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CIP – Brasil. Catalogação na Fonte

Catalogação pela editora.

Capa: Jessica Gomes


Revisão: Andreia Tonello
Diagramação: Daniella Moreno

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com nomes, datas e acontecimentos
reais são mera coincidência.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte destas obras, através de


quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Todos os direitos reservados.

Criado no Brasil.
Quero agradecer em primeiro lugar a Deus, que me sustentou até aqui.

As minhas leitoras, que depositaram a confiança nesta autora e leram a obra mesmo sem
estar concluída. Agradeço também as meninas do “Fã Clube da Olívia”: Cassia, Cauane,
Shirley, Larissa, Julianny que leram e me deram as suas impressões sobre a obra.

Agradeço aos amigos e autores Tom Adams e Cinthia Basso que me ajudaram na
divulgação. Não posso esquecer também das meninas do Vale Ler, que são peças importantes
na minha vida: Jéssica Bidoia, Renata Barbosa, Veveta Miranda, Bah Pinheiro, Mônica
Rodrigues, Mag Alves, Ariane Fonseca, enfim... a lista é enorme.

E principalmente ao meu marido que apoiou minhas decisões e ouviu cada uma das
minhas ideias para dar um desfecho decente para essa história. Agradeço a minha mãe que
muitas vezes teve que lidar com os clientes para que eu pudesse escrever sem interrupções.

Jéssica Gomes pelas maravilhosas capas e toda a equipe da Editora Livros Prontos que
apostou em mim e nesse casal nada convencional.

Obrigada a todos de coração.


Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capitulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Dedicatória:

Para Marcos Molinari, que não riu quando eu chorei ao terminar de escrever essa história.

Playlist com as músicas que foram inspiração:

http://sptfy.com/2jYS
“Eu já fui longe demais

Vivendo como se não estivesse viva

Então, começarei novamente esta noite

Começando com você e eu”

Miracle - Paramore
Naquela manhã fria de janeiro, pessoas sumiam dentro de seus casacos e botas de inverno.
O Central Park, enfeitado com neve e árvores despidas de suas folhagens, denunciava que
aquele seria mais um inverno rigoroso para a população.

Edward, sentado num dos bancos de madeira, pega o jornal com as mãos enluvadas e
passa os olhos pela seção de empregos. Dias antes, fora demitido do único emprego que
conseguira após chegar de Londres, uma lanchonete do McDonald’s.

Folheou algumas páginas até que seus olhos pousam em um anúncio chamativo. No
jornal, dizia que a vaga era para assistente, deixando bem claro, que a preferência era por
homens.

Arqueia a sobrancelha estranhando o fato, afinal, essas vagas eram direcionadas às


mulheres no geral. Dando de ombros, checou o endereço e viu que não estava tão longe.

Levanta-se e olhou para os lados. Cumprimenta um grupo de senhoras que lhe sorriram
abertamente, enquanto, aparentemente, mantinham sua rotina de exercícios. Balançou a cabeça
negativamente quando se foram. Quem diabos tinha coragem de sair de casa, com um frio de
matar, para correr sem rumo? Se não tivesse que arrumar um emprego, provavelmente estaria
em casa, debaixo de suas cobertas, assistindo um filme e comendo até não aguentar mais.

Olhou no relógio e decidiu ir logo, antes que a vaga fosse preenchida por outra pessoa.

O céu estava nublado e quando menos esperava, uma forte chuva cai enquanto se
direciona para a saída do parque.

Edward revira os olhos e levanta o polegar para o céu.

― Obrigado Deus!
Não tinha escolha, senão correr o mais rápido que podia. Não sabia o que aquilo
significava, então preferiu acreditar que aquela chuva era um presságio de coisas boas.

Não adiantou correr, afinal Edward chega ao local mais ensopado que qualquer outra
coisa. Mas não havia como desistir, se alguém lhe roubasse a vaga, poderia dar adeus às suas
perspectivas de vida em Nova York.

O prédio, de mais de vinte andares, se destacava pelas enormes vidraças e poderia muito
bem tornar-se um ícone dos turistas. Respira fundo e entra e fica impressionado com o ar
acolhedor que aquele lugar proporcionava. Estava quente lá dentro, o que o fez tirar o casaco
imediatamente. Por sorte, as suas roupas de baixo mantinham-se secas.

Aproxima-se do balcão, onde três moças conversavam alegremente. Uma delas o atende,
abrindo um sorriso encantador. Esclarecendo seu propósito ali, a moça fez uma breve ligação e
o mandou em direção ao elevador.

Aquele elevador era, provavelmente, um dos mais rápidos que já havia entrado. Em
questão de segundos o leva até o último andar. Ao passar pelas portas de aço, observa um
pouco do local. Um grande escritório, mesas espalhadas e pessoas correndo de um lado para o
outro.

Na mesma direção de onde estava, vê um balcão acinzentado e uma mulher loira sentada
atrás, usando um headset.

A mulher o fita de repente e abre um leve sorriso.

― Edward Smith, certo?

Ele assente e se aproxima do balcão, por sorte, tinha um currículo consigo que não estava
molhado pela chuva.

― Eu vim pela vaga de assistente.

A secretária sorri.

― Sim, imagino. – murmura. ― Dê-me seu currículo.

Edward lhe entrega o papel e se debruça no balcão. A jovem rola os olhos pelo papel e o
fita novamente.
― Ótimo, sente-se ao lado daquele jovem. – aponta para o corredor, onde tinha algumas
cadeiras. ― Vou informar à minha chefe que estão aqui para a entrevista.

Edward assente e observa quando a jovem de estatura baixa, magra e de olhos claros se
direciona até a sala no final do corredor. Claro que não deixa de se atentar ao fato dela dizer
“minha chefe”. Uma mulher comandava aquela empresa, então era certo que as coisas seriam
muito mais fáceis do que previa. Era experiente ao lidar com as mulheres, não é que seu
passado fosse dos bons, mas elas sempre caíram aos seus pés. Imaginou que com essa não seria
diferente.

Algum tempo depois, a jovem volta com algumas fichas em mãos. Ela lhes dá para que
anotassem todos os seus dados. Logo após, segue novamente para a sala da chefe e volta,
anunciando o primeiro a ser entrevistado.

O primeiro rapaz se chamava Francês. Magro, alto, com óculos e cabelo penteado para
trás. Aparentemente, era quieto e tímido. Edward resolve se aproximar da secretaria para saber
um pouco mais sobre a empresa e sobre a tal chefe. A jovem sorri quando se encosta ao balcão
com um olhar zombeteiro.

― Deseja algo, senhor Smith? – pergunta voltando sua atenção ao computador.

― Desejo conversar com a senhorita. – responde docemente. ― Se é que podemos...

A jovem sorri novamente.

― Não acho que minha chefe irá gostar de me ver aos papos no meu expediente.

― Entendo... – coça o queixo. ― Isso te desconcentraria certo? – pergunta cinicamente.

― É, digamos que pelo fato da minha chefe ser um pouco... er.. nervosa – balança a
cabeça nervosamente. ― Não, ela não é nervosa.

A secretária tenta retroceder no que havia dito, mas aquele rapaz era mais esperto.

― Será que ela é tão má assim? – pergunta, querendo colher mais informações.

― Se você conseguir o emprego irá conhecê-la. – sorri. ― Só não a chame de megera. –


sussurra. ― O último assistente foi jogado, literalmente, na rua!

Edward ri abertamente. Agora queria realmente conhecer a tal chefe. Em sua mente,
imagina uma velha, chata e insuportável que, há essas horas, deveria estar em um asilo jogando
bingo.

― Mas no fundo ela é legal, me deu até bom dia hoje. – a moça diz despreocupadamente.
A porta se abre e de lá sai um jovem mais branco que uma folha de papel e se vai sem
nem ao menos dizer o que havia acontecido. Simplesmente passa por eles, o mais rápido que
pôde e entra no elevador.

― Sua vez, meu caro. – a moça sorri maliciosamente e estende a mão para a direção que
deveria seguir.

Edward engole em seco, apreensivo no primeiro momento, mas depois relaxa e se prepara
para dar um show e enfrentar a velhota.

Caminha pelo pequeno corredor e gira a maçaneta, confiante de que aquele seria o seu
emprego. Não tinha essa de chefe megera, essa senhora iria ver que estava pronto para tudo.

Ao entrar na sala, teve que engolir todas as suas palavras. Mas que velhota era aquela?

A mulher estava em pé e de costas para a porta, observando a lindíssima vista de Nova


York, enquanto fumava um cigarro.

Ela não percebera que o homem entrara em sua sala e a observava em silêncio.

Edward não queria, mas seus olhos teimaram em descer pelas curvas femininas. Ela não
se parecia em nada com uma velhota, pensa alarmado. A não ser que seu corpo fosse de uma
jovem e o rosto... quem sabe.

Pigarreia e a mulher se vira, encarando-o friamente.

― Sente-se. – ela ordena, apontando para a poltrona na frente de sua mesa.

Ele se senta e por um segundo, soube que prendia a respiração enquanto a olhava.
Amaldiçoar-se-ia mil vezes por achar que a “chefe” era uma idosa que deveria estar em um
asilo. Observa os cabelos castanhos, levemente ondulados, caindo pelos ombros. Olhos verdes
carregados pela maquiagem e os lábios pintados de vermelho, que a deixaram, no mínimo,
estonteante.

― Senhor Smith? – a mulher o chama ao perceber que o homem parecia estar em outra
dimensão.

― Me, me desculpe. – gagueja. ― O que a senhorita dizia?

Ela desce o olhar para os papéis em sua mesa.

― Formado pela Universidade de Oxford? – pergunta um tanto quanto espantada. Ele


balança os ombros, como se fosse algo comum.

― Sim. Estou em busca de experiências. – esclarece.


Sabia que não deveria ter colocado no currículo nada sobre Oxford. Afinal, o que um
suposto ex-aluno da Universidade de Oxford estaria fazendo nos Estados Unidos mendigando
por um emprego?

A mulher continua lendo o currículo. É claro que não tinha acreditado sobre Oxford.
Pensa em dispensá-lo, porém, viu algo diferente entre tantos candidatos que entrevistara
naquele dia.

Edward desceu os olhos na placa de metal em cima da mesa, que indicava seu nome:
Elizabeth Louise Adams. Um belo nome, para uma bela mulher.

Percebe, também, que não era muito falante, porém, algo em sua postura lhe chamou a
atenção. Primeiro, quando o encarou com intensidade e logo depois, com frieza. Não que ela o
intimidasse, mas pensou seriamente em virar as costas e sair dali. O problema é que precisava
ficar até o fim e ver se conseguia aquela vaga.

A mulher coloca o papel de lado e volta a encará-lo.

― Tem alguma experiência como assistente pessoal?

― Não... – responde devagar, tentando encontrar as palavras certas. ― Mas, tenho


certeza de que farei o melhor para não desapontá-la.

Elizabeth fica em silêncio por alguns instantes, observando-o.

― Senhor Smith, sabe por que não contrato mulheres para esta vaga? – pergunta
friamente.

Edward pensa em dizer que, talvez, ela gostasse de algo mais que um simples assistente.
Um gogo boy, quem sabe? Definitivamente, decide calar sua boca, antes que o chutasse para
fora dos Estados Unidos.

― Não sei senhorita.

A mulher abre um pequeno sorriso diabólico.

― Elas não me aguentam um dia sequer. O senhor tem certeza que gostaria da vaga?

Edward nunca se intimidou diante de desafio algum, mas desta vez, aquela mulher
conseguira. Respira fundo, colocando seus pensamentos em ordem, imagina que essa mulher,
deveria ser amiga íntima de Miranda Priestly.

― Eu preciso deste emprego e garanto que irei fazer o melhor. – responde se


estabilizando.
A mulher assente, pega uma caneta e assina alguns papéis.

― Leve essa papelada para Jane e ela cuidará de tudo. Comece amanhã. – determinou. ―
É um prazer tê-lo em nossa empresa, senhor... – olha para o papel. ― Smith.

Com educação, lhe estendeu a mão para cumprimentá-lo. Edward a apertou de volta.

― O prazer é meu, ao fazer parte desta equipe, senhorita... – olha para a plaquinha de
metal. ― Adams.

Eles se olharam por alguns instantes, enquanto suas mãos estavam coladas num
cumprimento demasiado longo. Elizabeth não responde, apenas recolhe sua mão.

Edward não sabia se elogiava seu nome, sua aparência ou se caía fora. Ficou com a
terceira opção. Ela era muito séria, entretanto, não tinha certeza se era uma “megera” como
havia descrito a secretaria loirinha.

― Até amanhã então, senhorita Adams.

Edward sorri, porém, ela não sorri de volta. Ele nem imaginava, mas a sua vida estava
prestes a mudar irremediavelmente. Elizabeth Adams não era qualquer mulher. Além de
carregar uma companhia nas costas, tinha de lidar com seus próprios demônios.

Saiu da sala, carregando um sorriso vitorioso. “Essa foi moleza!”


O celular despertou ao som de You Shook Me All Night Long do AC/DC e Edward salta
da cama. Não podia, e nem era certo, chegar atrasado ao seu primeiro dia de trabalho. Abre o
chuveiro, toma um banho bem rápido.

Com rapidez se seca e veste suas roupas, que foram cuidadosamente escolhidas na noite
anterior. Foi até o espelho, passa gel no cabelo e o penteia para trás, mas depois de ver que
parecia Frances, o rapaz do dia anterior, dá uma leve bagunçada nos fios.

Pega sua mochila e sai disparado do prédio antigo, localizado no Brooklyn. Na verdade
odiava morar ali, mas era o que conseguia pagar com o dinheiro que sua mãe insistia em lhe
enviar a cada quinze dias. Edward não podia reclamar, afinal de contas, era membro de uma
família muito importante e riquíssima do Reino Unido. Porém, como a vida nem sempre é do
jeito que se planeja, após desentendimentos com sua família, principalmente com seu pai,
arrumou suas malas e decidiu tentar a vida em outro país, longe da pressão, obrigações e regras
das quais não gostava de seguir.

Após desembarcar na estação da Times Square, passa pela sua cafeteria preferida e pega
um para a viagem. Pensa em levar um copo para sua nova chefe, mas receia que ela jogasse o
conteúdo em sua face, e isso, de certa forma, não seria nada bom.

Despede-se da balconista e caminha mais algumas quadras até a avistar o luxuoso prédio.
Respira fundo e entra esperançoso que aquele seria um bom emprego e tudo daria certo.

Particularmente, não estava acostumado com lugares tumultuados, em Londres, viveu


muito tempo a sós com seus irmãos e suas obrigações.

Olha para os lados, eram executivos agitados, com papéis nas mãos, cada um com suas
funções, ocupados em seus celulares. Aperta o botão do elevador e subo até o último andar,
local, onde trabalharia.
Ao sair do elevador vê que a secretaria loirinha já estava em sua posição, atrás do
gigantesco balcão acinzentado.

― Senhor Smith. – ela o cumprimenta com um pequeno sorriso. Edward se aproxima.

― Bom dia...? – fez uma careta de interrogação.

― Jane.

― Isso. Jane – abre um sorriso envergonhado. ― Acostume-se porque sou muito


esquecido.

― Sem problemas. – Jane assente. ― Está preparado para o seu primeiro dia?

― Oh... claro que... nem um pouco!

Jane ri e antes que pudessem prolongar a conversa o elevador se abre e de lá sai sua nova
chefe e um rapaz ao seu lado. A mulher usava roupa social com um casaco preto por cima.
Também usava luvas e um cachecol azul marinho. Poderia temer seu novo emprego, mas não
podia deixar de admitir que sua chefe era uma mulher maravilhosa.

― Bom dia. – ela os cumprimenta secamente.

Elizabeth fita Edward da cabeça aos pés com cara de poucos amigos.

― Edward, este é Anthony Carter e ele irá lhe mostrar o que fazer.

Anthony era alto, cabelos claros e porte físico de atleta. Podia estar vestido como um
exímio executivo, mas seu ar jovial transparecia ser um bom amigo ao contrário da mulher.

― Então você é o Edward. – Anthony lhe estende a mão. ― Muito prazer, eu vou ser seu
orientador por enquanto.

― Faça o que ele diz e não o que ele faz... – resmunga Elizabeth, enquanto seguia para
sua sala.

O rapaz coçou a cabeça, desconcertado.

― Ela é um pouco difícil. – Anthony murmura. ― Mas ainda acho que Michael é pior.

― Duvido. – Jane deixa escapar e os dois olham para ela. ― Claro que... no fundo a
chefe é muito legal.

Anthony arqueia a sobrancelha.

― Tomou suas pílulas de Valeriana hoje Jane?


A jovem sorri e Edward, por algum motivo, intui que Anthony e Jane seriam seus únicos
amigos naquela empresa.

― Venha por aqui.

Elizabeth Adams é a chefe e isso, por vezes, se mostrava um grande fardo para uma
mulher de apenas 27 anos. Infelizmente, uma brutalidade acontecera há cerca de três anos e
isso fez com que a jovem reunisse forças e tomasse a frente da empresa. Jamais deixaria que
Michael e sua irmã assumissem o posto que lhe era direito.

Michael Sanders era seu noivo, e por sua vez, ostentava a pose de senhor dos senhores.
Arrogante e prepotente, essa era a sua definição entre os funcionários. Pelos corredores, os
buchichos corriam de que Michael e Elizabeth eram perfeitos juntos, cada um no seu grau de
chatice e arrogância.

Havia uma pilha de papéis sobre sua mesa, coisas que deviam ter sido revisadas por Alex,
seu ex-assistente, que fora demitido após gritar aos quatro ventos que sua chefe era uma
megera.

Fora um escândalo. Todos os outros funcionários ficaram em silêncio, assistindo a cena


boquiabertos. Claro, que por baixo dos panos, aplaudiam o corajoso Alex. Afinal, quem ali
teria coragem de dizer uma coisa assim aos quatro ventos?

Elizabeth deixa um pouco de lado a sua pilha de papéis e gira a cadeira para ficar de
frente com as enormes vidraças de sua sala. Tinha uma ampla vista da cidade de Nova York,
que tirava o fôlego de qualquer um que tivesse a sorte de visitá-la.

Olha para trás quando ouve a porta se abrindo. Anthony se desculpa e ela assente.

Edward e Anthony atravessaram a sala, indo em direção à outra porta que dava para uma
sala pequena. Edward entra na salinha que nada mais era que um cubículo sem ventilação.
Olha para todos os cantos e vê o grandalhão encostado na porta com um sorriso irônico nos
lábios.

― Essa é a minha sala? – pergunta surpreso.

― É sim... por enquanto. – explica. ― Elizabeth está reformando a outra sala que era de
seu assistente, que de repente teve um surto e... – fez uma pausa. ― Mas acho que já deve ter
ouvido essa história.

Edward assente. Até que a salinha não era tão ruim assim, pensa. Tinha uma mesa, um
computador de última geração, alguns armários, um telefone e o melhor, era afastado das
outras pessoas, tirando o fato de que estaria mais perto de sua chefe.

― Quanto tempo ele irá ficar aqui, Lisa? – Anthony pergunta quando os dois já haviam
saído da salinha.

― O tempo que for necessário. – responde secamente.

Edward agradece aos céus por não ter sido ele a fazer a pergunta. Ela era azeda mesmo.

― Acho uma judiação um funcionário ficar nesse cubículo. – Anthony alfineta.

O cara gosta de desafios, conclui, fitando-o de soslaio.

Elizabeth dá de ombros e pega um papel em sua gaveta. É quando alguém abre a porta.
Edward se vira e vê um homem bem vestido, de terno cinza, cabelos negros, alto e de boa
aparência.

― Meu amor... vejo que está ocupada. – Diz o homem após examinar Edward dos pés a
cabeça.

― Olá para você também, Michael. – Anthony resmunga.

O homem o fita com desdém.

― Olá, Anthony.

― O que você quer? – Elizabeth pergunta com impaciência.

Então esse era o tal Michael, pensa Edward. Era possível não ir com a cara de uma
pessoa tão rápido?

O homem vira para sua noiva e bufa.

― Preciso falar com você, vou esperá-la em minha sala.

― Antes que saia... – Elizabeth se levanta. ― Este é Edward Smith, meu novo assistente.

Edward estende a mão para cumprimentar o homem, que de pronto a ignorou. A única
certeza que teve era que aquele tal Michael não seria nada fácil.

Que casalzinho adorável, pensa com ironia.


― Não entendo essa insistência em contratar assistentes homens. – resmunga. ― Não
vejo necessidade.

― Mas eu vejo. – Elizabeth retruca, sem paciência. ― Me espere em sua sala. Logo
estarei lá.

Michael bufa, vira as costas e sai.

Anthony pigarreou como se quisesse espantar o clima ruim.

― Melhor continuarmos conhecendo a empresa...

Edward assente e ambos saem da sala, deixando a mulher sozinha com seu próprio mau
humor. Anthony o guia por todos os departamentos. Mostra-lhe onde era a sala de Michael, sua
própria sala e, também, onde era a área de descanso, onde os funcionários normalmente se
reuniam quando queriam promover um motim.

― Um motim? – pergunta descrente.

― Você ainda não conhece a Elizabeth... – Anthony suspira.

Edward se sente confortável naquele lugar. Sabia que seria difícil, mas também não
esperava facilidades, era tudo questão de prática e assim que se acostumasse com sua nova
chefe, a vida seria mil vezes mais tranquila.

Após algum tempo conversando e descobrindo sobre o lugar que trabalharia, Anthony
finalmente o libera para que pudesse começar suas obrigações. É com um pouco de receio que
entra na sala e vê Elizabeth lendo alguns papéis. Estava com a cabeça baixa, profundamente
concentrada no que fazia. Decide então seguir para sua sala e se instalar.

― Mandei que trouxessem as correspondências para a sua sala, verifique quais são as
minhas e o restante distribua em cada setor.

Edward ouve a voz autoritária e apenas assente. Segue para sua sala perguntando aos céus
se era realmente uma boa ideia estar bem ao lado de sua chefe.

Ao entrar em sua sala, não se enganou, a mesa estava forrada com uma pilha de cartas a
sua espera e teria que separá-las o mais rápido possível.

As horas passaram rapidamente e Elizabeth se pergunta por que seu assistente ainda não
havia saído para o almoço, já que ela mesma estava morrendo de fome. Levanta-se e dá duas
batidas na porta, abrindo-a logo em seguida.

― Vou sair para almoçar, se quiser, pode ir também.

― Tudo bem. – responde o rapaz. ― Eu já vou.

Elizabeth vê que não estava errada. O rapaz sentia-se envergonhado e desajeitado.


Repensa, mais uma vez, a ideia de tê-lo contratado.

Senta em sua cadeira para fechar alguns arquivos no computador e observa quando ele
pega sua mochila e sai meio desajeitado. Após sair da sala, Edward recebe um olhar
apreensivo da recepcionista. Ele sorri, tranquilizando-a.

― Primeira parte do dia concluída com sucesso!

Jane assente e lhe sorri.

― Não fique feliz por muito tempo, ela vai lhe pagar muito bem, mas saiba que será sorte
sua se aguentá-la por um mês.

Edward sorri presunçosamente enquanto se esparramava pelo balcão.

― Mulheres não me intimidam.

Jane ri nervosamente e Edward não percebe que atrás de si, estava Elizabeth, observando-
o com alguns papéis na mão.

― Acho isso ótimo, senhor Smith. – diz a voz tempestuosa. ― Vejo que não falhei em
minha decisão ao contratá-lo. – se aproxima do balcão e estende os papéis para a secretária. ―
Tome conta desses assuntos, Jane. Irei almoçar com Michael, mas logo estarei de volta.

― Sim, senhorita. – responde a jovem, com a voz baixa.

Edward não sabia qual cor era melhor para descrevê-lo naquele embaraçoso momento.
Azul? Roxo? Vermelho? Tudo o que queria, era que se abrisse um buraco sob seus pés. Porém,
mesmo envergonhado, olha discretamente para a mulher e a cumprimenta com um sorrisinho e
um aceno com a cabeça.

― Por que não me disse que ela estava ouvindo? – Queixa-se alarmado.

Jane o fita com o riso em seus olhos.

― Tenho certeza que será um ótimo começo meu caro.


Elizabeth observa que seu novo assistente era um pouco folgado, mas, se ele pensava que
teria moleza, estava muito enganado. Ela era a chefe e o colocaria em seu lugar num estalar de
dedos!

Depois do ocorrido naquela tarde, sai para almoçar com Michael e logo volta ao
escritório. Edward também não se atrasa, passando por ela com um sorriso amarelo. Elizabeth
não fez questão de lhe dirigir a palavra durante toda à tarde.

Para Edward, o dia tinha sido produtivo. É claro que, ainda demoraria até se acostumar
com a empresa, mas tinha certeza que passaria do primeiro mês.

No outro dia, Elizabeth levanta mais cedo que o costume. Rapidamente toma banho e
escolhe sua roupa de trabalho. Meias calças grossas, saia e uma camisa social, além, de um
casaco bem grosso. Aquele dia não estava tão frio, mas era imprescindível que saísse de casa
preparada, nunca se sabia quando poderia esfriar mais.

― Bom dia senhorita Adams. – Jofrey, seu mordomo, a cumprimenta enquanto descia as
escadas.

― Bom dia, Jofrey.

Podia ser uma mulher insuportável, mas não era mal educada.

― O café da manhã pode ser servido? – pergunta delicadamente.

― Não é necessário, preciso chegar mais cedo na empresa para resolver algumas coisas.

O mordomo assente e se retira para a cozinha. Elizabeth pega as chaves de seu carro na
bolsa, olha para os lados e as lembranças invadem sua mente. Balança a cabeça tentando
afastar aquelas imagens e vê que era melhor se apressar, nunca sabia quando imprevistos
podiam acontecer.

Edward teve a pior noite da sua vida. Ao chegar à esquina de seu prédio, foi assaltado. O
bandido só não levou sua mochila, sabe-se lá Deus por que, porém, o premiado foi seu celular,
que não fazia nem três meses que havia sido adquirido.

Sabe aquela famosa cena de chegar à delegacia e os policiais nem lhe darem atenção,
enquanto comem rosquinhas e assistem vídeos engraçados no celular? Pois é, foi exatamente
isso que encontrou ao chegar lá.

― Compra outro celular, colega. – um dos policiais murmurou ao avistá-lo.

Se queria seu celular de volta, teria que ele mesmo encontrar o bandido e dar-lhe uma
lição, mas como tinha dinheiro na conta, resolveu comprar outro.

Saiu mais cedo de casa e pegou o metrô que o faria chegar ao coração de Manhattan.
Aquela cidade era mágica. A cada esquina, sentia-se dentro de um filme. Subiu as escadas do
metrô e deu de cara com o cruzamento mais famoso do mundo, a Times Square.

Edward caminhou um pouco e encontrou uma loja especializada em eletrônicos. Entrando


lá escolheu o mesmo modelo, a diferença para o anterior era mínima e agora que estava
empregado, poderia dar-se ao luxo. Saiu de lá com o aparelho já funcionando e então olhou no
relógio, ainda faltavam quarenta minutos para começar o seu expediente.

Como ainda tinha tempo de sobra, caminhou até a sua cafeteria preferida.

Elizabeth não acreditava no que estava acontecendo. O trânsito em Nova York sem
dúvidas era dos infernos, mas aquele dia estava pior. Faltava cerca de quarenta minutos para
seu horário normal e com aquele atraso, seus planos de chegar mais cedo, desciam por água a
baixo.

Para ajudar, seu celular começa a tocar insistentemente. Sua bolsa estava no assoalho do
carro e com certa dificuldade, equilibrando-se entre dirigir e pegar a bolsa, finalmente
consegue abri-la.

― Inferno! – resmunga contrariada, pois no momento em que o pega, para de tocar.

Dividida entre dirigir e atender ao telefone, que começou a tocar novamente, Elizabeth
perde o controle, joga o celular no chão e freia bruscamente.

Como uma pessoa conseguia andar com dois copos de café na mão e tentar usar o celular,
ao mesmo tempo? A sorte da pessoa foi que conseguiu frear, mas em compensação, os copos
de café caíram no capô de seu carro, derramando todo o líquido.

― IMBECIL! – Elizabeth vocifera ao sair do carro. Foi então que paralisa ao ver o rosto
do indivíduo.

― Oi... chefe.

Novamente, Edward não sabia onde enfiava a cara. Como poderia ter sido tão idiota ao
tentar atender o celular, segurando dois copos de café na mão, numa avenida movimentada?
Ele certamente era um imbecil de marca maior.

A mulher respira fundo e conta até dez mentalmente.

― Mas que diabos estava pensando, Smith? – vocifera. ― A sorte é que consegui parar!
Ou então, a essas horas você estaria em outra dimensão! – apontando para o capô do carro,
bufa. ― Olha a porcaria que ficou meu carro!

Edward olha para o capô do Mercedes branco, um dos copos continha Chantilly.

― Me desculpe. Um desses cafés era pra você... – murmura chateado.

Elizabeth poderia tê-lo mandado ao inferno com suas boas intenções. Entretanto, pela
primeira vez, ficou sem palavras.

O trânsito volta a andar e os outros motoristas buzinavam impacientes.

― Entre no carro. – ordena. Ao ver que Edward não se movia, dispara ― Quer se atrasar?

Edward engole em seco e rapidamente entra no lado do carona. Impressiona-se quando vê


que o carro dela era bem limpo e organizado. Um ponto que deveria guardar em sua mente: Ela
gostava de organização.

Elizabeth estava com raiva ainda, mas não iria discutir por besteira. Poderia ter sido bem
pior, como por exemplo, ter atropelado seu próprio assistente. Seria um escândalo, no mínimo.

Ao olhar de canto, nota que o rapaz não para de mexer no celular.


― É, parece que hoje não estou com muita sorte. – Edward murmurou em voz baixa,
porém, ela ouve.

― Por quê?

Na verdade não lhe interessava os motivos.

― Fui roubado ontem à noite e hoje fui comprar este celular, mas parece que já está com
defeito.

― Eles trocam... é só levar a nota da compra. – pondera.

― É sim, vou fazer isso depois do expediente.

― Se quiser, vá ao horário do almoço, se atrasar um pouco não tem problema.

Edward quase arregala os olhos. Não esperava que o permitisse chegar atrasado para
resolver um problema pessoal.

― Obrigado. – diz após alguns segundos.

Elizabeth assentiu surpresa com ela mesma. O silêncio reinou o pouco tempo que ficaram
no carro. Edward pôde observar como sua chefe era uma boa motorista, além, é claro, de ser
muito bonita. Nariz fino e delicado. Os olhos verdes mais bonitos que já vira em sua vida. Seus
cabelos castanhos tinham alguns reflexos mais claros. Tenta desviar o olhar, mas era
praticamente impossível.

Eles chegam ao estacionamento subterrâneo do prédio. Elizabeth para em uma vaga


qualquer.

― Quer que eu o leve para lavar? – Edward pergunta, apontando a cabeça em direção ao
veículo.

― Vou mandar alguém buscar o carro, preciso de você no escritório. – dispara.

Edward assente e dá graças a Deus por aquele incidente não ter resultado em algo pior.
Jamais poderia imaginar que, por obra do diabo, derrubaria café justo no carro de sua chefe,
logo em seu segundo dia de trabalho.

Após trancar o carro, Elizabeth sai na frente, caminhando elegantemente em seus saltos
Louboutin.

Edward tenta desviar o olhar, sem sucesso. “Como não olhar para uma mulher tão
bonita?” pensa enquanto a seguia.
Ao chegar ao escritório, Elizabeth é informada que teria uma reunião na parte da manhã.
Rápida já incluiria Edward nos assuntos da companhia.

Elizabeth estava cada vez mais concentrada em seus afazeres. A verdade é que seu
trabalho era como uma válvula de escape para os seus problemas, afinal, o que podia fazer?
Todos os dias sua rotina era a mesma: Levantava, se arrumava, ia para o trabalho e depois de
um longo dia voltava para a solidão de seu apartamento. Solidão, porque mesmo carregando
um anel de noivado, Michael não preenchia os espaços em branco de sua vida.

Ao analisar alguns papéis, se preocupou. Assumira a presidência há alguns anos e as


coisas não iam bem. O problema não era a falta de clientes. Sua mente começava a se ocupar
com uma possível crise.

Perdida em pensamentos que o telefone toca. Jane lhe pergunta se poderia transferir uma
ligação.

― Pode passar – responde seriamente.

O telefone deu três bipes.

― Oi Lisa! Tudo bem? É o Jason...

― Oi Jason. Tudo bem e com você?

― Estou bem, obrigado. Você recebeu o convite que lhe enviei?

― Convite? – pergunta surpresa.

― Sim, já era para estar em suas mãos. – ele riu.

― Ah... – Elizabeth coça a cabeça. ― Eu estava com alguns problemas aqui na empresa,
com a falta de um assistente, mas agora creio que resolvi. Espero que meu último contratado
seja eficiente.

Elizabeth ouve o amigo rir outra vez e dizer que a esperava no local indicado no cartão e
se despediu.

Jason e Elizabeth se conheciam desde crianças. Estudaram no mesmo colégio e sabia o


quanto ele era apaixonado por sua amiga Clara, que neste momento estava estudando artes, em
Paris, junto com Gwen, sua meio irmã.

Elizabeth se levanta e vai ver como o novato estava lidando com pequena tarefa que havia
lhe ordenado naquela manhã. Abre a porta e o encontra sentado, perdido em meio a tantas
correspondências.
― Eu já estou terminando as de hoje. – diz levantando-se.

― Sente-se. – Elizabeth ordena. ― Só preciso que encontre uma correspondência por


enquanto.

Edward a observa se aproximar e revirar o montante de cartas. Por alguns instantes,


odiou-se por não conseguir tirar os olhos dela. Elizabeth exalava o aroma de ser uma mulher
forte e decidida, a julgar pelas suas atitudes.

Amaldiçoou-se internamente quando não conseguiu deixar de olhar para o decote de sua
blusa. Pelo amor de Deus, sentia-se um maníaco!

― Vai ficar parado me olhando ou vai ajudar a achar a carta? – Perguntou ao perceber
que ele não tirava os olhos dela. ― É de Jason Hartford.

― Me desculpe. – enrolou-se com o típico sotaque inglês. Balançou a cabeça como se


quisesse espantar seus pensamentos repentinos. ― Vamos ver.

Os dois começaram a mexer na papelada e de repente suas mãos se tocaram. Elizabeth a


recolhe imediatamente, como se aquele toque fosse algo invasivo.

― Aqui, achei. – Edward levanta o envelope e a mulher o pega de sua mão rapidamente,
saindo da sala sem dizer uma palavra.

― Um obrigado seria bom. – resmunga para si, mas alto o suficiente para que sua chefe
ouvisse do outro lado da porta.

Elizabeth revira os olhos e abre o envelope, que nada mais era, que um convite para a
reinauguração da Escola de Dança de Jason. Era herança de família e agora o rapaz tomara a
frente dos negócios. O local fora dirigido pelo senhor Hartford por muitos anos e com isso,
conquistara o título de uma das escolas mais conceituadas de Nova York, formando todos os
dias grandes nomes para a Broadway.

Respirou fundo e deixou o convite de lado, não sabia se conseguiria ir a um lugar que lhe
trazia tantas memórias.

Olha para o convite por alguns segundos, decidiria depois. No momento, o que mais lhe
chamava a atenção era seu estômago reclamando por comida.

Após sua chefe sair para o almoço, Edward achou melhor também ir. Queria estar de
volta antes dela, além disso, precisava trocar seu celular.

Deixou seu trabalho de lado, pega seu casaco e sai.

O frio estava insuportável e Edward queria encontrar o mais rápido possível um lugar
para comer. A verdade é que não sabia onde, eram muitas opções. Quando trabalhava na
lanchonete, comia por lá mesmo. Foi então que quando estava perto de uma lanchonete avista
sua chefe e o tal Michael, parados na esquina, com gestos e atitudes de quem estava em uma
discussão.

Edward não queria olhar, mas não teve como, afinal, a curiosidade era maior que a fome
que sentia. Disfarça e observa a cena. Michael parecia exasperado, gritava e gesticulava com
as mãos enquanto Elizabeth, de braços cruzados, o olhava friamente.

Antes que sua chefe o visse, entra na lanchonete e avista Jane sentada em uma das mesas.
Ela o vê e acena com a mão para que se aproximasse.

― Sente-se. – sorri docemente. ― Não precisa ter medo de mim igual tem da chefe. Está
tão frio que eu preferi um chocolate quente.

Edward sorri para a jovem e se senta a sua frente.

― Acho que vou pedir o mesmo. – levanta a mão e chama uma garçonete.

A mulher se aproxima e não deixa passar a oportunidade de jogar seu charme para cima
dele. Após a garçonete inconveniente sair, Jane riu.

― É sempre assim?

― Às vezes. – Edward brinca. ― Mas e aí, me conta um pouco sobre você... faz tempo
que trabalha nessa empresa?

Na realidade não queria saber nada sobre a vida de Jane, mas sim de Elizabeth. É claro
que não jogaria a sua chuva de perguntas assim, era decente e deveria ir com calma.
Certamente, com o tempo descobriria tudo.

― Faz um ano e meio. Se for pensar, é pouco tempo, mas até que estou aguentando firme.
– sorriu. ― Mas e você, por que deixou Londres?

Edward arqueou a sobrancelha, se perguntando como ela sabia daquela informação.

― Seu sotaque. – ela esclarece. ― E também vi na sua ficha.

― Ah sim. – ele assente. ― As oportunidades em Londres eram escassas. – mente. ―


Mas estou bem aqui.
A jovem sorri mais uma vez e toma um pouco do seu chocolate quente.

― Me diz uma coisa. – diz ele, enquanto a garçonete lhe servia uma xícara. ― Por que a
chefe é daquele jeito?

Jane olha para a janela onde Nova York sumia debaixo de camadas de neve.

― Eu não sei. Quando comecei a trabalhar aqui, ela já era desse jeito. Não confia em
ninguém, sempre está de mal humor. – suspira. ― Alguns dizem que são os problemas
pessoais, outros, que ela é uma bruxa mesmo. Mas olha, nem o próprio noivo a suporta às
vezes.

― NOIVO? – Edward quase se engasga com o líquido quente. Não tinha prestado a
atenção nesse pequeno detalhe.

― Sim. – Jane assente. ― Ele é muito gato para estar com uma megera como ela. Mas
fazer o que né... Dizem que já passaram maus momentos e ele continua muito apaixonado por
ela.

Edward não quis demonstrar, mas seu estômago se revira. Já no seu primeiro encontro
não fora com a cara daquele sujeito e agora, descobria que ele era o noivo de sua chefe, por
Deus, teria que suportá-lo, querendo ou não.

― Mas ao que me parece ela não tem a menor vontade de se casar com ele. – Jane
continua. ― As más línguas dizem que é apenas conveniente para os negócios.

Enquanto conversavam, Elizabeth entra na lanchonete, passando pelos dois funcionários.


Edward engole em seco e sorri, recebendo um olhar vazio de volta. Ela se senta algumas mesas
depois, onde o rapaz tinha uma visão privilegiada.

― No fundo ela deve ser uma boa pessoa. – Edward murmura em voz baixa, tentando não
encará-la.

― Hoje é seu primeiro dia, ainda terá muito tempo para conhecê-la. – Jane ri e toma o
último gole de seu chocolate. ― Olha, ainda temos algum tempo até voltar, quer dar uma volta
por aí?

― Claro, vamos. – toma o restante de seu chocolate e se levanta, deixando o pagamento


de seu pedido com uma gorjeta.

Elizabeth tomava uma xícara de café quando os vê saírem, conversando animadamente


como se fossem amigos de longa data. Revira os olhos sem entender como duas pessoas que
mal se conheciam podiam conversar tão animadamente.
Elizabeth não tarda a voltar ao escritório, decidida a terminar alguns de seus afazeres.
Olha para o convite de Jason e cogita dar uma desculpa. O telefone toca e era ele, querendo
confirmar se ela iria ou não. No final das contas, mesmo contra a vontade, disse que iria.

Edward volta de seu almoço e antes que pudesse entrar em sua sala, ela o chama.

― Pois não?

A mulher ergue o olhar e o fitou por alguns instantes, analisando-o profundamente.

Edward já estava desconfortável.

― Trocou seu celular?

Ele levanta o aparelho na mão direita.

― Oh... sim, troquei.

Elizabeth assentiu.

― Peça a Anthony para vir a minha sala. – disse finalmente, desviando o olhar.

O homem sai o mais rápido que pôde para cumprir com aquela ordem. Ao se aproximar
da sala, iria bater na porta antes de entrar, mas estava tão nervoso com a forma que sua chefe o
encarou que se esqueceu deste detalhe e entra com tudo, flagrando Anthony jogando golfe com
um cliente.

― Pelo amor de Deus Edzão! Quer me matar de susto? – reclama ao levar uma mão ao
coração. ― Achei que fosse a chefe.

Edzão? Então esse seria seu novo apelido.

― Me desculpe por entrar sem bater. – sorri. ― A chefe quer falar com você.

― Lá vem! – Anthony bufa e se vira para o seu cliente. ― Daqui a pouco eu volto para
continuarmos nossa partida.

O cliente assente e Anthony sai, acompanhado por Edward. O segundo, ao entrar,


imediatamente foi para sua sala e deixa que Anthony fosse comido vivo por ela.
― Pois não, amiga da minha vida... o que deseja? – brinca ao se abaixar em uma leve
reverência.

Elizabeth revira os olhos.

― O que você vai fazer hoje à noite?

Anthony se senta na poltrona em frente à mesa de Elizabeth e pega uma bolinha de papel
que estava em cima.

― Por quê? – pergunta simplesmente.

Elizabeth respira fundo. Onde estava a sua santa paciência mesmo?

― Tem compromisso hoje, sim ou não? – pergunta bruscamente.

Anthony sorri descaradamente.

― Infelizmente eu tenho, vou sair com uma gatinha.

― Não era você que ontem mesmo estava chorando por causa da minha irmã e hoje
inventa que vai sair com outra? – Elizabeth estava boquiaberta com a canalhice de seu amigo.

― Você sabe que ela não quer mais nada comigo, então acho que mereço recomeçar.

Elizabeth bufa.

― Você quer sair comigo essa noite? Só te digo uma coisa... – Anthony aponta o dedo
para ela. ― Eu não vou bancar o safado e pegar mulher de amigo meu!

Não é que Michael fosse seu amigo, longe disso, mas precisava de algo para fazer uma
piada. Elizabeth arqueia a sobrancelha. Como ele era seu melhor amigo, resolve descontrair
um pouco.

― Não se engane meu caro, você não é o meu tipo. – diz abrindo um pequeno sorriso
diabólico. ― Pensando bem, até que não seria má ideia...

― Epa! Eu estava brincando! – Anthony pula da cadeira e joga as mãos para o alto. ― Se
quiser te arrumo um garoto de companhia.

Elizabeth sorri, mas logo o desfez. Seu amigo era brincalhão e sempre tentava alegrá-la, o
que por vezes conseguia, mas logo a alegria ia embora, como se o vento a soprasse para longe.

― Falando sério Tony, eu preciso que você me leve à escola de dança do Jason, vai ser a
reinauguração e eu prometi que vou.
― E por que não leva seu noivo? – Anthony estranha. ― Não quer que ele vá?

― Você sabe que ele não suporta essas coisas. – bufa. ― E sozinha eu não vou.

Anthony assentiu e tenta encontrar em sua mente algo para ajudar sua amiga. Claro que
não cancelaria seu encontro para sair com ela, por Deus, era muito chata e faria um inferno
durante toda a noite. Foi então que uma luz se acendeu.

― Edward! – disse mais alto do que pretendia. Elizabeth o fitou sem entender.

― O quê?

― Sim. Edward pode te levar... afinal, ele não é seu assistente? Tem que estar atento a
tudo que for relacionado à sua vida, oras.

Elizabeth arregala os olhos mediante aquela ideia absurda. Por Deus, levaria seu
assistente a um evento particular? Sem falar que acabara de contratá-lo, quem garantia que ele
não era um delinquente?

Por outro lado, a ideia até que fazia um pouco de sentido. Elizabeth respira fundo e olha
para a porta da sala do rapaz. Ele não parecia ser um delinquente e talvez, aquela fosse uma
boa oportunidade para conhecê-lo melhor.

― Edward! Venha aqui! – grita e após alguns instantes o rapaz aparece. Precisava se
acostumar com aqueles gritos.

― Pois não?

Anthony avaliava a situação com um meio sorriso nos lábios. Se Elizabeth aceitou sua
sugestão, talvez aceitasse também a de lhe arrumar um gogo boy.

― Tem algum compromisso hoje?

― Tenho sim. – responde sem pensar, mas depois acha que era melhor ter dito que não.

― Desmarque-o. – ela dispara. ― Hoje irá me acompanhar em um compromisso que


assumi de última hora.

Edward assente e a vê escrevendo em um pedaço de papel.

― Tem carro? – pergunta.

― Não tenho.

Na verdade tinha muitos carros, mas que ficaram em Londres. Porém, é claro que não
revelaria esse pequeno detalhe de sua vida.

― Pegue um dos carros da empresa e me encontre neste endereço, às oito horas em ponto.
– lhe entrega o cartão com seu endereço. ― Às oito!

Edward pega o papel e foi dispensado para voltar a sua sala.

E agora, o que faria? Certamente a gatinha lá do prédio o dispensaria por deixá-la de lado.
Bufa e vê que sua chefe, não seria nada fácil de lidar.

Ao sentar em sua cadeira, ouve uma voz, bem alta e clara:

― As oito, em ponto! Se o senhor não quiser perder o seu emprego!


Elizabeth conseguira acabar com a noitada de Edward e agora, planejava mil desculpas
para que a “gatinha” lá do prédio não o chutasse para longe. Na verdade, não estava em um
relacionamento, apenas saía com a garota a fim de se distrair.

Respirou fundo quando chegou ao seu “muquifo”, afinal, esse era o único nome que
conseguia dar àquele lugar. Além da bagunça natural de um homem, o lugar era horrível, nada
comparado ao luxo que vivia em Londres. Porém, a sua escolha tinha sido feita e não podia
reclamar.

Foi até o armário e tenta escolher algo digno de estar ao lado de Elizabeth Adams.
Imagina que ela deveria ser muito enjoada nesse quesito, então se iriam até um lugar
importante, deveria estar, no mínimo, elegante.

Sentado em sua cama, pensou sobre o que Jane havia lhe dito sobre a sua chefe. Numa de
suas idas até a cozinha, viu Michael socando a máquina de café enquanto proferia alguns
palavrões.

Apesar de ser de uma família tradicional e riquíssima, Edward não aprovava a ideia de
matrimônio por conveniência.

Foi perdido em pensamentos que viu a porta quase ser arrombada pela “gatinha” do
prédio. Ela se chamava Melanie e seus olhos azuis o fuzilavam.

― Mas que diabos significa aquele bilhete, Edward? – a mulher cruza os braços a espera
de uma explicação.

Edward se levanta e se aproxima.

― Minha chefe precisa que eu a leve em algum lugar, que eu ainda não sei qual é. –
justifica-se.

Melanie batia a ponta do pé, impaciente. A essa altura, Edward já sabia que vinha tiro,
porrada e bomba pela frente.

― Vai me deixar para agradar a chefinha?

“Claro que sim, não estou a fim de perder meu emprego.”

― Não é por isso, Mel... – Edward tenta se explicar. ― Juro que amanhã a gente sai.

― Eu quero sair hoje! - retruca a moça, furiosa.

Edward se enche daquela conversa e bufa.

― Olha, não estou com saco para suas crises. – perde a paciência e então fecha a porta
nas costas da moça. Amaldiçoou-se por ainda se envolver com mulheres assim, elas realmente
eram estranhas.

Tomou banho e vestiu um terno que, por sorte, havia trazido em sua mala. Ajeitou seu
cabelo, deixando-o meio bagunçado, usou um de seus melhores perfumes e desceu as escadas,
indo em direção ao carro.

Ainda faltava meia hora para o horário marcado, mas em suas contas o trajeto até o
endereço indicado levaria 20 minutos. Certa vez ouviu alguém falar: “Melhor uma hora antes,
do que um minuto depois”.

Elizabeth não era mulher de se arrepender de algo, mas de certa forma, arrependeu-se por
dar ouvidos a Anthony e ter mandado Edward buscá-la. Agora não tinha como desfazer, pois o
rapaz já tinha ido para casa se arrumar.

Enquanto arrumava suas coisas, Michael a fitava com os braços cruzados.

― Hoje vou até a escola de dança do Jason, quer ir junto? – pergunta por perguntar.

― Você sabe que não gosto de ir naquele lugar. – diz com ares de desprezo.

Elizabeth não responde, apenas pega sua bolsa e passa por ele, indo em direção à porta,
mas antes que saísse, Michael a puxa pelo braço.
― Me desculpe pela briga hoje mais cedo.

Ela o fitou nos olhos, sem saber o que falar.

― Eu acho que devemos seguir em frente, sem olhar para o passado. – Michael continua.
― Eu prometo que não vou falar mais sobre aquele assunto.

A mulher suspira e assente.

― Você não tem ideia do quanto me machuca toda vez que fala sobre aquele incidente.

Michael passa um dedo pelo rosto de Elizabeth e suspira.

― Nós precisamos superar isso, se quisermos levar nosso relacionamento a diante.

Elizabeth não respondeu. Na realidade nem ela mesma sabia se queria levar aquilo à
diante. As coisas nunca mais foram iguais.

Michael a puxa pela cintura e beija seus lábios. Um beijo simples, sem vida.

― Vai passar em casa mais tarde? - pergunta maliciosamente.

Elizabeth suspira. Seu noivo era um homem muito bonito, mas não sentia vontade de
compartilhar a cama com ele há um bom tempo.

― Não sei Michael. Depende da hora que eu sair de lá – Tenta ser sincera, afinal, se o
clima estivesse bom não teria motivos para sair cedo.

Mas seu noivo era insistente.

― Te espero lá. Vou aliviar toda a sua tensão. - ele sorri, mais uma vez.

Michael não a tocava havia algum tempo, muitas coisas aconteceram que a fizeram se
afastar de seu noivo. No fundo sabia que era um erro gravíssimo, ele era o deus grego que
muitas sonhavam.

Elizabeth se afasta dele.

― Vou para casa me arrumar, não quero me atrasar quando Edward foi me buscar.

Michael puxa seu pulso novamente, a fazendo lhe encarar.

― Edward?

― Sim, meu novo assistente. – responde com tranquilidade.


Michael ficou em silêncio e em seguida solta seu braço.

― Tenha cuidado. – alerta, antes que ela saísse da sala. ― Ele não me parece confiável.

― Ninguém é confiável. – Elizabeth retruca.

Virando as costas, deixa seu noivo sozinho enquanto seguia pelo corredor, até os
elevadores. A maioria de seus funcionários já tinham ido para casa, inclusive Jane.

Dirige até sua casa, uma modesta cobertura localizada num dos hotéis mais caros do
mundo. Ao chegar, dispensa Jofrey, alegando que não jantaria em casa. Sobe para seu aposento
e escolhe o que usaria. Um vestido preto que até os joelhos, meia calça no mesmo tom e claro,
seu Scarpin vermelho favorito.

Após se arrumar, olha-se no espelho. Era uma mulher bonita, sem dúvidas, mas algo
dentro de si transparecia a dor e a tristeza que carregava em seu peito. Sinceramente, odiava
ver refletida no espelho a mulher que se tornou.

Edward gostava de carros equipados com sons de última geração. Aquele era um carro
simples, sem muitos atrativos, por ser um carro de trabalho. Seguiu pelo caminho que o GPS
indicou e logo estava em frente a um prédio de mais de 300 metros, localizado na Quinta
Avenida.

Deixa o carro numa avenida próxima e caminha até o prédio. Após se identificar ao
recepcionista e ser liberado, segue para o elevador.

A porta de aço se abre quando atinge o último andar. Edward sai do elevador e caminha
por um corredor, até chegar ao vestíbulo, é então que a encontra, sentada em um dos sofás,
com o celular nas mãos.

Ela estava... linda. Absurdamente linda. Engole em seco enquanto seus olhos percorrem o
corpo de sua chefe.

Elizabeth também não estava preparada para o que viu. Seu novo assistente era um
homem bonito. Ela o observa dentro de um terno bem cortado que parecia ter sido feito sob
medida.
“Quem diabos é esse homem?”.

Edward pigarreou, tentando disfarçar o clima estranho.


― Boa noite senhorita Adams!

Elizabeth se levanta, se aproxima dele e o fita da cabeça aos pés. Edward engole em seco
ao notar que ela avaliava suas roupas.

― Vamos? – disse por fim.

Ele assente, segurando sua língua para não falar bobeira e dar um fora. Não estava a fim
de perder seu emprego.

Elizabeth foi na frente, ambos em silêncio, mergulhados em seus próprios pensamentos.

O que ela não estava preparada era para o que vinha a seguir. Ao entrar no carro, Edward
solta uma música. Quem esperava que o moço ali curtisse Lady Gaga?

Elizabeth arregala os olhos e enfia o dedo no botão de desligar. Não era obrigada a
aguentar gostos musicais alheios. Edward a encara, pasmo. “Como assim ela desliga o meu
som?”

― Tá de brincadeira né? – Edward diz abismado. ― Se você não gosta de Lady Gaga, eu
tenho outras opções. – encara seu som. ― Quer ouvir Britney?

Ela o fitou incrédula. Será que teria que aguentar uma mala sem alça como assistente
pessoal? Preferia mil vezes os chorões, àquele louco.

Ao lhe entregar o endereço, Edward enfia o pé no acelerador. Era hoje! Pagaria por todos
os seus pecados e de quebra poderia ir morar no céu, afinal, ele corria como um louco!

O silêncio no carro era constrangedor e Elizabeth não fez questão de esconder que estava
de mau humor. Edward sabia que não deveria, mas o diabinho que estava sentado em seu
ombro queria mostrar umas coisinhas para a chefe malvada.

Edward liga novamente o som, desta vez, mais baixo e coloca uma música da Britney
Spears. Seus gostos eram peculiares para músicas, mas o que podia fazer?

― Só pode ser brincadeira. – Elizabeth resmunga. ― Eu estou com dor de cabeça, sabia?

Com raiva esfregou as têmporas. Aquele cara era o quê? Um maluco que fugiram do
hospício? O sujeito cantava e imitava os gritinhos da Britney Spears. Elizabeth revira os olhos,
tendo a absoluta certeza que atirara muitas pedras na cruz.

Finalmente avista a escola da dança de Jason e fica aliviada de se livrar daquele idiota.
Ele estaciona o carro, desce e abre a porta para ela.
― Ótimo. – diz ao descer do carro.

― De nada. – Edward provoca, abrindo um belo sorriso.

Elizabeth não pôde deixar de notar o sorriso do rapaz. Parecia sincero, cheio de vida e...
voltando a si, viu que ele a encarava, coisa que a incomodou muito.

Balança a cabeça negativamente e entra no prédio, sendo seguida por Edward.

― Boa noite senhorita Adams, seja bem vinda novamente! – Uma moça no balcão a
cumprimenta, era uma das alunas de dança que em troca ajudava Jason nos dias em que não
tinha aula.

― Boa noite. – responde secamente e lhe entrega o cartão que havia recebido de Jason. A
moça o analisa e o carimba, devolvendo para ela.

― O moço também vai subir? – ela pergunta, encarando Edward.

― Vou sim. – ele se intromete. ― Você é aluna daqui?

Edward não sabia o que era a palavra limites e, bem na frente de sua chefe, xaveca a
recepcionista do local. Elizabeth fecha o semblante, pigarreia e com força, o puxa pelo braço
para que subisse o lance de escadas.

― Nossa tem que subir tudo isso? Pelo amor de Deus... fala para o seu amigo que hoje
em dia já inventaram o elevador!

Elizabeth já estava furiosa. Ah se arrependimento matasse...

― Cale a boca, Smith! – o repreende.

Subiram as escadas e ao colocar a mão na maçaneta da porta, Edward a segura e a encara


seriamente, como se a conhecesse por anos.

― Acho que você deveria ser mais divertida. – comenta despreocupadamente. ― Sorrir
faz bem. – então gira a maçaneta e abre a porta, deixando uma Elizabeth perdida em seus
próprios pensamentos.

“Quem diabos esse sujeito pensa que é para falar assim?” Nem seus próprios amigos se
dirigiam a ela desse jeito!

Engolindo a raiva e seu próprio orgulho, entra logo após e retira seu casaco.
― Lisa, você veio! – Jason se aproxima e a abraça.

― Jass, que saudade! – O abraça forte, fazia tempo que não o via. ― Este é Edward
Smith, meu novo assistente.

Jason o cumprimenta e o analisa por alguns instantes e, finalmente, abre um sorriso


caloroso.

― Seja bem vindo cara! Fique a vontade, podem sentar-se naquela mesa. – Jason aponta
uma mesa no canto. ― Vou buscar algo para bebermos e já volto.

A escola de Jason Hartford era também um clube, muitas pessoas se reuniam nas mesas
para beber, fumar e jogar conversa fora enquanto algumas pessoas se aventuravam na dança.
Sentaram-se numa das mesas, perto da janela. Elizabeth fitou as garotas que treinavam
animadamente e se perdeu em memórias de quando também fazia as aulas.

Edward estava em silêncio, observando sua chefe. Cada traço, cada detalhe de seu
pequeno rosto. Os lábios carnudos pintados de vermelho, os olhos verdes, sua bochecha
levemente rosada. Deus, ela era linda!

Respira fundo e desvia o olhar antes que ela o pegasse. Elizabeth era muito calada e com
isso, não quis puxar assunto. Ela deveria estar brava com o episódio do carro e suas
petulâncias. Edward sabia que no fundo era um perfeito idiota.

Jason se aproxima com uma garrafa de vinho importado.

― Esse é um dos preferidos da Lisa. – levanta a garrafa arrancando um leve sorriso da


moça. Esse foi o primeiro sorriso que Edward viu.

― Mas e aí Edward, a Lisa é uma chefe muita chata né? – Jason pergunta enquanto
despeja o líquido vermelho nas taças.

A mulher o fitou com a sobrancelha arqueada. “Vamos, fale mal de mim se for corajoso.”

― Na verdade hoje é o meu segundo dia, então, não tenho como responder, ainda. –
disse, olhando-a atravessado. Elizabeth levava a taça aos lábios. ― Mas e você tem essa escola
há muito tempo?

Jason se senta ao lado de Edward.

― Herança de família. – esclarece ao tirar um cigarro do bolso e o acender. ― Fizemos


algumas reformas e hoje estamos reabrindo.
Edward assente, entornando um pouco de vinho.

― Por que Michael não veio? – Jason fez a pergunta que Edward queria fazer, mas não
tinha coragem.

Elizabeth deu de ombros.

― Você sabe que ele não gosta dessas coisas, muito menos de dançar.

― Por que ele não gosta de dançar? – Edward pergunta, trazendo para si o olhar dos dois.

Elizabeth o fita como se não tivesse entendido a pergunta. Edward sabia que estava se
intrometendo onde não devia, mas sua língua não conseguia manter-se dentro da boca.

― Porque ele é machista, não é Lisa? – Jason brinca.

Elizabeth dá de ombros mais uma vez. Seu olhar volta para as jovens que dançavam do
outro lado.

― O único homem que dançava comigo era... – antes de terminar, seu coração se aperta e
então se cala. Edward percebe seu olhar triste e sabia que uma história dolorosa a cercava. ―
Foi melhor assim, ele iria me encher a paciência se tivesse vindo.

Eles continuaram conversando, o assunto era variado, porém nunca entravam em detalhes
sobre a vida pessoal de Elizabeth. Para a frustração de Edward, que estava cada vez mais
curioso sobre a vida daquela mulher.

― Mas então Lisa, me concede a honra de uma dança? – Jason lhe estende a mão e ela
nega com a cabeça.

― Não mesmo!

― Só uma, por favor! – Jason quase implora, mas ela continua firme em sua decisão.

― A senhorita por acaso sabe dançar? – Edward solta, se arrependendo logo em seguida.

Ela o fitou em silêncio por alguns instantes, como se medisse as palavras.

― É claro que sabe! Uma das melhores dançarinas dessa escola! – Jason responde,
fuzilado pelos olhos esmeralda. ― Mas está com frescura agora.

Edward era um demônio e não perderia aquela chance. Fica em pé e lhe estende a mão.
― Me concede então a honra de uma dança?

A mulher bufa e desvia o olhar.

― Eu não quero Edward e você nem sabe dançar! – cospe as palavras, por Deus, será que
eles não entendiam que aquilo não fazia mais parte de sua rotina?

― Devo entender que a senhorita não sabe dançar... – ele a provoca. Elizabeth o fuzila
novamente.

― Não se esqueça com quem está falando! – refrescou sua memória, ditando cada sílaba.

Edward aproxima seu rosto do dela e sente seu perfume de rosas.

― Então eu devo desafiá-la!

Talvez perdesse seu emprego, mas não perderia a chance daquela dança.

Elizabeth não era mulher de correr de um desafio. Fitou Jason que estava boquiaberto
com aquela situação. Chegou à conclusão de que seu novo assistente era muito petulante.

Ele não pôde deixar de sorrir vitorioso quando a moça bufou e se levantou, mesmo contra
sua própria vontade. Elizabeth encaixou sua mão na dele, que estava estendida.

O homem não sabia definir o que sentiu naquele momento. Esquece-se de quem era e de
onde estavam caminhando até o centro da sala.

Jason estava pasmo com tudo aquilo, mas foi correndo até o som e escolhe uma música
que gostava. As outras jovens pararam de dançar e se acomodaram nas paredes ao redor.

Elizabeth sabia que era loucura, porém, respira fundo e deixa um pouquinho de lado o seu
título de chefe. Ali era apenas Elizabeth Adams e aquele, um rapaz muito petulante e
intrometido, que não sabia com quem estava mexendo.

A música começa e ele estende a mão para ela. Ela desvia o olhar para sua mão estendida,
era mais que um convite. Elizabeth encaixa seus dedos com os de Edward e então ele a puxa
de encontro ao seu peito.

Seus corpos se encontraram como uma explosão. Fogo e Gelo. Ela sentiu seu corpo a
queimando e ele, sentiu a frieza e escuridão que emanavam daquela mulher.

“Basta um olhar pra me deixar sem ar


Duas almas em uma só carne
Quando você não está comigo
Eu estou incompleto”

Edward não pôde evitar olhá-la como se fosse à única naquela sala. Enlaçou sua cintura
como se fosse necessário, para que não fugisse. Seus
olhos se encontraram e teve a certeza que ela era a mulher mais bonita que já tinha conhecido.

Oh amor, deixe-me ver dentro do seu coração


Todas as rachaduras e o coração partido
As sombras na luz
Não há necessidade de esconder

Moveram-se conforme a música, com saltos e giros, passos para lá e para cá, como uma
pequena valsa. E foi quando um giro a trouxe para ele. Seus olhos se encontraram e uma
estranha conexão acontece. Edward esquece que era apenas um assistente e a deseja como
mulher.

“Porque eu estou em chamas como mil sóis


Mas que jamais te queimaria
Mesmo que eu quisesse
Essas chamas, nesta noite
Olhe nos meus olhos e diga que você me quer
Como eu quero você”

Elizabeth se deixa ser guiada pelo ritmo da música e fecha os olhos por alguns segundos.
Era diferente, era assustador. E então num último passo, encerrando a música, ele a abaixa em
seus braços, a segurando firmemente pelas costas.

E se não fosse pelas palmas frenéticas de Jason, ele a teria beijado.

― Oh Meu Deus! Vocês foram perfeitos!

Abre os olhos de repente, encontrando os olhos azuis escuros de Edward. Ele a levanta e
se separam, perturbados com aquela situação. Naquele momento, sente uma espécie de
vergonha ao mesmo tempo em que calor se apossara de seu corpo. A forma como ele a puxou
pela cintura, como a moveu durante a dança, seus olhares vidrados como se aquele fosse um
mundo particular, somente deles.

Edward dá um meio sorriso para Jason, porém, Elizabeth parece ter acordado de seu
transe.

― Me leve embora. – ordena ao mesmo tempo em que se vira para Jason. ―


Conversamos depois.

― Espera mais um pouco. – Jason se aproxima. ― Você ficou tão pouco tempo.

Elizabeth pega seu casaco.

― Eu tenho que resolver umas coisas ainda. – mente.

Jason assente e a abraça, pedindo que não sumisse mais uma vez.

― Anthony é o único que mantém contato com você. – resmunga.

― Ele trabalha comigo. – Elizabeth responde como se fosse óbvio. ― Vejo você em
breve.

Se voltando para Edward, dispara.

― Vamos, agora.

O rapaz não sabia como agir, apenas fez o que ela mandou. Antes de sair, desculpou-se
com Jason por qualquer coisa que tivesse feito. Pegou as chaves e a seguiu.

Elizabeth desce as escadas como se fosse um furacão. A recepcionista se despediu, mas


tudo o que recebeu foi um olhar de desculpas de Edward.

Ela para ao lado da porta do carona.

― Pode destrancar a porta ou é difícil?

Edward se pergunta que diabos tinha feito para aquela mulher agir daquela forma. Tudo
estava indo tão bem.

― Fiz algo que a chateou? – Se aproxima dela, a encurralando entre o carro e seu corpo.

Elizabeth estava assustada e sua mente era um turbilhão de pensamentos.

― Apenas me leve para casa.

Edward a fitou por mais alguns segundos, sentindo a tensão rolando solta entre os dois.
“O que está acontecendo? Por que não consigo tirar os olhos dessa mulher?”

Balança a cabeça, espantando aqueles pensamentos e aperta o botão da chave e destranca


a porta. Elizabeth entra o mais rápido que pôde e o silêncio, mais uma vez, reina dentro
daquele carro. Ninguém ousou dizer absolutamente nada.

Depois de tudo, teme ser demitido, embora não tinha mais o que fazer, ele mesmo
provocara aquela situação e teria que aguentar as consequências
Após um longo silêncio constrangedor, finalmente, chegaram ao apartamento de
Elizabeth. Ele a acompanha até que estivesse segura dentro de casa.

A mulher lhe deu as costas e começa a subir as escadas quando ouve sua voz.

― Me desculpe se fiz algo que te chateou. – Edward coloca as mãos nos bolsos da calça.

Elizabeth para no terceiro degrau e olha para o rapaz. Não era culpa dele. Ele não tinha
feito nada demais, por que estava tão irritada?

Respira fundo e aperta a mão no corrimão da escada.

― Boa noite, Smith.

Edward assentiu.

― Boa noite para a senhorita também.

Virando as costas, partiu, deixando-a sozinha e frustrada.

Elizabeth sobe os degraus restantes e vai para o seu quarto. Recosta-se na porta ao fechá-
la, divaga. “O que aconteceu nesta noite?”

Sabia que não deveria ter aceitado dançar com ele e ainda mais aquela dança! Tão sensual
que ficaria feio para uma mulher comprometida, como era o seu caso.

Respira fundo e se sente culpada no fundo da alma. Michael iria matá-la se descobrisse.
Não deveria sequer ter cogitado a possibilidade de uma aproximação tão forte quanto a que
tiveram nesta noite. Mas o que estava feito, não poderia ser mudado. Agora deveria erguer a
cabeça e seguir em frente. Não iria despedi-lo, mas iria mostrar que era apenas um de seus
funcionários e nada mais do que isso.

Joga a bolsa na cadeira e seus sapatos em outro canto do quarto. Tira as roupas e entra na
água quente. Nada melhor que um banho bem quente para tirar aquele estresse.

Coloca suas roupas de dormir e deita em sua cama grande e confortável. Fecha os olhos e,
por alguns instantes, revive aquela dança. Não conseguia explicar como ficou abalada aos
toques daquele homem. Fazia tempos que não se sentia daquela maneira.

Apesar de estar comprometida com Michael, há muito tempo, nunca sentira aquela
conexão. No fundo se gostavam, apesar dos problemas que enfrentaram, mas Elizabeth não se
lembrava de terem compartilhado um momento assim, tão intenso. Sua voz enche seus
ouvidos, como se repetisse que deveria sorrir mais.

“Esse sujeito é um abusado, isso sim!”.

Quem ele pensava que era para lhe dizer tal coisa? Era apenas um empregado e nada
mais. Elizabeth se recrimina por ainda estar pensando nele. “Maldição!”.

Deveria dormir e acalmar os ânimos. O outro dia seria longo e tinha certeza que precisava
renovar suas forças para seguir em frente.

Já se passavam das 3 da manhã e Edward não conseguia dormir. Rolava de um lado para
o outro pensando em tudo o que acontecera naquela noite. Não conseguia tirar da cabeça
aquela dança, a forma como seus corpos colados pareciam gritar coisas inaudíveis aos ouvidos
comuns.

Senta-se na beirada da cama e toma um gole de água. Sabia que seu emprego poderia
estar comprometido, mas faria o que?

Tenta se lembrar de que ela era noiva de outro! Existia um anel de compromisso em seu
dedo. Entretanto, dentro de si o desejo de conhecer aquela mulher falava mais alto. Ainda era
cedo para dizer, mas talvez conseguisse descobrir o motivo de toda aquela frieza.

Deita na cama novamente, fecha os olhos e se deixa adormecer, aquele dia poderia ser
muito pior que o primeiro e esperava realmente que Elizabeth não o demitisse por ser tão
invasivo.
― AI MEU DEUS DO CÉU! – Elizabeth dá um pulo da cama ao olhar para o relógio e
constatar que marcava onze horas.

― Droga! Droga! Droga! – anda de um lado para o outro procurando por roupas e se
veste rapidamente. Dormira tão tarde que agora perdera a hora. ― A chefe chegando tarde...
muito tarde!

Seu mordomo a esperava na ponta da escada com uma bandeja repleta de frutas.

― Jofrey sinto muito, mas estou mais que atrasada. – se desculpa. ― Comerei algo na
empresa.

O mordomo assente e ela parte. Entra em seu carro e se dirige a empresa o mais rápido
que pode. Nunca foi de perder a hora para as coisas, principalmente para ir trabalhar, mas até
nisso Edward Smith começava a fazer seus estragos. Claro... se não tivesse pensado nele a
noite toda, teria dormido e não perdido a hora.

Elizabeth chega à empresa mais rápido do que esperava. Olha-se no espelho do retrovisor,
estava horrível. Nem mesmo a água fria e a maquiagem fizeram com que seu rosto
desinchasse. Respira fundo, pega sua bolsa e tranca o carro.

Caminha rapidamente para o elevador e sobe até seu andar. A porta de aço se abre e para
sua surpresa, lá estava ele, como se a estivesse esperando.

Não pôde deixar de observar seu ar de masculinidade, os cabelos claros bagunçados, seu
terno impecável. Elizabeth não queria, mas foi difícil desviar o olhar.

― Bom dia, senhorita Adams. – Edward a cumprimenta com um meio sorriso.

― Bom dia, Smith. – cumprimenta-o secamente, desviando de seu olhar.

Edward percebe que sua chefe estava sem graça e parecia ter acabado de acordar. Tentou
imaginar quais os motivos fariam Elizabeth Adams perder o sono. Entra no elevador e a
observa caminhar elegantemente até sua sala, mais uma vez ignorando os cumprimentos de sua
secretária.

Elizabeth entra em sua sala odiando seu atual estado. O coração quase parou quando viu
Anthony sentado em sua cadeira, com as pernas apoiadas na mesa. Folheava o jornal
despreocupadamente enquanto sua xícara de café parecia esfriar.
― Mas que diabos está fazendo aqui? – vocifera ao se aproximar e jogar sua bolsa na
cadeira, com raiva.

― E isso são horas de chegar, chefa? – Anthony controla o riso e tenta demonstrar
seriedade. Elizabeth revira os olhos e vai para sua cadeira.

― Não vou nem pedir para você levantar daí!

Anthony se levanta contra a própria vontade, mas achou melhor assim, antes que ela o
derrubasse. Com um sorriso matreiro se volta para ela.

― A noite com Edward foi tão boa assim para chegar a essas horas?

Elizabeth arregala os olhos mediante aquelas palavras. A vontade de mandá-lo ao inferno


subiu em sua garganta, mas se cala quando ouve a voz de Michael.

― Noite com Edward? Que história é essa?

― Mas que droga há com vocês que entram na minha sala sem permissão? – Elizabeth
bufa. Michael iria arrumar uma confusão daquelas, tudo por causa da boca enorme de seu
amigo.

― Eu é que pergunto por que chegou a essa hora? – Michael a encara duramente.

Elizabeth esfregou as têmporas.

― Eu perdi a hora... cheguei cedo em casa, mas não estava com sono e fui assistir a um
filme.

Anthony dá um meio sorriso.

― Eu sei Lisa, estava apenas brincando com você, mas sabe como esse idiota do seu
noivo é. Não entende nossas brincadeiras!

― Idiota é você! – Michael retruca. Nunca gostou de Anthony, sempre o considerou uma
pedra em seu sapato. ― Então Elizabeth, o que espera para me esclarecer essa história?

Elizabeth ia mandá-lo junto com Anthony para àquele lugar, porém, Edward entra no
exato momento que a tensão estava formada. Pediu licença e passou rapidamente, trancando-se
em sua sala.

Foi então que algo passa em sua mente. “Por Deus, Edward deve ter espalhado para Deus
e o mundo que dançamos juntos!”.

Se voltando para seu noivo e Anthony, resmungou:


― Eu não estou para conversa fiada, então tenho que pedir para os dois senhores sumirem
da minha sala!

Anthony e Michael bufam e se rendem, deixando-a sozinha.

Elizabeth levanta, e com cara de poucos amigos, marcha até a sala de Edward. Ao girar a
maçaneta, descobre que está trancada.

― Acho bom você abrir essa maldita porta antes que... – e antes que pudesse terminar, o
rapaz abre a porta. Elizabeth entra e olha cada canto daquela minúscula sala, então se vira para
ele.

― Você falou para o Anthony sobre a dança? – pergunta sem rodeios. Edward arregala os
olhos como se levasse um choque.

― Pelo amor de Deus, é claro que não! – disse, se desvencilhando dos olhos verdes
acusadores.

― Não minta Smith. – ela se vira e aponta o indicador para seu rosto ― Se você disser
algo sobre aquela maldita dança eu acabo com você! – sussurra assustadoramente.

― Estou dizendo a verdade. – Edward tenta manter a calma, perder o emprego não estava
em seus planos. ― Não vejo motivos de sair por aí falando sobre uma dança qualquer.

E foi aquela frase que a desarmou. “Uma dança qualquer”. Elizabeth não sabia o motivo,
mas ouvi-lo dizer daquela maneira a deixou chateada. Para ela, era muito mais fácil admitir
que aquela fora uma maldita dança do que ouvir dos lábios daquele homem.

― Ótimo. – resmunga enquanto virava-se para sair da sala, porém, por um impulso
Edward a puxa pelo braço, fazendo-a encarar seus olhos penetrantes.

― Uma coisa eu tenho que admitir. – abre um meio sorriso. ― Eu adorei dançar com a
senhorita. – diz com tranquilidade, liberando-a para que saísse da pequena sala.

Edward Smith sempre fora o tipo conquistador. Desde pequeno encantava as mulheres
que viviam ao seu lado e quando a juventude chegou, não foi preciso muito esforço para se
envolver com vários tipos de mulheres. Já se envolvera com mulheres tagarelas, mulheres
tímidas, loiras, ruivas, morenas, enfim, uma infinidade e cada uma com sua personalidade.
Porém, ninguém havia tocado seu coração, sempre tivera o lema de que deveria “pegar” sem se
“apegar”.

Era a primeira vez que conhecia uma mulher como Elizabeth Adams. Bonita, elegante,
segura de si, embora, fria e arrogante. No final das contas, nada disso importava, porque sabia
que nunca poderia se envolver com ela. Era sua chefe e, ainda por cima, estava comprometida.

Ao se lembrar desse último detalhe, seu estômago se embrulhou.

― Está tão pensativo. – Jane se aproxima e pega um copo descartável enchendo-o com o
café da máquina.

Edward sorri e toma mais um gole de seu café, realmente estava pensativo e preocupado.

― Pois é, estava pensando em algumas coisas...

― Acho bom voltar à realidade, Michael está procurando você. – Jane deu o recado e lhe
lança um sorriso. ― O espera em sua sala.

Edward revira os olhos e acha melhor ver logo o que o tal Michael queria. Na realidade,
se pudesse, queria muito bem enfiar-lhe a mão na cara e não era sem motivo. Qual cara em sã
consciência deixaria a própria noiva sair sozinha com um estranho?

Com um nó no estômago, joga o copinho no lixo e parte para a sala do tal Michael. Bateu
na porta e logo ouviu um “Entre”.

O rapaz entra na sala e vê o homem sentado em sua cadeira, lendo alguns papéis. Para a
sua frente e este acena para que aguardasse. Edward conta até dez mentalmente, quando algo
lhe chama a atenção. No outro lado da sala, havia uma estante repleta de quadros. Com certa
curiosidade aflorando, analisa cada imagem contida naqueles quadros. A maioria era de
Elizabeth, e justamente as que lhe chamaram a atenção pareciam ser de outra época. Não
parecia em nada aquela mulher fria que ele conhecera há três dias. Em outra foto, ela estava
abraçada com um homem loiro, ambos sorrindo abertamente. Deveria ser seu pai, pensou. Em
outra imagem ela estava com o mesmo homem, o que parecia ser sua formatura da faculdade
ou colégio.

― Ela é linda, não é mesmo?

Edward pigarreia e volta sua atenção para o homem sentado na cadeira que o analisava
minuciosamente.

― Responda. Não a acha linda? – pergunta novamente.

Edward respira fundo, aonde ele queria chegar com aquela pergunta?

― Se eu disser que minha chefe é feia corro o risco de perder o emprego? – tenta brincar,
porém o homem continua sério.

― Saiba Edward... – Michael se levanta, faz uma pausa e caminha até a estante das fotos.
― Como é seu sobrenome mesmo?

― Smith, senhor.

― Edward Smith. – Michael repete como se fosse uma ofensa. ― Saiba que ela não é
para o seu tipinho.

Edward arregala os olhos, não queria mesmo ter aquela conversa. Michael se aproxima
dele.

― Eu não sei do que está falando, senhor.

― É claro que sabe. – Michael revira os olhos. ― Já vi como você a olha e não pense que
por estar com ela mais tempo que eu, vá conseguir algo de volta.

― Mas eu não... – Edward tenta se explicar, porém, o homem o corta novamente.

― Estou avisando Smith. Mantenha-se longe de Elizabeth. – diz apontando o dedo para o
rosto do homem. ― Ela nunca vai ser para o seu bico e tenha certeza que eu nunca permitiria
você atrapalhar nossos planos. Se não eu mesmo o demito, meu caro.

Fica em silêncio, engolindo em seco a ameaça do rapaz. O que diria quando a própria
Elizabeth estava atrás dele assistindo toda aquela baixaria? Michael não percebera, mas
enquanto perdia seu tempo fazendo ameaças, sua querida noiva entrou na sala e o flagrou
naquela situação absurda.

― Eu posso saber o que está acontecendo? – Elizabeth fala alto e em bom tom.

Pelo menos, Edward não era o único a ser pego em saia justa.

― Não é nada meu amor. Estava apenas conversando com o Edward. – Michael tenta
manter a calma.

― Eu ouvi cada palavra! – diz encarando-o furiosa. ― Saiba que aqui a única que demite
ou contrata alguém, sou eu!

Michael engole em seco, controlando sua raiva por ser desmentido na frente daquele
sujeito.

― Lisa, eu acho que não é bem assim. – tenta ponderar, porém ela estava mais nervosa do
que nunca.
― Nós temos que conversar sobre algumas coisas. – retruca furiosa e então fitou Edward
― Vá para sua sala!

Edward assente e sai o mais rápido que pôde. Se pudesse faria a dancinha da vitória, mas
é claro que seria estranho, então se contenta em apenas rir. Sua vontade era ficar ouvindo atrás
da porta, porém, seria pego e a confusão resultaria em coisa pior.

Passa por Jane com um sorriso vitorioso e segue para sua sala. Senta-se na cadeira e tenta
se concentrar nos seus afazeres. Elizabeth e Michael que se entendessem para lá.

As imagens das fotos que viu não saíam de sua cabeça. Tentava imaginar uma Elizabeth
diferente daquela que conheceu, uma que sorrisse mais e fosse feliz. Claro que a ameaça que
Michael lhe fez de nada servia, não tinha medo de gente daquela laia. Michael é que não tinha
ideia com quem estava falando.

Sua mente fértil imaginou que, se por acaso, a moça lhe desse um mínimo de chance,
aproveitaria e quem sabe traria aquela Elizabeth sorridente das fotos de volta.

Um sorriso bobo se formou em seus lábios. Era pecado sonhar dessa forma? Se fosse,
sabia que estava condenado desde já. Logo seus devaneios foram interrompidos, pois a voz de
Elizabeth ecoa, chamando-o de volta para a Terra.

Depois da discussão com Michael, Elizabeth acha melhor pedir desculpas pelo
comportamento infantil de seu noivo.

Edward sai da sala e se aproxima da mesa.

― Eu sinto muito pelo que aconteceu. – fala sinceramente. ― Michael é infantil às vezes
e acha que todo assistente que contrato, está me “paquerando”.

Edward não iria rir na frente dela, mas se estivesse no lugar do tal Michael, também
sentiria ciúmes do mesmo jeito. Uma mulher tão bonita e elegante tinha o poder de enfeitiçar
até o mais nobre coração. Talvez não o seu gênio, mas isso era questão de tempo.

― Não se preocupe, não acho que seu noivo tenha o que temer. – pondera. ― A não ser
que...

Elizabeth levanta o olhar e arqueia a sobrancelha.

― Que o quê? – o instiga. ― Que eu caia em sua lábia barata?

― Quem sabe? - Edward a confronta e ela ri, um riso sarcástico que no fundo, o deixa
irritado.

Ela estava duvidando de sua influência sobre as mulheres e isso não se fazia com nenhum
homem que prezasse sua masculinidade.

Elizabeth o chama com o dedo indicador para que se aproximasse dela e então como se
fosse lhe confessar algo, sussurra:

― Você não me conhece e quando conhecer verá que sempre será apenas um assistente.

Dito isto, o homem queria pular em cima dela e mostrar quem mandava ali. Ela poderia
ser a chefe, mas em assuntos relacionados a sentimentos e coração era ele quem dominava.
Suspira como se lamentasse aquelas palavras e lhe lança um sorriso sínico.

― Sempre é muito tempo, chefinha. – brinca. ― Mas não se preocupe, ainda não tenho a
intenção de atentar contra seu coração.

Dizendo tais palavras o rapaz se afasta e sem o protesto de sua chefe, parte para sua sala,
sabendo que aquela fachada de mulher durona não iria muito tempo. Dentro de si, o desejo de
conhecê-la a fundo bateu mais forte do que nunca. Era só uma questão de tempo.
As tentativas de afastar os pensamentos daquele rapaz foram inúteis. Ele conseguira
deixá-la intrigada. O mais engraçado era que brigou com Michael por causa dele.
Sinceramente, não estava se reconhecendo. Deveria agradecer seu noivo por estar protegendo
seu relacionamento.

Pensando bem... que relacionamento?

No começo tudo era perfeito. Eles se amavam e viviam aquela experiência da juventude.
Elizabeth era tão boba que fugia da universidade só para visitá-lo, e Michael, por muitas vezes,
se infiltrou para arrancar-lhe alguns beijos.

Até o dia que tudo desmoronou. Assim como a onda destrói os castelos de areia, seu
relacionamento foi ruindo a cada dia. A raiva e a mágoa falavam mais alto dentro de ambos e
assim começaram a se afastar, mas apesar de tudo, Michael não terminou seu compromisso,
sempre lhe dizia que as coisas melhorariam, mais cedo ou mais tarde.

Esperava que um dia aquele sofrimento acabasse. Odiava olhar-se no espelho e ver a
pessoa que se tornou. Odiava que seus funcionários, por trás, a chamassem de bruxa.

Perdida em seus pensamentos, se assustou quando Anthony entra afoito na sala, como se
tivesse acontecido um acidente.

― Lisa, pelo amor de Deus, você precisa me ajudar!

― O que houve Anthony? – pergunta, sem esconder a tensão na voz.

― O motorista! Lisa! – aproxima-se, exasperado. ― Ele se demitiu! E eu preciso estar


dentro de meia hora em Jersey!
Elizabeth esfregou as têmporas. Será que seus problemas só se multiplicavam?

― Pelo amor de Deus... – suplica. ― Pegue o carro e vá você mesmo.

― Não Lisa! Eu preciso de um motorista. – resmunga e então uma ideia absurda lhe veio
à mente. ― Já que o Edward foi tão prestativo ontem com você, não me emprestaria por
algumas horas?

Elizabeth arregala os olhos e antes que desse o veredicto, Anthony já corria para a sala do
rapaz anunciando que sairiam em dez minutos.

― E quem manda nessa droga toda mesmo? – resmunga ao ver Anthony saindo de sua
sala com um sorriso vitorioso nos lábios.

Edward sai da sala e a fita com incerteza. Elizabeth respira fundo e balançou as mãos
nervosamente.

― Vá logo antes que eu me arrependa e coloque os dois no olho da rua!

O rapaz assente e sai da sala. Não queria testar mais a paciência de sua chefe por um bom
tempo.

Dentro do carro, Anthony já se sentia bem à vontade com a presença de Edward. É certo
que se conheciam a pouquíssimo tempo, mas sabia que ele era uma boa pessoa.

― Salvei sua vida, cara. – Anthony comenta, deslizando os dedos na tela de seu celular.

― Me salvou da salinha do horror. – Edward ri.

― A Lisa é louca, cara. – Anthony larga o celular de lado. ― Não se preocupe que vou te
mostrar certinho onde é o lugar da reunião.

Edward assente e então o silêncio reina no veículo. Anthony estava tenso com a pergunta
que queria lhe fazer e não sabia se deveria. Abandonando qualquer pensamento negativo, se
volta para o rapaz que estava concentrado ao volante.

― Como foi dançar com a sua chefe ontem?

Edward arregala os olhos e por pouco não enfia o pé no freio. Engole em seco e vê a face
divertida do amigo ao lado.
― Do que está falando? – tenta disfarçar, mas Anthony era o rei dos disfarces.

― Não faz essa cara, eu já sei de tudo.

― Quem te contou? - duvidava que Elizabeth tivesse lhe contado algo, porém, não
custava saber.

Anthony arqueia a sobrancelha e relaxa no banco do carona.

― Eu tenho minhas fontes, mas não se preocupe, não irei contar a ninguém.

― A chefe pensou que eu tinha lhe contado, surtou quando o viu na sala dela. – Edward
ri.

― Elizabeth é paranoica, acostume-se com isso. – diz enquanto apertava os botões para
subir e descer o vidro do carro. ― Mas me conta cara, você gostou?

Edward bate em sua mão.

― Não brinque com isso.

― Eu não resisto. – Anthony sorri, envergonhado. ― Responda a minha pergunta.

― É claro que gostei. – Claro que admitiria. Podia ser tudo, menos mentiroso.

― Ahhhhhh safadinho! – Anthony lhe dá um soquinho no braço. ― Mas é sério cara, se


você gostar dela e quiser tentar algo pode ter certeza que eu o ajudo.

― Me ajudar? – pergunta descrente. ― Por que faria isso?

Anthony suspirou.

― Eu não gosto do Michael. Ele não a faz feliz e eu sinto falta de quando ela era feliz.

Edward entende que aquela Elizabeth que Anthony sentia falta era a das fotos. Aquela do
sorriso encantador, que deixava transparecer sua inocência e humildade.

― Olha, eu estou muito animado. Comecei a sair com a Jane. – Anthony disse satisfeito.

― A Jane... Jane?

― Sim, a Jane que nós conhecemos.

Edward sorri e torce para que desse certo. Jane lhe parecia uma moça direita e deveria ser
feliz. Eles chegaram ao local indicado por Anthony e então ficou esperando por ele. Uma hora
depois ele voltou com uma expressão tensa.
― Problemas? – Edward engata a marcha e acelera.

― Sim, mas para Elizabeth resolver. – Anthony relaxa ― Mas e aí demorei muito?

― Um pouco. – admitiu. ― Mas olha, deixa eu te perguntar uma coisa.

Anthony o fita atento, gostaria muito de Edward e via que podiam ser grandes amigos.

― Por que a chefe é daquele jeito? – pergunta um pouco sem jeito, não queria parecer
intrometido, mas realmente gostaria de saber.

Viu quando Anthony suspirou e fitou o nada como se lembrasse de algo. Se pudesse, teria
desfeito a pergunta, porém, agora já era tarde demais e deveria ir até o fim.

― É uma história bem dolorosa. – Anthony conclui. ― Não só para Lisa, mas para todos
nós que a rodeamos.

Edward assente, não conseguia imaginar o que poderia ter acontecido. Quem sabe uma
desilusão amorosa?

Não podia ser. Afinal, parecia que ela e Michael namoravam há tanto tempo, então era
impossível ser isso, a não ser que ele estivesse traindo-a.

Ao pensar nisso, apertou as mãos no volante. Sua vontade era estrangular aquele covarde
que mais cedo o ameaçara e mostraria a ele o que um homem de verdade faria.

Anthony fica em silêncio por alguns instantes. Lembrar e falar sobre aquela história não
era nada fácil porque também lhe doía profundamente, então achou melhor não revelar
detalhes.

― Eu queria muito te contar, mas não é sobre mim, é sobre minha melhor amiga e quem
sabe ela confie em você algum dia e te conte tudo.

― Eu entendo. – Edward suspira. ― Ela parece sofrer por algo.

― O problema é que Elizabeth sofre calada, entende? – Anthony o encara. ― Ela não se
abre com ninguém, nem mesmo comigo que sempre estive ao lado dela.

― Mas e o noivo? – pergunta querendo saber mais a fundo sobre aquele relacionamento.
Anthony ri.

― Michael é um idiota e eles só estão noivos porque foi o último desejo de seu pai, mas
ele não a faz feliz.

Edward balança a cabeça negativamente, não havia motivos para estar com alguém se a
pessoa não a fizesse feliz.

― Então não deveria estar com ele, jogando sua vida fora.

― Edzão... – Anthony suspira. ― Talvez ela ainda não tenha encontrado o amor
verdadeiro, se é que isso existe.

Edward ri e entra no estacionamento da empresa. Estaciona o carro e o desliga. Anthony


lhe sorri.

― Se quiser um conselho, não a pressione, senão ela o mata e joga seu corpo do último
andar.

Edward assente.

― Não se preocupe, vou preservar a minha vida.

― Obrigado por me levar na reunião Edzão, depois nós conversamos mais. – Anthony
sorri e lhe estende a mão. Edward a aperta e também sorri. Naquele momento, eles mais do que
se cumprimentaram, selaram um acordo de amizade.

Uma semana se passou. Elizabeth tentava esquecer o que tinha acontecido nos últimos
dias, entretanto, aqueles olhos expressivos de seu assistente teimavam em assombrá-la a todo o
momento. A maneira como ele agia, como se portava e principalmente como a olhava,
deixavam-na incomodada.

Lembrou-se da conversa que tiveram logo após a briga com Michael. Será que Edward
quis dizer que se quisesse poderia conquistá-la? Sequer podia imaginar caindo na lábia de um
jovem tão imaturo quanto Edward Smith. Estava noiva e deveria respeitar aquele
compromisso.

A promessa do casamento lhe parecia uma boa opção. No final das contas, tudo sairia
como planejado por seu pai. Seria a senhora Sanders e juntos comandariam aquela companhia.

Elizabeth se levanta ao segundo toque do despertador e corre para o banheiro. Após sua
ducha matinal, coloca um vestido com meias calças e um casaco preto que ia até os joelhos.
Estavam no final de Janeiro, mas o frio perdurava.

Como de costume, sai sem tomar café da manhã e dirige até a empresa, precisava
urgentemente encontrar um motorista particular.

Ao chegar ao escritório, suspira aliviada por não ter que encontrar Edward logo cedo. Sua
alegria dura pouco, pois ao entrar em sua sala, havia um copo de café em sua mesa.

Olha para a sala de Edward, de certo havia lhe comprado o café. Decidiu experimentar
para ver o que ele havia lhe trazido.

― Não sei se é este que gosta, mas resolvi arriscar. – Elizabeth ouve a voz atrás de si
enquanto bebericava um pouco do café.

Um calafrio percorre sua espinha. O ar dentro de seu escritório parecia que estava mais
gelado.

― Nada mal, Smith. – disse por fim. Não sabia como, mas ele havia acertado em cheio
seu tipo de café preferido.

Ao se virar para ele teve que prender a respiração. Edward estava mais bonito ainda,
como se fosse possível. Usava um terno azul marinho que combinava perfeitamente com a cor
de seus olhos. Qualquer uma ficaria sem fôlego. Ele não parecia em nada com um funcionário,
parecia um empresário, um aristocrata. “Deus, quem é esse homem?”.

Edward estava com uma mão no bolso da calça, fitando-a como se lesse a sua mente.
Elizabeth desvia o olhar e senta em sua cadeira presidencial.

― Obrigado pelo café. – foi sincera. ― Vou precisar de um favor.

O homem se aproxima.

― Sim?

Elizabeth estava meio atordoada com a força de seu olhar. Lutando para desviar a atenção
e não deixar que percebesse o quanto estava afetando-a, se vira para o computador.

― Ainda não encontrei nenhum motorista para ocupar o cargo, então, minha irmã e
minha amiga estão chegando da Europa e eu gostaria que fosse buscá-las no aeroporto.

Edward assente, atentando-se à palavra “Irmã”.

― A que horas devo buscá-las?

― Às dezessete horas e irá levá-las para minha casa. ― Elizabeth responde, porém, o
homem continuava parado a sua frente. ― Algo mais, senhor Smith?

― Como vou saber quem elas são?


“Que raio de pergunta é essa?” Claro que não as conhecia, mas poderia levar uma placa
ou qualquer outro tipo de identificação.

― Gwen e Clara. Tenho certeza que você irá encontrá-las... agora vá, tenho muito que
fazer.

Edward assente e volta para sua sala, havia alguns trabalhos que deveria fazer. Elizabeth
tentou se concentrar em seu trabalho, mas era impossível. Estava mais nervosa que o normal.
Era hora de fazer algo.

Levanta-se e foi para a sala de Anthony. Estranha o fato de Jane não estar em seu lugar.
Segue para a sala de seu amigo e entra sem bater, como de costume, porém, seus olhos se
arregalaram com a cena que presencia... mais um problema para a sua lista!

― Mas que merda é essa? - vocifera e bate a porta para que os dois pombinhos lhe
dessem atenção.

Anthony e Jane se soltam e olham assustados para Elizabeth, que estava de braços
cruzados.

― Lisa, calma... eu... – Anthony tenta explicar. Elizabeth o fita furiosa.

― Cale a boca, Anthony Carter. – o corta e se vira para a secretária. ― Volte para o seu
posto menina! Agora mesmo!

Jane estava tão atordoada que começa a chorar, não poderia perder o emprego por uma
inconsequência.

Elizabeth olha para Anthony que estava nervoso.

― Pelo amor de Deus Lisa! Não aconteceu nada e outra, Jane e eu estamos saindo!

Aquilo é o cúmulo! Elizabeth o encara novamente e manda, mais uma vez, que a menina
saísse da sala. Logo que sai, Elizabeth despeja toda a raiva que sentia.

― Você jura que vai ficar de rolinho com a secretária? É por isso que não quis me levar
na escola do Jason?

Relutante, Anthony assente.

― Mas e sobre a Gwen? Como ela vai ficar quando souber?

― Sua irmã não me quer mais. – dá de ombros. ― Eu não posso ficar esperando por ela o
resto da vida.
Elizabeth não podia fazer nada a não ser concordar. Não pensou que Anthony se daria por
vencido tão facilmente. Suspira pesadamente, o que poderia fazer? Algo dentro de si dizia que
a volta de Gwen mudaria algumas coisas.

― Eu não sei o que te dizer, não gosto de envolvimento no trabalho e você sabe disso. –
pausa. ― Mas se você gosta dela não posso fazer nada, apenas desejar que dê tudo certo.

Anthony a olha com um sorriso e se aproxima dela, puxando-a para um abraço forte.
Eram amigos de infância e ele parecia ser o único que conseguia suportá-la com toda a sua
chatice.

Elizabeth sabia que poderia ter se apaixonado por ele. Anthony era o que muitas mulheres
desejavam, mas não, os laços que os uniam eram puramente de amizade. Ele era o irmão que
ela não teve.

― E mesmo eu estando magoada com você por não ter ido comigo na escola do Jason, eu
o convido para jantar em casa esta noite.

― Mas eu estava planejando...

― Anthony! Não me decepcione de novo!

Elizabeth diz rudemente, se afasta e sai da sala. Anthony entende que estava furiosa e se a
decepcionasse de novo perderia aquela frágil amizade. Respira fundo e pensa que dispensar
Jane por apenas uma noite não faria mal, levando em conta que ela poderia ter sido demitida
após serem pegos em flagrante.

Edward chega faltando quinze minutos para o horário que Elizabeth tinha lhe informado,
entretanto, o voo atrasou e fica mais de uma hora esperando, até que vê as pessoas
desembarcarem. Mesmo com pressa, fez no computador uma plaquinha com os nomes “Clara
e Gwen”.

Sua vista não era das melhores, mas vê duas jovens se aproximando. Elas carregavam
carrinhos cheios de malas, uma loira e a outra morena. Edward imaginou que a morena devia
ser a irmã de Elizabeth, já que eram um pouco parecidas.

― Clara e Gwen? – pergunta ao se aproximar das jovens.

― Em carne e osso. – responde a morena. ― Eu sou Clara e esta é a Gwen.


Edward sorri e estende a mão para cumprimentá-las

― Muito prazer, sou Edward Smith e estou encarregado de levá-las para casa.

― Minha irmã enviou uma mensagem avisando que mandaria alguém. – disse a loira.

― Você é irmã de Elizabeth? – pergunta descrente.

A loira abre um sorriso.

― Não somos nem um pouco parecidas, não é?

Edward não queria responder, mas é claro que eram diferentes. A começar pelo gênio.

― Sou adotada. – esclarece e dá uma piscadela. ― Mas vamos? Estou morta de cansaço.

O homem dá de ombros e carrega as milhares de malas até o carro, sendo seguido pelas
duas que não paravam de rir e conversar.

― Clara, você nem imagina como estou louca para ver o Anthony. – Gwen suspira. ―
Sinto tantas saudades.

― E eu do Jason. – Clara responde. ― Tão fofinho e bonitinho! Eu vou apertá-lo quando


vê-lo.

― Eu conheci o Jason. – Edward comenta enquanto as olhava pelo retrovisor. ― Gente


boa.

― Sério? Como assim? – Clara pergunta.

Edward percebe que não deveria ter puxado conversa com as meninas. Elas olham de uma
a outra com um sorrisinho travesso.

― Elizabeth, digo, a chefe, me mandou levá-la a escola de dança que ele reinaugurou
esses dias. – responde tranquilamente.

― Lisa na escola de dança? Quando? – Foi à vez de Gwen saciar sua curiosidade.

― Noite passada. A chefe manda e eu obedeço. – sorri e as duas jovens se entreolharam


novamente e dão risada.

― Mas por que Michael não a levou? – Gwen pergunta novamente. Edward quis vomitar
ao ouvir o nome daquele sujeito.

― Não tenho ideia.


― Michael é um idiota. – Clara bufa. ― Odeio aquele cara.

O rapaz quis gritar no carro dizendo que também odiava o sujeito, mas isso seria feio e
inapropriado, então se limitou a fingir uma tosse e continuar saciando sua curiosidade.

― A senhorita é amiga de Elizabeth? Digo, da minha chefe?

“Não idiota, ela era uma desconhecida” pensou enquanto esperava a resposta da moça.

― Sou sim e sou irmã de Anthony, que você já deve ter conhecido.

― Sim, conheço. – responde enquanto se aproximavam do grandioso prédio. ― Mas veja


bem, o conheci há poucos dias e já simpatizei com ele.

Edward finalmente para em frente ao edifício. Ele as ajuda com as malas. Um dos
funcionários leva as outras malas e sobem, pelo elevador, em silêncio.

Ao entrarem no apartamento, o silêncio reinava. Gwen abre os braços e rodopia.

― Como eu senti falta desse lugar!

― Eu também. – Clara concorda. Vira-se para o rapaz e uma ideia surge em sua mente.
― Edward nós gostamos de você. – o puxa pelo braço ― Porque não fica para jantar conosco?

― Não sei se deveria.

― É claro que deve! – Gwen se intromete ao agarrar o outro braço do rapaz. ― Elizabeth
não irá achar ruim, está atendendo o pedido de sua irmã e sua melhor amiga, o que mais ela
pode querer? Tem algum compromisso hoje?

― Não tenho.

― Então resolvido, você irá ficar.


Elizabeth chega pouco depois das cinco e sobe direto ao seu quarto para se arrumar.
Anthony a acompanhara e, enquanto sua amiga se preparava, foi para a sala de vídeo, tira os
sapatos e estica as pernas. Sempre agradeceu à Elizabeth por não se desfazer de seu sofá, visto
que era o mais delicioso que tivera a oportunidade de experimentar em toda a sua vida.

Elizabeth escolhe um vestido simples, preto, que lhe cobria até os joelhos. Não se
importava com o frio, pois dentro de seu apartamento os aquecedores faziam um bom trabalho.

Jofrey dá algumas leves batidas na porta, puxando-a de seus devaneios. Informa que as
moças já tinham chegado e a esperavam na sala.

Elizabeth desce as escadas e se surpreende ao ver as meninas pulando em cima de


Anthony, que estava realmente confuso com tudo aquilo. Desce os últimos degraus e tosse
levemente, fazendo com que lhe voltassem à atenção.

― Lisa! Que saudade! – Clara grita e logo em seguida a abraça fortemente. ― Senti tanto
a sua falta, minha amiga!

― Eu também senti a sua. – replica, separando seus corpos. Seu olhar se direciona à sua
irmã. ― Não vai me abraçar?

― É claro que vou maninha! – a loira sorri e vai de encontro a sua irmã.

Edward se aproximou após pegar o restante das malas que tinham ficado no hall de
entrada. Não pôde deixar de observar como sua chefe estava bonita. Mesmo com seu gênio
nada fácil, não ofuscava a beleza de seu rosto.

Elizabeth encontra seu olhar, perscrutando-a da cabeça aos pés. Em sua mente, se
pergunta por que ele a olhava tanto. A verdade é que se sentia despida toda vez que ele a
fitava.

― Obrigado, Smith. – agradece secamente. ― Por favor, ajude Jofrey a levar as malas até
o quarto.

Edward não se importou de fazer o que ela tinha pedido. Seria uma boa desculpa para
conhecer um pouco mais de sua casa, seus hábitos e certamente, fugir daqueles olhos verdes
que tanto o intrigava. Jofrey se aproxima e ambos seguiram escadaria acima, entrando num
extenso corredor. Era um grande apartamento para uma só pessoa, pensou alarmado. Elizabeth
deveria estar acostumada à solidão.

Enquanto Edward não voltava, Elizabeth fala sobre o jantar para as meninas e Anthony,
claro, era o mais preocupado com o jantar, afinal, sua fome sempre falava mais alto.

― Nós convidamos Edward para jantar conosco. – Clara informa.

Neste momento, Elizabeth conversava com Anthony distraidamente. Ao ouvir aquelas


palavras, foi impossível não virar a cabeça como a garotinha do Exorcista.

― Vocês o quê? – tenta falar baixo para o resto da casa não ouvir, mas na verdade queria
berrar e esganar sua amiga.

― Está ficando surda? – Gwen ri. ― É isso mesmo que ouviu.

Elizabeth revira os olhos, sem acreditar naquela ideia absurda.

― Ele é meu assistente! Não pode ter esse tipo de liberdade que vocês acham normal.

― Ele é nosso amigo agora! – Anthony intervém, com o maldito sorriso vitorioso nos
lábios. Elizabeth quis retrucar, mas engole as palavras ao ver Edward descendo as escadas.

― Vocês me pagam depois. – resmunga baixo, com o tom mais ameaçador que já tinha
usado em sua vida.

Clara dá de ombros.

― Posso ligar para o Jason?

― Não precisa, ele já está vindo. – retruca secamente enquanto se afastava e deixava-os
conversando.

Edward a acompanha com o olhar, enquanto se afastava para a cozinha. Elizabeth respira
fundo, tentando controlar seu mau humor, afinal, seus amigos estavam ali esperando uma boa
recepção. Não podia deixar que seus problemas interferissem no relacionamento com as
pessoas que amava. Coisa que infelizmente acontecia com frequência nos últimos anos.
Sempre soube que a ida de Gwen para a Europa foi um escape para não ter que aguentar a
pessoa que tinha se tornado.

Na realidade, não era o fato de terem convidado Edward para o jantar que a incomodava,
mas sim, ver como aquele simples funcionário estava entrando em sua vida de uma maneira
que ninguém jamais conseguira. Nem mesmo Michael conseguira ultrapassar as suas barreiras
de gelo, mas aquele sujeito... estava deixando-a sem palavras.

Elizabeth se aproxima deles novamente. Conversas de: “Como foi à viagem?”, “A comida
do avião estava boa?”, “Aprendeu algo com as Parisienses?” rolavam solta.

O elevador se abre e Clara sabia muito bem quem era. Correu para Jason, se jogando em
seus braços. Eles mantinham uma relação bem estranha. Gostavam-se, mas não assumiam nada
sério.

Elizabeth sente uma ponta de inveja ao ver como eram felizes com suas vidinhas.

Jason e Clara deram as mãos e se aproximaram do grupinho aglomerado na ponta da


escada.

― Ora, ora, vejamos quem entrou para o nosso clubinho. – Jason comenta ao estender a
mão e cumprimentar Edward.

― Mas a que horas vai sair esse jantar? Estou morrendo de fome! – Anthony reclama.

― O jantar já pode ser servido, senhor. – comunica Jofrey ao se aproximar.

Anthony suspira aliviado.

― Bem na hora hein! Bendito seja Jofrey! – deu-lhe um tapinha nas costas.

Elizabeth revira os olhos e segue seus amigos até a sala de jantar. A mesa estava bonita,
bem arrumada, com os talheres de prata que herdara de sua mãe. Toma seu assento na ponta da
mesa, Anthony, Clara e Jason sentaram no lado direito, Gwen e Edward do lado esquerdo. A
empregada se apressa em servi-los.

Edward não disse uma só palavra, tentando desviar do olhar de sua chefe. Ele sabia que
ela não tinha gostado nem um pouco da ideia de jantar ali, com sua família e amigos. Mas o
que podia fazer? Fora praticamente intimado e não podia fazer uma desfeita com sua irmã
bondosa.

― Qual vinho nos recomenda hoje, Edward? – Elizabeth quebra o silêncio e levanta sua
taça de cristal.

― Romanée-Conti, que tal? – rebate imediatamente.


― Boa escolha. É Francês, não é? – Anthony o fita.

Edward assente.

― É um dos meus preferidos.

Elizabeth arqueia a sobrancelha. Como um simples assistente pobretão sabia sobre vinhos
tão caros?

― Então você já experimentou um vinho que chega a custar mais de quinze mil dólares?
– Elizabeth comenta sarcasticamente.

Edward sabia que tinha pisado na bola. Não tinha intenção de que sua chefe descobrisse
sua verdadeira identidade.

― Eu já tive a oportunidade de jantar com um amigo em Londres que adorava esse vinho.
– esclarece.

Elizabeth assentiu, pensando se aceitaria aquela resposta ou não.

― Você sabia que somente 6.000 garrafas são produzidas por ano? E que pouquíssimas
pessoas têm acesso a uma garrafa dessas? – Elizabeth instiga, queria ver até onde ia o
conhecimento do homem.

Edward pareceu se surpreender.

― Sério? Interessante.

É claro que sabia desse detalhe, mas não queria revelar seus conhecimentos.

― Então é sorte conseguir uma garrafa dessas, não é?

Elizabeth balança a cabeça afirmativamente enquanto Jofrey despejava uma quantidade


razoável em sua taça.

― Absolutamente.

― Charles era um especialista em vinhos, por isso conseguiu várias garrafas dessas.

– Anthony comenta e de repente o silêncio toma conta.

Elizabeth desvia o olhar e isso não passa despercebido por Edward. Quem era Charles? E
por que a simples menção de seu nome incomodou sua chefe?

― Vamos falar de coisas boas? – Clara interrompe o silêncio. ― Querem que eu fale das
coisas que eu trouxe da viagem?
― É lógico, conta aí. – Anthony a cutuca.

Elizabeth mergulha em seus pensamentos enquanto Clara e Gwen falavam sobre a


viagem.

Falaram sobre sapatos, joias e perfumes. Sobre homens e tudo o que se lembravam. Gwen
contou que quase conseguiu entrar no Palácio de Buckingham, mas foi impedida por guardas
locais.

― É uma facilidade enorme atravessar de Paris à Londres. – Gwen comenta e fita


Edward. ― Você é de qual região de Londres?

Ele arregala os olhos.

― Seu sotaque. – ela esclarece antes que ele perguntasse. ― E não sei, você se parece
muito com os londrinos que vi nesses últimos meses.

Edward riu.

― Eu não tinha uma moradia fixa.

Não mentiu, mas também não falou a verdade. É óbvio que tinha uma casa, mas com seus
deveres e obrigações precisava viajar sempre.

― Entendo. – Gwen sorri. ― Mas prefere aqui ou Londres?

― Nova York tem seus encantos... – sorri e deliberadamente olha para Elizabeth. “Que
droga de cantada é essa?”.

Gwen e Clara se entreolham e um sorrisinho travesso surgiu. Elas já tinham entendido


tudo.

Elizabeth se remexeu desconfortavelmente no lugar. Toma mais um gole de vinho para


ajudar a descer o jantar entalado em sua garganta.

― Quero voltar logo à Paris. – Clara suspira. ― Lá é tão apaixonante.

― Nova York é muito mais interessante. – Elizabeth determina.

― Concordo com você. Nova York é muito mais apaixonante. – Edward ergue a taça e
abre um sorrisinho.

Elizabeth já não sabia onde enfiar a cara.

Jason os interrompe.
― Se vamos falar de coisas apaixonantes, peço licença para dizer que as senhoritas
deveriam ter visto Edward e Elizabeth dançando em minha escola.

Edward engasga imediatamente com o vinho que acabara de levar à boca. Elizabeth
arregala os olhos e deixa o talher cair de sua mão.

“Eu vou matar Jason com minhas próprias mãos.”

― Epa! Que dança? – Clara pergunta ao olhar de Edward para sua amiga.

Gwen encarava-os como se fossem criminosos pegos em flagrante e Edward implora aos
céus para que se abrisse um buraco debaixo de seus pés.

― Não vão falar nada? – Gwen inquire ao cruzar os braços. ― Estamos esperando.

Anthony fingiu surpresa.

― Qual música dançaram? – Sim, ele adorava colocar lenha na fogueira.

Elizabeth se vira para ele.

― Não interessa!

― Foi uma música bem romântica. – Jason sacia a curiosidade de todos com um sorriso
de “Te entreguei Elizabeth”.

― Seria uma boa ideia dançarem para nós. – Anthony provoca. ― Vocês não gostariam
de ver, meninas?

― Mas é claro! – As duas responderam em uníssono.

― Vocês não querem porcaria nenhuma! – Elizabeth joga o guardanapo na mesa e se


levanta furiosa. ― Se me dão licença, irei me retirar.

Todos fizeram silêncio absoluto. Ninguém ousaria provocar o humor negro de Elizabeth.
Mesmo com o frio absurdo, seguiu para a sala de estar e depois para a área externa de seu
apartamento.

Era uma espécie de jardim e continha uma piscina, feita sob medida. Aquele era o sonho
que seu pai realizou quando ela tinha apenas dez anos. Construir uma piscina para que juntos
pudessem se divertir.

Sua raiva era pela insinuação besta de que aquela fora uma dança romântica. O pior de
tudo era ver que Edward estava ali, se divertindo com aquela situação desastrosa. Ele
definitivamente era uma pedra em seu sapato.

Lá dentro, Clara quebra o silêncio com uma risada.

― Conseguiu estressá-la, Jason. Ah, mas que se dane... vamos para a sala de vídeo?
Quero te mostrar algumas coisas que eu trouxe.

― Vamos sim.

― Eu também preciso conversar com você, Anthony. – Gwen sorri timidamente. ― Será
que podemos ir até o escritório?

― Vamos claro. – Anthony se levanta. ― Edzão, fica a vontade. Vamos dar umas voltas,
mas qualquer coisa é só gritar.

Edward balançou a cabeça afirmativamente enquanto os quatro se afastaram. Hoje estava


definitivamente ferrado. Se Elizabeth não o havia demitido, agora o faria, sem dó e nem
piedade.

Fora um erro ter dançado com ela, sendo que aquela era apenas uma relação entre chefe e
funcionário. O inferno todo é que gostara daquela dança e, o pior não conseguia tirá-la de sua
cabeça desde o primeiro dia que a vira em sua sala.

Respira fundo e se levanta. O melhor a se fazer era dar uma volta e depois ir para casa.
Nunca deveria ter aceitado participar daquele jantar, sabia que Elizabeth não havia gostado
nem um pouco. Talvez – com a benção de Deus – ela se acalmasse e não o demitisse.

Edward sabia que ela só o via como um simples assistente. Ele não a condenava por isso,
afinal, era noiva de outro e quem sabe, logo poderia estar casada, levando suas empresas à
diante. Ele seria somente uma sombra que passou por sua vida.

Sai da sala de jantar e segue para a sala de estar. O apartamento estava silencioso. Talvez
devesse ir para a casa e rezar para que Elizabeth se acalmasse. É quando vê a porta de vidro
entreaberta, que levava para área externa do apartamento.

Estava escuro, mas ele caminha um pouco, respirando o ar gélido. Seus olhos
encontraram a silhueta feminina de costas para ele, parada em frente à piscina, com um cigarro
aceso nas mãos e o pensamento longe.

Elizabeth sabia que era um hábito horrível fumar, mas era a única coisa que a mantinha
calma. Suspira, deixando-se levar pelos pensamentos e lembranças. Por que seu humor estava
tão afetado nesses últimos dias?

É claro que a razão de seu mau humor tinha um nome, aliás, tinha vários. E o primeiro
deles era: Edward Smith.
Provavelmente, Anthony e as meninas nunca a deixariam em paz e essa história da dança
poderia facilmente cair nos ouvidos de seu noivo, coisa que não ficaria nada bem.

― Hey! – Edward se aproxima. ― Quero falar com você.

Elizabeth ouve aquela voz que estava lhe tirando a paz há alguns dias. Colocando sua
máscara de frieza, vira-se para ele e o fita com desdém.

― O que quer Smith?

― Eu acho que disse que quero falar com você.

Edward não tinha a intenção de ser grosso, mas a mulher não lhe deixava opções.

― Então fale logo, não tenho tempo para perder com bobeiras. – retruca.

O homem respira fundo. Ela podia ser sua chefe dentro da empresa. Aqui, eram somente
Elizabeth e Edward.

― Por que ficou daquele jeito quando falaram sobre a dança? – pergunta, cravando seus
olhos nos dela.

Elizabeth vê aqueles olhos azuis como a cor do mar e naquele momento não se parecia
nada com um simples assistente.

― Não é da sua conta. – responde baixo.

― É da minha conta sim. – Edward a puxa pelo braço e a trouxe para mais perto de si. ―
Qual é o seu problema comigo? Eu danço mal? Eu estou fedendo, por acaso?

Seria cômico se não fosse trágico. Como há tempo não fazia, Elizabeth quis rir de
verdade. Essa era a preocupação dele?

― Não tem nada a ver com sua capacidade de dançar! – retruca, puxando seu braço.

― Então tem a ver com o quê? – pergunta, encurralando-a. ― Tem vergonha de dizer que
gostou de dançar comigo?

Ele estava tão próximo dela quanto no dia que dançaram. Elizabeth se odiou mais uma
vez por mal conseguir respirar. Odiou quando suas pernas estremeceram, ainda mais quando
ele a fitou com seu rosto perfeitamente desenhado com traços fortes e linhas retas, que lhe
davam um ar aristocrata. Se não o conhecesse, diria que ele era um membro da alta sociedade.

Odiou quando o perfume amadeirado invade suas narinas e seu corpo começa a dar sinais
que há tempos estavam adormecidos. Ele estava tão próximo, com um olhar tão cortante que a
única coisa que ela queria era imediatamente sair dali.

Elizabeth fica em silêncio e Edward a trouxe para mais perto, encostando seus corpos e
deixando-se mergulhar nos olhos verdes que tanto o encantavam. Somente suas respirações
podiam ser ouvidas. Elizabeth não era criança e sabia o que estava acontecendo ali. Não podia,
não era certo. Ela deveria cortar o mal pela raiz.

A fim de se livrar daquela situação, leva o cigarro à boca e suga a fumaça, aguardando
alguns segundos antes de soltá-la lentamente no rosto de Edward. Uma maneira sutil que
encontrou de mandá-lo ao inferno.

Ele fecha os olhos imediatamente, mas os abre a tempo de ver o sorrisinho cínico que
surgiu nos lábios carmesins. Por Deus, precisava dar um jeito naquela mulher! Não a deixaria
pisoteá-lo.

― Você quer saber? – perdendo o resto da paciência, a puxo pela cintura e a firma contra
seu peito. ― Eu adorei dançar com você. Foi a melhor experiência da minha vida e não estou
falando isso porque você é minha chefe! – para por alguns segundos, observando seus olhos
verdes indignados. Sem desviar o olhar, continua: ― Seu toque, as curvas de seu corpo, seu
olhar... não consigo tirar isso da minha cabeça e saiba que não me arrependo de nada, mesmo
que me chute para fora de sua empresa!

Elizabeth não sabia o que fazer. Seu coração parecia querer pular de seu peito. Suas
pernas tremiam. Aquelas palavras corroeram a sua mente e a deixaram mais confusa do que
nunca.

“Mas que inferno está acontecendo?”.

Edward sabia que tinha cruzado uma linha tênue, mas agora era tarde para se retratar.
Dizendo adeus ao resto de bom senso e seguindo seu instinto, aproxima-se lentamente dos seus
lábios. “Estou louco, só pode”. Mas aquela loucura iria até o fim e que Deus o ajudasse com as
consequências.

― Me solta, Smith!

Elizabeth grita e então tudo acontece em câmera lenta. Quando se desvencilhou dos
braços de Edward, desequilibra-se e ao tentar se apoiar, o puxa e caem na piscina. O ditado
apropriado para a ocasião seria: Rir para não chorar! E foi exatamente o que Edward fez.

― Olha o que você fez, imbecil! – Elizabeth vocifera após emergir na água.

Para sua infelicidade o aquecedor estava desligado. Agitava-se enquanto tentava controlar
seu vestido, que teimava em subir e deixar suas coxas à mostra. Amaldiçoava a si própria e a
ele, mas o que mais a enfureceu foi aquele sorriso que ele lhe lançou, um sorriso que faria o
coração de qualquer moça parar por um segundo.
De todas as coisas que poderiam acontecer na sua vida, aquela, sem dúvidas, entrava no
hall das piores. A água gelada imediatamente fez o trabalho de deixar seus lábios roxos.

Procurando a calma em suas veias, ela nadou até o lado onde estava à escada que a tiraria
daquele fundo de poço. Nunca em sua vida odiou tanto uma piscina, como naquele momento.

Para a sua infelicidade, o autor daquela confusão estava parado em frente à escada,
bloqueando a sua passagem.

― Saia da minha frente! – Elizabeth vocifera. ― Eu juro por Deus que não respondo por
mim!

Edward abre um sorriso brincalhão.

― Eu duvido que passe por aqui. – cruza os braços de encontro ao peito. A piscina não
era tão funda, então conseguia ficar perfeitamente em pé.

― Eu vou passar! – determina enquanto juntava forças e nadava até a escada.

O homem de braços cruzados balança a cabeça negativamente.

― Não vai sair daqui enquanto não sorrir.

Elizabeth arregala os olhos, estupefata.

― O quê?

― Meu pai costumava dizer que quando uma situação se torna ruim o bastante, o único
remédio que nos resta é sorrir.
― Você está louco, só pode! – retruca. ― Eu estou falando sério, Edward. Saia da minha
frente ou não sei o que vou fazer.

O homem bufa.

― Você é uma mulher muito difícil, sabia?

Sim, ela sabia, porém deu de ombros e quando ele se afastou da escada, grudou as mãos
na barra de ferro. Apoiou um pé de cada vez, tomando o cuidado para que não visse suas
roupas íntimas.

Edward mantinha um sorriso travesso e observou cada movimento de sua chefe. Ela
estava claramente irritada, entretanto, como o bom demônio que era, não a deixaria sair da
piscina sem rir da situação.

Seguindo sua intuição, Elizabeth subiu um degrau de cada vez e quando chegou ao último
e a água já escorria de seu corpo, dois braços fortes a agarraram pela cintura, puxando-a de
volta.

A água envolveu seu corpo e ela nada pôde fazer. Nem gritar, se não quisesse se afogar.

Edward a solta e ri loucamente, como uma criança que acabara de aprontar. Elizabeth se
estabiliza na água e passa as mãos no rosto, afastando os cabelos que grudaram. Abre os olhos
e o encontra rindo, como se aquela fosse uma grande piada.

E ele deveria estar certo, ela sentia-se como a maior piada do ano. Nesse momento, a
raiva presa em seu peito, esvaiu-se como por um milagre e riu como há muito tempo não o
fazia.

Clara, Jason, Anthony e Gwen estavam na sala de visitas quando ouviram risos que
ecoavam da área externa do apartamento. Com a curiosidade à flor da pele, correram até a
porta de vidro.

― Meu Deus do céu! – Clara murmurou. ― A Lisa está rindo?

Os outros se esforçaram para visualizar melhor a cena.

― Gente. – Anthony riu. ― Acho que vou para casa, vai cair um dilúvio hoje!
Eles riram e continuaram observando a cena. Elizabeth de repente ria cada vez mais e até
Edward se surpreendeu. Para o seu consolo, a mulher possuía a risada mais gostosa de se
ouvir. Entretanto, o feitiço durou pouco e logo a mulher se recompôs e aquele clima divertido
foi pelo ralo.

― Venha, você precisa tomar um banho quente ou ficará doente. – Elizabeth murmura.

O rosto sério se estabelece, porém, algo em sua voz estava diferente.

― Eu não trouxe nenhuma roupa.

― Não tem problema, Jofrey trará roupas secas para você.

Edward assente e sai da piscina logo depois.

“Você está tão encrencado”, pensou alarmado. Agora sua situação era bem pior. Além de
quase beijá-la, poderia ficar doente como consequência de seus atos impensados.

Tremeu quando sentiu o frio percorrendo sua espinha. Ao chegarem à cozinha, o


mordomo os fitou alarmado.

― Senhorita! O que aconteceu? – Jofrey se aproximou. A preocupação estampada em sua


voz.

― Caí na piscina. – esclareceu. ― Por favor, acompanhe o senhor Smith até um dos
quartos para que tome um banho quente.

O mordomo olha para Edward como se lesse seus pensamentos.

― Senhor Smith, me acompanhe, por favor.

Edward revira os olhos, sabia que os empregados tinham a mania de se intrometer na vida
de seus patrões, todos eram assim. Passaram pelo vestíbulo e subiram as escadas que dava para
o corredor dos aposentos.

― Pode usar esse. – Jofrey gira a maçaneta. ― Tudo o que precisa está no banheiro. Logo
lhe trarei roupas secas.

O mordomo abaixa a cabeça levemente e se retira. Edward respira fundo e analisa o


cômodo por alguns instantes. Uma cama gigantesca e alguns móveis modernos. Não parecia
ser o mais luxuoso, mas mesmo assim, não deixava a desejar em nenhum aspecto.

Elizabeth passou por seus amigos que a olhavam como se tivessem visto o diabo. Revirou
os olhos e seguiu seu caminho, precisava urgente de um banho quente.
“Maldito seja Edward Smith!” Depois trataria de colocá-lo na linha, por enquanto,
precisava lhe arrumar roupas secas ou pegaria uma pneumonia.

Foi até o quarto que era de seu pai e abriu o closet. Suas roupas ainda estavam lá, intactas.
Elizabeth nunca deixou que as recolhessem. Gostava de manter tudo ali, do jeito que ele
sempre fez. Respira fundo e escolhe uma camisa de botões e uma calça jeans escura. Por
incrível que pareça, Edward e seu pai tinham quase a mesma altura e supôs que daria certinho.

Ao pegar as roupas sentiu algo incômodo, nunca, jamais, deixara que alguém encostasse
as mãos nas roupas de seu pai, nem mesmo Michael que uma vez implorou para que lhe
emprestasse uma camisa que ele achava bonita.

Porém, agora, nem ela mesmo entendia porque estava emprestando as roupas de seu
querido pai para um estranho. Um estranho que era seu assistente pessoal e que quase a beijara.

Sua mente vacilou ao imaginar como teria sido se ele a tivesse beijado. Balançou a cabeça
rapidamente tentando afastar aqueles pensamentos, até porque, era noiva de outro e aquilo
definitivamente não podia acontecer. Entretanto, por outro lado, teve vontade de experimentar
aquele beijo, talvez, quem sabe, ele a fizesse sentir o que há tempos não sentia.

Respirou fundo, mais uma vez, e saiu do closet. Antes de se trocar, lhe daria as roupas
secas. Elizabeth foi até o quarto que Jofrey lhe indicou, bateu na porta e entrou lentamente.

O barulho do chuveiro era audível, por isso deixou as roupas dobradas em cima da cama e
se virou para sair, quando a porta do banheiro se abriu e Edward saiu de lá com a toalha
enrolada na cintura.

― O que faz aqui?

Elizabeth se vira para ele, tentando não olhar para seu corpo praticamente nu.

― Eh... vim trazer algumas roupas secas.

Desde quando se atrapalhava com as palavras?

Edward se aproxima dela, percebendo o quanto estava sem graça. Seria um cretino se
dissesse que estava deixando-a nervosa?

― Obrigado. – murmurou roucamente. ― Mas Jofrey poderia ter trazido.

― É realmente. – concorda erguendo a cabeça, não se deixando abalar com aquela


situação embaraçosa. ― Me desculpe, vou deixá-lo à vontade.

Elizabeth saiu mais rápido que um raio, fechou a porta e se recostou nela. Contou até dez
mentalmente, precisava urgentemente apagar de sua memória aquele homem despudorado,
somente de toalha. Definitivamente, aquele não era o seu dia.

Do lado de dentro, Edward balança a cabeça e ri quando sua chefe saiu correndo do
quarto, exatamente como o diabo fugia da cruz. É claro que gostou de tê-la afetado, pois viu
claramente o quanto ela ficara sem jeito com aquela situação. Ele se sentiu a serpente no
paraíso, provocando Eva para que comesse do fruto proibido.

Após chegar a seu quarto, Elizabeth se senta na cama. Sentia-se tão exausta. A imagem de
Edward enrolado na toalha ainda não havia saído de sua mente. Ele não era o tipo musculoso
de academia, mas era na medida certa para ela e os cabelos molhados e desalinhados faziam
com que sua imaginação fluísse solta. Não queria nem pensar no que estaria por baixo daquela
toalha.

Elizabeth agita a cabeça querendo esquecer aquela situação. Era a segunda vez que ele
conseguia deixá-la sem reação. O que estava acontecendo? Nunca ficara sem reação por causa
de um homem. Precisava se recompor, se colocar em seu lugar de patroa e ele de funcionário.

Edward desceu as escadas, foi para a sala de visitas e deu de cara com seus coleguinhas,
se é assim que poderiam ser chamados. Eles o fitavam como se soubessem o que tinha
acontecido e ele já se preparava mentalmente para responder todas as perguntas.

Entretanto, ninguém perguntou nada. A única voz a dizer algo, foi Anthony, que
reclamava sem parar, dizendo que gostaria de ir para casa.

― Cadê a Lisa? Quero me despedir. – Jason cruza os braços.

― Edzão, você me dá uma carona? – pergunta Anthony.

― É claro.

Elizabeth logo aparece, os cabelos soltos e molhados, com a sua famosa cara de poucos
amigos. Já estava preparada para a enxurrada de perguntas e se surpreendeu quando ninguém o
fez.

― Já estamos indo. – Anthony anunciou. ― Obrigado pelo jantar, estava maravilhoso.

― Que bom que gostou. – Elizabeth assentiu. ― Clara vai também?

― Eu vou ficar, temos que colocar os assuntos em dia. – sorri maliciosamente. ― Várias
coisas, pelo visto.

Anthony se aproxima e abraça Elizabeth, assim como Jason também o fez. Edward deu
um beijo no rosto de Clara e Gwen e sem que percebesse também deu um beijo no rosto de
Elizabeth.

O clima ficou pesado, com olhares assustados. Edward não pediu desculpas, apenas lhe
concedeu sorriso acalentador.

― Boa noite, senhorita Adams.

Elizabeth o fitou por alguns instantes, como se aquele beijo em seu rosto tivesse sido um
tapa.

― Boa noite, Smith. – replica seriamente, retomando sua postura. Não queria deixar
transparecer o quanto ele estava mexendo com ela.

Os meninos subiram pelo elevador e quando tiveram certeza de que haviam ido embora,
Clara e Gwen a cercaram e cruzaram os braços.

― Vai nos explicar o que está acontecendo ou teremos que adivinhar? – Gwen foi a
primeira a se manifestar.

― Explicar o quê? – deu de ombros. ― Estou cansada e quero dormir. Deveriam fazer o
mesmo.

― Dormir com todo esse clima rolando? Vai ter que nos contar agora mesmo! – Clara
protesta.

Elizabeth revira os olhos. Não estava enganada quando seu cérebro sugeriu que seria
inundada de perguntas.

― Vamos para meu quarto e lá conversaremos.

As meninas acompanharam Elizabeth até seu quarto. Ao entrar, se joga na cama pronta
para responder o interrogatório. Edward Smith estava se tornando mestre em deixá-la em uma
péssima situação.

― Primeiramente, como você está? – Gwen se joga ao seu lado.

― Bem, obrigada por perguntar.

― Eu não vou perguntar como você está porque quero saber tudo sobre o bonitão Smith.
– Clara acentua bem a palavra “bonitão”.
Novamente, revira os olhos. Não se lembrava da última vez que teve que dar satisfações
da sua vida para seus amigos.

― Ele é meu assistente, contratei há pouco tempo. – respira fundo. ― Já vi que vocês
gostaram dele.

― Gostamos, mas e você? – Gwen apoia o queixo no antebraço.

Elizabeth abre os olhos e as encara. Que raio de pergunta era aquela?

― Ele é dedicado ao trabalho e tem cumprido muito bem com suas obrigações.

Clara revira os olhos.

― Não estamos perguntando se ele é um bom funcionário ou não. – fez uma pausa e
encarou a amiga. ― Queremos saber se há algo entre vocês.

― NÃO! – Gritou tão alto que provavelmente o mordomo ouviria lá de baixo. ― Estão
loucas? Eu tenho um compromisso com Michael e...

― Falando nesse demônio, como vocês estão? – Gwen cortou-a.

― Estamos bem, eu acho. – suspira. Sentia-se uma idiota com toda aquela conversa. ―
Michael é meu noivo.

― Mas você não o ama, Lisa. – Clara foi direta. ― Por que levar adiante um noivado que
não te faz feliz?

E alguém finalmente fizera a pergunta de um milhão de dólares. Por que levar aquele
noivado adiante? A verdade é que não tinha uma resposta.

― Mas quem disse que ele não me faz feliz? – Elizabeth suspira. Clara estava certa,
nunca Michael a faria feliz, mas era a única pessoa que conhecera em sua vida e não acreditava
que existisse algum tipo de amor verdadeiro. Estava acostumada a ele. ― Esse noivado era do
gosto do meu pai e vocês sabem disso.

― Garanto que se o pai estivesse aqui, iria priorizar a sua felicidade. – rebate. ― Você já
se olhou no espelho? Está vazia, sem vida!

― Gwen, você viveu praticamente a sua vida toda na Europa, como pode dizer qual seria
a prioridade do papai? Esqueceu-se que eu estava sozinha quando tudo aconteceu?

E o silêncio reinou no quarto. Elizabeth se senta na cama com as pernas cruzadas e


esfrega a testa.
― Me perdoa, eu não quis dizer isso.

Gwen também se senta.

― Não há o que perdoar. Eu te entendo, só não gosto de vê-la tão triste.

― Eu não sou triste. Se eu mudei, foi pelas coisas que aconteceram. – suspira. ― No
fundo eu sempre fui assim, nunca me importei com o que pensavam de mim.

― Mas não era grossa como é hoje em dia. – Clara alfineta. A baixinha era a cópia de seu
irmão, Anthony. ― Por exemplo, por que tratar o Edzinho daquele jeito?

― Que raio é esse de Edzinho? – dispara.

Clara ri abertamente.

― Tá vendo, essa é você Elizabeth Adams.

O silêncio no carro era constrangedor. Toda vez que Anthony abria a boca para bocejar,
se parecia com um buraco negro prestes a engolir a todos. Jason estava com a cabeça tombada
no vidro e Edward, dirigia com muito sono e cansaço, mas procurava se manter acordado.

― O jantar estava ótimo. – comentou tentando puxar assunto e quebrar aquele terrível
silêncio.

― A hospitalidade da Lisa é incrível, coisa que você não encontra em qualquer lugar. –
Jason replicou. ― Apesar do terrível mau humor.

― E a conversa também estava ótima. – Edward comenta mais uma vez.

― E a piscina melhor ainda né, Edzão! – Anthony desferiu-lhe um tapa nas costas.

Jason e Anthony soltaram uma gargalhada alta.

― Não precisa ficar sem jeito, cara. – Jason sorri. ― Você já é da turma. Mas agora nos
diga, o que está rolando entre você e a Lisa?

Sabia que mais cedo ou mais tarde eles perguntariam alguma coisa. Mas o que
responderia quando nem ele mesmo sabia o que estava acontecendo?
― Que eu saiba nada. – tenta desconversar. ― Nossa, estou tão exausto, quero chegar
logo em casa...

Anthony era mais esperto nessas questões.

― Não tente desconversar! Nos diga o que você acha dela.

Edward respirou fundo. Não adiantava mentir, logo descobririam sobre seu súbito
interesse.

― Eu a acho... hum... interessante.

― O que mais? – Jason instiga.

― Bonita.

― Ah! Seu safadinho! – Anthony bate em suas costas mais uma vez. ― Você está a fim
dela, não é?

Edward não respondeu. O que adiantaria admitir em voz alta? Ela era a sua chefe e nunca
o veria com outros olhos. Talvez, se a vida tivesse sido justa o suficiente e assumido suas
responsabilidades em Londres, quem sabe, a teria conhecido por outros meios e conquistado
aquele coração de pedra.

― Quem cala, consente, já dizia a minha avó. – Anthony disse.

― Não estou consentindo nada. – reclama. ― Não entendo aonde essa conversa vai
chegar.

Anthony e Jason se entreolharam.

― Você não sai desse carro, sem nos contar tudo o que sente.
― Cara, fala logo, não vamos contar pra ela. – Jason suplica, sentindo-se extasiado com
toda aquela conversa.

― Mas Jazz, pensa bem. O que adianta ela não saber? Assim fica difícil juntar os dois! –
O raciocínio de Anthony sempre foi bem lógico.

Edward chegou até o prédio onde Anthony morava e estaciona o carro, mas eles
continuaram lá dentro esperando que ele respondesse.

― Na verdade, eu não sei. – disse por fim. ― É fato que ela é muito atraente.

― Ah isso é verdade. – Anthony se esparrama no banco traseiro, um sorriso bobo nos


lábios como se imaginasse algo impróprio. ― Se não fossemos tão amigos... quem sabe.

Edward arregala os olhos mediante aquela confissão. Imaginar coisas impróprias com a
melhor amiga, não era coisa de Deus.

― Para de me olhar assim. – Anthony o repreende. ― Ficou com ciúme? É porque gosta
dela.

Jason balança a cabeça afirmativamente.

― Tá bom! Vocês ganharam! – Edward bufa. ― Eu estou afim dela sim, mas o que
adianta? Eu sou um simples assistente.

Anthony e Jason trocaram um olhar significativo. Ambos conheciam Elizabeth desde


criança e também não suportavam Michael. Quando teriam uma chance melhor que essa?

― Iremos ajudá-lo, meu caro. – Jason disse por fim.


― Mas ela tem noivo...

― Pode até ser, mas você não está morta. – Clara sorri. ― Precisa sair mais.

― Ir à balada? Eu lá tenho idade pra isso? – revira os olhos.

― Claro que tem! Faz quanto tempo que você não fica de porre? – Gwen pergunta.

Elizabeth revira os olhos mais uma vez. Nunca gostou dessas coisas. Quando era um
pouco mais nova ia às baladas por curiosidade, mas odiava quando sua irmã ou Clara
vomitavam em sua roupa por beberem demais.

― Acho que você precisa encontrar um novo amor. – Gwen suspirou. ― Alguém que te
faça perder o ar, nem que seja por poucos segundos.

Elizabeth já estava cheia daquela conversa.

― Você já encontrou alguém que faça isso com você? – ladra. Sabia dos rolos entre ela e
Anthony e que nunca se acertavam.

― Não estamos falando de mim. – replica. ― Nos conte sobre Edward, o que acha dele?

― Eu já disse o que acho dele. – devolveu, irritada. ― Não sei o que querem que eu diga.

― Seja sincera conosco. – Clara pede. ― Você o acha bonito?

Elizabeth hesita por um instante, mas não podia negar. Edward era dono de uma beleza
indiscutível. Olhos azuis penetrantes, rosto aristocrático, porte físico que não deixava a desejar.
E disso tinha absoluta certeza, ainda mais agora, depois de flagrá-lo somente de toalha.

― Sim, ele é bonito, isso não posso negar.

Clara e Gwen se agitam.

― Ele parece estar caidinho por você. – sua irmã comenta. ― Só não vê quem é idiota.

― Vocês estão comendo merda, só pode! – Elizabeth dispara.

― Acha que não vimos o jeito que ele te olha? – Clara sorri bobamente. ― É como se
não tivesse ninguém ao redor.
― Vocês estão loucas. – Elizabeth se levanta. ― Eu tenho um noivo!

― Ridícula essa sua atitude, Edward. – Jason reprova. ― Aliás, falta de atitude.

― Mas eu dei o primeiro passo!

― O que você fez? – Anthony pergunta curioso.

― Tentei beijá-la. – Edward suspira. ― Mas não deu certo, e foi aí que caímos na
piscina.

― Não cara! – Jason leva as mãos à cabeça, exasperado. ― Não é assim que você vai
conquistá-la. Elizabeth é uma mulher diferente. – Anthony balançava a cabeça, concordando
com cada palavra. ― Ela é uma mulher tímida! Por acaso não lhe deu um tapa?

― Não, mas também não teve tempo pra isso, caímos na piscina.

Edward sorri ao se lembrar do quase beijo que roubou dela. Seu olhar assustado, sua pele
contrastando com a luz que irradiava da piscina.

― Vou te dar as instruções. – Anthony quebra o silêncio. ― Você tem que chegar com
jeito...

― De louco, ele sempre teve um pouco. – Clara comenta ao se lembrar de suas proezas
na Europa. ― No final, esse garoto nos levou até a torre Eiffel e tiramos muitas fotos.

― Mas não vamos falar só de nós. – Gwen sorri. ― Estávamos falando da Lisa e do
Edward.

― Mas que inferno! – Elizabeth vocifera, mandando ao espaço todo o resto da sua
paciência. ― Já disse que não há nada para falarmos.

― Você está muito estressada! – Clara a repreende. ― Quanto tempo faz que você e o
Michael não... você sabe né?
Elizabeth se joga na cama, cansada de toda aquela conversa. “Elas não estão cansadas da
viagem?” Pelo jeito não.

― Sei lá, já perdi as contas.

― Tenho certeza que já ganhou um belo par de chifres, minha querida. – sua irmã
suspirou. ― Não quero deixá-la preocupada, mas se ama o Michael e decidiu ir em frente com
esse noivado, é melhor manter as coisas boas entre vocês.

― Não me importo se levo chifre ou não, só quero viver em paz.

As meninas se calaram por um instante, mas logo voltaram a conversar. Havia tantas
coisas para falarem que ficaram até de madrugada. No final das contas, acabaram
adormecendo na enorme cama de Elizabeth.

“Elizabeth se admirava no espelho de seu quarto, feliz com sua aparência. Usava um
longo vestido branco com detalhes de renda. Uma coroa prateada adornava sua cabeça e
alguns fios de cabelo caíam ao redor de seu jovem rosto. Era seu grande dia e não poderia se
atrasar. Desceu as escadas e caminhou lentamente até o jardim. Os fotógrafos já estavam em
seus postos e quando a viram, dispararam uma série de flashes que quase a cegaram.
Caminhou lentamente pelo corredor decorado com petúnias, que eram as suas flores favoritas
e um longo tapete vermelho. Ele já estava lá. Michael a esperava para desposá-la naquele dia.
Entretanto, ao se aproximar, o homem que estava de costas se virou e Elizabeth viu
horrorizada que aquele não era Michael, mas era Edward Smith com um sorriso vitorioso nos
lábios.”

― NÃO! – grita ao se levantar assustada. Fez o sinal da cruz repetidas vezes. Que droga
de sonho era aquele?

Olha no relógio e passava das sete da manhã. Estava suada e precisava urgente de um
banho. E assim o fez. Rapidamente se banhou e escolheu uma roupa que estava fácil em seu
closet.

Desceu as escadas e viu que as meninas tomavam café na sala de jantar. Aproxima-se e
Jofrey se ofereceu para lhe servir. Elizabeth aceita e se senta com as meninas que a olhavam
expectante.

― Parece que a noite foi ruim. – Clara comenta enquanto comia sua panqueca. ― O que
aconteceu?

― Só um pesadelo.

― Odeio pesadelos. – Gwen reflete ao abocanhar uma torrada. ― Vou com vocês para a
empresa.
― Então vamos, porque já estou atrasada. – Elizabeth olha em seu relógio, era sete e
meia. Toma rapidamente seu copo de suco e pega sua bolsa.

Não demora para que chegassem à empresa. Gwen estava com saudades daquele clima
sério, que somente sua irmã conseguia encarar. Na verdade, sua ida até ali tinha um nome e um
rosto: Anthony Carter.

Elizabeth estaciona em sua vaga e as meninas a seguiram até o elevador. Clara não se
lembrava muito do caminho, afinal, nunca gostara muito dos negócios. Apesar de possuir uma
cota de ações, preferia deixar tudo nas mãos de seu advogado.

― Bom dia senhoritas. – Edward as cumprimenta logo que as viu. Apesar das outras
jovens serem bonitas, seu olhar procura somente uma pessoa.

― Bom dia Edzinho! – Elas o cumprimentam em uníssono. Elizabeth saiu do elevador


logo atrás, com a sua famosa cara de poucos amigos.

― Bom dia. – responde secamente ao passar por ele.

A secretária sabia que a sua chefe estava de mau humor, então a cumprimenta e se reserva
ao silêncio. Elizabeth abre algumas pastas que a esperavam no balcão. Anthony chega logo em
seguida.

― Tony, que saudade! – Gwen pula em seus braços. Anthony imediatamente fica sem
reação. Jane o encara e sente os olhos enchendo de água.

― Gwen? O que está fazendo aqui? – pergunta abismado.

A secretária se levanta e sai em direção ao banheiro. Gwen observa toda a situação sem
entender absolutamente nada.

― Jane, me espera. – Anthony se separa do aperto da mulher e quis ir atrás da jovem.

― Anthony! Agora não! – Elizabeth ralha. ― Quero todos em minha sala.

Anthony bufa enquanto recebia um olhar surpreso de Gwen. Eles seguiram Elizabeth até
sua sala. Anthony e Clara se sentaram nas duas poltronas disponíveis na frente da mesa, Gwen
e Edward sentam no outro sofá disponível do outro lado da sala.

Elizabeth se senta em sua cadeira e pegando um cigarro da gaveta, o acendeu.

― Péssimo hábito, senhorita Adams. – Clara reprova.

A mulher dá de ombros e o silêncio ainda dura cerca de um minuto. Elizabeth fuma mais
uma vez o cigarro e por fim o deixa no cinzeiro.
Gwen já estava com os nervos à flor da pele e se levantou furiosa.

― Alguém pode me explicar o que aconteceu? – cruza os braços, insatisfeita e confusa


com o que acabara de presenciar. ― Porque a secretária saiu correndo daquele jeito?

― Eu explico, se o Anthony quiser... – Elizabeth se propôs.

― Foi à emoção! – Anthony se intrometeu. ― Provavelmente Elizabeth deu bom dia a


ela, não é mesmo? – olhou para os outros integrantes da discussão. ― Faz anos que essa
entojada não dá bom dia para ninguém.

Elizabeth balança a cabeça negativamente. De onde ele tirou aquela história? Queria lhe
dar um Oscar de melhor ator, porque ele sabia como fingir muito bem.

― Não fale idiotices, Carter. – Elizabeth dispara.

― Não estou falando idiotices, você nunca cumprimenta a garota... ela ficou emocionada,
ué.

― Faz sentido. – Edward concorda, porém, logo em seguida se arrependeu, pois a atenção
de todos recaiu sobre si.

― O que faz aqui, Smith? – Elizabeth pergunta sem rodeios.

― Você nos mandou vir para cá.

― Então agora estou mandando procurar o que fazer. – Elizabeth cuspiu as palavras.
Aquilo estava passando dos limites.

Edward assente, pediu licença a todos e se retira.

― Eu também vou dar o fora, meus amigos. – Anthony se levanta. ― Vou pedir ao Edzão
pra me levar na bolsa de valores, ok?

Elizabeth respira fundo e esfregou as têmporas. Sua dor de cabeça viria mais cedo.

― Já vai raptar meu assistente?

― É rápido, eu juro. – Anthony sorri. ― Logo voltaremos.

Dizendo isso, fecha a porta e solta o ar que segurava em seus pulmões. O que faria agora?
Tinha uma verdadeira bomba em suas mãos. De um lado, Gwen mostrava que o havia
perdoado, mas por outro existia Jane. Passou pela assistente que mal dirigiu seu olhar a ele.
Anthony engole em seco e resolve procurar por Edward, talvez ele pudesse lhe dizer o que
seria melhor.
Depois de vários minutos procurando, finalmente o encontra no estacionamento.

― Edzão, preciso falar com você.

― Pode falar. – Edward se volta para ele.

― E agora, o que eu faço? – Anthony pergunta aflito.

― Em relação às garotas?

Anthony assentiu e se encosta no carro.

― Não encosta! – Edward resmunga ― Foi polido agora pouco, quer estragar o serviço?

― Me desculpe. – sorri sem jeito. ― Mas e aí o que me diz?

Edward pensa por alguns instantes. Não tinha experiência em ficar com duas garotas ao
mesmo tempo.

― Olha, eu sinceramente não sei. – cruza os braços. ― Gwen é irmã da chefe.

Anthony bufa.

― Eu não a entendo! Jurou por Deus que nunca mais queria saber de mim, por algumas
coisas que eu aprontei, mas agora vem ao meu encontro se derretendo toda para mim.

― Olha, não é bom enganar a Gwen, é bem capaz que a Elizabeth te mate. – Edward riu
sem humor.

De repente, Anthony arregala os olhos como se uma lâmpada se acendesse em sua cabeça.

― Sabe Edzão, acho que vou fazer assim. ― coça a cabeça. ― Fico com a Gwen, se ela
me amar mesmo eu dou um pé na Jane. Agora, se a Gwen não quiser nada, chuto e volto pra
Jane, que tal?

Edward tenta digerir aquela informação até que chegou a uma conclusão:

― Você é louco.

― Preciso pensar em tudo, mas antes, quero que me leve à bolsa de valores.

― Elizabeth já sabe? – Edward pergunta, porém, Anthony já entrava no carro.

― Vamos logo!

Edward revira os olhos e foi para o lugar do motorista. Anthony era engraçado e
divertido, sem falar que era louco. A verdade é que nunca conheceu uma pessoa tão animada
quanto ele. Mesmo com seus problemas, conseguia enxergar uma luz no final do túnel.

O dia passava rapidamente quando se tratava de Wall Street. Aquele lugar era uma
loucura, porém, era ali que pessoas faziam suas fortunas ou saiam dali direto para pular da
ponte no Brooklyn. Anthony e Edward voltaram para a empresa na esperança de que Elizabeth
não brigasse com os dois por ficarem o dia todo fora.

Porém, quando chegaram lá, Anthony lhe pede para que esperasse no carro, pois sairia
novamente. E assim ele fez, mas acaba adormecendo.

Em sua sala, Elizabeth não poderia estar mais furiosa. “Onde aqueles dois imbecis se
meteram?” Se não fosse o bastante, coisas que eram a cargo de Edward, ficaram para Jane
resolver.

― Você vai demorar muito? – Michael a fita impaciente.

― Não, eu já terminei. – responde calmamente, tentando esconder a frustração.

Michael assente e a observa por alguns instantes. Elizabeth se levanta e antes que saísse
para pegar suas coisas, ele a puxa para si.

― O que você quer? – resmunga melancolicamente.

― Apenas um beijo. – Michael sussurra enquanto segurava seu rosto entre as mãos.

Elizabeth fecha os olhos, não queria beijá-lo. Seu noivo era um homem bonito e elegante,
com seus cabelos negros caindo nos olhos castanhos, seu porte atlético. Tudo o que uma
mulher poderia desejar, mas ela não o desejava.

Michael era insistente e a beija, mesmo que ela não correspondesse com todo o fogo que
ele possuía dentro de si.

― Com licença.
Elizabeth se separa de Michael no mesmo instante que Anthony entrava em sua sala.

― Seu amigo deveria saber que antes de entrar em um lugar, devemos bater na porta. –
Michael o fita arrogantemente.

Anthony fez uma careta e revira os olhos, uma expressão que substitui a frase: “vá para o
inferno”.

― Elizabeth, o que eu tenho pra falar é muito sério. ― Anthony se volta para ela. ― A
situação não está boa. Não entendo, pois temos clientes suficientes espalhados ao redor do
mundo, porém, não conseguimos sair do vermelho. – suspira. ― Não sei até quando
aguentaremos.

De repente Elizabeth sente o peso daquelas palavras. Aquela empresa era a sua vida, não
poderia perder tudo assim, tão de repente.

― Deve haver alguma maneira de rever essa situação. – Elizabeth sussurrou.

― As contas não batem. – replica.

― E como isso aconteceu? – Elizabeth disse entre dentes. Estava aflita e nervosa.

― Alguém pode estar desviando dinheiro. – Anthony ri, como se aquilo fosse uma piada
de muito mau gosto.

― Ficou louco? ― Michael se pronuncia arrogantemente. ― Isso é impossível.

Anthony o encara.

― Faça alguns relatórios dos últimos meses e me entregue, por favor, tenho que analisar
tudo novamente.

Michael sustenta o olhar de Anthony com altivez.

― É mesmo necessário, Elizabeth? – pergunta ao desviar o olhar para sua noiva.

― Extremamente! – ela rebate.

Michael respira fundo e sai da sala como um trovão. Elizabeth sente as lágrimas virem a
seus olhos, mas não as deixou cair. Aquilo tudo era o quê? Uma provação? Talvez tivesse
tantos pecados que Deus nem a ouvisse mais.

Anthony suspira e passa uma das mãos pelos cabelos de sua amiga.

― Pode contar comigo para o que precisar. – fala sinceramente, encarando seus olhos
esmeraldas.

Elizabeth o fita em agradecimento. Não sabia como teria levado as coisas por todos esses
anos se Anthony não estivesse ao seu lado. Ele era mais que um amigo, era um irmão.

Anthony parece ler seus pensamentos e sorri, passando uma das mãos no rosto de
Elizabeth. Ela também era como uma irmã para ele e faria de tudo, até o impossível para
ajudá-la a restabelecer aquela empresa.

Edward acorda de repente e vê que praticamente todos os carros já haviam ido embora,
inclusive o de Anthony. Esfrega o rosto se perguntando por quanto tempo dormiu ali. Olhou no
relógio de pulso, sua chefe iria matá-lo, sem dúvidas.

Respira fundo, há essas horas ela já deveria ter ido embora, então se livraria da bronca,
por enquanto. Quando decide sair do carro, o elevador se abre e Elizabeth sai, elegante como
sempre.

Para sua surpresa, ela estava sozinha. Achou melhor observá-la para que entrasse em seu
carro e fosse para casa em segurança.

― Espera Elizabeth. ― Michael a chama logo atrás, saindo do elevador.

Estava tão exausta que a única coisa que queria era ir para casa. Sua breve conversa com
Anthony a deixou mal e não tinha ânimo para as investidas de seu noivo.

― Pensei que já tinha ido embora. – murmura enquanto vasculhava sua bolsa em busca
da chave do carro.

― Preferi esperar você sair, em segurança. ― Michael abri um sorriso diabólico.

Elizabeth acha a chave e suspira.

― Até amanhã então.


― Hey, não tão depressa. – Michael a segura pelo pulso. Elizabeth o fitou assustada. O
homem sorrindo a prensou contra o capô do carro.

― Já foram todos embora. – disse ele passando o indicador pelo pescoço de sua noiva. ―
Podíamos fazer algo diferente. ― desce seus lábios e beija o local onde havia acabado de
acariciar. ― Uma aventura.

― Sem aventuras, Michael! – Elizabeth tenta empurrá-lo, porém, Michael prende seus
braços e a segura fortemente.

― Está nervosinha, não é? Faz tempo que você tem me privado de certas coisas, querida.
― ele fala em seu ouvido, com a voz assustadoramente rouca. ― Estou necessitando de suas
carícias!

Se antes Elizabeth não queria nada com ele, agora a situação era pior. Nunca sentiu medo
de seu noivo, mas agora ele a segurava com uma força incontrolável e ela via a fúria em seus
olhos.

Michael desce os lábios, despejando beijos em toda a curvatura de seu pescoço. Elizabeth
se contorce, tentando se soltar do aperto de suas mãos.

― Aqui não! – choramingou quando ele a puxou e a prensa fortemente na coluna que
havia ao lado do carro. Imediatamente, sem conseguir controlar seus instintos masculinos,
começa a puxar sua blusa.

― Você vai ser minha, agora! – Michael vocifera. ― Não pode me negar isso!

― Pare, por favor! – Elizabeth choraminga, mas era em vão. Ele não estava disposto a
parar.

― Eu sei que você gosta! – disse com raiva, rasgando a camisa de botões que ela usava.

Elizabeth estava desesperada e sem saber o que fazer. Ele era seu noivo, mas não tinha o
direito de obrigá-la a isso. Michael segura seu rosto com força, fazendo com que ela o
encarasse.

― Fique quieta e isso vai ser rápido.

Elizabeth estava mais do que assustada. Michael nunca agiu daquela maneira. Fecha os
olhos e pediu a Deus que lhe desse forças para sair daquela situação lastimável.

― ELA DISSE QUE NÃO!

A voz familiar ecoa na escuridão, atraindo para si a atenção de ambos. ― Solte-a agora!
Elizabeth não esperava que Edward ainda estivesse ali e aquilo a choca. A vergonha se
apossa de seu corpo e se pudesse, abriria um buraco e entraria, ali mesmo.

Foi então que ela vê a raiva no rosto transtornado de seu noivo.

― Eu acho melhor você sair daqui, imbecil. ― Michael sussurra ameaçadoramente.

Edward cruza os braços.

― Ela não quer fazer nada com você, não está vendo? – provoca.

Michael solta Elizabeth e se volta para Edward.

― Eu acho que já deixei bem claro para você não se meter onde não foi chamado!

Edward desvia o olhar para sua chefe.

― Eu me meto no que eu quiser. – retruca, voltando o olhar para o homem.

Ouvindo isso, Michael fecha o punho e parte para cima de Edward, que desvia com
rapidez. Ele não deixaria isso acabar assim, tão de repente. Foi então que reuniu suas forças e
ataca Michael, desferindo-lhe um soco na face.

― Desgraçado! – Michael vocifera e então lhe acerta um soco no estômago.

Elizabeth vê aquela cena deplorável e o desespero toma conta de si. Não adiantava gritar,
não parecia ter um segurança naquele lugar. Nesse momento, percebe que precisaria intervir,
antes que algo pior acontecesse.

― MICHAEL! – Grita e no momento que ele se vira para ela, fecha o punho e desfere-lhe
um soco em seu rosto. Ela não pensa em nada, não pensa nas consequências.

Michael cai no chão desacordado e Edward a fitou como se ela fizesse parte da “Iniciativa
Vingadores”.

Eles se aproximam do homem desmaiado no chão. Edward ainda tentava respirar após o
soco que levou no estômago.

― Meu Deus, você matou o cara!

― Droga! Minha mão!

A dor a atinge em cheio, junto com a culpa e tudo o de ruim que pudesse pesar em sua
mente. Aquele soco derruba seu noivo e certamente teriam muito que conversar. Quando ele
acordasse... se acordasse.
― Eu realmente espero que não tenha quebrado o punho. – Edward comenta enquanto
acelerava o carro. Após o incidente, Elizabeth implora para que a levasse para o hospital e
deixaram Michael desacordado no chão.

Elizabeth geme e se arrepende no fundo de sua alma de ter deferido aquele soco em
Michael, mas era isso ou um funcionário a menos e até um processo na justiça. Pelo menos era
o que tentava se convencer. Jamais interferiria naquela briga para defender Edward.

― Eu só sei que virei seu fã. – Edward brinca com um sorriso travesso. ― Quando é seu
aniversário?

― Por quê? – ela estranha a pergunta.

― Vou te dar umas luvas de boxe de presente.

― Cala essa boca, Smith! – vocifera. ― Não está vendo que dói? Idiota!

Elizabeth geme novamente e segura o pulso na altura do peito. Estava realmente doendo e
aquele imbecil conseguia fazer piada. Era o fim do mundo mesmo.

― Eu ia muito bem dar conta do cara, quem mandou você se meter. – Edward resmungou
com a cara mais cínica que consegue. Ela o fitou incrédula.

― Ele ia te matar, imbecil!

Edward dá de ombros e continua dirigindo até que reparar novamente que Elizabeth
continuava com a camisa rasgada, deixando a mostra o sutiã. Aperta as mãos contra o volante,
“boa hora para se pregar uma peça dessas, não é?” Não sabia se agradecia a Michael ou se o
amaldiçoava.
― Olha, tem uma blusa minha ali no banco de trás, acho que seria melhor vesti-la.

Elizabeth cora ao notar que seu corpo estava à mostra, graças ao seu noivo idiota.
Remexe-se no banco fazendo com que a camisa se abrisse mais ainda. Edward respira com
dificuldade ao ver coisas que não deveria, mas tenta manter a calma e a concentração no
trânsito a sua frente. Por Deus, Elizabeth era sua chefe! Devia ter pensamentos puros, referente
à sua pessoa.

Com dificuldade, veste a blusa e a abotoa. Devido à correria, seu casaco tinha ficado no
chão, junto com Michael e para ajudar, sua mão ainda doía muito.

Elizabeth arfa ao avistar o hospital.

― Finalmente!

Edward estacionou o carro e rapidamente a ajuda a descer. Entram pela porta principal e
logo de cara, foi reconhecida por uma das atendentes.

― Senhorita Adams! O que aconteceu?

Seu mau humor quis gritar: “Estou machucada, não está vendo?”, porém, respira fundo e
ergue o braço para a jovem.

― Está doendo. Clark está por aí?

Edward estava atrás dela e se pergunta quem era esse tal Clark.

― Hoje ele está de folga. – responde a secretária, sanando as dúvidas do rapaz. ― Mas
temos a plantonista.

― Que seja. – Elizabeth retrucou impaciente.

A jovem preenche a ficha médica de Elizabeth e pede que se encaminhasse até a


emergência.

― Vou esperar aqui. – Edward comunica enquanto a mulher se direcionava pelo extenso
corredor.

― Espero que sim, como vou dirigir com o braço machucado?

Edward sente a vontade de mandá-la ao inferno, mas não o fez. Primeiro porque ela era a
sua chefe e pagava seu salário e segundo, ele entendia o seu estresse.

A jovem secretária dá um meio sorriso como se dissesse “Já nos acostumamos”.


Pega o celular do bolso e se senta nas cadeiras da recepção, onde dúzias de pessoas o
fitavam. Acena para elas, sentindo-se um perfeito idiota.

Enquanto Elizabeth estava cuidando de seu braço, sua mente divaga sobre as
consequências que aquela briga teria. Michael, provavelmente faria de tudo para chutá-lo fora
dos Estados Unidos. Por outro lado, tinha um ponto com sua chefe, afinal, a salvou de um
estupro.

A pergunta que não calava em sua mente era: Como ela poderia se casar com um monstro
como Michael Sanders?

Vinte minutos depois, Elizabeth aparecia em seu campo de visão com o braço enfaixado e
uma tipoia para o apoio.

― Quebrou? – pergunta ao se levantar.

― Não chegou a quebrar nenhum osso. – suspira. ― Mas vou ter que usar isso por alguns
dias.

Edward assentiu e a observa por longos minutos. Mesmo ali, machucada e exausta, não
perdia a sua beleza. Sabia que por trás daquela escuridão, se escondia uma mulher totalmente
diferente.

― Vamos? – ela disse, tirando-o de seus devaneios.

― Claro.

Não demora para que chegassem ao prédio onde a mulher morava. Edward estaciona o
carro e a fita.

― Palace Adams... não tinha reparado ainda. – comenta com um leve sorriso nos lábios
ao observar a fachada do edifício.

― Um hotel que meu pai era apaixonado. – Elizabeth suspira. ― Certo dia, cismou que
não queria morar em outro lugar que não fosse aqui.

Edward sorri pela simples declaração da mulher. Ela não tinha motivos para lhe contar
algo, mesmo assim o fez. Respira fundo e, após sair do carro, abre a porta do passageiro e a
ajuda a descer.
Ao ver a dificuldade da moça em carregar sua bolsa, Edward se propôs a ajudá-la.
Elizabeth bufa, sentindo-se uma incompetente, porém, entrega a bolsa para o homem de olhos
azuis profundos.

Após o elevador abrir, eles entram e permanecem em absoluto silêncio. Elizabeth queria
acabar com a raça de seu noivo. “Que diabos ele tinha na cabeça de querer forçá-la a algo?”

O elevador abre, novamente, e encontram o apartamento em profundo silêncio e as luzes


apagadas.

Elizabeth olha no relógio, se passava das onze horas.

― De certo, todos já se recolheram. – disse por fim, após checar a cozinha e a sala de
estar.

Edward estava com as mãos nos bolsos e balança a cabeça afirmativamente.

― Vá ao seu quarto, tomar um banho. Vou preparar algo para você comer. – Edward
disse de repente.

Elizabeth quis protestar, mas realmente estava com fome e com pouca vontade de
discutir.

― Só não acabe com a minha cozinha. – murmura enquanto subia as escadas.

Edward dá um meio sorriso.

― Não prometo nada.

Ao entrar em seu quarto se tranca lá por mais de meia hora. Sua cabeça dava voltas e não
sabia o que estava acontecendo. Seu noivo ultrapassa todos os limites, enquanto seu assistente
estava lá em baixo cozinhando para ela.

Era o fim do mundo, não era?

Elizabeth entra debaixo do chuveiro e deixa que a água quente caísse por seu corpo e
levasse todo o cansaço e estresse daquele dia pelo ralo. Tenta não molhar seu curativo, coisa
que não deu muito certo.

Após um longo banho, veste um moletom e desce para ver se Edward não havia destruído
sua cozinha. E para sua surpresa, o rapaz estava na beira do fogão, completamente animado.
Parecia levar jeito com a comida.

― O cheiro está maravilhoso. – Elizabeth comenta ao entrar na cozinha. ― É bacon?


― Sim... achei que iria gostar. – Edward sorri gentilmente. ― Está pronto.

Pega um prato no armário e coloca o bacon já pronto. Elizabeth se senta na pequena mesa
que havia na cozinha.

― Sente-se. – ordena após colocar o prato na sua frente. Edward respirou fundo e senta
relaxadamente, se encostando à parede.

Elizabeth observa seu perfil por alguns instantes, mas nada disse. Ele parecia exausto e
havia um machucado em sua sobrancelha.

― Coma. – ordena novamente. Edward a fita com a sobrancelha arqueada.

― É mandona assim o tempo todo?

Elizabeth arregala os olhos mediante aquela petulância.

― Olha aqui... – ela começa, porém, a interrompe.

― Me desculpe, mas acho que sou eu quem deveria estar mandando você comer.

Elizabeth se reserva ao silêncio e enche a boca com o bacon antes que proferisse um
palavrão. Edward continuava com sua posição confortável, sentado de lado, com as costas na
parede e um olhar distante.

Sentiu vontade de perguntar no que estava pensando, mas se conteve, não queria entrar
em detalhes com seu assistente, porém, a sua curiosidade falou mais alto que seu orgulho.

― No que está pensando? – pergunta após lamber os dedos gordurosos.

Edward balança a cabeça negativamente.

― Nada.

― Humm. – Elizabeth resmunga. ― Se quiser pode ir embora, sua namorada deve estar a
sua espera.

O rapaz a fita com um olhar zombeteiro.

― Não tenho namorada.

― Humm. – Elizabeth resmunga novamente e seca seus dedos no guardanapo. Não sabia
por que, mas seu coração deu um salto ao ouvir que ele não tinha namorada.

Continuaram em silêncio até que a moça termina de comer o bacon. Edward sorri e pega
o prato, o colocando na pia. Elizabeth o observa se aproximar e lhe estender a mão.
― O que é? – arqueia sobrancelha.

― Vamos logo, tenho que te ajudar a arrumar esse curativo. – disse impaciente. ― Não
tenho a noite toda.

Elizabeth se levanta, ignorando a mão estendida.

― Olha como você fala com a sua chefe!

Edward a encara com o olhar risonho.

― Você é minha chefe na empresa. Fora de lá, posso me referir a você da maneira que eu
quiser.

Elizabeth sente seu sangue ferver novamente. Sua vontade era lhe dar um soco, mas sua
mão não aguentaria e precisava da outra para trabalhar.

― Bom, vamos lá, onde estão os curativos? – Edward pergunta.

― Vou buscar.

Respira fundo quando ela sai da cozinha, deixando-o sozinho. Nunca se sentiu tão perdido
na presença de uma mulher, quanto agora. Elizabeth estava deixando-o frustrado com todos
aqueles sentimentos revirando dentro de si. Sabia que a queria, mas não tinha certeza se
deveria ir a fundo.

Elizabeth deu graças a Deus quando encontrou uma caixinha de curativos em seu
banheiro. Encosta-se na parede e olha para seu curativo que já estava um pouco solto. A
verdade era que não sabia como agir. Deveria descer e ordenar que seu assistente fosse
embora, mas algo naquele petulante rapaz, a deixava furiosa e ao mesmo tempo, confusa. Na
verdade não queria que fosse embora.

Desceu as escadas e foi até a cozinha, se surpreendendo quando não o encontrou lá.
Imaginou que deveria ter criado um pouco de juízo e teria ido embora. Decidida a voltar para
seu quarto viu a porta da sala de vídeo entreaberta.

Aproximou-se e o viu parado em frente a grande tela, que mandou projetar para simular
um cinema em sua própria casa. Nas paredes em volta, inúmeras estantes lotadas com vários
títulos cinematográficos. Sem dúvidas, era apaixonada por filmes, ali passava boa parte de seus
dias solitários.

― Não sabia que tinha preferência por filmes de terror. – Edward disse ao se virar para
encará-la.
Elizabeth assente.

― São os meus prediletos.

Edward lança aquele sorriso que fazia suas pernas perderem as forças. ― Características
de mulheres malvadas, hum?

― Cala essa boca e vamos logo com isso. ― o repreende e joga a bolsinha com os
curativos em seu peito.

Edward pega a bolsinha antes que caísse no chão e riu. Balançou a cabeça e apertou o
botão que controlava as imagens na tela de reprodução.

― Não o convidei para vir a minha casa assistir filmes, Smith. – Elizabeth ralha perdendo
o restante da paciência.

― Eu sei disso, mas não iria perder a oportunidade de ver um filminho de terror na casa
da minha chefe, oras!

Elizabeth realmente queria ter uma espingarda em sua mão.

O homem aponta para a poltrona, para que se sentasse. Assim ela o fez e ele sentou ao seu
lado, pegando sua mão machucada para analisar o estrago que o rosto de ferro de Michael
havia causado.

― Creio que não irá poder fazer muita coisa com essa mão por alguns dias.

Elizabeth revira os olhos.

― Acha que não sei disso?

Ele dá de ombros e pega uma gaze dentro da bolsinha. O silêncio reina enquanto ele
tirava o curativo molhado e trocava pelo seco.

― Por que me defendeu? – Edward pergunta de repente.

Essa pergunta a pega de surpresa e não soube o que responder. O que diria? Nem ela
mesma sabia por que havia se metido na briga para defender seu assistente. Continuou em
silêncio por alguns instantes, enquanto ele fazia seu trabalho.

― Você não conhece Michael. Quando ele quer bater em alguém...

Edward a interrompeu.

― Eu não tenho medo dele. – fez uma pausa. ― Se eu tivesse medo, não teria nem me
intrometido no que ele queria obrigá-la a fazer.

Elizabeth sentiu como se uma faca atravessasse seu peito. Até agora, sua raiva não tinha a
deixado pensar com clareza. Edward se meteu naquela confusão para defendê-la, já que seu
noivo pretendia estuprá-la.

E ele estava ali na sua frente, segurando sua mão com toda a delicadeza que jamais a
trataram. Exceto seu pai, que teria cuidado desta mesma maneira. Elizabeth sentiu seu peito
inflar com uma dor horrível. Se pudesse apagar todo aquele sentimento, aquela mistura de
ódio, raiva e saudade. De repente, as lágrimas vieram como um vulcão entrando em erupção e
rolaram sobre a sua face.

Foi então que ao terminar o curativo e levantar seu olhar, encontrou-a chorando em
silêncio. E Deus sabia o quanto isso o matou por dentro. Como se fosse algo normal, a puxou
para seu peito, abraçando-a tão forte, como jamais fizera com nenhuma outra mulher.

E aquilo pareceu tão... certo. Ela se encaixava perfeitamente em seu peito.

― Falei algo errado? Me perdoa... sou um imbecil mesmo!

Elizabeth balança a cabeça negativamente. Nos últimos dias, suas emoções andavam a
flor da pele e aquela dor que todos os dias a sufocava, parecia querer consumi-la naquele
instante. Nunca chorou no colo de ninguém, como agora conseguia chorar no colo de seu
assistente?!

O rapaz abraçou-a mais forte e ela sentiu como se aquilo fosse normal, como se o
conhecesse há muito tempo. Era estranha aquela sensação, mas a raiva que sentia evaporou e
tudo o que queria era continuar ali, acolhida naqueles braços fortes.

Não sabia o que estava acontecendo e muito menos por que ela chorava, mas sabia que o
fardo que ela carregava, era pesado demais para uma mulher tão jovem.

― Pode chorar. – sussurra em seu ouvido ao sentir sua camisa se molhando.

E ela chorou em silêncio, afogando toda aquela vontade de gritar. A sensação de bem
estar a invadiu e foi estranho, pois há anos não se sentia assim. Nunca chorou na frente de
Anthony ou de Gwen, que eram os mais próximos e agora estava ali, esgotada, chorando na
frente daquele estranho, que era seu assistente há apenas alguns dias.

Edward acariciava seus cabelos castanhos e então levanta a mão direita, passando pela
bochecha molhada pelas lágrimas, tão macia. Levantou seu rosto e aquele olhar nublado e
confuso mexeu consigo. Não era a mesma pessoa, aquela era outra Elizabeth Adams, tão
sozinha e desprotegida.

Ela o fita e sabia exatamente o que ele queria. Neste ponto, não sabia se deveria ou não,
mas a vontade de descobrir o que era aquilo gritou mais alto dentro de si. Fechou os olhos e
esperou que ele soubesse exatamente o que fazer.

Os minutos viraram horas e Edward sabia muito bem o que queria, mas tinha dúvidas se
deveria. Da última vez, caíram numa piscina. Agora estavam ali, sozinhos, numa sala
iluminada somente pela luz da imagem gigantesca e fogo crepitando no meio de ambos.

Deus era testemunha que não deveria fazer aquilo que seu coração mandava, mas o desejo
de tomá-la em seus braços era maior que tudo. Esqueceu-se de seu emprego e de que aquela
mulher era comprometida com outro. Esqueceu-se que ela era sua chefe! Ela estava ali na sua
frente com os olhos fechados, entregue ao momento e por Deus, não iria desperdiçá-lo. Desde
o primeiro dia que a vira naquela sala, desejou aqueles lábios pintados de carmesim.

Lentamente acaricia seu rosto e o segura entre suas mãos, descendo seu rosto e quando
finalmente seus lábios se tocaram, foi estranho. Move os lábios lentamente, esperando sua
permissão e ela permitiu, ao abrir os lábios e deixar que a tomasse por completo. E assim, seus
lábios se movem com perfeição, como se tivessem sido projetados um para o outro.

Elizabeth agarra seus cabelos e os acaricia. Edward a aperta mais contra si e quando
precisaram encontrar ar para encher seus pulmões, encostaram suas frontes.

Seu coração se apertou novamente, não queria abrir os olhos, sentia vergonha e temia as
consequências daquele ato, mas ao abri-los, o que encontrou foi totalmente diferente. O olhar
de Edward transmitia um misto de paixão, desejo e proteção. Ele parecia entendê-la, parecia
conhecer seus demônios interiores.

― Se quiser me contar o que a atormenta, estarei aqui para ouvi-la. – disse ele,
calmamente.

Elizabeth balança a cabeça negativamente. Não estava pronta para deixá-lo entrar em sua
vida, assim, tão de repente. Sua mente pareceu acordar daquele sonho. Ele ainda era um
estranho. O conhecia há apenas alguns dias e antes de tudo, ele era seu assistente pessoal e ela
era comprometida com outro!

― Termine logo esse curativo, por favor. – tenta manter a calma. ― Se quiser colocar
um filme, fique a vontade.

Edward estranha o tom de voz cansado e teve a sensação de que aquela era a verdadeira
Elizabeth, não a que usava uma máscara de durona, que odiava Deus e o mundo.
O dia amanheceu com Gwen descendo as escadas ainda de pijama. Estava preocupada
com sua irmã. Onde teria passado a noite?

Elizabeth nunca foi o tipo de garota que sumia sem avisar. Até mesmo quando decidia
passar a noite na casa de Michael, sempre ligava avisando. Porém, desta vez foi diferente e não
conseguiu esconder sua preocupação.

― O que houve? – Clara pergunta antes de levar uma torrada à boca. ― Preocupada?

― Sim. – Gwen toma seu lugar à mesa. ― Elizabeth não apareceu desde ontem.

― Deve ter passado a noite com Michael, oras. – Clara tenta tranquilizá-la, porém, a loira
balançou a cabeça negativamente.

― A Lisa não é de fazer essas coisas, ela sempre avisa... mesmo quando vai passar a noite
com Michael.

O mordomo se aproximou.

― As senhoritas não precisam se preocupar. – disse calmamente após ouvir a conversa.


― A senhorita Adams está na sala de vídeo.

Gwen suspira aliviada.

― Creio que ela chegou muito tarde e não quis me incomodar.

O mordomo deu um suspiro desdenhoso.

― Temo que ela teve que se ocupar com outras pessoas.


As duas jovens o fitaram com estranheza, antes que ele se retirasse.

― Mas que diabos Jofrey quis dizer? – Clara estranha. ― Vamos lá ver o que está
acontecendo.

Gwen concorda e ambas se levantaram. Elas caminharam até a sala de vídeo, que ficava
em um cômodo perto do escritório de Elizabeth. Gwen abriu as portas de madeira e entrou,
sendo seguida por sua amiga e as duas quase tiveram um ataque cardíaco.

Elizabeth dormia calmamente encostada no peito de Edward, enquanto ele mantinha uma
mão em suas costas.

As duas jovens se entreolharam com as mãos na boca e um grito preso na garganta. Clara,
tão espoleta como era, não aguentou e deu um grito e pulinhos.

― Tá namorando! Tá namorando! Tá namorando!

Elizabeth se assusta com os gritos e quase cai do sofá. Edward também pulou assustado
com a gritaria e então a sua ficha caiu. Haviam adormecido ali, juntos e elas tinham visto.

― Mas o que está acontecendo? – Elizabeth pergunta assustada e um pouco atordoada. ―


O que está dizendo Clara?

Clara e Gwen riram.

― Acho melhor você subir e se arrumar, Lisa. Está com uma cara horrível.

Elizabeth leva uma das mãos à cabeça. Estava dolorida. Então olha para Edward, que
também estava atordoado com aquela confusão.

― Eu já volto. – resmunga ao sair do campo de visão das meninas.

Na verdade se recordava de poucas coisas, mas apenas uma fazia seu estômago se
remexer. E era a fome que apertava. Claro, não havia tomado café ainda, mas antes do café
resolve tomar um banho e se arrumar. Seu corpo estava todo dolorido, um maldito torcicolo a
atingiu por dormir em má posição e ainda havia seu punho que estava doendo. Desde que
Edward Smith pisou naquela empresa, sua vida virou de cabeça para baixo. “Por Deus, o que
está acontecendo?”

E enquanto tentava secar seu cabelo com a toalha a porta se abriu e Gwen e Clara
entraram afoitas.

― Conta tudo o que aconteceu! – Clara se joga na cama.

Elizabeth deu de ombros.


― Não aconteceu nada. – responde calmamente.

― Como não? – Gwen fala mais alto do que gostaria. ― Sua mão está enfaixada, o olho
de Edward está com um roxo e você vem dizer que não aconteceu nada? Não sou burra!

― Sem falar que pegamos vocês dois dormindo abraçadinhos. – Completa Clara, com
satisfação na voz.

Elizabeth respira fundo, tentando encontrar as palavras certas. Após alguns instantes, se
recompôs e jogou a merda no ventilador.

― Michael tentou me forçar ontem, enquanto estávamos indo embora, no estacionamento


da empresa. Por sorte, Edward estava esperando por Anthony que já havia ido embora e não
avisou. Edward quis bancar o herói, mas acabou levando um soco no olho e... – suspira
enquanto contava aquela absurda história. ― Eu vi que ele iria sair muito machucado, então
chamei Michael e dei um soco no olho dele. Mas, como podem ver, – levanta o braço
enfaixado. ― Isso me custou um pouco.

― Edward bancando o herói... – Gwen comentou ao analisar a situação. ― Falando


nisso, ele disse que logo estaria de volta para buscá-la.

― Me buscar? – perguntou atordoada.

― Como vai dirigir com a mão enfaixada? Por acaso já encontrou um novo motorista?

Elizabeth não respondeu. Fazia sentido que ele a levasse para trabalhar, apesar desse não
ser o seu trabalho.

Gwen a ajudou secar o cabelo e Clara escolheu as roupas para vestir. Após deixarem
Elizabeth devidamente arrumada, correram para seus aposentos para colocar a roupa de
academia.

Enquanto se arrumavam, Elizabeth desceu para tomar um café rápido. Com toda aquela
correria, se sentiu péssima por ter deixado Edward sair sem oferecer-lhe pelo menos uma
xícara de café, e então, seus pensamentos vagaram para a noite anterior. É claro que se
lembrava perfeitamente do beijo que compartilhou com o rapaz. Era assustador e ao mesmo
tempo diferente. Nunca havia sentido aquela paz absurda que agora estava experimentando,
após um bom tempo de rancores e mágoas.

Estava confusa, por Deus, como estava! Sua cabeça chegava a doer. Não sabia
definitivamente como agiria com o rapaz depois daquilo. Ultrapassaram todos os limites entre
um funcionário e seu patrão, no caso, patroa.

E quem era Edward Smith? Acabara de conhecê-lo, não tinha referências sobre sua vida,
além das que ele colocara naquele currículo ridículo. Poderia muito bem ter mentido,
inventado qualquer coisa e ali estava ela, envolvida com ele. Mas aquilo fora somente um beijo
e nada mais! Não nutria nenhum sentimento por ele, tampouco deixaria que ele se iludisse com
ela. Elizabeth estava comprometida com Michael e deveria pensar somente nele.

Tudo bem que estava sentindo um ódio tremendo por seu noivo, mas isso logo passaria e
tudo voltaria a ser como antes. Dentro em breve marcariam a data de seu casamento. Aquela
pequena aventura deveria parar por ali mesmo ou as coisas poderiam ficar muito piores do que
imaginava.

Elizabeth estava descendo as escadas quando Edward entrou no prostíbulo. Estava bonito
como sempre. Terno cinza escuro e aqueles olhos azuis profundos, que faziam as mulheres
suspirarem. No entanto, ela não podia ser tão fraca assim.

― Já tomou café da manhã? – Elizabeth pergunta, mantendo a sua fachada de mulher fria.

― Sim.

― Então vamos, tenho muito o que fazer.

Sentencia ao terminar os degraus e encarar o homem de frente. Ele era mais alto que ela e
mais forte, mas isso não a intimidava.

― Creio que Gwen e Clara querem que as deixemos na academia ou algo parecido. –
Edward disse e logo após as meninas apareceram no topo da escada.

― Não ousem sair daqui sem a gente! – Clara grita.

Elizabeth revirou os olhos. ― Não tenho a manhã toda!

Como de costume, Clara se joga em cima de Edward para lhe dar um abraço e um beijo
no rosto. Uma cena lastimável para Elizabeth, que tentava separar a vida pessoal do trabalho.

Edward fez o caminho que elas lhe indicaram até a academia. Apesar das lamúrias de
Elizabeth, que resmungava sobre uma academia ótima no edifício onde moravam.

― Nós gostamos de frequentar essa academia, pare de reclamar. – Clara devolveu no


mesmo tom.

Chegam e um rapaz alto, moreno e forte se aproxima do carro, com toda a intimidade que
só um namorado poderia ter e abraçou as garotas, incluindo sua chefe.

― Mas vejam só, a minha rainha do gelo voltou! – o rapaz disse, arrancando-a do chão
após um abraço forte. ― Já posso ficar feliz novamente.

Edward estava dentro do carro, observando todo o desenrolar daquela cena. Apertou as
mãos contra o volante, afinal, seria isso ou enfiar um soco na cara daquele babaca! Já não
chegava o idiota do noivo... agora mais um para a lista.

― Pare com isso, John. – Elizabeth disse quando ele finalmente a colocou no chão. ―
Não sou eu que voltei, mas sim elas.

― Fico feliz do mesmo jeito. – John abriu um sorriso. ― Mas você deveria voltar
também, sinto falta dos nossos papos.

“Sinto falta dos nossos papos” Edward murmurou enquanto revirava os olhos dentro do
carro. Será que Elizabeth não via que ele estava claramente dando em cima dela? Por Deus.

― Estou atrasada, vejo vocês à noite. – Elizabeth se despede com um beijo no rosto de
cada uma. John não quis ficar de fora e também entrou na fila. Para o completo desgosto de
Edward Smith.

Após entrar no carro, deu sinal para que ele prosseguisse e se surpreendeu quando o
homem enfiou o pé no acelerador e arrancou que nem um louco.

― Mas que diabos...? – Elizabeth pergunta ao arregalar os olhos e levar a mão ao


coração.

― Nada.

E realmente não deveria ser nada, dizia para si mesmo. O problema é que não conseguia
controlar aquela raiva que crescia em seu peito. Quem aquele sujeito pensava que era para vir
com tantas intimidades com a sua chefe?

Estava paranóico e sabia muito bem disso. Trabalhava para aquela mulher há pouco
tempo, mas o suficiente para mexer com suas faculdades mentais, e de repente, compreensão
atingiu Elizabeth e soube muito bem o que estava acontecendo.

― Está com ciúmes, Smith?

A pergunta o pegou desprevenido. Estava com ciúmes? Não podia estar com ciúmes de
uma mulher que nem lhe pertencia.

Eles se mantiveram em silêncio durante todo o trajeto. Elizabeth não queria falar com ele,
pelo menos não por enquanto, precisava colocar seus pensamentos em ordem.
Após longos minutos chegaram à empresa e Edward estacionou. Ele desliga o carro e olha
para o estacionamento vazio.

― Não estou ciúmes, por que eu deveria estar?

E não era o que Elizabeth esperava ouvir, então sentiu certa decepção. Ergue o queixo em
tom autoritário. É óbvio que ele não deveria sentir ciúmes dela, quem era ele afinal de contas?
Um funcionário, apenas.

― Acho ótimo. – disse com frieza enquanto abria a porta, porém, antes de sair, se voltou
para ele. ― Não pense que o que aconteceu ontem significou alguma coisa. Não temos nada e
você é apenas o meu assistente.

Dizendo tais palavras, saiu do carro e fechou a porta com força. Edward Smith era um
idiota e deveria tê-lo mandado embora desde o primeiro erro. O maior problema era que ele só
dava furos nos assuntos pessoais e não nos profissionais. Como poderia demiti-lo?

No final das contas, ele era o assistente mais eficiente que já contratara desde que
assumira a liderança da empresa. Fazia seu trabalho corretamente, sem nenhum deslize,
colocando a vida de Elizabeth em ordem. Não poderia dispensá-lo, precisava dele.

Edward enterra o rosto no volante e se odiou por toda aquela merda. É claro que sentira
ciúmes, mas sabia que não era certo. Não podia se dar ao luxo de tais sentimentos, afinal, ela
era somente a sua chefe.

― Achei que não viria hoje. – disse Anthony, que estava novamente sentado em sua
caseira. ― E antes que diga alguma coisa, o que aconteceu com seu braço?

Elizabeth revira os olhos.

― Ontem aconteceu algo e bati no Michael.

Anthony se desequilibra e quase cai do assento. Seria engraçado, porém, Elizabeth


aproveita para expulsá-lo de lá.

― Você o que? – pergunta sem acreditar.

― Bati no Michael. – repetiu friamente. ― E por acaso ele veio trabalhar?


― É claro que não. – Anthony responde como se fosse óbvio. ― Imaginei que esse atraso
tinha algo a ver com vocês dois, mas Lisa siga um conselho meu, tem que tomar cuidado
nessas horas que vocês vão... sabe...

― O quê? – Elizabeth arregala os olhos.

― Sim, essa coisa de sexo selvagem sabe, nunca acaba bem.

― Pelo amor de Cristo! – Elizabeth revira os olhos com a idiotice de seu melhor amigo.
― Pelo contrário, ele tentou me forçar ontem à noite e se não fosse por Edward... não sei o que
teria acontecido.

Anthony socou as mãos na grande mesa de madeira.

― Eu vou matar esse desgraçado! Ele tentou forçá-la? – replicou furioso. ― Ele vai ficar
com o outro olho roxo!

Elizabeth se levanta e coloca a mão em seus ombros.

― Anthony, calma... ele não conseguiu.

Ele a fita nos olhos e respira fundo, tentando se acalmar e puxa sua amiga para um
abraço. Ela encosta a cabeça em seu peito e ele acariciou seus cabelos.

― Pode contar comigo para o que precisar Lisa.

― Eu sei. Você é um irmão pra mim.

Anthony sorriu. Sim, eles eram como irmãos e isso nunca mudaria. Elizabeth sempre seria
a menina doce e meiga que conheceu no jardim de infância. Apesar de todas as mágoas e
tristezas, sabia que no fundo ela era a mesma de anos atrás.

E sabia que Edward podia ser a salvação que ela precisava. Uma ideia mirabolante se
apossa de Anthony.

― Vamos sair para jantar essa noite?

― Essa noite? – resmungou. ― Não estou animada para isso.

― Por favor, faz tempo que não fazemos isso e sua irmã precisa sair um pouco.

Elizabeth arqueia a sobrancelha. Será que Anthony queria uma reaproximação com a sua
irmã?

― Tudo bem, vou pedir para o Edward reservar naquele restaurante que você gosta. Pode
ser?

― Claro. – Anthony sorriu diabolicamente, meditando em seu plano. ― Eu mesmo vou


pedir para ele reservar, ok?

Elizabeth se separa dele e dá de ombros.

― Ok, agora me deixe trabalhar!

Anthony lançou um sorriso zombeteiro e correu para a sala de Edward. Ao entrar o flagra
com a cabeça encostada na mesa, tirando um cochilo. Ele era daqueles que perdia o amigo,
mas não perdia a piada.

― ELIZABETH DO CÉU! – grita bem ao pé do ouvido de Edward, que imediatamente


pulou da cadeira.

― ONDE, QUANDO E POR QUÊ? – murmura atordoado enquanto Anthony se


debulhava em gargalhadas.

Foi então que a ficha de Edward caiu e viu que poderia mesmo ter sido a sua chefe flagrá-
lo tirando uma breve soneca.

Anthony parou de rir antes que Elizabeth quisesse saber qual era o motivo da graça.

― Ligue para o The Blue e marque um jantar para esta noite, incluindo você.

Edward o fitou confuso.

― Eu? – perguntou. ― Quem vai estar nesse jantar?

― Nosso clubinho, oras.

― E Michael? – perguntou ainda confuso.

Anthony revira os olhos, impaciente.

― Michael, que eu saiba, está com um olho roxo, devido uma confusão que você e a
Elizabeth não conseguiram passar longe.

Edward riu com o sarcasmo de seu novo amigo.

― Falando sério, eu quero te agradecer. – Anthony coloca uma mão em seu ombro e pela
primeira vez o fitou seriamente. ― Eu não sei o que faria com aquele desgraçado se ele tivesse
forçado a Elizabeth. Provavelmente à uma hora dessas, estaria debaixo de sete palmos de terra.

Anthony termina de falar e eles continuaram se olhando por alguns instantes. Edward
sabia que ele amava sua amiga de verdade e faria de tudo por ela.

― Eu fiz o que qualquer um faria. – deu um meio sorriso.

Anthony negou com a cabeça.

― Nem todos teriam essa coragem.

Eles se olharam por mais alguns instantes em silêncio, até que Anthony percebeu que
Edward tinha algo a lhe falar.

― Quer me contar algo? – pergunta por fim.

O rapaz respirou fundo e virou as costas, deveria ser sincero com Anthony e lhe contar
sobre o beijo?

Procurou as palavras certas em sua mente e se voltou para o homem que estava de braços
cruzados, claramente esperando uma resposta.

― Ontem à noite eu e a Elizabeth nos beijamos.

Anthony continuou com os braços cruzados, tentando processar aquela informação. E de


repente... sua ficha caiu.

― VOCÊS O QUÊ? – grita alarmado. Como o belo dramático que era, levou uma das
mãos ao peito como se estivesse prestes a ter um ataque cardíaco. ― Eu não acredito. É sério
isso?

Edward balançou a cabeça afirmativamente.

― Edward safadão! – Anthony riu deliberadamente. ― Pelo amor de Deus, tenho que
ligar para o Jason... ele precisa saber disso!

― Não! – Edward pula do assento. ― Está louco? Se Elizabeth souber que eu falei isso
para alguém, ela me demite.

Anthony realmente se extasia com aquela notícia, porém, o bom senso o atingiu e
conteve-se antes que a mulher os ouvisse.

― Mas o que achou do beijo? Rolou algum clima?

Edward deu de ombros.

― Não sei viu, na hora pensei que era outra Elizabeth. – Edward se recordou. ― Mas
depois, voltou a ser a mesma... arrogante e fria.
― Entendo. – Anthony suspirou. ― Acalme-se amiguinho, ela logo irá perceber que você
está apaixonado por ela.

― Eu não estou apaixonado por ela! – Edward protestou. ― Apenas tenho uma queda.

― Queda? Você tem um buraco negro por ela, meu caro. – Anthony riu ao girar a
maçaneta da porta. ― Nos vemos às 7 horas, na casa da sua chefe, não se atrase.

Edward assentiu, com receio do que estava por vir. Sabia que Anthony e os demais o
viam como um amigo da família, mas Elizabeth não. Ela sempre o veria como um simples
funcionário e jamais aceitaria uma aproximação maior.

Sua vida estava bem mais complicada do que imaginou ao chegar à Nova York.
As horas passaram mais rápido do que gostaria e Elizabeth se surpreendeu quando Clara e
Gwen a ajudaram a escolher um vestido para sair.

― Iremos jantar no The Blue, não é legal? Faz tempo que não vamos lá. – Gwen
comentou enquanto fazia uma trança lateral nos cabelos de sua irmã.

― Clara não deveria estar em casa se arrumando? – Elizabeth perguntou. A jovem sorriu.

― Eu emprestei um vestido para ela. – Gwen respondeu. ― Anthony logo chegará.

Conhece aquele ditado: “É só falar no capeta que ele aparece?” Bem...

― Cheguei meninas! – Anthony arreganhou a porta do quarto, fazendo todo o escândalo


que somente ele conseguia.

― Não tem portas na sua casa, Tony? – Elizabeth perguntou sarcasticamente.

Anthony deu de ombros. ― A única coisa que me consola é que todas vocês estão
vestidas.

Clara riu. ― Jason já chegou?

― Está lá embaixo nos esperando.

Gwen sorriu e terminou de arrumar o cabelo de sua irmã. Elizabeth se levantou e foi até o
espelho. Usava um vestido preto que lhe caía até os joelhos. Diferentemente da maioria dos
dias, escolheu uma maquiagem leve.

Não sabia o motivo, mas estava angustiada com alguma coisa. Talvez devesse ficar em
casa, por outro lado, sabia que sair um pouco com seus amigos não lhe faria mal algum.

Anthony saiu na frente, seguido por Clara e Gwen. Elizabeth pegou a sua bolsa e também
os seguiu, e foi quando chegou ao topo da escada que seu coração quase parou. Edward estava
ali, vestido com um terno preto, bem recortado, que lhe caía perfeitamente. Naquele momento,
sentiu como se aquele homem não fosse um simples assistente. Parecia muito mais... um
empresário, um... aristocrata?

Edward não conseguiu desviar o olhar daqueles olhos verdes que ele tanto admirava.
Fitou-a da cabeça aos pés enquanto ela parecia descer as escadas em câmera lenta. Não deveria
e nem poderia, mas não conseguia controlar seus pensamentos.

― Não baba não, Edzão! – Jason comentou baixinho em seu ouvido, fazendo com que
desviasse o olhar, totalmente sem graça.

Elizabeth não estava nem um pouco animada com aquela situação.

― O que você está fazendo aqui, Edward? – perguntou bruscamente após atingir o
primeiro degrau.

“E lá vem chumbo!”

― Eu vim porque me convidaram! – se justificou, calmamente.

Elizabeth cruzou os braços e se aproximou.

― Já não te falamos que o Edzão é nosso amigo? – Anthony interrompeu. ― Ele pode ir
conosco aonde ele quiser.

― E como ousam...

Anthony a interrompeu novamente. ― Gwen vai comigo, Clara com Jason e você
Elizabethinha... vai com o Edzão, ok? Tchau.

Com avidez, puxou Gwen, assim como Jason fez com Clara, deixando os dois sozinhos
na beirada da escada.

Elizabeth queria pegar o vaso de flores que estava na mesinha ao seu lado e acertar na
cabeça de seu melhor amigo, porém, pegaria prisão perpétua, caso ele morresse.

Edward a fitou apreensivo, no fundo, sabia que não deveria ter ido àquele jantar.

― Vamos logo! – Elizabeth resmungou sem paciência e saiu a passos firmes.


Todo o trajeto foi tomado por um silêncio constrangedor. Elizabeth sabia o que seus
amigos planejavam. Ela os conhecia tão bem e nada passava despercebido aos seus olhos.

Edward respirou fundo. Não deveria ter ido. Poderia arrumar uma confusão daquelas com
Michael, talvez pior do que ter acertado seu olho com um soco. Coisa que ainda não sabia
como iria se desenrolar, pelo simples fato do covarde não dar as caras na empresa. Entretanto,
já que estava ali, enfrentaria o inferno e seus demônios e iria até o fim.

― Sua mão está melhor? – perguntou, tentando quebrar o silêncio.

― Sim e seu olho?

― Melhor também. – deu um meio sorriso.

Um manobrista apareceu e Edward lhe deu as chaves do carro. Logo depois Gwen e
Anthony desceram do carro, seguidos por Jason e Clara. Os casais de braços dados, menos
Elizabeth e Edward.

― Edzão, você precisa ser cavalheiro de vez em quando. – Anthony o repreendeu. ― Dê


o braço à Elizabeth!

Elizabeth arregalou os olhos e fitou Edward.

― Nem tente. – murmurou rispidamente.

Estava claramente furiosa com tudo aquilo. Santo Deus! Seus amigos estavam jogando-a
para os braços de Edward como se ela fosse uma mulher solteira! Onde seu noivo entrava
nessa história?

Arrependeu-se no fundo de sua alma por ter aceitado aquele jantar.

O Maître* os recebeu com um sorriso nos lábios.

― Senhorita Adams! – ele cumprimentou Elizabeth que foi a primeira a entrar. ― Seja
bem vinda novamente.

― Obrigado, Johnson. – respondeu calmamente.

O homem sorriu novamente e cumprimentou o restante da turma.


― Vou levá-los até a mesa reservada.

Eles o seguiram pelo restaurante fino. Aquele lugar era um dos favoritos de Elizabeth.
Sua decoração rústica lhe remetia aos gostos de seu pai, que sempre fez questão de levá-la para
jantar pelo menos duas vezes por semana.

Cada um tomou seu lugar à mesa e um garçom se aproximou, lhes entregando os


cardápios. Elizabeth fitou Edward e quis realmente saber como ele se comportaria num lugar
tão fino e o melhor, como pagaria por aquela comida.

― Esse lugar é muito bonito. – Edward comentou, quebrando o silêncio.

― Tony deveria ter escolhido um lugar mais apropriado... – Elizabeth desdenhou.

Edward sabia o que ela queria dizer. Ele não estava à altura daqueles que estavam à mesa.
Controlou-se e contou até dez mentalmente, para não subir no salto e dizer às coisas que
estavam entaladas em sua garganta.

“Mulherzinha insuportável!”

― Edward é meu convidado e não se fala mais nisso. – Anthony disse secamente. Já
estava injuriado com aquela infantilidade de sua amiga. ― Vou escolher o vinho.

Elizabeth passou os olhos pelo cardápio e pediu o de sempre. Não estava com humor para
experimentar coisas novas. O garçom recolhe os cardápios e se afastou, a fim de agilizar os
pedidos.

Eles continuaram ali conversando animadamente, exceto Elizabeth, que mergulhou em


seus pensamentos. Sabia que estava agindo como uma criança mimada, mas não aguentava
toda aquela pressão. Toda a vez que olhava para seu assistente sentia coisas que não queria e
nem deveria sentir. Desejava-o e sabia ser errado. Sentia-se uma pecadora e isso
definitivamente a deixava de mau humor.

― Seu noivo não vai vir? – Edward perguntou baixo, por sorte ou não, sentou bem ao seu
lado.

Elizabeth o fitou de soslaio. ― Ele provavelmente não quer ver a minha cara tão cedo.

Edward riu. ― E a minha então?

A mulher deu um leve sorriso, aliviando a tensão do jantar. ― Não se preocupe com isso.
Michael é... excêntrico algumas vezes.

Excêntrico era o novo nome de quem tentava estuprar alguém? Edward não entendia
como ela não se preocupava com o que poderia ter acontecido se não estivesse lá.
Será que ela o amava tanto assim que cobria os olhos mediante as atrocidades cometidas
pelo seu noivo?

O jantar seguiu normalmente e os que mais falavam eram Anthony e Jason. As meninas
riam, porém, Elizabeth e Edward pareciam perdidos em seus mundinhos. Algumas vezes seus
olhares se cruzavam e faltavam as palavras.

Elizabeth não era nenhuma criança e sabia muito bem que aquele homem, dentro daquele
terno, estava deixando-a tonta de desejo.

― Ah! Está tocando minha música favorita! Vamos dançar Jason? – Clara o cutucou. O
rapaz todo sorridente assentiu e ambos partiram para um pequeno espaço reservado para
danças. Outros casais também estavam lá.

― Acho que também quero dançar! – Gwen anunciou. Anthony entendeu o recado e se
levantou, oferecendo sua mão.

E novamente Elizabeth os odiou por deixarem-na sozinha com Edward. Ele a fitou com
os olhos semicerrados, mal tinham se dirigido a palavra durante a noite toda.

― Com licença. – Elizabeth se levantou. Precisava de ar invadindo seus pulmões.

Edward continuou ali, sentado enquanto ela se afastava. Dentro de seu peito, se
arrependeu de ter ido àquele restaurante, de ter ido atrás daquela maldita vaga de emprego, de
ter vindo para Nova York. Passou as mãos pelos cabelos tentando se livrar daquela frustração.

Elizabeth estava saindo do restaurante quando uma jovem a parou, fazendo o maior
escândalo. Lucy nunca mudaria.

― Elizabeth Adams! – disse enquanto a abraçava. ― Há quantos anos não a vejo!

Elizabeth abriu um sorriso forçado. ― Lucy, é bom vê-la!

― Elizabeth eu preciso falar com você... – Edward estava tão apressado para falar com
ela que se assustou com a outra jovem que estava parada observando-os.

― Uau! Que gato é esse hein, Lisa? Largou do Michael?

Elizabeth engoliu em seco. Provavelmente, amanhã os jornais estariam estampados com


aquela ocasião nada elegante.

― Esse é Edward Smith... um amigo.

É claro que diria que era um amigo, diria o quê? Que aquele rapaz era seu assistente?
Desde quando patroas saíam com seus assistentes para jantar em restaurantes finos? E o pior...
desde quando assistentes se vestiam e se comportavam tão elegantemente?

Edward observou a jovem a sua frente. Era loira, de olhos azuis, estatura média. Era
bonita, mas não se aproximava da beleza de sua chefe.

Lucy percebeu o clima tenso entre os dois e deu um jeito de sair de perto o mais rápido
possível.

― Estarei lá dentro, vejo vocês depois! – Lucy sorriu. ― Até mais Elizabethinha!

E assim ela se foi, acompanhada por seguranças. Não era uma celebridade, mas gostava
de tentar ser.

― Elizabethinha? Algum apelido ordinario? – Edward riu calmamente. Elizabeth quis


matá-lo.

― Eu odeio essa vadia! – disse furiosa enquanto se afastava pela porta de saída do
restaurante. ― No colégio, eu quase acabei com esse rostinho de Barbie.

Edward a seguiu e a observou quando se encostou a uma das pilastras de gesso, que
faziam parte da decoração do restaurante. Elizabeth tirou da bolsa um cigarro e o acendeu.

― Péssimo hábito. – Edward a repreendeu e ela o fitou como se dissesse: “Cuide da sua
vida”.

O rapaz se aproximou e também se encostou ao seu lado, observando a noite estrelada.


Era raro uma noite de inverno trazer estrelas nos céus, mas por incrível que pareça, aquela era
diferente.

― Trabalhamos juntos há algum tempo, mas não sei quase nada sobre você.

Elizabeth deu um meio sorriso. ― Mas deveria saber, te pago pra isso.

Edward bufou. ― Não estou falando no sentido profissional. Falo sobre você... Elizabeth
Louise Adams, não a minha chefe.

A mulher fumou seu cigarro mais uma vez. Ele poderia achar que não, mas sabia muito
sobre ela. Ele fora o único que a vira chorando.

― Também não sei sobre você, Smith. – disse por fim.

― Claro que sabe, não leu meu currículo?

― Li, mas aquilo não quer dizer nada. – se virou para ele. ― Pode muito bem ter
mentido.
Edward sorriu e também se virou para ela.

― Tem razão. – concordou. ― Qual a sua comida preferida?

Elizabeth estranhou a pergunta, mas resolveu responder quando ele a fitou com um
sorriso divertido nos lábios. “Tinha como ele ficar ainda mais bonito?”

― Bacon. Mas acho que isso você já sabe. – se lembrou do que ele lhe preparara na noite
anterior.

― O que faz nas horas livres?

― Quando as tenho gosto de ler, assistir seriados.

Edward assentiu e sabia que não podia adiar aquela conversa que martelou em sua mente
o dia todo.

― Precisamos conversar sobre ontem à noite. – disse por fim, tirando todo aquele peso de
suas costas.

Elizabeth não respondeu e desviou o olhar para o chão. Sabia que esse momento chegaria.
Como por instinto, Edward levou a mão até seu queixo, erguendo-o gentilmente, fazendo com
que ela o encarasse.

― Eu não entendo por que está me tratando desse jeito! Eu não lhe fiz mal algum, pelo
contrário, fiz um bem a nós!

Elizabeth quis rir. ― Que tipo de merda está falando? Aquele beijo foi um simples ato de
caridade?

― Não! Claro que não! Eu sempre quis aquele beijo desde o primeiro dia que a vi! –
Edward a segurou pelos braços. ― Não quero seu desprezo...

Elizabeth respirou fundo. Não o desprezava, pelo contrário...

― Eu não estou te desprezando, apenas acho que foi errado e não deve acontecer
novamente.

Era uma mentirosa deplorável! Era óbvio que queria aqueles beijos, queria todos os que
pudesse receber, mesmo sendo um erro.

― Não me diga que foi um erro. – Edward fechou os olhos, como se aquilo o
machucasse. ― Eu não sei o que está acontecendo, mas seja o que for, quero aproveitá-lo ao
máximo!
― Eu sou a sua chefe, pelo amor de Deus. – suspirou. ― Olha a confusão em que
podemos nos meter se levarmos isso à diante.

Virou de costas e cruzou os braços, tentando não encarar aqueles olhos azuis que
pareciam conhecê-la mais do que ela gostaria.

― Eu não me importo. – Edward respondeu. ― Eu poderia virar as costas e deixá-la


sozinha, mas quem disse que consigo não desejá-la?

― Eu tenho um noivo. – rebateu, tentando colocar um fim àquela loucura.

― Que você não ama. – retrucou. Elizabeth se voltou para ele, com o olhar furioso.

― Quem é você para falar sobre meus sentimentos em relação a Michael?

Edward riu sem humor. ― Se você o ama tanto, onde está ele neste momento?

Aquela pergunta a desarmou de todas as maneiras possíveis. Edward tinha razão? Mas o
que era o amor afinal de contas?

Ela e Michael sobreviveram ao momento mais difícil de suas vidas. Como ela poderia
deixá-lo, assim, tão de repente? Como poderia se envolver com uma pessoa que conhecia
somente há duas semanas?

― O amor é muito mais do que você imagina. – ele sussurrou, encurralando-a contra a
parede. ― Responda à minha pergunta. Se você o ama tanto, não deveria estar com ele, nesse
momento?

Elizabeth sentiu o perfume amadeirado invadindo suas narinas e fechou os olhos. Aquilo
era errado e poderia terminar mal para ambos os lados. Quando abriu os olhos, encontrou-o
próximo de seu rosto, fitando-a como se fosse à única que lhe interessasse.

― Eu não posso Edward. – disse baixo, lutando contra aqueles sentimentos revoltados
dentro de seu peito. ― Eu não tenho um coração.

Tinha um coração, porém, estava envolto em camadas de gelo. Nem mesmo Michael,
com todo seu charme, tinha sido capaz de penetrar essas camadas.

Será que Edward seria capaz desta façanha?

Edward desceu os olhos para seus lábios e deu um meio sorriso.

― Eu não tenho certeza disso. – acariciou seu rosto levemente. ― Posso sentir seu
coração batendo.
Elizabeth fechou os olhos quando a mão direita do homem pousou em cima de seu
coração.

Seu coração batia irregularmente e aquilo a assustava como nunca. O que era aquilo? Por
que não conseguia se desvencilhar daquele corpo e voltar a ser o que era?

― Eu deveria ir embora e fingir que nada disso está acontecendo. – Edward murmurou
roucamente. ― Mas eu simplesmente não consigo. Eu quero seus lábios nos meus mais uma
vez.

Elizabeth não aguentou aquelas palavras e deixou que as lágrimas rolassem novamente.
Estava tentando ser forte, fingir que nada tinha acontecido, mas era impossível. Queria sumir,
não existir. Seria tudo mais fácil e sem erros.

Seu medo era descobrir que aquilo era muito mais do que uma simples atração. Edward
estava ali, prensando-a contra a parede e com os olhos mais sinceros que já havia visto em sua
vida.

No dia que Edward apareceu para aquela entrevista, tudo tinha dado errado em sua vida.
Será que aquele não era mais um erro a ser somado?

Edward suspirou e a segurou pela cintura. Desceu seus lábios até os dela e Elizabeth se
entregou ao momento como se dependesse dele para continuar seus dias.

Seus lábios se moveram com facilidade e com perfeição se ajustaram. Não era um simples
beijo, nele continham sentimentos, sensações que ninguém, nem mesmo eles conseguiam
distinguir. Edward a abraçou e Elizabeth envolveu seu pescoço com os braços, deixando-se
levar naquele momento prazeroso.

Era errado e louco, era perigoso, mas naquele momento a única coisa que importava era o
que estava finalmente acontecendo. Aos poucos, um coração de gelo se derretendo pela pessoa
mais improvável que imaginou encontrar um dia.
3 meses depois...

― Bom dia, senhorita Adams. – a secretária a cumprimentou logo que a viu.

Elizabeth não estava com humor nem para falar com Deus, quanto mais com a sua
secretária. Ignorando o cumprimento, caminhou para sua sala a passos firmes. Ao abrir a porta,
surpreendeu-se com o buquê de rosas vermelhas que estavam em cima de sua mesa.

― Mas de quem será...? – murmurou ao se aproximar e procurar por algum cartão.

― Bom dia.

Não precisou se virar para saber quem era. Nesses três meses já sabia seus hábitos e a
maneira como entrava em sua sala. Bem como conhecia sua voz.

― Bom dia, Smith. – respondeu calmamente, continuando de costas para ele.

Edward continuou ali parado, observando-a por longos instantes. Elizabeth vasculhou o
buquê procurando por um cartão, mas nada encontrou. Seu coração deu um salto ao pensar que
o autor daquela situação poderia estar ali, atrás dela.

Elizabeth se virou para ele e seus olhos se cruzaram. Cada dia era mais difícil ser “ela”
quando estava perto daquele homem tão bonito.

Tantas coisas deixaram de ser ditas nesses três meses. Tantas coisas foram abafadas
quando, depois daquele beijo, ela pediu sinceramente que a deixasse em paz.

“Edward eu não posso! Eu amo Michael e vou continuar com ele... por favor, me deixe
em paz ou terei que demiti-lo!”
Que escolha ele tinha? Estava pouco se lixando para seu emprego, mas não queria perder
a oportunidade de estar ao lado daquela mulher. Sua saída foi acatar e se resignar ao exílio de
seus sentimentos.

Edward desviou o olhar para as flores que estavam em cima da mesa. Arqueou a
sobrancelha, porém, não perguntou nada. Pela sua expressão, Elizabeth soube que não fora ele
quem as enviou.

― Vim lembrá-la sobre o jantar beneficente esta noite, todos a esperam. – Edward se
aproximou e lhe estendeu uma pasta. ― E você precisa assinar esses papéis.

Elizabeth o fitou por alguns instantes antes de pegar a pasta. Sabia que tinha mandado que
ele se afastasse, mas não esperava que ele a obedecesse. Isso, de certa forma a machucou. Será
que ele percebeu que era um erro insistir nesse sentimento?

Com o turbilhão que era a sua vida, esqueceu-se completamente do jantar beneficente.
Sua família era fundadora de um hospital que amparava crianças com Câncer e ela como
representante, deveria participar todos os anos.

― Michael já sabe sobre o jantar? – perguntou por fim, enquanto encostava-se à borda da
mesa.

Edward levou as mãos aos bolsos da calça social.

― Creio que sim, Jane deve ter lhe passado o convite.

Ele continuou observando-a enquanto o silêncio era o carro chefe daquela situação.
Durante esses três meses, achou melhor não pressioná-la, até por que, precisava descobrir o
que realmente sentia por ela.

A cada dia ficava mais difícil vê-la nos braços de outro. Se por um instante pudesse entrar
em sua cabeça e abrir seus pensamentos, lhe mostraria que Michael não a merecia, nem por um
milésimo de segundo.

Entretanto, aquela situação era muito mais delicada do que podiam imaginar e por isso
resolveu lhe dar todo o tempo que precisasse, enquanto a tensão de trabalharem juntos crescia
mais e mais.

Elizabeth continuou lendo os papéis e caminhou até a sua cadeira.

― Precisa de algo ou posso me retirar?

Ela ergueu o olhar e arqueou a sobrancelha.

― Pensei que já estivesse em sua sala.


Edward engoliu em seco a vontade de responder à sua grosseria. A essa altura, sua sala
nova já estava pronta. Era espaçosa e com toda a ventilação que a outra não tinha.

― Volto depois para pegar os papéis assinados, com licença. – fez o caminho até a porta,
porém, antes que saísse Elizabeth o chamou.

― Prepare seu melhor terno, você irá conosco ao jantar.

Edward quis gritar e espernear dizendo que não iria àquele jantar com ela e o imbecil de
seu noivo. Mas o que poderia fazer? Era apenas um assistente, como ela mesma, fazia questão
de jogar em sua cara.

Talvez Elizabeth quisesse provocá-lo somente para lhe mostrar o seu lugar. Entretanto,
ele sabia muito bem o que fazer e se ela pensava que tinha o domado, estava inteiramente
enganada!

Aquela batalha ainda não estava perdida.

― E peça ao Anthony para vir aqui, imediatamente.

Edward assentiu e fechou a porta. Elizabeth ergueu os olhos quando ele saiu e bufou,
jogando a pasta em cima da mesa. Por que diabos estava agindo assim com ele?

Convidá-lo para aquele jantar não tinha outra explicação a não ser dizer claramente: Você
é apenas um assistente e tem que me obedecer!

De certa forma, estava com raiva por Edward ter desistido tão facilmente. Será que ele
estava interessado em seu dinheiro? Será que ele apenas queria usá-la e depois descartá-la
como provavelmente teria feito com outras mulheres?

― Inferno! – berrou antes de jogar na porta o copo de água que estava em sua mesa.
Queria calar aqueles pensamentos, mas eles a consumiam por completo. Não podia ser fraca,
ela era Elizabeth Adams!

― Se você pensa que vou nesse jantar, está redondamente enganada! – Anthony bufou.
― Sabe que não tenho paciência para essas coisas.

― Você sabe que é sua obrigação! – Elizabeth vociferou. ― Sempre estivemos lá, por
que não quer ir este ano?
Anthony a fitou com os olhos semicerrados.

― Tenho compromisso. – respondeu secamente.

Elizabeth fechou os punhos e quis socar a cara de seu melhor amigo. Como se seus
problemas não fossem suficientes, Anthony estava muito insuportável nos últimos dias.

Ele estava sentado em frente a sua mesa, balançando a perna despreocupadamente.

― Me diga apenas um motivo convincente e eu te deixo em paz.

Anthony riu. ― Tudo bem. – levantou as mãos e a fitou como se ela fosse culpada por
toda a desgraça da humanidade. ― Michael!

Elizabeth o fitou com incredulidade. ― O que Michael tem a ver?

Anthony revirou os olhos, impaciente.

― Você sabe que eu não o suporto, sabe o que ele fez ontem? – Elizabeth negou com a
cabeça e ele continuou. ― Veio na minha sala espernear que queria o Edzão demitido. Olha
Lisa, ele ainda não te perdoou sobre o soco...

Elizabeth se jogou na cadeira e bufou, era demais para sua cabeça.

― Eu já conversei com ele sobre isso, agimos por impulso e ele entendeu o meu lado. –
Elizabeth disse com a frustração presente em sua voz. ― Já faz três meses, Tony. Pelo amor de
Deus!

Anthony revirou os olhos e se levantou, estava cansado daquela conversa.

― Tudo bem, acredite no que quiser, mas eu não vou nesse jantar nem que me paguem!

Elizabeth suspirou. ― Você sabe que não vou demitir Edward, ele tem sido eficiente. –
disse por fim. ― Mas tudo bem, faça como quiser...

Anthony a observou por alguns instantes, sua amiga parecia destroçada. Sabia que a
pressão em suas costas era enorme, sem contar que havia um assunto mal resolvido entre ela e
Edward.

Soube do beijo compartilhado no restaurante através do próprio Edward. Infelizmente não


podia se intrometer. A vida era dela e, ela deveria decidir quem lhe fazia bem ou mal.

Deu a volta na mesa de mogno e a abraçou. Elizabeth se surpreendeu, mas deixou que seu
amigo lhe acariciasse os cabelos. Ele era um irmão mais velho, lhe fazia tão bem... lhe
compreendia como ninguém.
― Eu quero que seja feliz. – Anthony murmurou enquanto deslizava os dedos pelas
mechas castanhas.

― Eu sou feliz, Tony. – mentiu.

Ouviram três batidas e a porta se abriu. Michael entrou e não gostou nem um pouco da
cena que se desenrolava à sua frente.

― Estou atrapalhando o casalzinho? – perguntou com ironia.

Anthony poderia ter se afastado de sua amiga e fingido que nada tinha acontecido, mas
não daria esse gostinho a Michael. Continuou ali, enquanto ela permitisse.

― Pelo amor de Deus Michael, com Anthony não! – Elizabeth bufou. ― Sabe que ele é
um irmão para mim.

Michael se aproximou e revirou os olhos. ― Eu não entendo esse conceito de


“irmãozinhos”. Ele não é seu irmão, Elizabeth!

Anthony o fitou, com suavidade no olhar. ― Quem disse que não? Fomos separados na
maternidade!

Michael afrouxou o nó da gravata, controlando-se para não fazer alguma besteira.


Anthony finalmente os deixou a sós, não sem antes depositar um beijo demorado na bochecha
de sua amiga. Ela quis rir, mas achou interessante como Michael o fitava com sangue nos
olhos.

― Você sabe que não gosto dessas proximidades. – Michael resmungou quando Tony
fechou a porta.

Se ele não gostava dessa proximidade, ela não queria nem imaginar se soubesse dos dois
beijos que ela compartilhou com seu assistente. Que Deus a ajudasse!

― Anthony sempre foi assim, você sabe e, além do mais... – deu um meio sorriso. ― Ele
está saindo com a secretária.

Michael pareceu surpreso. ― Sério?

― Gwen está furiosa. – suspirou. ― Mas o que você quer?

Então os olhos de seu noivo pousaram sobre o buquê de rosas.

― De quem é isso? – perguntou bruscamente.

Elizabeth arqueou a sobrancelha. ― Não são suas?


― É claro que não! – bufou. ― Já até imagino de quem seja.

De Edward? Não, não era possível. Ele mesmo estranhou aquelas flores. Com medo do
que seu noivo poderia fazer, tratou de despistá-lo.

― Foram de Anthony. Ele sabe que gosto de rosas vermelhas.

O homem a fitou por alguns instantes e relaxou. Anthony nunca foi um problema em seu
caminho.

― Comprei um vestido para você usar esta noite.

Elizabeth assentiu. ― Obrigado.

O homem deu um meio sorriso, fitando-a como se esperasse algo. Elizabeth sabia o que
ele queria e o beijou nos lábios. Michael tentou intensificar aquela união, porém, sem sucesso.
Aquele beijo era cru, sem sentimentos, no piloto automático.

― Com licença... – a voz ecoou da porta e eles sabiam muito bem quem era.

― Inferno! – Michael amaldiçoou após a interrupção. Queria ter o prazer de chutar o


traseiro de Edward direto para a rua. ― O que é desta vez, Smith?

Edward não tinha a intenção de entrar sem bater, porém, já estava acostumado a entrar
muitas vezes sem precisar se anunciar. Infelizmente a cena que viu, lhe despedaçou o coração.
Odiava vê-la ao lado daquele escroto.

― Vim pegar os papéis que deixei. – respondeu, não diretamente a Michael, fitando
Elizabeth com seriedade.

Elizabeth respirou fundo. Seu dia poderia ficar pior?

― Aqui estão. – lhe estendeu a pasta após alguns segundos. Edward ainda a fitava com
decepção no olhar, então estendeu a mão e pegou.

Michael o fitou impaciente, com as mãos na cintura.

― Algo mais? – perguntou bruscamente.

Edward negou com a cabeça e se afastou, deixando-os sozinhos mais uma vez.

― Esse sujeito não consegue esconder o interesse em você, não é? – Michael bufou. ―
Por mim já estava no olho da rua!

Elizabeth respirou fundo. Estava cansada e tudo o que conseguiu, foi uma excêntrica dor
de cabeça.

― Me deixe sozinha, por favor.

Edward entrou em sua sala, como um furacão prestes a derrubar quem atravessasse seu
caminho. Estava furioso. Decepcionado. Triste. Todos os sentimentos ruins que existiam no
universo, nesse momento pousavam sobre a sua cabeça.

A fatídica cena de Elizabeth beijando Michael o consumiu por completo. Encostou-se a


porta e colocou a cabeça entre suas mãos. O que estava acontecendo? Nunca uma mulher tinha
mexido consigo desta maneira.

Três meses se passaram e tentou não pensar nela, mas não conseguia. Ele a queria mais
que tudo e isso o irritava profundamente. Talvez fosse a sensação de proibição que o instiga
mais e mais.

Nunca correu atrás de mulher alguma, mas aquela maldita mulher tinha um imã que o
puxava. Todas as noites, sonhava coisas que nem poderia pronunciar em voz alta. Ela
definitivamente deixava-o louco.

Sua nova sala era ao lado, com uma linda vista para a grande cidade de Nova York.
Respirou fundo, colocando as mãos na cintura. Não desistiria assim, tão fácil. Ele a queria e
sabia que ela não era indiferente, pois sentiu isso nos dois beijos que compartilharam. Olhando
aquela linda paisagem, uma ideia brilhou em sua mente.

Dali algumas horas seria o jantar e não perderia a oportunidade de estar ao lado daquela
linda mulher. Uma coisa era certa, não dividiria sua atenção com o imbecil do seu noivo.
Entretanto, teria que fazer algo para tirar Michael da jogada.

Quem melhor que Anthony para ajudá-lo nessa missão? Que Deus o ajudasse nessa
empreitada e Elizabeth que se preparasse, pois estava oficialmente aberto o plano:
“Conquistando a minha chefe!”
Nesses três meses que estava empregado na Adams Corporation, Anthony e Edward
construíram uma amizade sincera. Exatamente por isso, não hesitou em pedir a sua ajuda para
tirar Michael de seu caminho.

― Está ocupado? – Edward perguntou após abrir um pouco a porta e colocar a cabeça
para dentro.

― Edzão! – Anthony sorriu. ― Entra aí, já estou terminando.

Edward entrou e viu quando Anthony discutia com alguém pelo telefone. Sentou-se na
poltrona em frente e aguardou pacientemente. O rapaz deu mais alguns gritos e desligou o
telefone.

― Desculpe, alguns problemas na empresa. – desculpou-se lançando um meio sorriso. ―


Mas e aí, o que me diz?

Edward achou melhor começar pelas beiradas.

― Há pouco, peguei a chefe e o noivo aos beijos.

Anthony balançou a cabeça negativamente. ― Eu estava lá quando ele entrou,


sinceramente não entendo porque a Lisa ainda está com ele.

Edward deu um meio sorriso entristecido.

― É por isso que quero a sua ajuda.

Os olhos de Anthony brilharam como os de uma criança ao ver um doce. Planos


mirabolantes eram algo que ele apreciava desde quando saíra da barriga de sua mãe.
― Pode falar! Sou todo ouvidos...

― Elizabeth exigiu que eu os acompanhasse ao tal jantar esta noite. – bufou.

― E você pretende ir? – Anthony rolou a caneta entre os dedos.

― Pretendo. – Edward sorriu. ― Entretanto, preciso que você me ajude a tirar o Michael
da jogada.

Anthony arregalou os olhos. ― Como assim?

― Ele não pode comparecer a este jantar. Eu preciso do caminho livre para minhas
investidas.

A luz do entendimento brilhou sobre a cabeça de Anthony.

― Olha... – coçou o queixo. ― Não podemos simplesmente sequestrá-lo, mas podemos


fazer algo.

Edward assentiu e ficou curioso quando o rapaz abriu uma gaveta e tirou de lá um frasco
pequeno. Por Deus, queria tirar o cara da jogada, não matá-lo.

Anthony percebeu a face assustada de seu amigo e tratou de tranquilizá-lo.

― Não vamos matá-lo. – riu balançando o frasco no ar. ― Isso é um laxante. Meu caro,
essa belezinha vai fazer um estrago!

Ambos riram abundantemente ao imaginar o que aconteceria com Michael ao tomar do


laxante. Edward sorriu maliciosamente enquanto pegava o frasco das mãos de Anthony.

― Edzão, vai com tudo! Se você conseguir fazer a minha amiga feliz, eu te dou todo o
apoio.

Edward fitou seus olhos, estavam marejados. Era certo que Elizabeth era uma grande
amiga e por isso desejava vê-la feliz.

― Obrigado, é bom ouvir isso. – estendeu a mão para Anthony e sorriu calorosamente. ―
Me deseje boa sorte.

― Boa sorte, amigão!

Anthony lhe deu um sorriso que o encorajou ainda mais. Essa noite prometia!
A manhã passou rapidamente e como de costume, Elizabeth saiu para almoçar com
Michael em um restaurante próximo. Quando voltaram, encontraram Edward e Jane comendo
um delicioso cachorro quente numa banquinha, próximo ao escritório.

― Tão miserável que tem até que comer em barraquinha de cachorro quente. – comentou
Michael, despejando todo seu veneno.

Elizabeth revirou os olhos. ― Quem não gosta de um cachorro quente da barraquinha?

Michael a fitou com desprezo.

― Espero que você não.

Após o almoço, se trancou em seu escritório para fazer os relatórios da reunião que se
aproximava. Todo final de mês, se reuniam os executivos e principais acionistas para
avaliarem a situação da empresa e do mercado no geral. Elizabeth ainda se sentia insegura
quando precisava tomar a frente, deixando quase sempre para seu noivo conduzir a reunião.

Enquanto terminava um dos relatórios em seu computador, sua mente vagou para o jantar
que havia acontecido há três meses. Sorriu involuntariamente ao se lembrar da conversa idiota
que Edward iniciou naquele dia. Ele queria saber qual era a sua comida preferida... péssimo
jeito de flertar com alguém.

E então ele a prensou na parede como se a quisesse ali mesmo. Não queria, mas o cheiro
de seu perfume impregnou em suas narinas e muitas vezes, durante a noite, se pegava
pensando nele.

Elizabeth fechou os olhos e não conseguiu esquecer a sensação de fogo ardendo dentro de
si quando ele a beijou. Não tinha sido como a primeira vez, mas muito melhor.

Sentia-se uma completa idiota por se remoer com pensamentos de coisas que nunca
poderiam voltar a acontecer. O maior problema era que não conseguia apagar essas memórias
tão intensas.

Batidas na porta a tiraram de seu devaneio. Edward abriu a porta lentamente e entrou.

― Já estou indo. – comunicou. ― Encontro-a no jantar?

― Vá até meu apartamento. É melhor irmos todos juntos.


― Com certeza. – Edward sorriu maliciosamente. ― Então nos vemos daqui a pouco. Até
mais tarde, chefinha. – disse ele, ironicamente, antes de sair pela porta.

Elizabeth estranhou o jeito de seu assistente, que nos últimos três meses, agiu de modo
totalmente profissional.

“O que está acontecendo?”

Balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos e desligou o computador. Olhou


no relógio em seu pulso, era hora de ir para casa.

Michael já a esperava no lado de fora da sala.

― Você vai direto para a minha casa? – perguntou ao seu noivo enquanto caminhava em
direção ao elevador.

― Vou dar uma passada em meu apartamento primeiro. ― Michael a alcançou e passou
um braço em sua cintura. ― Prometo não demorar.

Elizabeth o fitou e assentiu. ― Sabe que odeio atrasos.

― Não se preocupe querida. – disse calmamente. ― Não vou me atrasar.

Michael a puxou para um beijo antes que entrasse no elevador. Ele era insistente e não
tinha vergonha de demonstrar na frente dos funcionários que aquela mulher, que todos temiam,
era somente sua.

O problema era que aquela possessão era enervante e Elizabeth fez de tudo para se soltar
o mais rápido que pôde. Para sua sorte, o elevador não demorou e dando uma última olhada no
escritório, entrou nele, deixando um irritado noivo para trás.

Edward definitivamente não estava a fim de se atrasar. Sabia que sua chefe odiava atrasos
e por isso correu para pegar o metrô e chegar até seu humilde apartamento o mais rápido
possível. Tinha tempo de sobra, queria escolher seu melhor terno, se barbear e estar à altura de
Elizabeth Adams, já que seu plano era estar no lugar de Michael.

Após se olhar no espelho, averiguou que estava devidamente arrumado, usando seu
melhor Smoking. Agradeceu aos céus e a sua mãe que insistiu que levasse suas melhores
roupas, caso situações como essa acontecessem.
Pegou o frasco do laxante e o colocou no bolso interno. Um sorriso malicioso se apossou
de seu rosto, esta noite Michael provaria de seu próprio veneno.

Teve a certeza que Elizabeth não era nenhuma megera, quando desceu as escadas do
antigo prédio e viu que uma limusine o esperava. Não era nenhuma novidade para ele andar
em carros assim, mas fazia um bom tempo que estava longe desses luxos.

Daquela vez o trânsito não demorou. Seus lábios se levantaram num sorriso travesso e
mal podia esperar para ver o poder que aquele vidrinho carregava. Sentia-se como um dos
bruxos de Harry Potter.

Michael teria uma verdadeira noite de rei... sentado no trono!

Após o carro estacionar, guardou o frasquinho dentro do paletó e saiu, deixando que o ar
da maldade invadisse seus pulmões. Nova York era uma belíssima cidade e apesar do
movimento dia e noite, não se arrependia um segundo sequer de ter escolhido aquele lugar para
viver.

O elevador se abriu no último andar e ele foi recebido pelo mordomo, que sempre o
olhava com desdém.

― A Senhorita Adams pediu que a esperasse na sala de visitas, ela logo irá descer. –
comunicou. ― Espero que não tenha problemas em esperar com o senhor Michael.

Edward quis revirar os olhos enquanto seguia o homem. Entretanto, os céus conspiravam
ao seu favor e aquele era o momento ideal para colocar seu plano maquiavélico em prática.

Após passarem pelas portas, Michael se levantou furioso. ― Mas que merda é esta?

― Só estou cumprindo ordens. – Edward devolveu. ― Espero que não tenha nenhum
problema para você.

“Por que pra mim tem” completou mentalmente.

Michael não respondeu, apenas desviou o olhar. Sentou, pegou o jornal que estava na
mesinha ao lado e começou a folheá-lo.

Edward precisava de algum jeito para colocar seu plano em prática.

― É... – se virou para o mordomo. ― Poderia me trazer algo para beber?

― Sim, senhor Smith. – o mordomo respondeu surpreso. ― O que o cavalheiro deseja?

― Um suco de laranja.
Suco de laranja? Santo Deus! Definitivamente estava velho para travessuras.

― Me traga um também. – Michael rosnou. ― Com gelo e sem açúcar.

O mordomo fez uma leve reverência e se afastou, a fim de trazer os pedidos. Edward quis
revirar os olhos mediante o quanto Michael conseguia ser babaca. Mas controlou-se, deveria
partir para o segundo ato de seu plano.

Foi então que seu coração quase parou miseravelmente. Elizabeth entrou pelas portas com
um vestido longo, vermelho de um só ombro. Ele era justo, deixando à mostra suas curvas
perfeitas, além de seu pescoço fino e delicado. Edward precisou de um tempo para se
recuperar, ela estava absurdamente linda.

― Limpa a baba escorrendo aí. – Michael ironizou ao se levantar para recebê-la.

Edward sentiu a fúria em seu peito. Limparia a baba era dando um soco na cara desse
imbecil. Já estava farto, precisava tirar esse sujeito da jogada o quanto antes.

O mordomo se aproximou com uma bandeja em mãos e foi quando Edward soube
exatamente o que fazer.

― Oh, deixe isso comigo. – correu até Jofrey e pegou a bandeja de sua mão. ― Traga
algo para a senhorita Adams também. Não seja mal educado.

Jofrey não entendeu absolutamente nada, mas resolveu acatar aquela ordem. Afinal, todos
ali pareciam ter poderes sobre ele, não é?

Elizabeth teve o duro trabalho de usar o vestido que Michael lhe dera. Ela sabia as
segundas intenções por trás daquele gesto. O vestido era lindo, porém, sabia o quanto ele
adorava aquela cor nas noites em seu apartamento.

Ao entrar pela sala e ver aqueles dois homens, teve que respirar fundo e manter a
compostura. Edward estava lindo, usando um par de óculos e os cabelos penteados para trás. O
Smoking perfeitamente alinhado a seu corpo. Ele definitivamente era uma perdição em sua
vida.

Michael também não estava nada mal, porém, sua mente a traía, fazendo-a olhar demais
para aquele jovem tolo que era seu assistente. Que ideia era aquela de tomar suco de laranja?
Edward colocou a bandeja na mesinha e virou-se de costas enquanto Michael fazia suas
tentativas de seduzir sua noiva. Tirou o frasco do bolso rapidamente e deveria despejar apenas
5 gotas, mas a voz de Elizabeth o chamando fez virar bem mais que o planejado.

Michael realmente estava perdido.

― Pois não? – perguntou delicadamente enquanto pegava o copo adulterado e entregava-


o a Michael.

Elizabeth estranhou aquele tom. Ela sabia que algo estava fora do lugar, mas não sabia o
quê. Então o mordomo entrou pela porta com mais uma bandeja e um suco apenas.

― Obrigado Jofrey. – agradeceu e se virou para Edward. ― Você trouxe aquela pasta
contendo meu discurso de hoje?

Edward pegou seu próprio suco e bebericou um pouco. ― É claro que trouxe.

― Pelo menos serve para alguma coisa. – Michael rosnou e então tomou uma boa dose do
suco. Edward queria rir como uma hiena, mas não podia ou entregaria todo o jogo.

― Edward tem sido um excelente assistente, Michael. – Elizabeth bufou. ― Me esperem


um pouco, esqueci de pegar uma coisa.

Edward observou quando a mulher deu meia volta e sumiu pelas portas, alegando ter
esquecido algo. Fitou Michael que havia tomado todo o suco e agora estava olhando para o
nada, mais branco que papel sulfite.

Para não chamar a atenção, tomou um pouco do seu suco.

Elizabeth voltou até seu quarto, em busca de sua bolsa. Com a ansiedade em ver como
Edward estaria vestido, esqueceu-a em cima de sua cama. Ao entrar no aposento, fechou a
porta e respirou fundo. Aproximou-se do espelho e analisou a imagem que via refletida.

O fato é que tinha apenas 27 anos, mas seu rosto aparentava, pelo menos, dez anos a mais.
Não sabia por que se sentia assim, velha e exausta. O cansaço tomou conta de seu ser e vestir-
se para ir a esse jantar, se tornou muito mais que um desafio.

Sua mente vagou até o homem que estava lá embaixo a esperando. Ah se as


circunstâncias fossem diferentes... se ela não tivesse se tornado essa mulher insuportável. Se
aquele homem fosse pelo menos da mesma linhagem social.

Não é que Elizabeth fosse interesseira, é claro que não. Mas era herdeira de um império e
não podia casar-se com qualquer um, isso já dizia seu pai. Talvez por isso foi tão fácil escolher
Michael como seu companheiro, eles já se conheciam desde crianças e eram de famílias
distintas. Uma união perfeita...

Mas não, sua mente insistia em divagar até aquele rapaz de olhos azuis e cabelos claros. E
por mais incrível que parecesse, os óculos que usava, somente o deixaram mais sexy do que se
poderia prever.

Balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e tratou de colocar a sua


máscara de ferro. Era Elizabeth Adams e mostraria a todos que não era uma mulher fraca, mas
sim a CEO da Adams Corporation.

Pegou a sua bolsa e deu uma última olhada no espelho. Estava perfeita. Desceu as escadas
e voltou até a sala onde os dois homens estavam. Imaginou que eles estariam se matando, mas
surpreendeu-se quando viu que reinava o silêncio. Michael estava sentado olhando para o nada
e Edward observando um retrato gigante de sua família.

― Estou pronta, vamos? – anunciou, trazendo a atenção para si. Edward a fitou da cabeça
aos pés, com um olhar que ela reconheceria até no inferno. Bem, talvez estivessem mesmo no
inferno, pois seu olhar era puro fogo.

― Lisa... eu... eu... – Michael gaguejou e então ela percebeu que ele estava mais branco
que uma folha de papel.

― Meu Deus, você está bem? – perguntou, aproximando-se dele.

― Eu... não sei. – disse com dificuldade. ― Acho que não vou conseguir ir.

Edward se controlou para não rir. Queria que Anthony estivesse ali para compartilhar
daquele momento hilário. Para não ser pego, aproximou-se fingindo preocupação.

― Por Deus! Você está pálido! – disse ele, falsamente alarmado. ― Quer que o leve para
casa?

Elizabeth olhou para seu noivo que estava pálido e a testa pingando suor.

― Cale a boca, imbecil. – Michael rosnou e então fitou sua noiva. ― Vou para casa.

Elizabeth balançou a cabeça afirmativamente e observou quando seu noivo pegou as


chaves do carro e se retirou, praticamente correndo. Estranhou aquela situação desde o começo
e após alguns instantes de silêncio, se voltou para seu assistente.
― Você tem algo a ver com isso? – perguntou seriamente.

Edward riu tranquilamente enquanto se aproximava dela.

― Por que eu teria algo a ver com isso? – perguntou roucamente. ― Acha que eu queria
uma noite a sós com você?

Elizabeth sentiu seu coração acelerar mais uma vez. Por que ele mexia tanto com ela?

― Eu realmente espero que não, Smith. – cuspiu as palavras da pior maneira que
conseguia. ― Se eu souber que você teve algo a ver...

― Já sei, vou perder meu emprego! – Edward revirou os olhos e então sorriu
diabolicamente. ― Sabe o que é engraçado?

― O quê? – perguntou bruscamente, seu mau humor habitual subindo a ladeira.

Edward se aproximou um pouco mais, descendo a ponta de seus dedos pelo rosto macio a
sua frente.

― Você não teria coragem de despedir o seu “excelente assistente”.

E dizendo tais palavras, com puro cinismo, virou as costas e deixou para trás sua chefe,
com o rosto vermelho, exatamente como a cor de seu vestido.
De sua casa até o local onde seria o evento, era relativamente perto. Edward não
colecionava muitos segredos, mas um deles era, que não queria que soubessem sua origem.
Sempre odiou quando alguém se aproximava dele por interesse. Então quando desembarcou
em Nova York, mudou seu sobrenome e deu uma leve escurecida em seus cabelos.

Apesar de não ser um membro tão ativo de sua família, sabia que ir a esse jantar, poderia
muito bem, fazer seus planos de uma vida independente ir por água abaixo. Por isso, resolveu
colocar aquele par de óculos ridículos e se parecer um pouco com Clark Kent.

Observou sua chefe por alguns instantes, ela estava tão linda naquela noite. Ela digitava
algo na tela de seu Iphone enquanto sentia o peso do olhar de Edward. Por algum momento,
ele desejou que sua verdadeira identidade fosse revelada, assim poderia lutar por aquela
mulher de igual para igual ou até com vantagens.

Elizabeth guardou o celular quando o carro parou. Um tapete vermelho se estendia pela
calçada e seguranças tentavam controlar os jornalistas afobados.

― Eu não deveria estar aqui sozinha com você. – resmungou, fitando-o seriamente. ―
Amanhã estarei nas capas dos jornais com um novo “affair”.

Edward riu. ― Eu fiz algumas aulas de teatro, se quiser posso fazer parecer perfeito.

Elizabeth o fulminou com o olhar. Não estava para brincadeiras aquela noite.

― Estou apenas brincando. – Edward sorriu. ― Vou me comportar.

― Acho ótimo.

Edward respirou fundo e então saiu do carro. Os flashes quase o cegaram. Como o
homem educado que era, estendeu a mão para ajudar sua chefe a descer do carro. Elizabeth
olhou para sua mão estendida e a aceitou, imaginando que aquilo seria um escândalo
certamente. Maldita hora em que tinha arrastado seu assistente para esse evento.

Eles caminharam rapidamente tentando fugir dos jornalistas e suas perguntas: “Quem é
esse rapaz?”, “É seu novo namorado?”, “Você está traindo Michael Sanders?”.

O local era um grande salão, aconchegante e decorado com os mais finos detalhes,
misturando ouro, prata e cristais. No teto de gesso, estava pendurado um grande lustre de
cristais, que certamente custava milhões de dólares.

Na frente, tinha um grande palco, onde teria que fazer um breve discurso e dar início a um
leilão. No centro, mesas estavam espalhadas, separadas pelos sobrenomes da elite, não só de
Nova York, mas de vários outros lugares.

― Elizabeth Adams! É bom vê-la. – um homem de idade avançada se aproximou e


abraçou a mulher, como se a conhecesse há muito tempo. ― Espero que esteja satisfeita com
a recepção.

Edward tentou adivinhar quem era aquele homem.

― Está perfeito, Jack. – deu um meio sorriso. ― Veja, este é meu assistente, Edward
Smith.

O homem baixinho levantou os olhos para o rapaz e abriu um largo sorriso. ― Seja bem
vindo, rapaz. – Edward assentiu e apertou a mão que lhe estava estendida.

Ele trocou mais algumas palavras com Elizabeth e os guiou para a mesa que estava
destinada a ela e seus convidados. Sua mesa ficava de frente ao palco, com uma pequena
distância para a pista de dança. No palco, uma banda tocava calmamente uma música.

Edward puxou a cadeira para ela.

― As pessoas precisam ver que você veio aqui a trabalho. – Elizabeth resmungou ao se
sentar. ― Certamente não preciso de um escândalo a essa altura do campeonato.

Edward se sentou e ficou em silêncio. Os olhares dos curiosos caíram diretamente sobre
si. Começava a duvidar se aquela ideia de ter ido ao jantar era boa.

― Elizabeth!

O rapaz ouviu a voz feminina em suas costas, sabia que a noite inteira seria assim.
Elizabeth era uma mulher poderosa, da alta sociedade e claro, parte da Elite de Manhattan.
Seria requisitada e proclamada durante todo o evento.
Edward percebeu que ela estava incomodada com tanta gente cumprimentando-a. Não era
de se esperar menos, uma mulher tão fechada teria que fazer um esforço descomunal para
atender a todos.

― Mas vejam só, quem é esse gato? – a jovem perguntou ao ficar de frente para eles.

― Edward Smith, meu assistente.

Elizabeth queria sair correndo daquele lugar. As pessoas a sufocavam querendo atenção.
Se pelo menos Michael ou Anthony estivessem ali...

A jovem de estatura baixa o observou por alguns instantes.

― Edward Smith? Que belo nome! – ela sorriu abertamente. ― Me chamo Valerie
Patterson!

Edward a fitou e deu um sorriso. Levantou-se e lhe estendeu a mão.

― Muito prazer. – disse com seu típico sotaque inglês.

― Oh... um Inglês? – Valerie olhou sugestivamente para Elizabeth, que apenas assentiu.
― Eu adoro Ingleses!

Valerie imediatamente puxou Edward pela mão e fitou Elizabeth que já se parecia com
uma chaminé, soltando fumaça.

― Não se importa se eu roubá-lo de você por alguns instantes, não é? – a moça


perguntou, com aquele olhar que exigia piedade.

É claro que me importo! Vadia!

Não podia demonstrar seus sentimentos, ainda mais quando olhou para seu assistente e
viu que ele mantinha no rosto um sorriso debochado, como se estivesse adorando aquela
situação.

Maldito seja! Estava ali para acompanhá-la e não para despejar seu charme para cima
dessas menininhas bobocas.

Entretanto, era uma dama, educada e não daria esse gostinho ao homem atrevido.

― Claro que não. – forçou a voz da melhor maneira. ― Faça bom proveito.

Valerie sorriu novamente e puxou o rapaz pela mão. Um garçom passava nesse momento
e Elizabeth pegou dois copos com uma bebida que nem sabia qual era. Precisava se concentrar
ou essa noite seria um desastre!
Elizabeth não se equivocou quando pressentiu que a noite seria um desastre. O interior de
sua limusine nunca lhe pareceu tão pequeno quanto neste exato momento e a única cor que via
era vermelho sangue. E sangue de um tal de Smith.

Não errou também quando pressentiu que aquela mocinha o tiraria de seu foco e não o
liberaria até cumprir os seus desejos secretos. Valerie Richards sempre foi assim... a
vagabunda de Manhattan. Elizabeth amargou a ausência de Anthony. Ele deveria tê-la
acompanhado, como sempre fez, todos os anos.

E ainda tinha o fato da estranha ausência de Michael. Deveria ter imaginado que Edward
aprontaria algo para se vingar de todos os sapos que engoliu desde que entrou na empresa.

Elizabeth bufou, sentia-se uma idiota, uma inútil.

Ao imaginar que Edward forçara aquela situação e agora estava na cama de outra, fazia-a
sentir-se pior ainda.

Não deveria, mas estava magoada.

Ele a deixou sozinha a noite inteira e na hora de seu discurso, se não soubesse as palavras
de cabeça, teria passado a maior humilhação de sua vida. Ainda bem que era, acima de tudo,
uma profissional.

Foi inevitável que na hora do leilão, seus olhos varressem o extenso salão procurando por
Edward e aquela Tarântula loira.

O veículo parou em frente ao seu prédio e seu novo motorista abriu a porta. Pela primeira
vez ela olhou para um de seus funcionários que não fosse Edward Smith.

Ela não se lembrava do nome dele, afinal, deixou para que Jofrey fizesse uma seleção e
escolhesse quem mais lhe agradasse.

― Obrigado...? – perguntou calmamente.

― John, senhora. John Meyers. – respondeu enquanto a esperava sair do carro.

Elizabeth continuou observando-o por alguns instantes. Percebeu então, que nunca tinha
mantido contato com seus funcionários além de Jofrey e Edward.
Não estava errada em manter distância, mas também seria certo conhecer a cada um que
estava em sua vida. De alguma forma ou de outra, eles poderiam precisar de algo e como ela
saberia se era uma muralha ao invés de uma pessoa?

Desceu do carro e caminhou alguns passos, estava tão frustrada. John Meyers fechou a
porta e se preparou para ir embora, porém, antes que fosse, Elizabeth o chamou e lhe entregou
algumas notas de cem dólares.

John Meyers arregalou os olhos e negou com a cabeça.

― Eu já recebi o adiantamento, minha senhora.

Elizabeth suspirou. ― Você tem filhos?

― Tenho sim, senhora. – respondeu calmamente.

― Então os leve para passear com esse dinheiro. – Elizabeth lhe entregou e deu um meio
sorriso. ― Eu sei que eles irão querer passar um tempo com o pai.

O homem quis resistir, mas há tempos não saía com seus filhos, exatamente por não ter
dinheiro o suficiente para sustentá-los.

― A senhora é muito boa. – disse ele, um pouco emocionado ― A senhora tem um bom
coração, ao contrário do que dizem por aí. Muito obrigado!

Elizabeth sorriu e viu quando o homem feliz e emocionado entrou no carro e partiu. Seus
olhos se encheram de água, pois nunca tomou atitudes como essa. Era benfeitora de outras
instituições, mas esquecia-se dos que estavam debaixo de seu próprio nariz.

Era certo que não era uma bruxa má, mas era o que seus funcionários pensavam. Era o
que Edward pensava!

Cristo! não conseguia deixar de pensar nesse sujeito um só segundo?

Colocou as mãos dentro dos bolsos de seu casaco, estava frio e já se passava da uma da
madrugada. Respirou fundo e se preparou para entrar no edifício, porém, uma voz a fez
congelar antes que se movesse.

Ela moveu o rosto lentamente para onde a voz ecoou. Ele virava a esquina com a maior
cara de pau que já viu em sua vida. Caminhando elegantemente em seu terno e aquele sorriso
que faziam tremer as suas pernas.

Edward sabia que ela estava furiosa, mas não podia deixar que pensasse que a trocou a
noite toda por boa vontade. Valerie, aquela menina sem graça, arruinara a sua noite e agora
todo o esforço que teve para manter Michael longe, não adiantaria de nada.
Além da frieza, seu olhar carregava algo a mais. Será que ela estava magoada por tê-la
deixado sozinha? Ele precisava ouvir a sua voz e confirmar suas suspeitas.

― Me perdoe, eu não...

― Cale a boca Smith! – Elizabeth vociferou e ergueu o polegar, apontando-o em seu


rosto. ― Você tinha a droga de um dever e você não cumpriu! Está demitido!

Edward arregalou os olhos. O quê???

― Eu estou o quê? – perguntou com incredulidade.

― É isso mesmo! – retrucou. ― Está demitido!

Ah, mas ele não deixaria isso barato. Reuniu toda a sua coragem e a encarou friamente.

― Você não vai me demitir! Primeiro porque fora daquela empresa eu sou livre para
fazer o que eu bem entender! Que eu saiba, você não irá me pagar hora extra. Segundo, eu não
sumi porque eu quis! Aquela menina louca, que dizia ser sua amiga, fez da minha noite um
inferno!

As pessoas que passavam pela rua flagraram todo aquele escândalo. Alguns cochichavam,
outros balançavam a cabeça negativamente.

― Duvido muito que foi um inferno! – Elizabeth avançou um passo, encarando-o


firmemente. ― Ir para a cama dela deve ter sido o paraíso pra você!

Edward não aguentou e começou a gargalhar. Então era isso, ela achava que ele tinha ido
para a cama com aquela menina louca.

Elizabeth cruzou os braços, procurando onde estava a graça. Buscou em sua mente, todas
as maneiras possíveis de matar alguém sem deixar rastros.

― Eu não entendo qual é a graça! – seu sangue fervia a cada gargalhada.

― Olha, desculpe. – Edward tentou se recompor. ― Mas, você quer me demitir por eu ter
ido pra cama com alguém?

Elizabeth queria esbofeteá-lo. Era demais para a sua cabeça e não era isso o que quis
dizer. Ou era? Na verdade nem ela mesma sabia. Só estava com muita, muita raiva.

― Então você confirma que foi pra cama com aquela vadia? – esbravejou.

Edward então parou de rir e arqueou a sobrancelha. ― E se eu fui... tem algum problema?
― Nenhum problema, Smith. – Elizabeth se forçou a dizer, precisava terminar aquela
discussão imbecil.

Edward era um pouco louco, sabia disso. Mas foi a ponta de ciúmes daquela mulher que
lhe deu mais coragem. Ele deu mais um passo e a puxou pelo braço, prensando-a contra seu
corpo. Elizabeth arregalou os olhos verdes que ele tanto admirava.

― O que está fazendo? – perguntou, tentando balancear entre a calma e a sensatez. Coisas
que nesse momento estavam definitivamente fora de seu alcance.

― Eu não dormi com aquela menina. – respondeu fitando-a intensamente. ― Eu jamais


dormiria com aquela mulher.

Edward estava há poucos centímetros de seu rosto e ela sentiu uma onda violenta
percorrendo seu corpo. Que sensações eram aquelas? Por que elas estavam ali a consumindo?

― Por que não?

Conseguiu perguntar. Todos os homens achavam Valerie atraente e Edward não seria
diferente, ainda mais com ela ali se jogando pra cima dele. Poderia muito bem ter aproveitado
o quanto quisesse.

Edward tentou pensar em suas palavras seguintes, mas quando estava com ela, à situação
fugia das rédeas. No fundo, sabia que ela também o desejava. Se não, por que estaria armando
todo aquele circo no meio da rua?

― Porque eu quero outra pessoa. – respondeu finalmente, com os lábios a poucos


centímetros do ouvido esquerdo de Elizabeth.

Nem mesmo Michael conseguira lhe provocar tantas sensações. Quem ele queria afinal de
contas?

Era errado, mas desejou ouvir dos lábios dele aquelas palavras.

― Quem você quer? – perguntou lentamente.

Edward a fitou nos olhos novamente e deu um leve sorriso.

― Você.

E então, ambos se esqueceram de onde estavam. Seus desejos falaram mais alto e ele a
agarrou firmemente trazendo-a para seus lábios. Elizabeth não resistiu e nem lutou, precisava
daquilo. Durante três malditos meses desejou sentir aqueles lábios quentes e firmes novamente.
Ele a abraçou e ela envolveu seu pescoço com os braços, vivenciando cada momento, cada
sensação.
Edward sentiu suas pequenas mãos descendo por seu peito e quis sorrir.

Sim, ela o queria tanto quanto ele a desejava.

Aquela noite não estava de toda perdida. Conseguiu aquele beijo que sonhou por tantas
noites, nesses últimos três meses. Elizabeth Adams poderia ser a sua Kryptonita, mas
certamente não tinha juízo suficiente para ficar longe dela.
O que pode ser tão complicado para uma pessoa quanto sentimentos indefinidos?

Elizabeth tentava reformular em sua mente toda aquela fatídica noite.

Em primeiro lugar, o jantar beneficente que deveria estar acompanhada de seu noivo e,
por infortúnio do destino, não pudera ir, alegando mal estar. Em segundo lugar, seu assistente
imbecil que a deixou sozinha por toda a noite enquanto vagava, sabe-se lá onde, com certa
garota intrometida. Por último e não sem importância, uma briga que quase resultou em
demissão e um longo beijo em plena avenida.

Tentava apagar de sua mente esse último detalhe, porém, sem sucesso. Ao fechar os
olhos, conseguiu sentir os lábios macios nos seus, sua mão grande segurando-a com firmeza
pela cintura. Seus olhos azuis encarando-a com desejo e aquele leve sotaque que impregnava
em seus ouvidos.

Elizabeth se sentou na borda de sua cama e acendeu o abajur. Correu as mãos pelos
cabelos desesperadamente. Ela deveria ter colocado um fim naquilo, deveria ter dito não.

A merda toda estava no fato de que queria aquele beijo como ninguém. Nesses três meses
tudo correu conforme orquestrou. Cada um para seu lado, assuntos somente de negócios.
Agora, tudo tinha voltado à estaca zero e o seu maldito autocontrole tinha ido para o inferno.

Trair Michael era algo que a frustrava e chateava muito. Nunca pensou chegar a esse
ponto. Não que fossem os namorados mais perfeitos do mundo, mas ela carregava um anel de
compromisso. Deveria honrar isso.

E agora o que faria? De um lado, seu coração dizia para apostar no novo. De outro, não
tinha coragem. Elizabeth Adams não tinha coragem de terminar um relacionamento de tantos
anos por causa de uma simples atração, pelo menos era o que tentava se convencer.
Estava mais perdida que cego em tiroteio e, definitivamente, não sabia o que faria com
Michael e muito menos com Edward. Precisava dele em sua empresa, afinal, era muito mais do
que um assistente, era seu braço direito. Entretanto, estava fora de cogitação manter um caso e
não podia terminar assim, de um dia para o outro, um noivado. Era muita coisa envolvida e não
estava preparada.

Orou a Deus para que não a tivessem fotografado na avenida ou sua vida ficaria ainda
mais complicada. Olhou para a janela e estava amanhecendo, era sábado e não precisaria ir
para o trabalho.

Pensou que talvez uma volta no Central Park lhe faria bem. Há tempos não corria. Vestiu
roupas confortáveis, calçou um tênis e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto. Desceu as
escadas rapidamente e deu graças a Deus que todos ainda dormiam, não queria lidar com
perguntas tão cedo.

Aspirou o ar gélido da manhã de Nova York e caminhou as quadras que ligavam sua casa
até uma das entradas do Central Park. Turistas e moradores se misturavam, mesmo sendo tão
cedo. Todos queriam aproveitar a cidade. Estavam na Primavera, porém, o clima continuava
um pouco frio.

Elizabeth encheu os pulmões com ar e começou a correr. Apesar de ter um corpo em


forma, sua saúde não estava nem um pouco nos padrões. Na última vez, o médico lhe ordenara
exercícios regulares e uma alimentação regrada, coisa que era bem difícil, com a vida corrida
que levava.

Talvez ali, com toda aquela tranquilidade que a natureza lhe proporcionava, conseguisse
pensar com clareza. Elizabeth chegou até a ponte Bow, conhecida por ser cenário de vários
filmes. Encostou-se ao parapeito enquanto tentava recuperar o fôlego, observando as águas do
The Lake.

Riu suavemente quando se lembrou que aquela ponte servira de cenário para um dos foras
mais cômicos entre Mary Jane e Peter Parker, na franquia Homem Aranha.

Sim, Anthony a forçou a assistir todos os três filmes.

― Me pergunto o que seria tão engraçado numa ponte às seis da manhã.

Elizabeth congelou ao ouvir a elegante voz com aquele sotaque que reconheceria até no
inferno. Poxa, mas nem ali conseguia manter-se longe daquele sujeito?

― O que está fazendo aqui, Smith? – perguntou bruscamente.

Edward se encostou ao parapeito da ponte e abriu um largo sorriso.

― Não consegui dormir e achei melhor vir fazer uma caminhada. – disse calmamente e
então a encarou com olhos sorridentes. ― E você? Não tem cara de quem é fitness e levanta às
seis da manhã para correr.

Elizabeth decidiu que não lhe daria o gostinho de saber que não dormira pensando
naquele beijo e toda a merda que sua vida era. Respirou fundo e continuou olhando para a
água.

― Orientação médica.

Edward deu uma gargalhada.

― Entendo. – disse ele calmamente, enquanto se aproximava um pouco mais. ― Não me


respondeu sobre o que estava rindo quando cheguei.

― Ah... não é nada. – Elizabeth revirou os olhos, seria tão patético dizer que gostava de
Homem Aranha? ― Só me lembrei da cena de um filme.

O rapaz arqueou a sobrancelha. ― Centenas de filmes foram gravados aqui, seja mais
específica.

― Mary Jane Watson, Peter Parker e Harry Osborn. – respondeu dando de ombros. Não
que fosse da conta dele, mas preferiu ser sincera.

Edward a fitou mais uma vez com um sorriso travesso nos lábios.

― Ela despedaçou o coração do pobre Parker, como pode rir de algo assim?

Elizabeth o encarou. Ele conhecia o filme e ela não se sentiu tão tola assim.

― Ela foi coagida a fazer aquilo e eu ri de como o Peter era tão idiota e chorou igual um
bebezão!

― Ele não era um bebezão! – Edward protestou. ― Ele gostava dela e aquela mocinha
feriu os sentimentos dele.

A mulher revirou os olhos. ― Eu realmente não vou discutir sobre Homem Aranha com
você.

Edward riu mais uma vez e observou a paisagem a sua volta. Apesar do frio, as árvores já
estavam verdes e as flores começavam a brotar. Em sua concepção, aquela era a estação mais
bonita.

Na sua busca por paz, achou que ninguém se aventuraria às seis da manhã no Central
Park. Ledo engano... o motivo do seu desassossego estava bem ali, encarando-o com aqueles
olhos verdes intrigantes.
Elizabeth ainda era um enigma que ele gostaria de decifrar. Cada olhar vazio, cada
palavra dura. Por que uma mulher tão bonita era assim, tão fria e amarga?

― Tudo bem, não vamos discutir sobre o Homem Aranha. – afirmou erguendo as mãos.
― Porém, acho que precisamos conversar sobre uma coisa.

Ela sabia muito bem do que ele estava falando, mas preferiu ficar em silêncio e desviar o
olhar. Edward bufou e gentilmente puxou seu rosto, fazendo-a encará-lo.

― Eu gosto dos seus olhos. Olhe para mim.

Elizabeth se surpreendeu com a gentileza e ao mesmo tempo com a voz autoritária.


Elizabeth Adams não era mulher de aceitar ordens, ainda mais de assistentes. Arqueou a
sobrancelha e viu o sorriso travesso novamente nos lábios do rapaz.

― Não venha me dar ordens, Smith. – resmungou. ― Acho que é bom lembrá-lo de que
está falando com Elizabeth Adams, sua chefe!

Edward revirou os olhos. ― Eu me lembro disso todos os dias. – retrucou. ― Mas veja
bem, – ele se aproximou mais, ficando a poucos centímetros de distância ― Não estamos no
escritório e dadas às certas circunstâncias, acho que posso tratá-la da maneira que eu quiser.

Então era isso, Edward estava mostrando as asinhas. Ela só não gritou com ele porque
aquele lugar lhe trazia uma paz de espírito enorme e havia outras pessoas caminhando por ali.
Qualquer escândalo que fizesse certamente estaria estampado nos jornais no outro dia.

O problema é que ele estava ali tão perto que ela mal conseguia respirar. Seu perfume
amadeirado invadia suas narinas, deixando-a tonta.

Edward sabia que mexia com ela e, de certa forma, estava conseguindo penetrar aquelas
paredes frias. Ele via em seus olhos o medo, a confusão e a raiva. No entanto, podia afirmar
com a absoluta certeza que adorava quando ela estava furiosa.

― Eu quero saber como ficará a nossa situação. Já vou avisando que sou ciumento e não
gosto de dividir o que é meu. – disse petulantemente, fazendo com que ela arregalasse os
olhos. ― Termine com Michael.

Elizabeth perdeu o chão sob seus pés mais uma vez. Que diabos ele estava falando?

― O... quê? – perguntou com dificuldade, tentando assimilar a frase “sou ciumento e não
gosto de dividir o que é meu”.

― É isso que ouviu. – disse com um leve sorriso nos lábios. ― Não quero dividir suas
atenções com aquele idiota.
Segundos pareceram meses ao tentar encontrar o raciocínio. Elizabeth teve que respirar
fundo umas dez vezes para entender o que ele estava dizendo.

Ela olhou para as pessoas correndo na pista, olhou para o lago e finalmente encontrou os
olhos azuis.

― Você está louco? – perguntou finalmente, cruzando os braços. ― Não é assim que
funcionam as coisas.

Edward também cruzou os braços, muito afim de saber como é que funcionavam então.

― Então me explique, tenho tempo para ouvi-la.

O que ela diria a essa altura do campeonato? Deveria ser sincera e neste momento não
tratá-lo como seu assistente, mas sim como Edward, o homem que a beijou três vezes e que,
por infelicidade do destino, não era mais que um funcionário.

― Está certo, devemos conversar sobre isso. – ponderou por alguns instantes procurando
as palavras. ― Foi só um beijo. Ok, três na verdade e eu não estou disposta a continuar traindo
Michael.

Edward sentiu uma faca penetrando seu coração. A decepção tomou conta, mediante
aquelas duras palavras. Definitivamente, não era o que esperava ouvir. Achou que talvez, ela
tivesse reconsiderado e estivesse disposta a lhe dar uma chance.

Mas agora estava bem claro que não.

― Pra você só foi um beijo? – perguntou com dificuldade.

Elizabeth respirou fundo e desviou o olhar. ― Sim, foi só um beijo e nada mais.

É claro que tinha sido algo mais, mas o que diria quando nem ela sabia o que era aquele
“mais”? Tudo o que sabia era que não podia levar aquela situação adiante.

― Então aquele ciúme que você sentiu quando eu dei a entender que havia dormido com
Valerie, não foi nada demais? – Edward perguntou irritado, sua voz um tom acima.

― Eu não fiquei com ciúmes! – protestou. ― Eu fiquei com muita raiva por você não
cumprir o seu papel naquela droga de evento!

Edward revirou os olhos mais uma vez.

― Eu não acredito em você. – disparou e então a puxou pelo braço fazendo com que o
encarasse. ― Aquele beijo não foi nada demais, uma ova!
― Edward, me solta eu... – tentou puxar de volta seu braço, mas o homem estava furioso
demais.

― Sabe como eu sei que não foi nada demais? – perguntou seriamente e nesse momento
Elizabeth pensou estar falando com outro Edward. Sua voz, seu olhar, seu tom autoritário eram
totalmente diferente daquele que estava acostumada.

― Você está chamando a atenção para nós. – disse baixo, com certo temor em sua voz.

― Não me interessa. – retrucou. ― Eu não estou nem aí para quem está olhando ou não,
eu só não aceito que me diga que aquele beijo não foi nada.

Elizabeth sentiu um nó em sua garganta e a necessidade de sair daquele lugar. Sabia que
aquele beijo significou algo, mas não podia simplesmente jogar tudo para o alto.

― Mas que droga! – berrou enquanto se soltava. ― Mesmo que tivesse significado algo,
não poderíamos levar isso em frente!

― Me dê um motivo! – Edward estava mesmo furioso.

Elizabeth se afastou. ― Somos pessoas completamente diferentes e... eu estou com


Michael e não posso simplesmente terminar um noivado de tantos anos.

― Para o inferno esse noivado. – Edward retrucou. ― O problema é o dinheiro não é?

Ela o fitou com os olhos marejados. Ele achava que sua preocupação era com o dinheiro.
Tudo bem que suas posições eram diferentes, mas não era isso que importava.

― Eu me importo com Michael. – disse por fim, rezando para que ela mesma acreditasse
em suas próprias palavras. Afinal, se estava noiva é porque amava Michael e não somente pelo
dinheiro, não é?

Edward ficou em silêncio pelo que pareceram séculos. Tentou absorver aquela
informação. É claro, era um imbecil. Como pôde acreditar que ela não amava o noivo?

Achou que talvez, por um segundo, ela sentisse algo por ele e estivesse disposta a
terminar aquele noivado que parecia ser de fachada. Mas não, agora ele sabia que ela amava
Michael e isso complicou muito as coisas.

Antes que pudesse falar alguma coisa, o celular de Elizabeth tocou e como se desse
glórias a Deus, nem olhou no visor e já atendeu.

― Quem é? – perguntou bruscamente, como de costume.

Edward encostou-se ao parapeito da ponte mais uma vez. Estava frustrado. Se pudesse
voltar no tempo e apagar o dia em que conheceu aquela mulher...

― Oh meu Deus! Já estou indo para aí. Não o deixe sair.

Edward a fitou e assim que ela desligou o telefone, balançou a cabeça interrogativamente.

― Anthony chegou bêbado em casa e Gwen não sabe o que fazer. – suspirou. ― Preciso
ir.

― Vou com você. – sugeriu.

― Não vai não! – Elizabeth o interrompeu. ― Vá para sua casa, eu cuido disso.

Edward cruzou os braços e depois daqueles minutos tensos, abriu um leve sorriso. ―
Anthony é meu amigo, iríamos sair mais tarde. Quero saber o que aconteceu.

Elizabeth suspirou, dando-se por vencida.

― Tudo bem, vamos logo.


Caminhar rápido nunca lhe pareceu tão difícil quanto naquele dia. Elizabeth estava mais
preocupada com Anthony do que com os olhares que lhe eram lançados na rua. Afinal, o fato
de estar acompanhada por um rapaz, que não fosse o seu noivo, chamava muito a atenção.

Por outro lado, seu coração exultava pelo simples fato dele acompanhá-la, mesmo depois
de ter lhe dado um fora na mesma ponte em que Mary Jane destroçara o coração de Peter
Parker.

O velho ditado que dizia que a arte imita a vida, nunca lhe pareceu fazer tanto sentido
quanto agora.

― O que será que aconteceu? – Edward tentou quebrar o silêncio. Ainda estava bravo,
mas a preocupação com seu amigo falou mais alto.

― Gwen estava chorando muito, não sei o que aconteceu. – respondeu aflita. ― Bom dia.
Cumprimentou algumas pessoas que a fitavam quando entrou pelo saguão. Viu seu reflexo
num dos espelhos que faziam parte da decoração do local e percebeu que estava horrível, com
o cabelo desgrenhado e suada.

― Bom dia, senhor Smith. – Um dos funcionários cumprimentou Edward, para surpresa
de Elizabeth. Ele acenou com a cabeça e também lhe desejou bom dia.

Eles entraram no elevador e Elizabeth arqueou a sobrancelha.

― Desde quando tem amizade com os funcionários do meu edifício?

Edward deu de ombros. ― Não tenho amizade. Sou educado, é diferente.

Elizabeth revirou os olhos e a porta do elevador se fechou. O silêncio sufocante os atingiu


e ela desejou que a porta se abrisse o mais rápido possível. Era muito complicado ficar no
mesmo ambiente que aquele homem, depois de ter lhe dado um fora.

Edward deu um meio sorriso quando ela começou a mexer as mãos, esfregando uma na
outra. Em tão pouco tempo ele já a conhecia muito bem e sabia que era um tique. Ela estava
nervosa por causa dele ou por Anthony?

O elevador abriu quando atingiram o último andar e ela saiu em disparada gritando por
Gwen, que por sua vez, apareceu no topo da escada chorando.

― Ele está aqui em cima. – choramingou.

Edward não esperou que Elizabeth o convidasse e por isso foi atrás dela quando começou
a subir as escadas. Eles seguiram pelo extenso corredor e entraram num dos quartos.

― Oh meu Deus! – Elizabeth exclamou ao ver o amigo jogado na cama, então ela fitou
sua irmã. ― Ele está acordado?

Gwen assentiu e fitou Edward. ― Que bom que está aqui, ele perguntou por você.

Elizabeth se aproximou da cama e sentou ao lado do amigo, que fez uma careta de dor.

― Anthony, o que aconteceu? – perguntou preocupada. ― Você está cheirando álcool e...
está um caos!

Anthony fez outra careta de dor. Seu estado era lastimável. Sua camisa estava rasgada e
seu olho completamente roxo. Seu lábio estava cortado e cheio de marcas de sangue por todo o
rosto.

― Lisa, eu não sei. – disse com dificuldade. ― Me pegaram na saída de um bar.

Elizabeth assentiu e fitou sua irmã. ― Gwen, chame o Clark. – e então fitou seu amigo
novamente. ― Ele estará aqui em poucos minutos e vai cuidar de você. Fique calmo.

Anthony assentiu e olhou para Edward. ― Cara, tome cuidado... eles disseram alguma
coisa sobre você.

E então Elizabeth sentiu uma sensação péssima. Quem poderia ter machucado seu amigo
e ainda por cima procuraria por seu assistente?

― Não diga besteiras Tony, descanse... ele logo estará aqui. – tentou acalmar seu amigo,
mas na verdade queria desviar o assunto.

Gwen discou rapidamente pelo seu celular e trocou rápidas palavras com o médico que
assegurou chegar no máximo em meia hora. Todos ficaram em silêncio enquanto Anthony
resmungava algumas palavras desconexas.

― Já avisou Clara? – Elizabeth perguntou.

― Ela está vindo.

Elizabeth ajeitou o travesseiro para que seu amigo descansasse melhor. Ele estava em seu
pior estado e ela temia que algo pior tivesse acontecido.

Edward estava encostado a uma cômoda, com os braços cruzados. Seus pensamentos
estavam longe. Quem poderia ter feito aquilo? E ainda por cima, por que diabos procurariam
por ele? Não estava em dívida com ninguém.

― Senhorita Adams, o doutor Clark está aqui. – Jofrey anunciou e liberou para que o
médico entrasse.

― Bom dia, Lisa. – a cumprimentou com um beijo no rosto quando ela se aproximou.

Edward não podia negar que sentiu uma pontinha de ciúmes ao ver como eles se tratavam,
afinal de contas, o doutorzinho não tinha nada de velho e barrigudo, como tinha imaginado em
sua cabeça.

Deveria realmente parar de idealizar pessoas em sua mente. Sempre errava e feio.

― Clark. – Elizabeth devolveu calmamente. ― Anthony chegou esta manhã e não


sabemos ainda o que aconteceu.

― Sim, fui eu que o recebi. – Gwen se aproximou e também o cumprimentou. ― Por


favor, cuide dele, não posso pensar que...

― Não diga isso, ele vai ficar bem. – disse o doutor ao olhá-lo mais de perto. ― Creio
que seja melhor levá-lo ao hospital, para fazer exames.

― Ele ainda está bêbado, eu acho. – Edward se intrometeu. ― Mas se quiser, posso
ajudar a levá-lo.

Clark fitou Elizabeth como se esperasse saber quem era aquele rapaz. Ela deu de ombros
e ele assentiu. Edward o ajudou a levantar Anthony, que por sinal era bem pesado, e com um
pouco de dificuldade conseguiram fazê-lo descer as escadas.

Ora Anthony ria, ora chorava de dor e a verdade era que estava bêbado demais e não
conseguia dizer frases concretas, o que dificultava muito entender o que tinha acontecido. Eles
conseguiram enfiá-lo no carro de Elizabeth e foram para o hospital.

Chegando ao hospital, Anthony foi colocado numa cadeira de rodas e foi levado o mais
rápido possível para os exames. Queriam constatar se não havia prejudicado nenhum órgão
interno.

― Creio que vá demorar algumas horas. – Clark disse para Elizabeth. ― Vá para casa,
assim que terminar eu te ligo.

― Eu prefiro ficar. – respondeu. ― Por favor, cuide dele.

O médico assentiu e deu as costas, deixando-a sozinha com Edward e Gwen.

Clark era amigo da família e por isso a tratava com tanta intimidade. Com seus trinta e
cinco anos e 1 metro e 95 de altura, cabelos castanhos e pele clara, se tornou um belo homem,
que chamava a atenção por onde passava.

― Vá para casa, eu fico aqui. – Elizabeth disse para sua irmã, que estava sentada na
cadeira com o olhar perdido.

― Eu vou buscar a Clara. – se levantou. ― Logo estaremos aqui.

Elizabeth assentiu e a jovem lhe deu um beijo no rosto, em seguida beijou Edward. Sabia
que deixá-la sozinha com Edward não seria um problema, mas sim uma solução.

― Você está pálida. – Edward se aproximou e tocou suas mãos. ― Precisa comer algo.

Seus olhos se encontraram por alguns segundos.

― Eu estou bem. – mentiu. ― Mas acho que preciso mesmo comer, estou morrendo de
fome.

Edward assentiu e a acompanhou até a lanchonete que havia numa ala do hospital. O local
era calmo, com várias mesas espalhadas, médicos e enfermeiras que provavelmente estavam de
plantão, fazendo seu lanche.

― Expresso com creme? – Edward perguntou. Elizabeth nem precisava responder, ele já
até sabia qual seu tipo de café preferido.

Ela ficou sentada enquanto ele pedia alguns Bagels e seus cafés. No fundo, estava feliz de
que ele estivesse ali lhe fazendo companhia. Ultimamente, ele era muito mais do que um
simples assistente e isso sempre a assustava.

Edward voltou com uma bandeja lotada. Sentou-se na frente de Elizabeth e observou
como ela estava com o olhar distante. Naquele dia, ela estava diferente do que ele era
acostumado a ver. Nada de saltos altos elegantes, nem maquiagem intocável. Os cabelos
estavam presos em um rabo de cavalo e seu rosto limpo.
Teve a certeza de que ela era ainda mais bonita, com a pele perfeita, de uma jovem de
apenas vinte e sete anos. Notou também, que ela parecia preocupada com algo e não parava de
digitar alguma mensagem no celular.

― Está preocupada com algo? – perguntou enquanto adicionava uma dose de adoçante ao
café.

― Não. – respondeu vagamente. ― Só estou avisando Michael.

Edward quis revirar os olhos, mas se conteve. O clima já era ruim e ter que aturar a cara
daquele sujeito era demais. Achou melhor desviar o assunto, antes que ficasse com dor de
barriga.

― E esse doutorzinho aí, quem é? – perguntou, tentando quebrar o silêncio.

― É um amigo da família. – respondeu sem desviar os olhos do celular. ― Está com


ciúmes, Smith?

― Não! - Edward bufou. ― O que está acontecendo? Você não é de ficar muito tempo no
celular.

Elizabeth largou o Iphone na mesa e fitou os olhos de Edward. Realmente ela não era de
ficar muito tempo mexendo no celular, mas estava preocupada com algo.

― Michael não responde minhas mensagens. Desde ontem à noite.

Edward sentiu seu sangue ferver ao ouvir que desde ontem à noite, depois que eles se
beijaram, ela tentou entrar em contato com aquele imbecil. Respirou fundo e tentou concentrar
sua mente no que realmente importava.

― Talvez ele esteja dormindo, só isso. – deu de ombros e abocanhou um pedaço de uma
Bagel.

Elizabeth o observou por alguns instantes e se permitiu relaxar um pouco. Tomou um


pouco do café e apoiou a cabeça entre as mãos. Sua vida estava mais bagunçada, do que
imaginou um dia.

Edward calmamente pegou uma de suas mãos e a acariciou. Ela se assustou com o gesto e
arregalou os olhos. Ele lhe deu um sorriso acalentador. ― Vai dar tudo certo. – disse ele
tranquilamente e ela quis acreditar.

Seus olhos ficaram conectados por vários segundos, assim como suas mãos. Elizabeth
admitiu que aquela era uma sensação boa, coisa que não se lembrava de ter experimentado.

Entretanto, o encanto foi quebrado com uma Clara entrando desesperada pela porta. Eles
soltaram as mãos rapidamente e se levantaram. Elizabeth sentiu o impacto contra seu corpo
quando Clara a abraçou fortemente.

― Acalme-se, vai ficar tudo bem. – tentou tranquilizá-la. ― Nós vamos descobrir o que
aconteceu, pode ter certeza.

Clara ergueu os olhos castanhos e fitou-a intensamente. Apesar de terem uma diferença de
apenas um ano, sempre achou que Elizabeth amadureceu muito mais e por isso via nela uma
fortaleza que gostaria de ser.

― Eu quero vê-lo, onde ele está? – passou as mãos pelo rosto enxugando as lágrimas.

― O médico está cuidando dele. – Edward respondeu. ― Está fazendo alguns exames.

Clara fitou o rapaz e deu um sorriso triste. ― Obrigado por estar aqui, Tony gosta muito
de você.

Edward assentiu e também sorriu. ― Eu também gosto muito dele.

Elizabeth observou a cena e viu como Edward conseguiu conquistar a amizade daqueles
que estavam dentro de seu círculo social. Não sabia como e nem porque, mas ele entrara em
sua vida tão de repente e agora parecia já fazer parte.

Edward as convidou para se sentar novamente e buscou cafés para Clara e Gwen. Eles
conversaram por mais um tempo e nem viram a hora passar. Após uma hora e meia eles
voltaram para a recepção e Clark retornou com uns papéis em mão.

― Como ele está? – Elizabeth pulou da cadeira.

Clark respirou fundo e a fitou seriamente. ― Tem algum familiar aqui?

― Sou irmã dele. – Clara se apresentou. ― Clara Carter.

― Ótimo. – o médico suspirou e olhou na prancheta. ― Ele está bem, por sorte não
houve nenhum dano interno, só os músculos que estão bem fragilizados. – parou alguns
instantes fitando a todos. ― Ele vai sentir dores por alguns dias, mas logo vai se recuperar.

― Graças a Deus ele está bem! – Gwen murmurou. ― Podemos vê-lo?

― Sim. – Clark sorriu. ― Quarto 2b no segundo andar.

Clara deu pulinhos de felicidade e os outros riram. Quando eles iam para o elevador, o
doutor puxou o braço de Elizabeth.

― Posso falar com você?


Elizabeth estranhou e olhou para a mão do doutor em seu braço. Edward a fitou como se
perguntasse: “Quem esse sujeito pensa que é?”.

― Ah... sim, claro. – tentou soar educada. ― Vão indo na frente, logo alcanço vocês.

Clara e Gwen assentiram, porém Edward não parecia querer ir. Clara o puxou pelo braço
resmungando coisas como: “ela já vem seu bobão”.

Clark olhou para Edward e olhou Elizabeth de volta, como se já tivesse entendido tudo o
que se passava ali. A questão é que ninguém sabia que no passado eles já tiveram um pequeno
relacionamento.

― Como sempre, está linda. – disse fitando-a dos pés a cabeça.

― Não seja bobo. – Elizabeth revirou os olhos. ― Fale logo o que quer.

― Gostaria que jantasse comigo. – sorriu. Elizabeth foi pega de surpresa. Jantar?

― Não sei... – olhou para os lados. ― Estou com Michael, não acho que seria uma boa
ideia.

Clark revirou os olhos. ― Michael? Sério? Pensei que você fizesse escolhas melhores.

Elizabeth bufou e o fitou seriamente. ― Não gosto de rodeios, você sabe disso.

― Tudo bem. – o médico levantou as mãos. ― Me desculpe, eu sei que te peguei de


surpresa com isso.

Elizabeth cruzou os braços, esperando a conclusão daquela conversa sem sentido.

― Se você está com Michael, quem é esse rapaz? – perguntou fazendo menção a Edward.

― Meu assistente. – murmurou, já de saco cheio com aquela enrolação.

Os olhos de Clark brilharam novamente.

― Então aceita jantar comigo? – perguntou esperançoso.

Elizabeth tinha motivos para recusar o convite? Claro que tinha. Não era difícil recusar
jantares com outros homens, aliás, sempre foi uma tarefa bem fácil. Jantares somente de
negócios.

― Olha...

Antes que continuasse, o médico a interrompeu.


― Tudo bem. – sorriu. ― São assuntos de negócios que quero tratar.

Elizabeth assentiu seriamente, olhou para os lados e novamente olhou na tela de seu
celular. Já estavam naquela conversa uns bons dez minutos.

― Ok, Clark. – disse por fim. ― Ligue para meu escritório e Jane vai agendar com você.

O médico sorriu e se aproximou um pouco. ― Pensei que entre amigos não era necessário
formalidades.

A mulher já estava mal com toda aquela conversa e achou melhor encerrá-la.

― Eu realmente preciso ver Anthony. – se esquivou, tentando manter a calma. ― Vou


esperar a sua ligação.

Clark sorriu e assentiu quando Elizabeth lhe deu as costas e saiu em disparada ao
elevador. Olhou mais uma vez no visor de seu celular e estranhou o fato de Michael não lhe
responder nenhuma mensagem. Após chegar ao segundo andar, assustou-se quando a porta do
elevador abriu e encontrou aqueles olhos azuis que faziam suas pernas tremerem.

― Pelo jeito a conversa estava boa. – Edward murmurou com seu sotaque. Elizabeth
revirou os olhos.

― Vai me deixar passar ou não?

Edward estava parado, segurando a porta do elevador, impossibilitando que passasse.


Com seus um metro e oitenta e cinco fazia-a parecer bem menor quando estavam perto um do
outro.

― Anthony quer vê-la. – disse secamente enquanto abria passagem. ― Pelo menos não
está bêbado.

Elizabeth saiu do elevador e se afastou, deixando um Edward ciumento e furioso para


trás.

Quando ela se afastou e outras pessoas o xingaram por estar atrapalhando a passagem,
passou a mão nervosamente pelos cabelos. Não era possível que estivesse tão bravo por causa
daquela maldita mulher.

Na verdade, estava furioso e preocupado. Em sua pequena conversa com Anthony, ele o
advertira novamente que alguém estava querendo lhe pegar e que era melhor tomar cuidado.
Poderia ter o mesmo destino ou até pior.
― Mas de que diabos está falando? – Elizabeth indagou confusa.

― Edward, ele corre perigo. – Anthony respondeu com dificuldade. ― Precisa contratar
um segurança para ele.

― Enquanto você estava de papinho lá em baixo com o doutor bonitão. – Clara a fitou
acusadoramente. ― Tony nos contou que os homens que o pegaram disseram que iriam atrás
de Edward.

Elizabeth coçou a cabeça e se mexeu na cadeira que estava sentada. Tentava decifrar toda
aquela situação, mas neste momento não conseguia pensar em nada. Anthony estava deitado e
seus batimentos estáveis.

― Tudo bem, mas quem fez isso? – perguntou.

― Espera aí que vou ver na minha bola de cristal. – Anthony debochou. ― Se eu


soubesse esses desgraçados já estavam na cadeia, querida.

― Tudo bem, eu vou contratar seguranças para ele. – rendeu-se, esperando que aquilo
não fosse alucinação de seu amigo.

Gwen se aproximou e sorriu. ― Falando nisso, onde está o Edzinho?

― Acho que foi beber água ou ir ao banheiro, algo assim. – Clara respondeu.

Elizabeth olhou para os lados e respirou fundo, estava preocupada com toda aquela
situação e com Michael que não lhe respondia as mensagens. Olhou para o relógio do celular e
decidiu que teria que fazer algo.
― Pessoal, eu vou resolver um assunto. – se levantou bruscamente. ― Voltarei mais
tarde.

― Que Deus te acompanhe. – Anthony sorriu. ― Cuide-se.

Elizabeth pegou sua bolsa e seu celular e quando saiu do quarto viu Edward voltando.

― Aonde vai? – ele perguntou.

― Preciso resolver um assunto. – respondeu com rapidez. ― Volto mais tarde.

― Que assuntos? De trabalho? – Edward era curioso. Elizabeth respirou fundo.

― Michael não me responde. – respondeu por fim. ― Vou até seu apartamento ver o que
aconteceu.

Edward fechou o semblante no mesmo instante. Parecia que somente a menção do nome
daquele sujeito fazia o seu dia escurecer. Respirou fundo e sentiu que não podia deixá-la ir
sozinha. Ainda mais depois do que acontecera com Anthony.

― Eu a levo. – puxou-a pelo braço quando ela virou as costas. ― Não quero que ande
sozinha por aí.

Elizabeth arqueou a sobrancelha. Ele estava preocupado com ela ou com ciúmes de
Michael?

― Tudo bem. – decidiu não retrucar daquela vez e lhe entregou as chaves do carro. ―
Você dirige.

Edward pegou as chaves e fez uma leve reverência. Elizabeth achou engraçado como ele
conseguia ter um bom humor mesmo diante de ameaças e uma mulher que o rechaçou há
poucas horas. Certamente, se estivesse no lugar dele, teria mandado tudo para o inferno e ido
embora. Incrível como ele tinha o dom de surpreendê-la de alguma maneira.

Para somar à lista, a levaria até Michael como se fosse uma menina de cinco anos que
precisava de proteção.

Seria cômico se não fosse trágico.

Do hospital até o apartamento de Michael foi rápido, mesmo com o trânsito intenso de
Nova York. Eles trocaram poucas palavras e Elizabeth apenas o comunicou que contrataria
seguranças. É claro que Edward protestou, mas ela era a chefe e quem dava a palavra final,
então não lhe sobraram muitas escolhas a não ser aceitar.

― Não vou demorar. – Elizabeth soltou o cinto e antes que saísse do carro, Edward a
puxou pelo braço novamente. Ela olhou para ele e ele suspirou.

― Devo me preocupar com você? – Perguntou seriamente. Elizabeth não entendeu e ele
repetiu a pergunta.

― Não confio nesse sujeito. – Edward bufou. ― Esqueceu que ele tentou forçá-la no
estacionamento?

E esse pensamento fazia Edward ferver de raiva.

― Ele não vai tentar nada que eu não queira. Isso já faz mais de três meses. – arqueou a
sobrancelha. ― Espere aqui, eu já volto.

E antes que pudesse dizer algo, ela saltou do carro e entrou no prédio. Enquanto
caminhava, lamentou a lembrança daquele fatídico dia que seu noivo teve a brilhante ideia de
tentar algo impróprio. Tudo bem que sua vida íntima não era lá grande coisa e nesses últimos
três meses nem se lembrava da última vez que estiveram juntos, mas ao contrário do que
sugeria Maquiavel, para ela, os fins não justificam os meios.

Tinha uma chave extra e por isso não se preocupou ao ver a porta trancada. Retirou-a
tranquilamente da bolsa e destrancou a porta. O apartamento estava silencioso e nem sinal da
empregada de Michael. Ela era uma senhorinha na casa dos sessenta anos e o adorava como se
fosse seu filho.

Elizabeth fechou a porta e olhou para todos os lados. Respirou fundo antes de subir as
escadas que davam para os quartos. Ao chegar ao último degrau ouviu o barulho da televisão.
Sábado a tarde, provavelmente estaria assistindo algum filme.

Caminhou mais alguns passos e viu a porta meio aberta. Abriu-a e se assustou ao ver na
cama um espelho e nele, várias fileiras de um pó branco. Foi então que Michael saiu do
banheiro e se surpreendeu ao vê-la, observando toda aquela bagunça.

― O que está fazendo aqui? – perguntou com indiferença.

Elizabeth cruzou os braços. ― Eu é que pergunto por que não atende o maldito celular!

Michael riu com desdém e com a toalha que estava na cama secou seu cabelo negro. ―
Eu estava ocupado, querida.

― Eu percebi. – Elizabeth debochou. ― Pensei que você tinha parado com isso.

Michael a fitou com fingida surpresa. ― Do que está falando?

― Não se faça de idiota! – vociferou. ― Você está se drogando novamente!


O homem que estava enrolado na toalha de banho respirou fundo, deu um meio sorriso e
olhou para a cama onde suas “coisas” estavam.

― Faz tempo que você não sabe muito sobre mim, querida. – debochou. ― Talvez se
estivesse agindo como uma “noiva apaixonada” eu não precisasse dessas coisas para me
divertir.

Elizabeth avançou até ele com a fúria em seu peito. ― Não venha me dizer que a culpada
sou eu!

Michael riu sem humor. ― Claro que não. Apesar de que a sua única preocupação tem
sido “Edward Smith”.

Elizabeth tentou controlar seu mau humor. Se Michael queria se drogar, que o fizesse,
mas bem longe dela. Agora jogar a culpa em cima dela e envolver Edward, era um pouco
demais.

― Você sabia que Anthony está no hospital? – perguntou, tentando desviar o assunto.

Michael se sentou na cama, de costas para ela enquanto se secava. ― Não.

― Pois bem, ele está no hospital e acho que seria muito bom se você fosse visitá-lo. –
ironizou. ― Agora vou deixá-lo com suas drogas.

E antes que Elizabeth saísse, ele a chamou de volta. Michael se levantou e se aproximou
dela. Ele era alto e ela sentiu certo temor ao observar seus olhos. Deu alguns passos para trás,
mas a porta bloqueou seu corpo. Ele se aproximou mais e levou um dos braços acima da
cabeça de Elizabeth. Fitava-a seriamente, com os olhos negros de fúria.

― Todos os dias eu me pergunto o que houve conosco. – confessou em voz baixa. ― Eu


te amava...

Elizabeth ouvia atentamente cada palavra. Seu coração acelerou, não sabia o que esperar
de Michael naquela situação, podia ver que as drogas ainda estavam em seu organismo.

― Nós fomos felizes, até aquele maldito dia. – resmungou e passou um dedo na bochecha
dela. ― Eu estava lá para ser o seu porto seguro, mas você não quis. – disse com raiva
estampada. ― Você preferiu fazer do seu jeito e estragou tudo! Você me ama? – perguntou
levando os lábios até o lóbulo de sua orelha.

Elizabeth arregalou os olhos. Não estava preparada para responder àquela pergunta. Ela o
amou, claro, mas agora não tinha certeza de seus sentimentos. Era muita coisa envolvida.
Apesar de tudo o que passou com Michael e seu relacionamento, seus pensamentos teimavam
em pousar sobre outra pessoa.
― Michael, eu vou embora. – tentou afastá-lo. ― Quando estiver limpo nós
conversamos.

Michael socou a porta e ela se assustou. Ele fitou-a nos olhos e ela sentiu o mesmo medo
de alguns anos atrás, quando seu mundo caiu aos pedaços.

― Eu não te odeio, apesar de que eu deveria e você sabe bem os motivos ou é necessário
lembrá-la? – perguntou seriamente. Elizabeth negou com a cabeça. ― Você é minha. – alertou.
― Nunca se esqueça de que você é minha e não vai se livrar de mim tão facilmente.

Elizabeth fechou os olhos mediante a ameaça velada. Michael se transformava quando


usava drogas e aquilo a assustava profundamente. Anos atrás, ele buscara ajuda e ela achou
sinceramente que ele tinha se libertado do vício. Ledo engano...

Michael recolheu as mãos e a se afastou dela. ― Vá para casa e mande lembranças para
Anthony.

Ela abriu os olhos e saiu apressadamente do quarto. Respirou fundo, suas mãos tremiam.
Foi então que não conteve as lágrimas que brotaram em seus olhos.

Michael nunca a perdoaria pela desgraça que aconteceu naquele dia. Na verdade, nem ela
mesma se perdoava, mas acreditou que levando aquele relacionamento à diante, poderiam
mudar as coisas e no final, serem felizes.

Estava tudo indo bem até que Edward Smith cruzou seu caminho. Ela precisava de tempo
para se curar, mas Michael sempre a enchia com cobranças e mais cobranças.

Não foi sua culpa o que aconteceu. Estava destroçada, perdida. Queria apenas consertar as
coisas e acabou estragando ainda mais. Michael nunca entendeu o seu lado e isso a frustrou,
levando-a a simplesmente não se importar mais.

Talvez ele tivesse razão e ela não o amasse. Talvez aquele relacionamento fosse um erro
desde o começo.

― Maldição! – murmurou ao secar as lágrimas.

Edward estava encostado no carro com o coração na boca. Era um imbecil de tê-la
deixado entrar sozinha. Ele sabia que Michael não era confiável e agora estava ali, com os
braços cruzados esperando-a na calçada. Não demorou muito para que a avistasse saindo do
elevador e caminhando rapidamente para o carro.

― Aconteceu alguma coisa? – perguntou enquanto ela corria para ele. Elizabeth não
soube por que, mas correu para ele e quando seus corpos se chocaram ela o abraçou forte. Só
queria sentir que estava protegida.
Edward se assustou com o gesto, mas retribuiu, abraçando-a fortemente, demonstrando
que estava ali por ela e para ela. Sabia que algo tinha acontecido e ele sentiu a vontade de subir
lá e arrebentar o outro lado do rosto de Michael.

― Ele fez alguma coisa? – perguntou preocupado. Elizabeth negou com a cabeça.

― Quero ir embora, apenas.

Edward suspirou e olhou para o alto, avistando a figura fantasmagórica de Michael,


fitando-os com os braços cruzados. Sem se importar, passou os dedos em seu cabelo e desceu
até seu rosto, acariciando-o de uma maneira singular.

― Quer que eu vá lá bater nele? – perguntou de repente. Ela sentiu vontade de rir, mas
balançou a cabeça negativamente.

― Tudo bem, vamos embora então. – sussurrou próximo ao seu ouvido ― Quer ir para
casa ou para o hospital?

― Vou para casa, quero que Anthony fique em casa até se recuperar. – disse calmamente.

Edward não queria, mas teve que deixá-la se afastar dele. Deus era testemunha do quanto
queria estar sempre ao seu lado para protegê-la. Seu coração quase saiu pela boca quando a viu
sair correndo do elevador, secando os olhos.

Elizabeth se afastou de Edward e voltou a si. Odiou-se por ter agido fracamente ao correr
para seus braços. Ela respirou fundo e colocou sua máscara de ferro de volta. Não era indefesa,
por Deus, era Elizabeth Adams! Como podia ter corrido para os braços de seu assistente?
Realmente estava ficando louca.

― Pare de me olhar e vamos logo, Smith! – disse rudemente, como costumava ser. Não
podia ter mais esses tipos de liberdade com aquele homem. Não podia ser tão vulnerável.

Edward assentiu e viu que a mesma Elizabeth tinha voltado. Tinha todos os motivos para
desanimar e desistir, mas ele sabia que por trás daquela parede de gelo, havia uma mulher doce
à espera de alguém que a aquecesse. E ele lutaria até o fim para ser essa pessoa.

Elizabeth passou a noite no hospital com Gwen, Clara e Edward. Após passar em sua casa
e tomar um banho revigorante, pegou algumas coisas e voltou para o hospital. O choque do
miserável encontro com Michael já tinha passado e agora estava mais calma. Lidaria com ele
depois, agora precisava cuidar de seu amigo e descobrir quem e por que tinham feito àquela
atrocidade.

Deu ordens à Jofrey que preparasse um dos quartos para seu amigo e também à cozinheira
que preparasse alguns dos pratos favoritos de Anthony. Ele era como um irmão para ela e por
isso queria que ele se sentisse em casa.

Após voltarem para o hospital ordenou que Edward fosse para casa descansar, mas ele
recusou e então ela ameaçou demiti-lo. Por sua vez, ele concordou em ir para casa apenas para
tomar banho e voltar em seguida. E assim o fez, mais rápido do que ela poderia ter imaginado
e logo estava de volta, com seus cabelos claros bagunçados e perfumado com cheiro de loção
pós-barba.

Elizabeth odiava admitir, mas vê-lo tão bonito a deixava sem fôlego. E não ajudou muito
que as enfermeiras arrastassem asinhas para cima de seu assistente. Apenas conseguiram
deixá-la mais frustrada ainda.

― Não tenho culpa de ser assim, tão desejável. – Edward brincou, porém ela não achou
graça nenhuma e lhe dirigiu um olhar cortante.

― Onde está o patife do seu noivo? – Gwen perguntou de repente. Elizabeth respirou
fundo.

― Prefiro não falar sobre ele. – respondeu secamente.

Sua irmã estava sentada ao seu lado na recepção e chegou mais perto encostando seus
ombros.

― Senti tanto medo de perdê-lo. – confessou, se referindo a Anthony. Elizabeth


estranhou.

― Você não está com Jack?

Gwen riu sem humor. ― Ele é só curtição. Anthony eu amo como nunca amei ninguém. –
disse e por fim, deu um longo suspiro.

Elizabeth não respondeu, apenas olhou para o nada. Ela e sua irmã nunca foram muito
próximas. Elas foram criadas de maneiras opostas e tinham gostos diferentes, mas uma coisa
era certa, sempre foram sinceras uma com a outra.

No fundo não conseguia entender como eles nunca se acertaram. Os dois se gostavam
desde o colégio, porém, algo os impedia de ficarem juntos.

― Como sabe que o ama? – perguntou de repente, desviando seu olhar para Edward, que
estava conversando com Clara do outro lado da sala de recepção.
Gwen suspirou e se agarrou ao cobertor estendido sobre seu colo.

― Eu posso estar com outra pessoa quando eu quiser. – disse seriamente. ― Mas... meu
pensamento sempre volta para ele. – sorriu timidamente. ― Ele ainda é o único que consegue
fazer as minhas pernas tremerem.

Elizabeth ouviu aquelas palavras, justo no momento que Edward encontrou seu olhar.
Naquele momento não parecia haver mais ninguém naquela sala, exceto os dois. Algo os
conectava e aquelas palavras de Gwen ecoaram em sua mente.

― Quando você deixar suas barreiras caírem, irá experimentar o que é o verdadeiro amor.
– Gwen concluiu com um sorriso nos lábios.

Elizabeth respirou fundo e desviou o olhar. Será possível que não havia experimentado
ainda o que era o amor? Foram as circunstâncias e os problemas do passado que a tornaram
assim, tão fria e distante. Mas será que para o seu duro coração, havia uma solução?

Não queria acreditar, mas talvez a solução estivesse ali, mais perto do que podia imaginar.
Era a verdade conhecida mundialmente que um homem quando estava doente, podia ser
uma simples gripe, fazia parecer que beirava à morte. Anthony Carter não era diferente e todas
as vezes que ameaçavam deixá-lo sozinho, dizia que aquele poderia ser o seu último suspiro.

― Você vai ficar aqui até se recuperar completamente. – Elizabeth o comunicou ―


Mandei que preparassem um quarto para Clara também.

Anthony sorriu enquanto se acomodava entre os deliciosos travesseiros.

― Obrigado Lisa. – sorriu. ― Você é a melhor!

Elizabeth deu um meio sorriso e alisou os cabelos claros de Anthony. ― Jason virá vê-lo
mais tarde.

― Até que enfim! – Clara exasperou-se. ― Pensei que ele não viria mais.

― Ele virá, apenas estava ocupado resolvendo alguns problemas. – disse calmamente. ―
Vou deixá-los à vontade, preciso resolver algumas coisas.

― Mas é domingo! – Anthony resmungou. ― É sobre a empresa?

― Também. – admitiu. ― Mas Edward está lá em baixo e irá me ajudar.

Anthony sorriu e entrelaçou a mão de Elizabeth na sua. ― Ele é um bom homem, Lisa.

Elizabeth não respondeu, mas sabia o que ele queria dizer. Desde sempre, nunca aprovara
seu relacionamento com Michael e jurava que um dia ela estaria com outra pessoa menos
“medíocre”, como costumava dizer.
― Ele é. – concordou após alguns segundos e em seguida se recompôs. ― Melhor
assistente eu não teria encontrado tão fácil.

Clara e Anthony trocaram olhares risonhos. Elizabeth achou melhor se retirar antes que o
assunto tomasse forma e não conseguisse contê-lo. Ao sair no corredor avistou sua irmã
chegando com várias sacolas.

― Deus, foi fazer compras em pleno domingo?

― Não maninha. – Gwen sorriu deliberadamente. ― Fui comprar algumas coisas para o
enfermo.

― Entendo. – Elizabeth deu um meio sorriso. ― Vá em frente, ele está ansioso por
companhia.

Gwen sorriu novamente e foi ao encontro de seu amado. Elizabeth não pôde deixar de
sorrir ao ver a felicidade de sua irmã. Respirou fundo e tentou deixar esses pensamentos de
lado, caminhou até o final do corredor e ao descer as escadas procurou por Edward.

― O senhor Smith está na biblioteca. – Jofrey comunicou. Elizabeth foi até o local e o
encontrou de pé, analisando um quadro gigantesco.

― Quem são eles? – perguntou Edward ao sentir a presença feminina ao seu lado.
Elizabeth ficou em silêncio alguns instantes enquanto também observava o quadro.

― Meus pais. – respondeu.

Edward notou como os traços da mulher da pintura eram semelhantes ao de Elizabeth. Os


olhos eram do pai, sem dúvidas. Os cabelos, porém, eram herança da mulher. Uma mistura
perfeita.

Olhou para a mulher ao seu lado e viu como ela estava afetada ao olhar aquela imagem.
Sentiu vontade de perguntar o que havia acontecido a eles, mas sabia que não era a hora certa.
Devia dar-lhe mais tempo e espaço. Elizabeth precisava sentir-se confortável ao seu lado.

― Jane me mandou uma mensagem, seu noivo está embarcando em um avião para uma
reunião na França, amanhã.

Elizabeth o fitou surpresa com a notícia.

― Pensei que ele não estivesse em condições. – ponderou. ― Bem, vamos ao que
interessa, em alguns minutos entraremos em videoconferência para uma reunião.

― Sim, eu já preparei os papéis. – Edward sorriu ao ver que ela estava novamente
surpresa. ― Temos sempre que estar um passo a frente.
― Aprendeu rápido. – Elizabeth alfinetou enquanto se sentava em sua cadeira. Abriu seu
laptop e esperou que a conexão se firmasse. Edward se sentou na poltrona em frente a grande
mesa de mogno.

― E vamos lá, mais uma reunião... – comentou com um sorriso nos lábios.

― Para variar, em pleno domingo.

E a reunião de última hora começou e levou cerca de uma hora e meia. Houve um
pequeno intervalo de dez minutos onde Edward lhe trouxe um copo de suco. Eles se trataram
de forma cordial, e como um bom assistente, fez seu trabalho da melhor maneira possível.
Elizabeth estava surpresa como as coisas em suas mãos funcionavam tão bem. Foi então que
após a reunião terminar, seu celular tocou.

Elizabeth estava relaxada em sua cadeira e olhou no visor de seu celular. Respirou fundo
e pensou dez vezes se atenderia ou não. Edward sabia quem era, afinal, já a conhecia muito
bem para saber quando estava desconfortável.

― Atenda, vou esperar lá fora. – disse ele enquanto se levantava.

Elizabeth o fitou seriamente e lhe estendeu a mão. ― Fique.

Ele assentiu e ela deslizou o dedo na tela para atender a chamada.

― Alô. – disse friamente.

― Lisa... – Michael começou, com a voz calma. ― Vou viajar amanhã, está sabendo?

― Sim, Jane já passou o recado. – respondeu com a voz aliviada, pelo menos não estava
drogado.

― Ótimo. – Michael disse e deu uma pausa. ― Nos veremos em breve.

― Boa viagem. – Elizabeth desejou após alguns segundos. Ela ouviu a sua respiração
pesada e um riso do outro lado da linha.

― Obrigado.

Edward viu quando ela desligou a ligação e suspirou pesadamente. Algo a atormentava e
se sentia impotente por não saber como ajudá-la. Sabia que não deveria se meter, mas não
gostava de vê-la tão aflita.

― Você não me disse o que houve no apartamento. – disse calmamente enquanto ela o
fitava seriamente.
― Não aconteceu nada, Smith. – Elizabeth o cortou. ― Por que não vamos ver como
Anthony está?

Edward assentiu e viu quando ela se levantou e saiu da biblioteca, deixando-o para trás.

― Inferno de mulher! – esbravejou e logo depois se recompôs. ― Vamos ver Anthony


então. – resmungou tentando imitar a voz dela.

― Eu já disse que quero sopa de letrinhas! – Anthony bufou. ― Isso aí não é sopa de
letrinhas!

Gwen revirou os olhos. ― Por Deus, Tony, coma logo!

― Mas o que é isso? – Elizabeth perguntou após entrar no quarto e ver aquela cena
lamentável. ― Virou um bebezão agora?

― Sua irmã. – Anthony cruzou os braços. ― Eu disse que queria sopa de letrinhas e o
que ela traz? Sopa normal.

Elizabeth revirou os olhos e fitou Clara, que simplesmente deu de ombros. Ele realmente
era uma criança crescida.

― Você é o pior doente que alguém poderia cuidar. – Gwen resmungou e deixou o prato
em cima do criado mudo. ― Vou pedir ao Jofrey para preparar essa maldita sopa de letrinhas.

Anthony sorriu tranquilamente enquanto a moça saía do quarto queimando pneus.


Elizabeth sentou ao seu lado na cama.

― Adora provocar Gwen, não é?

― Sempre. – Anthony concordou. ― Clara, pode ir lá ajudar Gwen um pouco?

Clara largou a revista que estava lendo e bufou.

― É claro, maninho.

Elizabeth riu e balançou a cabeça negativamente. Anthony segurou suas mãos e a fitou
seriamente.
― Já preparou os seguranças para o Edzão?

― Sim, não se preocupe que ele estará a salvo. – disse calmamente. O homem suspirou
aliviado.

― E você o que tem? – perguntou. ― Está tão triste.

E antes que pudesse responder, Edward bateu na porta e a abriu um pouco. Anthony
sorriu e assentiu quando o mesmo perguntou se podia entrar.

― Só vim me despedir. – Edward se aproximou da cama e apertou a mão do enfermo.

― Pensei que iria ficar aqui conosco. – Anthony reclamou ― Lisa, você não o convidou?

Elizabeth ergueu a sobrancelha e o fulminou com o olhar.

― Não é necessário, preciso descansar um pouco... ontem e hoje foram bem corridos.

Anthony assentiu mais uma vez e olhou de Elizabeth para Edward. Ambos tentavam
desviar a atenção um do outro.

― Tudo bem então. – sorriu. ― Descansa bem, porque até eu me recuperar você vai ter
que aguentar essa fulana aqui, sozinho.

Edward riu e Elizabeth fulminou os dois desta vez.

― Até amanhã, chefinha. – Edward zombou ao chegar à soleira da porta. ― Melhoras


amigão!

Anthony balançou a mão no ar se despedindo, e quando ele se foi, Elizabeth deu um


longo suspiro. Ele então a fitou e acariciou suas mãos.

― Ele gosta de você, não é? – perguntou.

Os olhos verdes se arregalaram, ela não queria entrar naquele assunto, mas Anthony a
conhecia tão bem que não deixaria passar.

― Deus! Você também! – Anthony riu. ― Como não percebi antes?

― Hey! – Elizabeth resmungou. ― Eu não gosto do que está insinuando.

Anthony apertou suas mãos novamente e lhe deu um caloroso sorriso.

― Acalme-se Lisa. – pediu com doçura. ― Conte-me o que está acontecendo.

Elizabeth o fitou preguiçosamente e se perguntou mil vezes se deveria expor sua atual
situação. Anthony era seu melhor amigo e talvez pudesse compreendê-la.

― Na sexta, depois do jantar... – vacilou, respirou fundo e continuou. ― Ah, você já deve
saber de tudo.

Anthony riu calmamente. Sabia quando Elizabeth estava nervosa, pois não era de hoje
que se conheciam.

― Eu não sei de nada. – levantou as mãos para o alto. ― Quero que você me conte e eu
darei minhas considerações após ouvir tudo.

Elizabeth se levantou, estava desconfortável com aquela conversa. Aproximou-se das


janelas e observou a movimentada cidade de Nova York. Seu apartamento era muito bem
localizado e dava uma ótima vista para o outro lado da ilha.

― Michael não pôde ir no jantar devido alguma coisa, que ainda irei descobrir. – bufou.
― Enfim... Edward foi comigo e aquela vagabunda da Valerie o roubou durante todo o evento.

Anthony a observava pelas costas enquanto ria da situação. Sabia muito bem onde aquela
conversa iria dar, mas queria ouvir de seus lábios. Durante a noite no hospital, Edward já tinha
lhe contado tudo o que aconteceu.

Elizabeth se virou e o fitou. ― Eu ia demiti-lo, juro por Deus! Mas quando eu estava
entrando no prédio, ele veio pedir desculpas e tal.

― E qual o problema por ele ter passado a noite com a Valerie? – Anthony perguntou
sarcasticamente.

Anthony conhecia muito bem Valerie e suas táticas para agarrar um homem. Considerou
seriamente em premiar Edward por não ter caído em suas garras.

― Qual o problema? – Elizabeth se exaltou. ― Ele não cumpriu os deveres que eu tinha
designado, sem falar que poderia ter chamado muito a atenção. Eu não gosto que meus
funcionários chamem a atenção por motivos errados, você sabe disso.

― Eu acho que o problema foi outro. – Anthony suspirou. ― Você sabe se ele fez... você
sabe... com ela?

Elizabeth fechou os olhos. Estava se arrependendo profundamente daquela conversa. ―


Não fez.

― E como você sabe que não? – ele perguntou novamente.

― Porque ele me disse. – deu de ombros e se virou para a janela.


Anthony sorriu como uma cobra prestes a dar o bote final.

― E por que ele te disse isso?

Elizabeth se virou, lhe dando as costas. Estava de saco cheio daquela enrolação. ― Ele
me disse quando eu o confrontei naquela noite e sabe o que ele fez?

― Não. – mentiu.

― Me beijou!

Anthony não aguentou e riu abertamente. Estava adorando ver como Edward conseguia
tirar o chão dos pés de sua melhor amiga. Só ela não percebia o quanto ele estava enraizado em
seu coração.

Ao ver a cara frustrada de sua amiga, a chamou para perto com a mão. Elizabeth se sentou
e ele pegou suas mãos novamente. Não iria lhe dar um sermão e nem um discurso a respeito do
que ela deveria fazer, mas lhe diria o que ela mesma não conseguia enxergar.

― Você gosta dele. – ponderou e quando viu que ela iria interrompê-lo, continuou. ― E
não adianta negar, se não gostasse, não sentiria ciúmes.

― Isso é um absurdo. – Elizabeth rebateu.

― Não é absurdo. – Anthony sorriu. ― É normal. Lisa, só você não enxerga o quanto
mudou após a chegada desse cara.

― Eu não mudei. – resmungou, mas Anthony a calou novamente.

― Mudou e para melhor. – disse. ― Mas veja como quiser, eu sei o quanto Edward gosta
de você.

Elizabeth bufou. ― E Michael? – perguntou em voz alta, mas era mais para ela mesma.
Estava muito confusa e sem saber como agir.

Anthony levantou o ombro como se dissesse “dane-se ele”. Mas para ela não era assim
que funcionavam as coisas. Primeiro precisava colocar seus sentimentos em ordem, para
depois tomar alguma decisão.

O domingo passou mais rápido do que podiam imaginar. Elizabeth, Anthony, Clara e
Gwen ficaram no quarto assistindo filmes e séries, comendo pipoca e tomando refrigerantes.
Quando não aguentaram mais, adormeceram.

Isso servia de distração para algumas pessoas, mas para Elizabeth não. Ainda mais depois
de ver uma mensagem que chegara a seu celular:

“Meus pensamentos são como Estrelas que não consigo arrumar em Constelações”.

Uma frase do livro A Culpa é das Estrelas. O que Edward queria dizer com aquilo? Que
era um leitor? Que gostava daquele livro?

A quem ela queria enganar? É lógico que ele pensava nela. E esse simples pensamento fez
seu coração se acelerar.

― Maldição! – vociferou ao arremessar o celular longe. Todos a fitaram assustados. Ela


realmente precisava de um psicólogo urgentemente.

O dia amanheceu e antes das 7 horas já estava de pé se preparando para um banho


daqueles. Queria crer que a água que percorresse seu corpo também levaria todos seus
conflitos. Mas não foi isso que aconteceu.

Saiu do banho e escolheu um vestido negro que ia até os joelhos e tinha duas faixas
brancas, uma em cada lado do corpo. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto e calçou
sapatos de salto alto.

Nesta manhã, decidiu tomar o café que lhe era servido. Todos ainda dormiam, e por isso
aproveitou para ler o jornal daquela manhã. Para seu alívio, uma notícia falando que o jantar
beneficente havia sido um sucesso absoluto estampava a capa. Frisando que tudo o que fora
arrecadado poderia ajudar muito mais do que o planejado.

Terminou seu café da manhã e foi para a empresa, não queria se atrasar. Ao chegar, deu
graças a Deus por não encontrar aquele maldito inglês. Porém, sua alegria duraria pouco, afinal
ele era seu assistente. Respirou fundo ao sair do elevador e desejou bom dia aos poucos
funcionários que se calaram quando a viram.

― Edward já chegou? – perguntou a Jane.

― Sim, senhorita Adams. – respondeu. ― Está na sala dele.

Elizabeth bufou. ― Peça para que ele venha até a minha sala.

Jane assentiu e discou no aparelho o número que ligava à sala de Edward. Elizabeth deu
mais uma olhada ao redor e viu outros funcionários a encarando e cochichando.

― Está faltando serviço, Gerard? – perguntou bruscamente.


― Não, não senhora. Perdoe-nos. – Gerard, que era um dos antigos funcionários, se
desculpou e chamou a atenção dos outros, para que voltassem ao serviço.

Elizabeth deu mais uma olhada nas pessoas e retirou a mão da cintura. Não gostava que
pensassem que era uma bruxa. Entretanto, sua mudança contribuiu para essa fama nada legal.

― Me chamou?

Edward se aproximou pelas suas costas. Observou que ela parecia analisar alguma coisa
na recepção. Elizabeth não pôde deixar de suspirar ao ouvir aquela voz rouca com o maldito
sotaque inglês.

― Venha comigo.

O homem a seguiu, tentando, sem sucesso, desviar o olhar de seu corpo perfeitamente
definido pelo vestido preto. Elizabeth colocou sua bolsa e seu casaco nos devidos lugares e
sentou-se em sua cadeira presidencial.

― Eu preciso de uns contratos do ano passado, você consegue?

― Sim, claro. – Edward se aproximou da mesa. ― Só preciso da sua senha para acessar
os arquivos antigos.

Elizabeth assentiu. ― Tudo bem, eu vou ter uma reunião mais tarde e você me
acompanhará.

― Certo. – ele concordou. ― E Anthony como está?

― Está melhorando. – disse calmamente enquanto mexia no mouse e dava sua atenção ao
computador. ― Ele ficará em casa até que melhore por completo.

― Isso é ótimo. – Edward sorriu. ― Posso visitá-lo à noite?

Elizabeth se surpreendeu com a pergunta e o fitou nos olhos.

― Claro que sim. – deu um meio sorriso sarcástico. ― Pode vê-lo quando quiser. Não foi
você quem disse que só me obedece aqui dentro?

Edward não pôde deixar de sorrir e resolveu entrar na brincadeira. Apoiou as mãos
fechadas na mesa e se abaixou um pouco para aproximar seus rostos.

― Dependendo da situação, eu aceito ser submisso lá fora também.

Elizabeth entendeu o que ele queria dizer e sentiu a temperatura de seu rosto subir uns 20
graus. Por Deus, como ele ousava fazer esse tipo de brincadeira?
Com raiva se levantou e o encarou seriamente. ― Mas que diabo de conversa é essa,
Smith?

― Estou apenas brincando. – Edward levantou as mãos para o alto, em sinal de rendição.
― Que horas precisa desses papéis?

― O que você acha? – levantou a sobrancelha e estalou os dedos. ― Agora mesmo, meu
filho!

Edward respirou fundo e assentiu, virou as costas e caminhou para a porta.

― Então se quer agora, é melhor vir colocar a senha no meu computador agora! – disse
despreocupadamente.

Elizabeth revirou os olhos e perguntou aos céus quantos quilos de pedra havia jogado na
cruz. Ela sempre foi uma pessoa boa, nunca matou e nem roubou, mas tinha quase certeza que
agora estava pagando pelos pecados de alguém.

Edward abriu a porta e esperou pacientemente enquanto ela engolia seu orgulho e o
seguia. Ao saírem da sala, encontraram outros funcionários parados em frente à televisão e isso
chamou a atenção de ambos.

― Era só isso que me faltava. – Elizabeth resmungou e seguiu até onde o grupo estava
reunido. Edward a seguiu e parou ao seu lado quando as pessoas abriram caminho para a chefe.

― Mas o que é que aconteceu? – Perguntou impaciente, porém, seu coração quase parou
quando chegou à frente da televisão.

Uma mulher loira apresentava o telejornal e havia uma imagem no canto superior direito
da televisão.

“Avião particular desaparecido há algumas horas é encontrado no Oceano. De acordo


com nossas informações, o jato partiu de Downtown em Nova York em direção à Dublin, na
Irlanda, onde faria uma pausa para seguir em direção à Bordeaux, na França. No momento
não temos informações sobre as vítimas”.

Elizabeth ouviu aquelas palavras ecoarem em seus ouvidos e sentiu o ar faltar de seus
pulmões. Sua visão se escureceu e suas mãos começaram a tremer. Abaixou a cabeça como se
estivesse procurando o chão e de repente levantou a cabeça para olhar Edward que estava ao
seu lado.

― O que houve? Está se sentindo bem? – ele perguntou ao notar que ela estava pálida.

― Michael... – sussurrou. ― Meu Deus do céu!


Edward arregalou os olhos ao entender que poderia ser aquele o avião em que Michael
estava. Ele a fitou sem saber o que dizer e nem o que fazer. Simplesmente seguiu sua intuição
e a puxou levemente pelo braço.

― Vamos à sua sala. – sussurrou, disfarçando para que os outros não percebessem a
tensão. ― Vamos ligar para ele.

Elizabeth balançou a cabeça afirmativamente e deixou ser guiada por ele. Suas mãos
tremiam e seu corpo parecia não obedecer aos seus comandos. O pânico tomou conta de si e
não sabia o que fazer. Será que era assim que as coisas terminariam?
A vida tem o belo costume de se parecer com um jogo de tabuleiro. Você analisa o jogo,
escolhe caminhos alternativos, faz todas as jogadas possíveis e mesmo assim, alguém vem e
faz um cheque mate. Elizabeth não queria acreditar que aquele poderia ser o jato onde estava
seu noivo até ouvir a voz do responsável pela companhia aérea lhe confirmando o fatídico
acidente.

Sentada em sua cadeira, com o barulho de linha em seu ouvido e um olhar perdido. Então era
assim que terminavam as coisas. Edward não precisou lhe perguntar o que havia acontecido,
pois via em seu rosto a palidez e a sombra da morte.

Demorou alguns instantes até que conseguisse colocar o telefone no gancho. Custava a
acreditar que o destino era esse. O responsável lhe dissera que até o momento só encontraram
alguns destroços, porém, continuariam buscando os corpos, mas era certeza que Michael
estava morto.

“Mas o que aconteceu?” quis perguntar, mas o choque era tamanho que a única coisa que
conseguiu responder foi: ― Eu entendo.

Edward andava de um lado para o outro sem saber como agir. Olhava para sua chefe e ela só
estava ali com o corpo, pois sua mente pousava em outro lugar. Passou as mãos pelos cabelos e
se aproximou quando ela desligou o telefone.

― Era Michael? – sussurrou. Elizabeth assentiu, com o olhar perdido.

― Meu Deus. – suspirou e desviou o olhar para as grandes janelas da sala. Encaixou as mãos
atrás da nuca e respirou fundo.

Elizabeth balançou a cabeça e tentou voltar a si. Precisava tomar a frente das coisas, agora
mais que nunca, precisava ser a Presidente daquela empresa. Levantou, decidida a não se
abater pelas circunstâncias.

― Edward, ligue para Annelise em Londres e a avise do que aconteceu. – disse firmemente. ―
Vou reunir todos os funcionários.

Edward se aproximou dela até estarem a poucos centímetros. Olharam-se nos olhos e ele soube
que aquela seria mais uma dor que ela não conseguiria colocar para fora. Sentiu a vontade de
abraçá-la, porém, sabia que deveria dar-lhe tempo e espaço.

― Você precisa de algo? – perguntou calmamente.

― Só preciso que faça o que eu disse. – Elizabeth respondeu firmemente, sem desviar o olhar.
― Annelise precisa saber o que aconteceu a seu irmão.

Edward respirou fundo e virou as costas, deixando-a sozinha para cumprir suas obrigações. Ao
sair da sala foi cercado por outros funcionários.

― É verdade isso, Edzão? – Gerard se aproximou e perguntou: ― Michael está morto?

Claro, a essa altura sua foto já estava estampada nos telejornais.

― A chefe vai reunir a todos. – disse enquanto o grupo o cercava. ― Ela está fazendo algumas
ligações.

― Aposto que foi ela quem mandou matar o noivo – Josef, um outro funcionário comentou.
Edward sentiu seu sangue ferver e o pegou pelo colarinho da camisa, sem se importar o que
falariam depois.

Todos os olhares recaíram sobre eles.

― Repete o que falou seu escroto! – vociferou. ― Vocês não tem ideia do quanto ela está lá
dentro sofrendo!

― Desculpa Edzão! – Josef se recompôs ao ser solto. ― Eu estava brincando.

Os outros funcionários ficaram em silêncio, ninguém queria confusão a uma altura dessas,
muito menos brincar com algo tão sério. Sem contar que ninguém tinha nada com aquilo, eles
eram somente empregados.

― Acho bom cada um voltar aos seus afazeres, logo a chefe irá nos reunir. – Edward
esbravejou. ― Agora!

Por incrível que pareça, eles assentiram e cada um voltou ao seu afazer. O homem respirou
fundo, era só essa que faltava, sua chefe ser acusada de cometer um homicídio. Elizabeth era
fria e arrogante, mas jamais assassina. A defenderia de todos se fosse preciso.
Dentro do escritório, Elizabeth apoiou a cabeça em suas mãos e tentou encontrar forças dentro
de si. As lágrimas queriam descer violentamente, mas as segurou. Não era momento de chorar.
Tinha que ser forte e encarar aquela situação.

Que Deus a ajudasse.

O telefone tocou e Jane avisou que Anthony queria lhe falar.

― Lisa, é verdade? – a voz complacente de seu melhor amigo a quebrou.

Ela suspirou pesadamente. ― Sim, é verdade.

Silêncio reinou até que ele disse: ― Caramba.

― Eu tenho algumas coisas para resolver. – Elizabeth disse com dificuldade. ― Nos falamos
em casa mais tarde.

― Tudo bem. – Anthony concordou e antes de desligar, confirmou o que Elizabeth já sabia. ―
Estamos aqui para o que der e vier, você sabe não é?

― Eu sei, obrigado. – respondeu sentindo mais uma pontada em seu peito e desligou a ligação.

Elizabeth soube que Edward tinha cumprido o que ela tinha ordenado logo após receber
Annelise na outra linha. A menina chorava descontroladamente e ela tentava consolá-la.

Annelise era a única irmã de Michael. Ela viveu sua vida toda em Londres, com seus pais, que
certo dia, resolveram abandonar os Estados Unidos. Infelizmente, um acidente de carro roubou
suas vidas e por isso a jovem nunca fez questão de voltar à América, mesmo que fosse para
ficar ao lado de seu irmão.

A verdade era que não conseguiria trabalhar. Sua mente girava entre porquês sem conseguir
encontrar as respostas. Recolheu suas coisas, precisava ir para casa. Precisava descansar.
Quando se virou para sair, Edward entrou pela porta.

― Vai sair? – ele perguntou, fitando-a dos pés a cabeça.

― Vou para casa. – Remarque a reunião para outro dia, por favor.

Edward assentiu e quando ela ia passar a segurou pelo braço, recebendo de volta o seu olhar
assustado.

― Não vou deixá-la ir sozinha. – determinou após alguns instantes.

― Não estou sozinha. – Elizabeth bufou. ― Meu motorista está lá embaixo.


Edward balançou a cabeça negativamente e a fitou seriamente.

― Até parece que vou deixá-la sozinha, depois de tudo. Vou com você e me certificar de que
está bem.

Elizabeth ia retrucar, porém ele a calou com uma voz tempestuosa. ― Sem discussão. – e
dizendo isso, pegou a sua bolsa e a guiou até a porta.

Elizabeth se espantou com aquela atitude, mas o que poderia fazer? Ele a guiou pela recepção
como se realmente estivesse preocupado com ela. E no fundo, deveria estar.

Após despejar algumas ordens à Jane, foi guiada até o elevador com a mão de Edward em sua
cintura.

Eles entraram no elevador em silêncio e assim permaneceram até entrarem no carro. Elizabeth
mantinha seus pensamentos longe, assim como Edward, que se perguntava como as coisas
ficaram dali em diante. Não queria ser egoísta e muito menos se regozijar com a morte de
Michael, mas agora, vislumbrava na sua frente o que sempre quis: O caminho livre para
conquistar o coração de sua chefe.

Elizabeth se sentou no banco de trás e ele achou melhor sentar no carona para não sufocá-la.
Testou algumas olhadas pelo retrovisor e não via sequer um rastro de emoção no rosto pálido.

Edward se perguntou por que diabos ela não estava chorando? Custava a crer que ela não
tinha sequer um sentimento pelo noivo. Se ela não o amasse, teria terminado na primeira
oportunidade. Mas agora estava ali, imóvel, com suas paredes impenetráveis.

Quando chegaram ao prédio, ajudou-a descer e ainda com a mão em sua cintura a acompanhou
por dentro do edifício. Apesar de seu rosto pálido e sua feição fechada, as pessoas que a
conheciam lhe cumprimentavam desejando os pêsames.

Elizabeth foi elegante e cumprimentou a todos. É claro que logo seu cansaço foi evidenciado e
por isso pediu desculpas e disse que se recolheria para colocar os pensamentos em ordem.
Seguiram para o elevador, até que o mesmo chegou ao último andar.

Ao chegarem ao apartamento, imediatamente jogou a bolsa no primeiro sofá que cruzou seu
caminho. Respirou fundo e olhou a sua volta, silêncio total. Foi então que se lembrou de seu
assistente, que estava em suas costas, fitando-a curiosamente.

― Obrigado, Edward. – disse ao se virar para ele. ― Tire o dia para descansar.

Edward assentiu e pensou que era melhor se retirar. ― Depois eu volto para ver Anthony.

― Tudo bem. – Elizabeth deu de ombros enquanto subia o primeiro lance de escadas.
Edward olhou ao redor e sinceramente não sabia o que fazer. Após perder Elizabeth de suas
vistas, aproximou-se dos estofados e na mesinha de centro havia algumas fotos. Pegou um
porta retrato e viu uma foto de Elizabeth e Michael. Parecia ser a formatura do colégio.

Sabia que aquele seria um momento difícil para ela, mas por Deus, não conseguia decifrá-la!
Não sabia o que estava sentindo e muito menos o que pensava. Ele mesmo não gostando de
Michael estava em puro choque.

Uma vez perguntou a Anthony o que havia acontecido à Elizabeth para que se tornasse essa
mulher tão fria e o mesmo lhe dissera que um dia ela lhe contaria. Talvez essa fosse à ocasião
ideal. Afinal de contas, ele não era somente um assistente.

Passou as mãos nervosamente pelos cabelos, não poderia deixar que ela segurasse aquela dor
sozinha. Elizabeth precisava se abrir e que Deus o ajudasse, ele a confrontaria hoje mesmo.

Elizabeth entrou em seu quarto com seu coração aos pedaços. Tirou seus sapatos e se
aproximou das vidraças que lhe forneciam uma vista privilegiada. Fechou os olhos e lembrou-
se de alguns momentos que passou as tardes na companhia de Michael.

Os momentos em que ele tentou lhe ensinar a andar de bicicleta no Central Park... Os sorvetes
que ele lhe comprava e não conseguia tomar, devido à sensibilidade de seus dentes. O dia em
que ele lhe roubou um beijo na frente de seu pai.

Elizabeth acreditava que era a única culpada do relacionamento frio que mantiveram nos
últimos tempos. Nunca foi fácil lidar com a mudança radical que aconteceu em sua vida. Com
isso, eles se afastaram e o todo o sentimento bom foi por água abaixo.

Foi então que sua vida perdeu o sentido. Todos os dias acordava, se arrumava, ia para a
empresa e algumas vezes ia para o apartamento de Michael. Tudo mecanicamente, como
qualquer robô faria.

As brigas transformaram aquele relacionamento em algo exaustivo. Ela sabia que não deveria
levar aquele noivado à diante, mas quem disse que tinha coragem para terminar? Sempre
acreditou que eles foram feitos para permanecerem juntos. Era isso o que seu pai dizia.

Foi então que Edward surgiu em seu caminho, abalando todas as suas estruturas. Ele conseguiu
lhe transmitir a paz que nunca achou que fosse recuperar.

Porém, agora tudo voltava à estaca zero. Estava sozinha mais uma vez, com um buraco no
peito que não sabia como preencher.

Olhou em seu dedo e a aliança de noivado estava lá, intacta. Quando Edward lhe pediu que
terminasse o noivado, achou loucura. Entretanto, já era o destino lhe avisando que não teria
Michael por muito mais tempo.

Seu peito se encheu de dor e a culpa a consumiu. Se tivesse agido diferente... se tivesse sido
menos “Elizabeth” e mais “Lisa”... ele teria passado os últimos dias ao seu lado de uma
maneira diferente.

E foi então que mesmo não querendo, as lágrimas começaram a cair, uma atrás da outra. Seu
peito ardeu como se uma faca o atravessasse e a dor a consumiu. Como uma maneira de tentar
parar aquilo, arrastou o braço em cima da penteadeira e derrubou tudo o que estava ali. Doía...
aquela culpa a atormentaria para sempre. Elizabeth caiu de joelhos e chorou tudo o que estava
preso em seu peito, que segurou durante anos, tentando ser uma mulher forte, mas agora estava
ali aos pedaços.

Edward se aproximava da porta quando ouviu o barulho de vidro se despedaçando no chão.


Correu e ao abrir a porta do quarto, avistou-a caída de joelhos, chorando como nunca. Seu
coração se apertou ao vê-la daquela maneira e não se importou se ela estava chorando por
outro.

Aproximou-se e se ajoelhou na sua frente, puxando-a para seus braços e abraçando-a tão forte
para que ela soubesse que estaria ali, até que ela chutasse seu traseiro para longe.

Elizabeth não se importou ao perceber que Edward estava ali, vendo-a com os sentimentos à
flor da pele. Tudo o que precisava era desabafar, então as lágrimas continuaram caindo e ela
não conseguia falar. Ele certamente estaria odiando abraçá-la por causa de outro, mas nesse
momento, tudo o que precisava era daqueles braços em volta de seu corpo.

Ela tentou falar, mas ele a interrompeu sussurrando em seu ouvido:

― Chore o quanto quiser.

Edward poderia muito bem dar as costas e deixá-la ali, sozinha e humilhada em sua própria
dor. Mas não, ele estava ali por ela e para ela.

Sempre soube que ela era prometida de outro e que também havia uma história ali que não
terminaria de um dia para o outro. E por mais que seu orgulho lhe dissesse que era um imbecil,
continuaria ali, confortando-a.

― Eu me sinto tão culpada! – choramingou ao se ajeitar nos braços de Edward. ― Eu fui tão
imbecil!

― Culpada por quê? – Edward suspirou e se sentou no chão, trazendo-a para seu colo.
Elizabeth não queria olhá-lo nos olhos, então se acomodou em seu colo e abaixou a cabeça.

― Eu fui tão péssima com ele. – respirou fundo e continuou. ― Nós nunca superamos o que
eu fiz!

O homem passou a mão em seus cabelos castanhos enquanto esperava que ela continuasse. Ela
precisava se abrir, pelo menos desta vez.

― O que aconteceu naquele dia? – perguntou em voz baixa, temendo que aquilo a assustasse.

Elizabeth fechou os olhos e por alguns segundos pareceu retornar àquele dia. A ligação. Os
bombeiros. A Polícia. Os médicos. O Hospital. Todas as imagens voltaram com força em sua
mente e novamente as lágrimas caíram.

― Se não quiser me contar, eu entendo. – Edward cochichou após perceber que ela estava
muito abalada.

E por fim, em alguns instantes ela respirou fundo, enxugou as lágrimas de seu rosto e o fitou.

― Eu vou contar tudo, você merece saber a minha história.


Elizabeth se sentiu confortável na posição em que estava. Sentada no colo de Edward, com a
cabeça apoiada em seu peito. Ele passava os braços pela sua cintura e ela nunca se sentiu tão
segura quanto naquele momento.

Sua mente vagou novamente para aquele dia e tudo veio à tona, como em um terrível pesadelo.

“― Você deveria ir para casa, filha. – Charles, seu pai, lhe disse calmamente enquanto
colocava alguns papéis assinados numa outra pilha.

Elizabeth sorriu e se aproximou dele. ― Eu sei o quanto você está atarefado, quero te ajudar.

― Você já tem me ajudado muito. – Charles a fitou com um sorriso nos lábios. ― Tem sido a
melhor estagiária que alguém poderia contratar.

Sorriu mais uma vez e se aproximou mais da cadeira de seu pai.

― Não é isso. – negou timidamente enquanto colocava as mãos em seus ombros e lhe fazia
uma leve massagem ― É que eu tenho o melhor chefe de todos.

Charles deu uma gargalhada suave. Charles Adams, sem dúvidas era um homem muito
elegante. Alto, cabelos castanhos e olhos verdes. Chamava a atenção por onde passava.
Mulheres a seus pés era o que não faltava. Elizabeth se considerava egoísta e não podia
deixar de sorrir todas as vezes que alguma mulher interesseira levava um fora de seu pai.

Infelizmente não conheceu sua mãe, pois ela morreu assim que deu a luz, e ali ficou toda a
responsabilidade nas mãos de Charles. Elizabeth não podia negar que ele era o melhor pai
que alguém poderia querer.

― Mas é sério filha. – Charles interrompeu seus pensamentos com a temida pergunta que
estava tentando escapar a dias. ― Você já pensou sobre o casamento com Michael?

― Papai, eu só tenho 21 anos, não estou pensando em casamento ainda. – choramingou. ― E


Michael nem pensa nisso também.

Charles virou a cadeira e fitou sua filha. ― Você sabe o quanto desejo esse casamento... ele é
a melhor pessoa que poderia cruzar seu caminho!

― Papai! – Elizabeth virou as costas e caminhou alguns passos. ― Não estamos no século
dezoito para que me trate dessa forma.

Charles respirou fundo e se levantou, aproximando-se de sua filha, colocou as mãos em seus
ombros. ― Eu não estou forçando-a a nada, querida, eu vejo como se amam e que devem
construir uma vida juntos.

Elizabeth ia retrucar, porém, preferiu ficar em silêncio. Não gostava de magoar seu pai, mas
também não pensava em se casar tão cedo. Apesar de terem ficado “noivos” no último mês e
da festa e dos anúncios nos jornais, não se sentia preparada para um casamento.

― Eu te entendo. – virou-se para seu pai e sorriu. ― Você e mamãe se casaram aos dezoito
anos... eu já ouvi essa história várias vezes.

Charles sorriu e deslizou os dedos em seus cabelos castanhos.

― Não sei para a sua mãe, mas para mim, foi amor à primeira vista. – Concluiu como se seus
pensamentos estivessem longe.

E ela realmente conhecia aquela história. Sem dúvidas, lamentava o fato de não ter conhecido
sua mãe. Sabia que ela gostaria de ter participado de todos os momentos importantes de sua
vida. Apesar de tudo, a sorte lhe sorriu e seu pai soube lhe orientar e guiar em todos os seus
passos.

― Tenho certeza que para ela também. – Elizabeth passou a mão direita pelo rosto de seu pai
e suspirou. Ela o amava tanto. ― Vou esperá-lo em casa, quero fazer o seu jantar preferido.

― Ótima ideia! – Charles se animou e voltou para sua cadeira. ― Só tenho que resolver mais
algumas coisas, logo estarei em casa.

Assentiu calmamente e quando ia sair da sala, passou por ela o mal encarado Lorenzo.
Elizabeth deu uma última olhada para seu pai e sem que o homem visse, girou o dedo
indicador ao lado da cabeça, no famoso gesto que queria dizer que o cara era louco.

Lorenzo e Elizabeth mantinham uma relação complicada. Ele era o vice-diretor e queria
mandar nela como se fosse a sua secretária. Elizabeth sempre dava um jeito de mostrar que
mesmo sendo uma estagiária, era a filha do chefe e que as coisas funcionariam da forma que
seu pai queria e não do jeito que Lorenzo achava que deveriam ser.

Após se despedir de todos, entrou no carro e foi para sua casa. Como era de costume,
dispensou a cozinheira e fez o prato preferido de seu pai. Buffalo Wings, que nada mais eram
que asinhas de frango fritas e envolvidas num molho picante de pimenta-caiena, manteiga,
vinagre e outros condimentos.

Elizabeth terminou o jantar e esperou... esperou... e esperou. Seu pai não se atrasava. Charles
prezava pela pontualidade. Algo não estava certo e uma sensação ruim se apossou de seu
peito.

Olhou para o relógio, já se passava das 22 horas. Seu coração se apertou mais uma vez e
então seu celular tocou. Ele estava jogado no sofá, mas a música da Beyoncé como toque a
despertou e a fez levantar da cadeira num salto. Olhou no visor e atendeu.

― Oi Michael. – respondeu suavemente.

― Lisa, volte aqui na empresa o mais rápido que puder. – disse ele, ofegante. ― Preciso de
você aqui.

― O que houve Michael? – perguntou assustada, porém não houve tempo para respostas, pois
ele desligara o telefone.

Ao chegar, Elizabeth vislumbrou a pior cena que alguém poderia ver em sua vida. Após correr
pelo hall de entrada, lotado de policiais, sabia que algo estava errado. Muito errado. Temia
por Michael, temia por seu pai. Quando entrou no andar da presidência, seu coração quase
parou ao ver Michael andando de um lado para o outro com um policial.

Vários policiais.

Michael caminhou até ela, com toda a proteção que poderia oferecer e pediu que se
acalmasse. Como se soubesse o que estava acontecendo, correu para a sala de seu pai e tudo
passou a operar em câmera lenta.

Elizabeth estancou em seu lugar. Os segundos pareceram horas. Sua mente tentava processar
aquela visão, e já não conseguia mais andar. Um corpo estava coberto no chão e então, como
uma tentativa de afastar aqueles pensamentos ruins, olhou para todos os lados à procura de
Charles.

― Onde está meu pai? – perguntou, sentindo as lágrimas descendo por seu rosto.

Michael estava ao seu lado e abaixou a cabeça, sem conseguir dizer uma palavra.

Elizabeth olhou novamente o corpo no chão e sem querer acreditar, se ajoelhou e abriu o saco
preto.
O desespero tomou conta de seu coração e as lágrimas desceram como cascatas. Não podia
ser, não era justo. Era o que ela tentava dizer a si mesma.

Gritou e chorou, querendo que de alguma forma aquilo fosse um terrível pesadelo. Charles
era seu pai e não aceitava perdê-lo.”

Edward ouviu cada palavra atentamente e por Deus, sentiu-se um bebezão ao constatar as
lágrimas que derramou. Sentiu-se também um imbecil, pois Elizabeth sofria por não ter mais
seu pai, enquanto ele desprezava o que tinha.

― E quem atirou nele? Vocês descobriram? – perguntou enquanto acariciava os cabelos dela.

― Foi Lorenzo. – respondeu, despejando o ódio em cada palavra. ― Logo depois que eu fui
para casa, eles tiveram uma discussão e aí aconteceu...

― Entendo. – Edward ponderou. ― Mas e por que o seu relacionamento com Michael deu
errado depois disso?

Elizabeth suspirou e mais imagens voltaram à sua mente.

“Um mês se passou desde o funeral e Elizabeth ainda não tinha suportado a ideia de perder
seu pai. Anthony, Gwen, Clara e Michael lhe davam todo o apoio que precisava, mas ainda
assim, não conseguia sequer levantar da cama.

Seu coração era consumido pela dor e via seu pai em todos os cantos da casa. Sorrindo,
fazendo-a se sentir uma princesa. Afinal, ele sempre a tratou como se fosse uma.

Elizabeth recebeu os advogados naquele dia que lhe informaram que deveria assumir a
posição de seu pai ou então o conselho elegeria outro CEO. Lorenzo estava desaparecido e
não havia nem rastros.

É claro que ela não queria deixar todo aquele poder na mão de um estranho e como herdeira
direta deveria assumir suas responsabilidades. Infelizmente, não conseguia.

Foi então, que um dia quando a solidão bateu em seu peito novamente, não aguentou. Em pé,
olhando para o armário do banheiro que continha vários frascos de remédios, achou que
deveria encerrar com aquele sofrimento.

Seria tudo tão fácil. Sem dor.

Afinal, sua mente projetava que se morresse, encontraria com Charles e sua mãe. O desfecho
perfeito para essa história.

Elizabeth acreditava piamente que seus amigos a perdoariam. Gwen não sentiria sua falta
enquanto estudava moda em Paris. Michael encontraria outra mulher, muito mais bonita e
seriam felizes.

E sem pensar nas consequências, tomou vários comprimidos, um atrás do outro e deitou na
cama, esperando que o efeito viesse o mais rápido possível.

E ele veio. Apagões, calafrios, fraqueza. A morte estava ao seu lado, pronta para levá-la.
Entretanto, aquela não era a sua hora e como se tivesse acordado de um pesadelo viu onde
estava. Um quarto branco e um terrível barulho agudo.

― Onde estou? – perguntou com dificuldade, seus olhos tentavam se encaixar a luminosidade
do ambiente e sua boca estava seca.

Um homem alto, com cabelos negros sorriu para ela. ― Seja bem vinda de volta, Lisa.

Elizabeth então o reconheceu. Ela Clark, seu amigo e médico. Suspirou e olhou para a
poltrona ao lado do leito. Michael a olhava furioso.

― Acho ótimo ter acordado rainha do drama! – Michael se levantou. ― Clark, nos dê um
minuto a sós.

Clark a fitou com receio e Elizabeth assentiu. Sabia que ele estava furioso e provavelmente
falaria por dias. O que ela não contava, era que seu plano desse errado.

― Qualquer coisa é só apertar o botão que eu veio correndo. – Clark lhe entregou um
aparelho e deu uma piscadela.

Clark saiu da sala sob o olhar estreito de Michael. Depois, o mesmo olhar voltou para
Elizabeth e ela já ensaiava na cabeça suas desculpas.

― Você tem ideia do que fez? – bufou, com raiva. ― Você matou o meu filho, sua maluca!

Elizabeth levou uma das mãos à cabeça. Doía demais.

― Do que está falando? – perguntou com dificuldade.

Michael se aproximou e como se quisesse vê-la sofrer ainda mais, cuspiu as palavras.

― Você estava grávida, sua idiota!

Elizabeth ainda não conseguia assimilar as palavras. Grávida? Sim, era possível. Mas ela não
sabia, não sentiu nenhum enjoo e sua menstruação estava normal.

Mas já tinha ouvido casos de mulheres que engravidaram e descobriram vários meses depois.
Ela não seria a primeira.
Fechou os olhos, querendo acordar daquele pesadelo, mas não podia. Então a única coisa que
fez foi chorar ainda mais. Michael jurou que ela sofreria todos os dias por aquele ato
impensado e que se não estivesse num hospital, lhe daria uma bela lição.”

― E como você pode chorar a morte desse imbecil? – Edward perguntou descrente.

― Foi no momento de raiva. – Elizabeth choramingou. ― Ele me pediu perdão depois... mas
as coisas nunca mais foram as mesmas e eu me culpo todos os dias por ter matado nosso filho.

Edward assentiu e tentava digerir toda aquela história. Sua mente se abriu para os motivos de
ter se fechado de todos. Entendeu porque ela não tinha forças para terminar aquele noivado.

― Mas me responde uma coisa, com sinceridade. – Edward pediu com carinho. ― Você o
amava?

Elizabeth respirou fundo. Era uma boa pergunta.

― Eu amei. – disse ela, com sinceridade. ― Eu nunca terminei nosso noivado porque não
adiantaria nada, Michael era um dos acionistas e sempre estaríamos lado a lado. Eu pensei que
seria melhor levar as coisas até que ele se cansasse de mim.

― Michael nunca se cansaria de você. – Edward concluiu.

Depois de toda aquela história soube que Michael não a amava nem por um milésimo de
segundo. Não podia julgar, mas sabia que ele levava aquele noivado por outros motivos e um
deles era, sem dúvidas, fazer da vida de Elizabeth um inferno.

Elizabeth estava cansada de sofrer. Edward sabia que havia um motivo para ela não ter
morrido naquele dia. Havia um motivo para ele ter saído da Inglaterra e ter pousado em Nova
York.

Ele levantou e estendeu a mão para ela.

― Quero te mostrar um lugar.

Elizabeth estranhou, mas aceitou a sua mão e se levantou.

― Espere, eu preciso colocar outra roupa, se eu sair assim vão me reconhecer.

Edward assentiu e viu quando ela escolheu algumas peças básicas em seu closet. Calça Jeans,
camiseta e tênis. Apesar da simplicidade, ele a admirou mais ainda.

― Fique tranquila que aonde vou te levar, fica longe dos jornalistas. – Edward brincou.

Elizabeth deu um meio sorriso, sentiu-se livre. Como se contar a sua história para aquele
homem, tivesse tirado de suas costas um peso de trezentos quilos. Edward lhe estendeu a mão
e, sem pestanejar, a aceitou. Confiando que para onde ele a levaria, era onde precisava estar.

Edward dirigiu o carro calmamente enquanto comia algumas rosquinhas. Elizabeth quis
reclamar quando o viu comendo doces em seu carro recém-limpo, no entanto, com os
acontecimentos recentes, estava desanimada até para isto.

― Você deveria experimentar. – ele ofereceu. ― São as melhores de Nova York.

Elizabeth recusou. ― Não estou com fome.

― Mas eu estou. – Edward comentou, com a boca cheia. ― Aliás, hoje só tomei café da
manhã.

― Falar com a boca cheia é falta de educação, sabia?

O rapaz deu de ombros. ― É que não gosto do silêncio absoluto e você só quer ficar calada.

Elizabeth revirou os olhos e virou o rosto para a paisagem que se desenrolava à sua frente.

― Por que New Jersey?

Edward sorriu. ― Porque sim.

― Quer dizer aonde vai me levar?

Edward guardou a última rosquinha na caixa de papelão que estava em seu colo e empurrou
para o colo de Elizabeth.

― Você vai ver já, já.

Ele dirigiu por mais alguns instantes entrando numa rua cheia de casas. Logo eles pararam em
frente a uma construção antiga, com um campo verde a sua frente. Edward desceu do carro e a
ajudou no lado do carona.

― Isso é uma igreja? – perguntou após observar algumas mulheres saindo de dentro do local.

Ele assentiu e ela riu descrente.

― Só pode ser brincadeira.


― Brincadeira por quê? – perguntou, fitando-a com divertimento.

Elizabeth olhou para a construção e voltou o olhar ao homem atrás de si.

― Você não tem cara de quem frequenta igrejas.

― Tem muitas coisas que você não sabe sobre mim. – Edward a ultrapassou. ― E essa é uma
delas.

Elizabeth suspirou fortemente enquanto tentava encontrar forças para entrar no lugar. Não que
ela odiasse a Deus, mas nos últimos anos não manteve um relacionamento forte com o Criador.
Por muitas vezes, o culpou por ter levado a seu pai e a sua mãe. Outras vezes, gritou,
desafiando-o a mostrar o tão famoso “grandioso poder” em sua vida.

Ela sinceramente não sabia se deveria, e nem se poderia entrar naquele lugar.

― Não, eu não posso. – virou as costas e deu alguns passos. Edward foi mais rápido e se
colocou a sua frente.

― Não pode o quê? Entrar numa igreja? – perguntou, apontando para a porta.

Elizabeth respirou fundo e olhou para seus pés.

― Você não entende. – bufou. ― Faz muitos anos que... meu relacionamento com Ele... –
apontou para o céu. ― Não é muito bom sabe.

Edward deu um risinho e com doçura levantou seu rosto.

― Nós nunca temos um relacionamento bom o suficiente com Ele. – tentou tranquilizá-la. ―
Somos humanos e pecadores... cheios de falhas, mas eu aprendi que Ele é muito bom e sempre
está de braços abertos para nós.

Elizabeth ouviu aquelas palavras e soltou o ar que estava segurando. Edward lhe estendeu a
mão e com dificuldade a aceitou. Não era certo, mas queria saber um pouco mais sobre aquele
lugar.

― Nunca fui religiosa. – disse ela, quando atravessaram as portas. ― Meu pai ia às vezes,
enquanto eu preferia ficar em casa.

Edward deu um meio sorriso e apontou para a penúltima fileira de bancos. Eles se sentaram.
Ambos fitaram o altar e ficaram em silêncio tentando absorver o clima do local.

― É sério que me trouxe a uma igreja? – Elizabeth perguntou mais uma vez, descrente com
aquela situação.
Edward riu baixinho e assentiu. ― Trouxe. Sabe... eu também não sou religioso, mas sempre
quando tenho um tempo venho aqui e me faz bem. Encontro à paz que nenhum outro lugar
consegue me oferecer.

Elizabeth o fitou e entendeu o que ele queria dizer.

― Você precisa conhecer o reverendo Jones. Ele é muito engraçado.

― Sério?

― Sim. Vamos, vou te levar até ele. – Edward se levantou e lhe estendeu a mão novamente.

― Deixa pra lá. – Elizabeth bufou e cruzou os braços. ― Vamos embora.

Dizendo isso, se levantou e lhe deu as costas. Porém, antes que pisasse fora do templo, uma
voz desconhecida ecoou pelo salão, chamando sua atenção.

― Aonde acha que vai, mocinha?

Elizabeth se virou para onde vinha a tal voz e se surpreendeu, quando um homem, que
aparentava ter no máximo trinta anos, se aproximou.

― Reverendo Jones. – Edward o cumprimentou. O homem sorriu sem tirar os olhos Elizabeth.

Eles se entreolharam por alguns instantes, todos em silêncio. Edward arqueou a sobrancelha
para sua chefe, como se dissesse: Vamos lá, não seja tão mal educada.

― Qual é? Vieram aqui pedir a minha benção para o namoro de vocês?

Elizabeth arregalou os olhos. ― Deus, claro que não!

Jones riu abertamente. ― Estou brincando. – se aproximou mais. ― Eu acho que a conheço de
algum lugar.

Elizabeth assentiu e lhe estendeu a mão. ― Elizabeth Adams, muito prazer.

Jones a cumprimentou. ― Sinto muito pelo que aconteceu com seu noivo.

Elizabeth quis perguntar como ele sabia, mas logo a sua ficha caiu. Reverendos também
assistiam televisão.

― Obrigado.

― Trouxe minha chefe aqui para espairecer um pouco. – Edward se intrometeu. ― Lembra-se
do que me disse quando cheguei aqui?
Jones sorriu. ― Claro que me lembro. Estou na flor da idade, meu caro.

Elizabeth revirou os olhos. Lá vinha sermão! Coisa que odiava no fundo de sua alma.

― Não vou te dar um sermão. – disse o revendo, como se tivesse ouvido seus pensamentos. ―
Vou te falar uma coisa muito legal, que na maioria das vezes nos esquecemos.

― Ah, é? – Elizabeth desdenhou. Queria ver o que aquele reverendo tinha pra lhe dizer que
acalmasse seu coração.

Jones sorriu e se aproximou mais, ficando frente a ela.

― Já ouviu falar sobre Davi?

Elizabeth arqueou a sobrancelha. ― Nunca li a bíblia, se é isso o que você quer saber.

Edward cruzou os braços, estava adorando ver aquela cena. Sua chefe parecia um gatinho
assustado.

Jones deu de ombros, sem se importar com a mulher arredia.

― Davi foi um grande Rei de Israel. Ele era temente a Deus e sempre seguia o que o Senhor
lhe ordenava. Até o dia que ele quis seguir seus próprios conselhos e achou que era forte o
suficiente para levar tudo sozinho. Você sabe o que aconteceu?

Elizabeth negou com a cabeça, interessando-se pela história.

― Depois de cabeçada atrás de cabeçada, ele começou a colher os frutos de seu erro. Ele
também perdeu Elizabeth. E perdeu muito.

A mulher suspirou. Como Deus permitia isso acontecer a alguém?

― Deus não interfere nas nossas escolhas, querida. – Jones disse, surpreendendo-a mais uma
vez. ― Infelizmente, colhemos o que plantamos. Mas não pense que Deus é um tirano. Davi
teve a oportunidade de se redimir e toda aquela angústia que ele sentia, foi embora.

Elizabeth processava aquela informação em sua cabeça. Jones suspirou e colocou uma mão em
seu ombro.

― Essa angústia que você sente agora, vai passar. Em Salmos está escrito: “No dia da minha
angústia clamarei a Ti, pois Tu me responderás.”

― O que quer dizer isso? – Elizabeth murmurou.

Jones a direcionou calmamente até o altar. ― Ele está ali, só esperando que você o convide
para entrar em seu coração. Ele vai se ocupar desse vazio e essa dor que você está sentindo.

O olhar de Elizabeth se iluminou no mesmo instante quando parou alguns centímetros de


distância do altar. Será que ele a aceitaria mesmo depois de todas as merdas que falou?

― Eu... eu não sei falar com ele. – murmurou ao abaixar a cabeça.

Jones sorriu. ― Fale com Ele como se estivesse falando com alguém que você ama muito.
Tenho certeza que Ele não se importa com formalidades.

Elizabeth assentiu e Jones saiu de cena, deixando-a sozinha. Ela se aproximou mais ainda e
fechou os olhos, absorvendo aquele momento. Seus olhos se encheram de água e sem perceber,
deixou-se cair de joelhos, derramando toda a angústia que por anos estiveram presos em seu
peito.

Edward estava do lado de fora da igreja, esperando que ela terminasse sua oração. Não sabia se
tinha acertado em levá-la até aquele lugar, mas para ele foi bom quando precisou. O
Reverendo Jones era um grande amigo, além de conselheiro.

Após um bom tempo, Elizabeth apareceu em suas vistas, completamente diferente de quando
chegaram.

― Obrigado Smith. – disse por fim, ao se aproximar dele. ― Obrigado por me trazer aqui.

Edward sorriu e se perguntou como seriam as coisas dali pra frente. Elizabeth Adams era uma
mulher imprevisível, mas esperava realmente que ela não retrocedesse nas pequenas mudanças
que teve. Se abrir para ele foi como destruir suas próprias muralhas.
Os dias viraram semanas e semanas se transformaram em meses. Dois meses se passaram e o
corpo de Michael não havia sido encontrado. Elizabeth preferiu apenas um comunicado oficial
e um respeitoso minuto de silêncio, do que uma cerimônia fúnebre.

Desta vez não se sentiu perdida, pois ao seu lado estavam seu melhor amigo, sua irmã e sua
amiga, sem falar de seu assistente, que todos os dias ficava até mais tarde, ajudando-a com os
trabalhos que eram da incumbência de Michael.

Anthony também ajudava, alegando que não tinha nada melhor para fazer em casa. Elizabeth
se tornou uma das solteiras mais “cobiçadas” de Nova York.

Aquela dor sufocante que mal a deixava respirar, cessou. Não era fácil, mas conseguia lidar
bem com a imprensa e com os policiais que os cercavam. O acidente aéreo passava por um
processo de investigação, assim como o atentado contra Anthony. Nunca acharam os
agressores.

― Eu acho que esses gráficos estão errados. – Edward estendeu os papéis para Elizabeth, que
estava sentada a sua frente.

― Não podem estar errados. – Pegou os papéis e analisou. Deu um suspiro alto ao perceber
que realmente estavam errados.

― A situação não é nada boa, não é? – Edward perguntou, a mulher o fitou e assentiu.

― Vai dar tudo certo. – Edward a tranquilizou. ― Não é semana que vem aquela reunião em
Washington?

― É sim. Você já fez as reservas do hotel?


Não, não tinha feito.

― Er... sim. – mentiu, entretanto, sua chefe não era burra.

― Acho bom fazer isso logo, não quero correr o risco de ficar sem hotel por causa do meu
assistente incompetente!

Edward deu um meio sorriso, enquanto Elizabeth voltou aos seus afazeres. O telefone tocou e
ele atendeu.

― Escritório da senhorita Adams...?

― Sou eu, Jane. Tenho uma ligação para a chefinha. – ela riu. ― Um tal de Clark Richards.
Disse que é médico.

Edward levantou os olhos para Elizabeth que estava atenta revisando os papéis e a sua vontade
era dizer, deliberadamente, que haviam ligado para o número errado e desligar o telefone.
Entretanto, ele era profissional e não queria dar um showzinho de ciúmes, então, respirou
fundo, engoliu seu orgulho e mandou que transferissem a ligação.

Elizabeth o fitou interrogativamente quando ele estendeu o telefone.

― Clark Richards. – informou, com desdém.

Tentando decifrar o rosto de seu assistente, pegou o telefone de sua mão.

― Olá Clark. – encaixou o telefone entre o ombro e seu ouvido, enquanto continuava seu
trabalho com os papéis.

Não era a primeira vez que se falavam, afinal, logo que soube da notícia o jovem médico ligou
desejando suas condolências e oferecendo seu ombro ou o que mais ela precisasse.

― Elizabeth! – ele pronunciou o nome com delicadeza. ― Como está? Espero que melhor
depois de tudo o que aconteceu.

Edward fingia não ouvir a conversa.

― Estou bem, no que posso te ajudar?

Ela ouviu um risinho sem graça do outro lado da linha.

― Depois do que aconteceu não tive coragem de ligar. – respirou pesadamente. ― Teria um
tempo para jantar comigo esta noite?

Elizabeth se surpreendeu pelo convite, não estava animada para sair e muitos menos jantar
com alguém. O problema é que já tinha recusado aquele convite uma vez, não poderia recusá-
lo novamente.

― Tudo bem. – respirou fundo. ― Mas gostaria que fosse algo bem reservado, a mídia ainda
está em cima de mim por causa do acidente.

― Como você quiser. Te pego às 19 horas.

― Ok, Clark. Até mais tarde.

Após se despedir, colocou o telefone no gancho. Edward não queria sentir ciúmes, mas ela
deixava-o louco. Que ideia de merda era aquela? Sair com o doutorzinho?

― Vai sair com o tal médico? – não aguentou e perguntou. Elizabeth apenas balançou a cabeça
afirmativamente.

Nesse momento, sentiu-se o pior dos imbecis por não tê-la chamado para sair. Deus! Agora ela
era uma mulher livre...

― Eu vou à sala de Anthony, já volto.

Levantou-se rapidamente. Precisava falar com seu amigo.

― Não demore, ainda temos que terminar esses relatórios. – Elizabeth retrucou.

Edward assentiu e saiu da sala a passos pesados. Sua raiva era tão evidente, que passou por
Jane e nem deu bola quando ela o chamou. Os boatos que rolavam na empresa, eram de que a
convivência com Elizabeth estavam transformando-o numa “Elizabeth de Calças”.

Entrou sem bater, afinal Anthony era um grande amigo e não ligava para formalidades.
Encontrou-o falando com um dos seguranças que Elizabeth contratara. Após o acidente, eles
ficavam espalhados pelo edifício e os acompanhavam até que estivessem seguros em suas
casas.

O homem, que parecia ter mais de três metros de altura, cumprimentou Edward antes de sair.

― Despejando ordens? – Edward brincou ao puxar uma cadeira e se sentar.

― Sabe como é né. – Anthony deu de ombros. ― Elizabeth tem muitas coisas para cuidar,
então ajudo no que posso.

― Entendo. – sorriu perdido em seus pensamentos. ― Preciso da sua ajuda.

Anthony arqueou a sobrancelha. ― Me deixe adivinhar... vai investir pesado na sua conquista?
Edward bufou. ― Antes eu tivesse feito isso, acredita que ela aceitou sair com o tal médico?

― O Clark? – Anthony perguntou surpreso.

― Quem mais? – retrucou azedo. ― Achei que era pouco tempo para minhas investidas.

Anthony riu abertamente. ― Você acha mesmo que dois meses é pouco tempo para uma das
solteiras mais cobiçadas de Nova York?

E no final das contas, Anthony estava certo, constatou com raiva. Se não tomasse as rédeas da
situação, algum almofadinha iria roubá-la e não estava muito a fim de lutar contra outra
pessoa. Não que estivesse feliz pela morte de Michael, mas no fundo, bem lá no fundo,
agradecia-o imensamente por ter deixado o caminho livre.

― Nós temos que ir a esse jantar! – disparou de repente.

Anthony arregalou os olhos como se Edward tivesse lhe oferecido um doce.

― Aventuras? Esse é meu sobrenome!

Edward abriu um sorriso diabólico. Sabia que podia contar com Anthony para o que der e
viesse.

― Sabe, devo lhe confessar algo. – Anthony relaxou na cadeira e seu olhar se perdeu. ― Eu
adoraria ver a cara do Michael se soubesse que fui eu quem te deu aquele laxante! – riu
abertamente, acompanhado por Edward. ― Quando você se casar com a Lisa, vou contar isso
pra ela.

― Tem coisas que precisam ser enterrados junto com seus mortos, meu caro. – Edward
comentou, após muitas risadas.

― Tem razão. – Anthony concordou. ― Mas então, o que vamos fazer para atrapalhar o tal
jantar com o médico?

Edward o fitou com seu melhor olhar maquiavélico.

― Isso eu vou te dizer mais tarde.

Elizabeth passou os olhos por todo seu gigantesco closet e bufou ao perceber que não estava
nem um pouco a fim de ir naquele jantar. Por que Clark era tão insistente? Repetiu essa
pergunta incontáveis vezes em sua mente, sem encontrar resposta em nenhuma delas.

Esperava realmente que fosse um jantar de negócios, assim como ele tinha proposto há um
tempo no hospital. Não estava pronta para lidar com investidas amorosas naquele momento e
tudo o que queria era um tempo para si.

Lidar com a mídia não era fácil, muito menos segurar o barco numa empresa que estava
beirando a falência. A cada dia, os credores se aproximavam e os clientes se afastavam.
Entretanto, a morte de Michael teve um ponto positivo quando as ações subiram e lhe deram
um tempo para respirar.

Nesses fatídicos meses, se dedicou somente ao trabalho, sem pensar em sua própria vida. Sabia
que Edward estava lhe dando o tempo que precisasse para esquecer Michael e tocar a vida.
Eles nunca mais tocaram no assunto que envolvia ambos, nem seus sentimentos, mesmo
depois de ter se aberto com ele e contado toda a sua história.

Sua vida agora era um livro aberto, e por incrível que parecesse, não tinha vergonha.

Elizabeth se sentou no Puff e fechou os olhos, se recordando de como ele a acolheu em seus
braços enquanto chorava a morte de outro homem. Riu e balançou a cabeça negativamente ao
se lembrar de que ele levou-a numa igreja!

Quem em sã consciência levaria a sócia de satanás a uma igreja?

Abriu os olhos, se levantou e pegou um de seus vestidos pretos favoritos. Não significava estar
de luto, mas sim simplicidade e falta de criatividade. Não estava preocupada com o que vestir e
muito menos caprichar em sua produção. Por isso usou maquiagens leves e finalizou com um
scarpin vermelho de salto alto.

Para um jantar de negócios – que era o que ela sinceramente esperava – estava ótimo.

― A senhorita deseja algo antes de sair? – Jofrey perguntou educadamente quando ela desceu
o último degrau da escada.

― Uma dose de veneno cairia bem, mas hoje não, obrigado. – Elizabeth respondeu com
desânimo em sua voz. ― Creio que Gwen não virá jantar.

― A senhorita Gwen mandou avisar que iria jantar com o rapaz da academia.

Elizabeth assentiu e seu olhar desviou para o elevador que se abriu e de lá saiu Clark, vestido
elegantemente com um terno azul marinho. A camisa estava meio aberta, mostrando um pouco
de seu peitoral bem definido. Em suas mãos trazia um ramalhete de rosas vermelhas. Elizabeth
não queria, mas perdeu o ar por alguns instantes, afinal quem não ficaria sufocada com a
beleza de um homem daquele porte?
― Você está estonteante. – disse ele ao se aproximar. ― Mais bela do que nunca!

Elizabeth sorriu e pegou as rosas que ele lhe entregou.

― Obrigado. Você também, não está nada mal.

Clark sorriu novamente. ― Preparada para esta noite?

― Acho que o Sr. Smith não vai gostar nem um pouco disso. – Jofrey comentou semicerrando
os olhos quando Elizabeth lhe entregou as flores.

― O que você falou? – perguntou ela, alarmada.

― Perdão, vou colocar as rosas num vaso. – o mordomo virou as costas e deixou-os. Elizabeth
não sabia onde enfiar a cara.

― Quem é Smith? – Clark perguntou, arqueando a sobrancelha.

Elizabeth se virou para ele e bufou. ― Não é ninguém.

Do lado de fora do edifício, Anthony e Edward se mantinham escondidos atrás de um carro


que pegaram “emprestado” de outro funcionário da empresa. Edward se perguntava por que
diabos seu amigo havia levado um binóculo e onde ele tinha encontrado aquela bugiganga.

― Tem certeza que é necessário esse binóculo? – murmurou. ― As pessoas estão olhando
para nós como se fossemos loucos.

― Xio! – Anthony o repreendeu. ― Como você quer que eu enxergue o outro lado da rua sem
o binóculo?

― Sua visão é péssima então! – Edward caçoou. Anthony lhe deu um cutucão e voltou a olhar
pelas lentes do objeto.

― Ele é esperto. – Anthony observou. ― Vi que ele trouxe para ela um ramalhete de rosas
vermelhas. Das que ela gosta.

Edward revirou os olhos.

― Muito clichê. – resmungou. ― Mas e aí? O que está acontecendo?


― Eles estão saindo do edifício! Vamos, entra logo no carro.

Edward e Anthony pularam para dentro do carro, prontos para seguir os dois. Eles observaram
quando Elizabeth sorriu quando o médico abriu a porta do carro para ela.

― Xi Edzão! Acho que está perdendo a garota, hein! – Brincou. ― Acalme-se, hoje estou bem
a fim de estragar um encontro!

Edward bufou quando se acomodou no banco do carona. Não estava gostando nem um pouco
de ver a sua chefe no carro de outro e muito menos sorrindo para ele. Fechou as mãos em
punho com vontade de socar o primeiro que aparecesse em sua frente.

Anthony ligou o carro e os seguiu pela movimentada Nova York. Os carros entravam em sua
frente e Edward resmungava para que corresse mais ainda ou os perderiam de vista.

― Mas que diabos! Por que você não anotou o endereço do restaurante? Não foi Jane quem
fez as reservas? – Anthony berrou.

― Foi o doutorzinho de meia tigela. – Edward bufou novamente. ― Mas olha, acho que
estamos chegando.

Anthony observou enquanto o veículo do médico entrava num estacionamento. Ele conhecia
aquele restaurante, seria fácil.

― Não fizemos nenhuma reserva, será que vamos conseguir entrar?

― Deixa comigo, irmão. – Anthony girou o volante e entraram no mesmo estacionamento.

Eles pararam algumas vagas antes, para que o casal passasse e não os visse. Edward observou,
com muita raiva quando o médico colocou a mão na cintura de Elizabeth. Aquilo fez seu
sangue ferver e a vontade era ir lá e...

― Acorda Edzão! – Anthony estalou os dedos. ― Nós vamos esperar um pouco e logo
entramos, nós vamos para o bar e... o que você quer fazer depois?

Edward revirou os olhos.

― Eu é que sei? – disse frustrado. ― Deveríamos pelo menos ter trazido algumas garotas.

― Isso é o de menos. – Anthony sorriu. ― Consigo uma em menos de um segundo.

E sim, Anthony Carter era o rei da conquista e sabia muito bem o que falar para uma mulher
quando queria se juntar a ela. O plano que bolaram era entrar no restaurante, ir até o bar e
xavecar a primeira garota que vissem na frente e assim deixar Elizabeth incomodada.
― Você acha que vai dar certo?

Anthony deu um sorrisinho maquiavélico e o cutucou no ombro.

― Você está falando com Anthony Carter! Confia em mim que hoje você arrebata o coração
dessa mulher.
Clark Richards além de ser um bom médico, sabia entreter uma pessoa, constatou Elizabeth
após alguns minutos de conversa. Eles chegaram ao restaurante e já havia uma mesa separada
para ambos. Aquele lugar, sem dúvidas, era um dos preferidos de Elizabeth, pois além de ter
uma boa comida, era um ambiente aconchegante e excepcional.

― Eu já lhe disse isso, mas vou dizer novamente, sinto muito pelo que aconteceu com
Michael. – Clark lamentou.

Elizabeth ergueu o olhar do cardápio e deu um meio sorriso.

― Obrigado, infelizmente a vida é assim.

Clark assentiu e chamou o garçom, que prontamente os atendeu. Ele fez o seu pedido, seguido
por Elizabeth. Enquanto esperavam, resolveu ser direta e saber os reais motivos daquele jantar.

― Mas então... – fitou o homem, enquanto descansava as mãos em seu colo. ― Qual o motivo
desse jantar?

Clark abriu um sorriso calmo e passou as mãos pelos seus cabelos negros.

― Primeiro porque eu queria jantar com a minha amiga. – disse tranquilamente. ― Segundo
porque acho que você merecia um descanso. Soube que anda trabalhando muito.

― Ah é? – arqueou a sobrancelha. ― Quem lhe disse isso?

O garçom se aproximou e encheu suas taças com vinho branco. Clark pegou a taça, tomou um
gole e sorriu novamente.

― Tenho meus contatos.


― Gwen, de certo. – Elizabeth resmungou. ― Mas que seja, obrigado pelo convite.

Elizabeth não sabia por que, mas sentiu que alguém estava observando-a. Podia ser coisa de
sua imaginação, mas sentiu-se incomodada e sabia que algo estava fora do lugar. Correu os
olhos pelos arredores do restaurante, até que seus olhos pousaram em uma pessoa sentada no
bar.

― Maldição! – praguejou baixinho. Clark a fitou curioso.

― O que disse?

Elizabeth arregalou os olhos e numa tentativa de disfarçar, mexeu em seu sapato.

― É que meu sapato está um pouco apertado.

Do outro lado, Edward e Anthony estavam sentados, tomando um gole de Whisky. Lembraria
depois de agradecer ao tal médico de ter escolhido um restaurante assim, do contrário não
teriam como se infiltrar sem ter feito reservas.

― Ela já me viu. – sussurrou para Anthony.

― Ihh caramba, vamos ter que dar continuidade ao plano. – Anthony olhou para trás
rapidinho. ― Se ela me ver aqui, vai acabar com a minha vida.

― Não vai não. – Edward o confortou. ― Só preciso de uma garota e...

Como se fosse mágica, uma mulher estava sentada na outra beirada do balcão enquanto mexia
em seu celular, para sua sorte estava sozinha.

― Vai lá Edzão. Eu fico aqui monitorando tudo.

Edward respirou fundo e se levantou, tinha que levar seu plano até o fim. Aproximou-se da
garota e quando ela ergueu a cabeça, reconheceu-a de imediato.

― Valerie! – exclamou, tentando parecer entusiasmado. A garota sorriu imediatamente e se


levantou para abraçá-lo.

― Meu Deus, Edward Smith! Você por aqui? – disse ela, sorridente. ― Vem, senta aqui do
meu lado.

Edward arrastou o olhar até Anthony que balançava a cabeça como se dissesse “Ahhhh seu
safadão!”.

― Poxa que coincidência... o que o traz aqui? – Valerie puxou sua mão.
― Eu estava com meu amigo Anthony e de repente vi você aí sozinha... – era um mentiroso
desgraçado e sabia que ia para o inferno. ― Achei que apreciaria uma companhia.

Valerie sorriu novamente. ― Acertou em cheio! Combinei com algumas amigas um drink,
mas infelizmente elas furaram. Ainda bem que você está aqui.

Edward deu um meio sorriso e desviou o olhar para onde Elizabeth estava. Ela conversava
animadamente com o tal médico enquanto o jantar era servido.

Elizabeth não podia crer que Edward estava ali em um encontro! Tentou de todas as maneiras
desviar o olhar e focar naquele médico bonitão a sua frente, mas quem disse que conseguia?
Sua cabeça começara a doer e seu humor – que já não era dos melhores – estava pior.

Clark falava, falava, falava e ela na verdade, só balançava a cabeça afirmativamente, como se
prestasse a atenção nas coisas que ele dizia. Observava cada passo de seu assistente, inclusive
quando ele pegou a mulher pela mão e a levou para uma mesa, bem perto de onde estavam.

Seu estômago se revirou ao constatar quem era a mulher. Valerie Patterson ou Valerie Vadia,
como preferirem.

― Você está bem? – Clark a fitou preocupado. ― Está pálida.

Elizabeth se remexeu na cadeira e respirou fundo.

― Não. – respondeu. ― Quer dizer, estou bem... é apenas cansaço.

Clark sorriu e colocou sua mão sobre a dela, que descansava em cima da mesa.

― Me fale quais são seus planos para o futuro. – pediu docemente. Que conversa era aquela?

― Na verdade não tenho nenhum plano. – deu um meio sorriso, ― E seu relacionamento?
Soube que você estava em um...

― Eu estava. – ele confirmou. ― Mas decidimos terminar, éramos muito diferentes.

Diferentes! Essa era a palavra chave, pensou Elizabeth com resignação. Era isso o que Edward
tinha que entender! Eles eram totalmente opostos e não daria certo. Por mais que tentasse, não
conseguia controlar seu humor e nem a sua vida por causa daquele sujeito. Tudo estava fora de
controle.
Valerie falava sem parar. Edward jurou pelos céus que o dia que conseguisse conquistar
Elizabeth, daria uma volta inteira no Central Park, correndo. Como sofria por aquela bendita
mulher!

Observou a contra gosto quando o médico segurou a mão de Elizabeth. Sua vontade era ir lá e
socar a cara dele, entretanto, não era isso o que precisava ser feito. Se a sua chefe não o queria,
tinha quem queria e era nisso que apostaria.

― Valerie. – disse docemente enquanto segurava as mãos da jovem. ― Você é uma mulher
linda, como pode estar sozinha?

Ela o fitou e suas bochechas coraram. Ah, isso era tão clichê.

― Assim fico envergonhada, Ed. – Se não fosse o bastante, até por apelidos já estava
chamando-o. ― E você, um homem tão bonito e tão... sozinho?

Edward suspirou e acariciou o rosto de Valerie. ― Talvez nenhuma mulher me queira.

― Isso é impossível! – disse ela, alarmada. ― Você é tão bonito e gentil. O sonho de consumo
das mulheres.

― Bonitos são os seus olhos. – proferiu aquelas palavras, sentindo-se um completo imbecil.

― Eu acho que você me deve algo, já que na noite do jantar me deixou para ir atrás da
Elizabeth. – Valerie sorriu diabolicamente.

Edward engoliu em seco e se lembrou do exato momento em que ela quis arrancar sua camisa,
e Deus sabia que não estava nem um pouco afim daquela garota. Ela ficara furiosa quando
interrompeu o beijo roubado e saiu correndo, alegando que precisava encontrar sua chefe,
antes que ela o demitisse.

― Meu pai teria o contratado em nossas empresas. – Valerie disse, trazendo-o de volta de seus
devaneios.

― A chefe me perdoou... – Edward deu um meio sorriso. ― Me perdoe por aquele dia. Eu
realmente acho que lhe devo algo.

Valerie acariciou o rosto de Edward e se aproximou mais ainda. Seus rostos estavam a poucos
centímetros e agora não dava mais para se esquivar.
Clark continuou seu discurso entediante quando Elizabeth viu algo que lhe roubou o ar dos
pulmões. Decidiu que precisava interferir naquela situação e acabar com aquela palhaçada.
Edward estava a poucos centímetros de beijar Valerie, quando se levantou furiosa e jogou o
guardanapo finíssimo na mesa.

― Essa palhaçada acaba agora! – sentenciou e rumou até a mesa de Edward com passos firmes
e decididos. ― Eu posso saber o que está acontecendo aqui?!

Edward estava quase com a boca na botija quando ergueu o olhar e a viu ali, com os braços
cruzados e um olhar cortante.

― Elizabeth! – Valerie exclamou surpresa.

Claro que não se deu ao trabalho de dirigir o olhar à mulher em questão. Mantinha o olhar fixo
em seu assistente. Clark se aproximou da mesa, querendo saber o que estava acontecendo, já
que nessas alturas os outros clientes do restaurante tinham parado suas conversas para focar na
pequena confusão.

― O que aconteceu? – Clark perguntou, porém quando viu Edward ali sentado, respirou fundo
e passou as mãos pelos cabelos. Era muito inteligente para discernir aquela situação.

Elizabeth respirou fundo. ― Por favor, Clark, me espere na mesa, eu só preciso dar uma
palavrinha com meu assistente.

Clark assentiu e se retirou, porém Valerie continuou ali sem entender nada. Edward estreitou
os olhos para Elizabeth.

― Chefinha. – disse por fim, com ares de deboche. ― Conversar sobre o quê? Não estou no
meu horário de trabalho.

Elizabeth quis esmurrá-lo ali mesmo, na frente de todas aquelas testemunhas. Contou
mentalmente até dez e abriu um pequeno sorriso forçado.

― Você poderia me acompanhar até lá fora?

Edward por dentro comemorou uma pequena vitória. Deus, como ele adorava provocá-la!
Valerie o fitou curiosa, enquanto ele pegou uma de suas mãos e depositou um beijo
provocador.

― Eu já volto mi amor.
Que raios era isso de “mi amor?”.

O plano de esmurrá-lo ainda estava ativo na cabeça de Elizabeth.

Edward se levantou, passando pelo olhar cortante de sua chefe. Todos os clientes que antes
observavam o pequeno circo voltaram aos seus afazeres, após o olhar intimidante de Elizabeth.
Antes de sair pela porta, parou e estendeu o braço, para que ela passasse.

Eles saíram para um pequeno jardim na parte externa do restaurante. O local tinha alguns
bancos de madeira, colocados justamente para os casais que desejavam um pouco de
privacidade. Elizabeth já não sabia se o calor que sentia era de raiva ou se o tempo realmente
estava quente.

Caminharam alguns passos até que parou e furiosa se virou para ele. Ele estava tão bonito em
um terno bem ajustado em seu corpo. Os cabelos estavam um pouco desgrenhados e lhe deram
um ar tão jovial. Suspirou. Isso não tiraria o foco de sua raiva.

― Mas que diabos foi aquilo? – vociferou.

Edward colocou as mãos nos bolsos da calça e abriu um pequeno sorriso.

― Do que está falando exatamente?

Elizabeth tentou se controlar, mas sabia que mais uma palavra daquele imbecil resultaria num
assassinato. Que Deus a ajudasse, não pretendia passar o resto de sua vida na cadeia.

― Você é um imbecil! – disse por fim. ― Acha que eu não sei que veio aqui justamente para
estragar o meu jantar com Clark?

Edward suspirou e balançou a cabeça negativamente. ― Você se acha o centro do mundo, não
é?

Aquele insulto não ficaria assim. Elizabeth se aproximou e antes que pudesse grudar em seu
pescoço, Edward a segurou pelos braços.

Elizabeth arregalou os olhos.

― Sabe qual é o problema? – perguntou rispidamente, mandando ao inferno a sua calma. ―


Eu te dei tempo suficiente para se recuperar da morte do cretino do seu noivo e o que você faz?
Sai com o primeiro idiota que aparece no seu caminho!

Por essa confissão não esperava e a sua vontade foi rir.

― Você é mais idiota do que eu pensei. – disse com desdém.


Edward a soltou e então bufou. Ela tinha razão, ele era mesmo um idiota por ir atrás dela, por
rastejar pelo seu amor.

― Tudo bem, eu sou um idiota. – reconheceu. ― Fique aí com o seu doutorzinho que eu vou
voltar para o meu encontro. Valerie me quer e cansei de rastejar atrás de você. Você merece
ficar sozinha.

Aquelas palavras cortaram Elizabeth de uma ponta à outra. Edward virou as costas, disposto a
voltar pelo mesmo caminho.

― Desgraçado... – murmurou. ― Você não pode me deixar aqui falando sozinha! – berrou
enquanto ele se afastava.

Edward continuou se afastando enquanto abria um pequeno sorriso.

― Até logo, chefinha.

Elizabeth sentiu o medo e raiva se apossarem de seu corpo. E foram essas sensações que
fizeram correr sob seus saltos e agarrar o braço de Edward antes que ele chegasse à porta do
restaurante.

― Você não vai voltar lá. – determinou quando ele fitou o local que ela segurava.

― Eu vou sim. – insistiu, tentando tirar a mão do entorno de seu braço. ― Não estamos na
empresa para você mandar em mim.

Ela sabia disso, porém, não conseguia fazer de outro jeito. Era mandona mesmo e não queria
vê-lo com outra. O que faria agora?

― Edward, eu estou te pedindo! – disse com dificuldade.

Edward a fitou nos olhos, claramente esperando por uma resposta.

Elizabeth se perguntou por que não o deixava voltar para Valerie e fazer de conta que aquilo
tudo não passava de um erro. Vê-lo ali, quase aos beijos com aquela garota a deixou irritada e
furiosa. Odiava sentir-se assim... quis odiar Edward Smith, mas não conseguia!

― Por que eu deveria ficar aqui com você? – perguntou finalmente.

Elizabeth respirou fundo e não sabia como responder. Seu coração doeu ao imaginar que se ele
passasse daquela porta, desistiria dela. Ela o fitou, com os lábios tremendo. Nunca sentira
sensações como aquela.

Sua garganta se fechou e se lembrou dos beijos que trocaram. Tão doces e sinceros. Dos
olhares que ele lhe lançou desde o primeiro dia que se viram.
Deus era testemunha do quanto desejava seguir em frente. Sempre pensou que seria melhor
Edward desistir daquela ideia estapafúrdia de conquistá-la. O problema é que agora, vendo-o
com outra, soube que doeria muito mais.

Edward estreitou os olhos e teve a certeza de que ela nunca mudaria. Seria sempre a Elizabeth
Adams, que mantinha as aparências acima de tudo. Seria um escândalo que todos soubessem
que dois meses após a morte de seu noivo, já estava de rolo com outro, que era, ainda por
cima, seu assistente. Um simples empregado de suas empresas.

Respirou fundo, colocou as mãos nos bolsos e olhou para o chão. O silêncio entre ambos era
horrível. Sufocante. Talvez existisse outra pessoa que realmente merecesse todo aquele
sentimento que mantinha por aquela mulher. Foi então que movido pelo silêncio, virou as
costas para seguir seu caminho novamente.

― Porque eu não consigo deixar você ir! – Elizabeth respondeu melancolicamente,


desarmando-se. ― Eu simplesmente não consigo ver você nos braços de outra!

As lágrimas caíram de seus olhos e começou a entender todo aquele turbilhão de sentimentos.
Edward estava de costas, mas absorveu cada palavra que ela pronunciou. Respirou fundo e se
virou para ela mais uma vez, esperando que ela o convencesse a ficar.

― Não desista ainda, por favor. - implorou ao se aproximar dele e se jogar em seus braços.

E foi assim, recebendo os braços dela ao redor de seu pescoço, que se desarmou e viveu aquele
momento. Seus lábios se encontraram naquele frenesi e imediatamente tiveram a certeza de
que algo muito maior os envolvia. Elizabeth o beijou como se precisasse dele para sobreviver e
ele retribuiu o beijo com o qual sonhara tantas noites. Cheio de paixão, calor, sentimentos.

Ele a abraçou e viveu cada segundo, até que ouviram uma tosse logo atrás de onde estavam.
Eles se separaram no mesmo instante e viram, com desgosto, que o médico estava ali,
flagrando-os com a boca na botija.

Elizabeth se aproximou dele.

― Clark... me desculpe, eu... – tentou achar as palavras certas.

O homem cruzou os braços, seu olhar era cortante.

― Não precisa se desculpar. – disse seriamente. ― Eu não sabia que vocês dois...

― Não, não estamos... ainda. – Edward se pronunciou.

Clark respirou fundo, abriu um meio sorriso e se aproximou de ambos. Edward estufou o peito
como um bom galo de briga, caso ele quisesse partir para a briga.
― Eu vejo o quanto gosta dela. – fitou Edward e depois desviou o olhar para Elizabeth. ― E
também vejo que sente o mesmo por ele.

Eles não responderam, afinal ainda estavam descobrindo o que era aquilo.

― Por favor, cuide dela. É uma amiga especial. – Clark suspirou e deu um abraço em
Elizabeth. ― Me desculpe por ter sido tão invasivo.

― Não peça desculpas. – Elizabeth sussurrou. ― Deixe que eu pago a conta.

Clark negou com a cabeça e após se despedir, tomou seu rumo, deixando-os a sós. Eles se
olharam. Havia tantas coisas que precisavam conversar.

― Acho que só falta você se livrar da Valerie. – Elizabeth comentou com um meio sorriso.

Edward a puxou pela cintura e também sorriu.

― Dane-se Valerie! - Dizendo isso, desceu seus lábios de encontro aos dela, em mais um beijo
arrebatador.
― Não acredito que você foi cúmplice esse tempo todo! – Elizabeth resmungou, quando viu
Anthony encostado em seu carro com os braços cruzados.

― Não me mate, por favor! – ergueu as mãos para o alto em sinal de rendição. ― Eu apenas
quis ajudar dois amigos de uma só vez.

Eles se aproximaram e Anthony os fitou com ansiedade.

― Bom, pelo showzinho que teve lá dentro, creio eu que vocês...? – ergueu a sobrancelha
esperando uma resposta positiva.

Elizabeth e Edward se olharam e ele deu de ombros.

― Nós conversamos. – Elizabeth respondeu. ― Poderíamos ir logo para casa? Estou exausta.

Anthony bufou e fitou Edward que já estava ao lado da porta do carona. Eles combinaram que
por enquanto não fariam alarde de nada. Viveriam um dia de cada vez e deixariam rolar para
ver o que acontecia.

― Ah não, depois você vai me contar essa história direito. – Anthony apontou o dedo para
Edward quando Elizabeth já havia entrado no carro.

― Depois eu te conto. – sussurrou e deu um meio sorriso. Anthony lhe deu um soquinho no
braço e entraram no carro.

Ninguém falou uma palavra sequer durante todo o trajeto. De fundo, uma música preencheu o
ambiente enquanto cada um mergulhou em seus próprios pensamentos. Elizabeth via a
paisagem desenrolando pela janela, mas tudo o que conseguia era imaginar como seriam as
coisas dali pra frente. Ainda restava dúvidas sobre seus sentimentos em relação a Edward, por
outro lado, sabia que era muito forte.

Foi mais forte que seu próprio ego. Foi algo que a quebrantou no momento que o viu com
Valerie. Foi à sensação de perder a única pessoa que conseguiu se abrir. Um amigo, um
homem, um... sabe lá Deus o que mais. A única coisa que sabia era que não suportaria vê-lo
com outra.

Edward estava feliz e também projetava em sua mente como seriam as coisas. Deveria ser
sincero e lhe contar sobre quem realmente era. Fechou os olhos por alguns instantes e se
lembrou do beijo que ela lhe deu. Sofrido, angustiante. É claro que não desistiria dela tão
facilmente, mas estava satisfeito por finalmente ter a confirmação de que ela também sentia
algo por ele.

― É isso aí amiguinhos, chegamos. – Anthony sentenciou ao estacionar o carro. ― Quem vai


descer aqui? Só a Lisa?

― Eu vou ficar também. – Edward retirou o cinto e desceu do carro, abrindo a porta de
Elizabeth.

Ele a ajudou a descer e ela sorriu docemente.

― Obrigado.

Anthony observou a cena e bateu palmas. ― Deus, eu sou um santo casamenteiro!

― Cale a boca, Carter. – Elizabeth ralhou.

Edward riu da situação e o cumprimentou com um aperto de mãos. ― Até amanhã, amigão.

― Até. – e com um aceno, arrancou com o carro e partiu.

Elizabeth sentiu um vento frio percorrer sua espinha enquanto observava seu amigo indo
embora. Edward percebeu e retirou seu paletó, colocando-o sobre os ombros da mulher.

Ela o fitou e deu um meio sorriso. Aquilo era muito estranho, dois adultos que planejavam
entrar em um relacionamento. A pior relação entre chefe e funcionário que ela poderia
imaginar.

― Quer que eu a acompanhe até lá em cima? – Edward quebrou o silêncio. Estava com as
mãos nos bolsos.

― Não é necessário... – disse lentamente.

Edward não era trouxa e sabia que ela estava tímida com toda aquela situação. Algo que era de
certa forma, engraçada. Sempre a viu como uma mulher forte, destemida, rainha dos exércitos
e agora estava ali, se parecendo com uma menina de quinze anos.

― Não tenha medo. – sussurrou ao levar as mãos até o rosto de Elizabeth. ― Vamos fazer isso
dar certo.

Elizabeth inspirou o perfume amadeirado e fechou os olhos ao sentir o toque das mãos de
Edward em seu rosto. Viu como era boa a sensação de alguém ao seu lado.

― Eu não sou uma boa pessoa, Edward. – disse calmamente ao abrir os olhos e constatar que
ele a fitava intensamente.

― Você é. Dê-me a chance de estar ao seu lado e fazê-la feliz.

Felicidade. Essa era a palavra que há muito tempo não ouvia ou nem sabia o seu significado.
Desde a morte de seu pai, sua vida se tornou somente escuridão. Talvez agora a vida estivesse
lhe dando uma nova oportunidade de ser feliz.

― Você vai ser ridicularizado. – ela o advertiu. Edward balançou a cabeça e riu.

― Eu já sou. Acha que eu não escuto os buchichos nos cantos da empresa? – revirou os olhos.
― Edward é baba-ovo da chefinha. Edward é puxa saco. - Imitou a voz dos outros colegas.
Elizabeth riu.

― Aquelas pessoas definitivamente não gostam de mim. – observou ela, com pesar. Edward a
puxou para um abraço. Seu corpo se endureceu, afinal não estava acostumada com aquela
ideia, porém, logo relaxou e se deixou ser envolvida por aqueles braços fortes.

― Vamos começar isso do jeito certo. – disse com um sorriso maroto nos lábios. ― Você
aceita sair comigo?

Elizabeth ergueu os olhos, surpresa.

― Um encontro?

Ele assentiu. ― Eu não gostei nem um pouco da senhorita sair com aquele doutorzinho de
meia tigela.

Ela riu ao ver o ciúme estampado em seu rosto. Afastou-se alguns centímetros para observá-
lo.

― Tudo bem, eu aceito. Aonde iremos?

― Hey! Eu que escolho. – Edward protestou. ― Vou preparar algo bem legal.

Elizabeth arqueou a sobrancelha e riu. ― Mal posso esperar para ver onde Edward Smith vai
me levar.

― Quero surpreendê-la de todas as maneiras possíveis.

Dizendo isso a puxou novamente para seus braços e depositou um beijo demorado em seus
lábios. Elizabeth se entregou ao momento e aprofundou-o, sabendo que aquilo era a coisa
certa. Em plena 5ª avenida, com o barulho dos carros e das pessoas ao redor, vivenciaram o
momento como se existissem somente os dois no universo.

― Boa noite, linda. – ele se despediu com mais um beijo leve. Elizabeth sorriu ao ouvir o
apelido carinhoso.

Ele a observou entrar no prédio com um sorriso e olhar diferentes. Respirou fundo e colocou
seu paletó de volta, que ela tinha devolvido antes de entrar no edifício. Seu coração estava
exultante e não tinha palavras para descrever o quão feliz estava.

Seu celular vibrou e viu que era uma mensagem de Anthony.

“Quero você aqui ainda hoje pra me contar tudo, seu cachorrão!”

Edward riu e agradeceu aos céus por colocar um amigo tão bom em seu caminho.

Elizabeth entrou em seu apartamento pisando em nuvens. Não sabia que era possível se sentir
com quinze anos novamente. Lançou sorrisos a cada minuto e se surpreendeu quando viu sua
irmã sentada na sala de estar.

― Isso são horas, irmãzinha? – perguntou ao apontar o relógio em seu pulso.

Elizabeth se jogou na outra poltrona e fitou sua irmã. ― É uma longa história, Gwen.

― Eu imagino. – disse sugestivamente. ― Quer beber um chá?

Sua irmã era viciada em chá. Quando criança odiava, mas foi passar uma temporada no Japão
para que seu gosto mudasse.

― Não, obrigada. – levantou-se da poltrona. ― Tudo o que eu preciso é de um banho e cama.

Elizabeth se aproximou e depositou um beijo em sua testa. ― Boa noite maninha.

Gwen abriu um sorriso e quando Elizabeth se aproximou da soleira da porta, não se conteve.
― Pelo jeito Edward fez um ótimo trabalho.

Elizabeth balançou a cabeça, riu e continuou seu caminho até o seu quarto. Ao passar pela
porta, se jogou na cama e fechou os olhos. Sim, ele realmente havia feito um bom trabalho.

O despertador tocou e Elizabeth se revirou na cama, resmungando ao mesmo tempo. Abriu os


olhos lentamente e olhou na tela do celular: 07h15. Havia uma mensagem de Edward.

“Nas horas de luto e sofrimento eu vou abraçar e embalar você, e farei da sua tristeza a
minha tristeza. Quando você chorar, eu vou chorar, e quando você sofrer, eu vou sofrer. E
juntos tentaremos estancar a maré de lágrimas e desespero e juntos, vamos superar os
obstáculos das esburacadas ruas da vida.” Nicholas Sparks. Espero que tenha dormido bem,
porque eu apaguei. Mal conto as horas para te ver. A chefe mais bonita de todo o universo.”

Elizabeth sorriu bobamente. Como ele sabia que ela gostava dos livros de Nicholas Sparks?
Pegou o celular e digitou uma resposta:

“Acho bom não se atrasar, meu assistente favorito.”

Sorriu mais uma vez e colocou o celular no criado mudo. Levantou-se e foi direto ao banheiro
tomar uma ducha. Logo após, foi ao closet e escolheu uma saia lápis e uma camisa branca de
seda. Secou seus cabelos e finalizou com a maquiagem marcante, que particularmente adorava.

Edward saiu de seu pequeno apartamento no Brooklyn com um sorriso nos lábios.
Cumprimentou todos que viu em sua frente e caminhou em direção ao metrô. Minutos depois,
saiu do metrô em direção ao cruzamento mais movimentado do mundo, a famosa Times
Square. Linda, reluzente, imponente e cheia de turistas.

Como todos os dias, foi até a sua cafeteria preferida. Chegando lá, a garçonete já o esperava.

― Mas que sorriso é esse hein? – a moça perguntou ao preparar seus cafés.

― Hoje posso finalmente dizer que estou feliz por algo. – Edward murmurou.
― A megera te deu um aumento? – a mulher riu enquanto colocava os dois copos em cima do
balcão.

Edward estreitou os olhos e suspirou. ― Ela não é uma megera. É a mulher mais linda que eu
já conheci.

A garçonete o fitou com a sobrancelha arqueada e riu. Ela era jovem, com seus vinte e quatro
anos, trabalhava ali fazia um ano e todos os dias reclamava dizendo que uma jovem gordinha e
negra só conseguia os piores empregos.

― Conquistou o coração da chefinha, é isso? – perguntou por fim.

Edward pegou os copos e sorriu. ― E quem é que resiste aos charmes de Edward Smith?

Rindo, deixou o dinheiro no balcão e se despediu da moça. Saiu de lá rapidamente, não


querendo se atrasar.

Elizabeth saiu do elevador, receosa ao imaginar como seria de agora em diante. Apesar de
tudo, Edward continuava sendo seu assistente e caso descumprisse alguma ordem ou fizesse
algo errado, seria cobrado como qualquer outro funcionário.

Como de costume, viu seus funcionários se afastarem o máximo que podiam. Alguns até
pararam suas conversas para fingir que estavam trabalhando. Sim, a sua fama de megera era
bem grande.

― Bom dia senhorita Adams. – Jane a cumprimentou, como todos os dias o fazia. Elizabeth a
fitou e pela primeira vez abriu um pequeno sorriso.

― Bom dia Jane.

Jane arregalou seus olhos azuis. Estava de queixo caído. Podia-se contar nos dedos quantos
sorrisos sua chefe deu ao longo desses anos que trabalhava para ela.

Elizabeth entrou em sua sala e Edward a esperava, elegante em seu terno cinza, segurando um
copo de café nas mãos.

― Bom dia chefe. – lhe entregou o café. ― Temos uma reunião marcada para as dez horas e
você recebeu uma ligação de Jason.

― Feche a porta. – ela ordenou enquanto deixava sua bolsa e seu casaco nos devidos lugares.
Edward a obedeceu e se aproximou dela.

Elizabeth se encostou a mesa ao observá-lo se aproximando. Edward prendeu a respiração ao


reparar como estava estonteante. Cabelos castanhos caindo por seus ombros. Lábios vermelhos
tão convidativos, sem querer pensar nas curvas de seu corpo, marcados por aquela roupa tão
justa.

― Isso não é jeito de cumprimentar sua chefe. – Elizabeth sorriu maliciosamente ao chamá-lo
com o dedo indicador.

Ele se aproximou mais e ela o puxou pela gravata, trazendo-o bem perto de seu rosto.

― E como eu devo cumprimentá-la? – engoliu em seco ao fitar aqueles maravilhosos olhos


verdes.

― Que decepção... – Elizabeth balançou a cabeça negativamente. ― Achei que você fosse um
bom assistente.

Edward sorriu maliciosamente e a puxou pela cintura.

― Talvez eu devesse aprender como lidar com a minha chefe. – e como se quisesse torturá-la,
levou os lábios até seu pescoço, depositando beijos leves.

Elizabeth fechou os olhos e sentiu como se sua pele queimasse mediante aqueles toques
sensuais.

― Acho que você sabe muito mais do que eu imagino. – sussurrou. Edward sorriu em seu
pescoço e a apertou em seu abraço.

― Pode ter certeza que sim, meu bem.

Elizabeth sorriu quando ele ergueu a cabeça e a fitou intensamente. Ela viu em cada detalhe de
seus olhos o quanto ele a desejava. Respirou fundo e sem delongas colou seus lábios nos dele,
deixando-se levar naquele mar de sensações. Seus lábios se moveram como em uma dança
sensual e seus corpos começaram a protestar, querendo cada vez mais.
― Sinto muito interromper o casalzinho, mas a reunião vai começar em vinte minutos. –
Anthony resmungou ao pegá-los em flagrante.

Elizabeth se separou de Edward imediatamente. Anthony fechou a porta atrás de si e começou


a rir sem parar.

― Mas do que é que está rindo, idiota? – Elizabeth bufou. Seu olhar recaiu sobre Edward
também caiu na gargalhada.

Edward olhou para os dois e cruzou os braços.

― Vocês dois parecem o Coringa! – Anthony disse em meio aos risos. ― Ou melhor, seria o
Coringa e Arlequina?

Rindo, Elizabeth foi até a sua bolsa, tirou de lá um espelho e viu que a situação era mesmo
crítica. Adorava batom vermelho, mas agora teria que rever seus gostos ou não poderia trocar
beijos com o rapaz.

Pegou um lenço umedecido e limpou rapidamente. Jogou para Edward e o mesmo também
limpou os lábios.

― Anthony, você não vale um centavo de dólar. – Edward comentou após limpar os lábios.

― O que eu gostaria de saber é como ousa entrar em minha sala sem avisar? – Elizabeth
resmungou ao procurar o batom em sua bolsa. Era hora de retocar.

Anthony sorriu maliciosamente enquanto se jogava na poltrona em frente à mesa da chefe.

― O problema não sou eu. – levantou as mãos ao alto em sinal de rendição. ― O problema
são vocês que são sem vergonhas. Não era você que não tolerava pegação dentro da empresa?

Elizabeth girou sua cadeira até estar de frente ao seu amigo. Arqueou a sobrancelha e deu um
meio sorriso.

― Eu sou a chefe!

E aquela pequena frase dizia tudo ao mesmo tempo. Edward deu uma leve tossida ao observar
que o amigo revirava os olhos.

― Então já que você é a chefe, deveria saber que temos uma reunião daqui a pouco.

― Eu já a informei sobre isso. – Edward replicou.

Anthony se levantou e olhou para Elizabeth, depois para Edward. ― Os outros já sabem?

Elizabeth respirou fundo.

― Sem alardes, Anthony. Pelo menos por enquanto.

Anthony assentiu e se direcionou até a porta, mas antes de sair olhou para os dois amigos
novamente. ― Se querem um conselho, controlem-se até assumirem algo público.

Dizendo tais palavras, saiu pela porta e os deixou ali pensativos. Elizabeth sabia que era muito
recente para assumir outro compromisso, não por ela, mas pela mídia que cairia em cima. Sem
falar que o acidente aéreo ainda estava sendo investigado, pois até o momento não
encontraram a caixa preta.

Edward resolveu deixá-la alguns instantes para se recompor e prosseguirem para a reunião. Às
dez horas já estavam lá, sentados numa gigante mesa oval, onde a presidente da empresa se
sentava na ponta e ao seu lado direito e esquerdo os mais próximos que a auxiliavam na gestão
das empresas, seguidos por outros acionistas e prováveis investidores que estavam ali
interessados em seus negócios.

Anthony a ajudou em cada pergunta que lhe era feita. Elizabeth estava nervosa, afinal de
contas, Michael sempre tomou a frente de todas as situações. Mesmo assim, acordos foram
fechados e ao final da reunião, quando todos saíram e restaram somente os dois na sala, ele viu
a esperança em seu olhar.

― Se Anthony for conosco, não haverá nenhum problema. – Edward comentou. ― É só um


almoço.

Elizabeth ergueu o olhar e respirou fundo.

― Você está me devendo um encontro.

Edward sorriu e se sentou na poltrona em frente à mesa de Elizabeth.

― Tem razão. – concordou. ― Eu disse que queria fazer isso do jeito certo.

Elizabeth contemplou quando ele se levantou e se aproximou, abaixando-se perto dela.

― Aceita sair comigo esta noite, senhorita Elizabeth Louise Adams? – acariciou sua mão
direita e depositou um beijo suave. Elizabeth não aguentou e sorriu. Suspeitava que ele fosse o
cara mais bobo que conhecia.

― Aonde o senhor vai me levar? – perguntou com curiosidade.

Edward arqueou a sobrancelha. ― Eu não posso falar! É uma surpresa!

― Ok. Veja lá hein. – Elizabeth o advertiu em tom de brincadeira. ― Tudo bem, eu aceito.

O homem abriu aquele sorriso que lhe roubava o ar dos pulmões e depositou mais um beijo
doce e leve nas costas de sua mão.

― Te pego às dezenove horas.

Ela balançou a cabeça afirmativamente e sorriu mais uma vez. Edward se levantou e saiu para
cumprir seus deveres.

Após ele se retirar, Elizabeth suspirou e olhou ao redor de sua sala. Fotos de Michael ainda
estavam espalhadas em sua estante e em cima de sua mesa. Aquilo não fazia mais sentido.

Pegou o telefone e mandou que Jane lhe trouxesse uma caixa de papelão.

― Posso entrar? – a jovem loira colocou a cabeça para dentro do escritório com certo receio.
Não costumava entrar ali, a menos que a chefe a chamasse, coisa que era bem rara. Esse era
um dos motivos no qual Elizabeth só contratava homens. Eles lidavam com ela face a face,
sem derramar uma lágrima.

― Sim, claro. – Elizabeth levantou a cabeça e viu quando a menina entrou, pisando em ovos.
Seria cômico, se não fosse trágico. Ela sabia que era famosa pelo seu mau humor.

― A senhorita mandou trazer uma caixa... – Jane replicou timidamente, com os olhos azuis
arregalados. Elizabeth se levantou da cadeira presidencial e caminhou até ela.
― Sim. – respondeu ao pegar a caixa das mãos da jovem. ― Por favor, espere aqui mesmo.

Jane estranhou toda aquela situação, mas ficou em silêncio enquanto sua chefe recolhia cada
quadro. Elizabeth as observou tempo demais para sua mente viajar até o local onde elas foram
tiradas.

Fechou os olhos por alguns instantes e não sentiu mais aquela culpa aterradora de algum tempo
atrás. Todos eram humanos e cada um tinha a sua parcela de culpa naquela trágica história.

― Me perdoe Michael. – sussurrou ao visualizar a última foto em sua mão. ― Não me


condene por recomeçar.

Jane ainda observava aquela cena sem saber o que fazer. Por um lado, queria sair dali, pois
sentia como se aquele escritório fosse um cemitério. Frio, escuro, sem vida. Por outro lado,
estava curiosa para entender o que estava acontecendo com aquela mulher arrogante à sua
frente.

Não era a mesma Elizabeth que a contratou anos atrás, estava diferente, porém, ainda não sabia
dizer no quê.

― Embale essas fotos e mande queimar, por favor. – Elizabeth se virou para ela e lhe entregou
a caixa.

Jane assentiu e viu a tristeza nos olhos de sua chefe. Elas se olharam por alguns instantes, em
silêncio. A jovem secretária se perguntava como uma mulher tão bonita podia ser tão... triste.

― Pode ir. – Elizabeth se virou e a dispensou ao perceber que ela parecia querer decifrá-la.

Jane arregalou os olhos azuis mais uma vez e se desculpou, antes de sair porta a fora.

― Eu estou muito nervoso! – Edward andava de um lado para o outro, exasperado. ― Até
parece meu primeiro encontro.

Anthony jogou a bolinha de tênis despreocupadamente na parede enquanto ria.

― Não entendo o motivo desse nervosismo. Elizabeth não vai desistir.

Edward bufou e se jogou na cadeira. ― O problema não é ela desistir, mas sim onde irei levá-
la. Eu não tenho ideia do que a agradaria.
― O problema é dinheiro? – Anthony riu mais uma vez. ― Se quiser eu consigo algo pra
você.

― Não, o problema não é dinheiro. – bufou mais uma vez e levou as mãos aos cabelos. ― Eu
já fiz uma reserva no Daniel, mas não sei se ela vai gostar.

Anthony o encarou como se fosse um extraterrestre. ― Está louco? Ela ama aquele lugar.

― Menos mal. – Edward relaxou na poltrona.

― Vou te dar um conselho de quem aguenta aquela mulher há trilhões de anos. – Anthony
pegou a bolinha e se ajeitou em seu lugar. ― Seja gentil e não a deixe lembrar-se do passado
de maneira alguma.

Edward ouviu atentamente os conselhos do amigo e decidiu que daria para Elizabeth a melhor
noite que ela jamais teve.

― Agora que você já conhece seu passado, sabe que ela é uma mulher muito mais que
especial. – Anthony concluiu, com um sorriso bobo nos lábios.

Ele concordou e olhou no relógio, estava na hora de ir para casa se arrumar para aquele tão
desejado encontro.

Elizabeth nunca imaginou que seria tão difícil escolher uma roupa. Era frustrante ter um closet
forrado com as melhores marcas, quando não conseguia escolher algo que lhe caísse bem, para
aquela ocasião.

Realmente não sabia o que vestir. O segredinho de Edward a deixou desconfortável. Com
Michael, sempre soube o que deveria vestir, afinal, ele só frequentava restaurantes refinados.

Já com Edward não sabia, definitivamente. Ele não tinha o melhor salário, apesar de ela lhe
pagar muito bem, mesmo assim, o que ganhava não lhe permitia luxos com o qual ela estava
acostumada.

Social ou Esporte? Eis a questão...

― Você já está há horas dentro desse closet, quer alguma ajuda? – a voz de Gwen ecoou em
suas costas. Elizabeth se virou e deu um meio sorriso.

― Você já saiu com alguém que não compartilhe da mesma classe social que você? –
perguntou em tom de brincadeira. Gwen, que estava com os braços cruzados, também sorriu.

― Já. – descruzou os braços e se aproximou de sua irmã. ― Foi a melhor noite da minha vida.

― Ah é? Nunca me contou sobre isso... – Elizabeth alfinetou. ― Foi em Paris?

Gwen andou pelo closet, varrendo os vestidos de sua irmã com os olhos. ― Sim. Conhecemo-
nos em uma balada e na saída ele me convidou para um encontro.

― E você foi, é claro. – Elizabeth deduziu.

― Lógico. – Gwen sorriu e pegou um vestido do cabide. ― Só depois de me produzir da


cabeça aos pés, vi que ele só tinha uma moto e lá fui eu rodar Paris com um estranho em cima
de uma moto velha.

As duas riram e Elizabeth pegou o vestido que ela lhe estendeu.

― Vejamos só, ele já até conseguiu te fazer rir. – Gwen concluiu, com um sorriso doce nos
lábios. ― Edward é o meu preferido.

Elizabeth desviou o rosto, sentindo certa timidez. Não gostava de parecer assim, tão exposta.

― E quem disse que ele é quem fez isso? – perguntou bruscamente ao se afastar.

Gwen se aproximou da porta e antes de sair a deixou com mais uma coisa para pensar. ―
Desde que ele entrou na sua vida tem feito coisas que você não percebe.

Elizabeth revirou os olhos. Quando sua irmã se afastou, vislumbrou o vestido em sua mão, um
Valentino, azul marinho com caimento até os joelhos.

Não sabia o que esperar daquela noite e nem das outras que viriam. Era uma sensação nova,
que a assustava e ao mesmo tempo a acalmava.

Após se arrumar, aproximou-se do espelho e viu que aquela não era a mesma Elizabeth de
antes. Era outra pessoa, com um semblante dez mil vezes melhor.

Será que as coisas finalmente começariam a fazer sentido em sua vida?

Pressentindo que já estava atrasada, olhou no relógio em seu pulso e constatou que já se
passavam dez minutos do horário combinado. Respirou fundo.

Poucas coisas a faziam se sentir desconfortável, mas naquele momento, o olhar penetrante de
Edward vendo-a descer as escadas era um deles. Claro que não deixou de notar como ele
estava elegante em um terno preto, bem ajustado em seu corpo. Seus cabelos claros levemente
bagunçados e aquele sorriso que fazia suas pernas tremerem. Talvez não conseguisse descer
aquelas malditas escadas.

― Você está atrasada. – disse ele, com aquele ar zombeteiro que ela odiava.

― É mesmo? – Elizabeth devolveu. ― Eu não tinha percebido.

Edward balançou a cabeça e riu. ― Sabia que adoro quando você é ácida?

Elizabeth bufou e cruzou os braços. Edward olhou para os lados e se aproximou dela. ― Você
está linda. – disse roucamente.

― Obrigado. – agradeceu timidamente. Edward a fitou e arqueou a sobrancelha.

― Vamos?

Ela balançou a cabeça afirmativamente e encaixou seu braço no dele. Ele a acompanhou até o
carro estacionado em frente ao edifício. Elizabeth arqueou a sobrancelha ao ver o carro. Quis
perguntar onde ele havia conseguido aquele Audi de última geração.

Porém, antes que ela perguntasse, Edward gentilmente abriu a porta do carona. Elizabeth
entrou e se impressionou com o carro.

― Quem você assaltou para conseguir esse carro? – perguntou em tom de brincadeira quando
o homem entrou no lado do motorista.

― Peguei emprestado com um amigo. – deu de ombros. ― Para estar com você, tem que ser o
melhor.

Elizabeth não respondeu. Edward acelerou e o silêncio mais uma vez reinou entre ambos. Ele
não podia negar o quanto estava nervoso. Dinheiro não era o problema, afinal não sabia o que
esperar daquele encontro. E se ela desistisse? E se ela mais uma vez voltasse atrás?

― Aonde iremos? – Elizabeth quebrou o silêncio perturbador. Edward estava atento ao


trânsito.

― Acalme-se, não estamos longe.

Elizabeth esfregou as mãos e as colocou no colo. Estava calma, ou pelo menos era o que dizia
a si. O silêncio reinou mais uma vez dentro do veículo, mas não por muito tempo, pois logo
cruzavam a 60th avenida.

― Espero que goste. – Edward estacionou o carro. Elizabeth ia abrir a boca para dizer algo,
porém o manobrista os cumprimentou.

― Boa noite senhores, pode deixar que daqui eu cuido do veículo.


Edward assentiu e entregou a chave ao rapaz, em seguida, ajudou Elizabeth descer do carro.

― Você tem idéia de onde estamos? – Elizabeth perguntou seriamente. Edward sabia que ela
poderia repreendê-lo por tal, por isso já tinha se preparado.

― Um dos melhores restaurantes franceses do mundo? – brincou. Elizabeth se resignou ao


silêncio.

Edward parou de andar e a puxou, fazendo com que ela ficasse frente a ele.

― Eu queria agradá-la, não me reprove por isso.

Ela o fitou por alguns instantes e soltou a respiração que segurava em seus pulmões.

― Eu quero que esta noite seja com você, Edward Smith. – disse ela, apontando seu peito. ―
Não tente me impressionar com jantares caros. Sem falar que não posso deixá-lo enterrar o seu
salário do mês aqui só porque acha que é o que eu quero.

Edward ponderou aquelas palavras por alguns instantes. Sabia que para ela, continuaria apenas
um assistente que mal tinha dinheiro para se manter.

É claro que Elizabeth nem imaginava que antes de chegar à Nova York, estava mais do que
acostumado com aqueles lugares. Mas isso era algo que estava no passado, pois agora queria
que o vissem por quem era e não pelo que tinha, aliás, sua família possuía.

Seus olhos se cruzaram e sentiu vontade de dizer: “Na verdade eu sou muito rico e posso te dar
uma ilha se quiser.” Mas não o disse. Talvez em outra oportunidade revelasse um pouco de sua
vida passada.

― Aonde você quer ir? – perguntou por fim.

Elizabeth pensou por alguns instantes e a adrenalina encheu suas veias. Como se fosse uma
menina de dezessete anos desejou que ele a levasse para os lugares mais remotos, que uma
mulher de sua classe jamais pisaria.

― Quero ir ao seu lugar favorito. – replicou abrindo um pequeno sorriso. ― Esqueça que sou
uma mulher da alta sociedade Nova-iorquina. Pelo menos nesta noite.

Edward sorriu maliciosamente. É claro que ele tinha seus lugares preferidos e se era isso o que
ela queria, era o que teria.

Virou-se para chamar o manobrista, porém, Elizabeth puxou seu braço. ― Sem carro.

― O quê? – perguntou atordoado.


― Nova York tem o melhor sistema de metrô do mundo. Você vai me mostrar como é.

Edward arqueou a sobrancelha e levou uma mão até a cintura. Precisava de tempo para
processar aquela informação e principalmente, entender aquela nova mulher a sua frente.

― É... – coçou a cabeça. ― Tudo bem então. Mas antes eu preciso passar em casa.

― Para quê?

― Trocar essa roupa. – ele apontou para si mesmo. ― Aonde iremos, se eu aparecer assim,
nem conseguiremos entrar.

Elizabeth sorriu. ― Vivendo a vida perigosamente?

― Pode ter certeza que sim, baby.


Edward sorriu quando ela lhe estendeu a mão e juntos saíram do estacionamento do
restaurante. Ela queria adrenalina e ele podia ver isso em seu olhar. Elizabeth queria ver como
era o mundo, longe dos holofotes e das responsabilidades da grande maçã.

― Não quer voltar ao seu apartamento e trocar esse sapato? – perguntou ao caminharem pelo
quarteirão em direção a uma estação de metrô.

― Eu estou bem. – Elizabeth deu um meio sorriso. Saltos não a impediam de andar, estava
acostumada a eles.

― Tudo bem, mas eu quero passar na minha casa para trocar essa roupa.

Elizabeth assentiu e logo encontraram a estação. Eles desceram as escadas e Edward procurou
um guichê para comprar os tíquetes. Ela respirou fundo e enfiou as mãos no bolso de seu
casaco que ia até os joelhos. Apesar de estarem nas vésperas do verão, na parte da noite ainda
podia sentir um vento gélido percorrer a espinha.

― Preparada para uma aventura até o Brooklyn? – Edward perguntou ao se aproximar com os
tíquetes em mãos.

― Brooklyn? Sério? – perguntou com desdém. Achou que com o salário que recebia moraria
em algum outro lugar “melhor”.

― Sim. Algum problema?

― Nenhum, é claro. – Elizabeth suspirou. ― Só achei que... você é um cara branco, quase
transparente, morando no Brooklyn.

Edward riu e cruzou os braços. ― Isso é preconceito, além disso, até hoje não arrumei
nenhuma encrenca, suponho que estou no caminho certo.

Elizabeth riu mais uma vez e então se aproximaram da borda quando o metrô se aproximou.
Deus fazia quantos anos que não andava de metrô? Sinceramente não se lembrava.

Apesar de ser o meio de transporte mais eficiente em Nova York, seu pai sempre dispunha de
um motorista e na falta dele, dinheiro para o táxi não era problema.

Eles entraram no vagão e sentaram perto da porta. Elizabeth sentia a adrenalina percorrendo
suas veias.

― Quanto tempo faz que não anda de metrô? – Edward perguntou por curiosidade, duvidava
que fosse seu meio de transporte favorito.

― Acho que uma vez só quando era criança. – Elizabeth suspirou. ― Meu pai não achava
seguro.

― Entendo...

Edward ficou em silêncio por alguns instantes. O vagão estava relativamente vazio. Algumas
três ou quatro pessoas estavam sentadas do lado oposto, então sua conversa não podia ser
ouvida.

― Não seria um escândalo se algum jornalista a visse aqui?

Elizabeth bufou. ― Acho que seria pior se fossemos vistos jantando juntos no Daniel.

― Ah! Então sair com aquele doutorzinho não seria um escândalo? – Edward subiu um tom de
voz. Elizabeth deu um meio sorriso e segurou sua mão.

― Ciúmes novamente, Smith?

Edward não respondeu. Fechou o semblante ao se lembrar de uma vez que sentira ciúmes e
negara covardemente.

― Vamos descer no próximo. – comunicou.

Elizabeth olhou para os lados. Eles se levantaram assim que o vagão parou. A estação era
escura e vazia, e sinceramente, se arrependeu de ter escolhido ir de transporte público.

― Temos que andar umas duas quadras, logo ali na frente é o prédio onde moro.

Eles continuaram caminhando em silêncio. A rua estava escura e nem sinal de uma vida
sequer.
― Esse é o seu trajeto todos os dias?

― Sim. – deu de ombros. ― Quando não fico no apartamento do Anthony.

Elizabeth se surpreendeu com aquela revelação. ― Não imaginei que a amizade de vocês era
tão grande assim.

Edward sorriu. ― Anthony tem sido um bom amigo.

Eles caminharam mais um pouco e logo chegaram ao prédio. Elizabeth não pôde deixar de
reparar no local. Um prédio antigo, que provavelmente morava todo o tipo de pessoa.

― Você está precisando de um aumento, urgente. – brincou.

― Isso seria ótimo, chefinha. – Edward concordou. ― Não repare na bagunça.

E não havia como não reparar quando o homem abriu a porta. Um muquifo, se é que assim
podia se chamar. Edward lhe disse para ficar a vontade enquanto ele se trocava, mas como
ficaria a vontade se nem um sofá não tinha? Aquele lugar não era nem sombra do apartamento
luxuoso que ela morava.

Preferiu ficar em silêncio e dar aquele famoso sorriso amarelo. Não queria decepcioná-lo em
seu “primeiro encontro oficial”. Depois conversariam sobre um lugar melhor para se morar.

Edward não demorou e quando ela o viu, prendeu a respiração mais uma vez. Como se fosse
possível, ele estava ainda mais bonito dentro de uma jaqueta de couro preta, calças escuras e
aqueles cabelos bagunçados, mais se parecendo um astro do Rock.

― Pronta? – ele perguntou após observá-la por alguns instantes. Elizabeth apenas assentiu e o
seguiu porta a fora.

Eles desceram as escadas e Edward os guiou para uma espécie de porão velho.

― O que você vai fazer? – Elizabeth inspecionou o local com a curiosidade aflorada.

― Você quer adrenalina, não é? – ele perguntou, fitando-a intensamente. Ela assentiu.

― Então nós vamos usar uma belezinha. – confirmou com um sorriso malicioso, puxando o
lençol e revelando uma linda Harley-Davidson, com detalhes dourados.

― Oh meu Deus. – Elizabeth murmurou, fascinada. ― Eu nunca andei numa moto!

Edward riu calmamente. ― Sério? Você vai gostar.

― Não sei não... – ela resmungou ao alisar a moto com os dedos. ― Ficarei grata se você
souber dirigir isso.

O homem arqueou a sobrancelha. ― Acha que eu a colocaria em risco?

Elizabeth deu de ombros. ― Quem sabe.

― Então vou te mostrar quem é o Edzão aqui. – determinou ao se aproximar e colocar o


capacete de segurança em sua chefe. ― Vamos, suba.

A mulher o obedeceu e subiu logo depois dele, enlaçando sua cintura e segurando firmemente.
Deus sabia lá os motivos, mas sentia-se segura com aquele sujeito. Edward ligou a moto e uma
porta grande se abriu, revelando que ali era uma garagem subterrânea.

― Segure-se forte. – ordenou em voz alta. Elizabeth apertou os braços mais ainda e ele
acelerou.

Adrenalina nunca fez parte da vida de Elizabeth Adams. Seu pai sempre a protegeu de todas as
maneiras possíveis. Com Michael, não era por proteção, mas sim porque ele não suportava
viver como os “suburbanos”, como ele próprio definia. Ela acreditava que a maior loucura que
já fizera na vida, foi quando adolescente, experimentando um cigarro de maconha que
Anthony lhe oferecera. Coisa na qual se arrependia no fundo da alma.

Edward dirigiu o mais rápido que conseguiu, sentindo-se um Bad Boy com a sua garota na
garupa.

Elizabeth sentiu o vento em suas pernas e odiou o fato de ter escolhido um vestido. A sua sorte
é que seu casaco cobria boa parte, ou então estaria exibindo-as nas ruas. Edward estacionou em
frente a um restaurante e então eles desceram.

― Um restaurante? – perguntou após recuperar o fôlego e ajeitar sua roupa.

― Calma mocinha. – Edward pediu ao ajudá-la a tirar o capacete. ― Me acompanhe.

Elizabeth arqueou a sobrancelha, mas resolveu segui-lo. Seu cabelo estava uma bagunça. Ela
estava uma bagunça.

Edward entrou no restaurante e foi até uma cabine de telefone, daquelas que só havia em
Londres. Elizabeth estava curiosa para saber onde aquilo terminaria. Ele entrou na cabine e
disse algumas palavras que ela não conseguiu ouvir.

― Me siga. – disse ele novamente e a puxou pela mão. Eles entraram uma espécie de corredor
e então ela viu uma porta se abrindo. Era ali.

O lugar era uma espécie de Bar. Continha mesas de sinuca de um lado, do outro um grande
Lounge com mesas e alguns estofados. Homens e mulheres tatuados disputando no jogo de
sinuca. Seus ouvidos conseguiram definir claramente AC/DC tocando como plano de fundo.

― E aí o que acha do meu lugar favorito? – Edward perguntou ao olhar para trás e constatar
que Elizabeth parecia um pouco assustada.

― Isso é... – pausou por alguns instantes. ― Incrível!

Edward sorriu. ― Eles servem sanduíches deliciosos.

― Como eu não sabia desse lugar? – perguntou para si mesma. Elizabeth crescera em Nova
York, conhecia aquele lugar como ninguém, ou pelo menos era o que pensava.

― São poucas pessoas que sabem, no geral, nós ingleses temos certo privilégio, pois tanto este
lugar, quanto aquele restaurante lá fora é dirigido por um Inglês.

Elizabeth arqueou a sobrancelha. ― Entendo... vocês se acham.

Edward riu enquanto a guiava para uma mesa mais reservada. ― É sério que acha isso? Que eu
saiba vocês americanos é que acham que tem o rei na barriga!

― Nem pensar! – Elizabeth protestou. ― Somos as pessoas mais humildes que você vai
conhecer na sua vida.

― Tudo bem, vamos fazer de conta que sim. – Edward ironizou. ― O que vai querer?

Elizabeth passou uma mecha de seu cabelo que estava caindo em seu rosto, atrás de sua orelha
e pegou o cardápio em cima da mesa. As opções eram Hambúrgueres, Batatas Fritas,
Refrigerantes. Opções nada saudáveis.

A garçonete se apresentou e claro, não tirou os olhos de cima do rapaz. Ela lhes mostrou qual
era o prato mais aclamado e assim eles fizeram o seu pedido.

― Ela não tirou os olhos de você, baby. – Elizabeth imitou o tom de voz da garçonete.

― Ah é? Nem percebi. – Edward riu enquanto passava os olhos pelo salão. ― Faz um bom
tempo que não venho aqui.

― Já trouxe Anthony aqui? – Perguntou com curiosidade. Queria saber se outra pessoa, além
dela, já tinha ido ali.

― Não. – respondeu, desviando o olhar. ― Você é a primeira.

Elizabeth se surpreendeu e sentiu algo dentro de seu peito. Não sabia definir o que era, mas
ouvir que ela era a primeira, lhe trouxe um pouco de satisfação.
― Não precisa mentir, sei que já teve muitas namoradas e que provavelmente saía com elas.

Edward sorriu. ― Sim eu já tive. Mas não trouxe nenhuma aqui.

E de repente fechou o semblante. Ouvir claramente que ele já teve outras namoradas a deixou
um pouco mau. Respirou fundo e tentou se lembrar de que não devia ser nada fácil para ele
quando estava noiva de Michael.

A garçonete se aproximou com os pratos escolhidos. Hambúrgueres e Batatas Fritas. Ela


entregou os pratos, sem deixar de dar aquela secada no rapaz, que claramente deu de ombros.

― Deus. – Elizabeth suspirou ao fitar seu prato gigante. ― Faz anos que não como nada
assim.

Edward sorriu enquanto despejava molho em seu lanche.

― Esse é o melhor que você irá comer na vida.

Elizabeth o admirou por alguns instantes. Ele se mantinha calmo e era como se estivesse em
sua própria casa. Ela imaginou que por se tratar de um primeiro encontro, ele poderia estar
nervoso. Ledo engano.

― Acho que seria legal se você contasse um pouco mais sobre você. – Edward comentou após
mastigar a primeira bocada de seu lanche.

Elizabeth negou com a cabeça. ― Você já sabe muito sobre mim e eu nada sobre você.

― Como não? – fingiu surpresa. ― Você é minha chefe, leu meu currículo.

― Grande coisa. – revirou os olhos. ― Quero saber sobre você e não a sua vida profissional.

Edward riu e após terminar de mastigar outro pedaço resolveu soltar alguns poucos detalhes de
sua vida.

― Pode perguntar.

Elizabeth mordeu uma batatinha e arqueou a sobrancelha pensando o que poderia perguntar.

― Por que Nova York?

O homem pensou por alguns instantes. Aquela pergunta era fácil.

― Qual outro lugar me daria oportunidades, como aqui?

― Estamos na América – Elizabeth deu um meio sorriso. ― Poderia ter ido para Boston ou
Los Angeles. Califórnia, hã?
Edward riu e balançou a cabeça. ― Já visitei todos esses lugares e o único lugar que me
agradou foi aqui.

― Entendo... Talvez seja a semelhança com Londres.

Elizabeth deu mais uma mordida em seu lanche e pensou em mais perguntas. Eram tantas, que
sua cabeça doía. Ela precisava conhecê-lo melhor antes de embarcar em qualquer coisa.

― Ainda fala com seus pais?

Edward se enrijeceu a simples menção de seus pais.

― Não. – respondeu secamente. ― Ok, minha mãe ainda entra em contato comigo.

Elizabeth assentiu e decidiu continuar.

― E seu pai? Não fala mais com ele?

― Não. – respirou fundo e desviou o olhar. ― Seu lanche está bom?

Era um aviso de “vamos mudar de assunto” e ela queria saber os motivos. Entretanto, não
queria bancar a chata da noite, então decidiu deixar esse assunto para outro dia.

― Está ótimo. – disfarçou. ― Às vezes me pergunto por que essas comidas tão gostosas fazem
engordar.

Ele concordou. ― É uma injustiça sem limites.

Elizabeth terminou seu lanche sentindo que ia explodir seu estômago. Estava realmente cheia.
Olhou para a mesa de sinuca e alguns homens continuavam mergulhados em seu jogo.

― Sabe jogar? – ele perguntou.

― Um pouco... – admitiu com vergonha. ― Anthony costumava me desafiar quando éramos


adolescentes e rebeldes sem causa.

Edward limpou a boca com o guardanapo. ― Não quero nem imaginar o que Anthony
aprontava.

― Ele sempre foi o maluco da turma. – comentou como se lembrasse de alguma cena
engraçada. ― Certa vez quase fomos expulsos porque encontraram maconha com ele, e
acredite, eu estava junto.

Edward arregalou os olhos sem acreditar naquelas palavras. Não se enganou quando sua mente
gritava dizendo que Elizabeth era uma pessoa muito melhor do que mostrava com sua
aparência de mulher gelo.

― Nem posso acreditar. – riu novamente. ― Quer disputar uma partida? Ou tem medo de
perder?

Elizabeth arqueou a sobrancelha. Ninguém a subestimava. Levantou-se com altivez e o fitou


arrogantemente.

― Ninguém me desafia e sai ganhando, meu caro.

Ele também arqueou a sobrancelha e se levantou, estendendo o braço para frente. ― Primeiro
as damas.

Elizabeth seguiu em direção à mesa de sinuca. Os homens imediatamente abriram caminho


para os dois, afinal perceberam que ali sairia uma bela disputa. “Gatinha”, “Gostosa”, “Ô lá em
casa” eram comentários que ela teve que ouvir e deixar para lá.

Cada um foi para um lado da mesa e pegaram um taco. Após verificarem se estava tudo certo,
as bolas foram arrumadas no centro, por um dos funcionários do lugar.

― Pronta para perder? – Edward arrastou mais que o necessário seu sotaque inglês, somente
para provocá-la. Não perderia para uma americana.

Elizabeth sorriu ironicamente. ― Estamos na América. Vou te ensinar quem é que manda
aqui.

Sussurros e vaias foram ouvidos, então se formaram dois grupos: Os que torciam por Elizabeth
e os que torciam por Edward. Por incrível que parecesse, a maioria dos homens torcia por ela.

O jogo se iniciou. Cada um tentava encaçapar uma bola e por mais que Elizabeth tentasse,
Edward estava se saindo melhor.

― Não desanime minha cara. – disse ele ironicamente enquanto ela se concentrava para
acertar uma bola. ― Sabia que esse jogo tem origem na Grã-Bretanha? É praticamente
impossível você ganhar de mim.

Elizabeth encaçapou uma bola e deu espaço para a vez dele.

― Deveríamos ter apostado algo. Ficaria muito melhor esse jogo. – disse ela.

Edward também encaçapou uma bola e então se olharam, frente a frente.

― Ok, então. Se eu ganhar você me deve uma dança.

Elizabeth olhou para os lados, confusa com aquela condição. ― Não temos uma pista de dança
aqui.

― Não precisamos de uma pista de dança. – Edward arqueou a sobrancelha.

― Vocês estão enrolando demais! Andem logo!

Um dos espectadores gritou, fazendo-os voltar a seus lugares e finalizar aquela partida.

E por mais que Elizabeth se esforçasse, o homem ganhou e ela teria que cumprir com o que ele
havia proposto.

― Você não jogou mal, mas tem certas coisas que nós somos melhores.

Elizabeth revirou os olhos e bufou. Agora teria que lidar com o ego elevado daquele inglês
boboca.

― Tudo bem. – concedeu mal humorada. ― Vamos logo com isso.

Edward foi até o rapaz que cuidava do som ambiente e cochichou algo em seu ouvido.
Elizabeth estava em pé, observando enquanto as outras pessoas voltavam aos seus jogos.
Respirou fundo, achando que aquela seria uma péssima ideia. Ali não havia lugar para dançar.

Ele voltou e uma música diferente começou a tocar. Era antiga, mas ela a conhecia bem. Eles
se olharam nos olhos e sem dizer palavra alguma, puxou-a de encontro ao seu peito.

― Aqui? – sussurrou.

Edward assentiu enquanto envolvia sua cintura com o braço direito. Elizabeth fechou os olhos
e se lembrou da primeira vez que dançaram juntos. Foi um desastre.

“Dizer: Eu te amo

Não são as palavras que eu quero ouvir de você

Não é que eu quero que você não diga

Mas se você soubesse

Como seria mais fácil se você me

Mostrasse como se sente”

Eles balançaram os corpos conforme o ritmo da música. O desastre da primeira dança não se
dera pelo fato de não saberem dançar ou algo do tipo, mas sim porque Elizabeth naquele dia
sentira algo estranho. Uma chama em seu coração que começou a acender-se.
“Mais que palavras,

e tudo que você tem que

fazer para tornar isso real

Então você não teria de dizer

que me ama, porque eu já saberia”

Edward sabia que aquela música era mais que simples palavras bonitas. Eram palavras que
estavam entaladas em sua garganta há muito tempo. Nunca em sua vida uma mulher mexera
tão profundamente com seus sentimentos como aquela. E agora, sim, ela estava ali em seus
braços.

“O que você faria se meu coração se partisse em dois?

Mais do que palavras para mostrar que você sente

Que seu amor por mim é verdadeiro

O que você diria se eu jogasse aquelas palavras fora?

Então você não poderia criar coisas novas

Só por dizer que eu te amo”

Elizabeth fechou os olhos e absorveu aquelas palavras. Será que ele a amava? O que explicaria
aquela persistência, paciência e tudo o mais que ele teve durante esses meses todos?

Ainda assim, não podia pensar nessa pequena palavra. Era forte demais e ela ainda estava aos
pedaços. Seu coração era uma parte feita de gelo e não sabia se aquilo daria certo.

“Mais que palavras

Agora que eu tentei

Falo com você e te faço entender

Tudo que você tem a fazer é

Fechar os olhos e só estender suas mãos

E me tocar, me segurar perto

Nunca me deixe ir”


Edward abaixou sua cabeça e seus olhos não se desgrudaram um instante sequer. Duas mentes
borbulhando com informações, pressentimentos, medos e inseguranças. Dois corações em
chamas, querendo ir além, descobrir o que era aquele tremor nas pernas, aquelas palpitações.

Seria o tão famoso amor?

Com segurança levou seus lábios até os dela e juntos viveram cada estrofe daquela linda
canção. Foi nesse momento que Elizabeth soube que para uma noite agradável, não precisavam
de restaurantes luxuosos, muito menos de carros importados ou posições sociais. Precisavam
somente um do outro.

Música: More Than Words – Extreme.


A noite fora espetacular. Elizabeth nunca imaginou que poderia encontrar alguém que a fizesse
tão bem, e aquela mudança, sem dúvidas, era notória. Alguns de seus funcionários perceberam
a leve transformação quando naquela manhã, chegou elegante em seus saltos altos e os
cumprimentou com um pequeno sorriso nos lábios.

Coisa que antes era impossível.

― A chefe está diferente. – Josh, um dos funcionários mais antigos comentou.

― Também acho. – Jane concordou. ― O que será que aconteceu?

Maddie, outra funcionária se intrometeu.

― Um novo amor, quem sabe.

Josh riu. ― Duvido que alguém queira se relacionar com ela. Ela deve ser extremamente
mandona.

― Se ela me desse bola... – Gerard balbuciou. ― Pena que ela é muita areia para o meu
caminhãozinho.

Os outros que estavam reunidos na conversa riram. Foi então que Edward se aproximou e eles
o cercaram.

― E aí Edzão. – Gerard se aproximou e colocou uma mão em seu ombro. ― Conta aí pra
gente o que está acontecendo com a chefe.

― Acontecendo? – Edward perguntou alarmado. ― Como assim?


Jane riu mediante a expressão assustada do rapaz. ― Ela está diferente... hoje nos deu bom dia
com um sorriso. Isso é, no mínimo, esquisito.

Edward levou a mão até a cintura e riu. Por Deus, não estava autorizado a falar sobre isso, mas
sabia que aquela mudança se dava pelo que estavam começando.

― Qual é a fofoca do dia? – Anthony, com seus um metro e setenta se aproximou e pegou a
rosquinha açucarada da mão de Josh.

― Nada não... – Gerard e os outros começaram a se dispersar, mas Anthony foi mais rápido.

― Nem pensar. Podem desembuchar agora ou vou falar para a Elizabeth que estão aí
fofocando sobre ela.

Anthony sabia como manipulá-los a hora que quisesse. Jane, Josh e Gerard se entreolharam
com receio. Neste momento não tinham alternativa.

― Só estávamos comentando que a chefe está diferente. – Jane esclareceu. Anthony mastigou
a rosquinha e revirou os olhos.

― Tanta fofoca boa e vocês escolhem falar da chefe? Pelo amor de Deus! – resmungou,
indignado. ― Vocês ficaram sabendo que a Diana foi pega no banheiro com o Fred?

Edward riu e balançou a cabeça negativamente sem acreditar que Anthony conseguira mudar o
foco da conversa para dois funcionários que haviam sido demitidos dias antes.

― Se me derem licença... – se afastou após receber um olhar de Anthony que claramente dizia:
“você me deve uma”.

Saiu o mais rápido que pôde e entrou na sala de Elizabeth, que conversava animadamente com
alguém no telefone.

Ele se aproximou e sentou na poltrona em frente à mesa. Observou a sala por alguns instantes e
viu que as fotos de Michael haviam sido retiradas. Ponto para ela pensou satisfeito. Em cima
da mesa, vários papéis e a placa de metal escrita: Elizabeth Louise Adams – Diretora
Executiva – Adams Corporation.

― É claro que vamos, fique tranquilo. – disse ao telefone. ― Ele vai também. Já falei que
vamos!

Edward sorriu e ela revirou os olhos. ― Tudo bem Jason, até mais tarde.

Elizabeth desligou o telefone e bufou.

― Jason?
― O próprio. – respirou fundo. ― Essa noite fará um jantar e quer que nós compareçamos.

Edward assentiu e então olhou na tela de seu celular. Elizabeth percebeu que algo não estava
normal e ele se mantinha silencioso demais.

― O que houve?

Edward suspirou e a olhou de volta.

― Estão comentando sobre você.

― Comentando o quê? – perguntou com autoridade.

Edward se levantou e caminhou até as vidraças que davam vista para a bela Nova York.

― Daqui a pouco vão começar a desconfiar das coisas.

Elizabeth se levantou e se colocou atrás dele. Nunca havia parado para pensar, mas ele era bem
mais alto do que parecia, comparando os dois.

― Que desconfiem. – murmurou. ― Você está preocupado com isso?

― Um pouco. – confessou.

― Por quê?

Edward se virou e a encarou seriamente. ― Eu sou seu assistente. O que eles diriam?
“Dormindo com a chefe para se promover na empresa.”

Tentou assimilar aquelas palavras e respirou fundo sem saber o que dizer. Até certo ponto ele
tinha razão. Entretanto, estavam em um patamar onde não podiam e nem conseguiriam voltar
atrás.

― Quer que eu o demita? – perguntou em tom de brincadeira. Edward relaxou, deu um meio
sorriso e a puxou pela cintura.

― Duvido que ache alguém tão bom quanto eu.

A mulher o fitou com a sobrancelha erguida. ― Eu acho que consigo me virar sozinha...

Edward desceu o rosto até a curvatura de seu pescoço e roçou os lábios lentamente. ― Duvido
que encontre algum assistente que faça coisas assim.

Elizabeth fechou os olhos, decidida a entrar no jogo. ― Eu acho que posso lidar com isso.

― E com isso? – ele levou uma das mãos até sua bunda, apertando-a com força enquanto
despejava beijos em seu pescoço.

Ela quis protestar, mas não conseguiu. Eles não haviam dormido juntos na noite passada, mas
o clima tenso ficou quando eles se despediram e cada um foi para seus quartos. Eles não eram
crianças e muito menos, inocentes.

― Eu acho que também posso lidar.

Edward ergueu a cabeça e a encarou nos olhos. O contraste do azul celeste com os verdes
esmeralda. Pôde ver o quanto ela o desejava e pensava as mesmas coisas que ele. Por Deus,
sonhara com aquela mulher incontáveis noites desde que se conheceram.

― Mas não pode lidar com isso. – Ele determinou e levou os lábios até os dela, beijando-a
com vontade.

Elizabeth se entregou como se precisasse daquilo para sobreviver por mais um dia. Há quanto
tempo não vivia sensações como aquela? O frio na barriga, as pernas trêmulas. O sorriso
involuntário. Tudo aquilo estava acontecendo, mesmo quando desejou que não acontecesse.

Neste momento, soube que podia beijá-lo sem culpa alguma, afinal era uma mulher solteira.
Quando Michael estava vivo, as coisas eram diferentes. Mesmo com as investidas pesadas de
Edward, jamais poderia ter cedido, apesar de ter caído algumas vezes.

Mas agora queria ceder... queria experimentar todas as sensações que há tempos estavam
adormecidas dentro de si. E sabia muito bem que ele adoraria explorar cada canto de seu
pequeno corpo.

― Mas de novo???

Eles se soltaram imediatamente após ouvir o grito alarmado de Anthony.

― Quando é que você vai aprender a bater na droga da porta? – Elizabeth se enfureceu. ―
Não tenho sequer um pouco de privacidade?

Anthony se aproximou, estava sério demais. ― Eu já te alertei sobre isso... Assim como eu os
peguei, pode ser outra pessoa. Por exemplo, a Jane.

Elizabeth revirou os olhos ao se dirigir para sua mesa. ― A diferença é que ela é educada e
bate na merda da porta, enquanto você faltou às aulas de educação com a sua mãe!

Edward riu e levantou as mãos para o alto em sinal de rendição.

― Eu não sei de nada, só estava cumprindo o meu papel de melhor assistente do mundo.

― Ha. Ha. Ha. Muito engraçado. – Elizabeth ralhou. ― Agora se querem me fazer um favor:
caiam fora daqui agora!

― Acho que quem faltou às aulas de educação foi você. – Anthony se sentou na poltrona e
jogou um envelope amarelo em cima da mesa.

Elizabeth olhou do pacote para o seu amigo. ― O que é isso?

Anthony respirou fundo e olhou seriamente para os dois à sua frente.

― Os seguranças que você contratou após aquele acidente comigo. Lembra-se deles?

A mulher deu de ombros.

― Como vou me esquecer, se eles me seguem até ao banheiro se deixar?

Edward cruzou os braços e concordou, afinal passava pela mesma situação. Anthony não deu
bola para o comentário irônico e continuou:

― Pois bem, eles disseram que acharam isso no capô do seu carro.

Elizabeth se remexeu no lugar e olhou atentamente para o pacote. Em letras garrafais


vermelhas estava escrito: Elizabeth Adams.

― Em cima do meu carro? Por quê? – perguntou, estranhando o fato.

― Também queremos saber. – Anthony replicou. ― Abra logo, estou curioso demais.

A mulher pegou o envelope nas mãos, que estavam suadas até demais. Com receio, rasgou o
lacre e o abriu. Os olhares atentos de Edward e Anthony certamente ajudaram a intensificar a
tensão na sala.

Enfiou a mão no envelope e retirou uma foto. Era uma foto dela sozinha, pelas ruas de Nova
York, rabiscada com tinta vermelha: “EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO
PASSADO”.

Anthony olhou para o papel por alguns instantes e logo explodiu em risadas, seguido por
Edward. Elizabeth se recostou na cadeira e continuou analisando-o.

― Mas que merda é essa? – Anthony não conseguia parar de rir. ― Só pode ser brincadeira.

― Não é brincadeira, Anthony. – disse ela, seriamente. ― Isso aqui é sério.

― É sério que o Ben Willis vai vir aqui matar todo mundo? – Anthony caçoou.

― Desculpa, mas eu tenho que concordar com Anthony. – Edward tentou se redimir, mas
Elizabeth já o olhava feio.
― Vocês não estão entendendo a situação. – contestou. ― Isso aqui é um recado de alguém
que sabe que gosto de filmes de terror.

Anthony então parou de rir aos poucos, tentando compreender aquela situação inusitada.

― Por que diabos alguém te mandaria um recado com o nome de algum filme? – Edward
indagou.

A situação era cômica, ao mesmo tempo curiosa, e de quebra, trágica.

― Eu acho que você deveria parar de ver esse tipo de filme. – Anthony completou. ― Eles
estão deixando a sua cabeça ruim.

Elizabeth bufou e cruzou os braços. Não adiantava discutir com aqueles jumentos. Deveria
tomar medidas drásticas. Pegou o telefone e com raiva apertou o ramal de sua secretária,
ordenando que ela se apresentasse o mais rápido possível.

― Eu vou descobrir quem fez isso. – murmurou ao colocar o papel dentro do envelope.

― O que você vai fazer? – Edward perguntou tarde demais, Jane já entrava na sala.

― No que posso ajudar? – a moça perguntou ao se aproximar com passos cuidadosos. Lidar
com Elizabeth era como lidar com Pitbull’s. Todo cuidado era pouco.

― Cancele todas as reuniões de hoje. – disparou enquanto se levantava e pegava a sua bolsa.
― Remarque-as para outro dia.

Jane assentiu e continuou ali, esperando que mais ordens fossem despejadas. Porém, com um
olhar fulminante de Elizabeth saiu mais rápido do que entrou naquela sala.

― Aonde você vai? – Anthony perguntou ao se levantar e ajusta sua gravata.

― Vou descobrir quem fez essa palhaçada. – murmurou e fitou Edward. ― Você vem
comigo?

― Claro.

Edward a acompanhou. Eles passaram pelo corredor onde outros funcionários os olhavam
inquietos.

― Você não acha que pode ser uma brincadeira de mau gosto? – Edward perguntou após
entrarem no elevador.

Elizabeth ficou em silêncio e apenas respirou fundo. Naquele momento o que menos queria era
falar, sua cabeça era um turbilhão de perguntas. Quem brincaria com aquilo? Por que no capô
de seu carro? Acreditava seriamente que aquilo se tratava de uma ameaça, de alguém que a
conhecia muito bem. Ninguém deixava uma foto com o nome de algum filme de Serial Killer
no carro de outra pessoa por mera brincadeira.

― Vamos até a delegacia. – Elizabeth comunicou após entrarem no carro.

Eles se mantiveram em silêncio a maior parte do tempo enquanto Edward dirigia o luxuoso
carro de Elizabeth. Ela estava mergulhada em seus pensamentos e tudo o que desejava era
descobrir quem havia feito aquilo.

Mesmo que fosse brincadeira, pegaria o sujeito.

Eles subiram as escadas, que levavam até a entrada da delegacia. Após se identificarem, um
policial uniformizado os guiou até a sala de espera.

― Peço que aguardem uns instantes que o capitão logo virá falar com vocês.

Elizabeth assentiu e se sentou, seguida por Edward. O policial saiu e os deixou a sós. A sala
era um cubículo no estilo de salas de interrogação. Uma mesa no centro e três cadeiras. Cada
uma disposta em um lado. As paredes acinzentadas e o clima frio deixavam aquele lugar ainda
mais assustador.

― Está muito quieta. – Edward comentou.

Elizabeth fechou os olhos por alguns instantes.

― Estou tentando entender o que foi isso.

― Você não vê que é só uma brincadeira?

Elizabeth o fitou como se ele fosse um extraterrestre.

― E o incidente com Anthony também foi brincadeira?

Edward se reservou ao silêncio.

Foi então que a porta se abriu e entrou um homem de estatura média, cabelos grisalhos, vestido
com um terno simples.

― Bom dia senhorita Adams. – Ele a cumprimentou, em seguida virou-se para Edward. ―
Senhor...?

― Smith.
― Capitão Foreman. – se apresentou, apertando-lhe a mão. ― No que posso ajudá-los?

Eles se sentaram e Elizabeth colocou o envelope em cima da mesa. O capitão desceu os olhos
para o objeto e então voltou os olhos para mulher a sua frente.

― Preciso que descubra se têm digitais e de quem são. – Elizabeth esclareceu, após o olhar
curioso do capitão. ― Você consegue?

O homem deu um assovio e afrouxou sua gravata. ― É claro, mas primeiro me explique, o que
é isso?

Elizabeth tirou a foto de dentro do envelope e entregou ao homem, que analisou por alguns
instantes.

― O que você acha que pode ser? – perguntou por fim.

― Talvez uma ameaça? – Edward replicou, atraindo para si a atenção do homem.

― Desconfia de alguém?

― Não... – respondeu com calma. ― Porém, há pouco mais de dois meses meu melhor amigo
foi atacado por um grupo, que simplesmente evaporou da face da terra.

― E como não ficamos sabendo disso? – Foreman perguntou perplexo.

Elizabeth deu de ombros. ― Contratei seguranças por fora.

― Foi antes do acidente de Michael?

A mulher assentiu e o capitão mordeu o lábio tentando juntar as peças daquele quebra cabeças.
Infelizmente, tudo estava em branco.

― Alguém teria motivos para machucá-la?

Edward riu sem humor e se virou para ela. ― Os seus ex-funcionários certamente te odeiam.

Elizabeth arregalou os olhos e o fulminou com o olhar. Mas que atrevimento era aquele?

― Não creio que alguém teria motivos para isso, Foreman. – Elizabeth se virou para ele. ―
Pode ser apenas uma brincadeira, mas que seja. Quero descobrir quem foi o imbecil.

Foreman respirou fundo e colocou o papel dentro do envelope.

― Muito bem. Vou tentar descobrir isso. – determinou ao se levantarem.

― Alguma novidade sobre o caso de Michael? – Elizabeth perguntou com certa frieza.
― Ainda nada. – Foreman suspirou. ― Sem a caixa preta não conseguimos descobrir o que
aconteceu. Sem falar que o caso está nas mãos da marinha... não temos muito acesso.

― Entendo. – comentou em voz baixa. ― Qualquer novidade me avise, por favor.

Foreman assentiu e os cumprimentou com um até logo. Elizabeth saiu na frente e Edward a
seguiu, logo depois.

― Eu pensei que você tinha comunicado as autoridades sobre o que aconteceu com Anthony. –
Edward ralhou. ― Eles tinham a obrigação de investigar.

Elizabeth parou de andar após saírem da delegacia e se virou para ele.

― Hey! Eu só não falei porque Anthony não quis... e logo depois aconteceu o acidente.

Edward levou uma mão até seu rosto. ― Me desculpe, eu apenas... fico preocupado com você.

Elizabeth também se preocupava com todos que estavam ao seu redor. Aquele bilhete era
ridículo, sabia disso. Mas não poderia ignorar se caso fosse uma ameaça. Não era
colecionadora de amigos e isso era um ponto negativo.

Se aquele envelope fosse mesmo uma brincadeira, ela queria saber de quem e quais os
motivos.

― Eu acho que exagerei. – resmungou ao se aproximar do homem.

Edward sorriu e acariciou seu rosto, retirando alguns fios de cabelos que se balançavam com o
vento.

― Eu exagerei. – disse ele. ― Mesmo que eu ache que não passa de uma brincadeira, você
tem toda a razão em desconfiar. Afinal foi deixado no seu carro.

Elizabeth sorriu e lhe beijou nos lábios. ― Obrigado.

O homem assentiu quando suas testas se juntaram. ― Temos que voltar para o trabalho?

― Pelo que me lembro, pedi que cancelassem as reuniões de hoje. – Elizabeth sorriu. ― O que
o senhor tem em mente?

Edward a abraçou e abriu sorriso que ela tanto gostava.

― Você é minha chefe... você que manda.

Elizabeth arqueou a sobrancelha e lhe deu mais um beijo. ― Humm... não sei, acho que estou
sem ideias ultimamente.
― Coney Island? – disparou.

A mulher arregalou os olhos.

― O quê? Não estou vestida apropriadamente para isso.

― Isso não importa. – Edward deu de ombros. ― O quê? Tem medo de Montanha Russa?

Elizabeth pousou as mãos no peito de Edward e arqueou a sobrancelha. ― Medo é uma


palavra que não entra no meu dicionário, senhor Smith.

Ambos riram e se envolveram com a paisagem ao redor. Apesar de estarem na escadaria de


uma delegacia, Nova York continuava sendo uma bela paisagem de fundo para um romance
como aquele. Ali, no coração de Manhattan, ignorando pessoas e principalmente turistas,
aprofundaram-se num beijo doce e apaixonado. Quem disse que palavras eram necessárias
para explicar aquelas sensações?
― Nunca mais me peça para ir numa Montanha Russa! – Elizabeth murmurou, indignada. ―
Ainda bem que não comemos nada antes.

Edward riu e concordou balançando a cabeça. Ambos andavam pelas ruas da pequena
península de mãos dadas.

― Está certo, na próxima você vai naquele brinquedo que joga a pessoa lá em cima.

― Aquele que parece um estilingue? – arregalou os olhos. ― Mas nem que eu estivesse louca!

― Por que não? Seria divertido... – Edward sugeriu. ― É uma pena que já está escurecendo.

Elizabeth olhou para o céu. As horas passaram tão rapidamente. Foi então que sua ficha caiu e
se lembrou de algo.

― O JANTAR COM JASON! – Exasperou-se. ― Vem, vamos logo!

Ela o puxou pela mão para que corressem o mais rápido possível para casa. Edward quis rir do
desespero de sua... chefe? Não sabia se deveria considerá-la apenas isso. Elizabeth era muito
mais.

Eles correram até o carro estacionado a umas duas quadras dos parques. Há um bom tempo
Elizabeth não sentia esse tipo de adrenalina percorrer sua veia.

― Espera. – Edward segurou sua mão antes que ligasse o carro. ― Esquecemos de algo.

― Do quê?
Edward tirou do bolso seu novo celular.

― Uma foto.

Elizabeth entendeu que ele realmente queria fazer parte de sua vida. Uma foto com uma pessoa
era algo íntimo. Principalmente com ela, que mal tirava foto com seus amigos.

Ela arrumou seu cabelo bagunçado pelo vento e encostou seu rosto no do rapaz, que sorridente,
ergueu o celular e o preparou para que tirasse a melhor fotografia.

― Pronto. – sentenciou ao ouvir o clique do celular. ― Acho que ficou boa.

― Manda para o meu celular depois. – disse ela, ao ligar o carro e acelerar.

Edward assentiu e analisou a fotografia por alguns instantes. Elizabeth, sem dúvidas, era a
mulher mais bonita que já havia visto. E ela estava ali, com ele. Algo que parecia impossível,
mas que acontecera.

Enquanto Elizabeth dirigia, o silêncio reinou dentro do carro. Naquela altura estavam na
Interestadual que ligava Coney Island à Manhattan.

― Deveríamos ter vindo de metrô. – Edward murmurou. ― Que horas Jason marcou o jantar?

― Oito horas. – Elizabeth respondeu. ― Ainda temos tempo.

Edward olhou para o relógio do celular.

― Preciso passar em casa para me arrumar. Não vou assim, parecendo um mendigo.

― Você não parece um mendigo. – Elizabeth riu. ― Confie em mim, tenho tudo sob controle.

― Não banque Christian Grey para cima de mim... – Edward brincou. ― Não gosto dessa
coisa de “confie em mim, tenho tudo sob controle.”

Elizabeth riu mais uma vez.

― Pelo amor de Deus, desde quando um homem lê Cinquenta Tons de Cinza?

Edward bufou e desviou o olhar para a paisagem ao seu lado.

― Às vezes a curiosidade faz milagres.

― Clara vai gostar de saber disso. Ela ainda sonha com o dia que encontrará um Grey pelas
ruas de Nova York.

Edward riu. ― Vou dar a ideia para o Jason, um quartinho da dor, que tal?

Elizabeth não aguentou e riu bem alto. A ideia parecia absurda, mas era o que as mulheres
procuravam naquele momento. Não ela. Óbvio que não. Preferia passar longe de homens
controladores.

― E você? – Edward a fitou com curiosidade. ― Qual mocinho faz o seu tipo?

Ela deu um meio sorriso e pensou em todos os seus amores literários. Não eram muitos, mas
eram especiais.

― Senhor Darcy, talvez. – suspirou. ― Mas ele é o de todas. Ainda fico com Edward Cullen.

Edward abriu um sorriso diabólico. ― E Deus te presenteou com um Edward Smith!

Elizabeth revirou os olhos, ainda não havia prestado a atenção que os nomes eram iguais.
Santa coincidência? Talvez não.

E com toda essa conversa de homens literários o tempo voou e logo chegaram à Manhattan. O
céu já estava escuro e as luzes da cidade comandavam a paisagem.

― Por que não se muda do Brooklyn? – Elizabeth perguntou.

Edward suspirou. ― Não sei... não tive tempo para procurar um outro lugar.

― Astoria é um ótimo lugar. – sugeriu. ― Posso lhe arrumar um apartamento.

Edward bufou. ― Na verdade, estou fugindo de aluguéis caros.

― Por quê? Seu salário não é suficiente? – Elizabeth quis saber.

― Sim, claro que é. – replicou. ― É que prefiro guardar dinheiro, nunca se sabe o dia de
amanhã.

― Não precisa se preocupar com isso. – disse ela. ― Pode contar comigo para o que precisar.

Edward não respondeu, mas não aceitaria favores e muito menos dinheiro. Não estava com
Elizabeth pela sua fortuna, ele não precisava disso. Entretanto, não queria que ela soubesse que
no momento que quisesse, tinha uma bolada esperando-o em Londres.

― Estamos chegando, afinal. – desconversou.


Eles chegaram ao prédio de Elizabeth e após entregar as chaves do carro ao manobrista,
seguiram para o elevador.

― É sério que vai me fazer usar as roupas do seu mordomo? – Edward coçou a cabeça.

― Deus. Claro que não. – Elizabeth riu. ― Jofrey deve ser uns vinte centímetros menor que
você.

A porta do elevador se abriu quando atingiram o último andar e entraram no apartamento.


Gwen descia as escadas com um vestido verde musgo, que ia até os joelhos.

― Isso são horas, Lisa? – reclamou. ― Não vai ao jantar do Jason?

― Vou me arrumar. – Elizabeth respondeu apressada.

Gwen se aproximou de Edward.

― Perdoe a minha falta de educação. – murmurou seriamente. ― Como você está?

Edward deu um meio sorriso. ― Bem, obrigado.

Antes de subir as escadas, Elizabeth o fitou:

― Pode se arrumar naquele mesmo quarto que você usou daquela vez, da piscina. Jofrey
levará as roupas para você.

Gwen olhou para sua irmã que subia as escadas e em seguida, se voltou para o rapaz à sua
frente.

― Sabe Edward, eu acho que te conheço de algum lugar.

Edward ergueu a sobrancelha. ― Uh... sério? Acho que não.

― Talvez sim, talvez não. – Gwen o encarou friamente. ― Como está indo com a minha
irmãzinha?

― Eu acho que bem. – disse calmamente. ― Se está se referindo ao trabalho, está tudo bem.

De repente, Gwen abriu um sorriso. ― Não se faça de bobo, eu sei que estão juntos.
Edward estava incomodado com o olhar que a moça lhe dirigia. Não conseguia decifrá-lo e
aquilo o irritava profundamente. Talvez, ela realmente lhe conhecesse. Sua aparência não
mudara muito, mesmo com seus esforços.
― Eu vou me arrumar também. – desconversou, fugindo do olhar estranho da jovem. ― Não
quero me atrasar.

Gwen assentiu e com um sorriso cauteloso o observou subir as escadas. Bem lá no fundo,
admitiu que sua irmã tinha um ótimo gosto para os homens.

Edward olhou para seu reflexo no espelho e ficou satisfeito. Não sabia de quem eram aquelas
roupas, mas lhe caíram perfeitamente.

Ao sair do quarto de hóspedes, deveria ter escolhido o caminho que levava ao andar de baixo,
porém, escolheu o caminho do quarto de Elizabeth.

Deu duas batidas e entrou, encontrando-a parada em frente ao espelho. Como sempre, estava
elegante, num vestido azul marinho que ia até os joelhos.

Os olhos de Elizabeth brilharam ao perceber que as roupas lhe serviram.

― De quem era? – Edward perguntou, abrindo os braços.

― Era do meu pai. – ela sussurrou e de repente seus olhos se encheram de água. ― Ele teria
gostado de conhecê-lo.

Edward sorriu e aproximou-se mais. ― Eu também teria gostado de conhecê-lo.

― Meu pai tinha um coração generoso. – Elizabeth se virou para o espelho novamente. ― Não
conheci minha mãe, mas ele afirmava que ela era a mulher mais generosa que ele conhecera.

― Seu pai não quis mais se casar?

― Não. E eu não deixaria.

Edward cruzou os braços e riu. ― Ciumenta, hã?

― Você não tem ideia. – disse ela, ameaçadoramente.

Ele riu mais uma vez e se colocou atrás de Elizabeth, abraçando-a pela cintura. ― Eu gosto
assim.
Elizabeth também sorriu e juntos analisaram a imagem refletida no espelho. Edward era mais
alto que ela e ver os braços do homem em volta de seu corpo, lhe trouxeram segurança e bem
estar.

― No que está pensando? – ele perguntou encarando seus olhos através do espelho.

Elizabeth ficou em silêncio por alguns segundos, ponderando suas palavras.

― Que essa imagem seria impossível alguns meses atrás. – sorriu calmamente. ― Você foi
bem persistente, senhor Smith.

Edward abriu o sorriso que ela tanto gostava. ― Gostaria de tê-la conhecido alguns anos atrás,
em outras circunstâncias. Enfim, a vida nos reserva surpresas.

Elizabeth assentiu e virou seu corpo de frente para o homem. Abraçou-o fortemente e
descansou sua cabeça em seu peito.

― Ainda bem que ela me reservou você. – sussurrou, dizendo mais para si, porém, com a voz
alta o suficiente para ele ouvir.

Edward levantou seu rosto com delicadeza e encarou aqueles olhos verdes que ele tanto
adorava. Levou seus lábios até os dela e a beijou com desejo, com paixão.

Elizabeth queria saber o que ele tinha encontrado de bom nela. Viu em seu olhar a adoração
que jamais havia visto em Michael. Uma espécie de cuidado, proteção. E por isso, ela
correspondeu o beijo, ignorando que naquela altura seu batom já deveria estar borrado.

Devia, definitivamente, dar um tempo em batons vermelhos.

― Acho que devemos ir. – Elizabeth resmungou em meio aos beijos. ― Jason vai ficar bravo.

Edward abriu os olhos com indignação, queria aproveitar o momento ao máximo.

― Tem razão. – resmungou ao separar seus lábios dos dela. ― Mas antes, vou limpar esse
batom do meu rosto antes que Anthony me chame de Coringa novamente.

Elizabeth riu e lhe deu um tapa nas costas. Edward foi até o banheiro e rapidamente estava de
volta. Ela também aproveitou para retocar a maquiagem.

― Senhorita Adams. – Edward fez uma leve reverência. ― Dê-me a honra de acompanhá-la?

Elizabeth revirou os olhos e com sarcasmo resmungou: ― Ingleses.


Jason sabia como ser um bom anfitrião e disso ninguém nunca duvidou. A casa localizada no
distrito calmo do Queens trazia um ar familiar. Coisa que sequer existia no gigantesco
apartamento de Elizabeth.

― Tomara que ele tenha feito meus bolinhos preferidos. – Anthony resmungou ao estacionar o
carro. ― Sabe que não vivo sem meus bolinhos.

― Bolinho de quê? – Edward perguntou.

― De chocolate. – Clara respondeu, olhando-o pelo retrovisor. ― Ele tem fissura pelos
bolinhos da mãe de Jason.

― Se não tiver os bolinhos eu juro que vou embora. – Anthony resmungou mais uma vez.

― Cala essa boca que já está enchendo o saco. – Elizabeth vociferou.

Anthony a fitou pelo retrovisor com a sobrancelha arqueada.

― Não calo não! Você sabe aqueles bolinhos são essenciais.

Gwen revirou os olhos. ― Já me arrependi de esperar vocês e vir nesse carro.

― Amiga, não fala assim. – Clara fez um beicinho. ― Eu não tenho culpa do meu irmão ser
um idiota.

― Bom, chega de blá blá blá. Jason está nos esperando! – Gwen abriu a porta do carro e foi a
primeira a sair, seguida por Elizabeth e Edward.

Os quatro amigos resolveram ir juntos, afinal de contas não precisavam de dois carros, pois era
relativamente perto.

Edward se aproximou de Elizabeth e passou o braço pela sua cintura. Anthony fitou Gwen com
um sorrisinho e a mesma deu de ombros, caminhando em direção à porta.

― Esses dois não se acertam mesmo, não é? – Edward sussurrou. Elizabeth assentiu.

― Quem sabe um dia.

A porta se abriu antes que terminassem de subir os degraus da pequena escada. Jason com seu
sorriso radiante os esperava de braços abertos. E é claro que Clara foi a primeira a correr para
abraçá-lo.

― Eles são tão fofos juntos. – Edward fez uma nova observação. Elizabeth apenas deu um
meio sorriso.

― Oi Jason. – Gwen também o abraçou.

Foi à vez de Elizabeth, que lhe entregou uma garrafa de vinho.

― Lisa, querida... não era necessário.

― Esse é dos melhores. – disse ela.

Cada um se acomodou em uma poltrona e no gigantesco sofá, após os cumprimentos.

― Estou muito feliz que vocês vieram. – Jason sorriu.

― E quando faltamos a algum convite seu? – Anthony perguntou ao cruzar as pernas.

― Preciso lembrar que na reinauguração da minha escola só a Lisa compareceu?

Anthony fitou Jason com um olhar de cachorro abandonado.

― Não faz assim. Eu só não fui porque quis dar uma chance da Lisa se aproximar do Edzão.

Elizabeth arregalou os olhos verdes e fitou Edward. ― Vocês planejaram isso também?

― Deus, claro que não. – Edward esfregou as têmporas. ― Eu tinha acabado de entrar na
empresa.

― Você já contou pra ela sobre o nosso plano de colocar laxante no suco do Michael? –
Anthony disse sem pensar, ao mesmo tempo se arrependendo amargamente, quando a mulher
lhe lançou um olhar surpreso e raivoso.

― Eu não acredito! – Elizabeth se levantou. ― Eu sabia que tinha dedo seu Anthony Carter! –
ela fitou Edward de volta. ― Golpe sujo e para quê? Para me deixar sozinha a noite toda!

Edward puxou seu braço para que se sentasse novamente e tentou se explicar.

― Eu não tive culpa daquela maluca me sequestrar da festa.

Gwen deu um meio sorriso. ― Quantas coisas aconteceram e eu nem sabia, hein?
― Muito menos eu. – Clara resmungou. ― Mas não os culpo, esses dias estou ocupada com
meus estudos.

― E como vão seus estudos? – Elizabeth lhe dirigiu a atenção. Precisava se livrar daquela
raiva contida. A moça, magra e de estatura baixa se remexeu no sofá.

― Em breve terei que voltar à Milão... vou participar de um projeto de uma marca super
renomada. – disse ela, entusiasmada. ― Não sei ainda quanto tempo irei ficar lá.

Jason não se sentiu confortável com aquela conversa. ― Espero que não demore muito por lá.

― Então, quem sabe você encontra um Christian Grey por lá. – Edward comentou com um
sorriso nos lábios. Elizabeth o cutucou com força enquanto os outros tentavam entender o que
ele quis dizer.

― Grey? – Clara perguntou, desentendida.

Edward sabia que se falasse mais alguma besteira, levaria outro cutucão e definitivamente não
queria.

― Não... eu disse que você poderia trazer para mim uma versão europeia de 50 tons de cinza...
sabe como é né, tenho que aprender algumas coisas com o Grey.

Elizabeth arregalou os olhos. Dentro de si lutava com a vontade de estrangulá-lo até a morte.

Anthony riu. ― Já estão nesse patamar, é?

― Bom eu acho que já está na hora do jantar ser servido. – Elizabeth se levantou, tentando
dispersar a conversa.

― Também acho. – Anthony concordou e se virou para Jason. ― Sua mãe fez aqueles
bolinhos?

Jason riu ao caminharem para a sala de jantar e bateu em suas costas.

― É claro que fez. Ela sabe que você não vive sem os bolinhos.

Anthony abriu um sorriso caloroso e cada um tomou um assento na mesa de jantar. Um grande
lustre de cristais estava posicionado no teto, transformando a iluminação em algo
aconchegante.

― Eu não me esqueceria dos seus bolinhos! – a voz rouca da senhora de setenta anos chamou
a atenção de todos para a porta de entrada.

― Titia Lu! – Anthony se levantou e imediatamente foi de encontro à senhora.

Edward observou com curiosidade a pequena senhora elegante, bem vestida e adornada com as
joias mais bonitas que já havia visto. Certamente era a mãe de Jason.

― Titia! – Clara também correu para abraçá-la, seguida por Gwen.

Após cumprimentar os que a abraçaram, a senhorinha correu os olhos pelos outros integrantes
da mesa.

Elizabeth se levantou e lhe deu um pequeno sorriso. ― Boa noite, senhora Hartford.

A senhorinha a fitou com a sobrancelha arqueada. Voltou-se para Jason, seu filho, e sussurrou:
― Que diabos mordeu essa mulher?

― Mãe! – Jason a repreendeu.

― Mãe o quê? – a velha retrucou. ― Ela virou uma bruxa depois da morte do pai!

― Mas agora está diferente, mamãe! – Jason explicou. ― Venha, sente-se conosco.

Normalmente aquelas coisas não afetavam Elizabeth, mas naquele momento ela sentiu suas
bochechas esquentarem. Suspeitar que as pessoas a achavam uma megera, era uma coisa, ouvir
isso claramente, na frente de todos os que eram importantes para ela, era muito diferente.

― Mas quem é esse rapaz bonitão? – a senhora disse ao tomar seu assento na ponta da mesa.

― Esse é Edward, namorado da Bruxa, digo, da Lisa. – Anthony disse, recebendo um olhar
fulminante de sua amiga.

A senhora Hartford gargalhou alto e se virou para Edward. ― Querido, como é que aguenta
essa menina?

Aquela conversa caminhava longe demais.

― Em primeiro lugar eu não sou nenhuma bruxa. – Elizabeth se levantou furiosa. ― Em


segundo, ele não é meu namorado!

― Então aqueles amassos na sua sala são o quê? – Anthony a confrontou.

― Amassos na sala? – Gwen comentou ao cruzar os braços. ― Poxa, não pensei que já
estavam nessa fase.

― Sem contar que não houve nenhum pronunciamento oficial. – Clara concordou. ― As
outras pessoas já sabem?

Elizabeth se sentou, com os braços cruzados e o rosto emburrado. Edward tossiu de leve
tentando dispensar aquele clima tenso e fitou a mãe de Jason.

― Fico feliz em conhecê-la. – disse ele, com seu sotaque arrastado.

― Um inglês ainda por cima. – A velha se exasperou e desviou o olhar para Elizabeth. ―
Você nasceu com a bunda virada para a lua, minha filha!

― Bom! Já chega! – Jason se intrometeu. ― Estamos reunidos aqui esta noite para um jantar e
é isso o que vamos fazer.

― Encher a pança até morrer! – Anthony completou.

Elizabeth, por sua vez, bufou e se concentrou em sua comida que era servida por uma
empregada.

― Mas se você nos convidou é porque deve ter algo importante para falar. – Clara comentou
ao levar um aspargo até a boca.

― Tem razão. – Jason suspirou. ― Quero contar a vocês que minha escola foi chamada para
um concurso muito especial em Londres.

― Que ótimo! – Gwen sorriu. ― Quando vai ser?

― Não temos uma data certa ainda. – sorriu novamente. ― Mas tenho um sério problema.

Todos o fitaram expectantes. ― Nenhum dos casais me agrada. E eu preciso de um casal para
representar minha escola.

Elizabeth comia sua comida tranquilamente enquanto a conversa rolava solta. Jason estava
feliz e ela também ficava por ele. Era ótimo ver um amigo conquistando algo com trabalho
duro.

― Tenho certeza que você encontrará um casal que faça jus. – Edward comentou.

Jason o fitou. ― Eu já encontrei esse casal, meu amigo.

― Ótimo! Quem é? – Elizabeth perguntou enquanto ainda cutucava os alimentos em seu prato.
Jason abriu um sorriso maquiavélico e fitou sua amiga.

― Edward e você!
― Isso só pode ser brincadeira, não é? – Elizabeth disse com dificuldade em meio a tosses,
depois de ter engasgado com a comida. Edward prontamente lhe dava tapas nas costas.

Queria piamente acreditar que Jason estava pregando uma brincadeira de muito mau gosto.

― Claro que não. – Jason deu de ombros. ― Eu vi você dois juntos, dançam muito bem.

Elizabeth segurou o braço de Edward e respirou fundo, tentando tomar fôlego mais uma vez. O
aspargo desceu rasgando em sua garganta e sabia Deus que poderia ter morrido com aquele
negócio entalado. Após algumas retomadas de fôlego, pegou um copo de água e entornou.

― Assim você mata a menina, Jason. – sua mãe disse em meio a risos.

― Está tudo bem Lisa? – Anthony perguntou preocupado.

A mulher secou algumas lágrimas que desceram de seus olhos devido à péssima situação e
assentiu com a cabeça. A voz ainda falhava.

― Se quiser vamos ao hospital. – Edward sussurrou em seu ouvido.

― Não precisa. – respondeu devagar e com dificuldade.

Elizabeth respirou fundo mais algumas vezes e quando percebeu que sua garganta estava
limpa, fitou Jason com um olhar de morte.

― Eu não vou dançar coisa nenhuma! – Elizabeth se levantou furiosa. Para ela, aquela noite
tinha chegado ao fim.

― Lisa, calma. – Gwen estendeu a mão e agarrou o pulso de sua irmã. ― Deixa o Jason falar.
Jason fitou sua amiga com toda a calmaria do mundo. ― Eu vi vocês juntos, há uma sintonia
perfeita. Qual o problema de vocês representarem a minha escola?

Edward se manteve em silêncio a maior parte do tempo. Sabia que Elizabeth negaria. O pouco
tempo em que trabalhava ao seu lado, serviu para perceber que ela era uma mulher reservada e
não gostava de chamar a atenção do público, muito menos da mídia, que seriam os primeiros a
cair em cima.

― O que você acha Edzão? – Jason lhe perguntou, tirando-o de seu devaneio.

― Olha, eu não sei... ela que é a chefe.

― Ah, essa é boa. – Anthony caçoou. ― Que eu saiba, já passaram desse estágio faz tempo.

Elizabeth o fulminou novamente.

― Não. – determinou. ― Vocês sabem muito bem que não gosto de chamar a atenção da
mídia. Esqueceram-se que a morte de Michael ainda está sob investigação?

Eles ficaram em silêncio, ponderando suas palavras. Ela tinha razão sobre a mídia, mas Jason
não perderia a oportunidade daquele concurso, e ninguém atendia aos seus requisitos como
aquele casal à sua frente.

― Você tem razão. – Jason suspirou. ― Mas eu preciso de vocês. Você não poderia quebrar o
galho do seu amigo de infância?

E lá vinham os olhos de gatinho do Shrek que Elizabeth particularmente odiava. Todos,


quando queriam algum favor da sua parte, usavam esse método, que raramente falhava.

Mas Elizabeth era sensata, acima de tudo. Não poderia ceder. Um evento nesse porte era um
prato cheio e envolvia toda a questão de seu relacionamento às escondidas com seu assistente.
Elizabeth não queria se meter em falatórios.

― Jason, me desculpa, mas eu não posso. – sentenciou mais uma vez ao se levantar e olhar em
seu relógio. ― O jantar estava ótimo, mas eu preciso ir.

― Lisa, calma. – Jason também se levantou. ― Você ficou chateada?

― Não... Eu havia me esquecido de um assunto importante. – tentou tranquilizá-lo. ― Vejo


vocês depois.

Jason ia retrucar, porém Edward lhe fez sinal para que se calasse. A essa altura do campeonato
já a conhecia bem. Elizabeth odiava ser contrariada.

Elizabeth olhou para Edward como se dissesse: “Estou vazando agora! É melhor me
acompanhar”.

Conhecendo aquele olhar como ninguém, se levantou na mesma velocidade da luz.

― Mas em que carro vocês vão? – Clara perguntou com o semblante triste.

― Não se preocupem, vou ligar para o meu motorista.

Todos assentiram e assistiram enquanto Edward se despedia e a seguia.

― Pobre rapaz... vai sofrer nas mãos dessa menina.

Elizabeth ouviu a mãe de Jason resmungar antes de sair da sala. É claro que para ela, aquele
jantar tinha acabado desde quando a mulher cismou em atormentá-la.

Edward a seguiu sem dizer uma palavra e ao saírem pela porta da frente, não ligou para seu
motorista, continuou caminhando, pensando seriamente naquelas palavras.

Elizabeth estava furiosa demais para ligar para seu motorista. Edward viu que ela o deixou
para trás e coçou a cabeça.

― Você está bem? – perguntou ao alcançá-la.

― Sim.

Elizabeth continuou andando enquanto algo dentro de si martelava. Não era uma bruxa, nunca
tinha sido. As circunstâncias da vida a fizeram ser quem era e nem Jesus agradara a todo
mundo, quem diria ela?

Amava muito seu amigo Jason, mas aquela senhora havia esgotado com a sua paciência. Será
que não pensavam o quanto era doloroso ouvir aquelas palavras?

― Não vai chamar o motorista? – Edward perguntou novamente, tentando acompanhar seus
passos.

― Prefiro ir andando.

A rua estava deserta e após terem andado quase duas quadras, se colocou em sua frente.

― Vamos lá, me diga o que te incomodou. Sei que não é sobre o concurso.

Elizabeth parou antes que seu corpo batesse de frente com o dele. Olhou para os lados e bufou.
Seus olhos estavam cheios de água e odiou se sentir assim, tão insegura.

Edward segurou seu rosto com carinho entre as mãos.


― Você não é uma megera.

Elizabeth encarou seus olhos e se perguntou como ele sabia que era aquela maldita palavra que
a incomodava?

― Eu sou... – sussurrou fracamente.

Edward continuou olhando-a nos olhos. ― Não é. Você é a mulher que...

E então ele parou e ficou em silêncio, lutando entre os pensamentos de continuar ou não.

― Mulher que...? – Elizabeth o incitou a continuar. Queria saber o que ele realmente pensava
dela.

Foi aí que a ficha de Edward caiu e pela primeira vez soube que aquela palavra era pura e
verdadeira.

― Você é a mulher pela qual eu me apaixonei.

Segundos se passaram e choque passou pelos olhos de Elizabeth. Ela não esperava ouvir
aquela palavra tão cedo. Não esperava que ele a aguentasse por míseros segundos, quanto mais
se declarasse assim.

Eles continuaram sustentando o olhar por mais algum tempo. Elizabeth pensou que talvez ele
sentisse pena e tivesse dito aquilo para aliviar a sua chateação.

― Não precisa ter pena de mim. – murmurou lentamente.

E não era aquilo que Edward esperava ouvir de seus lábios. Desta vez o choque passou em
seus olhos.

― O quê? Acha que falei isso por pena? – perguntou incrédulo.

Elizabeth se soltou de suas mãos. ― E não é?

O homem respirou fundo e contou até cem mentalmente. ― Por que diabos eu teria pena de
você? – nessa altura, já estava nervoso.

― Não sei. – Elizabeth deu de ombros. ― Eu não preciso de sua pena, Edward.

O sangue do homem ferveu. Ele havia declarado seu amor e ela estava ali, zombando dele?

― É você quem é herdeira de um império, têm nas mãos quem você quiser! Eu
definitivamente não preciso ter pena de você! – cuspiu as palavras com desgosto.

Elizabeth estava boquiaberta. Como ele ousava falar nesse tom com ela?
― Olha aqui. – levantou o dedo e o apontou em seu rosto. ― Você não tem o direito de falar
assim comigo!

― Ótimo! Senhora toda poderosa! – Edward zombou ao lhe dar as costas.

― Vai embora mesmo! Seu idiota! – Elizabeth gritou ao ver que ele se afastava. ― Eu não
preciso de você!

― E eu muito menos de você! – ele também gritou quando já estava alguns passos longe.

Edward passou as mãos nervosamente pelos cabelos e continuou a passos largos.


Definitivamente, não precisava aguentar aquela mulher zombando dele e de seu amor.

Amor? Ele realmente amava aquela criatura?

Sim ele amava... e essa era a cruel realidade.

Quando se mudara de Londres nunca pensou que encontraria um amor. Pelo contrário,
desejava manter-se longe de relacionamentos. Seu foco era apenas um trabalho, uma carreira
na qual se orgulhasse, esconder-se das obrigações de sua família. E então os céus lhe abriram
as portas de um ótimo trabalho na empresa que seria o sonho de qualquer um. Mas para quê?
Para se apaixonar por aquela insensível de saias.

A vida adorava pregar umas boas peças, não é?

Elizabeth assistiu o homem virando a esquina e a deixando ali. Respirou fundo e passou as
mãos pelos cabelos. Maldita hora em que resolveu ser uma pessoa diferente.

As pessoas já estavam acostumadas, ela era uma bruxa. A própria senhora Hartford disse, com
todas as palavras. Não adiantava mudar.

Seu estômago revirou, ainda estava com fome, mas não voltaria àquela casa onde fora tão
humilhada. Amava Jason, mas a sua mãe não lhe descia na garganta.

E sobre Edward... tinha certeza que ele só dissera aquilo para aliviar a tensão no ar. Como ele
poderia amá-la? Só a conhecia há alguns meses, não era tempo suficiente para amar uma
pessoa. Uma pessoa tão estragada quanto ela.

Pegou seu celular para enviar uma mensagem a seu motorista, porém algo não estava no lugar.
Elizabeth olhou para os lados ao sentir uma sensação ruim, como se alguém estivesse
observando-a.

Se a situação não fosse ruim o bastante, seu celular estava sem sinal. O jeito foi apressar os
passos e sair dali. A rua deserta e os acontecimentos recentes vieram com tudo à sua cabeça.
Onde é que estavam os malditos seguranças?

― Maldição... – resmungou ao se lembrar de que Anthony os dispensara quando saíram de


casa. Segundo seu amigo, não precisariam de seguranças enquanto estavam todos juntos.

A sensação de alguém a vigiando continuou. Estava sem seguranças, sozinha e sem sinal de
celular. Apressou os passos, olhando de um lado para o outro. Para sua sorte, avistou Clark,
seu amigo médico, saindo da garagem de sua casa.

― Clark! – Elizabeth gritou ao se aproximar. O médico a fitou, surpreso.

Elizabeth se aproximou mais, dando graças aos céus que o vidro do lado do passageiro estava
aberto e ele a ouvira.

― Oi Lisa! Que surpresa encontrá-la aqui. – Clark murmurou. ― O que faz por esses lados?

Elizabeth pousou os braços na porta e deu uma leve relaxada. ― Estava na casa do Jason,
lembra-se dele?

― Claro. O da escola de dança?

Elizabeth assentiu. ― Infelizmente tivemos um desentendimento.

Clark suspirou e olhou ao redor. ― Onde está aquele rapaz?... Edward, se não me falha a
memória.

― Já foi embora.

O rapaz assentiu novamente. ― Me desculpe a ignorância, você quer uma carona? Não vi seu
carro.

Elizabeth quase gritou: “Claro que quero idiota!”, mas controlou-se e despejou um pequeno
sorriso.

― Aceito a carona. Meu celular está fora de área e não consigo falar com meu motorista.

Ela abriu a porta e se sentou no lado do passageiro. Clark lhe deu um sorriso caloroso ao
engatar a marcha ré.

― Então me conta como estão as coisas?

Ela deveria ter imaginado que ele engatou uma conversa. Silêncio era algo constrangedor, mas
naquele momento não estava nem um pouco a fim de conversar.

“Vamos lá Elizabeth, esforce-se.”


― Tudo bem. Estou trabalhando bastante, como sempre. E você, como está?

Clark estava atento ao trânsito, mas abriu um sorriso.

― Tudo ótimo. Talvez eu seja o próximo diretor do hospital... vamos ver.

― Isso é ótimo Clark! – admirou-se. ― Desejo toda a sorte do mundo.

― Obrigado.

Elizabeth suspirou, sentindo aquela sensação ruim indo embora. Será que alguém estava
perseguindo-a? Não sabia dizer, apenas não sairia mais sem seus seguranças.

Maldito fosse Edward Smith por deixá-la ali, sozinha como um Zé ninguém.

― E Anthony, como está? – Clark perguntou, quebrando o silêncio que se instalara


novamente.

― Está bem... os machucados sararam completamente. – Elizabeth deu de ombros. ― Olha, eu


acho que lhe devo desculpas por aquele dia, no restaurante.

Os olhos de Clark brilharam. É claro que não gostara de como as coisas foram conduzidas, mas
o que podia fazer? Elizabeth nunca lhe daria uma chance.

― Eu entendi. Não se preocupe. – sorriu confortavelmente. ― Não perguntei aonde gostaria


de ir, mas presumo que seja para sua casa.

― Sim, por favor.

Clark assentiu e girou o volante, colocando-os na avenida que ligava até o edifício que ela
morava. Elizabeth suspirou, não estava de bom humor, mas deveria ser grata ao médico.

― Aceita uma bebida em forma de agradecimento? – perguntou, após o homem estacionar o


carro.

― Se não for incomodá-la, é claro que aceito.

Talvez aquela não fosse uma boa ideia. Entretanto, ultimamente não estava dotada de boas
ideias, a começar pelo relacionamento sem nome que mantinha com seu assistente.

Lembrar-se de Edward foi a pior coisa que podia acontecer. Não queria ser grossa com Clark,
mas se pudesse bateria nele, imaginando que era seu assistente.

Ele desceu do carro e em seguida abriu a porta para ela. Elizabeth aceitou sua mão gentilmente
estendida.
Eles entraram no hall do grandioso prédio.

― Vamos até o bar, eles servem ótimas bebidas.

Clark assentiu e a seguiu.

O bar era um lugar calmo, iluminação fraca, um piano e uma mulher sentada tocando. Havia
um extenso balcão para quem não quisesse se sentar numa das poltronas dispostas no lounge.

Elizabeth se sentou primeiro, mostrando a Clark o lugar para ele se sentar também.

― Boa noite, o que vão querer? – um rapaz que não sabia falar inglês corretamente se
aproximou.

― Uma taça de vinho. – Elizabeth respondeu, sem tirar os olhos de Clark. ― E você?

― Uma tequila.

O rapaz assentiu e se afastou para preparar as bebidas escolhidas. Clark fitou a mulher ao seu
lado e abriu um sorriso.

― Acho uma injustiça sem tamanhos, uma mulher tão bonita quanto você sozinha uma hora
dessas.

Elizabeth revirou os olhos. ― Não começa. Eu gosto de estar sozinha.

O rapaz voltou com as bebidas e os serviu.

― Você e Edward estão mesmo namorando? – Clark estava curioso para saber se aquele
relacionamento ia para frente.

Elizabeth desviou o olhar.

― Prefiro não falar sobre ele. – resmungou, aborrecida. ― Me conta sobre você. Está saindo
com alguém?

Clark bufou. ― Eu não tenho tempo para essas coisas, Lisa. – sorriu. ― Minha vida é aquele
hospital.

― Mas você ainda vai encontrar alguém.

Por instinto ou sabe-se lá porque, Elizabeth pegou nas mãos de Clark enquanto o fitava nos
olhos.

Mas então, uma voz bem conhecida ecoou em seus ouvidos.


― Posso atrapalhar a pequena reunião?

Elizabeth lentamente virou o rosto, e atrás de si, encontrou um Edward Smith com a
sobrancelha arqueada e a fúria evidente em seu rosto.

― Falando nele... veja só quem apareceu. – Clark brincou, tentando dispersar aquela situação
tensa.

Elizabeth e Edward se encaravam como se fosse uma batalha. Ambos sabiam que não teriam
ganhadores, apenas perdedores. Ela recolheu sua mão, que ainda estava nas de Clark e
entornou a taça de vinho. Era demais para a sua cabeça.

― Bom, eu acho que vou embora. – Clark se levantou, ao perceber que a coisa não ficaria boa.
― Foi bom revê-la, Lisa.

Elizabeth assentiu e o médico se abaixou para lhe dar um beijo no rosto. Clark passou por
Edward que nem se deu ao trabalho de encará-lo, pelo contrário, o olhar assassino estava
recaído sobre a mulher sentada bebendo uma taça de vinho.

Edward respirou fundo e se sentou no lugar onde Clark estava após sair praticamente correndo.

Ela não queria encará-lo. Não tinha conversa. Estava de péssimo humor e só queria subir para
seu apartamento, tomar banho e se enfiar debaixo das cobertas.

― Eu sinto muito. – Edward se pronunciou após alguns segundos em silêncio. O rapaz das
bebidas se aproximou.

― Deseja algo senhor?

Edward o fitou como se dissesse: “cai fora moleque”. No mesmo instante, colocou o rabinho
entre as pernas e saiu.

Elizabeth não olhou para ele, sabia que não resistiria àqueles olhos azuis.

― O que você quer aqui, Smith?

O homem respirou fundo, buscando dentro de si a paciência que encontrara enquanto


caminhava sozinho.

― Eu fui um imbecil... como sempre. – suspirou. ― Você ainda não está preparada para um
relacionamento.

Elizabeth o fitou sem saber o que dizer. É verdade que era tudo muito recente, mas ele
desistiria tão facilmente?
― Então eu estava certa, afinal de contas. – Elizabeth resmungou, sem olhá-lo. ― Você só
sente pena por mim.

― Não diga besteiras, mulher. – ele a corrigiu. ― Eu disse que estou apaixonado por você e
você zombou de mim. Por que não acredita no que eu disse?

Elizabeth tomou fôlego e então o encarou nos olhos.

― Como posso saber que o que sente não é pena?

Edward pensou muito sobre aquilo que estava prestes a fazer. Era um passo perigoso, mas não
queria levar aquela situação de qualquer maneira. Tirou do bolso de seu paletó uma caixinha
de veludo vermelha. O coração de Elizabeth parou por alguns instantes.

― Eu esperaria mais algum tempo, mas acho que tempo não é necessário quando temos
certeza do que sentimos pela outra pessoa. –suspirou e abriu a pequena caixinha. ― Elizabeth
Adams, aceita ser a minha namorada?

Elizabeth já tinha perdido as contas de quantas vezes o choque percorreu seu corpo naquele
dia. Mas aquilo, sem dúvidas, deixou-a sem palavras e sem chão. Seu olhar recaiu sobre o
pequeno anel prateado com pedrarias. Era a joia mais bonita que já vira em sua vida.

Faltaram-lhe as palavras.

― Pode ser loucura. – Edward continuou seu discurso, encarando os olhos verdes que ele tanto
adorava. ― Pode soar engraçado um simples assistente namorando sua chefe, mas o que eu
mais desejo é dar um nome para o nosso relacionamento e que se exploda o mundo. Eu não
posso ficar longe de você.

Eles se encararam novamente e Elizabeth continuou sem palavras. Dos seus olhos, escorreram
as lágrimas que tentou segurar, inutilmente. Ele estava ali, segurando um anel que deveria ter
custado os olhos da cara, pedindo que namorasse com ele. Eles tinham quantos anos mesmo?

Era surreal e ela só teve uma conclusão em sua mente: Ela também o amava. E Deus sabia o
quanto.

Edward gentilmente secou suas lágrimas com as costas de sua mão. Deus, ele odiava vê-la
chorando.

― Não chore, por favor. – pediu em voz baixa. ― Você estava duvidando do que eu sinto por
você e eu estou aqui, te provando que eu a amo, lhe entregando o anel que eu soube que seria
seu desde que a conheci.

Um turbilhão de sentimentos se apossou de Elizabeth. O medo, a confusão, o falatório. Há


pouco mais de dois meses, seu noivo faleceu num acidente aéreo. Era muito cedo para começar
outro relacionamento.

Entretanto, o que poderia fazer quando não conseguia controlar seus pensamentos? Não
conseguia controlar seu coração? Aquele sujeito na sua frente ferrou com todos os
pensamentos corretos que conseguia ter.

Respirou fundo e o fitou nos olhos. ― Eu aceito, Edward.

Edward sabia que a exposição poderia prejudicá-lo, trazendo seu segredo à tona. Talvez fosse a
hora de revelar quem realmente era. Suspirou e decidiu que não. Ali, com ela, era apenas
Edward.

Smith era um sobrenome falso, que arrumara para poder se desligar da vida social que tinha
em Londres. Mas isso não importava agora. O que importava é que ali estava a mulher que
roubara seu coração desde que seus olhos se encontraram naquela sala presidencial.

Com cuidado, pegou o anel e o deslizou pelo dedo anelar da mão direita. Elizabeth ergueu a
mão e o analisou com carinho e admiração nos olhos.

― Eu te amo, Elizabeth. – Edward sussurrou ao se aproximar da mulher.

Ela também o amava, mas não conseguia proferir em voz alta.

Foi então que levou seus lábios de encontro aos do homem. Não precisavam de palavras,
quando podiam ter um ao outro. Seus lábios se moveram com facilidade e desejo. Agora
tinham um nome para seu relacionamento.

Elizabeth Adams era a sua namorada.


Engraçado como as coisas mudavam de um dia para o outro. Elizabeth nunca acordara tão
satisfeita, quanto naquele dia. Mesmo com o aborrecimento do jantar e a sua briga com
Edward, absolutamente nada, podia roubar a felicidade que carregava em seu peito.

Ergueu sua mão direita e admirou o anel que estava em seu dedo. Era elegante e chamava a
atenção de qualquer um. Constatou que precisava se preparar para responder todas as
perguntas que lhe fariam.

Levantou-se e correu para um banho, não queria se atrasar. Hoje o dia seria longo e tinha
várias coisas para resolver antes de sua viagem de negócios.

Após terminar de se arrumar, desceu as escadas e foi para a sala de jantar, onde era sendo
servido o café da manhã. Clara preferiu dormir em sua casa, para fazer companhia à Gwen.

― Bom dia, dorminhoca! – Clara a cumprimentou quando passou pela porta.

― Dorminhoca? É cedo ainda...

Gwen sorriu. ― Geralmente você acorda mais cedo que isso.

Elizabeth deu de ombros e ao se sentar na ponta da mesa, pegou uma jarra de suco de laranja e
entornou o líquido em um copo.

― Jason está chateado com você. – Clara comentou ao passar geleia em uma torrada. O que
aconteceu pra você sair daquele jeito?

Elizabeth tomou um pouco do suco e pensou se deveria ser sincera.

― Sabem que não suporto a mãe dele. – disse sem pestanejar. ― Tem coisas que relevamos,
mas nem tudo.

Gwen e Clara não responderam, apenas se entreolharam. Foi então que o brilho ofuscante na
mão de Elizabeth lhes chamou a atenção.

― Mas o que é isso no seu dedo? – Gwen perguntou surpresa.

― É uma longa história. – respondeu com um meio sorriso. ― Vocês não tem ideia.

― Edward, não é? – Clara tentou adivinhar.

― Quem mais seria? – Gwen retrucou. ― Me deixa ver esse anel.

Elizabeth estendeu o braço para que sua irmã apreciasse a fina joia. Sua irmã pegou sua mão e
o analisou por alguns instantes.

― Deus, esse anel custou uma fortuna! – sentenciou. ― Onde ele arrumou dinheiro para isso?

Clara também grudou os olhos. ― Gwen tem razão, deve ter sido caríssimo.

Elizabeth tinha certeza disso, mas havia se esquecido de comentar. Será que Edward torrara
todo seu dinheiro com aquele anel? Ela não podia aceitar, caso isso fosse verdade.

― Eu vou perguntar a ele.

Gwen se acomodou em seu lugar. ― Se fosse outra pessoa eu não deixaria você perguntar,
porém, não podemos deixá-lo gastar todo dinheiro que possui com você.

Dando de ombros, Elizabeth encarou sua irmã. ― E sua relação com Anthony?

― O que é que tem? – retrucou bruscamente.

― Não se acertaram ainda?

Gwen não gostava de lidar com esses assuntos, ainda mais com sua irmã. Anthony e ela eram
duas pessoas que não nasceram para ficar juntas. Sempre que estavam juntos, saía briga.

― Acho que nunca. – murmurou e continuou seu café da manhã.

Elizabeth olhou em seu relógio, estava na hora de sair.

― Meninas, sinto muito... Tenho que ir. – deu um meio sorriso ao se levantar. ― Vejo vocês
depois.
Elizabeth respirou fundo quando seu motorista parou em frente ao edifício, que era sede de
suas empresas. Olhou para o retrovisor, onde o rapaz a fitava ansioso, esperando por mais
ordens.

― Talvez não precise me buscar hoje, John.

O rapaz assentiu. ― Se a senhorita precisar de mim, é só me chamar.

― Na verdade eu preciso de um favor seu. – Elizabeth se lembrou de algo. ― Me leve até esse
endereço.

O rapaz pegou o papel que a mulher lhe estendeu.

Elizabeth sabia que não deveria fazer aquilo, mas precisava descobrir quanto aquele anel
custara.

O endereço se localizava em New Jersey. O trajeto demorou um pouco devido o trânsito


intenso, mas logo o carro parou em uma avenida de casas simples.

Joseph entendia de joias como ninguém. Ele era o melhor que Elizabeth conhecia.

Seu motorista abriu a porta e desceu, aspirando o ar daquela manhã. Colocou as mãos nos
bolsos do casaco e se moveu, subindo a pequena escadaria. E antes que pudesse bater na porta,
ela se abriu, revelando uma mulher loira de olhos azuis.

― Elizabeth Adams! Que honra vê-la por aqui. – a moça disse, com surpresa na voz.

Elizabeth deu um meio sorriso. ― É bom vê-la, Christine. Seu pai está em casa?

― Está sim. – a jovem saiu do caminho e Elizabeth entrou, lhe entregando o casaco. ― Espere
na sala, vou chamá-lo.

Elizabeth assentiu e foi até a sala. Já conhecia aquela casa. Esteve ali em vários momentos de
sua vida. Com seu pai quando lhe comprou um anel de quinze anos. Com Michael quando
comprou seu anel de noivado.

Christine era uma jovem na casa dos vinte e poucos anos. Sua mãe era falecida e sempre
ajudou seu pai, que era um senhor na casa dos setenta anos.

― Mas que boa surpresa! – ela ouviu a voz de Joseph ecoando em suas costas. Elizabeth se
virou e o viu, parecia ter envelhecido mais uns vinte anos.

― Joseph! – Elizabeth o cumprimentou. ― É bom vê-lo também.

O homem sorriu e lhe apontou o sofá para que se sentasse. ― Veio fazer a aliança de
casamento?

― Não... – suspirou. ― Michael faleceu, não soube disso?

O homem, com a ajuda de sua filha se sentou e arregalou os olhos ao fitar Elizabeth. ― Deus.
Eu não sabia... Christine não me conta as coisas. – disse com desgosto ao olhar para sua filha.

― Não a culpe. – Elizabeth o tranquilizou. ― Estou aqui por outro motivo.

O senhor de cabelos brancos e óculos a fitou ansioso. Os Adams eram seus melhores clientes
desde que era moço. A tradição se passou de geração a geração.

Elizabeth tirou o anel de seu dedo e lhe entregou. ― Preciso que avalie esta joia.

O homem pegou o anel e deu um assovio ao girá-la nos dedos. ― É linda.

― Ela é. – suspirou. ― Quero saber o valor de mercado.

Christine, conhecendo seu pai, correu até uma bancada, onde mantinha seus objetos de
trabalho e pegou os óculos específicos para análise de joias.

― Ele se encaixaria bem como um anel de noivado. – o homem mordeu o lábio. ― Mas creio
que não é o caso.

― Não... é um anel de namoro, apenas.

O homem assentiu. ― Pode ser apenas de namoro, mas ele deve realmente gostar de você. É
muito valiosa.

Elizabeth já estava com as mãos suadas. Não gostaria de saber que Edward gastara uma
fortuna com um anel de namoro. Não precisavam daquilo para firmar um compromisso.

O anel prateado, continha duas fileiras intercaladas com diamantes reluzentes, representando o
símbolo do infinito.

― Me lembram muito as joias da Coroa Britânica, que graças a Deus tive a oportunidade de
segurar nas mãos, pelo menos uma vez na vida.

Elizabeth arregalou os olhos em surpresa.

― Quanto custa?
O homem deu um meio sorriso.

― É um anel da Cartier. Sem dúvidas gira em torno de 9 a 10 mil libras.

Se não estivesse sentada em um sofá, provavelmente cairia da cadeira. Como Edward


conseguira comprar aquele anel com o salário que recebia?

― Mixaria para uma mulher como você. – o homem a fitou por cima de seus óculos.

― Para mim sim, para o homem que me deu isso, não. – resmungou e pegou seu anel de volta.

O senhor viu a preocupação nos olhos da mulher e lhe deu um sorriso caloroso.

― Esse deve ter sorte. Você está preocupada com ele.

Elizabeth não respondeu, se levantou e o fitou. ― Quanto lhe devo pelo trabalho?

― Pelo amor de Deus! – o velho resmungou. ― Eu só avaliei a joia, não fiz nada demais.

― Mas ocupou o seu tempo. – Elizabeth rebateu. ― Diga um valor.

― Não é nada, querida.

Elizabeth olhou para Christine, que apenas deu de ombros.

― Obrigado por tudo. – agradeceu e ao se virar de costas, o homem suspirou e despejou as


palavras mais sinceras que poderia dizer àquela mulher:

― O valor do anel é o que menos importa. Ele pode ter torrado todas as economias nessa joia,
mas saiba que é porque te ama e te valoriza. Não brigue com ele por causa disso.

Elizabeth ouviu aquelas palavras e assentiu. É claro que adorava a ideia de ser querida e amada
por Edward, mas não podia deixá-lo gastar absurdos apenas para manter o seu padrão de vida.

Tirou da bolsa uma nota de cem dólares e deu à Christine antes de sair pela porta. A jovem
quis recusar, mas Elizabeth foi mais rápida e lhe deu as costas, entrando em seu carro.

Elizabeth chegou ao seu escritório, recebendo os olhares curiosos de seus funcionários. Ela
passou por eles, cumprimentou Jane e seguiu para sua sala, como sempre fazia.

― Onde você estava? – ouviu a pergunta logo após entrar em sua sala. Anthony mais uma vez
estava sentado em sua cadeira.

― Bom dia para vocês também. – respondeu ao colocar sua bolsa e casaco nos lugares
apropriados.
― Você demorou, estávamos preocupados. – Edward disse após ela se aproximar e lhe dar um
beijo casto.

― Me atrasei com as meninas. – mentiu. ― Anthony, você pode nos dar licença?

Anthony revirou os olhos. ― Você nunca me deixa em paz quando está no escritório.

― Enquanto estiver sentado no meu lugar, não mesmo. – ironizou. ― Agora, caia fora.

Edward viu em sua expressão que estava preocupada com alguma coisa. Ele temia que ela
voltasse em sua resposta e terminasse ali mesmo o que haviam começado.

Após Anthony sair da sala resmungando, Elizabeth sentou em sua cadeira e fitou Edward
seriamente.

― Me diga a verdade. Quanto custou esse anel?

O homem suspirou aliviado, menos mal que ela estivesse preocupada com o valor do anel.

― Não sei. Por quê? – mentiu.

― Não foi você quem comprou? – perguntou confusa.

Edward riu. ― É uma joia de família... não tenho ideia de quanto custa.

Na verdade ele sabia. Mas não revelaria esses detalhes.

A mulher respirou aliviada. ― Ah... então tá.

Ele se aproximou e a puxou de encontro ao seu peito.

― Daqui a pouco vão começar as teorias da conspiração acerca desse anel.

― Também acho. – Elizabeth abriu um pequeno sorriso enquanto sentia os braços de Edward
ao redor de sua cintura. ― Mas eu tive uma boa ideia.

― Pode falar.

― Quero anunciar nosso compromisso com uma grande festa.

Edward arregalou os olhos, não esperava isso de Elizabeth.

― É sério?

Elizabeth riu. ― Sim, qual é o problema?


― Nenhum, é claro. – Edward suspirou, pensando nas chances que tinha daquela ocasião
estragar seu disfarce. ― E quando você pretende organizar essa festa?

― No final de semana seria ótimo. – disse entusiasmada. ― Vou deixar Gwen e Clara com os
preparativos, assim que voltarmos da viagem será nossa festa.

Edward arregalou os olhos. Esquecera-se completamente da viagem de negócios.

― Você fez as reservas no hotel?

Ele abriu um sorriso amarelo.

― Claro que fiz, não se preocupe. – mentiu mais uma vez.

Elizabeth se separou do seu abraço e voltou à mesa.

― Então vamos trabalhar, temos muito que fazer hoje.

― Jane, pelo amor de todos os santos, preciso da sua ajuda! – Edward correu desesperado até
seu balcão. ― Eu esqueci de reservar o hotel para a viagem!

Jane arregalou os olhos. ― Eu não acredito! Onde você está com a cabeça ultimamente?

Ele sabia que sua cabeça estava numa mulher, cujo nome era Elizabeth, mas não revelaria
esses detalhes agora. Precisava resolver o problema das reservas.

― Eu estava ocupado, resolvendo outros problemas... – resmungou. ― Consegue ver isso pra
mim?

― Vou tentar, mas não posso garantir nada... – Jane lamentou. ― Você sabe que é muito
difícil conseguir assim, em cima da hora.

Edward bufou. Sua chefe o mataria se não conseguisse essas reservas. Elizabeth, apesar de ser
sua namorada, não deixaria que a relação influenciasse no trabalho.

― O que ela queria com você? – Anthony se aproximou com um copo de café e uma
rosquinha em mãos.

Edward se virou para ele. ― Ah... nada demais, ela queria saber sobre o anel.
― Anel? Que anel? – Jane se intrometeu, atraindo para si a atenção dos dois rapazes.

― Oh Jane, hoje já te falaram para cuidar da sua vida? – Anthony resmungou. Ela revirou os
olhos e Edward riu.

― Estou preocupado é com as reservas de hotel que eu esqueci.

― Você está ferrado, só isso. – Anthony sentenciou. ― Elizabeth vai ficar uma fera!

― Eu vou dar um jeito nisso. – Edward murmurou ao passar as mãos pelos cabelos e então
fitou Jane. ― E aí conseguiu alguma coisa?

Jane balançou a cabeça negativamente. ― Os hotéis que ela gosta estão todos lotados.

― Que horas vocês vão amanhã? – Anthony perguntou.

― Sairemos às três da tarde. Por quê?

― Vocês vão chegar à noite. Se fosse o caso, poderiam procurar algum lugar em outras regiões
próximas.

Edward buscou em sua mente, maneiras de se livrar daquela confusão. Teriam que procurar
um lugar quando estivessem lá e no mais, se contentar com os xingos que provavelmente
ouviria de sua chefe.

O dia passou rapidamente. Elizabeth e Edward foram os últimos a ir embora depois de


trabalharem juntos o dia inteiro.

― Você precisa ir para casa arrumar as suas malas. – Elizabeth se levantou e pegou sua bolsa.

Edward fechou seu laptop. ― Já tenho uma mala pronta.

― Mais rápido que eu então. – deu um meio sorriso. ― Vai até minha casa?

― Claro, vamos sim.

Edward a acompanhou até seu apartamento. Falaram pouco durante o trajeto. A realidade era
uma só: estavam exaustos e precisavam de um descanso.

― As coisas têm melhorado, não é? – Edward comentou, interrompendo o silêncio. Elizabeth


concordou com a cabeça.

― Sim, ainda bem.

Elizabeth deu graças a Deus pelas coisas melhorarem na empresa. Não gostaria de perder tudo
o que seu pai, com grande esforço levantou.

Ao chegarem ao edifício, deixaram o carro com o manobrista. Foi então que Edward viu
flashes em sua direção.

― Essa não. – resmungou enquanto puxava o braço de Elizabeth para dentro do hotel.

― Mas que diabos...? – ela ia retrucar quando também viu os flashes.

E então o que era apenas um, se tornou dez, vinte, trinta pessoas. Todos com câmeras e flashes
direcionados a eles.

― Quem é esse aí que você está transando? Conta aí pra gente! – um deles gritou.

E os flashes continuaram, cegando-os. Os seguranças do edifício e os próprios de Elizabeth


seguravam com força a porta, barrando-os.

― Venha, vamos subir logo. – Edward a puxou novamente e ambos entraram rapidamente no
elevador.

Edward passou as mãos pelos cabelos e respirou fundo. As coisas se complicavam a cada dia e
logo deveria revelar quem realmente era. Que Deus o ajudasse.

― Eu não entendo. – Elizabeth murmurou. ― O que eles querem?

― Não sei. – replicou seriamente. ― Também gostaria de saber.

A porta do elevador se abriu e a primeira coisa que Elizabeth fez, foi jogar sua bolsa em cima
da poltrona.

― Boa noite senhorita Adams. Senhor Smith. – Jofrey os cumprimentou. ― O jantar está
pronto, gostariam de ser servidos?

― Sim, estou morrendo de fome. – suplicou. ― Você viu a Gwen por aí?

― A senhorita deve estar chegando, disse que não demoraria.

Elizabeth olhou em seu relógio. Já se passava das nove horas. Edward estava na janela
tentando avistar o que estava acontecendo lá em baixo. Aproximou-se dele, abraçando-o por
trás.
Edward sentiu os braços finos rodeando a sua cintura e nada poderia descrever aquela
sensação. Meses atrás, sonhara com algo assim, mas nunca pensou que poderia se tornar
realidade.

Com isso, seu estômago gelou. Ela merecia saber a verdade sobre quem era e os motivos que o
levaram a mentir por todo esse tempo.

― Eu preciso te falar uma coisa. – murmurou pesadamente.

Então se virou e a fitou nos olhos verdes que ele tanto amava. Será que era a hora de revelar
toda a verdade? Como ficariam as coisas dali pra frente? Elizabeth entenderia seus motivos de
ter mentido todo esse tempo?

― O quê? – perguntou baixo, analisando a feição de Edward.

Elizabeth foi sincera com ele, expôs a sua vida e abriu seu coração. Agora era a sua vez.

― Ah, mas vejam só! Quem mandou aqueles Paparazzi aqui?

O encanto foi quebrado por Gwen e Clara que entraram afobadas no apartamento.

― Eu também queria saber. – Elizabeth quebrou o contato de seus olhares e caminhou até sua
irmã. ― Preciso da sua ajuda.

Edward bufou, odiava ser interrompido.

― Olá Edzinho! – Gwen o cumprimentou com um sorriso irônico.

Edward notou que ultimamente ela estava muito estranha, podia ser coisa da sua cabeça ou
não.

Elizabeth não pegou o tom de ironia no ar. ― Preciso da ajuda das duas, na verdade.

Clara sorriu calorosamente ao jogar suas coisas no estofado.

― Pode falar.

Edward se voltou para a janela onde viu os fotógrafos irem embora. Algo estava saindo do
controle e ele, definitivamente, odiava essa sensação.

― Nós vamos oficializar nosso namoro assim que voltarmos da viagem de negócios, e por
isso, preciso que vocês ajudem a organizar uma festa.

Clara deu um pulinho toda sorridente. ― Então é sério? Vocês estão mesmo namorando?

Edward se virou para ela e deu um pequeno sorriso de confirmação, confrontado pelo olhar
irônico de Gwen. Mas o que estava acontecendo com aquela mulher?

― E quando vocês vão voltar? – Gwen cruzou os braços.

― No sábado mesmo. – Elizabeth replicou. ― Ficaremos apenas três dias fora.

Clara se aproximou e pegou as mãos de sua amiga. ― Pode deixar que faremos a melhor festa.

Elizabeth piscou. ― Eu sei disso, por isso estou confiando em vocês.

As três sorriam em cumplicidade. Edward observou a cena, pensativo. Talvez fosse coisa da
sua cabeça, mas Gwen parecia conhecê-lo mais do que ele gostaria.

O dia amanhecera e o sol brilhava forte no quarto de Elizabeth. A realidade era que sua cabeça
doía demais, devidos os preparativos para a pequena viagem. Desde arrumar as malas, até
checar todos os papéis, tudo tinha que estar em ordem.

Não sabia dizer se era impressão sua, mas depois do incidente com os fotógrafos, notou que
Edward ficou estranho. Sem falar que ele parecia querer lhe contar algo e prontamente foi
interrompido pelas meninas. Imaginou que podia ser coisa da sua cabeça dolorida e cansada.

Hoje não iria até a empresa, afinal, tudo o que precisava para a reunião já estava em sua casa e
com Edward, que ainda era seu assistente.

Sentou-se na borda da cama e analisou como as coisas em sua vida haviam mudado tão
rapidamente.

Há quase três meses era noiva de Michael Sanders e agora era namorada de Edward Smith...
seu assistente. Como a vida é louca, não é?

Pegou seu celular e constatou uma mensagem.

“Se os seus sentimentos ainda são os mesmos, diga-me de uma vez. Minha afeição e desejos
não mudaram. Mas uma palavra sua me silenciará para sempre. Se, contudo, os seus
sentimentos mudaram, eu devo dizer que você enfeitiçou meu corpo e alma e eu a amo, eu a
amo, eu a amo. Anseio que não fiquemos separados a partir de agora. Se adivinhar qual livro é
esse, vou te dar uma surpresa!”

Elizabeth sorriu. Edward era um bobo mesmo. Deslizou os dedos pelas teclas e logo
respondeu:
“Você acha que vai me enganar com um dos meus crushes literários? Senhor Darcy é o que
há!”

Alguns minutos depois a resposta veio.

“Ai desse tal Darcy se chegar perto da minha garota!”

Elizabeth riu e digitou outra resposta.

“Como assim? Quem é a sua garota???”

Deixou o celular em cima da cama enquanto se arrumava. Logo ele tocou e uma nova
mensagem apareceu.

“A mulher mais inteligente, elegante e bonita. Têm os olhos verdes mais intrigantes que já vi
em minha vida. Você precisa conhecê-la. Chama-se Elizabeth Adams. Até a pronúncia de seu
nome é como melodia para meus ouvidos.”

Elizabeth não sabia como conter o sorriso bobo em seus lábios. Seu celular vibrou em suas
mãos mais uma vez.

“Chego aí em vinte minutos. Estou levando a sua surpresa.”

Descansou seu celular em cima de seu colchão e suspirou. O que será que era essa surpresa?

Levantou-se e terminou de se arrumar. Faltavam ainda algumas horas até o combinado. A


pequena viagem até Washington DC era de aproximadamente quatro horas, então não havia
necessidade de saírem tão cedo.

Elizabeth já havia preparado em sua mente, uma breve discussão com Gwen e Clara sobre os
preparativos da festa e um almoço com Edward antes de saírem.

Calçou uma sapatilha, afinal não usaria salto dentro de sua casa. Saiu de seu quarto e deu de
cara com o mordomo, que já vinha ao seu encontro.

― Bom dia senhorita Adams. – a cumprimentou calmamente. ― O senhor Smith a espera na


sala de estar.

Elizabeth sorriu. ― Tudo bem, já estou descendo.


Foi então que percebeu que faltava algo. Seu anel de namoro.

Anel de namoro podia não ser uma prática frequente, mas de uns tempos para cá, se tornara
algo comum entre os casais. Um anel de noivado seria demais no momento.

Pegou seu anel, colocou-o no dedo e caminhou rumo ao andar de baixo. Edward estava
sentado no sofá, atento ao seu celular quando se aproximou.

― Chegou rápido!

Edward a fitou e sorriu calorosamente.

― Eu já estava no metrô. – se levantou, puxando-a para seus braços. ― Sabia que eu senti a
sua falta?

Elizabeth riu ao abraçá-lo forte. ― Não me diga...

― Digo e... aqui está a sua surpresa. – a soltou e apontou para a direção do outro sofá.
Elizabeth acompanhou seu olhar e se surpreendeu quando viu que era um Urso gigante e uma
caixa de bombons.

― Como você sabe que são os meus preferidos? – Elizabeth perguntou ao abrir a caixa de
chocolates. ― Eles são maravilhosos! E esse ursinho... que fofo! – se jogou em cima do urso,
agarrando-o.

Ele concordou. ― Para você, só o melhor.

Elizabeth sorriu e se aproximou, dando-lhe um beijo fervoroso.


― Vem, precisamos fazer a lista de convidados. – puxou-o pela mão. ― Já tem alguém em
mente?

Edward coçou a cabeça enquanto a acompanhava até seu escritório.

― Só o pessoal da empresa, creio eu. – murmurou. ― Quem você pretende convidar?

Elizabeth se sentou em sua cadeira giratória e mordeu o lábio. ― Os funcionários da sede e os


respectivos gerentes das filiais. E claro, alguns membros da alta sociedade e da mídia.

Sua cabeça estava longe, por isso, apenas assentiu. Preocupação era o seu sobrenome no
momento.

― Você está bem? – perguntou, após alguns minutos observando-o.

― Estou sim. – deu um meio sorriso. ― Vamos montar essa lista.

Elizabeth pegou sua agenda. Lembrou-se de alguns nomes e Edward de outros, assim,
sucessivamente. Clara e Gwen se reuniram com eles, tratando de todos os detalhes da pequena
comemoração, que na realidade nem seria tão pequena assim.

Após a discussão sobre os preparativos, Clara e Gwen saíram em disparada. Precisavam


arrumar tudo, afinal, a festa seria dali a três dias. Não tinham tempo para brincadeiras.

Edward e Elizabeth almoçaram no apartamento. Jofrey ordenou à cozinheira que preparasse


um almoço digno dos deuses.

Jofrey era mordomo dos Adams desde que Charles era moço. Viu de perto o desenvolvimento
do rapaz, até seu casamento com Joan, mãe de Elizabeth. Acompanhou o nascimento da
menina e sempre admirou a persistência de Charles ao criar sua filha e transformá-la em uma
mulher de bem.

Infelizmente também acompanhou todos os momentos difíceis que Elizabeth passou, quando
seu pai fora cruelmente assassinado. Nunca demonstrou, mas amava demais aquela menina.
Para ele, ela sempre seria aquela mocinha que lhe pedia doces escondida de seu pai.

Quando chegou a hora de saírem, Jofrey e outro empregado levaram as bagagens até o carro,
que os esperava em frente ao edifício.

O motorista entregou a chave para Edward e fitou sua chefe. ― A senhorita tem certeza que
não quer que eu os acompanhe?

Elizabeth deu um meio sorriso. ― Não, está tudo. Edward dirige bem.

John estreitou os olhos para o homem que já estava no lado do motorista.

― Boa viagem, Srta. Adams.

Edward, como o bom rapaz que era, mostrou-lhe o dedo do meio antes de entrar no carro.
Elizabeth entrou no lado do passageiro com o olhar atônito.

― Deus! Por que mostrou o dedo para o rapaz?

O homem deu de ombros. ― Não viu que ele queria arrastar as asinhas para cima de você?

Elizabeth revirou os olhos. ― Ele é casado!

― E daí? – retrucou. ― São os piores!

Durante boa parte do percurso, Elizabeth se manteve em silêncio, lembrando-se das vezes que
viajava com seu pai para reuniões e tudo o mais. Depois que seu pai falecera, suas viagens com
Michael eram raríssimas. Ele sempre preferira viajar sozinho em seu jato particular ou em sua
limusine.

Olhou para Edward e não tinha como não fazer comparações. Michael sempre fora um homem
excêntrico, autoritário e nada humilde. Edward, apesar de não ter a mesma condição
financeira, portava-se como um homem educado em berço de ouro. Um verdadeiro Cavalheiro.

― Está calada. Aconteceu algo? – Ele perguntou, quebrando o silêncio.

Elizabeth respirou pesadamente enquanto se ajeitava no banco.

― Estava me lembrando das viagens com meu pai.

― Sente a falta dele, não é?

― Mais que tudo. – suspirou e olhou para a paisagem que desenrolava ao seu lado.

― Eu tenho que te contar algo.

Elizabeth o fitou apreensiva. O que era desta vez?

Edward deu um meio sorriso ao ver os olhos preocupados de sua namorada.

― Eu menti quando disse que tinha reservado o hotel.


Resolveu falar nesse momento que estava dirigindo, afinal, Elizabeth não seria louca de matá-
lo enquanto estava no controle do carro.

― Você o quê? – vociferou incrédula. ― E aonde diabos pretende passar essas malditas duas
noites?

Elizabeth queria matá-lo, pela enésima vez. Sabia Deus que esse era um desejo que perdurava
desde o dia em que o conhecera.

― Acalme-se. – pediu com tranquilidade. ― Eu tenho tudo sob controle.

― Eu acho bom! – exigiu. ― Não pense que por ser meu namorado, vai fazer seu trabalho de
qualquer jeito!

Edward revirou os olhos, já perdera as contas de quantas vezes ouvira aquele discurso.

― Eu sei disso, chefinha.

Elizabeth cruzou os braços e se acomodou novamente no banco. Esperava mesmo, que ele
fosse bom o suficiente para tirá-los daquele sufoco. Como ele poderia ter esquecido de algo tão
simples?

A viagem durou mais três horas. Três entediantes horas. Não havia música suficiente para
distraí-los, muito menos conversas. Edward estava exausto e preocupado com o hotel que Jane
conseguira de última hora. Elizabeth se mantinha em um looping infinito de dormir e acordar.

Até que avistaram a placa indicando a entrada da cidade.

― Graças a Deus. – Elizabeth resmungou. ― Minha bunda já está quadrada.

Edward riu. ― Já, já você irá tomar um banho quente e se acomodar entre os lençóis.

― Espero que sim. – murmurou, estreitando os olhos. ― Esse hotel aí que você conseguiu,
reservou dois quartos, não é?

― Sim, claro. – respondeu calmamente.

Elizabeth assentiu. Eles eram namorados, mas não queria dizer que dormiriam no mesmo
quarto. Muitas coisas ainda precisavam entrar nos eixos antes de partirem para algo maior.

Edward entrou numa rua de mão dupla, se deslocando para um bairro próximo. Elizabeth
passou em frente ao hotel onde sempre se hospedou com dor no coração. Que Deus a
guardasse, onde é que Edward resolveu os colocar.

Uma leve garoa se tornou uma chuva forte. Por sorte, haviam levado capas de chuva. Eles
entraram por uma estradinha tortuosa, que ao final desembocou em um hotel antigo.

― Santo Deus! – rosnou, buscando dentro de si motivos para manter-se calma.

― Santo Deus mesmo. – Edward concordou ao ver onde Jane os havia metido.

Estacionou o carro e pegou a capa de chuva que estava na pequena bolsa, no banco de trás. Só
havia uma.

― Vista isso. – lhe entregou a capa. ― Eu vou correndo.

― Mas a chuva está muito forte, você vai adoecer! – o repreendeu. ― Vá com a capa e venha
me pegar depois com algum guarda chuva.

― Não. – retrucou. ― Vamos correr. No três!

Elizabeth assentiu e ouviu quando começou a contar.

― 1... 2... e... 3!

Abriram a porta do Mercedes e saíram correndo para a entrada da recepção. Na verdade,


aquela era uma pousada de beira de estrada. Se houvesse um precipício ali, Elizabeth seria a
primeira a se jogar.

O local era antigo, que a lembrou de certo filme de terror.

― Deus queira que não me apareça um Norman Bates aqui. – resmungou ao vislumbrar o
local. Edward deu um meio sorriso.

― Até que não é tão ruim assim.

Elizabeth o fulminou com o olhar. ― Vou até o banheiro.

O homem balançou a cabeça afirmativamente e então após sair, o dono do local apareceu. Que
Elizabeth não o visse, pois realmente se parecia com o ator que interpretara Norman Bates no
filme de 1960.

― Perdoe a demora senhor, eu estava resolvendo uns problemas. – sorriu, desculpando-se. ―


O senhor já tem reservas aqui?

― Duas reservas. Elizabeth Adams e Edward Smith.

O homem concordou e então abriu um livro grande e grosso. Passou os dedos lentamente pelos
nomes. Foi então que apareceu um casal, com um bebê nos braços. Eles estavam ensopados.

― Boa noite, nós gostaríamos de um quarto. – disse o homem, que tentava abraçar sua esposa
e filho para conter o frio.

― Infelizmente estamos lotados.

― Meu Deus! O que vamos fazer George? – a mulher resmungou desesperada. ― Está muito
frio e não temos onde passar a noite!

― Vocês vieram na época errada. – o homem disse. ― A cidade está lotada!

O diabo sentado no ombro esquerdo de Edward dizia para ceder um dos quartos ao casal. O
anjo no lado direito lhe lembrava de que Elizabeth ficaria furiosa se assim o fizesse. Qual lado
ouvir?

Olhou para a mulher que já estava azul de tanto frio. Sem falar no bebezinho, que mesmo sob a
proteção, pegaria uma doença grave se não se esquentassem rapidamente. Respirando fundo,
mandou ao inferno as duas vozes e seguiu o que achava ser o correto.

― Podem ficar com esse quarto. – estendeu a chave.

― Mas senhor... – o Norman Bates quis rebater, mas Edward ergueu uma mão, freando-o. ―
Ela é minha namorada, vai entender.

Vai entender coisa nenhuma, pensou com resignação. Mas agora já era tarde demais.

― Moço! Muito obrigado. – a mulher agradeceu, com os olhos brilhando. ― Deus lhe abençoe
muito!

O homem mudou o nome no livro e liberou o casal para que pudesse ir o mais rápido possível
para o quarto. Edward respirou fundo quando o Norman Bates lhe desejou uma boa estadia e
voltou aos seus afazeres. Elizabeth voltou, pouco tempo depois, com a famosa cara de poucos
amigos.

― Vamos?

― Onde? – perguntou confuso.

― Para os quartos, idiota. – retrucou. ― Já pegou as chaves?

Edward a acompanhou pelo corredor que era na parte externa da pousada. Respirou fundo dez
vezes e se preparou mentalmente para lhe contar que não havia mais dois quartos, apenas um e
que teriam que dividir, gostasse ela ou não. Dormir com o casalzinho feliz, estava fora de
questão.

― Me dê a minha chave. – Elizabeth estendeu a mão. Foi à vez de Edward morder o lábio.
― É que... eu dei a chave do seu quarto. – disse de uma vez. Elizabeth cruzou os braços,
digerindo aquelas palavras.

― Você. O. quê? – perguntou lentamente.

Edward bufou. ― É que está chovendo e apareceu um casal com um bebezinho lindo nos
braços e não tinha nenhum quarto disponível e você sabe o quanto eu sou bondoso e não podia
deixar eles sem um quarto para dormir, então eu dei a sua chave para eles. – tomou fôlego após
despejar toda essa história, que ela certamente não acreditaria.

Elizabeth abriu um sorriso irônico, pegou a chave da mão de Edward e o fitou.

― Você não deu o meu... você deu, o SEU quarto! – após dizer isso, entrou no cômodo e
fechou a porta, deixando o homem parado sem reação.

― Elizabeth! – gritou enquanto batia na porta. ― Vai me deixar aqui no frio???

Elizabeth revirou os olhos ao se jogar na cama.

― Foi você que cedeu seu quarto, querido. Não eu! – berrou.

Pronto! Agora sim estava em uma perfeita enrascada. Edward sabia que realmente era um
idiota. Por que acreditou que Elizabeth entenderia aquela história sem pé e nem cabeça?

Passou as mãos pelos cabelos e se sentou no chão. O que iria fazer? Não havia outros quartos
vagos naquela espelunca. Dormir no carro seria sua única opção.

Elizabeth tirou seus sapatos e os colocou em baixo da cama. Já estava escuro e nada da chuva
parar. Olhou para os lados e analisou o cômodo. Uma cama horrível de madeira, uma televisão
dos tempos da brilhantina em cima de uma cômoda antiga. Nada parecido com o que estava
acostumada nos hotéis luxuosos em que se hospedava.

Respirou fundo e massageou suas têmporas. Edward lhe pagaria caro por aquilo. Entretanto,
tudo o que precisava no momento era de um bom banho.

Tirou as roupas e entrou no banheiro, sem dúvidas, o pior que já tinha visto em sua vida. Uma
banheira velha e uma capa de plástico com desenhos de patos amarelos. Elizabeth orou a Deus
para que não tivesse acontecido um assassinato naquele lugar.

Edward ouviu quando o barulho do chuveiro cessou. Estava sentado no chão, segurando suas
pernas por pelo menos quarenta minutos. Tinha que ter alguma maneira de resolver aquela
situação. Estava ali, sozinho no mundo, no frio, na escuridão, sem calor humano, só porque
tinha um bom coração?

Elizabeth saiu do banho com a toalha enrolada em seu cabelo. Jogou-se na cama e pegou um
livro na sua bolsa. Imaginou que a essa altura, Edward já teria arrumado um lugar para ficar.

Então, de repente, uma musiquinha bem conhecida preencheu seus ouvidos:

“MAS QUE SOLIDÃO, NINGUÉM AQUI DO LADO, ACHEI A SOLUÇÃO, NÃO SOU
MAIS MALTRATAAAADOOOO!”

Elizabeth olhou para a porta. Sério que Edward sabia a música que o Burro cantava para o
Shrek?

“MAS QUE SOLIDÃO, NINGUÉM AQUI DO LADO, ACHEI A SOLUÇÃO, NÃO SOU
MAIS MALTRATAAAADOOOO!”

― CALA A BOCA! – Gritou e jogou o livro na porta.

― Eiii! – ele rebateu. ― Abre a porta, meu amor! Está muito frio aqui.

Elizabeth se levantou, pegou o livro do chão e abriu a porta. Edward se levantou rapidamente e
abriu aquele sorriso que ela tanto adorava.

― Entra, deita no sofá e cala a boca! – disparou, deixando a passagem livre para ele.

Edward vislumbrou o lugar e a fitou.

― A cama é enorme, poderíamos dividi-la.

Elizabeth não respondeu. Jogou-se novamente na cama e continuou lendo o seu livro.

― Tudo bem... – ele resmungou ao erguer as mãos. ― Não está mais aqui quem falou. Vou
tomar um banho.

Edward tirou a camisa e abriu o cinto. Elizabeth não queria, mas seus olhos saíram do livro por
breves instantes para analisar o corpo do homem. Ele realmente era bonito.

― Hey, para de me olhar! – ele resmungou. ― Eu tenho vergonha!

Elizabeth deu de ombros e fitou seu livro. Não queria saber de papo com ele.

Edward ficou somente de cueca e foi para o banheiro. Após entrar no local percebeu que ela
tinha razão em ficar brava com ele. Estava bravo com si mesmo. Como diabos esqueceu-se de
reservar o maldito hotel?

Após vestir roupas confortáveis e sair do banheiro, se surpreendeu ao encontrar Elizabeth


dormindo. Aproximou-se dela e deitou ao seu lado. Descobriu que vê-la dormir era algo
realmente convidativo.
Lentamente passou os dedos pelo rosto macio. Seu rosto delicado, maçãs do rosto rosadas
naturalmente. Acariciou sua orelha e desceu os dedos para seus lábios. O perfume de flores
invadiu suas narinas e deu um meio sorriso. Ela era linda.

― Eu te amo, Elizabeth. – sussurrou ao depositar um beijo em seus cabelos.

― Por quê?

Elizabeth levantou o rosto e seus olhos se encontraram.

― Deus, você estava acordada! – Edward se virou, ficando de costas para o colchão.

Elizabeth se aproximou, encostando seu corpo no dele. ― Por que você me ama? – suspirou.
― Eu sou uma bruxa, sem coração. Todos que estão ao meu redor sofrem.

Edward a encarou e viu a tristeza nos olhos verdes que ele tanto amava. Virou-se para ela e
acariciou seu rosto.

― Confesso que no primeiro dia eu me assustei um pouco. – sorriu. ― Mas naquele momento,
em que nossos olhos se encontraram, eu soube que por trás daquela armadura, havia outra
mulher. Você me enfeitiçou e me fez sentir coisas que nenhuma outra pessoa conseguiu.

Elizabeth respirou fundo e ele continuou. Era hora de colocar tudo em pratos limpos.

― No fundo, eu sabia que você era uma mulher maravilhosa, com um bom coração. Afinal,
quem colecionaria tantos amigos bons se não fosse bom também? – acariciou seu rosto
novamente. ― Anthony me disse que havia motivos para você ser do jeito que era, e eu
acreditei que poderia descobrir e tentar ajudá-la a transformar seu mundo num lugar mais feliz.

Ouvindo aquelas palavras doces não aguentou e despejou as lágrimas. Entretanto, desta vez,
não eram lágrimas de tristeza, mas sim, de felicidade.

― Poderia ser egoísmo da minha parte, mas eu não aceitava o fato de você escolher Michael.
Desculpa falar isso, mas ele nunca trouxe o melhor de você. – secando uma lágrima com o
dedo, suspirou. ― Você não tem idéia do quanto eu te amo, senhorita Adams.

Após dizer essas palavras, desceu os lábios até os dela e a beijou com fervor. Elizabeth se
entregou ao momento, pois aquelas palavras eram as mais sinceras que já tinha ouvido. Seus
lábios se moveram com facilidade e com precisão. Pareciam ter sido projetados um para o
outro, pois o encaixe era perfeito.

E foi através desse beijo que se esqueceu de quem era e da espelunca onde estavam. O
momento era único e queriam aproveitar cada segundo. Edward desceu a mão pela curvatura
de sua cintura, acariciando-a e então soube que ela estava entregue, de corpo e alma.
O beijo se intensificou e Edward se posicionou por cima de seu corpo. As mãos de Elizabeth
não perderam tempo e logo entraram por dentro de sua camisa, acariciando suas costas. Preso
em seus lábios, Edward fechou os olhos quando sentiu as mãos finas e delicadas tocando seu
corpo.

― O que você quer? – murmurou entre um beijo e outro.

Elizabeth não conseguia pensar corretamente. Sabia que aquilo aconteceria, mas não tinha
certeza de que estava preparada.

― Eu não sei... – respondeu. ― Eu não acho que isso deva acontecer. – murmurou com
dificuldade.

Edward sorriu maliciosamente ao descer os lábios pela curva de seu pescoço. ― Por que não
deveria?

Os lábios quentes devoraram seu pescoço, fazendo com que fechasse os olhos. Na verdade,
nem ela mesma sabia por que ele não podia tocá-la.

Edward continuou deslizando seus lábios, enquanto com sua mão livre acariciava os seios
cobertos pela blusa.

Fazia muito tempo que não dormia com ninguém, e isso, de certa forma a deixava frustrada.
Michael sempre reclamou que ela se parecia com uma pedra de gelo na cama e não uma
mulher sedenta.

Mas agora... aqueles lábios em sua pele, deixavam-na sedenta por mais. Bloqueando aqueles
pensamentos, levou as mãos até a cabeça de Edward e puxou-o para mais um beijo
arrebatador.
Edward não era ingênuo e sabia que a mulher não era virgem. Entretanto, percebeu que ela não
estava à vontade. Sabia que deveria ir com calma, apesar de dentro das suas calças, a prova do
seu desejo estava latente.

Com calma, desceu uma das mãos, passando pela sua barriga e por fim, puxando a calça de
moletom que ela usava. As mãos de Elizabeth se apertaram de volta de seu pescoço e ele
separou seus lábios para olhar seu corpo.

― Você é muito linda.

Elizabeth o fitou temerosa.

― Apaga a luz... por favor. – pediu em voz baixa.

― O quê? – ergueu a sobrancelha. ― Nem pensar!

Elizabeth olhou para o lado e respirou fundo. ― Eu...

Nesse momento a ficha de Edward caiu e ele soube que ela nunca havia experimentado o
verdadeiro prazer. Nem queria pensar em todas as atrocidades que o desgraçado do ex-noivo
havia a feito passar.

― Não fale. – ele pediu e a encarou seriamente. ― Se, depois dessa noite, você não sentir
absolutamente nenhum prazer, eu prometo que será como você quiser.

Elizabeth viu novamente a sinceridade em seus olhos e assentiu, dando-lhe total domínio sobre
seu corpo. Ela soube que não teria volta, mas não conseguiu controlar o desejo que só
aumentou dentro de si.

Edward suspirou e se colocou de joelhos, tirando a camisa. Os olhos de Elizabeth pousaram


em seu corpo e mais uma vez o admirou. Ele não era um fisiculturista, mas era forte e estava
dentro dos padrões que ela gostava.

Puxou Elizabeth pelas mãos e quando ela se sentou, puxou sua blusa, revelando o sutiã preto.
Não conseguiu evitar admirá-la mais uma vez.

Elizabeth vislumbrou o desejo em seu olhar e então o puxou para mais um beijo. Seus lábios se
moveram como se travassem uma luta. E então, seus dedos desceram lentamente, alcançando o
ponto que a faria se retorcer sob seu corpo.

― O que você vai fazer? – ela perguntou atônita.

― Calma... – ele sussurrou. ― Eu disse que iria lhe dar prazer.

Elizabeth suspirou quando sentiu os dedos hábeis de encontro ao seu ponto sensível. Fechou os
olhos e não se conteve enquanto os espasmos percorriam seu corpo. Edward sorriu não evitou
um sorriso quando a viu se retorcendo sob seus toques.

― Por favor, continue... – sussurrou quando ele ameaçou parar.

Ele a obedeceu e continuou, deliciando-se com a visão dela se entregando ao momento. E


como se não aguentasse mais, com agilidade tirou seu sutiã e o arremessou longe.

Elizabeth arqueou as costas quando os lábios sedentos de Edward deslizaram em torno de seus
seios. Fechou os olhos e respirou fortemente, entregando-se completamente. Suas mãos
continuaram o trabalho em seu ponto delicado, enquanto sua boca trabalhava em seus seios.

As mãos de Elizabeth voaram para sua cueca e a puxaram para baixo, revelando a prova de seu
desejo. Seus olhos se encontraram mais uma vez e, desse ponto, sabiam que já não
conseguiriam retroceder.

Quantas noites sonhou com aquele corpo debaixo do seu? Quantas noites odiou pensar na
possibilidade de que ela estivesse na cama daquele imbecil? Mas agora... ela estava ali. Sim,
entregue a ele, como quem gostaria de conhecer mais, explorar cada momento.

Ele a amava, e a prova daquele amor era muito mais do que a excitação. A prova estava ali em
seus dedos, que a acariciavam e a fazia se retorcer sob o colchão. Ele a faria alcançar o prazer
máximo.

― Você é minha. – determinou ao beijar seus ombros. ― É somente minha.

Elizabeth fechou os olhos mais uma vez. Ela precisava daquilo.

― Eu preciso de você. – suspirou. ― Agora.

Edward a fitou com um sorriso bobo nos lábios. ― Tem certeza?

Choramingou ao ser tocada mais profundamente. ― Eu... preciso...

― Então me peça direito. – brincou ao descer os lábios pela sua barriga. ― Quem sabe eu...

Elizabeth bufou, tentando conciliar, pensamentos coerentes com o prazer que sentia.

― Eu quero você!

Edward sorriu novamente. ― Não é assim que se pede...

Elizabeth abriu os olhos e o fitou ameaçadoramente. ― Pelo amor de Deus! Você quer que eu
implore?
Edward riu tranquilamente e a beijou, com um movimento que o colocou entre suas pernas.

― Depois de um pedido desse, quem sou eu para contestar? – brincou, depositando outro beijo
em seu pescoço.

Elizabeth suspirou e deslizou as mãos em suas costas, acariciando-o.

Edward se apoiou nos cotovelos e a fitou nos olhos. ― Tem certeza que é isso o que quer? –
perguntou temendo que ela dissesse não.

― Eu te quero. – suspirou. ― Por favor.

Edward já esteve com muitas mulheres, mas nenhuma o deixou tão atordoado com aquela. Seu
coração palpitava de ansiedade, mediante a oportunidade de se afundar naquele corpo delicado.

Ela o enlouqueceu, desde o dia primeiro dia que a vira naquela sala.

― Eu também a quero. – murmurou, prendendo seu olhar. ― Você não tem ideia do quanto.

― Então faça. – Elizabeth pediu calmamente.

Edward a beijou nos lábios mais uma vez antes de afundar seu corpo no dela. Eles se
encaixaram perfeitamente. Eles pertenciam um ao outro e ninguém contestaria.

Palavras não eram suficientes para descrever o momento. Edward respirou fundo antes de fazer
o primeiro movimento, não queria machucá-la, pelo contrário, queria levá-la às alturas.

― Por favor, continue. – Elizabeth pediu, abrindo mais as pernas, dando a ele combustível
necessário para continuar o que estavam fazendo.

Nesse momento o mundo acabou. O autocontrole foi para o inferno e juntos, buscaram a
redenção para seus corpos exaustos.

Elizabeth fechou os olhos e deixou que ele a levasse naquela montanha russa de sensações. Ora
caindo, ora subindo. Suas mãos envolveram seus cabelos e já não conseguia controlar os sons
que saíam de sua garganta.

― Continue...

Edward tentou controlar as sensações para que ela também desfrutasse do momento. Mas é
claro que um longo tempo, sem nenhuma mulher, não estavam o ajudando em nada.

― Eu não sei se aguento muito tempo... – suspirou. ― Você... está acabando comigo.

Elizabeth sorriu e ele viu em seus olhos a luxúria. Ela gostava da sensação de acabar com ele.
Suas unhas se arrastaram por suas costas quando ele aumentou as investidas. Edward sabia que
não apenas seus corpos estavam unidos, como também suas almas.

Ela se apertou contra ele e se deixou levar, naquele precioso momento. Sensações que nunca
sentira, saltando conforme cada movimento, mais forte, mais rápido.

Seus olhos se encontraram mais uma vez e cada muralha que construiu ao redor do seu
coração, caiu, uma por uma. Seu coração, que também era coberto por uma camada espessa de
gelo, estava aquecido, fazendo-a se lembrar de quem realmente era.

Elizabeth nunca pensou que pudesse se entregar assim, de corpo e alma. Foi nesse momento
que alcançou o que nunca experimentara antes e não pôde se conter, deixando escapar um
grito. Logo depois, Edward alcançou o ápice, pois não conseguiria se controlar mais.

Eles se olharam nos olhos e ela assentiu, dando-lhe total liberdade para alcançar seu próprio
prazer. E assim, ele o fez.

Edward estava quebrado. Ela estava quebrada.

Não tinha mais volta. Eles pertenciam um ao outro.

Seu coração parecia querer pular do peito. Abriu os olhos e encontrou aqueles olhos verdes que
ele tanto amava. Estavam diferentes, cheios de paixão, cheios de amor. Beijou-lhe mais uma
vez e se jogou de costas no colchão, puxando-a para seu peito.

Eles ficaram em silêncio por vários minutos. Cada um, mergulhado em seus próprios
pensamentos. Meses atrás, Elizabeth nunca imaginou que sua vida mudaria tão drasticamente.
Tudo estava planejado: Reerguer sua empresa, um noivo e um casamento, de aparências, mas
seria o casamento do ano, que já estava determinado desde que era uma menina. De repente,
tudo mudou e Edward entrou em sua vida, virando tudo aos avessos.

― Foi bom pra você? – perguntou ao passar os dedos em seus cabelos bagunçados.

Elizabeth encostou o rosto em seu peito e com a outra mão, alisou sua barriga.

— Foi ótimo. – sorriu. — E você? Gostou?

Edward abriu o sorriso de uma criança de dez anos, como se tivesse acabado de ganhar um
presente.

— Claro. Você é mais especial do que eu imaginava... – sussurrou ao se virar e encontrar seu
rosto.

Elizabeth suspirou e acariciou seus cabelos. — Pode ser vergonhoso o que eu vou falar, mas
acho que eu devo ser sincera com você.
— Eu nunca tive um orgasmo... com Michael. – bufou e desviou o olhar. — Michael sempre
achou que o mundo girava em torno de seu umbigo.

Isso não era novidade para Edward, visto que se portava dessa mesma maneira nos negócios. O
que mais inquietava a sua mente, era saber como ela levava aquele relacionamento adiante.

— Você realmente ia se casar com ele? – perguntou, após um silêncio constrangedor.


Elizabeth sentou na cama e puxou o lençol para cobrir seu corpo.

— Sim, eu ia.

— Eu não entendo... – resmungou ao levar o antebraço ao rosto. — Você o amava?

Elizabeth suspirou e não soube o que responder. Eles mantiveram aquele compromisso por
tanto tempo que não viu motivos para cancelar.

— Eu não sei... Edward. – soltou a respiração que prendia, involuntariamente. — Não quero
falar mais sobre isso, só queria lhe dar os parabéns.

— E por quê? – arqueou a sobrancelha.

Elizabeth virou o rosto e sorriu maliciosamente. — Conseguiu satisfazer a sua chefe muito
bem.

Edward riu abertamente e a puxou, de forma que seu corpo caiu sob o colchão.
Sorrateiramente, se posicionou por cima dela, o rosto a poucos centímetros. — Por acaso,
duvidou da minha vasta experiência?

— Ah! Então a sua experiência é bem grande? – ironizou. — Acho bom me passar à lista, não
quero nenhuma surpresa desagradável por aí.

— Esqueceu-se que meu País de origem é outro? – murmurou, despejando beijos ao longo da
curva de seu pescoço. — Não creio que você vá encontrar pessoas do meu passado, pelo
menos não tão cedo.

Elizabeth fechou os olhos e ao simples toque, sentiu suas partes íntimas reclamarem a atenção
daquele homem. Com Edward não foi diferente, sentia-se como um garoto na puberdade, que
ao mínimo toque, já ousava a se levantar.

— Tem alguém querendo cumprir as obrigações com a chefinha novamente. – anunciou


sedento por mais. Elizabeth abriu os olhos e despejou um sorriso sedutor.

— Mal posso esperar.


Elizabeth não saberia explicar se havia sensação melhor do que acordar nos braços de outra
pessoa. Abriu os olhos lentamente, a chuva tinha parado e pela fresta da janela, entraram os
primeiros raios solares do dia.

Sentou-se na cama, recapitulando em sua mente tudo o que acontecera na noite anterior. Não
pôde conter um sorriso brotar em seus lábios ardentes. Fitou o homem ao seu lado e o cutucou.

— Acorda dorminhoco!

Edward abriu os olhos lentamente. — Como ousa me acordar às três da madrugada?

Elizabeth riu e deu um tapa em seu braço. — Temos que nos apressar, a reunião é às dez horas,
lembra?

O homem respirou fundo e se sentou na cama. Seu cabelo estava bagunçado, seu rosto
amassado.

— Eu havia me esquecido até do que viemos fazer aqui em Washington, querida. – sorriu e
arqueou a sobrancelha. — Como poderia lembrar depois dessa noite maravilhosa?

Elizabeth riu e se levantou. Entrou no banheiro, procurando por mais toalhas, porém, ao ver
que pareciam restos de pano de chão, achou melhor usar as que estavam em sua mala.

Edward olhou em seu celular e só tinham uma hora para se arrumar. É claro, que gostaria de
acompanhar sua namorada no banho, mas sabia que em menos de uma hora não sairiam de lá.

Após todo o ritual de tomar banho, se vestir, se maquiar – esse último, no caso de Elizabeth –
estavam prontos para a reunião que mudaria o rumo de muitas coisas.

Saíram do quarto, elegantíssimos, como dois executivos e, é claro, que atraíram a atenção dos
outros hóspedes, que também já estavam de saída para o que é que fossem fazer. Antes de
entrar no carro, o casal que Edward cedera seu quarto, novamente lhe agradeceram.

“Eu é que devo agradecer a vocês” foi o que disse, na maior cara de pau do mundo.

— Estou um pouco nervosa. – Elizabeth murmurou, após deixarem a pousada do Norman


Bates para trás.

— Por quê?
Elizabeth suspirou. — Se conseguirmos esse contrato, um ano estará a salvo.

Edward assentiu, pensando nos problemas que enfrentavam na empresa. Via como Elizabeth
dava o sangue para tirá-los do sufoco. Como ouviu alguém dizer: “viviam, matando um leão
por dia”.

— Vai dar tudo certo, tenha fé.

Elizabeth não respondeu, afinal, o que mais buscava dentro de si era a fé que possuía quando
criança. Talvez, a mudança em si fosse um grande passo, mas sabia que precisava mudar muito
mais.

Lembrou-se das raríssimas vezes que seu pai a acompanhou até a igreja. Ela se lembrava de
pouca coisa, mas algo tinha marcado sua mente: “Em verdade vos digo que, se tiverdes fé
como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada
vos será impossível.”

Será que era verdade? nunca testou isso em sua vida. Sempre acreditou que as coisas
aconteciam porque tinham que acontecer. Suspirou e lembrou-se do momento que deixou a sua
fé morrer. Naquele escritório, quando encontrou seu pai caído no chão, com uma bala no peito,
sem falar depois, quando perdeu seu filho, na tentativa de acabar com aquele sofrimento.

Olhou para Edward e o admirou. Ele não era rico como ela, mas tinha uma alma melhor que a
dela. Ele não parecia ser religioso, mas não podia negar que via uma chama dentro de seus
olhos. A famosa chama da fé.

Suspirou e balançou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos e se concentrar na


reunião. Um ano de sua empresa estava em jogo e não queria decepcionar a memória de seu
pai. Pela primeira vez, teria que comandar aquela reunião sozinha, afinal, Michael ou Anthony
não estavam ali para ajudá-la, como em outras ocasiões.

Era somente ela e Edward.

Elizabeth não se acovardou ao cumprimentar os homens que estavam espalhados, ao redor de


uma gigantesca mesa de reunião. Na maioria, Japoneses, Russos, Alemães, que pareciam
formar uma Máfia. Lembrou-se de todos os conselhos de seu pai: “Olhe nos olhos”, “Seja
firme em suas palavras”, “Transmita seriedade no seu trabalho”, “Seja elegante, mas não
arrogante” e mais uma série de coisas que o Sr. Adams tinha lhe ensinado antes de morrer.

E sem dúvidas, todos esses conselhos fizeram a diferença, quando os homens sorriram um para
o outro, após Elizabeth ter despejado todo o seu conhecimento por meio de uma apresentação
impecável.

— É claro que desejamos fazer negócios com a senhorita. – um dos homens se levantou. —
Explicação melhor que essa, não conseguiríamos em nenhum outro lugar.
Elizabeth abriu um pequeno sorriso e seu olhar cruzou com os de Edward, que, sentado a
alguns metros distante, assentiu e abriu um sorriso orgulhoso. Não sabia dizer o quê, mas viu
algo diferente no homem. Algo que nunca tinha parado para analisar.

Edward parecia conhecer muito mais sobre os negócios do que ela e isso a intrigou. Um
pensamento passou pela sua cabeça, mas logo tratou de empurrá-lo para longe. Edward não
seria capaz de mentir para ela, seria?

Quem era aquele homem? Quem era a sua família?

Eram tantas perguntas... E, por um segundo, pareceu que ele lhe escondia algo.

Suspirou e decidiu que não deveria duvidar dele. No momento certo, deixaria que ela entrasse
nos outros aspectos de sua vida. Ela precisou de um tempo, por que ele não?

— Conseguimos! – sibilou as palavras, sentindo a felicidade invadir seu corpo mais uma vez.

Edward se levantou e enquanto ela cumprimentava a cada um dos executivos, sussurrou em


seu ouvido: “Você conseguiu”.
Passaram-se mais de duas horas desde que saíram da reunião. Elizabeth estava reluzente com
seu novo acordo e não se aguentava com a vontade de ligar para Anthony e lhe contar que tudo
saíra conforme o planejado.

Eles ainda demoraram dentro do prédio, pois tinha centenas de papéis para assinar e, sem
dúvidas, a maioria dos executivos queria a atenção de Elizabeth. Além de ser uma mulher no
comando, era bonita e inteligente.

— Estou morto de fome. – Edward reclamou ao entrarem no carro.

— Eu também.

— Conhece algum restaurante legal aqui perto? – perguntou ao girar a chave. Elizabeth fez
uma careta, como se forçasse o cérebro.

— Sim, conheço. Fica há algumas quadras daqui. Eu te mostro, é só seguir reto.

Edward engatou a marcha e saiu do estacionamento, não sem antes olhar para os lados e ver se
vinha algum carro.

— Estou muito feliz por você. – disse sem delongas. — Acho que foi a melhor reunião que
você já conduziu.

Elizabeth deu um meio sorriso. — Confesso que estava um pouco nervosa. Você sabe Michael
sempre liderou algumas questões que eu não dominava.

— Você é Elizabeth Adams! Nunca precisaria daquele imbecil.

Elizabeth riu e então eles pararam num semáforo. Ligou o rádio do carro e tentou encontrar
algo que lhe agradasse. O sinal abriu e Edward acelerou, porém um carro em alta velocidade os
alcançou, jogando farol alto e buzinando sem parar.

— Mas que diabos é isso? – bufou ao tentar se virar para ver quem eram os idiotas.

— Deve ser esses adolescentes bêbados. – Edward revirou os olhos e continuou dirigindo.

O carro de trás, na cor preta, não parou de buzinar e quando tiveram a oportunidade, os
alcançaram, andando lado a lado. Elizabeth e Edward arregalaram os olhos e o homem fez de
tudo para controlar o volante e não deixar que algo pior acontecesse. Dentro do carro, dois
homens com máscaras de palhaços e o que estava no banco do passageiro, segurava um cartaz
escrito: EU SEI O QUE VOCÊS FIZERAM.

Elizabeth arregalou os olhos. — Meu Deus, o que é isso?!

Os homens riram e arrancaram com o carro, o mais rápido que conseguiam, deixando o casal
para trás, atormentados e cheios de perguntas.

A mesma frase do bilhete que foi deixado no seu carro, dias antes. Elizabeth teve a certeza de
que aquilo não era uma brincadeira de mau gosto.

— Mas que inferno! – Edward vociferou e apertou as mãos no volante. — O que está
acontecendo?

— Eu não sei. – Elizabeth choramingou, com as mãos trêmulas. — Precisamos ir até a polícia!

Eles chegaram até o estacionamento do restaurante sem dizer muitas palavras.

Edward a fitou seriamente.

— Você tem alguma ideia de quem está por trás disso?

Elizabeth respirou fundo, seu coração quase saindo pela boca. — Minha suspeita é de antigos
funcionários.

Edward fechou as mãos em punho. Se a polícia não descobrisse nada, ele mesmo iria e quando
colocasse as mãos no imbecil, não se responsabilizaria por seus atos.

O celular de Elizabeth tocou e ela nem se deu ao trabalho de ver quem era. Com as mãos
trêmulas, atendeu:

— Alô?

— Oi maninha, desculpe te ligar agora... tentei mais cedo, mas acho que você estava em
reunião
Elizabeth suspirou. Era sua irmã. — Sim. O que houve?

Gwen tomou algum tempo.

— O Capitão Foreman esteve aqui e queria falar com você.

— Ele te disse sobre o que era?

Elizabeth esperava ouvir que sim, que tinham encontrado digitais naquela foto que ela deixou
com a polícia.

— Não, na verdade. – Gwen suspirou. — Ele disse que assim que você voltar vá até a
delegacia para falar com ele.

Elizabeth bufou. — Eu vou tentar ligar para ele.

— Aconteceu alguma coisa? – Gwen perguntou. — Sua voz está estranha.

— Suspeito que estejam nos perseguindo. Tome cuidado por aí. – advertiu e logo mudou de
assunto. — Me conta, como estão os preparativos para a festa?

Gwen riu. — Tudo conforme o planejado. Peônias e Rosas brancas, do jeito que você gosta.
Vocês chegam amanhã antes do almoço?

— Sim, provavelmente. – olhou para o lado e Edward estava quieto e pensativo.

— Tem que vir cedo, quero levá-la para buscar o vestido que escolhi para você.

Elizabeth sorriu. — Nos vemos amanhã. Beijos.

— Espera um pouco. – Gwen a interrompeu. — Tem alguém querendo falar com você.

Elizabeth arqueou a sobrancelha. — Quem é?

Ela ouviu a fungada do outro lado da linha. — Oi Lisa, sou eu.

— Jason. – murmurou. — Me desculpe por aquele dia... eu...

Jason riu calmamente. — Eu é que devo pedir desculpas pelas besteiras que minha mãe falou.

Elizabeth suspirou e olhou para baixo. Não queria falar que aquelas palavras magoaram seu
coração. Jason era seu amigo de infância e não podia deixar que uma besteira atrapalhasse sua
amizade.

— Deixa pra lá. – sorriu. — Você vai na festa amanhã, não é?


— É claro! Acha que vou perder esse anúncio tão esperado?

Elizabeth riu, no final, todos torciam para que ela e Edward ficassem juntos. No começo não
entendeu os motivos, mas agora, compreensão lhe caiu perfeitamente.

Edward era diferente. Ele trouxe para seu mundo paz e alegria. Ele a levou de volta para seus
amigos. Ele resgatou a antiga Elizabeth Adams, que estava adormecida dentro de camadas de
gelo.

— Nos vemos amanhã. Beijos.

Edward ainda estava com o pensamento longe, quando sentiu os dedos delicados tocando sua
mão. Seu olhar dizia mais do que palavras: “Nós vamos pegar esse safado.”.

— Será que o Capitão descobriu alguma coisa?

— Não sei... – suspirou. — Vou ligar para ele.

Buscou na memória do celular o telefone do Capitão e apertou o verde. Alguns toques depois,
o homem atendeu.

— Elizabeth?

— Sim, sou eu. – pausou alguns instantes. — Minha irmã disse que o senhor me procurou esta
manhã.

O homem respirou fundo. — Oh, sim, ela me disse que você estava viajando.

— E o que o senhor deseja?

O capitão parecia mastigar algo, pois demorou a falar.

— Infelizmente não conseguimos descobrir nenhuma digital naquela foto. – informou. —


Sabe, poderia mesmo ter sido uma brincadeira.

O sangue de Elizabeth ferveu em suas veias e vociferou no telefone: — Brincadeira coisa


nenhuma! Acabamos de ser perseguidos por imbecis com máscara de palhaços, que quase nos
fizeram bater o carro!

O capitão tomou fôlego. — Deus. Isso é algo muito sério.

— Muito sério! – Elizabeth concordou com rispidez. — E acho bom o senhor colocar seus
policiais na rua e descobrirem quem é o imbecil que está fazendo isso ou então, Capitão, eu
não terei dificuldade alguma em falar com o Senador sobre a sua transferência!
E dizendo tais palavras, encerrou a chamada. Edward já estava acostumado com aquela
Elizabeth, mas o Capitão provavelmente não.

— Ele poderia prendê-la por desacato. – sugeriu, após alguns minutos de silêncio.

Elizabeth deu de ombros.

— Ele não é louco.

Elizabeth e Edward almoçaram tranquilamente, tentando esquecer o episódio que acontecera


mais cedo. Quando voltassem à Nova York, trabalhariam para descobrir o autor daquela
baixaria.

De volta ao hotel do Norman Bates, ambos não aguentaram o cansaço de uma noite inteira de
amor e se renderam ao sono, naquela cama velha e dura.

Elizabeth usava um vestido na cor azul, o mais bonito que já vira em sua vida. Os braços eram
feitos de renda e em todo o comprimento era bordado com pedras preciosas. Ela se aproximou
de Edward e lhe deu um beijo.

Ele sorriu e a puxou para uma dança.

— Você está linda, já te falaram isso? – sussurrou ao aproximar os lábios de seu ouvido.

Elizabeth suspirou ao sentir a voz máscula enchendo seus ouvidos.

— Você também não está nada mal.

Edward sorriu mais uma vez e giraram como numa valsa. Elizabeth olhou para os lados e só
conseguiu ver o jardim a sua frente. O sol ofuscava os rostos das outras pessoas.

De repente, um estrondo a paralisou. Não conseguia definir bem o que era, mas viu quando
Edward, paralisado, revelava o choque e horror em seus olhos.

— O que houve? – perguntou, aterrorizada.

Uma grande mancha vermelha tingiu a camisa branca que Edward usava. Ele a fitou com os
olhos enegrecidos e caiu de joelhos. Elizabeth levantou o olhar para além e viu Michael,
segurando uma pistola e um sorriso diabólico nos lábios.
— Sentiu minha falta, querida?

— NÃO!!! – Elizabeth pulou da cama, assustada. Seu corpo inteiro tremia e suor escorria de
sua testa.

— Deus! O que aconteceu? – Edward se sentou. — Você está bem? – perguntou ao notar que
Elizabeth estava mais pálida que o costume.

Elizabeth sentiu o peito subindo e descendo com a respiração acelerada. Maldito pesadelo.

Levantou e foi até a mesinha, que continha uma jarra com água. Encheu o copo e entornou,
bebendo tudo de uma vez.

Edward a observou e soube que ela precisava de um tempo. Elizabeth parecia perdida em
pensamentos e tudo o que ela precisava era respirar. Incrível como em tão pouco tempo já a
conhecia tão bem.

— Eu tive um pesadelo. – abanou o rosto com a mão. — Acho que essa coisa toda de
perseguição ficou no meu subconsciente.

O homem assentiu e estendeu os braços para ela. Elizabeth se aproximou e deixou ser
envolvida naqueles braços fortes e reconfortantes. Ele a puxou para seu colo e ela descansou a
cabeça em seu peito.

— Não se preocupe com isso, nós vamos resolver esse problema. – disse baixo, depositando
um beijo no topo de sua cabeça. — Amanhã estaremos de volta com sua família e amigos.

— Estamos juntos nessa, não é? – Elizabeth resmungou.

— Claro que estamos. – Edward sorriu e a abraçou mais forte. — Eu já disse que a amo e o
amor também é proteger.

Elizabeth fechou os olhos ao ouvir que ele mais uma vez declamava seu amor em alto e bom
som. Por que ela não conseguia fazer o mesmo? As palavras até vinham em sua boca, porém
sem sucesso saíam.

Levantou o rosto e fitou Edward mais uma vez. Seus olhos azuis, como a cor do mar, sua barba
por fazer. O queixo quadrado, o nariz fino e reto. Seus cabelos finos e claros, que na maioria
das vezes, se mantinham rebeldes.

Fechou os olhos e se lembrou de quando ele entrou em sua sala para a entrevista de emprego.
Seus olhos se cruzaram naquele dia e iniciou-se uma conexão invisível, que com o tempo
cresceu e se tornou algo muito maior.

Levou seus lábios até os dele e agarrou seu pescoço, segurando-o como se ele fosse escapar.
Seus lábios se moveram com facilidade. Edward não se acovardou e aprofundou o beijo,
reivindicado cada parte daqueles lábios sedentos. Suas línguas travaram uma batalha, mas não
havia perdedor. Ambos eram vencedores, e naquele momento, se deixaram levar pelo
sentimento que pulsava em seus corações.

Elizabeth separou seus lábios e viu nos olhos do homem a paixão escaldante. Suspirou e antes
que ele pedisse, ela tirou sua blusa, revelando seus seios cobertos pelo sutiã. Edward a fitou
com adoração e suspirou. Elizabeth baixou os braços, esperando que ele tomasse a iniciativa.

Não era necessário pedir, ele sabia o que deveria fazer. Aproximou-se dela e a puxou de
encontro ao seu corpo, beijando cada parte descoberta de roupas.

Elizabeth não sabia definir todos os seus sentimentos, mas uma coisa era certa: Edward tinha
sido feito para ela.

Fogo e Gelo.

Ele chegou assim, como um caminhão em chamas, atropelando todos os seus ideais,
derrubando todas as suas muralhas, derretendo o gelo que envolvia seu coração.

Sentou-se no colo de Edward, com as pernas uma de cada lado de seu corpo e puxou sua
camisa. Ela precisava do calor que irradiava de seu corpo.

Edward a ajudou a se livrar da peça de roupa e a jogou em um canto qualquer. Segurou com
firmeza sua cintura, enquanto rodeava sua pele com seus lábios sedentos, deixando rastros de
prazer.

Elizabeth ergueu o pescoço, dando-lhe mais espaço. Porém, com seus dedos hábeis abriu o
fecho do sutiã, revelando os seios mais bonitos que ele já vira em sua vida. Suspirou ao
observá-los por alguns instantes, antes de acariciá-los.

Fechou os olhos mais uma vez e levou as duas mãos para o pescoço de Edward. Guiava-o
exatamente no ponto onde se excitava mais, e, ele sabia que ela estava lhe mostrando o que
queria.

Ele a fitou e viu seus olhos verdes, dilatados pelo desejo e pela luxúria. Ela o queria mais que
tudo e isso lhe deu força, lhe encheu o peito de uma felicidade que ninguém poderia explicar.

Nem o maior cientista do mundo poderia explicar como e por que, um simples assistente
conseguira entrar no coração vazio e obscuro de sua chefe.

Elizabeth arfou quando ele a jogou na cama, se posicionando por cima.

— O que você quer? – perguntou próximo ao seu ouvido.


— Eu quero você.

Edward sorriu maliciosamente e a beijou no pescoço, fazendo uma trilha até seus seios.
Chegando lá, fez seu trabalho até que ela gritasse de prazer.

Elizabeth abriu os olhos quando ele a soltou e viu que ele queria aquilo tanto quanto ela. Levou
suas pequenas mãos até a borda de sua calça de moletom e a puxou, revelando o objeto de seu
desejo.

Edward a ajudou a se livrar das peças de roupas que os separavam e beijando sua barriga,
desceu os lábios até o ponto que ele queria prová-la.

— Não! – Elizabeth protestou.

— Por que não? – reclamou. — Não me negue isso, por favor.

Elizabeth ia retrucar, porém, ficou em silêncio. Edward sorriu mais uma vez. Com rapidez,
abriu suas pernas e se posicionou entre elas. Elizabeth estava apreensiva, nunca tinha sido
provada ali.

— Relaxe. – ele pediu ao deslizar o indicador no ponto sensível.

Com dificuldade, deitou a cabeça e esperou para ver o que aconteceria dali em diante. Edward
gentilmente começou seu trabalho naquela região. Elizabeth fechou os olhos e arqueou as
costas, não aguentado os espasmos que percorriam seu corpo. Ele malditamente sabia como
fazê-la se contorcer naquela cama.

Edward a provou de todas as maneiras possíveis, se deliciando com cada gemido que ouvia.
Isso lhe deu forças para continuar, até que ela estivesse bem perto do ápice.

Elizabeth torceu os lençóis entre os dedos enquanto os espasmos só aumentavam. Levantou a


cabeça e encontrou os olhos de Edward, com um brilho vitorioso. Porém, antes que ela
alcançasse o prazer, se levantou e arrastou os lábios por sua barriga, seus seios, até encontrar
seus lábios.

— Eu preciso de você. – sussurrou. — Agora.

Edward suspirou e se colocou novamente entre suas pernas, aproximando seu corpo do dela.

— Tem certeza?

Elizabeth assentiu e ele se fundiu a ela, fazendo-a gemer de uma só vez. Edward fechou os
olhos, controlando-se para fazer do jeito que ela queria. Com calma e com paixão,
aproveitando cada segundo.
A mulher abriu os olhos, implorando para que continuasse. Ele suspirou mais uma vez e se
movimentou uma vez, levando-a a pedir mais.

— Não pare, por favor. – suplicou.

Edward a beijou novamente enquanto se movimentava. Um furacão devastara seus corações e


agora estavam ali, entregues um ao outro. Os sons que ela emitia, eram como música para seus
ouvidos e ele não estava disposto a deixar de apreciá-los nunca.

O prazer os envolveu naquela montanha russa de sensações.

Elizabeth abriu os olhos e encontrou os dele, fitando-a com adoração.

— Não pare.

Edward investiu mais ainda, levando-a ao delírio. Aquele, sem dúvidas, era o seu paraíso
particular.

Desde o primeiro dia que a vira a desejou e Deus era testemunha, do quanto odiou vê-la nos
braços de Michael. Ela tinha nascido para ele. Era assim que as coisas deveriam ser.

Elizabeth era sua. Unicamente sua.

Com força, fez suas últimas investidas até que viu quando ela se derramou, anunciando que
alcançara o que ele lhe propusera.

— Agora é a minha vez. – anunciou com um sorriso bobo nos lábios.

Elizabeth também sorriu delirante. Seu corpo estava exausto, mas dedicou-se até o último
momento, onde ele conseguiu alcançar o prazer.

Com dificuldade para falar e raciocinar se jogou na cama, puxando-a para seu peito e beijando
o topo de sua cabeça.

— Foi bom pra você? – Elizabeth perguntou, fitando-o.

— Ótimo, e pra você?

— Maravilhoso.

Edward sorriu e a abraçou forte. Realmente nunca pensou que as coisas poderiam chegar neste
patamar. De todas as surpresas que a vida lhe reservou, essa, sem dúvidas, era a melhor de
todas.

Elizabeth deitou a cabeça em seu peito e suspirou. Eles definitivamente eram um casal e as
coisas iam muito bem, obrigado.

Após espantar a lembrança do pesadelo, olhou no relógio do celular e constatou que se


passavam das duas da manhã.

— Dormimos pra caramba! – arregalou os olhos.

— E pretendo dormir mais ainda... – Edward bocejou. — Ainda mais agora.

Elizabeth sorriu e acariciou seu rosto. — Durma. Amanhã teremos uma longa viagem de volta.

Edward assentiu e gradualmente fechou os olhos, deixando-se guiar na escuridão do sono.

Com um suspirou, Elizabeth se sentou na cama e observou o homem dormindo.

— Te amo, Lisa. – ele resmungou calmamente.

Elizabeth colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e sorriu.

— Eu também te amo.
Algumas horas após o dia amanhecer, Edward e Elizabeth já estavam em pé, arrumando suas
malas. Finalmente chegara a hora de voltarem para casa e se prepararem para a festa que
selaria sua união, para amigos, parentes e quem mais interessasse.

— Nossa como você é bagunceiro. – Elizabeth reclamou ao ver algumas coisas jogadas no
chão.

— Pensei que tivesse visto isso quando foi ao meu apartamento. – riu. — Você também não
fica muito atrás. – levantou um par de meias que estava na cabeceira da poltrona.

Elizabeth deu de ombros. — Já fechou a conta na recepção?

— Ainda não.

Edward terminou de colocar as coisas na mala. — Espere aqui, vou fechar e já vamos.

É claro que não desejava que ela visse que o dono da pousada se parecia com o Norman Bates,
senão ela o mataria sem dó e nem piedade.

Saiu do quarto e caminhou pelo corredor que levava até a recepção. Entrou no local e o homem
estava sentado lendo alguns papéis.

— Já vai? – perguntou ao erguer os olhos.

— Sim... queria agradecer a estadia. – Edward lhe estendeu a mão e o mesmo se levantou e a
apertou.
— Quando precisar, meu jovem.

— Já fechou a conta? – a voz de Elizabeth soou em suas costas. Agora estava ferrado.

— É sua namorada? – o homem perguntou ao ver a mulher entrando pela porta, com cara de
poucos amigos.

Elizabeth tinha ido atrás de Edward, pois o mesmo esquecera a carteira em seu quarto. E qual
não foi a sua surpresa ao ver o dono do local? Colocaria um lembrete em sua mesa: “Nunca
mais confiar em Edward para reservar hotéis.”.

— Santo Deus! – resmungou, direcionando um olhar fulminante para Edward.

— Pode me chamar de Harry. – o homem estendeu a mão para cumprimentá-la.

Elizabeth a apertou com cuidado.

— Muito prazer e obrigado por não nos matar. – disse ironicamente.

— Como? – o homem perguntou sem entender.

Edward passou as mãos pelo cabelo e bufou.

— Nada não. Nós já estamos indo.

O homem assentiu e Edward pegou a carteira que uma Elizabeth carrancuda lhe estendia.
Pegou algumas notas e entregou ao homem.

— Boa viagem aos amigos e até a próxima.

Os dois assentiram e com um pequeno empurrão de Edward, ela se pôs a caminhar para fora da
recepção.

— Nunca vai ter próxima vez... – Elizabeth resmungou. — Não é, Edzinho?

Edward não sabia onde enfiar a cara pelo constrangimento. Ok, ele tinha errado em esquecer
do maldito hotel, mas um pouco de compreensão seria ótimo.

— Você não quer que eu me ajoelhe e te peça desculpas, não é? – Edward provocou.

— Cale a boca. – Elizabeth rugiu. — Vamos logo, Gwen já está louca me mandando
mensagens.

Eles voltaram ao quarto, pegaram suas malas e foram para o carro. Elizabeth não sabia
descrever a felicidade em seu peito quando os pneus de seu carro saíram daquele fim de
mundo. Antes de caírem na estrada, pararam numa cafeteria e compraram Donut’s, Muffins e
Café.

A viagem era um pouco longa, chegariam na hora do almoço em Nova York. Elizabeth estava
nervosa sobre os preparativos da festa. Durante o trajeto, tentou pensar nas palavras que diria
para os que estavam presentes.

“Edward Smith e eu estamos em um relacionamento”? Será que era dessa maneira que deveria
comunicar os fatos? Uma coisa era certa, Edward não poderia continuar como um simples
assistente.

Dali em diante eles frequentariam festas, saraus, eventos organizados pela alta sociedade e ele
não poderia acompanhá-la como um simples assistente. Mas o que poderia fazer por ele?

Era justo que o colocasse em uma alta posição. Sabia que os outros funcionários iriam rir até
dizer chega. Qual era o maior sonho de Edward? Ela não sabia quase nada sobre ele.

Edward também estava em silêncio, mergulhado em seus próprios pensamentos. Chegou à


conclusão de que não adiantava mais se esconder atrás de um personagem. É claro que nunca
teve a intenção de enganar ninguém, apenas quis se manter longe da sua antiga vida. Mas havia
uma breve diferença entre carregar seu segredo sozinho e agora, quando tinha outra pessoa
envolvida.

Na sala de reunião percebeu que Elizabeth o fitou como se perguntasse: Quem realmente é
você?

Mas covarde como era, não lhe disse nada. Meses se passaram desde que começaram a
trabalhar juntos e nunca, sequer uma palavra, a cerca de quem era o Edward, cidadão
Britânico.

Essa farsa teria que chegar ao fim hoje. Contar-lhe-ia a verdade antes que começasse a festa.
Queria ver em seus olhos que o aceitaria, descartando o tempo que viveu como um cara pobre,
que nada entendia ou sabia da vida.

— Está preparado para essa noite? – Elizabeth perguntou, roubando-o de seus devaneios.

— Tecnicamente? Não. – sorriu. — Ainda estou pensando no que os outros irão comentar.

Elizabeth revirou os olhos. — Acho que sou eu quem deveria estar preocupada, não você.

— Não é você que vai ser chamada de mercenária. – Edward retrucou. — Se bem que, acho
que as coisas vão mudar um pouco.

— Também acho.

A viagem continuou em paz, cada um perdido em seus pensamentos. Logo chegaram à louca e
movimentada Manhattan. Era pouco mais da 1 da tarde quando estacionou em frente ao
edifício.

Um funcionário do prédio ajudou com as malas. Edward e Elizabeth entrelaçaram os dedos e


caminharam em direção ao elevador. Enquanto caminhavam, podiam-se notar os olhares
curiosos.

O elevador se abriu e Elizabeth ficou surpresa. O local já estava previamente arrumado, com
suas flores favoritas. Por ser uma recepção com poucas pessoas, sua casa seria perfeita. Gwen
e Clara estavam sentadas no tapete repassando algumas informações.

— Deus! Até que enfim vocês chegaram! – Clara se exaltou. — Precisamos urgentemente
buscar seu vestido!

Elizabeth sorriu enquanto se jogava no sofá. — Posso descansar um pouco, pelo menos?

— Aí estão vocês! – Anthony veio da cozinha com um prato de salgados na mão. — Edzão,
temos que ir buscar seu terno também.

Edward suspirou e se sentou ao lado de Elizabeth.

— Eu tenho um terno, sabe.

Anthony sentou no chão, ao lado das meninas. — Nem pensar. Você namora Elizabeth Adams,
tem que estar à altura!

Gwen deu um meio sorriso e fitou Edward com um olhar estranho. — Realmente. Essa noite
vai ser marcante.

— Eu apenas preciso de um banho. – Elizabeth se levantou. — Onde está o vestido?

— Na sua loja favorita. – Gwen a fitou. — Arrume-se logo, querida. De lá, temos horário no
Francis.

— Francis? Eu havia me esquecido de agendar com ele.

— Para você, ele sempre arruma uma vaga. – Clara sorriu. — Você e Edward devem estar
impecáveis nesta noite.

Elizabeth assentiu e olhou para Edward que parecia estar perdido em pensamentos.

— Nos vemos daqui algumas horas.

Edward a fitou e abriu um leve sorriso. — Tudo bem.


Elizabeth não sabia o porquê, mas sentiu uma forte necessidade de beijá-lo ali mesmo, na
frente de sua irmã e seus amigos. Levou uma das mãos ao rosto do rapaz e após alguns
segundos que se olharam fixamente, colou seus lábios nos dele, beijando-o fortemente, como
se aquele beijo fosse o último.

— Ah deixa de enrolação! – Anthony brincou. — Vocês terão muito tempo para isso.

Eles separaram os lábios e sorriram de volta um para o outro.

— Tudo bem! – Elizabeth se rendeu. — Já volto meninas.

Elizabeth se levantou e sumiu para o andar de cima. Edward respirou fundo e viu os olhos
ansiosos de Anthony.

— Sabe, estou me sentindo um noivo à beira dos nervos. – brincou, passando as mãos pelos
cabelos.

— Isso é só o começo, meu caro. – Anthony o confortou. — Mas vamos logo, você precisa ver
o terno que escolhi para você.

Elizabeth, Gwen e Clara chegaram à sua loja favorita. Como cliente assídua, a vendedora veio
de prontidão para atendê-las. A luxuosa loja, contava com três andares, repletos de bolsas,
sapatos e vestidos.

— Boa tarde, sou Giovanna. – as cumprimentou. Elizabeth colocou seus óculos escuros na
cabeça e sorriu, cumprimentando-a de volta.

— Trouxemos minha irmã para ver o vestido que escolhi.

A moça assentiu. — Oh, sim. Estávamos mesmo esperando-as. O evento será esta noite?

— Sim. – Elizabeth respondeu.

Giovanna as guiou para o andar de cima da loja, onde se localizavam os provadores. A extensa
sala, continha vários assentos e espelhos gigantes que forravam praticamente todas as paredes.

— Esperem aqui, vou buscar o vestido.

Elizabeth se sentou. Estava nervosa com tudo, mas não queria transparecer.
Gwen sentou ao seu lado e apertou sua mão. — Foi boa a viagem?

— Foi sim. – sorriu. — Deu tudo certo.

— Que bom, fico feliz. – também sorriu. — Edward só tem lhe feito bem.

A vendedora voltou com o vestido envolto por um saco branco. Elizabeth olhou em seu
celular, a hora voava. Foi então que levantou o olhar e viu o vestido, pendurado no cabide.

O choque percorreu sua espinha e engoliu em seco.

— Gostou? – Gwen se levantou e apontou para o vestido. — É difícil escolher as coisas por
você.

Elizabeth não sabia o que falar. O vestido era igual o de seu pesadelo na noite anterior. Azul
claro, braços feitos de renda e bordados de pedras preciosas que se estendiam por todo o
cumprimento.

Engoliu em seco mais uma vez, sem saber o que falar. Estava atordoada. Seria uma
premonição?

Não gostava de acreditar nessas coisas, mas o fato era que coincidências assim eram estranhas
demais. Respirou fundo e fitou os olhos ansiosos de Gwen.

— Gostei sim. – forçou um sorriso. — É lindo.

Gwen soltou a respiração que segurou por alguns segundos e relaxou.

— Ótimo! Agora você precisa experimentá-lo.

Elizabeth fitou Clara, que estava perdida respondendo mensagens em seu celular. Levantou-se
e mesmo contra vontade se encaminhou até o provador. A vendedora a ajudou a colocar o
vestido e por incrível que fosse, lhe caiu como uma luva. Como se tivesse sido desenhado para
ela.

— Meu Deus, você está linda! – Clara gritou quando Elizabeth saiu do provador.

— Oh, sim... está mesmo! – Gwen concordou.

Elizabeth deu um meio sorriso e se encaminhou até o espelho. Viu sua imagem refletida em
todos eles e suspirou. O vestido realmente era lindo. Deveria esquecer o maldito pesadelo da
noite anterior.

— É perfeito. – sussurrou.
Não tinha motivos para associar o vestido a imagens ruins. Esta noite, uma nova fase de sua
vida começaria e queria que tudo desse certo. E daria, era o que repetia em sua mente.

— Ótimo, vamos ao Francis, ele deve estar louco atrás de você. – Gwen argumentou. — Tire
esse vestido, vamos levá-lo.

Elizabeth fez como sua irmã falou. Tirou o vestido, entregou à vendedora e vestiu suas roupas.

Após saírem da loja com a caixa contendo o vestido, foram direto para o estabelecimento onde
Francis ficava.

Francis Belfoy era conhecido por ser cabeleireiro e maquiador de grandes nomes do cinema e
da música. Seus salões eram espalhados ao redor do mundo, nos melhores lugares.

Ao chegarem ao luxuoso salão, Elizabeth foi recebida com um grito.

— Até que enfim! – a voz aguda a fez rir. — Eu já estava louco com você, Elizabethinha.

— Menos, Francis. – se aproximou e o abraçou. — Eu sei que você consegue a sua arte em
poucas horas.

Francis se separou do abraço e a fitou. — Você que pensa queridinha. Agora senta esse lindo
bumbum na minha cadeira e vocês vadias... – fitou Gwen e Clara. — Caiam fora.

— Ué, não podemos ficar? – Gwen resmungou.

— Nem pensar! – Francis bufou. — Ela é só minha agora e vocês mandem alguém buscá-la
somente no horário da festa.

As duas reviraram os olhos, mas fizeram conforme o combinado. Entregaram o vestido a uma
assistente do cabeleireiro e caíram fora, antes que seus gritos estourassem seus tímpanos.

As horas passaram rapidamente e já estava escuro quando Francis terminou seu trabalho.
Guiou sua cliente até uma sala, onde poderia se trocar e colocar o vestido. Elizabeth colocou o
vestido com a ajuda da assistente de e então caminhou até o espelho.

— A senhorita está linda! – a menina murmurou.

Elizabeth olhou seu reflexo mais uma vez no espelho e tentou se encontrar naquela mulher.
Seus cabelos continuavam castanhos, mas com algumas mechas mais claras. Um coque no alto
da cabeça e vários fios caindo ao redor de seu fino rosto. Sua maquiagem era leve, porém,
elegante. Entretanto, a principal mudança que vira foi dentro de si.

Seus olhos transmitiam paz, alegria. Coisa que meses atrás parecia impossível. Podia não ser
ainda a mesma Elizabeth de antes da morte de seu pai, mas com certeza não era a mesma que
Edward conhecera naquele Janeiro invernoso.

E para seu alívio, gostava do que via. Gostou de se sentir bem consigo.

Seus olhos encheram de água ao pensar que seu pai estaria orgulhoso se a visse assim. Não era
a primeira vez que usava um vestido caríssimo ou que se arrumava para um grande evento,
mas era a primeira vez em anos que se sentia feliz.

— Ai meu Deus! – Francis gritou ao entrar na sala. — Você está divina!

Elizabeth riu ao ver o desespero do homem em suas costas. — Você fez um ótimo trabalho.

Francis se aproximou e a segurou pelas mãos. — Eu sei do que se trata essa festa e eu só tenho
que te desejar sorte e muita felicidade. Você merece.

Elizabeth sorriu novamente e o abraçou. — Obrigado Francis, você não tem ideia do quanto eu
estou feliz.

— Eu sei sim, vejo em seus olhos. – o homem enxugou uma lágrima que desceu. — Mas vá,
seu motorista já está esperando.

Respirou fundo e engoliu toda a possibilidade de chorar. Despediu-se de Francis e dos outros
funcionários do salão, que sem dúvidas estranharam a mudança repentina naquela mulher que
todos julgavam de arrogante.

O motorista abriu um pequeno sorriso quando Elizabeth saiu do estabelecimento.

— Se a senhorita me permite, está linda!

Elizabeth sorriu em agradecimento e entrou na parte de trás do carro. Respirou fundo e olhou
em seu celular, nenhuma mensagem. Edward estava com Anthony, então sabia que tudo ficaria
bem.

Anthony e Edward comeram alguma coisa antes de irem à loja para provar a roupa de gala. É
claro que Anthony não tinha sequer ideia do tamanho que ele usava, então deixou em aberto
para que ele pudesse escolher.

— Você deveria ir para minha casa. – Anthony resmungou. — Vai sair vestido de gala pelo
metrô a fora?

— O que é que tem? – deu de ombros, mas agora sentado em sua cama, percebeu que deveria
ter aceitado a oferta de seu amigo.

Edward já estava vestido com um terno que valia muito dinheiro e que fora presente de seu
amigo. É claro que não precisava, mas a insistência de Anthony foi tanta, que não pôde
recusar.

Assim que chegasse à festa, chamaria Elizabeth no escritório e lhe contaria toda a verdade
sobre sua vida e sua família. Deveria fazer isso antes que alguém descobrisse e o fizesse.

Na realidade, admirava o fato de que ninguém descobrira seu segredo. É claro que muita coisa
mudaria quando descobrissem que não era um pobretão e sim um cara riquíssimo de uma
tradicional família do Reino Unido.

Elizabeth entenderia seus motivos. Seu desejo nunca foi enganar, mas sim se esconder.

Suspirou e pegou seu celular, havia uma mensagem.

“Mandei um carro para te buscar. Beijos, Clara.”

Ah, deveria ter adivinhado que seus amigos dariam um jeito para tudo. Provavelmente,
Anthony teria lhe dito que tinha preferido ir para sua casa. Colocou o celular no bolso do terno
e se levantou, estava na hora.

Elizabeth chegou ao apartamento e foi recebida com elogios e sorrisos. Além de seus amigos,
outros membros da sociedade, sem falar, alguns de seus principais funcionários e gerentes de
outras filiais.

— É bom vê-la, Srta. Adams. – Jack se aproximou. — Vejo que continua belíssima desde o
último jantar beneficente.

Elizabeth sorriu. — É bom vê-lo também, Jack.

Os garçons passeavam por entre os convidados e Elizabeth notou alguns repórteres que
acenaram para ela.
— Gostou da minha escolha de convidados? – Gwen se aproximou, com uma taça de
champanhe na mão.

— Que eu saiba, fui eu que fiz a lista. – Elizabeth suspirou e olhou em volta. — Onde está
Edward?

— Não sei. – Gwen arregalou os olhos. — Pensei que estivesse com você.

— Como estava comigo se eu estava no Francis? – retrucou. — Anthony, eles estavam juntos,
não é?

— Anthony ainda não chegou, devem estar juntos sim.

Elizabeth soltou o ar que segurava e cumprimentou mais alguns convidados.

— Me sinto muito honrado pelo convite. – Clark se aproximou. — Eu já até sei o que você
quer anunciar.

— Deus! Esse povo não consegue manter a boca fechada? – Elizabeth revirou os olhos.

— Ninguém falou, mas eu não sou bobo. – Clark sorriu e deu uma piscadela. — Eu prometo
que vou ficar quieto até a hora do anúncio.

Elizabeth assentiu e olhou para a entrada, aonde Anthony se aproximava de braços dados com
sua irmã.

— Onde está Edward? – perguntou ao encontrá-lo.

Anthony, com seus quase dois metros, levantou os braços. — Eu é que sei?

— Ele não estava com você? – perguntou alarmada.

— Estava. – Anthony olhou para os lados. — Ele quis ir para casa se arrumar, eu dei a
sugestão de ir para a minha.

Elizabeth ia soltar os cachorros em cima de Anthony quando um dos garçons se aproximou e


lhe cochichou algo no ouvido.

Alguém queria falar com ela no seu quarto. Elizabeth respirou fundo e assentiu. Apontou para
Anthony. — Eu já volto.

Provavelmente Edward já chegara e ninguém tinha percebido. Elizabeth subiu as escadas


lentamente. Não sabia por que, mas uma sensação estranha tomou conta de seu peito e quanto
mais se aproximava de seu quarto, mais seu estômago se revirava.
Quem diabos estava enfiado em seu quarto? Será que Edward estava esperando-a?

Colocou a mão na maçaneta e a girou. Abriu a porta lentamente. Seu quarto estava um pouco
escuro, somente as luzes do abajur estavam ligadas. Elizabeth entrou no cômodo e viu uma
silhueta masculina. Ele estava de costas, encostado na sacada, com o celular no ouvido.

Elizabeth não conseguiu distinguir quem era, até que o vento que entrou pela sacada a atingiu e
a fez tremer mais uma vez. Seus olhos se acostumaram à baixa luminosidade e então reparou
no porte físico do homem... o cabelo... a mão que pousava na beirada da proteção da sacada.

Não era Edward.

Reconhecimento tomou posse de sua mente e seu coração falhou por alguns míseros segundos.
Não podia ser. Ela estava louca e aquilo era uma miragem.

— Olá, querida.

A voz masculina encheu seus ouvidos de pavor e com os olhos arregalados tentou negar para si
mesma. Não podia ser. Não podia ser.

O homem abaixou o celular e se virou. Ele era exatamente como ela se lembrava:

Alto, cabelos negros, olhos escuros e um sorriso diabólico nos lábios.

— Michael?!
Elizabeth não se lembrava de ter ingerido drogas ou bebidas alcoólicas. Entretanto, não queria
acreditar naquilo que seus olhos enxergavam. Só podia ser um pesadelo.

O homem se aproximou e quando estava perto o suficiente, levou uma das mãos em seu rosto e
o alisou.

— Como eu me lembrava. – sorriu sedutoramente. — Continua linda.

Aquele toque gélido a paralisou. Não queria acreditar que era Michael. Como? Onde esse
demônio estava? E por que veio justo nessa noite infernizá-la?

Elizabeth saiu daquele transe e se afastou, como se ele fosse tóxico.

— Você...

Michael revirou os olhos. — É, ouvi falar que me davam por morto. Mas como pode ver, estou
bem vivo. – abriu os braços e sorriu mais uma vez.

— Mas...

— Imagino que tenha muitas perguntas. Mas primeiro vamos falar sobre essa ridícula festa.

Elizabeth arregalou os olhos. — Ridícula? Como assim?

Michael se afastou e olhou ao redor do cômodo.

— Ainda tem coragem de perguntar? – se voltou para ela. — Tudo bem que não é algo que
seja novidade para mim, mas... pensei que fosse chorar minha morte mais alguns meses.

Elizabeth engoliu em seco. Cada minuto naquele lugar, só fazia com que sentisse um aperto no
peito.
— Você quer que eu faça o quê? – disparou. — Cancele a festa por sua causa?

Michael riu calmamente. — Claro que não. Mas tem algo que eu quero que você faça.

Elizabeth cruzou os braços. Não era um pesadelo. Michael estava ali, diante dela, como uma
ave de rapina, cercando sua presa.

— Primeiro você vai dizer como sobreviveu ao acidente! – Elizabeth vociferou. — Eu exijo
saber de tudo.

Michael a olhou fixamente.

— Ouvi falar sobre a sua mudança e... meus parabéns, você conseguiu!

Elizabeth cruzou os braços, sua mente dando voltas.

— Não foi isso o que perguntei. – disse ela, tentando manter a calma. — Como sobreviveu?

Michael sorriu e se aproximou da sacada, enchendo os pulmões com o ar que entrava pela
janela aberta.

— Sobreviver não é a questão, querida Elizabeth. Você tem ideia do quanto é difícil forjar um
acidente aéreo?

Elizabeth arregalou os olhos mais uma vez, choque percorrendo seu corpo pela milésima vez.
E antes que pudesse responder, o homem se virou para ela.

— Gostou dos meus presentes? – perguntou cinicamente.

Compreensão ainda não a atingira, quando ele bufou e resolveu explicar melhor:

— A foto... o bilhete... os palhaços. Eu os mandei para que se lembrasse de mim.

Então era ele. O tempo todo. Elizabeth perdeu o chão por alguns instantes. Respirou fundo,
cruzou os braços e decidiu ser forte.

— O que você quer?

Michael se aproximou e a observou por alguns minutos, com os olhos mais assustadores que
ela já vira em sua vida.

— Não pense que eu fiquei feliz em saber que você estava dormindo com aquele... – pausou
alguns instantes, tentando encontrar a palavra certa. — Aquele desgraçado.

— Não fale de Edward! – Elizabeth rugiu. — Se tem algum desgraçado aqui, é você!
Michael a rodeou e parou em suas costas, aproximando-se lentamente, até que seu rosto
estivesse perto o suficiente do ouvido da mulher.

— Não tem problema, vamos corrigir essa bagunça toda, nesta noite.

Como em poucas vezes, o medo percorreu sua espinha. Fechou os olhos e pediu a Deus que a
ajudasse naquele momento.

— Como entrou aqui?

Michael riu com escárnio. — Isso é o de menos. Você deveria estar curiosa para saber o que eu
quero.

Elizabeth se virou e o fitou. — Realmente, quero saber.

Michael usava um terno de gala negro, como se soubesse daquela ocasião há tempos. Qualquer
mulher que o visse, diria que ele era perfeito. Bonito, elegante e um bom homem, mas
Elizabeth o conhecia, e agora, conhecia o outro lado que jamais esperou que fosse encontrar.

O homem se afastou e deu de ombros. — Eu quero que você despedace o coração de Edward.

Divertimento se apossou de Elizabeth e ela aproveitou. — Você só pode estar brincando!

Michael se aproximou novamente.

— Estou falando sério.

Elizabeth parou de rir e fitou o homem a sua frente. Alto, imponente e assustador. Michael
nunca a assustou, exceto no dia que soube sobre o aborto. Desde então ele vivia um
personagem?

Tirando o celular do bolso, estendeu para ela. — Ligue para ele e despedace seu coração.

Elizabeth negou com a cabeça e se afastou.

— Você está louco? – rosnou. — Eu não sei o que você quer, mas não vou entrar nos seus
joguinhos!

Michael bufou. — Você vai fazer o que eu quero, sabe por quê?

— Por que eu deveria? – Elizabeth o fitou desafiadoramente.

O homem se aproximou da cama e pegou um envelope. Abrindo-o, entregou-lhe o conteúdo.


Ela estendeu a mão e pegou o papel. Com temor o leu.

— Neste papel você assinou a sua sentença de morte, querida. – disse ele, com zombaria. —
Ao não se casar comigo, me passaria todos os poderes de suas empresas. Inclusive o seu tão
amado posto de chefe.

Elizabeth rolou os olhos pelo papel e no final viu a sua assinatura. O desespero tomou conta de
seu peito. Ela não se lembrava de ter assinado papel algum. O que diabos era aquilo?

— Eu não assinei isso! – levantou os olhos para o homem. — Isso é uma farsa!

— Não, não é. – Michael explicou. — Você e seu assistente eram tão idiotas que assinavam
papéis sem ler. Lembra-se do dia que ele tropeçou comigo no corredor e deixou cair todos
aqueles papéis?

Elizabeth pareceu reviver todas as cenas em sua mente. Ela estava atrás de Anthony, quando
viu uma pequena discussão entre Edward e Michael.

— Naquele dia eu troquei os papéis, e fiquei com eles até o dia que eu precisasse.

Perplexa e sem palavras, as lágrimas rolaram por seu rosto. Como podia ter sido tão estúpida?
Ela se lembrou de cada detalhe daquele dia, onde Michael a apressou para uma reunião e a fez
assinar os papéis sem ao menos ler.

Ela não podia entregar seu império, o que seu pai havia construído com tanto orgulho, assim
tão facilmente.

— Não chore. – ele a repreendeu, segurando seu rosto firmemente. — A Elizabeth que eu
conheço não tem sentimentos!

Ela jogou os papéis longe e vociferou:

— Eu não sou a Elizabeth que você conhece!

Michael a soltou e estendeu seu celular novamente.

— Estou lhe oferecendo a oportunidade de continuar com tudo o que é seu. – disse seriamente.
— Despedace o coração de Edward e continuaremos sendo o casal feliz que sempre fomos.

As lágrimas rolavam silenciosamente. Sua felicidade desmoronou como se fosse um castelo de


areia. O que faria? Ela queria Edward, mas também queria continuar lutando pelo que era de
sua família.

Olhou para o celular estendido e se recusava a pegá-lo. Não podia fazer isso, não podia
despedaçar o coração do homem que amava.

Michael continuava fitando-a assustadoramente. Ela estendeu a mão e pegou o celular,


tremendo. Não queria fazer isso, não era certo. Por que aquele maldito tinha que aparecer bem
no dia que sua vida mudaria?

— Sabe. – Michael se aproximou, fitando-a seriamente. — Edward está com um de meus


capangas e ele não vai chegar aqui tão cedo.

Elizabeth o fitou, estarrecida.

Seu coração palpitava, suas pernas tremiam. Estava em frangalhos. Encheu seus pulmões de ar
e estendeu o aparelho de volta, mesmo que aquilo significasse perder tudo.

— Eu não vou fazer isso. – secou suas lágrimas. — Eu não te amo e não pode me obrigar a
ficar com você.

— E quem falou em amor? – perguntou cinicamente. — Eu também não te amo querida. Você
só me é útil por enquanto.

Seu coração se afundou mais uma vez. Aquelas palavras a atingiram como um tapa. Então ele
nunca tinha a amado? Estava com ela somente pelos negócios? Somente por dinheiro?

Ele parecia ter ouvido seus pensamentos.

— Tudo pelos negócios, querida.

Com o coração em pedaços, o fitou. — Eu encontrei alguém que me ama de verdade e não vou
perdê-lo, pode ficar com tudo.

Michael se encheu de toda aquela conversa e tirou do paletó uma pistola, apontando-a na testa
de Elizabeth.

— Você vai fazer o que eu quero ou então terei o maior prazer em enviar a sua cabeça para
Edward em cima de uma bandeja.

Elizabeth não tinha palavras, só as lágrimas que jorravam de seus olhos.

— Eu sei que a mulher fria que eu conheço ainda está aí. – Michael continuou. — E espero
que você seja sensata ao trazê-la de volta.

Com a arma apontada para sua cabeça, Elizabeth não tinha escolha. Era a sua vida ou até a de
Edward que estavam em jogo. Seu coração doía tanto que mal conseguia respirar. Michael a
olhava friamente, tentando trazê-la de volta para a escuridão.

Olhou para a tela do celular e soube que não podia lutar contra o seu destino.
— Mas que inferno! Conserte logo esse pneu! – Edward vociferou para o motorista que Clara
havia contratado. — Estamos mais do que atrasados.

O homem não respondeu, deu de ombros e continuou fazendo o serviço lentamente, assim
como Michael lhe havia ordenado.

Edward estava furioso, pois já se passara mais de meia hora que estavam enroscados na ponte,
com os dois pneus do carro furados. E para ajudar, o homem era mais lerdo do que uma
tartaruga.

Tentou ligar para todos os contatos possíveis, mas ninguém atendia. Certamente os celulares
haviam sido confiscados na entrada.

Seu celular tocou um número diferente. Atendeu e o levou até o ouvido.

— Alô?

— Edward?

Ao reconhecer a voz deu um suspiro.

— Elizabeth! Por Deus! Estou tentando falar com vocês, o pneu do carro furou e estamos
presos aqui na ponte. Creio que vou demorar um pouco, mas logo estarei aí.

O silêncio reinou por alguns minutos.

— Me ouviu? – perguntou impaciente.

— Sim, eu ouvi. – ela respondeu, mas ele notou algo estranho em sua voz.

— Aconteceu alguma coisa?

Elizabeth fez silêncio mais uma vez, até que falou.

— Edward, não quero que você venha. Estou ligando para terminar o que começamos. Eu
pensei bem e não posso namorar um simples assistente. O que iriam falar de mim? Eu
provavelmente viraria piada na boca das pessoas.

O coração de Edward afundou ao ouvir aquelas palavras. O que diabos estava acontecendo?
Olhou para os lados e se aproximou mais da borda da ponte.
— O que está acontecendo? – perguntou lentamente, tentando manter a calma. — Elizabeth!
Não estava tudo certo?

Ela suspirou do outro lado da linha.

— Eu pensei melhor, não podemos ter nada. Por isso te liguei para terminar com tudo isso.

Então a paciência de Edward foi para o inferno.

— Como assim??? Nós dormimos juntos na noite passada e você me liga pra dizer que vai
terminar com tudo?! Você está bêbada por acaso???

— Foi um erro, Edward! – Elizabeth gritou. — Eu não quero mais saber de você! Por favor,
me esqueça!

E a ligação caiu. Edward olhou para o aparelho e gritou todos os palavrões que conhecia. Não
podia ser. Aquilo não estava acontecendo. Estavam tão perto... ela tinha lhe dito que o amava.
Ele a amava mais que tudo!

Algo estava acontecendo e descobriria o que era. Olhando para o motorista, correu, afinal tinha
uma estação de metrô ali perto.

— Ótimo! – Michael sorriu diabolicamente, pegou o celular e abaixou a arma. — Essa é a


minha Elizabeth.

Elizabeth o fitou e sua vontade foi cuspir em sua face. Eu não sou sua!

— Infeliz. – sussurrou ao tentar secar suas lágrimas.

Michael deu de ombros mais uma vez. — Acho que você é muito mais infeliz que eu, mas...
vamos a segunda parte do que quero.

Elizabeth tentou controlar seu choro, mas era impossível. Seu coração estava aos pedaços e era
obrigada a entrar nos jogos de seu ex-noivo.

— Estou ficando irritado com essa choradeira. – Michael resmungou. — Vou te dar um motivo
para começar a odiar Edward.

Ela levantou os olhos sem entender o que ele queria dizer.


— Ele mentiu para você. – afirmou enquanto pegava outro papel dentro do envelope. — E
você foi tão tola, querida.

— O quê? – perguntou lentamente.

Sua mente era um turbilhão de acontecimentos. Michael se aproximou dela, lhe entregando um
papel. — O que é isso?

— Leia essa matéria e veja como ele brincou com você.

Elizabeth pegou o papel, que era um recorte de revista e correu os olhos. Era uma matéria de
uma revista de famosos. A matéria era sobre uma tradicional família do Reino Unido, e
anexado, havia uma foto da família, que ela reconheceu perfeitamente.

O choque atravessou seus olhos mais uma vez reconhecendo um dos homens da foto. Apesar
de estar diferente, era ele. Edward não podia negar. Sua cabeça ferveu com imagens de todas
as vezes que desconfiou do homem, pelo seu porte, educação, princípios.

Ele escondeu quem era.

— Não pode ser. – murmurou baixo, não queria acreditar.

Michael riu mais uma vez. — Eu não sou o único canalha que transou com você, querida.

Elizabeth, furiosa, lhe deu um tapa no rosto, mas logo depois se arrependeu, pois os olhos de
Michael se enegreceram com a escuridão.

Ele a puxou e segurou seu rosto firmemente. — Agora que sabe a verdade, vá retocar essa
maquiagem. Vamos descer e anunciar que nosso noivado está em pé.

Se tivesse um precipício ali, ela se jogaria sem dúvidas. Michael a soltou com brusquidão e
Elizabeth apalpou o rosto que podia estar marcado com os dedos do homem. Foi até o banheiro
e se recostou na bancada de mármore.

Não sabia mais o que sentia. Por um lado, a dor de terminar com Edward, por outro, a raiva de
ter sido enganada. Ele podia ser quem fosse, mas não tinha o direito de enganá-la.

Já não sabia mais o que seria de sua vida e agora tudo o que tinha que fazer, era fingir que nada
acontecera e anunciar o seu noivado mais uma vez, com aquele desgraçado. Ela o odiou com
todas as forças.

Nesse momento, percebeu que nunca tinha o amado. Seu coração estava preso a ele por outros
motivos, mas amor é o que tinha aprendido com Edward, que por sinal, era outro desgraçado
que a tinha enganado.
Apoiou as mãos na pia de mármore e deixou a Elizabeth que estava adormecida tomar conta de
si. O gelo voltou ao seu coração, transformando-a naquela que todos rejeitavam. Ela era
Elizabeth Adams! Como podia ter deixado alguém enganá-la desta maneira?

Respirou fundo, enxugou suas lágrimas e retocou sua maquiagem. Se aquele era seu destino,
que assim fosse.

Ao sair do banheiro, Michael estava na sacada, com o celular nas mãos.

— Pensei que fosse demorar mais. – resmungou, virando-se para fitá-la. — Agora sim, está
linda... futura senhora Sanders.

Seu estômago se revirou mais uma vez. Não respondeu àquela ironia, continuou com os braços
baixos, um de cada lado do corpo, como se estivesse se entregando ao que é que aquele louco
planejava.

Michael se aproximou, com o sorriso que ela passou a odiar.

— Agora, você vai me dar o braço e se comportar como a minha noiva. Você vai dar o seu
melhor sorriso e fingir que está feliz ou então, eu mesmo acabo com aquele idiota.

As lágrimas ameaçaram a vir à tona, porém, respirou fundo e as segurou. Odiava Michael,
odiava aquela situação. Como foi tão estúpida a ponto de assinar um maldito papel sem ler
antes?

Com resignação, encaixou seu braço no de Michael e o acompanhou pelos corredores de sua
casa, pronta para o início do show de horrores.

Eles desceram as escadas, parando no meio, onde costumavam fazer anúncios. O silêncio
reinou imediatamente, atraindo olhares arregalados e pessoas confusas. Elizabeth respirou
fundo, pedindo a Deus, forças para se manter em pé.

Michael era um bom ator, constatou após alguns segundos. Ele abriu um sorriso radiante.

— Olá meus amigos. Vejo a surpresa no olhar de vocês. – disse ele, em voz alta. — É claro
que estariam assim, pois até uns segundos atrás eu era considerado morto.

Elizabeth não falou nada, mas viu o choque no olhar de seus amigos.

Michael suspirou e continuou: — Entendo a surpresa de todos, mas estamos aqui para anunciar
que, bom, primeiramente estou vivo, graças a Deus! – levantou as mãos para o céu em sinal de
agradecimento. — E segundo que, Elizabeth e eu continuamos nosso noivado e em breve nos
casaremos.

Os outros começaram a comemorar e ela pareceu ver tudo em câmera lenta. Elizabeth não
sabia como controlar a ânsia. Como ele podia ser tão cínico? Anthony e Clara a fitavam,
cobrando explicações. Os outros erguiam suas taças, desejando o melhor para ambos.

Mas o que a despedaçou de vez, foi quando olhou para a porta do elevador e viu ele. Edward
acabara de entrar no apartamento quando Michael anunciara o casamento. Seus olhos se
encontraram e já não sabia mais o que sentia.

Dentro de seu peito, havia uma mistura de raiva e decepção, mas também de culpa e tristeza.
Michael também o viu, e, deliberadamente, ergueu uma taça de champanhe, passou o braço ao
redor da cintura de Elizabeth e abriu um sorriso diabólico. Ela era sua propriedade.

Quando Edward entrou naquele elevador, tinha certeza que era apenas uma brincadeira de
Anthony e Elizabeth. Seu amigo era assim, gostava de pregar peças. Porém, ao sair do
elevador e ver Michael anunciando o futuro casamento, soube que era verdade.

Aquele desgraçado não tinha morrido?

Elizabeth ainda o amava? Por isso terminou daquela maneira, tão cruel?

Quando fitou seus olhos verdes, tentou decifrá-los para entender o que havia acontecido. Mas
por incrível que pareça, só viu escuridão. A mesma Elizabeth que ele conhecera no dia em que
foi fazer a entrevista para o emprego.

Todos comemoravam e davam parabéns aos “noivos”. Edward sentiu seu estômago revirar e
entendeu o que estava acontecendo.

Ela o trocara. Sempre fora um passatempo para Elizabeth.

Como ela poderia amar um simples assistente?

Seu coração estava aos pedaços.

Fechou os olhos, controlando sua raiva, sua decepção. Virou as costas e voltou para o
elevador. Transtornado, chateado, magoado.

Colocou as mãos em sua cabeça e pela primeira vez, se permitiu chorar. Edward já devia saber,
Elizabeth era uma mulher fria e assim como fez a outras pessoas, não hesitaria em destruir seu
coração.
— Mas que merda foi essa? – Anthony adentrou o quarto como se fosse um furacão.

A festa tinha se encerrado há algumas horas e Elizabeth não queria ver ninguém. Após uma
breve distração de Michael, Anthony conseguiu subir para procurá-la.

Elizabeth estava deitada em sua cama, com os olhos inchados. Anthony trancou a porta e se
aproximou dela.

— O que houve Lisa? – perguntou num tom mais doce.

Elizabeth olhou para ele com as lágrimas descendo em sua face. — Acabou tudo, Tony.

Anthony respirou fundo e se sentou ao seu lado. — Me explica, porque sinceramente, não
entendi nada.

A mulher se sentou na cama e tentou encontrar maneiras de contar como a sua vida se
transformara em um pesadelo em questão de segundos.

— Michael está vivo...

— Bom, disso não tenho dúvidas. – Michael bufou. — Estou perguntando que ideia
estapafúrdia é essa de casamento?

Elizabeth respirou fundo. — Eu assinei alguns papéis por engano e se não me casar com ele,
vou perder tudo.

Anthony apertou as mãos no lençol. — Esse desgraçado... eu vou matá-lo com minhas próprias
mãos. Mas e Edward, onde fica nessa história?

Elizabeth chorou mais um pouco. — Eu terminei com ele, o mandei sumir da minha vida. – fez
uma pausa. — Mas, ele também me enganou.

— Como assim?

Elizabeth pegou o envelope que estava ao seu lado, tirou de lá o mesmo papel que vira
anteriormente e o entregou a Anthony.

O rapaz leu a matéria.

— Olhe bem essas pessoas na foto. – Elizabeth murmurou.


Anthony assentiu e analisou bem a imagem. Torceu os lábios em sinal de desaprovação e
suspirou.

— Eu sinto muito, Lisa. – disse com pesar.

Elizabeth olhou para o lado, onde suas janelas exibiam a magnitude da grande Nova York. Ah
como seria bom se pudesse ser outra pessoa. Sem rancores, sem mágoas, sem destinos trágicos.

— Você já falou pra ele que sabe a verdade? – Anthony perguntou.

— Não... ele veio aqui bem na hora que Michael falou sobre o casamento. – suspirou. — Deve
estar me odiando também.

Anthony assentiu e a fitou por alguns instantes. Odiava ser sua amiga naquela situação.
Quando pensou que as coisas dariam certo para ela, Michael apareceu para atormentar suas
vidas.

— Nós vamos lá agora. – determinou ao se levantar. — Temos que tirar essa história a limpo.

— Está louco? – Elizabeth bufou. — Ele não deve querer me ver nem pintada a ouro.

Anthony se abaixou novamente, aproximando seus rostos.

— Lisa, eu sei que você está com raiva dele... e é normal, eu também estou. – bufou. — Mas
vocês precisam conversar, mesmo que seja para terminar o que há entre vocês.

— Eu não vou!

— Você vai! Eu prometo que depois dou um soco na cara dele, mas levanta e vamos, antes que
Michael perceba.

Elizabeth fitou Anthony com indecisão. — Não posso falar sobre o que houve com Michael ou
então ele vai acabar com Edward.

Anthony suspirou e lhe estendeu a mão. — Depois veremos o que fazer com esse imbecil. Por
enquanto, vamos cuidar do imbecil número dois.

Elizabeth lhe estendeu a mão e com a sua ajuda saíram de casa sem que Michael percebesse.
Entraram no carro de Anthony e foram em disparada ao Brooklyn. Elizabeth não sabia o que
iria dizer, mas não queria que ele a odiasse.

Nem ela queria odiá-lo, apenas queria entender o porquê de se esconder atrás de uma pessoa
que não era.

Eles chegaram ao edifício antigo e subiram as escadas, uma por uma e o coração de Elizabeth
parecia saltar de sua boca.

— Apenas seja sincera. – Anthony lhe disse antes que ela batesse na porta.

— Hey, quem vocês procuram não está mais aqui. – uma moça saiu da escuridão de outro
apartamento.

— Edward Smith, não é aqui que ele mora? – Elizabeth perguntou.

A moça suspirou.

— O bonitão saiu e não sei se volta.

Elizabeth fitou Anthony com angústia.

— O que você quer dizer? – perguntou à moça.

— Ele saiu com as malas, não se despediu, só foi embora.

Elizabeth sentiu uma vertigem e Anthony a apoiou, segurando-a para que não caísse.

— Ele se foi Tony... ele se foi! – murmurou em meio às lágrimas.

Edward pegou um táxi e desceu no Heliporto. Soube que havia cometido um erro muito grande
ao deixar sua vida para trás e partir numa aventura em Nova York.

Em Londres, possuía tudo o que a vida tinha a oferecer de melhor, exceto a paz. Seu pai nunca
o considerou alguém, e isso o motivou a querer mostrar que era sim digno de confiança e
respeito.

Respirou fundo quando viu o avião particular esperando-o. Quando se era membro de uma
família tão importante, longas esperas não eram necessárias. Além de que não queria manter os
pés naquela cidade um segundo a mais.

Elizabeth fez sua escolha quando lhe fez aquela ligação dizendo que era para ele sumir de sua
vida. E era isso o que faria.

Olhou para os lados e respirou fundo.

A bela Nova York lhe trouxe a pessoa que despedaçou seu coração. Irônico, não?
Dois homens se aproximaram e levaram suas malas. Edward passou as mãos pelo cabelo,
respirou fundo e decidiu que aquela era a melhor coisa a se fazer.

Entrou no avião e se sentou no lugar que lhe era devido. Há tempos não provava daquelas
regalias. Afinal, tudo o que participou não lhe pertencia, mas sim à sua chefe.

O piloto se aproximou e se abaixou em uma reverência.

— Meu lorde deseja algo?

Edward respirou fundo e fitou o homem.

— Não, obrigado.

Continua...

“Parece que eu finalmente posso descansar minha cabeça em algo real

Eu gosto dessa sensação

É como se você me conhecesse melhor do que eu jamais me conheci

Eu amo como você consegue descrever

Todos os pedaços, pedaços, pedaços de mim”

Pieces of Me – Ashlee Simpson

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