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Ficha Técnica

SUGAR DADDY
Copyright © 2022 – IANDRADE
Categoria: Romance.

Capa: Lípicus Capista


Diagramação e revisão: Agência Lunas

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por
qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Epílogo
MONIQUE

S
ábado à noite e eu em casa assistindo televisão. Ninguém merece.
Ao menos hoje o dia foi produtivo. Eu saí de casa o mais cedo que
pude, em busca de emprego e mesmo que na maioria das lojas a
resposta tenha sido sempre "não estamos contratando no
momento", eu fiz questão de deixar meu currículo em cada uma
delas, com a esperança de me ligarem.
Pela tarde consegui dar uma boa arrumada em casa. Não é
porque moro sozinha que preciso viver em um chiqueiro completo.
Meu telefone toca no minuto seguinte, me viro para dar uma olhada,
mas acabo com uma careta no rosto ao ver quem é o ser que está
me incomodando uma hora dessas.
Bruna...
Ignoro a chama e volto novamente para o sofá. Hoje nada irá
tirar minha paz. A campainha toca no segundo em que me recosto.
Merda.
Um pressentimento ruim surge enquanto eu caminho até o
olho mágico.
Que não seja Bruna.
Que não seja Bruna.
Que não seja Bruna.
Cruzo os dedos em uma oração silenciosa, mas já é tarde
demais. Abro a porta, derrotada.
— Oi, amiga. — Forço um sorriso. — O que está fazendo
aqui a essa hora?
Droga. Podia ser qualquer um, tinha que ser ela?
— Você não respondeu minhas ligações, fiquei preocupada e
vim ver como você está — responde tentando espiar dentro do
apartamento. — Você está sozinha?
Suspiro.
— Está tudo bem, amiga, eu só estou um pouco cansada
mesmo. Fica tranquila, o Max não vai aparecer mais aqui — tento
amenizar sua preocupação.
Afasto para o lado, dando-lhe espaço para entrar em casa.
Ela não hesita e entra olhando para todos os cantos do
apartamento.
— Você esqueceu de olhar atrás da cortina — ironizo. —
Deixa disso, vai.
— Bom saber que você está superando e vai superar ainda
mais.
Depois de verificar o último cômodo da casa, ela vem até
onde estou e para em minha frente com um olhar malicioso no rosto.
O pior é que eu, mais do que ninguém, conheço esse olhar.
— Nem vem. — Lhe encaro com os braços cruzados. — Eu
estou desempregada, fui demitida depois da última.
— Mas eu não disse nada. — Sorri cinicamente.
— Não precisou, eu te conheço bem.
— A culpa é completamente sua. Desde o início eu te falei
que o Max não vale nada, mas você, toda apaixonadinha, nem quis
me ouvir e agora está sem emprego e sem namorado.
Nossa, como ela sabe ser cruel.
— Uma boa amiga você é, né... Você tinha que vir aqui para
me consolar e não jogar as coisas na minha cara assim. Eu tô mal,
caramba.
Pego a almofada mais próxima e enfio no rosto. Minha vida é
uma droga.
— Amiga? — Olho para cima para ver ela se agachar em
minha frente. — Sabe que eu estou aqui para tudo, não sabe?
Assinto, abraçando-a. É isso que eu preciso. A vontade de
chorar nesse momento bate forte, mas eu seguro.
— Obrigada por ter vindo. — Finalizo o abraço.
— Não tem de quê, amigos são para isso. — Ela dá uma
breve olhada em seu relógio, o que a fez levantar às pressas.
— Vai a algum lugar hoje? — pergunto curiosa, reparando só
agora o quão bem-vestida ela estava.
— Adoraria ficar aqui com você, mas... — Passa a mão
delicadamente sobre a roupa. — Levanta logo a bunda daí que
vamos dar uma voltinha.
MAS O QUÊ?
— Ah, não, não, não. Não mesmo! — Tento me fundir ao
sofá.
— Sim, senhora. Vem. — Ela vem até mim e puxa-me. —
Trouxe até umas roupinhas incríveis para você experimentar.
— Amiga, eu não vou, não.
— Vai, sim. Kleber está esperando pela gente — Sorri
maliciosa — cheio de amiguinhos gostosos para te apresentar. Uhul,
noite do sexo. — Pisca.
— Piorou, agora é que eu não vou mesmo. — Tento correr. —
Você, mais do que ninguém, sabe que eu odeio conhecer gente
assim.
Olho por cima do ombro a tempo de ver ela fingindo estar
roncando.
Ai, que safada!
— Amiga, eu falo sério.
Ela ri quando sai do seu falso cochilo e me encara, séria.
— Eu sei que você está falando sério, mas, por favor, adianta
que os meninos estão vindo buscar a gente.
— Que meninos?
Essa é a hora em que eu me jogo da janela?
— Nossos seguranças, boba — fala tranquilamente, como se
fosse a coisa mais normal do mundo, e eu me irrito.
— Eu não vou! Eu não preciso de nenhuma segurança.
Ela dá dois passos até mim, para e olha novamente para o
relógio em seu pulso.
— Monique, — Eu conheço esse seu tom — você tem
exatamente vinte minutos, a partir de agora, para se arrumar ou
assim que eles passarem por aquela porta, — Aponta para a porta
— eles vão te levar exatamente do jeito como você está, então a
decisão é sua. Vinte minutos.
Olho para a porta e então de novo para ela. É, pela sua
expressão, ela não está blefando.
— Vaca. — Corro às pressas na direção do banheiro para me
arrumar, antes que eu mate essa garota.
Não demorou nem 20 minutos para terminar de me arrumar.
Decidi ir o mais casual possível, exceto pelo batom vermelho vinho,
que se destaca junto aos meus cabelos pretos e longos.
— Anda, amiga, eles chegaram! — grita, quase me fazendo
borrar o batom.
— Tô pronta.
Paro diante dela, que me olhava de cima a baixo antes de
sorrir maliciosamente.
— Mas tu tá uma gata, hein, cara. Eu te pegava.
— Eu sei que seu sonho é me pegar mesmo, — brinco —
mas é bom que isso fique apenas em seus sonhos.
Ela faz uma careta.
— Nem brinca com isso. — Estremece. — Eca, imaginei.
Não posso deixar de rir.
— Não acredito que você imaginou — comento já calçando o
último sapato e caminhando até a porta.
— Foi automático.
Saímos às pressas do apartamento, mas depois de fechar a
porta, ela me faz parar para lhe encarar seriamente, já que parece
preocupada.
— Qual é o problema?
— Essa é a sua primeira saída comigo estando solteira e eu
queria dizer umas palavras motivacionais, mas eu só consigo
lembrar de uma frase que eu li em um desses livros em que o
Kleber insiste em comprar pra mim.
— Tá, e qual é?
Eu já estou nervosa. Ela tem razão, essa é minha primeira
noitada pós-término.
— Eu não lembro o nome desse filósofo agora, mas a
reflexão eu lembro que era assim: “a uva é madura, que bate na
vara, mulher que chora por homem merece tapa na cara.”
Olho em descrença para ela.
— Não acredito que o Kleber compra essas coisas para você.
Ela ri da forma mais idiota possível, antes de me arrastar até
o elevador.
— Você gosta que eu sei.
Quando as portas do elevador se fecharam, ela me deu um
breve ensinamento de como eu devo me comportar em festas de
rico sem passar vergonha.
O porteiro — seu José — acena em nossa direção quando
saímos em direção ao portão já aberto, paramos na calçada e
avistamos uma limusine nos esperando com dois seguranças que
vieram imediatamente para o nosso lado.
— Boa noite — cumprimento, mas eles me ignoram
completamente. Minha amiga abaixa a cabeça e isso chama minha
atenção. — O que está acontecendo? — sussurro e ela aperta
minha mão com força.
— Apenas entra e fica quieta.
Por instinto, eu faço o que ela manda, mas ela terá que me
explicar que merda é essa em que ela nos meteu.
Os seguranças olham diretamente para nossos rostos, sem
sequer piscar. No meu rabo não passa nem alfinete e minha amiga
vai ter que me explicar em que buraco ela colocou a gente.
Demora pouco mais de 20 minutos para estarmos de frente a
um condômino. A limusine estaciona nos fundos de um enorme
prédio de luxo, um dos seguranças nos pede que acompanhe ele
até o local da "festa" e assim fazemos, sem dar um pio.
Que Deus nos proteja.
No elevador apenas um dos homens entra com a gente, em
um silêncio ensurdecedor. As portas se abrem e meu peito se alivia,
me lembro, então, de fazer uma nota mental de que eu vou matar
Bruna quando esse inferno passar.
Penso em mil possibilidades de defesa, meus saltos são bem
finos, meus brincos também podem ser usados como uma arma.
— Nos acompanhe, por favor. — Dois seguranças aparecem
ao nosso lado e seguimos até o final do corredor.
Uma porta de metal estranha com senha se abre e um
barulho ecoa. Entramos no apartamento e várias pessoas de
influência nos olham de cima a baixo.
— Anda, amiga, o Kleber está esperando pela gente. —
Bruna me arrasta até um homem negro, com 1,90 de altura e um
corpo tão forte e musculoso que eu poderia apostar que ele é um
modelo fisiculturista. — Amor, essa é a minha amiga que eu te falei
— nos apresenta.
Elegantemente, o homem segura minha mão e aperta
brevemente. Retribuo o aperto e sorriu levemente.
— Prazer, sou Kleber. Bem-vinda.
— Prazer, sou Monique. Minha amiga falou muito bem de
você.
Ele sorri mostrando os dentes incrivelmente brancos.
Meus dentes podiam ser assim...
— Vem, amiga, vamos dançar.
Viro-me para encarar minha amiga, que agora faz questão de
me arrastar até a pista de dança.
No centro do apartamento há um espaço amplo, onde duas
garçonetes servem as mesas com roupas tão vulgares que não me
surpreenderia que fossem prostitutas até.
Aproveito o momento e danço observando todos ao redor,
tanto homens como mulheres, todos vestidos socialmente e
acompanhados do que parece ser uísque, todos com a mesma
bebida em mãos.
Do lado esquerdo, uma mulher ruiva morde os lábios, me
encarando. Desvio a atenção para a pista de dança onde Bruna me
rodopia feito louca.
Recuso todas as bebidas por precaução, danço com minha
amiga tempo suficiente para ficarmos muito suadas, então espero o
momento certo e vou embora.
— Onde fica o banheiro? — pergunto à garçonete próxima e
ela aponta para o corredor. — Obrigada.
Sigo meu caminho, desviando dos homens que me olham de
um jeito que, se olhar matasse, eu estaria morta, e entro no
banheiro.
Ufa!
Recupero o fôlego e saio novamente.
— Monique...
Viro o rosto e encontro Kleber me chamando.
— Oi... — Olho entre ele e seu amigo, que, de alguma forma,
o rosto não me é estranho.
— Monique, este é o governador. Ele quer conhecer você.
Me viro para o governador, surpresa. Pela televisão e fotos
ele aparentava ser mais velho e ranzinza, totalmente o contrário do
homem à minha frente.
— Olá, prazer — me apresento.
Ele pega minha mão e beija delicadamente. Eu me arrepio
inteira quando seus belos olhos azuis se prendem aos meus pobres
olhos castanhos.
Puxo minha mão de volta ao perceber o quão satisfeito ele
fica ao notar meus arrepios. Esse homem sabe como mexer com
uma mulher!
— Você é muito bonita, Monique.
— Obrigada, governador — digo, com um pequeno sorriso.
— Está gostando da reunião?
Olho ao redor.
— Sim, está adorável, mas não ficarei por muito tempo. Na
verdade, eu já estou de saída. Aconteceu um imprevisto. —
Preparo-me para ir embora.
— Mas já? Você acabou de chegar. — Os olhos de Kleber se
arregalaram.
— Sim, eu preciso mesmo ir.
— Bom, nesse caso, me permita te deixar em casa, Monique.
Eu também já estava de saída.
Ele não parece estar de saída, mas é claro que eu não irei
contestar. Estou prestes a inventar outra desculpa para me livrar
dele, quando o governador agarra minha mão e, sem esperar pela
minha resposta, ele me leva para fora do local. Penso em protestar,
mas ao ver o olhar que Bruna dá em mim, paro. É um olhar que diz:
"não ouse recusar um deus grego desses por causa do seu ex!", e
pensando nisso, me deixo ser guiada, mesmo que eu não vá ter
nada com ele.
Os seguranças nos acompanham, mas ao contrário do que
foi na primeira vez, agora eles olham para o piso. No
estacionamento, um carro altamente luxuoso aguarda por nós. O
motorista nos cumprimenta com apenas um aceno.
— Oi, boa noite. Vou dar meu endereço a você, tá? — Corto
o silêncio e levanto o celular para mostrar ao motorista.
O governador interfere, segurando meu pulso. Não é com
força e brutalidade, mas me deixa atenta.
— Deixe-me cuidar disso.
Olho para ele, abismada.
— Eu ainda nem sei o seu nome, governador, e como pode
perceber, não sou fã de política — digo na esperança de que seu
interesse por mim se dissipe. Apesar de bonito, ele é um tanto
estranho.
— Perfeito. — Seu olhar escaneia meu corpo rapidamente,
antes de encontrarem meus olhos. Não é de uma forma
desrespeitosa, então decidi apenas ignorar. — Desculpe não ter dito
meu nome antes. Eu me chamo Gabriel. — Ele faz uma careta
antes de encostar no banco. — Ed. — O motorista o olha. — Ande,
estamos com pressa.
O carro dá partida e meu coração acelera pela adrenalina de
estar em um carro com um desconhecido. Sinto que estou sendo
boba e me colocando em perigo, talvez, mas não raciocínio sobre
isso agora e me desvio para o seu nome.
Gabriel... nome de anjo.
— Põe o cinto — fala e eu faço.
— Por que estamos com pressa?
— Sou o governador, querida. Bem-vinda ao meu mundo.
As palavras dele só aumentam meu nervosismo. Depois de
quase vinte minutos dentro do carro em um completo silêncio, o
motorista estaciona em um lindo prédio de luxo, desce e abre a
porta pra mim.
— Obrigada, — Volto minha atenção para o motorista — mas
esse não é meu apartamento.
— Não, não é. — A voz do governador soa firme. — Preciso
passar no meu escritório em casa primeiro. Espero que não se
importe.
— Se for rápido, acho que não há problema — digo,
ignorando possíveis alertas que mulheres têm em situações como
essa.
Caminho ao seu lado até o salão de entrada. Os seguranças
abrem ambas as portas, nos dando passagem até o elevador
privado.
Sigo Gabriel junto com os demais seguranças, quando
finalmente ficamos dentro de um apartamento luxuoso, os
seguranças vasculham o local, antes de saírem, acenando com a
cabeça.
— Bom, vou indo, melhor eu esperar lá fora... — Caminho em
direção à porta, mas sua mão segura meu pulso.
— Fique e me acompanhe, por favor — pede.
— Está tarde, tenho que ir... — Sua mão coloca alguns fios
do meu cabelo atrás da minha orelha e isso quebra um pouco o meu
nervosismo. Na minha frente, ele encarou meus olhos e soltou meu
pulso.
— Pode ir, se realmente quiser, mas eu adoraria que ficasse
— fala.
— Se você pedir com um pouco mais de jeito — tomo
coragem de dizer, surpreendendo até a mim.
Ele inclina o corpo devagar para frente, como se me desse
tempo para recuar, se eu quisesse.
— Fique, por favor... — sussurra com a boca próxima a
minha orelha.
— Governador... — Penso em como isso pode dar muito
errado e me afasto um pouco.
— Gabriel, pra você é só Gabriel.
Assinto.
— Certo, Gabriel, foi divertido, mas eu preciso ir. Se ficar
tarde eu não irei descansar o suficiente e preciso acordar cedo
amanhã para entregar currículo nas lojas. Eu prometi a minha amiga
que faria — minto. Se eu ficar aqui muito mais tempo, não sei se
vou resistir aos encantos do governador.
— Hum... Acho que posso te ajudar com isso, se ficar. — Ele
sorri e eu quase caio dura.
— Hum... Pode, é? — Lhe encaro. — Como?
— Verei ainda. Pensarei em algo sobre isso mais tarde, mas
por agora... — olha descaradamente para o meu corpo e eu ignoro
ao máximo o fato de que gosto. — Preciso que fique. Por favor.
Sorrio sem jeito, morrendo de vergonha.
Será que ele me ajudará mesmo com isso? Bom, poder para
isso ele tem, afinal, é o governador.
— Tudo bem, já que insiste. — Sento-me na poltrona próxima
ao sofá, dando-me por vencida. Espero ser forte o suficiente para
resistir a ele.
Ele vai até o bar do apartamento e prepara duas bebidas.
Olho pra cima quando ele para diante de mim me oferecendo uma
delas. Beberico alguns goles disfarçando o gosto horrível e a
queimação na garganta.
— Desculpa, tá muito gostoso, mas não precisa usar seus
uísques caros comigo, só água já está bom. — Devolvo o copo pela
metade.
— Se é pelo valor, fique tranquila. Pode beber — afirma. —
Você merece isso e muito mais. — Vira seu copo de vez e põe o
meu sobre a mesinha de centro antes de voltar a me encarar. —
Vou ser direto, porque já percebi que mexo com você, mas espero
que não me entenda mal, tudo bem? — Assinto. — Você beijaria um
homem como eu, Monique? — pergunta sem tirar seus olhos azuis
penetrantes de mim.
Ele exala poder e sensualidade pela forma em que me
devora com os olhos, em um pedido silencioso e está provando isso
em cada gesto. Sinto-me inferior quando ele para diante de mim,
ainda me sentindo impotente.
— N-não-o. — Engulo em seco e ele acompanha o
movimento da minha garganta.
— Por que? Pode me dizer? — questiona parecendo curioso
de fato.
— Porque o respeito muito, Gabriel — digo e respiro fundo
para manter a decisão, porém, é difícil quando o homem à sua
frente é alguém como ele.
— Não me acha atraente, Monique? — Faz beicinho
enquanto tira a gravata e o paletó.
Perco totalmente a compostura enquanto observo ele
lentamente desabotoar cada botão de sua camisa sem desviar os
olhos de mim.
— Não respondeu a minha pergunta, Monique.
Tento.
Volto a olhar seu rosto, encontro seu olhar me fitando com
desejo e sinto um formigamento entre as pernas, no meu ponto
sensível.
Merda.
— Eu tenho que ir — digo, pensando em me levantar e ir em
direção ao outro lado da sala de estar, colocando assim uma
distância segura entre nós.
Só percebo o quão próximo ele está quando sinto suas mãos
no meu corpo. Ele me vira para encará-lo.
— Posso te pedir uma coisa antes de ir?
— Acho que sim — digo.
— Seja minha... — sussurra.
— É melhor não. — Tento desviar o olhar, mas seus olhos
são tão lindos.
— Me permita te conhecer mais um pouco, ao menos.
Tento de novo, mas nada. Malditos olhos penetrantes.
— Tudo bem assim? — ele indaga e eu assenti, mordendo os
lábios, meio receosa, mas, de certa maneira, curiosa pelo que pode
acontecer.
Ele é um homem extremamente lindo, com seus 1,95m de
altura, fortemente musculoso, com um armamento pesado diante de
uma pobre mulher inocente, de 1,60 de altura...
Quer dizer, não tão ingênua assim, mas isso são apenas
detalhes não importantes agora.
— Hoje, se você quiser, vamos apenas fazer companhia um
ao outro. E quanto ao seu emprego, — Puxa o telefone do paletó —
resolverei isso hoje mesmo.
MONIQUE

O
bservo quando ele vai até o bar e se serve novamente da mesma
bebida, antes de se sentar ao meu lado.
— E como eu vou trabalhar para você?
Dessa vez ele não disfarça quando encara minha boca sem
vergonha alguma.
— Confesso que ainda não sei, mas descobrirei em breve.
— No seu escritório? — continuo sondando.
— Talvez... Por que não, não é mesmo? — Se levanta. —
Posso ao menos te oferecer outra bebida diferente agora?
Me levanto junto com ele.
— Claro. — Lhe acompanho até o bar. — Qual o tipo de
bebida que tem aqui?
Encaro o pequeno bar elegantemente projetado no canto do
apartamento, mas fico mais encantada com a vista atrás dele,
porque as janelas de vidro não escondem a beleza das ondas.
— Vários tipos, — responde e eu volto minha atenção para
ele — mas acho que vai gostar dessa aqui. — Ele aponta para uma
caixa roxa recém-aberta e retira uma garrafa com uma bebida
aparentemente azul arroxeada.
Ele despeja parte do conteúdo dentro da taça com gelo e
tônica e me aproximo ainda mais, ficando atenta ao preparo.
— Me parece bom...
— As mulheres gostam... — responde concentrado no
preparo. Pela sua forma de falar, confirmo a desconfiança de que
ele já dormiu com muitas mulheres. — Você gostará também. — E
pisca.
— Espero que sim... Odiaria desapontá-lo. — Sorriu,
caminhando até outra parede de vidro com um acesso melhor para
toda essa vista incrível.
— Experimenta. — Um pouco depois, ele aparece atrás de
mim colocando uma mão sobre a minha cintura e com a outra me
entregando a bebida. Eu imediatamente aceito, sorrindo em
agradecimento.
— Obrigada. — Me afasto do seu toque. Se quer me
conhecer, terá certo trabalho. Ele parece entender e sorri. — Mora
aqui há muito tempo?
— Moro... Por enquanto — responde, agora sem jeito, e eu
seguro o riso ao vê-lo assim.
Mesmo de costas sinto ele se afastar. Continuo encarando o
mar, que agora parece tão calmo quanto a brisa. Me viro devagar e,
sem que ele perceba, acabo pegando seu olhar de desejo em mim.
Os pêlos dos meus braços se arrepiaram e, pela forma como ele
lambe os lábios, posso jurar que ele também percebe a sensação
que me causa.
Eu preciso dar o fora daqui o quanto antes. Viro a taça de
uma vez só na esperança de acalmar meu nervosismo e mal tenho
tempo de apreciar o real sabor da bebida.
— Tem mais?
Ele olha da taça vazia até mim sem vacilar.
— Cuidado, — avisa enquanto aponta para o bar. — Essas
coisas não são brinquedo.
Caminho até o bar me servindo mais da bebida azul e me
sento ao seu lado no sofá, tomando cuidado para não estar perto
demais dele. Levanto a taça e dou um gole na bebida sobre o seu
olhar.
— Algum problema? — Ergo uma sobrancelha.
— Problema algum. — E vira o copo, tomando todo
conteúdo. — Melhor eu te levar pra casa.
Se levanta, me deixando sozinha no sofá.
— Está me expulsando? — Me levanto, encarando seus
lindos olhos azuis.
— Não.
— Então o que é? — Me aproximo. — Me diz — peço e ele
engole em seco.
— Eu tenho umas coisas importantes para fazer, prefiro te
deixar sã e salva em casa.
Concordo.
Uma sensação de tontura passa por mim, mas dura apenas
dois segundos e em um instante minha consciência volta a si, apoio
a taça sobre a mesinha de centro, tomando o cuidado de verificar
minha roupa no lugar antes de ajeitar minha postura.
— Claro. — Pego minha bolsa. Ele deve ter desistido dessa
história de conquista. Definitivamente, ele é um cara estranho. —
Desculpa por tomar muito o seu tempo. Obrigada pela bebida de
qualquer forma. — Caminho até a porta sentindo um gosto amargo
na boca.
Que bebida dos infernos é essa?
— Monique? — me chama.
Abro a porta às pressas e sai praticamente correndo, com
uma sensação de mal estar horrível. O motorista aparece no meu
campo de visão e me apresso para entrar no carro o mais rápido
possível, a fim de evitar qualquer conversa.
— Minha casa, por favor. — Bato a porta do carro e me
recostei no banco quando uma nova tontura me atinge. Ouço duas
batidas de portas antes do banco ao meu lado afundar com o peso
de alguém.
— Ela está bem? — alguém pergunta.
— Não sei. Vamos passar em um lugar antes de ir na casa
dela — diz a voz do Gabriel.
— Não sei, senhor, a garota não me parece bem. Não é
melhor levar ela para o hospital?
— Se ela, de fato passar mal, levarei. Mas por agora, confie
em mim — ele diz. — Não se preocupe, não vou fazer mal a ela, eu
não sou esse tipo de homem, Ed, você sabe. Além do mais, se eu
quisesse fazer mal a ela, não acha que já teria feito? — Ele se
defende de forma tão tranquila que das duas uma: ou é um
cavalheiro ou um psicopata. Torço para ser a primeira opção.

Acordo quando algo quente e muito claro atinge meu rosto.


Abro os olhos lentamente, percebendo só agora onde eu estou. A
noite passada não passa de meros flashes onde o Gabriel... Aí, meu
Deus.
Dou um pulo da cama às pressas, lembrando do Gabriel me
trazendo para este quarto e me colocando na cama. Um olhar
rápido sobre meu corpo nu me deixa ainda mais apavorada. Será
que eu e ele... Ele e eu...? NÃO!
Me recuso a acreditar em uma coisa assim, mas uma última
olhada ao redor do quarto me deixa arrasada, minhas roupas
estavam espalhadas por todo canto.
Aí, droga, que merda que eu fiz agora?!
Me arrasto até a cama em um modo automático, roendo o
restante das minhas unhas enquanto olho em cada canto do quarto
em busca de resposta.
Como se fosse possível.
— Ah, não... O que eu fiz?
Me assusto quando o telefone do quarto toca, me enrolo às
pressas e corro para atender, notando agora que não há incômodo
algum em minhas partes íntimas. Talvez não tenha acontecido nada,
afinal.
— Alô?
— Bom dia, senhorita Monique. Gostaria de saber se
podemos entregar o café da senhora.
Café da manhã?
— Moço, eu preciso de ajuda — me apresso em dizer, talvez
ele possa me dizer quem me trouxe pra cá ou ao menos confirmar
minhas suspeitas.
— Em que posso ajudar?
— Eu não lembro de como eu entrei aqui e muito menos com
quem entrei. O senhor sabe me dizer? — Ouço apenas sua
respiração.
— A senhora chegou aqui acompanhada pelo governador.
Meu sangue volta a gelar.
— Nós passamos a noite juntos?
— Oh, não, ele deixou a senhora no quarto e pouco tempo
depois avisou que precisava sair para um compromisso urgente,
mas deixou tudo pago para a senhora.
Um alívio enorme passa por todo meu corpo, sinto o ar
novamente em meus pulmões.
— E então, senhora?
— Pode trazer o café, obrigada.
— Por nada. — E desliga.
Recolho toda roupa jogada pelos cantos do quarto e me
apresso para entrar no banheiro. Banheiro no qual meu queixo
quase cai ao pôr os pés dentro dele.
De todas as coisas, o que me chama mais a atenção é a
enorme hidromassagem vazia e solitária no canto. Ela chama por
mim. Ligo a água às pressas enquanto coloco uma essência que
estava posta ao lado e quando a água enche, eu me atiro dentro
dela.
As bolhas começam a surgir e me assusto com elas fazendo
cócegas em minha bunda. Pobre não pode ver uma vergonha que já
quer passar.
Me demoro na hidromassagem, preciso usufruir de tudo ao
máximo que conseguir. Quando entro no quarto me espanto pela
quantidade de sacolas postas em cima da cama. Vou até elas,
verificando uma a uma até encontrar o pequeno bilhete que diz:
"Aproveite para relaxar. O hotel está pago, então não precisa
se preocupar e obrigado por ter me acompanhado ontem. Me
desculpe se passei alguma imagem errada em algum momento.
Espero que esteja melhor. Divirta-se com esses mimos e até breve,
em meu escritório. G. "
— Ah, que amor... — Suspiro.
"Deixa de ser falsa, Monique... Até pouco tempo atrás você
estava pensando o pior do rapaz..." me repreendo, tentando ser
lógica e não louca, mas, em minha defesa, a situação toda é
estranha e o final dela foi um tanto quanto assustador. Agora que
passou eu posso rir um pouco, mas na hora, Deus, ainda bem que
eu estava errada.
Guardo o papel dentro da bolsa com carinho e volto para o
belíssimo café da manhã posto a minha frente.
Depois de passar algumas horas usufruindo do luxo daquele
lugar incrível que o governador me proporcionou, eu desço do táxi,
agora estacionado em frente ao meu prédio.
Mal termino de descer quando vejo Bruna conversando com
seu José — meu porteiro. Quando me vê, ela dispara em minha
direção.
— Onde você estava? Te procu... — Lhe atiro uma das
sacolas no meio da cara. — Aí! O que eu fiz dessa vez? Tá maluca?
— O que você fez? Eu vou te mostrar o que você fez ... —
Atiro minha sandália nela enquanto ela corre entre os carros
estacionados na rua. — Eu te pego, Bruna ...
— Para, amiga! — implora, mas eu não paro, isso é mais que
merecido, para ela nunca mais me levar nessas festas tão louca
quanto ela. É cada situação mais perigosa do que a outra.
Depois de quase uma hora acertando-a com os "mimos" do
governador, acalmamos os nervos e catamos as coisas enquanto
voltávamos para o apartamento.
— Amiga, o que eu fiz? — Lhe lanço uma cara feia. — Liguei
para você a noite toda.
— Entra. — Lhe dou passagem pra dentro de casa. — A
gente precisa conversar.
Ela se senta sem jeito no sofá e me encara.
— Eu sai com o governador — me apresso em dizer — e
acordei sozinha em um hotel de luxo que ele havia me levado, mas
o gerente me disse que ele apenas me levou para o quarto e depois
foi embora. Só que eu sinto que tem algo errado, sabe? Foi muito
estranho a forma como o seu namorado nos apresentou. E eu
preciso dizer, em alguns momentos eu pensei que o governador
fosse um psicopata. Quem é que arrasta alguém de uma festa
daquele jeito, sem nem conhecer a pessoa?
Ela assente confusa e se levanta.
— Tu saiu com o Gabriel? Kleber me disse que ele apenas te
traria em casa — diz seriamente.
— Sim, ele fez isso, mas se eu não estou enganada, o meu
ex apareceu, fez um maior show e acho que foi aí que o Gabriel
decidiu me levar pra outro lugar. — Me sento. — As coisas ainda
estão um pouco confusas na minha cabeça.
— Tu é uma puta vaca sortuda! — Me surpreendo quando ela
comemora minha desgraça e lhe tasco um peteleco. — Ai, doeu! —
Esfrega com força o braço.
— É pra doer mesmo.
— Cara, o Gabriel está interessado em você e o Kleber não
me contou nada. Então ele tem culpa no cartório. — Se levanta e vai
até a porta.
— Onde vai?
— Conversar com ele — fala já abrindo a porta.
— Ele quem? — grito, curiosa.
— Kleber, amiga, ele vai me contar essa história direitinho.
Um segundo depois meu celular toca sobre a mesinha. Me
inclino para ver quem é, mas Bruna é mais rápida e pega ele.
— Alô?
Piranha.
Corro atrás dela ao redor da sala e arranco o aparelho de
suas mãos.
— Monique? — É voz de uma mulher.
— Sou eu — respondo, curiosa. Bruna se senta ao meu lado
e gruda a orelha no telefone. — Quem fala?
— Sou a Mia, secretária do governador. Ele pediu para avisá-
la que a entrevista com a senhorita é para hoje às 14h, no escritório
dele. Mandaremos o endereço pelo seu e-mail. Desejamos boa
sorte.
— Oh, claro, sim, obrigada.
A ligação é encerrada.
Fecho o aparelho enquanto eu e Bruna encaramos uma à
outra ainda sem entender.
— Por que o governador quer te dar um emprego? — É clara
a malícia em sua voz.
— Pensei que você ia tirar satisfações com seu namorado
sobre a noite de ontem com o governador — lembro.
— Verdade. — Ela aponta para o celular — Mas depois
vamos conversar sobre essa ligação.
— O que a ligação tem a ver com a conversa com seu
namorado?
— Porque tem dedo dele nisso, eu conheço. — Dito isso, ela
sai, fechando a porta atrás de si me deixando completamente
impotente.
GOVERNADOR

P
recisei de muito autocontrole ao vê-la me encarando desse jeito. Eu
me sinto como um pedaço de carne suculenta, pronto para ser
devorado. Com certeza devolveria esse mesmo olhar se não
estivesse tão concentrado no trânsito e ela não estivesse bêbada.
Eu estou nervoso, agoniado e até mesmo suando frio.
Quando foi a última vez em que estive assim? No colegial?
O problema é que ter uma mulher bêbada, com apenas dois
copos de vodca, no banco do meu carro me assusta. Será que ela
tem problemas com bebida?
Até o silêncio do carro torna tudo ainda mais sufocante.
Pressiono o botão do rádio, em uma tentativa de me deixar menos
ansioso, bendita é a hora que eu liberei o Ed e resolvi levá-la em
casa.
— Adoro essa música — quebro o gelo. Olho para o lado a
tempo de vê-la se ajustar melhor no banco. — Há quanto tempo
você e o Kleber se conhecem?
Ela me olha meio desconfiada e então vira-se para frente,
encarando a pista de novo antes de responder:
— Conheci ele a apenas algumas horas. Ele é o namorado
de uma amiga.
— Bruna? Esse é o nome da sua amiga?
Dessa vez ela decide me encarar com as sobrancelhas
arqueadas.
— Isso é algum interrogatório, governador? Afinal, o que era
aquela bebida? Bateu legal. — Apesar do tom da sua voz ser
provocativo, encaro sua pergunta seriamente.
— Não, não é. — continuo. — Me desculpe, aquilo era vodca
e eu não sabia que era fraca pra essas coisas. Eu deveria ter
perguntado.
Ela volta novamente a encarar algo à sua frente.
— Eu conheço a Bruna há uns bons longos anos, ela é minha
única e melhor amiga — continua ainda sem desviar o olhar de
algum ponto do vidro. — Você é amigo do Kleber também?
Pareciam bem-íntimos na festa e minha amiga nunca mencionou
você para mim.
— Sim, nos conhecemos há bastante tempo — me apresso
em dizer. — Kleber trabalha para mim e a Bruna, sua amiga, eu vejo
sempre quando acontece essas reuniões que você foi levada hoje.
Ela está sempre presente.
— Sempre presente? — pergunta. Me viro para encará-la.
— Sempre! — respondo, convicto.
Será que ela sabe da vida que a amiga leva? Ah, onde você
está com a cabeça, Gabriel? É óbvio que ela sabe! Não ouviu o que
disse? São amigas há muitos anos e ao que parece uma confia na
outra.
Mas o Kleber nunca mencionou sobre ela, então
provavelmente era a primeira vez dela naquele lugar. E, sem que eu
me dê conta, me vejo desejando que esteja certo. Deve ser por isso
que ela não aceitou ficar comigo ainda, talvez fosse inexperiente,
ela também mencionou que está sem emprego. Será que foi uma
forma de me dizer que precisa de dinheiro? Droga... Perdi a chance
de perguntar.
— Você gosta de ir nessas reuniões? — tento fuçar mais
sobre ela.
Ela para de mexer no aparelho de som e me olha de uma
forma estranha.
— Não, eu acabei de sair de um relacionamento de cinco
anos, essa é minha primeira vez solteira e minha amiga resolveu me
tirar um pouco de casa. Ela acha que ele pode vir atrás de mim a
qualquer momento, implorar para que eu o perdoe. Mas quer saber?
Eu adorei essa noite e não pretendo nunquinha da Silva voltar para
o Max. Prefiro que esse carro capote do que um dia voltar com ele.
— NÃO, PELO AMOR DE DEUS! — repreendo.
Por um breve instante nossos olhares se encontram e
quando dou por mim estou sorrindo pra ela, que me devolve o
sorriso naturalmente.
— Eu estou brincando — diz, constrangida.

Em questão de minutos estamos os dois caminhando em


direção ao seu prédio, com o carro estacionado do outro lado da
rua, na única vaga disponível. Eu ainda olho pra ela, ela sorri
timidamente toda vez que me pega a olhando, mas eu não posso
resistir. Ela é realmente muito bonita.
O porteiro está nos encarando quando chegamos até o
portão.
— Bom, obrigada por hoje. — Estende a mão em
cumprimento. — Foi um prazer te conhecer, Gabriel — sussurra a
última palavra.
Com um breve sorriso, levo sua mão até minha boca, beijo o
dorso com carinho e a vejo suspirar.
Alguém empurra a Monique sobre o portão, pegando todos
no susto. Quando dou por mim estou indo com tudo na direção do
homem. O empurro, fazendo ele me encarar com raiva.
— Que palhaçada é essa, Monique? — esbraveja e vai pra
cima dela novamente. Eu sou mais rápido, empurrando-o no portão.
Soco seu rosto com tanta força que faço ele cambalear para
trás. De onde estou vejo meus seguranças, que estavam dirigindo
em um carro atrás do meu, correrem até nós. Sinto um leve soco no
queixo e volto minha atenção novamente para o moleque em minha
frente.
— Entendo agora porquê você gosta de agredir mulheres,
você bate que nem mulherzinha — o provoco e ele cai, tentando vir
com tudo para cima de mim novamente.
— Calma, parem, por favor. Vai embora daqui, Max —
Monique tenta impedir aos prantos, mas para, quando o porteiro a
puxa para dentro do portão.
Avanço sobre o desgraçado socando-o até fazê-lo cambalear
e cair no chão com o nariz ensanguentado. Ouço os gritos da
Monique atrás de mim e paro. O moleque tenta se levantar e só
consegue depois de muito esforço. Tento avançar sobre ele
novamente e paro quando sinto os braços pequenos dela sobre
minha barriga tentando me puxar para trás, me afastando dele, seja
ele quem for.
— Esse é o cara que mencionou no carro? — pergunto
furioso e ela não responde, apenas chora. — Esse é o cara que não
te deixa em paz, Monique? — grito com raiva e ela se encolhe.
Me viro para encarar o desgraçado, que agora cospe o
sangue que se acumulava em sua boca e sorri, satisfeito.
— Você... — Aponto pra ele — se ousar chegar perto dela de
novo, tocar nela... — Retiro a arma das costas e aponto para a
mandíbula do desgraçado — vai se ver diretamente comigo, fui
claro?
Os olhos dele se arregalam de surpresa.
Ele apenas concorda e se levanta com a ajuda dos meus
homens e, então, olha para algo atrás de mim antes de me encarar
novamente e sair andando feito um bichinho, cambaleando entre os
carros estacionados.
Mal tenho tempo de me virar para vê-la correndo até mim, me
abraçando.
Abraço seu corpo enquanto entrego a arma a um dos meus
seguranças e me vejo encostando nela. Ela precisa de cuidados
essa noite.
Caminho com ela em meus braços até onde o carro está
estacionado, ela apenas olha pra mim e então enterra o rosto em
meu peito, sem dizer uma palavra ou protestar.
Não protesta também quando coloco o cinto de segurança
nela, nem quando eu dirijo um longo caminho e entro em um dos
hotéis mais caros da cidade.
Não há perguntas, ela apenas me deixa guiá-la, como se
estivesse vulnerável demais, abalada demais para sequer protestar.

Em poucos minutos lá está ela, deitada sobre a enorme cama


de luxo enquanto eu a observo da varanda. Quando ela começa a
tirar peças de suas roupas, eu viro, dando-lhe privacidade.
Mais cedo ela havia sentado sobre a ponta do colchão e
chorado, chorou tanto que chegava a soluçar, feito criança.
Então me vi ao lado dela, eu não queria confortar ela apenas
como amigo, então me peguei desejando ser muito mais que isso.
Eu a quero para mim.
Logo ela está coberta na cama, dormindo, e eu me xingo por
ter que deixá-la sozinha para resolver algumas questões em meu
gabinete, questões essas que não podem esperar.

— Que demora — reclama.


Olho pela sala para ver meu irmão jogado sobre o sofá
enquanto assiste algo em meu computador.
— Não sabia que tinha as chaves do meu escritório. — Vou
até ele e puxo de volta meu notebook. — Dá para se sentar direito?
— peço.
Ele resmunga, mas obedece.
— Então... — Me sento. — O que você quer me convocando
a uma hora dessas? Espero mesmo que seja algo importante,
Samuel.
Ele bufa e me joga a almofada.
— Não acredito que você esqueceu. — Aponta o dedo para o
telefone em minha mesa. — A mamãe vai te matar.
Putz grila.
É isso, como eu pude esquecer do aniversário de casamento
dos meus pais? Minha mãe deve estará louca a essa altura.
— Não esqueci — minto. — Era apenas isso?
— Apenas isso? — esbraveja e juro que podia rir da sua cara
se o assunto realmente não me preocupasse. — A mamãe está
atrás de você a noite inteira. — Franze as sobrancelhas. — Onde
esteve, Gabriel?
Onde eu ainda deveria estar se não fosse você, meu querido
irmão...
— Trabalhando — me apresso em dizer. — Diga à mamãe
que chegarei no dia, como havia prometido e levarei companhia. —
Me viro para ele, que me olhava chocado. — Diga ao meu piloto que
providencie um jato neste dia exclusivamente para lá. Vou
descansar uns dias.
— Descansar, descansar? Tipo férias? — Ele ainda me olha
surpreso, praticamente não entendendo minha atitude.
— Isso mesmo que você ouviu, irmão. Eu vou tirar férias por
lá.
GOVERNADOR

E
u tenho apenas uma semana. É uma corrida contra o tempo para
me organizar e cumprir meus compromissos antes da viagem
acontecer. Conto ao Samuel que vou contratar alguém para auxiliá-
lo enquanto eu respiro. A princípio, eu prometi ajudar uma certa
senhorita de cabelos escuros que não sai da minha cabeça, além do
mais, ela precisa do trabalho mesmo.
— E quando vai contratar a garota? — Ele faz a pergunta
sem se dar ao trabalho de olhar para mim.
— Marquei uma entrevista hoje à tarde com ela — respondo.
Ele joga o tablet de lado e vem até mim, surpreso.
— Enlouqueceu? Hoje é o baile beneficente.
Olho para ele.
Eu sei que hoje é o baile, mas também não posso
desperdiçar tempo, a festa de casamento dos meus pais está
chegando e eu não posso desperdiçar a oportunidade de ver ela
antes da viagem.
— Sim, preciso contratá-la o quanto antes. Quero ela te
auxiliando em tudo — ele concorda.
— Isso eu sei, mas quem irá treiná-la? O pessoal está a mil
tentando cumprir sua agenda a tempo antes da viagem.
— Você — digo simplesmente.
— Como vou treiná-la? Ela provavelmente teria que grudar
em mim para que isso fosse possível e olhe lá se ela vai aceitar
essa proposta sua de última hora.
— Exatamente. — Sorrio com a ideia da Monique o dia inteiro
para lá e para cá usando uma daquelas saias extremamente
coladas ao corpo.
— Duvido que ela aceite. — Ele se levanta.
— Ela aceitará — digo confiante.
Pelo canto do olho vejo-o voltar para seu lugar de antes, com
o tablet na mão dessa vez.
— A Camila vai te acompanhar hoje à noite, você sabe, né?
Suspiro lembrando do nosso último encontro.
Um desastre total.
— Sim — respondo de má vontade, deixando-o curioso.
— Aconteceu algo entre vocês? — Lhe olho. — Você
costumava gostar dela.
— Você disse tudo, eu costumava. Hoje não suporto estar no
mesmo ambiente que ela, mas infelizmente é ela a pessoa que vai
me acompanhar hoje e eu espero que seja a última noite que vamos
juntos a algum lugar.
Vou até a mesinha e me sirvo de um dos meus uísques mais
fortes.
Três batidas da secretária na porta chamam nossa atenção e
depois de um “entre" baixinho do Samuel, ela aparece dentro do
escritório com uma ficha na mão, parecendo afobada.
— Senhor, a senhorita Monique está aí fora. Posso mandá-la
entrar?
Só a menção do nome dela me faz virar a bebida de uma vez
só e correr para o outro lado da mesa. Me sento às pressas
arrumando meu paletó. Os dois ainda me olham sem entender, mas
ignoro a confusão estampada no rosto de cada um deles e me
ajusto melhor na cadeira.
— Sim, pode mandá-la entrar. — Meu irmão olha para mim e
ri. — Podem ir — dispenso eles.
Verifico meu cabelo uma última vez pelo reflexo do vidro e
volto minha atenção à porta.
Ela entra meio sem jeito, observando cada canto da sala até
que seus olhos param em mim. Ela está tão linda, vestida
socialmente com roupas justas e delicadas, suas bochechas
levemente coradas enquanto me encara.
— Sente-se, por favor. — Aponto para a cadeira em frente à
minha mesa.
Ela fecha a porta devagar e faz o que eu peço, retira algo da
bolsa e me entrega.
Seu currículo.
— Boa tarde, senhor governador — cumprimenta.
— Boa tarde, Monique, pode me chamar de Gabriel, como eu
havia pedido antes. — Lhe entrego de volta o currículo. — Não
preciso disso, eu falei que iria te ajudar e aqui estou.
Ela sorri timidamente.
Ligo o computador e finjo digitar algo a fim de impressionar
ela, afinal, sou um homem importante e as mulheres adoram isso.
— Vai conseguir mesmo um emprego pra mim? — pergunta
com a voz doce e preocupada, me obrigando a lhe encarar.
— Já consegui — anuncio. — Preparada para começar hoje
mesmo? — Seus olhos brilham e seu sorriso aparece.
— Sério?
— Sério! — Seguro o sorriso.
— Muito, muito obrigada. — Se levanta e vem até onde
estou. — Não sei como te agradecer.
Ela para diante de mim e me abraça forte, soltando gritinhos
de alegria. Retribuo o abraço me levantando e a fazendo ficar na
ponta dos pés. Ela é tão pequena e leve que eu podia a carregar o
dia todo. Nos afastamos no instante em que seguro firme em sua
cintura, nos aproximando um pouco mais. Me viciaria facilmente no
seu cheiro.
Sacudo a cabeça, afastando esses pensamentos. Uma
mulher interesseira é tudo o que eu não preciso no momento.
— Obrigada — agradece novamente, se afastando.
Apenas aceno.
— Hoje à noite vai haver um baile beneficente e a secretária
que te recebeu não vai poder ir. Gostaria de ir no lugar dela? — digo
já voltando para o meu lugar.
Ela me olha surpresa e confesso que até eu estou surpreso
pelo meu convite, mas agora Monique trabalhará comigo e terei que
dar a ela um tratamento profissional dessa vez.
— Sim, é claro que eu quero — responde animada.
— Ótimo, pode ir agora. Nos veremos hoje à noite, então,
meu irmão irá buscá-la em sua casa — digo por fim.
— Tudo bem e... Obrigada de novo. — Sorrio enquanto lhe
acompanho até a porta. — Até mais tarde, Gabriel. — Abro a porta.
Ela sai e eu aceno.
Inclino a cabeça para olhar ela indo embora, desfilando pelo
salão. O movimento que ela faz ao andar faz sua bunda balançar e
meu pau pulsar no mesmo instante.
Seguro meu guerreiro com força e volto minha atenção para
o meu irmão, que parece fazer o mesmo do outro lado, olhando para
onde não deveria.
Pigarreio.
Ele olha pra mim fingindo inocência e sabe que minha
vontade é de matá-lo por isso. Entro no meu escritório com ele no
meu encalço.
— Aquela gostosa é a nova assistente? — Lhe dou uma
olhada de canto de olho.
— Mais respeito, Samuel. Sim, aquela é a nova assistente e
ela começa hoje à noite, se prepare para buscá-la.
— O quê? Pirou? — Ele fica à minha frente.
— Ela precisa do trabalho e você de uma assistente, não foi
esse o combinado? — Olho confuso para ele, que parece
desnorteado.
— Mais hoje? Hoje tem o bai... Ah, agora eu entendi! — Sorri
de lado. — Quer dar uns pegas na secretária, é isso, Gabriel? Você
não presta mesmo.
— Não se meta em meus negócios, Samuel! — afirmo já
saindo do escritório sem esperar pela sua resposta, mas ela vem
assim mesmo.
— Você não vai pegar essa garota, fique sabendo disso.
Uma ova que eu não vou!
Paro diante do meu carro quando a vejo caminhando para o
outro lado da rua, indo direto para o ponto de ônibus.
Fico parado por alguns instantes, observando-a esperar pela
condução. Eu poderia simplesmente lhe oferecer uma carona...
Estávamos tão próximos no escritório quando nos abraçamos, ainda
posso sentir o perfume dela em meu paletó. O ônibus chega e ela
entra, se sentando próxima a uma das janelas. Ela olha toda a rua
ao redor antes de me ver.
Mesmo longe, posso jurar que seus olhos brilham quando
encontram os meus, o ônibus sai e eu a vejo sumir. Entro no carro
ainda mais animado do que nunca, afinal, estou ansioso para
encontrar ela hoje à noite de novo.

Passa das vinte e três horas, o salão de festas está


completamente lotado e nada do Samuel chegar. Isso me deixa
preocupado. Havíamos combinado que ele buscaria a Monique no
prédio dela e viria diretamente pra cá, mas, ao que parece, algo deu
errado nos planos do meu irmão.
Precisei convocar meus seguranças para cuidar dos
paparazzi que vira e mexe tentam invadir a festa, principalmente
quando tenho Camila no meu encalço, se sentindo a estrela da
noite.
Não vejo a hora dessa festa acabar. Em algum momento,
vejo um dos seguranças me fazendo sinal em direção ao portão de
entrada.
E lá estão eles, Samuel em seus trajes de festa e ainda
assim completamente desarrumado, acompanhado de sua mais
nova assistente, que está tão bem arrumada quanto qualquer outra
nessa festa. Apenas com exceção do seu vestido preto, que não
apenas valorizava suas curvas, como mostra demais elas.
Eles nem percebem minha presença quando entram na sala
administrativa. Paro quando alguém puxa meu ombro.
— Aonde pensa que vai? Não vai me chamar para dançar,
querido? — Camila enfatiza o “querido", me fazendo revirar os olhos
enquanto lhe estendo a mão.
— Claro, meu bem.
Ela sorri para as amigas enquanto caminha ao meu lado em
direção a pista.
Sinto o olhar de todos sobre nós. Camila sorri alegremente
para as câmeras enquanto nos posicionamos na pista de dança.
No início da nossa relação, Camila não era uma pessoa má,
mas depois do nosso relacionamento, ela começou a gostar de ser
o centro das atenções, gostou tanto que está sempre nas colunas e
jornais da cidade. Ouvi dizer também o quão bombando ela está nas
redes sociais.
A convidei para me acompanhar apenas porque havia
prometido no ano passado que a traria novamente e apesar de
estarmos separados há meses, eu tenho que cumprir minha
promessa.
— Sabe o que eu acho?
Lhe encaro esperando pela resposta.
— O quê?
— Que a gente ainda pode dar certo — diz com a cara mais
lavada que existe.
— Eu discordo, acho que nosso tempo já acabou. Agora se
me der licença — digo e me desvencilho dela, indo em direção ao
bar.
Preciso de uma bebida forte o suficiente para que não
estrangule ela até o final da noite, mas paro na metade do caminho
ao ver as duas figuras em minha frente.
Samuel e Monique estão sentados nos bancos à frente do
balcão, ela parece rir de algo que o idiota sussurrou em seu ouvido
antes de termina de beber sua bebida e pedir outra.
— Atrapalho? — Me aproximo devagar deles e os vejo
enrijecer.
Samuel é o primeiro a se virar. Ele sorri para mim quando me
entrega um copo com bebida. Retiro o copo da sua mão e me viro
para ele.
— Você bebeu? Acabei de ver vocês chegarem.
— Não bebi, estou bem, só preciso relaxar. — Se senta mais
confortavelmente. — Me dê apenas mais alguns minutos e estarei
pronto para ajudar você a bajular uns velhos chatos.
Olho para o lado para me certificar de que a outra não está
no mesmo estado que ele. Pelo menos um deles precisa ficar
sóbrio. Ela me olha sem jeito e desvia o olhar.
— Está tudo bem, Monique? Por que demoraram tanto?
Ela olha para o Samuel apreensiva, antes de responder.
— Tive uns problemas em casa e o Samuel me ajudou a
resolver, mas no caminho para cá a gente acabou sendo assaltado,
o ladrão levou o carro e tivemos que vir até aqui a pé. Desculpa.
Samuel começa a rir e isso me preocupa. Ele nunca foi capaz
de fazer essas coisas.
— Ele está bem? — pergunto e ela faz que não com a
cabeça. — O que houve?
— No caminho ele encontrou a namorada aos beijos com um
dos patrocinadores, pelo menos foi isso que ele me contou.
Meu irmão bufa e se levanta, me deixando ainda mais
preocupado, e sai disparado para o banheiro.
— Eu resolvo isso — aviso à Monique, lhe entregando meu
celular antes de correr atrás do meu irmão.
MONIQUE

O
deio ter dito que viria sozinha até o escritório dele. Estou tão
nervosa e sem jeito, afinal, o cara prometeu me ajudar. Bruna me
garantiu que é seguro, mas não posso esquecer que na noite em
que ficamos no seu apartamento ele fez questão de deixar claro o
que queria comigo.
Talvez não valha tanto assim o trabalho, talvez a grana nem
seja tão boa assim e eu tenha que ir apenas na lotérica mais
próxima e fazer um joguinho para ficar milionária. Cada dia que
passa os boletos aumentam, nunca parando de chegar. Oh, Deus.
Passo pelas portas duplas da sala e caminho confiante até a
mesa da secretária, é agora ou nunca.
— Oi — cumprimento.
— Olá. Em que posso ajudar? — responde, simpática.
Gosto dela.
— Tenho uma entrevista agendada para este horário. — Lhe
mostro a mensagem. — Desculpa não me apresentar, sou a
Monique.
Ela sorri sem jeito quando pega um bloco de papel e anota
algo.
— Bem na hora, Monique. Eu lembro do seu nome. — Sorri
levemente. — Vou avisá-lo que chegou. — Aponta para os bancos
da luxuosa recepção. — Sente-se, por favor. Aceita uma água? Um
café?
— Não, obrigada, não precisa se incomodar. Vou aguardar.
— Vou até uma delas e me sento.
Seguro firme nas alças da bolsa, torcendo para que não
tenha machucado o currículo no caminho pra cá. Só me dou conta
da presença da secretária quando ela para ao meu lado e me
estende um copo d'água.
Sorrio em agradecimento pela gentileza e tomo até a última
gota de água a fim de amenizar o nervoso que me dá. Devolvo o
copo para ela, que anuncia que eu posso entrar. Levanto em um
pulo, quase esbarrando em um rapaz que está ao lado dela.
Me desculpo às pressas e praticamente corro até a sala. Fico
completamente sem jeito quando consigo chegar até a porta. Ele
está sentado em sua mesa, tão bonito quanto na noite que nos
conhecemos. Tenho que obrigar minhas pernas a saírem do lugar
quando me convida para sentar à sua frente.
Praticamente agarro ele quando me dá a notícia da
contratação, estou há dias esperando por uma oportunidade dessas.
Apesar de não ter colocado tanta fé quanto deveria nele,
convenhamos, o cara tentou me agarrar.
Sinto meu corpo inteiro aquecer quando me agarro firme
nesse homem, que me suspende com apenas um único braço. Fico
grata por nos despedirmos o mais rápido possível e corro para fora
do escritório.
Eu preciso de ar.
Corro imediatamente até em casa. Tenho a impressão de ter
visto a minha amiga em frente ao prédio, mas também pode ser
coisa da minha cabeça.
— Bruuuuuna, atende!
Caminho de um lado a outro, já dentro do meu apartamento.
Avisei a ela que ligaria assim que chegasse em casa e agora a
bonita está com o celular desligado.
Me jogo no sofá com tudo. Logo hoje que eu preciso dessa
mocreia, ela some e o pior, eu não faço ideia do que usar hoje à
noite. Abro o celular novamente e busco no Google algum bazar
legal com algo realmente interessante.
Eu não faço ideia de como me comportar em algo assim.
Essas festas chiques não fazem parte da minha vida, mas se esse
for o preço a pagar por um bom salário, eu vou, disposta a me jogar
de cabeça.
Depois de finalmente escolher uma peça e garantir que será
entregue a mim em alguns minutos, corro na direção do banheiro,
para me preparar o mais rápido possível, já que o tal “Samuel", seja
lá quem for, vem me buscar.
Depois de passar meia hora alisando o cabelo com a
chapinha para fazer um penteado liso, me visto às pressas. Já
pronta para matar, me apresso, usando apenas meu batom
vermelho fatal, além da base e rímel.
Me assusto quando entro na sala e encontro minha amiga
jogada no sofá aos prantos. Antes que eu me dê conta da situação e
possa ajudá-la, o cara que esbarrei hoje cedo no escritório aparece
no meu campo de visão, a pegando nos braços e colocando ela
sentada em seu colo. Provavelmente esse seja o tal Samuel.
Corro e sento ao lado deles, focada em minha amiga, que
está com fortes hematomas no rosto.
— Shiu, vai ficar tudo bem, eu tô aqui — ele diz apoiando a
cabeça dela em seu ombro.
Minha amiga soluça devido ao choro e eu seguro sua mão às
pressas enquanto ela me olha com carinho.
— O que aconteceu? Quem fez isso com você?
— Ninguém, amiga, não foi nada — fala em meio ao choro e
meu coração se aperta.
Alguém fez isso com ela, mas quem faria uma coisa assim
com minha amiga?
— Como ninguém? Me fala o nome do desgraçado que eu
vou atrás dele.
Olho surpresa pela atitude do Samuel.
Mas ele está certo, quem fez isso merece pagar.
— Não, por favor. — Se agarra ainda mais ao pescoço dele,
que ao invés de se afastar, puxa ela ainda mais sobre seu corpo.
— Não aconteceu nada, por favor — implora.
Samuel me dá um olhar de compreensão antes de
responder.
— Eu adoraria ver quem fez isso com seu rostinho lindo
pagar pelo que fez, — Ele passa o dedo sobre os hematomas —
mas vou respeitar o fato de você estará assustada no momento,
tudo bem? — Ela afirma com a cabeça. — Quero que saiba que
quando estiver pronta para falar ou se vingar, não hesite em chamar
por mim, combinado?
Ela apenas olha para o Samuel com ternura antes de enterrar
seu rosto de vez no pescoço dele.
— Obrigada, você está sendo tão gentil.
— Só estou fazendo o meu papel de aparar donzelas em
perigo quando estou atrasado tempo suficiente para que meu irmão
me mate, caso eu não chegue nos próximos trinta minutos.
Me levanto em um sobressalto, eu já estava esquecendo da
festa.
— Podem ir, eu vou pra casa. — Ela tenta sair dos braços do
Samuel, mas ele não deixa.
— Não, amiga, fica no meu quarto descansando. A gente tem
que ir agora, mas daqui a pouco eu volto para a gente conversar,
beleza? — ofereço.
— Não, amiga, não quero dar trabalho — diz toda sem jeito e
eu sei que a safada está amando ficar onde está.
— Trabalho nenhum, você já é de casa. — Me viro para o
Samuel. — Pode colocá-la na minha cama? Ela te mostra o
caminho, quando eu chegar cuido dela.
Ela tenta protestar, mas ele é mais rápido.
Ele confirma sacudindo a cabeça, se levanta e sai com ela
em seus braços. Chega a ser fofo o jeito como ele, todo grandão,
segura ela, tão pequena, firme nos braços, como se ela não
pesasse nada.
Pego minha bolsa e minhas chaves, esperando por ele na
porta. Ele reaparece todo sem jeito, meio aéreo.
Noto sua gravata em desordem e a bagunça na lateral do
cabelo, mas decido ficar na minha, afinal, eu mal conheço o cara,
mas tenho certeza de que ele não estava assim antes, não. Eu teria
notado.
— Pronta? — pergunta, abrindo a porta do carro pra mim.
— Prontíssima. — Dou meu melhor sorriso quando entro no
carro e ele dá partida.
Estou finalizando meu batom quando o carro para de repente,
olho para Samuel atordoada.
— Por que parou?
Ele desfivela o cinto, colocando as mãos para o alto.
Escondo o espelho quando olho para o para-brisa do carro.
Dois rapazes estão parados a nossa frente, um deles com uma
arma apontando diretamente na direção do Samuel.
— Droga — sussurro.
Eles vem pela lateral do carro e eu retiro minha bolsa do
ombro, a colocando sobre o colo para facilitar o acesso.
— Os dois, — Aponta a arma para nós — saiam do carro,
agora!
Não precisa falar duas vezes.
Saímos do carro, indo em direção à calçada. Samuel é
revistado. Entrego minha bolsa para o segundo e eles correm para
dentro do carro, arrastando pneu.
É tudo muito rápido, eles levam a carteira e o celular do
Samuel juntos com minha bolsa e o carro. Ao menos nos deixam
sem machucados.
Samuel chuta o próprio paletó, que não sei em que momento
ele mesmo o jogou no chão enquanto esbravejava.
— Que ódio!
Me aproximo dele, hesitante.
— Precisamos ter calma — peço. — O que faremos agora?
Não faço ideia de onde a gente esteja.
— Eu sei onde a gente está. — Vira-se para mim apontando
para a estrada à nossa frente. — Estamos a meia hora do local do
baile beneficente. Quer dar uma caminhada?
Olho para a estrada imaginando que meia hora de caminhada
não seria tão ruim se eu não estivesse usando salto alto. Agacho, já
retirando às pressas os saltos e me posicionando ao seu lado.
— É o que nos resta — enfatiza.
— Sugiro que a gente comece, então, o quanto antes, já que
temos a noite inteira de trabalho pela frente.
Isso faz ele me olhar sorrindo.
— Gostei de você — diz e eu retribuo o sorriso e corro
disparada, o deixando para trás.
— Quem chega por último é mulher do Padre — grito em
disparada.
Ouço apenas sua risada e o barulho dos seus sapatos
enquanto corre atrás de mim.
— Se o padre for o Fábio de Melo...
— Você não presta, Samuel — digo rindo, mas ainda me
concentrando na corrida.
Ele corre ao meu lado, diminuímos a velocidade apenas para
que sejamos capazes de chegar inteiros na festa.
— Sabe... — ele começa — talvez seja bom ter uma
ajudante, sempre trabalhei sozinho, cuidando das coisas da família.
Estou vendo sua contratação como alguém com quem realmente
possa contar.
Sorrio com sua sinceridade.
— Vai ser muito bom trabalhar com o senhor, senhor Samuel.
Ele arqueia uma das sobrancelhas.
— Um minuto atrás estava me chamando de Samuel, de
onde tirou esse “senhor"? Olhe bem para mim, eu sou gostoso.
Mordo os lábios, segurando o riso. Esse cara é louco.
— Um minuto atrás eu tinha esquecido que era meu novo
chefe que estava apostando corrida comigo, correndo igual um
louco do meu lado.
Paro.
— Cansou? — Ele para ao meu lado.
Apoio as mãos no joelho, tomando fôlego e tendo a
percepção de estarmos na rua de trás do salão de festa.
— QUE MERDA É ESSA? — grita.
Olho a tempo de vê-lo se afastar às pressas de mim e ir em
direção a um casal que está próximo a um beco.
Samuel joga o homem longe e segura o braço da moça com
força. Corro até eles, pronta para tirá-lo de lá.
— Me solta, seu babaca! — Ela lhe acerta o rosto. — Eu já
falei que você não é meu dono.
Puxo o braço dele sobre o olhar de ódio dela e lhe ignoro.
— Vem, Samuel.
Ele solta a mulher e vem até mim, segurando firme em minha
mão, nos tirando do lugar.
Fico surpresa pelo autocontrole dele, mas não questiono
quando ele nos tira disso. Damos a volta e passamos pela
segurança, nos separamos apenas para que cada um possa se
ajeitar dentro do banheiro e combinamos de nos encontrar no bar
para encher a cara.
Samuel não quer conversar sobre o assunto, apenas fala que
a mulher que estava no fundo do salão é sua namorada.
Fico de mãos atadas, sem saber como ajudar meu mais novo
chefe. sentamos nos bancos vazios no bar e quando nossas
bebidas chegaram, minha coluna enrijece ao ouvir a voz dele.
— Atrapalho?
MONIQUE

P
osso sentir o ar novamente em meus pulmões quando os irmãos
encrencam deixam o recinto. Ainda não estou recuperada do
assalto, nem da recente corrida com o Samuel. Preciso de um
tempo sozinha.
Sobressalto quando o aparelho do governador começa a
vibrar com o que parece ser uma nova mensagem. Apoio ele sobre
o colo enquanto termino de apreciar um coquetel delicioso com
frutas vermelhas. Pedi que pusessem leite condensado e ficou
deliciosamente cremoso.
Enquanto termino minha bebida já estou pedindo uma
próxima para o garçom, que vez ou outra pisca pra mim.
Tento disfarçar o meu jeito sem graça olhando para a pista de
dança praticamente lotada. Não há só casais nela, tem pessoas se
divertindo sozinhas.
Pego a segunda bebida que já está à minha espera e vou
diretamente para ela, a multidão me recebe abrindo espaço
enquanto eu rebolo a minha bunda e viro minha bebida de uma vez
só, esquecendo que pra ficar doidona eu preciso de apenas uma
gota de álcool.
Enquanto eu rebolo posso sentir e apreciar braços em volta
do meu corpo e alguém alto se aproximando. Braços fortes seguram
firmemente meu quadril enquanto eu rebolo sobre a pessoa.
Tento me virar, mas o estranho apenas aproxima ainda mais
nossos corpos em uma dança sensualmente erótica. A vibe está tão
gostosa que ao invés de afastá-lo, ergo o braço alto o suficiente
para poder tocá-lo carinhosamente na nuca, intensificando o
momento enquanto rebolo minha bunda contra uma grande ereção.
— Aproveitando a festa? — estremeço.
Me afasto no instante em que percebo quem ele é e que há
apenas poucas pessoas na pista de dança. O restante está
espalhado pelo salão, olhando diretamente para mim e o
governador. Ele, que há segundos tinha ido atrás do irmão, está
aqui agora, diante de mim, me olhando como se esperasse pela
minha resposta.
— Sim, estou — digo me afastando.
— Ótimo — diz, voltando a agarrar meu quadril e tomando
ele para si novamente.
— O que você pensa que está fazendo? — Me afasto. —
Está todo mundo olhando para a gente, governador.
Ele olha ao redor e vejo rostos e mais rostos virando na
direção contrária à nossa.
— Gabriel, foi assim que eu pedi que me chamasse. — Se
aproxima perigosamente e eu estremeço. — E não estávamos
fazendo nada demais, ou estávamos? Que eu me lembre isto era
apenas uma dança.
Uma banana que era. Só no sonho dele.
Volto a encará-lo novamente e ignoro os outros.
— Apenas uma dança — repito por fim, tentando convencer a
mim mesma disso e ele ri.
— Vem... Quero te mostrar uma coisa. — Segura firme minha
mão e me puxa pelo salão.
— Pra aonde a gente está indo? — E pela primeira vez meu
queixo cai quando entro na parte interna do salão.
É divino.
Tudo no lugar grita dinheiro, mas esse salão aqui grita muito
mais.
— Quero que conheça meus amigos.
Me encolho, vendo de longe uma enorme mesa de jogos e
diversos homens ao redor dela, alguns eu reconheço no mesmo
instante, são governadores e deputados que vira e mexe aparecem
tanto pelas redes sociais quanto por toda mídia.
Quando me aproximo da mesa minha pele parece brasa.
Posso sentir o olhar de cada um deles sobre meu corpo, conforme
me junto aos demais. O govern... O Gabriel parece perceber o
mesmo que eu, pois agora segura forte, até demais, a minha mão.
— Boa noite, senhores. Quero que conheçam uma amiga —
me apresenta.
Todos os senhores se levantam e vêm até nós, um a um.
— Uma amiga? — pergunta um dos senhores enquanto leva
minha mão direita aos lábios. — E essa “amiga" tem um nome?
— Monique — respondo rápido. — Me chamo Monique.
— Um belo nome... — fala o outro. — Tão belo quanto a
dona dele.
— Obrigada.
Olho para o Gabriel, que tem agora a cara de quem acabou
de chupar um limão azedo.
Quando todos terminam de me cumprimentar, ele toma minha
mão pra si e esfrega nela um guardanapo quando me arrasta até
uma das mesas e me oferece uma cadeira.
Fico completamente sem jeito diante de vários homens
importantes, me sentindo uma puta mulher elegante. Me acho tanto
que me sinto à vontade para cruzar as pernas. Grande erro. Olho
para frente e todos estão babando nas minhas coxas, agora de fora.
Olho para o Gabriel para perguntar o que está acontecendo
com os demais, mas paro quando o vejo fazer o mesmo e ainda
travar a mandíbula e me olhar com raiva.
O que deu nesse homem?
— Preciso ir ao toalete. — Me levanto sem jeito.
— É claro que precisa. — Me assusto com seu tom.
Fico surpresa com sua mudança repentina, mas decido não
discutir e ir embora daqui.
— Disse alguma coisa? — Fico à sua frente.
— Não disse nada. — E fecha a cara pra mim.
Dou meia volta, indo na mesma direção em que havíamos
passado, me recuso a ficar aqui mais um minuto sequer.
— Ótimo — grito de onde estou, sem medo de ele comer
meu fígado por isso.
Saio próximo a pista e retorno pra ela, a fim de esquecer o
vexame e o olhar daqueles homens em mim. Não sou uma mulher
vulgar, mas qual o problema do meu vestido ter uma fenda?
NENHUMA... Meu vestido é lindo, é fantástico e custou caro,
caramba. 85 reais no lixo.
Olho ao redor em busca do Samuel.
— Qual o problema com minha roupa? — grito pra mim
mesma na pista. — Eu tô gata, não tô? — Pego a bebida de uma
bandeja e viro.
— Achei você. — Engasgo no meio da bebida quando vejo
Samuel na minha frente. — Você está bem?
Termino de tossir e olho para ele, completamente sem jeito
diante do meu chefe.
— Está tudo ótimo — minto.
— Ótimo. Quero lhe apresentar algumas pessoas do nosso
ramo.
Puta merda. Será que ele vai me fazer voltar para aquela sala
do pânico? Ai, não...
— Quem? — Olho ao redor fingindo desconhecimento.
— São pessoas importantes... Vem.
Me puxa. Me vejo em um completo desespero quando
percebo que é exatamente o mesmo lugar onde eu estava. Finjo um
tropeço próximo à entrada e me curvo.
— Monique? — Me pega nos braços. — Você está bem?
Amoleço o corpo.
— Não... — minto descaradamente. Nada me fará entrar
naquele lugar de novo. — Acho que minha pressão caiu.
Mal tenho tempo de inventar mais alguma coisa quando ele
me pega no colo e me leva na direção contrária. Enfatizo dando um
leve gemido de dor quando recosto em seu ombro.
Por dentro nunca me senti tão suja, estou enganando-o, mas
eu também não vou aguentar todos esses olhares em mim de novo.
Não vou mesmo.
— Aguenta aí, estamos chegando.
Apenas aceno enquanto ele me leva desesperado até um
escritório vazio. Ouço apenas alguns gemidos e então percebo que
não estamos sozinhos.
Ele me senta no sofá enquanto ajeita melhor o lugar e me
põe em seu colo. Recosto a cabeça em seu peito, fingindo estar
pior.
— Calma, vai passar. — Aceno. — Você por acaso se
alimentou hoje?
— Não, estava muito ansiosa com a entrevista, aí acabei
esquecendo e logo tinha a festa... Eu não lembrei de comer hoje.
Nos assustamos quando duas figuras aparecem em nossa
frente, acendendo a luz do abajur, assim iluminando a sala. Olho
para cima, surpresa ao ver o Gabriel ao lado de uma mulher loira.
— Samuel? — Ele olha entre mim e o irmão. — Monique? O
que fazem aqui?
A loira ao seu lado faz uma careta ao olhar para minhas
pernas.
— O que está acontecendo aqui? — pergunta, nos olhando
com o que parece ser raiva.
Enterro ainda mais o rosto no peito do Samuel e posso jurar
que o ouvi bufar feito um touro.
— Monique se sentiu mal, provavelmente porque não se
alimentou hoje.
Levanto o rosto e vejo Samuel justificar meu estado para o
irmão com calma enquanto o irmão está puto da vida por nos ver
assim, abraçados.
É claro que eu vou me aproveitar da situação. Solto um leve
gemido e sinto os braços do Samuel firmes em mim, me puxando
ainda mais pra ele.
Tudo isso diante do olhar do Gabriel, com a veia do pescoço
já alterada pela raiva.
— Vou chamar um médico.
Lhe interrompo.
— Não precisa, governador, eu já estou indo pra casa. — Ele
me olha como se estivesse prestes a me esganar, mas eu lhe
ignoro. Me viro para o Samuel. — Me leva para casa? — Faço
beicinho.
— Eu levo. — Lanço um olhar feio para o Gabriel, que agora
sorri, vitorioso. — Já estava na minha hora mesmo.
Ele se abaixa, me pegando pelos braços firmes e me
carregando.
Odeio esse homem.
— Não precisa se incomodar, governador. — Tento sair.
— Ei, Gabriel? — Olhamos todos para a loira, agora ao meu
lado. — Deixa que o Samuel leva essa menina embora. Ele não se
importaria em fazer este humilde favor, não é mesmo, Samuel?
Todos olham para o próprio, aguardando resposta. Quero
saber de onde essa mulher saiu.
— É claro, será um prazer. — Samuel se levanta estendendo
os braços para mim. — Passa ela pra cá.
— Eu levo! — Gabriel me aperta ainda mais em seus braços.
A loira põe a mão em seu ombro, provavelmente incomodada
com sua insistência. Ele olha para ela e então revira os olhos antes
de me entregar nos braços do Samuel.
— Isso mesmo, agora vão — diz ela, satisfeita.
Provavelmente estão juntos.
— Te vejo no escritório — ele diz enquanto se vira, nos dando
as costas.
— Até mais — digo por fim, feliz por estar finalmente indo
para casa.
Samuel me leva embora, nos braços, até um novo carro,
onde só dá partida quando se certifica de que eu estou mesmo bem.
O caminho inteiro ele não dá uma palavra, até estacionar do
outro lado da rua do meu prédio.
— Posso acompanhar você até o portão? — pede sorrindo.
— Só por precaução.
— Mas é claro.
Desfivelo o cinto, vendo-o correr até onde estou e abrir a
porta. Por que a maioria dos homens não fazem isso? Seria tão
bom...
Saio do carro e vou de braços dado com ele até o portão,
onde o José faz questão de me jogar uma piscadela, nos
observando.
— Quer subir? — ofereço já no portão.
— Melhor não, sua amiga deve estar esperando por você.
Bruna... Puta merda.
Como eu pude esquecer dela?
— Tudo bem, mas acho que ela ia gostar de te ver de novo
— digo, tentando novamente.
Gostei muito da forma como ele tratou minha amiga antes e
fiquei mal pela maneira como aquela mulher o tratou hoje cedo.
Quem sabe não rola uma química entre eles dois se eu der uma
forcinha agora que trabalho para ele? É de um cara legal assim que
minha amiga precisa.
— Hoje não, mas diga que eu mandei um abraço e que
minha proposta ainda está de pé.
Suspiro.
— Tudo bem, darei o recado.
Ele sorri antes de me abraçar.
— Vai, sobe logo. — Se afasta. — Se cuida, Monique.
Sorri sem jeito.
— Boa noite, Samuel.
Fecho o portão.
GOVERNADOR

R
AIVA? Raiva não era nada comparado ao que eu senti quando
aquele bando de filho da puta não tirou os olhos da minha mulher.
Minha vontade era de socá-los até aprenderem que NÃO SE OLHA
PARA A MULHER DOS OUTROS. Parecem um bando de virgens,
esses porras parecem que nunca viram mulher.
Puta que pariu.
Monique tinha que cruzar as pernas? E que inferno de
abertura era aquela? E a desgraçada tinha que levantar e exibir tudo
aquilo a eles? "Vou ao toalete." Me seguro firme na cadeira para não
fazer nenhuma besteira.
— Disse alguma coisa? — me provoca.
— Não disse nada. — Sou frio.
Ela me dá as costas e vejo que não vai mesmo ao “toalete”,
como havia dito.
Me levanto, derrubando a cadeira junto e saio da sala
disparado. Ouço alguns deles me chamando, mas ignoro esses
desgraçados.
Estou louco, em uma única noite ela conseguiu me levar do
céu ao inferno. Vê-la rebolando na pista me fez querer ir até ela e
arrastá-la daquele lugar. Dou um passo para trás ao perceber meu
descontrole.
— Achei você. — Ouço Camila atrás de mim.
— O que você quer? — Me viro, enfurecido. Péssima noite
para ela lidar comigo.
— Que bicho te mordeu? — diz e para na minha frente. —
Preciso que venha comigo.
Me afasto.
— Não estou pra gracinhas, Camila.
— Muito menos eu, mas o assunto é sério. — Mesmo a
contragosto, eu a encaro, procurando por algum sinal da mentira. —
É importante.
Olho para a porta de entrada novamente e vejo Monique de
volta a pista, ainda dançando com uma taça na mão. Encaro ela por
alguns instantes, decidindo se devo ou não ver o que essa aqui quer
comigo.
— Por favor — implora.
Bufo, enfurecido, dou uma última olhada para a Monique
antes de sair arrastando a Camila para o escritório que eu sei que
tem nesse lugar.
Solto seu braço já dentro da sala e não me dou o trabalho
sequer de fechar a porta, muito menos ainda ligar as luzes.
— O que você quer? — Me jogo sobre um dos sofás, já
exausto.
A noite de hoje levou tudo de mim, inclusive minha paciência.
— Você! — E se joga em mim. — Senti tanto a falta disso.
Me agarra. Seguro seus braços, ainda surpreso, e afasto ela
de mim, quando duas sombras entram no escritório. Solto os braços
da Camila, que logo tenta me agarrar novamente enquanto eu ligo o
abajur.
QUE MERDA É ESSA?
Jogo Camila para o lado e vou até eles em punhos fechados.
Minha paciência se foi por completo.
— O que está acontecendo aqui?
Depois de entender que de fato ela está mal, fico
completamente angustiado quando não me deu escolha e preferiu ir
com ele.
— Vou pegar uma bebida para a gente. — Ignoro
completamente a Camila quando sigo eles às escondidas sem que
percebam.
Saio pelos fundos, muito antes deles chegarem até o carro,
me jogo no banco traseiro e me escondo. Provavelmente eles nem
notem minha presença. É só não olhar para trás.
Me espremo ainda mais no banco para que não percebam.
— Tá tudo bem mesmo? — Vejo ele verificando o cinto dela.
— Tá tudo bem, sim, já podemos ir — responde com a voz
mais alegre.
— Ótimo. — Vejo ele dar a volta no carro e entrar.
Relaxo quando não trocam nem duas palavras, talvez eu
tenha exagerado.
— Posso acompanhar você? Apenas por precaução.
O quê?
— Mas é claro.
Droga.
Quando eles saem do carro me apoio às pressas sobre o
vidro para vê-los de braços dados caminhando até o prédio dela. Me
arrasto para fora do carro sem fazer barulho e vou abaixado pelas
sombras dos outros carros até chegar o mais próximo que consigo
deles.
Preciso escutar o que estão falando.
Fico de quarto atrás de um fusca amarelo e quando me
inclino para escutá-los dou de cara com o porteiro me encarando.
Ele pisca. O safado faz o mesmo tentando ouvir o que eles falam.
Me arrasto mais um pouco quando vejo eles se abraçando. O
porteiro joga uma risadinha afiada. Inclino mais um pouquinho e vejo
Samuel indo embora.
Droga, não deu para ouvir nada.
Me levanto arrumando o paletó e indo até o portão.
— E aí, governador, conseguiu escutar alguma coisa? —
Olho para o folgado do porteiro.
— Não! — digo, enfurecido. — E você? — pergunto,
esperançoso.
Curioso, ele me deixa entrar e eu vou até sua cabine, às
pressas, para não ser visto.
— Ela o chamou pra subir.
O QUÊ?
— E ele?
— Ele não quis, não. — Graças a Deus.
Amanhã mesmo aumento o salário do meu irmão, ele
merece.
— Certo ele. Meu irmão tem amor pela vida. — Rio. — Vou
subir — aviso já indo em direção ao elevador.
— Preciso avisar a dona Monique?
Nego com a cabeça e ele sorri.
— Surpresinha do dia dos namorados antecipada. — Pisco.
— Aproveite a noite, governador.
Aceno e subo, desejando mesmo ter uma boa noite.
Bato em sua porta sem parar, me lembrando de tapar o olho
mágico com o dedo.
— Já vai! — A ouço gritar.
Depois de alguns cliques, a porta é aberta e, para minha total
surpresa e felicidade, ela ainda está vestida com aquele vestido
satânico.
— Governador? — diz, surpresa. — O que faz aqui?
Olho de cima a baixo antes de fixar meu olhar em sua boca
ainda pintada de vinho.
— Você esqueceu de me entregar o celular — minto em
partes. — Preciso dele.
Ela empalidece.
— Oh, céus, me desculpe — diz e sai disparada pelo
apartamento. — Eu esqueci mesmo de entregar.
Aproveito a brecha e entro olhando tudo ao redor. Apesar do
apartamento ser simples, é tudo muito bem arrumado e perfumado.
Paro quando vejo ela inclinada, procurando por algo e meu olhar
recai em sua bunda.
— Quer ajuda? — Me sento admirando a paisagem.
— Só um segundo.
Recosto sobre o sofá, me sentindo à vontade no apartamento
enquanto observo ela procurando o aparelho. Péssima ideia eu ter
me sentado, meu pau pulsa ao ver ela se inclinar ainda mais, mais
um pouquinho e serei presenteando completamente com um pedaço
da sua bunda. Um vestido como esse jamais cobriria tudo em uma
situação como esta.
Me levanto, já agoniado com a situação e vou até ela.
— Achei. — Paro, vendo-a se virar sorrindo. — Aqui,
desculpa a demora.
Retiro o aparelho da sua mão e a agarro pela cintura,
puxando-a até mim.
— Por que fugiu de mim hoje? — digo e vejo ela engolir em
seco sem desviar os olhos dos meus.
— Eu não fugi — mente descaradamente.
— Então vai me explicar o que foi aquilo?
Ela começa a andar para trás, mas eu a puxo de volta.
— Aquilo o quê?
Acompanho seus passos para trás.
— Vi você na pista de dança logo após dizer que iria ao
“toalete". Por acaso você está fugindo de mim, Monique?
Paro quando a vejo cair para trás sobre o sofá. Ela olha para
mim de onde está, de um jeito intenso, tão intenso que sinto que
meu pau vai torar os botões da calça a qualquer momento.
Agacho o suficiente para ficar a sua altura ajoelhado no chão.
Acaricio sua bochecha, esperando pela sua resposta que não vem.
Ela fecha os olhos, apreciando o carinho das minhas mãos, quando
responde:
— Eu não me senti bem — sussurra.
Aproximo ainda mais do seu rosto.
— Odiei o jeito como eles olharam pra você hoje. —
Confesso, e é verdade. — Queria muito bater neles só por isso.
Ela abre os olhos e me encara.
— Me desculpa. — Pede, arrependida.
— Shiu. — Toco seus lábios. — Não peça desculpas por algo
que não fez, eu é quem lhe devo desculpas por ter levado você até
aquela sala sabendo que teve uma noite difícil com o meu irmão.
Ela sacode a cabeça, se dando conta do quão próximo
estamos. Antes que me arrependa de algo, eu me levanto e vou até
a porta, me segurando para não beijar aquela boca carnuda que
está me deixando louco desde aquela primeira noite em meu
apartamento em que pedi que fosse minha.
— Boa noite, senhorita. — Cumprimento a amiga que está no
vão do corredor me encarando e saio, fechando a porta atrás de
mim.
Ainda bem que pude me segurar. Vê-la daquele jeito diante
de mim só alimentou os pensamentos mais pecaminosos possíveis
com aquele corpo dela e o fato de tê-la como secretária não vai
ajudar muito.
Preciso me controlar.
Saio do prédio às pressas, discando o número da última
pessoa que eu esperava ver hoje.
— Onde você está?
— No mesmo lugar. Eu sabia que ia precisar de mim.
Entro no primeiro táxi que encontro.
— Me espere, estou chegando.
Desligo.
Não demoro muito para encontrar ela na entrada da minha
sala, me esperando.
— Foi rápido — me provoca.
— Cala a boca. — Avanço até ela, prendendo seu corpo
entre mim e a parede.
Aperto seu pescoço, do jeitinho que a safada gosta. Ela já vai
retirando meu cinto e olhando pra baixo, já sabendo seu papel.
Sorrio, porquê dessa vez não preciso ensinar.
— Olá, grandão, sentiu minha falta? — Abocanha meu pau
em sua boca. — Delícia...
Agarro seus cabelos da nuca e ela já me encara, se
preparando. Começo a foder sua boca com força, dessa vez ela já
está preparada e não engasga como das outras vezes.
— Isso... — Sinto meu pau deslizando em sua garganta.
Retiro algumas vezes para ela respirar, mas sempre volto
com tudo louco pra gozar nessa boquinha atrevida, que passa o dia
inteiro pra lá e pra cá rebolando essa bunda, enquanto trabalha pra
mim.
— Continua...— incentivo sabendo que estou quase lá.
Ela continua lá, me engolindo enquanto estoco forte,
lembrando da noite de hoje, do rosto da Monique em minhas mãos,
do corpo dela e principalmente daquela boca. Ah, aquela boca...
Aquele maldito vestido... E a cor da sua calcinha...
Não preciso de muito estímulo.
— Vou gozar! — aviso e ela se prepara enquanto eu gozo em
sua boca.
Retiro meu pau lentamente, saboreando vê-la de maquiagem
borrada com os lábios todo melado com a minha porra.
— Vai se limpar — peço. Ela levanta e vai até o banheiro,
fechando a porta. Aguardo ela sair e lhe entrego o envelope com
sua recompensa. — Bom trabalho. Já sabe, né? Segredinho nosso.
— Pisco.
— Claro, senhor.
Ela agarra o envelope e deixa o escritório às pressas, mas
feliz da vida, tão leve quanto eu agora.
Pego meu paletó e saio, pegando as chaves do meu carro,
dirijo completamente calmo, com os pensamentos agora somente
nela.
Monique...
Só de pensar que a terei em meu escritório todos os dias
meu pau começa a querer ganhar vida novamente. Chego o mais
depressa que consigo em casa e só depois de gozar igual um
adolescente no banho eu vou dormir. Nunca estive antes tão
determinado a ter uma mulher.
Aquela mulher ainda será minha, nem que pra isso eu tenha
que mexer meus pauzinhos e mude o rumo da história.
Sorrio só de imaginá-la implorando por mim, por minha ajuda.
Até que não seria uma má ideia.
MONIQUE

— Diz uma coisa pra tia aqui... Impressão minha ou tá


rolando o maior climão entre você e o governador?
Me sobressalto e dou de cara com Bruna no batente da porta,
me encarando.
Essa não.
— É impressão sua mesmo. Ele só apareceu para buscar o
celular dele que estava comigo. — Termino de retirar o vestido e me
jogo no sofá.
— Não foi o que pareceu — diz e se senta ao meu lado. — O
Gabriel e o Kleber são amigos e pelo que eu sempre vi do Gabriel,
ele não se daria o trabalho de buscar um simples aparelho por aí, se
a pessoa não fosse importante.
— O que você quer dizer? — pergunto e me viro às pressas.
— Quero dizer que ele nunca se importou com essas coisas,
não, amiga. Ele é determinado e calculista, nunca vi ele se dar ao
trabalho de aparecer a essa hora na casa de alguém, principalmente
se esse alguém for uma mulher.
— Isso é loucura — digo, estupefata.
Que eu estou me sentindo atraída por ele não seria nenhuma
novidade, mas... o contrário? Não, não pode ser. Como um homem
desse iria ter olhos para mim? Nunca.
Eu tive minha resposta quando o abajur foi aceso e eu vi o
que eles estavam fazendo naquele lugar. É óbvio. Aquela mulher,
sim, parece ser seu tipo. Ela é bonita, rica, elegante e divinamente
loira. Eu serei muito idiota se me comparar a ela.
— E é mesmo, o Kleber vai adorar saber dessa. — Pulo por
cima dela, impedindo-a de pegar o celular.
— Não se atreva... — ameaço e a vadia ri.
— Ora, veja só... Quem te viu, quem te vê. — Solto ela. — Se
ficou nervosinha, então tá devendo.
Lhe olho com irritação. É óbvio que ela queria me provocar e
eu caí, mas minha amiga pode ser tudo, menos idiota.
— Não seja idiota. — Me levanto às pressas, indo até a
cozinha tomar um fôlego longe dela.
Abro a geladeira, tirando de lá a jarra com água e cubos de
gelo, colocando sobre o balcão.
Franzo o cenho me deparando com uma pilha de
correspondências na mesa. Pego uma delas, analisando.
— Amiga? — chamo e ela para em minha frente.
— O quê? — Lhe mostro as cartas. — Ah, isso chegou pra
você assim que você saiu.
— Por que não me avisou?
Pego uma faca e abro.
— Estou avisando agora.
Reviro os olhos com a ousadia dessa folgada.
Fico surpresa pelo conteúdo e abro as outras, ainda sem
entender de onde vêm essas cobranças todas de uma só vez. Bruna
retira o copo da minha mão e senta junto comigo à mesa,
verificando o restante dos papéis espalhados.
— Puta que pariu.
Verifico novamente uma a uma para ter a certeza de que não
é uma pegadinha.
— Isso é impossível — digo, surpresa. Ela me olha sem
entender tudo isso, tão confusa quanto eu.
— Amiga, como você gastou toda essa grana? Caralho, é
dinheiro pra caramba.
Olho pra ela perplexa.
— Não faço a mínima ideia, nem cartões eu tenho, pra você
entender o quão fodida eu tô.
— E agora?
— Eu não sei, — digo, desnorteada — mas ao que tudo
indica, eu fui roubada. E agora tenho vinte dias para pagar eles ou
eles tomam meu apartamento de mim.
— E você vai pagar, né?
— Claro que não, sua louca. Onde que vou achar 90 mil reais
assim, pirou? Tenho nem dez centavos.
Vou até a sala, desesperada, lembrando das únicas pessoas
que podem foder minha vida. Procuro desesperada nas gavetas por
minha agenda com o antigo número dos meus pais. É provável que
ainda usem o chip antigo. Digito às pressas o número da casa e
nada... Chama, chama e ninguém atende, só dá caixa postal.
— Tá ligando pra quem?
— Meus pais — sussurro de volta.
Um, dois, três toques novamente e nada. Disco o número do
Mauro às pressas, mas também não dá em nada, esse nem chama.
Caixa postal também.
Onde eles se enfiaram que não conseguem ao menos
atender a droga do telefone? Principalmente em um caso como
esse. Que droga.
Completamente sem saída e desesperada, me vejo indo até
o quarto, já puxando a mala de cima do armário.
Não posso esperar um ou dois dias por uma resposta. Estou
disposta a largar tudo para ir atrás deles. Preciso descobrir o que
fizeram para sujar meu nome a ponto de me fazer perder minha
própria casa.
— Amiga, aonde você vai a essa hora da madrugada?
Olho pra Bruna parada na porta do quarto enquanto jogo
minhas coisas na mala.
— Resolver essa questão das cartas, amiga. Não posso
perder meu apartamento. Ele é a única coisa que eu tenho.
Já estou cansada deles sempre fazerem esse tipo de coisa
enquanto eu estou sempre tentando ser uma boa filha acobertando
seus erros, mas dessa vez meus pais foram longe demais.
Coloquei o apartamento no nome deles como uma forma de
segurança. Eu não tenho muita coisa, mas fiz o que pude para
comprar esse lugar e agora eles destruíram tudo assim, como se
não fosse nada. Vai ser ainda pior se o Mauro estiver envolvido com
quem não presta de novo.
Vou até a cômoda, escolhendo as roupas mais quentinhas e
arrumo tudo dentro da mala.
— Amiga, me deixe te ajudar.
Me viro pra ela.
— Obrigada, amiga, mas eu sei o quão duro você dá para ter
suas coisas. Não posso te pedir algo que nem você poderia me
ajudar. Meus pais foram longe demais dessa vez e eu preciso
primeiro ter a certeza de que realmente foram eles antes de tomar
qualquer decisão.
— Caramba, eles não param nunca, né? — O olhar dela vai
direto para a mala já pronta estendida na cama. — Tem mesmo que
ir?
— É o que parece, mas darei um jeito de voltar assim que eu
resolver esse B.O.
Volto minha atenção para a mala. Levarei apenas o que eu
acho que será o suficiente para alguns dias. Não voltarei pra casa
até que esse assunto esteja resolvido.
Pelo canto do olho vejo minha amiga se afastar. Nós mal
tivemos tempo de conversar sobre o que aconteceu com ela quando
vi meu mundo virar ao avesso.
É uma droga mesmo, no meu primeiro dia de trabalho, além
de ter sido levada do céu ao inferno por aquele governador canalha,
eu ainda acabei endividada, excitada e praticamente
desempregada, já que não comparecerei amanhã no escritório.
Duvido muito que depois de hoje o Gabriel ainda me queira lá.
Fecho a mala e arrasto ela até a sala, onde Bruna já me
espera acompanhada. Franzo o cenho sem entender como ela
chamou alguém tão rápido.
— Você? — Paro com a mala na metade do caminho.
Ela segura a mão do Kleber com um olhar hesitante em mim.
Essa garota não tem jeito.
— Boa noite, Monique — me cumprimenta.
Cruzo os braços sobre o peito olhando diretamente para ele.
— Boa noite, Kleber, o que faz aqui a essa hora? — Desvio o
olhar dele para ela esperando pela resposta. — E aí, gente,
ninguém vai falar nada, não? Vieram me contar sobre o que
aconteceu mais cedo e por qual razão a Bruna apareceu aqui
naquele estado?
— Eu pedi pra ele vim — ela diz descaradamente. Ótimo.
— Pediu, é? E pode me explicar o por quê? — Aponto para o
quarto. — Minutos atrás você estava toda tristonha e não pense que
eu esqueci o jeito como você apareceu aqui, não! Estava indo
resolver meus problemas, mas não pense você que não
conversaremos sobre o que aconteceu hoje cedo.
Solto tudo, indignada. Onde já se viu!
— Amiga, eu preciso te contar uma coisa. — Ao lado dela,
vejo Kleber arregalar os olhos e virar pra ela, me dando as costas.
— Não precisa, não, tá maluca? Ela pode estragar tudo.
Estragar tudo?
— Ela precisa da gente.
— O quê que eu vou estragar? — ouso perguntar, mas eles
não respondam, ficam por alguns segundos em silêncio enquanto
ainda se encaram. É Kleber quem finalmente quebra contato e é
também ele o primeiro a voltar a falar.
— Monique, ouça bem, eu adoro sua amizade com minha
Bruna, vejo o quão bem faz a ela e doeu muito envolver ela em
meus negócios, porque são muitos riscos. Bem... A verdade é que
eu não quero ser o responsável por você também. Não me entenda
mal.
— Kleber... Você prometeu ajudar. — Vejo minha amiga
choramingar.
— E vou, pequena, mas envolver uma pessoa como ela a
essa altura do campeonato é dar um tiro no próprio pé.
Do que eles estão falando? Me aproximo até ficar perto o
suficiente para eles me olharem.
— O que tá acontecendo aqui?
Eles se entreolham antes de chegar até mim.
— Monique... — Não olho para ele.
— Amiga, eu vi seu desespero e pedi ao Kleber para te
ajudar.
— Me ajudar? Como? — pergunto, curiosa.
— Mas tem uma coisa que você precisa saber antes. — Ela
segura na minha mão e me arrasta até o sofá onde sentamos juntas
ainda de mãos dadas.
— Vou estar no corredor. — Viramos o rosto para encarar
Kleber, que já está na entrada da porta.
Pisco algumas vezes, voltando minha atenção pra ela.
— O que eu preciso saber, Bruna? — Aperto forte as suas
mãos.
— Amiga, quero que entenda que independente do que eu
diga, saiba que eu pensei nisso em um ato desesperado para te
ajudar.
Cada palavra dela me faz ficar com mais medo.
— Fala logo.
— Sou uma Sugar Baby.
QUE?
— O que é isso?
Ela me olha sem acreditar.
— Como assim “o que é isso”? Em que planeta você vive,
Monique? Deus do céu...
— Fala o que é, então, ou vou olhar na internet... E pela sua
cara e toda aquela discussão com seu boy magia, eu prevejo que
não é coisa boa.
— Não, não é. — Suspira. — Eu faço sexo por contrato com
uma pessoa e ganho uma grana boa por isso.
Me levanto no susto.
— Você é prostituta? — Não acredito que isso saiu mesmo
da minha boca.
— Não! Não sou uma prostituta, tá maluca?
— O que é isso, então? — Dessa vez volto a me sentar.
Estou chocada demais para permanecer de pé.
— Prostituta fica com um e outro por aí para ganhar uma
merreca, eu, não — se explica. — Foi difícil esconder isso de você
durante esses anos e está sendo ainda pior agora, estar aqui diante
da única família que eu tenho e dizer toda essa merda que a minha
vida é, mas você precisa de ajuda e eu quero muito te ajudar. Entrei
nessa merda ainda na faculdade. Estava difícil estudar o dia inteiro
e trabalhar no bar à noite toda pra no final do mês não sobrar quase
nada e ver as coisas faltarem dentro de casa. Foi muito difícil,
Monique, não pense que não foi.
Estou cansada e perplexa com tudo isso. Ainda a olho
quando recosto a cabeça no sofá, esperando que continue.
— Vez ou outra no bar aparecia um ou dois playboys me
chamando pra sair, eu rejeitava, é claro. Até que um dia a luz de
casa foi cortada — continua — e eu me vi desesperada sem saber
como agir. Eu sabia que em breve seria a água e foi aí quando eu
aceitei. Sai com apenas um e então tudo começou. Eu comecei a
aceitar sair com os “playboys” que me ofereciam grana, no final do
expediente, para sair com eles, no começo eu era tímida e fazia por
necessidade, mas depois aquilo começou a se tornar diversão para
mim também — Ela sorri — e foi em uma dessas noites que conheci
o Kleber. A princípio, me deu muito tesão vê-lo, mas ele era apenas
um amigo importante do dono do bar que eu tinha que servir e tratar
bem.
Suspira.
— Conversa vai, conversa vem, ele acabou descobrindo o
que eu fazia no final do expediente e ameaçou me pôr na rua se eu
recusasse a sair com ele. — Gargalha. — A princípio achei loucura
e jurei fazê-lo pagar pela ousadia de ter me chantageado, mas ele
foi tão gentil comigo... Todos os dias ele me acompanhava até
minha casa. Eu suspeitava que era uma forma de me manter
afastada dos caras... E em uma das noites em que saímos, eu
acabei contando a ele que eu fazia aquilo por necessidade e, no dia
seguinte, quando eu menos esperava, ele já tinha pago minha conta
de luz.
— Então vocês dois são amigos?
Ela ri diante da minha pergunta.
— No começo, sim, ele só queria ser um bom homem
comigo... Até eu descobrir seus podres. Nesse dia ele ficou
realmente puto comigo, estava transtornado pela minha invasão e
foi quando eu esperei que ele se acalmasse e beijei ele.
— Você é doida.
— Foi aí que ele me propôs isso. Sou a Sugar Baby dele. Ele
cuida de mim, me protege... E eu sou só dele.
— Só dele, tipo... exclusiva?
— Sim, exclusiva. O Kleber trabalha no ramo da política há
muito tempo e pensei que talvez pudesse te ajudar apresentando
você a alguém que também estivesse disposto a ajudar você.
— Nem pensar. Tá maluca? — Me levanto às pressas, indo
até o corredor, chamando o Kleber pra dentro.
GOVERNADOR

B
ato firme na mesa do escritório. Vejo quando meus funcionários se
assustam com o barulho e não é pra menos. Notícias falsas foram
espalhadas por aí, a respeito dos acontecimentos em minha vida na
noite passada. Lembro-me de ter deixado o celular desligado desde
então e com isso ninguém da minha equipe conseguiu entrar em
contato comigo antes da bomba ser solta.
Os repórteres que estavam do lado de fora após serem
barrados com certeza tinham informantes dentro do evento, porque
só isso explica as imagens tiradas por um celular amador onde eu e
a Monique estamos nos esfregando na pista de dança, mas as
notícias falsas eram ainda piores. Eram imagens minha com a Mia,
horas depois, em um momento peculiarmente íntimo nosso.
“Governador é visto com uma funcionária no final da noite de
ontem, transando em seu gabinete. Será que ela é paga para fazer
hora extra?”
“Após ser acompanhado pela ex-namorada, Camila Brandão,
e ser pego dançando com uma assistente, o nosso governador do
estado da Bahia, Gabriel Almeida, é flagrado por repórteres,
transando com sua secretária contra a parede do escritório.
Pessoas que trabalham no local afirmam que isso é algo frequente,
pois eles escondiam o caso há alguns meses, para fugirem dos
holofotes.”
“Ex-namorada de Gabriel Almeida, nosso governador, diz
estar decepcionada por descobrir o caso do ex-namorado e revela
que na noite de ontem o próprio alegou sentir interesse em retornar
à relação que tinham.”
Desço ainda mais e vejo uma imagem que, apesar de não ter
uma boa resolução, mostra claramente o que eu fiz com minha
secretária ontem.
— Como essa merda foi acontecer? — Aponto para a notícia
que está diante de mim.
Ninguém fala nada. Contratei essa gente toda para trabalhar
para mim justamente para evitar que esse tipo de coisa acontecesse
e agora meu rosto e o da minha secretária estão estampados nos
principais sites e revistas de fofoca.
— Não sabemos como isso aconteceu, governador, apenas
pessoas autorizadas pela segurança do senhor teriam acesso ao
local.
Olho para parte da minha equipe.
— Então existe um traidor entre nós. — Engulo em seco
olhando novamente para a manchete. — Quero que essas notícias
saiam do ar o quanto antes e isso não foi um pedido, entenderam?
Eles murmuram algo antes de catarem seus pertences e
saírem do escritório assim como entraram: afobados. Estou
fervilhando de raiva. Faz mais de uma hora em que tento ligar para
o infeliz do Samuel e nada. Pra quê tem celular se não usa? Antes
não tivesse, caramba.
Disco o número da Mia, atordoado. Ela era a última pessoa
com quem eu queria falar agora. Ela atende no segundo toque e
posso sentir sua aflição no telefone.
— Governador... — começa.
— Quero você no meu escritório, agora! — exijo.
— Não posso, tem um monte de repórteres na minha porta e
eu não sei mais o que fazer. — Ouço seu soluço entre as palavras.
— Vem assim mesmo, Mia, eu preciso de você aqui, junto
com minha equipe, trabalhando de um jeito para amenizar essa
bomba.
Ela não responde, mas ainda ouço os soluços do outro lado
da linha. Digito às pressas uma mensagem para meus seguranças
irem até ela correndo.
— Ainda está aí, Mia? Preciso de você.
— O senhor tem certeza?
— Mas do que nunca — digo, confiante.
— Tudo bem, estou indo.
Suspiro aliviado, um trabalho a menos. Agora resta apenas
esperar alguma ideia surgir para acabar com essas notícias e
encontrar o desgraçado do meu irmão, que deve estar enterrado em
alguma boceta por aí, tentando superar a ex.
— Até mais, Mia. Eu te espero.
Encerro a ligação às pressas
Tento novamente ligar para o Samuel e nada. Jogo o celular
sobre o sofá, frustrado, e me sento na poltrona, recostando a
cabeça para trás e digerindo tudo o que aconteceu nas últimas
horas.
Quem poderia ter feito uma coisa assim? Algum inimigo?
Pessoas da minha equipe não fariam esse tipo de coisa. Sujar
minha imagem reflete no emprego deles.
Batidas na porta chamam minha atenção. Olho pra cima e
vejo a figura do meu tio parado nela, de braços cruzados me
encarando.
Desgraçado.
— O que quer aqui? — Me sento às pressas.
— Gostava quando você era mais educado com a família —
responde e minha vontade é de revirar os olhos pelo tamanho do
mimimi.
— A parte mais importante da minha família está em Porto
Seguro, até onde eu me lembre. — Me levanto. — Vou repetir a
pergunta, o que você quer?
Ele suspira e solta os braços ao redor do corpo antes de vir
até mim.
— Supera, cara. — Se aproxima e senta no sofá ao meu
lado. — Você sabe que eu não tive culpa, a Camila foi parar na
minha cama porque quis, — Suspira — mas eu não vim aqui pra
isso, discutir o passado pode ficar para outra hora, vim mesmo por
que vi as notícias e vim ajudar você. Eu sei que você precisa de
mim.
— Me ajudar como? — Resolvo deixar o outro assunto de
lado e focar no assunto atual.
— Sou advogado e, como sabe, um dos melhores deste país.
Então resolvi me juntar a sua equipe e limpar sua imagem de
“pegador".
Isso desperta totalmente meu interesse.
— E tem alguma ideia?
Ele arqueia uma sobrancelha e sorri ironicamente.
— Sim, mas preciso da moça que estava com você nas
imagens. Precisamos fazer com que ela fique do nosso lado, afinal,
ela é a peça chave da história. Uma palavra dela e você pode ser
acusado de assédio e perder seu posto.
— Ninguém me falou nada sobre perder meu posto.
— Por isso eu estou aqui para te ajudar. As imagens são
claras. Veja... — Ele retira um envelope da pasta e me entrega. —
Essas são as provas que podem ser usadas contra você, veja
bem... Analise você mesmo e diga‐me o que acha.
Olho claramente para as imagens dentro do envelope, retiro
algumas e olho chocado para a maioria delas. Nas fotos mostram
claramente o momento em que eu a agarrei pelos cabelos e forcei a
situação. Quem olha de fora, sem saber o real contexto, pode
acreditar que de fato não foi consensual e essa mentira tem
potencial de arruinar minha carreira política.
— Tive a mesma reação que você está tendo agora. Também
pensei em várias coisas nas quais poderíamos usar. Podemos
afirmar um relacionamento secreto... Não sei ainda, com certeza
pensarei em algo.
Olho para ele surpreso.
Me sento na poltrona e analiso as imagens novamente, agora
com uma qualidade melhor e me arrependo por não ter fechado as
persianas antes de ter voltado.
— A Mia está a caminho — digo, preocupado,
completamente em choque.
Só em pensar que minha carreira depende disso meu
estômago embrulha. De todas as coisas que eu tinha imaginado que
poderiam acabar com meus dias como político, essa sequer passou
pela minha cabeça.
— Ótimo, quanto antes resolvermos isto, melhor.
Jogo o envelope de volta para ele.
— Obrigado por vir.
— Estamos juntos nessa, família é para isso. — Ele bate
firmemente em meu ombro.
Apesar da nossa relação ter ficado fria no decorrer dos anos,
eu estou contente por tê-lo de volta.

Duas horas depois, estamos os quatro sentados em


diferentes lugares pelo escritório. Ao contrário do meu tio, que tem o
rosto pacífico enquanto analisa a situação, do outro lado do
escritório Samuel está espumando de raiva. Afinal, é sua obrigação
cuidar para que esse tipo de coisa não aconteça.
— E agora? O que vamos fazer diante de uma coisa como
essa? — grita com raiva.
Me levanto às pressas.
— Relaxa, enquanto for apenas fofoca está tudo bem — digo
e vejo os olhos da Mia se arregalarem.
— Mas eu estou sendo chamada de putinha do governador
— diz, revoltada. — Não sou putinha de ninguém! Eu nem sequer
sou puta.
Os olhos do meu tio voam até mim e sinto um frio na espinha.
Eu sei o que esse olhar significa. Ele pode estar certo. Caminho até
a Mia e me sento ao seu lado. Ela me olha surpresa por alguns
segundos e então relaxa quando seguro sua mão.
É a primeira vez que temos esse tipo de contato mais
afetuoso. Eu sei que ela é uma boa pessoa, talvez por saber disto
que eu a tenha escolhido para ser meu brinquedo pessoal no
escritório.
Seguro firme sua mão enquanto lhe olho. Ela precisa se
sentir segura comigo ou eu estarei completamente fodido, muita
coisa depende disto e eu tenho que parecer sincero.
— Ei, calma, tem muita gente trabalhando duro nisso, em
breve vamos esclarecer que toda essa história foi apenas um mal-
entendido.
Vejo os olhos dela brilharem.
— Jura?
— Eu juro. Estamos aqui justamente para que ninguém lhe
perturbe ainda mais. Você ficará uns dias em algum lugar seguro,
hotel-fazenda, spa... O que você preferir, para que se sinta segura
até que a gente possa resolver isso.
Olho de relance para meu tio, que sorri orgulhoso do meu
jogo. O contrário do Samuel, que sai batendo a porta atrás de si.
Ignoro a pequena demonstração de apoio do meu irmão
caçula e volto minha atenção a quem realmente importa nesse
momento. Convencer a Mia é minha prioridade nível hard.
— E então, o que me diz?
Ela retribui o aperto em minha mão quando responde:
— Tudo bem. Só quero que esse pesadelo acabe logo.
Sorrio, aliviado.
Meu tio só falta dar pulinhos e seguro o sorriso, imaginando
que vai dar tudo certo.
— Vamos resolver isso agora mesmo. — Volto para minha
mesa, providenciando tudo para que a Mia viaje o quanto antes.
Com ela longe as coisas ficarão ainda mais fáceis de
resolver. Meu tio passa parte da reunião digitando a nota que a Mia
assinará e mandará para a imprensa. Corro meus olhos através das
persianas abertas, que tem como vista a garagem do escritório e
duas sombras, me intrigam. Me aproximo da janela com cuidado
para que eu não seja pego espiando. E a cena em minha frente me
faz queimar de raiva.
— Isso já é demais!
MONIQUE

D
epois que o Kleber retorna para a sala, fico ainda mais constrangida.
Bruna revelou ainda mais coisas, uma delas foi que o Kleber sempre
lhe pedia para que arrumasse colegas para apresentar aos homens
importantes. Por diversas vezes meu olhar pousa sobre ele, que tem
o rosto frio, sem demonstrar nenhum arrependimento nas coisas
que faz.
Ele parece adepto a esse mundo da prostituição. Ao contrário
da mulher na minha frente. Ela conta as coisas tranquilamente,
porém, vez ou outra eu vejo o quanto está tentando ser forte, a vida
a obrigou a passar por isso e não a julgo. No final, quando acaba,
ela enxuga as lágrimas e me abraça antes de ir embora com ele.
Quando a porta se fecha, eu me sinto tão vazia e devastada
ao mesmo tempo, como se ela fosse embora fisicamente, mas sua
dor permanecesse aqui comigo. Eu choro, desabo como se
dependesse disso para sobreviver durante a noite inteira.
Ela passou por tanta coisa ruim e nunca sequer me contou ou
me pediu ajuda. Ao mesmo tempo que eu tenho que admirar sua
força, eu tenho raiva de mim mesma por nunca ter percebido o que
acontecia ao meu redor.
Kleber, apesar de eu não gostar dele, vejo a forma carinhosa
como cuida da minha amiga e apesar dos meus protestos em
aceitar a ajuda dele, ele prometeu que arrumaria um segundo
emprego pra mim e que seria um trabalho honesto. Fiquei aliviada e
surpresa pela proposta em me ajudar. Não posso recusar nada
agora.
Olho pra minha cama, que está tão lindinha e arrumada e
depois olho pra minha mala, decidindo o que farei agora. Tem a
questão da dívida, o trabalho no escritório amanhã e agora o novo
emprego que o Kleber arrumará pra mim logo em breve.
Estou tão cansada, meu dia foi cheio demais para que eu o
prolongue ainda mais.
Tranco a porta e me jogo na cama de roupa e tudo. Não
quero nem saber, é apenas disso que eu preciso por hoje. Amanhã
cedo eu resolverei todo o resto.

Acordo com o som estridente do despertador, mas não tenho


muito o que reclamar, apesar das poucas horas de sono.
Me levanto às pressas para chegar o quanto antes no
escritório. Preciso dar uma satisfação por lá, já que hoje será meu
primeiro dia e eu preciso tanto do emprego quanto resolver as
coisas com minha família. E, pra mim, o quanto antes isso for
resolvido, mais tenho esperança em ter meu apartamento de volta.
Retirar o imóvel do nome dos meus pais será a primeira coisa que
eu irei fazer assim que recuperar ele.
Minha casinha...
Depois de pronta, desço às pressas para o táxi, que já me
espera. Pegaria muito mal se eu chegasse atrasada no primeiro dia,
mesmo que realmente não seja meu primeiro dia, já que eu vou lá
apenas para pedir uns dias.
O motorista é simpático por todo o caminho e, apesar do meu
nervosismo, conseguimos chegar no escritório o quanto antes.
Desço do carro cambaleando, devido a minha falta de prática em
salto alto. Eles são lindos em festas, mas pra trabalhar são a cruz.
Paro no segundo seguinte ao avistar o Samuel andando de
um lado a outro no estacionamento. Caminho até ele, contente por
saber que está sozinho, assim ficará mais fácil de conversar com ele
a sós e contar minha situação na esperança dele me liberar hoje.
Paro três passos diante dele.
— Samuel?
Ele tem uma expressão surpresa quando me vê
— Monique... O que faz aqui? — Bate com a mão na cabeça
de repente. — Droga, eu tinha esquecido completamente — se
lamenta.
— Está tudo bem? — ouso perguntar ao ver seu estado.
Apesar de conhecer ele muito pouco, eu percebo que é um
homem animado e, apesar dos acontecimentos de ontem à noite,
não acho que estaria assim por aquilo
— Na verdade, não, aconteceram algumas coisas bem
chatas com o Gabriel e me sinto um merda por isso.
Basta dizer esse nome e meu peito vacila.
— O que aconteceu com seu irmão? Ele está bem? — Me
aproximo.
— Fisicamente, sim. Você não leu as últimas notícias? — Me
olha intrigado.
— Não tenho costume de olhar notícias e nem ver jornal. Por
quê?
Ele bufa e se agacha na pilastra do estacionamento.
— Então você é a única.
Olho para ele sem entender. Ele levanta de repente,
chutando uma pedra próxima e me entregando o aparelho celular
com a tela já aberta em uma página de fofoca.
Leio a notícia com as mãos na boca sem acreditar, além das
“mentiras" ditas por diversas páginas, algumas mostram claramente
o Gabriel agarrado em uma mulher, mas não qualquer mulher, é a
Mia, sua secretária. Eles tem um caso.
Sinto um embrulho no estômago e minha vontade é de correr
daqui e vomitar tudo que comi no café.
Ele tem um caso com a secretária.
Entrego o celular ao Samuel, que parece não ter notado a
forma como eu fiquei, e encosto sobre a mesma pilastra, procurando
por ar.
Ele tem um caso com a Mia esse tempo todo e
provavelmente tem com aquela mulher que vimos em seu colo
ontem à noite. Só de pensar que por muito pouco não cedi a ele
outro dia em seu apartamento... Eu começo a ter um pouco mais de
orgulho de mim mesma agora. Ainda bem que não fiz isso ou seria
apenas mais uma em sua lista, ainda mais agora, trabalhando para
ele.
Espera só um pouco...
E se ele me contratou justamente pra isso, para fazer comigo
o que faz com a Mia? Desencosto da pilastra e saio disparada para
dentro, procurando por ele.
Eu preciso tirar essa história a limpo.
— Monique, aonde vai?
Ignoro a voz do Samuel, que fica cada vez mais distante
conforme eu me afasto.
Estou com sangue nos olhos. Como ele pode ser tão
cachorro? Entro com tudo em seu escritório, fazendo a porta bater
forte sobre a parede e me arrependo na hora.
Meu olhar encontra o dele no mesmo instante que encontra o
da Mia. Ela está aqui também, e com ele, dentro de seu escritório.
Só quero que um buraco surja e eu possa enfiar minha cara
nesse exato momento.
— Me desculpa, não quis atrapalhar. — Seguro novamente a
maçaneta e estou prestes a fechar de volta quando alguém segura a
mesma do outro lado e puxa novamente a porta.
Fico cara a cara com o homem mais lindo que eu já vi na
vida. Os olhos são exatamente como os do Gabriel, mas diferente
dele, o homem aparenta ter entre quarenta a cinquenta anos, no
máximo. Me sinto envergonhada com o quanto ele é bonito e dou
um passo para trás quando ele se aproxima.
— Quem é essa coisinha linda na minha frente?
Engulo em seco.
— Minha funcionária. — Gabriel chega tão rápido ao meu
lado que mal tenho tempo de processar sua presença e o seu toque
repentino em meu ombro me incomoda.
— Até onde eu saiba, o Samuel era o meu chefe — corrijo
retirando a mão dele de mim.
— Era? — O homem estranho e bonito parece não desistir.
— Sim, era. — Lhe encaro. — Eu vim pedir demissão.
Não preciso olhar para o lado para saber que tenho ele me
encarando, ainda assim prefiro encarar o estranho à minha frente.
— Por causa dos últimos acontecimentos? — pergunta o
homem. — Não se preocupe. Nada lhe afetará e, além do mais,
tudo está quase resolvido.
— Demissão? — Não consigo olhar para ele. — Mas hoje é
o seu primeiro dia, não faça isso.
Minha vontade é de gritar com ele, mas me seguro. Tenho
que encarar a realidade, é assim com ele, é assim com o homem na
minha frente e é assim com a maioria dos homens. Eles só querem
diversão, isso é o que somos para eles, um pedaço de carne.
— Quem tá pedindo o quê aqui? — Olho o Samuel vindo às
pressas até nós.
Fito ele, que está parado agora ao meu lado, de braços
cruzados, olhando entre o homem à minha frente e o irmão.
— A Monique pediu demissão.
Pronto, é só o que falta. Olho para a Mia de relance, me
lembrando do que li nas notícias.
Apesar de estar com os olhos avermelhados e o rosto
inchado, tenho que admitir que ainda assim ela é realmente bonita.
— Como assim? Por qual razão? — pergunta Samuel, sem
entender metade da missa.
— Preciso viajar. Estou passando por alguns problemas na
família e preciso resolver eles o quanto antes — digo, sem jeito,
mas no fundo é verdade.
— Monique... — Gabriel sussurra. — Eu posso te ajudar, eu
disse que podia.
Chega! Que se dane. Me viro para ele com raiva.
— Não, você não pode! — esbravejo.
Posso sentir a atenção de todos em nós, mas ignoro.
— Posso e vou. O que você precisa?
Me afasto quando ele se aproxima.
— Que me demita.
Ele inclina ainda mais o rosto.
— Isso não vai acontecer — afirma e vejo pelo canto do olho
ele inclinar a mão para pegar algo.
Não posso ver o que é, mas estou tão furiosa que quero ver
aonde isso vai dar.
— Ah, não? E quem vai me obrigar a ficar? — Lhe olho de
cima a baixo, em desafio.
— No momento, estou apenas pedindo. Não me obrigue a
tomar decisões drásticas, Monique...
— Gabriel... — É a voz do Samuel.
— Não se meta, Samuel, isso é entre mim e ela.
Me afasto o suficiente quando noto o quão próximo
estávamos. Eu não tenho medo dele, apenas me sinto incomodada
por estarmos perto demais.
— Não tem essa de “entre mim e ela" — finjo uma vozinha e
me viro para o Samuel. — Era só isso que eu vim fazer hoje. Não
posso mais ficar aqui.
— Monique...
Ignoro o Gabriel e fico concentrada no meu verdadeiro chefe.
— Tem certeza, Monique? Não quer pensar mais um pouco?
Tira o dia para resolver essas questões.
"Claro, seria perfeito." Claro que quero falar isso, mas não
ouso dizer isso. Algo dentro de mim está adorando deixar o outro lá
irritadinho.
— Tenho. Eu preciso ir. — Seguro firme na alça da bolsa. —
Um bom dia a todos — desejo a eles, já caminhando para fora do
escritório.
Preciso de emprego? Preciso.
Mas não posso negar o quão mal me sinto naquele lugar.
Estou ficando mexida em relação ao Gabriel, aquele homem lindo e
poderoso. Acho que isso pode ter me deixado meio deslumbrada
por ele em algum momento, o fato de ser tão importante, além de
bonito. Talvez Samuel quisesse mesmo uma funcionária e não é
justo comigo mesma e nem com ele que eu continue aqui só porque
o irmão dele me queria.
Mal chego à porta quando o mundo gira. Sinto um aperto
firme em minhas coxas e bato a cabeça sobre as costas de alguém.
Demorou apenas alguns segundos para que eu perceba o
que aconteceu. Eu estou sobre os ombros dele.
— Me põe no chão! — grito.
— Eu avisei! — diz e corre em direção a garagem, comigo
em seu ombro.
Tento chutar o Gabriel enquanto empurro suas costas,
procurando qualquer coisa que o faça me soltar.
— Socorro — grito.
As pessoas nos olham assustadas, sem realmente entender
o motivo dos meus gritos.
— Socorro... Ele está me...
Paro quando sou atirada no banco traseiro de um carro.
— Calada. Não me faça amarrar você no banco — ele diz,
fechando a porta e vai até o banco do motorista.
Tento abrir as portas, em vão, todas trancadas. Chuto as
janelas com o pé quando vejo Samuel correndo atrás de mim e
suspiro, aliviada.
Ele vai me salvar.
Começo a dar leves socos no vidro tentando chamar sua
atenção. Ele corre até mim, acompanhado do mesmo homem do
escritório.
Eles chegam rápido e se põem na frente do veículo,
impedindo o Gabriel de dar partida.
— O que você pensa que está fazendo? — grita Samuel,
quando a porta é destravada e aberta.
Não espero que responda, pulo para fora do carro e o outro
homem me ajuda a permanecer de pé.
— Você está bem?
Olho novamente para ele antes de virar o rosto até onde o
Gabriel está.
— Agora, sim, obrigada.
De onde estou, ouço claramente a discussão entre eles. Os
olhos de Gabriel não deixam os meus até eu sentir uma mão pousar
sobre o meu braço.
— Posso te levar em casa, se preferir. Vejo que teve uma
manhã difícil. Meu sobrinho não está bem. Ele acabou ficando muito
abalado com a repercussão do caso com a secretária. Deve ter
ficado com medo de você denunciá-lo.
Me viro para o estranho fervilhando de raiva.
— Eu jamais faria uma coisa dessa! — Afasto sua mão de
mim no mesmo instante.
— Não leve a mal minhas palavras, estou apenas exercendo
meu papel de tio e advogado dessa família.
Advogado do diabo, isso, sim.
— Eu só preciso ir para casa. — Dou as costas pra ele e pra
toda essa merda.
— Espere — ele diz e eu paro para olhar pra ele. — Me deixe
ao menos te oferecer uma carona — pede.
Faço que sim com a cabeça e ele segue para o meu lado,
nos guiando até seu carro. Enquanto eu entro no carro, posso ver a
Mia na janela do escritório, chorando.
Talvez as coisas não sejam do jeito que eu estou pensando.
GOVERNADOR

Q
ue eu perdi a cabeça, isso não é novidade, mas o olhar que
Monique me dá nesse momento me quebra inteiro por dentro. Ao
contrário do olhar que ela havia me dado em meu apartamento,
esse agora é a última coisa da qual eu me esquecerei: medo.
Ela sente medo de mim e eu preciso admitir que tem razão
para isso. Sei que esse é o momento certo de recuar e a deixar, pois
a atração que eu sinto por essa mulher me deixa completamente
louco, tão louco que perdi a cabeça e agora só tenho uma forma de
consertar tudo isso
— O que me diz?
Olho atordoado para o meu irmão. Estava tão perdido na
bagunça que estão os meus pensamentos que não consegui
escutar nem metade do que ele falou.
— Tem razão — concordo, mesmo não fazendo ideia do que
tenha dito.
— E então: quando vai embora?
Embora?
— Embora pra aonde, posso saber? — Me viro às pressas
para ele, que resmunga.
— Não escutou nada do que eu falei, né? Típico seu. Estava
falando sobre antecipar suas “férias”, passar uns dias longe dessa
bagunça. Vai te ajudar!
Ajudar? Talvez.
Por mais que a ideia seja boa, eu ainda quero estar aqui,
perto dela, para arrumar um jeito de me desculpar.
— Talvez.
— Talvez não é uma opção, você não está em condições de
exigir algo, Gabriel. Ligarei para os nossos pais hoje mesmo,
avisando de sua ida.
Eu ainda estou atordoado com os últimos acontecimentos,
minha vida está pela primeira vez virando do avesso.
— Não estou em condições de quê?
— Você acabou de tentar sequestrar uma funcionária! Olha
pra você, está desesperado.
— Não ia sequestrar ninguém — minto. Eu ia, sim.
— Ah, não?
— Não! — nego. — Que tipo de homem acha que eu sou?
— E aonde o senhor feudal ia levando minha assistente
daquela forma, posso saber?
— Para sua casa — respondo.
— Minha casa? — Isso o fez espumar. — O que você ia fazer
com ela na minha casa?! — berra.
Bufo.
— Não faça perguntas difíceis, meu irmão, creio que não vai
gostar da resposta.
— Você enlouqueceu! Isso é estupro, sabia?
É a minha vez de olhar para ele.
— Eu nunca precisei forçar uma mulher a nada, meu irmão.
— E você acha que levar uma mulher contra sua vontade e
seduzi-la daria certo? — Faço que sim. — Você enlouqueceu, mais
um motivo para antecipar suas férias.
Dou de ombros.
No fundo eu estou mesmo querendo isso, só preciso de um
motivo para me afastar dessa bagunça.
— Quer saber? — Jogo as mãos pro alto. — Você tem razão!
— Tenho? — Sua expressão desconfiada quase me faz rir.
— Com certeza! E digo mais: providencie tudo para o nosso
tio também, agora ele faz parte da equipe e vai te ajudar a cuidar de
toda essa bagunça.
— Finalmente... Bom saber que o nosso titio está de volta,
sinal que está tudo bem entre vocês agora, né?
Quase rio da cara que ele fez.
Meu querido irmão perde os dentes, mas não perde a piada,
como sempre.
— Esse assunto já não me importa mais há anos e confesso
que me arrependo por o ignorar todos esses anos, mesmo sabendo
de quem era a culpa.
Tiro as chaves do carro e lhe entrego.
— Bom saber disso, o papai vai ficar orgulhoso.
— É, ele vai.
Talvez não.
MONIQUE

P
asso todo o caminho até em casa pensando no que eu vou fazer
agora, como se já não bastasse a droga da dívida e o risco de
perder o apartamento, eu esqueci completamente de colocar um
filtro entre a boca e o cérebro e fiz merda. Eu tinha mesmo que pedir
demissão no meu primeiro dia de emprego? Que burra, cara.
Graças a Deus o homem não fala uma palavra sequer todo o
caminho, mas eu percebo que fica nervoso depois de visualizar algo
em seu celular. Não que seja da minha conta ficar bisbilhotando,
mas confesso que estou morrendo de curiosidade para ver o que
era.
E apesar do seu nervosismo, ele é gentil quando para na
frente do meu prédio e só vai embora quando eu já estou dentro
dele, ao lado do José, que me dá leves sorrisinhos maliciosos. Eu
até sei o que se passa na cabeça desse fuxiqueiro!
— Bom dia para o senhor também, seu José — ironizo.
— Bom dia, senhorita Monique, dia lindo, não?
Adoraria atirar algo nele!
— Muito! Chegou alguma coisa pra mim?
— Não, senhora, mas sua amiga esteve aqui atrás da
senhora.
Dou meia volta e corro até ele, arrastando-o até um canto.
— Bruna esteve aqui?
— Esteve, mas pra que esse negócio todo, dona Monique?
Ela está sendo procurada?
Isso me faz rir.
— Oh, não, seu José, me desculpe. — Me afasto um pouco
mais. — É que ela está passando por alguns problemas com o
namorado, não queria que alguém passasse por nós e ouvisse. —
Onde foi que eu aprendi a mentir?
— Entendi. Ela esteve aqui tem pouco e disse que ia atrás da
senhora.
— Disse, é?
— Disse — confirma.
— Tudo bem, obrigada. Qualquer coisa me avisa, seu José
— digo isso praticamente correndo até o elevador, que abre as
portas logo em seguida.
— Não tem de quê, dona Monique — grita.
Saio do elevador procurando pela minha chave que nem uma
doida. Estou super apertada para fazer xixi desde o ocorrido de hoje
cedo, estive esse tempo todo me segurando, mas, agora, estou
prestes a mijar nas calças.
Abro a porta derrubando tudo o que tem pela frente e entro
com tudo no banheiro, agradecendo mentalmente por ter usado uma
roupa fácil de retirar.
Bônus

BRUNA

O
táxi me deixou na porta do escritório do Gabriel, conforme eu havia
pedido. Guardo o papel com o endereço na bolsa e entro. Está
vazio, não há ninguém sequer para me receber, olho ao redor da
recepção e nada. Estou prestes a ir mais a frente quando uma
gritaria do outro lado da rua chama minha atenção, chego perto o
suficiente da janela para ver o homem encantador que estava na
casa da Monique aquele dia discutindo com o Gabriel.
Lamento por ter esquecido o nome do pobre rapaz, mas um
movimento à direita chama minha atenção: minha amiga está
entrando dentro de um carro com um homem estranho e parece
abalada, a julgar pelos cabelos, um verdadeiro horror.
— Posso ajudar? — Me assusto com a voz melancolicamente
chorosa da secretária.
— Aí, quase me matou! — Pressiono a mão sobre o peito,
ainda trêmula.
— Me desculpa, eu não tive a intenção de a assustar. Hoje
não está sendo um bom dia para todos.
— Imagino. — Tento compreender, mas eu não imagino
droga alguma, mas algo está acontecendo aqui e eu preciso saber
— Então... Qual seu nome?
— É Mia, senhora, eu conheço você... É a esposa do Kleber!
— Oh, não — digo, já odeio ter o título de namorada, esposa
só piora tudo. — Apenas namorada.
A mulher mantém um olhar confuso dirigido a mim, claro!
Toda vez que me vê eu estou pendurada no pescoço ou no pau
daquele varal humano.
— Então, Mia, — prossigo. — Aconteceu algo por aqui? Vim
falar com minha amiga e acabei de vê-la entrar no carro de um
estranho, sabe me dizer o que rolou aqui?
— A senhora não leu as notícias?
— Que notícias? — Ela vai até a bancada e busca um jornal,
entregando-me, leio as notícias atônita, com sede, tudo é uma
verdadeira bomba atômica. A foto de Gabriel com Mia está
estampada na capa de um jornal que todo mundo lê. Imagino como
deva estar uma loucura os jornais de fofoca e me surpreendo por
não haver um repórter ainda plantado na entrada do escritório.
Isso também explica o mau humor terrível do Kleber hoje
cedo. Ele acordou com a cueca do avesso.
— Sinto muito, Mia, eu não fazia ideia que tinha um caso com
o Gabriel.
— E não tenho.
— Como não? — Mostro-lhe a capa do jornal. — Isso aqui
dificilmente é montagem.
— Não temos um caso, eu apenas agrado ele e ele me ajuda
financeiramente.
Isso, sim, realmente me choca, o Gabriel paga para foder a
secretária para não ser visto com prostitutas. Amei!
—E ele paga bem?
— Sim — responde envergonhada.
Que se dane sua vergonha! Eu preciso saber de mais.
— Bem quanto? — pergunto, já na intenção de discutir com o
Kleber se o valor que ela ganha supera o que eu recebo.
— Bem o suficiente para me ajudar com as despesas em
casa e na faculdade.
— Entendo, mas me diz uma coisa aqui, Mia, — sussurro
para que apenas ela possa ouvir — qual o tamanho da vara? — Isso
a faz rir.
— Grande, bem grande. — A safada cobre o rosto tentando
conter o riso e a vergonha.
Essa é das minhas!
— O que é bem grande?
Pulo com a voz do gato misterioso.
— Que susto. Quer me matar por acaso? Podia bater antes.
— Sento novamente.
— Tá, mas o que é “bem grande"?
Enxerido!
— Meu namorado — digo como se não fosse nada. — Meu
namorado é grande.
Finjo costume, esperando que ele acabe com esse joguinho e
engula essa. Está óbvio que ele ouviu nossa conversa, mas eu não
darei o braço a torcer, continuarei firme e forte e aí da Mia se abrir a
boca. Eu torço o pescoço dela!
— Seu namorado… grande?
— Isso mesmo.
Ele desvia o olhar de mim para a Mia, que eu sinto ficar tensa
no exato momento.
— Eram disso que estavam falando, Mia? — pergunta a ela
enquanto me avalia.
Desordeiro...
— Sim, Samuel, o homem é realmente grande.
— Muito grande! — continuo.
— Isso. — A Mia ri a ponto de encolher os ombros. — Muito
grande!
Ele semicerra os olhos que se dirigem entre mim e ela, não
há mais desculpas. Ele é obrigado a engolir essa.
Seus olhos se desviam para Gabriel, que acaba de entrar na
sala e para ao seu lado, conseguindo atrair a atenção de todos.
Parece furioso quando segura um dos ombros do Samuel e entra
rapidamente em sua sala. Samuel suspira antes de olhar para a
Mia, que também está tensa, pelo visto o clima aqui não está dos
melhores.
Samuel... Esse era o nome que ele havia me dado no
apartamento quando ficamos sozinhos no quarto de Monique. Como
eu pude esquecer?
Havia tido uma briga horrível com o Kleber naquele dia e corri
para a casa da minha amiga quando ele me apertou em seus braços
e me colocou sobre a cama.
Por impulso, agarrei sua camisa e o puxei para perto de mim
naquele dia. Beijei ele com tanto desespero que o bichinho saiu
praticamente correndo do quarto. Estava com raiva do Kleber e
machucada pela surra que havia levado e acabei não pensando
duas vezes quando puxei o corpo do Samuel entre as minhas
pernas.
E, apesar de sentir o quanto ficou excitado, ele afastou o
beijo e saiu do quarto, mas não sem antes me lançar um olhar triste.
O mesmo olhar que ele me lançou naquela noite, ele lançava
agora a Mia, que tocou meu braço e se levantou.
— Eu preciso ir — ela diz enquanto se ajeita, quando a olho
com simpatia, já há no rosto dela a tristeza de minutos atrás.
— Tudo bem, nos vemos por aí.
Ela apenas acena e sai, deixando-me sozinha com Samuel.
Espero apenas que a porta do escritório se feche para que eu saia
disparada para fora do lugar, corro o mais rápido que posso, mas
ele me alcança.
— Onde que a gatinha beijoqueira pensa que vai?! A gente
precisa conversar.
— Pra casa, obviamente — respondo grosseiramente
enquanto tento me livrar de seus braços. — Me solta.
— Não sem antes saber que história é essa de “bem grande",
vai me explicar tudinho. — Dito isso, ele me arrasta até uma outra
sala ao lado da do Gabriel e entra comigo ainda me debatendo em
seus braços.
— Ordinário... Não pode fazer isso, eu não te conheço. Me
solta! — E ele solta.
Vira-se apressado e tranca a porta colocando a chave no
bolso antes de sorrir para mim. Olho no mesmo instante e avanço
em seu bolso.
— Me dê logo isso.
Ele corre para longe de mim até o outro lado da sala, a sala
está praticamente vazia, há apenas uma mesinha de centro que nos
separa.
— Droga, Samuel... Me deixe ir embora daqui.
Ele parece se divertir com meu desespero e isso me deixa
com ainda mais raiva.
— Não sem antes me explicar por qual razão me beijou
naquela noite. Tenho o direito de saber. Não acha que me deve uma
explicação?
Tem o direito, sim, mas não lhe darei esse gostinho...
— Não acha que me deve, também, uma explicação por ter
me trancado aqui? — tento mudar de assunto.
— Bruna... — Parece um aviso.
— Impulso... Foi o mais puro impulso — respondo, mas ele
não parecia convencido.
— Mentira.
— É verdade… — continuo. — Estava triste e machucada…
Quando vi um homem bom e bonito como você se importar com
meu estado, acabei me exaltando e te beijei, me desculpa por isso...
Agora eu posso ir?
Ele nega com a cabeça, mas seus olhos verdes ainda
permanecem em mim, claramente interessados.
— Não, não vai sair desta sala até que me diga a verdade.
— Que verdade? Eu já disse tudo...
— Quem te machucou, Bruna? Diga-me. — Dessa vez há
suavidade em sua voz. Ele parecia realmente preocupado.
— Não faça isso, Samuel. Essa história não é sua.
Digo e, então, me afasto, porém, ele dispara até mim em
instantes e arfo quando percebo o quão próximos estamos.
— Eu vi seu estado naquela noite, me deixe te ajudar... Por
favor.
Me afasto novamente. Ele está querendo mais do que eu
posso lhe dar.
— Eu não preciso de ajuda, eu estou bem. — Caminho até a
janela a fim de me afastar dele, avaliando as laterais dela,
procurando uma forma nem que seja mínima de sair desse lugar.
Infelizmente não há, minhas opções são realmente poucas.
Eu precisaria quebrar o vidro para isso. Sinto ele se aproximar e
olho para baixo, medindo a altura da queda, caso desse para pular.
Cerca de três metros. Na melhor das hipóteses, eu acabaria
estabanada no chão. Vou me virar quando sinto sua respiração em
meu pescoço.
Tomara que ele não seja um tarado.
Dessa vez seu olhar está diferente. Parece furioso com algo,
mas o que me assusta é que esse olhar está direcionado a mim
neste exato momento, o que me faz dar apenas um passo para
atrás para que eu fique imprensada entre a vidraça da janela e ele.
— Se afaste ou eu grito! — Ameaço.
— Acho que você terá mesmo que gritar, porque eu preciso
fazer uma coisa antes... — Seu olhar recai em minha boca.
— Fazer o quê? — indago, tentando sair, mas ele é mais
rápido e coloca ambas as mãos nas laterais de meu corpo.
Eu estou presa.
— Uma coisa que está me tentando desde ontem e eu não
pretendo facilitar nada para você, fique sabendo disso.
Fico ofegante.
— Tudo bem, então, faça! — Passo a língua nos lábios e lhe
encaro em desafio.
Quem pode culpar os hormônios?
Minha resposta o deixa descompassado e eu aproveito para
rir, é engraçada a confusão estampada em sua cara.
— Eu... — Ele está recuando.
— Você o quê? — Bufo. — Desistiu? Típico de um homem
fraco.
Empurro um de seus braços, que estão impedindo minha
passagem e dou a volta, porém, a mão dele agarra minha cintura e
me joga contra a parede novamente, sua outra mão vai até a minha
cintura antes de sua boca se impulsionar contra a minha.
Eu resisto quando força sua entrada em minha boca, mas
acabo cedendo ao beijo conforme ele me força a aceitá-lo.
O beijo é tão urgente quanto o outro. Nossos lábios se
devoram e vez ou outra posso sentir o tintilar dos nossos dentes se
batendo.
Sua boca se afasta da minha por segundos, mas não demora
até que desça até o vão dos meus peitos, chupando-os. Meio
inebriada com o beijo e os chupões que dá em minha pele, mesmo
assim, faço com que minha mão desça até seu quadril, chegando
até o maldito bolso e tirando de lá a chave, sem que ele perceba.
Sua boca sobe novamente de encontro a minha, mordo com
força sua língua para fazê-lo se afastar.
— Droga, por que fez isso? — Se afasta às pressas,
colocando um lenço sobre a língua.
Bem feito.
— Você ainda quer saber o por quê? — Vou até a porta
quase cambaleando e destranco às pressas. Ele tenta me impedir,
mas é tarde demais, eu já estou do outro lado. — Porque você é um
babaca arrogante!

MONIQUE

E
stou tão distraída me arrumando que sequer ouço o celular tocar. Eu
e minha mania terrível de deixá-lo sempre no modo silencioso! Pego
o aparelho apenas para verificar as horas e vejo as ligações do
Kleber.
A julgar pela quantidade de chamadas é algo urgente.
Recebo uma mensagem da Bruna me pedindo para encontrá-los em
um barzinho muito conhecido na região. Seguro a bolsa firme no
braço e vou. Estou mais curiosa que desesperada. Tenho esperança
de que Kleber consiga me ajudar a arranjar a grana do banco antes
que eu perca o apartamento.
Ainda é cedo e percebo que o bar está fechado a essa hora,
caminho até uma das portas duplas e bato, um segurança força a
entrada e ela se abre para mim. Sorrio agradecida antes de entrar
no local. Várias pessoas trabalham ali, incluindo faxineiras, que
fazem seu trabalho com pressa.
De onde estou posso ver minha amiga sentada em um sofá
um pouco mais afastado do centro do bar. Começo a caminhar até
ela, mas paro logo quando vejo Kleber gritando ordens para alguns
homens, que assentem. Ao olharem para mim, um deles aponta,
chamando a atenção do Kleber e suspiro enquanto me dirijo a ele,
forçando no meu rosto um sorriso de doer as bochechas.
— Você demorou — diz e parece furioso.
Ignoro seu tom de voz e vou até ele, o cumprimentando
brevemente com um beijinho de cada lado da bochecha.
— Desculpa não ter visto suas ligações, estava com a cabeça
cheia.
Ele aponta para uma das cadeiras e eu me sento.
— Eu imagino. Gabriel me contou do ocorrido.
— Contou? — Por essa eu não esperava.
— Sim! E me pediu para ajudá-la.
Ele só pode estar brincando, além da tentativa de sequestro,
ele ainda ousa pedir ajuda ao amigo para importunar ainda mais
minha vida.
— Foi pra isso que me chamou? Eu deixei claro que não
denunciaria ele pela ousadia de hoje cedo.
Pego a bolsa novamente e me levanto, disposta a ir embora,
mas ele é mais rápido e segura meu braço, me mantendo no lugar.
Nesse instante, meu olhar vai para o seu braço, que segura firme no
meu.
— Solta — mando, pois estou prestes a socá-lo.
— Tenho uma proposta. — Dito isso, ele afrouxa seu aperto e
eu me sento.
— Que proposta?
Ele para por um instante e seu olhar percorre todo o meu
corpo, o que me incomoda. Tira um guardanapo do bolso esquerdo,
colocando sobre a mesa, e começa a falar:
— Sou sócio desse bar — O dedo dele roda, me fazendo dar
uma olhada em volta — e eu e meu sócio temos alguns outros bares
como estes, porém, este é para o público em geral. A questão é que
eu tenho uma rede privada e decidi te ajudar… se decidir trabalhar
comigo, vai lucrar muito, Monique. Você tem um belo corpo, eu não
pude deixar de perceber.
Meu olhar recai na minha amiga ainda sentada no mesmo
canto com o olhar cabisbaixo. Não preciso de muitas palavras para
entender o que ele quer me dizer.
— A resposta é não — cuspo as palavras nele.
Eu não sou idiota. Sei muito bem que tipo de trabalho ele me
arrumará. Agora tudo faz sentido.
— Você nem terminou de ouvir minha proposta.
— Mas não preciso ser nenhum gênio para saber em que
lugar isso vai dar. — Me aproximo apontando um dedo em seu
peito. — Não me trate como uma prostituta, eu não sou!
— E ela é? — Meu olhar recai novamente nela.
— É diferente. — Me afasto dele às pressas.
— Eu só quero te ajudar — murmura, me deixando perplexa.
— Não estaria me ajudando se me colocasse na prostituição,
Kleber — rebato.
— Por isso eu não queria te ajudar, mas é a única coisa que
posso fazer por você, Monique. — Dito isto, ele segura novamente o
papel. — Sua amiga me pediu para investigar quem fez isso com
você... Foram seus pais, mas acho que no fundo você já sabia.
Eu concordo.
— Não tinha certeza ainda. Eu tenho até o final do mês para
pagar ou vou perder minha casa.
— Meus advogados podem cuidar disso se você ainda quiser
minha ajuda. Eu sinto muito, Monique, mas essa é a única forma
que eu tenho de te ajudar. Seus pais pediram dinheiro ao banco
para saldar uma dívida feita pelo seu irmão. Lamento pelo prazo não
ser maior.
— Meu irmão? — Isso me surpreende.
— Sim. Olha, — Ele me entrega um cartão — eu darei uma
festa hoje à noite nesse endereço. Aparece por lá para conhecer e
ao menos ver como é. Você ganharia muito dinheiro com isso,
Monique, isso eu te garanto. — Se levanta e sai, me deixando
sozinha.
Estou perplexa. Eu não posso acreditar que meus pais
tomaram dinheiro no banco para saldar as dívidas do Mauro. Isso
explica o fato deles não terem nem ao menos me comunicado sobre
a dívida. Estavam e ainda estão protegendo seu primogênito.
Observo o cartão em minhas mãos por apenas alguns
segundos. Agora eu preciso mais que nunca lutar para ter meu
apartamento de volta e a primeira coisa que farei será tirar minha
casa do nome deles.
Estou frustrada demais. Eles tinham ao menos que ter me
comunicado da dívida. Kleber está do outro lado do salão dando a
notícia à minha amiga, que dessa vez finalmente lembra que eu
estou aqui. Quando ele sai — provavelmente chateado — eu vou
até ela às pressas.
— Então você não aceitou? — pergunta assim que me sento
no sofá ao seu lado.
— Não.
— Por quê?
A resposta é óbvia, mas não tenho como dizer isso sem
magoar ela.
— Não faz pergunta difícil. Eu quero saber como você está —
mudo o assunto rapidamente.
— Por que a pergunta é difícil? Pra mim é muito simples, só
responde.
— Porque eu não quero ser uma prostituta. Satisfeita?
Engulo em seco esperando que não fique magoada.
— Muito. Não quero ver você nessa vida mesmo, mas tinha
fé que você ao menos pudesse aceitar o dinheiro. — Dá de ombros.
Ouvir isso me ajuda um pouco, me deixando mais aliviada. Por
instinto, me aproximo o suficiente para puxá-la em um abraço. —
Kleber me contou sobre o seu irmão. Acho tão injusto você perder
sua casa por causa das merdas dele — sussurra.
— Não sei mais o que fazer, amiga, parece que ele não
amadurece nunca com essas atitudes e meus pais nem me
atendem mais. Eu preciso arrumar um jeito de conseguir o dinheiro
o quanto antes para salvar meu apartamento ou vou parar no olho
da rua.
— Acho que posso te ajudar.
Me afasto instantaneamente para lhe encarar, com a
esperança de realmente me ajudar em algo.
— Como?
— Posso conseguir o dinheiro emprestado.
— Com quem? — Se tratando dela, não estou certa se quero
mesmo saber.
Ela revira os olhos.
— Com o Kleber, talvez ele me empreste.
— Tem certeza? Ele não parecia disposto a emprestar
dinheiro alguns minutos atrás.
Ela tem o cenho franzido agora.
— O que vocês conversaram? — A confusão está estampada
em seu rosto.
— Ele me ofereceu um emprego. — Coloco o cartão que ele
havia me dado sobre sua mão.
Ela analisa a frente e o verso antes de segurar minha mão e
me puxar em direção ao andar de cima em passos duros.
— Aonde a gente está indo?
Ela não responde, apenas continua subindo os degraus, nos
levando possivelmente a alguma sala privada.
Ela não bate na porta quando entra, solta minha mão apenas
para ir até o Kleber e empurrá-lo sobre o assento. Ele se levanta
estendendo a mão para revidar quem atacou e só para quando
percebe, rapidamente, que é ela.
— Quantas vezes eu já te pedi pra você não fazer esse tipo
de coisa? Eu poderia machucar você sem perceber. Que droga,
Bruna!
— Você mentiu pra mim. — Dito isso, ela coloca o cartão
sobre o peito dele com força.
Ele coloca a mão sobre a dela quando puxa o cartão pra si e
engole em seco quando olha pra mim.
— Você me pediu para ajudar ela e eu fiz.
— Bruna... — a chamo.
— Você prometeu, Kleber, eu confiei em você! — Ela
empurra o peito dele novamente.
Ele tenta alcançá-la, mas ela é mais rápida, mantendo uma
distância entre eles. Ouço quando mais homens entram na sala e
permanecem logo atrás de mim.
— Achei que eu podia confiar em você, mas estava
enganada de novo. Você mais do que ninguém sabe da razão pela
qual eu entrei nessa vida e no quanto sou grata a você por ter me
tirado dela. Você não tinha o direito de oferecer a ela a mesma vida
que eu tive. Ela é tudo o que eu tenho, caramba, e ainda sim você
fez isso.
— Eu preciso dela. — Essa declaração dele nos surpreende.
— Por que você precisa de mim? — Me aproximo ficando ao
lado da minha amiga.
— Tenho planos pra você, Monique, e uma proposta
incrivelmente boa que despertará seu interesse em um futuro
próximo.
— Ela não quer ouvir proposta alguma — minha amiga
responde, me deixando orgulhosa.
— Quero ouvir isso da boca dela quando ela ouvir a respeito.
— Se aproxima o suficiente para intimidá-la.
Minha raiva aumenta. Essa é a primeira vez que eu presencio
uma desavença deles e agora está explicado a razão de ela sempre
acabar correndo para meu apartamento toda vez que isso acontece.
Nenhuma mulher gosta de ser intimidada dessa forma.
Seguro o braço da minha amiga afastando ela desse brutamontes,
mas infelizmente quando damos alguns passos, os seguranças
bloqueiam a nossa saída.
— Sai da frente, inferno — ela grita para um deles, que nem
sequer se move um centímetro da porta. — Eu mandei sair! Não
está ouvindo, porra?
— Monique... — Me viro junto com minha amiga quando ouço
ele me chamar.
— Abre a porta! — Bruna exige batendo com as duas mãos
na mesa tentando atrair a atenção dele.
Ele a ignora completamente e fica com o olhar ainda preso
em mim enquanto fala:
— Só quero que saiba que minha proposta ainda está de pé
e espero vê-la ainda essa noite.
Não ouso responder. Ele faz sinal para os seguranças e eles
saem do nosso caminho.
Puxo o braço da minha amiga e arrasto ela para fora desse
lugar o mais depressa possível.
— Que diabos foi isso? — Lhe solto.
— Ele prometeu que ia te ajudar, amiga, esse idiota me
enganou.
— Como?
— Ele me disse hoje pela manhã que lhe daria um emprego
decente e que compraria seu apartamento e, com o novo emprego,
você poderia ir pagando aos poucos até recuperar sua casa. Mas
ele me enganou. Como eu sou idiota! — esbraveja.
Ela praticamente corre para fora do bar.
— Ei, me espera. — Corro às pressas tentando alcançar ela.
— Você não entende. — Ela se vira para me encarar. — Ele
me enganou — diz enquanto caminha.
Apresso o passo rápido o suficiente para alcançar sua mão e
conseguir fazer com que ela pare de se mover. Bruna tem os olhos
brilhando em lágrimas. Isso aperta meu coração.
— Amiga, calma.
— Você não entende, amiga, eu roubei os papéis da dívida e
os documentos do seu apartamento e entreguei a ele conforme ele
pediu.
Isso me faz soltar ela às pressas.
— Você fez o quê? — grito, desesperada.
— Achei que ele fosse te ajudar. Desculpa — choraminga.
Balanço a cabeça sem acreditar que ela tenha feito uma
coisa dessa comigo, ainda mais pelas minhas costas. Estou
atordoada demais. Meu apartamento agora está não só nas mãos
do banco, como também os documentos dele estão nas mãos do
Kleber, o cara que quer me convencer a vender meu corpo.
Como que eu vou resolver isso agora? Minha situação está
ficando cada vez pior.
— Por que você fez isso? — Olho para ela desacreditada.
— Eu queria te ajudar.
— Me ajudar? Tem noção da merda que fez? Agora mais do
que tudo você me fodeu, Bruna, me fodeu! — grito a última parte.
— Calma, eu vou lá dentro e tento pegar de volta. Só espera
aqui.
Seguro seu braço a tempo de impedir ela de entrar
novamente no bar.
— Você não vai entrar nesse lugar nem a pau, ouviu bem?
Ela assente.
Tento ignorar o toque da chamada do meu celular, mas é
impossível. Solto o braço da minha amiga para alcançar o aparelho
e não gosto de forma alguma quando vejo quem é o autor da
chamada.
— Quem está te ligando a essa hora? Geralmente ninguém
te liga, é cobrança?
—É de casa — digo baixinho, apenas para que eu e ela
escutemos.
— Atende. Eu tô curiosa.
E não é só ela.
GOVERNADOR

P
erdido é pouco para explicar como eu estou nesse exato momento.
Merda demais havia sido jogada no ventilador e juntando tudo com
a pressão que a imprensa fez, eu não tive outra escolha a não ser
dar um tempo longe daquela bagunça toda.
Samuel ficou de lidar com as questões do gabinete, já o meu
tio se comprometeu em limpar essa bagunça com os jornalistas.
Esse foi o único acordo que fiz antes de aceitar viajar para longe.
Quer dizer, nem tão longe assim.
O jato da minha família está prestes a decolar quando me
agarro firme nas laterais do assento, afinal, gato não voa.
Assim que o avião ganha estabilidade, eu posso relaxar
novamente, sabendo que em poucas horas pousarei e verei
novamente meus pais. Dona Lúcia que me aguarde, essa com
certeza vai dar pulos de alegria em ter o filho primogênito em casa
de novo.
É como nos velhos tempos, quando me sentia pressionado
demais na faculdade e viajava vários quilômetros de distância até a
casa dos meus pais só pra ter a certeza de que ninguém me
acharia.
Apesar de ser um homem importante em todo estado, minha
família prefere continuar no anonimato e não posso negar o quão
bom é eles terem escolhido essa vida, mas, infelizmente, vira e
mexe aparece um jornalista enxerido que vez ou outra os mostra
nos jornais locais.
Me sirvo de um copo com uísque e gelo, tentando repensar
sobre a pior decisão que eu tomei. Onde que eu estava com a
cabeça quando decidi ajudar aquela menina? Apesar de ela ser
obviamente linda e gostosa, eu tinha que ter ido pela razão e não ter
contratado uma completa desconhecida apenas por ela ter um corpo
bonito. Sem contar que hoje cedo quase perdi a cabeça quando vi
ela daquele jeito em meu escritório.
Eu realmente queria sequestrá-la, e apesar de estar tão
confuso em relação a como isso aconteceu, eu confesso que não
sinto nenhum pingo de arrependimento.
Estendo o corpo sobre o acento, observando a vista através
da janela. Meu estado é lindo demais até mesmo a essa altura.
Sorrio imaginando como o Samuel reagiria se estivesse aqui, com
certeza já teria desmaiado há muito tempo.

O tempo passa tão rápido que nem percebo que cochilei até
ouvir a chamada do piloto avisando que pousaremos em questão de
segundos. Reato o cinto e novamente me agarro com força nas
laterais do assento.
O avião pousa bem, mas só relaxo quando as portas laterais
se abrem e posso, então, descer finalmente. De onde estou é
possível avistar a picape antiga do meu velho. Praticamente corro
até ela, vendo o quão feliz ele está comigo de volta em casa.
— Meu velho... — Lhe puxo para um abraço.
Não vi meus pais por cerca de quase um ano. Minha agenda
está sempre lotada e constantemente há obras pra entregar.
Basicamente, as obrigações não podem esperar, então me agarro a
essa oportunidade de descansar com eles por perto, pois não sei
quando haverá outra chance novamente.
— Onde está a Dona Lúcia? — Isso o surpreende.
— Espera só até ela te ver chamando-a assim,
provavelmente vai ter um dos ataques dela e te chamar de filho
ingrato. — Ele ri.
Essa é outra verdade. Ela fica irada quando os filhos não a
chamam de mãe e isso diverte tanto a gente que acabou virando um
costume a chamar assim.
— Tem notícias do seu irmão? — A voz preocupada do meu
pai chama minha atenção.
— Ele vem, pai, não se preocupe.
— Não sei, filho, seu irmão é completamente dominado por
aquela garota louca que ele vive grudado. Faz tempo que nos
falamos desde a última vez em que eu e sua mãe o alertamos do
caráter dela. Ela provavelmente vem para festa do nosso aniversário
de casamento e não quero nem imaginar como sua mãe vai reagir.
Isso me faz olhar para o meu velho com cautela. Samuel que
se dane. Minha boca não é baú.
— Pelo que eu soube, pai, eles terminaram. — Isso coloca
um imenso sorriso no meu coroa, o que me faz sorrir também
lembrando de um detalhe importante. — E pelo que eu vi nas
câmeras do meu escritório, acho que não voltam mais.
Esperança brilha nos olhos dele.
— Você tem certeza?
— Algo me diz que ele já está interessado em outra pessoa,
inclusive.
— Outra pessoa? Quem? Precisamos convidá-la para a
festa. Quem sabe não conseguem se entender de vez com a nossa
ajuda? Sua mãe é boa com essas coisas...
Eu que o diga.
Não consigo ficar sério diante da animação dele. Só consigo
rir pensando na merda em que estou colocando meu irmão. Nossa
mãe é terrível com a gente desde a adolescência quando decidimos
que estávamos na idade de lhe dar noras.
— Calma, meu velho, vamos deixar eles se entenderem por
eles mesmo.
— Uma ova. Essa é a chance que temos de afastar qualquer
possibilidade de ele voltar com aquela sanguessuga. Traga a garota
aqui, Gabriel, eu sou seu pai e estou mandando. Sua mãe vai pular
de felicidade quando souber disso.
Eu mal tenho tempo de digerir suas palavras quando ele pula
no assento e liga o carro, dando pulos de alegria. Engasgo quando
tenho que correr e pular pra dentro antes de ser esquecido no
aeroporto.
Será que ele pegou todas as minhas malas?
Meu pai ri e cantarola todo o percurso. A cidade em que eu
cresci só melhora com os anos e apesar de obter novas residências
e um aumento significativo na população local, eles ainda
preservam o meio ambiente em que vivem e, mesmo com o passar
dos anos, a cidade fica cada vez mais bonita.

Depois de deixar todas as malas em meu quarto no andar de


cima, eu paro em frente a janela do corredor que dá para o jardim
do lado de fora. Fico o observando por um breve momento antes de
retirar o celular do bolso e levá-lo à orelha. Meu segurança atende
no segundo toque.
— Fala, chefe.
Limpo a garganta.
— Conseguiu? — pergunto esperançoso que ela aceite
ajuda.
— Ainda não, senhor, mas eu soube que rolou uma pequena
discussão entre eles no escritório do Kleber.
Então provavelmente ela não aceitou.
— Eu imagino. E a segurança do Samuel?
— Estou acompanhando de perto. Seu irmão está seguro.
Uma preocupação a menos.
— E quanto ao meu tio? — lembro de perguntar.
— Também seguro, senhor, apesar dos protestos dele. Nós
temos feito todo o trabalho a distância.
Isso me incomoda.
— Certo, me mantenha informado.
— Sim, senhor. — E desligo.
Me certifico mesmo de que a ligação tenha sido desligada
antes de enfiar novamente o aparelho dentro da calça e caminhar
até a varanda da casa, onde encontro meus pais sentados me
esperando para o café.
MONIQUE

L
anço um olhar para a entrada do bar para ter a certeza de que
nenhum dos seguranças está nos seguindo e só quando eu tenho a
certeza de que estamos sozinhas, é que eu arrasto Bruna pelo
braço, levando-a diretamente para o outro lado da rua.
Abro a bolsa às pressas, tirando de lá o celular que ainda
toca alto demais, chamando atenção dos demais que passam pela
calçada. Minha amiga tem um olhar tão confuso quanto o meu
quando lhe mostrei a chamada e corri para atender.
— O que você quer, Mauro? — digo, seca.
— Eita, porra, acho que já fui tratado melhor por você,
irmãzinha.
— Isso foi antes de saber das suas tramoias, mas dessa vez
você foi longe demais. Onde estava com a cabeça? Eu quero meu
apartamento de volta, Mauro!
— Foi por isso que eu liguei. Eu não sabia de onde nossos
pais tiraram o dinheiro. Achei que fossem apenas economias de
anos guardadas, mas acabei de abrir uma carta do banco que
chegou aqui em casa.
— Não me importa. Quero meu apartamento de volta, está
me entendendo?
— Pode se acalmar um pouco e me ouvir ao menos?
— Vai devolver o dinheiro do meu apartamento?
— Infelizmente, não.
Essa é a resposta que eu imaginava.
— Então vai à merda — esbravejo por fim, já desligando.
Eu não posso ver o Mauro em minha frente agora, com toda
certeza desse mundo eu irei matá-lo de porrada.
Como ele pode fazer uma merda dessa? E ainda pior...
Contar com nossos pais para isso.
Minha situação só piora. Estou levando mais e mais porrada
da vida, e a culpa disso tudo é exclusivamente da minha família. Eu
tinha as melhores intenções quando comprei meu apartamento com
o dinheiro do meu trabalho e coloquei no nome deles por uma
questão de segurança. Nunca iria imaginar receber uma facada
dessas nas costas. Talvez uma facada real doesse menos.
A realidade está começando a me atingir em cheio, até os
documentos do apartamento e das dívidas estão agora nas mãos do
homem que quer fazer de mim uma prostituta.
Meu dia não pode piorar.
Guardo o telefone no fundo da bolsa e retorno minha atenção
à minha amiga, que está encolhida ao meu lado, me observando.
— Me desculpa — sussurra.
— Está tudo bem. Daremos um jeito. — Tento ser o máximo
de otimista que posso, mesmo não sendo, nem eu mesma acredito
em minhas palavras agora.
— Eu estraguei tudo.
— Você não tem culpa do meu irmão ser um idiota. Darei um
jeito, não se preocupe.
Até eu quero acreditar nisso. Seguro sua mão e saímos o
mais rápido que podemos desse lugar.
Volto para casa. Ao menos ainda é minha casa, mesmo que
por alguns dias antes do banco me tirar ela. Eu sei que para isso
acontecer é uma questão de tempo. Minha amiga não quis voltar
comigo, mesmo depois do clima tenso no escritório do seu
namorado, ela preferiu sair sozinha por aí, com a promessa de que
me ligaria ainda hoje.
Atiro meu corpo sobre a cama sem me importar em tirar os
sapatos. Eu só quero esquecer os problemas, nem que seja por
apenas algumas horas, para só então pensar a respeito da proposta
do Kleber. A ideia de realmente perder meu apartamento está me
fazendo entrar em desespero.
EXTRA
SAMUEL

O
dia no escritório toma tudo de mim. Todas as minhas energias são
drenadas.
Depois de ter verificado o voo do meu irmão, ainda tive que ir
pessoalmente acompanhar a Mia até um dos jatos da minha família,
já que ela estava nervosa e se sentindo covarde por estar fugindo
como se devesse algo aos demais.
Eu diria até que ela está completamente certa em ter esses
tipos de medo, mas nem só de pão vive o homem e eu ainda
preciso do meu emprego, então não ouso me meter. Meu irmão
precisa de mim ao lado dele e esse foi um pedido ao qual eu não
poderia me negar.
Tomo algumas respirações profundas e saio do escritório.
É tarde, e apesar de estar cansado, voltar para casa é a
última coisa que farei. Eu preciso de uma boa diversão e uma
bebida forte.
O lado bom de ter meu status é que posso ter minha vida
pessoal separada da minha vida profissional. Estaciono em uma das
boates mais caras de Salvador, conhecida pela sua discrição e
conforto aos seus clientes. O sigilo é total.
Assim que paro na porta, a recepcionista me reconhece e me
leva até um subsolo nos fundos do salão modesto, porém, elegante.
Quando as portas se abrem, sou atingido completamente
pela música alta, praticamente me arrasto para dentro, tendo que
passar pelos corpos suados sobre a pista de dança. É apertado,
mas no final dá tudo certo. Consigo chegar a uma das mesas ainda
vazia e me sento. A garçonete vem logo em seguida.
Observo a multidão à minha frente reconhecendo alguns
corpos femininos nos quais já me fartei. A maioria das mulheres no
local são prostitutas de luxo que vêm aqui justamente para caçar o
famoso “cabeça branca". Sorrio com o pensamento. É errado, eu
sei, mas não posso evitar sorrir quando um deles passa perto de
mim abraçado a uma delas.
Haja estômago.
Uma morena de costas chama a minha atenção pelo canto
do olho. Ela não parece se importar nem um pouco se os olhares no
salão estão todos focados nela, a mulher rebola como nenhuma
outra, meu olhar recai em sua bunda, uma bela bunda, por sinal. Os
gritos dela fazem meu olhar desviar para cima. Ela ainda permanece
de costas para mim.
Mudo de posição apenas para admirar aquele espetáculo de
mulher, com um corpo curvilíneo de enlouquecer qualquer homem.
Meu pau pulsa dentro da calça só por apenas admirar a mulher.
"Vira, meu anjo... É só dá uma viradinha pro pai aqui analisar
o material." Sorrio com o pensamento.
A garçonete retorna com o meu pedido e eu aprecio meu
conhaque ainda focado na gostosa em minha frente. Tomara que ela
seja uma dessas garotas que fazem programa. Alugarei ela pela
noite inteira se ela topar sair comigo.
É quase duas da manhã quando ela deixa sua bebida e vai
até o banheiro. Me levanto com a intenção de abordar a mulher,
mas paro quando um rapaz coloca um comprimido em sua bebida e
fica próximo à mesa onde ela estava. Tiro algumas notas da carteira
às pressas e faço um sinal para a garçonete levá-las. Me aproximo
da mesa no mesmo instante que a vejo retornar e paro na metade
do caminho.
Quase caio para trás. Não pode ser.
Dou um passo para trás ainda surpreso por ver de quem se
trata. Não posso ficar próximo demais dela sem me lembrar do que
aconteceu no apartamento da Monique e aquele dia no escritório.
Do quão bom foi o beijo e tê-la em meus braços, enquanto eu
saboreava a sua pele.
O rapaz se aproxima dela quando a vê segurar sua taça.
Lembro imediatamente do que ele havia feito e corro até eles. Bato
a mão na taça derrubando toda sua bebida no chão e o próximo
golpe que dou, atinge em cheio o queixo do babaca. Ele cambaleia
um pouco e avança em seguida.
Sou mais rápido, desviando dele e atingindo seu rosto
novamente. Não espero ele se recuperar e vou pra cima dele. Os
seguranças chegam antes mesmo que eu possa deixá-lo
desacordado. O desgraçado ainda respirava quando fui arrancado
de cima dele. Limpo o sangue entre os dedos na calça e me solto.
— Alguém aqui pode me dizer o que aconteceu?
Me viro para ver o chefe da segurança avaliando a cena
enquanto exige explicações.
Meu olhar recai em alguém atrás dele, ela ainda está aqui e
viu tudo.
— Esse desgraçado colocou um comprimido, provavelmente
uma droga na bebida da minha namorada.
Namorada? De onde eu tirei isso?
Aponto para ela e o segurança lhe encara.
— Ele fez mesmo isso? — A pergunta que ele faz, parece a
tirar do transe em que estava. Ela olha em meus olhos e então
assente para ele.
Por um instante fico aliviado.
— Eu apenas fui ao banheiro e deixei minha bebida na mesa.
Quando voltei tudo aconteceu tão rápido, que eu não consegui
processar direito o que aconteceu. Ainda estou em choque.
— Entendo. — Ele olha ao redor avistando o copo quebrado
ao lado da mesa. — Vamos levá-lo até a segurança e ver o que
conseguimos encontrar nas câmeras. Tudo bem para vocês?
— Tudo bem, mas me mantenha avisado se vão o prender.
Quero zelar pela segurança da minha mulher.
Que merda que eu estou falando?
— Duvido muito que ele tente algo. Informaremos de quem
se trata. — E com um aceno ele se afasta para prender o homem.
Volto para o chão e pego a bolsa dela que havia caído, lhe
entregando em seguida. Ela está atordoada quando aceita. Me
aproximo segurando seu braço contra o meu.
— Precisamos sair daqui.
Ela me olha confusa.
— Com certeza, eu preciso ir. Boa noite — diz tentando se
afastar.
— Eu te levo — ofereço.
— Não precisa. Eu pego um táxi.
Seguro seu braço ainda mais firme no meu.
— De jeito algum. Eu preciso me desculpar pelo que
aconteceu hoje de manhã. Não tinha o direito de a trancar na minha
sala como fiz. Me deixe reparar isso te dando uma carona.
Sem que eu espere, ela retira o braço do meu agarre e sai
pisando duro em direção a saída. Se Bruna acha que fugir dessa
forma vai me fazer deixar ela em paz, está muito enganada.
Ainda mais quando meu pedido de desculpas é verdadeiro.
Aceno para o segurança e a sigo até a calçada, onde agarro
seu braço com força o suficiente para fazê-la parar e me encarar.
— Eu disse que vou te levar pra casa e vou fazer isso!
— Eu já disse que não precisa!
Agarro ainda mais firme em seu braço, a jogo por cima do
ombro e começo a correr.
Se ela quer continuar sendo teimosa, eu também serei, afinal,
dois podem jogar esse jogo.
— Me solta! Você enlouqueceu? Segurança!
Dou um tapa forte em sua bunda fazendo ela ofegar e gritar.
Apresso o passo, ainda mais quando percebo alguns curiosos vindo
até nós.
Destravo o porta-malas e a coloco dentro sem hesitar, porém,
tomando cuidado para não a machucar.
— ME SOLTA, SEU IDIOTA!
— Calada!
— Não me mande calar a boca, seu...
Fecho o porta-malas, me assegurando de trancá-lo.
MONIQUE

Sobressalto com a mão no peito. O barulho da campainha me


assusta, mas levanto o mais depressa possível para atender a
porta. O desesperado que está tocando a campainha desse jeito, irá
ouvir muito da minha boca.
Abro ela praticamente amaldiçoando quem quer que esteja
do outro lado.
— O que aconteceu com você?
Bruna entra no apartamento igual um furacão, jogando o
restante do que eu posso dizer que um dia já foi uma roupa sua, no
chão.
Olho para ela confusa, só agora notando as roupas largas e
masculinas em seu corpo.
— Longa história. — Suspira antes de se jogar no sofá.
— Pode começar. — Fecho a porta e vou até ela.

GOVERNADOR

T
ermino de fechar as persianas do meu quarto e me deito sobre a
cama tentando pensar em algo para desviar meus pensamentos ou
acabarei abrindo um pornô no meu celular e passarei a noite inteira
gozando nas calças feito um moleque.
Tirei férias justamente com o propósito de ficar tranquilo e
bem longe das mulheres. Mulheres... Essas, sim, são capazes de
deixar um homem à beira da loucura.
Enviei uma mensagem mais cedo ao meu tio, me certificando
de que está tudo como o combinado. Tudo precisa sair exatamente
como o planejado e a essa hora a Mia deve estar bem longe dos
paparazzi. De preferência em outro país.
Estendo a mão em direção a mesinha de cabeceira. Eu tenho
certeza de que não irei conseguir dormir tão cedo. Abro as
mensagens em meu celular, mas infelizmente não há nenhuma
interessante. Toco no contato do Samuel e disco. Ele tem que
atender...
Um, dois... Três toques e nada.
Tento novamente, mas dessa vez dá caixa postal. Levanto e
espio pela porta o corredor, observando a movimentação do quarto
dos meus pais. Silêncio.
Esse é o sinal de que provavelmente já estão no décimo
sonho. Caminho até a sala fazendo o mínimo de barulho possível.
Alguns funcionários ainda trabalham do lado de fora com os
preparativos da festa que acontecerá em dois dias. Pego o fixo e
disco o número do apartamento dele de novo. Ele atende no quinto
toque.
— Mãe? — Atendeu-me preocupado e eu ri.
— Não, babacão, sou eu. Por que não me atendeu?
Ele bufa.
— Não se pode mais transar em paz? Me erra, Gabriel.
— Quem é a mulher? Eu conheço? — O sorriso que há
poucos minutos estava em meu rosto morre com a lembrança dele
sempre próximo daquela garota, sua ex-namorada.
— Não importa. O que você quer?
— Como “não importa”? Devo te lembrar que te deixei
responsável por tudo? Não quero que estrague ainda mais as
coisas. Me disse que eu podia confiar em você, Samuel.
— E pode, caramba. O que você quer?
— Quero que me diga com quem você está.
Ele não pode ser tão sacana de ter voltado para aquela
mulherzinha.
— Não posso dizer, ok? É confidencial. Mas me diga o que
fez você me ligar a essa hora. Aconteceu algo?
Silêncio.
— Gabriel? — me chama.
— Estou aqui.
— Se não for dizer nada, eu preciso desligar.
— Ela está aí? — interrompo.
— Sim, mas não é quem você pensa. Eu preciso ir.
Essa resposta tira uns duzentos pesos das minhas costas.
— Eu a conheço? — pergunto, animado.
Meus pais vão adorar saber disso.
— Achei que você não se importasse em quem eu enfiava
meu pau.
— E não me importo, contanto que suas ações não me
afetem.
— Não afetarão. Eu ligo amanhã.
Encerro a ligação contente por ele ainda não ter ido atrás da
cobra da sua ex-namorada, e o fato dele estar com outra mulher em
seu apartamento é um ótimo sinal. Ele não pode ser tão burro a
ponto de voltar para aquela mulherzinha tóxica, que vive sempre
cercada de homens.
Lembro bem que quando Camila aprontou feio comigo, meu
irmão estava lá sempre do meu lado. Não será eu agora que irei
permitir que ele vá atrás da infeliz. Qualquer uma será melhor que
ela. Coloco o telefone de volta na mesinha ao lado do sofá e me
recosto confortavelmente sobre ele, que parece muito mais
confortável do que a cama grande e vazia lá em cima.
Acordo quando a claridade bate forte em meu rosto. Abro os
olhos lentamente para ver ainda alguns funcionários para lá e para
cá com mais caixas e cadeiras por todo canto.
Esse pessoal não dorme nunca?
Subo as escadas, sentindo todo o corpo dolorido por ter
dormido praticamente sentado, por sorte o sofá é confortável.
Depois do banho eu estou revigorado e pronto para mais um
dia. O café pode esperar por enquanto. Por sorte, hoje meu pai não
está no escritório, então me tranco por lá às pressas.
Preciso confirmar uma coisa.
Disco um dos números da segurança do prédio. Eles podem
me ajudar. Um deles atende e eu suspiro aliviado por ser o Julian de
plantão.
— Senhor?
— Julian, sou eu, Gabriel. Preciso de um favor.
— Pode mandar.
— Ontem o Samuel, meu irmão, levou alguém até seu
apartamento. Quero que me diga quem é a pessoa.
No fundo eu me sinto um intruso querendo invadir sua
privacidade, mas eu não farei muito, quero apenas saber se ele está
mesmo se livrando da ex.
— Só um segundo, senhor, vou olhar as câmeras.
Ótimo.
— Sem problemas, Julian.
Longos minutos se passam, infelizmente me arrependo por
não ter tomado um cafezinho antes. Ele cairia tão bem agora.
— Senhor?
Me concentro na chamada.
— Conseguiu encontrar algo?
— Sim, ele trouxe uma mulher na madrugada.
Isso eu já sei.
— Descrição, por favor.
— Morena e baixinha com longos cabelos pretos, senhor.
Não, não pode ser...
A última pessoa que ficou perto do Samuel e tem exatamente
essa descrição, é a Monique...
Não... Ele não pode ser tão sacana assim comigo.
— Tudo bem. Obrigado, Julian. Me ligue se ela aparecer de
novo.
— Entendido, senhor.
Encerro a chamada já batendo com os punhos sobre a mesa,
com raiva.
DESGRAÇADO!
Ele não pode ser tão sacana a esse ponto. Meu irmão sabe
do meu interesse por ela e com certeza não faria uma coisa assim.
A imagem deles dois começa a surgir na minha cabeça.
Eles dois juntos...
Rindo de mim...
Ele tocando aquele corpo...
Aquela bunda...
CHEGA!
Abro a porta do escritório às pressas, a fim de afastar esses
pensamentos ruins. Pode ser apenas uma coincidência e a mulher
ser apenas uma garota meio parecida com ela. Esse novo
pensamento me fez sorrir.
Chego à sala de jantar, grato por a mesa já estar posta e me
sento. Completo meu prato, não esquecendo de encher minha
xícara com o café daqui. O sabor é completamente diferente, tem
um gostinho de casa.
Maldita hora em que eu fui inventar de ter um caso com a
Mia. Um pensamento sombrio me assusta. E se eu for doente? Ou
se isso que sinto pela minha secretária for um fetiche? Isso explica o
fato de eu ter contratado a Monique também? A ideia das duas em
meu escritório, juntas, quase me faz engasgar. Eu estaria fodido,
definitivamente.
Vozes femininas soam, vindo da sala até alcançar o corredor.
Me ajusto melhor na cadeira, tentando ser mais educado. A
cabeleira loira da Camila é a primeira coisa que eu vejo.
Que merda é essa?
As duas param no vão e sorriem amplamente pra mim
quando me encontram. Minha querida e amada mãe faz uma pausa
e então oferece à Camila um lugar ao meu lado. O pior é que a
infeliz aceita. Sorrio falsamente para ela quando se acomoda e me
concentro apenas em terminar o meu café e ir embora.
Mas como diabos essa mulher veio parar aqui no meio do
nada? Dou um olhar sorrateiro para a minha mãe, que me dá um
olhar espantado e levanta os ombros.
— Gabriel, querido, como está? Não sabia que estava aqui.
Reviro os olhos com o som irritante da sua voz.
Não respondo, tomando goles longos do meu café por alguns
segundos. Minha mãe se ajeita em sua cadeira, provavelmente
desconfortável pela minha falta de educação.
— O Gabriel está tirando uns dias de descanso, querida, o
trabalho dele é muito estressante — dona Lúcia diz e me joga uma
piscadela.
— Eu imagino, Lúcia. Na verdade, querida, no lugar dele eu
teria fugido do país.
Minha mandíbula tranca e procuro respirar fundo ou irei direto
no pescoço dela. Essa mulher não irá me tirar o juízo, não.
— Por que o Gabriel fugiria? É mais que normal um homem
tirar férias do seu trabalho, até mesmo um homem público como
ele...
— Não falo disso, querida, falo do ocorrido com sua
secretária. — Sinto quando sua mão toca meu ombro. É uma
espécie de aviso de que soltará seu veneno, algo comum entre as
cobras. — Sinto muito pelo fato de toda a imprensa ter exposto seu
caso com sua secretária, Gabriel, acontece até nas melhores
famílias, querido.
Sua mão se afasta quando eu me levanto, preparado para
sair, mas uma mão toca meu braço levemente e por uns segundos,
aproveito o toque da minha mãe antes de encontrar seu olhar.
— Os séculos passaram e algumas coisas ainda não
mudaram. As pessoas realmente deveriam se importar mais com
seus próprios rabos antes de cuidar da vida alheia. — A resposta é
clara.
E pra mim isso é o suficiente. Olho pra Camila por cima do
ombro e me retiro da sala de jantar às pressas, voltando para o
escritório, que parece mais emocionante agora do que arriscar voltar
lá, agarrar seu pescoço seco e torcer.
MONIQUE

P
recisei reunir a força de todo o universo para não tascar o restante
da água com açúcar na cabeça da minha amiga. Faz meia hora que
ela roda, roda e roda a colher dentro do copo e até agora não
desembuchou nada.
— Vou repetir a pergunta, porque eu acho que você não
entendeu.
— Eu entendi. Só estou... — Pausa.
— Não, você definitivamente não entendeu. Tem quase meia
hora que você está me enrolando fazendo essa cara de anta. O que
foi? Parece que está queimando seus dois últimos neurônios agora.
— Ah, odeio quando fala isso...
— É a verdade. Se você não desembuchar logo, sabe o que
vai acontecer? Eu vou tascar esse copo em sua cabeça, aí eu quero
ver sobrar algum neurônio pra contar a história.
Não que a minha ameaça seja realmente verdadeira, mas
isso faz com que ela coloque o infeliz do copo no chão. Aproveito e
tiro o desgraçado do lugar antes que ela mude de ideia.
— Você é louca, namoral — resmunga antes de se virar para
mim.
— Desembucha. — Cruzo os braços e balanço o pé,
mostrando, obviamente, que minha paciência está no limite do
limite... Quase raspando pra fora. Pelo suspiro alto que me dá,
percebo o quão abalada está e que algo muito sério aconteceu,
então, por uma questão de segundos, eu quase sinto pena dela,
mas é apenas por uma questão de segundos mesmo e o ódio vem
logo em seguida. — Fala, inferno, pare de enrolar.
— Eu transei.
Bufo.
— Que bom. Era isso? — Não acredito que ela fez essa
agonia toda para nada.
— Você não entendeu, eu não transei COM O KLEBER, foi
com outra pessoa.
Olho para ela surpresa.
Agora, sim, as peças estão se encaixando, isso com certeza
explica toda essa agonia que sentiu antes de me contar e sente
agora.
— Quem? E... Você me explicou toda essa coisa de
exclusividade e Sugar Baby. Achei que você era fiel ao Kleber.
— É isso que eu tô tentando explicar pra você, mas o Kleber
não pode sequer sonhar com uma merda assim. — Ela abaixa a
cabeça em seu colo. — Eu tô muito fodida.
— E está mesmo. — Ela choraminga diante do meu
comentário. — Desculpa.
— Tudo bem. Eu tô mesmo. O Kleber vai acabar percebendo
de qualquer maneira.
— Calma — peço me ajoelhando em sua frente. — Ele só vai
saber se você contar, e... Se acalme, por favor. A gente tem muito
pra conversar ainda e me explica isso direito.
Ela levanta a cabeça para concordar comigo, mas se recosta
de novo no sofá.
— Eu tô muito, muito fodida... Caramba, o que eu fui fazer da
minha vida agora? Eu não vou mentir para o Kleber.
— Como isso aconteceu? E... — Hesito antes de perguntar:
— Quem é o cara?
Me assusto com o tapa que dá em si mesma.
— Isso com certeza eu não posso contar, muito menos pra
você — diz, preocupada.
— Eu o conheço, é isso?
— Não vou falar — insiste na sua posição.
— Bruna... — Cruzo os braços em sua frente.
— Não, amiga, não me peça uma coisa assim. Kleber não
pode nem sonhar com essa merda.
— Então vou deduzir que se trata de alguém conhecido. Não
me diga que é o José, nosso zelador? — Arfo, surpresa.
O cara aparentemente não faz o seu tipo, mas vindo da
minha amiga, eu posso esperar qualquer coisa.
— NÃO! — grita.
Sorrio.
— Então fala logo, banana, você sabe que pode confiar em
mim, não sabe? — Sou sincera.
Eu só quero saber onde a minha amiga está se metendo. A
cena de ontem no escritório do Kleber martela em minha cabeça. Eu
não sabia em que tipo de mundo a minha amiga estava até ontem,
até entender que, não apenas eu precisava da amizade dela, como
ela também precisa da minha, agora mais do que nunca.
— Amiga... — Aperto firme suas mãos. — Está tudo bem,
não precisa se preocupar assim. Eu vejo que está com medo, do
mesmo jeito em que eu estou curiosa, mas como sua amiga, eu
preciso saber se isso pode te prejudicar de alguma maneira.
A hesitação em seu olhar é o suficiente, puxo minha amiga
em um abraço forte. Ela faz o mesmo comigo e ficamos assim por
alguns instantes.
— Eu tenho muita sorte em ter você, amiga.
— Eu sei, sou maravilhosa mesmo — digo e minha afirmação
a faz rir.
— Se fosse apenas a questão da traição, eu ainda poderia
contornar tudo. — Nos afastamos. — O pior de tudo é que eu
gostei...
— Eu não duvido disso. — A voz rouca do Kleber nos faz
virar para encará-lo.
Giramos assustadas ao ver o Kleber recostado no vão da
porta da entrada, olhando com raiva para minha amiga.
— Kleber, eu... — Ela se apressa, indo até ele.
— NÃO! — o grito dele a fez ela parar. — Você tem uma hora
para retirar suas coisas do MEU apartamento, antes que eu jogue
todas elas pela janela. — Ele sai do apartamento da mesma forma
que entrou. Minha amiga não pensa duas vezes e vai atrás.
Fodeu.
Saio disparada atrás da minha amiga para vê-la segurar o
braço dele e o puxar, parando-o no corredor, em meio aos gritos.
— VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO! Aquele apartamento é
meu, é nosso. Me deixe explicar, por favor... — O desespero na voz
dela é claro.
O desprezo em que ele olha para ela faz meu estômago
embrulhar.
— Pede para o Samuel um novo. Sei o quanto você gostou
de ser o brinquedinho dele ontem à noite.
O Samuel?
Vejo as feições da minha amiga mudarem antes dela
empalidecer. Isso só confirmava qual era o seu medo de me contar,
com quem ela estava ontem à noite. E ela tem razão, essa é uma
bomba.
— Não é o que você está pensando...
— Não? Então me explica o que você estava fazendo no
apartamento do Samuel ontem à noite. E me diz, por qual razão
você só saiu de lá hoje pela manhã? — Ele faz um gesto para o
segurança que lhe espera.
O segurança retira do bolso um envelope com diversas fotos
e entrega a ela. As mãos dela tremem, me fazendo correr e me
agachar ao seu lado para pegar o restante das imagens que caíram
do envelope quando ela o abriu.
Não posso resistir e olho.
Não há como negar. As imagens falam por si. Elas não
apenas mostram os dois entrando juntos em um edifício, mas
também mostram eles dentro de uma boate, rodeados por polícias,
entre outras com eles ainda mais próximos.
Minha amiga se inclina na parede com as fotos pressionadas
no peito, completamente em choque, mas uma pergunta sai dos
meus lábios quando me dou conta de uma coisa importante.
— Como você conseguiu as chaves do meu apartamento?
O olhar zangado dele encontra o meu.
— Vim conversar com você — Seu olhar recai novamente em
minha amiga —, mas isso foi antes de ouvir os gritos de vocês duas
do lado de fora. Fiquei preocupado e entrei.
— Você ainda não respondeu. Como conseguiu minhas
chaves?
— Vim te oferecer um acordo, porque há uns dias a sua
amiga veio até mim com os documentos do apartamento, me
pedindo para te ajudar. Mas isso foi antes de ligar para meus
homens e descobrir o que sua amiga fez.
Os documentos do apartamento.
— O gerente do banco é um grande amigo meu, por isso eu
comprei seu apartamento por um preço de banana, antes mesmo
que fosse leiloado.
A gratidão me faz ficar de pé e sorrir. Luto contra a vontade
de abraçá-lo. Ele acaba de salvar minha casa.
— Mas como você pode ver, Monique, as coisas mudaram.
— Por favor, não faça o que eu acho que você fará... —
minha amiga parece assustada quando se ergue e pede isso.
— Eu não fiz, você fez.
— Kleber, não... — ela sussurra.
Ele a ignora completamente enquanto se dirige a mim.
— Vocês têm vinte e quatro horas para deixar o apartamento
ou serão despejadas à força, e eu odiaria ter que bancar o vilão
aqui.
— Kleber... — ela pede novamente, e ele ignora.
Coloco a mão sobre o ombro da minha amiga, tentando fazê-
la parar. Ele está com raiva por ter sido traído e não adianta nada
ela se humilhar dessa forma.
— Não, não vale a pena.
Ela assente entendendo o que eu quero dizer.
Puxo seus ombros para perto de mim e vamos para dentro do
apartamento. Fecho a porta, deixando-o com seu segurança ao lado
de fora. Ela olha para mim com os olhos marejados antes de se
jogar em meus braços e chorar, mas dessa vez não é só ela.
GOVERNADOR

O
uço quando a maçaneta é girada e a porta do quarto range quando
alguém entra.
— O que você quer no meu quarto, Camila?
A porta range novamente.
Ou ela usou a inteligência e saiu por conta própria, ou está
apenas esperando o momento certo para dar o bote, das duas
coisas, uma.
Longos segundos se passam e como não há mais barulho
algum, estendo a mão para acender o abajur a tempo de encontrar
ela recostada ao lado da porta me olhando.
Seu olhar desce até meu peito e me condeno por dentro por
ter me esquecido de trancar a porta, sabendo da presença dela na
casa. É claro que ela iria tentar algo, como eu não pensei nisso
antes?
— Vim ver se estava precisando de algo... — Seu olhar
desvia dos meus olhos para os lençóis que escondem minha nudez.
— Obrigada pela gentileza, mas eu preciso apenas que se
retire do meu quarto agora mesmo, pode ser?
Ela não se move um centímetro sequer do lugar.
— Camila, está me ouvindo? Eu pedi para sair...
Dessa vez, ela se move rápido demais para eu me desviar e
se joga por cima do meu peito. Arfo com o susto, não esperava por
isso. Seguro seus ombros às pressas, tentando empurrá-la de lado,
mas isso faz ela se agarrar mais forte a mim.
Fico em choque quando pressiona sua boca contra a minha
em uma tentativa desesperada por atenção. Jogo ela do outro lado
da cama com força e a prendo embaixo de mim.
— Eu disse para você sair! — praticamente rosno as
palavras.
Sua risada só mostra que tudo para ela não passa de um
jogo, mas ela não apenas ri. O ar sopra em minha bunda e então eu
entendo o motivo da sua diversão.
O lençol caiu do meu corpo quando tentei me livrar do toque
dela. O ódio bate repentinamente em mim e eu a solto, me
afastando apenas para alcançar uma distância segura entre nós
dois e abrir amplamente a porta do quarto.
— Anda, vai embora. — Balanço a cabeça na direção do
corredor. — Não me obrigue a chamar a segurança só para tirar
você daqui a força.
— Você não faria isso com uma velha amiga. — Faz
beicinho. — Faria? — Ela ainda sorri, divertida.
— Sem pensar duas vezes. — Assobio, um som conhecido
pelos seguranças da casa.
Seu sorriso morre um segundo antes dela me olhar feio e sair
correndo para fora do quarto, disparada. É só o que me faltava.
Tranco a porta e relaxo sobre o colchão, como se já não
bastasse todo o problema com a mídia, esse demônio com certeza
não podia perder a oportunidade de forçar algo entre nós, como se
eu ainda me importasse com ela depois de tudo o que fez.
Apesar do meu corpo estar completamente relaxado, a minha
mente está a mil e por um instante eu me sinto culpado.
Coloquei toda a merda dos meus problemas nas costas do
meu irmão, enquanto cá estou eu, completamente estressado e sem
nada para fazer além de fugir da perseguição da Camila. Uma ideia
de repente me bate... Eu preciso dar um jeito de mantê-la longe e
sei como.
Envio uma mensagem de texto às pressas para meu irmão,
na esperança de que a cavalaria chegue o quanto antes para me
salvar.
MONIQUE

O
interfone na cozinha toca chamando minha atenção e olho para
minha amiga, preocupada. Ela parece distraída enquanto empacota
meus pertences. Aproveito a brecha e saio do quarto, às pressas,
apenas para ver o que o porteiro quer.
— Pode falar, seu José.
— Dona Monique, aquele moço que veio buscar a senhora
naquele dia está aqui na portaria querendo falar com a senhora e
mandou avisar que é urgente.
Lá vem bomba.
— Ele falou o nome? — Meu coração acelera quando a
imagem do governador me passa pela cabeça.
Mas o que ele quer comigo?
— Ele está dizendo aqui que o nome dele é Samuel, dona
Monique.
Puta que pariu.
A coisa estava ficando ainda pior. O que ele quer aqui? Será
que ele veio atrás da Bruna?
— Deixa subir, seu José.
— Já subiu, dona Monique. Moço folgado.
Rio em descrença. Meu porteiro é uma figura.
Volto até o quarto e vejo que minha amiga está no banheiro,
fecho a porta novamente e vou até a sala para destrancar a porta de
entrada. Samuel parece angustiado quando entra.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto preocupada, já
pensando em coisa ruim.
Ele hesita por alguns instantes, mas acaba falando.
— Eu preciso da sua ajuda.
Hesito antes de me aproximar e apontar para o sofá. Ele
segue e se senta confortavelmente. Vou até a outra ponta do sofá
me sentando ao lado dele e meu olhar vai até a porta do meu
quarto. Daqui eu posso ver melhor.
— Precisa da minha ajuda com o quê?
— Preciso de uma assistente, a Mia viajou, você sabe a
razão, e tudo acabou ficando foda pra mim.
Com tanta coisa acontecendo eu acabei esquecendo disso.
— Eu entendo, mas no que eu posso te ajudar? Quer que eu
recomende uma amiga?
Bruna me vem à mente e mordo a língua tentando esconder
uma risada.
— Não dá tempo. Preciso de alguém de extrema confiança
para isso e eu pensei em você.
— Fico muito contente por ter pensado em mim assim, como
uma pessoa de confiança, mas você mesmo viu o que aconteceu
ontem. Seu irmão tem um problema sério comigo.
Ele estreita o olhar.
— Sua relação com meu irmão é complicada, mas eu ainda
preciso de você, Monique. Além do mais, você estaria trabalhando
para mim e não para ele.
Isso é verdade.
— Ele é seu irmão e vocês trabalham juntos, sejamos
sinceros, ele não fará da minha vida um mar de rosas. Ainda penso
no que ele teria feito comigo se você não estivesse impedido.
Um calafrio sobe em minha espinha quando minha mente
volta ao ocorrido, olho para o Samuel e o encontro rindo.
— A imagem dele não está muito boa depois do assédio com
a Mia. Ele vai se comportar, eu tenho certeza.
A incerteza ainda me bate, mas agora há outras questões,
além do fato de estar desempregada e sem casa.
— Eu não sei, Samuel. — Decido ser franca. — Para ser bem
sincera, eu estava mesmo atrás de um trabalho e agora tenho que
deixar a minha casa às pressas e com tudo o que está acontecendo,
eu não faço a mínima ideia do que fazer.
Simpatia brilha nos olhos dele quando sorri pra mim.
— Então temos aqui nessa sala duas pessoas
completamente fodidas. — Ele ri. — Temos eu, precisando
desesperadamente de uma assistente, e você... — Ele me avalia de
cima a baixo — uma mulher inteligente que está sem emprego e, ao
que parece, metida em uma grande confusão. O que você acha
delas se unirem para resolver os problemas?
Agora é minha vez de rir. Ele tem um bom ponto.
— Posso ao menos pensar? Tenho que arrumar um lugar
para ficar primeiro e então eu te ligo dando minha resposta.
— Não, meu motorista está aí embaixo esperando para nos
levar até o aeroporto e de lá o jato do meu irmão nos aguarda. Eu
pago o dobro do que o Gabriel lhe ofereceu, mas infelizmente
precisamos ir agora mesmo.
Meu queixo quase vai ao chão. Ele só pode ser louco ou está
de brincadeira com a minha cara.
— Ah, não dá, Samuel. Eu tenho minhas coisas para arrumar.
— Eu peço para uma equipe vir aqui e retirar suas coisas
hoje mesmo e levá-las para minha casa. Pegue apenas o
necessário para alguns dias longe e só.
— Samuel... — começo. — Eu agradeço a oferta, mas não
dá, não assim.
— Por que não? — Seu olhar confuso percorre toda a sala
antes de recair em mim. — Qual o problema, Monique? Estou te
dando várias soluções até então.
Tento procurar pelas palavras certas, mas não encontro.
— O problema sou eu, não é mesmo? — Olhamos juntos
para Bruna, que acabara de entrar na sala nos observando.
— Sim — respondo sem jeito. — Não posso deixar você
assim.
Olho para eles, que se encaram por alguns segundos até que
ele quebra o contato.
— Meu namorado e eu tivemos um pequeno
desentendimento e a Monique acabou me ajudando, mas temos que
sair daqui. O novo dono nos deu um prazo e ela está sem jeito para
lhe dizer que não quer me deixar sozinha.
— Entendo — ele murmura enquanto fecha seu paletó.
— Mas eu já sou bem crescidinha e posso muito bem lidar
com meus problemas. Irei passar uns dias na casa de uma amiga e
procurar uma casa para a gente, mas se eu fosse você, — Dessa
vez ela se refere apenas a mim — eu aceitaria a oferta dele. A
grana parece boa e a gente está precisando. Pode ir, eu vou cuidar
das nossas coisas — me garante.
Paro por alguns segundos observando a forma como se
olham.
— Tem certeza? — hesito, mas a ideia parece mesmo boa.
— Sim, pode ir, amiga. — Ela sorri brevemente para mim.
— Não precisa. Pode ficar na minha casa por uns dias até
que possam resolver o problema de vocês. Estou sempre viajando e
não será incômodo nenhuma ajudar vocês, inclusive... — Olhamos
espantadas para um Samuel preocupado mexendo em seu relógio
— temos quarenta minutos para chegar até o aeroporto. — Se
levanta e estende a mão a mim. — Temos um acordo? Assim que
saímos por aquela porta, mandarei uma equipe pra cá para
transferir suas coisas para minha casa, mas preciso da sua
resposta.
Parece a coisa certa a se fazer no momento, mas ao mesmo
tempo fico confusa pela forma fria em que eles estão se tratando.
— Sendo assim, então, eu aceito.
Dou um pulo do sofá assustando ambos e me enfio às
pressas no quarto, a tempo de arrumar toda a mala antes que o
Samuel desista. Essa proposta dele apareceu na hora certa apesar
da incerteza em que eu estou em relação ao governador, mas
pensando pelo lado positivo, serão apenas alguns dias longe e eu
ganharei uma grana realmente boa o suficiente para me ajeitar em
algum canto, até arrumar um emprego e começar tudo de novo.
Termino de fechar a mala na mesma velocidade que comecei
ela e corro para o banheiro. Não há tempo, nem dinheiro a perder.
Me arrumo às pressas colocando apenas o essencial na
bolsa. Samuel parece aliviado quando carrega minhas coisas para
fora do prédio. Pressiono sobre o peito o porta-retrato com a
imagem da minha família e aperto com força o suficiente para evitar
lembrar da saudade que irei sentir do meu lar, da minha casa...
Foram anos e anos de muito trabalho duro jogados fora.
Agora eu não tenho mais nada. O único lugar que eu podia chamar
de meu, agora está sendo tirado de mim e eu não tenho o que fazer
para impedir isso.
— Ei, vai dar tudo certo. — Os braços da minha amiga me
abraçam por trás, recosto a cabeça sobre seu ombro e suspiro.
O aperto no peito só aumenta. Não será fácil começar de
novo, mas eu irei conseguir.
— Vai, amiga, tem que dar, ou não sei mesmo o que vai ser
da gente, talvez até tenha que voltar para o interior dos meus pais,
se eu não conseguir nada...
— De jeito nenhum que vamos voltar para aquele muquifo!
Daremos um jeito. — Positiva como sempre, ela me faz virar para
encará-la. — Estamos juntas nessa.
— Sim, obrigada. — Assinto, sentindo um nó se formando em
minha garganta. — Cuida de tudo, tá bem?
— Pode contar comigo. — Pisca.
Enxugo as lágrimas que ameaçam escorrer e agarro minha
bolsa, saindo do apartamento com o coração na mão.
— Agora seja o que Deus quiser.

O jato pousa e meu coração se acalma por completo, a chuva


que apareceu no meio do voo quase fez meu coração sair pela boca
durante todo o caminho até aqui.
— Chegamos — anuncia Samuel, já saindo de sua poltrona,
animado.
— É, chegamos. — Com as mãos trêmulas, me livro do cinto
de segurança, respirando bem fundo para conseguir ficar em pé
sem vacilar.
Caminho lentamente até as escadas com a ajuda da
aeromoça que passou a viagem inteira preocupada, me servindo
sacos e mais sacos para vômito.
— Obrigada — agradeço sem jeito. Ela concorda, sorrindo,
antes de voltar para o lado do piloto.
O lugar parece um grande galpão vazio, exceto pela
camionete parada mais a frente. Samuel parece outro Samuel. Ele
está com um sorriso de orelha a orelha enquanto corre com alegria
até a camionete, com nossas malas no ombro.
Me esforço para chegar até ele, tropeçando algumas vezes.
Um homem já grisalho lhe abraça após jogar nossas malas sobre o
fundo do veículo enquanto eles riem.
"Puta que pariu, meu perfume", quero gritar.
Hesito antes de me aproximar, não querendo interromper o
momento. Quando os dois finalmente se separam, o rosto do senhor
me deixa sem chão.
Ele é idêntico ao governador, diria até que é uma versão mais
velha do governador.
O homem parece surpreso ao me ver, mas sorri em seguida.
— Quem é a moça bonita? — Sua mão é estendida e eu
pego em um cumprimento leve. — Sou o Roberto, pai desse ingrato
aqui. — Aponta para o Samuel, que ainda sorri.
Sorrio também, adorando tudo.
— Sou a Monique, prazer em conhecê-lo — me apresso em
dizer.
— Eu trouxe uma amiga, pai, se importa se ela ficar com a
gente? Ela pode dormir no meu quarto comigo, já que os quartos de
hóspedes estão todos ocupados.
A atenção deles está em mim novamente.
— Ela é mais que bem-vinda em nossa casa, meu filho. — O
Roberto sorri mostrando seus dentes perfeitamente brancos
enquanto abre a porta do veículo.
GOVERNADOR

T
udo o que eu estou sentindo no momento parece ser uma explosão
de sentimentos tão real que minhas pernas são incapazes de sair do
lugar quando a camionete do meu pai estaciona na frente de casa.
Eu só posso estar vendo coisas, não é verdade o que se passa bem
diante dos meus olhos. Eu com certeza estou pagando pelos meus
pecados ou algo do tipo.
Só tenho a certeza de que não estou ficando louco quando
escuto os gritos histéricos da dona Lúcia, minha mãe, enquanto
corre atrás deles, pulando de alegria.
— Meu benzinho, você chegou! Roberto, nosso bebê está em
casa de novo e trouxe a namorada! — minha mãe grita me fazendo
sair do meu transe.
Espera.
Ela disse namorada? Não, eu devo ter ouvido errado. Com
certeza ouvi errado.
Vou até eles e ignoro as mochilas que o meu pai começa a
atirar em mim e me aproximo do meu irmão. Ele me deve uma
explicação.
— Oh, querida, você é tão linda, meu bebê é realmente um
homem de sorte. Olhe que moça bonita, Roberto!
As palavras da minha mãe me fazem virar os olhos. Logo
vejo o olhar assustado da Monique.
— Oh, não, senhora, não é o que está pensando... Sou
apenas uma amiga. — Vejo quando os olhos da minha mãe se
arregalam com a justificativa da Monique, que estremece quando se
dá conta da minha presença agora.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto a encarando.
Mas ela rapidamente me dá as costas, ignorando
completamente a minha pergunta, mas isso não irá ficar assim.
Minha atenção volta novamente para o Samuel, que está
atolado de mochilas nos braços. Estendo a mão, pegando algumas
enquanto entramos na casa.
— O que ela está fazendo aqui? — Minha voz vacila e sai
ainda mais profunda que o normal.
— Eu preciso dela. — Sua resposta seca me irrita.
— Precisa dela pra quê? — Me aproximo.
— Para trabalhar, Gabriel, trabalhar, sabe o que é isso? —
responde, como se nada tivesse acontecido.
Recuo quando sinto os braços da minha mãe me puxando
para encará-la, só então me dou conta do quão perto estava de
atacar meu irmão.
— O que está acontecendo? Por que estão discutindo assim?
Não criei vocês dessa maneira. — Seu olhar preocupado me faz
recuar.
— Mãe, está tudo bem, é apenas um assunto nosso — tento
amenizar.
— Você está assim por que ele trouxe uma garota e você
não? Achei que a Camila te faria companhia...
Os olhos do Samuel se arregalam.
— Camila está aqui? — O sorriso no rosto do Samuel me faz
fechar os punhos.
— Ela está na biblioteca. Andem logo com essas malas lá
para cima. Vou levar nossa convidada para tomar um chá gelado —
murmura minha mãe, logo depois se virando para agarrar o braço
da Monique e a puxar em direção à cozinha. — Adorei conhecer
você... Um amor.
Espero que elas entrem, para seguir o Samuel até o quarto
de hóspedes, onde ele deposita uma pequena mala sobre uma das
camas de solteiro e atira as dele na outra.
— O que pensa que está fazendo? — Coloco a pequena
mala sobre a cômoda para voltar a encará-lo.
Ele bufa.
— Guardando minhas coisas. Não é óbvio? — Sua atenção
volta para as malas enquanto arruma suas coisas na gaveta.
— Você sabe do que estou falando. Por que trouxe ela para
cá? E por que as coisas dela estão aqui no quarto com você? Nem
pense em fazer o que eu estou pensando que você vai! — aviso.
Ele me encara descaradamente, rindo às minhas custas.
— E o que está pensando? Eu precisava de uma assistente e
você sabe muito bem disso.
— Mas NÃO ela! — grito o óbvio.
— Por quê não ela? — Ele para no meio do quarto, em frente
a mim, cruzando os braços no caminho.
"É... Por que não ela?", pergunto a mim mesmo. Porque no
fundo eu estou tão incomodado com a aproximação deles? Não,
não gosto de aonde meus pensamentos estão indo.
— Porque não!
— “Porque não” não é resposta! Qual é, Gabriel? Você gosta
da Monique, cara. É isso?
— Não! — me exalto.
Ele não pode estar falando sério.
Eu gostando dela? Só pode ser piada.
— Então qual o problema dela trabalhar pra mim? Podia ser
qualquer outra garota.
— Exatamente. Por que não trouxe, então, qualquer outra
garota? — Franzo o cenho. — Tinha que ser ela?
— Gabriel, você não está sendo lógico. Até ontem você
estava todo doido para transar com ela e agora mais essa aí. O
tesão virou ódio agora? Supera, cara.
— Vocês estão juntos? — Minha boca seca com a pergunta
que eu acabo de fazer, mas, para minha surpresa, esse palhaço
começa a rir. Esse idiota. — RESPONDE! — Meu grito tira seu
sorriso.
— Não é da sua conta!
— Você contrata minha ex-secretária e acha que não é da
minha conta?
— Espera, deixa eu ver... — Ele para, pensando. — Não, não
é! A Monique não é um problema seu, não mais! — provoca.
— Samuel...
— Não, chega! Agora se me der licença, eu preciso desfazer
minhas coisas e dar uma atenção especial à minha convidada. Se
por acaso tiver mais alguma dúvida, me mande por e-mail. Vou
adorar responder.
Fecho os punhos com força quando ele me dá as costas e
retorna para a cômoda, interessado nela.
Saio do quarto às pressas, batendo a porta com força. Desde
criança o Samuel gostava de me provocar, mas dessa vez ele não
irá conseguir. Dessa vez não, querido irmão.
Corro até a varanda para observar a Monique sentada em
uma das mesas do lado de fora do jardim com minha mãe,
desfrutando de uma belíssima mesa montada apenas para as duas.
Minha mãe parece mesmo muito encantada pela garota.
Como se já não bastasse me provocar, ela tinha que ter um
caso com meu irmão? Se queria tanto se dar bem na vida, por qual
razão não aceitou ficar comigo em meu apartamento? Ou talvez...
Ela tenha visto no Samuel uma pessoa mais fácil de lidar, ao invés
de dar duro atrás de mim.
É isso... Está tudo muito óbvio.
Quando percebeu que não teria mais chances de chegar até
mim, ela optou pelo caminho mais fácil e o idiota do meu irmão caiu.
Tudo começa a fazer sentido agora.
Por isso ele a trouxe diretamente de sua casa para cá. Eles
estão juntos.
Sorrio quando uma ideia terrivelmente diabólica me veio à
mente. Pego as chaves da camionete e dirijo até a cidade sem que
ninguém perceba. Eu não posso correr riscos. Ela pode estar
vigiando todos aqui. Estaciono em frente ao depósito de materiais
de construção e saio de lá com um belo sorriso no rosto,
completamente satisfeito com o que acabei de desenrolar nesse
lugar.
Ignoro a garoa fina de fim de tarde e volto para casa rápido.
Eu preciso pôr em prática meus planos ainda hoje. Quanto antes eu
resolver isso, mais rápido essa garota sairá das nossas vidas.
Uma golpista a menos.
Se a Monique acha que se passando por boa moça vai
conseguir enganar a todos como está fazendo com o Samuel, ela
está muito enganada. Até quase sinto pena dela.
Estaciono o carro e subo até o quarto, notando que todos
estão rindo na sala de jantar. Guardo o equipamento atrás da porta
do banheiro e desço para me juntar a todos, sem levantar suspeitas.
O jantar ainda está sendo servido quando eu chego, puxo a
cadeira ao lado do meu pai e me sento.
— Do que estavam falando? — Olho para todos notando o
quanto gargalham.
— Papai estava contando da reação da mamãe quando viu o
vestido que uma estilista famosa mandou para ela.
Olho para o meu irmão, observando o quão animado ele está
pela primeira vez desde o término com a outra vigaristazinha...
— Ah, é? E como era? — pergunto animado vendo os olhos
da dona Lúcia cheios de lágrimas de tanto rir da própria desgraça.
— Ah, meu amor... O vestido tinha tantas penas que eu me
sentia a própria galinha da angola. Sabe o que faltou para ser
perfeito? — ela pergunta atraindo a atenção de todos, que a
encaram com olhares curiosos, mas apenas meu pai pergunta:
— O quê?
Ela se vira para ele e estende a mão.
— Eu pôr ovo, querido. Sério, só faltou isso.
— Mamãe! — a repreendo.
— É sério, gente, vocês acham mesmo que eu iria na festa
do meu próprio casamento vestida de galinha?
Sua lógica faz sentido.
— Ouvi dizer que se trata de um exclusivo, Lúcia, não devia
fazer uma desfeita dessas com um modelo exclusivo e caríssimo
feito pela alta costura — diz Camila com toda calma possível.
— Não sabia que tinha gostado, querida, se eu soubesse
teria te dado. — O rosto da minha mãe de repente fica sério. —
Você está séria hoje. Aconteceu algo?
Não.
Não.
Não.
— Não aconteceu nada de diferente, Lúcia. — Engulo em
seco quando ela olha para mim. — Só estou cansada de ser
ignorada.
Pigarreio vendo diversão nos olhos do Samuel.
— Me perdoe pela falta de modos, querida. — A mão dela vai
até o ombro da Monique. — Agora, com certeza, companhia para
você não faltará.
Vejo o rosto da Monique se torcer em desgosto enquanto
foca em seu prato, a Camila, por outro lado, sorri.
— Claro.
Não posso dizer que o jantar chegou a ser desagradável,
mas foi estranho... Isso, foi. A Camila não tirava os olhos do Samuel
e da Monique. Eu podia sentir o veneno que escorria ali. Ao
contrário dela, a Monique e o Samuel pareciam focados em
conversar sobre minha agenda, o que me fez relaxar um pouco ao
ouvir os detalhes das estratégias que ambos têm para minha
carreira.
Após o jantar, meus pais sugerem a todos que se juntem a
eles na sala de cinema privada que têm no porão. Aproveito a
oportunidade para colocar meu plano em ação e recuso a proposta
deles.
Tranco a porta do quarto, arrasto as cordas do banheiro até a
cama e monto a cama de gato.
Agora é só esperar a oportunidade de todos dormirem para
que dê certo e coloque tudo em ação. Procuro o talão de cheques
em meu bolso, confirmando se o peguei ou não. Está aqui.
Hoje ela não me escapa.
Acordo sobressaltado no sofá da sala quando um barulho na
cozinha me assusta, coloco a fita isolante na parte traseira da calça
e me levanto.
Só pode ser ela...
Afinal, quem conseguiria dormir pacificamente em uma casa
estranha e cheia de gente que nem conhece? Eu mal a conheço.
Caminho devagar até a entrada e espio. Seu corpo está
coberto pela porta da geladeira. Me aproximo sem que note, a
agarro com rapidez e a coloco imprensada contra a parede. Ela
ofega quando minha mão cobre sua boca. A intenção é impedir ela
de sair correndo antes de conversarmos, mas Monique não parece
se irritar com minha abordagem, pois ela me puxa para mais perto,
colando nossos corpos e me dando a deixa para apertá-la mais na
parede.
— Agora você vai me explicar direitinho essa história... —
Franzo o cenho e fecho os olhos.
A luz da cozinha de repente é completamente acesa, me
cegando. Murmuro alguns palavrões enquanto afrouxo meu aperto...
Arregalo os olhos, assustado.
Não é a Monique aqui.
— Mas que diabos vocês dois estão fazendo? Tenham
senso... Vão para um quarto, pelo amor de Deus!
Olho para o meu pai, que está ainda com os dedos sobre o
interruptor enquanto olha enojado para Camila e eu.
— Não é o que o senhor está pensando... — digo me
afastando dela às pressas.
Só pode ser um pesadelo. Como eu não percebi que não era
ela?
— Tenham vergonha...
A Camila só consegue rir da situação, ignorando toda a cena
diante de si e saindo da cozinha, satisfeita e vitoriosa.
— Pai, eu posso explicar... — me apresso em dizer.
— Faça isso, por favor. — Ele faz questão de mostrar o
quanto está desapontado.
Fecho a porta da geladeira e inclino as costas sobre a
mesma, isso é uma vergonha. Além de ter pego a garota errada,
ainda fui flagrado em uma situação constrangedora pelo meu
próprio pai.
— Estou esperando, Gabriel, não tenho a noite inteira.
Solto um suspiro derrotado.
— Me desculpa, pai, não é o que o senhor está pensando. Eu
não suporto o fato dessa garota estar aqui em casa. Foi apenas um
erro que não irá se repetir novamente, ok? — Parte disso é verdade.
Eu não suporto estar perto da Camila.
— Não é bem assim, Gabriel, nem na adolescência de vocês
eu os via desse jeito. — Ele passa a mão sobre o peito enquanto
franze o cenho. — E olhe que já peguei seu irmão em situações
extremamente constrangedoras, mas nunca com uma mulher desse
jeito e em nossa casa!
— Tem razão. Me desculpe.
Nem em mil anos eu imaginei que ouviria sermão do meu
próprio pai a essa altura do campeonato. Meu velho apenas acena
pra mim.
— Conversaremos sobre isso amanhã!
Concordo.
— Tem razão, pai, boa noite.
— Boa noite, filho.
Meu coração dá um pulo quando o vejo entrar no corredor
indo em direção às escadas.
— Ah, pai? — Ele espera para me encarar.
— O quê?
— Não conta nada a mamãe, não, tá?
Ele hesita, mas assente.
— Claro. — Ouço sua risada.
Droga. Ele irá.
Olho ao redor tomando ciência da merda que eu fiz, além de
ter que lidar com minha mãe amanhã, ainda terei que ir na Camila e
justificar meu comportamento, antes que ela entenda aquilo como
um sinal verde.
Desligo a luz no interruptor e me viro, saindo da cozinha e
subindo as escadas de volta ao quarto, mas o barulho da fechadura
do quarto de hóspedes chama minha atenção.
O que meu irmão faz acordado ainda?
Bufo...
Como se eu já não soubesse a resposta!
Giro a maçaneta do e abro a porta, mas a voz da Monique
me faz parar.
— Você está bem? — A preocupação que vejo em seus olhos
quase me faz esquecer dos motivos pelos quais ainda estou
acordado às 4h da manhã.
Não respondo.
É agora, a oportunidade perfeita.
Em três passos, eu já estou diante dela, abaixo apenas para
jogá-la sobre o ombro e correr até meu quarto, rápido o suficiente
para que ninguém note. É tão rápido que ela não grita.
MONIQUE

D
esde que cheguei, o governador, ou melhor dizendo, o Gabriel, está
me tratando diferente. Em Salvador, ele estava todo galante,
sedutor... Aqui, ele está frio e distante, nem de longe parece o
mesmo homem que, até ontem, não aceitou bem meu afastamento
do escritório. Mas se ele prefere este tipo de tratamento, quem sou
eu para dizer o contrário?
Afasto-me da janela quando ouço vozes vindo do corredor.
Olho para o Samuel, que ronca horrores em sua cama agora, e me
aproximo da porta, sem fazer barulho.
“Não conta nada a mamãe, não, tá?”, ouço a voz dele.
“Claro", responde a voz do Roberto.
Mas o que diacho eles estão fazendo acordados a essa
hora? Eu tenho preocupações demais em minha cabeça que não
estão me deixando dormir. Mas e eles, qual é o motivo?
Olho para o relógio na cômoda perto da janela e suspiro.
4h da manhã.
Uma porta no corredor range e eu me aproximo.
A porta dele fica ao lado da nossa, então, só pode ser ele.
Quando vejo, eu já estou com a mão na maçaneta, me preparando
para sair do quarto.
Congelo quando o vejo parado em frente à sua porta, me
observando. O quê que eu vou dizer agora?
Pensa, anta, pensa.
— Você está bem? — pergunto, engolindo em seco diante do
seu olhar gélido em mim.
Algo dentro de mim não está gostando disso. É pra eu estar
com raiva dele pela tentativa de sequestro, e não o contrário. Isso
parece raiva em seu rosto, mas ele não tem motivos para isso. Ao
contrário, sou eu quem deveria estar irritada.
Mal me dou conta de seus movimentos, em um instante ele
estava me olhando com desprezo e no outro eu estou no seu
ombro, sendo carregada para dentro do seu quarto.
É tudo tão rápido que minha mente vacila.
— Me solta, seu idiot...
Ouço apenas o barulho de chaves sendo girada, antes dele
me interromper:
— Shiu...
Ele faz “shiu" pra mim? Começo a me debater em seu ombro.
Mas alguns passos e ele gira, me depositando gentilmente
sobre uma cama macia. Ele age rápido, puxando meu braço sobre a
cabeceira e o prendendo lá com força, enquanto eu tento me
levantar.
— Gabriel? — chamo, tentando arrancar meu braço das
amarras.
Ele não responde e vai até meus pés, retirando minhas
havaianas de lá às pressas.
— Governador? — o chamo ainda mais alto.
Ele não me escuta ou ao menos finge que não. Ele tem meus
pés completamente imobilizados sobre um monte de cordas presas
na cama.
O olhar dele sobe até mim quando retira do bolso uma fita e
se aproxima. Ele só pode estar louco!
— Não, não, não. SOCORRO! — grito com tanta força que
tenho a certeza que alguém ouvirá, enquanto ele apenas corta um
pedaço da fita e coloca sobre minha boca, tapando-a
completamente e voltando até o final da cama.
Eu vou matar esse desgraçado!
Minha mão livre vai até o nó que prende meu pulso, em uma
tentativa desesperada de livrá-lo das cordas. Ele está tão focado em
amarrar meu outro tornozelo que nem sequer notou.
Aos poucos, o nó vai se afrouxando e quando ele sobe o
olhar, vê. Consigo livrar minha outra mão das cordas e agarrar o
abajur na mesinha, tascando em sua cabeça com força o suficiente
para quebrá-lo.
Boooom.
Ouço o baque, os joelhos dele pousam rapidamente no chão,
enquanto sua mão está apoiada onde eu o acertei. O abajur,
praticamente quebrado, escorrega de minhas mãos quando noto o
estado em que ele está.
— Você está bem?
Confuso, ele olha pra mim, antes de conseguir alcançar algo
ao seu lado e sentar ao chão do lado da cama, ainda com a mão
sobre a cabeça.
Será que eu o acertei muito forte?
Consigo me sentar na cama às pressas, para desfazer as
amarrações presas em meus tornozelos. Demoro alguns segundos,
mas consigo livrar os dois das amarras e sair da cama. Ele continua
sentado na mesma posição, pressionando algo em sua testa.
Meu olhar voa até a porta e então para ele de novo.
O que eu farei? Sua família provavelmente arrancará meu rim
depois que souberem do que eu havia feito. Droga, eu tentei matá-
lo.
Ajoelho-me ao seu lado e engasgo. O corpo do Gabriel vai
com tudo em direção ao meu, minhas costas batem duro no chão
frio e um suspiro de dor sai dos meus lábios, quando me vejo presa
entre ele e o chão.
— Agora eu tenho você.
Me tem? O cara acabou de levar uma pancada forte da
cabeça.
— Me solta! — exijo.
— NUNCA! — olho para ele e me arrependo — Nunca... —
repete, dessa vez mais suave, enquanto me olha.
Seu olhar suavizou em minha boca.
— Eu subestimei você, não vou cometer o mesmo erro duas
vezes.
— Erro? Que erro? Que diabos você está falando,
governador? Saia de cima de mim, agora mesmo! — ordeno, ainda
confusa em como ele havia se recuperado tão rápido da pancada.
— Não, preciso de respostas.
Nesse momento, algo duro pressiona contra minha coxa,
através da calça de moletom. Eu congelo.
Não acredito!
— Respostas para o quê? — Apresso-me em dizer, tentando
me livrar dele o mais rápido possível.
Ele está mesmo excitado com a situação? Não acredito!
— O que faz aqui com meu irmão?
Começo a socar seus ombros, mas ele agarra meus pulsos e
os colocam presos acima da minha cabeça.
— NÃO É ÓBVIO? — grito, com raiva.
Toda a suavidade em seu rosto some. A raiva em suas
palavras me faz estremecer.
— Abra suas pernas um pouco — ele murmura.
— Para quê?
Engulo em seco.
— Preciso me ajustar um pouco.
— Vai me soltar? — pergunto, mas ele responde que não
com a cabeça.
— Vai afastar?
Não ouso lhe responder.
Ele usa a força de suas coxas contra mim e consegue
separar minhas pernas, enquanto sua mão livre desce até a costura
da minha calça.
Congelo no lugar.
Começo a me debater para sair do seu domínio, mas quanto
mais eu tento sair, mais a mão dele afunda dentro da calça.
Quando os dedos deles invadem minha calcinha, tento lhe
morder.
— Me solta! — digo, mas paro quando seus dedos tocam
minha fenda. — Não se atreva... — é o meu último aviso.
Calo-me ao notar a paixão queimar em seus olhos azuis,
enquanto encara minha boca. Seus dedos começam a explorar
minha boceta e um gemido escapa dos meus lábios, sem que eu
perceba.
Isso não pode estar acontecendo.
Ele geme baixinho quando seu toque fica mais agressivo,
enquanto espalha a umidade da minha boceta ao redor do meu
clitóris e estimula.
— Tão receptiva... — sussurra.
Seus olhos encontram os meus quando eu, automaticamente,
esfrego meu quadril contra seus dedos, precisando de mais, muito
mais...
Eu estou queimando e ele não tem misericórdia com o toque
agressivo. Minha boceta impulsiona contra seus dedos
automaticamente, em uma grande tentativa desesperada para
gozar.
Meus gemidos preenchem o quarto quando um dedo entra
em mim. Os lábios do Gabriel cobrem os meus, abafando meus
gritos e me fodendo.
Uma sensação quente sobe por todo meu corpo quando ele
começou a me foder mais rápido com os dedos. A boca dele devora
a minha boca com gosto, ele morde e suga minha boca com desejo
e paixão. Meu corpo convulsiona e eu gozo em seus dedos.
Uma sensação de ternura e paz me invade quando os lábios
dele se afastam. A mão dentro da minha calça se afasta e, a que
segura meus pulsos, solta.
Eu estou extasiada demais para me importar se ele me
tomaria aqui mesmo no chão ou na cama. Na verdade, pouco me
importava. Olho para cima apenas para vê-lo já de pé, me
encarando com uma expressão fria no rosto.
Eu estou tão saciada que mal consigo ficar de pé sozinha.
Em meu peito, meu coração ainda está acelerado, junto a minha
respiração ofegante.
Gozei tão forte que fiquei bamba.
Minha vontade é de estender a mão e puxá-lo de volta a mim.
Apesar do recente orgasmo, meu corpo ainda pedia por mais.
— Eu preciso... — avisa, já se preparando para entrar no
banheiro. De onde eu estava, pude ouvir a tranca da porta ser
girada. Ele estava colocando uma distância entre nós dois, depois
do que havia acontecido.
Ok, eu entendi.
Forço novamente o ar em meus pulmões e me levanto,
arrumo minha roupa no lugar e saio dali, entrando no banheiro do
quarto de hospedes. Dou uma última olhada no Samuel — que
ainda dorme — e me tranco dentro.
Praticamente arranco minhas roupas do corpo, lutando
comigo mesma para não arrumar minhas coisas e ir embora desse
lugar. Tomo meu banho o mais rápido possível e volto para a cama.
Eu preciso descansar.

Logo após descansar por algumas horas, me arrumo às


pressas para encontrar todos na mesa do café da manhã na
varanda. Enquanto a Dona Lúcia faz questão de encher meu prato e
me explicar alguns detalhes de sua festa de casamento, O Gabriel
passa por nós e se senta ao meu lado, após cumprimentar todos.
— Bom dia — todos respondem, exceto eu.
Minha atenção está voltada para o prato lotado de comida à
minha frente. Devolvo o sorriso a Lúcia quando começo a comer.
— Hum, que delícia... — gemo. Os sequilhos que ela fez
simplesmente derretem na boca.
Uma mão grande pousou em minha coxa e eu enrijeci o
corpo sobre a poltrona, uso minha outra mão discretamente para
afastar sua mão da minha coxa, mas ainda posso ouvi-lo rir baixinho
ao meu lado.
Volto minha atenção à mesa e percebo que a Lucia nos
encarava. O olhar dela ia dele a mim, enquanto estreitava os olhos.
Quebro contato visual com ela, enquanto foco nas delícias diante de
mim.
GOVERNADOR

A
puta pancada em minha testa me fez pestanejar. Seguro no colchão
para não cair com a cara diretamente no chão. Merda de dor filha da
puta! Olho para o lado e vejo o que ela usou... Meu abajur preferido
agora está dividido em milhares de pedaços, o que também inclui a
lâmpada.
Pressiono mais forte a mão sobre o lugar da pancada,
sentindo-o pulsar. Como eu pude ter dado um vacilo desses?
Vejo pelo canto dos olhos ela se agachar ao meu lado no
chão. Meu olhar recai novamente para os vidros espalhados — ela
poderia se machucar — Lanço-me agarrando seu corpo e o
depositando do meu outro lado, onde há menos estilhaços. Por
sorte, consigo prendê-la sobre mim. Nem tudo estará perdido agora.
— Agora eu tenho você!
Essa é a minha chance.
— Me solta! — exige.
— NUNCA! — Meu olhar vacila quando cai sobre sua boca
lindamente bem desenhada — Nunca...
Eu estou praticamente babando com a imagem embaixo de
mim... Foco, Gabriel, seja forte! “Você é um homem ou um saco de
batatas?”, pergunto-me, ainda olhando com raiva para ela.
— Eu subestimei você, não vou cometer o mesmo erro duas
vezes.
— Erro? Que diabos você está falando, governador? Saia de
cima de mim — ordena.
— Não, eu preciso de respostas!
“Principalmente saber desde quando você estava fodendo
meu irmão”, penso.
— Respostas para o quê?
— O que faz aqui com meu irmão? — Minha pergunta a deixa
totalmente furiosa, distribuindo socos por toda extensão dos meus
ombros. Estendo as mãos, prendendo-as acima da sua cabeça.
— NÃO É ÓBVIO? — responde com raiva.
Se antes eu estava tentando ficar calmo, agora não mais. Ela
brincou com a pessoa errada!
Meu pau pulsa quando abaixo os olhos sobre seu corpo. A
visão e a sua pele toda arrepiada ao meu toque, me faz perder
completamente o juízo.
Se ela estava fodendo com ele por dinheiro, eu poderia
também.
E por que não?
— Abra suas pernas um pouco — peço com a voz já rouca.
Mas minha vontade mesmo era de arrancar ela dessas
roupas que cobrem demais e colocá-la de quatro na cama,
enquanto meto sem parar em sua boceta.
— Para quê?
Ela está assustada? Isso, sem dúvidas, aumentou o meu
tesão.
— Preciso me ajustar um pouco.
— Vai me soltar?
Nego com a cabeça.
— Vai afastar?
Ela não responde, e seu silêncio nunca me irritou tanto
quanto agora. Ela só pode estar fazendo de propósito, ao ver o meu
estado. Desço minha mão livre pela extensão de sua barriga,
sentindo-a se afastar do meu toque, conforme eu desço mais.
Seus olhos se arregalam quando alcanço a cintura da sua
calça, enquanto ela se debate em meus braços. Meus dedos
descem ainda mais, curiosos. Seu corpo se arrepia mais e mais
quando eu esfrego sua calcinha, sentindo o que a peça de roupa
reserva.
Está tão manhosa em meus braços que resolvo ir mais
adiante. Essa é a oportunidade na qual eu me recuso a perder.
Afasto sua calcinha de lado, pressionando minha palma da
mão em sua boceta quente. O calor que emanava daqui me faz
esquecer até o meu nome.
Minha boca saliva quando meus dedos encontram umidade
em sua fenda.
— Me solta! — seus olhos se arregalaram — Não se atreva...
Ohhhh, sim... com certeza eu me atreverei.
Olho novamente para sua boca, parece tão doce, e uma
imagem dela ao redor do meu pau me leva ao limite. Começo a
esfregar sua boceta, arrancando gemidos dos seus lábios. Mordo os
meus próprios, tentando manter um controle da situação.
— Tão receptiva...
Automaticamente, ela começa a esfregar a boceta em meus
dedos, para minha feliz surpresa. É um sinal claro de que está louca
por libertação.
Seus olhos encontram os meus, quando eu esfrego ainda
mais rápido contra seu clitóris, que pulsa. Os gemidos dela
preenchem o quarto.
Se ela quer mais, ela terá mais! Enfio o primeiro dedo dentro
dela, seguido pelo segundo. Seus gemidos estão ficando ainda mais
barulhentos, mas tomo posse da sua boca com a minha, em um
beijo devastador.
Essa mulher ainda será minha.
Sua boceta aperta meus dedos e eu sei que ela está quase
gozando. Eu estou determinado a mostrá-la o quão bom podia ser
entre nós, mas a imagem do meu irmão me fez querer sair dali o
mais rápido possível. A sensação dos meus dedos melados do seu
orgasmo me faz sentir ainda pior.
Afasto-me dela o mais depressa possível. Isso estava errado,
ele é o meu irmão! Quem tinha que parar com tudo era eu, não ela.
Eu fui fraco o suficiente para pensar apenas com a cabeça de baixo,
mas isso, definitivamente, não ficará assim.
— Eu preciso... — Tranco-me dentro do banheiro, tentando
fugir daquilo.
O corpo da Monique no chão grita pelo meu toque, está claro
em seu rosto o quanto ela deseja mais. Quem sabe, Deus, por
quanto tempo eu poderei resistir com ela daquele jeito, tão perto,
completamente saciada pelo recente orgasmo e a lembrança do
quão molhada sua boceta estava. Eu vou perder o controle.
Levanto os dedos que estavam a pouco dentro de sua boceta
e os levo à boca, sentindo seu gosto, o gosto da sua paixão
provocada por mim. Retiro meu pau de dentro da calça,
bombeando-o com fúria, enquanto chupava seu gosto em meus
dedos.
Gozo feito um adolescente no cio.
Quando retorno ao quarto, ela já saiu.
Vou até o armário de limpeza e começo a limpar minha
bagunça.

Acordo ao som de algumas risadas que vêm do Jardim. Vou


até a janela cambaleando, de tanto sono que estou, para ver minha
mãe rindo com todo mundo da família, enquanto tomavam café.
Retiro uma camisa do armário e desço as escadas, indo na
direção deles.
— Bom dia — cumprimento todos, já me sentando ao lado
dela, que tem a atenção apenas no prato à sua frente.
Minha boca saliva com sua boca cheia dos biscoitos da
minha mãe, que olha apaixonada para a Monique, enquanto ela
saboreia sua comida.
— Hum... — geme — Que delícia...
Meu pau protesta junto com minha mão, que pousa em sua
coxa sem hesitar, apertando-a levemente, sentindo o quão gostosa
ela é. Sua mão cobre a minha por debaixo da mesa, afastando-me.
Aperto meu pau, tentando acalmá-lo. Meu irmão que me
perdoe, mas será uma verdadeira prova de resistência conviver com
essa mulher até o casamento.
Uma imagem de nós dois fodendo brilha em minha mente,
despertando um sorriso em mim. Olho para a frente e vejo que
minha mãe nos encara com os olhos estreitos, por isso, mudo o foco
para os outros ao redor da mesa. Meu sorriso morre quando vejo
que a Camila me encara com um sorrisinho falso no rosto.
Eu preciso dar um jeito de tirá-la daqui ou ficarei louco com
suas investidas, ainda mais depois de ontem. Ela, com certeza,
entendeu tudo errado. Para variar, é claro.
Foco no café a minha frente, ele nunca pareceu tão atrativo
quanto agora.

Após o café meu pai me chama até o escritório para resolver


nossos assuntos pendentes. Só de me lembrar da cena ontem na
cozinha, meu estômago chega a embrulhar, enojado.
Fecho a porta atrás de mim e me sento sobre o sofá no
canto.
— Desde quando isso entre você e a Camila vem
acontecendo? Não mente, Gabriel, eu prometi que não contaria a
sua mãe sobre o ocorrido de ontem à noite apenas para que ela não
ficasse angustiada, mas não pense você que eu não contarei. —
Meu coroa foi direto no meu calo.
— A noite passada não passou de um mal entendido, pai,
posso te garantir isso. Eu prometi que nunca mais tocaria na Camila
outra vez e eu honrarei com a minha palavra, mesmo que isso me
custasse. O que não é o caso, já que eu não suporto se quer estar
na mesma casa que ela.
Ele ainda não parece convencido.
— Mal entendido? Explique-se.
E eu explico, tim tim por tim tim, desde como eu conheci a
Monique até o ocorrido ontem à noite, onde eu planejava tirar dela
toda a verdade sobre seus interesses com a minha família. Ele fica
calado o tempo inteiro e espera até que eu terminasse.
— Então foi isso... entende agora que ontem à noite foi
apenas um incidente com a Camila?
Ele não responde, suas mãos foram até a frente de sua
calça, puxando o cinto de lá, dobrando-o em sua mão e vindo até
mim. Levanto às pressas do sofá, tropeçando todo caminho até a
porta, enquanto tento correr.
O primeiro golpe atinge meu ombro já no corredor. Consigo
ficar de pé e correr até a sala, onde é o lugar perfeito para conseguir
me esquivar dele. Afinal, o que eu fiz de tão errado para deixá-lo
assim tão irritado? A última vez que apanhei assim foi no colegial,
quando eu havia pego sua camionete escondido dele para sair à
noite com os amigos. Naquele dia apanhei, mas não por apenas ter
fugido escondido, mas por também ter usado álcool naquela noite.
O olhar que ele me deu naquele dia foi uma promessa de que ele
nunca desistiria de me consertar, e parece que agora seria um
desses momentos.
Começo a correr ao redor do sofá sem que ele me alcance, a
risada do Samuel e os gritos da minha mãe só provam que quando
uma coisa está ruim, ela sempre pode piorar.
— Foi assim que eu te eduquei? — Ele ainda corria atrás de
mim.
— O que ele fez, Roberto? — A voz da minha mãe, mas não
paro para confirmar, apenas continuo rodeando o sofá.
— Pai, calma, vamos conversar. — Comecei a correr para o
outro lado. — Somos adultos, lembra? — argumento.
Espero esse tipo de atitude da minha mãe, nunca dele, não
mais.
— Como assim “o que ele fez?". Seu filho passou dos limites,
Lúcia, dos limites... — repetiu, furioso.
Fodeu.
— “Meu filho?". O que quer dizer com isso, Roberto? Fiz com
o dedo, foi? — A voz da minha mãe está mais próxima.
— Você entendeu o que eu quis dizer. Seu filho aqui passou
dos limites, indo contra tudo o que eu o havia ensinado. —
Finalmente, meu pai para de correr, quando olha pra mim. — Nunca
ensinei a você a usar as mulheres do modo que fez. Hoje você me
decepcionou muito, filho.
A amargura em sua voz me faz lembrar de algo no qual eu
havia esquecido, da forma como meus pais se conheceram.
Como eu pude me esquecer de algo assim?
— Pai... — tento argumentar.
Mas é em vão, ele estende a mão para que eu pare. Mas
minha mãe se aproxima dele e senta ao seu lado, verificando se ele
está bem fisicamente, apesar dos seus protestos.
A preocupação estava clara nos olhos dela, ela o amava. A
irá do meu pai parece ter diminuído quando fala:
— Devo relembrá-lo, filho?
— Pai... — Aproximo-me com cautela. — São histórias
completamente diferentes. Não compara a Monique com a mamãe,
a mamãe nunca agiu por interesse quando escolheu o senhor.
Mulheres assim como ela não merecem respeito algum.
O som de algo batendo sobre a porta chama minha atenção.
Viro-me e vejo o Samuel com a mão sobre o ombro da Monique,
que está parada ao seu lado com um olhar distante e apenas
assente, enquanto ele fala algo baixinho em seu ouvido.
Assisto ela dar meia volta e sair da sala.
— Idiota — murmura Samuel para mim, antes de sair atrás
dela.
Por um instante, quis ir atrás dela e me explicar pelas coisas
que ouviu saírem da minha boca, mas o que eu vou dizer?
“Monique, me desculpa se te ofendi, mas essa é a minha opinião
sobre você"? Por mais que meus instintos gritem, me dizendo que
eu sou um idiota, eu não podia ir contra, e ainda temo que tudo o
que eu possa dizer a ela piore as coisas ainda mais.
Meus pais me olham com pesar.
— Vocês dois podem me dizer o que está acontecendo aqui?
— Minha mãe parece desnorteada quando fica entre nós dois.
Provavelmente ela não faz ideia da merda que eu tenho feito.
— Eu vacilei, mãe... — começo a me explicar.
— Não! — meu pai me interrompe. — Com sua mãe lido eu,
agora, vai atrás dela e conserte a merda que fez Gabriel! Isso é uma
ordem.
Olho confuso para o meu pai, antes de assentir e sair da sala,
atrás da Monique. Não precisou pedir duas vezes.
Corro na direção do lago onde havia visto o Samuel ir quando
correu atrás dela.
MONIQUE

N
unca em minha vida iria me imaginar em uma situação como essa.
Paro na beira do lago que fica nos fundos da casa, mesmo com a
voz do Samuel atrás de mim.
— Ele é um idiota — diz, ao chegar em meu lado.
— Eu já sabia disso. — E é verdade.
— Eu não faço ideia do que está acontecendo ou do por que
ele não gostar de você, juro que não entendo. A princípio, ele me
jurou que só queria transar com você no começo, mas diante da
cena que presenciei, eu não sei mais no que pensar... — a
preocupação na voz dele chama minha atenção.
— O Gabriel só queria transar comigo? — Olho para o
Samuel pasma.
— Eu nunca vi o meu pai daquele jeito. Seja lá o que o
Gabriel tenha feito em relação a você, quero que saiba que não vou
permitir que ele a trate dessa forma dentro da casa dos meus pais,
ouviu bem? — Assusto-me quando os dedos deles seguram meu
queixo, me obrigando a encará-lo.
Há sinceridade em seus olhos verdes brilhantes.
— Obrigada — agradeço, com sinceridade. Samuel está
fazendo muito por mim, eu tinha que reconhecer isso. Ele recua e
eu me afasto.
Quando olho para ele de novo, meus olhos praticamente
saem para fora ao ver o Gabriel agachado atrás de uma árvore, nos
espiando.
Olho para o Samuel, que parece alheio à situação. Olho
novamente para a árvore e o vejo distraído, pisando em algo perto
dele. Não me importaria se fosse uma cobra.
Seguro uma risada e volto a olhar a belíssima vista do lago.
Ele lembra muito o Dique do tororó, com exceção da cor da água.
Enquanto o Dique era verde escuro, esse lago tem a água clarinha
no início e, conforme ia olhando adiante, ela fica em um lindo tom de
azul escuro celestial.
— É fundo? — pergunto, já tirando os sapatos.
— Sim e tem correnteza também.
— Sério? Não parece... parece tão tranquilo, calmo...
— E é, muitas pessoas vem aqui para pescar. Algumas
nadam também. Nunca aconteceu algo grave, mas já ouvi relatos de
alguns moradores que sentiram a correnteza os puxarem, às vezes.
Guardo essa informação e começo a retirar minha
correntinha e colocá-la sobre os sapatos, pronta para testar a água.
Samuel parece tão vislumbrado com a vista do lugar que não
nota quando ando na direção da margem, adorando a sensação da
água morna em meus pés, antes de mergulhar.
Lembro do que o Samuel me alertou sobre a forte corrente e
fico pertinho da borda. Começo a emergir em busca de ar e lhe
saúdo.
— Maluca. — Ele ri, em descrença.
— Vem, está tão gostosa — o chamo.
— Estou bem em minhas roupas secas. — Ele sorri.
— Pois não sabe o que está perdendo. — Dou-lhe as costas,
me concentrando na água azul e doce ao meu redor.
Começo a boiar no lago, permitindo que a água não lave
apenas o meu corpo, como leve embora, também, toda má sorte
que vem me acompanhando nos últimos dias.
— Última chance... — grito.
Como ele não responde, viro-me para olhar onde ele estava,
mas me surpreendo quando não o vejo mais. Provavelmente
alguém deve ter chamado ele. Volto minha concentração à água
maravilhosa ao meu redor, lamentando por não ter trazido biquínis,
seria incrível mergulhar nessas águas sem toda essa roupa
atrapalhando.
Começo a mergulhar mais fundo, admirada com a quantidade
de peixes no local. Parece um lindo ponto turístico. Lembro
mentalmente de pedir ao Samuel, numa próxima vez, para tirar
algumas fotos minhas aqui. Ficarão lindas nos porta retratos da
minha sala. Droga! Por uns segundos eu quase havia esquecido da
minha triste realidade.
Sacudo a cabeça, afastando os maus pensamentos ao
lembrar do apartamento e volto a mergulhar novamente, explorando
algumas coisas além das pedras, mas quando estou prestes a
emergir, algo me puxa de volta, não me permitindo voltar.
Forço novamente o corpo para cima e nada, algo prendeu
sobre minha calça naquelas pedras. Encolho o corpo, me
aproximando novamente delas e consigo ver um gancho preso a
alguma armadilha que acabou prendendo na calça. Começo a puxar
o tecido do gancho com o máximo de força que consigo, o
brinquedo tinha os mesmos ganchos de uma ratoeira e estava
enferrujado, com metade dele preso nas pedras.
Como eu vou me soltar disso?
Começo a puxar novamente a calça, na esperança de todo
tecido rasgar, oh droga. Minha garganta começa a se apertar e
meus pulmões a protestar também, em busca de ar. O tecido não
rasga e o brinquedo enferrujado não quebra. Engasgo quando uma
pequena quantidade de água entra pelo meu nariz, sinto toda a
ardência e me concentro em apenas emergir logo. Forço novamente
o corpo para cima.
Meus dedos vão até os botões da minha calça, para retirá-la
do corpo, é o único jeito. Engasgo quando alcanço o zíper, sentindo
mais água entrar, dessa vez pela boca. Eu não tenho muito tempo.
Eu engolia mais água conforme tentava passar as calças pelo
quadril.
Pontos pretos começam a aparecer em minha visão, junto
com a sensação de estar sufocando.
Mãos agarram o tecido, o puxando com brutalidade para
baixo, com apenas um chute entre os meus joelhos.
Doeu.
Mas não mais que a ardência em minha garganta.
Um braço me pega por trás e nos leva para cima. Meu corpo
já está mole quando emergimos e sou carregada até o chão de
terra.
Estou consciente, mas meu corpo continua mole quando ele
me coloca no chão. Minha vista está turva, mas, ao menos, eu
estava viva. Olho Gabriel pressionar forte as mãos em meus
pulmões e começo a vomitar ao seu lado, com as mãos dele atrás
da minha cabeça, mantendo-a de lado para que eu não engasgue
com toda aquela água novamente.
Depois de ter colocado tudo pra fora, procuro por respirações
mais leves, para tentar diminuir a queimação e a dor no estômago
agora.
— Você está bem, graças a Deus. — Olho para cima apenas
para ver a preocupação estampada em seu rosto.
Ele me salvou.
Tento fazer algumas palavras saírem da minha garganta, mas
a queimação é tão grande que começo a tossir.
Meus braços envolvem seu pescoço quando ele me pega no
colo e começa a caminhar.
Mesmo com sol, eu sinto tanto frio que meus dentes batem
um no outro.
Conforme ele caminha, eu encosto a cabeça em seu peito e
descanso.
— Gabriel? Monique? O que aconteceu? — A voz
preocupada do Samuel está logo atrás da gente.
Mas ele não para. Quando entramos na casa, ouço mais
gente preocupada ao nosso redor. Olho de relance apenas para ver
a Lucia com um cobertor, jogando-o por cima de mim e me olhando
com os olhos cheios de lágrimas.
Engulo em seco novamente, mas minha garganta protesta,
ardendo ainda mais.
— Vou levar ela para o quarto — ele avisa à mãe, que
apenas assente e se afasta.
Agarro mais forte seu pescoço quando começa a subir os
degraus e, mesmo com meus músculos protestando, eu seguro
firme para não cair.
Gabriel me deposita em sua cama com todo cuidado do
mundo e se vira para trancar a porta do quarto, se despindo logo em
seguida. Engulo em seco, enquanto, surpresa, observo ele ficar
completamente nu em minha frente.
Seu olhar vai até mim e o meu não sai do seu mastro.
Engulo em seco novamente.
É impossível não olhar para aquilo. Minha boca já estava
seca, mas agora piorou. Consigo desviar os olhos da vara quando
as mãos dele alcançam meu corpo novamente.
Eu tremo, mas não é de frio.
Ele parece não se importar em estar assim na minha frente.
Entra no banheiro comigo nos braços e me deposita em um
banquinho perto da banheira enorme que está num canto.
Liga as torneiras enquanto eu observo o banheiro em
silêncio. Eu não consigo dizer nada desde o lago. Meus músculos
parecem geleia. Quando as torneiras são desligadas, ele se volta
para mim e me pega novamente nos braços, me depositando
sentada sobre a bancada da pia e me despindo.
Olho para o seu rosto enquanto seus dedos desabotoam
minha blusa, seguido pelo sutiã, mas não há maldade em suas
ações, apesar de tudo. Procuro por mais sinais de que está tirando
proveito da situação, mas não encontro e fico surpresa por seu pau
continuar normal enquanto me toca.
Não sei por que, mas me incomoda saber que eu não o afeto
da mesma forma em que ele me afeta.
Olho para baixo, vendo que ele tirou quase tudo de mim,
exceto a calcinha.
Ele me pega de novo, entrando na banheira comigo ainda em
seus braços. Quando a água quente para até meus ombros, eu
gemo, me recostado mais em seu ombro.
A fraqueza que sinto ainda está presente, mas o frio não
mais. Apesar de estar praticamente nua e deitada em seu colo
dentro da água, ele não me toca. Fica apenas ali, comigo, dentro
daquela água quente, deixando-me me recuperar do que havia
passado.
Minha garganta já não queima como antes, apesar da dor no
meu estômago.
Fecho os olhos por instantes e me permito relaxar. Eu sei que
estou segura e algo dentro de mim confia nele nesse exato
momento.

Acordo no susto ao me lembrar do que havia acontecido no


lago. Olho ao redor, reconhecendo o quarto.
Será que foi tudo um pesadelo? Podia ser, com exceção da
ardência em minha garganta, isso sim me trouxe de volta a
realidade.
Devo ter dormido na banheira por um bom tempo, já que o
céu está escuro lá fora. Arregalo os olhos quando me dou conta da
mão grande e quente pousada em minha bunda, por debaixo do
edredom.
Puxo a ponta da coberta e espio.
Eu estou nua!
Meu corpo estremece.
Aos poucos, começo a virar o corpo para ver o rosto dele
próximo do meu ombro, ele tem uma expressão suave enquanto
dorme. Admiro por alguns segundo seu rosto, olhando com
interesse, pela primeira vez, para seus traços bem desenhados.
Por mais canalha que seja, eu tenho que admitir que o bicho
é gato pra caralho. A mão em minha bunda começa a subir e descer
sobre ela.
— Volta a dormir — murmura, sonolento.
Enterra o nariz no meu pescoço e pressiona seu peito firme
em minhas costas, me fazendo voltar para a posição anterior.
A gente dormiu de conchinha, comigo pelada?
Tento sair com cuidado de seus braços, mas a mão que
estava na minha bunda vai até a minha barriga e me puxa para mais
perto ainda do corpo dele.
Algo duro pressiona minha bunda. Meus olhos se fecham,
enquanto eu procuro manter a calma. Não pode ser real, é apenas
um sonho... ou pesadelo. Estou tendo alucinações depois de quase
ter me afogado no lago, aí juntou tudo com minha carência, depois
de meses sem transar. É isso, nada é real.
Estou lutando para realmente acreditar nisso.
A mão, que a pouco estava em minha barriga, começa a
descer. Solto um suspiro quando noto que estava sem calcinha,
quando sinto seus dedos começarem a ir para lá.
Mordo os lábios.
Mas seus dedos param e não percebo o porquê. Minhas
pernas se fecham com força, não dando muito espaço para seus
dedos percorrerem.
E aos poucos sua mão vai se afastando.
Quis gemer, frustrada.
Começo a afastar as pernas e seus dedos congelam,
empurro minha bunda mais forte contra sua virilha, sentindo por
baixo dos lençóis ele engrossar.
Por um instante, jurei que pude ouvi-lo xingar baixinho, mas
quando seus dedos voltam a me explorar, minha concentração vai
embora.
GOVERNADOR

S
e eu quero ter uma conversa com ela nesse exato momento? Não,
não quero. Mas tenho que ter, ou pelo menos tentar amenizar o que
eu disse, apesar de realmente ter razões suficientes para acreditar
que ela esteja com segundas intenções com meu irmão.
Observo quando ele pega o queixo dela e se aproxima para
lhe beijar, imediatamente, me viro, não querendo ver essa cena e
caminho até a árvore mais próxima, me inclinando para ouvir a
conversa deles, mas não consigo prestar atenção no que dizem, já
que muruins começam a me picar com força.
Consigo matar alguns e finalmente ficar livre deles, mas fico
com o corpo alarmado com a cena à minha frente. O que essa
themonia estava fazendo dentro desse maldito lago? Olho
desacreditado para a anta do meu irmão, que começa a andar de
voltar à casa, com o celular na orelha.
Que merda ele tem na cabeça de permitir uma coisa dessas?
Esse lago é conhecido devido a algumas tragédias que ocorreram
no passado. Ouvi muitas histórias de crianças e adolescentes que
foram brincar dentro e acabaram sendo puxados pela força de uma
correnteza misteriosa. Era algo sinistro.
Os pais só encontravam os corpos de seus filhos dias depois,
em margens diferentes. Desde então, os moradores só usam o lago
para passeio de barco e pesca.
Vejo quando ela emerge e me aproximo. Ela parecia tão
diferente, tão feliz... mas voltou a mergulhar.
Agacho na borda, esperando-a sair, procurando uma forma
de poder conversar claramente com ela, sem que me entenda mal.
Quase dois minutos se passaram e ela não sobe. Olho em
volta, procurando por algum sinal dela ao redor, mas não encontro
nada.
Dois minutos e trinta segundos...
Já chega!
Arranco os sapatos dos pés e me jogo na água, mergulhando
fundo em busca dela. Assim que olho para as pedras consigo vê-la
com os braços pra cima e a calça até a metade das coxas abertas.
Ela está se afogando.
Nado desesperado até seu corpo, que convulsiona engolindo
água enquanto fecha os olhos. Ela ainda está viva, mas não por
muito tempo, eu preciso ser rápido. Nado ao redor, avistando o que
havia mantido o corpo dela preso. Chuto a calça dela às pressas,
livrando seu corpo da ratoeira que prendia seu jeans. Agarro sua
cintura por trás e tiro seu corpo dali, depositando-o no chão.
Eu preciso retirar toda a água que ela engoliu de dentro dela,
por isso, começo a bombear seus pulmões. Não demora mais de 15
segundos para ela vomitar tudo na terra. Seguro sua cabeça de
lado, para evitar que ela engula aquilo de novo ou se engasgue.
Quando termino, alcanço seus braços e a levo para dentro,
em meio a uma crise de tosse. Ela está gelada.
Ignoro a insistência do meu irmão logo atrás de mim e subo
até meu quarto, depositando-a tranquilamente sobre minha cama.
Começo a me despir sem me importar se seus olhos varrem todo o
meu corpo. Pego-a nos braços e começo a preparar a banheira com
água bem quente. Precisava aquecê-la um pouco, talvez isso possa
ajudar.
Entro na banheira com ela sentada em minha coxa e
preocupado com a temperatura alta da água em sua pele fria. Os
tremores finalmente começam a parar. Olho para baixo e me
surpreendo ao ver o quão aconchegada está em meu peito.
Espero alguns minutos e, quando percebo que havia
dormido, a pego de volta e a levo para minha cama. Começo a
enxugá-la sem me importar com a visão de seu corpo e coloco ela
nua e já seca sobre as cobertas. O susto que havia tomado mexeu
desesperadamente comigo. E se eu não tivesse ido atrás dela
naquele lago ou demorasse um pouco mais e esperasse que ela
subisse? Ela nem estaria aqui agora.
Meu peito aperta.
Visto uma bermuda e desço até a sala de estar, onde todos
estão sentados e aflitos, esperando por notícias. Todos se levantam
quando me veem e vêm às pressas até mim.
— Como ela está? — Samuel pergunta.
Olho para ele.
— Ela está bem, está dormindo. Quando acordar, eu a levarei
ao hospital para uma verificação melhor.
— O que aconteceu, meu filho? — a voz tremula da minha
mãe chama minha atenção para si.
— Os ganchos de uma ratoeira presa às pedras pegaram a
bainha de sua calça enquanto ela mergulhava no lago e ela acabou
ficando presa por um tempo. Tive que arrancar suas calças para
retirá-la de lá. — Olho para o meu irmão com raiva, me lembrando
que ele havia permitido que ela entrasse no lago. — Feliz agora?
Ela quase morreu por sua culpa!
O empurrão que lhe dou o fez esbarrar na mobília atrás dele.
Meu pai se coloca entre nós, enquanto me encara.
— Gabriel... — começa.
— É isso mesmo que o senhor ouviu, eu vi quando ele
permitiu que ela mergulhasse no lago e ainda a deixou sozinha. —
Procurei pelos olhos dele. — Se não a queria como namorada pra
que a trouxe pra cá? Eu vi muito bem quando se afastou...
— Namorada? — Ele empurra levemente nosso pai, o tirando
do caminho e me encarando — Tá maluco? De que merda tirou
isso? A Monique é a minha secretaria, seu idiota.
Enfrento ele com um sorriso sarcástico.
— Não sabia que secretarias fazem horas extras em seu
apartamento à noite e saem apenas pela manhã com as roupas
amassadas no corpo.
Seus olhos se arregalam quando ele se afasta.
— O quê?
Continuo.
— Isso que você ouviu, eu mandei checar você quando eu vi
que não me atendia e a segurança me informou que estava com a
Monique em seu apartamento.
Ele apenas sacudia a cabeça em descrença.
— Você andou me vigiando, seu cretino? Eu, que faço tudo
por você? Como teve coragem?
Engulo em seco.
— Eu só estava preocupado — justifico, já me sentindo mal
por ter tocado no assunto.
— Preocupado? Você foi além disso, você invadiu minha vida
pessoal, por causa de uma informação falsa ainda.
— Vai mentir agora?
— Não, não vou. Estava mesmo com uma mulher em minha
cama, mas infelizmente não era a Monique. Satisfeito?
— Infelizmente? Está me dizendo que não era ela?
— Não era ela, era a amiga dela. — Meus olhos se
arregalaram.
— A Bruna? — pergunto, preocupado.
— A mesma.
Puta que pariu.
Por um lado, eu estou aliviado. Ele não mentiria para mim
sobre algo assim, ele assumiria se estivesse com a Monique, como
eu havia pensado que estava. Por outro lado, a situação era
preocupante, o meu amigo Kleber era o chefe da segurança de
todos do meu partido e nada passaria por ele despercebido. À essa
hora, ele já deve estar ciente do ocorrido e tomado providências
com a garota que era sua submissa.
Olho para frente a tempo de ver o punho do meu irmão bater
contra minha boca. Meu rosto vai para o lado em um estalo.
— Samuel! — grita a minha mãe.
Pressiono o dedo contra o canto da boca ao sentir o gosto de
sangue.
— Nunca mais, ouviu bem? — Olho para ele. — Nunca mais
se meta em minha vida pessoal ou lhe deixarei de mão em dois
tempos.
A ameaça é clara e justa. Eu errei. Mereço isso.
Não respondo, mas balanço a cabeça, em concordância.
Ele sai da sala batendo a porta. Meus pais, que não dizem
nada o tempo inteiro, apenas se abraçam e sobem para o quarto,
sem se quer falar comigo.
Eu sei que fiz muita besteira.
Limpo o canto da boca com o guardanapo e logo após
verificar se meus dentes estão todos no lugar, eu volto para o
quarto.
Trancar a porta é a segunda coisa em que faço, a primeira é
jogar longe a bermuda e me aconchegar ao lado dela.
Toda essa maciez de sua pele quase me faz querer gemer
frustrado por não poder fazer mais do que cheirar e sentir a
superfície dela.
Aproximo lentamente o nariz do seu pescoço embaixo do
lençol e me aconchego.
Sua pele já voltou a temperatura normal e isso me anima
profundamente. Aconchego no travesseiro e me permito fazer algo
no qual jamais havia feito.
Dormir de conchinha.

Acordo alarmado quando sinto algo se mover em meus


braços. Abro o olho apenas para ver ela saindo de fininho dos meus
braços, como uma boa ratinha que é.
— Volta a dormi — murmuro, arrastando o corpo dela de
volta para os meus braços.
Sua bunda macia pressiona meu pau com o movimento, isso
faz meu sono ir embora no mesmo instante. Aproximo o nariz
levemente em seu pescoço e respiro todo aquele cheiro de mulher
em minha cama, embaixo dos meus lençóis e em meus braços,
completamente nua.
Antes, eu estava tão preocupado, focado em sua melhora,
que não tive tempo o suficiente para admirar o corpo quente e nu
em minha frente. Ela força a bunda contra minha virilha e meu pau
responde.
— Se continuar esfolando meu pau desse jeito, eu não
respondo por mim — aviso.
Por mais que meu corpo doa por ela, eu tenho plena
consciência de que ela ainda precisa de cuidados, pelo menos até
amanhã, quando um profissional a examinará. Eu não posso ser
imprudente à essa altura do campeonato só porque tinha uma
mulher gostosa e nua em minha cama.
Só de lembrar...
— Foi sem querer! Se você estivesse ao menos vestido, isso
não teria acontecido — diz, tentando se livrar dos meus braços de
novo.
— Mentirosa. — Eu provoco.
— O quê?
— Isso mesmo que você ouviu, você mente.
— Me solta, governador... — Ignoro outra tentativa
fracassada de sair.
— Gabriel. Eu disse para me chamar assim, sua teimosa.
— Além de mentirosa, eu sou teimosa também?
— Sim, é.
— Legal, agora será que poderia me soltar? — Afrouxo os
braços dela.
Ela começa a enrolar a coberta sobre seu corpo, antes de
ficar de pé, em uma tentativa desastrosa de se esconder de mim.
— Não sei por que faz isso, não tem nada aí que eu já não
tenha visto — provoco.
Seus olhos furiosos voam até mim e eu solto uma
gargalhada.
— Você o quê? Como se atreve? — Furiosa, ela começa a
correr em direção à porta.
Sou mais rápido quando alcanço a ponta da coberta
puxando-a de seu corpo e jogando o lençol de volta na cama.
Monique tenta esconder seu corpo usando as mãos e os braços,
enquanto se curva.
Fico de pé em dois tempos e a imprenso sobre a porta do
quarto. Puxo rapidamente os braços que seguram seus seios, em
uma tentativa falha de esconder eles de mim. Logo de mim...
Meu olhar recai sobre sua boca, antes de subir para seus
olhos. Surpreendo-me quando não encontro medo neles, apenas
desejo.
Aproximo meu rosto do seu e a sinto estremecer.
— Gabriel, se afaste... — sussurrou baixinho, próximo à
minha boca.
Avanço mais, indo até seu pescoço e inalando seu cheiro
mais uma vez.
— Gabriel... — A olho novamente — Por favor...
O jeito ofegante em que está mostra o quão mexida ela
também fica, mas eu não posso ignorar um pedido desses. Solto
seus pulsos e me afasto.
É o certo.
Nunca obriguei uma mulher a me querer, agora não seria
diferente. Pego meu moletom e uma camiseta escura de dentro de
uma gaveta e me viro para lhe entregar.
— Veste isso, não posso permitir que saia andando desse
jeito por aí. O banheiro está livre.
Ela não hesita quando aceita as roupas e corre até o
banheiro. Vou até a janela para esclarecer minha mente e esfriar
minha pele. Meu pau dói só pela imagem do corpo dela. Puta que
pariu, eu estou fodido!
A porta do banheiro é aberta e me viro para encará-la, o olhar
dela se fixa em meu pau por um bom tempo, antes de me encarar.
— Ahn... eu vou indo.
Eu assinto, incapaz de dizer uma palavra.
— Tenha uma boa noite e... — O olhar dela recai novamente
em meu pau. — Obrigada por hoje.
Ela não espera pela minha resposta, apenas corre para fora
do quarto em dois tempos. Seguro uma risada e volto para a cama.
MONIQUE

M
ENTIROSA, eu? Ele só pode está de brincadeira. Saio do quarto
feito bala. Meus olhos simplesmente não deixaram de olhar para
uma específica parte de seu corpo, e encontrar aquele olhar dele
todo orgulhoso de si, me deixou ainda com mais raiva.
Sou grata por ele ter me salvado hoje no rio, mas isso não
significa que eu esquecerei todas as coisas ruins que disse sobre
mim, perante toda sua família.
Amanhã eu agradecerei a ele pelo que fez por mim, mas, por
agora, só quero mesmo um banho gelado para esfriar minha pele.
Que Deus me ajude a ficar longe dele.
Paro em frente a porta do quarto de hospedes, quando uma
mão toca meu ombro. Giro nos calcanhares para encontrar a tal da
“amiga da família" me encarando com um sorrisinho esnobe no
rosto.
— Ora, ora — começa — olha quem está perdida por aqui, a
namoradinha nova do Samuel... — arqueio uma sobrancelha diante
do olhar dela em mim de puro desprezo — Confesso que fiquei
muito surpresa por ele ter trocado minha amiga por — faz uma
careta — isso...
— Então fique sabendo que “isso" aqui — Dou uma voltinha.
— Não é a namorada do Samuel. Essa sorte ele não tem, querida.
A risada amarga que deu, fez meu sangue ferver e minha
mão coçar.
Eu vou dar na cara dela...
— Logo se vê — ela sorri ainda mais. — Onde estava então,
queridinha? Vestindo essas... — Ela para, encarando a camiseta em
meu corpo. — Não me diga que essa camisa...
— Tá bom, eu não digo. — Forço um sorriso malicioso,
quando na verdade quero é enfiar minha mão na cara dela.
— Sua insolente! — Recuo um passo quando ela se
aproxima. — Deveria ter vergonha! Gabriel, pelo visto, não toma
jeito. Não foi o suficiente manter uma puta no escritório, agora quer
manter uma também de baixo do teto de seus pais...
Não espero que terminasse com suas ofensas, isso foi o
suficiente para me fazer empurrá-la com força. Ela tropeça,
assustada pelo ato, enquanto me encara.
— Sua...
— Não vou permitir que me chame por um adjetivo seu!
Estou aqui como convidada, me respeite!
Ela bufa e se aproxima.
— Mulheres como você nunca mereceram respeito. Aproveite
o hoje. Veremos quem vencerá. Amanhã mesmo a Lúcia vai acabar
com essa pouca vergonha de vocês.
Dou um passo à frente sem desviar os olhos dos dela. Se ela
quiser um desafio, essa quenga terá.
— Fica à vontade. — Pisquei.
— Ficarei, ainda mais depois de ver essa sua cara sendo
escorraçada daqui pelo próprio Gabriel, a pedido de sua mãe.
O sorriso vitorioso estampado em seu rosto me deixa furiosa.
— Não foi isso que ele me disse — minto.
— O que ele disse?
— Ah... — Finjo arrependimento. — Melhor não saber, eu
falei demais. O Gabi pode não gostar de saber que eu revelei seus
planos assim...
— Que planos? — ela bufa. — Você está mentindo.
— Sinto muito. — Finjo melancolia. — Você tem razão, eu
tenho que ir... — Viro-me indo em direção à minha porta, mas ela
me puxa de volta, me obrigando a lhe encarar.
— Começou, agora fale! — exige.
A diabinha em mim agora está dando pulinhos por essa vaca
ter caído feito uma patinha em minha provocação. Mas agora é que
vem a parte mais difícil.
O que eu invento?
Pensa.
Pensa.
Pensa.
— Ouvi ele falando ao telefone com o amigo dele, eu esqueci
o nome... como era o nome dele mesmo... — finjo esquecer.
— Kleber?
— Isso — fico animada —, ele mesmo!
— O que você ouviu?
— Então, como eu estava falando, eu o ouvi falar com esse
amigo dele para dá um jeito em você. Falou algo sobre sabotar uma
campanha sua... ou será que era pra cancelar algum patrocínio?
Nossa... não lembro agora.
Ela empalidece.
— Ele... você está mentindo, sua puta!
Retiro com força meu braço do seu aperto e a encaro, pronta
para atacar.
— Estou? Aguarde então, querida. — Afasto-me dela.
— Veremos, quero só ver pra quem ele vai correr amanhã,
quando eu lhe colocar pra fora daqui.
O sorriso vitorioso em que tem, me embrulha o estômago e
isso me dá a coragem que me faltava para ir em direção à porta do
Gabriel, mas antes que eu abra a porta, ela fala:
— O que você está fazendo? — foram suas últimas palavras,
antes que eu girasse a maçaneta da porta e entrasse no quarto
completamente escuro dele.
Eu sei que a chave está na maçaneta, por isso, viro ela, nos
trancando dentro, sem nenhuma chance de sermos interrompidos.
A luz do abajur do quarto é acesa, revelando um Gabriel
muito, muito confuso com minha presença repentina.
— Monique, o que aconteceu? — Não deixo que termine de
falar e parto pra cima dele.
Ele me pega em seus braços e me senta em seu colo, de
frente para ele. Sua boca captura a minha no segundo em que me
aproximo.
O beijo não é nada gentil ou carinhoso, ele parece querer me
devorar por inteira. Arfo quando suas mãos começam a explorar por
todo meu corpo, enquanto eu esfrego minha virilha na sua, com
urgência.
Eu estou queimando.
Ele me faz queimar.
Suas mãos foram até a bainha da camisa em meu corpo e,
com minha ajuda, ele conseguiu retirá-la de mim.
Ele afasta nossas bocas, terminando o beijo apenas para
olhar para os meus peitos, que agora estão pesados, expostos e
doloridos, diante dos olhos azuis mais predatórios que eu já conheci
em minha vida.
Mas sua fome fala mais alto quando abocanha um deles e eu
grito. Sua mão livre logo sobe para apertar o outro.
O comprimento de seu pau esfrega contra o meu clitóris,
arrancando de mim outro gemido, dessa vez, mais alto.
Gabriel solta a boca do meu peito e vai para o outro,
chupando com força.
Meus quadris começam a esfregar contra aquela sua
saliência, procurando desesperadamente por alívio. Minha boceta
está pingando só pela sucção que ele faz em meu peito.
Ele afasta a boca, me obrigando a lhe encarar.
— Por favor, não se arrependa — pede.
Silenciosamente, eu saio do colo dele. Eu o queria mais
cedo, mas não fui descarada o suficiente para continuar, mas agora
eu estou... eu o quero. E apesar de ter odiado ter mentido na cara
dura para aquela loira ordinária no corredor, eu devo admitir que
isso me deu coragem o suficiente de admitir o que no fundo eu já
queria.
Eu o queria.
Deito a cabeça sobre seu travesseiro, meus dedos
lentamente vão até a barra do moletom em meu corpo, tirando-o
devagar, enquanto eu observo as reações em seu rosto diante da
minha ousadia.
Rapidamente, ele sai dos lençóis e vai até a ponta da cama
entre os meus pés, ajudando-me a retirar o moletom de lá. Seu
olhar crava em minha boceta antes mesmo do meu olhar encontrar
o dele.
— Não vou me arrepender — respondo baixinho, enquanto
avalio seu corpo daqui, completamente nu.
O alívio em seu rosto é muito claro. Um segundo depois, ele
agarra minhas coxas, abrindo-as e ficando entre ambas, com o rosto
pressionado lá. Fico tensa quando sinto sua respiração sobre a
minha boceta e arfo quando sua língua toca nela.
A princípio, acredito que ele está fazendo aquilo apenas para
me agradar. Eu sei que alguns homens não gostam de fazer sexo
oral nas mulheres, mas quando ele abocanha minha boceta, eu
começo a me contorcer entre os lençóis.
Ele não apenas sabe chupar, como parece que quer me
engolir por inteira através dela.
Meus gemidos preenchem o quarto conforme ele me devora.
Minha perna começa a tremer automaticamente. Tento afastar seu
rosto usando seu cabelo, mas é em vão. Ele pressiona ainda mais a
boca em minha entrada, afastando-a apenas para olhar para mim e
depois cuspi nela.
Sinto seus dedos me penetrarem fundo e forte.
Eu vou gozar!
Uma onda de calor sobe sobre o meu corpo, enquanto ele me
fode mais forte com os dedos. Sua boca vai até meu clitóris,
chupando-o com mais urgência, enquanto seus dedos aplicam mais
pressão.
Eu não aguento mais e gozo.
Lentamente, ele começa a remover os dedos de dentro de
mim, mas sua boca continua me lambendo, enquanto me encara
com um olhar satisfeito no rosto.
Ordinário.
Sua boca finalmente me solta e ele a pressiona mais a baixo,
enquanto afastava a minha bunda. Fico tensa no início, mas relaxo.
Ele engatinha até a cama e se deita ao meu lado,
pressionando meu corpo para que eu vire de lado. Seu peito toca
minhas costas e sua mão vai até minhas pernas, levantando ela o
suficiente para que ele se encaixasse entre elas.
— Deliciosa... — geme próximo à minha orelha quando a
cabeça do seu pênis pressionou em minha entrada.
Viro o rosto, encontrando seu olhar em mim e o puxo para um
beijo. Ele não hesita em fazer.
Enquanto sua boca me devora, seu pau pressiona mais forte
contra minha entrada, que o aceita sem nenhuma facilidade, já que
ele é enorme.
Gemo contra sua boca conforme ele começa a pressionar
mais forte em mim, até que eu não consigo segurar um gemido
baixinho de dor.
Ele para.
— Eu te machuquei?
Nego com a cabeça.
— Você é grande, pode afastar um pouco? — ele assente.
— Eu sinto que estou nos limites da sua boceta... — ele
geme. — Isso é tão bom.
Ele sai um pouco e a dorzinha aguda dentro de mim some
aos poucos. Gabriel recua apenas para voltar para dentro
novamente, mas dessa vez ele não vai tão fundo como antes. Eu o
sinto bater e voltar, mas não há dor.
A cada penetrada, minha boceta fica ainda mais
escorregadia, a ponto de me fazer perder ainda mais o controle,
conforte ele mete com mais força.
— Sua gostosa... — Ele vai mais rápido.
— Ah... — gemo a cada estocada.
De repente, ele sai do meu corpo, dando um tapa forte em
minha bunda. Protesto contra sua saída bruta, mas quando ele me
coloca de bruços e ergue meus quadris, eu quase gozo de
felicidade. Com uma única estocada, ele está dentro de mim
novamente.
Ele martela rapidamente em mim e com essa posição eu o
sinto bater ainda mais fundo, uma sensação ainda mais gostosa e
sem incômodo algum dessa vez.
Nossos gemidos preenchem o quarto rapidamente, a cama
começa a fazer barulhos estranhos conforme bate na parede.
Seus dedos vão até minha cintura, fazendo minha bunda ir de
encontro à sua virilha com mais rapidez.
A sensação que eu tenho é de que ele irá me partir no meio
com a voracidade em que estamos fodendo. Eu estou novamente
no limite, sinto minha boceta o apertar automaticamente e eu sei
que não posso aguentar mais. Ele parece sentir o mesmo que eu,
pois uma de suas mãos desce em minha barriga e encontra meu
clitóris, esfregando-o com rapidez e pressão.
Gozo forte, enquanto meu corpo convulsiona. Ele solta meu
clitóris e sai do meu corpo rapidamente.
Jatos quentes inundam minha bunda, enquanto ele goza. Seu
pau pousa sobre ela, espalhando toda aquela bagunça e eu sorrio,
achando o gesto realmente quente.
Eu ainda tento recuperar o fôlego quando sinto um tapa forte
sobre o outro lado. Sorrio orgulhosa.
— Você está bem? — pergunta, ainda ofegante.
Olho para ele por cima do ombro, adorando a forma como
está suado e sexy atrás de mim com seu pau semiereto pousando
em minha bunda.
— Estou. — Mordo os lábios.
Minha boceta pulsa novamente e ele sorri quando olha para
baixo. Parte do seu sêmen está começando a escorrer nas laterais
dela.
Ele me puxa para cima e me carrega até o banheiro, me
depositando dentro do box, com ele pressionado em minhas costas.
Começamos a nos limpar, os dedos dele vira e mexe
começam a me tocar em lugares inusitados.
Quando terminamos o banho, ele me joga uma toalha e sai
do banheiro logo em seguida, me deixando ali sozinha por alguns
instantes. Visto novamente o moletom e a camisa que eu estava
mais cedo e saio do banheiro, encontrando-o parado, espiando lá
fora, pela janela, como havia feito mais cedo.
Ele parece tão distraído que não lhe dou o trabalho de avisar
que eu já estou de saída. Abro a porta devagarinho e saio,
fechando-a atrás de mim.
GOVERNADOR

O
uvi quando ela saiu do quarto sem se quer falar comigo, mas era
compreensível depois de que eu mesmo coloquei uma distância
entre nós quando permitir que terminasse de se limpar sozinha e me
afastei. A realidade dos fatos bateu de uma vez só.
Eu estava precisando de espaço naquele momento, mas
acabo de perceber meu erro ao deixa-la ir. Puxo a bermuda da
cabeceira e vou até ela, onde quer que esteja. Pois se ela acha que
agora que eu a provei eu vou permitir me afastar dela, ela está
muito mais que enganada!
Abri a porta do quarto de hospedes para encontrar ela
deitada entre os lençóis da cama de solteiro.
Puxei as cobertas às pressas e ela arfou assustada,
pressionei a mão em sua boca e a carreguei para fora daquele
quarto. Ela não pertencia mais a ele, pertencia ao meu de agora em
diante.
— Gabriel... — sussurrou quando entramos no meu quarto e
a depositei em meus lençóis, de onde ela não deveria ter saído.
— Nem pense em sair daqui.
— Mas eu achei que... — ela se cala quando eu subo sobre
seu corpo.
— Não tem que achar nada, eu quero você bem aqui — desci
meu corpo sobre o dela — exatamente onde está e comigo.
Ela olhou ao redor do quarto e então para mim.
— O que você quer? — pergunta, enquanto me olha com
desejo.
— Você! — respondo, já cheio de fome por essa mulher.
— Mas eu estou aqui. — Seu olhar recai em minha boca.
— Então eu não preciso de mais nada!
Pressiono minha boca levemente na sua e mordo seu lábio
superior, ela se abre um pouco e eu lhe beijo com paixão,
mergulhando minha língua de encontro a sua.
Quando finalmente o beijo terminou eu me permiti sair de
cima dela apenas para ajeitar os travesseiros na cama e puxa-la
para eles. Ela sorriu quando agarrei seu moletom e o puxei para fora
de seu corpo junto com a camisa, minha bermuda foi a próxima.
Subi sobre ela apenas para desligar a luz do abajur,
colocando o quarto em um grande breu e me deitando ao lado dela.
— Então por hoje é isso? — eu podia sentir a malicia em sua
pergunta.
— Sim, querida, por hoje é apenas isso, até que amanhã um
médico examine você e me diga que está realmente bem. Até lá vai
ser só isso mesmo.
— Querida? Por favor, não... — estremeço com o apelido
horrendo.
— O quê? É carinhoso...
— Não, não é. É horrível.
— Eu não acho. — Dei de ombros.
— Mas é!
— Tudo bem, querid... Monique. Você venceu por hoje,
apenas por que estou exausto! Você drenou todas as minhas forças
hoje.
Ela riu.
— Drenei é? — maliciosa novamente.
— Drenou! — digo por fim enterrando o nariz em seu
pescoço, sentindo novamente aquela delicia de cheiro, que estava
se tornando meu mais novo perfume favorito.

Acordei quando um punhado de cabelo entrou em minha


boca, cuspi às pressas para fora, parecia que eu podia sufocar nele,
retirei o cabelo de dentro boca e percebi de onde vinham.
Aconcheguei ainda mais sobre o corpo da gostosa esparramada ao
meu lado com os seios de fora, chamando minha atenção
encarecidamente.
Minha boca foi até eles degustando minha segunda mais
nova sobremesa preferida, a primeira com certeza era sua boceta.
Ela começou a gemer, meio acordada, conforme eu lhe dava
chupadas ainda mais fortes sobre o biquinho endurecido.
— Gabriel, não... — murmura já se virando, fazendo com os
seios dela saiam da minha boca e ficando de bruços enquanto
escondia eles de mim.
Safada.
Não me dando por vencido, arrasto as cobertas para fora do
seu corpo e a visão da sua bunda bem empinada quase me fez
gozar no colchão.
— Diabo de mulher gostosa...
Levo minha mão até sua carne e aperto firme, ela murmura
algo que eu não consigo ouvir e eu continuo apertando, adorando a
sensação da sua carne em minhas mãos.
Aproximo meu rosto e acaricio com minha língua ela, ela
pareceu gostar, pois empinou ainda mais sua bunda contra minha
boca.
Eu ia morrer de tanto tesão.
Ajeitei meu corpo entre suas pernas abertas e aproximei o
rosto da sua boceta enquanto agarrava forte as bandas de sua
bunda e apertava.
Abocanhei sua boceta com fome, ouvindo seus gemidos
conforme eu lhe chupava esfomeado. Parecia que eu nunca tinha o
suficiente dela.
Sua boceta começou a se contrair e eu sabia que já estava
perto de gozar, enfiei um dedo em seu canal apertado e comecei a
foder conforme chupava sua carne de uma forma extremamente
crua.
Ela gritou quando gozou, retirei meu dedo apenas para
espalhar sua umidade em minha boca.
Rapidamente fiquei entre suas pernas e ouvi ela ofegar
quando entrei em sua boceta em um único golpe forte e duro. Eu
sabia que estava perdendo a cabeça, mas valia o risco.
A desgraçada ajustou seu corpo, empinando sua bunda mais
alto pra mim, me fazendo perder o controle e pagar por todos meus
pecados com a visão do seu cuzinho piscando pra mim e do meu
pau esfolando sua boceta, que o engolia com mais facilidade agora.
— Isso, Giane...
O quê?
— Monique? — parei de lhe foder, preocupado.
— Ahn... oi? Por que parou? — me olhou confusa.
— Achei que tinha dito algo. — Minha atenção voltou para
sua bunda.
— Não, não... continua — ela começou a mexer embaixo de
mim — por favor... — pede fazendo beicinho e eu não aguento.
— Você pediu! — voltou a martelar meu pau bem fundo em
sua boceta.
Minha mão vai até sua bunda com um tapa forte, fazendo
estalar, ela grita, mas continua vindo ao meu encontro com
voracidade. Sua boceta começa a apertar entorno do meu pau e eu
lhe fodo mais rápido.
— Isso Giane... vai... — e ela goza.
Retiro meu pau de dentro dela às pressas e vou até minha
bermuda, vestindo-a com o pau duro feito rocha e frustrado.
— Onde vai? — ouço a voz dela atrás de mim.
— Não interessa. — Calço as sandálias.
— Gabriel, não faça isso... — ela ainda estava ofegante e
trêmula — o que aconteceu?
— NADA! — agarro uma camiseta e a visto.
Começo a destrancar a porta mais paro quando ela agarra
meu braço, me puxando para encara-la.
— Por favor... não vá. — O desespero que havia em seu
rosto fez minha raiva diminuir.
— Quem é Giane? — lhe encarei, exigindo uma resposta.
— Que Giane? — perguntou confusa.
— Foi o nome dele que você chamou enquanto gozava no
MEU pau. Então responde quem é Giane?
Os olhos dela se arregalaram e então ela explodiu em uma
risada.
— Acha isso mesmo engraçado? — puxei meu braço de
volta, mas ela não soltou.
— É que eu estava sonhando com Gianechini agora a pouco,
então fui acordada de uma forma bem inusitada por você — sua
boca foi até a minha, deixando um selinho nela — Estava sonhando
com Reynaldo Gianechini, desculpa. — O sorriso malicioso em que
deu fez meu pau ainda duro, pulsar em sua barriga.
— Está de brincadeira, né?
— Não estou, vem... — me puxou até a cama e ficou de 4 em
minha frente, começou a balançar a bunda em provocação e eu não
aguentei.
Minha dignidade de macho já era.
— Você vai me pagar por isso — aviso, já abaixando a
bermuda.
— Estou ansiosa pra isso. — disse com a cara mais safada
que existe.

Depois de uma manhã com muito sexo, decidimos tomar um


banho juntos e descer para o café. Tomei sua mão na minha diante
do olhar da Camila e do meu irmão, mas quando meus pais
apareceram, ela acabou se afastando.
— Como passaram a noite, meus amores? — minha mãe
pergunta a todos na mesa ao se sentar.
— Bem, muito bem. — Respondo ao colocar a mão por baixo
da mesa, na coxa da Monique, e apertar.
Seus olhos foram até mim, surpresa.
— Não tão boa, Lúcia... — disse Camila enquanto encarava a
Monique.
Pigarreei e ela desviou o olhar.
— Péssima! — resmungou meu irmão — Duvido muito que
todos nessa casa tenham tido uma boa noite de sono com o Gabriel
e a Monique transando! Meu deus, vão para um motel decente.
— SAMUEL! — o grito da minha mãe o fez parar e rir.
— Nada contra. — Ele disse, em especial a Monique, que
agora estava com o rosto coberto pelo guardanapo — Mas eu
apreciaria uma boa noite de sono sem ter que ouvir a cama do meu
irmão batendo contra a parede a noite inteira.
— Sinto muito, — me apressei em dizer — da próxima vez
tomaremos o cuidado de colocar algumas almofadas atrás da
cabeceira.
— Ficaria grato por isso. — respondeu meu pai, nos fazendo
rir ao levar um tapa da minha mãe
— Roberto...
— Mas eu só disse que ficaria grato, afinal, aquela cama já
está velha, meu amor.
— Não deveria apoiar as besteiras que os nossos filhos
falam, olhe como a Monique está... pobre garota. — Minha mãe foi
até ela e a abraçou.
— Obrigada, Lúcia... eu acho melhor eu subir.
— Ah não, de novo não!
Joguei um pedaço de pão no engraçadinho do meu irmão.
— Ignore meus filhos, querida, eles só tem tamanho. Que tal
me acompanhar nas compras de hoje? Acho que eu preciso de
companhia.
— Eu poderia ir com você, Lúcia, acredito que eu esteja mais
qualificada para isso. — disse Camila, alto suficiente para que todos
se virassem para ela.
— Oh não, querida, obrigada. Hoje eu quero apenas um
passeio com a minha mais nova nora.
O café que eu tinha acabado de engolir subiu, sujando todo o
Samuel em minha frente. Minha mãe correu para me abanar
enquanto meu pai dava batidas fortes em minhas costas.
— Querido, você está bem? — disse minha mãe com o rosto
já próximo ao meu, preocupada.
Será que eu tinha ouvido mal? É pode ter sido, eu devo ter
ouvido errado. Ela disse nora?
Bebi um pouco da água em minha frente e me recostei.
— Estou bem, não foi nada.
Todos já estavam de volta em seus lugares, peguei outra
xícara de café e me servir com cuidado, olhei para o lado e
encontrei o olhar preocupado dela. As palavras da minha mãe
ecoaram novamente em minha cabeça e meu estômago embrulhou.
Eu ouvi bem, ela falou minha nora
Me levantei às pressas da mesa e fui em passos grandes até
o escritório, me trancando lá.
GOVERNADOR

D
epois de passar parte do dia enfornado dentro do escritório,
trabalhando entre uma reunião e outra, eu resolvi pegar o carro e
dar uma volta pela cidade para espairecer. Estava no meio da tarde,
o que significava que as ruas ainda estavam muito bem
movimentadas. Estacionei o carro na calçada e entrei em um
bar/restaurante em que eu costumava frequentar todas as vezes em
que vinha visitar meus pais.
Os donos do lugar vieram me cumprimentar, quando me
viram fazer o pedido. De longe pude avistar minha mãe e a Monique
junto com algumas senhoras entrando no estabelecimento, coloquei
o cardápio sobre o rosto e me abaixei na mesa.
Espero que elas não tenham me visto, o garçom aparece
com o meu pedido e põe sobre a mesa enquanto me encara
desconfiado, mas não diz nada e sai. Afasto um pouco o cardápio
do rosto para procurar por elas novamente e me surpreendo ao
encontrar elas sentadas em uma das mesas na parte externa do
lugar.
Respiro aliviado e volto minha atenção para a comida, faço
sinal e peço para o garçom embrulhar para viagem e ele faz,
quando vou até o balcão do caixa pagar a conta, me surpreendo ao
encontrar meu tio sentado com elas, se despedindo das outras
senhoras.
O que ele faz aqui? Não era para ele estar em Salvador,
cuidando do meu processo?
Enrijeci quando ele pegou na mão dela e sorriu. Virei,
apressado em pagar a conta e me retirei do lugar pelos fundos, nem
um pouco afim de presenciar aquela cena ridícula bem na minha
frente ou correr o risco de ser visto por eles.
Contornei o restaurante com cautela e quando consegui tirar
o carro da calçada, os olhos da Monique encontraram os meus, ela
fez menção de se levantar, mas parou na metade do caminho.
Engoli em seco e arrastei o carro daquele lugar, não
precisava de ninguém me questionando nesse momento, em casa
com certeza conversaríamos sobre hoje.
Voltei para casa no maior silêncio de toda minha vida, fui até
a sala de tv e coloquei no futebol, não tinha hora mais perfeita que
essa para resolver comer meu lanche de uma vez por todas antes
de chegarem e eu ter uma conversinha muito seria com meu amado
tio.
Horas se passaram, eu já estava preocupado quando o
barulho de pneu do lado de fora me fez correr até a porta para ver
minha mãe e a Monique agarradas uma em cada braço dele,
completamente bêbadas, a julgar pela forma em que andavam e
falavam, avancei.
— O que você fez? — fui até ele.
O jumento do meu irmão e meu pai apareceram logo em
seguida e começaram a ajudar.
— Eu apenas trouxe essas lindas damas para sua humilde
residência e também vim ver você, podemos conversar?
Retirei o braço dele, que estava sobre a cintura da Monique,
e a peguei no colo enquanto ela ria sozinha, sem protestar.
— Entre e me espere no escritório, eu já vou!
— Certo. — respondeu — cuidado com ela, Roberto...
Me virei às pressas com ela em meus braços, que ria à toa
enquanto eu a levava para cima, a vontade de deixá-la no quarto de
hospedes sozinha era grande demais depois do que ela havia feito.
Onde já se viu beber desse jeito, com meu tio ainda por cima,
ela me pagaria caro quando acordasse.
Chutei a porta do meu quarto, ignorando toda a raiva em que
estava sentindo, as histórias com certeza não iriam se repetir, não
dessa vez.
Depositei o corpo dela em minha cama e a virei para ajudar
ela a se acomodar melhor, ela bocejou e virou de lado. Eu não tinha
certeza se havia tomado a decisão certa em trazê-la para o meu
quarto no estado em que estava. Cuidar de gente bêbada nunca foi
a minha.
Cobri seu corpo com o cobertor e fechei a porta, decidido a
resolver logo essa questão, hoje mesmo. Olhei confuso para o
Samuel, que ria enquanto observava meu pai se matando para
carregar nossa mãe até seu quarto, quando seu olhar recaiu em
mim, ele ajeitou a postura e foi ajudar nosso pai.
Será que um dia meu irmão criaria juízo e amadureceria?
Sacudi a cabeça em descrença e voltei para o meu caminho, de
volta para o escritório.
Ele estava tão distraído em um dos livros que não notou
quando eu entrei. Sentei em um dos sofás e o encarei. Sua postura
enrijeceu quando colocou o livro de lado para me encarar.
— Queria falar comigo? É algo sobre o processo? —
comecei.
— Está tudo bem com o processo, eu precisava falar com
você sobre outra coisa.
— O que? — perguntei já me preparando para o baque.
— Kleber preferiu não lhe avisar de imediato até que ele
resolvesse, mas eu não pude me calar depois do que ocorreu, ainda
mais depois de saber o quanto você apreciava a moça.
— O que aconteceu? — me levantei às pressas.
— Calma … — pediu vindo até mim.
— Responde, o que aconteceu?
— É sobre a moça que está trabalhando com seu irmão. O
apartamento dela foi invadido por homens armados e quebraram
praticamente tudo que havia dentro. O Kleber me informou que ela e
a amiga haviam se mudado um dia antes de acontecer, foi muita
sorte elas não estarem lá, a julgar pela forma em que deixaram o
imóvel.
Nesse momento eu via apenas vermelho em minha frente,
alguém queria machucar a Monique.
— Kleber está atrás dos homens, mas até lá a ordem é que
elas continuem aqui, sob sua proteção, até que ele descubra o que
está acontecendo.
Esmurrei a mesa.
— É logico que a Monique não sai daqui, nem que eu precise
amarra-la. — Virei pra encara-lo quando me dei conta do que ele
havia dito — Espera, você disse “elas"? — ele fez que sim —
Apenas a Monique está aqui.
Ele empalideceu, alcançando o telefone e o levando até a
orelha às pressas.
— Preciso informar isso a ele o quanto antes.
Não consegui fica parado, me sentei às pressas ligando o
computador e entrando em contato com meus seguranças enquanto
esperava o Kleber atender a chamada do meu tio.
Meu irmão escolheu a hora perfeita para entrar no escritório e
se juntar a nós, com um sorriso no rosto.
— O que aconteceu? Que caras de enterro são essas?
Segurei seu ombro quando ele se sentou ao meu lado
confuso.
— Estamos tentando entrar em contato com a nossa
segurança lá de Salvador.
— Aconteceu algo? — o olhar dele recaiu em nosso tio.
— Sim. — Chamei sua atenção — Estamos atrás da Bruna.
— O que ela fez?
— Uns caras invadiram o apartamento da Monique ontem a
noite atrás delas — agarrei seu braço quando tentou se levantar as
pressas — Estamos tentando encontrá-la.
— Mas ela não está lá, está comigo.
Puxei ele forte, de volta ao sofá e o encarei.
— Como? Cadê ela?
— Deixei-a em minha casa, meus seguranças estão com ela.
— Traga-a para cá. — Exigi.
Ele assentiu.
— Farei isso eu mesmo. — E sai do escritório.
Olhei para cima para ver meu tio bufar enquanto olhava para
o celular.
— Nada ainda? — perguntei, voltando minha atenção
novamente ao computador.
— Ele não atende! — diz irritado.
— Ele é difícil de lidar, mas é eficaz no que faz, a Monique
está segura comigo e meu irmão vai resolver a questão com a
amiga.
Minhas palavras pareceram atrair a atenção dele.
— Tentei descobrir algo mais cedo, mas não deu muito certo,
sua mãe nos interrompia. Tente ver algo, Gabriel, o Kleber está
furioso por que o apartamento é dele agora.
— O apartamento é do Kleber? Eu não sabia ...
— Ele não comentou nada com você?
— Não, o que ele iria comentar?
— O irmão da Monique se envolveu com gente errada e
acabou tendo que pedir dinheiro emprestado ao banco, colocando o
apartamento da irmã como garantia. A Monique tinha até o final do
mês para quitar as dívidas ou perderia o imóvel, o Kleber ficou com
raiva por causa do chifre que levou e resolveu comprar o
apartamento como vingança.
— Ele o que? Quando foi isso?
— A dois dias atrás.
E a Monique não me falou nada.
— Certo, preciso resolver isso. Fique e me avise assim que
conseguir falar com ele. — Ele apenas assentiu.
— Farei isso.
Sai às pressas do escritório em busca de respostas.
Abri a porta do quarto vagamente enquanto entrava,
avistando tudo exatamente onde estava, com exceção da Monique.
A porta fechada do banheiro me deixou preocupado, talvez
estivesse precisando de ajuda, no estado em que se encontrava.
Agarrei a maçaneta e girei, me arrependi no segundo em que
entrei para encontra-la no chuveiro, esfregando seu corpo
completamente nu com espuma de banho.
Salivei com a imagem, me recusando a agarra-la ali mesmo.
Ela precisa de cuidados Gabriel... cuidados.
Dei um passo de volta ao quarto e me sentei na cama
enquanto esperava por ela, muitas coisas precisavam ser
esclarecidas o quanto antes para que eu pudesse resolver de
imediato. Mas a história que meu tio havia dito fazia sentido, já que
quando eu a conheci ela precisava mesmo de um emprego, apesar
de que até hoje nunca conseguir entender de verdade o que levou
ela a desistir do cargo em meu escritório.
Tudo estava começando a fazer sentido pra mim, até mesmo
os motivos nos quais chegaram a fazê-la aceitar a trabalhar conosco
outra vez, mas, ainda assim, eu precisava ter certeza.
O som do chuveiro sendo desligado chamou minha atenção,
Monique entrou no quarto enrolada apenas em uma única toalha.
Abri a gaveta da cômoda e lhe entreguei uma camiseta, ela aceitou
sem hesitar jogando a toalha de volta ao banheiro ficando
completamente nua em minha frente...
— Obrigada. — Agradeceu vestindo e me deixando
completamente tonto de desejo com a visão do seu corpo.
Mulher gostosa dos infernos.
— De nada. Monique? — chamei e ela se virou para me
encarar
— Sim?
— A gente precisa conversar, é sério.
— Não pode deixar para amanhã? — ela vem até mim e me
abraça — Senti tanto a sua falta hoje...
Ah droga... eu não conseguia parar de encarar sua boca.
— Sentiu? — me desconcertei.
— Sim, senti — ela beija meu pescoço — muita.
Resiste Gabriel...
Seja forte cara
Respiro fundo, tentando me controlar, mais as coisas
estavam ficando cada vez mais difíceis, com ela chupando meu
pescoço dessa maneira.
Minhas mãos foram até sua cintura tentando afasta-la, mas
isso apenas fez com que ela aproximasse ainda mais o corpo do
meu, se esfregando contra minha ereção presa em sua barriga.
Foco cara, foco.
— Monique... a gente precisa conversar.
Suas mãos alcançaram a frente da minha calça, libertando
meu pau, que já latejava em sua mão, querendo atenção.
Ela soltou meu pescoço apenas para se ajoelhar na minha
frente e colocá-lo na boca, gemi com a sensação da sua boca ao
redor dele.
Ela parecia selvagem pela forma gulosa em que me
abocanhava, suas chupadas fortes me fizeram agarrar as pontas da
cômoda para ter algo em que agarrar.
Meus gemidos ficavam mais altos pelo modo em que ela me
forçava cada vez mais em sua boca, respirei fundo tentando me
conter, mas foi difícil...
— Eu vou... — esperei que ela saísse com meu aviso.
Mas suas mãos agarraram minha bunda, enquanto ela o
forçava em sua garganta. Eu gozei em euforia tomando cuidado
para não estocar fundo em sua garganta e sufoca-la.
Estava completamente sem folego enquanto ela engolia, sua
boca se afastou do meu pênis, me fazendo olhar para baixo para vê-
la lamber os beiços inchados, enquanto me encarava.
— Alimentada.
Suas palavras me deixaram louco, puxei ela para cima e a
empurrei para o centro da cama, levantei a camiseta até o alto dos
seus peitos e arreganhei suas pernas, abocanhando sua boceta
com fome.
MONIQUE

A
cordei com o barulho estridente do despertador tocando, alcancei o
botão ao lado dele, desligando completamente. Coloquei a cabeça
de volta no travesseiro esticando o corpo em buscar do calor
corporal dele... mas nada, a cama estava vazia.
Suspirei frustrada.
Ele não estaria fugindo de mim, estaria?
Afasto esses pensamentos e me sento na cama, mas uma
última olhada no despertador me fez fica de pé em um pulo e correr
em direção ao banheiro. Precisava fica pronta o quanto antes para
terminar a papelada dos processos que o Gabriel estava movendo
junto com seu tio, contra o jornal que o havia flagrado em seu íntimo
com a Mia. Só de lembrar dessas coisas eu estremeço, será que ele
está comigo apenas por diversão, como fez com ela?
A relação entre os dois nunca foi explicada, mas eu tinha que
ter uma conversa séria com esse governador safado. Ele que não
se atreva a pensar em mim desse jeito, não mesmo. Não agora em
que eu estava começando a gostar dele, mas os pingos nos i’s
precisavam ser colocados, mas não por agora, ainda era cedo
demais.
Termino meu banho e desço as escadas já pronta para tomar
meu café com a Lúcia e ir trabalhar em seguida com meu querido
chefinho, só de lembrar eu sorrio, Samuel era um doce.
— Bom dia a todos. — Digo surpresa ao ver todos juntos na
mesa, com exceção do meu chefe. — Samuel ainda não acordou?
Vejo de longe a Camila revirar os olhos, afinal, qual o
problema dessa garota?
— Ele precisou sair, mas vai estar aqui em breve, querida. —
Lúcia responde, chamando minha atenção.
— Obrigada. — Digo ao passar por todos na mesa e ir até
ela, mas não sem antes parar ao lado do Gabriel e brincar em seu
ouvido. — Impressão minha ou está fugindo de mim, governador?
— sussurrei apenas para que ele pudesse ouvir e me sento ao lado
da Lúcia e do Roberto que me cumprimentam com um forte abraço
cada.
Voltei meu olhar até ele e o sentir enrijecer ainda focado em
sua comida.
Mas que bicho foi que mordeu esse homem, gente?
Voltei minha atenção ao café maravilhoso em que o Roberto
fez questão de me servir e me distrair conversando com a Lúcia
sobre a noite de hoje.
Hoje era o tão sonhado dia em que fariam a renovação dos
votos de casamento, ela estava eufórica ontem quando fomos
escolher nossos vestidos, ela fez questão que o meu fosse mais
chamativo que o dela, com as palavras de que queria que todos
vissem a mulher elegante e linda que entraria ao lado de seu filho
na noite de hoje.
Hoje seria um dia muito corrido se o Samuel estivesse aqui
para finalmente terminássemos toda a papelada, mas já que ele não
estava, eu acabei aceitando o convite da Lúcia em ir me preparar no
salão com ela.
Tive a esperança de esbarrar com o Gabriel em algum
momento, mas isso acabou se tornando impossível e depois de
passar o dia inteiro dentro do salão, eu e Lúcia já estávamos
prontas para a festa. Eu decidir esperar pelo Gabriel em seu quarto,
já que ele iria ser meu par.
Sorri orgulhosa diante do espelho, eu estava deslumbrada
com a minha imagem, nem eu imaginava o quão bonita eu podia
ficar assim. Fiz um último retoque no batom, quando duas batidas
ecoaram sobre a porta do quarto antes do Gabriel entrar, vestido em
um terno elegante preto, com a gravata em uma tonalidade linda de
azul, deixando-o ainda mais elegante do que já era.
—Você está linda. — disse ao se aproximar e depositar um
beijo em meu pescoço — E muito cheirosa também.
— Você está bem?
Ele parecia confuso quando olhou em meus olhos.
— Você estava estranho essa amanhã.
Ele pigarreou e ajustou a gravata.
— Hoje não é um bom dia para termos esse tipo de conversa,
meus pais estão esperando pela gente lá embaixo — pigarreou de
novo e me estendeu a mão — vamos?
Aceitei sua mão e caminhamos juntos em direção a escada,
todos no térreo já estavam a nossa espera, descemos com cuidado
os degraus, sempre sorrindo para alguns fotógrafos que insistiam
em registrar esse momento. Quando chegamos no tapete vermelho,
caminhamos de mãos dadas até o altar lindamente montado ao lado
de fora e nos sentamos juntos, próximos com os demais
convidados.
A cabeça da Camila estava a nossa frente, quando se virou
apenas para encarar o Gabriel ao meu lado e morder os lábios
enquanto avaliava ele.
Olhei para o Gabriel que parecia alheio ao que acontecia e
empurrei a cabeça dela pra frente, ela engasgou e me lançou um
olhar de ódio antes de se ajeitar em seu assento.
Tô nem aí para essa perua, se ela acha que vai me intimidar
hoje ela está muitíssimo enganada.
A música começou a tocar e viramos todos para olhar a Lúcia
que abraçava emocionada o marido enquanto caminhavam
sorridente até o altar. O pastor começou a recitar versos, que mais
parecem poesias, para o casal, o brilho no olhar dela era algo no
qual eu não poderia esquecer. Na hora da troca de votos eu tive que
me segurar para não chorar com as coisas lindas que um citava
para o outro.
A cerimônia não demorou tanto quanto eu imaginava, eles
renovaram as alianças e a festa começou.
Mas eu não diria que aquilo era uma festa, mas parecia como
um jantar elegante, a julgar por um todo. Comecei a caminhar ao
lado do Gabriel, que tinha enlaçado minha cintura, me levando para
dentro com seus colegas ao nosso redor, parecia que ele fazia
aquilo de propósito. Me assustei quando a Lúcia veio até mim e me
tirou deles com a desculpa de que era algo urgente.
Olhei para ela preocupada e me afastei do Gabriel.
— Elas vão adorar você. — Sussurrou enquanto me
arrastava até uma mesa lotada de mulheres elegantes, a julgar por
suas boas roupas.
— Olá. — Cumprimentei e elas sorriram para mim.
O restante da noite foi incrivelmente agradável e ao contrário
do que eu pensava, as amigas chiques da Lúcia eram realmente
incríveis e agradáveis. Mas uma olhada ao redor do salão chamou
minha atenção.
Gabriel estava inclinado sobre a parede que levava ao
corredor, com Camila ao seu lado, eles estavam falando sobre algo,
quando ele lhe empurrou levemente e se afastou deixando-a ali
sozinha atordoada, o olhar da cretina encontrou o meu e então ela
saiu rindo, satisfeita.
Ela não vai atrapalhar minha noite.
Ela não vai atrapalhar minha noite.
Ela não vai atrapalhar minha noite.
Voltei minha atenção para as senhoras que pareciam não
ligar com a cena ao redor e me desculpei avisando que precisava ir
ao toalete. Elas assentiram e eu me retirei indo em direção onde o
Gabriel havia ido a segundos atrás, mas nada, não encontrei. Rodei
a festa inteira atrás dele, mas parecia que ele havia desaparecido
da casa.
Camila estava sentada em uma mesa ao lado de fora ao lado
do Samuel enquanto conversavam, alheios ao que acontecia ao
redor, distraídos demais para notarem quando eu cheguei até a
mesa batendo os punhos nela com força o suficiente para derrubar
uma boa parte do vinho em que ela segurava em mãos sobre a
mesa.
— Ei... — resmungou quando gotas do vinho mancharam seu
vestido.
— Vou te dar apenas um aviso, unzinho. Deixa a gente em
paz, tá ouvindo? — peguei a taça do Samuel e atirei o conteúdo de
seu vinho tinto inteiro sobre o vestido dela. Devolvi sua taça de volta
a mesa enquanto me retirava, não esperando se quer ter que
explicar algo ao Samuel.
Entrei no escritório, afim de ficar um pouco sozinha e esfriar a
cabeça, afinal tem sido dias extremamente loucos para mim e eu já
estava na borda.
Enrijeci sobre a poltrona quando vozes se aproximavam no
corredor, olhei ao redor em busca de um bom lugar para me
esconder, mas não havia nenhum, a maçaneta da porta girou e
praticamente me joguei d'baixo da enorme mesa, não querendo ser
questionada por estar ali sozinha, mas a voz do Gabriel me fez
parar.
— Não me pergunte por que, eu não sei o que deu nela para
fazer isso, mas com certeza teve um bom motivo, se tratando da
Camila — disse ele ao entrar.
Mordi os lábios curiosa quando a porta foi fechada e um
barulho sobre o couro do sofá foi ouvido, provavelmente um deles
deve ter se esparramado nele sem nenhuma delicadeza.
— Cara, é sério, tenta controlar sua mulher, eu tive que
segurar a Camila para que ela não fizesse um escândalo e com
todos os defeitos do mundo em que a Camila tenha, hoje é um dia
importante para nossos pais e amigos e foi desnecessário a cena lá
fora.
O QUÊ? SAMUEL VAI MESMO DEFENDER AQUELA
PILANTRA? Aproximei o dedo da boca e comecei a roer a outra
unha.
— Eu concordo, em partes, Camila mereceu! Estava mais
cedo me provocando.
Estava? Viu como eu estava certa!
— Não sei cara, mas acho melhor você e a Monique
resolverem logo esse lance de vocês, por que enquanto você estiver
solteiro a Camila vai continuar te assediando até você deslizar e
voltar com ela.
— Nunca! — rugiu alto demais me fazendo saltar.
— Nunca sobre voltar com a Camila ou sobre resolver sua
situação com a Monique?
Essa eu queria ouvir.
— Ambos, você sabe que eu não estou preparado para
assumir algo com alguém agora.
— Eu imagino, mas vocês já chegaram a conversar? Até
onde eu saiba você assumiu a Monique perante nossa família inteira
hoje à noite, e sem contar no fato de estarem dormindo juntos todas
as noites desde que se entenderam.
— Transando! A gente só está transando.
— Não pareceu que estavam só transando hoje, ela estava
linda demais hoje com aquele vestido, aquilo nem deveria ser
chamado de vestido, aquilo é uma arma contra nós, pobres homens
inocentes. E eu vi como seus colegas ficaram encarando-a, se liga
cara.
Eu já estava roendo o segundo dedo.
— Nem me lembre, fico duro só de imaginar ela aberta em
minha cama, usando aquele vestido. Preciso compra um daquele
para mantê-lo sempre que ela estiver em meu quarto.
— Poderia ter ocultado a parte do “fico duro", isso é algo no
qual eu jamais quero saber, ok? — Samuel rebate.
— Ok. — Gabriel riu — Você chegou e acabou não me
contando como foi lá em Salvador, encontrou a Bruna?
— Você está mudando de assunto.
— Não, não estou! Quero saber como anda a garota
problema.
Garota problema? É assim que ele a chama? Fiz uma nota
mental para que tivéssemos uma conversinha mais tarde no quarto
sobre isso, apesar de ter que confessar que ouvir a conversa deles,
ele não me escaparia dessa conversa.
Houve um leve silêncio até o Samuel responder.
— Sim, encontrei e como eu havia dito a você, ela está bem,
está na minha casa e foi avisada sobre o incidente e pare de
chama-la assim, ela tem nome, use-o.
Que incidente? O que havia acontecido com minha amiga
que fez o Samuel ir até ela?
Estava prestes a sair e perguntar, mas parei, eles ficariam
putos se soubessem que eu estava escondida aqui este tempo todo,
ouvindo a conversa. Ah que se dane, eu podia ouvir mais.
— Fico aliviado em saber disso, mas... você está lidando bem
com a presença dela em sua casa?
— Por que não lidaria?
— Não sei, me diz você, já que é você que está de caso com
uma garota de programa. — Gabriel praticamente cuspiu as
palavras para fora.
Segurei as bordas da mesa para ter apenas algo em que
agarrar, eu não podia acreditar que ele tinha mesmo dito uma coisa
dessas.
— O quê? — a voz do Samuel estava agitada agora — Que
merda é essa?
— Não sabia?
— Não sabia o quê? Fala Gabriel... cospe logo, não adia
mais.
Ele hesitou e minhas pernas tremeram.
— Bom... até onde eu sei ela era contratada do Kleber, ela
dorme com homens por dinheiro, Samuel, imagine como ficaria sua
casa agora, com você aqui. Ainda mais agora que meu amigo não
paga mais a ela pela exclusividade. Cuidado onde sentar, quando
você voltar.
Não, não dá.
Eu não podia simplesmente ficar e ouvir os absurdos que ele
estava falando, ela não merecia. Segurei na poltrona e impulsionei
meu corpo para cima, os olhos do Samuel se arregalaram quando
encontraram os meus.
Gabriel, que estava de costas para mim, se virou,
amaldiçoando quando me viu.
— Então é isso o que você pensa da minha amiga? —
perguntei enquanto agarrava o porta retrato na mesa.
— Monique? O que você ... — disse, atordoado.
— Responde! É isso Gabriel? — alterei a voz enquanto
erguia o porta retrato mirando nele.
— Calma... abaixa isso e vamos conversar.
— Não quero conversar, quero que diga em minha cara o que
acabou de dizer.
— Eu também. — Samuel havia se aproximado ficando entre
mim e ele. — Que inferno está acontecendo aqui? Essa merda é
mesmo verdade?
Olhei para a Samuel, indecisa se contava ou não a verdade
sobre minha amiga, mas antes eu precisava tirar essa história a
limpo com o Gabriel.
— Ele é meu irmão, Monique, ele precisa saber, ela está com
ele e sobre a proteção dele. Ele precisa saber onde está se
metendo.
Olhei para a foto em minhas mãos e coloquei de volta a
mesinha percebendo o quão desperdício seria quebrar algo tão lindo
em uma cabeça tão dura.
— Até onde eu saiba isso não é assunto seu, é dele —
murmurei procurando por algo mais sólido na mesa.
— Ele é meu irmão! — rebateu, me deixando com ainda mais
raiva.
— Ele poderia ser o rei da Inglaterra, meu bem. E não pense
você que eu vou deixar passar o que você disse mais cedo sobre
mim. E acho que tem razão, talvez as coisas não tenham ficado
esclarecidas entre nós antes, mas posso garantir para você que
agora elas ficaram! — relembrei, me virando para encará-lo por
cima do ombro do Samuel.
— Monique...
— Não, Gabriel, eu entendi. Realmente não entendo por que
eu ainda estou aqui, lhe dando alguma satisfação e exigindo alguma
resposta de você enquanto eu já tinha ouvido o suficiente! Você é
um preconceituoso de merda.
Samuel se virou para me encarar.
— Monique, espera, foi apenas uma conversa entre irmãos,
não tínhamos a intenção de ofender ninguém.
— Mas você não me ofendeu, eu ouvi tudo muito bem. E só
para vocês saberem, minha amiga não é prostituta, o Kleber apenas
a ajudava financeiramente e ela não precisou dormir com mil
homens para isso — me apressei em dizer — o contrário, foi muito
bom saber o que seu irmão tinha comigo, isso realmente me ajudou
a esclarecer as coisas para mim e ele agora, quanto a Bruna eu te
aconselho a falar diretamente com ela sobre essa questão, mas
uma coisa eu posso te afirmar, minha amiga não é uma prostituta,
como estão inventando! — olhei enojada para o Gabriel — Tenha
isso em mente. Ela tem muitos defeitos, Samuel, mais ainda é a
pessoa mais importante da minha vida.
Mal notei quando o Gabriel arremessou algo até o outro lado
da sala e pulei com o barulho.
— Você ainda a defende! — gritou — Acha que eu sou o
mentiroso aqui? Então me explica a situação com seu irmão ou com
seu ex namorado, que estão atrás de você? Quem me garante que
você está fora dessa sujeirada também? Sua amiga é exatamente o
que eu estou dizendo que ela é e você, sendo uma grande amiga,
deveria saber muito bem disso, não é mesmo? Ou é exatamente
isto que está fazendo aqui, acobertando-a? Mas eu não vou deixar
que meu irmão caia nessa merda se ela ainda estiver nesse meio e
isto está incluído a você também. Quero que me diga que merda é
essa em que seu irmão meteu você.
Olhei pasma para o Gabriel, sem acreditar que realmente ele
tinha dito isso, Samuel saiu do caminho, fazendo com que a gente
se encarasse de frente.
— Eu não tenho nada a ver com eles! — gritei, mas minha
vontade era de dar na cara desse babaca.
— Não? Não foi o que me disseram hoje...
Incrédula, eu o encaro, não acreditando que estava mesmo
vomitando esse lixo em mim.
— Pouco me importa o que te disseram, eu estou saindo
daqui hoje mesmo, seu idiota.
Essa última palavra o fez ficar tão puto que veio até mim e
agarrou o meu braço.
— Repete. — Exige, com apenas alguns centímetros do meu
rosto.
Me recusei a responder e lhe encarei, ele agarrou meu braço
com mais força, ainda me obrigando a continuar onde estava. O
Samuel nos afastou, se colocando entre nós novamente.
— Se acalma. — disse ao irmão.
Não olhei para trás, aproveitei a oportunidade e sai do
escritório. indo direto até o quarto dele e arrumando todas as
minhas coisas enquanto procurava por uma passagem de volta para
casa. Eu não ia ficar nem mais um minuto aqui com esse bocó,
projeto de jegue.
MONIQUE

G
abriel? Ah... Gabriel.
Levantei as mãos para o céu e dei graças a Deus, foi tão rápido
encontrar uma passagem de avião para a próxima hora que parecia
que tudo estava a meu favor. A parte mais difícil foi ter que descer
as escadas e ter testemunhas para o que eu estava prestes a fazer,
mas quando terminei de descer o último degrau, a Lúcia e o Roberto
vieram até mim, correndo.
— Eu preciso ir. — Me apressei em dizer.
— Mas para onde você vai uma hora dessa, minha filha?
Fique e espere até amanhã, nós mesmo levaremos você até o
aeroporto. — Abracei a Lúcia no mesmo instante.
— Não dá, eu só quero ir para casa. — Sussurrei e senti mais
braços ao nosso redor.
Olhei para cima para ver o Roberto aconchegado em nós
duas, sorri para ele, que retribuiu de uma forma tristonha.
— Fique, querida. — pediu.
Mesmo tentada a dizer sim, eu diria não! Eu não conseguiria
ficar dentro da mesma casa em que aquele ser estúpido e
preconceituoso estava, precisava tomar as rédeas da minha vida e
precisava fazer isso hoje. Hoje não, agora!
— Desculpe. — Fiz que não — Eu sinto muito mesmo por
magoar vocês... especialmente hoje, mas eu preciso ir.
Terminei o nosso abraço, notando a atenção de todos ao
redor em nós, me encolhi por dentro e então estendi minha mão
para eles dois, que seguraram com carinho.
— Pelo jeito está mesmo decidida, mas quero que saiba que
será sempre bem vinda em nossa casa. As portas vão estar sempre
abertas para você. — A voz do Roberto estava carregada de tristeza
e um nó se formou em minha garganta.
— Faço das palavras do meu marido as minhas, as portas da
nossa casa estarão sempre abertas para você, independentemente
de estar ou não com o nosso encrenqueiro mais velho.
Mordi a língua tentando segurar o choro, abracei os dois
novamente antes de colocar minha bolsa sobre o ombro e partir.
Foi difícil dizer adeus a pessoas tão queridas assim, nem
meus próprios pais me trataram tão bem assim, parei ao lado de
fora quando notei o Samuel recostado em um carro vermelho, com
uma bagagem na mão.
— Carona? — oferece.
Hesitei.
— Aeroporto? — arqueei as sobrancelhas.
— Positivo! — respondeu, pegando minha mala e jogando
junto com a sua dentro do carro.
— Ok. Posso ao menos perguntar o por quê? — ele parou ao
seu lado da porta e me encarou.
— Não.
— Tudo bem. — Dei de ombros.
Dei a volta no carro e entrei ao lado do passageiro, Samuel
não disse uma palavra até que chegássemos ao aeroporto. A
princípio eu queria muito falar com ele sobre a conversa de mais
cedo no escritório e também perguntar o motivo dele ter voltado
para Salvador junto comigo, mas o barulho dos seus roncos me
cortaram, então, por hoje, eu decidi que talvez ainda não fosse um
bom momento para conversar com ele sobre ela.
O voo foi tranquilo, havia pouquíssimos passageiros, então
deu tempo para dar uma boa descansada e antes de que
pudéssemos sair do aeroporto, o Kleber já estava lá nos esperando,
acompanhado por mais alguns homens esquisitos.
— Entrem! — a porta traseira da van foi aberta e mais
seguranças estavam dentro.
Hesitei antes de entrar, mas uma boa olhada no Samuel me
tranquilizou, ele não parecia assustado da forma como eu estava.
Sentei no banco perto da janela com o Samuel ao meu lado,
notei quando ele retirou seu laptop da mochila e começou a
trabalhar. Segurei a língua, louca para perguntar sobre o que era
tudo isso. Olhei para o Kleber apenas para ver ele desviar o olhar de
raiva em que dirigia ao Samuel, do meu lado.
— Minha amiga está bem? — Perguntei baixinho quando ele
olhou para mim de relance.
— Melhor que eu e você. — respondeu alto o suficiente para
que todos na van escutassem — Estamos levando vocês até ela —
seu olhar voltou novamente até o Samuel que parecia não se
importar com o que acontecia ao redor.
O Kleber podia ter os defeitos dele — que eram muitos —
mas uma coisa eu não podia negar, ele sempre foi leal a minha
amiga, apesar das grandes brigas que tiveram. Então estava muito
claro o quão traído se sentia.
Lhe olhei com simpatia, mas ele decidiu ignorar, ele estava
ferido e eu podia entender isso agora.
Ambos nos decepcionamos com quem estávamos nos
relacionando. Talvez a dele ainda pior...
A van parou e as portas laterais se abriram, os seguranças
foram os primeiros a saírem e então nós dois. Samuel segurou meu
ombro e me arrastou para dentro de um portão de madeira.
Mais homens apareceram do outro lado quando entramos,
arfei quando parei dois segundos para olhar a casa em minha
frente. Era incrivelmente linda, decorada com paredes de vidro,
onde se podia ver quem estava dentro e fora.
A porta da frente se abriu e eu me apressei para dentro,
quase cai dura no chão quando pude ver de perto cada detalhe
dentro, era tudo de tão bom gosto que eu tive medo de tocar e
poder quebrar algo sem querer.
— Seu apartamento foi invadido.
Me virei às pressas para encarar Samuel, sem ter a certeza
de que tinha ouvido direito.
— O que disse?
— Seu apartamento foi invadido antes que o Kleber pudesse
tomar posse. Kleber pediu que, assim que você estivesse
descansada, fosse até sua boate lhe dar alguns detalhes sobre seu
irmão e seu ex-namorado.
Segurei na bancada quando tudo girou.
— O que? — me sentei.
— O Gabriel não contou a você? — sua expressão parecia
sombria.
— NÃO!
— Filho da... esquece! É o seguinte, Monique, alguns
homens invadiram seu apartamento, o Kleber apareceu no dia
seguinte para dar uma geral quando o porteiro lhe informou,
desesperado, o que tinha acontecido.
Gelei.
— Eles conseguiram identificar um deles e os seguranças do
meu irmão reconheceram o rapaz e afirmaram que era um ex-
namorado seu. O Kleber investigou a fundo e descobriu o
envolvimento do seu irmão com esse grupo. Você ao menos sabe
dizer sobre eles?
De novo não...
Tentei concentrar minha atenção no pobre do Samuel.
— Sim — assenti — Eu sei quem são.
Odiava ter que admitir isso, mas eu precisava. O apartamento
foi invadido e eu mal tive tempo de avisar a alguém sobre a minha
mudança, isso significava que estavam atrás de mim. Olhei para o
Samuel, assustada.
— No passado meu irmão conseguiu se envolver em
problemas por causa deles e acabou preso. — Engoli em seco — O
problema é que nós não somos mais próximos, eu tenho grandes
problemas com meus pais, fiquei sabendo apenas essa semana que
eles tinham pego um empréstimo no banco por causa do meu irmão
e colocaram meu apartamento como garantia. Como não pagaram,
eu recebi apenas uma ordem de despejo. Eu tinha 30 dias para
pagar tudo ou teria que sair do apartamento.
— Mas eles não podiam ter avisado você sobre o
empréstimo?
— Eles podiam, mas não fizeram. — Suspirei frustrada —
Como eu disse a você, não nos damos bem.
Ele pareceu pensar por alguns instantes e então sua atenção
voltou para mim.
— Kleber comprou seu apartamento.
— Eu sei, e nos expulsou de lá por vingança.
— Vingança? Foi por isso que saíram de lá às pressas
aquele dia?
Eu apenas assenti.
— Ele sabe sobre você e ela, ele mesmo mostrou as provas.
Ele empalideceu
— Que provas? Ninguém me falou nada sobre. — Atordoado,
ele olhou ao redor. — Onde está sua amiga? Ela não ouviu a gente
chegar? — se levantou — Espere aqui, vou ver como ela está e já
volto para resolvermos isso sobre o Kleber.
Uma boa olhada ao redor da sala não revelou sinal algum da
minha amiga e isso pareceu deixar o Samuel furioso a ponto de ir
atrás dela.
— Esta é a sua casa? — gritei, para que pudesse ouvir onde
quer que estivesse.
— Sim, fique à vontade, eu já volto... — gritou de volta.
— Está bem. — Coloquei minha bunda de volta a cadeira.
Uma imagem do Gabriel rapidamente passou pela minha
cabeça e chutei ela de volta, espero mesmo que esteja sofrendo e
chorando por mim. Ah, quem eu quero enganar? Ele deve estar
ótimo, provavelmente em alguma festa, caçando sua próxima vítima.
Sua próxima Mia...
Uma batida na porta e eu me assustei, virei a tempo de ver o
Kleber entrando, hesitante, ele parou quando me viu.
— Precisamos conversar.
— Agora? — ele assentiu.
— Agora! Seu irmão quer falar com você.
Levantei rápido, tropeçando em quase tudo em meu caminho,
o Kleber agarrou minha mão e me guiou para fora da casa às
pressas e eu não me importei.
O Mauro estava aqui e queria me ver.
Os seguranças franziram a testa quando nos viram, mas
acabaram liberando a nossa saída pelo portão. Dessa vez não era
uma van que nos esperava, era uma moto.
— Ai, merda!
O Kleber agarrou um dos capacetes e estendeu para mim
enquanto se sentava, meu estomago torceu só em imaginar.
— Anda logo. — Reclamou, me fazendo lançar um olhar de
ódio em sua direção.
— Eu tô indo. — Me sentei atrás dele, gelada, fiz uma
dancinha por dentro quando notei o quão alto ele ficou, escondendo
uma boa vista da estrada. Agora eu só precisava segurar firme nele
e fechar os olhos com força, foi o que eu fiz quando ele acelerou.
Não demorou mais que dez minutos para que chegássemos
à boate, o Kleber desviou pelos fundos e me guiou para dentro,
parei surpresa no meio do salão ao encontrar meu irmão sentado
ali, segurando duas mochilas no ombro, com uma garrafa de água
na mão.
Seu olhar finalmente veio em mim quando ele percebeu que
não estava mais sozinho, soltou sua mochila e correu até nós. Eu
não hesitei em lhe abraçar quando me pegou no colo, ainda era o
meu irmão, e nesse momento a saudade falava mais alto. Lhe
abracei como se minha vida dependesse disso, enterrei meu rosto
em seu pescoço para esconder as lágrimas que ameaçavam cair.
— Como eu senti sua falta, minha pequena. — Sussurrou
próximo ao meu ouvido.
Afastei o rosto e ele me pôs no chão quando bati firme em
seus ombros. Enxuguei as lágrimas e me afastei, mas não soltei sua
mão. Kleber conseguiu chamar nossa atenção com um pigarreio e
nos viramos para encara-lo.
— Desculpa interromper o momento familiar aqui, mas devo
lembrar a vocês que temos algumas coisas para esclarecer. — Ele
apontou para o escritório no andar de cima — Vamos?
Pelo canto do olho pude notar duas sombras vindo até nós,
me virei apenas para confirmar minhas suspeitas. O aperto do meu
irmão ficou firme em mim e lhe encarei. Ele apenas assentiu e me
guiou em direção as escadas. Não apenas os “homens sombras”
nos seguiam agora, como mais deles nos acompanhavam.
— Isso é mesmo necessário? — Kleber se virou para olhar
para mim e depois para o Mauro antes de assentir.
— Sim, eu não confio nele. Sinto muito por isso, seu irmão
está na merda até o pescoço. — Ele parou em frente a porta do
escritório e abriu.
Entramos todos, isso incluía também os quatro seguranças
que apenas se posicionaram na porta enquanto o Kleber nos
oferecia os bancos. De onde estava pude ver ele alcançar algo em
sua gaveta e colocar em seu colo.
Com a minha super altura eu não conseguia ver o que era,
mas vendo a forma como meu irmão empalideceu eu podia imaginar
que coisa boa não seria.
— Podemos começar? — comecei, quebrando toda a tensão
do escritório. Estava sufocante já.
Eles assentiram mais foi o Kleber quem começou a falar.
— O que você veio fazer aqui, Mauro? Estávamos caçando
você e seu amiguinho. Mandamos um recado para o grupo que
vocês dois faziam parte, relatando o ocorrido em meu apartamento
e eles negaram envolvimento. Oferecemos dinheiro por suas
cabeças e eles aceitaram.
— Você não fez isso. — A voz desesperada do meu irmão
chamou minha atenção.
— Confesso que estou surpreso por vê-lo aqui sem eles, eles
pareciam bem dispostos a colaborar. Agora vai ou não nos dizer o
por que veio até mim e exigir que trouxéssemos sua irmã?
Olhei confusa para o meu irmão, esperando pela sua
resposta. Eu, mais do que ninguém, sabia de suas merdas.
— O assalto no apartamento — ele soltou minha mão
enquanto falava. — Eu não queria, tá legal? Eu fui obrigado a fazer,
não foi o grupo que me ordenou a fazer, foi meu ex cunhado — seu
olhar veio até mim — a gente sabia que você não estava em casa
ou eu jamais toparia aquela loucura, o Max está com raiva de você e
queria ao menos poder se vingar, eu disse que o ajudaria e como
ajudaria, se isso fizesse ele te deixar em paz. Eu descobri que ele
estava seguindo você a dias, mas você estava tão puta comigo por
causa do apartamento que nem sequer me deu uma chance de te
avisar.
Eu não sabia como eu ainda estava respirando.
— Max é o nome do cara que te ajudou a invadir meu
apartamento? — ignorei a voz irritada do Kleber, apenas focada na
resposta do meu irmão, eu não sabia mais o que pensar.
— Sim, ele mesmo.
— Por que você não informou ao grupo sobre as atitudes
desse Max em relação a sua irmã? Até onde sei, eles são fiéis uns
aos outros e não se negariam a ajudar.
— Eu não podia fazer isso, minha fama lá não é das
melhores e o Max é completamente possessivo pela Monique,
quando eu soube que ele havia viajado pra cá atrás dela eu pirei. É
a minha irmã, cara.
— Eu entendo. No entanto, você sabe dizer onde está esse
tal de Max?
— Logo depois de destruir o apartamento e levar algumas
peças de roupa da Monique, ele alugou um carro, eu sei disso por
que eu mesmo fui com ele e de lá mesmo ele foi embora.
— E o que você faz aqui, se sabia que estávamos atrás de
vocês?
— Eu vim cuidar da minha irmã, garantir que ele não chegue
perto dela. Você tem alguma irmã, Kleber?
— Não. — Sua resposta foi afiada.
— Com certeza não, se tivesse entenderia.
MONIQUE

A
o menos agora eu tinha três únicas certezas naquele momento:
1 — O Max estava atrás de mim.
2 — Eu estava prestes a matar o meu irmão.
3 — Pela primeira vez em muito tempo eu sentia que podia
confiar no meu irmão, eu só não sabia se essa era uma boa opção.
Ele com certeza sabia que eu não estaria no apartamento
aquele dia ou jamais teria feito o que fez comigo, ainda dentro. Ele
podia ser todo errado, pensar completamente diferente de mim,
aprontar horrores, mas ainda éramos irmãos, um cuidava do outro
desde que percebemos, ainda muito jovens, o quão sem noção
nossos pais eram. A responsabilidade havia chegado ainda mais
cedo para ele do que para mim, ele tinha apenas 14 anos e eu 4
quando nossos pais saiam por aí, a deriva, e nos deixavam
sozinhos em casa. Nunca julguei o Mauro pelas ações dele que me
fizeram crescer bem, mas eu julgo as atitudes dele em permanecer
no mesmo erro, mesmo depois de adulto. Hoje eu não tenho mais
quatro anos e não sou completamente uma inútil, como ele deve
achar que eu sou.
Sempre desejei que ele tivesse força de vontade e que
parasse de seguir as pessoas a quem ele costumava seguir.
Infelizmente meu irmão atraia muito fácil gente errada em sua vida,
não foi por causa do grupo que eu havia perdido a minha casa,
foram as atitudes ruins do Mauro, as amizades prejudiciais, quais
ele sempre se recusou a enxergar e o fato do Max ter confiado nele
já era motivo o suficiente para que eu acreditasse que ele ainda
tinha a mesma linha de pensamento de antes, e pelo visto algumas
coisas não mudariam nunca.
— Monique... — a voz do Kleber me chamou.
Estava tão perdida em meus pensamentos depois de saber
que o Max estava atrás de mim, que mal ouvi o restante da
conversa.
— Sim? — olhei entre eles, notando o quão desconfortável
estava.
— Quero que saiba que independente do que seu irmão me
contou aqui e agora, você e sua amiga estão seguras. Eu tenho
ordens para manter vocês a salvo de qualquer um. — O olhar do
Kleber foi até os seguranças e depois para meu irmão. — Não
importa quem seja.
Um barulho soou atrás de mim, me fazendo virar as pressas,
meu corpo inteiro tremeu quando dois homens partiram para cima
do Mauro, arrancando-o da cadeira e o colocando em pé no canto
contra a parede.
— Não, não, não. — Os gritos do meu irmão me deixaram
apavorada.
O baque foi alto e me fez gritar, um terceiro homem apareceu
e veio até mim, me pegando por trás, me debati sobre ele, mas foi
em vão, ele era forte o bastante para me erguer.
— SOLTA ELE, AGORA!
O segurança que me segurava conseguiu escapar do meu
chute, mas gemeu quando minha cabeça fez contato com seu nariz.
— Desgraçada! — gemi quando ele me espremeu com força.
— ELA NÃO! — o grito do Kleber fez o homem parar de me
apertar — Você me ouviu, não machuque ela!
Do outro lado da sala meu irmão era segurado por dois
homens enquanto um terceiro rasgava sua camisa, expondo todo
seu peito.
Oh não, meu irmão iria levar uma surra bem na minha frente.
Olhei desesperada para o Kleber, que apenas assistia a tudo com
fascinação.
— Por favor solta ele, a gente jura que vai embora. —
Implorei.
— Você está livre, Monique, só está aqui por exigência dele.
— apontou para o meu irmão, que grunhia após receber um golpe
em seu estômago. Fechei os olhos com força, não querendo ver
aquilo.
Isto não está acontecendo, não está acontecendo... é um
pesadelo.
— Monique? Olhe pra mim. — O barulho de outro soco. —
Monique?
Não aguentei e lhe encarei com raiva.
— Você vai espanca-lo e ainda quer que eu assista isso?
Não, não mesmo. Isso é demais pra mim. Você é nojento.
— Eu não vou espanca-lo. Quero apenas garantias.
— Que garantias?
— Veja. — Ele caminhou até o segurança que havia surrado
o Mauro e bateu em seu ombro.
O homem se afastou, mas não se retirou da sala, o Kleber foi
até meu irmão e lhe ergueu o queixo.
— Agradeça a sua irmã por ainda estar vivo, eu não hesitaria
em fazer isso depois do que você e seu amiguinho fez com o
apartamento. Mas sua irmã tem as costas quentes e por isso você
ainda está aqui.
Olhei para o Kleber confusa, será que era um blefe para
poder assustar meu irmão? Ou ele estava me associando a aquele
homem preconceituoso engravatado no qual eu queria distância?
Pois eu espero sinceramente que eu esteja completamente
enganada e aquilo tenha sido apenas um blefe quando olhei para
ele com raiva.
Ah, se olhar matasse.
Meu irmão foi colocado novamente na cadeira em que lhe
haviam retirado a força e se recostou, grunhindo, com a mão sobre
o estômago. Corri até ele sem pensar duas vezes quando o
segurança atrás de mim me colocou no chão.
— Você está bem? Eles te machucaram? — lancei um olhar
de puro ódio na direção do brutamonte que bateu no Mauro —
Desgraçado.
O homem me ignorou completamente, o Kleber não. Ele
sentou em sua cadeira em nossa frente quando colocou um bloco
de papel sobre a mesa com toda calma do mundo, até que seus
olhos encontraram os meus.
— O que é isso? — olhei novamente para o bloco.
— Olhe você mesma.
Fiz o que ele pediu, alcancei o bloco e comecei a checar
página por página. Havia anotações, números, códigos e até
modelos. Reconheci um, quando notei o nome familiarizado do meu
sofá, não precisou ser um gênio para saber o que aquilo tudo era, e
o meu medo veio em seguida.
— O que você quer com isso? Que eu pague pelas coisas
que eles roubaram? — reclamei.
— Você não, mas seu irmão com certeza vai pagar pelo que
roubou e destruiu.
— Mas e o Max? Você ouviu o que ele disse? Ele fez isso
para ajudar ele a ficar longe de mim. Foi necessário, Kleber.
— E o que você espera que eu faça, Monique? Eu paguei
caro por aquele apartamento, fiz isso para te ajudar a aceitar minha
proposta. Não vou ficar no prejuízo com o roubo dos móveis
também.
De certa forma ele estava certo, meu irmão vacilou feio.
— Kleber... eu posso dar um jeito, eu...
— Você o quê? Não me diga que vai colocar tudo na conta do
Governador? Até onde eu me lembre, você é bem diferente da sua
amiga... ou estou errado? Me diga, Monique... — empalideci com
sua pergunta.
Minha mão coçou, cheia de vontade de fazer o que eu queria
e seria mais que merecido. Parece que ele me trouxe aqui só para
testar o meu limite, e estava perto de conseguir isso.
— Veja bem como fala, minha vida pessoal não é da conta de
ninguém, ainda mais da sua, teto de vidro.
Uma expressão divertida soou em seu rosto.
— É justo.
Meu irmão gemeu e eu voltei novamente para ele.
— Precisava mesmo bater nele assim? Está todo
machucado, caramba.
— Seu irmão precisava de uma lição e nem batemos tanto
assim nele, ele que é apenas um molenga em sua frente. Onde está
aquele homem cheio de coragem que veio até mim, disposto a tudo
para salvar sua irmã? Falando nisso... tenho um trabalho para ele, já
que não tem como me pagar em dinheiro.
Olhei novamente para o Kleber.
— O que é? Que tipo de trabalho? Ele não vai aceitar, não.
Kleber nem sequer olhou para mim, dessa vez ele olhava
profundamente meu irmão, que apenas assistia a tudo calado.
— Qualquer coisa, só devolva o apartamento dela.
Engoli em seco desesperada.
— Qualquer coisa uma ova! Meu irmão não vai matar
ninguém, se esse é o preço para saldar a dívida.
— Matar? Quem falou em matar? Eu disse apenas a palavra
trabalho. — Seu olhar voou pela sala, olhei para trás a tempo de ver
os seguranças saírem da sala e bater a porta atrás deles.
Por dentro estava aliviada, agora eu sabia que eles não
podiam mais agredir o Mauro novamente. Meu olhar foi até o Kleber,
que agora sorria satisfeito.
— Queria deixar vocês mais à vontade — ele olhou
novamente até o Mauro — Fique de pé e tire a roupa.
— O quê?
Acho que eu não tinha ouvido direito.
— Quer que eu fique pelado na frente da minha irmã? Tá
maluco cara, você é algum doente por acaso?
— Não sua anta, quero apenas avaliar o seu porte para o
trabalho em que tenho em mente.
Meu irmão ficou parado por alguns instantes, pensando, mas
logo se levantou com a mão sobre o estômago e começou a tirar o
restante das roupas, ficando apenas de box azul marinho.
— O que você está fazendo? Ficou louco? Veste isso agora,
garoto!
Ele me ignorou, completamente focado no olhar do Kleber,
que parecia satisfeito enquanto lhe avaliava sem vergonha.
— Serei direto. Trabalhará para mim exatamente como sua
amiguinha trabalhou, servirá as mesas no início da noite e tirará as
roupas no final dela. Você entende o que eu quero dizer, Mauro?
Não sei se o Mauro estava entendendo, mas eu estava.
— Você quer prostituir meu irmão? — olhei para ele
incrédula.
— Por que não? Todos saem ganhando e eu não vou
prostituir ninguém. A proposta que estou oferecendo ao seu irmão é
a mesmo na qual eu teria oferecido a você. Você apenas só teria
trabalhado menos tempo do que ele agora, já que me deve os
móveis também.
— Eu aceito. — respondeu o Mauro, sem hesitar.
Minha vontade de socar o Mauro só crescia, junto com a
vontade de chutar o Kleber. Eu definitivamente só podia ter jogado
fralda suja na cruz.
— Você aceita o quê, Mauro? — me recusei a olhar para ele
— Você não pode sair aceitando as coisas assim, sem saber por
onde está se metendo, agora pude notar o porquê você se mete
tanto em besteiras. — Levantei meu queixo para encarar o Kleber —
Ele não aceita, não, obrigada. A gente pode trabalhar e arrumar um
emprego decente.
— Fale por si mesma, por que eu não tenho problema algum
em aceitar. — Olhei para ele, incrédula, notando seu real interesse
— Por quanto tempo eu ficarei preso nisso?
— Não! — me ignorou.
Kleber tirou um envelope novo da gaveta e lhe passou.
— Está tudo aí, escrito, mais lhe darei um breve resumo.
— Não! — tentei, em vão, agarrar o envelope.
— Trabalhará de quinta a domingo dentro do meu lounge
privado, das 18 horas até as 03 da manhã. Servirá mesas e dará
algumas palinhas no palco, todo o dinheiro que estiver em sua
cueca será todo seu, junto com o que ganhar nos serviços por fora.
Meu contrato te prende a mim por cerca de 2 anos, é o tempo em
que trabalhará para mim com exclusividade e logo após isso eu
devolverei o apartamento no nome de vocês, se preferir.
Meu coração estava prestes a sair pela boca. Por que
ninguém me escutava?
— Mas eu vou ganhar algum salário para me manter, né?
— Não. Repito, ficará apenas com o que estiver em suas
roupas ou com o que ganhar se decidir fazer serviço extra por fora.
Depois de dois anos comigo, você estará livre e receberá os novos
documentos do apartamento.
— Simples assim?
— Simples assim.
— Vocês podem, por favor, me ouvir? — pedi, já cansada.
— Está decidido, irmã, lhe pagarei de volta o apartamento,
nem que seja a última coisa que eu faça. — Jurou.
Como se isso fosse ajudar em alguma coisa, eu tinha que
admitir que a intenção do meu irmão era boa, mas a troco de quê?
Sua liberdade? Dois anos é muito tempo e fora que ninguém sabe,
até então, como será nesse trabalho. Dois anos era demais, mesmo
que ninguém me ouvisse, eu tinha o direito de intervir em
algo, nem que fosse para ajudar meu irmão.
— Se você vai, então eu também vou — encarei o Kleber,
decidida — Tenho novo acordo para você.
Agora eu estava fodida.
MONIQUE

É
Monique... você está na merda.
O olhar do Kleber mudou, agora ele estava satisfeito e bastante
interessado em ouvir minha proposta. Parecia até que ele podia ler
meus pensamentos nesse exato momento.
— Uma nova proposta, hum? Isso me parece interessante.
Tive que reunir toda minha coragem para continuar com o
que estava prestes a dizer, enfiar as mãos nos bolsos ajudou a
disfarçar o nervosismo nesse exato momento.
— Sim, eu estou disposta a... — Olhei para meu irmão —
negociar.
O desgraçado do Kleber parecia feliz com a minha desgraça.
— A minha antiga proposta não era muito diferente da de seu
irmão, Monique, você faria o mesmo que ele... serviria as mesas e
desfilaria pelo salão com roupas apropriadas, exceto que o seu
acordo seria diferente, durando apenas 1 ano. — Pigarreou — Mas
as coisas mudaram e a dívida aumentou, Gabriel não vai permitir
que eu deixe o mais novo brinquedo dele desfilar em meu salão
para outros admirarem.
Eu podia sentir a maldade em suas palavras, era exatamente
isso que ele queria.
— Não tenho nenhuma associação a este senhor no qual se
refere e, por favor, não sou “seu brinquedo”, seja menos grosseiro.
Estamos no meio de uma negociação. — Decidi ser direta, quanto
menos tempo eu perdesse aqui, melhor.
— Então está me dizendo que vocês dois não estão mais
juntos? Por isso voltou cedo?
Intrometido.
— Minha vida pessoal não é da sua conta, mas a resposta é
sim. Não estamos mais juntos.
Ele sorriu.
— Ótimo. Aqui vai uma nova proposta.
— Diga. — Fui direta.
Ele ficou olhando entre mim e o Mauro, ainda de cueca, antes
de responder.
— Vocês dois são bonitos e chamam a atenção, quero os
dois no meu salão por 1 ano e entrego o apartamento nas mãos de
vocês. Um ano, apenas, ao invés de dois. O que me dizem?
— Minha irmã não vai servir ninguém seminua. — A careta
do Mauro me fez segurar uma risada. — Eu já falei que eu aceito os
dois anos tranquilo, minha irmã não vai entrar nessa não, cara.
Sorri da minha própria desgraça quando dessa vez a
ignorada não era eu, o Kleber estava completamente focado em
mim.
— Quatro meses! — propus.
—Não, um ano e quero os dois nisso como um combo.
Combo? O que ele acha que a gente é, um sanduíche? Leve
2 e pague 1? Ele vai ver só...
— Três meses então ou nada feito. Lembre-se da merda em
que você está nos colocando e que eu vou ficar seminua.
— Três meses? Uma ova que não, oito. — Contrapropôs.
Tá melhorando... continua garota, já tu doma ele, afinal, não
deve ser tão ruim assim servir mesas de calcinha e sutiã só pra ter
meu apartamento de volta.
— Dois? Última chance, antes que eu me levante e vá
embora dessa merda. E não pense você que eu vá fazer mais do
que servir mesas. — Me levantei fazendo o Mauro ficar
desesperado.
— Monique... — era um aviso. Eu estava mesmo sendo uma
chata de propósito, com a esperança de que ele desista dessa
merda de trabalho.
Mas eu não iria ceder e nem ele pelo visto, seria um jogo
divertido para ele e eu não ia me submeter a essa situação por
muito tempo.
O telefone dele tocou enquanto ele ainda me encarava, era
tudo um jogo e eu me recusava a perder, eu podia sentir, no fundo
da minha alma, o quão perto de desistir ele estava, uma olhada em
seu celular fez ele revirar os olhos e suspirar, insatisfeito.
— Droga, só um segundo... eu preciso atender isso.
— Claro. — Assenti e me sentei novamente, encontrando o
olhar furioso do meu irmão.
— Eu não digo é nada. — Sussurrou, para que apenas eu
escutasse. Mas lhe ignorei, fazendo exatamente da mesma forma
em que ele havia me feito comigo. Tive a quem puxar.
Kleber girou em sua cadeira, ficando de costas para nós,
aproveitei o momento para me inclinar sobre a mesa, na tentativa de
pegar um pedaço da sua conversa, seria bom ter uma carta na
manga.
— Existe um motivo realmente importante para trazer essa
garota de volta? Não, eu não estou questionando uma ordem sua,
Governador, só acho desnecessário trazer a garota problema pra cá
agora que as pessoas estão quase esquecendo do ocorrido.
Era o Gabriel no telefone, meu coração acelerou, afinal,
quem ele queria trazer de volta?
A imagem da Camila passou em minha cabeça...
— Sim, desnecessário. Tem fotos suas ao lado da Monique
no casamento de seus pais ontem e agora você decide mais essa
merda? Sim, as notícias correm. Deveria lidar melhor com seu
irmão, eu cuido apenas da sua segurança e não da sua imagem.
Okay, vou mandar buscar a Mia, como você tanto deseja.
O QUE?
Se antes eu não podia ter ouvido as coisas direito, agora eu
podia. E no fundo do meu coração, agora eu teria desejado que não
pudesse.
Voltei às pressas para a cadeira sem fazer barulho algum que
chamasse a atenção do Kleber para mim, ele desligou o aparelho e
virou sua cadeira, me encarando novamente.
Calma.
Respira.
Respirei fundo, no fundo você sabia que ele não prestava,
agora eu só tinha a confirmação de quem realmente ele era.
Parte de mim ainda tinha esperança, de que no fundo ele
gostasse de mim. Mas essa parte acabou de morrer.
— Então Monique... onde a gente estava? — a voz do Kleber
chamou minha atenção, me obrigando a lhe olhar.
— O que o Gabriel queria? — tentei engolir o nó em minha
garganta.
— Como você...?
— Era a Mia né? Ele pediu para você buscar ela. — Era
difícil, mas eu preciso ter a verdade escancarada agora. Eu preciso,
agora mais do que nunca, esquecer desse desgraçado.
— Sim, ele pediu. Sinto muito por vocês.
Olhei para ele.
— Não sinta, pois eu não sinto. — As palavras simplesmente
saíram da minha boca sem que eu realmente pudesse senti-las. Eu
só queria ir para casa agora.
Queria ter pego minhas palavras de volta quando senti a mão
morna do meu irmão toca meu ombro. Olhei até ele e me arrependi,
vendo pena ali, o olhar do Kleber também não era muito diferente, e
que merda de situação eu estava me colocando por causa dele. Só
por causa dele.
Não, não. Mereço mais, muito mais! Não vou me permitir
passar por isso, para no final sair perdendo. Eu tô cansada de
perder.
— Eu aceito. — As palavras simplesmente saíram da minha
boca.
— O que?
— Seis meses trabalhando para você, em troca do meu
apartamento de volta e a dívida do Mauro quitada. Farei o que for
preciso. — Eu sabia que estava sendo precipitada em propor isso
assim, entrando de cabeça.
Mas eu já estava cansada, minha vida era um verdadeiro
caos e ainda por cima estava sem casa e sem emprego. O dinheiro
que o Samuel havia me pago não duraria muito, já que eu mal pude
trabalhar ao lado dele de verdade. Então que mal seria em aceitar
servir mesas vestida igual uma dançarina de bordel? O que mais eu
iria perder?
Ao menos teria minha casa de volta, o sacrifício valeria a
pena no final.
— Seis meses? — ele pareceu pensativo — eu aceito.
Um novo envelope bateu por cima da mesa chamando minha
atenção.
— Assinem e eu vou reconhecer amanhã mesmo.
Não hesitei por um segundo quando peguei a caneta de sua
mão e assinei, o Mauro assinou logo em seguida, todo risonho,
achando que em poucos meses teríamos nossas vidas de volta.
Como ele pode ser tão inocente assim? Era óbvio que depois disso
não seríamos mais os mesmos que somos hoje. Eu só esperava
que as mudanças fossem completamente positivas.
O Kleber passou as horas seguintes nos explicando como
tudo funcionaria, tirou nossas medidas e explicou que na sexta
alguém viria para nos treinar. Garantiu, também, que podíamos
voltar a ficar com o apartamento, mais os documentos só seriam
entregues após o total cumprimento do contrato. Foi justo.
Justo e bacana ele ter nos feito esse favor, já que eu não
teria coragem de voltar para a casa do Samuel com o Mauro assim
nesse estado e ter que explicar como tudo ocorreu.
Nos despedimos na porta da boate e fomos direto para meu
apartamento, havia muitas coisas nas quais eu precisava me
preparar agora, depois que eu pusesse ordem em tudo. O José
acenou quando entramos, mas os gemidos do Mauro de dor só me
fizeram apertar ainda mais o passo e me enfiar dentro de casa o
mais rápido possível.
Fiquei menos preocupada quando o Kleber me informou que
havia mudado a fechadura da porta e que, por ordens do Samuel,
haveria um segurança para cuidar de mim, fiquei aliviada quando
soube que ele ficaria na portaria e apenas me acompanharia nos
lugares.
Fiz uma anotação mental de ligar e agradecer ao Samuel por
isso, ele era, com certeza, o meu anjo da guarda.
GOVERNADOR

N
ão podia acreditar que ela estava mesmo dizendo aquelas merdas
para mim, defender a amiga e ainda me olhar daquele jeito, como se
o culpado tivesse sido eu. Era só o que me faltava.
— Satisfeito?
Olhei para o Samuel em minha frente.
— Sai daqui.
— Por que você tem sempre que estragar tudo? Fico feliz por
ela está longe de você agora e triste por você... por ser o que é.
Fechei os punhos, louco para não socá-lo.
— Cuide de sua vida. — Lhe dei as costas sem realmente me
importar com o que pouco pensava de mim. — Quer continuar
acreditando na pureza daquela garota, vai...
Soco a janela de madeira.
— Pode ter certeza que eu vou! Mas pensa na Monique antes
de tudo, lembre-se o quão bem ela te fez e vá conversar com ela.
Ela não tem culpa, cara, só estava defendendo quem ela ama, seu
idiota.
— Já chega, Samuel.
— Chega nada, cara. Você gosta dela... admite!
Gostar dela? Há ha.
Se ela esperava ouvir de mim palavras arco-íris referente sua
amiga, só para ter que me desculpar com ela, ela estava muitíssimo
enganada! Jogo as mãos para o alto e me afasto do meu irmão, fica
perto dele era a última coisa que eu queria nesse momento, fecho
os punhos só em lembrar que foi ele quem causou tudo isso ao se
envolver com quem não deveria. Peguei as chaves do carro ao lado
da porta e saí do escritório.
Caminhei até a garagem, passando por todos na festa, e
ignorando aqueles que me chamavam durante todo o caminho e
entrei em meu carro dirigindo para longe daquela casa, precisava de
espaço nesse momento ou voltaria até ela e a faria perceber o quão
certo eu estava e com certeza eu iria me arrepender disso depois.
Calma, rapaz...
Em que merda estou pensando? Capaz dela está tão na
merda quanto seu irmão. Só de lembrar dos papeis que havia
recebido hoje de manhã pelo Kleber, quando acordei, minha raiva só
aumentou, junto com a velocidade do carro.
Que se dane, vou para o meu apartamento de volta!

Depois de enviar uma mensagem ao Kleber, avisando que


havia voltado, me dirigir as pressas para o chuveiro, antes que ele
chegasse para me dá as novas atualizações.
Vesti um jeans preto confortável, com uma camiseta cinza,
enquanto servia minha própria bebida e me dirigia ao computador.
Esses dias sem trabalhar com certeza deve ter me deixado com
muito trabalho acumulado no escritório, mesmo com o Samuel
cuidando de tudo. Me recostei sobre a poltrona, com o notebook
aberto enquanto admirava a vista belíssima em minha frente.
Um bipe me fez interromper o momento e encarar novamente
o computador, que sinalizada uma nova mensagem, de um e-mail
desconhecido. Abri curioso.
“Caro senhor Gabriel,
Sou eu, a Mia, precisei usar o e-mail de uma vizinha para que
pudesse entrar em contato com o senhor. Ontem à noite recebi em
minha porta dois repórteres cheios de curiosidade sobre a minha
pessoa, tentei entrar em contato com o Samuel, mais não consegui
obter respostas, faz dez minutos que o telefone do hotel não para de
chamar em meu nome com mais deles ligando. Não sei o que fazer,
por favor, resolve logo isso, estou quase perdendo a cabeça e
contando tudo a eles.”
Quando a gente acha que nada que está tão ruim não possa
mais piorar... aí que as coisas pioram.
Joguei o notebook de lado enquanto corria atrás do celular
discando o número privado do Kleber. Ele precisava dar um jeito
nisso o mais rápido possível ou a Mia com certeza iria cumprir tudo
o que disse.
Droga, logo agora isso...
Um grande alívio tornou-se parte de mim quando ele atendeu
no quarto toque.
— Presta atenção, quero que você largue tudo o que está
fazendo e vá agora trazer a Mia de volta ao Brasil. Eu preciso dela
aqui o mais rápido possível. — falei às pressas, quase em
desespero. Espero que meu amigo não tenha notado essa parte.
— Existe um motivo realmente importante para trazer essa
garota de volta?
— Tem que haver algum? Apenas traga-a e deixe os
questionamentos para outros, estou cansado das pessoas sempre
questionarem minhas ordens. Basta fazer, okay?
— Não, eu não estou questionando uma ordem sua,
Governador. Só acho desnecessário trazer a garota problema pra
cá, agora em que as pessoas estão quase esquecendo do ocorrido.
Ele tinha razão, admito. Mas como eu explicaria a ele a
minha urgência?
— Eu sei que você acha desnecessário, mas eu preciso que
você a traga imediatamente para cá, entendeu, Kleber? Eu preciso
urgentemente colocar minha vida no eixo e não preciso de mais
problemas por agora, mesmo com você achando desnecessário a
minha decisão.
— Sim, desnecessário. Tem fotos suas ao lado da Monique
no casamento de seus pais ontem e agora você decide mais essa
merda?
Essa notícia me chocou, peguei novamente o notebook e
abrir na parte de notícias. Quase cai pra traz com o que haviam
feito. Havia diversas fotos minha no casamento, abraçado com a
Monique.
— Sim, as notícias correm. Deveria lidar melhor com seu
irmão, eu cuido apenas da sua segurança e não da sua imagem.
— Eu sei que é o responsável pela minha segurança e não
pela imagem, mas você, além de tudo, é um amigo — apelei — Eu
posso contar com você com isso?
— Okay, vou mandar buscar a Mia como você tanto deseja.
Isso!
— Obrigado, meu amigo. — E desligo.
Um problema a menos em minha vida agora, depositei o
celular sobre a mesinha de centro e me concentrei na tela do
notebook. Mordi o lábio, furioso, detestava admitir isso, mas... ela
estava tão linda na noite passada.
Reprimo um gemido.
Se não fosse por aquela boca grande dela ainda estaríamos
presos em minha cama, aproveitando meus últimos dias de folga em
paz, só em lembrar do que aquela boca grande dela é capaz de
fazer, meu pau começou a dar sinal de vida.
Ignoro ele completamente, já fechando o notebook, chega de
ficar se lamentando agora, eu tinha coisas pra fazer e meu foco
agora estava em manter o silêncio da Mia. Um caso de assédio em
meu escritório era algo que não passaria despercebido pelos outros.
Meu celular apitou minutos depois com uma mensagem do Kleber
confirmando a passagem da Mia no primeiro avião comercial
disponível. Agora eu tinha que dar um jeito de fazê-la ficar em
silêncio.
Uma ideia surgiu, mas deixei passar, eu não precisava agir
no impulso dessa vez, agora eu tinha gente que poderiam eles
mesmo lidar com isso.
Mandei uma mensagem às pressas para o meu tio, ele, mais
do que ninguém, saberia melhor como me instruir em uma situação
assim.
Fui até o bar novamente, já me servindo de mais uma dose,
mas uma caixa aberta ao lado do balcão no chão chamou minha
atenção.
Aproximei da caixa o suficiente para perceber que era a
mesma bebida em que eu havia servido a ela na primeira noite em
que esteve aqui, em meu apartamento. Uma lembrança daquela
noite me atingiu com força. Ela estava tão nervosa e assustada por
ter ficado sozinha comigo aqui que acabou virando de vez a taça
com o líquido. Deixei de lado o meu copo e preparei uma taça da
mesma bebida e levei a boca.
Nunca fui um apreciador de bebidas adocicadas, mas essa
eu queria provar, o sabor explodiu em minha boca e me surpreendi
pelo fraco gosto de álcool.
Como ela pode ter ficado tão bêbada apenas com isso?
Precisaria de muito mais que apenas dois copos. Sorrio com a
lembrança dela naquele hotel em meus braços.
Suspiro.
Como ela pode ser tão teimosa?
Pego uma nova garrafa da mesma bebida e começo a beber
sentado ao sofá, arrasto o notebook para o meu colo e abro a tela
novamente na página onde tinha nossas fotos publicadas. Isso só
podia ser arte da minha mãe.

Dias depois

Acordei sozinho ao som da campainha que soava disparada


na porta, me levantei devagar, ainda sentindo a tortura presente em
meu corpo.
— Já vai, mísera!
Consegui pegar o lençol do chão e amarrar no corpo para
esconder minha nudez. Alcancei a maçaneta e girei. Mal tive tempo
de abrir totalmente a porta quando Samuel entrou nela disparado,
quase me derrubando no caminho, e entrando no apartamento.
— O que você pensa que está fazendo? Quer se matar
porra? — esbraveja, já chutando as caixas que estavam espalhadas
por toda a sala.
— Bom dia para você também. — Ignoro seu comportamento
e vou até a cozinha, colocando a boca sobre a torneira e bebendo
água direto dela.
Ouvi quando ele parou do meu lado e me empurrou forte,
desliguei a torneira e lhe encarei confuso.
— O que você tem na cabeça, seu pouca merda? — grita.
Reviro os olhos e começo a andar, ele empurra novamente
meu ombro e me viro, já com raiva.
— Qual é o seu problema? Tá maluco, Samuel?
— Quero saber qual é o seu problema, você não responde a
dias, os seguranças apenas nos avisam que você está trancado em
seu apartamento, bebendo feito um louco. O que deu em você?
Você sumiu por dias, tá todo mundo te procurando, a imprensa tá
caindo em cima da gente por notícias suas, já saiu até News de sua
morte.
Dou de ombros.
Estava pouco me lixando para o que os outros estavam
pensando de mim agora, fecho os olhos por uns instantes, sentindo
uma leve dor de cabeça me atingir. Acho que eu devo ter exagero
na bebida ontem.
— Você está bem, pouca merda? — havia preocupação em
sua voz. Abrir os olhos apenas para encara-lo.
— Um pouco tonto, exagerei ontem.
— Tô falando, só faz merda, esse pouca merda.
Olhei para ele já irritado.
— Pare de me chamar assim. — consigo murmurar, já
irritado, lutando contra uma nova enxaqueca.
— Anda... vem aqui. — Aceitei quando ele passou os braços
sobre minhas costelas e segurou parte do meu peso.
Ele andou comigo até o sofá e me depositou nele
delicadamente enquanto retirava as garrafas vazias da borda.
Me recostei enquanto lhe encarava.
— O que deu em você? Você nunca fez isso...
— Você não convive comigo para saber — disparo de volta
diante da cara de nojo em que ele fazia enquanto avaliava meu
apartamento.
— Não moro com você, mas lido com você todo santo dia e
estou extremamente preocupado agora. — Ele se agachou em
minha frente, se sentando na mesa de centro — Esse não é o tipo
de coisa que você faria consigo mesmo, me deixe te ajudar.
— Eu não preciso de ajuda, pode ir embora.
Ele suspirou e chutou minha perna com força.
— Filho da... — Parei reprimindo um gemido de dor.
— Nossos pais estão preocupados, Gabriel, eles me ligam
todo santo dia atrás de você, sabe quantas delas a mamãe chorou?
Um nó se formou em minha garganta quando eu virei a
cabeça, evitando olhar para ele, envergonhado.
— Já chega, Samuel.
— Sabe quantas vezes eu tive que mentir pra eles sobre
você? Várias, eu não aguento mais essa situação.
Me virei.
— Diga a verdade a eles, eu não quero falar com ninguém.
— Que verdade? Essa? — ele apronta para a garrafa de
whisky vazia ao lado da mesa.
— Que se dane!
Pelo canto do olho vi quando ele se levantou e foi até a
cozinha, ficou lá por alguns minutos antes de voltar com uma
vassoura e alguns sacos de lixo em mãos.
— O que você está fazendo?
Ele me ignorou quando foi até as janelas e abriu todas as
persianas da sala. Fechei os olhos às pressas com a claridade.
— Não sei como você está conseguindo respirar aqui dentro
— tossiu — isso aqui fede a álcool.
Abri os olhos lentamente, já me adaptando com a luz do dia.
— Eu não sei o que você tem, mais não pode mais viver
assim, vou contratar um psicólogo ou psiquiatra se for o caso, mas
eu me recuso a permitir que meu único irmão se afunde na
depressão com álcool. Não me peça uma coisa dessas.
— Não foi o caso. — Digo às pressas — Foi só uma recaída,
hoje em dia isso é a coisa mais normal do mundo. Todo mundo já
deu pt.
— Nem todo mundo, mas eu conheço você e quero saber o
que deu em você para ignorar todo mundo assim? Você tem seu
trabalho...
— Que você faz muito bem.
— Você tem sua família que ama você.
— Eu sei disso e amo eles também.
— Tem seus amigos... ah, que se dane, Gabriel, toma um
dorflex e levanta já a bunda daí enquanto eu limpo esse esgoto em
seu apartamento.
Olhei para ele pelo canto do olho, talvez ele tenha razão até
um certo ponto.
— Me poupe, Samuel, hoje já está meio tarde para o trabalho
no escritório, mas amanhã estarei lá na primeira hora para cumprir
minha agenda.
— Sério?
Ele parecia surpreso quando olhou para mim.
— Sério, e eu não preciso de psicólogo ou psiquiatra
nenhum... eu só precisava tirar uns dias longe de qualquer problema
em minha vida, eu estava exausto e tantas coisas aconteceram ao
mesmo tempo. Estava mesmo disposto a voltar ao trabalho amanhã
mesmo, de qualquer forma, não precisava ter vindo aqui às pressas
desse jeito.
— Fico feliz que esteja finalmente voltando a si, mas não foi
por isso que eu vim, eu preciso te contar uma coisa.
Pela cara dele o assunto era sério.
— O que aconteceu? — a imagem dos meus pais veio em
minha cabeça — foi alguma coisa com nossos pais? — me levanto.
Ele vem até mim e me põe sentado de novo.
— Calma, nossos pais estão bem e não é nada com eles.
Olhei para ele confuso, o que podia ser tão sério?
— É sobre a Monique.
Só a menção do seu nome fez meu peito disparar.
— Morreu?
Ele fez uma careta horrorizado.
— NÃO!
Meu peito relaxou.
— Então eu não quero saber!
— Gabriel... — ele tenta falar mais eu lhe corto.
— Eu não quero saber, Samuel! — repito, determinado.
A dor de cabeça pareceu diminuir e eu me ajustei melhor no
sofá.
— Não importa, eu vou dizer mesmo assim. — ele arrancou
algo de dentro da carteira e atirou em mim.
Peguei o papel dobrado e lhe encarei enquanto abria, parei
por um instante enquanto minha mente divagava sobre o que estava
escrito.
Meu coração só faltou pular para fora do peito e sentir meu
sangue gelar.
Olhei para o Samuel em descrença, isso só podia ser uma
piada de mal gosto. Me levantei às pressas, arrancando o lençol do
corpo.
— Eu tive a mesma reação quando soube.
— Que inferno de brincadeira é essa? — lhe atirei o papel
com força.
— Não é brincadeira, seu amiguinho contratou a Monique
como dançarina principal da sua casa de show e a estreia dela é
hoje a noite. E pelo que eu fiquei sabendo foi um acordo entre eles
por causa do assalto no apartamento naquela noite, parece que há
uma dívida e ela vai pagar assim.
Deixei que as palavras do Samuel digerissem em minha
cabeça, enquanto eu corria sem roupa até o banheiro. Eu precisava
chegar nela antes da apresentação.
— Gabriel? Onde vai? Você precisa descansar para estar
bem, amanhã no escritório.
Uma ova que eu vou.
Não respondi, focado em me preparar o mais rápido possível,
Kleber pagaria caro pela traição, mas antes eu precisava tirar a
Monique daquele lugar.
MONIQUE

O
lho admirada para as coisas dentro do camarim pela primeira vez,
desde o contrato até hoje já havia se passado alguns dias e depois
de muitos ensaios, hoje seria o primeiro dia da minha apresentação.
Espiei uma última vez através das cortinas, apenas para ver
o palco ser montado.
Era tudo de muito bom gosto.
Passos soaram na escada e eu me aproximei às pressas
para a bancada do camarim, fingindo procurar por algo.
Minha amiga correu para dentro, se trancando no banheiro
em seguida. Corri atrás para tentar ajudar, mas foi difícil. Parei na
metade do caminho quando ouvi o barulho de vômito.
Essa era a terceira vez só hoje.
Quando ela saiu do banheiro, já estava pálida demais.
— Amiga? — chamei.
— Hum? — se sentou na cadeira da bancada ainda sem me
olhar.
— Você está bem? Quer que eu peça ao Kleber para te
liberar mais cedo hoje? Você parece doente.
Ela se levantou às pressas.
— Não se atreva a fazer isso, arranco teu xibiu fora.
Ergui as mãos pro alto, rendida.
— Okay, okay.
O alívio em seu rosto era claro.
— Obrigada.
Agradeceu, já de volta em sua poltrona de descanso.
Olhei para ela por cima do ombro enquanto eu prendia meu
cabelo e calçava novamente a bota preta de couro que usarei hoje à
noite na estreia.
Fiquei de pé num instante enquanto observava ela encher a
cara de blush para tentar disfarçar sua aparência abatida.
— Você vomitou o dia inteiro.
— A semana inteira, para ser sincera, acho que estou com
aquelas viroses. — Deu de ombro, como se não fosse nada.
Retirei às pressas o blush de suas mãos, depois de ver no
quanto tinha exagerado.
— Até você mesma admite que não está bem, não seria esse
um bom motivo para ir para casa e se cuidar?
Jogou de lado o batom e ficou de pé me encarando.
— Tá maluca? O Kleber me substituirá em dois tempos se eu
arredar os pés daqui.
Agarrei seus ombros.
— Ele não vai, ele ainda é doido por você.
Isso a fez sorrir.
— Eu sinto um carinho enorme por ele também, mas é
apenas isso.
— Apenas isso para você, por quê o que eu mais vejo é ele
olhando para você.
— Ele faz isso? — perguntou, surpresa.
— Faz, o tempo inteiro. — Digo empolgada.
Ela sorri radiante antes de retirar o casaco do corpo e ir até a
pequena caixinha de som.
— É bom que ele fique olhando mesmo e vê o banquete que
ele perdeu.
— Amiga... — coloquei a mão sobre a boca, chocada.
— É isso mesmo, agora chega de papo e vamos repassar a
coreografia. — Foi até a traseira da caixinha e ligou — É um, é dois,
é três e...
A música começou a tocar e eu me deixei levar por ela,
reproduzindo a mesma coreografia em que havia ensaiado todo
santo dia, sem parar.
Para quem não sabia se quer dançar, eu já estava arrasando.
Podia ver isso no olhar orgulhoso da minha amiga.
A música mal havia terminado quando uma gritaria soou e o
barulho de vidro sendo quebrado chamou nossa atenção.
Minha amiga correu para espiar através das cortinas que
levava ao palco enquanto eu corria para desligar a música.
— Amiga do céu, corre aqui.
— O QUÊ? — gritei desesperada enquanto tentava às
pressas retirar as botas de salto fino.
— É o Gabriel! O pau tá torando aqui.
Nem precisou dizer duas vezes, pulando com um pé só, eu
consegui chegar até ela às pressas, mas acabamos caindo juntas
no chão do palco.
Mauro foi até nós duas correndo, nos ajudando a ficar de pé.
Quando consegui me levantar, arranquei a outra bota, joguei longe e
caminhei até a beirada do palco, olhando confusa para o Gabriel.
Quando ele percebeu minha presença, sua raiva pareceu ter
aumentado ainda mais.
Quando o olhar dele desceu até o meu corpo, eu estremeci.
Segui seu olhar até minhas roupas, procurando o motivo de sua
raiva.
Mas eu sabia a quem toda aquela raiva se referia.
Um nó se formou em minha garganta, junto com a vontade de
sair correndo daqui. Ele avançou no mesmo instante na direção do
Kleber.
Tudo aconteceu tão rápido.
Arfei assustada quando o Samuel foi jogado longe, em
direção as mesas.
O soco que o Gabriel havia dado no Kleber me surpreendeu.
Desci do palco correndo, indo até eles, mas não consegui.
Samuel me pegou por trás e me carregou para fora do lugar
sob meus protestos.
— Me solta, Samuel! Eles vão se matar se ninguém impedir.
Ele parou no meio do salão comigo ainda em seus braços.
— Você só quer que eles parem de brigar?
— Me solta!
— Responde.
— Sim, eu quero! Eles vão se machucar...
Viro o rosto, evitando olhar a briga que acontecia bem em
minha frente, sem ninguém separar.
— Okay — um assobio alto soou e a briga parou.
Olhei confusa para frente, vendo agora dois seguranças
segurando o Kleber pelos braços, enquanto um Gabriel com o rosto
machucado corria em nossa direção.
O Samuel me arremessou, um grito alto saiu de minha
garganta, mas braços fortes me pegaram antes que eu caísse no
chão.
Filho da puta.
Abrir os olhos notando, agora, quem havia me pegado.
Governador...
Olhei surpresa para o seu rosto machucado conforme ele
corria comigo em seus braços, eu quis protestar e exigir que me
colocasse no chão. Mas estava confusa demais nesse momento
para exigir, quando na verdade eu só precisava perguntar o que ele
estava fazendo ali.
O Samuel correu para abrir a porta de um carro e o Gabriel
entrou ainda comigo embalada em seus braços, ele me ajustou em
seu colo quando o Samuel deu partida com o veículo.
O olhar do Gabriel encontrou o meu, confuso, e ele sorriu.
— Sentiu minha falta? — seu sorriso aumentou ainda mais,
deixando-o ainda mais lindo do que já era, apesar dos machucados.
— Não. — Menti.
Seu sorriso morreu no mesmo instante, e posso jurar ter
ouvido sua mandíbula estalar.
— Mentirosa. — Agora ele olhou para frente com raiva —
Mais rápido, Samuel.
Senti quando o Samuel acelerou o carro conosco dentro,
olhei ao redor antes de tentar me livrar dos braços dele em volta de
mim.
— O que você pensa que está fazendo? — lhe empurro —
Me solta!
Ele se quer me olhou.
— Samuel! — me virei na direção do volante para encara-lo.
Ele me olhou através do retrovisor.
— Eu sinto muito.
— Pelo quê você sente muito? SAMUEL. — gritei,
desesperada.
O beijo em que o Gabriel depositou em minha cabeça me fez
levantar o rosto para encará-lo.
— Não adianta, ele não vai te ajudar dessa vez.
— O que quer dizer com isso?
Ele suspirou antes de enterrar o nariz em meu cabelo.
— Responde, o que quer dizer com isso?
Tentei novamente sair dos braços do Gabriel, mas quanto
mais eu fazia isso, mais ele me segurava firme contra o seu corpo.
— Quer dizer que, ao contrário da primeira vez em que tentei
te sequestrar, dessa vez eu pretendo fazer as coisas do jeito certo.
— Isso parece certo para você? — tentei me afastar de novo.
Ele não teve tempo de responder quando o carro fez uma
curva arriscada e estacionou. Vi quando Samuel correu em direção
a porta do nosso lado e ajudou o irmão a sair, comigo ainda nos
braços.
— Me solta, cacete.
Samuel se apressou em agarrar minhas pernas e os dois
subiram juntos para o apartamento do Gabriel.
Eu sabia disso por que havia reconhecido o lugar assim que
entramos no corredor.
Samuel soltou minhas pernas e saiu do apartamento feito
bala, nos trancando ali dentro.
— Volto em dois dias, sobrevivam até lá. — Murmurou antes
de sair.
Quando ficamos sozinhos, ele caminhou comigo até o sofá e
me soltou.
Lhe empurrei no mesmo instante e corri em direção a porta,
tentando forçar a maçaneta de todas as formas possíveis.
A risada do Gabriel soou pela sala.
Me virei com raiva, indo até ele e distribuindo fortes tapas por
ele inteiro.
Quero ver se ele acha isso engraçado.
— Monique... — tentou me agarrar novamente, mas eu fui
mais rápida, colocando uma distância segura entre mim e ele.
— Não toque em mim.
— A gente precisa conversar.
Não precisamos não.
— Não quero ouvir nada que venha de você.
— Monique... — tentou se aproximar.
Afastei ainda mais.
— Me deixe em paz, Governador.
Esperei que ele falasse algo mais e como nenhuma resposta
veio, eu decidir por vez lhe encarar.
O olhar deprimido em seu rosto me fez engolir em seco antes
de dar uma olhada para algo perto do seu pé.
— Tem uma garrafa ali. — Apontei com o dedo e ele seguiu
sem hesitar.
— Desculpe por isso.
Sem jeito ele agarrou a garrafa às pressas e depositou no
balcão do bar. Mas uma olhada ao redor me deixou alarmada.
Não havia apenas uma garrafa na sala, eram várias. Latinhas
de cerveja estavam, também, espalhadas por todo o apartamento.
Um pensamento horrível me atingiu quando olhei para ele, notando
só agora as olheiras marcadas em seu rosto e sua barba já bem
crescida.
O cheiro do apartamento também não estava nada bom.
O cenário do apartamento comparando com o meu primeiro
dia aqui e hoje, eram completamente diferentes.
GOVERNADOR

Q
uando eu entrei naquele salão, a primeira coisa em que dei de cara
foi com uma imagem da Monique colocada em destaque em uma
das paredes próxima ao palco.
Vi vermelho em minha frente e comecei a rasgar o retrato em
seguida.
A pior traição vem de quem menos se espera.
Depois de rasgar por inteiro a imagem, me virei para dar de
cara com o homem no qual um dia chamei de amigo.
— Gabriel? O que faz aqui uma hora dessa?
Não respondi, apenas avancei, ignorando o olhar preocupado
da Monique em mim.
Samuel tentou se colocar em minha frente, mas não
conseguiu a tempo.
Empurrei seu corpo com tanta raiva que acabei jogando o
corpo dele entre as mesas.
O soco em que dei no Kleber fez minha mão doer, tamanha
raiva e humilhação.
Ele avançou logo em seguida, pegando em cheio meu rosto.
Revidei sem hesitar.
A briga havia começado e fiquei grato por não ter tido alguém
para separar a gente. Contas precisavam ser acertadas. Sangue
espirrou de sua boca quando lhe dei uma cotovelada com muita
força, fazendo-o cambalear.
Um assobio familiar soou e dois homens vieram até nós dois,
mas agarraram apenas os braços dele, afastando-o de mim.
Olhei às pressas para o meu irmão, apenas para ver ela
pendurada em seus braços, como se fosse uma boneca de pano e
corri até ele.
Parei no estante em que ele a arremessou para mim, quis
berrar por dentro! Quando essa anta iria crescer? Ele poderia ter
seriamente machucado ela se eu não tivesse sido rápido o
suficiente.
— Vou te matar, Samuel! — gritei.
Olhei de relance para a Monique, que parecia em choque em
meus braços e aproveitei o momento para cair fora daqui antes que
ela reagisse e chamasse atenção das pessoas na rua.
Samuel deu partida no carro quando ela já estava mais
consciente da situação e do que havia acontecido.
Fiz o máximo que pude para não perder o controle da
situação até que ficássemos a sós e eu pudesse conversar com ela
seriamente sobre sua situação.
Estava mesmo disposto a convencer ela a não aceitar uma
coisa assim, eu conhecia muito pouco da Monique, mas eu sabia o
quão boa era sua índole e ter dito aquelas coisas horríveis no meu
escritório acabou me deixando mal.
Fiquei com tanta raiva por ela querer tanto defender a amiga
que acabei jogando a situação do seu irmão em sua cara, além de
ainda ter insinuado coisas ruins sobre ela, associando-a ao irmão.
Eu certamente não tenho mais a oportunidade de poder voltar
no tempo e engolir todas aquelas palavras malditas, mas eu, com
certeza, podia ajudar ela a não entrar nessa vida assim.
Entrar na prostituição não era apenas vender o seu corpo,
mas também sua alma.
Ela não passaria por isso por questões financeiras.
Não mesmo.
Meu olhar travou no seu depois que eu depositei a garrafa de
whisky no balcão do pequeno bar montado na sala.
Ela fazia uma espécie de careta enquanto olhava para cada
canto do apartamento, horrorizada.
Provavelmente vendo a mesma coisa que meu irmão havia
visto quando entrou hoje cedo para me ajudar.
O apartamento acabou não sendo limpo e o forte cheiro de
cigarro e álcool ainda estava presente em todo lugar.
O olhar dela voltou para o meu rosto e eu jurava ter visto
pena ali por uma fração de segundos. Sacudi a cabeça, não
aceitando isso.
Pena é a última coisa que eu quero que uma mulher sinta por
mim.
— Tudo bem, eu respeito seu tempo. — Me virei indo em
direção ao corredor — Fique à vontade, a casa é sua.
Dito isso, abri a porta do meu quarto às pressas e fechei na
mesma voracidade. Sem hesitar, comecei a retirar todas as peças
de roupa e me atirei de vez no chuveiro, a fim de esquecer ao
menos por hoje tudo de ruim.
O ferimento em meu rosto ardeu e eu grunhi de dor enquanto
me lavava.
O banho terminou e eu me joguei — ainda de toalha — sobre
os lençóis da cama. Fechei os olhos por alguns instantes, me
rendendo completamente ao sono, quando o cansaço bateu,
seguido por um leve enjoou.
Provavelmente ainda era efeito do álcool, ontem à noite eu
realmente havia bebido muito, extrapolado, passado do ponto.

Não sei por quanto tempo havia dormido, mais uma rápida
olhada na escuridão do quarto mostrou o quão tarde era.
Acendi as luzes às pressas e entrei no closet praticamente
correndo.
Santa merda, não era para eu ter dormido tanto desse jeito,
ainda mais com a Monique presa aqui comigo.
Aí meu Deus
A Monique.
Só tive tempo de vestir uma cueca antes de sair disparado
por todo apartamento em busca dela.
Parei no meio da sala quando a vi agachada passando um
pano úmido na mesinha de centro. Ela fez uma careta quando olhou
para mim e voltou para a mesinha.
Olhei ao redor, notando só agora a faxina em que ela havia
feito no apartamento.
— Você não tem que fazer isso.
Ela deu de ombros.
— Precisava me ocupar com algo ou iria esfaquear você,
com toda certeza.
Engoli em seco.
— Você não faria isso.
Sua mão parou de esfregar, ela jogou o pano de lado e se
levantou para me encarar.
— Tem certeza? — perguntou enquanto caminhava até mim
e retirava algo de dentro do bolso do avental.
— Monique...
Ela se aproximou tanto que eu tive que abaixar a cabeça para
lhe olhar nos olhos, hesitante com o que tinha em mãos.
Ela pressionou algo duro contra minha costela e aproximou
demais seu busto do meu, para evitar que eu pudesse ver o que
era.
— Não tem mais essa de Monique boazinha não, você vai
pegar algum telefone e ligar imediatamente para o infeliz do seu
irmão, exigindo que ele traga imediatamente as chaves da porta,
antes que eu comece a partir ela em pedaços, como eu tentei hoje a
tarde inteira enquanto você, Governador, dormia.
Ela pressionou ainda mais forte contra minha costela.
— Eu não posso fazer isso. — Tentei me afastar, mas ela me
impediu, dando um aperto de mão cheia em meus países baixos.
Engasguei com o ataque e tentei me curvar.
— Você vai, ou vai perder as bolas.
Neguei, impossibilitado de falar.
— Não posso.
Seu aperto ficou mais forte e eu gritei.
— Me fale por que não pode. — Exigiu.
— Eu... preciso...
Aproveitei o momento e a agarrei com tudo, levando seu
corpo e a colocando presa entre mim e o sofá.
Sua mão ainda estava presa em minhas bolas, mas a outra
havia deixado algo cair. Olhei para o chão, vendo só agora o tubo de
desinfetante caído no meio da sala antes de lhe encarar, sorrindo.
— Então era isso? — inclino meu rosto sobre o seu, lhe
olhando nos olhos. — Pode me explicar como iria me esfaquear
usando um tubo de desinfetante?
Ela arfou, mas não havia diminuído seu aperto.
— Eu tenho que ir embora, Gabriel. — falou seriamente. —
Tenho um compromisso importante hoje.
— Você não sai daqui, querida, não sem antes conversar
comigo.
— Não me chame assim, seu idiota arrogante.
Ela bufou.
— Você quer conversar?
— Quero. — Respondi convicto.
— Depois da conversa você vai me deixar sair?
Não respondi.
Meu silêncio a deixou ainda mais furiosa.
— RESPONDE, GOVERNADOR! Me dê a sua palavra de
homem que vai me deixar sair depois da conversa.
Respirei fundo.
Ao menos agora ela queria conversar, era algum avanço.
— Tudo bem. — Concordei.
Ela pareceu surpresa por alguns instantes.
— Vai me deixar sair? Jura?
— Vou, mas só depois da nossa conversa. — Esfreguei o
nariz contra sua bochecha, sentindo o cheiro forte do desinfetante
nela.
Tossi, sem jeito, antes de me afastar.
— Engasgou? — me afastei às pressas, me sentando no
sofá.
— Um pouco. — Consegui dizer em meio a uma crise de
tosse.
Ela saiu às pressas do sofá e correu na direção da cozinha,
voltando de lá com um copo cheio d’água em mãos e me estendeu.
Aceitei no mesmo instante e minha garganta começou a se
acalmar...
Aos poucos a tosse foi diminuindo até parar completamente,
Monique retirou o copo das minhas mãos e devolveu a cozinha.
Quando voltou, já estava sem o avental e parou bem na minha
frente.
— Está melhor? Vejo que engasgou no próprio veneno.
Sorri da sua faceta.
— Seu cheiro ... — me assustei com a rouquidão em minha
voz. — Desculpe.
— O que tem meu cheiro? — olhei para cima e segurei uma
risada ao vê-la levantar os braços e se cheirar.
— Você não fede.
— Mas você disse que eu não cheirava bem.
— Você não fede, apenas cheira a produto de limpeza, é
isso.
Ela pressionou o nariz contra o tecido de sua blusa e fez uma
careta.
— Tá vendo só? Isso é tudo culpa sua por eu estar fedendo
assim. Nem roupas eu tenho.
Me levantei.
— Pode usar algumas das minhas enquanto conversamos.
Ela me olhou com interesse e eu me xinguei por dentro, por
ter esquecido das suas necessidades.
Será que ela estava naqueles dias? Precisava de
absorvente?
— Não sei, pretendo sair daqui o mais rápido possível e de
preferência usando as minhas próprias roupas.
— Bom, você que sabe.
Sentei novamente no sofá, ainda lhe encarando.
Ela caminhou para se sentar ao meu lado e automaticamente
o cheiro de desinfetante chegou em meu nariz. Tapei ele às pressas
para não ter novamente outra crise de tosse.
MONIQUE

A
proveitei que o Gabriel foi até seu quarto e comecei a vasculhar por
todo apartamento em busca de alguma coisa na qual eu pudesse
utilizar para quebrar aquela maçaneta desgraçada e dar o fora daqui
o mais rápido possível.
Mas foi um trabalho podre.
Não havia nada ali que eu pudesse usar, gemi frustrada.
Ele provavelmente deve estar em seu quarto esperando para
que eu vá até ele e acabe cedendo.
Mas esse gostinho de mim ele não teria.
Minutos haviam se passado e o silêncio do Gabriel agora
havia me preocupado. Caminhei na ponta dos pés até seu quarto e
abri lentamente a porta.
Fiquei aliviada por dentro quando vi que ele apenas
descansava.
Voltei imediatamente para a sala, olhando tudo ao redor.
Havia muita sujeira no local e o cheiro de algo estragado ainda
estava me incomodando.
Comecei a limpar todo o apartamento enquanto eu montava
meu próprio plano de como conseguir fazer com que ele desista de
mim a ponto de me deixar sair daqui.

Olhei irritada para o Gabriel, sentado ao meu lado, tampando


o nariz para mim.
Grunhi irritada, já me levantando.
— Basta me deixar ir embora e o cheiro some.
Ele parou de tapar o nariz e ficou de pé, mas logo se inclinou,
quase caindo de bunda no chão.
Corri às pressas para poder ajudar ele a se sentar de volta no
sofá enquanto eu agachava em sua frente.
— Ei, tá tudo bem, eu tô aqui. Fale comigo.
Ele assentiu e sentou mais confortável.
— Você está bem?
Ele assentiu de novo.
— Foi só uma tontura, vai passar.
Imagem das garrafas de bebidas espalhadas pela casa
encheu minha mente.
— Você comeu alguma coisa hoje? Provavelmente deve ser
uma ressaca pós festa.
Ele riu.
— Não comi e não estivesse em festa alguma desde aquela
noite no casamento.
Olhei para ele em descrença, homem mentiroso.
— Então está me dizendo que você não esteve em nenhuma
festa?
Ele assentiu, ainda de olho fechado.
— Então poderia me dizer o que são todas as garrafas de
bebidas nas quais eu encontrei em todo canto desse lugar?
— São minhas.
— E ainda nega que havia uma festa? — me afastei — Achei
que fosse apenas um cretino, mas você é bem mais que isso.
— Eu falei a verdade, Monique, não havia festa alguma. As
garrafas são minhas, todas minhas.
Seus olhos lentamente foram se abrindo, encontrando os
meus.
— Você bebeu tudo isso sozinho? — arfei surpresa.
— Sim. — Admitiu — Só não encontrou mais, por quê o
Samuel apareceu hoje cedo e limpou a maioria. Eu digo a verdade,
Monique, são todas minhas.
— Você é alcoólatra?
— Não.
— Tem certeza?
— Eu só queria esquecer um pouco os problemas.
— Imagino, mas, ainda assim, não deveria beber tanto.
— Não bebo, foi apenas uma exceção.
— Você está com fome? Limpei seu apartamento e não
encontrei nada em sua geladeira.
Ele apontou para uma porta ao lado da cozinha.
— A dispensa está cheia. — Tossiu novamente, me fazendo
lembrar do cheiro de produto de limpeza que estava em meu corpo.
Me afastei às pressas
— Se importa se eu usar seu chuveiro? Talvez uma
chuveirada rápida ajude a termos finalmente nossa conversa, ao
invés de mais uma crise de tosse.
Ele ficou sério.
— Lógico que eu não me importaria, fique à vontade e use
tudo o que quiser.
— Não exagere, eu só preciso de toalhas e algumas roupas
emprestadas, se você não se importa, prometo lavar e devolver o
quanto antes.
Ele apontou para o corredor antes de se deitar no sofá e
fechar novamente os olhos.
— No meu quarto tem tudo, pegue o que precisar...
— Tá bom. — Me aproximei para checar ele — Prometo não
demorar, okay?
— Sem problemas. — Um sorriso bonito surgiu em seus
lábios e eu aproveitei para me afastar e fazer o que pediu.
Entrei hesitante em seu quarto, ainda sem saber onde que
estavam as roupas. Mas eu não tinha muito tempo, ele parecia estar
bem fraco e abatido pela falta de comida em seu organismo.
Decidi ser rápida, eu podia procurar pelas roupas depois.
Joguei dentro do cesto minhas roupas e fechei a porta do
banheiro às pressas. A água quente do chuveiro tocou em minha
pele, quase me fazendo gemer pela delícia de temperatura em que
estava.
Agarrei o sabonete líquido, espalhando por todo meu corpo e
então me enxaguei, o shampoo e o condicionador foram os
próximos a serem pegos.
A porta do banheiro foi brutalmente aberta e um Gabriel
completamente nu entrou com tudo.
Olhei para ele, assustada.
— O que pensa que está fazendo?
Engasguei quando ele entrou e me agarrou firme, me
prendendo contra a parede com a água do chuveiro, molhando
agora suas costas.
— Eu disse que eu queria conversar e você disse sim.
— Eu sei, mas não aqui, não assim...
Ele pressionou seu corpo ainda mais contra o meu.
— Por que não aqui? Não assim?
Segurei um gemido quando ele pressionou seu pau duro
contra meu estômago antes de afastar.
Ele entrou de vez no chuveiro bem na minha frente e
começou a passar sabão no corpo inteiro, fazendo questão de me
mostrar o quão gostoso ele era.
Ele passou a língua pelos lábios, me provocando, me
fazendo lembrar do quão faminto ele era. Minha boceta começou a
pulsar.
Fechei as pernas, já incomodada, quando ele desceu a mão
até seu pau, começou a lavá-lo bem na minha frente.
O pulsar ficou mais forte, levantei o olhar de volta para o
Gabriel apenas para vê-lo salivar enquanto soltava o pau e
encarava seriamente meus peitos por alguns instantes, antes de
rapidamente abrir o box e sair do banheiro, completamente molhado
e sem toalha.
Não esperei por mais surpresas e entrei no chuveiro
novamente, finalmente terminando meu banho.
Depois de um banho completamente estranho e ao mesmo
tempo revigorado, enrolei em meu corpo uma toalha e sai às
pressas do banheiro, pronta para preparar algo para o Gabriel
comer antes que pudéssemos ter finalmente a nossa conversa.
Parei no meio do quarto, surpresa, quando vi que um
conjunto de roupas estavam esperando por mim.
Por essa eu não esperava.
Não hesitei em vestir e agradeci por elas caberem
perfeitamente no meu corpo.
Quando voltei a sala o encontrei sentado sobre o sofá apenas
com alguns biscoitos em mãos, devorando cada um deles, faminto.
— Isso não é comida de verdade. — Resmunguei antes de
entrar na cozinha para começar a preparar nosso jantar.
Fui às pressas até a tal da dispensa e comecei a preparar o
nosso jantar.

GOVERNADOR
O
lhei admirado para a Monique enquanto ela preparava o nosso
jantar, larguei os biscoitos de lado e fui ajudar. No início eu me senti
completamente perdido naquela cozinha, nunca que eu havia
preparado uma refeição sequer nela. Nem nela, nem em outra
qualquer. Apanhei o avental e comecei a cortar todos os temperos
em que ela havia mandado, sem hesitar.
Não pensem vocês que eu fiquei apenas nisso, não, o
contrário. Comecei a rir quando ela começou a gritar de medo
enquanto tentava virar nossos bifes. Peguei um novo garfo e me
ofereci para frita-los.
Quando terminamos de preparar tudo, começamos a comer
sentados na mesa de jantar. Por um instante eu liguei o foda-se e
comecei a devorar meu prato rapidamente.
Lambi os beiços quando acabou, levei meu olhar para ela e a
encontrei sorrindo para mim enquanto comia seu macarrão com
bife.
— Que foi?
— Nada. — Ela ainda sorria quando quebrou contato visual
comigo, apenas focada em seu prato agora.
Dei de ombros e me apressei em limpar toda a bagunça em
que havíamos feito na cozinha enquanto ela terminava seu jantar
em paz.
Olhei por cima do ombro quando ouvi ela arrastar sua cadeira
e se levantar com o prato vazio em suas mãos.
— Deixe comigo. — Estendi a mão para pegá-lo.
Ela hesitou, mas acabou me entregando.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer, sente e descanse um pouco,
assim que eu acabar aqui vou até você para a gente conversar um
pouco e esclarecer umas coisas, tá bom?
Ela assentiu.
— Não demore, por favor.
Quando ela saiu da cozinha e se aconchegou no sofá, eu me
virei nos trinta para que conseguisse limpar tudo direito o mais
depressa possível.
Depois de limpar tudo, silenciosamente eu fui até o banheiro
do meu quarto, retirando de lá nossas roupas e as colocando na
máquina de lavar.
Essa para mim foi a pior parte.
Que diabos era alvejante?
Quando finalmente a máquina ligou e começou a lavar, eu me
apressei, indo até onde ela estava sentada. Mas parei, surpreso, ao
encontrá-la dormindo.
Imediatamente lembrei da sujeirada em minha cama e corri
para o quarto, arrumando-o às pressas, trocando todos os lençóis
da cama. Apenas depois de uma última olhada no trabalho incrível
que eu havia feito no meu quarto, eu sai para busca-la.
Peguei seu pequeno corpo nos braços e a depositei com
cuidado entre os lençóis da minha cama.
Mas, para minha surpresa, ela acabou acordando de repente.
Seu sorriso mudou tudo.
— O que você está fazendo, Governador?
Passei a mão levemente pelos seus cabelos, e então a
encarei.
— Nada. — Respondi conforme passava as costas da mão
pela pele macia de seu rosto.
— Gabriel... — chamou.
— Sim? — olhei para sua boca.
— E a nossa conversa? Você prometeu.
Prometi, infelizmente.
— A gente vai conversar, mas antes eu queria te dizer umas
coisas...
— Gabriel...
— Não, Monique, eu só preciso que você me ouça, apenas
isso.
Ela se afastou dos meus braços e se sentou de frente a mim,
eu fiz o mesmo.
— Se é tão importante assim, pode falar.
Limpei a garganta antes de começar a falar.
— Antes de mais nada, eu quero que você saiba que eu
gosto de você. — Os olhos dela se arregalaram, mas não falou. —
Sim, eu sei que pode parecer estranho falar assim, mas é a
verdade.
— Gabriel?
— Não, Monique, só me deixe terminar.
Ela apenas se aproximou.
— Primeiro eu quero te pedir desculpas, desculpa por ter dito
coisas horríveis sobre o seu caráter na frente da minha família e por
tratá-la daquele jeito. Desculpa por ter me afastado depois da nossa
primeira vez juntos, eu fiquei tão confuso e assustado com a
intensidade que foi, que surtei. Mas graças a Deus, minha ficha caiu
rapidamente e eu peguei você de volta naquela noite mesmo ou eu
teria me arrependido pelo resto da vida se eu não tivesse feito
aquilo. Desculpa por ter te deixado na cama sozinha quando
acordou e me desculpa mesmo por ter te tratado com indiferença no
casamento.
Um nó duro se formou em minha garganta, ainda sim
continuei.
— Me desculpa por ter falo coisas horríveis sobre sua amiga,
eu estava cego de preocupação com meu irmão e acabei
descontando em quem não deveria. Agora, por favor, me perdoa por
não ter ido atrás de você naquele escritório e dito a você o quanto
eu quero você em minha vida. Pode me bater, me xingar, até cuspir
em mim que eu não me importaria. — Minhas mãos imediatamente
agarraram as suas em desespero — Mas por favor, me perdoa, meu
amor.
Esperei que se afastasse ou que me batesse, mas ela não
fez. O contrário, ela apenas soltou nossas mãos e deslizou da
cama, se sentando em meu colo e então passando os braços por
trás do meu pescoço, aproximando nossos rostos.
Encarei sua boca e então seus olhos.
— Repete. — Exigiu.
— Me desculpa por...
— Não isso, — mordiscou meu queixo e voltou a me encarar
— a outra coisa.
Sorri aliviado.
— Você quer cuspir em mim? — brinquei.
— Gabriel! — bufou irritada.
— Desculpa, eu não resisti... — passo meus braços em volta
da sua cintura, aproximando ainda mais ela de mim — Eu gosto de
você, meu amor, eu preciso... preciso não, necessito de você! Eu
quero você, Monique, quero você inteirinha para mim. Hoje... —
fiquei de joelhos com ela nos braços — Amanhã... — deitei seu
corpo de volta ao colchão e fiquei sobre ela — E sempre. — Digo,
por fim, indo até sua boca e a beijando com verdadeira paixão.
Dessa vez não foi como as outras vezes em que ficamos, não
havia tesão no beijo, era algo mais terno, carinhoso.
Pela primeira vez na vida eu queria dar todo meu amor a
alguém e me permitir tentar ser feliz ao lado da mulher maravilhosa
na qual eu queria mais que uma vida.
Um pensamento louco passou pela minha cabeça enquanto
eu aprofundava o beijo. Desci a mão levemente até sua barriga e
acariciei, me lembrando de que não havíamos usado camisinha
durante o sexo. E ao menos que ela estivesse tomando algo para
prevenir, ainda existiria uma boa chance do meu sonho se tornar
realidade.
Ela interrompeu nosso beijo e olhou confusa para mim.
— O que foi? — perguntei preocupado já.
— Melhor irmos com calma, ainda precisamos conversar.
Me afastei do seu corpo para lhe dar espaço suficiente.
— Sem problemas.
Agarro a bainha da minha camiseta e a puxo para cima,
ficando apenas de short ao me deitar na cama ao seu lado.
— Mas antes... — agarro seu braço e a puxo para mim — Eu
percebi o quão cansada você está, podemos dormir um pouco e ter
essa conversa amanhã?
— Você não quer saber se eu te perdoei?
Eu estava tentado.
— Quero, mas não hoje. Amanhã parece perfeito para termos
esse tipo de conversa.
Ela bocejou.
— Tudo bem para mim, mas não pense você que eu vou
esquecer disso.
Ela se ajustou melhor em meus braços.
— Boa noite, querida. — Agarro o controle da luz do quarto e
desligo.
O beliscão em que recebo me fez gritar.
— Me chame assim novamente e vai acordar sem pau.
Estremeci.
— Por que isso te incomoda? É carinhoso, caramba… —
massageio o local.
— Soa falso.
— Não é falso ...
— Boa noite, Gabriel, já está avisado.
— Boa noite. — Digo, por fim, ainda massageando o local do
beliscão.
Que mulher difícil, senhor.

Era cedo quando o relógio em meu pulso apitou, abaixei o


olhar até o meu peito para ver o rosto da Monique pressionado nele.
Parei por alguns minutos admirando a mulher mais teimosa e
cabeça dura do mundo, na qual eu estava completamente
apaixonado.
Sim, apaixonado.
Eu poderia facilmente me acostumar com ela dormindo
contra mim todo santo dia.
Por sorte ela acabou virando o corpo para o outro lado da
cama e isso facilitou meu caminho.
Saí às pressas do quarto e fui direto até a cozinha, em uma
tentativa desesperada de preparar um belo café da manhã para ela.
Mas antes me lembrei de ir até a lavanderia e estender nossas
roupas já centrifugadas e as estender no varal.
Era 9:15 da manhã e eu precisava correr antes que ela
acordasse.
MONIQUE

S
enti um leve puxão em meu corpo antes de algo pressionar forte
minhas pernas, mas foi quando algo quente e molhado me lambeu
que eu me forcei a acordar.
Levantei a cabeça às pressas, ainda sonolenta, tentando
entender o que estava acontecendo, olhei pra baixo para me
deparar com o Gabriel me chupando por inteira, lá.
Prazer começou a percorrer todo meu corpo quando ele
começou a ficar mais agressivo nas sucções. Joguei a cabeça de
volta no travesseiro e relaxei, me permitindo sentir e aproveitar tudo
o que ele estava me proporcionando nesse exato momento.
Sem que eu esperasse por mais, seu dedo grosso entrou em
mim, me arrancando gemidos ainda mais altos conforme seu dedo
trabalhava fundo dentro.
Fechei os olhos, não aguentando o turbilhão de sensações e
gozei.
A sensação que estava sentindo agora era que se o mundo
acabasse agora, eu morreria feliz. A boca do Gabriel me soltou e eu
senti leves espasmos em meu corpo, seu dedo deixou meu corpo
em seguida. Mas ele não avançou em mim, apenas ficou lá, parado,
sentado entre as minhas pernas, admirando com interesse minha
boceta.
— Bom dia. — Cumprimentei, chamando sua atenção.
Ele levantou o olhar até o meu e depois abaixou novamente.
Tentei — sem jeito — fechar as pernas, mas ele impediu.
— Tímida? — seu olhar sem vergonha estava de volta.
— Não estou acostumada a ter alguém me olhando por tanto
tempo. Pare, por favor.
— Não deveria ter vergonha, você é linda — seu rosto
abaixou novamente até minha boceta e lambeu — E deliciosa
também.
Mordi os lábios, tentada.
Ele se sentou rapidamente na cama e caminhou até o lado
direito dela, lhe olhei confusa quando ele abriu a gaveta da mesinha
de cabeceira e tirou de lá um conjunto de algemas.
— Gabriel, de onde tirou isso? — me sentei rapidamente a
tempo de olhar dentro da gaveta ainda aberta, curiosa.
— É apenas algo no qual eu adoro ter comigo.
Olhei ainda mais fundo, descobrindo, então, no fundo da
gaveta, um bolo de chaves escondidas.
Meu coração disparou.
Olhei para ele rapidamente, parecia não ter visto o mesmo
que eu. Um turbilhão de coisas começou a passar pela minha
cabeça, entre elas... A minha chance de sair daqui.
— Hum, Gabriel? — o chamei.
Quando ele me olhou, alcancei a bainha da camiseta e atirei
ela para fora do meu corpo, ficando completamente nua em sua
frente.
Os olhos do Gabriel deixaram os meus apenas para me olhar
de cima a baixo, seu olhar acabou preso em meus peitos antes dele
avançar em mim, me derrubando na cama para me devorar por
inteira.
Aproveitei a distração e agarrei as algemas, escondendo-as
por baixo do meu travesseiro, longe dos olhos dele.
Quando Gabriel finalmente soltou meus peitos com a boca,
eu abracei as pernas ao redor da sua cintura, impedindo-o de sair.
Sua boca foi até a minha quando eu senti a ponta grossa do seu
pau pressionar contra minha entrada.
Ele teria me machucado se eu não estivesse preparada, por
sorte estava. Gemi alto quando ele entrou de vez em mim,
obrigando minha boceta a receber grande parte dele, sem hesitar.
Sua mão foi até uma das minhas pernas e a pressionou mais
alto, contra o meu peito quando ele subiu mais um pouco, me
fodendo mais forte e rápido.
Joguei a cabeça para trás quando ele cuspiu em minha
boceta e meteu com mais força. Parecia que eu estava prestes a ser
partida no meio com ele estocando assim em mim.
Gritei quando eu gozei forte com ele inteiro dentro de mim.
Uma leve pontada de dor veio em seguida quando ele começou a
gozar. Jatos quentes me inundaram inteiramente quando ele parou.
Ele gemeu alto, chamando minha atenção.
Ele estava tão lindo daquele jeito, suado e cheio de tesão.
Comecei a rebolar os quadris com ele ainda dentro, provocando-o.
Levou apenas alguns segundos antes dele começar a me
foder novamente.

Abri os olhos, alarmada, lamentando ter dormido.


Olhei ao redor, notando que eu ainda estava deitada por cima
do corpo do Gabriel, memórias do que havia acontecido começou a
aparecer em minha cabeça. Depois de três rodadas de muito sexo
quente, eu acabei desabando sobre o corpo dele e dormido. Por
sorte, ele fez o mesmo.
Agarrei as algemas debaixo do travesseiro e prendi seu pulso
à cama.
Sai lentamente de cima dele para não o acordar, e abrir a
gaveta às pressas, retirando de lá as chaves.
Minha camiseta ainda estava no chão e os shorts também,
vesti eles correndo e sai do quarto sem dizer adeus.
Uma rápida corrida até a sala fez eu me sentir o pior ser
humano do mundo, quando me deparei com uma linda mesa posta,
com um belo café da manhã nos esperando.
Minhas roupas, também estendidas no varal, me fizeram
repensar sobre o que eu estava fazendo.
Eu nunca o vi desse jeito.
Será que eu devia...?
Pensando melhor...
Não, eu não devia.
Era a minha vida em jogo, talvez se ele tivesse agido dessa
forma comigo a dias atrás, as coisas seriam completamente
diferentes das que são hoje.
Eu tinha lá fora pessoas que precisavam de mim, havia um
contrato para cumprir, havia meu irmão e havia minha amiga, que
me escondia algo sério, mas que também dependia de mim para
viver agora, já que o único emprego que tinha era como minha
coreógrafa.
Sacudir a cabeça afastando esses pensamentos e me
concentrei na porta, segurando o molho de chaves enquanto abria.

O segurança olhou para mim de cima a baixo antes de


permitir que eu entrasse dentro do bar. A essa hora da manhã eu
sabia que o Kleber não estaria aqui, apenas o pessoal da limpeza e
decidi que era mais seguro para mim aqui do que em qualquer outro
lugar onde ele poderia muito bem me encontrar.
Fui até o camarim às pressas e me escondi lá por um bom
tempo, até que consegui ouvir a voz do Kleber horas depois.
Procurei por sandálias baixas enquanto me preparava para lidar
com ele, sobre ontem. Provavelmente estava furioso.
Mas que culpa eu tinha? A sequestrada aqui foi eu.
Respirei fundo e saí do camarim às pressas, indo até ele,
meu irmão e minha amiga foram os primeiros a me ver e correm até
mim.
Abracei os dois no mesmo instante.
— Onde você estava? O que aconteceu? — agarrei firme
minha amiga.
— Ele te machucou? — era perceptível o quanto meu irmão
estava furioso.
Soltei minha amiga para enfim encarar eles.
— Não, ele não me machucou.
— Está todo mundo aqui preocupado com você. — Olhei
para minha amiga novamente.
— Eu estou bem. — Afirmei, olhando para os dois.
Até que uma voz firme soou atrás de mim, me virei às
pressas para dar de cara com o Kleber e sua boca partida.
Estremeci imaginando o quanto aquilo deve ter doído.
— Monique, o que aconteceu?
— Você viu. — Constatei o óbvio — Seu amigo parece ter
perdido o juízo de vez e me sequestrou, felizmente eu consegui fugir
hoje pela manhã e me escondi aqui mesmo.
— Por que não me ligou? Eu tenho homens por todo canto
procurando por você, para onde Gabriel te levou?
Suspirei.
— Para o apartamento dele.
— Como conseguiu fugir?
— Esperei ele dormir para arrancar as chaves dele e corri até
aqui. Não queria correr o risco dele me procurar em casa — minto
em partes.
Eles não precisavam saber de fato o que tinha acontecido e
nem que o Gabriel a essa hora estava furioso por eu ter deixado ele
algemado em sua cama.
Escorpião do jeito que ele era, com certeza se vingaria.
— Foi inteligente da sua parte, mas você está mesmo bem?
Acho melhor você ir para casa hoje e descansar.
Lhe interrompi.
— Não faça isso, eu juro que estou bem. Posso muito bem
começar hoje as apresentações, sem problema.
Ele fez uma careta.
— Não sei, prefiro adiar.
— NÃO! Kleber, eu assinei um contrato e eu vou cumprir ele.
— Digo, determinada — Não vou permitir que Gabriel destrua minha
vida ou meus planos assim.
Não esperei por mais, agarrei a mão da minha amiga e
entramos com tudo no camarim. Faltava apenas poucas horas para
o lounge começar a funcionar, então decidi repassar as coreografias
primeiro, antes de começar a me arrumar para o show.

As horas passaram voando enquanto eu terminava de me


preparar, olhei de relance para minha amiga, que havia começado a
fazer seu cabelo agora, já que ela seria a última a se apresentar.
Lamentei quando soube que ela acabou tendo que me
substituir ontem a noite, para que o Kleber não me cobrasse multa.
Minha amiga era uma verdadeira guerreira, mesmo com tantos
problemas ela ainda estava aqui para me ajudar.
A luz vermelha do camarim acendeu, era um aviso de que
estava na hora da apresentação
Olhei para a entrada dele, vendo meu irmão passar por ela e
ir direto para o palco fazer seu show. O meu seria o próximo.
Suas músicas começaram a tocar enquanto eu vestia minha
bota de salto fino e caminhava até as laterais do palco, esperando
apenas o sinal soar para eu subir nele e dar um show em cima
daquele cano.
Meu pole dance não era dos melhores, mas se eu seguisse
toda a coreografia que havia ensaiado a dias, daria super certo e eu
me sairia bem.
Me assustei quando minha amiga se agachou em minha
frente e começou a passar iluminador por toda minha barriga nua.
As músicas do Mauro já estavam no final, agora era o
momento de transição, onde ele sairia e eu o substituiria sem que os
clientes percebessem a troca, como em um filme de mágica.
A parede espelhada aparece e eu corri até ela, passando
pela parte escura do palco. As luzes que estavam agora no Mauro,
vieram a mim.
Minhas músicas começaram a tocar e uma cadeira apareceu
no meio do palco, esperando por mim.
Do salão inteiro, a única parte iluminada durante todas as
apresentações era apenas o palco, eu sabia disso por que, durante
os ensaios, eles sempre faziam questão de nos alertar sobre isso.
Evitando, então, nós, dançarinos, nos sentirmos
envergonhados tendo que olhar para cada um deles, e foi o que
aconteceu. O fato de eu não conseguir vê-los facilitou 100% minha
vida.
Sentei sobre a cadeira e comecei a coreografia.
Alguns assobios soaram e eu me senti ainda mais ousada e
sensual com os movimentos.
Um bip soou alto, me fazendo estremecer, segurei
rapidamente no cano da barra e girei. Outro bip soou, mas dessa
vez ele não apenas me assustou, como me deixou alarmada
quando a música foi trocada por uma na qual não fazia parte da
playlist.
Engoli em seco tentando fazer minha própria coreografia
improvisada.
De repente as luzes do palco enfraqueceram e as do bar
inteiro se acenderam.
Estremeci por dentro vendo a quantidade de gente parada ali,
me olhando. Eu não acredito que teria mesmo que dançar para toda
essa gente desse jeito, até que uma mesa muito próxima do palco
chamou minha atenção.
Gabriel estava lá, sentado de frente para mim, com um copo
de whisky na mão e um cigarro na outra, me encarando com uma
das sobrancelhas erguidas.
Desgraçado.
Minhas pernas começaram a tremer e eu parei, com vontade
de correr para fora dali, engoli em seco quando esse filho da puta
amarrou uma nota de duzentos reais e atirou em meus pés.
Olhei para o dinheiro no chão sentindo toda aquela
humilhação.
Olhei para frente e um homem piscou para mim e para o
cano, olhei ao redor, notando só agora que não apenas esse cara
me incentivava a continuar, como todos ali pareciam interessados.
Abaixei, de costas para eles, pegando a nota, e muitos
assobios soaram. Quando me virei de volta a primeira coisa em que
notei foi o olhar fulminante que ele tinha em mim.
Isso me deu coragem o suficiente para dar um verdadeiro
show. E as coreografias que se danasse.
Segurei firme no cano enquanto enfiava o dinheiro na
calcinha e girei, começando meu show.

��
O risco de um solteiro quando ingere álcool
É perder o celular numa balada
Embebedar na volta e errar de casa
Amanhecer com alguém que nunca viu na vida
Apagar um caminhão de stories que postou, mas não devia
Mas são riscos de solteiros normais
Que saem, dane-se, tanto faz
Mas não é meu caso
O risco que eu corro é te perdoar no auge do meu álcool
De nós dois eu me arrependo de tudo
Dos trocentos te amo, dos beijos suando
Das noites que nós dormiu junto
Mas às três da madruga, rodado na rua
A carência procura um assunto
E eu vou atrás de quem eu fujo.
Eu me arrependo de tudo
Dos trocentos te amo, dos beijos suando
Das noites que nós’ dormiu junto
Mas às três da madruga, rodado na rua
A carência procura um assunto
E eu vou atrás de quem eu fujo
Você é o meu perigo noturno
O risco de um solteiro quando ingere álcool
É perder o celular numa balada
Embebedar na volta e errar de casa
Amanhecer com alguém que nunca viu na vida
Apagar um caminhão de stories que postou, mas não devia
Mas são riscos de solteiros normais
Que saem, dane-se, tanto faz
Mas não é meu caso
O risco que eu corro é te perdoar no auge do meu álcool
De nós dois eu me arrependo de tudo
Dos trocentos te amo, dos beijos suando
Das noites que nós dormiu junto
Mas às três da madruga, rodado na rua
A carência procura um assunto
E eu vou atrás de quem eu fujo
Eu me arrependo de tudo
Dos trocentos te amo, dos beijos suando
Das noites que nós’ dormiu junto
Mas às três da madruga, rodado na rua
A carência procura um assunto
E eu vou atrás de quem eu fujo
Você é o meu perigo noturno.

Luan Santana — Perigo Noturno.

Quando meu show acabou e a música parou, uma chuva de


assobios e aplausos soaram por todo o salão. Sorriu, orgulhosa de
mim mesma, sabendo que eu havia conseguido.
Meu olhar recaiu no Kleber, sentado no balcão, me assistindo
com um grande sorriso no rosto.
Meu peito se encheu de emoção, mas não foi apenas isso.
As luzes começaram a voltar ao normal e eu tive que me arrastar às
pressas para fora do palco, agora era a vez da minha amiga dar o
show.
Como hoje foi minha primeira apresentação, eu dançaria
apenas uma música, mas semana que vem a programação mudaria
e eu dançarei bem mais que isso.
Corri para dentro do camarim e coloquei uma saia preta
colada às pressas antes de correr até o bar e começar a servir as
mesas ao lado do meu irmão, que sorria orgulhoso.
Adicionei as cervejas na bandeja e comecei a servir cada
mesa o mais rápido possível, mas uma mão em minha bunda me
fez parar.
Olhei alarmada para a outra mão do homem, que estava
rapidamente em meu corpo.
— Tira as mãos de mim! — tentei afastar, mas não consegui.
A bandeja caiu no chão, derrubando toda a bebida junto, me
virei às pressas para tentar sair dos seus braços.
— Tire agora suas mãos sujas da minha mulher!
Vi quando o punho do Gabriel atingiu em cheio o rosto do
homem quando ele me soltou.
O homem torceu o rosto e olhou furioso para o Gabriel antes
de partir para cima, mas não chegaram a brigar.
O Mauro chegou antes no rapaz e o pegou de surpresa, olhei
assustada para o meu irmão, que agora batia com força no homem
e estremeci.
Senti apenas dois braços fortes atrás de mim, me pegando
por trás e me arrastando para fora do bar. Olhei por cima do ombro
apenas para confirmar minhas suspeitas e me perguntando quando
que o Gabriel pararia de me tirar dessa maneira dos lugares.
Seu aperto em minha barriga se aliviou, quando ele me
colocou no chão, lançando para mim um olhar furioso e então
procurando por algo em seus bolsos.
Bufei irritada, vai começar tudo de novo.
Olhei ao redor, notando a pequena movimentação ainda do
lado de fora, mas enrijeci o corpo quando um cara estranho saiu às
pressas do bar e se recostou perto do beco escuro.
O homem abaixou os olhos e eu gritei desesperada,
reconhecendo quem era. O Max retirou uma arma de dentro do
bolso e apontou para mim.
Gabriel segurou firme em meus ombros e me obrigou a
encará-lo. Mas eu não conseguia. O Max rapidamente enfiou a arma
de volta à jaqueta com os meus gritos e correu, entrando no beco.
— Monique? O que aconteceu?
Ignorei completamente a voz do Gabriel quando comecei a
chorar desesperada.
Era o Max.
GOVERNADOR

E
u, que já me senti mal antes, depois de vê-la usando aquelas roupas
e sensualizando naquele palco, agora me sentia pior, me sentia
impotente ao ver ela chorando, em meus braços e não poder fazer
nada para acalmá-la.
Um pensamento ruim me passou pela cabeça, será que o
homem lá dentro havia machucado ela?
Segurei seus ombros novamente, tentando chamar sua
atenção e ao mesmo tempo procurando por machucados em seu
corpo.
— Por favor, fale comigo. Aquele desgraçado te machucou?
Ela não respondeu, mas enterrou o rosto em meu peito e
chorou ainda mais enquanto me abraçava.
Bom, se ela está me abraçando desse jeito é por que com
certeza algo aconteceu. Monique é uma mulher forte, para tê-la
assim é provável que algo sério aconteceu a ponto de deixá-la
assim.
Olhei ao redor, em busca de alguém familiar para me ajudar,
mas não havia ninguém por perto. Ela se acalmou em meus braços
e eu a coloquei sentada dentro do carro.
— Pode esperar aqui um instante? — ela assentiu, já
limpando o nariz — Ótimo, eu já volto.
Fechei a porta do carro, trancando-a junto enquanto voltava
para o bar atrás do Samuel.
Parei no meio do salão quando o encontrei discutindo em um
canto com aquela mulher, a Bruna, e esperei.
Olhei para eles, chocado, quando ela tascou um belo de um
tapa em seu rosto e saiu às pressas do lounge, enxugando as
lágrimas. Nesse exato momento eu com certeza ficaria mais que
feliz em ser uma mosquinha e descobrir sobre o que haviam
conversado de tão grave que a deixou tão mal, saindo do bar
naquele estado.
O olhar do meu irmão encontrou o meu antes que ele
pudesse virar as costas e socar a parede sem parar. Corri até ele e
o parei em um canto, preocupado.
— Ei, ei, o que aconteceu?
Lágrimas encheram seus olhos antes de me empurrar e sair
correndo na mesma direção em que Bruna havia saído.
Suspirei frustrado e voltei para o carro, já que não havia
muito a ser feito, mas uma última olhada na Monique foi o bastante
para me fazer querer sair daqui o mais rápido possível.

Depois de chegar em casa, Monique correu em direção ao


banheiro e ficou durante um bom tempo, antes de sair de lá apenas
com uma toalha em volta do corpo. Se sentou na cama e não disse
nada, foi assim também durante toda a viagem até aqui e eu já
estava começando a ficar preocupado.
— A gente precisa conversar. — Quebrei o silêncio e me
sentei ao lado dela.
— Agora não.
Me aproximei, tocando gentilmente em seu ombro, com
cuidado para não pressioná-la.
— Eu estou preocupado com você, nunca vi você desse jeito.
Aconteceu alguma coisa?
Ela negou.
— Não aconteceu nada, por favor, posso ficar um pouco
sozinha?
— Não, até você me dizer o que aconteceu com você.
Ela olhou para mim com raiva antes de se levantar e afastar
minhas mãos de seu corpo.
— Qual é o seu problema? — perguntou alterada.
— Meu problema? — me levantei também — Eu estou
preocupado com você.
— Preocupado, uma ova, você é um egoísta mimado que só
pensa em si mesmo.
Olhei perplexo para ela, não acreditando no que ela havia
mesmo dito uma coisa assim.
— Egoísta, eu?
— Sim, você. O que você tem na cabeça de ficar me
arrastando dos lugares do modo que faz? Não sabe conversar, não?
Você nem se quer respeita as pessoas.
— Monique...
— Não, chega! Agora você vai ouvir... eu estou cansada de
ser tratada como merda por você.
Tratada como merda?
— Você não faz nada para me fazer gostar de você,
simplesmente acha que me jogando por cima do ombro contra
minha vontade, e me arrastando para onde você quer, vai me fazer
gostar de você, mas eu tenho uma coisa para lhe dizer, caro
governador.
Ela respirou fundo enquanto ajeitava a toalha em volta do
corpo.
— Eu não suporto que me digam o que fazer, não suporto
quando alguém me desrespeita e odeio quando me obrigam a
aceitar algo no qual eu não quero. Então para agora com o que quer
que esteja fazendo e me deixe ir embora desse apartamento.
Me sentei na cama.
— Você não está presa aqui, Monique, nunca esteve.
— Ah, não? Então me explica o que foi aquilo tudo ontem, se
eu não estava presa aqui, como, então, eu não consegui abrir a
porta? — gritou.
— É o modelo da porta, Monique, ela apenas abre com a
chave.
— Eu ouvi o Samuel trancar.
— Ele estava brincando com você, não eu. — Digo por fim, já
cansado.
Por um momento as palavras dela bateram de uma vez só
em mim, era isso que ela pensava de mim? Que eu sou egoísta?
As palavras da Camila, de anos atrás, começaram a soar em
minha cabeça novamente.
“Você só pensa em si mesmo”
“Você é um fraco”
“Ninguém nunca vai amar você”
“As pessoas só ficam perto de você pelo seu dinheiro”
“Eu te odeio, Gabriel”

— Eu te odeio, Gabriel.
Olhei para cima, desacreditado no que havia escutado, só
podia ter sido coisa da minha cabeça.
— EU TE ODEIO! — Repetiu.
— O quê? — me levantei atordoado.
— Isso mesmo que você ouviu, eu odeio você, eu quero ir
embora daqui.
Por um segundo eu cheguei a desejar que fosse apenas um
sonho ruim, mas não era. Ela se aproximou de mim e me empurrou
com as duas mãos.
Cambaleei enquanto olhava incrédulo para a mulher na qual
eu queria dividir a vida me tratando como a merda que eu era.
Meus dedos desceram até a lateral do meu bolso,
desacreditado. O par de alianças ainda permaneciam no mesmo
lugar.
— Você me odeia, é? — pergunto friamente — Pois sabia
que nesse exato momento, você também não é minha pessoa
preferida, não depois do que fez hoje de manhã.
Ela empalideceu.
— Eu só queria ir embora, você me obrigou a fazer o que eu
fiz.
Ela começou a andar para trás conforme eu me aproximava e
lhe encurralava.
— Eu não te obriguei a ir para cama comigo, você me usou.
Tem noção do quão difícil as coisas ficaram para mim, quando
acordei algemado à cama, sem as chaves, procurando por você? —
ela fez que não com a cabeça — Pois saiba que se não fosse pelo
Samuel, eu ainda estava aqui, — aponto para a cama — preso,
esperando você.
— Me desculpe — Suas costas bateram contra a parede.
— Você consegue imaginar como a porra que eu fiquei
quando eu vi você na droga daquele palco, praticamente nua? TEM
NOÇÃO? — grito ao aproximar o corpo do dela. — Eu queria muito
estar te odiando agora.
Olhei cuidadosamente para sua garganta e a vi engolir, antes
de estremecer.
— Eu sinto muito.
— Sente? — aproximei nossos rostos — Agora você sente?
Então, cacete, me diz qual a sensação de estar vestida igual uma
puta e se exibindo para os outros caras? me diz. Aposto que você
gostou.
Sua mão acertou em cheio meu rosto, quando eu ouvi o
estalo da palma de sua mão em contato com a minha pele.
Meu sangue ferveu.
Ela gritou quando eu lhe agarrei e a joguei sobre o meio da
cama, ela caiu assustada quando eu a prendi por baixo de mim.
— Me solta! — começou a se debater e eu segurei mais forte.
— É para isso que você quer ir embora? Para voltar para
aquele lugar?
Por um instante ela acabou parando de se mexer em meus
braços, olhei uma última vez para sua boca antes de voltar a
encarar seus olhos e me arrependi no mesmo instante em que fiz,
depois de vê-los cheios de lágrimas.
— Me desculpe, eu perdi a cabeça.
Afrouxei o aperto no mesmo instante em que percebi o quão
longe eu fui. Precisa sair daqui o quanto antes e me afastar dela.
— Eu tenho uma dívida, Governador, nem todo mundo
nasceu em berço de ouro, como o senhor pensa.
Tentei engolir o nó que se formou em minha garganta.
— Eu e meu irmão precisamos desse emprego para poder
recuperar minha casa de volta, eu não danço assim por que eu
quero, eu danço por que eu preciso.
— Você não tem mais que fazer isso. — Digo, às pressas.
— Eu vou perder o apartamento se eu não fizer.
— Não vai — Me afastei dela, deitando ao seu lado enquanto
lhe olhava inteira — Eu paguei sua divida, você e o carinha lá, seu
irmão, não precisam mais pisar os pés naquele lugar.
Fiquei atento quando ela correu às pressas e se sentou na
cama, bem na minha frente.
— Você está brincando. — Ela parecia perplexa.
— Não estou. — Corri o dedo em sua coxa — Você é minha
agora.
Dito isso ela começou a distribuir tapas fortes em mim, que
apenas tentei me proteger deles, usando meus braços como um
escudo de proteção.
Sai da cama às pressas para conseguir me livrar dela.
— O que você pensa que está fazendo?
Fiquei tenso e me preparei para correr quando ela saiu da
cama e agarrou o chinelo, apontando-o na minha direção.
— Por acaso eu sou um saco de farinha?
— Não.
— Um pacote de macarrão?
— Óbvio que não.
— Então me diz por que eu sou sua? — gritou se
aproximando.
— Por que eu paguei a sua dívida e você é minha mulher. —
Digo sem medo, de pulso firme.
— Por acaso eu pedi que você pagasse algo? Pedi?
— Não pediu. — Comecei a analisar claramente onde ela
queria chegar, para fazer seu ponto.
— Então eu não sou sua e muito menos ainda devo algo a
você, você pagou porque quis, não me lembro de ter acertado nada
com você, Gabriel, mas posso acertar algo agora mesmo, se você
preferir. — Me mostrou novamente o chinelo.
— Mas agora você é minha e não tem muito o que você
possa fazer.
Arregalei os olhos e sai disparado para fora do apartamento
quando ela subiu na mesinha, agarrou as barras de ferro da cortina
e as arremessou em mim.
Eu deveria ter ouvido o plano de Samuel antes de ter
agarrado ela daquele jeito e trazido diretamente para cá, sem um
plano de ação.
Retirei às pressas as chaves do bolso e as coloquei na
ignição o mais rápido possível e sai disparado até a casa do meu
irmão. Pelo menos, era lá que eu passaria a noite de hoje, antes de
voltar para casa amanhã e enfrentar a fera, pois não voltaria para lá
hoje, nem que me pagassem.
Estremeci novamente com a imagem dela segurando com
uma mão só as barras de ferro.
Mulher cabeça dura.
Freei o carro às pressas na entrada da rua onde meu irmão
morava, quando vi a Mia sair de dentro da sua casa feliz da vida ao
entrar em um táxi, parado do outro lado da rua.
Esperei até que fosse embora e então entrei. Samuel parecia
alheio a tudo quando me aproximei, tocando em seu ombro.
— Posso saber o que a Mia estava fazendo em sua casa?
— Não — Se virou para me encarar — Por que está aqui?
— Preciso da sua ajuda com a Monique. — Decidi ir direto ao
assunto.
— Por acaso, tem um milhão de reais para me emprestar?
Mordi a língua, amaldiçoando. Eu sabia que tinha algo
errado.
MONIQUE

D
epois de tanto chorar nos braços do Gabriel, eu já me sentia mais
calma e tranquila, assenti quando ele me perguntou se eu ficaria
bem sozinha por alguns instantes para que ele pudesse ir atrás do
Samuel.
Fiquei aliviada por ele ter trancado as portas ao sair, isso me
fez ficar mais tranquila dentro do carro. Olhei ao redor a procura do
Max, mas não havia nenhum sinal dele, era como se ele estivesse
desaparecido completamente.
Quando o Gabriel retornou e deu partida no carro, meu
celular começou a vibrar anunciando que novas mensagens haviam
chegado. Abri elas, curiosa ao se tratar de um número
desconhecido.
“Como você é rápida, no fundo eu sempre soube que seria
tão ordinária quanto sua amiga.”
Horrorizada, eu abri a outra.
“Hoje eu tive uma pequena amostra do quão nervosinho teu
novo namoradinho é, agora imagina como ele e o filho da puta do
Mauro vão ficar amanhã quando eu soltar um vídeozinho seu em um
momento íntimo gravado por mim. Já pensou? Me encontra
amanhã, na sua rua, por volta do meio dia, ou vou soltar não apenas
um vídeo, como todos eles, no qual eu gravei sem você saber.”
Minhas mãos tremiam tanto que eu achei que pudesse
desmaiar em aflição. Por sorte, chegamos rapidamente no
apartamento e eu corri às pressas para o chuveiro. Colocando tudo
para fora de uma vez só ou sufocaria por dentro, tamanho
nervosismo.
Chorei tanto que cheguei a soluçar feito criança.
Depois de um bom tempo presa no box, eu comecei a me dar
contas de certas coisas, o Max não havia ido embora como o Mauro
garantiu que ele tivesse ido e ele também sabia sobre o Gabriel. A
cena daquele homem no bar passando as mãos sobre o meu corpo
de repente surgiu em minha cabeça...e se?
Não, não podia ser.
Sacudi a cabeça, afastando os pensamentos, o Max que eu
conhecia não seria capaz de uma sujeira dessas... apesar de que o
Max que eu conhecia a meses atrás também não tinha uma arma
guarda em seu bolso.
E de qualquer forma, além deles saberem onde eu morava,
também sabiam onde eu trabalhava agora. Isso significava que ele
ainda estava atrás de mim e tinha cúmplices.
Gemi frustrada ao dar uma última olhada na direção da porta,
esperando pelo Gabriel, que podia entrar a qualquer momento
depois da nossa discussão.
Eu estava tão nervosa que acabei sendo uma completa idiota
e descontando exatamente todos os meus problemas nele, sem
exceção.
Falar que eu odiava chegou a ser um golpe baixo. A
expressão que ele tinha em seu rosto era de partir o coração.
Bato três vezes a cabeça sobre o encosto do sofá e me
inclino confortavelmente para esperar por ele, que podia chegar a
qualquer momento. Mas aos poucos o cansaço foi tomando conta
de mim e, quando eu menos esperava, havia dormido no sofá, lhe
esperando.
O barulho de chaves soou pela sala e eu acordei quando a
porta da frente da sala foi aberta, me apressei em abrir os olhos o
mais depressa possível, e ligar o abajur, dando de cara com
ninguém mais, ninguém menos que ele.
Olhei às pressas para o relógio de parede, notando só agora
que já tinha amanhecido. Estiquei lentamente o corpo, tentando me
espreguiçar antes de olhar atentamente para ele.
— Onde esteve? — me levantei.
Ele desviou o olhar do meu rosto, fechando a porta e
caminhou até o quarto, sem ainda me responder.
— Gabriel? — o chamei.
Como não respondeu, eu fui atrás, entrei no quarto às
pressas a tempo de ver ele entrar no banheiro e bater à porta em
minha cara, ainda sem falar comigo.
— Quantos anos você tem, idiota? — gritei, antes de me
afastar.
Será que ele vai ficar agindo assim comigo por causa das
besteiras que eu disse? — arfei derrotada.
Poxa, será que ele não podia me entender um pouquinho?
Eu tô cansada de só levar porrada da vida e quando chega uma
hora em que eu começo a acreditar que as coisas vão dar certo, é aí
que tudo desanda.
A imagem do Max apontando aquela arma para mim ainda
não saia da minha cabeça. Será que teria atirado se eu não
estivesse gritando? A verdade é que eu nunca saberia.
Me sentei na cama quando a porta foi destravada e um
Gabriel enrolado com uma toalha sobre sua cintura, apareceu,
mexendo completamente comigo.
— A gente precisa conversar sobre ontem à noite.
— Não tenho nada para falar sobre ontem à noite, inclusive...
— finalmente olhou para mim — O que você ainda está fazendo
aqui? Eu disse que você era livre, eu havia até deixado a porta
aberta.
Me aproximei devagar de suas costas, tentada a tocar nele,
ele pareceu sentir minha presença quando enrijeceu.
— Eu quero te pedir desculpas. — Ele girou rapidamente
para me encarar, quase nos derrubando junto.
— O quê? — perguntou confuso.
Continuei.
— Sim, isso mesmo. Eu quero me desculpar pelas coisas
horríveis que eu disse ontem, a maioria delas foi da boca para fora.
Ele me olhou confuso.
— Não tem que se desculpar, como eu disse, você está livre
para fazer o que quiser de sua vida agora, eu não atrapalharei mais.
Homem cabeça oca.
— Gabriel... mas eu não...
— Chega, Monique, eu não quero ouvir mais. Vou pedir ao
motorista que leve você de volta para o conforto de sua casa.
Ele se afastou tão rápido que me deixou muda por alguns
segundos, virei o rosto a tempo de ver ele jogar a toalha longe e
vestir às pressas um moletom, antes de fechar todas persianas do
quarto, deixando tudo completamente escuro.
Notei quando a sombra dele se arrastou até a cama e puxou
as cobertas para si.
Eu não podia perder tempo, senti quando meus lábios
tremeram com as lembranças do Max ontem e depois da sua
mensagem.
A última coisa em que eu queria era machucar as pessoas
que eu amo e o Gabriel era parte disso.
Por um instante parei comigo mesma, assustada, analisando
toda a situação. Meu coração acelerou pensando no que poderia
acontecer se eu decidisse ir de encontro ao Max. Estava mais do
que ciente de que se aqueles vídeos nos quais ele falou fossem
verdadeiros, o homem teimoso deitado bem na minha frente agora,
jamais aceitaria ficar com alguém que passasse por um escândalo
desses.
Ter sua intimidade vazada e exposta para milhares de
pessoas era o pesadelo de qualquer mulher.
Aproveitei a escuridão do quarto e o silêncio do Gabriel e me
deitei do outro lado da cama, tomando cuidado para não incomodar
ele sem querer.
Eu havia estragado tudo, aceitando aquele emprego no calor
da emoção, apenas por raiva do Gabriel. Mas como se tudo isso
ainda não fosse o suficiente, ainda acabei descontando todas as
minhas frustrações nele. Agora ele queria que eu fosse embora.
E eu iria.
Estava decidida a lutar pela minha vida, eu não merecia
passar a vida inteira com medo ou recebendo ameaças do Max, não
mais.
Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e quando me
dei conta, eu já estava chorando.
Tentei limpar parte delas com a mão, tentando ao máximo
não fazer barulho algum que acordasse o Gabriel.
Peguei no sono no segundo seguinte quando me acalmei,
acordei horas depois, assustada, notando só agora os braços fortes
dele em volta de mim. Mas a sua mão pousada na minha bunda foi
épica.
Sorrio com a cena antes de tentar sair dos seus braços, me
levantei às pressas, na pontinha dos pés e fechei a porta do quarto
com muito cuidado para não acordar ele. Uma olhada no relógio da
sala fez meu peito acelerar novamente.
Estava quase na hora.
Olhei ao redor notando que ainda teria um bom tempo antes
de ir embora daqui e me encontrar com o Max de uma vez por
todas, pondo um fim nessas ameaças.
Caminhei até a cozinha, decidida a tentar retribuir ao Gabriel
o mesmo que ele fez por mim, ao preparar aquele café da manhã
incrível, café esse no qual eu nem cheguei a tocar.
Um pensamento ruim surgiu.
Talvez ele nem esteja mais interessado em mim, e era
compreensível, depois de tudo o que eu lhe disse ontem.
Afastei qualquer pensamento quando abri sua galeria e
quase caí para trás, chocada ao encontrá-la completamente
abastecida.
Uma grande ideia me ocorreu e eu comecei rapidamente a
prepará-la.
Era por volta das onze horas quando o Gabriel acordou e me
encontrou na cozinha, ainda temperando a salada.
— Você ainda está aqui.
— Você quer que eu vá embora? — depositei o vinagre na
pia só para olhar para ele — Quiser eu posso ir, não quero estressá-
lo dentro de sua casa.
Ele se aproximou, agarrando minha cintura e me depositando
sentada no balcão enquanto aproximava nossos rostos.
— Não quero que vá, seu lugar é aqui comigo. — Suspirou,
misturando nossas respirações — Mas eu não vou mais obrigá-la a
nada, Monique, quero que fique comigo por que gosta de mim e não
por que eu te trouxe em meu ombro. — Pausou — Quero fazer a
coisa certa, você entende?
Sim, eu podia entender, antes que eu pudesse responder ele
afastou nossos corpos e me desceu do balcão me deixando
novamente sozinha.
Olhei para a salada, quase pronta e voltei a me ocupar com
ela.
A mesa foi a próxima a ser posta, podia sentir meu corpo
esquentar e eu sabia que ele ainda estava observando cada passo
meu enquanto eu a arrumava. Quando tudo ficou pronto eu me virei
para encará-lo.
— O almoço está pronto, obrigada por tudo que fez por mim
— me aproximei dele no sofá — Quero que saiba que os dias em
que estivemos juntos foram maravilhosos. E que assim que eu
conseguir, eu vou te pagar tudo de volta. Agora eu tenho que ir, não
vou mais incomodar você.
Virei às pressas e entrei no quarto, minhas roupas, que antes
estavam no varal, estavam agora dobradas em cima da cômoda,
agarrei elas quando entrei no banheiro e comecei a tirar a roupa. Eu
precisava ser rápida, o Max já estaria esperando por mim.
Liguei rapidamente a água do chuveiro e entrei com tudo, eu
precisava me apressar.
Mal deu tempo de terminar meu banho quando a porta do
banheiro bateu forte contra a parede e um Gabriel com os olhos
avermelhados entrou, furioso no banheiro.
Tentei me encolher, esconder meu corpo usando as mãos,
mas foi uma missão impossível, desde que ele entrou no box de
roupa e tudo e me prensou contra a parede.
Suas roupas foram as próximas a serem jogadas no chão.
Ele partiu para cima de mim no segundo seguinte e me
agarrou firmemente em seus braços.

GOVERNADOR

S
e eu estava puto pela teimosia dela? Estava. Mas no momento em
que cheguei em casa e dei de cara com ela no sofá me esperando,
tive que me segurar para não correr até ela e carregar seu pequeno
corpo de volta à cama e descansar com ela em meus braços. Foi
uma verdadeira tortura.
Mas agora não era um bom momento para falarmos sobre
qualquer coisa.
Ontem a noite eu estava furioso e agora arrependido,
desejando no fundo do meu coração, que eu pudesse voltar no
tempo e começar minha história com a Monique de um jeito
diferente.
Ela queria conversar, eu também, mas hoje, infelizmente, não
seria um bom momento. Ainda estava cansado e chateado por ouvir
da boca do meu próprio irmão sobre seu relacionamento com a Mia.
Muita coisa ali não estava se encaixando, até ontem era da garota
problema que ele parecia interessado, então, o que podia ter
mudado?
Essas eram respostas nas quais eu teria ainda hoje, de
preferência depois de dormir um pouco.

Acordar e vê-la toda cheirosa preparando nosso almoço em


minha cozinha, parecia que eu ainda estava sonhando. Tive que
agarrar o forro do sofá para que não fosse agarrar aquela bunda
gostosa dela de jeito.
Parecia que ela rebolava daquele jeito de propósito para
terminar de me torturar de vez.
— O almoço está pronto, obrigada por tudo que fez por mim
— se aproximou e meu peito acelerou em expectativa — Quero que
saiba que os dias em que estivemos juntos foram maravilhosos. E
que assim que eu conseguir, eu vou te pagar tudo de volta. Agora
eu tenho que ir, não vou mais incomodar você.
Não deu tempo nem de que eu pudesse absorver suas
palavras e a ficha cair completamente.
Olhei para a mesa, em seguida para o corredor.
Ela estava indo embora? Foi um almoço de despedida?
Mas que droga.
Ela estava colocando um fim em algo que nem teve a chance
de começar, vi vermelho, rosa, preto e roxo em minha frente. Abri
com raiva a porta do quarto, praticamente quebrando ela, mas o
som do chuveiro, chamou minha atenção para dentro dele.
Chutei a porta e invadi seu banho, molhando completamente
minhas roupas no caminho.
Tudo bem que ela teria todo o direito de escolher ir embora,
mas não sem antes se despedir.
Arranquei todas as roupas do meu corpo enquanto avaliava o
seu, já grato por estar completamente duro com a visão dela. Que
mulher linda...
Ela prendeu as coxas em minha cintura quando eu agarrei
sua bunda e a suspendi, nos levando juntos para baixo do chuveiro.
Ela não disse nada, mas bastou olhar em seu rosto para eu
encontrar apenas paixão ali.
A água corria entre nós, assim eu sabia que não lhe
machucaria, soltei sua bunda e desci a mão entre nós, segurei firme
em meu pau e nos alinhei, empurrando ele inteiro dentro, em
seguida.
Seu gemido alto me deixou ainda mais duro, minha mão
voltou novamente para sua bunda e comecei a fodê-la duro e forte.
Sua boceta apertava com mais força o meu pau, do que suas
mãos, agora mais do que nunca eu queria essa mulher para mim.
Quando suas pernas começaram a tremer, eu desliguei a
água e lhe pressionei contra o azulejo enquanto empurrava dentro e
fora dela com força.
Sua boceta pingava de tesão quando ela gozou com meu pau
dentro. Desci as mãos até seus joelhos e estendi as pernas dela
para cima, abrindo sua buceta ainda mais para mim.
— Gabriel... — gritou enquanto eu metia fundo, louco para
gozar e bagunçar ela inteira por dentro.
Seus músculos ficaram novamente tensos antes dela gozar
uma segunda vez, dessa vez eu não aguentei e fui junto. Gozei tão
gostoso que fiquei mole.
Tomei algumas respirações profundas antes de, lentamente,
descer ela do meu colo, para não a derrubar sem querer no calor do
momento.
Minhas pernas nunca ficaram tão bambas quanto agora.
Monique virou de costas e ligou o chuveiro para se lavar.
Peguei ela por trás e levantei seu queixo para me encarar, quando
ela me olhou, eu não resisti e ataquei sua boca, beijando-a com
gosto.
Depois de mais duas rodadas de um sexo inteiramente
quente e poucas palavras no chuveiro, decidimos que hoje à tarde
nós dois sentaríamos e juntos, iremos ter finalmente uma conversa
esclarecedora e definitiva sobre a nossa situação.
Mas por enquanto eu consegui convencê-la a almoçar
comigo. Claro que depois dela ter preparado tudo sozinha, eu me
senti na obrigação de servir ela e lavar toda a louça apenas para
convencer ela do quão perfeito companheiro eu seria. Mas isso, é
claro, até ela assinar um contrato de casamento, depois disso,
contratarei vários empregados para fazer tudo.
Respirei fundo, sorrindo, fingindo estar feliz enquanto
esfregava as panelas com bombril e desengordurante.
Ai que horror, isso aí, sorria otário.

Mas minha felicidade durou pouco quando ela recebeu


algumas mensagens em seu celular e falou que precisava encontrar
alguém.
Eu não quis parecer intruso e lhe dizer que eu já sabia para
onde iria depois da cena de ontem entre sua amiga e meu irmão.
Provavelmente sua amiga contaria tudo, no fundo eu estava
torcendo para que a Monique compartilhasse a informação comigo.

Uma última olhada no relógio me deixou preocupado. Havia


anoitecido e nada da Monique aparecer, eu estava louco para ligar
para ela e saber se estava tudo bem, mas algo dentro de mim
queria que as coisas fossem diferentes agora. Nossa relação pode
não ter começado com o pé direito, mas agora eu estava disposto a
respeitar o espaço dela e conquistar ela inteirinha para mim.
Meu celular apitou e eu corri para olhar, sorrio quando vejo
que é uma mensagem de Monique.
“.”
Verifiquei novamente a caixa de entrada para ver se havia
algum engano ou erro, mas não encontrei nada.
Meu peito apertou de repente.
Ela não sabia o meu número...
Arregalei os olhos e liguei para seu irmão, que atendeu logo
de cara.
— Quem está falando?
Limpei a garganta.
— Mauro, sou eu, Gabriel.
Uma risada soou do outro lado.
— Ah... oi, governador, o que deseja?
— Você está em casa? Sabe dizer onde sua irmã está?
— Estou em casa com alguns amigos, mas desde antes de
ontem que a Monique não aparece em casa, ela não estava com
você?
— Estava, mas precisou sair.
— Então espera ela CU, daqui a pouco ela está aí de novo,
deixe de ser paranoico.
CU? Isso era algum tipo de abreviação para cunhado ou ele
estava de sacanagem?
— Ok, ok... se por acaso ela aparecer aí, pode retornar para
esse número aqui, é meu contato pessoal.
— Que honra, agora eu tenho que ir.
— Até mais.
Encerrei a ligação ainda mais preocupado. Será que eu
deveria ligar para o Kleber e lhe perguntar sobre ela ou a amiga?
Com certeza ele saberia onde a amiga estava, sem sombra de
dúvidas.
Mas quando eu me lembrei do que ele fez com a Monique,
meu sangue ferveu.
Nem a pau que eu ligo para ele.
Acordei atordoado quando várias batidas soaram em todo
apartamento.
— Já vai! — digo enquanto procurava as sandálias, notando
só agora que já era de madrugada.
Olhei ao redor, notando que a Monique ainda não tinha
voltado, abri a porta com calma, não querendo assustar ela ao ver
minha cara, já irritado pela hora em que ela havia chegado.
Parei no instante em que percebi que não era a Monique
agora em minha frente, dei um passo para trás, permitindo que
Kleber, Mauro e Samuel entrassem em meu apartamento,
carregando algumas sacolas pretas.
Todos pararam no meio da sala e se viraram para mim
quando eu fechei a porta.
— O que fazem aqui, juntos, em minha casa, a essa hora?
Olhei para a esquerda quando o Mauro se sentou, seus olhos
encheram de água e meu peito apertou.
Monique...
Samuel se aproximou com um olhar derrotado, Kleber tinha
esse mesmo olhar no rosto, mas ninguém disse nada.
A campainha tocou novamente e eu abri no automático. Mas
as minhas suspeitas foram embora quando, Bruna entrou com tudo
em meu apartamento, nervosa.
— Cadê? Me diga que algum de vocês sabe, pelo amor de
Deus, onde a minha amiga está!
Tranquei a porta, Samuel se aproximou dela.
— Sinto muito. — Dito isso, ele olha para mim.
— Onde está a Monique? — meu coração parecia que iria
sair pela boca — O que está acontecendo aqui? Cadê a porra da
minha mulher?
Exaltado, fui até eles, mas o Samuel e o Kleber me
agarraram no caminho.
— O Max a pegou. — Olhei para o Mauro — Aquele
desgraçado levou a minha irmã.
MONIQUE

S
ai do apartamento com medo, mas também esperançosa. Pela
primeira vez em muito tempo eu e o Gabriel estávamos nos
entendendo, a sensação que eu tinha era que as coisas estavam
começando a dar certo para a gente agora.
Sorrio com a lembrança, a ardência no meio das minhas
coxas era um lembrete que não me deixaria esquecer. Ele havia me
pegado gostoso, tão gostoso que eu me sentia como uma boneca
de pano depois do que fizemos naquele box.
Uma lembrança gostosa me veio, seguida por um leve
enjoou. Entrei no táxi às pressas, grata por Gabriel não ter exigido
que eu saísse de motorista e segurança, isso com certeza acabaria
com qualquer tentativa minha de convencer o Max a não fazer
besteira com minhas imagens.
Ele provavelmente me ouviria.
Nossa relação era muito boa no passado, um sempre
passava a sensação de confiança para o outro. Felizmente o fim da
nossa relação havia chegado por causa do excesso de ciúmes da
parte dele. Eu havia perdido meu emprego por isso e acabei
terminando nossa relação.
Distraída demais, eu mal notei quando o táxi me deixou no
portão do meu prédio, seu José acenou para mim, antes de fazer
uma careta para algo do outro lado da rua, e eu até já sabia o que
era.
— Entra logo, dona Monique, eu ligo para a polícia se ele
começar a gritar aqui no portão, exigindo falar com a senhora.
Engoli, tentada.
— Obrigada, seu José, mas está tudo bem agora — me virei
apenas para verificar se estávamos falando da mesma pessoa —
Eu vou dar uma palavrinha com ele e já volto, espera por mim, tá?
Não precisei verificar para saber que era exatamente isso
que o meu porteiro estava fazendo nesse exato momento. Sei que
se algo me acontecesse, ele buscaria ajuda para mim. O Max não
me machucaria dessa vez.
Ele estava recostado na parede de outro prédio do outro lado
da rua quando eu me aproximei.
— O que você quer? — cruzei os braços já parada em sua
frente.
— Entra no carro. — falou firme.
Olhei ao redor não encontrando seu antigo carro.
— Que carro?
De longe, um carro saiu gastando pneu, vindo em nossa
direção, arfei assustada antes do Max me agarrar por trás. O carro
parou bem em nossa frente e meu olhar recaiu no seu José, que já
estava abaixado com o telefone na orelha.
Respirei aliviada.
Tentei me livrar do seu aperto, mas a porta do carro abriu e
eu fui jogada dentro com força.
Minha cabeça bateu tão forte em algo duro, que eu tive que
pressionar a palma da mão com força no lugar machucado.
— Me tira daqui, Max! — gritei, me sentando às pressas e
indo até as janelas escuras — Abre agora essa porta! SOCORRO!
Um click maior soou e o carro saiu às pressas do meio da
rua, não me importei mais com minha cabeça machucada, eu só
queria sair daqui. Eu batia ainda mais forte no vidro tentando
chamar a atenção de alguém, mas percebi o meu erro a tempo, ao
invés do vidro de trás, eu tinha que focar em atacar quem estava na
frente.
Virei meu corpo rapidamente quando o carro fez uma grande
curva e agarrei o Max pelo pescoço, sufocando-o por trás.
— Sua filha da puta!
Ele tentou me alcançar usando as mãos, mas não conseguiu,
eu apertei ainda mais, não resistindo quando seus dedos tentaram
agarrar meus cabelos e mordi, mas mordi com tanta força que
quando eu senti o gosto de sangue em minha boca, eu cuspi às
pressas em cima do motorista.
— Sua cadela!
Soltei ligeiro o pescoço do Max quando o motorista esticou o
braço para me atacar.
Rapidamente o carro parou e todas as portas que antes
estavam travadas agora destravaram automaticamente. Era minha
chance, abri a porta mais rápido que eles e corri na direção do
matagal bem em minha frente.
Nem se quer olhei para trás antes de correr feito louca pela
minha vida. Eu sabia que eles estavam atrás de mim, então corri o
mais depressa possível, sabendo que minha vida agora dependia
disso.
Lembranças do meu irmão, da minha amiga e do Gabriel
encheram minha cabeça. Eu precisava fazer isso não só por mim,
mas por eles também, eu queria ter a chance de vê-los outra vez...
de abraçar meu irmão e dizer o quanto eu o amava e pedir a minha
amiga que criasse juízo, pelo amor de Deus. E ainda tinha o Gabriel,
que mesmo com nossa história sendo cheia de desencontros e mal
resolvida, eu também precisava lutar por ele, pelo nosso amor... sim,
amor. Eu o amava.
Amava tanto que chegava a doer.
Eu podia estar agora em seu sofá, assistindo televisão a
tarde inteira ou ter tido nossa tão esperada conversar para, só
então, fazer amor a tarde inteira com ele.
Mesmo desesperada, esse pensamento me fez rir.
Gritei quando alguém conseguiu me segurar. Tentei morder,
chutar, arranhar, mas não consegui. Um segundo homem
encapuzado apareceu e enfiou um saco preto em meu rosto, antes
de ajudar o outro homem a me carregar.
E mesmo com mãos pesadas e braços fortes me segurando,
eu tentava sair. Minha garganta ardeu do tanto que eu havia gritado
em todo caminho, na esperança por socorro.
O saco foi rudemente arrancado do meu rosto quando os
homens pararam e a mocreia loira da Camila apareceu em meu
campo de visão, sorrindo.
Tentei novamente sair dos braços deles para ir em cima
dessa vadia.
— Eu vou acabar com você. — Jurei.
Ela sorriu e então acenou.
Os dois homens entraram comigo nos braços e me jogaram
feito um saco de lixo por cima de um colchão velho no chão, saíram
correndo do quarto, me trancando junto.
Corri às pressas até a porta e comecei a chutar e a bater com
força nela, na esperança de quebrar. Mas nada, tudo o que eu
fizesse não iria adiantar, nada contra a porta.
Escorreguei por ela, desesperada, sem saber o que fazer e
me arrastei até o colchão velho. Ele me parecia mais confortável
que o chão frio, lágrimas começaram a brotar em meu rosto
enquanto eu imaginava o final dessa história.
Antes eu tinha esperança do José pedir ajuda e eles
conseguirem me encontrar, mas como eles saberiam onde eu
estava? Nem eu mesma sabia.
Horas depois o portão se abriu, me sentei às pressas para
olhar o Max passar por ele, todo encabulado ao se aproximar. Olhei
rapidamente para a bandeja em suas mãos e virei o rosto. Se eles
acham que eu vou comer aquilo ali, eles estão muitíssimo
enganados.
— Você deve estar com fome.
Minha barriga roncou só pela menção, mas ignorei.
Quando eu não respondi, ele se aproximou e abriu a marmita
bem em minha frente antes de dar uma garfada em um pouco de
tudo.
— Viu só? É seguro, pode comer.
Quando estava prestes a se levantar, eu agarrei seu braço.
— Por que eu estou aqui, Max? Você não percebe o quanto
isso é errado?
Ele não disse nada, apenas tentou se livrar do meu aperto
antes de ficar de pé.
— Max... — O chamei.
Ele engoliu em seco, mas antes que ele pudesse dizer ou
fazer qualquer coisa, Camila entrou com tudo no quarto, chutando
com força a bandeja de comida em minha frente para longe,
espalhando a comida por todo o quarto.
Eu me apressei em levantar e lhe encarar frente a frente.
— Eu ouvi você chamar por ele, o que quer? Uma foda de
despedida? — seu sorriso malicioso me irritou.
— Cala a boca, sua puta nojenta! Eu vou acabar com esse
seu rostinho plastificado antes mesmo de sair daqui. — Cuspi as
palavras enquanto lhe empreitava.
Seu sorriso morreu.
— Vadia. — Me empurrou
O Max veio rapidamente até mim e me pegou antes que eu
caísse. A ordinária correu às pressas para fora do quarto, me
fazendo rir.
— Com medo? Volta aqui... A gente nem terminou nossa
conversa.
Ela ignorou.
Voltei minha atenção no Max.
— Pode me explicar o que está acontecendo? Por que essa
vadia está aqui?
Ele me soltou.
— Estamos juntos.
Olhei surpresa.
— Juntos no meu sequestro ou juntos como casal?
— Os dois. — respondeu, friamente, antes de sair do quarto,
fechando a porta atrás dele.
O barulho da trinca chamou minha atenção.
Droga.
Sem perceber acabei pegando no sono de tanto esperar por
algum sinal deles.
Estava esperançosa de que o Max viesse de novo me visitar
e eu pudesse arrancar mais alguma coisa dele, principalmente
sobre o que fariam comigo.
Pela primeira vez, agora, uma pequena luz amarelada foi
acesa e o quarto não era mais um breu completo como antes.
— Café da manhã. — gritou Camila ao passar pela porta
arrastando uma cadeira, parando no meio do quarto antes de se
sentar. — Dormiu bem, vadia? Espero que tenha gostado da
estadia.
Engoli em seco, com raiva.
— A única vadia em que conheço está bem na minha frente.
— Rebato de volta.
Imediatamente ela enrijeceu e abriu uma sacola preta que
carregava, me sentei às pressas, pronta para atacar ela a qualquer
momento.
— Sabe, Monique... — começou — No começo até simpatizei
com você. Mas isso foi antes de perceber que havia algo entre você
e o Gabriel, tem noção do quão doloroso foi, para mim, ver ele me
trocar por... — fez uma careta enojada — Você?
Por um instante eu até quis rir da sua cara.
— Mas isso foi antes de saber quem você era, então eu
decidi permitir que vocês dois tivessem esse caso aí de vocês.
Pausou enquanto me avaliava.
— Eu sabia da sua falta de interesse nele e quis assistir de
camarote o caso de vocês acabarem. Só que o que eu menos
esperava aconteceu, um verdadeiro fator surpresa.
Essa mulher é completamente maluca.
— Gabriel não estava apenas transando com você, ele
estava se apaixonando.
— Você é louca!
Ela sorriu.
— Oh, sério? Você só percebeu isso agora, minha querida?
— riu descaradamente — Achei que você fosse mais esperta.
Enfim, — continuou — Não foi difícil fazer ele duvidar do seu
caráter, na noite do casamento fiz questão de questioná-lo sobre
você, enviando documentos mentirosos sobre sua família. Me
parece que funcionou.
Sua atenção foi novamente para dentro da sacola e ela
retirou de lá uma coxinha e começou a come-la.
— Hum, boa. — Gemeu.
Cerrei os pulsos com raiva já.
— Por isso que você, agora, está usando o Max? Para me
afastar do Gabriel e ter o caminho livre para ficar com ele?
Perguntei alto o suficiente na esperança do Max ouvir nossa
conversa.
— Gosto do Max, muito mais do que um dia gostei do Gabriel
— ela se inclinou — Ele já te contou que éramos noivos?
Fiz que não.
— Pois é, éramos... e eu não suportava passar nem 10
minutos seguidos ao lado dele. O traia com todo carinha que me
olhasse, motorista, faxineiro, jardineiro... até mesmo com o próprio
tio dele — me assustei com sua risada — Mas aposto que essas
coisas ele não te contou, né? — bufou — Ele e seu maldito orgulho
ferido, chega a ser chato.
Retirou outra coxinha da sacola e me encarou.
— Eu gosto do Max, apesar de termos nos conhecido a
pouco tempo. Ele é do jeitinho que eu gosto — me olhou de cima a
baixo — Não sei o que ele viu em você.
— O que você quer comigo?
— Com você? Nada, meu foco será apenas um... fazer o
Gabriel sofrer por você, aos poucos, vamos decapitar você e
mandar, por vez, cada pedacinho seu. Isso vai deixá-lo tão louco
que ele não pensará duas vezes em deixar o cargo.
— Cargo? — olhei para ela confusa — O que isso tem a ver?
Ela sorriu de novo.
— Você ainda não entendeu, né? Coitadinha... — ela virou o
dedo — Sabe o mundo? Ele não gira em torno de você, e sim de
quem tem poder. Eu não armei junto ao Max tudo isso sozinha —
ela ficou de pé no mesmo instante — Tem gente poderosa
financiando tudo isso aqui, inclusive a sua cabeça e a do Gabriel.
Meu peito começou a acelerar, eu fiquei de pé em dois
tempos, desacreditando no que ela havia dito, mas suas próximas
palavras me fizeram lhe encarar. Ela deve ter percebido que eu
estava prestes a atacar, pois se levantou às pressas.
Ela já estava perto da porta quando disse.
— Mas não se preocupe, a cabeça de vocês dois não serão
as únicas a rodar, sua amiga e o Samuel serão os próximos. —
Piscou — Ah, Monique? Lembra daquela conversinha nossa no
corredor, sobre patrocínio? Bom... só para informá-la que o meu é
um dos melhores.
E com isso ela se vira para sair, mas eu sou mais rápida de
lhe mostro que movida a ódio a gente pode tudo.
Agora eu vou matar essa puta!
GOVERNADOR

A
os poucos eu consegui me acalmar, principalmente quando eles
começaram a pôr um plano em ação para recuperar a minha mulher.
Minha, só minha.
Por sorte Bruna havia passado mal e resolveu ir para casa,
mas não sem antes fazer a gente prometer que resgataria a
Monique de qualquer jeito. No fundo ela sabia que nem precisava da
promessa, eu iria até o fim do mundo, se pudesse, pela minha
mulher.
Graças ao porteiro da Monique, a gente conseguiu localizar o
veículo rapidamente quando ele já havia ligado para o Kleber ontem
mesmo e avisou.
Fiquei muito triste quando soube que desde ontem depois do
almoço eles todos já estavam trabalhando nas buscas por ela
enquanto eu ficava no sofá, em casa, sem ter a mínima ideia do
ocorrido com ela.
Meu irmão tentou amenizar as coisas para mim, mas não
deu. Eu sabia o por que eles não haviam me contado, eu sempre
reagia no impulso quando se tratava dela.
— Achei. — gritou meu irmão enquanto avaliava as câmeras
de trânsito por onde o carro havia passado.
Tive que usar meu poder como governante para poder
conseguir essas imagens.
Ah, que se dane. Era a minha mulher ali dentro.
Vesti a jaqueta às pressas, dando uma última olhada no
relógio, ainda era cedo.
— Calma, tô esperando reforços.
Olhei para o Kleber, sem hesitar.
Mesmo depois da nossa briga em seu bar ele ainda estava
aqui, me ajudando.
— Tudo bem. — Confiei nele.
Certo de que eu estava impaciente e louco para salvar minha
mulher, mas se o Kleber mandou eu esperar, eu irei, atrapalhar o
trabalho deles era a última coisa que eu faria.
Segurança em primeiro lugar e seja qual for seu plano, eu tô
dentro.
Silenciosamente meu irmão veio e apontou para algo na tela
do computador, eram documentos de um carro alugado com a
assinatura do ex namorado da Monique. Ele baixou o documento e
mais abaixo constava informações sobre o localizador do carro.
Kleber se aproximou e começou a ditar os números para alguém do
outro lado da linha.
Quando a ligação terminou, ele virou para nos encarar
enquanto colocava a própria arma no cinto.
— Vamos? Meu pessoal já está a caminho e eles já estão
montando uma estratégia.
— Agora mesmo.
Saímos todos juntos na direção do carro, Kleber, por ser o
mais experiente, pediu o assento do volante, com a justificativa de
que era o mais cabeça fria e experiente do grupo. Em partes eu
concordava.
O GPS do carro foi ligado e começamos a digitar as
coordenadas de onde o tal carro estava estacionado. Parei surpreso
ao notar que o lugar ficava muito próximo do apartamento da
Monique.
Apertei os dentes, irritado, aquele desgraçado planejou tudo
isso perto dela.
— Calma... daqui consigo ouvir seus dentes rangendo,
irmãozinho.
— Desculpe.
Tomei algumas respirações profundas enquanto o Kleber
dirigia até o local às pressas, notei claramente que o local não se
tratava de um condomínio ou uma casa, o GPS apontava para algo
dentro do matagal.
Saímos os quatro às pressas, seguindo o GPS do meu
celular. Um vulto chamou nossa atenção, seguimos mais a frente
para ver, então, diversos policiais ao redor de uma casa velha,
próximo a um rio.
Os policiais olharam todos para a gente conforme nos
aproximamos dos arbustos em volta da casa.
De repente uma discussão começou dentro da casa e alguns
deles se prepararam para invadir.
Segurei o Samuel pelos cabelos da nuca, obrigando-o a
abaixar.
— Isso dói.
Revirei os olhos.
— Calado!
Gritos mais altos ainda soaram e meu corpo enrijeceu ao
ouvir a voz dela ...
— Eu vou te matar! — a voz da Monique ...
Olhei rapidamente para a os policiais que estavam fazendo
uma contagem regressiva para invadir o lugar.
Empurrei Samuel no chão sujo e corro para dentro quando
mais polícias entraram invadindo.
— Gabriel, seu merda. — Ignorei meu irmão enquanto
entrava no local, que mais parecia um galpão abandonado.
Olhei ao redor, vendo os policiais arrancarem um forro que
estavam em cima de alguns aparelhos e estremeço reconhecendo
alguns deles, quando visitei um mercado de presunto.
Havia sangue seco na maior parte delas e isso aumentou
meu desespero quando ouvi mais gritos saírem de uma porta no
fundo.
A porta foi rapidamente aberta quando os policiais entraram,
dois deles tentaram me parar na porta, mas não conseguiram.
Max estava na frente protegendo o corpo da Monique e de
uma outra mulher.
A voz do policial fez elas pararem de brigar e se levantarem
do chão. Eu quase cai para trás quando notei quem era a outra
mulher.
Os olhos da Camila se encheram de lágrimas.
— Meu amor, você veio me buscar.
Olhei com raiva para o Max antes de partir para cima dele,
mas os polícias me pararam a tempo. Um deles rapidamente
agarrou o braço do homem e o prendeu contra uma parede
enquanto lhe algemava.
Fui às pressas até o Monique, mas a Camila se atirou em
meus braços.
— Meu amor, você me salvou deles, eu te amo tanto.
Olhei confuso para ela, não sabendo lidar.
— Falsa! Solta agora ele, sua nojenta. — Monique veio às
pressas, empurrando a Camila dos meus braços.
Ela cambaleou antes de empurrar de volta. Me apressei em
ficar entre as duas, evitando mais confusão.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei logo
encarando a Monique, com uma vontade esmagadora de arrancar
ela daqui e levar para casa.
Mauro e o Samuel entram no quarto também, presenciando a
cena.
— Ela e o Max me sequestraram! Ela está mentindo para
enganar você, não consegue ver isso? É falsa.
Alisei o rosto da Monique.
— É MENTIRA! Eles iriam me torturar, Gabriel, ela está
armando com ele — Camila parecia nervosa quando apontou para o
Max — Para derrubar você!
— MENTIROSA! — Monique gritou de volta.
— Camila, o que você está fazendo? — a pergunta do Max
chamou atenção de todos para ela.
— NÃO FALA O MEU NOME, NÃO FALA O MEU NOME...
O desespero na voz da Camila me fez puxar a Monique para
trás e recuar.
— SERÁ QUE VOCÊS NÃO VÊEM A VERDADE AQUI?
Ela parecia tão desesperada que chegava a dar medo.
— ELE — apontou para o Max e para Monique — E ELA, ME
SEQUESTRARAM E QUERIAM ME MATAR — veio correndo até
mim e me segurou pela jaqueta, olhando profundamente em meus
olhos — Eles iriam me matar...
Mais lágrimas escorriam de seu rosto.
— Ela está mentindo, Mauro, — olhei para cima vendo o Max
falar diretamente com o irmão da Monique — Ela armou tudo,
planejava matar todos vocês, cara... todos vocês. Tem alguém lá
fora que está...
BOOOOOOOM
Um tiro de repente soou através do quarto, empurrei a
Monique e o Samuel diretamente no chão enquanto olhava para
cima tentando entender o que havia acontecido de verdade.
— Abaixa a arma agora! — a voz do policial.
— NUNCA!
Olhei para o lado a tempo de ver a Camila com uma arma em
suas mãos, ela ainda estava apontando para o corpo do Max, agora
caído em volta de uma poça de sangue.
Horrorizado olhei para ela.
Ela sorriu quando girou e apontou a arma na direção da
minha cabeça.

BOOOOOOOM
Outro tiro soou.
Percebi que estava com os olhos fechados até abrir eles. Eu
havia morrido?
Olhei para frente vendo a Camila cair de joelhos no chão.
com um buraco grande de bala aberto em sua barriga.
Horrorizado com a cena, agarrei a Monique nos braços e
forcei seu rosto para o lado contrário da cena.
Kleber estava do meu lado, me puxando para fora, o policial
que havia atirado na Camila agora corria até ela, na tentativa de
salvá-la.
O olhar dela encontrou o meu antes de tentarem socorrê-la.
FINAL
MONIQUE

A
imagem do Max recebendo aquele tiro ao tentar dizer a verdade,
ainda rodava em minha cabeça. Gabriel tirou a gente daquele lugar
o mais depressa possível, deixando tudo nas mãos da polícia. Mas
ao chegar no corredor, a notícia da morte da Camila acabou
deixando Gabriel e Samuel realmente abalados.
Por um lado, eu compreendia a dor deles, um dia ela também
fez parte de suas vidas.
O Kleber havia nos deixado em casa e foi levar meu irmão
para casa sob o meu pedido. Fiquei tão aliviada quando vi que todos
eles estavam bem uns com os outros, isso acalmou um pouco meu
peito.
Um pouco de enjoo tomou conta de mim, Gabriel segurou
firme em minha cintura, percebendo meu estado, e abriu a porta de
seu apartamento.
Paramos todos surpresos no vão da porta ao notar a Lúcia e
o Roberto ali, parados no meio da sala com bolo e balões em mãos,
nos esperando.
O olhar deles vieram até nós, preocupados.
— Mas que diabos aconteceu com vocês? — entramos todos
juntos.
— Eu vou explicar a eles, podem ir.
Lancei um olhar de agradecimento ao Samuel antes de
permitir que o Gabriel me arrastasse para dentro de seu quarto.
Apenas uma olhada para a cama fez meu corpo doer de
exaustão.
— Um banho primeiro? — olhei frustrada para o Gabriel.
— Claro.
Delicadamente ele me levou até o banheiro e retirou todas as
nossas roupas, enquanto eu fiquei ali, paradinha, observando cada
movimento seu. Ele passava as mãos por cada manchinha de terra
em minha pele, tendo a certeza de que não era nenhum
machucado.
Todo seu cuidado e toda sua atenção me fez ainda mais
querer ficar perto dele...
— Eu te amo.
Mal dei conta quando as palavras simplesmente saíram da
minha boca.
Ele me olhou, surpreso, antes de me beijar, com paixão.
— Repete.
E eu repeti.
— Me perdoa por ter sido tão estúpida, Governador... eu te
amo tanto, tanto.
O sorriso que deu, aqueceu meu coração.
— Eu te amo. meu amor, eu iria trás de você onde quer que
estivesse, será que ainda não percebeu isso?
O tamanho de sua paixão cutucava minha barriga e eu sorri
ao olhar para baixo.
Rapidamente ele me pegou em seus braços e nos levou para
o box. Era disso que eu precisava, um banho revigorado.
Gemi com a temperatura da água, Gabriel ajudou a me levar
por inteira, mas depois de enrolados em toalhas, outro enjoo forte
me atingiu e eu rapidamente me sentei sobre o vaso.
— Você está bem? — Gabriel estava tão assustado.
Assenti, não conseguindo falar.
— O que você tem? Outro enjoo?
— Sim.
Ele se levantou as pressas.
— A princípio achei que estava enjoada apenas pelos
recentes acontecimentos e pelo que vi, mas estou vendo que pode
ser algo muito, muito além disso.
Coloquei a mão na boca e levantei a cabeça para olhar para
ele. Ele estava sorrindo quando alcançou a gaveta do armário e
retirou de lá dois testes de gravidez caseiro.
Eu senti quando meu sangue gelou.
Não pode ser...
— O que é isso? — olhei para ele assustada.
— O que você acha que é?
— Gabriel...
Ele rapidamente se agachou entre as minhas pernas
enquanto olhava profundamente em meus olhos.
— O quê? Não custa nada fazer.
Olhei novamente para os dois testes antes de assentir.
— Tudo bem.
Me levantei devagar quando ele me ajudou a ficar de pé,
agora até a tontura havia passado. Como Gabriel havia se recusado
a sair do banheiro, eu fiz xixi ali mesmo, na frente dele.
O homem era teimoso demais, credo.
Depois de arrumar cada um deles no lugar eu lavei as mãos
enquanto esperava ao lado dele.
Ele se sentou no vaso e me sentou em seu colo em dois
tempos, cinco minutos apenas e nossas vidas poderia mudar para
sempre.
— Está na hora.
Estendi o braço com cuidado, pegando os dois testes ao
mesmo tempo. Meus olhos encheram de lágrimas com o resultado.
NEGATIVO.
Gabriel me abraçou e soluçou junto.
— Está tudo bem, meu amor, a gente só estava treinando das
outras vezes...
Ergui o rosto apenas para me perder naqueles olhos azuis.
— Eu sei, meu amor, é que aconteceram tantas coisas ruins
nos últimos dias que eu só precisava de uma notícia boa agora.
Ele rapidamente enxugou minhas lágrimas antes de me
beijar.
— Apenas diga sim e eu te deixo cheia de filhos meus em
dois tempos.
Sorri com suas palavras.
Encostei minha testa sobre a sua e olhei em seus olhos.
— Você é incrível, sabia?
Ele assentiu.
— Sabia
— Convencido.
— E seu.
E meu.
Arfei quando Gabriel me levantou dos seus braços e tirou
algo de trás de suas costas antes de se ajoelhar sobre o chão úmido
do banheiro e estender a caixinha vermelha a mim.
— Monique, boca de arroz doce, você por acaso quer se
casar comigo?
Olhei surpresa quando ele abriu a caixinha, tirando de lá um
par de alianças.
— Simmmm!
Pulei em seu pescoço às pressas, derrubando-nos no piso
molhado do banheiro.
Gabriel riu quando caiu de bunda no chão comigo ao seu
lado, por sorte o banheiro era espaçoso.
Rapidamente ele colocou nossas alianças nos dedos antes
de me agarrar ali mesmo.
Interrompi nosso beijo, lembrando de algo importante.
— Hum, boca de arroz doce? — questionei.
— É a minha sobremesa preferida. — Sorrio — Meus pais
estão na sala, vamos contar a eles?
Assenti, animada.
— Vamos.
Em dois tempos arrumamos nossas toalhas e corremos para
fora do quarto.
Samuel, Roberto e Lúcia nos olharam assustados pela forma
como chegamos até eles e contamos a novidade. Na hora de nos
abraçar, a toalha do Gabriel acabou caindo, acabando com toda a
emoção da notícia.
— Que merda. — Reclamou o Roberto antes de todos
começarem a rir.
7 meses depois.

E
ntrei no pequeno café, deixando um dos seguranças do Gabriel na
entrada, enquanto eu me sentava em uma das mesas longe da
janela.
Verifiquei novamente o horário, notando o quão atrasada Bruna
estava. Depois do ocorrido, com a Camila, ela inventou uma viagem
a trabalho e sumiu por meses, agora estava de volta a cidade e
disse que precisava da minha ajuda com algo.
Mas é óbvio que eu iria ajudar, afinal era minha amiga que
estava precisando de mim. O garçom anotou meu pedido enquanto
eu lhe esperava. A porta da cafeteria foi aberta e uma gestante
entrou.
Voltei minha atenção para o cardápio novamente quando
alguém se sentou ao meu lado. Olhei para cima, tentando manter a
paciência e me surpreendi.
Meu olhar abaixou sobre a barriga saliente da minha amiga.
Olhei entre ela e a barriga sem saber o que dizer, afinal, nada mais
queria sair da minha boca.
— Respira e não surta, pelo amor de Deus. — disse ao pegar
o cardápio.
Aos poucos as coisas começaram a serem digeridas em
minha cabeça.
— O que aconteceu?
Ela suspirou fundo antes de pegar minha mão, lágrimas
começaram a escorrer pelo seu rosto.
— Eu preciso de ajuda.
Eu assenti, olhamos juntas para a saliência em sua barriga
mexer, meu peito doeu vendo o estado da minha amiga.
Seja o que for que esteja acontecendo com ela, eu farei
qualquer coisa para ajudá-la, ou eu não me chamo Monique.

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