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Copyright © 2020 Monique Fernandes

Capa: Monique Fernandes


Revisão: Leticia Tagliatelli
Diagramação: Monique Fernandes

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova


Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de


qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios
(tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da
autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.2018.
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
“Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e um
Capítulo Vinte e dois
Capítulo Vinte e três
Capítulo Vinte e quatro
OBRAS DA AUTORA
Quando você chegou
Cowboy intenso
A vigarista
Sob minha jurisdição
O técnico do meu filho
REDES SOCIAIS
"O amor só descansa quando morre.
Um amor vivo é um amor em conflito."
Autor desconhecido.

Assim que coloco os pés para fora da loja sinto o vento frio tocar meu
rosto e mesmo não sendo inverno ainda faz frio e não deixo de senti-lo.
Acredito que isso é algo que nunca irei me acostumar, pois sou de origem
mexicana e estou acostumada com sol e calor quase o ano todo.
Ando a passos rápidos para não me atrasar para pegar meu hijo[1] na
escola que fica a duas quadras depois da lojinha de conveniência, onde
trabalho durante três dias na semana. Ando tão apressada que não consigo
observar nada além dos meus pés se afastando de onde estava e me
aproximando de onde quero chegar. Avisto o portão gradeado[2] de pintura
descascada da escola e dou um leve sorriso, enquanto levanto minha mão
direita para abri-lo. Caminho pela parte recreativa até chegar ao corredor que
dá acesso as salas de aula, olho no relógio e constato que estou bem na hora.
Quando me vejo em frente a porta levanto os meus pés, observo o pequeno
vidro que tem nela e procuro meu menino entre tantas cabecinhas. Meus
olhos encontram meu pequeno e meu coração se enche de alegria, certamente
o melhor momento do meu dia é quando estou com ele. Meu hijo está com a
cabeça deitada em cima da sua mochila azul do homem aranha esperando o
momento de correr até a mim e me fazer sentir o calor dos seus braços em
volta do meu pescoço.
Dou uma leve batida na porta continuando nas pontas dos pés com o
pescoço erguido até ser vista pela professora que sorri, em resposta dou outro
sorriso e um tchauzinho com a mão em movimentos rápidos e repetitivos. A
professora é um amor, meu pequeno a ama e como consequência eu também
por cuidar tão bem dele. Ela chama Pietro, aponta para mim e sorrio. Meu
pequeno se levanta da cadeira arrumando as alças da mochila em seus
ombros, indo até a professora que se abaixa até sua altura e deixa um beijo na
sua bochecha. Depois todos se despedem dele, ele vem segurando com força
a alça da mochila e meu coração até dói ao vê-lo vir em minha direção. Amo
muito meu hijo e embora ele não tenha nascido do meu ventre, me sinto tão
mãe dele quanto a minha cunhada que nos últimos meses anda mais
descabeçada[3] do que nunca.
A porta se abre, como sempre ele corre para os meus braços e me
sinto a mulher mais completa do mundo neste momento. Seguro sua mão e
caminhamos até o ponto do ônibus.
— Como foi seu dia garotão? — pergunto balançando nossos braços
com os dedos das mãos entrelaçados.
— A tia contou uma história muito legal e o Benjamim deixou que eu
brincasse com o seu carrinho.
— Poxa, isso é muito bacana! — falo com um sorriso.
Vejo nosso ônibus apontar em uma distância considerável, dou dois
passos à frente e com a mão livre a balanço fazendo sinal para que ele pare.
Observo-o vindo desacelerando até parar onde estamos.Olho para o meu
sobrinho e opto por pegá-lo no colo para entrarmos mais rápido.
Assim que entramos procuro por um lugar vazio, finalmente encontro
um e me sento na beira colocando meu pequeno no canto. Sinto o ônibus
ganhar movimento, enquanto ouço meu sobrinho cantar a música que tinha
aprendido hoje na escola.

Algum Tempo Depois


— Boa noite senhor Make — digo cumprimentando-o assim que abro
a porta.
— Boa noite senhorita Alba — responde secamente.— Conseguiu o
dinheiro?
Pisco algumas vezes e engulo em seco, sentindo se formar uma bola
dolorida no meio da garganta.
— Só um instante — respondo enquanto saio a procura da minha
bolsa.
Não o convidei para se sentar, já que ele já tinha entrado em casa sem
ter recebido permissão. Por isso pensei que caso quisesse se sentar ele o faria,
mas não o fez e permaneceu em pé analisando o ambiente.
— Titia acabei.
Paro no meio do caminho ao ouvir Pietro avisar que tinha acabado de
fazer cocô e precisava de ajuda para se limpar, o que me faz dar um sorriso
amarelo e um passo para trás.
— Será que o senhor poderia esperar um pouquinho?— digo
apontando o dedo em direção ao banheiro e ouço mais uma vez Pietro me
chamando para limpá-lo.
Olho para o senhor que enfim desfaz a carranca, recuperando um
pouco da humanidade, sorri, levanta a mão no ar e me manda ir atender meu
hijo.
Desvio do caminho que me levava até minha bolsa e me dirijo ao
banheiro para limpar o meu rapazinho que é impaciente igualzinho ao pai que
não sabe esperar e quer tudo na hora.
Após limpá-lo o levo até o quarto, ligo a TV e coloco em um canal de
desenho. Deixo-o assistindo, assim não irá ouvir minha conversa com o dono
da casa. Meu pequeno irá completar quatro anos daqui três meses, mas ele é
muito esperto e já entendi muita coisa. Não quero que ele descubra que a mãe
foi embora e o deixou comigo sem dizer quando volta, nos deixando em uma
situação preocupante.
Pego na minha bolsa o envelope que recebi do meu patrão com o
adiantamento do mês, entrego ao senhor Make que o abre e conta cada nota.
Depois direciona o olhar para mim e antes de falar qualquer coisa solta um
pequeno resmungo.
Sinto meu coração se apertar dentro do peito, minha respiração fica
mais rápida e me sinto tonta. É assim que meu corpo reage toda vez que me
sinto pressionada.
— Isso aqui não paga nem a metade dos três meses atrasados de
aluguel — diz depois de um tempo, levantando o envelope no ar, o abaixando
e batendo contra a palma da sua mão.
—É tudo que tenho no momento senhor Make, aos poucos vou
acertando com o senhor os atrasados. Peguei alguns extras no fim de semana.
— Tento justificar.
Ele me olha mantendo a cabeça com a respiração pesada e dá um
passo em minha direção me fazendo recuar dois para trás.
— Não estou aqui para te deixar morando de favor... Você tem seus
problemas e eu os meus — diz, enquanto se vira de costas e sai sem falar
mais nada, me deixando a noite em claro com o coração pesado.
"Lute, acredite, conquiste, perca, deseje, espere, alcance, invada,
caia.
Seja tudo o quiser ser, mas acima de tudo...
Seja você sempre."
Autor desconhecido.

— Joãozinho... Sim papai... Comendo açúcar? Não papai... Está


mentindo? Não papai... Abra a boca... Hahaha. — Pietro e eu cantarolamos
uma das muitas músicas que ele escuta nos seus desenhos animados,
enquanto anda pulando festeiro e balanço meu quadril caminhando pela
calçada.
Danço na rua sem me importar com opiniões alheias.
Não sou obrigada a viver dentro de um sistema me preocupando a
cada instante o que as pessoas irão pensar ao me verem fazendo isso ou
aquilo.
O que eu quero mesmo é ser feliz!
— Titia o que está acontecendo na nossa casa?
Desperto-me do nosso momento tirando uma mecha do meu cabelo
que tinha caído no meu rosto, enquanto olho para frente e sinto meu coração
parar de bater por alguns segundos.
Aquilo não pode ser verdade!
Acelero meus passos e pergunto:
— Vamos brincar de correr Pietro? Vamos ver quem é mais rápido?
Mantendo nossas mãos unidas, ele dá uma gargalhada achando aquilo
muito legal e eu sinto que estou a ponto de infartar.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto incrédula pegando as
minhas coisas que foram jogadas na calçada
— Esta é a minha ordem de despejo — o senhor Make diz sem me
olhar do segundo andar onde moro ou morei até agora.
Volta para dentro da minha casa e quando retorna joga minha mala
causando um pequeno barulho quando cai ao chão, que me faz
instantaneamente fechar os olhos.
— Senhor Make paguei uma parte do que devo ontem para o senhor e
disse que faria o possível para acertar tudo o mais rápido possível — falo
sentindo o desespero tomar conta de mim.
Para onde irei com uma criança de três anos?
— O que você me pagou ontem fica para saldar parte dos aluguéis
que não acertam há três meses comigo.
Coloco a mão na cabeça me sentindo perdida, minha garganta se
fecha e sinto uma dor quase insuportável quanto meu desespero. Meus olhos
se embaçam e deixo por um momento o desespero tomar conta de mim.
— Minha hija[4] o que você irá fazer? Para onde vai com essa
criançaesta hora? — pergunta uma das minhas compatriotas que mora na casa
ao lado da minha.
— Não sei, não sei... — digo olhando-a perdida.
Ela toca meu ombro e me entrega o boneco Transformers do meu
sobrinho. Olho para baixo me lembrando dele neste momento e quando o
vejo meu coração que já estava sofrendo se partiu em mil. Meu pequeno
está tentando recuperar algumas das nossas coisas que foram jogadas e os
vizinhos aproveitam para adquirir para si o pouco que tínhamos.
— Como o senhor pode agir assim pelas minhas costas? — É a única
coisa que consigo dizer a meu favor.
Sinto-me tão envergonhada, mesmo tendo certeza de que sou vítima
desta situação duas vezes.
Minha cunhada mudou depois da morte prematura do meu irmão
devido uma parada respiratória sem explicação, ela se deprimiu por meses e
passei a cuidar da casa e do Pietro. Meu irmão nos deixou em uma situação
estável, mas gastamos muito com seu enterro.
Não conheço ninguém neste mundo que faça um plano de morte, por
isso fomos obrigadas a vender a casa para que não a perdêssemos quando não
tivéssemos condições para pagar a hipoteca e viemos parar neste apartamento
por indicação de uma amiga da faculdade. Com o dinheiro que sobrou
decidimos que iriamos fazer o que realmente fosse importante, queria ter
fechado a minha matrícula na faculdade, mas minha cunhada me impediu
dizendo que meu irmão gostaria de me ver formada, que era motivo de
orgulho e mesmo que ele não estivesse presente queria dar esta alegria a ele.
Meu irmão prometeu cuidar de mim quando me trouxe para esse país, até o
último momento da sua vida o fez e agora diante de tudo que estamos
passando prometo cuidar do seu filho como minha maior prioridade.
Pego minhas coisas e as de Pietro do chão, as que realmente nos
fariam falta, não temos para onde ir e por hora ficaremos no nosso carro.
Subo a escada, enquanto dona Salu fica com Pietro.
— Deixa a porta aberta que vou ficar olhando daqui para que não leve
nenhum eletrodoméstico, ficarei com eles para abater parte da dívida.
Olho com decepção, entro em casa e pego nossos documentos.
Abro a geladeira, pego algumas coisas, faço o mesmo no armário e
desço. Dou o que não seria útil para a nós para a dona Salu, já que não
teremos um fogão e tem coisas que estragariam fora da geladeira.
— Muito obrigada Alba, mas tem certeza de que isso não vai te fazer
falta? — pergunta com o olhar de preocupação.
— Não dona Salu, não sei para onde vou, então é melhor não levar
muita coisa — digo entregando a sacola e a vejo sorrir grata.
— Boa sorte na sua caminhada minha doce menina, que a Virgem de
Guadalupe[5] te guarde e te proteja de todo mal — diz ao me dar um beijo na
testa e fazer o sinal da cruz como minha madre[6] fez antes de eu vir para cá.
Agradeço e seguro meu hijo pelo braço.
Caminho até a garagem e coloco nossas coisas que acredito que
seriam úteis de imediato. Depois abro a porta da parte de trás e Pietro entra
com os olhos brilhantes.
— Tudo vai ficar bem meu hijo, vou cuidar de você e te proteger
— digo envolvendo seu corpo em um abraço.
— Se mamá[7] voltar, não irá nos encontrar tía[8].
Olho com carinho para seu rosto e sinto a dor das suas palavras.
Ele é tão pequeno...
Desfaço a minha falta de resposta pelo abandono da minha cunhada e
digo:
— Meu hijo, sua mãe quando voltar irá saber onde nos encontrar.
Lembra-se quando se escondia dela? Ela tinha poderes para saber onde estava
e os usará para nos encontrar aonde quer que iremos estar — digo ao dar um
beijo na sua bochecha dourada, antes de prendê-lo no cinto de segurança.
Círculo pelas ruas sem saber o que fazer, afinal não jantamos e muito
menos tomamos banho.
Olho para o meu sobrinho com o coração aos frangalhos[9] pelo o que
seria dos nossos dias de agora em diante. Não tenho a menor ideia de como
seria o nosso futuro, porém tenho uma única certeza, Pietro sempre me terá e
eu sempre o terei. Estarei disposta a tudo que for necessário para cuidar dele
e o proteger como meu irmão faria caso seu tempo entre nós não tivesse
acabado. Sinto meu nariz arder e em uma conexão absurda ouço meu celular
tocar, me fazendo encostar o carro naquele exato momento.
— Mãe como está?
Sinto minha voz embargar ao ouvir a voz da minha mãezinha.
Como queria estar em seus braços neste momento, certamente me
sentiria protegida.
— Filha meu coração está apertado... Não consegui jantar e agora não
consigo dormir. Sempre que isso acontece é porque algo de ruim está
acontecendo com um dos meus filhos.
Consigo ouvir sua respiração pesada devido à preocupação da minha
mãe do outro lado da linha.
— Seu padrasto me falou para te ligar e assim acalmar meu coração e
o dele também.
Sinto meu coração se apertando ainda mais dentro peito, mas não
posso falar para a minha mãe o que está acontecendo. Estamos a horas de
distância, afinal ela ainda está no México e estamos nos Estados Unidos e
seria injusto mantê-la informada da minha situação sabendo que nada pode
fazer para me ajudar, a não ser ficar mais aflita.
Isso seria maldade.
— Ah mãezinha, sossegue seu coração... Estou bem e Pietro... —
Olho pelo retrovisor, observo o banco de trás e vejo Pietro dormir não tendo
consciência da tempestade em que estamos. — ... Ele está dormindo agarrado
ao boneco Transformers mãe. — Sorrio com sinceridade pela visão e paz que
sinto ao vê-lo dormir.
Ouço um barulho que me parece ser da respiração mais calma da
minha mãe e depois ouço-a confirmar e sorrio.
— Que Deus lhe abençoe e Nossa Senhora de Guadalupe a proteja.
Queria poder falar mais, mas você sabe o valor das ligações internacionais,
né?
— Eu sei mãe fica com Deus e dá um beijo em Manolito, Janna e Sol
por mim — digo e me despeço sentindo meu coração mais aliviado.
Embora meus problemas não estivessem se solucionado, com a
ligação meu coração está mais em paz ao ouvir a voz da minha mãe.
Desligo o celular com um pequeno sorriso que nasce no canto dos
meus lábios e sigo com o carro em movimento novamente.
Dois Dias Depois
Deixo o carro na garagem do shopping, enquanto caminho com o
Pietro feliz agarrado na minha mão, porque na cabecinha dele estávamos
passeando. Seus olhos brilham de animação e vejo sua alegria, enquanto seus
olhos junto a sua cabeça fazem uma dança feliz olhando tudo ao seu redor.
Entro no banheiro do shopping, ergo Pietro o sentado na bancada da
pia, enquanto me afasto um pouco dobro meus joelhos levemente e curvo
meu tronco para frente para verificar se realmente somos apenas nos dois
aqui. Depois de verificar se estamos realmente sozinhos acelero para fazer o
que vim fazer, tiro a minha mochila que está com as duas alças em um único
ombro, coloco-a na bancada, retiro uma toalha desodorante e outras coisas
para uma rápida higiene. Coloco as mãos na parte de baixo da camisa de
Pietro, ele levanta os braços e a deslizo por eles até passar por sua cabeça.
Abro a torneira, faço uma concha com as minhas mãos a enchendo de
água, lavo meu rosto sentindo o frescor da água na minha pele e pego a bucha
dentro da mochila. Molho-a, depois deslizo o sabonete até a ver espumar.
Passo devagar nas costas e debaixo do braço de Pietro, o vejo pular
inicialmente pela temperatura da água, mas depois sorri fechando os olhos.
Pego um pouco de espuma e passo no seu nariz, as bolinhas de sabão causam
cócegas, o fazendo sorrir e consequentemente a mim, enchendo meu coração
de alegria.
Após a rápida higiene nele, faço o mesmo comigo e mantenho a
minha blusa, pois só a trocarei quando ele dormir.
Saímos apressados do shopping antes que levantássemos alguma
suspeita, compro uma pipoca pequena que Pietro tinha me pedido ontem, mas
não tinha dinheiro já que o que tinha dei nas mãos do dono da casa. Só de me
lembrar como ele agiu de caso pensando pegando meu dinheiro que tinha
conseguido com sacrifício um dia antes e no outro me colocou para fora, me
faz me sentir mal, mas é algo que nunca poderia ter cogitado. Só
desconfiamos de atitudes que teríamos coragem de fazer, caso contrário não.
Hoje fiz um extra na casa de um cliente da loja e comprei pipoca para
meu sobrinho e me sinto bem em poder dar algo que ele quer.
— Muito “totoso” quer um pouquinho titia? — pergunta enquanto
ergue o saco na minha direção.
— Não meu amor, pode comer... A tia não quer não, é todinha sua
— respondo com um sorriso doce devido a alegria que sinto ao vê-lo feliz e
passo a mão em seu cabelo negro de fios grossos o acariciando.
Já dentro do carro conto histórias com a lanterna ligada para distraí-
lo, às vezes jogava-a no meu rosto mudando a entonação da voz para fazer
sua mente viajar em cada palavra que dizia. Crio as histórias da minha
imaginação que sempre foi fértil, desde criança trânsito entre o mundo real e
os imaginários, posso dizer que é a minha fuga quando a minha realidade é
sofrida e nos últimos dez meses minhas visitas a esses mundos têm sido
constantes.
Estou quase pedindo para morar nesta parte da minha mente.
Quero que meu sobrinho pense que estamos acampando dentro do
carro, pois foi o que disse a ele.
Só paro de contar e gesticular fazendo variados tipos de vozes,
quando vejo sua respiração se acalmar e minutos depois sua cabeça pender
para o lado. Saio do meu banco, arrumo-o confortavelmente no banco de trás,
ajeito seus travesseiros e volto para o meu banco. Mais uma vez passarei a
noite entre cochilar e velar seu sono, embora tenha escolhido esta rua com
casas chiques, devido a segurança ser maior do que em bairros mais simples.
Mesmo assim prefiro não dormir por medo de que algo nos aconteça algo e
não consiga agir com rapidez necessária para sair com o carro a tempo que o
pior nos aconteça.
O mundo está cheio de loucos sem alma e não posso arriscar as nossas
vidas. Suspiro cansada, enquanto tento enganar meu sono jogando
CandyCrush no meu celular e confesso que estou me achando na fase em que
estou.
“Generosidade e gratidão não são atributos de almas comuns.”
Carlos Nadais.

— O que passa em sua cabeça está manhã que está o deixando todo
distraído Joaquim?
Ouço a voz de Enzo atrás das minhas costas e penso um pouco antes
de lhe responder, são tantas coisas que nem sei por onde começarei a falar.
Respiro ainda pensativo, enquanto viro meu corpo lentamente até que
fico em frente para ele e nossos olhares se cruzam.
— Fim do ano está chegando e…
Suspiro mais uma vez, só que desta vez com a lembrança da conversa
que tive ontem com minha mãe por telefone.
— Preciso dar um jeito na minha vida cara, é isso... Não dá mais para
ficar assim.
— Assim como? — pergunta demonstrando uma atenção maior as
minhas últimas palavras.
— Esta minha solteirice cara. Está na hora de pôr um fim nesta fase
da minha vida — digo jogando toda frustração que sinto.
— Você está solteiro há dez anos Joaquim e isso é desde quando te
conheço... Não está interessado em relacionamentos e minha esposa acabou
com a cota de amigas solteiras para te apresentar — fala meu amigo rindo,
me fazendo me lembrar da época em que nos conhecemos.
Meu coração estava partido e desacreditado demais para mergulhar
em um relacionamento ou dar uma chance a quem quer que fosse.
— Preciso estar em um relacionamento sério para realizar o sonho
que tenho de ser pai. — Conto o que vem passando pela minha cabeça há
algum tempo.
Quando volto a olhá-lo vejo nitidamente o efeito das minhas palavras
na mudança da sua expressão ou na descrença nelas devido seu cenho
franzido expressando sua total incredulidade no que falo.
—O que você andou bebendo cara? Amo a minha senhora
esquentadinha... — diz com um sorriso de lado me fazendo acreditar que sua
mente voou até chegar aonde se encontra sua bela esposa. — ..., mas invejo
sua vida de solteiro. Cara se eu não tivesse encontrado o amor tão cedo, ter
ficado com medo de deixá-lo escapar e nunca mais o encontrar novamente,
certamente seria um puto.
Não consigo conter uma gargalhada que ecoa pelo cômodo do
escritório.
— Deixa de ser besta cara, não imagino você sem esta aliança na mão
esquerda, dormindo cada noite com uma mulher diferente — comento
deixando escapar mais uma risada rouca da minha garganta.
— Ah Joaquim, esta é a visão do paraíso para todo homem casado e
você é quem me mantém dentro do jogo mesmo estando fora dele há décadas,
mas nenhum homem casado é louco o suficiente para dizer isso em voz alta.
Quando te conheci não conseguia imaginá-lo tendo um relacionamento de
uma noite, devido esse seu jeito certinho e romântico e não venha me dizer
que você não é romântico e protetor. Só não encontrou a mulher que
despertasse este lado em você, mas depois de tantos anos acompanhando sua
vida de solteiro, vejo que é o que você mais tem na sua vida... Uma noite de
foda e tchau, você é um predador cara... Meu herói! — exclama me olhando
de lado.
— Isso vai acabar, ontem tive uma conversa com a minha mãe e falei
que estou em um relacionamento sério há alguns meses, quando ela me
perguntou se o motivo de não querer passar o Natal com eles seria devido
minha ex ser irmã da mulher do meu irmão. Afirmei para ela que estou em
outra e que Norah ficou no passado.
— Então isso significa que você terá que mudar seu estado civil em
sete meses? Ah,para! Diga-me onde irá encontrar essa santa? Diga-me onde
encontrará alguém que te deixe apaixonado em sete meses sendo que te
conheço há dez anos e nunca o vi assim por ninguém. Cara depois que sua ex
te sacaneou, seu coração bate na sola do pé — diz e dá uma risada alta
tombando a cabeça para trás.
Olho para ele refletindo verdade em suas palavras.
— Você mentiu para sua mãe, Joaquim? — pergunta e para de rir na
mesma hora, quando se dá conta do que tinha feito.
— Menti cara e o pior é que ela espalhou a notícia para toda família
que não só irei para o Natal como também estarei acompanhado pela minha
noiva. — Passo a mão no meu cabelo me dando conta do tamanho da
enrascada em que eu me meti.
Tudo isso só para mostrar para minha mãe que estava bem e que
minha ex não me deixou estragado para o amor.
— Puta merda cara! — diz em alto e bom som e rio desanimado.
— Põe merda nisso Enzo, agora vou ter que arrumar uma mulher
para se passar por minha noiva, enquanto ainda procuro uma para ser mãe do
meu filho — digo desanimado ao chegar a conclusão de que precisava
mesmo era de um milagre de Natal para este ano.
— Já ouviu falar de encontros às cegas, Joaquim? Comece marcando
ponto lá, quem sabe não encontre uma mulher tão desesperada quanto você
para ter uma família que aceite toda essa loucura sem muitos
questionamentos.
— Não gosto desses tipos de encontros, embora seja uma ótima
oportunidade de conhecer muitas mulheres ao mesmo tempo. Talvez com
isso possa vir encontrar uma mulher mais rapidamente para que atinja minhas
expectativas. Não estou à procura de um amor, quero uma companheira,
alguém que posso confiar e contar.
— Joaquim você sabe que tem sérios problemas de confiança ainda
mais quando se trata do sexo feminino — diz em um tom sério de alerta.
— Nem sei por que fui te contar isso, deve ser para sair daqui mais
desanimado com a minha situação do que entrei — falo em um curto
resmungo de lamento.
— Porque sou seu melhor amigo — diz com um sorriso amarelo e eu
me jogo na cadeira a sua frente.
— Vamos ao trabalho, já jogamos conversa fora demais hoje. Quando
sair daqui tenho que passar no banco, agora me diga como estão as coisas.
Passamos as próximas horas acertando os últimos detalhes do projeto
dos móveis do chalé de uma cliente.

Algumas Horas Mais Tarde


Após ter passado algumas horas no banco respiro aliviado por estar
indo para casa. Ainda tinha que voltar na empresa e ajudar a fazer algumas
peças. Estamos em maio e falta exatamente sete meses para o Natal, mas para
mim é como já fosse hoje.De agora até a primeira semana de novembro,
quando encerro os pedidos do ano, ficamos atolados para que tenhamos
tempo para atender toda a demanda até duas semanas antes do Natal. O
trabalho dobra nesses meses e não tenho o que reclamar pelo contrário sou
grato. Tenho muitos funcionários e contas para saldar, não que esteja no
vermelho, muito pelo contrário, mas a responsabilidade é enorme.
Quando os meus pés tocam a calçada, ouço uma voz calma que me
chama a atenção e olho para o lado.
— Estava a sua espera.
Vejo uma senhora cega que deve estar precisando de ajuda para
atravessar a rua e sorrio por poder ajudar.
— Boa tarde, como a senhora está? — pergunto a cumprimentando
com um sorriso no rosto, embora sua cegueira a impeça de ver.
Ela afasta o braço do corpo, o levanta na direção de onde vem o som
da minha voz, me aproximo mais para pegá-lo e envolver no meu braço.
— Muito obrigada Joaquim pela ajuda, muitos fingem que não veem,
embora a cega seja eu.
Sua voz não chega nem próximo do que deveria ser uma constatação,
mas me deixa triste por saber que ela deve estar aqui há um bom tempo
esperando um braço para a levar em segurança para o outro lado da rua.
Fazendo com que me pergunte se ela tem um filho ou neto que poderia ter a
acompanhado, ou será que vive sozinha.
— Hoje vim para poder te ajudar... Existem vários tipos de cegueira
meu filho e você está cego há algum tempo.
Franzi a testa ao ouvi-la falar, chegando à conclusão de que é uma
senhora muito estranha. Não me lembro em momento algum de ter falado
meu nome, mesmo assim me chama por ele. O que me faz pensar que
realmente ela me conhece e se isso for verdade...
De onde seria?
Porque não me lembro dela em momento nenhum da minha vida.
Vejo o sinal fechando e começo a andar com a senhora pela faixa de
pedestre. Seus passos parecem cansados pela idade, seus pés já não tão mais
rápidos e eu a acompanho sem pressa. Ela se silencia e quando chegamos do
outro lado, seguro sua mão após deixar seu braço.
— A senhora vai para mais algum lugar ou está indo para casa? Se
quiser posso te levar? Não tenho mais nada a fazer hoje, será um prazer —
digo tomado pela preocupação de vê-la sozinha na rua, pois em pouco tempo
irá escurecer e se tornará perigoso para uma senhora da idade dela ficar na
rua, ainda mais indefesa por ser cega.
— Não precisa meu jovem minha missão acaba aqui e sua vida
começa a ganhar sentindo hoje — diz com uma doçura na voz.
Por um momento me faz querer acreditar no que me diz e a frase que
Enzo me disse algumas horas antes de sair da loja se faz presente, “você tem
problemas sérios de confiança, ainda mais se for no sexo feminino”.
— Você irá confiar nela no instante em que seus olhos se encontrarem
pela primeira vez... Vai parecer loucura, mas nunca mais vai querer sair do
lado dela. Você tem que parar de se autossabotar, o Senhor te ama tanto que
permitiu uma interferência de perto no seu caso — diz dando uma pequena
risadinha e mais uma vez me faz achar que é uma louca.
De alguma forma ela prende a minha atenção e não consigo deixá-la
de ouvir.
— Você só precisa pegar esta carta. Só a abra quando estiver sozinho
e irá ler a oração de amor às 23:15 horas e seus corações irão se unir onde
quer que estejam.
Rio incrédulo achando tudo aquilo um absurdo.
Devo estar muito desesperado, porque mesmo não tendo lógica
nenhuma não conseguia sair dali e dar um basta naquela loucura descabida.
A senhora estende o envelope e diz:
— A sua felicidade está nas suas mãos... Chegou a hora de recomeçar,
esquecer de vez as dores do passado e se permitir ser feliz. — Acaricia a
minha mão que continua por cima da sua.
Quando solta, entrega o envelope vermelho e sai parecendo ter
certeza para onde ir. Abaixo a cabeça por um milésimo de segundo para olhar
com mais atenção o envelope e quando olho para frente ela havia sumido.

Algumas horas mais tarde sinto a água cair em minhas costas, só


desligo o registro e saio do banho após sentir meus músculos relaxarem. Pego
a toalha, me seco, me troco e vou em direção a cozinha para fazer um lanche
rápido, pois com a loucura que foi o meu dia não tive tempo de ir ao mercado
e acabaram todos os congelados.
Olho o relógio sentindo uma falha na batida do meu coração ao
perceber que faltam dois minutos para às 23:15 horas. Levanto-me apressado
e neste momento me considero mais louco do que a senhora que me fez
pensar que um pequeno pedaço de papel decidirá meu futuro amoroso. Rio
me sentindo nocauteado ao me lembrar que há tempos desisti de procurar
alguém com medo de novamente me ferir, mas a curiosidade do
desconhecido me invade me fazendo agir por impulso. Coloco o prato dentro
da pia e sigo apressado onde tinha deixado a carta. Após tê-la em minhas
mãos, passeio com ela entre meus dedos, a abro mesmo achando um absurdo,
me aproximo da janela e começo a ler.
Nossa oração de amor
“Que neste momento nossos corações se unam em uma única batida à
procura um do outro, para que nunca mais possamos nos sentir sozinhos
novamente …”
“O amor é a força mais sutil do mundo.”
Mahatma Gandhi.

— Está segurando muito peso senhora Idelgardes, deixa te ajudar a


levar as compras até seu carro, já estou de saída.
A senhora gentil me olha e aceita ajuda. Acerto as alças da minha
mochila em meus ombros e pego sua bolsa.
— Boa noite senhor e senhora Smith — digo me despedindo dos
donos da loja onde trabalho sempre com um sorriso alegre no rosto.
Vejo-os acenando para mim e deixo o lugar. Asenhora Idelgardes dá
alguns passos na minha frente e abre a porta para que possa passar com suas
sacolas. Agradeço, sigo até o estacionamento, onde está o carro dela e após
ajudá-la colocando suas compras no porta-malas me despeço e me viro para
ir embora.
— Por favor, minha jovem...
Viro-me para ela e a vejo mexendo na carteira.
— Sei que não é muito, mas aceita isso como um agradecimento por
sua gentileza.
— Não...Que isso senhora Idelgardes, foi um prazer ser útil. Não
precisa se preocupar comigo — digo abaixando a mão que ela me estende
com o dinheiro.
— Por favor aceite é de coração.
Depois dela insistir por duas vezes, acabo aceitando e quando viro as
costas começo a contar as cédulas. Meus olhos se embaçam ao ver que
teríamos um jantar de verdade, coloco o dinheiro no bolso de trás do meu
jeans e caminho para buscar Pietro na escola.
— Uma ajuda, por favor.
Uma voz chama a minha atenção e olho mais atentamente para uma
senhora com uma lata de leite em pó vazia pedindo ajuda. Não penso muito e
nem ao menos êxito em ajudar. Certamente sua situação poderia ser pior que
a minha, sei que estou provisoriamente sem lugar para morar, mas graças a
Deus tenho saúde e um trabalho.
— Oi, sei que não é muito, mas espero que possa te ajudar — digo
entregando parte do dinheiro que usaria para ter um bom jantar, ficando
somente com o valor que seria suficiente para que Pietro pudesse se
alimentar, pois eu comeria qualquer coisa.
Ela me olha e sorri.
— Estava a sua espera minha jovem — diz segurando minha mão.
Não sei explicar, mas sinto sinceridade em suas palavras.
Não sei o que responder, pois não esperava por isso.
— Está se sentido sozinha, preocupada com o que será do amanhã...,
mas te digo o amanhã a Deus pertence minha filha. Assim como agora ele
está cuidando de tudo. Gentileza gera gentileza e o Senhor tem te ouvido.
Hoje à noite faça esta oração às 23:15 horas que irá ter uma grande mudança
na sua vida. Não se assuste com as grandes decisões que terá que tomar em
pouco tempo e quando tiver certeza de que está com a pessoa certa, façam
esta oração juntos — diz segurando minha mão e entrega um envelope na cor
vermelha, pedindo para que abrisse somente na hora de fazer a oração.

Algumas horas mais tarde


Olho Pietro adormecido no banco de trás do carro, sinto meu coração
apertado ao me lembrar da sua felicidade com o nosso jantar. Olho para o
visor do celular, vejo que são exatamente 23:15 horas e meu coração acelera
algumas batidas devido a euforia da lembrança que a carta me trouxe.
Abro o envelope e leio em voz alta.
—Nossa oração de amor....
Quem disse que estou à procura de um amor?
Quero apenas uma cama para dormir e nem precisa ser confortável,
além um teto sobre a minha cabeça e mesmo indo contra tudo que
penso, começo a ler mentalmente, afinal o que não me faz mal, certamente
me fará bem.
“Que as nossas almas se unam como uma só e que nunca mais precise
andar sozinha, mesmo que não esteja com você em presença te levarei em
força e pensamento…”
Que linda!
Após terminar a oração sinto meu peito se aquecer com a força de
cada palavra escrita e quando dou por mim, meus olhos denunciam minha
emoção escorrendo pelos cantos. Levo meus dedos até meus olhos e seco as
lágrimas que teimam cair.
Vejo um carro com sirene ligada vindo em minha direção, sinto meu
coração pesar, enquanto aperto meus olhos com força pedindo para que ele
passe direto e que não tenha chamado a atenção ou incomodado alguém.
Sei que o bairro é cheio de gente chique, portanto, é seguro.Porém
vejo toda força de pensamento ir para o espaço quando a viatura para e o
guarda vem até minha janela batendo com um objeto que parece ser um
cassetete, o que me faz pular.
— Por favor, pode abaixar o vidro senhorita? — pede me fazendo
pular mais uma vez com o barulho do seu cassetete contra o vidro.
Abaixo o mais rápido que pude e respondo:
— Boa noite. Tudo bem com o senhor? — cumprimento gentilmente.
Sei que é estranho e até suspeito estar em um bairro como este, em
uma rua completamente vazia a esta hora da noite e sem segundas intenções,
mas estou e é isso que ele vai ter que acreditar. Só estou aqui por ser mais
seguro e como não devo nada a ninguém, não devo demonstrar medo ou
parecer assustada. Sou uma pessoa honesta, nunca roubei nada e não estou
fazendo nada que possa me envergonhar.
Trate de agir normalmente Alba, completamente normal...
Repito para mim mesma e peço para que meu corpo se acalme, assim
como a minha mente.
— Recebemos uma ligação de alguns moradores que pediram para
que viéssemos averiguar a área, pois havia um carro estranho três noites
seguidas parado bem aqui. Poderia sair do carro, por favor e me mostrar seus
documentos? — diz tirando uma lanterna do bolso e iluminando dentro do
carro para examinar a situação.
Olha para o meu rosto com uma feição estranha ao ver que tem uma
criança dormindo no banco de trás e o frio e o medo percorrem meu corpo.
Saio do carro, mostro meus documentos e o do carro, assim como os do meu
sobrinho. O guarda pede para o seu colega ficar de olho em mim, enquanto
vai até a viatura fazer algumas verificações e é nesta hora que agradeço aos
céus por estar legalmente neste país. Ele fica algum tempo dentro da viatura
até que volta a olhar para mim e vem na minha direção. Vejo que a rua agora
não está tão vazia como antes, alguns vizinhos saíram das suas residências e
me olham de longe falando coisas que não escuto devido nossa distância, mas
faço ideia do que seja.
— Está tudo ok com a documentação... Agora circulando, pois não
quero ter mais nenhuma ligação referente a você nesta rua — diz me
entregando meus documentos e no momento que vou pegá-los, escuto uma
voz forte vindo detrás da minha cabeça.
— O que está acontecendo aqui?
Girei meus calcanhares para ver quem é o dono da voz e nossos olhos
se encontram por alguns míseros segundos. Ele logo desvia seus olhos dos
meus e direciona seu olhar para os guardas.
— Está tudo sob controle senhor, tivemos uma reclamação sobre um
carro estranho parado em frente à sua casa, mas já está tudo resolvido. Ela já
está de saída e não vai causar mais problemas — diz o guarda com calma
para o homem que está com a expressão sisuda.
— Titia o que está acontecendo?
Olho para o meu sobrinho que se levanta e logo se senta no banco em
que dormia há pouco. Coça os olhos com as mãos, me olhando assustado,
esperando que o acalme e é o que procuro fazer na mesma hora. O mundo
poderia estar caindo em meus ombros, mas nada me impedirá de fazer com
que ele se sinta seguro.
— Licença — falo me afastando um pouco deles, indo até o meu
sobrinho. Dou um beijo no alto da sua cabeça enquanto digo em voz baixa.
— Não é nada meu amor... Vai ficar tudo bem.
Às vezes de tanto falar talvez se torne verdade ou passo a acreditar.
Pego-o no colo e viro para os três homens que me analisa.
— Desculpe-me senhorita Alba, o senhor Fullin está aqui me
explicando que vocês se conhecem e que provavelmente está parada aqui
porque se cansou de chamar e não foi atendida, pois ele estava no banho.
Ouço tudo e apenas abro e fecho a boca de surpresa sem saber o que
dizer.
— É isso mesmo, senhorita Alba? — pergunta olhando meu rosto
com atenção.
Olho para o estranho de braços cruzados e ele ergue uma sobrancelha
para mim. Pisco algumas vezes pensando no que fazer, mas para o meu bem
primeiro confirmo com a cabeça em um gesto lento e depois com os lábios.
“Há pensamentos que são orações.
Há momentos nos quais,
seja qual for a posição do nosso corpo,
a alma está de joelhos.”
Victor Hugo.

Após terminar a oração que nem acredito o motivo que acabei


fazendo, levanto a cabeça e sou surpreendido com as luzes que indicam ser
do corpo de bombeiro ou da polícia iluminando a rua com suas cores azul e
vermelha, fazendo uma dança de movimentos na parede da minha sala.
Caminho até a porta, a abro através das grades do portão e vejo o mesmo
carro de duas noites atrás estacionado em frente à minha casa. Sem perceber,
caminho até a movimentação e pergunto:
— O que está acontecendo aqui?
Analiso rapidamente a jovem de cachos largos que me olha com os
olhos assustados, depois me viro para os policiais e cruzo meus braços
aguardando sua resposta.
— Recebemos uma reclamação de uns dos vizinhos e eles
informaram que há algum tempo este carro está encostado na frente da sua
casa.
Sorrio achando graça da situação.
Como eles podem se ocupar com tão pouco, o carro está encostado
em frente da minha casa e eu que deveria estar incomodado não estou.
Oh, povo!
— Ela está comigo. — As palavras escapolem da minha boca sem
antes serem filtradas por meu cérebro, me deixando completamente surpreso
após dizê-las.
— Mas senhor Fullin...
Levanto a mão não permitindo que continuasse. Procuro a moça que
está com a metade do corpo dentro e a outra para fora do carro, ficando em
uma posição que deixa seu bumbum arrebitado. Essa visão me faz sorrir sem
mostrar os dentes, mas quando ela sai, se vira com uma criança e se aproxima
de nós me fazendo sentir algo que não sei explicar.
— Desculpe-me senhorita Alba, o senhor Fullin está me explicando
que vocês se conhecem e que provavelmente está parada aqui porque se
cansou de chamar e não foi atendida. Ele estava no banho e por isso não
ouviu.
Vejo-a abrir e fechar a boca passando por vários estágios de
sentimentos que foi visível aos meus olhos, primeiro foi confusão, depois
veio a surpresa pela forma que estou agindo e confesso que estou mais
surpreso ainda por não saber o motivo de estar agindo assim.
— É isso mesmo, senhorita Alba? — pergunta mais uma vez.
Ela desvia seu olhar, depois olha mais uma vez e afirma lentamente
com a cabeça deixando cair alguns cachos do seu cabelo em seu rosto.
— Sim, é isso mesmo que ele disse. — Olha para mim e sorrio
assentindo.
— Bem, já que tudo está esclarecido, peço desculpa pelo
inconveniente e boa noite para vocês — diz se afastando junto com o outro
colega que estava com ele na abordagem, entram no carro dando a partida e
se foram.
Aproximo-me da moça que está me analisando com a criança em seus
braços.
— Muito obrigada pela ajuda.
— Sem problemas, notei que seu carro está parado aqui há três noites
contando com essa. Tem para onde ir com esta criança? — pergunto a
olhando com curiosidade.
Ela morde o lábio inferior e concluo que deve estar pensando no que
vai me dizer.
— Agradeço a ajuda e prometo que não me verá mais por aqui — diz
se afastando de mim.
Toco em seu ombro a impedindo de seguir com o plano de ir embora.
— Não foi isso que perguntei — falo olhando em seus olhos.
Por um momento fico perdido tentando decifrar que cor eles são, pois
vejo uma mistura de castanho com verde. Volto a me concentrar no agora
quando ouço sua respiração mais forte e depois a ouço falar:
— No momento não, mas como disse vou sair daqui e não quero ter
problemas com a sua vizinhança.
— Vem comigo — digo e faço movimento para sair da calçada, mas
paro quando não a vejo se mover.
— Por que você mentiu para ajudar?
Esta pergunta me pega em cheio e nem eu mesmo sei explicar o
motivo.
— Vi que estava com o olhar assustado e quis ajudar.
Ela me analisa e dou de ombros.
— Muito obrigada — diz com um quase sorriso em seus lábios.
— Posso fazer mais por você e seu filho? — pergunto com boa
intenção.
Sei que há duas noites ela está dormindo em um carro com uma
criança e eu quero ajudá-la ao menos por esta noite se ela me permitir.
— Ele não é meu filho, é meu sobrinho... Agradeço a gentileza da sua
parte, mas não quero incomodá-lo. Já me ajudou o suficiente por hoje.
— Eu quero e posso fazer mais por vocês dois, por favor, me permita.
Ela parece pensar e por fim concorda. Peço a chave do seu carro, ela
tira do bolso e me entrega.
— Vamos então, para você poder se deitar com seu sobrinho que deve
estar pesado. Percebo que ele voltou a dormir depois do susto.
Ela concorda com um sorriso.
Penso em perguntar se posso segurá-lo, mas ela já está desconfiada
demais com minhas intenções.
Por que estou agindo assim com ela?
Nunca a vi e não tiro sua razão, no seu lugar estaria agindo do mesmo
modo.
— Depois que vocês se acomodarem, coloco seu carro na garagem e
então conversamos, certo?
Ela assente e faço um sinal com a mão para que ela me siga.
Entro na sala, acendo mais algumas lâmpadas para que ela não corra
risco de esbarrar em algum móvel e venha se machucar. Observo que ela
analisa o ambiente.
— Você mora aqui sozinho?
Segue em direção ao sofá, se senta nele e depois ajeita o sobrinho no
colo.
— Está tão óbvio assim que é a casa de um homem solteiro? —
pergunto com meio sorriso e ela apenas assente parecendo tímida.
— Desculpa-me, mas os tons neutros e pouca mobília dão a
impressão que acabou de se mudar — diz me arrancando uma risada. —
Confesso que meu maior interesse era achar a foto da sua esposa.
— Está se sentindo insegura?
Ela aperta os lábios um no outro, antes de me responder.
— Desculpa-me é que não te conheço e hoje em dia é perigoso. Estou
flertando com o perigo desde que entrei na sua casa sem ao menos saber seu
nome.
— Oh, me desculpa me chamo Joaquim Fullin e você pelo que pude
perceber é Alba, certo? — falo dando alguns passos até ela e ergo a minha
mão para que ela pegue com um pouco de dificuldade equilibrando o
sobrinho em seu braço.
— Não está flertando com o perigo, pode ficar tranquila — falo
passando segurança, a olhando nos olhos. — Não vou fazer nada que você
não queira. — Observo que a escolha da frase não foi muito boa e deixa no ar
que queira fazer coisas com ela.
Puta merda, Joaquim!
O que está acontecendo com você hoje cara?
Xingo-me internamente, mordendo o interior da minha boca. Vejo-a
sorrir em resposta jogando para baixo a tensão que me atingia.
— Fico tranquila, em saber — diz me dando mais um sorriso e
percebo que ela é o tipo de pessoa que sorri o tempo todo.
Imagina a ideia louca que passa pela minha cabeça.
— Titia onde estamos?
Uma voz infantil quebra a nossa pequena conexão, nos fazendo olhar
para ele. Alba sorri e desliza o dedo com carinho na pele da bochecha do
sobrinho, que toca sua mão e segura seus dedos.
— Estamos seguros na casa do Joaquim, se levanta do colo da tia para
conhecê-lo.
Assim ele faz e vira a cabeça para meu lado.
Aproximo-me mais dele e me abaixo para ficar mais próximo do seu
rosto.
— Oi garotão, tudo bem? — pergunto dando um sorriso e passo a
mão na sua cabeça enchendo meu coração de calor.
Vejo-o olhar para tia, depois para mim e enfiar os dois dedinhos
indicadores se mostrando envergonhado.
— Pietro cumprimenta o Joaquim — fala no seu ouvido e depois
deixa um beijo em sua bochecha.
Ele a olha e depois desce seus olhos para mim.
— Oi.
Assim que ganho o meu primeiro "oi", meu coração me avisa no
mesmo instante de algo que não reconheço.
— Oi. — Foi minha próxima palavra mesmo já tendo a dito.— Você
e sua tia vão dormir aqui em casa hoje — falo olhando para Alba que sorri.
— Na cama titia?
— Acho sim hijo — responde o chamando de filho em espanhol.
Isso me traz a certeza de ela é uma bela mexicana com lindos traços e
cor dourada.
— Tem uma cama bem macia para você e para sua tia.
Nossos olhos se encontram mais uma vez e não sei o motivo, mas não
consigo parar de olhá-la. Ela sempre tem um sorriso no rosto,mesmo
acreditando que tenha belos motivos para não parar de chorar.
— Podemos tomar banho no chuveiro? Titia e eu tomamos na
torneira.
— Como? — questionei sem entender o que ele queria dizer com isso.
— É uma longa história, mas posso dar um banho nele?
— Claro, vem comigo que os levo até o banheiro que fica no quarto
que podem ficar esta noite. Enquanto você dá banho nele, coloco seu carro na
garagem e se me permitir subo com suas malas para poder pegar roupas para
trocá-lo — falo me levantando e caminho com ele atrás de mim.
Subo a escada que dá aos quartos da casa, passo pelo o meu e abro a
porta do que é para ela ficar. Abro a porta, Pietro corre e pula na cama.
— Pietro, pelo amor de Deus não me mata de vergonha! — exclama
em um tom que julgo ser a repreensão mais doce do que já vi em toda minha
vida.
Pietro para no mesmo instante de pular na cama e a olha com os olhos
parados arrancando de mim uma risada.
— Tudo bem, esta cama é muito boa de pular mesmo — digo me
jogando na cama, caindo de costa no colchão e sentindo meu corpo
afundando nele.
— Hum, você está alimentando um monstro, então depois não diga
que não avisei — diz e dá uma risadinha.
Levanto-me e falo:
— Pula bastante aí garotão.
— O banheiro fica aqui — falo abrindo a porta do lado do guarda-
roupa. — Pode ficar à vontade, assim que subir com suas malas trago toalhas
limpas para vocês. As que estão no banheiro acredito que não estão boas para
o uso. Dona Carmem, não passa por aqui. Nunca recebo visitas, então não
dou muita importância em ficar trocando as toalhas toda semana — digo sem
graça e me dou conta de como sou péssimo com as coisas de casa.
— Sem problemas está perfeito, você está sendo maravilhoso comigo
e meu sobrinho. Não sei como posso te agradecer — diz pegando a minha
mão e me dá um olhar cheio de lágrimas rasas.
Sinto uma vontade de abraçá-la e protegê-la de tudo que não faço
ideia de que ela esteja passando.
— Não precisa me agradecer, vou pegar suas malas lá embaixo. —
Aponto o dedo para a porta e saio quase correndo do quarto, fugindo dos
sentimentos estranhos que ela provoca em mim em menos de 40 minutos que
nos conhecemos.
“Cada qual sabe amar a seu modo;
O modo, pouco importa;
O essencial é que saiba amar.”
Machado de Assis.

Algum Tempo Depois


— Ele dormiu?
— Sim, estava cansado?
— Podemos conversar?
— Sim, claro.
— Então, por favor, me acompanhe.
Dou uma última olhada no Pietro que está dormindo, antes de sair do
quarto e encarar a realidade batendo na minha porta.
Descemos a escada e ele me leva até a cozinha, que é toda branca com
poucos utensílios, mas é enorme. Sento-me em uma banqueta em frente ao
balcão de granito, enquanto ele vai para o outro lado.
— Café ou chá? — pergunta e procura meu olhar para obter a
resposta.
— Café, por favor.
Ele vai até a cafeteira e começa a preparar tudo para o nosso café em
silêncio, enquanto me preparo para o que quer que seja que venha pela frente.
Pelo menos uma noite de sono tranquilo terei, amanhã será sábado e estou
completamente perdida.
O que vou fazer com meu sobrinho amanhã?
Não podemos passar o dia todo dentro do carro e não tenho condições
de passar o dia no shopping.
— Também sou da turma do café, acho que não tem nada melhor. Por
isso, tomo todos os horários do dia e quando sinto dor de cabeça é pela falta
dele — diz com uma risada simpática, quebrando o silêncio que tinha se
formado. — Considero-me até um pouco viciado nesta bebida — fala e seu
tom de voz é tão tranquilo e despreocupado que me leva a forçar um sorriso,
mesmo me sentindo tensa.
— O que aconteceu para estarem morando dentro do carro?
— pergunta com a maior atenção, quando me entrega a xícara de café e se
senta ao meu lado.
Respiro fundo sentindo o cansaço dos últimos dias tomar o meu
corpo, mas me sinto mais perdida do que qualquer outra coisa.
— Hum é complicado, mas vou tentar resumir. Acredito que fui
enganada pela minha ex-cunhada e o namorado.
— O que eles fizeram com você? — pergunta me olhando com uma
atenção maior.
— Depois que o meu irmão morreu minha cunhada entrou em
depressão, com isso fiquei responsável por tudo, aos poucos ela foi se
recuperando e tomando controle da própria vida, até que ganhei dois
convites para um show em um bar e achei que seria bom para ela sair um
pouco para distrair — digo e rio de tristeza.
Ah! se arrependimento matasse com certeza estaria morta neste exato
momento em que conto para ele esta história.
Se soubesse nunca teria entrado naquele bar...
— Foi aí que ela conheceu o causador de tudo que estou vivendo
agora. — Pisco algumas vezes buscando coragem para seguir.— Ele foi
morar com a gente, era gentil, educado e parecia gostar do Pietro. Cuidava da
gente e passamos a confiar nele. Ele se responsabilizava por algumas coisas
por trabalhar a noite e ter uma maior flexibilidade de horário durante o dia,
então dava a minha parte do aluguel para ele e a minha cunhada agora não sei
o que fazia. Um certo dia cheguei em casa com Pietro e descobri que ela
colocou o pé na estrada com a banda do namorado, me deixando responsável
pelo seu filho e sem onde morar porque não pagavam o aluguel há três meses.
— Então você foi enganada por sua cunhada e o namorado dela? —
pergunta deixando sua caneca no balcão.
— É o que parece, ainda quero acreditar que ela não sabe sobre os
meses de aluguel que não foram pagos. Quero manter a esperança na mulher
que eu conheço desde que vim para cá.
— O que você pretende fazer?
— Não faço ideia... Não conheço ninguém nesta cidade para poder
passar um tempo em sua casa até ter condições de alugar um lugar para
podermos morar. Além do meu irmão e cunhada a minha única amiga aqui se
mudou depois que nos formamos por ter aceitado uma ótima proposta de
emprego.
— Eu posso cuidar de você e do menino se me permitir, tenho uma
proposta para te fazer.
Observo-o com atenção e acredito que boas coisas virão. Ele parece
receoso, fica em silêncio por um tempo, parece inquieto ou buscando as
palavras certas para continuar a conversa e tenho medo do que possa ouvir.
—Vou ser totalmente sincero com você, antes de te fazer esta
proposta acho que você deve saber o motivo. Aí depois você vê se vai ou não
aceitar.
— Tudo bem acho justo isso, em tudo que fazemos temos que ser
honesto e sincero com os outros.
Ele concorda com o que falo em um leve meneio[10] de cabeça.
— Claro. Não sou daqui, mas moro aqui desde quando tive uma
grande desilusão amorosa aos 23 anos. Estava com o casamento marcado,
meu irmão mais velho e eu namorávamos duas irmãs, ele se casou e depois
seria eu, mas um pouco antes do casamento ela me traiu com um colega de
trabalho e amigo meu. — Respira com ar triste. — Então não houve
casamento, me mudei para aqui com o pensamento de recomeçar bem longe
dela e desde então não volto a minha cidade. Geralmente meus pais e irmão
me visitam.
— Nossa sinto muito por sua decepção, devia amá-la muito — digo
realmente sentida por ele ter passado por algo tão ruim e tê-lo afastado da
convivência familiar por este motivo.
— Hoje em dia não sinto mais esta dor, só evito me encontrar com
ela, mas no início do ano meu pai passou por uns problemas de saúde e com
isso minha mãe quer todos nós presentes no Natal. Ela acha que não quero ir
por causa de todo drama que aconteceu com a minha ex.
— E isso não é verdade? — pergunto olhando-o com atenção.
— Em parte sim... Ir para lá e relembrar tudo que demorei anos para
esquecer é tipo mexer em uma casca seca de um machucado, sabe?
— Sei bem o que quer dizer... Nunca se sabe o que pode encontrar lá
embaixo... Tem medo de remover a casca do machucado e descobrir que a
ferida ainda não se curou?
Aquilo estava óbvio para mim do jeito que ele falava.
— Preciso de uma mulher e quero ter um filho. Aceita se casar
comigo e me dar filho? Prometo cuidar de você e do seu sobrinho.
Olho para ele assustada, aquilo realmente havia me pegado de
surpresa.
— Como assim?
Sinto todo o sangue do meu rosto sair e minha boca ressecar.
Nunca me preocupei com namorado e agora teria um marido?
— Você quer provar para sua mãe e para todos que estão lá que não
só se recuperou como também reconstruiu sua vida? Onde cabe um filho
nisso? Filho é um vínculo eterno.
— O casamento realmente é para mostrar para minha família que
superei a minha ex e até poderia fazer isso só de aparências. Agora sobre o
filho, eu quero ser pai.
Seus olhos parecem ser sinceros.
— Isso é a maior loucura que já ouvi em toda a minha vida — digo
atônita e a voz da senhora que ajudei mais cedo vem na minha cabeça.
— Sei que parece loucura, o bebê podemos ter por inseminação
artificial, não encostarei um dedo em você. Prometo que cuidarei de você e
do seu sobrinho e juntos podemos formar uma família. Não estou à procura
de um romance nem uma loucura, quero algo que posso controlar as ordens
dos acontecimentos.
— Depois de tudo que você passou é normal correr de relacionamento
e eu no seu lugar agiria da mesma forma, mas isso é uma ideia muita louca.
— Eu sei... Você pode pensar o tempo que for necessário e se não
aceitar entenderei e te ajudarei com seu sobrinho. Não vou deixá-los soltos na
rua sendo que posso te ajudar, mas precisava tentar, não é? Disso não posso
me arrepender de não ter feito.
Olho em seus olhos pensando na minha resposta e tudo pesa demais,
inclusive saber que mesmo que não aceite ele vai me ajudar com meu
sobrinho, mesmo não sendo nada nosso e que não tenha nenhuma obrigação.
Isso só deixa claro que é um bom homem.
— Eu aceito — digo sem pensar muito.
Certamente se deixasse para pensar amanhã, acordaria com o não na
ponta da língua, mesmo não precisando, até porque ele já tinha me dito que
me ajudaria com meu sobrinho, mas algo dentro de mim me obriga dizer sim.
A voz dentro de mim quase chega ser um grito de tão alta.
— Agora sobre o bebê, se nós não dermos certo ele é meu. Não vou
abrir mão do meu filho e quero algo que me proteja nesse assunto.
— Tudo bem, desde que você me permita fazer parte da vida dele ou
dela quero ser pai, é o meu maior sonho.
Meu Deus, eu vou ter um filho com um cara que conheço há menos
de duas horas!
O meu eu interior está aos gritos de desespero.
— Isso é muito louco! — digo rindo para ele.
Estou assustada por ter aceitado algo que mudará a minha vida para
sempre. Um filho é algo que penso em ter, mas algo distante. Eu queria um,
mas depois de muitas conquistas e uma vida estável. Desejo realizar o sonho
do meu irmão e trazer minha família para cá, ele tinha razão quando disse que
a vida aqui era mais fácil do que no nosso país.
— Demais, mas ainda bem que você aceitou — diz rindo.
— Acho que nunca fui normal — digo tendo certeza disso, após
decidir tudo tão rápido.
— Acho que me beneficiei disso — ele sorri me levando a rir junto.
— Antes quero que me conte um pouco sobre você. Parece ser nova,
qual sua idade? Disse que não era daqui, então de onde é?
— Tenho 23 anos, sou do México vim para cá depois que meu irmão
se firmou aqui... Ele era incrível! — digo levando minha mente há
lembranças e a saudade me invade como uma dor que quase me impede de
respirar. — Quando terminei o colégio, ele me trouxe, fiz uns cursos e entrei
na faculdade de botânica.
— Sinto muito pelo seu irmão, ele morreu de que? — pergunta e
segura a minha mão.
Sinto-me confortada por seu toque e a sinceridade que vejo nos seus
olhos.
— Também sinto o tempo todo, em vários momentos do meu dia,
inclusive toda vez que olho para o meu sobrinho e me lembro que ele não vai
conhecer o pai incrível e irmão maravilhoso que tive. Faz um ano que meu
irmão se foi e a dor não diminui... Ela foi se transformando de várias formas,
primeiro era uma dor sem fim e agora se tornou saudade.
— Então você está estudando botânica? — pergunta com um sorriso
tentando me tirar da tristeza que entrei.
— Na verdade já me formei, mas estou fazendo especialização e
acredito que depois dela vou conseguir um bom emprego na área — falo
alisando meu braço e ele olha o local onde meus dedos deslizam.
— Você é bem mais nova do que eu. Tenho 34 anos, sou carpinteiro,
profissão que herdei do meu pai, tenho uma loja onde tem os móveis a
pronta-entrega, mas também trabalho com pedidos específicos na minha
oficina, onde fico a maior parte do tempo com a mão na massa.
— Ah... Na verdade, são apenas dez anos e alguns meses porque em
breve faço 24 anos. Então todos esses móveis da sua casa, foi você que fez?
— Foi sim, me mudei há pouco tempo... Antes morava em um
apartamento, ainda preciso fazer algumas aquisições para deixar a casa mais
habitável e confortável com menos cara de homem solteiro — diz e sorri.
Lembro-me da minha boca grande.
— São lindos.
— O que? — pergunta confuso.
— Falo dos móveis que você faz.
— Ah, sim muito obrigado!

Algumas semanas depois


Olho para o potinho que me foi entregue com todos os meus dados em
frente a porta e coço a cabeça pensando, onde fui me meter.
— Quer ajuda senhor?
Olho para ela com o cenho franzido.
Que tipo de ajuda ela poderia me dar nessa hora?
Sou eu que vou ter que me masturbar até gozar nesse potinho para
fazer meu filho. Quando sair daqui todos saberão que travei uma boa batalha
de cinco contra um e fui vitorioso.
— Acho que nós dois sabemos que tipo de ajuda vou precisar e você
não poderá me prestar — digo dando uma piscadela bem safada que surtiu
efeito na mesma hora.
Ela sorri safada para mim, me fazendo acreditar que se não fosse
colocar seu emprego em risco ela estaria disposta a me ajudar.
Empurro a porta entrando dentro do cômodo e analiso o ambiente,
embora seja pequeno, o lugar é bem confortável e tem até uma televisão com
vídeos pornôs.
Sento-me em uma cadeira até que esteja confortável, olho para o lado
e vejo várias revistas animadoras, embora ver revista de mulher nua não seja
um dos meus esportes favoritos,pego-a,folheio e acabo me entretendo na
entrevista. Depois me lembro o que tenho que fazer, desfivelo a minha calça
e começo a me preparar.

Alguns minutos depois saio da sala com o meu pote na mão.


— Tudo certo senhor? — pergunta a mesma moça na recepção com
um olhar insinuativo para mim.
Dou um sorriso devasso de lado e ela me olha com o olhar
safado, mordendo os lábios para chamar mais a minha atenção e conseguiu.
Cruzo os braços e levo uma mão sobre o queixo.
Acredito que sua amiga deve estar a par da nossa conversa, minutos
antes de entrar na sala, porque me olha de um jeito que adoraria uma orgia,
mas tudo muda rápido quando ouço a voz doce da Alba nas minhas costas.
— Está tudo bem aí?
Seu olhar sobre mim está diferente, ela morde o canto dos lábios.
— Está sim e como foi lá dentro na consulta com a doutora? — Tento
desviar seus olhos das duas moças.
— Bem — responde sendo vaga.
Não era a resposta que esperava ter.
— Quero marcar a minha próxima consulta para daqui uma semana
— diz sendo educada, mas sem dar um dos seus sorrisos habituais e isso me
deixa com uma pulga atrás da orelha.
Observo todos seus movimentos e gestos até estarmos no elevador,
indo para garagem.
— O que aconteceu lá dentro? — pergunto sem entender o motivo
dela ter agido daquele jeito.
— Joaquim não sou de rodeios, sei que não temos nada e nem vamos
chegar a ter, mas se você quiser mesmo colocar uma aliança na minha mão
esquerda, mesmo que seja mais simbolicamente do que na prática. Aquilo
que aconteceu lá dentro pode esquecer quando estiver comigo.
— Como? — pergunto sem entender o que era aquilo.
Ela estava querendo mandar em mim?
Sou solteiro exatamente por isso...
Gosto de viver sem ordens.
— Este tipo de comportamento perto de mim pode esquecer. Sei que
você é um homem bonito e chama a atenção, mas não quero parecer a idiota
chifruda que só atrapalha a sua vida. Não quero me sentir diminuída, está me
entendendo? O que você faz longe de mim é problema seu, mas o que faz
perto de mim o problema é nosso. Está claro? — ela termina de dizer me
encarando e aguardando uma resposta que perdi no meio da minha garganta.
Sinto-me como um idiota de um avestruz que está louco para enfiar a
cabeça dentro de um buraco.
Que porra de mulher foda é essa, que me fez cair na real sem alterar o
tom da voz?
“Amor é aquilo que não queremos sentir,
e sim aquilo que sentimos sem querer.”
Frases do bem.

Um mês depois
— Olha você ficou maluco cara, mas se esta loucura está te fazendo
bem, então como seu amigo fico feliz.
Sorrio para ele olhando para o relógio.
— A futura senhora Fullin vai chegar a qualquer momento. Está
ansioso para vê-la em trajes de noiva?
— Deixa de ser bobo, sabe que o casamento é só no civil e não vai
funcionar na prática como está pensando.
— Acho que já está funcionando Joaquim, só você que ainda não se
deu conta, não sai para caçar tem duas semanas. Está na coleira e nem
percebeu — diz rindo.
— Enzo vou ser pai, não dá para ficar na putaria com a mãe do meu
filho dentro de casa esperando por mim e mesmo que não sejamos um casal
de verdade não tem como levar a minha vida como se não estivesse
acontecendo uma grande mudança. Foi eu que decidi por ela e estava cansado
da vida que estava levando.
— Ok, se é você quem diz... Quem sou eu para poder falar qualquer
coisa contra — fala e levanta os braços se mostrando derrotado diante dos
meus argumentos.
— E quando vai ser a inseminação? — pergunta recostando-se a
mesa.
— Ela está tomando uns remédios que a médica disse que é para ficar
mais fértil e tudo indica que isso vai acontecer depois de amanhã — falo
esfregando a minha mão de ansiedade, só em imaginar um filho meu e da
Alba correndo pela casa.
— Vai gozar mesmo no potinho para fazer seus filhos? — pergunta
em um tom incrédulo.
— Já gozei — respondo tombando a cabeça para trás e soltando uma
gargalhada baixa.
— Putz! Você não comentou sobre isso — fala contendo a risada com
uma mão na frente da boca.
—Você acha que iria te contar que me masturbei feito um adolescente
vendo revista de mulher pelada em uma sala fechada? Foi constrangedor
demais para mim. — Olhei para ele há tempo de vê-lo soltar uma risada alta e
bater a mão na perna.— Mas, estou apreensivo quanto uma coisa... A Alba é
teimosa demais e eu fiz a loucura em concordar com ela quando me disse que
ficaria no emprego até os patrões arrumarem outra pessoa, mas isso faz um
mês desde que ela falou com eles e nada. Não quero que ela corra o risco de
perder meu filho carregando caixas para cima e para baixo em uma loja —
falo em um tom preocupado.
Ouço batidas na porta, logo vejo a porta sendo aberta e minha
secretária entrando.
— Pode entrar — digo olhando para a porta fechada.
— Bobeira da sua parte, minha mulher trabalhou até as últimas
semanas da gravidez e não afetou em nada a gravidez — fala me dando um
tapa no ombro.
Ele havia se encostado do meu lado e nem tinha percebido.
— É, pode ser, mas quero tanto esse filho que não quero que nada
atrapalhe quando acontecer.
— Joaquim tem uma mocinha lá fora que está falando que você está
esperando por ela.
— Ah sim, se ela se apresentou como Alba, é verdade. Pode pedir
para que suba, por favor. — Ergo meu corpo desencostando da mesa.
Passando alguns minutos, vejo um pequeno furacão entrar na sala e
pular no meu colo.
— Tio Joaquim.
— Ei molecão — falo arrumando meu corpo que pendeu para trás
pelo impacto do seu peso, rio e deixo um beijo na sua testa.
Enquanto olho por cima dos seus ombros, sua tia entra na sala e
quando a vejo esqueço o que é respirar por alguns segundos.
Ela está linda!
— Essa então é a futura senhora Fullin?
Estou embasbacado olhando para ela e só percebo a minha falta de
atenção a tudo que acontece à minha volta quando ouço a voz de Enzo me
trazendo para a realidade.
— Boa tarde, tudo bem? — diz com um sorriso iluminando o
ambiente em que estamos.
Vou na sua direção, a cumprimento com um beijo no rosto e falo
perto do seu ouvindo o quanto está linda. Quando afastei o meu rosto do dela
olho-a novamente e percebo que suas bochechas estão levemente
coradas. Seu olhar se abaixa até seus pés por alguns segundos transferindo
para eles toda a timidez que meu elogio trouxe. Ando encantado por esta
menina, ela é doce, educada, inteligente e responsável demais para sua idade.
— Vocês vão se casar? Oh, meu Deus! Você não disse nada a respeito
e enchi sua agenda de trabalho, acabei ocupando uma boa parte do seu dia —
diz minha secretária com a mão em sua boca espantada.
Ela tem 60 anos e é uma viúva encantadora. Contratei-a de imediato
após nosso primeiro contato e isso foi quando fiz uma seleção. Vi como as
moças mais jovens a olhavam com deboche por sua idade, mas mal sabiam
que não estava à procura de uma secretária jovem que pudesse me levar a
perdição e enfrentar um processo jurídico por assédio. Não que na época
fosse acontecer isso, pois estava machucado demais para me envolver com
qualquer mulher que fosse mesmo sendo só para sexo. Estava à procura de
competência, de alguém que confiasse de olhos fechados e foi assim que ela
entrou na minha vida tomando mais espaço que o normal.
— Vamos nos casar agora a pouco, vou tirar algumas horas a mais de
almoço, mas depois voltamos — digo com um sorriso olhando Mary.
— Ah, meu Deus! Por isso está essa belezura toda? — pergunta
ajeitando minha gravata. — Você não é o homem mais arrumado do mundo,
o cabelo sempre está revoltado, embora seja liso e fácil de arrumar — diz
com um sorriso, encantada e eufórica pela notícia do meu casamento.
— Ei, não começa a falar mal de mim na minha frente — falo me
mostrando chateado.
Ela me dá um tapa no ombro e rio.
— Ela é linda, onde você encontrou este tesouro?
— Ela que me encontrou. — Olho intensamente para Alba que sorri.

Algumas horas mais tarde


— Alba cuida bem dele, esse carinha aí é muito especial para nós —
fala a esposa de Enzo que foi nossa testemunha junto com ele.
Caramba, que loucura!
Estou casado!
— Como vocês vão comemorar o casório?
— Prometemos ao Pietro que se ele se comportasse no cartório sem
ficar de correria ou pulando, iríamos comer batata frita e um hambúrguer bem
gostoso. Então esses são os nossos planos.
—Caramba Joaquim, nem em mil anos imaginaria que veria você
comemorar seu casamento — fala me dando um tapa nas costas.
Confesso que também era surpresa para mim.
— Vamos com a gente?
— Ah, não.... Estou evitando fast food, mas adoraria poder te
conhecer melhor no almoço do domingo que farei em casa — diz Brianna
abraçando Alba, passando a mão na cabeça de Pietro e se despedindo.

— Hummm que delícia! Estou com muita fome.


— Ah, seu sapequinha! Quero ver você falando assim mais tarde
quando ver o seu prato de comida — fala dando uma risada e roubando uma
batata do lanche do sobrinho, o que me faz rir.
— Obrigada, por tudo que tem feito por nós dois — fala e me olha de
um jeito que faz algo se aquecer dentro de mim.
Deveria ser eu a agradecer, pois desde que ela entrou na minha vida
meus dias têm feito mais sentido. Porém, me silencio com medo de assustá-la
com as minhas palavras, pois eu tenho me assustado da forma que tenho me
sentindo em tão pouco tempo.
“Você me ensinou o que é gostar de verdade…
O que era sonho se tornou realidade!”
Autor desconhecido.

— Está pronta? Vai sentir um pequeno desconforto, mas é coisa


rápida senhora Fullin.
— Tudo bem pode ir, estou pronta — digo apertando a mão que
Joaquim tinha me estendido.
Ele me dá um olhar que não consigo distinguir.
A verdade é que muitas vezes neste último mês esse homem tem me
confundido. Eu não quero, mas às vezes meu coração acelera algumas batidas
traindo minha vontade quando estou perto dele e em algumas vezes parece
que ele me olha como se esperasse mais de mim.
Será que é coisa da minha cabeça doida que está imaginando coisas?
Respiro fundo quando sinto a seringa comprida entrando na minha
intimidade, me inseminando. Aperto meus dedos do pé contra os outro,
enquanto sinto meu coração dar algumas batidas feito um tambor. Se esta
inseminação der certo a minha vida mudará para sempre e me tornarei mãe
daqui nove meses. A verdade é que já tinha me tornado mãe há mais de um
ano do meu sobrinho, mais exatamente quando meu irmão morreu, só que
agora é diferente e esta vida crescerá dentro de mim.
— Pronto! Não disse que seria rápido, agora quero que você fique
nesta posição por 30 minutos, poderíamos fazer duas inseminações para
aumentar a chance de gravidez, mas no seu caso como já havia explicado
para ambos não será necessário. Além de ser saudável e não ter nenhuma
dificuldade para engravidar, você é jovem.
Não me dei conta de quando comecei a chorar, só percebi que estava
fazendo quando Joaquim limpou minhas lágrimas com as pontas dos dedos.
— Ei, o que foi? — pergunta com os olhos presos aos meus.
Meu peito apenas sobe e desce em total desarmonia com minha
cabeça.
— Isso é bem normal, são muitos remédios para estimular mais o
corpo a ficar mais fértil, com isso as mulheres acabam ficando mais sensíveis
também. — diz a doutora.
Sem saber ela acaba me salvando de me perder em uma explicação
devido as emoções que talvez nem saiba explicar quais são no momento.
— Deve ser isso mesmo que a médica disse, porque só senti uma
enorme vontade de chorar e quando me dei conta, já estava chorando e só
percebi quando você chamou minha atenção limpando minhas lágrimas.
— Vou deixá-los as sós — diz com um sorriso amigo para nós dois.
Ela sabia que éramos um casal de amigos que resolveram ter um bebê
juntos. Não que precisássemos contar, mas acabamos falando o motivo para
escolhermos aquele método já que não tínhamos problemas em conceber um
bebê no método tradicional.
— Tudo bem — falamos em uma única voz.
Joaquim ainda me olha como se estivesse querendo desvendar algo.
— Tem certeza de que é por causa do efeito dos remédios que está
chorando? Sei que há muitos hormônios circulando pelo seu corpo.
Seus olhos ainda estão presos nos meus, tentando chegar até a minha
alma sem imaginar que já havia tocado nela há tempo.
— É certo que sim Joaquim. Por que está me perguntando com este
olhar? Como se quisesse ir além do que falo ou demonstro.
— Com você sempre quero ir além do que me mostra, às vezes você é
falante, às vezes silenciosa, fiquei com medo de ter se arrependido de estar
aqui e notado que foi longe demais. Caso fosse isso, não saberia como lidar,
mas se for os hormônios a flor da pele, sei como cuidar de você, já que estará
três dias em casa de repouso — fala com um sorriso lindo no fim, me tirando
um pequeno suspiro que faço questão de não demonstrar como diferente do
respirar normal.
— E como pretende me manter feliz? — A curiosidade às vezes é
meu pior inimigo.
— Vou comprar flores e chocolate para você, fazer pipoca e vamos
passar o fim de semana todo vendo filmes. O que acha? — pergunta e espera
pela minha resposta demonstrando estar interessado.
— Vou amar ser mimada desse jeito, mas não podemos esquecer que
temos um almoço no domingo para ir.
— Hum é verdade — concorda apertando os lábios um contra o outro.
— Neste momento que estamos conversando, a luta pela vida é
grande dentro de você e eu só quero que uns dos meus soldados vença esta
batalha.
— Ai meu Deus Joaquim! Não me diga que você está chamando seu
esperma de soldados — falo colocando as duas mãos em meu rosto ao rir.
— Sim, um mini batalhão meu está aí dentro, só espero que um seja
forte o suficiente para vencer.
— Você já imaginou que pode haver vencedores nesta batalha em vez
de vencedor?
Ele me olha assustado ficando pálido, passando as mãos pelo cabelo
que vive revoltado e se senta na cadeira ao meu lado.
— Não, em momento nenhum isso passou pela minha cabeça, mas
nestes processos a possibilidade de ter gestação de gêmeos é bem maior do
que pelo método natural — diz perdido em seus pensamentos sem me olhar
desta vez e eu que também não tinha pensado naquela probabilidade até o
momento estou tendo em um surto interiormente.
— Isso me ocorreu agora também — digo com a voz distante e com
meus pensamentos agitados.
— Deveríamos ter feito este bebê pelo método natural — diz em um
rompante me fazendo olhá-lo com olhos duvidosos se ele realmente tinha
falado aquilo ou estava ouvindo demais.
— Soldados acho melhor vocês estarem com preguiça hoje, ir
perdendo a luta até metade do caminho e só um sair vitorioso nesta corrida.
Não sei se tenho estrutura para ser pai de trigêmeos.
— Nossa, estou pensando em dois e você em três?
— Lembrei-me de vários famosos que fizeram isso para ter filhos e
tiveram trigêmeos — diz parecendo distante.
— Você tem razão. — Olho assustada para ele, que me devolve o
olhar com o rosto pálido.
O susto que estou tendo é tão grande que até me esqueci de rebater a
ideia que ele teve que devíamos ter transado para fazer o bebê. Não sou
nenhuma mocinha virgem e recatada, então posso confessar que ver este
homem de calça de moletom andando pela casa aguça cada canto obscuro da
minha mente e esta proposta me faz lembrar de como ele contrai os músculos
das costas para relaxar me levando do céu ao inferno ao mesmo tempo, me
trazendo a realidade com bochechas em chamas.
— Oi, licença a doutora me pediu para vir aqui avisar que já pode
descer e quer ver vocês antes de irem embora. Quer ajuda para se arrumar?
— pergunta a moça que nos pegou em um momento que estávamos ali só
presentes de corpo e nossas mentes distante. Ela precisou falar mais uma
vez para que tirássemos do nosso pequeno transe.
Após algum tempo saímos da sala da médica com Joaquim pisando
em ovos comigo.
O homem queria me levar no colo até o carro e neguei é claro.
Ele me chamou de teimosa e eu o chamei de exagerado.
Almoço De Domingo
Estamos em junho e com isso o verão está em alta, coloco um vestido
de alcinha e desço a escada encontrando Joaquim e Pietro entretidos em um
joguinho no celular que Joaquim tinha baixado há algumas semanas para
entreter o meu pequeno.
— Estou pronta, meninos — digo com a voz animada dando uma
voltinha para mostrar meu look.
— Está linda titia. — Pietro sempre me elogia, mesmo quando acabo
de acordar com o cabelo todo para cima.
Ele é apaixonado por mim e eu sou por ele.
— Está linda mesmo!
Não era para ser assim, mas esta voz acompanhada do olhar
penetrante e um sorriso tem me tirado o prumo junto com algumas batidas do
meu coração. Sorrio agradecendo e ele continua a me olhar com mais
intensidade, fico sem jeito e passo a mão no meu cabelo ajeitando minha
franja cacheada.
— Vamos embora, já estamos em cima da hora — fala se levantando
sem tirar os olhos do meu corpo.
Eu concordo.
Entramos no carro, ele ligou o som e fomos cantando até que vejo o
carro entrar em um bairro um pouco distante da casa em que moramos, mas
nem tanto. Observo que poderíamos ter feito o caminho andando se o dia não
estivesse tão quente.
— Ah, fico tão feliz que vocês vieram!
Sou recebida com um abraço de Brianna.
— Fico feliz em fazer novas amizades, agradeço o convite — falo
alegre.
— Oi Joaquim, só assim para fazer com que aceite almoçar com a
gente em um domingo — fala o abraçando.
— Agora sou um homem de família — diz com um sorriso e me olha
do mesmo jeito que me olhou antes de sair de casa.
— Nunca imaginei que isso fosse acontecer — fala com o ar sério e
depois sorri.
—Nossa, não sei como ainda consigo me surpreender com esse
comentário. Meus amigos têm tão pouca fé em mim assim? — fala com ar
triste.
— Temos nossos motivos para isso — Enzo fala cruzando os braços
em seu peito.
— Vem comigo, quero te apresentar minhas amigas.
— Já vai tirar a minha mulher de mim e nem bem chegamos?
— Somos nós que comandamos a cozinha e se ficarmos aqui o
almoço não sai.
Pietro corre para brincar no quintal com o filho dela e mais algumas
crianças e Joaquim diz que poderia ficar tranquila, pois ficaria de olho.
— Vocês não se distraiam e fiquem de olho nas crianças — Brianna
fala apontando para mais quatro homens, um estava na churrasqueira e os
outros ao seu lado.Ela coloca os braços em meus ombros e me conduz até a
cozinha onde, estão duas amigas suas preparando o almoço. — Alba esta aqui
é Nicoly e aquela ali é Janaina.
Sorrio para elas, cumprimentando.
— Muito prazer conhecer vocês.
— O prazer é todo nosso, estávamos curiosas para conhecer a mulher
que conquistou o coração do senhor Fullin — fala uma delas com uma risada
alta.
— Todos nós tentamos, mas não deu muito certo — fala a outra
olhando para mim.
— Então isso significa que o Joaquim teve encontros com vocês
duas? — pergunto surpresa.
— Nós duas e algumas outras amigas da Brianna, mas isso faz tempo.
— Pode ficar tranquila que hoje em dia nos tornamos amigos e a
lembrança do encontro só nos serve para dar boas risadas.
— Amiga do jeito que o Joaquim olha para Alba, acredito que ela não
precisa se preocupar — fala Brianna com um sorriso doce.
Qual é o jeito que ele me olha que só eu não notei?
— Então você conseguiu deixá-lo de quatro?
Sorrio sem graça e resolvo mudar de assunto.
— Espero que sim — falo com um sorriso amarelo me sentindo uma
farsa.— O que posso fazer para ajudar?
— Pode descansar estas batatas para mim? Quero fazer um purê com
elas.
— Sim, claro. — Pego a vasilha com as batatas e me sento em frente
a bancada.
— Vinho ou cerveja? — Brianna pergunta para mim.
— Não eu estou bem, prefiro um copo de água, por favor.
Ela me olha como se esperasse que dissesse algo a mais, não falo
nada e nem poderia dizer alguma coisa. Não sei se estou realmente grávida,
então acho melhor não beber.
Será que Joaquim não comentou com o marido dela sobre nós dois?
O jeito que ela me trata é como se tivéssemos casado por nos amar e
por mais que meu coração bobo esteja se apaixonando por Joaquim, não nos
casamos por isso. Ele deixou bem claro desde o início que não queria viver
uma loucura, que quer algo controlável e é isso que penso toda vez que me
vejo me derretendo por ele. Tento me apegar nisso para recobrar a minha
razão.
— Fim de semana, tenho que tomar uma para relaxar senão não dá,
pois a semana toda é uma correria louca. Concilio trabalho fora, cuidado da
casa, filho, escola, ensinar dever de casa e ainda dar uns tratos no marido. Se
não beber dois dias na semana, acho que fico louca. Só não bebi quando... —
Ela para de falar no exato momento e me analisa antes de completar o
pensamento.— Você está grávida?
Pisquei algumas vezes antes de responder.
— Pode ser que esteja, então é bom ficar longe do álcool até descobrir
— digo com um sorriso me ajeitando no banco do lado dela, mexendo nas
batatas.
Conversamos e nos conhecemos até que o almoço ficou pronto e o
arrumamos a mesa do quintal.
A tarde foi uma delícia e há muito tempo não me sinto assim feliz e
leve, vendo meu sobrinho correndo feliz junto com as outras crianças. Ele me
fazia rir com cada gargalhada que dava.

— Você está apaixonado por sua esposa Joaquim?


Olho para ele e rio achando graça da sua gracinha.
É claro que não, a Alba é uma pessoa fácil de se conviver e em pouco
tempo construímos uma amizade e é só isso.
Não quero estragar o que temos por causa de algo que nem possa vir a
dar certo.
— Não somos bons amigos — falo com convicção.
— Joaquim você passou tanto tempo correndo do amor por ter se
machucado que pode perder a mulher da sua vida por não querer se
decepcionar outra vez.
Analiso as palavras do meu amigo, mas ele está enganado. Alba e eu
formamos uma boa dupla e nada mais além disso.
— Abra o olho antes que seja tarde demais — fala me alertando com
o cenho franzido.
— Vivo com os meus olhos abertos o tempo todo — falo fazendo
graça.
No entanto me sentia mexido com as suas palavras e não vou dar o
braço a torcer dando ênfase às suas expectativas, afinal sou um solteiro
convicto há muito tempo.
— Pior cego é aquele que não quer ver... Depois não me diga que não
avisei — fala me alertando mais uma vez, desta com o dedo em riste para o
meu lado.

Tomo meu copo de uísque duplo com duas pedras de gelo em frente a
janela, alheio ao movimento da rua com o pensamento nas palavras de Enzo.
E se ele estivesse certo?
Como isso pode me acontecer?
Como pode em tão pouco tempo me apaixonar pela minha esposa de
mentirinha?
Isso é tão ridículo que chega ser engraçado.
Não, não pode ser!
É claro que não!
Ela acabou de completar 24 anos e eu estou com 34, daqui dois meses
completo 35 anos.
— A noite está linda. — Viro meu corpo e vejo Alba em uma
camisola até os joelhos em um tom de vinho que realça sua pele morena.
— Não tão linda quanto você. — As palavras pulam da minha boca e
vejo o efeito delas através dos seus olhos que brilham feito cristais.
— Muito obrigada. — Agradece e abaixa a cabeça, atiçando meu
instinto de caça.
Avanço alguns passos em sua direção pensando em tudo que meu
amigo disse mais cedo. Tenho vontade de descobrir se ele está certo sobre o
que sinto e se sou eu o único tentando enganar a mim mesmo com medo de
sofrer mais uma vez.
— Hein, o que está fazendo? — pergunta afastando a cabeça para trás
para me olhar melhor por causa da nossa proximidade.
— Ainda não sei, mas quero descobrir se você me permitir —
confesso me sentido abalado pelo cheiro que vem da sua pele.
— O quê? — pergunta e abre mais os olhos.
Olhos esses que me fascina.
— Talvez poderíamos tentar ser um casal de verdade. Você não tem
ninguém e eu também não. Por que não? — pergunto verbalizando meus
pensamentos quanto a nós dois.
— Às vezes também acho Joaquim, mas se der errado e não tivermos
maturidade para lidar isso? Talvez tenha um pedacinho seu e meu crescendo
aqui e não quero colocar tudo a perder por uma atração.
Não consigo desviar meus olhos dos dela, me dói ter que concordar e
deixar tudo que quero fazer com ela morrer em meus pensamentos.

Duas Semanas Depois


Ando de um lado para o outro em frente a porta do banheiro onde
Alba entrou há quase dez minutos com o teste rápido de gravidez que
comprei na farmácia. Ansioso é eufemismo para explicar o meu estado.
Caramba, minha vida está prestes a mudar!
Isso se não morrer do coração devido a demora.
— E aí o que deu?
Ela sai do banheiro com a expressão séria, me fazendo acreditar que
não foi desta vez, mas suas mãos estão atrás das costas.
— Joaquim sinto muito em ter que lhe dizer que...
Com estas palavras se confirma minhas suspeitas e vejo toda a minha
expectativa indo por terra. Não foi desta vez que vou realizar o sonho de ser
pai, mas tudo bem Deus sabe de todas as coisas, penso desanimado e sorrio
com ar triste para ela.
— Daqui alguns meses você irá trocar suas noites de sono tranquilo
por várias noites mal dormidas. VAMOS TER UM BEBÊ! — grita e pula
mostrando o teste positivo.
Fico louco e meu coração está na boca de tão eufórico que me sinto
com a notícia. Aproximo-me dela, toco sua barriga ainda plana e olho
embasbacado. Ajoelho-me, a puxo mais para frente pelo seu quadril,
enquanto levo minha boca na sua barriga e a beijo pela primeira vez.
O meu filho cresce ali.
— Ei, garotão, papai já te ama muito.
Ela sorri entre lágrimas.
— Pode ser uma garotinha — fala me corrigindo e rio ao perceber que
já tinha falado.
“Você foi meu inesperado mais esperado.”
Autor desconhecido.

Alguns meses depois


— Está pronta?
Aquela pergunta faz com que sentisse uma dorzinha na barriga de
nervoso. Sorrio nervosa e passo a mão sem minha barriga saliente de seis
meses.
— Estou nervosa e se seus pais e irmão não gostarem de mim?
Joaquim me olha com um sorriso nos lábios, tira as mãos do volante e
toca minha mão que está na minha barriga. Nosso bebê reconhece seu toque e
se agita dentro de mim. Ele sente as ondulações que se formam na minha
barriga, tomba a cabeça para o lado e sorri.
— É impossível não gostar de você... Alba você é a mulher mais
incrível que eu conheço e está carregando meu filho. Amo a parceria que
construímos todos estes meses juntos. — Ele sorri, abre a porta, dá a volta no
carro e me estende a mão para me ajudar a descer.
Suas palavras me dão mais confiança e me sinto menos tensa,
deixando de pensar no que eles vão achar de mim.
Assim que coloco os pés para fora do carro, sinto a neve fina cair em
meu rosto, como tinha sido previsto no programa de TV, a temperatura
caiu razoavelmente e a tendência é só piorar.
Hoje é dia 21 de dezembro e já tinha começado a nevar pela manhã.
Coloco minhas luvas vermelhas de veludo que ganhei da minha mãezinha no
Natal passado, antes que as pontas dos meus dedos congelam, enquanto me
lembro que este ano não vai dar para passar o Natal com ela e minhas irmãs.
Este ano que está passando teve tantas mudanças que só em pensar nelas me
sinto levemente tonta.
Mamãe ficou louca quando falei que tinha me casado e estava
grávida, a preocupação dela era saber sobre meus estudos e como iria
fazer. Falei para ela que faltava pouco para terminar a minha pós, isso há
alguns meses e me lembro disso com um sorriso.
Vejo a porta da casa bonita se abrir e uma senhora com um enorme
sorriso vir em nossa direção. Pietro sai do carro, se coloca à minha frente e
seguro seus ombros.
— Ah meu filho, que saudade estou de você! Não aguentei esperar
você bater na porta quando vi o carro encostar — fala, enquanto abraça o
Joaquim com os olhos fechados e um sorriso que me faz sorrir também.
— Também estava mãe... Mãe este aqui é Pietro, sobrinho da Alba e
está aqui e a mulher que roubou meu coração e carrega meu sonho — fala me
olhando com carinho.
A mãe dele primeiro segura meu sobrinho pelos ombros e beija suas
bochechas, depois o abraça.
— Ah, meu Deus! — exclama e olha para mim com as mãos em sua
boca.
Depois do abraço que me fez sentir saudade da minha mãezinha,
sorrio para ela enquanto a vejo deixar algumas lágrimas caírem por sua
bochecha. Ela levanta a mão e toca a minha barriga.
— Achei que meu filho nunca fosse viver esta mágica... Ele ficou
tantos anos sozinho até você aparecer meu amor.
Abraço-a novamente antes que me sentisse culpada por não sermos
exatamente um casal como ela estava pensando.
— Olha, quem chegou! Que saudade estava do meu irmão mais
novo.
Assim que me deparo com o dono da voz, vejo que é quase uma cópia
de Joaquim só que com alguns anos a mais. Eles se abraçam tão forte que
mesmo estando em uma certa distância consigo ouvir o barulho dos tapas que
um dá no outro nas costas e sorrio com o sorriso que vi nascer nos lábios de
Joaquim.
Há alguns meses me sentia sozinha, já hoje me sinto completa e desde
que descobrir que estou gravida minha felicidade só aumenta.
— Esta é Alba, minha mulher.
Estendo minha mão que é ignorada por ele, pois logo me puxou para
um abraço gostoso e mais caloroso.
— Joaquim a família vai crescer? Até que enfim vamos ver um
pedacinho com a sua cara andando por aí.
Sorrio ao imaginar como vai ser lindo o meu bebê se for parecido com
o pai. Joaquim é um homem lindo por dentro e por fora e se estivesse a
procura não teria a sorte de encontrá-lo.
— Mãe, cadê o restante do pessoal? O pai onde está? — questiona
olhando para os lados.
— Seu pai anda com o espírito livre desde que ficou doente e fala que
não quer perder mais tempo. Saiu com alguns amigos, mas mais tarde estará
aqui.
— Ah, ele está certo, minha mãe. Já trabalhou demais para criar nós
dois, já estava na hora de começar a aproveitar a vida e a senhora trate de o
acompanhar.
Sorrio ao ver a interação gostosa de Joaquim com a família.
Depois de conhecer a minha sogra e meu cunhado e ter a boa
impressão de que gostaram de mim graças Deus, toda a insegurança que senti
horas antes de estar aqui sumiu.
— Tudo bem? — pergunta Joaquim com os olhos parados em mim.
— Estou com dor nas costas e um pouco cansada das horas que passei
sentada na mesma posição no carro até chegarmos aqui. Será que você
poderia me levar para me deitar um pouco se não for incomodar.
— Hein, que isso? Desde quando você incomoda em alguma coisa,
mamãe teve dois filhos e sabe como deve ser cansativo viajar por horas com
uma barriga deste tamanho.
— Mãe, em qual quarto Alba e eu vamos dormir?
— Filho, preparei seu antigo quarto para vocês e o quarto das crianças
é no do fim do corredor.
— Vou levar Alba para descansar um pouco, depois ela volta para nos
ajudar com a nossa tradição de arrumarmos a casa para o Natal.
—Sim, é claro pode ficar com ela que cuido do meu netinho — fala
segurando a mão de Pietro.
— Ah muito obrigada nem sei como agradecer a gentileza.
— Agradeço a gentileza e subimos a escada.
— Pietro comporte-se. Muito obrigada por cuidar dele por mim.
— Sim, titia pode deixar vou ser um menino bem bonzinho — fala
dando pequenos pulinhos.
— Oh, eu te amo meu sapinho pula pula — falo me aproximando do
meu sobrinho e dou um beijo em sua testa.
— Muito obrigada, mais uma vez só vou descansar minhas costas um
pouco e volto logo.
— Vai ser o maior prazer, faz tempo que não temos um pequeno
dentro de casa. Vou dar um lanchinho para ele — fala passando a mão no
cabelo do meu hijo.
Subo a escada e Joaquim coloca as mãos em minhas costas.
Passamos por um corredor grande e paramos em frente a uma porta.
— Então foi nesta casa que você cresceu e passou a maior parte da
sua vida? — pergunto, enquanto ele empurra a porta de madeira.
— Sim e foi neste quarto que dormi desde meus três anos e tive meus
maiores sonhos.
Olho para o quarto e vejo que a mãe dele não mudou muita coisa, é
visível isso e sorrio.
— Entrar aqui e como ser transportado em um túnel do tempo, né?
Ele sorri se encostando em uma parede.
— Sim, minha mãe não mudou quase nada da minha juventude e este
quarto está do jeito que deixei quando fui embora.
— Sua família é maravilhosa, mal posso esperar para você conhecer a
minha — falo o olhando.
Ele se afasta da parede e segura as minhas mãos.
— Vou amar conhecer todos e se eles forem um por cento do que
você é, sei que serão pessoas incríveis — fala e beija as minhas mãos.
— Acho que cada dia que passa fica mais difícil tentar me manter não
apaixonada por você. Ainda mais com estes hormônios loucos da gravidez
circulando pelo meu corpo — reclamo com humor.
Ele sorri e eu limpo uma lágrima do canto do meu olho.
Ultimamente ando vazando água igual uma torneira quebrada.
— Estou há meses apaixonado por você, mas vamos relaxar estas
costas porque mais tarde temos que ajudar a arrumar os enfeites de Natal.
Vem aqui comigo.
Com as duas mãos em frente ao corpo em um movimento lento me
puxa, enquanto com a ponta de um pé expulsa o calçado de uns dos pés e
repete o mesmo gesto com o outro. Ele se senta na cama e dá dois tapinhas
nela me chamando para fazer companhia.
Quando me sento, ele me ajuda a me livrar dos meus calçados, depois
dos casacos de frio, me deixando apenas com a minha bata. Senta-se atrás de
mim, começa a massagear minhas costas e solto alguns sons me
maravilhando com a pressão dos seus dedos contra o tecido da minha blusa.
Toda vez que ele faz isso é uma delícia e me faz pensar como um homem
consegue ter movimentos tão perfeitos como este.
Alguns minutos depois estou completamente relaxada com a cabeça
apoiada no seu ombro, alisa minha barriga e nosso bebê se mostra desde já
ser fã do papai.
Algumas batidas sutis na porta chamam a nossa atenção.
— Posso entrar?
— É claro mãe, entra — fala ao reconhecer a voz da minha sogra.
— Achei que poderiam estar com fome — fala colocando a bandeja
sobre a cama. Ela nos analisa com um pequeno sorriso nascendo no canto dos
seus lábios e aos poucos toma conta de toda a sua boca.— Vocês dois são
lindos juntos — verbaliza seus pensamentos em voz alta.
Joaquim me olha, respondo com meu olhar de volta e beija meu rosto
perto do meu ouvido me causando pequenos arrepios pelo meu corpo.
— Também acho mãe — fala sem tirar os olhos dos meus, fazendo
com que sinta uma energia que percorre por todo meu corpo.
— Muito obrigada, pela gentileza de nos trazer algo para comer. —
Mudo de assunto, me sentindo tensa pela forma que meu corpo reage a cada
olhar de Joaquim.
Isso entre nós não é real e não posso me deixar levar pela emoção.
Ele é sempre muito gentil, mas deixou claro desde o início que não
quer um relacionamento.
Este é o mantra que não canso de repetir a mim mesma em voz baixa,
mas tenho certeza de que meu coração é surdo o suficiente para não escutar
nenhuma das vezes que avisei do risco de se apaixonar por este homem lindo.
— Ah que isso, você precisa se alimentar bem — fala dando um
tapinha no ar.— Vou deixá-los à vontade — fala saindo do quarto, mas a faço
voltar ao perguntar do meu hijo.
—Como está Pietro?— pergunto preocupada por ele estar dando
trabalho demais.
— Seu sobrinho é um anjo e todos estão encantados por ele — fala
deixando um sorriso escapar. — Está assistindo desenho, depois que dei
lanche para ele. Está quietinho e entretido debaixo de uma manta.
Agradeci, deixando-a ir.
“Eu não quero um amor de loucuras,
de tempestades iluminadas.
Eu quero um amor de calmarias,
de mares serenos,
profundos e imensos.
Um amor exuberante.”
Autor desconhecido.

Algumas Horas Mais Tarde


Olho para a sala animado, vendo tudo que já havíamos colocado no
lugar e muitas caixas no chão ainda lacradas para arrumar. Suspiro feliz por
estar na casa onde cresci e vivi muito dos melhores e piores momentos da
minha vida.
— Estou feliz de te ter de volta.
Ouço meu irmão atrás de mim, olho para ele enquanto seguro sua mão
que descansa no meu ombro, a acaricio e antes de dizer como me sinto por
estar aqui suspiro longamente.
— Eu também. Já estava na hora de voltarmos a ser uma família
unida e reunida em volta da mesa na ceia de Natal.
Ele assente com um leve meneio de cabeça que veio acompanhado de
um largo sorriso.
— Achei que não iria tomar jeito e continuar com a sua galinhagem.
Olho para ele erguendo uma sobrancelha e faço cara de ofendido.
— Sabe que também quase acreditei nisso por um bom tempo —
confesso com uma baixa risada e ele acompanha.
— Ela te faz feliz? — pergunta dando uma cutucada na minha costela,
porque viajei para o andar de cima da casa onde minha pantera cacheada
dorme.
Ela não sabe do apelido que dei, a chamo interiormente toda vez que
me olha com aqueles olhos castanhos esverdeados e retruca algo que diz com
sua inteligência, bom senso e humor algo que a cada dia me deixa mais
apaixonado.
Ela me ganhou e não vejo mais nenhuma mulher além dela, mas ela
foge de mim com medo de que poderemos colocar tudo que temos a perder
ao tentar ser um casal. Eu jamais colocaria tudo a perder caso ela resolva me
dar uma chance, vou aproveitar estes dias que vamos ficar aqui e deixar claro
de uma vez por todas que a quero comigo como mãe do nosso filho que
cresce em seu ventre e como minha mulher.
—Como nunca achei que fosse ser de novo na minha vida— respondo
sincero e ele dá alguns tapinhas no meu ombro.
Ele olha o celular, depois olha para mim com uma expressão nova.
— Então vai estar pronto para isso? — indaga com um tom de
curiosidade e algo mais que não soube distinguir.
Logo após as palavras escaparem da sua boca, a porta é aberta e vejo
deslizar sala adentro um furacão ruivo de pernas longas. Com seu andar
clássico que é como uma música lenta que não toca mais em mim como
antes, mesmo reconhecendo que ela ainda continua bela e que os anos
fizeram amadurecer sua beleza. Fico surpreso pelo meu coração continuar no
mesmo ritmo de antes sem alterar nenhuma de suas batidas, afinal é a
primeira vez que nos reencontramos após dez anos.
Vejo-a cumprimentar minha mãe, se afastando de onde ela está à
procura de algo e descobrir ser alguém, no caso eu, quando sua procura
termina no instante que seus olhos me encontram. Mesmo estando distante
vejo os olhos de preocupação da minha mãe, voltados na minha direção e
sorrio para ela como se dissesse em meu sorriso:
“Fique tranquila que está sob controle, estou bem.”
Por muitos anos achei que nunca fosse ficar assim, depois que ela me
contou três dias antes do nosso casamento que vinha me traindo por três
meses, que estava apaixonada pelo cara e que não iria mais se casar comigo.
Não vou negar que me senti humilhado e enganado, era como se tivesse
levado um tiro e tivesse morrido, mas que de alguma forma continuasse
vivendo.
Fui um morto-vivo por muitos anos até que Alba apareceu na minha
vida com seu sobrinho e me ensinou o que é viver novamente e me fez
acreditar em tantas coisas que tomava como perdidas no ser humano.
—Joaquim!!! — fala após atravessar a sala parando na minha frente.
Sua voz tinha surpresa e em seus olhos incredulidade.
— Norah — respondo em tom baixo.
Ela dá alguns passos para mais perto de mim e sinto vários olhos nos
encarando. Abre os braços e mesmo não estando a fim acabo com a
minúscula distância que há entre nós e a abraço. Já superei tudo que ela fez
comigo, mas ficar abraçando a ela é demais para mim.
A mulher me fez de bobo, me colocou um belo par de chifres como
enfeite, depois veio e meteu o pé na minha bunda.
Não sou otário!
Assim que afasto seu corpo do meu, vejo minha esposa descendo a
escada com o rosto inchado e a cara assustada pelo tanto que havia dormido.
Aí sim sinto meu coração dando sinal de vida quando nossos olhos se
encontram.
Afasto-me dela, indo de encontro a Alba.
— Acho que dormi demais. — Seguro sua mão para dar apoio para
que desça os últimos degraus e sorrio com a sua conclusão.
— Percebi quando vi o dia virar noite e notei que você ainda
continuava dormindo.
— Por que não me acordou? — indaga inconformada por tê-la
permitido dormir, mais do que desejava.
— Achei que você parecia estar mesmo cansada e precisando
descansar.
— Estou morta de vergonha Joaquim dormi demais — fala
escondendo o rosto no meu peito.
Conforto-a, dando beijos no alto da sua cabeça, sem notar que nós
dois estávamos sendo o alvo da atenção de todos.
— Oi muito prazer, você é a Alba? — pergunta Norah nos olhando.
Não afasto Alba do meu corpo, a mantenho por medo de que algo
possa fugir do controle e atrapalhar tudo que construímos ao longo dos
meses.
— Sim e você é quem?
Norah sorri, me olhando, como se neste olhar pedisse autorização
para trazer nosso passado em comum de volta.
Desvio o olhar me sentindo um pouco incomodado e depois
desconfortável. É neste momento em que me arrependo por ter demorado
tanto para vir para casa, se tivesse vindo alguma vez nos últimos dez anos
este momento constrangedor não estaria acontecendo e justo agora que decidi
fazer de Alba minha mulher.
— Norah muito prazer sou a ex-noiva de Joaquim.
— Ah sim, me lembro uma vez dele comentar sobre você e a história
que tiveram no passado.
Aquele tom de Alba era novo para mim e confesso que a forma que
ela falou me deu vontade de tomá-la mais em meus braços e beijá-la, pois,
estou louco para descobrir que gosto tem os seus lábios.
— Você é mais nova do que eu imaginei que seria. Deve ter uns 26 no
máximo, estou errada? — fala dividindo o olhar entre Alba e eu.
— Ah está sim! Tenho 24 anos, mas idade não quer dizer nada.
Joaquim e eu vivemos bem independente dela.
— Alba conseguiu descansar? — pergunta minha mãe antes de chegar
até nós.
Acredito que faz isso para desviar a atenção do assunto atual e
consegue, me deixando contente com isso.
— Tanto que estou até com vergonha de não ter ajudado como queria,
vejo o tanto que a senhora e o restante da família fizeram — fala se afastando
do meu peito e vai até a minha mãe, mas antes retrocede dois passos, olha
para Norah e fala que foi um prazer conhecê-la.
O tom de voz em que Norah a responde me faz ter certeza de que a
recíproca não é a mesma.
— Oi cunhadinha como está? — falo abraçando minha cunhada que
me olha com um sorriso e dou alguns beijos no alto da sua cabeça como
sempre fazia quando ela ainda era a noiva do meu irmão.
— Estou bem, feliz por ter você de volta nas comemorações de Natal.
— Eu também estou feliz de estar aqui, já não era tempo. Cadê as
crianças?
— Humm, se elas ouvirem sendo chamadas de crianças, vai perder o
posto do tio legal.
Rio ao ouvi-la falar assim.
— Humm não vai me dizer que o tempo passou tanto assim e terei
que lidar com minis dinossauros entrando nesta sala.
—Ah, quase isso... o Noah come como um — fala soltando uma
risada gostosa que me aquece a alma e me faz sentir novamente feliz por estar
aqui.
Como senti falta disso...
Olho por cima da sua cabeça, vejo Alba de longe agarrada a Pietro e
dou um sorriso.
— Você está feliz, dá para notar isso.
— Ele está apaixonado amor e não perde a esposa de vista. Desde que
chegaram aqui subiu duas vezes, enquanto ela dormia para ver se estava tudo
bem.
— Ela me faz bem e não tem como não amar o que sou quando estou
com ela — falo ainda com meus olhos na direção de Alba que sorri de algo
que minha mãe diz a ela.
Isso é motivo suficiente para me fazer sorrir.
— Qual é a história de vocês?
Essa pergunta me fez sair dos meus devaneios e olhar para minha
cunhada.
— Eu também quero saber, conheceu-a em um show de rock? —
indagou minha ex com um sorriso de canto.
Ela não tem direito de me questionar por minhas escolhas amorosas,
perdeu este direito junto com a calcinha que desceu para outro quando
éramos um casal.
— Qual é o seu problema Norah está agindo como se eu estivesse
tendo um caso proibido, sou dez anos mais velho que minha mulher sim e
daí, isso até onde eu sei não é errado.
— Desculpa mesmo, acho que perdi a noção. Não estava preparada
para te encontrar depois de tantos anos, foi uma surpresa para mim — fala
saindo apressada, a irmã dela me olha com um pouco de tristeza nos olhos e
foi atrás da irmã.
— O que eu fiz de errado? Ela estava pedindo por isso desde que
colocou os olhos em Alba.
— Nada Joaquim, ela está passando por um momento difícil e te ver
aqui deve estar a fazendo repensar nas escolhas errôneas que fez no passado
— explica meu irmão.
Quero que ela se foda, assim como a sua consciência.
Não vim aqui para reviver nada que tivemos juntos, mas para ficar
com a minha família.
“Um dia a gente simplesmente muda.
Os sentimentos vão acabando e o coração faz novas escolhas!”
Autor desconhecido.

Algum tempo depois


Depois de algumas horas de trabalho conseguimos deixar a casa
pronta para o Natal e vejo o sorriso de satisfação da minha mãe. Não conheço
ninguém que ame o Natal mais do que ela.
Deixamos minha mãe em casa, pois amanhã é aniversário do meu pai
e ainda não tinha comprado o presente para ele, por isso viemos ao shopping
mais perto. Como conheço o gosto do meu pai e sei que ele ama chapéu, não
foi difícil achar algo que o agrade. Se não fosse a minha cunhada que decidiu
comprar alguns CDS novos e Alba que parou diante uma loja de bebê e
resolveu comprar alguns itens para o enxoval do nosso filho teríamos feito
tudo em menos de 40 minutos.
—Vamos comer alguma coisa, beber um chocolate quente para nos
esquentar e vamos para casa — falo olhando para o meu irmão, segurando
algumas sacolas em uma mão e a mão de Alba na outra.
Alba sorri feito uma criança e mesmo imaginando o motivo, não
resisto em perguntar.
— Qual o motivo dessa felicidade toda, meu amor? — Já faz algum
tempo que a trato assim e nem sei ao certo dizer quando comecei.
— Estou morrendo de vontade de comer um pedaço de bolo de nozes
com chocolate quente e só de lembrar o gosto quase chego a me afogar na
minha própria saliva de tanto que ela aumenta na minha boca.
— Humm, eu sabia que iria querer comer um pedaço de bolo de
chocolate, nunca vi desejo sem fim por bolo de chocolate — falo lembrando
a quantidade de vezes que saí atrás desse bolo para ela.
— Ah, deixa de ser bobo — fala me empurrando levemente com o
ombro, o que me faz rir, afinal seu empurrão não me faz mover um
centímetro sequer do lugar.
Na praça de alimentação nos sentamos e fizemos nossos pedidos.
— A minha irmã com meu cunhado estão aqui, olha que coincidência
— fala minha cunhada digitando no celular.
— Ah, é mesmo onde eles estão?— meu irmão pergunta com
curiosidade.
— Estão vindo agora para aqui — fala elevando seu olhar em minha
direção.
Senti a água que tinha começado a beber parar no meio da garganta.
Puta que pariu, mais essa!
Teria que olhar para a cara daquele filho da puta que se dizia meu
melhor amigo, mas me traiu com a minha noiva?
Só não o acertei na época, porque ele não passou na minha frente para
me dar uma explicação pela dupla traição. Remexo meu ombro me sentindo
incomodado, enquanto o garçom vem com nossos pedidos, cortando o que
Alba ia me dizer ao perceber minha mudança de humor pela forma que desci
a garrafa de água na mesa.
— Olá mais uma vez, que surpresa encontrar vocês aqui — fala
Norah com um sorriso no rosto.
Olho para o crápula atrás dela.
— Vamos relembrar os velhos tempos.
Bufo contrariado ao ouvir aquilo.
Que velhos tempos são esses?
Será que é aquele em que fui traído por eles?
Puta que pariu, que merda é essa que está acontecendo?
O que é isso que está fodendo meu psicólogo depois de tanto tempo?
A verdade é que nenhum homem aceita ser traído e por mais que a
pessoa não signifique mais nada na nossa vida em momento nenhum
queremos nos confrontar com a merda da história que nos abalou e nos fez
sentir um merda de um fodido. Só que eu não tenho escolha quanto a isso, a
filha da puta é irmã da mulher do meu irmão o que na época me deixava
animado e agora me deixa irritado.
— Alba este aqui é o meu marido Henry. — Norah apresenta seu
marido para Alba, que deixa o garfo do lado do prato e ergue a mão para
cumprimentá-lo.
Vejo-o analisar a minha mulher e isso me deixa em alerta.
— Ela, amor, é a mulher do Joaquim e irão ter um bebê. Há poucas
horas nos conhecemos tão rapidamente que até me esqueci de perguntar... É
para quando?
Alba sorri tocando sua barriga, enquanto eles se sentam em uma das
cadeiras vazias.
— Daqui há três meses.
— Nossa, que bacana me lembro quando fiquei assim por duas vezes,
a gente se cansa rápido, não é?
Alba assente com um sorriso.
Observo-a tentando ser amigável com a minha mulher.
— Joaquim, tudo bem? — Henry pergunta olhando na minha direção.
Juro que se pudesse trocar meu chocolate quente por vodca faria na
boa, pois para aguentar essa merda sem pirar é só bebendo mesmo.
— Oi, tudo ótimo — respondo entre os dentes só porque fui muito
bem educado, caso contrário o chamava de filho da puta arrombado da porra.
Ainda completaria com não se meta no meu caminho, senão acerto dez anos
de diferença na sua cara, mas só digo que estou bem, em resposta a sua
pergunta.
— O que está achando da cidade, Alba? — pergunta meu irmão
tentando desanuviar o clima tenso quase palpável.
— Aqui é muito lindo, quando o Joaquim me disse onde vocês
moravam procurei na internet algumas fotos para conhecer um pouco o lugar,
mas nada é igual as fotos e aqui é muito lindo — falo sorrindo para meu
irmão.
— Aqui tem muitos lugares turísticos famosos. Espero que dê tempo
para que possamos te levar em alguns.
— Vamos ficar alguns dias depois do Natal, talvez até o Ano Novo.
Não é amor — digo olhando para Alba que concorda.
— Você não pensa em voltar para cá?
— Não, Norah, a minha vida toda está lá. Tenho o galpão, onde há a
produção dos móveis que vendo na minha loja e uma carta maravilhosa de
clientes, além de pessoas que dependem economicamente de mim.
— Ah sim, entendo.
— Prova, meu amor — falo dando um pedaço do meu bolo na boca
de Alba. Sempre pedimos sabores diferente um do outro para provamos.
— Humm o seu é sempre mais gostoso que o meu.
Rio da cara que ela faz, enquanto mastiga o pedaço de bolo que dei
para ela.
— Sabia que iria falar isso — falo soltando mais uma risada e
pergunto se ela quer mais um pedaço.
Alba aceita, mas antes pega o pedaço do seu bolo e me dá para
provar. Sinto o gosto amargo do chocolate estourar na minha boca e dou um
gemido baixo. Ela ri e limpa o canto da minha boca com o guardanapo me
fazendo pensar que desejaria que ela limpasse de outro jeito.
— Está vendo Henry, é disso que falo.
Vejo Norah cutucar o marido e ele fazer cara feia devido a
comparação.
— Ah vocês são tão fofos juntos — minha cunhada fala nos olhando.
Abraço Alba e concordo.

Alguns Minutos Depois


— Humm, vocês tinham razão a praça é linda.
Observo o olhar iluminado que Alba dá ao olhar os enfeites, parando
na pista de patinação.
— Gosta de patinar Alba? — pergunto fazendo com que seus olhos
saiam da pista e se prenda aos meus.
Ela balança a cabeça negativamente.
— Nunca patinei, mas adoraria aprender um dia — fala com
entusiasmo.
— Se não fosse perigoso para você por causa do bebê te levaria.
Ela sorri e segura a minha mão.
— Tudo bem, teremos outras oportunidades.
— Sim, teremos. — Levo sua mão até meus lábios e a beijo mesmo
sem sentir o toque da sua pele nos meus lábios por causa da luva que usa.
— Ainda continua bom nas pistas Joaquim? — meu irmão me
pergunta com ânimo.
— Ah! Ben devo estar um pouco enferrujado, faz muito tempo que
não patino — falo me lembrando da época em que chegava até matar aulas
com alguns amigos para ficar nas pistas.
— Podemos testar esta teoria o que acha? Lembrar os velhos tempos,
o que acha? — pergunta batendo no meu ombro, assim que se colocou do
meu lado.
— Podemos deixar para outro dia cara, a mãe ficou com Pietro e é a
primeira vez que ele fica sem estar com um de nós dois. Pode ser que ele dê
por nossa falta, caso demorarmos muito.
— Vamos para casa então, papai do ano.
“O que eu faço com essa vontade de encurtar
essa distância em um piscar de olhos?
De abraçar por horas,
sem dizer nada
e com um beijo te dizer tudo que
milhares de poemas não conseguiram dizer.”
Frases de amor.

Entramos na casa que está silenciosa, mas o cheiro que vinha da


cozinha era maravilhoso.
— Mãe chegamos — fala Joaquim olhando o ambiente silencioso.
Passamos pela sala e quando entramos na cozinha a mãe de Joaquim
está tirando uma travessa enorme do forno e um senhor está sentado em uma
cadeira com uma taça de vinho fazendo palavras cruzadas.
— Pai, você chegou! Estava sentindo a sua falta — fala Joaquim.
O senhor se levanta e vem de encontro ao Joaquim, abraça-o por
algum tempo, depois se vira para mim e me olha com os olhos azuis muito
parecidos com os que vejo todos os dias e me encanta toda vez que o olho de
maneira diferente.
— Ah meu filho, esta é a belezura que roubou seu coração? — fala o
senhor.
Ainda abraçado ao filho, levanta a mão em minha direção e eu vou
com o sorriso no rosto. Damos um abraço triplo e ficamos ali por alguns
segundos.
— Muito prazer Wilson.
— Desde que cheguei Vaiola não falou outra coisa sem ser de você.
Conheci seu sobrinho e ele é um garoto muito esperto.
— Sim o Pietro é uma graça.
— O bebê é para quando?
— Tudo indica que para março.
— Joaquim, cadê seu irmão e sua cunhada? Fiz lasanha para a jantar.
— Humm mãe, sua lasanha é a melhor. Ele está estacionando o carro
e resolvemos entrar, deve já está vindo por aí.
—Estou chegando e cheio de fome, mãe encontramos estes dois
perdidos lá na porta.
— Ah meu Deus, olha o tamanho desses dois monstrinhos, eles estão
enormes — Joaquim fala e segue a passos rápidos para os dois adolescentes
que estão ao lado dos pais.
O menino deveria ter uns 16 anos e a menina uns 13 anos. Os dois
falam em uníssono o nome do tio e o abraçam. Joaquim me apresentou a
menina que se chama Judhi e o jovem rapaz que se chama Noah.
Algum Tempo Depois
Em volta da mesa a conversa foi animada, meu sobrinho estava todo
falante e sendo paparicados por todos.
— Fico feliz por ver Joaquim feliz de novo, depois de tudo que
aconteceu com ele e mesmo sabendo que não tenho culpa, me sentia culpada
de certo modo. Na época sabia que tinha algo errado, a minha irmã estava
estranha, mas tinha duas crianças quase da mesma idade e nunca conseguia
tempo para conversar com ela. Se tivéssemos conversado teria evitado o
sofrimento do Joaquim e teria colocado juízo na cabeça da minha irmã.
— Tem coisas que fogem do nosso controle, por mais que a gente
tenta e tenha as melhores intenções... Não tem jeito o que tem que ser, será.
— Você tem razão, mas agora está tudo bem, ele te encontrou.
— Sim e sou muito grata a Deus por isso, Joaquim é um homem
maravilhoso. Qualquer mulher que o tem ao seu lado é uma sortuda. Sinto-
me assim todos os dias, ele cuida de mim e do meu sobrinho desde que nos
conhecemos.
— O que aconteceu com os pais do seu sobrinho.
— Ah é uma longa história, mas vou tentar resumir — falo pegando o
prato da sua mão e o secando.
— Meu irmão morreu de uma parada respiratória sem nenhum
histórico médico que pudesse explicar, com isso minha cunhada entrou em
depressão e fiquei responsável pelo meu sobrinho até que ela se recuperasse.
Quando isso aconteceu ela conheceu um cantor, deu a louca e viajou com ele
para uma turnê me deixando responsável pelo meu sobrinho.
—Caramba e como conheceu o Joaquim? — pergunta fechando a
torneira.
O que falaria agora?
— O namorado da minha cunhada ficava responsável por pagar o
nosso aluguel, dávamos a nossa parte para ele e ele completava com a dele,
mas descobri que há algum tempo ele não pagava o aluguel e isso foi uma
semana depois da minha cunhada pegar a estrada. Fui alertada pelo locatário
quando fui acertar o mês, ele não me deu tempo para pagá-lo e jogou nossas
coisas na rua. Fui morar dentro do carro com meu sobrinho e estacionava
toda noite em frente a casa do Joaquim. Uma vizinha se incomodou com meu
carro parado na rua, chamou a polícia e ele me ajudou. Foi assim que nos
conhecemos.
Ela sorriu e me olhou com aquele ar de “que lindo começo para um
romance”.
Como queria que aquilo que via escrito em seus olhos se tornasse
verdade. Se Joaquim me pedisse mais uma vez para que tentássemos ser um
casal de verdade não me oporia, pois é o que mais quero. Não sei se são os
hormônios que torna tudo que sinto por ele mais intenso, mas o quero. Ver
nos olhos da ex dele o arrependimento por tê-lo perdido aumenta mais a
minha certeza de que não o deixarei sair da minha vida nunca mais, mesmo
sabendo que às vezes temos mais medo de falhar do que tentar.
— É linda a forma que vocês se conheceram, Joaquim é um homem
maravilhoso. Nunca tive dúvidas quanto a isso e fico feliz por ele ter te
encontrado — fala pegando na minha mão e seguimos caminhando para a
sala.
Olho para as crianças em um canto distraídas em seus celulares.
Pietro havia dormido um pouco depois do jantar, após de tê-lo levado para
fazer xixi, colocar o pijama e escovar seus dentes.
Todos estão entretidos em suas atividades, procuro por Joaquim e o
encontro observando o irmão e o pai a jogar dama com uma taça de licor na
mão, ele havia me dito que é costume da família tomar uma taça depois do
jantar, enquanto sua mãe faz tricô sentada em uma cadeira que dizia ser da
vovó.
Robbin deixa meu braço e caminha até o marido, antes de chegar nele
toca no braço de Joaquim, fala algo em seu ouvido e permaneço parada no
mesmo lugar. Ele levanta a cabeça em um gesto lento, olha para mim, ergue
as sobrancelhas e sorri de um jeito que não me lembro de ter visto antes.
Levanta-se e caminha na minha direção.
Quando ele está de frente para mim, dou dois ou três passos para trás.
Não chego a contá-los só sei que nos afastamos até que ficamos embaixo do
arco da porta.
— DEBAIXO DO VISCO — Robbin grita com um sorrisinho,
chamando a atenção de todos na sala para nós.
Olho para cima, vejo o visco exatamente ali e olho para Joaquim que
sorri para mim.
— Acho que teremos que nos beijar, como diz a tradição, caso você
me rejeite isso me trará má sorte e isso é tudo que não quero.
— BEIJA LOGO — todos dizem em um único coro.
Sorrio nervosa.
Joaquim se aproxima e inconsciente dou alguns passos para trás até
que sinto meu corpo bater contra o batente da porta. Minha respiração está
em um ritmo tão louco quanto as batidas do meu coração. Ele segura a minha
nuca e se abaixa até que sinto a respiração dele causar uma pequena
coceirinha no meu nariz.
— Vou te beijar. — Avisa colando mais nosso corpo.
Antes que os nossos lábios se toquem já tinha fechado os olhos, sua
boca toca a minha, enquanto seus dedos dançam no meu couro cabeludo. Ele
me dá alguns beijos sutis, morde levemente meu lábio inferior fazendo meu
coração pulsar na garganta e sua língua invade a minha boca me fazendo
descobrir que o licor que tomava minutos antes era de framboesa. Iniciamos
uma dança com as nossas línguas e tudo a minha volta parece sumir. Ele
deixa meus lábios colando nossas testas e meus olhos ainda continuam
fechados.
“As mais lindas palavras de amor,
são ditas no silêncio de um olhar.”
Leonardo da Vinci.

— Eu amo você Alba — falo após beijá-la, olhando em seus olhos e


extravasando o que sinto em palavras.
Não dava mais para negar ou tentar disfarçar.
Subimos a escada como se não tivesse mais ninguém na sala, além de
nós dois, depois que nos beijarmos sinto que meu peito pode vir a explodir a
qualquer momento de tão feliz que me sinto.
Só tive certeza de que a porta atrás de nós estava fechada quando
aperto Alba contra ela e sinto o calor do seu corpo se juntando ao meu.
— Vou te fazer minha mulher esta noite Alba — falo a olhando.
Minha necessidade é tanta que quase não ouço minha própria voz e
quando seus olhos se dilatam ao me olhar, sinto meu corpo mais uma vez
incendiar. Quero tanto esta mulher que sinto que se não a tiver em meus
braços logo meu corpo vai pirar.
— Faça-me sua, eu quero — responde com a respiração batendo em
meu pescoço.
Que se dane o medo que tenho de elevarmos nossa relação para este
patamar que possa vir dar errado no futuro e que poderíamos perder o que
construímos até aqui.
— Eu também te amo — fala me fitando com mais intensidade,
levando meu corpo ao êxtase com aquela confissão.
Deslizo minha mão pela lateral da sua cintura, chegando ao seu
casaco de frio, a ajudo se livrar dele e ouço o som dele cair no chão. Fazemos
o mesmo com o restante das nossas roupas, até estar de cueca e ela calcinha e
sutiã. Não resisto à vontade de olhá-la por inteira só com essas duas peças de
roupa em seu corpo, dou um passo para trás olhando-a como se fosse devorá-
la. A verdade é que vou e é tudo que mais desejo há meses.
—Você é linda! — falo balançando a cabeça com um sorriso bobo
tomando meus lábios ao me lembrar que de agora em diante ela será toda
minha.
— Sério?
Sua voz sai incrédula, olhando para o corpo com sua barriga enorme
carregando o nosso filho.
— Sim, muito gostosa e quero me afundar em você a noite toda.
Minhas palavras surtiram o efeito que espero,vejo-a sorrir e jogar a
insegurança para longe dela neste exato momento.
Sem esperar sua resposta, junto mais uma vez nossos corpos fazendo
um passeio turístico pelo seu corpo, com isso sinto meu pau ficar cada
segundo mais duro dentro da cueca. Dando-me certeza de que de agora em
diante quero ser o único desbravador deste corpo. Aperto o seio farto por
cima do sutiã, abaixo minha cabeça e passo a língua no meio dos seus seios.
Enquanto com uma mão vou descendo a alça fina do sutiã, com a outra a
mantenho firme, pois seus joelhos perdem o equilíbrio por diversas vezes
com os meus avanços e não quero que ela venha se machucar.
Assim que as duas alças do seu sutiã estão baixas, viro-a e caminho
até a cama. Antes dela se deitar desabotoo o sutiã e vejo o caminho da minha
perdição esta noite pulando para fora do seu sutiã. Chego a salivar de desejo,
seus seios estão enormes e tudo que quero é mamar neles.
— Gosta do que vê?
Atiça-me passando os dedos em movimento circular na auréola
marrom clara, beliscando o bico do seio, o efeito dessa ação segue direto para
o meu pau me fazendo sentir uma fisgada, inconscientemente levo a minha
mão nele e o massageio enquanto a olho com um sorriso safado, pensando
em tudo que pretendo fazer com ela esta noite
— Gosta de brincar, provocar e atiçar... — Rio baixo, rouco pelo
desejo antes de completar a frase. — ..., se considera boa nisso, pode ter
certeza de que consigo ser melhor. — Finalizo invadindo seu espaço a
tomando em meus braços em um beijo bruto reivindicando-a como minha.
Desço a minha boca por seu pescoço, lambendo, chupando até
alcançar seu seio e seus gemidos baixos e contidos me levam a loucura. Roço
o nariz em volta dos seus mamilos, sentindo seu cheiro doce e provo dele
com a ponta da língua em seu bico arrebitado. Ela aperta a coxa uma contra a
outra ao mesmo tempo que empurra seus seios na minha cara, me pedindo
mais do que estou fazendo e me afasto rindo.
— Você não gosta de provocar?
Ela arfa irritada me arrancando mais uma risada e faz menção de se
deitar, mas antes que ela faça, seguro-a pelas costas com a mão espalmada
em sua pele aveludada impedindo que caia no colchão a trazendo mais perto
de mim. Passo a língua de baixo para cima em seus seios e sigo lambendo até
chegar ao bico. Devoro-o com vontade e começo mamar como queria desde
que os vi fora do sutiã. Ela continua a apertar a coxa grossa e gostosa uma
contra a outra. Deito-me de lado e a puxo com cuidado até estar deitada e em
uma posição confortável. Deslizo uma mão para o meio da sua perna e vou
arranhando com a minha unha curta até chegar na sua boceta.Enquanto
devoro a sua boca afastei sua calcinha para o lado e deslizo meus dedos até
chegar na sua buceta.
Quando a toco deixo escapar um gemido da minha garganta ao
perceber que está prontinha para me receber, volto a beijá-la e o tesão me
acerta em cheio.
Procuro o seu centro, ela abre mais a perna facilitando meu acesso e o
alcanço. Passo meu dedo em toda extensão da sua boceta e volto para seu
botãozinho do prazer. Não resisto a vontade que sinto em prová-la, me
levanto e vou para o meio das suas pernas a abrindo mais para mim. Retiro
sua calcinha, olho sua buceta brilhante e molhada e passo minha língua do
seu cuzinho até sua buceta e foder seu buraco. Ela abre e fecha a perna em
desespero e abocanho com mais vontade sua boceta. Mordo a pele sensível
do seu centro a fazendo me dar um tapa nas costas que me faz querer mais.
— Ah meu Deus, o que é isso! — fala descontrolada, rebolando na
minha boca, enquanto brinco com a língua no seu clitóris e a fodo lentamente
com o dedo.
— Deixa Deus fora disso amor, o negócio aqui é entre você e eu —
falo arfante, me afastando minimamente da sua boceta com um sorriso
perverso e volto chupá-la com vontade.
— Que língua é essa, senhor Jesus! — fala descontroladamente mais
uma vez puxando meu cabelo.
— Deixa a divindade fora desta situação Alba... O que tenho
para você esta noite é muito sujo para envolvê-lo neste momento.
Sinto o meu pau pulsar implorando para estar dentro dela, mas antes
de socá-lo gostoso dentro da sua boceta. Quero vê-la perder todo seu controle
e gozar dentro da minha boca. Intensifico o movimento da minha língua até
que a vejo bater com a mão do lado do corpo e apertar o lençol em volta dos
dedos. Arqueia levemente o quadril para frente e o deixa cair levemente,
enquanto seu gozo enche a minha boca me fazendo sentir o gosto do seu
prazer. Satisfeito me levanto do meio das suas pernas, limpando a minha
boca com um sorriso. Antes de me deitar ao seu lado, pego um travesseiro
colocando-o do lado da sua barriga e me deito de lado colocando um braço
debaixo da sua cabeça.
— Está pronta para mim, meu amor? — pergunto roçando meu nariz
na sua orelha e depois a mordo de leve.
— Mais do que pronta Joaquim — fala baixo e abre as pernas para
mim.
Ajeito meu pau duro com a mão, o pincelando na sua buceta molhada
e solto alguns gemidos ao sentir seu calor no meu pau. Devagarinho vou
enfiando-o na sua boceta fazendo meu corpo estremecer de prazer.
Que loucura é estar dentro desta mulher!
— Puta que pariu, gostosa para cacete!
Fecho meus olhos para senti-la não só com meu corpo, mas também
com a minha alma e começo estocar devagarinho bem gostoso.
Quem disse que para ser gostoso tem que foder igual uma máquina?
Um mentiroso com certeza.
Ficamos naquele vai e vem nos perdendo um no outro, até que ela
gozou mais uma vez só que agora no meu pau, me fazendo sentir sua buceta
se apertar em volta de mim, sentindo mais ainda seu calor.
— Alba preciso gozar, consegue ficar de quatro para mim, amor?
Ela assente e arrumo uns travesseiros debaixo dela até ficar
confortável. Ajeito-me atrás dela novamente, beijo seu pescoço e depois
mordo seu ombro a descontrolando mais uma vez. Seguro sua cintura para
equilibrá-la e me encaixo dentro dela. Urro de prazer ao senti-la mais uma
vez e me movimento gostoso dentro dela como fossemos um único corpo até
que sinto meu gozo vir. Seguro-a com mais força pelo quadril, entro e saio,
mordo meus lábios e urro como um animal saciado gozando dentro dela. Saio
de dentro dela e caio sem forças para o lado, ela se deita do meu lado e nossa
respiração está descompassada. Busco sua mão, depois seus olhos e falo:
— Isso foi maravilhoso! Eu te amo Alba e quero fazer amor com você
até o último dia da minha vida.
“O amor é um vestido de paetês.
Com ele, me sinto um tanto ridícula.”
Autor desconhecido.

Acordo com meu corpo dolorido devido a noite de ontem, olho para o
lado onde meu marido dormiu e vejo o lugar vazio. Puxo seu travesseiro
levando-o até o nariz e quando sinto seu cheiro, solto um sorriso bobo
apaixonado que agora não preciso mais ter medo de demonstrar.
Enrolo-me no lençol e vou até o banheiro, deixando-o cair após ligar
o chuveiro e acertar a temperatura da água. Debaixo do jato de água morna,
fecho meus olhos e toco meu corpo com carinho me lembrando de cada toque
que Joaquim deu nele.
Que homem incrível!
Jogo a água do chuveiro para cima e sorrio ao vê-la cair.

Já pronta desço a escada com cuidado e ouço uma risada gostosa que
conheço bem o dono dela. Ao chegar à mesa vejo Pietro no colo de Joaquim
todo faceiro.
— Bom dia, família — falo com um sorriso iluminado em meu rosto.
Olhos para todos e paro no Joaquim que me analisa por alguns
segundos, chego perto dele dou um beijo no meu sobrinho e como de
costume um cheiro.Ainda sendo analisada por Joaquim, me sento ao lado
dele na cadeira que está vazia. Acredito que não se sentaram já pensando em
mim e sorrio por dentro com esta ideia.
— Bom dia amor — falo olhando em seus olhos.
Sorrindo ele parece varrer qualquer ideia errada que dominava sua
mente. Talvez ele pudesse estar pensando que tenho me arrependido de ter
feito amor com ele, mas o que me arrependo é de ter demorado tanto. Ele se
aproxima mais de mim e toca os meus lábios com os seus de uma maneira tão
leve que sinto como se fosse quase uma carícia.
— Dormiu bem?
— Como um bebê — fala e sorri mais uma vez para mim.
Meu sobrinho desce do seu colo e vai para perto da minha sogra que o
chama, com isso Joaquim aproxima as nossas cadeiras e toca minha barriga.
Dando bom dia para o nosso filho, entrelaça nossos dedos e me beija mais
uma vez.
— A noite foi boa ontem, hein? — meu cunhado diz olhando para
gente.
O que me deixa com vontade de me enfiar embaixo da mesa.
Será que está tão na cara assim, Senhor?
— Você não tem casa, não? Fica só aqui na mãe, enchendo o saco e
cerrando café da manhã, almoço e janta.
— Casa eu até tenho, mas nada se compara a comida da mãe. Agora
vocês do jeito que estão, está escrito na cara de vocês que a noite foi boa e
estão morrendo de vontade de repetir.
— A noite foi boa sim, mas para de deixar minha linda mulher sem
graça. Não percebeu que ela é tímida?
— Desculpe-me cunhadinha, não foi a minha intenção — fala sem
graça.
Balanço a cabeça, sussurrando um tudo bem, mas meu desejo era
sumir daqui.
— Não se preocupa com a gente Alba, meu velho e eu já tivemos a
idade de vocês e sabemos como são as coisas. Oh saudade, de um tempo que
não volta mais — fala minha sogra com os olhos parados no ar, o que nos faz
entender que sua mente divagava em épocas distantes, mas se obrigou a
voltar e me olhou estendendo a mão em cima da mesa, a peguei e estendeu a
outra para o filho que a pega, unido nossas mãos.
— Não tem preço ver vocês juntos depois de tudo que meu filho
passou, te encontrar foi um bálsamo para as feridas dele. Quando o vejo
sorrindo e te olhando sei que encontrou a felicidade, assim como encontrei ao
lado do pai dele.
Com aquelas palavras ela me faz derramar lágrimas, beijo sua mão e
agradeço o acolhimento e carinho com o que está tratando meu sobrinho e a
mim.
O restante do café foi tranquilo sem mais emoções até que Joaquim
saiu meio misterioso me deixando com a sua mãe e me avisando que não
demoraria, mas percebi em seus olhos que me escondia algo.

Olho a cada minuto para o portão de desembarque ao mesmo tempo


em que ajeito a placa de boas-vindas na minha mão com a frase,
“Bienvenidafamília Alba[11]”.
Ansioso é pouco para dizer como me sinto hoje para conhecer a
mulher que trouxe o amor da minha vida ao mundo e que a ensinou ser tudo
que é hoje. No tempo em que Alba e eu estamos juntos a ouvi contar que
mesmo morando aqui, pelo menos uma vez no ano vai ao México ver a
família e que isso sempre acontecia no Natal. Observei seu olhar triste ao
dizer que era sempre essa época que ia para lá e ficava até o Ano Novo com a
mãe, irmãs e padrasto, que é como o pai, já que ele a criou desde seus dois
anos. Este seria o primeiro ano em que ela não iria para lá depois da morte do
irmão. Alba não precisou me dar mais detalhes para que entendesse que
depois da morte do irmão muita coisa mudou na sua vida, mesmo assim ela
não é de reclamar e vive sorrindo por qualquer coisa. Foi assim que ela
ganhou meu sorriso e aos poucos também o meu coração.
Na verdade, foi o conjunto de tudo isso que me serviu
de combustível para trazê-los para cá, assim eles poderiam passar o Natal ao
lado da filha e conheceriam minha família para que quando a mãe dela
partisse fosse com o coração em paz sabendo que a filha está sendo bem
cuidada e o que depender de mim farei tudo que estiver ao meu alcance para
que Alba sempre tenha seu lindo sorriso nos lábios.
— Está demorando — resmunga meu irmão entediado.
Pedi para que ele viesse comigo no seu carro para me ajudar a
transportá-los, já que não iria caber todos no meu carro mais as malas.
— É assim mesmo, sempre atrasa um pouco e você deve estar
sentindo mais devido a antecedência que viemos — digo movimentando o
corpo.
A temperatura não está baixa como de costume nesta época, mas
ainda assim está frio.
— Pelo que percebi Alba e você se acertaram ontem, fico feliz por
você. Desde que me contou que não eram exatamente um casal e sobre o
acordo louco que fizeram fiquei desconfiado, mas a forma que se olham e se
tocam é visível que se gostam. É bom saber que meu sobrinho ou sobrinha
vai nascer em um lar cheio de amor— fala me olhando, sorri e depois sorrio o
acompanhando.
— Ben, em um lar com amor ele ou ela já iria nascer, Alba e eu
decidimos ter esse bebê e dar todo amor e educação que uma criança precisa,
mesmo que não fossemos um casal. Apesar que no meio de tudo nos
apaixonamos e ontem o visco colocou a parede fina que estava nos
impedindo de ser um casal por terra. Estou feliz demais meu irmão, tão feliz
que tenho medo de que algo venha acontecer e estrague tudo.
— Eu também tenho medo Joaquim, porque a Norah parece que
está nutrindo uma certa esperança com a sua vinda para cá.
Uni minhas sobrancelhas sem entender onde minha ex entra nesta
história.
— Norah é uma mulher casada e mesmo que não fosse, assim como
eu, ela seria a última mulher que me atrairia para um relacionamento. Ela
fodeu meu psicológico por anos e somente agora consegui me abrir para um
relacionamento. Parece até milagre ou alguma oração de amor que fiz que
tenha funcionado — falo sem acreditar que ela ainda mantenha alguma
esperança em relação a mim.
— O casamento dela não anda bem e pode ser que ela saiba que o seu
casamento não seja de verdade.
— Puta merda Ben, como assim? — perguntei sem conseguir
acreditar naquilo que meu irmão me dizia.
— Eu comentei com a minha mulher e ela me confessou que sem
querer deixou escapar com a irmã, quando ela apareceu em casa chorando e
falando que o casamento estava perto do fim.
Ri de nervoso com aquela confissão do meu irmão.
—Puta merda Ben, quero que ela vá a merda com o casamento dela.
Agora ela está me querendo, por que o casamento foi para os ares? Eu
mereço mais que isso, quero formar uma família e ter meus filhos. Ela já
viveu tudo o que ainda vou viver e escolheu fazer isso com outro homem
quando tínhamos uma chance. Ela me traiu e agora quer me dar os retalhos da
sua vida para que eu possa remendá-los e fazê-la feliz? Não é assim não
— falo inconformado.
O assunto só é encerrado porque quando olho para frente vejo um
pequeno grupo de quatro pessoas, vindo em nossa direção com sorrisos.
— Consuelo Flores? — pergunto para me certificar, mas tenho
certeza de que esta é a família de Alba.
— Si, soyyo[12].
— Eu sou Joaquim Fullin, marido da Alba, nos falamos por telefone
algumas vezes e depois escondido de Alba para fazer esta surpresa a ela.
Ela nem esperou que terminasse de falar e me abraçou.
— Lembro-me de você — fala em meu ouvido quando me abraçava.
— E você, por telefone, já parecia uma paisagem de tão bonito, mas
pessoalmente me parece mais um galã. Olha amor, nossa filha se casou com
um homem que parece mais um príncipe.
Sorrio sem graça agradecendo o elogio.
— Deixa-me te apresentar. Este é meu marido e minhas duas filhas —
fala apresentando o restante do grupo de pessoas e eu apresento o meu irmão.
— Muito prazer Manolito.
Abraço-o forte ao me lembrar o quanto Alba gosta dele e o admira.
Ajudamos com suas malas e seguimos para o estacionamento, onde
estavam os nossos carros.
Percebi que eles são alegres como a minha esposa.
Ela e seu esposo foram comigo e as meninas com o meu irmão. Entro
no carro, dou partida tirando o carro do estacionamento e ganhando as ruas
até estacionar em frente a casa dos meus pais. Ao longo do percurso eles me
contam como foi a viagem e a experiência de andar de avião pela primeira
vez. Contam inclusive o medo que sentiram e como estão felizes em
passarem o Natal junto com a minha família, além de conhecer os Estados
Unidos.
Saímos do carro e fomos em direção a minha casa, embora soubesse
que Alba fosse pirar ao ver seus pais e irmãs, isso não significava que
diminuiria a minhas expectativas e ansiedade para ver sua reação.
Abro a porta com meu coração acelerado, tendo a família de Alba
atrás de mim, pois é a primeira vez que faço uma surpresa para ela. Entro na
sala e tudo está silencioso, ando pela casa procurando por ela e meus pais.
Entro na cozinha e depois passo pela porta chegando até o espaço para festa e
lá encontro todos rindo, enquanto Pietro brinca com carrinhos.
— Oh, meu Deus!!! — Alba fala com a mão na boca vindo na direção
da mãe.
Quando ela está próxima, percebo que ela está trêmula e com os olhos
transbordando pela surpresa. Ela abraça a mãe e fala algumas coisas em
espanhol.
Depois de algum tempo ela seguiu até o padrasto e as irmãs e a vi agir
de acordo com sua idade dando alguns pulinhos e parando rápido por causa
da barriga.
— Foi por isso que você estava estranho hoje de manhã no café?
Percebi que estava falando pouco aonde ia e confesso que pensei um monte
de bobeira a manhã toda. Que tinha se arrependido de ontem e que estava
sem coragem…
Beijo-a impedindo-a de terminar de falar para aonde seus
pensamentos estavam a levando. Nunca me arrependeria de ter feito amor
com ela ontem e a lembrança é tão real e recente que ainda consigo sentir o
calor do seu corpo junto ao meu.
— Eu te amo sua bobinha linda, amo nosso casamento e tudo que
estamos construindo juntos. Sou um péssimo mentiroso e se falasse muito o
que ia fazer, logo iria me pegar em contradição — falo em um tom baixo
colando nossas testas e depois a beijo mais uma vez.
— Às vezes penso demais e me preocupo demais... Eu também te
amo tanto e nunca achei que isso fosse acontecer em tão pouco tempo — fala
roçando com carinho seu nariz no meu.
— Eu sei e amo sua inteligência, perspicácia, o fato de estar feliz o
tempo todo e me fazer sorrir só em te olhar, e isso são apenas algumas coisas
que amo em você — falo a beijando mais uma vez.
Confesso que passaria minha vida toda a beijando sem notar o resto
do mundo em movimento a nossa volta, mas sou impedido por nossas
famílias. Separo os meus lábios dos dela com um sorriso no rosto e olho para
nossa família que nos olham como se fossemos uma miragem.
Depois dessa demonstração de amor, fizemos as apresentações e a
minha mãe e a dela se curtiram de primeira. Logo começaram a trocar
figurinhas como se fossem amigas de longa data e se divertiram contando
sobre a nossa infância.
“O amor é a força mais sutil do mundo.”
Mahatma Gandhi.

Sinto-me emocionada com a minha família aqui, nunca passamos um


Natal longe e este seria o primeiro para mim. Só não seria mais difícil pela
família maravilhosa de Joaquim que recebeu a mim e meu sobrinho de braços
abertos.
— Você está linda minha filha — minha mãe fala me olhando, depois
volta sua atenção a mala e tira as últimas peças de roupa as colocando no
guarda-roupa do quarto em que iria ficar com meu padrasto.
— Muito obrigada, mãe — falo passando a mão na minha barriga de
quase sete meses.
Ela se senta na cama e me olha com um olhar triste.
Sei exatamente qual seria o nosso próximo assunto e só de pensar
sinto uma ardência no meu nariz.
— Filha sobre o que me disse do casamento vocês não ser de verdade,
ainda é assim? Porque não me pareceu isso quando os vi lá embaixo.
Olho para minha mãe e coloco a almofada da cama no rosto. Dou um
gritinho que logo foi abafado por ela e caio para trás na cama levantando
minhas pernas, as balançado. Agi da mesma maneira de quando contei a ela
do meu primeiro beijo, levando-a a rir animada.
— Não, mãe estamos juntos de verdade. Ele me disse que me ama e
eu o amo também.
— Ah meu amor, vocês formam um lindo casal!Ele me parece um
homem muito bom atencioso. Você precisa ver como ele nos tratou quando
nos ligou dizendo que queria fazer uma surpresa para você.
—Ele já era maravilhoso comigo e com o Pietro, mas agora que o
conheço como homem — falo me abanando e sentindo levemente minha face
arder ao me lembrar da nossa noite de ontem.
— Então meu netinho ou netinha vai nascer em um lar de verdade? —
pergunta levando mais algumas coisas que tirou da mala para guardar.
— Sim e cercado por amor — falo com os olhos brilhando.
— Ah minha filha, fico feliz por você — falo com um sorriso e depois
o vi diminuir. — Achei que iria conhecer este país que você e seu irmão
decidiram morar, quando ele nos trouxesse para cá para ficar de vez, mas...
Nossa conversa tinha mudado e percebo quando ela se engasga não
conseguindo completar o pensamento. Neste momento mantenho meu olhar
fixo no teto para me impedir de chorar e quando a olho, percebo que foi falha
esta tentativa.
Mamãe não teve a oportunidade de se despedir do filho na época, foi
uma loucura e não tive condições de pagar sua passagem para que viesse dar
o último adeus ao seu menino. Não sei se isso é bom ou não já que por um
lado ela sempre terá a lembrança do meu irmão vivo, mas por outro sua morte
sempre vai parecer um fato distante, como se ele estivesse viajando e ela
ainda mantivesse esperança que a qualquer momento ele pudesse entrar em
casa gritando por ela e pedindo para que ela coçasse suas costas. Alvarez
sempre dizia que ninguém fazia isso igual a nossa mãe. Infelizmente isso não
aconteceria, não mais e pensar nisso faz com que minha cabeça doa sem parar
e sinta dor em respirar. Meu maninho que eu tanto amo não está mais entre
nós e começo a chorar de soluçar. Minha mãe, me abraça e pela primeira vez
choramos a nossa dor no mesmo ambiente.
— Calma Alba, você não pode se emocionar assim, pode fazer mal
para o bebê — fala minha mãe com seus braços em volta de mim tentando
me acalmar.
Ela sabe como era forte a ligação que meu irmão e eu tínhamos.
Tento fazer o que ela disse, porque realmente não quero me sentir mal
nem fazer mal para o meu bebê. Ouço uma batida na porta, ela é aberta
parcialmente, logo a cabeça do Joaquim aponta dentro dela e ele me olha
assustado.
— O que aconteceu?— pergunta atônito com uma expressão
preocupada no rosto.
— Conversamos sobre o meu filho e ela acabou se emocionando,
assim como eu — fala minha mãe com a voz chorosa.
Ele balança a cabeça dizendo que entende e se senta na cama. Minha
mãe se levanta e passa a mão levemente no braço dele até tocar a sua mão e
ele a aperta.
—Vou lá embaixo ver se sua mãe precisa de ajuda com o almoço —
minha mãe fala e ele assente.
Quando ouço a batida leve da porta indicando que ela tinha ido, olho
para ele que me envolve em seus braços e não me diz uma palavra sequer,
mas também não precisava. Ele é tudo o que eu preciso neste momento e seu
abraço me acalma e alivia minha tristeza.

Algumas Horas Mais Tarde


Pergunto-me o motivo da ex do meu marido frequentar tanto a casa
dos pais dele. Não que tenha direito em opinar sobre quem eles vão receber,
mas a forma como ela busca o olhar do meu marido o tempo todo em tudo
que faz ou conversa me irrita.
— O que está acontecendo, filha? Conheço essa sua carinha e quando
a faz.
Olho para minha mãe pensativa, enquanto enrolamos alguns docinhos
junto com a minha sogra.
— Ah mãe não é nada não, bobeira minha — falo me sentindo
ridícula.
— Filha, nada nunca deixa ninguém com essa carinha triste aí que
você está carregando.
Respiro fundo.
— Meu filho fez alguma coisa para te deixar assim? — pergunta
minha sogra com uma ruga de preocupação em cima da sobrancelha que ela
tinha erguido.
— Ah minha sogra, é bobeira minha e fico até sem graça de colocar
minhas inseguranças para fora, sem ter nada para me apoiar nelas. É só uma
cisma e não gosto de como a ex do Joaquim age, assim como a maneira que
ela o procura com olhar ou como pedi autorização a ele com o olhar.
— Entendo perfeitamente meu bem, mas fica tranquila meu filho te
ama e isso fica claro toda vez que ele te olha. Somos amigos dos pais da
Norah antes mesmo dos nossos filhos nascerem e a irmã dela é casada com o
meu filho mais velho, então mesmo depois de tudo que ela fez o Joaquim
passar, é impossível desligá-la da nossa família.
— Não e eu jamais quero que isso aconteça, só que me sinto estranha
como ela age como se a qualquer momento fosse voltar com o Joaquim.
—Gente acabamos de arrumar as coisas lá na sala, vocês já estão
acabando por aqui? O Ben não para de mandar mensagem para avisar que o
pai está impaciente.
— Por aqui terminamos também — fala minha sogra com um sorriso
no rosto.
— Tudo bem, meu amor? — pergunta se sentando ao meu lado,
tocando na minha barriga.
— Está sim. Vou me trocar para comemorar o aniversário do seu pai,
sem estar suja de brigadeiro — falo levando um dedo sujo com o brigadeiro
que tinha acabado de enrolar na boca, depois não resisti e peguei um na
vasilha que a minha mãe ajeitava com zelo.
— Para com isso menina, senão não vai sobrar nenhum para a hora da
festa.
— Deixa ela Consuelo, grávidas de meninas amam doce — fala
minha sogra divagando sobre o possível sexo do meu bebê.
— Humm isso explica, ela está uma chocólatra e me faz sair em busca
de coisas que têm chocolate igual louco, inclusive em horários péssimos de se
encontrar algum lugar aberto para comprar — Joaquim fala rindo, com
certeza se lembrando de algum momento em que eu o fiz ir atrás do meu
desejo. — Será que tem uma menina linda igual a mãe aí dentro, amor?
— É bem possível que sim — falo com um pequeno sorriso.
Dizem que mãe tem sexto sentindo e sabem o sexo do bebê. Acho que
meu sexto sentido está com defeito de fábrica, porque não faço ideia o que
meu bebê possa ser e todas as ultra que fizemos não conseguimos ver.
Elevandonossa ansiedade ao nível master.
— Independente de ser menina ou menino o importante é que venha
com saúde, porque não tem como o bebê de vocês não ser bonito.
— Nisso eu concordo com você Consuelo, meus meninos são lindos
— fala minha sogra olhando para a minha mãe e depois para o filho.
— Joaquim pode falar para o seu irmão que ele pode vir, não é mãe?
— Sim, eles podem vir. — Concordam minha mãe e sogra.
Já tínhamos organizado tudo na cozinha e eles na sala. Como Joaquim
disse todo ano eles comemoravam o aniversário do meu sogro e ele já sabia
de certa forma que quando voltasse teria uma festa surpresa.
— Vou correndo tomar um banho e já volto, mas antes quero mais um
docinho prometo que será o último até o horário de servir o bolo. — Não
consigo segurar a minha vontade de comer chocolate e estes brigadeiros estão
maravilhosos, foram feitos por minha mãe, ela sempre coloca nozes e ficam
uma delícia.
— Vai Alba pega e vá se arrumar. Nada de correria no seu estado
atual.
— Mãe estou andando igual uma pata, falei que correria mais por
força de expressão mesmo.
— Uma pata linda — fala Joaquim me olhando e sorrindo.

Mais tarde
—É a primeira vez que meu pai fica tão animado assim com uma
festa de aniversário e isso acho que se deve a culinária que sua mãe trouxe
para festa. Meu pai sempre gostou de conhecer coisas novas.
— Nossa culinária é rica e confesso que estava morrendo de saudade
da comida de casa, só vou evitar a pimenta para não passar mal. Quero provar
de tudo um pouco e poder sentir meus pés tocando no meu país novamente
— falo me lembrando das festas animadas que sempre fazíamos.
— Senti saudade do México, Alba?
Percebo um ar de preocupação na voz de Joaquim.
— Amo o meu país, a culinária, nossas músicas, mas agora o meu lar
é você e nosso filho — falo olhando em seus olhos.
Ele sorri e acaricia o meu rosto em um toque delicado.
Seguro sua mão e ele a leva nos lábios a beijando, me deixando mais
encantada do que já me encontro por ele. Sempre quis ser tratada do jeito que
ele me trata e ser olhada como ele me olha. Por fim, sinto seus lábios tocando
os meus, iniciando um beijo tranquilo e seguro. Sempre quis ser beijada desta
maneira e principalmente amada exatamente deste jeito. Às vezes acho que
ele saiu de um conto de fadas, mas nunca me vi como uma princesa, então o
melhor é considerar que isso não seja verdade, pois não quero perder meu
príncipe.
— Nossa estes tacos estão uma delícia — fala meu sogro se
aproximando de nós, assim que Joaquim afastou seus lábios dos meus.
— Este que o senhor está comendo é recheado de que? — pergunto
olhando para suas mãos. Vejo que ele está enganado e aquilo não é taco, mas
sim tortilhas.— Humm, meu sogro acho que o senhor se confundiu. Eles são
parecidos, mas não são iguais. Esta tortilha é uma espécie de panqueca, feita
de trigo ou milho, mas a minha mãe sempre faz com milho.Minha mãe
considera mais saborosa e pode ser comida com carnes e vegetais. Para
acompanhar, nada melhor que uma boa tequila, mas isso é para os fortes —
falo e dou risada.
— Está me chamando de fraco? — indaga meu sogro como se tivesse
o desafiado a provar o contrário.
—Não, que isso... Imagina... Longe de mim pensar uma barbaridade
desta do senhor, mas vamos deixar a tequila para outra hora, né meu sogro?
— Eu tomaria uma dose caso tivesse — fala com um sorriso travesso.
— Pai, se tivesse eu te acompanharia.
— Vocês estão falando de tequila? — meu pai diz e vem sorrindo na
companhia das minhas duas irmãs.
— Paiii! Não me diga que o senhor trouxe tequila?— pergunto sem
acreditar, me fazendo pensar o que mais eles haviam trazido na mala de
viagem.
Rio imaginando o que poderia ser tais coisas, poderia ser inclusive
Margô, a galinha de estimação da minha mãe, mas ela ficou em casa.
Isso me fez rir mais uma vez por imaginar a confusão que seria trazer
uma galinha para cá.
—Se não trouxesse uma da boa, não seria eu — fala com ar orgulhoso
me levando a rir.
— Então pega lá para nós! — meu sogro pede com um ânimo
contagiante.
Alguns minutos depois meu pai surge com a garrafa debaixo do
braço.
— Vou ensinar como se toma tequila, segure o copo com apenas uma
das mãos, coloque o sal entre o dedão e o indicador da mão em que segura o
copo e com a outra mão segure o limão — fala rindo.
— Vamos falar e fazer os movimentos de arriba,abajo, al centro y
adentro[13].
Meu pai como um bom professor ensinou os movimentos, não que
alguns já não os soubessem, mas ele amava fazer isso. Foi ele que me
ensinou na minha primeira vez e o treco desceu pegando fogo por onde
passava na minha garganta. Após todos elevarem o copo ao centro,
mandaram para dentro, as mulheres gritaram e os homens, especialmente meu
marido balançou a cabeça e ficou vermelho me fazendo ri.

— Você é muito boa em interpretar — Norah fala.


Olhei para ela sem entender onde estava querendo chegar com aquilo.
Quando a vi vindo atrás de mim, achei que iria oferecer ajuda, mas
pelo que vejo tinha vindo com outros planos.
— Não estou entendendo? — falo pegando a bandeja em cima da
mesa com os pratos de bolo cortado.
— Não se faça de boba menina, sabe muito bem o que estou querendo
dizer — fala segurando meu braço e me impedindo de sair.
Cobra velha vai envenenar outro, foi o que veio na minha mente, mas
o que respondi foi outra coisa mesmo querendo dizer bem mais do que
pensei.
Quem ela pensa que é para vir tirar satisfação comigo por alguma
coisa?
— Não sei não e sendo sincera nem faço questão de saber. Quero que
você suma da minha frente e nem passe perto do meu marido. — Alerto
tirando seu aperto do meu braço e sinto meu corpo tremer por dentro.
Essa mulher nunca me enganou e agora vejo que estive certa o tempo
todo que mantive um pé atrás com ela.
— O seu casamento com o Joaquim não é real, ele te trouxe aqui para
se passar por mulher dele e para dar a entender que não sente mais nada por
mim, mas só de saber que ele fez isso sei que ainda me ama e...— Sorriu
antes de concluir. — Sei que ainda não é tarde para nós dois.
Ela me deixou sem ação ao dizer que sabia sobre nosso casamento de
fachada, a princípio realmente o que Joaquim e eu tínhamos não era de
verdade, mas agora é e ouvi-la achando que não sou um peso para ela me faz
ficar ressentida com Joaquim por ter me exposto desta maneira.
Consigo me desvencilhar, volto para a sala, coloquei a bandeja com
os pedaços de bolo em um local para que todos que quisessem pudessem
pegar, mas a festa já tinha perdido a graça para mim. Fiquei ali sentada,
pensando e revivendo tudo que ela tinha me dito.

Mais tarde todos foram dormir e subi para o quarto. Joaquim tinha
subido antes para tomar banho e quando entrei no quarto ele estava saindo se
secando.
— O que aconteceu para você mudar de uma hora para outra?
— pergunta enxugando a água do cabelo recém-lavado, tentando desvendar
meus olhos.
— A sua ex veio me chamar de boa farsante — falo o olhando
intensamente, pois queria ver qual seria sua reação.
Ele bufa e dá uma risada que me parece ser de desgosto.
— Como ela pode ir tão longe? Eu sabia que algo ia acontecer.
— Por que você contou para ela sobre nós, se antes mesmo da gente
se acertar você desejava que isso ficasse apenas entre nós?
— Eu não contei nada para ela... Contei para o meu irmão, porque
nunca tivemos segredos um com o outro e ainda disse para ele que eu estou
apaixonado há meses por você, mas me mantinha firme em não avançar o
sinal para não colocar tudo a perder — fala terminando de vestir uma blusa
cinza, se deita ao meu lado e me puxa para mais perto.
— Ela quer você. — Minha voz saiu presa na minha garganta pelo
medo que sinto em perdê-lo.
— E eu quero você — fala me beijando no nariz e depois me ajeitou
em seus braços dando aquele assunto como encerrado.
“O casal perfeito não é aquele que nunca tem problemas,
mas sim aquele que apesar dos obstáculos
sempre permanece junto.”
Autor desconhecido.

Manhã Seguinte
Desço a escada para tomar café e vejo que mais uma vez dormi mais
que a cama.
Olho meu relógio de pulso e são dez horas da manhã. Nunca tive
tanto sono assim em toda a minha vida e parece que resolvi dormir pelos
próximos meses que não dormirei por ter um bebê recém-nascido em casa.
— Bom dia meus sogros, onde está o restante do pessoal? — pergunto
preocupada, pois não vejo minha família.
— Seus pais e irmãs saíram logo depois do café da manhã animados
para conhecer a cidade e a minha nora foi acompanhá-los no passeio turístico.
Ela me pediu para te avisar que não te chamou, porque queriam bater perna e
você se cansa por causa da barriga. Levaram o Pietro e ele estava todo
animado — minha sogra fala com um sorriso.
— E o Joaquim, onde está?
Vejo minha sogra neste momento mudar a expressão no seu rosto e
me olhar pensativa antes de responder.
— Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo?
Ela respira fundo antes de me responder.
Sempre fui rápida em meus pensamentos e mais rápida ainda em
expressá-los.
Ela assente com a cabeça aumentando minha preocupação por não
saber onde meu marido está.
— O Henry esteve aqui junto com a Norah para tomar café com a
gente como sempre fazemos depois do aniversário do meu velho. É um
costume nosso comer o bolo com um café bem forte, mas ela e o marido
tiveram um pequeno desentendimento e Joaquim está com ela na sala de TV
ajudando-a se acalmar — fala e olha para o marido que toca sua mão.
— Pequeno desentendimento é delicadeza da minha esposa, a coisa
foi feia Alba e acredito que aqueles dois não tem mais jeito — declara meu
sogro em um tom de voz que julgo ser preocupado.
— Entendo, espero que tudo fique bem para ela. É ruim ver um casal
com anos de história se separando, mas espero que ela não use isso como
desculpa para continuar dando em cima do Joaquim. Desculpe-me meus
sogros, mas não gosto de como ela se comporta na frente do meu marido
— falo tomando meu café e comendo um pedaço de bolo.
Minha real vontade era voar na sala para ver o que estava
acontecendo, mas até terminar meu café me manterei firme aqui. Assim que
termino percebo que Joaquim ainda continuava trancado com ela na sala de
TV, me levanto e aviso aos meus sogros que iria ver Joaquim.
Caminho pensativa até lá com o meu coração apertado, empurro
levemente a porta tão leve que não cheguei a ser notada pelos dois.
— Sei que você ainda me ama e só inventou toda esta loucura de
casamento porque não queria vir sozinho e que eu soubesse que ainda não me
esqueceu — fala envolvendo os braços ao redor do pescoço dele, o puxando
para mais perto de si e o beijou.
Até ali, mesmo não gostando do que estava vendo, aceitava por ser
somente ela o beijando, mas quando ele colocou a mão em volta da sua
cintura, não foi preciso que visse mais nada, até porque minhas lágrimas
embaçaram minha visão me impedindo de ver qualquer coisa que fosse.
Saio dali e subo a escada limpando minhas lágrimas com as costas das
mãos, entro no quarto que Joaquim e eu nos amamos. Lugar onde ele me
disse não só uma e sim várias vezes que me amava, mas depois de ter visto
aquela cena me senti uma idiota por ter acreditado em cada palavra que saiu
da sua boca. Visto-me para sair, preciso tomar um ar clarear para minha
cabeça e entender tudo que acabei de ver. Pego a minha carteira e o celular e
saio de casa.

Uma hora antes


Antes de sair do quarto, ajeitei as cobertas em volta da Alba, fiquei
alguns segundos a olhando dormir e me sentindo o cara mais sortudo do
universo por tê-la encontrado. Não sei como vivi tantos anos sem ter o que
nós temos agora.
Um tempo depois saio do quarto o mais devagar que posso para não a
despertar, acordar cedo é uma mania dos Fullin e não dos Flores.
— Bom dia família — falo entrando na cozinha.
Observo que a mesa de café já está posta e vou até a minha mãe
beijando o topo da sua cabeça. Cumprimento meus sogros, cunhadas, irmão,
sobrinhos e para meu desgosto junto com eles estão Norah, seu marido e pela
primeira vez vejo seus dois filhos. São duas crianças lindas, o menino deve
ter uns seis anos e a menina uns quatro, eles poderiam ter sido nossos filhos
caso o casamento tivesse acontecido. Sento-me ao lado do Manolito e recebo
seu cumprimento.
— Alba ainda dorme? — pergunta minha sogra e confirmo com um
sorriso olhando para escada que me levava até ela.
—Ela sempre foi boa de cama, quando era pequena dava um trabalho
enorme acordá-la de manhã para ir para escola e olha que ela sempre amou
estudar— fala Manolito parecendo distante com esta lembrança.— Não é
minha prenda? — pergunta e olha para Consuelo que confirma com um
sorriso.
— Humm e ela me disse que foi a gravidez que a deixou sonolenta —
falo sorrindo ao falar sobre minha Bela Adormecida.
— Não mesmo, Alba sempre dormiu mais do que a cama — fala
Janna, uma das irmãs da Alba.
Sol, a outra irmã, sempre sorria, mas falava pouquíssimo.
A conversa em volta da mesa foi gostosa, embora toda vez que eu
acabava olhando na direção de Norah por meu pai estar ao seu lado a via
empertigada[14] na mesa.
— A conversa está boa e o café uma delícia, mas vamos dar nosso
tour por aí senhora Consuelo e senhor Manolito — fala Robbin se levantando
e levando com ela boa parte da mesa.
— Eu posso comer mais um pedaço de bolo mamãe? — a filha de
Norah pergunta.
Norah olha para a filha, dá um sorriso, pega o prato que está em frente
a ela e quando segue em direção ao bolo, o marido a impede com um olhar
severo.
— Henry é só mais um pedaço de bolo, por favor não crie confusão
por isso.
Aquele pedido junto ao olhar que ela direcionava ao marido, eu
conhecia e por mais que não me interessa saber qual era o drama entre eles
aquilo não me passava despercebido.
— Esta menina está obesa, só come besteira e já conversamos sobre a
alimentação dela, mas você parece fingir não me ouvir. Uma das únicas
coisas que você faz bem, como dona de casa, porque o restante... — fala
sorrindo com um pequeno deboche velado.
Mesmo não sendo da minha conta, aquilo me irrita e não é pela
mulher, mas sim pela criança. É apenas um pedaço de bolo e a forma como a
chamou de gorda não foi legal, ela é uma criança e o corpo dela está em
constante mudança até definir se seria gorda ou magra, mas um pai agir assim
é imperdoável.
— Vá a merda Henry, você como homem até que é um ser razoável,
mas como marido e pai é uma vergonha. Só sabe sair para beber e chegar em
casa com bafo de álcool e puta da rua. Agora quer me dizer como a nossa
filha deve se alimentar? — fala Norah se mostrando afetada com suas
palavras permitindo que as emoções viessem à tona com lágrimas.
— Calma aí gente, se vocês estão com problemas resolvam em casa.
Não aqui na nossa frente e pior ainda na frente dos seus filhos — meu pai
fala tentando recobrar a razão e os ânimos alterados dos dois, enquanto
apenas observo toda a situação sem expressar nada.
— Desculpa senhor Wilson, não queria fazer esta cena na sua frente
nem da sua família, mas temos passado por problemas. Norah desde que seu
filho chegou não para de me comparar a ele e lamentar o que perdeu se
casando comigo. Não tenho problemas com álcool, mas estou desempregado
há meses e com isso me sinto menos homem. Norah não perde oportunidade
para me diminuir e quanto a nossa filha, minha mãe morreu ano passado com
diabetes e obesidade ela nunca se cuidou e morreu cedo demais. Por isso me
preocupo com minha filha crescer e ir para o mesmo caminho da minha mãe.
Não sou um homem mau e muito menos um péssimo pai, o único erro que
cometi nesta vida foi me envolver com ela sabendo que estava de casamento
marcado com seu filho, mas eu a amo, assim como a família que
construímos. Só que ela ultimamente está me levando a loucura.
Sei bem o que é isso, pois ela me levou à loucura por dez anos e
somente agora estou voltando a me sentir vivo.
Norah se levanta nervosa e diz:
— Deixa de ser ridículo Henry! Agora vem se fazendo de vítima e me
colocando como culpada, por isso que não quero mais você e o quero longe
da minha vida e dos meus filhos.
Neste momento as crianças já choravam pelo descontrole do casal na
mesa.
— Você não vai me separar dos meus filhos, você está me ouvindo?
Sei bem aonde você quer chegar com isso... Seu ex não quer mais nada com
você, não está vendo que perdeu sua chance com ele?
Ela se levanta da mesa e eu me levanto junto com ela, a impedindo de
fazer qualquer coisa que possa vir prejudicar a saúde dos meus pais, afinal
eles não têm mais idade para isso.
— Henry, por favor saia com as crianças para esfriar a cabeça e
deixar a Norah aqui para esfriar a dela. Depois vocês tentam conversar longe
dos seus filhos, problemas do casal tem que ser resolvido entre quatro
paredes, somente entre vocês dois — falo e ele concorda comigo.
Henry se levanta e sai levando as crianças. Ele me parecia ser um
bom homem, embora ainda não gostasse dele. Para falar a verdade deveria
amá-lo, porque se não fosse por ele seria eu agora no seu lugar e só de me
imaginar vivendo isso me sinto nauseado.
—Você não imagina o que tenho passado nestes últimos meses
Joaquim, equilibro a casa sozinha e cuido das crianças, enquanto ele fica
sentado em frente à TV assistindo canal de esporte — fala como sua vida
anda uma merda.
— Isso é só uma fase ruim Norah e vai passar, mas para isso você tem
que se manter firme. Ele está passando por um momento difícil e você tem
que tentar ser mais compreensiva. O cara perdeu a mãe há pouco tempo e
como ele mesmo disse é muita coisa para assimilar junto com perda do
emprego.
— Joaquim, eu não o quero mais... Ele me traiu e não tolero isso em
um relacionamento — fala me deixando surpreso.
Como ela poderia ser tão egoísta assim, a ponto de abandonar o cara
que esteve com ela por dez anos em um dos piores momentos da vida dele.
— Sério, que você está dizendo isso justo para mim? Não se esqueça
que você me traiu com ele, então deveria ser a primeira pessoa a entender
uma traição — falo achando graça.
Era inacreditável ter que ouvir isso dela.
— Sei que você ainda está magoado com o que fiz e me arrependo
demais. Estava louca e quando somos jovens fazemos besteira — fala
segurando a minha mão.
Eu me sinto incomodado pelo seu toque e entendo que ela quer
demostrar que ainda temos cumplicidade.
— Estive magoado por um ano, depois senti raiva de você e agora não
sinto nada. Apenas estou incomodado pela maneira que a vejo agindo e
achando que algum dia poderemos voltar a ser um casal. Está claro para mim
que isso nunca vai voltar a acontecer, amo a minha mulher e a família que
estamos construindo. Jamais perderia tudo que somos e ainda seremos por
sua causa.
Ela balança a cabeça e sorri mostrando não acreditar nas minhas
palavras.
— Sei que você ainda me ama e só inventou toda esta loucura de
casamento porque não queria vir sozinho para que eu não soubesse que ainda
não me esqueceu.
Vejo-a se aproximando de mim, passa os braços ao redor do meu
pescoço, me puxa como se eles fossem um gancho e me beija sem que eu
pudesse impedir, me deixando atônito.
Ela acabou de me dizer que não tolera traição e o que faz?
Quando dou por mim, coloco minhas mãos na sua cintura e a afasto
de mim.
— Você ficou louca? Qual parte de que eu não quero mais você, não
entendeu? — falo em um tom mais áspero, alterado me levanto e saio.
Observo que a porta que tinha fechado entreaberta e acho estranho,
mas não me prendo a isso.
Entro na cozinha e vejo meus pais quase na mesma posição em que eu
os deixei.
— Como foi? — indaga meu pai curioso.
— Henry está certo em dizer que ela realmente acha que nós dois
poderíamos voltar, do nada ela me beijou — falo sem acreditar como ela foi
capaz de fazer isso.
— E a Alba? — minha mãe pergunta.
Olho para a minha mãe sem entender e me sinto confuso e perdido.
Onde Alba entra nessa história?
— O que tem a Alba, mãe? Ela está dormindo lá em cima ainda.
— Não está não. Ela acordou, tomou café com a gente e foi atrás de
você na sala.
Não acredito na merda que aconteceu, se foi Alba que deixou a porta
da sala entreaberta então…
Este pensamento me faz levantar da cadeira e subir a escada correndo
com meu coração temeroso. Ela com certeza tinha me visto com Norah em
uma situação que fica aberta a várias interpretações e como vinha
demonstrando insegurança não foi a melhor interpretação por parte dela.
Quando abro a porta do quarto a procuro com o olhar em desespero e
não a encontro. Vou até o banheiro e ela também não está lá.
Puta merda, o que está acontecendo?
Não é possível que vou perder a minha mulher por causa de algo que
nunca mais vai existir.
Desço a escada com a mesma rapidez que a subi e saio na rua sem me
preocupar em me agasalhar para enfrentar o frio que está lá fora.
Coloco a mão no alto da cabeça olhando de um lado para o outro e
não vejo nem rastro de Alba.
“1 universo, 8 planetas,
204 países, 809 ilhas,
7 mares, 7 bilhões de pessoas.
E a única pessoa que eu preciso para ser feliz é você!”
Bob Marley

— Meu Deus Alba, quando você me disse por telefone que estava
grávida, não achei que estivesse tão grávida assim — fala passando a mão em
meu ventre e sorrio, controlando o desejo absurdo que sinto de chorar.
— Estou com seis, quase sete meses.
— Sabe o sexo? — indaga curiosa.
— Ainda não, todas as ultrassonografias que fiz ele ou ela estava em
uma posição que não favorecia, mas todos estão chutando que é uma menina.
—Entra, por favor, fiquei tão apaixonada pela sua barriga que até me
esqueci de te mandar entrar.
— Tudo bem, eu que te devo um pedido de desculpas por invadir sua
casa faltando dois dias para o Natal, mas precisava respirar um pouco de ar
puro e pensar no que vou fazer, antes de fazer uma loucura.
— Conte-me o que aconteceu — fala e me segura pelo braço.
Caminhamos até a cozinha e me sento em uma cadeira encostando as
minhas costas.
— Vi o meu marido beijando a ex dele hoje pela manhã e na noite
anterior tínhamos conversado sobre isso. Eu disse para ele que ela ainda tinha
esperanças de que eles pudessem reatar e ele me afirmou que não tinha, mas
hoje vejo um grudado na boca do outro.
— Você fez o que? Deu na cara dele e na dela, não é?
— Não eu saí e mandei uma mensagem para minha mãe cuidar do
Pietro por algumas horas, pois precisava sair. Andei sem rumo até me
lembrar que você não morava muito longe de onde estava, te liguei e agora
estou aqui.
— Vou fazer um chocolate quente para gente e pare de chorar pelo
amor de Deus Alba.
Tento limpar as minhas lágrimas e fazer o que Nancy pediu, mas é
inútil. As lágrimas estão vindo com força e por mais que tente não consigo
parar de chorar, pois a vontade de continuar é maior do que eu.
— Não estava à procura de alguém, mas Joaquim me pareceu tão
perfeito que não conseguir dizer não. Passei por tantas coisas e ele apareceu
no momento que eu mais precisava com aqueles olhos azuis incrivelmente
bonitos, acompanhado de uma voz que me faz arrepiar toda vez que a escuto.
Nunca me sentir assim com ninguém Nancy — reclamei perdida em minhas
lembranças.
— Estou vendo... Nunca te vi assim por ninguém — fala me
entregando a caneca de cerâmica.
Pego a caneca e envolvi minhas mãos nela para esquentá-las, porque
lá fora está frio e parece que mesmo estando aqui alguns minutos ainda sinto
o frio percorrer o meu corpo.
— Vocês transaram ou ainda é a mulher de mentirinha dele? Amiga
me senti lendo um livro da Sabrina ao ouvir suas histórias — fala se sentando
em frente a mim com um pequeno sorriso ao divagar no meu romance que
estava mais para uma tragédia no momento.
— Sim e foi maravilhoso, ele disse que me amava várias vezes e que
a partir daquele momento iria me fazer sua mulher. — Respiro fundo com a
lembrança. — Ledo engano da minha parte, olha só no que deu aquele açúcar
todo.
— Não sei não Alba, você deveria ter ficado e tirado satisfação e não
sair como uma menina assustada que você nunca foi. Esta não é a Alba que
conheço.
— Esta mulher que ele estava beijando, não é a ex dele que o traiu
perto do casamento?
Afirmo positivo com a cabeça, levando a caneca na boca, soltando um
gemido prazeroso ao sentir o gosto do chocolate quente e instintivamente
fecho meus olhos. Mesmo me sentindo pior que no dia em que recebi uma
cagada de pombo no meu cabelo recém-lavado, chocolate me deixa feliz.
—Esta mulher quer seu marido para ela, Alba. Você saindo, deixa o
caminho livre para que ela consiga o que pretende. Ele não me parece ser o
tipo de homem traidor.
— Talvez você tenha razão, mas será que posso ficar aqui pelo menos
esta noite e colocar minhas ideias no lugar?
— Claro, vou adorar ter a minha amiga por uma noite e relembrar os
velhos tempos. O que você acha de comer, filmes e séries?
— Hum, é tudo que eu mais preciso.

— Bom dia mãe, bom dia pai fomos os primeiros a acordar? —


pergunto entrando na cozinha, indo até minha mãe que estava com a chaleira
na mão passando o café e dou um beijo no seu rosto.
— Sim, mesmo não precisando seu pai e eu não perdemos a mania de
acordar junto com as galinhas — fala com um sorriso nos lábios.
— Acho que isso é de família, sempre sou o primeiro a chegar na
garagem. — É a maneira que chamo onde produzo os móveis para a minha
loja.
— Como você está meu filho? — minha mãe pergunta, segue na
minha direção e coloca três xícaras na mesa.
Olho-a tentando entender entre as entrelinhas dos seus pensamentos
antes que ela o expusesse.
— Mãe, se disser que estou bem estarei mentindo. Passei a noite em
claro, porque a única coisa que sei da mulher que amo é por uma mensagem
que ela mandou para o celular da minha sogra. Ela está na casa de uma amiga
que me lembro quem é, porque quando falei onde vocês moravam e ela me
disse que tinha uma amiga da faculdade que veio morar aqui após receber
uma proposta boa de emprego. Ela está chateada comigo pensando que sou
um traidor.
— Então filho me desculpe, mas acabei ouvindo a sua conversa
ontem com a Norah e...
Passo a mão no rosto cansado daquele assunto.
Norah depois de ter feito o estrago na minha vida por causa daquele
beijo, acompanhou parte do meu desespero procurando por minha mulher e
ainda teve a audácia de falar perto dos meus pais sobre o meu casamento.
Agora virou um assunto que não tenho como fugir dele, conheço a mãe que
tenho. Não adiantaria só dizer o que está na cara que é que amo minha
mulher e não vejo um futuro entre Norah e eu. Eu vou atrás da mulher que eu
amo e não a deixarei pensar em sair da minha vida.
— Entendo mãe, a senhora ficou em dúvida sobre o meu
relacionamento com a Alba. A senhora tem toda razão de me perguntar e
ficar preocupada. Tenho que pedir desculpas para a senhora e o senhor pai,
falhei por dez anos me afastando e fazendo vocês enfrentarem horas de
viagem para me ver, porque não queria vir para cá e relembrar tudo que
passei. Quando a mamãe me ligou dizendo que este ano queria todos aqui no
Natal por conta dos problemas de saúde que o senhor passou, fiquei meio
louco e tudo me levou onde estou agora. Conheci Alba e ela me pareceu
descente demais, fiz uma proposta louca e ela aceitou em me dar um filho,
então o que iria ser somente uma farsa, resolvi oficializar e caso acontecesse
algo comigo, ela e meu filho estariam protegidos por lei. — Termino de
contar o que planejei, desvio meu olhar da xícara e olho para minha mãe.
— Não esperava isso de você meu filho. Você sempre foi certinho
demais, mas não posso dizer que não fico grata por tudo que aconteceu na sua
vida através desta louca proposta.Vejo nos seus olhos que você e a mãe do
seu filho ou filha se amam. Como diz o ditado, “Deus escreve certo por
linhas tortas” e se fosse diferente vocês nunca teriam uma chance. Há dez
anos venho orando para que isso acontecesse na sua vida, fico grata por Deus
ter ouvido minhas preces e tê-la colocado no seu caminho.
Estou me sentindo envergonhado pelo que tinha feito, de certa forma
traí a confiança da minha família e a minha mãe faz isso comigo?
— Agora se levanta daí Joaquim e traz a Alba de volta para que
possamos explicar todo este mal-entendido. Se ela te ama como eu acredito
que sim, vai querer te ouvir e te entender.
— Mãe, tentei ligar para ela a noite toda, mandei mensagem e ela não
quis falar comigo. Disse onde estava para me tranquilizar através de uma
mensagem para a mãe, ela informou que estava bem, mas não queria falar
comigo ainda e não vejo outra maneira a não ser respeitar o seu desejo.
—Se fosse contar meu filho quantas vezes a sua mãe não quis falar
comigo e muito menos olhar na minha cara, olha perdia as contas. Se tivesse
a ouvindo não existiria você e nem muito menos seu irmão, não é amor?
—Humm toda semana... No início do casamento começou a aparecer
nossas diferenças, falava para o seu pai sumir da minha frente que não queria
vê-lo nem pintado de ouro e cravejado de diamante e para o meu desgosto
seu pai nunca me ouvia. Brigávamos e depois fazíamos as pazes da melhor
forma possível — fala minha mãe com um sorriso no rosto e a expressão de
quem não estava com os pés na terra.
— Velhos tempos... — fala meu pai divagando perdido em algum
lugar distante da sua mente, enquanto imagino se irei ter a mesma sorte com a
Alba.
— Tempos bons meu velho — responde minha mãe segurando a mão
do meu pai sobre a mesa.
— Vocês têm razão, vou atrás dela — falo e me levanto certo de onde
ir, mas não certo do que farei para tê-la de volta.

Algum tempo depois estaciono o carro em frente à casa, onde


Consuelo tinha me passado o endereço para me tranquilizar, mas pediu que
não fosse atrás Alba. Ela ainda não queria me ver e estava respeitando sua
vontade, até minha mãe me dizer que não devia dar espaço para ela desistir
de tudo que nós temos e estou louco só em imaginar que ela possa vir a
desistir de nós dois.
Saio do carro e caminho até a porta de casa. Toco a campainha, passa
alguns segundos e sou atendido por uma moça que julgo ser a amiga que
Alba me falou algumas vezes.
— Bom dia, sou Joaquim.
Ela sorri como se esperasse que a qualquer momento fosse bater na
sua porta a procura de Alba e o mais interessante é que não me olha com
olhar torto ou cara feia, porque é certo que Alba se abriu com ela contando
tudo que tinha acontecido, visto e interpretado de maneira errada.
— Sim eu sei quem você é, falamos a noite toda sobre você. Entra,
por favor.
Nancy, acho que é este o nome dela, abre a porta após ter feito o
convite, se afasta para que eu entre, assim faço e a acompanho até o sofá
receoso.
— Hum, imagino — falo fazendo uma careta ao imaginar que boas
coisas não foram e ela sorri ao perceber meu desconforto.
— Sente-se, por favor, fique à vontade Joaquim.
Sento-me a analisando com mais atenção.
— Pode ficar tranquilo que acredito na sua inocência, embora não
esteja em um tribunal e nem seja uma juíza eu te declaro inocente —
fala com bom humor.
Se não estivesse tão preocupado em como vai ficar a minha situação
com Alba ela me faria rir, mas talvez isso possa vir a acontecer quando tudo
isso for apenas uma lembrança distante e Alba estiver de volta em meus
braços.
— Provavelmente aconteceu algo errado no que Alba viu e eu mesmo
a aconselhei a voltar e conversar com você. Por tudo que há meses
conversamos sobre você, me faz acreditar que é um cara decente. Por favor,
me diga que estou certa e que você não é um babaca que vai ferir o coração
da minha amiga.
Ela estava falando tanto que conseguia me deixar mais nervoso do
que me encontrava e só consigo pensar onde estava Alba.
— Jamais teria feito promessas vãs para Alba, se disse que a amo é
porque amo — falo com toda convicção que sinto dentro de mim, sem por
um momento desviar os meus olhos do rosto de Nancy.
Se tivesse que passar por ela antes de chegar em Alba eu o faria na
certeza que sairia com vitória, porque a verdade está comigo e sendo assim
tenho que apenas me mostrar seguro e inabalável.
— O que aconteceu? — pergunta com curiosidade.
Eu só quero saber onde está Alba e esta conversa devo a ela e não a
sua amiga. Ela terá que se conformar com o que disse minutos atrás, que amo
a Alba o suficiente para me manter fiel como um cachorro.
— Nancy é este o seu nome, não é?
Ela confirma.
— Desculpa se estou sendo indelicado, mas não dormi a noite toda
com o meu pensamento aqui com Alba e como ela estava se sentindo, mas
respeitando o tempo que ela tinha me pedido. Só que hoje não deu mais,
então a única coisa que desejo, é saber onde a minha mulher está — falo
sentindo o meu peito comprimir devido à minha angústia.
Ela fica um tempo pensativa me olhando.
Passa mil coisas pela minha cabeça neste meio tempo e nenhuma
delas é positiva. É engraçado como a nossa mente pode ser um buraco negro
que só nos leva mais para baixo em vez de nos trazer de volta a borda.
— Aí caramba, me desculpa mesmo. Quando te vi na porta só pensei
em checar a sua história e depois de ter certeza de que você não iria ferir a
minha amiga te diria onde ela está.
Suas palavras me deixam apreensivo.
— Então você quer dizer que ela não está aqui? — pergunto certo da
resposta.
— Não, ela não está. Foi a primeira vez que vi Alba se levantar cedo
da cama e sair.
— Sabe me dizer para onde ela foi? — pergunto endireitando meu
corpo para me levantar do sofá.
— Ela acordou com desejo de comer bolo...
— De chocolate com nozes. — Completo com um sorriso sem esperá-
la terminar a frase.
— Sim, isso mesmo. Como sabe? Ela me disse que quem corria atrás
de realizar os seus desejos era você, mas como não estava ela mesmo iria. Ela
está no shopping.
— Nos últimos meses todos os desejos de Alba têm a ver com
chocolate — falo sorrindo despreocupado pela primeira vez no dia.
— Ela sempre gostou de chocolate e a gravidez só intensificou isso.
— Nancy confirma as minhas suspeitas.
— Nancy vou atrás de Alba e esclarecer tudo que aconteceu antes que
tenha um ataque cardíaco.
— Nossa que exagerado! — fala em um tom divertido e me levanto.
Agora entendo, porque Alba gosta tanto dessa menina.
Quero poder conhecê-la melhor em um momento melhor.
— Entendo, vá lá e corra atrás da Alba. Não se esqueça de passar em
uma floricultura, mas compra as que vem no vaso, por favor — fala abrindo a
porta da casa e saio como um louco.
“Foi por acaso que você entrou na minha vida,
mas peço que fique nela de propósito.”
Autor desconhecido.

Caminho pelas ruas observando o movimento das lojas devido o


Natal.
Neste momento junto ao vento congelante que toca meu nariz, me
fazendo arrepiar até a espinha me bate o arrependimento. Abaixo a cabeça,
enquanto levo minhas mãos no cachecol e o levanto mais até que cubra a
minha boca e depois o nariz. Só saí porque estou morrendo de vontade de
comer um pedaço de bolo de nozes com chocolate quente e só de me lembrar
o gosto quase chego a me afogar na minha própria saliva de tanto que ela
aumenta na minha boca.
Entro no shopping e ando devagar observando as lojas e as pessoas
que passam por mim, até me encontrar na mesma pracinha de alimentação de
alguns dias atrás. Vou até o caixa, faço meu pedido e pago, por causa do
horário a pracinha ainda está vazia e fácil de achar um lugar para me sentar.
Pego meu garfo, parto o primeiro pedaço do bolo e o levo na boca. Fecho
meus olhos e acabo gemendo baixo.
Humm, que delícia!
A cada pedaço vejo meu arrependimento por ter saído diminuir, até
acabar junto com o bolo e o chocolate quente. Ajeito-me na cadeira, alisando
minha barriga com uma mão e a outra pego meu celular na bolsa que está no
meu colo. Desbloqueio-o, vejo algumas mensagens não lidas no ícone do
whatsapp e quando abro, vejo a foto da minha mãe, Joaquim e Nancy.
Momentaneamente ignoro minha mãe e Joaquim por saber o que eles
querem, o que me leva direto a mensagem de Nancy.
“Alba o Joaquim esteve aqui atrás de você e ele é um gato.
Estava certa quando te disse que tem algo errado nessa história e por
isso falei onde você estava.
Acredito que ele está indo atrás de você aí no shopping, por isso não
banque a boba, deixe-o falar e só depois tire as suas conclusões.
Amiga não fica brava, mas seu marido é um gato!
Que olho é aquele?
Está bem servida, hein gata?”
No fim da mensagem tem três bonequinhos emojis[15]com olhos de
coração.
Depois que leio a mensagem, sinto que meu coração vai sair pela
garganta e só de imaginar que a qualquer minuto irei dar de cara com
Joaquim, sinto um frio na barriga, pois ainda não me sinto preparada para um
encontro.
Confiro o horário que minha amiga enviou a mensagem e ela já tinha
40 minutos.
Meu Deus!
Guardo o celular e quando levanto a minha cabeça meus olhos se
encontram com os de Joaquim que vem em minha direção como se fosse um
para-raios o atraindo para si. Ele caminha se aproximando, tudo a minha
volta parece reduzir de velocidade até que ele para na minha frente.
— Alba.
Sua voz é baixa e melodiosa como sempre e se não estivesse grávida
de seis meses jurava que tinha acabado de ter uma pequena contração só em
ouvi-la.
Como amo este homem!
Não consigo evitar este pensamento.
Nancy tem razão, precisamos conversar e ouvir o que ele tem a me
dizer a respeito do que eu vi, afinal fugir não vai nos levar a lugar nenhum.
— Joaquim. — Minha voz sai quase esganiçada[16] pelo misto de
emoções que ele me provoca só em estar na minha frente.
— Posso me sentar? — pergunta apontando para cadeira a minha
frente.
Confirmo com a cabeça, pois meu coração bate tão rápido e forte que
me impede de dominar a minha fala.
Ele me olha com profundidade maior do que me lembrava ter visto
antes, a não ser quando fizemos amor pela primeira vez e disse que me
amava.
Ignora a cadeira a nossa frente e se senta ao meu lado.
— Precisamos conversar.
— Sim, precisamos. — Concordo com ele.
— O que você viu ontem quando foi me procurar na sala, não é o que
você está pensando. Por que teria motivos em te trair justo com a mulher que
me traiu um dia?
Pisco algumas vezes irritada, pois ele sabe muito bem o que vi.
Por que está me forçando a dizer que o vi com a língua na boca de
outra mulher?
Se isso não foi traição eu não sei o que mais seria.
— Ah, é... Então por que sua língua estava dentro da boca dela?
Passo a mão irritada na minha bolsa, minha vontade agora é sair daqui
e o deixar plantado feito um dois de pau, mas sei que precisamos conversar.
Por fim no que mal tínhamos começado e deixar claro que nosso maior
envolvimento é o nosso filho.
— Alba, ela me beijou e… — Ele parece pensar no que vai falar e
isso mostra sua culpa. — Por um momento me deixei levar, mas não senti
nada. Absolutamente nada. Diferente do que sinto quando te beijo — fala me
fazendo rir irônica.
— Joaquim consigo te entender, se manteve apaixonado por sua ex
por muitos anos e até então se manteve longe dela. Quando teve uma
oportunidade viu que o que sentia por ela estava ali, você só tinha encostado
a porta e quando a abriu tudo veio com força. Não precisa inventar desculpas,
é melhor agora do que depois.
Queria estar certa das minhas palavras e por dentro sentia como se eu
estivesse morrendo.
— Alba, pelo amor de Deus! Pare de tirar conclusões sem ouvir o que
tenho a dizer. Se eu disse que te amo é porque eu te amo. Não sou homem de
duas palavras e muito menos de brincar com os sentimentos alheios. Fiquei
muito tempo sozinho por medo de não conseguir amar de novo, mas você
chegou com este sorriso lindo e tirou de mim todo medo que tinha. Fez isso
sem que pudesse notar que estava fazendo. Eu te amo Alba e é com você que
quero viver todos os dias da minha vida, criar nosso filho, discordar para
depois concordar ou brigar só para depois fazer as pazes.
— Não adianta tentar me convencer com palavras bonitas, porque
nada que você me disse até agora me explica ter te visto com a língua dentro
da boca da sua ex.
Ele passa a mão pelo rosto e depois no seu cabelo, me olha e sorri.
Minha vontade de o estrangular só cresce.
Mentiroso!
— Alba, a Norah teve um desentendimento com o marido, a levei
para a sala para que se acalmasse e ela me roubou um beijo.
— Que você respondeu segurando sua cintura para aprofundar mais o
beijo — falo com um tom irônico na voz.
— Alba a segurei pela cintura para a afastar de mim e não o contrário.
É você que tem nas mãos meu coração e quando o entrego para alguém é para
sempre. Foi um mal-entendido meu amor — fala levantando meu queixo para
olhá-lo.
Quando o faço, quase perco a fala junto com a minha convicção, pois
seus olhos me fitam como se fosse uma súplica.
—Acredito em você, acho que antes de sair correndo e tirando
conclusões precipitadas deveria ter parado por um segundo e conversado com
você. Não te dei o benefício da dúvida, sai te julgando e o condenando como
culpado sem ao menos antes te ouvir, desculpa.
— Não tem o que se desculpar, morri de medo de te perder por causa
da minha ex. Alba, ela só me quer porque o marido perdeu o emprego e sabe
que prosperei. Não sou um cartão premiado Alba e nunca notei isso antes
porque estava apaixonado demais para ver com clareza quem a Norah é de
verdade. Ela não passa de uma alpinista social. Na época ela me deixou
porque não via em mim um futuro promissor, mas hoje ela viu o que perdeu e
encontrou no que a irmã disse a chance de me ter de volta. Só que ela chegou
dez anos atrasada. Eu disse naquela noite que te faria minha mulher Alba e
agora não adianta querer fugir que vou atrás de você. Eu amo você e isso é a
coisa mais importante do meu dia... Amar você — fala e me beija.
— Eu também te amo Joaquim e morri de medo em tê-lo perdido.—
Confesso ainda com os meus lábios sobre os dele segurando o seu rosto entre
os meus dedos,impedindo-o de se afastar de mim.
—Vamos para casa que estou morrendo de saudade do Pietro, nunca
fiquei tanto tempo longe dele.
— E ele está de você.
“Lindo é quando alguém escolhe pousar ao teu lado,
podendo voar.
Podendo encontrar até outros ninhos,
outros caminhos e escolhe ficar.”
Autor desconhecido.

Noite de Natal
A casa está linda!
Observo cada detalhe da decoração da mesa vendo o toque da minha
mãe e da família da Alba como uma união perfeita para mim.
Estou amando a comida mexicana, embora no início fiquei receoso
pela fama dos mexicanos colocar pimenta em tudo e não sou muito chegado
nisso, mas eles vêm me ensinando que nem toda pimenta precisar arder e
confesso que isso tem me fascinado.
Viro-me em direção as vozes animadas que me chamam para me
sentar na sala. Sorrio e caminho em direção ao meu pai que está animado
com a viagem que ele e minha mãe resolveram fazer depois do Ano Novo
para o México, aceitando o convite da senhora Consuelo e do senhor
Manolito, mas mudo de ideia e direciono meus passos junto com meu olhar
para o anjo que desce a escada com um vestido branco. Sorrio e levanto
minha mão para que ela tenha onde apoiar ao descer o último degrau.
— Quero ser o primeiro a te elogiar esta noite, você parece mais um
anjo.
Ela sorri em resposta, tirando de mim a próxima batida do meu
coração para si.
— Senhor Fullin, também está muito bonito esta noite — fala com um
sorriso que me arrebata mais uma vez.
Pietro vem correndo até nós, abraça a cintura de Alba e beija sua
barriga. Ele está encantado com a ideia de ser o primo mais velho como um
irmão, foi o que explicamos para ele quando contamos sobre o bebê e que ele
poderia ensinar todas as coisas legais que ele sabe fazer como brincadeiras e
alertar sobre lugares perigosos quando o bebê estiver aprendendo a andar. O
que nos deixou aliviados, pois não queríamos que em momento nenhum ele
venha se sentir colocado de lado pela chegada do bebê.
Caminho com Alba até nossos pais e somos recebidos com carinho
por eles. Meu pai abre um espaço no sofá para Alba se senta e minha mãe faz
o mesmo comigo. Pietro corre para se sentar no colo da vovó Consuelo, que
não desgruda dele desde que chegou afirmando que está recuperando o tempo
perdido, já que só o vê uma vez ao ano. Isso me faz pensar com uma pequena
tristeza que acontecerá o mesmo com nosso filho, pois não terá como ela
acompanhar o crescimento do pequeno, a não ser pelas muitas chamadas de
vídeos que tenho certeza de que minha mulher fará com gosto
— Joaquim está preparado para engordar uns três quilos esta noite?
— pergunta Ben animado.
— Ah sim, com a minha sogra e a mamãe na cozinha não tem como
não estar preparado para comer e engordar.
— Trouxe um pouco das delícias do meu país para a mesa de vocês e
com isso alegro mais a minha filha que morre de saudade da comida da nossa
Terra.
— Ai mãe, se pudesse, faria a senhora ficar para sempre, não é só da
comida que vou morrer de saudade quando a senhora, papai e minhas irmãs
se forem — fala minha esposa quase em um lamento e eu a entendo, pois
mesmo não tendo convivido a vida toda com sua família sentirei falta deles
quando partirem.
— Se pudesse me dividir ficaria metade aqui e outra metade voltava
para o México, mas parte do mim sempre esteve aqui com você e o seu irmão
desde que vieram para cá.
As palavras da minha sogra são tão carregadas de sentimento que
chega a se fazer quase palpável no ar, fazendo com que me sinta
envergonhado pelo tempo que não venho para casa passar o fim de semana
ou feriados. Nunca mais vou deixar que isso aconteça novamente, pois me
afastar da minha família por não querer estar no mesmo ambiente que a
minha ex, foi o pior erro que cometi e quem saiu perdendo mais nesta história
foi eu. Dou graças a Deus por meu pai ter superado tudo que passou e minha
mãe ter exigido minha presença este ano, pois foi dessa maneira que a vida
me deu uma segunda chance e serei eternamente grato a isso.
— Mãe me desculpa — falo com a voz embargada deitando minha
cabeça no seu ombro.
— Por que devo te desculpar meu filho? Você não fez nada de errado.
— Ah mãe, fiz sim... Não venho para casa há dez anos e se não fosse
pela atitude da senhora em me obrigar, nunca mais pisaria aqui. Isso me fez
perder dez anos de convivência em família, afinal não era sempre que você
podia ir para lá para estar comigo e me sinto péssimo por isso.
— Está tudo bem, todos cometemos erros... O importante é que
tivemos tempo de repará-los, me ressinto de não poder fazer nada para deixar
você mais confortável aqui Joaquim.
Entendia o que ela queria dizer com aquilo e por mais que ela
quisesse tirar o acesso livre da Norah a sua casa tinha muitas coisas que a
impediam. Norah é irmã da Robbin, mulher do meu irmão, filha dos seus
melhores amigos e tudo isso tinha um peso enorme que nos afastou por dez
anos.
Minha mãe beija o topo da minha cabeça, levo sua mão até meus
lábios e beijo com carinho.
— Boa noite.
— Vovô e vovó. — Festeja meu sobrinho abrindo a porta.
Vejo os amigos de anos dos meus pais entrarem com algumas bolsas e
uma travessa com algum tipo de comida para completar a nossa ceia. Todo
ano é assim, eles ceiam com a gente, foi por isso que meu irmão e eu nos
apaixonamos pelas filhas deles. Foi algo extremamente fácil e natural.
Nossas famílias sempre foram unidas, nossos pais se conheceram na
faculdade e nunca mais se desgrudaram.
Logo depois deles entrarem, vejo Norah, seu marido e as crianças
entrando na sala. Olho para Alba que notando a presença da minha ex
claramente muda sua fisionomia, mas é algo que infelizmente a gente teria
que aprender a lidar devido a amizade que meus pais têm com os pais de
Norah.
— Vaiola minha querida, todo ano você é maravilhosa com a
decoração da casa, mas este ano você conseguiu me surpreender — fala
Quiara depois de abraçar minha mãe e correr com os olhos pelo ambiente.
Robert, o seu marido, abraça meu pai que apresenta meu sogro para o
meu ex sogro. Isso soa tão estranho que chega a ser engraçado ou talvez
dramático.
— Joaquim, quanto tempo — fala Quiara me abraçando tão forte que
chego a sentir um certo desconforto com seu abraço e não era para menos,
pois realmente fazia tempo.
Quiara me viu nascer, crescer e por isso entendo sua saudade.
Confesso que também senti e não posso negar isso.
— Quiara, quero que conheça uma pessoa — falo após deixar seu
abraço.
Sigo até Alba e a ajudo se levantar.
— Esta aqui é Alba, minha mulher — falo com um sorriso nos lábios,
enquanto me acomodo atrás de Alba, envolvendo sua cintura com meus
braços.
— Muito prazer Alba, me chamo Quiara e sou amiga antiga dos pais
do Joaquim bem antes dele nascer. Sou mãe da Robbin e da Norah que você
já deve conhecer. Você é linda! Joaquim sempre teve bom gosto — fala e
sorri gentilmente para minha esposa depois de abraçá-la.
— Você em breve será papai Joaquim, quanta surpresa boa em tão
pouco tempo... Quando sua mãe me contou, quase surtamos juntas — fala
com uma risada alegre, o que nos faz rir junto.
Alba parece estar menos tensa e mais animada, depois de conversar
com a Quiara, o que me deixa mais tranquilo.
Algum tempo depois estávamos todos felizes conversando e as
crianças correndo em volta da mesa, enquanto beliscavam uma coisa aqui e
outra ali.
— Joaquim, quero que você venha comigo um pouco ao nosso quarto
— diz Alba me tocando com suavidade, fazendo minha mente pensar besteira
na mesma hora.
— Hum amor, também estou cheio de vontade de ficar a sós com
você — falo caminhando com ela pelo corredor, a apertando de uma maneira
mais insinuativo, enquanto roço meu nariz no seu pescoço.
Observo seus pelos se eriçarem naquela região e sorrio me sentindo
feliz por despertar prazeres na minha mulher.
— Deixa de ser safado Joaquim, não te trouxe aqui para isso, embora
mais tarde quero tudo que você prometeu — fala com um sorriso travesso.
— Ah não? — pergunto intrigado erguendo uma sobrancelha.
— Há sete meses, quase oito conheci uma senhora que pedia ajuda
com uma lata de leite na rua. Depois que a ajudei, ela parecia me conhecer,
pois disse coisas que me fizeram acreditar nisso e me deu uma carta — fala
fazendo o meu coração soltar de dentro do peito.
Não sei por que, mas me fez me lembrar da carta que recebi da
senhora cega que também parecia me conhecer. Desde aquele dia ando com a
carta para onde quer que vá dentro da carteira, me perguntando quando iria
completar a oração, pois quando conheci Alba senti que não precisava
conhecer mais ninguém.
Alba vai até a bolsa, pega sua carteira e tira um envelope da mesma
cor que recebi da senhora. Sinto meus olhos arderem, não sou um cara
emotivo e nem acredito nessas paradas estranhas, mas este é um daqueles
momentos que faz minha inteligência parar de questionar as coisas que não
entendo e acreditar no poder do universo.
Alba vem em minha direção e eu só consigo pensar na carta que está
dentro da minha carteira no bolso de trás da minha calça.
— Alguns minutos antes de te conhecer fiz esta oração — fala
olhando para o pequeno relógio no pulso e sorri. — São exatamente 23:15
horas, o mesmo horário que fiz a oração como a senhora me disse que era
para ser feito.
Meu coração deu outro salto quase saindo pela boca, quando a abri de
surpresa com o que Alba me falava, me fazendo crer pela primeira vez na
minha vida que o universo parece juntar todas as coisas no lugar certo, quem
dirá duas pessoas certas na hora exata. Não existe acaso, muito menos
coincidência e Alba e eu estávamos predestinados a nos encontrarmos
naquele dia e naquela mesma hora.
— Eu te amo Joaquim e se não for você, a pessoa que tem uma parte
desta oração e eu outra deixo de acreditar em milagres. Desde que te conheci,
ouço a voz daquela senhora na minha cabeça me dizendo para não ter medo
das grandes decisões que precisaria tomar. Acreditei que ela fosse um anjo
enviado por Deus, porque estava necessitada de um milagre e todos nós seres
humanos nos consideramos especiais para ter um anjo enviado por Deus, em
um momento tão difícil como aquele que eu estava passando. Foi aquela voz
que me fez dizer sim para o filho que carrego agora em meu ventre — fala e
sorri.
— Tenho o início desta oração — falo com o nó quase massacrando
minha voz.
Tiro a minha carteira do bolso detrás, pegando o envelope da mesma
cor do da Alba dobrado. Olho para ela o mostrando, ela me sorri entre
lágrimas e se senta na beira da cama. Caminhei até ela com meu coração
reavivado de algo novo que não consigo explicar, diferente de Alba que tem
fé e acredita em anjos e milagres, eu nunca acreditei. Sempre fiz o bem,
porque ele está em mim devido o que meus pais me ensinaram desde
pequeno, mas nunca me senti merecedor de tanto.
— Vamos fazer a nossa oração de amor, meu amor? — pergunta
tocando meu braço.
— Agora e sempre meu amor, eu começo...“Que neste momento
nossos corações se unam em uma única batida à procura um do outro, para
que nunca mais possamos nos sentir sozinhos novamente…
— Que as nossas almas se unam como uma só e que nunca mais
precise andar sozinha, mesmo que não esteja com você em presença te levarei
em força e pensamento…
— Que tenhamos sabedoria para reconhecer no outro a minha outra
metade, nos tire Senhor todo o medo do desconhecido, tire a venda dos
nossos olhos e nos permita ver mais, sentir mais e amar mais e que a partir de
agora nos reconhecemos como um, como o Senhor mesmo desejou. Que o
nosso amor seja como uma semente plantada em terra fértil que cresce,
floresce e dê frutos na época certa...Que nos alimente em momentos de fome
e nos conforte em momento de solidão. Que o nosso amor seja simples como
o vento que leva e transporta as sementes, assim como profundo e abundante
como o rio. Amém.” — Finalizamos juntos.
“Você nunca será bom o suficiente para todos,
mas sempre será perfeito para aquela pessoa que te merece.”
Autor desconhecido.

— A nossa oração de amor só se completou, porque nos encontramos


— falo com meus olhos cheios de lágrimas, enquanto sinto o gosto das que
caíram na minha boca. — Nós nos encontramos, meu amor.
— Sim parece loucura, mas desde que te olhei sempre soube que você
era o meu pequeno milagre, mesmo não sendo dado a estas coisas — falo
beijando o topo da minha cabeça, me abraça pelo ombro e juntos olhamos a
noite pela janela.
Alguns Minutos Mais Tarde
Depois as 12 badaladas da meia-noite nos reunimos em volta da mesa,
fizemos uma linda oração e começamos a comer e conversar animados.
Minha mãe e a minha sogra fizeram pratos maravilhosos. Tanto minha mãe
como a minha sogra apresentaram os costumes e comidas natalinas de
seuspaíses de origem.
Assim que terminamos nossa ceia, estávamos na sala em volta da
árvore para a troca de presentes. As crianças estavam tão ansiosas que
tiveram que ser os primeiros a serem presenteados, vejo tudo com minha
cabeça encostada no peito de Joaquim que mantém seus braços em volta da
minha cintura.
— Sei que ainda não sabem o sexo, mas não resisti e acabei
comprando — fala minha cunhada me entregando um embrulho com um
sorriso nos lábios e olhos brilhantes.
Abro o presente e sorrio.
Todos estão apostando todas as fichas que meu bebê é uma menina.
Quando ia abrir minha boca para perguntar, “se for um menino”, ela
me impediu dizendo que poderia trocar caso não fosse.
Olho mais uma vez para o macacão branco com uma blusa em cima
bordada com florzinhas cor de rosa e é a coisa mais linda que já tinha visto.
— É tão lindo, muito obrigada — falo a abraçando.
Vou até a árvore e entrego o meu presente a ela, observei como gosta
de música e diferente de todos que hoje dia tem suas playlist, ela ainda
continua parada no tempo comprando seus CDs. Achei isso único e sempre
me lembrarei dela toda vez que passar por uma loja de CDs, mas confesso
que faço parte da turma do playlist.
Ah, tudo é tão mais prático.
—Espero que goste, é meu e do Joaquim, é de coração — falo
entregando o embrulho.
Robbin abre o presente e dá um grito, me fazendo feliz por ver que ela
tinha gostado.
— Nossa, cresci ouvindo essa banda! Mamãe e papai amam essa
banda e é muito difícil achar um CD deles, além de ser bem carinho. Muito
obrigada, amo The Beatles, a banda de rock de 1960 de Liverpool, a
formação mais conhecida dela é composta por John Lennon, Paul Mccartney,
George Harrison e Ringo Starr, considerada a banda mais influente de todos
os tempos... Não, eu não gostei... Eu simplesmente amei, vocês acertaram em
cheio — fala mais uma vez sorrindo.
Robbin parecia mais uma adolescente histérica que ganhou o convite
para o show da banda preferida.
— Não te disse amor que era o presente perfeito para minha
cunhadinha — fala Joaquim em um tom convencido.
Falei para ele que aquela banda era muito antiga e que Robbin talvez
nem os conhecesse, mas ele discordou e no fim acabou acertando na
sugestão.
— Ponto para você — falo baixo o levando a rir da minha cara ou
melhor careta de dor que faço ao ter que concordar que ele estava certo.
— Seu telefone — fala Joaquim tirando meu aparelho do bolso da
frente da sua calça e me entregando.
Pego da sua mão, enquanto afasto o olho do visor o vendo piscar com
a foto da minha cunhada.
— Alô! — falo e sinto minha voz falhar devido a ansiedade que me
atingiu ao saber que é ela.
— Alba onde você está? Procurei por você em toda parte e não está
mais na casa onde te deixei.
— Carolyn, você voltou?
— Sim e quero meu filho, você está onde? Preciso saber para ir
buscá-lo.
Só pelo seu tom de voz, me mostra o quanto ela está alterada.
— Não é simples assim, não estou perto... Estou na casa dos meus
sogros e só volto...
Ela não permitiu que eu terminasse, começou a gritar que eu tinha
roubado o meu sobrinho e que se não voltasse iria dar parte de mim.
Neste momento em diante o meu Natal tinha acabado...
Meu corpo todo começou a tremer junto com a dor que comecei a
sentir no pé da barriga, o que estava quase me levando a chorar. Joaquim
vendo que tinha algo errado, vem em minha direção com o cenho franzido e
entrego o celular na sua mão com a minha cunhada ainda na linha gritando,
enquanto procuro um lugar para me sentar. Vejo ele conversar com ela por
mais alguns minutos, depois o vejo vindo na minha direção com o rosto
pálido e sua expressão de preocupação só aumenta ao olhar para mim.
— Alba, o que está sentindo? — pergunta em um fio de voz.
— Acho que vai passar Joaquim só preciso de uns minutos para me
recompor, estou com dor no pé da barriga. Acho que é porque fiquei muito
nervosa com as coisas que a minha cunhada me disse — falo e esfrego o local
para ver se assim alivia a dor que sinto.
Não quero nem pensar se isso não passar onde me levaria, ainda nem
sete meses completei, embora falte pouco para isso.
— Calma, vamos dar um jeito nisso... Vamos esperar passar, amanhã
colocaremos sua família no avião, voltaremos para casa e resolveremos isso.
Ela abandonou o filho há oito meses e agora liga gritando como uma louca,
falando que você o roubou? Ela deveria é estar levantando as mãos para o céu
e dar graças a Deus por Pietro ter uma tia maravilhosa como você. Não
entendo muito de leis, mas o que ela fez se chama abandono de incapaz.
— Eu nem sei como agradecer, pois estava ficando louca em pensar
que ela poderia fazer algo que pudesse me prejudicar. Não sou daqui e
qualquer coisa que faça de errado posso ser deportada.
— Não mais Alba, você agora é casada com um cidadão americano
que paga todos seus impostos em dia e está grávida, então sua casa é aqui ao
meu lado e do nosso filho ou filha que irá nascer logo.
Ele tinha razão, mas no meu desespero acabei me esquecendo dos
meus direitos e focando somente no tamanho do estrago que ela poderia fazer
na minha vida.
— Vamos para o hospital Alba, vou ficar mais tranquilo com um
médico te examinando. Você nunca ficou assim e se alguma coisa acontecer
com você ou com o nosso filho nem sei o que sou capaz de fazer com essa
sua cunhada — fala se ajoelhando na minha frente.
—Está passando, daqui a pouco estou melhor, você vai ver.— Tento
acalmá-lo, mas parecer ser em vão a minha tentativa, pois ele passa a mão
pelo cabelo bagunçando-o e suas narinas estão dilatadas devido a respiração
forte.
—Quer que te leve para o quarto? Você fica lá deitada até se sentir
melhor.
— Não Joaquim, não quero sair daqui, até esta dor diminuir mais, por
favor me dá um copo de água — peço e ele sai.
Essa foi a única maneira de fazê-lo me deixar respirar para tentar
controlar meu corpo que estava acelerado pela dor, se ele continuasse falando
daquele jeito, sinto que poderia piorar ao invés de amenizar. Joaquim vai até
a cozinha buscar minha água com a expressão de desgosto por me deixar,
respiro fundo e tento controlar minha respiração, enquanto internamente falo
para meu corpo se acalmar. Ainda não é o momento para sustos e agradeço
que todos estão distraídos demais para prestar atenção em nós dois, se não
isso aqui se tornaria um Deus nos acuda com a vontade de Joaquim de me
pegar no colo e me levar para um hospital em plena noite de 24 de dezembro
ou melhor madrugada de 24 para 25, embora já possa considerar 25 de
dezembro, já se passou de meia-noite e nunca achei que o dia mudasse antes
que durma.
Quando ele volta com o copo já me sinto melhor.
— Está melhor? — ele pergunta.
Sorrio e confirmo que sim, enquanto pego o copo que ele me estende
e tomo um grande gole.

Uma Hora Depois


— Era para estes monstrinhos barulhentos estarem no terceiro sono,
mas a agitação e os presentes novos funcionaram como energético — falo
sorrindo, enquanto olho para o meu sobrinho que corre com os filhos de
Norah como se não houvesse amanhã.
—Vamos lá fora um pouco, temos uma novidade para vocês — meu
sogro fala.
Seguimos para o quintal na parte de trás da casa que é todo coberto e
aquecido, caso contrário não teria nem como a gente ir. Como é normal a
neve está bem ativa lá fora, então o frio nos impediria de ficar no tempo
aberto.
Quando chego na parte que meu sogro nos levou, meus olhos se
enchem de lágrimas, procuro por meu pai e minha mãe até os encontrarem e
quando isso acontece sorrio e falo:
— Não acredito que vocês fizeram isso!
Meu pai maroto dá de ombros, enquanto minha mãe sorri e minhas
irmãs pulam animadas. Elas ainda estavam na fase de “já sou uma mocinha”,
mas algumas coisas as faziam vibrar como duas crianças e até eu vendo me
sentia uma Alba de três anos.
— Isso é uma piñata[17]! — falo animada enquanto vejo o meu sogro
dando um pedaço de madeira para os menores.
— O que é isso Alba?
— Piñata amor é uma espécie de balão surpresa
artesanal, usamos para catequizar e tem um significado religioso. Como você
sabe 85% dos mexicanos são católicos, então temos muitas tradição e ritual e
a piñata é um deles. Dentro dela tem doces e ela tem sete pontas explicando
os sete pecados capitais. Cada ponta simboliza um pecado, embora hoje se
encontrem de diferentes formatos. A destruição dela é como destruir os setes
pecados.
— Muito interessante! — fala observando os pequenos pulando e
tentando acertar a piñata que está pendurada no ponto mais alto.
O pai de Joaquim seguiu isso à risca, levando os pequenos se
cansarem de tanto tentar acertar. Os mais velhos entraram na brincadeira
cedendo a diversão aos pulos e batidas frustradas e algum tempo depois a
piñata foi levada ao chão para a alegria das crianças que iriam comer doces
por três dias pela quantidade que tinha dentro.
Como era de costume, os adultos que não participaram sempre
recebem um saquinho com todos os doces que estão dentro dela.
— Está melhor? — Joaquim pergunta, mexendo no seu saquinho com
um sorriso de criança nos lábios devido os doces.
— Sim, foi apenas um pequeno susto. Sinto-me ótima, só estou
preocupada por ter que entregar meu sobrinho para a minha cunhada. Ela é
uma ótima mãe, mas desde que perdeu meu irmão se tornou instável, tanto
que sumiu por este tempo todo e sequer fez uma única ligação para saber
como o filho estava e do nada volta. — Respiro fundo preocupada, não
consigo deixar de pensar o que vai acontecer com meu sobrinho longe de
mim, antes poderia ir para onde ele fosse para cuidar dele, mas agora tenho
um marido e em breve um bebê.
“Não há nada impossível,
porque os sonhos de ontem são as esperanças de hoje
e podem converter-se em realidade amanhã.”
Autor desconhecido.

— Pai, vou ligar para mantê-los informados sobre como as coisas


ficaram — falo ainda preso no abraço que dou no meu pai, segurando seu
pescoço com uma mão.
—Avisem quando chegarem em casa, vou ficar morrendo de
preocupação até saber que estão bem.
— Desculpe-me minha sogra por não podermos ficar com a senhora
até o Ano Novo — Alba diz com a voz sentida.
Ontem antes de dormimos, Alba se lamentou por ter me feito ir
embora antes do que tinha programado. Ela me acompanhou todas as noites
que cheguei em casa tarde para dar conta de todas as encomendas que
tivemos e enfim finalizá-las a tempo de vir para cá alguns dias antes do Natal
e só voltar depois da virada do ano, por este motivo se sente culpada, já eu
não me importo, pois o mais importante é conseguirmos resolver a situação
dela com a mãe do Pietro.
— Que isso, você trouxe meu filho de volta e vejo o brilho nos olhos
dele quando te olha. O mais importante é que estejam bem, teremos outras
oportunidades de passar mais tempo junto e vou ficar uns dias com vocês
depois que meu netinho ou netinha nascer para babar um pouco.
— Será um prazer ter a senhora com a gente — Alba fala e abraça
minha mãe mais uma vez que alisa a sua barriga.
Entramos no carro, da janela Alba dá tchau e sobe o vidro
rapidamente porque está muito frio hoje. Buzino algumas vezes e dou partida
no carro a caminho da nossa casa.
— Amor, já falou com a sua mãe para saber se eles chegaram bem em
casa?
Levamos meus sogros de manhã para o aeroporto, como já estava
previsto sua volta. A despedida deles foi difícil, Alba se emocionou demais e
achei que a qualquer momento ela fosse derreter de tanto que chorou.
Pretendo trazê-los em breve para morar perto da gente, como Alba já havia
falado algumas vezes aqui eles teriam a vida mais fácil e eu posso ajudar, vou
empregar meu sogro e ensiná-lo a arte de fazer móveis na minha garagem e
as irmãs de Alba podem trabalhar meio período na minha loja, assim elas
conciliam o colégio e trabalho.
A única coisa que quero é ver minha mulher feliz e se ter sua família
por perto a faz feliz é isso que farei.
— Foram tantas coisas para resolver até entrar no carro Joaquim que
me esqueci completamente de ligar, pensei em diversos momento em ligar
para ver se já tinham chegado, mas na hora de ligar acabava me ocupando
com uma coisa aqui, outra ali e acabei não ligando.
— Pietro está tudo bem aí meu amorzinho? — Alba pergunta para o
sobrinho olhando-o por cima do ombro, enquanto vasculha a bolsa.
Creio eu que esta à procura do celular para fazer a ligação para os
pais.
— Sim, titia eu estou bem, quero ver desenho no celular do tio
Joaquim.
Ao ouvir aquilo não contive minha risada, Alba me olha como se
dissesse eu te avisei que ia deixá-lo mal-acostumado, mas era isso mesmo
que eu pretendia quando o acostumei ver desenho no meu aparelho. Amo ver
o pequeno se divertindo com meu celular e o que ele fala quando está com
meu aparelho na mão, “estou me divertindo com o celular do tio Joaquim” e
o sorriso que me dá me desestabilizava todo.
— Oi, mãe como você está? Estou ligando para saber como está.
— Coloca no viva-voz Alba, quero falar com eles — peço, Alba faz e
avisa a mãe que estava no alto-falante.
— Oi minha sogra como foi a viagem? — pergunto com um sorriso
nos lábios.
— Oi meu genro, a viagem foi ótima e fiquei mais tranquila desta vez
dentro daquele passarinho de ferro.
Meu sorriso aumentou ao ouvi-la chamando o avião de passarinho de
ferro.
— Fico feliz em saber que chegaram bem, estava preocupado.
Alba fala mais alguns minutos com seus pais e as irmãs até que
desliga o telefone e conversamos um pouco até que a vejo silenciosa e olho
para o lado percebendo que agora era somente a estrada a minha frente e eu.

Algumas Horas Mais Tarde


— Carolyn para onde você vai com o Pietro?
Nem sei como estou conseguindo falar devido a angústia que sinto ao
saber que a minha cunhada vai sair daqui com o meu sobrinho para um
destino incerto. Tenho impressão que nem onde dormir ela tem.
— Alba, agradeço tudo que fez para o meu filho no tempo em que
estive fora, mas agora não precisa se preocupar. Assumirei daqui em diante,
agora terá seu filho para cuidar e para que ficar se preocupando com o meu?
—Não seja grosseira Carolyn, amo o Pietro. Ele é filho do meu irmão,
sempre irei me preocupar e não é só com ele, mas com você também. Vocês
têm para onde ir? Não pense que estou perguntando isso para pode te
recriminar de forma nenhuma você me conhece e sei que perdeu tudo como
eu, quando tive que sair da casa com os poucos pertences.
É neste momento que vejo minha cunhada parar por alguns segundos,
deixando cair o escudo que tinha erguido desde que tinha passado por aquela
porta para buscar meu sobrinho. Quero que ela entenda que somos família e
que independente do meu irmão não estar mais aqui, ela sempre será a minha
família e não somente a mãe do meu sobrinho. Eu a amo e o que ela precisar
estarei aqui, não guardo mágoa por ela ter se perdido por um tempo e só
espero que ela pense em fazer o melhor para o Pietro.
— Eu sei Alba não me esqueci do quanto você cuidou de mim e do
Pietro, mas agora preciso dar um rumo na minha vida e acertar algumas
coisas, mas se nada dê certo sei que tenho você para contar. Muito obrigada e
me desculpa pelas coisas que falei no telefone, você não merecia ouvi-las, seu
marido tem razão — fala e estende a mão.
Seguro sua mão com força para mostrar que sempre estarei ali por ela.
Meu coração está em pedaços por me separar de Pietro e não saber se
ele comeu ou dormiu bem, ele é uma preocupação boa que gosto de ter todos
os dias e saber que não a terei aumenta mais a minha preocupação.
Ouço o barulho na escada e nem preciso virar meu corpo para saber
que é Pietro.
— Mamãe!!
Aquela voz expressava toda a saudade que ele sentiu da mãe todo o
tempo em que ela esteve longe. Vejo o quanto ele sentia falta dela pela forma
que seus bracinhos seguram com força ao redor do pescoço dela. Esta cena
faz me sentir mal e egoísta por vários momentos ter desejado que ela não
voltasse só para manter meu sobrinho em meus braços.
Sinto os braços de Joaquim em volta de mim, ele sabe o quanto está
sendo sofrido para mim está separação. Será a primeira vez desde que vi
Pietro pela primeira vez que não dormiríamos no mesmo teto e isso está me
matando por dentro. É como se tivesse duas mãos apertando a minha
garganta me impedindo de respirar ou como se tivesse uma faca presa na
minha garganta e toda vez que começo a falar ela se movimenta e me
machuca, a dor que estou sentindo é grande. Essa situação é algo que era
inimaginável para mim até o momento presente
— Titia você não vem com a gente?
O nó que sinto se formando na minha garganta a fecha e com isso me
impede de responder no segundos seguintes.
Seguro meu sobrinho pelos braços com carinho e forço meu melhor
sorriso para tranquilizá-lo para dizer que tudo iria ficar bem. O meu maior
desejo é que tudo fique bem com ele e com a minha cunhada, pois amo os
dois demais
— Não meu amor, desta vez só irá você e a sua mãe. Vou ficar aqui
com o tio Joaquim, mas sempre que quiser voltar para visitar a titia estarei
aqui para que possamos brincar e ver desenhos.
Ele me olha indeciso, tiro minhas mãos do seu braço e deslizo pela
lateral da sua costela. Começo a fazer cócegas com meus dedos, enquanto
pergunto se ele tinha me entendido. Só paro quando ele está mole em meus
braços babando de tanto rir e me dizendo que tinha entendido com a voz
esganiçada. O meu coração está quebrado, mas ele teria que achar que seria o
máximo e realmente espero que seja. Espero que minha cunhada cuide dele e
não deixe faltar o básico para ele.
A porta se fecha, parte do meu coração se vai com a minha cunhada e
sinto um soluço forte escapando dos meus lábios quando Joaquim me abraça.
— Está tudo bem?
Esta pergunta me desestabilizou de vez.
— Ah, você não deveria ter me perguntado isso — falo não contendo
meus soluços em seu peito e braços fortes.
— Vai ficar tudo bem, meu amor — ele fala me abraçando mais forte.
Não sinto convicção na sua voz, ele está tão tenso e preocupado
quanto eu e reconheço oseu olhar.
Subimos para nosso quarto e tomamos um banho junto relaxante,
Joaquim colocou sais relaxantes na banheira, esfregou minhas costas, me
mimou e cuidou de mim, me fazendo me sentir bem mesmo não estando.
“A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira.”
Léon Tolstoi.

Três Dias Depois


— Hora de parar um pouco Joaquim, vem tomar café com a gente
— fala Mary preocupada comigo.
Desde que cheguei, peguei as últimas peças do quarto do meu filho
para fazer e parei apenas para almoçar. Quero fazer uma surpresa para Alba e
ver se a animo um pouco, tem três dias que Pietro partiu com a mãe e Alba
não quer que eu perceba sua tristeza, mas é evidente que ela está mal e
sentindo falta do sobrinho, até eu sinto falta daquele moleque em casa.
— E aí chefinho, disse que só ia voltar depois do Ano Novo, mas não
aguentou e está aqui trabalhando mais que todos nós — Thomas fala e aperto
seu ombro dando uma risada antes de respondê-lo.
— Ossos do ofício, fazer o que — fala e me ajeito ao seu lado na
mesa para tomar o café da tarde, ficando de frente para o Enzo que me
analisa.
— O que aconteceu para ter voltado tão rápido assim? — questiona
preocupado.
Ele tinha vindo trabalhar somente hoje e não tivemos tempo para
conversar por ter ficado na garagem e não subi no escritório onde ele fica.
Respiro cansado.
— Ah, Enzo é tanta coisa.
— Você e a Alba estão bem? — pergunta e não consigo conter meu
sorriso bobo.
Enzo ainda não sabe que estamos juntos de vez, ele ergue as duas
sobrancelhas e me olha tentando descobrir que “tanta coisa”, seria.
— Mais do que bem, estamos juntos de vez — falo e mordo meu pão.
— Puta que pariu cara, que notícia boa! Até que enfim vocês pararam
de tentar esconder o óbvio, vocês nasceram um para o outro — fala com um
sorriso animado.
— Engole logo esse pão e me fala de uma vez... Se você e Alba estão
bem, então por que está trabalhando igual um louco aqui embaixo? Você só
faz isso sem querer a ajuda de ninguém quando precisa descarregar suas
frustrações — fala com um olhar preocupado.
— A mãe do Pietro voltou, por isso antecipei minha volta, ela pediu
para a Alba entregar o menino, pediu não, fez ameaças e agiu feito uma
louca. Alba quase teve nosso filho de tão nervosa que ficou, por isso tive que
antecipar a nossa volta para entregar o menino.
— Caramba, que merda! Como está a Alba? Ela é tão ligada ao
sobrinho.
— Ela tenta me mostrar que está bem, mas está mal Enzo e eu
também estou... Sinto falta do moleque na minha casa, alguns meses atrás era
somente eu e depois que Alba entrou na minha vida encheu minha vida de
cor e o vazio da minha casa e vida com ela e o sobrinho sumiu. Agora sem
ele parece que a casa está vazia novamente, não há ninguém para gritar e vir
correndo quando chego do trabalho.
— Humm então está explicado o motivo de estar trabalhando como
um louco, está desviando a frustração... Está tão mal quanto a Alba, mas
também não pode demonstrar porque ela precisa de você.
— Cara, está me analisando? Você tem certeza de que é o meu
contador, responsável pela administração do meu negócio e não meu
analista? — pergunto soltando uma risada pela cara feia que ele me faz.
— Vá a merda Joaquim.
— Deixa de ser besta Enzo, só quero surpreender a Alba quando ela
passar aqui para irmos embora juntos para casa. Ela me disse que iria
comprar algumas coisas para decoração do quarto do nosso filho e pedi para
que passasse aqui para podermos voltar juntos, mas quero mostrar a ela os
móveis do quarto do nosso filho que fiz.
— Se é você quem diz... Não falo mais nada. Depois vai ficar falando
que estou querendo pagar de analista e se fosse isso iria cobrar caro de você
pelos anos que o ouço reclamar da sua vida na minha cabeça — fala em um
tom de reclamação, me fazendo rir.

Algumas horas mais tarde


Como não tínhamos entregas e só estamos fazendo móveis para repor
os da loja, os funcionários estavam trabalhando com carga horária reduzida,
então só tinha poucos funcionários e eu na garagem.
Fecho a porta do guarda-roupa que tinha acabado de colocar no lugar,
me afasto um pouco analisando, enquanto enfio a mão nas beiradas do meu
avental o tirando do meu corpo.
— Perfeito! — falo e dou um sorriso satisfeito.
— Olá, será que posso entrar?
Ouço a voz da Alba me tirando da minha contemplação.
— É claro meu amor, você pode tudo — falo olhando-a se aproximar
de mim.
Quando está bem próximo, encurto nossa distância a puxando para
mais perto por sua cintura e tomo posse dos seus lábios que para mim soam
como uma perdição, pois toda vez que os beijo perco o controle e o juízo.
Quando esta mulher gostosa ganhar nosso filho e passar o período do
resguardo, ela vai sofrer na minha mão. Tenho sido cuidadoso com ela por
causa do seu estado, mas depois vou dar o que ela merece e meu corpo está
clamando por um sexo louco...
Vou mostrar como sei ser um amante quente.
— Humm... — Ela geme na minha boca quando senti minha mão
debaixo do seu vestido.
Somente este gemido desperta o gigante adormecido dentro de mim,
me fazendo beijá-la com mais intensidade. Deslizo minha mão com as piores
das intenções para dentro do seu vestido e passeio por seu corpo. Sinto meu
pau inchar dentro da calça no mesmo momento que paro a mão na sua bunda
e a aperto puxando-a para mais perto de mim. Deslizo meu nariz na pele do
seu pescoço até chegar na sua orelha, depois faço o caminho de volta até
chegar no seu ombro e mordisco lentamente. Viro-a com a bunda na direção
do meu pau e o roço duro apertado no meu jeans. Caminho com ela gemendo
baixinho, enquanto mordo o lóbulo da sua orelha.
— Joaquim vai aparecer alguém, é melhor você parar. — Ignoro seu
pedido enfiando minha mão dentro do seu sutiã.
Do jeito que me encontro só paro quando tiver minha boca sufocada
em sua buceta quente. Ela pode me pedir para tentar me fazer recobrar a
razão, mas sei que quer isso tanto quanto eu e se eu parar vai ficar frustrada.
Sei que só diz isso, para caso sejamos pego, ela poderá me xingar e dizer que
tinha me alertado.
Entro na sala onde fica os colchões, fecho a porta com o pé não
desgrudando o meu corpo do dela e me sento em um colchão que está
empilhado junto aos outros. Depois a puxo com cuidado até estar deitada, tiro
a bota dos seus pés, depois a calça grossa de frio preta junto com a calcinha.
Beijo do seu tornozelo até chegar nas suas coxas, abro mais as suas pernas
para mim e passo a língua na parte interna da sua coxa, sentindo-a retrair de
tesão, enquanto solta um gemido pelos seus lábios gostosos entreaberto quase
em um sorriso. Vou lambendo como um esfomeado até chegar na sua buceta
e quando sinto seu gosto meu pau fisga de tesão, enquanto minha língua
trabalha em toda sua extensão fazendo com que os gemidos de Alba só
aumentam.
Papai aqui é bom no que faz.

Alguns minutos mais tarde, saímos da sala com a Alba toda sem graça
ajeitando o cabelo que estava como um ninho de passarinho e eu com cara de
que tivemos uma boa foda.
— Onde você estava Joaquim? Procurei-o por toda parte.
Olho para Enzo com cara de quem viu um arco-íris.
— Ah, não procurou... Se tivesse me procurado em toda parte como
diz, é claro que teria me encontrado — falo dando um sorriso.
— Alba! — fala, mas não a cumprimenta a analisando.
Alba consegue com isso ficar mais sem graça do que já estava.
— Mostrou para ela os móveis e estavam escolhendo o colchão para a
cama do bebê?
— Móveis e colchão? — pergunta Alba perdida sem entender o que
ele estava querendo dizer.
— Ainda não, é melhor eu nem tentar te explicar o que estava
mostrando para ela aqui dentro, se não vai ser mais constrangedor do que já
está essa cena e Alba vai querer virar um avestruz e enterrar a cabeça no
primeiro lugar que encontrar.
— Ah, assina aqui para mim, era para isso que estava te procurando
— fala Enzo contendo a vontade de rir para não deixar Alba mais
constrangida do que já estava por ter sido pega cheirando a sexo e saindo do
quarto onde guardamos colchões para venda.
Tínhamos intimidade para isso, mas Alba e ele não. Por isso assinei as
folhas e ele saiu o mais rápido que pôde de perto de nós.
— Está vendo, não falei com você que isso não iria dar certo. Olha a
vergonha que acabou de me fazer passar — fala dando um tapa no meu
ombro, o que leva o canto dos meus lábios tremerem em um quase sorriso.
— Diga-me que não gostou?
Ela fica um instante em silêncio e sorrio safado.
— Eu também amei fazer amor com você lá dentro, pode ficar
tranquila que não vou perder meu emprego por causa de você ter vindo aqui
me seduzir e ter feito que eu perdesse a cabeça em pleno horário de trabalho
— falo rindo dando um beijo no seu pescoço.
Seu corpo ainda estava sensível ao meu toque e sua cara era de uma
fera enjaulada que eu vou adorar amansar.
— Deixa de ser abusado Joaquim, nunca mais o deixarei me colocar
em uma situação vergonhosa como essa que acabo de passar outra vez, pode
ter certeza.
— Alba para de fazer promessas que sabe que não poderá cumpri-las,
gosto de sexo em lugares diferentes e quando nosso bebê tiver seguro fora de
você vou te levar para conhecer uma montanha russa de prazeres. Não quero
você somente na nossa cama, a quero no capo do meu carro e até na escada
de incêndio de um shopping. Sei que você vai gostar de ser pega por mim em
todos estes lugares — falo com um sorriso de lado safado e mordo meu lábio
inferior ao imaginar a delícia que vai ser.
Passo a língua nos meus lábios sentindo uma fome enorme dela em
todos esses lugares que falei e mais outros que sugeria, ela fica com a boca
aberta tentando se convencer do que acaba de ouvir como se não fosse
verdade, mas ela vai descobrir da maneira mais gostosa no futuro.
Não resisto, beijo e mordo os lábios.
— Vem comigo, quero te mostrar uma coisa que fiz. — Levo-a em
direção ao lugar que estava quando ela chegou e mostro os móveis.
— São lindos, você é muito talentoso — comenta passando os
dedos nos detalhes da porta do guarda-roupa.
— Você gostou mesmo? — pergunto ansioso.
Quero que o quarto do nosso filho seja exatamente como ela imagina.
— Claro amei, é muito lindo! O berço, o guarda-roupa, a cômoda e
até a cadeira de amamentação é linda demais. Estes modelos são novos para a
loja?
— Não, este é para o quarto do nosso filho — falo e ela desvia os
olhos dos móveis me olhando com os olhos brilhantes pelas lágrimas.
— Meu Deus, Joaquim, eles são lindos! Vão ficar perfeitos no
quartinho dele ou dela — fala me abraçando e beijo o topo da sua cabeça.
— Muito obrigada, meu amor.
— Eu que tenho que agradecer por tudo que tem feito por mim desde
que entrou na minha vida e iluminou o meu mundo com a sua presença. Eu te
amo Alba e te daria o mundo caso fosse possível.
— Eu não quero o mundo, só quero você meu amor... Isso já é mais
do que o suficiente — fala me beijando, o que enche meu peito de calor.
“Nada é pequeno no amor.
Quem espera as grandes ocasiões
para provar a sua ternura não sabe amar.”
Laure Conan.

— Está pronta Alba? — pergunta assim que Joaquim estaciona o


carro no edifício onde será a minha ultra.
Sinto meu coração dar uma pequena acelerada decorrente a esta
pergunta.
— Já está na hora, não é meu amorzinho? Espero que hoje você nos
deixe ver se você é uma menininha ou um menininho lindo... Mamãe e papai
não aguentam mais esperar — falo acariciando minha barriga agora de sete
meses.
Enlaçamos nossas mãos assim que saímos do carro e caminhamos até
o elevador que nos levou para o andar da consulta.
Quando entramos na sala da minha doutora, vou até a recepção e dou
meu nome, espero que ela confirme meus dados no sistema e assim que me
dá o ok, me sento.
Observo algumas mães com seus maridos, outras com acompanhante
e fico por um tempo imaginando suas histórias. Sou desperta dos meus
pensamentos quando ouço meu nome sendo chamado.
— Boa tarde senhor e senhora Fullin — cumprimenta a ajudante da
médica, assim que passo pela porta que ela tinha indicado.
Dentro da sala da médica, recebo um roupão e vou até um pequeno
banheiro colocá-lo.
Quando volto me deito na maca com os olhos atentos no pequeno
monitor e o coração sobressaltado. Sinto o gel gelado sendo passado na
minha barriga e ela começa a falar algumas coisas padrão.
— Bom papai e mamãe, está tudo bem com o bebê... Vocês desejam
saber o sexo do bebê?
Olho para Joaquim que segura minha mão desde que a doutora
começou a ultra e sorrio, ele em resposta sorri ansioso e aperta minha mão.
— Sim, queremos muito saber o sexo do nosso bebê e deixar de
chamar de bebê para chamá-lo pelo nome — falo com um sorriso.
Ela mexe com o negócio que não sei dizer o nome na minha barriga e
para olhando para mim e depois para o Joaquim.
— Vocês têm alguma preferência de sexo?
— Não quero ser pai, independentemente do que seja vou amar do
mesmo jeito — fala Joaquim me olhando e beijando minha mão.
— Ok papai e você mamãe tem alguma preferência?
— Não nenhuma, mas a família toda está segura de que é uma
menina. — Sorrio com a lembrança da minha sogra e minha mãe.
— Humm muito bem, podem dizer a eles que estavam certos... Vocês
terão uma linda menina, vejam aqui é a pepeca dela. Podem avisar a família
que estavam certo — fala a médica.
Joaquim solta minha mãe e me olha com seus lindos olhos azuis
piscina transbordando de emoção, esta é a primeira vez que o vejo chorar.
— É uma menina amor, muito obrigada meu amor por me dar esta
felicidade! — fala enquanto deposita vários beijos rápidos em meus lábios
me fazendo rir, enquanto meus olhos vazam sem parar minha emoção.
Saímos da sala com meu marido eufórico, tão eufórico que volto para
casa dirigindo porque ele estava ligando para a mãe.

Dia Do Ano Novo


— Gente, ótima passagem de ano para vocês — falo assim que fecho
a porta da garagem.
—Vai ficar em casa mesmo Joaquim? Passa com a gente, o meu
pessoal é animado e todos gostam muito de você... Vão amar conhecer a
Alba.
— Enzo agradeço o convite, adoraria passar com vocês, mas a Alba
não está muito no clima de festa, então prefiro ficar em casa agarradinho com
ela e confesso que mesmo assim este será uma das melhores viradas de ano
desde que vim para cá — falo com sinceridade.
— É por causa do sobrinho dela, né? A cunhada dela não deu sinal de
vida?
— Nada cara e pior que só está dando caixa postal, a Alba está de um
jeito que já estou ficando preocupado, se ao menos tivesse noção de onde ela
está já teria ido atrás, mas infelizmente quando ela levou o menino não nos
disse para onde estava indo. Agora nos resta esperar e torcer para que tudo
esteja bem — falo e respiro fundo, também estou preocupado com esta
situação e ainda me sinto pior porque não posso fazer nada para dar fim nela,
é apenas esperar.
— Deus abençoe que esteja tudo bem e que logo ela apareça — fala
Enzo batendo nas minhas costas.
— E o que todos nós desejamos Enzo.
— Então boa noite cara e cuida lá da barrigudinha — fala e sai.
Despeço-me da Mary e de mais alguns funcionários, entro no meu
carro e dirijo até em casa.

Entro em casa e o silêncio reina, subo a escada, abro a porta do nosso


quarto e Alba não está. Continuo a chamar por seu nome, abrindo mais duas
portas sem sucesso até que abro a porta do quarto da nossa filha e lá está ela
linda adormecida na cadeira de amamentação com os raios fracos do sol do
fim do dia caindo em sua pele bronzeada. Paro me encostando no batente da
porta a observando por alguns minutos,extremamente grato aos céus por ter
me dado um presente desse. Nem sei o que eu fiz para merecer tanto, pois
minha vida mudou drasticamente para melhor em apenas oito meses.
Desejava apenas um filho e ganhei o pacote completo.
Sorrio bobo agradecido da minha sorte, vejo-a se movimentar na
cadeira e depois abrir os olhos devagar ainda sonolenta.
— Oi — fala preguiçosa com um sorriso brincando em seus lábios,
me levando automaticamente a responder com outro.
— Olá — respondo me aproximando e me sentando no chão entre
suas pernas. Toco sua barriga, beijo nossa filha e digo: — Papai chegou
minha princesinha. — Sinto ela me responder com um chute, levando nos
dois a rir ao compartilhar deste momento.
— Chegou cedo hoje ou fui eu que dormi demais?— pergunta meio
sobressaltada.
— Cheguei mais cedo mesmo, lembra meu amor que te disse no
início da semana que na virada fechamos mais cedo?
— Ah, sim é verdade... Que cabeça minha.
—Conseguiu falar com sua cunhada? — pergunto, ela respira fundo e
balança a cabeça em negativa, levando toda minha esperança para baixo com
aquela resposta.
— Por onde anda nosso menino?
Era para ser uma pergunta interna, mas acabei extravasando.
Só percebo que fiz quando ela me responde.
— É tudo o que mais quero saber — fala em tom baixo, sem energia e
desanimada.
Ouço a campainha tocar e nos olhamos por algum momento tentando
imaginar quem seria, pois não estamos à espera de ninguém.
— Quem será? Pediu alguma coisa?
— Não, pedi nada... Não faço ideia quem seja — responde colocando
as mãos nas laterais da cadeira e fazendo impulso para sair dela.
—Tudo bem, vamos descobrir quem é.
Saímos do quarto e vamos até a sala ouvindo a campainha tocar sem
parar e assim que abro a porta.
— Surpresa!!!
Ouço o som sonoro e arregalo meus olhos sem acreditar no que vejo.
Sorrio me deixando levar pela animação da minha família que realmente me
surpreenderam, eles viajaram três horas apenas para passar o Ano Novo
conosco. Minha família é maravilhosa e não tem como não me sentir
duplamente sortudo. Primeiro pela mulher linda que tenho ao meu lado e
depois por esta família incrível...
Realmente sou um cara de sorte.
— Não vão me convidar para entrar? — pergunta minha mãe.
— Oh, claro que sim... Ainda estou surpreso... Mãe, vocês aqui que
surpresa maravilhosa — falo abraçando a minha mãe forte.
— Vocês não puderam ficar para passar o Ano Novo conosco, por
isso viemos passar com vocês.
— Ah, que surpresa boa a senhora aqui! — fala Alba com um sorriso
lindo, enquanto meu pai, irmão, cunhada e sobrinhos entram em casa.
— Nossa, é maravilhoso ter vocês aqui com a gente, mas não
programamos nada para a virada do ano.
— Não se preocupe Alba, vamos ao mercado complementar algumas
coisas que já trouxemos de casa. Bem que a senhora disse, que era bem
provável que eles iriam passar a festa de final de ano dormindo — Robbinfala
e dá uma risadinha de cumplicidade com a minha mãe que dá um tapinha na
sua perna enquanto diz:
— Não te avisei?
— Vamos ao mercador então, enquanto as mulheres se preocupam
com a comida que falta embora acho meio difícil estar faltando alguma coisa.
Você não imaginar meu filho como está o nosso carro, sua mãe ficou até
tarde da noite preparando as coisas para vir para cá, sabe como ela é, já nós
homens vamos nos preocupar com a bebidas — fala meu pai com um sorriso
no rosto.
— Acho certo pai — concorda Ben.
“Todo novo dia que passo ao seu lado
se torna o novo melhor dia da minha vida.”
Autor desconhecido.

Algumas Horas Mais Tarde


Olho Joaquim arrumando a blusa social na frente do espelho, assim
que termina me olha pelo reflexo me analisando por um tempo antes de dizer
qualquer coisa.
Achei super fofo a família dele ter viajado por mais de três horas para
passar a virada conosco, mas a única coisa que mais desejava era passar a
virada do ano dormindo e sentindo a respiração de Joaquim no meu pescoço
por estar com a cabeça afundada no meu cabelo.
— Sei que minha família chegando aqui mudou todos os nossos
planos, mas você precisa se distrair — fala se virando para mim.
— Você tem razão a sua família aqui me faz entrar na fuga das
minhas preocupações e assim sorrio para me distrair, mesmo que tudo que
mais desejo era dormir. — Suspiro ao terminar de dizer.
—Sei que seria assim, rejeitei o convite que Enzo fez para que
passássemos com a família da sua mulher porque sabia que você não se
animaria... Não quero te ver assim, não faz bem para a nossa filha e nem para
você... Sei que é desesperador não ter notícias. Já ouviu aquela oração de São
Bento, onde ensina que temos que aprender aceitar aquilo que não podemos
mudar? Isso é passageiro e ele irá voltar.
— Como conhece esta oração Joaquim?
Ele sorri revelando algumas ruguinhas no canto dos olhos que só o
deixava mais lindo.
— Você acha que Ben vêm de onde Alba? É de Bento, minha mãe
assim como a sua é bem católica.
— Hum, bem que desconfiei quando ela e a minha mãe começaram a
falar das tradições religiosas do Natal e mais ainda quando ela foi assistir à
missa do galo junto com a minha mãe na TV direto do Vaticano.
— Acho que 70% do que nos aconteceu se deve as orações das nossas
mães, do que por merecimento nosso — fala com um sorriso no rosto e eu
solto uma gargalhada alta em concordância.
— Ouvindo-te falar isso faz total sentido, então temos que agradecer
as duas pela intercessão.
Levanto-me e pego sua mão, descemos a escada e encontramos as
crianças grudadas nos seus celulares. O cheiro de comida boa que vem da
cozinha perfuma a casa e faz meu estômago reclamar.
— Amor, vou na cozinha para ajudar — falo beijando rápido os seus
lábios.
Ouço-o reclamar quando desgrudo dos seus lábios e sorrio, o
deixando com cara de quem queria mais alguns beijinhos.
— Estão precisando de mim aí ou está tudo sob controle? — pergunto
assim que meus pés tocam o piso da cozinha.
— Uma mãozinha a mais é sempre bem-vinda — Robbinfala jogando
o pano de prato no meu ombro.
Vou até a pia, lavo as minhas mãos e as seco nele. Coloco a mão na
massa literalmente, porque fui terminando de fechar as massas de capeletti[18]
que a minha sogra tinha feito, enquanto ela fazia o molho branco.
— Humm, mãe está magnífico como sempre — meu cunhado fala
após ter colocado a primeira garfada na boca e ele tinha razão.
Aquilo estava divino!
Minha sogra tinha mãos de fada na cozinha.
— Este vinho branco que comprei para acompanhar então,
espetacular! —meu sogro fala levantando a taça de vinho branco e fazendo
movimentos circulares no alto.
— Mãe, posso tomar um pouquinho?
— Claro que não menina, ficou louca! Desde quando criança pode
beber? — repreende Robbin e a filha fica magoada por alguns minutos.
— Dentro da geladeira tem algo que tenho certeza de que você vai
amar.
Ouço o telefone tocar e me levando apressada não ouvindo o restante
da interação de mãe e filha. Ainda mantinha a esperança de que a minha
cunhada ligasse a qualquer momento e foi nessa intenção que passei o
número fixo, pois caso não tivesse crédito poderia me ligar a cobrar que
Joaquim ou eu atenderíamos.
— Alô — falo com a voz ansiosa.
— Boa noite é da casa da Alba Flores?
Antes mesmo de responder aquela voz estranha, sinto a minha alma
deixando o meu corpo pelo medo que sinto.
—Sim, é ela mesma.Com quem falo? — pergunto piscando algumas
vezes em uma tentativa estúpida de varrer os maus pensamentos que me
atinge.
— Aqui é do hospital Universit Camelon.
Nem precisava ouvir mais uma palavra, já sabia que não era notícia
boa e minhas pernas começaram a tremer junto com o meu queixo.
— Você é o único contato da Carolyn Carter Flores, ela sofreu um
acidente...
Depois daquela frase, não consegui ouvir mais nada e gritei.
Joaquim apareceu em poucos segundos na minha frente, entreguei o
telefone para ele e me abaixei até sentir a minha bunda encostar no chão, pois
minhas pernas não aguentavam mais manter o peso do meu corpo.
Tudo que se passou a seguir foi um grande borrão na minha mente até
que me vi andando com Joaquim de mãos dadas pelo corredor do hospital
onde a minha cunhada estava, mesmo a contragosto dele e da sua família que
achava que o melhor seria eu ficar em casa, enquanto ele e o irmão vinham ao
hospital saber como ela estava. Agora vê se sou mulher de ficar esperando
notícias sejam elas quais forem, quero ser a primeira a saber mesmo que não
suporte o peso delas e caia dura.Assim que chegamos no hospital e nos
identificamos na recepção e aguardamos até que o médico responsável por
minha cunhada viesse falar comigo. Fico sabendo que ela tinha sofrido uma
lesão traumática dos discos invertebrais[19], rosto e tecidos moles[20].
O que eu realmente entendi foi que ela fez um movimento brusco e
inesperado com o pescoço e seu corpo não tinha se preparado, fora as três
costelas quebradas e mais alguns hematomas, mas ele me disse que ela foi
uma mulher de sorte, pois o carro colidiu contra uma árvore. O carro se deu
como perdido e o namorado dela chegou no hospital sem vida. Meu coração
se aperta com a notícia, pois o conhecia e mesmo se não o conhecesse não
desejo este fim para ninguém. Tudo indica que ele estava dirigindo
alcoolizado, pois pelo o que o médico disse minha cunhada chegou lúcida
dizendo que entrou no carro para o impedir de dirigir.
— Quarto 226 — falo soltando o ar que tinha prendido até chegar
aqui em frente à porta onde minha cunhada se encontra.
Pelo que o médico disse ela está a poder de remédios para aliviar a
dor, então é provável que esteja dormindo.
Empurro a porta e entro devagar, olho para minha cunhada deitada
com um colete no pescoço, a perna quebrada, alguns hematomas no rosto e
outros que provavelmente estão espalhados pelo corpo, mas não consigo vê-
los no momento. A única coisa que consigo pensar é que quase a perdi, meu
sobrinho já não tem pai e iria crescer sem a mãe. Como ela está sendo egoísta
desde que meu irmão se foi, a minha vontade é de dar uns tapas nela só para
ver se acorda para realidade.
Que droga, ela está pensando em fazer o que com a vida dela?
Ela tem um filho que precisa dela.
Estou com tanta raiva que chego a chorar e sentir a carne do meu
corpo pular. Ela pode estar em uma cama sentindo dores, mas assim que ela
abrir os olhos terá que me ouvir.
Ah, se vai!
Fico a olhando até que vejo seus olhos se abrirem, ela me olha com
intensidade e antes de falar o meu nome seus olhos se enchem de lágrimas.
— Alba me perdoa, eu não queria que isso acontecesse... Entrei no
carro para impedir que o Brian saísse bêbado, ele queria ver a queima de
fogos na rua, mas eu vi que ele não tinha condições de sair. Passamos o dia
na casa de uns amigos dele e ele já tinha bebido demais, mas ele não me
ouviu e me ignorou entrando dentro do carro. Deixei Pietro com a mãe de um
dos colegas dele e entrei no carro. Brigamos e tudo foi tão rápido, ele desviou
o carro de outro e só me lembro de quando acordei e ele estava embaixo de
uma árvore que caiu sobre o carro. Fiquei presa o chamando, mas ele não me
ouvia — fala chorando desesperada.
Minha vontade de dar uns tapas para trazê-la para a realidade cai por
terra neste momento. É notável que ela esteja sofrendo.
— Se eu tivesse morrido Alba, meu filho já não tem pai e iria ficar
sozinho neste mundo. Sei que errei, estava revoltada com tudo por ter perdido
o amor da minha vida e fiz muitas coisas erradas, mas vou consertar cada
coisa. Desculpa-me?
— Calma, estou aqui e vou cuidar do Pietro até que você esteja
melhor. Quando você estiver melhor, vamos juntar todos os cacos que deixou
espalhado e vamos seguir em frente. Tem coisas que nunca mais voltarão,
meu irmão não vai voltar para nós e temos que nos acostumar com esta
realidade... Precisamos seguir em frente procurando dar o melhor para o
Pietro, pois ele é a parte do meu irmão que continua vivendo — falo sem
conseguir conter as minhas lágrimas e soluços. — Dentro do nosso alcance
faremos de tudo para que ele tenha uma infância feliz e um futuro digno, pois
é o que o meu irmão ia querer. Você é minha irmã e eu serei a sua família,
nunca mais vai estar sozinha, está me ouvindo? Para de fazer loucuras — falo
segurando seus dedos já que não posso abraçá-la porque ela estar toda
quebrada.
Sinto-me feliz por ela estar de volta.

Alguns Meses Depois


Abro a porta do quarto da Nina e fico admirando minha mulher com a
minha filha nos braços. Sorrio feito bobo, feliz e encantado pensando em
como as duas coisas que mais amo nesta vida poderia caber em um único
lugar.
É verão, Alba usa um vestido branco de alças finas que vai até os seus
joelhos e balança nossa pequena nos braços cantando uma canção em
espanhol que para mim parece mais uma oração de tão linda que é. Toda vez
que ela canta, nossa filha fica parada a olhando com os olhos castanhos
esverdeados iguais aos da mãe. Quando ela se dá conta da minha presença no
quarto, se vira para mim e sorri. Toda vez que isso acontece é como se eu
pudesse me apaixonar mais uma vez por esta linda mulher.
— Está aí meu amor? Nem tinha notado.
Ando até ela e abraço suas costas, deposito beijos em seu ombro e a
vejo fechar os olhos.
— Oi minha princesa — falo e Nina abre o sorriso banguela mais
lindo que já vi nesta vida.
Ela sempre faz isso quando ouve a minha voz.
— Já te disse que te amo hoje, vida? — pergunto a virando de frente
para mim e ela pisca algumas vezes.
— Já, mas pode me dizer mais uma vez. Não me canso de ouvir dos
seus lábios que me ama e responder que te amo mais daqui até o infinito, se
for possível.
— Eu te amo Alba e sou grato por um dia ter estacionado o carro na
frente da minha casa por estar perdida sem lugar para ficar. Até te conhecer
mesmo tendo casa e todo o conforto que construí com o trabalho das minhas
mãos, estava sem lar... Encontrei minha casa assim que me apaixonei por
você... Você é o meu lar meu amor. Eu te amo e amo tudo que nós dois
somos juntos.
— Eu também te amo meu amor — fala e me beija.
Quando sua boca toca na minha, é como se me sentisse no céu por
alguns instantes. Não sabia que era possível ser feliz assim até a vida me
mostrar que sim e me dar a Alba de presente e depois para finalizar me
mostrou que poderia ser mais feliz ainda me dando Nina.
Pietro entra no quarto e nos abraça, pego-o no colo e beijo a sua testa.
Ele se curva até conseguir beijar a bochecha de Nina que agora dorme me
dando a certeza de que o amor só se multiplica de todas as formas na nossa
vida.
Fim.

Um Novo Recomeço
“Há sempre alguma loucura no amor.
Mas há sempre um pouco de razão na loucura.”
Friedrich Nietzsche.

O dia tinha começado mal e pareceu ficar ainda pior quando tive que
sair no meio do expediente para resolver problemas que não eram meus e de
quebra fiquei meia hora na fila do banco.
— Estava a sua espera.
Sou despertado das minhas lamúrias internas por uma senhora e
quando olho para o lado me arrependo por estar sempre puto com tudo.
Quase não a tinha visto para oferecer o braço para chegar ao outro lado da
rua.
— Boa tarde senhora, como vai?
Ela sorri gentilmente, levanta a mão que pego com carinho e coloco
debaixo do meu braço.
— Estou me sentindo maravilhosa hoje, às vezes ficamos tão
preocupado com as coisas do nosso dia a dia que não somos capazes de parar
para ver a beleza nas pequenas coisas. Eu nem sempre fui cega Peter, mas
sabia que existem vários tipos de cegueira?Uma das piores é essa que você
vive te impedindo de enxergar as cores do mundo a sua volta e de permitir
amar e ser amado.
Olho para ela confuso a achando louca por agir de tal forma, mas suas
palavras têm tanta verdade que me impedem de virar as costas e seguir meu
caminho.
— Para onde a senhora vai? Posso te levar até um ponto de ônibus?
— pergunto solícito.
— Não precisa meu jovem, minha missão acaba aqui e sua vida
começa a ganhar sentido hoje — fala com uma convicção que faz meu peito
se esquentar com suas palavras e sorrio sem perceber.
Ela tira um envelope vermelho, desliza entre seus dedos até me
entregar e olho sem entender.
— Esta é uma oração de amor que você fará hoje às 23:15 horas e
onde quer que esteja a sua amada, vocês irão se unir nesta noite com a mesma
oração. O mundo está sedento por amor e às vezes recebo a missão de ajudar.
Olho para a carta e quando levanto minha cabeça não a vejo mais, se
não fosse a carta na minha mão poderia me achar um louco. Coloco o
envelope no bolso e procuro sair o mais rápido daqui, mas antes leio em voz
alta.
— Nossa oração de amor.
Às vezes, só às vezes os seres humanos são tão cabeças duras que
precisam claramente de uma intervenção dos céus com os anjos.
OBRAS DA AUTORA
Quando você chegou
Sinopse

Eric Dadoorian é conhecido e respeitado no mundo dos negócios por


seu toque de midas, onde ele coloca as mãos vira ouro.
Agorana vida pessoal o negócio é outro...
Dono de um passado conturbado marcado por grandes perdas que fez
com que jurasse a si mesmo que nunca mais se permitiria amar outra vez,
para que não viesse a sofrer e esta decisão fez dele um homem bilionário,
mas dono de um coração impermeável.
Entretanto a vida tinha feito outros planos para ele...
Planos estes que nem ele imaginava quais eram e só os notou quando
viu sua vida se transformar subitamente no mesmo instante em que uma linda
mulher negra e enigmática atravessou seu caminho e de quebra girou seu
mundo em 360°.
Eric se ver obrigado a refazer seus planos e se vê tendo esperança,
mas haverá muitos empecilhos até que eles tenham seu tão sonhando final
feliz.
Suas diferenças são gritantes começando pelo seu status social.
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Cowboy intenso
Sinopse
Ele era dez anos mais velho que ela, além de tudo, ela era amiga de
sua irmã mais nova e filha dos empregados dos seus pais.
Virgem e inocente até então e proibida para ele, mesmo assim Caio a
amou com toda a força de sua alma.
Era amor suficiente para superar todas as dificuldades que
encontrariam em seus caminhos, afinal eles nasceram um para o outro...
Porém quis o destino provar esse amor, separando-os por um plano vil
feito por pessoas que eles jamais imaginariam que fossem capazes de tal
maldade...
Maldade essa que resultou em um abandono.
Ela partiu logo após ter aceitado o pedido de casamento de Caio, mas
se passaram dez anos, ela está de volta e as coisas não serão as mesmas.
Seu grande amor do passado se tornou um homem frio e calculista,
com um único propósito, se vingar de Manu e fazer com que ela sinta na pele
a mesma dor que lhe causou.
Haverá um casamento por contrato feito em nome da tão esperada
vingança que Caio Boaventura almeja.
Será que estando em frente da única mulher que amou, Caio será
capaz de seguir com seu plano?
É possível alguém amar a mesma pessoa durante a vida toda?
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A vigarista
Sinopse
Uma mulher forte e dona de si, disposta a tudo para atingir seus
objetivos, inclusive engravidar para manter o emprego dos sonhos. Objetivo
esse que fez com que entrasse na sua vida Dmitry, um talentoso chef de
cozinha Irlandês, que respira amor em tudo que faz. Ele estava apenas de
passagem pelo Brasil, sendo assim era perfeito para o que Lívia desejava.
Dmitry encontra em Lívia o ritmo perfeito para as batidas do seu
coração, o levando a se apaixonar de imediato quando seus olhos pousaram
sobre ela.
Lívia foi marcada pela dor e ensinada da pior forma, que o amor fere
e nos torna fracos e vulneráveis, coisa que rejeita ser, mas o amor que
começou sentir pelo pai do seu bebê não estava em seus planos,tirando-a do
chão por alguns milésimos de segundos, que para ela pareceu ser uma
eternidade.
Uma terapeuta de casais, que por ironia do destino não acredita no
amor.
Duas pessoas completamente diferentes, dois mundos que se colidem
e se transformam para sempre ao se encontrarem.
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Sob minha jurisdição
Sinopse
Seu nome é conhecido e respeitado por toda a cidade. Ele é a lei em
uma cidade pequena do interior e por onde passa exala autoridade e poder.
Um homem extremamente fechado, autoritário, que nunca sorri e
muito menos sai da linha, totalmente regrado em suas atitudes.
Porém, tudo muda com a chegada de uma bela estelionatária na sua
delegacia que colocará em dúvida sua autoridade como delegado, fugindo
debaixo dos seus olhos.
Com o ego ferido, Marcos Ramón será capaz de tudo para trazê-la de
volta para a sua jurisdição, até mesmo cair na estrada à procura da bela
trambiqueira que colocou em dúvida a seriedade do seu trabalho, mas este
será um caminho sem volta para o coração do implacável homem da lei...
Ele se verá mais envolvido do que deveria por Tabata Hendrix, uma
mulher misteriosa com o passado como uma incógnita, que nasceu no berço
da máfia e será capaz de tudo para sobreviver.
Duas vidas um único destino...
Ele é lei, ela é sua perdição.
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O técnico do meu filho
Sinopse
Melissa é jovem, mas desde cedo aprendeu a se virar sozinha e lutar
por seus próprios sonhos, mesmo com toda a dificuldade que encontra em seu
caminho.
Batalhadora, nem sempre consegue chegar no horário para pegar seu
filho na escola e o habitual professor de Educação Física compreende seus
atrasos...
Agora Edu será que compreenderá??
Sua vida mudará completamente ao conhecer o enigmático técnico do
seu filho. A química entre os dois é de enlouquecer, mesmo que vivam como
cão e gato, porque eles se negam a aceitar isso, mas entre os dois existe mais
que desejo e paixão.
Porém há um segredo que Edu fará de tudo para que ela não descubra
e quando o casal finalmente decide aceitar o que há entre eles, o medo toma
conta do homem.
O enigmático técnico quer contar toda a verdade a Melissa, mas tem
medo da sua reação e de perdê-la para sempre.
Qual será esse segredo de Edu?
Link da Amazon: http://amzn.to/2MuX10m
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[1]
Filho.
[2]
Que tem grade; cercado.
[3]
Maluca, desmiolada.
[4]
Filha.
[5]
Nossa Senhora de Guadalupe ou Virgem de Guadalupe é a denominação de uma aparição mariana da
Igreja Católica de origem mexicana, cuja imagem tem como seu principal local de culto a Basílica de
Guadalupe, localizada no sopé do monte Tepeyac, ao norte da Cidade do México.
[6]
Mãe.
[7]
Mamãe.
[8]
Tia.
[9]
Pessoa ou coisa que se mostra gasta, acabada; caco, farrapo.
[10]
Movimento do corpo ou de uma de suas partes.
[11]
Sejam bem-vindos família da Alba.
[12]
Sim, sou eu.
[13]
Para cima, para baixo, para o centro e dentro.
[14]
Com altivez ou orgulho; orgulhoso, soberbo, vaidoso.
[15]
É uma palavra derivada da junção dos seguintes termos em japonês: e + moji. Com origem no
Japão, os emojis são ideogramas e smileys usados em mensagens eletrônicas e páginas web.
[16]
Diz-se da voz muito aguda ou estrídula.
[17]
Pinhata ou Pichorra, se trata de uma brincadeira, que, normalmente, se dedica às crianças, contudo
pode ser jogado por adolescentes e até adultos. Consiste em uma panela, recheada de doces, totalmente
coberta por papel crepom, suspensa no ar a uma altura média de dois metros, onde o
participante, vendado, tenta quebra-la com um bastão e, consequentemente, liberar os doces. É
especialmente popular no México, onde é comum em aniversários, sob a forma de uma estrela de cinco
pontas.

[18]
Massa em forma de pequenos chapéus tricornes recheados.
[19]
É uma articulação entre os corpos das vértebras adjacentes, que funciona de modo a conferir rigidez
e flexibilidade à coluna, na qual é necessário para o suporte de peso, movimentação do tronco e ajuste
de posição indispensável para equilíbrio e postura.
[20]
Os tecidos moles incluem os vasos sanguíneos, vasos linfáticos, músculos, tecido gorduroso,
aponeuroses, tendões, nervos e os tecidos sinoviais (revestimento das articulações) equivalendo a cerca
de 50% do peso corporal de um adulto.

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