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Unicelularidade e multicelularidade

Atualmente, os seres vivos ocupam todo o tipo de habitats, desde as


zonas mais profundas dos fundos oceânicos às cordilheiras mais altas
do nosso planeta.

A diversidade das formas de vida existentes é evidente, desde os


organismos simples e unicelulares, até aos organismos multicelulares
mais complexos que coabitam nos ecossistemas, mantendo-os em
equilíbrio. Mas nem sempre foi assim!

A vida na Terra foi evoluindo, de forma lenta e gradual, sofrendo


diversas modificações que deram origem à grande diversidade de
seres vivos que podemos observar hoje em dia no nosso planeta.
Mas, para compreendermos a evolução da vida temos de
compreender, em primeiro lugar, a história evolutiva da célula.

Os seres vivos podem agrupar-se em dois grandes grupos, os seres


procariontes e os seres eucariontes:

– esta classificação é apoiada pelo registo fóssil que


testemunha a existência destes dois tipos de seres no
passado;

– são classificados com base na organização celular, ou


seja, no tipo de células que os constituem:
Célula procariótica

Célula eucariótica

Pensa-se que foram os procariontes que estiveram na origem da


diversidade de formas de vida existentes atualmente, devido:

– à sua simplicidade estrutural (a evolução processar-se-ia de


seres mais simples para mais complexos);

– ao registo fóssil existente: os dados fósseis sugerem que os


seres eucariontes surgiram 2000 milhões de anos depois dos
organismos procariontes.
Alguns grupos de procariontes terão evoluído e aumentado a sua
complexidade e terão estado, provavelmente, na origem dos
organismos eucariontes.

Para explicar o aparecimento de células eucarióticas a partir da


evolução de células procarióticas, existem duas hipóteses:
a hipótese autogénica e a hipótese endossimbiótica.
Hipótese autogénica

Hipótese endossimbiótica

Argumentos a favor da hipótese endossimbiótica:

 as mitocôndrias e os cloroplastos são muito semelhantes a


bactérias (seres procariontes), na forma, no tamanho e nas
estruturas membranares;

 estes organelos produzem as suas próprias membranas, as


suas divisões são independentes das da célula e são
semelhantes à divisão binária das bactérias, contêm um DNA
próprio semelhante ao das bactérias – uma molécula circular,
geralmente, não associada a histonas;

 os ribossomas das mitocôndrias e dos cloroplastos são


semelhantes aos dos procariontes, quer no tamanho, quer nas
suas características bioquímicas;

 atualmente, podem encontrar-se associações simbióticas entre


bactérias e alguns eucariontes.
Pontos fracos da hipótese endossimbiótica:

 esta hipótese não explica a origem do núcleo das células


procarióticas;

 não esclarece como é que o DNA nuclear comanda o


funcionamento dos cloroplastos e das mitocôndrias.

Multicelularidade

Depois do aparecimento das células eucarióticas, a vida na Terra


apresentava já grande diversidade.

Os organismos eucariontes, que desenvolveram capacidade de


predação, começaram a aumentar de tamanho, o que favoreceu:

– a captura mais eficiente de outras células;

– a deslocação que, sendo mais rápida, facilita a fuga e a


alimentação;

– o aumento do metabolismo.

À medida que as dimensões da célula aumentam, a razão entre a


área da célula e o seu volume diminui porque o crescimento celular
não pode ser indefinido. Então, como o metabolismo se torna mais
ativo mas a superfície membranar que contacta com o exterior não
tem um aumento proporcional, as trocas com o meio tornam-se
menos eficientes e não são capazes de dar resposta às necessidades
das células.

Assim, para indivíduos com dimensões superiores a 1mm


sobreviverem só têm duas possibilidades: ou são unicelulares mas
com um metabolismo muito baixo ou, para darem resposta às
necessidades metabólicas, têm de ser multicelulares.
Embora ainda não esteja bem esclarecida, pois o registo fóssil não é
suficiente, pensa-se que a multicelularidade tenha resultado de
associações vantajosas entre eucariontes unicelulares que foram
evoluindo:

– inicialmente, todas as células desempenhariam a mesma função;

– posteriormente, algumas células ter-se-iam especializado em


determinadas funções, ocorrendo diferenciação celular;

– a diferenciação celular, em que se verifica interdependência


estrutural e funcional das células, ter-se-á acentuado, originando
verdadeiros seres multicelulares.

Atualmente, verifica-se a existência de agregados de seres


eucariontes unicelulares da mesma espécie que estabelecem ligações
estruturais entre si, formando colónias ou agregados coloniais.
Volvox não é considerado um ser pluricelular, pois, embora seja
constituído por células estruturalmente independentes, sob o ponto
de vista funcional, a sua diferenciação é ainda muito incipiente,
confinando-se exclusivamente às células reprodutoras. Contudo, este
exemplo é bastante útil para se compreender que organismos
coloniais semelhantes tenham evoluído no sentido de maior
organização e diferenciação estrutural e funcional e, como tal, da
verdadeira multicelularidade.

Pensa-se que:

– os seres coloniais possam ter estado na origem de algas verdes


pluricelulares, algumas das quais evoluíram mais tarde para plantas;

– este dado é apoiado pela existência de clorofila a e b nas algas


verdes e nas plantas e, também, pela presença de amido como
substância de reserva em ambas;

– os diferentes tipos de células, já com especialização, originaram


tecidos que levaram ao aparecimento de órgãos e de sistemas de
órgãos, havendo uma crescente especialização e diferenciação
celulares.

Vantagens evolutivas da multicelularidade para os


organismos:

 permite que os organismos tenham maiores dimensões,


mantendo a relação área/volume ideal para a realização de
trocas com o meio;

 possibilita maior diversidade, proporcionando uma melhor


adaptação a diferentes ambientes;

 diminuição da taxa metabólica, como resultado da


especialização celular que permitiu uma utilização de energia de
forma mais eficaz;

 maior independência relativamente ao meio ambiente, devido a


uma eficaz homeostasia (equilíbrio dinâmico do meio interno)
que resulta da interdependência entre os vários sistemas de
órgãos.
Em suma, pode dizer-se de forma muito simples que a evolução das
formas de vida se processou dos procariontes para os eucariontes
unicelulares e dos seres coloniais para os pluricelulares.

A especialização crescente gerou a grande diversidade de seres vivos


existentes ao longo da História da Terra. Atualmente, estima-se que
existam entre 30 e 50 milhões de espécies diferentes.

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