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Sinopse: O seu estranho vizinho possui várias peculiaridades, e uma delas é que todo dia

uma mulher diferente atravessa o arco de sua porta. O que, a princípio, é bem estranho, já
que sua reputação não só no bairro, como na cidade inteira, é péssima. Não cumprimenta
as pessoas, não olha uma segunda vez, não agradece ou pede desculpas. Wen JunHui é o
poço da falta de educação e da frieza inalcançável, alguém completamente desagradável
de se comunicar. Já na parte da convivência, é um tanto… curioso. Após algumas
investidas vergonhosas, você descobre que, na verdade, ele é fotógrafo e suas fotos
deixam as mulheres mais lindas e exuberantes do que já são.

Então, você, como uma boa acadêmica e dona de si, resolve reunir coragem para bater em
sua porta e pedir uma sessão de fotos. Só há um problema: Ele não quer saber de você ali,
batendo a porta sem dizer uma palavra todas as vezes que você se propõe a tentar.

Por que ele se recusa a falar com qualquer pessoa é um mistério. Por que ele é irresistível e
tentador é um maior ainda. Um que você está prestes a descobrir com algumas seduções e
uma comida japonesa em específico.

Palavras não são necessárias com alguns cliques sensuais e um ardente Wasabi.
Único - Drop it down hard like Wasabi

7:30 a.m

Lá vem ela.

A quinta mulher voluptuosa e estonteante da semana. Divina, brilhante; sinto a colônia


parisiense dela daqui, um andar acima, na casa ao lado. Indo diretamente para a casa do
vizinho e saindo de lá algumas horas depois, meio desgrenhada, desajeitada. Satisfeita.

Há algo naturalmente errado em colocar um despertador para cada parte da rotina do seu
vizinho. Há algo evidentemente evasivo em espiar ele entre as cortinas, e, principalmente,
saber que horas ele sai e volta da sua corrida matinal. O hábito do stalk começa a ficar
gradativamente preocupante quando sei até que horas as mulheres vêm e vão do limiar de
sua porta, entrando com um sorriso e saindo com outro maior ainda. Por algum motivo,
todas elas vêm no mesmo horário sempre, e saem no exato mesmo horário que a anterior,
e a anterior antes da mesma.

E eu quero dizer o que eu quero dizer: todas as mulheres diferentes uma das outras. Nos
meus quatro anos morando na vizinhança, nunca vi uma mulher repetida entrar na casa do
meu vizinho. Todas elas na mesma faixa etária, embora eu não deixo de me pegar
desejando que uma delas seja mais velha do que pareça, mas nenhuma sequer se parece
com ele. Não posso cogitar ser sua mãe ou sua irmã em nenhuma das vezes. Todas são
loiras, morenas, ruivas, brancas, negras, baixas, altas. É como se o vizinho tivesse um
portfólio mais versátil que a vogue.

Eu tenho que admitir, ele não tem mesmo um tipo. Eu o consideraria um cara cheio de
representatividade se ele não fosse um tremendo de um galinha.

Estou dizendo isso porque, dolorosamente, não posso evitar de ver. Não posso deixar de
me espreitar entre uma sombra ou outra e apenas observar, tão perto e tão longe ao
mesmo tempo. Eu já deixei de me importar se serei pega ou se isso é uma falta de ética
tremenda, a curiosidade é maior do que posso suportar.

Principalmente porque ainda não tive a oportunidade de ver o seu rosto. E, se eu já estou
familiarizada com esse fluxo padronizado de mulheres indo e vindo da casa do vizinho, é
quase como uma necessidade moral de saber como ele é. Eu preciso ver a sua aparência
para que sane minhas teorias conspiratórias de que o Adam Driver é a droga do meu
vizinho.
É como se eu acordasse todos os dias esperando que ele saísse de casa sem camisa, em
cima de um cavalo que nem naquele seu photoshoot daquela revista que tenho
vergonhosamente guardado em meu armário.

Mas o meu misterioso vizinho saí todos os dias com a cabeça abaixada, às sete horas da
manhã, pronto para sua corrida matinal; e volta exatamente às nove e dez. Nunca atrasado,
nunca adiantado. Sua pontualidade e a pontualidade de suas mulheres é notável. Seu olhar
congela nos passos dados e nos que ainda virão, sem hesitar, sem pensar duas vezes. É
como se o destino dele estivesse programado por si mesmo, e não haverá inevitabilidades.

Pelo menos, não até agora. Não até que, em um belo dia, quando estou tomando meu café
com um olho atento no caminho asfaltado e um jardim bem ornamentado de sua porta, eu
vejo uma mulher saindo cambaleando de sua casa. É aí que percebo que sou um caso
perdido, porque meu cérebro faz um rápido reconhecimento facial e eu noto que já vi essa
mulher antes. É uma das raras mulheres repetidas que o visita.

Talvez, e só talvez, eu tenha tomado cafeína demais. Essa pode ser a minha desculpa caso
eu seja pega espreitando seu jardim, mas quem poderia me impedir? O bom senso?
Conte-me outra. Não vai fazer mal se eu interferir em sua rotina nem que seja só um
pouquinho.

Estou cortando o meu jardim assim mesmo, de pijama e tudo, com o cabelo desgrenhado
em uma trança que uso para dormir. Minhas calças brancas com flores vermelhas, e blusa
flanelada do mesmo estilo, são iluminadas pelos raios solares matinais, mais do que
aqueles saltos vinho e saia de couro preta que a mulher puxa para baixo insistentemente.O
couro deve estar colando em sua pele meio avermelhada, quase tão vermelho quanto seus
cabelos. Já falei vermelho aqui? Céus. De perto ela parece ameaçadora, uma daquelas
mulheres sexy que você tem medo de conversar e levar uma canetada na cara.

— Oi, com licença — eu forço aquele sorriso pragmático do guia de como cumprimentar
alguém gentilmente. Seja simpática, garota, você está cuidadosamente querendo saber a
vida privada do seu vizinho, não queime seu filme. — Está um dia bonito, não?

A mulher, agora mais velha, vendo suas rugas sutis mais de perto, não se preocupa em me
olhar mais uma vez.

— Poupe-me da conversa fiada, querida. Estou atrasada para o trabalho. Se você estiver
com vergonha de pedir o cartão dele, aqui está. — Magicamente então, ela retira de dentro
de sua blusa - estava em seu sutiã? - um cartão branco com bordas azuis. — Agende um
horário com ele pessoalmente ou por e-mail. Junhui não fala por telefone.

Ela intercepta seus passos, seu olhar fica distante e um pouco vago, como se estivesse
imersa em seus pensamentos. Deve estar analisando o que acabou de falar, porque os
cantos periféricos dos seus lábios se projetam para cima e ela caí na gargalhada. Antes que
ela pudesse ver o vinco entre minhas sobrancelhas, a ruiva abana a mão no ar, me
dispensando ou dispensando suas próprias palavras. Não sei dizer. Essa primeira tentativa
de saber mais do meu vizinho depois de anos está sendo mais estranha do que achei que
seria.
— É isso mesmo, que coisa engraçada — ela murmura para si mesma, caminhando de
volta para o lindo Maserati estacionado no meio-fio da rua. — Junhui falando pelo telefone.
Essa é boa. Acordei mesmo com um bom humor.

10h47 p.m

Faz quatro anos que moro em Los Angeles, e o ano conseguinte seria o ano que eu me
graduaria e, em tese, voltaria para minha casa no Arizona. Acontece que eu acabei de
achar outro motivo intrigante para ficar, e não estou nem um pouco motivada a morar na
casa dos meus pais, apenas para ser enfatizada no quanto estou encalhada na solteirice
enquanto minhas duas irmãs mais velhas estão casadas e sou tia pela quinta vez.

Na verdade, morar aqui tem sido uma aventura e tanto, e o mistério do meu vizinho
tecnicamente gostoso é a cartilha quase perfeita para ficar. Se eu fizer amizade com ele,
melhor ainda. De qualquer forma, não acho que seria capaz de sair daqui sem ao menos
dar uma espiadinha no seu rosto. Só para ver como ele é e afastar o Adam Driver dos meus
sonhos mais profundos e safados.

Por isso, assim que volto da universidade - cortinas e janelas fechadas do meu vizinho,
como sempre, verifiquei apenas para ter a certeza costumeira - procuro diretamente pelo
cartão que recebi da mulher estranha essa manhã.

— Onde está? — Eu vasculho entre as tranqueiras em cima da mesa do meu quarto e do


meu escritório. — Onde está esse cartãozinho do mal.

Um intervalo entre uma varrida de objetos e outra, eu escuto o usual som molhado de
mastigação vindo da caminha azul em meu quarto. Eu deslizo para o lado a fim de ver meu
pug comendo algo branco e retangular.

— Ah, Wasabi, faça-me o favor — eu arranco o cartão enrugado de baba e marcas de


mordida, limpando na barra da minha camisa. — Isso é o meu petisco, não o seu.

Wasabi espirrou como se estivesse descontente, então balançou seu rabinho sujado
permanentemente de verde para fora do meu quarto.

Assim que apanho meu computador e tento enxergar as letras miúdas e sujas de saliva de
cachorro, eu digito seu nome no google. Há algo escrito sob seu lindo nome chinês, mas
não consigo ler coerentemente graças a obra de arte de Wasabi. De qualquer forma, essas
eram as únicas coisas digitalizadas no cartão. É como se até profissionalmente ele fosse
culto e reservado. Como ele espera trabalhar assim?

Mas não posso mentir para mim mesma. Todo esse mistério é cativante, como descobrir o
assassino das obras de Sherlock.

Quando a página carrega, eu descubro o que ele é mesmo assim. E, deixe-me adiantar
para você: ele não é um assassino.
E nem o Adam Driver.

Ele é muito melhor.

Seus olhos são simetricamente puxados, como ponteiros exatos, suas íris são de um
chocolate derretido com mel, sua pele lisa e - sem dúvida nenhuma por aqui - macia dá um
contraste fascinante com seus cabelos lisos e pretos. Eles caem suavemente até chegar ao
limiar anterior de suas sobrancelhas. Nos lábios, ele carrega uma expressão dura e séria,
nada de sorrisos e gentilezas. Na verdade, ele parece bravo com quer que fosse a criatura
que tirou sua foto. Ou talvez tenha sido ele mesmo, porque a foto vai apenas da cintura
para cima.

É o bastante para mim. Quero dizer, seus músculos estão quase gritando para sair fora da
sua camisa preta, seus ombros estão duros e firmes, e, mesmo com a postura de um
profissional sério, é como se ele fosse a droga de um modelo. O cara é sobrenaturalmente
lindo.

E eu nem acredito que é o meu vizinho.

Eu encaro o seu cartão babado por Wasabi e penso. Me conhecendo do jeito que me
conheço, sei que não há nenhuma maneira de dormir tranquilamente à noite sabendo que
um homem desses dorme na casa ao lado. Eu preciso arranjar alguma forma de chamar
sua atenção.

Seu talento também não passa despercebido. Suas fotos são lindas, metricamente bem
colocadas, fazendo jogos de sombras e luz arquitetas nos lugares certos. As mulheres que
espio passar pela sua porta são claramente as modelos, porque reconheço alguns pedaços
e detalhes que guardei em minha memória. A ruiva do dia anterior tem uma sessão só para
ela, e eu logo vejo o porquê atrás disso: a mulher é claramente a Jessica Rabbit. Suas
curvas, seus cabelos cheios cor de sangue, suas roupas igualmente vermelhas.

É evidente que ela fica bem em todas as fotos, mesmo assim, não evito sentir uma
sensação incômoda dentro de mim. Eles claramente devem se dar bem, mas o ponto não é
exatamente esse, logo esmago o pensamento de uma menção de ciúmes. Se eu pudesse
tirar fotos assim… se eu pudesse ser uma Jessica Rabbit também, ou quem sabe, melhor…

Um pensamento intruso polvilha minha mente, um plano fermentando aos poucos em minha
cabeça.

Eu posso ser melhor.


9:40 a.m

Bolinhos de mirtilo. Como isso soa para você? Bom, certo?

Foi isso mesmo o que eu fiz. A princípio, parece uma ideia meio old-fashioned. Ninguém
mais troca açúcar desde a década de 80. Principalmente para o modelo e fotógrafo
gostosão que claramente não é o Adam Driver que mora ao meu lado. Tenho uma afiada
sensação de que posso passar a impressão de ser uma garota interesseira ou doida. Mas
bem, pode ser mesmo que eu seja as duas coisas.

Doida porque resolvi socializar com ele depois de quatro anos dividindo um pedaço do
mesmo quintal e jardim, mas ei, a culpa da má conduta não é só minha, ele também nunca
veio falar comigo. E interesseira porque, duh, tem algo que realmente me interessa aqui. E
não são esses bolinhos deliciosamente cheirosos. É algo alto, ombros largos, com um olhar
de predador e lábios firmes, potencialmente delicioso e cheiroso também.

Ando debilmente até a porta da sua casa, e quando piso em seu quintal, o pensamento é de
entrar em uma zona perigosa. Olho para os lados só para ter certeza que flechas não vão
ser disparadas em minha direção, ou o irrigador de jardim resolver comprar uma briga
comigo e meus mirtilos.

Ao chegar no último degrau, dou uma tropeçada, dando uma guinada para frente. Meus
bolinhos balançam e eu torço religiosamente para não estragar tudo antes mesmo de tentar.
Quando recupero minha postura, bato em sua porta.

Caso você esteja se perguntando, isso foi há dez minutos atrás. O que estou fazendo aqui
mesmo? Tenho que me lembrar que estou esperando por ele, mesmo que ele não tenha
aparecido. Sou tomada pela sensação de que posso estar errada. Será que ele saiu? Eu
me lembro claramente dele ter voltado de sua corrida matinal 9:20, como sempre faz.

Jesus. Eu sou potencialmente a próxima Joe do You.

Eram 9:40 quando cheguei. Será que estou sendo precipitada demais? Quando o relógio
ameaça bater às dez horas, giro meus calcanhares, preparada para cantar a derrota.

Até que a porta é destrancada e o ruído dela sendo aberta ecoa naquela manhã cheia de
tensão acumulada. Me viro lentamente, apenas para ter certeza de que meus bolinhos não
vão cair. A verdade mesmo é que eu tenho medo de tornar para ele e imediatamente cair
com a força de sua beleza.

É quase isso que acontece, mas há uma força maior que pode estar me ajudando hoje,
porque meus joelhos só tirintam, eu não venço meu impacto. Quando olho para seus
cabelos pretos molhados, pingando água no trajeto inteiro até suas pontas úmidas, sua
blusa branca colada no tronco do seu corpo, suas maçãs pronunciadas, seu olhar
contundente… tudo veio de uma vez só.

Ele estava tomando banho. Ah.


Formigamento serpeia através do meu corpo inteiro e uma força incontrolável e
gravitacional pressiona o meio de minhas pernas. Ele parece arrebatador, e só havia
tomado um banho. É a primeira vez que eu o vejo, tento pensar nisso, é claro que é tudo
muito novo. Não estou acostumada com essa visão tanto quanto deveria estar. E muito.

— Oi — começo. Só oi? Você esqueceu o que está fazendo parada com esses bolinhos
frios de merda, sua patética? Recupero minha voz, a um fio de distância de ser tímida ao
ponto de gaguejar. — Estava fazendo esses bolinhos e pensei em ver se você não gostaria
de um.

Parabéns, garota norte-americana tradicional, é assim que se faz amizade com vizinhos.

Junhui demora um tempo para ver o que estou segurando. Ele parece focado como um
falcão em ficar me encarando. Seus olhos são estáveis, observando os meus como se
estivesse sugando todos os meus segredos dali. Ele parece estar me avaliando, julgando
minhas intenções, e não o culpo por isso. Também faria o mesmo, por isso, tento me manter
o máximo fofa e amigável possível.

Só então, depois de longos e tortuosos segundos, ele passa o olhar para minha bandeja de
bolinhos. Não fala nada.

— Gostaria de experimentar? — Entoei, reforçando mais uma vez que ele pode pegar.

Ele não se mexe. Jun volta a me encarar, dessa vez, as rugas entre suas sobrancelhas
somem e ele apenas me olha inescrutável. Ele parece ter chegado a uma conclusão, mas
não faz questão nenhuma de me dizer qual é. E, droga, estou quase explodindo para saber.
Ele gostou de mim? Sabe que vim aqui com boas intenções? Me acha bonita? Quero dizer
porque passei quase uma hora fora do normal me arrumando sem parecer a Betty Boop.

Tive a sensação que meu rosto murchava a cada segundo que ele não falava nada. Jun
ficou assim, me encarando, com um desinteresse clínico. Não protesta, nem me convida
para entrar, ou olhou mais uma vez para os pobres dos meus bolinhos. Só fica relaxado
assim, fitando meus olhos como se eu fosse uma programação de TV imperdível. Mas, ao
mesmo tempo, não há nenhum brilho de interesse em corresponder à minha expectativa de
socialização.

Só me encara. E não fala. NADA.

— Você não vai falar nada? — Não resisto, querendo saber o porquê ele não é capaz nem
de dizer: “Oi, cai fora já daqui, ridícula pomposa.”

Jun pisca os dois olhos naturalmente, e eu apenas poderia dizer que ele adormeceu ali, se
não fosse pelo canto de seus lábios ameaçarem se projetar para cima. Não mais, ele
finalmente faz outro movimento além da estática imóvel. Cruza os braços e me encara
como um desafio. Sugo o ar levianamente, chocada com sua atitude.

Ele está me desafiando a fazer ele falar? Quantos anos ele tem? Oito?
Raiva começa a criar raízes sob minha pele, e eu pressiono os nós dos meus dedos na
cesta até ficarem brancos. Ótimo. Ele quer fazer joguinho de tratamento de silêncio? Eu
moro sozinho e converso com a droga do meu pug o dia inteiro. Eu sei muito bem o que é
ficar sem falar com alguém, mesmo quando a pessoa está na sua frente te encarando como
uma mosca sobre sua sopa.

Abraço minha cesta e me contenho ali, de queixo erguido. Desafio aceito. Se você não vai
falar nada, bem, eu também não vou sair dali.

Meus olhos dizem: Eu te desafio a me tirar daqui.

Espero que ele perca nossa lutinha de olhares, ou que o desprezo apareça em suas orbes,
mas não é nada disso que encontro.

Junhui lentamente sorri, divertido.

E prossegue sem dizer um pio.

Respiro fundo, frustrada, o que só faz ele aumentar a imagem de diversão em seus olhos
castanhos. Ele morde os lábios, forçando a cessar o sorriso, então volta a ficar sério. Me
encara e me encara e me encara sem a presença de um único som fantasma.

Wen Junhui parece irredutível. Inflexível.

Tento provocá-lo forçando um sorriso complacente, típico de uma vizinha tradicional e


exemplar. O nariz de Junhui se contorce quase imperceptivelmente, a única reação que eu
consigo arrancar dele, depois aqueles músculos astronomicamente tentadores ficam me
provocando de volta. Seu nariz reto também brilha em resposta às luzes matinais, e ele
parece um anjo ali.

Um anjo do diabo.

Meu cansaço vence meus músculos faciais e eu paro de sorrir, desistindo dessa tática.
Então estendo minha cesta mais uma vez, na esperança de que ele pegue-a, pelo menos,
para tacar no meio da minha cara. Jun desce o rosto para minha cesta e olha com desdém,
como se meus bolinhos fedessem grotescamente.

É isso. Estou furiosa.

Percebo que minha raiva manchou o ar, porque ele sente minha tensão palpável sopesando
de um pé para o outro. O único som raro que capto nos meus ouvidos é o bufar de uma
respiração resgatada. Só isso. Ele respira fundo baixinho e continua em silêncio pétreo e
visceral, me olhando com um pouquinho mais de interesse. Aí é que vejo, então, que ele
está curioso para ver se vou explodir de raiva ou atacá-lo de alguma forma. Jun, no entanto,
não fica na defensiva.

Apenas malditamente me encara e não faz nada além de me olhar e isso está me irritando
profundamente. Me ache nojenta mas não ache meus bolinhos nojentos. Eu até poderia
insinuar erroneamente que quem fede é ele, mas meus argumentos caíriam por terra
porque a evidência que ele acabou de sair do banho está por todo seu corpo.

A droga do seu corpo lindo, esculpido, cheio nas medidas certas, esguio e perfeito.

— Já chega — solto um muxoxo, exausta dessa humilhação. Ele realmente não me quer ali
e está brincando com minha cara. — Deixa para lá.

Pareço uma criança que não recebeu presente nenhum do Papai Noel sob a árvore de
Natal, e é meio que assim que me sinto mesmo. Girei os calcanhares para ir embora, mas,
antes que eu possa alcançar o primeiro degrau das escadas, sofro de um sobressalto ao
sentir uma mão agarrar meu cotovelo.

Sou virada contra minha vontade, com seu puxão quase me fazendo bater de frente com
ele. Antes que possa sentir a doce doce dor de bater meu rosto em seu peitoral duro feito
pedra, ele dá um passo para trás, evitando que eu atinja ele. Merda. Tento esconder minha
decepção por ter perdido uma oportunidade de tocá-lo, e, antes que possa processar seu
aperto em minha pele, ele também tira a mão do meu cotovelo.

Sinto meu peito formigar quando, ainda sem dizer nada, Jun usurpa um bolinho da minha
cesta e me dá as costas. Mal registrei seu sorriso de canto enquanto ele mastiga meu
bolinho e bate a porta na minha cara, com a minha cesta ainda cheia em meus braços e
tudo.

Ele acabou mesmo de roubar apenas um bolinho da cesta, foi embora comendo sem falar
nada e ainda bateu a porta na minha cara? Desorientação envolvia meu cérebro como uma
neblina. Fui eu? O que eu fiz de errado? Foi algo que eu falei? Foram os bolinhos? Eu
observo os bolinhos com os olhos filtrados, procurando algum erro.

Mas então eu ergo minha cabeça e semicerro os olhos. Por que a culpa tem que ser minha?
Eu não fui nada além de gentil e caridosa. Aperto a cesta em meus braços e saio dali antes
que ele possa voltar e me encarar parada pateticamente na frente da sua porta.

Não. Quem tem algo de errado aqui é ele.

E eu vou descobrir qual o problema dele por bem ou por mal.

16:40 p.m

Foi pelo mal.

Nos próximos quatro dias, e sim, eu estive contando todas as horas, ele me evitou da
mesma forma como evitou por quatro anos. No dia seguinte, estive mergulhada na
sensação de vergonha que não pude fazer nada para minha missão de arrancar uma
palavra dele. Mas, no outro dia, saí propositalmente na hora em que ele estava descendo
as escadas para sua corrida matinal.
Não pretendia fazer nada além de verificar minha caixa de correio, ou melhor, brincar com
uma conta vencida e um papel brilhante de imóveis, anunciando a inauguração de um
prédio novo. Não me arrumei tanto para dar mais veracidade à minha atuação, embora eu
também não esteja parecendo um orangotango das trevas. A intenção é ele perceber que
hmmm olá? Você tem uma vizinha, gostosão.

…Que passa completamente despercebida assim que ele saltita na corrida e vai embora
sem olhar para trás ou reconhecer a essência da minha presença. Assim que confirmo que
ele não vai mesmo parar e notar que existo aqui do lado dele, enfio o panfleto de imóveis e
soco bem no fundo da caixa de correio. Fecho com a honra de uma porta de geladeira, tão
forte quanto possível.

Resolvi ir para a segunda parte da minha missão: sair perguntando. Como disse, tinha que
ser pelo mal. Ele não quer me dizer ele mesmo, então terei que saber por outras pessoas.
Eu dei a oportunidade, ele recusou, então vou aceitar as fofocas e os podres.

E quanto podre.

— Wen Junhui? Estamos falando mesmo do Junhui? — A dona do hortifruti do bairro


acentua, descrédula. Ela força uma risada desdenhosa e nega com a cabeça várias vezes.
— Aquele homem assusta minha afilhada toda vez que vem aqui. Homem egoísta,
assustador! Nem olha na minha cara quando vem comprar suas coisas.

— Aquele garoto me causa arrepios, estou falando sério — o policial local dá um gole em
sua caneca de leite quente fumegante, umedecendo os lábios antes de continuar,
encostado no balcão da lanchonete. — Sempre espero o pior dele, mas nada acontece. Até
os garotos encrenqueiros que costumo policiar apostam que ele esconde um cadáver ali ou
é alguma espécie de gênio do mal. Mas, enquanto eu não tiver nenhuma suspeita palpável,
não posso fiscalizar a casa do cara.

— É tão estranho, gata — a garçonete do Domino’s inspira uma fumaça do cigarro e expira
lentamente, olhando para o horizonte, descansando o corpo na borda da porta dos fundos
do restaurante. — Ele nunca dá bom dia, ou boa tarde, e nem sai a noite. Não olha para
nenhuma mulher, mas em compensação ignora a presença dos homens totalmente. Parece
que ele se sente superior a nós, como se não fossemos dignos de sua atenção.

— A gente meio que se acostuma com esse jeito dele de se comportar como um espectro
— Dona Willow, a senhora que mora ao meu outro lado comenta, sentada junto comigo na
namoradeira rustica de sua varanda. — Também já tentei levar algo para ele, mas Jun
apenas aceitou e foi embora. Nunca ninguém ouviu ele falar nada. Talvez não tenha pais
que tenham dado educação para ele.

— Me dá um dólar, tia?

— Mas o que você sabe sobre o… — eu começo a me achar para ficar na altura da criança
da casa ao atravessar minha rua.
— Me dá a porra do dólar, tia.

— Ok, ok — jogo uma moeda para ele e saio correndo.

A parte mais triste de tudo isso é que não tenho chances para refutá-los, porque Jun
correspondeu todas as expectativas dos outros. Exceto, eu acho, a parte do psicopata com
cadáveres, espero. No final do dia, deixo meus ombros caírem, cansada. Tenho um
caminhão de reclamações e alguns de seus podres, mas o que posso fazer com tudo isso?
Nada. Não consigo fazer nada sobre sua natureza fechada e rude, nenhuma brecha para
me aproximar.

Junhui teve a capacidade de murchar a minha autoestima até virar uma uva passa. Mas,
entretanto, porém… se eu acreditasse mesmo na opinião dos outros sobre alguém que não
conheço, claramente não o tocaria nem com uma vara de três metros.

Se.

Isso ainda não é o bastante.

Mal sabia eu que, naquela mesma noite, minha sorte estava prestes a virar.

22h38 p.m

Com a luz âmbar deixando meu quarto em um breu aconchegante, eu separo minhas
coisas para a aula de amanhã. Arrumo algumas roupas, guardo alguns itens de papelaria,
arrumo a caminha do Wasabi, e sento na minha penteadeira para pentear meu cabelo.

E é em uma escovada nos meus fios e outra que eu percebo o que está de diferente. Sinto
um olhar queimar minhas costas, lentamente, firmemente. Dos meus pés até o último fio da
minha cabeça. Discretamente, trilho o olhar para o reflexo do espelho da minha
penteadeira, encontrando a minha janela aberta, as cortinas voando levianamente com o
vento refrescante da noite… para a outra janela aberta.

Quase me sobressalto da cadeira. Ele nunca deixa nenhuma janela aberta, principalmente
as cortinas. Mas ali estão, seu quarto engolido na escuridão, como se ele não quisesse ser
visto. Mas sei que ele está ali, sinto seus olhos em mim. Engrosso minha garganta, sentindo
o nervosismo brincar com as borboletas no meu estômago.

Sei que conseguiria flagrar ele se eu levantasse daqui e se me apoiasse no batente da


janela, mas aí seria muito fácil para ele desvencilhar do meu olhar e fingir que não estava
ali. Ele está muito bem escondido na escuridão, mas, se seus olhos brilhassem, o
entregariam me encarando dali.

A verdade caí como uma bigorna sobre mim. Ele está me espiando!

Sei que devo sentir medo, mas isso só faz os pelos da minha nuca se arrepiarem em
excitamento. Tenho vontade de rir até perceber o quanto esse jogo agora está em minhas
mãos. Não preciso ser aquela garota afobada e eufórica, tonta para chamar a atenção dele.
Se eu quero que ele tire algumas fotos minhas, vou atrair sua atenção inconscientemente.

Começo penteando meus cabelos mais devagar, deixando os olhos dele demorarem nos
meus cabelos antes de realmente me levantar e fazer algo mais interessante. Fingindo que
não sinto ele ali, espreitando na sua janela e olhando para meu quarto, me levanto com o
rosto impassível. Sem perceber também que a luz quente e baixa do meu quarto ainda faz
ele ter uma visão boa do que estou prestes a fazer ali.

Um por um, retiro os botões do meu roupão. Sem pressa, com calma. Vou fazendo isso até
chegar no último, perto da borda da minha barriga, sob o umbigo. Quero olhar para ele,
quero ter a certeza que ele ainda está me assistindo, mesmo que eu ainda sinta que estou
sendo crucialmente observada, extraindo cada detalhe de mim. O revestimento do meu
estômago se abre e vergonha e timidez fluem como ondas, passando por mim como uma
chama acesa assim que deixo o roupão cair no chão, em volta dos meus pés.

Estou mesmo fazendo isso? Estou me despindo na frente do meu vizinho, que está me
espiando? Estou mesmo sendo vulgar e ousada dessa maneira?

O silêncio do outro lado é ensurdecedor, inquietante, cheio de expectativas e me dá forças


para continuar. Imagino ele me devorando com o olhar, umedecendo os lábios na
esperança de ver mais, de torcer por mais. O peso por trás disso não importa, eu finalmente
havia arranjado uma maneira de chamar sua atenção e me fazer sentir poderosa.

Quando minhas mãos alcançam a borda da minha camiseta do pijama de flanela, o latejar
surdo do nervosismo quase me faz perder o equilíbrio. É oficial. Estou só de sutiã e shorts
do pijama na frente do meu vizinho. Antes que eu possa raciocinar e me arrepender desse
streaptease, vou para os meus shorts, a fim de abaixá-los e acabar logo com isso.

Até que uma luz ao meu lado é acesa.

Sei que deveria fingir que não o notei ali, mas é a primeira vez que posso ver uma pequena
visão do paraíso que é ali dentro. E, de outra forma, não esperava que ele fosse realmente
acender a luz.

Mas Junhui está de costas para mim, e não sei o que ele vai fazer até ele esticar sua coluna
e retirar sua camisa.

Não.

Não.

Malditamente não.

FODIDO.

Fico assim, imóvel, com as mãos no meu shorts como uma criança que acabou de se mijar
nas calças. Pela forma como seus músculos quentes e bem definidos se contorcem ao
retirar a roupa, isso me diz que meu querido vizinho teve a mesma ideia que eu e resolveu
rebater no mesmo jogo sujo.

Parece que meu corpo todo foi sacudido por um tornado, porque suas mãos não hesitam
em abaixar suas calças. E voilá. A bunda do meu vizinho sob sua cueca boxer preta acabou
de PISCAR PARA MIM!!

Seu lindo rosto emerge na minha visão quando ele toma a brilhante decisão de se virar para
mim. Mas Jun não me olha, salvando de uma grande humilhação. Parcial. Porque pela
maneira como um sorriso descansa calmamente em seus lábios, eu sei que chamou a
minha atenção. Agora sou eu que o observo, e não estou à espreita e nem escondida.
Estou parada na luz, só de sutiã e com as mãos nas bordas do shorts, parada em choque.
E ele sabe disso.

Junhui sabe.

Meu coração começa a inflamar quando, ainda com um sorriso no rosto, Jun pega em sua
boxer e…

Corro para a janela e fecho as cortinas com tudo.

15:20 p.m

Bem, vamos anunciar a hora da morte: 15:20 da tarde.

Tudo começou quando Wasabi, meu anjinho da guarda e cão fiel, saiu correndo para o
quintal. Estava terminando de fazer um lanche da tarde e, de forma capenga, vou atrás
dele. Assobiando por aí, meu pug coça suas costas nas raízes bifurcadas de uma árvore
que havia ali, entre minha casa e a casa de dona Willow, um pouco longe demais para a
visão de Jun.

Suas costas e sua boxer ainda estão impressas na minha mente e não querem descolar de
lá desde ontem a noite. Acho que zerei minha prova de hoje na faculdade, o nervosismo e a
tensão estão velados em meu corpo. Sou uma condenada por estar obcecada por Jun.

Fico observando Wasabi balançar o rabinho manchado de verde em algumas folhas na


terra, até que algo chamou minha atenção. As luzes do sol preguiçoso no céu derramam
luzes líquidas, repartindo o céu azul no meio e atravessando os galhos das árvores. É uma
visão linda, e um ótimo lugar para… tirar fotos.

A ideia é um sentimento bem vindo, então corro para dentro de casa pegar meu celular e
disparo até a árvore. No meio do caminho, algo me ocorre: não tenho experiência em subir
em árvores, por isso, dou meia volta e agarro a primeira coisa que me aparece no caminho
da garagem. Retiro a corda do suporte e vou voando, antes que a boa iluminação se
esvoaça e vá embora. Eu posso provar de outra forma que posso ser uma ótima modelo.
Vou eu mesma tirar minhas fotos e arranjar uma maneira de ele ver e aprovar.
Amarro a corda no meu tornozelo direito, de modo firme para não escorregar e me
abandonar nessa aventura. Então, com Wasabi me assistindo com um olhar questionador,
sua cabecinha levemente inclinada para o lado, começo a subir.

A princípio, é dolorosamente difícil, minhas palmas pinicam com a aspereza dos galhos, o
tronco escabroso complicando minha escalagem. Mas, à medida que vou pegando o
impulso da coisa, vou subindo cada vez mais alto. Wasabi late embaixo, mastigando a
corda que vai subindo com os meus pés. Me parece como um aviso, mas o ignoro assim
que chego no galho que eu queria.

Tomo um momento apenas para observar a paisagem, o sol brilhando sob sua magnitude.
Vejo Dona Willow alimentar seus passarinhos na varanda, o garotinho que me roubou um
dólar voltar para casa de skate, o carro do policial indo embora no limiar do bairro. É um
bom lugar para espiar as coisas, mas não me dá uma boa visão da casa de Jun e do
próprio. Então não me interessa muito.

Vou tirando as fotos e, à medida que o tempo passa, vou me sentindo mais confiante para
variar nas poses e mudar os ângulos das selfies. É claro que a excelente iluminação só
aumenta minha autoestima, vou tirando as fotos esporadicamente até eu perder o tempo e
a bateria do meu celular gritar por socorro.

Passo uma perna para o outro lado. E paro.

Como vou descer daqui?

Eu não havia chegado nessa conclusão ainda quando começo a me desesperar. É certo de
que nunca subi em uma árvore antes, e muito menos desci; no entanto, se fiz uma coisa,
posso fazer a outra. Milhares de estratégias brotam no meu cérebro, mas nenhuma parece
funcionar. Céus. O que eu vou fazer?

Abraço o tronco da árvore, recorrendo à minha última tentativa: vou tentar escorregar o
tronco todo. Mesmo que ele seja escabroso, e pinicante, e pequenas farpas de madeira
furam a minha pele. Uma vez firme agarrada no tronco, espero a coragem aparecer para
tentar me impulsionar para baixo.

Um latido.

Olho para baixo e meu cérebro gira 360 graus. Tontura me preenche aos poucos e eu
arranho um gemido. Merda. É alto, é muito alto.

Outro latido.

— WASABI FICA NA SUA, EU JÁ ENTENDI — Grito, irritada.

Latido. Latido. Latido.

— Wasabi… — eu começo, abrindo os olhos aos poucos.


Agarrando a minha corda com a boca cheia de baba, ele dá as costas para a árvore e
começa a correr. Só lembro que essa mesma corda está conectada no meu pé quando o
puxão da corda fica cada vez mais forte.

Ah, meu Deus.

Um puxão agudo e intenso agarra meu tornozelo direito e me faz voar da árvore. Eu grito e
continuo gritando quando o resto da corda se prende no galho firme o qual estava sentada e
me faz ficar pendurada de cabeça para baixo na árvore. Em algum momento da fuga,
Wasabi esquece da corda e entra dentro de casa, inocente e calmo como um anjo. E eu fico
ali, pendurada de cabeça para baixo no galho.

— PUTA QUE PARIU! — Exclamo, em plenos pulmões. — SOCORRO! SOCORRO!


ALGUÉM ME AJUDA, PELO AMOR DE DEUS!

O vento bate e me chacoalha ali, intensificando a tontura e a dor no meu tornozelo. Eu fico
balançando na árvore como uma folha presa na ponta do galho. Continuo gritando até que
alguém me perceba ali.

Mas não faço isso por muito tempo, porque nos dois minutos que se passaram comigo
observando tudo de cabeça para baixo, centenas de tons de branco inundam a minha pele
quando alguém alto e esguio corre em minha direção. Surgindo como um raio de sol no
horizonte, madeixas castanhas, peitoral nu e uma toalha agarrada em seu quadril, acabei
de tirar Junhui do banho. De novo.

E acho que estou mostrando meus peitos e toda minha barriga nua com a camisa toda
embolada no meu pescoço. Uma visão espetacular da minha seminudez mais uma vez. Só
que de uma maneira um pouco diferente.

— ME TIRA DAQUI! ME TIRA DAQUI, POR FAVOR! — Eu imploro, ignorando as


cerimônias. Lágrimas quentes acumuladas borbulham nos meus olhos, ameaçando cair.
Com dor. Com vergonha. Com tudo.

Também tento não reparar como, mesmo em uma situação como essas, Jun não fala nada.
Apenas impulsa para cima na árvore e agarra as minhas pernas. Não sei o que ele está
fazendo, ou como, mas o nó no meu tornozelo se afrouxa e caio para baixo em câmera
lenta.

O chão me encontra em um baque surdo, mas não sinto muito a dor nas minhas costas
quando Junhui desliza para cima de mim, seus cabelos molhados pingando na minha testa.

Então sua toalha cai da cintura.

Ele dardeja o olhar para mim e para baixo. E eu faço o mesmo. Fogo sobe pelas minhas
bochechas.

Então grito duas vezes mais alto.


17:00 p.m

— Meu Deus, eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo.

Espero ele voltar da cozinha para ficar repetindo o quanto eu sentia muito. Mas, bem lá no
fundo, fico feliz que sua toalha tenha caído da cintura, não fui a única que passou vergonha
ali. Se é que aquilo deveria se chamar de vergonha, porque ele não tinha nada para se
envergonhar naquele departamento.

Respiro fundo. Por que certas coisas tinha que acontecer comigo? Limpo o tronco da minha
garganta enquanto absorvia seu apartamento simples, moderno mas aconchegante. Não
tinha nada de especial, ao mesmo tempo que tinha tudo, simplesmente por ser dele. Não é
cheio de pinturas ou fotografias quanto achava que era. Na verdade, é apenas uma casa
tradicional e bem arrumada e limpa.

A vergonha de hoje vai estar congelada na minha mente para sempre, mas, pelo menos,
consegui algum avanço aqui. Quando Junhui volta para a sala, onde estou sentada no seu
sofá cor de creme com a perna descansando em uma poltrona, ele carrega consigo um
copo de água e um pano quente.

— Você não precisa fazer isso, se não quiser — eu comento assim que ele se aproxima do
meu flanco o suficiente para me entregar o copo de água. O pano quente fica sobre meu
tornozelo inchado.

Jun puxa outra poltrona cor de creme e senta ao meu lado. Sua mão encosta na minha
perna e, com a outra, ele me entrega um celular. Não é meu. É dele.

Tem certeza que você está bem? Está escrito nas notas.

— Tenho — suspiro. — Olha, eu sei que…

Espera.

A constatação é um processo dolorosamente lento no meu cérebro, drenando meu foco.


Percebo duas coisas: Essa é a segunda vez que ele fala comigo, a primeira foi: “Você está
bem?” E a segunda é: Ele não falou realmente comigo. Apenas escreveu as duas vezes nas
notas de seu celular. E eu só fui perceber dez minutos depois.

A ficha vai caindo e ele me encara com expectativa.

Vendo que não ia pegar seu celular, ele volta a digitar, seus dedos rápidos e furiosos
colidindo contra a tela. Ele mostra para mim mais uma vez, seus olhos alarmantes e a boca
entreaberta.

Você vai desmaiar? Vou pegar mais água para você.


Ele se levanta mas eu agarro seu braço a tempo, antes que ele se afaste de mim. Ficamos
assim, nos encarando por um tempo.

Percebendo que agora eu sei, Junhui respira fundo e faz um movimento ínfimo com a
cabeça.

Uma concordância.

— AI MEU DEUS, VOCÊ É MUDO!

Jun me encara, neutro.

— VOCÊ É MUDO! VOCÊ É MUDO! VOCÊ É MUDO!

Eu começo a dar soquinhos no ar em comemoração. Eu sabia que ele não era nada daquilo
que falavam! Ele não era rude, ou bruto, ou mal educado.

— Eu não sei como eu não adivinhei isso antes! Eu…

Jun corta o ar com um suspiro e meu sorriso imediatamente desbota no rosto. Eu estou
comemorando como se tivesse ganhado o bolão da copa do mundo? Eu estou mesmo
torcendo com a minha nova descoberta e por ele ter falado comigo? Choque entrelaça
meus sentidos, e as lágrimas de antes voltam a nadar na borda dos meus olhos.

Jun quase se joga em cima de mim, fazendo alguns gestos com os braços, com um sinal
universal do que só posso adivinhar que é: NÃO CHORE! NÃO CHORE!

— Eu sinto muito — eu choramingo, passando as costas das mãos nos olhos.

Jun sorri, mas o sorriso não chega em seus olhos. Na verdade, eles me encaram
apologéticos. Como se também sentisse muito.

— Eu não sei linguagem de sinais — eu lamento, com raiva de mim mesma.

Ele parece se lembrar das notas, então pega o seu celular do colo. Escreve alguma coisa
por segundos que parecem eternidades. Entrega o celular para mim e, dessa vez, eu o
pego.

Não precisa sentir muito, não é como se você fosse a culpada por isso. Eu não
espero que você saiba a linguagem de sinais, de qualquer maneira.

Mas por que ainda me sinto culpada? Sua resposta não ajuda muito, e assim que ele
percebe, volta a digitar. Quando mostra o celular para mim, ele apagou a última mensagem
e escreveu uma nova.

Pare de se desculpar, não quero que sinta dó de mim. Eu sou assim desde que nasci,
não tenho um passado traumático. Na verdade, você foi a que teve a melhor reação
até agora.
Espero por momentos que se arrastam lentamente, esticando um no outro, apenas para ter
a certeza de que ele está falando sério. De fato, correspondendo às suas palavras, seu
corpo age igualmente de acordo. Seus músculos se contorcendo e acomodando as gotas
de água que ainda escorrem de seu corpo, seu pomo-de-adão quieto no pescoço bem
anguloso, seu rosto não esboçando nada além de uma expressão um pouco afetuosa.

Mesmo assim, mesmo que eu tenha sonhado com esse momento desde que me encontrei
obcecada pela identidade do meu vizinho, não consigo encontrar alívio nessa cena. É tudo
o que venho sonhado desde então: ele pós-banho, me olhando com essa ternura enquanto
estou deitada em seu sofá e ele levemente inclinado sobre mim. Culpa toma conta do meu
rosto.

Eu pego em seu celular e digito, o som das minhas unhas batucando na tela de vidro o
único som entre nós: Eu devo ter feito um show e tanto esses dias. Não quero que você
pense que sou assim. Eu só estava curiosa a seu respeito.

Pelo leve tremor nos olhos de Jun, acho que ele leu a resposta, pelo menos, uma cinco
vezes. Então digita:

Você não precisa digitar, eu te escuto muito bem. Quero poder escutar sua voz, não a
esconda de mim. Por favor.

Assim que demonstrei entendida, ele apaga e reescreve:

E me peguei curioso: de qual show você está falando, exatamente? Se é o mesmo


que estou pensando, eu gostei. Muito.

Não detenho o choque, mesmo quando ele pisca para mim em acinte, ciente das minhas
reações biológicas e hormonais com absolutamente tudo o que ele faz. Não sobrou um
fiapo de consciência em mim depois disso.

— Ok, está na hora. Esse navio está zarpando.

Tento me reerguer da colcha em um ímpeto, mas Jun se aproxima mais, me empurrando


cuidadosamente para trás. Suas mãos largas e os dedos finos prendem meus ombros, e
tenho quase certeza que é a única força e pressão que me mantém sã nesse momento. Se
ele continuar me tocando assim, firme, não sei se sou capaz de impedir mais um desmaio.

Mal vejo ele digitando a resposta, ainda processando seu toque em mim. Ele já está
estendendo o celular em minha direção:

Estou brincando, não quero que você vá. Fique aqui comigo. Ainda estou preocupado
com seu tornozelo, e não me sinto bem sabendo que você está sozinha e machucada.

— Como você sabe que moro sozinha? — Eu me pergunto em voz alta. — E estou aqui do
lado.
Junhui nega com a cabeça, seus cabelos quase secando respingando pouca água. Ele
ignora meu primeiro comentário.

Não é o bastante, longe demais para mim. Eu quero você bem aqui.

Ele dá alguns tapinhas na estufa do seu sofá, bem ao lado de onde estou sentada. Ele não
dá indicação de que percebeu que voltei a ficar enrubescida como o inferno, ou foi bondoso
o bastante para ignorar.

E porque também quero saber de uma coisa.

O incentivo a continuar, mesmo lutando contra meus próprios neurônios pela forma
brincalhona que ele incorporou de repente.

— Uma pergunta por outra. — Sugiro.

Jun pensa um pouco, então encolhe os ombros, aceitável.

Por que você estava em cima daquela árvore?

Claro, eu já deveria saber que essa pergunta uma hora viria. E como ele não foi nada além
de honesto comigo, resolvo ser com ele:

— Eu queria tirar fotos de mim, e a luz estava melhor lá do que entra na minha casa. Eu
queria… — engulo o nó na minha garganta, forçando expelir aquelas palavras tímidas. —
Não sei, acho que queria me sentir bonita.

Minha voz vacila, e eu resolvo parar por aqui.

Ele estendeu o silêncio por mais tempo do que o agradável, então começo a ficar inquieta,
nervosa. Será que pareço boba demais? Não deveria ter dito isso, a ideia de uma mulher de
vinte cinco anos que não tem auto-estima parece meio tola dizendo em voz alta.

Paro de me remexer quando a mão dele entra em ação mais uma vez, forçando minha coxa
a ficar estável sob seu toque. Eu congelo meus músculos como se o Papa tivesse acabado
de me abençoar e eu não sei se pulo e o agarro ou desmonto inteirinha. Seu rosto parece
meio espinhoso, como se ele não tivesse gostado do que eu disse, mesmo com sua mão
carinhosa e calorosa cobrindo minha coxa.

Estou prestes a me desculpar, parecendo mais apologética do que nunca, quando ele digita
mais rápido do que as outras vezes:

Não entendo o que você quer dizer. Você é a garota mais linda que eu já pus meus
olhos. Por que você não se sente como uma? Não faz sentido. Não deve fazer.

Seus comentários me fazem lembrar do nó da rejeição que senti esse tempo inteiro, então
me vejo respondendo prontamente:
— Você recebe todas aquelas mulheres dentro de sua casa para tirar fotos, e sim, eu sei
porque roubei seu cartão de trabalho de uma delas. E, quando eu tentava falar com você, e
você me ignorava, eu apenas pensei… eu apenas pensei que…

O aperto de Junhui ficou mais forte na minha coxa. Eu encontro seus olhos, parecendo
tensos e alarmados com minha confissão. Me sinto tão conectada encarando ele bem assim
de perto, seus olhos castanhos me perfurando com uma determinação surpreendente, que
não me lembro de piscar.

Junhui nega com a cabeça fervorosamente, e novamente, não percebo até que ele já tenha
digitado:

Você deve saber que uma coisa não anula a outra. Não é porque eu recebo todas elas
para sessões de fotos que nunca senti vontade de fazer com você, ou que você seja
menos bonita. Darling, eu não posso falar, nunca pude dizer em palavras e isso me
impossibilitou de dizer o quanto eu acho as coisas belas no mundo, e é por isso que
eu sinto que devo mostrar essas coisas de outra forma. Como você deve parar um
momento em suas vidas corridas e falantes para apreciar em silêncio o que sempre
esteve bem em sua frente.

Não respondo até que a próxima resposta esteja pronta. Ele parece pilhado em digitar o
mais rápido possível para não desmanchar esse momento, e eu sinto pena, ao mesmo
tempo que vejo o quanto ele é fofo, por fazer esse esforço para me acompanhar.

O fato de eu ter sido conciso esse tempo todo com você não significa nada. Nada
além da minha burrice. Eu apenas pensei que… bom, se estamos sendo mesmo
honestos um com o outro e abrindo o jogo aqui, eu pensei que você ia zombar de
mim por ser mudo. Na verdade, não zombar, eu sempre soube que você não seria
desse tipo. Mas me considerar menos homem porque não posso falar, ou menos
alguém que seja seu tipo. Se eu fosse sociável com você, ou te convidasse para tirar
fotos, eu ia querer mais. Muito mais. Mas aí eu estaria arriscando demais, o medo de
você não querer voltar para mais fotos ou aceitar ir a um encontro com um mudo era
perfurante demais para suportar.

Nos encaramos por um tempo, até ele respirar fundo e chacoalhar a cabeça. Eu noto isso, o
quanto errei agora. Junhui não é inexpressivo, ou inescrutável. Ele demonstra muito suas
emoções nas sobrancelhas, nos ombros, no peito ao respirar fundo, nas maçãs do rosto se
contorcendo. Ele não pode dizer em palavras, então seu rosto diz tudo o que é preciso,
necessário.

Não me orgulho de ter tratado você daquela forma. Você, mas não me arrependo de
ser alguém ignorante para o resto do mundo. Acho que considerei ignorar como a
melhor forma de tentar superar esse crush que tenho por você.

— Você descartou sua chance comigo sem antes mesmo de tentar? — Eu pergunto em voz
alta, presa em um estado catatônico.
Saio da minha languidez quando o espaço entre seus ombros e as omoplatas ficam tensas,
mas ele fez sua melhor expressão de indiferença.

Acho que sim. Não parece sábio falando para você agora, mas fez sentido para mim
quatro anos atrás.

— Espera — eu sou desprovida de qualquer racionalidade quando gesticulo minhas mãos


freneticamente. — Você também teve crush em mim faz quatro anos?

Suas sobrancelhas arquearam, indo encontrar na ponta da testa.

Também?

Eu o ignoro para sentir esse vórtice de sensações no meu estômago revestido de


borboletas.

— Você realmente me acha bonita?

Meu coração se condoeu quando registrou todas aquelas palavras, e eu não me sinto
ofendida pela careta que ele me lança agora.

Eu viajei ao redor do mundo a minha vida inteira, tirei mais fotos do que vezes em
que pisquei. E em nenhuma delas eu me encantei mais do que quando vi você correr
atrás do seu cachorro verde no seu dia de mudança.

E eu estava lamentável, de camisa flanelada xadrez vermelha e calça cinza, os cabelos


presos e o óculos escorrendo no nariz. Mal posso acreditar. Devo estar mesmo sonhando.
Junhui pega em minhas mãos e as aperta firmemente.

Darling, você é a garota mais linda do mundo. Talvez não para o mundo de verdade,
mas isso não importa. No meu mundo, você é.

Eu aperto seus dedos de volta, emoção transbordando nos meus olhos.

— Então eu não quero tirar mais fotos.

Como assim? Ele parece um pouco preocupado e talvez ofendido.

— Eu quero tirar fotos do seu lado. Quero te ajudar nas suas sessões de foto, se você
precisar de uma ajudinha.

Jun parece pensar um pouco, mas então, um sorriso surge em seu rosto que parece quase
doloroso.

Tem certeza? Você quer tirar fotos junto… comigo?


Eu concordo fervorosamente. Perscruto o olhar em volta da sua casa, na porta no final das
escadas que assumo ser seu estúdio, então passo o olhar em todo seu corpo e em seu
rosto esperançoso e delicado.

— Quero poder ver a vida em seus olhos. Você não precisa falar nada.

Eu posso ver seu sangue fervilhar daqui, o brilho em seus olhos quase cegando a cor
ébano em suas orbes. Então, Jun fica em pé e me agarra antes que possa registrar ele se
inclinando em minha direção. Um braço sob meus joelhos e outro em meus ombros, ele
começa a me carregar escada acima. Com um sorriso bobo no rosto, ele me leva até seu
estúdio alegremente.

Mas, antes que possamos entrar em seu estúdio de fotos, eu pergunto:

— Afinal, você gostaria de saber o meu tipo?

Jun para de andar e me olha, confuso. Quando vê que estou falando sério, uma cor
avermelhada começa a nascer na região de suas bochechas. Limpando a garganta, ele
desvia o olhar e concorda quase imperceptivelmente; se eu não tivesse, literalmente, eu seu
colo, talvez eu não pudesse ver.

— Acho que meu tipo é… alguém que nem o Adam Driver.

Ele franze o cenho, demonstrando que não é a resposta que ele gostaria de ter recebido.
Há uma pergunta também em seus olhos, suas mãos tensas me segurando.

— Você não conhece ele? — Pergunto inocentemente.

Jun nega com a cabeça, emburrado.

Dou de ombros, indiferente. Então dou um tapinha de leve em seu ombro.

— Não se preocupe, você se parece muito com ele. Até achei que ele fosse meu vizinho por
um momento. Já pensou em comprar um cavalo e andar com ele na chuva?

Passo a semana seguinte sendo a ajudante do meu lindo vizinho. Jun tira as fotos e eu
ajudo montando o cenário e na edição das fotos. A princípio, começamos como uma
brincadeira, mas vou me dedicando conforme as modelos vêm e vão. Junhui até mesmo
começou a sugerir me pagar, antes que eu o cortasse imediatamente.

— Realmente, não preciso de dinheiro nenhum. Só quero ficar do seu lado e te fazer
companhia.

Ele ficou me encarando por um tempo, e, se eu não o conhecesse melhor, poderia dizer
toda a emoção que transbordava em seus olhos era tão luminosa que pareciam lágrimas.
Eu fico me perguntando: Quanto tempo ele está sozinho? Alguém já falou essas palavras
para ele? Ao mesmo tempo que meu coração se dissipa em mágoa, se enche de alívio em
saber que sou a primeira a dizer.

E ele me compensa melhor do que jamais poderá saber, sorrindo para mim, fazendo suas
expressões engraçadas, xingando o Adam Driver com nomes inimagináveis pelas notas de
seu celular, descansando sua mão na minha coxa enquanto editamos fotos, me abraçando
por trás enquanto ajustava a câmera nas minhas mãos, me deixando cochilar e até mesmo
dormindo um pouco comigo no sofá de sua sala.

Na segunda semana, estou mais na casa dele do que na minha. Passo aqui o dia inteiro, de
manhã até de madrugada, exceto às vezes que acabo dormindo aqui depois de assistir um
filme com ele ou ficar até tarde tirando fotos criativas e editando outras.

É por isso que Wasabi está aqui, mordendo seu ossinho no canto do estúdio de Jun. Meu
alto e moreno vizinho às vezes lança um olhar para meu cachorro, então passa o olhar para
mim e termina na sua câmera. Faz isso algumas vezes, e eu pondero se ele um dia já teve
um cachorro, mas não protestou até agora com a presença do Wa. Acho que, na verdade,
ele encara o rabinho verde dele.

Quando ergo a cabeça do computador para observá-lo, hábito que faço constantemente,
tem um celular em pé, na minha direção.

Você não fez sua pergunta.

Eu semicerro os olhos, confusa. Jun volta a digitar.

Uma pergunta por outra, lembra? O primeiro dia que conversamos. Eu te fiz uma
pergunta mas você não fez a sua.

— Vou pensar. — É o que digo.

Estou mentindo, preciso me preparar. Assim que ele volta a sentar no banco afastado de
mim, fico refletindo sobre.

Uma lasca de culpa perfurante se aprofunda até o meu âmago, lembrando da minha
pergunta que não fiz: o fato de estar arrependida por ter ido atrás de todas aquelas pessoas
que disseram todas aquelas bobagens. É claro que Junhui sabe sobre isso, sua imagem
sobre os outros, mas realmente não se importa. Mesmo assim, me sinto culpada por ter ido
atrás deles e escutado tudo isso quando claramente não corresponde à verdade.

— Você não se importa? — Indago, em algum momento entre o pós-almoço e o anoitecer.


Estamos em seu estúdio, ele, organizando e arrumando suas câmeras e eu, sentada na
mesa, ajudando a editar algumas fotos. Espero ele virar suas costas para me encarar, a fim
de eu continuar o que estava dizendo. — As pessoas te chamando daquelas coisas
horríveis, achando que você é um brutamontes. De agir como um espectro para eles.

Vejo que ele pensa um pouco, a câmera aberta descansando em suas mãos largas e
firmes. Seus dedos longos me chamam atenção quando ele deixa a câmera de lado para
digitar algo em seu celular. Seus olhos e seu rosto estão neutros, como se eu tivesse
acabado de perguntá-lo se ele achava que iria chover. Ele estende seu celular dali mesmo.

Gosto assim. Gosto da paz.

Sua resposta parece filtrada, cuidadosamente diluída. Olho para ele, com uma pergunta
evidente nos olhos. Não te machuca? Te ofende? Ele me entende, mas apenas encolhe os
ombros, apático. Então volta a trabalhar como se não fosse nada demais. E talvez não seja.

Sua maneira indiferente de lidar com a opinião dos outros apenas para ficar em paz me
deixa pensando por um tempo.

Na hora do jantar, estamos comendo comida japonesa. De novo. É a quinta vez durante
essas duas semanas que estamos deixando o policiamento de lado e estamos abusando da
comida japonesa. E em todas as noites, eu olho para o wasabi e dou uma risadinha.
Quando ele pega a comida japonesa da noite com o entregador e deixa na sua mesa de
jantar, abro um sorriso de orelha a orelha ao ver nossos sushi.

Por que o nome do seu cachorro se chama Wasabi? O celular reaparece do meu lado.

Quebro meus hashis antes de responder.

— Depois do primeiro mês que adotei Wasabi, ele era bem neném, por isso vivia indo no
veterinário com ele para deixar ele no banho. As coisas ficaram apertadas para mim com
dinheiro, o banho era bem caro, então comecei a observar como a veterinária dava os
banhos, para poder repetir depois.

Eu mastigo um pouco de sushi enquanto Jun escutava e assentia silenciosamente, também


devorando sua comida. Wasabi, ao perceber que estávamos falando sobre ele, rebolou
saltitando até as pernas de Jun. Sorrindo com o esfrega-esfrega do focinho em seus pés,
Jun apanha o cachorro e o pousa em seu colo para casualmente oferecer seus carinhos.

Maldito cachorro sortudo.

— Acontece que eu posso ter usado as coisas erradas para isso. Eu errei o shampoo e a
ponta do rabinho dele ficou suja de verde, pouca coisa, mas ainda sim bastante visível. É
uma bola, um círculo verde desgastado como… — Gesticulo o hashi prendendo um pedaço
de salmão para Wasabi, lambendo contente as costas da mão de Jun. Não sei porque
espero que ele complemente minha frase, já que só pisca seus lindos cílios negros e
volumosos para mim. Prossigo: — … Wasabi.

Jun começa a rir, sua risada silenciosa sacudindo seu peito, tremendo sua garganta. Ah!
Não sei porque esperei que ele não pudesse dar risada, é claro que pode. Imediatamente
me repreendo por ter ficado tão surpresa, e algo na minha expressão estupefata só o faz rir
mais. Ao mesmo tempo que desejo profundamente saber o som de sua risada, nesse
momento, não importa. Eu o fiz rir. Já é o bastante. Na verdade, é incrível e eu me sinto a
garota mais legal do universo.
Eu sei que ele brigaria comigo se eu contasse, então aproveito seu momento disperso para
correr e pegar a câmera no sofá. Quando ele volta a abrir os olhinhos, já disparei alguns
flashes em sua direção. Seu sorriso vai desbotando aos poucos, dando lugar a confusão e a
breve cegueira com os flashes bem em frente ao seu rosto. Quem não gosta também é
Wasabi, que pula do colo de Jun e vai fazer suas necessidades não tão longe dali, mas
desaparecendo gradativamente para a cozinha.

Dou de ombros, como se isso justificasse minha ousadia de tirar algumas fotos suas
despercebidas.

— Eu acho que, depois de todo esse esforço, mereço umas fotos do melhor fotógrafo do
mundo sorrindo.

Os cantos da boca carnuda de Jun se projetam para cima levemente, mais uma vez, em
uma falsa tentativa de sorriso galanteador. Seus olhos me provocam como se dissessem: É
mesmo?

Aquiesço, articulando um suspiro para lá de dramático.

— Claro, não faz sentido você tirar foto de coisas tão bonitas e esquecer a principal delas.

Agora o sorriso de Jun aumenta, e para o meu azar, ou não, ele gesticula com os dedos
para eu me aproximar. Contente e um pouco hesitante, eu me aproximo rapidamente para
onde ele está sentado. Jun, com uma mão, dispensa a câmera de lado, e faz isso me
olhando com aquele brilho resplandecente no olhar, como se ele não pudesse olhar para
nada ali, se não eu. Com a outra mão, ele agarra no cós do meu jeans, puxando-me para
um pouco mais perto, me ajeitando entre suas pernas abertas.

Entrego seu celular para facilitar sua comunicação. Não deixo de esconder um sorriso
quando vejo sua resposta.

Seguindo sua lógica, faria mais sentido se eu tivesse suas fotos aqui.

Estalo a língua no céu da boca, como se recusasse a ideia.

— Eu prefiro a minha sugestão — eu aponto para a câmera ao nosso lado. — E essas fotos
são exclusivamente para a fotógrafa. Obrigada.

Seu rosto diz: Não sou eu quem vou impedir.

Então suas mãos ameaçam descer lentamente. Engulo as palavras secas na minha
garganta, me esquecendo automaticamente do que eu ia dizer assim que sinto seus dedos
exploratórios um pouco abaixo do socialmente aceitável. Quando vê que eu fiquei tensa,
Jun solta ar pelo nariz, então pega o celular.

Eu gosto do Wasabi.

Sorrio, feliz.
Ele me entrega o celular novamente, em tempo recorde.

Mas gosto muito mais da dona.

Jun pegou-me pelas mãos e me puxou para seu colo. Até aquele momento, nada poderia
impedir que ela visse o brilho faminto nos olhos dele, a representação do perigo. Junhui
flexionou aqueles bíceps poderosos, empurrando seu corpo para ainda mais colado ao seu.
Eu preciso suprimir um arrepio, na minha nuca, uma gota de suor escorre. Não estou tensa
porque não quero isso. Estou nervosa porque finalmente tenho isso, depois de tanto sonhar,
depois de tanto olhar para as estrelas e apenas desejar. Que ele me olhasse como está
olhando agora, com tanto desejo, paixão, fervor, cuidado, preocupação. Que me tocasse
como está tocando agora, como se não se contesse mas, ao mesmo tempo, não pudesse
se controlar. Quero dosar todas essas sensações, fazê-lo dosar quando olha para mim.

Parece que transmito essa mensagem para ele, porque ele cuidadosamente pega seu
celular, mas digita apenas com uma mão, a outra, ele continua agarrando no cós da minha
calça, como se tivesse medo que eu fosse me afastar dele. Então ele me prende ali
firmemente enquanto digita habilidosamente com uma mão só.

Não estou em posição de dizer se isso é um sonho ou não. Porque se é, muito


provavelmente é o meu. Um dos incontáveis sonhos que já tive. E se for, darling, por
favor, jamais me acorde.

Ele fica me encarando enquanto eu leio sua mensagem, uma, duas, três, quatro vezes. Não
consigo parar de ler, meus olhos brilham mais como diamantes. Jun sorri ainda mais, então
me puxa para uma abraço. Sinto ele respirar fundo no meu cabelo, provavelmente sentindo
o cheiro das minhas mechas. Ele aperta minha cintura então me afasta antes que possa
protestar, querendo deitar minha cabeça em seu peitoral.

Você tem certeza que quer fazer isso?

— Muita — sussurro, colando minha testa na sua.

Jun fica me estudando, analisando todas as minhas intenções, vasculhando por possíveis
brechas. Quando não encontra nenhuma, volta a digitar rápido e com uma mão só. Ele está
ficando muito bom nisso, mas sinto que é hora de eu começar a aprender linguagem de
sinais. Sim. Terei que fazer isso.

Comigo?

Algo nessa pergunta é tão Jun, ao mesmo tempo, tão, tão, tão especial e única. Eu engulo
uma risada, escondendo o quanto eu achei fofo sua insegurança.

— Nunca poderia ser com ninguém mais — eu o afirmo, colocando minhas mãos em seu
rosto, fazendo seus olhos encontrarem os meus. Quero passar toda minha certeza daquele
instante para ele, por isso encaro intensamente seus orbes castanhos. — Quero você do
jeito que você é. Como você é. Como você vai ser. Eu nunca poderia desejar ninguém mais.
A pele de Jun começa a ficar mais febril sob meu toque, como se ele sentisse minhas
palavras em seu corpo como brasa quente, uma chama acesa. Seus traços delicados
davam um ar de suavidade à expressão de quem começou a ficar emocionado. Seus dedos
ficam mais fortes no aperto em minha cintura, então ele acena afirmativamente com a
cabeça.

Pega o celular novamente.

Esse coração é seu.

Ele encosta minha mão em seu peito do lado esquerdo.

Jamais me devolva, darling.

As mãos de Jun trilharam agora para minha nuca, seus dedos emaranhados em meus
cabelos, puxando levemente e enviando um leve ardor pela minha cabeça. Ah, como eu
sentia. Uma sensação quente, zunindo pelo meu corpo todo, da planta dos pés às raízes do
cabelo. Entre as coxas, derretendo.

Jun me tomou com um beijo tão apaixonado e impiedosamente repentino que eu não tinha
escolha a não ser me entregar. Estrelas explodem atrás de minhas pálpebras, meu coração
comemora em festa. Minha boca amoleceu, a língua de Jun passeou entre meus lábios e
foi mais fundo. Eu fui contra ele, defendendo-me das arremetidas com minha própria língua,
apreciando o modo como nós dois nos entrelaçávamos, nos fundíamos em um só. Seu
rosto vira para um lado, eu viro para o outro, ele vai para frente e eu vou levemente para
trás; ele vai para trás e eu avanço. Em um único ritmo, nos beijávamos como se
estivéssemos ligados em uma só sintonia, sentindo as batidas de um só coração.

Ele gemeu em satisfação, e eu sorri contra sua boca, satisfeita que essas sensações e
esses sons são reais demais para parecer um mero sonho.

Jun cobriu meu pescoço com beijos, roçando seu quadril contra os meus de maneira
impaciente, deliciosa. Se afastou então suas mãos possessivas passeavam pela minha
cintura e bunda, explorando, reivindicando enquanto seu olhar se derretia no meu. Sua
boca inchada só me faz querer beijá-lo ainda mais. Me faz querer morrer porque demorei
tanto tempo assim para tomá-lo só para mim.

Ele pega um cacho do meu cabelo e o enrola em seus dedos, a adoração vívida e pulsante
fazendo minha mente girar e girar e meu coração pular e pular. O toque de Jun então
avança para baixo, beirando em meu decote, onde ele afastou a seda branca que vestia
para revelar uma dobra igualmente pálida do meu sutiã por baixo. Seus olhos brilharam
cegamente em expectativa. As mãos de Jun então deslizam agora para minhas coxas,
procurando o fecho das minhas calças.

Os lábios de Jun roçaram minha face, meu pescoço. A pequena barba por fazer arranhando
minha pele, incendiando seus sentidos. Ele toca no meu queixo e me faz erguer o olhar
para a perfeição de seu rosto. E ali que eu vejo, e me desmonta em inteiro, mais poderoso
que qualquer toque.
Ali ele me diz que sou linda, perfeita. Seus olhos me passam a confiança e a segurança que
nenhuma palavra poderia carregar. Eu sinto, dentro do meu coração, o quanto sou
desejada. Querida. Amada.

Sem esperar qualquer resposta vindo de mim, parecendo meu rosto bastar também, ele
soltou o primeiro botão da minha camisa. Depois outro. E mais outro. O sutiã começou
igualmente a ficar frouxo na parte de frente do seu dorso. O ar morno de sua sala lambeu a
minha pele, fazendo meus mamilos crescerem e endurecerem. A manga esquerda da
camisa se vai, escorregando de seu ombro e revelando mais. Suas costelas pressionavam
o peitoral dele, lutando para respirar e se entregar, de uma vez.

Ele vai fazendo isso enquanto seus lábios roçam o lado do meu pescoço, como se ele
estivesse guardando a visão inteira para de uma vez só, e não se lamentar pedaço por
pedaço. Sua camisa cedeu inteiramente para o chão e Jun deu vários beijinhos com leves
pressões em seu pescoço. Como se por instinto, eu inclinei a cabeça para facilitar seu
acesso. A língua de Jun deslizou preguiçosamente pela minha jugular, atormentando meus
nervos.

As mãos de Jun procuraram novamente as minhas costas, agora, dessa vez, indo para
minhas calças. Ele atrapalhou-se um pouco enquanto abaixava o zíper, como se suas mãos
também tremessem. Aquela sutil sugestão de insegurança, mais uma vez, me trouxe algum
tipo de reconforto.

Calor brotou no meu coração, preenchendo meu corpo inteiro quando tive que me levantar
para a calça também ir de encontro ao chão. Jun respira fundo, uma, duas vezes. Fecha os
olhos, pressiona as pálpebras, como se fosse demais para acreditar. Abre os olhos, respira
fundo e fecha novamente. Seus dedos se contorcem na minha cintura nua.

Eu pego o seu rosto em minhas mãos de uma vez e o beijo seus lábios novamente. Beijar
era tudo o que eu queria fazer agora, e mais. Eles mergulharam um no outro, aprofundando
o beijo, lenta e sensualmente. A língua dele provocava e persuadia, e eu tentava responder
de acordo. Com os ocasionais gemidos meio irregulares saindo de sua garganta, eu tenho
certeza que estou no caminho certo. Nos beijávamos sem pressa, quase brincando um com
o outro.

As coisas começam a ficar mais sérias quando Jun se levanta da cadeira e acaba me
levando junto. Com a facilidade tosca de carregar o meu peso, ele vai caminhando escada
acima. Certo, nada de sofás. Passamos pelo estúdio, descartando algumas de minhas
fantasias também. Ele não se incomoda de acender as luzes quando entramos em seu
quarto, parecendo ainda mais quente do que estava na sala.

Deitando-me em sua grande cama cinzenta, ele pega meus dois braços e estende para
cima, como se eu fosse um espeto. Uma risada irrompe da minha garganta, mas ele logo
me silencia com um “Shh”, concentrado em observar meu corpo. Jun recua um passo, o
colocando sob uma luz melhor do luar. Seu olhar percorreu meu corpo inteiro, cada
centímetro dele. Sob seu escrutínio, meus mamilos exigiam seu toque. Quanto mais o
momento se prolongava, mais impaciente eu começava a ficar.
O que ele conseguia enxergar? Ele gostava do que via?

Um suspiro irregular pulou de seu peito mais uma vez, novamente, sendo mais do que
suficiente do que inúmeras juras de amor. Ele passou o dedo lentamente em meu braço,
passando pelos ombros e mergulhando os dedos no decote da minha calcinha. O toque
incendiou uma trilha ardente no topo de meus seios livres. Notando que eriçou ainda mais,
Jun resolve dar atenção, envolvendo a mão em meu seio. Eu engulo em seco, ansiosa, mas
Jun permaneceu calmo, apalpando o monte macio com uma pressão convidativa, volteando
o mamilo ereto em seu polegar.

Inclinando a cabeça pensativo, ele voltou sua atenção para o outro seio. Agora ele segurava
os dois em suas mãos, apalpando o esquerdo, depois o direito…como se estivessem os
comparando. Homens são tão estranhos. Jun beliscou os dois mamilos ao mesmo tempo, e
eu arfo de espanto e prazer, ao mesmo tempo que me engasgo na risada ao perceber que é
como se ele realmente tivesse acionado os faróis de um carro.

Jun não pergunta porque acabei soltando uma risada frouxa, apenas nega com a cabeça e
avança com a boca para meu pescoço. Acho que ele não está muito interessado em ouvir o
que se passou pela minha cabeça. Acho melhor ele não saber, de qualquer forma. Gostaria
de permanecer nesse momento, e apenas nesse momento. Obrigada.

Jun pressionou seus lábios contra o côncavo da minha garganta, uma vez, depois outra.
Beijos leves, suaves, que despedaçaram minha resistência, retalharam qualquer
determinação. As mãos dele passeavam pelas suas curvas enquanto os lábios cobrindo
minha jugular pulsante. Passa a lingua ali. Solto um suspiro de aprovação, inclinando a
cabeça para ajudá-lo. Ah, sim.

Ele baixou a cabeça e sua língua passou, certeira e deliberadamente pelo meu mamilo.
Então Jun tomou o bico coberto pelo tecido de sua boca. Eu grito, chocada pela súbita
explosão de prazer. A sensação correu meu corpo todo. Eu nunca havia conhecido algo tão
insuportável e incomparavelmente doce. Ele lambeu, provocou e puxou seu mamilo,
rodopiando-o com a língua em círculos cada vez maiores. Ele deu ao outro seio a mesma
atenção, abocanhando cada curva.

Jun foi surgindo na sua barriga, abaixando os lábios percorrendo seu quadril, sua barriga,
chegando cada vez mais para baixo. Ele apertou a testa no meu umbigo. Sua boca ficou na
união das minhas coxas, quente e perigosa. Ele gemeu um pouco ao passar o rosto pela
minha coxa. Sua mão agarrou meu traseiro. Segurando sua cintura, suas mãos puxam o
tecido da minha roupa de baixo.

Ele pressionou a boca aberta sobre o algodão que cobria a união das minhas coxas. Jun
esticou a língua, tocando-me sobre o tecido, circulando aquele lugar pequeno, secreto, que
podia me dar tanto prazer. O êxtase me ameaçou e meus joelhos dobraram. Minha
respiração ficou pesada, e eu agarro seus ombros com força. Jun aperta sua cintura, como
se correspondesse sua mensagem.

Jun se lançou com um objetivo, então, golpeando-me mais firmemente com sua língua.
Ondas de prazer passavam pelo meu corpo todo, entregando-me à força dele. Com o
ombro, Jun gentilmente empurrou o meu joelho para o lado, abrindo-me ainda mais para
seus beijos. Sensações incomparáveis cresciam mais e mais. A umidade quente da boca de
Jun misturou-se à sua excitação. Ele centrou suas atenções naquele botão inchado e
sensível no cume do meu sexo. Ele lambeu, massageou e mordiscou até eu começar a ficar
tonta, nauseada de prazer. Os músculos da minha coxa começam a tremer. Um ganido
escapou da minha garganta.

O começa a diminuir e diminuir e diminuir… Qualquer outro som penetrável naquele quarto
não era absorvido por nenhum de nós dois. O vento parou de soprar contra a janela. Tudo
foi esquecido.. Nada existia além de nós: sua boca talentosa e cruel, compensando todas
as palavras não ditas, mas sentidas. A alegria intensa crescente do meu peito. Ele me
empurrou cada vez mais alto, até que eu tropeço na ponta do precipício e caio em um
clímax capaz de tremer minha alma e chacoalhar o resto da terra.

Eu grito, embalada por ondas de prazer.

Enquanto eu lentamente voltava para mim, ele me segura firme, apertando a cabeça em
meu umbigo e assoprando e beijando e eu posso escutar, dentro de mim, suas palavras
reconfortantes. Seus polegares desenhavam círculos tranquilizantes nas minhas costas. A
nossa respiração se condensava uma na outra quando Jun flexionou seus braços
poderosos e puxou-me para si, moldando-me agora contra seu peito, rodeada pelo seu
calor inebriante. Eu só percebi que tremia quando Jun me abraçou forte. Só para si.

Jun beija o topo do meu nariz e pega novamente em minha mão, agora mole, mas ela
novamente fica acordada e vivida quanto ele me guia até seu corpo, colocando a palma
sobre o volume que esticava sua calça. Ele manteve a minha mão pressionando-o, e fez
com que eu deslizasse a palma por toda sua extensão. Seu órgão latejou sob o meu toque.

Deixando sua virilidade em minhas mãos, Jun mergulhou ainda mais entre minhas pernas, e
com as mãos afastou minhas coxas. Enquanto ele traçava o contorno do meu sexo,
delicadamente explorando e me provocando, um gemido escapa de ambos os nossos
peitos.

Jun força sua ereção contra a palma da minha mão, gemendo um pouco mais alto,
dando-me a única sensação de plenitude e alegria. Ele movimentou o dedo em um vai e
vem lento, penetrando um pouco mais fundo a cada vez. Embora eu tivesse acabado de
experimentar um clímax dilacerante havia poucos minutos, a minha excitação crescia em
um ritmo espantoso. Logo eu estava arqueando os quadris ao encontro de seus dedos
hábeis, massageando sua ereção contra a minha mão em sincronia com seu dedo.

Jun me beijou intensamente, forçando a abertura de minha boca e mergulhando fundo com
a língua. Eu lutei o máximo que podia para retribuir, mas ele era implacável, me saboreando
com voracidade. Eu gemo contra seus lábios ao mesmo tempo que ele geme e aprova
minhas investidas.

Ele tirou o dedo da minha fenda e eu, inevitavelmente, choraminguei com a perda de sua
pressão e calor. Contudo, minhas lástimas não duraram muito ao vento, quando ele se
colocou sobre mim, ajeitando-se mais entre minhas coxas. Eu tive que abrir-me ainda mais
para acomodar o seu quadril, um ato que colocou meu sexo em contato com a excitação
dele. Jun se esfregou em mim bem no lugar certo, e prazer puro, e ardente, cintilou em
minhas veias.

Jun segurou o meu rosto com suas mãos grandes. Seu olhar sombrio era faminto, como um
lobo. Ele mal conseguiu formular a pergunta que sabia que ele faria, eu já arqueava por
conta própria, meu corpo criando vida, implorando por aquilo. Esfregando-me sinuosamente
contra a excitação dele.

Jun sorriu mas logo sumiu quando ele abaixou a cabeça novamente e chupou e puxou o
bico excitado para o fundo de sua boca, enquanto circulava a ponta sensível com a língua.
Cada nervo meu foi estimulado, ficando tenso e tênue com o prazer avassalador.

Resolvi então descer minhas mãos, puxando sua camisa para fora e chutando sua calça
para baixo, impaciente para ele ficar nu ali também. Meus dedos ansiosamente nadaram
em sua pele febril, explorando os músculos fortes e lisos de seu abdômen e costas. Então
eu enfiei uma das mãos entre os nossos corpos, à procura do tecido de sua boxer. Ele me
ajudou levantando-se levianamente, ansioso, balançou os quadris para tirar mais rápido.

Minha. Nossa.

Os sentidos dela estavam sobrecarregados. O calor e o peso dele encheram sua mão. O
gemido de Jun zuniu ao redor de seu mamilo. Eu o acariciava delicadamente, tanto quanto
as circunstâncias permitiam, deslizando a mão por toda a extensão e deliciando-me com
sua textura. Como veludo cotelê sobre ferro quente. Macio e poderoso. A ereção dele era
uma alavanca quente e ávida entre nossos corpos. Ele investiu contra o meu sexo,
estimulando a sua abertuda com movimentos para cima e para baixo.

O prazer me deixou sem ar, quase inconsciente.

Ele mudou o ângulo, erguendo os quadris dela para cima. Todo meu corpo ansiava por essa
posse e alívio. A força daquele momento era quase demasiada e ela temia desmaiar. E ela.
Não. Podia. Fodidamente. Desmaiar. Logo agora. Em qualquer outro momento da vida dela,
somente não agora. É uma oração.

E eu, de fato, fiquei mais consciente do que nunca quando Jun empurrou-se contra minha
intimidade, só um pouquinho. O êxtase era prometido pela superfície de minha pele. Ele me
penetrou devagar, em estocadas firmes, cada vez mais fundas enquanto meu corpo
aprendia a acomodar o seu. Eu o olhava com olhos arregalados e transparentes, ele me
observava com ansiedade e paixão. Com cada avanço intenso, ele arfava mais, eu
choramingava mais.

Quando ele me penetrou totalmente com uma última e decisiva estocada, eu arfo de dor.
Jun se contorceu, provavelmente sentindo um aperto em seu coração. Ele se abaixa mais
contra mim, me abraçando, seus braços quentes me envolvendo em consolo. Sua testa
pressiona meu pescoço, seus lábios desenhando um pedido de desculpas contra minha
pele úmida. Desculpa. Ele falava com os lábios, em movimento de uma palavra por outra,
cada uma delas. Ele não queria me machucar.
Eu beijo sua cabeça e agarro seus ombros, o incentivando a continuar. O meu corpo se
agarrou ao seu, e Jun soltou um gemido involuntário de prazer. Ele deslizou para fora só
um pouco, para depois mergulhar novamente, ainda mais fundo do que antes. Ele era tão
quente e macio, e tão delicioso.

Jun equilibrou seu peso sobre mim para não me esmagar, então começou a movimentar
seu quadril para trás e para frente, delicadamente. Durante o que me pareciam séculos, ele
se restringiu aos movimentos mais fáceis, menos exigentes, mas o tempo todo, a
necessidade por um vai e vem mais rápido, furioso, aclamava suas veias. Ele me dominou
com pura força de vontade.

Minhas mãos trilharam as suas costas, e meus seios quentes pressionavam contra seu
peitoral. Quando ele deslizou para dentro de mim em seguida, eu deixo escapar um gemido
encorajador. Então ele fez de novo. Uma vez, duas, três. Mais uma vez. E de novo. Eu
arqueei as costas, cavalgando suas estocadas com ritmo.

Ele ergueu a minha perna para me fazer envolver seu quadril, e o meu corpo todo o puxou
mais para dentro. Nós nos beijávamos apaixonadamente. Jun se demorou explorando
minha boca generosa enquanto eu me maravilho com as mil formas que ele pode me
possuir e içar meu coração. O que os beijos perdiam em delicadeza, agora ganhavam uma
energia mais sensual.

As minhas unhas beliscavam os seus ombros, o efeito como uma abelha pinicando e
provocando um touro. Isso pareceu fazê-lo surtar. Os quadris de Jun davam pinotes
enquanto ele entrava em mim repetidas vezes, abandonando grande parte sua gentileza,
em busca de nosso clímax.

Jun bateu as pálpebras e fechou os olhos, rolando a cabeça para trás. Seu pescoço pálido
esticou-se, formando uma curva elegante, erótica, brilhou como mercúrio no escuro. Tão
lindo que fez meu coração doer.

O meu corpo se apertou ao redor dele, e então, gritei. Ele cavalgou com as contrações
extraordinárias do meu clímax pelo máximo de tempo que ele ousou. E, quando percebeu
que não aguentaria mais segurar seu prazer por mais uma estocada, se derramou com tudo
e de uma vez só.

Jun deitou-se, não, caiu com um baque ao seu lado, curvando meu corpo ao seu redor. Nós
ficamos assim por minutos que só parecerem rápidos porque ficamos nos encarando sem
parar. Sinto como se fossem horas e, ao mesmo tempo, rápidos segundos. Fiquei perdida
em sua órbita, inebriada com seu olhar me observando com tanta paixão e ardor que faz
amolecer todos os meus ossos.

Então, algo passa pela minha cabeça e sou obrigada a me retirar lentamente para pegar
seu celular. Só consegui achá-lo porque ele estava caído no chão, junto com sua calça. Por
sorte, nada trincado.

Dou o celular para Jun, que suspira ao desbloquear. Ele tenta me entregar mas eu deixo
para ele. Preciso de sua resposta.
— Você tem alguma palavra favorita? — Pergunto, chamando sua atenção, que me olhou
com uma surpresa agradável em suas orbes. — Uma a qual você pudesse dizer em voz alta
se pudesse, o tempo inteiro?

Jun abre um sorriso lento e provocador, então acena com a cabeça.

Você.

Respira fundo.

… e Wasabi. Muito Wasabi.

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