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“Camões e a tença”

de Sophia de Mello Breyner


Sophia de Mello
Breyner Anderson
Nasceu a 6 de novembro de 1919,no
Porto. Publicou 14 livros de poesia
entre 1944 e 1997. Foi a primeira
mulher portuguesa a receber o mais
importante galardão literário da língua
portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Faleceu em 2004 e o seu corpo está no
Panteão Nacional desde 2014 e tem uma
biblioteca com o seu nome em Loulé.
Camões e a tença
Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram


Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram


Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente


Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.
Camões e a tença
Irás ao paço. Irás pedir que a tença A
Seja paga na data combinada. B
Personificação Este país te mata lentamente C Quintilha
País que tu chamaste e não responde D
<
Anáfora País que tu nomeias e não nasce. E

F Em tua perdição se conjuraram

[
C Calúnias desamor inveja ardente
Rima emparelhada E sempre os inimigos sobejaram Quadra
F
C A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram F


Porque estavam curvados e dobrados G
Quadra
MetáforaPela paciência cuja mão de cinza H
Tinha apagado os olhos no seu rosto. I

C Irás ao paço irás pacientemente


J Pois não te pedem canto mas paciência.
terceto
C Este país te mata lentamente. Personificação
Camões e a tença
Irás ao paço. Irás pedir que a tença A
Seja paga na data combinada. B
Decassílabo Este país te mata lentamente C Quintilha
País que tu chamaste e não responde D
eneassílabo País que tu nomeias e não nasce. E

F Em tua perdição se conjuraram

[
C Calúnias desamor inveja ardente
Rima emparelhada E sempre os inimigos sobejaram Quadra
F
C A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram F


Porque estavam curvados e dobrados G
Quadra
Pela paciência cuja mão de cinza H
Tinha apagado os olhos no seu rosto. I

C Irás ao paço irás pacientemente


J Pois não te pedem canto mas paciência.
terceto
C Este país te mata lentamente.
Camões e a tença
Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
Análise do poema: País que tu chamaste e não responde Espírito do sujeito poético:
atribuição de uma tença anual pela publicação de País que tu nomeias e não nasce. -desânimo e impaciência
“Os Lusíadas”, em 1772, escassa e sempre paga
em atraso. (vv.1-2) Em tua perdição se conjuraram -Desânimo com o povo/país que não
Calúnias desamor inveja ardente lhe dá resposta e não aparece, que
a atitude dos portugueses nos nossos dias E sempre os inimigos sobejaram está cheio de invejas e inimigos, que
(vv.3-5) A quem ousou ser mais que a outra gente. não o veem e não o apoiam

E aqueles que invocaste não te viram -Impaciência porque apesar de todo


a referência ao envolvimento em rixas (vv. 6-9) este sentimento terá de ir ao paço e
Porque estavam curvados e dobrados
ter paciência
Pela paciência cuja mão de cinza
a pouca importância que os portugueses daquela Tinha apagado os olhos no seu rosto.
época dedicaram a Camões (vv. 10-11)

Irás ao paço irás pacientemente


Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.
Ponto de vista a uma eventual mensagem

Sophia quer enaltecer o trabalho e figura de Camões.


Ela critica a forma como o povo português o tratou, o ignorou. “E
aqueles que invocaste não te viram/Pois não te pedem canto mas
paciência”(vv.10 e 15).
Também critica a forma como os portugueses o continuam, à sua obra:
“Este país te mata lentamente/País que tu chamaste e não responde/País
que tu nomeias e não nasce” (vv.1-3).
FIM :)

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