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Unidade II

Unidade II
Estudaremos a construção das tabelas‑verdade, ferramentas fundamentais ao estudo da lógica.
Em seguida, conheceremos as relações de implicação e de equivalência, que estabelecem comparações
entre duas expressões lógicas. Vamos lá!

3 TABELAS‑VERDADE

3.1 Definição de tabela‑verdade

Na unidade I, resolvemos expressões lógicas para valores específicos das variáveis de entrada.
No entanto, cada expressão lógica tem a sua própria tabela‑verdade.

Uma tabela‑verdade, portanto, é um artifício utilizado para conhecer a saída de uma expressão
lógica para todas as possíveis combinações de valores lógicos das entradas. Ao montarmos uma tabela
como essa, teremos a descrição completa do comportamento da expressão lógica, mesmo que não
saibamos os valores lógicos de suas entradas.

Toda tabela‑verdade, no estudo da lógica, deve incluir a lista de todas as possíveis combinações
de entradas, que corresponde aos possíveis valores lógicos das proposições simples, assim como
a saída correspondente a cada uma dessas combinações, que corresponde ao valor lógico da
proposição composta.

3.2 Construção da tabela‑verdade

Como, afinal, montamos uma tabela‑verdade a partir de uma expressão lógica? Vamos acompanhar
as etapas de montagem, a seguir.

Passo 1. O primeiro passo é determinar quantas são as proposições simples, ou seja, quantas são
as entradas da expressão. A partir disso, conseguimos calcular o número de linhas de estados que
precisaremos para montar sua tabela‑verdade. O cálculo é feito por meio de uma função exponencial, em
que o número de linhas de estados l (n) da tabela é dado em função do número n de proposições simples.

l (n) = 2n

Desse modo, se tivermos 2 proposições simples, precisaremos de 4 linhas de estado na tabela para
que consigamos todas as possíveis combinações de estados das entradas.

l (2) = 22 = 4

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LÓGICA

Se tivermos 3 proposições simples, precisaremos de 8 linhas de estado na tabela para que consigamos
todas as possíveis combinações de estados das entradas.

l (3) = 23 = 8

Para 4 proposições simples, precisaremos de 16 linhas na tabela, e assim por diante.

Passo 2. Definido o número de linhas, devemos montar a lista de todas as possíveis combinações das
entradas. Para a simbologia V e F, o mais usual é começar com todas as entradas em V e terminarmos com
todas em F. Para isso, podemos adotar um artifício: se tivermos duas entradas, 𝑎 e 𝑏, teremos 4 linhas e
começamos pelos estados de 𝑏, que é posicionada mais à direta, intercalando entre V e F. Acompanhe a seguir.

Tabela 9 – Construção da lista de estados para duas variáveis

𝑎 𝑏 𝑎 𝑏 𝑎 𝑏
V V V
F V F
V F V
F F F

Começando a lista de estados pela Passamos para a proposição 𝑎, mas,


coluna de 𝑏, adotamos V na primeira dessa vez, dobramos a quantidade de
Começamos adotando as 4 linhas linha. Em seguida, vamos intercalando vezes que consideramos cada valor
de estados entre F e V, considerando cada valor lógico. Intercalamos de 2 em 2, dessa
lógico uma vez vez, começando também em V

E se tivermos 3 entradas? Seguiremos exatamente a mesma lógica, porém teremos 8 linhas e 3


colunas de estados. Acompanhe a seguir.

Tabela 10 – Construção da lista de estados para três variáveis

𝑎 𝑏 𝑐 𝑎 𝑏 𝑐 𝑎 𝑏 𝑐 𝑎 𝑏 𝑐
V V V V V V
F V F V V F
V F V V F V
F F F V F F
V V V F V V
F V F F V F
V F V F F V
F F F F F F
Começando a lista de estados Passamos para a proposição Finalmente, em 𝑎,
pela coluna de 𝑐, adotamos V 𝑏, mas, dessa vez, dobramos dobramos novamente a
Começamos na primeira linha. Em seguida, a quantidade de vezes que quantidade de vezes que
adotando as 8 vamos intercalando entre F e V, consideramos cada valor lógico. consideramos cada valor
linhas de estados considerando cada valor lógico Intercalamos de 2 em 2, dessa lógico. Intercalamos de 4
uma vez vez, começando também em V em 4, começando em V

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Unidade II

Com isso, conseguimos todas as possíveis combinações de entradas, o que permite a montagem
da tabela‑verdade. Note que cobrimos todas as possíveis combinações, em nenhuma linha, há estados
que se repetem em outra. Se houver mais proposições, o mesmo procedimento é adotado, sempre
começando na coluna mais à direita e terminando na coluna mais à esquerda da tabela.

Passo 3. Definimos a ordem na qual vamos resolver as operações lógicas da expressão,


observando a ordem de precedência dos operadores, assim como os parênteses. Cada operação
pode ser feita em uma coluna auxiliar.

Passo 4. Resolvemos as operações lógicas, sendo que a última coluna da tabela representa, de fato,
o resultado da saída.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1. Monte a tabela‑verdade da expressão lógica S = ~𝑎 ∧ 𝑏 que representa o circuito


digital que será desenvolvido por um projetista.

Resolução

Passo 1. Temos duas entradas, 𝑎 e 𝑏. Com isso, sabemos que precisamos de 4 linhas na tabela‑verdade.

Passo 2. Montamos a lista de estados, mostrada a seguir.

Tabela 11 – Primeira tabela do exemplo 1

𝑎 𝑏
V V
V F
F V
F F

Passo 3. Definimos a ordem na qual vamos resolver as operações lógicas da expressão. Pela ordem de
precedência, resolveremos a negação e, em seguida, a conjunção. Vamos adotar uma coluna para cada
uma dessas operações. Assim que resolvermos a conjunção, já teremos o resultado da saída da expressão.

Tabela 12 – Segunda tabela do exemplo 1

𝑎 𝑏 ~𝑎 ~𝑎 ∧ 𝑏
V V
V F
F V
F F

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LÓGICA

Passo 4. Resolvemos as operações lógicas. Começando por ~𝑎 , devemos observar a coluna de 𝑎


(que está a seguir destacada com uma seta) e aplicar a ela a operação de negação. Vamos, portanto,
inverter o valor lógico de cada uma de suas linhas. O operador que está sendo resolvido no momento
também está em destaque (aparece em vermelho).

Tabela 13 – Terceira tabela do exemplo 1


𝑎 𝑏 ~𝑎 ~𝑎 ∧ 𝑏
V V F
V F F
F V V
F F V

Agora, vamos resolver a conjunção entre ~𝑎 e 𝑏. Para isso, olhamos para a coluna de ~𝑎 e para a
coluna de 𝑏, considerando o resultado verdadeiro apenas nas linhas em que ambos são verdadeiros.

Tabela 14 – Quarta tabela do exemplo 1

↓ ↓
𝑎 𝑏 ~𝑎 ~𝑎 ∧ 𝑏
V V F F
V F F F
F V V V
F F V F

Com isso, sabemos o comportamento da expressão S, pois a tabela já está finalizada. S só será
verdadeira se tivermos 𝑎 = F e 𝑏 = V (o que ocorre na 3ª linha de estados). Para todas as outras
combinações, S resultará em F.

Perceba que as colunas realmente necessárias em uma tabela‑verdade são aquelas onde
dispomos a lista de combinações de valores lógicos das entradas e a coluna onde dispomos a saída
da proposição composta. Listamos os estados das entradas nas duas primeiras colunas, e a saída,
na 4ª coluna. A 3ª coluna, que corresponde à operação ~𝑎, se trata de uma coluna auxiliar, ou seja,
uma coluna que servirá para que realizemos operações intermediárias, que nos ajudarão a chegar
até o resultado.

Exemplo 2. Monte a tabela‑verdade da expressão lógica S=(~a (∨) b)⟶c. S=(~a (∨) b)⟶c.

Resolução

Como temos 3 proposições simples na expressão (𝑎, 𝑏 e 𝑐), precisamos de 8 linhas na


tabela‑verdade. As listas de combinações de estados das proposições simples serão posicionadas
nas primeiras três colunas da tabela.
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Tabela 15 – Primeira tabela do exemplo 2

𝑎 𝑏 𝑐
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
F F V
F F F

A ordem na qual vamos resolver as operações segue a própria ordem de precedência dos
operadores lógicos: negação, disjunção exclusiva e, por último, condicional. Com isso, esperamos
as colunas seguintes na tabela, onde a última coluna representará o resultado de S.

Tabela 16 – Segunda tabela do exemplo 2

(~𝑎 v 𝑏)
𝑎 𝑏 𝑐 ~𝑎 ~𝑎 v 𝑏 →𝑐
V V V
V V F
V F V
V F F
F V V
F V F
F F V
F F F

Vamos, então, resolver as operações lógicas. Começando pela negação, para resolver ~𝑎, olhamos
para a coluna de 𝑎 e negá‑la, linha por linha. O resultado será preenchido na 4ª coluna.

Tabela 17 – Terceira tabela do exemplo 2


𝑎 𝑏 𝑐 ~𝑎 ~𝑎 v 𝑏 (~𝑎 v 𝑏) → 𝑐
V V V F
V V F F
V F V F
V F F F
F V V V
F V F V
F F V V
F F F V

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LÓGICA

Na sequência, vamos à disjunção exclusiva entre ~𝑎 e 𝑏. Olhamos para essas duas colunas e aplicamos
a definição da operação, com o resultado posicionado na 5ª coluna. Nas linhas em que ~𝑎 e 𝑏 forem
diferentes, o resultado será V, e, nas linhas em que forem iguais, o resultado será F.

Tabela 18 – Quarta tabela do exemplo 2

↓ ↓
𝑎 𝑏 𝑐 ~𝑎 ~𝑎 v 𝑏 (~𝑎 v 𝑏) → 𝑐
V V V F V
V V F F V
V F V F F
V F F F F
F V V V F
F V F V F
F F V V V
F F F V V

Finalmente, resolvemos a última operação, que será a condicional. Com isso, teremos o resultado
completo da expressão (~𝑎 v 𝑏) ⟶c, que representa S. O antecedente, (~𝑎 v 𝑏) encontra‑se na
5ª coluna; e o consequente, c, encontra‑se na 3ª coluna. Lembrando que essa operação só resulta em
F quando temos antecedente verdadeiro com consequente falso, apenas posicionaremos F na 6ª e
última coluna nas linhas em que ~𝑎 v 𝑏 for verdadeiro e c for falso. Note que isso só ocorre na 2ª
e na última linha de estados.

Tabela 19 – Quinta tabela do exemplo 2

↓ ↓
𝑎 𝑏 𝑐 ~𝑎 ~𝑎 v 𝑏 (~𝑎 v 𝑏) → 𝑐
V V V F V V
V V F F V F
V F V F F V
V F F F F V
F V V V F V
F V F V F V
F F V V V V
F F F V V F

Temos, agora, a tabela completa. A saída S é representada na última coluna. Ela resulta em
F quando temos as entradas 𝑎 = V, 𝑏 = V e c = F. Ela também resulta em F quando as entradas
são 𝑎 = F, 𝑏 = F e c = F. Para qualquer outra combinação de estados das entradas, a saída
é verdadeira.

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Exemplo 3. Considere as proposições simples a seguir.

p: Joana é estudante.

q: Joana mora em Santos.

Determine em que condições é verdadeira a seguinte sentença composta.

R: Se Joana é estudante, então ela não está morando em Santos.

Resolução

A sentença composta, R, é formada pelas duas proposições simples, p e q, associadas pelos


operadores “não” e “se...então”. Passando da linguagem corrente para a linguagem simbólica,
podemos descrever R como:

R=p⟶~q

Em linguagem corrente, os tempos verbais podem ser ajustados para que a sentença se adeque
melhor ao contexto.

Desconhecemos, a princípio, os valores lógicos de p e de q. Consequentemente, também


desconhecemos o valor lógico de R. Para saber em que condições R será verdadeira, podemos
montar a tabela‑verdade correspondente à expressão.

Com duas proposições simples, precisamos de 4 linhas na tabela. As duas primeiras colunas da tabela
serão dedicadas às entradas, p e q. Na sequência, resolveremos a negação ~q, seguida da condicional
p⟶~q. O resultado de R é expresso na última coluna, já que R=p⟶~q.

Tabela 20 – Tabela‑verdade do exemplo 3

� q ~q p→~q
V V F F
V F V V
F V F V
F F V V

Com isso, percebemos que a sentença p⟶~q só será falsa se tivermos p verdadeiro e q verdadeiro.
Ou seja, se for verdade que Joana é estudante, e for verdade que ela mora em Santos. Isso faz com que
tenhamos um antecedente verdadeiro com um consequente falso, já que o consequente diz que ela não
mora em Santos. Para qualquer outra combinação de estados, continuamos com uma sentença verdadeira.

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LÓGICA

Saiba mais
Existem diversos geradores on‑line de tabelas‑verdade. Um deles é o
disponível no endereço a seguir:

MICALEVISK’S GITHUB REPOSITORIES. Gerador de tabela verdade +. 2022.


Disponível em: https://cutt.ly/XM2XRgF. Acesso em: 22 nov. 2022.

3.3 Números binários

Você, provavelmente, já ouviu falar que computadores entendem apenas “zeros e uns”. O que na
prática isso significa? Os circuitos dos processadores dos computadores modernos trabalham com
transistores, dispositivos que funcionam como chaves ou interruptores eletrônicos. Essas chaves
podem ser conectadas umas às outras, de forma a desempenharem funções lógicas semelhantes às que
estudamos ao longo deste tópico. Esses circuitos transistorizados, que desempenham função lógica, são
denominados portas lógicas.

As portas lógicas são responsáveis pelo processamento dos dados nos computadores que utilizamos
rotineiramente. Uma porta lógica recebe sinais com determinados níveis de tensão elétrica em seus
terminais de entrada, processa esses sinais de acordo com sua operação lógica correspondente e, em
seguida, responde com determinado nível de tensão elétrica em seu terminal de saída. Esses níveis de
tensão, tanto de entrada quanto de saída, são restritos a duas medidas distintas, ou seja, trata‑se de um
sistema dicotômico. Nos projetos desses circuitos, em vez de se referirem a medidas de tensão, em volts,
os projetistas adotam uma abstração: referem‑se ao nível de tensão mais baixo (por exemplo, 0 V) como
nível 0 e, ao nível de tensão mais alto (por exemplo, 5 V), como nível 1. Daí, dizemos que computadores
só entendem “zeros e uns”, ou seja, eles falam uma linguagem binária.

Do ponto de vista lógico, não há diferença entre considerar os dois possíveis estados de um
sistema dicotômico como “V ou F” ou como “0 ou 1”. Contanto que estejamos dentro de um sistema
dicotômico, as mesmas regras se aplicam, independentemente da simbologia utilizada. Por isso,
tabelas‑verdade são artifícios utilizados na área computacional, tanto para a montagem de circuitos
digitais quanto na programação de alto nível.

Saiba mais
Se você quiser saber mais sobre as portas lógicas e os circuitos digitais
que integram o hardware dos nossos sistemas computacionais, consulte o
livro Eletrônica digital, de autoria de Alexandre Haupt e Édison Dachi.

HAUPT, A.; DACHI, É. Eletrônica digital. São Paulo: Blucher, 2016.

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3.4 Tautologia, contradição e contingência

3.4.1 Tautologia

Algumas proposições compostas são logicamente verdadeiras, independentemente do valor


lógico das proposições simples que as compõem. Por exemplo, a proposição composta 𝑎 ∨ ~𝑎 é,
necessariamente, verdadeira. Nesse caso, não importa se 𝑎 é verdadeiro ou falso. Para entendermos isso,
vamos contextualizar essa proposição composta.

𝑎 ∨ ~𝑎: Maria é brasileira, ou Maria não é brasileira.

Nesse caso, não importa a nacionalidade de Maria: a sentença composta sempre será verdadeira,
afinal, uma das componentes da disjunção sempre será verdadeira. Vamos montar a tabela‑verdade
dessa expressão e analisar seu resultado.

Tabela 21 – Tabela‑verdade que representa uma tautologia

𝑎 ~𝑎 𝑎 ∨ ~𝑎
V F V
F V V

Note que temos apenas uma proposição simples, 𝑎, como entrada. Logo, bastam duas linhas para
montarmos a tabela‑verdade. Essa proposição 𝑎 aparece na expressão composta em sua forma original
e em sua forma negada.

Se analisarmos a última coluna, que representa a saída da tabela, vemos que ambas as linhas
obtiveram resultado verdadeiro. Temos, nesse caso, uma tautologia. Essa é uma das formas mais
fáceis de definirmos uma tautologia: trata‑se de uma sentença lógica que sempre apresentará
resultado verdadeiro.

Observação

Não importa quantas linhas existam na tabela‑verdade. Todas


elas devem apresentar resultado V em sua coluna de saída para que
tenhamos uma tautologia.

3.4.2 Contradição

Algumas proposições compostas são logicamente falsas, independentemente do valor lógico das
proposições simples que as compõem. Vamos, agora, considerar a proposição composta 𝑎 ∧ ~𝑎.
Nesse caso, não importa se a proposição simples componente, 𝑎, é verdadeira ou falsa. A proposição
composta sempre será falsa. Considere o exemplo a seguir.

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LÓGICA

𝑎 ∧ ~𝑎: João nasceu em Maceió e não nasceu em Maceió.

Note que não importa o local de nascimento de João: uma sentença simples contradiz a outra, o
que nos leva, necessariamente, a uma sentença composta falsa. Temos, portanto, uma contradição.

Se montarmos a tabela‑verdade de uma contradição, esperamos, como resultado, todas as linhas de


saída falsas, conforme podemos observar na tabela.

Tabela 22 – Tabela‑verdade que representa uma contradição

𝑎 ~𝑎 𝑎 ∧ ~𝑎
V F F
F V F

Observação

Não importa quantas linhas existam na tabela‑verdade. Todas elas


devem apresentar resultado F em sua coluna de saída para que tenhamos
uma contradição.

3.4.3 Contingência

Já sabemos da existência de tautologias e de contradições. No entanto, esperamos que o resultado


da maior parte das expressões lógicas compostas com as quais lidamos dependa, sim, do valor lógico de
suas componentes, certo? Nesse caso, temos as contingências. A tabela‑verdade de uma contingência
resulta em uma combinação de Vs e Fs, de forma a termos pelo menos uma linha verdadeira e pelo
menos uma linha falsa.

Em outras palavras: se a expressão lógica não representa uma tautologia e nem uma contradição,
ela necessariamente será uma contingência. Como exemplo, podemos trazer a tabela‑verdade da
expressão 𝑎 ↔ 𝑏.

Tabela 23 – Tabela‑verdade da operação bicondicional,


que representa uma contingência

𝑎 𝑏 𝑎 ↔ 𝑏
V V V
V F F
F V F
F F V

Note que, na coluna de resultado, encontramos uma “mistura” de resultados falsos e verdadeiros. Isso
indica que o valor lógico da proposição composta depende do valor lógico de suas componentes simples.

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Unidade II

Lembrete

Tautologia: expressão lógica em que todas as linhas da tabela‑verdade


resultam em V.

Contradição: expressão lógica em que todas as linhas da tabela‑verdade


resultam em F.

Contingência: expressão lógica cuja tabela‑verdade resulta em uma


mistura, em qualquer proporção, de Vs e Fs. Ou seja, a saída da tabela terá
pelo menos uma linha verdadeira e pelo menos uma linha falsa.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1. Construa a tabela‑verdade da expressão P (x, y, z) = (x → y) ∧ (y → z) → (x → z)


e diga se a proposição composta representa uma tautologia, uma contradição ou uma contingência.

Resolução

Vamos começar analisando a própria estrutura da expressão. A indicação P (x, y, z) diz que
temos uma proposição composta chamada P, que é formada por três proposições simples: x, y e z.
O relacionamento entre essas proposições simples é apresentado do lado direito da igualdade.

Por termos três proposições simples, precisaremos de 8 linhas de estados na tabela‑verdade. Em


relação à ordem de precedência das operações, vamos primeiro resolver as três expressões dos parênteses,
depois a conjunção e, por último, a condicional externa. A montagem da tabela é apresentada a seguir.

Tabela 24 – Tabela‑verdade da expressão,


indicando que se trata de uma tautologia

x y z (x → (y → z) (x → z) (x → y) ∧ (y → (x → y) ∧ (y → z) → (x
y) z) → z)
V V V V V V V V
V V F V F F F V
V F V F V V F V
V F F F V F F V
F V V V V V V V
F V F V F V F V
F F V V V V V V
F F F V V V V V

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LÓGICA

Repare que, na última coluna, que representa a saída da nossa tabela‑verdade, todas as linhas
apresentaram valor lógico V. Trata‑se, portanto, de uma tautologia. Isso significa que, independentemente
do valor lógico de x, y e z, a expressão P sempre será verdadeira devido ao seu formato.

Se você sentiu alguma dificuldade em encontrar os valores lógicos da última coluna desta
tabela, talvez, você tenha trocado o antecedente pelo consequente na última operação condicional.
Não se preocupe, isso é muito comum de acontecer. Note que o antecedente (quem vem antes da
“setinha”) é a expressão (x → y) ∧ (y → z), e o consequente (quem vem depois da “setinha”) é a
expressão (x → z). Logo, o antecedente se encontra na penúltima coluna da tabela, enquanto o
consequente está na antepenúltima coluna.

Exemplo 2. Considere a proposição a seguir: “na prova da disciplina de Lógica, Nelson será
aprovado e não será aprovado”. Diga se a proposição composta representa uma tautologia, uma
contradição ou uma contingência.

Resolução

Analisando o formato da sentença, verificamos que se trata de uma estrutura do tipo 𝑎∧~𝑎 , que já
estudamos no tópico 3.4.2 deste livro‑texto. Temos, portanto, uma contradição.

4 RELAÇÕES DE IMPLICAÇÃO E DE EQUIVALÊNCIA

Conhecemos, na unidade I, as principais operações da lógica proposicional. Vamos, agora, estudar


algumas relações entre proposições. Para entender o conceito de relação, vamos relembrar os conceitos
que vimos em teoria de conjuntos.

Lembrete

As operações entre conjuntos diferem das relações de igualdade e de


inclusão. Em uma relação, apenas fazemos comparações entre conjuntos
(por exemplo, dizemos se um é subconjunto do outro). Por outro lado,
as operações entre conjuntos (como a operação de união, por exemplo)
resultam em um novo conjunto a partir de outros já existentes.

Podemos, também, pensar em aritmética. Observe a expressão a seguir.

x=2+3

O símbolo “+” indica uma operação aritmética entre os operandos 2 e 3. A partir desses dois números,
executar a operação de adição resultará em um novo número, que é o 5. Executando essa operação,
portanto, temos o seguinte.

x=5
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Unidade II

O símbolo “=”, por sua vez, indica uma relação entre o termo da esquerda e o termo da direita.
Note que não há nenhuma operação subsequente para fazermos, apenas estamos comparando os dois
termos entre si e dizendo que eles são iguais.

Pois bem, uma operação (2+3) gera uma tarefa que, quando executada, produz um resultado (5).
Uma relação não produz qualquer resultado, ela apenas compara duas coisas entre si (x = 5).

Voltemos à lógica. Uma operação lógica entre duas proposições produz um resultado (V ou F).
Já uma relação entre duas proposições estabelece uma comparação entre elas.

Entendido o conceito de relação, vamos estudar duas importantes relações da lógica: a relação de
implicação e a de equivalência.

4.1 Relação de implicação

Dizemos que uma proposição 𝑋 implica outra proposição 𝑌 quando, em suas tabelas‑verdade, não
ocorre a alternativa VF, nessa ordem, em nenhuma das linhas das tabelas. Ou seja, se compararmos a
tabela‑verdade de 𝑋 com a tabela‑verdade de 𝑌, linha a linha, não encontraremos nenhuma em que 𝑋
apresenta valor lógico verdadeiro e 𝑌 apresenta valor lógico falso.

Simbolicamente, representamos uma relação de implicação por uma seta dupla unidirecional, ⇒.
Observe a notação a seguir.

X⇒Y

Lemos essa relação como “X” implica “Y”. Essa relação significa que sempre que X for verdadeiro, Y
será verdadeiro também.

Observação

É importante, nesse momento, não confundirmos os símbolos → e ⇒.

→: operador lógico que representa uma operação condicional entre


duas proposições, que resultará numa nova proposição composta.

⇒: indica a relação de implicação entre duas proposições.

Vamos agora acompanhar alguns exemplos em que analisaremos as tabelas‑verdade de duas


proposições para avaliar a veracidade da relação de implicação entre elas.

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LÓGICA

Exemplo de aplicação

Exemplo 1. Por meio de tabelas‑verdade, verifique se 𝑎 ⇒ 𝑎 ∨ 𝑏.

Resolução

O enunciado nos pede para verificar se a proposição 𝑎 implica a proposição 𝑎 ∨ 𝑏. Para isso,
vamos comparar as tabelas‑verdade de ambas as proposições. Como 𝑎 é uma proposição simples,
sua tabela vem da própria lista de estados utilizada para montar a tabela de 𝑎 ∨ 𝑏. Portanto, vamos,
inicialmente, apenas montar a tabela‑verdade da expressão 𝑎 ∨ 𝑏, exposta a seguir.

Tabela 25 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 ∨ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ∨ 𝑏
V V V
V F V
F V V
F F F

Com a tabela montada, já podemos verificar se é válida a relação de implicação entre 𝑎 e 𝑎 ∨ 𝑏.


Na tabela a seguir, destacamos, em fundo verde, a coluna que representa a tabela de 𝑎, assim como
destacamos, em fundo roxo, a coluna que representa tabela de 𝑎 ∨ 𝑏. A numeração das linhas foi
inserida para facilitar a análise que faremos em sequência.

Tabela 26 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 ∨ 𝑏, com destaques visuais


que permitem a verificação da relação de implicação 𝑎 ⇒ 𝑎 ∨ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ∨ 𝑏
1 V V V
2 V F V
3 F V V
4 F F F

Em cada uma das 4 linhas, não devemos encontrar o estado VF da coluna verde para a coluna
roxa, caso a relação de implicação seja verdadeira. Nas linhas 1 e 2, temos o estado VV (verde com
V, roxo com V). Na linha 3, observamos o estado FV (verde com F, roxo com V). Já na linha 4, temos
o estado FF (verde com F, roxo com F).

Observe que a alternativa VF não ocorreu em nenhuma linha, quando comparamos uma coluna
com a outra. Isso significa que é verdade que 𝑎 implica 𝑎 ∨ 𝑏. Ou seja, é válida a relação 𝑎 ⇒ 𝑎 ∨ 𝑏.
Na prática, temos que, sempre que 𝑎 é verdadeiro, 𝑎 ∨ 𝑏 será verdadeiro também.

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Unidade II

Exemplo 2. Por meio de tabelas‑verdade, verifique se 𝑎 ⇒ 𝑎 ⊻ 𝑏.

Resolução

O enunciado nos pede para verificarmos se a proposição 𝑎 implica a proposição 𝑎 ⊻ 𝑏. Para isso,
vamos comparar as tabelas‑verdade de ambas as proposições. Como 𝑎 é uma proposição simples,
sua tabela vem da própria lista de estados utilizada para montar a tabela de 𝑎 ⊻ 𝑏. Portanto,
vamos, inicialmente, apenas montar a tabela‑verdade da expressão 𝑎 ⊻ 𝑏, exposta a seguir.

Tabela 27 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 ⊻ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏
V V F
V F V
F V V
F F F

Com a tabela montada, podemos verificar se é válida a relação de implicação entre 𝑎 e 𝑎 ⊻ 𝑏. Na tabela
a seguir, destacamos, em fundo verde, a coluna que representa a tabela de 𝑎, assim como destacamos,
em fundo roxo, a coluna que representa tabela de 𝑎 ⊻ 𝑏, novamente com a numeração das linhas.

Tabela 28 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 ⊻ 𝑏, com destaques visuais


que permitem a verificação da relação de implicação 𝑎 ⇒ 𝑎 ⊻ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏
1 V V F
2 V F V
3 F V V
4 F F F

Em cada uma das 4 linhas, não podemos encontrar o estado VF da coluna verde para a coluna
roxa, caso a relação de implicação seja válida. Porém, logo na linha 1 (destacada com borda vermelha),
verificamos que o estado VF ocorreu, pois temos elemento verde com V e o roxo com F. Não seria
necessário, nesse caso, nem mesmo avaliar as outras linhas, pois já sabemos que relação de implicação
proposta no enunciado não é válida. Porém, vamos avaliá‑las para completar nosso estudo.

Na linha 2, temos o estado VV. Na linha 3, observamos o estado FV. Já na linha 4, temos o
estado FF. Individualmente, nenhuma dessas três linhas invalida a relação de implicação, porém,
devemos avaliar sempre a tabela como um todo. Basta que em uma delas ocorra o estado VF para
que a relação de implicação entre 𝑎 e 𝑎 ⊻ 𝑏 seja considerada falsa. Logo, não é verdade que 𝑎
implica 𝑎 ⊻ 𝑏.

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LÓGICA

Exemplo 3. Por meio de tabelas‑verdade, verifique se 𝑎 → 𝑏 ⇒ 𝑎 ⊻ 𝑏.

Resolução
Dessa vez, temos que verificar se é verdadeira a relação de implicação entre duas proposições
compostas. Com isso, temos que montar ambas as tabelas‑verdade e comparar suas saídas entre si.
As tabelas de 𝑎 → 𝑏 e de 𝑎 ⊻ 𝑏 são mostradas a seguir, individualmente.
Tabela 29 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 → 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 → 𝑏
V V V
V F F
F V V
F F V

Tabela 30 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 ⊻ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏
V V F
V F V
F V V
F F F

Vamos dispor ambas as tabelas sob a mesma lista de estados, para ficar mais fácil compará‑las. Nossa
intenção, agora, será comparar a coluna de saída de 𝑎 → 𝑏 com a coluna de saída de 𝑎 ⊻ 𝑏. Na tabela
seguinte, elas aparecem lado a lado.

Tabela 31 – Tabelas‑verdade de ambas as expressões

𝑎 𝑏 𝑎 → 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏
V V V F
V F F V
F V V V
F F V F

Para facilitar a comparação, vamos, novamente, fazer o destaque em cores. A seguir, 𝑎 → 𝑏 aparece
em verde e 𝑎 ⊻ 𝑏 aparece em roxo.
Tabela 32 – Tabelas‑verdade de ambas as expressões,
com destaques visuais que permitem a verificação
da relação de implicação 𝑎 → 𝑏 ⇒ 𝑎 ⊻ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 → 𝑏 𝑎 ⊻ 𝑏
1 V V V F
2 V F F V
3 F V V V
4 F F V F

65
Unidade II

Novamente, nossa intenção é procurar por estados VF, que tornam falsa a relação de implicação
entre as proposições consideradas. Note que esses estados ocorreram duas vezes, nas linhas 1 e 4,
destacadas com borda vermelha. Logo, não é verdade que 𝑎 → 𝑏 implica 𝑎 ⊻ 𝑏.

Por mais que tenhamos significados diferentes para os símbolos → e ⇒, eles apresentam
certa dependência entre si. A implicação entre duas proposições, digamos, X ⇒ Y, indica que a
condicional X → Y resulta em uma tautologia. Se não ocorre o estado VF entre as proposições
consideradas, nunca teremos antecedente, X, verdadeiro, com consequente, Y, falso. Logo, o padrão
da tabela‑verdade da condicional será tautológico. Vamos verificar essa afirmação acompanhando
mais um exemplo.

Exemplo de aplicação

Sabe‑se que 𝑎 ⇒ 𝑎 ∨ 𝑏. Por meio de tabelas‑verdade, demonstre que a condicional 𝑎 → 𝑎 ∨ 𝑏


é tautológica.

Resolução

Já verificamos, em um exemplo de aplicação anterior, que é verdade que 𝑎 ⇒ 𝑎 ∨ 𝑏. Logo, esperamos


que a condicional 𝑎 → 𝑎 ∨ 𝑏 seja tautológica. Vamos montar a tabela‑verdade de 𝑎 → 𝑎 ∨ 𝑏 e comprovar
essa afirmação.

Tabela 33 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 → 𝑎 ∨ 𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ∨ 𝑏 𝑎 → 𝑎 ∨ 𝑏
V V V V
V F V V
F V V V
F F F V

Como a coluna de saída da tabela‑verdade apresentou apenas linhas com valor lógico verdadeiro,
comprovamos que a condicional 𝑎 → 𝑎 ∨ 𝑏 é tautológica.

Isso é esperado sempre que soubermos que uma relação de implicação é verdadeira e trocarmos
⇒ por →.

Observação

A relação de implicação será aplicada na definição de um argumento


lógico válido, que veremos na unidade III deste livro‑texto.

66
LÓGICA

4.2 Relação de equivalência

Dizemos que uma proposição X é equivalente a outra proposição Y quando, em suas tabelas‑verdade,
não ocorre a alternativa VF ou a alternativa FV em nenhuma das linhas das tabelas. Ou seja, se
compararmos a tabela‑verdade de X com a tabela‑verdade de Y, linha a linha, não encontraremos
nenhuma em que X apresenta valor lógico verdadeiro e Y apresenta valor lógico falso; também não
encontraremos nenhuma em que 𝑋 apresenta valor lógico falso e Y apresenta valor lógico verdadeiro. Na
prática, as tabelas‑verdade de X e de Y serão iguais, pois só apresentarão alternativas do tipo VV ou FF.

Simbolicamente, representamos uma relação de equivalência por uma seta dupla bidirecional ⇔.
Observe a notação a seguir.

X⇔Y

Lemos essa relação como “X é equivalente a Y”. Essa relação significa que X e Y apresentarão
exatamente a mesma coluna de saída em suas tabelas‑verdade.

Observação

É importante não confundirmos os símbolos ↔ e ⇔.

↔: operador lógico que representa uma operação bicondicional entre


duas proposições, que resultará numa nova proposição composta.

⇔: indica a relação de equivalência entre duas proposições. Alguns


autores podem utilizar o símbolo de igualdade, =, para substituir o símbolo
de equivalência. O significado será o mesmo.

Vamos, agora, acompanhar alguns exemplos em que analisaremos as tabelas‑verdade de duas


proposições, para avaliar a veracidade da relação de equivalência entre elas.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1. Por meio de tabelas‑verdade, verifique se 𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏).

Resolução

O enunciado nos pede para verificar se a proposição 𝑎 ∧ 𝑏 é equivalente à proposição ~(~𝑎 ∨ ~𝑏).
Para isso, vamos comparar as tabelas‑verdade de ambas as proposições. Você pode montar duas
tabelas‑verdade separadas, ou aproveitar a mesma lista de estados das entradas para montar, em uma
única estrutura, as duas tabelas. Montaremos, diretamente, as duas tabelas, na mesma estrutura.

67
Unidade II

Tabela 34 – Verificação da relação de equivalência


𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏)

𝑎 𝑏 𝑎 ∧ 𝑏 ~𝑎 ~𝑏 ~𝑎 ∨ ~𝑏 ~(~𝑎 ∨ ~𝑏)
V V V F F F V
V F F F V V F
F V F V F V F
F F F V V V F

Destacamos a coluna que representa a saída da tabela‑verdade da expressão 𝑎 ∧ 𝑏 em verde, assim


como destacamos a coluna da expressão ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) em roxo. Comparando ambas as colunas em
destaque, percebemos que elas apresentam resultados iguais, com valor lógico V na primeira linha,
e valor lógico F nas linhas seguintes. Concluímos, portanto, que a proposição 𝑎 ∧ 𝑏 é equivalente à
proposição ~(~𝑎 ∨ ~𝑏). Ou seja, é válida a relação 𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏).

Isso significa que se, por exemplo, um circuito lógico de processamento computacional for montado
de acordo com a expressão 𝑎 ∧ 𝑏 e outro for montado de acordo com a expressão ~(~𝑎 ∨ ~𝑏), eles
produzirão exatamente os mesmos resultados.

Exemplo 2. Por meio de tabelas‑verdade, verifique se 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐.

Resolução

O enunciado nos pede para verificar se a proposição 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐) é equivalente à proposição (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐.


Para isso, vamos comparar as tabelas‑verdade de ambas as proposições. Vamos, novamente, aproveitar
a mesma lista de estados das entradas para montar, em uma única estrutura, as duas tabelas.

Tabela 35 – Tabela para a verificação da relação de equivalência


𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐

𝑎 𝑏 𝑐 𝑏 ∨ 𝑐 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐) (𝑎 ∨ 𝑏) (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐
V V V V V V V
V V F V V V V
V F V V V V V
V F F F V V V
F V V V V V V
F V F V V V V
F F V V V F V
F F F F F F F

Destacamos a coluna que representa a saída da tabela‑verdade da expressão 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐) em verde, assim


como destacamos a coluna da expressão (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐 em roxo. Comparando ambas as colunas em destaque,
percebemos que elas apresentam resultados iguais, com valor lógico F apenas na última linha. Concluímos,
portanto, que a proposição (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐 é equivalente à proposição 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐). Ou seja, é válida a relação
𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐.

68
LÓGICA

Exemplo 3. Por meio de tabelas‑verdade, verifique se ~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∧ ~𝑏.

Resolução

Montando as tabelas‑verdade de ~(𝑎 ∧ 𝑏) e de ~𝑎 ∧ ~𝑏, chegamos à estrutura exposta a seguir.

Tabela 36 – Tabela para a verificação da relação de equivalência


~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∧ ~𝑏

𝑎 𝑏 𝑎 ∧ 𝑏 ~(𝑎 ∧ 𝑏) ~𝑎 ~𝑏 ~𝑎 ∧ ~𝑏
V V V F F F F
V F F V F V F
F V F V V F F
F F F V V V V

Nesse caso, podemos verificar que, nas linhas de estados 2 e 3, destacadas com bordas vermelhas,
as proposições apresentaram resultados distintos. Logo, a proposição ~(𝑎 ∧ 𝑏) não é equivalente à
proposição ~𝑎 ∧ ~𝑏.

Isso significa que, se por exemplo, um circuito lógico de processamento computacional for montado
de acordo com a expressão ~(𝑎 ∧ 𝑏) e outro for montado de acordo com a expressão ~𝑎 ∧ ~𝑏, eles
produzirão resultados diferentes.

Observação

Assim como a relação de igualdade na aritmética, a relação de


equivalência lógica é comutativa. Isso significa que, se X ⇔ Y, podemos
dizer que, necessariamente,Y ⇔ X.

Por mais que tenhamos significados diferentes para os símbolos ↔ e ⇔, eles apresentam certa
dependência entre si. A equivalência entre duas proposições, digamos, X ⇔ Y, indica que a bicondicional
X ↔ Y resulta em uma tautologia. Se não ocorrem os estados VF ou FV entre as proposições consideradas,
o padrão da tabela‑verdade da bicondicional será tautológico. Vamos verificar essa afirmação
acompanhando o exemplo a seguir.

69
Unidade II

Exemplo de aplicação

Sabe‑se que 𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏). Por meio de tabelas‑verdade, demonstre que a bicondicional
𝑎 ∧ 𝑏 ↔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) é tautológica.

Resolução

Já verificamos, em um exemplo de aplicação anterior, que é verdade que 𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏). Logo,
esperamos que a bicondicional 𝑎 ∧ 𝑏 ↔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) seja tautológica. Vamos montar a tabela‑verdade
de 𝑎 ∧ 𝑏 ↔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) e comprovar essa afirmação.

Tabela 37 – Tabela‑verdade da expressão 𝑎 ∧ 𝑏 ↔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏)

𝑎 𝑏 𝑎 ∧ 𝑏 ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) 𝑎 ∧ 𝑏 ↔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏)


V V V V V
V F F F V
F V F F V
F F F F V

Como a coluna de saída da tabela‑verdade apresentou apenas linhas com valor lógico verdadeiro,
comprovamos que a bicondicional 𝑎 ∧ 𝑏 ↔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) é tautológica.

Isso é esperado sempre que soubermos que uma relação de equivalência é verdadeira e trocarmos
⇔ por ↔.

Observação

Cada expressão lógica tem infinitas expressões equivalentes a ela.


Por exemplo, todas as relações de equivalência, demonstradas a seguir,
são verdadeiras.

𝑎 ⇔ 𝑎

𝑎 ⇔ 𝑎 ∧ 𝑎

𝑎 ⇔ 𝑎 ∧ 𝑎 ∧ 𝑎

𝑎 ⇔ 𝑎 ∧ 𝑎 ∧ 𝑎 ∧ 𝑎

É interessante notarmos que se uma relação de equivalência entre duas proposições é válida, a relação
de implicação entre elas também será, em ambos os sentidos. Dessa forma, se é verdade que 𝑋 ⇔ 𝑌,
também será verdade que X ⇒ Y e que Y ⇒ X.

No exemplo anterior, trabalhamos com a relação de equivalência válida 𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏).


Isso significa que 𝑎 ∧ 𝑏 ⇒ ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) e que ~(~𝑎 ∨ ~𝑏) ⇒ 𝑎 ∧ 𝑏. Esse conhecimento será útil
quando trabalharmos com argumentos lógicos na unidade III deste livro‑texto.
70
LÓGICA

Saiba mais
É possível utilizar a teoria de conjuntos para verificar se uma expressão
lógica é equivalente à outra. Se duas expressões são caracterizadas pelo
mesmo padrão de diagramas de Venn‑Euler, significa que apresentam a mesma
tabela‑verdade, ou seja, são equivalentes.

Você pode aprender sobre esse método no livro Lógica e álgebra de


Boole, de Jacob Daghlian:

DAGHLIAN, J. Lógica e álgebra de Boole. São Paulo: Atlas, 1995.

4.2.1 Equivalências notáveis

As equivalências são de grande interesse para o estudo da lógica. O projetista de um circuito digital,
por exemplo, quer montar o circuito mais barato e conveniente possível, que gere o resultado esperado.
Para isso, existem técnicas de redução de circuitos lógicos, que utilizam algumas equivalências já
conhecidas como base para o procedimento.

Essas equivalências são denominadas equivalências notáveis, e aparecem com frequência nas
diversas aplicações da lógica, inclusive na nossa linguagem. Por meio delas, podemos reconhecer
sentenças que se comportam de forma equivalente a outras, ou seja, que apresentam a mesma
informação, mesmo que de maneiras diferentes.

Apresentaremos, a seguir, algumas das principais equivalências notáveis tratadas no campo da lógica
proposicional, divididas em oito categorias. Apresentaremos o formato simbólico das equivalências e,
em sequência, uma breve explicação a respeito de seu formato.

Dupla negação

𝑎 ⇔ ~(~𝑎)

A equivalência notável intitulada dupla negação indica que, ao negarmos determinada proposição
duas vezes seguidas, voltamos à mesma informação que tínhamos antes de qualquer negação. Observe
o exemplo seguinte.

𝑎: O cavalo é branco.

~(~𝑎): Não é verdade que o cavalo não é branco.

Se 𝑎 for uma proposição verdadeira, ~(~𝑎) será, necessariamente, uma proposição verdadeira,
também. Do mesmo modo, se 𝑎 for uma proposição falsa, ~(~𝑎) será, necessariamente, uma proposição
falsa. Afinal, negar uma proposição uma vez, troca o seu valor lógico. Negá‑la duas vezes seguidas faz
com que o valor lógico original retorne à sentença.

71
Unidade II

Leis idempotentes

𝑎 ∧ 𝑎 ⇔ 𝑎

𝑎 ∨ 𝑎 ⇔ 𝑎

A idempotência é a propriedade que algumas operações têm de poderem ser aplicadas diversas
vezes, sem que o resultado se altere após a aplicação inicial. As leis idempotentes são as equivalências
lógicas que nos dizem que, ao aplicar uma operação de conjunção ou de disjunção inclusiva entre uma
proposição e ela mesma, simplesmente mantemos o valor lógico da proposição em questão. Vamos
acompanhar um exemplo.

𝑎: o cavalo é branco.

𝑎 ∧ 𝑎: o cavalo é branco e é branco.

𝑎 ∨ 𝑎: o cavalo é branco ou é branco.

Nas três sentenças anteriores, estamos, basicamente, entregando sempre a mesma informação, em
formatos distintos.

Leis comutativas

𝑎 ∧ 𝑏 ⇔ 𝑏 ∧ 𝑎

𝑎 ∨ 𝑏 ⇔ 𝑏 ∨ 𝑎

As leis comutativas dizem que ao relacionar duas proposições por uma operação de conjunção,
podemos, livremente, inverter a ordem na qual elas aparecem na sentença composta, pois não mudará o
seu valor lógico. Isso vale também para a operação de disjunção. Acompanhe o exemplo seguinte, onde
aplicamos uma conjunção.

𝑎 ∧ 𝑏: o cavalo é branco e a casa é amarela.

𝑏 ∧ 𝑎: a casa é amarela e o cavalo é branco.

Notou que, nos dois formatos, dizemos basicamente a mesma coisa? Isso acontece porque 𝑎 ∧ 𝑏 e
𝑏 ∧ 𝑎 são sentenças equivalentes entre si. O mesmo acontece se aplicarmos uma disjunção inclusiva,
conforme o exemplo a seguir.

𝑎 ∨ 𝑏: o cavalo é branco ou a casa é amarela.

𝑏 ∨ 𝑎: a casa é amarela ou o cavalo é branco.

Temos que 𝑎 ∨ 𝑏 e 𝑏 ∨ 𝑎 são sentenças equivalentes entre si.

72
LÓGICA

Observação

As leis comutativas apresentam duas equivalências notáveis distintas.


Uma diz que 𝑎 ∧ 𝑏 é equivalente a 𝑏 ∧ 𝑎, enquanto a outra diz que 𝑎 ∨ 𝑏 é
equivalente a 𝑏 ∨ 𝑎. Não podemos misturar as duas equivalências: 𝑎 ∧ 𝑏 não
é equivalente a 𝑏 ∨ 𝑎, por exemplo. Devemos ter a mesma cautela com as leis
associativas, de De Morgan e distributivas, que veremos a seguir.

Leis associativas

(𝑎 ∧ 𝑏) ∧ 𝑐 ⇔ 𝑎 ∧ (𝑏 ∧ 𝑐)

(𝑎 ∨ 𝑏) ∨ 𝑐 ⇔ 𝑎 ∨ (𝑏 ∨ 𝑐)

As leis associativas permitem que troquemos a posição dos parênteses, quando temos o mesmo
operador lógico relacionando três proposições distintas. O primeiro formato diz respeito à operação de
conjunção. Nas sentenças a seguir, por exemplo, temos sentenças equivalentes entre si.

(𝑎 ∧ 𝑏) ∧ 𝑐: o cavalo é branco e a casa é amarela. Além disso, a rosa é vermelha.

𝑎 ∧ (𝑏 ∧ 𝑐): o cavalo é branco. Além disso, a casa é amarela e a rosa é vermelha.

O mesmo valeria para o operador de disjunção inclusiva, apresentado na segunda equivalência


notável associativa.

Observação

Na linguagem corrente, outros termos podem substituir os termos


usuais dos conectivos lógicos. No exemplo anterior, usamos o termo “além
disso” como uma conjunção aditiva, ou seja, que traz mais uma informação
à sentença. Ele faz, portanto, o papel do conectivo “e”.

Leis de De Morgan

~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∨ ~𝑏

~(𝑎 ∨ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∧ ~𝑏

As leis de De Morgan são intituladas em homenagem ao matemático e lógico britânico Augustus


De Morgan (1806–1871), responsável por sua formulação. Seus formatos permitem que troquemos um
conectivo “e” por um conectivo “ou”, ou vice‑versa, mantendo a equivalência entre as expressões.

73
Unidade II

Vamos analisar o primeiro teorema exposto, ~(𝑎 ∧ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∨ ~𝑏. Ele diz que negar uma conjunção
entre duas proposições é equivalente a negar cada uma dessas proposições individualmente e, em
seguida, uni‑las com uma disjunção inclusiva. Desse modo, as seguintes sentenças em linguagem
corrente são equivalentes.

~(𝑎 ∧ 𝑏): não é verdade que o cavalo é branco e a casa é amarela.

~𝑎 ∨ ~𝑏: o cavalo não é branco ou a casa não é amarela.

Vamos, agora, analisar o segundo teorema exposto, ~(𝑎 ∨ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∧ ~𝑏. Ele diz que negar
uma disjunção inclusiva entre duas proposições é equivalente a negar cada uma dessas proposições
individualmente e, em seguida, uni‑las com uma conjunção. Desse modo, as seguintes sentenças em
linguagem corrente são equivalentes.

~(𝑎 ∨ 𝑏): não é verdade que o cavalo é branco ou a casa é amarela.

~𝑎 ∧ ~𝑏: o cavalo não é branco e a casa não é amarela.

Leis distributivas

𝑎 ∧ (𝑏 ∨ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∧ 𝑏) ∨ (𝑎 ∧ 𝑐)

𝑎 ∨ (𝑏 ∧ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∨ 𝑏) ∧ (𝑎 ∨ 𝑐)

As leis distributivas se assemelham à propriedade distributiva da aritmética. Utilizando os conectivos


“e” e “ou”, podemos distribuir o conectivo de fora dos parênteses para dentro dos parênteses.

Vamos dar um exemplo, em linguagem corrente, do segundo formato apresentado anteriormente,


𝑎 ∨ (𝑏 ∧ 𝑐) ⇔ (𝑎 ∨ 𝑏) ∧ (𝑎 ∨ 𝑐). De acordo com ele, as seguintes sentenças são equivalentes.

𝑎 ∨ (𝑏 ∧ 𝑐): Maria estuda lógica, ou, Maria estuda matemática e português.

(𝑎 ∨ 𝑏) ∧ (𝑎 ∨ 𝑐): Maria estuda lógica ou matemática, e Maria estuda lógica ou português.

Condicionais

𝑎 → 𝑏 ⇔ ~𝑏 → ~𝑎

𝑎 → 𝑏 ⇔ ~𝑎 ∨ 𝑏

Os formatos de equivalências partem de uma condicional entre duas proposições. No primeiro formato,
𝑎 → 𝑏 ⇔ ~𝑏 → ~𝑎, transformamos uma condicional em outra equivalente, trocando de posição o
antecedente com o consequente e negando ambas as proposições. No segundo formato, 𝑎 → 𝑏 ⇔ ~𝑎 ∨ 𝑏,
transformamos uma condicional em uma disjunção, negando a proposição que fazia o papel de antecedente.

74
LÓGICA

Desse modo, todas as sentenças em linguagem corrente expostas a seguir são equivalentes.

𝑎 → 𝑏: se estiver chovendo, então eu levarei um guarda‑chuva.

~𝑏 → ~𝑎: se eu não levei um guarda‑chuva, então não estava chovendo.

~𝑎 ∨ 𝑏: não está chovendo, ou eu levaria um guarda‑chuva.

Lembrete

Em uma condicional 𝑎 → 𝑏, a primeira proposição, 𝑎, é chamada de


antecedente, e a segunda, 𝑏, é chamada de consequente.

Bicondicionais

𝑎 ↔ 𝑏 ⇔ (𝑎 → 𝑏) ∧ (𝑏 → 𝑎)

𝑎 ↔ 𝑏 ⇔ ~(𝑎 ⊻ 𝑏)

Os formatos de equivalências partem de uma bicondicional entre duas proposições. No primeiro


formato, 𝑎 ↔ 𝑏 ⇔ (𝑎 → 𝑏) ∧ (𝑏 → 𝑎), transformamos uma bicondicional em duas condicionais. Se é
verdade que 𝑎 ↔ 𝑏, então é verdade que 𝑎 → 𝑏 e também é verdade que 𝑏 → 𝑎.

No segundo formato, 𝑎 ↔ 𝑏 ⇔ ~(𝑎 ⊻ 𝑏), transformamos uma bicondicional na negação


de uma disjunção exclusiva. Se repararmos nas tabelas‑verdade das operações bicondicional e
disjunção exclusiva, notamos que uma operação representa a negação da outra. Logo, 𝑎 ↔ 𝑏 é
equivalente a ~(𝑎 ⊻ 𝑏).

As sentenças em linguagem corrente expostas a seguir são, portanto, equivalentes entre si.

𝑎 ↔ 𝑏: o número 10 é par se e somente se ele for divisível por 2.

(𝑎 → 𝑏) ∧ (𝑏 → 𝑎): se o número 10 é par, então ele é divisível por 2, assim como se o número 10 é
divisível por 2, então ele é par.

~(𝑎 ⊻ 𝑏): não é verdade que, ou o número 10 é par, ou ele é divisível por 2.

75
Unidade II

Exemplo de aplicação

Observando as leis de De Morgan, escreva a frase logicamente equivalente à sentença “Não é verdade
que Ana é pernambucana ou João é mineiro”.

Resolução

A sentença do enunciado é formada por duas proposições simples, descritas a seguir.

𝑎: Ana é pernambucana.

𝑏: João é mineiro.

Em linguagem simbólica, a sentença composta é descrita como ~(𝑎 ∨ 𝑏). Logo, a lei de De Morgan
que devemos considerar é a de formato ~(𝑎 ∨ 𝑏) ⇔ ~𝑎 ∧ ~𝑏. Nossa tarefa, portanto, será transformar
a sentença do enunciado no formato ~𝑎 ∧ ~𝑏. Para isso, basta negarmos ambas as proposições simples
e uni‑las com o conectivo “e”. Como resultado, temos: “Ana não é pernambucana e João não é mineiro”.

No Apêndice A, ao final deste livro‑texto, você encontrará um resumo das equivalências notáveis
estudadas, apenas com a nomenclatura e o formato simbólico associado a cada uma delas. Utiliza esse
resumo para consultas rápidas aos formatos estudados.

76
LÓGICA

Resumo

Aprendemos que uma tabela‑verdade é um artifício utilizado para


conhecer a saída de uma expressão lógica para todas as possíveis
combinações de valores lógicos das entradas. Ao montarmos uma tabela
como essa, temos a descrição completa do comportamento da expressão
lógica, mesmo que não saibamos quais são os valores lógicos de suas entradas.
Toda tabela‑verdade deve incluir a lista de todas as possíveis combinações
de entradas, assim como a saída correspondente a cada uma dessas
combinações, que corresponde ao valor lógico da proposição composta.

Aprendemos a fazer a montagem de uma tabela‑verdade, acompanhando


um passo a passo que nos leva à estruturação de uma tabela para qualquer
número de proposições simples existentes na expressão lógica em questão.

Também vimos a respeito de tautologias, contradições e equivalências. Uma


tautologia é uma expressão lógica em que todas as linhas da tabela‑verdade
resultam em V. Uma contradição é uma expressão lógica em que todas
as linhas da tabela‑verdade resultam em F. Já uma contingência é uma
expressão lógica cuja tabela‑verdade resulta em uma mistura, em qualquer
proporção, de Vs e Fs.

Continuamos nossos estudos conhecendo as relações de implicação


e de equivalência, que constituem comparações entre expressões lógicas.
Dizer que “𝑋 implica 𝑌” significa que, sempre que 𝑋 for verdadeiro, 𝑌 será
verdadeiro também. Dizer que “𝑋 é equivalente a 𝑌” significa que 𝑋 e 𝑌
apresentarão exatamente a mesma coluna de saída em suas tabelas‑verdade.

Por fim, conhecemos algumas equivalências notáveis. Elas aparecem


com frequência nas diversas aplicações da lógica, inclusive na nossa
linguagem. Por meio delas, podemos reconhecer sentenças que se
comportam de forma equivalente a outras, ou seja, que apresentam a
mesma informação, mesmo que de maneiras diferentes.

77
Unidade II

Exercícios

Questão 1. (IBGP 2020, adaptada) Alice estava estudando para um concurso público e deparou com
uma questão que solicitava a montagem da tabela‑verdade da seguinte expressão lógica: ~(P V ~Q).

Para solucionar o problema, ela montou a tabela‑verdade a seguir, em que V é “verdadeiro” e F é “falso”.

Tabela 38

P Q ~Q P V~Q ~(P V ~Q)


F V
V V
V F
F F

O número de V encontrado na coluna P V ~Q multiplicado pelo número de F encontrado na última


coluna é igual a

A) 1.

B) 6.

C) 9.

D) 4.

E) 8.

Resposta correta: alternativa C.

Análise da questão

Vamos preencher integralmente a tabela‑verdade do enunciado. Vejamos.

Tabela 39

P Q ~Q P V~Q ~(P V ~Q)


F V F F V
V V F V F
V F V V F
F F V V F

78
LÓGICA

Da tabela‑verdade, vemos que:

• o número de V encontrado na coluna P V ~Q é igual a 3;

• o número de F encontrado na última coluna é igual a 3.

Logo, o número de V encontrado na coluna P V ~Q multiplicado pelo número de F encontrado na


última coluna é igual a 9, resultado do produto 3x3.

Questão 2. (Iades 2019, adaptada) Considere as proposições a seguir.

• A: O número 10 é ímpar.

• B: A raiz quadrada de 16 é um número inteiro.

Com base no exposto, assinale a alternativa correta.

A) A conjunção entre as duas proposições tem valor lógico verdade (V).

B) A disjunção entre as duas proposições tem valor lógico falso (F).

C) A condicional entre as duas proposições tem valor lógico verdade (V).

D) A bicondicional entre as duas proposições tem valor lógico verdade (V).

E) A negação de ambas as proposições tem valor lógico falso (F).

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a proposição A tem valor lógico falso (F), visto que 10 não é um número ímpar. A proposição B
tem valor lógico verdade (V), visto que a raiz quadrada de 16 é um número inteiro, igual a 4.

A conjunção entre as duas proposições tem valor lógico falso (F), conforme mostrado na
tabela‑verdade a seguir.

Tabela 40

A B A∧B
F V F

79
Unidade II

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a proposição A tem valor lógico falso (F), visto que 10 não é um número ímpar.
A proposição B tem valor lógico verdade (V), visto que a raiz quadrada de 16 é um número
inteiro, igual a 4.

A disjunção entre as duas proposições tem valor lógico verdade (V), conforme mostrado na
tabela‑verdade a seguir.

Tabela 41

A B AVB
F V V

C) Alternativa correta.

Justificativa: a proposição A tem valor lógico falso (F), visto que 10 não é um número ímpar.
A proposição B tem valor lógico verdade (V), visto que a raiz quadrada de 16 é um número
inteiro, igual a 4.

A condicional entre as duas proposições tem valor lógico verdade (V), conforme mostrado na
tabela‑verdade a seguir.

Tabela 42

A B A→B
F V V

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a proposição A tem valor lógico falso (F), visto que 10 não é um número ímpar.
A proposição B tem valor lógico verdade (V), visto que a raiz quadrada de 16 é um número
inteiro, igual a 4.

A bicondicional entre as duas proposições tem valor lógico falso (F), conforme mostrado na
tabela‑verdade a seguir.

Tabela 43

A B A↔B
F V F

80
LÓGICA

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a proposição A tem valor lógico falso (F), visto que 10 não é um número ímpar. A proposição B
tem valor lógico verdade (V), visto que a raiz quadrada de 16 é um número inteiro, igual a 4.

A negação da proposição A tem valor lógico verdade (V), a não falso (F), conforme mostrado na
tabela‑verdade a seguir.

Tabela 44

A B ~A ~B
F V V F

81

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