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Table of Contents

1. Capítulo 01
2. Capítulo 02
3. Capítulo 03
4. Capítulo 04
5. Capítulo 05
6. Capítulo 06
7. Capítulo 07
8. Capítulo 08
9. Capítulo 09
10. Capítulo 10
11. Capítulo 11
12. Capítulo 12
13. Capítulo 13
14. Capítulo 14
15. Capítulo 15
16. Capítulo 16
17. Capítulo 17
18. Capítulo 18
19. Capítulo 19
20. Capítulo 20
21. Capítulo 21
22. Capítulo 22
23. Capítulo 23
24. Capítulo 24
25. Capítulo 25
26. Capítulo 26
27. Capítulo 27
28. Capítulo 28
29. Capítulo 29
30. Capítulo 30
31. Epílogo
32. Epílogo Bônus
33. Sobre a autora
34. Copyright
35. Ficha Catalográfica
36. Sobre a editora
37. Conheça a série As Bilionárias de Bluewater
38. Conheça a Série Clube de Corrida Dirty Martini
39. Leia O Resto de Mim
40. Conheça a Série Benevolence
01

Ellie Ryder, também conhecida como ‘a mulher que precisa de mais que sorvete para preencher
o buraco em seu coração’.
Quando eu governar o mundo, sorvete de menta estará disponível o ano todo, porque idiotas que
partem o coração das pessoas não restringem sua babaquice apenas ao Natal.
A menos que eles sejam os meus idiotas.
Certo.
Meu ex-idiota.
Enfio a colher direto no pote de sorvete, que peguei no mercado no caminho para cá, e ignoro a
sensação de alegria refletida na gigantesca árvore na sala de estar da casa dos meus pais. É tarde,
então não contei a eles que viria, mas não queria passar mais uma noite na minha casa esta semana.
Sozinha.
Dormir na cama onde Patrick me fodeu – e depois fodeu a minha vida – apenas duas noites atrás.
Feliz Natal, Ellie. Estou apaixonado pela minha vizinha.
Deixo um bilhete colado na cafeteira para que saibam que estou aqui, então desço as escadas
suavemente, para não os acordar, e vou para a sala de jogos, onde acendo a luz.
E então quase grito.
Há um homem esparramado no sofá, assistindo a um filme em preto e branco, e assim que as luzes
se acendem, ele se encolhe e joga o braço sobre os olhos.
— Cristo — ele rosna.
Meu coração quase para com o susto, e depois começa a bater furiosamente.
— Que porra você está fazendo aqui?
Wyatt Morgan tira o braço da frente do rosto e me encara.
— Oh, ótimo. É a Ellie. Apareceu para esfregar um pouco de sal na ferida?
Engulo outra colher de sorvete enquanto o olho, porque eu não pedi para ele estar aqui, e ele
também não parece nem um pouco feliz.
— A casa do Beck é no centro. Vá se embebedar lá. — Quando as palavras saem da minha boca, a
culpa me atinge.
Mas não tanto porque, primeiro, eu teria que gostar do melhor amigo do meu irmão, e segundo,
porque não tenho certeza se ainda tenho um coração.
Estou com um humor de merda. Quem dá o fora na namorada na véspera de Natal? Mas, mesmo no
meio de toda minha autopiedade, eu sei por que Wyatt está sentado no porão dos meus pais, se
enchendo de cerveja e assistindo a A Felicidade Não Se Compra.
Ele nem mesmo revira os olhos com a minha ordem para que saia.
— Beck está dando uma festa — ele me informa. — Não quis ir. Acho que você não foi
convidada. Ou então você prefere participar do meu grupinho de quem está na merda.
Ele bebe a cerveja, e outra pontada de culpa me atinge.
É perfeitamente possível que ele tenha problemas maiores do que eu. Perdi um namorado e
provavelmente reconhecerei em breve que estou melhor sem ele. De verdade, e não apenas em um
acesso de raiva.
Os tribunais acabaram de entregar a Wyatt a sentença final do processo de divórcio, o que significa
que ele só poderá ver seu filho uma vez por mês e, para isso, precisará viajar oitocentos quilômetros
todas as vezes.
— Me poupe, Morgan — digo a ele. — Eu não chuto um homem quando já está no chão.
— Desde quando?
— Oh, por favor. Como se você soubesse.
É assim desde que éramos crianças. O melhor amigo do meu irmão é o único homem em todo o
universo que consegue me tirar do sério e revelar o meu lado mais feio de uma hora para outra, e eu
juro que ele fica feliz em fazer isso.
Nove e meio na prova de matemática, Ellie? Por que não um dez?
Bela cesta, mas você ainda está perdendo por oito.
Quem te ensinou a segurar um taco de sinuca, um macaco cego?
E toda essa provocação só me fez tentar mais duro todas as vezes.
Porque quando não estava me provocando, ele era o primeiro a estender a mão para me puxar da
calçada ou da lama quando eu, inevitavelmente, era pisoteada, tentando acompanhar Beck e seus
amigos no futebol, hóquei de rua, basquete e tudo o mais em que jurava que era grande o suficiente
para participar com eles.
Ele olha para os meus seios, e todo o meu corpo se ilumina como as luzes de Natal no centro da
cidade.
— Você vai comer tudo? — Ele pergunta, e porra, ele não está olhando para o meu peito.
Ele está olhando para o meu sorvete, e aqui estou eu, excitada com a ideia de que ele finalmente
tenha percebido que sou uma mulher.
Eu tenho problemas. Tantos problemas.
Me jogo no sofá ao lado dele.
— É sorvete dos perdedores, então, sim, eu vou — resmungo. — Aqui. Dê uma colherada, seu
idiota bêbado.
Esses olhos cinzentos se conectam com os meus e, caramba, isso é pura luxúria se acumulando na
minha barriga?
Ele está ostentando uma espessa barba, e mesmo esparramado no gasto sofá florido no porão dos
meus pais, ele exala poder e masculinidade de uma forma que eu nunca teria esperado do menininho
magrelo espiando por trás das pernas de sua avó, na varanda da frente, vinte e alguns anos atrás.
Ou talvez seja a camiseta preta justa, com seus bíceps testando os limites do algodão e detalhando
sua barriga trincada. E mesmo sentado, a calça de moletom cinza sugeria um volume mais substancial
do que eu jamais teria dado crédito a ele.
Além disso, o fato de que o pequeno Wyatt cresceu e se alistou à Força Aérea, como uma espécie
de piloto fodão que voa em aeronaves não testadas, requer muita coragem. Isso se você me perguntar
quando estou disposta a admitir algo assim sobre ele.
E, aparentemente, é esta noite.
Você costumava gostar dele, meu subconsciente me lembra, porque está esquecendo qual é o seu
lugar.
Eu diria para calar a boca, e que não procuro caras que não me dão valor, exceto que não foi isso
que fiz nos últimos dois anos da minha vida?
Ele pega a colher, e nossos dedos se tocam. Um arrepio percorre minha pele. Desvio o olhar para
assistir ao filme enquanto seguro o pote para ele pegar uma colher cheia.
George Bailey está discutindo com o Sr. Potter na TV, e posso sentir o calor da pele de Wyatt
penetrando em meu moletom folgado da Ryder Consultoria.
Bufo baixinho para mim mesma.
Claro que ele não estava olhando para os meus peitos. Ele nem consegue ver embaixo dessa coisa.
Você está segurando a bola de forma errada, Ellie.
Mas entrou, não foi?
Sim, mas você poderia ser mais consistente se trabalhasse no seu físico.
Maldito seja ele por entrar furtivamente na minha cabeça. Maldito seja ele por me provocar.
Maldito seja ele por estar certo.
Porque eu trabalhei na porra do meu físico, e Beck, que é três anos mais velho do que eu, parou de
jogar basquete comigo depois que eu ganhei dele em uma competição de lance livre, quando eu tinha
12 anos.
Ele disse que era porque estava trabalhando em outras coisas com os caras, mas eu conhecia o
meu irmão muito bem. Eu sabia que ele parou de jogar comigo porque o venci.
Wyatt ainda aceitava o desafio. Ele me dizia que apenas tive sorte quando ganhava e depois dizia o
que eu fiz de errado quando eu perdia.
E eu trabalhei pra caramba, ficando melhor e melhor, até que ganhei dele todas as vezes. E então
ele também perdeu o interesse.
Pego a colher dele e resmungo baixinho enquanto a enfio mais fundo no pote.
— Você era um idiota quando éramos crianças.
Ele grunhe de volta e pega a colher novamente.
— Você era uma idiota quando éramos crianças.
— Você apenas ficava inseguro por levar uma surra de uma garota na quadra de basquete.
— Você apenas odeia o fato de que não teria sido tão boa sem mim.
Eu pego minha colher de volta e a coloco na boca. Minha colherada extragrande de sorvete faz meu
cérebro congelar, mas foda-se se eu vou deixá-lo me ver machucada.
Não que eu possa esconder. Eu sei que meu rosto está inchado de tanto chorar, antes de vir para cá,
e meus olhos estão daquele tipo especial de vermelho que vem depois de muitas lágrimas.
Posso contar em uma mão quantas vezes conversei com ele sozinha desde que ele, Beck e os caras
se formaram no ensino médio. Ele mudou. Sua voz está mais profunda, se isso é possível. Seu corpo
definitivamente mais duro. Deus, aqueles bíceps e antebraços estão enormes, com veias grossas
aparecendo sobre os músculos, desde os cotovelos até os nós dos dedos. Sua mandíbula quadrada
mais cinzelada, seus olhos como aço, em vez de um simples cinza.
E não é como se ele tivesse perdido a custódia do filho por ser um idiota.
Beck estava tagarelando sobre isso no jantar de Natal, ontem. O cara ficou tão puto. Os militares
deram as ordens, então Lydia se mudou primeiro com Tucker, mas ela odiava a vida militar. Então,
suas ordens foram alteradas no último minuto, e ele acabou na Geórgia. Aí ela pediu o divórcio.
Ele tem brigado contra os militares e os tribunais desde então, para voltar a ficar mais perto de
seu filho. E está numa merda absurda. Se abandonar os militares, eles vão jogá-lo na prisão por se
ausentar do serviço. Ele está ferrado. Muito fodido.
Lá vai George Bailey, saindo do escritório do Sr. Potter, para se embebedar.
Wyatt bebe sua cerveja. Uma bebida festiva, como se isso pudesse tirar a miséria da dor nesta
época do ano. Não sei por que ele está aqui, em vez de aproveitar cada minuto com o filho, mas
também não sei muito sobre o divórcio.
Talvez esta não seja a sua vez de ver o filho. Ou talvez Lydia esteja sendo uma idiota.
Mais uma garrafa está na mesinha ao lado dele, mas apenas uma.
Afogando suas mágoas com um George Bailey despedaçado.
— Sinto muito pelo seu divórcio de merda — eu digo.
Apenas no caso de ele achar que posso estar sentindo uma pontada de simpatia por ele. Isso não
seria bom para nenhum de nós.
Ele abaixa a garrafa e pega a colher novamente.
— Então você está compartilhando porque sente pena de mim.
— Talvez eu esteja compartilhando porque não sou uma idiota.
— Mas eu ainda sou?
Eu suspiro. Não quero ficar sentada aqui com Wyatt Morgan mais do que quero ceder ao desejo de
ir correndo até o condomínio chique de Patrick, no distrito de Warehouse, e implorar a ele para nos
dar outra chance.
Eu deveria ficar noiva neste Natal. Não ser largada.
E não posso dizer se essa dor lancinante em meu peito é meu coração ou meu orgulho.
Ou ambos.
Provavelmente ambos.
Não é como se o sexo tivesse sido bom na outra noite, ele rolou para o lado e checou seu e-mail
logo que acabou, então, logicamente, eu sei que não estou perdendo nada.
Mas meu coração idiota ainda dói.
— A infelicidade ama companhia mais do que se importa de quem seja essa companhia — digo a
Wyatt.
Ele olha para mim enquanto empurra a colher de volta no pote, e em seguida, acena com a mão em
um círculo, gesticulando para mim.
— Esta é você sendo infeliz?
— Eu sei, faço com que pareça algo bom.
— Eu pensei que você era assim o tempo todo.
— Idiota.
Ele sorri, mas é um sorriso sombrio. Como se quisesse que eu o chamasse de idiota, mas isso não o
fez se sentir tão bem quanto esperava.
— Por que diabos você está infeliz?
— Eu quebrei uma unha.
Ele agarra minha mão e a levanta, virando-a para inspecionar minhas unhas perfeitamente aparadas
e recém-cuidadas, e tremores saem do ponto onde seu polegar repousa dentro da minha palma.
É como se ele estivesse me excitando.
Patrick não me excitava há meses. Isso é o que deveria acontecer, certo? Você se acomoda com uma
pessoa e entra em uma rotina, e o sexo se torna rotineiro, em vez de excitante. É normal, certo?
Ou você foi uma idiota que deveria ter terminado com ele há um ano, meu subconsciente sugere
de forma prestativa.
Puxo minha mão de volta, mas ainda estou ridiculamente ciente de Wyatt ao meu lado. A
dificuldade em sua respiração. O aroma sutil de canela e cerveja emanando dele.
A maneira como seu olhar ainda está focado em mim.
— Então você também foi largada — ele reflete.
— Cala. A. Boca.
Isso teria sido mais eficaz se eu tivesse sido capaz de dizer sem derramar sorvete de menta pelo
meu queixo e sem a minha voz vacilar.
Ele estende a mão e limpa a gota do meu queixo, e eu percebo que ele está se inclinando para mim.
Meu coração está batendo forte. Meus seios estão ficando cheios e pesados. Minha boca está
ficando seca, mesmo com o sorvete ainda na minha língua, e quase engasgo quando engulo.
— Um Feliz Natal foda para nós — ele diz. Seu nariz está a centímetros do meu, e suas pálpebras
estão baixando sobre os olhos escurecidos.
— Não há foda nenhuma acontecendo — eu aponto, minha respiração ficando mais rasa enquanto
eu olho para baixo de seu nariz apenas um pouco torto, até seus lábios estupidamente perfeitos.
— Não há, não é? — Ele medita enquanto seu olhar se dirige aos meus lábios também. — Só
estamos sendo fodidos.
Cada vez que ele diz foda, recebo uma injeção de calor entre as pernas.
— Você está no meu espaço — eu sussurro.
— Talvez eu esteja tentando irritá-la para me sentir melhor.
— Talvez, se você quisesse me irritar, deveria tirar a roupa.
Puta merda, eu acabei de dizer isso.
Ele segura meu olhar por meio segundo, e então sua camisa voa. Ele encosta no sofá, ainda
inclinado no meu espaço, mas agora com centímetros e centímetros de peitoral duro, estômago
esculpido, quadris estreitos e aquela trilha perfeita de pelo desaparecendo sob sua calça de moletom.
— Agora, o que você vai fazer para me irritar? — Ele pergunta.
Eu deveria despejar este pote de sorvete na cabeça dele.
Mas eu quero fazer outra coisa.
Algo errado.
Mas certo? Talvez?
Foda-se.
Pensar é o que me trouxe problemas com Patrick. Achei que ele era o que eu queria. Eu pensei
que eu o amava, porque eu pensei que deveria. Pensei que ele seria um bom parceiro. Eu pensei que
queríamos as mesmas coisas na vida.
Eu pensei que Wyatt fosse irritante.
Mas meu corpo não está pensando.
Meu corpo só deseja.
Jogo o sorvete na mesinha torta que meu irmão quebrou, anos atrás, e, em seguida, tiro o moletom e
a camiseta manchada da faculdade que estava por baixo.
— Irritado ainda? — Ronrono.
Oh, merda, estou ronronando.
Seu olhar vai para o meu peito, e sua calça de moletom forma uma tenda.
Puta merda.
Wyatt Morgan tem uma barraca armada na calça, e fazendo meu clitóris formigar.
Isso não me acontecia só de olhar para um homem há meses.
— Sim — ele diz, sua voz grossa e baixa. — Sim, estou chateado pra caralho.
Levanto-me e tiro as calças, porque isso é uma má ideia, mas todas as boas ideias que já tive não
me deram o que eu queria na vida, não é?
— Cristo, Ellie — ele murmura.
— Você só gostaria de estar tão em forma assim — digo a ele, mas também não consigo manter
minha voz firme.
Eu culpo o sorvete pelo formigamento inebriante em meus dedos das mãos e dos pés, mas meu
sangue não contém nada mais do que açúcar.
Eu deixo Wyatt tomar seu tempo olhando para mim, porque eu sei que pareço bem. Eu vou para a
academia quatro manhãs por semana. Corro maratonas. E ainda tenho curvas. Não corro sem um sutiã
esportivo resistente e minha bunda poderia esmagar uma supermodelo, mas não vou me desculpar por
ter a forma de uma mulher.
Eu sou mulher. Uma mulher forte, poderosa e única que merece exatamente o que vejo nos olhos
cinzentos de Wyatt: puro desejo.
Se ele nunca notou meu corpo antes, está notando agora.
— Você precisa colocar suas roupas de volta — diz ele, mas seus olhos não estão em acordo com
suas palavras.
Seus olhos estão se oferecendo para usar meu corpo e fazer o cérebro esquecer que o coração está
sofrendo.
— Ou o quê? — Pergunto.
Ele visivelmente engole em seco, mas não responde.
E também não desvia o olhar.
Eu deslizo uma alça do sutiã pelo ombro, deixando-a cair na curva do meu cotovelo. Não a tiro,
mas também não a endireito.
— Ellie — ele avisa, sua mão indo para a calça, sobre seu pau, como se ele não pudesse decidir se
quer pressioná-lo a parar com isso, ou se ele quer se masturbar enquanto observa eu me despir.
— Você está sofrendo — eu digo, deslizando a alça do meu outro sutiã também até a metade do
braço. Ainda estou coberta por meu simples sutiã de cetim, mas estende os braços para trás de mim
como se fosse abrir, e ambos sabemos que ele vai ver meus seios se eu fizer isso. — Eu estou
sofrendo. Não quero sofrer. Você quer?
— Não — ele murmura.
— Você não quer apenas dizer foda-se e se sentir bem por alguns minutos?
— Sim.
Desligo todos os sinais de alerta dentro da minha cabeça, porque não são todos: não foda com o
melhor amigo do seu irmão. Alguns deles são: você sabe quanto tempo demorou para esquecê-lo
da última vez que teve uma queda por ele. E alguns: ele está indisponível, idiota, e você
também. Você sabe que não pode fazer isso sem que os sentimentos se envolvam.
Não posso?
— Você provavelmente é uma péssima trepada — digo, enquanto deixo cair meu sutiã.
Ele se levanta, e sua calça cai no chão.
Assim como seus boxers.
Eu observo seu pau balançando e se esticando, e tenho que me impedir fisicamente de alcançá-lo.
Ele é comprido. Grosso. Com uma cabeça redonda e pelos escuros emoldurando suas bolas, tão
diferente do loiro de Patrick.
— Você provavelmente fica parada lá, como um macarrão mole e frio — diz ele.
— Prove.
De repente, ele está esmagando a boca contra a minha, e tem gosto de canela, cerveja e verão. Sua
pele está quente contra a minha, sua língua implacável, seu pau duro contra minha barriga enquanto
suas mãos percorrem as laterais do meu corpo para provocar a parte inferior dos meus seios.
Eu gemo em sua boca. Ele geme em resposta. Nossas línguas se chocam, uma extensão inevitável
da guerra que sempre travamos desde antes de termos idade suficiente para entendê-la. Eu raspo suas
costas com minhas unhas. Ele aperta meus seios. Eu empurro seus ombros até que ele esteja de
joelhos, seguindo-o até o chão.
Isso é uma loucura.
Eu deveria parar.
— Preservativo — ele falou precipitadamente. — Carteira.
Eu a pego da mesa.
— Apresse-se antes que eu mude de ideia.
Ele fica imóvel. Como se estivesse mudando de ideia.
Então eu agarro seu pau antes que ele possa me dizer não.
Eu não quero pensar.
Eu só quero sentir.
E agora, minha pele está pegando fogo, minha vagina está latejando e meus seios estão pesados,
desesperados por atenção.
— Porra, Ellie — ele geme, sua cabeça caindo para trás enquanto ele se atrapalha com a
camisinha.
Assim que ele a tira da carteira, eu pego e a abro.
— Toque meus seios — eu ordeno.
— Cristo, tão macio — ele murmura enquanto testa o peso dos meus seios e provoca meus
mamilos.
Cada carícia de seu polegar sobre o mamilo envia uma onda de desejo direto para o meu
íntimo. Ele se alterna. Um mamilo. Depois o outro. Como se meu corpo fosse um instrumento e ele
trouxesse novas notas de excitação à superfície.
— Tão duro — murmuro, enquanto rolo o preservativo em seu comprimento.
Eu seguro suas bolas, e a próxima coisa que sei, é que ele me rolou de costas, sua boca na minha
novamente. Nós nos atrapalhamos para arrancar minha calcinha. Eu separo minhas pernas e arqueio
para ele, e ele empurra em mim.
É novo. E estranho.
Mas não indesejável.
Ele me preenche, deslizando facilmente em meu calor encharcado, enquanto estica minhas paredes
internas, e eu inclino meus quadris para tomá-lo o mais fundo que posso.
— Você me deixa louco — ele murmura enquanto bombeia em mim.
Eu não respondo, porque, oh, porra.
— Aí. Ali. — Ergo meus quadris, a tensão crescendo alto e forte, bem naquela parte mais profunda
de mim que ele pressiona toda vez que empurra.
— Não feche os olhos — ele ordena.
Contra minha vontade, eu os abro.
Ele está observando meu rosto enquanto impulsiona, mais rápido e mais profundo, me observando
ofegar de prazer enquanto me preenche ao máximo e se afasta apenas tempo suficiente para tornar
muito melhor, quando acaricia dentro de mim com o próximo impulso.
Há quanto tempo eu odeio Wyatt Morgan?
E há quanto tempo estou apenas com medo?
Eu te disse, meu subconsciente sussurra, mas ele atinge aquele ponto doce bem fundo dentro de
mim novamente, e eu gozo, completamente desfeita. Meu orgasmo ruge para fora de mim, apertando,
pulsando e espasmando em torno de seu pau duro, um grito silencioso em meus lábios enquanto ele
geme e se contém, segurando-se dentro de mim enquanto range os dentes, os olhos ainda grudados
nos meus, raiva fervendo, dor fervendo, liberação fervendo.
Nós dois formamos um par perfeito.
E não é um pensamento tão assustador quanto deveria ser.
Estou ofegante, minha respiração alta em meus próprios ouvidos, quando, de repente, ele congela.
— Oh, merda — ele sussurra. Ele fica de joelhos, puxando o pau para fora de mim e se cobrindo
tão rápido que minha vagina quase estala. — Porra. Ellie. — Ele balança a cabeça, olhando em
pânico ao redor da sala. — Não deveríamos ter feito isso.
As palavras demoram um minuto para serem absorvidas.
E ele aproveita meu silêncio perplexo para voltar a vestir suas roupas.
— Porra. Desculpe. Eu...
— Calado. — Eu procuro as minhas próprias roupas. Lágrimas inundarão e vazarão pelos meus
olhos em aproximadamente dois segundos, se eu não me controlar. — Apenas cale a boca.
Eu me levanto para pegar minhas roupas também.
— Ellie...
— Cale-se.
Essa simpatia. Esse arrependimento. Esse isso foi um erro. Está tudo nas duas sílabas do meu nome
em seus lábios.
Porra. Foda-se.
Ele se move em minha direção, mas empurro seu peito até que ele recua.
Ele está certo, é claro.
É Wyatt.
Ele está sempre certo. Se isso foi um erro, se eu sou um erro para ele, então sim, claramente sou
um erro.
Um erro pensar que trepar com o melhor amigo de seu irmão era a solução para uma desilusão.
Eu não olho para ele enquanto corro para a porta.
— Ellie — ele chama, em um sussurro abafado, mas o ignoro.
Já fui o erro de alguém recentemente.
E enquanto eu me lanço na noite fria de inverno e me jogo no carro, prometo para mim mesma que
nunca mais serei o erro de alguém novamente.
— Nunca mais — eu sussurro enquanto ligo o meu carro.
— Nunca mais — sussurro enquanto acelero pela rua dos meus pais.
— Nunca mais — estou sussurrando em meio às lágrimas, cinco minutos depois, na I-256.
Eu vejo o movimento na pista ao lado um segundo tarde demais.
Há um clarão, faíscas, um estalo, um solavanco.
Giro.
Trituração.
Vidro estilhaçando.
Chiado de metal.
Dor.
Dor quente e cegante.
Nunca mais.
É meu último pensamento, antes de tudo ficar preto.
02

Seis meses depois…


Wyatt Morgan, também conhecido como pai solteiro militar, não sabe que um pedaço não
resolvido de seu passado está escondido na banheira.
A casa está muito quieta. Provavelmente porque Tucker parou de falar assim que viu as meias e o
sutiã pendurados no lustre do hall de entrada.
Eu me dou um tapinha mental nas costas. Muito bem, pai. Apresente as festas quando ele é tão
jovem.
Se Beck Ryder não fosse a coisa mais próxima que eu tenho de um irmão, e se apenas estar aqui já
não trouxesse de volta a mesma culpa que tem estado comigo nos últimos seis meses, eu estaria
planejando colocar gelo nas cuecas que ele usa para modelar.
Em vez disso, dou uma olhada superficial na sala de estar e sufoco um suspiro enquanto chuto meus
sapatos no tapete da entrada e cutuco Tucker para fazer o mesmo. Livros, revistas, brinquedos
robóticos, canecas e copos vazios estão espalhados por todas as superfícies planas da espaçosa sala
de estar, desde as mesas de centro até o amplo piso de madeira. A bagunça destrói o efeito das altas
janelas com vista para os abetos e carvalhos que descem pela encosta da montanha até o vale, na
pequena cidade de Shipwreck, Virgínia.
Um cheiro sutil de madeira queimando paira no ar, e a enorme lareira de pedra, que separa a sala
de estar da sala de jantar, precisa ser limpa. A cozinha está um desastre, com pratos, xícaras, tigelas,
potes e panelas sujas espalhados por toda parte.
Use minha casa no fim de semana, disse Beck. Alguém deveria usar.
Vá limpar minha casa no fim de semana, ele quis dizer.
Ele precisa ter mais cuidado com quem deixa ficar aqui quando está fora.
Uma foto de família me chama a atenção, e faço o possível para não estremecer.
A culpa ainda está lá. A culpa e a mentira.
Eu a irritei.
Foi tudo o que contei a Beck sobre o que aconteceu antes do acidente de Ellie.
Claro que sim, Levi disse, porque ele também estava presente no hospital quando eu apareci para
ver como ela estava, assim que recebi a mensagem de Beck no dia seguinte. Nunca fiquei tão feliz
por ter um mediador, e me senti menos como se merecesse um, e depois do que passei na minha
infância antes de minha mãe finalmente nos mudar para Copper Valley, isso queria dizer algo. Levi
não sorriu quando acrescentou: irritar Ellie é o que você faz.
Porra, cara, você tem seus próprios problemas, Beck me disse. Não carregue mais essa culpa.
E assim, fui perdoado.
Por eles, de qualquer maneira.
Mas não por ela.
E não por mim.
Ficou mais fácil com o tempo, voltar ao ritmo das mensagens em grupo com todos os caras do
bairro, mas estar aqui, na segunda – terceira, quarta? – casa de Beck, cercada por lembretes de sua
irmã, me deixa mais tenso do que estava, meses atrás.
Vir aqui foi uma má ideia.
Mas não estou aqui por minha causa.
Não inteiramente.
Eu aperto o ombro de Tucker. Seu olhar se desviou do lustre para o recorte de papelão em tamanho
natural de Beck, de pé, vestindo apenas cuecas.
O bronzeado forçado naquela coisa seria hilário, se meu filho não estivesse boquiaberto com o
tanquinho de Beck. Viro a coisa e aceno com a cabeça em direção ao corredor, além da cozinha.
— Vamos, cara. Vamos encontrar os quartos.
Ele meio que acena de volta. Eu o guio pela cozinha e pelo corredor em direção aos dois quartos
deste andar. Sua mala vai para o quarto de hóspedes, e estou prestes a jogar minha mochila dentro do
principal, mas os lençóis amarrotados na cama king-size de dossel, o copo d’água na mesa de
cabeceira, a mala aberta ao lado da lareira de pedra cheia de - papagaios? - e o perfume de flores
fazendo cócegas em meu nariz me fazem parar.
Mas é a luz suave, piscando na porta do banheiro, que faz os cabelos da minha nuca se arrepiarem.
Eu ergo a mão para impedir que Tucker se aproxime.
— Fique aqui — murmuro, meu pulso de repente martelando.
Desde o Natal, tem sido apenas eu. Sozinho. Exceto um fim de semana por mês em que voo para
Copper Valley, para visitar meu filho.
Verificar um intruso? Durante vinte e oito dias por mês, eu posso lidar com isso.
Mas logo no primeiro dia que recebo Tucker para o verão? Quando não é apenas o meu pescoço
que está em jogo?
Não é assim que a nossa semana de férias deveria ser.
Tiro meu celular do bolso e ando suavemente para a porta do banheiro, uma mão levantada para
lembrar a Tucker para ficar parado e quieto.
Ele tem apenas sete anos. Isso não vai acabar bem.
Mas assim que decido que dar o fora daqui e ligar para a polícia é provavelmente uma ideia
melhor, vejo o que está escondido no banheiro.
Uma mulher.
Sozinha.
Na banheira.
Seu cabelo escuro está preso em um rabo de cavalo curto no topo da cabeça. O som fraco da
música country sai de seus fones de ouvido. Velas alinham-se na prateleira da banheira e na
plataforma em que ela está, causando um brilho bruxuleante. As bolhas de espuma estão tão altas que
não consigo ver seu rosto.
Meu coração dá um aperto e se enche de culpa, mas eu o mando parar com isso.
Beck permite que qualquer pessoa que peça use esta casa.
Não é a Ellie.
Seu cabelo está muito curto e muito escuro. Ellie sempre teve mechas loiras.
Coloco meus pés no frio piso de ladrilhos, e estou prestes a limpar a garganta para chamar a
atenção dela, quando Tucker exclama:
— Um banho de espuma!
A mulher grita, se endireita e gira, grandes olhos azuis conectando-se aos meus por uma fração de
segundo antes de desaparecer.
Em um segundo, ela está boquiaberta e com os olhos arregalados, como se estivesse tão chocada
em nos ver quanto estamos em vê-la, e, no próximo, há respingos de água que fazem meu coração
entrar em pânico, porque, porra, essa é a Ellie.
Bolhas de espuma disparam pelo ar quando ela se afunda na água. Seu braço se agita, então o outro,
agitando-se descontroladamente, como se ela estivesse tentando encontrar apoio para se levantar. Eu
corro pelo ladrilho liso para agarrá-la na banheira profunda. Minha mão se conecta com a carne
úmida e macia e, de repente, estou levando um punho no peito quando ela emerge da água.
— Afaste-se, idiota. Eu vou te cortar, porra!
Porra, aquela voz.
Essa frase está saindo de um rosto coberto de bolhas desde o topo da cabeça, da espuma que gruda
em seus cílios até o formato de uma barba comprida, mas eu conheço essa voz, e meu coração bate
forte em algum lugar na minha garganta.
— Ellie. Você está...
Os olhos com bolhas piscam.
— Wyatt?
O grito é amplificado pelas superfícies do banheiro, fazendo um eco na janela de vidro sobre a
banheira, o espelho e no chão.
Ela arqueja, olha para baixo e joga os braços sobre o peito coberto de bolhas, e se abaixa de volta,
mas então ela grita e desaparece sob a água novamente, os braços se agitando novamente, e o
que diabos ela colocou ali que está deixando a banheira tão escorregadia?
Eu me curvo para alcançar a banheira, agarro seu braço e o puxo, mas assim que ela volta à
superfície, seus olhos se estreitam.
— Solte. Vá — ela grita por baixo das bolhas que cobrem todo o seu rosto.
— Para você se afogar? — Cristo, ela quase morreu da última vez que a vi. Não vou deixá-la se
afogar.
Não importa o quanto ela me irrite pra caralho.
Ou como...
Não.
Não pense em Ellie de qualquer outra forma que não seja muito irritante e viva.
Ainda assim, estamos tão perto que posso contar as manchas escuras em suas íris azuis e a nova
lista de razões pelas quais ela tem para me odiar.
E eu sei que ela está nua sob essas bolhas.
Porra, porra, porra. Pense no seu filho. Lembre-se de Beck. Pense em Beck de cuecas...
Suas pálpebras abrem e fecham, e raiva – não interesse – surgem delas.
— Eu não vou...
Suas palavras são cortadas enquanto ela escorrega e se debate novamente. Ela não afunda, porque
agarra a minha camisa.
E puxa.
Forte.
Escorrego no chão embaixo de mim e, de repente, estou caindo de cara nas bolhas. O calor úmido
atinge meu rosto e penetra na minha camiseta. Eu me engasgo com uma golfada de água com sabão e
saio cuspindo.
Provavelmente mereço isso. E mais.
— O que diabos foi isso? — Cuspo e tusso enquanto me afasto da banheira, porque embora eu
possa admitir para mim mesmo que mereço isso, não estou pronto para admitir para ela.
E ainda estou chateado com ela, por me ignorar de forma tão eficaz nos últimos seis meses.
Ela se encolhe em um canto, segurando firmemente a torneira.
— Saia.
— Pai, você está com bolhas na cabeça — ri Tucker. — Posso ter bolhas também? Posso tirar uma
foto sua?
A força do olhar de Ellie é tão quente, que estou surpreso que as bolhas não derretam.
— Vá. Saia — ela repete.
Eu limpo a água do meu rosto e ignoro a ardência em meus olhos.
— Com prazer. De nada por tentar ajudar.
Ela me mostra o dedo do meio.
Não é a primeira vez.
Não será a última.
Ellie Ryder e eu?
Nos misturamos tão bem quanto água e lava.
E não quero falar sobre como é bom para caralho finalmente confirmar para mim mesmo que ela
ainda está inteira.
Que ela ainda está respirando.
E que ela ainda me odeia.
Ainda mais, se isso fosse possível.
Odeio que ela me odeie, mas também preciso que ela me odeie.
Porra, somos complicados.
— Posso tomar um banho de espuma? — Tucker quer saber enquanto eu o puxo para fora do quarto,
pegando minha mochila e, em seguida, sua mala do quarto de hóspedes também. A água escorre da
minha camisa e pinga no corredor enquanto nos dirigimos para as escadas.
Foda-se o Beck.
Ele sabia.
Ele sabia que ela estaria aqui.
Cara, sério, tire o pau da sua bunda, engula o orgulho e use minha casa em Shipwreck. Tucker
vai adorar o festival dos piratas, e você não vai conseguir uma cama mais confortável. Ou uma
chance melhor de ensiná-lo a jogar Pac-Man. Ou férias mais baratas. Quanto você está pagando
de pensão alimentícia? Porra.
— Isso foi engraçado, pai. Você estava tomando banho de espuma com uma garota. Mamãe diz que
estou muito velho para tomar banho com qualquer pessoa, mas você é muito mais velho do que eu e
estava fazendo isso. Podemos tomar banho de espuma juntos? Não vou contar para a
mamãe. Prometo.
Meu coração dispara de novo, mas desta vez, é por um motivo totalmente diferente.
O que será que ele promete à mãe que não vai me contar?
Ele já cresceu um centímetro e meio desde que o vi por dois curtos dias, no mês passado.
O que mais estou perdendo?
Esqueça Ellie.
Beck não estava mentindo sobre o quão bem ela está se curando. Ela vai ficar bem e pode me odiar
o quanto quiser.
Tucker é a única pessoa em que preciso me concentrar na próxima semana, enquanto estou de
licença. Durante cada minuto livre pelo resto do verão, até que eu tenha que levá-lo de volta para a
sua mãe.
— Sim, amigo. Vamos ver se há uma grande banheira lá em cima.
Espero que Ellie vá embora pela manhã. Mas, mesmo se ela não fizer isso, podemos evitá-la. A
casa é grande e temos muito o que fazer em Shipwreck.
Ela pode ter invadido esta casa, mas não vai interferir nas minhas férias com meu filho.
A menos que ela precise de mim.
Não que ela jamais admitisse.
E não que eu queira admitir.
Esfrego a mão no rosto enquanto entramos no primeiro quarto do segundo andar. A cama queen size
é decorada com um edredom que mostra Beck de cueca, e as fronhas são impressas com fotos
correspondentes dele piscando.
Filho da puta louco.
— Papai? Por que a foto do seu amigo está em todo lugar? E por que ele está nu? — Tucker
pergunta.
Esta vai ser uma longa semana.
03

Meu bloco de desenho.


Deixei meu bloco de desenho na sala de estar.
Exatamente para onde Wyatt Morgan está indo com seu filho.
Puxo meu telefone pingando da água – maravilha – e me coloco na beirada da banheira, sufocando
um gemido com a dor que irradia do meu quadril esquerdo até o joelho. As cicatrizes não estão mais
vermelhas e gritantes, mas ainda são feias e retorcidas, e eu ainda não consigo me mover tão rápido
quanto antes.
Principalmente depois de escorregar na banheira três vezes. Então a resposta seria sim, ainda
preciso daquele tapete antiderrapante idiota.
Droga.
Depois de limpar o pior das bolhas do rosto, faço o possível para não mancar pelas toalhas que
jogo no chão para evitar que escorregue no piso de ladrilho liso. O ar está frio agora, mas meu
roupão está quente, graças ao aquecedor de toalhas de Beck.
Assim que coloco meus chinelos – chinelos simples de vovó com palmilhas antiderrapantes, claro
– e meu telefone no bolso do robe, cuidadosamente abro a porta do quarto com um rangido.
Há vozes, mas soam como se estivessem vindo de cima.
Demoro mais do que deveria para chegar à cozinha, pegar uma caixa de arroz instantâneo – não,
meu irmão aparentemente não guarda arroz branco aqui – e secar meu telefone da melhor maneira
que posso.
E então vou em busca do meu bloco de desenho.
Não está na mesa de canto de vidro, em nenhuma das pilhas de revistas, ou enfiado na manta de
crochê marfim do sofá de couro marrom. Nem está entre as almofadas do sofá ou escondido nas
poltronas reclináveis. Nem nos jornais ou na correspondência velha na mesa de centro, ou na lareira.
Eu olho para a pilha de revistas novamente, minha pressão arterial começando a subir.
Ninguém pode ver meu bloco de desenhos.
Especialmente qualquer pessoa com menos de dezoito anos.
Ou possivelmente trinta.
Ou com um pênis.
Ou que se aproxima de mim quando estou na banheira.
Meu irmão levará uma bronca assim que meu telefone secar.
Eu estava rabiscando aqui esta tarde, depois de descarregar meu carro. Eu provavelmente deveria
ter aceitado a ajuda da Monica, mas é a semana do casamento dela, e eu sou sua dama de honra,
droga, e não a amiga que precisa de babá. Sentei-me naquela poltrona reclinável, girei-a para ficar
de frente para a paisagem e desenhei...
Não importa o que desenhei.
O que quero dizer é que me lembro claramente de ter colocado meu bloco de desenhos bem ali na
mesa.
E sumiu.
Nada mais desapareceu.
Apenas meu bloco de desenho.
Um som de riso vindo de cima me faz olhar para a escada. Eu poderia perguntar a Wyatt onde ele o
colocou.
Ou ser educada e perguntar se ele o viu. Os tons de sua voz também soam de cima. Baixo, profundo
e cuidadosamente articulado, porque Wyatt é assim.
Sempre calmo.
Sempre no controle.
Sempre malditamente certo.
Mesmo sobre erros. Oh, merda, Ellie, não deveríamos ter feito isso.
Eu balanço minha cabeça, porque as duas coisas que eu absolutamente não vou pensar são no corpo
quente, suado e nu de Wyatt no meu, e o som de metal e vidro sendo esmagados a cem quilômetros
por hora no escuro total.
Porra.
Foda-se.
Agora estou pensando nisso.
Naquela escuridão. E no frio. E na dor.
O frio começa no meu fêmur esquerdo, espalha um arrepio pela minha bexiga e sobe para aquele
ponto logo abaixo da parte inferior do meu esterno. O cheiro de sangue inunda meu nariz. Minha
visão se estreita, minha pele fica pegajosa e sinto uma coceira entre as omoplatas enquanto meus
pulmões encolhem para o tamanho de uma noz.
Estou me afogando.
Estou me afogando em metal quente, vidro afiado e flocos de neve.
Isso não é real.
Estou segura.
Isso não é real.
Eu agarro a borda da poltrona de couro e me concentro em uma única folha verde tremulando em
um carvalho no jardim da frente.
Brisa fresca de verão. Sol quente de verão.
Estou segura.
Estou segura.
Estou segura.
Meus dedos formigam e minhas pernas vacilam, mas agora posso ver além da árvore. Meus
pulmões se expandem um pouco mais, e a agitação em meus ouvidos desaparece tão rapidamente
quanto chegou.
Estou bem.
Estou bem.
Minha pele arrepia quando o último resquício do meu ataque de pânico diminui – já se passaram
dois meses desde o último, eles já deveriam ter parado de acontecer – e um movimento refletido no
vidro me deixa mais tensa.
— Vá. Embora — eu digo.
Wyatt está na parte inferior da escada. Eu não o ouvi chegando.
Mas ouvi o Wyatt de seis meses atrás.
Porra, Ellie… não deveríamos ter feito isso.
Cometemos um erro.
Você é um erro.
Eu aperto os olhos, porque ele não disse isso.
Ele não disse nada além de que não deveríamos ter feito isso.
Mas por que não deveríamos?
Não demorou muito para preencher os espaços em branco.
Eu fui um erro.
Primeiro Patrick – ficar juntos por tanto tempo foi um erro. Se eu amasse você, não estaria
apaixonado por outra pessoa – e então Wyatt. Porra, Ellie, isso foi um erro.
— Você está bem? — ele pergunta, e sua voz provoca outra rodada de calafrios.
Mas este não é o mesmo calafrio de pânico ainda fazendo minhas coxas e joelhos tremerem, e
enviando aquela dor mais profunda para o meu fêmur esquerdo.
Não, este é um calafrio de tristeza.
— Só um pouco nua — respondo, porque estou nua sob o roupão e, aparentemente, estou me
sentindo uma idiota.
Eu vejo seu reflexo sutil na janela enquanto sua cabeça vira para o lado, como se ele não quisesse
me olhar nua.
Quem está desconfortável agora?
— Beck não mencionou que você estaria aqui — diz ele, olhando para o lado — Eu não quis te
assustar na banheira. Eu pensei... eu pensei que uma das peguetes dele estivesse na casa.
Estou totalmente ciente de que Beck não me mencionou para Wyatt, porque ele não o mencionou
para mim também. Amo meu irmão, mas ele é um imbecil na melhor das hipóteses e muito
engraçadinho na pior.
— Isso faz sentido.
Ai. Isso foi digno e indiferente, sem ser uma idiota total.
— Tucker nunca foi ao Festival Pirata — acrescenta.
Eu olho além das árvores, para Shipwreck, aninhada entre mais árvores no vale abaixo.
Estamos a 650 quilômetros no interior, nas montanhas Blue Ridge, no sul da Virgínia, a uma hora da
metrópole em expansão de Copper Valley, com vista para uma cidade pirata chamada Shipwreck,
assim chamada por causa da lenda de Thorny Rock.
Thorny Rock, o pirata. Não a montanha Thorny Rock que leva seu nome e sobre a qual esta casa
fora construída. O que é uma distinção crucial, uma vez que as montanhas não podem contrabandear
tesouros piratas em carroças, nem podiam no século XVIII, quando Thorny Rock fundou Shipwreck e
supostamente enterrou todo o seu ouro aqui para escondê-lo das autoridades que estavam em seu
encalço.
— Tenho certeza de que será maravilhoso para vocês — digo a Wyatt enquanto aperto o laço do
roupão.
Eu amo o Festival Pirata.
Venero, até.
Mas não estou aqui pelos piratas, esta semana. Ou para ajudar a desenterrar a praça da cidade – de
novo – em busca do tesouro de Thorny Rock. Ou mesmo para caçar a perna de pau escondida em
algum lugar pela cidade.
Não por mim, quero dizer. Estou aqui para ser dama de honra, enquanto meu ex-namorado faz o
papel de padrinho no casamento pirata da minha melhor amiga, já que ela vai se casar com o irmão
dele.
Tudo isso enquanto Wyatt irá cavar um tesouro e caçar a perna de pau e beber todas no Bar do
Rum.
Ou talvez não a parte da bebida. Não quando está aqui com o filho.
Isso seria um erro. E Wyatt Morgan não comete erros.
Não duas vezes, pelo menos.
Um silêncio desconfortável se instala entre nós. Eu quero me contorcer, mas não vou dar a ele a
satisfação de saber que está me afetando.
— Parecia que você precisava de ajuda — diz ele. — Na banheira.
Eu mordo minha língua, porque meus anos de pré-adolescência foram basicamente eu dizendo a
Wyatt “direi a você quando precisar de ajuda, agora recue”, seguido por minha adolescência,
quando ele descobriu a academia, ficou gostoso e finalmente me deixou em paz enquanto fazia tudo
com Lydia.
Linda, perfeita, indefesa-sem-Wyatt, Lydia.
O que não é da minha conta.
Embora eu prefira pensar em Lydia do que na última vez que vi Wyatt.
— Obrigada por tentar —digo educadamente, porque isso deixaria minha mãe orgulhosa, e minha
mãe acha que Wyatt pendurou a porra da lua. Não quero discutir com ele agora. Tenho que
economizar minha energia para esta noite. E para amanhã. Também para o dia seguinte. Até sexta-
feira, quando Monica e Jason se casarão no maior casamento pirata já visto em Shipwreck.
— Você vai... ficar por um tempo aqui? — ele pergunta.
— A semana toda. — Estudo os móveis novamente, procurando a capa brilhante do meu bloco de
desenhos, mas sem sorte.
Ele limpa a garganta como se tivesse comido pimenta estragada.
— Mas não ficarei muito em casa — acrescento — então…
— Sim. Nós também.
Wyatt e Ellie, sentados sob uma árvore... Aff!
— Ótimo. Na verdade, estou saindo em...
Merda.
Meu celular. Estou sem celular.
Eu sei dirigir. Voltei a dirigir há dois meses. Em um novo carro híbrido, com mais airbags do que
uma convenção de gaita de foles e sensores em todos os lugares, porque além de me recusar a dirigir
algo que gaste muita gasolina, eu não tive coragem de discutir quando Beck decidiu que era seu
trabalho garantir que eu tivesse todos os recursos de segurança já inventados, incluindo a cor do
carro com menos probabilidade de se envolver em um acidente.
Exceto um recurso que nenhum de nós pensou que eu precisaria – suporte interno para telefone via
satélite.
Sempre estarei com o meu telefone, que tem um assistente de voz, e isso é bom o suficiente, todos
concordamos.
Não dirijo sem meu telefone.
E não posso ligar para Monica – ou para Grady, que vai ser meu par no casamento – porque estou
sem celular.
Porra. Droga.
Se eu não aparecer para o jantar de ensaio esta noite, ela vai mandar alguém aqui para me
encontrar. Porque isso é exatamente o que eu faria se ela fosse minha dama de honra e não aparecesse
para um evento na programação do casamento. Principalmente se eu soubesse que ela ainda estava
um pouco nervosa ao dirigir e que tinha que descer uma serra para chegar lá. E, também, se ela
precisasse desesperadamente manter distância de um certo membro do casamento e, portanto, não
estava fazendo a coisa mais fácil que era passar a semana na pousada.
Eu não disse a ela que Grady seria meu acompanhante, apenas que estava levando um
acompanhante, então ela não saberia onde obter informações.
E a única pessoa no casamento, além de Monica, que conhece as estradas até a montanha, é Patrick.
Vacilo ao pensar em seu nome, porque enquanto Wyatt estava feliz em me dizer que não
deveríamos ter feito isso, pelo menos ele não proclamou primeiro me amar com todo o coração.
E, pelo menos, ele não trouxe sua nova namorada inteligente, magra e bonita para passar a semana.
Isso seria ainda melhor.
Olha, Ellie, todos, menos você, são dignos de amor. Você nem mesmo conseguiu um encontro
falso sem ter que convidar quatro caras primeiro.
Eu preciso sair desta montanha.
E ir para aquele jantar.
Viro-me para ir para a cozinha – de repente, Beck tem um telefone reserva por aqui, não porque ele
pensa em coisas como telefones reserva, mas porque é imprevisível, e quando você pensa que é
completamente irresponsável, ele puxa um celular reserva do chapéu – e, por um momento, esqueço
que meu quadril não gosta de se mover tão rápido.
Meu joelho dobra, mas me seguro na mesa antes de cair.
Wyatt está cruzando a sala antes que eu possa pensar em ai, mas eu levanto a mão.
— Meu pé adormeceu — minto.
Aqueles olhos cinza me perfuram, e seus lábios carnudos se comprimem. Entre o corte de cabelo
militar, o queixo quadrado, os ombros largos e aquele olhar penetrante, sinto que devo oferecer
minha desistência e pagar vinte flexões.
E não, não quero falar sobre o que essa combinação está fazendo à minha libido. Meu corpo não
tem direito a voto nessa parada.
Da última vez, não terminou muito bem.
E não estou falando sobre o acidente.
Eu me endireito e caminho mais devagar para a cozinha.
Se ele percebe que estou mancando, não comenta nada.
Se ele percebe a mensagem de vá embora que estou tentando enviar telepaticamente, também não
comenta.
E não vai embora.
— Do que você precisa? — ele pergunta, e sinto outro arrepio, como se ele não estivesse
perguntando o que estou procurando na gaveta, mas o que minha alma precisa.
Faço um gesto com a cabeça em direção à ilha, onde meu telefone está em um saco de arroz.
— Ah. Você tirou o chip?
— Sim, Wyatt, eu sou inteligente o suficiente para saber como tirar o chip.
— Certo. Claro que sim — ele murmura. — Você precisa ligar para alguém?
Eu imediatamente me sinto uma idiota, porque não somos mais crianças brigando pelo jeito certo
de fazer um lance livre ou chutar uma bola de futebol, e não somos mais quem éramos seis meses
atrás, quando ele estava em casa, no Natal. E Patrick tinha acabado de me dar o fora e ele tinha
acabado de receber a sentença horrível do processo de divórcio, e nós dois estávamos infelizes o
suficiente para pensar que poderíamos nos afogar em sexo sem sentido, entre duas pessoas que se
odiavam.
Muita coisa mudou desde então.
Principalmente eu.
— Vou encontrar amigos na cidade. — Afasto um espremedor, um cortador de unhas, um conjunto
de cartões com a foto de Beck, preservativos, pacotes de molho de taco, entre outras coisas, mas não
encontro telefones sobressalentes.
Beck muda de número de vez em quando e, do jeito que ele é, tenho quase certeza de que se
esquece de cancelar suas contas antigas, mas se ele tem celulares sobressalentes ativos, não estão
nesta gaveta.
Eu deveria manter um telefone reserva aqui.
— Você perdeu suas chaves? — Wyatt diz.
— Eu preciso de um telefone.
Há uma pausa e, em seguida, um pesado “Oh.”
E agora há também uma gigantesca girafa de culpa parada na cozinha, invadindo o meu espaço.
— Não que isso importe, porque eu não sei a porra do número de ninguém —murmuro quando
percebo meu outro problema.
— Quer uma carona? — Ele pergunta. — Tucker quer ver o desfile.
Abro a boca para dizer que não é necessário, exceto... que meio que é.
Posso aceitar a ajuda dele ou assustar minha amiga com minha ausência.
Monica chegou ao hospital logo depois dos meus pais. Ela se esforçou para ter noites de garotas –
sem a nova namorada de Patrick – “só porque estou me casando com o irmão do idiota, não
significa que vou desistir da minha melhor amiga.” E ela implorou para vir aqui para Shipwreck
comigo, porque “você não irá dirigindo para tão longe sozinha, ponto final.”
Ela não adoça as coisas.
E eu não poderia estar mais grata.
E Grady é adorável, gentil e amado em Shipwreck, e o contraponto perfeito para Patrick e sua nova
namorada maravilhosa, mas ele não é o tipo de pessoa que está muito envolvido comigo, porque ele
é apenas um cara legal da cidade me fazendo um favor, ao fingir ser meu namorado esta semana.
Ele não está realmente interessado.
Wyatt está me olhando do mesmo jeito de sempre. Alerta. Focado. Consciente.
Ele provavelmente observa todo mundo assim. Eu me pergunto quantas outras mulheres tiveram
seus corações partidos só por causa daqueles olhos.
— Se não for um problema — eu digo.
— Já estamos indo nessa direção.
— Ok. Certo. Obrigada.
— Quando você precisa sair?
— Temos reservas às seis.
Um canto de sua boca se contrai.
— Camarada Capitão?
Eu adoro Shipwreck. E eu amo que Monica adore o suficiente para se casar aqui.
— Não é como se o Bar do Rum aceitasse reservas ou tivesse bons lugares para o desfile.
— Estaremos prontos às cinco e meia.
— Obrigada.
É apenas uma carona, e estou fazendo isso pela Monica.
E eu me recuso a me sentir desconfortável só porque ele me viu nua, bancou o garanhão selvagem
para minha cowgirl caipira e então decidiu me devolver em um reembolso.
Se ele quer ficar se lembrando daquela noite, o problema é dele.
Estou oficialmente seguindo em frente. E não vou deixá-lo ver que ainda me importo.
Então, talvez, eu também possa me convencer disso.
04

Enquanto esperamos pelas cinco e meia, apresento a Tucker a alegria do Pac-Man no paraíso que é
o porão de Beck. Porque ser modelo de roupas íntimas como uma segunda carreira, depois de ser
membro de uma boy band por anos, paga bem. Beck tem dinheiro para gastar, e ele o usa equipando
suas casas com jogos suficientes para manter um homem ocupado por três vidas. Além do antigo
fliperama do Pac-Man, ele tem o Pac-Man e Frogger, além de pebolim, tênis de mesa, sinuca, hóquei
de ar e dois armários repletos de jogos de tabuleiro. E mais.
Esta casa inteira é uma caverna masculina, mas o porão?
O porão é a cereja do bolo. Meio bar, com área para assistir TV, meio salão de jogos, é onde
sempre ficamos quando estamos aqui, naqueles raros dias em que todos estão na área ao mesmo
tempo, sem outras responsabilidades a enfrentar. Algumas das minhas melhores lembranças adultas
aconteceram neste porão.
Como o fim de semana Frogger.
E eu nunca vou arriscar foder com essa amizade novamente.
Não por causa das casas e dos jogos.
Mas por causa do cara que é minha única família, além do meu filho.
— Fuja dos fantasmas, amigo — digo a Tucker, que está sentado em um banquinho de couro
vermelho, alto o suficiente para usar o controle. — Você pode comê-los assim que conseguir o ponto
no canto.
Ele grita de alegria enquanto corre com os fantasmas para frente e para trás na linha inferior, até
que o fantasma azul o come.
Quando Pac-Man cai da tela, Tucker começa a chorar.
— Eu morri! — ele lamenta.
— Ei, está tudo bem.
— Eu morri — ele lamenta ainda mais.
Eu esfrego suas costas, porque porra, o que mais eu devo fazer? Parece uma coisa idiota chorar
por isso, mas ele tem sete anos. Já chorou uma vez nas férias de primavera porque um verme secou
na calçada.
A criança tem grandes sentimentos e um grande coração. De jeito nenhum eu vou magoar esse
coração.
O mundo precisa de mais corações assim.
— Você quer jogar de novo? —pergunto.
Ele enxuga os olhos, empurrando os óculos tortos, e assente.
— Uh-huh.
— Você quer ajuda?
— Uh-huh.
Seu cabelo cheira a torta de frutas quando me inclino sobre ele, e seu corpinho é
tão pequeno. Mesmo depois de crescer, desde a última vez que o vi. Beijo sua cabeça e reinicio o
jogo, cobrindo sua mãozinha com a minha.
— Nós vamos fugir dos fantasmas, ok?
— OK.
Morremos mais duas vezes, antes que o alarme do meu telefone toque com meu aviso de dois
minutos para subir e calçar os sapatos.
Tucker solta um suspiro de adulto.
— Sério, pai? Alarme de novo?
— Eles nos mantêm no horário.
— Às vezes, você apenas tem que viver a vida.
E essa é a sua mãe falando. Eu faço o meu melhor para manter minha expressão neutra.
— E, às vezes, as pessoas contam conosco. E outras vezes, apenas queremos chegar ao desfile dos
piratas, em vez de perdê-lo.
Ele tira o cabelo da frente dos olhos e pula do banquinho, correndo para as escadas e segurando o
short, que ameaça cair de seus quadris delgados.
— Desfile de piratas! Desfile de piratas!
— Tucker, você esqueceu seu... — Eu paro, porque ele se foi, correndo pela porta do porão e
subindo as escadas. Então pego o pequeno cobertor que ele ainda carrega e sigo atrás dele. Também
pego três copos sujos ao lado de um caderno brilhante, no balcão alto do bar, quando passo, embora
esses não façam parte da nossa bagunça. Chego ao topo da escada apenas alguns passos atrás de
Tucker, que está parado, olhando.
E quando eu olho para cima, percebo o porquê.
— Nenhuma. Palavra. — diz Ellie.
— Papai, uma garota pirata saiu da banheira — sussurra Tucker.
Os olhos de Ellie ficam suaves e sua covinha aparece quando ela sorri para Tucker. Ela está com
um vestido de mulher pirata, com uma blusa branca fofa, pendurada nos ombros, e coberta com uma
daquelas coisinhas que parecem de couro, que vai da cintura ao peito e lhe dá um bom decote – um
corpete? Uma cinta? Algo para deixar homens sem palavras? – e uma saia esvoaçante, marrom
transparente, com botas pretas até os joelhos.
Eu engulo em seco e lembro ao meu pau que estamos aqui para meu filho ir ao Festival Pirata, não
para eu perder a cabeça. Novamente.
Ou um dos meus melhores amigos.
— Você pode me chamar de Ellie Devastadora, capitã do Albatroz Dourado — ela diz a Tucker,
terminando com uma reverência que a faz estremecer quando se endireita.
Começo a perguntar se aquelas botas são uma boa ideia, pois ela parecia estar com dor mais cedo,
e eu sei que ela quebrou a perna e o quadril no acidente. Mas então me lembro com quem estou
falando, mantenho minha boca bem fechada e passo direto para colocar os copos na cozinha.
Especialmente porque ela está totalmente maquiada, com o cabelo cacheado caindo nos ombros
nus.
Não parece estar indo apenas encontrar amigos.
Parece que ela está se dirigindo para uma batalha de piratas, que será seguida por uma dança.
Nenhuma preocupação no mundo.
É hora de festejar com os piratas.
— Garotas não podem ser capitãs — Tucker anuncia quando eu saio da cozinha.
Eu me encolho e me inclino para colocar a mão em seu ombro.
— Nunca, jamais, diga a uma mulher que ela não pode ser alguma coisa. Especialmente a
Senhorita... Capitã Ellie.
— Mas os meninos são os capitães piratas.
Ellie me lança um olhar que sugere que a culpa é minha – claro que ela acha isso – enquanto
coloca os punhos nos quadris.
— É mesmo, seu cachorro com escorbuto? Continue falando, e você limpará o cocô do convés!
Tucker ri.
— Eca, não quero limpar cocô no convés!
— Então não diga que não há meninas piratas, homenzinho.
Ellie pisca para ele, depois passa por nós.
Com um mancar que coloca uma pedra em meu estômago.
Eu nunca quis tanto proteger alguém e ao mesmo tempo estar tão irritado com ela, a ponto de querer
amarrá-la a uma cadeira e fazer com que ela prometa que vai desistir, porra.
Não sei o que quero que ela desista de fazer, mas não é da minha conta.
Tucker vai atrás dela e também sai mancando pela porta.
Puta que pariu.
Ainda dói? Beck disse que eles não tinham certeza se ela voltaria a andar, logo após o ocorrido.
Mas não posso perguntar.
Eu não tenho o direito.
Não depois do que aconteceu. Tudo que aconteceu.
— Ligue o alarme, por favor, macaco da pólvora — Ellie fala para mim como se fôssemos crianças
de novo e ela só estivesse tentando me fazer de bobo.
Como se o nosso relacionamento não fosse mais complicado do que isso.
Como se não tivéssemos transado no porão dos pais dela. Como se ela não tivesse saído de casa
logo depois. Como se ela não tivesse ignorado cada fodida tentativa que tentei me desculpar.
— Você vai ao desfile dos piratas conosco? — Tucker pergunta a ela, enquanto eu ajusto o alarme e
tranco a casa.
— Não, rapaz, vou roubar e saquear enquanto todos vocês observam os piratas menores distraí-los.
— Vou cavar em busca de um tesouro pirata esta semana.
— Apenas os piratas mais sortudos que acreditam em capitãs piratas irão encontrar ouro.
— Eu sei todas as histórias de piratas, e nenhuma delas é sobre meninas piratas.
— Isso porque são os homens piratas que escrevem todos os livros.
— Onde você ouviu todas as histórias de piratas? —pergunto a Tucker, e não apenas para distraí-lo
de enfiar o pé ainda mais na jaca, o que é claro que ele não percebe que está fazendo, já que tem sete
anos. Falo com ele quase todas as noites, antes de dormir, geralmente leio uma história no chat de
vídeo, e nunca li uma história de pirata para ele.
— Do Sr. Duffy, da casa ao lado. Ele me deixa dar água para o cachorro dele e me conta sobre
quando estava lutando contra todos os piratas antes da guerra.
— Qual guerra?
— A Guerra Civil.
Faço uma nota mental para perguntar à minha ex-mulher se ela sabe o que Tucker está fazendo,
quando está brincando do lado de fora. Ela provavelmente vai me dizer que o Sr. Duffy é um velho
inofensivo, mas Tucker nem sempre consegue diferenciar a realidade de uma boa história, e não
quero que ele seja ridicularizado na escola por falar sobre seu vizinho, o vampiro caçador de
piratas.
Eu odeio não estar perto o suficiente para falar com seus professores ou apenas estar lá para
aqueles minutos depois da escola, quando ele fala sobre seu dia.
Mais um ano.
Só mais um ano.
— Chaves? — Ellie diz para mim.
— Eu tranquei a porta.
Ela aponta para o meu SUV.
— Para que eu possa dirigir.
— Não.
— Isso não foi uma pergunta.
— Este é o meu carro.
— Eu tenho problemas de controle.
Ela tem aquele olhar teimoso que Beck tem quando está determinado a jogar pôquer até ganhar. E
ela não está admitindo abertamente nenhuma culpa, mas não precisa.
Ela não precisa, porra.
Eu me aproximo e balanço minhas chaves entre nós.
— Serei o copiloto.
Ela sorri.
— Claro que você será.
Mas ela ainda pega as chaves.
Eu seguro o chaveiro com firmeza, até que ela faça contato visual novamente.
— É o meu filho que você está conduzindo — acrescento suavemente.
Ela sustenta meu olhar sem pestanejar.
— Anotado. Agora, se você não quer que eu roube essa coisa, é melhor entrar.
Tucker já estava no banco de trás, prendendo-se em seu assento, então eu me acomodo no banco do
passageiro.
É estranho sentar-se deste lado do carro.
Mas acho que devo isso a ela.
Ela pode não perceber ainda, mas ela me deve também.
E já que estamos aqui juntos, ela vai pagar.
05

Shipwreck cheira a ostras fritas, tiros de canhão e sujeira. Pessoas em fantasias de pirata caminham
ao longo da Avenida Barba Negra, enquanto os moradores locais saltam de trás dos barris e das lojas
para desafiar os turistas para uma luta de espadas.
É glorioso.
Digo a Wyatt e Tucker para ir para onde quiserem, que eu conseguirei uma carona de volta com um
amigo. Mas, como Wyatt é teimoso, ele insiste em caminhar comigo desde o estacionamento, no final
da rua principal, em direção ao Camarada Capitão, que tem os melhores picles fritos e pudim de
banana de toda a Virgínia. Sim, já experimentei todos os pudins de banana em Copper Valley e um
bom número na área metropolitana de DC, então posso dizer, com certeza, que o pudim de banana do
Camarada Capitão não pode ser vencido.
Além disso, se você não gosta de pudim de banana, fico feliz em comer o seu. Você pode ficar com
meus Twizzlers.
— Tucker, você já viu o interior de um navio pirata? — pergunto quando passamos pelo Buraco do
Naufrágio, o campo de minigolfe na beira do parque. A entrada da cabana de pagamento tem o
formato da proa de um navio, com uma figura de sereia de proa acima da porta.
Tucker desacelera.
Wyatt o pega e o coloca sobre os ombros como se ele fosse leve como uma pena.
— Vamos vir mais tarde.
— Por que você está fazendo isso? —murmuro. — Eu não preciso de uma fudid... maldita
escolta. Estou bem.
— Seu irmão me chutaria se eu não te levasse de volta, sã e salva, para a casa dele esta noite, e
nós dois sabemos disso.
— Eu conheço todo mundo na cidade, e vou conseguir uma carona. Vá embora.
— Não até que eu veja quem irá te levar para casa.
Eu paro do lado de fora do Ninho do Corvo, a padaria local, quando vejo o proprietário logo após
a porta, limpando as mesas, com uma fantasia de pirata completa com tapa-olho.
Exatamente como ele deveria estar.
— Ei, Grady. Está pronto?
Eu sorrio, e ele sorri de volta, e pela primeira vez desde que Wyatt me encontrou na banheira, sei
que vai ficar tudo bem esta noite.
— Pode apostar, sexy. Dê-me dois segundos para jogar este trapo.
Wyatt olha para mim.
Em seguida, para Grady, que tem um metro e oitenta de músculos e covinhas confiáveis e
adoráveis, coberto com uma espessa mecha de cabelo escuro que nem mesmo sua rede de cabelo
pode conter totalmente.
— O que… diabos está acontecendo aqui? — ele rosna.
— Só pegando meu encontro. Que também vai me levar para casa.
— Seu encontro.
— Hum-humm. Como eu disse, vá fazer suas coisas.
Cooper, irmão de Grady, sai da padaria e esfrega meu cabelo. Não porque ele seja mais velho do
que eu, mas porque ele é mais alto.
— Ainda com o coração partido por você não me escolher, Ellie Devastadora.
— Você não é confiável —respondo, ganhando uma risada.
— Papai. Pai — Tucker sussurra reverentemente enquanto Wyatt continua a olhar. — Paaaaaai.
— Eu ainda sou mais bonito — Cooper aponta.
Eu finjo estudá-lo, então balanço minha cabeça.
— Nãoo.
Ele coloca a mão no coração como se estivesse ferido.
— Aah, Ellie. O que um cara precisa fazer para ganhar sua afeição?
— Você tem que pegar o telefone quando ela liga, idiota — Grady diz a seu irmão enquanto sai,
sem a rede de cabelo sob seu chapéu de pirata. Ele me oferece um braço. — Vamos, Ellie
Devastadora?
— Quem diabos é você? — Wyatt rosna.
— Ele... — eu começo, mas de repente sou esmagada em um abraço com cheiro de noiva e um
papagaio falso esmagado em meu rosto.
— Ellie! Aí está você. Por que não está atendendo ao telefone? — Monica exige. Ela está vestida
ao máximo como uma capitã pirata, com seu cabelo loiro mel preso em um rabo de cavalo baixo sob
o chapéu de pirata.
— Está se recuperando de um mergulho — digo a ela.
— O papai e a Srta. Ellie tomaram banho de espuma juntos! — Tucker anuncia quando eu me
afasto.
Os olhos castanhos de Monica vão de mim para Wyatt e para Tucker nos ombros de Wyatt, girando
como o timão de pirata quando eles estão de volta em mim.
Grady abaixa o braço e dá um passo para trás, as sobrancelhas levantadas, um sorriso lento se
abrindo como se ele estivesse chegando a uma conclusão.
Merda.
Merda em uma bala de canhão. Isso não está saindo como deveria.
Atrás de Monica, Patrick, alto, loiro e normalmente entediado, estreita os olhos como se eu ainda
fosse seu problema.
— Um banho de espuma? Juntos?
— Eles estavam todos cobertos de bolhas — diz Tucker com uma risadinha.
Eu rio também, alto demais.
— E não é hora do jantar? — eu interrompo, porque não vou jantar sozinha com meu ex-namorado
e sua namorada perfeita e, mais uma vez, Wyatt Morgan está fodendo minha vida. Ele vai arruinar
minha rotina de encontros cuidadosamente elaborados com Grady durante a semana. — Devemos ir
até o Camarada Capitão antes do desfile começar.
A multidão está ficando mais densa, então não estou errada.
Mas Monica, Jason (seu noivo, que está vestido como o segundo em comando, mas parece mais um
surfista), Patrick e sua namorada, Sloane, não se mexem.
— Você está namorando de novo? — Patrick pergunta, novamente como se eu fosse problema dele.
— Cara, eu não percebi — Grady diz, recuando enquanto Cooper treme com uma risada silenciosa
às custas de seu irmão.
— Wyatt e eu somos amigos — eu digo, em um tom que deixa minha resposta aberta para
interpretação.
Wyatt levanta uma sobrancelha para mim enquanto segura as pernas de Tucker, porque o que quer
que sejamos, nunca fomos amigos de verdade. Mais como pessoas com personalidades opostas que
às vezes se cruzam nos círculos sociais, já que meu irmão sempre pensou que ele nunca poderia fazer
nada de errado.
Mas se ele está estragando meu encontro falso da semana, ele vai ser outra coisa que não
meu amigo.
— Por que seu amigo não se junta a nós para jantar? — Patrick diz firmemente, e isso mesmo, seu
idiota, eu tenho homens lutando por mim.
Sloane se aproxima dele.
— Eles não estão fantasiados — ela aponta.
Como todos nós, ela também está vestida como uma pirata. Seu traje tem calças listradas de
vermelho e preto soltas na coxa, mas ajustadas na panturrilha, uma blusa branca e uma alça de couro
sobre o ombro segurando sua bainha e uma espada falsa. Uma bandana combinando no cabelo, e
brincos de caveira e ossos.
O traje de Patrick é quase idêntico, exceto pelos brincos.
E não posso dizer nada, porque também nos teria vestido com fantasias iguais de pirata.
— Grady vai ao jantar comigo — eu digo —, porque Wyatt e Tucker nunca viram o desfile dos
piratas, e a probabilidade de Pop perturbar Grady é menor se ele estiver conosco. Wyatt, sério, esse
é o local mais incrível para assistir ao desfile. Tucker vai adorar. E espere até ver o Pop Rock, avô
de Grady e Cooper. Ele se veste como o Barba Negra todo ano. É glorioso.
Aponto desesperadamente para um espaço minúsculo entre um poste de luz e uma família de seis
pessoas bem no meio-fio.
— Wyatt... Wyatt Morgan? — Monica pergunta.
E estou acabada. Totalmente, completamente ferrada. Meu plano mestre para um namorado falso
esta semana está se partindo diante dos meus olhos.
Portanto, faço a única coisa que posso para salvar meu orgulho diante do desastre.
Eu engancho meu braço com o de Wyatt.
— É novo —sussurro, contando para a minha melhor amiga uma mentira descarada que, sem
dúvida, vai chutar minhas partes femininas muito em breve. Tipo, assim que Wyatt abrir a boca e sair
de perto de mim. — E eu não queria tirar seu tempo com Tucker esta semana.
Há um músculo pulsando na mandíbula de Wyatt, mas seus olhos cinzas não estão brilhando.
Não, eles estão mudando para neutros. Ele se desvencilha do meu braço, mas depois o envolve com
força sobre meus ombros, o que é um pouco estranho com Tucker em seus ombros, mas ele consegue
mesmo assim. Porque ele é Wyatt.
Claro que ele pode segurar uma criança e eu.
— Eu não compartilho — ele diz, com um olhar aguçado para Grady.
Cooper tem um ataque de tosse.
— Pai — Tucker uiva, chutando Wyatt no peito. — Esse é Cooper Rock.
— Estou livre esta noite, Ellie — disse Cooper. E pisca para Wyatt.
— E você vai continuar livre — Wyatt responde suavemente.
Que agradável.
Como se ele estivesse brincando com Beck e os caras.
— Wyatt Morgan? — Monica repete.
— Eu conheço esse nome — diz Patrick com uma carranca.
Dou de ombros, com o que espero ser um sorriso envergonhado, em vez do pavor mortificado que
estou sentindo com a farsa que terei de encenar a porra da semana toda, se não quiser fazer papel de
vela no casamento da melhor amiga com o irmão do meu ex-namorado.
— Você sabe o que dizem sobre a linha entre o amor e o ódio.
Os olhos castanhos de Monica estão tão arregalados sob o chapéu de pirata, que ela corre o risco
de perder um globo ocular.
— Bem, sim, quero dizer, eu sempre suspeitei disso, mas... oh meu Deus, Ellie! Estou tão fod...
extremamente feliz por você!
Ela me dá um abraço, balbuciando sobre precisar de todos os detalhes, enquanto eu cambaleio um
pouco. O que diabos eu sempre suspeitei disso significava?
— Monica, sério, esta é a sua semana. Wyatt e eu estamos apenas… indo
devagar. Ele realmente não se importa se Grady vier jantar conosco.
O aperto de Wyatt – sim, ele ainda está me segurando, apesar de Monica tentar me estrangular com
um abraço também – é tão forte que se meus ombros fossem amendoim, agora teriam virado manteiga
de amendoim.
— Sim, eu me importo.
— PAI, ESSE É COOPER ROCK! — Tucker grita.
Cooper, que não tem mais nenhuma chance de anonimato, sai de trás de seu irmão para oferecer a
Tucker um cumprimento de punho.
— Desista, amiguinho. Você gosta dos Fireballs?
Tucker acena com a cabeça solenemente enquanto olha para o punho.
— Papai diz que a lealdade é importante, mesmo em uma grande perda.
Cooper bate em seu coração duas vezes com o punho.
— E tá muito certo. Seu pai é um cara inteligente.
— Você vai pegá-los este ano — declara Tucker.
Cooper estremece. Grady estremece. Metade da rua estremece.
Desde que Chicago venceu a World Series, há alguns anos, o time profissional de beisebol de
Copper Valley tornou-se um dos perdedores mais adoráveis do esporte.
E eles estão abraçando o título com gosto este ano.
— Eles irão, não é, Tucker? — Eu digo.
— Eles realmente irão. — Ele sorri para mim como se fôssemos ser melhores amigos, e acho que
ele poderia estar certo.
Monica está carrancuda.
— Não sei se o Camarada Capitão pode enfiar mais duas pessoas na nossa mesa.
— Está tudo bem — digo a ela rapidamente. — Tucker vai adorar o desfile muito mais daqui
mesmo. Ele não poderá pegar tanta pilhagem se estiver na varanda do restaurante conosco. Wyatt está
bem com isso, não está, querido?
Eu olho nos olhos dele, e isso é um erro.
Porque ele está me prometendo muita retribuição naquele olhar cinza cheio de cor. E se você acha
que cinza não pode ser cheio de cor, você nunca irritou um homem de olhos cinza.
— Parece que tenho que estar — ele responde.
— Mas você tem que se juntar a nós para almoçar, amanhã — Monica anuncia. Ela aperta minha
mão. — Oh, meu Deus, Ellie, sempre pensei que isso pudesse acontecer. — Ela abraça Wyatt
também, e o papagaio balançando em seu ombro, costurado em sua fantasia de capitã pirata, dá uma
bicada na panturrilha de Tucker. — É melhor você ser bom com ela, ou vou cortar suas bolas com
minha espada de pirata e amarrar uma bala de canhão em seus tornozelos e atirar você nas
montanhas.
Tucker arqueja.
— Ela está brincando — Wyatt diz a ele rapidamente.
Monica sorri.
É um sorriso perigoso.
Eu gosto disso.
Wyatt sorri de volta.
É um sorriso tenso.
Minha vida vai ser um inferno assim que eu voltar para a casa de Beck esta noite.
— Você pode me levar para casa? — pergunto a Monica. — Tucker vai dormir cedo.
— Claro! — ela grita.
Patrick ainda está olhando feio.
E desde que Patrick está olhando feio, Sloane, a enfermeira maravilha, também está olhando feio.
Apenas Jason, o noivo descontraído de Monica, que está assistindo a tudo isso com um sorriso
divertido, ainda está felizmente alheio a todas as esquisitices.
É notável que Patrick e Jason compartilham genes, porque essa é a única coisa que eles têm em
comum.
— Você vai dirigir com segurança — Wyatt informa Monica.
Ela revira os olhos para ele.
— A primeira a chegar no hospital. Deixa comigo.
Ele finalmente libera seu controle sobre mim.
— Vá em frente, pegue aquele lugar — eu digo a ele. — Tucker, você vai adorar o desfile.
— Podemos todos tomar um banho de espuma esta noite? — ele pergunta.
— Não — Wyatt e eu respondemos juntos.
Os adultos alinhados na rota do desfile riem com Grady, Cooper, Monica e Jason.
— Você é adorável — Monica informa a Tucker. — Vamos ser bons amigos esta semana.
Ela não vai vê-los esta semana, se depender de mim.
Muito melhor ter um namorado que é um pai solteiro incrível e que ficará afastado, do que ter que
fazer um show para minha amiga e meu ex-namorado, de qualquer maneira.
Talvez isso funcione, afinal.
— Aproveite o desfile — digo a Wyatt. — Vejo você em casa.
Seus lábios se contraem, porque Wyatt e eu não nos veremos mais tarde.
Nunca o fizemos.
Quando crianças, nos separávamos gritando cala a boca e me deixa fazer do meu jeito e que se
dane, faça do seu jeito e perca, sua idiota louca. Quando adultos, houve menos gritos e mais
deboche.
Até aquela última vez.
No Natal.
Ele se abaixa e beija minha bochecha.
— Vou sentir sua falta, amor. — Mais silencioso, ele acrescenta: — E vamos discutir isso mais
tarde.
— Vou sentir sua falta também — eu digo, sem fôlego.
Monica passa o braço em volta do meu e puxa suavemente, me estimulando a andar ao lado dela.
Bem, mancar ao lado dela. Esses sapatos foram uma ideia terrível.
Dou a Grady um rápido “Desculpe por isso” por cima do ombro, mas ele apenas sorri e acena para
mim.
— É bom ver você feliz, Ellie.
Eu não olho para Wyatt.
Não posso.
— Por que você nunca me disse que ele era gostoso? — Monica pergunta, porque ela entrou na
minha vida depois que Wyatt já tinha ido para o exército, e eu percebo que ela nunca o conheceu.
— Na maior parte da minha vida, não olhei para ele dessa forma — respondo honestamente.
— Vou precisar dessa história do banho de espuma.
— Tenho certeza de que não é nada que você nunca tenha feito — respondo.
— Sua perna dói, não é?
— O que é dor, quando pareço um milhão de galeões espanhóis?
Ela revira os olhos, então olha para trás.
Eu olho para trás também, e vejo Wyatt comprando uma espada de espuma para Tucker, de um
vendedor de rua.
Mas ele não estava comprando apenas uma. E sim, duas.
Ele coloca Tucker no chão, se agacha e segura sua espada contra a dele, e cambaleia fingido dor
quando Tucker o acerta no estômago.
— Certo — Monica murmura, se abanando. — Nem um pouco quente.
Está certa.
Ele não é nem um pouco quente.
Eu só tenho que fingir que é.
São apenas quatro dias. E apenas algumas mentirinhas.
Vai ficar tudo bem.
06

Não gosto de deixar Ellie em Shipwreck, mas ela é adulta, está com amigos e um dos rapazes da
padaria. Cooper? Porra, eu não acompanhei os Fireballs este ano. Saí para conversar um pouco
durante o desfile e, embora eu não admita para Ellie, ele passou no meu teste de instinto.
Parece um cara decente.
O mesmo para o seu irmão, Grady, que se desculpou novamente pela confusão e me disse que eu
era um cara de sorte.
Então ela tem boas pessoas cuidando dela em uma cidade pequena e segura, vai ficar bem.
Mas depois de ler seis histórias para Tucker dormir, prometer que vamos jogar golfe em miniatura,
tentar desenterrar o tesouro dos piratas e procurar a perna de pau escondida que deveria vir com um
tesouro amanhã, o abracei com força, porque é tão bom poder abraçá-lo. Chat de vídeo e chamadas
telefônicas não são a mesma coisa. E agora que ele está começando no futebol e no beisebol, há
menos tempo para conversar. Então, estou na sala de estar, esperando a Ellie voltar.
É possível que ela não volte esta noite.
Cooper não fora tímido com as informações, e enquanto Tucker vasculhava doces, anéis de pirata,
gemas falsas e mais dos carros alegóricos que passavam, descobri que Ellie está na cidade para o
casamento de sua melhor amiga. A maior parte da festa de casamento será hospedada na Pousada
Shipwreck. Seu ex-namorado (sabia que o homem das cavernas loiro parecia familiar) é o padrinho e
trouxe a mulher pela qual ele a largou pouco antes do acidente. Ellie esteve muito na cidade nos
últimos seis meses, especialmente enquanto estava se recuperando, e Cooper está feliz por Beck ter
enviado alguém para ficar de olho nela enquanto ela se sente tão perdida.
Essa última parte é o que me faz ligar para o meu amigo, embora eu ache que ele está em algum
lugar da Europa em uma sessão de fotos e provavelmente são duas da manhã, no mínimo, onde quer
que ele esteja.
Inferno, eu nem sei se o número do celular dele funciona na Europa.
Mas, porque ele é Beck, ele atende no segundo toque.
— Wyatt, meu parceiro, o que foi? Como está a casa? — Beck diz.
Eu olho para a bagunça na cozinha e me levanto para arrumá-la, porque está me irritando.
— Ocupada.
Beck ri.
— Se você está aí, deve estar.
— Ellie está aqui.
Há silêncio e, por meio segundo, acho que ele vai dar a desculpa de ligação falhando, mas então
simplesmente diz:
— Ahã.
Não que ele esteja surpreso.
Não como se ele também não estivesse.
Empilho pratos, xícaras, canecas – alguém gosta de chá, ao que parece – talheres e guardanapos
sujos da sala de jantar e os levo para a cozinha.
Não tenho tempo para ligar para Beck por qualquer besteira. É minha culpa que a irmã dele sofreu
um acidente de carro que a deixou no hospital por um mês e ainda a faz mancar. Mas se ele quer algo
de mim, precisa falar diretamente, antes que eu estrague tudo.
Novamente.
— Ryder...
— Você se lembra daquele ano que jogamos Trivial Pursuit nas férias de Natal, e você e Ellie
acabaram em uma briga na neve?
— Ela me chamou de trapaceiro.
— Mano, você trapaceou.
— Eu não fiz isso.
— Você memorizou os cartões.
— Não havia mais nada para ler.
— Tanto faz. A questão é: pense em todas as boas lembranças. Que tal aquela vez em que ela
enlouqueceu, por que você estava usando os projetos de arte dela para praticar tiro ao alvo?
— Você os trouxe e não mencionou que eram...
— Bons tempos, bons tempos. — Ele suspira, feliz. — Cara, eu gostaria de estar aí com
vocês. Gostaria de saber se você lutaria comigo por Frogger novamente, como daquela vez...
— Que porra você está fumando?
— Ar fresco, cara. O melhor ar fresco noturno que a Espanha tem a oferecer. Você já veio para a
Espanha? É lindo pra caralho.
O filho da puta está evitando minhas perguntas.
Ele sabia que Ellie estaria aqui. E ele sabe que não suportamos um ao outro. Sufoco um grunhido
de frustração enquanto coloco o tampão na pia, esguicho o sabão e abro a torneira.
— Eu a encontrei na banheira — falo entredentes. Posso dizer a ele que a encontrei no banheiro,
mas não vou confessar ao meu melhor amigo que fomos muito mais longe do que isso.
Ser amigo de Beck Ryder salvou minha vida, e não importa se ficamos alguns meses sem conversar,
isso nunca vai mudar.
E nunca farei nada que coloque essa amizade em risco novamente.
Fico esperando que Ellie conte tudo, que ele se volte contra mim, mas aparentemente ela não se
lembra, ou não quer que ele saiba.
Portanto, também não vou contar.
— Você a encontrou na banheira? Tomando alguma bebida?
Beck pode bancar o modelo de roupa íntima egoísta e idiota, mas eu o conheço há muitos anos para
acreditar nessa merda.
— Nua.
— Ah. Sim, isso faz mais sentido. Você estava pelado também?
— Cristo, seu idiota. Quem pergunta isso?
— Wyatt. Você é meu irmão. Você acha que seríamos amigos se eu não achasse que você era bom o
suficiente para minha irmã? Não, cara. Eu via como vocês dois se olhavam. Longe de mim interferir.
Fico momentaneamente sem fala, porque não acho que seja assim que o código dos caras
funciona. E Beck e alguns outros caras com quem crescemos fizeram sucesso com a banda Bro Code
por muitos anos.
Portanto, não me diga que o código dos caras não é importante para ele.
É tudo.
Ele tem que estar de sacanagem comigo, então prefiro a resposta segura.
— Ela me olha como se quisesse cortar meus rins e assá-los em uma fogueira.
— Amor juvenil, cara. O amor juvenil é lindo.
— Ryder.
— Cara. Você já pensou que talvez significasse muito para mim se um dos meus melhores amigos
pudesse finalmente criar coragem e se dar bem com a minha irmã? Isso é pedir muito?
Eu brevemente considero Levi ou Davis, ou um dos irmãos Rivers convidando Ellie para um
encontro, e eu decido que não importa que eles também sejam como irmãos para mim, eu acabaria
com cada um deles.
— O que diabos está realmente acontecendo? —pergunto.
Lavo seis copos enquanto o espero responder, e quando finalmente responde, gostaria de não ter
perguntado.
— Você sabe aquele acidente em que Ellie se envolveu?
Meu estômago dá um nó, exatamente como quando recebi sua mensagem no dia seguinte que
estraguei tudo.
— Todos nós sabemos sobre o acidente da Ellie, cara.
— Ela tem sido... reservada desde então.
— Ela não estava malditamente reservada quando me deu um soco por tentar salvá-la de se afogar
e depois me afundou na banheira — eu digo secamente.
— Realmente? Isso é ótimo!
Passo a mão no rosto, porque estou ficando irritado. Beck sempre viveu em seu próprio mundo,
mas isso é extremo, até mesmo para ele.
— Ela deixou cair o telefone na banheira, então pode demorar um pouco antes que ela ligue para
reclamar com você.
— Ainda melhor — ele diz alegremente.
— Se a coisa ficar feia, e se ela me disser para ir embora, você sabe que irei.
— Whoa, whoa, espere. — Beck, de repente, está sério como pudim de banana, o que é sério pra
caralho por aqui. — Está bem, está bem. Sim, eu sabia que Ellie estaria aí. É por isso que continuei
falando sobre o Festival Pirata para Tucker. Ela... precisa de você.
— Sua irmã Eleanor eu-posso-fazer-isso-sozinha Ryder precisa de mim?
— Wyatt. Ela não sabe disso, mas sim, ela precisa de você. Ela só não tem sido ela mesma desde o
acidente. E aquele idiota do Patrick largando-a nas férias, pela vizinha, não ajudou. Ela sempre teve
esse plano de vida, sabe? Terminar a faculdade, assumir o lugar da mamãe e do papai, casar-se, ter
três filhos, viver feliz para sempre. Mas isso é tudo... quero dizer, o trabalho é bom. Mas todo o
resto, ela não fala mais. Eu disse que ela se qualificou para correr a Maratona de Nova York este
ano, não disse? Recebeu a qualificação antes do acidente. E agora não pode mais. Ela só... é como se
ela estivesse desistindo. Ela tenta parecer normal, mas não fala mais sobre seus planos para o futuro
como costumava fazer.
Eu resmungo, porque sim, Ellie estava sempre fazendo planos. Quando eu estiver no colégio, vou
estar no time de futebol. Quando eu estiver na faculdade, vou ganhar o prêmio Dean’s
list. Quando for trabalhar para mamãe e papai, vou convencer a prefeitura a nos contratar para
tornar o prédio sustentável. Quando eu me casar, terei de dois a quatro filhos, um cachorro e um
periquito chamado Sue.
— Você sabe do que estou falando — diz Beck. — E a coisa é... você a irrita para cacete. Então,
talvez... eu não sei. Apenas dê a ela algo normal. Irrite-a até que ela comece a pensar em irritá-lo de
volta. E eu sei que ela está aí nesse casamento tendo que aturar o ex idiota. Dê um chute nele por mim
algumas vezes, ok?
Eu coloco um prato limpo no escorredor antes de registrar que Ellie não tem lavado seus próprios
pratos.
Ellie não deixa bagunça. Ela é muito certinha para isso.
Algo está errado.
— Você sabe que há algo realmente fodido em me pedir para irritar sua irmã.
— Eu não confiaria em outra alma para este trabalho. Porque eu sei que você não vai machucá-
la. Irritá-la pra caralho, sim. Mas machucá-la? Você não vai, cara.
Puta que pariu.
Eu já fiz isso, não fiz?
— Você está falando sério?
— Todo mundo a está tratando com luvas de pelica. Ela precisa saber que ainda pode fazer coisas.
— Ela está na cidade com botas de pirata de salto alto. Acho que ela sabe que ainda pode fazer
coisas.
— Sim, e eu sou apenas um egomaníaco idiota que desfila de roupa íntima.
Certo. Os Ryders sabem como fazer uma cena. Não significa que essa é a história real.
— Não vou tentar brigar com sua irmã para fazê-la se sentir melhor. — Especialmente quando ela
acabou de dizer à noiva que sou a porra do namorado dela.
Ainda estou em negação, porque não vou passar esta semana confundindo meu filho. Mas eu não
gosto de como o ex babaca estava olhando para ela.
Não quero deixá-lo pensar que ela é uma presa fácil.
Beck ri.
— Como se você tivesse que tentar irritá-la. Apenas seja você. Isso vai acontecer naturalmente.
— Por que você não tenta irritá-la?
— Não posso. Ela é minha irmãzinha e está machucada. Meu instinto é proteger e salvar.
— Você acabou de me pedir para irritá-la.
— É diferente. Além disso, foi ideia de Levi. Porra, pensei que vocês dois se amavam. Esqueci
todas as vezes em que ela jogou cocô de cachorro em você quando estávamos jogando vôlei e você
tentava ajudá-la a fazer uma recepção melhor da bola.
Não acredito que estou sorrindo com aquela lembrança, mas aqui estamos.
— Fiquei sinceramente surpreso no dia em que soube que ela realmente se formou na faculdade
sem ser presa.
— Mamãe diz que ela nunca encontrou onde se encaixar. Um monte de hormônios adolescentes e
nos tendo como modelo, ela estava ferrada mesmo. Mas acho que Levi está certo. Ela sempre te
odiou mais.
— Agradeço por isso.
— Ela não pode ser muito dura com você. Não com Tucker por perto. Ela adora crianças.
E eu não posso ser muito duro com ela.
Não com Tucker por perto.
O garoto precisa de um bom exemplo, não um idiota. Principalmente porque sei que a mãe dele está
namorando novamente.
Mas se aprendi uma única coisa sobre ser um bom exemplo, foi com os pais dos meus amigos. Não
com os meus.
— Ela vai ficar bem, Beck — digo a ele. — Ela é muito teimosa para não ficar.
— Obrigado, cara. Eu te devo uma.
— Não, você não deve.
— Pare de ser um pé no saco. E não bata minha pontuação mais alta no Frogger, ou te enviarei uma
caixa de paus no trabalho.
— Você vai voltar para casa a qualquer momento neste verão?
— Algumas vezes.
— Passe pela Geórgia quando o fizer. Preciso que você mostre a Tucker que todas essas almofadas
e recortes de papelão seus foram retocados, para que ele não tenha problemas de imagem corporal. E
traga seu álbum de bebê. Aquele com a foto de você nadando em um bolo com a barriga pendurada
na fralda.
Ele ri.
— Você entendeu o que quero dizer.
Eu desligo e termino a louça, limpo a lareira e levo o lixo para fora antes de me acomodar para
ouvir um audiolivro na sala de estar escura.
Porque se Ellie voltar para a casa esta noite, vamos conversar.
Sobre tudo.
07

Além do meu cérebro se esforçar para tentar manter minha história sobre Wyatt a noite toda, minha
coxa e quadril estão latejando quando Monica para ao lado do SUV de Wyatt, na garagem de
Beck. Uma única lâmpada brilha na janela da frente, e a luz da varanda brilha forte na noite escura e
sem estrelas. Assim que ela estaciona o carro, se vira para olhar para mim.
— Desculpe, não trouxe você para casa a tempo de se aproveitar de Wyatt.
— Ser pai é exaustivo. Teremos muito tempo depois. E Wyatt sabe que estou aqui para ajudá-
la esta semana. Da mesma forma que eu sei que ele está aqui para Tucker assistir ao Festival
Pirata. É apenas um bônus que conseguimos um tempo juntos.
Alguém me pare. Mas ela vai pirar mais se souber que estou fingindo, e não quero distrai-la da
alegria de sua semana de casamento pirata.
Ela se inclina para me abraçar com força.
— Muito obrigada por estar aqui esta semana.
— Você está de brincadeira? Eu não perderia por nada no mundo.
— Eu sou uma pessoa horrível se disser que realmente poderia gostar de Sloane, se ela não
estivesse namorando Patrick? — ela sussurra.
— Patrick vai ser seu cunhado. Provavelmente.
— Eu quis dizer a parte de ser desleal com você.
— Oh, pare. Eu tenho Wyatt. Patrick tem Sloane. O mundo seguiu em frente. Além disso, acho que
também poderia gostar dela. Você ouviu a história dela sobre a paciente que ficava tentando trocar
suas barras de chocolate por tequila? Foi muito engraçado.
— Mas eu ainda estou no Time Ellie.
— Não estamos em Times.
— Mas estou totalmente no Time Wyatt. Eu juro, Ellie, se ele se transformar em um idiota também,
depois de todo esse acúmulo de tensão durante anos...
— Do que você está falando?
— E impossível você não ter sentimentos secretos por um cara, depois de passar anos alegando
que o odeia, transa com ele loucamente um dia, depois quase morre em um acidente e se recusa até
mesmo a admitir que transou loucamente com ele meses depois. É simplesmente impossível.
Eu fico boquiaberta com ela.
— Não se trata do acidente, né? — Ela pergunta, franzindo a testa na luz fraca. — Porque se ele
está fazendo isso porque se sente culpado, e não porque ele sempre foi incapaz de lidar com o fato de
saber que você é sua alma gêmea, então eu teria que cortar suas bolas. E não quero fazer isso. Não
quando penso no trauma para seu filho.
— Você é maluca.
— E você me ama por isso.
Realmente amo. Ela é como uma versão feminina de Beck. Divertida, intencionalmente imbecil e às
vezes chata, mas sempre com boas intenções, e pronta para me apoiar.
Eu poderia viver sem a informação de que Wyatt e eu somos almas gêmeas, porque embora seja
fantástico para escrever um livro, é horrível para minha indigestão.
— Espero poder ser uma amiga tão boa quanto você, algum dia — digo a ela.
— Cala a boca. Quem está mancando com botas de pirata para apaziguar a noiva?
— Eu não estou mancando.
— Você estará quando eu te expulsar deste carro, para que eu possa voltar para a cidade e invadir
o quarto de Jason para fazer sexo louco de papagaio.
— Sexo louco de papagaio?
— Ahã. Eu ia falar sexo louco de macaco, mas com um tema pirata não fazia muito sentido, não é?
Dou-lhe um último abraço antes de abrir a porta.
— Eu te amo, sua idiota. Vá seduzir seu noivo até que você não possa andar.
— Ô se vou. — Ela pisca. — Quer ajuda até a porta?
— Não. Eu tenho isso sob controle, vá.
— E você vai fazer sexo louco de papagaio também. Me compreende? E me ligue se precisar de
uma carona amanhã. Quero dizer, se Wyatt estiver disposto a deixá-la ir sem ele novamente.
Pego a bolsa com dois telefones pré-pagos que comprei para deixar aqui, porque nenhum hóspede
deveria ficar sem acesso a um telefone.
— Eu vou ficar bem, e meu telefone estará bem seco amanhã à noite. Mas obrigada.
Depois de garantir a ela que sim, agora também tenho seu número de telefone, o número de telefone
de Jason e o número de telefone de Grady escrito em um pedaço de papel para dar a Wyatt e
programar em ambos os celulares que comprei na Perna de Pau & Utensílios (sim, a loja de ferragens
daqui vende celulares), saio do carro dela.
Eu chego à porta da frente sem mancar, apesar da dor que vai do meu joelho ao cóccix, mas me
recuso a deixar Monica me ver sofrendo. É a semana do casamento dela, e não precisa se preocupar
comigo.
Eu aceno enquanto abro a porta. Ela dá ré na escuridão para descer a montanha até a cidade e,
assim que entro, desmorono contra a parede ao lado da porta e solto um gemido suave.
O quarto fica bem longe, porra. Passa por pelo menos sete ladrilhos maciços no saguão, depois por
um corredor do comprimento de seis campos de futebol, e então pela porta. Parece que andarei daqui
até a China para chegar à cama.
Ou assim parece.
Cinco minutos.
Eu só preciso de cinco minutos sentada aqui, massageando minha coxa dolorida, descansando
minha articulação do quadril, e então ficarei bem.
— Precisa de ajuda?
Eu grito de surpresa com a voz que sai da semiescuridão, e percebo que não estou sozinha.
Wyatt acordou.
Droga.
— Só estou me perguntando a última vez que as empregadas de Beck tiraram o pó do
assoalho. Além disso, você obtém um ângulo totalmente diferente dessa obra de arte. — Aponto para
uma fileira de gravuras na parede do lado de fora da cozinha.
— A selfie de três partes da narina de Beck?
— A maioria das pessoas pensa que é uma caverna.
— A maioria das pessoas não conhece Beck muito bem.
Ele está descalço, vestindo shorts cargo e uma polo com um logotipo de aparência militar no bolso
da camisa, e quando ele enfia os polegares nas alças do cinto e se inclina contra a parede, meus
ovários dão um salto mortal, porque sim, Wyatt Morgan é muito gato.
E eu possivelmente não deveria ter bebido aquela taça de vinho, três horas atrás. É claro que ainda
está afetando meu julgamento.
— Exagerou? — Ele pergunta.
Meus olhos se estreitam, e eu começo a fazer cara feia, e então a coisa mais estranha acontece.
Em vez de estreitar os olhos de volta para mim, seus lábios se contraem como se ele estivesse
segurando um sorriso, ele levanta os olhos para o teto e murmura:
— Droga, Beck — E, de repente, estou mais curiosa do que irritada.
Até ele se agachar e me pegar, claro.
Eu grito e tento me torcer, mas sacudo a perna errada, acabo ofegando e o agarro pelo pescoço.
— O que você está fazendo? — Rosno.
— Irritando você — diz ele enquanto ergue o corpo e se move em direção ao corredor.
Ele não se barbeou. Poderia até tentar contar seus pelos curtos se quisesse. Ele está sempre bem
barbeado. Talvez esteja interpretando um pirata esta semana também.
— Você não é bem-vindo no meu quarto.
— Que fica a mais de cem quilômetros daqui, não é? Em que parte de Copper Valley fica sua casa?
— Pare de ser um engraçadinho.
— Não há vergonha em aceitar ajuda quando precisa.
— Eu não preciso de ajuda.
Eu sou uma mentirosa. Cada passo que ele dá em direção ao quarto é como se fosse um peso sendo
tirado dos meus ombros. Tenho que dar um passo a menos… dois… três…
— É dever do seu namorado levá-la para o quarto
— Nem pense... — eu começo.
Seus lábios se contraem novamente.
Ali. Bem na minha cara. Seus lábios estão se contraindo.
Como se eu o divertisse.
Eu não divirto ninguém. Irrito, sim. Foi uma das razões pelas quais Patrick terminou comigo. Ellie,
você é apenas... tão perfeccionista, é irritante. Estou bem ciente de que meus gerentes de projeto
estão aliviados para cacete por eu estar de férias, mas também sei que ter padrões elevados é a única
maneira de continuar o legado de meus pais e expandir seus negócios quando eles se aposentarem.
O que acontecerá em alguns anos.
Não agora.
Não esta noite.
Wyatt nem mesmo sua ou se esforça enquanto me carrega para o quarto principal, apesar do peso
que ganhei desde o acidente.
— Obrigada — resmungo quando ele me coloca suavemente na cama.
— Nem finja que é educada.
Eu suspiro de surpresa.
Ele franze os lábios e se vira, mas não antes de eu ver seus olhos cinzas brilhando.
Brilhando.
Como se ele estivesse gostando de ser um merda.
— Eu deveria pedir a você para buscar meu pijama, mas eu durmo nua, então não adianta — eu
anuncio.
— Você quer um sino de vaca, para que possa me chamar para pendurar seu vestido quando o atirar
do outro lado do quarto?
Não há calor em suas palavras. É como se estivéssemos jogando um jogo para ver quem pode ser
mais ofensivo, mais babaca.
Porque não tem porra de maneira nenhuma que alguém vai me dar um sino de vaca.
E nem aqui nem na China que ele está flertando comigo, a outra possibilidade que está passando
pela minha cabeça.
— Eu prefiro uma sirene de nevoeiro. — Eu me curvo para puxar minha bota, e outra pontada de
dor me faz prender a respiração.
Eu realmente exagerei esta noite.
Sem olhar para o meu rosto, Wyatt se inclina sobre meus pés e puxa minhas botas, primeiro meu pé
direito, então, com muito cuidado, meu pé esquerdo.
Eu abaixo minha cabeça, porque há uma queimação repentina em meus olhos.
— Por favor, não seja legal comigo — sussurro. — Não quando estamos sozinhos. Embora você
tenha que fingir ser meu namorado esta semana, porque você me deve por ter sido horrível com
Grady.
— Eu só queria confirmar que seus pés estão fedendo. E eles estão.
Eu o empurro sem pensar, porque é isso que fazemos.
— Eles não estão.
— Eu liguei para você.
E agora eu quero bater nele de verdade, porque com a mudança brusca na conversa e no tom, ele se
limitou a dizer exatamente o que eu pensei que ele acabou de dizer, sobre exatamente o que eu tenho
medo de que ele vai querer falar, e não falaremos sobre isso.
— Meu telefone quebrou no acidente. Aparentemente, é um problema recorrente.
— Beck deu a você um telefone novo com o mesmo número, que ficou ao lado da cama do hospital
no minuto em que você estava consciente.
— Então?
— Então, tentei ligar para você por semanas.
Eu engulo em seco, porque ele não está aceitando minhas desculpas fáceis. E a verdade não é
legal.
— Eu não queria falar com você.
— Você geralmente não quer. Mas...
— Sem desculpas. Obrigada. Eu posso pegar meu vestido.
— Eu não queria te machucar.
— Tudo isso é passado. Você estava certo. Foi um erro. Não aconteceu. Bola pra frente. OK?
Ele pega meu queixo entre os dedos e levanta meu rosto até que eu não posso deixar de olhar para
ele, enquanto ele me estuda com aqueles intensos olhos cinza.
Seus cílios são estupidamente grossos. Não são longos, mas são grossos. E seu nariz está um pouco
fora do centro, mas não de uma forma estranha. Apenas de uma forma robusta.
E seus lábios...
Estou respirando muito alto. E ele está me observando muito de perto.
Como se ele pudesse ver, no fundo, a garota de quatorze anos que um belo dia percebeu que um dos
melhores amigos do irmão mais velho era fofo. E um pouco estranho e muito irritante com aquele
jeito de sempre parecer saber tudo, mas também confiável e familiar. Era como se ele tivesse se
transformado em outra pessoa para ela.
E namorava Lydia Baker, que era inteligente e bonita e fazia parte da equipe de líderes de
torcida. Não a líder de torcida principal, mas ainda uma líder de torcida.
Ele tinha dezessete, e eu quatorze, o que seria basicamente ilegal. E como sempre fui aquela garota
que sabia de tudo, sim, eu sabia que era ilegal e sabia por que minha barriga ficava toda quente
quando ele olhava para mim. Eu também estava chateada por não conseguir controlar a reação do
meu corpo a ele.
Mas sinto que não sei de nada esta noite.
Eu não sei quem eu sou.
Não sei por que estou aqui.
Eu não sei o que eu quero.
Não pelos próximos cinco minutos, de qualquer maneira.
Não é a primeira vez que me sinto assim.
E a última vez acabou comigo quebrada.
— Foi minha culpa? — ele pergunta.
— Você não estava dirigindo o carro, Wyatt.
— Mas foi minha culpa que você estava.
Não foi. Ele não me forçou a entrar no carro. Ele não escolheu o meu caminho. Ele não me fez fazer
nada.
Ele até tentou me impedir.
— Pare de ser o mártir.
— Ninguém confiava no Beck para contar a verdade sobre como você estava. E você não atendia
ao telefone. Eu estava morrendo de medo.
— Estou bem. A mesma Ellie irritante de sempre.
E lá vai ele de novo, vendo através de mim.
— Sim. A mesma Ellie irritante de sempre.
Porra. Eu choramingo uma risada, porque é tão normal ter Wyatt me chamando de irritante, que
estou perto de chorar.
— Cale-se.
— Ellie irritante-e-sabe-tudo — acrescenta.
Estendo a mão para empurrar seu ombro, mas não há velocidade ou força, e acabo apoiando-a em
seu bíceps.
— Wyatt reclamão — eu sussurro.
Seus olhos estão fixos nos meus da mesma forma que naquela noite, enquanto ele plantava as mãos
em cada lado das minhas pernas.
— Ellie conspiradora.
— Wyatt pau-na-bunda.
— Ellie sabichona-que-se-recusa-a-aceitar-ajuda.
— Wyatt sabichão-que-se-recusa-a-admitir-que-mais-alguém-possa-saber-fazer-qualquer coisa.
Nossos rostos estão se aproximando. Esta é uma má ideia. Já passamos por isso e terminou em
desastre. Pior que desastre. Eu preciso empurrá-lo para longe de verdade.
Ou... precisamos praticar de modo que, nas raras ocasiões desta semana que tivermos de ser vistos
juntos em público – Shipwreck não é tão grande – poderemos fingir um romance.
— Ellie que-tira-conclusões-precipitadas. — Sua respiração faz cócegas no meu nariz.
— Wyatt detestáv...— Eu começo, mas paro quando nossos lábios se tocam.
Um arrepio percorre meu corpo, mas não é um estremecimento ruim. Também não é um dos bons. É
o meu corpo ansiando por afeto humano enquanto minha mente recua com medo, porque a última vez
que Wyatt colocou seus lábios perfeitos nos meus, seu hálito quente me acendendo, isso literalmente
mudou todo o curso da minha vida.
Talvez seja isso que eu precise fazer.
Talvez beijá-lo acabe com esse limbo estranho em que estou. Vai fazer a dor na minha perna ir
embora. Vou encontrar meu equilíbrio no trabalho novamente. As estrelas vão se realinhar, o homem
dos meus sonhos vai entrar pela porta da frente, vou começar a correr de novo e vou viver a vida que
sempre quis ter.
Não vou me importar se a vida de Patrick transcorreu perfeitamente com sua namorada
enfermeira. Não vou me importar que meus ferimentos possam ser mais profundos do que apenas na
pele e nos ossos. Não vou me importar em escolher um novo futuro para mim.
Minha mão livre envolve seu pescoço e sobe para acariciar seu cabelo curto. Ele suga meu lábio
inferior e me inclina para trás, para o travesseiro, aprofundando o beijo à medida que avançamos.
Não foi um beijo assim que demos no Natal.
Não é um beijo de quem é você? É como se eu estivesse muito preocupada com o
seu beijo. Um beijo de vamos fazer isso direito.
Eu odiei esse homem a maior parte da minha vida, desde o dia em que sua avó bateu na nossa porta
e perguntou a Beck se ele poderia sair e brincar com o menino baixinho, de olhos arregalados,
cabelos castanhos e camiseta manchada; durante meus anos de pré-adolescência, quando ele cresceu
e se tornou um detestável sabe-tudo; até minha adolescência, quando ele nem mesmo reconhecia que
eu existia mais.
Eu não deveria gostar de beijá-lo.
Na última vez que ele me beijou, ele me disse que foi um erro.
E foi. Foi o maior erro da minha vida.
Mas agora estou acariciando minha língua contra a dele e meus seios estão doendo por seu toque e
meu clitóris está pulsando com uma necessidade desesperada.
Não faço sexo há seis meses.
Não desde Wyatt.
Não desde o acidente.
Eu separo minhas pernas, e a dor irrompe na minha coxa esquerda. Eu interrompo o beijo com um
suspiro, Wyatt e eu fazemos contato visual, e ele pula da cama. Um breve lampejo de terror percorre
seu rosto antes que ele esfregue as mãos nos olhos e dê mais um passo em direção à porta.
— Você tem analgésicos em algum lugar?
— Foi tão ruim assim? — Fico impassível enquanto esfrego minha coxa.
Ele observa minhas mãos e nem mesmo me olha feio.
— Para sua perna.
— Estou bem.
Ele murmura uma maldição e entra no banheiro. Eu o ouço remexendo em algo, e não me incomodo
em dizer a ele para ficar longe das minhas coisas, já que ele não vai ouvir de qualquer maneira. E um
analgésico parece o paraíso.
Não tanto quanto ele me beijando, o que é um paradoxo com o qual não quero lidar agora, mas me
consolo em saber que ele verá meu vibrador, se olhar bem o suficiente, e o deixarei pensar
sobre isso a noite toda.
Ele volta, coloca o frasco de remédio na mesa de cabeceira com um baque e sai do quarto.
Meu corpo perde a firmeza, e eu percebo que devo parecer louca em minha fantasia de mulher
pirata. Meu rímel provavelmente está escorrendo, e quem sabe o que aconteceu com meu batom.
Estou desatarraxando a garrafa, quando ele aparece na porta novamente com um copo d’água. Eu
ignoro e engulo meu comprimido inteiro, quase me engasgando, porque odeio tomar comprimidos a
seco, e então relutantemente engulo o resto com um copo de água.
— Me dá seu telefone —digo, irritada.
Ele o entrega sem palavras.
Eu o devolvo, porque é protegido por senha, e olho para ele.
Ele o desbloqueia, ainda sem dizer uma palavra, e mais uma vez o dá para mim.
Depois de encontrar o número de Beck nas chamadas recentes (que porra é
essa? Eles conversaram mais cedo? Meu irmão está morto) eu salvo o número de um dos celulares
pré-pagos, e em seguida, entrego o telefone de volta para ele.
— Obrigada.
— De nada.
Somos as pessoas mais abertamente educadas do mundo neste momento.
Ele me encara por muito tempo.
Eu olho de volta.
Você não beija mal.
— Você está prestes a fingir ser o meu namorado a semana toda —o informo. —
Meu namorado apaixonado que me adora. E nem tente escapar disso. Você pediu por isso quando
arruinou meus planos com Grady.
— Tudo bem.
— Tudo bem? — Que diabos? Ele não vai discutir?
— Sim. Tudo bem.
— Vou contar para o Beck.
— Para ele contar para a Monica que é tudo mentira?
Idiota.
— Para que ele não surte quando ver você agarrando minha bunda em qualquer uma das fotos da
Monica.
Ele sorri.
— Então é isso que você quer de mim.
— Sim, Wyatt. Quero que você seja um Neandertal total e me tome em todas as superfícies
horizontais de Shipwreck, e depois quero que me acaricie em público até que ambos sejamos presos
por atentado ao pudor, porque você é tão másculo e não consigo resistir ao fascínio de toda a sua
testosterona.
Ele sorri novamente.
— Boa noite, Ellie.
Eu franzo a testa, porque ele não está mordendo a isca, e estou sem outras ideias para irritá-lo.
— Boa noite, Wyatt.
Ele bufa baixinho, o que parece que ele está dando a última palavra, quando provavelmente está
fazendo um comentário não tão silencioso sobre eu ter dado a última palavra.
Eu não bufo de volta.
Não até que ele, enfim, fecha a porta.
08

Tucker e eu estamos na bancada da cozinha, comendo ovos, os biscoitos da Sra. Ryder (Deus
abençoe aquela mulher por me ensinar a cozinhar) e bacon, debatendo se vamos jogar golfe em
miniatura no Buraco do Naufrágio primeiro ou visitar o Baú de Davy Jones, o parque aquático de
Shipwreck, quando a campainha toca.
Nós dois olhamos para o tablet pendurado sob o armário, porque tudo ao redor desta casa está
conectado a câmeras de segurança, incluindo a campainha. Metade de um biscoito cai da boca de
Tucker.
— Pai... — ele sussurra, enquanto observo o cara musculoso na varanda da frente com uma
bicicleta encostada em seu quadril e uma sacola branca de padaria na mão. — Aquele é Cooper
Rock. Cooper Rock veio nos ver.
— Sim, cara, parece que sim.
Enquanto estou sentado lá, rosnando para mim mesmo, me perguntando por que um jogador
profissional de beisebol está aqui a esta hora da manhã, Tucker dispara como um tiro, correndo para
a porta e abrindo-a.
— Cooper Rock! Você veio nos ver! Você pode me dar seu autógrafo? Podemos jogar bola? Você
pode, por favor, ganhar hoje? Eu sei que você pode vencer. Você ganhou um jogo na semana
passada. Você pode fazer isso de novo.
Eu coloco o código do alarme enquanto ele emite um bipe de advertência, em seguida, puxo Tucker
para longe do cara, que está sorrindo em diversão mais uma vez.
— Vou fazer o meu melhor, homenzinho. Você gosta de donuts?
— Sim!
— Tem que guardar dois para Ellie, mas aqui, você pode ficar com o resto.
— Ovos primeiro — digo a Tucker, resgatando o saco antes que ele possa fugir com ele e comer
todos os três quilos de donuts dentro.
— Mas, pai...
— Acabe. Você estava quase terminando, mesmo.
Ele olha de volta para Cooper.
— Você pode assinar meu braço?
— Que tal uma espada pirata?
— Sim!
Cooper aponta para uma espada na mesa de entrada de Beck.
— Posso?
A entrego para ele. Ele puxa uma caneta do bolso de trás e rabisca seu nome, em seguida,
presenteia Tucker, que o encara com admiração.
— Como está Ellie? — Cooper pergunta.
Cruzo os braços e o estudo com atenção, porque não me importo se ele joga beisebol ou se é a
porra de um padre, e não me importa o quão bom ele foi na noite passada, quero saber se ele tem
segundas intenções ao perguntar.
— Bem — falo, conciso.
— Ela ainda está dormindo — responde Tucker.
Cooper claramente tenta engolir um sorriso, embora eu não saiba com qual de nós ele se diverte
mais.
— Ela deveria estar, do jeito que estava dançando na noite passada.
— Ela estava dançando?
— Mas não se preocupe. Nós a ajudamos a subir na mesa e garantimos que ela não caísse.
— Você...
— Cara, você devia ver o seu rosto. — Ele balança a cabeça. — Ela ficou sentada à mesa da
varanda no Camarada Capitão a maior parte da noite, depois jogou minigolfe com as amigas. Mas é
bom saber que ela está em boas mãos. — Ele me dá um tapa no ombro e se vira, endireitando a
bicicleta enquanto abre um sorriso para Tucker. — Obrigado pelo apoio, homenzinho. Fique forte,
ok?
Meu menino acena com a cabeça.
— Os Fireballs vão voltar e ganhar a World Series desta vez, com certeza! Esperei sete anos por
isso.
— Sim, eu esperei vinte. E eu tenho que correr, ou vou me atrasar para voltar para a cidade, para
praticar.
— Faça um home run! — Tucker grita, mas eu ouço outra coisa também.
Algo que soava distintamente como uma mulher gritando:
— Oh, porra!
Em algum lugar abaixo de nós.
Eu espio o saco de donut, que envia o aroma celestial de massa frita e açúcar flutuando para o
saguão, e vejo pelo menos meia dúzia de donuts esmagados lá.
— Ovos —lembro a Tucker, e enquanto ele vai para a cozinha, abro a porta do porão e desço.
A sala de jogos está aberta. Ellie está em um banquinho, murmurando porras o suficiente para fazer
corar um pirata, enquanto ela arrasa no controlador do Frogger de Beck.
O rosa em suas bochechas e aquele aperto teimoso em sua mandíbula fazem meu pau se contorcer.
Beijá-la no Natal não foi por acaso.
Ela é desagradável? Sim. Mal-humorada? Às vezes. Determinada, inteligente, poderosa e
imparável?
Porra, minhas calças estão ficando apertadas. Porque não há nada mais quente do que uma mulher
assumindo o comando e indo atrás do que quer, e é isso que Ellie Ryder tem feito todos os dias de
sua vida.
Enquanto torce o nariz para mim.
— Vamos, vamos, vamos, seu filho da puta — ela rosna.
— Donuts? — Pergunto.
Ela lança um olhar selvagem por cima do ombro.
— O Frogger está quebrado.
Quase deixo cair o saco, o que seria uma catástrofe, e não só porque tem um cheiro delicioso, mas
também porque teria que limpar.
— O quê? Não, não está.
— NÃO SEJA CONDESCENDENTE.
Eu rosno enquanto atravesso a mesa de pingue-pongue, mesa de sinuca e mesa de pebolim para a
parede oposta.
— Eu não estou sendo – o que diabos seja isso – droga, Ellie, isso é chamado de negação, porque
Beck vai – oh, porra.
A tela do console de fliperama é uma grande bagunça de listas irregulares, verdes e azuis. Ellie
aperta os botões e nada acontece.
— Eu não consigo desligar sozinha — ela resmunga. — Eu não posso me curvar assim.
Jogo os donuts na mesa de pingue-pongue atrás de mim e me movo para trás da máquina.
— Espere! — ela grita.
— O quê?
— A pontuação mais alta de Beck. Ele vai te matar se sua pontuação mais alta acabar.
Eu congelo.
Ela está certa.
Ele atingiu setecentos mil pontos em um fim de semana, cerca de dois anos atrás. Foi uma daquelas
raras vezes em que estávamos por perto – Beck, eu, os irmãos Wilson, os filhos de Rivers, Davis,
Ellie – e todo o fim de semana se transformou em uma grande festa de jogar Frogger, beber cerveja,
comer pizza, jogar basquete e apenas nos divertir novamente.
Sem preocupações, sem responsabilidades. Apenas diversão.
Como quando éramos crianças.
Toda a turma terá um ataque se a pontuação for perdida.
Seria como perder o fim de semana.
Foi tudo o que fizemos naquele fim de semana.
— Você não pode tirar a tela, sacudi-la e fazê-la funcionar? — Ela diz, desesperadamente.
— Não é a porra de um Traço Mágico.
— Mas talvez seja a placa de vídeo. Talvez, se retirarmos a placa de vídeo, não tenhamos que
reiniciar todo o sistema.
— Papai? Posso comer um donut agora?
Nós dois viramos nossas cabeças para olhar para Tucker, que está com um bigode de leite e uma
listra amarela, que eu espero que seja dos ovos, em sua camiseta dos Fireballs, que não era a que ele
estava usando cinco minutos atrás.
Além disso, ele acabou de me ouvir dizer porra?
Merda. Preciso lembrar que ele pode me ouvir. A vida de solteiro na base não é boa para um
vocabulário adequado para crianças.
— Sim, amigo. Fique à vontade.
Ellie está me olhando com os olhos arregalados, como se ela tivesse uma ideia.
Como se ela estivesse pensando que ninguém diria uma palavra se Tucker derramasse leite no
videogame.
Ele é apenas uma criança.
Pode ser o nosso segredo.
E...
Ela quebra o contato visual, balançando a cabeça com uma risada alta.
— Somos pessoas terríveis — ela sussurra. Então ela grita. — Não! Não aperte o botão de
reset! Talvez possamos desconectá-lo sem perder a pontuação mais alta, mas
redefinir, definitivamente, irá apagá-lo.
Estamos a uma hora e meia de carro de Copper Valley. A cidade é nossa melhor aposta para que o
sistema seja examinado, mas só porque ela tem um milhão de residentes, não significa que algum
deles será especializado em consertar um jogo de fliperama vintage dos anos 80.
Beck disse que teve que ir até Atlanta para conseguir este.
— Duas opções — digo a ela. — Chamamos um técnico ou reiniciamos e esperamos pelo melhor.
— E se não conseguirmos salvar de jeito nenhum?
— O que você está fazendo? — Tucker pergunta. Ele está de pé na mesa de pingue-pongue, donut
em uma mão, esfregando a parte superior de um caderno brilhante próximo a ele com a outra.
— O jogo do Beck quebrou. Estamos tentando consertar. Aguente firme, amigo. Vamos jogar golfe
em breve, ok?
— Ok — ele responde com a boca cheia de donut.
— Você saiu para comer rosquinhas no Ninho do Corvo? — Ellie pergunta. Há pura luxúria em
seus olhos. Em sua voz. E meu pau percebe.
— Cooper Rock veio de bicicleta trazê-los para você.
Ela pisca para mim.
Em seguida, pisca novamente.
E então começa a rir.
Para mim.
— Sentindo-se inferior? — ela pergunta.
— Você quer que eu desligue este plugue?
— Não, eu não quero que você desligue! Eu quero que você conserte isso.
Isso é novo, Ellie me pedindo algo. Normalmente, ela me diria para ir embora, que ela mesma faria
isso.
Somos como... uma equipe. É estranho. Mas não desagradável.
Pego meu telefone e começo a pesquisar no Google, porque, se vamos trabalhar juntos, terei o
Google do meu lado antes de fazer qualquer coisa estúpida.
— Procure se as pontuações mais altas serão apagadas se você desligá-lo — Ellie me diz.
— Quem está sendo condescendente agora? — murmuro, o que me resulta em um leve empurrão no
ombro.
Minha pele formiga sob a camisa, como se estivesse correndo o risco de ser atingido por um raio, e
me concentro em lembrar a mim mesmo que irritar Ellie é bom para ela e não tem nada a ver comigo.
Mesmo que tenha me revirado metade da noite pensando em beijá-la novamente.
— Tudo bem, não devemos perder a pontuação mais alta se zerarmos puxando o plugue — digo a
ela.
— Mas é velho — ela ressalta. — Tem certeza de que isso também é verdade para máquinas
antigas?
— Você está certa. Acabamos de inventar os sinais de rádio há dois anos. Eu deveria dar mais uma
olhada nesta internet que existe desde o século XX.
— Tudo bem, Sr. Especialista. Puxe o plugue. Mas será sua culpa se a pontuação mais alta for
perdida.
— Não fui eu quem o quebrou — eu aponto.
— Eu não teria quebrado se...
Ela se interrompe bruscamente, franzindo os lábios e olhando para o Pac-Man.
Ela ia dizer se você não tivesse me beijado?
Não me lembro quem beijou quem, mas eu assumiria a culpa.
Valeu a pena.
— A perna doeu muito para dormir? — pergunto enquanto me curvo atrás da máquina novamente e
rastreio o cabo certo até a tomada.
— Sim.
— Hã. Meus lábios me incomodaram a noite toda. Provavelmente preciso de protetor labial. É a
altitude. Resseca tudo.
Ela não responde, mas não precisa.
Estou pegando o jeito de irritá-la novamente.
Eu posso sentir isso.
Além disso, tenho praticado desde que percebi que a irritei quando tinha cerca de treze anos.
Eu sei como arremessar uma bola de basquete, Wyatt. Eu não preciso que você me ensine.
Droga, se eu não me diverti dizendo que ela estava fazendo algo errado, apenas para ver seu rosto
se iluminar em indignação independente pelo resto do ensino médio. Era quase tão bom quanto ter
minha própria irmãzinha.
Até que não era mais.
Porque Ellie Ryder cresceu, e ficou mais forte, mais rápida e melhor em todos os esportes que
tentou, e talvez seja o ego, mas eu juro que ela não teria sido tão boa se eu não a tivesse provocado.
E eu percebi. Acredite em mim, eu percebi. Mesmo quando eu sabia que não deveria, eu sabia.
Eu puxo o plugue, e o ventilador dentro da máquina zumbe até parar. Depois de contar até três, eu
ligo novamente e me ergo para assistir a tela.
Ellie está esfregando a coxa, e me pergunto se está doendo esta manhã.
Não que ela me dissesse se estivesse. Ela não admite fraqueza.
Não se puder evitar.
O jogo ganha vida, a tela volta ao modo de operação normal, e eu dou um suspiro de alívio
enquanto Ellie se inclina ao meu lado.
Perto o suficiente para que ela quase caia em mim, na verdade.
— Oh, merda — ela sussurra.
Tucker ri.
— Cuidado com a boca — murmuro, mas percebo que ela está pálida. — O quê?
Ela aponta para a tela.
Para o topo. Onde deveria estar HI-SCORE 701.400, está HI-SCORE 0.
— Não, não, não — ela geme. — Você sabe o que isso significa?
— Beck vai matar você —respondo. Porra, tenho suor acumulado na gola, porque Beck
vai nos matar.
Namorar a irmã dele pode ser bom, não que eu tenha tempo na minha vida para isso, mesmo que eu
me permitisse imaginar. Mas zerar sua pontuação no Frogger?
Estamos ambos mortos.
Mas não posso dizer para Ellie, porque agora tenho que irritá-la. Pode ser que seja a única coisa
certa que faço pelo meu amigo esta semana.
Ele passou horas jogando. Horas. E zeramos sua pontuação mais alta. Em seu jogo favorito. Porra.
Todos nós ajudamos, incitando-o, trazendo-lhe pizza. Levi até limpou o queixo dele algumas vezes,
para ele não ter que parar de jogar.
É apenas um jogo.
Isso é estúpido.
Exceto que também são memórias. E glória. E o jogo favorito de Beck.
Tucker ri novamente.
— Papai, o que é uma corrente de bolas?
— O que é o quê?
— Uma bola...
Antes que ele possa responder, Ellie está gritando novamente. Ela pula do banquinho, quase cai de
joelhos, mas não para enquanto salta para pegar o caderno de suas mãos.
— Oh, meu Deus, isso não é para você!
Ela pega o caderno, mas não antes de eu ver... o desenho de um pênis curto? E duas pedras?
— Eu gosto de Dick e suas Nozes — diz Tucker. — Eles são engraçados.
Seu rosto está da cor de um tomate cereja com sobrancelhas e olhos azuis brilhantes.
— Por favor, não abra cadernos e blocos de desenho aleatórios nesta casa. Você não sabe o que
vai encontrar, e meu irmão tem algumas coisas muito adultas que você não deveria ver.
Beck não tem cadernos de desenho.
Beck joga videogame quando está aqui. Às vezes, pôquer.
Mas ele nunca desenhou ou escreveu coisas em nenhum dia de sua vida.
Ellie, por outro lado...
— Nem uma palavra. — Ela levanta a palma da mão para mim e sai mancando da sala, mas não
antes de pegar o saco de donut. — Nem uma única palavra.
— Ei, você tem um Frogger para pôr em dia — grito atrás dela. — Valendo setecentos mil pontos.
Ela olha para mim, vê que Tucker não está olhando e levanta o dedo do meio.
Eu reprimo um sorriso, porque essa atitude?
É totalmente a Ellie Ryder do passado.
E vê-la voltando com força total alivia mais do que posso admitir para alguém.
Principalmente seu irmão.
09

Tucker e eu estamos no décimo oitavo buraco, depois de termos sobrevivido à saída de casa, com
Ellie insistindo que não precisava de carona para lugar nenhum e que ela garantiria que nenhum dos
“cadernos de Beck” fosse deixado pela casa novamente.
Eu sorri para ela, demonstrando que não acreditava nem um pouco, e ela me mostrou o dedo do
meio quando Tucker se virou.
No campo de golfe em miniatura, passamos pelo buraco de ataque de canhão inglês, o buraco da
sereia, o buraco do furacão e muito mais, para finalmente chegar ao buraco do Kraken. Parece errado
que chegamos tão longe apenas para perder nossas bolas na boca de um dos monstros marinhos – ou
possivelmente em suas órbitas – mas acho que essa é a vida de um pirata.
— Papai! Pai, acertei no nariz dele! Você viu?
— Você o acertou com uma meleca de bola de golfe. Bom trabalho.
Tucker joga os braços em volta da minha cintura.
— Sou tão feliz por você ser meu pai.
Meus olhos ficam pesados e eu pisco algumas vezes antes de levantá-lo para um abraço. Na
maioria dos dias, sinto que errei mais do que acertei, e não tenho a menor ideia do que ele vai pensar
de mim quando crescer. Eu deveria estar lá para ele todos os dias, e não apenas ligar na hora de
dormir, da Base Aérea Gellings, a oitocentos quilômetros de distância, na Geórgia. Mas ele ainda
parece pensar que sou bom no trabalho de pai, pelo menos por enquanto.
— Eu te amo — digo a ele.
— Eu sei — ele responde, e eu o coloco no chão com uma risada. — Sua vez, pai. Aposto que
você consegue acertar na testa dele. Essa é a tacada mais difícil, então eles fizeram um buraco
realmente grande. Aposto que nem Cooper Rock consegue acertar a testa.
Eu dou uma tacada e afundo minha bola na testa do Kraken, que, de fato, é o maior buraco. Mas não
digo a ele que isso torna as coisas mais fáceis, porque gosto de ser seu herói.
— Algum dia, serei um mestre no Putt-Putt como você — Tucker me fala.
Eu pego sua mão enquanto nos dirigimos para devolver nossos tacos.
— Algum dia, você será ainda melhor do que eu.
— Sim, porque um dia eu vou ser o Capitão América — ele diz sabiamente.
— Capitão América? Quem quer ser o Capitão América, quando você pode ser o Barba Negra? —
O velho enrugado atrás do balcão diz com uma piscadela, enquanto lhe entregamos nossos tacos. Ele
está usando um tapa-olho, um chapéu de pirata e um papagaio no ombro.
— Foda-se o Barba Negra — diz o papagaio.
— Calma, calma, Bico Longo de Prata. — O velho pirata – com certeza eles o chamam de Pop por
aqui, chefe do clã dos Rock – olha severamente para Tucker. — Nunca deixe seus netos perto do
papagaio, eles ensinam palavras terríveis. Mas eles vão se ver comigo, todos eles. Estou planejando
fazer com que cada um encontre o amor de suas vidas, e isso vai ensiná-los.
— Ameaças vazias — diz uma mulher bonita de jeans e camiseta de Shipwreck, enquanto entra
pela porta. — Se você fosse encontrar pares para nós, já teria feito isso.
— Talvez eu deva praticar com este jovem.
Tucker ri novamente.
— Não quero me apaixonar por uma garota. Eu só tenho sete anos.
— Hmmm... Então talvez eu deva praticar com seu pai.
— Ele já está apaixonado pelo trabalho.
Pop e sua neta tossem, olhos azuis idênticos brilhando enquanto eu esfrego a mão no rosto para
impedir que Tucker veja minha irritação.
Sua mãe não deveria dizer coisas assim na frente dele. Não sou casado com o meu trabalho.
Eu dividi as prioridades entre a família e o país. Considerando que ela...
Não. Isso não vai ajudar. Não vou por esse caminho.
— Ah, um caso difícil — diz Pop. — Bom. Isso só vai provar aos meus netos que pode ser feito.
A mulher revira os olhos.
— Não tenha medo — ela me diz. — Você está seguro.
— Está com fome? — Eu pergunto a Tucker.
— Eu estava com fome antes de pularmos sobre os crocodilos, mas eles me assustaram pra
caramba. Mas acho que já posso estar com fome de novo. Deixe-me ver. — Ele dá um tapinha no
estômago. — Ei, barriga, você quer um pouco de comida? — Ele se inclina e acena com a
cabeça. — Disse que sim, pai. Queremos mais donuts.
Nós escapamos do velho casamenteiro e descemos a rua para verificar a fila de espera no
Anchovas, pizzaria no meio da Avenida Barba Negra. Os pelos dos meus braços ficam arrepiados
por uma fração de segundo, antes de eu perceber quem estava na nossa frente na fila.
A melhor amiga de Ellie.
A noiva.
Ela está de jeans hoje, mas sua camiseta tem uma caveira e ossos cruzados, e ela está usando botas
de pirata e brincos de papagaio.
— Oh, meu Deus, é o Wyatt da Ellie — diz ela.
Porra.
Droga.
Cidade pequena. Acho que iria acontecer de qualquer maneira.
Os dois homens e a mulher com ela olham para nós, e eu instintivamente agarro a mão de Tucker
com mais força, enquanto aceno.
— Bom dia.
— Não vamos ter que brigar para ver quem vai se sentar com ela, vamos? — Ela pergunta.
O Homem das Cavernas Loiro fica rígido, recebendo um olhar suspeito da ruiva que está com ele,
mas isso não explica onde Ellie está agora.
— Eu amo a Srta. Ellie — declara Tucker. — Ela compartilha seus donuts.
Com alguns de nós.
Eu não recebi nenhum.
A noiva – Monica, tenho quase certeza de que Beck mencionou uma ou duas vezes, é a melhor
amiga de Ellie desde a faculdade – agacha-se ao nível de Tucker.
— Você quer se sentar conosco, para que não tenhamos que lutar por ela?
— Sim! E vou compartilhar meu shaker cheese com ela, para agradecê-la pelos donuts.
— Perfeito. Jason, querido, uma mesa para sete — ela diz ao loiro de cabelo comprido que
segurava sua mão.
— Nós não queríamos... — eu começo.
— Não seja bobo. Eles têm que juntar duas mesas para um grupo de cinco pessoas, de qualquer
maneira, então estamos sendo mais econômicos. Além disso, quem não gostaria de comer com uma
criança tão fofa?
Tucker sorri para mim com seus dentes da frente tortos e enormes, cabelo castanho rebelde, nariz
redondo e óculos sujos, e não posso deixar de sorrir de volta.
Eu deveria protestar mais, mas se eu me juntar a eles para almoçar, provavelmente irritarei Ellie.
E esse é o meu trabalho secundário desta semana, que fica logo atrás de me divertir com Tucker e
logo antes de perder o sono para tentar recuperar a pontuação mais alta de Beck em Frogger.
Oh. E tem toda aquela coisa de brincar de ser namorado dela.
Pretendo aproveitar cada minuto.
Só para assistir seu ex se contorcer.
Se ele não tivesse agido como um idiota total – quem dá o fora em alguém no Natal? – ela não
estaria na casa dos pais, procurando alguém para compartilhar sua infelicidade.
É mais fácil culpá-lo, e cada vez mais eu decido que ele é um pedaço de merda.
— Como foi o desfile? — Monica pergunta a Tucker.
— Onde está Ellie? — Homem das Cavernas Loiro me pergunta, enquanto Tucker diz a Monica que
gostou do desfile.
Eu sei o nome dele, mas preferiria chamá-lo de Imbecil. Já que não posso fazer isso na frente do
meu filho, será Homem das Cavernas Loiro mesmo.
— Ela está preparando a perna de pau — digo a ele.
— Sério, Patrick, eu acabei de te dizer — Monica diz, com um suspiro. — Ela está estacionando o
carro e brigando com Grady sobre aceitar uma carona em um carrinho de golfe.
— Você não a trouxe? — Homem das Cavernas Loiro diz.
— Ela não queria compartilhar o resto de seus donuts, já que Cooper Rock os entregou — anuncia
Tucker. — Ele autografou minha espada de pirata. Será que ele autografou uma para a Srta. Capitã
Ellie também?
— Cooper autografou um monte de coisas para Ellie — Monica diz a ele. — Mas ela geralmente
não guarda. Ela doa tudo para leilões de abrigos de animais.
— Como cães e gatos?
— E, às vezes, cabras, cobras e ouriços.
Tucker franze a testa, como se estivesse pensando em um abrigo para cabras, cobras e ouriços.
— Eu disse que conseguia andar — diz uma voz familiar que faz o refrigerante zumbir em minhas
veias.
Todos nos viramos enquanto Ellie dá um suspiro exasperado, então se inclina para abraçar o tal
Rock que deveria ser seu par na noite passada. Ele está dirigindo o carrinho de golfe do qual ela está
saindo.
— Mas obrigada.
— Vale a pena te ajudar — ele diz a ela com um sorriso sedutor, e considero como seu rosto ficaria
muito mais atraente com um olho roxo.
Faço uma carranca para ele, que capta meu olhar e pisca.
— Conseguiu uma espertinha, cara. Homem de sorte.
— Por que todos os homens da minha vida estão sendo idiotas? — Ela conclui quando seu olhar
pousa em Tucker.
— Oi, Srta. Ellie! — Tucker diz. — Você trouxe mais donuts?
— Não, a menos que vamos comer donuts de pizza no almoço — ela responde. — Você venceu seu
pai no golfe?
— Não.
— Sempre há uma próxima vez. Toca aqui por tentar. — Seu andar é rígido, mas ela está sorrindo
para Tucker como se não sentisse dor, e se inclina para cumprimentá-lo.
— Você já venceu meu pai no golfe? — Tucker pergunta.
— Todas as vezes — ela diz a ele.
— Porque eu a deixei — acrescento.
Com um sorriso. Como se nosso relacionamento ficasse ainda melhor com toda a competição.
— E isso não é a coisa mais doce? — ela diz firmemente com um sorriso.
— Senhorita Capitã Ellie, eu quero uma lhama algum dia — declara Tucker.
Ellie ofega.
— Mentira, eu também! São muito fofas, não são?
— Vou nomear a minha de Llama Llama Ding Dong, porque meu professor toca essa música o
tempo todo.
— Você... eu... sabia que é muito adorável?
— Sim.
Ele sorri. Ela bagunça o cabelo dele e se aproxima para cumprimentar Monica com um
abraço. Quando ela termina, apenas para irritá-la – e para assistir o Homem das Cavernas Loiro
fumegar também – envolvo um braço nos seus ombros e beijo seu cabelo, que tem cheiro de flores.
Tenho um papel a desempenhar.
Explicarei a Tucker mais tarde. Não deve ser muito difícil. Somos velhos amigos.
Não sei como vou explicar ao meu pau que não vamos fazer isso de verdade, de novo, mas ele vai
sobreviver.
— Gostou da viagem? — Eu pergunto.
— Pare de tentar me ajudar a andar. Eu posso fazer isso sozinha.
— Eu posso ajudá-la a andar, Srta. Ellie — oferece Tucker.
— Aww, isso é tão gentil da sua parte, mas eu tenho que comer com...
— Todos nós — eu interrompo.
— Vamos almoçar juntos! — Tucker diz. — Capitã Monica disse isso. Você pode me ensinar a
desenhar um...
— Pirata? — Ellie exclama desesperadamente. — Sim. Posso te ensinar a desenhar um pirata. Ou
um papagaio.
— O papagaio do senhor do golfe disse um palavrão.
— Ai, Pop Rock está trabalhando no Buraco do Naufrágio hoje? Seu papagaio geralmente diz
palavras sujas, ele é um pássaro muito malicioso.
Nossa mesa é chamada, e nós entramos com Tucker segurando orgulhosamente a mão de Ellie.
— Tenha cuidado, há uma cadeira — ele diz a ela, conduzindo-a ao redor de uma das mesas de
madeira maciça da sala de jantar, com tema de tesouro.
— Muito obrigada, senhor galante — ela responde, e em seguida acrescenta baixinho para mim: —
Por que você está aqui?
— Momento fortuito. E o destino, é claro. Imaginei que você estaria aqui e senti sua falta.
Ela me olha mais de perto, e há um brilho em seus olhos como se ela estivesse se preparando para
me superar no nosso novo jogo de relacionamento amoroso.
O que não deveria ser uma grande surpresa. Ela sempre foi brilhante.
— Aqui, Srta. Ellie. Você se senta na extremidade para que possa colocar o pé para cima, se
precisar.
Tucker a ajuda graciosamente a se sentar em uma cadeira – tão graciosamente quanto uma criança
de sete anos que mal chega a um metro de altura pode conseguir – e lhe dá um olhar engraçado
quando ela responde:
— Obrigada, bom senhor, pode beijar minha mão.
— É o que os cavalheiros costumavam fazer para as damas — sussurro para ele.
Ele torce o nariz para mim, como se estivesse pedindo a ele para abraçar uma enguia.
— Pai, eu gosto dela, mas não quero beijá-la.
— Aqui. Sem piolhos. Desse jeito. — Eu me curvo, pego a mão de Ellie e pressiono um beijo forte
e estalado, mas também passo meus dedos em sua palma.
Levemente.
Onde ninguém pode ver.
Arrepios percorrem seu braço, e há um tremor em sua mão antes de eu baixá-la, ainda segurando-a.
— Viu? — Digo a Tucker. — Nada de mais.
Eu ajudo Tucker a sentar na cadeira em frente à dela e tomo a liberdade de afastar seus cachos
curtos e escuros da bochecha, antes de puxar minha própria cadeira e me sentar.
Algo esguicha sob a minha bunda, e sinto um líquido frio na minha nádega esquerda ao mesmo
tempo que uma mulher atrás de mim grita.
Eu pulo o mais rápido que posso, esbarrando em um garçom que passa, o qual despeja uma pizza
nas costas da mulher que acabou de ser atingida com... com o quê?
Seja o que for, é vermelho e pegajoso, e por que diabos tem uma garrafa de ketchup em uma
pizzaria?
— Oh, meu Deus, você se sentou no molho francês! — diz a namorada do Homem das Cavernas
Loiro. Seus olhos estão chocados, como se ela estivesse horrorizada e tentando não rir.
— Francês... o quê? — Tucker pergunta.
— O molho francês — Ellie diz a ele, e eu posso ouvi-la tentando não rir enquanto segura sua
cadeira, estremece e tenta se levantar novamente. — Eles colocam na pizza aqui, e...
oh. Certo. Péssima hora. Desculpe.
— Eu sinto muito. Oh, meu Deus, minha senhora, eu sinto muito, muito — o garçom está
balbuciando. — Senhor. Eu sinto muito. Eu não sei como... por que...
Tento ajudá-la a pegar a pizza.
— Minha culpa — eu digo a ela. — Deveria ter olhado antes de me sentar.
Ellie está chupando as bochechas, o rosto apontado para o chão. Parece que Tucker não consegue
decidir se deve rir ou chorar.
— Papai fez uma grande bagunça — digo a ele.
— Isso não é engraçado — sussurra Monica, como se estivesse falando sozinha, enquanto seu rosto
se contorce com o esforço de conter o riso.
Seu noivo está em pé me ajudando, os lábios torcidos em um sorriso irônico.
— Poderia ter acontecido com qualquer um de nós, cara. Ellie, sente-se. Está no papo.
Um gerente corre, e a namorada do Homem das Cavernas Loiro entra em ação, verificando se a
mulher atrás de mim tem queimaduras de pizza.
— Eu sou uma enfermeira — ela diz, como se tivesse acabado de se lembrar. — Posso?
— Wyatt? — Ellie sussurra em uma voz estrangulada.
— Sim? — resmungo enquanto escorrego no queijo derretido no velho piso de madeira.
— Lamento que você esteja tendo um dia horrível.
De repente, a mulher que acidentalmente atacamos com molho francês e pizza cai na gargalhada.
— Qual a chance de isso acontecer? — Ela diz.
— Eu realmente sinto muito, senhora — digo novamente.
— Querido, eu estava sentada aqui furiosa, porque tenho que encontrar minha cunhada, que está
sempre falando sobre todas as terríveis calamidades que acontecem com ela, como uma verruga no
joelho, que é muito ruim. Mas ela é assim, sabe? E agora eu tenho uma história que vai superá-la
pelo resto da vida.
— Senhora, ainda vamos preparar sua pizza e lhe dar um voucher valendo outra. E uma camiseta
grátis — diz o gerente.
— Posso pegar uma dessas xícaras que brilham no escuro e uma caneca de pirata também? Vou
pagar por isso, mas direi a ela que recebi tudo de graça. — Ela gargalha enquanto esfrega o molho
francês de sua camisa com um guardanapo. — Ela vai ficar com tanto ciúme.
— A caneca dela é por minha conta — digo ao gerente.
— Vou comprar para ela um moletom com capuz de Anchovas — Jason fala.
— Coloque um daqueles baús de tesouro para ela na minha conta — uma avó a duas mesas fala. —
Este é o melhor entretenimento que tive desde que Barba Negra tirou a roupa para mim, duas noites
atrás.
Metade das pessoas no restaurante geme.
— Não precisava saber disso, Sandy! — alguém fala.
— Há crianças neste lugar, Nana — censura o gerente.
— Um baú do tesouro? Só isso? — alguém diz. — Vou pagar um conjunto completo de canecas
para ela.
— E eu vou pagar o jantar daquela mesa — outra voz interrompe, apontando para nós.
— Cerveja para todos! — alguém grita.
Apesar de ficar sentado no molho francês pela próxima hora – molho que Ellie espalhou em toda a
pizza e convenceu Tucker a colocar também, depois que ela o ensinou a desenhar uma cara de pirata
– o almoço é tão divertido quanto o Buraco do Naufrágio, exceto por mais barracos e lembranças do
mar. Monica abafa os comentários sobre Ellie e eu estarmos namorando, e em vez disso está me
enchendo de perguntas sobre ser engenheiro de testes de voo. Exceto por um ocasional comentário
sarcástico sobre meu pagamento, o Homem das Cavernas Loiro mantém sua atenção focada
principalmente em seu telefone. Jason nos conta tudo sobre a última vez em que foi à África com a
organização sem fins lucrativos para a qual trabalha, e então se gaba da obra de arte reciclada de
Monica.
E Tucker começa a colorir um navio pirata que Ellie desenha no papel toalha, o que o mantém feliz
muito depois de terminar de comer. Ele está carregado com mais itens do que conseguiu no desfile
quando partimos.
— Esta cidade é uma loucura — murmuro para Ellie quando voltamos para a rua, cheios da melhor
pizza de massa fina de todo o estado.
— Atendimento ao cliente e reputação acima de tudo — ela responde. — Bem-vindo à família
Shipwreck.
Dois piratas em monociclos estão fazendo malabarismos para frente e para trás, bem no centro da
Avenida Barba Negra, e a Leiteria Corvo do Mar do outro lado da rua está distribuindo amostras
grátis para qualquer um que queira gritar Ahoy, amigo! para distraí-los.
Todos estão sorrindo, apesar dos insultos de piratas voando por todo lado.
Todos, exceto o Homem das Cavernas Loiro.
Ele está me olhando com uma careta.
E estou ignorando.
— Vocês virão conosco para o Buraco de Rolha, certo? — diz Monica.
— Wyatt prometeu a Tucker levá-lo ao Baú de Davy Jones — Ellie diz com pesar suficiente em sua
voz, que quase espero que Tucker anuncie que prefere jogar boliche.
Ele não quer, é claro.
O garoto adora um bom parque aquático.
Mas me asseguro de dar um beijo de adeus em Ellie antes que a turma da festa de casamento vá
embora. Um bom beijo.
O tipo de beijo que sugere que há mais de onde esse veio.
E, porra, se eu não queria beijá-la mais se pudesse.
O Homem das Cavernas Loiro me encara.
E decido que ficarei perfeitamente contente em interpretar o namorado dela pelo resto da semana.
— Pai, amigos se beijam, certo? — Tucker pergunta enquanto vamos para o carro para pegar a
bolsa com roupa de piscina e mais protetor solar.
— Amigos adultos, às vezes, sim — digo a ele.
— Isso significa que você vai se casar também?
Porra, eu nunca deveria ter me casado pela primeira vez, mas achei que era a coisa certa a
fazer. Nenhuma chance no inferno de fazer isso duas vezes.
Eu me agacho até o nível dele.
— Sabe que você é o número um na minha vida, não é?
— Atrás do seu trabalho.
Eu balanço a minha cabeça.
— Eu faço meu trabalho para manter você, seus amigos e as famílias de seus amigos
seguros. Porque eu te amo primeiro, mesmo quando meu trabalho me mantém longe. Eu sinto sua falta
todos os dias. E posso ter amigos especiais indo e vindo, mas você sempre será o mais
importante. OK?
Ele franze a testa como se quisesse perguntar mais, mas apenas diz:
— Tudo bem.
E mais uma vez, eu me pergunto o quanto estou bagunçando a cabeça dele.
Mas esta é minha vida na Força Aérea. Eu me mudo, faço novos amigos, eles partem. Eu faço mais
amigos, então eu parto. É a vida que muitos militares também vivem.
Você tem que dizer muitos adeuses, mas encontra muitas pessoas boas ao longo do caminho.
Sentirei falta quando acabar, o que será mais cedo do que jamais desejei, mas as chances de eu ter
uma longa carreira na Força Aérea e estar perto de Tucker são mínimas.
— Temos muita sorte — digo a ele. — Compartilhamos o almoço com um monte de pessoas que
acham você incrível.
Ele sorri para mim.
— Isso é porque eu sou incrível, pai.
Ele, com certeza, é.
10

Passei o resto do dia me sentindo estranhamente sozinha, apesar de estar com Monica e Jason.
Patrick e Sloane também, mas é estranho sair com um homem que me viu nua, sabendo que ele fica
nu para outra pessoa agora, então estou me concentrando no meu melhor amigo.
E não em Wyatt.
Aquele beijo.
Tucker e sua doce insistência de que ninguém mais poderia desenhar piratas como eu.
— Os meus pais chegam amanhã — Monica me diz enquanto chegamos ao meu carro no
estacionamento. Ela insistiu em caminhar comigo e, como não passamos muito tempo sozinhas nas
últimas semanas, além de dirigir até aqui, é bom ter mais alguns minutos para nós. — Minha mãe
ainda não entende a coisa do casamento pirata, mas acho que quando ela vir a espada de Jason lutar
contra os piratas amotinados que querem me roubar, depois de fazermos nossos votos, ela vai
entender.
Eu ri.
— Eu te amo.
— Claro que você ama. Todas as outras pessoas que você conhece são C-H-A-T-A-S. — Ela
revira os olhos com fingimento, e nós duas caímos na gargalhada de novo, porque não há nada
remotamente chato nas pessoas da minha vida.
Beck e metade dos caras com quem crescemos são mundialmente famosos desde antes de eu me
formar no colegial, e nem sempre foi fácil encontrar verdadeiros amigos no meio das pessoas que
querem apenas se aproximar de Beck e seus companheiros da banda Bro Code. Mas Monica é
totalmente country e sempre será. Ela não escolheria uma boy band nem se quisesse, e preferia babar
por Orlando Bloom em Piratas do Caribe e Capitão Hook de Once Upon A Time do que ficar
olhando a página do meu irmão no Instagram.
Ela também sempre me pediu para virar os pôsteres de papelão dele, sempre que passava na casa
dele. Ou na casa dos meus pais, depois que Beck esteve lá e deixou mais alguns.
Ele é um idiota.
— Sério, eu vou entender completamente se você ficar longe dos pais de Jason. Às vezes, me
pergunto como ele tem a mesma genética que todos eles.
— Toda família tem uma ovelha negra. — Nos Dixons, é Jason. Ele trabalha para uma organização
sem fins lucrativos, cuja missão é fornecer água potável para países do terceiro mundo, em vez de
entrar no negócio bancário com seu pai e irmão.
Ou até mesmo no negócio de socialite com sua mãe.
Já faz tempo suficiente desde que Patrick e eu terminamos, que finalmente fui capaz de ver
claramente como minhas prioridades foram confusas na maior parte da minha vida. Achei que ter uma
carreira sólida, um marido estável em uma carreira complementar e filhos adoráveis, para dar
continuidade à empresa de engenharia ambiental da família Ryder, era tudo o que importava.
Mas a ideia de ser a metade de um casal poderoso não me atrai mais.
E quanto mais tempo passo com Patrick, mais questiono tudo o que sempre quis.
Ele passou metade do almoço checando o celular. Perdeu dois jogos inteiros de boliche devido a
uma importante ligação de trabalho. E não foi até que Sloane pegou seu telefone no jantar, que ele
finalmente teve uma conversa que não era sobre sua viagem, clientes ou horário de trabalho.
Ou para provocar alguém. Como com Wyatt no almoço.
As Forças Armadas? Isso não paga muito bem, não é? Oh, isso mesmo, você é divorciado. Eu
nunca deixaria meu filho passar uma semana sem me ver.
Quando estávamos juntos, eu o achava encantadoramente cínico. Agora, posso ver que é realmente
um idiota, do jeito que faz Wyatt parecer... não tão idiota.
E Patrick aprendeu com os pais.
— De jeito nenhum vou deixar você enfrentar os pais de Jason sozinha. Eu estarei lá, e se eles
forem rudes, vou apenas mencionar quantos dos meus outros ex-namorados enviaram flores depois
do meu acidente.
Monica suspira.
— Eles são tão desatentos, às vezes.
Eu mordo a língua.
Meu irmão é desatento. Os Dixons são simplesmente mesquinhos.
Exceto Jason.
Que está correndo para o estacionamento agora, depois de parar para ajudar a convencer o
papagaio xingador do Pop Rock a descer de um telhado.
— Desculpe, senhoras — diz ele ao se juntar a nós. — Pássaro teimoso. Como está a perna, Ellie?
— Boa. — O que é quase a verdade, comparativamente falando. — Vocês não vão para o Bar do
Rum sem mim esta noite, vão?
— Não, vamos amanhã, depois que nossas mães nos deixarem malucos — Monica responde, feliz.
Jason balança a cabeça, fazendo seus cachos balançarem.
— Elas têm boas intenções — ele diz a ela e me dá um sorriso tímido. — E eu disse à minha para
ser boa com você.
— Não se preocupe comigo, já passei por coisas piores. Simplesmente aproveite a semana do seu
casamento.
— Você está se divertindo? — Monica pergunta.
— Claro.
— Nem tente isso comigo. Você está quase precisando encontrar Willie Nelson para um
baseado. Preciso falar com Wyatt sobre a sua necessidade de massagens nas costas e vinho durante
esta semana?
— Não, ele tem tudo sob controle.
— Então o que é essa tensão estranha entre vocês dois, na hora do almoço? E não me diga que você
ficou sem graça com o molho, porque seu irmão ganha a vida como modelo de roupa íntima. Nada
menos que a exposição frontal total em público é motivo para você ficar envergonhada.
Oh, porra, ela percebeu? Eu deixo minha voz mais baixa e tento inventar uma explicação razoável.
— Tucker encontrou meu bloco de desenho esta manhã.
Quando a ideia de uma criança de sete anos olhando para Dick e suas Nozes não parece perturbá-
la, acrescento: — Enquanto tentávamos consertar o Frogger.
— Puta merda, você quebrou o Frogger do Beck?
— Ssshhh! Vamos recuperar a pontuação mais alta — digo rapidamente. Não tenho ideia de como,
mas vamos. — E você não escutou a parte sobre o meu bloco de desenhos?
— Não, eu estou tentando muito, muito não rir de como Wyatt deve ter lidado com seu filho tendo
uma visão de um desenho animado de pênis. É mais fácil de fazer quando estou concentrada na
ameaça de seu irmão banir você de usar sua casa novamente. Lembra-se de quando viemos aqui para
a minha festa de aniversário?
— Oh, meu Deus, e todos os seus amigos do trabalho?
— E o pobre poodle raspado?
— E a stripper? — dizemos em uníssono, e nós duas nos dobramos de rir, o que envia um
estremecimento de dor ao meu joelho, mas foda-se, rir é muito bom.
— Você ganhou um stripper? — Jason pergunta suavemente.
— Um stripper pirata — eu explico.
— Um péssimo stripper pirata — acrescenta Monica.
— Ele tropeçou na bainha e acidentalmente nos mostrou a bunda ao tentar ligar a música.
— Ele era tão fofo.
— Como um garoto de fraternidade, meio que fora de seu ambiente.
— Acabamos deixando-o bêbado e dando aulas de cálculo para ele.
— Ele ainda me envia e-mails com seus relatórios de notas. Acho que ele vai se formar no próximo
ano.
Os olhos de Monica se arregalam.
— Ele vai? Devíamos ir para a formatura dele! Escola de engenharia, certo?
— Não, ele decidiu que ciência política era mais a sua cara. Seus pais estão arrasados, mas ele
está mantendo um sólido 4.0 desde que mudou de curso.
— Estamos totalmente indo para sua formatura.
— Fechado.
— Ei, Ellie, você precisa de uma carona para casa? — Grady Rock chama da beira do
estacionamento improvisado.
— Tenho meu carro bem aqui, mas obrigada — grito em resposta, dando um tapinha no meu Prius
branco.
— Ainda estou feliz em te dar uma carona. Minha TV está quebrada e não consigo assistir ao jogo.
— Vá bater na casa de Cooper.
— Pop está lá.
— Vá ver seu avô. É bom para a sua alma.
— Não quando Nana está com ele. Eles são nojentos. Ouvi dizer que ela estava contando histórias
na Anchovas sobre ele se despindo para ela. Você gostaria de ouvir isso?
— Nós vamos com ela, vamos dar uns amassos no sofá — Monica diz a ele.
— Puta que pariu — ele murmura alto o suficiente para ser ouvido. — Fica para a próxima.
Ele acena com bom humor e segue pela estrada.
— Aww, agora me sinto mal — diz ela. — Onde ele vai assistir ao jogo?
— A TV dele não está quebrada — digo a ela. — Ele está apenas espalhando esse boato para que o
resto da família não invada sua casa.
— Sério?
— Sim.
— Como você sabe tudo isso?
— Passe fins de semana suficientes em Shipwreck, e você saberá a cor de roupa íntima que todos
usam.
— Qual cor de roupa íntima você está usando hoje? — Jason pergunta a Monica.
Ela sorri para ele.
— Quer ver?
— Eca, aqui não. — Eu enxoto os dois para longe. — Vá em frente, vá fazer sua coisa de recém-
casados em outro lugar. A vejo no café da manhã.
Trocamos abraços, e eu entro no meu carro para subir a montanha. O céu ainda está turvo, de um
azul-acinzentado, mas o sol se escondeu abaixo do cume da montanha a oeste, e o crepúsculo está
caindo. Eu chego em casa sem incidentes antes que a escuridão engula totalmente as estradas, e
quando eu manco para o porão, encontro Wyatt e Tucker aconchegados no sofá do porão, assistindo
ao jogo do Fireballs.
Eles são estranhamente adoráveis, estranhos no sentido de que eu não deveria achar nada adorável
em Wyatt. Ele é um militar por completo, seu corpo uma máquina, sua mente afiada, suas expectativas
altas, seu cabelo curto.
Mas sentado ali, com as pernas apoiadas na mesa de centro e o braço dobrado em torno de um
garotinho ossudo e adormecido, de pijama e cabelo bagunçado, ele não parece um militar.
Ele parece um pai.
Efêmero.
Compassivo.
Vulnerável.
Abraçando seu mundo.
Um mundo que sempre quis, mas talvez nunca tenha.
Ele olha para mim e balança a cabeça.
— Doendo de novo?
— Não. — É um hábito ser uma idiota petulante perto dele, e eu suspiro, porque agora estou
frustrada comigo mesma. — Sim.
— Sente.
Eu manco até a beirada do sofá e caio nele, e em seguida procuro em minha bolsa os analgésicos
mais fracos, que prefiro aos de tarja preta.
Ele me passa uma garrafa de água de aço inoxidável, e agradeço educadamente.
Porque não posso usar Wyatt como saco de pancadas.
Eu sou melhor que isso
Além disso, meus problemas não são culpa dele.
E eu realmente preciso ser capaz de parecer a metade de um casal feliz, na frente dos pais de
Patrick, amanhã.
Eles são os piores, e vão lançar os dardos mais afiados.
Eu levanto o apoio para os pés, com o controle no suporte para copos do sofá, e olho para a tela
depois de devolver a água de Wyatt.
— Eu quero saber quem está ganhando?
— Talvez, se você for um fã de Pittsburgh.
A entrada termina com os Fireballs sendo rebatidos, e estremeço quando a pontuação pisca na tela.
— Não é possível vencer tudo isso.
— Ainda faltam três entradas.
Tucker ronca, e um sorriso gentil suaviza os ângulos rígidos do rosto de Wyatt. Volto minha atenção
para um comercial sobre remédio de micose.
— Muita diversão o esgotou? —pergunto, sem olhar para eles.
— Ele é um amador.
Uma risada surpresa escapa de mim, porque diversão e Wyatt não são duas coisas que eu costumo
juntar na mesma frase.
Exceto que, provavelmente, deveria juntar, sim. Qualquer pessoa que sai com meu irmão sabe uma
ou duas coisas sobre diversão.
— Sinto muito por Patrick — digo a ele.
Ele se mexe e percebo que está me observando, perplexo.
— Por ele ser tão rude no almoço — esclareço.
— Acontece — diz ele com um encolher de ombros. — Não é sua culpa.
— Foi minha culpa namorar com ele — murmuro.
— É verdade. — A perplexidade se transforma em uma carranca. — Acho que mereço aguentar um
pouco essas babaquices. Ainda não pedi desculpas pelo que aconteceu seis meses atrás. Por te deixar
chateada o suficiente para ir embora. Mas eu estou arrependido, quero dizer. Eu não queria te
machucar.
Eu congelo por meio segundo, porque ele não deveria pedir desculpas.
— Não posso viver no passado —digo baixinho.
Eu deveria ir verificar meu telefone, para ver se ainda está funcionando, mas quero ficar sentada
um pouco mais. Não pela companhia, digo a mim mesma, mas pelo resto.
O jogo volta, e ele se move.
— Antes que eu esqueça…
Ele estende meu telefone.
Um arrepio me percorre. Ele estava lendo minha mente?
— Funciona, e eu não passei trote em ninguém.
Eu fico olhando estupidamente para o dispositivo por mais tempo do que deveria, antes de pegá-
lo. Nossos dedos se roçam como fizeram com o sorvete, no Natal. Lembro-me da sensação de seus
lábios contra os meus, e um rubor aquece todo o meu corpo.
— Obrigada.
Ele franze a testa.
— Você está bem?
E há mais daquele encarar estúpido acontecendo, enquanto eu tento piscar e deixar meu rosto sem
expressão, porque há algo em seu tom que não é muito normal.
— Você não gritou comigo por não deixar você fazer isso sozinha — ele esclarece.
— Vinte e poucos anos gritando com você não funcionou, então talvez seja hora de desistir.
Ele se vira para se inclinar e tocar as costas da mão na minha testa. Tucker resmunga em seu sono,
mas não acorda.
— Sim, definitivamente quente — ele diz. — Você provavelmente deveria se despir
— Como é? — Sussurro.
Ele sorri.
— Ah, aí está ela. Apenas checando.
— Você está tentando me irritar?
Ele olha para Tucker, olha para o jogo e estremece quando Pittsburgh ganha um duplo do que
deveria ter sido um single, então olha para mim.
— Você se lembra que costumávamos jogar basquete na casa dos Rivers?
— Lembro que você costumava pensar que eu não conseguia acompanhar.
— Você não conseguia, mas esse não é o ponto.
Minha respiração está ficando mais tranquila à medida que voltamos aos velhos hábitos.
— Você tem tanta sorte que uma criança inocente está dormindo com você agora, ou estaria morto.
— Eu costumava esperar até que você acertasse o lance perfeito, e então diria que poderia ter feito
melhor, apenas para ver o vapor sair pelas suas orelhas. E ainda é tão fácil irritá-la.
Eu fico boquiaberta com ele. Ele faz isso de propósito?
E o que isso diz sobre mim, que ainda mordo a isca?
— Você... você é... você é um idiota — eu suspiro.
Tucker se mexe, e coloco a mão sobre minha boca.
Wyatt apenas encolhe os ombros, mas não o ombro que perturbaria Tucker.
— Tenho que ter algumas falhas. Caso contrário, eu seria insuportável.
Esse não é o cara que é o melhor amigo de Beck há mais de vinte anos. O olho com os olhos
semicerrados, mas não o questiono. Porque tenho a estranha sensação de que é exatamente o que ele
quer que eu faça.
Mas não consigo resistir a perguntar:
— Por que só comigo?
Ele mantém meu olhar por mais tempo do que eu esperava.
— Porque eu estava tão cansado de ser mimado, e você devolvia na hora, todas as vezes.
Só porque não sei do que ele está falando, não significa que não esteja falando a verdade. E há uma
verdade tão clara no tom de suas palavras, que sinto um arrepio profundo.
— Quem mimou você? — pergunto.
Ele balança a cabeça com um bufo.
— A pergunta certa é quem é que não fez isso?
— Por quê?
Ele olha para a TV e, quando acho que ele não vai falar mais nada, ele responde.
— O último cara que minha mãe namorou, antes de finalmente perceber o que estava fazendo
conosco e se mudar para minha avó, para reiniciar sua vida, foi um idiota de primeira classe — diz
ele. — Vamos deixar isso assim. Mas isso significava que minha avó andava pela vizinhança
procurando pais que tivessem controle suficiente sobre seus filhos para fazê-los cuidar de mim.
— Beck não o mimou.
— No começo, ele o fez. Todos eles fizeram. Eu podia ser pequeno e ferido, mas não era cego.
Meu coração está começando a doer, porque nenhuma criança deveria se sentir ferida.
— Não significa que eu não poderia cuidar de mim mesmo. Que eu não precisava disso. Que não
era grande o suficiente para isso. — Ele balança a cabeça. — Achava que eu poderia. Mas não
consegui. E Beck salvou minha pele quando entrei em uma briga com seu melhor amigo. Ele poderia
ter me deixado para trás. Em vez disso, ele o confrontou. Forte. Quebrou o nariz dele. Conseguiu uma
detenção na sexta série. E então ele me agradeceu por mostrar a ele como Andy Brentwood era um
idiota. O cara quase salvou minha vida e me agradeceu por isso.
Eu engulo em seco. Lembro-me de Andy vagamente, mas nunca pensei no porquê Beck parou de
falar sobre ele.
— Isso não é mimar você. Isso é fazer a coisa certa.
— Eu comecei a briga, mas ele que foi para a detenção. Ganhei biscoitos de chocolate e leite da
sua mãe, da Sra. Rivers e da minha avó. Eu contei isso para eles, para que os Wilson me ensinassem
a levantar pesos e para que Davis me ensinasse seus movimentos de Tae Kwon Do. Eu não queria
estar indefeso.
O gemido da torcida atravessa a televisão, mesmo em volume baixo, e olho o jogo, quase aliviada
pela distração.
Eu não tinha ideia de que tinha sido uma idiota com um garoto que teve idiotas o suficiente em sua
vida.
E isso não me faz sentir melhor sobre minhas escolhas de vida.
Homer de duas corridas. Os Fireballs estão perdendo por seis agora.
No quinto turno.
Vai ser um banho de sangue.
O time da casa de Copper Valley nunca ganhou uma World Series, mas também nunca foi tão ruim
quanto este ano.
Mesmo com Cooper Rock e suas incríveis jogadas na segunda base.
— Eu sempre apreciei que você não me deu nenhuma folga, e admirei sua determinação — Wyatt
diz, falando tão suavemente, que meio que acho que meus ouvidos estavam me pregando peças. — Se
você conseguia ser tão determinada, então eu poderia muito bem ser muito determinado também.
Quando o encaro, ele ainda está olhando para o jogo.
Mas eu sei que ele disse isso.
E eu sei que ele sabe que ouvi.
Ele se acomoda mais fundo no assento reclinado do outro lado do sofá. Tucker suspira e se
aconchega mais perto.
Pequeno Tucker, seguro, feliz e amado.
Eu ouvi Wyatt dizer a Beck uma vez, cerca de oito anos atrás, que ele não queria ser pai. Ele não
sabia como. Ele iria foder com tudo, e não seria apenas ele, seria ele e uma esposa e filho.
Mas Tucker?
Aquele garoto é muito, muito amado. Com dois pais que podem viver em estados diferentes, mas,
ainda assim, feliz. Bem ajustado. E amado.
E eu percebo que preciso ir.
Não para que eu possa verificar meu e-mail e todas as mensagens recebidas enquanto meu telefone
estava secando. Nem para que eu possa ligar para Beck e gritar com meu irmão por mandar Wyatt
aqui durante a semana do casamento de Monica.
Não, eu preciso ir antes de começar a ver Wyatt como o homem que vi na noite em que ficamos no
porão dos meus pais, seis meses atrás.
O pai zangado que só quer ficar com o filho.
Porque aquele homem é perigoso para o meu coração.
11

Se há um som que moverei céus e terra para parar, é o som do meu filho sofrendo.
Exceto quando estou sentado aqui com Tucker dormindo pacificamente em mim, ouvindo Ellie subir
as escadas mancando, eu quero rasgar algo ao meio para fazer sua dor ir embora também.
Eu não deveria. Não somos exatamente os inimigos que éramos quando crianças, mas não podemos
ser muito mais do que amigos casuais, ou um de nós começará a querer algo que o outro não pode
dar.
E ela não será a pessoa incapaz de fazer algo dar certo.
Não, esse seria eu.
Eu ouço cada passo enquanto ela caminha lentamente da cozinha para o quarto, no andar de
cima. Não porque ela está andando alto. Não porque falte isolamento. Mas porque estou
ouvindo. Quando o som distinto da água corrente do banho atravessa os canos atrás das paredes, fico
duro como um tijolo.
Ela está tomando banho novamente.
E não há nada que eu possa dizer ao meu pau para convencê-lo de que ela está ficando molhada e
nua para relaxar e que não há nada de sexy sobre ela mergulhar em uma banheira de água quente com
bolhas.
Não tenho dedos suficientes para contar o número de vezes que ouvi alguém dizer que Ellie é
irritante, ou Deus sabe quantas vezes eu mesmo pensei nisso a vida toda, mas no Natal, e de novo
agora, estou puto pensando nisso.
Ela é esperta. Ela é corajosa. Ela é forte. Ela é determinada.
Por que isso tem que se traduzir em irritante?
Por que ela tem que ser desacreditada por querer algo e ir atrás disso?
Ela não tem fome de poder. Ela não destrói as pessoas. Ela só quer manter seu próprio padrão mais
elevado, e não se desculpar por isso.
Eu me forço a ficar sentado o resto do jogo, o que é mais doloroso, por saber que Ellie está nua lá
em cima do que por assistir. Tucker não acorda quando eu o carrego para cima e o coloco na cama
queen-size, que o faz parecer ainda menor, e meu coração se aperta, embora eu saiba que ele está
tendo a infância que toda criança merece: segura, feliz e amada, apesar da dificuldade por eu não ser
capaz de deixar a Geórgia para me juntar a ele na Virgínia ainda.
Ele não está crescendo escondido, nas sombras.
Ele tem uma mãe capaz que cuida bem dele quando eu não posso.
Ele não sou eu.
E tenho certeza de que não sou nenhum daqueles seres humanos lamentáveis que minha mãe
costumava namorar.
Eu deveria ir para a cama também, mas estou inquieto e quero um lanche, então desço suavemente
escada abaixo. Espero que Ellie esteja na cama, mas ouço sua voz vagando pelo corredor quando
chego à cozinha.
— Nem tente bancar o inocente. Você fez isso de propósito.
Eu contenho um sorriso, porque não é preciso ser um cientista de foguetes para saber com quem ela
está falando, e não estou surpreso de ouvir os ecos da voz de Beck, embora eu não consiga distinguir
as palavras.
Não é da minha conta – ele pode contar a ela qualquer história que quiser, e ela não vai acreditar
nele, porque ela não deveria mesmo – então eu mexo na geladeira, em vez disso.
A mesma caixa está ali, bem na frente, chamando meu nome, assim como tem estado desde que a vi
ontem.
Uma caixa de pudim de banana do Camarada Capitão.
Ellie provavelmente me mataria se eu comesse.
Há uma linha entre irritá-la e ir longe demais, e eu não consigo decidir de que lado da linha cairia
o resto do pudim de banana.
Por um lado, não é um donut. Por outro lado, ainda é pudim de banana.
— Ele tem o quê?
A surpresa e o silêncio repentino em sua voz me fazem parar.
— Você está mentindo — ela diz. — Porque não faz sentido. Ele me carregou para o meu quarto na
noite passada.
E agora estou interessado.
Pego o pudim de banana, abro a tampa, pego uma colher e vagueio pelo corredor. A voz de Beck
fica mais clara.
— ...cardio-telepatia-rimmeria não diagnosticada. Ele está sendo teimoso e se recusa a admitir que
algo está errado, então precisamos que você seja extremamente legal com ele. E tome conta do filho
dele também.
— Rimmeria? O que é... Beckett Ryder? Deus me ajude, se você estiver mentindo para mim...
— Ellie, são três da manhã aqui, tenho uma viagem de avião de dez horas amanhã e estou falando
sobre um dos meus melhores amigos. Você acha que estou mentindo para você?
— Sim. — Há um toque de dúvida em sua voz.
Beck grunhe de frustração.
— Você realmente quer arriscar? Se ele tiver um ataque cardíaco sob o seu teto, você vai se sentir
uma idiota pelo resto da vida. Ele pode até ser expulso da Força Aérea.
Eu bato e não espero antes de abrir a porta. Ellie me olha de olhos arregalados e boquiaberta da
cama, segurando seu telefone na frente dela.
— Que porra você... você tem um problema de coração... esse é o meu pudim de banana?
Ela começa a levantar, estremece, olha para a blusa branca que está vestindo, que deixa pouco dos
mamilos para a imaginação, e puxa as cobertas até o pescoço.
— Você está morto — ela me diz.
Eu atravesso o quarto para me inclinar para a tela de seu telefone, o que me coloca no ponto ideal
para ter o cabelo escuro de Ellie fazendo cócegas no meu rosto, enquanto qualquer merda com cheiro
de frutas que ela usou no banho esta noite enche meus sentidos.
Beck sorri do outro lado da videochamada.
— Wyatt, amigo, como você está?
— Uma doença cardíaca? — digo.
— Ellie era tudo o que tínhamos em um prazo tão curto para observá-lo, mas você vai sobreviver.
— Ele pisca. Seus olhos azuis são iguais aos de Ellie, embora seu rosto seja mais anguloso e seu
cabelo estranhamente mais estilizado. — Mantenha-se firme. Mais ajuda está a caminho.
— Nós batemos a sua pontuação mais alta no Frogger — Ellie rosna ao telefone.
Os olhos de Beck se arregalam.
— Uma porra que você fez.
— Nós fizemos — eu concordo. — Ellie largou as coisas do casamento o dia todo para cozinhar
para mim, e Tucker continuou correndo para encher meu refrigerante.
— Prove, filhos da puta.
— Talvez amanhã. Estou cansada e não dormimos a noite passada. — Responde Ellie.
— Vocês dois não conseguiam se dar bem o suficiente para amarrar um cadarço.
Fazemos contato visual, e não preciso que ela diga o que está pensando para saber que estou
pensando a mesma coisa.
Qual é a única coisa pior do que arruinar sua pontuação mais alta?
Nós nos movemos em sincronia como planejamos, e de repente eu tenho meus dedos enfiados nas
mechas soltas de seu cabelo encaracolado, para aninhar seu couro cabeludo enquanto ela agarra
minha camisa pela gola e me puxa para sua boca, ainda segurando o telefone na nossa frente.
Não sei se a estou beijando ou se ela está me beijando, mas nossas línguas estão se chocando
exatamente como no Natal, e seu sabor doce é o complemento perfeito com o sabor de pudim de
banana persistente em minha boca, e ela está fazendo gemidos chorosos e barulhentos que podem ser
reais ou para se exibir, mas não me importo, porque, porra, isso é bom.
Bom pra caralho.
Exatamente como há seis meses.
— PARA DE FODER A BOCA DA MINHA IRMÃ, SEU IMBECIL!
Puta que pariu, eu não quero. Mas Ellie começa a se afastar, então eu a deixo ir. Ela sorri
docemente para Beck, segurando o telefone perto o suficiente de seu rosto para que eu não esteja
mais na imagem.
— Nós superamos totalmente a sua pontuação no Frogger — ela o informa.
Ele está olhando para ela, o queixo tremendo como se quisesse dizer algo.
— Além disso, acho que saberia se Wyatt tivesse uma doença cardíaca não
diagnosticada. Especialmente depois do que ele fez comigo esta manhã.
Começo a falar, porque não é muito difícil des-diagnosticar alguém que nem mesmo sabe disso?
Mas ela levanta a mão, e como eu realmente não quero dar a ela um motivo para notar outra condição
de que estou sofrendo no momento por beijá-la, calo a boca.
— Você... — ele começa.
— Boa noite, Beck — ela termina docemente. — Eu tenho que fazer... umas coisas.
Ela desliga o telefone e o joga na cama, depois pega o pudim de banana que, de alguma forma,
acabou na mesa de cabeceira.
— Obrigada por trazer a sobremesa. Você pode ir.
Eu a observo por um minuto, e quando ela olha para mim, a coisa mais louca acontece.
Nós dois começamos a sorrir.
— Davis — dizemos juntos, e de repente é uma corrida para ver quem consegue ligar para ele
primeiro.
Não há como saber se ele vai atender – tem muita coisa que nunca saberei sobre Davis Remington,
apesar de morar ao lado dele durante metade da minha infância – mas se ele não puder fazer o que
precisamos, ele saberá quem pode.
Minha ligação vai para o correio de voz e começo a falar dois segundos antes de Ellie.
— Cara, é Wyatt. Me liga. É sobre o Frogger.
— Davis, é a Ellie. Beck está aprontando comigo e você me deve uma. Sabe de uma coisa, traga
sua bunda aqui para Shipwreck, para ontem.
Ela desliga e puxa o pudim de banana do meu alcance.
— Nem pense nisso.
— O que Davis deve a você?
— Favores sexuais.
Minha pressão arterial passa de vermelho para preto.
— Uma porra ele deve.
— Por que você me beijou?
Claro que ela não vai se esquivar de perguntar.
— Para que Beck saiba que existe algo pior do que perder sua pontuação máxima no Frogger. Por
que você me beijou?
— Porque você beija bem.
De tudo que ela poderia ter dito, essa é a última coisa que eu esperava.
Mas não deveria ser.
É a Ellie. Ela ataca como um touro.
Ela é imparável.
— Não é apenas nisso que sou bom — digo a ela, e acho que aquele maldito sapo do jogo está
sentado nas minhas cordas vocais, porque saiu muito mais rouco do que deveria.
Como uma promessa, em vez de uma ameaça.
— Estou ciente — diz ela, igualmente gutural, mas igualmente hesitante.
Se isso fosse tudo que ela diria, eu poderia ir embora. Mas ela acrescenta:
— Eu não te odeio, você sabe — em um sussurro suave, e eu afundo na cama ao lado dela, porque
tenho quase certeza de que foi um convite.
— E se você estivesse sofrendo de um problema cardíaco real, eu o ajudaria — ela continua, ainda
mais suave.
É como se fosse o Natal de novo, me escondendo no porão dos pais dela depois de descobrir que
perdi a batalha para manter Tucker na Geórgia comigo enquanto esperava ordens para Copper Valley.
— Você daria uma babá terrível — digo com a voz rouca, porque alguém tem que nos impedir de
fazer o que estou pensando cada vez que ela deixa seu olhar vagar para os meus lábios desse jeito.
— Você seria um péssimo paciente.
— Eu deveria ir.
— Por que você disse a Beck que seria um marido e pai terrível?
Porra, como ela sabia disso?
— Ouvindo conversas particulares, sua bisbilhoteira?
— Não fique exaltado e presunçoso comigo. Eu te conheço muito bem.
— Ellie....
— Eu fui um grande erro? No Natal?
— Não. Sim. Porra. — Eu esfrego a mão nos olhos. — Os caras – sua família – eles são toda a
família que me resta. Eles e Tucker. Eu não quero foder com isso.
— Você, honestamente, acredita que algum membro da minha família te toleraria se você não fosse
bom o suficiente para todos nós?
— Não seja legal comigo.
— E se nós formos legais um com o outro? — ela sussurra.
— Ellie...
— Cale a boca, Wyatt. Não estou pedindo um relacionamento. Estou pedindo
um amigo. Não quero ir ao casamento da Monica sozinha. Eu não quero me sentir quebrada. Eu
quero sonhar novamente. Eu quero saber se posso ser normal novamente. Eu quero acreditar no
futuro. Eu não posso... eu não... eu não sei se eu posso...
Ela para com um grunhido de frustração.
— Deixa pra lá. Esquece. Eu...
Eu coloco minhas mãos em seus cabelos novamente antes que eu possa pensar, beijando-a com
força. Impiedoso e sem remorso.
A última coisa que ela fez antes do acidente foi, bem, ficar comigo.
Se ela precisa de ajuda para voltar à ativa, acho que o mínimo que posso fazer é, bem, ficar com
ela.
O que ela quiser. Até onde ela quiser ir.
Isso é o que você faz por um amigo, especialmente aquele que você não percebeu que precisava,
até que fosse quase tarde demais.
Certo?
12

Algo tão estúpido não deveria parecer tão certo, mas droga, quando Beck me disse que Wyatt tinha
problemas cardíacos – mesmo quando eu não acreditei nele – o meu próprio coração quase parou de
bater.
Até o Natal, Wyatt era o aborrecimento da minha infância. Mas ele cresceu.
Eu cresci.
E então eu tropecei no porão dos meus pais com um pote de sorvete, e agora estou novamente com
a última pessoa que me viu antes de eu não ser mais eu.
E ele sabe disso, ou não estaria aqui.
Ele não ficaria fingindo ser meu namorado com a história pairando no limite da tensão entre nós.
Ele tem gosto de pudim de banana e parece como um perdão, e se eu pensar nisso por muito tempo,
vou me acovardar. Então, em vez disso, jogo o pudim do outro lado da cama e cedo às sensações de
sua boca, seus lábios, sua respiração, seu aperto no meu cabelo, seu peitoral firme contra a fofura
extra que o meu adquiriu este ano.
— Diga-me para parar — ele murmura quando para de beijar para lamber um caminho ao longo da
minha mandíbula.
— Eu vou te matar, se você parar.
— Doces palavras.
— Meus mamilos estão duros.
— Porra, Ellie. Eu não posso... eu não sou... você merece...
— Cale-se. — Estou encharcada entre as pernas e posso sentir meu pulso no clitóris. — Eu sei
quem você é.
Ele mordisca o tendão entre meu pescoço e ombro, e agarro seus ombros sólidos para segurá-lo
onde é bom.
— Mais ali — eu imploro.
Ele mordisca novamente, então lambe minha pele sensível, e eu me movo na cama para separar
cuidadosamente minhas pernas, enquanto ele gentilmente puxa meu cabelo para o lado, seus dedos
roçando minha nuca e me fazendo choramingar de prazer.
— Aqui também? — Ele pergunta, esfregando o polegar na minha nuca.
— Hum-hum — consigo emitir.
— Relaxe, Ellie.
— Não sei como relaxar. Eu nasci assim. Tire sua camisa.
— Você primeiro.
Se ele acha que vou hesitar, está enganado. Eu tiro minha regata e o deixo ver tudo de mim. Os
seios mais cheios. Meus mamilos tensos. As cicatrizes que mal são notadas no lado do meu seio
esquerdo agora.
Ele os toca, porque é claro que ele percebe, observando meu peito com olhos enevoados e
entreabertos.
— Onde mais? — ele pergunta com voz rouca.
— Tire a camisa — eu respondo.
Seus olhos se erguem para os meus, e há uma fome crua que eu nunca vi antes. Em vez de arrancar a
camisa de algodão, ele a levanta lentamente, centímetro a centímetro, revelando o abdômen
esculpido, os peitorais retos, os mamilos endurecidos, seus braços flexionados quando ele finalmente
a puxa pela cabeça.
— Exibido —sussurro.
— Olha quem está falando — ele responde, inclinando-se para sugar um dos meus mamilos.
O prazer dispara do meu peito para o meu íntimo, começando aquela espiral há muito esquecida de
necessidade dentro de mim.
Esqueci o quão grandes são suas mãos, até que ele segura meu outro seio, cobrindo-o totalmente,
mesmo tendo aumentado meu manequim. Enquanto chupa com mais força um mamilo, circunda o
outro com o polegar. Eu arqueio em direção ao seu toque.
— Oh, Deus, sim — eu gemo.
Estou tão feliz por ele não ter um problema cardíaco.
— Deite-se — ele diz rispidamente, me empurrando com seu corpo até que eu esteja de costas, a
cabeça no travesseiro, as cobertas baixas na minha barriga. Ele começa a puxá-las, mas eu as agarro
com força.
— Ainda não.
Ele responde movendo-se para chupar meu pescoço novamente, enquanto sua mão desliza sob as
cobertas e sobre a minha calcinha.
Eu separo mais as pernas, e ele mergulha os dedos entre elas, sobre a barreira de algodão fino.
— Porra, Ellie, você está encharcada — ele geme.
— Toque-me, Wyatt.
Ele cobre minha boca com a sua novamente, sua língua deslizando contra a minha, seu corpo rígido
me prendendo, uma mão acariciando meu cabelo enquanto seus dedos deslizam sob minha calcinha.
Nós dois gememos no beijo, e eu chupo forte sua língua quando ele desliza um dedo dentro de mim.
Ele se move lentamente, com cuidado, enquanto eu tento arquear meus quadris para seu toque.
— Mais — eu choramingo.
— Você é tão gostosa.
Nós mergulhamos de volta no beijo enquanto ele adiciona outro dedo. Eu alcanço entre nós e me
atrapalho com o botão em seu short. Quando finalmente consigo e envolvo minha mão em torno de
seu pau duro, ele empurra seus dedos com força dentro de mim, alcançando aquele ponto
desesperado, dolorido e necessitado bem no fundo.
— Ali —suspiro, apertando-o com mais força.
— Cristo, Ellie, isso é bom.
— Mais profundo, Wyatt, ali... oh, Deus, bem aí.
Eu o masturbo mais rápido enquanto ele enfia os dedos mais fundo. Levanto meu joelho direito para
dar a ele um ângulo melhor, massageando seu pau e apertando até...
Até sentir o formigamento.
O formigamento atrás da minha pálpebra esquerda.
— Oh... ah... não... ahh...
— Goze para mim, Ellie — ele ofega. — Porra, eu não posso... você precisa... você pode fazer...
— Wya... ah... ahh
— É isso aí, querida. Isso é...
— Ah-CHOO!
Meu orgasmo explode, e a dor dispara no meu nariz enquanto eu espirro com toda força. Minha
cabeça colide com a de Wyatt. Algo quente e úmido sobe pelo meu peito e na minha axila, e Wyatt
grunhe como um inferno antes de pular para trás, cobrindo seu pau com uma mão e seu olho com a
outra enquanto ele corre para o banheiro, seu short caindo até os joelhos.
Meus olhos estão ardendo, meu nariz latejando como se alguém tivesse martelado um prego nele, e
minha boceta ainda está tendo tremores secundários do orgasmo como se não fosse grande coisa eu
apenas espirrar em Wyatt e dar uma cabeçada forte nele no meio de uma intensa sessão de
carícias.
Eu espirro de novo, a dor atinge todo o meu rosto, e sufoco um gemido.
— Sinto muito — eu falo fracamente.
Wyatt reaparece na porta com o short de volta e um cachorro felpudo cinza na mão. Pelo menos eu
acho que é isso. Minha visão está um pouco embaçada com todo o calor em meus olhos, e eu não sei
de onde um cachorro felpudo cinza teria vindo.
— Você está bem? — Ele pergunta.
— Me desculpe — balbucio novamente. — Machuquei você? Me desculpe. Eu não queria... não
percebi... isso só aconteceu uma vez antes...
— Não preciso saber disso — ele murmura.
Ele esfrega uma toalha – e não um cachorro cinza felpudo – no meu peito e na lateral, e eu percebo
que ele estava no meio de seu próprio orgasmo quando eu dei a nós dois narizes quebrados.
— Estou sangrando? —sussurro.
— Não.
— Seu globo ocular está bem?
— Sim.
— Hum... obrigada pelo orgasmo. Foi muito bom. — Oh, porra. Vou ficar com o nariz inchado para
o casamento da Monica. Vou estragar as fotos do casamento dela.
Então me lembro que é a Monica, e ela vai passar o resto da vida dizendo às pessoas que ajudei a
espancar os vagabundos piratas que tentaram sequestrá-la do Jason no casamento, e tenho até o nariz
machucado para provar isso, e eu sufoco uma risada.
E então choramingo de dor, porque bufar e nariz quebrado não combinam.
— Puta que pariu, Ellie — Wyatt murmura. — Nós temos problemas. Você consegue andar? Como
está sua perna? Levante-se. Você pode dormir no quarto de hóspedes. Vou limpar isso amanhã.
Ele ainda está segurando seu olho enquanto termina de me enxugar.
— Tem certeza de que seu olho está bom?
— Sim. Continue. Você não pode ficar sem dormir.
— Eu posso limpar isso...
Ele se levanta, planta os punhos na cintura, expandindo os ombros ainda mais, e sagrado pudim de
banana, o homem provavelmente poderia quebrar uma noz com aqueles músculos abdominais.
Ele limpa a garganta. Oh, certo.
Ele está olhando para mim.
— Estou ciente de que você é perfeitamente capaz. E vou limpar isso, inclusive o pudim de banana,
e você vai dormir mesmo assim. Diga obrigada, Wyatt.
Olho para cima e percebo que há, na verdade, pudim de banana derramado no edredom.
— Obrigado, Wyatt — murmuro com um suspiro enquanto, silenciosamente, lamento a sobremesa
perdida.
— Terminamos de discutir agora?
— Terminamos alguma vez?
Seus lábios se contraem novamente e, caramba, agora estou prestes a sorrir também, apesar da dor
ainda irradiando do meu nariz.
— Faço uma troca — diz ele, de repente.
— Por que eu confiaria em você?
— Eu vou deixá-la limpar isso amanhã, se me mostrar aquele caderno que você tirou de Tucker,
esta manhã.
Eu corro para fora da cama tão rápido quanto minha perna me permite.
— Tudo bem. Vou embora, mas se isso inchar e ficar roxo, vou dizer às pessoas que tropecei ao
salvar Tucker de um coiote raivoso.
— E vou dizer a eles que você jogou uma tora em mim quando tentei ajudar.
— Perfeito.
Antes que eu saia mancando, ele agarra uma das minhas mãos. Olho para ele, de repente ciente de
que estou parada aqui, com nada além de meus seios nus, calcinha encharcada e a cicatriz mutilada
na minha perna esquerda.
Mas ele não olha para baixo.
Não, não Wyatt.
Ele simplesmente pressiona um beijo na minha testa.
— Amigos?
— Ainda posso te dizer para não me dizer como fazer as coisas?
— E, definitivamente, me dê suas opiniões erradas quando eu estiver fazendo algo que não seja do
seu jeito.
Eu ignoro o sarcasmo.
— Só se você concordar em fazer o mesmo.
Ele bufa baixinho, e tenho certeza de que é uma gargalhada, e não uma frustração absoluta.
— Você é única.
— E graças a Deus por isso. Beck nunca iria acompanhar se houvesse duas de mim.
Juro que ele está sorrindo quando saio do quarto.
Principalmente porque não tenho certeza se meu ego aguentaria o golpe, se concordasse
veementemente com minha terrível tentativa de fazer uma piada.
13

O som dos botões de alarme da casa sendo pressionados me acorda de um sono profundo, às 4:30h.
Alguém está invadindo.
Eu voo para fora da cama e ando silenciosamente, não me preocupo em colocar uma camisa,
porque não vai ser nenhuma proteção contra um intruso. Chego ao pé da escada quando as luzes
piscam, me cegando.
— Parado, idiota! — Ellie grita. Algo passa zunindo por mim e bate contra a porta.
A figura escura ao lado do painel de alarme suspira.
— Um cara dirige a noite toda para atender a uma chamada de socorro, e o que ele ganha? Um
vibrador lançado em seu rosto. Legal, Ellie. Muito bom.
— Davis? — Ela grita.
O intruso, barbudo e esguio, usando um coque masculino, se inclina e agarra a
enorme coisa roxa do chão. É mais longo que seu braço tatuado.
— Puta que pariu, isso entra onde? Abaixe os punhos, Wyatt, não se trata de sua honra. Você vê o
tamanho desta coisa?
Ellie o pega de volta, mas assim que o consegue, ela o agarra pela base com a outra mão e o limpa
primeiro em sua camisa.
— Vá colocar as calças —sibilo para ela.
— Pense nisso como biquíni, Morgan — ela retruca. — E isso não é meu. Estava na gaveta do
quarto de hóspedes.
Todos os três momentaneamente olhamos para o vibrador de sessenta centímetros de comprimento e
quinze centímetros de espessura, pendurado em seus dedos. Tento não olhar para a cicatriz em sua
coxa, mas meu estômago ainda se contrai, pensando no que ela passou.
— Você deve montá-lo — Davis diz, acenando para o vibrador.
Ellie fica rígida como se fosse bater nele com isso, e estou prestes a bater nele quando seus lábios
se torcem em um sorriso familiar.
— Na parede do quarto de Beck — ele termina.
Seus olhos escuros voam entre nós.
— E vocês dois deveriam ser mais cuidadosos quando estão fazendo sexo. Parece que fizeram um
ménage com um boxeador.
Os olhos de Ellie se arregalam.
— Nós não estávamos... — eu começo, puxando a mão de onde ela instintivamente foi, para testar a
pele macia ao redor do meu olho, mas Davis abre um raro sorriso completo e se vira para a porta do
porão.
— O que você fez para foder com o Frogger? E cadê o café? Se vou consertar, preciso de
combustível.
— A tela apagou, então puxamos o plugue para reiniciar. — Me viro para Ellie. — Por
favor, coloque as calças antes que Tucker desça aqui e veja você andando por aí assim, porque ele
vai contar para a mãe dele, e eu nunca vou parar de ouvir sobre isso.
Posso lidar com a culpa de ver suas cicatrizes.
Mas eu realmente não quero que Tucker pense em mulheres de roupa íntima antes de os hormônios
finalmente o obrigarem.
— E não se esqueça do meu café, moça — Davis grita.
— Oh, vá cortar o cabelo — ela responde, bem-humorada, com um sorriso.
Ela vai para a cozinha, balançando o vibrador de origem indeterminada, e tenho quase certeza de
que ela vai, pelo menos, embrulhá-lo em um saco de lixo, se não jogá-lo no lixo ela mesma.
Sigo Davis até o porão. Ele era o mais jovem em nosso grupo enquanto crescíamos – dos caras,
excluindo Ellie. Era o mais lento para se relacionar com as pessoas, e foi o primeiro a querer
desistir dessa coisa de boy band. Não sei exatamente no que ele trabalha agora, mas sei que envolve
computadores, codificação e o reator nuclear a algumas horas ao sul daqui.
— Deveria ter nos dito que você estava vindo. Teríamos deixado a luz acesa.
— Três ligações em uma hora e você pensou que eu não viria?
— Três?
Ele sorri novamente.
— Não sei o que você disse a Beck, mas ele queria uma prova fotográfica de que sua pontuação
ainda é a mais alta.
— Eu beijei a Ellie em uma videochamada com ele.
— Já era a porra da hora, cara.
— Pare, Remington. Não vou falar sobre isso.
Ele liga o Frogger e assobia baixo.
— Você apagou.
— Você pode colocar uma nova pontuação alta nele?
Ele me dá o olhar de não seja idiota, é claro que posso.
— Vou aceitar donuts e café. Não me importaria de uma bela companhia.
Eu abro meus braços.
— Estou livre até meu filho acordar.
— Como Ellie quebrou isso?
— Talvez eu tenha feito isso.
— Cara. Se fosse seu filho, você teria apenas contado a Beck. Se fosse você, teria apenas contado
a Beck. Se me ligou para consertar, foi Ellie. Levante-se e faça algo sobre isso já.
Fácil para ele dizer.
Ele tem uma carreira – e uma conta bancária – o que significa que não se muda a cada um ou quatro
anos, a menos que queira. Ele não tem uma ex-mulher e um filho para cuidar, e nenhuma ideia do que
vai fazer para apoiá-los se tiver que deixar as Forças Armadas no próximo verão, caso receba
ordens para ir para qualquer lugar que não seja Copper Valley. E ele não tem ideia de como me sinto
mal preparado para ser um bom parceiro para alguém, muito menos para a irmã do meu melhor
amigo.
Ajudá-la a se curar?
Sim. Estou dentro.
Algo mais do que isso?
Não sou o homem certo para o trabalho.
14

— Oh, meu Deus, o que aconteceu? — Um pássaro tropical de tamanho humano, quero dizer,
Monica, corre para se juntar a mim do lado de fora do Papagaio Mudo, a cafeteria clara e alegre de
Shipwreck, quatro horas depois de Davis ter feito sua aparição inesperada na manhã de quarta-feira.
— Um dos amigos de Beck apareceu no meio da noite — digo a ela. — Eu não dormi muito.
— Por que ele deu a você dois olhos roxos?
— Oh! Oh. Isso. Não, eu bati na porta de um armário.
— Você fez sexo com Wyatt! — Monica sussurra e grita como se eu não tivesse apenas dado a ela
uma explicação perfeitamente razoável que não tinha nada a ver com fazer sexo com Wyatt. Ela bate
palmas, e suas penas vermelhas, amarelas e azuis falsas balançam para cima e para baixo com ela
enquanto salta. — Eu sabia. Eu sabia que você não estava em um namoro falso só para fazer Patrick
parar de agir com superioridade.
Oh, merda, sou totalmente transparente.
— Claro que não estou —sussurro em resposta. — Eu espirrei bem quando atingi o grande O e
batemos as cabeças, e nunca poderei fazer sexo com ele novamente.
Ela olha em volta.
Eu faço o mesmo.
Porque eu realmente, realmente não deveria ter dito isso.
No entanto... será um grande motivo para terminar com Wyatt no final da semana. Sem
culpa. Apenas a simples verdade de que é perigoso para nós dois ficarmos juntos.
Não há sinal de Patrick em lugar nenhum – sim, continuo preocupada que ele vá perceber que sou
uma perdedora e que ainda não estou namorando – o que provavelmente significa que ele está em
uma ligação de trabalho. Eu me pergunto se Sloane está entediada demais ou se ela começou a
brincar de caçadora de tesouros no telefone, como eu costumava fazer quando estava esperando
Patrick encerrar uma de suas importantes ligações de trabalho para que pudéssemos ir a algum lugar.
Alguns dias fico muito chateada comigo mesma, por não ter visto antes os sinais de que ele não era
material para um bom marido, mesmo que seu currículo fosse. Gosto de pensar que ele mudou
durante o namoro, que nem sempre foi um viciado em trabalho, mas o que isso diz sobre minha
influência no nosso relacionamento?
Você leva os homens a trabalhar muito para que eles possam evitá-la.
Adorável.
Monica me puxa para a cafeteria. Ela levanta dois dedos para o barista, que não pestaneja ao
receber um pedido em linguagem de sinais de um papagaio, aponta para a mesa dos fundos e me
arrasta pela sala com tema de conchas até chegarmos ao solário na parte de trás do restaurante.
Cautelosamente, deve-se anotar, mas, ainda sim, está me arrastando.
Devemos estar parecendo duas loucas, mesmo para os padrões de Shipwreck. Eu com uma saia
jeans na altura do joelho e uma camiseta Jolly Roger diferente de ontem, conforme solicitado, e ela
vestida como um papagaio de 1,50 metro de altura. Tenho certeza de que a fantasia é apenas para
irritar os pais de Jason, mas não é uma certeza absoluta.
Também estou impressionada por ela ter feito isso. Achei que estava brincando quando me mostrou
a fantasia online.
— Todos nós compramos fantasias de papagaio? — Pergunto, enquanto ela puxa uma cadeira e
aponta uma asa, gesticulando para que eu me sente.
— Não, eu comprei para você uma fantasia de macaco. Explique-me exatamente por que você acha
que não pode fazer sexo com Wyatt.
— Nós dois acabaremos mortos.
Ela faz um movimento de continue, como estar morto não fosse razão suficiente para não fazer
sexo. Também faz seu bico cair em volta da cabeça, e suas penas coloridas dançarem com o
movimento.
Eu me inclino para mais perto e baixo minha voz.
— A primeira vez que fizemos sexo, sofri um acidente de carro. Nós... brincamos um pouco há duas
noites — Sim, sim, foi apenas um beijo, mas estou começando a gostar dessa história — e o jogo
Frogger de Beck morreu poucas horas depois. Estávamos no meio de você sabe o quê, ontem à noite,
e eu espirrei e dei a nós dois olhos roxos. Não devemos fazer sexo. O universo está me dando essa
dica.
— Espere. Você disse que isso aconteceu no meio do orgasmo? Tipo, escapou, então o sexo não
pode ter sido ruim.
Ruim? Foi até agora o oposto de ruim, e não tenho uma palavra para isso.
E foram apenas seus dedos.
Posso explodir em chamas se formos mais longe.
— Ellie! Você está saindo com alguém? Isso é fantástico. — Libby Rock, a proprietária de meia-
idade do Papagaio Mudo, enfia a saia pirata embaixo dela e puxa uma cadeira, depois de colocar um
prato de scones em nossa mesa. — Quem é ele? É aquele lindo pai solteiro do almoço de ontem?
— Ouvi dizer que Pop vai bancar o casamenteiro para todos os seus filhos — digo a ela em uma
tentativa desesperada de distraí-la.
Não funciona.
— Não. Ele diz isso a cada dois meses, como se fosse um relógio. Diga-me que é o pai
solteiro. Ele é bonito. E aqueles músculos... hummmmm. E muito educado e se desculpando depois
do acidente da pizza.
— O acidente da pizza! — digo triunfantemente. — Ele me beijou na calçada, e então aconteceu o
acidente da pizza também. Isso não é uma coincidência.
— Ellie acha que ela e Wyatt estão amaldiçoados e deveriam terminar — Monica diz a Libby.
— Ah. Medo de compromisso. Natural, depois do que aconteceu com o último que ela namorou.
— Monica vai se casar com o irmão do último com quem namorei, amanhã — eu lembro Libby.
— Mas ela não vai se casar com aquela craca da qual você escapou, graças a Deus. Eles são
irmãos, não clones. Agora, você me explica o que está te incomodando sobre se comprometer com
este jovem simpático.
— O nome dele é Wyatt — Monica fornece. — O sexy pai solteiro. Ele é militar e voa em aviões
experimentais. Totalmente durão e com um grande coração.
— Não está ajudando — digo a ela.
— De nada — ela responde, levantando um scone. — Oh, framboesa com chocolate branco. Libby,
você é uma deusa.
— Vamos, conte-nos o problema — diz Libby. — Físico, emocional ou vaporal?
— Vaporal?
— Bocas, pés ou bunda fedem?
Monica se engasga com seu scone.
— Ele cheira muito bem — eu admito, porque apesar de realmente ter uma boa desculpa para fingir
que terminei com ele – já que estamos apenas namorando de mentira – estou disposta a ser sua
amiga.
Pelo bem de Beck.
Um dia, meu irmão vai contar a piada errada e precisará que o resto de nós se reúna para tirá-lo de
problemas, e Wyatt e eu brigando um com o outro não vai ajudar.
— Ele tem problemas de desempenho? — Libby pergunta.
— Não importa como eu responda a essa pergunta, não levará três horas para que todos na cidade
pensem que sabem tudo sobre minha vida sexual.
— Dois lattes e uma bolsa de gelo — diz o barista, colocando os cafés e um saco de gelo com um
pano de prato na mesa. — E é por isso que recomendo cabeceiras acolchoadas.
— Seu rosto meio que fala por si mesmo — Libby me diz com um aceno sério de seus cachos
curtos e grisalhos.
— Eu dei um encontrão na porta do armário aberta.
— Eu dei mal jeito no meu quadril, tentando uma nova posição uma vez. Levei quatro dias para
andar de novo, mas as memórias duram uma vida inteira. Ah, ser jovem e ágil novamente.
— Wyatt está na Geórgia, e meu trabalho é em Copper Valley, ok? — Preciso de algo, ou ouvirei a
opinião de todos sobre minha vida amorosa antes de chegarmos a dois quarteirões da praça da
cidade, para tentar nossa sorte em desenterrar o tesouro do velho Thorny Rock. — Sim, temos
atração, mas temos outras coisas trabalhando contra nós.
— Mas só até o compromisso dele com os militares acabar — ressalta Monica. — Menos de dois
anos, certo?
— E ele é divorciado. — Eu me sinto como se estivesse atirando um monte de petiscos, qualquer
coisa para fazê-las pensar que ele não é perfeito. — Você sabe que as chances de divórcio aumentam
quando você teve um. — Não é isso que eles dizem?
Libby e Monica trocam olhares.
— Apreensão — Libby declara.
— E um pouco de história entre eles — Monica concorda. — Ellie. Eu nem sempre passava um
tempo com o grupo do seu irmão, mas até eu sei que Wyatt só se casou porque ela estava grávida e
ele pensou que era a coisa certa a fazer.
Libby franze a testa.
— O menino não sabia usar camisinha?
— Ele ficou com uma antiga namorada depois do funeral de sua mãe —sussurro, porque sinto que
estou traindo Wyatt ao contar a outras pessoas sobre sua vida, mas não quero que elas pensem que
ele anda por aí tendo relações sexuais desprotegido com qualquer mulher. Ele usou um
preservativo comigo no Natal e não fomos longe o suficiente para precisar de um na noite
passada. — Eu não perguntei, mas você sabe que essas coisas são comentadas, às vezes. Dê-lhe uma
folga. E Tucker é um garoto incrível.
Monica sorri para mim por cima do café com leite. Ela é uma noiva sorridente, ou papagaio, mas
parece mais um gato que comeu um canário.
Libby também sorri.
— Bem, então. É claro que você está certa e vocês dois não foram feitos um para o outro.
Estou sendo atingida pela psicologia reversa, mas não vai funcionar.
— Exatamente. — Estou estranhamente desanimada, como se eu realmente me importasse que nós
pudéssemos ter uma chance real. Ou talvez eu esteja ficando boa em agir subconscientemente.
Monica e Libby compartilham outro sorriso, e Libby se afasta da mesa.
— Vocês duas, aproveitem seu café. Monica, querida, diga-me se houver algo que possamos fazer
para ajudar com o casamento. Amei sua fantasia, a propósito.
— Obrigada, Libby.
— Pode contar comigo.
— Onde está Jason? —pergunto a ela quando estamos sozinhas novamente na mesa.
— Escolhendo nossas pás — ela responde alegremente. — Coma, Ellie. Estamos prestes a
desenterrar ouro.
15

Davis se recusa a se juntar a Tucker e a mim em Shipwreck, para o pontapé inicial da escavação do
tesouro, então estamos apenas nós dois caminhando pela Avenida Barba Negra, em direção à praça
central. Ainda não descobrimos nenhuma das pistas para encontrar a perna de pau escondida pela
cidade, mas nenhum de nós se importa. Estamos nos divertindo com todo o resto.
— Pai, posso fazer uma tatuagem? — Tucker pergunta.
— O quê? Não. Você tem sete anos.
— Filho da puta! Filho da puta! — uma voz gritou.
Eu coloco minhas mãos sobre os ouvidos de Tucker e olho ao redor, para os vários turistas se
juntando a nós na calçada, mas eles estão tão confusos quanto eu.
Grady Rock põe sua cabeça peluda para fora da padaria.
— Cala a boca, Bico Longo de Prata. Tem crianças por aí.
Todos nós seguimos seu olhar até os canhões cravados na beirada do telhado do Buraco de Rolha
ao lado, onde o papagaio do velho Pop está empoleirado.
— Coma merda — responde o papagaio.
— Ah, vá andar na prancha — diz Grady.
O papagaio cambaleia até a ponta do canhão, levanta um pé, balança e despenca em direção ao
chão.
Todos arquejam, mas o pássaro bate as asas no último segundo e sai voando pela rua, para se
empoleirar na marquise do cinema.
— Papagaio idiota — Grady murmura enquanto volta para a loja.
Solto as orelhas de Tucker, mas ele parou e está olhando para a janela da padaria.
— Essas tatuagens, pai — ele diz.
Oh. Certo.
As tatuagens temporárias que estão nas cestas, por toda a cidade.
— Oh. Sim.
Pegamos um punhado delas, e Tucker diz a Grady que ele faz os melhores donuts do universo. Eu
acabo comprando para nós dois um donut simples com glacê, como combustível para a escavação,
embora eu esteja de olho nos donuts de pudim de banana.
— Aroma de banana? — pergunto a Grady.
Ele estremece.
— Pudim de baunilha com banana de verdade. Eles são novos. Quer um?
— Ellie vai querer.
Isso me resulta em um sorriso conhecedor. Ele olha para Tucker e depois de volta para mim, e
murmura cabeceiras acolchoadas.
Eu dou a ele um olhar que geralmente faz os tenentes tremerem, mas ele apenas sorri ainda mais.
— Tucker, agradeça pelas tatuagens — eu instruo.
— Obri..gado — ele diz, com a boca cheia de donut.
Chegamos à praça lotada da cidade, bem a tempo de ver Pop em trajes de pirata completos fazendo
um discurso sobre o pirata Thorny Rock, no palco improvisado no centro da praça. Tucker puxa
minha mão e eu o sigo, pensando que estamos indo para um local com melhor visão ou para chegar
mais perto do que parece ser a linha de partida.
Mas não.
Ele está nos puxando para observar um grupo totalmente fantasiado.
Os homens estão vestidos de piratas, mas as mulheres estão de cachorro, macaco e papagaio.
— Você acha que esse fala palavrões? — Tucker me pergunta enquanto aponta.
O papagaio vira em nossa direção e... oh, merda.
É a Monica.
Ela acena e gesticula para nós enquanto a multidão aplaude Pop.
— Eu amei suas penas — Tucker diz a ela, estendendo a mão para acariciar sua barriga.
— Ei, cara, nós temos que perguntar antes de tocar em alguém —digo a ele.
Monica oferece um braço enquanto eu aceno para Ellie, que está vestida com a fantasia de
macaco. Os cantos internos de ambos os olhos estão inchados e vermelhos, estendendo-se até a
metade das pálpebras, e não há dúvida de que ela levou um golpe no rosto.
Assim como não há dúvida de que eu levei um golpe no olho direito, embora meu hematoma seja
menor.
Ela está ridiculamente adorável com o traje.
— Essa coisa é quente? —pergunto a ela.
— Ainda não, mas ficará em breve. — Ela lança um olhar para o sol aparecendo no céu azul claro,
e eu contenho um sorriso.
— Nem pense nisso — diz ela quando alcanço meu bolso, como se estivesse indo pegar o meu
telefone para tirar uma foto dela. Ela dá um daqueles sorrisos fáceis, que geralmente não são para
mim, e ver essa camaradagem entre nós tira um peso do meu peito que eu não sabia que estava
carregando.
Então, nós podemos ser amigos.
— Sr. e Sra. Dixon, conheceram o namorado da Ellie? — pergunta Monica, voltando-se para um
casal mais velho que eu não sabia que estava com o grupo, já que eles também não estavam
fantasiados.
— Este é Wyatt e seu filho, Tucker.
Eu sufoco um estremecimento, porque Tucker ouviu isso. Será que uma criança de sete anos de
idade compreende a diferença entre namorada e amiga?
Não importa, eu decido. Ellie é irmã do meu melhor amigo, então as chances são de que Tucker a
verá novamente. Está tudo bem para ele conhecer adultos em quem pode confiar, mesmo que não os
veja com frequência.
O Sr. Dixon – alto, de cabelos brancos e com aparência antiquada – mal me dirige o olhar, mas sua
esposa – esguia, com pérolas e um terninho – me olha de cima a baixo. Um sorriso arrogante torna
seu rosto magro ainda menos atraente.
— Querido Deus, o que aconteceu com o seu rosto?
— Ele acidentalmente foi atingido por uma tora quando estava salvando um bebê de um lobo — diz
Ellie.
A mulher olha para ela, e seus lábios se curvam enquanto ela chega à conclusão que todos
aparentemente chegaram esta manhã. Ela se volta para mim.
— E o que você faz?
— Meu pai é um super-herói — anuncia Tucker.
— Um ator, hein? Suponho que isso não deveria me surpreender, dados os círculos que Ellie
frequenta.
— Sou da Força Aérea — corrijo.
— Oh. Um trabalhador.
— Ele tem um trabalho muito legal, testando aviões — diz a namorada do Homem das Cavernas
Loiro, me surpreendendo.
Surpreendendo o Homem das Cavernas Loiro também, pelo olhar dele de que diabos? na direção
dela.
— Como você sabe o que ele faz? — o Homem das Cavernas pergunta.
— Ellie nos contou sobre isso no jantar na outra noite. Lembra? — Ela sorri para mim. — Meu
irmão é piloto comercial. Então, obrigado.
— Eu, ah, trabalho em jatos militares — digo a ela.
— Um avião é um avião no meu mundo, e gosto de saber que meu irmão está seguro quando está no
ar.
— Também gosto de estar seguro no ar — anuncia Jason.
Começo a explicar que sou mais engenheiro do que piloto, mas Ellie se intromete antes que eu
possa, puxando meu braço como a boa namorada que está interpretando hoje.
— Pessoal, não o envergonhem. Quanto você quer apostar que Monica encontra mais ouro de
pirata?
— Vou encontrar todo o ouro do pirata! — Tucker anuncia.
— Ele tem um filho, Ellie? — Sra. Dixon diz, levantando o nariz.
— Não, esse é um garoto aleatório que ele sequestrou, usando doces e donuts ontem, mas ele é
fofo, então estamos transformando-o em um pirata oficial.
Monica tosse. Seu noivo pigarreia e passa a mão no rosto para esconder o sorriso. O Homem das
Cavernas Loiro fica furioso. Ellie desliza a mão mais para baixo, até que nossos dedos estejam
entrelaçados, e porra, eu poderia fazer isso o dia todo.
— Vamos. Vamos cavar ouro ou o quê?
— Mãe, pai, vocês vão primeiro — diz Jason.
— Não posso acreditar que vivi a uma hora daqui a minha vida inteira, e nunca soube que poderia
vir aqui para cavar em busca de ouro de pirata — diz a namorada do Homem das Cavernas Loiro,
seguindo a fila.
— Pai, podemos pegar duas pás? — Tucker pergunta.
— Que tal você me ajudar? — Ellie diz a ele.
— Sim! Vou cavar para você, Srta. Capitã Ellie. Sua perna está doendo hoje?
— Não está tão ruim. Obrigada por perguntar.
— Eu e papai ganhamos donuts, mas já comemos.
— De pudim de banana?
Tucker torce o nariz.
— Não, os simples. Mas papai disse que compraria um daqueles de pudim mais tarde. Posso comer
outro donut mais tarde também?
— Com certeza — Ellie diz ao mesmo tempo que eu digo:
— Um é o suficiente por hoje.
Ellie se abaixa.
— Vou roubar um para você quando ele não estiver olhando — sussurra ela.
Tucker ri.
E eu balanço a cabeça para os dois.
— Ela vai levar ele para o seu casamento, Jason? Ele é bastante... plebeu — a Sra. Dixon murmura
alto na nossa frente.
— Assim como eu, mãe — Jason responde.
— Honestamente, não sei por que você deixou Monica ter uma dama de honra que partiu o coração
do seu irmão. Não que ele não possa fazer melhor, mas ainda é rude.
— Assim como falar sobre as pessoas pelas costas, Sra. Dixon — Ellie diz alegremente.
O Homem das Cavernas Loiro envia a Ellie um olhar assassino.
Ela sorri de volta.
— Eu gosto que você tenha outros inimigos, além de mim —digo a ela suavemente, e ela bufa.
— Falando nisso — ela responde, bem suavemente — nós não podemos mais fazer sexo. É muito
perigoso.
Será que ouvi um desafio?
— Vamos discutir isso na cama, esta noite.
— Não vamos — ela sussurra.
— A banheira também serve.
Ela me lança o velho olhar você está me irritando, de Ellie Ryder, e eu nem tento sorrir ao ver
como ainda é fácil provocá-la.
Ela bufa quando obviamente percebe o que estou fazendo.
— Ou talvez jogar um strip pingue-pongue? — ela murmura.
Droga.
Lá estou eu de pau duro em público, com meu filho do meu lado, novamente.
Ela não olha para baixo, mas sorri triunfante como se soubesse que ganhou esta rodada.
E, honestamente?
Vou dar essa vitória a ela.
Porque gosto desse sorriso.
Ela trabalhou duro. Está vestida com uma fantasia de macaco em um clima de trinta graus, para
fazer sua melhor amiga feliz. E quando fui bisbilhotar suas páginas de mídia social ontem à noite,
descobri post após post de compartilhamento de ajude a encontrar este animal de estimação.
A última vez que ela postou uma foto pessoal foi antes do Natal.
Nada sobre o acidente.
Nada sobre recuperação.
As únicas fotos dela foram postadas por seus pais ou amigos.
Então, ver seu sorriso?
É como vê-la voltar à vida.
Beck poderia estar brincando sobre eu ter um problema, mas ele não estava mentindo sobre o
acidente de Ellie e como a afetou.
Monica está sorrindo amplamente enquanto me entrega uma pá.
— Comece a trabalhar, Wyatt. Este ouro não se desenterra sozinho. Mostre-me esses músculos.
O Homem das Cavernas Loiro arranca uma pá da pilha e sai em disparada.
— Vamos, Sloane, vou mostrar como um homem de verdade cava em busca de tesouros — ele diz.
Monica e Ellie trocam olhares. Tucker olha para os dois e diz:
— Vamos, Srta. Capitã Ellie. Serei um homem de verdade também — E até a namorada do Homem
das Cavernas Loiro ri.
— Pai, vou te derrotar — acrescenta Tucker.
— Oh, você vai?
— Ele vai totalmente derrotar você — diz Ellie.
Ele sorri para mim por trás dos óculos e, porra, como vou sobreviver tendo que devolvê-lo a Lydia
no final do verão?
Eu afasto o pânico, porque isso é um problema para outro dia.
Por enquanto, tenho um tesouro pirata para cavar.
Com minha namorada falsa.
Que pode estar se revelando ser muito mais do que pensei.
Sim. Vou guardar esse problema para outro dia também.
16

Meu cérebro está quebrado.


É como se o interruptor de Como nos sentimos por Wyatt tivesse mudado durante a noite, e agora,
em vez de achá-lo irritante como um mosquito, ele é sexy pra caralho.
Ou possivelmente estou superaquecendo com essa fantasia de macaco.
Mas vê-lo cavar a terra na praça da cidade está me deixando com tesão de uma forma que não
consigo me lembrar de já ter estado.
Ele nem mesmo tirou a camisa, e ainda está muito sexy.
— Não, Srta. Ellie, deixe-me fazer isso por você — diz Tucker.
Ele é pele e ossos, mas está se esforçando ao máximo para enfiar a pá curta na terra fofa, gritando
de alegria cada vez que encontra uma moeda pirata de plástico.
Eu realmente deveria falar com Pop sobre conseguir algumas moedas piratas biodegradáveis.
Sim.
Isso.
Devo me concentrar em como posso ajudar a tornar o Festival Pirata mais ecologicamente correto.
Não em como Wyatt apenas enxuga o rosto com sua camiseta, expondo metade de seu tanquinho e
fazendo dez mulheres ao nosso redor soltarem suas pás, incluindo uma prostituta pirata, que apenas
murmura: — Eu cavaria ali.
— Ele está comprometido — Monica diz a ela.
— Mulher de sorte.
Minhas bochechas queimam, mas não discordo.
— Posso cavar um pouco — digo a Tucker. — Eu não sou indefesa.
— Estou sendo um cavaleiro — ele me diz.
— Cavalheiro — Wyatt corrige com um sorriso.
— Isso significa ajudar as pessoas, porque sou um cavalheiro — explica Tucker.
— E você está fazendo um trabalho fantástico — concorda Wyatt. — Mas se a Srta. Ellie quiser
cavar um pouco, você pode deixá-la se divertir também.
— Mas ela vai sujar toda a pele de macaco.
Uma criança tão doce.
— Você é o pirata mais cavalheiresco que já conheci — digo a ele.
— Oh! Veja! Encontrei um colar de pérolas! — Sloane exclama.
Todos os Dixons viram as cabeças para olhar enquanto ela puxa um colar de contas de Mardi Gras
do chão.
— Essas são falsas — Sra. Dixon funga.
Sloane o coloca no pescoço. Ela não está suando em sua fantasia de cachorro, nem parece ofendida
por ter que ser o cachorro.
— Eles são uma adição fabulosa à minha coleira, não são, Patrick?
Ele revira os olhos.
— Claro.
— Estamos quase terminando? — Sra. Dixon pergunta a Jason.
— De jeito nenhum — ele responde. — Poderíamos cavar por dias e não encontraríamos todo o
tesouro que eles esconderam aqui.
Sua mãe fica pálida. Ela dá um passo e seus calcanhares giram no chão.
— Isto é um risco para a segurança.
— É por isso que há placas em todos os lugares para usar botas — Jason diz a ela.
— Irá ficar aqui essa grande monstruosidade o resto do ano, não é? — o Sr. Dixon diz.
— Eles vão plantar flores na metade e destruir o resto quando a semana acabar — Wyatt diz a ele.
Eu lanço um olhar para ele.
— Eu li o site do festival — diz ele. — Você está com calor? Quer uma pausa?
— Oh, meu Deus, Ellie, você está tão vermelha que até parece roxa. Vá se sentar — Monica
ordena.
— Estou bem — digo a ela.
Ele está realmente muito sexy.
— Wyatt, você sabe o que é a coisa mais importante em um casamento? — Monica pergunta.
— A noiva está sempre certa?
— Correto. Agora vá, certifique-se de que Ellie se sente e beba algo.
Tucker está com os olhos arregalados, olhando para todos os adultos.
— Você pode ficar comigo, porque você é um bom escavador de tesouros piratas — Monica diz a
ele.
Olho para ela com os olhos semicerrados, porque ela está tentando me fazer tirar a roupa para o
Wyatt?
Ela nem pisca em reconhecimento.
— Posso, pai? Por favor?
— Estaremos bem aqui — Monica diz a ele. — E Jason sempre carrega um kit de primeiros
socorros e sabe RCP.
Isso é bobagem, e a julgar pela forma como os lábios de Wyatt se apertam e seus olhos se
estreitam, ele sabe disso.
— Se ela morrer de insolação, é por sua conta — Monica diz a ele. — Você é um bom namorado
ou não?
— Tudo bem, tudo bem. Vamos, Ellie. Vamos tirar você dessa fantasia e colocá-la em um ar-
condicionado.
— Ela adora o pudim de banana do Camarada Capitão — diz Monica.
— Eu sei — ele diz a ela.
Claro que sabe.
Ele brigou comigo para saber qual de nós iria colocar a colcha, coberta com pudim de banana da
noite anterior, na máquina de lavar, esta manhã.
Eu o deixei ganhar, mas apenas porque recebi um telefonema de uma funcionária que precisava
faltar, porque sua filha foi diagnosticada com apendicite.
E também porque sei que ele não esqueceu o que ofereceu, que poderia ver meu bloco de desenho
em troca.
— Eu não estou tão quente assim — digo a ele quando para ao meu lado.
— Apenas quente para caramba — ele responde.
Calor se afunila em meu íntimo, e tento gaguejar uma resposta, mas antes que eu possa, ele se curva
e me joga por cima do ombro.
Eu suspiro de surpresa.
— Isso dói? — ele pergunta baixinho.
— Não —respondo honestamente, meio surpresa.
— Bom. Diga-me se doer. E não seja uma idiota teimosa. — Ele se vira e acrescenta: — Tucker,
estarei ali se precisar de mim, ok?
— Ok, pai.
Ele marcha pelo campo, eu me segurando com a bunda de macaco no ar, e embora eu sinta uma
pontada ocasional na perna, não dói.
Não consigo ver o rosto de Tillie Jean quando Wyatt nos leva para o Camarada Capitão, mas posso
ouvi-la.
— Mesa para dois?
— Perto da janela, se você puder — ele diz a ela.
— Que tal a varanda, docinho?
— Está fora do sol?
— Pode apostar.
— Parece bom.
— Desculpe pela minha bunda, Tillie Jean — digo.
— A bunda de macaco pirata mais fofa que tivemos até agora, esta manhã — ela responde. —
Vamos lá. Consegui uma mesa com guarda-sol e uma bela vista da caça ao tesouro.
— Você está com roupas por baixo disso? — Wyatt pergunta enquanto me carrega escada acima.
Eu discutiria sobre isso, mas estou cansada de discutir com ele.
— O suficiente para que eu possa tirar — confirmo.
— Que maravilha, hoje é meu dia de sorte.
Eu não deveria estar achando graça, mas, mais uma vez, Wyatt fez uma piada e agora estou rindo.
Ele finalmente me coloca ao lado de uma mesa de ferro do pátio e me deixa sentar sob o guarda-sol
que Tillie Jean levanta para nós. Depois de ficar parado na grade por um minuto, ele acena para
Tucker do outro lado da rua e então se senta.
— Monica acabou de nos enviar para um encontro? — pergunto-lhe. — Quero dizer, não que ela
não acredite que estamos namorando, mas... tipo, em um encontro real. Sozinhos. É isso que deveria
ser?
— Depende. Quem está pagando?
Eu jogo um pacote de açúcar para ele.
— Muito engraçado.
Ele sorri para mim e, olá, fico toda mole por dentro. Wyatt Morgan não deveria me deixar toda
piegas e sentimental.
Mas ele está fazendo um excelente trabalho.
Eu tento passar a mão no meu rosto quente, então tardiamente percebo que posso abrir o zíper da
minha fantasia de macaco. Puxo meus braços e dou um suspiro de alívio quando a leve brisa de verão
toca minha pele nua.
Wyatt reprime um sorriso e olha para o menu que Tillie Jean deixou.
— Beck ligou para você hoje? — pergunto a ele, porque Beck é um assunto seguro.
Mais ou menos.
Ele balança a cabeça.
— Isso te deixa nervoso? — questiono.
Ele franze a testa ligeiramente, como se estivesse confuso, então balança a cabeça novamente.
— Acho que ele está tentando armar para nós.
— Olha, nós podemos ser amigos, e é legal da sua parte me agradar, alegando ser meu namorado
esta semana, mas sério, não podemos ser mais nada.
Ele se recosta na cadeira e me observa enquanto a garçonete entrega copos de água e pergunta se
precisamos de mais um minuto.
— Sim — ele diz, ao mesmo tempo que peço uma cesta de pepitas de ouro – também conhecidas
como pickles fritos – e um pudim de banana.
— Shhh — eu digo, ante suas sobrancelhas levantadas. — Os pais de Patrick me deixam nervosa,
ok?
— Traga dois, por favor — ele diz à garçonete, e ela sai correndo com um sorriso.
Como se ela também pensasse que estamos em um encontro e também achasse que somos bonitos
juntos.
Isso não é bom.
Porque mesmo que Wyatt fosse bom para relacionamentos, eu não sou.
17

Quando a garçonete sai, Ellie se inclina sobre a mesa.


— Por que Beck estaria tentando armar para nós? — ela meio que sussurra. E não parece irritada.
Parece mais ansiosa.
— Ele está preocupado com você — digo a ela.
— Você... disse a ele? — Ela pergunta.
Ela não diz o quê, mas não precisa. Balanço minha cabeça.
— Você?
— Nem fodendo, não era da conta dele. — Ela bufa. — Isso não saiu direito.
Eu começo a rir, mas ela morde o lábio inferior, o que simultaneamente envia sangue direto para o
meu pau e coloca meu pulso em alerta máximo, porque a Ellie que eu sempre conheci teria revirado
os olhos e dito que estava tudo bem.
— Posso te contar uma coisa? — ela pergunta.
— Por que eu?
— Porque se você contar a mais alguém, posso negar, por causa da nossa história.
Essa é a Ellie que eu conheço, e pela primeira vez na minha vida, estou achando seu mau humor
totalmente adorável.
— Então, absolutamente.
— Não sei o que quero fazer da minha vida.
— Eu recomendo não se casar com seu ex-namorado.
Ela me chuta por baixo da mesa, e me sinto um pouco melhor comigo mesmo por aquele comentário
espertinho que acabou de sair da minha língua.
— Quando me formei no ensino médio, disse a mim mesma que teria um mestrado em cinco anos,
um marido em oito e filhos em dez — ela me conta, o que não é nenhuma surpresa. — E que
trabalharia pra caramba para ser promovida a todos os cargos pelos meus pais, porque sei que um
dia eles vão me deixar a empresa, mas não quero isso só porque sou filha deles. Eu quero merecer
como profissional. Tenho economizado para comprar as ações deles, cinco anos antes de eles
pensarem que querem se aposentar, porque Beck está certo, eles são workaholics e não percebem
quão velhos estão ficando.
— Você provavelmente não deveria usar a palavra velho quando se aproximar deles. — Porra, sou
péssimo nisso. — Quero dizer...
Ela me interrompe com um movimento da mão.
— Tenho dois anos para praticar. Vou dar conta.
— Claro que vai.
— Viu? Essa é a coisa. Posso te dizer o que quero profissionalmente. Mas não tenho mais ideia do
que quero para a minha vida pessoal.
— Você não quer mais uma família?
— Eu não sei se eu... se eu posso. — As palavras saem como se fossem fisicamente dolorosas, e a
compreensão repentina me atinge como um soco no estômago que pressiona o meu peito e sufoca meu
coração.
Eu nunca quis ter filhos, e então Tucker aconteceu, e não consigo imaginar minha vida sem
ele. Conversamos todas as noites durante o ano letivo – consegui um telefone para ele, apesar das
objeções de Lydia, e como ele tem sete anos, ainda não sabe que pode ultrapassar os limites – e é a
melhor parte de cada dia.
Ellie sempre quis ter filhos. Sempre.
A vida não é justa, porra.
Eu engulo em seco.
— O acidente?
— Eu não tenho sido... regular... desde então. E minha médica... ainda não sabe. Ela diz que preciso
de mais tempo para curar, mas a melhor maneira de descobrir é... tentar. E eu não tenho a porra de
alguém para tentar, e eu não estou em posição de fazer isso sozinha, ou até mesmo pronta neste
momento, e eu nunca quis fazer isso sozinha. Mas eu só... — Ela desvia o olhar e se interrompe com
um aceno de cabeça.
— Sua família sabe?
— Claro que não. Eles mal conseguiram superar o trauma da ligação do hospital. Eu não vou jogar
isso neles.
— Ellie. Eles são sua família.
— E eles não podem consertar isso.
Eu esfrego a mão no rosto, estremecendo quando acidentalmente atinjo meu olho dolorido, e sufoco
um suspiro.
— Não sei o que está acontecendo na sua cabeça agora, mas conheço sua mãe e sei que ela sempre
foi a melhor ouvinte, com os melhores conselhos, e pode não ser capaz de resolver, mas ela pode,
com certeza, fazer qualquer um se sentir melhor.
— Eu não disse que me sinto mal por algo.
— Mas você não sabe o que quer da sua vida pessoal — indico. Atenciosamente.
— Deixa pra lá. Esqueça o que eu disse.
— Você sabe que o seu valor como pessoa é mais do que apenas se você pode ter filhos e andar
sem mancar.
As bordas de seus lábios franzidos ficam brancas enquanto ela olha por cima do parapeito, para o
parque.
— Se alguém pode vencer isso — eu digo —, esse alguém é você.
Ela não responde.
— Porra, Ellie, Beck disse que os médicos não tinham certeza se você voltaria a andar, e olhe para
você, sendo uma idiota e pressionando seus limites e dando, a eles os dois dedos do meio enquanto
dança em cima da mesa.
Recebo um sorriso relutante.
— E os cientistas fizeram grandes avanços em robôs anatomicamente corretos e de aparência
realista, então há até uma chance de você ser capaz de pelo menos parecer que está casada antes dos
cinquenta anos — acrescento.
Ela gira na cadeira para pegar o ketchup, e antes que eu saiba o que está acontecendo, estou
olhando para um frasco.
— Isso não foi muito legal — ela diz afetadamente.
Seus olhos estão provocando por trás das contusões e, caramba, ela é bonita quando sorri.
E até quando ela me ameaça com uma garrafa de ketchup.
— Você pode tentar — digo a ela —, mas gosto muito mais de mostarda.
Seu olhar se dirige para a garrafa amarela na mesa, então de volta para mim.
— Você gosta?
— Eu, definitivamente, poderia lutar com uma espada contra você.
— Se você quiser ser apunhalado no coração com um bico de ketchup.
— Você iria direto para o meu coração?
— Eu sou implacável, Morgan. Implacável.
— Mas você estudou a arte da guerra?
— Estudei a arte de não ser pisoteada pelo meu querido irmão, o que é a mesma coisa
— Não é.
— Oh, por favor. É... ei!
Pego a garrafa de mostarda e aponto para ela, enquanto ela está distraída com a discussão.
— Eu deveria jogar em você — ela diz, mas está sorrindo tanto que não consegue falar sem rir.
— Não seria a primeira vez.
— Oh, como se ontem fosse minha culpa?
Eu quero beijá-la.
Quero me inclinar sobre a mesa e beijá-la até que nenhum de nós consiga respirar, e então quero
beijá-la mais.
Porque ela é forte. Tão forte pra caralho. Ela é o que eu quero ser. O que tento ser.
Imparável. Audaz em um desafio. Destemida.
— Tudo culpa sua — eu digo. — Você armou para mim.
Ela está se inclinando como se também sentisse. Como se ela fosse me beijar também.
Ela ainda está apontando a garrafa de ketchup para mim, mas é a Ellie, tão natural dela.
— Você é tão cheio de merda.
Ela é uma sereia, acenando-me através do seu sorriso largo e de insultos ousados. Ela é ousada,
motivada e divertida.
Porra, estava com saudades da diversão.
— Você gosta de salsicha — eu a lembro.
Ela torce o nariz.
— Você gostava. Quando éramos crianças.
A garrafa de ketchup oscila.
— Como você sequer se lembra disso?
— Era horrível.
— Você costumava comer carne enlatada. Você não pode falar nada.
Estamos tão perto, que os bicos de nossas garrafas de condimento estão se tocando.
— E como você se lembra disso?
— Minha mãe conta a história toda vez que seu nome surge. Aquele pobre Wyatt Morgan, tivemos
que apresentá-lo à verdadeira carne no almoço. Pense no que teria acontecido com a dieta do
menino, se ele nunca tivesse se mudado para a nossa rua.
— Mentiras. Tudo mentira. — Muito perto. Eu poderia beijá-la. Eu não deveria, mas poderia.
Seu olhar mergulha em meus lábios, um sorriso aumentando, e estou quase lá quando, de repente,
ela se afasta e espirra ketchup na minha camisa.
Ela fica boquiaberta por um minuto, suspensa, em choque.
— Oh, merda — ela se engasga. — Eu não quis...
Eu aperto minha garrafa e a acerto com mostarda em seu queixo e pescoço.
Ela espirra novamente, e eu salto da cadeira para sair do caminho do jato vermelho.
— Isso foi um acidente, seu idiota! — ela grita.
— Bem improvável — retruco, apontando a mostarda à sua direita.
Um pássaro grasna, indignado.
— Filho da puta, vai pra merda. — Ouve-se um bater de asas, e Bico Longo de Prata dispara para
o ar com uma mancha amarela que não estava em suas penas antes.
Nós dois olhamos para o pássaro.
— Oh, meu Deus, você atirou no Bico Longo de Prata — Ellie sussurra, horrorizada.
— Tudo culpa sua — repito, às pressas, roubando sua garrafa de ketchup e movendo todos os
condimentos para duas mesas de distância.
Ela está limpando a mostarda do rosto, quando Davis aparece no topo da escada. Seu coque
masculino está recém-endireitado, sua barba espessa o suficiente para esconder uma garrafa, e ele
está balançando a cabeça.
— Preliminares?
— Cale a boca — diz Ellie.
Pego um guardanapo e limpo a mostarda que ela deixou embaixo do queixo.
— Como está o paciente? — pergunto-lhe.
— Bem bonita, com Ellie em uma pontuação de 802.700, mas eu poderia mudar para o meu nome.
— Você é um deus — Ellie diz a ele. — Eu poderia até beijar essa barba infestada de
pulgas. Sente. O almoço é por conta do Wyatt.
— Tão generoso — responde Davis. — Onde está seu filho?
Aponto para a escavação do tesouro.
— Com o papagaio humano.
— Ah. Enfim, a conta está no e-mail. Estou indo para casa.
— Mas você acabou de chegar aqui — diz Ellie enquanto eu acrescento: — Descanse os pés e
fique um pouco.
— Não posso. Eu tenho um reator para hackear. — Ele vira seu olhar para Ellie. — Estamos quites
agora. Não o quebre de novo.
— Juro, sob a pena de ter que assistir a uma sessão de fotos de Beck, que não vou tocar no Frogger
novamente, pelo resto da minha vida.
— Beije-a por mim — acrescenta ele para mim. Ele nos dá uma saudação e desaparece, descendo
as escadas novamente.
— Você não vai me beijar — sussurra Ellie.
— Agora, isso é um desafio — digo a ela.
— Estou falando sério, Wyatt. Podemos ser amigos, mas não podemos tocar, beijar, ficar nus, tomar
banho ou fazer qualquer outra coisa que as pessoas que namoram fazem. Vamos morrer,
literalmente. O universo não nos quer juntos.
E, além disso, ela tem uma vida em Copper Valley, e minha situação é complicada.
— Temos que nos tocar um pouco — eu aponto, porque sou aparentemente um idiota
masoquista. — Eu sou seu namorado esta semana. O seu par para o casamento. Lembra?
— Bem. Comovente. Mas apenas em público e apenas quando for absolutamente necessário. E
provavelmente deveríamos usar equipamento de proteção para dormir – o que
faremos separadamente – e dormir em turnos, no caso de a casa pegar fogo.
Eu não me incomodo em tentar esconder o meu sorriso.
— Certo. Faremos um cronograma.
— Não zombe de mim. Estou falando sério.
— Sério, tipo um ataque cardíaco? — Pergunto.
Ela golpeia minha mão.
— Não tente o destino — ela sibila.
— Tudo bem, tudo bem. Sem tocar, sem beijar, sem nada, a menos que seja absolutamente
necessário para vender sua história.
— Obrigada.
Ela sorri.
Eu sorrio.
Os limites deveriam ser uma coisa boa. Não tenho espaço na minha vida para me apaixonar por
Ellie Ryder. Não com as complicações adicionais que isso traria.
Mas concordar com seus novos termos parece mais falso do que fingir ser seu namorado no
casamento.
E não quero pensar no que isso significa.
18

Um casamento no Festival Pirata é uma coisa muito importante para a cidade, especialmente porque
Shipwreck está competindo com o Festival Unicórnio da pequena cidade de Sarcasm, a menos de 16
quilômetros de distância. Monica e Jason são jurados convidados para o traje de pirata, modelo de
navio e concursos de comida, e todos os convidados da festa de casamento ajudam com suas
opiniões. Então, na quarta-feira à noite, Wyatt, Tucker e eu nos juntamos à Monica, Jason e suas
famílias no Recanto do Fundo do Mar, onde dezenas de modelos de navios piratas estão em exibição
na sala de conferências semicircular, que tem janelas com vista para o céu e para as cadeias de
montanhas que circundam Shipwreck.
— São incríveis — diz Monica, enquanto caminhamos ao longo da fileira de mesas que contém os
navios enviados pelos alunos da escola de Shipwreck. Alguns são feitos de legos, alguns de palitos
de picolé, outros de barro, mas todos são adoráveis e muito legais nos detalhes que as crianças
escolheram destacar.
Quase todos têm um pássaro falso, e pelo menos metade tem avisos sobre não xingar no convés.
Meu favorito é um feito de embalagens de alimentos reciclados, e eu sei que Monica vai com
certeza votar nele também, já que seu trabalho diário é fazer arte com materiais reciclados.
— Pai, posso fazer um navio pirata? — Tucker pergunta.
— Claro. Eu tenho alguns legos para você em casa.
— Não, pai, para entrar no concurso!
— No próximo ano, amigo. Eles não aceitam mais inscrições este ano.
— Vou julgar seu navio, Tucker — Monica diz a ele. — E eu aposto que vai ser incrível.
Eles são como melhores amigos desde que saíram em busca de tesouros, esta manhã.
— Como está sua perna hoje? — A mãe de Monica me pergunta, enquanto caminhamos para a
próxima sala, que tem mesas e mais mesas cheias de comida com tema de piratas.
— Melhor do que uma perna de pau — digo a ela.
— Papai! Pai, posso comer um polvo? — Tucker pergunta.
Wyatt o pega pelos ombros.
— Calma aí, capitão Perna Oca. Está vendo a tabela de pontuação da Srta. Monica? Ela precisa
decidir se está bonito antes de provar, e então vai avaliar o quão gostoso está cada prato.
— Não precisa se preocupar, temos extras para os pequeninos. — Pop Rock se aproxima, vestido
hoje como seu ancestral, Thorny Rock. — Por aqui, por aqui.
Meu estômago ronca oportunamente, e Monica ri.
— Vá em frente, Ellie. Todos vocês também. Terminaremos em breve.
— Nunca comi cachorro-quente na vida — murmura a Sra. Dixon para o marido. — Este é o
festival mais indigno que já vi.
— Acho divertido — declara Sloane. — Dizem que diversão cura a constipação.
Patrick olha para ela, que sorri de volta com força.
E Wyatt e eu trocamos um olhar.
Há problemas no mundinho de Patrick-Sloane.
Pop abre a porta da cozinha industrial do centro e, oh meu Deus, a comida.
Tanta comida.
Pratos e travessas de entradas, aperitivos, acompanhamentos e...
— Biscoitos! — Tucker exclama.
É a mesma comida em exibição: navios de ovos cozidos com bandeiras de pirata, pizza de ilha,
mergulho em areia movediça, olhos de pirata, cachorros-quentes em fatias com a metade inferior
cortada em formato de pernas de polvo, balas feitas de carne. E há também pratos de papel pirata,
guardanapos e uma enorme tigela de ponche pirata que, obviamente, fora mergulhada em outra.
— Coma, meu coração — Pop diz. — Aquilo é ponche infantil, porque minha maldita turma bebeu
todo o rum na noite passada.
— Essas almôndegas são feitas com frango? — Sra. Dixon exige, apontando para os olhos do
pirata.
A mãe de Monica sorri. Ela está vestida como uma pirata hippie, com uma bainha amarrada sobre o
vestido havaiano florido e um chapéu de pirata no cabelo curto e grisalho.
— Sim, Caroline, são de frango. Liguei antes e verifiquei, porque sabia que você preferia.
Wyatt e eu nos viramos antes que a Sra. Dixon olhasse para qualquer um de nós. Ele vai pegar um
prato para ajudar Tucker a fazer algumas escolhas saudáveis antes de chegar à sobremesa, e eu levo
um minuto para tirar o sorriso do meu rosto enquanto finjo decidir entre o mergulho de areia
movediça, também conhecido como homus e vegetais, ou grelhados de papagaio, também conhecido
como asas de frango.
Em última análise, ambos vencem.
Todos nós carregamos nossos pratos e os levamos para a sala de jantar do centro, onde outros
juízes estão comendo e discutindo sobre o festival. A mãe de Monica se senta ao meu lado, na mesa
retangular, e Wyatt e Tucker se amontoam na nossa frente.
A família de Jason se senta à mesa atrás de mim, e eu dou um suspiro de alívio por poder fazer
qualquer cara que quiser, sem medo de ouvir insultos murmurados em voz alta.
— Ellie, querida, como está o trabalho? — A mãe de Monica pergunta.
Conto a ela sobre alguns dos projetos que tenho supervisionado. A empresa ambiental de meus pais
tem contratos para reformar vários edifícios antigos em Copper Valley, para melhorar a eficiência
energética. Também estamos trabalhando em iniciativas com o governo local para promover mais
opções de reciclagem em toda a cidade, e estamos nos expandindo cada vez mais para outras partes
da Virgínia, Virgínia Ocidental, Carolina do Norte, Kentucky e Tennessee.
Ela pergunta a Wyatt sobre seu trabalho, e ele minimiza toda a coisa de pilotar jatos com sistemas
não testados, porque Deus tem que proibir o homem de se gabar um pouco. Tucker está muito
ocupado comendo tudo em seu prato para falar. Ele tem uma mancha de ketchup no rosto, o que me
faz sorrir, tanto porque Tucker fica mais bonito a cada dia, quanto porque me faz lembrar de ameaçar
Wyatt com ketchup, esta manhã.
Mas então fico carrancuda, porque não devo me permitir achar Wyatt atraente, já que faz mal à
nossa saúde.
E provavelmente também não deveria me apegar ao filho dele.
A mãe de Monica pergunta como nos conhecemos e começamos a namorar, e nós tropeçamos um no
outro, contando histórias contraditórias que fazem Tucker rir, mas somos salvos por Monica se
jogando no assento do outro lado de sua mãe.
— Não dê ouvidos a eles — diz Monica. — O relacionamento deles prospera em superar um ao
outro. A verdadeira história é que eles estão apaixonados desde a adolescência, mas eram teimosos
e medrosos demais para fazer qualquer coisa a respeito, até recentemente.
Abro a boca para discutir, mas percebo que ela nos encurralou.
Ela sorri para mim.
E Wyatt salta, usando sua cadeira como um apoio para pular a mesa do refeitório.
— O qu... — eu começo, me virando para vê-lo pular a mesa atrás de nós também. — Ah, merda.
— Oh, meu Deus — Monica arqueja.
Jason derruba o prato de cabeça para baixo e corre para a mesa também, onde Wyatt está tirando
Caroline Dixon de sua cadeira e aplicando nela a manobra de Heimlich.
Seus olhos estão enormes, o rosto vermelho, lábios entreabertos e azulados nas bordas enquanto ela
luta para respirar.
Wyatt pressiona o punho sob o esterno uma, duas vezes e, na terceira estocada, um pedaço de
almôndega voa de sua boca e pousa no prato de Patrick. Não sei onde estão Sloane ou o Sr. Dixon,
mas não estão na mesa.
Estão apenas a Sra. Dixon e Patrick, que agora está correndo em direção à mãe também.
Ela suspira, funga e solta uma expressão muito pouco feminina, que é mais um sussurro para ser
totalmente chamada de palavrão, mas tenho certeza de que ela acabou de dizer porra.
Wyatt a ajuda a se sentar.
— Tudo bem agora? — Ele pergunta.
Ela engole em seco, ofegante, e acena com a cabeça sem olhar para ele.
— Afaste-se, dê espaço a ela — retruca Patrick. Ele empurra Wyatt para fora do caminho e se
agacha. — Você está bem? Alguma coisa quebrada? Ele quebrou uma costela?
— Ele salvou a vida dela, seu idiota — Jason rebate, se aproximando rapidamente do outro lado da
mesa comprida.
— Parem de brigar — ela grunhe. — E me dê uma bebida.
A adrenalina tardiamente faz minhas veias ferverem. Minhas pernas vacilam enquanto Wyatt
calmamente se afasta dos Dixons e retorna o longo caminho para a nossa mesa.
— Meu pai é um herói — sussurra Tucker.
— Você está certíssimo — Monica diz suavemente, sua voz rouca também.
Sua mãe está abanando o rosto, os olhos brilhantes como se ela estivesse lutando contra as
lágrimas.
— Meu Deus — ela murmura. — Isso foi assustador como o inferno.
Os olhos de Tucker estão enormes, quase assustados, e estendo o braço por cima da mesa para
apertar sua mãozinha.
— Ei. Está tudo bem.
— Ela morreu?
— Não, querido. Ela está bem.
Ele olha para o prato, cheio de polvos de cachorro-quente e grandes pedaços de frutas e
biscoitos. Em seguida, olha de volta para todos os adultos se agitando e entrando em pânico
tardiamente, depois do acontecido na mesa ao lado.
— Apenas mastigue bem — digo a ele.
Ele balança a cabeça e me dá um sorriso corajoso, e de repente não sei como posso fazer isso.
Como proteger alguém que você ama tanto que chega a machucar? Ou apenas deixá-los se machucar
quando for preciso?
Como sobreviver a isso?
Meu respeito por Wyatt está crescendo a cada segundo.
A paternidade não é para os fracos.
Monica vai ajudar Jason, e sua mãe afunda em seu assento novamente, mas eu vejo Wyatt passar
casualmente por duas famílias no final das fileiras de mesas, todos olhando boquiabertos para ele
como se ele fosse o herói que Tucker sabe que é, enquanto fica de cabeça baixa, as mãos nos bolsos.
Ele não olha para cima até que esteja de volta em seu assento ao lado de Tucker, e então, seu foco
está todo em seu filho.
— Ah-ah, eu vi isso. Espadas de frutas antes de comer biscoitos de tesouro.
Tucker sorri, seu medo desaparecendo com Wyatt ao lado dele novamente.
— Bom trabalho, pai.
Provavelmente, eu poderia explicar o que faço em seguida, mas não quero.
Vamos apenas dizer que termina comigo curvando-me sobre a mesa, agarrando Wyatt pelas
bochechas e dando um beijo digno de um herói em seus lábios.
E pode ter havido alguns aplausos tardios.
Por ele ser um herói, quero dizer.
Não por eu beijá-lo.
Porque isso seria ridículo.
E perigoso.
Mas, duas horas depois, estou grata por estar sã e salva, de volta à casa de Beck. Nenhum veado,
raposa ou lobo disparou na frente do meu carro, e claramente eles não pegaram Wyatt também, já que
parou bem atrás de mim.
Nenhum de nós disse mais nada sobre o engasgo da Sra. Dixon.
Ou sobre eu beijá-lo loucamente.
E não estou pensando em mencionar isso.
Principalmente a parte do beijo.
Até que atravesso a porta do porão da garagem e percebo que há uma enorme mancha de água no
teto sobre o bar.
— O quê... — eu começo, mas então logo chego a uma conclusão.
— A máquina de lavar louça — Wyatt e eu dizemos em uníssono.
— Liguei antes de sairmos. — Ele esfrega a mão no rosto. — Davis provavelmente não percebeu.
Apenas fico boquiaberta e continuo a apontar para o teto.
— Eu sei, eu sei — ele suspira. — Vou pegar toalhas.
Eu deveria argumentar que vou limpar. Que é minha culpa, por beijá-lo. Mas eu sei que ele vai
insistir em ajudar, e então nós vamos estar lá dentro olhando um para o outro de longe. E eu estou
realmente, realmente, começando a ser convencida de que nós, provavelmente, não deveríamos
sequer estarmos na mesma cidade.
— Vou para a cama. E trancarei a porta — eu o informo.
Ele sorri.
— Você é ridícula.
— Pai, posso assistir ao beisebol? — Tucker pergunta, com um bocejo.
Não espero a resposta, porque já estou começando a me apegar aos dois.
O universo está sendo um verdadeiro idiota.
Ou talvez eu precise parar de procurar o que é fácil – como Wyatt caindo no meu colo esta semana
– e realmente descobrir o que vou fazer para colocar minha vida de volta nos trilhos.
Ele estava certo esta manhã.
Os médicos não sabiam se conseguiriam consertar meu quadril e minha perna o suficiente para que
eu voltasse a andar.
Mas estou aqui. Mancando escada acima, meu corpo rígido.
Eu irei ficar fisicamente bem novamente.
É hora de descobrir o que o resto de mim precisa.
19

As coisas que faço pelos meus amigos.


Quando Beck me pediu para irritar Ellie, eu tinha uma vaga ideia do que estava por vir. Um porco-
espinho atirando em mim? Sim, porque eu sabia exatamente como cutucá-la. Olhares quentes o
suficiente para derreter ferro? Não a irritaria de outra maneira.
Essa sensação desagradável no meu pau cada vez que penso nela nua?
Não posso dizer que não tenho lidado com isso nos últimos seis meses, nos momentos em que não
deixava a culpa tomar conta de mim.
Acabar junto com Tucker, Ellie, Monica, Jason, o Homem das Cavernas Loiro, Sloane e as mães do
feliz casal? No Spa Yo Ho Ho?
Nem passou pela minha cabeça.
Mas aqui estou eu, em uma cadeira de massagem chique, com um pé imerso em uma banheira de
água com perfume floral, enquanto uma mulher que eu nunca vi massageia, esfrega, aperta e faz todos
os tipos de merdas estranhas com o outro pé.
Tucker explode em risadas toda vez que sua pedicure tenta tocar seus pés, então ela desistiu e está
deixando-o chupar um pirulito de pirata e apenas molhar os dedos dos pés na água borbulhante do
spa.
— Sorria, querido — Ellie diz de seu assento do outro lado, segurando seu telefone para tirar uma
selfie de nós três.
Eu olho para ela.
Ela sorri ainda mais.
Tucker ri.
— Beck faz isso o tempo todo — ela me diz.
— Ele também desfila de cueca. Você está mandando uma mensagem para ele? Eu vou... — Mexo
as sobrancelhas para ela, uma clara ameaça de beijá-la, ou tocá-la, ou causar algum outro desastre —
... se você mandar essa foto para alguém. Ou postar nas redes sociais... Ou fazer qualquer coisa além
de excluí-la...
Suas sobrancelhas se contraem como se seu rosto estivesse lutando entre fazer uma careta e me dar
o olhar de eu te desafio.
— É preciso ser um homem muito seguro de sua masculinidade para fazer os dedos dos pés —
Monica fala de seu assento, em uma cadeira de massagem na parede oposta.
O Homem das Cavernas Loiro está com o nariz enfiado em uma revista financeira e a ignora.
Jason sorri para mim.
— Ela está certa, você sabe.
— Oh, quieto. Wyatt não tem problemas com sua masculinidade, — diz Ellie. — Você deveria ter
visto ele esfregando o chão da cozinha, na noite passada.
— Você deveria ter nos visto esfregando o chão — digo a ela.
— Fui um excelente ajudante — diz Tucker com orgulho. — Eu enxuguei baldes de água.
Monica lança um olhar interrogativo para Ellie.
— A máquina de lavar louça inundou — explica Ellie.
— Bem, graças a Deus, era a casa de Beck — diz Monica.
Eu me engasgo com uma risada, porque isso, pelo menos, é a verdade. Mandei uma mensagem para
ele com uma foto e disse que Ellie e eu nos empolgamos lavando a louça.
Ele respondeu com uma foto de seu dedo do meio, e sua assistente me ligou dois minutos depois
para dizer que havia programado uma manutenção no drywall para a próxima semana, para consertar
os danos causados pela água, e disse para nos divertirmos lavando pratos com as mãos, porque a
nova máquina de lavar louça demoraria cinco a sete dias para chegar.
Esta manhã, acordei com uma mensagem dele dizendo que não poderia pedir um namorado melhor
para sua irmã, exceto, talvez, Levi, porque sua bunda é mais legal que a minha.
Não contei a Ellie, porque resolveremos tudo isso depois que o casamento acabar, quando ela não
precisar mais que eu desempenhe esse papel.
Porra, espero não perder uma amiga por causa disso.
Mas se eu fizer isso, provavelmente não a mereço enquanto a tenho, de qualquer maneira.
— Quer que eu pinte bandeiras de piratas em seus pés? — a senhora mexendo no meu meu pé
pergunta.
Ellie se desmancha em uma gargalhada.
— Você não precisa esmaltar a unha — Monica me diz com um sorriso.
— Sim — digo à senhora. — Bandeiras piratas
Ellie ri tanto que tem um ataque de tosse, que termina com a respiração ofegante e esfregando a
perna, mas ainda está sorrindo. Sua pedicure teve até que parar. Jason me dá um sinal positivo. O
Homem das Cavernas Loiro revira os olhos por trás da revista, que não está escondendo seu rosto
muito bem.
Quando terminamos, tenho bandeiras de pirata em meus dedões do pé e pareço um idiota, mas
realmente não me importo. Tucker acha incrível e me implora para tirar uma foto para enviar para
sua mãe.
Eu agradeço enquanto estou esperando para pagar e, quando chego à frente, o caixa sorri.
— A mãe do noivo acertou o seu, do seu filho e da sua namorada. Vá exibir esses lindos dedos do
pé e volte para nos ver de novo!
Lá fora, a Sra. Dixon está caminhando a toda velocidade em direção ao hotel no final da rua. Jason,
Monica e sua mãe estão conversando com Ellie e Sloane, enquanto o Homem das Cavernas Loiro faz
uma ligação.
Eu paro ao lado de Jason.
— Sua mãe não precisava pagar para nós.
— É a única maneira que ela conhece de agradecer. — Ele me dá um tapinha no ombro. — Não
mencione isso, ou ela vai ficar mal-humorada de novo. Estamos indo para os food trucks na
praça. Vocês vêm?
— Wyatt prometeu a Tucker outro passeio ao parque aquático — Ellie responde por nós. — Eles
vão nos encontrar mais tarde.
— Você quer ir com eles? — Monica pergunta. — Nós vamos apenas andar, nos encher de comida
e persuadir Patrick a usar um chapéu de pirata e um tapa-olho. Você vai se divertir mais no parque
aquático.
— Eu não trouxe meu maiô.
— Eu tenho seis.
— Monica.
— Oh, quieta. Não me diga estou aqui pelas coisas da noiva. Quando foi a última vez que você
desceu de toboágua?
— Eu não posso....
— E o rio lento? Você ama o rio lento.
— Querida, você ama o rio lento — Jason diz. — Vamos todos.
— Sim! — Tucker comemora.
Ellie tenta enviar a Monica outro olhar significativo, mas a noiva não percebe.
— Ninguém se importa com a sua cicatriz — digo a ela, baixinho.
— Eu me importo — ela murmura.
Eu a estudo por um minuto.
Ela não encontra o meu olhar, e suas bochechas estão ficando vermelhas.
Ela tomou banho de banheira pelo menos três noites esta semana, então eu sei que a água em si não
é o problema.
É o maiô.
— Me dê trinta minutos — digo a ela.
Suas sobrancelhas franzem.
— Para quê?
— Uma solução. Vamos, Tucker. Temos um trabalho a fazer.
— Você não está fugindo de nós, está? — Monica pergunta.
— Não. A encontro lá. Certifique-se de que Ellie esteja com você.
Não sei se a minha ideia é possível, mas vale a pena tentar. E se há algum lugar que pode realizar
isso, é Shipwreck.
20

Estou gostando seriamente desse Wyatt Morgan.


O homem encontrou shorts de mergulho para mim.
Ele acessou a rede de fofocas de Shipwreck e encontrou shorts de mergulho que cobrem até o
joelho, escondendo completamente minhas cicatrizes.
Passamos a tarde inteira no parque aquático, destruindo todo o trabalho das nossas pedicures.
Jason e Wyatt tentando derrotar um ao outro, flutuando no rio lento, ajudando Tucker a aprender a
nadar, rindo enquanto ele escala o céu da aventura pirata de dois andares com seus canhões de água e
desvia da água que escorre do balde gigante no topo, e absorvendo o lindo sol da tarde.
Eu evito os toboáguas, mas Tucker e Wyatt descem um milhão de vezes.
Monica declara que é hora da soneca, por volta das cinco, e me dá um empurrão suave em direção
ao carro de Wyatt.
— Vá para casa. Jason e eu vamos comer pizza no quarto à noite e deixar as famílias
tranquilas. Nos vemos no ensaio pela manhã, ok?
— Não vamos ao Bar do Rum? — Perdemos ontem à noite, com toda a preocupação com a Sra.
Dixon quase sufocando.
— Oh, meu Deus, Ellie, estou tão cansada — diz ela com uma risada. — Além disso, acho que
Jason está se sentindo negligenciado.
— Se você precisar de qualquer coisa...
— Minha mãe está aqui. E você sabe que tudo o que tenho que fazer é levantar um dedo e qualquer
membro da família Rock vai fazer acontecer.
— Vamos, Ellie — Wyatt diz. Ele acena para alguém em uma bicicleta, e o piloto diminui a
velocidade conforme se aproxima, uma sacola de plástico de duas alças pendurada no guidão. — O
trem sai em três minutos.
— Sr. Morgan? — diz a criança na bicicleta.
— Sim. — Wyatt entrega a ele algumas notas de vinte, e o garoto entrega a bolsa.
— Isso é frango frito? — Pergunto, farejando o ar.
— E salada de batata, batata frita, pudim de banana e um funnel cake. Encomendei tudo nos food
trucks.
— Jason, me desculpe, vou me casar com Wyatt amanhã — Monica anuncia.
— Cale a boca, ele é meu — retruco sem pensar.
Ela sorri para mim, e eu sinto minhas bochechas esquentarem.
E não por causa de todo o sol que pegamos hoje.
— Meninas são estranhas — anuncia Tucker. — Eu nunca vou me casar. Exceto, talvez, com a
minha irmã, se algum dia eu tiver uma. Posso ter uma irmã?
Pela primeira vez, Wyatt parece estar sem palavras.
— Você deveria pedir ao Papai Noel uma irmã de presente — digo a Tucker enquanto o conduzo
para o SUV de Wyatt. — Irmãs são as melhores. Eu sei, porque eu sou uma.
— Irmãs são irritantes — Wyatt corrige.
— Ele está com ciúme porque nunca teve uma — eu sussurro para Tucker, que ri enquanto puxa o
cinto de segurança sobre o assento. — Irmãs são totalmente incríveis.
Tucker passa os braços em volta do meu pescoço e me abraça com força. Fico surpresa e retribuo o
abraço.
— Você é incrível, Srta. Capitã Ellie.
— Não tão incrível quanto você.
Nós voltamos para a casa de Beck sem incidentes e caímos de boca na comida como se não
comêssemos há uma semana. Tucker experimenta duas mordidas de pudim de banana e declara que é
nojento.
— Então eu acho que é meu dever paterno comer o seu — Wyatt anuncia.
— Oi? Vamos compartilhar — eu argumento.
— Ele não é seu filho.
— Tucker, posso comer metade do seu pudim de banana?
Ele olha entre nós.
— Compartilhar é legal, pai — ele finalmente sussurra.
— É, realmente, pai — eu concordo.
— Hora do banho para você — Wyatt diz a ele sem responder a nenhum de nós.
Mas ele deixa meio pedaço de pudim de banana na geladeira quando leva Tucker para cima.
Limpo a bagunça do jantar, percebendo com um susto que já tem dias que não limpo a cozinha, mas
tudo está quase impecável de qualquer maneira. Exceto pelas coisas que sujamos no nosso pequeno
jantar, é claro.
Porque Wyatt tem cuidado da limpeza.
Às vezes, me pergunto por que Beck manteve essa amizade. Assim que os caras começaram sua
aventura com a boy band, um novo mundo se abriu. Beck, Levi, Tripp, Cash e Davis poderiam ter ido
a qualquer lugar, feito qualquer coisa. Cada um deles perdeu alguns amigos ao longo do caminho,
pois o dinheiro muda as coisas. Mas Wyatt era a única constante fora da família.
E acho que entendi agora.
Assim como chamamos Davis para consertar o Frogger, qualquer um dos caras da vizinhança pode
ligar para Wyatt, e ele estará lá. Ele faria qualquer coisa que precisassem.
Incluindo ficar de olho em uma irmã com quem estão preocupados.
Assim que termino de guardar os pratos, preparo uma xícara de chá para mim, um novo hábito
desde o acidente. Pego meu bloco de desenho do quarto e o levo para a sala de estar. Tucker está
chorando lá em cima. Wyatt está falando com ele suavemente. Firme, calmo, sua voz profunda me
tranquilizando também, embora eu não perceba que preciso ser tranquilizada, nem tenha ideia do que
ele está dizendo.
É apenas a cadência calmante de sua voz.
Não estaria tão calmo e reconfortante se realmente houvesse um problema. O pobre garoto
provavelmente está exausto de tanta diversão.
Olho o e-mail no meu celular, decido que não há nada que não possa esperar até a próxima semana,
e o jogo de lado para abrir meu bloco de desenhos.
Eu rabiscava o tempo todo quando era criança, mas os esportes e outras atividades
extracurriculares da escola e da faculdade não me deixavam muito tempo livre. Só quando fui
forçada a tirar dois meses de folga do trabalho, para me recuperar neste inverno, voltei a desenhar.
E acontece que, ao folhear as páginas, percebo que tinha muita raiva para trabalhar este ano.
Dick e suas Nozes deveria ser um quadrinho divertido, sobre um pênis e um par de amendoins –
não, não são testículos, são realmente amendoins – que se juntaram para dominar o mundo, apesar de
uma das nozes estar de muletas.
Dick deveria ser um gênio do mal engraçado e alegre.
Na verdade, ele é tudo o que eu odiava em Patrick quando terminou comigo. Primeiro vinha o vício
em seu trabalho, seu telefone vinha em segundo, sua família em terceiro, e todo o resto que vinha
depois só acrescentava mais raiva. Conheci Patrick em uma campanha de arrecadação de fundos para
a empresa de Jason. Água limpa e energia verde andam de mãos dadas, e meus pais gostam de enviar
dólares corporativos da Ryder Consultoria para várias organizações sem fins lucrativos todos os
anos. Por isso, pensei que compartilhávamos as mesmas paixões na vida.
Não sei se olhei para ele através de lentes cor de rosa naquele primeiro ano, ou se ele lentamente
deixou de ser o homem que pensei que fosse quando nos conhecemos. Mas quando o Natal passado
chegou, eu estava mais brava por ele me impedir de cumprir meu objetivo de estar casada e grávida,
do que ele não ter proposto casamento.
Eu deveria ter percebido que isso significava que eu esperava a coisa errada do nosso
relacionamento, mas foi preciso um acidente de carro e, honestamente, esta semana para eu ligar os
pontos totalmente.
A vida é muito mais do que simplesmente alcançar objetivos de uma lista.
Estou sorrindo para mim mesma sobre as Nozes – chamei-as de Joe e Bob, porque sou muito
criativa – e seu plano de colocar Dick em transe para os dois controlarem a espaçonave e explodir a
Terra com um feixe de laser que fará todo mundo rir sem parar, para que possam roubar todas as
lojas de chocolate que quiserem, sem ninguém soar o alarme, quando Wyatt desce as escadas.
Ele desaparece no porão e, quando volta com um monte de lençóis e o edredom para a cama de
Beck, começo a me levantar.
— Mova um músculo e vou ligar para Beck, para dizer que vamos nos casar.
— Isso funcionaria com os Dixons — eu respondo. — E você sabe que essa é a maneira mais
rápida de trazer Beck aqui. Ele adora casamentos. E me adora. E, às vezes, também te adora.
Wyatt sorri.
Eu retribuo o sorriso.
Ele não vai ganhar esta rodada.
— Vou trocar o seu banho de espuma por pó-de-mico— ele diz.
— Você não faria isso.
— Quer apostar?
— Você não tem pó-de-mico.
— Da última vez que fiquei aqui, seu irmão salgou meus lençóis e colocou um urso taxidermizado
em tamanho real no meu quarto, para me assustar. Então, sim, eu trouxe pó-de-mico.
E de repente, estou bastante certa de que não quero que este homem arrume a cama que vou dormir
hoje.
Eu começo a me mover novamente.
— Sente-se — ele ordena.
Droga, essa voz de comando militar é sexy.
Super sexy.
E é por isso que me sento.
Porque se eu seguir Wyatt para o quarto, o colchão não será a única coisa sem roupa.
— Obrigada — eu digo, concordando com um aceno. — Além disso, se você colocar pó-de-mico
nos meus lençóis, eu coloco na sua cueca.
Ele apenas sorri novamente.
O que também é terrivelmente sexy.
Eu volto a folhear meus rabiscos. Depois de alguns minutos, Wyatt aparece novamente. Ele para na
cozinha antes de se juntar a mim com uma garrafa de água em uma mão e o resto do pudim de banana
na outra. Ele coloca a poltrona reclinável em ângulo para lhe dar uma visão de mim e da paisagem da
cidade abaixo – ou daria, se o anoitecer não estivesse caindo – e levanta o apoio para os pés.
— Troco com você — diz ele, levantando o pudim de banana e apontando para o meu bloco de
desenho.
Hesito apenas um momento antes de me inclinar, ignorando a pontada no quadril e na coxa, para
pegar o pudim e jogar o caderno para ele.
— Eu estava brincando, Ellie. — Ele estende meu caderno para eu pegá-lo de volta, mas dou de
ombros.
— Eu ia te mostrar, de qualquer maneira.
— Por quê?
— Para fazer você recuperar seus sentidos e parar de tentar me beijar.
Ele sorri e se acomoda mais relaxado na poltrona enquanto abre a capa.
— Eu deveria saber de onde você tirou a inspiração para Dick?
— Você não o reconhece?
Dick é um pênis baixo, atarracado e não muito bonito. Não se parece em nada com o pacote de
Wyatt.
— Não posso dizer que sim — ele responde facilmente, ignorando completamente a oportunidade
de perguntar se eu consegui ver meu irmão sem a meia que os fotógrafos o obrigaram a colocar na
cueca.
É uma velha piada. Possivelmente já a usamos demais.
Além disso, não quero pensar em meu irmão de cueca. Era bom ter colocado o recorte de papelão
dele no canto virado para a parede.
Os olhos cinzentos e perceptivos de Wyatt percorrem a página, e ele ri.
— Nem uma palavra sobre meu talento — eu o advirto com a boca cheia de algo que parece o
paraíso. Quer dizer, pudim de banana. Minha mãe faz um pudim de banana incrível, mas há algo
sobre o merengue no pudim de banana do Camarada Capitão que o coloca indiscutivelmente na
frente.
— Eu estava rindo das Nozes — ele me conta.
— Oh. Então, talvez você tenha bom gosto, afinal.
Brigar com ele é tão fácil. Fizemos isso um milhão de vezes. É um hábito. Mas também é
confortável, o que não é algo que eu já tenha notado antes.
Talvez nunca tenha sido confortável antes.
Ou talvez nós dois tenhamos crescido.
Considerando há quanto tempo somos adultos legalmente, provavelmente já passou da hora.
— Por que você namorou o Homem das Cavernas Loiro por tanto tempo? — ele pergunta enquanto
vira outra página.
— A ambição me deixou cega. Por que você não largou os militares?
Seu sorriso se transforma em uma carranca resignada.
— Papelada e falha na minha rede de contato profissional.
— Rede de contato?
— Preciso de um emprego para pagar pensão alimentícia. Ainda não tenho experiência suficiente
em testes de voo para ser valioso para que alguém me contrate em Copper Valley. E meu pedido para
sair do meu contrato de serviço se perdeu na mesa de algum coronel. Encontrei na semana passada,
foi negado.
— Beck sempre disse que você seria militar de carreira. Isso combina com você.
— Merdas acontecem. No entanto, prefiro Tucker a uma longa carreira. — Ele folheia a próxima
página e começa a gargalhar.
Wyatt Morgan.
Gargalhando.
Porque ele acha meus rabiscos engraçados.
Meus mamilos ficam tensos e um calor familiar se acumula entre minhas pernas.
— Brocolisaurus? Comendo modelos de roupa íntima?
— Beck pode ter me irritado nesse dia.
— O que ele fez? Disse que você não podia fazer algo?
— Ele me pediu para ser o par dele em alguma festa de gala em Paris.
Ele me olha, surpreso.
— Isso te irritou?
— Você quer saber a última vez que Beck me pediu para ser o par dele para alguma coisa?
— Ah.
Acho que ele acabou e que entendeu, mas em vez disso, fecha o caderno e olha para mim.
— Já considerou que ele finalmente percebeu o que quase perdeu?
Abro a boca, mas, de repente, não sei se ele está falando sobre Beck, e a possibilidade de perder
uma irmã, ou a si mesmo, e a possibilidade de que possa ter perdido uma oportunidade.
Comigo.
O que é uma loucura, porque eu sempre o irritei pra caralho.
Eu costumava correr maratonas. Eu sabia que era bonita e atlética e inteligente. Eu sou irmã de
Beck Ryder, pelo amor de Deus, eleito um dos homens mais sexys do ano pela revista People, e
somos claramente parentes. Eu não tinha problemas de insegurança, e então quando Wyatt esteve
disposto a dançar o tango nu comigo, presumi que era porque ele queria a mesma coisa que eu.
Um pouco de companheirismo humano e a confirmação de que ainda era atraente para alguém.
E possivelmente que estava um pouco embriagado.
E com raiva. E sofrendo. E solitário.
Exatamente como eu estava, exceto que não estava embriagada.
E talvez, apenas talvez, vê-lo sozinho e magoado e com raiva me fez perceber o que eu
estava perdendo todos aqueles anos entre odiá-lo, depois me apaixonar por ele, então odiá-lo
novamente.
Que eu não teria pensado duas vezes nele se não houvesse algo ali.
— Pensei em muitas coisas depois do acidente — digo a ele. — Mas é complicado. Eu não quero
encontros por pena. Mas também não quero tomar nada como garantido, então entendo que outras
pessoas não queiram dar tudo isso como certo. Mas também queria que tudo voltasse a ser como era
antes. Mas não é possível.
— Abrace o que é melhor, Ellie. Mude o que você pode mudar. Corrija o que você pode
consertar. Aceite o resto.
— Você quer dizer, aceitar que a casa vai pegar fogo se dormirmos juntos de novo? — Sussurro.
Ele dá uma risada exasperada.
— Claro.
— OK. Boa. Que bom que concordamos com isso.
— Você vai comer isso? — ele pergunta com um aceno de cabeça para o meu pudim de banana.
Nosso pudim de banana.
Eu me inclino e o entrego a ele.
— Você cuspiu nele? — ele pergunta, desconfiado.
E eu rio. Porque estamos um pouco confusos, mas pela primeira vez na minha vida, estou muito
feliz por ter Wyatt como amigo.
21

Depois de uma noite longa e agitada, Tucker e eu concordamos que ele precisa aprender a jogar air
hockey mais do que ir cavar em busca de mais tesouros piratas, ou caçar a perna de pau que
aparentemente ainda não foi encontrada na cidade. Ellie acordou cedo para levar uma caixa de
papagaios para a cidade e se preparar para o casamento, mas ela ficou por aqui tempo suficiente para
tomar café da manhã conosco e desenhar um papagaio para Tucker colorir mais tarde.
Estamos brincando de air hockey no meio da manhã, quando ouço a porta se abrir e alguém apertar
o teclado de segurança.
— Fique aqui, amigo — digo a Tucker.
Subo as escadas suavemente, meio que esperando ver Beck e, em vez disso, vejo um casal mais
velho.
Meus olhos ardem e meu peito incha, porque essas duas pessoas são a coisa mais próxima que
tenho de pais em todo o mundo.
— Bom dia — eu digo.
A Sra. Ryder se vira, seus olhos azuis brilhantes pousam em mim e seu rosto se ilumina em um
sorriso familiar tão parecido com o de seus filhos.
— Wyatt! Imaginamos que você estaria em Shipwreck com Ellie.
Ela me sufoca em um abraço, o que é impressionante, considerando que tenho mais de quinze
centímetros e pelo menos quinze quilos a mais. O Sr. Ryder aperta meu ombro.
— Aguentando firme? — ele pergunta.
— Sempre. O senhor?
— Não posso reclamar.
— Onde está aquele seu garotinho? — Sra. Ryder pergunta. — Eu tenho presentes.
— Você não precisava...
— Quieto. Isso é o que as avós fazem.
Eu sei uma coisa ou duas sobre discutir com os Ryders – todos eles – e eu sei que geralmente é
inútil.
Às vezes divertido, mas sempre inútil.
— Sim, senhora.
Eu ajudo o Sr. Ryder com a bagagem, enquanto a Sra. Ryder desce as escadas para abraçar
Tucker. Depois que eles estão acomodados, Tucker os convence a ir para a cidade comer pizza
conosco.
Não demora muito. Ele apenas olha para a Sra. Ryder e pergunta se ela também está com fome de
pizza.
Tucker fala até cansar sobre o Festival Pirata, na descida da montanha. Sorrio enquanto os ouço
conversando, mas a preocupação está se instalando.
Amanhã partiremos para voltar para casa, na Geórgia. Segunda-feira, retorno ao trabalho. Ele vai
para um acampamento de verão que meu chefe jura que sua esposa adora levar os filhos.
E não teremos Ellie conosco.
Na maior parte da minha vida, isso foi ótimo para mim. Ela era irritante, detestável e uma dor de
cabeça.
Agora?
Ou eu preciso ver meu médico por causa de um problema de indigestão flamejante repentina, ou
vou sentir falta dela.
Porque talvez o problema nunca tenha sido o fato de ela ser irritante, desagradável e um pé no saco.
Talvez o problema fosse que ela era tudo que eu queria ser, e depois tudo o que eu queria, e algo
que eu não achava que pudesse ou merecesse ter.
Trabalhar duro para fazer algo por mim mesmo em uma carreira e ser o melhor pai que conheço
nem sempre é suficiente para apagar as sementes da minha infância plantadas em meu subconsciente,
de que eu não era nada além de uma praga.
— O trabalho está indo bem? — pergunta o Sr. Ryder.
Conto a ele sobre meu projeto atual, uma atualização para sensores de radar na mais nova
plataforma de caças, e ele me fala sobre um projeto de parque eólico que sua empresa está fazendo
para um complexo de servidores baseado em nuvem, ao sul da cidade, mais perto de onde Davis
mora.
— Ainda quer sair daqui a um ano? — ele me pergunta.
— Estou pronto. — Eu ficaria até a aposentadoria, se pudesse. Gosto de saber que meu trabalho
apoia meu país e, em última análise, ajuda a proteger meus amigos e vizinhos, e o trabalho é
desafiador e gratificante, mas as chances de ser capaz de conseguir permanecer na base ao norte de
Copper Valley e, portanto, perto de Tucker, são poucas. — Só estou esperando o tempo passar ou
uma desistência chegar.
— Se você quer um emprego, sabe onde nos encontrar.
— Agradeço isso, senhor.
Não que eu planeje aceitar qualquer oferta sem saber que mereço. Já foi difícil deixá-los pagar
para que eu fizesse o vestibular.
O que é exatamente o tipo de coisa que a família faz, e mais uma razão pela qual eu não posso
brincar com a Ellie.
A família dela significa muito para mim.
Inferno, é por isso que me inscrevi para uma bolsa de estudos no minuto em que cheguei ao campus.
Para que eles não sentissem que precisavam me ajudar mais.
Isso foi antes de Beck e os caras se darem bem com a Bro Code, e antes de Ellie conseguir uma
bolsa integral.
E se eu foder as coisas com ela, nunca mais ouvirei a conversa na parte de trás do carro sobre a
maneira como eles adotaram Tucker como neto substituto. Não vou achar que ainda mereço ser
tratado como um deles.
Se Ellie e eu estivéssemos nisso por um longo tempo, seria uma coisa.
Mas ela nem mesmo quer me tocar, com medo de que o mundo desmorone ao seu redor.
Portanto, guardarei meus sentimentos para mim mesmo, Tucker ficará com seu segundo casal de
avós, e a vida continuará do mesmo jeito.
Exceto que diferente.
Estacionamos mais uma vez no campo, na extremidade de Shipwreck, e descemos a Avenida Barba
Negra até a cidade. O Sr. Ryder examina a rua.
— Onde você acha que Ellie está?
Encontrar o pessoal do casamento não é fácil esta manhã – nada de fantasias de papagaio brilhantes
para o dia do casamento, aparentemente. Mas então eu noto os colonos ingleses.
E a mulher que se parece com Keira Knightly naquele filme de pirata.
— Ah, ali, eu acho — digo ao Sr. Ryder. Não vejo Ellie, mas Monica, Jason, Sloane e os pais estão
em trajes coloniais completos. Parece que o Pop Rock está passando o dia fazendo o papel de um
governador, com a peruca branca empoada.
Só esta cidade mesmo.
Aceno para Monica da esquina quando ela olha em nossa direção, e seu rosto se ilumina quando
acena de volta.
— Oh, meu Deus — a Sra. Ryder murmura com um sorriso. — Eu só posso imaginar como será o
vestido de noiva dela.
Nós nos encontramos com eles duas lojas depois da Anchovas. Ellie ainda não está com lá.
Nem o Homem das Cavernas Loiro.
Uma sensação de desconforto desce pela minha espinha. Não porque estou preocupado que Ellie
ainda tenha sentimentos por esse cara, mas porque não confio nele.
Especialmente quando o rosto da Sra. Dixon se ilumina com a visão dos Ryders.
— Michelle! Christopher! Que bom ver vocês dois de novo.
Ela se inclina para beijos na bochecha com a Sra. Ryder e para abraçar o Sr. Ryder.
Atrás das costas, Monica revira os olhos com tanta força que sua língua fica de fora, e eu percebo
que talvez eu não seja tão ruim assim.
Tudo que quero é um pouco de amor e aceitação.
Essas pessoas, no entanto, estão nisso pelo status social.
— Como vai o negócio ambiental? — pergunta o Sr. Dixon, pela primeira vez na semana.
O Sr. Ryder aperta sua mão.
— Bom.
— Você sabe que nosso banco ficará mais do que feliz em ajudá-lo quando quiser sair daquele
bairro antigo em que ainda vive. Uma família digna como a sua deveria estar em uma casa adequada
à sua posição.
Jason suspira.
Até Sloane parece surpresa.
— Nós nunca poderíamos deixar nossa casa, mas obrigada — a Sra. Ryder os informa. Ela
facilmente dá um passo para o lado para abraçar Monica. — Você está linda, querida. Estamos muito
felizes por vocês dois.
— Estou tão feliz que você veio — ela responde.
Quando a Sra. Ryder se vira para a mãe de Monica, eu me inclino para mais perto da noiva.
— Onde está Ellie?
Ela aponta para um banco na beira do parque, então franze a testa.
— Eu acho que nós a pressionamos muito esta semana. Ela está mancando. Eu disse a ela para ficar
lá, mas...
— Ela está bem? —pergunto ao mesmo tempo que o Sr. Ryder pergunta: — Mas onde ela
está agora?
— A senhorita Ellie beijou meu pai — anuncia Tucker.
Os frequentadores do festival continuam passando, um bando de piratas salta no meio da rua para
uma luta de espadas improvisada e um silêncio completo se instala no nosso grupo, enquanto os
Ryder se viram para olhar para mim.
Não é que eu não soubesse que isso ia acontecer.
Desde o momento em que Ellie me informou que eu devia a ela por arruinar seu encontro do
casamento, soube que teria que enfrentar seus pais.
O irmão dela.
Nossos amigos.
Explicar para Tucker.
— Oh, Wyatt! — De repente, a Sra. Ryder está me apertando com força. — Oh, isso é maravilhoso.
O Sr. Ryder está sorrindo para mim, e eu nunca me senti tão amado enquanto me odiava tanto ao
mesmo tempo, porque logo teremos que encenar um rompimento, e eu não sei se na próxima vez serei
capaz de olhar qualquer um deles nos olhos.
— Devíamos ir procurá-la — eu digo rispidamente.
— Absolutamente — concorda o Sr. Ryder. Ele pega o telefone e disca, e todos nós ouvimos
enquanto o toque rola para o correio de voz.
Ellie está segura aqui. Ela pode cuidar de si mesma, e os habitantes locais a conhecem bem o
suficiente para que, se ela tiver problemas ou se machucar, eles estarão bem ao seu lado. Ela
provavelmente teve que ir ao banheiro.
Ou foi atrás de pudim de banana.
Mas o Homem das Cavernas Loiro também está sumido.
Eu examino a praça com sua terra revirada e mais frequentadores de festivais cavando por ouro, os
bancos ao redor, para cima e para baixo na calçada, mas não a vejo.
— Tucker, você quer vir comigo? — Monica pergunta a ele, como se soubesse que estou prestes a
sair para procurá-la.
— Esse é o seu cabelo de verdade? — Tucker pergunta.
Ela balança a cabeça e se agacha em seu enorme vestido de princesa colonial, inclinando os cachos
para ele.
— Com certeza é. Quer tocar?
Eu não quero deixá-lo aqui. Não tenho ideia do que os Ryders vão pensar de mim quando esta
semana acabar, então estou me agarrando à única coisa que sei que ainda terei.
Mas ele solta minha mão para inspecionar o cabelo de Monica, e alguém precisa encontrar Ellie.
O Sr. Ryder inclina a cabeça na direção do Camarada Capitão. Eu assinto e saio para a praça
esburacada e em direção ao banco onde Ellie foi vista sentada pela última vez.
Eu mal passei pela borda traseira do prédio à minha esquerda, quando ouço vozes.
Vozes familiares.
— Por que você está fazendo isto comigo? — o Homem das Cavernas Loiro exige.
— Não é sobre você, Patrick. Esta semana é sobre Jason. E Monica.
— Eu quis dizer empurrar aquele idiota na minha cara.
Há um segundo de silêncio antes de Ellie perguntar:
— Do que você está falando?
— Você e tudo sobre aquele amigo idiota do seu irmão.
Eu viro a esquina e os vejo. Ele a está bloqueando contra uma lixeira, e estou prestes a dizer algo
quando Ellie fala.
— Suas inseguranças e delírios não são meu problema. Você não tem direito a uma opinião
aqui. Agora vá.
— Você não está me ouvindo...
— E eu não preciso. Nós terminamos. Sua opinião não tem relação com a minha vida. Cale a boca
e me deixe ir.
— Eu faria o que ela está pedindo — eu interrompo. — Ela tem um gancho de direita ótimo.
Eu não adiciono que eu também, porque realmente não quero tornar um hábito socar as pessoas,
então tudo o que tenho são instintos e o esmagador desejo de proteger e defender o que é meu.
E por meu, quero dizer minha família.
E não, eu não quero falar sobre como meu coração está batendo ou meus músculos tensos para
entrar em ação, porque eu moverei céus e terras e viajarei para as profundezas do inferno para ter
certeza de que Ellie está segura... fisicamente, mentalmente, emocionalmente, espiritualmente, tudo
isso.
Segura. Salva. Inteira.
Porra.
Porra.
Estou apaixonado por Ellie Ryder.
O Homem das Cavernas Loiro tem dez centímetros a mais que eu, mas vou achatá-lo se for
preciso. E com base na carranca de lábios curvados sob sua peruca empoada e a maneira como ele
está flexionando os braços sob seu uniforme marinho vintage, ele está pensando que ficaria feliz em
me socar também.
Seus lábios se abrem.
— Feche sua...
— Seus pais estão aqui — digo a Ellie.
Ela sorri, e, porra, ela é linda.
Não é apenas o vestido colonial ou a peruca engraçada com longos cachos pretos. É a maneira
como ela não se conteve em deixar o sorriso se espalhar de uma face a outra. O calor em seus
olhos. A postura teimosa de seus ombros.
Linda?
Não.
Ela é tudo, porra. Todo o pacote.
— Eles devem estar desapontados — o Homem das Cavernas Loiro zomba.
— Que estou mais feliz sem você? Na verdade, não. — Ela se inclina em minha direção, e passo
um braço em volta de seus ombros enquanto ela se afasta dele. Seu pulso está acelerado no pescoço,
e eu quero colocá-lo no chão apenas por princípio.
E então eu quero carregá-la para o canto escuro mais próximo e inspecionar cada centímetro dela
para ter certeza de que está bem.
E então eu quero beijá-la. Porra, eu quero beijá-la.
— Vamos embora — ela me diz.
— Sua namorada sabe o que você está fazendo? —pergunto ao Homem das Cavernas Loiro
enquanto me viro, então estou entre ele e Ellie.
— Ela sabe que eu defendo mulheres indefesas e acha isso sexy.
Ellie se engasga com o ar. De repente, sou incapaz de parar uma risadinha.
— De que porra você está rindo? — ele rosna.
— É melhor irmos rápido — murmuro para Ellie. — Você está bem?
Ela se apoia em mim enquanto corremos de volta para a rua, e vai doer como o inferno quando eu
não puder mais tocá-la.
— Eu fui uma idiota — ela suspira.
Ela está mancando mais do que o normal. Não é bom.
— Qual é o peso da sua peruca? —pergunto a ela. — O cheiro ruim vem dela?
— Você provavelmente está cheirando suas próprias axilas — ela diz, mas olha para mim e sorri
sem o velho você me irrita pra caralho, que sempre esteve lá.
Não, isso é eu amo flertar com você.
É a porra de um flerte. É isso, não é?
Flertando.
Sempre foi assim.
Éramos apenas teimosos demais para ver.
Ou para admitir.
E nenhuma pequena parte de mim gostaria que pudéssemos voltarmos a isso.
Por que deixar Ellie Ryder?
Isso vai ser uma merda.
22

No momento em que estamos fazendo nossos ajustes de cabelo e maquiagem de última hora, em
uma pequena tenda na colina do mirante no final da Avenida Barba Negra, onde Monica e Jason farão
seus votos, não consigo decidir de quem é a mãe mais feliz, a de Monica ou a minha.
Definitivamente não era a Sra. Dixon. Ela está ganhando uma nora excêntrica de seu filho ovelha
negra, enquanto a namorada de seu filho favorito está dando uma bronca nele a tarde toda.
Mas a minha?
Ela está no paraíso absoluto por eu e Wyatt estarmos namorando.
A próxima semana pode matá-la.
Isso não é bom.
— Caramba, mãe, talvez você devesse ter adotado Wyatt e jogado eu e Beck no meio-fio — digo,
enquanto ela ajeita os meus cachos curtos. A qualquer minuto, papai vai nos chamar para o
casamento.
Ela bate no meu braço.
— Fique quieta. Você sabe que amo todos os meus filhos igualmente. Wyatt só precisava de mim
mais do que você, Beck, e o resto dos meninos e meninas.
Eu ficaria ofendida, mas fomos criados por uma aldeia. Eu tinha tanta probabilidade de ser
castigada pela Sra. Rivers quanto pela minha própria mãe.
— Ele tem sorte de ter você — digo a ela, e merda.
Agora ela está chorando, e isso vai me fazer chorar também, mas não de felicidade e alegria.
Não, minhas lágrimas serão todas de culpa.
E possivelmente de dor, porque Wyatt não é um idiota, e ele não é um espinho no meu pé, e eu não
sei como chamá-lo, mas o falso na parte do falso namorado parece mais errado do que a parte
namorado.
O que é impossível, porque realmente morreríamos, e Tucker merece crescer com um bom pai.
— Pare, pare — Monica diz, se apressando para abraçá-la. Ela mudou de seu vestido colonial para
um vestido de noiva pirata, uma mistura eclética de formal e bucaneiro, com botas de pirata sob sua
saia de arco rendado e um espartilho de couro bordado com caveiras e ossos cruzados em seu
corpete. Ela tem uma bandana sobre os cachos e brincos de argola gigantes pendurados nos
ombros. — Não chore até ouvir os votos. Eles são lindos. Ellie, como está sua perna? Você quer que
eu mande um dos meninos Rock buscar uma cadeira?
— Estou bem — digo a ela.
Ok, talvez eu não esteja tão bem assim, mas posso aguentar durante o casamento antes que eu
precise me colocar em repouso por uma semana para me recuperar.
Sozinha.
Provavelmente aqui em Shipwreck, porque mesmo sem a lava-louças, a casa do Beck ainda é
superconfortável, e tem internet, e posso pegar emprestado o laptop que mamãe trouxe, para trabalhar
por uma semana.
A casa ficará estranhamente vazia, mas será bom ficar sozinha novamente.
Sozinha.
Sem ninguém para conversar.
Ninguém para irritar. Ninguém com quem compartilhar pudim de banana.
Sem vozes de criança gritando de tanto rir de bolhas de sabão ou desenhos de piratas ou papagaios,
ou pedindo para compartilhar um donut.
Ninguém para beijar e fazer a casa desabar à nossa volta.
Droga, não consigo parar com essa coisa de olhos cheios de lágrimas.
— Monica, querida, está na hora — sua mãe sussurra.
Monica grita, e seus olhos ficam brilhantes também.
— Oh, meu Deus, eu vou me casar com Jason — ela sussurra.
Eu a aperto em um abraço.
— Eu estou tão feliz por você.
— Vá em frente, ande na prancha... quero dizer, ande pelo corredor para que eu possa me amarrar.
Minha mãe corre para se juntar ao papai, Wyatt e Tucker em uma fileira de assentos perto do
gazebo. A lista de convidados é pequena – alguns amigos e colegas de trabalho de Copper Valley e
algumas tias, tios e primos de ambos os lados – mas os moradores de Shipwreck compareceram em
peso para assistir.
E participar, embora a maioria dos convidados e turistas que também estão reunidos além dos
assentos reservados ainda não saibam disso.
O Sr. Dixon acompanha a Sra. Dixon pela prancha – quero dizer, corredor. Depois Grady Rock
acompanha a mãe de Monica. E aí é hora de Patrick, vestido como um membro da Guarda Real
Inglesa, me levar até o altar.
Eu coloco minha mão em seu cotovelo, mas enquanto sua peruca empoada me diverte, mantenho a
maior distância física possível enquanto sorrio para Jason, que está parado com Pop nos degraus do
gazebo.
— Não precisamos agir assim — murmura Patrick.
Eu continuo sorrindo.
— Não há nós, e se você não calar a boca, direi à sua namorada que você me largou, pois sei que
ela pensa que foi o contrário.
Ele empalidece.
Chegamos ao gazebo, e eu deixo minha mão cair de bom grado de seu braço. Wyatt está
carrancudo. Meu pai também não parece muito satisfeito.
Mas então a banda pirata – sim, uma banda pirata – toca “Here Comes the Bride”, e todos se
levantam quando Monica sai da tenda.
— Oh, Deus, ela está linda — Jason diz com voz rouca.
Ele está totalmente adorável em seu traje de primeiro imediato. Todos nós sabemos quem será o
capitão do navio da nossa vida, disse ele a Monica quando conversavam sobre o traje formal de
casamento. Vou usar a roupa de primeiro imediato.
A mãe de Monica já está chorando. A minha está enxugando os olhos na fileira logo atrás.
Eu me pergunto o que Wyatt está pensando, enquanto observa minha melhor amiga caminhar pelo
corredor.
Seu próprio casamento?
Ou talvez no de Tripp, que foi absolutamente lindo e completamente oposto a esse caso de piratas
de uma pequena cidade. Porque quando um ex-integrante de boy band se casa com uma famosa de
Hollywood, você tem certeza absoluta de que seria espetacular.
Mas ele olha para mim, e de repente tenho certeza de que ele não está pensando em casamentos.
Há algo cru, indefeso e belo em seus olhos cinzentos. Arrependimento misturado com esperança.
Sinto um frio na barriga e um arrepio por todo o corpo.
Eu gosto de Wyatt Morgan.
Eu gosto de Wyatt Morgan.
Ele é leal. Ele é protetor. Ele é esperto. Ele é corajoso.
Ele adora aquele perfeito, doce e feliz garotinho ao lado dele.
Ele é um sobrevivente.
Ferido em sua alma, mas ainda está aqui. Um bom amigo do meu irmão. O filho que minha mãe
teria adicionado à casa dela em um piscar de olhos.
O homem que me incentivou a melhorar desde que se mudou para o bairro.
Jason beija a bochecha de Monica quando ela se junta a ele nos degraus do gazebo.
— Agora, guarde isso para o fim do casamento, garoto — Pop diz, e todos riem.
Pego seu buquê – uma rosa vermelha, uma rosa preta e uma rosa roxa, amarradas com uma fita
preta de bandeira pirata e enfiadas em uma garrafa de rum – e recuo para que o casamento comece.
Posso estar com os olhos um pouco marejados também. A maneira como Jason está olhando para a
Monica, como se ele fosse o primeiro imediato mais sortudo a embarcar em um navio, como se a
única coisa que ele precisasse na vida fosse ela...
Obrigada por encontrar a peça que faltava no meu quebra-cabeças, Monica me disse uma vez,
não muito depois de apresentar um ao outro. Mas esses dois, tenho certeza, teriam se encontrado de
qualquer forma.
Eles foram feitos um para o outro.
Wyatt está me observando, eu posso sentir seu olhar.
E não é irritante, arrogante ou crítico.
É quente.
E não o quente de querer me ver nua. Mas o quente de sentir isso também.
Monica e Jason fazem seus votos. A mãe de Monica chora. Minha mãe chora. Eu choro.
Tucker chora, porque: — Pai, não gosto quando as pessoas choram.
Todos riem, e eu gostaria de poder abraçar Tucker do jeito que Wyatt está agora, apenas pegá-lo no
colo e lhe dar tapinhas nas costas.
— São lágrimas de felicidade — ouço-o murmurar.
— Eu também não gosto quando você chora — Jason diz a Monica.
Ela enxuga os olhos enquanto ri.
— É a alegria vazando da minha alma.
Alegria.
Eles têm alegria.
Sempre tive planos. Calendários. Prazos. Tarefas. Eventos da vida para cumprir.
Talvez o que eu realmente precise seja de alegria.
Rir com alguém quando a máquina de lavar louça vaza. Quando ele acidentalmente se senta em uma
garrafa de molho francês. Quando batemos as cabeças no meio de um orgasmo.
Eu olho para Wyatt novamente.
Alegria.
Oh, meu Deus.
Ele é minha alegria.
Minha risada.
Minha força.
Meu desafio.
Minha motivação.
Meu porto seguro.
Minha alegria.
Seus olhos também estão embaçados, mas ele não desvia o olhar.
De repente, não me importo se nunca poderei engravidar ou dar à luz.
Não me importo se nunca tiver um grande casamento.
Não me importo se nada por fora pareça perfeito.
Só não quero que Wyatt vá embora amanhã.
— Os anéis! — Pop pede.
Minha mãe arfa. Tucker se levanta de um salto e aponta para além do gazebo. Os olhos de Wyatt
deixam os meus, e eles se arregalam comicamente. Ele começa a se levantar também.
A mandíbula do meu pai está tremendo.
Eu me viro para olhar, já sorrindo, porque eu sei o que está por vir, exceto...
— Cabras?
Monica me lança um olhar e ri como se eu fosse louca, mas então seus olhos também giram como o
leme de um navio.
Porque há um exército de cabras chegando ao topo da colina e atacando o mirante.
Os convidados do casamento estão rindo.
Os turistas também.
Mas são moradores locais que estão nos planos do casamento, não?
As cabras não estão.
Grady olha para mim e murmura: Cabras?
Encolho os ombros, porque não sei de onde vieram.
— Os anéis! — Monica diz para Pop, que também está olhando, surpreso, para o rebanho.
— Os anéis — ele concorda.
Apenas Jason parece achar divertido.
Confuso, mas também divertido.
Certeza absoluta de que piratas reais poderiam invadir sua casa e ele apenas ficaria ali olhando. A
menos que tentassem levar Monica como parte de seu butim.
Então eu acho que as coisas ficariam feias.
Patrick entrega os anéis a Pop.
Uma cabra entra no gazebo por trás, dispara e dá uma cabeçada no joelho de Pop.
— Oh, não, você não fez isso, seu otário! — Grady grita. — Ataque! Aquele macaco da pólvora
está fugindo com nosso capitão pirata!
— Pequeno filho da puta. Pequeno filho da puta — Bico Longo de Prata grita de cima do gazebo.
— Pai... — Tucker diz.
— Eu sei. Não repita essas palavras — Wyatt diz a ele.
— Os piratas... — Tucker diz, apontando.
Sente-se, eu murmuro.
Ele estreita os olhos para mim enquanto duas dúzias de moradores vestidos como piratas correm
pelo corredor e ao redor das cadeiras em direção à noiva e ao noivo, gritando e brandindo espadas.
Eu sorrio de volta para ele.
E então uma cabra bate na minha perna esquerda, e eu suspiro e me curvo.
— Com este anel, eu me caso! — Monica grita.
— Com este anel, eu me caso! — Jason grita de volta.
Eu sei que ele deveria desembainhar sua espada e lutar contra os piratas, mas as estrelas estão
dançando na minha visão, quando uma cabra pula no meu joelho e tenta lamber minhas orelhas.
— Eu agora os declaro pirata e esposa! — Pop grita.
— Para trás, seu filho da puta. — Wyatt puxa a cabra para trás, e então estou em seus braços. Meu
pai está bem atrás de nós.
— Ellie. Hospital. Agora — meu pai ordena.
— Está tudo bem — eu digo.
Eu quero assistir ao show.
E me agarrar a Wyatt um pouco mais forte.
E, sim, provavelmente tomar um analgésico – do tipo sem prescrição, porque tenho certeza de que a
dor irá diminuir em breve – ou talvez dois.
— Pai, a cabra está me lambendo e os piratas estão lutando — ri Tucker.
— As espadas! —suspiro. — Wyatt, os convidados precisam de suas espadas!
— Deixa comigo, Ellie — Sloane grita.
E ela resolve tudo. Ela está distribuindo espadas de espuma para todos os amigos de Jason e
Monica, que estão entrando na briga e lutando contra os piratas que tentam contornar o rebanho de
cabras para chegar até Monica.
— Para trás, seus cães com escorbuto! — Jason grita. — Você nunca vai levar minha noiva! A
pirataria não pode impedir o amor verdadeiro! Só a morte pode fazer isso!
— Meu herói — Monica chora, feliz.
Ele a pega por cima do ombro enquanto Sloane me joga uma espada.
— Atrás de você!
Ela não deu uma para Patrick.
E ele tem quatro moradores ao seu redor.
— Querida, alguma ajuda? — ele diz.
— Coma merda e morra, seu idiota traidor — ela responde.
O Sr. e a Sra. Dixon arquejam de horror.
E isso antes que os primos mais novos de Grady os ataquem com espadas de espuma.
— Saqueie o butim! — um deles grita.
Eu bato espadas de espuma com Tillie Jean, defendendo Wyatt enquanto ele tenta nos tirar da
confusão de cabras e piratas.
— Tucker! Cuidado!
— Eu estou com ele, Wyatt — mamãe diz. — Ele é um bom lutador de piratas. Coloque Ellie em
segurança!
Ela dá um tapa na cabeça de Grady com a coronha de sua espada de espuma, e ele cambaleia
dramaticamente, tropeça em uma cadeira dobrável de madeira e cai de cara no chão.
— Oh, meu Deus! — sussurro.
— Ele vai ficar bem — Tillie Jean diz enquanto eu continuo a lutar com ela pelas costas de
Wyatt. — A única pessoa que conheço com um crânio mais duro do que Grady é Cooper.
Meu pai apunhala Tillie Jean nas costas com sua espada de espuma, e ela também faz uma
dramática morte de pirata, gritando:
— Meus irmãos piratas armados estão vindo atrás de você, Capitã Monica! — enquanto ela
resmunga suas últimas respirações falsas.
— Boa, pai! — digo.
— Fique em segurança — ele responde incisivamente, enquanto se vira para ajudar a mamãe a
defender Tucker contra mais dois piratas locais e cabras aleatórias.
Todo mundo está rindo.
Wyatt esquivando-se de cabras e turistas, sem nem suar, nem mesmo respirando com dificuldade
enquanto me carrega atrás de Jason, que está correndo com Monica jogada por cima do ombro. Os
dois estão rindo de alegria, e me pergunto se ainda irão direto para o Bar do Rum para a recepção,
ou se chegarão atrasados para sua própria festa.
Provavelmente atrasados.
Aproveito o fato de Wyatt ser meu namorado para enterrar o rosto em seu pescoço.
Estamos fingindo, universo. Não nos atinja com um raio, eu imploro.
Porra, ele cheira bem.
— Obrigada por ser meu herói — eu sussurro contra sua pele quente.
— Obrigado por me deixar ser. — Sua voz está grossa, e ele sabe disso.
Ele também sente.
O inevitável.
Destino.
A razão pela qual ele se mudou para a nossa rua quando éramos pequenos.
A razão pela qual sempre irritamos um ao outro.
A razão pela qual ele estava fora do alcance quando eu finalmente o notei.
Porque tudo estava se acumulando até este momento.
Este exato momento.
Quando ele pode ser meu herói.
E posso finalmente deixá-lo ser.
— Ellie? — ele diz com voz rouca.
— Hum?
— Eu não quero deixar você ir.
Meu coração incha e brilha, irradiando cada grama de afeto que já neguei ter por este homem
teimoso, forte e confiável.
— Seus braços irão eventualmente cansar — eu sussurro. — Mas você ainda será meu herói,
apesar dos braços.
— Vou sentir saudades suas.
Enquanto Jason empurra Monica em direção à Pousada Shipwreck, Wyatt nos leva por uma rua
lateral e para um pequeno jardim público. Ele puxa o portão de ferro forjado e nos fecha lá dentro
com um tinido.
— Você está me sequestrando? — pergunto, sem fôlego.
— Estou aproveitando o momento.
Os Jardins de Shipwreck são pequenos – é mais parecido como um jardim, no singular, cercado
por uma parede coberta de hera, uma fonte com uma estátua de Thorny Rock e seu baú do tesouro
pirata erguido orgulhosamente no centro.
Wyatt me coloca suavemente em um banco, de costas para as lojas da Avenida Barba Negra, para
que eu possa ver os telhados das casas aconchegantes da cidade, e os picos das montanhas cobertas
de névoa azul, suavemente inclinada ao nosso redor, e ele se agacha sobre um joelho na minha frente.
Meus olhos saltam.
Pelo menos, até que ele abaixa a cabeça e começa a rir.
— Deus, Ellie, é tão fácil te provocar.
— Seu... Seu... — eu gaguejo, mas então estou rindo com ele.
Rindo e embalando sua cabeça enquanto ele ri ali mesmo no meu colo, sobre o vestido colonial que
usei para Monica, porque eu teria ido ao casamento dela vestida como uma sereia seminua se ela me
pedisse.
— Como está sua perna? — Wyatt pergunta quando nós dois recuperamos o controle.
— Oh, dói como o inferno — eu respondo alegremente.
— Exagerou?
— Vezes dez.
Ele esfrega a mão suavemente sobre a minha coxa, através do tecido.
— Do que você precisa?
— Banho quente, motrin e rum. — Meus dedos descansam em seus ombros, contato apenas o
suficiente para me fazer sentir com os pés no chão. — E talvez mais disso.
— Isto? — Ele testa a pressão no meu músculo, e eu suspiro e assinto.
— Ainda deveria doer?
— Danos musculares e nervosos em cima de osso recentemente curado. Eventualmente, só ficará
ruim com as mudanças climáticas, mas, aparentemente, quadris e fêmures quebrados gostam de
demorar para curar.
— Sem muletas?
— Eu aposentei as muletas cedo, obrigada.
Seus lábios se contraem enquanto ele me olha com aqueles intensos olhos cinza.
— Você é uma lutadora.
— Estou cansada de lutar — eu sussurro.
Seu olhar procura o meu como se estivesse perguntando se estou cansada de lutar contra a dor ou
cansada de lutar contra ele.
— Isso porque você sabe que nunca terá um casamento mais legal que esse — ele sussurra de
volta.
Meu queixo cai uma fração de segundo antes que a risada me domine.
— Você é tão... tão... — Eu suspiro, procurando o nome certo para chamá-lo.
— Garanhão — ele fornece com uma sobrancelha erguida, e é tão não Wyatt, que eu me dobro de
tanto rir.
Exceto que dobrar coloca meu rosto bem próximo ao dele, e ele está sorrindo, seus olhos vivos e
felizes e brilhando com total travessura, e isso é tudo.
Ele é tudo.
Tudo o que eu nunca soube que queria, embrulhado em um pacote em forma de Wyatt.
Eu não sei quem começa o beijo, mas uma vez que seus lábios estão nos meus, eu sei que não serei
eu quem irá pará-lo. Ele ainda está massageando minha perna enquanto coloca a mão livre atrás do
meu pescoço. Eu agarro a sua camisa polo e quase rio no beijo, pensando o quão loucos nós dois
devemos parecer.
Ele vestido como um turista deste século, eu enfeitada como uma espécie de colono dos anos 1700,
um cabra balindo ao nosso lado...
É a cabra que nos separa.
Principalmente porque não consigo rir e beijá-lo ao mesmo tempo.
Eu preciso de mais prática.
Mais tempo.
— Ellie? — ele diz baixinho, através de uma risada.
— Hum?
— Vou fazer amor com você, e o mundo não vai acabar.
— É uma ideia terrível — eu ofego.
— Desafio aceito.
23

A lista de razões pelas quais eu não deveria brincar com a bainha da saia de Ellie é maior que meu
braço. Tucker pode nos pegar aqui. Ou os pais de Ellie. A cabra que passou pelo portão pode tentar
ajudar. Outra pessoa poderia entrar nos jardins.
Eu poderia ter problemas sérios e perder meu emprego por atentado ao pudor.
Mas quando a única objeção de Ellie a eu colocar minhas mãos debaixo de sua saia é que estamos
tentando o destino, eu corro minhas mãos sobre seus joelhos e suas coxas.
Ela estremece e abre as pernas enquanto suas pálpebras ficam pesadas.
— Nós não deveríamos fazer isso — ela sussurra.
— Eu gosto de você — sussurro de volta — e quero fazer você se sentir bem.
— Não me responsabilizo pelo fato de seu filho ficar órfão — ela me informa.
Não tenho medo de que sua crença de que somos fisicamente perigosos seja correta. É um absurdo
supersticioso, e não é típico de Ellie acreditar nessas coisas.
— Do que você realmente tem medo?
Não espero que ela me responda, então mergulho meus polegares na parte interna de suas
coxas. Ela não está hesitando em me deixar tocar suas cicatrizes, e eu gostaria de poder beijá-la onde
dói e fazer isso ir embora.
Seus olhos se fecham enquanto suas pernas se abrem mais.
— Tenho medo de não ser amada.
Meu coração se parte em dois.
Eu não sabia que tinha isso dentro de mim, que meu coração quebraria por outra pessoa, mas
aconteceu. Dividido. Bem ao meio, como se alguém tivesse atacado com uma faca de manteiga
enferrujada.
— Por quê?
— Eu sou teimosa.
— Determinada — eu corrijo.
— Irritante.
— Quem disse?
— Você.
— Só para te irritar.
A cabra bale de novo, e seus lábios se movem para cima. Mas seus olhos... Cristo.
Seus olhos estão quebrando meu coração.
— Estou muito preocupada com a carreira.
— Você tem um dom.
— Eu não escolhi isso.
— Não precisava.
Sua pele é tão macia, posso sentir o cheiro de sua excitação através das camadas de seu vestido.
— Não sei o que é importante — ela insiste. — Eu não consigo priorizar as pessoas sobre
as coisas. Eu não sei como relaxar e confiar em outra pessoa. Eu não posso...
— Você é a porra da Ellie Ryder. Sim, você pode.
— Por que você acredita em mim?
— Principalmente para irritar você. — Pisco para ela e acaricio a ponta de sua calcinha, e ela dá
um sorriso e um gemido.
— Wyatt.
— Venha me ver na Geórgia.
— O quê?
— Vá me ver. Eu e o Tucker. Passe o fim de semana conosco. Duas semanas. Três semanas. Sempre
que você tiver um fim de semana livre. Venha nos ver.
Ela pisca rapidamente, mas não o suficiente para apagar o brilho de seus olhos.
— Por quê?
— Porque eu vou sentir sua falta, porra. — A honestidade deixa minha voz rouca. Nunca pensei que
me casaria. Nunca acreditei que poderia me apaixonar e fazer as coisas certas.
Mas Ellie?
Ela não me deixará fazer as coisas errado.
Porque ela é Ellie. Ela vai me instigar. Ela vai me ensinar. E se ela me amar, ela vai me amar.
— Wyatt — ela sussurra, e então suas mãos agarram minhas orelhas e ela me beija.
Suavemente.
Tão suavemente.
Como se ela estivesse me estudando.
Memorizando.
Saboreando.
Eu acaricio o centro de sua calcinha, e seu gemido vibra contra meus lábios. Acaricio novamente, e
ela arqueia ao meu toque enquanto morde meu lábio inferior.
— Mais — ela diz em nosso beijo.
Então eu dou a ela mais, acariciando e provocando e tocando-a enquanto nos beijamos, lento e
tranquilo, então lento e profundo, depois forte e desesperado enquanto ela se lança contra meus
dedos. Eu coloco a sua calcinha de lado, encontro sua entrada, e me lanço em seu calor.
Mas não é o suficiente.
Eu não quero apenas senti-la.
Eu quero prová-la.
— Wyatt — ela arfa quando eu me enfio sob suas saias. — Nós estamos... alguém poderia... Oh
meu Deus, faça isso de novo.
Eu empurro sua calcinha mais de lado, coloco minha boca em sua boceta e devoro seu doce
centro. Seus quadris se contraem em minha boca e, porra, eu poderia ficar aqui o dia todo.
Não me importo se não posso ver porra nenhuma. Não me importo que esteja quente como o
inferno.
Eu nem me importo que possamos ser pegos a qualquer minuto.
Só sei que finalmente estou exatamente onde deveria estar.
Amando Ellie.
Dando prazer a ela.
Seus suspiros são abafados, mas ela está segurando minha cabeça firme através de sua saia,
pedindo-me mais para cima, para a esquerda, bem aí, oh meu deus, bem aí, me chupe mais forte
Wyatt, sim, mais forte, SIM.
Eu deslizo dois dedos profundamente dentro de seu canal quente e úmido, e quando meus lábios
encontram seu pequena e doce cerne, eu mordisco suavemente, em seguida, chupo, e de repente ela
está apertando em torno dos meus dedos, suas coxas apertando minha cabeça enquanto ela goza para
mim.
— Sim — ela ofega. — Wy-aa-aah...
Eu fico tenso, e com certeza...
— Ah-tim.
Suas paredes se apertam em volta dos meus dedos de novo, espasmando mais forte e me cobrindo,
e porra, se ela gozando não me faz gozar nas minhas calças.
— Porra — ela murmura, mas sai em um meio gemido enquanto sua boceta ainda está se contraindo
para mim.
Ela espirra mais uma vez, e eu puxo meus dedos para fora, coloco delicadamente sua calcinha e
espio por baixo do vestido.
— Baaah! — a cabra bebê bali.
Ellie está enxugando o nariz com o braço. Suas bochechas estão rosadas, seu corpo caindo no
banco.
— Foi uma bagunça — ela resmunga, apontando para o nariz. — E provavelmente seremos
comidos por cabras durante o sono. Mas obrigada. Esse foi o melhor orgasmo que tive em anos.
Eu franzo a testa.
— Portanto, tenho trabalho a fazer para ser o melhor de todos.
Ela funga.
— Você realmente quer fazer isso de novo? — ela pergunta, apontando para seu rosto arrogante
com o olho roxo se curando.
Deus, ela é linda. E muito Ellie.
— Sim — digo a ela. — De preferência em breve. E frequentemente.
A hesitação em seus olhos azuis brilhantes vacila, e então ela está rindo de novo, se inclinando
para me beijar.
— Você sabe que algo pior do que cabras vai acontecer agora, certo?
Eu agarro seu queixo.
— Nada. Ruim. Acontecerá.
Um olho se aperta.
— Eu gosto de você, Ellie Ryder. — Eu te amo, mas não quero te assustar.
— Eu também gosto de você, Wyatt Morgan.
— Então não tenha medo. — Eu me inclino para beijá-la novamente, quando ouvimos o barulho do
portão.
Ela recua, e eu também me endireito quando reconheço aquela voz.
— Mas eu quero te mostrar a fonte! — Tucker diz.
— Sua perna está melhor? — pergunto a ela.
Ela sorri suavemente.
— A cura milagrosa da natureza funcionou.
— Viu? Isso não foi ruim.
— Hmm.
Ainda posso sentir o gosto dela em meus lábios e estou mais do que um pouco dolorido e ansioso
por outras partes da minha anatomia muito insatisfeita, mas me sento ao lado dela, cruzo o tornozelo
sobre o joelho e jogo o braço em volta do seu ombro enquanto o portão se abre.
Ela olha para minha virilha, depois de volta para o meu rosto.
— Não vai reclamar?
— Sobre não conseguir comer você? Não. Você vai reclamar disso?
— Não — ela responde com um sorriso.
— Bom. Mas vou me esgueirar para a sua cama esta noite, depois que seus pais dormirem.
— Você vai? — ela murmura enquanto Tucker corre para o jardim e nos vê.
— Sim. E eu não posso esperar por isso.
Ela deita a cabeça no meu ombro enquanto seus pais seguem Tucker, que está falando a mil por
hora sobre as cabras e os piratas, o casamento e uma luta de espadas.
— Não estamos mais fingindo, né? — ela sussurra.
— Não, senhora — eu sussurro em sua peruca.
E não tenho certeza se alguma vez fizemos isso.
24

A festa de Monica e Jason no Bar do Rum está sendo a maior diversão que tive em
meses. Possivelmente, em anos. Há piadas de piratas e lutas de espadas improvisadas e um concurso
de poemas de humor com um monte de palavras implícitas para proteger os ouvidos inocentes na
sala. Tucker faz amizade com a filha da prima de Monica, que é um ano mais nova que ele, e os dois
passam a noite brincando de pirata e conversando sobre cartas de Pokémon e videogames.
Ninguém fala sobre trabalho ou onde estaremos na próxima semana, exceto Monica e Jason, que
farão um cruzeiro nas Bahamas.
Meus pais querem saber em qual momento Wyatt e eu ficamos juntos.
— Um médium armou para nós — diz ele, o que faz minha mãe cuspir sua cerveja.
— Eu o assisti tirar um bebê de um carro em chamas e decidi que ele era bom — eu digo, o que é
idiota após sua resposta, mas mamãe para o questionamento, e eu descubro que posso respirar
novamente.
Não quero esfregar minha perna, mas está doendo depois de passar todo o barato pós-orgasmo, e
de repente, Monica está ao nosso lado.
— Se você não a levar para casa e lhe der um banho de espuma quente e uma taça de vinho agora,
vou pedir aos Rocks para colocar você na lista negra do Ninho do Corvo e do Anchovas — ela
informa Wyatt.
— É o seu casamento... —começo, mas ela aperta o braço em volta da minha cabeça e sua mão na
minha boca e dá a Wyatt o gesto de mão estou te observando, em seguida, aponta para a porta.
— Nós dois estamos com o carro aqui — eu digo, mas sai como: ee owe aah rrr rr, com a mão de
Monica ainda sobre minha boca.
Se não fosse o dia do seu casamento, eu lamberia a mão dela, mas honestamente, não sei onde ela
esteve e gosto de Jason, mas não quero acidentalmente lamber o suor de seu pênis.
— Vamos levar o seu carro de volta, querida — diz minha mãe.
— É como se ela nem conhecesse você — sussurra Wyatt. — Querida?
Monica bufa de tanto rir.
Meu pai também.
— Eu vou buscar Tucker — Wyatt diz para Monica.
— Oh, vamos levá-lo para casa depois — diz minha mãe rapidamente. — Ele está se divertindo
muito.
Ele está bebendo refrigerante e errando completamente todos os seus arremessos de dardo, o que é
a coisa mais fofa que eu vi o dia todo.
— Fora! Fora! — alguém grita de repente. Uma das cabras errantes entrou no bar.
— Cabras são uma parte normal do festival? — Wyatt pergunta.
Grady Rock faz uma pausa em seu caminho até o animal e balança a cabeça.
— Nunca. Não sei de onde essas malditas coisas vieram.
— Elas são cabras sem teto? — Papai pergunta.
Grady se abaixa e a pega pelos chifres.
— Ou alguém de Sarcasm as enviou — ele murmura.
— Elas não teriam chifres de unicórnio se Sarcasm tivesse enviado? — Pergunto.
Ele me encara.
— Você tem sorte de ser fofa, ou seria realmente irritante.
— Podem ser cabras selvagens — Wyatt aponta. — Cabras montanhosas nômades. Cabras
montanhesas nômades psíquicas descem para garantir que você não chame mulheres muito boas
de irritantes.
Mamãe tosse para disfarçar uma risada quando Grady olha para ele.
— Então, vamos mover as cabras para o seu quarto e ver como você se sente sobre isso.
— Elas não são as mais fofas, Chris? Devíamos levar uma para casa — mamãe diz a papai.
— As cabras montanhesas nômades não aceitariam bem a domesticação — ele responde.
— Papai! Papai! Podemos ficar com uma cabra? — Tucker se aproxima, com cobertura de bolo de
casamento em sua bochecha. Eu limpo enquanto Wyatt balança a cabeça.
— Sua mãe iria me matar. Está pronto para ir, ou quer ficar um pouco? Tenho que levar a Srta. Ellie
para casa.
Tucker franze a testa para mim.
— Sua perna está doendo, Srta. Capitã Ellie?
— Só um pouco — digo a ele.
— Tenho um corte no dedo. — Ele empurra o dedo a uma polegada do meu nariz, e recuo para
olhar para o ponto vermelho do tamanho de uma agulha em seu dedo médio.
— Você entrou em uma luta de espadas com palitos de dente? —pergunto.
Seus olhos se arregalam.
— Como você sabia?
— É assim que consigo todos os meus melhores cortes.
— Tucker? — Wyatt pergunta.
— Eu quero ficar. Eu e a Sophia vamos jogar mais dardos e acariciar as cabras.
Grady geme enquanto luta para tirar uma cabra, mas outras duas entram.
— Obedeça ao Sr. e a Sra. Ryder, entendeu?
— Sim, pai!
Ele pega o garotinho pelos quadris antes que ele possa sair correndo.
— E quando eles disserem que é hora de ir, é hora de ir. Sim, senhor?
— Sim, senhor. Posso jogar dardos agora?
— Abraço primeiro.
Tucker se lança contra Wyatt e o abraça.
— Eu te amo, pai.
— Também te amo, amigo.
Ele foge, e Wyatt lança um olhar para meus pais.
— Ele está com muito açúcar no sangue.
— Psh. Eu criei Beck. Posso lidar com Tucker com um pouco de açúcar. — Ela e Wyatt trocam as
chaves para que não tenhamos que trocar a cadeirinha de Tucker.
— Estou ficando insatisfeita — diz Monica.
— Quer que eu os jogue para fora, querida? — Jason pergunta.
— Sim.
— Nós estamos indo — Wyatt diz a eles, me puxando para ficar de pé. Ele franze a testa e balança
a cabeça enquanto olha para mim.
— Não. Não dessa maneira.
— O quê... — eu começo, mas antes que eu possa terminar, ele me ergue por cima do ombro
novamente como um saco de batatas.
— Perna está bem? — ele pergunta.
— Isso é realmente irritante.
— Estou tão tentado a dar um tapa na sua bunda, mas isso seria um mau exemplo para o meu filho.
— E meus pais estão assistindo.
— Eu sei. Seu pai está me encarando.
Consigo me mexer até poder ver o rosto do meu pai de cabeça para baixo.
E papai não está olhando feio.
Não.
Na verdade, ele está me olhando como se tivesse percebido que sua filhinha cresceu.
— Dirija com cuidado — diz ele rispidamente para Wyatt.
— Sempre — responde Wyatt.
E apesar do medo persistente de que algo terrível esteja esperando ao virar da esquina,
porque puta merda, esse foi O orgasmo que Wyatt me deu antes da festa, não estou nem um pouco
preocupada em voltar para casa sã e salva.
É Wyatt.
Confiável, seguro, muito sexy, que gosta de mim, Wyatt.
— Me desculpe por não ter ligado de volta — digo a ele enquanto saímos do Bar do Rum.
Ele não pergunta quando.
Não.
— Você precisava de sua energia para arrasar na recuperação — ele responde.
Eu poderia argumentar que devia a ele uma hora do meu tempo. Que não foi legal da minha parte
deixá-lo se preocupar. Ou qualquer outro argumento do mundo.
Em vez disso, murmuro:
— Falando em bundas... — e aproveitando a vantagem de ser carregada por cima do ombro, o que
me coloca em uma ótima posição para não só cobiçar a dele, mas também apertá-la.
Seu ritmo acelera, e lá vou eu de novo, rindo.
Eu não ria tanto assim há anos.
E ainda tem toda a coisa de aprender a não odiar Wyatt.
Quem imaginaria?
25

Dirigimos em um silêncio amigável até a casa.


De mãos dadas.
Enquanto meu coração bate na minha garganta.
Tudo está diferente, mas também parece certo.
Wyatt conhece meu lado irritadiço. Meu lado teimoso. Meus lados feios. Ele sabe o que está por
vir.
E ele me quer mesmo assim.
Apesar de quem eu sou no meu pior.
E ele não está fingindo ser alguém que não é. Eu conheço esse lado de Wyatt. Eu o vi com meu
irmão. Com os outros caras com quem crescemos. Com suas irmãs.
Com Tucker.
Mesmo com Lydia.
A diferença é que ele não se segura quando está comigo. Ele também me deixa ver seu lado feio.
Ele mal desligou o carro na garagem quando me inclino e o agarro pela camisa para um beijo.
Sempre odiei que Wyatt sempre parecesse saber exatamente como fazer tudo. Esse ódio
não se estende ao quão bem ele beija.
Não, estou realmente gostando disso agora. Cada pedacinho de mim está iluminado, ligado e
pronto.
— Ellie — ele suspira, se afastando. — Dentro.
— Aposto corrida com você.
— Ok, lerdinha.
— Oooh, você...
Eu me interrompo, porque ele está escancarando a porta do carro, e não há como eu não fazê-lo
suar para vencer.
Ou talvez eu lute sujo.
— Wyatt? Eu não acho que consigo andar sozinha.
Eu pisco meus cílios.
Ele bufa de tanto rir.
Eu sorrio.
E ele dá a volta no carro para me puxar para fora. Nós ficamos cara a cara, barriga com... huh.
— Essa não é a sua barriga — eu sussurro.
Ele olha para baixo entre nós.
— Não, não é.
— Então, não é algum tipo de protrusão intestinal?
— Você é um pé no saco — ele diz com uma risada, e então estou em seus braços – não por cima
do ombro, mas aninhada perto de seu peito enquanto enlaço meus dedos atrás de seu pescoço.
Eu pressiono um beijo na veia pulsante sob sua mandíbula áspera.
— Você não é péssima nisso — ele diz com a voz rouca, então eu o beijo novamente. Exceto que,
desta vez, eu roço meus dentes sobre a veia latejante e a sigo com uma caricia rápida usando a
língua.
Ele tropeça pela porta e me coloca no chão.
— Você sabe do que eu preciso? — ele rosna.
Eu fricciono minha barriga em seu comprimento duro.
— Eu tenho uma ideia.
Ele concorda.
— Está certo. Strip dardos.
Meus olhos se arregalam, e ele sorri.
— Vamos, Ellie. Você tem que merecer este corpo.
— Oh, essas são palavras de luta — eu digo, meu próprio sorriso crescendo em proporção direta à
excitação percorrendo meu corpo.
Strip dardos.
Isto vai ser divertido.
Eu assumo a liderança, ignorando a pontada e o cansaço na minha perna para puxá-lo pelo corredor
e virando a esquina para a sala de jogos. Eu acendo as luzes, e ele imediatamente gira o botão para
diminuir a intensidade.
— Ah, um verdadeiro desafio — eu digo suavemente, passando os dedos pelos músculos tensos de
seus antebraços. — Jogar objetos pontiagudos no escuro.
— Acho que você vai ter que confiar em mim para não errar.
Eu o deixo pegar os dardos da prancha enquanto me inclino contra a mesa de sinuca e, quando ele
retorna, me entrega.
— Damas primeiro.
— Oh, não, estarei muito mais motivada em ver o que estou concorrendo. Cavalheiros primeiro.
O desafio em seu sorriso é puro Wyatt, mas também é... mais.
— Regras? — pergunto.
— Um de nós acerta o alvo, o outro tira alguma peça.
— E se um de nós perder, tiramos algo.
— Com pressa?
— Do jeito que você joga dardos, eu nunca tiraria meus sapatos se tivesse que esperar você acertar
um alvo.
— Prepare-se para perder suas meias, Ellie Ryder.
Ele lança seu primeiro dardo, que empala a parede quinze centímetros à esquerda do tabuleiro.
— Alvo — ele declara.
Eu grito com uma risada surpresa. Ele sorri e tira um sapato.
— Tão perto — ele declara, e agora estou quase dobrada ao meio.
Seu segundo dardo se aproxima do tabuleiro.
— A seguir, você vai me entregar essas pantalonas — diz ele enquanto tira o segundo sapato.
— Pantalonas?
Ele arfa em um suspiro simulado.
— Você não está usando pantalonas? Ellie, você foi ao casamento da sua amiga sem calcinha?
— Você sabe que não fui. — Mas a ideia de ir sem calcinha, de poder empurrá-lo no chão, montá-
lo e tomá-lo dentro de mim em um instante, está fazendo exatamente o que ele quer, e minha calcinha
está ficando encharcada de novo.
Ele sorri como se soubesse disso e mira novamente.
Desta vez, seu dardo nem mesmo acerta. Ele ricocheteia no pôster Cães Jogando Pôquer, sessenta
centímetros à esquerda do tabuleiro.
— Droga — ele diz, mas não parece nem um pouco infeliz.
Ele também não parece nem um pouco infeliz quando, tira o short cáqui e fica parado segurando sua
cueca boxer do dia de São Patrício.
Eu riria dessa cueca, mas não há nada engraçado em ver como ele está duro.
Não, isso é simplesmente intrigante. E excitante.
— Sua vez — ele me diz, entregando-me meus três dardos.
— Eu diria é a sua vez.
— Problema recorrente com você.
— Meus mamilos simpatizam.
Seus olhos escurecem. Eu me viro para fazer meu primeiro lance, e ele tira meu cabelo do pescoço
e pressiona um beijo na minha nuca.
Tremores ultrassensíveis percorrem minha pele com o seu toque. O dardo nem chega à parede.
— Faça isso de novo — eu sussurro.
— Ah-ah. Você precisa tirar algo primeiro. — Sua respiração está quente, e ele segue o castigo
com uma mordiscada na minha orelha que me faz gemer de prazer.
— Sapato — eu digo, estendendo meu pé para ele.
Ele se curva e obedece, tirando minha bota.
— Trapaceiro — eu sussurro quando minha meia sai também.
— Só nos poupando algum tempo quando você perder de novo.
Eu me alinho para a minha tacada, e ele alinha sua ereção com o topo da minha bunda, então abaixa
a cabeça para mordiscar a curva do meu pescoço enquanto eu atiro o dardo.
— Na mira — eu suspiro.
— Besteira — diz ele com uma risada.
— Mas eu acertei o tabuleiro.
— Por pouco. Tem que perder alguma coisa, Ellie. São as regras.
— Bem. Você pode tirar meu outro sapato.
Deus, isso é divertido.
Ele obedece novamente, e desta vez, ele não solta meu pé até que tenha beijado um caminho do meu
tornozelo ao meu joelho.
— Trapaça — eu suspiro.
— Bem, sim — ele responde com outro sorriso sexy e fumegante.
Este é um lado de Wyatt que esqueci por anos. O lado divertido e lúdico. Ele sempre foi
desagradável, quieto e rígido, perfeito para uma carreira militar, mas isso não é tudo para ele.
Eu poderia lançar meu último dardo antes que ele tente me distrair, mas qual é a graça disso?
E obviamente, assim que ele se endireita, suas mãos estão em mim novamente, desta vez no alto da
minha cintura.
— Precisa de dicas? — ele pergunta.
— Acho que você já está me dando dicas. — Eu arqueio em direção à protuberância contra minhas
costas, e sua respiração trava.
— Tenho lhe dado dicas o dia todo, mas você não percebeu.
— Eu reparei.
— Você vai lançar aquele último dardo?
— Decidindo se eu quero acertar um alvo e fazer você perder a camisa.
— É tão malditamente certo estar aqui em seus braços.
— Não quer que tire a cueca?
— Sou uma grande fã da antecipação.
— Você é uma grande fã de tortura.
— Isso também.
Ele cheira meu pescoço novamente. Eu lanço meu último dardo, e nem me importo onde parou,
porque agora posso virar nos braços de Wyatt e beijá-lo.
Eu sei que isso pode ser um erro, mas se eu não tiver Wyatt, vou morrer.
Então, ou morrerei porque o universo é um idiota e não gosta de nós dois juntos, ou morrerei
porque não posso tê-lo.
Prefiro sair feliz, muito obrigado.
— Quero... você — choramingo no beijo de Wyatt.
— Nunca soube... que precisava tanto... de você — ele se atrapalha entre beijos enquanto puxa o
zíper na parte de trás do meu vestido.
E eu sinto um calafrio repentino, porque foi aqui que tudo começou.
Em um porão.
Sem pensar direito.
— Ellie? — Wyatt murmura, sua mão parando.
— Podemos realmente fazer isso?
— Sim.
— Mas deveríamos?
Ele enfia os dedos pelo meu cabelo e pressiona aquela protuberância espessa na minha barriga.
— Do que você tem medo?
Ele pergunta como se, independente do que fosse, ele saltaria sobre seu unicórnio mágico e o
montar em direção à batalha para matar meus medos.
— Que vamos nos machucar — eu sussurro.
— Ou talvez possamos finalmente consertar tudo.
— E se a casa pegar fogo?
Eu sinto seu sorriso contra meus lábios.
— A casa não vai pegar fogo.
— Como você pode ter certeza?
— Nenhum de nós estava no lugar certo para isso, seis meses atrás. Mas agora? Hoje? Você não
olhou para o seu ex uma vez durante a recepção. Eu não estava lá para provar algo para ele. Eu
estava lá por você. Negue.
Abro os lábios para fazer exatamente isso, mas percebo que ele está certo.
Eu esqueci que Patrick estava lá.
— Eu só não queria que você se sentisse constrangido.
Ele bufa, e eu rio, porque nós dois sabemos que eu não acariciaria seu ego.
No entanto, meus dedos estão percorrendo seu peitoral, procurando por outra coisa para acariciar.
— Eu preciso acertar um alvo para tirar este vestido de você? — ele pergunta.
— Não, você precisa abaixar a porra do zíper.
— Agora?
— Sim, por favor.
— Olhe para você, usando suas boas maneiras. — Ele puxa o zíper mais uma vez, e o ar frio atinge
minhas costas.
Eu empurro sua camisa para cima, revelando aquele peito que eu poderia passar dias explorando, e
meus mamilos ficam tão tensos que sinto no meu clitóris quando ele alcança atrás de si com uma mão
para tirar a camisa.
Ele afasta o vestido dos meus ombros, e então eu estou lá, só de calcinha, enquanto ele sussurra
meu nome em pura reverência.
Eu saio da poça de tecido, e ele o agarra, joga na mesa de sinuca, e então me pega em seus braços e
me deita nela.
Eu inclino minha cabeça para trás e rio, porque meu irmão me mataria se soubesse o que estamos
fazendo.
Wyatt engancha seus polegares na cueca e a puxa em um movimento suave, e todos os pensamentos
de qualquer coisa, exceto ele, fogem da minha mente. Ele desaparece, abaixando-se ao lado da mesa,
e eu choramingo.
— Preservativo — diz ele, voltando a rastejar para a mesa de bilhar com um pacotinho na mão.
— Essa coisa não vai quebrar, vai? Isso seria incrível. Morte por sexo em uma mesa de sinuca.
— Eu tive um show privado da Bro Code com isso sendo o palco uma vez — ele responde. — É
bem sólida.
— Ai, credo. Talvez devêssemos ir para a mesa de pebolim. Está limpa, certo? Instável, mas
limpa?
— Você conhece seu irmão? Ele lambe seus jogos para dar sorte.
Nós dois rimos.
Mas só até que ele abaixe a cabeça para provocar meu mamilo com a língua.
Então, nada é engraçado.
Mas está tudo perfeito.
Certo.
Glorioso.
— Minha vez — eu suspiro quando ele mordisca meu outro mamilo. — Gire.
— Não.
— Wyatt...
— Eu amo essa nota irritada em sua voz. Isso me deixa duro pra caralho.
Eu olho para baixo quando ele fica de quatro e, uau.
Ele, definitivamente, está bem duro.
— Vamos, Ellie Devastadora. Provoque-me.
Eu o empurro de costas e giro, e minha perna estúpida dá uma pontada de dor. Mas antes que eu
possa gemer, Wyatt me beija e acaricia suavemente minha perna e quadril.
— O que é mais confortável para você? Uma cama?
Eu balanço minha cabeça, porque caramba, eu ainda quero ser o tipo de louca que faz sexo em
mesas de sinuca. E não é pela mesa.
— Eu não sei. Só... não sei como me curvar mais.
Ele sorri como se fosse um desafio.
— Então vamos começar com o que sabemos que funciona. — Ele se inclina para trás novamente e
me beija, e seus longos dedos traçam um caminho sobre meu quadril até minha calcinha.
Eu suspiro quando seus nós dos dedos roçam o algodão sobre meu clitóris.
— Mas você... não... não...
— Eu tenho alguns anos de insultos para compensar — diz ele enquanto se move para beijar um
caminho que desce pelo meu queixo até aquele ponto doce e sensível na base da minha garganta.
— Eu estava... você estava... oh, Deus, Wyatt.
— Vou tirar sua calcinha.
Meu sim sai distorcido enquanto ele puxa o cós para baixo sobre meus quadris, tomando cuidado
especial em torno das minhas cicatrizes, beijando meus seios, minha barriga, todo o caminho para
baixo, até que ele está acariciando a minha coxa.
Minha boceta está doendo.
— Toque-me — eu suspiro, estendendo minha perna direita.
— Em breve — diz ele, ainda pressionando beijos suaves na minha pele sensível.
— Agora.
Ele beija a parte inferior da minha perna, indo para o meu joelho.
— Se você está com tanta pressa, talvez deva se tocar.
Ele levanta os olhos semicerrados para os meus. Toque-se, Ellie. Me excite tocando em si mesma.
Eu seguro o seu olhar enquanto meus dedos vagueiam entre minhas pernas para acariciar minhas
dobras lisas.
— Assim? — Oh, Deus, isso é bom, mas não é o suficiente.
— Mais — ele murmura.
Eu atinjo meu clitóris, e minhas pernas se abrem mais, porque não é o suficiente.
— Eu quero você — digo a ele.
— Diga isso de novo.
— Eu quero você.
— Diga meu nome.
— Wyatt, eu quero você.
Finalmente, finalmente, ele rasteja de volta pelo meu corpo, até que seu comprimento com
camisinha está pressionando minha entrada.
— Aqui?
— Sim.
— E amanhã? — ele está me provocando, deslizando sua cabeça grossa ao longo da minha
entrada. — Você vai me querer amanhã?
Eu agarro seu pau e o acaricio, e oh, tão duro, como ferro, e posso sentir sua pulsação nas veias
grossas que o circundam.
— Amanhã... discutirei com você... no café da manhã... sobre a torrada — eu suspiro. — Na
próxima semana... brigaremos... para ver quem paga o jantar.
— E no próximo mês? — ele pergunta, finalmente, finalmente avançando dentro de mim, em
direção a esse vazio necessitado que pode estar na minha boceta ou que pode estar na minha alma,
abrindo-me e provando o quão bem ele vai me preencher quando me der tudo.
— No próximo mês... surpreenderei você... em uma terça-feira... ficando de joelhos.
— Porra, Ellie. — Ele empurra dentro de mim, e eu grito de alívio por estar conectada a ele. — Eu
não quero deixar você ir.
— Então, não faça isso.
— Você é tão perfeita, porra.
Ele lentamente puxa quase todo o caminho para fora, então empurra de volta, atingindo
aquele ponto sensível tão perfeito dentro de mim.
— De novo — eu suspiro.
— Quero você todos os dias — diz ele enquanto empurra em mim novamente.
Todos os dias. Ninguém me quer todos os dias.
— Você é louc... aah, oh deus, Wyatt, mais.
Ele empurra de novo, não muito gentil, não muito forte, e a antecipação está crescendo, a tensão
aumentando, minha boceta inchando e ficando hipersensível a cada golpe dentro de mim.
— Na minha cama — ele diz.
— Na mesa da cozinha.
— No banho.
— No banco de trás do seu carro.
— Sob as estrelas.
— No topo da Torre Eiffel.
— No closet dos seus pais.
Eu rio quando ele empurra novamente, e tudo gira fora de foco enquanto meu clímax bate forte.
— Ellie — ele geme, seu pau pulsando dentro de mim ao mesmo tempo que minha boceta aperta e
espasma em torno dele.
— Wyatt — eu suspiro quando ele entra uma, duas vezes mais, me empurrando mais e mais longe e
mais fundo até... — Wy... ahh... ahh...
Ele empurra para cima, seu pau ainda tenso dentro de mim, e quando eu espirro, ele ofega.
— Cristo, Ellie, isso é incrível.
Ainda estou me contorcendo e tendo espasmos em torno dele, e aqui estou eu, rindo.
— Meu espirro?
— Porra, sim. — Ele abaixa a cabeça no meu ombro, ofegante. — Era isso? Eu poderia dar outro
espirro. Cristo.
Eu rio, e outro formigamento de prazer atinge meu clitóris.
— Você é louco.
— Louco por você. — Ele beija meu ombro, meu pescoço, até meus lábios, onde ele permanece,
me beijando preguiçosamente e me deixando traçar seu queixo e acariciar seu cabelo curto e macio.
— Eu acho que eu quis você minha vida inteira. Eu estava cego demais para perceber isso.
— Muito assustado — eu sussurro.
— Isso também.
— Você ainda está com medo?
Ele levanta a cabeça, e o sério Wyatt está de volta.
— Depende. Você estava falando sério sobre me surpreender na Geórgia com um boquete?
Eu fico boquiaberta por meio segundo.
Ele abre um sorriso.
— Você... — eu começo, mas ele engole meu discurso com outro beijo, e realmente, beijar Wyatt é
melhor do que daiquiris de morango em uma praia.
Não sei o que o amanhã trará.
Mas de uma coisa eu sei.
Será o primeiro dia do resto da minha vida com Wyatt.
26

Ellie e eu estamos brincando na banheira principal, quando chega a mensagem de que os Ryders
estão voltando com Tucker. Ela fica rosa nas bochechas.
— Meus pais sabem o que estamos fazendo — ela sussurra.
Beijo sua testa antes de pegar uma toalha.
— E eles aprovam, porque eu sou incrível.
Seus lábios se contraem.
— Ou talvez porque eles sabem que posso mantê-lo na linha.
— Nãooo.
Estou sorrindo enquanto desenrosco minhas pernas das dela e saio da banheira, e não apenas
porque seus olhos ficam escuros e enevoados novamente enquanto vagueiam pelo meu corpo
molhado.
Não, é por causa da paz.
O contentamento absoluto.
Nunca quis me casar, porque não achava que estava em meus genes, em minha linhagem, ser capaz
de ser um bom marido e pai. O destino provou que eu estava errado quanto à paternidade.
E essa sensação de que encontrei uma peça que faltava em mim, e de que ela está sentada bem ali
no banho de espuma, abaixando o volume da música e prendendo o cabelo atrás da orelha.
— Você pegou meu vestido lá embaixo?
— Está na cama.
— Eu não quis dizer que você tinha que fazer isso. Eu poderia ter feito. Eu só...
Eu a silencio com um beijo, o que pode ser meu novo hobby favorito.
Beijar Ellie Ryder.
Quem sabe?
— Deixei seus sapatos para você pegar — digo a ela. — Mas provavelmente irei buscá-los de
qualquer maneira, porque você ficará brava e insistirá que é perfeitamente capaz, e então teremos
uma pequena briga boba que terminará comigo precisando acariciar sua boceta, então...
— Sim. O mesmo velho Wyatt desagradável — ela diz com um sorriso.
— A mesma Ellie teimosa de sempre.
Ela descansa as mãos na borda da banheira e encosta o queixo nelas, me observando me secar.
— Desde que não morramos, nunca ficaremos entediados, certo?
— Eu posso ficar.
Ela me acerta com um tapa surpresa na bunda, depois grita enquanto desliza para baixo da água.
Eu dou dois segundos antes de agarrar seu braço e puxá-la para cima.
— OK? — pergunto.
Ela sopra e cospe as bolhas. Pego meu telefone e o inclino em direção a ela como se fosse tirar
uma foto, e ela revira os olhos com uma risada.
— Continue.
— Não, eu não...
— Ah, não. Quero que você se lembre disso pelo resto da vida. Entre aqui. Selfie comigo.
Quando me ajoelho, ela coloca bolhas na minha cabeça que gotejam no meu nariz.
E nós dois estamos sorrindo na foto.
— Mulher louca. — Limpo seu rosto com a toalha e coloco outra no chão para ela quando ela
sair. — Você está com fome?
— Você sabe o que parece bom agora?
— Pudim de banana?
— Chá. Às vezes, tomo camomila para me ajudar a dormir quando estou com dores.
— Com pudim de banana?
— Terminamos.
Eu coloco a mão no coração e cambaleio.
— Você está certo. Não podemos ficar juntos. Vamos ficar sem pudim de banana e morrer.
Ela joga a toalha em mim com uma risada.
— Cala a boca e aquece um pouco de água, macaco da pólvora.
— Sim, senhora, Ellie Devastadora.
Enquanto ela leva seu tempo para sair, coloco uma calça de moletom e uma camiseta, encho uma
chaleira e ligo o fogo, em seguida, desço as escadas para pegar seus sapatos. Tucker deixou seu
cobertor aqui de novo, então eu o levo para cima também, até o quarto dele, e pego o pijama para
ele, já que provavelmente estará morto-vivo a esta hora.
Espero que ele tenha se divertido.
Estou descendo as escadas quando sinto o cheiro.
Fumaça.
— Wyatt? — Ellie grita, e não há como confundir o pânico em sua voz.
Nem o barulho dos alarmes de fumaça que, de repente, explodem na casa.
Eu desço as escadas e entro direto em uma nuvem de fumaça do lado de fora da cozinha. Ellie está
aqui, tossindo, e as chamas estão saindo do fogão.
— O pano! — ela grita, depois tosse de novo.
Porra.
Pego o tecido em chamas e o jogo na pia, em seguida, abro a torneira.
— Saia — eu digo a ela. A fumaça não é muito densa – acho que nada mais está queimando – mas
os alarmes de fumaça ainda estão disparando e a toalha ainda está pegando fogo na pia.
Liguei a porra da boca errada do fogão.
Liguei a porra da boca errada do fogão.
E havia uma porra de um pano de prato nele.
E quase queimei a casa de Beck.
Depois de prometer a ela que isso nunca aconteceria.
— Oi, sim, há um incêndio, — eu a ouço dizer. — É em... Meu Deus, eu não sei o endereço. A casa
de Beck. Beck – Beck – qual é o meu sobrenome? Sim! Casa de Beck Ryder. Na montanha, sim!
Os alarmes estão gritando. Ela agarra meu braço.
— Wyatt. Fora. Nós dois. 190 diz que temos que sair. Agora.
Eu apago a última brasa e verifico o fogão, que está desligado.
— Já acabou, Ellie.
— Você não vai morrer em um incêndio em uma casa sob meu comando, droga, dê o fora! — ela
grita.
Ela se dobra, tossindo, depois diz:
— Sim, ainda estamos aqui... — e é quando eu ouço.
O pânico agudo.
— Ellie...
— Fora!
Ela está em um roupão de banho e está mancando muito. A névoa não é espessa o suficiente para
mascará-la.
— Por favor, saia — ela acrescenta, e agora há um soluço sufocado em sua voz, e porra.
Eu a pego e sigo para a porta.
— OK. Estamos saindo. Está bem.
Assim que saímos, ela se contorce.
— Me solte.
Lágrimas escorrem pelo rosto dela.
— Ellie...
— Não. Não. Não. Se afaste. — Ela recua pela calçada até a garagem. O quintal é muito inclinado
para ela, e a forma como ela manca está me quebrando. — Sim, estamos fora. Nós vamos ficar do
lado de fora.
Ela está chorando.
Ellie está chorando.
Ellie nunca chora. Ela diz àquelas lágrimas para recuarem e saírem do caminho.
Mas ela está chorando. Ao telefone, com uma operadora do 190.
— É minha culpa — ela soluça. — Eu ignorei os sinais.
— Ellie. Pare.
Faróis iluminam a calçada. Os Ryders estão de volta. Eles param no meio do caminho para a casa,
e a Sra. Ryder voa para fora do banco do passageiro.
— O que aconteceu? O que está errado?
— Nós queimamos a casa — Ellie soluça, deixando sua mãe abraçá-la enquanto o alarme toca lá
dentro.
— Nós não... — Eu começo, mas minha objeção é interrompida pelo som da sirene de um carro de
bombeiros à distância.
— Um incêndio? — pergunta o Sr. Ryder.
— Eu coloquei fogo em um pano de prato. Já acabou. Está tudo bem. Foi um acidente.
— É porque nós... nós...
— Ellie, não é...
Às vezes, desejo que meu cabelo seja comprido o suficiente para puxá-lo, porque isso poderia
ajudar a me distrair do medo gelado se instalando em meu peito.
Os dois Ryders olham para mim, mas Tucker pula para fora do carro, o medo estampado em seu
rostinho, parecendo muito com o garoto que eu me lembro de ser na idade dele, e minha garganta se
fecha, meus olhos ardem e eu o agarro forte.
— Está tudo bem — eu digo quando ele começa a chorar também.
— A Srta. Capitã Ellie está chorando — ele soluça. — A casa vai pegar fogo?
— Ei, não, não, está tudo bem. — Não está tudo bem, porra.
— Leve-me para casa — choraminga Ellie. — Mamãe? Me leve para casa. Eu quero ir para casa.
— Querida, está tarde — diz Ryder.
Faróis piscam novamente, mas em vez de um caminhão de bombeiros, é um carro esporte vermelho.
Puta que pariu.
— Ellie... — eu começo de novo enquanto abraço meu filho e meu melhor amigo sai de seu carro.
E as pessoas mais próximas da minha vida, que considero como pais, viram-se para mim em total
confusão.
— Não podemos, Wyatt — ela diz, suas palavras abafadas contra o ombro de sua mãe, mas ainda
claras como o dia para mim. — Nós. Vamos. Morrer.
— Nós...
— Quando foi a última vez que você acidentalmente colocou fogo em um pano de
prato? Nunca. Nunca. Porque é você. Você não comete erros. Não devemos ficar juntos.
— Ellie, querida, o que é tudo isso? — sua mãe diz suavemente. — Querida, todo mundo comete
erros. A casa está bem.
Beck ergue os olhos.
— Minha casa está em chamas? — ele pergunta.
Curioso. Não bravo, apenas confuso.
Apesar dos alarmes ainda soarem lá dentro.
— Não — digo a ele.
— Queimada até o chão — Ellie soluça.
— Não está... — eu começo.
— FICARÁ. Mamãe. Eu quero ir para casa
Beck olha para mim, encolhe os ombros em perplexidade e depois caminha até sua irmã.
— Vamos, Ellie. Estou com você.
— Ela está em um roupão de banho — eu digo.
— Eu estou sem cueca — ele retruca.
Tucker ainda está chorando. As sirenes estão ficando mais altas. E quando Beck ajuda Ellie a
passar por nós, ela não levanta os olhos quando sussurra:
— Sinto muito, Wyatt.
Ter meu braço mordido por um urso com dentes sem corte seria menos doloroso do que a dor
lancinante que despedaça meu coração.
— Ellie...
Beck a fecha no carro, e ele também não olha para mim enquanto caminha até o banco do
motorista. O motor ronca de volta à vida, e ele sai da garagem trinta segundos antes de o caminhão de
bombeiros parar na frente da casa.
— O fogo foi apagado — digo aos bombeiros, mas as palavras são vazias. — Acidente na cozinha.
Eles ainda entram para garantir.
A Sra. Ryder envolve os braços em volta de mim e Tucker, e eu gostaria de ter sete anos de novo
para poder chorar também.
Porque é Ellie.
Ela é forte. Ela é esperta.
E quando ela está determinada, não há nada no mundo que a pare.
E ela decidiu que eu não sou bom para ela.
Aperto Tucker com mais força, porra.
Um dia ele vai crescer e me deixar também. E ainda temos a adolescência pela frente, quando ele
provavelmente vai me odiar.
— Eu a amo — sussurro para a Sra. Ryder.
— Eu sei, querido — ela diz suavemente. — Eu sempre soube. Ela vai mudar de ideia.
Eu balanço minha cabeça, mas não respondo.
Porque ela não vai.
Ela se decidiu.
E trinta minutos depois de achar que eu finalmente tinha conseguido, que finalmente era a pessoa
certa, no momento certo, acontece que não era o caso.
27

Demora menos de uma hora para limparmos tudo e voltarmos para dentro, mas parece que foram
semanas. Especialmente com um Tucker adormecido em meus braços. Ele é um peso morto quando
adormece.
— Cuidado com esses panos de prato — um dos bombeiros me diz enquanto partem.
— Sim. Entendi.
Coloco Tucker na cama, e estou prestes a desabar na minha própria, no quarto ao lado, quando
percebo que deixei meu telefone no andar de baixo, antes do incêndio. No caso de Ellie estar
disposta a falar comigo, eu não quero perder sua ligação. Eu chego ao pé da escada e percebo que
Beck está de volta.
Ele está descansando na sala de estar. Sozinho.
— Onde está Ellie? — Eu não posso evitar. A pergunta surge.
— Na casa de Cooper.
— Só de roupão?
— Ela realmente não precisa de roupas para dormir, precisa?
Ele sorri para mim, como se nada na porra do mundo estivesse malditamente errado, e eu considero
esganá-lo. Ele pode ser cinco centímetros mais alto, mas eu tenho mais músculos.
Além disso, acertar algo seria muito bom agora.
Talvez.
Provavelmente não.
Mas vale a pena tentar.
— Quer uma cerveja? — ele me pergunta.
— Não. — Eu esfrego a mão no rosto. — Sim.
— Impressionante. O que temos? Cheira a torrada. Você está com fome?
— Isso é o pano de prato queimado.
— Eh. Nunca gostei deles mesmo. — Ele lidera o caminho para a cozinha, procura na geladeira e
sai com duas garrafas de Sam Adams. — Pingue-pongue?
— Você sabe que tenho dormido com sua irmã, certo?
— Sim.
— Há uma razão para eu ainda estar de pé?
Seus olhos azuis piscam para mim e, por meio segundo, acho que ele vai me derrubar.
— Parece que ela já te bateu.
— Ela espirrou.
— Filho da puta. — Ele me acerta com um soco no ombro. — Guarde essa merda para você.
Eu recuo.
— Porra, você faz... não importa. Não quero saber.
— Exatamente, porra.
Ele estende a segunda cerveja para mim.
— Pingue-pongue. Agora.
Nós marchamos para o porão, e ele acende as luzes. Se eu não estivesse olhando, não teria notado
ele lançando um olhar para a mancha de água no teto.
— Não tive a intenção de destruir sua casa — murmuro.
— Porra, cara, é só uma casa. Eu tenho mais algumas.
Na sala de jogos, ele reivindica a extremidade oposta da mesa de pingue-pongue e me joga uma
raquete.
— Fale.
Eu coloco minha cerveja de lado e saco a bola.
E enquanto lutamos pela superioridade no pingue-pongue – ele está ganhando, porque não tenho
mais ânimo para apostar – conto tudo a ele.
Tudo.
Começando com o Natal.
Ele não diz nada por três jogos depois que termino. Já passa das duas da manhã. Estamos apenas
parados aqui, batendo a porra da bola de pingue-pongue para frente e para trás, sem cerveja, a bola
batendo na mesa, e nossas raquetes fazem o único som.
Finalmente, ele joga sua raquete na mesa.
— Você a ama?
Porra. Meu peito ameaça explodir.
— Sim.
— Hum.
Um hum de Beck Ryder pode significar qualquer coisa, desde você está no meu lugar até o
banheiro está entupido de novo, até, oh, ótimo, restos de bolo de carne.
— Huh o quê?
Ele encolhe os ombros.
— Tudo o que ela disse foi: Tucker precisa dele vivo mais do que eu preciso transar com ele
novamente. Eu acho que você está ferrado.
— Obrigado. Útil. Realmente útil.
— E a mamãe vai fazer panquecas de manhã. Me disse para mandar você dormir o quanto quiser,
ela vai fazer a mais para você.
Eu cubro os olhos com a mão, porque não quero panquecas.
Quero que Ellie tenha fé de que podemos fazer isso.
Mas devo dirigir de volta para a Geórgia em algumas horas, porque volto ao trabalho na segunda-
feira.
— Você acredita que somos amaldiçoados? —pergunto a Beck.
— Não. Conheci muitos feiticeiros ao longo dos anos. Seu caso é muito chato.
Ele sempre foi imprevisível, mesmo antes dos dias de boy band. Agora, ele é imprevisível com
uma inclinação mundana, o que, às vezes, é um tanto assustador.
— Você pode convencer a Ellie? —pergunto.
— Você quer que eu convença minha irmã de que sei mais do que ela sobre alguma
coisa? Cara. Uma coisa é dizer que você a ama. Outra é agir como se você não a conhecesse.
— A Ellie que conheço diria foda-se ao universo.
Seu sorriso desaparece.
— Sim. Porra do Homem das Cavernas Loiro.
Eu começo.
— Você...
— O ex. O imbecil.
— Não sabia que você o chamava assim também. — Um pensamento me ocorre, e eu olho para
ele. — Esse era seu plano quando você me pediu para irritá-la?
— Que você quebrasse minha máquina de lavar louça e incendiasse a minha casa?
— Juntar eu e a Ellie.
— Não. Foi ideia do Levi.
Devo uma mensagem a outro amigo.
— Levi — eu repito, em dúvida.
— Depois que você apareceu no hospital, ele disse que a única outra vez que viu aquela expressão
no rosto de um homem foi em Tripp, quando Jessie teve todas aquelas complicações no parto.
— Você esqueceu da parte que foi minha culpa que ela estava na estrada?
— Oh, vá enfiar seu complexo de responsabilidade em sua bunda. Você não foi o idiota bêbado que
bateu nela e não foi o idiota que deu o fora nela na véspera de Natal. Ela decidiu que não iria ficar na
casa da mamãe e do papai naquela noite no minuto em que entrou, e nós dois sabemos disso. Ela só
queria arranjar uma briga, assim como você. Foi uma hora ruim, mas não foi sua culpa. Entendeu?
— Sim — eu murmuro.
Não sei se ainda acredito nele, mas o ouço.
Talvez Ellie esteja certa.
Talvez estejamos mais seguros separados.
28

Minha perna está latejando como o inferno, há uma luz irritante brilhando diretamente nas minhas
pálpebras, algo cheira levemente a meias de ginástica mofadas e há um barulho terrível vindo do
lado de fora da porta.
Soa como...
Oh, droga.
Parece que meu irmão está tentando acertar aquelas notas de falsete que Levi pode alcançar, mas
Beck definitivamente não consegue. Ele não é ruim, mas não o adicionaram à banda por seu talento
musical.
Não, eles o adicionaram como colírio para os olhos.
Eca.
Ele irrompe na sala, e lembro que não estou na casa dele.
Estou na casa de Cooper Rock, a oitocentos metros na estrada. Porque Wyatt e eu quase
incendiamos a casa de Beck na noite passada.
— A sua casa ainda está de pé? —pergunto, percebendo que estou coaxando como um sapo, e
também que não dou a mínima.
O universo falou.
Eu escutei.
E isso dói como o inferno.
— Muito bem — ele diz. — Vamos lá. Levante-se. Eles não encontraram a perna de pau ainda. Eu
quero ir procurar, mas não posso ir sem uma fantasia.
— Vá comprar uma perna de pau. — Enfio a cabeça debaixo do travesseiro, que cheira a naftalina,
e realmente não me importo.
Yum, naftalina.
Como a morte, mas mais suave.
— Você sabe que partiu o coração do meu melhor amigo.
— Fale com o universo. Estou salvando a vida dele.
Minha voz falha, e eu quero bater em alguma coisa, mas também quero rolar e voltar a dormir, e
espero que quando eu acordar, em cinco ou seis anos, eu não tenha dor residual na minha perna e
Wyatt tenha encontrado um tipo de mulher segura, gentil e maternal por quem esteja perdidamente
apaixonado, que lhe dê boquetes todas as noites depois de fazer biscoitos para Tucker.
Ok, talvez eu não esteja disposta a ir tão longe. Eu nem tive a chance de dar um boquete a ele antes
que o destino decidisse que explodir a casa de Beck era mais importante.
Ótimo.
Agora estou ditando quando suas namoradas imaginárias podem cair sobre ele.
E possivelmente meus olhos estão derretendo.
E se alguma mulher idiota assar biscoitos para Tucker...
Eu aperto meus olhos bem fechados, porque Tucker é adorável e doce, mas ele não é meu.
— Eeeellllliiiiiiieeeeeeee — Beck lamenta. — Levantaaaaaaaaaaaa. — Ele me cutuca nas costas.
Eu o deixo.
Ele me cutuca novamente.
Eu ainda não me movo.
Quando ele me cutuca pela terceira vez, e eu ainda não reajo, o filho da puta se senta em mim. Bem
nas minhas costas com sua bunda ossuda.
— Aaaaaaaaaa! — resmungo. — SAI.
— Senti falta da minha irmã — declara.
— Eu não consigo respirar, seu burro.
Ele se move para sentar-se nas minhas panturrilhas, e agora, mesmo que eu quisesse, não acho que
poderia me curvar para dar um soco nele.
— E para que eu voltei para casa? Para uma mulher que não é minha irmã andando no corpo
dela. O que você fez com ela, Ellie de mentira? Onde você a escondeu? Você é de Zygorb? Você é um
alienígena vestindo a pele da minha irmã?
— Você é irritante pra caralho.
— Eu sou irritante? Você é quem está repetindo essa merda de que desgraça sou eu, o universo
me odeia, e pela primeira vez na minha vida vou apenas deitar e aceitar, porque tenho medo de
amar alguém que pode realmente quebrar meu coração.
Eu congelo.
Porque pode estar chegando perto da verdade.
— Sai.
— Wyatt é um bom cara, Ellie. E ele gosta de você, apesar de você ser você.
— E ele voa em aviões diariamente, e não podemos nem nos beijar sem que a lava-louças vaze e
os panos de prato peguem fogo, e Tucker merece crescer com um bom pai.
Beck solta um suspiro alto e irritado e sai de cima de mim.
— Bem. Faça sua festa de piedade. Mas se você não se levantar, vou ligar para a Monica, e você
sabe que ela vai sair correndo da lua de mel para estar aqui.
— Jogo sujo. E você a colocaria em um jato particular e a levaria para o cruzeiro mais sofisticado
do mundo para compensá-la.
— Sim, mas ela não saberá disso quando vier correndo.
É por isso que ela é minha melhor amiga.
Minha melhor amiga.
Meu melhor amigo seria... droga.
— E vou chamar a mamãe — acrescenta. — Oh, e a propósito, Wyatt ficou chateado quando
descobriu que Cooper mora tão perto. O cara achou que ele estava subindo a montanha de bicicleta
para entregar donuts para você, porque está querendo entrar nas suas calças. Isso não é uma
piada? Dez minutos, Ell. E então começarei a cantar de novo.
Ele sai pela porta, assobiando como se tivesse a porra do sol em sua alma brilhante, e eu percebo
que estou nua.
Estou nua, com um olho roxo sarando, quadril e coxa doloridos e uma grande pilha de cinzas no
peito.
Mas é assim que tem que ser.
Porque já feri muitas pessoas na minha vida.
Não vou colocar Wyatt em perigo. Ele merece coisa melhor.
29

Eu planejava ficar em Shipwreck durante o fim de semana para me recuperar, mas com Beck de
volta, as chances de ter um minuto de paz são nulas. Não porque ele está sendo tão chato quanto esta
manhã, mas porque ele ligará para qualquer um que puder para sair, enquanto estiver na cidade, o
que, sem dúvida, levará três dias ou menos.
E não quero estar em casa quando ele vir a nova pontuação máxima no Frogger.
Muitas memórias.
Então, convenço meu pai a dirigir comigo de volta a Copper Valley, antes do almoço.
Quando chegamos à curva 256 em torno da cidade, meus olhos ardem, porque agora estamos
oficialmente fora do interior e das montanhas. De volta à agitação. Tráfego. Outdoors. Arranha-céus.
Papai ficou quieto durante toda a viagem de noventa minutos. Quando paro na garagem do prédio
colonial de tijolos vermelhos, no bairro de classe média onde cresci, com a velha cesta de basquete
ainda sobre a porta da garagem, meus olhos queimam novamente.
Papai aperta meu joelho.
— Já passei por muito este ano.
Ele não me diz que estou exagerando. Ou que está tudo bem estar com medo, mas não está certo
deixar o medo governar minha vida, ou qualquer uma das outras coisas que eu logicamente sei.
Não é assim que papai é.
Provavelmente porque todos nós finalmente o convencemos a ficar em silêncio ao longo dos anos.
Mas ele me oferece pedaço de torta de pêssego feita em casa, se eu quiser ficar algumas horas.
Então, é assim que me encontro enrolada no sofá dos meus pais, assistindo aos Fireballs serem
derrotados em alta definição, enquanto meu pai corta e carameliza pêssegos do início da temporada
para o nosso almoço tardio de torta de pêssego.
Não percebo que adormeci, até a campainha tocar, e quando acordo, estou desorientada e confusa,
e levo um minuto para lembrar por que meu coração dói.
Wyatt.
Ele provavelmente me odeia.
Espero que sim. Isso tornará mais fácil para ele seguir em frente.
Eu me encolho mais forte em uma bola. O jogo acabou, e agora um velho filme da Meg Ryan e Tom
Hanks está passando.
— Ellie, vou dar um passeio — papai grita da porta da frente.
— Ok — eu respondo, com voz grossa sonolenta.
Ainda não comi torta de pêssego, mas devo ir para casa. Eu não tenho comida, mas preciso lavar
roupa. E me atualizar nos e-mails do trabalho.
Além disso, eu poderia parar em um abrigo para animais de estimação no caminho e pedir para
brincar com os cães por algumas horas. Estímulo garantido.
Visto que Beck, às vezes, compartilha minhas postagens nas redes sociais sobre cães que não
encontraram um lar – e sempre com uma legenda, tipo Compartilhando para minha irmã, que deseja
ter nascido um cachorro, então seria socialmente aceitável lamber meu rosto – sou imerecidamente
bem-vinda em todos os abrigos na área metropolitana.
Estou olhando cegamente para Meg Ryan na televisão, quando os cabelos da minha nuca arrepiam e
a pilha de cinzas em meu peito dá um grande tum.
Há uma sombra na porta.
Uma sombra do tamanho de Wyatt. Ou possivelmente mais do que uma sombra.
Esse tum se transforma em uma batida de tum após tum após tum.
— Por favor — eu sussurro, e não sei se estou pedindo a ele para ficar ou ir embora. Eu só sei que
dói.
Dói pensar em machucá-lo.
Dói pensar em perdê-lo.
E dói ficar com medo de que um desastre esteja esperando em cada esquina, se eu rejeitar minhas
duas primeiras opções.
Ele entra lentamente na sala, os olhos fixos em mim, procurando, perguntando.
Eu nem preciso olhar nos olhos dele para saber.
Ele não tem medo.
Ele não tem medo de nada.
— Você está bem? — ele pergunta, e aquela voz.
Deus, eu amo sua voz. Rica e suave, como chocolate quente depois de um dia brincando na neve.
— Tudo bem — eu digo com a voz rouca, e nós dois sabemos que estou mentindo.
Não sei dizer se ele está cansado, frustrado ou todas as opções acima, mas sei que o hematoma
amarelado em seu olho é todo o lembrete de que preciso do perigo que é nós dois ficarmos juntos.
— Onde está Tucker? —pergunto, e caramba, há outra chama atacando as cinzas em meu peito.
— Com seu pai. Ele não está muito feliz com a viagem chegando.
A unidade.
Ele já deveria ter ido.
Em vez disso, ele ainda está aqui, abaixando-se no sofá na extremidade oposta de onde estou
enrolada, e faço tudo o que posso fazer para não rastejar sobre as almofadas e em seu colo, para
abraçá-lo e dizer a ele o quanto eu sinto.
Por tudo.
Por ser uma idiota quando éramos crianças. Por seduzi-lo no Natal, quando ambos estávamos
sofrendo.
Por não atender seus telefonemas após o acidente.
Por afastá-lo.
— Eu te amo — ele diz baixinho, sua voz rouca, mas forte. Sem problemas. Sem hesitação. —
Passei toda a minha vida com medo de como seria amar você, mas eu amo, Ellie. Eu te amo.
— Você não deveria. — Ele vai me quebrar em pedacinhos.
— Nunca pensei que fosse feito para casar. Nunca acreditei na eternidade. Mas eu olho para você e
posso sentir isso. Eu posso ver isso. Você. Você é tudo que eu nunca soube que queria. Nunca soube
que precisava. Eu não acreditava na eternidade, até que acreditei em você.
Me quebrar? Não. Me Destruir.
— Nós somos... nós somos perigosos, Wyatt.
— Se há alguém no mundo que pode dar ao universo um dedo do meio e mandá-lo para aquele
lugar se achar que vai atrapalhar o seu caminho, é você. — Ele coloca um pedaço de papel na
almofada entre nós. — Eu não me importo se você levar duas horas ou quarenta anos para
acreditar. Eu vou esperar. Você sempre será a única mulher que amarei.
Minha respiração para quando ele pega minha mão e beija minha bochecha, porque sim, ele é tudo
que eu quero.
Tudo.
Mas estou apavorada.
Minha vida inteira, tudo que eu queria era atingir a meta.
Claro que namorei o Patrick. Ele preenchia todos os pré-requisitos. Bonito. Bem-
sucedido. Inteligente.
Poderíamos ter tido um casamento adorável, onde nenhum de nós realmente tivesse que se amar,
onde não houvesse perigo de um coração partido, porque tudo o que queríamos era alguém com quem
nos casar.
Mas eu poderia ter muito mais.
Risadas. Alegria. Lágrimas. Desgosto.
Com um homem que me conhece. Que me entende. Que me aceita.
Tudo de mim. O bom e o ruim. O bonito e o feio. O quebrado e o todo.
Se eu estiver disposta a ir em frente.
Wyatt não para em seu caminho para fora da porta. Ele não precisa. Porque ele jogou a bola de
volta na minha quadra. E deixou seu endereço, número de telefone residencial e número de telefone
do trabalho no sofá entre nós.
É minha vez de decidir o que fazer.
Se é que vou fazer alguma coisa.
30

Eu estraguei tudo.
Eu fodi tudo extremamente. E eu odeio foder tudo.
Eu também odeio clima de trinta e oito graus com umidade tão alta que você não consegue secar as
bolas ao sair do chuveiro pela manhã, mas assim é a vida na Geórgia.
Odeio ouvir do meu coronel que não há nada que possamos fazer agora para solicitar novamente a
liberação antecipada do serviço.
Eu odeio que serei preso por abandono, se eu deixasse a merda da Geórgia para sempre em agosto,
quando terei que levar Tucker de volta para Copper Valley.
E odeio me sentir um pai de merda porque estou magoado, e não sei se estou fazendo deste o
melhor ou o pior verão da vida do meu filho.
— Uau, pai, você errou por um quilômetro — ele diz com uma risada enquanto corro atrás da bola
de beisebol no meu quintal. Os carvalhos vivos fornecem sombra suficiente para impedir que o sol
ajude o crescimento da grama. Ou talvez a grama também tenha perdido a vontade de viver na porra
do calor.
Minha mão está suando tanto que minha luva mal consegue ficar no lugar.
Mas Tucker está sorrindo, gritando e rindo enquanto jogamos bola, o que na verdade está sendo
mais ele arremessando a bola loucamente pelo quintal, enquanto eu tento suavemente jogar uma bola
de beisebol em sua luva.
Adoro sábados.
E odeio sábados.
— A Srta. Capitã Ellie sabe jogar bola? — Tucker pergunta quando eu jogo a bola para ele.
— Sim.
— Ela é tão boa quanto você?
— Não sei, amigo.
— Posso vê-la quando voltar para mamãe?
— Isso é com a sua mãe.
— Há! Pai, você errou de novo.
Eu, com certeza, errei.
Eu me curvo para pegar a bola quando meu telefone toca, e quando vejo quem está ligando, quase
deixo cair.
Tanto a bola quanto o telefone, na verdade.
— Ei, cara, preciso atender — digo. — Jogue naquela árvore de trás um pouco, ok? Volto logo.
— Ok, pai!
Viro para o lado da casa de tijolos de dois quartos, que aluguei a alguns quilômetros da base, e
coloco o telefone no ouvido, com o coração na garganta.
— Ellie?
— Pensei em você enquanto me masturbava, na semana passada, e depois atropelei um esquilo.
Meus pulmões congelam e eu resmungo uma resposta ininteligível.
Ela solta uma risada estridente.
— Estou brincando. Quer dizer, não sobre pensar em você enquanto me masturbo. Quero dizer
sobre o esquilo. Nada de ruim aconteceu com ele.
— Porra, Ellie — eu consigo dizer, porque agora estou tão duro e muito feliz por ouvir sua voz, e
apavorado com o que ela pode dizer a seguir.
— E eu beijei sua foto todas as noites esta semana antes de ir para a cama, e tudo o que aconteceu
nesse tempo foi que fiquei sem leite.
A voz dela está tremendo, o que é compreensível, porque meus joelhos também estão.
— E? —pergunto.
— Eu sinto sua falta — ela sussurra.
— Também sinto sua falta.
— Você sabia que as chances de sofrer um acidente e ter sua casa queimada na mesma vida são
menores do que as chances de ser atingido por um raio?
Não tenho ideia se essas estatísticas são reais.
— Claro. Lembro-me de todas as respostas do Trivial Pursuit que li.
Ela ri, e parece meio desanimada, e eu gostaria pra caralho de poder abraçá-la agora. Ou apenas
olhar para ela.
— Cale a boca — ela diz, mas não tem nada do velho veneno ou irritação.
Isso é tudo a Ellie brincalhona.
Hesitantemente brincalhona, mas brincalhona.
— Quando estou certo, é meu dever dizer isso a você. — Minhas bochechas estalam com o esforço
de sorrir, e meu coração está zumbindo como se estivesse ligado a uma bateria de carro. Mas é isso
que fazemos.
Provocamos um ao outro.
— Tudo bem, Sr. Espertinho. Quais são as chances de eu estar na frente da sua garagem? — ela
pergunta.
Eu congelo.
Mas apenas uma fração de segundo, antes de estar caminhando para a frente da casa.
O para-choque traseiro de um Prius branco aparece.
Minha pulsação aumenta.
Ela está aqui.
Ellie está aqui.
Eu deixo cair as minhas mãos ao meu lado, apenas olho enquanto ela sai do banco do motorista. Ela
cortou o cabelo ainda mais curto, de modo que emoldurava suas orelhas com lindos cachos. Seus
olhos azuis combinam com o céu profundo de verão, mas a hesitação neles quase faz meus joelhos
dobrarem.
— Você dirigiu — eu digo estupidamente.
Seus lábios se esticam em um enorme sorriso.
— O caminho inteiro. Depois que eu disse ao universo que estava vindo te tirar da miséria. E
nenhum abutre atacou meu carro. Os ursos não correram na minha frente. Tempestades de gelo
aleatórias não surgiram do nada. Meu hotel não pegou fogo. Então, eu não interrompi o contínuo
espaço-tempo e trouxe outra era do gelo.
Devo sorrir, mas ainda não consigo acreditar que ela está aqui.
— O quê? Por quê...
Ela manca enquanto dá a volta no carro, mas levanta a mão quando me movo em sua direção.
— Você sabe o que me irrita demais em você?
Meus olhos se movem para a lateral da casa, mas posso ouvir Tucker ainda rindo lá atrás, então ele
ainda não percebeu a pequena novidade.
— Como eu sou perfeito? — Eu chuto, embora esteja longe da verdade.
— Exatamente. Você até sabia que eu ia dizer isso.
Seu andar está suavizando enquanto dá a volta no carro.
Meus dedos coçam e meus braços estão doendo para abrçá-la, mas eu espero, porque sei que ela
vai me dar um sermão se eu tentar tornar isso mais fácil para ela.
— Eu não sou perfeito, Ellie.
— Você se lembra do que disse? Que se alguém desse a mínima para o universo e fizesse o que
queria de qualquer maneira, seria eu?
Ela para a centímetros de mim, a hesitação ainda em sua voz.
Eu concordo.
— Você esqueceu uma parte.
— Que parte?
— A parte em que não terei que fazer isso sozinha.
— Achei que você estava com medo disso.
— Não quero ter medo de viver.
— Essa é minha garota.
— Eu te amo, Wyatt. — Ela finalmente fecha a distância entre nós e alinha seu corpo com o meu,
suas mãos deslizando pelo meu peito. — Você ainda me quer? — ela sussurra.
— Sempre.
— Mesmo que sempre seja apenas mais trinta segundos?
Eu rio, porque ela está brincando. E ela está aqui.
— Ellie Ryder, vou te amar muito depois que meu coração parar de bater. E com isso você pode
contar.
Ela fica na ponta dos pés enquanto eu inclino minha cabeça para baixo para encontrá-la, e não há
cabeças batendo, nem olhos roxos, nem espirros, apenas seus lábios provocando os meus, aqui,
realmente aqui, na porra da sauna quente da Geórgia, as mãos dela explorando enquanto eu a aperto
contra mim, porque eu nunca vou deixá-la ir.
Nunca.
— Papai! Você está... Srta. Capitã Ellie!
A alegria na voz de Tucker dá um nó na minha garganta, e estou piscando com força enquanto Ellie
se afasta e se inclina para abraçar meu filho.
— Ei, garoto. Você está ensinando seu pai a jogar bola?
— Sim, ele é meio ruim. Ele continua errando a bola. Você está melhor?
— Provavelmente não.
— Tudo bem. Nós tomamos sorvete quando estamos mal.
Eu me engasgo com uma risada.
— Nós o quê?
Ele sorri esperançosamente para mim.
— Certo, pai? Sorvete. Senhorita Capitã Ellie, pode ficar para tomar sorvete? Meu pai vai grelhar
hambúrgueres mais tarde também. Você pode ficar com o dele, que ele irá ao mercado comprar mais.
Eu fico boquiaberto com ele, porque ele está se movendo e fazendo movimentos mais suaves do
que eu.
Mas Ellie o abraça novamente.
— Você é adorável.
— Não acho que ele precise de incentivo — digo a ela.
Ela se levanta e sorri para mim, mas quando o faz, algo branco pousa em seu cabelo.
Meu queixo cai.
Suas sobrancelhas franzem, e ela começa a alcançar a cabeça, mas eu agarro sua mão.
— Não faça isso. Apenas… Ei, Tucker? Vá buscar as luvas e traga-as para dentro, certo? Vamos
tomar sorvete. Vamos tomar sorvete agora.
Ele ri.
— Senhorita Capitã Ellie, um pássaro acabou de fazer cocô em seu cabelo!
— Vá em frente — eu digo, dando-lhe um empurrão suave na direção certa.
— Você está brincando comigo? — Ellie murmura.
Não consigo decidir se quero rir ou se preciso entrar no modo superprotetor total, mas assim que
Tucker vira as costas, ela levanta o dedo médio para o céu.
— Manda ver, idiota — ela murmura.
— Se você realmente quisesse dizer isso — digo a ela —, usaria os dois dedos do meio.
Alguma coisa grasna, e um pássaro pula da janela do vizinho. Ele cai no chão, fica em pé com um
pulo, salta como se estivesse tonto por um minuto e então decola novamente na direção oposta.
Ellie tira o pó das mãos.
— Está certo. Quem está no comando agora?
Não me incomodo em reprimir um sorriso.
Porque essa é minha garota.
Epílogo

Ellie, também conhecida como gostosa incrível, que não está sofrendo com o universo (sim,
Wyatt insistiu que é dessa forma que ela será descrita pelo resto da vida).
Um ano depois que Wyatt invadiu a casa de Beck para me fazer afogar na banheira - sim, essa é a
minha história, e eu conto como quero - estamos de volta a Shipwreck, para o Festival Pirata com o
Tucker, e este ano, temos uma estratégia para encontrar a perna de pau.
— Está na fonte! — Tucker grita enquanto caminhamos pela Avenida Barba Negra com todas as
pistas impressas.
— Ssh — murmura Wyatt. — Não conte para a cidade inteira. Eles vão chegar antes de nós.
Tucker sorri.
Ele cresceu pelo menos 15 centímetros desde o verão passado, juro que sim.
— Aposto corrida com você até lá, Srta. Capitã Ellie — ele diz.
Eu finjo desmaiar, principalmente para aproveitar a oportunidade de me inclinar sobre o corpo
sólido de Wyatt.
— Não posso correr antes de me abastecer primeiro.
— Papai! Pai, preciso de quatro dólares para comprar um donut para a Srta. Capitã Ellie — diz
Tucker.
— Um donut simples? — O nariz de Wyatt enruga.
— Um donut de pudim de banana — diz Tucker, exasperado.
— Mas ela será inútil depois disso — Wyatt responde dramaticamente. — Estou tão
cheia. Tucker, você tem que continuar sem mim.
Tucker ri.
— Eu não vou — eu declaro. — Você está apenas tentando comer metade do meu donut.
Como se eu não fosse compartilhar com ele.
Ele abre meu sorriso favorito enquanto entrega a Tucker uma nota de dez.
— Possivelmente, é verdade.
Tucker entra na padaria enquanto observamos, o braço de Wyatt casualmente ao meu redor. Ele
beija minha cabeça.
— Ele está ficando muito alto — ele resmunga.
— Ouvi dizer que isso acontece. — Eu o aperto pela cintura. Por causa de uma confusão de
agendamento, já se passaram seis semanas desde que Wyatt viu Tucker.
Mas ele começa um novo trabalho na base ao norte de Copper Valley em três semanas, e nós três
estamos aproveitando cada minuto dessas semanas até que ele se apresente para o serviço. E quando
o verão acabar, ficaremos com Tucker a cada duas semanas.
A cada duas semanas no ano todo.
Grady acena para nós do balcão, depois de dar a Tucker o troco e um saco de donuts, e o menino
não tão pequeno corre de volta para nós.
— Ele tem donuts de unicórnio, pai!
— Oh, isso é problema — murmuro. — Sarcasm não vai gostar disso. Mas não é como se eles
obtivessem o monopólio só porque têm um festival de unicórnios.
Wyatt observa, com sua mandíbula se movendo para cima e para baixo, enquanto Tucker puxa um
donut, pintado em um arco-íris em tons de pastel com um chifre de algodão doce, de dentro da bolsa
e o morde.
Eu sigo o exemplo e pego o donut de pudim de banana, que está escorrendo na borda, e dou uma
mordida gigante, o que faz o pudim e a banana deslizar pelo meu queixo.
— Vocês dois... — Wyatt murmura com um sorriso, limpando o meu queixo e lambendo o polegar.
— Vamos lá, pessoal! — Tucker diz. — Está na fonte, eu sei que está!
Nós seguimos atrás dele, compartilhando o donut de pudim de banana, com Wyatt permanecendo
imaculado e limpo, e eu sujando minha camiseta do festival de piratas com pudim.
É o meu acordo com o universo.
Às vezes fico mais suja do que deveria, e isso me permite ter todo o sexo que eu quero com Wyatt
sem me fazer cair, queimar casas ou acidentalmente matar pequenos roedores.
Está bem, está bem.
O universo e eu não temos um acordo.
Eu finalmente decidi parar de ter medo e escolhi ser feliz e reduzir um pouco minhas horas de
trabalho e, finalmente, estou correndo de novo.
Não são maratonas ainda, mas estou correndo.
Um ano faz uma grande diferença.
Principalmente com um ajudante para meus exercícios de fisioterapia.
Ou um sargento instrutor.
Depende, se é Tucker ou Wyatt.
Mas se for Wyatt, eu geralmente o insiro em um novo desenho do Dick e suas Nozes, sempre em
uma posição comprometedora.
Já que somos os únicos que já viram meu bloco de rabiscos, funciona bem para manter a faísca
viva entre nós.
Ou possivelmente a diversão. Não que precisássemos de muita ajuda.
— É como se nunca tivéssemos ido embora — diz Wyatt enquanto atravessamos a rua em direção
ao jardim. As cabras selvagens ainda estão aqui, e os habitantes da cidade de Shipwreck adotaram
todas.
A casa de Beck ainda está de pé. Embora a pontuação do Frogger me deixe um pouco desconfiada.
— Aqui! Eu disse que estava! — Tucker grita. — Bem aqui!
Wyatt dá um sorriso.
Eu conheço aquele sorriso.
É um sorriso de aí tem coisa.
— O quê? — Eu pergunto.
Ele levanta as sobrancelhas como se não tivesse ideia do que estou falando.
— Hum. — Olho para ele.
Seus lábios abrem em um sorriso completo e ele dá um tapinha na minha bunda.
— Não é preciso muito para te deixar desconfiada, não é?
— Com você? Nunca.
Tucker está pulando em volta da fonte.
— Está aqui! Está aqui!
— Onde? — Pergunto, seguindo-o ao redor da estátua de Thorny Rock.
— Lá! — ele grita, apontando para a perna de Thorny Rock.
— Tucker — eu digo, rindo —, ele sempre teve uma perna de pau. Estamos procurando uma perna
de pau de madeira que não esteja presa a um pirata.
— Está aí, Srta. Capitã Ellie — ele diz, sorrindo largamente com seus dentes da frente tortos. —
Olhe mais de perto!
Eu me inclino para a estátua, meio que esperando que Wyatt me empurre para a fonte.
— Tucker, amigo, eu realmente não…
Eu me viro e paro, porque os dois homens mais importantes da minha vida estão ambos ajoelhados
atrás de mim.
Tucker ri.
— Ou eu posso estar errado — ele diz, seus olhos castanhos brilhando com diversão.
Wyatt está sorrindo também, mas é um sorriso solene.
— Ellie Devastadora — diz ele, pegando minha mão —, você vai nos dar a honra de ser minha
capitã pirata?
— E eu, seu macaco da pólvora! — Tucker fala. Ele tira algo do bolso e, de repente, estou sendo
presenteada com um anel de pirata de plástico.
O que é quase tão bonito quanto o diamante que Wyatt está segurando.
Pelo menos eu acho que é, já que não posso dizer com certeza, por causa do borrão nublando meus
olhos.
— Sim — digo para ambos.
Uma das cabras da cidade berra em aprovação, de seu lugar no banco onde Wyatt fez coisas
celestiais para mim no ano passado, e estou rindo em meio às lágrimas, enquanto cada um deles
desliza um anel em meus dedos.
— Malditos casamentos — Bico Longo de Prata diz da parede acima de nós.
— Vá andar na prancha, seu pássaro mau — Tucker repreende.
E o pássaro o faz. E quando ele se inclina antes de atingir o solo, ataca direto na minha cabeça.
Eu me abaixo, meu pé escorrega e eu caio de bunda para cima na borda da fonte.
— Senhorita Capitã Ellie! — Tucker grita.
Minhas pernas estão para o alto, minha bunda encharcada, minha camiseta pingando, e estou
tocando as moedas pegajosas no fundo da fonte, mas quando olho para Wyatt, tudo que consigo fazer
é rir.
E não apenas porque ele está inclinado enquanto estende a mão para me ajudar a levantar.
— Talvez seja Shipwreck — digo enquanto ele me iça para fora da fonte. — Porque isso não
acontece em nenhum outro lugar.
— Acho que é a vida, Ellie — diz ele. — Agora venha aqui e me beije antes que eu pegue meu anel
de volta.
Você não pode dizer que não serei uma esposa obediente, porque eu me inclino e o beijo.
Esfrego meu corpo molhado, encharcado e pegajoso no dele, rindo enquanto o beijo, mas o beijo
mesmo assim.
Porque ele é o meu melhor amigo.
Meu tudo.
E meu único amor verdadeiro.
Epílogo Bônus

Não há nada tão bonito quanto assistir Ellie fazer uma pausa em sua rotina de ioga, ao lado do bar
no porão de Beck, para sorrir para seu anel. Tucker desmaiou no andar de cima, depois de se divertir
mais no festival dos piratas do que eu pensava ser possível, e embora ele vá acordar cedo, tenho
planos para essa linda senhora, que envolve deixá-la nua o mais rápido possível e nenhum de nós
dormir por horas.
— Isso é o quanto você pode esticar? — pergunto. — Vamos, Ryder. Você mal está tocando os
joelhos.
Ela revira os olhos, mas ainda está sorrindo.
— Até parece, seu grande idiota. Gostaria de ver você tentar.
Eu me sento no chão ao lado dela, em minhas mãos e joelhos, e me curvo e beijo seu joelho.
— Viu? Nada de mais.
— Seu idiota — ela diz com uma risada, esfregando meu cabelo curto e me pegando pela nuca para
que ela possa me beijar.
E então, eu posso beijá-la de volta.
Se eu viver até os duzentos anos, nunca me cansarei de beijar Ellie. Às vezes não consigo acreditar
que passei tantos anos pensando que ela era apenas uma idiota irritante, porque essa Ellie é toda
coração.
E muitas pessoas ignoram isso, porque ela também é determinação, coragem e honestidade. Mas é
tudo movido por aquele coração que ela coloca em todas as coisas que faz.
Ela me empurra de costas e monta em mim.
— Eu já te disse o quanto amei meus anéis? — Ela sussurra, porque sim, ela tem mais de um.
— Não. Tenho certeza de que você os odeia e está apenas se divertindo com a nossa cara.
Ela ri.
— Você está absolutamente correto. Mas já que eles vêm com Tucker, acho que vou ficar com eles.
— Seu cabelo faz cócegas em minhas bochechas quando ela se inclina para me beijar, e eu enrosco
os dedos nas mechas macias e encaracoladas enquanto provoco sua língua com a minha.
Seu telefone vibra no chão ao nosso lado, mas nós dois o ignoramos. Seus dedos estão acariciando
a barba por fazer em meu queixo, e não há nada que eu ame mais do que seu toque em meu rosto.
Exceto, talvez, a forma como ela está friccionando sua boceta no meu pau, que endurece
rapidamente.
Isso é incrível pra caralho também.
Especialmente sabendo o quão duro ela trabalhou para conseguir tanta força e amplitude de
movimento de volta em sua perna.
Sempre que Beck me criticava por dormir com sua irmã, mostrava a ele o quanto eu melhorei sua
flexibilidade.
Seu telefone vibra novamente.
— Desculpe — ela murmura. — Não consegui me segurar e postei uma foto dos meus anéis no
Twitter.
— Então você gostou deles.
— Talvez, um pouco. — Seus olhos brilham enquanto ela abaixa a cabeça para dar um beijo no
meu pescoço. Eu deslizo minhas mãos sob sua blusa, e... — Droga, Ellie, eu odeio seus sutiãs
esportivos.
Ela ri enquanto ergue o corpo e tira a camisa e o elástico estupidamente apertado com tiras que
exigem flexibilidade e acrobacias para serem retiradas.
Eu não me importo com o show, mas parece que usá-lo dói. Embora eu goste do jeito que seus
seios caem direto nas minhas mãos enquanto ela ainda está tirando a coisa pela cabeça.
Tão macia. E aqueles lindos mamilos rosas, que endurecem imediatamente sob meus polegares,
estão fazendo meu pau doer. Eu me inclino para pegar um na boca, e ela ofega e agarra meus ombros.
— Wyatt.
— Hum — eu cantarolo contra o seu mamilo, e sua respiração fica presa novamente enquanto ela
se arqueia para mim.
Seu telefone explode em uma série de zumbidos, e ela ri, sem fôlego.
— Eu deveria desligar.
— Ignore —respondo, mudando meu foco para seu outro seio enquanto rolo o mamilo molhado
entre o polegar e o indicador.
— Oh, Deus, Wyatt, e se Tucker se levantar de novo? — ela sussurra.
— Eu vou ouvi-lo.
— Como da última vez?
— Ellie. Ele desmaiou. — Eu assopro em seu mamilo, e funciona.
Ela geme, agarra meu rosto e me beija com força, e então me manda tirar minha camisa também.
Fico feliz em obedecer, quando o telefone dela explode.
Não explodindo como o fogo da cozinha, mas em um fluxo constante de zumbidos que simplesmente
não param.
Nem por um minuto.
Ela bufa e se inclina para pegá-lo.
— Estúpido cel… oh.
Seus olhos se arregalam. Depois, um pouco mais.
Sua boca segue o exemplo.
— Wyatt — ela sussurra.
Aquela dor forte e furiosa no meu pau desaparece, porque algo está errado.
Algo está seriamente errado.
— O quê? O que foi?
— Beck… — ela começa.
Meu sangue gela. Por toda a merda que joguei em cima dele, se algo acontecesse com Beck…
— Não, não — ela diz rapidamente. — Ele está bem. Ele está bem. Mas... as piadas. As
pegadinhas. A maldita boca dele. Ele…
Ela se interrompe e segura o telefone na frente do meu rosto.
Eu leio a primeira mensagem da Monica.
Outra de sua mãe.
Uma de Levi, e eu percebi que se eu estivesse com meu telefone, provavelmente estaria explodindo
também, mas ele está lá em cima.
E então há uma foto.
A imagem de um tweet.
Enviado por Beck.
Parece algo que ele diria a Ellie, mas ele, definitivamente, não enviou aquele tweet para a irmã.
— Ele está morto, porra — eu digo, meus próprios olhos arregalados.
— A carreira dele está — ela sussurra em resposta.
Fazemos contato visual.
— Festa de noivado surpresa amanhã à noite, em casa — eu resmungo. — Ele virá.
Ela está fora do meu colo em um piscar de olhos, colocando o telefone no ouvido, sem dúvida
ligando para o idiota.
— Ele está em casa? — ela me pergunta enquanto a sua caixa postal atende.
— Voando durante a noite.
Também estou de pé agora.
Eu não me importo com o quanto ele encheu meu saco por namorar sua irmã, ou quantas outras
pegadinhas ele pregou em mim sozinho no ano passado, ele é meu irmão.
E ele simplesmente cometeu o erro de sua vida.
— Vou começar a fazer as malas — digo enquanto visto minha camisa.
Ela deixa o sutiã esportivo no chão e luta para vestir a blusa.
— Vou ligar para mamãe e papai.
— Tucker pode dormir no carro.
Ela estremece.
— Mas o festival...
— Ellie.
Ela me estuda por um minuto, então acena com a cabeça.
Eu preferiria passar a noite fazendo-a gemer meu nome?
Porra, sim.
Mas a família vem primeiro. E se a maneira como o telefone de Ellie está explodindo de novo é
qualquer indicação, a família precisa dela agora.
E eu.
E cada um dos caras do bairro.
Pelo que Beck acabou de fazer, ele vai precisar de todo o apoio que puder conseguir.
— Ellie? — Eu digo baixinho enquanto a sigo escada acima.
— O quê?
— Você sabe que não é porque ficamos noivos, certo? Na verdade, não causamos quaisquer
desastres.
Ela faz uma pausa para olhar para mim, e então nós dois rimos. Exceto que nenhum de nós
realmente acha engraçado.
Estamos entrando no carro antes que ela fale mais sobre isso. Tucker se opõe a ser preso em sua
cadeirinha no meio da noite, e Ellie está prestes a se sentar ao lado dele e aconchegá-lo o melhor que
pode no carro, quando ela se vira para olhar para mim.
— Nós realmente estamos amaldiçoados — ela diz lentamente, mas então um sorriso aparece. —
Mas não há ninguém no mundo com quem eu prefira ser amaldiçoada.
Ei, incrível leitor!
Ellie Ryder aqui, com a melhor notícia de todas - meu irmão, Beck, terá seu próprio livro! Vai se
chamar O Queridinho da América, e oooooh, será divertido vê-lo ser torturado em nome do
amor. Você vai adorar! Além disso, você vai descobrir exatamente que coisa estúpida ele acabou
de fazer.
Sobre a autora

Pippa Grant é autora best-seller do USA Today e escreve comédias românticas que vão fazer
lágrimas correrem por suas pernas.
Quando ela não está lendo, escrevendo ou dormindo, está criando seus três filhos comicamente
imprevisíveis com seu mocinho da vida real e sendo coroada a funcionária do mês por ser uma dona
de casa e esposa que tenta preparar seus adoráveis demônios para serem membros produtivos da
sociedade. E o tempo todo fantasiando com longas caminhadas na praia e cookies de chocolate.
Ela acredita que o amor, o riso e o bacon são as forças mais poderosas do universo.
Copyright

Título Original: Flirting with the Frenemy


Copyright © 2019 por Pippa Grant
Copyright da edição brasileira © 2021 L3 Book Publishing
Este livro foi negociado mediante acordo com a autora.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte do conteúdo deste livro pode ser reproduzida por qualquer meio eletrônico ou
mecânico, incluindo sistemas de armazenamento e recuperação de informações, sem permissão da
editora, exceto pelo uso de breves citações em uma resenha literária.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares ou eventos são produtos da imaginação do
autor e usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas, lugares ou eventos reais é
mera coincidência.

Produção Editorial: Luiza Cintra e Alice Garcia


Tradução: Alice Garcia
Revisão: Lucilene Vieira
Diagramação: Maria Fernanda Araújo
Design de Capa: Gisele Souza
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G762
Grant, Pippa
Flertando com o inimigo / Pippa Grant;
Tradução Alice Garcia. - 1. ed. - Rio de Janeiro: L3 Book Publishing, 2021.
290 p. (Bro Code: 1)

Título original: Flirting with the Frenemy


ISBN: 978-65-995909-0-0

1. Literatura Americana. 2. Ficção. 3. Romance Contemporâneo. I. Grant, Pippa. II. Garcia,


Alice. III. Título. IV. Série.

CDD: 813.54
Larissa Aguiar de Oliveira - Bibliotecária CRB- 007226
Sobre a editora

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Livro 01 - O Preço do Escândalo

Emily Stanton tem uma vida perfeita. Sua empresa mundialmente famosa está pronta para alcançar
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Mas um deslize momentâneo faz com que a imprensa a flagre sendo algemada com acusações de
posse de drogas, tudo por causa de um encontro arranjado que ela nem queria ir. Agora, o conselho
está furioso, seu negócio que vale bilhões de dólares está em jogo, e há um homem nu em sua
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Charmoso, e feliz em quebrar as regras quando necessário, Derek Price ganha a vida consertando
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Livro 0,5 - Os Desastres Amorosos de Everly Dalton

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A morte nunca se contenta apenas com a vida daquele que leva.


Ela é gananciosa. Roubou todas as nossas vidas na noite que enterrei o meu marido, deixando-me
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Porém, eu não poderia imaginar que as habilidades de Reid, um peão de rodeio aposentado, iam
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