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e Radioterapia
Autora: Profa. Hamilta de Oliveira Santos
Colaboradores: Prof. Carlos Moussalli
Profa. Marília Coutinho da Costa Patrão
Professora conteudista: Hamilta de Oliveira Santos
Bacharel em Física com ênfase em Energia Nuclear pela PUC-SP. Mestre e doutora em Tecnologia Nuclear pelo Ipen/
CNEN-USP. Exerce a função de professora titular da UNIP na área da Saúde, mais precisamente no setor de Radiologia.
É escritora e editora científica da revista científica Encontro X. É Imortal pela Academia Independente de Letras (AIL),
pela Feblaca de Niterói e pela Academia Luso-Brasileira de Letras do Rio Grande Sul, com inúmeros artigos publicados na
área da Ciência.
CDU 615.849
U517.60 – 23
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Profa. Sandra Miessa
Reitora
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................... 10
Unidade I
1 HISTÓRIA DA MEDICINA NUCLEAR E PRINCÍPIOS FÍSICOS............................................................. 13
1.1 Conceito histórico................................................................................................................................. 13
1.2 Estrutura atômica................................................................................................................................. 15
1.3 A descoberta do elétron..................................................................................................................... 17
1.4 O átomo de Rutherford...................................................................................................................... 21
1.5 O átomo de Bohr................................................................................................................................... 24
1.5.1 A descoberta do nêutron...................................................................................................................... 27
1.6 Física moderna........................................................................................................................................ 29
1.7 Física de partículas................................................................................................................................ 31
1.7.1 Teoria quântica de campos.................................................................................................................. 33
1.7.2 Relatividade especial.............................................................................................................................. 33
1.7.3 Partículas elementares........................................................................................................................... 34
1.8 Tipos de radiação................................................................................................................................... 35
2 FÍSICA NUCLEAR, DESINTEGRAÇÃO, GRANDEZAS RADIOLÓGICAS E PROCESSOS
DE INTERAÇÃO...................................................................................................................................................... 37
2.1 Decaimento radioativo........................................................................................................................ 38
2.1.1 Decaimento alfa....................................................................................................................................... 39
2.1.2 Decaimento beta...................................................................................................................................... 40
2.1.3 Captura eletrônica................................................................................................................................... 41
2.1.4 Decaimento gama................................................................................................................................... 41
2.2 Lei do decaimento radioativo........................................................................................................... 42
2.3 Grandezas radiológicas e processos de interação.................................................................... 42
2.4 Atividade – atividade específica...................................................................................................... 43
2.5 Meia‑vida e vida média...................................................................................................................... 43
2.6 Constante de decaimento.................................................................................................................. 45
2.7 Equilíbrio radioativo............................................................................................................................. 45
2.8 Equilíbrio secular................................................................................................................................... 46
2.9 Efeito fotoelétrico................................................................................................................................. 46
2.10 Espalhamento Compton.................................................................................................................. 47
2.11 Produção/aniquilação de pares..................................................................................................... 49
Unidade II
3 DESCOBERTA DOS RAIOS X.......................................................................................................................... 56
3.1 Produção de raios X.............................................................................................................................. 57
3.1.1 Tubos de raios X........................................................................................................................................ 57
3.1.2 Ampola......................................................................................................................................................... 58
3.1.3 Refrigeração............................................................................................................................................... 60
3.1.4 Filtração....................................................................................................................................................... 60
3.1.5 Restritores................................................................................................................................................... 61
3.1.6 Transformadores de alta tensão........................................................................................................ 62
3.2 Efeito termiônico................................................................................................................................... 62
3.3 Radiação de fundo ou background................................................................................................ 63
3.4 Radiação característica....................................................................................................................... 63
3.5 Radiação de freamento (bremsstrahlung).................................................................................. 64
3.6 Fatores que modificam o espectro dos raios X......................................................................... 65
3.6.1 Tensão (kV).................................................................................................................................................. 65
3.6.2 Corrente (mA)............................................................................................................................................ 66
3.6.3 Tempo de exposição (s)......................................................................................................................... 67
3.6.4 Corrente × tempo (mAs)....................................................................................................................... 67
3.6.5 Dosagem da radiação............................................................................................................................. 67
4 RADIOFARMÁCIA E GERADORES DE RADIONUCLÍDEOS.................................................................. 69
4.1 Geradores de 99mTc................................................................................................................................. 71
4.2 O Gerador Ipen‑TEC pertecnetato de sódio (99mTc).................................................................. 76
4.3 Produção de radioisótopos em reatores nucleares.................................................................. 78
4.4 Produção de radioisótopos em cíclotrons................................................................................... 81
4.5 Principais radioisótopos...................................................................................................................... 84
Unidade III
5 EQUIPAMENTOS DE MEDICINA NUCLEAR E PROTOCOLOS............................................................. 95
5.1 Tomografia por emissão de fóton único (SPECT)..................................................................... 96
5.2 Tomografia por emissão de pósitrons (PET)..............................................................................141
5.2.1 Metabolismo da glicose..................................................................................................................... 143
5.2.2 Aquisição e processamento de imagem em PET...................................................................... 145
5.2.3 Utilidade da PET.................................................................................................................................... 145
5.2.4 Mecanismos cerebrais em condicionamento clássico........................................................... 146
5.2.5 Receptores de estrogênio em câncer de mama....................................................................... 147
5.2.6 Correção de atenuação de corpo inteiro na utilização de PET.......................................... 149
5.2.7 Aquisição de imagens com PET de doenças renais................................................................. 149
5.2.8 Mecanismos cerebrais para respostas de memória................................................................ 149
5.2.9 Evolução das redes metabólicas anormais no cérebro.......................................................... 149
5.3 Imagem híbrida....................................................................................................................................150
5.3.1 SPECT/CT................................................................................................................................................... 152
5.3.2 Pet/CT......................................................................................................................................................... 152
5.3.3 PET/RM...................................................................................................................................................... 155
5.4 Descarte de resíduos..........................................................................................................................158
6 RADIOTERAPIA.................................................................................................................................................161
6.1 Descoberta dos raios X e da radioatividade artificial...........................................................161
6.2 Tipos de aparelhos de teleterapia: raios X superficial, semiprofundo ou
de ortovoltagem..........................................................................................................................................164
6.2.1 Cobalto-60 (60Co).................................................................................................................................. 164
6.2.2 Aceleradores lineares........................................................................................................................... 165
6.2.3 Irradiação com emprego de dois campos................................................................................... 167
6.2.4 Radioterapia bidimensional.............................................................................................................. 168
6.2.5 Radioterapia tridimensional............................................................................................................. 169
6.2.6 Volumes de tratamento...................................................................................................................... 172
6.3 Simuladores de tratamento............................................................................................................173
6.3.1 Simulador convencional.................................................................................................................... 175
6.4 Radioterapia por intensidade modulada (IMRT).....................................................................175
6.5 Radioterapia guiada por imagem (IGRT)...................................................................................176
6.6 Radiobiologia........................................................................................................................................177
6.7 Radiocirurgia ou radioterapia estereotáxica (SRS)................................................................178
6.8 Braquiterapia.........................................................................................................................................179
6.9 Curvas de isodose................................................................................................................................182
Unidade IV
7 CONTROLE DE QUALIDADE.........................................................................................................................189
7.1 Controle de qualidade dos radiofármacos................................................................................189
7.2 Controle de qualidade em radioterapia.....................................................................................191
7.3 Legislação e controle de qualidade em medicina nuclear e radioterapia....................194
8 MEDICINA NUCLEAR, RADIOTERAPIA E SUS.......................................................................................195
8.1 Datasus....................................................................................................................................................196
8.2 A Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN)...........................................................198
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno,
O tecnólogo em radiologia tem um papel importante em diversas áreas, seja na área da saúde ou
na área industrial. Sendo assim, é importante decidir onde trabalhar e saber como trabalhar. Um bom
profissional deve ser dedicado, mostrar conhecimento e empatia para com seus pacientes.
Normalmente, o paciente chega para o exame ou tratamento assustado e precisa ser tranquilizado
sem, contudo, receber falsas esperanças. O trabalho do tecnólogo é produzir imagens que ajudem o
médico no diagnóstico ou irradiar tumores de acordo com o planejamento dele. Juntamente ao médico
e ao físico médico, participará do planejamento do tratamento e dos cálculos da dose necessária para
o diagnóstico ou terapia.
Cada dia mais, torna‑se essencial a presença de um tecnólogo em radiologia na área de medicina
nuclear e radioterapia, principalmente devido aos novos equipamentos existentes no mercado e,
também, a sua difusão pelo país.
A introdução de novas técnicas torna essencial o aprofundamento nos estudos e o fato de manusear
fontes radioativas abertas implica um grande conhecimento de proteção radiológica e suas normas
para proteção, tanto do indivíduo ocupacionalmente exposto como da equipe técnica durante os
procedimentos e do paciente.
O uso de dosímetro TLD e caneta dosimétrica também é essencial para dar confiança ao profissional.
Conhecer e usar um medidor Geiger‑Müller e um curiômetro fornece mais do que autoconfiança,
demonstra o grau de comprometimento do profissional com seu cliente.
É fundamental que se ame o que se faz e isso vem com conhecimento e muito trabalho.
Bons estudos!
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INTRODUÇÃO
A física nuclear é a grande responsável pela existência da medicina nuclear e pelos avanços na área
de diagnóstico e terapia com uso de radionuclídeos. Atualmente, no mundo inteiro usa‑se a técnica da
cintilografia para produzir imagens com a ajuda de fontes radioativas abertas, que auxiliam os médicos
em diagnósticos mais precisos sem qualquer dano ao paciente.
A medicina nuclear é mais conhecida como uma técnica de diagnóstico, mas também é usada
para terapia.
A descoberta de radionuclídeos com meia‑vida mais curta foi fundamental para que o uso da técnica
fosse tão difundido. Os radionuclídeos são usados como traçadores na medicina nuclear, juntamente a
um fármaco que tenha afinidade com o órgão de interesse.
A radiação emitida pelo corpo é captada e transformada em sinal de computador, cuja imagem
produzida pode ser avaliada por um especialista. Imagens cerebrais, por exemplo, podem ser
analisadas com o paciente consciente, quando, então, observações precisas podem ser feitas para um
diagnóstico completo.
A medicina nuclear, no Brasil, teve início em 1956, com a criação do Instituto de Energia Atômica,
atualmente Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), ligado à Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN). O reator do Ipen, com mais de 60 anos de idade, produz até hoje I-131,
utilizado para diagnóstico e terapia, principalmente da tireoide.
Em 14 de setembro de 1961, foi criada a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), uma
instituição que promove e estimula o progresso da Medicina Nuclear no Brasil. Sua formação é de
médicos especialistas e outros profissionais de áreas correlatas, como tecnólogos, biólogos, físicos e
químicos, com a missão de inovar e trazer para a área da saúde aperfeiçoamento. É uma referência tanto
nacional como internacional.
A radioterapia difere da medicina nuclear no tocante a ser uma técnica de tratamento, que pode
ser externa ou interna. Na radioterapia externa ou teleterapia, um feixe de radiação é emitido com a
intenção de diminuir (chamada paliativa) ou destruir um tumor. Para tanto, é usado um equipamento
que contém uma fonte enclausurada cuja radiação é liberada com a abertura de uma janela.
A maioria dos pacientes com neoplasias malignas são tratados com radiação, o que é bastante
positivo na cura ou na diminuição da dor. Normalmente o tratamento ocorre juntamente com
a quimioterapia.
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O número de aplicações da radioterapia dependerá das condições físicas do paciente, da extensão e
localização do tumor, além do resultado dos exames realizados pelo paciente, entre outros fatores.
Em adição aos equipamentos com fontes radioativas, atualmente o uso de aceleradores lineares é
muito utilizado em teleterapia, o que é um ganho, uma vez que a radiação emitida só existe enquanto
o equipamento está ligado.
Neste livro‑texto, inicialmente, serão expostos os seguintes assuntos: história da medicina nuclear
e princípios físicos, física nuclear, desintegração, grandezas radiológicas e processos de interação.
Na unidade II, serão apresentados os seguintes assuntos: descoberta dos raios X, radiofarmácia e
geradores de radionuclídeos. Na unidade III, continuamos com os seguintes assuntos: equipamentos
de medicina nuclear e protocolos de radioterapia. E, por fim, explanaremos sobre controle de qualidade
e legislação, medicina nuclear e radioterapia e SUS.
Os itens chamados “saiba mais” fazem com que o aluno amplie seus conhecimentos. Há, ainda,
muitos exemplos de aplicação, resolvidos em detalhes, o que permite uma melhor fixação dos
assuntos abordados.
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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Unidade I
1 HISTÓRIA DA MEDICINA NUCLEAR E PRINCÍPIOS FÍSICOS
Em 1938, pela primeira vez, após o bombardeio do molibdênio natural, o tecnécio‑99 metaestável
foi isolado pelo físico Emilio Gino Segrè (1905-1989), Prêmio Nobel de Física em 1959 pela descoberta
do antipróton, e pelo químico Glenn Theodore Seaborg (1912-1999).
Com a evolução da física e das técnicas nucleares, hoje são fabricados isótopos radioativos artificiais
em reatores nucleares e em cíclotrons.
A câmara de cintilação, inventada em 1963 pelo engenheiro eletricista e biofísico Hal Oscar Anger
(1920-2005) é responsável por um grande avanço tecnológico na medicina nuclear, produzindo imagens
de qualidade e sendo o ponto de partida para aparelhos como a tomografia cintilográfica.
O uso médico do tecnécio foi graças ao físico nuclear Powell (Jim) Richards (1917‑2010), que
publicou o primeiro estudo sobre o uso de tecnécio‑99 metaestável (99mTc) em medicina nuclear
em junho de 1960 e, desde 1948, trabalhou no desenvolvimento de radionuclídeos. Contudo, a
primeira pesquisa médica com uso de tecnécio ocorreu somente em 1962, com o médico Dr. Claire
J. Shellabarger, na investigação de problemas relacionados à tireoide.
A radioimunoanálise (RIA) é uma técnica de análise de fluidos orgânicos com o uso de traçadores
que tomou impulso a partir de 1956, principalmente com os trabalhos da física médica Rosalyn
Sussman Yalow (1921‑2011), Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1977, e do médico e
cientista Solomon Aaron Berson (1918‑1972).
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), a especialidade teve início no Brasil
em 1946. Em 1956, um convênio entre a USP e o CNPq criou o Instituto de Energia Nuclear (IEA),
que em 1959 deu início aos trabalhos no campo dos radionuclídeos com a produção de I‑131 para
fins médicos.
Observação
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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Desde os primórdios da humanidade, a busca pela unidade da matéria é uma constante. Os gregos
iniciaram essa busca intuindo que toda a matéria seria composta por partículas muito pequenas,
redondas, as quais foram chamadas de átomos ("indivisíveis", na tradução). Esse conceito estabelecido
pelos físicos gregos, lembrando que a tradução de física é "natureza", persistiu até o século XVIII, a
era dos experimentos.
John Dalton (1766‑1844) foi um químico, físico e meteorologista britânico e um dos mais
destacados cientistas do mundo. A anomalia de cores na visão chama-se daltonismo em homenagem a
Dalton, seu descobridor. Dalton também se interessou pela teoria atômica, tendo em 1803 apresentado
à Literary and Philosophical Society de Manchester um trabalho com o título “Absorção de gases pela
água e outros líquidos”, onde fixou seus princípios. Admitindo que os átomos eram partículas indivisíveis,
também postulou que átomos de um mesmo elemento seriam iguais e de peso invariável e que átomos
de elementos diferentes seriam diferentes entre si, entre outras afirmações.
A teoria atômica de Dalton é um retorno a Leucipo de Mileto (460-457 a.C.) e Demócrito de Abdera
(460‑370 a.C.), que consideraram a matéria formada por pequenas partículas chamadas átomos. Apesar
de se chocar com as ideias de Aristóteles (384-322 a.C.), que afirmava ser a matéria descontínua e
formada apenas por quatro elementos (fogo, água, terra e ar), ideias estas que perduraram e foram
adotadas pela maioria dos cientistas durante quase dois mil anos.
Os postulados de Dalton deram origem a um modelo semelhante a uma bola de bilhar, esférica,
maciça e indivisível. Ele também propôs representar os elementos com uma série de círculos com linhas,
pontos ou letras no meio, diferentemente da representação dos antigos alquimistas (figura a seguir).
Representação dos “átomos simples”:
Z
Hidrogênio Carbono Alumínio Nitrogênio Sódio Enxofre Estrôncio Bário Fósforo Zinco
S G P I C
Magnésio Cálcio Potássio Mercúrio Oxigênio Prata Ouro Platina Ferro Cobre
Representação dos “átomos compostos” de água,
amônia e de outras partículas que poderiam ser
formadas, obedecendo à lei das proporções múltiplas
Ácido carbônico
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Unidade I
16
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Saiba mais
O elétron é uma partícula negativa que orbita o núcleo do átomo. Mas, até sua descoberta, nada
sabíamos, nem que o átomo possuía carga, nem tampouco que possuía partículas. Muito tempo passou
até sua descoberta, com vários cientistas empenhados em desvendar os mistérios em torno da estrutura
da matéria. Tanto a química como a física se favoreceram com a descoberta do elétron, que ocorreu no
final do século XIX como resultado dos experimentos de Joseph John Thomson (1856-1940) com raios
catódicos, que foram descobertos em 1838 pelo físico inglês Michael Faraday (1791-1867), estudando
descargas elétricas em gases rarefeitos.
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Unidade I
Muito tempo depois, em 1858, o físico e matemático Julius Plücker (1801‑1868) retomou os
estudos com raios catódicos. Esse termo – raios catódicos – foi usado pela primeira vez em 1876
pelo físico alemão Gotthilf‑Eugen Goldstein (1850-1930), que estudava essas descargas elétricas
acreditando que fossem ondas do Éter, que na mitologia grega significa o céu superior, o céu sem
limites, e na física há a proposta da existência de um meio, ou uma substância que preenche todo
o espaço, como um meio de transmissão entre a propagação de forças eletromagnéticas e as forças
gravitacionais. Desde a relatividade especial, o uso do éter como teoria passou a um modelo abstrato
como várias outras, não sendo mais utilizada na física moderna.
William Crookes (1832-1919), químico e físico britânico, quis entender esse fenômeno e para tanto
construiu um tubo curvo, produziu vácuo em seu interior e aplicou alta tensão em suas extremidades.
Em algum momento, Crookes percebeu uma luminescência esverdeada (figuras 3 e 4), atribuindo
tal fenômeno a moléculas carregadas, que constituiriam o quarto estado da matéria, contudo, não
concluiu seus estudos. É muito interessante imaginar que uma discussão onda-partícula teve início
nesse período, uma vez que Crookes sugeriu que os raios catódicos eram corpúsculos carregados
e Heinrich Rudolf Hertz (1857‑1894) insistia que os raios catódicos eram eletricamente neutros e de
natureza ondulatória.
18
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Figura 4 – Placas apresentando a forma do objeto, onde a margem luminosa para o espaço escuro
concentra‑se no lado côncavo, formando um centro luminoso, e alargando‑se no lado convexo
(conclusão de Crookes para um quarto estado da matéria)
Apenas em 1897, Thomson utilizou um campo elétrico e um campo magnético externo à ampola de
Crookes, em cujo interior havia gases à baixa pressão e eletrodos sob alta tensão. Thomson baseou‑se
no trabalho do físico francês Jean Baptiste Perrin (1870‑1942), também sobre raios catódicos. O objetivo
principal de J. J. Thomson era testar a hipótese de que os raios catódicos seriam partículas negativamente
carregadas ou distúrbios no éter. Para produzir o campo magnético uniforme foi utilizada uma bobina
de Helmholtz para defletir o feixe catódico.
Thomson concluiu que, apesar da distorção e deflexão dos raios catódicos com o campo magnético
aplicado, a “eletrificação negativa”, como chamou, seguia o mesmo caminho dos raios catódicos e
estava intrinsecamente ligada a esses raios catódicos. Sendo assim, J. J. Thomson sabia que se tratava
de partículas negativamente carregadas e passou a buscar a natureza dessas partículas. Para distinguir
se essas partículas eram átomos, moléculas ou uma subdivisão da matéria, mediu a razão entre a massa
e a carga, obtendo o valor de 1,3 ± 0,2 × 10−8 g/C, muito próximo ao valor atual de 0,56857 x 10−8 g/C.
O valor encontrado por Thomson lhe pareceu independente tanto do gás do tubo como do metal do
cátodo, uma sugestão de que as partículas eram constituintes dos átomos de todas as substâncias.
J. J. Thomson baseou-se no trabalho do físico alemão, nascido na Hungria, Philipp Eduard Anton
von Lenard (1862-1947), Prêmio Nobel de Física em 1905, que provou em seus experimentos que
os raios catódicos são criados quando a luz atinge superfícies metálicas, fenômeno este conhecido,
atualmente, como efeito fotoelétrico. Thomson concluiu, então, que a partícula deveria ser muito
menor do que uma molécula, negativa, e também deveria fazer parte do átomo.
19
Unidade I
O modelo atômico proposto por J. J. Thomson era o de uma “sopa” contínua, positiva, encrustada
pelas pequenas partículas descobertas, os elétrons (ou corpúsculos, como costumava chamar). Seu
modelo ficou conhecido como “pudim de passas” (figura a seguir).
Matéria carregada
positivamente
- +
- +
+ + - +
- -
- + - +
+ - +
- -
+ - +
Elétron
O físico experimental estadunidense Robert Andrews Millikan (1868‑1953) foi o primeiro cientista a
determinar o valor da carga do elétron, experimentalmente, iniciada em 1907 e realizada em três etapas,
cada uma caracterizada por um método.
O método I, essencialmente, foi a repetição do experimento do físico inglês Harold Albert Wilson
(1874‑1964), ex‑aluno de Thomson, que consistia em vapores de gotículas sendo produzidos numa
câmara de expansão de vapor entre placas paralelas horizontais de um condensador carregado. A
determinação da carga média “q” de cada gotícula era obtida da observação das camadas superiores
das nuvens, que caíam lentamente e que continham as menores gotículas. O primeiro grupo caía sob
a ação da gravidade e da velocidade v1. O segundo grupo caía com maior velocidade devido à ajuda
de um campo elétrico E, aplicado entre as placas do condensador, com velocidade v2. A expressão final
para a carga do elétron, usada por Wilson e Thomson, é apresentada a seguir:
g
e 3,1x109
E
v x v g v1g/2
Onde:
vx e vg são os módulos das velocidades terminais, respectivamente, com e sem campo elétrico
20
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
A carga do elétron, com esse método, oscilou em torno de 1,3 × 10−19 C. Esses resultados foram
publicados na revista Philosophical Magazine, de 1910, sob o título: “A new modification of the cloud
method of determining the elementary electrical charge and the most probable value of that charge”.
O método II consistiu na gota d’água isolada com alto campo elétrico, quando foi obtido o valor de
1,56 × 10−19 C. Esses resultados foram publicados na revista Science, de 1910, sob o título: “The isolation
of an ion, a precision measurement of its charge, and the correction of Stoke’s law”.
O método III, conhecido como experimento da gota de óleo, teve ajuda de outro aluno de Millikan,
o físico norte‑americano Harvey Fletcher (1884‑1981). Consistia na pulverização de partículas de óleo
carregadas negativamente, no interior de uma câmara. Devido à ação da gravidade, algumas gotas
descreviam movimentos verticais descendentes. Algumas gotas de óleo ficavam em equilíbrio devido à
força eletrostática, gerada por placas metálicas carregadas negativamente. Assim, era possível visualizar
as gotas em repouso e determinar seu diâmetro, e, consequentemente, a relação entre carga elétrica
e massa. O valor obtido para a carga, nesse método, foi de 1,592 × 10−19 C. Esses resultados foram
publicados na revista Physical Review, de 1913, sob o título “On the Elementary Electric charge and the
Avogadro Constant”.
Lembremos que o valor atual da carga elétrica elementar vale e = 1,602 176 565(35) × 10−19 C, o que
é muito próximo daquele encontrado no experimento de Millikan e Fletcher, apesar de não possuírem
os recursos tecnológicos atuais.
A eletricidade positiva e o número de elétrons comparável ao peso atômico são os pontos mais
fracos do modelo atômico de Thomson.
Até 1907, Rutherford achava o modelo de Thomson útil para a compreensão do fenômeno
radioativo. Contudo, em 1910, devido, principalmente, ao seu interesse pelo comportamento das
partículas alfa, Rutherford volta‑se para a teoria atômica. Ainda em 1907, Rutherford substituiu o
físico britânico e espectroscopista Sir. Franz Arthur Friedrich Schuster (1851‑1934) na universidade
de Manchester, cargo a que Schuster renunciou em favor de Rutherford, em parte devido a
problemas de saúde e em parte porque queria promover a causa da ciência internacional. O físico
alemão Johannes Wilhelm Geiger (1882‑1945) era assistente de Schuster e continuou a trabalhar
sob orientação de Rutherford.
21
Unidade I
Usando métodos espectroscópicos, Rutherford, em 1908, provou que as partículas alfa eram idênticas
ao íon duplamente ionizado do elemento hélio, ou seja, o elemento hélio sem os dois elétrons. Nesse
ano recebeu o Prêmio Nobel de Química discursando sobre: “A natureza química das partículas alfa
originárias de substâncias radioativas”. Nesse discurso, pelo método de cintilação, isolou e descreveu
a contagem de partículas alfa. Um microscópio de baixa potência produzia cintilações numa tela de
sulfeto de zinco e dois observadores, olhando para a mesma tela, acionando uma chave parecida com
a de um telégrafo, contavam as cintilações, também registrando o instante de cada cintilação. Desse
modo, três tipos de sinal eram obtidos: sinal do primeiro observador, sinal do segundo observador e sinal
dos dois observadores juntos. Nesse mesmo ano de 1908, Geiger divulgou resultados de experimentos
de espalhamento de partículas alfa sobre folhas de metais.
Em 1909, o físico inglês Ernest Marsden (1889‑1970), que ainda era um aluno de graduação da
Universidade de Victoria de Wellington, na Nova Zelândia, foi trabalhar num novo experimento com
Geiger, sob a supervisão de Rutherford, que acabou conhecido como experimento de Geiger‑Marsden
ou experimento da folha de ouro, que tinha como objetivo a investigação da estrutura do átomo. Uma
das observações de Marsden foi que metais pesados funcionavam melhor como refletores do que a luz,
ou seja, espalhavam ou dispersavam em ângulos maiores que 90°. Também observou que uma folha fina
de platina refletia uma em oito mil das partículas alfa que colidiam com ela e que as outras seguiam
diretamente ou praticamente em linha reta.
Geiger e Marsden descobriram, ainda, que o ângulo de desvio mais provável para as partículas alfa,
quando estas atravessavam uma folha fina de ouro, era de 0,87°, porém, uma a cada vinte mil era
desviada para trás, significando que descreviam um ângulo maior que 90°, correspondendo a um valor
100 vezes maior que o ângulo previsto.
Esses resultados experimentais tão inesperados, quando se pensava no modelo atômico de Thomson,
provavelmente motivou Rutherford a estudar melhor o espalhamento das partículas alfa. E por fim,
comparou seus resultados com aqueles propostos por Thomson em sua teoria de espalhamento de
partículas beta.
Rutherford acreditava que a partícula alfa era uma partícula pontual, semelhante ao elétron. Sendo
um átomo de hélio que perdeu dois elétrons, a partícula alfa remetia à crença de um modelo nuclear
do átomo desse elemento. Essa conclusão de Rutherford aconteceu antes do desenvolvimento de sua
teoria de espalhamento de partículas alfa e, para ele, as partículas alfa eram semelhantes a pontos e não
constituídas por elétrons.
As partículas beta ou elétrons beta, como eram conhecidas, eram desviadas de pequenos ângulos
pelos elétrons do átomo. Experimentalmente, a teoria concordava que o número de elétrons era cerca
de três vezes o peso atômico. Segundo Thomson, a partícula alfa tinha dimensões atômicas e continha
dez elétrons.
22
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Em 1913, Rutherford publicou seu livro sobre radioatividade, onde considerava o núcleo de seu
átomo como pequeno e não pontual. Em seu livro, ele considerou o átomo um corpo complexo, cuja
carga e massa total estariam concentradas no centro, numa esfera de raio não superior a 10−12 cm,
que seria mantido unido por forças nucleares, um conceito muito atual. No texto, ainda afirma que
o centro positivo do átomo tem um movimento complicado e que seria constituído do elemento
hélio com carga, ou seja, ionizado (partícula alfa) e átomos de hidrogênio. E, também, que átomos da
matéria positivamente carregados atrairiam outros em distância muito pequenas para manter unidas
os componentes do centro.
Essa teoria foi apresentada como uma teoria de espalhamento de partículas alfa, e não como uma
teoria atômica, e, se fosse apresentada dessa forma, estaria incompleta porque não propunha um
arranjo para os elétrons. Por simplicidade, Rutherford propôs uma atmosfera homogênea de eletricidade
negativa ao redor do núcleo, uma vez que, para o espalhamento de partículas alfa, os elétrons não
tinham a menor importância. Da maneira como estava, seu modelo não atendia questões químicas,
como ligação e tabela periódica, e questões físicas, como as regularidades espectrais ou dispersão.
E os elétrons, nesse período, eram responsáveis pela maior parte dos fenômenos que podiam ser
testados experimentalmente.
A questão da existência de um núcleo também já havia sido discutida em outros modelos, não
era uma novidade. Ainda em 1913, Geiger e Marsden, publicaram novos dados sobre a dispersão das
partículas alfa, confirmando ainda mais a existência de uma carga densa num centro de dimensões
pequenas em comparação com o diâmetro do átomo.
23
Unidade I
Fonte de Fonte de
partículas partículas
alfa alfa
Rutherford não propôs um modelo planetário em 1911 e seu modelo falhava totalmente quando se
tratava das regularidades espectrais.
As primeiras reflexões de Bohr sobre o modelo de Rutherford ofereciam uma nítida distinção entre
os fenômenos químicos ordinários e os fenômenos intranucleares.
24
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Niels Henrik David Bohr (1885‑1962), físico dinamarquês, Prêmio Nobel de Física em 1922,
finalizou seu doutorado em maio de 1911, na Universidade de Copenhague. Dedicou‑se a interpretar
as propriedades físicas dos metais baseando‑se na teoria atômica de Thomson. Contudo, ao aplicar a
dinâmica clássica e a mecânica estatística ao átomo de Thomson, percebeu que, para a susceptibilidade
magnética, tanto as contribuições diamagnéticas como as paramagnéticas eram canceladas. Esse
resultado estava em desacordo com a Lei de Curie, fenômeno descoberto por Pierre Curie durante seu
doutorado. Essa lei estabelece que a suscetibilidade magnética varia com o inverso da temperatura, ou
seja, a temperatura de Curie (ou ponto de Curie), em outras palavras, o valor de temperatura em que um
material ferromagnético ou um imã perde suas propriedades magnéticas.
A Lei de Curie foi demonstrada pelo físico francês Paul Langevin (1872‑1946) em 1905, quando
defendeu a ideia da existência de momentos magnéticos atômicos ou moleculares permanentes.
Em 1858, o físico e meteorologista escocês Balfour Stewart (1828‑1887), e, em 1859, o físico alemão
Gustav Robert Kirchhoff (1824‑1887) chegaram às mesmas conclusões. Descobriram, independentemente,
que a razão entre o poder de emissão e o poder de absorção de um corpo é função do comprimento de
onda (λ) da radiação emitida ou absorvida e da temperatura absoluta (T). Em 1860, Kirchhoff introduziu
o conceito de corpo negro ou radiador integral.
Em 1900, o físico britânico John William Strutt Rayleigh (1842‑1919) ou Lord Rayleigh propôs a
distribuição da luminância espectral energética da radiação térmica de corpo negro em função do
comprimento de onda (λ) a uma dada temperatura absoluta (T), que foi corrigida anos depois pelo
físico, astrônomo e matemático britânico James Hopwood Jeans (1877‑1946), conhecida atualmente
como Lei de Rayleigh‑Jeans. Ainda em 1900, o físico alemão Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858‑1947)
25
Unidade I
demonstrou que essa lei não ajustava a curva espectral a toda a faixa de comprimento de onda porque
tanto Rayleigh como Jeans admitiram que os osciladores moleculares irradiavam qualquer quantidade
de energia. Para Planck, os osciladores só podiam emitir energia em determinadas quantidades ou
quantidades inteiras de hf, onde f é a frequência da radiação emitida e h passou a ser chamada de
constante de Planck. Essa proposta revolucionária de Planck, hoje, é conhecida como quantização da
energia, um importante avanço na física moderna.
Bohr foi trabalhar com Rutherford, expandindo seus conhecimentos de radioatividade e modelos
atômicos. Rutherford o considerava brilhante e, além de trabalharem bem juntos, ambos ainda se
tornaram muito amigos.
A teoria atômica de Rutherford, apesar de válida, não podia ser sustentada pelas leis da física clássica.
Bohr ousou em admitir que os elétrons ao redor do núcleo se deslocavam em órbitas estáveis ou quânticas,
ou seja, a energia de um elétron em um átomo é quantizada, e hoje chamamos de níveis de energia. Em 1913,
Bohr publicou uma série de ensaios, quando então revelou seu modelo da estrutura atômica (figura a seguir).
Modelos atômicos
Energia
Energia
Após a Segunda Guerra Mundial, Bohr passou a promover simpósios e conferências internacionais
pelo uso da energia atômica para fins pacíficos. Em 1957, recebeu o prêmio Átomos pela Paz, pela
Fundação Ford. Ele foi um dos fundadores do Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear (CERN), hoje
Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear.
Em 1911, Louis Victor Pierre Raymond (1892‑1987), 7º duque de Broglie, mais conhecido como
Louis de Broglie, teve acesso a cópias impressas dos trabalhos mais recentes de Planck e Einstein graças
a seu irmão, o também físico francês Louis César Victor Maurice (1875‑1960), 6º duque de Broglie,
que, à época, era secretário do primeiro Congresso de Solvay, mantendo contato com vários cientistas
26
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
de renome. Assim, Louis de Broglie tomou conhecimento das primeiras teorias de física quântica e
relatividade e, empolgado, largou o curso de história e licenciou‑se em ciências físicas, passando a
trabalhar com seu irmão, estudando raios X.
Em 1924, Louis de Broglie finalizou seu doutorado, e um de seus artigos, intitulado “A tentative
theory of light quanta: a commented translation”, publicado na Philosophical Magazine, propôs uma
teoria dualística da luz, unindo as teorias ondulatória e corpuscular.
Em 1930, os físicos alemães Walther Wilhelm Georg Bothe (1891‑1957) e Herbert Becker
(1887‑1955), no Physikalisch‑Technische Reichsanstalt, em Berlim‑Charlottenburg, mostraram
que átomos de berílio (Be), boro (B), flúor (F) e lítio (Li), quando bombardeados por partículas alfa,
emitidas pelo polônio (Po), produziram uma radiação com grande poder de penetração. A princípio,
eles associaram esse resultado aos raios gama, um tipo de radiação altamente penetrante conhecida na
época. Assumiram que núcleos leves capturam partículas alfa, enquanto raios gama liberam o excesso
de energia nestas reações nucleares:
Em 1931, a química francesa Irène Joliot‑Curie (1897‑1956), filha de Madame Curie, Prêmio Nobel
de Química em 1935 pela descoberta da radioatividade artificial, estudando a absorção da radiação
secundária do berílio (Be) e do lítio (Li), descobriu que essa radiação penetra através dos materiais ainda
mais facilmente do que inicialmente estimado por Bothe. Ela atravessou uma camada de chumbo (Pb)
três vezes mais espessa do que os raios gama mais penetrantes emitidos por elementos radioativos.
O marido de Irène, o físico francês Jean Frédéric Joliot‑Curie (1900‑1958), também Prêmio
Nobel de Química em 1935, juntamente com Irène, estudou a radiação emitida pelo boro (B) após
bombardeamento com partículas alfa oriundas do polônio (Po), chegando a uma conclusão análoga à
de Irène. Para explicar os resultados, tanto Irène como Frédéric assumiram que deveriam ser raios gama
com energias muito altas. Dois anos depois, ambos, ao medirem a ionização da radiação secundária
produzida pelo berílio (Be), numa câmara com uma fina janela de alumínio (Al), que você pode observar
na figura a seguir, perceberam que a ionização aumentou na câmara quando foi colocado em frente à
janela material contendo hidrogênio (H). Assumiram que o efeito poderia ter sido produzido pela ejeção
de prótons ou raios H, como eram conhecidos na época, com velocidades de até 10% da velocidade da
luz, aceitando sem discussão a hipótese de Bothe de que eram raios gama.
Estudos mais detalhados de interação com a matéria acabaram por revelar contradições quanto à
hipótese dos raios gama muito energéticos, e o casal Joliot‑Curie acabou por assumir um novo modelo
de interação da radiação com a matéria.
27
Unidade I
como colaborador de Rutherford, teve uma ideia de experimento para superar a contradição encontrada
por Bothe e pelo casal Joliot‑Curie.
Chadwick interpretou os resultados de seu experimento assumindo que a hipótese de raios gama
energéticos era incompatível com a conservação de energia e momento. Para explicar seus resultados,
Chadwick publicou um artigo muito curto, mas bastante claro. Um de seus argumentos era que, se o Be
emitisse raios gama, a reação observada seria:
9
Be + α → 13C + γ
Aquilo que chamou de defeito de massa, 13C, já era conhecido com precisão suficiente para mostrar
que a energia do fóton emitido nesse processo não podia ser maior do que cerca de 14 MeV (mega
elétron‑volts) e, assim, era difícil fazer com que tal quantum fosse responsável pelos efeitos observados.
Chadwick concluiu que as dificuldades desapareceriam se fosse assumido que a radiação fosse constituída
por partículas de massa 1 e carga 0, os nêutrons. De fato, se a reação for:
9
Be + α → 12C + n
De imediato, os Joliot-Curie não aceitaram os resultados, mas, após alguns experimentos, concluíram
que seus experimentos davam suporte à hipótese do nêutron. Então, estudaram uma reação produzindo
nitrogênio (N):
α + 11B → 14N + n
E descobriram que a energia máxima dos nêutrons concorda com a energia medida dos prótons
ejetados quando atingidos por nêutrons. E, também, que a emissão de elétrons secundários já observada
também estava consistente com a hipótese de nêutrons.
A energia e a conservação do
momento
Po
α α α
H p H p
V V
Be γ? Be γ? Be n!
Figura 9 – À esquerda, experimento de Bothe: Be bombardeado por partículas alfa (em vermelho); Po
emite radiação com grande poder de penetração (verde), assumida como sendo raios gama por Bothe;
no centro, experimento de Joliot‑Curie: H, ao ser atingido pela radiação marcada em verde, emite
prótons de alta energia; à direita, o experimento de James Chadwick, que analisou a conservação de
energia e momento nessas reações nucleares
28
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Naquela época, havia muitas incógnitas, o que dificultava a interpretação dos resultados. Contudo,
imediatamente à descoberta do nêutron, houve uma reformulação das pesquisas no campo da física
nuclear e de partículas elementares. Uma delas, para vários pesquisadores, foi considerar o nêutron
um constituinte do núcleo. Um desses pesquisadores, o físico teórico ucraniano Dmitri Dmitrievich
Ivanenko (1904‑1994) sugeriu que no núcleo haveria apenas prótons e nêutrons, e não prótons e
elétrons como sugeriu Rutherford.
Praticamente ao mesmo tempo, o físico teórico alemão Werner Karl Heisenberg (1901‑1976), que
recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1932 pela criação da mecânica quântica, e nos anos seguintes
o físico italiano Ettore Majorana (1906‑desaparecido misteriosamente em 1938), com trabalhos
promissores sobre neutrinos, e o físico húngaro Eugene Paul Wigner (1902‑1995), Prêmio Nobel de Física
em 1963 por contribuições para a teoria do núcleo atômico e partículas elementares, particularmente
pela descoberta e aplicação dos princípios fundamentais da simetria, aplicaram a mecânica quântica ao
núcleo e concluíram que Ivanenko simplificou o núcleo, colocando apenas prótons e nêutrons.
Nesses estudos, a forte interação entre prótons e nêutrons garante a estrutura e estabilidade
nuclear, remodelando a teoria nuclear. Heisenberg considerou prótons e nêutrons como diferentes
estados quânticos da mesma partícula. O físico teórico japonês Hideki Yukawa (1907‑1981), Prêmio
Nobel de Física em 1949 por formular a hipótese dos mésons, baseada em trabalhos teóricos sobre
forças nucleares, que teve início na análise da interação entre nêutrons e prótons feita por Heisenberg,
Majorana e Wigner, derivou o potencial de interação e, por fim, propôs a teoria dos mésons, que teve
grande impacto na física de partículas elementares.
Os avanços científicos em torno do átomo que vêm desde o final do século XVIII é que norteiam
o nascimento da física moderna. Estão incluídos nessa área os estudos da teoria da relatividade
restrita, da mecânica quântica e da física nuclear. Destaca‑se, também, a física de partículas, que
estuda o comportamento de partículas com velocidades próximas à da luz.
A teoria da relatividade restrita, proposta pelo físico teórico alemão Albert Einstein (1879‑1955),
que estuda o comportamento de corpos que se movem à velocidade da luz ou muito próximas a ela,
e, também, os fenômenos espaciais e temporais relativos a esses corpos, apresenta dois princípios
fundamentais: o primeiro diz que as leis da física valem para todos os referenciais inerciais, e o
segundo diz que a velocidade da luz no vácuo é a mesma para quaisquer observadores e independe
da velocidade do observador.
Uma das conclusões desse estudo é que o tempo e a massa se dilatam para condições em que corpos
estejam com velocidades próximas à velocidade da luz.
A explicação de Einstein para o efeito fotoelétrico descoberto pelo físico alemão Heinrich Rudolf
Hertz (1857‑1894) ajudou Planck a desenvolver sua teoria.
29
Unidade I
O físico teórico alemão Werner Karl Heisenberg (1901‑1976) recebeu o Prêmio Nobel de Física em
1932 pela criação da mecânica quântica, um ramo da física que estuda o comportamento de partículas
de dimensões atômicas ou inferiores.
Em 1927, foi publicado o “princípio da incerteza” por Werner Heisenberg, que afirma não ser
possível determinar, com certeza, a posição exata de um elétron em um dado momento, mas, apenas,
dentro de uma certa probabilidade, calcular estatisticamente, uma descoberta fundamental para a
física quântica.
Na Alemanha anterior à Segunda Guerra Mundial, a física experimental era considerada superior
à física teórica, e as cátedras teóricas eram as únicas permitidas aos judeus. A partir de 1933,
com a proibição de judeus nos centros universitários, os cientistas se viram obrigados ao êxodo,
principalmente em direção aos Estados Unidos, que os receberam de braços abertos.
Heisenberg era nacionalista, apesar de não aderir ao partido nazista, e foi considerado por eles,
pelo menos inicialmente, como simpatizante dos judeus por se envolver nas teorias de Bohr e Einstein,
chamadas pelos nazistas de física judaica. Com o início da Segunda Grande Guerra, os nazistas começaram
a valorizar a física teórica.
A física austríaca Lise Meitner (1878‑1968), que estudou radioatividade e física nuclear e descobriu
a fissão nuclear, foi uma das cientistas judias que teve que fugir da Alemanha nazista. Seu trabalho
de fissão nuclear dependeu muito das cartas trocadas com o químico alemão Otto Hahn (1879‑1968),
mesmo depois de sua fuga para a Suécia. Ela e o sobrinho Otto Robert Frisch (1904‑1979) explicaram
o processo de fissão nuclear do urânio em termos de carga elétrica excessiva e estimaram a energia
liberada no processo. Foram eles que chamaram o processo de fissão. Em 1939, Bohr levou Meitner
30
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
aos Estados Unidos para uma conferência de física na Universidade George Washington, em que foi
anunciado publicamente sobre a possibilidade de dividir o átomo e liberar uma quantidade gigantesca
de energia por meio da fissão nuclear. Otto Frisch fez parte do Projeto Manhattan.
Observação
Desde os primórdios, acredita‑se que a matéria é constituída de átomos, e a partir do século XX,
descobriu‑se que os átomos não são indestrutíveis. Segundo as teorias mais próximas da teoria clássica,
o átomo é formado por um núcleo muito pequeno e uma eletrosfera. Apesar de muito pequeno, o
núcleo do átomo possui praticamente toda a massa do átomo.
O núcleo tem carga positiva e é formado basicamente por prótons e nêutrons. A soma do número
atômico (Z) ou de prótons e o número de nêutrons é a massa atômica (A). Ao redor de um núcleo
muito pequeno orbitam elétrons em órbitas quantizadas, praticamente um vazio tão grande que não se
considera a massa.
O raio do núcleo é cerca de 10.000 vezes menor do que o raio atômico. A massa dos elétrons é cerca
de 1.836 vezes menor que a do próton. O número atômico determina as propriedades químicas do
elemento químico, mostra seu lugar na tabela periódica.
Tais informações são recentes e encontram-se nos livros didáticos a partir de 1932, mas ainda
são simples, a partir do conhecimento atual. As pesquisas e descobertas científicas a partir dos
anos 1930 levaram os cientistas a concluir que a matéria é formada por partículas fundamentais.
Para melhor entendimento, essas partículas fundamentais foram organizadas em uma tabela
(figura a seguir) que reúne um grande conhecimento teórico, chamado de modelo padrão (MP).
Esse MP é uma teoria desenvolvida entre 1970 e 1973 que tenta descrever as forças fundamentais
forte, fraca e eletromagnética, além das partículas fundamentais constituintes da matéria. Pode‑se
dizer que é uma teoria quântica de campos e que é consistente com a mecânica quântica e a
relatividade especial.
31
Unidade I
matéria antimatéria
γ
antiquarks
u c t c u
quarks
t
mediadoras
g
d s b b s d
Z
antiléptons
ve vµ vτ W vτ vµ ve
léptons
e µ τ τ µ e
higgs
H
I II III III II I
1H = 1 partícula
O modelo padrão mais recente possui 17 partículas e para cada uma delas há uma partícula de
antimatéria com mesma massa, mas com carga contrária. São divididas em três categorias: bósons,
quarks e léptons. Juntas, elas dão origem à matéria e a todas as interações existentes no universo.
Saiba mais
32
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Campo é uma função definida em todos os pontos do espaço. Um único campo pode incorporar um
número infinito de graus de liberdade (número de variáveis independentes) num conjunto contínuo de
pontos. Um bom exemplo de campo é o campo eletromagnético, que varia em três dimensões (x, y, z).
Na teoria quântica de campos os objetos matemáticos são quantizados, assim como a mecânica
quântica quantiza as grandezas físicas relacionadas ao movimento de um número finito de partículas.
Para tanto, deve‑se descrever o que é observável em termos de operadores que aumentam ou diminuem
o número de certas quantidades discretas no sistema, os quantas de excitação.
Essas quantidades são identificadas com partículas elementares, cujas propriedades, como carga
elétrica, massa ou spin, sejam refletidas nas propriedades do campo. O formalismo da teoria de campos
na teoria da relatividade é essencial.
Estudar o oscilador harmônico é uma ferramenta importante, uma vez que qualquer sistema físico
que oscile em torno de um ponto de equilíbrio pode ser aproximado a um oscilador harmônico nas
vizinhanças desse ponto de equilíbrio. Isso vale tanto para um oscilador harmônico clássico como para
um oscilador harmônico quântico.
Em 1905, Einstein publicou a teoria da relatividade especial após concluir os estudos do físico
neerlandês Hendrik Antoon Lorentz (1852‑1928), Prêmio Nobel de Física em 1902 por seu trabalho
sobre radiações eletromagnéticas.
A relatividade especial de Einstein introduziu a ideia de espaço‑tempo como uma entidade geométrica
unificada, substituindo os conceitos independentes de espaço e tempo da teoria do matemático, físico,
astrônomo, teólogo e autor inglês Isaac Newton (1643‑1727), um dos cientistas mais influentes de
todos os tempos.
A união de duas teorias científicas, a relatividade restrita ou especial e a relatividade geral, é o que
se denomina teoria da relatividade.
A versão mais ampla dessa teoria é a da relatividade geral, publicada dez anos depois, onde os efeitos
da gravidade foram integrados e a noção de espaço‑tempo curvo.
33
Unidade I
Depois da descoberta de que o átomo não era maciço e que era constituído de partículas
elementares (os prótons e nêutrons que ocupavam um núcleo muito pequeno e os elétrons que
orbitavam o núcleo em órbitas quantizadas), descobre‑se que estas não são partículas fundamentais.
O físico austríaco, naturalizado suíço e depois norte‑americano, Wolfgang Ernst Pauli (1900‑1958),
Prêmio Nobel de Física em 1945, desenvolveu a teoria do spin do elétron. O princípio da exclusão de
Pauli, formulado em 1925, afirma que duas ou mais partículas com spins semi‑inteiros não podem
ocupar o mesmo estado quântico dentro de um sistema quântico simultaneamente. Em 1940, com o
teorema de estatísticas de spin, Pauli estendeu o princípio a todos os férmions.
Os léptons são os férmions mais leves, já os mais pesados, formados por estados de quarks ligados
pela interação forte, são chamados hádrons. Trios de quarks são chamados bárions e duplas de quarks
são chamadas de mésons.
O físico teórico britânico Peter Ware Higgs (1929) recebeu o Prêmio Nobel de Física em 2013,
juntamente com o físico belga François Englert (1932), pela descoberta do mecanismo de Higgs.
As ideias iniciais do bóson de Higgs vieram do físico estadunidense Philip Warren Anderson
(1923‑2020), em 1964, que recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1977 por estudos teóricos fundamentais
das estruturas eletrônicas magnéticas e de sistemas desordenados.
Na época de Anderson, não havia condições tecnológicas para confirmação da existência do bóson
de Higgs, isso só ocorreu com a construção do Grande Colisor de Hádrons (LHC), em 2008. Em 4 de julho
de 2012, foi detectada uma partícula desconhecida e com massa entre 125-127 GeV/c². Havia suspeita
que fosse a partícula, e, em 2013, foi provado que se comportava, interagia e decaía de acordo com
as várias formas previstas pelo MP. A partícula também possuía paridade positiva e spin nulo, maiores
indícios de que realmente era o bóson de Higgs.
A figura a seguir apresenta um cronograma das partículas elementares descobertas até a década
de 1960.
34
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Radiação é propagação de energia sob várias formas. Desde a criação do Universo, tudo o que
existe está exposto à radiação. A Terra é banhada pela radiação cósmica desde a sua criação. A crosta
terrestre tem na sua formação elementos que existem desde o big-bang, como o urânio e o tório. Alguns
elementos radioativos são incorporados ao ser humano quando absorvidos pela flora e depois pelos
animais que comem os vegetais.
As radiações podem ser naturais e artificiais. Os raios cósmicos são a maior fonte natural
de radiação. A maioria desses raios tem origem no espaço sideral, e alguns são liberados pelo
sol durante as erupções solares. Durante a interação dessa radiação solar com a atmosfera, há
a produção de diferentes tipos de radiação e de materiais radioativos. A atmosfera da Terra e o
campo magnético reduzem a radiação cósmica, que é defletida para os polos Norte e Sul, que
recebem mais radiação que as regiões equatoriais. A figura a seguir apresenta uma estimativa
das doses anuais de radiação cósmica para algumas regiões.
Figura 12 – Estimativa de dose anual para radiação cósmica em algumas regiões da Terra
35
Unidade I
A radiação artificial pode ser produzida pelo bombardeamento de certos núcleos com partículas
apropriadas, como alfa, beta, próton, nêutron etc. Os raios X também são radiações artificiais,
produzidas em equipamentos eletroeletrônicos de alta e baixa tensão.
Quando nos referimos às radiações como corpusculares, podemos dizer que são aquelas constituídas
de um feixe de partículas elementares ou por núcleos atômicos. Como exemplo, podemos citar: elétrons,
prótons, nêutrons, dêuterons, partículas alfa e partículas beta.
Radiação eletromagnética é uma forma de energia que se propaga numa combinação de campos
elétricos e magnéticos que variam no tempo e no espaço e que viajam no vácuo à velocidade da luz.
Na figura a seguir é apresentado o espectro eletromagnético, onde observam-se os diferentes tipos
de radiação eletromagnética, diferenciadas pelo seu comprimento de onda e frequência. Observa-se
também o espectro da luz, que basicamente divide as radiações ionizantes e não ionizantes.
TV
Luz visível
700 nm a
400 nm
Infravermelho
Ultravioleta
Raios X
Micro-ondas
Ondas
gama
baixas
Raios
Rádio
λ
f = c/λ
f
10 102 104 106 108 1010 1012 1014 1016 1018 1020 1022 1024 1026
KHz MHz GHz THz
As radiações não ionizantes são radiações eletromagnéticas que não possuem energia suficiente
para arrancar elétrons ou ionizar o átomo. No espectro, vão do infravermelho até as ondas de rádio.
O principal efeito biológico das radiações não ionizantes é o térmico.
36
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
As radiações ionizantes, além da capacidade de ionizar, são muito penetrantes e podem provocar
efeitos deletérios aos seres vivos. No espectro, observam‑se a radiação ultravioleta (UVA), os raios X e os
raios gama como as radiações eletromagnéticas ionizantes.
A radiação tem origem nos processos de decaimento, processos de ajuste do núcleo ou pela interação
da própria radiação com a matéria.
Física nuclear é o ramo da física que estuda as interações entre prótons e nêutrons no núcleo dos
átomos que compõem a matéria. Os núcleos são estáveis devido à força nuclear, que é uma força
de atração intensa, maior que a força coulombiana, de curto alcance, que age entre os núcleons
independentemente da carga elétrica que possam ter.
Atualmente, acredita-se que a força nuclear seja uma manifestação da força nuclear de interação
forte que mantém os quarks unidos para que formem os prótons e os nêutrons.
A energia de ligação do núcleo é resultado do equilíbrio das interações nucleares entre os núcleons
e a força de repulsão coulombiana entre os prótons. Esse balanço energético faz com que a energia de
interação atrativa dependa do número de massa (A), mas a curtas distâncias (em torno de 1 fm equivale a
10−15m). A repulsão coulombiana é muito mais fraca que a força nuclear forte e atua em distâncias maiores
(em torno de 10 fm), dependendo do número de prótons (Z). Quanto maior for a energia de ligação, mais
estável será o núcleo.
37
Unidade I
Fe
8 Fissão
nuclear
Fusão
Energia/núcleon (MeV)
6 nuclear
Maior
estabilidade
4
Figura 14 – Gráfico da energia de ligação do núcleo do átomo em função de sua massa (A)
Observa‑se no gráfico que a energia de ligação entre os núcleons em relação à massa, inicialmente,
cresce rapidamente, o que favorece a fusão nuclear. A partir da massa igual a 56 do elemento ferro (Fe),
que é o elemento mais estável, a energia de ligação começa a cair lentamente, favorecendo o processo
de fissão em núcleos mais pesados como o urânio, que pode ser espontâneo.
Observação
No decaimento radioativo, três tipos de processo de emissão podem mudar a configuração interna
do núcleo. Esses processos são: emissão de partículas alfa (íons de hélio, duplamente positivos),
emissão de partículas beta (elétrons) e emissão de radiação gama (fótons gama). A emissão dessas
radiações ou o decaimento radioativo tem o objetivo de levar o núcleo a uma configuração energética
mais estável.
38
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Lembrete
No decaimento por emissão de partículas alfa, um núcleo mais pesado torna‑se mais estável com
a emissão dessas partículas espontaneamente e em alta velocidade. Núcleos com grande número
de massa são mais propensos à emissão de partículas alfa devido à repulsão coulombiana ser muito
grande entre os prótons. Um mesmo tipo de núcleo pode emitir partículas alfa de diferentes energias
porque o núcleo filho pode estar num estado excitado ou mesmo no estado fundamental. Se o núcleo
filho estiver num estado excitado, ele passará posteriormente à emissão da partícula alfa, ao estado
fundamental, liberando, para tanto, uma quantidade de radiação eletromagnética (fótons de raios
gama). Assim sendo, o decaimento alfa pode ser acompanhado de decaimento gama.
Quando o núcleo emite uma partícula alfa, seu número atômico diminui de duas unidades e o seu
número de massa diminui de quatro unidades:
A
ZX AZ42Y 42He ou α
Quando acompanhado de decaimento gama, a energia pode ser calculada pela seguinte expressão,
que vem diretamente do princípio de conservação da energia:
Onde:
39
Unidade I
Essa energia fica distribuída entre o núcleo filho e a partícula alfa, em proporções diferentes,
que podem ser calculadas. Um valor positivo da energia liberada pode indicar que o processo
ocorreu espontaneamente.
No decaimento por emissão de partículas beta, um núcleo com grande quantidade de nêutrons,
em comparação à quantidade de prótons, é instável e, na busca pela estabilidade, emite um elétron
pelo núcleo, que é originário do decaimento de um nêutron em um próton e um elétron, com o próton
continuando no núcleo do átomo. Nesse processo, há mudança da carga do núcleo, ou seja, há mudança
no número atômico, mas a massa quase não sofre alteração e obtém‑se um isóbaro. Essa transformação
é acompanhada pela emissão de antineutrino e um nêutron livre, isto é, não pertencente a qualquer
núcleo, decai segundo a mesma equação, com uma meia‑vida de aproximadamente 12 minutos:
n → p + e- + v*
O núcleo filho tem o mesmo número de massa que o núcleo pai, mas um número atômico com uma
unidade a mais:
A
ZX ZA1Y e v *
p → n + e+ + v
O núcleo filho terá o mesmo número de massa que o pai, portanto, também um isóbaro, mas com
um número atômico uma unidade menor:
A
ZX ZA1Y e v
Após o decaimento beta, o núcleo filho pode estar num estado excitado ou mesmo no estado
fundamental. No estado excitado, o processo será seguido por decaimento gama. Um aspecto interessante
do decaimento beta é que os elétrons e antineutrinos ou os pósitrons e neutrinos são emitidos num
espectro contínuo de energia. Isso significa que cada tipo de partícula pode ter um valor de energia que
vai de zero até um valor compatível com o princípio de conservação de energia. Assim, quanto maior
for a energia do elétron (beta) ou do pósitron (beta+) emitido, menor será a energia do antineutrino ou
do neutrino emitido. Quando a energia do elétron (beta) ou do pósitron (beta+) for máxima, não serão
emitidos neutrinos ou antineutrinos.
40
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
A descoberta do nêutron foi proposta em 1930 por Wolfgang Pauli para explicar o balanço energético
no decaimento beta, porque faltava um resquício de energia. A explicação de Pauli era a existência de
uma partícula sem carga e de massa nula. O físico italiano Enrico Fermi (1901‑1954) batizou essa nova
partícula de neutrino, contudo ela só foi detectada em 1956.
É um processo no qual um núcleo pai captura um de seus elétrons orbitais das camadas mais
internas e emite um neutrino. Esse processo também é conhecido como decaimento beta inverso e
muitas vezes é incluído como um decaimento beta, uma vez que o processo nuclear básico mediado
pela interação fraca é o mesmo.
A -
ZX e ZA1Y v
p e- n v
Na captura eletrônica, há emissão de radiação eletromagnética na forma de raios X pelo núcleo filho
porque, quando o elétron é capturado, deixa uma lacuna que será preenchida por elétrons da camada
superior, sucessivamente até a última camada. No deslocamento de um elétron de uma camada superior
para uma camada inferior, há liberação de energia na forma de raios X característicos e o átomo torna‑se
um íon positivo (cátion). Às vezes, os fótons de raios X podem interagir com outro elétron orbital, que
pode ser ejetado do átomo. Esse segundo elétron ejetado é chamado elétron Auger.
A captura de elétrons é o processo de decaimento primário para isótopos com diferença de energia
insuficiente (Q < 2 × 511 keV) entre o isótopo e seu nuclídeo filho em potencial para o nuclídeo decair
emitindo um pósitron (β+). Esse processo é sempre um decaimento alternativo para isótopos radioativos
que possuem energia suficiente para decair por emissão de pósitrons.
Se estiver em um estado excitado, o nuclídeo filho resultante faz a transição para o estado
fundamental, emitindo radiação gama. A desexcitação também pode ocorrer por conversão interna.
A radiação gama é um tipo de radiação eletromagnética que resulta de uma distribuição interna
dos núcleons no núcleo do átomo, correspondendo aos estados de energia bem definidos, da mesma
forma que os estados eletrônicos num átomo. No rearranjo interno, ou na mudança de um estado
mais energético (excitado) para um de energia mais baixa, há emissão de fótons com energia
41
Unidade I
correspondente à diferença entre os níveis de energia. Na emissão de radiação gama, não há alteração
do número atômico ou do número de massa, mas trata-se de uma radiação que vem acompanhada,
normalmente, de partículas alfa ou beta. Os fótons têm energia muito alta, em torno de MeV.
Existe apenas uma lei que governa o decaimento radioativo e os cálculos são relativamente diretos:
N (t) = N0e-λt
Onde:
λ = constante de decaimento radioativo, característica de cada tipo de núcleo, lembrando que sua
unidade é o inverso do tempo
Realizar medidas de radiação ou dos seus efeitos é imprescindível para trabalhar diretamente ou
indiretamente com a radiação. Desde que foi descoberto que a radiação causa danos à saúde, mas
também é essencial para alguns tratamentos e diagnósticos, sejam esses diagnósticos na área da saúde
ou da indústria, procurou‑se entender os mecanismos de interação da radiação com a matéria e criar
métodos de produção, caracterização e medição, bem como definir grandezas que expressem com
realismo a sua interação com o tecido humano.
42
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Atividade é uma medida de radioatividade e pode ser utilizada para caracterizar a taxa de emissão de
radiação ionizante. É o número de desintegrações por segundo, não importando o tipo de decaimento, a
energia dos produtos de decaimento ou os efeitos biológicos da radiação. Tem como unidade no sistema
internacional de medidas (SI) o becquerel (Bq). A unidade antiga, que ainda é utilizada, é o curie (Ci) e
ambas se relacionam da seguinte maneira:
1 Bq = 2,7 ∙ 10−11 Ci
1 Ci = 3,7 ∙ 1010 Bq
Essas unidades de atividade também podem ser usadas para caracterizar uma quantidade total de
liberações controladas ou acidentais de átomos radioativos.
Para determinar a atividade específica, divide‑se a atividade do elemento radioativo pela massa
desse elemento.
Define‑se a meia‑vida (T1/2) de um elemento radioativo com base no intervalo de tempo no qual se
desintegra metade do número inicial de átomos ou após o qual a atividade inicial se reduz à metade. Isso
significa que, para cada meia‑vida que passa, a atividade vai sendo reduzida à metade da anterior, até
atingir um valor insignificante, que não permite mais distinguir suas radiações das do meio ambiente.
Dependendo do valor inicial, em muitas fontes radioativas utilizadas em laboratórios de análise e
pesquisa, após 10 meias‑vidas, atinge esse nível. Entretanto, não se pode confiar totalmente nessa
“receita”, e sim numa medida com um detector apropriado, pois, nas fontes usadas na indústria e na
medicina, mesmo após 10 meias‑vidas, a atividade da fonte é, geralmente, muito alta.
N (t) = N0e-λt
N0
N0eT
2
e-λT = 2
43
Unidade I
Aplicando logaritmo neperiano dos dois lados da igualdade e levando em conta que ln2 = 0,6931,
segue‑se que:
0, 6931
T
1 N
t ti
N i1
dN = -λdt
N(t) = N0e-λt
Para calcular o valor médio a partir dessa equação, primeiro precisamos determinar a constante de
normalização C, que transforma essa função em uma função de probabilidade. Assim, temos:
C N0e tdt 1
0
N0
C 1, C
N0
1
t C tN0e tdt te tdt
0 0
0, 693
T1/2 0, 693 t
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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Embora se saiba que a desintegração radioativa é um processo probabilístico, isto é, não é possível
prever‑se o instante em que um átomo vai sofrer desintegração, podemos calcular matematicamente
a duração média de um núcleo instável, ou seja, determinar a vida média dos átomos de uma espécie
nuclear. Então:
t = 1,441. T1/2
Onde:
A constante de decaimento determina a taxa de decaimento, é referida como λ e tem uma grande
variação entre os diferentes tipos de núcleos, o que leva a diferentes taxas de decaimento. Ela avalia o
número de átomos em relação a uma determinada faixa temporal. Assim, quanto maior for a quantidade
de átomos na amostra radioativa, maior será a velocidade em que ocorrerá a desintegração nuclear.
O equilíbrio radioativo ocorre quando um nuclídeo radioativo está decaindo na mesma taxa em que
está sendo produzido após um período de transição. O núcleo de desintegração é chamado de núcleo pai
e o núcleo remanescente é o núcleo filho, que pode ser estável ou radioativo. Se o núcleo remanescente
for radioativo, decai novamente, continuando a série. Isso significa que cada núcleo pai pode iniciar
uma série de decaimentos, com cada produto tendo sua própria constante de decaimento característica.
A concentração dos núcleos filhos no equilíbrio radioativo depende, principalmente, das proporções
de meia‑vida dos núcleos pai e núcleos filhos. Sendo a taxa de produção e a taxa de decaimento iguais,
o número de átomos presentes permanece constante ao longo do tempo. Assim, o equilíbrio radioativo
não é estabelecido imediatamente, ocorrendo após um período de transição, que é da ordem de poucas
meias‑vidas do núcleo de maior duração na cadeia de decaimento. No caso de cadeias de decaimento, o
equilíbrio radioativo pode ser estabelecido entre cada membro da cadeia de decaimento, ou seja:
λ1N1 = λ2N2
• O equilíbrio radioativo não é estabelecido quando a meia‑vida do núcleo pai é menor que a
meia‑vida do núcleo filho. Nesse caso, a taxa de produção e a taxa de decaimento de determinado
membro da cadeia não podem ser iguais.
45
Unidade I
• O equilíbrio radioativo secular existe quando o núcleo pai tem uma meia‑vida extremamente
longa. Esse tipo de equilíbrio é particularmente importante para a natureza. Ao longo dos 4,5
bilhões de anos da história da Terra, especialmente o 238U e o 232Th, e os membros de suas cadeias
de decaimento, atingiram equilíbrios radioativos entre o núcleo pai e seus descendentes.
• O equilíbrio radioativo transitório ocorre quando a meia‑vida do núcleo pai é maior que a
meia‑vida do núcleo filho. Nesse caso, o nuclídeo pai e o nuclídeo filho decaem, essencialmente,
na mesma taxa.
O equilíbrio radioativo secular ocorre quando o núcleo pai tem uma meia‑vida extremamente longa.
O equilíbrio secular é típico para séries radioativas naturais, como as séries do urânio e do tório. Para a
série do 238U, com meia‑vida de 4,47 bilhões de anos, todos os elementos da cadeia estão em equilíbrio
secular e cada um dos descendentes acumulou uma quantidade de equilíbrio, com todos decaindo à
taxa definida pelo nuclídeo‑pai. A única exceção é o elemento estável, no final da cadeia, o 206Pb.
O efeito fotoelétrico é um efeito quântico no qual a luz comporta‑se como partículas, chamadas
fótons. Foi observado pela primeira vez em 1886/1887 por Hertz, quando realizou experimentos
para estudar as ondas eletromagnéticas propostas pelo matemático e cientista escocês James
Clerk Maxwell (1831‑1879), que foi o responsável pela teoria clássica da radiação eletromagnética,
descrevendo a eletricidade, o magnetismo e a luz como diferentes manifestações do mesmo
fenômeno. O fenômeno clássico previa que um corpo iluminado deveria absorver toda a energia
luminosa irradiada por ele.
46
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Tubo de vácuo
Amperímentro
O físico estadunidense Arthur Holly Compton (1892‑1962) ganhou o Prêmio Nobel de Física em
1927, prêmio esse dividido com o físico escocês Charles Thomson Rees Wilson, pela descoberta da
diminuição de energia de um fóton de raios X ou de raios gama quando em interação com a matéria.
Considerar a luz composta de partículas, os fótons, implica dizer que a luz no formato de partículas
poderia colidir em outras partículas, como bolas numa mesa de bilhar. Compton afirmava que, se isso
fosse verdade, era possível explicar a interação entre fótons e elétrons livres como um processo em que
a luz se espalha, cedendo um pouco de energia para o elétron na forma de energia cinética. Poderíamos
imaginar o elétron parado que, quando colidisse com o fóton, cederia parte de sua energia para que o
elétron se movesse, perdendo parte de sua energia, o que diminuiria sua frequência.
Para explicar esse fenômeno, Compton montou um experimento em que raios X que têm
comprimentos de onda curtos eram direcionados a colidirem com elementos de baixo peso atômico,
sofrendo espalhamento ao interagirem com a estrutura cristalina desses elementos. Compton verificou
que alguns dos raios X espalhados pelo elemento eram de maior comprimento de onda do que antes
do espalhamento.
A física clássica não tinha como explicar o fenômeno, um aumento do comprimento de onda
após uma dispersão, mas a física quântica se encaixava perfeitamente com os dados experimentais.
47
Unidade I
De acordo com Compton, um fóton de raios X, ao colidir com um elétron de um átomo de carbono,
como no experimento, transfere parte de sua energia para esse elétron e continua sua trajetória com
menor energia, mas com um comprimento de onda maior do que antes. Os raios X transportam um
momento, que é parcialmente transferido para o elétron, que, devido ao choque, é recuado.
Compton mediu o comprimento de onda (λ0) dos raios X espalhados e concluiu que este depende
apenas do ângulo θ de espalhamento. O deslocamento Compton é definido pela diferença:
λ - λ0 dado por
h
0
(mc)(1 cos )
Raios X
espalhados λ'
λ θ
Alvo de grafite
Raios X
Fóton incidente
Fóton
espalhado
f, λ
φ
f0, λ0
Elétron
recuando
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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
A produção de pares consiste num processo de criação de uma partícula subatômica e de sua
antipartícula a partir de um bóson neutro. Como exemplos, temos: um elétron e um pósitron, um múon
e um antimúon, um próton e um antipróton.
Exemplo: se uma partícula tem carga elétrica +1, a outra deverá apresentar carga elétrica ‑1; se uma
partícula apresenta estranheza +1, a outra deverá apresentar estranheza ‑1.
O físico britânico Patrick Maynard Stuart Blackett (1897‑1974) fez experimentos de transmutação
dos elementos químicos e foi o primeiro a observar o fenômeno de produção de pares utilizando uma
câmara de nuvens que desenvolveu. Recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1948 por contribuições no
estudo de radiação cósmica.
A conversão da energia do fóton em massa de partícula ocorre de acordo com a equação de Einstein:
E = m.c2
Onde:
E = energia
m = massa
49
Unidade I
O fóton incidente deve ter energia maior que a soma das energias de massa de repouso de um
elétron e de um pósitron, ou seja:
Isso resulta de um comprimento de onda do fóton incidente de 1,2132 picômetros (pm) para que
a produção possa ocorrer. Por essa razão, a produção de pares não ocorre em imagens radiológicas
convencionais usadas na medicina, que têm energia em torno de 150 keV. O fóton precisa estar próximo
ao núcleo para satisfazer a conservação de momento, assim como um par elétron-pósitron produzido
no espaço livre não satisfaz a conservação nem de energia e nem de momento. Assim sendo, durante o
processo de produção de pares, o núcleo atômico sofre um recuo.
Z Z e-
Lembrete
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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Resumo
51
Unidade I
52
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Exercícios
Questão 1. Na medicina nuclear, são usados radiofármacos que emitem partículas alfa, partículas
ou radiação gama. A respeito desse assunto, avalie as afirmativas.
II – As radiações particuladas dos tipos alfa e beta apresentam baixo poder de penetração, mas são
altamente energéticas.
III – Quando a finalidade é diagnosticar patologias como, por exemplo, o infarto do miocárdio,
utilizam‑se radionuclídeos emissores de radiação particulada, pois ela apresenta baixo poder de ionização.
A) I e II.
B) II e III.
C) III e IV.
D) I e III.
E) II e IV.
I – Afirmativa correta.
53
Unidade I
II – Afirmativa correta.
Justificativa: a radiação alfa apresenta carga positiva (é constituída por dois prótons e dois nêutrons)
e é barrada por uma folha de papel alumínio. A radiação alfa possui massa e carga elétrica relativamente
maiores do que as demais radiações, além de ser muito energética.
A radiação beta apresenta carga negativa e é mais penetrante e menos energética do que as partículas
alfa. No entanto, é menos penetrante e mais energética do que a radiação gama. Esse tipo de radiação
consegue atravessar o papel alumínio, mas é facilmente barrado por pedaços de madeira.
IV – Afirmativa incorreta.
A) 30 minutos.
B) 3 horas.
C) 30 horas.
D) 3 dias.
E) 30 dias.
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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA
Análise da questão
O tecnécio‑99m apresenta meia‑vida de 6 horas. Portanto, a cada 6 horas, sua atividade cai
pela metade.
Assim, partindo de uma amostra residual com atividade inicial de 1,28 × 108 Bq, temos o que segue.
Do enunciado, temos que, para o descarte seguro, a atividade do tecnécio‑99 deve ser igual
a 4 × 106 Bq.
Note que 0,04 × 108 é igual a 4 × 106. Portanto, o tempo necessário para o decaimento a níveis
seguros de radiação é de 30 horas.
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