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Doutora em Engenharia Elétrica (área de concentração: microeletrônica) pela Universidade de São Paulo (USP),
em 2015. Mestre, pela mesma instituição, em 2009. Graduada em Engenharia Elétrica na Modalidade Eletrônica
(ênfase em Telemática) pela Universidade Santa Cecília (Unisanta), em 2006. Professora dos cursos superiores em
Análise e Desenvolvimento de Sistemas e em Gestão da Tecnologia da Informação, na Universidade Paulista (UNIP),
lecionando também em outros cursos na modalidade presencial e a distância. Atua na área acadêmica, como
professora e pesquisadora, há mais de 10 anos.
CDU 681.3.019
U517.14 – 23
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Profa. Sandra Miessa
Reitora
UNIP EaD
Profa. Elisabete Brihy
Profa. M. Isabel Cristina Satie Yoshida Tonetto
Prof. M. Ivan Daliberto Frugoli
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Material Didático
Comissão editorial:
Profa. Dra. Christiane Mazur Doi
Profa. Dra. Ronilda Ribeiro
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista
Profa. M. Deise Alcantara Carreiro
Profa. Ana Paula Tôrres de Novaes Menezes
Unidade I
1 INTRODUÇÃO À LÓGICA MATEMÁTICA......................................................................................................9
1.1 Definição de lógica matemática........................................................................................................9
1.2 Proposições.............................................................................................................................................. 10
1.2.1 Proposições simples e compostas..................................................................................................... 12
1.3 Revisão de teoria de conjuntos....................................................................................................... 14
1.3.1 Pertinência.................................................................................................................................................. 16
1.3.2 Conjuntos vazio e universo................................................................................................................. 17
1.3.3 Subconjuntos e relação de inclusão................................................................................................ 17
1.3.4 Operações entre conjuntos.................................................................................................................. 19
2 OPERAÇÕES LÓGICAS SOBRE PROPOSIÇÕES........................................................................................ 27
2.1 Operações lógicas.................................................................................................................................. 27
2.1.1 Negação (conectivo “não”).................................................................................................................. 28
2.1.2 Conjunção (conectivo “e”).................................................................................................................... 30
2.1.3 Disjunção inclusiva (conectivo “ou”)............................................................................................... 31
2.1.4 Disjunção exclusiva (conectivo “ou...ou”)....................................................................................... 33
2.1.5 Condicional (conectivo “se...então”)................................................................................................. 34
2.1.6 Bicondicional (conectivo “se e somente se”)................................................................................ 38
2.2 Resumindo as operações lógicas.................................................................................................... 40
2.3 Ordem de precedência das operações lógicas........................................................................... 40
2.4 Expressões lógicas................................................................................................................................. 41
Unidade II
3 TABELAS‑VERDADE.......................................................................................................................................... 50
3.1 Definição de tabela‑verdade............................................................................................................ 50
3.2 Construção da tabela‑verdade........................................................................................................ 50
3.3 Números binários.................................................................................................................................. 57
3.4 Tautologia, contradição e contingência....................................................................................... 58
3.4.1 Tautologia................................................................................................................................................... 58
3.4.2 Contradição................................................................................................................................................ 58
3.4.3 Contingência............................................................................................................................................. 59
4 RELAÇÕES DE IMPLICAÇÃO E DE EQUIVALÊNCIA............................................................................... 61
4.1 Relação de implicação......................................................................................................................... 62
4.2 Relação de equivalência..................................................................................................................... 67
4.2.1 Equivalências notáveis........................................................................................................................... 71
Unidade III
5 ARGUMENTOS LÓGICOS................................................................................................................................ 82
5.1 Definição de argumento lógico....................................................................................................... 82
5.2 Formatos simbólicos............................................................................................................................ 83
5.3 Argumento válido................................................................................................................................. 84
5.4 Regras de inferência............................................................................................................................ 87
5.5 Falácias formais...................................................................................................................................... 99
6 TÉCNICAS DE VALIDAÇÃO DE ARGUMENTOS LÓGICOS..................................................................102
6.1 Validação por tabelas‑verdade......................................................................................................102
6.2 Validação por regras de inferência...............................................................................................104
6.2.1 Prova direta..............................................................................................................................................104
6.2.2 Prova condicional.................................................................................................................................. 110
6.2.3 Prova por redução ao absurdo......................................................................................................... 113
6.3 Validação por fluxogramas..............................................................................................................116
Unidade IV
7 QUANTIFICADORES........................................................................................................................................135
7.1 Revisão de conjuntos numéricos..................................................................................................135
7.2 Sentenças abertas...............................................................................................................................138
7.2.1 Conjunto universo e conjunto verdade....................................................................................... 139
7.3 Quantificador universal....................................................................................................................141
7.4 Quantificador existencial.................................................................................................................143
7.5 Valores lógicos de sentenças quantificadas.............................................................................144
7.5.1 Quantificador universal...................................................................................................................... 144
7.5.2 Quantificador existencial................................................................................................................... 146
8 ARGUMENTOS LÓGICOS QUANTIFICADOS...........................................................................................147
8.1 Definição de argumento quantificado.......................................................................................148
8.2 Equivalência entre quantificadores.............................................................................................149
8.3 Validade de argumentos quantificados......................................................................................152
8.3.1 Exemplificação....................................................................................................................................... 153
8.3.2 Generalização......................................................................................................................................... 153
8.4 Diagramas de Venn‑Euler................................................................................................................163
APRESENTAÇÃO
Olá, aluno(a)!
Ao longo deste livro‑texto, vamos estudar alguns conceitos introdutórios de lógica. De forma
concisa, a lógica pode ser definida como o estudo das leis do pensamento. Originalmente concebida
como um ramo da filosofia, no século IV a.C., seu estudo foi iniciado por Aristóteles (384‑322 a.C.), na
Grécia. Até hoje, Aristóteles é conhecido como o “pai da lógica”.
A partir do século XIX, a lógica passou a ser estudada também pelo ponto de vista da matemática, por
meio dos trabalhos de cientistas como Augustus De Morgan (1806‑1871), George Boole (1815‑1864),
Alfred North‑Whitehead (1861‑1947) e Bertrand Russell (1872‑1970). Houve, nesse período, uma
adaptação dos princípios aristotélicos para a matemática, dando origem a uma nova abordagem do tema.
Nos dias de hoje, a lógica é estudada em diversas áreas, pois é considerada tanto como um ramo
da filosofia quanto como da matemática. Por ser uma ciência tão abrangente, sua aplicabilidade
também é vasta. O projeto dos circuitos dos processadores computacionais, por exemplo, é concebido
de tal forma que obedeça a operações lógicas. Consequentemente, as linguagens de programação de
alto nível também devem obedecer a essas regras. Na área das ciências humanas, um dos grandes
interesses contemporâneos é a análise da argumentação e a identificação de falácias lógicas, que são
erros de raciocínio. O nosso próprio idioma é constituído de acordo com regras lógicas, permitindo a
comunicação interpessoal.
O objetivo de nossa disciplina é oferecer a você os principais temas introdutórios à lógica do ponto
de vista formal e matemático, já que é esse o conhecimento diretamente aplicado à computação. Não
abordaremos o estudo da lógica do ponto de vista informal, de interesse da área filosófica, porém,
utilizaremos, ao longo de todo o conteúdo, sentenças em linguagem corrente, ou seja, sentenças escritas
no nosso idioma, de forma que possamos avaliar suas estruturas.
Também temos a proposta de fazer com que você, por meio das estratégias elaboradas neste
livro‑texto, perceba o sentido e atribua significados às ideias transmitidas. Queremos que seja capaz de
aprimorar seu raciocínio e o seu pensamento crítico, o que é fundamental a qualquer profissional.
Boa leitura!
7
INTRODUÇÃO
De forma sucinta, a lógica formal é a subdivisão da lógica dedicada ao estudo da forma de proposições
e argumentos. Desse modo, seu interesse está no estudo da estrutura, e não do conteúdo. Esses conceitos
serão definidos com maior profundidade na unidade I deste livro‑texto.
Os tópicos da lógica matemática apresentados neste material são de extrema relevância para
qualquer estudante de cursos relacionados à área das ciências da computação, já que consiste no
embasamento teórico para o entendimento de outros conceitos. Isso inclui diversos temas, como
sistemas de informação, automação, linguagens de programação, organização e arquitetura de
computadores, sistemas operacionais, redes de computadores, inteligência artificial, robótica, banco
de dados, entre outros.
Este livro-texto está dividido em quatro unidades, de forma que as unidades I, II e III são dedicadas
ao estudo da lógica proposicional, enquanto a unidade IV será focada em lógica de predicados.
Na unidade II, veremos os conceitos de tabela‑verdade, muito importantes para a área devido a
sua versatilidade. Aprenderemos o significado dos termos tautologia, contradição e contingência.
Em seguida, abordaremos as relações de implicação e equivalência entre expressões lógicas, além de
aprendermos algumas equivalências notáveis.
Na unidade III, nos dedicaremos ao estudo dos argumentos lógicos, que é um dos principais
interesses de estudo dos cursos de lógica. Entenderemos o que é um argumento e quais os requisitos
para termos um argumento válido. Na sequência, aprenderemos algumas técnicas de validação de
argumento, que incluem tabelas‑verdade, regras de inferência e fluxogramas.
Vamos abordar todos esses conceitos mostrando exemplos tanto em linguagem corrente (sentenças
escritas em português) quanto em linguagem simbólica (representação algébrica das mesmas sentenças).
Sempre que possível, associaremos as ideias introduzidas com exemplos do cotidiano, para facilitar e
consolidar o seu entendimento.
Bom estudo!
8
LÓGICA
Unidade I
Iniciaremos nossos estudos de lógica proposicional, que integra a lógica matemática. Para
começar, precisamos fazer algumas definições, além de revisar alguns conceitos vistos no Ensino
Médio. Vamos ao trabalho.
A lógica matemática estuda os conceitos de lógica do ponto de vista das ciências exatas. Ela é, por
definição, uma lógica formal. Isso significa que o nosso objeto de estudo será a forma de sentenças e
argumentos, e não seu conteúdo ou contexto.
Argumento 1:
Sócrates é um homem.
Argumento 2:
Tommy é um gato.
Perceba que do ponto de vista do conteúdo, os argumentos nos trazem informações diferentes.
Porém, se analisarmos suas formas, chegaremos à conclusão de que se trata de estruturas iguais. Ambos
apresentam o formato seguinte.
Todo X é Y.
Z é X.
Portanto, Z é Y.
9
Unidade I
Estudaremos, a partir da unidade III, os argumentos lógicos. Por enquanto, basta que você
compreenda o que dizemos quando afirmamos que a lógica matemática é formal. Basicamente,
para a lógica matemática, ambos os argumentos apresentados são iguais, já que apresentam a
mesma estrutura.
O estudo da lógica matemática abrange o estudo da lógica proposicional, que lida com proposições,
e será estudada nas unidades I, II e III. Também é objeto de seu estudo a lógica de predicados, que lida
com quantificadores, que abordaremos na unidade IV. Portanto, a lógica proposicional e a lógica de
predicados podem ser consideradas como subáreas da lógica matemática.
1.2 Proposições
• 2 + 3 = 5 (V)
• 3 ‑7 = 2 (F)
Quando nos referimos a proposições, falamos de uma estrutura dicotômica, ou seja, uma estrutura
cujo valor lógico está restrito a apenas duas alternativas, que classificaremos nesse conteúdo como
V ou F. Observe que podemos expressar proposições em linguagem matemática (como fizemos nos dois
últimos exemplos), não apenas em uma linguagem cotidiana. No entanto, é necessário nos atentarmos
para o fato de que a ideia expressa precisa ser completa, de forma a conseguirmos atribuir um valor
lógico a ela. Desse modo, as sentenças apresentadas a seguir não são consideradas proposições.
• A Terra.
No caso, não foi transmitida uma ideia completa. Assim, não é possível classificarmos a frase como
verdadeira ou falsa.
10
LÓGICA
Trata‑se de uma sentença interrogativa, ou seja, de uma pergunta. Não é possível atribuir um valor
lógico a perguntas.
• Saia daqui!
Trata‑se de uma sentença imperativa, ou seja, de uma ordem. Não é possível atribuir um valor
lógico a ordens.
• x + y = 3
Trata‑se de uma sentença aberta, ou seja, de uma sentença cujo valor lógico não pode ser determinado
até que suas variáveis sejam substituídas por “números específicos”. Não sabemos, a princípio, se a
sentença é verdadeira ou falsa.
Exemplo de aplicação
Verifique se cada um dos itens seguintes é uma proposição lógica. Caso seja, identifique o seu
valor lógico.
E) 2 ∈ ℕ
F) π ∈ ℤ
G) Abacaxi.
Resolução
B) Trata‑se de uma proposição de valor lógico falso, já que Aracaju é a capital do Estado de Sergipe.
C) Trata‑se de uma proposição de valor lógico falso, já que, de acordo com a classificação dada pela
biologia, a espécie Homo sapiens pertence à ordem dos primatas.
11
Unidade I
D) Temos, nesse caso, uma sentença aberta, pois não sabemos quem é “ele”. Desse modo, não temos
uma proposição lógica.
G) Não temos uma proposição, pois não há uma sentença declarativa que pode ser classificada como
verdadeira ou falsa. A ideia transmitida está incompleta, nesse caso.
Observação
No caso, temos duas proposições simples formando uma proposição composta. Podemos separá‑las,
conforme exposto a seguir, observando que cada uma delas assume seu próprio valor lógico.
Voltemos à sentença completa do exemplo. Perceba que as proposições simples estão unidas por
um conectivo, representado pela palavra e. Esse conectivo indica uma operação entre as proposições
simples, de forma que a proposição composta será verdadeira apenas se ambas as proposições simples
12
LÓGICA
componentes forem também verdadeiras. Porém, como a 2ª proposição é falsa, temos uma proposição
composta de valor lógico F. Vejamos.
Note que a proposição composta assume, também, um valor lógico. Esse valor depende tanto do valor
lógico das proposições simples componentes quanto do conectivo utilizado entre elas. Vamos estudar
as principais operações lógicas ainda nesta unidade. Por enquanto, basta entendermos o conceito de
proposição composta.
Exemplo de aplicação
Cada item a seguir representa uma proposição lógica. Classifique cada uma delas como simples
ou composta.
A) Carlos é engenheiro.
B) Ana é cientista.
Resolução
A) Proposição simples.
B) Proposição simples.
D) Proposição simples.
13
Unidade I
Observação
Saiba mais
Antes de sermos apresentados às operações lógicas sobre proposições, vamos fazer uma breve
revisão de teoria de conjuntos, uma poderosa ferramenta matemática. A partir de seus conceitos,
ficará mais fácil compreender as operações lógicas, já que elas têm grande relação com as operações
sobre conjuntos.
Para entendermos esse conceito, precisamos fazer duas definições básicas, mas muito importantes.
Conjunto é uma coleção de elementos que possuem alguma característica em comum. Elemento é o
nome dado a cada item que faz parte de um conjunto.
Geralmente, o nome de um conjunto é representado por uma letra maiúscula, mas isso pode
variar dependendo da aplicação. Podemos citar os exemplos a seguir.
O conjunto A tem 2 elementos (cara e coroa), sendo que ambos representam faces de uma moeda.
O conjunto B tem 5 elementos, sendo que cada um deles representa uma região do Brasil. O conjunto C
14
LÓGICA
tem quatro elementos, onde cada um representa uma cor da bandeira brasileira. Note que os elementos
estão envolvidos por um par de chaves e separados por vírgulas, porém, essa não é a única forma
possível de representação de conjuntos.
Existem diversas formas de representar um conjunto e seus elementos. As principais formas são as
apresentadas a seguir.
• Entre chaves por extenso: listamos os elementos entre chaves separados por vírgula.
• Entre chaves por propriedade: temos a apresentação de uma propriedade que determina que
tipo de elemento pertence àquele conjunto. A utilização de propriedades é útil para descrever
conjuntos com número elevado de elementos.
Saiba mais
Para esclarecermos mais sobre tópicos da teoria dos conjuntos, vamos representar um conjunto de
diferentes formas no exemplo a seguir.
Exemplo de aplicação
A região Sudeste do Brasil é composta de quatro estados. Represente o conjunto S, que reúne
esses estados:
A) Por extenso.
C) Graficamente.
Resolução
15
Unidade I
Indicamos o nome do conjunto e a lista de elementos separados por vírgula. A ordem na qual os
elementos aparecem é irrelevante.
Expressamos, dessa vez, a propriedade em comum aos elementos do conjunto. Costumamos chamar
de x uma variável que assume elementos correspondentes à propriedade. Devemos ler a barra | como “tal
que”, ou seja: “o conjunto S é formado por elementos x tal que x é um Estado da região Sudeste do Brasil”.
Espírito Santo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
São Paulo
Indicamos o nome do conjunto próximo a uma figura geométrica fechada, seja um círculo, seja um
polígono fechado qualquer. A lista de elementos é posicionada dentro da área da figura geométrica.
Muitas vezes, os diagramas de Venn‑Euler apenas expressam a relação entre diferentes conjuntos
dentro de uma situação, não havendo listagem de elementos. É essa a notação que usaremos para
ilustrar as operações lógicas nos próximos tópicos do livro‑texto. Por enquanto, vamos continuar a
nossa revisão.
1.3.1 Pertinência
16
LÓGICA
No caso das relações de pertinência, quando queremos afirmar que um elemento x pertence
a um conjunto A qualquer, utilizamos o símbolo ∈, ou seja, x ∈ A. Porém, se o elemento x não
pertence ao conjunto A, utilizamos o símbolo ∉, ou seja, x ∉ A.
V = {a, e, i, o, u}
Dizemos que a vogal “a” pertence ao conjunto V formado pelas vogais do alfabeto, ou seja, a ∈ V.
Um conjunto vazio, cuja representação é Ø ou { }, é um conjunto que não tem elementos. Preste
atenção no conjunto A mostrado a seguir.
A = {x ∈ ℕ | x < 0}
Não existem números naturais menores do que 0. Logo, o conjunto A não tem elementos. Nesse
caso, o conjunto A é um conjunto vazio, ou seja, A = Ø.
17
Unidade I
A B
Nesse caso, costumamos dizer que “A está contido em 𝑈” assim como “B está contido em 𝑈”.
Essa relação entre os conjuntos é o que chamamos de relação de inclusão. Existem dois principais
símbolos de operadores relacionais que podemos utilizar nesse contexto:
Sobre a disposição da figura anterior, podemos fazer diversas relações verdadeiras, como as
indicadas a seguir.
Observação
Lembrete
18
LÓGICA
As operações entre conjuntos diferem das relações de igualdade e de inclusão que vimos
anteriormente. Em uma relação, apenas fazemos comparações entre conjuntos. Agora, veremos
operações capazes de resultar em um novo conjunto a partir de outros já existentes. Estudaremos as
seguintes operações: união, interseção, diferença e complementar.
União
Se A e B são conjuntos, a união de A com B é denotada AՍB que representa o conjunto formado por
todos os elementos de A e por todos os elementos de B.
Graficamente, AՍB será composto dos elementos que pertencem às regiões destacadas no diagrama
da figura seguinte.
A B
AUB
Interseção
A interseção de dois conjuntos A e B é descrita por A∩B, e é formada pelos elementos que pertencem
tanto a A quanto a B, simultaneamente.
19
Unidade I
Graficamente, A∩B será composto dos elementos que pertencem à região destacada no diagrama
da figura seguinte. Note que existe uma sobreposição entre os conjuntos A e B, sendo que a região
destacada pertence tanto a A quanto a B.
A B
A∩B
• {1, 2, 3} ∩ {4, 5, 6} = Ø
Graficamente, A – B será composto dos elementos que pertencem à região destacada no diagrama
da figura seguinte.
20
LÓGICA
A B
A-B
• {2, 3} – {2, 3} = Ø
• {2} – {2, 3, 4} = Ø
Complementar de B em A
Para a operação complementar ocorrer, é necessário que haja uma relação de inclusão entre dois
conjuntos. Se tivermos B como subconjunto de A, ou seja, B⊂A, podemos achar o complementar de B
em relação a A, expresso como AB . Nesse caso, AB será o conjunto de elementos de A que não
pertencem a B. Trata‑se de uma diferença entre conjuntos (A – B), mas com a restrição da necessidade de
inclusão entre eles. Podemos pensar na operação complementar como um caso particular da operação
de diferença.
Graficamente, AB será composto dos elementos que pertencem à região destacada no diagrama da
figura seguinte.
21
Unidade I
AB = A - B
B = BU = U − B
22
LÓGICA
A
AC = C U =U-A
Nos exemplos a seguir, trabalharemos com todas as operações entre conjuntos para fixarmos o
entendimento desse tópico.
Exemplo de aplicação
A) AUB
B) A∩B
C) A – B
D) B – A
E) A
Resolução
É interessante representarmos graficamente os conjuntos, pois, apesar de isso não ser imprescindível,
a representação gráfica ajuda a enxergar o relacionamento entre os conjuntos. Considerando que os
conjuntos fazem parte do mesmo universo 𝑈, temos o diagrama de Venn‑Euler ilustrado a seguir, que
mostra o relacionamento entre os conjuntos e a lista de elementos.
23
Unidade I
A B
3 2
5 1 6
7 9
Figura 9 – Conjuntos A e B
Repare que os conjuntos foram desenhados de forma sobreposta, considerando a interseção entre
eles. Os elementos foram distribuídos de maneira a ocupar a região adequada. O elemento 1, que pertence
tanto a A quanto a B, foi posicionado na área comum entre esses dois conjuntos, que representa a
região de interseção entre eles. Os elementos 3, 5 e 7, que pertencem somente ao conjunto A, foram
posicionados na área exclusiva de A. Os elementos 2, 6 e 9, que pertencem somente ao conjunto B,
foram posicionados na área exclusiva de B. Agora, vamos à resolução dos itens.
A) AUB = {1, 2, 3, 5, 6, 7, 9}
B) A∩B = {1}
C) A – B = {3, 5, 7}
D) B – A = {2, 6, 9}
E) A = 𝑈 – A = {2, 6, 9}
Nesse caso, consideramos todo o universo. Depois, descartamos os elementos que pertencem a A.
Essa operação equivale a 𝑈 – A.
24
LÓGICA
Exemplo 2. Considere os conjuntos A = {1, 3, 5, 7, 9}, B = {1, 2, 6, 9, 10} e C = {2, 4, 5, 8, 9}. Encontre
o conjunto resultante das operações mostradas a seguir.
A) AUB
B) A∩B
C) AUBUC
D) A∩B∩C
E) (A∩B) U (B∩C)
F) A – B
G) B – C
H) (A – B) U (B – C)
I) A
J) C
Resolução
Considerando que os conjuntos fazem parte do mesmo universo U, temos o diagrama de Venn‑Euler
ilustrado a seguir, que mostra o relacionamento entre os conjuntos e a lista de elementos.
A B
3 6
1
7 9 10
5 2
4
8
U C
Figura 10 – Conjuntos A, B e C
Repare que os conjuntos foram desenhados de forma sobreposta, considerando as interseções entre
eles. Os elementos foram distribuídos de maneira a ocupar a região adequada. O elemento 9, que pertence
a A, B e C, foi posicionado na área central. O elemento 1, que pertence a A e B, mas não pertence a C,
foi posicionado na área de interseção entre A e B, mas fora da região central. Os elementos 3 e 7, que
pertencem somente ao conjunto A, foram posicionados na área exclusiva de A. O mesmo raciocínio foi
adotado para os outros elementos. Agora, vamos à resolução dos itens.
25
Unidade I
B) A∩B = {1, 9}
D) A∩B∩C = {9}
Temos um conjunto unitário que contém o elemento que pertence tanto a A quanto a B e C.
A∩B = {1, 9}
B∩C = {2, 9}
F) A – B = {3, 5, 7}
G) B – C = {1, 6, 10}
H) (A – B) U (B – C) = {1, 3, 5, 6, 7, 10}
A – B = {3, 5, 7}
B – C = {1, 6, 10}
I) A = 𝑈 – A = {2, 4, 6, 8, 10}
Nesse caso, consideramos todo o universo. Depois, descartamos os elementos que pertencem a A.
Essa operação equivale a 𝑈 – A.
J) Cc = 𝑈 – C = {1, 3, 6, 7, 10}
Consideramos todo o universo. Depois, descartamos os elementos que pertencem a C. Essa operação
equivale a 𝑈 – C.
Exemplo 3. Uma plataforma de streaming de filmes e séries classifica seus títulos de acordo com
categorias. Considere que o conjunto D reúne os filmes de drama da plataforma e que o conjunto M
reúne os títulos com a atriz Meryl Streep. Escreva uma operação entre esses conjuntos que reúna todos
os filmes dramáticos com Meryl Streep disponíveis na plataforma.
Resolução
Para reunirmos os filmes dramáticos com Meryl Streep, precisamos de títulos que pertençam ao
conjunto D e que também pertençam ao conjunto M. Logo, esses títulos devem pertencer à interseção
entre esses dois conjuntos, ou seja, D∩M.
Lembrete
No caso dos conjuntos, a ordem dos elementos que pertencem a eles
não tem importância. O mesmo ocorre se os elementos se repetirem. A
repetição é totalmente irrelevante, pois cada elemento é considerado
somente uma vez.
Nesse segundo tópico do nosso livro‑texto, estudaremos as operações lógicas. Assim como os
conjuntos matemáticos podem realizar operações entre si, as proposições lógicas também. É por meio
dessas operações que conseguimos construir proposições compostas. Vamos conhecer as principais
operações da lógica proposicional, estabelecendo associações com as operações entre conjuntos, que
acabamos de relembrar. Na sequência, aprenderemos a ordem de precedência de seus operadores, bem
como trabalharemos com expressões lógicas mais complexas, que combinam operadores entre si.
As operações da lógica proposicional que aprenderemos a seguir são negação, conjunção, disjunção
inclusiva, disjunção exclusiva, condicional e bicondicional. Conheceremos, também, seus respectivos
conectivos (operadores).
27
Unidade I
Observação
A operação de negação é aquela realizada sobre uma proposição simples por meio do conectivo
“não”. Simbolicamente, podemos expressar esse conectivo pelo símbolo de til, ~.
E por que estamos falando de símbolos, se até então utilizamos palavras para expressar proposições e
conectivos? Ora, porque podemos expressar proposições e seus conectivos, também, de forma simbólica.
A maneira mais usual de expressar simbolicamente uma proposição simples é chamando‑a como uma
letra minúscula.
Vejamos o exemplo: considere a seguinte proposição, de nome 𝑎, com valor lógico verdadeiro.
Realizar uma operação de negação sobre a proposição 𝑎 seria incluir em sua sentença o conectivo
“não”, de forma a trocar o seu valor lógico. Observe.
Quando partimos de uma proposição falsa, a operação de negação torna a proposição verdadeira.
Vejamos o exemplo: considere a seguinte proposição 𝑏 com valor lógico falso.
Realizar uma operação de negação sobre a proposição 𝑏 seria incluir em sua sentença o conectivo
‘não’, de forma a trocar o seu valor lógico. Observe.
28
LÓGICA
Logo, podemos resumir que uma operação de negação simplesmente inverte o valor lógico da
proposição sobre a qual atua. Esse comportamento pode ser expresso por meio de uma tabela‑verdade,
que é uma tabela que lista entradas e saídas lógicas: a entrada, no caso, será uma proposição simples
qualquer 𝑎, e a saída será sua negação, ~𝑎.
𝑎 ~𝑎
V F
F V
A tabela indica que, se 𝑎 é uma proposição verdadeira, sua negação, ~𝑎, deve ser falsa. Mas, se
𝑎 é falsa, sua negação, ~𝑎, deve ser verdadeira.
Observação
Observe a figura a seguir. À esquerda, temos a representação gráfica da proposição 𝑎. Nesse caso,
temos o conjunto que representa 𝑎 destacado visualmente, com o universo representado em branco. À
direita, vemos a representação gráfica de ~𝑎. Note que essa figura representa o complemento da outra:
todo o universo ganhou destaque, menos o conjunto 𝑎. Isso ilustra, justamente, a inversão do valor
lógico causada pelo operador de negação.
𝑎 ~𝑎
29
Unidade I
A operação de conjunção é aquela capaz de unir duas (ou mais) proposições simples por meio do
conectivo “e”. Simbolicamente, podemos expressar esse conectivo pelo símbolo ∧.
A operação de conjunção entre duas proposições simples exige que ambas sejam verdadeiras para
que o resultado seja uma proposição composta verdadeira. Desse modo, a proposição composta será
verdadeira somente se ambas as proposições simples componentes também o forem.
A tabela‑verdade que expressa esse comportamento pode ser vista a seguir. No caso, temos duas
entradas quaisquer, 𝑎 e 𝑏, e a saída é justamente a operação de conjunção entre elas, 𝑎 ∧ 𝑏.
𝑎 𝑏 𝑎 ∧ 𝑏
V V V
V F F
F V F
F F F
Perceba que, dessa vez, precisamos de 4 linhas de estados na tabela‑verdade. Isso foi feito porque
devemos listar todas as possíveis combinações entre as entradas, ou seja, entre as proposições
simples. Para duas entradas dicotômicas, temos quatro possíveis combinações de estados.
A tabela indica que, se 𝑎 é uma proposição verdadeira e 𝑏 também é uma proposição verdadeira,
a conjunção entre elas deve ser verdadeira. Se pelo menos uma delas for falsa – o que ocorre nas
outras três linhas de estados – o valor lógico da proposição composta é falso.
Lembrete
30
LÓGICA
Observação
𝑎 𝑏
𝑎 ∧ 𝑏
A operação de disjunção inclusiva é aquela capaz de unir proposições simples por meio do
conectivo “ou”. Simbolicamente, podemos expressar esse conectivo pelo símbolo ∨.
31
Unidade I
Se realizarmos uma disjunção inclusiva entre 𝑎 e 𝑏, teremos a proposição composta que segue.
A operação de disjunção inclusiva entre duas proposições simples pede que pelo menos uma delas
seja verdadeira para que o resultado seja uma proposição composta verdadeira. Desse modo, a proposição
composta será falsa somente quando ambas as componentes também forem.
A tabela‑verdade que expressa esse comportamento pode ser vista a seguir. No caso, temos duas
entradas quaisquer, 𝑎 e 𝑏, e a saída é justamente a operação de disjunção inclusiva entre elas, 𝑎 ∨ 𝑏.
𝑎 𝑏 𝑎 ∨ 𝑏
V V V
V F V
F V V
F F F
A tabela indica que a proposição composta será falsa apenas na última linha, ou seja, quando
tanto 𝑎 quanto 𝑏 são proposições falsas. Sempre que pelo menos uma delas for verdadeira – o que
ocorre nas três primeiras linhas de estados – o valor lógico da proposição composta é verdadeiro.
Observação
! (não)
&& (e)
|| (ou)
32
LÓGICA
𝑎 𝑏
𝑎 ∨ 𝑏
Se realizarmos uma disjunção inclusiva entre 𝑎 e 𝑏, teremos a proposição composta que segue.
𝑎 ⊻ 𝑏: Ou Luís de Camões escreveu Os Lusíadas, ou Machado de Assis escreveu Dom Casmurro. (F)
Note que o operador “ou...ou” traz o sentido de “ou uma, ou outra, mas não ambas”. Desse modo,
a operação de disjunção exclusiva entre duas proposições simples exige que apenas uma delas seja
verdadeira para que o resultado seja uma proposição composta verdadeira.
A tabela‑verdade que expressa esse comportamento pode ser vista a seguir. No caso, temos duas
entradas quaisquer, 𝑎 e 𝑏, e a saída é a operação de disjunção exclusiva entre elas, 𝑎 ⊻ 𝑏.
𝑎 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏
V V F
V F V
F V V
F F F
33
Unidade I
A tabela indica que a proposição composta será verdadeira se 𝑎 e 𝑏 tiverem valores lógicos diferentes.
Consequentemente, ela será falsa se 𝑎 e 𝑏 tiverem valores lógicos iguais.
Podemos utilizar diagramas de Venn‑Euler para ilustrar a operação de disjunção exclusiva, mesmo
que ela não seja diretamente análoga a uma operação da teoria de conjuntos. Nesse caso, destacamos
apenas a região exclusiva do conjunto 𝑎 e a região exclusiva do conjunto 𝑏. Essas duas regiões
correspondem aos dois estados verdadeiros da tabela‑verdade.
𝑎 𝑏
𝑎 ⊻ 𝑏
A operação condicional é aquela capaz de unir proposições simples por meio do conectivo
“se... então”. Simbolicamente, podemos expressar esse conectivo por meio do símbolo →.
Se realizarmos uma operação condicional entre 𝑎 e 𝑏, teremos a proposição composta que segue.
A tabela‑verdade que expressa esse comportamento pode ser vista a seguir. No caso, temos duas
entradas quaisquer, 𝑎 e 𝑏, e a saída é a operação condicional entre elas, 𝑎 → 𝑏.
34
LÓGICA
𝑎 𝑏 𝑎 → 𝑏
V V V
V F F
F V V
F F V
A tabela indica que a proposição composta será falsa apenas na linha em que 𝑎 é verdadeiro
e 𝑏 é falso.
Observação
if (condição) {
comandos;
#include <stdio.h>
int main()
int a = 1;
int b = 10;
if(a == 2){
b = 10;
35
Unidade I
Para expressar a operação condicional 𝑎 → 𝑏 por diagramas de Venn‑Euler, optamos por, ao invés de
destacar regiões, trazer a relação existente entre as proposições 𝑎 e 𝑏. Se 𝑎 acontece, 𝑏 deve acontecer
também. Graficamente, isso corresponde a uma relação de inclusão entre conjuntos: 𝑎 está contido em 𝑏.
Desse modo, se um elemento pertence a 𝑎, ele deve pertencer também a 𝑏.
𝑎 → 𝑏
A operação condicional, geralmente, é a mais difícil de ser entendida por quem nunca teve contato
com operações lógicas. Talvez, até agora, você esteja se perguntando o motivo pelo qual apenas uma
das linhas da tabela resulta em F.
Por isso, vamos adotar um exemplo ilustrado. Vamos considerar uma operação condicional válida
entre duas proposições, do tipo 𝑎 → 𝑏. Essa operação é mostrada a seguir.
36
LÓGICA
𝑎 𝑏 𝑎 → 𝑏 Significado
1 V V V Maria nasceu em SP e no Brasil. ✔
2 V F F Maria nasceu em SP, mas não no Brasil. ✖
3 F V V Maria não nasceu em SP, mas nasceu no Brasil. ✔
4 F F V Maria não nasceu em SP, nem no Brasil.✔
b (BRA)
a (SP)
Maria
Na linha 3, temos antecedente falso com consequente verdadeiro. Nesse caso, Maria não nasceu em
São Paulo (SP), mas nasceu no Brasil. Isso pode acontecer, por exemplo, se Maria for mineira. A relação
condicional continua válida, e essa situação pode perfeitamente acontecer. Nesse caso, Maria é um
elemento do conjunto 𝑏, mas não do conjunto 𝑎, conforme exposto na figura a seguir.
37
Unidade I
b (BRA)
a (SP)
Maria
Na linha 4, temos antecedente falso e consequente também falso. Podemos pensar, por exemplo,
que Maria nasceu em Portugal. Essa situação ainda é possível de acontecer. Nesse caso, Maria faz
parte do universo do problema, mas não participa nem do conjunto 𝑎, nem do conjunto 𝑏, conforme
ilustramos na figura a seguir.
b (BRA)
a (SP)
Maria
A única situação impossível de acontecer é, justamente, a descrita pela linha 2. Nesse caso, temos
antecedente verdadeiro e consequente falso, o que invalidaria a operação condicional. Não é possível
nascer em SP sem ter nascido no Brasil. Logo, essa é a única combinação de estados que leva valor
lógico F. Não é possível ilustrar essa situação, considerando que 𝑎 é um subconjunto de 𝑏.
A operação bicondicional é capaz de unir proposições simples por meio do conectivo “se e somente
se”. Simbolicamente, podemos expressar esse conectivo pelo símbolo ↔.
38
LÓGICA
Se realizarmos uma operação bicondicional entre 𝑎 e 𝑏, teremos a proposição composta que segue.
Podemos pensar nessa operação como o estabelecimento de uma relação de dependência mútua
entre duas proposições: 𝑎 só acontece se 𝑏 acontecer também, assim como 𝑏 só acontece se 𝑎 acontecer
também. Para um número ser par, ele deve ser divisível por 2. Para um número ser divisível por 2, ele
deve ser par. Logo, mesmo com ambas as proposições falsas, conforme vimos no exemplo, temos uma
relação bicondicional verdadeira.
A proposição composta será verdadeira quando tivermos valores lógicos iguais entre as proposições
simples. Consequentemente, a proposição composta será falsa quando tivermos valores lógicos diferentes
entre as proposições simples.
A tabela‑verdade que expressa esse comportamento pode ser vista a seguir. No caso, temos duas
entradas quaisquer, 𝑎 e 𝑏, e a saída é a operação bicondicional entre elas, 𝑎 ↔ 𝑏.
𝑎 𝑏 𝑎 ↔ 𝑏
V V V
V F F
F V F
F F V
𝑎 𝑏
𝑎 ↔ 𝑏
Figura 19 – Diagrama de Venn‑Euler representando a operação 𝑎 ↔ 𝑏
39
Unidade I
Vamos, agora, trazer todas as operações lógicas que vimos em uma única tabela, que resume os nomes
dos operadores, das operações e o comportamento de suas saídas, considerando duas entradas, 𝑎 e 𝑏.
“Se e
Conectivo “Não” “E” “Ou” “Ou...ou” “Se...então” somente se”
Disjunção Disjunção
Operação Negação Conjunção inclusiva exclusiva Condicional Bicondicional
𝑎 𝑏 ~𝑎 𝑎 ∧ 𝑏 𝑎 ∨ 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏 𝑎 → 𝑏 𝑎 ↔ 𝑏
V V F V V F V V
V F F F V V F F
F V V F V V V F
F F V F F F V V
Você pode usar a tabela anterior sempre que precisar de uma consulta rápida à tabela‑verdade
de uma operação lógica. No entanto, é importante destacar que o ideal é não fazer essa consulta
“cegamente”, ou mesmo tentar “decorar” essa tabela. Em vez disso, você deve focar em compreender
a definição de cada uma das operações lógicas, que já estudamos. Quando, de fato, entendemos cada
uma delas, conseguimos, inclusive, deduzir a tabela.
Entendido o que é ordem de precedência, voltemos à lógica. Em uma expressão lógica qualquer,
a operação de negação será a prioridade, seguida da conjunção, da disjunção inclusiva, da disjunção
exclusiva, do condicional e, finalmente, do bicondicional. Se um mesmo operador aparecer na mesma
expressão, associaremos os operandos da esquerda para a direita (como os operadores aritméticos).
40
LÓGICA
Observação
1. ! (não)
2. && (e)
3. || (ou)
Podemos utilizar os operadores lógicos para trabalhar com quantas proposições simplesprecisarmos,
podemos, inclusive, utilizar vários deles na mesma expressão. Assim como utilizamos expressões algébricas
a fim de traduzir situações cotidianas para a linguagem matemática, podemos também usar expressões
lógicas para modelar comportamentos de sistemas dicotômicos, como os circuitos dos processadores de
nossos computadores.
Essas expressões são utilizadas tanto na programação de alto nível quanto em nível de hardware,
em que projetistas utilizam tabelas‑verdade para extrair expressões que representam circuitos que se
comportam da forma esperada. Conforme já mostrado, essas regras também são aplicadas à nossa
linguagem corrente, porém, de uma forma mais restrita do que aplicamos cotidianamente, já que a
lógica trabalha apenas com sentenças declarativas.
Observação
Vamos, agora, acompanhar alguns exemplos de exercícios que lidam com expressões lógicas.
41
Unidade I
Exemplo de aplicação
𝑝: Ana é dentista.
A) 𝑝 ∨ ~𝑞
B) ~𝑝 → 𝑞
C) 𝑝 ↔ ~𝑞
D) ~𝑝 ∧ ~𝑞
Resolução
Em cada item deste exemplo, vemos uma expressão lógica dada em linguagem simbólica. Nossa
tarefa será traduzi‑la para a linguagem corrente, ou seja, para a linguagem cotidiana. Devemos, então,
observar a ordem de precedência dos operadores lógicos e reescrever a sentença, considerando as
sentenças simples apresentadas no enunciado. Vamos à resolução de cada um dos itens.
A) Neste item A, primeiro, devemos negar a proposição 𝑞, já que a operação de negação é prioritária
em relação à operação de disjunção inclusiva. Temos o que segue.
Agora, vamos colocar a sentença que representa ~𝑞 em disjunção com a sentença que representa 𝑝.
Finalizamos, portanto, com a expressão que segue.
42
LÓGICA
Exemplo 2. Considere a expressão lógica 𝑆 = ~𝑎 ∧ 𝑏, que representa o circuito digital que será
desenvolvido por um projetista. Se tivermos 𝑎 verdadeiro e 𝑏 falso, qual será o valor da saída 𝑆?
Resolução
A expressão lógica 𝑆 = ~𝑎 ∧ 𝑏 indica que temos uma saída, chamada de 𝑆, que é a proposição
composta. Essa proposição é composta de duas entradas, que são as proposições simples 𝑎 e 𝑏.
Elas relacionam‑se por meio dos operadores “não” e “e”. Para sabermos o valor lógico de 𝑆 quando
𝑎 é verdadeiro e 𝑏 é falso, devemos resolver a expressão, de maneira semelhante ao que faríamos
com expressões algébricas. Porém devemos lembrar que não estamos lidando com operações
algébricas convencionais, mas com operações lógicas, e temos de respeitar o comportamento das
operações estudadas.
Podemos pensar em 𝑎 e 𝑏 como variáveis. Porém, diferentemente das variáveis que estudamos na
álgebra, as variáveis lógicas só podem assumir um entre dois valores, que, aqui, chamamos de V ou F.
O enunciado diz que 𝑎 = V e que 𝑏 = F. Vamos, então, substituir as variáveis por esses valores na
expressão lógica.
𝑆 = ~𝑎 ∧ 𝑏 = ~V ∧ F
Devemos priorizar o operador “não” em relação ao operador “e”. Portanto, a operação de negação
é a primeira que vamos fazer, a seguir. Como a negação nos pede para inverter o nível lógico do qual
partimos, temos que ~V = F. Vamos fazer essa substituição na expressão.
𝑆 = ~𝑎 ∧ 𝑏 = ~V ∧ F = F ∧ F
Finalmente, vamos resolver a operação de conjunção. Ela pede que ambos os operandos sejam
verdadeiros para que o resultado seja verdadeiro. No entanto, há dois operandos falsos. Logo,
F ∧ F = F. Desse modo, temos o que segue.
𝑆 = ~𝑎 ∧ 𝑏 = ~V ∧ F = F ∧ F = F
43
Unidade I
Resolução
A expressão lógica 𝑆 = (~𝑎 ⊻ 𝑏) → 𝑐 indica que temos uma saída, chamada de 𝑆, que é a proposição
composta. Essa proposição é composta de três entradas, que são as proposições simples 𝑎, 𝑏 e 𝑐. Elas
relacionam‑se por meio dos operadores “não”, “ou...ou” e “se...então”.
O enunciado diz que 𝑎 = V, 𝑏 = F e 𝑐 = V. Vamos, então, substituir as variáveis por esses valores na
expressão lógica.
𝑆 = (~𝑎 ⊻ 𝑏) → 𝑐 = (~V ⊻ F) → V
Assim como nas expressões algébricas, devemos respeitar tanto a ordem de precedência dos
operadores lógicos quanto os parênteses, que são capazes de quebrar a ordem natural entre eles. Pela
ordem de precedência adotada, a existência dos parênteses nessa expressão não modifica a ordem
na qual resolveríamos as operações: primeiro a negação, depois a disjunção exclusiva e, por último,
a condicional. Vamos, então, começar pela negação ~V = F. Logo, fazemos a substituição a seguir.
𝑆 = (~𝑎 ⊻ 𝑏) → 𝑐 = (~V ⊻ F) → V = (F ⊻ F) → V
Agora, partimos para a disjunção exclusiva. Essa operação exige exclusividade no valor lógico
verdadeiro para que seu resultado seja verdadeiro. No entanto, temos dois operandos falsos. Logo,
F ⊻ F = F. Vamos à substituição na expressão.
𝑆 = (~𝑎 ⊻ 𝑏) → 𝑐 = (~V ⊻ F) → V = (F ⊻ F) → V = F → V
Por último, resolvemos a operação condicional. A única forma de termos saída falsa na operação
é com antecedente verdadeiro e consequente falso. Porém, temos antecedente falso e consequente
verdadeiro, o que não descaracteriza a operação condicional. Portanto, F → V = V. Substituindo, temos
o que segue.
𝑆 = (~𝑎 ⊻ 𝑏) → 𝑐 = (~V ⊻ F) → V = (F ⊻ F) → V = F → V = V
Resolução
A expressão lógica 𝑆 = ((~𝑎 ↔ ~𝑏 ) ∨ 𝑐) ∧ 𝑎 indica que temos uma saída, chamada de 𝑆, que é
a proposição composta. Essa proposição é composta de três entradas, que são as proposições simples
𝑎, 𝑏 e 𝑐. Elas se relacionam por meio dos operadores “não”, “e”, “ou” e “se e somente se”.
44
LÓGICA
O enunciado diz que 𝑎 = F, e . Vamos, então, substituir as variáveis por esses valores na expressão
lógica.
Assim como nas expressões algébricas, devemos respeitar tanto a ordem de precedência dos
operadores lógicos quanto os parênteses, que são capazes de quebrar a ordem natural entre eles. Pela
ordem de precedência adotada, a existência dos parênteses nessa expressão modifica a ordem na qual
vamos resolver as operações: primeiro as duas operações de negação, depois o bicondicional, depois a
disjunção inclusiva e, por último, a conjunção. Vamos, então, começar pela negação ~F = V. Logo, fazemos
as substituições a seguir.
Passemos à operação dos parênteses internos. Resolveremos, ali, um bicondicional, entre dois
operandos verdadeiros. A operação bicondicional exige operandos de valores lógicos iguais para que
sua saída seja verdadeira. Logo:
V⟷V=V
S = ((V ⟷ V) ∨ V) ∧ F = (V ∨ V) ∧ F
Continuando com a operação dos parênteses, vamos resolver a disjunção inclusiva entre dois
operandos verdadeiros. A disjunção inclusiva pede que pelo menos um deles seja verdadeiro para que o
resultado seja verdadeiro. Logo:
V∨V=V
S = ((V ⟷ V) ∨ V) ∧ F = (V ∨ V) ∧ F = V ∧ F
Finalmente, vamos à última operação. A conjunção exige que ambos os operandos sejam verdadeiros
para que seu resultado seja verdadeiro. Porém, temos que o segundo operando é falso. Logo:
V∧F=F
S = ((V ⟷ V) ∨ V) ∧ F = (V ∨ V) ∧ F = V ∧ F = F
45
Unidade I
Resumo
46
LÓGICA
Exercícios
Questão 1. Definimos proposição como uma sentença para a qual podemos atribuir um dos valores
lógicos a seguir:
E3. A multiplicação de um número real A por um número real B resulta em um número real C maior
do que A e maior do que B.
D) O exemplo E1 é uma proposição falsa, o exemplo E2 não é uma proposição, e o exemplo E3 é uma
proposição verdadeira.
47
Unidade I
Análise da questão
O exemplo E1 é uma proposição verdadeira, pois um número ímpar é a soma de um número par
com 1. Se somarmos dois números ímpares, temos a soma de dois números pares com 2, o que resulta
em um número par.
O exemplo E2 não é uma proposição: trata‑se de uma exclamação para a qual não podemos atribuir
valor lógico.
E3. A multiplicação de um número real A por um número real B resulta em um número real C maior
do que A e maior do que B.
O exemplo E3 é uma proposição falsa. Por exemplo, se A for 0,1 e B for 0,2, a multiplicação de
A por B resulta em C igual a 0,02, menor do que A e do que B.
Para essas proposições, assinale a alternativa que traduz corretamente, para a linguagem corrente, a
seguinte expressão lógica: P ↔ ~Q.
48
LÓGICA
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a expressão lógica para “Júlia trabalha na área de tecnologia se e somente se ela gostar
de ir ao cinema” é: P ↔ Q.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a expressão lógica para “Júlia gosta de ir ao cinema se e somente se ela trabalhar na
área de tecnologia” é: Q ↔ P.
C) Alternativa correta.
Justificativa: a expressão lógica para “Júlia trabalha na área de tecnologia se e somente se ela não
gostar de ir ao cinema” é: P ↔ ~Q.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a expressão lógica para “Se Júlia trabalha na área de tecnologia, então ela não gosta
de ir ao cinema” é: P → ~Q.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a expressão lógica para “Se Júlia não trabalha na área de tecnologia, então ela gosta
de ir ao cinema” é: ~P → Q.
49