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Fundamentos e métodos

da gestão escolar


SIMÃO, J. R. O. R.
SST Fundamentos e métodos da gestão escolar / Jalmiris
Regina Oliveira Reis Simão - Florianópolis, 2020.
90 p.

Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.


Sumário

1. História da gestão escolar................................................................ 4

2. Gestão escolar e contextos............................................................ 16

3. Gestão escolar: atribuições de papéis e tarefas......................... 27

4. Indicadores de qualidade na gestão escolar.............................. 39

5. Planejamento e desafios do PPP.................................................... 49

6. Projetos educacionais: história e contexto................................... 60

7. Fases do projeto educacional........................................................ 70

8. Gestão de projetos na escola........................................................ 81


História da gestão escolar


História da gestão escolar

Apresentação
Neste momento vamos discutir, refletir e trocar ideias sobre a gestão escolar. Tudo
que aprendemos ao longo da vida é importante, mas o conhecimento é dinâmico,
pois o que aprendemos anteriormente, não mais atende à demanda do presente.
Vamos, assim, buscar informações na história próxima e mais distante para
desenvolver o nosso conteúdo.

Abordaremos a gestão escolar e a gestão empresarial. Você sabe as diferenças


entre esses dois tipos de gestão? São conceitos que se alteraram radicalmente,
influenciados pelo tempo histórico e pelas culturas. Assim, veremos as diferentes
concepções do pensamento administrativo, ao longo da história da educação.

Gestão escolar: teorias e conceitos


A escola é uma instituição social que tem como característica a oferta de uma
educação formal e rica em trocas, em que os sujeitos socializam suas crenças,
experiências e demandas sociais. Local onde podem ser construídos sentimentos
de comprometimento, como o bem de todos, e aprendidas formas de convivência
democráticas, a partir de intensa participação e de movimentos coletivos. Por isso,
é importante compreendermos essas inter-relações e suas complexidades para
percebermos a escola no cumprimento de seu papel, pois é um organismo vivo e em
constante mutação. Segundo Bartnik (2012, p.16),

a gestão educacional, especialmente a gestão democrática, entendida


como elemento de contra-hegemonia, opõe-se à implantação direta
e acrítica dos princípios administrativos da gestão empresarial na
organização escolar.

Nessa perspectiva é importante compreender a evolução das empresas ao longo


da história e entender também que, em dado momento, o reconhecimento da
administração científica como ciência se tornou um marco. Portanto, influenciou
e mudou o modo dos gestores enxergarem as instituições e os sujeitos que nelas
atuam, inclusive a escola. Segundo Scatena (2012, p. 24), nesse momento o
empirismo foi “abandonado em função de estudos científicos.”

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1. Primeira Revolução Industrial (1780 - 1860)

Segundo Bartnik (2012, p.18), foi quando apareceram “as primeiras fábricas e
cujo foco está direcionado ao produto”. Foi nessa época que surgiu a ideia de
lucro, ao se produzir produtos de boa qualidade. O pensamento de consumo
dependia dessa qualidade. As classes privilegiadas tinham acesso a esses
bens, enquanto as classes desfavorecidas eram privadas disso devido aos
custos.

2. Segunda Revolução Industrial (1860-1914)

Foi marcada pelo grande aumento no número de fábricas e pelo


desenvolvimento de muitas máquinas nas fábricas, substituindo a mão de
obra. Nesse momento, os administradores decidiram iniciar a produção de
produtos acessíveis a todas as classes. O pensamento da lucratividade era
de que assim teriam mais vendas para a produção em massa. Surgiu, então, a
ideia de produção em larga escala. Porém, nem sempre os produtos atendiam
ao desejo dos consumidores.

Já no início do século XX, a partir de 1914, até 1945, surgiu o gigantismo industrial,
quando as técnicas de venda ganharam destaque, bem como ofertas especiais e
descontos nos preços. A partir de 1945, a tecnologia avançou, e se deu a “invenção
de novos materiais e de novas fontes de energia, bem como das maravilhas dos
tempos modernos, como a televisão, o computador, a transmissão via satélite
etc.” (BARTNIK, 2012. p.19). A ênfase estava em apenas produzir, eliminando-se a
preocupação em atender ao consumidor.

De 1980 em diante iniciaram-se os dias da globalização, que favoreceu o


compartilhamento de informações de praticamente tudo que ocorre no nosso
planeta, mas se apresentaram como dias repletos de instabilidades e concorrências.
Assim, a empresa passou a precisar “ser constituída por uma comunidade de
aprendizagem em um ambiente dos mais representativos de realização do trabalho”
(BARTNIK, 2012, p. 20).

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Fases da administração
Observe as fases da história da administração a seguir.

1. Artesanal

Ao longo da história até 1780. Primeiras organizações rudimentares. Produção


familiar e artesanal.

2. Desenvolvimento industrial

Saída do homem do campo para a industrialização. Desenvolvimento da


máquina a vapor e locomotiva. Trabalho sistematizado e divisão de tarefas.
Evolução dos meios de transportes - ferrovias. Substituição do carvão pela
eletricidade.

3. Gigantismo industrial

Fase entre duas grandes guerras, grande depressão econômica chamada


de crash e crescimento das grandes empresas (em que surgiram as
multinacionais).

4. Moderna

Pós-guerra, surgimento de novas tecnologias, aumento das importações e


exportações. Acesso das mulheres ao mundo do trabalho.

5. Globalização

Terceira Revolução Industrial. Computadores e internet aproximando mais as


pessoas. Surgimento da robótica.

Ao longo da história foi possível perceber as mudanças na forma de administrar


as empresas, tendo em vista as próprias mudanças no que diz respeito às formas
de trabalhar e de consumir. As percepções dos que conduziam o processo foram

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definindo as melhores estratégias para alcançar os objetivos nas empresas. Traços
desses pensamentos são vistos na gestão escolar.

A gestão, que tem características democráticas e participativas, não se


refere apenas ao ambiente educacional, já que sofre influência das teorias da
administração, que surgiram ao longo da história. São teorias que fundamentam a
administração empresarial e influenciam a gestão das escolas, assim não podemos
deixar de refletir sobre elas.

Essas teorias surgiram nos anos iniciais do século XX, traduzindo concepções
políticas e maneiras de pensar a administração. Elas estão ligadas ao contexto da
Revolução Industrial, tendo em vista as relações em uma sociedade capitalista,
diante da demanda de respostas à administração das grandes fábricas. Diante disso,
não podemos deixar de pensar em Taylor, que foi um expoente da escola clássica
da administração científica. Esse teórico tinha como grande alvo a eficiência e a
eficácia na administração da produção. Ele pensou no controle do tempo dessa
produção, na divisão de tarefas e pensou, primordialmente, em como essas ações
gerariam mais lucro.

Taylor pensava em evitar o desperdício com o uso das máquinas, como também
a realização de tarefas de forma mais eficiente. Esses e outros de seus princípios
objetivavam sempre o lucro. Com a Revolução Industrial, que ocorreu em duas fases,
iniciou-se o uso da energia elétrica, do motor de explosão e a invenção do telégrafo.
A partir disso, surgiu a necessidade da preparação de mão de obra especializada
para utilização das novas tecnologias nas muitas fábricas que surgiram.

O poder de decisão na empresa estava concentrado em um administrador, que


controlava o tempo e o uso de materiais, evitando o desperdício. Com relação aos
funcionários, opostamente ao que é exigido nos dias de hoje, não lhes era dada a
possibilidade de questionar, não eram convidados a emitir opiniões, nem se requeria
que entendessem o processo completo de produção, era necessário apenas que
fossem hábeis em suas tarefas específicas.

Vale destacar novamente que as teorias empresariais visam apenas o lucro, a


produção otimizada em menor tempo e com mais qualidade em larga escala.
São ideias que alteraram as relações dos sujeitos em toda a sociedade, pois essa
perspectiva empresarial, tecnicista e repleta de normas, permeou todos os setores,
alterando o funcionamento de várias instituições, entre elas, a escola. É nessa
perspectiva que as relações de trabalho no contexto escolar se desenvolveram.
Influenciado pela visão empresarial, em uma dimensão de poder, perpassando

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todas as relações, a figura do diretor, autoritariamente dirige a instituição de forma
centralizadora.

É importante compreender essas relações de poder, que para estudiosos, emerge da


própria relação do Estado com o diretor escolar, imprimindo a essas exigências de
produtividade um profissional essencialmente técnico, deixando de lado as questões
pedagógicas. Em contrapartida, atualmente estão surgindo conflitos com outros
atores da comunidade escolar, desejando que a escola seja um espaço de práticas
democráticas.

Gestão escolar e práticas democráticas

Fonte: Plataforma Deduca (2020)

Pensando que a escola tem como função primordial a socialização e o


compartilhamento do saber, que vem sendo construído e acumulado ao longo de
toda a história humana, um tipo de administração empresarial se contrapõe ao
papel social da instituição escolar. As escolas, cumprindo esse papel social, tem em
uma gestão participativa, a possibilidade de romper com a cultura que atende a um
modo de produção capitalista, a partir da atuação do coletivo escolar de maneira
efetiva. A gestão, que está voltada para a transformação da sociedade, pratica a
descentralização, incluindo todos os segmentos escolares nas decisões.

Podemos dizer que a gestão escolar busca promover a organização das condições
materiais e humanas, que fazem parte do meio educacional. Foi justamente a
influência da gestão empresarial que levou a criação do termo gestão escolar
visando substituir o enfoque apenas na administração dos estabelecimentos
educacionais. Segundo Menezes (2001), o termo gestão escolar foi constituído
a partir dos movimentos de abertura política do país, que promoveram novos
conceitos e valores, no intuito de:

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• Criar uma autonomia escolar;
• Trazer para a escola a participação da sociedade e da comunidade;
• Criar escolas comunitárias;
• Criar as associações de pais.

Nesse contexto, as escolas passaram a ter uma identidade própria, sendo capazes
de reagir positivamente aos desafios impostos pela sociedade.

Paradigmas da gestão escolar


Vamos abordar parte da história da gestão escolar, levando em conta três
paradigmas. São eles:

Paradigma histórico Paradigma anacrônico Paradigma idealista


A escola como organização,
que sempre existiu da forma O passado é em termos de É uma mera representação
como a concebemos hoje, qualidade da escola, superior de uma realidade distorcida
eternizando-a e impedindo a ao presente, descartando e apresenta soluções
possibilidade de relacionar avanços alcançados. Assim há o miraculosas para problemas
fatos do passado e saudosismo, que leva a afirmar da escola, como “os amigos
perspectivas do futuro. que a escola de antes era melhor. da escola”.
Aniquila a história.

Fonte: Adaptado de Lombardi (2006).

Saiba mais
Anacrônico: Significa algo que é oposto ao cronológico; obsoleto,
retrógrado; contrário ao que é moderno.

Vale ressaltar que a gestão escolar é fruto das mudanças presentes na história, que
foram influenciadas pelos movimentos ocorridos na sociedade. De acordo com
Lombardi (2006, p. 17), “a administração deve ser entendida como resultado de um
longo processo de transformação histórica, que traz as marcas das contradições
sociais e dos interesses políticos em jogo na sociedade”. Sendo assim, podemos dizer
que as escolas se organizam e são dirigidas a partir de tais transformações históricas.

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Existem alguns pilares que fazem parte desse processo de gestão e ajudam o gestor
a trabalhar de forma mais efetiva. Podemos citar como exemplo: Gestão Escolar
Pedagógica; Gestão Escolar Administrativa; Gestão Escolar Financeira; Gestão de
Recursos Humanos; Gestão da Comunicação; Gestão de Tempo e Eficiência dos
Processos.

Vale destacar que os pilares devem ser pensados de forma interligada e


interdependente, no intuito de possibilitar um funcionamento adequado entre todas
as esferas.

Saiba mais
Para ampliar seu conhecimento sobre os assuntos trabalhados,
sugerimos a leitura do livro “Dimensões da gestão escolar e suas
competências”, da autora Heloísa Luck, disponível em: http://www.
fundacoes.org.br/uploads/estudos/gestao_escolar/dimensoes_
livro.pdf. Acesso em: 07 fev. 2017.

O desafio de pensar a gestão escolar e seus diversos processos só pode ser


feito através de mudanças de concepções que a alicercem como organização,
tendo como alvo sempre a melhoria da qualidade da educação e a promoção de
aprendizagens significativas, promovendo a inclusão e valorizando sua diversidade.
Tais concepções devem ser coerentes com as demandas da contemporaneidade.
Observa-se que, ao almejar uma sociedade mais igualitária, se faz necessário a
inclusão de espaços onde se favoreça a participação, de forma a incluir toda a
comunidade escolar, promovendo um espaço democrático. Para isso, segundo
APPLE e BEANE (1997 apud OLIVEIRA, 2012) existem alguns princípios que podem
alicerçar e solidificar essa prática. São eles:

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1 – Fluxo de ideias

O livre fluxo das ideias, independentemente de sua popularidade, que permite


às pessoas estarem tão bem informadas quanto é possível.

2 – Capacidade

Fé na capacidade individual e coletiva de as pessoas criarem condições de


resolver problemas.

3 – Reflexão e análise

O uso da reflexão e da análise crítica para avaliar ideias, problemas e políticas.

4 – Bem-estar

Preocupação com o bem-estar dos outros e com o “bem comum”.

5 – Dignidade e direitos

Preocupação com a dignidade e os direitos dos indivíduos e com as minorias.

6 – Democracia

A compreensão de que a democracia não é como um “ideal” a ser buscado,


como um conjunto de valores “idealizados” que devemos viver e que devem
regular a nossa vida enquanto povo.

7 – Instituição social

A organização de instituições sociais para promover e ampliar o modo de vida


democrático”

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Dessa maneira, a escola forma para a democracia, em coerência com um dos
princípios e estratégias da educação nacional, apontado na Lei de Diretrizes e Bases
no 9.294/96: a gestão deve ser democrática. Uma gestão que engloba vários aspectos
além do administrativo e financeiro: o político-pedagógico e os recursos humanos.

A partir da Constituição Federal de 1988, ficaram definidas formas de participação


da sociedade civil nas políticas públicas. Assim, hoje estão disponíveis espaços
como fóruns e audiências públicas, por exemplo, que possibilitam processos
participativos e a gestão compartilhada pela sociedade. Nossa história também
registra movimentos de luta pela valorização da diversidade de grupos considerados
minoritários e excluídos, possibilitando discussões sobre o direito à diferença. Tal
mobilização vem sendo acompanhada por mudanças, no entanto, ainda muito lentas,
pois nossa sociedade tem características elitistas e excludentes, impregnadas ao
longo de nossa história.

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Fechamento
Estudamos como é a gestão da escola, uma instituição de grande importância, dada
a formação disponibilizada para os cidadãos. Buscamos entender as teorias da
administração empresarial, que influenciam a gestão escolar.

Vimos também as concepções da gestão escolar e discutimos sobre os princípios


da educação empresarial ao longo da história, que de alguma maneira influenciam
no modo de se efetivar a gestão da escola. Por fim, analisamos a maneira de se ver
o trabalhador e discorremos sobre as concepções de gestão e as possibilidades de
uma gestão democrática, como previsto nos textos legais.

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Referências
BARTNIK, Helena Leomir de Souza. Gestão educacional. Série Formação do
Professor. Curitiba: Intersaberes, 2012.

BRASIL. Lei nº 9.394, 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília - DF, 1996.

LOMBARDI, José Claudinei. A importância da abordagem histórica da gestão


educacional. Ago/2006. Disponível em: http://docplayer.com.br/21764842-A-
importancia-da-abordagem-historica-da-gestao-educacional.html. Acesso em: 28
jan. 2017.

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete gestão escolar.
Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix,
2001. Disponível em: http://www.educabrasil.com.br/gestao-escolar/. Acesso em:
01 fev. 2017.

OLIVEIRA, Marcia Cristina de. Caminhos para a gestão compartilhada da educação


escolar. Série Processos Educacionais. Curitiba: Intersaberes, 2012.

SCATENA, Maria Inês Caserta. Ferramentas para a moderna gestão empresarial,


teoria implentação e prática. Série Administração Estratégica. Curitiba: Intersaberes,
2012.

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Gestão escolar e
contextos


Gestão escolar e contextos

Apresentação
Neste momento, veremos como se dá a organização da escola na contemporaneidade
e suas nuances, considerando seus graus de ensino, seu entorno social e seu público.
Veremos como o estudo dos fundamentos, dos princípios e dos métodos de uma
gestão escolar, pode auxiliar no sucesso das instituições.

Na sequência, aprofundaremos nossos conhecimentos sobre a gestão democrática


e estudaremos os indicadores do que venha a ser qualidade educativa.

Gestão, administração e suas


especificidades
Alguns autores afirmam que a administração é resultado da evolução da própria
organização social. Assim, vamos estudar as aproximações entre administração
e gestão pois, percebe-se em estudos sobre o tema claramente distinções entre
ambas. Bartnik (2012, p.30 apud FÉLIX, 1985, p. 71) afirma que:

Enquanto a administração de empresas desenvolve as teorias sobre


a organização do trabalho nas empresas capitalistas, a administração
escolar apresenta proposições teóricas sobre a organização do trabalho
na escola e no sistema escolar. No entanto, a administração escolar
não construiu um corpo teórico próprio e no seu conteúdo podem ser
identificadas as diferentes escolas da administração de empresas, o que
significa uma aplicação dessas teorias a uma atividade específica, neste
caso, a educação.

Diante dessa afirmação vamos transitar por alguns teóricos da administração


empresarial que influenciam a gestão educacional.

No início do século XX, Frederick W. Taylor (1856-1915), um engenheiro norte-


americano, propôs que houvesse uma divisão do trabalho de maneira que cada
profissional fosse especialista em sua área e, assim, pela repetição de tarefas, as
atividades fossem cumpridas em menos tempo possível. Foi ele que estabeleceu

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os princípios da administração científica, que almejavam aumentar a produção e
diminuir os custos.

Taylor fala ainda da seleção científica do trabalho, afirmando que era necessário que
o trabalhador fosse escolhido pelas suas aptidões e que também as habilidades
e a vocação contribuiriam para que, com treino e repetição, houvesse melhor
produtividade.

O monitoramento do tempo gasto em determinada tarefa e o incentivo salarial a


partir da produção também eram princípios de Taylor, como também a redução de
custos na produção. O gestor tinha a função de fiscalizar e pensar no êxito, isso é, no
lucro da empresa.

Monitoramento do tempo

Fonte: Plataforma Deduca (2020)

Henry Ford (1863-1947), foi outro teórico empreendedor e fundador da Ford


Motor Company. Ele absorveu em sua empresa alguns dos princípios de Taylor,
agregando a eles a organização rígida da linha de montagem, preocupando-se com
as matérias primas, a energia, os transportes e principalmente com a formação
dos trabalhadores. Ele contribuiu de forma positiva para a gestão empresarial, ao
introduzir no mercado o conceito de Fordismo, que propunha, por meio de linhas de
produção, produzir mais em menos tempo.

Por longo tempo, as maneiras de se ver o trabalho e suas relações estavam em


acordo com as teorias de Taylor e Ford. As alterações na visão política e o grande
desenvolvimento da tecnologia exigiram mudanças culturais e na forma como as
sociedades se relacionavam no mundo. Também, com a alteração na economia e nas
comunicações, surgiu a necessidade de questionar a lógica do taylorismo e do fordismo.

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Henri Fayol (1841-1925) também contribuiu para o pensamento administrativo e
ficou conhecido como o fundador da Teoria Clássica da Administração. Segundo ele,
“as funções administrativas são de nível hierárquico, pois têm ênfase na estrutura
organizacional, pois englobam os seguintes elementos: prever, organizar, coordenar
e controlar” (BARTNIK, 2012, p.22). Neste contexto, veja a seguir as principais
diferenças entre as obras de Taylor e Fayol:

Diferenças entre Taylor e Fayol.

Taylor (1914) Fayol (1916)


Desenvolveu seu pensamento a partir
Propôs que a administração da empresa se
das funções gerenciais, envolvendo a
desse a partir do “chão da fábrica”, ou seja,
administração para se alcançar a produção
a partir dos trabalhadores da produção.
eficaz.

Enfoque mecanicista, selecionava o


Preocupou-se com a gerência
trabalhador por aptidão, pensava no
administrativa, pensando nas funções de
aumento salarial desse trabalhador a partir
forma hierarquizada.
de sua produção.

Focou no controle de padrões, no


Seus supervisores da produção tinham
desempenho dos funcionários e na
como alvo a busca da eficiência dos
organização dos recursos. Assim, havia
empregados, mas reconheciam a
a previsão de objetivos e a coordenação
importância do trabalho humano.
sistemática das ações na produção.

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Um dos modernos teóricos dessa área foi Peter Drucker (1909-2005). Ele pensou
nos objetivos organizacionais e nos objetivos dos indivíduos. Para ele a integração
desses objetivos levaria a uma postura mais participativa por parte dos gestores,
promovendo a inovação. Segundo Bartnik (2012, p.23), essa é uma proposta
que abarca “muitos princípios da gestão e métodos de avaliação de resultados,
como mudanças ambientais, definição de objetivos, criação de oportunidades,
desenvolvimento pessoal e descentralização administrativa”.

A administração por objetivos, implementada por Drucker, em resumo, era pensada


a partir da descentralização administrativa, por meio do autocontrole, mas pensada
também para a qualidade de vida e a criação de oportunidades.

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Saiba mais
A APO, ou Administração Por Objetivos, foi desenvolvida nos
anos 1920, do século XX, por Alfred Sloan (1875-1966). Drucker
tomou conhecimento da prática e a denominou de administração
por objetivos; adicionou a ela elementos e deu ênfase à definição
dos objetivos, como também evidenciou uma forma de avaliar
isoladamente cada área de desempenho.

Atualmente, na fase da globalização, mudanças urgentes são exigidas em todas as


organizações. São novas demandas, ocasionadas pela aceleração da tecnologia,
que antes não existiam. Assim, passou-se a exigir do trabalhador uma nova postura
frente ao trabalho e uma motivação renovada, para responder ao que lhe é solicitado.
Surgiram diversas alterações na forma de se ver o trabalho.

Agora pense comigo: você acha que essas teorias sobre organizações podem ajudar
a entender como ocorre o funcionamento de uma escola? Quais as proximidades e
diferenças entre administração e gestão?

Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos, leia o texto “Taylorismo e
Fordismo”, do site Brasil Escola, disponível em: https://brasilescola.
uol.com.br/historiag/fordismo-taylorismo.htm. Acesso em: 14
mai. 2020.

Teorias administrativas e seus


contextos
Nas teorias administrativas existem componentes autoritários, que se inseridos
acriticamente à gestão escolar podem comprometer a tão almejada democracia
e a emancipação dos cidadãos pertencentes às classes dominadas. Há na escola
uma organização hierárquica, no alto da organização está o diretor, seguido da
supervisão ou coordenação, dos professores e dos alunos. Há também o secretário

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e seus assistentes, em um nível intermediário. E existem também órgãos colegiados:
conselhos da escola, associação de pais e mestres e o grêmio estudantil. Paro
(2007, p.83) apresenta o conselho deliberativo como:

Órgão deliberativo, para elaborar, acompanhar e avaliar o planejamento


e o funcionamento da unidade escolar. Tendo o diretor como membro
nato, o conselho é composto por representantes eleitos de vários setores
integrantes da escola [...] as instituições auxiliares, como a associação de
pais e mestres (AM) e o grêmio estudantil.

A existência de órgãos colegiados na escola faz com que a formação ampla


dos estudantes se efetive em um ambiente onde se pratica a democracia e a
participação.

A gestão escolar é vista como a maneira que a escola se organiza para alcançar
seus objetivos “com base na distribuição do poder e da autoridade em seu
interior” (PARO, 2007, p.82). Assim, fica clara sua distância em alguns aspectos da
administração empresarial.

Saiba mais
Por exemplo, vejamos a diferença quanto ao processo de
produção de mercadorias nas empresas: vê-se que é algo técnico
e, opostamente, o processo pedagógico requer características
dialógicas e que não esteja alheio à realidade. Não há como
“produzir em série” o aprendizado dos estudantes.

Na escola, como em outros espaços de aprendizagem não formal, a construção do


conhecimento é uma elaboração pessoal e depende da interação entre os sujeitos
e o objeto de aprendizagem; do relacionamento do novo conhecimento ao já
conhecido.

No que tange aos parâmetros de qualidades administrativas, também é possível


identificar diferenças entre a gestão escolar e a administração empresarial. Em 1990,
foi lançado pelo governo Collor um programa visando “qualidade total”, que buscava
promover a eficiência nas organizações e se generalizou em todas as empresas. No
entanto, a escola não se articula com o setor produtivo, não sendo possível treinar os
profissionais de educação para ações padronizadas, que anulam sua iniciativa, como
proposto no taylorismo e no fordismo.

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Assim, fica claro que a qualidade na educação não pode ser abordada dentro
dos mesmos parâmetros e paradigmas da administração empresarial. Não são
treinamentos de ações repetitivas que conduzirão à qualidade tão almejada. Não
há como manter um projeto político-pedagógico sem alterações com o passar dos
anos. Os sujeitos da escola mudam e se transformam, assim os contextos também
mudam, exigindo mudanças em seus planos e projetos. A escola é um espaço para
diferentes formas de pensar, para reflexões e discussões. Para finalizar, vale destacar
as diferenças que existem entre administração e gestão. Observe a tabela a seguir:

Diferenças entre administração e gestão.

Características Administração Gestão


Realidade Previsível. Imprevisível.

Crise Deve ser evitada. Condição de aprendizagem.

Experiências Referência para reflexão em


Base para a mudança.
positivas busca de soluções próprias.

Ocorrem pela importação de Ocorrem pela construção de


Mudanças
ideias. consenso.

Bons resultados Pela objetividade. Sinergia coletiva.

Interações contínuas entre as


Alcance dos objetivos Estrutura das organizações.
pessoas.

Disponibilização dos recursos Com a maximização do uso dos


Recursos
conduz a melhoria das ações. recursos ocorre a proatividade.

Difíceis de serem identificados


Ao serem identificados são
Problemas nos sistemas, por eles serem
eliminados.
interligados.

Compartilhado e possibilita o
Poder Centralizado e limitado.
crescimento.

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Os modelos apresentados na tabela se misturam nas organizações e dependem


muito das concepções do gestor. Dois fatores devem ser considerados para que se
alcancem os resultados previstos nos modelos apresentados: a contextualização,
tendo em vista os elementos da sociedade, como também a resistência dos
participantes com as mudanças. É importante o envolvimento de todos para que
haja o sucesso esperado.

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A partir de todos esses conceitos nossos estudos permitem agora que nos
debrucemos sobre as concepções de gestão escolar.

Saiba mais
Para ampliar seu conhecimento, assista ao vídeo Gestão Escolar
Democrática, do professor Vitor Henrique Paro, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=WhvyRmJatRs. Acesso em:
14 mai. 2020.

Concepções de gestão escolar


Não há como negar que a administração escolar tem sua gênese na administração
empresarial. No entanto, elas se apresentam com nuances diferenciadas.

Nos sistemas de ensino, as concepções de gestão devem ir para além da intenção,


ou de uma simples proposta, “pois materializam-se em práticas concretas e ações
objetivas a fim de cumprir objetivos definidos na organização do trabalho escolar”
(BARTNIK, 2012, p. 30).

Ainda segundo Bartnik (2012, p. 30), “o processo de gestão escolar propõe


a melhoria da qualidade de ensino ofertado, com o objetivo de promover o
desenvolvimento de sujeitos proativos e participativos”.

Com o envolvimento dos profissionais da escola e dos demais segmentos da


comunidade escolar, comprometidos com o cumprimento do maior objetivo da
escola, que é a educação de qualidade, e cientes de seus papéis e funções, é que se
alcançará uma gestão democrática, participativa e compartilhada.

Uma escola democrática nasce de processos construtivos pelos segmentos que a


compõem, ou seja, é fruto de discussões, posicionamentos, reflexões e até mesmo
embates entre os membros.

Nos documentos legais está presente a concepção da gestão democrática, que


é motivadora e incentivadora da participação coletiva. No entanto, ainda há um
distanciamento na prática do cotidiano escolar.

23
Saiba mais
O artigo 206 da Constituição Federal Brasileira, de 1988, em seu
inciso VII diz que deve haver “gestão democrática do ensino público
na forma de lei”. Já a Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN no 9364/96) aborda em seu inciso VIII do artigo 3º
do título II sobre a “gestão democrática do ensino público na forma
dessa Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996).

A participação do coletivo nos processos decisórios na escola é uma forma de luta


contra o autoritarismo, que vem marcando nossa história e suas instituições. Nossa
Constituição Federal tem como uma de suas características a participação coletiva,
levando os indivíduos a desenvolverem uma cultura de democracia e justiça social
em todos os espaços sociais. Segundo Oliveira (2012, p. 33) “a participação é mais
que uma estratégia: é atitude que expressa compromisso e mobilização”.

24
Fechamento
Estudamos como se dá a organização da escola na contemporaneidade percebendo
detalhes da administração e abordagens específicas. Abordamos os fundamentos,
os princípios e os métodos de uma gestão escolar e como podem auxiliar na
compreensão da razão do sucesso ou do insucesso de algumas instituições.

Aprofundamos nossos conhecimentos sobre a gestão envolvendo características


democráticas, tema de grande discussão na atualidade ao avaliar a qualidade na
educação. Por fim, vimos os indicadores do que venha a ser qualidade educativa,
qual o papel da escola e o que é a qualidade educativa para todos.

25
Referências
BARTNIK, Helena Leomir de Souza. Gestão educacional. Série Formação do
Professor. Curitiba: Intersaberes, 2012.

BRASIL. Lei nº 9.394, 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília - DF, 1996.

OLIVEIRA, Marcia Cristina de. Caminhos para a gestão compartilhada da educação


escolar. Série Processos Educacionais. Curitiba: Intersaberes, 2012.

PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São Paulo.
Ática, 2007.

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Gestão escolar:
atribuições de papéis e
tarefas


Gestão escolar: atribuições
de papéis e tarefas

Apresentação
Você conhece escolas que são exemplos de sucesso, devido à forma como são
conduzidas por seus gestores? Neste momento vamos refletir sobre esse tema,
debatendo o papel da equipe gestora e a questão do fortalecimento da democracia
na gestão e os desafios da equipe gestora para que ela se efetive. Aprofundaremos
conhecimentos sobre a gestão democrática.

Você já pensou em qualidade na educação? Esse tem sido um tema de grande


discussão na atualidade. Para tanto, estudaremos os indicadores do que venha a ser
qualidade educativa. Você já pensou sobre o papel da escola e o que é a qualidade
educativa para todos? Você conhece exemplos de escolas que desenvolvem práticas
democráticas? Esses serão os temas que veremos a partir de agora.

Gestão escolar e suas diferentes


concepções
Vamos ampliar um pouco mais nossos conhecimentos sobre a gestão escolar. É
importante fortalecer o conceito de escola como uma instituição que deve formar
cidadãos críticos, que sejam aptos a intervir na sociedade construtivamente. Essa
intervenção deve ter início na própria escola, a partir de uma formação dos sujeitos
que favoreça a participação coletiva nas decisões, envolvendo os tempos e espaços
escolares, bem como de ensino e aprendizagem.

Segundo o Ministério da Educação, a gestão escolar trata-se de uma maneira


de organizar o funcionamento da escola pública quanto aos aspectos políticos,
administrativos, financeiros, tecnológicos, culturais, artísticos e pedagógicos, com
a finalidade de dar transparência às suas ações e atos, e possibilitar à comunidade
escolar e local a aquisição de conhecimentos, saberes, ideias e sonhos, em um
processo de aprender, inventar, criar, dialogar, construir, transformar e ensinar.
(BRASIL, 2004).

Nessa perspectiva, a gestão escolar, tanto na escola pública quanto nas privadas,
ultrapassa a ideia de um gerenciamento individual, mas requer a participação de

28
toda a comunidade, ultrapassando conceitos de autoritarismo e individualidade na
organização escolar.

Assim, vale pensarmos na gestão democrática. Essa gestão faz parte dos
documentos legais em vigor, como a Constituição Federal e a Lei das Diretrizes e
Bases da Educação. Vejamos a seguir o que diz a Constituição Federal de 1988 em
seu artigo 206 sobre os princípios que regem o ensino.

1. Igualdade

Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

2. Liberdade

Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o


saber.

3. Pluralismo

Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino.

4. Gratuidade

Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais.

5. Valorização

Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da


lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de
provas e títulos, aos das redes públicas.

6. Gestão

Gestão democrática do ensino público, na forma da lei.

29
7. Qualidade

Garantia de padrão de qualidade.

8. Piso

piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar


pública, nos termos da Lei Federal.

Neste contexto, o artigo 214 da Constituição Federal menciona o Plano Nacional


da Educação (PNE) mas é a Lei das Diretrizes e Bases nº 9394, de 1996 que
regulamenta toda a educação nacional, as instituições escolares e os sistemas
público e privado. A Lei de Diretrizes e Base em seu artigo 9º dispõe sobre as
diretrizes para a elaboração do PNE, e é nesse momento que se resguardam os
princípios constitucionais, incluindo a gestão democrática.

O PNE, que foi aprovado através da Lei no 10.172 de 2001. Nesse plano
encontramos diretrizes, estratégias e metas, tendo em vista a democratização da
educação de forma geral em nosso país.

A gestão democrática é defendida por muitos tendo em vista a necessidade de


se implantar cada vez mais espaços e processos coletivos de decisão, motivando
a participação de toda a comunidade escolar. No caso da instituição escolar, há
uma busca pela qualidade, que perpassa por uma gestão em que a participação
da comunidade escolar se faça presente, visto que a qualidade na escola tem a ver
igualdade de oportunidades.

Por ser um espaço social e coletivo, a participação de todos (estudantes, pais,


professores e demais profissionais da educação) é uma característica da gestão
democrática na escola. Trata-se de uma cultura a ser construída, mas a tomada de
decisões a partir da voz de toda a comunidade, conduz a autonomia da unidade
escolar. Dessa forma, ao considerarmos o contexto capitalista atual de nossa
sociedade e na qual a escola está inserida, é importante atentar-se a como se dá a:

[...] racionalidade administrativa, mas também a irracionalidade, pois


muitas vezes a aplicação de recursos nas escolas possui um cunho
instrumental e empresarial, o qual difere da visão pedagógica característica
e necessária ao ambiente escolar” (SOARES, 2014, p.74).

30
As dimensões econômica, pedagógica, política e cultural estão presentes em todos os
tempos e espaços da escola, “do chão da sala de aula até os gabinetes administrativos
das secretarias educacionais”, como afirma Soares (2014, p.76). Segundo o autor,
a cisão entre a prática dos professores e a administração não deve se apresentar
de forma dicotômica, pois há que se refletir em todos os “patamares educativos”.
Essa divisão do trabalho não deve ter características excessivamente formalistas e
burocráticas, que são marcas da racionalidade taylorista/fordista, separando quem
executa de quem decide. A interação entre a administração e o pedagógico se
efetivará como uma prática docente, que contribuirá para a formação dos sujeitos de
maneira crítica e criativa. Dessa maneira, há um fortalecimento da democracia.

Para ampliar seu conhecimento sobre os assuntos trabalhados, leia a entrevista do


professor Vitor Paro, que aborda informações sobre a gestão escolar.

Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos, leia a entrevista com Vitor
Paro, professor da Faculdade de Educação da USP sobre a
gestão coletiva. Disponível em: https://gestaoescolar.org.
br/conteudo/387/entrevista-com-vitor-paro-professor-da-
faculdade-de-educacao-da-usp. Acesso em: 14 mai. 2020.

Equipe gestora na escola


Segundo Soares (2014, p.74) a diferença do papel do diretor e do gerente
empresarial está em que este último “administra através de uma atividade técnico-
burocrática (planeja, organiza, dirige e controla), enquanto o gestor escolar constrói
o processo educativo amparado pela legislação vigente”. Imputar à figura de um
diretor toda a responsabilidade do sucesso na condução de uma instituição de
ensino é no mínimo cruel. Pesquisas vêm apontando que a atuação de uma equipe
gestora comprometida e consciente de seu papel na escola e na sociedade é de
grande influência no sucesso do processo ensino-aprendizagem.

A equipe gestora é formada, em sua maioria, pelos seguintes membros: Diretor, vice-
diretor, coordenador pedagógico ou supervisor pedagógico e orientador educacional.
O comprometimento dessa equipe com os objetivos de uma educação de qualidade,

31
com a formação ampla dos estudantes, é fator imprescindível dentro da visão que
hoje se alcançou de gestão escolar.

1. Diretor

O diretor é o representante legal, judicial e responde também


pedagogicamente pelos resultados da escola. É de sua responsabilidade
os aspectos materiais e financeiros da escola, como também fortalecer o
trabalho coletivo.

2. Vice-diretor

O vice-diretor responde por toda a instituição juntamente com o diretor e na


ausência dele.

3. Coordenador ou supervisor pedagógico

Deve atuar muito além do conceito de fiscalização e ordenações; ele


responde pelo acompanhamento permanente do processo pedagógico
de forma ampla, o que requer conhecimentos didáticos necessários para
orientar a equipe docente, respondendo por este aspecto juntamente
com o diretor. O coordenador deve também se incumbir da formação em
serviço dos professores, para atender ao bom andamento do processo
ensino-aprendizagem. É importante uma formação específica para uma
atuação eficiente do coordenador/supervisor, principalmente nos anos
iniciais de formação, quando são solicitados conhecimentos específicos na
alfabetização.

É necessária articulação dos membros dessa equipe gestora, promovendo uma


cultura de colaboração e auxílio. A comunicação frequente entre a equipe é outro
fator imprescindível, trazendo ciência de todos os fatos cotidianos do ambiente
escolar. Essa articulação deve convocar e motivar os demais segmentos da
comunidade escolar para que participem das decisões acerca da instituição, usando
espaços como os conselhos escolares, assembleias, associação de pais e mestres e
grêmios estudantis.

Mobilizar a comunidade escolar para a participação é sem dúvida uma das funções
mais importantes da equipe gestora e as assembleias escolares servem como forma
de trazer a comunidade escolar para dentro das decisões.

32
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica/96 traz muitas indicações da
necessidade de implantação de uma gestão democrática. Nela encontramos dois
princípios desse tipo de gestão, que obrigatoriamente devem ser implementados nas
escolas dos sistemas públicos de ensino. São eles:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática


do ensino público na educação básica, de acordo com as suas
peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto


pedagógico da escola;

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares


ou equivalentes” (Lei nº 9.394/1996).

Ao analisarmos o princípio contido na alínea “II”, vemos que a indicação de uma


política de integração da família, da comunidade e da escola busca oferecer uma
formação mais ampla, de mais qualidade aos estudantes. É possível encontrar na
educação mundial experiências de algumas nações em que a integração da família
e da escola, buscando soluções para muitas questões desafiadoras que surgem na
escola, favorece o desempenho escolar dos estudantes, elevando índices.

Saiba mais
O Ministério da Educação (MEC) criou o programa nacional “Escola
de Gestores da Educação Básica.” Saiba mais sobre o programa
em: http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-
basica. Acesso em: 14 mai. 2020.

A concepção integradora de gestão pensa socializar visões dos componentes


da comunidade escolar. Alia-se a isso, a partilha de responsabilidades. O gestor
integrador não se abstém de supervisionar as práticas cotidianas. Tem como objetivo
ter a clareza dos processos e a promoção do seu enriquecimento quando se intenta
coletivamente a alcançar soluções. Essa abordagem, que alcança não só a escola,
mas sua comunidade circunvizinha, pode favorecer a melhoria das relações, além da
própria comunidade: como as secretarias municipais, estaduais e os órgãos federais.

33
Saiba mais
Podemos citar como exemplo de uma gestão democrática,
a definição do Calendário Escolar, que visa contemplar
democraticamente o desejo da maioria quanto à realização de
eventos, atividades didáticas, férias e recessos escolares. Essa
é uma forma de garantir que todos se comprometam com o seu
cumprimento, visando eficácia das ações pedagógicas.

Nessa perspectiva é importante ressaltar que a escola, como elemento dinâmico, carece
do comprometimento e da interação de toda a comunidade escolar, tendo em vista que
pertence a todos e, assim sendo, é responsabilidade de todos. É necessária uma escuta
sensível, reflexões e debates coletivos, pois os frutos, por certo virão em forma de uma
educação de qualidade e índices mais elevados de desempenho dos estudantes.

Complexidade da gestão escolar


É muito agradável falar da escola e pensá-la como um ambiente rico em interações
e, por isso mesmo, um ambiente repleto de complexidades, de particularidades,
sempre dinâmico e diverso. Como toda instituição, a escola necessita ser organizada
e gerida, pois nela estão depositadas várias expectativas da sociedade.

Por muito tempo a escola foi vista apenas como formadora de mão de obra para o
trabalho. No entanto, ela tem em sua incumbência a formação moral dos sujeitos,
buscando capacitá-los para a cidadania, ou seja, uma formação mais ampla em
diversos aspectos. Sem dúvida, conduzir os estudantes dentro dos processos que
se efetivam na escola, em uma perspectiva de gestão participativa, requer frequente
motivação para o envolvimento de todos os sujeitos. Toda a comunidade escolar
é chamada para essa participação, que de uma maneira mais ampla é parte da
formação para a cidadania.

Sabemos que a administração empresarial influencia a gestão escolar, ou melhor,


em alguns aspectos tem traços dela. No entanto, nem sempre a gestão educacional
concorda com algumas linhas de pensamentos dessa administração. Neste
contexto, Bartnik (2012, p.16) salienta que:

34
“A gestão educacional, especialmente a gestão democrática, entendida
como elemento de contra-hegemonia, opõe-se à implantação direta
e acrítica dos princípios administrativos da gestão empresarial na
organização escolar”.

Fica claro na afirmação da autora que há uma função especial na gestão democrática
nas escolas, e que mesmo sendo influenciada pela administração empresarial, tem em
sua essência uma gama de peculiaridades, próprias da educação.

A ideologia capitalista defende a individualidade enquanto quesito primordial em


qualquer organização social. No entanto, ao pensar a gestão escolar participativa e
democrática entendemos que ela está voltada para interesses e valores universais.
Neste contexto, Ribeiro nos diz que:

A complexidade alcançada pela escola, exigindo-lhe cada vez mais


unidade de objetivos e racionalização do seu funcionamento, levou-a a
que se inspirasse nos estudos de Administração, em que o Estado e as
empresas privadas encontraram elementos para renovar suas dificuldades
decorrentes do progresso social. Sendo evidente a semelhança de
fatores que criam a necessidade de estudos de administração pública
ou privada, a escola teve apenas que adaptá-las à sua realidade. Assim,
a Administração Escolar encontra seu último fundamento nos estudos
gerais de Administração. (RIBEIRO, 1978, p. 59 apud Hora, 1998, p.42).

Vejamos, então, dois aspectos dessa afirmação:

2º: A tentativa de validação


de proposições teóricas em
1º: Uma teoria generalizada
bases científicas. Essa tentativa
aplicável à escola e às empresas,
traz a intenção de alcançar os
isto é, aplicável a qualquer
mesmos padrões de eficiência e
organização.
racionalização tanto nas escolas
como nas empresas.

No sistema capitalista, a administração escolar ainda não tem autonomia, visto que
os gestores não participam da formulação das políticas educacionais e não são
parte da organização de atividades técnico-pedagógicas. Assim, sem desvalorizar
as teorias administrativas, estas não são suficientes para atender às demandas e a
própria legislação no que tange a uma gestão escolar democrática e participativa.

Pensando a escola como espaço que reproduz as relações sociais, mas também
que produz os elementos de sua própria contradição, nela estão sempre presentes
ideologias da classe dominante. Na gestão democrática todos são chamados a
contribuir para uma escola que seja construída pela coletividade. A natureza do

35
processo educativo conduz a transformação, que mesmo diante das contradições
da instituição escolar, possibilita a politização dos sujeitos e a democratização do
saber, na qual não há teóricos e executores.

36
Fechamento
Ampliamos aqui nossos conhecimentos sobre a gestão escolar, fortalecendo o
conceito de escola como uma instituição que deve formar cidadãos críticos, que
sejam aptos a intervir na sociedade de forma construtiva. Vimos o quanto a escola
é responsável nesse processo e o quanto é importante investir na formação dos
sujeitos que favoreça a participação coletiva nas decisões.

Analisamos o papel da equipe gestora e como o fortalecimento da democracia na


gestão é importante para que os desafios da equipe gestora se efetive em uma
gestão de sucesso.

Por fim, entendemos a gestão democrática como exemplo de qualidade na educação


da atualidade e vimos como se configura na legislação aportes para essa política.

37
Referências
BARTNIK, Helena Leomir de Souza. Gestão educacional. Série Formação do
Professor. Curitiba: Intersaberes, 2012.

BRASIL. Lei nº 9.394, 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília - DF, 1996.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 14 mai. 2017.

HORA, Dinair Leal da. Gestão democrática na escola: artes e ofícios da participação
coletiva. Campinas: Papirus, 1994.

PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São Paulo.
Ática, 2007.

SOARES, Marco Aurélio Silva. O pedagogo e a organização do trabalho pedagógico.


Série Formação do Professor. Curitiba: Ibpex, 2014.

38
Indicadores de qualidade
na gestão escolar


Indicadores de qualidade
na gestão escolar

Apresentação
Neste momento falaremos sobre a qualidade educacional. Avaliaremos como a
escola pode favorecer uma prática educacional para todos, identificando as formas
para o fortalecimento de uma prática mais democrática. Assim, apresentaremos
indicadores educacionais, que buscam a efetivação de uma qualidade educativa.

Veremos que os indicadores da qualidade na educação estão baseados na


visão ampla de qualidade educativa envolvendo o ambiente educativo, a prática
pedagógica, a avaliação, o ensino e aprendizagem, a gestão escolar democrática,
a formação e condições de trabalho dos profissionais da escola, o ambiente físico
escolar, o acesso e permanência dos alunos na escola.

Indicadores de qualidade educativa


Para iniciarmos nosso estudo sobre os indicadores, vale destacar a concepção
de escola que temos hoje, que é aquela que busca preparar os estudantes para o
mercado de trabalho ou à próxima etapa escolar. Segundo Paro (2007), entendemos
a formação do cidadão em duas dimensões:

Dimensões da formação do cidadão

Individual Social
Solicita de cada um seu posicionamento Assume a necessidade de convivência livre,
como sujeito que seja autor, portador entendendo a liberdade como construção
autônomo de vontade. histórica.

Fonte: Adaptado de Paro (2007).

Assim, ao pensarmos em qualidade na educação estamos pensando em formação


de sua personalidade, pensando em uma formação ampla, que ultrapassa
a aquisição de informações, através da divisão rígida das disciplinas e seus
conteúdos. Neste contexto, vemos a necessidade de:

40
Incluir novos elementos promotores da formação integral, mas também
com a forma democrática de ensinar, por meio da qual se promove a
condição de sujeito do educando, forma essa que, como tal, reveste-se de
notável potencial formador de personalidades democráticas e que, assim,
deve ser entendida também como autêntico conteúdo da educação.
(PARO, 2007, p.34)

Reflita
Reflita sobre os seguintes questionamentos:

• O que é uma escola de qualidade?

• Uma escola considerada de boa qualidade na zona urbana do Sul


do Brasil, seria também de boa qualidade para estudantes da zona
rural do Nordeste?

• O que são indicadores de qualidade na educação?

Somente a comunidade escolar, na qual está inserida a escola pode definir se a


escola atende ao seu padrão de qualidade. Para tanto, são necessários indicadores
de qualidade, que são sinalizadores de algo que se deseja avaliar. Para se pensar
em indicadores de qualidade vamos identificar de forma abrangente os aspectos da
educação.

Dimensões de qualidade educacional


Para o nosso estudo iremos abordar indicadores relacionados a sete dimensões
educacionais, que fazem parte de nossa realidade. Vale destacar que podem surgir
outras dimensões, caso a comunidade indique ser necessário para alcançar a maior
qualidade educacional.

Observe o objeto de aprendizagem a seguir, que identifica os indicadores de


cada dimensão. Pense sempre que essas dimensões são de responsabilidade de
toda a comunidade escolar, dentro da perspectiva de uma gestão democrática e
participativa.

41
1. Ambiente educativo

Respeito, alegria, amizade, solidariedade, disciplina, combate à discriminação,


exercício dos direitos e deveres.

2. Prática pedagógica e avaliação

Proposta pedagógica da escola definida e conhecida por todos, planejamento


das atividades educativas, estratégias e recursos de aprendizagem, processos
de avaliação dos alunos, incluindo a autoavaliação, avaliação dos profissionais
da escola.

3. Ensino e aprendizagem da leitura e da escrita

Proposta pedagógica com orientações transparentes, para a alfabetização


inicial. Planejamento coletivo, utilizando momentos de avaliação e reuniões
pedagógicas para debates e reflexões. Elaboração de planos de aula e
projetos sempre a partir da proposta pedagógica, que deve estabelecer o
aprendizado em cada etapa e os retornos dos alunos. Professores devem
constituir um plano de progressão das habilidades de leitura e escrita
dos alunos, estabelecendo finalidades para a série, ano ou ciclo. Prática
pedagógica inclusiva.

4. Gestão escolar democrática

Participação nas decisões, preocupação com a qualidade, com a relação ao


custo-benefício e à transparência.

5. Formação e condições de trabalho dos profissionais da


escola

Processos de formação dos professores, sobre a competência, assiduidade e


estabilidade da equipe escolar.

6. Ambiente físico escolar

Bom aproveitamento dos recursos, sua disponibilidade e qualidade,


organização dos espaços escolares.

42
7. Acesso e permanência dos alunos na escola

Questionamento quanto às ausências frequentes e evasão, avaliação de


alunos com dificuldades.

Saiba mais
Para saber mais sobre os indicadores, leia o texto “Indicadores
de qualidade na educação”, disponível no site do Ministério
da Educação. <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
Consescol/ce_indqua.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2020.

Não há um modelo único para definir uma escola de qualidade, pois é um conceito
a ser revisto e construído cotidianamente pela comunidade escolar. A partir do
levantamento de problemas dentro das dimensões e seus indicadores, definem-se as
ações, bem como o responsável e o prazo para a execução.

Dada a importância da dimensão “ensino e aprendizagem da leitura e da escrita” vale


ressaltar que se refere à prática que garanta que todos aprendam. Alfabetizar é uma
tarefa complexa, assim, devem ser utilizados diversos recursos, como textos, jogos,
brinquedos pedagógicos, produções escritas e desenhos das próprias crianças, que
devem estar disponíveis em sala de aula. Os projetos e as atividades devem orientar
para o aprendizado dos diferentes usos da leitura e da escrita no cotidiano.

Você já deve ter ouvido falar ou lido a célebre frase de Nelson Mandella:

Atenção
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para
mudar o mundo.

43
Essa é uma grande verdade, mas não podemos deixar de pensar que não é qualquer
tipo de educação que alcança essa mudança da sociedade, do mundo. Somente
uma educação de qualidade, pode alcançar esse fim.

Indicadores de qualidade na
educação infantil
A nossa Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e a nossa
Constituição Federal de 1988, definem como primeira etapa da educação básica a
educação infantil.

Sala de aula de educação infantil.

Fonte: Plataforma Deduca, 2020

Não podemos deixar de pensar na qualidade como algo dinâmico e que vai sendo
reconstruído ao longo do tempo e contexto, necessitando da comunidade sempre
empenhada nessa melhoria. O Ministério da Educação (MEC) também preocupado
com a qualidade na Educação Infantil, lançou um documento chamado “Indicadores
da Qualidade na Educação Infantil” para que cada escola e sua comunidade façam
uma autoavaliação e busquem estratégias expressas em um plano de ação, para
aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem a partir da avaliação da qualidade
educativa nas instituições.

Tomando como base os “Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação


Infantil – Volume 1 e Volume 2”, é possível analisar como a escola tem buscado
efetivar seu compromisso social de efetivar uma educação de qualidade. A

44
importância de compreender as questões fortes e fracas da escola é a possibilidade
de realizar uma intervenção para um trabalho pedagógico e social mais significativo.

Os “Indicadores da Qualidade na Educação Infantil” são sinais que denotam


aspectos da instituição e a comunidade de seu entorno, e possibilitam a busca da
qualidade na educação infantil. O MEC listou os indicadores dessa etapa escolar.
Vejamos alguns a seguir:

Planejamento institucional: que vai avaliar


a proposta pedagógica, o planejamento, o
acompanhamento e a avaliação, como também o
registro da prática educativa.

Espaços, materiais e mobiliários: é importante um


levantamento de todos os materiais e espaços
disponíveis na escola, que favoreçam experiências.
Nesse momento, é importante verificar os espaços
que possibilitem a acessibilidade, que atendam
à inclusão de educandos com necessidades
especiais, como também às necessidades dos
adultos e idosos.

Formação e condições de trabalho dos


educadores: a formação inicial dos profissionais
da educação deve ser levantada, e a partir
da proposta pedagógica deve-se promover
encontros formativos e a educação continuada.
Em integração com os demais indicadores deve-
se focar nas condições de trabalho adequadas
para alcançar o objetivo maior da escola, que é a
formação integral dos sujeitos.

Os indicadores da qualidade na educação têm o objetivo de contribuir com a


comunidade escolar na melhoria da qualidade e na avaliação da educação infantil,
sendo de suma importância para o bom funcionamento das atividades educacionais.

45
Saiba mais
Para ampliar seu conhecimento sobre os assuntos trabalhados,
assista ao vídeo “Indicadores de qualidade da educação infantil”
Disponível em: https://player.vimeo.com/video/193696833.
Acesso em: 15 mai. 2020

46
Fechamento
Vimos que a busca de qualidade de ensino deve ser uma ação constante do gestor.
Para dar conta desse princípio devemos utilizar indicadores de qualidade que servem
para avaliar o trabalho da escola, evidenciando informações necessárias para atingir
os objetivos pretendidos.

Analisamos a importância do uso de indicadores como ferramentas utilizadas por


gestores para quantificar a performance de sua instituição e que são consideradas
essenciais para a melhoria dos serviços oferecidos.

Estudamos que os dados mostram resultados das escolas em diferentes dimensões


evidenciando a realidade escolar em diferentes setores.

Por fim, conhecemos alguns importantes indicadores que precisam ser


constantemente acompanhados, como o ambiente escolar, a prática pedagógica, a
avaliação, a estrutura física, formação dos docentes e a gestão participativa.

47
Referências
BRASIL. Indicadores da qualidade na educação. Ação Educativa, Unicef, PNUD, Inep-
MEC (coordenadores). – São Paulo: Ação Educativa, 2004. Disponível em: http://
portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_indqua.pdf. Acesso em: 15 mai.
2020.

PARO, Vitor Henrique. Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São Paulo:
Ática, 2007.

48
Planejamento e desafios
do PPP


Planejamento e desafios
do PPP

Apresentação
Neste momento vamos abordar os conceitos relacionados a um documento muito
importante para a escola: o Projeto Político-Pedagógico (PPP), que deve fazer
parte de uma gestão com características democráticas e participativas. Para tanto,
veremos o conceito de Projeto Político-Pedagógico e a sua relação com os demais
projetos educacionais desenvolvidos na escola.

Veremos também quais são os documentos legais (Proposta Pedagógica e Matriz


Curricular) que estão relacionados ao PPP. Por fim, estudaremos os princípios
norteadores para a elaboração desse documento e os principais desafios para a sua
construção.

Princípios norteadores do PPP,


planejamento e avaliação
Segundo Maia e Costa (2013), o principal elemento que constitui o Projeto Político
Pedagógico (PPP) é saber onde se quer chegar, o que se pretende e o que se almeja,
ou seja, definir qual é o objetivo maior sempre de forma coletiva. Dessa maneira é
possível definir os “pressupostos norteadores que embasarão todos os trabalhos
na construção do PPP, próprio da comunidade local” que devem ser “de cunho
filosófico-sociológico, epistemológico, político e didático-metodológico” (MAIA;
COSTA, 2013, p.14-15).

Ao elaborar o PPP tem-se três atos ou marcos (situacional, conceitual e operacional).


Conheça-os a seguir.

50
Marcos ou atos na elaboração do PPP

Ato ou Marco Conceito Questionamentos


Como é a sociedade em que está inserida a
escola (tanto temporal quanto geográfica)?
Qual é a relação do contexto com o papel da
Descrever a escola?
realidade da escola Qual o quadro social, econômico, político e
Situacional
(Caracterização do cultural do cotidiano escolar?
contexto). Como está inserida a escola no país, no estado,
no município?
Quais os problemas na realidade da escola, que
apontam trajetos?

Quais são os critérios de organização interna da


Concepção
escola (acesso e permanência dos estudantes,
de sociedade,
capacitação continuada de docentes, qualidade
de homem, de
do processo de ensino-aprendizagem)?
educação, de
Conceitual Como se configura o trabalho do ponto de
escola de currículo,
vista político-pedagógico, com vistas à uma
de ensino, de
educação emancipadora para tornar os cidadãos
aprendizagem e de
participativos, críticos, construtivos, autônomos e
avaliação.
conscientes de seus direitos e deveres?

Quais são as decisões coletivas sobre a


organização pedagógica e o tipo de gestão?
Quais são os papéis específicos de cada
segmento da comunidade escolar?
Qual é a relação entre os aspectos pedagógicos
e administrativos, bem como o papel das
instâncias colegiadas?
Ações para a Quais são os recursos disponíveis?
Operacional operacionalização Quais são os critérios de organização do
do projeto. calendário escolar?
Quais são os critérios de utilização dos espaços
e tempos?
Como são definidas e realizadas as atividades
extracurriculares?
Quais são as formas de avaliação?
Quais são os critérios de distribuição dos
profissionais e as suas especificidades?

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Uma metodologia utilizada para iniciar o processo de elaboração do PPP é a


formulação de questionamentos pela equipe gestora, possibilitando a reflexão da
realidade. Essa é uma metodologia dialógica e participativa, que problematiza a
realidade. A seleção das questões é um momento de reflexão que deve motivar a
participação da comunidade escolar.

O PPP deve seguir princípios, desde o seu planejamento, elaboração e avaliação,


possibilitando que a escola cumpra os seus propósitos. Seu processo de elaboração

51
deve ser democrático, a partir de construções pautadas pelas discussões,
objetivando resolver os conflitos e buscar soluções para os problemas da escola.

Desafios na construção e gestão do PPP


Visto que o Projeto Político Pedagógico deve ser antecipadamente “pensado”
pelos diversos sujeitos da comunidade escolar e da comunidade de seu entorno,
torna-se um desafio definir quais serão os elementos que construirão os primeiros
questionamentos motivadores para dar início à reflexão. Alguns autores indicam que
esse primeiro momento deve ser realizado pela equipe gestora.

Freire nos ajuda a definir como deve ser esse momento do pensar, ao afirmar que
o “pensar que não se dá fora dos homens, nem num homem só, nem no vazio, mas
nos homens e entre os homens, e sempre referido à realidade” (FREIRE, 2011, p.140).

Reunião da comunidade escolar.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

Segundo Oliveira (2013, p.377), existem “dificuldades que são enfrentadas


pelos ideários democratizantes progressistas, que burlam as normas sociais
e epistemológicas do nosso modelo homogeneizante de educação escolar”. É
assim, ao refletir sobre as dificuldades do cotidiano da escola, de forma coletiva,
que é possível encontrar respostas para além do que está posto ou é praticado em
outras instituições para responder aos questionamentos inerentes à própria escola,
sem seguir modelos. Dessa forma, um grande desafio é colocar o PPP no centro
das discussões na escola, priorizando sua elaboração, mesmo diante de tantas
demandas no cotidiano escolar.

52
Segundo Maia e Costa (2013, p.18), o pensamento é algo de exclusividade dos seres
humanos e não cabe à escola a função de padronizar esse pensar dos sujeitos.
É na diversidade de pensamentos e visões que está a riqueza da formação, das
experiências e o contexto de cada membro da comunidade escolar. Novamente
buscamos em Freire como pensar, com quem pensar e a autoria do pensar. Com
propriedade ímpar, ele afirma que não podemos:

“pensar pelos outros, nem para os outros, nem sem os outros. A


investigação do pensar do povo não pode ser feita sem o povo, mas com
ele, como sujeito do seu pensar”. (FREIRE, 2011, p.141)

Outro desafio é não fazer da construção do PPP algo apenas burocrático, apenas
em cumprimento da legislação. É de suma importância fazer com que seja um
documento que se torne a essência da organização institucional, com vistas a
alcançar o cumprimento da sua missão e a sua finalidade.

Ser uma ação coletiva é outro desafio na construção do PPP, pois de maneira oposta,
exclui-se o componente democrático da ação. Ao se pensar a escola como espaço
dialógico, o momento da construção desse documento é o momento de definir a
identidade da instituição, a partir da reflexão da comunidade escolar. Para isso,
é importante a criação de espaços para discussões e reflexões coletivas sobre a
realidade da escola, sobre as próprias ações pedagógicas e administrativas. Esse
pensar coletivo torna todos conscientes da importância de sua atuação e imprimirá
o pensamento e os desejos da comunidade no projeto.

Mas vale lembrar que um projeto é passível de mudanças, de alterações; não está
fechado em si mesmo. Assim, após a sua elaboração, não pode estar guardado,
esquecido em gavetas e armários. Deve ser fonte de consultas, estar em local de
fácil acesso, ser reformulado periodicamente e, sempre que necessário, tendo como
alvo o cumprimento das suas metas.

Neste contexto, torna-se necessário de dar voz a todos os segmentos, criando várias
instâncias de discussão coletivas, como assembleias e conselhos escolares por
segmentos, como a associação de pais e mestres e o grêmio estudantil.

Os grêmios estudantis e a associação de pais e mestres, além de conselhos


escolares, são formas de promover a participação de todos. A nível macro, os
conselhos de educação e os fóruns permanentes de educação são formas de
mobilizar a sociedade em prol de uma escola democrática (BRASIL, 2014).

53
Outro grande desafio é saber o momento de realizar alterações no PPP. Novamente,
toda a comunidade escolar é chamada à reflexão para avaliar o que deve ser mantido
e o que deve ser descartado. Outra questão é o que e quais projetos devem ser
reformulados. A imparcialidade é um critério importante nesse tipo de decisão. As
perguntas quanto à eficácia ou não das ações e projetos elaborados anteriormente
devem ser respondidas com rigor. Caso as metas não tenham sido atingidas
é importante não só descartá-las, mas identificar o motivo do seu insucesso e
questionar sobre novas estratégias ou métodos.

É inegável que a efetivação do PPP é um desafio de imensas proporções, ou ele


pode se tornar um documento apenas burocrático e formal. Vale ressaltar que um
Projeto Político Pedagógico cumprirá sua função, desde que todos os membros
da comunidade escolar sejam atuantes e comprometidos com o ideal de formar
cidadãos críticos, ativos e capazes de transformar a sociedade.

Saiba mais
Um exemplo de não se efetivar o PPP pode estar na atuação dos
conselhos de classe, que é um espaço para reflexão do desempenho
dos estudantes, a priori. Suponhamos que uma determinada turma
da escola esteja apresentando baixo rendimento e o PPP aponta
que uma estratégia para identificar as lacunas quanto ao processo
de ensino-aprendizagem seja a avaliação dos professores nas
reuniões dos conselhos de classe, questionando as estratégias
de ensino, a postura dos estudantes, o material disponível e a
metodologia empregada, que pode ser eficiente em uma turma
e totalmente ineficaz em outra. Apesar disso, a dinâmica das
reuniões se mantém de forma tradicional, apenas se lê e registra
as notas, sem que se detenha os detalhes da prática pedagógica.

Percebe-se com o exemplo apresentado, que o PPP deixou de cumprir seu propósito
e tornou-se meramente burocrático. É nesse momento que os professores podem
identificar os aspectos e conteúdo que devem ser novamente abordados e de que
forma isso deve acontecer.

54
Etapas do projeto político
pedagógico
Vamos abordar a seguir, as etapas da construção do Projeto Político Pedagógico.
Mas atenção, essas etapas não são rígidas. Compilamos essa estrutura a partir de
documentos de órgãos oficiais. De qualquer forma, servirão como parâmetro para que
você entenda como se dá o processo e a elaboração e execução do PPP nas escolas.

1. Identificação da escola

Nesta etapa vamos registrar tudo que define a escola, iniciando pelo nome,
localização (área urbana ou na área rural), região (central ou na periférica).
Deve-se ainda registrar a história da escola, o porquê de seu nome, por
exemplo, sua construção, inauguração e demais fatos.

2. Missão, visão e valores

Precisamos registrar também a missão e a visão da escola. Na missão deve


estar claro qual o tipo de cidadão que a escola quer formar e qual visão tem a
comunidade da atuação da escola em sua comunidade. Esse é um ponto que
necessita da opinião da comunidade escolar, para que, a partir das respostas,
se possa alcançar uma unidade de pensamento para ser registrado como
missão. É a partir dos valores da escola que se elabora a sua missão.

3. Clientela

Nesse item devem ser registrados os dados dos estudantes e de suas


famílias, a composição e o número de membros das famílias, o grau de
estudo, o trabalho, a religião e a condição socioeconômica. Essas informações
podem ser recolhidas através de questionários ou em reuniões e podem ser
transformadas em tabelas ou gráficos comparativos para melhor visualização
dos dados.

4. Estrutura organizacional

A estrutura organizacional da escola apresenta os departamentos, os setores


da escola. Isso pode ser feito através de um organograma.

55
5. Espaço físico

Esse item deve especificar todas as áreas cobertas e descobertas, número


de salas de aula, sala da direção, coordenação, dos professores, secretaria,
cantina, biblioteca, sanitários etc.

6. Aspectos legais

Esses aspectos devem ser descritos como forma de amparo legal à escola.
Para essa construção é necessário consultar a LDB e a Constituição Federal,
pois nesses documentos estão as finalidades da educação nacional e as
finalidades de cada etapa e modalidade de educação, oferecidas pela escola.
Vale destacar que na fundamentação legal deverá constar, em cada nível de
ensino, ou modalidade educacional, dentro de suas características próprias, a
justificativa, os objetivos, a metodologia, as especificidades e a avaliação, que
sempre serão diferenciados.

7. Aspectos pedagógicos

Nesse aspecto serão abordadas as teorias que embasarão o processo de


aprendizagem, portanto devem constar as orientações sobre a relação
professor-aluno e as diretrizes gerais sobre a ação pedagógica, com
vistas à melhoria na qualidade da educação. Nesse aspecto, também deve
constar em cada nível de ensino, ou modalidade educacional, dentro de
suas características próprias, a justificativa, os objetivos, a metodologia, as
especificidades e a avaliação, que sempre serão diferenciados. Os objetivos
de cada disciplina e a sequência de cada conteúdo devem estar aportados
nos referenciais curriculares das secretarias de educação do sistema ao qual
pertence a escola, bem como nos Parâmetros Curriculares Nacionais, sendo
que o segmento de professores e os demais segmentos pedagógicos devem
estar totalmente envolvidos nessa construção.

8. Diagnóstico

No “diagnóstico da situação atual da escola” vamos identificar os pontos


fracos e fortes. Vamos levantar problemas, sempre pensando em como
solucioná-los. Podemos partir dos índices, como: Há evasão? Por que
os alunos evadem? Como são os índices de aprovação e reprovação?
Existe alguma disciplina que tem elevado os índices de reprovação ou as
recuperações? Esses dados podem ser apurados através de questionários ou
em reuniões de professores com os pais e os alunos.

56
9. Recursos

Devemos também pensar nos recursos que a escola dispõe, seu estado
de conservação, como são utilizados, se necessitam ser renovados, se há
necessidade de novas aquisições. E, falando em aquisições, lembramos das
finanças, que também devem ser abordadas neste bloco. Quais são as fontes
de recursos financeiros? No caso da escola privada, a entidade mantenedora
provê todos os recursos. No caso da escola pública: quais são os programas
que destinam verbas para suprir material escolar, a biblioteca, a merenda,
reparos e reformas? Após a análise de todos os dados é o momento de propor
objetivos, metas e ações, com vistas à solução de problemas e à sugestão de
inovações.

10. Plano de ação

Nessa etapa, os objetivos, as metas e as ações já devem ter sido


estabelecidos, e os responsáveis por fazer acontecer cada ação devem ser
identificados. Podemos citar como exemplos de ações: ampliação do acervo
da biblioteca, construção de quadra de esporte, aquisição de móveis para o
laboratório, revitalização dos jardins, realização de projetos.
Todos os pontos fracos devem ser transformados em objetivos e ações a se
cumprir, com metas e responsáveis. As estratégias de acompanhamento e
avaliação também são parte da execução e fazem parte do plano de ação.
Não é o gestor sozinho que deve fiscalizar, mas todos que estão envolvidos no
processo. A avaliação é processual e constante.

57
Fechamento
Estudamos que Projeto Político-Pedagógico (PPP) é um documento muito
importante para a escola e faz parte de uma gestão com características
democráticas e participativas.

Vimos os princípios do PPP: o planejamento, a elaboração e a avaliação, bem como


conhecemos os marcos na etapa de elaboração e seus aspectos.

Por fim, identificamos e compreendemos os princípios norteadores para a


elaboração desse documento e vimos os principais desafios para a sua construção.

58
Referências
BRASIL. Planejando a próxima década: conhecendo as 20 Metas do Plano Nacional
de Educação [Plano Nacional de Educação 2014-2024]. Brasília/DF: Ministério da
Educação/Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (MEC/SASE), 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

MAIA, Benjamin Perez; COSTA, Margarete Terezinha de Andrade. Os desafios e as


superações na construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico. Série Processos
Educacionais Curitiba: InterSaberes, 2013.

OLIVEIRA, Inês Barbosa. Currículo e processos de aprendizagem no ensino: políticas


e práticas educacionais cotidianas. Currículo sem Fronteiras, v. 13, n. 3, p. 375-391,
set/dez. 2013.

59
Projetos educacionais:
história e contexto


Projetos educacionais:
história e contexto

Apresentação
Neste momento vamos abordar características da cultura de projetos. Vamos definir
e identificar projetos em contextos escolares e não escolares, além de apresentar
a elaboração, o planejamento, a implementação e a avaliação dos projetos
educacionais.

Vamos discutir as estratégias para a gestão dos projetos educacionais e refletir a


cultura do trabalho com projetos e analisar os instrumentos de gestão de projetos.
Temos muito a aprender e refletir juntos. Vamos nessa? Bons estudos!

Projetos educacionais
Segundo o PMBOK (2002, p. 3), projeto pode ser definido como um “esforço
temporário para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo”.

Saiba mais
Projeto: Deriva do latim projectum que significa "algo lançado a
frente".

Araújo (2014) afirma que na educação contemporânea a realidade é entendida de


forma simplificada e que, por esse motivo, distancia os aprendizes e aquilo que
desejam conhecer e aprender, daquilo que está disponível na escola. Assim, os
projetos educacionais são alternativas para se alcançar a qualidade na educação.

O cotidiano, a realidade dos estudantes e os entornos da escola não estão nos


conteúdos escolares, pois muitas vezes o livro didático é o único referencial para
as aulas. Vale salientar que esses livros, em sua maioria, são produzidos em
diversas regiões do país e acabam abordando os temas de maneira generalizada e
não possibilitam o interesse dos estudantes e até mesmo da equipe pedagógica.

61
Portanto, o que é disponibilizado na escola está distante das demandas dos sujeitos,
tanto dos educandos quanto dos educadores.

Educadores como Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygostsky (1896-1934) buscaram


compreender como se efetiva a aprendizagem e, a partir de seus pensamentos,
surgiram novas abordagens nas escolas. No entanto, a forma de trabalho tradicional
ainda se opõe a uma formação mais ampla, que alcance a todos os estudantes em
sua diversidade.

Atenção
É importante pensar que no cotidiano “são enredados os
conhecimentos e realizados os currículos” (ALVES; OLIVEIRA,
2008, p. 11). Não se pode deixar de pensar que “para aprender a
“realidade” da vida cotidiana, em qualquer dos espaços/tempos
em que ela se dá, é preciso estar atento a tudo o que nela se passa,
se acredita, se repete, se cria e se inova, ou não”(ALVES, 2008,p.21).

O que vivenciam os estudantes, suas histórias de vida, a história local e tudo que
se passa na escola deve ser discutido, debatido e problematizado nas salas de
aula. Assim, ao pensar as características da cultura de projetos ou da pedagogia de
projetos é importante sublinhar que estas se opõem a um modelo de transmissão
do conhecimento, pura e simplesmente, tendo em vista que esse modelo ocorre
hegemonicamente de forma autoritária, desconsiderando e não visibilizando os
sujeitos que são os “praticantes do currículo” (OLIVEIRA, 2012).

E é nessa perspectiva oposta que os educandos deixam de ser vistos como sujeitos
totalmente passivos, quando a escola abraça o comprometimento com a formação
de cidadãos atuantes. Dessa maneira são reconhecidos como “praticantes do
currículo”, autores de seu conhecimento em uma formação para a cidadania.

O uso de projetos educacionais possibilita que os estudantes sejam reconhecidos


como autores de seu conhecimento. Oliveira (2012, p. 46 apud SANTOS, 2000,
p.76) afirma que há uma noção de autoria associada aos conceitos de “iniciativa,
autonomia, criatividade, autoridade, autenticidade e originalidade”, possibilitando que
os estudantes se tornem investigadores e, de fato, construtores de seu saber.

O aluno deixa de apenas memorizar conteúdos para se tornar reflexivo e mais


curioso, além de passar a se questionar e buscar por respostas (ARAÚJO, 2014).

62
Percebe-se como isso é totalmente diferente de se aplicar testes e provas com
respostas corretas e de o professor se dar por satisfeito quando seus alunos tiram
“boas notas”.

Sala de aula

Fonte: Plataforma Deduca (2020)

A CULTURA DE PROJETOS
Ao pensarmos na pedagogia de projetos, Araújo (2014) nos lembra que ela sempre
remete ao futuro e que há também o intento de algo novo. Além disso, afirma que
nessa prática quem planeja é quem executará. Diferentemente dos livros didáticos,
que muitas vezes apresentam conteúdos mais generalizados.

Podemos pensar em projetos educacionais como “estratégias de ação”, que são


definidas pela intenção de mudança da realidade, idealização da mudança e atitudes
alicerçadas na realidade. Neste contexto, destacamos duas visões:

63
Araújo (2014) nos ajuda a
entender que a pedagogia de
projetos pode ser compreendida
como estratégia para a constru- Nessas visões, a
ção do conhecimento. noção de projetos
educacionais surge
como favorecedora
da participação
ativa do estudante.
ser compreendida
Oliveira (2012) nos faz como estratégia
entender o currículo como para a construção
criação cotidiana e não do conhecimento.
“apenas como o conjunto de
conteúdos de ensino de
diversas disciplinas”. (p.77)

Os projetos educacionais são estratégias definidas para mudar a realidade,


idealização da mudança e atitudes alicerçadas na realidade. Jolibert (2009) utiliza a
expressão “pedagogia por projetos” e afirma que ela:

[...] apresenta-se como uma estratégia educativa global, que consiste


em dar sentido a todas as horas que os aprendizes passam na escola,
confiando neles e permitindo-lhes propor, decidir, gerenciar e avaliar os
projetos que correspondem aos seus desejos, às suas necessidades e
aos recursos materiais ou humanos disponíveis. (p.19)

A autora afirma ainda que as competências para implementar os projetos são


agregadas aos estudantes e que são aquelas definidas nos programas oficiais.
Inicia-se por uma maneira de se posicionar ante a motivação do professor; sobre
o que irão fazer juntos naquela semana, levando os alunos a se verem capazes de
decidir, de avaliar e de propor formas de aprender.

Como surgiu e o que é a pedagogia


de projetos
Vamos retornar aos anos iniciais do século XX, quando surgiu a Pedagogia Ativa,
que teve nos estudos de Adolphe Ferrière (1879-1960), os fundamentos para a sua
divulgação. Entre os nomes desse movimento estava John Dewey (1859-1952), que
afirmava que a escola não poderia ser uma preparação para a vida, mas a própria vida.

64
Esse princípio fortaleceu a ideia de que não deve existir uma lacuna, e sim
proximidade e significação para o aprendizado dos estudantes; seus interesses, sua
história de vida e demandas gerais devem ser consideradas. Dewey evidenciou que o
que é disponibilizado na escola como conhecimento não condiz com as expectativas
dos educandos.

Dewey também defendia que os estudantes devem ser motivados a ter iniciativa e
participar cooperativamente no grupo, além de defender a democracia e a liberdade
de pensamento. Segundo ele, essas ideias eram necessárias para a manutenção
emocional e intelectual dos alunos.

Assim, podemos ver que Dewey delineou o trabalho com projetos, mas foi um
dos seus discípulos, chamado William Heard Kilpatrick (1871-1965), que em 1918
divulgou a ideia de projetos educacionais como recurso.

Saiba mais
John Dewey foi um filósofo que contribuiu bastante para a
educação. Conheça mais sobre sua a história do autor e suas
contribuições para a comunidade escolar, lendo o material: John
Dewey, o pensador que pôs a prática em foco. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/1711/john-dewey-o-
pensador-que-pos-a-pratica-em-foco>. Acesso em 23 mai. 2020.

No Brasil, a pedagogia de projetos se tornou conhecida a partir da “Escola Nova”,


que foi um movimento que buscava alterar práticas e métodos tradicionais. Maria
Montessori (1870-1952), Jean-Ovide Decroly (1871-1932), Édouard Claparède (1873-
1940), Adolphe Ferrière (1879-1960) e outros educadores europeus eram nomes
que através de suas experiências e publicações deram suporte teórico a esse
movimento. Anísio Teixeira (1900-1971) e Lourenço Filho (1897-1970) divulgaram
amplamente o “Método de Projetos” de Kilpatrick no Brasil.

Hoje há uma busca na pedagogia por processos que tragam a realidade dos alunos e
suas demandas para a escola, alinhavando-os aos conteúdos escolares e tornando-
os mais significativos. Neste contexto, veja a seguir alguns pontos de destaque da
pedagogia por projetos:

65
Por ser um planejamento de trabalho construído
com os alunos e no qual o professor é um
coordenador das atividades, os projetos
possibilitam várias aprendizagens.

Os projetos tornam-se possibilidades de reflexões


e questionamentos que conduzem os estudantes
a desejarem aprender e a aprenderem a aprender,
pois transformam conteúdo em aprendizagens
significativas ao se conectarem a situações reais.

Nessa perspectiva, não há como pensar que


esses conteúdos, assim desenvolvidos, são
neutros, pois são realizados a partir das vivências
dos educandos.

Os projetos educacionais levam a “aprender a


pensar criticamente, requer dar significado à
informação, analisá-la, sintetizá-la, planejar ações,
resolver problemas, criar novos materiais ou
ideias” (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998, p.72). Os
educandos são motivados a se envolverem mais
na tarefa de aprendizagem.

66
Dessa forma, por ser o projeto educacional uma concepção de ensino, a pedagogia
por projetos:

[...] se apoia em fontes teóricas sérias (em particular, no socioconstrutivismo


e nas ciências cognitivas) e em experiências pedagógicas estimulantes,
realizadas ao longo do tempo, cujos resultados são convincentes. [...]
corresponde, historicamente, a uma verdadeira mutação da representação
das crianças e de suas potencialidades, que se produziu no campo das
ciências humanas no decorrer das últimas décadas (JOLIBERT, 2009, p.18).

Nessa noção de pedagogia por projetos podemos considerar os sujeitos de todas as


idades capazes de serem agentes da tessitura de seu conhecimento, desde que lhes
sejam dadas condições. Ao pensar assim, não se pode admitir que os projetos sejam
elaborados à margem ou fora dos conteúdos programáticos, como preparar uma
festa junina ou uma excursão a um museu, devendo ser uma “estratégia permanente
de formação rigorosa e exigente” (JOLIBERT, 2009, p.18).

67
Fechamento
Vimos as características da cultura de projeto e como ele se opõem ao modelo de
transmissão do conhecimento tradicional. Entendemos que os projetos educacionais
são alternativas para se alcançar a qualidade na educação, bem como podemos
pensar em projetos educacionais como uma estratégia de ação que são definidas
pela intenção de mudança da realidade.

Conhecemos como surgiu e o que é a pedagogia de projeto e como Dewey, um


dos autores do trabalho com projetos, entendia que a escola não dava conta das
expectativas dos educandos e que era preciso levar a vida para escola.

Por fim, aprendemos também que no Brasil a pedagogia de projetos se tornou


conhecida a partir da “Escola Nova”, movimento que buscava alterar práticas e
métodos tradicionais.

68
Referências
ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho– o cotidiano das escolas nas lógicas das
redes cotidianas. In: ALVES, Nilda; BARBOSA de OLIVEIRA, Inês (Orgs.). Pesquisa no/
do cotidiano. Sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

ALVES, Nilda; OLIVEIRA, Inês Barbosa. Pesquisa nos/dos/com os cotidianos das


escolas. Sobre redes de saberes. Petrópolis: DP et Alii, 2008.

ARAÚJO, Ulisses F. Temas transversais, pedagogia de projetos e as mudanças na


educação. São Paulo: Summus, 2014.

BRASIL, Tribunal Regional do Trabalho – 13ª Região, Manual de Gestão de Projetos,


2011.

JOLIBERT, Josette. A pedagogia por projetos, como alavanca para as aprendizagens.


In: MICOTTI, Maria Cecília de Oliveira. Leitura e escrita: como aprender com êxito por
meio da pedagogia por projetos. São Paulo: Contexto, 2009.

MICOTTI, Maria Cecília de Oliveira. Leitura e escrita: como aprender com êxito por
meio da pedagogia por projetos. São Paulo: Contexto, 2009.

OLIVEIRA, Inês Barbosa. O currículo como criação cotidiana. Petrópolis: DP et Alii,


2012.

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Government Extension to A Guide to the


Project Management Body of Knowledge (PMBOK® Guide) 2000 Edition. Newton
Square: PMI, 2000. Disponível em: http://www.cs.bilkent.edu.tr/~cagatay/cs413/
PMBOK.pdf. Acesso em 23 mai. 2020.

69
Fases do projeto
educacional


Fases do projeto
educacional

Apresentação
Neste momento vamos abordar características do trabalho com projetos. Vamos
definir e identificar projetos em contextos escolares e não escolares, além de
apresentar a elaboração, o planejamento, a implementação e a avaliação dos
projetos educacionais.

Vamos discutir as estratégias para a gestão dos projetos escolares e fora da escola
apresentando alguns tipos de projeto que podem acontecer de maneira integrada ou não.

Pedagogia de projetos
A partir de agora, vamos abordar a pedagogia de projetos ou a pedagogia por
projetos, apresentando algumas de suas características. Inicialmente, podemos
afirmar que um projeto educacional com foco na pedagogia por projetos organiza
ações que vão ocorrer na escola, possibilitando uma maneira diferente da
abordagem dos conteúdos, distante da maneira tradicional de aulas expositivas, nas
quais somente o professor fala e os alunos são meros receptores.

Ele substitui também a simples realização de leituras em livros didáticos e a


resolução de questões do próprio livro. Nos projetos há um trabalho transversal
entre as disciplinas, pois geralmente o tema vai além do que se impõe como limite
das áreas de conhecimento. Já as atividades práticas são parte indispensável,
como também o próprio planejamento coletivo do projeto, a pesquisa em várias
fontes, a reflexão e o debate coletivo. Por conta disso é uma proposta democrática.
Dessa maneira, o conhecimento é construído pelos estudantes, que se tornam
protagonistas da construção de seu conhecimento, pois há sempre algo para se
refletir, discutir e elaborar, com significado para si e para a aplicação na sua vida e da
sociedade onde vive.

71
Alunos debatendo um projeto.

Fonte: Deduca, 2020.

Os conteúdos atitudinais, procedimentais e conceituais são trabalhados buscando


a formação ampla dos sujeitos, quando de seu envolvimento, tendo em vista que o
processo de ensino-aprendizagem não é algo estático e definido por etapas rígidas.

Na verdade, ele tem que ser flexível, pois os percursos para se chegar ao objetivo
final podem ser alterados, dependendo dos sujeitos, de sua visão e de sua
compreensão que podem se alterar, como também o contexto.

Vale ressaltar que as discussões coletivas podem levar à conclusão de que o grupo
deve realizar alterações nas ações e nos itinerários para alcançar os objetivos.

Ao se pensar a escola e a sua função social em uma sociedade, que vem se


transformando continuamente em um mundo totalmente conectado e globalizado,
em que as informações são múltiplas e o conhecimento é alterado a todo o
momento, percebe-se que nossa escola precisa também mudar suas práticas, sem
perder de vista o objetivo de formação ampla dos sujeitos.

Outro aspecto que não podemos deixar de abordar é que na metodologia por
projetos não se trabalha por temas, e estes também não são selecionados apenas
pelo educador. Nossa preocupação é que mesmo que o educador faça essa escolha
com todo profissionalismo, o tema de sua escolha pode não ser de interesse dos
estudantes. Os estudantes devem ser motivados a partir de algo real de suas
vidas, de questões surgidas na escola, na sala de aula, ou seja, a partir do que lhes
interessam. Assim estarão motivados e poderão discutir, debater, externar suas
opiniões, reconhecendo no que precisam se aprofundar para conhecer e aprender

72
mais. O estudante deve ser protagonista do processo de aprendizagem, imprimindo
seus desejos e demandas, assim se caracteriza uma aprendizagem significativa.
Não podemos negar que muitas mudanças são necessárias e urgentes nas práticas
cotidianas escolares.

Saiba mais
Uma simples, mas necessária mudança que podemos dar como
exemplo é começar pela forma como as carteiras são organizadas.
Assentar-se enfileirados é uma maneira de inibir os estudantes,
que não se sentirão incluídos nas conversas. As carteiras em
círculo podem favorecer as discussões em que todos, olhando-se
nos rostos, têm sua voz e vez garantidas.

A partir de tudo isso que abordamos, podemos concluir que na pedagogia de projetos,
os próprios educandos tecem seu aprendizado, com a ajuda dos colegas e professores.
A interação com seus pares é favorecida e a intervenção consciente do professor
leva em conta a formação e a apreensão de conceitos atitudinais, comportamentais,
sociais e culturais, e efetiva um processo de ensino-aprendizagem com mais qualidade,
favorecendo a formação dos cidadãos críticos e atuantes na sociedade.

Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos sobre projetos educacionais,
assista ao vídeo “A pedagogia de ou por projetos”. Disponível em:
<https://player.vimeo.com/video/193697085>. Acesso em: 23
mai. 2020.

Projetos educacionais: fases


Um projeto deve ser desenvolvido em “fases” ou “etapas”. Segundo Dewey (1959) as
fases não devem ser rígidas e devem depender do desenrolar dos trabalhos.

73
Neste contexto, os estudantes devem participar de todas as fases de elaboração
e execução dos projetos e é a partir de então que se inicia a construção do
conhecimento e a formação ampla, pois o projeto tem a ver com a discussão de uma
necessidade concreta.

As fases do projeto recebem denominações diferentes, no entanto, com o mesmo


sentido. Para o nosso estudo, veja a definição das fases de acordo com disposto a
seguir.

1. Planejamento:

• É uma atividade coletiva;


• Deve considerar o público envolvido e os recursos disponíveis;
• Cria um cronograma com as fases a serem executadas, datas e tempo para
execução.

2. Escolha do tema:

• Deve ser feita a partir do interesse do grupo;


• Os temas podem ser agrupados, caso haja afinidade entre eles.

3. Problematização:

• Expressão dos conhecimentos, crenças e questões sobre o tema escolhido;


• O educador deve conduzir a turma a manter respeito quanto a opiniões
divergentes;
• Discutir a realidade do estudante;
• Desafiar os estudantes a questionar suas próprias ideias.

4. Pesquisa, sistematização e produção:

• Confronto das ideias com outras visões de mundo, analisando-as e


relacionando-as a novos elementos;
• Busca de outras fontes: revistas, internet, biblioteca, entrevistas etc.;
• A sistematização das informações responde às questões iniciais e as que
surgirem no processo e faz a relação com um contexto sócio-político maior;
• Provoca mudanças de atitude de educador e educando.

74
5. Divulgação

Os resultados devem ser compartilhados na escola, mas também na


comunidade. Exemplos: boletins, cartazes, cartas às autoridades, cartões
comemorativos.

6. Avaliação

• Processo amplo, envolvendo todos os participantes;


• Deve verificar os objetivos e os papéis desempenhados;
• O educador deve avaliar a sua prática;
• Deve abranger não apenas o produto final, mas a atuação durante o projeto.

A tipologia de projetos de educação


escolar e não escolar
Mesmo a escola sendo a instituição social incumbida da formação dos sujeitos, de
dar a eles a possibilidade de acessar conhecimentos historicamente sistematizados,
a educação vai além dos limites da escola. Pode ocorrer em vários espaços da
sociedade. Esse tipo de educação é conhecido como não formal e informal, isto é,
aquela que ocorre fora do ambiente escolar.

Em nosso estudo vamos analisar as características de cada tipo de educação:


formal, não-formal e informal.

1. Educação formal: É aquela que ocorre em


escolas oficiais, em sua maioria nas salas de aula,
e segue as normas e diretrizes do governo. Na
escola existe uma organização que determina os
espaços e tempos em que ocorrerão as atividades
educativas e possui níveis determinados para
cada idade dos estudantes e de forma hierárquica.
São definidos objetivos específicos e construídos
cronogramas e planejamentos. Além disso, são
fornecidos certificados e diplomas oficiais.

75
2. Educação informal: Ocorre em todos os
momentos da vida dos sujeitos, em todos os
espaços sociais, ou seja, nos processos de
socialização. Não há intencionalidade ou vínculo.
Esse tipo de educação se inicia no núcleo familiar e
os pais são os primeiros responsáveis. Os vizinhos,
os colegas de trabalho e todos que convivem
com a pessoa, desde a infância, a adolescência, a
juventude e a vida adulta são partes importantes
nessa educação. Vale destacar que não podemos
deixar de pensar nos meios de comunicação:
televisão, rádio, internet etc. Não é formalmente
organizada, mas se efetiva a partir das vivências.
É onde se aprende a vida em sociedade.

3. Educação não-formal: É uma educação


organizada, mas não ocorre na escola oficial.
Nesse caso, acontece a partir do interesse
de cada pessoa, que busca voluntariamente
novas aprendizagens. Ela pode acontecer
em instituições religiosas, organizações não
governamentais, programas sociais do governo
ou de iniciativa privada. Podemos citar como
exemplos: as escolinhas de futebol, academias
de dança e ginástica, cursos de violão, corte e
costura e artesanato. As pessoas se integram
em movimentos sociais que militam a favor
dos direitos humanos em geral, que geralmente
oferecem esse tipo de educação. São propostas
de educação organizada, mas fora dos sistemas
escolares formais. Os projetos de educação não-
formal estão voltados em grande parte para a
cultura, a arte e aos esportes.

Agora você deve estar se perguntando: Quais são os tipos de projetos nesses
cenários educacionais? Observe a tabela 1 a seguir, que apresenta alguns tipos de
projeto que podem acontecer de maneira integrada ou não.

76
Tipologia dos projetos.

Tipos Características
São projetos que têm como objetivo a modificação na estrutura
e/ou na dinâmica de uma instituição. Assim, busca chegar a
Projeto de Intervenção
resultados positivos e pode ocorrer, por exemplo, em instituições
sociais, educacionais e no setor produtivo, comercial etc.

São projetos que intentam solucionar uma questão problemática.


Projeto de Pesquisa São realizados em setores acadêmicos de pesquisa (universidades)
e em instituições de pesquisa.

São projetos que têm como finalidade apresentar um novo produto


Projeto de
ou serviço. As instituições educacionais, as indústrias, o comércio e
Desenvolvimento (ou
o setor de serviços são exemplos de instituições que utilizam esse
de Produto)
tipo de projeto.

Esses projetos têm como objetivo alcançar mais qualidade na


Projeto de Ensino educação. Eles podem ser realizados em uma ou mais disciplinas,
como também com a aplicação de um ou mais conteúdos.

Estes projetos são desenvolvidos pelos educandos e o professor


Projetos de Trabalho
é um orientador. Eles objetivam a aprendizagem de conceitos e o
(ou de Aprendizagem)
desenvolvimento de competências e habilidades específicas.

Fonte: Adaptado de Moura; Barbosa (2006).

Mas atenção, para a identificação do tipo de projeto que melhor atende a sua
realidade é preciso identificar o seu objetivo maior, bem como sua atividade
predominante. Segundo Moura e Barbosa (2006) essa identificação não impossibilita
que algumas atividades de um tipo de projeto estejam presentes em outros. Por isso
é necessário identificar a atividade principal.

Os tipos de projetos apresentados na tabela 1 podem ser utilizados em vários


espaços sociais de formação. Como você pôde ver eles possuem características
específicas, que devem ser observadas no momento de sua aplicação, ou seja, ao
utilizar a pedagogia de projetos, o educador deve estar atento ao objetivo e escolher
o tipo de projeto que melhor se encaixe a sua necessidade.

77
Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos sobre o contexto educacional
brasileiro, assista ao vídeo “Roda de conversa – Tema: Espaços
não formais do conhecimento: a escola além da escola– 1/3”, da
Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=JdLKPMCVPEY>. Acesso
em: 17 mai. 2020.

78
Fechamento
Vimos aqui a importância dos estudantes participarem das fases de elaboração e
execução dos projetos que são: planejamento, escolha do tema, problematização,
pesquisa, sistematização e produção, divulgação e avaliação. Estudamos as
características da Pedagogia de projetos ou a Pedagogia por projetos.

Compreendemos que um projeto educacional com foco na pedagogia por projetos


organiza ações que vão ocorrer na escola, possibilitando uma maneira diferente da
abordagem dos conteúdos, distante da maneira tradicional de aulas expositivas e
analisamos as características de cada tipo de educação: formal, não-formal e informal.

Por fim, conhecemos os tipos de projetos nesses cenários educacionais: projeto de


intervenção, projeto de pesquisa, projeto de desenvolvimento (ou de Produto), projeto
de ensino e projetos de trabalho (ou de Aprendizagem).

79
Referências
ALVES, Nilda; OLIVEIRA, Inês Barbosa. Pesquisa nos/dos/com os cotidianos das
escolas. Sobre redes de saberes. Petrópolis: DP et Alii, 2008.

ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho– o cotidiano das escolas nas lógicas das
redes cotidianas. In: ALVES, Nilda; BARBOSA de OLIVEIRA, Inês (Orgs.). Pesquisa no/
do cotidiano. Sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

DEWEY, John. Vida e Educação. Trad. Anísio Teixeira. São Paulo: Nacional, 1959.

MOURA, D. G.; BARBOSA, E. F. Trabalhando com projetos – planejamento e gestão de


projetos educacionais, Petrópolis: Vozes, 2006.

OLIVEIRA, Inês Barbosa. O currículo como criação cotidiana. Petrópolis: DP et Alii,


2012.

80
Gestão de projetos na
escola


Gestão de projetos na
escola

Apresentação
Neste momento vamos abordar características da cultura de projetos, analisando os
instrumentos de gestão dos projetos educacionais. Vamos conhecer o ciclo de vida
dos projetos e as características que um coordenador de projetos precisa ter.

Estudaremos as etapas de elaboração de um projeto, identificando seus passos


da elaboração, do planejamento, da implementação até a avaliação dos projetos
educacionais. Temos muito a aprender e refletir juntos. Vamos nessa? Bons estudos!

Instrumentos de gestão de projetos


educacionais
Atualmente existe uma grande necessidade de mudar as instituições escolares de
educação formal, a fim de que não sejam:

[...] escolas congeladas em uma postura autoritária e, por vezes até


terrorista, de provas, reprovação, repetência e submissão. Modelo tirânico
de destruição da autoestima, da curiosidade, da cooperação, do respeito
mútuo, da responsabilidade, do compromisso, da autonomia, do bom
caráter e da alegria de aprender (MOURA, 2010, p.1).

A escola, como uma instituição social que tem como função disponibilizar aos
sujeitos os conhecimentos historicamente sistematizados, pode ter na pedagogia
por projetos uma metodologia que atenda a esse objetivo. Segundo Brito e Sabariz
(2011, p.12), um projeto educacional é:

um empreendimento de duração finita, com objetivos claramente


definidos na solução de problemas, oportunidades, necessidades,
desafios ou interesses de um sistema educacional, de um educador ou
grupo de educadores, com a finalidade de planejar, coordenar e executar
ações voltadas para a melhoria de processos educativos e de formação
humana, em seus diferentes níveis e contextos.

82
Ao pensarmos na implementação dos projetos, especificamente de um projeto
educacional, temos que pensar na sua gestão. A gestão, segundo Carvalho Junior
(2012), necessita de técnica e de um profissional para realizá-la, denominado gerente
do projeto; nas escolas é denominado como coordenador de projeto. Na maioria das
escolas, esse papel geralmente é desempenhado do professor, que muitas vezes
idealiza o projeto junto com a sua turma.

Segundo Brito e Sabariz (2011, p.14), podemos compreender como “gestão de um


projeto a ação, arte, técnica, maneira de gerenciar, controlar ou conduzir o projeto”.
Ainda segundo os autores, a gestão de projetos se efetiva a partir das fases de um
projeto (inicialização, planejamento, execução, controle e encerramento) e “essa
sequência de fases é denominada ciclo de vida do projeto”.

Na gestão dos projetos são feitas correções nos trajetos, buscando manter o foco
nos objetivos traçados e havendo necessidade, reestruturando os planos iniciais,
tendo como parâmetros para alterações o que for observado ao desenvolvê-lo.
Assim, podemos dizer também que a gestão é a administração e o direcionamento
das ações do projeto.

Carvalho Júnior (2012) aponta algumas características do coordenador de projetos. Com


aportes de uma gestão democrática e participativa na escola, incluímos alguns aspectos
pedagógicos que também devem orientar a ação desse profissional. Veja a seguir.

• Estabelecer, juntamente com seus alunos, metas coerentes e prazos realistas


para serem cumpridos;
• Estar atento a eventuais desvios, mantendo foco nos objetivos definidos;
• Sugerir aos estudantes alterações das ações e analisar mudanças propostas
para atender aos objetivos quando surgirem dificuldades e problemas no per-
curso;
• Estar atento ao envolvimento de todos os estudantes e propor reorganização
das equipes de trabalho, caso seja necessário;
• Ser observador e detalhista de todo o processo, acompanhando todas as fa-
ses do projeto.

Ciclo de vida dos projetos


A gestão de projetos leva em conta os processos que ocorrem no ciclo de vida do
projeto. O ciclo de vida dos projetos são as fases da gestão de projetos, desde o seu
início ao seu final e cada fase corresponde a um conjunto de atividades, ou seja, de

83
processos aplicados, visando o desenvolvimento das ações previstas. Apesar de
algumas diferenças, o ciclo de vida de um projeto contar basicamente com quatro
momentos: inicialização, planejamento, execução, encerramento.

Cada momento do ciclo de vida de um projeto, subdivide-se em cinco grupos de


processos: iniciação, planejamento, controle, execução e encerramento, que devem
ser adequados aos projetos educacionais. Neste contexto, veja a seguir, os cinco
grupos de processos aplicados a uma sala de aula.

1. Inicialização

Desenvolvimento de visão geral do projeto. As atividades dessa fase


envolvem:
• Promover discussões e problematizações a partir de uma situação/tema
surgido;
• Identificar e definir com os estudantes o problema ou a situação geradora;
• Determinar com clareza o que o projeto vai realizar;
• Definir a abrangência do projeto;
• Informar a equipe gestora da escola sobre a proposta do projeto, bem como
os demais segmentos da comunidade escolar;
• Reconhecer que vale a pena efetuar o projeto.

2. Planejamento

Definição de objetivos, resultados esperados, recursos, estimativa de custos,


prazos. As atividades dessa fase envolvem:
• Refinar e detalhar o escopo do projeto;
• Listar as atividades, definir equipes e tarefas necessárias aos resultados
desejados;
• Sequenciar as atividades da maneira mais eficiente possível;
• Definir um cronograma e atribuir recursos e responsabilidades a cada
participante e a cada atividade programada.

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3. Execução

Organização, coordenação e direção de equipes. As atividades dessa fase


envolvem:
• Contribuir para a organização dos grupos e intervir nas equipes, sempre que
necessário;
• Auxiliar na distribuição das tarefas;
• Intervir nos conflitos e problemas, propondo sempre soluções coletivas;
• Manter comunicação efetiva com os envolvidos no projeto e estimular a
comunicação entre os membros dos grupos;
Envolver a equipe gestora da escola no provimento de recursos para realizar o
planejamento e com o grupo buscar mais alternativas.

Vale ressaltar que muitas vezes os processos de gestão não ocorrem


sequencialmente, mas de forma simultânea. Por serem simultâneos, os processos
não são interrompidos para dar início a outros processos. Podem ser realizadas
correções ao longo dos processos.

Por tudo isso, nota-se que os projetos são estratégias de ação que têm como
objetivo mudar uma determinada realidade. Essas estratégias podem também
alterar atitudes e comportamentos dos sujeitos, visando um melhor convívio social e
a sua realização pessoal.

No contexto da pedagogia de projetos essa estratégia é entendida como a


construção do conhecimento dos sujeitos e pode ser utilizada na educação infantil,
no ensino fundamental, médio e na universidade. É uma metodologia que possibilita
que os estudantes problematizem uma situação em seu contexto real.

Os projetos podem também ser utilizados em instituições que visem a formação dos
sujeitos de maneira não formal, como curso de qualificação profissional diversos,
que em grande parte são oferecidos por instituições não escolares, além daquelas
iniciativas que envolvem a arte, a cultura e o esporte.

Etapas de um projeto
Mas como elaborar um projeto educacional? Existem vários formatos. Vamos sugerir
um formato, que inclui itens que julgamos necessários.

85
1º Etapa – Identificação

Essa etapa deve abranger os seguintes dados:


• Título do projeto: é importante um título que sintetize de forma geral o
projeto;
• Público-alvo: para qual turma/classe será realizado o projeto;
Duração: o período de efetivação do projeto.;
• Coordenação do projeto: quem fará a gestão do projeto, atentando-se para
todas as etapas de gestão.
• Eixo interdisciplinar: quais áreas e disciplinas desenvolverão o projeto de
forma indisciplinar.

2º Etapa – Introdução

É um breve resumo, incluindo o tema que deve ser de interesse dos estudantes
e não só do educador. Nesse item deve-se explicar como foi selecionado o
tema, se a partir de uma situação-problema na escola ou na sala, se a partir
de um fato ocorrido na sociedade ou algo que esteja ocorrendo no bairro. Por
exemplo, bullying contra algum colega, uma gravidez na adolescência ou uma
situação de epidemia.

3º Etapa – Objetivos

Devem-se identificar os objetivos gerais e específicos. Nesse momento


precisa ser definida a finalidade do projeto ou o objetivo geral; o que se deseja
alcançar ao final do projeto, tendo em vista as discussões e reflexões feitas
com a turma. Para alcançar uma meta final, podem ser estabelecidos outros
objetivos didáticos específicos, sempre pensando que devemos atender às
necessidades de aprendizagem.

4º Etapa – Justificativa

A justificativa deve explicar o porquê da elaboração do projeto. Qual é a sua


relevância? Devem ser explicadas as razões para desenvolver o projeto em
uma turma específica e a importância para a sala, a escola, a comunidade etc.
Deve-se especificar o que reforça os pontos positivos para a realização do
projeto.

86
5º Etapa – Metodologia

Apresentar quais as etapas do desenvolvimento do projeto, como se pretende


desenvolvê-lo, as ações e quais os procedimentos metodológicos que devem
ser inseridos.

6º Etapa – Recursos didáticos

Especificar quais são os materiais ou recursos que serão utilizados. É


importante uma seleção ou indicação do que será utilizado, como fontes de
pesquisa (revistas, livros, endereços de sites) e aquilo que será efetivamente
usado durante o projeto (papel, canetas coloridas, computador etc.), levando-
se em conta as possibilidades da escola.

7º Etapa – Resultados

Deve contemplar a forma como será a culminância do projeto, a melhor


maneira de expor os resultados do projeto.

8º Etapa – Avaliação

Descreverá como será feita, quais são os critérios, quem será avaliado etc.
Essa etapa não deve ocorrer somente ao final do projeto, mas pode ser
definida uma avaliação processual, pois havendo necessidade, os aspectos do
projeto podem ser verificados e alterados. O coordenador pode fazer registros
de suas observações referentes à atuação de cada estudante e sugerir
mudanças no percurso.

9º Etapa – Cronograma

Esse tópico pode ser inserido em forma de tabela, com especificação das
ações, os prazos para cada uma, como também os responsáveis por elas.

10º Etapa – Fontes

Por fim, devem ser apresentadas as fontes de consulta ou referências que


foram utilizadas na elaboração do projeto, de acordo com as normas da ABNT.

87
Esses são os itens que podem fazer parte de um projeto educacional. Vale destacar
que é uma sugestão de tópicos. A partir do contexto em que o projeto educacional
será elaborado e efetivado, eles podem e devem ser adaptados.

88
Fechamento
Compreendemos a escola como uma instituição social que tem como função
disponibilizar aos sujeitos os conhecimentos historicamente sistematizados, sendo
a pedagogia por projetos uma metodologia que pode atender a esse objetivo.

Vimos a importância da gestão ao pensarmos na implementação de um projeto


educacional e conhecemos o ciclo de vida de um projeto que pode contar com
quatro momentos bastante definidos: a inicialização, o planejamento, a execução e o
encerramento.

Por fim identificamos que existem vários formatos para elaborar um projeto
educacional e caracterizamos alguns itens essenciais, como a identificação, os
objetivos, a justificativa, a metodologia, os recursos didáticos, a divulgação de
resultados, a avaliação, o cronograma e as fontes de consulta.

89
Referências
ALVES, Nilda; OLIVEIRA, Inês Barbosa. Pesquisa nos/dos/com os cotidianos das
escolas. Sobre redes de saberes. Petrópolis: DP et Alii, 2008.

ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho: o cotidiano das escolas nas lógicas das
redes cotidianas. In: ALVES, Nilda; BARBOSA de OLIVEIRA, Inês (Orgs.). Pesquisa no/
do cotidiano. Sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

BRITO, Jorge N.; SABARIZ, Antônio L. R. Elaboração e gestão de projetos


educacionais. S.J. Del Rey: UFSJ, 2011.

CARVALHO JUNIOR. Moacir Ribeiro de. Gestão de Projetos: da academia à


sociedade. Curitiba: InterSaberes,2012.

MICOTTI, Maria Cecília de Oliveira. Leitura e escrita: como aprender com êxito por
meio da pedagogia por projetos. São Paulo: Contexto, 2009.

MOURA, D. G.; BARBOSA, E. F. Trabalhando com projetos – planejamento e gestão de


projetos educacionais, Petrópolis: Vozes, 2006

MOURA, Daniela Pereira de. Pedagogia de projetos: contribuições para uma


educação transformadora, 2010. Disponível em: <http://www.pedagogia.com.br/
artigos/pedegogiadeprojetos/index.php?pagina=0>. Acesso em: 19 mai. 2020.

OLIVEIRA, Inês Barbosa. O currículo como criação cotidiana. Petrópolis: DP et Alii,


2012.

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