Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O artigo 184 do Código Penal tipificava como crime, apenado com detenção de 3 (três) meses a 1
(hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor que não tivesse como intuito a obtenção de lucro
com a reprodução da obra intelectual protegida.
Só porque não encontrou algo, não quer dizer que ele sumiu para sempre.
Apenas ainda não foi achado!
AVISO DA AUTORA
— Meu Deus! Onde diabos você estava, Tella?! — Dorien, uma das
garotas mais antigas que mora na hospedaria, apaga o cigarro dentro da
xícara de café, saindo de cima da mesa quando me vê entrar pela porta da
cozinha.
— Estava fazendo meu trabalho — respondo seriamente e fecho a
porta atrás de mim, não entendendo porque ela está nervosa.
— Madame Mia está louca atrás de você, Tella! — Dorien caminha
para mim e fecha sua mão ao redor do meu pulso, me olhando de cara feia.
— Anda, venha, não vai nem ter tempo de se arrumar!
— Mas por que me arrumaria? — A olho sem entender e puxo meu
braço, para que ela me solte. — Eu tenho trabalho para fazer nessa
hospedaria toda, madame Mia precisa de mim para quê, com tanta
urgência?
— Eu não sei, vai ter que ir até o quarto dela, onde ela está te
esperando, e descobrir por conta própria. — Dorien para na frente das
escadas e leva sua mão à cintura, estufando seu peito para frente, com seus
seios quase pulando para fora do decote extravagante do vestido. — Anda!
Vá logo, Stella! Perdi a porcaria do meu táxi para poder ficar esperando a
sua boa vontade de aparecer!
— Vai sair hoje? — pergunto, confusa, para ela. Normalmente, a
sexta-feira é o dia que mais tem clientes entrando e saindo da hospedaria.
Dorien nunca deixaria de levantar um bom dinheiro fazendo programa.
— Eu tenho que sair, coisas para resolver — ela responde, baixo, e
desvia seus olhos dos meus.
Balanço minha cabeça em positivo, a olhando e balançando meus
ombros. A vejo caminhar em direção à porta, mas ela para quando seus
braços se esticam para girar a maçaneta.
— Tella... — ela fala meu nome e vira lentamente, mantendo seus
olhos no chão, não me olhando diretamente. — Se cuida, garota!
Fico parada por alguns segundos e a vejo abrir a porta e sair
rapidamente. Não entendo o porquê dela falar isso para mim. Para ser
franca, Dorien nunca foi de conversar muito, não comigo, pelo menos. Meu
rosto gira lentamente e olho as escadas com tapeçaria vermelha, enquanto
subo os degraus devagar, me encolhendo e andando cabisbaixa. Não preciso
estar nem na metade da escadaria, antes de começar a ouvir os gemidos das
garotas nos quartos, além de sentir os cheiros de corpos suados e perfumes
baratos, com cigarros mentolados praticamente exalando pelo papel de
parede decadente, que combina com o resto do prédio.
Recordo da primeira vez que entrei nessa hospedaria, quando
madame Mia me adotou no orfanato que minha mãe me deixou quando eu
tinha três anos. Já estava com nove anos quando cheguei no meu novo lar.
Bom, tecnicamente a palavra lar deve ter sido usada na documentação
apenas por burocracia. Porque, na verdade, esse lugar é tudo, menos meu
lar. Aprendi rápido como as coisas funcionavam por aqui, é meio difícil
você não perceber a rotatividade imensa de homens entrando e saindo da
hospedaria, dos quartos das meninas, além dos gritos e sons que repercutem
pelas paredes o dia todo. Madame Mia chama o lugar de hospedaria, mas é
uma fachada para sua casa de prostituição. Às vezes quero entender como
um juiz pôde deixar uma cafetina adotar uma criança, a trazendo para morar
em um prostíbulo.
— Boa noite, gatinho! — Mantenho meus olhos baixos, não
respondendo o homem parado no alto das escadas, com uma das garotas
perto dele. — Por que não se junta a nós...
— Céus, Josh! — A garota ri e estica seu braço, dando um leve
tapinha na aba do meu boné, quando passo perto deles. — É uma menina,
seu bêbado! — Ela me para e segura meu pulso, me fazendo olhar para ela
quando sua outra mão se prende em meu queixo. — Que está fazendo aqui,
Sujeira?! Sabe que a essa hora da noite você não pode vir para esse andar,
ou vai me falar que está curiosa para descobrir como um pau fica dentro da
sua boceta?!
Dou um passo para trás e me livro do seu toque, puxando meu braço
e abrindo minha boca e a fechando rápido, com força, inclinando meu rosto
para frente, com a intenção de morder sua mão, que segura o meu queixo. A
puta dá um pulo para trás e me olha assustada, cerrando seus lábios logo em
seguida.
— Sujeira maldita, não passa de um animal indócil e selvagem! —
ela fala com raiva e ergue sua mão no ar, com intenção de desferir um tapa
em mim. Mas seu braço para no segundo que a porta grande do outro lado
do corredor abre.
— Stella, entre! — A voz da velha cafetina, me chamando, sai alta e
em tom firme dentro do quarto dela.
— Depois a gente termina nossa conversa, Sujeira! — a puta
sussurra e abaixa seu braço. Ela pula para trás outra vez quando eu avanço,
imitando o som de um gato arisco, arreganhando meus dentes para ela. —
Vadiazinha selvagem!
— Stella! — Giro meu rosto para a porta e volto a andar no rumo
dela.
— Meu Deus, é um animalzinho mesmo? — Escuto a risada do
bêbado, que conversa com a puta, enquanto os dois riem.
— Uma sujeira imprestável, não passa disso!
Ouço a voz dela, que fala de forma amarga, de propósito, apenas
para me magoar. Eu não sou uma sujeira, e muito menos um bicho, eu tenho
sentimentos, como todas aqui dentro, a diferença é que não fico o dia todo
me maquiando, cuidando da pele e do cabelo, aguardando por um homem
entrar em meu quarto. Enquanto elas fazem esse trabalho, o sujo mesmo, o
verdadeiro trabalho pesado é feito por mim, que limpo esse lugar todo dia,
de ponta a ponta, feito uma escrava, desde os meus nove anos de idade, que
foi quando minha vida foi amaldiçoada de vez, quando a cafetina me
adotou, me dando comida e um cantinho no canto da cozinha para dormir, a
troco de trabalhar para ela. E foi isso que eu fiz, por muitos anos. Me ferro
limpando o chão e arrumando os quartos das meninas depois que elas e os
clientes saem. Quando entrei aqui, não foi uma boneca que ganhei, mas sim
um rodo e uma vassoura, para servir de faxineira.
— Entre e feche a porta! — madame Mia fala, baixo, tomando sua
bebida, olhando para mim, enquanto se senta em uma cadeira perto da
janela do quarto. — Tire isso da cabeça, pelo amor de Deus, Stella! Parece
um pivete maltrapilho!
Viro lentamente e fecho a porta, tirando o boné da minha cabeça,
enquanto giro e fico novamente de frente para ela. Ela está silenciosa,
olhando séria para mim, e dá um baixo suspiro.
— Poderia, pelo menos, ter se dado ao trabalho de se trocar antes de
vir ao meu quarto, está parecendo um bicho de rua — diz, zangada,
bebendo sua bebida novamente.
— Eu estava terminando meu serviço. — A olho e lhe respondo,
abaixando meus olhos na sequência, para minhas mãos cheias de farpas de
madeira.
Eu trabalhei o dia todo que nem uma condenada, meus dedos estão
na carne viva, pelas lenhas que eu estava cortando, para poder deixar o
estoque do fogão a lenha da cozinha pronto para o dia seguinte.
— Me desculpe se não tive tempo de me arrumar apenas para vim
lhe ver! — Abaixo meus dedos ao lado do meu corpo e retorno a lhe olhar.
— Me recordo da primeira vez que a vi... — Ela pega um cigarro e
fuma lentamente, soltando a fumaça no ar, negando com a cabeça. — Com
esse mesmo olhar, dissimulado e prepotente. Sempre zangada e arisca, igual
um filhote de tigre, uma tigresa pequenina e sozinha, que não tinha nem
onde cair morta. Se eu não a tivesse tirado da sarjeta onde sua mãe lhe
jogou, você não passaria de uma gata vira-lata de rua.
— Fala isso como se tivesse feito um grande favor para mim —
falo, baixo, esmagando o boné nos meus dedos e respirando fundo. — Por
que me chamou, madame Mia?
Desencosto da porta e dou um passo à frente, olhando para ela e
desejando que fale logo o que quer de mim, para poder me deixar ir embora
e terminar logo meu trabalho. Quero dormir, esticar meu corpo no cantinho
que eu durmo, no chão da cozinha, perto do fogão, e tentar descansar, nem
que seja por poucas horas antes de amanhecer.
— Se recorda do nosso acordo, Stella? — Meus olhos se expandem,
com meu coração parando de bater rapidamente ao ouvi-la falando.
Mia disse que me deixaria ir embora quando minha hora chegasse,
que não me prenderia mais ao seu lado. E eu sabia que estava chegando o
momento, faltava contar os dias nos dedos, de tanto que eu almejava minha
liberdade.
— Infelizmente, não vou poder cumprir com minha parte, Stella. —
Ela apaga seu cigarro no cinzeiro e se levanta, bebendo sua bebida,
praticamente me dando um tiro à queima-roupa com suas palavras.
Sinto confusão em um primeiro momento e nego com a cabeça,
dando outro passo para frente, não entendendo porque ela está falando isso.
— Mas me deu sua palavra... — Aponto para ela, enquanto respiro
rápido. — Jurou que me deixaria ir embora! Não quero mais ficar aqui! Eu
fiz a parte do nosso acordo, trabalhei nessa hospedaria todos esses anos,
para agora me dizer que não vai me deixar partir?
— Não ficará mais aqui, Stella — ela fala rapidamente, mantendo
seus olhos nos meus.
— Como assim? Acabou de me dizer... — Olho para ela, sem
entender.
— Que não poderei cumprir com minha parte, não que continuará
morando aqui. — Meus olhos acompanham os seus para o canto escuro do
quarto, me fazendo perceber que não estamos sozinhas dentro dos seus
aposentos.
Reconheço o homem de cabelos curtos militar, com feição sombria e
olhos cruéis. Ele chegou alguns dias atrás aqui na pensão, acompanhado de
uma mulher bonita de cabelos negros e olhos verdes. Ela partiu sem ficar
muito tempo na hospedaria, depois de conversar com a velha cafetina, o
deixando para trás. Ele não foi para o quarto com nenhuma das meninas,
queria ficar sozinho. Uma das prostitutas disse que ele era árabe. Eu o
evitava nesses últimos dias, sentia uma sensação ruim toda vez que seus
olhos ficavam fixos aos meus. Yusefe, esse foi o nome com o qual ele se
apresentou a mim, quando o levei até seu quarto.
Ele leva sua mão para trás da calça e retira um envelope amassado e
amarelo, o jogando em cima da cama da cafetina. O envelope que cai, se
abre, deixando as notas de dólares ficarem à vista, enquanto mantém seus
olhos em mim.
— Seu destino está nas mãos de Yusefe agora. Espero que não lute,
para seu próprio bem, Stella. — Preciso de apenas alguns segundos para
entender que ela me vendeu para esse homem. — Pode a levar!
Nego com a cabeça e viro na direção da porta, para sair desse quarto. Acho
que não chego nem abrir a porta, antes de ser erguida do chão por ele, com
seu peito colado em minhas costas. Os gritos de raiva saem da minha boca,
meu corpo se debate, luto para fugir, e logo em seguida a escuridão me
pega, quando uma picada atinge meu braço.
Não sei ao certo por quanto tempo fiquei drogada, despertando
algumas vezes em ataque e fúria, querendo me libertar, com um enjoo me
pegando, fazendo minhas vísceras se retorcerem de dor, com um gosto
amargo em minha boca, além da escuridão. Não sei mais o que é real ou
ilusão da droga. Minha mente vai e volta a cada nova picada da agulha em
meu braço. Acordei algumas vezes quando estava presa dentro de uma cela
escura, como se fosse um porão. Sabia que estava em um barco, por conta
do som das ondas quebrando no casco. Quando Yusefe me via acordada, ele
me drogava de novo. Só Deus sabe quantos dias fiquei presa na escuridão,
feito um cão, com uma coleira em meu pescoço, me prendendo a correntes
na parede.
Quando finalmente saí de lá, foi para ser jogada dentro de um baú,
completamente acorrentada, parando em um lugar cheio de gente estranha,
onde tinham mais garotas, que choravam e falavam outras línguas, algumas
tão drogadas que chegavam a espumar pela boca. Em um descuido de um
dos homens que ficava na porta do quarto, consegui escapar, mas não fui
muito longe, estava fraca. Yusefe me encontrou antes mesmo de eu achar
uma saída. Bati nele com o resto de força que eu tinha, arranhando a face
dele. Ainda posso recordar da voz dele despejando veneno em suas
palavras, enquanto me dizia que eu seria leiloada, e que ele garantiria que
encontraria o pior entre todos os seus clientes para me vender como se eu
fosse uma cadela, para ser usada até meu dono enjoar de mim.
A tontura me pega quando tento ficar de pé. Meus olhos piscam
várias vezes, com a luz forte que acerta meu rosto. Ouço vozes altas, que
conversam em uma língua que não entendo, e sinto o cheiro forte de canela
e outras ervas. Há fumaça, vejo tanta fumaça de nicotina no ar, como uma
nuvem escura e cinza. Olho perdida para o pano vermelho em meu corpo,
uma roupa estranha, que eu nunca tinha visto, além das revistas que as putas
jogavam no lixo, e eu, curiosa, as pegava para ver. Um sutiã vermelho
combinando com a saia transparente, repleto de predarias em meu seio.
Minhas mãos se prendem às grades de ferro onde estou encostada, e tento
me levantar. Sinto como se meu corpo estivesse pesado, com meus
movimentos lentos. O couro em meu pescoço machuca, dando a sensação
da pele estar queimando.
Olho para o chão e vejo meus pés descalços. Uma corrente está
presa ao meu tornozelo, tendo a outra extremidade dela pregada ao chão de
madeira. Um solavanco se faz quando o lugar que eu estou começa a se
mover. Prendo meus dedos com mais força nas barras, não compreendendo
o que está acontecendo. Logo a luz fica mais forte, quando entro em um
corredor. Em um primeiro momento, fecho meus olhos e sinto tudo rodar, o
enjoo vem forte novamente. Abro os meus olhos e ouço os choros de
mulheres. As vejo sentadas em um corredor, perto da parede, com suas
faces machucadas.
Giro meu rosto para o lado e vejo mais grades à minha volta, parece
que estou em uma grande jaula. Um homem puxa uma corda e a faz se
movimentar, me levando para um lugar escuro, completamente no breu. A
jaula para, dando um solavanco forte e me fazendo cair por conta da
tontura. Escuto passos se distanciando quando o rapaz que puxava a jaula
me abandona dentro dela, ouço respirações pesadas, sinto o odor de nicotina
ficando mais forte. Seguro mais forte as grades e me obrigo a ficar de pé.
Meu corpo fica rígido, enquanto meu coração bate forte e eu tento lutar
contra a vontade de apagar novamente.
Uma voz alta fala dentro da sala, fazendo outros murmúrios se
espalharem. Mas é quando a luz acende, que o pânico toma conta de mim.
Gritos altos soam, de homens que se levantam de onde estão sentados e
olham para mim. Meus dedos se esmagam mais forte nas barras de ferro,
quando vejo Yusefe parado perto da jaula, me encarando. Minha mão se
estica como por instinto de raiva, com vontade de poder cravar minhas
unhas em sua garganta. Ele ri, falando com os homens quando se move para
trás e aponta para mim. Me encolho e sinto meus joelhos se dobrarem, me
fazendo cair no chão quando alguma coisa encosta em minha perna, me
dando um choque. Ergo minhas mãos com raiva e as prendo na jaula
novamente, gritando de ódio, tendo meus olhos presos no maldito que me
feriu. Eles gritam com mais fervor, enquanto Yusefe continua a falar,
apontando para mim. Me afasto das grades e arrasto minha bunda no chão
para um canto, com os meus cabelos escondendo minha face quando me
encolho, sentindo a vertigem me consumir, não tendo força alguma em meu
corpo.
Observo perdida os homens, que erguem suas mãos para o alto,
gritando, me deixando mais assustada e com medo. Meus olhos se chocam
com um deles, que se mantém em silêncio. É um homem alto, que usa um
terno branco e anda lentamente em minha direção, vindo do interior da sala.
Escuto os gritos ficarem mais altos, com sons de tiros, e os homens
correndo, com alguns deles caindo ao chão, em poças de sangue.
Estou tão perdida em minha mente drogada, que não sei o que é real
e o que é ilusão. Apenas me sinto caindo lentamente, enquanto meu corpo
tomba para o lado, ainda tendo os olhos marrons, como cor de café, presos
aos meus. Sua mão sai do bolso da calça e se estica entre as barras da cela,
segurando minha face antes do meu rosto tombar no chão. Ele olha
intensamente para mim.
— Salomé...
Ouço a voz dele falar em inglês, enquanto minha mente vai
desligando e meus olhos se fechando pouco a pouco, até não ter nada além
do silêncio e da escuridão à minha volta.
Ramsés de Naca
Sudão
Norte do continente africano
— Gemil, gemil! — Amina sorri para mim e segura meus dedos
enquanto me faz andar apressada para a sala de estar. — Está linda feito
uma flor de deserto com esse vestido!
Me sinto mais nervosa conforme a hora passa. A cada segundo sinto
aquela sensação de algo dentro do meu estômago se mexendo outra vez,
meu coração palpitando e os dedos da minha mão suando. Amina tinha
separado um vestido vermelho para mim, longo, com mangas até meu
cotovelo, um tecido fino e bonito com pedrarias douradas nas mangas e nas
bordas da saia. Ela tinha feito um penteado em meu cabelo, deixando meu
pescoço exposto com o delicado brinco que Ramsés me mandou de presente
em minha orelha. Dessa vez, não consegui fugir dela na hora do banho.
Quando entramos praticamente correndo dentro da casa, Amina me
empurrou para o banheiro, enchendo a piscina com pétalas de rosas e óleo
de pêssego. Achei que ela arrancaria minha pele fora de tanto que me
ensaboou. Disse a ela que ele não iria ficar me cheirando, que não precisava
fazer tudo isso, mas ela queria ter certeza de que tinha tirado o odor de
todas as especiarias do mercado de mim, para que ele não desconfiasse que
eu saí da casa. Lavada e penteada, trocada como uma boneca, me vi sendo
arrastada pelos corredores, na direção da sala de jantar.
— Sade já está vindo. Chega daqui a pouco... — Ela sorri para mim
e me manda sentar.
— Ele ainda nem está aqui, não precisávamos ter corrido — falo,
rindo para ela.
— Que Rá protegesse o teto dessa casa se sade chegasse nessa sala e
não lhe visse aqui, esperando por ele — ela murmura e ri baixinho, olhando
para a mesa. — Dessa vez, Amina não esqueceu nada, agora apenas espere,
sim?!
Balanço minha cabeça em positivo para ela e a vejo partir, sumir
pela porta da cozinha, me deixando sozinha na sala de estar. Caminho
lentamente e observo a mesa repleta de comida, com variadas cores e
sabores, e solto um baixo suspiro. Tinha pensado em cada palavra que
Amina me contou, tanto sobre o passado de Ramsés, como o fato dele não
ter me comprado. Algo tinha mudado dentro de mim, ficando mais forte e
urgente, como se uma porta que eu negava a abrir tivesse sido destrancada
com as palavras de Amina. Ele não pagou por mim. Não me comprou,
como uma escrava. Mas por que me mantinha aqui, o que o levava a ajudar
alguém como eu?! Talvez pena. Ele ajudou as outras pessoas do vilarejo,
que sofreram até mais do que eu, sem ter um teto para morar, como a pobre
Amina, largada na rua.
— Foi apenas mais uma caridade, sua tola! — murmuro para mim
mesma, sentindo uma infelicidade me pegar.
O som dos passos duros caminhando pelo corredor, me faz virar na
mesma hora e olhar para a porta. Sinto meu coração bater mais rápido, o
suor em meus dedos fica mais forte e minhas pernas trêmulas, com a minha
respiração ficando acelerada. Eu sei que não devia me sentir assim, mas não
consigo controlar as reações do meu corpo. Não entendi porque apenas
estar prestes a vê-lo outra vez me faz ficar assim. Passo meus dedos
apressadamente pelo vestido, pensando se ele vai gostar da roupa que
Amina escolheu para mim. Meu rosto gira rapidamente e olho para o
reflexo do espelho da janela, conferindo o penteado, gostando por não ter
mais uma face magra e abatida, e sim corada e saudável. Volto meus olhos
para a porta e respiro fundo, abrindo um sorriso em meus lábios, mas
lentamente ele vai morrendo quando observo o grande homem entrar pela
porta, fazendo um gesto de cabeça para mim e desviando seus olhos dos
meus, encarando a mesa quase como que instantaneamente ao me ver
dentro da sala.
— Amina! — ele chama por ela e se mantém parado na porta, com
suas mãos na frente do corpo, presa uma na outra. — AMINAAA! — ele a
chama mais alto, olhando para a porta da cozinha.
Recordo dele, foi o homem em quem eu trombei aqui na primeira
vez que acordei na casa do senhor Ramsés.
— Que gritaria é essa? — Ela sai zangada, batendo palmas e o
olhando brava.
— Talab moni Ramses an akhberk anne la yejtama letnaul al-
asha[17] — ele fala rápido para ela, lhe dando um olhar sério.
Não preciso saber falar árabe para compreender a expressão de pena
no rosto de Amina quando ela olha para mim, me deixando saber que ele
não virá.
— Nim, nim — ela o responde e move sua mão no ar.
Ele consente com a cabeça em positivo para ela, antes de me olhar
apenas uma vez e balançar a cabeça para frente, para mim. Se vira e parte
rápido, do mesmo jeito que entrou.
— Sade, ele...
— Ele não vem — falo, baixo, e olho para ela, deixando um sorriso
em minha face, mesmo não compreendendo porque sinto tanta vontade de
chorar ao saber que ele não quis vir me ver.
— Por que não se senta, pequena Stella, e come, sim? — ela fala
amável e estica sua mão para mim.
— Na verdade... — Mordo minha boca, querendo que essa maldita
sensação que está dentro de mim pare, que faça meu coração parar de
sofrer. — Eu estou sem fome, Amina. Prefiro voltar para meu quarto...
— Mas a pequena Stella não vai comer nada... — Ela me olha triste
e aponta para a mesa.
— Não, Amina, shukra — falo depressa e curvo minha cabeça
lentamente para ela.
Viro o mais rápido possível e saio da sala de jantar, sentindo como
se algo dentro de mim estivesse se quebrando, me machucando, me fazendo
sentir ainda mais vontade de chorar, de um jeito que eu nunca senti. Uma
tristeza estranha e tão dolorosa. Ergo meus dedos e limpo meus olhos
quando minha vista fica nublada, não entendendo porque eu choro.
— Por que isso não para... — murmuro com voz de choro e mordo
minha boca, enquanto tento limpar as lágrimas que não param de descer
pelos meus olhos.
Corro mais rápido para o quarto, não me incomodando de ver os
seguranças ficando de costas para mim, na verdade, isso até é um alívio, por
eles não me enxergarem chorosa desse jeito. Seguro a barra da saia quando
retiro os sapatos dos meus pés, deixando minhas pernas livres para
correrem, parando apenas quando entro no quarto. Solto o sapato no chão
quando fecho a porta e retiro os brincos das minhas orelhas, os largando
sobre a cama, arrancando apressadamente o vestido do meu corpo, como se
junto com ele eu pudesse arrancar essa tristeza que me faz chorar, a qual eu
não compreendo.
Meus dedos passam por meus cabelos com pressa e desfaço o
penteado que Amina tinha feito, o qual agora faz eu me sentir tão tola por
ficar ansiosa para que ele visse. Respiro depressa e olho perdida para o meu
reflexo no espelho, vendo a mulher parada diante dele apenas de lingerie.
Essa mulher que me olha não é a Stella, não é aquela menina suja, que as
putas chamavam de Sujeira, sempre repleta de poeira, fuligem e carvão, que
lutava para sobreviver naquela hospedaria. Essa mulher que me encara de
olhar melancólico, com o batom claro nos lábios, me faz lembrar as
prostitutas, que ficam ansiosas aguardando pelos seus clientes preferidos, e
sofrem, chorando nos quartos, quando eles não aparecem.
Seguro o vestido em meus dedos e o passo na minha boca para
retirar o batom, balançando minha cabeça para os lados, para soltar de vez
os meus cabelos. Deixo o vestido sobre a cama e pego a manta dobrada aos
pés dela. Apago a luz do quarto e me embolo no chão sobre o tapete,
ficando lá, encolhida, não conseguindo fazer as lágrimas pararem de descer,
sentindo apenas uma agonia me machucando por dentro, e eu choro sem
nem entender o porquê, mas eu choro até cair no sono.
Me espreguiço e bocejo, esticando minhas mãos, sentindo os
cabelos emaranhados colados em minha bochecha. Abro os olhos
lentamente e encaro o teto do quarto, vendo a luz do dia entrar nele e o
iluminar. Suspiro devagar e tombo meu rosto para o lado, observando a
porta fechada. Amina não tinha chegado ainda. Dou um sorriso lento e
arrasto meus dedos no tapete, procurando pela coberta, a encontrando perto
de mim. A puxo e me cubro, me virando para o outro lado. Fecho meus
olhos e bocejo, me arrumando para dormir mais um pouquinho, tendo
apenas um grande desânimo dentro de mim, que me faz querer ficar dentro
desse quarto sozinha hoje, o dia todo.
Pisco lentamente, abrindo e fechando meus olhos, mas os abro
rapidamente assim que compreendo que tem um par de sapatos perto do
meu rosto. Par de sapatos negros, acompanhado de duas pernas, em uma
calça social negra. Sento rapidamente e empurro meu corpo para trás,
encarando o homem sério de face taciturna, que me observa sentado na
cama, com seus olhos bem fixos em mim. Parece que tinha passado uma
eternidade desde a última vez que seus olhos se encontraram com os meus.
Vejo sua face mais magra, como se tivesse perdido peso, a barba por fazer,
mais comprida, e a expressão cansada, mas ainda assim perigosa, com o
olhar intenso sugando minha alma para ele.
— Bom dia, Corcel!
E com apenas o simples fato do timbre rouco da sua voz sair por sua
boca, já é o suficiente para fazer meu coração bater mais forte dentro do
meu peito, como um verdadeiro corcel selvagem correndo em disparada.
Seu cheiro, que tanto eu senti falta, entra por meu nariz enquanto respiro
depressa, sentindo como se fogo corresse por minhas veias.
— Bom dia, senhor Ramsés... — Desvio meus olhos dos seus,
sentindo aquela euforia estranha me pegar de novo, causando arrepios em
minha pele pela forma como ele me olha.
Levanto e prendo forte a coberta na frente do meu corpo, não
querendo o deixar ver os arrepios que me causa apenas estar na sua
presença.
— Não pensei que viria... — falo, nervosa, tentando me afastar.
Mas antes mesmo de dar um passo para trás, sinto seus dedos
fecharem em meu pulso, usando força em demasia para me manter no lugar.
Olho para sua mão em minha pele, tendo as veias saltando em seu braço
enquanto ele me puxa devagar, me fazendo aproximar dele.
— Se soubesse, estaria dormindo na cama, ao invés do chão,
Corcel? — Sua respiração fica pesada, me fazendo olhar fixa para sua
camisa, vendo seu peito subir e descer lentamente.
— Não... — o respondo baixinho, levantando meu olhar lentamente
por seu pescoço, vendo a barba por fazer mais de perto, e os lábios
masculinos esmagados de forma rígida.
Isso causa mais euforia dentro de mim, quando sua respiração
morna acerta minha testa. Sinto minhas pernas ficarem moles, um estranho
calor aumentar novamente em meu corpo, me queimando de dentro para
fora quando finalmente encaro seus olhos marrons. Fico com meu corpo
imóvel, não conseguindo me afastar e nem tentar me libertar do seu toque,
mesmo dentro de mim eu sabendo que é exatamente isso que eu deveria
fazer. Mas minhas pernas não me obedecem, elas me deixam à sua mercê.
Sou induzida a dar mais um passo à frente, quando ele me puxa e me senta
em sua perna. Respiro mais apressada, esmagando meus dedos na coberta,
em cima do meu peito, com meus olhos ficando mais expansivos. Não
desvio da sua face, e tudo causa uma sensação de saudade, uma agonia
assustadora, que é silenciada por seu toque lento em meu pulso, suavizando
seu aperto. Seu anelar escorrega sobre a veia, o massageando, fazendo
assim o sangue correr mais forte por meus vasos sanguíneos.
— Senhor... — As palavras saem trêmulas da minha boca, enquanto
não entendo o que meu corpo está querendo.
— Por Rá! Um dia irei queimar eternamente no inferno, jovem
Corcel, por isso! — Ele solta meu pulso e espalma sua mão em um único
movimento em meu rosto, o mantendo parado enquanto me afoga em seu
olhar sombrio tão intenso, que consigo o sentir atravessando por minha
pele, como se enxergasse minha alma. — Mas não será hoje.
Meu corpo, em um primeiro momento, fica rígido, completamente
em choque quando sua cabeça se move em um ataque rápido, me trazendo
para perto dele e colando sua boca com força na minha. E sinto o medo e a
agonia escorregar por meus dedos, partindo do meu corpo e largando
apenas chamas dentro de mim. E desfaleço em seus lábios quando ele
aprofunda ainda mais intensamente o beijo, arrebatando meu fôlego e me
preenchendo de euforia. Do mesmo jeito que eu me senti da primeira vez
que ele me beijou, só que dessa vez vem mais urgente, selvagem e
indomável. Meus dedos soltam a coberta enquanto meus braços se prendem
em seu pescoço, o circulando, sentindo a pressão da sua mão em minha
coxa quando me ergue em seus braços. A coberta desliza por minhas pernas
e vai ao chão, e me sinto queimar quando seu peito cola no meu, raspando
sua camisa sobre minha pele. O beijo com mais agonia, sentindo meu
coração batendo tão intensamente, que poderia rasgar minha pele, saindo
para fora do peito. Sinto o baque das minhas costas no colchão e me afundo
nele. Sua boca liberta a minha, levando todo o ar dos meus pulmões com
ela, me fazendo respirar mais depressa, ficando hipnotizada em seu olhar
dominante.
— Irei te tocar, Corcel — ele fala firme e ergue sua mão, soltando o
nó da gravata, libertando seu pescoço dela. — Irei tocar em cada maldita
parte do seu corpo que atormentou minha mente em todos esses dias.
Meu peito arqueia para cima enquanto respiro mais rápido, cravando
meus dedos no colchão, quando sua boca desliza por minha barriga e a
beija, percorrendo-a com sua língua.
— Sim... — murmuro entre as respirações e fecho meus olhos,
mordendo minha boca.
Sinto meu corpo ganhando vida, como se despertasse em cada toque
dos seus lábios, me arrastando junto com ele para o inferno. Talvez um dia
minha alma também queimará pela eternidade, mas não será hoje.
Porque hoje, minha alma e meu corpo queimarão em seus braços.
CAPÍTULO 9
Corcel em chamas
Ramsés de Naca
— Mas quem diabos está por trás de toda essa bagunça dentro da
minha casa?!
Ergo meus olhos e desvio do chão perto do fogão, encarando a
porta da cozinha e ouvindo os gritos da mulher brava que entra em sua
hospedaria.
— Me solta, seu merda! — Observo a figura vulgar da mulher,
irritada, xingando meu segurança quando ele a empurra para dentro da
cozinha. — Está pensando que está tratando com quem...
Ela cospe na direção dele, esmagando seus dedos ao lado do corpo,
se virando ao notar minha presença.
— Raja, veja, nossa anfitriã chegou — falo, animado, deixando um
sorriso cortês em minha face enquanto levanto e me afasto da cadeira,
apontando para ela. — Sente-se, venha, se sinta em sua casa, madame Mia!
— Lógico que estou em minha casa, e não gostei nem um pouco de
chegar aqui e encontrar esses montes de merda armados, intimidando
minhas garotas. Bateram nos meus clientes... — Ela se cala quando o
segurança a empurra, usando o cano do revólver em seu ombro, fazendo
um gesto de cabeça para a cadeira.
Fico em silêncio e mantenho meu sorriso cortês em meus lábios,
levando meus dedos ao bolso da calça. A vejo caminhar, olhando para Raja
de costas, perto do fogão, ficando mais desconfiada.
— Espero que não se incomode em eu ter tomado a liberdade de
pedir para Raja acender o fogão, sempre costumo tomar um chá quente
nesse horário. — Gesticulo com minha mão esquerda para Raja, que se
mantém de costas e leva a chaleira para cima da chapa quente de ferro. —
Gosta de chá, madame Mia? Garanto que Raja faz os melhores chás desse
mundo.
— Por que está em minha casa, quem é você? — ela me pergunta
séria e olha nervosa para Raja.
— Por Rá, onde estão meus modos, Raja! — digo, rindo, e nego
com a cabeça, olhando para ele. — Como não pude me apresentar para
madame Mia?!
Ele olha para mim por cima do ombro, enquanto leva mais lenha
para o fogão, o mantendo bem aquecido.
— Perdão, madame. — Me volto para ela e retiro a mão do bolso, a
deixando espalmada em cima do meu peito. — Sou Ramsés de Naca, temos
um conhecido em comum, Yusefe Rumão, que recentemente foi um hóspede
de sua casa.
Meu sorriso amável se desfaz enquanto apenas mantenho o olhar
frio a encarando, vendo o sangue fugir da sua pele branca, a deixando
mais pálida.
— Não sei de quem está falando, nunca ouvi esse nome.
— Deveras não é tão importante, já que não foi exatamente a
existência dele que me fez vir até esse buraco. — Respiro fundo e relaxo
meus ombros, desviando meus olhos dela para o piso frio no chão. — E sim
o que ele levou quando partiu daqui. A senhorita Stella, a conhece? —
digo, baixo, o nome do pequeno Corcel, imaginando seu miúdo corpo
encolhido, dormindo feito um bicho dentro dessa cozinha.
A cafetina que já estava pálida apenas em tocar no nome de Yusefe,
agora está aterrorizada. Balança sua cabeça rapidamente em negativo,
enquanto respira depressa.
— Nenhuma das minhas garotas tem esse nome. — Ela desvia seu
olhar, o deixando fixo em Raja, de costas.
— Jura? Nunca morou uma jovem chamada Stella por aqui, com
olhos negros de pantera e língua afiada, assim como sua bravura em seu
pequeno corpo... — Dou um passo à frente e me aproximo lentamente.
Inclino meu rosto e fico perto da sua face, ouvindo sua respiração agitada.
— Talvez a reconheça pelo apelido de Sujeira, o qual as prostitutas limpas
deram para ela. Uma jovem que foi largada no orfanato e adotada aos
nove anos, trazida para cá. Criada como bicho, dormindo no chão dessa
cozinha imunda, escravizada. — Tombo meu rosto para o lado e a olho com
interesse. — Certeza que não a conhece?
Ela se mantém em silêncio e desvia seus olhos de mim, encarando
Raja, enquanto nega com a cabeça e espreme seus lábios. Balanço minha
cabeça em positivo, me afastando dela e ficando com minha posição ereta.
Raja se afasta do fogão e caminha em silêncio para a outra ponta da
cozinha, abrindo o armário e retirando uma manta de dentro dele, o
jogando em cima da mesa. Os olhos da velha se viram e encaram a
coberta, em seguida se voltam para mim, enquanto ela balança a cabeça
rapidamente para os lados em negativo.
— Isso pertencia a um dos bichinhos de estimação da casa. —
Minha boca se esmaga, enquanto a veia da minha testa treme ao ouvir a
voz dela mentindo enquanto alisa a coberta velha.
— Pois bem, se está dizendo! — falo seriamente e encaro a cafetina
mentirosa, abrindo um sorriso e relaxando meus ombros. — Acho que
cometemos um engano, Raja!
Olho para ele e esmago meus dedos ao lado do corpo. Raja se
mantém taciturno, levando suas mãos à frente do corpo, ficando em modo
de sentinela atrás da cadeira dela.
— Sim, cometeram... Jamais tive algu...
Seu grito invade a cozinha no segundo que meu braço se estica e a
prendo pelos cabelos, a erguendo da cadeira. Seguro seu outro braço
quando a giro, a arrastando comigo, indo para perto do fogão. Minha mão
solta seus cabelos e lhe dou uma chave de braço, a mantendo presa pelo
pescoço.
— Não minta para Ramsés de Naca, puta velha! — rosno entre os
dentes e fecho meus olhos, inalando fundo o cheiro de pele queimando, que
se espalha na cozinha quando forço sua mão aberta na chapa quente de
ferro do fogão.
— OH, MEU DEUSSS! — ela grita e se debate, tentando tirar seus
dedos, mas seguro mais forte seu braço, a fazendo continuar queimando a
pele da sua mão, grunhindo feito uma maldita porca.
— Diga o nome dela, cadela! — falo com ódio e abro meus olhos,
virando meu rosto para a chapa, colando mais forte sua mão ao fogão. —
A criança que criou no chão dessa cozinha, feito bicho, a menina que você
queimou os dedos nesse mesmo fogão, diga o nome dela, puta mentirosa!
— STELLA, TELLA, EU A CONHEÇO.... A CONHEÇO... OH,
MEU DEUS! — Ela chora e grita ao falar o nome do pequeno Corcel. —
Conheço ela, Yusefe a levou.
Solto seu pescoço e volto a segurar nos seus cabelos, forçando sua
cabeça para frente, a deixando a poucos centímetros do fogão, parando
meus lábios próximo ao seu ouvido.
— Minta para mim de novo, puta velha, e eu juro que vai precisar
de uma espátula para tirar seu rosto dessa chapa. — A solto e empurro-a
para trás, a deixando cair no chão, chorando, segurando seus dedos com
nervos e músculos abertos queimados.
Respiro fundo e fecho meus olhos, empurrando meus cabelos para
trás, dando um leve sorriso, enquanto por dentro meus demônios estão
soltos. Abro meus olhos e arrumo o terno em meu corpo, alisando as
mangas.
— Vamos começar novamente! — Me agacho à sua frente e a vejo
se encolher de medo, arrastando sua bunda para perto da parede,
chorando enquanto olha apavorada para mim. — Como a menina chegou
até você?
— Eu apenas cuidava dela, apenas tinha que cuidar dela até chegar
a hora deles virem buscá-la. Mais nada, não sei mais nada sobre ela... —
Sua cabeça se move para frente e para trás, com ela chorando.
— Conte! — digo, sério, e prendo sua mão queimada pelo pulso,
esticando seu braço para mim.
— Não tem mais nada, nada, eu juro... — Ela funga e chora,
tentando puxar seu braço.
— Raja! — o chamo e estico minha outra mão, a deixando suspensa
no ar. A puta vira sua face e olha para ele, o vendo caminhar para perto de
mim, retirando sua faca de caça da cintura e me entregando.
A rodo em meus dedos, deixando a ponta dela virada para a palma
dilacerada pela chapa quente, mantendo meus olhos nos seus.
— Conte a verdade! — Ela grita e se retorce quando a ponta da
faca afunda na pele machucada, e tenta puxar seu braço.
— A mãe dela... — ela grita as palavras entre o choro e afasto a
faca da sua mão, lhe olhando com interesse. — Foi a mãe dela que a trouxe
para cá. Ela apareceu um dia na hospedaria, carregava a menina nos
braços, ainda era um bebê de colo.
— Nome? — Solto sua mão e me aproximo um pouco mais dela,
deixando a lâmina colada em sua bochecha.
— Shei, o nome dela era Shei. — A cafetina fecha os olhos e tenta se
afastar da lâmina quando empurra sua cabeça para trás. — Ela era só uma
puta, me pediu abrigo para ela e para a menina... Eu disse que se ela
ganhasse dinheiro pelas duas, podia ficar. Eu pensei que ela estava fugindo
de algum outro cafetão, que tinha se envolvido com algum traficante, por
isso estava vindo se esconder nesse fim de mundo.
Alivio a pressão da faca em seu rosto, prestando atenção em suas
palavras.
— Quando a menina tinha três anos, uma mulher apareceu aqui
atrás da Shei. Ela disse que Shei tinha fugido com algo dela, e ela a queria
de volta...
— E você a entregou, não foi?! — rosno, baixo, sabendo que com
toda certeza foi isso que a cafetina gananciosa fez.
— Qual é? Acha mesmo que eu ia ficar escondendo uma puta com
uma criança, sendo que a mulher que veio aqui era poderosa, cheia da
grana e ficou me ameaçando...
— Nome, puta velha! Me dê nomes! — Volto a faca para seu rosto e
sinto minha boca espumar de ódio.
— Valéria... Ela se chama Valéria — a mulher fala apressada e abre
seus olhos, me encarando enquanto chora. — Ela levou as duas, eu não sei
o que houve, ok, qual o lance de Shei com essa mulher, mas as duas foram
embora daqui juntas, levando a criança... Alguns anos depois essa mesma
mulher voltou, ela me ofereceu uma grande quantia de dinheiro para ir até
o orfanato buscar Tella, e eu não quis perguntar o que tinha acontecido
com a Shei, mas pelo ódio que aquela mulher a levou embora quando
partiu, eu sabia que ela não iria viver. O acordo era eu cuidar da menina, a
deixar aqui dentro, aprendendo com as garotas como agradar os clientes,
mas nenhum homem podia tocar nela. Valéria que mandou a tratar como
um bicho, disse que ela tinha que ser selvagem, mas ainda assim obediente,
que quando a hora chegasse, ela voltaria para pegar a menina.
Me afasto dela quando me levanto, encarando Raja e lhe
devolvendo a faca. Ele está em silêncio ao ouvir o mesmo que eu, ficando
pensativo.
— Acha que a mãe dela era uma submissa de Valéria? — ele
pergunta, sério, me encarando.
— Quase certeza — murmuro e respiro fundo, desviando meus olhos
dele e olhando para o canto no chão, onde ela devia dormir.
— Não pude fazer nada quando ela voltou aqui e veio buscar a
garota, e deixou Yusefe encarregado de levá-la embora.
— Tenho certeza de que realmente não pôde fazer nada — falo com
nojo e desvio meus olhos do chão, a encarando.
Respiro fundo e passo meu olhar com desgosto pela cozinha
pequena, onde foi o único abrigo que o Corcel teve. A arma está em
segundos em minha mão, quando levo meu braço para trás e saco o
revólver, me abaixando novamente de frente para ela, prendendo meus
dedos em seu cabelo.
— Onde estão os documentos dela? A certidão de nascimento e o
registro de adoção? — A confronto, não a deixando desviar seus olhos dos
meus.
— Eu não sei. Oh, meu Deus, eu não sei... — Ela ergue suas mãos
para o alto e nega com a cabeça. — Juro que não sei, eu apenas a peguei
no orfanato, eles não me deram nada. Valéria ficou com eles...
— Qual a idade verdadeira dela? — Aperto mais forte sua cabeça,
a fazendo gritar.
— DEZESSETE... ELA TEM DEZESSETE... — Sua voz grita mais
alto, me condenando ao confirmar a idade do Corcel. — O combinado era
pegar ela só daqui alguns meses, acho que três ou dois, eu não sei. Mas
eles vieram antes, Valéria a queria antes de completar dezoito anos, disse
que a garota valeria mais... Oh, meu Deus! — ela grita mais alto quando
ergo meu revólver para a direção do seu rosto, sentindo ódio e vontade de
matar Valéria e essa cafetina maldita.
— Abra a boca, puta! — rosno com raiva e enfio o revólver na
frente dos seus lábios, batendo sua cabeça na parede.
Assim que ela abre a boca para gritar de dor, empurro o revólver
para dentro, mantendo meus olhos presos aos seus.
— Chupa! — A palavra sai da minha boca enquanto espumo de
ódio, destravando o revólver e o enfiando mais para dentro dos seus lábios.
Ela se debate, tentando afastar sua cabeça, fechando seus olhos
enquanto chora, ficando com sua maquiagem borrada, parecendo um
demônio maldito, que castigou a única alma pura que já deve ter pisado
aqui dentro.
— CHUPA A PORRA DA ARMA! — falo mais alto e fico a poucos
centímetros do seu rosto com o meu.
Prendo seus cabelos tão forte em meus dedos, como se pudesse os
desprender do couro da sua cabeça. Empurro a arma com mais força e a
faço tocar no fundo da sua garganta, enquanto ela arregala seus olhos e
chora com sua face vermelha, chupando o revólver como se fosse um pau
em sua boca.
— Dá próxima vez que obrigar uma criança a pôr um pau dentro da
boca dela, se lembre bem do meu rosto, pois ele será o último que você vai
ver antes de eu ordenar meus homens a fuzilarem você. — Travo o revólver
lentamente e retiro da sua boca, a olhando com puro asco. — Saberei cada
passo que der, cada dinheiro que ganhar em cima de alguma mulher, e, por
Rá, se lucrar em cima de alguma alma inocente, como fez com Stella,
rezará para encontrar o diabo antes de mim, mulher.
Levanto e puxo a arma com força da sua boca, a entregando para
Raja, desviando meus olhos dela.
— Queime esse lugar depois que jogarem os vermes para fora dele!
— Dou a ordem a Raja, andando para fora da cozinha e ouvindo os gritos
da velha.
Passo em silêncio pelo hall e vejo as putas sentadas ao chão, com
suas cabeças baixas, e alguns clientes pelados ao lado delas, com seus
rostos machucados, tendo meus homens armados os encarando. Observo o
lugar decadente enquanto ando para a saída, imaginando-a aqui dentro,
perdida no meio de todo esse lixo, sobrevivendo de migalhas. Respiro fundo
quando abro a porta e saio da hospedaria, desejando poder ver seus olhos
negros felinos, sentir seu cheiro que me condena todos os dias, desde a
última vez que pus meus olhos nela.
Saí daquela casa precisando me afastar de Stella, ficando pela
primeira vez na minha vida indeciso sobre meus valores. Meu corpo a
deseja na mesma medida que minha mente pensa apenas nela. Stella entrou
como veneno em meu organismo, me enfeitiçando em seu encanto de
menina, com seu olhar sedutor que pertence a uma mulher devassa. Pensei
que interceptar os homens de Abasi me acalmaria e ajudaria a descarregar
toda minha ira, a descontar meus demônios em outra coisa, com os gritos e
o tiroteio ao redor. Cada bala que disparei contra a caravana quando meus
homens os atacaram, nada foi o suficiente para aplacar o maior desejo que
minha alma condenada pede.
Fui para a França depois disso, conversar diretamente com Oliver,
lhe avisar que não entregaria Stella ainda, precisava a manter comigo,
usando a desculpa que Yusefe viria atrás dela e eu precisava da menina
como isca. Mas a quem eu verdadeiramente queria enganar, quando dentro
de mim sabia que eu jamais abriria mão do belo Corcel negro?! Me afastei
ainda mais, tentando me afundar no trabalho, viajando entre os hotéis que
me pertencem, tentando esquecê-la durante o dia, apenas lhe vendo a noite,
quando me atormentava em sonhos. Amina me contava sobre ela, me fazia
parecer um viciado em droga, sobrevivendo de pequenas quantias de
cocaína diariamente, falando sobre ela estar mais alegre, mais sorridente e
menos arisca. A professora que mandei para ela, a achava inteligente e
esperta, pois aprendia muito rápido o que lhe era ensinado.
Por muitas vezes ao telefone me peguei torcendo para Amina não
me dar a notícia que a menstruação de Stella tinha descido, pois sabia que
se minha semente tivesse ficado dentro dela, eu não a deixaria partir, a
manteria ao meu lado. E me sentia um miserável doente, ao desejar com
todas as minhas forças, prender sua juventude ao meu lado, como minha
delicada flor do deserto, onde eu escondo entre as dunas da areia do Egito.
Havia lhe feito uma promessa e eu pretendia cumprir. Mandei Raja até o
orfanato desativado onde Stella foi deixada. Não havia registro algum
sobre ela lá, tinha esperança que fosse mais alguma manobra de Valéria,
que meu pequeno Corcel fosse mais velho, mas a maldita cafetina arrancou
de mim minha salvação ao confirmar a idade de Stella.
— Os homens reviraram toda a hospedaria, não existe nenhum
documento dela aqui dentro. — Raja me alcança e anda ao meu lado em
direção ao carro.
Os homens expulsam as prostitutas e os clientes, arrastando a velha
cafetina para fora, os enxotando.
— O que pretende fazer, para onde quer ir agora?
Abro a porta do carro e retiro meus óculos do bolso do paletó, os
levando ao rosto, me virando e olhando o andar superior da hospedaria
começando a queimar.
— Para as dunas do Cairo — o respondo sério, desviando meu rosto
da hospedaria e entrando no carro.
Minha alma negra já tinha decidido por mim qual decisão eu
tomaria. Que Rá me perdoasse, mas não me negaria a ter o Corcel em meus
braços para sempre.
Seus olhos negros estão presos aos meus, com sua mão em meu
peito, enquanto choco meu quadril ao seu, esmagando meus dedos em suas
pernas e as trazendo para cima da minha bunda.
— Ohhhh! — Um gemido escapa da sua boca a cada centímetro que
meu pau vai se empurrando para dentro da sua boceta, me fazendo queimar
em seu fogo.
Inclino meu rosto para frente e lambo seu pescoço, escorrendo
minha língua por sua pele, ouvindo os gemidos baixos que saem da sua
boca, com ela circulando meu pescoço com agonia. Minha outra mão,
parada ao lado do seu rosto, espalmada em sua bochecha, escorrega meu
anelar por sua boca, e em um movimento rápido ela o suga para dentro, o
chupando. Arqueio meu tórax para cima apenas um pouco, para não perder
uma única reação que seja da sua face, enquanto meu pau se afunda dentro
da sua vagina. Stella chupa meu dedo com mais força, escorregando sua
língua por ele de forma travessa, deixando seus olhos fixos nos meus,
enquanto geme e suga meus dedos, me tendo escorregando para dentro dela,
sentindo cada maldito nervo da sua boceta se contraindo em volta do meu
pau, quente, molhada, mais perfeita do que eu podia me lembrar. Tão
perdida em seus desejos, me abraçando mais forte, ao ter pélvis colada a
pélvis.
Retiro meu dedo da sua boca e a tomo para mim ao chocar meus
lábios com os seus, a beijando com pura paixão. Um corpo felino em
chamas que me arranha, cravando suas unhas em minhas costas, me
beijando com a mesma intensidade. Colo meu peito ao seu e começo a me
movimentar dentro dela, me retirando lentamente e voltando para a
quentura da sua boceta. Encontro meu céu, meu inferno, meu mais perfeito
e lascivo oásis, no vai e vem do meu corpo fodendo o seu. Stella
choraminga entre meus beijos, prendendo suas coxas em minha cintura, as
circulando em volta dela. Minhas mãos escorregam por seu corpo, parando
em sua bunda e esmagando mais forte a pele, sentindo sua maciez em um
rápido movimento, e empurro minhas costas para trás, a trazendo comigo, a
deixando montada em mim, a sustentando pela bunda. Aumento o ritmo do
meu pau a fodendo com mais brutalidade, arrancando soluços dela, lhe
castigando da mesma forma como fez comigo, me amaldiçoando em sonhos
doces, apenas para me jogar no limbo quando acordava e não encontrava
seu corpo ao meu lado da cama.
— Olhe para mim, Corcel — falo firme e solto seu rabo, prendendo
meus dedos em seus cabelos e afastando sua cabeça da minha.
Seus lábios inchados se entreabrem junto com seus olhos brilhantes,
repletos de luxúria.
— Sente a forma como meu pau está fundo dentro de você? —
pergunto, rouco, e forço seu quadril para baixo, aumentando o impacto da
penetração, extraindo da sua garganta outro gemido de prazer.
— Sim... Oh, Deus, sim... — Ela balança sua cabeça em positivo,
respirando mais depressa, se segurando em meus ombros. — Sinto, sinto
ele todo...
— E será apenas ele, Corcel, que seu corpo vai conhecer. — Perco
meus olhos por sua face, sabendo que nada me fará abdicar dela.
Tinha me sentenciado a me queimar em seu fogo no segundo que
entrei no avião e voltei para o Cairo, vindo atrás dela como um cão
selvagem, desejando meu doce Corcel, sabendo que não me condenaria um
único dia que fosse, me privando de tê-la marcada como minha.
— Só eu toco em você, entendeu?! — Minha voz sai ríspida,
embargada de desejo e possessividade, e seguro mais firme seus cabelos.
— Sim... — Stella murmura lentamente e ergue seus dedos, tocando
minha boca, a alisando, me dando um sorriso tímido.
— Só eu!
Solto seus cabelos e abraço suas costas, a beijando com ardor,
aplacando meus demônios, que buscam se libertar em sua inocência. Fico
de joelhos sobre a cama, nos levantando e erguendo apenas um pouco seu
quadril, afundando com mais força dentro dela, enquanto a beijo. Stella se
aperta mais forte em mim, com suas pernas em meu quadril e seus braços
circulando minhas costas, recebendo cada estocada funda que meu pau dá
quando se choca com sua pélvis. A tombo para trás e deixo suas costas no
colchão, com seus seios empinados para mim quando ela se arqueia, os
segurando em meus dedos, libertando seus lábios apenas, para abaixar
minha cabeça e o sugar com mais fome, os fazendo encher minha boca e
raspar meus dentes em cima da pele.
Stella geme entre sussurros e solta minhas costas, segurando meus
braços, com seu corpo se movendo para cima a cada estouro do meu
quadril, com meu pau se enterrando fundo dentro dela. Minhas costas vão
para trás novamente e prendo meus dedos em seu quadril, a mantendo presa
a mim enquanto a fodo, admirando a mulher em chamas, que queima de
prazer, me tendo dentro dela. Uma das minhas mãos solta seu quadril e aliso
seu ventre, deixando meus olhos parados sobre ele, me fazendo ficar mais
dominante, como um homem da caverna, a fodendo com selvageria, me
enchendo de prazer por saber que meu pau é o único a conhecer o céu que
Stella pode levar um homem.
Ela grita mais alto e abre seus olhos, os deixando presos aos meus,
juntando sua mão com a minha em seu quadril, prendendo seus dedos entre
os meus. Aumentando as estocadas, paro meu dedo sobre seu clitóris e o
massageio em círculos, vendo o broto inchado da sua boceta lisa, bela e
perversa engolindo meu pau dentro dela. Stella se treme, apertando suas
coxas mais forte ao redor do meu quadril, ficando mais quente, mais úmida,
pulsando suas paredes internas por dentro, e então a deixo correr livre.
Liberto meu pequeno Corcel quando a fodo mais duro e fundo, vendo o
orgasmo lhe rasgando de dentro para fora, enquanto ela geme, mordendo
seus lábios, sem desviar seus olhos da minha face.
A penetro mais profundo e sinto cada centímetro do seu interior,
tendo meu próprio gozo me implorando para ser livre. A bateria de
estocadas ficam mais fortes, mais densas, enquanto apenas ela me tem
completamente entregue a ela, a marcando como minha, quando meu pau
explode mais três vezes com brutalidade dentro do seu corpo, antes do gozo
me pegar, libertando toda minha porra dentro dela, que me suga com mais
pressão, prendendo meu pau com sua boceta, se apertando em volta dele. O
som rouco do meu gemido estoura dentro do quarto, com meu corpo
tremendo da cabeça aos pés, sentindo os jatos de porra a preenchendo. Foco
meus olhos no seu corpo suado e trêmulo, tão perfeito como as dunas do
deserto, enquanto respira rápido e olha sorrindo para mim. Meu corpo
desaba sobre o seu e uso minhas mãos ao lado do seu corpo para sustentar
meu peso para não a machucar. A ponta da sua unha toca meu peito, com
ela abrindo sua mão lentamente, a deixando espalmada em cima do meu
coração, o sentindo bater rápido, abaixo da pele, como se fosse pular para
fora. A vejo piscar e olhar confusa para seus dedos, erguendo sua outra mão
e levando para o peito dela, o sentindo como faz com o meu, elevando seus
olhos para mim, me olhando de forma curiosa.
— Estão rápidos... — ela murmura e afasta os dedos do seu peito,
ainda deixando sua mão espalmada sobre o meu.
— Sim, estão. — Olho para seus seios e os vejo se movimentarem
conforme ela respira agitada. — Como cavalos selvagens.
Ela sorri para mim e abre suas covinhas, levantando seu rosto e o
trazendo para perto do meu, erguendo seus braços para meu pescoço, me
fazendo morrer na doçura da sua boca quando me beija de forma lenta e
carinhosa, me rendendo por completo em seus braços. Meu quadril volta a
se mover lento, a fazendo gemer, sentindo sua boceta ainda mais úmida e
quente, fazendo meu pau desejar querer ficar dentro dela para sempre, a
fodendo devagar e brando, igual ela faz comigo, me beijando assim, tão
submissa e domada.
Meu Corcel em chamas.
Paro perto do guarda-roupa, me escorando na parede com meus
braços cruzados, olhando o pequeno corpo todo encolhido ao chão,
enrolado na manta. Sua respiração sobe e desce lentamente, me deixando
saber que está em um sono pesado. Fico em silêncio e observo a cama
vazia. Tinha absoluta certeza de que depois que tirasse o maldito tapete do
quarto, ela dormiria na cama ao invés do mármore, já que teria apenas uma
coberta a protegendo do chão frio.
— Por Rá, criatura teimosa! — murmuro, zangado, e balanço a
cabeça para os lados.
Ainda bem que não tinha vindo vê-la na noite passada, estava
tentando controlar minha ira e raiva por ainda não ter descoberto quem foi o
comerciante que mandou o garoto dar pêssegos envenenados para ela.
Tinha lhe tirado da praia às pressas, ordenando a Raja para colocá-la dentro
de um carro com Amina e trazê-las de volta para casa, não podia ficar perto
dela. Não quando dentro de mim sentia vontade de matar alguém. A deixar
ver minha verdadeira essência fora de controle apenas a deixaria mais
assustada. Tinha esperado a manhã chegar e eu apaziguar minha raiva, para
poder me aproximar dela novamente. Mas aqui está o pequeno Corcel,
conseguindo me deixar ainda mais zangado por ela não se deitar na maldita
cama desse quarto.
Seu corpo se balança, se esticando ao chão como um filhote de gato
preguiçoso. Ela abre a boca e boceja sonolenta, soltando um leve gemido,
esfregando seus olhos quando desperta, notando minha presença parado
perto dela, escorado na parede, assim que seus olhos se encontram com os
meus. Em um rápido movimento, ela se senta, olhando arisca para mim,
arrastando seus pés no chão e trazendo suas pernas para perto do seu peito
quando as flexiona.
— Às vezes, poderia apenas só bater na porta, ao invés de entrar e
ficar me encarando enquanto durmo. — A voz dela sai baixa enquanto
deposita seu queixo em seu joelho e desvia seus olhos dos meus para a
coberta.
— Às vezes, poderia dormir na cama, ao invés do chão! — falo,
firme, mantendo meu olhar fixo nela.
— O senhor mandou tirar o tapete do quarto — ela sussurra e
desliza seu dedo no chão, contornando o desenho do mármore.
— Você só tinha que se deitar e dormir na cama, Corcel. — Sinto a
veia pulsar em minha garganta enquanto respiro mais forte.
— É só uma cama, senhor, não gosto de dormir nelas... — Ela ergue
seus olhos para mim e me encara de forma afrontosa. — Traga o tapete de
volta, que não durmo no chão frio.
— Por quê? Por que não pode dormir na porcaria da cama?! —
Aponto a cama ao seu lado, a olhando seriamente. — Se deitou nela
comigo...
— Mas não foi para dormir, apenas me deito nela quando o senhor
me toca em busca de prazer... — Ela fala de um jeito tão inocente, que me
faz calar e olhar para a cama. — O senhor não veio na noite passada, me
tocar, então meu lugar não era em cima dela, mas sim no chão.
Respiro fundo e me desencosto da parede, ficando de costas para
Stella. Compreendo exatamente o que ela entende sobre se deitar na cama
agora.
— Rá! — Ranjo meus dentes e esmago meus dedos ao lado do
corpo. — Pensa que só pode se deitar nela quando for para me agradar,
Corcel?
— Dorien explicou para mim que é assim que as coisas tinham que
ser, que me deitaria na cama apenas para agradar o homem que me tocasse,
depois eu voltaria para dormir no meu canto...
— Quem é essa Dorien, Stella?
— A prostituta que madame Mia ordenou para me ensinar a agradar
os homens — ela murmura para mim, me fazendo sentir mais ódio por essa
mulher. Devia ter disparado o revólver dentro da boca da maldita cafetina.
— O senhor Ramsés ficou bravo comigo por conta do animalzinho? Eu juro
que não sabia que ele não podia comer pêssegos...
— Não estou bravo com você, Stella. — Viro e fico de frente para
ela, mas me calo, sentindo a ruína dentro da minha alma, com meu fôlego
ficando preso ao ver sua submissão.
Stella está sentada em seus joelhos, com suas mãos em cima das
pernas, olhando para o chão, fazendo meu corpo todo reagir a apenas esse
gesto inocente dela, mas que para um dominador é esmagador. Uma
submissa alfa, dócil e obediente, encarando o chão, à espera do seu senhor.
Sorrio com amargura e vejo a marca das Messalinas que tinham imposto a
ela, ao ser criada dentro de um maldito puteiro, onde apenas sujeira foi lhe
ensinado, a fazendo se tornar uma felina indócil. Mas ainda assim é uma
alma submissa.
— Por Rá, levante-se desse chão, Stella! — falo, firme, tendo a voz
mais ríspida do que eu gostaria, não conseguindo esconder como meu ego
dominador fica agitado ao reconhecer uma alma submissa diante dele.
Ela ergue sua cabeça para mim e me olha confusa quando estico
minha mão e seguro seus ombros, a levantando. Eu estava sendo condenado
por ter a única coisa que eu não podia desejar tanto quanto a desejo diante
de mim. Uma fraqueza, uma pequena e bela fraqueza que nunca imaginei
ter. Sou tão monstruoso quanto Valéria, que a condenou quando a jogou no
orfanato, e mais abominável que a cafetina que a criou, a moldando para ser
assim, roubando sua infância, sua juventude e a moldando para se tornar
uma submissa alfa selvagem. Tinha repudiado com todas as minhas forças a
ideia assombrosa que Freire[19] apresentou diante do conselho de Sodoma
anos atrás, para agora estar aqui, diante de uma submissa alfa, dentro da
minha casa, feito um cordeiro entregue a ela. Minha mão escorrega por seu
braço e toco sua pele, o tecido da camisola, espalmando meus dedos sobre
seu ventre, enquanto respiro fundo, me perdendo em seus olhos negros.
— Sabe o que nós dois fizemos na primeira noite em que se deitou
comigo, Corcel? Tem alguma ideia... — pergunto, baixo, e aliso sua barriga,
sentindo meu peito bater disparado, enquanto os olhos inocentes de Stella
me dão a resposta.
— Eu lhe entreguei o que estava dentro de mim, que fez o senhor
Yusefe querer me vender...
Fecho meus olhos e dou um sorriso frio, sentindo ódio de mim por
ter sido fraco e caído diante do feitiço dela, por ter me submetido a uma
submissa que não tem ideia de como ela me abateu com seu espírito
selvagem e sorriso puro. Minha outra mão em seu ombro se ergue e aliso
seus cabelos, enquanto se espalma em seu rosto, a tendo tão bela olhando
para mim, como uma perfeita rosa delicada cheia de beleza com suas
pétalas graciosas.
— Por Rá, Stella, às vezes penso que o melhor seria lhe deixar presa
para sempre dentro desse quarto... — Abro meus olhos, sendo devastado
pelas íris negras de pantera. — Como uma rosa silvestre e delicada,
protegida dentro de uma redoma de vidro...
Sinto o toque dos seus dedos em meus braços no segundo que
inclino minha cabeça para frente e beijo sua boca, a tendo entregue para
mim de forma branda. Meus braços a enlaçam e a trago para perto de mim,
a beijando com mais passividade, ouvindo os gemidos doces que escapam
da sua boca. O som das batidas na porta se fazem altos, com a voz de um
dos seguranças me chamando. Stella desprende seus lábios dos meus,
encostando sua testa em meu peito e respirando com euforia, me fazendo
ouvir sua risadinha quando o segurança insiste nas batidas, me chamando
mais alto.
— Amina virá lhe ajudar a se vestir para o café da manhã — falo,
baixo, e afundo meu nariz em seus cabelos, respirando profundamente. —
Preciso ir, tenho assuntos para resolver. — Paro meus olhos na cama e a
encaro. — À noite eu volto para lhe ver, Corcel.
Me afasto dela e evito deixar meus olhos parar nos seus, não a
deixando ver como ela me tem feito um cordeiro diante da sua inocência.
Viro e caminho para a porta, andando a passos duros. Estico meu braço e
giro a maçaneta, abrindo e encontrando a figura do homem suado,
respirando depressa, me olhando.
— Encontramos o comerciante, chefe! — ele fala rapidamente para
mim, enquanto sinto meus demônios sendo libertos novamente. — Raja
pediu para eu vir lhe avisar.
Raja Sarém
Acendo meu cigarro e escoro na parede, vendo Ramsés chegar com
sua face carrancuda no alojamento dos seguranças. Seus passos são lentos,
com um olhar cruel quando para na frente do homem que está sangrando na
barriga, pelo tiro que eu dei nele quando tentou fugir de mim no mercado
do Cairo. O vendedor está com os braços erguidos, algemados na corrente,
o que o faz ficar suspenso do chão, e tem uma poça de sangue abaixo dos
seus pés. Confesso que meus punhos já estão doloridos pelo tanto que
soquei a cara do desgraçado, mas ele simplesmente não fala nada, apenas se
nega a contar quem foi que mandou ele dar veneno para a garota. Foi fácil
chegar até ele, dinheiro abre a boca e condena os culpados. Um outro
vendedor nômade foi quem o entregou, tinha o visto conversando com o
garoto na entrada do vilarejo, dando o saco de pêssegos para o menino.
Escuto o grito agonizante que sai da boca dele quando Ramsés ergue o
braço e esmaga seu pescoço. Ramsés dá um passo à frente e o encara sério,
enfiando seus dedos dentro do buraco do ferimento à bala na barriga do
comerciante. O grito agonizante invade a sala toda, ficando mais alto
enquanto ele se contorce de dor.
— Quem lhe mandou envenenar a garota? — Ele aprofunda mais
ainda seus dedos no ferimento do homem. — RESPONDA!
— Eu não sei... eu juro! — o homem grita, desesperado, se
debatendo enquanto chora e nega com a cabeça. — Juro...
Trago meu cigarro e olho Ramsés o torturar ainda mais quando
empurra outro dedo, o afundando no machucado, abrindo-o ainda mais com
as próprias mãos.
— Arrancarei suas tripas com minhas mãos se não me contar o que
quero saber. — O homem se debate, parecendo um cordeiro sendo
estripado, enquanto outro dedo de Ramsés invade o ferimento, com ele os
girando lá dentro.
— Ahhhh! Meu... Deus... Eu não sei, não sei! — o homem grita em
meio à dor, negando com a cabeça.
Ramsés solta seu pescoço e solta um soco na boca do estômago do
homem, deixando seu punho explodir com pura força. Não me recordo de
quando foi a última vez que o vi libertando esse lado sombrio dele. Nos
últimos tempos, Ramsés o mantinha soterrado, não deixando sua crueldade
lhe governar. Ele retira seus dedos de dentro do ferimento e fecha suas
mãos com raiva ao lado do corpo, balançado a cabeça em positivo.
— Mais uma vez. — Sua voz sai baixa, enquanto enrola as mangas
da sua camisa e encara o homem. — Diga quem foi que lhe pagou para
envenenar a garota e prometo uma morte digna para você.
— O trabalho era só dar um jeito de fazer a garota comer. Eu só
tinha que entregar os pêssegos para a vadia...
O rosto de Ramsés se vira para mim, com seu olhar completamente
escuro, tendo seu maxilar travado. Ele dá um sorriso cruel, me deixando
saber que o comerciante tinha assinado sua sentença de morte no segundo
que chamou a garota de vadia. Ramsés é um homem de palavra, lhe dará
uma morte digna, mas digna de dor e muito sofrimento, antes do fim do
comerciante chegar.
— Raja! — ele fala com raiva e estica sua mão para mim, voltando
seus olhos para o homem.
Jogo o cigarro fora e desencosto da parede, caminhando para ele e
retirando minha faca de caça da minha cintura. Entrego-a para Ramsés, que
a segura com firmeza, levando para a garganta do homem.
— Nome, me dê um nome! — Ramsés leva seus dedos para o
ferimento de bala e enfia os cinco de uma única vez, aumentando o buraco
enquanto força sua mão para dentro.
— Para... por favor. — O homem chora e grita de dor, se debatendo,
amarrado. — Ela não disse, não disse o nome dela, apenas queria a menina
morta...
Ramsés estaca na mesma hora e vira sua face novamente para mim.
Vejo seus olhos se estreitando enquanto ele esmaga a boca, consumido
pelos seus demônios.
— Disse ela! — ele rosna, baixo, e volta a olhar o homem.
— Sim, sim, uma estrangeira...
— Como essa mulher era? — Ramsés esmaga sua boca e o encara.
— Olhos verdes, grandes olhos verdes, cabelos negros e pele branca
como leite. Ofereceu dinheiro, muito dinheiro para envenenar a menina...
— Valéria está no Cairo — digo rapidamente, olhando para Ramsés.
— Onde ela está? — Ramsés dá mais um passo à frente e deixa sua
face a centímetros do comerciante, introduzindo sua mão por inteira dentro
do ferimento.
— Não sei, não sei de mais nada... — o homem balbucia entre a dor,
se retorcendo. — Por favor... acabe com meu sofrimento, me prometeu uma
morte digna...
Ramsés balança sua cabeça lentamente em positivo e olha para ele,
se afastando apenas um pouco e comprimindo mais forte a faca em sua
garganta.
— E eu lhe darei! — Ele sorri de forma cruel, olhando para o
homem, afastando a faca do seu pescoço.
Tenho tempo apenas de dar um passo para trás antes que o sangue
das tripas, sendo arrancadas para fora com um único puxão, caia sobre
meus sapatos. Vejo sangue jorrar no chão, enquanto o homem se retorce, se
mijando em suas calças, tendo suas tripas sendo esmagadas pelos dedos de
Ramsés.
— Ramsés de Naca é um homem de palavra, comerciante, e lhe
darei a morte digna para um homem covarde que tenta matar uma mulher.
— Ramsés solta suas tripas, se afastando dele e entregando a faca para
mim. — Preguem o corpo dele nos portões do vilarejo, quero que todos
assistam os abutres comendo suas vísceras enquanto ele ainda está vivo!
O vejo se virar e dá um balançar de cabeça para os seguranças,
andando para fora do alojamento, arrancando sua camisa, a usando para
limpar seus dedos sujos de sangue. Fico em silêncio, parado ao seu lado,
enquanto ele respira fundo e prende seus olhos no deserto.
— Qual sua ordem? — pergunto para ele, o olhando, vendo seu
peito subir e descer enquanto respira com raiva, esmagando seus dedos na
camisa.
— Cacem essa cadela! — ele fala com ódio, rangendo seus dentes.
— Reúna os homens, revire o Cairo e o deserto do Egito inteiro, se for
preciso, mas tragam essa cadela para mim.
Me mantenho parado e o vejo jogar a camisa no chão, caminhando
em direção ao deserto, tendo apenas seus demônios como companhia. Viro
meu rosto para a porta do alojamento e vejo o homem dependurado, com
suas tripas para fora, sangrando como um porco abatido.
CAPÍTULO 12
A entrega
Stella Trud
— Então, gosta?
Ouço sua voz baixa atrás de mim, enquanto meus olhos ficam
presos nas grandes almofadas espalhadas no chão do quarto, sobre a
tapeçaria felpuda, com tantas cores e brilhos, ficando no lugar onde antes
tinha uma cama.
— Sim — murmuro e sorrio, olhando para os tecidos brancos que se
prendem no teto caindo para o chão, parecendo uma tenda protegendo as
almofadas. — O senhor retirou a cama do quarto...
Viro, olhando para ele, o encontrando a poucos passos de mim, com
um olhar calmo, dando de ombros.
— Não está mais no orfanato e nem na hospedaria, Stella, está
segura em minha casa — ele fala e solta um longo suspiro, parando seus
olhos nas almofadas. — Foi mais prático tirá-la do que lhe obrigar a dormir
na cama.
— Obrigada — falo, baixinho, lhe dando um sorriso. Ramsés volta
seus olhos para mim, me encarando.
— Era só uma cama, Corcel, não precisa agradecer... — Ele se cala
quando meu corpo se move rápido e o abraço por um impulso de alegria
que me assalta.
O sinto ficar rígido em um primeiro momento, enquanto meu rosto
se esfrega em seu peito. Sorrio, realmente alegre, me sentindo feliz pelo que
ele fez.
— Não estou lhe agradecendo por ter tirado a cama — digo,
baixinho, e mordo meus lábios, olhando para ele, que está ainda surpreso
com meu gesto. — Agradeço por escolher não me obrigar a dormir nela,
senhor.
Me afasto dele rapidinho, no segundo que seus braços se abaixam
com a intenção de me prender entre eles. Giro meu rosto e volto a olhar
para as almofadas, tão bonitas e arrumadinhas no chão. Caminho lenta para
elas e me abaixo, esticando meu braço e afagando o tecido com os meus
dedos. Ninguém nunca tinha feito algo assim para mim, nunca me
perguntaram se eu gosto de algo, sempre recebi ordens para me obrigar a
fazer algo que eu não tinha vontade.
— É tudo tão bonito. — Sorrio mais alegre e me ajoelho, olhando
tantas cores vibrantes e quentes das almofadas.
Laranjadas, roxas, rosas, azuis, douradas, nunca tinha visto tanta cor
bonita junto. Puxo uma em meus dedos e afago com carinho. Sabia que ele
tinha me dado muitas coisas, roupas, presentes, a proteção da sua casa, mas
esse é especial, porque foi a primeira vez que alguém se importou com as
minhas vontades, que não fez eu me submeter às vontades dele.
— Dá vontade de não sair nunca mais daqui... — sussurro e
deposito a almofada de volta ao lugar.
— Se for o seu desejo. — Movo minha cabeça ao ouvir sua voz
perto de mim e giro meu rosto, olhando por cima do meu ombro e o vendo
agachado atrás de mim. — Apenas me peça, lhe darei o que deseja.
Me encolho quando seu braço se estica e alisa meus cabelos,
passando seus olhos em minha face. Giro meu corpo e apoio minhas mãos
atrás de mim, empurrando minha bunda para trás e colocando um espaço
entre nós. Ele fecha seus dedos, ainda tendo seu braço esticado no ar, como
se pudesse me tocar novamente.
— Selvagem e arisca — murmura e dá um sorriso para mim,
abaixando seus olhos para minhas pernas. — Ainda não confia em Ramsés,
Corcel?
Ele ergue sua cabeça e me encara, deixando seus olhos marrons
presos nos meus. Nego com a cabeça e a balanço para os lados, prestando
atenção nos seus movimentos lentos quando estica sua mão e escorrega seus
dedos por minha perna.
— Não?! — ele diz com a voz calma, e olha para mim, sorrindo.
— Não! — o respondo e presto atenção nos seus dedos subindo
lentamente por meu tornozelo.
Não minto para ele. Por mais que o senhor Ramsés cause sensações
boas em meu corpo, me deixando arrepiada e fazendo eu sentir como se
todo ar dos meus pulmões fosse arrancado de dentro de mim quando ele me
toca, ainda assim não confio nele. Algo dentro de mim sente medo e ao
mesmo tempo alegria quando ele me olha da forma que está me olhando
agora, com tanta intensidade. É como se pudesse me prender para sempre
ao seu lado, e me sinto estranha ao pensar nisso, porque mesmo querendo
partir, uma parte minha se sente feliz em ficar junto dele. O senhor Ramsés
busca em meu corpo a mesma coisa que os clientes buscavam nas
prostitutas: calor e prazer. A diferença é que ele não deseja apenas isso, mas
sim minha rendição, em aceitar ficar aqui para sempre junto com ele.
— Não confia em mim, mas gosta quando eu te toco, Corcel? — Ele
circula o dedo lentamente em meu tornozelo e sobe de mansinho.
— Sim... — respondo e respiro fundo, não conseguindo controlar os
arrepios em minha pele ao sentir o toque dele em mim.
Seu corpo se movimenta rápido para frente, me fazendo receber
todo seu peso sobre o meu, nos empurrando para trás, tendo minhas costas
colando nas almofadas, com ele pairando sobre mim.
— Corcel selvagem e sedutor — ele murmura, rouco, com sua testa
se esfregando em meu pescoço, e respira fundo, com seus lábios raspando
no vale dos meus seios.
Sinto suas mãos se esfregarem na lateral das minhas pernas e
arrastarem o vestido para cima, enquanto seus lábios me torturam com
beijos lentos.
— Não vai conseguir me fazer mudar de ideia... — Respiro fundo e
fecho meus olhos, arqueando meu peito para frente quando a boca dele
raspa por cima do tecido do vestido.
— Poderia jurar que seu corpo me dá outra resposta, Corcel. — Ele
arrasta sua mão por meu corpo e afasta apenas um pouco para tirar o
vestido por minha cabeça.
Um sorriso perigoso se forma em sua boca, com ele encarando
minha pele nua e arrepiada. Sua cabeça se abaixa e sua boca se abre em
cima do meu seio, tendo seus dentes raspando em cima do bico,
mordicando lentamente. Sinto meu corpo traidor se entregar para ele,
ficando mais quente e arrepiado. O senhor Ramsés usa suas pernas para
afastar as minhas, e se infiltra entre minhas coxas. Seus dedos param em
cima da minha virilha e escorregam lentamente sobre a calcinha. A sinto
ficar úmida com o líquido que escorre de dentro de mim.
— Senhor... — murmuro entre gemidos, segurando seus ombros.
O meu corpo se aquece por inteiro, como se ele me tivesse jogado
ao fogo a cada sugada que ele dá em meu seio, arrancando o ar dos meus
pulmões. Ele segura minha coxa e me faz apoiar minha perna em sua
cintura, soltando minha perna assim que a tem na lateral do seu corpo,
levando seus dedos entre nós e empurrando minha calcinha para o lado,
depois de tirar seu pau para fora da calça. Levo minha outra perna para suas
costas e aperto minhas coxas nele assim que sinto a ponta do seu pau raspar
em cima da minha boceta.
— Deseja que eu pare, Corcel? — Ele solta meu seio e para seu
olhar perto do meu, enquanto respiro depressa, me perdendo na sua
intensidade. — Deseja isso, Stella?
Ele faz menção de afastar seu quadril de perto do meu, mas minhas
pernas o seguram com mais pressão, e nego com a cabeça, enquanto me
sinto angustiada, com meu corpo desejando o sentir dentro de mim.
— Não... — falo para ele e abraço suas costas, como se pudesse o
deixar aqui junto comigo, dentro desse quarto, para sempre. — Não quero
que pare.
É rápido, um ataque em conjunto da sua boca se colando a minha,
no mesmo momento que seu pau se afunda dentro da minha boceta, me
fodendo, tendo seus lábios me beijando com fúria, enquanto vai me
castigando por desejá-lo tanto.
— Por Rá! — Ele rompe o beijo e se retira de dentro de mim,
voltando a se afundar com mais pressão e força.
Mordo seu ombro enquanto ele vai me invadindo, me arrancando
gemidos e arrepios, comigo sentindo cada nervo interno do meu corpo ser
tocado por seu pau, que me fode mais duro.
— Oh, Deus... — Minha cabeça tomba para trás e se afunda na
almofada. Recebo com agonia e prazer cada baque das pélvis se chocando
quando se encontram.
Meu coração bate disparado dentro do meu peito a cada estocada
dele que vai se acelerando. Seus braços se esticam e apoia suas mãos ao
meu lado, perto da minha cabeça, alavancado apenas um pouco seu tórax,
se movimentando tão feroz em seu ritmo acelerado, entrando e saindo, me
fazendo sentir caindo, como se só tivesse ele para me segurar. Sinto o pico
de dor me rasgar quando sua cabeça se abaixa e ele crava seus dentes em
meu pescoço. Gemo mais alto, tendo tudo me engolindo, o prazer, a dor, os
gemidos, a respiração acelerada, meu corpo se apertando mais ao seu
quando ele se empurra para trás e me ergue junto com ele, suas mãos
espalmadas em minhas costas, enquanto me fode com força. Minhas unhas
arranham suas costas e meu corpo ganha vida. O cavalgo com a mesma
luxúria que ele me penetra. Choramingo de dor quando seus dedos se
agarram em meus cabelos, os segurando com força, puxando minha cabeça
para trás. Sua boca morde com selvageria meu ombro e aumenta as
investidas, enquanto a eletricidade me corta, como se corresse por minhas
veias no lugar do sangue. Meus pensamentos se apagam e apenas sinto tudo
com uma intensidade maior, e uma onda gigante de prazer me engolindo.
Ramsés me abraça forte e me segura pela cintura, tremendo assim
como eu, enquanto sinto seu pau se enterrar de uma única vez. Ele geme
rouco entre seus lábios cravados em meu ombro. O abraço com mais
desespero, não conseguindo controlar todas essas emoções que pegam meu
corpo, fazendo eu me sentir leve e molenga em seus braços quando ela
parte. Ramsés abre sua boca e lambe em cima, onde ele acabou de morder,
apertando mais forte seus braços ao meu redor, enquanto tento fazer minha
respiração voltar ao normal e esfrego meu nariz em sua garganta, o
cheirando de mansinho.
— Aprenderá a confiar em mim, Corcel. — Escuto sua voz baixa
enquanto ele alisa meus cabelos e afasta seu rosto, me fazendo olhar para
ele. — Não precisa sentir medo de mim. — Ele alisa meu queixo e
murmura, erguendo seus olhos para os meus. — Não você.
O abraço e escondo meu rosto em seu ombro, fechando meus olhos.
Sinto meu coração disparar, querendo acreditar verdadeiramente em suas
palavras, mesmo minha mente me alertando para não abaixar a guarda perto
desse homem, que possui um poder estranho sobre mim, que faz eu me
entregar a ele de uma forma tão intensa.
CAPÍTULO 13
Sade
Stella Trud
Eu tinha dez anos na primeira vez que vi uma das prostitutas com
um cliente no quarto e o que ele fazia com ela. Estava lavando o banheiro
do quarto ao lado, que tinha sido desocupado, e sons estranhos vindo do
outro lado da parede chamaram minha atenção. Segurando o rodo em meus
dedos, andando a passos lentos e olhando para a parede, eu me aproximava
devagar, ainda não entendendo quem os estavam fazendo. Havia uma fresta
na parede de madeira da velha hospedaria, e foi por ela que eu pude ver de
perto o corpulento homem deitado na cama, com a prostituta em cima dele.
Ela estava de costas, montada em sua cintura, com seus corpos nus e
suados. Os sons estranhos que saiam dos seus lábios aumentavam. Recordo
que naquele dia eu corri, assustada, para a cozinha, pensando que ela estava
matando-o, porque o som que saia pela boca do homem parecia de um
animal sendo estripado. Passei o dia todo pensando que ela tinha
assassinado o homem, até o ver saindo da hospedaria à noite, enquanto eu
retornava para a casa, carregando as lenhas.
Depois disso, meu próximo contato com um homem nu foi aos doze
anos, quando a velha cafetina me levou para um quarto, me deixando com
um homem lá dentro. Ele fedia, era peludo e corpulento. A cafetina queria
que eu levasse o pênis dele para minha boca, me ameaçou me entregar para
o homem e outros caras se eu não obedecesse. Não lembro ao certo o que
eu fiz de errado, se o mordi ou se fiquei com ânsia, quase vomitando em
cima dele, mas só sei que o homem me bateu. Me bateu tão forte na face,
que eu quase pensei que ele iria quebrar os ossos do meu rosto. Depois
daquele dia, a cafetina nunca mais me obrigou a ter que ficar perto de outro
homem, mas ela mandava Dorien, uma prostituta indiana que vivia lá, me
ensinar a ser como elas. Dorien não conversava muito sobre como eu me
sentiria, o que aconteceria comigo quando eu me deitasse com um homem,
ela apenas me dizia que o intuito não era me ensinar a ter prazer, mas sim
eu dar prazer a um homem. Eu não precisava ter que gostar, apenas tinha
que fazer.
A odiava por todas as vezes que ela me obrigava a pôr uma banana
na boca e ficar a chupando, ou quando eu tinha que subir em cima de um
travesseiro e ficar movimentando meus quadris, repetindo os movimentos
que ela fazia. Outras vezes tinha que dar toques no travesseiro, alisando-o,
como se fosse um corpo masculino. Ela havia me ensinado de tudo, desde
os movimentos que tinha que fazer, como devia olhar para eles e onde tinha
que tocar. Mas o travesseiro não tinha calor, não tinha a respiração pesada
ou um odor almiscarado como o senhor Ramsés, e muito menos me
abraçava com tanta força, deixando a ilusão que quebraria meus ossos; nem
me beijavam da forma como ele me beija, arrancando meu fôlego e me
fazendo sentir como se estivesse afogando quando seus olhos estão presos
aos meus.
É estranho saber que fui preparada por tantos anos para um
momento, e quando ele chegou, eu não sabia verdadeiramente nada. Apenas
que meu corpo se incendeia, ficando em chamas quando ele me toca, que
meus seios latejam, com seus bicos sensíveis, a cada centímetro que sua
boca se fecha sobre eles. Ou como eu pensei que estava flutuando, quando
sua cabeça foi para o centro das minhas pernas, me fazendo gritar tão alto a
cada segundo que sua língua deslizava em minha vagina, que achei que iria
desmaiar quando um tremor incontrolável tomou conta de mim. Era como
se os segundos tivessem congelado, assim como as horas e os dias. A noite
virou dia, as tardes se tornaram manhãs. E apenas tinha meu cheiro se
misturando ao dele dentro do quarto, de onde eu não dava um passo para
fora.
Me sentia sendo engolida por desejos que aumentavam a cada beijo,
carícias e murmúrios, e minha prisão tinha se transformado no grande ninho
de almofadas que ele fez para mim, do qual eu não desejava sair. Não
porque ele me mantinha lá, mas porque eu precisava de mais, como se tudo
que ele me desse não fosse o suficiente, e eu implorava por mais. E Ramsés
me dava, tendo mais conhecimento de cada centímetro do meu corpo e
desejos que ele tinha do que eu mesma. Um beijo era gasolina, seus dedos
em minha pele o fósforo, e em segundos eu me incendiava. Vibrava com o
deslizar da sua barba rala em meu ombro, os dentes que mordiam minha
orelha, os movimentos dos nossos corpos me levando à loucura. Em
qualquer lugar do quarto, nas almofadas, no chão, na piscina do quarto de
banhos, na parede do quarto, com minhas costas coladas nela, com minhas
pernas a sua volta, enquanto seu pau saia e entrava do meu corpo. Não
precisamos de um lugar ou um horário, apenas precisamos de um toque e
tudo se queima, me restando apenas uma preguiça boa, dores estranhas e
posso até dizer que agradáveis, pelos meus músculos que se sentem
relaxados e molengas.
Nada me tem tão cativa em toda minha vida do que Ramsés, que
toca meu corpo de todas as formas. Não tem um pedaço meu que ele não
conheça com seus dedos, mãos, boca, pau e sua porra. É perigoso, e julgo
que até imoral, a forma como um simples café da manhã possa ser tão
sexual quando estou sentada em seu colo, feito um filhotinho, o deixando
me alimentar. E eu gosto, mesmo não compreendendo o que me leva a
apreciar isso, mas eu amo a forma como meus lábios sugam seus dedos
quando ele leva uma fruta à minha boca. E antes que pudesse dar conta, ou
perceber como começou, logo estávamos nos perdendo outra vez. E essa
manhã não foi diferente, não fugiu à regra. Quando disse que desejava ficar
para sempre dentro desse quarto, não imaginei que ele tinha interpretado
literalmente, me fazendo passar dias aqui dentro, tendo apenas eu ele, e eu
queria mais não conseguia dizer não quando ele me tocava, não quando
meu corpo já se encontrava tão bem habituado à minha nudez na presença
dele.
O que se iniciou com uma inocente mordida em sua orelha,
repetindo nele as mesmas carícias que ele fazia comigo enquanto me
aninhava em seu colo, sentado sobre as almofadas no chão do quarto,
esfregando meu rosto em seu pescoço e mastigando um morango,
balançando em um vai e vem de mansinho minha bunda, em cima do seu
quadril, virou chamas quando ele me deitou de costas sobre as almofadas,
engaiolando seu corpo nu por cima do meu.
— Provocadora, Corcel... Muito provocadora. — Ele me faz rir
entre os gemidos quando morde minha orelha e esfrega sua barba em meu
pescoço.
Ramsés me prende em seus braços e me enjaula entre ele e as
almofadas.
— Mas não fiz nada, senhor Ramsés... — murmuro entre o riso e
sinto meu fôlego ficar preso em meus pulmões quando sua cabeça se ergue,
com ele cravando seus olhos de cor de café em mim.
— Fez sim! Me faz querer lhe manter aqui, trancada, dentro desse
quarto, para sempre — ele fala em tom rouco e passa seus olhos por minha
face antes de abaixar sua cabeça, esfregando sua barba por minha clavícula,
abrindo sua boca e escorregando sua língua pelo meu pescoço. — Às vezes
penso que devia lhe odiar, Corcel, pelo tanto que me faz te desejar — ele
diz, baixo, e abaixa seu quadril, o colando com o meu. — E nas outras
vezes odeio a mim mesmo, por estar tão enfeitiçado por sua juventude,
pequena, ao ponto de querer marcar cada canto seu como meu.
Sinto seus dentes passarem pela minha orelha e mordiscarem a pele,
causando arrepios fortes. Suas mãos soltam as minhas mãos e escorregam
pela frente do meu corpo, esmagando meus seios em seus dedos. Um
gemido baixo escapa dos meus lábios, enquanto arqueio meu tórax para
frente.
— E quanto mais eu lhe tenho, mais fome meu corpo sente do seu,
porque apenas uma noite não me salva dessa maldição, apenas me condena
ainda mais.
Ele desliza suas mãos pelo meu corpo, causando arrepios em minha
pele, e gemo outra vez, com seus dedos fortes esmagando minhas coxas
quando ele as prende em sua mão.
— E desejo você de todas as formas perversas, Corcel, e uma delas
é com meu pau se afundando bem aqui.
Ramsés me puxa pelo quadril e sinto suas mãos alisarem minha
bunda. E antes que perceba, um dedo intruso escorrega entre a fenda da
minha bunda, acariciando o pequeno buraco do meu ânus, me deixando
com medo e ansiedade ao mesmo tempo.
— Senhor... Ohhh! — Sua boca beija minha garganta, calando
minhas palavras e arrancando mais gemidos de mim.
— O que fez comigo, Corcel? Qual poder tem sobre mim, que
consegue fazer um beduíno se dobrar diante de um camelo?
Ramsés se afasta novamente e olha de forma intensa para mim. Eu
não compreendo o que ele diz, e não tenho tempo de perguntar. Ele me
ataca rápido, antes que possa me mover, me beijando com fúria, como se
estivesse bravo comigo. Sinto uma agonia me pegar, com minhas pernas
cruzando em volta da sua cintura. Seus dedos se esfregam entre minhas
pernas e ele aprofunda mais o beijo feroz, com seu peito esmagando o meu
ao sentir minha boceta úmida.
— Tão devassa, meu pequeno Corcel — ele cochicha e solta meus
lábios.
Arqueio meu corpo e aperto minhas coxas em volta dele, quando
sinto seus dedos preencherem minha boceta sem aviso, entrando e saindo
lentamente.
— Ohhhh! — Mordo minha boca e seguro o gemido que me pega,
abrindo meus olhos para ser fisgada pelos seus, que me encaram.
Ramsés investe com mais força seu dedo dentro de mim, os
estocando com rapidez. Ele se move e arrasta seu corpo para baixo,
retirando seus dedos de dentro de mim. Minha respiração fica presa quando
sinto o ar quente dos seus lábios entre minhas pernas. Suas mãos seguram
minhas coxas, as deixando abertas para ele, e sua boca para em minha
boceta. Ele me chupa com abandono e desliza sua língua para sentir meu
sabor, voltando a sugar meu clitóris, me devorando por inteira, fazendo o
desejo e a dor me levarem a outro nível de prazer com as sugadas fortes que
ele dá, intercalando com sua língua felina, com chicotadas sobre o nervo
inchado, o qual tanto ansiava pelos carinhos dele. Havia me transformado
em um corpo que apenas existia para sentir cada prazer que ele me dava,
como um vício que eu não tinha mais controle algum.
Me sinto viva a cada deslize da sua língua sobre minha boceta, a
sugando mais forte, até eu sentir os tremores tomarem conta do meu corpo,
enquanto a descarga de energia me rasga de dentro para fora, jogando todo
meu raciocínio no limbo. Sinto os afagos da sua mão alisando minha
barriga, e ele se deita ao meu lado, me virando lentamente, deixando
minhas costas coladas em seu peito, infiltrando uma das suas pernas entre
as minhas, deixando minhas coxas apoiadas sobre a dele. Fecho meus olhos
quando sinto a cabeça do seu pau passar pelos lábios da minha vagina e ele
entrar lentamente em meu corpo. Sua mão desliza por minha cintura e
esfrega meu clitóris na mesma intensidade que ele me fode, entrando,
saindo e chocando sua pélvis contra meu rabo.
A respiração quente que sai dos lábios dele está perto da minha
garganta, sua boca deixa beijos escorregadios por minha pele, até cravar
seus dentes, me fazendo choramingar com a pressão que eles fazem,
rasgando a pele. Mas é como se meu corpo não se importasse, ele fica ainda
mais excitado, e tudo que ele me faz sentir me parece ser tão correto.
Dorien nunca disse que eu poderia me sentir assim nos braços de um
homem, desejar dor e prazer, tudo ao mesmo tempo. Seu dedo circula meu
clitóris e seu pau me fode com força, entrando e saindo com mais
brutalidade. Explodo rápido e forte novamente, com o orgasmo me
tomando, enquanto esmago meus próprios dentes em meus lábios, abafando
meus gemidos. Sinto quando seu pau sai de mim e seus dedos se esfregam
na minha boceta, fazendo assim seu dedo ficar completamente lubrificado.
Meus olhos abrem e fico perdida, olhando para a janela com minhas
vistas nubladas, segurando o fôlego dentro dos meus pulmões assim que
sinto sua mão pressionar um dedo na minha entrada traseira.
— Nejmeti[20]... — Sua voz rouca sai baixa e ele passa seu outro
braço por baixo de mim, o prendendo em minha cintura, deixando sua mão
aberta espalmada em meu ventre.
Ele força sua passagem lentamente e deixa sua boca continuar a
tortura em meu pescoço, trazendo arrepios em minha nuca, murmurando em
árabe o que não consigo entender. O som do gemido sai abafado dos meus
lábios, e meu próprio corpo reage com agonia quando ele empurra ainda
mais seu dedo dentro de mim.
— Senhor... — Engasgo e abro minha boca, tendo todo meu corpo
rígido, com meu coração batendo mais rápido.
Ele usa sua perna para deixar a minha coxa sobre a dele, imóvel,
impossibilitada de se abaixar, esfregando seu pau lentamente em minha
perna. Ramsés retira seu dedo da minha bunda e leva seu pau para minha
boceta, se afundando dentro dela outra vez. Sai e entra lentamente, beijando
meu ombro que ele mordeu, respirando pesado, tendo seu peito colado em
minhas costas, completamente colado em mim. Sua mão, que estava em
minha barriga, escorrega para frente da minha vagina, e seus dedos
acariciam meu clitóris em uma massagem torturante, me deixando perdida
em tudo que ele faz comigo.
— Quero lhe ter por inteira — ele sussurra em meu ouvido,
raspando os dentes em meu ombro.
Seu pau sai da minha boceta e escorrega entre minha bunda,
forçando a entrada no meu cu.
— Por favor, não... — Viro meu rosto na almofada, olhando para
ele. Meus dedos param em sua coxa e sinto a fisgada lasciva de dor quando
a cabeça do seu pau se empurra com mais pressão.
Ramsés rosna, baixo, e inclina sua cabeça, depositando beijos em
meu pescoço, massageando meu clitóris com a ponta dos dedos, antes de
erguer sua face para mim outra vez.
— Holni elly ragel zaaef melia balchiatin[21], Corcel. — Suas
palavras árabes saem baixas, com ele percorrendo seus olhos em minha
face. — Mas eu nunca te machucaria, minha pequena Stella.
Suspiro entre gemidos, com sua boca se chocando com meus lábios
e me beijando com paixão, me fazendo retribuir o beijo com a mesma
emoção.
— Confie em mim — ele murmura, ainda tendo sua boca perto da
minha, alisando meu nariz com o dele.
E é o que faço, eu confio, me perdendo com o poder da sua voz
rouca e seu dedo me matando a cada círculo sobre meu clitóris. A cabeça do
seu pau passa entre a pele e me queima por dentro, fazendo eu sentir as
lágrimas encherem meus olhos. Uma dor aguda me atinge com as fisgadas
de corte a cada centímetro que ele se empurra para dentro. Cravo mais forte
minhas unhas em sua coxa, enquanto respiro rápido, olhando seus olhos
perto dos meus. Ramsés fica imóvel, acomodado dentro de mim, quando
seu pau entra por inteiro dentro do meu rabo.
Eu ouvia as meninas na hospedaria falando sobre anal, que alguns
dos clientes preferiam fodê-las por trás. Eu não sentia curiosidade sobre
isso. Mas ainda assim meu corpo deseja fazer com Ramsés, o aceita dentro
dele, mesmo sentindo a dor sendo maior que o prazer, tendo os músculos
internos do meu ânus se retraindo, tentando expulsar seu pau para fora.
Tombo meu rosto para o lado e mordo minha boca, arranhando sua
coxa. Ele alisa minha nuca com a ponta do seu nariz e respira pesado. Sua
língua passa com lentidão em minha pele, deixando um rastro de arrepio no
meu pescoço, que o responde com urgência, se apertando ainda mais em
volta do seu pau. Seu quadril sai lentamente e volta da mesma maneira
pouco a pouco. Me sinto ser preenchida por seu pau, que me estica e afunda
cada vez mais dentro de mim. Ele segura meu quadril no lugar e prende
minha coxa para cima, sobre suas pernas, fodendo meu traseiro lentamente.
Fecho meus olhos, me entregando por completo para ele, o deixando me ter
por inteira, me rendendo a esse homem que tinha me transformado em uma
criatura tão lasciva, presa entre a dor, a agonia, o prazer e o fogo.
Sinto meu corpo relaxar a cada deslizar da ponta do seu dedo em
meu clitóris, me fazendo ficar mais excitada, com os corpos colados. Sua
respiração fica mais forte, com seu peito colado em minhas costas, e meu
próprio corpo se arrepia ao toque da sua língua, me lambendo na nuca,
raspando seus dentes. Seu pau entra lento e sai devagar do meu rabo,
esmagando minha bunda com seu quadril a cada encaixe. E vou
completamente ao céu em seus braços quando o orgasmo me atinge.
Ramsés, entre estocadas lentas, logo me segue entre a queda do clímax,
mordendo meu pescoço com força e tremendo atrás de mim. Ele me prende
em seus braços, e ali, completamente extasiada, fico amolecida demais para
querer sair. Meu corpo se encaixa mais ao dele, que está de conchinha sobre
o meu, retirando seu pau lentamente do meu rabo, esfregando sua porra em
minha perna, mesmo eu sentindo o resto dela escorregar entre minha bunda.
O silêncio dentro do quarto é cortado por nossas respirações aceleradas, que
tentam voltar ao normal. Me aninho mais a ele e sinto o calor da sua mão
pousando sobre meu ventre, enquanto ele acaricia lentamente minha
barriga.
— Se não tivesse realmente que conversar com Raja, juro que
ficaríamos trancados dentro desse quarto mais um dia — ele sussurra em
meu ouvido e esfrega seu rosto em meus cabelos, respirando mais forte.
Rio e solto um suspiro, negando com a cabeça e fechando meus
olhos, sentindo o peso das suas pernas sobre as minhas e seu coração
disparado batendo forte dentro do seu peito colado em minhas costas.
— Estamos a quase quatro dias aqui dentro. — Afago seu braço,
preso em minha cintura, brincando com os pelos do seu braço. — Mais um
pouco e Amina vai pensar que me matou...
O largo peitoral colado às minhas costas, se expande com sua
respiração, e ele volta a cheirar meus cabelos quando inala fundo.
— Penso que não. — Ele move seu quadril e aumenta a fricção
entre as peles, raspando seu quadril em meu rabo. — Pelos sons que saem
desse quarto, todos dentro dessa casa sabem que você está bem viva.
— Cristo, nunca pensei que realmente um dia me tornaria como as
garotas da hospedaria! — falo, baixinho, e reprimo o riso, não sabendo com
qual cara olharei para Amina.
Eu não esperava pelo movimento rápido de Ramsés, um ataque
feroz, me levando de aninhada e protegida por seus braços, a estar
enjaulada, com seu corpo pairando sobre o meu. Suas pernas estão
enterradas no meio das minhas, e choca seu pau adormecido com minha
boceta em segundos. Contém em sua face um olhar cruel, me observando
com suas íris marrons intensas.
— Não fale isso novamente! — Ele esmaga seus lábios, os cerrando
enquanto me encara.
— Senhor... — Olho confusa para ele, deixando meus dedos se
erguerem em seu peito e espalmarem entre seus pelos macios, sentindo a
forma latente que seu coração está batendo.
— Não se compare a elas novamente, Corcel. — Ele fecha seus
olhos e solta as palavras por seus lábios, quando minha outra mão se ergue
e toca seu rosto, alisando meus dedos na lateral da face. — Não é como
elas...
— Sim, eu sou — o respondo, baixo, e vejo seus olhos escurecerem
quando se abrem e me encaram. — Não sou uma puta como elas, mas eu
fico viva exatamente como elas ficavam quando entravam nos quartos com
os clientes. Apenas não compreendia que os sons altos que elas faziam era
de prazer, e não de dor, quando seus clientes as tocavam.
Ergo meu rosto e aliso meu nariz em seu pescoço, o cheirando,
inalando tão forte seu perfume, como se ele fosse o ar que eu respiro.
Ramsés tinha desencadeado tantas coisas em mim, as quais eu não tinha
ideia de que existiam.
— Sou uma concubina que anseia pelos carinhos do seu sade. —
Beijo seu peito lentamente e abaixo minha cabeça na almofada em seguida.
— Tanto quanto o sol espera pela lua, e isso me torna como elas, que
ansiavam tanto o passar do dia para a chegada da noite, para se deitarem
com seus clientes...
Passo meus olhos por sua face e paro meus dedos em cima do seu
coração, o sentindo bater tão rápido. Abaixo minha mão da sua bochecha e
a deixo sobre meu peito, o sentindo igualmente descompassado como o de
Ramsés. Livre, batendo em disparada, como cavalos selvagens. Sorrio de
ladinho e solto um baixo suspiro, gostando de como o coração dele fica
depois que me toca, e como ele causa o mesmo efeito em mim. Ergo meus
olhos para os seus e o vejo me encarar com sua testa franzida, olhando
minha mão em meu peito.
— O que foi? — pergunto e o olho, não entendendo o que o deixou
com a expressão confusa.
— Sabe o que significa sade, Stella? — ele me pergunta, sério, e
ergue seus olhos para mim, arqueando sua sobrancelha e respirando forte.
Prende seus dedos em meu quadril de uma forma dominante e
possessiva.
— Nim... — o respondo em árabe e dou um sorriso, vendo seus
olhos ficarem concentrados em meus lábios. — Amina e a professora estão
me ensinando algumas palavras em árabe, meu senhor.
Ele fecha seus olhos e deixa um sorriso lindo tomar conta da sua
face, um sorriso que me causa mais confusão do que o que meu corpo sente
antes dele me tocar novamente, só que dessa vez é meu coração. É um
batimento mais forte e desregular, fazendo eu me sentir completamente
encantada com seu sorriso. Ramsés nega com a cabeça lentamente,
abaixando seu tórax, abrindo seus olhos quando está a centímetros da minha
face.
— Com toda certeza não tem ideia do que significa dizer essa
palavra a um homem como eu. — Seu sorriso vai se transformando de
alegre para diabólico, enquanto ele morde minha boca e suga o lábio
inferior lentamente.
Tombo meu rosto para o lado e arregalo meus olhos, não
compreendendo o que ele quer dizer com isso.
— Não entendi... — murmuro e passo a língua por cima do meu
lábio, o sentindo inchando onde ele mordeu. — Ohhh!
Solto um gritinho, rindo, quando ele impulsiona seu corpo para trás
e me leva junto com ele, me erguendo do chão. Com suas mãos presas em
meu rabo, minhas pernas circulam sua cintura, e ele caminha na direção do
quarto de banhos.
— Pensando bem, Raja pode esperar mais um dia, pequeno Corcel
— ele diz, rindo, e solta um tapa em meu rabo, me fazendo dar um pulinho
em seu colo.
— Amina, esse vestido que você escolheu hoje está pequeno para
mim — falo para ela, enquanto caminhamos pelos corredores, em direção à
sala de estar.
Me sinto sufocada dentro do vestido, que comprime meu peito,
ficando ainda mais desconfortável de andar. Eu tinha notado que ao vesti-lo,
o vestido não ficou soltinho como os outros, mas fiquei com vergonha de
dizer à Amina, porque ela o escolheu com tanto carinho. Nunca tive roupas
boas e bonitas como essa, não queria parecer uma ingrata, mas a cada
segundo que passo nele, mais torturante para mim está ficando conseguir
respirar.
— Mas ele é do mesmo tamanho dos outros — ela diz, apressada,
caminhando à minha frente.
— Acho que estou engordando... — murmuro e abaixo meu rosto,
vendo o tecido marcado na cintura.
Ergo minha a cabeça a tempo de conseguir frear meus passos, antes
de trombar em Amina, que para de andar de uma hora para outra e se vira
para mim, me encarando com seus olhos arregalados.
— La, la... — ela repete as palavras em voz alta, negando com a
cabeça, ficando com suas bochechas vermelhas. — Por Rá, pequena Stella,
seu corpo está começando a mudar...
— Como assim mudando? — Olho para ela, não compreendendo
porque sua face está tão vermelha ao encarar meus seios. — Estou
ganhando peso, é isso...
Giro meu rosto e me olho no reflexo da janela, percebendo que
Amina tem razão. Meus seios estão ficando maiores a cada dia, assim como
meus quadris, que parecem estar ganhando mais volume. Viro e fico de
lado, olhando meu corpo na grande janela, reparando que até a minha bunda
está maior.
— Acho que estou comendo demais... — Mordo o canto da minha
boca e solto um longo suspiro.
— O vestido não está pequeno por causa da comida que Amina
alimenta Stella. — Escuto a voz dela falar preocupadamente, olhando para
mim pelo reflexo da janela. — Pequena Stella ainda não sangrou...
— Talvez eu esteja só inchada, então. — Pisco, confusa, me
olhando. Sempre me sinto um pouco maior quando minha menstruação está
perto de descer, mas era tão magra por conta da fome que passava na
hospedaria, que nem notava uma grande diferença em mim, só que agora é
visível o tamanho do volume que meus seios ganharam.
— Por Rá, pequena Stella! — Amina respira fundo e nega com a
cabeça. — Amina também pensa que não seja isso, mas sim porque...
Me viro, a olhando, ficando ainda confusa com as palavras de
Amina, que está cada vez mais nervosa, enquanto respira depressa.
— Por quê? — indago para ela e espero que termine de contar por
qual motivo ela acha que o vestido não serve em mim.
— Porque... porque... — Amina fecha seus olhos e respira fundo,
batendo forte sua mão uma na outra, negando com a cabeça. — Amina não
sabe como ter essa conversa, Amina nunca teve essa conversa nem com a
própria mãe de Amina, foi uma vizinha que me explicou.
— Explicou o quê, Amina? — Fico mais perdida ainda com as
palavras que saem dos seus lábios.
— A família que criou Stella não contou para a pequena Stella o que
acontece... — Ela se cala e olha para o fim do corredor, onde um dos
seguranças está de costas, encarando a parede. Não entendo porque eles
continuam fazendo isso quando eu passo perto deles. — Com uma mulher
quando um homem se deita com ela... — Amina abaixa o tom de voz,
murmurando para mim.
Rio, achando graça da expressão envergonhada de Amina enquanto
fica com suas bochechas ainda mais vermelhas, me encarando aflita.
— As pessoas que me criaram não eram minha família. Eu não
tenho família, Amina — respondo calmamente, lhe dando um sorriso. —
Mas elas me ensinaram o que acontece entre um homem e uma mulher,
sobre o prazer que eles buscam na mulher, que o pênis dele entra em nossa
boce...
Ela arregala os olhos, ficando tão vermelha que parece uma maçã,
tapando minha boca com sua mão e negando mais rapidamente com a
cabeça. Me pega pelo braço e me faz andar apressada ao seu lado.
— LA, LA, LA, LA, LA... — ela dispara, falando “não” em árabe,
enquanto respira depressa e caminha rapidinho. — Os ouvidos de Amina
não ouvem sobre esses assuntos. Pequena Stella não pode falar deles com
Amina, ainda mais nos corredores da casa...
— Não?
— La! — Ela nega com a cabeça e nos faz andar mais depressa.
Fico ainda mais confusa, não a entendendo, afinal, era tão comum
ver as garotas da hospedaria conversando entre elas sobre esses assuntos,
contando quantos clientes entraram em suas bocetas em um único dia, que
não pensei que não poderia conversar sobre isso com Amina.
— Fora isso que acontece... — Amina para de andar quando
chegamos na porta da sala de estar, nos virando e nos deixando uma de
frente para a outra.
Ela ergue suas mãos e encaixa seus dedos uns nos outros enquanto
os esfrega, ficando ainda mais nervosa, olhando para mim.
— Entende o que um homem e uma mulher fazem...
— Sexo? — Olho para seus dedos, compreendendo agora que
Amina tenta me mostrar com seus gestos. — O que exatamente está
falando, Amina?
— Elas não contaram o que acontece depois... — Amina fala rápido,
parando de mexer seus dedos, e esfrega seu rosto, respirando fundo e
ficando ainda mais vermelha. — Depois que o homem fica dentro de você...
— O pau fica inchado e mais duro ainda, como um nervo grosso e
grande dentro da gente, que se move... — Amina grita novamente e tapa
minha boca, respirando mais rápido e fechando seus olhos.
— Por Rá! Amina não tem esses tipos de conversa... — Ela abre
seus olhos e me encara ainda mais nervosa.
Ela solta minha boca e dá um passo para trás, respirando fundo,
caindo seus olhos para minha barriga.
— Sade deixou a sem... — Ela se cala quando a porta da sala de
estar é aberta por uma das meninas que trabalha na casa. — Graças a Rá...
— A vejo soltar um grande suspiro de alívio, olhando para a empregada. —
Maza can?[22]
A pequena mulher começa a conversar alto com Amina, gritando
enquanto aponta para dentro.
— Por Rá! Ninguém pensou em ir atrás de mais leite de camelo para
sade? — Amina bate suas mãos uma na outra e as ergue para cima da sua
cabeça, enquanto resmunga, zangada, em árabe.
— O que houve? — pergunto para Amina, a seguindo e entrando na
sala, a vendo caminhar na direção da cozinha, junto com a outra mulher.
— O leite de camelo de sade se perdeu todo — ela me conta e vai
na direção do grande fogão feito de barro, tendo as outras cozinheiras lá
dentro da cozinha, discutindo em árabe. — Veja, perdeu todo o leite...
Me aproximo, curiosa, e olho para dentro do grande caldeirão
quando Amina destampa ele. Sinto meu estômago embrulhar no segundo
que o cheiro do leite azedo se espalha na cozinha, um odor forte e
enjoativo. Tenho tempo apenas de me virar e curvar meu corpo para frente,
enquanto sinto a bílis subir para minha garganta e vomito no chão. Sinto
minhas pernas trêmulas, com as palmas das mãos suadas, e um gosto
salgado e amargo no céu na boca, me fazendo vomitar ainda mais. Levo
minha mão aos meus lábios e o tapo quando termino de golfar no chão,
respirando com agonia e fechando meus olhos, dando um passo para trás.
— Me desculpa, Amina... — falo, apressada, ainda sentindo meu
estômago embrulhado por conta do cheiro. — Eu vou limpar, vou limpar
tudo... me desculpa.
Abro meus olhos com vergonha, não acreditando que vomitei no
chão da cozinha. Amina e as outras mulheres estão agora congeladas como
estátuas, olhando para mim.
— Tenmo al-badhour dakhel rahmak![23] — Amina sorri e cola uma
mão na outra, olhando para mim. — O leite de camelo confirmou o que
Amina desconfiava...
Ela começa a gritar e faz um alto estalo com sua língua, sendo
seguida pelas outras enquanto caminham para mim e desviam da poça de
vômito, me circulando entre elas e rindo com tanta alegria, que me deixam
mais confusa ainda, não entendendo o que elas dizem em árabe. Gritam
ainda mais me segurando pelas mãos, rodando ao meu redor e cantando
animadas. Sinto o vestido me sufocar ainda mais, à medida que tento
respirar e fico tonta pela forma como elas dançam à minha volta.
— Sade vai ficar feliz ao saber que o ventre de Stella carrega um
bebê! — Amina grita alto e bate palmas junto com as outras, parando de
dançar e me deixando presa entre elas quando fazem um círculo em volta de
mim.
— Um beb... — Minha voz se cala quando outra vertigem me pega,
me fazendo inclinar meu corpo para frente e vomitar outra vez.
CAPÍTULO 14
O Corcel indomável
Ramsés de Naca
— Troque as ferraduras e lhe deem um bom banho — falo,
animado, observando o cavalo que é levado para as baias junto com os
puros-sangues.
— Quando ela vir o cavalo, saberá que você esteve na hospedaria.
— Raja olha o pobre animal, que estava praticamente pele e osso. — Vai
contar para ela que você destruiu o lugar depois de quase matar a puta
velha...
— La, la... Depois penso o que direi a ela. — Respiro fundo e levo
as mãos ao bolso da calça, me virando e caminhando pelo pátio. — Por
enquanto, apenas cuidem do animal, chamem o veterinário para o vacinar e
ver se está tudo bem com a saúde dele...
Passo meus olhos pelo jardim, vendo os seguranças patrulhando o
perímetro.
— Alguma novidade sobre Valéria? — Giro meu rosto e olho para
Raja, que anda ao meu lado.
— Nada ainda, todos os informantes estão a caçando. — Ele respira
fundo e nega com a cabeça.
— E Abasi, alguma outra caravana dele se aproximando do nosso
território?
— Depois do ataque que fizemos contra a caravana dele, ele se
escondeu no deserto. Nossos informantes estão tentando descobrir sua
localização.
— Precisa trocar esses informantes, Raja — digo com raiva,
negando com a cabeça. — Não sabem onde está Valéria, não indicam a
localização de Abasi... Busque por alguém que saiba me dar respostas!
Tinha me sentido frustrado com o sumiço de Valéria, que até agora
ninguém sabe qual é seu paradeiro. Não tem como uma estrangeira
desaparecer no Cairo sem que alguém dê com a língua nos dentes. Meus
inimigos estão se unindo e se escondendo de mim, sinto em minhas
entranhas o perigo que está vindo bater em minha porta. Tanto que foi por
isso que ordenei os homens a interceptarem a caravana de Abasi que se
aproximava do meu território. Não havia mulheres e crianças nela, como eu
desconfiava que poderia ter, mas sim homens armados, que marchavam
para os meus portões. Por mais que tenhamos conseguido eliminá-los, ainda
assim me preocupo com as manobras do astuto beduíno do deserto. Ele
estava blefando, talvez apenas medindo minhas forças para saber até onde
ele conseguiria chegar antes de eu atacar.
— Estou trabalhando em cima disso.
— Bom, isso é bom. Não podemos perder o beduíno. Se o
encontrarmos, acharemos Yusefe; se acharmos Yusefe, teremos Valéria. —
Respiro fundo, perdendo meus olhos ao longe no deserto. — E a mãe
biológica de Stella, alguma informação nova?
— Não, ainda sem rastro algum. — Raja cruza seus braços e nega
com a cabeça. — Não era submissa de Valéria, procurei por ela em todos os
registros de Sodoma.
— Preciso que encontre alguma foto dela, Raja. Se eu ver a face
dessa mulher, saberei se ela algum dia entrou ou não em Sodoma e a quem
ela pertencia. Impossível que não possa existir nada sobre ela.
— Talvez possa buscar ajuda com Czar Gregovivk[24], ele conhecia
quem eram as submissas de Valéria — Raja murmura, me encarando.
— Czar está viajando com sua companheira — falo rápido e nego
com a cabeça. Não quero ter que contar tudo àquele russo, sei que lhe daria
motivos para caçoar de mim. — Penso que Sieta[25] poderia ser uma escolha
melhor. Converse com ela, assunte o que a conselheira Sieta pode saber
sobre essa tal Shei.
— Irei fazer isso, já que prefere Sieta a Czar. — Vejo o sorriso
reprimido de Raja enquanto me olha com interesse.
— O que foi? — pergunto seriamente para ele. — Sieta é uma boa
escolha...
— Não quer que Czar entre nessa história porque deseja que ele
aproveite as férias com sua companheira ou porque não quer que ele saiba
sobre a submissa que dobrou Ramsés?
— Não fui dobrado! — falo, alto, com ênfase, negando com a
cabeça, erguendo meu braço e apontando meu dedo indicador para cima. —
Ramsés de Naca jamais se dobrará para...
O som dos gritos das mulheres cantarolando me fazem calar,
enquanto viro e olho para a casa, vendo alguns serviçais correndo para lá e
cantando junto.
— Que bagunça é essa dentro da casa de Ramsés, está parecendo
um mercado do Cairo ao invés de uma casa harmoniosa! — Abaixo minha
mão, ouvindo mais alto os gritos delas.
Meus passos me levam para lá na mesma hora, enquanto ando
apressado, tentando descobrir qual o motivo de tanta gritaria das mulheres.
Noto os seguranças me olhando, levando suas mãos ao peito, fazendo um
gesto de cabeça para mim quando entro pelos corredores. Não preciso de
muito para descobrir de onde vem a bagunça, o som delas cantando, feito
aves gralhando no céu, me fazem as achar rapidamente. Assim que entro na
sala de estar, vejo Amina segurando o rosto de Stella e dando um copo de
suco para ela, enquanto as mulheres batem palmas, as circulando.
— SADE... SADE! — elas gritam mais fervorosas quando me veem.
— Sade chegou...
— Luqud barktek al-alhah[26]. — Amina se vira e me olha, sorrindo
de orelha a orelha, tirando o copo da boca de Stella e esticando seus braços
para cima. — A morada de sade foi abençoada com um filho.
Sinto o ar entrar rápido por meus pulmões e paro meus olhos no
pequeno Corcel, que está com seus olhos perdidos ao olhar para mim.
— Bendita seja sua semente, Ramsés! — Raja bate sua mão em meu
ombro, falando e rindo. — Rá lhe deu um herdeiro!
Escuto os gritos de todos, a cantoria das mulheres aumentando,
enquanto meus olhos abaixam para o ventre de Stella, compreendendo que
Rá tinha selado nosso futuro, nos unindo pela carne. Um largo sorriso se
abre em minha face e caminho para ela, abrindo meus braços.
— Por Rá, meu pequeno Corcel! — Seguro sua face em meus dedos
e olho para sua barriga, sentindo meu peito inflamar de orgulho, beijando
sua testa, não conseguindo segurar a alegria que me invade.
O chute forte em minha canela me pega desprevenido, me fazendo
mancar para trás e erguer meu rosto para ela, a encarando, a vendo arisca,
com seu peito arfando rápido, enquanto me olha zangada. Seus olhos negros
brilham com fúria e esmaga sua boca, erguendo seu dedo e apontando para
mim, dando um passo para trás.
— SEU TARADO DE MERDA, PÔS UM BEBÊ DENTRO DE
MIM! — ela grita com raiva com seus lábios trêmulos, pegando um prato
de cima da mesa e arremessando em minha direção.
Dou um passo para o lado e me esquivo dele, ouvindo seu estouro
na parede. As mulheres param de cantar enquanto arregalam seus olhos,
olhando de mim para ela. Giro meu rosto e observo o prato despedaçado no
chão. Sorrio e volto a olhar para ela, mantendo meus olhos na criatura
selvagem, parando minha atenção em seu ventre, aumentando meu sorriso.
— Não! — Ergo meu dedo e aponto para Stella. — Tecnicamente,
foi o Corcel que pôs o bebê aí dentro — respondo e dou um passo em sua
direção, me aproximando dela, retornando meus olhos para os seus. — Se
lembra no meu quarto, da primeira vez que veio a mim...
Ela arregala seus olhos e abre sua boca, me olhando indignada,
fechando sua mão com raiva.
— Oh, seu filho da... — Stella grita com fúria e se vira para pegar
outro prato, com a intenção de me atacar.
Mas a seguro pela cintura com uma mão e prendo meus dedos em
seu pulso com a outra, fazendo seu pequeno corpo ficar colado ao meu,
sorrindo para ela, que luta, tentando se soltar, se debatendo como uma gata
brava.
— Cristo, como eu te odeio... — ela grita com raiva, tentando me
morder, torcendo seus braços para que eu lhe solte. — Devia ter cortado sua
garganta naquele dia, seu velho Tarado...
— Devia, mas não o fez.
A prendo mais forte e lhe dou uma piscada, rindo e a erguendo em
meus braços, a tirando do chão, colando minha boca à sua, a beijando com
pura posse, a qual tenho agora sobre ela. Sinto suas unhas cravarem em meu
ombro com raiva, enquanto ela vai cedendo lentamente ao meu beijo.
CAPÍTULO 15
Benção dos deuses
Ramsés de Naca
Fico em silêncio ao entrar no quarto e observar o pequeno Corcel
deitado de lado sobre as almofadas, com suas pernas encolhidas, olhando
para a parede, de costas para mim. Vejo a bandeja de comida intocada
perto das almofadas, que Amina tinha trazido para ela, indo para o terceiro
dia que ela não se alimenta.
— Amina me contou que não está se alimentando direito — falo,
sério, e solto um longo suspiro, pousando meus olhos nela.
Stella fica calada, se negando a conversar comigo, apenas se
encolhendo ainda mais, mantendo seu corpo virado para a parede.
— Precisa se alimentar, não é bom para você ficar sem comer. —
Tento deixar as palavras saírem calmas por minha boca, mesmo eu
desejando querer gritar com essa mulher, lhe erguer em meus braços, até
lhe ver zangada, querendo lutar comigo, selvagem, com seu espírito que me
encanta, e não essa criatura triste e silenciosa que ela se transformou
desde que soube do bebê que está em seu ventre. — Stella, não pode ficar
sem comer.
Fecho meus olhos, esperando por alguma resposta dela. Mas o
silêncio é tudo que ela me dá.
— Já está há três dias sem se alimentar. — Respiro fundo e dou um
passo à frente, sentindo tanta vontade de segurá-la em meu colo e esfregar
meu nariz em seu pescoço, inalando seu perfume. — Não me obrigue a ter
que lhe fazer comer à força, Corcel.
Vejo suas pernas se arrastarem nas almofadas, ficando mais rentes
ao corpo, com ela deitada em forma fetal, não se virando para mim.
— Não peço que obedeça a uma ordem, mas que pense no bebê em
seu ventre. — Deixo as palavras saírem lentas, tendo meus olhos presos nas
estrelas.
Esmago meus dedos dentro do bolso da calça e encaro a maldita
bandeja de comida intacta. Respiro fundo e cerro meus lábios, enquanto
ergo meu olhar e encaro a noite do deserto pela janela do quarto. Escuto
sua respiração baixa, sendo esmagado pelo silêncio que ela me condena,
desejando ouvir qualquer coisa sair dos seus lábios, um grito, um
xingamento, uma ameaça de forma encrenqueira e olhar brilhante que ela
sempre me dá.
— Pedirei para Amina trazer comida fresca para você. — Viro e
ando em direção à porta. — Amanhã cedo lhe levarei ao médico, em Cairo
— falo, firme, me sentindo angustiado, sabendo que preciso sair daqui,
antes que a segure em meus braços, para lhe sentir perto de mim.
Mas isso só pioraria, a fazendo ficar mais distante do que já está,
como um animal acuado e arisco preso dentro desse quarto.
Meus olhos desviam da tela do celular e o guardo no bolso do paletó
do terno, erguendo meu rosto para o corredor que leva ao seu quarto,
esperando por Amina trazê-la.
— Vamos nos atrasar! — digo, amargo, e respiro fundo, esfregando
minha nuca. — Deveria eu mesmo ir buscá-la.
— Não, não vamos nos atrasar. — Raja, com seus braços cruzados,
fica sério, olhando o corredor. — Tenha paciência, Amina não tem nem dois
minutos que entrou no quarto para acordar a menina.
— Ela não quer falar comigo, repudia a minha presença, como se
Ramsés de Naca fosse uma cobra venenosa. — Levo as mãos ao bolso da
calça e ranjo meus dentes. — Nega a mim o direito de tocar no ventre que
meu filho cresce, me castiga com seu silêncio...
— O silêncio é, às vezes, mais eloquente que os discursos, meu
amigo — Raja murmura e se vira, ficando de frente para mim. — Dê tempo
para ela, não se pode querer que uma ovelha confie em um leão quando ela
foi educada por hienas traiçoeiras. — Ele ergue sua mão e toca meu ombro.
— Quando ela estiver pronta, conversará com Ramsés.
— Não a machucaria, Raja, jamais machucaria o pequeno Corcel.
— Solto o ar por minha boca, me sentindo desanimado. — Até na noite que
ela invadiu meus aposentos, se infiltrando em meu quarto como um
demônio genioso do deserto, Ramsés de Naca se sentiu protetor sobre ela...
E agora ela me odeia como se eu tivesse lhe passado alguma doença.
— Ela não te odeia, Ramsés, apenas está assustada. — Ele encolhe
seus ombros e descruza seus braços, negando com a cabeça. — Stella foi
criada feito um cordeiro que um dia seria sacrificado dentro da hospedaria,
a cafetina lhe ensinou tudo que ela precisava aprender para agradar um
homem, menos que um filho pode ser gerado disso...
— Ela me acusou de usá-la como uma égua de procriação. —
Esmago meus dedos dentro do bolso da calça, ainda me lembrando das suas
palavras amargas como fel. — Ramsés de Naca nunca viu o Corcel dessa
forma, como uma égua reprodutora, e sim como um cavalo selvagem, um
puro-sangue e belo, valente...
— Mas foi exatamente para isso que a cafetina a criou, a mando de
Valéria. — Raja repuxa o canto da boca e fala com tristeza. — Valéria
queria uma submissa alfa para ser um animal selvagem adestrado pelo
mestre que a comprasse.
— Devia ter dito a verdade a ela, no segundo que me soltei das
amarras da cama. — Respiro fundo e fecho meus olhos, recordando do seu
corpo nu adormecido em minha cama naquela noite. — Mas estava tão
preocupado com a ideia da minha semente dentro dela, que me calei, e
depois quando entendi que ela não compreendia a consequência do que fez,
não tive coragem de contar...
— Espera! — Raja arqueia sua sobrancelha, me olhando intrigado.
— Que amarras? Não contou sobre amarras. — Ele fica em silêncio por um
segundo, pensativo. — Está me dizendo que Ramsés de Naca foi amarrado
à cama por uma menina? Que foi ela que lhe atacou?
— Por RÁ! — rosno com raiva e tiro minha mão do bolso,
apontando para ele, sabendo que não tenho como voltar atrás com minhas
palavras. — Sim, foi isso. Stella me amarrou, não tive como controlar
minha porra, não enquanto ela me tomava dentro dela. Mas juro que se
algum dia contar isso para alguém, Ramsés corta sua língua fora e a come
diante de você, Raja.
— Ramsés foi feito de submissa por uma Messalina. — Raja deixa
uma sonora gargalhada escapar da sua boca enquanto segura sua barriga,
olhando para mim. — Messalina virgem, ainda.
— Maldição! — Travo meu maxilar e o encaro rir de mim na minha
cara. — Por que Raja não me mata, apunhala o coração de Ramsés, já que
sente tanto prazer em rir da minha desgraça?!
Desvio meus olhos dos seus e solto o ar com raiva, virando meu
rosto para a janela do corredor.
— Rá amaldiçoou Ramsés, ao mesmo tempo que me abençoou com
o pequeno Corcel. — Fecho meus olhos e balanço a cabeça para os lados,
odiando a forma como me sinto fraco por conta dela.
— Rá decide o destino, Ramsés — ele fala ao parar de rir. — Se
estava escrito no livro da vida, para seu caminho se cruzar com o dela,
então apenas lhe dê tempo para compreender que você a quer proteger.
Não consigo ter esse mesmo pensamento de paciência que Raja me
aconselha a ter. Eu sei como lidar quando ela está brava, ou quando suspira
em meus braços ao me deixar amá-la. Mas assim, com ela tão melancólica,
eu fico perdido, não compreendo como farei para ela abaixar a guarda para
mim outra vez. Não entendo o que posso dizer para fazê-la voltar a ser o
Corcel selvagem de antes. Ela não deixa eu me aproximar. Havia a tirado da
sala de estar em meus braços naquela manhã que foi confirmada que minha
semente havia se enraizado dentro dela, a levei para o quarto, lhe abraçando
forte quando lhe pus ao chão, tendo em minha frente a maior alegria que já
senti, só que foi com seus olhos marejados que me deparei, me fazendo ver
sua dor.
Enquanto dentro de mim uma felicidade me consumia, tristeza
habitava em Stella.
— Corcel, está infeliz? — pergunto e observo as lágrimas rolarem
por sua face.
— O senhor sabia disso, sabia disso e não me contou... — Ela dá
um passo para trás e se desvencilha dos meus braços, falando com dor e
olhando para seu ventre. — Amina sabia, todos aqui sabiam que tinha um
bebê dentro de mim e ninguém me contou...
— Stella, não foi algo proposital, nós dois sabemos disso... — Tento
tocá-la para lhe confortar, mas ela nega com a cabeça e se afasta
novamente. — Eu estava amarrado à cama, não consegui tirar você de
cima de mim, não tive como lhe dizer.
— Mas e depois, por que não disse? — Ela ergue sua cabeça para
mim e encolhe seu corpo. — No outro dia, nos outros e outros dias que se
passaram... Ou depois, quando voltou e continuou tocando em mim.
— Stella, não tinha certeza, e quando percebi que você não fazia
ideia das consequências...
— Oh, mas o senhor sabia das consequências! — Ela ergue sua
mão e limpa suas lágrimas. — E continuou deixando sua porra dentro de
mim, continuou me marcando, como se eu não passasse de uma égua de
procriação...
— NÃO! — Nego com a cabeça, falando alto.
— Sim, você fez... E não se importou em me contar, mas porque se
importaria, não é?! — Ela chora com mais dor, com as lágrimas rolando
por sua face. — Porque se importar em me dizer, se foi exatamente para
isso que eu fui criada, para ser uma égua, que só serve para dar prazer ao
meu dono! Eu nunca passei de um animal burro, sem importância para
ninguém, que não merecia saber qual era meu verdadeiro propósito.
— Ramsés nunca viu Stella dessa forma...
— Mentiu para mim, olhou em meus olhos e me pediu para confiar
em você... — Ela abraça seu corpo e vai para a outra ponta do quarto
quando eu tento abraçá-la. — Confiar no senhor, e pedia isso enquanto
garantia que eu ficasse com um bebê dentro de mim.
Ela se encolhe no canto da parede, se abraçando com mais força,
enquanto chora e soluça, com seus ombros chacoalhando. Meus passos vão
para ela, mas paro no segundo que a vejo ficar ainda mais encolhida e
esconder seu rosto na parede, chorando com dor.
— Stella... — Ando para ela, sentindo meu coração bater rápido,
desejando tirar a dor que está dentro dela. — Não foi assim...
Tento me abaixar para tocar nela, mas Stella se encolhe mais e se
arrasta para o outro canto.
— Não quero que me toque, nunca mais me toque...
— Sade... — A voz de Amina falando baixo atrás de mim, me faz
virar e olhá-la. — Acho que seria melhor Amina cuidar de Stella por agora.
Volto meus olhos para ela e vejo sua dor enquanto chora abraçada
a si mesma, me privando de poder lhe acalmar. Balanço minha cabeça em
positivo e me levanto, passando meus dedos por meus cabelos, caminhando
para a porta, ainda ouvindo seu choro depois que fecho a porta.
Depois desse dia, Stella não olhou mais para mim, me castigando ao
não desejar mais meu toque, me privando de poder acariciar o ventre que
meu filho cresce. Um filho, Ramsés de Naca teria sua linhagem, um
descendente sangue do meu sangue, o qual a mãe não desejava. Passei a
vida toda erguendo meu sobrenome, impondo respeito entre alguns e
temores aos inimigos, tripliquei minha herança, fazendo a fortuna
constituída por um ladrão do deserto ser o império mais forte do Egito, criei
mais inimigos que amigos ao longo da vida, e nunca me vi sem controle da
situação dos meus problemas, nada mexia com meu emocional, sempre fui
focado, determinado e calculista. Mas o pequeno Corcel consegue
desestabilizar meu mundo quando fica triste, se negando a olhar para mim,
e me vejo perdido como um camelo no deserto, sem saber qual rumo devo
tomar.
— Sade.... SADEEEE! — Os gritos de Amina me fazem olhar para o
corredor.
O segurança na porta a abre na mesma hora e aponta uma arma para
dentro, o que me faz correr para lá.
— ABAIXA A PORRA DESSA ARMA! — rosno com ódio para
ele e saco meu revólver, apontando para a cabeça dele.
Vejo Amina sair para fora do quarto, segurando seu braço, enquanto
chora com a roupa manchada de sangue.
— Ela cortou Amina! — Raja fala rapidamente e corre junto
comigo.
Raja e eu já estamos quase perto dela, quando Amina vira sua face
para mim, chorando.
— Corcel lhe feriu? — pergunto, nervoso, vendo o sangue em seu
braço.
— La, la... — Amina grita e nega com a cabeça. — Foi ela que me
feriu! — Paro na porta do quarto no segundo que Amina aponta com seu
dedo para o interior do cômodo.
— O QUE FAZ AQUI DENTRO, MULHER?! — Respiro rápido
com ódio, passando meus olhos rapidamente pelo quarto, vendo apenas a
professora que contratei para dar aula para Stella usando um dos vestidos
dela, perto da mureta, na sacada da janela. — ONDE ESTÁ STELLA?
Aponto a arma para ela com raiva e dou um passo à frente,
destravando o revólver. Ela sorri para mim com frieza, segundos antes de se
atirar de cabeça da sacada, não me dando tempo de chegar até ela. Corro
para lá na mesma hora e observo o corpo caído ao chão, com uma poça de
sangue se formando em volta dela. Os seguranças parados do lado de baixo,
olham sem entender para a mulher morta e erguem seus rostos para mim.
— Aghlaq al-bawabat[27] — grito com ódio a ordem, retornando para
dentro. Sinto meu peito subir e descer rápido, com meu coração batendo em
disparado. — Stella...
Meus olhos caçam por ela, enquanto caminho dentro do quarto feito
um animal irracional, buscando por meu Corcel.
— Por que não me avisou que essa mulher entrou nesse quarto essa
manhã?! — grito, espumando pela minha boca como um cão louco para o
segurança, andando para ele e enfiando o revólver em sua face. — Desde
que horas ela está aqui?
— La, La — ele me responde, nervoso, negando com a cabeça. —
Safar não saiu da porta do quarto hoje, ninguém entrou no quarto além de
Amina... A professora entrou ontem à noite, depois que sade partiu, e foi
embora ontem à noite também, não entrou hoje no quarto... Safar jura pela
vida dele!
O solto e cambaleio para trás, olhando o maldito quarto vazio, sem
meu Corcel dentro dele.
— Pense, homem, em algum momento deve ter saído do seu posto
essa manhã... — Ouço Raja falar com raiva.
— A professora não entrou hoje nesse quarto — murmuro para
Raja, enquanto observo as almofadas onde ela dorme. — Porque ela não
saiu dele ontem à noite...
— Saiu... juro que ela saiu. Eu mesmo vi...
Nego com a cabeça e esmago meus dedos na arma, sentindo cada
demônio do deserto do Egito fazer minha alma ferver como o inferno.
— Então quem saiu... — Raja diz, sério, ficando perdido e olhando
o cômodo.
— Foi o Corcel — termino a frase dele, chutando com fúria a
porcaria da porta. — Vou arrastá-la pelos cabelos de volta para essa casa! E,
por Rá, que os deuses me deem sabedoria para não estrangular o pescoço
fino daquela tempestade que invadiu minha vida, quando eu puser as mãos
nela!
CAPÍTULO 16
A Messalina de beduíno
Stella Trud
— Por favor, levanta! — imploro pela quarta vez ao animal que está
ajoelhado no chão, comigo montada em cima dele, batendo com meus
calcanhares na lateral da sua barriga. Puxo a corda da sua cela e tento fazê-
lo ficar de pé, sem sucesso algum. — CAMELO DESGRAÇADO! — grito
com raiva e solto a porcaria da corda, saindo de cima dele, que resolveu
ficar empacado de vez.
Dou três passos à frente e ergo os dedos acima dos meus olhos, para
os proteger do sol quente, observando a caravana de comerciantes que está
ficando cada vez mais distante de nós.
— Merda! — Chuto com raiva a areia, enquanto tiro o lenço da
minha cabeça e o esmago em meus dedos, me voltando para o camelo
preguiçoso. — Não faz isso comigo, precisa se levantar... Temos que segui-
los, para que eu possa encontrar ajuda.
O camelo me encara, mastigando um pedaço de galho em sua boca,
demonstrando nenhum tipo de interesse de fazer o que eu estou pedindo.
Estávamos indo bem, talvez no começo a gente não tenha se entendido
muito bem, ainda mais porque eu não tinha ideia alguma de como montar
em um camelo, não é nada parecido com um cavalo. Achava que vomitaria
toda minha tripa para fora a cada solavanco dele trotando na areia, enquanto
meu corpo ia para frente e para trás, balançando entre suas corcovas. Mas
depois que peguei o jeito, a gente conseguiu seguir em frente. Eu fiquei no
final da caravana, seguindo os comerciantes com seus outros camelos. Eu
só tinha que segui-los até chegar em um vilarejo chamado Tabaj, que seria a
próxima parada dos comerciantes. Zalina, a professora que estava dando
aula para mim, tinha me mandado seguir a caravana, e quando chegássemos
a Tabaj teria que procurar pela casa de Isis, uma loja de antiguidade, e por
Amureu, o vendedor, que fala minha língua e que poderia me ajudar a fugir
de Ramsés e o deixar longe do meu bebê.
Confesso que estava triste e magoada, com raiva até de mim. Me
sentia usada por toda minha vida, criada naquele maldito orfanato feito um
rato, e depois despejada dentro daquela maldita hospedaria cheia de putas.
Nenhuma delas, nenhuma, teve a decência de me dizer o que aconteceria
comigo se eu me deitasse com um homem. Está certo que eu nunca
perguntei, até porque não existiam crianças na hospedaria, então não era o
tipo de coisa que eu ficava pensando, de onde vinham os bebês e de como
eles eram feitos, até porque nem tempo para pensamentos como esse eu
tinha. Era escravidão, dor e sofrimento a cada maldito segundo que se
passava. Elas me ensinaram tudo, tudo que eu tinha que saber para agradar
um homem quando ele me tocasse, mas não me disseram que ele iria pôr
um filho dentro de mim.
Depois que meu choro causado pela raiva passou, após receber a
notícia que estava grávida, a minha ficha caiu, eu seria mãe, estava gerando
uma vida dentro de mim, uma vida inocente. Eu não tinha ideia de como era
ser mãe, eu nunca tive uma mãe, nunca nem vi um bebê de perto, quanto
mais peguei um em meus braços. Como eu poderia ser mãe?! Como
protegeria ele sem nem a mim mesmo eu protegi?! Eu estava com raiva de
Ramsés por não ter me contado, com raiva de todos me usarem. Eram tantas
questões e pensamentos, que me sentia cada vez mais perdida, o que me
fazia chorar ainda mais. Isso até o segundo dia depois da descoberta da
minha gravidez, quando Zalina veio me dar aula e ficou me olhando com
meu rosto abatido e olhos inchados de quem chorou até secar os canais
lacrimais. Perguntei para ela porque ela não me contou, se estava ali para
me ensinar, porque não me ensinou como os bebês eram feitos. Ela sorriu
para mim com tristeza e disse que desconfiava que eu não sabia, mas
preferiu ficar quieta, para não deixar Ramsés bravo e atrapalhar os planos
dele. Em um primeiro momento não entendi, fiquei perdida olhando para
sua face.
— Que planos? — Presto mais atenção em Zalina, que desvia seus
olhos dos meus rapidamente e nega com a cabeça.
— Não, não... — ela fala apressadamente. — Zalina não pode lhe
contar, sade me castigaria...
— Não entendo... Por que Ramsés lhe castigaria?
— O bebê dentro da barriga de Stella é importante para sade, se eu
tivesse lhe contado, você poderia causar algum mal ao bebê, para tirá-lo —
ela murmura e olha para a porta, a vendo fechada antes de voltar seus
olhos para mim.
— Não — digo, rápido, e abraço meu corpo, passando meus braços
por cima do meu ventre. — Nunca machucaria meu bebê... Ele é meu, meu
bebê.
Abaixo o rosto para meu ventre e o olho. Eu senti muitas coisas ao
saber que estava grávida, mas em nenhum momento desejei mal a essa vida
dentro de mim. Era como se pela primeira vez eu tivesse algo realmente
meu. Alguém para amar e confiar, e nunca o deixaria, como minha mãe fez
comigo.
— Eu o amo... — falo para ela, negando com a cabeça e erguendo
meus olhos aos seus. — Jamais desejaria a morte para meu bebê...
— Mas desejará isso quando ele vier ao mundo e for tirado de você.
— Ela estica sua mão e toca meu ombro, me olhando com tristeza.
— Tirado? Por que tirariam ele de mim... — Me assusto com o que
ela fala, sentindo meu coração bater forte, como se fosse sair pela boca.
— Stella não é esposa. Stella é con... — Ela se cala e tira suas mãos
do meu ombro, respirando fundo e esmagando seus lábios.
— O que eu sou, Zalina? — Retiro meus braços do meu corpo e
seguro o pulso dela, a fazendo me olhar.
— Stella é concubina... Concubinas não têm o direito de criar seus
filhos, eles são bastardos dos sades, e são educados longes, por outra
mulher que o sade escolha para criá-los como mãe. — Ela respira mais
depressa e abaixa o tom de voz. — Zalina não podia contar essas coisas
para Stella. Se Amina me ouvir, vai contar para sade e ele vai me castigar.
Solto seu pulso e sinto meus olhos enchendo de lágrimas
novamente, com meu corpo se encolhendo enquanto sinto tanta dor dentro
de mim.
— Vão tirar meu bebê de mim...
— Vão. Sade Ramsés vai tirar ele de você, antes mesmo que possa
sentir o calor do seu filho em seus braços, quando ele nascer.
— Mas ele é meu, não podem tirá-lo de mim... — As lágrimas
escorrem por minha face, enquanto choro com tanta dor ao imaginar que
antes mesmo de ver o rosto dele, ele suma para sempre da minha vida. —
Não podem, Zalina. Ramsés não faria isso comigo...
— Se ele não fosse fazer isso com Stella, teria lhe contado a verdade
— ela fala, baixo, e ao ouvir suas palavras, tenho vontade de chorar ainda
mais.
Suas mãos se esticam e seguram minha face, enquanto alisa minhas
bochechas e limpa minhas lágrimas, me dando um sorriso amigável.
— Não devia lhe propor isso, até porque eu posso morrer se algo
der errado. — Zalina se aproxima um pouco mais de mim e fala baixinho.
— Mas Zalina ajuda Stella a fugir se for da vontade dela.
— Fugir... — murmuro e a olho, piscando minhas pálpebras.
— Sim, fugir. — Ela consente com a cabeça e sorri mais alegre para
mim. — Não precisa dizer agora, pense se é o que quer. Mas se desejar,
apenas precisa deixar uma toalha branca na sacada, e vou saber que Stella
quer ir embora, e o resto deixa comigo, Zalina cuida de tudo.
— Trouxe um refresco para vocês! — A voz de Amina soa quando
ela entra no quarto, o que faz Zalina soltar meu rosto enquanto me olha,
recaindo sua atenção para meu ventre.
Passei o resto do dia com suas palavras em minha cabeça, enquanto
ficava deitada, olhando a parede, ficando horas e horas pensativa. Ouvia a
voz de Amina falando comigo, tentando me convencer a comer algo,
enquanto tudo que eu pensava era que Ramsés tiraria meu bebê de mim.
Antes do fim da tarde, me levantei, desesperançosa, olhando perdida para
meu reflexo no espelho. Meus dedos foram ao meu ventre e observei minha
barriga ainda reta. Ela ficaria grande, Amina me contou que logo ela
estaria grande e bonita, com meu bebê crescendo saudável. O bebê que
levariam para longe de mim. Eu não tinha nada na minha vida, e quando
eu acho que pela primeira vez não seria mais sozinha, descubro que o
entregariam para outra pessoa criar.
Lembrei de quantas vezes chorei até adormecer nos colchonetes do
orfanato, desejando que minha mãe voltasse para me buscar, que ela
dissesse que me amava, que nunca se esqueceu um dia de mim, que eu não
era um dejeto humano, como aquelas cadelas miseráveis que trabalhavam
no orfanato me chamavam. Eu não era uma merda, eu era um animal,
como as putas me criaram para ser, mas seria o animal mais selvagem que
existia nesse mundo para poder proteger minha cria.
— Não vão tirar você de mim, bebê! — Minha voz sai firme
enquanto ergo meu rosto e encaro meu reflexo no espelho, tendo apenas
uma única certeza dentro de mim. Ninguém nunca irá me afastar dessa
criança.
Vou até o guarda-roupa e pego uma toalha branca, a estendendo na
sacada da varanda, para avisar a Zalina que eu tinha tomado minha
decisão. Passei o outro dia angustiada dentro do quarto, deitada, olhando
para as paredes, esperando por ela. Mas foi apenas à noite que ela veio me
ver, depois que Ramsés saiu do quarto. Zalina me disse como tudo
aconteceria, não tínhamos muito tempo. Ela trocaria de lugar comigo, já
que nós duas éramos quase do mesmo tamanho, os guardas não iriam me
barrar, pensando que era ela. Usaria sua roupa e seguiria para o vilarejo.
Nos portões da pequena vila, encontraria uma caravana, que estaria
partindo. Não precisava conversar com ninguém, apenas tinha que dar uma
moeda de ouro para o dono da caravana, e ele me arrumaria um camelo e
eu seguiria a caravana dos comerciantes junto com eles até Tabaj.
Chegando lá, iria até a loja de antiguidades e encontraria Amureu, falaria
que Zalina me mandou ir até ele, e o senhor me levaria até uma mulher que
me ajudaria a sair do Egito. Zalina, enquanto isso, ficaria no meu lugar até
o sol nascer, depois disso me garantiu que tinha um jeito seguro dela
conseguir fugir do quarto sem que vissem que era ela.
Eu não sabia para onde eu iria ainda, mas sabia que não deixaria
Ramsés tirar meu filho de mim. E estava indo tudo muito bem, até a
porcaria do camelo preguiçoso empacar.
— Vamos, por favor, levanta! — rosno, baixo, e puxo as cordas da
cela, para que o animal fique em pé. — Temos que ir!
O animal abre sua boca e solta um bocejo, virando a cara dele para o
outro lado, nem sequer fazendo pretensão alguma de se mexer.
— Vai ficar aí. — Solto as cordas e aponto para ele, falando
zangada. — Torrando embaixo do sol escaldante, sentando-se na areia
quente, e nós dois morreremos nesse deserto!
Seu longo pescoço se move e ele retorna a me olhar. Pulo para trás
quando ele se inclina para frente e se ergue, deixando suas quatro patas
eretas.
— OBRIGADA, DEUSSSS! — grito de alegria e balanço o lenço
no ar quando movo meus braços para cima. — Obrigada, obrigadaaaa!
Dou à volta e paro ao seu lado, sentindo minha felicidade morrer,
com a altura do camelo perto de mim.
— Merda! — Ergo o lenço para a boca e o mordo com força para
abafar meu grito de raiva. — Era para se levantar quando eu estivesse em
cima de você, camelo!
Estico meus braços, tentando segurar a cela, dando saltinhos, mas
nem assim eu alcanço.
— Se senta para eu poder montar, criatura!
O grande animal se move e gira seu corpo para outra direção,
começando a andar.
— Oh, meu Deus, não! — digo, desesperada, erguendo meus braços
e segurando minha cabeça, gritando de raiva. — Está indo para o lado
errado, camelo burro! É PARA LÁ...
Tenho vontade de chorar e matar esse animal teimoso, que parece
estar querendo me sacanear de propósito. Ele acelera seus passos, trotando
mais rápido.
— Você está de sacanagem comigo?! — Jogo o lenço com raiva no
chão e corro atrás do camelo, que está me largando para trás, enquanto grito
e balanço minhas mãos para ele, o chamando. — Volta aqui, temos que ir
para lá... PARA A OUTRA DIREÇÃO, ANIMAL MISERÁVEL!
Ele empaca novamente e para de se mover, o que quase me faz cair
de bunda na areia quente quando trombo nele. O vejo virar seu pescoço
para mim e me encarar, soltando um grande som, que parece um ronco,
como se tivesse se sentindo ofendido por eu ter o insultado. Dou um passo
para trás quando ele balança sua cauda e acerta meu rosto, fazendo outro
som cavernoso de ronco.
— Oh, seu camelo abusado! — esbravejo, zangada, e esfrego minha
boca para tirar os pelos da cauda dele dos meus lábios.
Ele retorna a olhar para frente de forma desaforada, me ignorando.
Respiro fundo e limpo meu rosto, girando para olhar a caravana, que está
cada vez mais distante de nós, parecendo apenas pontinhos coloridos ao
longe.
— Olha, eu sei que não está rolando uma conexão entre nós dois,
começamos com o pé esquerdo... — Encolho meus ombros e suspiro,
desanimada, me virando para o camelo, caminhando lentamente e parando
ao seu lado. — Mas, por favor, preciso que me ajude a sair daqui. Nós dois
iremos morrer nesse deserto se ficarmos parados aqui, embaixo desse sol
quente...
Sua cara dourada com pelos brilhantes se volta para mim, e ele
mastiga ainda a merda da galha, me encarando com seus grandes olhos
negros. Ele solta uma bufada por suas narinas, suas patas dianteiras se
flexionam para frente e ele abaixa seu corpo até se sentar novamente na
areia.
— OBRIGADA, OBRIGADA! — Sorrio, alegre, sentindo meu
coração palpitar de felicidade. Rapidamente me aproximo dele e seguro a
cela, impulsionando meu corpo para cima, para poder subir na cela entre
suas corcovas.
Me ajeito e me arrumo com dificuldade, deixando minhas pernas
caídas uma de cada lado do seu corpo, segurando as rédeas da corda e o
esperando se erguer.
— Já pode se levantar! — digo, apressada, dando leve batidas com
meus calcanhares em sua barriga. — Levante-se, vamos, precisamos ir...
Escuto o som do ronco dele novamente, enquanto ele se mantém
imóvel, parecendo uma maldita estátua sentada na areia.
— Ahhhhhh! — grito com raiva e tapo meu rosto ao perceber que o
maldito camelo empacou novamente. — Só pode ser brincadeira, meu
Deus! — murmuro, inconformada com a teimosia do animal.
Suspiro e empurro meus cabelos para trás, me virando e olhando o
grande deserto atrás de mim, não conseguindo mais enxergar a caravana.
— Está feliz agora, camelo?! — falo, chateada, para o animal,
negando com a cabeça. Ele solta outro ronco, como se estivesse me dizendo
que sim.
Esmago meus dedos na corda da cela e volto a olhar para frente.
Meu rosto tomba para o lado e estreito meus olhos, vendo uma poeira se
erguendo ao longe. Solto as cordas e levanto meus dedos em minha face,
protegendo meus olhos do sol, para tentar ver direito o que é aquilo. O
grande jipe preto aberto se destaca entre a paisagem árida, enquanto se
move rápido entre as areias. Sinto meu corpo gelar no segundo que
reconheço o automóvel, é um dos carros dos seguranças de Ramsés.
— Droga, droga! — digo, nervosa, e abaixo meus dedos, segurando
a corda novamente e batendo mais depressa meus calcanhares na barriga do
animal. — Andaaa, camelo, vamos... Temos que ir!
Puxo a corda e bato mais rápido em sua barriga, sentindo meu rosto
suar frio, enquanto meu coração está disparado. Olho novamente para frente
e vejo o carro mais nítido, que se aproxima de nós. Mas é olhar para o
motorista que conduz o carro que faz meu coração parar de bater e
praticamente minha alma sair do meu corpo por alguns segundos.
— PORRA! — grito, desesperada, saindo de cima do camelo e
caindo de bunda na areia.
Levanto rapidamente, já obrigando minhas pernas a correrem o
máximo que elas aguentam, sem olhar novamente para trás, como se o
próprio diabo estivesse vindo atrás de mim. Sinto meu coração disparar em
meu peito, com meus cabelos sendo bagunçados pelo vento, enquanto corro
o mais rápido que posso. O som do motor fica mais alto quando ele acelera,
me deixando saber que está se aproximando.
— CORCEL! — A voz zangada de Ramsés grita atrás de mim,
enquanto corro para outra direção, indo para as dunas, quase colocando
meus pulmões para fora, correndo ainda mais desesperada. — ENTRA NA
PORRA DO CARRO, SUA PESTE!
Viro meu rosto para o lado quando o grande carro passa por mim,
me fazendo encarar seus olhos marrons, que brilham como fogo. Sua face
zangada está me fuzilando, enquanto ele acelera o carro e passa à minha
frente, o virando com tudo, bloqueando minha fuga.
— ME DEIXA EM PAZ, SEU TARADO DE MERDA! — grito
para ele com ódio. Giro e corro na direção contrária. — Cretino!
Corro mais depressa, sentindo meu rosto suado, enquanto meus
pulmões ardem, como se fogo tivesse entrando nas vias respiratórias a cada
segundo que corro. Vejo o camelo se levantar e olhar para mim como se eu
fosse uma doida correndo pela areia do deserto.
— VOU TE ARRASTAR PELO DESERTO PUXADA PELOS
CABELOS, QUANDO PÔR AS MÃOS EM VOCÊ, STELLA!
— Cretino desgraçado! — Sinto as pontas dos seus dedos rasparem
em meus ombros quando ele grita com raiva.
Impulsiono meu corpo para o lado e desvio de Ramsés. Ergo minha
perna de propósito e levo à frente das dele, o fazendo cair de cara na areia
quente, se espatifando no chão como um saco de batata, o que me faz cair
na gargalhada, enquanto volto a correr.
— Come areia, velhote Tarado! — digo, rindo, correndo mais rápido
e olhando para trás, o vendo se levantar em um ágil impulso, esmagando
seus dedos ao lado do corpo, com a face coberta de areia, tendo apenas seus
olhos marrons refletindo puro ódio.
— VOCÊ ME PAGA!
Ergo meu dedo do meio para ele e corro mais depressa, voltando a
olhar para frente, tendo tempo apenas de erguer meu braço para proteger
meu rosto quando trombo com a bunda do camelo desgraçado, que resolveu
entrar na minha rota de fuga, ficando empacado feito uma estátua.
— Merda! — grito com raiva e dou um passo para trás, me
atrapalhando com meus pés, caindo de bunda no chão na areia fofa. O
camelo bate no meu rosto com sua cauda e solta um grande ronco, como se
estivesse rindo de mim. — Seu...
Me calo e giro meu rosto, vendo Ramsés a pouco passos de mim.
Meu corpo se joga para frente e engatinho rápido na areia, enquanto tento
me levantar. Sinto os dedos fortes se fecharem em meus tornozelos, me
prendendo.
— Eu podia ter levado um tiro, ficado enfermo em cima de uma
cama, ter perdido toda minha fortuna, ter me transformado em um
miserável, mendigando nas ruas do Cairo, mas não... — ele rosna com
raiva, prendendo sua outra mão em meus cabelos e falando bravo. — Rá
preferiu castigar Ramsés de Naca de outra maneira, me jogando um gênio
infernal em minha vida, derrubando o teto da minha morada sobre minha
cabeça!
— SOLTA MEU CABELO, SEU TARADO DE NACA! —
esbravejo com raiva e arranho sua mão, me debatendo no chão com ódio.
— Justo a Ramsés, Ramsés de Naca teve que ficar com a pior das
pragas que atingiu o Egito! — Ele solta minha perna e me prende pela
cintura, enquanto me obriga a levantar.
— ME LARGA, ME LARGA... — Tento o estapear quando ele me
vira, me fazendo ficar de frente para ele, mantendo meus cabelos presos em
sua mão.
Ele puxa meus cabelos com força e me faz inclinar minha cabeça
para trás, rosnando com ódio quando aproxima sua face da minha, me
pegando de surpresa quando solta meus cabelos e sua mão em minha
cintura se prende mais forte, me erguendo do chão, me segurando em seu
colo com as duas mãos.
— O que pensa que estava fazendo, sua criatura teimosa?!
— Penso que estava me libertando de você, seu cretino! — Me
debato e soco seu peito, gritando de raiva. — DESGRAÇADO, NÃO VOU
DEIXAR VOCÊ FICAR PERTO DE MIM E MUITO MENOS TIRAR
MEU FILHO!
— O QUÊ? — ele grita com mais ódio, me olhando zangado. — Rá
devia lhe largar nesse deserto à própria sorte, mulher ingrata!
— Ohhh, mas é muito do cínico, como ousa me chamar de ingrata?!
Ao que eu deveria ser grata a você, seu Tarado?! — Ranjo meus dentes e o
encaro. — Me larga, seu cretino, não vai me obrigar a voltar!
— Apenas observe, Corcel! — Ramsés estreita seu olhar, com sua
boca tremendo, enquanto a veia saltada na lateral da sua testa pulsa forte,
com seus braços se prendendo mais forte ao redor do meu corpo.
— S-seu cretin... — Ergo minha mão no ar com raiva, para lhe
estapear, mas congelo meu braço, enquanto vejo um camelo passar
correndo feito um foguete atrás de Ramsés, com um homem montado em
cima dele. — Aquele é o dono da caravana?
Acompanho com o olhar o homem que corre mais rápido, largando
apenas poeira atrás dele. Ramsés me arruma em seus braços, girando seu
rosto e vendo o homem correr. O camelo perto de nós vira e imita o outro
animal, saindo em disparado.
— O que... — Ramsés fala, baixo, conosco virando o rosto na
direção que o homem veio correndo.
Observo outros da caravana, a qual eu estava seguindo, correndo em
seus camelos com mais desespero.
— Por que eles estão correndo? — sussurro, sem entender.
— OHH, PORRA, TEMPESTADE! — Ramsés grita, bravo,
enquanto me vira e me joga feito uma boneca de pano em seu ombro, me
deixando de cabeça para baixo e segurando meu rabo, correndo na areia em
direção do carro.
— Não tem tempestade alguma, seu Tarado, olha o maldito sol! —
O estapeio enquanto tento alavancar meu tórax para cima. — Me solta,
deixa eu ir para o chão, Ramsés...
Olho outro homem passar correndo por nós em cima do camelo,
gritando palavras em árabe. Ramsés corre na direção contrária dele, e giro
meu rosto por cima do meu ombro quando consigo ficar ereta, agarrada aos
cabelos de Ramsés.
— Me solta, homem... — Minhas palavras se calam, mas dessa vez
não porque vi outro beduíno passar correndo por nós, mas sim porque meus
olhos avistam a grande fumaça de areia vindo de frente para nós, como se o
próprio deserto tivesse criado vida e um paredão de areia se formasse. —
NÃO ME SOLTA, NÃO ME SOLTA... — grito, apavorada, completamente
desesperada, agarrando-o com mais desespero.
— Oh, merda, tira a mão do meu rosto, Stella! — Ramsés ruge e dá
uma palmada em minha bunda. Abraço seu pescoço e fecho minhas pernas
em volta da barriga dele, me apertando a ele como se estivesse em um
tronco de árvore.
— ESTÁ CORRENDO PRO LADO ERRADO, TARADO! —
berro, desesperada, o apertando mais.
— Não tem como correr de uma tempestade de areia, CORCEL! —
ele fala, bravo, parando perto do carro, me fazendo descer dele.
Meus olhos se arregalam e olho a monstruosa tempestade que vem
com toda força para cima de nós. Me movo e vou para o carro, mas Ramsés
já está me puxando pela cintura novamente, me fazendo sair de cima dele.
— Sai da merda desse carro, mulher! — Ele estica sua mão e puxa
sua jaqueta do banco de trás.
Ele segura minha mão e me puxa com ele quando se ajoelha na
areia. Ramsés me deita ao chão e me faz rolar para debaixo do carro, vindo
logo em seguida. Meus dedos se prendem em sua camisa enquanto o seguro
com medo e o encaro.
— Se a gente sobreviver, juro que vou trancafiá-la em seu quarto
para o resto da sua vida, Corcel! — Ramsés fala com raiva, enquanto usa
sua jaqueta para tapar nossos rostos, passando sua perna por cima da minha
e me prendendo junto a ele.
Sinto sua respiração quente em minha pele e fecho meus olhos,
escondendo meu rosto em seu pescoço, o abraçando com o dobro de força,
tendo o braço dele me segurando pela cintura, me agarrando a ele no
segundo que a grande tempestade de areia nos engole dentro dela.
CAPÍTULO 17
As verdades do deserto
Stella Trud
— Você esqueceu de chutar o pneu! — falo, irônica, olhando
ranzinza o egípcio, que desconta sua raiva no carro completamente cheio de
areia.
— Não me provoque, Corcel! — Ele vira sua face para mim e me
fuzila com seu olhar, abaixando o capô do carro com toda força. — Ou
juro...
— O quê? — Ergo minhas mãos para ele, com meus pulsos
amarrados. — Vai amordaçar a minha boca também, já que me deixou feito
um carneiro, pronta para ser assada nesse sol quente, seu Tarado! — rosno
com raiva e abaixo minhas mãos, olhando meus tornozelos amarrados um
no outro, sentada na areia, embaixo do sol escaldante do deserto.
— Nesse exato momento isso me parece uma boa ideia, criatura
ingrata! — Ramsés esfrega seu rosto e respira fundo, virando de costas para
mim.
Fico em silêncio e o vejo abrir a porta do carro, pegando seu
aparelho celular e olhando-o com desgosto.
— Rá me castiga, jogando minha sorte ao vento quando me impôs
um demônio genioso em minha vida, e não contente com isso, ainda me
larga no deserto! — ele continua reclamando feito uma velha amarga,
erguendo o celular e olhando com raiva para a tela. — Ótimo, estamos sem
sinal de telefone e sem a porra do carro! A areia da tempestade invadiu o
motor inteiro.
— Se me soltar, eu posso te ajudar com alguma coisa. — Dou de
ombro, olhando-o de esgueira.
Ele nem se dá ao trabalho de me responder, fica resmungando em
árabe, se mantendo de costas para mim. O vejo caminhar para a traseira do
jipe e pegar uma grande garrafa de água, a limpando com as mãos. Sinto
minha boca ficar seca, a língua escorrer pelos lábios, encarando a garrafa de
água como se fosse a coisa mais preciosa que eu já vi. Ramsés abre e leva à
sua boca, tomando um grande gole, e meus olhos ficam presos na pequena
gota que escapa da lateral dos seus lábios e escorrega por seu queixo.
Minha própria boca se abre, como se minha língua pudesse capturar a
pequena gotinha que se espatifou no chão, sendo evaporada pela areia
quente.
— Está com sede? — Ergo meus olhos para ele quando Ramsés me
pergunta, tendo um sorriso cínico em sua face.
Fecho minha boca na mesma hora e giro meu rosto para o outro
lado, negando com a cabeça, olhando o grande deserto que parece não ter
fim.
— Mentirosa! — ele fala, rindo, e solta uma grande gargalhada.
Ouço seus passos se aproximando de mim, e logo a sombra do seu corpo
paira ao meu lado quando ele se agacha. — Por que tem que ser tão
geniosa, Corcel?! Creio que se fosse qualquer outra pessoa lhe oferecendo,
você aceitaria...
— Qualquer outra pessoa não teria me atado pelos pulsos e pernas,
como se eu fosse um carneiro! — o respondo com deboche, respirando
fundo.
Volto meu rosto para ele e o vejo agora a poucos centímetros de
mim, com sua face perto da minha. Seus olhos marrons passam por meu
rosto, enquanto balança sua cabeça lentamente para os lados.
— Qualquer outra pessoa já tinha lhe largado no deserto. — Ele
cerra seus olhos, bufando pelas narinas. — Agora, abra a boca!
— Não! — respondo, firme, não me intimidando com sua expressão
zangada.
— Por Rá! — ele rosna e aperta meu nariz, me fazendo ficar sem
conseguir respirar. Abro minha boca com o intuito de xingá-lo, mas antes
que diga alguma coisa, Ramsés soca a boca da garrafa em meus lábios, a
virando.
Sinto a água fresca descer por minha garganta, aliviando a secura
que ela está, enquanto bebo com mais desespero o líquido. Ramsés solta
meu nariz e leva sua mão para trás da minha cabeça, a usando como apoio
para mim. Bebo com mais urgência e fecho meus olhos para não ver o
sorriso cretino na face dele.
— Boa menina! — ele diz, rindo, retirando a água da minha boca.
Abro meus olhos a tempo de o ver esticar seu dedo indicador e dar uma
batidinha na ponta do meu nariz. — Viu, não foi tão ruim assim, Corcel!
Aquela sensação estranha volta novamente, um disparo de coração
mais rápido que o normal, a ilusão de ter uma revoada de pássaros batendo
suas asas dentro do meu estômago, enquanto ele me olha de forma
magnética, me fazendo esquecer por alguns segundos que ele não é
confiável. Mas ao recordar que esse cretino arrogante me amarrou, empurro
todas essas emoções para longe e mordo com força a ponta do seu dedo
quando ele tenta bater na ponta do meu nariz novamente.
— Mulher ingrata! — Ramsés se levanta, bravo, e balança sua mão,
me olhando com raiva por o ter mordido. — Ainda vou amordaçar você!
— Tenta, seu Tarado! — digo, brava, odiando-o por não conseguir
compreender essas coisas que ele faz comigo. Não devia me sentir assim
perto desse homem.
Giro meu rosto para o outro lado e fico emburrada mais comigo
mesma do que com ele. Suspiro, desaminada, e encolho meus ombros, me
negando a olhar para ele novamente. Ramsés é estranho, me faz ficar
confusa. Ao mesmo tempo que minha mente me manda ficar longe, meu
coração deseja ficar perto.
— Rá deve estar se divertindo as minhas custas, só pode! — O
escuto reclamar, enquanto se afasta de mim.
— Quem é esse Rá, que você tanta fala? — pergunto, baixo,
olhando as dunas do deserto.
— Um trapaceiro que me castigou quando cruzou seu destino com o
meu! — ele me responde mal-humorado e bate a porta do carro.
— Por que não me deixou ir embora, então? — Viro meu rosto para
ele novamente, o olhando ficar parado, de costas para mim, sentindo uma
pequena pontada de tristeza em meu peito ao pensar que sou alguma
obrigação para ele. — Se esse homem me entregou a você como castigo,
por que me quer ao seu lado?
— Rá não é um homem, pequena Stella. — Ramsés respira fundo e
me deixa ver suas costas se movendo enquanto ele ergue sua cabeça e olha
para o céu. — Rá é uma divindade, um deus egípcio, o deus do sol...
Protetor dos beduínos, ele pesa a balança do destino, traçando qual caminho
as vidas seguirão. Minha mãe sempre dizia que Rá é quem escolhe as
pessoas que entram e saem das nossas vidas...
— Penso que se uma divindade decide se uma mãe vai entrar e sair
da vida de um filho, o largando como se fosse um animal, então ele não é
um bom deus, senhor Ramsés — falo, baixo, desviando meus olhos dos
seus, ficando em silêncio e olhando meu ventre.
— Nem sempre compreendemos nosso destino, Corcel. — Ouço a
voz dele me responder baixo. — Até quando achamos que estamos
passando pelo pior e estamos sozinhos, Deus está do nosso lado.
Ergo meu rosto para o egípcio, que está de costas para mim,
mexendo no carro, pegando algumas coisas dentro dele.
— Devemos seguir viagem, ficar parados aqui não é auspicioso nem
um pouco.
— Deus, e como acha que vamos sair daqui... — falo, chateada,
olhando a contenção em meus tornozelos. — Se ao menos eu tivesse com
minhas pernas livres, eu poderia andar... Imagino que não pretenda me levar
em suas costas...
— Na verdade, pretendo te levar nas costas dele! — Ramsés se vira
para mim, segurando um grande lenço branco em suas mãos, passando em
sua cabeça, para proteger do sol, olhando para trás de mim.
Giro, ficando toda torta, olhando para o que chama a atenção dele, e
logo minha boca se esmaga com raiva, enquanto franzo minha testa.
— Viu, como falei, Deus sempre está do nosso lado — Ramsés fala
seriamente e solta um baixo suspiro.
— Só pode ser piada! — murmuro, olhando o grande camelo parado
no alto do topo das dunas, o mesmo camelo teimoso e empacado que me fez
passar raiva. — Aquele camelo é uma praga, teimoso, ele não é de Deus!
— Por que será que ele me lembra alguém?! — Volto meus olhos
para Ramsés, que fala debochado para mim e me dá um sorriso.
Talvez, se eu não tivesse ficado perdida, olhando para ele diante de
mim, eu teria uma resposta na ponta da língua e bem malcriada para lhe dar.
Mas minha mente fica dispersa, enquanto meus olhos vagam por ele, o
vendo com um turbante branco em sua cabeça, sem a parte de cima do seu
terno, apenas de camisa branca de botões. Os três primeiros botões da sua
camisa estão abertos, as mangas enroladas perto do cotovelo. A calça cor de
creme fica bonita nele, assim como todo o resto da roupa, que destaca ainda
mais a cor da sua pele, que parece dourada abaixo do sol quente. Desvio
meus olhos dos seus e encaro a areia assim que ele leva suas mãos para
dentro do cós da calça, puxando a barra da camisa para fora.
— Se Rá estiver conspirando a nosso favor, conseguiremos chegar
ao próximo vilarejo antes da noite cair! — Ramsés fala, sério, passando ao
meu lado, caminhando rumo ao camelo.
Viro e o vejo andar prepotente, como se fosse um predador, na
direção do animal. Talvez eu poderia avisar a ele que o camelo é
terrivelmente teimoso, mas prefiro ficar em silêncio e descobrir quanto
tempo ele leva antes de querer estrangular o camelo preguiçoso. Meus
olhos vão ficando mais fixos nele se aproximando do animal, enquanto
Ramsés ergue sua mão e fala em árabe. Vejo o bicho trotar para Ramsés
lentamente, como se nem parecesse o mesmo camelo que eu praticamente
implorei para ele me obedecer, mas que nem sequer fui ouvida. Ramsés
segura as rédeas da corda e faz um cafuné na cabeça dele, escorregando sua
mão pelo longo pescoço do animal.
— Sério? — Inclino minha cabeça para o lado e esmago minha
boca. — Camelo traidor!
Assisto o camelo se render a ele, como um bichinho manso, trotando
lentamente enquanto solta seus sons altos de roncos, ao lado de Ramsés.
Meu coração volta a ter aquele batimento desregular ao observar o homem
andando em minha direção junto com o camelo, com seus olhos marrons
presos aos meus. Recordo de um livro pequeno e antigo que o velho que
morava ao lado da pousada lia para mim, eu via as gravuras e sempre
achava elas tão bonita. Simbad[28] era um marinheiro do Oriente Médio que
vivia tantas aventuras fantásticas, conhecia os quatro cantos do mundo. O
velho falava que ele era um mercenário, um beduíno ladrão que trocou o
deserto pelo mar. Mas eu não via Simbad daquela forma, para mim ele era
corajoso e valente. Eu ficava perdida olhando o teto da cozinha quando me
deitava para dormir, imaginando Simbad lutando com os monstros,
salvando as princesas. Algumas vezes até cheguei a fantasiar que ele
invadia a hospedaria para me tirar de lá e eu embarcaria em seu navio junto
com ele e viveria aventuras, conheceria novos lugares, mas dentro de mim
eu sabia que nunca ninguém me salvaria daquele inferno, eu apenas me
segurava na minha imaginação para poder suportar sobreviver dentro da
hospedaria. Abaixo meu olhar de Ramsés, empurrando essa lembrança triste
para o fundo, no cantinho mais doloroso do meu coração, ouvindo-o falar
em árabe com o animal.
— Bom menino! — Volto minha atenção para eles e vejo Ramsés
acariciar seu pescoço, quando o camelo se ajoelha e senta-se no chão, lhe
obedecendo.
Ramsés se afasta dele e caminha para mim, parando ao meu lado.
Ele flexiona suas pernas e se agacha ao meu lado, desamarrando o lenço em
meus tornozelos lentamente. O vejo ficar sério, com sua face concentrada
desfazendo os nós com calma. Ele balança o lenço em suas mãos, para
retirar as areias, antes de esticar seus braços para mim e arrumar o lenço em
minha cabeça, cobrindo meus cabelos, passando uma ponta em volta do
meu pescoço e deixando a outra caída sobre meu ombro.
— Assim ficará melhor, o sol não vai incomodar tanto, Corcel —
fala, baixo, tendo seus olhos presos no lenço em minha cabeça e soltando
um baixo suspiro.
— Obrigada... — murmuro para ele e quase sinto meu fôlego ficar
preso em meus pulmões quando seus olhos param nos meus com tanta
intensidade. — Obrigada por ter me salvado, eu não iria sobreviver àquela
tempestade sozinha... A menos que eu me amarrasse ao camelo.
— Tenho quase certeza que conseguiria. — O vejo ameaçar dar um
sorriso, mas ele se mantém sério, desviando seu rosto para o lado e ficando
com seu olhar perdido nas dunas. — Por que Stella fugiu da casa de
Ramsés? Sentiu tanto ódio assim de mim e do meu fruto que cresce em seu
ventre, que preferiu ficar largada à própria sorte no deserto do que me
deixar proteger vocês?
— Não, eu não senti ódio pelo bebê... — falo rapidamente, negando
com a cabeça. — É meu bebê, foi por ele que eu fugi, porque eu não queria
que você o tirasse de mim...
Ramsés volta sua face para mim e me olha chocado, como se eu
tivesse acabado de lhe dizer a pior coisa desse mundo.
— Me considera realmente tão monstruoso assim, ao ponto de
pensar que eu tiraria nosso filho de você? — Sinto a pontada de melancolia
em sua voz quando ele me pergunta sério, abaixando seus olhos para o meu
ventre.
— Você mentiu para mim, não contou sobre eu poder estar grávida...
Fiquei magoada, me sentindo usada novamente, como eu sempre fui a vida
inteira. E quando Zalina me disse que você arrancaria o bebê dos meus
braços, assim que ele nascesse, eu não podia deixar isso acontecer. —
Abaixo meus olhos para minha barriga e nego com a cabeça. — Eu nunca
tive ninguém, senhor Ramsés, nunca nenhuma pessoa em todo esse vasto
mundo para amar. E quando eu soube do bebê, eu compreendi que eu nunca
mais iria ficar sozinha outra vez. — Sorrio, falando baixinho para ele e
olhando meu ventre, sabendo que meu bebê está aqui dentro. — Não vou
deixar ninguém me afastar dele.
Sinto o toque da ponta dos seus dedos em meu queixo, enquanto o
ergue lentamente, me fazendo olhar para ele. Ramsés não traz mais zanga
em sua feição, mas sim um brilho de tristeza.
— Ledic ley asada[29], Corcel — ele fala em árabe, com a voz rouca,
me olhando com intensidade. — Nunca se sentirá sozinha novamente,
pequena Stella.
— Não vai tirar ele de mim, sade? — indago, perdida em seu olhar,
enquanto sinto o carinho da ponta do seu dedo, que desliza em meu queixo.
— La — ele murmura e nega com a cabeça. — Ramsés cortaria a
própria garganta antes de causar essa dor em Stella. Preciso que aprenda a
confiar em mim, Corcel, quero apenas cuidar de você...
Ninguém nunca cuidou de mim, e eu nunca consegui confiar em
ninguém, porque todos que passaram em minha vida me causaram dor e
sofrimento. Não podia entregar a ele a minha confiança, não quando não
tenho certeza de que com ele será diferente, que Ramsés não me
machucará. Madame Mia me olhou nos olhos no dia que chegou no
orfanato e me pediu para confiar nela, que ela cuidaria de mim, e foi o que
eu fiz. Eu confiei, mas ela não cuidou de mim, ela apenas me transformou
em algo feio e sujo. Ramsés pede para confiar nele, mas como posso confiar
em um homem que causa sensações estranhas em meu coração, as quais não
compreendo?! A única coisa que sei, é que se abaixar minha guarda para
ele, tem muitas chances de ele ser a pessoa que mais terá poder sobre mim,
como nenhum outro teve.
— Temos que ir, não é?! — cochicho, não conseguindo mais manter
a intensidade do seu olhar preso ao meu. Viro meu rosto para as dunas, as
encarando, sentindo como se meu corpo perdesse um pouco de calor
quando sua mão se afasta do meu rosto.
Ele se levanta e respira fundo, ficando parado à minha frente.
— Sim, nós temos! Chegando em Tabaj, conseguirei avisar a Raja
onde estamos — ele diz, sério, e eu ergo meu rosto para olhar para ele ao
ouvir o nome do vilarejo.
— Iremos para Tabaj?
— Sim! — Ramsés ergue o dedo e aponta para trás de mim.
— Mas Tabaj fica para lá... — Ergo minha mão e aponto para a
esquerda. — A caravana estava seguindo para Tabaj... Eles iam para o
Norte...
— Não, Madrigal fica para o Norte... Tabaj é para lá. — Ramsés fica
de pé e segura meu ombro, me ajudando a levantar.
— Eu não entendo... — Viro e olho para o rumo que seu dedo
apontou. — Zalina disse que a caravana seguia para Tabaj...
— Zalina era uma espiã, uma cobra que foi enviada dentro do seio
da minha casa para chegar até você e estava te mandando para Madrigal,
não para Tabaj! — ele rosna com raiva. — Se ela não tivesse tirado a
própria vida, juro que o destino que eu lhe daria seria mil vezes pior!
— Zalina se matou? — indago, assustada, me virando para ele e o
encarando.
— Sim, nem tive tempo de chegar perto dela. — Ele dá de ombros e
me olha. — Tabaj fica algumas horas daqui, é um vilarejo pequeno, de
criação de camelo. Já Madrigal é um vilarejo miserável, de comércio de
escravos...
— Não... está enganado, ela me disse para procurar ajuda lá. —
Ainda estou em choque ao saber que ela tirou a própria vida. — Por que ela
mentiu para mim, por que...
— Ela estava te mandando para uma armadilha, Stella — ele fala
alto, com raiva, e dá um passo para trás, se afastando de mim e erguendo
sua mão, apontando para o animal ajoelhado. — Se o camelo não tivesse
empacado no lugar, me ajudando a ter tempo de chegar até você antes que
pusesse seus pés em Madrigal, creio que essa hora estaria sendo entregue a
Yusefe, para ele lhe devolver para Abasi, seu comprador! Rá foi
benevolente quando me fez escolher vir seguir a caravana de Madrigal, e
mandei Raja seguir a que ia para o Cairo. Minha intuição me alertava que
seria para Madrigal que você estava a caminho...
— Não... não, ela me disse que uma mulher me ajudaria... Uma...
— Sabia que era uma maldita cilada, mas agora eu sei quem é o
verdadeiro dono por trás da marionete de Zalina! — Ele esmaga sua mão
com força, falando com sua voz embargada de ódio.
— Por que Zalina me mandou para uma armadilha, se não era para
ser entregue a Yusefe, Ramsés?
Vejo seus olhos ficarem mais negros, com sua face virando para o
outro lado, sem me responder.
— Ramsés... Por que Zalina estava me mandando para essa mulher?
— Caminho para ele e paro em sua frente. — Me pede para confiar em
você, mas ainda esconde as coisas de mim.
Ele retorna sua face para a minha e deixa sua testa franzir, enquanto
ele esmaga sua boca e respira fundo.
— Por quê? — pergunto novamente, precisando que ele me diga a
verdade, que pare de esconder as coisas de mim. — Se Zalina estava em sua
casa como uma espiã, para quem ela trabalhava?
— Se lembra quando me contou do dia que Yusefe chegou na
pensão acompanhado de uma mulher, Stella? — Ele abaixa seus olhos para
o meu ventre e fica sério, cerrando sua boca.
— A mulher dos olhos verdes e cabelos negros... — murmuro,
recordando dela, de como eu nunca tinha visto uma mulher tão bonita e
elegante como ela naquele lugar.
— O nome dela é Valéria — Ramsés fala com nojo o nome da
mulher, me deixando ver sua face ficar mais taciturna. — Eu e alguns
amigos estamos caçando Valéria. Ela criou algo abominável, uma ordem, a
ordem das Messalinas, onde mulheres são educadas desde a infância para
serem obedientes e dóceis. Uma nova raça de submissas, submissas alfas,
como nós a chamamos...
— E o que isso tem a ver comigo? — Olho para ele, sentindo dentro
de mim que com toda certeza não vou gostar da resposta.
— Você foi tirada da sua mãe e entregue ao orfanato para se tornar
uma Messalina. Depois adotada pela puta velha para ela lhe ensinar sobre a
arte do prazer, mas sem perder sua essência selvagem, a mando de Valéria.
— Ramsés não olha para mim enquanto me conta. — Julgo que você era
algum tipo de experimento diferente que ela queria testar, uma criatura para
ser domada pelo próprio dono... Mas, ainda assim, leal e submissa, mesmo
com sua alma selvagem.
— Experimento? — balbucio, sentindo meus olhos arderem
enquanto a vontade de chorar me pega. — Está me dizendo que eu fui
tratada como um bicho dentro daquela hospedaria, por anos, apenas para ser
um experimento barato de um homem...
— Seu valor é quase incalculável, Stella, no comércio ilegal de
escravas. — Ramsés faz eu me sentir ainda mais miserável ao ouvir isso. —
Um presente de Elite, caro e precioso, preparado especificamente para uma
única serventia, ser domada pelo seu comprador...
— Oh, meu Deus! — Fecho meus olhos e nego com a cabeça, rindo
com tristeza enquanto choro da minha própria desgraça.
— Eu estava atrás de alguma pista dos presentes de Elite, as
Messalinas. Sabia que se ficasse de olho em Yusefe, ele me levaria até uma
das três garotas desaparecidas. E foi assim que eu cheguei até você,
Salomé.
— Por que me chamou por esse nome? — Abro meus olhos e o
encaro ao ouvir o nome pelo qual ele me chama.
— Porque esse é o seu código. Valéria usou nomes de mulheres
pecadoras da bíblia para codificar seus presentes de Elite. Você é Salomé,
jovem e inocente, mas que pode fazer um homem cometer uma loucura por
você apenas com seu olhar selvagem e sedutor de pantera... — Ele tenta
esticar sua mão para tocar o meu rosto, mas nego e dou um passo para trás.
— Não sou isso, não sou isso que você diz...
— É, é sim, Stella. Dentro de você, lá no fundo, sabe que é, mesmo
se negando a acreditar. — Ele abaixa sua mão e olha para o meu ventre. —
No quarto, na primeira vez que se deitou comigo, na noite que pus meu
filho dentro de você, seu corpo já estava pronto para mim antes mesmo de
você tomar a decisão. Depois, quando voltei, você não recusou o meu
toque, foi ao contrário, se entregou com obediência para mim, porque seu
corpo sentia falta dele... Sentia falta do seu senhor...
Nego com a cabeça, não querendo acreditar em suas palavras,
mesmo lembrando de tudo. Como meu corpo se acendeu ao olhá-lo deitado
naquela cama, como sentia desejos estranhos, e quando ele partiu eu fiquei
com uma sensação de vazio, como se algo estivesse faltando, e como eu me
senti viva ao sentir o calor do corpo dele perto de mim novamente.
— Foi por isso que a puta velha nunca a fez deitar com nenhum
homem da hospedaria. Ela te educou para seu corpo responder só ao
primeiro homem que te tocasse, Corcel. — Choro ainda mais, me sentindo
tão insignificante, como se toda minha vida não passasse de nada. — Por
Rá, só eu e ele sabemos o quanto eu me amaldiçoei por ter sido seu
primeiro homem, não quando tudo que eu desejei foi salvar você do seu
destino, lhe entregar para meus amigos em Moscou, para eles poderem lhe
dar um futuro melhor, cuidar de você... Só que já era tarde, e Ramsés não
podia lhe entregar, porque seu destino era ao meu lado...
Abaixo meu rosto para meu ventre, olhando minha barriga, sentindo
algo dentro de mim ficar ainda mais triste. Era o bebê, Ramsés me queria ao
seu lado porque sabia o que eu carregava dentro de mim.
— Ramsés jurou a ele mesmo, enquanto caminhava no deserto, que
a pequena Stella jamais sofreria novamente, que seria eu a ser seu guardião
que lhe protegeria, que cuidaria de você, porque Rá entregou você para
mim...
Viro de costas para ele, não desejando que Ramsés veja a dor em
meus olhos. Sinto vontade de chorar ainda mais, com as mesmas emoções
que eu sentia na noite que ele retornou para sua casa e não compareceu ao
jantar, mandando avisar que não iria.
— Minha mãe! — Fungo, baixo, erguendo meus pulsos amarrados e
tentando limpar as lágrimas do meu rosto. — Disse que me tiraram dela?
— Sim...Valéria conseguiu encontrar sua mãe. Eu ainda não sei qual
a ligação que as duas tinham, mas sei que sua mãe fugiu dela com você
ainda recém-nascida, mas ela encontrou sua mãe...
— Minha mãe não me abandonou, ela não me rejeitou. — É estanho
saber que em um misto tão grande de dor e sofrimento, um alívio brando se
faz em meu peito, e posso até dizer que algumas das lágrimas que rolam por
minha face são de alegria.
Tombo meus joelhos na areia, enquanto choro, esmagando meus
dedos com força, ao descobrir que ela não me abandonou. Minha mãe me
amava, alguém nesse mundo me amava, e ela queria ficar comigo. Choro
ainda mais, sentindo anos de dor que me consumiram a vida toda, me
sentindo abandonada, sendo desfeitos. Ela fugiu comigo para me proteger,
ela me queria, e eu não era um dejeto humano largado no esgoto, como as
mulheres do orfanato diziam. As lágrimas nunca foram tão fortes e sem
controle. Sinto o peso de uma vida toda de desgraça criada em cima de
mentiras e maldades. Ergo meu rosto e olho as dunas, enquanto as lágrimas
rolam por minhas bochechas, esmagando minha boca com a mesma pressão
que comprimo meus dedos.
— Temos que ir para Madrigal! — digo, séria, virando meu rosto
para Ramsés. — Se essa mulher maldita destruiu a minha vida dessa forma,
me arrancando dos braços da minha mãe, ela vai ter que me contar onde
minha mãe está!
— Não! — ele me responde quase que imediatamente, negando com
a cabeça. — Iremos para Tabaj, e eu vou ligar para Raja assim que estiver
segura. Eu irei para Madrigal...
Me levanto, atrapalhada, e ergo meus braços, prendendo meus dedos
em sua camisa.
— Sade! — o chamo com a voz de choro. — Preciso achar essa
mulher...
— Não vou deixar você se aproximar de Valéria! — Ele segura
meus ombros e fala firme, rangendo seus dentes. — Arranco os olhos dela
antes que eles repousem em você novamente, Corcel!
— Ela deve saber o paradeiro da minha mãe, Ramsés... — Olho
para ele, segurando com mais desespero sua camisa. — Essa mulher deve
estar esperando por mim em Madrigal. Zalina se matou, não foi... Então ela
deve achar que eu estou a caminho... Me usa como isca, posso ser a isca
para você chegar até ela.
— Não! — ele responde com raiva e aperta mais forte meus braços,
aproximando seu rosto do meu. — Não vou usar você como isca!
— Disse que você e seus amigos estão atrás dela, agora tem uma
oportunidade de pegá-la...
— Também disse que lhe protegeria. — Ele solta meus braços e
segura meus pulsos, me fazendo soltar sua camisa. — E é o que Ramsés irá
fazer.
— Não pode fazer isso, não tem o direito de tomar essa decisão por
mim. Eu preciso encontrar essa mulher, ela vai me dizer onde minha mãe
está!
— NÃO, STELLA! — Me assusto, ficando encolhida, quando ele
grita alto, tendo uma explosão de raiva, com seu peito subindo e descendo
rapidamente, me olhando zangado. Ramsés esfrega seu rosto e leva as mãos
à cintura, olhando para o deserto. — Valéria não vai poder te levar até sua
mãe, Corcel.
— Por que diz isso...
Olho perdida para ele, que mantém seus olhos longes dos meus,
encarando as dunas, enquanto respira fundo e nega com a cabeça.
— Temos que ir, a noite será fria no deserto... — Caminho para ele e
paro à sua frente, o obrigando a me olhar.
— Por que ela não vai me levar até minha mãe, sade?
Seus olhos não contêm mais ira quando me olham, mas sim tristeza.
Suas mãos se erguem e segura minha face enquanto ele limpa as lágrimas
da minha bochecha.
— Eu fui até a hospedaria, Stella, conheci pessoalmente a cafetina
que lhe criou...
— Conheceu Mia — murmuro, sem entender porque ele foi até lá.
— Ramsés conversou com ela, e a puta velha contou algumas coisas
que sabia sobre a origem do pequeno Corcel — ele suspira profundamente e
solta meu rosto, parando suas mãos em minha cintura e olhando para meu
ventre. — O nome da sua mãe era Shei, ela apareceu com você um dia na
hospedaria, você ainda era um bebê de colo, Mia a deixou ficar...
— Minha mãe era uma prostituta da hospedaria...
— Sim, pequena, ela trabalhava lá para poder garantir sua
hospedagem e a dela. — Mordo minha boca enquanto as lágrimas descem
por minha face, olhando para Ramsés. — Stella tinha três anos quando
Valéria conseguiu achar sua mãe. Mia me contou que Shei foi embora com
ela, levando você, e que anos depois Valéria retornou, oferecendo muito
dinheiro para a puta velha ir até o orfanato e adotar você. Ela tinha que lhe
educar como uma das garotas até chegar o momento de Valéria ir lhe buscar
para entregá-la ao seu dono...
— Minha mãe, o que houve com minha mãe? — Ramsés se cala e
ergue sua face para mim, me deixando entender a resposta que seus olhos
me dão. — Não, não, ela tem que estar viva...
O choro me pega mais forte, enquanto fecho meus olhos e sinto
como se eu acabasse de encontrar algo que eu desejei toda minha vida, e ele
fosse tirado de mim novamente.
— Não, não... diz para mim que ela está viva...
— Ramsés não pode confirmar isso, meu pequeno Corcel. — Sua
mão para em minha cabeça, a trazendo lentamente para perto do peito dele,
enquanto sua outra mão passa por minhas costas, me apertando forte,
sustentando meu corpo que quer desabar enquanto choro em pura dor. —
Acredito que ela deva ter sido uma das submissas de Valéria, e fugiu para
poder proteger você, mas quando Valéria a encontrou, Shei desapareceu.
Mia insinuou que provavelmente ela deve ter morrido.
Me afasto dele, enquanto tento me agarrar a qualquer chance entre
uma em um milhão dela ainda estar viva.
— Mia não tem certeza! — digo apressadamente para ele.
— Stella, não encontrei rastro algum da sua mãe...
— Só porque não encontrou algo, não quer dizer que sumiu para
sempre... — falo esperançosa, precisando acreditar nas minhas palavras
mais do que nunca. — Apenas não foi achado ainda! Minha mãe pode estar
viva...
— Não vou permitir que se aproxime de Valéria, não compreende o
mal que essa mulher é...
— Eu confiarei em você! — o corto, falando apressada, segurando
sua camisa novamente. — Confiarei em você e prometo nunca mais fugir...
— Ramsés de Naca não barganha com Corcel! — ele fala
rapidamente e tira minhas mãos da sua camisa, se afastando de mim e
andando rumo ao camelo. — Vai subir nesse camelo e seguiremos para
Tabaj, gostando ou não.
— Ramsés, por favor... — Ando apressada para perto dele, enquanto
ele se mantém de costas, arrumando a cela do camelo.
— Suba de bom grado ou eu lhe faço subir à força, Corcel! — Ele
se vira, bravo, e estica seu braço para me segurar, mas eu pulo para trás, me
afastando dele.
— Uma vez me disse que era um homem de palavra, Ramsés de
Naca! — Ergo meu dedo e aponto para ele, tentando ganhar tempo para
conseguir o convencer. — Quebrou sua palavra agora...
— Não tente ser esperta, pequeno gênio arteiro. Ramsés nunca
quebrou a palavra dele... — Ramsés me ataca rápido, me prendendo pela
cintura. — Agora, monte no camelo, Corcel.
— Agora há pouco acabou de dizer que jurou que nunca mais eu
sofreria... — digo alto quando ele me senta de lado na cela, em cima do
camelo. Vejo seus olhos se estreitarem, com ele abrindo e fechando sua
boca umas três vezes antes de esmagar seu maxilar. — Estou sofrendo
agora, Ramsés de Naca, e meu sofrimento apenas irá crescer dia após dia se
eu não souber qual foi o destino da minha mãe.
— Por Rá, fui amaldiçoado com um gênio ardiloso, que usa as
palavras de Ramsés contra ele mesmo! — Ele ergue seu dedo indicador
para mim e esmaga a outra mão ao lado do corpo.
— Mas, ainda assim, sou um gênio ardiloso que Ramsés de Naca
jurou que nunca mais sofreria. — Olho para ele e solto um baixo suspiro,
deixando a expressão mais triste de toda a face da terra estampada em
minha face.
— Não me dê esse olhar de gazela indo para o sacrifício, Corcel! —
ele rosna com raiva e sobe no camelo, gritando em árabe, enquanto me
prende pela cintura. Logo o grande animal se levanta e começa a trotar em
direção a Tabaj.
Sinto a dor me tomar, enquanto as lágrimas rolam por minha face e
meu corpo se encolhe, chorando baixinho e fungando.
— Por Rá, os deuses se divertem às custas de Ramsés, que é
manobrado por um corcel teimoso! — ele resmunga com raiva, puxando as
rédeas do animal, o fazendo parar de se mover. — Vai ficar ao meu lado,
não chegará perto de Valéria em momento algum. Vou achar um lugar para
te deixar segura, ligar para Raja vir para Madrigal nos encontrar e eu vou
sem você atrás dela, e descobrirei se sua mãe está viva ou não. E Rá que lhe
proteja, Corcel, se você ousar me desobedecer, pois juro que lhe jogo em
cima do meu joelho e encho seu traseiro de cintada!
Ergo meu rosto e arregalo meus olhos para ele, abrindo um largo
sorriso e balançando minha cabeça rapidamente em positivo. Inclino meu
rosto e encosto em seu peito, esfregando minha bochecha, o ouvindo
murmurar algo em árabe, como se estivesse resmungando, enquanto segura
mais firme minha cintura.
— Imploro clemência aos deuses, que tenham pena de Ramsés, que
me mandem um filho homem, se não serei feito de tapete, sendo pisoteado
por uma filha geniosa, idêntica a mãe. — Ele deposita seu queixo sobre
minha cabeça e eu rio, ouvindo seus resmungos, com o camelo voltando a
se mover, trotando rumo a Madrigal.
CAPÍTULO 18
Madrigal
Stella Trud
— Não tire esse lenço da sua face. — Ramsés afasta sua mão do
meu rosto depois de ter arrumado o lenço, deixando apenas uma fresta
aberta em meus olhos.
Sinto o solavanco do camelo quando recebe uma ordem em árabe
para que ele se abaixe. Ramsés é o primeiro a descer. Arruma seu próprio
turbante, cobrindo sua face, e o vejo levar suas mãos para suas costas
quando as vira para minha direção e arruma o cós da calça. Consigo ver
rapidamente a arma em sua cintura antes dele a esconder com a camisa.
— Venha, vou lhe ajudar! — Ele vira para mim e segura minha
cintura, me erguendo de cima do camelo e me deixando de pé à sua frente.
— Não vai desamarrar meus pulsos? — Olho para ele e ergo meus
pulsos, desejando que tire essa contenção.
O olhar cínico do egípcio recai para sua gravata, a qual ele usou
para me amarrar, negando com a cabeça, antes de voltar a me olhar.
— La! — Ele segura meu braço e me faz dar um passo para frente,
dando uma palmada na lateral da coxa do camelo, falando com o animal.
O camelo se levanta e trota para a área verde adiante, caminhando
lentamente.
— Venha, vamos! — Ramsés se vira para mim e me segura com
mais força, me fazendo andar ao seu lado.
— Por que não vai me soltar? Eu disse que não iria fugir. — Viro
meu rosto para ele e cerro minha boca, não entendendo porque ele não me
solta.
— Como você mesma usou desse argumento para me chantagear:
Ramsés de Naca é um homem de palavra. — Ele para de andar e nos faz
ficar um de frente para outro. — Disse que lhe traria, mas em nenhum
momento falei que lhe soltaria.
Sinto vontade de estrangulá-lo quando seu dedo bate na ponta do
meu nariz enquanto ri, de forma debochada, abaixando seus olhos para
meus pulsos amarrados.
— Corcel não sai de perto de Ramsés, não fala, e muito menos me
desobedece — ele fala sério e ergue seus olhos castanhos para os meus. —
Se não obedecer a Ramsés, jogo seu rabo de volta no camelo e te levo
embora!
— Vai me fazer andar feito um cordeiro amarrado ao seu lado? —
Estreito meus olhos, falando com raiva.
— Nim! — Ele sorri de forma fria, consentindo com um balançar de
cabeça. — E se continuar a falar, vou lhe amordaçar! Agora caminhe,
cordeirinho!
Escuto sua risada debochada, enquanto me vira, nos fazendo
caminhar novamente, me puxando pelos pulsos amarrados.
— Cretino Tarado! — rosno, baixo, por ele estar se divertindo em
me fazer de sua prisioneira.
— Ainda estou ouvindo sua voz, Corcel! — Ele gira seu rosto para
mim e me dá um olhar de advertência. — Se der mais um piu, lhe
amordaço.
— Se der mais um piu, lhe amordaço... — repito as palavras
baixinho, com raiva, e reviro meus olhos. — Seboso! — falo alto, para que
ele escute, enquanto giro meu rosto para o outro lado, observando alguns
camelos presos às palmeiras.
— POR RÁ! — Ramsés para de andar, falando bravo, me fazendo
empacar ao seu lado outra vez quando me puxa. — Por que não consegue
me obedecer?! — ele resmunga bravo e abaixa o lenço da minha face, me
olhando zangado.
— O que está fazendo? — Olho para ele, o vendo levar a mão ao
bolso da frente da calça e retirar um lencinho pequeno de dentro dela, o
esticando em sua mão. — Você não ousaria fazer isso, TARA...
Minhas palavras são cortadas por seu movimento rápido, quando se
move para frente e passa o lenço por minha boca, me fazendo ficar presa
entre seus braços, usando uma de suas pernas para se enroscar na minha, me
deixando impossibilitada de mexer. Ramsés amarra as duas pontas do
lencinho atrás da minha cabeça, não escondendo o sorriso de vitória em sua
face quando se afasta e me encara.
— A paz do silêncio! — Ele belisca minha bochecha de leve, rindo
para mim.
— Ilho... da... uta... — As palavras saem entrecortadas da minha
boca por conta da merda do lenço, enquanto sinto vontade de matá-lo.
— Não fique zangada com Ramsés, eu lhe disse que a amordaçaria
se desse mais um piu. — Ele ergue a ponta do lenço em minha cabeça e
cobre novamente minha face, deixando apenas meus olhos de fora. Sua
cabeça se inclina lentamente para frente e ele deixa seus olhos próximos aos
meus. — Como bem sabe, sou um homem de palavra, Corcel! Lembre-se
disso na próxima vez que usá-las contra mim.
Solto uma bufada pelo nariz e mordo a porcaria do pano com força
em meus dentes, virando meu rosto para o outro lado, fazendo de conta que
não sei do que ele fala. Ramsés me puxa pelos pulsos amarrados e me faz
caminhar com ele. O vejo seguir na direção dos camelos, andando para lá.
Meus olhos se erguem ao céu e observo o alaranjado, parecendo cor de
abóbora, com o pôr do sol partindo entre as dunas. Ramsés se mistura entre
os camelos e anda lento. Meus olhos se voltam para ele a tempo de o ver
puxando uma grande manta de cima da corcova de um dos camelos
rapidamente, com dedos tão ágeis que poderia deixar qualquer ladrão
parecendo uma tartaruga perto dele.
Ele passa por trás de mim, andando lentamente, nos fazendo trocar
de lado enquanto joga a manta em seu ombro, usando uma mão para apoiar
minhas costas e a outra para puxar uma faca da bolsinha do camelo à sua
esquerda. Olho para ele e o vejo a esconder em sua cintura, andando sério a
passos firmes. Assim que nos aproximamos das grandes palmeiras que
parecem uma mata fechada perdida no deserto, Ramsés para de andar e se
abaixa perto de mim. Tombo minha cabeça para frente e olho curiosa para
ele, tentando entender o que esse egípcio doido vai fazer. Ele puxa a barra
do meu vestido e o rasga, retirando a barra dourada com pedrarias. Ele
ergue sua face para mim e me dá uma piscada sacana. Bufo novamente e
ergo meu rosto, desviando meus olhos da sua face presunçosa.
Ouço sua risada enquanto ele se levanta e joga o retalho na areia.
Ele usa a manta que roubou do camelo para cobrir suas costas, como se
fosse um grande casaco. Ele volta a me puxar novamente, caminhando
agora a minha frente, me fazendo andar atrás dele, sendo puxada pelos
pulsos amarrados. Ramsés anda entre as palmeiras e pega a faca quando se
aproxima de uma grande moita de folhas grandes e altas, a usando para
abrir caminho e as cortando. Olho para os lados e vejo apenas mais árvores
e plantas, não entendendo onde ele pretende ir se enfiando no meio da mata
fechada. Mas não preciso de muito para compreender, não quando o som ao
longe de gritos, conversas e músicas entram em meus ouvidos. Logo o
cheiro de especiarias e fumaça se faz presente.
Meus olhos observam com pura curiosidade, bisbilhotando tudo
quando ele corta mais uma galha, deixando o vilarejo diante de nós. Ramsés
estica seu pescoço e olha em volta antes de ser o primeiro a sair do meio
das árvores, antes de me puxar. Os gritos dos homens do mercado ficam
mais altos, enquanto eu olho sem entender o que eles falam. Tem várias
pessoas indo e voltando, transitando pela rua pequena. Ramsés começa a
andar e me puxa pelo pulso. Caminho atrás dele, olhando as diversas cores
dos panos pendurados por barras em cima de nossas cabeças. Ele vira e
entra em um beco, escondendo sua mão que segura a faca embaixo do
manto que ele jogou em suas costas. Vejo os homens oferecerem panos para
ele, algumas joias e especiarias, entrando em sua frente. Ele apenas mantém
seus passos, não parando para conversar com nenhum deles.
Olho as portas pequenas de madeiras das casas de barros, algumas
abertas e outras fechadas. Os gatos correm pela lateral do beco, perseguindo
roedores, alguns homens velhos estão sentados no chão, entre as sujeiras,
com suas mãos erguidas, magras, apenas pele e ossos. Entre as cores do
mercado, que vibra com tantas pessoas transitando nele, também é possível
ver a miséria refletida em cada olhar das pessoas que passam por nós.
Escuto a voz de uma mulher falando com Ramsés, parando a frente dele.
Fico nas pontas dos pés e olha por cima do ombro dele, vendo a face dela
descoberta enquanto tagarela, tentando chamar sua atenção. Ramsés solta
uma bufada de ar e a responde em árabe. Arqueio minha sobrancelha
quando o sorriso dela se abre e leva a mão à cintura, chocalhando seus
ombros e inclinando seu busto para frente, diante dos olhos dele. Eu não
entendo da cultura deles, e nem o que ela fala, mas eu entendo de puta, e sei
reconhecer uma quando a vejo se oferecendo para um cliente. Franzo minha
testa, me sentindo irritada quando ela ameaça tocar em seu peito. Abaixo
meus pés e puxo meu braço para trás com força, o pegando de surpresa
quando o viro e faço a mão dela parar de se mover. Meus olhos estão
concentrados na face pintada dela, quando Ramsés se vira e fica de lado.
— Por que me puxou? — ele pergunta para mim.
Não o respondo, mantenho meus olhos a encarando, estreitando
meus olhos para a puta egípcia. Viro minha face para Ramsés e vejo sua
sobrancelha grossa arqueada, enquanto me encara com seus olhos
castanhos, que brilham em divertimento. Ergo meu pulso que ele segura
forte pelo pano, em sua mão, e uso meu dedo do meio para coçar meu nariz
por cima do lenço, disfarçando para não o deixar saber que me incomodou
ver essa mulher o querer tocar. Ramsés se aproxima lento e deixa seu rosto
perto do meu ouvido, fazendo meu coração bater mais rápido ao sentir sua
respiração perto de mim.
— Se Rá não tivesse me dado um Corcel selvagem ao invés de uma
mulher calma e obediente, eu quase podia jurar que está com ciúme de
Ramsés de Naca, Stella. — Bufo com raiva ao ouvir sua voz debochada
dizer isso em meu ouvido. Viro meu rosto para outra direção e abaixo meus
pulsos, mordendo mais forte o lenço, desejando não o ter em meus lábios
para lhe mandar ir à merda. — Pequeno Corcel genioso! — ele diz, rindo,
balançando sua cabeça para os lados e se afastando de mim, retornando a
andar, me puxando com ele.
A mulher dá um passo para o lado, lhe dando passagem, enquanto
mantenho meus olhos nela e a encaro quando passo à sua frente, andando
atrás de Ramsés. Fico confusa ao notar que realmente fiquei zangada por
ela querer tocar nele, e tinha grandes chances de eu querer voar nela se ela
tivesse feito isso.
Não tenho ciúme desse egípcio tarado!
Falo para mim mesma, piscando rapidamente e desviando meus
olhos dela, encarando as costas de Ramsés.
Afinal, por que eu fiquei brava?
Me questiono. Não entendo porque reagi assim, nunca tinha sentido
isso antes. Esse homem é perigoso para mim, sempre me faz ter emoções
que eu não compreendo. Ele é arrogante, insuportável, me faz andar atrás
dele feito uma cadelinha adestrada, amordaçou minha boca e ainda por
cima alega que sou uma maldição dos deuses para ele. Não sinto ciúme
desse tolo, mas então por que sinto infelicidade ao pensar nele tocando em
outras mulheres, como ele toca em mim?!
Meus pensamentos confusos são cortados pelo puxão que Ramsés
dá em meus pulsos quando entra em uma estrutura ao fim do beco. Vejo
algumas pessoas sentadas em almofadas, enquanto sugam um caninho em
sua boca, soltando fumaça depois que os tira dos lábios. Olho curiosa para a
peça que é ligada ao cano, vendo a fumaça dentro dela. Ramsés se aproxima
de um balcão de madeira e conversa em árabe com um homem baixinho,
que dá uma rápida olhada para mim, antes de voltar sua atenção para
Ramsés, que está ficando com sua expressão abusada. Ele balança sua
cabeça em positivo, tagarelando com Ramsés na língua deles, apontando
para as escadas. Ele dá a volta no balcão enquanto conversa, e logo o vejo
deixar uma chave em cima do balcão. Ramsés estica sua mão e a pega, não
o respondendo, apenas se virando e me fazendo andar à sua frente,
segurando meu ombro enquanto me conduz para as escadas.
Vejo um homem descer as escadas com um grande manto branco
cobrindo seu corpo e uma espada em sua cintura presa por um tecido
vermelho, com as mãos na cintura. E é só quando ele passa por mim, que
vejo a pequena sombra o seguindo, uma menina magra com olhos tristes,
que encara o chão e anda cabisbaixa, com os ombros caídos, usando uma
roupa surrada e vestido rasgado na barra. Observo a corrente em seus pés,
presa com argolas em seus tornozelos, como grilhões. Viro meu rosto e olho
para ela quando ela passa por mim, notando a mancha de sangue em seu
vestido. Ramsés segura minha nuca e me faz desviar meus olhos da garota.
— Não a encare, olhe para frente e continue a andar, Corcel! — ele
sibila em comando, me obrigando a manter minha cabeça para frente
enquanto subimos a escadaria.
Assim que terminamos de subir, seguimos por um corredor escuro
até o fim dele. Ramsés para ao meu lado e ergue a chave em seus dedos,
destrancando a porta e abrindo, me fazendo entrar. Ele fecha a porta,
enquanto meus olhos passam pelo quarto, vendo apenas a grande cama ao
centro, redonda, com várias almofadas rosas. Uma outra porta aberta na
parede à direita me mostra a pia do banheiro dentro do seu interior e uma
grande janela aberta, com uma sacada na outra parede. Estreito meus olhos
e encaro os três quadros que estão pregados na parede da cabeceira da
cama, nitidamente obscenos, com pinturas de um casal em posições que eu
nem sabia que se podia ficar. Tombo meu rosto para o lado e tento entender
o que eles estão fazendo no terceiro quadro, com a mulher de ponta-cabeça,
sendo segurada pelo homem, com a face no quadril dele e ele com o rosto
enfiado entre as pernas dela. Isso só não foi tão estranho, porque o abajur ao
lado da cama, em cima da mesinha, ganha. A estrutura do abajur é a estátua
de uma mulher com seu corpo envergado para frente, com suas costas
esticadas, tendo seus dedos das mãos presos em seu próprio tornozelo e um
homem de pé atrás dela, com seu pau pela metade dentro da sua bunda.
— Bosta! — Ouço a voz dele soltar uma maldição, tendo sua
atenção presa nos quadros.
Ramsés me vira e me deixa de frente para ele, pegando a faca em
suas mãos e cortando a amarra dos meus pulsos, os libertando.
— Apenas para essa noite serve! — ele diz e solta um longo suspiro,
desviando seus olhos de mim para a cama redonda, tirando o turbante da
sua cabeça.
Ergo minha mão e tiro o lenço que cobre o meu rosto, chutando sua
canela com toda força que eu posso, o fazendo cambalear para trás, pulando
em um pé só.
— RÁ! Por que me chutou, demônio genioso? — Ramsés sibila,
zangado, esmagando sua boca com raiva.
— Isso foi por ter me amordaçado, seu Tarado de Naca! — falo com
raiva e sinto alívio quando arranco a merda do lencinho dos meus lábios,
jogando na sua direção.
Ramsés se impulsiona para frente e estica seu braço para tentar me
agarrar, mas meu corpo já está fugindo dele em questão de segundos. Corro
desesperada, ouvindo seus gritos em árabe quando fujo para o banheiro e
tranco a porta atrás de mim.
— Corcel ingrato! — Ele chuta a porta com raiva e me faz dar um
pulo para trás, me desencostando da madeira. — Por Rá, na próxima eu lhe
acorrento da cabeça aos pés!
— Apenas tente — grito, o respondendo, dando um sorriso de
ladinho enquanto retiro os restos dos retalhos da gravata do meu pulso e os
jogo no lixo. — Tarado de Naca!
Me aproximo da porta lentamente e escuto os resmungos dele, além
do som dos seus passos andando pelo quarto, feito um touro bravo. Fico em
silêncio e escoro meu ouvido na porta, olhando para baixo e vendo sua
sombra se aproximando dela, enquanto sua respiração pesada se faz. Ergo
meus dedos lentamente e deixo minha mão aberta próxima a centímetros da
porta, desejando espalmar minha mão nela, como se assim pudesse tocar
seu peito, como a prostituta do mercado quis. Mas retraio minha mão na
mesma hora e fecho meus dedos, abaixando meu braço ao lado do meu
corpo, odiando-me por não entender porque sinto vontade de bater nele e ao
mesmo tempo lhe tocar com carinho. Vejo a sombra dele se afastar e logo
em seguida o som alto da porta do quarto sendo fechada com raiva, em um
grande estrondo. Fecho meus olhos e respiro fundo, me virando e
encostando minhas costas na porta, abrindo meus olhos e encarando meu
reflexo no espelho, observando novamente aquela mulher que eu não
compreendia refletida nele, com seu peito se movendo rápido a cada batida
descompassada dentro do meu peito.
— Droga! — sussurro e desvio meu rosto do espelho, me afastando
da porta.
Preferia quando as coisas eram mais simples e eu era apenas eu, a
Stella, e não tão complicada como agora, sentindo essas emoções estranhas
por esse homem mandão!
CAPÍTULO 19
O ataque das heinas
Ramsés de Naca
— Em duas horas estaremos aí! — Ouço a voz de Raja ao telefone,
enquanto observo a porta trancada do quarto, parado do lado de fora, no
corredor. — Precisa ser cuidadoso, não chame atenção até eu e os homens
chegarem, sabe que está na cova do leão.
— Acha mesmo que sou homem de ser intimidado por Valéria,
Raja?! — digo, baixo, para ele, enquanto rio.
— Não me refiro à Valéria, mas sim ao leão que comanda Madrigal.
Pelo que me lembro, a última vez que esteve aí não deixou uma impressão
muito boa com Jamal.
Fecho meus olhos e repuxo meu nariz ao recordar do traficante de
joias que comanda com punho de ferro Madrigal, onde recebe uma
porcentagem pelo que cada comerciante vende aqui dentro.
— Águas passadas, Jamal nem deve mais se lembrar de mim...
— Você quebrou o braço do filho dele em uma luta, Ramsés — ele
me corta, me fazendo lembrar desse pequeno detalhe.
— Tecnicamente, Ramsés não quebrou, apenas desloquei o ombro.
Fiz para limpar minha honra, Omar me difamou ao dizer que eu estava
roubando no jogo...
— Contar mentalmente as cartas e escolher qual vai cair para o
oponente é roubar! — Raja fala, rindo, soltando uma sonora gargalhada ao
telefone. — Se seu pai não tivesse pagado uma fortuna para Jamal aquela
noite, tenho certeza de que Jamal teria cortado seu braço fora.
— LA, LA! — digo alto, negando. — Estava apenas me divertindo.
— Sorrio e solto um suspiro. — Não se preocupe, Raja, quando Jamal
souber que eu estive em Madrigal, já estaremos longe daqui.
— É o que eu peço aos deuses. Até daqui a pouco, chefe! — ele
responde e encerra a ligação.
Guardo o aparelho no bolso da calça e esfrego minha nuca,
lembrando da primeira vez que pus meus pés nesse vilarejo. Vim
acompanhado do meu pai, que fazia negócios com Jamal, sendo um dos
seus maiores fornecedores de joias. Eu fiquei no mercado, bebendo e
aproveitando a noite, era jovem e esperto. Os homens jogando cartas na
frente de uma taberna chamou minha atenção, e aceitei o convite quando
me chamaram para jogar. Contava as cartas e precisei de apenas dois
minutos para memorizar enquanto embaralhava, distribuindo para meu
oponente já sabendo qual carta ele teria antes de virar para mim. Depois da
sétima partida, a qual eu já tinha o deixado liso, creio que ele descobriu
minha manipulação. Seu punho se fechou quando socou a mesa com raiva,
gritando alto que eu era um ladrão. Partiu para cima de mim e brigamos,
saindo no soco, terminando com ele chorando e gritando feito uma menina,
quando eu quebrei seu braço. E seria algo normal, como qualquer outra
briga que eu entrava, mas apenas um fator fez tudo ser diferente naquela
briga. Meu oponente era Omar, filho de Jamal, conhecido em Madrigal
como o leão do deserto. Jamal queria cortar meu braço fora por ter
machucado seu primogênito, mas meu pai pagou a ele uma grande quantia,
como um pedido de desculpas. Mas a verdade é que apenas fez isso porque
sabia que dinheiro era a única coisa que Jamal realmente amava, mais que
seu primogênito inútil.
Não tenho com o que me preocupar, vou partir desse vilarejo antes
do sol nascer. Assim que Raja chegar, dividirei os homens em dois grupos:
um deixarei de guarda, protegendo Stella, e o outro seguirá comigo e Raja
até a casa de Isis, onde a Zalina direcionou o Corcel para procurar ajuda.
Stella havia me contado cada detalhe que Zalina passou para ela enquanto
vínhamos para Madrigal. Amureu, o vendedor da loja de antiguidades que
Stella teria que conversar, não vendia porcarias antigas, mas sim pessoas,
era um vendedor de escravo ordinário em Madrigal. Tenho quase certeza
que está mancomunado com Yusefe, por isso a maldita espiã Zalina falou
que ele a levaria até uma mulher que lhe ajudaria a fugir, e essa cadela é
Valéria, que está salivando para pôr suas garras de volta em sua Messalina.
Mas nem que o inferno congele isso vai acontecer.
Relaxo meus ombros e pego a chave da porta no bolso dianteiro da
calça, abrindo lentamente. Paro meus olhos nos quadros bregas de pinturas,
imitando as posições do Kama Sutra[30].
— Rá! — murmuro e fecho a porta enquanto respiro fundo.
Chaveio a porta e me afasto dela, guardando a chave no bolso da
camisa e percorrendo meus olhos pelo quarto, parando na porta aberta do
banheiro. Engulo minha saliva, enquanto meus olhos ficam presos na
imagem refletida no espelho, de Stella com o roupão de banho aberto, de
frente para o espelho, tocando lentamente seu ventre, dando um sorriso
brando. Ela escorrega uma mão por sua barriga e deixa a outra se erguer
para seu seio nu, o segurando em sua mão como se estivesse notando como
eles estão ficando maiores.
Meus olhos passam por sua imagem, observando cada cantinho dela,
imaginando seu ventre grande e redondo daqui alguns dias, a deixando mais
bela. Isso me faz respirar mais fundo, saber que é meu filho que cresce em
seu ventre. Meus passos são mansos enquanto me aproximo, sendo
governado por meu desejo de admirá-la mais de perto. Ela se vira e fica de
ladinho, olhando para sua barriga com interesse, sorrindo para ela, antes de
erguer sua face para o espelho e deixar seu sorriso se dissipar ao encontrar
meus olhos presos nela. A vejo fechar o roupão rapidamente, respirando
depressa, olhando para o chão quando vira e fica de frente para mim.
— Não ouvi o senhor chegar. — Sua voz soa baixinha, enquanto
balança suas pernas, batendo a pontinha do seu pé no chão. — E-eu...
estava apenas vendo...
Sua voz se cala quando estico meu braço e a trago para perto de
mim, enquanto entro no banheiro, a virando de novo, para ficar de frente
para o espelho. Meus dedos em seus ombros escorregam por seus braços,
enquanto ela tem seus olhos presos aos meus e me encara pelo reflexo do
espelho.
— O que... o que está fazendo, senhor? — Stella me pergunta,
nervosa, me deixando ver seu peito arfar mais rápido, quando levo meus
dedos à frente do seu corpo, afastando as laterais do roupão e o abrindo
novamente.
Observo a pele em cima do colo do peito ficar arrepiada e ela
respirar mais depressa quando uma das minhas mãos espalma sobre sua
barriga e sinto a quentura da sua pele macia. Respiro fundo e olho para
minha mão em sua barriga, sentindo que estou precisando usar de todo meu
controle para tocar nela, tentando focar minha atenção em seu ventre, o
sentindo na palma da minha mão. Seu quadril está ficando mais largo, assim
como o resto do seu corpo está mudando com a gestação. O acaricio e
esfrego as pontas dos meus dedos em sua pele, mantendo minha mão
espalmada em cima do seu umbigo, ouvindo o baixo suspiro que ela solta.
Dou um passo à frente e me aproximo ainda mais de Stella, sentindo seu
rabo raspar em cima da minha virilha quando cola meu peito em suas
costas. Fecho meus olhos quando viro meu rosto e inalo o aroma dos seus
cabelos lavados. E meu corpo responde ao dela quando um gemido baixo
escapa da sua boca, com ela tombando sua cabeça para trás, a recostando
em meu ombro. Mantenho o carinho em sua barriga e levo minha outra mão
para seu seio, sentindo o peso dele em minha mão. Está grande, inchado e
roliço. Brinco com a ponta do bico sensível quando escorrego meu anelar
por cima dele, tirando outro gemido dela.
— Seu corpo está mudando, sente como está ficando mais sensível?
— murmuro em seu ouvido, antes de afastar meu rosto da sua cabeça e
voltar a encarar o espelho. — Seu quadril ficará mais largo, assim como seu
ventre ficará maior conforme os meses passarem e nosso bebê for
crescendo.
Ela vibra em minha mão, enquanto respira mais depressa. Vejo seus
olhos fechados, com seus dentes mordendo o ladinho dos lábios, com ela
suspirando de mansinho. Aliso o outro seio e olho para ele, vendo sua pele
ficar mais arrepiada com minhas carícias, me fazendo até esquecer por
alguns segundos como desejei esganá-la com minhas mãos quando
chegamos ao quarto.
— Sim...
— Seus seios ficarão ainda maiores, se preparando para quando
chegar o momento de amamentar nosso bebê. — Escorrego meu dedo sobre
o bico, sentindo vontade de sugá-los em meus lábios. — Ele irá mamar em
seu peito, que estará farto, cheio de leite.
Por Rá, sou um pervertido de merda, sem um pingo de escrúpulos
ao imaginar minha própria boca mamando no peito de Stella, enquanto meu
pau a fode, sentindo sua boceta quente me sugando dentro dele com a
mesma esfomeação com a qual mamaria em seus peitos!
— Sade... — ela murmura entre suspiros e ergue sua mão, a
deixando sobre a minha em sua barriga.
Sinto meu corpo ficar rígido, assim como meu pau dentro das
minhas calças, que me condena e fica mais duro, raspando em seu rabo. Me
sinto um filho da puta sortudo por ser seu primeiro homem e o único que
esse pequeno corpo repleto de volúpia e prazer de Stella vai conhecer.
Tenho vontade de matá-la a cada segundo que ela me desobedece e me
provoca, da mesma forma que sinto vontade de fodê-la, a enchendo de
prazer. Desço minha mão do seu ventre e arrasto a dela junto comigo
quando espalmo na lateral do seu corpo e aliso sua coxa antes de afastar
minha mão do seu corpo. Stella abre seus olhos e os deixa presos aos meus,
enquanto morde sua boca de mansinho.
— Corcel, disse não querer mais meu toque — falo, sério, a olhando
e recordando dela dentro do quarto, no dia que descobriu sobre o bebê e
como me condenava com seus olhos magoados.
— Disse — ela sussurra, com seus olhos negros desviando dos meus
e sugando seus lábios, ficando pensativa.
— Pois bem. — Agarro a frente do roupão e o fecho novamente,
segurando a corda em volta dele e dando um laço na frente do seu corpo,
precisando usar de todas as minhas forças para resistir a ela quando volta
seus olhos para mim, me deixando ver o desejo dentro dela. — Ramsés não
a tocará mais, se um dia lhe tocar novamente será porque o Corcel pediu.
Viro e fico de costas para Stella, quando me afasto do seu corpo.
Respiro fundo e levo as mãos para minha cintura, desejando que Rá ao
menos esteja se divertindo com o castigo que ele deu a mim, ao cruzar meu
caminho com essa mulher.
— Se depender disso, eu nunca vou pedir! — Ouço a voz dela
zangada atrás de mim, falando baixinho.
Giro meu rosto por cima do ombro e a vejo me encarar, com sua
face emburrada, me deixando saber que está frustrada por eu ter me
afastado dela.
— Não serei eu que vou lhe obrigar! — Dou de ombros e volto a
olhar para frente, caminhando no quarto.
Escuto os resmungos dela, enquanto bate a porta do banheiro com
força, a fechando.
— Nunca, Tarado de Naca! — Stella grita de dentro do banheiro.
Solto um suspiro longo e abaixo meu rosto, encarando o volume do
meu pau dentro da calça.
— E nem você! — rosno, baixo, para ele, sentindo ódio de mim
mesmo por ser tão fraco diante de Stella. — Preciso que chegue logo, Raja!
O som das batidas na porta me faz erguer a cabeça e levar minha
mão para trás, retirando a arma da cintura. A destravo e viro meu rosto para
a porta do banheiro, que é aberta, e vejo a cabeça de Stella para fora, com
ela me olhando.
— Volte para dentro e tranque a porta! — murmuro com raiva, lhe
dando uma ordem, caminhando lento e me aproximando da porta do quarto.
— Nim?
— Tamak ya seydi[31]. — Relaxo meu ombro ao ouvir a voz do
serviçal, avisando que a comida que pedi para trazerem para ela está pronta.
Eu havia pedido para trazerem a janta no quarto, pois não iríamos
descer para comer em alguma taberna de Madrigal. É mais seguro para
Stella ficar dentro do quarto, até Raja chegar com mais munição. Stella, no
primeiro momento que abrisse a boca, falando em inglês comigo, seria um
chamariz de uma escrava estrangeira dentro do vilarejo. Mantenho o
revólver em minhas mãos quando pego a chave da porta no bolso da minha
camisa e abro a porta. Por uma pequena fresta confiro se realmente é o
serviçal do hotel. O vejo com seu uniforme, segurando a bandeja de frutas
com pães e carne assada, sorrindo para mim.
Abro a porta por inteiro e estico meu braço para pegar a bandeja,
mas ela voa para longe quando um segundo corpo aparece e empurra o
garçom para o lado. Apenas desvio meu rosto quando vejo um punho
fechado vindo em minha direção. O grande homem, de quase dois metros,
acerta meu ombro e prende meu braço em sua mão quando ergo a arma para
atirar nele. Inclino minha cabeça para trás e volto com pura força, acertando
uma cabeçada nele. Ele desfere um soco em minha costela, me fazendo
cambalear para trás. Miro em seu peito e disparo. Antes que possa acertar,
outro homem invade o quarto. Sua cabeça se abaixa como um touro com
raiva, vindo com tudo para cima de mim e me pegando pela cintura,
jogando nossos corpos em cima da cama, a quebrando quando desabamos
em cima dela. A arma escorrega da minha mão e cai no chão. Soco o rosto
dele com ódio, o tentando fazer me soltar. Suas mãos se prendem em meu
pescoço e esmagam com força enquanto eu prendo as minhas no dele, o
estrangulando. O som do tiro explode dentro do quarto quando a bala passa
pelo vão entre nossos tórax, nos fazendo arregalar os olhos e parar de lutar,
virando a cabeça para a parede e enxergando a marca do tiro. Olho para o
outro lado na mesma hora, vendo a pequena criatura de roupão, com os pés
descalços, toda descabelada, com seus braços esticados, segurando o
revólver, abrindo seus olhos lentamente.
— ATIROU COM A PORRA DOS OLHOS FECHADOS! — grito
com raiva para ela e puxo a faca da minha cintura, a desferindo com toda
força nas costas do filho da puta em cima de mim, o empurrando para o
outro lado.
— Eu salvei sua vida — Stella responde, brava, enquanto levanto e
arranco a faca das costas do invasor. Tenho tempo apenas de arremessar a
faca no terceiro que invade o quarto, gritando.
— Tentou me matar — falo, bravo, vendo a lâmina perfurar a testa
dele, o fazendo cair antes de dar mais um passo à frente. — Você não fecha
os olhos quando for atirar contra alguém, Corcel! — esbravejo, pulando de
cima da cama quebrada e caminhando na direção de Stella, que está com
seus olhos arregalados, olhando o morto com a faca cravada em sua testa.
Não chego nem a me aproximar de Stella, pois meu corpo é erguido
do chão e arremessado para a parede, estourando com tudo, me fazendo
sentir cada parte do meu corpo se contorcer de dor. O segundo cara, que eu
tinha dado uma facada nas costas, está de pé novamente, me olhando com
ódio, e se vira, andando na direção dela. Mas me levanto e dou uma chave
de braço nele, socando suas costelas e o puxando para trás. O maldito nos
empurra e me esmaga na parede, me fazendo sentir o ar faltar em meus
pulmões.
— Merda! — rosno com raiva e aperto mais forte meu antebraço em
volta da sua garganta.
O cara se debate e solta uma cotovelada em minhas costelas, me
fazendo gritar de dor.
— FAZ ALGUMA COISA, NÃO DEIXA ELE TE ESMAGAR! —
ela berra e balança a maldita arma em sua mão, na direção dele. — Sai logo
daí...
— EU TÔ TENTANDO! — grito com raiva para ela, enquanto sou
esmagado na parede. — ATIRA, PORRA!
O projétil da bala passa a centímetros do meu rosto, acertando a
parede, quando Stella aperta o gatilho. Arregalo meus olhos e olho para
Stella, querendo a matar quando a vejo com um olho aberto e outro
fechado.
— STELLA! — esbravejo e estrangulo com mais ódio o maldito
que me esmaga na parede.
— Me mandou atirar, eu atirei... — ela diz, nervosa, arregalando
seus olhos.
— Não é nada pessoal! — falo e respiro rápido, segurando a cabeça
do homem com força. — Mas preciso matar você antes que ela me mate!
Pressiono meu braço com mais pressão em sua garganta, torcendo a
cabeça dele para o outro lado e quebrando seu pescoço.
— Por Rá! — Respiro fundo quando o joelho dele tomba e cai para
frente, libertando o meu corpo e aliviando a pressão que suas costas faziam
contra meu tórax. — Vai aprender a atirar, vou me certificar disso, Corcel!
Levo minhas mãos aos meus joelhos e respiro depressa, tentando
recuperar meu fôlego. Viro meu rosto para a porta no segundo que ouço
passos pesados, seguidos de uma bufada de ar.
— Está de sacanagem! — Ergo meu olhar para o imenso armário
ambulante que está me encarando com raiva, esmagando suas mãos ao lado
do corpo.
Ele empurra sua cabeça para o lado e estala seu pescoço, dando mais
um passo à frente, enquanto me olha com ódio.
— Se tranca no banheiro e não tenta me ajudar, Stella! — digo com
raiva, lhe dando uma ordem, endireitando meu corpo e pisando em cima do
moribundo quando me afasto da parede.
Pulo no chão e flexiono meus joelhos, amparando o peso do meu
corpo na perna dianteira enquanto a outra vai para trás. Ergo meus punhos
fechados à frente do meu rosto, chamando pelo mostrengo mal-encarado.
Ele gira seu rosto na direção dela, que está com seus braços trêmulos,
segurando a arma. O gigante vai na direção de Stella, e meu corpo já se
move, indo para cima dele. O som do disparo é ouvido antes mesmo que eu
toque em seu ombro para lhe puxar para trás. O vejo parar de andar,
enquanto dá um passo para trás e se vira lentamente para mim. A grande
mancha de sangue começa a se formar em sua camisa, em cima do seu
coração. O vejo olhar para ela antes do seu corpo cair feito uma fruta podre
no chão. Ergo meus olhos para Stella e a vejo com suas íris negras
arregaladas, com a arma erguida em sua mão e com seus braços tremendo
ainda mais.
— Não fechei os olhos dessa vez... — o Corcel balbucia, o olhando.
Ando para ela e retiro o revólver dos seus dedos. — Meu Deus, eu o matei?
— É, isso geralmente acontece quando se atira em alguém, Corcel
— falo para ela, travando a arma e retirando o pente do revólver, conferindo
quanto ainda tenho de bala dentro dele. — Merda!
Respiro fundo e conto três balas. Guardo o pente de novo no
revólver e o engatilho. Ergo meu rosto para a porta e ouço os passos de
gente correndo, vindo na direção do quarto. Meu braço se estica enquanto
espalmo minha mão em seu rosto, a empurrando para trás.
— Apenas uma vez na vida, me obedeça e fique trancada aí dentro,
mulher! — a ordeno, bravo, fechando a porta, não lhe dando tempo de me
responder.
Caminho para perto da cama e me abaixo, pegando um pedaço da
madeira dela quebrada, a segurando feito um taco em minha mão e andando
para perto da porta, ficando com minhas costas coladas na parede.
— Os deuses me odeiam! — rosno, baixo, e respiro fundo.
O pedaço de madeira estoura nas pernas do primeiro que invade o
quarto, o derrubando no chão. O segundo que o seguia cai para trás, com
seus miolos explodindo quando atiro em sua cabeça. Rolo o taco em minha
mão e o ergo no ar, acertando as costas do primeiro que eu bati com a
madeira e a enfiando em suas costas, como uma estaca. O soco de um
punho pesado explode em meu rosto, me fazendo cambalear para trás. Abro
minha boca e sinto meu maxilar dolorido, mirando o revólver no pau do
filho da puta, disparando contra ele. Ando com raiva para a porta, para
fechá-la, mas já estou sendo empurrado por um trator que me ergue do
chão, prendendo seus braços em minha cintura. Desfiro uma cotovelada em
suas costas, para que ele me solte, mas recebo dois socos na barriga. Miro a
porra do revólver em sua cabeça e disparo.
— MAS QUE PORRA! — esbravejo, com raiva, por ter gastado a
última bala nele. Retiro suas mãos da minha cintura e o deixo cair ao chão.
Limpo meu nariz com o dorso da minha mão e ando até o homem perto da
porta, com a madeira cravada em suas costas.
Piso na sua bunda e levo minhas duas mãos para a madeira, fazendo
força para puxá-la das costas do miserável. Cambaleio para trás e a prendo
em meus dedos. Meu rosto se vira para a porta no segundo que o murro
acerta precisamente minha face, seguido de outro que me deixa zonzo.
Meus olhos piscam, enquanto tento focar no grandão maior que o homem
que Stella matou. Ele me segura pela cabeça e inclina a dele para trás, vindo
para frente com toda a força. A dor explode dentro do meu cérebro,
enquanto apenas a escuridão vai crescendo.
— RAMSÉSSSS... — Escuto o grito apavorado dela, enquanto luto
para me manter consciente, tentando abrir meus olhos.
Mas a dor me pega outra vez quando a segunda cabeçada acerta meu
rosto, me apagando por completo.
CAPÍTULO 20
O leão negro do deserto
Ramsés de Naca
— Merda! — murmuro enquanto repuxo meu nariz, sentindo a dor
em minha cabeça. Pisco meus olhos e os abro lentamente, respirando
devagar.
— Graças a Deus está vivo... — Ouço a voz baixa de Stella, o que
me faz erguer a cabeça na mesma hora, com o intuito de me levantar, mas
noto que meu corpo está contido ao chão, com meus braços algemados atrás
de mim, em volta de uma viga de madeira.
— Corcel... Corcel, onde está você... — pergunto, nervoso,
passando meus olhos pelo cômodo, tentando localizá-la.
— Aqui, atrás de você, sade. — Giro meu rosto por cima do ombro
e vejo apenas a sombra dela.
— Está ferida, algum filho da puta tocou em você, Corcel? — Tento
forçar meu corpo a se levantar, mas não consigo.
— Não, ninguém me machucou, eu estou bem. — Solto um suspiro
de alívio ao ouvir sua voz baixinho. — Pensei que você não iria acordar,
que eles tinham...
A voz dela se cala e o som de um soluço baixinho escapa da sua
boca, o que me deixa saber que meu Corcel está chorando. Deve estar se
sentindo assustada. O grandão filho de uma puta me pegou desprevenido,
antes que eu pudesse desviar do seu golpe, e isso a deixou desprotegida nas
mãos deles. Sinto meu sangue ferver de ódio, ao pensar em tudo de ruim
que poderia ter acontecido a ela.
— Ramsés está bem, pequena... — Giro meu pescoço novamente
por cima do ombro, tentando enxergar Stella. — Sabe a quanto tempo
estamos aqui?
— Eu não sei, não tenho certeza, creio que umas duas horas... ou
menos, não sei, sade.
— Não vamos ficar aqui por muito tempo, Corcel, eu te prometo.
— Fecho meus olhos e respiro fundo, voltando a olhar para frente.
Pelo que conheço de Raja, ele vai revirar esse vilarejo da cabeça aos
pés, caçando por mim até me encontrar. Se ele já não estiver em Madrigal,
falta pouco para sua chegada. Solto o ar pela boca e abro meus olhos,
encarando a porcaria do cômodo. Tenho uma pequena noção de quem possa
ser nosso capturador. Descartei Yusefe no segundo que ouvi a voz de Stella.
Se fosse ele por trás disso, Stella não estaria aqui, e eu muito menos
acordado. Abasi talvez, a decoração cafona da sala é bem a cara dele,
tapetes felpudos e grossos no chão, de segunda mão, e vários lenços
coloridos pregados na parede. Mas julgo que não, os calasses e as bandejas
de ouro ao canto, perto da parede, me fazem descartar o beduíno sovina.
Valéria muito menos, ela não me deixaria vivo, e muito menos na sala que
Stella está. É esperta demais para querer esperar que eu acorde. Me resta
apenas uma única pessoa em todo Egito, que seria tão estúpida a ponto de
achar que me atacaria e ficaria impune.
Jamal, o leão negro do deserto.
— Traficantezinho filho da puta! — rosno, baixo, e retorço meus
pulsos nas algemas. Meus joelhos flexionam, enquanto tento arrastar minha
bunda para poder me deixar virado para ela. — Não se preocupe, Corcel,
Raja logo irá... — Me calo e estreito meu olhar, assim que consigo ficar
virado para ela, a encontrando a poucos passos de mim. — Que porra é
essa, Stella?
— Então... — Ela abaixa seu rosto para olhar para seu corpo. — Ou
era aceitar a roupa que eles me ofereceram, ou continuar vestida com o
roupão sujo de sangue. — Ela tomba seu rosto para o lado quando ergue seu
rosto para mim, me dando um sorriso amarelo. — Eu escolhi isso...
— Rá me odeia! — rosno com raiva, esmagando minha boca.
Minhas vistas se comprimem e observo Stella com fúria. Seus
braços estão erguidos, algemados acima da sua cabeça em outra viga, com
seu peito estufado para frente, respirando rápido, chamando ainda mais
atenção para seus seios, que estão destacados, com a porra de um sutiã de
pedraria branca, tendo como conjunto uma calça de seda transparente nas
pernas, depois do quadril, parecendo um maldito gênio arteiro capturado.
— Não podia me obedecer, não é?! — digo, bravo, erguendo meu
rosto para ela.
— Seu egípcio cretino, como enche sua boca para me falar isso... —
Stella me amaldiçoa, me fuzilando com seu olhar.
— Tinha que deixar te sequestrarem, ao invés de se esconder na
porra do banheiro, como eu mandei...
— Pelo que sei, o poderoso Tarado de Naca não está aqui a passeio
também. — Ela respira fundo e cerra sua boca, virando o rosto para o outro
lado.
— Mulher teimosa dos infernos! Juro que um dia costuro sua boca,
por ficar teimando em me chamar assim... É Ramsés, RAMSÉS DE NACA!
— Preferia você quando estava apagado, Tarado de Naca! — Ela
volta seus olhos para os meus, me desafiando com seu olhar enquanto me
provoca, me chamando por essa porcaria de apelido. — Não passa de um
maldito ingrato...
— Falou a mulher amarrada como um carneiro, usando roupa de
odalisca dada pelos seus sequestradores. — Franzo minha testa e olho sua
barriga de fora, encarando seus seios quase saltando para fora do sutiã.
— Se você quer saber, eles foram bem educados em me oferecer
essa roupa, porque se não, seria eu pelada aqui que você encontraria,
Tarado! — Ela balança sua cabeça para os lados e faz seus cabelos se
mexerem, saindo da frente da sua face. — Posso até dizer que são mais
educados que você...
— Criatura teimosa! — Puxo com raiva meus braços, desejando que
tivessem soltos para eu poder estrangular essa maldita mulher com minhas
próprias mãos. — Ingrata! Lhe salvo de ser vendida como um cordeiro, e
em troca recebo um chute na minha barriga e ainda por cima rouba o meu
cavalo, e agora tem coragem de me dizer que eles são melhores do que eu...
— Eles não me amarraram a uma cama e ficaram olhando para mim
feito uns tarados, igual a você...
— Messalina ingrata! — Vejo os olhos dela semicerrarem, com sua
boca se abrindo, pronta para disparar palavrões por sua pequena boca suja.
Mas o som da grande porta se abrindo a faz se calar, conosco
girando o rosto para lá na mesma hora. Sinto o sangue ferver o dobro em
minhas veias ao encarar a face debochada de Jamal, com seus olhos
curiosos passando por mim e por ela.
— Posso ficar mais um pouco lá fora, até vocês dois terminarem de
conversar. — Ele sorri para mim e leva sua mão para trás das costas. —
Espero que tenha gostado das acomodações, tentei fazer o melhor possível
para lhe deixar confortável.
— Como anda o braço do seu filho, ele já deve ter aprendido a ser
destro a essa altura do campeonato, já que deixei o braço esquerdo
inutilizável? — pergunto, sério, para ele, pressionando meu indicador em
cima do meu anelar, para deslocar o dedo do lugar.
— Boa lembrança. — Jamal deixa seu sorriso morrer, já não tendo
mais a expressão de zombaria, e anda lentamente dentro da sala. — Sempre
provocador, Ramsés, vejo que não mudou em nada.
— Sabe que antes do dia amanhecer, só vai restar pó dentro da sua
casa e corpos espalhados no chão, não é? — Aperto mais forte meu anelar,
o esmagando contra o pilar, mantendo meus olhos em Jamal. — Então me
diga, por que mandou seus homens me atacarem?
— Alá[32] é testemunha que Jamal nunca ordenou meus homens
atacarem Ramsés. — Ele ergue suas mãos para cima e nega com a cabeça,
dando um olhar para Stella.
— Leão mentiroso!
— Assim Ramsés faz Jamal se sentir ofendido. — Ele para seus
olhos aos meus e leva sua mão para perto do coração. — Creio que meus
homens não compreenderam minhas ordens, Jamal apenas queria convidar
um velho amigo para jantar em minha casa. — Ele sorri cinicamente e me
dá uma piscada. — Garanto que se tivesse deixado meus homens vivos, eu
os castigaria pelo erro que cometeram.
— Lhe conheço há muito tempo, velho leão, para saber que não
comete erros — falo seriamente, encarando a porta aberta e vendo seus
homens no corredor. — Não considero meu amigo quem me ataca, Jamal, e
muito menos quem me algema.
— Mas isso foi apenas um pequeno detalhe, achei mais prudente lhe
ter contido, até se acalmar depois que acordasse. — Ele leva a mão ao
bolso da sua calça, mostrando duas chaves, as balançando no ar antes de
guardá-las novamente. Ele desvia seus olhos dos meus e caminha para perto
de Stella, a olhando com curiosidade. — Nunca pensei que lhe veria
novamente nessa cidade, turco, mas confesso que me senti ofendido por ter
vindo até aqui e não ter me cumprimentado, como os bons costumes do
livro do profeta ensinam.
— O livro do profeta também ensina a não algemar seus
convidados, Jamal, e a não ter misericórdia dos seus inimigos! — rosno
com raiva e deixo sair um grunhido alto da minha boca quando impulsiono
meu corpo para frente, deslocando meu próprio anelar esquerdo quando o
esmago na viga de madeira. — E muito menos não cobiçar o que não te
pertence. — Minha voz sai baixa e com raiva, por conta da fisgada de dor.
Jamal vira sua face para mim na mesma hora, me olhando,
pensando que meu pequeno ataque de raiva é por ele estar olhando para ela,
e não porque eu acabei de deslocar o osso do meu próprio dedo para
conseguir me livrar das algemas.
— De fato! — Jamal ri e balança sua mão no ar, dando suas costas
para Stella. — Eu andei ouvindo histórias sobre você, Ramsés, que
despertaram a curiosidade de Jamal. Pensava que tinha seguido outros
caminhos, e não trilhado o destino do seu pai. Pelas bocas dos beduínos, se
espalham que você invadiu um leilão no Sutão e roubou uma mercadoria
muito preciosa. E há um prêmio afortunado esperando pelo homem que
devolver a mercadoria para Yusefe.
Paro meus olhos em Stella e a vejo imóvel, com seus olhos
arregalados ao ouvir o nome de Yusefe.
— Acho que me recordaria se tivesse roubado algo dele — falo
ríspido para Jamal, desviando meus olhos dela.
— Tem certeza, turco? — Travo meu maxilar, odiando-o por me
chamar pelo apelido do meu pai, como se estivesse me insultando. —
Porque eu tenho por mim que estou diante da mercadoria roubada...
Jamal se vira novamente para Stella, passando seus olhos por ela,
respirando profundamente ao levar suas mãos para trás das costas e cruzar
seus dedos.
— Quanto ele está oferecendo? — pergunto rapidamente,
compreendendo exatamente o que Jamal quer.
— Yusefe está oferecendo 100 mil dīnār[33] para quem entregar a ele
a mercadoria preciosa que lhe foi roubada.
— Pago 500 se me entregar Yusefe — digo, sério, para ele, o vendo
se virar na mesma hora para mim e me encarar.
— Está colocando a cabeça de Yusefe a prêmio, Ramsés. — Ele
olha para mim e fica pensativo, se agachando à minha frente. — O que seu
velho pai pensaria disso...
— Se tem uma coisa que meu pai me ensinou muito bem nessa vida,
Jamal, é que cobras peçonhentas são mortas decepando a cabeça. — Os
músculos dos meus braços endurecem, enquanto puxo meu pulso para fora
da argola da algema. — Tem apenas duas saídas, Jamal. Aceitar me ajudar e
receber muito dinheiro por isso, ou me soltar e me deixar sair daqui, junto
com ela, e manter você e seus homens vivos...
— Igualzinho ao seu pai. — Ele sorri para mim e nega com a
cabeça. — Podia estar em pior situação, mas nunca se curvava. — Vira seu
rosto para o lado e observa Stella. — Recordo da primeira vez ele trouxe
você e Yusefe até minha casa... — Meus olhos se erguem para a face
pequena de Stella, que está me encarando, confusa, ao ouvir as palavras de
Jamal. — Dois rapazotes enérgicos e encrenqueiros, um a sombra do outro,
sempre juntos. O grande turco tinha orgulho de vocês, dizia que seguiriam
juntos o caminho da vida, como irmãos...
— Meu pai estava errado — digo, baixo, desviando meus olhos
dela. — Yusefe seguiu o caminho dele e eu segui o meu, cada um fez sua
escolha. Assim como agora você tem que fazer a sua, e lhe aconselho a não
se demorar.
O som do primeiro disparo de arma do lado de fora vem como aviso
que Raja tinha chegado, seguido de novos tiros. Jamal olha assustado para a
porta e vê seus homens correrem. Me endireito e trago meus braços para
frente, me levantando, apertando meu anelar com a outra mão e o estalando,
para o osso voltar para o lugar. Jamal arregala seus olhos e se levanta
rápido, dando um passo para trás.
— Temos um trato, leão do deserto, ou prefere sua casa lavada de
sangue? — indago seriamente, o encarando, esticando meu braço para ele e
esperando para ver se ele vai apertar a minha mão.
— Idêntico, turco. Idêntico ao seu velho pai. — Jamal me dá um
sorriso, antes de esticar seu braço e apertar minha mão. — Jamal aceita
ajudar Ramsés e estaremos quites.
Aperto firme seus dedos e puxo seu corpo para perto do meu. A
outra mão levo ao seu bolso e retiro as chaves das algemas. Minha cabeça
se impulsiona para trás, voltando com toda força para frente e lhe dando
uma cabeçada.
— Agora estamos quites, Jamal! — rosno, baixo, o encarando,
balançando minha cabeça em positivo para ele, que tapa seu nariz que está
sangrando.
— Porra! — Jamal resmunga de dor e ergue sua cabeça para trás,
segurando o nariz em seus dedos, para conter o sangramento.
— Me traga Yusefe e lhe farei um homem rico, tem minha palavra!
— Viro e caminho para Stella.
Seus olhos negros estão parados no chão, enquanto ela se mantém
silenciosa. Seguro a chave em meus dedos e me aproximo dela, esticando
meu braço para abrir sua algema. Sinto a respiração quente dela acertar meu
pescoço, com ela mantendo-se cabisbaixa.
— Está machucada, Corcel? — pergunto, baixo, quando liberto seu
braço e jogo a algema no chão.
— Estou bem, senhor. — Stella não me olha, fica encolhida, e dá
um passo para o lado, se afastando de mim, esfregando seu pulso.
Não desejava que ela soubesse que Yusefe e eu um dia trilhamos os
mesmos caminhos, sabia que isso a faria confiar ainda menos em mim.
Estico meu braço e puxo com raiva um dos grandes lenços que decoram a
parede, usando-o para cobrir o corpo dela quando o jogo por suas costas.
Percebo que ela se encolhe ainda mais que antes, como se meu toque fosse
indesejado para ela. Não queria que ela tivesse aqui, nem que tivesse visto
como para mim é fácil machucar as pessoas, que matar um homem é tão
normal para Ramsés quanto respirar.
— Obrigada — ela sussurra, segurando as pontas do tecido e
deixando o corpo dela escondido embaixo dele.
— Encontrei eles! — Me viro ao ouvir a voz de Raja, que caminha
para mim e fala no rádio comunicador. — Pensei que tinha lhe aconselhado
a ser cuidadoso e não chamar atenção.
Abro meus braços quando Raja sorri para mim e me dá um abraço.
Dentro da sala, mais cinco dos meus homens estão armados, encarando
Jamal.
— Sabe como é, não resisto a uma boa festa. — Sorrio para ele e
dou uma palmadinha em seu ombro quando ele se afasta. — Jamal me
convidou para jantar em sua casa, não tive como recusar. Ordene aos
homens para recuar.
Raja repassa as ordens rapidamente pelo rádio, cessando o ataque.
Nos viramos para Jamal, que está sério, olhando para Raja e abaixando a
mão do seu nariz. Desvio meus olhos dele e observo Stella, a vendo parada
no mesmo lugar, segurando firme o lenço que a cobre. Desejo segurá-la em
meus braços, a apreender forte e dizer que machucaria sem pensar duas
vezes qualquer pessoa que lhe ameaçasse, que a única pessoa da face da
Terra que não pode sentir medo de Ramsés é ela.
— Quando cheguei ao hotel e não lhe encontrei, apenas vi os corpos
largados para trás, dividi os homens e os mandei abrir acampamento,
montando as barracas fora do vilarejo e fechando as saídas. Os outros
vieram comigo caçar você, já previa que estaria por aqui — Raja fala para
mim, me fazendo voltar meus olhos para ele.
— Fez bem. — Balanço minha cabeça em positivo. — Preciso
conversar com Jamal a sós, confio apenas em você, Raja, para levá-la em
segurança até as barracas e cuidar dela para mim. Stella precisa de roupas
limpas e comida.
Raja assente com a cabeça e me entrega uma arma, encarando Jamal
antes de caminhar para perto de Stella. Observo Raja falar baixo com ela, e
sua pequena cabeça balançar em positivo para ele lentamente. Stella
caminha devagar, sendo seguida por ele, parando perto de Jamal e olhando
para o chão, não me encarando.
— Shukra, senhor Jamal — ela diz, baixinho, encolhendo seus
ombros. — Vou pedir para alguém devolver as roupas da sua concubina
assim que possível, agradeça a ela por mim.
— Que Alá lhe acompanhe, pequena estrela corajosa — ele lhe
responde, sorrindo.
Fico perdido, olhando para ela, que se retira da sala e é seguida por
Raja, que lhe escolta. Volto meus olhos para Jamal, os semicerrando quando
Stella parte.
— Uma criatura estranha — ele me fala de forma pensativa,
olhando para o corredor. — Mas corajosa, com uma alma leal, isso tenho
que admitir. Preferiu ficar aqui, algemada nessa sala, junto com você, do
que segura dentro do quarto, com minha concubina.
— Escolheu? — Olho sem entender para ele, desviando minha
atenção para a algema no chão.
— O que foi? — Ele me olha espantado quando o encaro. — Não
pensa que Jamal seria capaz de algemar uma mulher grávida à força, não
é... E nem tente negar, Ramsés de Naca, pois Alá já me faz passar por cinco
casamentos, sei reconhecer uma mulher grávida quando vejo uma, e julgo
que compreendo agora porque roubou a mercadoria preciosa de Yusefe. Ela
é uma pedra bruta. Como eu disse, você é igualzinho ao seu pai.
— Não devia ter a deixado algemada, se sabia da gravidez dela —
rosno, baixo, abrindo a algema que ainda está pendurada no meu outro
pulso.
— Acho que não conhece muito bem sua companheira, Ramsés... —
Jamal ri e nega com a cabeça, me olhando intrigado quando o encaro. —
Porque a mulher que desferiu um golpe com um pedaço de madeira na coxa
de um dos meus homens, para proteger você quando estava apagado, não é
o tipo de mulher que recebe bem ordens...
— Ela me defendeu quando eu estava desacordado?
— Nim, como uma leoa selvagem e furiosa, segurando uma adaga e
apontando para mim, agachada à sua frente — ele responde divertido,
erguendo sua mão e dando um tapinha em meu ombro. — Por Alá, e pensar
que seu pai julgava que um dia Ramsés seria abatido por uma mulher calma
e obediente...
Não, não era uma mulher calma e obediente que tinha me abatido,
era uma criatura pequena e geniosa, um furacão que entrou em minha casa e
revirou minha vida de pernas para o ar, que me confunde a cada ato teimoso
dela. Mas que me confundiu ainda mais ao saber que Stella tinha todas as
chances de partir, ela podia ter ficado no banheiro, ter desaparecido e
fugido, como era da sua vontade.
— Talvez... — murmuro, pensativo, analisando que meu Corcel
finalmente está abaixando a guarda para Ramsés.
CAPÍTULO 21
A peça de peão
Ramsés de Naca
— Meus homens me informaram sobre essa mulher, ela andou
visitando Madrigal dois dias atrás. — Aspiro lentamente o bico da
mangueira de shisha[34], tendo a essência de damasco entrando em minha
boca. O separo lentamente dos meus lábios e solto a fumaça no ar, ouvindo
os relatos de Jamal.
— Está por aqui ainda? — Ergo meus olhos para Jamal e o vejo
sentado, tomando seu chá, negando com a cabeça.
— La, partiu rapidamente, do mesmo jeito que chegou. — Jamal
abaixa a xícara e a deposita em cima da mesa. Abaixo a boca da mangueira
e estico meu braço para ele, lhe devolvendo o cachimbo de shisha.
— Ela foi até a casa de Isis? — pergunto para ele e Jamal confirma
com um balançar de cabeça, pegando a mangueira do shisha e levando aos
lábios.
Fico em silêncio e observo o borbulho da água dentro do vaso do
grande cachimbo que serve como base para a mangueira, ficando pensativo
sobre como Valéria está agindo nas sombras.
— Sim, e foi exatamente isso que chamou minha atenção, uma
mulher estrangeira vindo visitar Amureu, foi algo que Jamal não quis deixar
passar. — Jamal tomba sua cabeça para trás e solta a fumaça lentamente
pela boca.
— Amureu seria o intermediário, ele que levaria Stella até Valéria.
— Cruzo meus braços e respiro fundo. — Uma espiã foi infiltrada dentro da
minha casa como uma serpente, silenciosa, esperando a hora certa de agir.
Ela enganou Stella, lhe dizendo que Amureu era um vendedor de
antiguidades que a ajudaria a sair do Egito.
— Antiguidade, nunca ouvi tal disparate. Até as areias do deserto do
Egito sabem que não se pode confiar naquele rato, que sua palavra é tão
sem valor quanto um tapete velho.
— Mas Stella não sabia disso. Ela realmente pensava que iria
conseguir fugir...
— O que Jamal não entendeu ainda é porque ela fugiria. Ramsés de
Naca a feriu?
— LA! — Meu semblante fica taciturno enquanto nego rapidamente
com a cabeça. — Nunca a feri, a espiã mentiu para Stella, se aproveitou da
confusão que abatia sobre a cabeça de Stella ao descobrir sobre a gravidez e
inventou mentiras, lhe dizendo que eu arrancaria o bebê dos seus braços
quando ele nascesse, por isso ela fugiu e estava vindo direto para cá, para
ser entregue a Valéria sem nem saber. — Descruzo meus braços e levanto
com raiva, caminhando para perto da janela.
— Meu homem que seguiu essa mulher em Madrigal, me contou
que seus olhos verdes eram hipnóticos e belos, mas não tinham alma —
Jamal fala, baixo, e se endireita na cadeira, fumando lentamente. — Ele até
disse que o olhar dela o fazia lembrar dos crocodilos do Nilo.
— É porque é exatamente isso que ela é, um predador perigoso e
sem alma, que não se importa com a carnificina que ela deixa para trás. —
Me viro para Jamal e o respondo, esmagando meu punho ao lado do corpo.
— Valéria é a única que pode contar qual foi o real destino da mãe de
Stella, assim como dizer qual a localização das outras Messalinas.
— Meu homem disse que ela não estava sozinha. — Estreito meus
olhos ao ouvir essa nova informação.
— Algum guia ou era Yusefe?
— La, havia uma mulher com ela — ele me responde rapidamente.
— Uma mulher... — Abaixo meu rosto e olho sério para o tapete.
Talvez Valéria esteja com uma das Messalinas, pode ter ficado com medo
de perder outra dos seus presentes de Elite. — Seu homem sabe dizer como
era essa mulher que estava junto com Valéria?
— Não, ele não a viu, ela estava coberta da cabeça aos pés. — Ele
nega com a cabeça. — E quando Valéria foi embora, ela saiu sozinha.
— Amureu ficou com ela — falo, rápido, pensando sobre isso.
Amureu não conseguia ter acesso a homens poderosos, como Yusefe tinha,
homens que pudessem se interessar por uma Messalina, por que Valéria
deixaria uma com ele? — A não ser que ela não seja de grande valor como
as outras... — murmuro, pensativo, divagando sobre qual tipo de jogo
Valéria está tramando.
— Jamal pensou que era apenas uma estrangeira negociando com
Amureu, por isso não dei tanta importância — Jamal suspira lentamente. —
Tenho um trato com Amureu, ele não usa minha rota de tráfico de joias e eu
não me intrometo com o que ele faz ou deixa de fazer dentro da casa dele.
— Preciso encontrar essa mulher, Jamal. Não peço para que quebre
seu trato, mas sim que não interfira em minha visita a Amureu. — Respiro
fundo e me afasto da parede, falando sério para ele. — Tenho que saber o
nome dela e qual a ligação dela com Valéria, além do motivo dela ter
ficado...
— Meus pequenos passarinhos andaram sondando sobre ela... —
Jamal ergue um dedo e o bate lentamente em seu queixo, ficando pensativo.
— Amureu não a deixa a vista de ninguém, fica escondida dentro de um
quarto noite e dia... Alá, como é mesmo o nome que meus passarinhos me
contaram...
Os passarinhos de Jamal são crianças que vivem na rua. Ele cuida
delas, as alimentando e oferecendo proteção, e em troca elas contam para
ele tudo o que acontece em Madrigal.
— Era um nome estranho, como se fosse de homem...
— Preciso que lembre-se do nome dessa mulher, Jamal, precisa
forçar sua memória. — Caminho para ele, o encarando.
— ALÁ! — ele grita alto e bate sua mão na mesa, se levantando e
rindo para mim. — Dorien, esse é o nome dela... O nome da mulher que
Amureu esconde dentro da casa de Isis, é Dorien.
Minha mente trabalha intensamente, tentando me recordar de onde
eu já tinha ouvido esse nome, que não me é desconhecido.
— Dorien explicou para mim que é assim que as coisas tinham que
ser, que me deitaria na cama apenas para agradar o homem que me
tocasse, depois eu voltaria para dormir no meu canto...
— Quem é essa Dorien, Stella?
— A prostituta que madame Mia ordenou para me ensinar a
agradar os homens — ela murmura para mim, de forma baixa.
— A prostituta da hospedaria — sussurro, pensativo, ao recordar de
Stella falando sobre ela.
— O que foi? — Raja se afasta da tenda quando me vê caminhando
em sua direção.
Eu havia saído feito um tiro da casa de Jamal, caminhando entre as
ruas de Madrigal apressado, para fora dos portões da cidade, indo ao
encontro de Raja.
— Onde ela está? — pergunto seriamente para ele. Raja aponta para
a tenda que foi montada perto das palmeiras, onde apenas ele está por perto.
— Ela está lá dentro, já se alimentou e também ordenei para
trazerem roupas limpas para ela, como me pediu. — Seguro-o pelo braço e
me afasto da tenda, caminhando para próximo da fogueira. — O que foi?
Jamal deu para trás? — Raja indaga, sério. — Sabia que não deveria confiar
nele, é um leão velho...
— Um leão velho que acabou de me dar uma informação valiosa —
respondo e giro meu rosto para a tenda onde está Stella.
— Valéria ainda está aqui? — Nego com a cabeça para ele.
— Não, ela partiu no mesmo dia que veio, mas deixou um pequeno
deslize para trás.
— Não estou entendendo, Ramsés — Raja fala, ansioso.
— Fui descuidado, Raja, me deixei ser guiado pela raiva e pela
confusão que Stella causa em mim, e direcionei minha raiva apenas para
uma única pessoa. — Esfrego meu rosto e respiro fundo. — Havia mais
alguém ligada à Valéria dentro daquela hospedaria. Dorien, a prostituta que
ficou responsável por instruir Stella a se deitar com homens.
— Mas não pode ser... — Raja fica pensativo e me olha confuso. —
Não havia nenhuma Dorien lá, nenhuma das prostitutas tinha esse nome...
Eu mesmo conversei com todas pessoalmente, como você me ordenou.
— Acredito que seja porque ela não estava mais lá. Valéria não
devia confiar na puta velha, por isso deixou uma pessoa de confiança para
garantir que o propósito da criação de Stella fosse executado. — Valéria
era esperta demais para deixar o Corcel sem alguém lhe vigiando,
repassando para ela cada passo que Stella dava.
Dorien não era uma prostituta, devia ser uma submissa de Valéria,
por isso a ensinou a se deitar em uma cama apenas quando um mestre
quisesse tocar nela. Ela não estava educando Stella para aprender a agradar
um homem, mas para ser uma Messalina. Valéria devia ter trazido Dorien
para cá com o intuito de acalmar Stella quando a capturasse, um rosto
conhecido que ela acreditaria em qualquer mentira, a fazendo ser uma presa
fácil na mão de Valéria. Sabia que ela não seria burra o bastante para
mostrar sua face, ela está usando seus peões para conduzir o jogo.
— Mande quatro homens ficarem de vigia na casa de Isis, iremos
atacar e invadir antes do primeiro raio de sol nascer. — Lhe passo a ordem
baixa, erguendo meus olhos para Raja. — Quero conversar pessoalmente
com essa mulher!
Viro e fico de frente para a tenda, respirando fundo enquanto
caminho para ela.
CAPÍTULO 22
Estrela do deserto
Ramsés de Naca
Entro na tenda iluminada por lampiões e abaixo o pano da porta
atrás de mim, observando-a sentada entre as almofadas, com um vestido
amarelo. Stella se mantém em silêncio, olhando para as almofadas com seu
queixo encostado em seu joelho, não virando seu rosto para mim.
— Raja me disse que se alimentou — murmuro para ela e respiro
fundo, sentindo a pontada de dor em minha costela quando inalo o ar.
Repuxo meu nariz e desabotoo minha camisa, caminhando lento pela tenda.
Retiro meus sapatos e fico descalço no tapete grosso que está no chão.
— Sim — responde, baixo, ainda mantendo seus olhos longe dos
meus.
Fecho meus olhos e reprimo um grunhido de dor por ter cada
músculo do meu corpo dolorido por conta da luta, quando retiro a camisa e
a descarto no chão. Abro meus olhos e vejo a grande bacia ao canto, cheia
de água limpa. Caminho para ela e ouço apenas a respiração de Stella
dentro da tenda. Esmago meus lábios quando paro diante da bacia, virando
meu rosto para Stella, que desde o segundo que eu entrei não me olhou nos
olhos.
— Irei à casa de Isis pela manhã.
Não conto a Stella que Valéria partiu e que a chance de descobrir
sobre qual destino sua mãe seguiu, se foi com Valéria, e também não quero
lhe contar sobre Dorien. Primeiro preciso conversar pessoalmente com essa
peça de xadrez de Valéria.
— Tudo bem, senhor. — Stella estica seu braço e circula a ponta do
seu dedo nos bordados da almofada.
— Stella, olhe para mim. — Lhe dou uma ordem em voz firme, a
fazendo levantar sua cabeça e me olhar.
Vejo a desconfiança novamente refletida nos olhos de pantera, tão
negros como a noite, me fitando calada.
— As palavras que ouviu Jamal contar sobre Yusefe...
— São verdadeiras. — Ela tomba sua face de ladinho e esfrega sua
bochecha em seu joelho, desviando seus olhos dos meus novamente.
Giro meu rosto e fico em silêncio, olhando para a bacia de água.
Meus dedos se fecham como concha quando junto minhas mãos e levo para
dentro da bacia. Inclino e jogo água fria em minha face, a lavando. Puxo a
toalha que está dobrada perto da bacia e seco meu rosto. Olho para Stella
rapidamente e noto que se mantém na posição, como se estivesse erguendo
novamente um paredão entre nós.
— Eu tinha treze anos quando meus pais trouxeram Yusefe para
casa — falo, baixo, encarando a água, como se pudesse ser o espelho do
passado me trazendo memórias daquele dia.
O desnutrido menino, apenas pele e osso, que minha mãe resgatou
da morte quando o encontrou abandonado no deserto do Cairo para morrer.
— Yusefe e eu fomos criados juntos, como irmãos. — Solto o ar
lentamente pelo meu nariz e molho a toalha dentro da bacia, a torcendo. —
Éramos jovens inteligentes, nós dois gostávamos de nos meter em encrenca,
cavalgar no deserto e acompanhar meu pai em algumas caravanas. —
Sorrio sem felicidade alguma, fechando meus olhos e lembrando dos dois
jovens imprudentes.
Abro meus olhos e caminho lento para perto dela, me sentando nas
almofadas. Repuxo o canto dos meus lábios com uma fisgada de dor na
costela.
— Com o passar dos anos, conforme fomos crescendo, meu pai
decidiu me mandar para a América do Norte para estudar, ele desejava que
eu não seguisse os passos dele. — Estico minhas pernas e aperto a toalha
em minha mão. — Yusefe não quis ir, ele alegava que sua vida estava no
Egito, e ficou no Cairo, e foi aí que nossos caminhos começaram a se
separar. Enquanto eu expandia minha mente, Yusefe se metia em mais
encrencas, mas não eram coisas pequenas, como nós dois fazíamos na
adolescência, mas sim cruéis. Yusefe roubava dos menos afortunados e
violentava meninas jovens e pobres do vilarejo. Quando meu pai descobriu
o que Yusefe andava fazendo, ele castigou Yusefe severamente, lhe dando
dez chibatadas. Minha mãe sofreu, implorando para meu pai não o castigar,
porque ela amava Yusefe como um filho. Yusefe, movido pela raiva que
dominava seu peito, com seu coração sombrio, em uma noite, roubou todas
as joias que meu pai tinha dado de presente para minha mãe, mas, antes de
partir, ele estuprou uma jovem que trabalhava como serviçal da minha mãe,
ele a espancou tanto que a matou. O corpo dela foi encontrado no outro dia,
nu, complemente machucado, largado no pátio como se fosse um bicho.
Fecho meus olhos e sinto tanta dor dentro do meu peito, recordando
que quando soube da notícia, eu não conseguia ver Yusefe fazendo essas
barbaridades, não o jovem menino que ria comigo, que brincava no mar e
que eu tinha como irmão, não podia ser Yusefe.
— Meu pai não matou Yusefe por conta da minha mãe, lhe deu
misericórdia, o deixando sair vivo, apenas o expulsando da nossa casa.
Alguns anos depois, quando eu voltei, eu já tinha uns vinte anos, meu pai
tinha falecido e eu fui atrás de Yusefe, queria ver com os meus próprios
olhos o homem que ele tinha se transformado. — Me calo ao abrir meus
olhos, e a vejo virada para mim, me olhando silenciosa. — O mal sempre
esteve dentro de Yusefe, era meu amor de irmão que não me deixava ver o
que ele realmente era. Penso que se meu pai não tivesse tido clemência
dele, e tivesse dado fim a Yusefe aquela noite, dentro da nossa casa, ele
teria poupado muitas mulheres de terem um destino terrível nas mãos dele.
Meu braço se estica e espalmo minha mão em sua face, afagando
sua bochecha, a vendo fechar seus olhos, me permitindo lhe acariciar.
— Mas, nesse momento, eu sou grato a Rá, por ter permitido meu
pai ter clemência de Yusefe. — Passo meus olhos por sua face, sabendo que
minha maior fraqueza é ela. — Porque foi a clemência do meu pai em
deixá-lo viver, que fez o destino me levar até você, meu Corcel.
Os grandes olhos negros de Stella se abrem para mim, me
encarando.
— Segui um caminho diferente de Yusefe, mas isso não me faz ser
melhor do que ele, pois meu coração é tão obscuro quanto o dele, pequeno
Corcel — murmuro e escorrego meu anelar por seu queixo.
— Sade me salvou. — Ouço a voz dela baixa, tendo sua mão se
esticando e tirando a toalha dos meus dedos. — Não estou dizendo que é
um homem bom, mas também não é igual a Yusefe. — Ela se aproxima
mais um pouco, ficando ajoelhada ao lado da minha perna. Sua mão se
ergue lentamente com a toalha, e passa a pontinha do pano em cima da
minha sobrancelha. — Se fosse como ele, teria me deixado lá para ser
vendida, como um animal...
Meus olhos ficam presos em seus lábios, que soltam um suspiro
baixinho, enquanto os morde na beiradinha. Sinto seu aroma doce quando
ela se aproxima mais um pouco. Minha mão se afasta do seu rosto e desliza
por seu pescoço, olhando a única criatura que faz meus demônios se
silenciarem da mesma forma que tem o poder de os deixar agitados. Fecho
meus olhos e ranjo meus dentes quando ela apoia sua mão na lateral do meu
corpo, resmungando baixo. Stella afasta a toalha rapidamente de perto do
meu rosto, abaixando para sua perna.
— Está muito ferido, senhor. — Abro meus olhos e encontro sua
face abaixada, com seus olhos observando, preocupados, os hematomas da
luta em minha barriga.
— Já estive pior — murmuro e recaio meu olhar para a mão dela em
minha barriga, em um toque suave. Ergo meus olhos para a face de Stella e
vejo a pequena submissa diante de mim. — Está preocupada comigo,
Corcel?
— Não, Tarado. — Ela nega com a cabeça, falando rapidinho,
mesmo seus olhos me dizendo o contrário. Ela volta a limpar meus
ferimentos do rosto com a toalha, mas não retira sua mão da minha barriga.
— Está doendo muito?
— Sim — falo, a provocando, e ergo meu braço, apontando para
meu ombro. — Acho que quando atirou da primeira vez, quase acertou
aqui.
Stella recai seu olhar para onde eu aponto com o dedo, dando um
sorriso tímido de ladinho, sabendo que eu a estou provocando.
— Tenho certeza de que não atirei perto do seu ombro, Tarado —
ela murmura e dá um risinho.
— Estava com seus olhos fechados, não viu onde mirou. — Nego
com a cabeça e solto um suspiro. — Meu ombro está doendo até agora da
rigidez que meus músculos ficaram em quase ser acertado por seu tiro...
Sinto o ar entrar mais forte por meus pulmões quando ela se move
rapidamente para frente e deposita um beijo em meu ombro de mansinho.
— Está melhor agora — Stella fala, com timidez, olhando para meu
ombro.
— Aqui. — Aponto rápido para meu peito, em cima do meu
coração. — O pobre coração de Ramsés quase parou de bater...
Ela fecha seus olhos e dá um sorriso travesso, tombando sua cabeça
em seu ombro e inclinando sua cabeça para frente. Minha pele se abrasa,
tendo meu coração disparado, sentindo a quentura dos seus lábios.
— Aqui também... — falo, fingindo dor em minha expressão e
apontando para meu olho esquerdo. — Ramsés sente calafrio só de lembrar
de você segurando aquela arma com os olhos fechados.
Stella solta a toalha e a deixa ao seu lado, segurando seu vestido e o
erguendo lentamente, dando mobilidade para suas pernas quando as passa
por cima da minha e fica ajoelhada entre elas. Fecho meus olhos e dou um
sorriso sacana, sentindo seu beijo casto. Minhas mãos, que estão agitadas,
se esmagam ao lado do meu corpo, e sinto vontade de tocar em sua pele,
mas me mantenho imóvel, com receio de lhe fazer se afastar.
— Mais algum lugar dói, sade?
Meu pau e minha mente gritam dentro da minha cabeça, enquanto o
sinto ficar ereto dentro da calça, desejando ela ainda mais.
— Talvez aqui também. — Aponto para minha bochecha e olho seus
lábios entreabertos, respirando agitada. — Está doendo um pouquinho...
— Um pouquinho? — Stella sorri e morde o cantinho da boca, me
dando um sorriso.
— Bem pouquinho, mas está... — sibilo, baixo, a pegando de
surpresa quando sua cabeça se inclina para frente, com intenção de beijar
minha bochecha, mas seus lábios se colam aos meus quando giro meu
pescoço.
Os grandes olhos negros estão arregalados, com suas mãos
suspensas no ar, perto do meu peito, me encarando com um brilho sedutor,
com ela deixando sua boca na minha. Sinto meu coração disparar e a
vontade de abraçá-la crescer ainda mais, mas uso do resto de força que me
resta, deixando minhas mãos afastadas da sua pele quente, esperando por
ela seguir em frente com o beijo. Stella suspira, baixinho, e fecha seus
olhos, fazendo eu me sentir um filho da puta sortudo quando suas mãos
espalmam em meus ombros e me tortura com seu beijo inocente.
Eu tenho razão quando digo que os deuses me amaldiçoaram,
transformaram Ramsés, um homem feito, em um escravo nas mãos dela.
Um escravo que esperou a vida todo para servir a ela, apenas a ela, minha
tentadora e pecaminosa Salomé, meu gênio juvenil, arteiro e sedutor, que
me faz ansiar por sua doçura e almejar seu carinho quando ela se permite
abaixar a guarda. Sinto sua língua invadir minha boca lentamente, com ela
suspirando mais ardente enquanto me beija. Seus dedos se prendem mais
forte em meus ombros, se achatando a pele. Sinto o bico dos seus seios
eretos quando raspam em meu peito. E isso joga por terra o resto do meu
controle.
Minhas mãos, que não se aguentam mais de vontade em tocá-la, se
erguem, se prendendo em sua cintura. Seus lábios se fecham sobre o meu
inferior e o suga lentamente, com seus dentes raspando, me fazendo gemer,
forçando seu quadril para baixo, chocando sua pélvis contra o meu pau, que
pulsa rígido dentro da calça. E sentir a umidade da sua vagina descoberta
raspando sobre o tecido, faz eu me sentir mais dominante sobre meu Corcel
arteiro. Em um ataque rápido, nos movo, e a deito nas almofadas, a
beijando com mais luxúria, a prendendo embaixo de mim. Sinto suas coxas
enlaçarem minha cintura, com Stella gemendo dengosa quando move seu
quadril, o friccionando lentamente sobre o meu e raspando meu pau dentro
da calça, em cima da sua vagina.
Aprofundo o beijo e a tomo para mim em cada toque da minha
língua dentro da sua boca, sugando seus lábios como ela fez com os meus,
lhe instigando a ficar mais eufórica. Uma de suas mãos escorrega por meu
peito, parando em cima do meu coração, com a outra circulando meu
pescoço, me devolvendo o beijo na mesma intensidade. Separo nossos
lábios e deixo meu rosto pairar a centímetros do seu, a olhando com fome e
posse.
— Peça — falo, rouco, e abaixo meus olhos para seus lábios
inchados, forçando minha pélvis contra sua vagina, a fazendo soltar um
gemido pela fricção do tecido sobre seu órgão. — Peça para que eu lhe
toque, Corcel — murmuro para ela e escorrego minha língua por seu
pescoço, subindo lentamente pela garganta, até meus dentes rasparem em
seu queixo, o mordiscando.
— Se deseja meu toque, precisa pedir. — Afasto minha boca do seu
queixo, parando meu olhar em sua face.
Os olhos brandos, cheios de luxúria, se abrem lentamente, com ela
respirando rápido, me olhando com travessura.
— E se eu não pedir, Tarado... — Stella morde o canto da boca e
olha para meus lábios.
— Então Ramsés não lhe tocará. — Sinto meu corpo todo rígido,
com meus músculos ficando tensos ao pensar nessa maldita possibilidade.
Mas eu realmente falo sério, não lhe tocarei, por mais que meu
corpo implore para lhe ter. Eu preciso que seja Stella a querer tomar a
iniciativa. Stella fica pensativa e abaixa seus olhos para o meu peito, onde
sua mão está espalmada, e quase chego a me amaldiçoar ao ver a
possibilidade dela se recusar a pedir, apenas para não dar o braço a torcer,
que me deseja com a mesma intensidade que eu a desejo. Fecho meus olhos
e respiro fundo, espalmando minhas mãos nas almofadas, pronto para me
afastar do seu corpo, que me tortura, mas Stella prende mais forte suas
coxas em minha cintura, me fazendo abrir meus olhos para ela.
— Não se afaste, sade... — Sua outra mão sai do meu peito e circula
minhas costas por baixo da axila, colando seu peito ao meu.
— Não tenho muito controle sobre mim nesse momento, Corcel. —
Esmago meu maxilar, confrontando seu olhar com dominação, a deixando
saber que estou falando sério. — Se realmente me quer junto a você, precisa
me pedir.
Ela respira rápido e olha para mim, soltando um baixo suspiro
quando ergue sua cabeça e a traz para perto da minha, com seus dedos se
misturando em meus cabelos.
— Eu quero... — ela diz, baixinho, ficando com sua boca perto da
minha, esperando que eu a beije.
— Quer o quê, Stella? O que deseja, meu pequeno Corcel... — A
veia do meu pescoço pulsa mais forte enquanto seguro meu controle com
toda força, me sentindo cada vez mais tentado a tomá-la para mim.
— Que me toque, desejo que me toque, Ramsés...
— Por Rá! — murmuro com luxúria, aplacando minha fome por ela
quando meus lábios tomam os dela para mim, a beijando com toda a
dominação que eu tenho por Stella.
Não me importo com mais nada além do seu corpo quente, suave e
macio em meus braços, me pedindo para tocá-la. Me livro do seu vestido
tão rapidamente quanto a calça em meu corpo, quando me afasto dela.
Meus olhos têm uma visão privilegiada dos seus seios nus, redondos e
macios, quando meu corpo volta para junto de Stella. Abaixo minha cabeça
e capturo uma de suas mamas dentro da minha boca, a sugando com pura
luxúria, tendo a fome por possuir ela aumentando dentro de mim. Meu
pequeno Corcel me faz sentir uma necessidade animal, urgente e lasciva por
seu corpo.
— Ramsés, por favor... — Stella geme e arqueia seu tórax para
cima, enlaçando minha cintura com suas pernas.
Meus dedos vão para o meio das suas pernas e sinto sua boceta
úmida e quente, me deixando saber como ela está mais que pronta para
mim. Espalmo minha mão ao lado do corpo de Stella, separando minha
boca do seu seio, deixando meu rosto a centímetros do seu. Stella está com
seus lindos olhos negros mais brilhantes que as estrelas do deserto, me
fitando com luxúria. Empurro meu quadril lentamente contra o seu, e meu
pau se encaixa entre os lábios da sua boceta, escorregando para dentro dela
e a penetrando devagar. Stella segura mais forte meus ombros, fazendo
assim suas unhas marcarem minha pele quando elas se cravam com força.
Me afundo ainda mais, empurrando meu quadril para frente, entrando aos
poucos dentro da sua boceta. Um gemido baixo escapa da sua boca
enquanto ela afunda sua cabeça na almofada e respira rápido.
— Ramsés... — Ela me domina com uma facilidade quando se
entrega para mim, tão perfeita e devassa como está agora.
Sua mão vai para em minha nuca e força minha cabeça a descer para
perto da dela. Seus lábios se colam aos meus com urgência e me beija com
doçura e desejo na mesma proporção. Seus pés se cruzam atrás das minhas
costas, com ela usando seu calcanhar em minha bunda para alavancar seu
corpo, o empurrando de uma única vez contra o meu, me tendo tão fundo
enterrado dentro do seu corpo, me deixando preso a ela enquanto apaga
minha mente e me beija com paixão. Me tornei um fraco tolo em suas
mãos, a deixei governar meus instintos, me levando a cometer qualquer ato,
desde crueldade à bondade, apenas para tê-la sempre assim. Minha doce
embriagante, sedutora Salomé, que tem Ramsés de Naca em uma bandeja
de prata diante dela, me deixando saber que eu jamais teria como voltar
atrás da liberdade que eu possuía antes do pequeno furacão em forma de
mulher entrar em minha casa.
O sabor do seu beijo rouba cada parte minha, me fazendo ficar mais
ligado a ela, do que um dia já estive com qualquer pessoa. Stella me instiga
de todas as maneiras. Desde a furiosa e selvagem mulher, que me provoca
raiva na mesma medida que desejo, até a doce e inocente menina, que me
derruba com seu olhar tímido e me inflama de paixão como uma
provocadora e arteira Messalina. Mas é assim, dócil e submissa, que ela me
destrói, que acorrenta meus demônios, os deixando presos a ela, não
desejando mais nada que lhe fazer minha.
Seus gemidos baixos são abafados pelos nossos beijos, meu pau
começa a se movimentar dentro dela, se retirando e entrando, a fodendo
mais forte e fundo, sem controle algum, dando a mim e a ela o que tanto
nossos corpos anseiam. A cada investida dos nossos corpos, se chocando no
ritmo das nossas pélvis se encontrando, com meu pau saindo e retornando
profundo dentro da sua boceta, mais forte ela me abraça e aperta suas coxas
ao redor da minha cintura, me beijando com luxúria. Ergo meu tronco
quando quebro nosso beijo e a olho com posse, admirando seu corpo
inflamado de luxúria abaixo do meu. A luz do lampião ilumina Stella, me
deixando a perfeita visão do seu corpo, dos seus olhos negros, refletindo
paixão. Sua boca mordisca a beirada dos lábios, com ela gemendo baixinho,
me recebendo tão fundo dentro do seu corpo que posso sentir os músculos
da sua boceta se apertando ainda mais em volta do meu pau. A fodo com
mais força e acelero ainda mais as penetrações, sabendo exatamente o que
meu Corcel deseja.
— Ramsés...
Abaixo minha cabeça e sugo seu outro seio, raspando meus dentes
em cima do bico. Sinto seus dedos se prendendo em meu cabelo e os
esmagando com força, com ela movendo seu quadril contra o meu na
mesma loucura com a qual eu lhe fodo. Liberto seu seio da minha boca e
subo meus lábios por sua pele, lambendo sua garganta. Mordo seu pescoço
e ouço o gemido de Stella quando sua face se vira, puxando meu rosto para
me beijar com agonia. Minhas mãos descem para seu quadril, se infiltrando
por baixo, até ter meus dedos espalmados em seu rabo. Alavanco meu
corpo para trás e a puxo junto comigo, me sentando na almofada, a
deixando montada em mim.
Seus pés descruzam atrás das minhas costas e solta suas pernas, as
deixando esparramadas ao lado das minhas. Prendo suas costas com meus
braços e a abraço com força, a fazendo subir lentamente e deixando seus
olhos na altura dos meus. Suas mãos se colam em meu rosto, o segurando,
enquanto me beija e abaixa seu quadril lentamente. Meu pau é engolido por
sua boceta molhada, enquanto ela me beija mais selvagem. Stella solta seu
quadril lentamente, se movimentando para frente e para trás, montando em
cima de mim, gemendo entre minha boca.
— Ohhhh! — Sua testa se cola a minha quando separa nossos
lábios, me abraçando com força pelo pescoço, com seus braços o rodeando.
Minhas mãos descem até seu quadril e passam por debaixo de suas
pernas, apertando suas coxas. Ergo-as lentamente e abaixo outra vez, a
fodendo devagar. Suas unhas se prendem em meu ombro, nos torturando em
um vai e vem, rebolando seu quadril em cima do meu pau.
A deixo livre para seguir os instintos do seu corpo, fazendo o que
sua natureza e seus desejos pedem. Ela afasta sua testa da minha e deixa
seus olhos presos nos meus quando começa a cavalgar rápido e mais forte,
fodendo meu pau. Um sorriso devasso e sedutor se abre em seus lábios
quando sua cabeça tomba para trás, com ela deixando seus braços presos
em minha nuca, comandando o ritmo que me quer dentro dela, rebolando
preguiçosa e provocadora, intercalando entre subidas e decidas, apertando
seus músculos em volta do meu pau. Minhas mãos puxam suas costas
enquanto a trago para mim e colo seu peito ao meu, a beijando com mais
loucura, fazendo eu me segurar para não soltar minha fome e a foder tão
selvagem como eu desejo. Seguro com força seu quadril quando a retiro de
cima de mim, a virando nas almofadas e a deixando de joelhos. Stella me
olha confusa por cima do ombro quando vira seu rosto para mim, me
posiciono atrás dela, tendo seu corpo de quatro abaixo do meu.
— Minha vez de montar em você, Corcel! — sussurro em seu
ouvido e mordo sua orelha, arrancando gemidos de Stella.
Minha boca se alastra por sua nuca quando empurro seus cabelos
para o lado, depositando beijos em suas costas. Seguro meu pau lambuzado
em minhas mãos com seus fluidos, levando para dentro dela outra vez.
Stella geme mais alto quando sente o baque forte da primeira estocada, com
minha pélvis se chocando contra seu traseiro.
— Ramsés... — Entre gemidos e suspiros, meu nome escapa da sua
boca, com ela empinando seu rabo para trás e recebendo meu pau dentro da
sua boceta, que a fode lento.
Uso de todas as forças que ainda me restam para controlar meus
movimentos, para não lhe foder rápido. Enrolo seus cabelos em minhas
mãos e beijo sua nuca, enquanto a outra aperta sua bunda, a massageando e
empurrando meu quadril para frente e para trás, com meu peito colado em
suas costas, enchendo a tenda com os gemidos de prazer de Stella.
— Sade... Ohhh, Deus!
Solto seus cabelos e escorrego minha mão para seu seio, o
acariciando e apertando o bico sensível entre meus dedos, mordendo seu
ombro com força. Minha outra mão em sua bunda, desce para frente da sua
cintura, até parar em cima da sua boceta. Meu dedo circula seu clitóris, o
pressionando, aumentando o ritmo das estocadas do meu pau dentro dela.
— Goze para mim, Corcel — sussurro e lhe dou uma ordem em seu
ouvido, mordiscando sua orelha.
E, como resposta, seu corpo explode, com Stella gozando em meu
pau, o lambuzando ainda mais a cada estocada que ele dá dentro dela,
tremendo forte abaixo de mim. Meu pau sente a quentura do seu interior
ficando mais forte quando estala e esguicha, gozando mais intensamente.
— Oh, Deus... — ela geme entre os espasmos dos orgasmos,
abaixando sua cabeça e cravando suas unhas em minha perna.
Meus dedos vão em sua cintura, apertando sua pele, a fodendo mais
intenso. A trago para mim quando a puxo pelo ombro e fico com meu corpo
ereto atrás dela, com meus braços presos em sua barriga e suas costas
coladas em meu peito, com meu pau metendo com mais força dentro da
boceta de Stella. Stella goza novamente, me tendo tão fundo dentro dela.
Minha boca beija seu pescoço, enquanto deixo vir toda minha própria
libertação, a penetrando com mais força. Os músculos das minhas pernas
ficam rígidos, enquanto meu pau explode em jatos dentro dela, a enchendo
com minha porra.
Rosno, baixo, e cravo meus dentes em seu pescoço, sentindo toda a
descarga de adrenalina me consumindo enquanto gozo, a tendo tão minha
quanto jamais ela seria de outro homem. Seu corpo nu, suado, colado ao
meu, está agitado, e ela respira rápido da mesma forma que eu. Esfrego meu
rosto no seu ombro, ouvindo seus suspiros baixos. Sinto minhas pernas
tremerem enquanto nos deito nas almofadas, com suas costas coladas em
meu peito e seu rosto descansando em cima do meu braço. Meu pau ainda
pulsa dentro da boceta de Stella, que geme e vira seu rosto para mim, me
dando um sorriso envergonhado quando me arrumo e ajeito seu traseiro no
meu quadril.
Ergo meus dedos e afasto uma mecha de cabelo da sua face,
depositando um beijo em seu ombro. Ela vira sua face e esfrega sua
bochecha em meu braço, suspirando baixinho. Meu braço passa por cima da
sua cintura e lhe abraço, deixando minha mão espalmada em seu ventre, o
alisando lentamente, sentindo os tremores em seu corpo por conta dos
orgasmos. Ela gira seu rosto novamente e me olha com curiosidade. Vejo
um brilho em seu olhar enquanto ela mordisca seus lábios.
— Ainda está dentro de mim — ela murmura, abaixando seus olhos
para minha boca.
— Estou. — Minha mão em seu ventre escorrega para sua boceta.
Deslizo lentamente meu dedo sobre seu clitóris, vendo seu rosto se
contorcer quando empurro meu quadril para frente, movimentando meu pau
dentro dela, sentindo seu interior quente e inchado, pronto para me deixar a
possuir novamente.
— Sade... — Ela morde seus lábios e fecha seus olhos, suspirando
baixinho, virando sua face para o outro lado e a deixando repousada em
meu braço.
Beijo seu ombro e esfrego meu rosto em seus cabelos, afastando
minha mão da sua boceta e retornando para seu ventre, com o corpo dela de
conchinha rente ao meu. Afasto meu rosto de Stella e fico imóvel quando
sinto seus dedos se entrelaçarem com os meus em um gesto de carinho,
sobre sua barriga, ouvindo o suspiro dela enquanto solta um bocejo
sonolento. Sorrio e fecho meus olhos, tendo meu peito inflamando de
orgulho por tê-la se rendendo a mim de uma forma tão graciosa e submissa.
Minha pequena Salomé.
CAPÍTULO 23
O domador de Corcel
Stella Trud
— RAMSÉSSSS... — O grito de desespero sai da minha boca
quando o vejo sendo machucado, como se estivessem me machucando
também.
Sua mão se abre e deixa o pedaço de madeira cair ao chão quando
ele recebe outra cabeçada, fazendo voar sangue do seu nariz. O grande
homem ergue Ramsés do chão e o segura pelos ombros. Vejo a cabeça do
intruso se empurrar para trás novamente, com intenção de acertar Ramsés
outra vez. Meus pés se movem rapidamente e ajo por impulso, correndo e
me abaixando, pegando o pedaço de madeira sujo de sangue, usando de
toda força do meu corpo quando golpeio na coxa o homem, fazendo a
madeira atravessar sua perna. Ele ruge alto e solta Ramsés, quando
cambaleia para trás, gritando de dor. Engatinho para perto de Ramsés e
vejo seus olhos fechados, sua face suja de sangue, e a seguro em meus
dedos, sentindo dor dentro de mim enquanto as lágrimas do choro ficam
mais fortes, escorrendo por minhas bochechas.
— Tarado... Acorda... Acorda, seu cretino, me deu sua palavra que
não me faria sofrer. — Meus dedos trêmulos alisam sua face, enquanto
choro com mais desespero. — Acorda, Tarado...
Não compreendo porque dói tanto dentro do peito ver seus olhos
fechados, como se nunca mais fossem se abrir novamente para mim. Ergo
meu rosto para o homem, que grita de dor enquanto puxa a madeira para
fora da sua perna, me olhando com raiva. Passo meus olhos pelo quarto
rapidamente, vendo outros corpos moribundos caídos no chão. Um perto de
Ramsés tem uma adaga em sua cintura, a puxo com rapidez e aperto em
meus dedos, apontando para o invasor. Ele ameaça vir para cima de nós,
mas grito alto, com fúria, como se um instinto selvagem estivesse me
consumindo, me fazendo ser capaz de estripar esse homem inteiro como um
porco se ele tentar tocar em Ramsés novamente.
— NÃOOOO — grito com raiva, a segurando firme, ajoelhada,
perto de Ramsés.
— WAQEF![35] — Uma voz alta, com timbre forte, soa alta, fazendo
o gigante parar de se mover, dando um passo e mancando para o lado.
O homem negro e alto, traja uma veste grande, como se fosse um
vestido branco, que cobre seu corpo inteiro, com um turbante dourado em
sua cabeça. Ele olha para o quarto lentamente, estudando todo o caos e
morte que há dentro dele, enquanto leva suas mãos para trás das costas,
dando um passo à frente, antes de parar seus olhos em mim, ajoelhada,
segurando a adaga perto de Ramsés, o protegendo.
— Muthaira jadda lahtmamam[36] — ele fala em árabe e arqueia sua
sobrancelha para mim.
— Não vai tocar nele — digo, firme, e esmago com mais força a
adaga, apontando para ele.
Ele estreita seu olhar, enquanto se agacha e deixa seus olhos na
altura dos meus.
— É estrangeira? Uma escrava estrangeira em Madrigal... — ele
murmura de forma curiosa, falando na minha língua, com seu sotaque
árabe forte. — Com o turco, ainda por cima, eu vejo... — Ele olha para
Ramsés, franzindo sua testa. — Mas não entendo o que meus olhos veem,
por que uma escrava está protegendo um facínora como esse...
— Não vai machucá-lo. — Fungo, baixinho, e ergo minha mão,
limpando meu rosto com a outra mão enquanto mantenho a adaga
apontada para ele. — Corto sua garganta antes disso...
Meus olhos recaem para Ramsés e o vejo com os seus ainda
fechados, me fazendo sentir tanta dor e medo.
— Ramsés, por favor, acorda... — murmuro, sentindo as lágrimas
escorrerem por meu rosto, como se tivesse perdendo uma parte minha.
— Corcel... Corcel, acorde, está tendo um pesadelo. — Sinto o
toque firme em meu ombro, enquanto meus olhos se abrem, tendo dentro do
meu peito toda aquela dor novamente me engolindo.
A luz baixa do lampião me deixa ver a face de Ramsés me
encarando. Solto o fôlego que eu prendo por minha boca e ergo meus
braços com rapidez, o abraçando com toda força, precisando sentir o calor e
o cheiro dele, para saber que é real. Fungo, baixo, escondendo meu rosto
em seu peito, sentindo como se o sonho fosse real, como se estivesse
novamente o vendo sujo de sangue, caído no chão do quarto da hospedaria,
com seus olhos fechados.
— Ei, pequena, está segura... Foi só um pesadelo — Ramsés
murmura em meu ouvido, alisando meus cabelos.
— Eu pensei, pensei... — Me calo, negando com a cabeça, ainda
sentindo todas aquelas emoções me engolindo. Eu nunca tinha sentido tanto
medo em toda minha vida como eu senti ao pensar que ele estava morrendo.
Sinto o calor quente do seu peito quando ele me abraça mais forte.
Sua mão acaricia meu rosto, me fazendo afastar a cabeça para lhe olhar.
Meus olhos se abrem lentamente e vejo sua face a centímetros da minha.
Suas sobrancelhas estão arqueadas, enquanto observa minha cara com seus
olhos cor de café, os mesmos olhos que eu implorei para que abrisse para
mim. Ramsés afasta meus cabelos do meu rosto, usando o dorso do seu
dedo para acariciar minha bochecha molhada pelas lágrimas.
— Por que está chorando, Corcel? — indaga com a voz baixa e me
observa com ternura, tanta ternura, como nunca ninguém me olhou, fazendo
eu me sentir ainda mais perdida com tudo que ele causa dentro de mim.
— Eu senti medo... — Deixo as palavras saírem da minha boca, não
conseguindo mais segurar toda essa confusão dentro de mim.
O medo que senti dentro daquele quarto tinha sido forte demais, e eu
não conseguia mais ficar reprimindo todas essas emoções, sentia elas me
machucando e eu não entendia porque elas me causavam tanta dor e como
eu tinha que lidar com elas.
— Está segura, Corcel — Ramsés diz, sério, me olhando com
atenção. — Ramsés lhe deu sua palavra...
— Não, não é isso...
Fecho meus olhos e nego com a cabeça, sentindo como se minhas
emoções estivessem em uma gangorra, se misturando e ficando mais fortes,
me fazendo sentir vontade de chorar, de abraçá-lo, de bater na cabeça
teimosa de Ramsés. E se antes eu já não sabia como lidar com elas, agora
está pior ainda.
— Do que está sentindo medo, Stella? — Ramsés segura meu
queixo em uma de suas mãos, enquanto a outra alisa minhas costas.
Meus olhos desviam dos seus, ficando presos em seu peito nu,
observando o hematoma roxo em sua pele. Não sei mais como lidar com
isso, com o que eu sinto. Ninguém nunca me disse que eu me sentiria assim,
que uma outra pessoa poderia causar tanta confusão nas minhas emoções.
Talvez seja isso que me leva a tomar a decisão de contar para ele, já que é
Ramsés que causa isso em mim.
— Senti medo que morresse, e isso fez eu sentir muita dor dentro de
mim — murmuro, sem coragem de olhar em seus olhos e o deixar me ver
tão vulnerável diante dele.
Sinto o ar quente da sua respiração acertar minha testa quando ele
respira fundo. Seus dedos se apertam um pouco mais em meu queixo, me
fazendo levantar a cabeça para lhe olhar.
— Sentiu medo de eu morrer e lhe deixar nas mãos daqueles
homens, foi isso? — Ramsés me pergunta, sério, enquanto me estuda com
atenção.
Nego com a cabeça lentamente, sentindo minha alma ficar
aprisionada em seus olhos marrons, enquanto ele abraça minhas costas com
mais força.
— Senti medo de você morrer, de perder você. Eu sinto tantas
coisas, que eu não sei como lidar com elas... — falo, baixo, respirando
fundo e o olhando perdida. — O certo seria eu odiar você, acho que é isso
que eu devia sentir, mas não entendo porque meu coração não te odeia...
— O que o coração de Stella sente por Ramsés? — O vejo abrir um
sorriso em seus lábios, com seus olhos ficando brilhantes, como se soubesse
a resposta que nem mesmo eu compreendo.
— Eu não sei... — balbucio e ergo minha mão, espalmando em seu
coração, o sentindo bater forte dentro do seu peito, sendo completamente o
oposto da calmaria que sua face demonstra para mim. — Às vezes, raiva,
alegria e felicidade, e bate tão forte em outras vezes, quando você me olha,
que penso que ele vai sair do meu peito. — Olho minha mão em seu peito e
o vejo se movimentar mais depressa. — Em algumas outras ocasiões penso
que quero costurar sua boca, para ela parar de me deixar brava, e em outras
eu quero beijar você, quero que me toque e me deixe te tocar... — Ergo meu
rosto para Ramsés, olhando seus olhos. — Meu coração está tão confuso...
— Nada é mais belo que um coração puro, meu pequeno Corcel
selvagem.
— Seu coração se sente assim também, Tarado? — Seus olhos se
focam aos meus, como se ele estivesse surpreso com a pergunta que lhe fiz,
me dando um sorriso calmo. — Confuso...
— Em toda minha vida, julgo ser a primeira vez que meu coração
bate dessa forma tão agitado, Corcel, mas te garanto que não é por estar
confuso. — Seus dedos soltam meu queixo e deslizam por meu pescoço,
alisando meu ombro com lentidão. — O que seu coração realmente deseja,
Stella...
— Amor, alguém a quem amar e que me ame de verdade, que não
me deixe, que me faça esquecer a minha vida solitária. Estou cansada de ser
apenas usada, feita de mercadoria, eu quero me sentir pelo menos uma vez
na vida amada...
Me sinto exposta diante dele, o deixando ver meus medos e minha
alma. Mesmo assim, é como se ele derrubasse barreiras, como se apenas
Ramsés conseguisse me enxergar de verdade. Seus dedos apertam meus
braços, saindo das minhas costas, a deixando repousar nas almofadas, com
seu corpo se inclinando em cima do meu. Sinto o gosto dos seus lábios
quentes, a forma como ele me beija, como se sugasse minha alma para ele,
retirando toda dor que trago dentro de mim, fazendo eu me sentir viva,
como apenas ele consegue. Me sinto perdida com tantos conflitos de
sentimentos dentro de mim, se silenciando, tendo apenas Ramsés para me
segurar, com meus braços se apertando mais forte em volta do seu pescoço.
Seu corpo nu se move e fica por cima do meu, enquanto sinto o
calor dos seus braços, me engaiolando entre eles, com suas mãos ficando
espalmadas nas almofadas ao meu lado.
— Espalme sua mão novamente no meu coração, Corcel. — Sua
boca se separa de mim, com ele retirando um dos meus braços do seu
pescoço e beijando a palma da minha mão. — Apenas sinta o que ele tem a
lhe dizer.
Ramsés o deixa parado sobre seu peito, o espalmando, e sinto seu
coração bater tão rápido quanto o meu dentro do meu peito. Seus olhos
ainda estão presos nos meus quando sua cabeça se abaixa e toma meus
lábios para ele, fazendo eu me sentir viva em seus braços, me fazendo
compreender que quando ele me toca não sinto solidão, como se pudesse
me ver aos seus olhos como eu realmente sou de verdade, uma mulher cheia
de paixões, que deseja ser amada com toda suas forças, e ele me retribui.
Sua boca para em cima do meu seio e o suga, me fazendo gemer
entre medo e desejo, o deixando saber tudo que me faz sentir, querendo
mais e mais me sentir dele, como eu nunca fui de ninguém. Deixo meus
dedos se arrastarem por suas costas e arranharem sua pele, tendo suas
pernas afastando as minhas. Sinto meu corpo trêmulo e vibrante, só que não
com a mesma urgência das outras vezes, como se ele me tocasse de uma
forma diferente, como se eu estivesse diferente, como se finalmente tivesse
aceitado em minha mente o que meu corpo e meu coração já sabiam.
Eu pertenço a Ramsés.
Seus braços param ao meu lado, próximo à minha cabeça, enquanto
os usa para sustentar seu corpo. Ele se move lento e abaixa seu quadril até
ter seu pau se esfregando sobre minha vagina. Eu mordo meus lábios
enquanto a ponta da cabeça do seu pau se arruma em minha entrada e o
sinto se empurrando lentamente para dentro.
— Apenas confia em meu coração, Corcel. — Seus olhos se
abaixam e para sua atenção em minha mão espalmada em seu peito. —
Jamais permitirei que se sinta sozinha novamente...
Seus olhos se erguem para mim, me fitando em silêncio. Sinto a
dúvida dentro de mim, aquele medo de lhe dar minha confiança sendo
abafado, e me fazendo desejar acreditar nele. E então tudo para e meu
coração explode em batidas aceleradas dentro do meu peito, quando eu
derrubo a última barreira de medo que eu segurava, que me protegia de
Ramsés. No momento em que os seus lábios me beijam, em uma série de
pequenos beijos provocadores, me fazendo sorrir entre os gemidos, sinto
um choque delicioso de prazer, como uma descarga de energia que nos une.
Não é um beijo avassalador como os outros que ele me dava, é terno e
carinhoso, fazendo eu me sentir como se nunca realmente tivesse sido
beijada antes dessa forma, como se eu tivesse passado anos esperando por
este momento com alguém. Ramsés não está me dobrando, me fazendo
responder aos seus toques, Ramsés está me dando o que sempre quis. Amor.
O beijo de volta, retribuindo o que ele me entrega, amando a
sensação de seu espesso e sedoso cabelo debaixo dos meus dedos, enquanto
os esmago, suspirando quando seu peito se cola ao meu.
— Oh, por favor, sade! — Aperto mais forte minha mão contra seu
coração, precisando senti-lo por inteiro dentro de mim. — Me toca...
A cabeça larga do seu pau rígido começa a se empurrar devagar para
dentro da minha boceta. Sinto meu corpo ainda sensível, por ele ter me
tocado antes de eu adormecer em seus braços, mas ainda assim o desejo,
quero Ramsés novamente dentro de mim. Escuto sua respiração pesada,
com ele cerrando seus lábios, enquanto ele me penetra com pura posse. As
sensações do meu corpo variam entre a dor e a luxúria que me consome
quando ele está completamente enterrado dentro da minha boceta, fazendo-
me estremecer da cabeça aos pés.
— Não devia te tocar novamente, Corcel — ele sussurra e esfrega
seu rosto na curva do meu pescoço, me cheirando. — Está sensível por
dentro...
— N-não, eu estou bem... — Fecho meus olhos e respiro rápido, o
abraçando forte com meus braços. — Estou realmente me sentindo bem...
— Meu pequeno Corcel arteiro. — Ele ri, baixo, e respira forte, me
fazendo sentir seu corpo ficar rígido, enquanto usa suas mãos para sustentar
seu peso, para não me esmagar.
— Eu confio em você, Ramsés... — Solto as palavras lentamente e
sinto meu estômago se apertar, como se estivesse lhe entregando de vez
minha rendição. — Meu coração confia em você, sade.
Ramsés ergue seu rosto e para seus olhos nos meus, os tendo tão
brilhosos e claros que parecem as areias do deserto.
— Seja minha, Stella, apenas minha para sempre. — Olho perdida
para ele, lhe dando um sorriso.
— Acho que isso, a essa altura, não tem muito como revogar... —
Abaixo meus olhos para o meu ventre e sorrio, não conseguindo me
imaginar mais dele do que já sou, tendo nosso bebê crescendo dentro de
mim. — Daqui alguns meses todos vão saber que sou sua...
— Seja minha como minha mulher, não só como a mãe do meu
filho, Corcel. — Ramsés move seu quadril e me faz engasgar, o sentindo
me foder lentamente, o olhando ainda confusa, sem saber ao certo se eu
entendi o que disse. — Me aceite como seu marido, mas não porque sente
gratidão por mim, ou porque minha semente cresce em seu ventre. Quero
que aceite ser esposa de Ramsés, porque é isso que deseja.
Acho que demora alguns segundos para meu cérebro processar
realmente o que Ramsés está falando. Nunca ninguém perguntou o que eu
queria, o que meu coração sentia. Eu posso compreender que ele sente
prazer com meu corpo, que gosta de me tocar, mas não entendo porque um
homem como ele iria querer se casar comigo, justo comigo. Nunca sequer
pensei que alguém um dia me pediria em casamento.
— Quer casar comigo? Eu pensei...
— Que seria uma concubina, que apenas lhe procuraria quando
desejasse meu pau dentro de você? — Ramsés abaixa seu tom de voz e
choca sua pélvis contra a minha, me fazendo gemer ao sentir seu pau se
mover dentro de mim. — Meu pequeno Corcel, jamais lhe ofereceria tão
pouco.
Ramsés se abaixa e beija meus lábios, me beijando com tanta paixão
que sou capaz de desmaiar pelo fôlego que ele me rouba. O abraço com
mais força, me rendendo a ele.
— Aceita, Corcel? — Ramsés murmura entre o beijo.
Em resposta ao pedido dele, o beijo com mais ardor, balançando
minha cabeça em positivo. Ele aumenta a velocidade do seu pênis, que se
afunda dentro de mim, me fazendo sentir as ondas de prazer que me tomam.
Gemo entre nossos lábios, me sentindo imponente, sendo tomada de luxúria
a cada investida de Ramsés, com nossos quadris se chocando rapidamente.
A primeira onda de felicidade me pega com força, fazendo dos dedões dos
meus pés até o último fio de cabelo da minha cabeça, sentir a intensidade do
orgasmo, tendo Ramsés destruindo meus sentidos, beijando meu pescoço e
raspando seus dentes em minha garganta, se afundando dentro de mim a
cada penetração. O fogo do prazer me queima, me fazendo ser apenas dele.
Gemo com rouquidão.
Ele coloca as duas mãos nos meus quadris e afunda seu pau dentro
da minha boceta com puro frenesi. Sinto os jatos quentes da sua porra me
invadirem intensamente, ao mesmo tempo que meu orgasmo me dilacera,
me fazendo ser um corpo mole transbordando prazer e satisfação. Ele
desmorona em cima de mim, sendo cuidadoso ao apoiar o peso do seu
corpo em seus cotovelos, para não me machucar. Meus braços ao redor da
sua nuca se mantêm firmes, o abraçando. Me sinto lânguida e
completamente satisfeita. Sorrio e acaricio as suas costas, passando suas
mãos para cima e para baixo, suspirando baixinho. Seu pau se retira de
dentro de mim, caindo com seu corpo para o lado e dando uma leve
palmada em minha coxa quando me faz virar para ele e se enconchar em
mim, passando sua perna sobre a minha, apertando minhas costas. Preciso
admitir que gosto da sensação de ter minha bunda descansando contra as
coxas dele, é bom e gostoso. Ele desliza seu braço ao redor da minha
cintura, acariciando meu ventre, e reprimo um riso quando Ramsés
mordisca meu pescoço.
— Rá, fico feliz que aceitou! — ele murmura e enterra seu rosto
contra o meu pescoço, esfregando seu nariz. — Estava pensando como
seriam as fotos do nosso casamento, tendo minha esposa acorrentada e
amordaçada.
— Oh, meu Deus, você está falando sério?! — Rio e fecho meus
olhos, ouvindo o som da risada grossa dele, com seu peito vibrando em
minhas costas enquanto ri.
— É claro que sim. Ramsés lhe arrastaria acorrentada para o altar,
quem sabe até lhe algemaria à cama na noite de núpcias.
— Tarado de Naca! — resmungo, baixo, fechando meus olhos e
sentindo as mãos dele em meu ventre.
É estranho como ouvir ele dizendo isso não me assusta, pelo
contrário, realmente posso enxergar Ramsés fazendo isso, mas ainda assim
não me arrependo de ter aceitado. Me sinto como se tivesse esperado uma
vida toda para finalmente ter alguém que me quisesse. A grande mão dele
continua a alisar o meu ventre, enquanto ele canta uma música árabe
baixinho perto do meu ouvido.
Me desperto lentamente, bocejando enquanto me espreguiço,
sentindo a manta sobre o meu corpo. Abro meus olhos com preguiça e vejo
apenas a marca da cabeça de Ramsés na almofada, com o lugar que ele
dormiu vazio. Me sento e coço minha cabeça, olhando para os lados e
enxergando a tenda vazia. Vejo alguns raios de sol entrarem pelas frestas do
tecido, me avisando que já tinha amanhecido. Seguro a manta rente ao meu
corpo e tapo meus seios, enquanto me levanto, sentindo cada músculo do
meu corpo molenga e relaxado. Um sorriso bobo se forma em minha face
quando recordo da longa noite que tive nos braços de Ramsés. Abaixo meu
rosto e olho meu ventre, sorrindo para meu bebê.
— A gente vai ter uma família, bebê — murmuro, feliz, para ele, e
caminho na tenda, parando perto da bacia e vendo a água limpa e fresca
dentro dela.
Uma bandeja de frutas, pães e mel está ao canto, junto com uma
jarra de suco e um copo. Passo meus olhos pela tapeçaria no chão da tenda,
caçando meu vestido. O encontro embolado perto das almofadas, ando para
ele e o pego, o vestindo rapidamente, deixando a manta no seu lugar, perto
das almofadas. Retorno para a bacia e jogo água fresca em meu rosto, o
lavando depois de o secar com uma toalha limpa, que estava dobrada, perto
da bacia. Seguro um pêssego em minhas mãos e o mastigo. Ando rumo à
saída da tenda e ergo o pano dela. Não é com o dia ensolarado do deserto de
Madrigal que eu me deparo, mas sim com a sombra de Raja, que está
parado de costas para mim, na frente da entrada.
— Sabah al-khayer — falo lentamente, tentando pronunciar
corretamente bom dia em árabe para ele, da forma que Amina me ensinou.
O vejo virar e olhar para mim, antes de voltar rapidamente a ficar de
costas.
— Sabah al-khayer — Raja fala rápido, não olhando para mim.
Fico chateada com isso que eles fazem, não entendo porque
ninguém me olha e conversa direito comigo, sem ser Amina, como se
tivessem medo de me olhar nos olhos.
— Eu não sou uma medusa, Raja — murmuro, chateada, soltando
um suspiro. — Não transformo ninguém em pedra quando me olham nos
olhos.
Escuto a risada grossa dele, enquanto seus ombros balançam, com
sua postura relaxando.
— Raja sabe que não é — ele responde calmamente quando para de
rir, virando seu rosto apenas um pouco para o lado e olhando minha sombra.
— Então por que evita me olhar, senhor Raja? — Ouço sua
respiração sair pesada, com ele negando com a cabeça lentamente.
— Está sem lenço, não é correto um homem que não seja seu
companheiro lhe olhar descoberta. — Fico em silêncio, absorvendo sua
resposta. Não entendo muito bem se essa informação está correta, porque
quando eu uso lenço, ninguém também me olha dentro da casa de Ramsés.
— Então, se eu cobrir meus cabelos, você vai se virar para
conversar comigo? — pergunto para ele, o olhando.
— La! — Raja responde rápido, voltando a olhar para frente. —
Stella tem que ficar dentro da tenda, não precisa conversar com Raja.
— Stella está cansada de ficar dentro da tenda, Raja — suspiro,
desanimada, o vendo manter suas costas para mim. — Poderia ao menos me
dizer onde está o Tarado de Naca...
Raja cai na risada outra vez, não conseguindo se controlar, rindo ao
ouvir o apelido que dei a Ramsés.
— Stella, por favor, volte para dentro da tenda, Raja não pode ficar
conversando com você. — Ele respira fundo, diminuindo seu riso. —
Ramsés logo vai voltar.
— Ele me proibiu de sair, não foi? — indago, frustrada, para Raja,
não precisando de sua resposta para saber que foi exatamente isso que
aquele egípcio turrão fez.
— Volte para a tenda, logo Ramsés chega. — Raja dá um passo à
frente e deixa seu corpo gigante completamente parado diante da entrada da
tenda, me deixando saber que não falará mais comigo.
Chateada e sem chance de conseguir fazer Raja conversar, abaixo o
pano da entrada e me viro, olhando a tenda vazia. Paro meus olhos nas
almofadas, onde deixei aquele safado do Tarado de Naca me dar um xeque-
mate.
— Porcaria de histórias do Simbad! — resmungo e nego com a
cabeça, fechando meus olhos, sabendo que entre todas as criaturas que
podiam cruzar meu caminho, foi justo com a mais controladora que eu fui
me envolver.
Mordo o pêssego e ando lentamente para perto das frestas do outro
lado da tenda, bisbilhotando. Repuxo meu nariz ao dar de cara com o
camelo teimoso, que está mastigando a grama perto das palmeiras.
— Eu não acredito!
Ele ergue sua cabeça quando ouve minha voz, girando seu cabeção
para o lado, como se soubesse que estou olhando-o. Rio quando o vejo
trotar para perto da tenda, farejando lentamente. Mordo o pêssego mais uma
vez, antes de abrir um pouco mais a fresta e esticar meu braço para fora, lhe
oferecendo a fruta.
— Viu, não sou tão ruim assim — falo para ele e balanço meu
braço. — Estou lhe oferecendo algo melhor que grama para comer.
O camelo bufa em minha mão, antes de melecar meus dedos quando
sua língua sai para fora e lambe o pêssego.
— Isso foi nojento, sabia?! — falo, séria, olhando, usando minha
outra mão para abrir mais a fresta, me deixando o ver melhor. Ele solta um
ronco grande quando o leva para dentro da sua boca e o mastiga.
Ergo minha mão e aliso sua cabeça, sorrindo enquanto o acaricio.
Meus olhos se erguem e observo o acampamento, tendo mais tendas
espalhadas ao longe. Fico em silêncio e uma visão em especial chama a
minha atenção. Vejo um dos homens de Ramsés se dirigir para a entrada, e
quando ele ergue o tecido, reconheço Ramsés lá dentro. Sua face está
zangada, com ele encarando o chão, só que não é só isso que eu vejo. Posso
jurar que antes do segurança fechar a cortina, os pés de uma mulher se
encolhem próximos às pernas de Ramsés.
— Ele a achou, encontrou a mulher que sabe sobre minha mãe... —
murmuro e olho para lá.
Viro meu rosto para a entrada da tenda com o pano abaixado,
sabendo que Raja não me permitirá passar. Olho novamente para o camelo,
parando meus olhos nele, antes de me virar e puxar um lenço, o usando para
tapar meus cabelos. Uso a barra do vestido, a segurando em meus dedos e
jogando os pêssegos dentro dela. Me abaixo perto da fresta e ergo o pano do
chão, deixando apenas um espaço para eu passar.
— Shhhh... — Levo meus dedos à frente dos lábios e peço silêncio
para o camelo, que ronca novamente, me farejando, sentindo os cheiros dos
pêssegos. — Vem, me ajuda a passar e lhe dou mais pêssego, garotão!
Estico um para ele e caminho lentamente, o usando como escudo
para me esconder. Entrego o pêssego para ele e pego outro, andando
lentamente por trás das tendas, tendo o grande animal servindo como abrigo
dos olhares dos seguranças de Ramsés. Ao todo, preciso dar os cinco
pêssegos que eu havia pegado para o camelo, para conseguir o fazer andar
até perto da tenda onde Ramsés está. Me aproximo lentamente e ouço a voz
brava de Ramsés, ele está zangado, nunca ouvi ele falar dessa maneira.
— Conta logo, sua maldita, conta o que a Valéria fez com ela!
A porcaria do camelo me atrapalha, não me deixando ouvir a
resposta da pessoa que ele conversa quando o animal começa a mastigar
meu cabelo.
— Droga, camelo, acabou os pêssegos! — sibilo brava para ele, o
estapeando.
— Como você é cínico a ponto de fazer uma pergunta de merda
como essa? — Paro de estapear o animal no segundo que ouço a voz da
mulher lá dentro.
— Eu não sei, vai ter que ir até o quarto dela, onde ela está te
esperando, e descobrir por conta própria. — Dorien para na frente das
escadas e leva sua mão à cintura, estufando seu peito para frente, com seus
seios quase pulando para fora do decote extravagante do vestido. — Anda!
Vá logo, Stella! Perdi a porcaria do meu táxi para poder ficar esperando a
sua boa vontade de aparecer!
— Vai sair hoje? — pergunto, confusa, para ela. Normalmente, a
sexta-feira é o dia que mais tem clientes entrando e saindo da hospedaria.
Dorien nunca deixaria de levantar um bom dinheiro fazendo programa.
— Eu tenho que sair, coisas para resolver — ela responde, baixo, e
desvia seus olhos dos meus.
Balanço minha cabeça em positivo, a olhando e balançando meus
ombros. A vejo caminhar em direção à porta, mas ela para quando seus
braços se esticam para girar a maçaneta.
— Tella... — ela fala meu nome e vira lentamente, mantendo seus
olhos no chão, não me olhando diretamente. — Se cuida, garota!
Fico parada por alguns segundos e a vejo abrir a porta e sair
rapidamente. Não entendo o porquê dela falar isso para mim.
— Dorien... — Reconheço a voz dela. Tinha passado grande parte
da minha vida ouvindo sua voz enquanto ela me ensinava na hospedaria,
tenho certeza de que é Dorien. Recordo dela saindo da hospedaria no dia
que Yusefe me tirou de lá à força, mas não entendo o que Dorien está
fazendo no Egito. — O que ela está fazendo aqui...
— Não ouse fazer Ramsés de palhaço, mulher, conte logo o que
Valéria fez à Shei...
— Minha mãe... — balbucio, recordando de Ramsés dizer que esse
era o nome dela.
Dorien começa a rir, uma risada amarga e cheia de dor, tão histérica
quanto cruel.
— Você não tem ideia de quem ela é, não é seu, cretino?! — Dorien
ri, histérica, enquanto eu fico parada perto da tenda, do lado de fora,
sentindo meu coração disparado. — Claro que não. Por que se importaria
em conhecer ela, ninguém se importou em conhecer a história dela...
Escuto os resmungos do camelo, o que me faz virar meu rosto para
trás, a tempo de ver Raja andando bravo em minha direção.
— Você a conhece, você a conheceu, seu filho da puta nojento... —
A voz de Dorien sai mais alta, carregada de ódio.
Meus braços já estão se movendo rápido, abrindo a porta de pano da
tenda, entrando, antes que Raja me tire daqui.
Ramsés ergue sua face para mim e vejo seus olhos negros tão cruéis
e frios como gelo.
— O que está fazendo aqui? — ele rosna com raiva para mim.
Desvio meus olhos dos seus e olho para a mulher com os pulsos
amarrados em suas costas. Dorien me olha surpresa, quando eu tiro o lenço
da cabeça.
— Tella...
— Onde está minha mãe? — pergunto, nervosa, e dou um passo à
frente, tentando desviar das mãos de Ramsés quando ele me segura. —
ONDE ESTÁ MINHA MÃE, DORIEN?
— Stella, volte para sua tenda! — Ramsés segura meus ombros e
me faz olhar para ele. Viro minha face e vejo Raja parado na entrada,
pronto para me escoltar para fora.
— Não, não... não quero voltar para a tenda... — Nego com a
cabeça, o olhando com desespero, retornando meus olhos para Ramsés. —
Eu preciso saber onde minha mãe está...
— Pergunte para ele — Dorien fala alto, fazendo tanto eu quanto
Ramsés girar o rosto para ela. — Pergunte a Ramsés de Naca onde está sua
mãe. Pergunte ao conselheiro de Sodoma o que ele e os outros sentenciaram
para o destino dela.
Ela o fuzila com seu olhar, cuspindo no chão, se debatendo com
força para conseguir se libertar das amarras.
— Do que ela está falando, sade...
— Está louca, nem sabe mais o que está falando... — Ele nega com
a cabeça e range seus dentes, a encarando. — Nunca conheci Shei...
— Não, você realmente não conhecia a Shei... — Dorien sorri com
frieza e nega com a cabeça. — Você conheceu o que fizeram dela, talvez o
codinome refresque sua memória, conselheiro.
— Codinome... — Olho confusa para Ramsés e o vejo ficar pálido,
com seus olhos se abrindo ainda mais, encarando Dorien.
— Mina. — O nome sai baixo por seus lábios, com ela o encarando.
— Se recorda dela, conselheiro de Sodoma?
A face de Ramsés está branca, sem um único traço de cor quando
ele traz seus olhos para os meus e me encara, como se fosse uma estátua de
mármore. Ele solta meus braços e dá um passo para trás, parecendo
completamente transtornado.
— Ramsés... — Olho perdida para ele, não entendendo o que Dorien
fala. — O senhor conheceu a minha mãe?
Estico meus dedos para tocá-lo, mas Ramsés se retrai, como se meu
toque fosse indesejado, me olhando com horror.
— Sade — o chamo, não entendendo porque ele está se afastando de
mim como se eu fosse algo ruim.
— Akhrajaha minn hanna[37], RAJA! — Sua voz explode alto,
gritando como um leão rugindo com ódio, chutando com toda força a
banqueta perto dele e a fazendo voar para longe.
Sinto os dedos de Raja se prenderem em minha cintura e erguerem
meu corpo do chão rapidamente, enquanto os gritos de Ramsés aumentam,
furiosos e selvagens, destruindo tudo que tem dentro da tenda.
— Ramsés... Ramsés... — grito e estico minhas mãos para ele,
desejando que ele me olhe, mas Ramsés não olha para mim, ele está tão
transtornado que não remete em nada o homem que me amou na noite
passada. — RAMSÉSSSSSS!!!
Fecho meus olhos e choro, não entendendo porque ele sentiu ódio
de mim, porque Dorien disse que ele conhecia minha mãe. Raja me segura
mais firme, me prendendo em seus braços, me carregando para longe.
— Raja, por favor... Por favor, me leva de volta para lá... RAJA! —
grito com raiva entre o choro, o esmurrando, sentindo ainda mais vontade
de chorar, por ele apenas caminhar rápido, se afastando ainda mais da tenda.
CAPÍTULO 24
A domadora de beduíno
Stella Trud
Levanto das almofadas e fico de pé, no segundo que o pano que
serve como porta da tenda é erguido. Sinto meu coração disparar dentro do
meu peito, olhando o egípcio sério, com face sombria, encarando o chão
com suas mãos no bolso.
— Pode ir, Raja. — Sua voz é fria quando ele murmura para o
homem parado dentro da tenda, com seus braços cruzados.
Raja consente com a cabeça e me dá um breve olhar antes de virar e
caminhar para a saída. Vejo o grande homem andar silencioso, parando
perto de Ramsés e murmurando algo para ele, lhe dando uma leve batida
em seu ombro. Raja tinha me tirado de perto de Ramsés e me levado para
uma outra tenda distante, ficando aqui dentro comigo, não desviando seus
olhos de mim, para ter certeza de que eu não fugisse novamente. Ele não
conversava comigo, não respondia uma única pergunta que fosse, do porquê
Ramsés ter ficado daquele jeito, porque Dorien estava em Madrigal, quem
era essa Mina, que era minha mãe. Shei era a Mina? Raja não me contava
nada, se mantinha sério, apenas me olhando sem dizer uma única palavra,
enquanto eu sentia vontade de bater na cabeça dele, de berrar com toda
força dos meus pulmões, gritando por Ramsés, porque ele me afastou,
porque me olhou com tanta dor, como se eu fosse algo ruim. Eu fiquei
sentada nas almofadas, com meu corpo encolhido, abraçada às minhas
pernas, me sentindo perdida enquanto o choro era o meu único consolo,
pelo que me pareceu uma grande eternidade, até Ramsés retornar.
— Sade... — Esmago meus dedos na lateral do vestido e dou um
passo lento para frente.
— Partiremos daqui a pouco — Ramsés fala, baixo, com seus olhos
presos no chão.
— Madame Mia vendeu Dorien também? — Meus pés se movem
novamente e dou mais um passo para perto dele, querendo que ele me olhe,
que erga sua cabeça e me diga o que ela lhe contou, como ela veio parar
aqui e o que ela sabe sobre minha mãe.
Ramsés respira fundo e levanta sua cabeça, fechando seus olhos e
dando dois passos à frente. Ele retira suas mãos do bolso e esfrega seu rosto
enquanto inala o ar com força. Meus olhos ficam presos em suas mãos e
vejo-as vermelhas, com ferimentos abertos e sague seco escorrido entre as
juntas.
— Suas mãos estão feridas... — balbucio e ando para ele, até parar à
sua frente, segurando seus dedos quando ele abaixa suas mãos. — Brigou
outra vez, senhor?
Ergo meu rosto para Ramsés e vejo sua face abatida, como se
tivesse envelhecido cem anos em questão de algumas horas. Seus cabelos
desalinhados estão bagunçados, com sua mecha platinada caída sobre sua
testa.
— O que fez com Dorien? — pergunto, nervosa, sentindo meu
coração bater mais rápido. — Sade...
— Dorien está bem, Corcel. — Ele recolhe seus braços, me fazendo
soltar seus dedos. — Ela está a caminho de Moscou, a mandei para lá
escoltada e em segurança.
— Moscou? — O olho, confusa, não entendendo porque ele nem ao
menos me deixou conversar com ela. — Não entendo, por que a mandou
para esse lugar? Essa tal de Valéria está atrás dela também, é isso? Dorien
sabia sobre a minha mãe, ouvi o que ela disse, Ramsés, mas eu não
compreendi...
Me calo, olhando para o grande homem que tomba em minha frente,
ficando de joelhos, com sua face abaixada, tendo sua testa colada em meu
ventre, com suas mãos esmagando minha cintura.
— Ramsés, o que aconteceu?
Minhas mãos ficam suspensas no ar por alguns segundos, por conta
da surpresa em ter esse homem de joelhos diante de mim.
— Sade, por que está assim? — Meus dedos se abaixam e afago sua
cabeça, sentindo como se a dor que estivesse o consumindo fosse minha. —
Ramsés, me diga o que está acontecendo, o que Dorien lhe disse para lhe
deixar assim...
Meus joelhos se dobram e fico ajoelhada diante dele, segurando sua
face em minhas mãos, vendo seu olhar carregado de dor. Ramsés segura
meu rosto e o prende em seus dedos, percorrendo seus olhos por minha face
e tombando sua cabeça para o lado, como se estivesse gravando meus traços
em sua memória.
— Ramsés...
— Rá pesou meu destino por duas vezes em uma balança, me
deixando conhecer o paraíso quando seus olhos me fitam tão inocentes,
Corcel. — Ele desliza seu anelar por minha bochecha e afaga lentamente.
— Apenas para me jogar no inferno com meus demônios, me condenando
quando seus olhos negros não desejarem mais ver Ramsés...
— Eu nunca vou deixar de te olhar, Tarado. — Sorrio para ele e
nego com a cabeça. — Não vou, não vou... — murmuro e enlaço seu
pescoço, esfregando meu rosto em seu ombro e sentindo seus braços me
prenderem forte entre eles.
Sinto seu beijo em meus cabelos, enquanto sua face se alisa entre
eles, e inclino meu rosto para cima, buscando por seus lábios e o beijando
com brandura quando os toco com os meus, desejando tirar dele tudo que o
está machucando. Ramsés devolve o beijo com mais intensidade, não tendo
mais a lentidão e o carinho com o qual ele me amou na noite passada. É um
beijo bruto, cruel, como se ele estivesse castigando a si mesmo mais do que
a mim. Suas mãos escorregam por minhas costas e se apertam mais forte
quando me alavanca para cima. Prendo minhas pernas em sua cintura e
seguro seu rosto em minhas mãos, sentindo minha alma ser dilacerada junto
ao seu beijo brutal.
— Me deixe te tocar mais uma vez, Corcel... — Uma de suas mãos
esmaga minha coxa e sobe e desce pela pele, apertando com força,
enquanto a outra ergue o vestido até minha cintura.
— Sade... — murmuro e fecho meus olhos, sentindo sua boca
deslizar por meu pescoço, o mordendo com a mesma brutalidade com a
qual ele me beijou.
Minhas costas tombam no tapete enquanto meu corpo queima com
agonia, pelos beijos que Ramsés deixa em minha pele. Suas mãos erguem
meu vestido e o deixam acima do meu ventre, com ele deitando sobre mim.
Minhas mãos puxam sua camiseta negra, a retirando com urgência e em
seguida a jogando para longe. Ele deixa sua face na altura dos meus olhos e
afasta minhas pernas para poder abrir o zíper da sua calça. Assim que seu
pau está para fora, Ramsés puxa minhas pernas para ele outra vez, as
fazendo enlaçarem sua cintura.
— Me toque, toque, sade. — Beijo seu queixo e mordisco sua pele,
cravando minhas unhas em suas costas, e logo sinto ele abaixar suas mãos e
me invadir com dois dedos de uma única vez.
Arqueio meu corpo e gemo baixo, com meus olhos fechados,
quando seus dedos esmagam meu seio entre eles. Ramsés passa sua língua
pelo meu pescoço, me fazendo gemer mais e meu corpo se incendiar em
desejo. Sinto quando seu pau me penetra, me invadindo de uma única vez
com seu quadril, se empurrando para frente e me tomando por completo.
Abro meus olhos e encontro o seu olhar castanho focado em mim, suas
lindas íris brilhosas, tão claras como se fossem as dunas do deserto. Sua
boca se cola a minha, silenciando meus gritos assim que ele começa a
investir com força, me fodendo rápido, retirando seu pau apenas para voltar
a entrar com ele com mais urgência e selvageria.
Ramsés afasta seu peito do meu e espalma sua mão no chão,
sustentando o peso do seu corpo, enquanto se movimenta com mais
agilidade e força, me fazendo gritar em desespero com a forma como ele
me fode, saindo e entrando, me perfurando e me estocando cada vez mais
fundo, como se fosse pregar meu corpo no chão. Ele não para, nem diminui
os movimentos contínuos da sua pélvis, e meu corpo responde ao seu toque
carnal, cheio de dor e desejo, misturado a desespero, me deixando perdida
em cada movimento que seu corpo faz, e eu me entrego ao desejo. Ele fica
de joelhos e segura minhas pernas, as mantendo mais abertas, lhe dando
mais acesso para chocar com força sua pélvis contra a minha.
Ele está acabando com meu cérebro, me fazendo gemer mais alto,
choramingar entre a dor e a luxúria, e eu vibro, me sentindo em chamas
quando seus dedos deslizam em cima do meu clitóris, fazendo círculos
enquanto ele entra e sai com seu pau de dentro da minha boceta. Minha
cabeça explode assim que o orgasmo me rasga de dentro para fora, e grito
mais alto por conta da intensidade que o gozo vem. Ramsés aumenta mais
ainda as penetrações, acelerando, me fodendo mais bruto. Seus dedos
esmagam meus seios com força e logo estou gritando com outro orgasmo,
sentindo meu corpo caindo do precipício entre tremores e espasmos.
Ramsés solta um urro rouco, com seu corpo se enrijecendo, apertando mais
forte minha perna em sua mão, vindo logo em seguida.
Sinto seu jato quente explodir dentro de mim, com seu pau
expelindo sêmen em minha boceta. Ele treme por completo, me estocando
forte uma última vez, e em seguida seu corpo cai sobre o meu, com seus
antebraços sustentando seu peso em cima de mim. Ele está com seu coração
saindo pela boca, respirando rápido, e o abraço forte, beijando seu rosto e
esfregando minha face em seu ombro, sentindo seu cheiro que eu tanto
gosto.
— Nunca vou deixar de olhar para você, sade — falo, baixo, o
beijando na garganta e o abraçando com carinho. Ele se movimenta e se
retira de dentro de mim, alavancando seu corpo para cima e ficando
ajoelhado entre minhas pernas, com sua mão sobre meu ventre.
— Minha mãe, antes de ficar junto com o meu pai, pertenceu a um
beduíno, que a comprou do seu primeiro marido, que a vendeu quando
descobriu que ela carregava o fruto da traição dela dentro do seu ventre.
Pisco rapidamente e respiro rápido, apoiando meus cotovelos ao
lado do meu corpo, arqueando um pouco meu corpo para cima, o olhando.
Amina tinha me contado a história de Ramsés, mas eu nunca pensei que ele
um dia a contaria para mim.
— Esse homem, o beduíno que a comprou, por muitos anos ele foi o
mestre dela, e ela sua submissa.
Ramsés se cala e fecha seus olhos, respirando fundo e mantendo sua
mão em meu ventre, o alisando enquanto observo seu tórax subir e descer
rapidamente conforme ele inala mais depressa o ar.
— Ele participava de um conselho de um grupo restrito de pessoas,
que praticavam outras maneiras de sexo. — Ramsés abre seus olhos e afasta
sua mão da minha barriga, guardando seu pau dentro da calça novamente e
soltando um suspiro. — Mustafa era o conselheiro do Egito, ele iniciou
minha mãe no mundo dele um mês antes do meu pai encontrar minha mãe.
Mustafa a tinha lhe indicado para ficar com a cadeira dele diante do
conselho desse grupo de pessoas, porque minha mãe não era apenas boa em
lidar com a dor, ela também sabia fazer as outras submissas dele sentirem
prazer com dor.
Me sento lentamente e abaixo meu vestido, olhando para ele, que
está sério, com sua face abaixada, encarando meu ventre.
— Ele a educou para ser como eu? — pergunto, baixo, para ele,
passando meus dedos em meus joelhos e os cobrindo com o tecido do
vestido.
— Não, ninguém é como você, Corcel. — Ramsés ergue sua cabeça
e me olha perdido, com seus olhos castanhos ficando escuros. — Minha
mãe não tinha uma alma submissa, ela tinha uma alma dominadora, por isso
Mustafa a indicou, e quando um conselheiro indica alguém, não importa o
que aconteça no futuro, é essa pessoa que se sentará em seu lugar. E foi
assim que minha mãe ascendeu ao conselho de Sodoma.
— Sodoma... Esse é o grupo que Dorian falou — murmuro e mordo
o canto da minha boca, ficando pensativa, ainda não entendendo onde
Ramsés quer chegar me contando a trajetória da sua mãe.
— Sim, é ele. — Ramsés vira seu rosto para o lado e encara a tenda
enquanto solta o ar de forma pesada por seu nariz. — Meu pai era um
ladrão, um assassino do deserto... Herdei muitas das características dele,
assim como as da minha mãe. Talvez tenha sido por isso que ela deixou sua
cadeira vazia por anos, até chegar a minha idade de estar entre os
conselheiros.
— O senhor faz parte disso... — Me arrumo, me ajeitando, sentando
em meus joelhos e olhando-o com mais atenção.
— Sou um mestre dominador, Stella, um dos conselheiros de
Sodoma. — Ramsés vira sua face para mim e me encara. — Eu tinha vinte
e nove anos na primeira vez que vi Mina.
— Mina... — murmuro, olhando para minhas mãos em minhas
pernas. — É a minha mãe.
— Não, você realmente não conhecia a Shei... — Dorien sorri com
frieza e nega com a cabeça. — Você conheceu o que fizeram dela, talvez o
codinome refresque sua memória, conselheiro.
— Codinome... — Olho confusa para Ramsés e o vejo ficar pálido,
com seus olhos se abrindo ainda mais, encarando Dorien.
— Mina. — O nome sai baixo por seus lábios, com ela o encarando.
— Se recorda dela, conselheiro de Sodoma...
As lembranças das palavras de Dorien ainda estão frescas em minha
mente, me fazendo o encarar com ansiedade quando ergo meu rosto para o
seu.
— Conheceu a minha mãe, sade... — Sorrio e olho para ele,
sentindo meu coração disparar enquanto respiro mais rápido. — Você a viu,
conversou com ela? — Estico meu braço e seguro seus dedos com os meus.
— Como minha mãe é? Eu não me lembro dela, não lembro de nada dela...
Olho e sinto tanta emoção dentro de mim, porque pela primeira vez
na minha vida alguém que tenha conhecido minha mãe conversa comigo
sobre ela. Mas Ramsés não demonstra felicidade, pelo contrário, é dor que
vejo em seu olhar. Sua mão se solta da minha, me fazendo olhar para os
meus dedos vazios, suspensos no ar, que ficaram solitários sem a mão dele
junto da minha.
— O que houve com minha mãe, Ramsés?
Ergo meus olhos para ele e o vejo com seu maxilar travado e seus
dedos esmagados ao lado do corpo, fechando seus olhos, não olhando para
mim.
CAPÍTULO 25
A ampulheta do destino
Ramsés de Naca
Todas as cadeiras estão viradas para o centro do círculo da sala,
em um hotel na Austrália, na ilha dos Roy, e cada conselheiro mantém seus
olhos presos na mulher calada, sentada ao chão, com as mãos sobre suas
coxas, olhando para o piso. Seus cabelos negros são compridos, cachos
longos no comprimento da sua cintura, como uma estátua viva sem alma.
Meus olhos ainda estão cravados nela, a olhando com espanto, não
conseguindo parar de olhar para ela.
— Seria magnífico criarmos nossas próprias submissas, uma
pequena cota que seria destinada aos conselheiros, e tenho certeza que
quanto mais cedo começar o ensino, mais perfeitas elas serão. — Freire dá
um passo para trás e estica sua mão, alisando a cabeça da mulher
ajoelhada ao centro. — Podemos criar um status de poder, onde nosso
pequeno presente de ouro seriam elas: pequenas, silenciosas e dóceis... Um
produto exclusivo para cada conselheiro...
— Isto que está sugerindo, quer que seja praticado em uma criança,
Freire? — Jonathan Roy[38], o jovem taciturno de cabelos negros com olhos
azuis, encara Freire com zanga. — Está rotulando uma criança como um
produto de luxo?
— Bom, não crianças... — ela fala e dá um sorriso amargo, se
afastando da submissa. — Mas sim no começo da sua transição, a melhor
fase seria a do descobrimento da sexualidade delas...
— Adolescentes? — Hu Li é quem a interroga agora, se levantando
e andando em direção ao círculo, olhando para a menina ajoelhada,
seminua. — Posso estar muito enganado, mas acho que se enquadra em
pedofilia. Está sugerindo que os conselheiros cometam um crime?
— Na verdade, meu caro amigo... — Respiro fundo e estreito meu
olhar, batendo a ponta do meu dedo em meu queixo quando meu corpo se
inclina um pouco para a frente, olhando a mulher ajoelhada no chão. —
Penso que seria um pouco mais além de um crime, já que claramente
entraria em tráfico de mulher, cárcere privado, alienação e sequestro de
menor, sem falar de estupro.
— Não deturpe minhas palavras, Ramsés. Nunca disse que seriam
sequestradas, e nem cometeríamos nada hediondo... — Freire fala,
alterada, andando e negando com a cabeça.
— Explique para nós como não seria um ato hediondo criar uma
jovem para ser una puta[39] submissa? — Santana ri e olha para ela,
negando com a cabeça. — Me diga. Iria pedir de forma educada para ela
abrir as pernas, para ser fodida ainda muchacha[40]?
— Não foi isso que sugeri, Santana. — Freire desvia seus olhos dele
e busca auxílio em Morgana, que se mantém calada, observando a mulher
ajoelhada. — Estou dizendo que se elas aprenderem a serem dominadas
desde novas, na fase adulta estarão prontas para serem entregues aos seus
mestres, e somente quando forem maiores de idade iriam se deitar com
eles...
— Está sugerindo algo abominável, Freire! Não somos bichos-
papões que saem à caça de crianças — A voz rouca de Czar Gregovivk, o
conselheiro de Moscou, soa enérgica. — Já pensou o que vai acontecer se
uma delas for descoberta? O banquete que seria uma história dessas para
os jornais? Jovens sumindo para se tornarem submissas alfas...
— Toda Sodoma estaria em perigo — Jonathan é quem finaliza as
palavras de Czar, olhando Freire com desprezo. — Ficaríamos vulneráveis
e uma caça às bruxas começaria!
— Não, não estaríamos... — Ela se vira e aponta para a moça ao
centro. — Mina nunca se deitou com um homem, nem com uma mulher, mas
o corpo dela saberá que deve obediência ao primeiro homem que lhe tocar,
que despertar sua alma submissa. Uma submissa alfa é leal até a morte do
seu mestre...
— Dios[41], está falando de una mujer[42] ou una cadela?! — Santana
rosna e nega com a cabeça. — Devia ter vergonha em propor isso!
— Olhe bem para mim, Freire, acha que sou o tipo de homem que
tocaria em uma criança?! — falo com amargura e esmago meu punho com
raiva, olhando a face de Freire com puro ódio.
— Não vou perder meu tempo dizendo o tipo de homem que penso
que você é, Ramsés! — Freire esmaga sua boca e me fuzila com seu olhar.
— Basta! — A voz potente de Oliver sai alta, silenciando-a.
O monarca, que está chegando na casa dos sessenta anos, se
levanta, dando um ponto final na loucura de Freire. Minha mãe sempre
dizia que de todos os conselheiros, Oliver era o mais perigoso, seu silêncio
era tão traiçoeiro quanto ele. Mustafa a havia ensinado bem sobre cada um
desses homens, e depois ela me ensinou. E entre todos, o que mais tinha
que ter preocupação era com Oliver Pellegrini. Poucos sabiam a verdade
por trás da sua ascensão ao conselho. Seu pai, Gusto, foi o primeiro
monarca dos Pellegrini a entrar em Sodoma, a velha guarda dos mestres
conselheiros da década de 80. Diziam que ele ficou por mais de quarenta
anos sentado em sua cadeira, aguardando para passar para seu legítimo
sucessor. E não, não era Oliver o escolhido para ficar sentado na cadeira
do seu pai. Gusto havia passado seu legado para Hector Pellegrini, seu
neto caçula, filho de Oliver, que possuía a mesma paixão por amarras com
cordas que seu avô. Hector chamou a atenção de Gusto quando tinha seus
quinze anos. Um jovem promissor e silencioso, dono de uma inteligência
extraordinária, com uma veia sagaz para os negócios da família, assim
como para a dominação. Boatos alegam que Oliver não ficou satisfeito em
saber que Gusto preferiu escolher o neto a ele, seu próprio filho.
O jovem prodígio dos Pellegrini estava se destacando cada vez mais
dentro de Sodoma, conforme sua idade se passava. Mas então, quando o
jovem completou vinte e sete anos, veio a ruína dos monarcas Pellegrini. A
terceira geração, os dois filhos de Oliver, sofreram um grave acidente de
carro. Joseph, o primogênito de Oliver, morreu na hora, seu corpo
atravessou o para-brisa, voando quase 20 metros no asfalto. Seu irmão
caçula, Hector, que estava dirigindo o carro, ficou 60 dias em coma, sem os
médicos confirmarem se ele sobreviveria ou não. Quando o rapaz acordou
havia perdido grande parte da sua coordenação motora e tinha grandes
chances de ficar para sempre em cima de uma cama. O golpe da tragédia
com seus netos foi duro demais para Gusto, que sofreu um infarto
fulminante meses depois. Os conselheiros de Sodoma se reuniram, deixando
decretado que Oliver seria responsável pela cadeira de Gusto até chegar o
dia que o seu verdadeiro dono retornasse para Sodoma. Mas ninguém
nunca mais tinha visto o jovem rapaz, Hector havia se exilado, se afastando
de tudo e todos, se tornando um morto-vivo. O que acabou sendo vantajoso
para seu ganancio pai, o qual se mantém firme dentro de Sodoma,
agarrado ao seu poder como uma víbora.
— Não preciso ouvir mais nada. Meu voto é não — Oliver fala,
encarando Freire e dando sua decisão.
— Não! — Jonathan levanta, olhando para Freire.
— No[43]! — Santana é o terceiro.
— Não! — Czar rosna com raiva, olhando Freire.
Um por um, todos os outros conselheiros se levantam e dão seu
voto, e nenhum sim sai da boca deles, nem da de Morgana, para quem
Freire olha com incredulidade.
— Meu voto é não. — Levanto e dou um passo à frente, deixando
meus olhos presos na jovem moça ajoelhada.
— Como pode ver, o voto foi unânime, Freire — Oliver fala, sério, a
olhando. — Esqueça essa ideia, nunca mais converse sobre ela, e limpe sua
sujeira.
Freire abaixa sua cabeça e dá uma leve balançada em
concordância ao receber a resposta da sua ideia intragável, retraindo seus
lábios. Se vira e caminha na direção da garota. Já estou me virando para
sair da sala e indo em direção à saída, para me retirar para retornar para
o Cairo, quando a voz de Oliver se faz alta novamente.
— Freire, não esqueça de limpar sua sujeira. — Ele dá um passo à
frente, mantendo seus olhos nela.
Viro meu rosto e olho por cima do ombro, encarando Oliver, não
sabendo ao certo se compreendi bem ou não o que ele acabou de dizer.
— Mas... — Freire para de andar e olha assustada para ele.
— Limpe ainda hoje sua sujeira. — Oliver não demonstra
complacência, e muito menos intenção de tirar a ordem. — Ou eu serei
obrigado a limpar toda a bagunça.
— Sim, senhor — ela responde à ordem e segura o braço da jovem,
a fazendo se levantar.
Fico em silêncio, parado, observando a jovem caminhar com sua
face abaixada, andando lenta atrás de Freire, com as duas vindo em minha
direção. A face de Freire está pálida, com seus olhos vermelhos. Ela ergue
os óculos escuros para sua face, para esconder seu olhar, mas não antes
que eu possa ver a primeira lágrima escorrer por eles. O pequeno corpo da
mulher negra passa por mim, mantendo seus olhos baixos, encarando o
chão enquanto anda. Por uma rápida fração de segundo, sua cabeça se
ergue, deixando seu olhar se cruzar com o meu. Giro meu rosto e olho para
o homem sério, que está com seus olhos presos na menina, com suas mãos
no bolso. Oliver se mantém imparcial, as encarando enquanto elas se
retiram do salão. Eu ainda não tinha certeza se tinha compreendido a
ordem que Oliver deu para Freire, mas dias depois, quando soube que a
jovem morreu afogada dentro de uma banheira no mesmo dia que Freire a
levou para Sodoma, eu soube que Freire havia limpado sua sujeira.
— Mina morreu naquele dia, na Austrália, há treze anos. — Abro
meus olhos e encontro sua face molhada, com seus olhos chorosos me
encarando quando termino de contar como foi a primeira e a última vez que
meus olhos repousaram em Mina. — Sodoma teve medo de que a loucura
de Freire se espalhasse, por isso eliminou Mina.
— Mataram a minha mãe... — Ela fecha seus olhos e nega com a
cabeça, enquanto as lágrimas escorrem por seu rosto. — Decretaram sua
morte sem nem ao menos conversarem com ela... Ela não se afogou.
— Não, não se afogou, Corcel. — Respiro fundo e fecho meus
olhos. — Ela foi assassinada na banheira por Freire.
— Não, não foi Freire que a matou... — Stella fala entre o choro.
Abro meus olhos e a encaro.
Ela tem seus olhos negros presos aos meus, e me olha com a mais
pura dor, abraçando suas pernas e encolhendo ainda mais o seu corpo.
— Foram vocês, todos vocês dentro daquela sala que mataram a
minha mãe. Todos a viram como uma sujeira que tinha que ser limpa, uma
poeira insignificante. — Stella chora mais alto, escondendo sua cabeça
quando abaixa seus olhos, soluçando entre o choro. — Foram tão assassinos
quanto Freire.
— Stella... — chamo por ela, mas me calo, sabendo que não tenho
palavras para lhe dizer, não quando as dela me esmagam com a única
verdade. Todos dentro daquela sala mataram Mina, quando nos calamos
diante da ordem de Oliver.
Sinto desejo de erguer minha mão e segurar sua face, lhe dizer como
eu me amaldiçoo por tantos anos em ter sido conivente com a morte
daquela mulher. Que foi por ela, uma forma de redimir o maior erro da
minha vida, que eu procurei tão incessante pelas Messalinas, que jamais
descansaria enquanto não encontrasse todos os presentes de Elite.
— Não pode ser ela, Dorien se enganou, minha mãe era a Shei, ela
me teve, ela não era virgem... — Stella ergue seu rosto para mim, chorando
com dor enquanto nega com a cabeça. — Mataram outra mulher, não a
minha mãe...
— Corcel... — Estico meu braço para segurar sua face, mas Stella
grita com raiva, jogando seu corpo para trás.
— Não me toca! — Ela rasteja para longe e me olha com amargura.
— Mentiu para mim, mentiu novamente para mim, Ramsés...
— Stella, não estou mentindo... — Tento alcança-la, só que seu
corpo rola para o outro lado, me fazendo ficar longe dela. — Corcel, por
Rá, eu sacrificaria a minha vida se pudesse voltar no tempo e salvar a vida
de Mina...
— Mentiu, mentiu ao dizer que estava atrás das Messalinas com
seus amigos para salvá-las, mas a verdade é que é apenas culpa. — Stella se
senta e arrasta sua bunda para mais longe, até ficar na outra ponta da tenda.
— Foi a culpa de trazer o sangue de Mina em suas mãos que fizeram vocês
nos procurar...
Ela abraça mais forte suas pernas e respira fundo, negando com a
cabeça em completa negação.
— Minha mãe não era virgem, minha mãe me teve. — Ela chora
com mais dor, deixando o som do seu choro ficar mais forte dentro da
tenda. — A mulher dessa história nunca se deitou com ninguém, Mina era
virgem...
Sua voz se cala, com os olhos negros de Stella brilhando de dor e
lágrimas, com sua cabeça se erguendo para mim.
— Ramsés... Mina era virgem, não era?
Minha cabeça se abaixa, com meus olhos presos no chão, enquanto
sinto o peso ainda maior das palavras de Dorien.
— Ramsés... — A voz alta de Raja do lado de fora da tenda me faz
erguer a cabeça e olhar para Stella.
— Sim, Raja!
— Já está tudo pronto para tirar Stella daqui — ele fala para mim,
enquanto ela mantém seus olhos nos meus.
— Sairemos daqui a pouco. — Respiro fundo, sabendo que ela
aguarda sua resposta. — Freire mentiu, Mina não era virgem quando foi
diante do conselho para ser apresentada. Mina era realmente sua mãe,
Stella.
Escuto o som do seu choro ficar mais forte enquanto sou eu o
causador da sua dor.
CAPÍTULO 26
A primeira submissa alfa
Ramsés de Naca
— Dorien mentiu, ela pode ter mentido, inventado tudo isso... —
Stella limpa seu rosto e ergue sua cabeça para mim, me deixando ver toda
sua dor cravada em sua alma. — Ela não tem como saber, não tem...
Quando cheguei na hospedaria, ela já estava lá...
— Dorien não inventou, Corcel, ela foi mandada para a hospedaria
por Valéria, para te ensinar a ser uma submissa, quando a madame Mia lhe
adotou. Valéria queria garantir que a experiência dela desse certo. — Inalo
o ar com força e cerro minha boca. — Mina e Dorien foram criadas juntas
— murmuro, perdido, ainda ouvindo as palavras de Dorien martelando em
minha mente.
Como eu desejei que não fosse verdade, assim como Stella anseia
agora.
— Está mentindo, envenenando minha mente com suas palavras —
rosno com ódio, encarando Dorien. — Como uma serpente peçonhenta. Eu
estava lá, eu ouvi Freire alegar que a menina nunca tinha deitado com
nenhum homem ou mulher... MINA NÃO É A MÃE DA STELLA.
— Sim, ela é! — Dorien fala com raiva, cuspindo com ódio em
minha direção. — Você querendo ou não, Mina foi quem trouxe ao mundo
Stella. — Ela fecha seus olhos e nega com a cabeça. — Eu avisei para ela
ficar, para não fugir, mas Shei não suportou a ideia de arrancarem outro
bebê dos braços dela...
— Outro... — Dou um passo à frente e a encaro, olhando para sua
face. — Do que está falando, mulher?
— Você não tem ideia, não é... — Ela abre seus olhos e me condena
com seu olhar. — Não tem ideia do que realmente fizeram da vida de Mina,
conselheiro...
— Conte-me. — Me abaixo e fico na altura do seu olhar, a
encarando e vendo o olhar magoado, com uma raiva antiga cravada dentro
dela. — O que realmente fizeram com Mina?
— Não lhe contarei nada — Dorien fala, baixo, e vira seu rosto
para o outro lado.
Estico meu braço com raiva e seguro seu rosto, a fazendo me olhar.
Estudo sua face, percorrendo meus olhos por ela, notando que não é
apenas raiva que ela tem, mas sim medo. Dorien está usando a raiva como
escudo para esconder seu medo.
— Tem medo de que Valéria descubra que me contou algo?
— Não vou dizer porra nenhuma para você, conselheiro de Sodoma
— Dorien fala com ira, tentando fazer eu soltar seu rosto e puxando sua
cabeça para trás. — Pensa mesmo que vocês são melhores do que ela,
não?! São tudo cobras comendo cobras! Me chama de peçonhenta, mas
convive com a cobra mais perigosa perto de você, dentro de Sodoma...
— Não é da Valéria que tem medo, é de outra pessoa... — Pisco,
confuso, lendo perfeitamente bem sua expressão facial. Os olhos
arregalados ficam mais assustados quando a confronto. — Me conte a
verdade, mulher, e eu garanto que ninguém lhe fará mal algum...
— Acha mesmo que vou acreditar em você, conselheiro? — Sua voz
sai amarga, com ela rangendo seus dentes. — Freire não pôde salvar Mina
de Sodoma, pensa mesmo que sou tão burra de pensar que você pode me
salvar...
Solto sua face e me afasto dela quando me levanto, a olhando com
mais atenção e repassando suas palavras em minha mente.
— De quem realmente Freire não pôde salvar Mina, Dorien? De
Valéria ou de Sodoma... — Me calo e respiro rápido, esfregando meu rosto.
— Me conte a verdade, mulher, e tem a palavra de Ramsés que estará
segura.
— Nenhum de vocês tem palavra, nunca tiveram. Ela me prometeu
que me deixaria ir, que me deixaria ser livre se eu cuidasse de Tella... Mas
ela mentiu, mentiu para mim...
— Valéria? Foi Valéria quem lhe mandou para a hospedaria, para
ficar de olho em Stella? É uma das suas submissas, por isso obedeceu... —
Dorien fecha seus olhos e vira o rosto novamente. — ME CONTA A
VERDADE, MULHER, lhe dei minha palavra que está segura!
— E se eu não acreditar, e se eu não contar? — Ela abre seus olhos
e retorna sua face para mim. — O que vai fazer comigo, conselheiro?
— Irá temer muito mais a mim do que seus inimigos, Dorien. —
Levo minhas mãos ao bolso, a encarando. — Lhe enterrarei viva na cova
mais funda entre as dunas do deserto, onde nunca ninguém vai achar o seu
corpo. Se contar o que quero saber, lhe protegerei em troca da verdade, não
porque eu tenho pena de você, mulher.
Flexiono meus joelhos e fico na altura dos seus olhos. Retiro minhas
mãos do bolso, prendendo seu pescoço em minhas mãos.
— Enche sua boca para me insultar, dizendo que sou sem palavra
como Valéria, ao mesmo tempo que conta que foi mandada à hospedaria
para cuidar de Stella. — Mantenho meus olhos presos aos seus enquanto
vejo sua boca ficar roxa e seus olhos arregalados, tendo o ar comprimido
enquanto meus dedos esmagam sua garganta. — Sei exatamente o que
fizeram dela, onde ela dormia naquela hospedaria, e principalmente o que
você a ensinava.
Tombo meu rosto em meu ombro, a olhando, e pressiono ainda mais
sua traqueia, apenas um aperto mais forte e sei que quebrarei seu pescoço.
E estou tentado a isso, desejo silenciar essa maldita mulher que condenou
tanto o destino de Stella quanto eu quando me calei diante da decisão de
Oliver em matar Mina. Se isso realmente for verdade, e Mina for a mãe de
Stella, eu tenho noção que perdi meu Corcel para sempre.
— Sugiro que aceite minha proteção e não me queira ter como seu
carrasco — rosno, baixo, e solto sua garganta, me levantando. — Escolha.
Fico de costas para ela e mantenho meus olhos cravados no tecido
da tenda, cerrando meu maxilar, esmagando meu punho ao lado do corpo.
— Recordo da primeira vez que vi Tella, quando ela chegou na
hospedaria. — Ouço a voz baixa de Dorien, enquanto ela respira com
força. — Era a mesma coisa que olhar a face de Mina, mas o gênio forte
era completamente o oposto da sua mãe.
Um riso baixo escapa dos lábios dela, enquanto ela chora. Viro
lentamente e pouso meu olhar na mulher cabisbaixa, encarando o chão.
— Mina era tímida, silenciosa e doce. Era a criatura mais doce que
um dia eu já conheci, talvez tenha sido isso que fez Freire se encantar por
ela. — Suas pernas se arrastam e flexiona seus joelhos para perto da
barriga. — Eu era dois anos mais velha do que ela, quando Freire a levou
para casa... Eu tinha doze e a Mina dez.
— Morava com a Freire nessa época?
— Sim, minha mãe trabalhava como cozinheira na casa de Freire,
ela morreu quando eu tinha seis anos, Freire cuidou de mim então. —
Dorien fecha seus olhos e dá um sorriso triste. — Não demorou muito para
Mina e eu nos tornarmos amigas... A gente brincava junto de boneca
quando ela não estava trancada no quarto junto com Freire. Freire tentava
ensinar nós duas a sermos submissas alfas, mas foi Mina que se destacou.
Um dia, ela me confidenciou que o seu nome de batismo era Shei, mas
Freire queria que ela respondesse apenas por Mina. E a cada dia que ela
ficava dentro daquela casa, Shei ia desaparecendo e Mina nascendo,
obediente, sorridente e alegre. E por quatro anos foi assim, por quatro anos
fomos felizes de certa forma.
Fico em silêncio, ouvindo cada palavra de Dorien, contando sobre
a infância de Mina.
— Houve uma festa, Freire nos ordenou ficar dentro do quarto e
não sair de lá por nada. — Dorien esfrega seu rosto com força. — Lembro
de ouvir as vozes bravas no corredor no meio da noite, antes da porta do
quarto ser aberta. Foi a primeira vez que eu vi Valéria. — Dorien encolhe
seus ombros e esfrega sua perna com angústia. — Freire estava brava com
Valéria por ela ter entrado no quarto. Mas os olhos de Valéria brilharam
feito diamantes verdes quando ela viu Mina se sentando sonolenta na cama,
esfregando seu rosto. Ela perguntou para Mina se ela já sangrava, Mina
respondeu que sim. Os olhos de Valéria fuzilavam Freire, enquanto
ordenava Mina a acompanhá-la. Mina olhou para Freire sem saber se
devia ir ou não. “Vai ficar tudo bem, Mina, apenas faça o que ela pedir”.
Foi isso que Freire disse antes de mandar Mina acompanhar Valéria.
A olho com atenção, puxando o ar com mais força para os meus
pulmões, sentindo dentro de mim abominação de como vai acabar essa
história.
— Valéria levou Mina com ela, Freire ficou sentada na cama de
Mina, segurando o travesseiro dela em seus braços enquanto chorava
baixinho. — Os olhos de Dorien se abrem e ela ergue sua cabeça para mim,
me encarando. — No outro dia, quando Mina voltou para o quarto, ela
estava com sua camisola rasgada, suja de sangue, e andava devagar
enquanto encarava o chão, como se fosse apenas um fantasma. Ela não
precisou me contar o que houve com ela, seus olhos quebrados me
contaram.
— Por Rá! — Respiro fundo e esfrego meu rosto, sentindo o gosto
da bílis em minha garganta, já sabendo o que Valéria sentenciou à pobre
criança.
— Mina não brincava mais, nem sorria. Era calada, sempre
cabisbaixa, ficando pelos cantos. Valéria vinha com mais frequência na
casa de Freire, até uma manhã, quando Mina desmaiou e passou mal.
Depois daquele dia, Valéria retornou apenas mais uma vez, oito meses
depois, quando Mina deu à luz.
— Não bate, a idade de Stella não bate com o bebê de Mina... —
Fico pensativo, negando com a cabeça.
— Os bebês. — Dorien me faz a olhar em choque quando as
palavras saem da sua boca. — Mina trouxe ao mundo dois bebês naquele
dia, conselheiro. Mas nenhum deles ainda era Stella.
Dou um passo para trás e fico ainda mais horrorizado ao ter a
notícia caindo em cima de mim como uma bomba.
— Ela deu à luz a gêmeos... — balbucio.
— Sim, Mina não chegou a segurar nenhum deles no braço antes de
os levarem embora...
— Era uma criança, uma criança trazendo ao mundo... — Fecho
meus olhos e esfrego minha face com raiva. — Mais duas crianças...
— Não, não era assim aos olhos de Valéria. — Abro meus olhos e
encaro Dorien. — Era uma linhagem...
— Uma linhagem?
— Me diga, conselheiro, se você tem uma cadela de raça e deseja
que ela lhe dê os filhotes, o que você faria? — Dorien me dá um sorriso
amargo. — Procuraria um macho para cruzar com a fêmea.
Preciso de apenas alguns segundos para compreender. Valéria via
suas Messalinas como uma nova raça de submissas, as tratando como
cadelas. E Mina era seu animal de procriação.
— Rá, o que Valéria fez...
— Exatamente o que o dono de um cachorro faz, cruzou o macho
alfa dela com a fêmea de Freire. — Seu sorriso morre e ela tomba sua face
para o lado. — A ideia de cruzar a primeira submissa alfa com um mestre
era tentadora demais para Valéria perder, e foi isso que ela fez.
— Está me dizendo que um mestre de Sodoma...
— Estuprou Mina, que a engravidou. Sim, senhor Ramsés de Naca,
é exatamente isso que eu estou lhe contando. — Dorien solta as palavras de
forma bruta, me fazendo sentir ainda mais nojo do que Sodoma fez com a
vida dessa menina. — Mas não foi o suficiente, não para Valéria. Mina
estava com dezesseis anos quando ela voltou querendo mais filhotes. Dessa
vez não teve troca de olhar e nem grito entre Freire e Valéria, quando Mina
foi arrastada para dentro da biblioteca por Valéria. Freire me levou para o
quarto e me trancou lá dentro quando tocaram a campainha da porta da
casa. Já era de noite quando a porta do quarto foi destrancada e uma Mina
machucada, com as pernas ensanguentadas, entrou dentro do cômodo, com
o olhar mais morto do que da primeira vez. Acompanhada de Freire e
Valéria, algumas semanas depois, a médica que foi até a casa de Freire
confirmou que Mina estava grávida. Então foi nesse dia, depois de muitos
anos, que a Shei apareceu, e ela me disse que não permitiria que eles
tirassem o bebê dela, que não o entregaria para Valéria e o monstro que a
violentou.
— Stella... — murmuro, compreendendo que Shei não queria que
sua filha fosse tirada dos seus braços como fizeram com os primeiros
bebês. — Ela fugiu para proteger o bebê.
— Por que você acha que Valéria quer tanto Tella de volta? Stella é
a linhagem pura da primeira submissa alfa, assim como as outras... Valéria
não vai renunciar a elas, a nenhuma delas...
— As outras? — Ergo meu rosto, a encarando e compreendendo
agora com mais clareza a verdade toda à minha frente. — Os presentes de
Elite, as pecadoras que faltam, são as filhas de Mina...
— Freire escondeu um bebê e outro ficou com Valéria... — Dorien
fala, baixo, e inala o ar pelos narizes. — Uma vez, quando Freire estava
bêbada, olhando uma foto de Mina, ela me disse que Valéria nunca acharia
Eva, pois era tudo que tinha lhe restado de Mina...
— Eva?
— Sim, Eva. A irmã mais velha de Stella, batizada com o nome da
primeira mulher pecadora e nascida da primeira submissa alfa das
Messalinas. Mas Freire estava errada, eles acharam Eva, encontraram...
— Onde ela está? — pergunto, sério, a olhando.
— Não tenho ideia... Valéria nunca disse.
Meus passos se afastam enquanto saio da tenda, deixando meus
olhos perdidos nas dunas, sentindo tanto ódio como raiva de mim, de
Sodoma, por ter criado esses demônios que destruíram a vida da única
pessoa que eu já quis proteger, meu Corcel.
— Minha mãe teve outras filhas, minhas irmãs... — Stella murmura,
olhando perdida para o chão. — Nos tiraram dela, tiraram a gente da minha
mãe...
— Sim. — Me levanto e caminho para Stella, me abaixando perto
dela. — Prometo pela minha semente que cresce em seu ventre, meu
Corcel, que não vou descansar enquanto não as encontrar, que darei a minha
vida se for preciso para achar suas irmãs, para proteger vocês...
— De Valéria ou de Sodoma, Ramsés? — Stella me corta e empurra
sua face para trás quando tento tocar seu rosto. — Ninguém protegeu a
minha mãe de vocês, ninguém a protegeu do maldito que a violentou...
— Não, ninguém. — Confirmo a culpa de Sodoma sobre o destino
de Mina e suas filhas. — Não fiz nada para salvar Mina, e isso é uma culpa
que sempre carregarei, Corcel. — Seguro sua face em minha mão e a olho
com firmeza. — Mas, por Rá, juro que vou caçar cada um que tiver
envolvido nisso, e que os deuses tenham misericórdia deles, porque de mim
não receberão clemência alguma! Ramsés de Naca lhe dá sua palavra!
Stella me olha perdida, antes de abaixar seus olhos para seu ventre.
Vejo suas mãos espalmando nele, meu braço se estica e paro minha mão
sobre as dela, olhando seu rosto.
— Eu... — Minha voz se cala ao som do primeiro tiro que repercute
alto do lado de fora do acampamento.
A grande explosão vem em seguida, fazendo o chão tremer. Tenho
apenas tempo de jogar meu corpo sobre o de Stella, a protegendo embaixo
de mim.
CAPÍTULO 27
As areias de sangue
Ramsés de Naca
— Você está ferida? — Saio rapidamente de cima dela, a segurando
em meus braços.
— SADEEE! — Stella grita quando vira seu rosto para a entrada da
tenda.
Meus movimentos são rápidos quando puxo uma faca da bandeja de
frutas e arremesso no mercenário que invade nossa tenda, acertando em seu
peito e o derrubando no chão. Os gritos são altos do lado de fora, junto com
os tiros.
— Estamos sendo atacados. — Seguro Stella pelo braço e a levanto,
enquanto a puxo comigo e paro perto do morto, pegando sua arma.
Caminho com Stella novamente, retornando para o fundo da tenda,
abrindo uma passagem segura para ela.
— Venha, Corcel, agora!
— Oh, meu Deus... — Stella me olha assustada e tapa seus ouvidos
quando outra explosão se faz.
Ergo meu braço e miro para a entrada da tenda quando alguém
entra. Vejo a face de Raja suja de sangue, com um corte em sua testa.
— Yusefe está nos atacando junto com os homens de Abasi — ele
fala rápido. — Ele está fechando o cerco em volta do acampamento,
explodiram nossos carros.
— Tire ela daqui, agora! — rosno com raiva, sabendo que
finalmente meu confronto com Yusefe tinha chegado.
— O quê? — Viro meu rosto e olho a face assustada de Stella. Suas
mãos se erguem e seguram meu braço, e ela nega com a cabeça. — Não vou
com Raja e te deixar aqui.
— Tem que ir, Corcel. — Seguro sua face e olho para todo o meu
verdadeiro império à minha frente. — Raja vai te levar em segurança até a
casa de Jamal...
— Não, você vai... Você... — Ela nega com a cabeça, cerrando seus
lábios.
— Irei depois... — Encosto minha testa na sua e dou um passo à
frente, abraçando-a. — Vou para lá assim que pôr fim em Yusefe...
— Me dê sua palavra... — Ela segura com mais desespero meus
braços, negando com a cabeça.
— Dou minha palavra que Yusefe irá pagar por todo o mal que ele
fez, principalmente a você...
— Não, eu estou pouco me lixando para Yusefe. Me dê sua palavra
que vai voltar, Tarado. — Stella ergue seu rosto e prende seus olhos negros
nos meus. — Me prometa que vai voltar para mim, sade.
— Stella... — chamo seu nome e a olho perdido. — Ainda vai
querer Ramsés, mesmo sabendo que tive culpa em todo mal que acarretou
em sua vida...
— Me prometa que vai voltar, vai voltar para nosso filho. — Ela
tomba sua face para o lado e me olha com dor. — Me dê sua palavra,
Tarado.
Abraço seu corpo com mais carinho quando Stella esconde seu rosto
em meu peito, chorando. Meus dedos alisam seus cabelos, enquanto inalo
fundo seu perfume.
— Ramsés, temos que ir! — Raja grita alto atrás de mim. — Os
homens de Yusefe estarão aqui na tenda em segundos.
Raja me avisa, disparando pela porta da tenda, não deixando que um
mercenário entre.
— Não vou sair daqui sem ter sua palavra. — A voz de choro dela
murmura com dor, se apertando mais forte a mim. — Eu só tenho você...
— Nada nesse mundo pode fazer Ramsés de Naca ficar longe de
você, Corcel. — Seguro seu rosto em minhas mãos e dou um passo para
trás, olhando sua face. — Tem minha palavra que voltarei, Stella.
Meus lábios tocam os seus, em um beijo urgente, carregado de dor e
medo. Dor pelo mal que lhe fiz e medo de perdê-la. Eu morreria por Stella,
mataria por ela, e garanto que qualquer um deles que aconteça, será honroso
para mim. Porque nada em toda minha vida me foi tão valioso quanto meu
pequeno Corcel selvagem. Me afasto dela e quebro nosso beijo, abaixando
meus olhos para seu ventre.
— Tire ela daqui, Raja, eu darei cobertura para vocês. — Me
desvencilho dela, apertando o revólver em minha mão, trocando de lugar
com Raja.
Ainda olho uma última vez para ela, antes de Raja puxar Stella para
fora do buraco que eu fiz no tecido da tenda. Volto meus olhos para a porta
e abro com cuidado, vendo o corpo do mercenário abatido por Raja. O puxo
pela perna e o arrasto para dentro da tenda, retirando o colete à prova de
balas dele e o vestindo. Pego suas munições assim como sua arma, a
deixando em minha cintura, e retiro uma faca que está acoplada ao colete,
apertando-a em meus dedos.
— Rá, se hoje for meu último dia... — Fecho meus olhos e respiro
fundo. — Irei com prazer, mas garanto que levarei o máximo que puder
comigo, incluindo Yusefe.
Abro meus olhos e destravo o revólver, saindo da tenda e disparando
contra meus inimigos. Darei o máximo de tempo que eu puder para Raja
conseguir tirá-la daqui em segurança. Um dos mercenários, que sai de
dentro de uma das tendas, se assusta ao me ver, e antes que faça um
movimento, jogo a faca e acerto sua mão. Corro em sua direção e prendo
seu pescoço em meus braços, o virando de uma só vez. Deixo o corpo caído
na areia sem vida. É o tempo de pegar minha faca e outro mercenário vem
correndo em minha direção. Ele se joga sobre mim e tenta acertar meu
rosto, mas desvio e o seguro por trás, colando o cano do revólver em sua
cabeça e disparando.
Vejo meus homens ficarem em menor número, mas ainda assim
lutarem bravamente, enquanto trocam tiros. Uso as tendas, correndo entre
elas e me abaixando, acompanhando Raja de longe, o vendo fugir entre as
palmeiras. Dois mercenários caminham em direção a eles, mas corro em
disparada, segurando meu revólver, e chego até eles. Desfiro um chute na
perna de um, a quebrando, fazendo ele cair de joelhos; o outro já tinha
minha faca estacada em seu peito. A puxo com raiva e corto a garganta do
outro ajoelhado, o deixando degolado, caído ao chão. Guardo a faca de
volta no colete. Olho uma única vez para as palmeiras, não os vendo mais,
sabendo que Raja tinha conseguido entrar em Madrigal. Ele protegeria
minha Stella e meu filho.
Viro e vou atrás da única alma que desejo com todas minhas forças
ceifar. Caminho, passando por cima dos corpos, desviando das balas e
atirando nos malditos mercenários, enquanto caço Yusefe. Posso sentir o
gosto de morte em minha boca, o cheiro de fumaça se misturando com o de
sangue, corpos espalhados, mais tiros zumbindo em minha orelha.
Reconheço alguns homens de Jamal quando eles entram no acampamento,
gritando e atirando contra os mercenários de Yusefe, revertendo o placar,
nos deixando em maior número enquanto eles são massacrados. Rosno com
raiva assim que meus olhos o encontram, invadindo uma tenda e arrastando
um dos meus homens para dentro. Assim que entro, meus olhos se deparam
com o maldito segurando uma faca no pescoço de um dos meus homens.
Ele me olha com ódio, e devolvo o olhar na mesma intensidade para Yusefe.
Quero matá-lo, fazê-lo gritar como um maldito porco enquanto o estripo.
— Olha só quem resolveu aparecer na festa. — Ele cuspe no chão e
me encara, apertando ainda mais a faca no pescoço do rapaz. — Não te faz
sentir saudade dos velhos tempos, irmão?
— Solte-o, Yusefe — falo e o olho com nojo, rangendo meus dentes.
— Lute como um homem comigo, pelo menos uma vez.
— Sempre tão arrogante quanto seu pai, Ramsés. — Ele passa seu
nariz pelo cabelo do rapaz, apertando mais forte a faca contra sua garganta,
não desviando seus olhos dos meus. — Por que não continuou seguindo sua
vida de merda e deixou eu com a minha, por que tinha que roubar o que me
pertencia?!
— Stella não te pertence. — Meus punhos se fecham com ódio.
— Oh, sim, aquela cadelinha me pertence, e por culpa sua eu perdi a
maior venda da minha vida — ele grita de ódio. — Estou farto de ficar na
sua sombra, Ramsés, não vou descansar enquanto você não devolvê-la!
— Solte o rapaz e lute comigo, resolva seus malditos problemas
comigo. — Tento dar um passo, mas ele pressiona a faca mais forte ainda
contra a garganta do jovem. — Onde está a maldita da Valéria, Yusefe? Me
diga onde ela está e quem sabe eu possa lhe deixar vivo...
— FODA-SE A VALÉRIA! Aquela porca traidora e mentirosa está
bem longe daqui, ela já partiu do Cairo. Vai trazer aquela puta que eu
comprei da Valéria, para mim, ou juro que vou destruir esse lugar inteiro!
— Yusefe cospe com raiva e retira um celular do seu bolso. — Só preciso
discar um número e Abasi vai explodir tudo quando acionar a bomba, não
vai restar nada em um raio de 400m...
— Vai explodir o vilarejo... — Olho para ele com horror. Meu rosto
gira e olho na direção das palmeiras. — Stella...
— Não vou perder para você novamente — Yusefe fala com ódio.
Meus olhos se voltam para ele com raiva.
Seu sorriso é asqueroso e doentio, quando ele puxa a faca de uma só
vez, cortando a garganta do rapaz, o deixando cair sem vida no chão. Já
estou pulando em cima de Yusefe, acertando um soco em seu rosto, fazendo
o celular cair das suas mãos.
— Filho de uma puta! — Desfiro outro soco e acerto seu maxilar.
Ele tenta me acertar com a faca, mas bato em seu braço e a faço cair ao
chão.
Ele cai com o terceiro soco que acerto em seu estômago,
levantando-se e cambaleando, com seus dentes cheios de sangue se abrindo
quando riem para mim.
— Não vai poder salvá-la... Não vai! — Ele ri loucamente, cuspindo
sangue, negando com a cabeça. — Se não devolvê-la para mim, também
não vai ficar com ela...
— Vou te matar, Yusefe! — Tento acertar sua cara, mas ele se joga
para trás, desviando. — Você nunca mais vai se aproximar de Stella.
— Vou ter o que é meu, nem que seja no inferno. — Suas palavras
me enchem de mais ódio a cada sibilar de cobra que ele solta por seus
lábios, destilando seu veneno.
Consigo acertar seu rosto, levando-o ao chão. Soco sua cara uma,
duas, três vezes, até sentir os nervos dos meus dedos se abrindo, desferindo
golpes com pura raiva e fúria.
— Nunca mais vai pôr seus olhos nela, maldito, nunca mais vai
machucar Stella ou mulher alguma. — Sinto tanto ódio, tanta ira dentro de
mim, que meus punhos acertam seu rosto por várias vezes.
Ergo seu corpo e deixo-o de pé, acertando seu estômago com uma
joelhada. Ele cai para trás e rasga o tecido da tenda com seu corpo, que o
faz rolar para fora. Ando para lá, onde o vejo se levantar e correr para as
dunas. Passo para fora, com todo o ódio dentro de mim, e corro atrás dele.
Yusefe corre mais rápido, desesperado, se distanciando do acampamento.
Uso de todo meu fôlego para ficar em seu encalço e meu corpo se
impulsiona para frente, se jogando por cima do seu. Nós dois caímos e
rolamos na areia, desabando entre as dunas. Yusefe acerta meu rosto e me
dá um soco. Caio ao chão, tonto, ao erguer meus olhos, e vejo o desgraçado
segurar a arma que ele tirou da minha cintura, em seus dedos machucados.
— Vou matar você, seu filho da puta! — Ele grita em raiva e
balança a arma em direção à minha cabeça. — E enquanto seu corpo estiver
moribundo, sendo comido pelos vermes do deserto, eu vou atrás daquela
cadela e vou entregá-la para seu dono, e receber meu dinheiro. Não fiquei
esperando por aquela vadiazinha todos esses anos, para ela ficar pronta,
para eu perder meu dinheiro...
— Isso acaba aqui! — grito para ele e me levanto com todo meu
ódio me consumindo, retirando a faca do colete e me jogando contra
Yusefe.
A ponta da lâmina perfura sua pele assim que a estaco em seu peito.
Yusefe ergue seus braços e aponta para minha cabeça.
— Vamos para o inferno juntos, Ramsés! — Sua voz nojenta fala
entre seus gritos de dor, enquanto afundo a faca ainda mais em seu peito.
— Um dia eu irei, mas hoje não... meu irmão. — Jogo minha cabeça
para o lado no segundo que seu dedo aperta o gatilho, fazendo o tiro acertar
seu próprio rosto.
Observo o corpo de Yusefe cair lentamente no chão, com seus olhos
arregalados e o sangue escorrendo por sua face, com o tiro aberto no centro
da sua testa. Cambaleio para trás e olho para ele enquanto sinto uma parte
da minha vida indo embora com ele. Esse homem não era mais o mesmo
menino que cresceu comigo, o qual eu tinha em meu coração como meu
irmão. Respiro fundo e fecho meus olhos, virando lentamente e olhando
para o acampamento destruído, cheio de corpos, além da fumaça dos carros
explodidos. Paro meu olhar na direção das palmeiras, como se pudesse
enxergar sua face em minha mente, ouvindo suas palavras.
Caminho rápido pelo corredor, andando a passos firmes pela casa de
Jamal. Depois que entreguei para ele o celular de Yusefe e lhe falei sobre a
bomba que Abasi iria jogar contra Madrigal, deixei para que ele cuidasse do
beduíno. Raja me passou a contagem de perdas dos homens, também me
avisou que Dorien foi retirada de Madrigal antes do ataque, ela estava a
caminho de Moscou, onde Sieta aguardava por ela. Demorei apenas o
tempo de me limpar, para que ela não me visse completamente sujo de
sangue. Sentia meu coração pulsando como fogo vivo, queria vê-la, queria
sentir seu cheiro outra vez, ter seus olhos brilhosos em minha direção e
saber que nada jamais a machucaria e a tiraria de mim. Que atravessaria o
inferno por ela, se ela me pedisse, apenas para não me deixar longe dela.
Mas eu me perdi no exato momento que meus olhos se encontraram com os
seus quando abri a porta do cômodo onde Raja disse que ela estava.
Stella se afasta da janela e corre para mim, se jogando em meus
braços, deixando eu me sentir vivo novamente.
— Graças a Deus, você voltou! — Seus braços pequenos enlaçam
meu pescoço, enquanto ela me joga em um abismo, me fazendo vibrar em
vida quando sua boca se cola com a minha.
Caio nos seus braços feito um cordeiro entregue à minha Salomé.
Aperto mais forte Stella, como se pudesse lhe manter para sempre aqui
junto a mim. Eu tinha cumprido minha palavra com meu Corcel, tinha
voltado para ela. Isso era a única coisa que me importava e o que me
bastava.
— Ramsés disse que é um homem de palavra — murmuro e afasto
minha boca da sua, vendo o sorriso doce em seus lábios, me perdendo em
seus olhos negros.
Aliso seus cabelos e inalo forte seu perfume, acalmando meus
demônios em sua presença. Encosto minha testa e ouço sua respiração.
— Eu senti dor dentro de mim, quando contou a verdade sobre a
minha mãe. — Ela respira fundo e fecha seus olhos, negando com a cabeça.
— Mas depois eu apenas senti medo, medo de perder você, medo que não
voltasse... E então eu compreendi que não importa o que aconteceu no
passado, é o passado, ele não pode ser mudado, Ramsés — ela sussurra.
Meu anelar escorrega por sua bochecha e limpo sua lágrima quente, me
afogando em seus olhos negros quando eles se abrem para mim. — Nunca
vou deixar de olhar para você, não quando você é tudo que eu desejei ter
um dia... Alguém para amar.
— Por Rá, Corcel...
A abraço forte, colando seu corpo ao meu e sentindo seu coração
bater tão acelerado junto com o meu, ao ouvir suas palavras. Minhas mãos
se apertam de forma possessiva em suas costas, apertando-a e trazendo-a
para mim. Ergo meu pé e chuto a porta, a fechando atrás da gente. Sinto o
cheiro dos seus cabelos, que me embriaga assim como me acalma.
— Eu te amo, te amo, meu Corcel! — sussurro para ela, a olhando e
sentindo seu toque sobre meu rosto com delicadeza, enquanto seu sorriso se
ilumina como um raio de sol, e meu coração, que nunca pensei que um dia
sentiria tanto amor assim por alguém, bate descompassado. — Eu te amo,
Stella, nunca se esqueça disso, minha estrela.
Beijo sua boca com ardor e loucura, sugando todo seu ar. Seus
dedos macios se fixam em meu rosto e me acariciam docilmente. Minhas
mãos se abaixam em sua bunda e ergo-a para mim, a tirando do chão. Sinto
a necessidade acima de tudo em tê-la, em ter seu corpo junto ao meu,
suspirando, gemendo e nos consumindo em nossa paixão. Caio em meu
joelho e deito seu corpo em cima do tapete. Suas pernas em volta da minha
cintura se apertam em agonia maior que a minha, me desejando tanto
quanto eu a desejo.
— Me toque... Por Deus, me toque, Ramsés! — sussurra e esmaga
sua boca à minha com paixão, se apertando mais a mim.
Suas mãos descem pelo meu corpo e vão para minha calça,
libertando meu pau. Meus dedos se apertam em sua pele, que está
queimando. É luxúria, fogo, um desejo animal de um pertencer ao outro
com uma urgência esmagadora. Meus dedos erguem seu vestido, afastando-
o das suas coxas, e empurro sua calcinha para o lado. Seus dedos acariciam
meu pau, o massageando em sua mão. Minha cabeça se ergue e solto um
rugido com a forma como ela vai me acariciando, me fazendo ficar mais
duro em seus dedos. Abaixo minha cabeça e sugo seus seios, os beijando.
— Ramsés... — Solto seu seio e levo meu braço entre nós, afastando
sua mão do meu pau.
Ergo suas mãos sobre sua cabeça, e antes dela sequer suspirar, meu
pau se afunda dentro da sua boceta, com ela gritando em liberdade. Seus
olhos se abrem para mim e brilham com uma chama lá dentro.
— Stella... — Me movo com mais urgência, investindo mais rápido
e forte dentro dela. Sinto meu pau sendo estrangulado e aquecido por sua
boceta quente.
— Eu te amo... te amo. — Suas mãos me puxam para ela, nos
colando um ao outro.
Me movo, sem condições de parar, e ela me aperta em seus braços,
se erguendo para receber minha investida em sua vagina quente e molhada.
É um turbilhão de desejo e loucura que nos consome. Seus lábios beijam
meu rosto por cada parte, e vou sentindo meu corpo se mover mais duro e
mais cruel, fodendo-a mais rápido. Suas mãos caem ao lado do corpo e
aperta as unhas no tapete.
— Ramsés... — ela grita meu nome em agonia. Meu corpo cai sobre
o seu e apoio minhas mãos na sua lateral, entrando e saindo de dentro da
sua boceta, com meu pau se afundando fundo e forte a cada nova investida.
— Stella... — Ela se contrai e me aperta ainda mais com seus
músculos vaginais. — Não vou aguentar... OHHH, porra! — Ela me abraça
e aperta seus braços e pernas, girando nossos corpos e me fazendo trocar de
lugar com ela.
Seu corpo se move, parando em cima de mim, jogando sua cabeça
para trás, e ela me monta como uma amazona selvagem. Sinto a energia me
consumir célula por célula, meus dedos se erguem e apertam seus seios, o
que a faz gemer e rebolar em cima de mim, me engolindo mais fundo em
sua boceta.
— Porra! — Tombo minha cabeça no tapete, sendo completamente
entregue a ela, tendo meu Corcel me fodendo com paixão, perdida em seu
abandono em cima de mim, levando nós dois ao ápice da loucura.
Sua cabeça se inclina para frente quando seus dedos tocam meu
rosto e me queimo não por fora, mas por dentro, quando seus olhos se
chocam com os meus, me deixando ver todo seu amor refletido em seus
olhos.
— Eu sempre olharei para você, sade... — Seus olhos brilham para
mim, me deixando ver uma lágrima escorrer por seu rosto, tendo o sorriso
mais lindo em seus lábios.
Stella geme quando seu orgasmo se aproxima e aperta ainda mais
minha face em suas mãos. Meu pau pulsa forte dentro dela quando meu
próprio gozo chega. Inclino meu tórax para frente e sento no chão,
abraçando-a com força. Meus dentes se chocam com sua pele e mordo seu
pescoço, enquanto libero minha porra dentro de Stella. Ela grita e treme em
meus braços, gozando. Seus braços se apertam em volta de mim e esconde
seu rosto em meu ombro. Meus dedos alisam seus cabelos e a cheiro, beijo
sua garganta onde eu mordi.
— Eu te amo, pequena — murmuro em seu ouvido, apertando-a
pela cintura, sentindo meu pau pulsar ainda dentro da sua boceta.
Seus braços me apertam mais forte, se encolhendo sobre meu corpo,
e ao longe escuto o som das cantorias dos homens, agradecendo a vitória.
Ela se aperta mais ainda a mim e me segura com força, esfregando seu rosto
em minha clavícula. Meus dedos alisam sua pele, fazendo círculos lentos ao
passo que ouço sua respiração baixa.
— Yusefe nunca mais vai machucar nenhuma mulher. — Beijo seus
cabelos, sentindo seu cheiro. — Valéria não vai tirar você de mim.
Aperto-a com força, quase arrancando seu ar, a abraçando com todas
as minhas forças, garantindo que ela saiba que ela é só minha, meu Corcel.
O pequeno gênio arteiro que Rá mandou para Ramsés de presente.
— Juro pelo nosso filho, que cresce em seu ventre, que vou achar
suas irmãs e fazer justiça contra o monstro que machucou sua mãe...
— Dorien lhe contou sobre ele, não foi... — ela murmura e afasta
seu rosto, me olhando perdida. — Falou quem foi o homem que violentou
minha mãe...
— Sim — a respondo, sério, sentindo ainda a raiva inflamar minhas
vísceras, carregando minha alma de escuridão. — Ele não sairá impune,
Stella... Sei que Sodoma fez muito mal à Mina, mas será Sodoma que irá
vingá-la. Garanto que...
Stella ergue seus dedos e tapa minha boca, balançando sua cabeça
lentamente em negativo.
— Não desejo ouvir o nome dele. Para mim, é apenas um monstro
que machucou a minha mãe. — Ela afasta seus dedos dos meus lábios e me
olha com dor. — A única coisa que desejo é justiça, que ele pague pelo mal
que fez a ela.
Ergo minha mão e seguro sua face, parando meu rosto a centímetros
do seu, a olhando no fundo dos seus olhos.
— E justiça terá, lhe entregarei a cabeça dele em uma bandeja de
prata, minha Salomé! — digo, firme, lhe dando minha palavra, pois será
exatamente isso que vou fazer.
Cortar a cabeça da maldita cobra traidora que está dentro de
Sodoma, a eliminando para sempre.
— Está falando sério, não é?! — Stella me olha com curiosidade,
antes de um pequeno sorriso travesso abrir em seus lábios. — Você é
terrivelmente estranho, Tarado de Naca, ou quem sabe deva ser eu, por não
conseguir sentir medo de você quando fala essas coisas...
Ela deposita um beijo em meus lábios, abraçando meu pescoço e
suspirando baixinho.
— Não, você é perfeita, meu Corcel. — Sorrio para ela e nos movo,
virando seu corpo, o deixando abaixo do meu quando a deito.
Meu rosto se esfrega em seu ventre e o beijo, ouvindo o som baixo
da sua risadinha. Stella é minha ruína e minha glória, meu Corcel selvagem,
ao mesmo tempo que é minha doce menina, minha pequena sedutora
Salomé com olhar inocente, fazendo eu me tornar seu submisso. Mas,
acima de tudo, sou seu guardião, que ceifará cada maldito demônio que
cruzou o caminho dela.
— Diz de novo... — Ergo minha cabeça e olho para ela. — Diga que
me ama, sade.
Apoio minhas mãos no tapete enquanto inclino meu corpo para
cima, ficando com minha face perto da sua, parando meus olhos nos seus.
Sinto a ponta do seu dedo deslizar sobre meu peito, enquanto ela sorri de
ladinho.
— Eu te amo, Corcel... — Capturo seu dedo quando ela o ergue para
alisar minha boca, o deixando preso entre meus dentes. — Amo você mais
que tudo, minha pequena Messalina...
— Também te amo, Tarado de Naca! — Ela sorri, me provocando,
rindo quando solto seus dedos e mordo seu queixo.
Sim, sordidamente eu me tornei um tarado, um pervertido, sem um
pingo de vergonha na cara, com o ego dominador fragilizado e
completamente escravo dessa pequena submissa geniosa. Mas,
principalmente, Ramsés de Naca é completamente apaixonado por ela.
Fim!
EPÍLOGO
Ramsés de Naca
Alexandria – Egito
Dois meses depois
— Pelo que posso ver, Sodoma está indo de vento em popa por aqui.
— Levo minha xícara de chá aos lábios e olho o homem calmo sentado à
minha frente, sorrindo e observando a casa noturna repleta de convidados.
— Sim, não tenho do que reclamar. — Sorrio para ele e abaixo
minha xícara, olhando para o salão de baixo e vendo a saleta de vidro
blindado transparente, onde Stella está rindo, conversando com Amina, que
virou sua dama de companhia, tendo os meus seguranças fazendo a escolta
delas do lado de fora.
— Preciso admitir, meu amigo, que eu tinha curiosidade sobre a
Sodoma do Egito.
— Como pode ver, meus visitantes são mais reservados, a casa é
aberta para todos — falo, baixo, mantendo meus olhos nela. — Para
qualquer pessoa é apenas uma boate de luxo, mas os participantes de
Sodoma sabem que aqui é a segurança deles, sem julgamentos. Há quartos
espalhados por toda boate, que entrega a cada um o que deseja buscar em
minha casa.
— Mas julgo que não me convidou para vir aqui apenas para saciar
minha curiosidade, não foi, conselheiro Ramsés... Por que me convocou?
Meus dedos apertam o charuto, trazendo-o aos lábios lentamente e o
tragando. Desvio minha atenção de Stella para o meu visitante.
— Ouvi boatos sobre você, dizem que encontrou uma das
Messalinas. — Ele sorri para mim e me olha animado. — E que também se
casou com ela no mês passado, fico feliz por você. Quem diria, Ramsés de
Naca se casando, creio que caiu no mesmo encanto que Czar quando
encontrou a submissa alfa dele...
Seu olhar fica perdido quando o abaixa e encara o copo em cima da
mesa.
— Ela está aqui? — Ele ergue seu rosto e olha ansioso para mim. —
Se não for muita impertinência da minha parte, eu adoraria conhecê-la...
— Não, não pode conhecer minha esposa — o respondo seriamente,
cerrando meu maxilar. — Você sabia o que ela era, quando a viu a primeira
vez? — pergunto para ele, estreitando meu olhar.
— Quem?
— Mina — digo, baixo, mantendo minha atenção focada em sua
face, o vendo ficar surpreso. — Sabia o que Mina era, na primeira vez que a
tocou...
— Não sei do que está falando... — Ergo minha mão no ar, o
silenciando, enquanto estalo meu dedo e chamo por Raja.
Os olhos do meu visitante se erguem para ele, quando Raja lhe
estende uma pasta. Deposito o charuto no cinzeiro e levanto meu copo de
chá, fazendo um gesto de cabeça para que ele pegue a pasta.
— O que é isso? — Ele olha da pasta para mim.
— Você não foi o único a ouvir boatos, meu caro amigo — falo
seriamente e afasto o copo de chá da minha boca, o depositando sobre a
mesa.
O vejo abrir a pasta lentamente, ficando com seus olhos assustados
enquanto lê o conteúdo do dossiê.
— Como achou isso...
— Confesso que precisei de um pouco mais de tempo, para checar a
fundo essa história, e quase cheguei a pensar que não encontraria nada. —
Encosto minhas costas no estofado da cadeira e olho para ele enquanto
cruzo meus braços acima do peito. — Uma vez, um Corcel me disse: só
porque não encontrou algo, não quer dizer que ele sumiu para sempre.
Apenas não foi achado ainda! E suas palavras estavam certas, precisei
apenas de tempo para achar.
— Sim, ela fugiu. Eu não tenho ideia do que houve com ela durante
a gravidez e nem como ela conseguiu chegar até aquela hospedaria depois
que o bebê nasceu. Mas foi lá que ela se escondeu por alguns anos, até
Valéria a encontrar novamente. — Ela se cala, chorando baixo enquanto
abraça suas pernas. — Valéria a trouxe de volta, a entregando para Freire.
A mulher que retornou não era mais a Shei, era a Mina. Freire prometeu
para ela que se ela fosse obediente, daria um jeito de trazer Tella para ela,
que deixaria as duas juntas... Mas Mina sabia que isso não iria acontecer.
Na última noite que eu lhe vi, antes de Freire levá-la para a Austrália,
Mina me contou que não voltaria viva de lá, que o monstro que a violentou
não queria ela viva, para que ninguém soubesse o que ele fez...
— Nome, qual o nome dele? — Respiro fundo e esmago meus dedos
com raiva.
— Ela não disse, Mina nunca falou o nome dele. Mas eu o vi, vi ele
uma vez só, algumas semanas depois que Mina morreu. Ele estava
transtornado, gritando com ódio, amaldiçoando Freire por ter mentido e o
enganado, dizendo que as mãos dele estavam sujas pelo sangue de Mina.
Não ouvi o resto da briga direito, mas ele estava raivoso.
— Oliver? Esse era o nome dele? — Me abaixo, a encarando. — Me
diga, Dorien... O nome do homem que violentou Mina e a queria morta era
Oliver, não era?
— Não sei. — Ela nega com a cabeça e me olha assustada quando a
prendo pelos ombros.
— Um homem branco, um pouco mais alto do que eu, barba cinza e
cabelos pretos, com olhos verdes, sotaque francês...
— Não, não, ele não era assim. — Ela nega com a cabeça. — O
homem que estava aquele dia na casa de Freire era um homem negro, alto,
com os olhos castanho-escuros, estava furioso e com muita raiva, destruiu
o escritório inteiro de Freire.
— Adrien[44]... — O nome do juiz de Sodoma sai dos meus lábios
enquanto sinto meu estômago se retrair. O único mestre em Sodoma nessa
época que bate com a descrição que Dorien fez, é Adrien. — Adrien
violentou Mina.
Me levanto de forma abrupta e cambaleio para trás, não
compreendendo. Adrien sempre foi implacável com qualquer assunto sobre
ferir uma mulher. Ele era um carrasco impiedoso com os membros de
Sodoma que eram acusados de maltratar suas submissas, eu mesmo já
tinha levantado tudo sobre a vida dele, feito um minucioso pente fino. Não
tinha nada que fizesse eu desconfiar da sua índole, tirando a paixão
avassaladora e doentia que ele sente por suas duas esposas. Adrien era o
homem mais íntegro que existe dentro de Sodoma. Mas se isso for verdade,
e Adrien tiver violentado aquela menina, compactuando com as
monstruosidades de Valéria, quer dizer que ele usou Sodoma para silenciar
a menina. Ele e Oliver sempre aconselhavam um ao outro, o que me faz
crer que todos fazem parte dessa grande bola de abominação.
— Mina tinha quatorze anos, Adrien, quando você a violentou. —
Vejo seu rosto se erguer para mim, enquanto seus olhos se enchem de
lágrimas e ele joga a pasta sobre a mesa.
— Não... Não foi assim... — Ele fecha seus olhos e respira fundo,
negando com a cabeça. — Não foi, eu não sabia, Ramsés... Não sabia o que
estava acontecendo dentro daquele quarto, não tinha ideia... Deus, eu me
amaldiçoo todos os dias pelo que eu fiz... Mas juro que eu não sabia...
— Tem dez minutos para contar sua história, Adrien — falo, sério,
abaixando meu rosto para o relógio em meu pulso. — E quando esse tempo
acabar, se sua história não for bem convincente, estarei entregando sua
cabeça de presente em uma bandeja de prata para minha esposa.
Descruzo meus braços e pego a grande faca que Raja tinha deixado
escondida ao chão, abaixo da cadeira. A rodo em meus dedos, deixando o
som dela repercutir quando cravo sua ponta na mesa, diante de Adrien. Ele
passa seus olhos da faca para mim, erguendo para Raja, que está ao meu
lado, com suas mãos cruzadas na frente do corpo, segurando um revólver,
em modo de sentinela.
— Tic... tac — murmuro, o encarando. — Seu tempo está passando,
Adrien, sugiro que comece a falar.
Cruzo meus braços novamente e deposito-os sobre a mesa, deixando
meu corpo inclinado para frente e o estudando. Vejo seus olhos se fecharem
e ele respirar fundo, esfregando sua nuca.
— Valéria me convidou para participar de uma festa particular na
casa de Freire — ele fala, baixo, e abre seus olhos, encarando a pista. — Eu
era jovem, era novo em Sodoma, tudo era tão contagiante e atraente, queria
cada vez mais estar nesse mundo. Em uma certa altura da festa, eu estava
fodendo uma garota que eu conheci. Valéria entrou no quarto e riu para
mim, me perguntou se eu queria experimentar uma coisa nova, algo
completamente diferente, que iria me dar muito prazer. Eu pensei que era
um jogo ou alguma brincadeira, estava alto, tinha bebido bastante, e topei.
Topei na mesma hora, larguei a garota no quarto e segui Valéria.
Adrien sorri, sem um traço sequer de felicidade enquanto range seus
dentes, esmagando seus punhos em cima da mesa.
— Entrei em um cômodo que tinhas as luzes apagadas. Antes de
Valéria fechar a porta, consegui ver uma maca de ginecologista, com uma
mulher amarrada nela e um homem a fodendo. — Ele deixa seu sorriso
morrer, enquanto ergue seus olhos para mim. — Valéria disse que fazia
parte da brincadeira a luz apagada, e que eu não podia tocar na mulher na
maca com minhas mãos, apenas podia transar com ela. Eu não me importei,
estava excitado, queria foder pra caralho... Valéria me chupou, me fazendo
ficar ainda mais eufórico, e o som baixo de um grunhido aumentou dentro
da sala. Era uma submissa amordaçada, que queria trepar com dois homens.
Foi o que eu imaginei...
Ele para de falar e fecha seus olhos, enquanto respira rápido,
esmagando sua boca.
— Meu pau se afundou por inteiro dentro da boceta dela, em uma
única estocada. Era quente, apertada, mesmo tendo outro pau a fodido
antes. Eu fiquei excitado ainda mais, a fodi feito um animal, fora de
controle... — Ele abre seus olhos e encara a faca. — Foi a primeira e a
única vez que eu perdi o controle. Eu tinha acabado de gozar e tentava
voltar a respirar normalmente quando as luzes da sala acenderam. Seus
olhos vermelhos, com a face coberta de lágrimas, estavam presos nos meus,
enquanto ela mordia a mordaça de couro que estava em sua boca, olhando
para mim. Era uma criança, Ramsés, uma criança três vezes menor do que
eu, amarrada e amordaçada na maca... Eu tombei para trás assim que tive
consciência do que eu fiz, olhando horrorizado para ela. Valéria sorria
enquanto se aproximava dela, tocando sua vagina e vendo minha porra
escorrendo de dentro do pequeno corpo. Ela levou seu dedo para dentro do
órgão da menina e o chupou lentamente depois que o retirou, me dando uma
piscada...
Respiro fundo e sinto meu estômago embrulhar, enquanto o encaro e
sinto a veia do meu pescoço latejar.
— Juro que eu nunca teria feito aquilo se a luz tivesse acesa. Se eu
ao menos desconfiasse que era uma criança em cima daquela maca, eu
nunca teria entrado lá dentro... Nunca.
Adrien começa a chorar feito um menino, esfregando seu rosto,
negando com a cabeça, chacoalhando seus ombros enquanto chora.
— Eu saí de lá correndo, sentindo nojo de mim, nojo do que eu fiz
com aquela menina... Nojo das palavras de Valéria, contando sobre as
submissas alfas. — Ele ergue seu rosto para mim e me olha com culpa.
— Por que não contou para ninguém o que fez, Adrien?
— Eu ia, ia contar a verdade para os conselheiros... Mas então
Valéria me ameaçou. Eu estava concorrendo para ser o juiz de Sodoma
naquela época, ela disse que destruiria minha vida se eu contasse sobre as
submissas alfas... — Ele esfrega seu rosto com nervosismo, rangendo seus
dentes. — Walkiria, uma das minhas esposas, estava grávida na época, e
Valéria ameaçou contar tudo para ela, dizendo que eu violentei a menina de
propósito... Minha esposa jamais me deixaria chegar perto dela e do meu
filho novamente... E por covardia, eu me calei. Mas, por Deus, preciso que
acredite em mim, eu nunca teria feito aquilo se soubesse que era uma
criança...
— Eu acredito em você — falo, sério, não demonstrando emoção
alguma. — E é apenas por isso que estamos tendo essa conversa, ao invés
de eu estar cortando seu pescoço...
— Você sabia que eu não queria a machucar...
— Sabia que não devia ser o único dentro daquela sala, e que no fim
não passou de uma peça de xadrez de Valéria.
— Mas como... — Ele me olha perdido, não entendendo o que eu
falo.
— Há um amigo nosso em comum que tem facilidade em levantar
informações, Adrien. — Descruzo meus braços e seguro a faca, a puxando
da mesa. — A primeira vez que esteve na América do Norte, foi há
dezenove anos, e a última vez que pisou lá foi no ano que Mina morreu. E
pelas duas vezes, foi até lá para ir à casa de Freire. A pessoa que lhe viu
entrar lá, discutindo com Freire, também me contou que Mina disse a ela
que o pai da sua filha a queria morta, que ela não iria voltar viva da
Austrália. Você não participou da reunião da Austrália há treze anos, mas
foi até a casa de Freire quando soube da morte da garota, porque, no fundo,
bem lá no fundo, você sabia qual foi o intuito de Valéria em lhe usar para
estuprar a garota, mas você preferia não acreditar. — Relaxo meu corpo, o
encarando, batendo lentamente meus dedos na mesa. — Creio que sua
consciência ficou pesada demais e você queria saber a verdade, e perdeu
completamente o controle, destruindo o escritório de Freire quando ela lhe
contou sobre as crianças.
O rosto de Adrien fica em choque e ele me olha assustado, como se
estivesse relembrando os demônios do passado.
— Valéria queria um macho para cruzar com sua submissa alfa, um
macho que pudesse ser chantageado e amedrontado facilmente. Você era o
alvo perfeito, um mestre com a esposa grávida, com boa índole dentro de
Sodoma, sendo o nome mais favorável para ser o juiz de Sodoma — falo
calmamente e viro meu rosto, olhando na direção de onde Stella está. — Se
calou, fez exatamente o que Valéria queria, lhe ajudou a conseguir seus
filhotes de submissas, sua linhagem, Adrien. Por isso concordou em
Sodoma procurar as Messalinas, porque você sozinho não conseguiu. Já
sabia que os presentes de Elite eram o fruto da sua noite com Mina. Mas
não foi apenas por isso que você aceitou tão fervorosamente caçar as
Messalinas, mas sim porque o verdadeiro dono de Mina não poderia te
chantagear novamente, como Valéria fez no passado, afinal, todos os
conselheiros votaram a favor da busca das garotas...
Adrien vai ficando cabisbaixo, olhando para seus dedos, enquanto
seu corpo se afunda lentamente na cadeira.
— Me conte, Adrien, confirme o que eu já suspeito. O homem que
estava dentro daquele cômodo, fodendo Mina quando você e Valéria
entraram na sala, garantindo que ele tiraria a virgindade dela, sendo o
primeiro mestre a lhe tocar, o mesmo homem que a engravidou novamente,
passando pouco tempo depois que eles tinham arrancado os filhos dela dos
seus braços, fazendo assim nascer minha pequena Stella... — Respiro fundo
e fecho meus olhos. — O mesmo homem que sentenciou Mina à morte
diante do conselho de Sodoma, era Oliver Pellegrini!
— Depois que saí da casa de Freire, quando tive a certeza de que
Mina ficou grávida de mim e descobri que ela deu à luz a gêmeos... —
Abro meus olhos e encaro Adrien. — Eu estava furioso, com ódio de mim
por ter me calado por todos aqueles anos, não salvando a vida de Mina, com
raiva de Valéria por ter me usado. Com o dobro de ódio de Oliver, por ter
participado daquilo aquela noite. Nós dois brigamos, eu estava pouco me
fodendo para as consequências, queria apenas descarregar toda a minha
raiva nele e o fazer pagar pelo que ele fez a ela... Mas Oliver disse que daria
o mesmo fim às minhas filhas, o qual ele deu a Mina, se eu trouxesse esse
assunto à tona...
— E novamente, você se calou. — O sorriso frio se esboça em
minha face, com meus olhos presos aos seus. — Por covardia, culpa e medo
dele machucar ainda mais suas filhas do que Valéria já tinha feito.
Levanto lentamente, o olhando com raiva, abotoando os botões do
meu terno, empurrando a cadeira para trás, sentindo apenas desprezo por
ele.
— Ramsés, eu não podia...
— Sugiro que parta antes do sol nascer entre as dunas, Adrien... —
Levo minhas mãos ao bolso da calça e endireito meu corpo. — Se amanhã
ainda estiver no Egito quando o dia amanhecer, se considere um homem
morto.
Viro e olho para Raja, o vendo ainda sério, encarando Adrien. Ele dá
um passo para o lado, deixando eu me retirar do vão da mesa, perto da
cadeira.
— E Adrien... — Giro meu corpo e lhe dou um último olhar. — Se
quer um conselho, evite passar por Moscou, talvez não tenha a mesma sorte
que teve em sair vivo do Egito. Retorne novamente para sua casa e fique lá
com suas esposas, junto com sua covardia. Você não vai querer estar no
inferno quando eu ressuscitar o diabo para assumir sua cadeira entre o
conselho de Sodoma por direito.
Dou uma piscada para ele e movo minha cabeça para frente, me
despedindo de Adrien. Viro e caminho sério, me distanciando da mesa,
tendo Raja andando atrás de mim como uma sombra.
— Não confio em homens covardes, para mim homens sem honra
não são confiáveis. Ele vai contar para Oliver — Raja murmura,
preocupado, atrás de mim.
— Não, ele não vai — o respondo sério, andando lento e
observando meus visitantes. — Sua covardia e remorso farão ele fazer
exatamente o que eu lhe aconselhei.
— Mesmo assim deixarei alguns homens o vigiando. — Concordo
com a cabeça, a balançando lentamente para frente e para trás. — O jato já
está pronto, como você pediu, Ramsés. Realmente confia nesse homem,
para deixá-lo saber sobre ela...
— Se existe alguém que possa confrontar na mesma crueldade e
intensidade de Oliver, deixando esse jogo de igual para igual, é sua própria
linhagem. — Paro de andar e me viro para Raja quando nos aproximamos
da saleta onde Stella está. — Está na hora de ressuscitar os mortos, Raja. Se
Hector Pellegrini for tão parecido com seu avô como o dossiê dele aponta,
então Oliver terá o pior demônio da sua vida o arrastando para o inferno.
Sorrio para ele e dou um leve tapinha em seu ombro, me virando
para a saleta. Os seguranças se afastam, abrindo a porta para mim, e sou
recebido pelo sorriso mais alegre e arteiro, que faz meu mundo todo girar à
sua volta.
— Sade... — Stella sorri mais alegre para mim, fazendo todos os
meus demônios se silenciarem, ficando calmos diante dela, rendidos e
completamente seus escravos.
Eu sinto calmaria ao seu lado, em cada sorriso que ela me presenteia
em meu mundo de morte e dor, sinto meu coração bater rápido a cada
momento que a tenho em meus braços e me sinto vivo quando seus olhos
brilham para mim.
Eu morro por Stella, eu mato por ela.
E vou até o inferno pessoalmente por ela, meu Corcel, minha doce
Salomé e minha arteira Messalina.
A Ordem das Messalinas
Eva – Livro 2
O JARDIM DO ÉDEN
Eva
Belcastel – França
Comuna francesa
O que posso dizer de Ramsés e seu Corcel Selvagem, a não ser que
amei escrever cada palavra da história deles?! Ver esse teimoso egípcio se
rendendo à Stella foi maravilhoso. Me sinto agradecida por poder ter
contado essa história.
Agradeço de coração a todas as pessoas que fizeram parte desse
projeto. Às minhas colaboradoras, que sempre fazem sucesso na revisão,
enriquecendo ainda mais a história.
Agradeço sempre ao meu doce Val, por estarmos juntas em mais um
projeto, por todo seu apoio e carinho.
Agradeço especialmente a você, meu leitor, por se permitir
desbravar esses mundos novos que eu lhe apresento. Aguardo por você em:
A Ordem das Messalinas: Eva.
OUTRAS OBRAS
Outras obras:
Séries:
KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3
ATENÇÃO: contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não indicado para
menores de 18 anos.
Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os
abatedouros da fazenda Ávila, Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de
Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem empatia. Moldado pela dor
e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a
vida e a morte, pelas as águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena
Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara
faz de tudo para salvá-lo, até o que não deve. A pequena boneca solitária só
não sabia que quem ela salvava não era apenas um forasteiro com faces
tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano
do seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a
deixou marcada para sempre. Mas ali, diante da face do mal encarnada entre
os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão antiga, não é medo
que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.
Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?
Um inimigo antigo uniu os irmãos Ávilas em uma derradeira vingança. Daario e Paolo juntos, lado a
lado, abriram as comportas do inferno, trazendo carnificina e sangue para aqueles que machucaram
suas famílias.
A cada percurso da caçada, em uma busca cruel e implacável pelas suas mulheres, os monstros
estavam famintos por morte e justiça, fazendo aliados poderosos e alianças inquebráveis, deixando
um rastro de corpos por onde passavam.
A pequena bruxa Yara encontrou forças para lutar pela sua sobrevivência e do seu filho quando a
destemida pantera Katorze cruzou seu caminho de uma forma inesperada. As duas mulheres traziam
fé em seus corações de que seus monstros iriam libertá-las, afinal nem todo predador é fatal, mas
todos os monstros Ávilas criados pelo cruel Joaquim são assassinos.
Um amor além do tempo, do universo, do grande desconhecido. E se nada fosse o que realmente é? E
se entre seu mundo tivesse outro, onde magia e realidade se chocassem? Onde uma maldição foi
imposta, obrigando um príncipe do submundo a enxergar com outros olhos a raça que ele julgava a
mais inferior de todas. Onde fosse condenado a vagar por eras e eras em busca de uma estrela
solitária.
E se nada fosse o que é?
Uma maldição rogada por um erro cometido no passado faz Jesse correr contra o tempo, para
conseguir se libertar antes que a Lua de sangue se erga. Porém, o que para ele é maldição, para
Constância significa liberdade. Um segredo do passado entrelaça o futuro dos dois, mas Jesse não
imagina que a única pessoa que poderá libertá-lo é a mesma que poderá odiá-lo pelo erro que
cometeu.
Maria Eloiza estava acostumada com a batalha diária que a lavoura tinha e com o esforço sobre-
humano que seu trabalho lhe trazia. Seguia batalhando mais uma vez, atrás de outra usina, dando
graças a Deus quando essa apareceu, mas nunca imaginou que o canavial lhe traria mais do que já
estava acostumada a ter, até se perder nos olhos mais verdes que as plantações de cana.
Pedro Raia trazia o legado de sua família junto com ele. Mesmo renunciando aos sonhos que tinha,
aceitou voltar para casa quando foi convocado, cuidando de perto de cada um que entrava em suas
terras, pois nunca foi de ficar dentro de quatro paredes. Sua paixão pela terra era antiga, desde
menino trabalhava na lavoura. Gostava da terra em suas mãos, sabendo que era dali que vinha toda
sua essência. Mas sua vida mudou quando, entre mais uma remessa de boia-fria, a pequena cabocla,
com olhos assustados, lhe mostrou o mais puro brilho de sua alma. Dois mundos, que andavam entre
linhas finas, se chocaram. A realidade de um contra a vida do outro.
A vida sempre foi puxada para Maria Rita, fazendo-a se tornar o alicerce da sua casa e a moldando
para ser a presença materna e paterna para suas irmãs. Não é de riso fácil, e muito menos de ser
dobrada por homem, mas algo muda em sua vida quando seus olhos se cruzam com o peão chucro,
Zeca Morais. Ele fará de tudo para laçar a mulher endiabrada, que faz seu coração disparar. Um amor
nasce sem freios entre os dois em meio aos cafezais. E juntos terão que enfrentar um grande inimigo,
que fará de tudo para acabar com a vida de Zeca Morais.
João Paulo Guerra ama a vida que leva, sem ter que dar satisfação do seu destino para ninguém. No
entanto, ele tem apenas uma fraqueza, a qual nunca permitiu nem sequer se aproximar, pois é a sua
perdição. Uma criatura pequena, de boca atrevida, que sempre lhe provoca. A cada dia está mais
difícil ele esconder o sentimento que aumenta dentro do seu peito por Maria de Lurdes. Mas, entre
intrigas, mentiras e maldades que rondam Maria de Lurdes e João Paulo, eles se aproximam,
especialmente quando Maria é condenada por toda a cidade, com injúrias e calúnias sendo desferidas
contra ela. Porém, há um mal maior a espreitando, o que faz com que João jogue as cartas na mesa e
mostre o lado cruel da família Guerra para defender a pessoa que ama.
AVISO DE ROMANCE DARK
NÃO RECOMENDADO PARA LEITORES SENSÍVEIS.
CONTÉM CENAS DE VIOLÊNCIA, SEXO, ESTUPRO DE VULNERÁVEL, INCESTO,
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA, RELACIONAMENTO PERVERSO E NARCISISTA,
TRANSTORNO MENTAL E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA MENORES DE 18
ANOS.
PODE ACIONAR GATILHOS EMOCIONAIS.
Ginger Fox embarca para a Austrália, com destino a uma ilha remota, cheia de mistérios e segredos
escondidos entre as paredes da mansão Roy. O que começou como uma aventura, se transforma em
perigo quando recebe a proposta de um jogo erótico e envolvente, tão pecaminoso quanto os
pensamentos devassos que ela nutre pelo seu anfitrião. O que Ginger não sabe, é que seu oponente,
Jonathan Roy, é um astuto tratante, que a prende cada vez mais entre suas teias de sedução. E em
meio à sua curiosidade descabida pelo jogo, mais fundo ela se perde no mundo sadomasoquista, e a
paixão avassaladora por seu mestre a leva às últimas consequências. Ginger lutará para conseguir
sobreviver no mar de piche e mentiras que soterram a grande mansão da família reclusa.
Mabel embarca para Moscou atrás de esquecer o passado, mas os demônios
nunca deixam seus condenados por muito tempo. Mabel descobrirá muito
mais do que apenas prazer quando adentrar em Sodoma, sendo envolvida
em um jogo perigoso por um sedutor e charmoso russo. Czar Gregovivk
despertará Mabel da vida monótona que ela vive por tantos anos,
reprimindo seus desejos. Um enlace do destino a leva direto para o mais
letal oponente que já cruzou sua vida. De volta ao jogo em Sodoma, em
uma trama repleta de sedução, luxúria, perversidade e prazer, com ameaça
de novos e velhos inimigos que os espreita. Até onde você aguentaria a
submissão, antes de dizer GOMORRA?
Únicos
ATENÇÃO: CONTÉM CENAS ERÓTICAS E GATILHOS que podem gerar desconforto. NÃO
INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS.
Se me perguntarem se já era amor desde o início, garanto-lhe
com as minhas palavras salgadas pelas lágrimas que sim. Eu já o
amava antes do princípio, assim como no meio e fim. Nosso amor
mórbido e louco nos unia em nossa agonia chamada vida.
Se existia um inferno, eu iria para lá por ele, pois onde mais
dois pecadores poderiam descansar suas almas negras manchadas
pelos pecados da carne? E então, eu fui. Joguei-me de cabeça em seu
mundo. Conforme trazia Ben para mais perto de mim a cada sonho, a
cada parte dele que eu salvava, uma parte minha ficava presa em
seu labirinto. Em meu peito, onde batia um coração de uma menina
apaixonada, não importava em quantos pedaços eu teria que destruir
minha alma para salvá-lo, pois a loucura que o habitava era a mesma
que tinha morada fixa em meu coração.
Lizandra, essa sou eu, ou a sombra de quem eu fui um dia.
ATENÇÃO: CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA MENORES
DE 18 ANOS
Zelda estava preparada para tudo em sua vida: uma híbrida latino Afro-Americana com sangue
quente que desejava apenas ter uma chance para mostrar que não veio ao mundo para brincar. Queria
um lugar ao sol entre as indústrias de construção civil. O que ela não imaginava, no entanto, ao
aceitar o estágio na Indústrias Ozbornes, era que, junto com a porta do seus sonhos ao mundo do
negócios, também se abriria a porta dos desejos e fantasias quente como o inferno: seus dois chefões
em ascensão.
Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um segundo de descanso ganham,
misteriosamente, um sorteio relâmpago de rádio, que tem como prêmio uma estadia nas suítes
luxuosas do novo hotel da pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma coisa em comum: desejos
reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente se for uma menina malvada.
Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo de neonazistas violentos,
pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao encontrar o corpo do seu irmão junto a um
homem negro dentro do seu apartamento, ambos sem vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição
por catorze anos, jogado dentro da penitenciária federal, almejando apenas uma chance de descobrir
quem era o verdadeiro assassino do seu irmão. Sua chance veio acompanhada de um pro bono
misterioso, que lhe deu sua liberdade provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar com Eme, uma stripper
negra que o levou a questionar uma doutrina de uma vida inteira. Ele já não se sentia mais à vontade
com o grupo neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a aparecer pelas ruelas do
porto, assombrando todas as garotas de programa ao descobrirem que tinha um assassino em série
que matava por esporte, Handrey percebeu que mais alguma coisa tinha escapado junto com ele do
esgoto imundo que era seu passado.
Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda não acreditava que seu irmão
havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má justamente três
dias antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito menos velhinho Noel. Então resolveu se
vingar do tirano e por fim lhe dar uma lição que nenhum
Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às promiscuidades de Chicago, como
uma divindade do prazer, é proprietário do clube peculiar, nada ortodoxo e, sim, envolvente e
pecaminoso: a Odisseia, onde proporciona todas as experiências desejadas por seus clientes, para
aplacar seus prazeres mais obscuros. Mas, como todo semideus, Dom Lycaios tem sua fraqueza, e é
entre as paredes do seu templo da perdição que se vê sendo fisgado pela doce inocência de Luna, a
dançarina exótica, tão silenciosa e misteriosa, que o prende a cada movimento do corpo dela. Uma
perfeita sugar baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz aprisionado no canto mais
obscuro do seu ser. Luna não tem chances para escapar das manobras do implacável homem, que a
envolve em suas teias de aranha. Afinal, o prazer sempre fora o maior império de Sedrico.
Yane Rinna tem sua vida mudada da água para o vinho quando se torna testemunha principal de um
assassinato. Ela se vê obrigada a entrar em um disfarce para garantir sua segurança até o dia do
julgamento. E de uma stripper desastrada, inteiramente azarada, se torna uma freira monitora de
quatro adolescentes rebeldes. O que ela não imagina é que no último lugar que poderia sonhar, o
amor e o desejo puro estarão no ar. Dener Murati, o vizinho aristocrata do convento, tem seu
autocontrole testado por uma fajuta freira sexy, nada santa, que invade sua residência para se
refrescar na calada da noite, pelada, em sua piscina. A pequena feiticeira que o encanta vai virar sua
vida meticulosamente organizada de cabeça para baixo.
Cristina Self passou anos reclusa em seu mundo seguro, o qual criou para si mesma depois de uma
separação conturbada e violenta. Até que seu caminho se cruzou com o notório advogado
criminalista Ariel Miller, conhecido nos tribunais por seu cinismo e frieza calculista. Seduzida pelo
magnetismo que ele possui, a encantando com seu olhar intenso, Cristina se desprende do seu mundo
seguro, se permitindo se perder por uma única noite no calor dos braços do charmoso homem. Mas o
que Cristina não sabe é que o destino tem outros planos para eles, um que ligará as duas almas
quebradas para sempre. E de um engano nada angelical, mas sim completamente sexy e envolvente,
Cristina irá do céu ao inferno para viver sua história de amor.
AVISO DE GATILHO: o livro contém violência doméstica e relacionamento abusivo.
Doty só queria uma coisa: achar o miserável que engravidou Tifany e chutar o rabo dele até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou do sério e fazê-la
pagar por sua língua afiada e boca suja.
Uma proposta!
Sete dias!
E tudo foi para os ares!
Um pacto incomum entre duas amigas, na adolescência, as precede na vida adulta. Miranda Lester,
uma jovem universitária gananciosa e cínica, prestes a ter seu sonhado diploma, não vê impedimento
algum em tirar da prostituição o dinheiro que paga por seus estudos, pelo conforto da sua família e
pela vida de luxo que ela aprecia. Focada em uma meta que deseja bater antes de largar de vez seu
trabalho, cria um esquema de prostituição usando sua loja, a BDL, como fachada, entregando aos
seus clientes as melhores babás de luxo para adultos que eles possam desejar. O caminho de Miranda
se cruza com um intenso e poderoso admirador, o qual despertará emoções e desejos antigos nela,
silenciados por sua vida adulta precoce, que a fez amadurecer rapidamente. A chegada de Mr. Red
em seu caminho a faz questionar até onde realmente ela será capaz de ir para manter sua lealdade,
sua ambição por dinheiro e, principalmente, até qual ponto o amor pode levá-la. Um romance
intenso, envolvente, sórdido, soberbo e pecaminoso, com duas almas nefastas marcadas por seus
passados corrompidos, que acarreta em um enlace que os liga além da moralidade da sociedade.
[1]
No dicionário, o termo Mestre é um sinônimo de catedrático, professor e mentor. No SM, pelo
menos em grande parte dos círculos, existem diferenças. Enquanto o Mestre seria aquele que ensina
interagindo de forma física (sem relação de posse).
[2]
Segundo a mitologia egípcia, todas as formas de vida foram criadas por Rá, ao pronunciar seus
nomes secretos. Outras versões também afirmam que os seres humanos teriam sido criados a partir
das lágrimas e suor de Rá, o qual ficara tão esgotado pelo trabalho da criação, que lhe fora atribuído
por seu pai Nun.
[3]
Bastet era uma deusa da religião Egípcia Antiga, adorada a partir da segunda dinastia em 2890
a.C. Ela também era conhecida como Bast e era reconhecida como a deusa da guerra no Baixo Egito
antes da unificação das culturas.
[4]
Sim.
[5]
Devia ter me deixado alimentar ela ontem à noite. Parece um camelo faminto.
[6]
Vá fazer o que pedi em vez de brigar, mulher.
[7]
Não.
[8]
Nos relatos de Mateus 14:1-11 e Marcos 6:17-28, que em muito se assemelham, descreve-se uma
festa no palácio de Herodes Antipas, na qual Salomé, sobrinha e enteada do tetrarca, dança para ele.
Entusiasmado com o espetáculo, Antipas (provavelmente embriagado) compromete-se a lhe dar a
recompensa que ela houver por bem pedir.
[9]
Personagem de Gomorra, um dos principais conselheiros de Sodoma.
[10]
Bom dia.
[11]
Senhor.
[12]
Bom dia, belo Corcel.
[13]
Bom Deus, o sangue não desceu ainda.
[14]
Obrigada.
[15]
A burca, também chamada de chadri ou paranja na Ásia Central, é uma veste feminina que cobre
todo o corpo, até o rosto e os olhos, porém nos olhos há uma rede para se poder enxergar.
[16]
Ali Babá, em árabe: é uma personagem fictícia baseada na Arábia pré-islâmica. O conto está
descrito nas aventuras de Ali Babá e os Quarenta Ladrões, que faz parte do Livro das Mil e Uma
Noites ou Noites na Arábia.
[17]
Ramsés pediu para avisar que não irá poder vir jantar.
[18]
Presente, presente.
[19]
Personagem do livro Sodoma e do livro Gomorra.
[20]
Minha estrela.
[21]
Me transformou em um homem fraco repleto de demônios.
[22]
O que era?
[23]
A semente cresce dentro do seu útero.
[24]
Personagem principal do livro Gomorra.
[25]
Prima de Czar Gregovivk, personagem de Gomorra.
[26]
Os deuses abençoaram-te.
[27]
Fechem os portões.
[28]
Simbad ou Simbá, o Marujo (também grafado Sinbad, Sindbá[1] ou Sindbad; em árabe: اﻟﺴﻨﺪﺑﺎد
اﻟﺒﺤﺮ ي, transl. as-Sindibād al-Baḥri; em persa: ﺳﻨﺪﺑﺎ د, transl. Sendbād) é um ciclo de histórias de
origem no antigo Oriente Médio. Simbad, o herói destas histórias, é um marinheiro fictício originário
de Bagdá, que viveu durante o califado abássida. Suas sete viagens pelos mares a leste da África e a
sul da Ásia o fazem passar por inúmeras aventuras fantásticas que incluem encontros com povos
estranhos, seres monstruosos e fenômenos sobrenaturais, como ciclopes.
[29]
Também tem a mim.
[30]
Kamasutram, geralmente conhecido no mundo ocidental como Kama Sutra, foi um antigo texto
indiano sobre o comportamento sexual humano, durante as antiguidades, sendo amplamente
considerado o trabalho definitivo sobre amor na literatura sânscrita.
[31]
Sua comida, senhor.
[32]
Nome de Deus no Islão.
[33]
Unidade de ouro da cunhagem do Império Sassânida e mundo islâmico, bem como uma unidade
monetária.
[34]
Cachimbo bem grande de água, conhecido em alguns países como narguile, arguile, hookan e
chamado de shisha no Egito.
[35]
Pare.
[36]
Interessante, muito interessante.
[37]
Tire-a daqui.
[38]
Personagem principal de Sodoma.
[39]
Uma puta.
[40]
Garota.
[41]
Deus.
[42]
Mulher.
[43]
Não.
[44]
Juiz de Sodoma, personagem de Gomorra.
[45]
Senhora.
[46]
Senhor.
[47]
Donzela.
[48]
Jovem.