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LAUREN LAYNE
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo Um
Epílogo Dois
Epílogo Três
Epílogo Quatro
Epílogo Cinco
CAPÍTULO 1
H
QUINTA-FEIRA, 13 DE AGOSTO
E
QUINTA-FEIRA, 13 AGOSTO
SEGUNDA-FEIRA, 17 DE AGOSTO
SÃO FRANCISCO
QUINTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO
O
NOVA YORK
H
QUINTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO
QUINTA-FEIRA, 20 DE AGOSTO
A
SEXTA-FEIRA, 21 DE AGOSTO
SEXTA-FEIRA, 28 DE AGOSTO
—
Q uerida, seu cabelo. Eles não têm cabeleireiros em Nova
York?
— Ei! Não vou mais fazer chamadas pelo Skype se você vai
criticar minha aparência.
Kurt me manda um beijo através de sua câmera na tela. — Eu
senti sua falta.
— Eu também senti sua falta.
E é verdade. Eu senti falta dele. Mas... todo esse trabalho à
distância foi mais bem-sucedido do que eu esperava. É verdade que
faz apenas uma semana, mas fiquei um pouco surpresa ao perceber
o quanto mais produzo quando não me sinto obrigada a participar
de todas as reuniões possíveis. Para não mencionar, a diferença de
três horas significa que sinto que tenho um bom começo todos os
dias.
Faço uma anotação mental para usar essa vantagem de três
horas para marcar um cabeleireiro. Saí de São Francisco com tanta
pressa que perdi meu compromisso fixo para impedir que minhas
raízes castanhas aparecessem, e o resultado não é legal. Mas o
processo de encontrar um novo estilista que saiba como trabalhar
com meus cabelos loiros claros também não é, então eu tenho
adiado.
O modo como os olhos de Kurt se arregalam de horror me diz
que adiei por muito tempo.
— Sério, eu vou colocar um chapéu se você continuar fazendo
isso.
— Oh Deus, não. Isso seria pior. Chapéus e seu formato de rosto
não combinam.
— Lembre-me novamente por que estamos fazendo isso?
Ele sorri. — Porque você me ama. E eu te amo. Falando em
amoooooooor, como está o maridão?
Encosto o queixo nos meus braços na mesa da cozinha de Colin,
que assumi como meu escritório improvisado até conseguir alugar
um espaço adequado para meu escritório e digo a ele a mesma
coisa que disse a Meghan. — Eu não acho que ele gosta de mim.
Kurt balança a cabeça. — Absurdo. Todo mundo te ama. Você
tem aquela joie de vivre que os homens consideram positivamente
irresistível e as mulheres querem para si mesmas.
— Sim, bem, Colin não parece apreciar minha alegria pela vida.
Eu acho que ele me acha irritante.
— Você está sendo irritante?
Eu franzo meus lábios. — Eu acho um pouco intrigante tirá-lo do
sério. Mas em minha defesa, ele tem coisas demais que o irritam. O
cara é muito sensível.
Kurt franze o lábio. — Oh Deus. Minha criptonita. Na primeira
noite em que fiquei na casa do Lewis, coloquei um garfo na máquina
de lavar louça e pensei que ele ia me matar. Foi o melhor sexo que
já tivemos.
— Sim, bem. Colin e eu definitivamente não estamos fazendo
sexo.
— Vocês são casados!
— Não de verdade. Eu mal conheço o cara.
— E daí? O conheça então.
— Estou tentando — digo, mexendo no meu colar. — Não
porque eu quero dormir com ele, mas porque não vejo nenhuma
razão para que os próximos três meses sejam completamente
insuportáveis. Mas ele parece perfeitamente satisfeito em apenas
fingir que eu não existo, mesmo quando compartilhamos a mesma
geladeira, respiramos o mesmo ar...
— Você poderia seduzi-lo — diz Kurt, como se eu não tivesse
falado nada.
— Ok, cara-que-só-pensa-em-sexo. Você não está ouvindo. Eu
não estou interessada nele assim. Ele é mal-humorado, metódico e
mora do outro lado do país. Só não entendo por que não podemos
ser amigos.
Kurt balança a cabeça com indulgência. — Você nunca aceita
quando as pessoas não gostam de você.
— Bem, por que ele não gosta de mim? — Eu exijo, sentando-
me ereta. — Eu sou fácil de gostar. Eu me dou bem com todos.
— Hummm. E como estão seus pais?
Eu levanto um dedo de aviso. — Fora dos limites, e você sabe
disso.
— Então você ainda não os viu.
— Não — eu resmungo, tentando evitar a facada de culpa
profunda e falhando.
— Eles sabem que você está morando na mesma cidade que
eles?
— Estou trabalhando nisso. Você não os conhece, Kurt. Eles não
são pais comuns. Eles nem são pessoas comuns.
— Ok, tudo bem. Uma batalha de cada vez. Vamos começar
com seu cônjuge. Como você tem tentado conquistá-lo?
— Eu fiz café para ele essa manhã. Ele nem agradeceu.
— Quem costuma fazer café?
— Ele.
— Você agradece?
Abro a boca e depois a fecho. — Justo. Ok, então o que eu faço?
— Lembre-me sobre seu objetivo final?
— Eu não morrer nos próximos três meses?
Ele faz um gesto casual com o dedo. — Versão não hiperbólica.
Eu suspiro. — Eu ficaria satisfeita com não me sentir tão inferior
sempre que ele está por perto. Posso lidar com o fato de não
sermos melhores amigos, mas já faz muito tempo que alguém me
faz sentir tão... inadequada.
— Você perguntou a ele o que ele pensa de você?
— Hum, não. Como exatamente se tem essa conversa?
Kurt coloca a mão sobre o peito. — Ok, finja que sou você...
Kurt bate os cílios e enrola uma mecha de cabelo imaginária. —
Oi, Colin? Sei que meu cabelo está meio esquisito agora, mas, além
disso, estou me perguntando por que você acha que sou escória?
Kurt ligeiramente muda de posição para o outro lado da cadeira
e depois faz uma careta antes de falar em voz baixa. — Eu não te
desdenho, moça. Eu sou apenas um pouquinho tímido, é tudo.
— Esse é o pior sotaque irlandês que eu já ouvi.
— Mas ele tem sotaque irlandês, certo?
— Sim. Mas…
Paro quando ouço a porta da frente se abrir.
— Tenho que ir — digo a Kurt.
Eu fecho meu laptop antes que meu amigo possa se despedir,
não querendo que Colin saiba que estávamos falando sobre ele e
seu sotaque sexy.
Eu disse sexy?
Sim. Sim, eu disse. Porque, embora o sotaque dele não seja tão
grosso quanto há dez anos, ainda há algo claramente excitante em
um homem com sotaque, especialmente quando ele tem uma
aparência como essa.
Hoje ele está vestindo uma camisa azul com seu terno cinza
escuro padrão que destaca ainda mais o azul de seus olhos do que
o habitual. Olhos azuis que piscam uma vez rápido demais quando
ele me vê, como se ainda não estivesse acostumado a me ver em
sua casa.
Colin me dá uma rápida inclinação do queixo, sua versão de uma
saudação, enquanto fecha a porta da frente.
Estamos nessa há uma semana, então eu sei o que acontece a
seguir. Ele coloca a pasta no armário do corredor, vai à cozinha
pegar um copo de água e às vezes uma maçã e depois se retira
para o quarto. Às vezes, ele fica lá a maior parte da noite, exceto
para comer, ler ou assistir TV. Algumas noites ele sai de casa, para
fazer eu nem sei o que.
Ele nunca é rude. Ele é atencioso com o barulho. Limpa o que
sujou - e o que eu deixei, se eu fizer algo louco como deixar uma
baguete no balcão. Ele fala comigo se eu perguntar uma coisa. Ele
continua a colocar ovos na minha frente todas as manhãs se eu
acordar no mesmo horário que ele. Mas, como contei a Kurt, não
posso deixar de pensar que ele não gosta de mim. Ou, no mínimo,
gostaria que eu não estivesse aqui.
O que eu posso entender. Também não quero estar aqui. Eu
ainda tenho fantasias bastante regulares sobre estrangular meu
irmão por nos meter nessa bagunça, especialmente desde que
Justin continua me ignorando. Eu nem posso culpá-lo. Meu irmão é
um homem excepcionalmente inteligente. Evitar a irmã cujo acordo
pré-nupcial você manipulou é uma estratégia muito inteligente para
preservar a segurança pessoal.
Ainda assim, Justin me colocou nessa bagunça. Ele colocou nós
dois nessa bagunça, e estamos presos a ela. E simplesmente viver
ao redor da situação não vai funcionar. Alguém tem que dar o
primeiro passo, e acho que tem que ser eu.
— Ei, você quer uma bebida? — Eu deixo escapar, quando ele
abre o armário de casacos para colocar sua bolsa dentro.
Colin se endireita lentamente e me dá um olhar ilegível. — O
que?
— Uma bebida — repito pacientemente. — Álcool opcional.
Consumido enquanto aprecia minha companhia. Essa parte não é
opcional.
— Uma bebida aqui?
Eu dou de ombros. — Por que não? Você tem aquele carrinho de
bar sofisticado com todas os acessórios. E eu faço um bom martini.
— Vodca ou Gim?
— Qualquer um. Ambos. Bond bebia vodca.
— Churchill bebia gim.
— Bond era mais gostoso — eu replico.
As mãos de Colin deslizam sob o paletó aberto, encontrando
seus quadris enquanto ele me estuda. — Você é fã do 007.
— Sou fã de Daniel Craig. E Pierce Brosnan. E Connery. Ok,
sim, tudo bem. Sou fã do 007.
Ele assente. — Tudo bem então. Já tomou uma Vesper?
Balanço a cabeça. — Parece vagamente familiar.
— É vodca e gim. Além disso, Bond bebeu um em Casino
Royale.
— Ah ha! Então você também é fã do Bond. Parece que nós
temos algo em comum!
Ele não sorri, mas seu olhar parece um pouco mais amigável
que o normal.
— Tudo bem — diz ele finalmente. — Deixe-me fazer uma
ligação rápida e depois eu farei uns para nós.
Espero até ele sumir de vista, ouvindo o clique da porta do
quarto antes de pular da cadeira e fazer uma dança da vitória. O
que falta na coordenação é compensado pelo entusiasmo.
Acabei de descobrir qual será o meu projeto enquanto minha
vida real em São Francisco estiver em hiato: eu vou descobrir do
que esse cara gosta e vou fazer ele gostar de mim.
Kurt não estava totalmente errado. Eu gosto que as pessoas
gostem de mim. Elas não precisam me amar. Apenas... me adorar
um pouco. Não porque sou vaidosa, mas, bem...
Eu suspeito que provavelmente tenha algo a ver com a profunda
culpa sobre como eu era horrível nos meus vinte e poucos anos.
Autocentrada, imprudente e um pouco ingrata.
Eu tenho compensado isso desde então.
Não tenho ideia de quanto tempo levará a ligação de Colin e,
sinceramente, não preciso dele para fazer os coquetéis. Gosto de
entreter e adicionei bartender caseiro às minhas habilidades em
coquetéis e jantares há muito tempo. E embora esse coquetel em
particular seja novo para mim, não é nada que o Google não possa
ajudar.
Depois de uma rápida pesquisa, vejo que esse misterioso Vesper
está bem perto de um martini. Pego a vodca e o gim do elegante
carrinho de bar que Colin mantém no canto da sala e encontro uma
garrafa do terceiro ingrediente, algo chamado Lillet Blanc, na
geladeira.
Eu penso em sacudi-lo. Afinal, combina muito com Bond. Mas a
imagem da bebida que encontrei na Internet é perfeitamente clara, e
agitar o coquetel o deixará com espuma.
Coloco dois copos de coquetel no freezer para esfriar e depois
bisbilhoto a cozinha de Colin até encontrar um copo de cristal para
mistura e uma colher de bar.
O copo para mistura é pequeno, então eu tenho que fazer as
bebidas uma de cada vez, medindo cuidadosamente, derramando
sobre gelo e mexendo por um bom minuto ou mais para esfriar o
licor antes de passar para os copos.
Estou procurando um limão na geladeira para enfeitar as bebidas
quando Colin sai do quarto.
Ele faz uma pausa, olhando para os dois coquetéis prontos,
surpreso. — Eu disse que os faria.
— Eu ouvi você. — Eu seguro o limão. — Você tem um...?
Imito o movimento de fazer uma espiral de casca de limão para
enfeitar as bebidas.
Colin mexe os ombros para fora do paletó e o coloca sobre as
costas da cadeira, levantando as mangas da camisa, enquanto
caminha em minha direção.
Ele abre uma gaveta e puxa um descascador, mas em vez de
entregar para mim, ele pega o limão. Meus dedos se fecham
reflexivamente ao redor da fruta, de tão acostumada a viver sozinha,
a fazer as coisas do meu jeito, imediatamente resisto a desistir do
controle.
Aparentemente, Colin também está acostumado a estar no
controle, porque continua a segurar o limão. Só que estou
segurando com tanta força que ele não pode pegar o limão sem
também agarrar minha mão.
Coisas que não são sexys: limões.
Coisas que são sexys: Colin Walsh segurando minha mão
segurando um limão.
Não deveria ser. Eu sei disso. Mas no segundo em que seus
dedos fazem contato com os meus, sinto-os em lugares em que não
tenho problema nenhum em sentir no que se refere a esse homem.
Ainda assim, minha mão não recua e, percebo tardiamente...
nem a dele.
Eu levanto meu olhar para o dele e vejo algo que se parece com
um lampejo de calor - e um pouco de raiva - antes que ele puxe o
limão da minha mão.
Limpando a garganta, ele acrescenta uma espiral de limão aos
coquetéis com uma habilidade que me diz que não sou a única com
habilidades de bartender da casa.
Ele me entrega um dos copos antes de levantar o dele em um
brinde silencioso e tomar um gole da bebida. — Não é ruim.
— Você parece surpreso.
Ele estuda sua bebida por um momento. — Não. Bem. Um
pouco. Eu nunca tive uma mulher, fora garçonetes, me fazendo uma
bebida.
— E você pensou que éramos incapazes?
— Não coloque palavras na minha boca.
— Bem, o que mais eu devo...
Colin estende a mão e coloca um único dedo ao longo da base
do meu copo de coquetel, conseguindo incliná-lo em direção ao meu
rosto sem derramar uma única gota. — Cale a boca e beba sua
maldita bebida.
Tomo um gole, sem ter certeza do que esperar. — Hum! É bom.
— Você parece surpresa — diz ele, imitando minha afirmação
anterior.
Faço uma cara de engraçadinho e tomo outro gole da bebida. —
Eu não sabia bem o que esperar com a vodca e o gim juntos, mas
é... agradável, não é?
Ele encolhe os ombros. — Bond achou que sim.
— Então, essa é a sua bebida preferida? — Eu pergunto,
sentando-me em uma banqueta, determinada a atraí-lo para uma
conversa e, talvez, apenas talvez – a algo parecido com civilidade.
— Sou conhecido por pedi-la.
— Mas é a sua favorita?
— Quantos anos eu tenho, doze?
— Não pedi para você classificar seus Power Rangers favoritos
em ordem inversa — digo, buscando paciência. — Eu estava
apenas perguntando se essa é a bebida que mais gosta.
— Não.
Deus, me dê forças.
— Então, qual é a que mais gosta?
— Você é sempre tão faladora?
— Sim. A maioria das pessoas acham isso extremamente
charmoso.
— A maioria das pessoas não são casadas com você.
— Só porque sou comprometida desde que tinha vinte e um. —
Eu bato meus cílios.
Ele me recompensa com uma ligeira inclinação do canto da boca
para cima. — Eu não acho que esse cara sabia no que estava se
metendo.
— Oh, por favor. Você está lidando comigo há uma semana. Não
me diga que os e-mails ou mensagens de texto duas vezes por ano
da última década foram demais para você lidar.
— Eu sobrevivi.
Giro minha bebida em um círculo lento. — Por que você acha
que duramos tanto tempo?
Ele dá um encolher de ombros casual. — Eu realmente nunca
tive motivos para acabar com isso.
— Até agora.
— Até agora — ele concorda.
— O que mudou? Quero dizer, não estou reclamando, só estou
curiosa.
— Acho que percebi que sou adulto. Não sou mais uma criança
que precisa de um Green Card.
— E eu não sou mais uma adolescente rebelde que precisa da
poupança dela para escapar dos pais.
— Não. Você não é.
Eu estreito meus olhos porque há algo mais em seu tom.
— O que estou ouvindo? — Digo. — Julgamento? Parece
julgamento.
— Acho interessante que você esteja na cidade há uma semana
e não tenha visto ou falado com sua mãe. Ou pai.
— Como você sabe que eu não liguei? Ou os vi?
— Sua mãe me disse.
Eu quase cuspi minha bebida. — Você falou com minha mãe?
Quando?
— Ela me mandou uma mensagem ontem, quando não teve
notícias suas.
— Ela manda mensagens?
— Sim, Charlotte. Seus pais são inteligentes o suficiente para
dominar as mensagens de texto. Algo que você talvez soubesse se
tivesse tido tempo para manter contato na última década.
— Ei. Meu relacionamento com meus pais não é da sua conta.
Não saio por aí perguntando a última vez que você viu seus pais.
Sua mandíbula se flexiona.
Dou-lhe um olhar vagamente presunçoso. — Então. Não é tão
divertido quando é com você, não é?
Ele me encara, e eu encardo de volta, e droga. Ele vence,
porque eu desmorono.
— O que ela queria? — Pergunto.
— Sua mãe?
Eu concordo com a cabeça.
Colin encolhe os ombros. — Ela sabe que você voltou. Sabe
sobre a nossa situação. Queria ver como você estava.
— Ela poderia ter me ligado — eu resmungo.
— Você teria atendido?
— Sim. — Talvez. Provavelmente. Possivelmente não.
Não é como se eu não tivesse contato com meus pais.
Descongelamos lentamente ao longo dos anos, principalmente
devido à persistência do meu irmão. Eu ligo nos aniversários.
Conversamos no Natal. Eu os vi no funeral da minha avó e no
casamento do meu irmão nos últimos dois anos.
É apenas... frio. Nós não nos entendemos. Eles são duas das
pessoas mais opinativas do planeta e, de alguma forma, conseguem
ficar perplexos e indignados por terem uma filha opinativa que se
recusa a viver a vida que eles planejaram para ela.
— Então, você sabia que minha mãe me castigou uma vez por
cortar o cabelo?
— Sim, claro. Sei de todos os seus cortes de cabelo anteriores e
tenho uma lista de todas as vezes em que você ficou de castigo
quando criança.
Solto uma risadinha, encantada com o sarcasmo seco, mas sigo
em frente para fazer o meu ponto. — Eu tinha dezessete anos. Eu li
um artigo sobre cortes pixie na Cosmopolitan, achei que ficaria
bonito em mim, então fui ao salão, mostrei a foto e voltei para casa
com um cabelo pixie.
— Fascinante.
— Minha mãe ficou tão horrorizada que me deixou de castigo por
uma semana. Eu perdi o baile de Primavera. Por causa de um corte
de cabelo, Colin.
Ele bebe de seu coquetel. — Quantos anos você tem?
— Você sabe exatamente quantos anos eu tenho.
— Sim. Eu sei. É por isso que sei que esse episódio com o pixie
aconteceu há muito tempo. Talvez seja hora de deixar isso para lá.
Talvez seja hora de deixar tudo para lá.
— Você não está errado.
Sua mão congela no meio do caminho para colocar o copo no
balcão, e é estranhamente gratificante saber que posso surpreender
esse homem. — Eu não estou?
Eu dou de ombros. — Como você disse, já faz bastante tempo.
Com isso, levanto e pego meu próprio copo e vou em direção ao
meu quarto.
— Onde você vai?
— Ligar para minha mãe — eu digo por cima do ombro. — Se
você ouvir gritos, seja um bom marido e me faça outro drinque, sim?
CAPÍTULO 9
A
DOMINGO, 30 DE AGOSTO
D
DOMINGO, 30 DE AGOSTO
Q
SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO
SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO
SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO
SEXTA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO
D
SÁBADO, 5 DE SETEMBRO
C
SÁBADO, 5 DE SETEMBRO
SÁBADO, 5 DE SETEMBRO
U
SÁBADO, 5 DE SETEMBRO
A
DOMINGO, 6 DE SETEMBRO
E
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO
SÁBADO, 12 DE SETEMBRO
—
O i! — Eu digo com um sorriso, colocando minha bolsa para o
final de semana no chão e cumprimentando a recepcionista
do nosso hotel. — Eu tenho um quarto reservado sob o nome
Walsh?
— Duas camas — diz Colin antes que a mulher possa dizer uma
única palavra. — Vamos precisar de duas camas.
Eu piso com força no pé de Colin, satisfeita quando ele
estremece.
— Sim, duas camas seria ótimo — digo suavemente. — Meu
marido aqui tem uma urticária bastante intensa.
Agora ele tenta pisar no meu pé, mas estou à frente dele e saio
do caminho.
A mulher sabiamente ignora meu excesso de compartilhamento
enquanto clica em seu computador. — Ah. Sim. Aqui está, um
quarto para o Sr. e a Sra. Walsh.
Colin me lança um olhar penetrante, que eu ignoro. Nunca tinha
usado o nome dele até agora e não sei ao certo o que me levou a
fazer isso quando fiz as reservas de hotel. Também não entendo
completamente por que gosto tanto da ideia de ser uma Sra.
Aparentemente, basta uma conversa de dois minutos sobre se casar
e ter filhos, e eu me torno uma aspirante a June Cleaver.
— Vejo que você é uma dos nossos membros Platinum, o que a
torna elegível para um upgrade para uma suíte maior, mas receio
que a única suíte que nos resta tenha apenas uma cama king size...
— O quarto comum com duas camas está ótimo. — Diz Colin, já
entregando seu cartão de crédito e identidade.
— É uma urticária muito ruim — digo em um sussurro alto. —
Você se lembrou de trazer sua pomada, certo, querido?
— Sim, fofura. Coloquei-a junto à sua pomada para hemorroidas,
para que pudéssemos manter todas as pomadas juntas.
Eu engasgo com uma risada. Nada mal, Sr. Walsh. Nada mal
mesmo.
A mulher completa a transação e nos entrega nossas chaves em
tempo recorde, sabiamente não querendo fazer parte de nossa luta
verbal e pomadas medicinais.
— O café da manhã de cortesia é servido das seis e meia às
onze da manhã, embora eu devo salientar que amanhã será
domingo e há alguns bons brunches na cidade. Também somos
conhecidos por nossas lojas de antiguidades, e muitas pessoas
gostam de comer algo na rua principal antes ou depois de examinar
as lojas. Vocês gostam de antiguidades?
Tento pensar numa maneira educada de dizer não, mas Colin
responde primeiro. — Minha mãe os amava.
Fico surpresa e não sou a única. Olho para Colin e ele parece
completamente chocado com seu próprio anúncio. Mas a mulher
atrás do balcão não sabe que meu marido não é exatamente
famoso por compartilhar anedotas emocionais, nunca, e apenas
sorri.
— Alguma época em particular?
— Não. Ela não podia comprar muito, mas sempre que
passávamos por uma, ela me arrastava para dentro. O fato de estar
cercada por itens com uma história a lembrava que somos todos
iguais. Que somos todos apenas pessoas, independentemente da
década em que nascemos. Enfim — ele diz rapidamente, parecendo
envergonhado enquanto segura os cartões-chave. — Obrigado
pelos cartões.
Ela aponta para os elevadores e, no segundo em que as portas
se fecham, Colin fala: — Fique quieta. Eu não quero falar mais
sobre isso, então nem uma única palavra.
Eu fico quieta. Também faço minha mímica de tartaruga, o que o
faz grunhir.
As portas do elevador se abrem novamente, e ele me entrega as
chaves e depois pega nossas malas, me seguindo pelo corredor até
eu encontrar nosso quarto.
Apesar de não ser uma suíte, é maior que um quarto de hotel
usual e mais moderno do que eu esperava, o que é uma surpresa
bem-vinda, especialmente porque ainda estamos no fim da onda de
calor. Eu estava um pouco preocupada com a eficácia do ar
condicionado em um prédio antigo como este.
— Humm — eu digo, segurando meu queixo, enquanto estudo o
quarto. — Essas duas camas estão suficientemente afastadas ou
devo mudar uma para o banheiro por sua causa? Além disso,
devemos chamar a mulher da recepção? Lembrá-la mais uma vez
que não estamos dormindo na mesma cama? Acho que ela não
entendeu bem as duas primeiras vezes em que você deixou claro.
Ele joga minha bolsa em uma das camas e coloca sua própria
mochila na outra. — Eu já estou com medo de dizer a Rebecca que
fizemos essa viagem. Eu quero pelo menos garantir a ela que não
dividimos uma cama.
Eu pulo na minha cama, tirando os sapatos e deixando meus pés
balançarem. — Você precisa contar a ela? Não que eu esteja
defendendo guardar segredos, mas com base no que vi no fim de
semana passado, não sei exatamente o quão bem ela lidará com
isso.
— Talvez você devesse ter pensado nisso antes de me forçar a
vir. — Ele diz, abrindo a bolsa.
A dispensa brusca arde e, como eu não sou tão hábil quanto ele
em recuar na minha casca de tartaruga, eu o deixo saber.
— Você continua dizendo isso a si mesmo — eu digo, enquanto
me levanto. — Continue dizendo a si mesmo que sou um tornado
horrível, que faz você fazer coisas que não quer. Tenho certeza de
que é mais fácil do que admitir que você está realmente se
divertindo. E faça o que for, não se lembre de que todo o motivo de
eu ter insistido nessa viagem foi para ajudá-lo e que passei duas
horas em velocidade de tartaruga enquanto você se lembrava de
como operar um veículo em movimento.
— O que há com você e tartarugas?
Eu o encaro por um momento. — Essa é a sua resposta? Você
afirma ter emoções enterradas em algum lugar dentro de você e
tenho certeza de que você está certo. Só não tenho certeza se as
emoções são as boas.
Pego minha bolsa de higiene pessoal e vou para o banheiro,
cedendo à vontade de bater a porta. O que não me faz sentir
nenhum pouco melhor.
Estou chateada comigo mesma por estar chateada. Você acharia
que, nas últimas semanas, eu me acostumaria á isso – me
acostumaria com o fato de que, independentemente da abordagem
adotada, ele simplesmente não gosta de mim.
Mas, em vez de se tornar mais fácil, a dor parece piorar a cada
vez que ele deixa seu desdém claro, toda vez que se esforça para
manter distância.
A música da Madonna “Open Your Heart” está na minha cabeça
desde o passeio de carro, e agora percebo que não o fiz ouvi-la
repetidamente só porque era minha música favorita.
Agora estou pensando se não estava subconscientemente
cantando para ele.
— Estúpida — murmuro, abrindo minha bolsa de higiene pessoal
e removendo minha maquiagem com mais força do que o
necessário. Escovo os dentes e termino o resto da minha rotina
noturna, aproveitando o tempo para esfriar meu temperamento.
Felizmente, do mesmo jeito que meu temperamento inflama rápido,
ele também esfria.
Meu bom humor está quase completamente recuperado quando
abro a porta do banheiro alguns minutos depois.
— Todo seu! — Eu digo, dando-lhe um sorriso amigável.
Ele está sentado na cama com roupas dobradas no colo. Eu
suponho que elas são dele, e ele planeja se trocar no banheiro, mas
ele se levanta e as entrega para mim.
— O que é isso? — Eu pergunto, olhando para a camiseta
branca dobrada ordenadamente e... uma cueca boxer azul.
— Para dormir. — Sua voz é rouca, e ele não encontra meus
olhos.
— Eu trouxe meu próprio pijama — eu digo, enquanto ele passa
por mim em direção ao banheiro.
— Sim, eu vi seu pijama. Suponho que você não trouxe o
roupão.
— Não. Mas...
— Então você vai usar isso — ele ordena, apontando para as
roupas na minha mão.
Eu torço o nariz. — Mas essas roupas são de algodão. O meu
pijama é de seda.
— Charlotte, pelo amor de… eu estou noivo, mas não sou um
santo, ok? Apenas... vista a camiseta feia.
Ele fecha a porta e eu fico parada, um pouco atordoada com a
explosão e o que ele acabou de admitir.
Mordo o lábio, emocionada com a perspectiva de que talvez a
insistência dele nas duas camas não tenha sido repulso com a
minha proximidade, ou mesmo para apaziguar Rebecca.
Ele não queria ser tentado.
Humm.
Eu visto a camisa e a cueca dele. Não porque eles são
particularmente confortáveis ou porque ele me mandou, mas
porque, apesar dos sentimentos estranhos em relação a Colin, eu
não sou uma destruidora de lares. Posso pensar que Rebecca não
combina com ele, mas a última coisa que quero fazer é ser aquela
mulher. Aquela que deliberadamente seduz um homem que
pertence a outra pessoa.
Estou puxando as cobertas da minha cama quando Colin sai do
banheiro.
— Ei — eu digo, virando e olhando para ele, vendo que ele
também está vestindo uma camiseta e boxer. — Nós somos
gêmeos!
Eu seguro minhas mãos para o lado para que ele possa ver que
eu fiz conforme ele instruiu.
Em vez de parecer satisfeito ou aliviado, ele para e olha para
mim, seu olhar descendo para os meus pés descalços e depois
voltando. Ele balança a cabeça.
Eu deixo meus braços caírem. — Qual o problema agora?
— Nada — ele diz asperamente. — Vá para cama.
— Você esqueceu sua pomada de urticária ou algo assim? — Eu
resmungo enquanto subo na cama macia e confortável do hotel. —
Você está irritável.
— Segundo você, irritável é apenas o meu estado padrão. — Ele
puxa as cobertas da sua própria cama e deita.
Encaro o teto e respiro fundo, o som estranhamente alto no
quarto silencioso.
— Está muito quieto aqui. — Eu digo.
— Está. Eu esqueço o quanto estou acostumado com a trilha
sonora sutil da cidade, mesmo vivendo em um prédio alto.
— Eu poderia colocar música no meu telefone. Ou algum tipo de
ruído de fundo. — Digo, puxando as cobertas e começando a sair
da cama para pegar meu telefone que está carregando na mesa.
— Eu coloco. Meu telefone está bem aqui.
Me deito e, um momento depois, uma música suave começa a
tocar do telefone de Colin.
Eu sorrio. Ele está tocando ”Danny Boy”.
CAPÍTULO 26
A
DOMINGO, 13 DE SETEMBRO
C
QUINTA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO
SEXTA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO
SEXTA-FEIRA, 16 DE OUTUBRO
E
DOMINGO, 25 DE OUTUBRO
A
QUINTA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO
QUINTA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO
QUINTA-FEIRA, 29 DE OUTUBRO
SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO
QUARTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO
—
E spera, já vou. — Murmuro, limpando as mãos úmidas na
blusa, pois o pano de prato teve um incidente infeliz
envolvendo uma embalagem de caldo de galinha, e ainda não
peguei um novo.
Eu costumo dar tudo de mim quando cozinho, então eu respondo
à batida na porta no piloto automático, meu cérebro ainda distraído
imaginando se o prato vai ficar bom, mesmo eu tendo esquecido de
comprar gengibre no mercado.
Mas todos os pensamentos sobre o meu refogado são levados
pelo vento quando abro a porta da frente. — Ah. Oi.
Até agora, eu achava a carranca gelada de Rebecca a coisa
mais assustadora que eu já vi. Mas não. Esse fac-símile de um
sorriso que ela está me mostrando é muito, muito pior.
— Oi, Charlotte — diz ela em um tom açucarado. Ela pressiona
as mãos juntas em um movimento suplicante. — Sinto muito por vir
inesperadamente assim. Posso entrar?
— Claro — eu digo, me afastando e gesticulando para ela entrar.
— Mas Colin não está aqui. Ele está...
— Participando de um evento de networking em Midtown, eu sei.
Ela diz isso casualmente, mas sei que não tem nada improvisado
no comentário. Ela está mostrando sua reivindicação, me avisando
que ela diz onde Colin está, não eu.
— Então, — Gesticulo com as mãos. — O que posso fazer por
você?
Rebecca olha para a cozinha, que está, como sempre quando
estou no meio de uma aventura culinária, uma bagunça completa.
— Você cozinha? — Ela pergunta.
— Não muito bem, mas eu gosto do processo.
Seus olhos estreitam um pouquinho. — Isso é adoravelmente...
doméstico.
Ela nem se preocupa em esconder o desprezo em sua voz, e eu
não me incomodo o suficiente para ficar irritada. Claramente, ela
acha que meu comentário também veio de um roteiro, como se
minhas ambições culinárias tivessem a ver com impressionar Colin,
para fazê-lo pensar que sou uma mulher perfeita, em oposição à
minha verdadeira motivação: fome.
Não sei por que, já que acho que ela não merece, mas tento me
colocar no lugar dela. Acho que uma parte de mim espera que a
mulher esteja sendo uma megera porque está ameaçada, e se eu
puder convencê-la de que sim, Colin e eu realmente vamos nos
divorciar em algumas semanas, independentemente de minhas
habilidades culinárias, ela finalmente será simpática.
— Tive algumas aulas de culinária depois de morar em São
Francisco por alguns anos — digo com um sorriso amigável. —
Cozinhar para si mesma dá trabalho, mas eu estava cansada de
pedir comida.
Viu? Não tentando roubar seu homem com meus dotes
domésticos.
Não me interpretem mal, eu quero o homem dela. Mas ele fez
sua escolha e estou fazendo o possível para respeitá-la.
Rebecca me dá um sorriso falso e depois olha diretamente para
a sala de estar. — Podemos nos sentar?
— É claro. — Eu digo, mesmo quando os alarmes tocam um
pouco mais altos na minha cabeça, porque apesar de eu não ter um
roteiro no momento, ela com certeza tem.
Ela me indicar para a sala de estar, gesticulando para o sofá em
frente à cadeira em que ela se senta, como se me desse boas-
vindas ao seu reino. Como se eu não morasse aqui. Como se eu
não tivesse escolhido a almofada que ela está ajeitando nas costas.
Como se eu não estivesse sentada no mesmo sofá onde Colin
dorme. Como se não tivesse sido eu que dobrei seus cobertores e
lençóis hoje de manhã depois que ele foi chamado para uma
reunião inesperada
Vejo o olhar dela fixar-se na roupa de cama dobrada e
travesseiro que ainda não me incomodei em guardar, e vejo um
pequeno lampejo de alívio atravessar seu rosto. Sim, Rebecca. Ele
dorme no sofá.
Seus olhos estão um pouco mais amigáveis quando voltam para
mim. Um pouco.
— Olha, Charlotte, eu só queria... bem, para ser honesta, eu
queria me desculpar.
— Oh. Uau, ok! — Eu digo, fazendo um péssimo trabalho ao
esconder minha surpresa. — Pelo que?
São tantos motivos...
— Eu tenho sido uma vaca com você. — Diz ela com um sorriso
que me faz perceber o quão bonita ela é. Que me faz entender um
pouco o que Colin vê em Rebecca. Os dentes dela são perfeitos.
Talvez ele seja o tipo de cara que gosta de dentes. E aposto que o
cabelo dela nunca fica embaraçado. Aposto que ela nunca tem que
domá-lo por longos minutos até que ele fique como ela quer - aposto
que o cabelo dela sempre fica do mesmo jeito: grosso e brilhante.
— É uma situação difícil. — Digo, indo para a minha justificativa
preferida para qualquer coisa relacionada a essa mulher.
— Obrigada por dizer isso — ela fala. — É mesmo. Eu gostaria
que Colin entendesse mais. Quero dizer, eu sabia desde o início que
vocês tinham esse acordo, mas acho que… foi muito mais difícil vê-
la em pessoa. Saber que ele estava morando com você. E bem,
você não é exatamente um cachorro.
Ela dá uma risada aguda, e eu forço um sorriso. — Não tem
problema. Não consigo imaginar o quão estranho deve ser.
Desculpas aceitas. Terminamos?
— Muito estranho — ela concorda. — E eu não tenho lidado
muito bem com isso. Na verdade, outro dia eu... — Ela suspira. —
Fiquei tão frustrada, tão assustada que deixei Colin pensar...
— Que você não se mudaria para a Irlanda com ele?
Os olhos dela viram gelo.
Ops. Acabei de deixar escapar que ele me contou sobre o
relacionamento deles, e vou ser sincera com você: não posso dizer
com certeza que não deixei escapar de propósito.
— Ele te contou sobre isso? — Nenhum sinal de seus dentes
perfeitos agora.
— É só que... — Eu gesticulo ao nosso redor, procurando uma
saída dessa conversa. — Compartilhamos um espaço e tendemos a
nos intrometer na vida um do outro. Não foi grande coisa. Mas as
coisas estão melhores entre vocês dois agora? — Eu pergunto,
esperando distraí-la.
Ela sorri novamente, mas o olhar permanece frio e duro. — Muito
melhor, obrigada. Na verdade, você vai ser a primeira a saber... é
oficial!
Ela estende a mão esquerda com um floreio e... uau. Uau.
Estou muito feliz por estar sentada, porque de repente me sinto
um pouco tonta.
O anel em seu quarto dedo é enorme. Eu não sei como não vi
antes, mas não há como evitar seu brilho agora, nem a maneira
como parece ter partido meu coração a um metro de distância.
— Vocês finalmente foram comprar o anel. — Eu consigo dizer.
— Sim, finalmente — diz ela, aproximando a mão esquerda do
rosto para admirar o anel. — Ainda não posso usá-lo em público,
obviamente. Temos que esperar mais um mês até... — Ela balança
os dedos para mim. — Você sabe. O divórcio. E então
provavelmente esperaremos um pouco mais para não levantar
suspeitas. Mas pelo menos quando somos apenas nós dois, posso
usar isso e saber que ele é meu.
Eu mal consigo segurar minha risada com a falta de sutileza. Aí
está. Seu verdadeiro motivo para vir aqui. Para se desculpar, minha
bunda. Ela está aqui para me lembrar, em termos inequívocos, de
que Colin é dela, e ela tem um diamante gigante para provar isso.
Desculpa atrapalhar seu show, madame, mas eu sabia que ele
não era meu muito antes dele colocar essa pedra enorme no seu
dedo.
— Vocês já têm uma data? — Eu pergunto, não porque eu quero
saber, mas porque se há alguma chance de eu permanecer na vida
de Colin depois que isso acabar, eu vou ter que pelo menos tentar
ser gentil com essa mulher.
— Não, nós apenas queremos aproveitar o noivado. — Diz ela
com uma voz sonhadora, ainda olhando para o próprio anel.
— Bem, eu estou realmente feliz por vocês dois.
Uma mentira completa, mas não me sinto mal com isso, porque
estou tentando ficar feliz e gosto de pensar que isso conta para
alguma coisa.
— Obrigada — diz Rebecca, ficando de pé. — Eu só queria que
você fosse a primeira a saber, já que... bem, como você disse - essa
situação toda tem sido difícil, e a transparência tornará tudo o mais
indolor possível para todos nós.
— Sim, definitivamente — eu digo, enquanto caminhamos para a
porta. — Estou feliz que tudo esteja chegando ao fim.
— Eu também. E entre nós, garotas, — ela se inclina para a
frente conspiratoriamente, a mão esquerda levantada para revelar
seu grande anel e os dedos cruzados — estou torcendo para que
vocês dois arrasem na entrevista da imigração amanhã. Farei o que
for preciso por esse homem, mas a ideia de me mudar para a
Irlanda... — Ela estremece dramaticamente.
Meus sorrisos falsos acabaram, então abro a porta da frente com
uma expressão de gelo que deixaria minha mãe extremamente
orgulhosa. — Eu vou dizer a ele que você passou por aqui.
— Oh, não conte a ele — diz ela, alegremente. — Juramos que
não contaríamos a uma única alma sobre o noivado ter sido
oficializado. Ele está aterrorizado que alguém descubra e que isso
atrapalhe o processo de divórcio. Acho que ele vive com um medo
constante de que você mude de ideia e se recuse a assinar os
papéis ou algo assim.
— Confie em mim. Não terei problemas em assiná-los. — Digo
com um sorriso alegre. Oh, parece que eu tinha um sorriso falso
sobrando. Eu mantenho-o enquanto fecho calmamente a porta na
cara de Rebecca.
Eu me viro, pretendendo voltar para o meu refogado, mas
minhas pernas não se mexem. Em vez disso, me encosto na porta,
minha respiração vindo em rajadas curtas enquanto meus olhos
lacrimejam. Eu levanto minha própria mão esquerda, olhando para o
anel antigo. Mais velho que o dela. Mais barato.
Infinitamente mais perfeito.
Mas dado por uma razão completamente diferente do dela. E
essa é uma diferença crucial.
As palavras de Rebecca se repetem na minha cabeça. Acho que
ele vive com um medo constante de que você mude de ideia e se
recuse a assinar os papéis.
Perco minha batalha contra as lágrimas e percebo que não
posso mais fazer isso. Não quero mais fazer isso. Mas mais
importante do que eu quero para mim é o que eu quero para ele.
Até agora, não me ocorreu que isso é amor verdadeiro - querer o
melhor para a outra pessoa. Querer a felicidade dela acima da sua
porque você a ama.
Como amo Colin.
Limpo minhas lágrimas nas costas da minha mão e vou para a
cozinha, pegando meu celular no balcão.
Eu ligo para meu irmão.
Ele não atende, mas eu não espero que atenda, pois o horário
de Frankfurt está adiantado em seis horas e tenho certeza que ele
está dormindo.
Normalmente, eu apenas enviaria uma mensagem de texto, mas
há coisas que devem ser ditas em voz alta. Eu espero
pacientemente sua gravação da caixa postal sem sentido acabar,
espero pelo sinal sonoro. E deixo uma mensagem.
— Ei Justin, é sua irmã favorita. Me liga de volta assim que
receber isso. Eu preciso de alguns conselhos legais. É sobre esse
estúpido acordo pré-nupcial...
CAPÍTULO 36
E
QUARTA-FEIRA, 4 DE NOVEMBRO
C
QUINTA-FEIRA, 5 DE NOVEMBRO
SEXTA-FEIRA, 13 DE NOVEMBRO
SÃO FRANCISCO
— A inda não acredito que você não vai voltar — diz Kurt. —
Não é certo. Nada sobre isso é certo.
Lewis aperta o ombro do marido quando ele se aproxima para
abrir nosso Sauvignon Blanc. — Nós conversamos sobre isso, Kurt.
É certo. Você só está fazendo birra.
Kurt faz beicinho enquanto olha para mim. — Certo, tudo bem.
Confesso que toda essa situação tem uma certa simetria
interessante. Mas eu não gosto disso.
— Nem mesmo do meu escritório de canto, que agora é seu? —
Eu digo, cutucando sua panturrilha com a ponta da minha sapatilha
Tory Burch. — Hein?
Ele dá uma sacudida petulante na cadeira. — Bem, ok, essa
parte é legal.
— Imaginei. — Eu digo, sorrindo para o meu vinho. Estou um
pouco surpresa que minha última noite em São Francisco não esteja
tão deprimente. Não me interpretem mal - é agridoce pensar que
essa não será mais minha casa. Vou sentir falta do clima. Vou sentir
falta do meu trabalho. Meus colegas. Minhas amigas. Mais do que
tudo, vou sentir falta do Kurt e do Lewis.
Mas, a partir de hoje, sou oficialmente ex CEO da Coco. As
rédeas foram entregues a Kurt como CEO interino, e o Conselho de
Administração terá que votar se essa será uma posição permanente
ou não. Mas estou no conselho e tenho certeza de que o escritório
ficará com Kurt pelo tempo que ele quiser. Ele deixou de ser apenas
um assistente há muito tempo = ele é a Coco.
E quanto a mim?
Tenho um voo de São Francisco para Nova York no final da
semana.
Em direção ao quê?
Não.
Tenho.
Ideia.
Sim. Você leu certo. Não sei o que vem a seguir. Não tenho mais
emprego. Ou uma casa. Em alguns dias, não terei mais marido.
Ah, sim, estou muito mais pobre do que era há uma semana.
Por quê?
Porque é isso que acontece quando você pede o divórcio antes
que as condições do acordo pré-nupcial sejam cumpridas - tudo o
que eu obtive durante o casamento agora é metade de Colin.
Estranhamente, a parte mais estranha de tudo isso não é o fato
que eu me desfiz de uma quantia bem gorda para romper a
condição do acordo pré-nupcial. É que nem Colin nem eu
parecemos considerar essa possibilidade em primeiro lugar.
Ficamos tão paralisados com esse único parágrafo, indicando que
deveríamos viver sob o mesmo teto por três meses para nos
divorciar que não nos preocupamos em explorar as consequências
de preencher os papéis do divórcio antes disso. Ou pelo menos, eu
não. Não até semana passada.
Foi para isso que liguei para o meu irmão. E quando Justin me
ligou de volta - mais rápido desta vez, graças a Deus - eu descobri
que não era que um de nós não podia pedir o divórcio antes de
morarmos juntos por três meses, seria apenas uma decisão
financeira realmente irresponsável, assumindo que algum de nós
tivesse adquirido bens durante esse tempo, o que nós dois
tínhamos.
E, honestamente, mesmo se eu soubesse dessa brecha, acho
que ainda teria me mudado para Nova York. No início disso tudo, a
perspectiva de ceder para basicamente um completo estranho
metade de tudo pelo que que trabalhei tanto para ganhar seria
impensável. Viver por três meses em Nova York seria um preço
pequeno a pagar para manter o que é meu.
Agora, porém... como você sabe, tudo mudou.
Eu realmente não sinto que poderia ter sobrevivido outro dia,
muito menos semanas, vivendo lado a lado com Colin, sabendo que
ele estava contando os dias até poder estar com Rebecca. E mais
importante do que isso, eu percebi o quão brutal deve ter sido viver
com uma mulher enquanto amava outra.
Tudo se resumia a isso: não preciso desse dinheiro.
No entanto, eu preciso que Colin seja feliz. Eu preciso disso do
fundo do meu coração.
E ele não vai ser enquanto morar sob o mesmo teto que eu.
Além disso, meu plano brilhante, que é como eu chamo, fez
exatamente o que eu queria. Convenceu Gordon Price que, sim,
Colin e eu estávamos nos divorciando, mas não havia nada fácil ou
planejado sobre isso.
Gordon Price corretamente assumiu que para renunciar
voluntariamente a uma quantia gigantesca de dinheiro, amor deve
estar envolvido. Eu contei algumas mentiras sobre meu casamento.
Essa não foi uma delas. Eu amo Colin.
— Oh, Char — diz Kurt com simpatia quando vê meus olhos
lacrimejando. — Não, não. De novo não.
— Eu não estou chorando. — Digo, fungando no lenço que ele
me passa.
— Está sim. É por causa do cara ou porque você vai sentir
minha falta?
Eu solto uma risada. — Você. É definitivamente porque vou
sentir sua falta.
— Eu sei que você está mentindo, e eu aceito. Lewy! Traga os
salgadinhos de queijo! — Kurt grita para a cozinha.
— Eu pensei que você não comia mais glúten. E era vegano. —
Eu digo.
— Lewis disse que a dieta me deixava ranzinza, então eu desisti.
— Diz ele, pegando um lenço de papel e enxugando os meus olhos.
— Aqui está. — Kurt murmura suavemente quando Lewis traz
uma tigela de Cheetos para a sala. Kurt pega um e estende a mão
para me alimentar, eu como com uma risada. Salgadinhos
processados de queijo não resolverão nenhum dos meus
problemas, mas Kurt me alimentando como uma espécie de mamãe
animal pelo menos me distrai por um tempo.
— Eu, pelo menos, mal posso esperar para ver o que vem a
seguir, sei que você vai arrasar. — Diz Lewis, sentando ao lado de
Kurt, que está me estendendo outro Cheetos.
— Obrigada, Lew. — Digo com o Cheetos na boca.
Kurt tenta levar o vinho até a minha boca e pego a taça antes
que ele derrame. — Isso eu posso fazer sozinha. Obrigada.
— Você vai voltar para nos visitar, certo? — Diz Kurt.
— Claro. E, sério, me avisem se houver algo que eu possa fazer
para ajudar a vender o condomínio, ok? Corretores de imóveis,
taxas de limpeza, tudo isso... quero pagar tudo.
— E você pode? — Kurt diz provocadoramente.
— Não estou pobre, apenas metade menos rica. — Ressalto.
— Você acha que ele realmente vai manter o dinheiro? — Diz
Kurt. — Seria uma merda.
— Sendo assim, por que vocês não concordaram em romper o
acordo desde o início, assinaram o que era necessário para trocar
fundos e depois... devolveram o dinheiro? — Lewis pergunta.
— Ideia maravilhosa, Lewis — eu digo com a voz estridente. —
Teria sido um pouco mais maravilhosa se você tivesse pensado
nisso dois meses atrás.
— Quer saber o que eu acho? — Diz Kurt, levantando o dedo
para indicar que eu deveria ouvir. — Eu acho que você não pensou
nisso porque secretamente queria voltar para Nova York. E ele não
pensou nisso porque viu você de novo e percebeu que a esposa
dele é super gostosa.
— Teoria fantástica. — Aponto minha taça de vinho para Kurt. —
Uma que você deveria definitivamente contar à nova esposa dele.
Kurt e Lewis estremecem. — Você acha que será convidada
para o casamento?
— Provavelmente — eu murmuro. — Colin por se sentir culpado,
Rebecca para esfregar na minha cara.
— Você iria?
— No momento? Parece insondável. Mas eu nem sei quando é.
Se eu encontrar um namorado parecido com o Thor antes disso...
com certeza.
E então, porque sou humana e mulher heterossexual, dou-me
um pequeno momento de fantasia, imaginando o rosto de Colin se
eu realmente aparecesse com o Thor. E porque Lewis e Kurt são
homens homossexuais, eles também fantasiam. Eu sei, porque os
dois suspiram “Thor” ao mesmo tempo.
— E você realmente não falou com ele? — Kurt pergunta com
um sorriso melancólico.
— Não. — Viro o resto do vinho e estendo minha taça para servir
mais.
Lewis assente com aprovação. — Você o bloqueou?
— Não. — Eu digo novamente.
— Espera. — Kurt ergue a mão em protesto. — Então ele nem
tentou entrar em contato? Nenhum e-mail? Nenhuma mensagem?
Nada?
— Bem, para ser justa, eu fui embora sem nem dizer adeus. —
Eu indico.
— Se você deixou os documentos de divórcio e a sua aliança no
balcão da cozinha, isso foi definitivamente um adeus, querida.
— Exatamente — eu digo, balançando a mão, tentando ignorar o
quão nua ela parece sem o meu anel amado. — Eu não poderia ter
sido mais clara sobre a situação, então por que ele entraria em
contato? Não há nada a dizer.
— Mas você terá que falar com ele eventualmente — diz Lewis,
enquanto me serve mais vinho. — Quero dizer, você disse que o
cara é praticamente um filho adotivo para seus pais. Certamente
seus caminhos se cruzarão novamente. Opa! Só um segundo...
Lewis coloca a garrafa de vinho na mesa e vai atender a porta da
frente.
— Vocês estão esperando alguém? — Pergunto a Kurt com um
Cheetos na boca.
Ele balança a cabeça como se dissesse não tenho ideia.
Lewis retorna um momento depois, com olhos arregalados e voz
um pouco aterrorizada. — Char? É para você.
— O que? — Eu pergunto confusa, virando-me para olhar quem
apareceu na casa de Lewis e Kurt para me ver. Um momento
depois, percebo por que Lewis está aterrorizado de maneira
incomum.
Eileen Spencer está de pé em sua sala de estar.
Minha boca cai aberta. — Mãe? O que você está fazendo aqui?
— O que eu deveria ter feito há dez anos, Charlotte Elizabeth
Spencer. Seguindo você até a Califórnia para lhe dizer que fugir de
seus problemas não é um bom jeito de viver a sua vida.
CAPÍTULO 39
SEXTA-FEIRA, 13 DE NOVEMBRO
O
QUINTA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO
O FIM
EPÍLOGO CINCO