilson,
Seu orçamento para este projeto acaba de aumentar
significativamente. Tão significativamente, de fato, que não há
limite algum para suas sugestões iniciais. Talvez algo que inclua as
famílias dos funcionários?
Pense grande, Puritana.
Tristan Conway,
CEO Exciteur Global
Eu pressiono o controle remoto para mudar os slides na tela. Ao
meu lado, William e Luke se deslocam para o lado, olhando para o nosso
público. — Então, — eu digo — aqui estão todas as três opções para fácil
comparação. Não hesite em nos informar o que vocês pensam.
Tristan e Clive olham para nós do outro lado da sala de reuniões,
ladeados por duas mulheres do RH da Exciteur e da equipe de
planejamento de eventos. Tristan bate os dedos na mesa e estuda o slide
em exibição com uma expressão inescrutável.
As três opções em exibição têm orçamentos, cronogramas e
conceitos claros. Um almoço de Ação de Graças na empresa, onde
alugamos um restaurante próximo. A segunda opção, um bônus em
dinheiro em mãos para todos os funcionários, em uma escala móvel.
A terceira? Alugar o Wilshire Gardens no Central Park por uma
noite, o parque de diversões que é montado por alguns meses a cada
outono. Convidar todos os amigos e familiares… e reservar um bar
próximo para os solteiros irem depois.
É escandalosamente caro, mas o e-mail de Tristan pedia
especificamente para que fosse para a família. Ele também incluiu o
apelido. Puritana. Tirado do ambiente íntimo onde havíamos
concordado em deixá-lo e levado para o local de trabalho. Eu apaguei
isso antes de encaminhar o e-mail para Luke e William e dizer a eles que
tínhamos que fazer algo grande.
E agora Tristan não diz nada.
Apenas olhando para as três opções, seus olhos se estreitaram em
pensamento. As pessoas em ambos os lados dele olham. Uma vez, duas
vezes. Esperando seu veredito.
Cruzo os braços sobre o peito, recusando-me a mostrar qualquer
nervosismo. — O que você acha?
— A opção três é viável dentro do prazo? — Tristan pergunta.
Eu concordo. — Absolutamente. Já entramos em contato com o
parque de diversões para perguntar sobre a disponibilidade.
Clive franze a testa. — O custo é considerável.
— É alto em comparação com as outras duas, — admito — mas
em termos de aluguel de um local, é realmente bastante acessível.
Tristan dá um aceno lento, seu olhar no meu. — Certo. Bem, vamos
com a opção três. Obrigado pela excelente apresentação.
Os olhos se voltam para ele e há um momento de silêncio
atordoado.
— Senhor. — disse uma das mulheres — isso vai exigir um corte
significativo em nosso orçamento de pessoal para este ano.
Tristan acena com a mão. — Vamos reabastecê-lo com nossos
retornos do quarto trimestre. Estou bem ciente de que os cortes que
fizemos no ano passado afetaram a moral. Quantos de vocês, do meu
lado da mesa têm filhos?
Clive se junta às mulheres concordando que sim, mesmo que não
sigam o raciocínio por trás da pergunta de Tristan.
— E todos vocês passaram muitas noites aqui. — ele continua. —
Não, vamos alugar Wilshire Gardens por uma noite e ter um Dia de Ação
de Graças em Família, tudo por conta da empresa.
Eu limpo minha garganta. — Excelente escolha, senhor. Luke,
William e eu começaremos a planejar imediatamente. Teremos os
contratos de aluguel para a empresa assinar até o final da semana.
— Está certo. — Tristan se afasta da mesa de conferência. Os
outros se esforçam para fazer o mesmo, arrumando as notas. — Nós
terminamos aqui, então. Senhorita Bilson, gostaria de uma palavra antes
de retornar ao Departamento de Estratégia.
Eu dou um aceno rígido, dolorosamente ciente de como suas
palavras causam olhos arregalados entre os outros. William e Luke se
aglomeram ao meu lado enquanto desligo meu laptop de trabalho.
— Não acredito que ele escolheu a feira. — William resmunga,
enrolando o cordão. — Achei que era um beco sem saída.
— Mostra o que sabemos sobre gerenciamento. — Luke
murmura. Ambos olham por cima dos ombros antes de me dar boa sorte.
A porta se fecha atrás deles, e depois que um curioso Clive sai da sala,
somos apenas Tristan e eu.
Ele aponta para uma cadeira ao lado dele. — De quem foi a ideia
de Wilshire Gardens?
Sento-me do outro lado da mesa. — Minha, senhor.
— E como você pensou nisso?
— Você mencionou a família em seu e-mail. Não há muitas opções
por aqui que interessem às crianças, mas ainda funcionam para os
funcionários que não têm nenhuma. — Uma rápida pesquisa no Google
da área me deu poucas opções, e foi apenas nossa sorte que o parque de
diversões estava na cidade para a temporada de férias.
— Acontece que foi uma excelente sugestão.
— Obrigada. — O silêncio se estende entre nós e eu limpo minha
garganta. — Desculpe, mas por que você me pediu para esperar?
— Eu queria perguntar a você quem primeiro pensou na ideia.
— Entendo. Embora, sem Luke ou William aqui para me corrigir,
eu poderia simplesmente reivindicar o crédito pela ideia deles.
Sua sobrancelha se ergue. — Você está?
— Não. — eu admito.
— Eu duvidava que você estivesse.
— Ainda assim... na frente de todas aquelas pessoas, senhor. Elas
podem começar a pensar em algo desagradável, ou a... suspeitar.
Tristan passa a mão pelo cabelo, os lábios pressionando em uma
linha apertada. Levo um momento para reconhecer que é para não rir.
— Nenhuma alma nesta sala sabe da minha participação em uma
determinada sala. Eles certamente não sabem sobre a sua. Como eles
iriam suspeitar?
Eu pressiono minhas mãos espalmadas na mesa na minha frente.
— Reputações são coisas preciosas. Tenho certeza que os outros
estagiários vão me perguntar mais tarde o que você queria discutir em
particular, e se eu não tiver uma boa resposta, os rumores podem se
espalhar.
Os traços de diversão deixam seu rosto. — Eu não gosto do que
você está insinuando.
— Bem, eu também não, mas isso não muda os fatos.
— Eles não vão falar. Eles sabem que não podem fazer isso. — Ele
acena com a mão grande, e talvez isso funcione em seu mundo. Poder e
prestígio superam tudo.
Não no meu.
— Por que você se candidatou a esta empresa?
Minhas sobrancelhas se erguem. — Isso é o que você realmente
queria saber?
— Sim. Você foi inflexível da última vez, dizendo que trabalhou
duro para chegar até aqui e que queria o Departamento de Estratégia
em particular. Diga-me o porquê.
Prendo meu lábio inferior entre os dentes. Ele está brincando? A
Exciteur tem uma das melhores reputações no que diz respeito à
consultoria. É uma empresa multinacional prestes a ingressar nas Cinco
Grandes empresas de consultoria, transformando-as nas Seis Grandes.
A resposta deve ser óbvia.
Mas a intensidade em seu olhar não é nem um pouco brincalhona.
É um lado dele que eu havia percebido no último fim de semana, mas só
depois de conhecê-lo aqui é que eu o vi em toda a sua glória. O bonitão
pode até brincar, mas seu coração é sério.
— Eu era a primeira da turma na Wharton, — digo. — MBA.
Trabalhar em consultoria é um sonho para um graduado em
administração. Nenhuma outra área permite que você obtenha tanta
exposição comercial.
— Wharton?
Eu concordo. Não foi fácil, nem financiar meus estudos nem as
aulas. — Ambos bacharelados e MBA.
— Então você está aqui para aprender.
— Absolutamente.
— Por que estratégia?
Eu encontro seu olhar. — Meus cursos favoritos na faculdade
eram todos sobre estratégia de negócios e gestão estratégica. É a arte de
conectar o passado com o presente, para criar o futuro. O departamento
de estratégia é onde as decisões reais são tomadas. Está bem. Não há
outra área que me interesse tanto.
Ele dá um aceno lento. — A estratégia é a alma de uma empresa.
— Exatamente. As empresas vivem ou morrem com base na
solidez disso, e a Exciteur tem alguns dos melhores estrategistas
corporativos do país.
— Do mundo. — ele corrige.
Eu sorrio, mas não me oponho. Ele provavelmente está certo.
Ele se recosta na cadeira e cruza os braços sobre o peito. Apesar
de saber o nome dele agora, Tristan Conway ainda é um mistério tão
grande quanto era naquela festa escura. Não sei o passado dele, a idade
dele. Seus interesses e hobbies.
— O que foi isso? — Eu pergunto. — Uma segunda entrevista?
Seus lábios se curvam. — Eu nunca consigo falar com os
estagiários. Pensei em mudar isso.
— Então por que Luke e William tiveram que sair?
— Você sabe por que eles tiveram que sair.
Eu me afasto do magnetismo de seus olhos, os nervos dançando
na minha espinha. — Este Dia de Ação de Graças em Família pode ter
começado como uma punição, — eu digo — mas eu gostaria de
agradecer. Já que você escolheu o parque de diversões, este pode se
tornar o maior projeto que participo durante meu tempo aqui.
— Punição?
— Por conta do meu primeiro e-mail. — eu digo. Apenas a
lembrança disso é mortificante, mas eu não desvio o olhar do seu. — Eu
percebo que talvez tenha sido mais direta do que você está acostumado.
Suas sobrancelhas se erguem. — Você não acha que minha equipe
me diz a verdade?
— A julgar pelo que vi hoje, todos os seus funcionários na sala
ficaram surpresos quando você escolheu a opção do parque de
diversões, mas apenas Clive realmente falou sobre suas dúvidas… e
apenas uma vez.
— Você não parece compartilhar a apreensão deles.
Eu solto um suspiro. — Eu realmente quero trabalhar aqui, Sr.
Conway. Mas acredito que já lhe dei motivos para me demitir com
aquele e-mail inicial... mas você não o fez. Espero que não o faça no
futuro.
— Essa é uma grande aposta. — ele comenta, mas um sorriso
brinca em seus lábios. — Para constar, não lhe dei este projeto como
punição.
— Não?
— A Freddie que respondeu aos meus e-mails, que ainda não se
desculpou, a propósito, recusou-se a recuar. Eu queria ver do que aquela
pessoa era capaz quando tivesse a oportunidade.
Oh. — Eu não vou desapontá-lo.
Tristan dá um único aceno. — Eu não espero que você faça isso.
Nossos olhos se encontram e se fixam, o contato visual
prendendo-me no lugar. Como aconteceu na festa, onde atravessou a
multidão de convidados que se misturavam e a música pulsante para me
prender onde eu estava. Desta vez, há apenas uma mesa de conferência
entre nós, e está silenciosa o suficiente para ouvir um alfinete cair.
Minha voz está fraca quando a reencontro.
— Isso foi tudo, Sr. Conway?
Ele limpa a garganta antes de responder. — Sim. E se for
perguntado, sinta-se à vontade para contar a verdade aos seus colegas.
— A verdade?
— Que eu queria saber quem teve a ideia vencedora.
Eu me levanto, juntando meu laptop e notebook, segurando-os
como um escudo contra o meu corpo. — Obrigada.
Ele bate os dedos na mesa, grande demais para esta sala de
conferências. Ele ameaça me engolir inteiro. — E a senhorita Bilson?
— Sim?
— Apesar dos problemas que isso causou, estou feliz por você ter
escolhido esta empresa.
— Eleanor é durona, — Toby me diz — mas ela é justa. Sua
franqueza geralmente é o melhor. Facilita o meu trabalho.
Quentin pega sua cerveja. — Você deveria estar feliz por não estar
aqui durante a aquisição de Conway, no entanto.
— Ela era má naquela época?
— Todo mundo era mau naquela época. — Ele balança a cabeça,
os olhos rastreando minha mão ao redor do copo de uísque na minha
frente. Ambos ficaram surpresos quando eu pedi, como a maioria dos
homens. Adoro surpreendê-los. Como se eles tivessem o monopólio das
bebidas? Por favor.
— A aquisição foi tão dramática assim? — Eu pergunto.
Toby levanta uma sobrancelha. — Você conheceu Conway.
Imagine ele na frente de toda a empresa, anunciando que três
departamentos seriam extintos até o final do mês.
Eu faço uma careta. Não é difícil imaginar as linhas determinadas
do rosto de Tristan, o movimento de seu braço enquanto ele fala as
palavras sem afetação ou equívoco. Dizendo às pessoas em massa que
elas teriam que encontrar um novo emprego.
— Mas isso tornou a empresa mais forte. — admite Quentin,
passando a mão pelo cabelo comprido demais. — Você não pode culpar
o bastardo por isso.
Concordo com a cabeça, meus dedos apertando meu copo. Quando
eu sugeri tomar uma bebida depois do trabalho com meus colegas de
trabalho, eu não esperava que Tristan Conway nos seguisse. Mas aqui
está ele, o tema escolhido.
O sorriso de Toby se alarga. — Sem mencionar o fator
entretenimento. Nunca há um dia chato quando ele está no prédio.
Empregados correndo.
— Quer dizer que você está correndo. — diz Quentin. — Eu nunca
corri na minha vida.
— Eu vi você correndo na semana passada, quando Clive desceu
para falar com Eleanor.
Quentin cruza os braços. — Você precisa comprar óculos novos.
— Fiz isso no mês passado, muito obrigado. — Toby se vira para
mim, piscando. — Óculos de grife pela metade do preço.
— Eles parecem ótimos — eu digo. Os aros laranja
complementam seu elegante terno azul-marinho e combinam com as
cores de sua gravata. — Toby, você disse que tinha um encontro neste
fim de semana?
— Sim. Só espero que esse cara não seja tão horrível quanto o
último com quem marquei.
— O cara do fantoche de meia. — Quentin murmura.
— Cara do fantoche de meia? — Eu pergunto.
Toby dá um aceno sério. — Cara do fantoche de meia. — ele
confirma, despejando seriedade suficiente nas palavras que eu levanto
minhas mãos em derrota.
— Não diga mais.
— Eu não vou. Esses detalhes iriam assombrá-la.
Dou um falso estremecimento. — Onde você está indo com o cara
novo?
— Vamos caminhar pelo High Line. Ele nunca esteve lá.
— Ele é novo em Nova Iorque? — Quentin pergunta.
Toby assente. — Veio de outro estado. O coitado não conhece as
linhas do metrô.
Tomo um gole do meu uísque. — Ei, eu sou de fora do estado. O
que é o High Line?
— Oh, querida. — diz Toby. Quentin balança a cabeça e pega sua
cerveja, a manga grande demais exibindo um relógio digital.
Estendo as mãos apaziguadoras. — É tão ruim assim, não é?
— O pior, receio. — Toby põe a mão na minha. — Você vai me
deixar te mostrar a cidade? Por favor?
— Não diga sim. — adverte Quentin.
— Silêncio — Toby retruca. — Ele só está aborrecido porque me
ofereci para ir às compras com ele e dar algumas dicas construtivas. Ele
recusou.
— Minhas roupas estão perfeitamente bem.
— Você está certo — Toby concorda, um pouco rápido demais. —
Elas estão.
Eu sorrio, olhando entre eles. — Você sabia que vocês dois são
como um velho casal?
— Não, não somos. — protesta Quentin.
Toby balança a cabeça para mim. — Muito fofo, mas não tente
desviar. Quando você se mudou para a cidade?
— Um mês e meio atrás.
— E onde você mora?
— Upper West Side. — eu digo, mas vendo seus olhos
arregalados, eu me apresso em explicar. — Ah, é minúsculo. Estou
praticamente alugando uma caixa de sapatos no último andar. Uma
velha senhora está alugando para mim e ela achou que eu parecia
confiável. Honestamente, sei que tenho sorte de tê-la encontrado...
mesmo que seja a caixa de sapatos mais cara pela qual já paguei.
— Outra em Manhattan. — Toby diz a Quentin. — Veja, é por isso
que você deveria abandonar o Brooklyn e se juntar a nós.
— Não. — diz Quentin.
— Imagine o quão mais curto será o seu trajeto.
— Brooklyn tem alma. Sem ofensa. — ele acrescenta para mim.
— Não me ofendi. — eu digo. — Deveria?
Mas eles se transformaram em uma discussão, e eu sorrio,
observando. As faíscas estão voando. Não sei se Quentin gosta, mas se
ele fizesse... hmm.
Meu telefone vibra no meu bolso. Uma vez. Duas vezes. Puxando-
o, é um número de Nova Iorque que não reconheço. Pode ser trabalho,
mesmo que as chances disso sejam pequenas.
— Me deem um minuto, pessoal. — eu digo, saindo da cabine.
Eu apertei em atender. — Frederica Bilson.
— Freddie?
— Sim, sou eu. — Contorno alguns alunos cantando, abraçados
uns aos outros, e vou direto para a porta.
— Há muito barulho do seu lado.
— Sim, sinto muito por isso. Me dê um momento... — Abro a porta
e saio para o ar fresco de Nova Iorque. — Quem é?
— Tristan Conway. — responde a voz profunda.
— Sr. Conway?
— O próprio. — ele repete, a voz seca. — Estou interrompendo
sua noite?
— Não. Bem, saí para beber com alguns dos meus colegas de
trabalho. Acabei de sair.
— Bom. — diz ele.
Não consigo pensar em absolutamente nada para responder.
Como ele conseguiu meu número? Por que ele está ligando? Não nos
falamos desde a reunião em seu escritório há mais de uma semana.
— Estou ligando por causa do trabalho. — diz ele.
— É sobre o Dia de Ação de Graças da Família? Porque está tudo
a postos para o fim de semana.
— Não, não é sobre isso. — Uma batida de silêncio. — Talvez seja
melhor falar sobre isso quando você não estiver cercada por
funcionários da Exciteur.
— Eu não estou cercada. Eu vim para fora.
— Ainda assim, acho melhor termos essa conversa quando você
estiver em um lugar onde ninguém possa ouvir. Me ligue quando você
chegar em casa.
— Ligar para você, Sr. Conway?
— Sim. Isso está relacionado ao trabalho, senhorita Bilson, mas
acho melhor não termos essa conversa no local de trabalho.
A curiosidade corrói minhas entranhas. — Eu ligo para você assim
que chegar em casa. Quando é tarde demais?
— Estarei acordado. — é a resposta curta. — Falo com você em
breve, senhorita Bilson.
E então ele desliga.
Eu fico olhando para o meu telefone por alguns longos segundos.
Ele não pode estar ligando para me demitir, pode? Não. Eu pensei que o
tinha convencido de desistir de mudar meu estágio para uma empresa
diferente também.
Relacionado ao trabalho.
Mas acho melhor conversar fora do escritório.
— Está tudo bem? — Toby pergunta quando volto para dentro.
Ele tirou o paletó e o colocou inocentemente entre ele e Quentin no lado
da cabine.
— Absolutamente. — eu minto.
O céu escureceu para um preto profundo de meia-noite quando
finalmente chego em casa, no meu prédio, cumprimentando o porteiro
do lado de fora. Não sei quando deixarei de achar surreal o fato de morar
em um prédio com porteiro.
Nova Iorque é minha casa agora.
Retificando, penso, enquanto destranco a porta do meu pequeno
estúdio no último andar. Esta caixa de sapatos cara é minha casa agora.
A única janela oferece vista para os telhados do prédio oposto. Às vezes
há pombos neles. É fascinante.
Sento-me na cama e pego meu telefone. Passa um pouco das onze,
mas ele me disse que estaria acordado.
Tristan atende após o primeiro sinal. — Você saiu tarde.
Eu me irrito com a clara desaprovação em seu tom. — Ainda não
é meia-noite, mas se fosse, seria problema meu.
— Você pode ter um desempenho inferior ao seu padrão normal
amanhã no trabalho. — ele aponta. — Isso faria com que fosse da minha
conta.
— Eu garanto a você, eu sempre atuo no auge da minha
habilidade.
— Como quando você confunde o botão de encaminhamento e
resposta na interface de e-mail?
Um golpe baixo, Sr. Conway. Eu empurro meu cabelo para trás do
meu rosto e solto um suspiro. — Talvez tenha sido uma jogada calculada
— digo, o uísque que bebi falando por mim. — Talvez eu quisesse causar
impacto. Deixar minha marca. A maioria dos estagiários são esquecíveis,
você sabe. Eu não quero ser um deles.
O silêncio é breve e surpreso. Então ele ri sombriamente e eu fecho
meus olhos enquanto o som me lava. Imagino-o ao meu lado no sofá da
Gilded Room, com as feições marcadas pela sombra e pelo desejo.
— Você não é esquecível, Freddie. — ele promete. — Se evitar
esse destino era sua missão, considere-a cumprida.
— Não esperava alcançar o sucesso tão cedo.
— E ainda assim você fez. — Outra pausa. — Para onde você foi
esta noite?
— Um bar perto do trabalho.
— Você pegou um táxi para casa?
— Eu andei. — eu digo, cavando meus dedos no edredom grosso
debaixo de mim. Como estou deitada aqui, tendo essa conversa com ele?
— Você andou? Você mora perto do bar, então?
— Sim, Upper West Side. Fomos para o bar ao lado do trabalho.
— Andar não é necessariamente seguro.
— Este bairro é um dos mais seguros da cidade. Além disso, havia
pessoas na rua. Você volta para casa sozinho?
— Freddie…
— Sr. Conway.
Há uma diversão relutante em sua voz. — Espero que seus colegas
de trabalho a satisfaçam.
— Eles são pessoas adoráveis. — eu digo. — Você disse que isso
era relacionado ao trabalho, senhor?
— Eu disse. Você sabe, não é necessário que você me chame de
senhor.
— Seus outros funcionários sim.
Ele suspira. — Você tem razão. A propósito, foi por isso que liguei
para você.
— Para discutir como devo chamá-lo? Acredito que já tivemos
essa conversa antes. — As palavras são arriscadas, lembrando a nós dois
da noite que não devemos falar.
A voz de Tristan fica sombria. — Nós conversamos. — diz ele. —
Eu também não acredito que tenhamos acertado alguma coisa.
— Você é difícil de definir.
— Impossível. — diz ele. — Eu nunca deixei ninguém tentar.
Eu respiro fundo. — Por que você me ligou, senhor?
— Acredite ou não, é relacionado ao trabalho.
— Então você disse, sim.
— Também é sensível.
— Informação confidencial?
— De certo modo. Diga-me, Freddie, onde você se vê no final deste
estágio?
— Minha ambição é a informação confidencial?
— Engraçado. — diz ele, mas o profundo barítono de sua voz soa
como se ele estivesse sorrindo. — Não. Você se vê com um emprego fixo
aqui?
— Potencialmente. — eu digo. — Não descarto a possibilidade e,
se me oferecessem, provavelmente diria que sim.
— É bom saber.
— Para onde essa conversa está indo?
— Tenho uma proposta para você. — diz ele.
Meu cérebro entra em curto-circuito.
Ele não pode estar dizendo o que eu acho que ele está dizendo,
pode? Eu pressiono a mão no meu esterno enquanto as palavras fluem.
— Tristan, eu não posso fazer isso. Você não pode me pedir isso. Eu não
sou do tipo que...
— Cristo, Freddie, eu não estou pedindo isso a você. Não.
Eu relaxo de volta na cama, meu coração disparado no meu peito.
— Ok.
— Eu deveria ter formulado de forma diferente. — Um som
frustrado, e posso vê-lo na minha frente, passando a mão pelo cabelo
grosso. — Não, eu não pediria isso. Isso é sobre o Departamento de
Estratégia.
— Isso é?
— Acredito que temos um espião.
Eu franzo a testa. — Alguém está passando informações?
— Sim. Nossos concorrentes estão ficando sabendo sobre as
estratégias de negócios que estamos propondo para nossos clientes, e
isso não aconteceu apenas uma vez.
— Como você sabe?
— Eu tenho minhas fontes. — diz ele.
— E você tem certeza que está vindo do setor de Estratégia?
— Eu eliminei as outras possibilidades. Estratégia e
administração são as únicas pessoas que lidam com essas informações,
e sei que não é a administração.
Eu viro de lado. — Você quer que eu mantenha meus olhos e
ouvidos abertos?
— Sim. Você é nova, você é uma estagiária. Pode haver muitos em
seu departamento que pensariam em ignorá-la.
— Obrigada. — Mas estou sorrindo.
— É a perda deles. — diz ele. — Sem mencionar que ninguém vai
suspeitar que você tenha ouvido da gerência. Pelo que eles sabem, você
e eu nunca conversamos fora da reunião de Ação de Graças.
Os rostos dos meus colegas de trabalho piscam diante de mim.
Toby. Quentin. Eleanor. As três mulheres que trabalhavam em nosso
escritório que nunca me deram mais do que um aceno educado.
— Não é bom saber que uma das pessoas com quem estou
trabalhando não está na mesma equipe.
A voz de Tristan se aprofunda. — Eu sei. Estou pagando a um deles
pelo privilégio de trair minha empresa.
— Eu vou fazer isso. Claro que eu vou.
— Bom. — diz ele. — Acho que é melhor que isso fique fora da
empresa.
— Tudo bem. O que isso significa, exatamente? Eu só relato o que
encontrar para você por telefone?
— Sim. — é sua resposta rápida. — Nós mantemos isso fora dos
servidores de e-mail da empresa, não falamos sobre isso no trabalho.
— Soa como um plano.
— Excelente. — diz ele. — Talvez finalmente peguemos esse
bastardo.
Não posso deixar de perguntar: — Por que eu?
— Porque não você? — ele retruca.
— Quero dizer, por que você confia em mim?
Há uma batida de silêncio, estendendo-se entre nós. Onde ele está
em Nova Iorque? Talvez ele more apenas a alguns quarteirões de
distância e esteja sentado sozinho em seu apartamento, assim como eu.
— Confio na sua ambição, — diz finalmente — porque a
reconheço.
O chão que estamos pisando treme abaixo de mim. É um elogio,
mas é mais do que isso. É reconhecimento. Ele penetra em meu peito e
me aquece enquanto se espalha. — Você ainda está no escritório?
— Não. — diz ele. — Estou em casa.
— Você foi para casa sozinho?
Sua voz é divertida. — Não, eu não fiz. Eu não dou conselhos que
eu mesmo não sigo.
— Isso é incomum.
— Na verdade, estou olhando para o parque. Eles começaram a
montar a feira de diversões.
Seu apartamento tem vista para o Central Park. Não deveria me
surpreender, mas surpreende. Imagino-o parado em frente a janelas que
vão do chão ao teto, uma mão no bolso da calça e a outra segurando o
telefone.
— Parece bom?
— Parece grande. — diz ele. — Enviarei a você os nomes de
algumas pessoas amanhã. Elas não são funcionários, mas quero que
tenham acesso ao Dia da Família de Ação de Graças.
— Claro. Parceiros de negócios seus?
Sua voz é seca. — Mais como alguém cobrando um favor.
— Vou fazer isso imediatamente.
— Bom.
Nenhum de nós diz nada, mas sua presença é algo palpável do
outro lado da linha. Eu não quero desligar.
E acho que ele também não quer.
Fechando meus olhos, eu expiro a admissão. — Perceber que
enviei o primeiro e-mail foi mortificante.
Sua voz suaviza. — Imaginei.
— Mas você sabe... eu não sinto muito.
— Nem eu, Freddie. — ele murmura. — Nem eu.
O dia chegou.
Em vez de uma tarde normal de sexta-feira no Exciteur, o
escritório mudou para o Central Park. Vejo Eleanor entrando na feira de
diversões com uma adolescente loira ao seu lado, os olhos da garota
brilhando quando avistam uma barraca de algodão doce.
Sim, foi uma boa ideia.
— Temos segurança na entrada com listas de nomes. — Reece diz
ao meu lado. Quinze anos mais velha do que eu, a planejadora de eventos
da Exciteur não ficou nem um pouco satisfeita ao receber instruções de
três estagiários. Eu dei a ela todo o poder que pude para neutralizar isso
e aceitei cada uma de suas sugestões.
— Isso é excelente.
— Tudo deve correr bem agora. — diz ela. Seu telefone toca e ela
olha para baixo. — Só que alguém esqueceu de colocar a placa de aluguel
particular na saída, e agora há uma fila. Droga... — Ela desaparece no
caminho em um passo determinado.
Luke balança em seus calcanhares ao meu lado. Ele é estagiário no
departamento de vendas e seu sorriso é tão largo quanto gigante. — Não
acredito que conseguimos isso.
— Nunca pensei que eles aceitariam isso em primeiro lugar. —
diz William. — Quem sabia que todas essas pessoas tinham filhos?
— Como eles fazem isso? Trabalhei até às nove todas as noites na
semana passada. — Luke diz. — Os outros do meu departamento
estavam lá comigo.
Eu amarro novamente o cós do meu casaco, puxando-o mais
apertado em volta de mim. Não há calor no ar do final de novembro. —
É bom que a empresa esteja fazendo isso, então. Dando-lhes tempo para
se divertirem.
Examino a multidão, espantada com o número de pessoas. A
Exciteur realmente emprega tantas pessoas? Quando estamos todos
empilhados uns sobre os outros no prédio de andares altos no Upper
West Side, não há como saber.
Meu olhar se prende a uma figura alta. Ele está vestindo um casaco
azul marinho sobre o terno, um lenço cinza em volta do pescoço. Seu
cabelo grosso está puxado para trás, a barba de alguns dias sem se
barbear acentuando o quadrado de sua mandíbula.
Eu ainda posso ouvir sua voz profunda em meu ouvido. Sentir o
peso de seu corpo contra o meu.
— Freddie?
— Desculpe?
Luke sorri para mim. — Você estava completamente perdida por
um momento. Você está animada para o bar mais tarde?
— Um sim. Absolutamente. — Enfio as mãos no bolso do casaco.
— Vou dar uma volta, ver se está tudo em ordem. Falo com vocês depois.
Abro caminho pela feira meio vazia, tentando localizá-lo
novamente. Passo por Toby e Quentin brincando no lance do anel e
sorrio para mim mesma. Tristan é alto o suficiente para se destacar...
deveria estar aqui em algum lugar.
Eu viro a esquina em um jogo de carnaval e lá está ele.
Tristan Conway, encostado no balcão de uma cabine de jogos. Ele
está com a mão no ombro de um garoto de cabelos escuros. Pisco, mas a
imagem não desaparece.
— Posso tentar, pai? — o menino pergunta.
Tristan entrega a ele um jogo de dardos. — Mantenha o cotovelo
firme e aponte para os balões.
— Eu sei. — diz o menino.
Um sorriso aparece no rosto de Tristan. — Claro que você sabe.
Seu filho, por que ele tem um filho, mira e lança o primeiro dardo.
É quando Tristan olha por cima do ombro. Nossos olhos se encontram.
Estou presa.
— Olá — diz ele.
Eu engulo. — Oi. Não queria emboscar vocês dois assim.
— Isso não é um problema. — Tristan olha para o menino, mas
ele está profundamente concentrado. — Bom trabalho na feira.
— Obrigada. Tudo o que fiz foi reservar, no entanto. — Eu dou um
sorriso torto, minha mente ainda funcionando. Tristan Conway é pai.
— Assuma o crédito — ele me aconselha.
— Ok.
O menino se vira. — Não acertei nenhum.
— Tente de novo — diz Tristan, estendendo um novo conjunto de
dardos. — Realmente se concentre em mirar.
O menino puxa para trás um cacho escuro que caiu sobre a testa.
Eu diria que ele tem nove, dez. — Vou acertar um desta vez.
— Claro que vai, garoto. — Tristan deve ter percebido minha
curiosidade, mas não diz nada, apenas passa a mão pelo pescoço. Sua
mandíbula está tensa.
Seu filho me vê e me dá um pequeno aceno, com os dardos na mão.
— Olá.
— Olá — eu digo.
Tristan gesticula para mim. — Essa é a Frederica. Ela trabalha
para mim.
— Eu sou Joshua. — seu filho diz educadamente. — É um prazer
conhecê-la.
— Também é um prazer te conhecer. Você está jogando dardos?
— Sim. Você deve acertar os balões. Se você acertar três deles,
ganha um prêmio.
— Qual é o prêmio?
Ele se vira para a cabine. A garota que comanda está de lado, com
os olhos grudados no telefone. Mas o teto está coberto de bichos de
pelúcia pendurados em cordas. — Eu não tenho certeza.
Tristan aponta para uma placa na parede. — Três acertos e você
pode escolher qualquer bichinho de pelúcia.
— Qual desses você escolheria? — Eu pergunto, dando um passo
ao lado dele. Minha mão vai para minha carteira, procurando moedas.
— Acho que quero o elefante gigante.
Joshua me dá um sorriso, tingido de timidez e prazer. — Você
gosta de elefantes?
— Eles são um dos meus animais favoritos — eu digo.
— Eu os vi algumas vezes. — ele oferece. — Papai e eu fomos para
a Tailândia no ano passado com a vovó no Natal. Visitamos um santuário
de elefantes. — Ele pronuncia santuário com muito cuidado, me fazendo
sorrir.
— Isso é incrível.
— Isso é. — Ele faz uma pausa, olhando para seu pai antes de
voltar seu olhar para mim. — Você sabia que eles têm as melhores
memórias de qualquer animal?
— Oh, eu sei, isso não é legal?
— O mais legal. — ele concorda. — Você quer jogar dardos
também? Pai, ela pode pegar alguns dardos?
Tristan abre a boca, mas eu o adianto, tirando duas moedas da
minha carteira. — Eu vou jogar.
— Bem, suponho que isso significa que eu também devo. — diz
Tristan. Ele acena para a adolescente que gerencia o estande. Ela aceita
minhas moedas, mas Tristan lhe dá uma nota de vinte. — Dê-nos um
balde.
Ela sorri, mas não diz nada. Alguns segundos depois, há um
suprimento quase ilimitado de dardos entre nós.
Eu levanto minha sobrancelha para ele. Tristan apenas dá de
ombros, pegando um. — Esta é uma boa prática de tiro ao alvo.
Joshua mira, a língua apertada entre os dentes. Ele erra por pouco.
— Caramba. — diz ele. — Pai, sua vez. O que você vai escolher se ganhar?
Tristan pesa um dardo na mão. Meus olhos acompanham a força
de sua mandíbula, os fracos pés de galinha nas bordas de seus olhos. Ele
não pode ser mais de dez anos mais velho do que eu, mas tem um filho
desta idade. É difícil sobrepor a imagem dele aqui, conversando com seu
filho, com o homem que conheci na Gilded Room.
Tristan Conway, o enigma.
— Não sei. — Ele aponta, mandíbula tensa, e joga. Um balão
estoura com um estalo alto.
— Bem feito!
— Obrigado, garoto.
— Se eu ganhar, acho que também quero um elefante. — Joshua
me diz, pegando um dardo. — Embora eu ache que as baleias são mais
legais.
— Baleias?
— Temos assistido muito ao Blue Planet. — esclarece Tristan. Sua
voz é profunda, controlada... mas há um tom de embaraço aí?
Não consigo imaginá-lo relaxando na frente da TV, ponto, mas
menos ainda assistindo a um documentário sobre a natureza com uma
criança. Mas enquanto penso nisso... surge uma imagem dele fazendo
exatamente isso. Minha impressão do homem muda novamente,
tornando-se ainda mais atraente.
— Eu vi O Blue Planet. — eu digo. — Parece incrível. Eu realmente
quero aprender a mergulhar um dia e obter meu certificado.
— Você quer? — Joshua pergunta. — Eu realmente quero tentar
também. Supostamente, sou muito jovem.
— Você é muito jovem. — diz Tristan. — Não há nada de
supostamente sobre isso. Mas vamos mergulhar quando você for mais
velho.
— Papai e eu gostamos de viajar — Joshua me diz. — Nós vamos
a algum lugar em todas as minhas férias escolares.
Eu sorrio para esse garoto tagarela, olhando dele para Tristan. Os
olhos são os mesmos, mas um par está olhando para mim aberto e
excitadamente, o outro com algo como cautela. — Sua vez — Tristan me
diz, apontando para o dardo ainda na minha mão. — Vamos ver o que
você consegue.
Eu lanço e erro, mas meu segundo tiro faz um balão explodir. Eu
faço um gesto de vitória. — Um já foi, faltam dois.
Joshua olha entre nós antes de fixar seu olhar nos balões à
distância. Tristan lhe entrega um dardo silenciosamente. Ele mira…
E um balão estoura.
— Sim! — Ele cumprimenta Tristan. — Isso foi incrível.
— Foi — confirma Tristan. — Você realmente pegou o jeito.
Nossos olhos se encontram sobre a cabeça de Joshua. Talvez ele
possa ver as perguntas nos meus, mas Tristan apenas me dá um único e
elegante encolher de ombros. Ele se volta para os balões.
Onde está a mãe de Joshua? Tristan é divorciado? Viúvo? A
curiosidade queima mais forte em meu estômago, o desejo de desvendar
seus segredos. Joshua acerta outro balão. Ele grita com um estalo
audível, tirando-me dos meus pensamentos.
— Legal — diz Tristan. — Apenas mais um…
São necessárias mais duas tentativas, mas ele acerta uma terceira.
Ele nos dá high fives depois disso, seus cachos balançando enquanto ele
pula. — Sucesso!
— Sucesso — ecoa Tristan. — Qual bichinho de pelúcia você
quer?
Joshua examina o teto. Não tem baleia, mas tem golfinho. Ele
aponta para o elefante. — Aquele.
— Realmente? Boa escolha. — eu digo.
— Eu sei. — diz ele, com a confiança suprema de uma criança. Ele
o enfia debaixo do braço e nos afastamos da cabine, deixando a
adolescente navegando nas redes sociais.
Tristan põe a mão no ombro de Joshua. — Eles estão aqui. — diz
ele calmamente.
Joshua fica imóvel, seu olhar examinando a multidão. Não vejo
nada fora do comum. Apenas pessoas circulando, uma criança
segurando algodão-doce. À distância, posso distinguir Toby e Quentin
em um Bate-Bate.
— Oh — Joshua diz fracamente. — Ela chegou.
— Claro que ela chegou. — diz Tristan. — Vá em frente, vamos
falar com eles.
Mas eles já nos viram, aparentemente, um homem de meia-idade
e uma mulher com uma garota da mesma idade de Joshua caminhando
em nossa direção. A garota está sorrindo, seu cabelo louro em uma
trança.
— Olá, Joshua — ela diz com uma voz acentuada. Francês?
— Oi — ele murmura.
— Esse lugar é do seu pai?
Ele não diz nada. Tristan interrompe, estendendo a mão para os
pais. — Tristan Conway, o pai de Joshua. Obrigado por ter vindo.
— Obrigada por nos convidar. — a senhora diz, e ela é
definitivamente francesa. — Ainda não conhecemos nenhum pai da
escola de Danielle.
— Não, as pessoas gostam de ser reservadas. Mas tenho certeza
que haverá uma oportunidade de conhecer outras pessoas em breve. —
diz. — Haverá uma venda de bolos ou uma caminhada logo.
Ok, esta é a minha deixa para sair. Não só conheci o filho dele,
como agora estou invadindo seu convívio com outros pais.
Dou um passo cuidadoso para trás. — Eu vou te ver…
— Você quer ir na roda gigante? — Joshua pergunta a Danielle.
Sua voz é alta. — É muito alto.
— Ah, posso, mamãe?
— Eu vou com eles — diz Tristan. — Eu estarei na cabine atrás
deles.
— Por que não? Estaremos na barraca de cachorro-quente,
Danielle.
Joshua se vira para mim. — Você e papai podem ir em uma cabine
e Danielle e eu em outra.
— Eu não…
— Parece bom. — Tristan interrompe.
— Você vai cuidar disso? — Joshua me entrega o elefante de
pelúcia e eu agarro a pelúcia. A longa tromba desce pelo meu braço. Abro
a boca para protestar, mas as crianças já estão indo para a roda-gigante.
Uma mão leve nas minhas costas e Tristan está me direcionando atrás
deles.
— Desculpe por isso. — ele murmura.
— Não, tudo bem. — murmuro de volta. A roda-gigante não é tão
alta, é? É no Central Park. Não estamos falando de Six Flags aqui.
Eu deveria ser capaz de fazer isso.
Eu posso fazer isso.
— Estes eram seus convidados especiais?
— Sim — diz ele. — Danielle é uma amiga de Joshua da escola.
— Eu não sabia que você tinha um filho.
Sua respiração é silenciosa, mas audível. — Eu sei.
— Me desculpe se eu... me intrometi lá atrás. Acho que você não
gosta de misturar negócios com sua vida privada.
— Não. — ele diz — não gosto.
— Anonimato. Entendo.
Quando ele abre a trava da roda-gigante, ele me dá um olhar
sombrio que me dá arrepios na espinha. O cara que comanda a atração
acena para Danielle e Joshua se sentarem na carruagem, e as crianças
entram, conversando o tempo todo.
— Eu estarei bem atrás de vocês. — Tristan diz a eles. — Chame
se precisar de alguma coisa e fiquem quietos na cabine.
— Eu sei, pai. — responde Joshua.
Tristan estende um braço para nossa cabine. — Depois de você.
Minhas mãos seguram o elefante com força. É apenas uma roda-
gigante, Freddie. E eu li pessoalmente as diretrizes de segurança da feira
de diversões antes de reservá-la. O que pode dar errado?
Entro na cabine e sento no banco de metal frio. Ele oscila
precariamente enquanto Tristan me segue, dobrando suas longas
pernas no espaço. Sua coxa pressiona contra a minha nos limites
apertados da cabine.
O atendente fecha a trava de metal atrás de si, recuando. — Todo
mundo pronto?
Não, eu penso. Como faço para sair disso?
— Sim. — Tristan diz de volta.
O mecanimos entra em ação e nossa cabine balança com o súbito
solavanco do movimento. Agarro a barra de metal à nossa frente e me
concentro no calor dele ao meu lado, evidente mesmo através do tecido
grosso de nossos casacos.
— Isso ficou muito bom — diz ele. — Você fez um ótimo trabalho.
— Obrigada. — Começamos nossa subida, as pessoas e as
arquibancadas abaixo de nós encolhendo a cada centímetro que
subimos.
Eu fecho meus olhos.
— Agora você conheceu Joshua.
Concordo com a cabeça, minhas palavras emergindo através dos
dentes cerrados. — Ele é adorável.
Tristan limpa a garganta. — Não falo sobre minha família no
trabalho. Também não faço isso em festas.
— Eu entendo. Anonimato e tudo isso.
— Sim. — Ele se mexe na cabine e ela balança embaixo de nós. Eu
pressiono meus lábios em uma linha apertada.
Não vou abrir os olhos de jeito nenhum até que estejamos seguros
de volta ao chão.
— Freddie? Você está bem?
— Sim, absolutamente.
— Você ficou completamente branca. — Sua voz fica mais baixa,
e quando ele fala de novo, está mais perto do meu ouvido. — Você não
gosta de altura.
— Não sou membro do fã-clube, não. — Uma inspiração, uma
expiração. Isso é tudo que eu tenho que fazer.
— Por que diabos você veio até aqui comigo?
Dou uma pequena sacudida no bichinho de pelúcia em minhas
mãos. — Seu filho me pediu para proteger seu elefante.
— Freddie… — Sua voz está frustrada, e tão, tão perto. Tenho que
abrir os olhos para espiar.
Ele está a apenas alguns centímetros de distância e me observa
com uma pequena ruga em sua testa. Concentro-me em seus olhos. —
Está tudo bem — murmuro. — Eu só tenho que me concentrar em não
entrar em pânico.
— Isso mesmo. — Ele fica quieto por um instante, mas depois tira
uma luva de couro e arranca uma das minhas mãos do elefante. Eu
aperto seus dedos com força e fecho meus olhos novamente. Sua pele é
quente e ligeiramente áspera contra a minha, minha mão
desaparecendo completamente dentro da dele. — São apenas duas
voltas.
— Duas?
— Ficará tudo bem. Apenas respire, ok?
— Estou respirando. — Eu inclino minha cabeça para trás contra
o assento e aumento meu aperto em sua mão. — Respirar é a única coisa
que posso fazer agora.
— Então vamos nos concentrar nisso — ele murmura, mas eu não
faço o que me mandam. Eu me concentro em sua mão e sua voz também.
É profunda e calmante, como velvet amassado derramado em uma
xícara escura de café expresso.
— Fale comigo?
— Tudo bem. Então… os elefantes são o seu animal favorito.
Agora posso atribuir isso à lista de coisas que sei sobre você.
— Deve ser uma lista bastante curta — murmuro.
— Não tão curta. Fiz várias observações.
Apesar de mim mesma, meus lábios puxam. — Tenho certeza de
que não quero ouvir todas.
— Bem, nem todas estão aptas para uma conversa educada. Não
significa que elas ainda não fazem parte da lista. É mental. Não se
preocupe.
— Eu não vou.
— Eu diria que a vista é incrível, mas não acho uma boa ideia você
abrir os olhos agora.
Eu os fecho com mais força. — Estou fingindo que estamos no
chão.
— Continue fingindo.
Meu cabelo levanta com a brisa e eu me inclino para ele, como se
pudesse me esconder da altura. Se está ventando, devemos estar no
topo.
Não pense nisso, não pense nisso, não pense nisso.
Eu ouço o farfalhar de outra luva sendo removida, e então minha
mão está segura nas duas dele. A sensação me ancora. — Você está bem
— diz ele. — Eu estou com você.
Uma inspiração profunda. Uma respiração profunda.
Meus dedos apertam os dele. — Obrigada. Isso é... levemente
humilhante.
— Não é. Além disso, você não estaria aqui se não fosse por mim.
— Isso não torna menos embaraçoso. — murmuro. Se alguma
coisa, torna-se ainda mais. Ele não apenas sabe o quanto detesto alturas,
mas também sabe que as enfrentei para passar mais tempo com ele. Eu
deveria ter enviado a ele outro e-mail com as palavras Não consigo parar
de pensar em você e acabar com isso.
— Não sei o que você quer dizer com isso.
Eu dou um pequeno aceno de cabeça. — Deixa para lá.
Seu polegar se move sobre as costas da minha mão em um círculo
pequeno e apertado. — Joshua gostou de você rapidamente — diz ele.
— Eu fiquei surpreso.
Quero fazer mil perguntas, e a única coisa em que posso me
concentrar é manter a calma. — Oh?
— Sim. — Um bufo. — Ele não entende o que eu faço para viver, e
me pergunto se hoje só vai confundi-lo mais.
Meus lábios puxam. — Bem, o capitalismo de risco é um conceito
difícil de explicar a uma criança.
— Isso é. — Sua voz turva, perto do meu ouvido. — Também não
foi um de seus palpites, quando você tentou pensar no que eu
trabalhava.
A memória da Gilded Room toma conta de mim, de nós sentados
assim, eu deitada sobre ele em um sofá em uma alcova escura.
Meu estômago aperta. — Eu não tinha imaginação suficiente.
— Ou capitalismo de risco não parecia sexy o suficiente.
Eu engulo, meus olhos ainda fechados. — Não, é sexy.
Completo silêncio.
Caramba. Abro um olho, apenas para vê-lo me olhando com uma
sobrancelha levantada. A escuridão em seus olhos gira com humor. —
Então você não ficou desapontada por eu não ser um chefe da máfia?
— Sinceramente… fiquei desapontada quando descobri que você
era o CEO da Exciteur.
Sua boca se abre. — Você ficou?
— Sim — murmuro. — Porque isso significa que nunca mais
podemos nos encontrar em uma festa na Gilded Room.
Seus olhos escuros perfuraram os meus, quietos por um longo
tempo. Não vejo a paisagem se movendo atrás dele. Mal registrei o
engate na cabine quando finalmente voltamos da segunda volta,
parando no solo.
Eu falei demais.
Mas então ele murmura algo que desliza pela minha pele como
seda, suas mãos soltando as minhas. — Eu também, Freddie.
O Dia da Família de Ação de Graças transcorreu sem problemas.
Luke, William e eu conseguimos, e mesmo que fosse mais
gerenciamento de eventos do que gerenciamento de projetos, ainda
estou orgulhosa. Sorrindo para mim mesma, dou um passo para trás e
examino as fotos recém-emolduradas na minha cômoda. As fotos que eu
tinha ampliado chegaram pelo correio ontem mesmo, uma do meu avô,
outra dos meus pais.
Três das pessoas mais trabalhadoras que conheço. Também as
três pessoas que mais acreditam em mim. Meus pais compraram uma
garrafa de champanhe quando recebi o e-mail dizendo que tinha sido
aceita no programa de profissionais juniores da Exciteur.
Bem ao lado de suas fotos está meu diploma universitário
emoldurado e alguns livros sobre negócios, completando a vinheta.
É o meu santuário para o sucesso.
Um dia, penso, olhando em volta do meu pequeno apartamento,
não vou mais morar em um lugar sem forno. Tudo o que tenho é um
fogão, um micro-ondas e uma geladeira em miniatura.
Que também está vazia.
Fecho a porta da geladeira e olho para o relógio. A delicatessen na
rua está aberta por mais uma hora... seria minha quarta vez esta semana.
Eu sou sem vergonha o suficiente?
Absolutamente.
Acabei de vestir minha jaqueta quando meu telefone toca, e o
número é familiar, fazendo meu coração disparar. Não nos falamos
desde o Dia de Ação de Graças em Família e nem o vi no trabalho. Não
que eu fosse capaz de falar com ele lá, mesmo se eu o visse.
Eu cliquei em atender. — Olá?
— Freddie.
— Tristan. — Minha mão se atrapalha com a chave. — Como vai
você?
Humor colore sua voz, como se ele estivesse se divertindo com
minha tentativa de normalidade. — Bem. Como vai você?
— Excelente.
— Excelente? Que bom ouvir isso.
— O que posso fazer por você?
— Eu queria ver como você está indo em sua tarefa, aquela sobre
a qual conversamos por telefone algumas semanas atrás.
— O espião no Departamento de Estratégia.
— O mesmo.
Puxo a única cadeira da minha mesa e me sento. — Ainda não
descobri nada. Estou mantendo meus olhos abertos, no entanto. Talvez
quando eu for convidada para reuniões mais importantes.
— Hum. Eu me pergunto se podemos acelerar isso de alguma
forma.
Eu franzo a testa. — Não tenho certeza... quer dizer, quero me
provar pelo meu trabalho.
— Não tenho dúvidas de que você fará exatamente isso, Freddie.
— Obrigada. — Eu me abaixo e calço uma das minhas botas. O
tempo piorou e o frio no ar se transformou em um gostinho de inverno.
— Eu realmente estou tentando ouvir as coisas, no entanto. Não tenho
certeza de quanto mais sorrateira posso ser. Se eu for trabalhar com um
sobretudo e um jornal furado, eles vão começar a suspeitar de alguma
coisa.
A risada profunda de Tristan ecoa pelo telefone. — É quase uma
ideia que vale a pena considerar.
— O espião pode correr, sabendo que estamos atrás dele. Você
teria que pedir o segurança para persegui-lo.
— Ou ela — acrescenta. — Minha empresa está comprometida
com a igualdade de gênero.
— Que nobre da sua parte.
— Todos nós fazemos o que podemos.
Eu mordo meu lábio, sorrindo ao telefone. Não devíamos estar nos
telefonando assim. Falando assim. E, no entanto, aqui estamos nós.
— Obrigada pela semana passada — eu digo. — Na feira.
— Não mencione isso — diz ele.
Mas eu tenho que mensionar. — Desculpe. Eu não deveria ter
entrado naquele passeio em primeiro lugar.
— Eu não deveria ter presumido que você queria — ele retruca.
— A culpa é minha, não sua.
É absolutamente minha culpa, mas não pressiono o ponto. —
Vamos concordar em dividir a culpa, então. Igualdade de gênero e tudo
mais.
— Tudo bem. Estamos realmente tomando uma posição aqui, não
estamos?
— Seremos mencionados nos livros de história.
Ele limpa a garganta. — Pelo menos eu não te peguei em um bar
esta noite. Você está entre os compromissos sociais da noite?
— Eu não vou a bares todas as noites — eu provoco. — Apenas a
cada duas noites.
— Oh, para viver a vida descuidada de um estagiário.
Pego meu gorro, a barriga roncando. — Eu trabalhei até tarde e
depois voltei para o meu apartamento.
— No Upper West Side.
— Sim.
Uma breve pausa, como se estivesse considerando suas próximas
palavras. Mas então elas vêm. — Você sabe que eu também moro no
Upper West Side.
— Eu me lembro — murmuro. — Podemos ser vizinhos.
— Podemos ser.
— Eu estava apenas planejando sair, na verdade.
— Para um bar?
— Não, para uma delicatessen. A que fica na minha rua tem o
melhor sanduíche de pastrami.
— O melhor?
— Sim. Eles também servem comida chinesa, que é uma mistura
interessante, mas de alguma forma eles conseguem.
— Nunca ouvi falar de um lugar como esse nesta área.
— Bem, é muito bom — eu digo. E então, antes que eu possa me
conter — Você quer ir?
Minha pergunta paira no ar entre nós, e dita em voz alta, soa
ridícula. Ele está ocupado. Ele tem um filho, uma empresa e
provavelmente uma geladeira muito mais bem abastecida do que a
minha.
— Tudo bem. — diz ele. — Me mande uma mensagem com o
endereço.
— Eu vou.
— Vejo você em breve — diz ele, desligando.
Olho para o meu telefone meia horrorizada, meia maravilhada.
Tristan Conway vai me encontrar na pequena e pouco sofisticada
delicatessen da minha rua.
Às nove da noite de uma quinta-feira.
Corro para o banheiro e limpo as manchas de rímel sob meus
olhos de um dia inteiro de uso. Uma pitada rápida de blush, uma escova
no meu cabelo escuro... vai ter que servir.
Estou a meio caminho da porta quando percebo que esqueci as
balas de menta. Finalmente pronta para ir. Não, esqueci o perfume. Levo
alguns minutos antes de finalmente me sentir apresentável o suficiente
para me aventurar.
Ele está esperando do lado de fora da delicatessen quando chego.
Encostado na parede de tijolos, as mãos nos bolsos do casaco azul-
marinho.
Eu engulo com a visão. Não há como ele estar aqui, esperando por
mim. Mas ele está.
Ele acena quando me vê. — Freddie.
— Tristan.
— Então este é o seu lugar preferido?
Eu dou a ele um sorriso torto e abro a porta da delicatessen. —
Não critique até experimentar.
Ele levanta a mão em sinal de rendição, um sorriso brincando em
seus olhos. — Eu não vou.
Pedimos um sanduíche de pastrami para cada um e um prato de
batata frita para dividir. O caixa familiar com um gorro me dá um sorriso
largo.
— De volta, hein? — ele pergunta.
— Eu não consigo ficar longe. — eu admito. — Vocês me salvam
quase todas as noites.
— Bem, o prazer é nosso. — Ele lança um olhar para Tristan. —
Fico feliz em ver que você está trazendo amigos também. Impulsiona
nossos negócios.
— A qualquer hora, Kyle.
Tristan e eu nos sentamos nas cadeiras de plástico perto da
vitrine. Há um sorriso nos cantos de seus lábios, um que eu me lembro
da provocação na Gilded Room.
— O que? — Eu pergunto.
O sorriso se transforma em um sorriso. — Eu não esperava por
isso.
— Oh?
— Não. Você geralmente é tão… Adequada. Autocontida. — Ele
levanta uma sobrancelha. — Puritana. Eu não teria pensado que você
seria um regular em um lugar como este.
— Então uma boazinha reformada não pode ir a um buraco na
parede3 para comer? — Balanço a cabeça para ele e pego uma batata
3Geralmente um lugar pequeno e precário (geralmente um bar ou uma boate) que possui
equipamentos, móveis de muito baixa qualidade, etc., mas às vezes oferece a melhor variedade de
entretenimento em qualquer noite.
frita. — Não esperava que alguém que frequenta... bem, os lugares que
você frequenta, fosse tão limitado.
— Mente estreita. — Tristan pega sua própria batata frita, seus
dedos roçando os meus. O pequeno contato envia eletricidade subindo
pelo meu braço. — Estou ofendido, Frederica.
— Frederica?
— Seu nome é lindo. Não sei por que você insiste em ser chamada
de Freddie.
— Eu gosto de Freddie.
Ele balança a cabeça, inclinando-se para trás. A cadeira de plástico
range ameaçadoramente sob seu corpo de um metro e oitenta. — Eu
também, quando não estou me enganando pensando que você é um
homem.
— O engano não foi intencional. — Rasgo o papel que envolve
meu pastrami. — Este aqui é o melhor sanduíche que Nova Iorque tem
a oferecer.
Um olhar para cima revela Tristan, braços cruzados sobre o peito,
olhando para mim.
— Eu disse algo errado?
— Há quanto tempo você disse que mora em Nova Iorque?
— Hum, um mês e meio. Não, quase dois agora.
— Então você não está em posição de julgar o melhor sanduíche
da cidade. — Ele alcança o seu próprio. — Há quase tantos restaurantes
quanto pessoas nesta cidade, e há uma tonelada de pessoas, então isso
quer dizer muito.
Dou uma mordida no sanduíche e os sabores explodem em minha
boca. Pastrami. Coberto de Reuben. Pão de centeio. Limpando a boca
com o guardanapo, balanço a cabeça para ele.
— Não me diga que você é um dos nova-iorquinos esnobes.
— Nova-iorquinos esnobes?
— Sim — eu digo. — Que desprezam tudo o que um turista
gostaria.
Ele dá uma mordida em seu sanduíche, seu olhar não deixando o
meu. Eu espero enquanto ele mastiga. — Bom, certo?
— É bom — ele admite. — Não é o melhor que a cidade tem a
oferecer, no entanto. E só para constar, não desprezo tudo o que um
turista gosta. Eu só... desdenho que eles também estejam aqui.
Eu rio, recostando-me na cadeira. — Esse pode ser o sentimento
mais nova-iorquino de todos os tempos. Apesar do dinheiro que eles
trazem para a cidade, você prefere mandá-los embora.
— Turistas e pombos. — ele murmura, pegando outra batata frita.
— A ruína de todo morador de cidade grande.
Eu balanço minha cabeça. — Então você também é cínico. Você
deve morar na cidade por muito tempo?
— Toda a minha vida.
— Uau. Um nova-iorquino nativo.
— Manhattanite — ele corrige, mas está sorrindo enquanto diz
isso. — Somos muito protetores do status.
— Ah, claro. Meu erro. Eu não pretendia incluir os distritos
externos em minha declaração inicial.
— Eu posso ignorar o erro.
— Obrigada, Sr. Conway. Muito gentil de sua parte.
Ele abaixa o sanduíche. — Sr. Conway. Alguns dias atrás, eu era o
Tristan.
Eu desvio os olhos do peso de seu olhar, de volta para o meu
próprio sanduíche. Um picles perdido escapou. — Isso foi em uma
posição comprometida.
— Protegendo o elefante do meu filho, — diz ele — em uma roda-
gigante do inferno.
Pego outra batata frita. — Exatamente. Onde está seu filho esta
noite?
— Em casa.
Eu olho para ele com surpresa e ele bufa. — Ele não está sozinho.
— Ufa.
— Não sou um pai tão irresponsável. — Tristan se recosta em sua
cadeira de plástico, cruzando os braços sobre o peito, parecendo que
nunca foi irresponsável um dia em sua vida.
Empurro uma mecha de cabelo que escapou para trás. — Então,
como um nova-iorquino nativo, quais são seus lugares favoritos?
Seu sorriso é torto. — Você quer dicas privilegiadas?
— Quero conhecer a cidade. Diga-me para onde devo ir.
— Há uma pequena delicatessen no final da 74th com a West.
Serve ótimos sanduíches de pastrami — ele diz — mas, curiosamente,
eles também têm comida chinesa.
— Cuidado. — eu o advirto.
O sorriso de Tristan é largo e desinibido, deixando-me atordoada.
— Eu nunca zombaria de você, Freddie.
— Claro que não. — Mas estou sorrindo enquanto balanço a
cabeça. — Eu deveria ter pensado melhor antes de pedir conselhos a um
Upper West Sider.
— Há algo de errado com esta área?
— Ninguém fala um com o outro. — eu digo. — Não sei o nome de
uma única pessoa no meu prédio, exceto o porteiro e minha senhoria.
— Isso é Nova Iorque. — Ele levanta uma sobrancelha. — Eu não
sabia que você era tão sociável, puritana.
Eu gemo. — Eu realmente não gosto desse apelido.
— É uma pena, porque eu realmente amo. É como eu te chamava
na minha cabeça antes de conhecer a verdadeira você.
Meus dedos apertam em torno do meu sanduíche. — Então você
pensou em mim depois da festa, hein?
Seus olhos travam nos meus. — Você pensou em mim.
— Você está tão confiante disso.
— Bem? — Ele pergunta, erguendo uma sobrancelha. — Você
não?
— Eu pensei. — eu admito. A tensão entre nós aumenta mais um
ponto, o ar vibrando ao meu redor. — E quando te conheci, não pude
deixar de me perguntar...
— Sim? — ele pede.
— Me pergunto por que você vai a essas festas.
Algo faísca em seus olhos. — Elas são divertidas.
— Sim, bem, elas certamente são. — O calor sobe para minhas
bochechas, mas eu não desvio o olhar do seu. — É isso, então? É um
passatempo divertido.
Seus olhos escurecem. Eu não queria que minhas palavras
soassem como críticas, mas ouvi-las de volta, está lá. E talvez eu o julgue.
Não por ir, não, eu também tinha ido. Mas por se contentar com isso. Ele
está na casa dos trinta, afinal.
— Elas são o que são. — diz ele rispidamente. — Sem amarras,
sem apegos, sem compromissos.
Eu mordo meu lábio. — É simples.
— É simples — ele concorda.
Penso em seu filho, em seu trabalho. O compromisso de fazer da
Exciteur a melhor possível. — Então você não tem tempo para namorar
direito, e a Gilded Room é a segunda melhor opção. — eu resumi.
— Você entendeu tudo, não é?
Meu coração dá um pulo, mas eu dou a ele um sorriso confiante.
— Eu sou uma espécie de leitora de pessoas.
— É mesmo?
— Sim.
— Então, encontrar o espião no Departamento de Estratégia deve
ser um dia de trabalho para você. Diga-me, Freddie, — ele diz,
estendendo a mão para as batatas fritas — por que você está solteira?
— Por que estou solteira?
— Sim. Se você acha que descobriu todos os meus hábitos de
namoro, é justo que eu dê uma olhada nos seus.
— Nesse caso, você deveria estar adivinhando. — eu indico. —
Desde que eu adivinhei o seu.
— Hmm, certo.
— Igualdade e tudo mais.
Ele apoia os braços na mesa. — Deus nos livre de esquecermos a
igualdade. Certo então. É a minha vez de ler você.
— Sou um livro aberto.
— Você acabou de se mudar para a cidade, então ainda não teve
tempo de conhecer alguém. — diz ele. — Isso faz sentido. Mas você
deixou alguém para trás na Filadélfia?
Cruzo os braços e encontro seu olhar com o meu. — Os meus
lábios estão selados.
— Não ajuda. — ele comenta. — Meu palpite é que você não
deixou.
— Eu não?
Tristan se recosta na cadeira, refletindo minha postura de braços
cruzados. Ele se sai melhor. — Acho que você tem medo de homens.
Minha boca cai aberta com isso. — Desculpe?
— Oh, não o tipo de medo que você tem de altura. Refiro-me ao
medo de se decepcionar. Veja bem, Freddie, acho que você gosta de estar
no controle.
— Eu gosto, não é?
— Sim. Você manteve a cabeça baixa e focada na faculdade, nos
estágios, no seu trabalho. Disse a si mesma que não há tempo para
namorar, mas a verdade é que você nunca arranjou tempo... porque isso
te assusta. É o único reino onde você não está no controle.
Eu o encaro, o sanduíche meio comido esquecido na minha frente.
Tristan olha corajosamente para mim com olhos que queimam com
triunfo, e algo mais. Algo que mexe com minha alma com tanta certeza
quanto suas palavras. Reconhecimento.
— Bem. — eu respiro. — Essa foi uma análise e tanto. Agora é
minha vez de me perguntar... você diz a mesma coisa a si mesmo?
Seus olhos se estreitam. — Eu digo a mim mesmo o quê?
— Que você não tem tempo para namorar. Que as festas da Gilded
Room são tudo para o que você tem espaço, colocando a maior parte de
sua energia em sua empresa e família.
— Não tenho muito tempo, é verdade.
Minhas próximas palavras são ofegantes. — E, no entanto, aqui
está você, em uma delicatessen na noite de quinta-feira.
— E, no entanto, aqui estou — ele murmura. — Eu estava certo,
Freddie? Na minha análise?
— Eu estava?
Seus lábios se curvam levemente, cheios na barba por fazer que
escurece a parte inferior do rosto. — Recebi um envelope entregue hoje.
— Você recebeu?
— Era dourado.
Eu mordo meu lábio. — Que legal. Imagino o que pode ser.
— É uma maravilha. — ele concorda. — Estou supondo que você
tenha um semelhante.
Eu não tinha. Momento da verdade, momento da possibilidade...
— Não — eu admito. — Eu não ficaria surpresa se não recebesse
um dessa vez.
Ele levanta uma sobrancelha. — E por que isto?
— Eu posso ter feito algo que é um pouco... contra as regras.
— O que é isso, puritana? Diga-me.
— Bem, tecnicamente falando, o convite que recebi da última vez
foi endereçado a uma ex-inquilina.
Um sorriso se espalha em seus lábios. — Frederica Bilson.
— Eu fui, eu vi, eu conquistei.
— Gozou — ele corrige. — Eu gozei, eu vi, eu conquistei. E você
certamente gozou.
Eu enterro minha cabeça em minhas mãos, incapaz de olhar para
ele. Graças a Deus somos os únicos na delicatessen. — Cristo, Tristan.
Sua risada é desavergonhada. — Então você entrou furtivamente
em uma festa da Gilded Room. Devo dizer que isso desafia minha visão
sobre você.
— Maravilhoso. Podemos perder o apelido agora?
— Não. — diz ele. — Eu me perguntei como você pagou pela
afiliação com o salário de um estagiário... então isso resolve o enigma.
— Não paguei nada.
— Afinal, uma afiliação de beleza — ele reflete. — Bem... deixe-
me colocar desta forma. Se você acabar recebendo um convite, você vai?
Eu olho para ele. Ele está me observando com casualidade
praticada, como se minha resposta não passasse de uma curiosidade.
Mas há um interesse ardente em seus olhos que ele não consegue
mascarar totalmente.
Ele está indo.
E ele está perguntando se eu vou também.
Meu estômago trava com um soco de antecipação enquanto o
desejo me inunda. Estamos brincando com fogo e sempre fui cuidadosa.
Sempre fiz a coisa certa.
Mas agora eu quero ser queimada. — Acho que vou. — digo a ele.
— Se eu receber um convite, claro.
— Bom saber — diz ele, sorrindo. — Talvez eu te veja lá.
— Talvez você veja... Tristan.
Um envelope dourado grosso está esperando por mim quando
volto do trabalho alguns dias depois. Está pousado no meu capacho,
inócuo. Como antes, meu endereço está escrito nele. Como antes, meu
nome não está.
— Bem, bem... vamos ver o que você tem reservado para mim
desta vez. — murmuro, abrindo-o com o dedo. Vale a pena ousar um
corte do papel. Pego o convite impresso em cartolina grossa.
Está endereçado a mim.
Eu, como, Frederica Bilson. Não Rebecca Hartford.
Afundo na cadeira da cozinha com o convite ainda na mão. Isso
tem que ser obra de Tristan, tem que ser. Ele pagou a taxa para mim?
Puxou alguns pauzinhos com o comitê de seleção?
Meus olhos examinam o resto do convite.
Frederica Bilson,
O seu prazer,
A Gilded Room
LUKE
Ei, líder de equipe. Quer tomar um café um dia
desses e deixar eu te mostrar Nova Iorque?
EU
Eu adoraria! Que tal amanhã?
O café é amargo e muito quente, queimando minha garganta. Não
faz nada para neutralizar o poço de ciúme no meu estômago. É um
sentimento que não tenho o direito de sentir, sem falar que não tenho
razão para sentir, e odeio coisas que não têm propósito.
Mas eu odeio coisas que não posso controlar ainda mais.
A neve de ontem ainda não baixou, mas uma leve camada dela
permanece nas árvores do Central Park. Joshua e eu passamos uma hora
no parque mais cedo com uma parada obrigatória no Larry's. Em nossa
casa, nunca é frio demais para tomar sorvete. E o tempo todo eu estava
debatendo a sabedoria de ligar para Frederica.
Ela tinha ido à Gilded Room ontem à noite?
Minha mão aperta a xícara de café. E o que eu poderia fazer sobre
isso se ela tivesse? Eu fiz um favor para conseguir um convite pessoal
para ela, e não foi para que ela pudesse se aproximar de algum
banqueiro bajulador de Wall Street. Não, eu planejava estar lá.
Joshua deveria passar a noite na casa de sua madrinha. Mas um de
seus filhos ficou com mononucleose, então foi cancelado. E com Linda
programada, eu já tinha dado folga para minha governanta e para a babá
no fim de semana. Ou seja, só restava eu.
— Pai?
Eu engulo a amargura. Em vez disso, tive uma noite com meu filho,
pedindo pizza e jogando cartas, e foi ótimo. — Sim?
Joshua passa pelo piano de cauda e vem para ficar ao meu lado
perto das janelas. O piano tinha sido da minha irmã. Joshua não gosta de
suas aulas semanais de piano, mas ainda não o deixei desistir. Jenny
também odiava as dela quando tinha a idade dele.
— Adivinha? — ele pergunta.
— O que?
— Marianne está fazendo lasanha esta noite.
Eu sorrio, bagunçando seu cabelo. — Você perguntou a ela
gentilmente?
— Não precisei perguntar. — Ele dança um pouco com sua calça
de moletom com estampa de baleia, um presente de sua avó. — Ela
ofereceu. Acho que ela sabe que tenho uma prova na escola amanhã.
— Sua agenda está na geladeira, então ela sabe. E você vai se sair
muito bem, garoto.
— Eu sei — diz ele, um pouco rápido demais. — Temos praticado
muito.
— Com certeza. Você quer repassar tudo de novo?
— Não.
— Tudo bem. Faremos isso uma última vez depois do jantar,
então. — Eu o sigo até seu quarto, olhando para o mapa-múndi gigante
acima de sua cama. Isso foi um presente de aniversário meu. Juntos,
riscamos os lugares que visitamos e circulamos os lugares que ainda
estão na lista de desejos.
Entre mim e minha irmã, Jenny era a mundana. Aquela que
aproveitou a chance de um ano de intercâmbio em Sydney, que foi
contra a vontade dos nossos pais mochilar no Sudeste Asiático por cinco
meses. Eu tinha a cabeça voltada para números e para a escola e, depois,
para os negócios. Não há tempo para viagens ou frivolidades.
Isso mudou. Joshua terá visto o mundo quando tiver dezoito anos,
se eu tiver uma palavra a dizer, incluindo os lugares que sua mãe
adorava.
— Você falou com Danielle desde a feira de Ação de Graças? —
Pergunto-lhe.
— Sim. — diz ele, sentando-se de pernas cruzadas em seu último
conjunto de Lego. Ele está fazendo construções mais complexas e as
peças de cada agora chegam aos milhares.
— E?
— Ela achou legal termos a feira de diversões só para nós. Ela
perguntou se era a sua feira de diversões — diz ele, rindo. — Eu disse a
ela que não.
— Estou feliz que vocês dois tenham se divertido.
Ele se deita no tapete, olhando para o teto. — Ela disse que eu era
uma de suas pessoas favoritas na aula outro dia.
— Ela fez? Joshua, isso é incrível.
— Sim. — diz ele, chutando uma das pernas no ar. — Mas ela
também disse que Maria era uma de suas favoritas. E Turner e Dexter.
Eu coloquei minha mão na frente da minha boca para esconder
meu sorriso. — Mhm.
— Então eu não sou o único. — Ele fecha os olhos. — Pai, não
podemos falar sobre isso agora. Eu tenho que me preparar para o meu
teste.
— Tudo bem, tudo bem. Eu só estava curioso.
— Você sempre está curioso — ele me acusa, e agora eu tenho que
rir. Foi o que eu disse a ele por anos, logo depois que ele me fez uma
série de quinze perguntas cada vez mais impossíveis de responder.
— Eu vou deixá-lo sozinho.
— Obrigado. — diz ele. — Falaremos no jantar.
É uma coisa tão adolescente dizer que ainda estou rindo de mim
mesmo quando volto para a sala. O cheiro da lasanha de Marianne vem
da cozinha, carne, tomate e queijo.
Minha mão vai para o bolso. Meu telefone. Minhas reflexões. Sem
Joshua para me distrair, minha mente encontra o caminho de volta para
Freddie e a ferida da noite passada. Eu sei que só há uma maneira de
acabar com o ciúme fervendo dentro de mim.
Eu não deveria, claro. Eu poderia escrever um livro sobre todos os
motivos pelos quais interagir com Frederica Bilson não terminará bem.
Ela não é apenas uma estagiária, mas também uma faminta, com os olhos
postos em construir uma própria carreira. E não sou o jovem que era
antes do acidente de Jenny e Michael, quando os relacionamentos eram
fáceis e divertidos.
E, no entanto, o ciúme queima.
Quando Joshua vai para a cama, disco o número agora familiar.
Ela atende após quatro toques eternos. — Olá.
— Freddie.
— Não tenho mais informações sobre o espião no Departamento
de Estratégia — ela me informa.
Eu solto um suspiro, divertido a despeito de mim mesmo. — Não,
eu não esperava que você tivesse.
— Tudo bem então. — A pergunta paira no silêncio abrasivo. Por
que está ligando, Sr. Conway?
— Como você está?
— Estou bem — diz ela. — Tive um fim de semana relaxante.
Meus dentes rangem com a palavra relaxante. — Me encontre na
delicatessen na rua?
— Desculpe?
— Afinal, esses sanduíches eram alguns dos melhores da cidade.
Estou desejando um.
— Por que?
— Estou com fome — eu digo. Eu não estou.
— Sr Conway…
— Me encontre, Freddie.
— Acabei de voltar para casa e estive fora o dia todo.
Não é um não, mas também não é um sim. — Então você deve estar
com fome. Se bem me lembro, pastrami é o seu favorito.
Ela suspira. — Estarei aí em cinco.
O minúsculo e relutante sim acalma as chamas em meu estômago.
Preciso olhá-la nos olhos quando perguntar sobre ontem. Quando
explicar porque não pude estar lá. Pegando meu casaco no cabideiro,
enfio a cabeça na cozinha onde Marianne está preparando o café da
manhã de amanhã. — Estou saindo por algumas horas, descendo a rua.
— Tudo bem, senhor.
— Se Joshua acordar ou precisar de alguma coisa, me ligue.
— Vou ligar.
A delicatessen está tão brilhantemente iluminada por neons
quanto na semana anterior. Devo ter passado por lá umas mil vezes sem
nunca ter pensado nisso, a apenas dois quarteirões do meu
apartamento.
Ela disse que era na mesma rua dela.
Portanto, não basta que Freddie se infiltre no clube que frequento.
Não basta nem ela começar a trabalhar na minha empresa. Ela também
mora a dez minutos a pé da minha casa e agora, ao que parece, está
ocupando espaço em minha mente sem pagar aluguel.
O que significa que estou praticamente condenado.
Chego primeiro, então me inclino contra o prédio e observo as
ruas ao redor. Não demora muito para eu vê-la. Ela tem um casaco bege
bem enrolado em torno de sua figura curvilínea, cabelos escuros
levantando ao vento. Lábios vermelhos e olhos afiados que se estreitam
quando ela me vê.
— Você veio — eu digo.
— Você insistiu — diz ela.
Abro a porta da delicatessen quase vazia. — Depois de você.
Ela pede apenas um refrigerante, sorrindo para o cara atrás do
balcão. Ele sorri de volta, apaixonado.
A expressão desaparece quando é minha vez de pedir. — Café, se
tiver. Preto.
— Já está indo.
Freddie lidera o caminho para a mesma mesa de antes, bem perto
das janelas e do turbilhão de flocos de neve no ar. Observo enquanto ela
tira as luvas de couro preto, as mãos finas e de dedos longos se fechando
em volta da lata de refrigerante. A visão traz outras imagens à mente,
memórias nas quais seria melhor não insistir. Como sua mão se
fechando em torno de mim.
— Por que você me ligou?
— Eu queria ver você — eu digo. É a verdade.
Freddie olha pela janela. — Não te vi ontem.
Então ela foi para a Gilded Room.
Ela tinha ido, e ela procurou por mim.
— Não consegui. — Ela pode ouvir o arrependimento ardente em
minha voz?
— Eu imaginei isso, sim.
Eu me inclino para trás na cadeira de plástico, minha mão na
cadeira ao meu lado. — Mas você compareceu?
— Depois de tantos problemas para conseguir meu próprio
convite, como eu poderia recusar?
Meus lábios se curvam. — Não foi muito incômodo.
Seu olhar volta para a lata à sua frente, e a pergunta brota de mim,
imprudente e imparável. — Você conheceu alguém?
— Conheci várias pessoas — ela murmura.
O ciúme tem um aperto forte em torno de minhas entranhas,
apertando até eu sentir náuseas. — Várias pessoas, Puritana?
Seus olhos piscam para cima, arregalando quando ela registra o
olhar nos meus. — Oh, não assim, bobo. Falei com algumas pessoas. O
barman, principalmente.
— Você falou com algumas pessoas.
— Sim. — Ela cruza os braços. — Você está se perguntando se
mais alguma coisa aconteceu? Se eu dormir com alguém?
Eu encontro seu olhar. — Você sabe que sim.
— E você deveria saber que não deve perguntar. O que acontece
na Gilded Room fica lá. Foi você quem me ensinou isso.
— Eu sei. — Falar com os dentes cerrados é difícil, mas eu consigo.
— Também sei que não tenho o direito de perguntar.
— Nenhum — diz ela. — Se você está tão preocupado, deveria ter
aparecido.
— Surgiu uma coisa.
— Sim, você disse isso. — Ela apoia as mãos na mesa e se inclina
para a frente. — Como você demonstrou esta noite, você tem meu
número. Você poderia ter me enviado uma mensagem a qualquer
momento antes da festa para me avisar que você não iria aparecer.
O pensamento não tinha me ocorrido. Não mando mensagens de
texto, sem falar que nunca trocamos mensagens, ela e eu. Mas aqui está
ela, com raiva por eu não ter avisado.
O que significa que ela esperou por mim.
Ela se sentou naquele clube e esperou por mim. Inferno, ela até
recorreu a falar com o barman. A ideia de que uma mulher esperou por
mim...
— Você não dormiu com ninguém. — eu digo, certo agora que
estou certo. Freddie revira os olhos, mas eu continuo. — Desculpe. Você
está certa, e eu deveria ter avisado.
Suas palmas caem sobre a mesa entre nós, sua lata de refrigerante
intocada entre elas. — Eu teria apreciado isso, sim.
— Eu não quis deixar você esperando. Na verdade, passei a noite
imaginando todas as coisas que você estava fazendo e ficando mais
infeliz a cada minuto.
Ela bufa, olhando para minha mão na mesa de plástico. Está a
apenas alguns centímetros da dela. — Isso parece um desperdício de
energia.
— Foi.
— Por que você não foi?
Admito o que deve soar como um problema remoto para ela,
independente e jovem como ela é. Está a quilômetros de distância de sua
própria vida. — Meu filho deveria estar em uma festa do pijama, mas foi
cancelado. Não deu tempo de arrumar uma babá.
Os olhos de Freddie suavizam. — Oh. Eu entendo.
— Coordenadamente irritante, no entanto.
— Haverá mais festas. — ela murmura, e o reconhecimento faz
meu corpo apertar. As coisas que eu faria com ela, as coisas que eu a
deixaria fazer comigo. Meu olhar se desvia para o batom vermelho
escuro.
— O que você fez hoje?
Seu olhar se volta para a janela, a neve rodopiante além. — Eu
estava visitando a cidade com um amigo.
E quando eu pensei que estava além do ciúme, ele voltou com
tudo, um amigo indesejado. Faz anos desde que senti algo assim. —
Onde você foi?
— O Met primeiro, e depois jantamos em um lugar em Tribeca.
Havia uma fila. É aparentemente muito popular.
— Medusa?
— É isso mesmo, sim. — De perfil, seu rosto é deslumbrante. Um
nariz levemente arrebitado, como se ela estivesse julgando tudo ao seu
redor, mas com lábios carnudos que sorriem rapidamente e riem se você
passar no teste.
— Estou feliz que você esteja fazendo amigos na cidade.
Seu olhar retorna ao meu. Não há animosidade lá agora, seus olhos
castanhos suaves. — Na verdade, acho que pode ter sido um encontro.
A mulher está tentando me matar? Minha carranca se aprofunda
sem pensamento consciente. Claro que ela está namorando. A mulher é
a porra de um vinte em uma escala de dez.
— Oh? — Eu pergunto, tornando minha voz casual. Eis, mundo,
minhas habilidades de atuação. — Como foi?
— Não tenho certeza se queria que fosse um encontro em
primeiro lugar. — Balançando a cabeça, ela olha para as mãos. — Eu
estava um pouco brava com você, e estava pensando em como você disse
que eu tenho medo de homens. De coisas que não posso controlar. Então
eu disse sim quando ele me convidou.
Meus olhos se arregalam. Acho que ela não percebe, mas sua
honestidade é de tirar o fôlego e tão bonita quanto ela. — Você queria se
testar?
— Acho que sim. Sem contar que não conheço ninguém em Nova
Iorque e quero fazer amigos.
— Você me conhece. — eu digo. Sua sobrancelha arqueada me faz
sorrir, e eu levanto a mão. — Tudo bem, tudo bem. Suponho que
realmente não conte?
— Na verdade, não. — ela admite. — Sem ofensa, mas não me vejo
ligando para você pedindo ajuda se meu aquecedor quebrar e meu
zelador não responder.
— Você poderia, você sabe. Estou a apenas alguns quarteirões de
distância.
O olhar que ela me lança deixa claro que ela me acha ridículo. —
Eu moro em uma caixa de sapatos.
— Então? Isso deve tornar os reparos mais fáceis, não mais
difíceis. — eu digo. Ela balança a cabeça, como se eu estivesse perdendo
um ponto óbvio. Eu apoio meus braços contra a mesa. — Podemos ser
amigos, Freddie.
— Você é meu chefe. Bem, tecnicamente o chefe do meu chefe.
— Claro, somos amigos fora do escritório. Eu pensei que era um
dado adquirido.
Seu sorriso se alarga. — Amigos.
— Amigos — eu concordo. — Então, se você precisar de alguém
para lhe mostrar Nova Iorque ou levá-la ao Met, pode me pedir. Sem
mencionar que posso fazer você passar da fila no Medusa. — As palavras
improváveis saem dos meus lábios, apesar de não ter tempo livre, e o
tempo que tenho dou ao meu filho.
— Isso é porque eu mencionei que tinha um encontro hoje?
— Os dois não estão relacionados.
— Certo. — Ela ri, balançando a cabeça para que as mechas
escuras voem, emaranhadas pela neve e pelo vento. — Se eu não
soubesse melhor, eu diria que você está com ciúmes, Tristan.
— Eu nunca desceria tão baixo. — eu digo. — Essa emoção está
abaixo de mim.
— Ah, claro que está. Muito comum?
— Sem dúvida.
Um sorriso brinca nos lábios que me lembro de beijar muito bem.
— Agora que somos amigos não oficiais, há uma tonelada de coisas que
quero saber sobre você — diz ela.
Eu gemo, olhando para as luzes de néon no teto. — Já estou me
arrependendo disso.
— Vou começar fácil, não se preocupe. Você é simplesmente
fascinante para mim. — A sinceridade em sua voz é inesperada, vazando
pelas minhas rachaduras. — Diga-me por que você vai para a Gilded
Room.
— Eu já te disse.
— Sinto que não era toda a verdade.
Eu arrasto meu olhar de volta para ela, para os olhos que estão
brilhando com humor e amizade, e me vejo pensando em responder à
pergunta. Mesmo que a resposta não seja uma que me pinte da melhor
maneira possível.
Uma sombra ao lado da nossa mesa me detém. — Sinto muito,
pessoal, mas estamos fechando em alguns minutos.
— Oh — Freddie diz com uma carranca, como se ela estivesse
desapontada por não poder falar mais comigo.
Não podemos permitir isso.
— Obrigado por nos avisar.— digo ao funcionário. — Estaremos
fora antes disso.
— Tenham uma boa noite.
— Você também — diz Freddie.
Quando ele sai, estendo a mão e pego a lata de refrigerante de
Freddie. Está cheia. — Você nem provou.
— Eu estava distraída.
Eu levanto meu próprio copo de café para viagem, ainda cheio. —
Eu também.
Ela entende imediatamente. — Seria uma pena jogar isso fora.
— Seria um desperdício, realmente. E estou empenhado em
eliminar todas as formas de desperdício.
Seu sorriso se alarga. — Você é notoriamente comprometido com
a eficiência.
— Então isso não pode ficar. — Eu empurro minha cadeira para
trás e pego meu copo de café, entregando a Freddie suas luvas. —
Mostre-me sua caixa de sapatos e vamos beber no caminho.
Sua respiração falha, apesar da excitação em seus olhos. —
Mostrar onde eu moro?
— Se um dia eu for consertar seu aquecedor, precisarei saber
onde ele está, não é? — Abro a porta e uma rajada de vento fria entra. —
Depois de você, Frederica.
O café está frio e tem gosto de fundo de uma prensa francesa
nunca limpa, mas bebo como se a desculpa esfarrapada de terminar
nossas bebidas fosse real. Flocos de neve se prendem no cabelo escuro
de Freddie.
— Isso não parece real. — diz ela. — Nós dois, caminhando para
o meu apartamento caixa de sapatos.
Maldita seja por ser ambiciosa e inteligente, além de sincera e
tímida. Eu posso lidar com uma ou outra, mas ambas? É mais do que um
homem deveria enfrentar.
— Somos amigos, e isso é uma coisa amigável de se fazer. Como
você encontrou o lugar?
Ela toma um gole de refrigerante. — A dona do apartamento mora
alguns andares abaixo. Acho que costumava ser o lugar onde suas au
pairs moravam, e depois a empregada, quando eles tinham uma. Ela está
sozinha agora, seu marido morreu e os filhos se foram. Uma amiga
minha da Wharton morou lá enquanto estudava para a graduação em
Columbia.
Eu concordo. — Ela colocou você em contato com a proprietária?
Freddie acena com a cabeça, sorrindo calorosamente. —
Geraldine é adorável. Ela não confia facilmente, sabe, então o fato de eu
ter sido avalizada por alguém de quem ela gostava ajudou. Então nos
conhecemos e ela decidiu que também gostava de mim.
— Você parece a candidata perfeita para impressionar mulheres
idosas, Puritana. — eu digo. — Acredito que ela não saiba nada sobre a
Gilded Room?
— Deus, não. E não se atreva a mencionar nada sobre isso
enquanto estivermos lá dentro.
— Você acha que ela está espionando você?
— Provavelmente não, mas não estou disposta a correr riscos.
Paramos em frente a um prédio de pedras cinza, muito parecido
com qualquer residencial do Upper West Side. Freddie acena para o
porteiro. Ele acena de volta, mas me dá um olhar que conheço bem. É a
aparência de você é novo para mim, juntamente com uma dose de
cuidado.
Então Freddie conseguiu encantá-lo também, além do cara que
trabalha na delicatessen e seus colegas estagiários na Exciteur. Não
estou surpreso, porque aqui estou eu, subindo para o apartamento dela
com um café frio na mão que aparentemente estou desesperado para
terminar.
— Eu moro no último andar. — diz ela, parando perto dos
elevadores. — Tenho uma janela, mas não dá para nada. Não se você não
contar alguns telhados, uma sólida parede de tijolos e alguns lugares
onde os pombos pousam.
— Eles contam — eu digo. — O tijolo é... interessante de se olhar.
— Mentiroso — diz ela, entrando no elevador atrás de mim e
apertando o botão superior. Suas mãos se fecham na frente dela e,
enquanto eu observo, ela fica rígida. Seu olhar está fixo nos números dos
andares que mudam no monitor.
Ah. O medo das alturas.
— Não vou julgar onde você mora. — eu digo, levantando uma
sobrancelha para ela. — Se é com isso que você está preocupada.
Seu olhar não vacila, mas ela sorri. — Claro que não. Seu
apartamento tem vista para o Central Park, certo? Lembro de você
dizendo isso ao telefone.
— Sim. — eu admito. — Mas o que é o Central Park comparado a
uma parede de tijolos? Apenas algumas árvores. Nada que eu não tenha
visto antes.
Isso me dá uma risada. — Em oposição ao tijolo.
— Você sabe o que eles dizem, uma vez que você viu uma árvore,
você viu todas elas — eu digo, falando para mantê-la distraída enquanto
o elevador sobe a passo de tartaruga. — Mas tijolos… existem infinitas
nuances. Cores. Texturas. Tamanhos.
Ela quebra seu concurso de olhar fixo com o painel do elevador
para me dar um olhar divertido. — Isso é algum tipo de fetiche, Tristan?
Meu sorriso é torto. — Ah, se você quiser falar sobre...
O elevador geme e para repentinamente. As luzes piscam uma,
duas vezes, antes de se apagarem. Somos engolidos pela escuridão total.
Freddie não grita, mas o suspiro vindo de sua direção é cheio de
tanto terror que eu me movo em direção a ela por instinto.
— Está tudo bem. — eu digo. — Estamos bem.
— Isso não pode estar acontecendo. — Sua voz treme com o
esforço para manter o controle. Minha mão se fecha em torno de seu
braço, seu casaco macio sob meus dedos.
— Respire, Freddie. Respire. Ficaremos bem.
Ela toma respirações profundas e trêmulas. Coloco minhas mãos
em seus ombros e pressiono, como se pudesse ancorá-la apenas com
meu toque.
— Você está respirando?
— Sim — ela sussurra. — Tristan, acho que estou prestes a ter um
ataque de pânico. A qualquer segundo, uma corda pode se romper e nós
despencamos para...
— Não — eu digo com firmeza. — Isso não vai acontecer. Você
sabe o que acontecerá?
— O que? — ela respira.
— Vamos sentar, aqui mesmo, e vamos chamar a manutenção e
também aquele seu porteiro. Eles vão consertar isso em pouco tempo.
— Eu alcanço a parede de aço e, em seguida, gentilmente puxo nós dois
para o chão. Ela segue em um movimento fluido.
Então faço algo que sei que não deveria, mas somos apenas nós
dois aqui e, a julgar pela superficialidade de sua respiração, ela está se
partindo. Então eu a puxo em meus braços.
— Respire, Freddie. Profundamente para dentro, profundamente
para fora.
Ela treme, mas faz o que eu digo, acompanhando minha própria
respiração exagerada. Aperto um braço em volta de seus ombros e seu
cabelo faz cócegas em meu nariz.
— Nós vamos ficar bem. — eu digo. — O elevador parece novo.
Tenho certeza de que um alerta automático já foi emitido.
Porém, o painel do elevador não está aceso. Pressionar o botão de
alarme provavelmente não faria nada. Talvez uma queda de energia? As
mãos de Freddie apertam o fecho do meu casaco, enrolando nas bordas.
— Você sabe o número do seu porteiro?
Ela balança a cabeça, mas depois de mais algumas respirações, ela
fala. — Acho que está no meu telefone.
— Eu vou ligar pra ele.
— Ok. Só me dê um minuto.
Eu a seguro, alisando minhas mãos sobre seus braços, antes que
ela esteja composta o suficiente para enfiar a mão no bolso e me
entregar seu telefone. Há uma notificação esperando por ela em seu
telefone. Uma mensagem.
LUKE
Me diverti muito hoje, Fred. Espero que você me
deixe mostrar a você no próximo fim de semana
também.
4Jargão de negócios para um evento antes de uma reunião profissional, seminário , convenção ou
conferência onde você vai conhecer pessoas em sua área para fazer networking.
— Fazendo Networking. — diz Toby, acenando com a mão
desdenhosa.
Eu levanto uma sobrancelha para ele. — Quentin? Networking?
— Ele é bom em bater papo quando quer. Outros, como eu, não
são.
— Toby, você é a pessoa mais sociável que conheço.
— Sim, mas veja, esse é o problema. — Ele levanta sua taça de
vinho para mim em triunfo. — Sou incapaz de ser alguém além de quem
sou, e em lugares como este, ninguém está realmente interessado em
conhecer você. Eles só querem conhecer o você que os ajudará a
progredir.
— Uau. Isso foi incrivelmente cínico.
Ele sorri para mim. — Sou apenas dois anos mais velho que você,
Freddie, e ainda assim muito mais sábio.
— E tão humilde — eu rio, erguendo minha taça de vinho para a
dele. É a única bebida gratuita incluída em nosso pacote de conferência,
mas já vejo participantes indo ao bar para pagar pela segunda.
— Então? — ele pergunta. — O que você achou do seu primeiro
dia?
Eu imito enxugar o suor da minha testa, e ele sorri. — Sim, a
estratégia é sempre enviada para todas as reuniões, apenas no caso de
haver novas táticas para aprender.
— Eleanor me pediu para ir a dois workshops. Ao mesmo tempo.
Quando indiquei que não podia, ela realmente rosnou para o telefone.
Ele bufa. — Sim, os chefes ficam um pouco intensos aqui. É aqui
que eles recrutam novos clientes e batem papo.
Meus olhos se fixam em uma figura familiar por cima do ombro de
Toby, ao longe. Quentin. Seu olhar está fixo em nós... ou pelo menos em
Toby. Não há nenhum dos traços usuais de ironia em seu rosto. Assim
que ele me pega observando, ele se vira, desaparecendo na multidão que
se mistura.
— Uh-oh — diz Toby ao meu lado, prazer óbvio em sua voz. —
Seu encontro está vindo em nossa direção.
— O que?
— Luke, às onze horas.
— Não pensei que Sales estaria aqui.
— O amor encontrará um jeito — Toby brinca, alto demais para o
meu gosto, e então Luke nos alcança. Ele nos dá um sorriso largo e passa
a mão sobre o cabelo curto.
— É claro que a Estratégia está aqui — diz ele.
— Você sabe. — Eu levanto meu copo para o dele. Trocamos
algumas mensagens de texto depois do dia que passamos em Nova
Iorque, mas deixei claro que estou apenas procurando por amizade.
— As vendas também chegaram? — Toby pergunta.
— Sim, foi uma coisa de última hora. Não planejado nem nada,
mas quando meu chefe me perguntou, agarrei a chance. — Ele se move
ao meu lado, nossos cotovelos se tocando.
— Claro que sim. — eu brinco. — Quem pode resistir a jornadas
de trabalho de doze horas e cordões?
— Não se esqueça de uma bebida de cortesia. — Toby ressalta. —
Essa é a chave.
— Mas apenas uma. — eu digo. — Não queremos que os
participantes fiquem turbulentos.
Toby revira os olhos. — Deus, mal posso esperar para ficar
turbulento. Tem um bar ao lado do hotel… então você sabe para onde as
pessoas vão migrar quando isso acabar.
— E eles vão pagar por isso amanhã — Luke diz com uma risada,
olhando para mim. — Acha que vai participar?
Eu dou de ombros. — Provavelmente, mas não vou chegar tarde.
— Você é tão jovem — diz Toby. — Tão idealista, tão motivada.
Eu me lembro desses dias.
Eu sorrio para ele. — Desculpe, esqueci o quão cínico você se
tornou.
— Eu sou o pior.
— Bem, talvez não seja o pior — Luke diz. — Você ouviu Conway
lá no painel?
— Eu pensei que ele estava bem — eu digo.
— Ah, claro que estava. Ele pode convencer qualquer um de
qualquer coisa quando se digna a tentar — diz Toby. — Mas você está
certa. Sua visão da indústria não era necessariamente... otimista, não
para nós, garotinhos.
— Tenho certeza que ele diria que é realista — eu digo.
— Isso só piora as coisas.
— Bem, ele é um capitalista de risco — diz Toby. — Ele assumiu
a Exciteur para garantir que ela ganhasse dinheiro e, quando isso
acontecesse, ele iria embora. Esse é o papel deles.
Eu tomo um gole da minha taça e faço meu tom casual. — Acha
que vai acontecer em breve?
Toby balança a cabeça. — Duvido, mas não posso dizer que sei o
que acontece na administração.
— Ele não está aqui, está? — Lucas pergunta. — Não vejo a Alta
Gerência desde o último painel.
— Acho que não. — respondo, e tenho estado de olho. Tristan tem
estado em reuniões não abertas a gente como nós a maior parte do dia,
mas eu o vi caminhando pelos corredores e, claro, trabalhando no
microfone durante o painel de discussão. A diferença não poderia ser
mais clara - eu, no fundo, fazendo anotações. Ele, sendo entrevistado
sobre o futuro da consultoria.
Luke esvaziou o último gole de vinho, colocando-o decididamente
na mesa à nossa frente. Ele se inclina perto o suficiente para que eu
possa sentir o cheiro de sua loção pós-barba. — Devemos ir para aquele
bar em breve.
Eu faço um som evasivo. Maldito Toby por sorrir ao meu lado, por
saber sobre nosso encontro e por achar isso hilário.
Meus olhos procuram uma saída possível. Mas eles travam em um
par na sala lotada, um par que brilha com intensidade. A queimadura
escalda.
Tristan está aqui.
Seu olhar viaja de mim para Luke, que está mais próximo do que
deveria. Não há nada da civilidade profissional dos últimos dias. Apesar
da distância, posso ler seu rosto perfeitamente. Ele está queimando, está
com raiva e não é tão indiferente quanto finge.
Minha mão treme quando coloco minha taça de vinho na mesa.
Tristan se vira, separando-se da multidão como o Mar Vermelho
enquanto caminha em direção aos elevadores.
Eu forço meu olhar para longe. — Já volto — digo a Luke e Toby.
Se eles respondem, eu não entendo, correndo no meio da multidão.
Como uma mariposa atraída por uma chama, sei que não deveria,
mas não consigo resistir.
Ele se foi quando chego aos elevadores. Apenas um ainda está em
movimento e, enquanto observo, ele para no vigésimo sexto andar.
O último andar.
Me enchendo de coragem, entro em um elevador livre e aperto o
mesmo botão. As portas se fecham atrás de mim e eu me concentro na
respiração, inspirando e expirando, inspirando e expirando, meu olhar
em cada andar que passa. Os elevadores estão mais difíceis do que nunca
desde que o do meu prédio parou. Eu os tenho evitado sempre que
posso, mas aqui e agora, não há como fugir disso.
Eu posso fazer isso.
Nada vai acontecer.
Não pense na possível queda.
O elevador dá um som alegre quando chega ao último andar e eu
dou um suspiro trêmulo de alívio, emergindo em um corredor estreito.
Uma placa aponta para a direita com as palavras Terraço da cobertura
estampadas em letras douradas.
Varandas e telhados são minha criptonita. Eu me esquivo em
direção à porta de vidro. Está escuro lá fora, é dezembro, está frio.
Por que ele subiu aqui?
Envolvendo um braço em volta da minha barriga, abro a porta de
vidro e imediatamente me arrependo. Arrepios percorrem meus braços
nus com o frio no ar.
Um passo para o terraço.
Outro passo.
Estou longe da saliência, mas ainda posso vê-la, cercada e
ameaçadora à distância. Uma figura escura está de pé com as mãos no
corrimão e a cabeça curvada contra o vento frio.
Eu ouso mais um passo à frente. — Tristan?
Ele vira a cabeça. — Freddie?
— Sim.
Soltando o corrimão, ele passa a mão pelo cabelo. O vento
chicoteia seu paletó. — Cristo, você me seguiu até aqui?
— Sim. Ta-rã.
Sua boca se curva, mas é breve. Então ele está tirando seu paletó e
envolvendo-a em volta de mim. Está quente com o calor de seu corpo e
eu me afogo nele. — Obrigada — murmuro, meus dedos enrolando em
torno do tecido. — Por que você está aqui em cima?
Ele balança a cabeça, desviando o olhar de mim para o horizonte
suave de Boston. É menos lotado que o de Nova Iorque. — Você vai pegar
um resfriado — diz ele.
— Parecia que algo estava em sua mente.
Sua boca se contorce em um não-sorriso. — Alguém estava.
Meu estômago parece que vai ceder. — Oh.
— Você, na verdade. — Sua mandíbula aperta, trabalhando firme.
— Eu vi você e o outro estagiário, e o ciúme me atingiu como a porra de
um trem de carga.
— Não é... Tristan…
— Eu sei — diz ele. — Eu não tenho o direito, Freddie. Você me
disse que não pode entrar nisso comigo. Sem mencionar que vocês dois
estavam apenas conversando. Sei que o ciúme é irracional, mas vive
dentro de mim mesmo assim.
— Eu não o quero.
Ele fecha os olhos. — Todas aquelas pessoas lá embaixo, todas
querendo falar comigo. Não por mim, mas pelo que represento. E a única
pessoa com quem eu queria falar era você, mas me aproximar de você
era impensável. Eu também estava com ciúmes disso. Eles podiam
conversar e rir com você e eu não.
— Eu estou aqui agora.
— Por que você está? — ele pergunta. — Por que me seguir até
aqui?
— Nós somos amigos.
— Amigos, sim. Amigos. E, no entanto, penso em você o tempo
todo. A sensação de ter você em meus braços, o seu gosto, os sons que
você fez. Eu quero tanto você, Freddie, e eu não posso ter você, e isso
está me deixando louco.
Minha respiração falha, cada palavra dele é um golpe contra
minha determinação. — Eu não disse que queria ser amiga porque
também não quero isso, Tristan. Vou para a cama esperando que você
me ligue e peça para encontrá-lo na delicatessen. Ando pelos corredores
do trabalho na esperança de esbarrar em você. Eu penso em você o
tempo todo.
Seus olhos estão focados e afiados nos meus. — Eu costumava
estar no controle antes de você — ele acusa.
— Eu também. Você arruinou tudo isso para mim.
— Não posso dizer que sinto muito.
— Nem eu. — eu respiro.
Ele fecha a distância entre nós e coloca uma mão grande na minha
bochecha. Inclina minha cabeça para cima, até bloquear as luzes da
cidade ao nosso redor. — Fique comigo esta noite. — diz ele. — Só nós
dois no meu quarto de hotel. Podemos ser apenas nós. Frederica e
Tristan, e não quem somos no trabalho.
A nota crua de necessidade em sua voz acende o mesmo acorde
em mim, acenando para que eu me junte à sinfonia. E oh, como eu quero.
— Sim. — murmuro.
Sua mão desliza para baixo para segurar a minha. Ele lidera o
caminho, abrindo a porta de vidro e trazendo nós dois de volta para o
calor. Tristan faz uma pausa no elevador. — Você não subiu as escadas?
— Não. — eu digo, balançando a cabeça. — Eu não queria arriscar
sentir sua falta.
Ele me beija com uma intensidade surpreendente então,
machucando meus lábios com a força. Eu saboreio o gosto dele, a força
de seu corpo contra o meu. Cada terminação nervosa parece coque
elétrico por seu toque. — Deus, eu quero você. — ele murmura.
Minhas mãos cravam em sua camisa. — Eu quero você também.
— Nós vamos pelas escadas desta vez. — Sua mão escorrega para
a minha e então estamos caminhando, subindo escadas sem pessoas.
Não deveríamos andar assim em público, mas a ideia de puxar minha
mão da dele é como perder um membro.
Não vamos longe. Ele abre a porta do vigésimo quarto andar e
avançamos na fileira de portas de hotel idênticas.
Tristan destranca a porta no final. — Minha suíte. — diz ele.
Uma rápida olhada para trás no corredor me diz o que eu já sei.
Ninguém está olhando. Não há ninguém para nos ver, para me ver,
ninguém para espalhar boatos. Entro e ele fecha a porta atrás de mim.
Suas mãos acariciam meus braços, fortes e seguras. — Você saiu
para um terraço na cobertura.
Eu me inclino contra ele. — Eu fiz.
— Obrigado.
— Você vale um pouco de medo.
A risada de Tristan envia arrepios na minha pele. — Que elogio,
Frederica. — Suas mãos deslizam para baixo, sobre as mangas de seu
paletó, traçando minha pele nua por baixo.
Eu inclino minha cabeça para trás contra seu ombro. — Eu tenho
saudade de você.
— Não faz tanto tempo. — ele murmura, sua mão deslizando
dentro de seu paletó para descansar na minha barriga. Seu polegar roça
a parte inferior do meu seio.
— Sim — eu digo. — Faz.
Outra risada rouca, e então seus lábios roçam meu pescoço
exposto. — Você tem razão. E todas as noites desde que estive em seu
apartamento, pensei na sensação de você contra mim.
Meus olhos se fecham. — Tristan…
— Sim?
— Quais são as regras?
— As regras, Coração? — Ele alisa o paletó dos meus ombros e ele
cai no chão entre nós.
Incapaz de aguentar mais, eu me viro para ele. — Você me contou
sobre as regras da Gilded Room. Que tal hoje a noite?
Tristan inclina minha cabeça para trás, passando o polegar sobre
meu lábio inferior. — Sem regras — ele murmura. Seu beijo é poderoso
em sua lentidão. Deliberado e metódico. A necessidade da escada ainda
está lá, mas agora está controlada. Mantida em cheque cuidadoso, mas
transbordando abaixo da superfície.
Tristan nos leva para trás até meus joelhos baterem na beirada da
cama do hotel. Ele levanta a cabeça, as mãos segurando minha cintura.
— Freddie…
— Eu sei — digo a ele, puxando sua cabeça para baixo. Porque eu
sei. A necessidade está rastejando sob a minha pele, uma coceira
profunda. — Venha aqui…
Ele geme contra meus lábios. Eu sou levantada e então estou na
horizontal, tudo em um movimento suave, e Tristan não para de me
beijar. Sua mão desliza por baixo da bainha do meu vestido e encontra a
parte de trás do meu joelho. Colocando-o em torno de seu quadril.
Esticados assim, mesmo totalmente vestidos, nossos corpos se
alinham como se fossem feitos um para o outro. Como se fosse tudo para
o que eles sempre foram feitos.
Seus quadris se movimentam uma vez. Duas vezes. Mesmo através
do tecido, a sensação dele contra mim é suficiente para enviar uma dor
pelo meu corpo.
— Tira. — eu digo a ele, minhas mãos se movendo em toda a
extensão de seu peito. Eu preciso tocar sua pele. Tristan se ajoelha e
arranca a camisa em um movimento suave, sem se preocupar com os
botões. Seu peito sobe e desce com a força de sua respiração. Um
punhado de pelos dança em seu peito.
— Freddie — diz ele com a voz rouca, as mãos cravando em
minhas coxas. — Eu preciso muito de você para ir devagar.
Eu alcanço o zíper na lateral do meu vestido. — Você acha que eu
deixaria você ir devagar?
Um sorriso selvagem cruza seu rosto e então ele está lá, puxando
a bainha de mim. O tecido prende em meus seios. Eu me mexo para
ajudá-lo a deslizar para baixo e ele rosna, os olhos acompanhando o
movimento.
Suas mãos permanecem em meus tornozelos, sobre as tiras que
mantém meus saltos no lugar. — Estes ficam.
Concordo com a cabeça, esticada na cama na frente dele. — Como
quiser.
A maneira como ele me observa é minha ruína. Não há nada que
ele possa me pedir agora que eu diga não, nada que eu não tente
satisfazer. O desejo dele alimenta o meu, e o meu inflama o dele, um
círculo no qual mal posso esperar para me perder.
Tristan trilha beijos no meu pescoço, minha clavícula, a nitidez de
sua barba raspando as curvas dos meus seios. Ele enterra o rosto entre
eles com um grunhido, as mãos alcançando o fecho do sutiã. Eu arqueio
minhas costas e suspiro de alívio quando ele se abre.
Tristan se levanta em um braço, os olhos no meu peito enquanto
ele tira o sutiã de mim. Livres, meus seios sobem e descem com minha
respiração, meus mamilos duros.
— Senti falta disso, Freddie.
Minha risada ofegante é interrompida quando ele abaixa a cabeça,
sugando um dos meus mamilos em sua boca. Cada puxão dolorido
espalha fogo líquido através de mim. Ele se move entre as minhas
pernas, o pau duro dele pressionando contra mim mais uma vez.
— Tristan... — Eu imploro, enterrando minha mão em seu cabelo
grosso.
Ele se move, tomando meu outro mamilo em sua boca. Mas ele me
ouve, porque sua mão mergulha sob o cós da minha calcinha.
Minha respiração fica instável quando ele me segura, os dedos se
separando, acariciando. Eu movimento meus quadris contra sua mão em
busca de mais fricção. Ele não me dá. Não, ele tira minha calcinha em vez
disso, jogando-a para o lado.
Mais uma vez, estou nua na frente dele em um quarto de hotel
enquanto ele está meio vestido.
Mas desta vez, ele não está perdendo tempo jogando. Tristan
desfaz o zíper e o pau duro dele salta livre.
— Estou tão duro por você, você não tem ideia. — Ele abre a
carteira, pegando uma embalagem de alumínio. — Você sabe quantas
noites eu passei só pensando em nossa noite juntos na Gilded Room?
Balanço a cabeça, a imagem que suas palavras evocam deixando
minha garganta seca. — Diga-me.
Ele rola a camisinha com um gemido baixo. Uma linha de pelo vai
até o umbigo, músculos tensos sob a pele ainda bronzeada. — Muitas.
Tenho estado duro e me xingado por ter ido embora tão cedo naquela
noite. — ele diz. — Por não ter tido tempo de transar com você mais uma
vez. Pensando que se eu tivesse, eu não desejaria você como eu desejo.
Sento-me, estendendo a mão para seus braços, os músculos duros
como pedra se movendo sob minhas mãos. — Não teria sido o suficiente.
— eu digo. — Uma vez, duas vezes. Eu teria desejado você de novo.
Ele toma minha boca em concordância. É um beijo para devorar.
Um beijo para selar.
Um beijo para reivindicar.
Ele agarra minhas coxas e as separa, se acomodando entre minhas
pernas. Graças a Deus pelas camas altas de hotel e homens altos, porque
o ângulo é perfeito. Ele agarra meus quadris e os usa como alavanca,
enterrando-se dentro de mim com um forte impulso.
Eu suspiro com a sensação repentina, mas é abafada pelo gemido
rouco de Tristan. Seus olhos se fecham em um êxtase doloroso enquanto
ele faz uma pausa, enterrado até o fim.
— Tristan. — murmuro.
Ele sorri e olha para mim, porque ele sabe exatamente o que está
fazendo, negando-nos o movimento. Mas dois podem jogar este jogo.
Eu arqueio minhas costas, deleitando-me com a maneira como
seus olhos acompanham o movimento. A maneira como eles se alargam
quando seguro meus seios. Ele geme com a visão e flexiona os quadris,
empurrando com força dentro de mim.
— Maravilhosa. — ele murmura, seus dedos cravando em meus
quadris enquanto ele desliza dentro e fora.
Eu arqueio minhas costas ainda mais. — Você sabe o quão gostosa
é a sensação de ter você dentro de mim?
Ele empurra tão profundamente que o ar sai do meu peito.
Estendo a mão cegamente e agarro o edredom, segurando enquanto ele
responde, empurrando-nos para mais perto da borda.
Nunca fui levada à loucura por um homem como este. Não há
espaço na minha cabeça para dúvidas ou pensamentos, apenas essa
conexão e o prazer crescente. Ele engancha meus joelhos sob seus
braços e se inclina para frente, até que eu esteja dobrada ao meio e seu
rosto esteja a centímetros do meu.
— Oh meu Deus — eu respiro. — Está tão fundo.
— Muito fundo?
Balanço a cabeça e ele retoma suas estocadas, os quadris se
movendo como um pistão contra mim. Os músculos de seus braços se
contraem, inchando em ambos os lados do meu pescoço. Eu me agarro
ao seu pescoço e beijo a pele aquecida. Diga a ele exatamente o que estou
pensando no momento.
— Eu posso sentir você tão profundamente dentro de mim.
Ele rosna em meu ouvido. — Você não pode falar sujo comigo,
Freddie, ou eu não vou durar.
Eu envolvo meus braços em torno de suas costas. Meu corpo está
perto do limite de prazer e intensidade, tão perto do meu próprio
orgasmo, mas não consigo evitar.
Eu ainda quero ser o melhor sexo que ele já teve.
Então eu aperto meus músculos em torno dele e pressiono meus
lábios em seu ouvido. — Eu quero sentir você gozar dentro de mim.
Ele dá um gemido rouco, seus músculos tensos. Eu o seguro pela
força de sua liberação, enquanto ele empurra com mais força contra
mim, machucando minhas coxas. É a coisa mais gloriosa que já
experimentei.
Tristan, desfeito assim, desfeito da mesma forma que venho me
desfazendo há semanas. Uma perda completa de controle.
Eu cravo meus dedos na vasta extensão de suas costas como se eu
pudesse mantê-lo à força, fundir nós dois juntos.
Ele está me esmagando, mas acho que vou morrer se ele se mover.
— Puta merda. — ele sussurra. Nossos batimentos cardíacos
trovejam um contra o outro, peito a peito, sua pele áspera contra meus
mamilos.
Eu tomo uma respiração profunda e nutritiva. Tristan deve sentir
isso contra ele, porque ele se levanta.
— Você está bem?
Eu concordo.
Ele levanta uma sobrancelha questionadora, o cabelo grosso
caindo sobre sua testa. O gesto mexe com meu coração.
— Você não me machucou. — eu insisto, flexionando minhas
pernas ao redor de seus quadris. Haverá dor amanhã, com certeza, mas
nada disso é desconfortável.
Tristan agarra a base da camisinha ao retirá-la. Eu estremeço com
a falta dele. É tão chocante quanto sua intrusão.
Ele volta para mim em instantes e se deita ao meu lado na cama.
Eu viro de lado, mas ele me para com a mão no meu quadril.
— Ainda não, você não — ele murmura, inclinando a cabeça para
o meu mamilo. Ainda está tenso.
— Mas…
— Eu nunca deixaria você na mão. — Sua mão acaricia a minha
barriga, e oh Deus, ele está circulando naquele ponto novamente. Eu
fecho meus olhos contra as sensações que estão surgindo dentro de
mim. Eu estive bem no limite antes, e agora...
Tristan me puxa sem esforço para o lado e enrola as mãos em volta
das minhas coxas, espalhando-as. Curvando a cabeça. Eu me desfaço ao
toque de seus lábios e língua, fraturando e remontando conforme o
prazer me percorre.
Ele também não para de me tocar. Apenas muda de rápido para
calmante.
Luto para recuperar o fôlego, olhando para o teto branco como
casca de ovo. Minha mão se enrosca em seu cabelo grosso. — Espero que
não tenha ninguém no quarto de hotel ao lado do nosso.
Ele ri contra a minha coxa, seus olhos me dizendo exatamente
como ele se sente sobre si mesmo agora, e é muito bom. — Eu não me
importo se tivesse.
Eu dou a ele um sorriso torto. — Como é que você é sempre aquele
que faz sexo oral em mim? Eu também quero uma chance, você sabe.
— Haverá tempo para isso. — Ele sai da cama e vai até o frigobar.
Viro de barriga para baixo e o vejo servir um copo de água com gás para
nós dois. Admiro as linhas longas e fortes de suas pernas. A extensão
musculosa de suas costas, alargando-se em ombros largos. Cada
centímetro dele fala de confiança e masculinidade, um corpo habitado
por alguém que se deleita com a vida. Tristan me entrega um copo de
água e observa enquanto eu bebo, seus olhos nunca deixando os meus.
Os nervos vibram no meu estômago enquanto nós dois voltamos
para terra depois da nossa alta orgástica. O que isto significa?
Tristan se abaixa e passa o polegar sobre meu lábio inferior. — Eu
tenho que dizer, eu não esperava isso, Puritana.
Eu pego seu polegar entre meus lábios e mordo suavemente.
Ele sorri. — Eu não vou parar de te chamar assim, você sabe, não
importa o quanto você morda.
Meus dentes cravam em seu polegar e ele o puxa com uma risada.
— Pagão.
— Eu também não esperava. — eu digo. — Para ser sincera, não
pensei muito além de chegar ao telhado.
— Sobre isso. — diz ele, colocando o copo na mesinha entre duas
cadeiras de couro. Esta suíte deve ser três vezes maior que a minha. —
De onde veio essa fobia?
Eu descanso minha cabeça em minhas mãos. — Você vai rir.
— Eu duvido muito disso.
— Promete-me que não vai?
— Eu prometo. — diz Tristan, deitando-se ao meu lado na cama.
Eu respiro fundo. — Eu gostava de subir em árvores quando era
pequena. Grandes, pequenas, não importava. Eu escalei todas.
— Não discriminatório — observa Tristan com um aceno de
cabeça. — Admirável.
Eu bato nele com meu ombro e ele ri, passando o braço sobre
minhas costas nuas. Dedos traçam minha coluna. — O que aconteceu?
— Bem, eu caí de uma.
— Você quebrou alguma coisa?
— Não.
— Isso é bom — ele murmura. — Mas Freddie, por que eu iria rir
disso?
— Porque eu caí de um metro e meio.
Suas sobrancelhas sobem e eu balanço minha cabeça para ele. —
Eu sei, não é nada. Eu subia em árvores mais altas do que isso o tempo
todo. Mas depois disso, parei e, de alguma forma, o medo cresceu e
cresceu na minha cabeça.
Tristan pressiona um beijo na minha testa. — Todos nós temos
cicatrizes. Não vou julgar de onde veio a sua.
— E o que seria... — O som estridente do meu celular interrompe
minha resposta. É chocante e nítido nesta pequena bolha que criamos.
Eu voo para fora da cama e vasculho minha bolsa para a coisa
ofensiva, enquanto Tristan está me observando.
É Toby. — Ei?
— Freddie! — ele chama. — Onde você está? Você disse que se
juntaria a nós no bar!
Alguém interrompe, e então reconheço a voz de Quentin. — Por
favor, venha me salvar de ter que falar com mais estranhos. Estou
completamente assustado.
— Você ouviu isso? — Toby pergunta. — Quentin disse por favor!
Onde você está?
— No meu quarto de hotel.
— O que? Você está se sentindo bem?
— Sim, sim, eu não estou…
— Bom! Ou você se junta a nós ou estamos indo buscá-la!
— Eu estarei aí. — eu me ouço dizendo, pegando meu vestido
descartado no chão. — Me pague uma bebida.
Toby vaia. — O bar ao lado do hotel. Vamos guardar um lugar para
você!
— Vejo você em breve. — Desligo e corro em busca da minha
calcinha. As vozes de Toby e Quentin em meu ouvido foram como um
tapa na realidade, um balde de água fria. Todo o centro de conferências,
sem falar no hotel, está lotado de pessoas que conhecemos. Pessoas que
estão ansiosas demais para somar dois mais dois e chegar a vinte e oito.
— Saindo? — Tristan pergunta. Ele está deitado na cama, um
braço atrás da cabeça e um joelho dobrado, como se nada o
incomodasse. Mas seu rosto está ilegível novamente.
Eu coloquei tudo em risco? Não apenas meu trabalho, mas nós
dois também. A amizade nascente, a maneira como ele olhou para mim
no meu apartamento apenas alguns dias atrás. Esse olhar acabou no
momento.
— Sim — eu digo. — Não podemos permitir que as pessoas
saibam sobre isso.
— Eles não estão neste quarto de hotel conosco.
— Não, mas estão no hotel. — Enfio meu vestido e ele me observa
lutar com o zíper em silêncio. Por que diabos eu decidi fazer isso em uma
conferência de trabalho?
As pessoas tinham me visto seguindo-o até o telhado?
Ele me observa procurar minha calcinha. Ele a jogou para o lado,
mas o carpete está irritantemente sem calcinha.
— Ali — ele murmura, apontando para as cadeiras no canto.
Minha calcinha de renda vermelha brilhante está pendurada na ponta
de uma delas. Um rubor sobe pelas minhas bochechas enquanto eu a
deslizo pelas minhas pernas e por baixo do meu vestido.
— Sinto muito por ter que ir tão rápido — digo a ele. — Eu só, eu
não…
— Você não quer que eles suspeitem de nada — finaliza. —
Entendo. Conversamos depois.
Eu dou a ele meu sorriso mais largo, mas até eu posso ouvir o leve
pânico que marca minha voz. — Obrigada.
Ele concorda. — Vá.
Então eu vou, a porta se fechando atrás de mim com um baque
sólido. O corredor ainda está vazio e ninguém me vê correr para os
elevadores na tentativa de sair de um andar em que não deveria estar.
— Poderíamos comprar outro conjunto de agulhas de tricô para
a vovó. Ela gosta disso. — comenta Joshua. Ele chuta um pedaço de neve
perdido na calçada, um dos resquícios finais do tempo do último fim de
semana.
— Não é uma má ideia — eu digo. — Talvez um livro de padrões.
Corda também, talvez. Ou é fio?
— Você só está inventando coisas, pai. Você não tem ideia de
como tricotar.
Eu agarro seu ombro, dando-lhe uma sacudida brincalhona. —
Quem fez de você um especialista, hein?
Ele ri e se afasta de mim, sorrindo sob a cabeça de cachos grossos.
— Eu sei uma tonelada de coisas. Como se eu soubesse que vou
conseguir outro suéter dela!
— Ah, com certeza vai. Faz sentido também, já que estamos indo
para algum lugar frio no Natal.
Demora um momento, mas então seu rosto se ilumina quando ele
entende a piada. Temos trabalhado com sarcasmo e ironia.
— Você tem alguma ideia inteligente para o que Linda pode
querer? — Pergunto-lhe. — Você estava lá ontem à noite.
A madrinha dele era a melhor amiga da minha irmã e, depois que
Jenny morreu, ela intervém sempre que pode. Apesar de ter dois filhos,
ela me ajudou nos primeiros anos de paternidade de uma forma que a
tornou mais deusa do que madrinha aos meus olhos.
Joshua leva um momento para pensar. — Ela reclamou da
máquina de lavar louça.
— Você quer que demos a Linda uma nova máquina de lavar
louça? Ela adoraria isso. — Sempre que posso, tento dizer a Linda e seu
marido que estou aqui para ajudar tanto quanto eles estão para mim.
Estendo a mão e coloco a jaqueta de Joshua de volta no lugar. Está
frio lá fora. Ele me deixa, apesar de odiar a maneira como ela se ajusta
em seu pescoço. — Você vai se encarregar do que compramos para os
filhos dela. — eu digo a ele. — Estou delegando isso a você.
Seu sorriso está de volta. — Sério?
— Absolutamente. — Bem, dentro da razão. Mas ele sabe melhor
do que eu o que eles gostariam, sem mencionar que esta expedição de
compras de Natal deve ser divertida. Outro ponto no meu grande
esquema de criar mais memórias de férias.
Jenny e eu costumávamos assar biscoitos de gengibre com mamãe
na noite anterior ao Natal. Na manhã seguinte, descíamos correndo os
degraus até a árvore de Natal, com um lado decorado com nossos
enfeites e o outro com as coleções de mamãe.
Uma pontada de culpa familiar me atinge. Joshua está com a
aparência de sempre, andando ao meu lado com passos firmes. Mas ele
nunca soube como é ter um irmão ou dois pais. Tudo o que ele vai
lembrar de sua infância sou eu, e não sou Jenny e Michael.
— Olha! — diz Joshua. — É a senhora elefante!
Estou tão focado nele que não percebo quem está caminhando em
nossa direção até que ele a aponta. O casaco de Freddie está amarrado
em torno de seu corpo, um gorro puxado para baixo sobre seu cabelo
escuro. Seus pés estão em botas gigantes, diferente de tudo que eu a vi
usar no escritório. Longe das saias e saltos elegantes.
É sábado e moramos no mesmo bairro.
Seu olhar vai do meu para o de Joshua, e então um sorriso se
espalha em seu rosto. — Olá!
— Oi — diz ele de volta. — Estamos fazendo nossas compras de
Natal.
Freddie faz questão de olhar entre nós dois. — Mas onde estão as
sacolas?
— Acabamos de sair de casa — respondo. Os olhos de Freddie
dançam, sem encontrar os meus. A vermelhidão começa a tingir suas
bochechas morenas. — Como você está?
— Bem. Ótima, quero dizer. Passei a manhã lavando roupa. — Seu
olhar passa de mim para Joshua. — Eu estava na mesma conferência que
seu pai esta semana.
— Em Boston?
— Sim — ela diz. — Ele falou na frente de várias centenas de
pessoas.
Joshua se vira para olhar para mim. — Sério, pai?
— Sim, eu suponho.
— Isso é muito legal — diz ele, com ar de quem pode fazer tais
julgamentos. — Você fez isso também?
Freddie balança a cabeça. — Não, acho que não ousaria.
— Você faria — eu interrompo. — Não tenho dúvidas de que sim.
Seus olhos se voltam para os meus, e há uma pergunta neles que
não consigo decifrar. Não quando foi ela quem saiu correndo do meu
quarto de hotel em Boston como se tivéssemos cometido um pecado.
Não nos falamos desde então.
— Vamos para o Taiti nas férias de Natal — Joshua diz a ela. —
Papai está me levando para nadar com as baleias.
— Sério? Isso é tão emocionante!
— Sim, fizemos muita pesquisa — eu digo.
Joshua assente. — Deve haver baleias jubarte lá nesta época do
ano, migrando da Antártica. Elas param na Polinésia…
— Francesa. — eu preencho.
— Certo, elas param lá para ter seus filhotes. E há tubarões-baleia.
E golfinhos.
Os olhos de Freddie se arregalam. — E você vai nadar com elas?
Isso soa um pouco assustador.
— Não, apenas parece muito, muito legal — diz Joshua.
Não posso deixar de sorrir com a arrogância. Tivemos longas
discussões sobre esse assunto, porque mesmo que ele não admita, ele
também acha que parece um pouco assustador. Eu disse a ele que não
há problema em ficar no barco, mas ele está empenhado em entrar na
água.
— Parece legal de outro mundo — confirma Freddie. — Que
incrível da parte do seu pai levar você até lá.
— Sim, e minha avó também está indo — acrescenta Joshua.
Eu limpo minha garganta. — Onde você vai nas férias, Freddie?
— Provavelmente de volta para casa na Filadélfia. Minha família
extensa comemora junta todos os anos, com todas as minhas tias, tios e
primos. — Ela dá de ombros, com um sorriso irônico no rosto, como se
tivesse descrito algo monótono e comum. — Não é nadar com baleias na
Polinésia Francesa, mas serve.
— Parece adorável — eu digo. Eu quero dizer isso também. Seu
olhar aquece, suas mãos parando onde elas mexeram com a manga de
seu casaco. Olhando para ela, percebo o quanto fui tolo por ter me
machucado por ela ter saído correndo do meu quarto de hotel em
Boston daquele jeito.
Talvez ela esteja arrependida do que fez. Pensando no trabalho
dela, nas possíveis consequências se alguém descobrir... Se ela está com
dúvidas, eu não ajudo.
A voz de Joshua interrompe o silêncio. — Você tem muitos tios e
tias?
Freddie volta a se concentrar em meu filho. A luz do sol do inverno
brilha em seus cabelos negros. — Tenho alguns, sim. Vejamos... três tios
e duas tias. Você tem algum?
Oh não.
— Sim — responde Joshua. — Papai é na verdade meu tio e meu
pai. Eu acho isso muito legal.
Eu fecho meus olhos. Ele não entende como isso soa para as
pessoas, e eu nunca quis esclarecê-lo sobre isso. Mas isso nos deixa com
encontros como este. Deus me ajude se ele sai por aí dizendo isso sem
contexto na escola.
O silêncio de Freddie é chocante.
Eu limpo minha garganta. — Joshua é biologicamente o filho da
minha irmã e do marido dela. Depois que eles faleceram, eu o adotei.
— Eu era pequenininho naquela época. — acrescenta Joshua,
erguendo o dedo indicador e o polegar para indicar o quão pequeno ele
era.
— Sinto muito por isso. — diz Freddie, e então parece não pensar
em mais nada para dizer. Eu não a culpo. A maioria das pessoas tem a
mesma resposta sempre que Joshua quer que elas saibam. Sempre deixo
que ele decida se e quando, tanto com amigos quanto com adultos.
Coloco a mão em seu ombro. — Obrigado. Estamos bem, não é,
garoto?
— Nós estamos — ele confirma.
— Também não queremos mantê-la aqui. Você está indo para
algum lugar...?
O sorriso de Freddie fica triste. — Apenas na mercearia. Boa sorte
com suas compras de Natal.
— Nós provavelmente vamos precisar — eu digo. — Espero que
as lojas ainda não estejam cheias.
Freddie sorri e dá um passo para o lado. — Eu vou deixar você ir,
então. Aproveite seu dia.
— Você também.
— Vejo você no trabalho — ela me diz.
É o último lugar em que nos veremos, com o chão e a burocracia
nos separando. Por mais que eu tenha desejado nas últimas semanas,
entrar no Departamento de Estratégia e conversar com um de seus
estagiários é proibido para mim. Todo o poder do CEO, mas não consigo
escolher com qual dos meus funcionários quero falar.
— Vamos conversar mais tarde — eu digo.
— Tchau! — Joshua fala.
Ela passa por nós na rua. Joshua espia por cima do ombro antes de
puxar a manga da minha jaqueta. — Ela é muito legal.
— Eu também acho.
— Ela é sua amiga, certo?
Eu concordo. — Sim.
Ele me dá uma piscadela solene de dois olhos, ainda não tendo
dominado a arte de usar apenas um. — Eu entendo, pai. Você quer se
tornar o melhor amigo dela primeiro, antes de dizer que gosta dela.
Minha boca se abre, meu cérebro desenha um espaço em branco.
Ele está usando minhas próprias palavras contra mim. Garoto esperto.
— Mas você tem que falar um pouco mais — ele me aconselha,
deixando cair minha manga. — Você estava muito quieto!
Com a revelação surpreendente de que meu filho acabou de me
dar conselhos sobre mulheres, eu o sigo pela rua, me perguntando se o
mundo virou completamente de cabeça para baixo.