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Assim que chegamos em casa Luna corre pro quarto e logo se tranca no banheiro me

fazendo rir do seu desespero.

- Amor? - Grito do quarto pra ela ouvir mesmo com o barulho do chuveiro. - Eu vou
tomar banho no outro quarto e depois vou preparar o nosso café, você quer alguma
coisa em especial?

- Não precisa amor, quando eu sair daqui vou lá te ajudar. - Ela grita de volta.

- Não, senhora, você vai descansar! E fim de papo! - Grito mais um vez e saio do
quarto.

Como eu tenho a mulher mais teimosa do mundo, resolvo tomar meu banho o mais rápido
que posso, mas ainda assim quando chego na cozinha ela já está lá separando alguns
ingredientes.

- O que pensa que está fazendo, dona Luna? - Pergunto me encostando no batente da
porta e cruzando os braços.

- Eu estou pegando os ingredientes necessários para um bolo. - Ela diz, com a cara
mais inocente possível.

- Isso eu percebi, me refiro ao fato de você está aqui na cozinha e não no quarto
descansando. - Digo me aproximando dela e a puxando pelos ombros pra ficar de
frente pra mim. - Você ouviu o médico, precisa descansar.

- Eu vou descansar. - Ela diz me encarando de um jeito que sei que qualquer
discussão será em vão, ela vai fazer o que quiser e não há quem possa impedir. -
Assim que terminar o bolo.

- Você é muito teimosa, sabia? - Pergunto com um sorriso no rosto.

- Sabia. - Ela se vira e volta a fazer seu bolo.

- Ok então teimosa, eu vou ajudar pelo menos. - Digo, pegando os ingredientes de


suas mãos e em sintonia começamos a fazer o bendito bolo.

Uma hora e meia depois estamos nós dois sentados no balcão da cozinha, cada um com
uma fatia de bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro, prontos para dar a
primeira garfada, quando a campainha toca.

- Só pode ser brincadeira. - Digo, me levantando.

- Você vai ou eu vou? - Luna pergunta abaixando o garfo.

- Vá comendo, eu já volto. - Dou um beijo em sua cabeça e vou em direção a porta e


adivinha quem é?

Se você falou médico enxerido acertou na mosca.

- Quer o quê aqui? - Pergunto cruzando os braços.

- Vim saber como minha paciente está. - Ele diz, me encarando de nariz empinado.
- Ela está bem, já pode ir. - Digo e começo a fechar a porta.

- Eu preciso vê-la e fazer alguns testes. - Ele diz e me empurra pra passar pela
porta.

- Escuta aqui, Doutor, eu sei cuidar muito bem da minha mulher, então faça o favor
de sair daqui, agora. - Digo segurando a porta o mais aberta possível.

- Sinto muito, mas eu preciso verificar com meus próprios olhos. - Ele diz e eu só
não vou pra cima dele porque Luna chega.

- Doutor, o que faz aqui? - Luna pergunta quando vê o doutorzinho.

- Vim ver como você está. - O infeliz se vira para Luna e abre um sorriso.

- Eu estou bem, não precisava ter vindo aqui. - Ela diz e me abraça de lado.

-Ah, bom, só quis garantir. - O doutor de meia tigela diz parecendo desconfortável,
me fazendo sorrir.

- Você já viu que ela tá bem, agora pode ir. - Digo e recebo um beliscão na
barriga. - Ai.

-Desculpa o Miguel, ele tá assim por causa do sono. - Luna diz, sorrindo para
aquele infeliz. - Mas eu realmente acho que é melhor você ir embora agora, eu quero
terminar meu café para poder descansar um pouco.

- Ah, claro, claro, eu já vou indo. - Graças a Deus o médico decide ir embora, mas
antes de passar pela porta ele se vira e entrega um cartão para Luna. - Qualquer
coisa é só me ligar, estarei a disposição.

- Obrigada. - Luna diz e finalmente fecha a porta e se vira pra mim. - Quanta
educação, Miguel...

- Você queria o quê? O cara tá nitidamente afim de você, eu não vou ser educado com
ele quando ele quer roubar minha mulher de mim. - Digo ficando de cara feia e
voltando pra cozinha.

- Ele não tá afim de mim. - Ela diz quando chega na cozinha e eu a olho incrédulo
enquanto me sento na cadeira. - Mesmo que ele esteja eu nunca que iria ficar com
ele, sabe por quê?

- Por quê? - Pergunto me virando de frente pra ela, que me abraça pelo pescoço,
ficando no meio das minhas pernas.

- Porque eu tenho você e não preciso de mais ninguém. - Ela encosta sua testa na
minha e nós ficamos por alguns segundo abraçados daquele jeito.

Até que a barriga dela faz um barulho enorme.

- Acho que você precisa comer. - Digo, rindo e nós finalmente conseguimos comer em
paz.

<Luna>
Abro os olhos lentamente lutando para mantê-los abertos. O que foi que me acordou?
Ah, sim, a campainha. Olho pro lado e vejo Miguel esparramado na cama, sorte ela
ser grande, se não eu já teria sido jogada pro chão.

A campainha toca novamente, então me levanto e vou atender a porta.

- Luna Monteiro? - Um homem alto, magro, de cabelos e olhos escuros pergunta. -


Descendente da Lua?

- Hã... É, eu sou Luna Monteiro. - Respondo confusa.

- O conselho deseja vê-la imediatamente para averiguação.

- O quê? Mas por quê? Averiguação de que? - Pergunto, confusa e começando a ficar
irritada.

- Não estou autorizado a responder.

- Como não? Eu só preciso saber sobre o que se trata essa averiguação.

- Não estou autorizado a responder.

- Arrr. - Resmungo irritada. Respiro fundo antes de falar qualquer coisa. - Quando
e onde será essa averiguação?

- Agora mesmo, vim escoltá-la.

- O que? Eu-eu acabei de acordar.

- Sinto muito senhorita.

- Certo, então eu vou tomar um banho rapidamente e já saímos. - Digo, passando as


mãos nos cabelos.

- Sinto muito senhorita, mas terá de vir imediatamente. - Esse robozinho está me
deixando cada vez mais irritada.

- Eu que sinto muito senhor, mas eu não saio daqui sem estar decente e não será o
senhor que vai me impedir. - Digo sentindo o corpo quente de raiva e devido ao
desgaste de ontem o esforço que tenho que fazer para não pegar fogo é descomunal.

- Algum problema aqui? - Escuto a voz de Miguel atrás de mim e quando olho ele está
só de calça moletom e com cara de sono.

- Esse homem quer que eu me apresente ao conselho para "averiguação" desse jeito. -
Digo fazendo as aspas com os dedos em averiguação e aponto pra mim mesma logo em
seguida.

- Averiguar o que? - Miguel pergunta me abraçando pelas costas.

- Não estou autorizado a responder. - O robô responde me fazendo revirar os olhos.

- Eu vou tomar um banho. - Começo a andar em direção ao quarto quando sinto puxarem
meu braço.

- A senhorita irá me acompanhar agora mesmo. - O robô começa a me puxar, mas eu


estanco no lugar e ele também trava. - AGORA, senhorita.
- Sugiro que solte o braço dela agora. - Miguel diz de braços cruzados, mas um
sorriso discreto no rosto. - Para sua própria segurança sabe.

- Isso não lhe diz respeito senhor, por favor, não se intrometa. - O robô retruca
Miguel e tenta me puxar, mas novamente não me movo. - Ande senhorita, não tenho o
dia inteiro.

- Em primeiro lugar, tudo sobre a Luna me diz respeito, sim. - Miguel começa ainda
de braços cruzados, mas agora com a testa franzida, visivelmente irritado. - E
segundo eu não preciso me intrometer em nada, estava apenas te alertando, mas se
não quer seguir meu conselho o problema é inteiramente seu.

- Faça o que ele disse e me solte. I-me-di-a-ta-men-te. - Falo pausadamente.

- Ande senhorita, ou serei obrigado a usar a força. - O idiota realmente acha que
eu irei com ele? Ele só pode estar de brincadeira.

- Te dou três segundos pra me soltar. - Já estou cansada desse cara, vou acabar
logo com isso pra poder tomar meu banho e ir ver o conselho logo de uma vez. - 1...
2...

- A senhorita pediu. - Ele me puxa com força, me fazendo cambalear um pouco, mas
não foi o suficiente pra me fazer andar.

- 3. - Digo por fim e com um movimento de mão o jogo pelos ares, o fazendo cair no
gramado da casa do outro lado da rua. - Agora espere aí enquanto eu me arrumo. -
Grito pra ele e bato a porta.

- Essa é a minha garota. - Miguel diz e me puxa pra um beijo.

Duas horas depois estou saindo da sala de reuniões, que fica na mansão.

- Então? Como foi? - Miguel pergunta e alterna o olhar entre Ravi e eu.

- Sinceramente? Desnecessário. - Ravi tira as palavras da minha boca.

- Completamente. - Digo balançando a cabeça.

- Eles perguntaram sobre o que? - Minha mãe pergunta, visivelmente preocupada.

- Se nós tínhamos algum conhecimento prévio sobre o banimento, se nós éramos leais
a eles e mais um monte de blábláblá. - Reviro os olhos lembrando das perguntas que
nos fizeram.

- Eles estão com medo de vocês se rebelarem. - Meu pai diz, pensativo, mas logo
balança a cabeça e sorri. - Mas acho que agora acabou, eles não tem com que se
preocupar.

- Concordo. - Teresa diz e sorri pra Ravi.

- Que sorriso é esse, dona Teresa? Posso saber? - Miguel diz de braços cruzados,
encarando a irmã de cara de feia.
- Não te intromete, Miguel. - Teresa retruca e abraça Ravi, que abre um sorriso
enorme e claramente fica mangando de Miguel.

- Deixe de ciúmes. - Me aproximo de Miguel e falo em seu ouvido, apenas pra ele
escutar.

- Mas... - Ele começa, mas para quando percebe meu olhar. - Tá, parei.

- Bom crianças, que tal um jantar pra comemorar? Agora finalmente teremos paz. -
Minha mãe diz, batendo palmas e rindo.

- Primeiro, não somos crianças. - Ravi diz com cara séria, mas logo abre um
sorriso. - Mas como eu quero pizza aceito ser chamado assim. - Todos rimos das
palhaçadas do meu irmão. - Mas só hoje viu, dona Sophie.

- Vamos logo palhacinhos lindos da mamãe. - Minha mãe diz e puxa as bochechas de
Ravi que fica logo vermelho.

Todos saem na frente rindo e ficamos eu e Miguel para trás, nos olhando.

- Agora sim teremos paz. - Miguel diz.

- Sim, não precisamos mais no preocupar com Samuel, nem com mais ninguém, só com
nós mesmos. - Digo o abraçando.

- Você é minha vida, sabia? - Eu rio de felicidade.

- E vocês a minha.

- Vocês? - Ele pergunta sem entender.

- É, vocês. - Digo e seguro sua mão a colocando em minha barriga.

- É sério? - Ele pergunta com um brilho no olhar.

- Sim, sua técnica infalível de me fazer esquecer o anticoncepcional funcionou. -


Digo rindo e ele ri ainda mais, me agarrando pela cintura e me girando.

- Você não sabe o quanto eu te amo, minha Luna. - Ele diz quando me coloca no chão
e segura meu rosto. - Não sabe o quanto.

Ele finalmente me beija, mas logo somos interrompidos pelos outros, que vibraram ao
saber da noticia.

Nosso mundo finalmente está em paz, outros problemas irão surgir, mas nós sempre
iremos enfrentar tudo juntos, unidos, como uma verdadeira família.

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