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O Cavaleiro da Dinamarca,

de Sophia de Mello Breyner Andresen


A obra O Cavaleiro da Dinamarca narra as aventuras percorridas
por um cavaleiro que vivia com a sua família numa floresta da
Dinamarca.
Numa noite de Natal, durante a ceia, quando todos estavam
reunidos, comunicou-lhes que decidira passar o próximo Natal na
Palestina, em Jerusalém, na gruta onde Jesus nascera. Referiu que
partiria na primavera e prometeu, ainda, que dali a dois anos estariam
juntos de novo para celebrar a noite de Natal.
Viagem de ida
Da Dinamarca à Palestina:
itinerário percorrido pelo Cavaleiro

Na primavera, o Cavaleiro deixou a sua floresta e dirigiu-se para


a cidade mais próxima, que era um porto de mar. Nesse porto
embarcou, e, levado por bom vento que soprava do norte para o
sul, chegou muito antes do Natal às costas da Palestina.
Palestina

Chegado à Palestina, seguiu


com outros peregrinos para
Jerusalém.
Palestina
Em Jerusalém, visitou um por um os lugares santos.
Palestina
Rezou no Monte do Calvário…

Colina situada perto de Jerusalém, onde Cristo foi crucificado.


Palestina
… e no Jardim das Oliveiras.

Monte situado perto de Jerusalém, onde Cristo transmitiu a palavra de Deus.


Palestina
Lavou a cara no rio Jordão.
Palestina
Viu as águas azuis do lago Tiberíade.
Palestina
Percorreu as ruas de Jerusalém.
Palestina
“Quando chegou o dia de Natal, ao fim da tarde, o Cavaleiro
dirigiu-se para a gruta de Belém”, onde rezou muito, durante toda a
noite. 
objetivo da sua peregrinação

Gruta de Belém
“Passado o Natal o Cavaleiro
demorou-se ainda dois meses na
Palestina visitando” outros lugares de
referência.
“Depois, em fins de fevereiro,
despediu-se de Jerusalém e, na
companhia de outros peregrinos,
[entre eles o Mercador de Veneza]
partiu para o porto de Jafa.”
Viagem de regresso
Da Palestina à Dinamarca:
itinerário percorrido pelo Cavaleiro e locais visitados

“Em Jafa foram obrigados a esperar pelo bom tempo e só


embarcaram em meados de março.
Mas uma vez no mar foram assaltados pela tempestade”, que
só amainou passados cinco dias, levando-os a parar em Ravena
(Itália).
Ravena
Ravena
Ravena

“— Ouve — disse o Mercador ao Cavaleiro —,


não fiques aqui à espera de outro navio. Vem
comigo até Veneza. Se Ravena te espanta
mais te espantará a minha cidade construída
sobre as águas.”
Veneza
Veneza
Veneza é uma cidade banhada por vários canais que se atravessam em
gôndolas. Para além de ser considerada uma das cidades mais românticas
do mundo, dispõe de uma vasta atividade cultural.
Veneza
“Veneza, construída à beira do mar Adriático sobre pequenas ilhas e sobre
estacas (…)”
Veneza

Praça de São Marcos


Veneza
Veneza
Surge a primeira narrativa encaixada: a história de Vanina, que é narrada ao
Cavaleiro pelo Mercador de Veneza.
Estrutura da narrativa
Situação inicial Orso, tutor de Vanina, promete-a em
(personagens, localização
casamento a Arrigo, seu parente,
da ação no espaço e no
tempo...) quando ela é ainda criança.

Conflito/ Ao chegar aos dezoitos anos,


Complicação Vanina não aceita.
Desenvolvimento

(desobediência a uma
Vanina fica prisioneira
ordem, conselho ou
recomendação…) no palácio.
Vanina enamora-se
Resolução de Guidobaldo.
(apresentação de um
elemento que faz com Guidobaldo enfrenta
que as complicações
deixem de acontecer)
Orso e foge com Vanina.

Orso e Arrigo perseguem Vanina e


Situação final
(retorno da paz e Guidobaldo, mas os dois jovens
tranquilidade…) nunca foram encontrados.
Veneza
Vanina era uma rapariga órfã que foi criada por Jacob Orso, seu tutor. Ela
era a rapariga mais bela de Veneza e, quando ainda era criança, Orso prometeu-a
em casamento a um seu parente chamado Arrigo.
Vanina não quis casar com ele porque o achava velho, feio e maçador. Então,
Orso prendeu-a dentro do palácio. A rapariga todos os dias penteava os seus
belos cabelos loiros e compridos, na janela do seu quarto.
Um dia, apareceu por ali um belo capitão de um navio, de cabelos pretos
azulados e pele queimada pelo sol, que se encantou com a beleza de Vanina e
lhe ofereceu um pente de oiro para ela se pentear. Os dois jovens foram
namorando, em segredo, até que um dia Guidobaldo, assim se chamava o
capitão do navio, pediu a mão de Vanina a Orso, mas este não aceitou.
Então, numa noite, enquanto todos dormiam, Guidobaldo ajudou-a a fugir
pela janela, atirando-lhe uma escada de seda, que ela prendeu à balaustrada.
Quando deu conta da fuga, Orso ficou furioso e chamou Arrigo. Ambos foram à
procura de Vanina e de Guidobaldo, mas nunca os conseguiram encontrar.
Veneza
“Aconselhado pelo Mercador, tinha resolvido fazer a meio da
viagem para Génova um desvio para sul, para conhecer a célebre
cidade de Florença.
Passou por Ferrara e Bolonha e viu as altas torres de São
Giminiano. Dormia nas estalagens ou pedia abrigo nos conventos.”
Ferrara
Ferrara
Bolonha
Bolonha

As altas torres de São Giminiano


Florença
Ferrara
Florença

“E a beleza de Florença espantou o Cavaleiro tal como o tinha espantado a


beleza de Veneza. Mas aqui tudo era mais grave e austero.”
Florença
Florença

Nesta cidade seguiu as recomendações do Mercador e dirigiu-se


à casa do Banqueiro Averardo, onde ficou hospedado. Ficou
impressionado com os temas das conversas: discutia-se “os
movimentos do Sol e da luz, e os mistérios do céu e da terra.
Falavam de matemática, de astronomia, de filosofia. (…) Em
suma, parecia que toda a sabedoria da Terra estava reunida
naquela sala.”
Florença
Surge a segunda narrativa encaixada: a história de Giotto, que é
narrada ao Cavaleiro por Filippo, um dos amigos do banqueiro
Averardo.

Giotto era um jovem pastor. Enquanto guardava as suas ovelhas,


desenhava nos penedos.
Um dia foi descoberto por Cimabué, primeiro pintor de Itália, e este,
espantado com a beleza dos seus desenhos, convidou-o a ir consigo para
Florença.
Cimabué ensinou-lhe toda a sua arte e Giotto tornou-se um dos
maiores pintores daquele tempo.
Florença

O Beijo de Judas, de Giotto

Dante, pintado por Giotto


“E Dante, que ele retratou e que foi seu amigo, fala dele no
seu poema.
Estátua de Giotto – Quem era Dante? – perguntou o Cavaleiro –.”  origina a
terceira narrativa encaixada: a história de Dante.
Florença
Dante, apenas com nove anos, apaixonou-se por Beatriz que tinha oito anos e que era
a criança mais bela de Florença. Mas Beatriz morreu em plena juventude e ele, não
conseguindo superar o desgosto, entregou-se a uma vida de loucuras e erros, até que no
ano de 1300, numa sexta-feira Santa se encontrou perdido numa floresta escura e selvagem
onde lhe apareceram um leopardo, um leão e uma loba.
Valeu-lhe a sombra de Virgílio (poeta latino) que fora enviada por Beatriz para o
conduzir até ela. Primeiro passaram a porta do Inferno, depois atravessaram os nove
círculos onde se encontram os condenados. Aqui viram uma grande quantidade de almas
que padecem martírios cruéis.
Finda a visita ao Inferno, voltaram à luz do sol e chegaram ao Purgatório, onde se
encontram as almas que, através de preces e penitências, aguardam o perdão e a admissão
ao Paraíso. Por fim, chegaram ao cimo do monte do Purgatório onde fica o Paraíso Terrestre
e foi aí que se deu o reencontro de Dante com Beatriz. Então esta explicou-lhe que o
objetivo de o levar a fazer aquela viagem foi para que ele tivesse consciência do quanto
sofrem os injustos e pecaminosos e se emendasse, para que fosse digno da felicidade e
alegria que reina no céu. Pediu-lhe ainda que, ao voltar à terra, escrevesse um livro onde
contasse tudo o que viu, de modo a ensinar os homens a detestarem o mal e a desejarem o
bem. Dante assim fez e esse livro é A Divina Comédia.
De Florença a Génova
O cavaleiro viajava com pressa para embarcar no porto de
Génova num dos navios que, no princípio do verão, sobem da
Itália para Bruges, Gand e Antuérpia. Mas, já perto de Génova,
adoeceu. Foi recolhido e tratado por frades num convento.
Precisou de dois meses e meio para restabelecer forças e
permaneceu lá mais cinco semanas, usufruindo do ambiente de
paz que lá reinava.
Génova
Génova

“Mas quando chegou ao grande porto de mar era já o fim de


setembro e os navios que seguiam para a Flandres já tinham
partido todos.” Então resolveu seguir viagem por terra até Bruges.
Bruges
Bruges
De Génova a Bruges
“Atravessou os Alpes, atravessou os campos, as planícies, os vales
e as montanhas da França.”
Bruges
“Mas quando chegou à Flandres era já inverno e sobre os telhados
e os campos caía a primeira neve.”
Antuérpia
Bruges
Antuérpia
Antuérpia

Famoso porto comercial de Antuérpia, séc. XV


Nesta cidade procurou o negociante flamengo, para o qual o
banqueiro Averardo lhe tinha dado uma carta.
Antuérpia
Na casa do negociante flamengo, é narrada a quarta e última narrativa
encaixada: a história de Pêro Dias, que é contada ao Cavaleiro por um
capitão de um dos navios do negociante.

O capitão flamengo salientou que, com o desejo de ir mais longe do


que as suas viagens habituais, resolvera alistar-se nas expedições
portuguesas que navegavam para o Sul à procura de novos países. O
capitão será, portanto, um narrador participante que relata a história
encaixada de Pêro Dias, ocorrida numa viagem que teve início em Lisboa
com o objetivo de explorar as costas de África.
Esta narrativa de encaixe inicia-se primeiro com uma pequena
descrição do local de desembarque e depois com apresentação do
objetivo do capitão: estabelecer contacto com os africanos. Seguidamente
é apresentado o protagonista: Pêro Dias.
Antuérpia
De seguida narram-se as tentativas de Pêro Dias para estabelecer
contacto com um indígena: primeiro através da oferta de panos coloridos,
depois através da linguagem verbal, e por fim através da linguagem gestual.
Porém, quando tudo parecia estar a correr como Pêro Dias pretendia,
restando já apenas alguns passos de distância entre ele e o indígena, um
gesto inofensivo da sua parte assustou o nativo que começou a fugir e que,
ao ver-se perseguido e agarrado por Pêro Dias e julgando-se perdido,
apontou a sua lança, tendo Pêro Dias procurado aparar o golpe com a sua
espada.
O resultado foi a morte de ambos, sendo a causa o desentendimento
das línguas, a incapacidade de manter um diálogo.
Quando os companheiros de Pêro Dias chegaram à praia, constataram
que o sangue deles era exatamente da mesma cor. Este facto permite-nos
refletir sobre o racismo.
Antuérpia

O cavaleiro percorreu a cidade, durante três dias, falando com


capitães, mas a resposta foi sempre a mesma: era inverno e nenhum
navio se atreveria a viajar para o norte. Por isso, decidiu prosseguir
viagem por terra.
Antuérpia
Bruges
Da Antuérpia à Dinamarca
Foi uma viagem dura. “Os rios estavam gelados,” (…)
Da Antuérpia à Dinamarca
“(…) a terra coberta de neve.”
Da Antuérpia à Dinamarca
“(…) os dias eram cada vez mais curtos.”
Da Antuérpia à Dinamarca
“Os caminhos pareciam não ter fim.”
Dinamarca

“Finalmente, na antevéspera do Natal, ao fim da tarde, chegou a


uma pequena povoação que ficava a poucos quilómetros da sua
floresta.”
Dinamarca
“Era o dia 24 de Dezembro, (…)
Antes da meia-noite, sem falta, tinha
de chegar à sua casa na clareira de
bétulas.
E ao fim de três quilómetros de
marcha, cheio de confiança, penetrou
na grande floresta. (…)
Mas agora, depois de quase dois anos
de ausência, a floresta parecia-lhe
fantástica e estranha. Tudo estava
imóvel, mudo, suspenso. E o silêncio e
a solidão pareciam assustadores e
desmedidos.”
Dinamarca
“Então na massa escura dos arvoredos começou ao longe a crescer uma
pequena claridade.”
Dinamarca

“Mas quando chegou em frente da


claridade viu que (…) era ali a clareira
de bétulas onde ficava a sua casa. E
ao lado da casa, o grande abeto
escuro, a maior árvore da floresta,
estava coberta de luzes. Porque os
anjos do Natal a tinham enfeitado
com dezenas de pequeninas estrelas
para guiar o Cavaleiro.”
Dinamarca
“Esta história, levada de boca em boca,
correu os países do Norte. E é por isso
que na noite de Natal se iluminam os
pinheiros.”

Diz-se que foi graças a esta história que


surgiu o hábito de se iluminar os pinheiros
na noite de Natal, para guiarem todos
aqueles que se encontram perdidos.

A obra vem perpetuar, através de uma


versão escrita, esta lenda explicativa da
origem de uma tradição natalícia: a
iluminação dos pinheiros.
Categorias da Narrativa
1. AÇÃO
1.1. Quanto ao relevo:
 Ação central: a viagem do Cavaleiro
 Ações secundárias: a história de Vanina e Guidobaldo; a história de Giotto;
a história de Dante; a história de Pêro Dias

1.2. Quanto à estrutura:


 Na ação central, ou seja, no relato da viagem do Cavaleiro, as sequências
narrativas encontram-se organizadas por ordem cronológica (pela ordem que
acontecem), estamos portanto perante o encadeamento.
 As ações secundárias estão inseridas na narrativa principal através da técnica
de encaixe, isto é, uma sequência, geralmente secundária, é encaixada dentro
de outra que está a ser narrada e que depois se retoma.
Categorias da Narrativa
2. TEMPO HISTÓRICO
Explícito, mas indeterminado, no início da obra:
“Há muitos anos, há dezenas e centenas de anos” (p. 5 / 1)
Implícito na obra:
“Giotto (…) é um pintor do século passado” (p. 25 / 7)
“Este é um dos capitães dos meus navios”; “Espantou-se o Cavaleiro
com aquilo que via, pois naquele tempo a pimenta era quase tão rara como
o oiro.” (p. 38-39 / 11)
Premissas:
Giotto viveu no séc. XIII/XIV (1266-1337);
O período áureo dos descobrimentos foi o século XV.
Dedução/Conclusão:
A ação decorre no séc. XV - início dos descobrimentos (o que explica
o desconhecimento do Cavaleiro relativamente às especiarias utilizadas em
casa do negociante flamengo) e um século depois de Giotto.
Categorias da Narrativa
3. MODOS DE REPRESENTAÇÃO DO DISCURSO
 Narração  Descrição
 relato de acontecimentos;  caracterização de personagens,
 corresponde a um avanço da objetos, espaços…
ação;
 os tempos verbais
predominantes são o pretérito
≠  corresponde a um momento de
pausa na ação;
 o tempo verbal predominante é
mais-que-perfeito, o presente e o o pretérito imperfeito do
pretérito perfeito, sendo este indicativo;
último o mais frequente.  é frequente a presença de
nomes, adjetivos, advérbios,
figuras de retórica…

Adjetivação (dupla, tripla), enumeração, personificação, metáfora,


comparação, sensações visuais, auditivas, tácteis…
Figuras de retórica
(recursos expressivos)
Dupla adjetivação – consiste na utilização de dois adjetivos para qualificar um
nome. Ex.: “os Invernos são longos e rigorosos”

Tripla adjetivação – consiste na utilização de três adjetivos para qualificar um


nome. Ex.: “dias curtos, pálidos e gelados.”

Enumeração – Apresentação sucessiva de vários elementos.


Ex.: “(…) iam colher flores, morangos, amoras, cogumelos.”

Metáfora – Diz-se que é uma espécie de comparação abreviada, pois deu-se o


desaparecimento da palavra ou expressão comparativa (como).
Ex.: “a floresta ficava imóvel e muda, presa em seus vestidos de neve e gelo.”

Hipérbole – Consiste no emprego de termos exagerados, para realçar


determinada realidade (grande exagero da realidade).
Ex.: “E eram tão perfumados que de longe se sentia na brisa o seu aroma.”

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