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Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Epílogo
Bônus
Sobre a autora
Copyright
Ficha Catalográfica
Sobre a editora
Livro anterior na Série Bro Code
Conheça a série As Bilionárias de Bluewater
Leia O Resto de Mim
Conheça a Série Benevolence
01
Sarah Dempsey, também conhecida como “uma geek que não tem a
menor intenção de ter os bebês de Beck Ryder”
Da última vez que usei óculos escuros, um boné abaixado para esconder
o rosto e um moletom com capuz para ir às compras – em pleno verão de
junho –, eu estava em Los Angeles, tinha dezessete anos, e tudo o que eu
queria era um baralho de cartas do Pokémon.
Hoje estou comprando papel higiênico, que é literalmente a única coisa
no mundo que me faria sair de casa. Não é até eu estar na fila do caixa com
meu pacote Charmin de quatro rolos agarrado ao meu peito que me ocorre
que as pessoas não estão olhando para mim só porque Beck Ryder tuitou
ontem à noite que eu deveria calar a boca e ir fazer bebês, não comigo, é
claro. E sim porque não há nenhuma razão legítima para eu estar agindo
como uma celebridade e tentando me esconder, já que ninguém aqui sabe
que eu sou @must_love_bees no Twitter e, sinceramente,
@must_love_bees não é nenhuma celebridade.
Maldito modelo de cueca.
Ele está fodendo com a minha cabeça. E com a minha vida.
A mulher do caixa me dá uma olhada.
— Você vai a uma festa? — pergunta ela, seu olhar percorrendo meus
óculos escuros, boné e o papel higiênico.
— Experimento social — respondo. — É mais ou menos provável que
você converse com as pessoas que entram na loja de óculos escuros?
— Mais — diz ela, ao mesmo tempo em que o cara do outro caixa diz:
— Menos. Respeito a privacidade.
— As pessoas só se vestem assim quando querem atenção — a
senhorinha atrás de mim fala para todos. Ela bate na capa de um dos
tabloides. — Como esse cara aqui que afirma ser a reencarnação de Gengis
Khan com um pênis em forma de dragão. Ele usa óculos de sol em todos os
lugares.
Contanto que ninguém peça para ver a minha dragoa, acho que vai ficar
tudo bem.
Escapo dali, enfio o papel higiênico dentro do carro e me sinto uma
idiota por ter vindo dirigindo, porque a temperatura está na casa dos 21
graus, o sol está encoberto pelas nuvens brancas e fofas, e são apenas dez
minutos a pé da minha casa até o mercado.
Quando chego em casa, três minutos depois, nenhum dos vizinhos está
bisbilhotando as minhas janelas.
Nem mesmo Ellie Ryder, que sem dúvida é parente do primata de cuecas,
embora nunca tenhamos conversado sobre as nossas famílias, por vários
motivos. E ela também está fora da cidade esta semana.
Pelo menos, foi o que ela disse quando seu namorado apareceu com o
filho no último fim de semana. Algo sobre um festival pirata nas
montanhas, mas não perguntei mais detalhes.
Não costumo me aproximar muito das pessoas.
Da maioria das pessoas, devo especificar. Mas existem exceções, e meus
vizinhos não estão inclusos nessa categoria.
Minha gata, Andrômeda – Meda para abreviar – está dormindo na janela
da frente do meu pequeno bangalô estilo Craftsman. E não há carros
incomuns estacionados na rua sob os carvalhos e cicutas.
Não é que eu seja paranoica.
É só que… tá bom.
Eu sou paranoica.
Você também seria se tivesse meus pais e minha infância.
Eu deveria ligar para eles.
Entro na garagem e aperto o botão para abrir a porta atrás de mim antes
de sair do carro com meu papel higiênico. Eu o deixo no banheiro e passo
pelo meu pequeno esconderijo, onde está o computador, porque… ugh…
vai levar semanas até que os feeds das minhas redes sociais parem de
explodir com mensagens sobre aquele modelo estúpido de cuecas e seu post
mais estúpido ainda que dizia que eu não sou nada mais do que uma fábrica
feia de bebês.
Eu poderia muito bem me reinventar, mudar completamente.
De novo.
Ainda mais se a vizinha for mesmo parente dele. E se ela ainda se
lembrar do meu nome de usuário do Twitter.
Ela é engenheira ambiental.
Eu também sou engenheira ambiental.
Ela gosta de animais.
Eu também gosto de animais.
Fazia sentido na época contar a ela sobre o meu site de ciência e
conservação ambiental.
Deixa pra lá.
Devem existir milhares de pessoas com o sobrenome Ryder em Copper
Valley.
— Sabe o que mais me irrita, Meda? — digo para a minha gata.
Ela mia de volta de seu poleiro no parapeito da janela, me dando um
vislumbre do que está pensando. Eu aceno com a cabeça. Ela é meio
siamesa, meio malhada, acho, e muito atrevida. Tem toda essa atitude para
compensar o fato de não caber muito bem dentro de uma caixinha, e nos
damos muito bem.
— Isso mesmo. Eu finalmente tenho um grupo de seguidores que amam a
ciência e se divertem com as descobertas planetárias e as novas tecnologias
de reciclagem, e lá vai ele transformar toda a minha existência num circo
sobre o meu útero, em vez de falar sobre salvar o planeta.
Não preciso fazer login nas minhas redes sociais ou ver as estatísticas do
meu site para saber como está tudo por lá. É a mesma coisa com qualquer
linchamento digital.
Todo mundo acha que sabe toda a história. Eles publicam suas opiniões
na internet, depois começam com os xingamentos, dos dois lados. Postam
coisas que nunca diriam na sua cara, e a qualquer momento alguém irá
encontrar o meu endereço. E aí eu vou ter que me esconder.
De novo.
Merda, merda, merda.
Não que eu não tenha aproveitado o meu ano sabático, mas gosto da
minha vida de agora.
Jogo meus óculos de sol na mesa de centro reciclada da minha sala de
estar super eclética e depois o boné, que cai bem dentro da enorme caixa de
bonecos dos Vingadores, que mamãe enviou na semana passada e que eu
ainda não arrastei para o porão.
Não há momento melhor para isso que o atual, porque quando eu tiver
que ir embora, essas coisas podem ficar para trás. Não por não gostar delas
– até porque acho que o Thor Dourado está naquela caixa, e olá, gostoso
dourado, por favor, não conte a ninguém que eu disse isso –, mas porque
prevejo a necessidade de fazer uma fuga rápida apenas com o essencial.
Eu gosto da minha casa.
E é uma grande dor de cabeça mudar de nome em segredo. Talvez eu
devesse pular essa etapa e me mudar logo para Fiji.
— Eu sei, eu sei, estou sendo melodramática — digo a Meda, embora
tenha certeza de que não esteja. É difícil afirmar quando você sabe que nem
sempre tem uma firme compreensão do que é normal. — Mas eu prometo
que não vou deixar você para trás.
Ela mia de novo, olhando para mim com um olho azul e outro âmbar,
pula da sua cama na janela da frente e vai para a cozinha, onde, sem dúvida,
está esperando seu jantar.
Quatro horas adiantada.
Eu a sigo, porque ela pesava só dois quilos de pele e osso quando eu a
trouxe do abrigo para casa, então pode comer quando quiser.
Mas assim que entro na cozinha, os pelos da parte de trás dos meus
braços se arrepiam.
Alguém está no meu quintal.
Do lado de dentro da minha cerca.
Perto das minhas colmeias de madeira.
Um homem está se esgueirando em direção à casa, usando óculos
escuros, um boné puxado para baixo e moletom.
Em pleno verão de junho.
E se ele acha que vai conseguir alguma coisa de mim, está muito
enganado.
Eu tiro meu taser do pote de biscoitos da minha avó e fico de joelhos
para rastejar sobre o piso bege até a porta dos fundos, então levanto a
cabeça o suficiente para espiar pela janela de vidro acima da maçaneta.
Ele está vindo para cá.
Merda. Merda.
Meda mia de novo.
A cabeça do estranho vira para a minha direção – o idiota está se
certificando de que não esteja sendo observado –, e eu me abaixo.
Mas só até ouvir uma batida na porta.
E então eu entro em ação.
Pulo, giro a maçaneta e grito:
— Se deu mal, idiota!
Meu coração está batendo tão forte que meus peitos estão balançando.
Minha voz está grossa e alta porque, porra, estou encarando um intruso, e
não penso, apenas aponto e aperto.
Não consigo ver seus olhos, mas vejo seus lábios se separarem sob a
sombra escura ao redor da boca e mandíbula. Seu corpo estremece uma,
duas vezes, e então ele cai.
Como um saco de batatas.
— Ah, meu Deus, Beck, eu vou te matar! — uma mulher grita enquanto
corre pelo meu portão dos fundos.
Eu aponto o taser para ela.
— Para trás! — grito, uma fração de segundo antes de o reconhecimento
acontecer.
Eu conheço essa mulher.
Eu a conheço muito bem, mas meu cérebro está operando no: ai, meu
Deus, os paparazzi me encontraram! E não consigo fazer meu cérebro
raciocinar. Se ela tiver uma dessas câmeras espiãs nos bolsos, minha foto
estará em todos os tabloides de fofocas em seis horas, e minha mãe vai ficar
horrorizada por eu não ter penteado meu cabelo hoje.
Ela tropeça até parar e levanta as mãos, estremecendo quando parece
mudar o peso de uma perna para outra.
— Sarah. Me desculpa. Eu tentei impedi-lo. Ele achou que você ia gostar
do pedido de desculpas pessoalmente mais do que pelo Twitter.
Ela estremece novamente, e… eu conheço essa mulher.
Conheço mesmo.
— Quem é você?
Ela pisca uma vez, depois relaxa.
— É a Ellie. Sua vizinha.
Minha vizinha.
Merda, merda.
Olho para o saco de batatas com braços e pernas ridiculamente longos
esparramados na minha porta
E então, de volta para ela.
— Você deixou o primata de cueca entrar no meu quintal — digo.
Seus lábios se abrem, e um sorriso lento começa a se formar em suas
feições bonitas. Minha mãe iria adorá-la, porque sem maquiagem ela é
bonita, mas com maquiagem – e um corte de cabelo, e roupas que
combinam, e o senso de estilo – ela é linda pra caramba.
— Primata de cueca — diz ela, balançando a cabeça devagar. — Sim.
Gostei. O Beck é o meu irmão. Também conhecido como “o idiota que não
sabe usar um direct”. Ele está muito arrependido. Ele pensou que estava me
parabenizando pelo noivado, com esse jeito especial e fraternal que ele tem.
Ele geme no chão.
— Porra, Ellie, eu falei para parar com essa brincadeira idiota de apertar
o mamilo.
Seu sorriso se alarga.
— Eu disse para ele que ligaria para você primeiro, só para ter certeza de
que você não ia… bem, eu disse chamar a polícia, mas acho que assim é
melhor.
— Você tem um lado perverso — digo.
— Eu cresci com ele — responde ela, como se explicasse tudo.
Volto a olhar para ele.
Ele é alto. Ombros largos. Parece mais esguio pessoalmente do que
naquele outdoor da I-56 pelo qual eu passo algumas vezes por semana, mas
pode ser por causa do moletom folgado. Seu boné está torto – dos Fireballs,
legal – e uma mecha escura de cabelo está saindo por baixo da aba. Seus
olhos azuis estão um pouco fechados sob os óculos de sol tortos, mas
parecem estar voltando ao foco enquanto ele pisca preguiçosamente para
mim.
— Você me deu um choque — diz ele.
— Não reconheci você com roupas.
E isso é tudo o que tenho a dizer para ele, então me viro e volto para a
minha casa.
No que me diz respeito, esse assunto está encerrado.
03
Primeira regra para pedir desculpas: certifique-se de que ela saiba que
você está indo até lá.
Puta merda, que viagem foi essa.
E aqueles olhos.
Todos os quatro.
Nossa.
Você acredita em amor à primeira vista? Eu sempre acreditei.
Só que eu não sei se isso é amor ou apenas o efeito colateral de um zilhão
de volts no peito.
— Você se mijou todo? — pergunta Wyatt, com um sorriso, assim que
Tucker, seu filho, corre até o quarto para pegar um brinquedo para me
mostrar.
Meu melhor amigo de infância está encostado na porta larga entre a sala
de estar e a sala de jantar, ouvindo Ellie contar a versão resumida dos
eventos, enquanto eu, deitado com as pernas apoiadas no braço do sofá,
seguro uma bolsa de gelo para ajudar a aliviar a dor que está rapidamente se
espalhando pela minha cabeça.
— Porra, foi quase — admito, e tudo bem, ainda estou tremendo um
pouco.
Minha irmã e meu melhor amigo trocam um daqueles olhares entre casais
e caem na gargalhada.
Eu ficaria puto, mas vamos ser honestos… Primeiro, era meio que
inevitável que eu levasse um choque por alguma coisa em algum momento
da vida. E, segundo, pelo menos agora eu sei como é. E outra, eu estraguei
a surpresa da festa de noivado da Ellie, já que ela não sabia que eu estava
voltando para casa até Wyatt contar, para que eles pudessem correr em meu
auxílio a respeito da catástrofe dos tuítes, então eu devo a eles algumas
risadas às minhas custas.
Mesmo que seja por eu ter tomado um choque de taser.
Não é algo que eu tinha planejado adicionar à minha lista de desejos, mas
esta será uma história para contar no futuro, quando meu peito parar de
pinicar.
Porém, se for mesmo amor à primeira vista, minha vida está prestes a
ficar complicada pra caralho.
Não deve ser amor, decido.
Deve ser por causa de todos esses volts no meu coração. Fico imaginando
se levar um choque na bunda teria o mesmo efeito.
Bem improvável, decido. Eu com certeza deveria levar um choque na
bunda da próxima vez, se é que precisa acontecer uma próxima vez. Vamos
torcer para que não precise.
— Eu disse para você me deixar ligar para ela primeiro. — Ellie se joga
no sofá ao lado da minha cabeça e bagunça meu cabelo. — A Sarah é…
meio exaltada.
— Uma espécie rara — concorda Wyatt, irônico.
O cara é militar e um dos meus melhores amigos desde criança. Poderia
ter se juntado a nós na Bro Code, mas ele tinha essa atitude de foda-se tudo
isso, vou salvar o mundo.
— E não deve ser suscetível aos seus encantos sem igual.
Sarah – também conhecida como @must_love_bees –, a mulher que eu
sem querer insultei on-line, quando pensei que estava enviando uma
mensagem engraçada no privado da Ellie, respondendo seu post do anel de
noivado. A mesma que tuitou de volta: Esta tentativa desesperada de
roubar os meus 51 fãs não vai funcionar, @BeckettRyder. Os 49 são
cientistas e não se deixam enganar pelo seu tanquinho, o que foi bem
hilário, ainda mais porque ela tem mais de dez mil seguidores – e tem
quatro olhos na minha memória. Quatro grandes olhos castanhos escuros,
com íris enormes que parecem dominar suas feições e engolir suas pupilas.
Nariz reto, os dois. Lábios cheios. E todo aquele cabelo castanho cacheado
e selvagem.
Ela é como um cruzamento entre a Medusa e a sereia do Peter Pan. Meio
assustadora, meio adorável.
— Tio Beck! Olha isso! Eu tenho um boneco de cueca!
— O Levi vai se ver comigo por ter dado isso para ele — anuncia Ellie,
enquanto Tucker empurra um boneco Ken na minha cara.
Só que não é um boneco Ken.
É um boneco Beck Ryder.
— Esse é o boneco de cueca mais chique que eu já vi — digo a ele. —
Você é um carinha de sorte.
— Sua boca está engraçada — diz Tucker.
Ele é filho de Wyatt de seu primeiro casamento e quase um total clone do
meu amigo, exceto que o garoto tem os olhos castanhos da mãe em vez dos
olhos azul-cinzentos ou que for de Wyatt. Tucker tenta apertar os lábios
para parecer um pato, e chega muito perto de conseguir, o que é errado em
uma criança de oito anos.
Ellie se engasga com uma risada, mas eu ergo um punho para um “toca
aqui”.
— Se você continuar fazendo essa cara, todas as mulheres vão cair em
cima de você antes dos dez anos.
Wyatt me lança o olhar de: não brinca comigo que eu te dou um cuecão,
mas eu devolvo um sorriso de: de nada.
Porque Tucker está recuando de horror.
— Eca! Eu não quero as mulheres! Elas são mais velhas.
— É com elas que alguns de nós estão presos, cara — eu digo a ele, em
tom solene, embora tenha sido meses, ou mais, desde que eu tive uma
mulher de verdade.
Ou qualquer outra forma de companhia além da minha mão.
É o que acontece quando você quer que o sexo signifique algo depois de
namorar muitas mulheres que só querem contar por aí que dormiram com
alguém famoso, que pegaram um modelo de roupas íntimas ou que ficaram
grávidas de um bilionário.
Quase me pegaram nessa última.
Duas vezes.
E as duas estavam mentindo.
— Eu nunca vou crescer. — Tucker pega seu boneco de volta e corre
para Wyatt. — Posso comer um biscoito?
— Você pode comer uma cenoura, porque a vovó Michelle vai te dar
biscoitos na festa hoje à noite.
Vovó Michelle.
Minha mãe está tão feliz que parece estar no céu.
Ela finalmente vai casar um de nós e logo ganhar um neto. Não que ela já
não tenha adotado Tucker como um dos seus, já que crescemos na mesma
rua, e como a pequena família de Wyatt se foi, nós somos tudo o que ele
tem. Ela está pulando de alegria, porque Ellie e Wyatt enfim perceberam
que a razão por terem brigado tanto ao longo dos anos era serem almas
gêmeas.
Eles são nojentos. E adoráveis.
Uma personificação de todas as metas de relacionamento que um famoso
dono de império que viaja pelo mundo, como eu, jamais terá. Além de
nunca saber o que uma mulher quer de mim – meu corpo, meu dinheiro ou
minha fama. Se você já esteve em tudo quanto é lugar ao redor do mundo e
ainda não encontrou a pessoa certa, ela não existe.
Provavelmente.
Mas eu tenho uma família, e algumas fundações que beneficiam crianças,
além de sobrinhas e sobrinhos adotivos da parte de Wyatt e Tripp, então
está tudo bem.
Na maior parte do tempo.
É melhor dar o seu amor para as pessoas com quem você sabe que pode
contar do que guardar para alguém que talvez nunca apareça, não é?
Alguém bate na porta, e eu me encolho.
Ellie disfarça um sorriso.
— Relaxa. Posso garantir que não é a Sarah voltando com o taser. Ela
não costuma ser tão agressiva.
Sarah.
Nome bonito.
E ainda faz meus pulmões se contraírem. Deve ser bom ela não voltar.
Wyatt olha pela pequena vidraça da porta e abre.
— Reforços — diz ele.
Começo a ficar animado, pensando que Tripp ou Davis ou um dos irmãos
Rivers estão entrando, mas não é nenhum deles.
— Era inevitável, não era? — Charlie, minha assistente, diz com um
sorriso atrevido. — Nunca mais deixe o seu celular no modo avião durante
a noite, ou eu me demito.
Assistente não é bem a palavra certa.
Ela é mais como a pessoa que lida com tudo na minha vida.
— Você está oficialmente de castigo, e nem venha com o temos que estar
no evento blá-blá-blá, porque você foi desconvidado de todos. Mesmo
aquele parque-fazenda em Nebraska, que nunca respondemos sobre o
Festival do Bode, rescindiu seu convite para participar da Corrida do Bode,
e eles foram os mais educados do grupo.
Eu a encaro, porque ouço as palavras que ela está dizendo, e que estão
começando a penetrar no meu cérebro.
Os blocos de ioga voadores e ter levado um choque foram só o começo.
Eu não irritei só a galera do Twitter e metade das mulheres do universo.
Eu fodi minha vida inteira.
— A fundação? — falo, rouco.
Merda, merda, merda.
Ela tem que me dizer que eu não ferrei a nova fundação.
Ela não diz.
— Tem Wi-Fi aqui? — ela pergunta a Ellie e Wyatt e, em poucos
minutos, está instalada na poltrona reclinável ao lado do sofá, laptop aberto
no colo, celular em uma das mãos, tablet na outra, sem responder à minha
pergunta.
Ela está comigo há seis anos, e eu nunca perguntei sua idade, pode ter
vinte e cinco ou trinta e cinco anos. Se nota quantas pessoas a olham de
cima a baixo quando viajamos pelo mundo para desfiles de moda,
lançamentos de produtos e sessões de fotos, ela não deixa transparecer.
— Videoconferência com suas equipes de relações públicas e gestão em
trinta minutos, e eu estou trabalhando para você conseguir uma ligação com
o Vaughn — relata ela, então me olha duas vezes. — Seu cabelo está
fumegando?
— Ele tentou escapar e levou um choque de taser da minha vizinha —
responde Ellie, prestativa.
— Eu já falei para você manter os seguranças por perto — responde
Charlie, antes de voltar para o laptop.
— Aqui é a minha casa — zombo.
— E você simplesmente irritou a internet inteira. Não ligue para os dois
carros pretos na rua, porque eu providenciei segurança extra. E você deve
ser capaz de voltar para a cobertura dentro de algumas horas. Pedi aos
policiais que deixassem o protesto continuar, a menos que ficasse violento.
— Você pode controlar os protestos? — pergunta Ellie.
Charlie dá de ombros.
— Na verdade, não, mas parece bom estarmos cooperando em vez de ter
um ataque de diva. Assim que colocarmos o Beck na câmera com a Ellen
ou o dr. Phil, se desculpando por tudo, eles irão embora. Ele é
repugnantemente encantador.
— Eu deveria mesmo te enviar presentes de Natal melhores — diz Ellie,
admirada.
— Seus pais cuidam bem de mim.
— Ei. Eu comprei um carro para você no Natal passado — aponto,
mesmo sabendo que uma frota inteira de carros não compensaria o fato de
ela ter que lidar comigo alguns dias.
Tipo hoje.
— E estou em casa para dirigi-lo talvez um total de dois meses por ano.
Seus pais me deram uma assinatura mensal do clube de manteiga de
amendoim, que é magicamente encaminhado para onde quer que a gente
esteja todos os meses.
Merda.
Eu sou ruim em dar presentes.
E eu aqui pensando que arrasava.
Além disso, eu gosto de manteiga de amendoim.
— Que dia de merda — murmuro.
— Bem-feito por você ser um babaca.
Ellie leva a mão à boca e olha em volta, mas Tucker não está mais ali.
— Esse tuíte deveria ir para você, e foi uma piada — digo a ela. — Eu
nunca diria para alguém calar a boca e ir fazer alguns bebês. Mas é você
que está roubando o meu melhor amigo, sabia? O Wyatt já era meu
primeiro.
— Já estou pesquisando as melhores instituições de igualdade de direitos
das mulheres para uma doação considerável — diz Charlie. — Não vai
resolver tudo, mas é um começo no plano de controle de danos.
— A Fundação? — pergunto de novo. — Vai ajudar, não é?
Ela me prende com o olhar, e percebo que não só acabei de foder tudo.
Eu FODI TUDO MESMO. Em letras garrafais.
Não é como na vez que sem querer dei parabéns para aquela âncora de
jornal por estar grávida, sendo que ela não estava – eu sei, eu sei, mas eu
tinha dezenove anos e era um idiota. Quase nos baniram de voltar a Detroit.
Isso aqui é muito pior.
Porque em cerca de dez dias, eu deveria anunciar uma fundação conjunta
com o Vaughn Crawford, uma famosa escola de basquete, com o objetivo
de patrocinar organizações esportivas para crianças de todo o país.
E agora eu posso ter ferrado a coisa toda com essa mancha na minha
reputação.
Mandei o plano todo para o buraco como se fosse um meteorito em
chamas feito de merda de vaca.
Algo me dizia que uma videoconferência com toda a minha equipe não
iria resolver isso. E não haverá um escândalo quente o suficiente em
Hollywood para abafar o fato de eu ter enfiado a perna inteira na jaca, bem
ao estilo Twitter.
— Eu não deveria ir à sua festa — digo a Ellie com uma careta, porque
serei apenas uma distração.
— Eles vão falar sobre você, esteja você lá ou não — aponta ela.
— Só amigos e conhecidos mais íntimos — acrescenta Wyatt. — Mas se
você não consegue lidar com essa merda toda…
Eu não mereço estar perto de conhecidos hoje.
E preciso me recompor, parar de sentir pena de mim mesmo e ajudar
minha equipe a dar um jeito em tudo em vez de mais uma vez deixar
Charlie lidar com as coisas para mim.
É o trabalho dela, e eu pago muito bem para ela fazer isso, mas esse erro
é meu.
— Eu preciso ligar para o Vaughn — digo a ela.
Ela concorda com a cabeça.
— Ah, sim, precisa mesmo. Vá com cuidado e implore, porque ninguém
quer que a sua reputação os atinja. A única coisa que você tem a seu favor
agora é que será muito difícil para ele encontrar outro copatrocinador que
possa doar equipamentos tão fácil quanto você.
Pois é.
Ela está certa.
A Fundação Voe Alto não é apenas composta por verba para financiar
complexos esportivos, equipamentos e taxas administrativas. Também vai
receber doações da linha de calçados do Vaughn e minha linha de
equipamentos esportivos.
Nem tudo deve estar perdido, mas Vaughn é um dos caras bons e merece
um parceiro melhor nisso do que um idiota que insulta todas as mulheres no
Twitter.
É hora de começar a implorar.
Eu me empurro para ficar sentado e pego o celular, mas meu olhar vai
para a casa ao lado.
Também preciso pedir desculpas do jeito certo para a Sarah.
Quando Ellie me encontrou na frente do meu prédio com um carro de
fuga, eu estava correndo na rua, e ela me contou o que tinha acontecido
enquanto eu estava sem internet. Então tirei o celular do modo avião e
verifiquei as redes sociais.
A coisa está feia.
Eu não só estou sendo massacrado, mas no meio de todo o apoio a
@must_love_bees, ela também está sendo ridicularizada e xingada por
pessoas que acham que seu jeito de ser é estúpido. Que não há crise de
abelhas, que girafas não estão em extinção, que a Terra é plana, que
partículas atômicas são um mito. E sugeriam que ela deveria se matar por
ter uma foto tão feia de perfil, a qual é um desenho artístico de Saturno com
os anéis dobrados em forma de asas e uma cauda de abelha na ponta.
Ela não pediu para ser famosa.
E ela não pediu para todos esses loucos caírem em cima dela.
Eu causei todas essas coisas.
E eu preciso fazer parar.
A questão, porém, é como.
04
Eu nunca fui tão grato pelos paparazzi como hoje, porque o idiota
tentando se esgueirar pelos arbustos de Sarah levou os seguranças
particulares a exigirem que desocupássemos a casa, enquanto eles
checavam todos os quarteirões ao redor.
O que foi uma boa desculpa para me afastar do olhar suspeito do durão
do Judson Clarke, o mesmo olhar que eu posso ter dado uma ou sete vezes
para os ex-namorados de Ellie.
Eu não quero dar essa notícia para Charlie e minha equipe, mas vai vazar
em algum momento, então eu preciso.
Ainda estou pensando nisso quatro horas mais tarde, mesmo depois de
participar de outra videoconferência com meu gerente, líder de marketing e
líder da equipe de relações públicas, sobre a importância de Sarah
concordar com esse plano de fingirmos namorar, porque porra.
Só porra.
Não me admira que ela fosse tão hesitante sobre a publicidade.
E acabei de tornar isso um milhão de vezes pior para ela.
Agora, estou me escondendo da culpa e ensinando ao Tucker a jogar
Mario Kart na minha cobertura.
— Os utensílios domésticos do Wyatt vão chegar esta semana, Beck —
Ellie está dizendo, enquanto eu corro pela pista de pasto de vacas com
Tucker e tento não pensar no ultimato que recebi de Vaughn quando voltei
para minha casa mais cedo: Vou te dar uma semana para provar que
continuar essa fundação com você não é um erro. Mas para ser honesto,
Ryder, não estou me sentindo muito confiante agora. — Aqueles fotógrafos
vão ficar sentados lá fora tirando fotos dos seus móveis e caixas?
Wyatt passou os últimos dois anos em uma base da Força Aérea na
Geórgia, mas acabou de receber a aprovação de transferência para a
instalação militar ao norte de Copper Valley, e estamos todos empolgados.
Ele e Ellie vão viver no meio de um monte de caixas de mudança esta
semana.
— Só se tiverem alguma etiqueta de… — Faço uma pausa e olho para o
garoto de oito anos na cadeira de jogos ao meu lado, que está com orelhas
de morcego. — Algo interessante mesmo — termino.
— Tem pelo menos sete com etiquetas de brinquedos — oferece Wyatt.
Ellie suspira.
— Eu sei, eu sei. — Desvio daquele maldito macaco que está sempre me
pegando com cascas de banana. — Se eu tivesse que tuitar para alguém,
deveria ter escolhido o Levi. Ou o Cooper. Ou o Palácio de Buckingham.
Eles me seguem, sabia?
— Para um desastre — diz Wyatt. — Use o casco vermelho, Tucker.
Você vai vencer o tio Beck em dois segundos.
Eu bati em uma bomba na pista de propósito, e Tucker passa por mim
com um grito de alegria.
O elevador apita, e na mesma hora fico com água na boca, embora eu
tenha comido as batatas com bacon e um pedaço de queijo gouda da casa de
Sarah – sim, vou comprar mais para ela.
— A pizza chegou! — Ellie bagunça meu cabelo antes de ir buscar. —
Você come como um adolescente.
— Tenho que viver de grama e feijão quando estou viajando. Vou comer
todas as coisas que consigo enfiar na barriga enquanto estou aqui. Nossa,
Tucker, caramba, você acabou de vencer o Luigi. Desista, homenzinho.
Eu bato meu punho no dele.
Ele sorri, mostrando seus grandes dentes tortos da frente, e merda.
O menino é adorável.
— Você gosta de pepperoni?
— Eu gosto de anchovas.
Eu enrugo minha testa.
— Você gosta…Ah. Ah! Anchovas. Ah, é, daquela pizzaria em
Naufrágio. Ele tem bom gosto.
Na cidadezinha bem legal com tema de pirata nas montanhas Blue Ridge
também há uma torta incrível em sua pizzaria. Olho de volta para minha
irmã, mas ela não está trazendo a pizza.
Não.
Ela está trazendo sua vizinha.
Que não está usando sapatos, ou carregando sua gata como da última vez
que a vi, mas o que lhe falta em sapatos ou em pelo, ela compensa com uma
determinação de aço no olhar.
— A gente precisa conversar.
— Claro. — Fico de pé em um salto, porque ela, basicamente, tem meu
futuro nas mãos. Eu não estava exagerando sobre as pessoas que teriam que
encontrar novos empregos se a RYDE e todas as minhas linhas subsidiárias
saíssem do mercado. Além disso, ela poderia me dizer para andar rebolando
pela rua cacarejando como uma galinha e eu provavelmente faria isso. —
Vamos para o meu escritório.
Wyatt engole uma risada.
Ellie revira os olhos com um sorriso divertido.
Ou talvez exasperado, mas prefiro apostar na diversão.
— Você tem um escritório, tio Beck? — pergunta Tucker.
— Claro — digo a ele. — É onde todo o meu trabalho sério é feito.
Sarah está parada com uma postura rígida e olhando para todos nós como
se fôssemos malucos. E ela pode ter um pouco de razão nisso. Mas ela me
deixa conduzi-la pela cozinha até a minha sala de jogos.
O que foi?
É onde tenho as melhores ideias.
Há algo totalmente zen em relaxar perto de um Pac-Man ou um jogo de
pebolim.
Fecho a porta e me apoio na mesa de sinuca.
— E aí?
— Isso é aqui é Donkey Kong? Tipo, o Donkey Kong original… não,
espera. Para. Deixa pra lá. Não é por isso que estou aqui.
— Você gosta de Donkey Kong?
— Sim. Eu, ahm… para com isso. Para de me distrair, ou eu não vou
conseguir fazer isso. — Ela afasta o cabelo castanho ondulado da testa e
solta um suspiro curto e pesado. — Tudo bem, eu concordo.
— Você concorda em…?
— Fingir que estou apaixonada por você. Mas sob as minhas condições,
e você tem que fazer todo o trabalho pesado. E quero isso por escrito, óbvio.
Não se trata de dinheiro, mas sim de controlar essa história e ajudar as
girafas. Entendeu?
Eu deveria estar aliviado, é exatamente o que eu quero.
Só que, de repente, não tenho certeza se ela vai conseguir. E ser pego na
mentira seria pior do que não fazer nada neste momento.
— Para onde você foi?
Seu nariz enruga.
— Para a casa da Mackenzie. E eu tenho certeza de que o seu segurança
te disse isso.
— Depois da coisa toda com o Hagrid.
Ela congela. Congela mesmo. Ela é como uma princesa de gelo trancada
em uma geleira, e seu rosto parece estar transmitindo a mensagem: eu vou
trazer o apocalipse em forma de bola de neve, se você comentar sobre
incidente do Hagrid de novo.
Eu deveria ter me certificado de que ela não está com o taser.
Eu me viro para a mesa de sinuca e gostaria de não ter jogado com o
Wyatt por último, porque o cara guarda tudo onde deveria ficar. Sempre.
Aí nada de tacos de sinuca para me defender ou bolas para jogar nela e
distraí-la.
— Eles vão perguntar — aponto. Bem simpático. Com as mãos sobre as
joias da família, porque nem sempre sou o idiota sexy e adorável que
interpreto na passarela e nas filmagens. Às vezes, eu tenho habilidades de
autopreservação. — Você precisa de uma reposta fácil para uma pergunta
difícil, e sou a pessoa que pode te ajudar. Mas só se você deixar.
Eu espero, enquanto ela luta contra seus instintos, aqueles olhos
castanho-escuros me perfurando como se fosse minha culpa o que
aconteceu em seu baile de formatura.
Depois de tantos anos no negócio, as fofocas são fáceis de ignorar. Estou
sempre falindo, sendo abduzido por alienígenas, festejando em clubes de
strip-tease ou tendo um filho com o Pé Grande. Você se acostuma com tudo
isso, porque acaba aceitando que é parte do pacote.
Mas Sarah não pediu para ter pais famosos. Ou para crescer sendo
observada sob o microscópio da mídia. Duvido que ela teria trocado de
nome e se mudado para o outro lado do país se a coisa do Hagrid no baile
de formatura não tivesse acontecido. Até que eu fodi tudo e a arrastei de
volta para o centro das atenções, ela tinha encontrado seu caminho bem
longe das colunas de fofoca e das constantes críticas de ser a única no
mundo de Hollywood que não valoriza a aparência da perfeição acima de
tudo.
— Controle a história — eu a lembro. — Se você controla a história,
você tira o poder deles.
Ela pisca e desvia o olhar, então vai em direção ao Donkey Kong.
Eu sigo e aperto o botão para iniciar um jogo.
Mel. Esse é o cheiro doce sempre presente nela.
Mel.
O jogo começa e ela exala uma respiração trêmula enquanto comanda o
Donkey Kong no primeiro nível.
— Marrocos — diz ela, baixinho. — Fui para o Marrocos depois…
depois do ensino médio.
— Marrakech? — pergunto.
— Todos os lugares. Rabat, Fez, Casablanca, Marrakech. Peguei um
ônibus pelas montanhas até o Saara. Eu acampei, andei de camelo, li,
aperfeiçoei o meu francês. Conheci as pessoas mais incríveis e comi doces
todos os dias.
Porra, agora estou com água na boca de novo. Eu estive no Marrocos
algumas vezes, mas sempre em ensaios fotográficos onde eu tinha que
parecer como a porra de uma pessoa de milhão de dólares. Nada de bolos
ou biscoitos para mim. A equipe ia a uma padaria e voltava com um café
preto simples para mim e um monte de balas, biscoitos e guloseimas
cobertas de mel que eu não podia tocar, porque sem chance que eu ia deixá-
los me retocar com um aerógrafo.
— São tão bons quanto parecem?
— Acho que minha bunda ainda pode atestar o quanto eram bons. E o
chá de menta meio que mudou a minha vida.
— Você tomou com açúcar?
— Você não?
— É isso. Preciso voltar lá. Da próxima vez, vou pegar algumas semanas
a mais entre as fotos, de qualquer jeito. Ficar em forma é sempre uma dor
de cabeça.
Ouço Tucker gritar a palavra mágica “pizza!”, e meu estômago tenta sair
do meu corpo para alcançar a maravilha de queijo e massa que vou comer,
porque o estresse queima calorias extras.
E também porque a mini sessão de fotos que eu deveria fazer em um
abrigo em Nova York foi cancelada esta semana, o que significa que tenho
algumas semanas para ser um pouco mais flexível com a minha dieta.
Sarah faz uma pausa entre as fases para olhar minha barriga.
— Você deveria consultar um médico para ver esse barulho aí.
— Que nada. É só uma padaria. E uma hamburgueria. E também o cara
que eu conheço que faz um milkshake de malte com morango que vai… ah,
merda. Desculpa. — Eu limpo a baba e sorrio para ela.
Um franzido aparece entre seus olhos como se perguntasse: sério
mesmo?
Mas depois se transforma em um sorriso.
Um sorriso largo, desinibido, que diz você é um grande bobão, faz os
olhos escuros dela brilharem e intensifica aqueles brancos perolados, além
de aparecer uma covinha em sua bochecha esquerda.
— Você pode querer repensar algumas das suas escolhas de vida.
Eu não conheço um único homem no mundo que não fosse capaz de
sorrir de volta para aquele lindo rosto iluminado.
— É. Tem suas vantagens.
Seu sorriso desaparece tão rápido quanto surgiu, e juro pelo meu primeiro
contrato de modelo, o quarto fica escuro e frio.
— Eu me consultei com um terapeuta por um tempo quando voltei para a
faculdade — diz ela, encarando o jogo. — Conversamos sobre não deixar
um momento no ensino médio arruinar a minha vida inteira, mas ainda me
dá vontade de vomitar só de pensar em deixar os repórteres destruírem as
minhas escolhas de vida de novo, ainda mais porque não foi a primeira vez.
Eu tinha sete anos na primeira vez que estreei em uma coluna de fofoca, e
os meus pais cometiam tão poucos erros que eu era o alvo fácil na nossa
pequena família. Eu gosto da minha vida de agora. É tranquila e tenho um
trabalho que amo, ninguém se importa com quem são os meus pais ou onde
cresci, e eu construí uma rede de seguidores, por conta própria, que se
importam com o mundo da mesma forma que eu.
— Você vai ter isso de volta — prometo a ela.
— Não, não vou. Meu chefe já me mandou uma mensagem perguntando
se quero tirar folga amanhã para não levar esse circo todo para o trabalho.
As fofoqueiras do escritório estão perguntando como é o seu cheiro, e o
meu líder de equipe mandou uma mensagem para descobrir quais são meus
donuts favoritos para a nossa reunião de segunda-feira de manhã. Eles
esqueceram de pôr meu nome no bolo dos aniversariantes de maio do
escritório, mas agora querem saber quais são os meus donuts favoritos.
— Talvez…
— Não, eles não se sentiram culpados por terem esquecido o meu
aniversário, porque eu não contei para eles, porque aí nesse caso eles
perguntariam se alguém da minha família me deu algum presente, e eu não
queria falar que os meus pais me enviaram o lego do castelo de Hogwarts
do Harry Potter este ano porque eles se lembraram do quanto eu implorei
pelos livros no ensino médio. E a minha mãe acabaria dizendo que é porque
a sua médium disse para ela, porque a Madame Susan sabia que eu
precisava de um aviso de que o baile voltaria para me assombrar.
— A vidente da sua mãe é a Madame Susan?
Ela se vira depois de arrebentar na terceira fase e me prende novamente
com aqueles olhos fascinantes.
— Isso é o que te chamou atenção?
— Não. Essa é só a parte menos perturbadora. Eu estou muito
esmalucado, desculpa.
— Esmalucado?
— Sim. Eu não fico bravo quando estou com fome, eu viro um
esfomeado maluco, esmalucado.
— Quer fazer uma pausa para comer?
Ela é adorável quando age com toda a lógica.
— Não, já passei por coisas piores.
Seus lábios se abrem novamente, sua testa franze, e ela balança a cabeça
enquanto volta para o jogo.
— Isso nunca vai funcionar.
— Por que não? Eu gosto de você e você me tolera. É bem o tipo de
química que todas essas pessoas querem. Sempre vão se perguntar se é tudo
verdade, porque o show vai acabar com você finalmente postando uma
declaração de que estamos melhor como amigos. Que ficamos juntos depois
que eu fui um idiota, mas que você prefere uma vida tranquila tentando
salvar as abelhas, e as girafas, e educando as pessoas sobre eclipses solares,
que não são obra de bruxas de verdade. Seus pais vão falar com a Ellen
sobre o quão orgulhosos estão de você e do seu trabalho de engenharia
ambiental, dirão ao mundo que eu sou um cara legal fazendo coisas boas,
vamos mencionar a Perséfone de novo, e em dois meses, nenhum dos seus
colegas de trabalho vai se importar mais com a identidade de seus pais.
Só que eu tenho uma forte suspeita de que eu vou me importar.
E esse será o meu fardo, não dela.
Ela fica quieta enquanto passa para a quarta fase com o Kong. Acho que
ela está concentrada no jogo, mas estou errado.
Não que seja algo incomum.
— Sempre me perguntei se eu fui adotada. Minha mãe não consegue
controlar o próprio cartão de crédito. Meu pai chegou em casa uma vez se
gabando de ter conseguido um papel como engenheiro, mas era um
maquinista, não o tipo de engenheiro da matemática e da ciência.
— Ah. Uma piadinha de tiozão, muito engraçado. Assalto no Deserto,
não é? Filme divertido.
Ela faz uma careta sem graça para mim.
— Não foi uma piada de tiozão.
— Tem certeza?
Ela faz uma pausa, e suas bochechas ficam com uma leve mancha de cor.
— Bem… não. Acho que não. Mas eles não entendiam quando eu pedia
de presente kits de ciências, Legos e também para me tornar membro do
centro de ciências e para ter festas de aniversário nos planetários. Mamãe
sempre perguntava se eu não queria uma festa de beleza, e papai se oferecia
para construir uma cabana de arte na casa de praia.
Pego um banquinho e me sento, me aproximando dela. Minha infância
foi exatamente o oposto – pais administrando sua própria empresa de
engenharia ambiental, irmãzinha com notas 10 e depois eu, o bobão que
tinha grandes sonhos, mas não cérebro suficiente para realizá-los –, mas
nunca questionei se me encaixava.
Deve ter sido difícil crescer em Hollywood, no centro das atenções, e não
se encaixar no padrão.
— Sua mãe disse que pegaram um voo noturno assim que viram o vídeo
ontem à noite. Eles estavam preocupados com você.
— Eu me preocupo com eles também — ela me diz. — Mamãe passou
alguns anos sem conseguir um papel e achei que ela fosse desmoronar. Ela
falou com um diretor que disse para ela fazer uma harmonização facial.
Outro disse para ela perder cinco quilos. Um sem-noção disse que ela
estava velha demais para trabalhar. E, enquanto isso, papai estava recusando
papéis a torto e a direito, porque envelhecer para os homens é uma coisa
que vende, mas ele queria desacelerar. Mas não posso dizer a ela para
responder foda-se e ir embora, porque é o que ela ama fazer, é quem ela é.
Não entendo por quê, mas acho que seria como se alguém me dissesse que
eu sou velha demais para me importar com energia limpa ou que tenho
cabelos grisalhos demais para falar sobre espécies ameaçadas de extinção.
— A fama é uma merda às vezes. — Eu me inclino e aponto para a tela,
porque Donkey Kong está prestes a levar um barril na cabeça.
— Eu percebi — murmura ela. — Você sabe o que é estúpido de
verdade?
— Leite de soja?
Ela dá uma risada surpresa.
— Sério?
— Passei seis anos viajando pelo mundo com quatro dos meus melhores
amigos. Chega um momento que fica chato. Alguém tinha que entreter todo
mundo, e esse alguém era eu.
— E agora eu entendo por que você é famoso por suas fotos e não pelas
entrevistas.
— Vou virar coach pessoal quando eu me aposentar como modelo. Mais
pessoas deveriam surfar nessa mesma onda.
Ela ri de novo, uma risada baixinha que dizia não acredito que estou
rindo desse cara, e isso faz meu dia.
— Então, me diz o que você acha estúpido nesse mundo.
Ela morde o lábio enquanto se inclina para o jogo, lutando contra o
último obstáculo antes de passar para a fase cinco.
Ela tem lábios bonitos.
Cheios.
São fáceis de ignorar sem maquiagem ou brilho, mas são perfeitos.
É como se ela estivesse se escondendo à vista de todos.
— Quando eu tinha dezesseis anos, perguntei para os meus pais se eles
me ajudariam a criar um blog sobre poluição. Eu queria ser famosa por
salvar o mundo.
— Isso não é estúpido.
— Talvez sim, talvez não. Mas pensei em usar toda a publicidade deles
para lançar a minha própria, quando percebi que não fui feita para a vida
sob os holofotes.
Não respondo, porque não concordo. Se há uma coisa que aprendi em
quinze anos na vida pública é que você nunca sabe do que é capaz até
tentar, e não há vergonha em usar as ferramentas que possui para chegar lá.
Eu nunca tive a intenção de entrar no ramo da moda e da modelagem,
mas esse mundo me encontrou, e parece que eu tenho um faro para isso, ou
algo do tipo. Então eu continuo contratando as pessoas certas para me
ajudar a ter uma boa aparência, e aqui estou eu.
Ela pausa o jogo e se vira para olhar para mim.
— Só vou fazer isso pelas girafas.
— Por que as girafas?
— Porque elas colocam seus pescoços para jogo.
Agora estou quase me engasgando com uma risada surpresa.
— Pior piada de tiozão, isso aí.
Ela abre outro sorriso, e meu pau nota e desperta. Digo a mim mesmo
para me acalmar, porque namorar sob os olhos da mídia já é difícil o
suficiente sem adicionar atração de verdade à mistura.
Além disso, sou um juiz relativamente ruim de quem me quer por mim
mesmo e quem quer só tirar vantagem.
Eu quero confiar nela – ela é bem sincera sobre o que quer, mas também
é filha de Hollywood. Sabe como esses jogos funcionam.
— Sério — pressiono. — Por que as girafas?
Aqueles grandes olhos castanhos me observam com cautela, e acho que
ela vai apenas ignorar a pergunta quando diz suavemente:
— Elas são esquisitas e desajeitadas, e mesmo assim bonitas do jeito que
são. É inspirador.
Não estou muito familiarizado com o ardor que comprime meus pulmões,
mas acho que pode ser meu coração amolecendo um pouco quando percebo
que ela só se vê como esquisita e desajeitada.
É.
Acho que estou caidinho, gostando disso ou não.
Ela balança a cabeça.
— De qualquer forma, eu quero um contrato.
— Com cláusula de confidencialidade — concordo, deixando pra lá.
Porque por mais que eu esteja começando a gostar dela, não sou o cara que
ela precisa para convencê-la de que ela é linda do jeito que é.
Eu trago toda essa bagagem da qual ela trabalhou tão duro para se livrar,
e se há uma coisa que eu aprendi nos últimos quinze anos é que se algo
parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.
— Achei que confidencialidade já estava implícita — diz ela.
— Vamos ter que sair em público algumas vezes, e a minha equipe já está
trabalhando para encontrar qualquer evento público de caridade que me
garanta boa publicidade. Se acontecer nas próximas duas semanas, eles vão
querer que você vá. Se eles não encontrarem nada, conhecendo a Charlie,
ela vai arrumar alguma coisa.
Ela me dá um olhar ilegível.
— Legal. Culpe a sua equipe.
— Culpar? Que nada, estou dando crédito para eles. É uma ótima ideia.
— É uma péssima ideia.
Eu seguro suas bochechas em minhas mãos, porque ela está ali tão perto,
e sua pele é tão macia e suave, e se nós vamos fazer isso, vamos ter que nos
tocar.
Seus olhos se arregalam e se conectam aos meus, e eu espero mesmo que
ela não esteja carregando aquele taser neste momento, porque eu não posso
proteger as joias da família deste ângulo.
— Confia em mim? — digo, baixinho.
— Você é a razão de a gente estar nessa bagunça.
Estou sorrindo de novo, porque não há muitas pessoas no mundo além da
minha família, meus amigos de toda a vida e minha assistente que apontam
os meus erros na minha cara, e eu gosto que Sarah não tenha medo de fazer
isso.
— Está longe de ser a pior bagunça que eu já causei.
Uma sobrancelha se levanta.
— Pergunta para o Levi um dia desses sobre o elefante em Delhi.
— Você sabe que os elefantes também estão em perigo?
— Sim, é por isso que salvamos a vida dele. Custou muita coisa para
encobrir tudo e dar ao elefante um novo lar, mas agora ele é um cara muito
feliz em um santuário de animais.
Seus olhos se arregalam.
— Você salvou um elefante?
Eu poderia mostrar fotos, mas parece um exagero.
— O ponto é, a gente vai conseguir, tá? E se a sua vida não voltar ao
normal em seis meses, eu entro no Twitter e começo uma guerra com
Chrissy Teigen só para distrair todo mundo. Pode apostar.
— Você salvou um elefante.
Merda. Ela está olhando para mim como se eu fosse algum tipo de herói.
Tiro minhas mãos de seu rosto e me levanto, movendo o banco de volta
contra a parede. Eu o coloquei aqui ontem para que Tucker pudesse
alcançar os controles.
— Só uma vez. E quase joguei a banda inteira numa prisão indiana por
isso. Como quando fui pego mijando atrás de um bar em Berlim. Mas em
minha defesa, eu não podia nem entrar no banheiro masculino sem pedirem
o meu autógrafo. Eu só queria dar uma mijada em particular.
— Obrigada.
Dou de ombros, modesto, e intencionalmente a interpreto mal.
— Sempre feliz em dar um bom exemplo quando se trata de mijar. Nem
sempre sou um idiota. Quer pizza?
Ela me estuda por um segundo, então um pequeno sorriso brota em seus
lábios.
— Cuidado, ou você não vai caber nas suas cuecas apertadas na próxima
semana.
— É por isso que estou expandindo meus negócios para agasalhos.
Ela sorri, e mais uma vez, eu sorrio de volta.
Não posso evitar.
Sorrisos são contagiosos.
Ainda mais quando eu tenho que lutar tanto para ganhá-los.
15
É só para a mídia.
Esse encontro no jogo é só para a mídia.
Beck Ryder não me beijou porque gosta de mim. Ele pensou que eu
estava interpretando o papel, e eu hesitei, o que deve ter arruinado a cena
que ele queria, mas eu não sou atriz.
Sou apenas eu mesma.
— Você gosta de funnel cake? — pergunto, quando um silêncio
constrangedor cai entre nós. Se eu aprendi alguma coisa sobre Beck nos
últimos dois dias, é que ele sempre está morrendo de fome.
— Ah, gosto pra caramba — responde ele, um sorriso de menino tirando
dez anos de seu rosto.
Não que ele pareça velho. Ele tem… o quê? Trinta e dois? Trinta e três?
Com certeza velho o suficiente para não ficar excitado como um
cachorrinho com funnel cake, mas ainda assim, aqui estamos nós.
Com ele quase abanando o rabo com a ideia de comer massa frita e
açúcar.
Ele é fofo. E com aqueles olhos tão sensuais… é uma combinação letal.
Beck se vira para os guarda-costas.
— Não vendem funnel cake no estádio, sr. Ryder — diz o primeiro.
— Mas dá para comprar um cachorro-quente muito bom — o segundo
oferece. — Ou hambúrguer e pretzels.
Ele franze o nariz.
— Não é a mesma coisa. Você quer funnel cake, Sarah?
— Eu posso me contentar com um pretzel.
— Mas você quer funnel cake?
Vinte minutos depois, o segurança do estádio entrega uma caixa de
comida.
E quando digo caixa, não me refiro a uma pequena caixa do tamanho da
embalagem de frango assado.
Quero dizer uma caixa enorme. Uma daquelas que comportam vinte
resmas de papel e parece que tem óleo suficiente para lambuzar um porco.
— Ah, aí sim, é disso que eu estou falando — diz Beck.
Ele começa a retirar embalagens e sacolas, e o cheiro de fritura enche o
ar.
Há frango frito. Batata frita. Funnel cake. Quiabo frito. Torta de pêssego.
— Com fome assim? — pergunto.
— Faminto — responde ele. — Você quer uma asinha? Coxa? Tem
funnel cake. As câmeras estão assistindo.
As câmeras.
As mesmas câmeras que estavam observando na noite em que dei meu
primeiro beijo, que foi transmitido em todos os jornais de fofoca quando
ficou um pouco estranho. Eu tinha um fio de saliva pendurado entre meu
queixo e minha boca porque pensei que ele estava vindo me beijar e ele
pensou que estávamos nos abraçando, então eu decidi ir com tudo. Minha
turma se divertiu por semanas, inventando todo tipo de apelido com baba.
Solto um suspiro lento e me lembro de que não tenho mais catorze anos,
e estou no controle desta história, enquanto Beck levanta a tampa do funnel
cake, o segura perto do rosto e respira fundo.
— Paraíso.
— Você gosta mesmo de comer.
Ele cheira a caixa de novo, o nariz enfiado na massa frita, e não sei o que
dá em mim, mas eu bato no fundo da caixa, e Beck recua com açúcar no
nariz, seu olhar surpreso dando lugar a um sorriso muito, muito maligno.
— Então, é assim que vai ser — diz ele.
— Eu não sei do que você está falando — respondo, mas estou lutando
contra meus músculos faciais para não sorrir de volta, porque mesmo que
essa foto vá parar em todos os tabloides, não serei eu aquela com cara de
boba. Ele não só tem açúcar no nariz, mas suas bochechas também estão
sujas, e sua barba por fazer e uma das sobrancelhas parecem que acabaram
de sobreviver a um ataque.
E ele está sorrindo.
Ele está com um sorriso enorme, tão desinibido, com aqueles olhos
dançando com alegria total, que eu corro o risco de pular no trem da alegria
com ele.
— Você sabe quanto tempo leva para tirar o açúcar do cabelo? —
pergunta ele enquanto passa o dedo por cima do funnel cake.
Estou me pressionando o máximo que posso no meu assento, sabendo o
que está por vir e incapaz de parar de sorrir para ele.
— Isso pressupõe que eu me importo o suficiente para lavar meu cabelo
com regularidade. Pergunte para a minha mãe, ela vai te dizer. Lavo uma
vez por mês.
— Venha aqui, Sarah. A gente precisa estar de maquiagem combinando.
— Ah, não. Não até que você esteja vestindo molho ranch também.
Ainda estou usando molho de pimenta que derramei na semana passada
durante o jogo. Quer ver? — Aponto cegamente para minha camisa cinza,
enquanto ele se aproxima, me ameaçando com um dedo açucarado.
— Parece limpa como uma flor cheia de pólen na primavera — responde
ele.
— Você nem olhou.
Ele aponta para minha bochecha, eu grito e puxo seu boné para baixo.
Ele bate o cotovelo na mesa quando tenta endireitar o boné, e a comida
desliza precariamente para a borda.
Eu me atiro para cima dele, e ele pensa que estou começando uma guerra
de comida, e acabamos em um emaranhado de braços e pernas com funnel
cake no colo de Beck e uma asa de frango dentro da minha camiseta.
— Ai, meu Deus, tira isso, tira isso daqui.
Estou gritando e rindo, enquanto me inclino o máximo que posso no meu
assento para tirá-la de dentro da blusa sem mostrar nenhuma pele.
— Quer ajuda? — pergunta ele, inclinando a cabeça para olhar meus
seios, que estão esmagados contra minha perna. — Eu posso ser um total
cavalheiro e ajudar.
— Nos seus sonhos, Ryder.
— Você sabe que este funnel cake é todo meu agora. É uma regra. Se
você pegar, você pode… humm. O que rima com pegar?
— Agregar? — Sugiro quando finalmente pego o frango frito e o puxo de
dentro da minha blusa. — Ficar? Agarrar?
— Sim. Se você pegar, você pode agregar.
Meus olhos se arregalam.
— Eu não acho que isso seja mais sobre funnel cake.
Ele me dá o famoso olhar quente de Beck Ryder, e meu corpo acorda
para a vida. Você pode me agarrar.
— Você vai comer essa asa? — pergunta ele. — As asas são as minhas
favoritas.
Eu me acomodo no meu lugar e entrego a ele.
— Achei que o quiabo era o seu favorito, como na música.
— É o favorito para cantar.
Começo a rir de novo, porque… o quê?
— Estou começando a entender por que a Ellie não fala sobre você.
— Excesso de fabulosidade. Ela nunca foi capaz de lidar com isso.
— Uh-hum.
— Está bem, está bem. É porque eu a fiz assinar um contrato para não
falar nada. Sou uma diva terrível e não quero que ninguém saiba.
— Você é um bobão.
Seu rosto se abre em um sorriso, e, meu Deus, ele é lindo.
— É o que ela diz também.
Pela primeira vez, eu acredito nele. Ele bufa em uma risada curta
enquanto pega um grande pedaço de funnel cake do pacote em seu colo.
— Ei, tem um jogo acontecendo.
Olho para o campo. O placar diz que estamos lutando em um jogo muito
disputado no terceiro turno. Mackenzie deve estar na beira do sofá, roendo
as unhas.
Ela fica tão tensa nesses jogos quase empatados.
— Você vai jogar mais comida em mim se eu olhar se a Mackenzie está
me mandando mensagens dizendo para ir para o banheiro? — pergunto.
Ele dá outro olhar pelo meu corpo, e um rubor quente segue em todos os
lugares que seu olhar toca.
— Talvez.
— Eu sei como transportar abelhas e esconder uma colmeia na sua cama.
Sua risada é profunda e longa, e embora eu saiba que precise parecer que
estamos nos dando bem para as câmeras – e, sim, contei pelo menos sete,
todas apontadas em nossa direção – parece muito, muito real vê-lo rindo de
uma das minhas piadas.
— Você não tem permissão para passar um tempo com o Wyatt. Nunca
— ele me informa.
— Pena que você vai embora da cidade e ele está se mudando para a casa
ao lado da minha. Parece que você está ferrado.
Ele sorri novamente.
Diga o que quiser sobre o homem, mas não dá para negar que ele é um
cara feliz.
Engraçado, até.
Fugi dos holofotes para encontrar minha felicidade.
E aqui está ele, se deliciando com isso. Feliz com tudo isso. Mesmo
depois de ter todo tipo de coisas desagradáveis ditas sobre ele nos últimos
três dias.
Em um mundo que gira em torno da boa aparência, ele se encaixa bem.
Não poderíamos ser mais opostos se tentássemos.
Mas isso não significa que eu não corro o risco de me render aos seus
encantos.
Então, é hora lembrar a mim mesma quem são meus pais. Encontrar
dentro de mim um pouco dessa pessoa para mostrar ao mundo. E segurar
meu coração com força, porque não vou deixar esse mundo me quebrar
novamente.
Não importa o quão incrível seja saber que sou uma parte pequena e
direta do motivo pelo qual os Fireballs estão, mais uma vez, mostrando a
milhares de pessoas como a Perséfone está indo no zoológico.
É por isso que estou fazendo todas essas coisas.
Para salvar as girafas.
18
Como Beck parece não conseguir dirigir com o estômago cheio – e ele
está cheio demais depois do chá de menta, e chebakia, e biscoitos
marroquinos –, eu tenho que dirigir seu Tesla.
E, sim, é muito legal, e com certeza o farei levar a Mackenzie para um
passeio antes que nosso contrato termine.
Ele resmunga enquanto sai do carro ao chegarmos na minha casa. Os
guarda-costas param logo atrás de nós. Três abutres estão estacionados do
outro lado da rua.
Maravilha.
Abro a porta da frente para entrarmos, e um alarme soa no mesmo
instante. Meu pai pula do sofá.
— Parado, idiota — rosna ele.
— Pai! Desliga isso!
Meda corre pela sala e mergulha atrás do suporte da TV, derrubando meu
Funko Pop do Capitão Mal. Cupcake vem da cozinha, confusa pra caramba,
correndo para os móveis, e, ah, merda, mamãe colocou uma máscara de
dormir de unicórnio na porca.
Cupcake está correndo às cegas.
Os seguranças jogam Beck no chão, e o mais baixo salta para pegar o
detector de movimento que meu pai está batendo contra o meu bufê de
nogueira, mas que continua apitando.
— Judson? — grita mamãe. Ela desce correndo as escadas com um
roupão rosa curto, sua máscara de dormir de unicórnio, combinando com a
da porca, no alto da testa, quando o barulho finalmente para. — Judson,
você está fumando bacon no vaporizador de novo?
Todos nós a encaramos.
Ela pisca uma, duas vezes, depois se vira e volta para cima sem dizer
mais nada.
— Diga alguma coisa sobre a minha esposa falando enquanto dorme —
papai rosna para Beck, que está lentamente ficando de pé enquanto segura a
barriga. — Vamos lá. Isso faz o meu dia.
— Esses chinelos de unicórnio são o máximo — responde Beck. — As
luzes chamativas foram colocadas depois? Ou já vieram assim?
Todos nós olhamos para os pés de papai, e o pavor percorre minha
espinha, porque papai não gosta que zombem de seus calçados.
Mas o entusiasmo de Beck parece genuíno o suficiente para passar no
teste de papai. Ele resmunga e assente.
— Depois.
— Legal. Eu tinha chinelos de tartaruga que cantavam quando a gente
estava em turnê. Deixava o Cash louco quando eu usava no ônibus. Ele
costumava ameaçar jogá-los para a multidão todas as noites.
— Idiota filho da mãe — rosna papai.
— Pai! O que você está fazendo aqui? Por que mamãe está dormindo na
minha cama? E o hotel?
— Não confiei nesse nudista inútil para não tirar vantagem de você.
— Acho que posso lidar com ele.
— Essa é a minha garota. Mas ainda não confio nele.
— Pai. É hora de dormir.
— Já passou da hora de dormir.
— Exatamente.
— O hotel está cheio de espiões. Os euranianos estão invadindo o centro
da cidade. Precisamos ir para um lugar seguro.
— Pai.
— Sarah. — Beck coloca a mão no meu ombro e aperta, a consciência de
seu toque inunda minha pele e faz minha respiração acelerar. — Ele tem
razão. Os euranianos são perigosos.
— Não o encoraje — aviso.
— Protejam-se — rosna papai. — O porão. Vai.
— Eu não…
Mas Beck está pegando Cupcake, que ainda está batendo nas coisas às
cegas, enquanto puxa minha mão.
— Eu cuido dela, senhor. Não vou deixar os euranianos pegá-la. É
melhor você checar a sua esposa.
— Minha esposa está morta, seu bastardo.
Beck deposita Cupcake na cama de porco ao lado do radiador que não
funciona mais, na cozinha, e me puxa para a porta do porão. Meda entra de
fininho com a gente.
— Ele costumava ter papéis divertidos. — Suspiro enquanto
relutantemente me deixo ser empurrada escada abaixo. — Mas os
euranianos? Sério?
— Poderia ser pior. Ele poderia estar construindo uma máquina caça-
fantasmas no quintal.
Ele não está errado, mas não sei como ele sabia que papai fez isso mesmo
quando teve o papel naquele filme alienígena. E, sim, eu que disse para
construir uma máquina de caça-fantasmas para um filme alienígena. Isso
nunca foi publicado nos tabloides. E se a mamãe está sonâmbula, é porque
ela deve estar tomando uma mistura ruim de ervas e suplementos.
— Porra, eu estou cheio. Você tem um sofá aqui onde eu poderia dormir
um pouco?
— Hum, não.
Ligo as luzes do porão e Meda se lança nas sombras. Há caixas
empilhadas por toda parte, além de um caixote de transporte que mal
conseguimos trazer ali para baixo, e prateleiras abarrotadas com meus livros
de astronomia da infância.
— Caramba.
— Um caramba de impressionado ou de ai, que merda? — pergunto.
Ele cai contra o único trecho de parede sem nada e esfrega o estômago.
— Isso é a Serenity? A nave de verdade?
Olho para o adereço do filme, ainda meio escondido em um caixote de
madeira entre outras caixas, e aceno com a cabeça.
— Meu pai conhecia alguém que conhecia alguém no set quando eles
estavam desmontando tudo. Eles estavam guardando isso para mim há anos,
mesmo que eu não soubesse. Então, quando eu disse para eles que comprei
uma casa, eles a enviaram.
Ele começa a sorrir.
— Você tem a porra da Serenity.
— Você assistia Firefly mesmo?
— Várias vezes no ônibus de viagem. A gente encenava as cenas quando
ficávamos entediados. Sempre fiz o Davis interpretar a Kaylee.
— E você era a Jayne.
Ele ri.
— Que nada, deixei o Levi ficar com a Jayne para que eu pudesse brincar
com os dinossauros do Wash. Posso tirar uma foto? Os caras vão morrer
quando virem isso. Levi está tentando há anos encontrar essa coisa.
Eu não respondo imediatamente.
Não é que eu não confie nele – Beck parece bem verdadeiro, e agora já
passei tempo suficiente com ele para pensar que posso confiar em meu
julgamento –, mas já confiei demais nas pessoas antes.
E embora eu tenha certeza de que ele entende, ainda estou superando
velhos hábitos.
— Ou talvez mais tarde — diz ele depressa. Ele se afasta da parede e faz
uma careta.
— Ainda cheio?
— Eu faria tudo de novo. O chá estava uma delícia.
Ele é tão entusiasmado com tudo, não apenas com a comida. Mas
também com adereços de filmes. Interpretar um papel com meu pai.
Chinelos de unicórnio.
— Você nunca se cansa de ser feliz? — pergunto.
Ele dá uma risada.
— De jeito nenhum. Por que eu deveria? Ser feliz é o melhor de tudo.
— Você nunca fica infeliz?
Ele solta um suspiro feliz.
— Sim, de vez em quando. E é uma merda. O mundo é um lugar incrível
pra caralho. Tipo, teria sido legal viver com os dinossauros, mas eles
provavelmente teriam nos comido, e a gente estaria extinto agora também,
então acho que prefiro a era da internet, ser capaz de voar para qualquer
lugar do mundo, conhecer novas pessoas e experimentar todos os tipos de
comida.
Eu fico boquiaberta, e é quando percebo o que está acontecendo.
Ele é um robô.
— Tire a camisa — digo a ele.
Suas sobrancelhas se levantam, mas seus lábios começam a formar um
sorriso preguiçoso, e ele faz o que pedi, lentamente desabotoando os botões,
um de cada vez.
— Assim?
— Mais rápido.
O idiota desacelera. Meus mamilos ficam duros. Minha língua fica seca.
E ele vai tirando lentamente a camisa de seus ombros em um strip-tease,
que está me deixando com tesão pra cacete e mais vermelha do que minha
mãe naquela vez que ela me deixou passar protetor solar nela quando eu
tinha três anos.
Engulo em seco e giro um dedo no ar.
— Dê uma volta. Eu preciso encontrar o seu botão de desligar.
— Meu… botão de desligar?
— Sim. Sei que me mandaram um Beck-bot. Onde está o verdadeiro
Beck Ryder? Ele está escondido no Egito ou na Austrália ou em algum
lugar, não é?
Ele se vira, me deixando inspecionar suas costas, incluindo aquela marca
de nascença que parece mesmo uma Tartaruga Ninja, mas – para citar um
certo modelo de cueca – nossa.
Pele de verdade.
Até se arrepia sob meus dedos enquanto eu o toco e cutuco, procurando
por evidências de que caí em uma pegadinha, embora eu seja racional
demais para acreditar que ele possa ser um robô.
— Você acha mesmo que eu sou um robô, ou está só usando isso como
pretexto? Eu estou bem com qualquer uma das opções, só curioso.
Não sei o que acho, mas tenho certeza de que agora que estou tocando a
pele lisa de suas costas, traçando os planos magros de seus músculos e as
protuberâncias duras de suas costelas, não quero parar.
Não durmo com ninguém desde Trent. Isso meio que perdeu o apelo
quando percebi que nunca seria capaz de ser eu mesma no sexo.
— Sarah? — diz ele, sua voz ficando rouca.
— Estou pensando — sussurro.
Meus dedos descem até as covinhas acima de sua cintura.
— Eu não tentei te beijar por causa das câmeras — diz ele, baixinho,
algo em sua voz me fazendo pensar que a confissão é tão difícil para ele
quanto seria para mim. — Eu só queria te beijar.
— Nosso relacionamento é só para a mídia — respondo, também rouca,
porque meu pulso está subindo perigosamente e estou tendo um
formigamento em minhas regiões inferiores, que estão mesmo a favor de
ver se ele é tão bom com seu equipamento como Trent era. — Não é de
verdade.
Suas costelas estão se expandindo e contraindo rápido.
— Eu me diverti muito com você hoje.
— Você se divertiria até com um estraga-prazeres.
Por que não consigo parar de tocá-lo?
— Eu quero te beijar de novo.
— É uma péssima ideia.
— Diz a mulher que está me acariciando.
— Seus feromônios de robô estão me hipnotizando.
— Sarah.
Ah, merda, agora ele também está usando meu nome contra mim.
Ele é engraçado. E doce. E não há literalmente nada sobre ele – além de
como nos conhecemos e o fato de ele ser uma celebridade – que eu possa
criticar.
Ele já se desculpou bastante.
Ele adora sua mãe.
Ele perde nos jogos de videogames com o sobrinho. De propósito.
E eu simplesmente gosto dele.
Que mal há em beijá-lo?
Sinto falta de beijar.
E eu nunca beijei um homem que sabia tudo sobre quem eu era. E sobre
meus pais. E o incidente com o Hagrid. Nunca contei a um namorado sobre
meu tempo no Marrocos.
— Não há botão de desligar aqui atrás — digo a ele.
Mas há uma bunda bem torneada vestida em jeans da marca RYDE que
eu poderia apertar, se eu fosse do tipo ousada.
Ele se vira, e eu abaixo meus braços e olho para baixo, mas meus olhos
percebem a protuberância em seu jeans, e não há nenhuma maneira de Beck
Ryder estar excitado por minha causa.
Não é?
Eu faço de tudo para não parecer sexy.
Mas ele está enchendo as cuecas agora, não estava antes, o que sugere
que ele está excitado comigo, ou está pensando em pornografia na internet.
Ele engancha um dedo sob meu queixo e levanta meu rosto, então estou
olhando para ele.
Tão alto. Tão alto, e magro, mas também envolto em uma camada dura
de músculos que eu quero percorrer.
E lamber.
Estou tão ferrada.
— Eu gosto de você, Sarah Dempsey — sussurra ele.
E aqueles olhos azuis não estão mentindo. Eles não estão transbordando
confiança ou ego ou presunção.
Eles são cautelosos. Examinando. Como se ele soubesse que está se
esgueirando por um galho que pode ou não suportar seu peso, mas aquela
maçã no final vale o risco.
Eu sou a maçã dele.
Como eu posso ser a maçã dele?
— Estou me esforçando muito para não gostar de você.
Seus olhos se enrugam quando ele sorri, como se soubesse que estou
mentindo e que não estou me esforçando tanto. Eu gosto dele, e estou tão
de saco cheio.
Não há câmeras aqui embaixo. Nenhum olhar indiscreto. Nenhuma razão
para ele fingir que gosta de mim quando temos um contrato que expressa
muito especificamente que isso é uma péssima ideia.
Mas meus lábios estão formigando, minhas partes femininas estão se
contraindo e sua pele é tão quente e macia sobre o músculo rígido em sua
cintura, onde minha mão foi parar sem querer, e quando ele abaixa seus
lábios para os meus, eu não luto.
Porque eu quero saber.
Eu quero saber se tudo isso é um acaso, se é o chá de menta falando, se
são apenas as circunstâncias estranhas, ou se ele está secretamente excitado
pelo fato de eu ter uma réplica da nave Serenity.
— Você tem os olhos mais bonitos — murmura ele contra a minha boca,
seus lábios provocando os meus, sua respiração quente e doce.
Eu vou fazer isso.
Vou beijar Beck Ryder.
Claro…
— Tudo limpo! — grita meu pai. A porta do porão bate na parede com
um estrondo. — Vá! Vá agora, antes que os euranianos voltem!
Nós nos separamos enquanto seus passos trovejam pelos degraus. Beck
pega a camisa, e ainda está abotoando quando papai nos alcança.
Eu mergulho em uma caixa de quadrinhos, porque é a coisa mais
próxima que eu tenho.
Papai olha entre nós. Não preciso olhar para cima para saber que ele está
ameaçando matar Beck com os olhos.
— Você estava comprometendo a minha filha? — rosna ele.
— Eu estava tentando descobrir o que a marca de nascença no ombro
dele me lembra — digo, desesperada, enquanto levanto um quadrinho. —
Tenho certeza de que já vi isso… em… Buffy, a Caça-Vampiros.
— Caramba, puta merda, você tem… ah, é. Marca de nascença. Buffy.
Como um dos monstros ou algo assim — diz Beck.
Olho para ele.
Ele está cobiçando a caixa de quadrinhos da Buffy que eu estava
mexendo.
O que não deveria ser uma surpresa. Se ele gosta de Firefly, é lógico que
ele também gosta da Buffy.
— Você tem três minutos para dar o fora da minha casa — papai diz a
Beck.
— Pai. É a minha casa.
— Eu a reivindiquei para essa missão. E a missão é tirar esse nudista
daqui. Ele tem seus próprios objetivos secretos. Eu não gosto disso. Não
gosto nada disso.
— Foi uma honra levar a sua filha a um jogo de beisebol, senhor — diz
Beck.
— Pode apostar que foi — rosna papai.
— Obrigada — sussurro para Beck com um sorriso, porque não sei mais
o que dizer.
Ele sorri de volta, e o friozinho na barriga vai desaparecendo.
— Eu te ligo — diz ele.
Como se fôssemos adolescentes que acabamos de ser pegos nos beijando
no porão da casa dos pais.
— Você vai me ligar primeiro — rosna papai.
— Tenho que ir — responde Beck. — Antes que aqueles euranianos
voltem.
Ele me dá um sorriso torto que parece ser igualmente divertido e
frustrado, e vai para os degraus.
— Pai — digo.
Ele também sorri para mim, olhos castanho-escuros brilhando
alegremente.
— Você deveria ter namorado mais no ensino médio — rosna ele. — Isso
foi divertido.
Minha vida, senhoras e senhores.
Esta é a minha vida.
20
Não importa quantas vezes eu tente dizer a mim mesma que isso não é
um encontro de verdade, eu não consigo parar meu coração de bater rápido
e meus joelhos de tremerem e, basicamente, tudo de entrar em modo de
pânico enquanto espero Beck chegar na quinta à noite.
Depois de Trent no ano passado, percebi que nunca seria a garota certa
para um relacionamento. Que eu me seguro demais, e eu estava bem com
isso, porque… bem, deve ser porque eu estava sendo muito estúpida. E com
medo de que ninguém jamais pudesse só me amar, apesar das complicações
da minha vida.
E, agora, aqui estou eu, prestes a ir a um encontro falso-real com o cara
que me trouxe de volta aos holofotes, a quem estou ficando cada vez mais
apegada a cada dia, que tem muito em jogo se a mídia decidir que ele é
mesmo o babaca que seu tuíte o fez parecer, e em quem eu ainda confio de
qualquer maneira.
Apesar do meu coração agitado demais alertar para irmos devagar.
Relacionamentos físicos nunca costumavam me deixar esquisita. Não até
que Trent perguntou se ele poderia conhecer meus pais. Mas me apegar a
Beck e sua personalidade boba, àquele sorriso irresistível e a sua fácil
aceitação de quem eu sou, me faz tremer, porque não vejo como isso vai
acabar bem se eu me deixar envolver, e, no final, ele for só muito bom em
atuar.
Isso não é só físico.
Nem de longe.
Estou com uma camiseta aprovada pela mamãe – a clássico Rolling
Stones sempre a conquista – e jeans justos que proclamam em voz alta ao
mundo que eu amo sobremesa mais do que amo me exercitar, mas não estou
parecendo um muffin, então mamãe também não se opõe a eles. Eu a deixo
fazer uma trança francesa no meu cabelo e concordo com um pouco de
brilho labial da Burt’s Bees, mas, fora isso, sou apenas eu.
Até o sutiã de algodão liso e a calcinha RYDE.
Ele é pontual e, quando bate, meu pai não rosna ou ameaça dar seus
testículos à porca.
Acho que eles se aproximaram depois de uma competição de flexões de
um braço que meu pai ganhou ontem. E o mundo nunca saberá se Beck o
deixou ganhar ou se meu pai é tão durão assim, porque eu nunca vou
conseguir uma resposta direta de Beck.
Que agora está sorrindo para mim, da minha varanda, como se eu fosse a
pessoa que colocou o sol, a lua e as estrelas em sua dança dinâmica e bonita
pelo espaço.
— Ei — diz ele.
Sorrio de volta, e não é porque eu sei que existem fotógrafos capturando
cada movimento meu, mas porque é impossível não sorrir de volta para ele.
Ele é essa combinação inesperada de completo bobo com absolutamente
nenhum problema de autoestima, e ele está me contagiando.
— Traga-a para casa às dez — diz papai em uma voz menos rouca. — E
ligue antes de entrar para que eu possa desligar o alarme.
— Judson, querido, Serendipity conhece o código agora. E ela é adulta.
Quase trinta já. Ela pode ficar fora a noite toda com um homem, se ela
quiser.
— Ele não é um homem. Ele é uma besta determinada a pegar a
inocência da minha filha e jogá-la em um tanque cheio de esgoto de lodo
tóxico.
— Espero que as seus genitais tenham seguro — murmuro para Beck,
porque claramente é isso que papai vai ameaçar em seguida. De novo.
Beck tosse, seus olhos indo de um para outro. Mamãe agarra papai pelo
braço e puxa com força suficiente para tirá-lo do lugar e fazê-lo tropeçar em
Cupcake, que está procurando por Meda, que está se escondendo de
Cupcake.
Papai aponta dois dedos para seus próprios olhos, depois para Beck.
— Estou de olho.
— Estou de olho em mim também, senhor. — Beck lhe dá uma saudação
e então puxa minha mão. — Pronta, Sarah? Não vai querer perder o show.
— Não, é?
— Pode apostar. Vai ser incrível.
Aceno para meus pais, curiosa sobre o quão engraçado um programa de
comédia pode ser e ao mesmo tempo ansiosa para deixar o olhar mortal de
papai para trás.
E também grata por não ter que me vestir para isso como terei que fazer
no sábado à noite, quando haverá mais centenas de olhos em mim.
— Não espere acordado.
— Vou esperar acordado — rosna papai.
— Não, não vai, Judson. Mais uma noite naquele sofá vai arruinar as
suas costas. Aliás, vamos voltar para o nosso hotel, querida. Tem certeza de
que a Meda vai ficar bem aqui sozinha? Cupcake sente tanta saudade dela.
— Cupcake a aterroriza.
— Que absurdo. Elas estavam abraçadas enquanto você estava no
trabalho hoje. Eu tenho fotos.
— Deixe-os ir, Sunny — rosna papai. — Quanto mais cedo eles saírem,
mais cedo eu posso estripar esse pedaço imundo de esterco de rato que está
tentando comprometer a minha filha.
— Mal posso esperar por isso, senhor — diz Beck, e finalmente
partimos.
— Você sabe que ele está falando sessenta por cento a sério, não é? —
pergunto enquanto nos apressamos para seu carro.
— Não. Ele está só compensando todos aqueles namorados que ele não
conseguiu ameaçar desde que você saiu de casa. E eu sou um alvo fácil.
Colocamos o sinto e saímos do bairro, seguranças atrás de nós, paparazzi
atrás deles. Minha vizinha no final da rua, regando as flores, olha duas
vezes para o carro, aperta os olhos para ver o que está dentro e depois nos
ignora.
— Não sei que vírus está circulando pela cidade, mas está dando às
pessoas um caso horrível de dedos rígidos — diz ele. — Melhor lavar bem
as mãos. Várias vezes.
— Está falando sério? — pergunto, um sorriso aparecendo em sua versão
ridiculamente otimista do que está acontecendo.
Mackenzie está filtrando tudo o que vejo, e por filtrar tudo o que vejo,
quero dizer que ela roubou meu celular, e removeu meus aplicativos de
redes sociais, e instalou um filtro no meu computador que também não me
deixa acessar os sites, e ela está me enviando com frequência prints de tela
de coisas boas que as pessoas dizem.
— Isso ajuda. — Ele dá uma olhada em mim quando paramos no sinal.
— Já aprendi a minha lição. Prometo. E ainda sinto muito por ter arrastado
você para tudo isso. Na maior parte. Mas só pelas partes dolorosas. Você é
incrível. Eu gosto de sair com você.
— Você também não é tão ruim assim, apesar de seu julgamento
questionável em conselhos de moda.
Ele sorri.
— Já venho dizendo isso há anos, mas as pessoas continuam sendo todas:
não, Beck, você é brilhante, aceite o nosso dinheiro.
— É óbvio, eles se sentem mal por você ter que carregar esses braços de
primata o tempo todo e estão tentando fazer você se sentir melhor consigo
mesmo.
Ele sorri ainda mais.
Eu me viro para encará-lo.
— Você alguma vez já se ofendeu? Porque isso foi muito maldoso da
minha parte.
— Encoste e deixe o seu cinto de segurança fazer o trabalho, e, sim, já
me ofendi antes. Fico ofendido quando as pessoas são idiotas com a minha
família. Ou quando aquele babaca no Twitter disse que a Perséfone era uma
vadia feia.
— O quê?
— Pois é. Disse que o Jagger, o pai do filhote, deve ter vomitado depois
que a fodeu. Charlie teve que jogar o meu celular no banheiro para me
impedir de responder, porque ela é linda. Perséfone, quero dizer. Você
assistiu hoje? Ela lambeu a câmera. Foi nojento e fofo ao mesmo tempo.
Você sabia que as línguas das girafas têm cerca de dois metros e meio de
comprimento?
Um dia.
Eu quero um dia ser tão feliz com a vida quanto Beck Ryder.
— O quê? — pergunta ele, enquanto eu o encaro.
Ai, meu Deus! Estou me apaixonando por Beck Ryder.
Pra valer.
— Está funcionando? — pergunto, porque informá-lo de que as línguas
das girafas não têm dois metros e meio de comprimento vai me fazer ser
ainda mais desmancha-prazeres do que em um dia normal, e não quero ser
apenas uma geek desmazelada que fala sobre fatos.
Não que eu esteja prestes a ser muito melhor.
— O que está funcionando?
— Isto. Nós dois. Manter a sua fundação no caminho certo.
Posso até estar desligada da internet e permitindo que Mackenzie apenas
me dê as boas notícias enquanto estou nesse hiato temporário das redes
sociais, mas eu fui trabalhar hoje.
E ouvi os sussurros.
Ela deve estar fazendo isso para poder dizer que pegou o Beck Ryder.
Você acha que ela está planejando abandonar o barco e ir trabalhar
para a Ryder Consulting quando tudo isso acabar?
Quanto ela teve que pagar àqueles imitadores para fingir ser o Judson
Clarke e a Sunny Darling?
Você pode imaginar o quanto ele está pagando para ela?
Puta merda, olha essa foto. Ela está comendo um pau gigante.
CLARAMENTE comendo um pau gigante.
A parte estranha foi que eles se afastaram. Mamãe costumava dizer que
você aprende bem rápido quem são seus amigos.
E meus instintos estão sendo confirmados.
E isso me faz pensar se esse relacionamento falso está realmente fazendo
o que deveria.
Ele olha para os carros à nossa frente em um semáforo enquanto balança
a cabeça lentamente.
— Sim. Está funcionando. Vaughn é um cara legal e está quase pronto
para me defender. Parece que ainda vamos conseguir lançar a fundação
dentro do prazo. E isso deve melhorar o resto da minha reputação.
— Isso é… ótimo.
Sua testa se contrai como se talvez não fosse tão bom.
— Acho que sim. É uma merda que tanto do mundo tenha que ser
rotulado como você é bom ou ruim com base em uma noite da sua vida ou
em um pequeno tuíte. Quero dizer, qualquer pessoa. Não você. Mas… todos
nós.
Eu disse me apaixonando por Beck?
Está mais como mergulhar na atmosfera com um foguete amarrado às
minhas costas sem paraquedas.
Eu me contenho quando percebo que estou alcançando sua coxa apenas
para tocá-lo, porque, apesar daquele beijo ai, meu Deus na escada ontem –
que ele parou – eu não sei quais são nossos limites de verdade.
— Então a sua vida voltará ao normal em breve.
— Parece que sim.
— Você vai ter que parar de comer tanto?
Seus ombros relaxam, e seu sorriso volta.
— Talvez eu tire mais algumas semanas de folga antes do normal. Estou
com vontade de passar algum tempo em Naufrágio. Você já foi lá?
Balanço a cabeça.
— Melhor cidade de todo o planeta. Depois de Copper Valley, claro. E
talvez a ilha de Capri na costa italiana, mas não é uma comparação justa, já
que a Gruta Azul é mágica.
Um décimo de seu entusiasmo seria magia absoluta.
— O que há de especial em Naufrágio?
— Cooper Rock é de lá, mas não diga para ele que eu disse que isso torna
a cidade especial. O que é incrível mesmo é que é uma cidade pirata nas
montanhas.
— Estou em Copper Valley há mais de uma década e ainda não entendo
como isso funciona.
— Tipo oitocentos anos atrás, esse cara pirata, Thorny Rock, estava
sendo emboscado pelo exército norueguês na costa da Carolina do Sul,
então ele colocou todos os seus galeões chineses em uma carroça coberta e
deixou os unicórnios puxarem para o interior até perderem seus chifres, e
foi lá que ele enterrou seu tesouro e fundou uma cidade, e agora seus
descendentes mantêm viva a tradição pirata todos os anos. Ellie e Wyatt
ficaram juntos no Festival Pirata do ano passado e voltaram este ano para
ficarem noivos. É uma porra mágica. E um dia, vou levar um detector de
metais por toda a cidade e encontrar esse tesouro. Só observe. Não ria.
Estou falando sério.
— Oitocentos anos atrás? — Sem contar os unicórnios, mas estou rindo.
— Exército norueguês? Galeões chineses?
— Sou péssimo em Geografia.
— História.
— Também. — Ele me lança outro sorriso. — Estou muito feliz que você
gosta de rir, porque isso é basicamente tudo o que vamos fazer hoje à noite.
— Você está inventando histórias?
— Não estou. Estamos brincando de “a hora dos amadores do clube de
comédia”. Não, não, não faça essa cara. É incrível. E tem essa
ventríloquo…
— Nem. Pensar. Pode parar.
— Não se assuste. Ela é engraçada. E superinteligente. Mais inteligente
que você, e a Ellie, e o Davis, e a Cupcake, todos juntos.
— Cupcake?
— Cara. Os porcos são inteligentes. A ciência diz que sim.
— Ela surtou com um pedaço de cebolinha no chão quando a mamãe
estava fazendo omeletes hoje de manhã, deu de cabeça na perna da mesa e
quase teve uma concussão.
— Compreensível. As cebolas verdes são aterrorizantes.
Jogo as mãos para cima, rindo.
— Tudo bem. Você ganhou. Você é oficialmente o homem mais
engraçado do planeta, e eu nunca vou ganhar uma discussão com você,
nunca.
— Talvez você conseguisse. Tipo, pode te custar lições de orgasmos
duplos, mas eu deixaria você ganhar uma discussão.
Zing! E lá vai minha calcinha.
— Você não vai deixar isso pra lá, vai?
— Não até que eu tenha certeza de que não tenho uma chance. — Ele
desliza até parar novamente, e desta vez, quando olha para mim, seu lado
bobo recua e aquele lado muito masculino está bem ali. — Agora, eu sei
que tenho uma chance.
Solto uma respiração trêmula, porque, nossa, sim, ele tem mesmo.
E não é só porque ele está usando esse olhar quente.
É porque ainda me lembro da sensação de seus lábios nos meus. É
porque toda vez que ele me toca – mão, perna, costas, rosto –, minha pele
vibra para a vida como um letreiro de néon. É porque eu deveria odiá-lo por
seu tuíte ignorante na semana passada, mas ele ainda conseguiu passar pelas
minhas defesas com seu pedido de desculpas, porque eu sinceramente
acredito que existe um ser humano vulnerável capaz de arrependimento
verdadeiro, e determinação para fazer melhor, e um buraco de muito amor
por todos ao seu redor escondidos sob aquela superfície linda.
Posso sobreviver a esse olhar quente. Eu cresci em torno de
galanteadores sexy.
Mas o homem por trás disso está me pegando.
— Esse relacionamento é temporário — eu o lembro. — E isso não é
real.
— Isso é muito real. E não precisa ser temporário.
Eu não tenho um argumento sólido para ele, então apenas fico ali,
olhando estupidamente para ele, com o calor se espalhando pela minha pele
e meu coração bombeando um punho no ar e gritando: Sim, baby!
Ele não ri. Ou dá um sorriso forçado. Ou se chateia.
Não.
O homem aperta meu joelho e volta sua atenção para a estrada.
— Por que você parou de me beijar ontem? — sussurro.
Pela primeira vez, ele não responde logo, e quando o faz, ele ainda está
quieto e sério.
— Eu… já tiraram vantagem de mim antes. E é uma merda. E os seus
pais não são as únicas pessoas que já tiveram que pagar alguém para
proteger alguém que amam.
Eu me engasgo com uma respiração, porque isso não era o que eu
esperava que ele dissesse.
— Eu entendo, Sarah. Você não se inscreveu para isso. Você não pediu
para ser empurrada de volta aos olhos do público. Portanto, sem pressa.
Gosto de você. Quero você. Mas não quero que pense que estou te beijando
só porque temos um contrato, porque não estou fazendo isso.
Meu coração aperta, meus pulmões se comprimem, e minha respiração
fica curta.
Ele sabe as coisas certas para dizer. E eu confio na honestidade crua em
seus olhos e em sua voz, o que é assustador.
Porque Beck não é só o Beck.
Ele é tudo de que eu fugi quando saí do ensino médio. Famoso. Seguido
por paparazzi. Navegando pela política das celebridades.
Como pode alguém tão envolvido no jogo de colocar máscaras para o
mundo parecer tão real?
— Quando eu te beijar, quero que você saiba que eu estou te beijando
porque eu quero — ele continua, sua voz ficando mais rouca. — Não
porque parece bom para a minha reputação. Não porque você é a mulher
que me salvou em um negócio. Mas porque eu gosto de você.
Minha mão hesitante vai para sua coxa, e eu aperto o músculo tenso.
— Eu também gosto de você.
— Assustador como o inferno, não é?
— Mais assustador.
Ele sorri, e eu afundo no meu assento com uma risada envergonhada.
— Sinto muito que tenham tirado vantagem de você — digo baixinho.
— Eu escolhi esta vida. Conhecia os riscos. — Ele cobre minha mão com
a sua e aperta.
— Não deveria ser um risco fazer o que você ama.
Seus lábios se curvam em um sorriso, e eu quero beijá-lo, porque, ah,
esse sorriso.
— Ah, eu não sei — diz ele. — Estou começando a pensar que as coisas
que mais valem a pena ter são as que devemos mais se esforçar para
conquistar.
E lá se vão mais bolhas borbulhando no meu peito, porque ele faz parecer
que está falando de mim.
— Como ser um pediatra?
— Ah, a senhora está mirando no coração. — Ele aperta o peito em uma
lesão simulada enquanto sorri para mim. — Me tentando com sonhos
impossíveis de atingir.
— Você faria isso? Se isso não funcionasse, se o seu império da moda
afundasse, você voltaria para a faculdade?
— Tentando me convencer a ficar?
— Quem a gente poderia ter sido sempre faz parte de quem somos. Se eu
não fosse uma engenheira ambiental, gostaria de ser uma escritora de
viagens.
Seu sorriso está ficando afetuoso, o que é igualmente perigoso.
— Dá para ver isso.
— E aí? Você teria voltado para a faculdade? O que mais você faria se
não fosse o famoso Beck Ryder?
— Me tornar muito, muito bom em dar orgasmos duplos.
28
Temos um passe na porta dos fundos para entrar no The Laugh Track, o
clube de comédia no centro da cidade, que é tão eficaz para chamar a
atenção quanto comprar um ingresso na porta da frente, já que os paparazzi
foram avisados de que iríamos, exceto que não tenho que passar por todo
mundo comprando ingressos, o que é só mesmo uma desculpa da minha
equipe para salvar meu ego das pessoas que vão me dizer para chupar um
pau e morrer.
Concordei com a porta dos fundos, porque eu não queria que Sarah
ouvisse nenhuma das besteiras que as pessoas estão falando no Twitter
sobre sua aparência, ou que um babaca corajoso o suficiente diga isso
pessoalmente, e também porque Charlie me avisou que ela desistiria de
verdade se eu desse um soco em alguém.
Isso seria como Ellie se recusando a me comprar mais presentes de Natal
para o resto da minha vida, e Ellie dá os melhores presentes de Natal.
Como a escova de dentes elétrica do Justin Bieber que ela me deu há dois
anos.
Épico. Pegadinha nível infinito bem ali. Como um cara pode viver sem
isso?
— Idiota mimado — murmura um dos seguranças, enquanto passamos
pela porta dos fundos.
— Estou trabalhando nisso — responde Sarah, alegremente. — Sério,
pedi para os meus pais que doassem a minha habitual Ferrari de aniversário
para uma subcelebridade este ano. Isso não é ser um idiota, é?
Engulo um sorriso surpreso e a puxo pela porta, enquanto os seguranças
se engasgam com seu próprio cuspe e meus guarda-costas a puxam mais
rápido também.
— O quê? — murmura ela. — Como se nunca tivessem falado algo
constrangedor.
— Isso foi incrível. Você praticava ser atrevida com os paparazzi quando
era criança?
— Não, eu sempre penso na réplica perfeita cinco minutos depois, e a
mamãe sempre dizia que não valia a pena provocar de qualquer maneira.
— Ela está certa — um dos guarda-costas grunhe.
— Eu sei. — Sarah suspira. — Mas isso foi mesmo fantástico. Por uns
dois segundos lá, eu era a garota com a réplica. Isso nunca vai acontecer de
novo e, falando sério, meu coração está acelerado no meu peito, mas valeu
a pena.
Com certeza vou praticar orgasmos duplos com ela quando este contrato
acabar. Triplos. Quádruplos. Uma mulher pode ir para um quíntuplo, ou
isso a mataria? Porque tenho certeza de que um quíntuplo me mataria.
Vou ter que perguntar a um médico.
Somos conduzidos ao redor do palco para uma mesa redonda para duas
pessoas à esquerda na área de estar aberta, guarda-costas na mesa ao nosso
lado. Nós dois estamos bem localizados com uma boa visão da cortina preta
bloqueando o palco, e nossa garçonete se apressa, apenas me dando um
pequeno sorriso antes de voltar sua atenção para Sarah.
— Oi, querida. O que posso te servir? Temos um cosmo de morango que
é delicioso. Torna a companhia mais suportável. Aliás, não consigo parar
de assistir à Perséfone. Você acha que ela vai ter o bebê esta semana?
— Eu… ela pode aguentar mais algumas semanas, mas é emocionante
mesmo, não é?
— Ela é tão linda.
— Eu amo a língua dela — digo.
— Temos as melhores batatas fritas com queijo em Copper Valley — a
senhora diz a Sarah, me ignorando por completo. — Bacon, cebolinha, e
nós não usamos só aquele queijo laranja pegajoso, mesmo que seja
delicioso no estádio. Aqui derretemos gouda, suíço e cheddar juntos.
Meu estômago ronca.
— Estou com muita fome hoje — diz Sarah. — Você tem hambúrgueres?
Tipo aqueles grandes de meio quilo?
— Eu posso te trazer um hambúrguer de meio quilo. Bacon? Molho de
churrasco? Ovo frito?
Sarah pede a mãe de todos os hambúrgueres, com tudo, de abacate a
bacon, provolone e cebola frita, e eu sorrateiramente tenho que limpar a
baba do canto da minha boca.
O quê? Eu malhei hoje. Na porra de uma esteira em vez de sair pelo
glorioso dia de verão, mas, ei, eu vivo em uma época em que posso correr
em um espaço de um metro por dois metros para não ter velhinhas cuspindo
em mim ou outras velhinhas me pedindo para beijar seus cachorros, já que
essas outras velhinhas acreditam mesmo que eu estou muito arrependido
pelo tuíte visto no mundo todo na semana passada.
Não que eu tenha escapado do meu apartamento hoje de manhã para dar
uma volta até a loja da Apple e isso aconteceu.
Sério.
Não conte para minha equipe, tudo bem?
Sarah termina seu pedido com uma grande salada Cobb com bacon extra,
batata-doce frita, anéis de cebola, brócolis cozido no vapor, um chá doce –
traga uma jarra, por favor, porque estou com muita sede – e um malte de
Nutella.
Eu nunca me apaixonei de verdade antes – quero dizer, por um humano,
porque eu me apaixonei muito por palitos de queijo frito e um bife bem
maciço –, mas estou ficando cada vez mais convencido de que o sentimento
após o incidente com o taser não foi apenas tensão residual.
Quando a garçonete finalmente sai apressada, eu me aproximo dela,
colocando meu braço em volta de sua cadeira para que eu possa sussurrar
em seu ouvido.
— Posso beijar você? Agora mesmo? Porque essa foi a porra mais sexy
que eu já ouvi na minha vida, e estou tendo muita dificuldade em manter
minhas mãos para mim.
Ela finge estar intrigada, o que faz seus olhos cintilarem e brilharem e,
sim, com certeza não é voltagem residual.
— O quê? Aquela doce garota insultando as suas habilidades
interpessoais e perguntando sobre a Perséfone?
— Você, pedindo montes e montes de comida. Estou tendo essas
fantasias sobre espalhar isso tudo por todo o seu corpo e festejar por horas.
— Se você não tomar cuidado com toda essa conversa suja, nós dois
vamos nos arrepender do que esses fotógrafos publicam para o mundo em
cerca de dois minutos. — Ela respira, seus olhos escurecendo como sim, ela
quer que eu coma em cima dela.
E agora eu estou querendo saber de que cor são seus mamilos e se ela é
do tipo calcinha de seda, renda ou algodão, ou se ela está usando uma tanga,
ou tipo boxer, e, porra, é possível ficar excitado em seu estômago ao mesmo
tempo em que você está ostentando uma sequoia, porque tudo está
praticamente acelerando os motores agora.
— Eu não me importo com os fotógrafos — digo a ela. — Estou tão
excitado agora.
— Ah, é por que você acha que eu vou dividir?
Seus lábios estão sorrindo e provocando, mas seus olhos estão escuros.
Tão escuros. Não apenas o escuro normal de Sarah, mas intenso, e
profundo, e sombreado por suas pálpebras baixas, mas ainda brilhantes. A
sala está mal iluminada, mas está brilhando apenas por tê-la sentada aqui.
— Diga o seu preço. Qualquer coisa. Você quer o meu jogo Frogger?
Meu carro? Uma casa nas montanhas? Um aluno disposto com uma língua
ansiosa que quer mesmo aprender esse truque do orgasmo duplo?
— Acho que você está trapaceando — sussurra ela.
— Acho que você é a mulher mais perfeita do mundo e estou muito
ferrado.
— Foi mesmo tão sexy assim?
— Se eu estivesse mentindo, diria que você é a rainha alienígena de um
planeta distante que veio aqui para hipnotizar todos os homens e roubar
pedaços de nossos baços para iniciar uma raça superior de escravos sexuais
em seu próprio planeta.
Ela ri mesmo quando se inclina para mais perto de mim, seus dedos
pousando na minha bochecha.
— Como você se tornou um magnata da moda? Isso é mais cruel do que
Hollywood, e juro que você é um garoto de treze anos no corpo de um
homem. Com o qual estou completamente bem, a propósito. Eu gosto de
você tão feliz e pateta.
— Como ninguém nunca notou antes como os seus olhos são lindos?
Seus olhos são como o flautista de Hamelin. Você deveria ter homens
seguindo você como cachorrinhos em todos os lugares que você vai só por
abrir esses lindos olhos todas as manhãs.
— Aparência não é tudo.
— Mas seus olhos são. Seus olhos são tudo.
Centímetros. Centímetros. Eu poderia beijá-la em meros centímetros. E
estou completamente sério sobre tudo o que estou dizendo a ela.
Ela é gostosa e sexy. E seus olhos… sim, eu poderia me afogar nesses
olhos. Alegremente.
— Lavoie. Lavoie, olha. É o cara da cueca.
Sarah recua e olha para cima.
Dois caras familiares de aparência maciça estão me avaliando. Eu
conheço esses caras.
— Ai, meu Deus, Nick Murphy e Duncan Lavoie. — Sarah suspira.
Pois é.
Jogadores de hóquei. Os Thrusters.
Eles roubam duas cadeiras da mesa do outro lado de nós e me empurram
para fora do caminho para rodear a Sarah. Murphy sorri para ela, e eu quero
socar sua cara de goleiro bajulador. Lavoie pega a mão dela e dá um beijo
na parte de trás, e eu quero enfiar toda a parte superior de seu corpo em um
vaso sanitário.
— Esse cara está incomodando você? — pergunta Lavoie.
— Não. — Ela o assegura com um sorriso. — Ele é uma companhia
muito boa. E inofensivo.
— Eu não sou inofensivo — protesto. — Posso acabar com você no Pac-
Man.
Murphy olha para mim novamente com seu olhar verde-escuro.
— Você aprendeu a sua lição sobre como falar com as mulheres ou
precisamos ir lá para fora?
— Pare — diz Sarah. — Ele com certeza aprendeu a lição. Ele até se
ofereceu para me deixar ficar com o carro dele. Ele está muito, muito
arrependido. E a mãe dele o repreendeu e pediu desculpas em seu nome
também. Desculpa, amigo, mas você não pode tocar nisso
A testa de Nick franze.
— Pois é, eu tenho uma mãe assim. Exceto que eu nunca fodo tudo.
— Cara — murmura Lavoie. — Você está falando sério?
— Ei, eu não tuitaria essa merda para a minha irmã ou qualquer outra
mulher.
— Só para os ex da sua irmã — diz Lavoie.
— Estou vingando a porra do mundo. — Ele aponta para mim. — E essa
é a minha irmã prestes a subir no palco, então é melhor você rir pra
caramba. Mas só nos momentos certos. E nem pense em tuitar nada sobre
ela. Nada. Nem mesmo qualquer coisa boa. Eu vou estar de olho em você.
Meus guarda-costas são inúteis.
Ou possivelmente estão gostando disso.
Difícil dizer. Mas eu estaria gostando disso se eu fosse eles.
— Posso tirar uma foto? — pergunta Sarah. — Minha amiga Mackenzie
ama os Fireballs em primeiro lugar, mas os Thrusters são o seu segundo
favorito.
— Bem de longe — acrescento, solícito.
Sarah sorri, e esses dois jogadores de hóquei claramente levaram muitos
discos na cabeça, porque nenhum deles cai aos seus pés e a venera apenas
por aquela linda visão.
— Bem, sim, mas eles ainda estão em segundo lugar — concorda Sarah.
— Você não pediu uma foto comigo — aponto.
— Ah, acho que tenho muito mais do que uma foto com você. — Ela me
lança outro sorriso que me atinge com tanta força no peito que quase caio
da cadeira.
Ou talvez fosse um garçom tropeçando na perna da cadeira.
Possivelmente de propósito enquanto tenta me acertar na cabeça com
uma bandeja.
Mas ainda assim.
Eu sinto aquele sorriso até nos ossos.
E não apenas o tesão aumentando com força a cada segundo que passa
atrás da minha braguilha.
O garçom entrega a bebida e o milkshake de Sarah e uma cesta de picles
fritos de cortesia enquanto eles tiram fotos. Depois que Sarah manda uma
mensagem para Mackenzie, Murphy me dá o mesmo dedo duplo de estou
de olho, que Judson me lançou antes de sairmos da casa de Sarah.
— Você. Risadas. Nos momentos certos. Fora do Twitter. Entendeu?
— Eu rio quando estou nervoso — digo a ele, o que faz Sarah espirrar
chá doce pelo nariz. — Ah, merda. Desculpa. Aqui. — Pego guardanapos e
toco em seu nariz e boca, que são bonitos pra caramba.
Como diabos ela se escondeu por tanto tempo?
— Estou bem — gagueja ela em torno de uma risada. — Obrigada.
Depois de ter certeza de que eu não vou matá-la sem querer, Murphy e
Lavoie nos deixam em paz.
Mas eles se sentam perto durante toda a noite de microfone aberto.
O que é tolerável, exceto pelo ventríloquo, que é hilário pra caralho, e
não só porque Nick Murphy vai chutar meu traseiro se eu não pensar dessa
forma e rir em todos os momentos certos. Aquele fantoche de cabra que ela
está usando me lembra Wyatt. Totalmente apropriado.
O que eu acho que faz de mim, a marionete de gato chamada Lucy, o que
é um pouco estranho, mas eu posso lidar com o sentimento de afinidade
com uma marionete de gato.
Sarah divide toda a sua comida comigo, nossas cadeiras juntas para que
eu possa passar um braço a sua volta a noite toda, porque estou tendo
orgasmos só de tocá-la, e quando o show acaba e todos os últimos
comediantes tiveram suas vezes, os fotógrafos à espreita do outro lado da
sala conseguem um suprimento infinito de boas fotos de Sarah e eu curtindo
o show.
E eu estou puto.
Porque ela deveria poder sair e curtir um show de comédia sem saber que
cada movimento seu está sendo observado e examinado pelo mundo.
— Precisamos parar por aqui — digo a ela quando estamos de volta no
meu carro, indo para o meu prédio. A segurança pode levá-la para casa em
um carro sem identificação de lá.
— O quê? Por quê?
— Porque eu não gosto desses idiotas tirando fotos de você.
Ela me observa enquanto paramos na minha garagem, e eu viro para a
esquerda para entrar na garagem subterrânea privada atrás da porta do
elevador, que a maioria das pessoas assume que é para entregas.
— Talvez não seja tão ruim assim — finalmente diz ela, enquanto estou
estacionando. — Fiz uma pesquisa seletiva no trabalho hoje. As doações
para projetos de conservação animal aumentaram vinte por cento esta
semana.
Minha vontade de fodê-la aumentou mais de vinte por cento.
Mas eu também sou o idiota que acabou de dizer a ela que precisávamos
cancelar, e, porra, ela provavelmente pensa que estou falando de parar com
nós dois também.
— Eu poderia fazer duas ligações e triplicar, e você jamais teria que
sorrir para uma câmera de novo.
— Gosto de fazer a diferença. — Suas bochechas começam a ficar
manchadas, e eu não posso deixar de traçar as bordas irregulares vermelhas
em suas bochechas. — Eu me importo — sussurra ela. — As pessoas
podem ver. E isso significa mais do que o Levi Wilson ou o Cash Rivers
falando da boca para fora.
— Eu ia chantagear um dos príncipes britânicos e lembrar a alguém, cujo
nome legalmente não posso mencionar, que ele me deve um favor, mas
posso ligar para o Levi e o Cash também.
Ela brilha tanto quando sorri.
Mas eu não estava brincando.
— Minha mãe me pede há anos para sair de férias com ela e o meu pai —
diz ela. — Eu sempre tinha uma desculpa, mas todos nós sabíamos que eu
não queria sair em uma foto com eles. Talvez agora… a gente poderia
tentar. Já não tenho tanto medo. — Ela sorri, hesitante, como se se sentisse
boba por ter afastado os próprios pais por tanto tempo. — Talvez você tenha
me feito um favor sendo um babaca da internet. E eu nunca tinha
conseguido usar o taser em ninguém antes, então tem isso também.
Em vez de responder, eu solto meu cinto de segurança e me jogo no
banco para beijá-la. Eu acaricio seu cabelo grosso e sedoso e desejo que não
estivesse preso, e ela agarra meus pulsos, mas em vez de me empurrar, ela
se agarra com força e posiciona seus lábios contra os meus e se inclina
completamente.
Isso.
Isso é o que eu tenho procurado por toda a minha vida, mesmo sem saber
que eu queria.
Essa necessidade desesperada de não apenas beijar uma mulher, mas ser
beijado por ela.
Ser tudo o que ela quer.
Subir um nível na minha vida. Tentar mais. Ser mais inteligente. Mais
galante.
Mais galante?
Merda. Estou me transformando em uma espécie de cavaleiro medieval
por ela.
E estou totalmente a favor de ir todo cavalheiresco em sua bunda, se for
preciso.
Ainda mais quando ela abre os lábios e me deixa entrar.
Porra. É o paraíso.
Suas mãos percorrem meus antebraços, ela aprofunda o beijo, e estou a
dois segundos de explodir nas minhas calças só porque uma mulher está
deslizando sua língua sobre a minha.
Posso não ser o amante mais experiente do mundo, mas não faço nada
precipitado.
E eu não acho que ela beijaria um cara só por beijar um cara.
Especialmente não este cara.
Então, eu tenho uma chance.
Uma chance real.
Minha mão está descendo por seu ombro em direção ao seio quando a
buzina do meu carro toca do nada.
E não só a buzina, mas todo o maldito alarme.
Sarah se joga para trás, seus dedos vão para seus lábios, olhos
arregalados, e ela tateia pela maçaneta da porta.
Eu deixo cair meu celular entre os assentos, tentando agarrá-lo para abrir
o aplicativo do meu carro e desativar o alarme, mas assim que Sarah salta
do carro, percebo o que está acontecendo.
Charlie.
O celular de Charlie está ligado ao meu carro, e ela acabou de ativar o
alarme.
E tenho certeza de que é ela, porque ela está bem ali, na frente do meu
carro, celular na mão, e o alarme para assim que Sarah fecha a porta.
Olho para a minha assistente.
— Não está no contrato — murmura ela.
Mostro o dedo do meio.
Ela sorri.
É um sorriso malicioso, sabe-tudo, bem feito. Possivelmente com um
lado de se você vai cortejar a mulher, faça direito, depois que você não for
contratualmente obrigado a apenas agir como se gostasse dela, quando ela
souber que você gosta dela de verdade, e não pelo que ela pode fazer pela
sua carreira.
Deixo cair minha cabeça para o volante, porque, porra.
Ela está certa. Mesmo dizendo a Sarah que isso não é sobre o contrato,
ela não tem garantia. O que significa que ela está indo apenas pela fé.
Fé em mim.
Eu deveria estar grato por não haver um botão de ativação do airbag de
emergência no aplicativo.
Também estou revogando os privilégios de Charlie no aplicativo do
carro.
— Pronta para ir para casa? — ela está perguntando a Sarah quando eu
finalmente saio do carro.
Sarah acena com a cabeça, com o rosto corado, sem olhar para mim.
— Você quer vir amanhã e assistir a uns filmes? — Eu me ouço
perguntar.
Ela olha para mim e mantém contato visual, mas fica mais vermelha a
cada segundo que passa. Merda.
— Tenho planos, mas obrigada pela oferta — diz ela.
Droga, droga, droga.
— A qualquer hora. Você é divertida.
Você é divertida? Quantos anos eu tenho, doze? Eu tinha todas as
palavras certas antes, e agora estou fodendo tudo.
Charlie está mordendo os lábios. Sei que ela está sufocando um sorriso, e
eu estou ficando com o rosto quente também.
Um beijo.
Um único beijo de boa noite.
E minha assistente vai e estraga tudo.
Eu deveria demiti-la.
Só que ela provavelmente está certa.
Eu não deveria estar beijando mulheres quando não está claro se é para
mim ou para o estúpido contrato, porque se eu fosse a Sarah, eu estaria
duvidando de cada palavra que eu disse sobre gostar dela por ela mesma.
— Eu quis dizer sair em público — digo a ela. — Devemos parar com
essa de sair em público.
— Não vai acontecer, Romeo — diz Charlie. — Ou eu vou te demitir.
Sarah me dá um breve sorriso que não alcança seus olhos, e acho que
acabei de estragar tudo de novo, mas não sei como, ou por que, ou como
dar um jeito nisso. Só sei que não quero que ela vá embora.
E não porque eu não quero ficar sozinho.
Mas porque eu quero estar com ela.
— Posso te ligar? — pergunto, enquanto Charlie a conduz em direção à
porta dos fundos da garagem.
Desta vez, ela para e olha para mim. Ela ainda está corando, mas
finalmente levanta aqueles lindos olhos para encontrar os meus, e, bum.
— Sim — diz ela, com um sorriso tímido.
— A janela está se fechando para você sair antes que seja seguida — diz
Charlie, e Sarah e eu suspiramos.
Estou prestes a dizer que ela pode ficar quando ela abaixa a cabeça
novamente e deixa Charlie empurrá-la para fora da porta.
Eu me encosto no meu carro.
Esse foi o melhor encontro que eu já tive em toda a minha vida.
Foi apenas um show de comédia. Com boa comida. Alguns fotógrafos
nos observando. Um quase acidente com uma cerveja, ou dezessete,
derramadas na minha virilha.
Mas eu não dividi um hambúrguer em um encontro desde que eu tinha
dezessete anos e não podia pagar mais que isso. Eu não deixei meus dedos
permanecerem na cesta de fritas na esperança de que nós acidentalmente
nos tocássemos ainda mais. Eu não desejei que o show acabasse para que
pudéssemos ficar sozinhos de novo, ou fiquei tão triste ao mesmo tempo
quando partimos, porque isso significava que eu estava muito mais perto de
ter que deixá-la ir para casa.
E ouvindo sua risadinha de algumas das piadas péssimas de hoje à noite,
eu não entendo por que a internet como um todo não está correndo para
falar sobre o quão linda, engraçada, inteligente, e gentil ela é.
Meu celular apita. Mensagem de Charlie.
Vá para a cama, Beck. Reuniões de negócios o dia todo amanhã.
Suspiro e sigo para o elevador, onde há seguranças sempre presentes,
vigiando meu esconderijo na garagem.
— Não é o seu tipo habitual, sr. Ryder — diz o cara.
Faço uma careta para ele.
— Muito melhor.
Seu sorriso desaparece e ele fica rosa nas bochechas.
— Sim, senhor.
Este mundo.
Eu pensei que era o cara que estragou tudo no fim de semana passado.
Mas talvez o mundo inteiro tenha perdido a cabeça.
29
Eu sou uma idiota de duas caras, mas não dá nem para dizer isso, porque
há tanta maquiagem no meu rosto que eu poderia mesmo ser a gêmea da
Cupcake e ninguém saberia que havia um focinho de porco escondido sob
todas essas camadas de reboco.
Aqui estou eu, em um vestido que eu meio que amo mais do que estou
disposta a confessar a Beck, mesmo que eu só possa usar cerca de quarenta
por cento da minha capacidade pulmonar agora, e estou dividida entre
querer apenas olhar para ele em seu smoking a noite toda ou arrancá-lo do
seu corpo com meus dentes.
Não importa o quanto eu diga a mim mesma que é porque o homem sob
o smoking é um cavalheiro gentil, doce e sexy, isso não vai me convencer
de que eu não sou duas caras por babar sobre seu porte físico de absoluta
perfeição.
Nem me lembrará de que ele é tão atraente vestindo jeans e uma camisa
dos Fireballs, ou um roupão de ursinho de pelúcia, ou enquanto se deixa ser
repreendido por sua mãe.
Mesmo que com certeza eu esteja incomodada por ele não estar
devorando até a última mordida de seu bife.
— Você está passando mal? — sussurro.
— Com fome — sussurra ele de volta —, mas estou oficialmente
trabalhando, o que significa que não posso fazer papel de porco.
— Você pode ficar com a minha trufa, se quiser.
— De jeito nenhum. Se eu comer a sua trufa em público, minha
reputação está oficialmente destruída e terei que recorrer a meias de
modelo, se quiser ganhar o suficiente para ajudar os meus pais a se
aposentarem.
Eu tenho um choque de desejo direto entre minhas coxas quando ele diz
comer a sua trufa, mas quando tento respirar, minha cinta de compreensão e
meu vestido me apertam tanto que toda a circulação é cortada em meus
mamilos e eu termino ao mesmo tempo tentando sugar o ar e engasgo com
minha própria falta de ar.
Os olhos de Beck se arregalam, e ele dá um tapinha nas minhas costas.
— Você está bem?
— Problemas de mulher — deixo escapar.
E então fico tão quente que metade da minha maquiagem provavelmente
vai se derreter.
Minha mãe, a mãe de Beck e Ellie se lançam para suas bolsas, deve ser
para pegar absorventes.
— Problemas de vestido — corrijo às pressas. Droga, juro que as pessoas
nas duas mesas atrás de mim ouviram isso.
— Só respire com calma, querida, vai ficar tudo bem — aconselha a
minha mãe.
— Minha cinta de compreensão está me matando também — diz Ellie.
— Eu disse para você não usar essa merda — murmura Wyatt.
Eu gosto dele. Ele é muito prático.
— Estou bem — digo a Beck, que ainda está me observando tão de perto
que estou começando a me perguntar se há um pelo errante no nariz ou algo
assim. Aceno para seu prato. — Tem certeza de que não precisa de mais
comida?
— Vamos comprar comida em algum lugar mais tarde. Depois que a
gente tirar você desse vestido. Ai! Mãe! Isso está fisicamente a
machucando.
Ele ainda sorri para mim, e meu coração assume um novo ritmo com a
implicação de que estarei com ele quando formos pegar comida.
E fora do meu vestido enquanto comemos.
— Eu dei à luz a você. Estou ciente do que está passando pela sua cabeça
— diz sua mãe.
Não.
Isso não matou o zumbido.
Talvez haja algo errado comigo, afinal.
— Serendipity vai ficar com a gente hoje à noite — rosna meu pai.
— Hum, não, vamos ter uma festa do pijama para meninas — corrige
Ellie.
— Vamos? — pergunta Wyatt. E então ele também murmura ai e esfrega
a perna debaixo da mesa. — Ah, é! Acho que sim. Sem me avisar. Ai! Tudo
bem, tudo bem, calando a boca.
De repente o curador do zoológico corre para a frente da sala, onde os
funcionários estão puxando às pressas uma tela de projetor.
— Senhoras e senhores, se eu puder ter a sua atenção por um momento
— chama ele —, acabei de receber a notícia de que a Perséfone está em
trabalho de parto ativo.
Eu me endireito. Beck lança um olhar para Charlie duas mesas adiante,
como se ela tivesse arranjado isso e ele precisasse lhe dar um aumento. Ela
revira os olhos e fala de volta: só você.
Eu bufo.
Porque acho que ela está certa.
Só Beck poderia ter esse tipo de sorte.
— Ele só está dizendo isso para conseguir mais algumas doações, não é?
— murmura ele para mim.
Um projetor pisca, e uma mulher a três mesas atrás grita.
— Ah, não — digo a ele enquanto olho para a girafa muito grávida,
muito agachada, e parindo na tela.
— Ai, meu Deus — murmura minha mãe.
Todos os Ryders largam os garfos.
Meu pai fica pálido.
Perséfone dá um empurrão forte, expulsando as pernas da girafa bebê e o
líquido amniótico, e meu pai enxuga a testa.
O prefeito ainda está comendo na mesa ao lado.
Murmúrios estão atravessando a multidão.
— Eu não posso comer com isso — alguém sussurra.
— É a natureza, Felicia. Você também pode — alguém sussurra de volta.
— Ai, meu Deus, ela é tão linda, eu vou chorar. — O curador sacode um
lenço branco e enxuga a testa.
Perséfone bufa e balança a cabeça acima de seu longo pescoço.
Beck está extasiado.
— Ela é forte pra caramba.
— A maioria das mulheres são, querido — diz sua mãe.
Perséfone empurra novamente, e eu cutuco minha mãe e aponto para o
meu pai.
— Ah, aqui vamos nós de novo. — Ela empurra a cadeira para trás e
envolve um braço em volta dos ombros dele. — Cabeça entre os joelhos,
Judson. Só respire. Inspire o amor e expire a dor. Amor dentro, dor fora.
Quase todos os sons de talheres nos pratos pararam. Beck ainda está
olhando para a tela, mas ele passa o braço sobre a minha cadeira e se
aproxima, cheirando a canela e cravo hoje.
— Você já viu algo assim antes?
— Vi um documentário sobre elefantes dando à luz uma vez, mas não ao
vivo. E eu assisti à câmera da águia, mas a eclosão dos pássaros não é a
mesma coisa.
— Ela é simplesmente… uau — sussurra ele.
Ele não está nem um pouco enojado, ou horrorizado, e seu estômago dá
um ronco que ele não parece notar.
Eu aperto sua perna e dou um beijo em sua bochecha barbeada, porque
não posso evitar. Ele me dá um sorriso, não um sorriso ardente, não um
rosto para as câmeras, mas um sorriso suave e honesto que faz como se
abelhas zumbissem na minha barriga.
Ele se aproxima e, em vez de manter seu braço casualmente ao redor da
minha cadeira, ele envolve um braço em volta de mim, e eu me inclino para
ele, respirando seu cheiro, minha mão descansando em sua coxa longa,
magra e sólida enquanto assistimos. Perséfone dá à luz uma nova girafa
bebê.
Um suspiro sobe pela sala quando o bebê cai no chão, mas em poucos
minutos, Perséfone ajuda o pequeno a se levantar, e eu não estou chorando,
mas com certeza estou sufocada.
O curador está chorando.
E Beck apenas sussurra:
— Uau.
— Mais uma girafa no mundo — sussurro.
— É um menino ou uma menina? — alguém pergunta.
O curador assoa o nariz e levanta um dedo.
— Eles não vão saber até que possam examiná-lo — digo.
O curador aponta para mim, depois para seu nariz.
Meu pai ainda está fazendo os exercícios de respiração com minha mãe,
com a cabeça debaixo da toalha da mesa.
Beck parece lembrar que não estamos sozinhos, e ele se endireita de
repente com um sorriso largo.
— Isso foi épico.
— Você tem a sorte mais louca — diz Ellie.
— Pois é. Quais eram as chances de esse tuíte nos trazer a Sarah?
E lá se vai mais um aperto piegas no meu peito, porque ela claramente
quis dizer sorte com o momento de Perséfone dar à luz, mas em vez disso,
ele falou sobre mim.
Papai se recupera e os ruídos graduais de pessoas comendo voltam ao
salão. As pessoas começam a se mexer, enquanto o vídeo ao vivo de
Perséfone cuidando de seu recém-nascido é reproduzido no projetor.
Nenhuma coruja entra.
Meu vestido não rasga.
Beck mantém a mão em mim o tempo todo. Nas minhas costas.
Escovando meu cabelo do meu rosto. Tocando meu cotovelo para me virar
para conhecer alguém novo.
Ninguém pergunta sobre o tuíte, mas várias pessoas param em nossa
mesa e querem falar sobre Perséfone, ou o meu blog, ou um dos projetos
em que os Ryders trabalharam, ou como Ellie está depois do acidente, ou
quais são os planos de Wyatt para depois das forças armadas, ou como eles
estão honrados em ter meus pais aqui em Copper Valley.
Eles provocam Beck sobre suas roupas íntimas.
Pelo menos, até eu apontar que é a roupa de baixo mais confortável do
planeta e desafiá-los a provar que não estão usando.
Tudo com um sorriso aprovado pela mamãe, é claro. Ainda sou filha de
Sunny Darling.
A transmissão ao vivo de Perséfone se encerra antes que qualquer um de
nós dê uma boa olhada em seu filhote, e o curador do zoológico nos diz que
as atualizações serão publicadas on-line assim que os tratadores puderem
verificar a mamãe e a girafa bebê.
Quando a multidão começa a se dispersar e Charlie nos dá o sinal de é
hora de irmos, eu paro e pego meu celular da bolsa e aciono a função de
câmera.
— Como está a luz? — pergunto a Beck.
Suas sobrancelhas se unem.
— A luz?
— A luz. Precisamos postar outro vídeo, já que a Perséfone deu à luz.
Seu intenso escrutínio lentamente se transforma em um sorriso largo que
faz meu coração pular sobre si mesmo.
— Ah, é?
— Sim. E se apresse antes que a Charlie leve a gente para fora daqui e eu
perca a coragem.
Ele pega meu celular de mim e o estende, seus longos braços trabalhando
a nosso favor.
— Preparada?
Eu aceno, e ele aperta o botão para gravar.
— Ei, seguidores do Must Love Bees, aqui é a Sarah Dempsey. E este
cara aqui eu peguei em um jantar chique hoje à noite. E estou muito
animada para esperar chegar em casa e me trocar antes de perguntar se
todos viram que a girafa Perséfone deu à luz agora. Se você estava
assistindo junto com o resto de nós, ela não foi incrível? Uma criatura tão
bonita. E se você ainda não viu, bem, não faça o que o meu pai fez e
desmaie debaixo de uma mesa. Talvez apenas espere pelas fotos se você
estiver enjoado, tudo bem? Clique nos comentários e me conta o que você
estava fazendo quando a Perséfone deu à luz! Estou indo para casa para um
bom banho de espuma e esperar pelas notícias sobre se temos uma menina
ou um menino.
— Ela teve uma menina — diz Beck.
— Você acha? — pergunto.
— Com certeza. Você viu o quão forte ela foi e quão rápido ela se
levantou? Totalmente uma garota.
— Girafas machos também podem se levantar logo após o nascimento.
— Pode ser, mas ainda acho que o nosso bebê é uma menina.
Minha barriga vibra.
— Então, só para discordar, eu vou ter que achar que ele é um menino.
Ele sorri para mim.
— Quer apostar dinheiro?
— Não, mas eu apostaria um sundae.
— Apostado, sra. Taser.
Aceno para a câmera.
— Parabéns a Perséfone e ao Zoológico de Copper Valley pela chegada
de seu novo filhote.
Beck desliga o vídeo, e antes que eu perca a coragem, eu posto no meu
feed.
— Você é tão natural, querida — diz minha mãe com uma fungada.
— Eu vou vomitar.
— Não, não vai não. — Beck me puxa para um abraço e dá um beijo no
meu cabelo gigante. — Você é a pessoa mais corajosa e foda que eu já
conheci — sussurra ele.
— Você com certeza viveu uma existência de celebridade muito
protegida.
Ele ri.
— Hora de ir, pessoal — diz Charlie.
Fizemos o caminho para fora do planetário, agradecendo a equipe
enquanto íamos, e a noiva cujo casamento foi cancelado, a quem eu não
conhecia até que Beck me apresentou a ela e ela nos agradeceu por salvar
sua recepção.
Eu a abraço bem apertado na saída, porque sei uma coisa ou um milhão
sobre situações embaraçosas.
Quando chegamos às três limusines esperando na porta, Beck segura
minha mão.
— Você vai mesmo para a noite das garotas? — murmura ele.
— Depende. Se eu for para casa com você, vou precisar das minhas
roupas?
— Não. Eu tenho esse roupão de ursinho incrível que você pode pegar
emprestado.
A risada escapa de mim, e a próxima coisa que sei é que estou dando
tchau para todos enquanto mergulhamos na parte de trás da primeira
limusine, e então seus lábios estão capturando os meus, seus braços me
envolvendo, e de repente a única coisa no mundo inteiro que importa é
beijá-lo de volta.
Porque isso não é o que eu estava esperando desde o momento em que
ele voltou a minha casa para se desculpar depois que eu o derrubei com o
taser.
Isso é o que eu tenho esperado por toda a minha vida.
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Ela é minha.
Eu a tenho. Você não pode tê-la. Você dorme, você perde. Eu a lambi. Ela
é minha agora.
Está bem, está bem.
É mais como se eu basicamente fosse passar o resto da minha vida como
gelatina nas mãos dela, porque, puta merda, ela é tudo.
— Ai, meu Deus, acho que estou babando no seu ombro — murmura ela
enquanto nos sentamos, deitamos? Caímos?, na minha cama.
— Hum, baba. — Meus braços estão moles. Assim como minhas pernas.
Meu pau está muito orgulhoso de si mesmo, e ainda enterrado dentro
dela, e por que eu pensei que queria viver em um carro com ela quando
podemos ficar na cama assim para sempre?
Ela dá uma risada ofegante, e isso faz suas paredes internas apertarem
meu pau novamente, que sorri com orgulho e fica mais ereto.
Vou cumprimentá-lo mais tarde.
— Você quer um queijo quente? — pergunto. — Posso te dar quatro
orgasmos, mas eu preciso de um queijo quente primeiro.
— Quatro podem me matar.
— Você vai ganhar três, goste ou não, porque eu não empato. Eu venho
em primeiro.
— Você já está em primeiro lugar.
— Nada disso. Não alimente o meu ego. Estou conquistando isto aqui.
— Beck.
— Sarah.
Ela levanta a cabeça, e, meu Deus, seu cabelo. Está uma loucura, saindo
por todos os lugares, ainda cheio de spray e deve ter algum tipo de
sacrifício animal, e eu a amo pra caralho assim. Real, e sonolenta, e linda
pra caralho.
— Você… me conhece — diz ela, baixinho. — Eu nunca dormi com
ninguém que… me conhecesse de verdade.
Acaricio seu cabelo selvagem.
— Uma pena para eles.
Ela suspira e se aconchega mais perto novamente.
— Obrigada por me mostrar do que sou capaz.
— A gente ainda não chegou a três — eu a lembro.
— Eu quis dizer enfrentar o mundo e não me esconder dele.
— Você teria descoberto isso em seu próprio tempo se eu não tivesse sido
um idiota.
Ela balança a cabeça, mas não responde.
E então, meu estômago ronca, e nós dois rimos.
— Tá bom, tudo bem. Comida — diz ela.
Pego um roupão para ela e descarto a camisinha, e passamos a hora
seguinte comendo sanduíches gourmet de queijo grelhado com queijo brie,
bacon e peras, e ela me conta sobre os projetos favoritos em que trabalhou,
e eu conto a ela sobre os maiores contratempos que já tivemos em várias
sessões fotográficas.
Verificamos Perséfone, e Sarah grita de alegria ao ver o bebê mamando.
— Veja. Olha só para aquela mancha no bebê. Não parece a cabeça do
George Washington?
Eu olho mais perto, e ela não está errada.
— É um sinal — digo a ela. — Esse bebê vai salvar a população de
girafas do mundo.
Ela ri e me beija, e nós dois temos orgasmos com minhas criações
culinárias, o que, não, não conta como seu terceiro.
Eu cuidei disso no banho depois.
E então eu a carrego para a cama e esfrego suas costas até que ela
adormeça, e eu adormeço também, com meus braços em volta dela, por
causa disso.
Sarah é o que faltava na minha vida.
A peça que eu nunca pensei que encontraria.
Que eu nunca pensei que existisse.
A vida é incrivelmente foda. E fica cada vez melhor.
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Livro anterior na Série Bro Code
Emily Stanton tem uma vida perfeita. Sua empresa mundialmente famosa
está pronta para alcançar um novo patamar com a abertura da venda de
ações e, para essa nova etapa, tudo precisa estar impecável, inclusive sua
imagem como CEO bilionária.
Mas um deslize momentâneo faz com que a imprensa a flagre sendo
algemada com acusações de posse de drogas, tudo por causa de um
encontro arranjado que ela nem queria ir. Agora, o conselho está furioso,
seu negócio que vale bilhões de dólares está em jogo, e há um homem nu
em sua banheira que afirma que fará todos os seus problemas
desaparecerem.
Charmoso, e feliz em quebrar as regras quando necessário, Derek Price
ganha a vida consertando os escândalos dos ricos e famosos. Ele nunca
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deslumbrante Emily Stanton. Derek prometeu a ela uma vitória e ofereceu
um suprimento vitalício de orgasmos como parte do acordo. Mas, se ele não
puder impedir seus inimigos, vai acabar perdendo muito mais do que
esperava.
SAIBA MAIS
Leia O Resto de Mim
1. Cover
2. Table of Contents
A proposta perfeita
Kingsley, Claire
9786599590955
230 páginas
A morte nunca se contenta apenas com a vida daquele que leva. Ela é
gananciosa. Roubou todas as nossas vidas na noite que enterrei o meu
marido, deixando-me sozinha com os meus quatro filhos. Após um tempo
de sofrimento, nos mudamos para o Wyoming. Um lugar do interior, com
muitos campos abertos, céu estrelado e ar fresco. Descobri que o convívio
com cavalos era uma forma eficiente de terapia para crianças com traumas e
esse foi o principal motivo que me trouxe até ali. Foi uma coincidência que
nosso vizinho fosse o instrutor de equitação que eu precisava para ajudar
meus filhos. Porém, eu não poderia imaginar que as habilidades de Reid,
um peão de rodeio aposentado, iam além do trato com os animais. Ele se
revelou o apoio que os meus filhos precisavam para seguir em frente e
finalmente começarem a se curar. Distraída pelo rumo que a situação
tomou, eu não notei que os demônios de Reid dançavam colados aos meus.
E, quando o deixei que roubasse meu coração, era tarde demais para
perceber... que ele já o havia roubado.