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Religião em Transição
Ronaldo de Almeida!
Introdução
!
Ronaldo de Almeida é professor no Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) e pesquisador do Cebrap. Agradecimentos aos comentários cuidadosos e
fundamentais de Artionka Capiberibe, Fernando Pinheiro e dos orientandos Flávia Slompo, Rodrigo
Caravita, Hugo Soares, Maíra Ferrigno, Milton Santos e Bernardo Freire.
1
Ver críticas ácidas de Pierucci (1997, 1999) – por vezes excessiva no “patrulhamento científico”,
conforme denuncia Camurça (2008, p. 123) – à parte da literatura sociológica e antropológica da religião,
nacional e internacional, que estaria parcialmente sujeita aos interesses da religião. Isto será mais bem
discutido no item 2 deste artigo.
2
atemporal. Ontologia também presente em Rudolf Otto, Van der Leew e Petazzonni,
entre outros. Tal perspectiva difere da História das Religiões de Brelich e Sabatucci,
para quem a proposta (com a qual este artigo se alinha) é historiar a categoria social
religião (Pompa, 2006; Gasbarro, 2006).2
Embora a metáfora nos remeta a experiências atávicas, como se por meio da
religião o homem encontrasse o sentido da sua existência, não é possível imputar a
fenomenologia ontológica de Eliade à fenomenologia hermenêutica de Geertz. Para
este, o sentido é entendido em termos semióticos, enquanto para aquele é experiência
existencial, sujeita a uma filosofia da História (Eliade, 1987, p. 91). O texto de Geertz
refere-se especificamente ao ressurgimento (na contemporaneidade) de tradições
sociorreligiosas do mundo islâmico e não à emanação da essência humana. Mas, por
outro lado, a metáfora detecta e expressa também uma espécie de “momento histórico”
com múltiplos deslocamentos em escala mundial. Sua proposição aponta para mudanças
sísmicas globais do que é denominado como religião (instituições, ideias, artefatos,
ritos, performances). São deslocamentos distintos apreendidos em função tanto dos
processos sociais como das análises produzidas. Como exemplo, tem-se a relação entre
religião e modernidade (ou seus congêneres: globalização e contemporaneidade), que
pauta boa parte das discussões nacionais (Sanchis, 1997; Velho, 1997; Montero, 2006a;
Pierucci, 2006a).
Tais deslocamentos resultaram em ampliação dos horizontes temáticos que
necessitam de investigação. Mas, para tanto, isso implica tratar a religião como algo não
tão autoevidente nas Ciências Sociais, nas quais as especializações reproduzem em boa
medida a própria classificação dos segmentos.3 Com frequência, os campos de
investigação tendem a ser organizados menos em torno de problemas teóricos e mais a
partir de tipologias institucionais e/ou de artefatos entendidos como sendo religiosos.
No balanço dos estudos sobre religião produzido para a coletânea O que ler na ciência
social brasileira (1970-1995), Paula Montero (1999, p. 330) argumenta que os
segmentos religiosos são compreendidos à luz de determinadas linhagens teóricas, como
se certos padrões interpretativos houvessem se consolidado. O protestantismo, por
2
O pressuposto ontológico da religião é marginal às Ciências Sociais no Brasil, mas significativamente
presente em certa História das Religiões e também nas Ciências da Religião. As instigantes reflexões de
Marcelo Camurça (2008, p. 61) sobre o lugar das Ciências da Religião no campo das Ciências Humanas
identificam a perspectiva segundo a qual a religião é dimensão inata do humano. Posição não
compartilhada por ele, mas com a qual deseja dialogar na chave da interdisciplinaridade, propiciada pela
institucionalização das Ciências da Religião como uma área de conhecimento.
3
Como alguém que se “especializou” em pentecostalismo, incluo-me aqui também.
3
exemplo, foi lido preferencialmente segundo a matriz weberiana, que vincula valores a
comportamentos; as religiões afro-brasileiras, por sua vez, a partir da durkheimiana,
com sua ênfase nos ritos e crenças; e a marxista informou a leitura do catolicismo,
sobretudo se o enfoque fosse de ordem política.
A isso, por vezes, se junta o uso de dados estatísticos sem o questionamento
sobre o que afinal de contas uma pessoa responde quando lhe perguntam: Qual é a sua
religião? Do que ela está falando? De crença, de frequência aos cultos e reuniões, de
pertencimento a uma comunidade, de práticas rituais, da noção muito recorrente de que
uma coisa é ter fé e outra é ter religião? Em que plano está situada a sua resposta:
religião como cognição, como moral, como interação ou como identidade? Enfim, trata-
se de uma prática científica que necessita objetivar seus passos de objetivação, até
porque o caráter bastante movediço da religião no mundo contemporâneo gera
desconfiança tanto das possibilidades de modelações estatísticas como das abordagens
qualitativas.4
Se o propósito central deste artigo ancora-se na crítica à categoria analítica
religião, não devemos negligenciar também que o debate sobre como defini-la ocorre
entre aqueles que classificamos como nativos. Muitos evangélicos gostam de afirmar
que uma pessoa pode ser religiosa mas não ter deus, pois só cumpre rituais e não tem
uma experiência pessoal com ele; em certa medida isso se assemelha a muitos católicos
que costumam se identificar ora como não praticantes ora como sem-religião,
dependendo da situação e momento em que forem entrevistados (Fernandes, 2009;
Antoniazzi, 2002, p. 88); ou ainda ao que certas lideranças afro-brasileiras questionam:
o fato de suas práticas rituais serem entendidas como religião, uma vez que são
definidas a partir do modelo cristão.
Por outro lado, tem sido frequente e bastante produtivo investigar aqueles que se
declaram sem-religião para compreender a polissemia em torno do termo. Assim, em
resposta à pergunta de Yves Lambert (1992): “Como definir algo pelo que ele não é?”, a
proposta é investigar como a negação acaba projetando algumas fronteiras e
propriedades. Várias pesquisas qualitativas têm demonstrado a presença entre os sem-
religião de experiências com conteúdos ditos religiosos e não vinculadas a uma
instituição específica, mas algo vivido em termos existenciais e cotidianos (Novaes,
2000, 2006; Fernandes, 2009). E, por fim, participam ainda desse processo os próprios
4
Ver reflexão de Clara Mafra (2004) a propósito da parceria entre Iser (Instituto de Estudos da Religião)
e IBGE para a classificação das declarações religiosas listadas no Censo Demográfico 2000.
4
5
Tenho como referência mais específica o campo de cientistas sociais da religião, que tem como
principais fóruns de interlocução: o Grupo de Trabalho Religião e Sociedade da Anpocs, a revista
Religião & Sociedade e, mais recentemente, a rede de pesquisadores do Mercosul ampliada sobretudo
com a criação da ACSRM (Associação dos Cientistas Sociais do Mercosul), da sua revista bilíngue
Ciências Sociais e Religião/Ciências Sociales y Religión e dos encontros bienais das Jornadas sobre
Alternativas Religiosas da América Latina.
5
representado como sagrado por uma comunidade fundada na coesão moral chamada de
igreja (Durkheim, 1989, p. 79). Ao final da análise, entendeu o social como a condição
da religião; esta seria representação e forma possíveis daquele. Pode-se encontrar entre
seus contemporâneos outras delimitações da religião,6 mas o livro de Durkheim é
referência canônica para o ambiente científico, e gerador de descritores que orientam as
pesquisas empíricas. Trata-se dos “fatos religiosos” (des faits religieux): pertencimento
e frequencia a uma comunidade, símbolos e práticas rituais, moral e identidade de
grupo, e por aí vai. Do ponto de vista empírico, todos esses artefatos e fatos ditos
religiosos cresceram e se diversificaram.
Tendo como alguns dos descritores principais as crenças e os ritos, a trajetória
dos estudos sobre religião no Brasil ancorou-se em boa medida no conceito de
sincretismo, com ênfase nas religiões afro-brasileiras e no catolicismo dito popular
(Bastide, 1989; Sanchis, 2001). Para além das críticas e resgates do conceito, há
algumas décadas, desenha-se no país um macrocontexto de pluralismo e de seus
congêneres: diversidade, concorrência, conflito etc. Pluralismo religioso, conceito
inicialmente gestado nos contextos europeu e norte-americano, caracteriza-se no Brasil
pela dinâmica de diferenciação de alternativas e circulação de pessoas entre elas. A
multiplicação das instituições é acompanhada pela inidelidade a elas.
Novamente a contrapelo (ver nota de rodapé 1), Pierucci (2006b) pergunta
“Cadê nossa diversidade religiosa?” se, do ponto de vista demográfico, ela só é
significativa dentro da matriz cristã. O que Velho (1995) define como “cultura bíblica”
de certa forma atesta a afirmação de Pierucci a propósito da centralidade do
cristianismo, e mesmo do catolicismo, apesar de seu declínio em termos demográficos.
A resposta de Camurça (2006) à provocação de Pierucci vai no sentido mais qualitativo,
afirmando que o aumento dos sem-religião não exclui a experiência religiosa e que a
diversidade interna do catolicismo é pouco captada pelos dados estatísticos de amplo
alcance demográfico. Isso pode ser constatado nas recentes coletâneas Catolicismo no
plural, organizada por Faustino Texeira e Renata Menezes (2009), e Novas
comunidades católicas, de Brenda Carranza, Cecília Mariz e Marcelo Camurça (2009),
além do estudo Novas formas de crer, de Sílvia Fernandes (2009). Cabe ainda destacar
que a vivacidade do catolicismo decorre também de práticas de longa duração como as
6
Entre elas, a discussão de James Frazer sobre magia, religião e ciência; a de Edward Tylor sobre o
animismo; a de Robertson Smith, influência central sobre Durkheim, acerca dos ritos como promotores da
coesão social.
6
mudarem sem sair do lugar institucional (Carranza, 2005). A metáfora de Steil (2004) é
certeira: o movimento de renovação é uma espécie de “porta giratória”. Aqui, a
bibliografia é também vasta (Birman, 1996; Sanchis, 2001; Almeida, 2009a),
principalmente de natureza antropológica, e gira em torno dos conceitos de sincretismo,
hibridismo, passagem, continuidades, entre outros.
Por fim, o trânsito pode ser apreendido de uma terceira maneira: desloca-se o
foco empírico do ponto de vista das instituições (seja da quantidade de adeptos, seja dos
conteúdos simbólicos de cada uma delas) e centra-se na trajetória das pessoas. Inverso
ao primeiro caso, em que se mede como os indivíduos passam pelas religiões, neste
terceiro plano o problema é como estas passam por eles. Mais precisamente, o foco
analítico está nas trajetórias de vida das pessoas e no que elas fazem das religiões com
sua prática desinstitucionalizada (Sanchis, 1997; Hervieu-Léger, 1999). Neste caso, os
termos mais recorrentes são bricolagem, privatização, errância, arranjos, entre outros.
As práticas e os pertencimentos religiosos, regra geral, são transmitidos pelos
laços familiares, principalmente dos pais para os filhos. Como o contexto
contemporâneo é de diferenciação das alternativas, as relações de filiação já não
ancoram com a mesma eficácia a transmissão religiosa (Hervieu-Léger, 2000). Em
consequência, os arranjos familiares já não são mais uniformes do ponto de vista do
pertencimento religioso, de tal modo que a diversidade afetou as relações intra e entre
gerações nas famílias (Duarte e Gomes, 2008). Acrescente-se que, nas últimas décadas,
as famílias vêm sofrendo transformações nas suas relações internas e no comportamento
reprodutivo (Machado, 1996; Fernandes et al., 1998). Enfim, se a religião mudou, não
foi a única. Cada vez mais, são frequentes famílias com referências religiosas diferentes,
o que pode gerar tanto conflitos como distanciamentos afetivos. Aos novos arranjos
familiares (Berquó, 1998) se sobrepuseram novos arranjos religiosos.7 Em depoimentos
coletados em campo, muitas pessoas que transitaram ou que se declararam sem-religião
tendiam a criar os filhos no catolicismo “porque é sempre bom ter uma religião”, por
oferecer valores morais às pessoas, sobretudo na infância. Assim, embora o catolicismo
já não seja mais a religião dos brasileiros (Sanchis, 2001, p. 13), ele conta com uma
adesão não somente vegetativa mas também inercial. No entanto, em caso de ter um
“filho-problema”, como a delinquência ou uso de drogas, sobretudo na adolescência,
7
Salvo algumas exceções, as análises demográficas dessa sobreposição são ainda muito incipientes.
Regra geral, a literatura tem pensado a transição religiosa a partir de trajetórias individuais.
8
recorre-se à igreja evangélica por sua capacidade de inculcar forte autorregulação nos
filhos.8
Em resumo, a diferenciação das instituições e a composição de novas práticas,
por um lado, e a circulação de pessoas e dos conteúdos simbólicos, por outro,
configuram uma espécie de pluralismo sincrético que diversifica, misturando o campo
religioso contemporâneo. Pluralismo sincrético acrescido de desinstitucionalização das
práticas resultam em intenso trânsito religioso. Não é raro o líder pregar certos padrões
de comportamento e as pessoas o seguirem parcialmente, mantendo suas próprias
regras. Isso não é propriamente novidade para os católicos, para os quais os temas
aborto, controle da concepção, divórcio, entre outros, demonstram o descompasso entre
o ensinamento institucional e a prática dos fiéis.9 Mas isso é algo recente para o
segmento evangélico, que sempre foi considerado rigoroso no comportamento e eficaz
em conseguir a obediência dos adeptos. Cada vez menos há coincidência entre a
identidade religiosa e a prática correspondente, cujo resultado pode ou não levar a
novos padrões de religiosidade e até mesmo a novas instituições. O título-pergunta do
artigo de Pierre Sanchis (1995) capta, com a precisão que lhe é própria, o descompasso
contemporâneo entre instituição e prática: “O campo religioso será ainda hoje é o
campo das religiões?”.10
Em depoimentos de pessoas que declaram ter mudado de religião ou que
praticam mais de uma ou que ainda afirmam não a ter, o mais identificado como ser
religioso é “ter fé em Deus”, cuja definição é razoavelmente variada: “Deus é bondade”,
“Deus é energia”, “Deus tem vários nomes”, “todas as religiões levam a Deus”, “Deus é
tudo” e “Deus é um só”.11 No contexto de pluralismo e de circulação, muitas pessoas
tendem a acreditar não em vários deuses, mas que todas as religiões têm o mesmo deus
dito de maneiras diferentes. Tal noção revela certo desbotamento da imagem do deus
8
Além de dar consolo aos pais. “Mãe de marginal é quase sempre evangélica”, disse-me um jovem que
habita uma região na periferia de São Paulo onde há a convivência entre pobres e o tráfico de drogas.
9
Por exemplo, a organização Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) é formada por mulheres católicas
militantes pelo avanço da ciência e das políticas públicas em temas ligados à reprodução da vida: controle
de natalidade, uso de preservativos, pesquisas com células-tronco embrionárias e, o carro-chefe, a
legalização do aborto. Com o intuito de construir um discurso contra-hegemônico, a CDD realiza
pesquisas nas quais muitos fiéis católicos declaram-se favoráveis ao aborto e um número considerável
deles viveu em algum momento essa situação, pessoal ou familiarmente. Mais detalhes, acessar
<www.catolicasonline.org.br>.
10
Para ter uma noção da importância de Pierre Sanchis nas Ciências Sociais da Religião, ver “Dossiê
Sanchis”, com análises de Alejandro Frigerio, Cecília Mariz, Pablo Séman, Lea Freitas e André Santos
publicadas na revista Ciências Sociais e Religião da ACSRM, em 2000.
11
Refiro-me à pesquisa Dinâmicas Religiosas na Metrópole Paulista, realizada no Centro de Estudos da
Metrópole – CEM/Cebrap (Almeida, 2004; 2006a; 2009b).
9
efeitos práticos negativos sobre seus descentes até determinada geração (Mariz, 1999).14
Ou seja, problemas de ordem moral e espiritual são transmitidos pela procriação via
laços genéticos. Tal relação de substância está presente também na metáfora do sangue
ou das relações consanguíneas (Duarte et al., 2006, p. 40), que cada vez mais perdem
poder simbólico para a metáfora do DNA. Esses vínculos de maldição são rompidos
somente mediante rituais. Para Steil (2006, p. 236), a teologia dos “demônios
geracionais” concebe um modelo psíquico-místico para compreensão das doenças e
mesmo de outros males da vida. Segundo o modelo, o homem é pensado a um só tempo
psíquica, emocional e espiritualmente, o que remete às dimensões da imanência, como é
característico das religiosidades do self, e não às da transcendência, própria dos
discursos clássicos de salvação.
Este último aspecto nos remete ao tema da espiritualidade, que conceitualmente
não se reduz ao alcance da categoria religião, mas é, no entanto, um campo empírico
investigado, regra geral, pelas Ciências Sociais da Religião. A literatura vem
circunscrevendo o fenômeno em torno do termo Nova Era, que em boa medida elabora
a bricolage de referências pré-modernas, tradicionais e/ou orientais, mas com práticas
pós-modernas como a desregulação institucional, o consumo mercadológico de
vivências e experiências espirituais, e a ênfase no autoaperfeiçoamento do indivíduo
(Amaral, 2000; Tavares, 2003). Conforme a clássica circunscrição de Champion (1990),
a “nebulosa místico-esotérica” abarca práticas heterogêneas e desinstitucionalizadas
voltadas para o self, o “eu verdadeiro”, e busca a harmonização psíquica, emocional e
espiritual, em detrimento da racionalidade iluminista (Heelas, 1996; Hervieu-Léger,
1999).
Assim, da mesma forma em que se dilata a ideia de deus e se personaliza o mal
como o diabo, a prática religiosa vai sendo privatizada e individualizada (Luckmann,
1967; Hervieu-Léger, 1999, p. 30). As pessoas costumam falar que a religião lhes “traz
entendimento”. E não se trata de entendimento como oferecido, por exemplo, pela
Teologia da Libertação, no sentido de ter consciência de sua realidade socioeconômica,
mas como autoconhecimento ou autoaperfeiçoamento. Nesse sentido, é possível traçar
afinidades entre algumas práticas religiosas e experiências capturadas pela categoria
social de autoajuda. Se tirarmos boa parte do léxico religioso de certas igrejas, restará
14
A referência bíblica é Êxodo (20:5 e 6), “Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás,
porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniquidade dos pais sobre os filhos até a
terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para
aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.
11
15
Como compreender uma igreja pentecostal que ministra semanalmente cultos denominados “Terapia do
amor”, cuja finalidade é restaurar relações afetivas e monogâmicas, que resultarão em vínculos de
parentesco?
16
“Inverte-se aqui a tradicional relação entre a cosmologia religiosa englobante e as eventuais e
englobadas especulações laicas: as especulações laicas tomam a forma de uma ideologia englobante e a
antiga cosmologia englobante se fragmenta em ‘especulações’ religiosas.” (Duarte et al., 2006, p. 24).
17
Em boa medida, as referências religiosas de James (1902) foram o protestantismo norte-americano com
os avivamentos no século XIX nos Estados Unidos e suas dimensões emotivo-subjetiva e catártico-
mística.
12
para tanto, ancora-se em um dos últimos escritos de Geertz, pouco antes de sua morte
em 2006, intitulado “La religion, sujet d’avenir”, publicado no Le Monde:
18
Agradeço a Ariana Rumstain, Tiarajú D’Andrea e Jacqueline Teixeira pela qualidade e seriedade nas
atividades de pesquisa.
13
evangélicas, que seguem o princípio bíblico de ajudar primeiro os “irmãos de fé” (os
frequentadores do mesmo templo). Esses “irmãos de fé” preferencialmente se tornam
parentes ao casarem entre si, conforme o padrão comportamental evangélico. Ou o
inverso: existem pessoas que evangelizam seus parentes e todos se tornam “irmãos de
fé”. As redes religiosas e familiares assim se sobrepõem e podem engendrar ainda
outras (Almeida, 2009b), e não permanecem ancoradas apenas em vínculos puramente
religiosos, como sugere Pierucci. Em resumo, a socialidade simmeliana e a coesão
durkheimiana são experiências sociais contemporâneas, vividas por meio da religião.
Cito dois exemplos etnográficos.
Recentemente, Cristina Cunha (2009) identificou certa ambiguidade entre
setores evangélicos com o universo do tráfico de drogas, como se houvesse um grau de
condescendência, de permissividade em relação a essa ilegalidade devido à necessária
convivência entre bandidos e evangélicos. A etnografia de Cunha em favelas cariocas
nos apresenta tanto o movimento dos evangélicos na atração de traficantes como a
busca destes por proteção religiosa. O primeiro caso é compreendido como o período de
“conversão” ou “libertação” em que as práticas do crime e da religião podem se
sobrepor temporariamente. O segundo refere-se a essa autonomia da prática que
possibilita ao traficante uma religiosidade de perfil evangélico (como oração por cura e
proteção, ritos de exorcismo ou libertação, doação de dízimo e assistência social) sem
vínculo com a comunidade moral. O malandro e o criminoso que anteriormente eram
associados a práticas das religiões afro-brasileiras buscam agora cada vez mais a
proteção das orações pentecostais. “Evangélico ex-traficante”, “traficante ex-
evangélico”, “evangélico versus traficante” e “ora evangélico ora traficante”: nestas
interfaces, diferentes regimes de moralidade são articulados e ajustados no intuito de
garantir a convivência na relação de vizinhança entre religiosos e bandidos.19 Em outro
exemplo, o trabalho de Marcelo Natividade (2008) etnografa evangélicos que têm
relações homoeróticas em circuitos urbanos, mas as mantêm escondidas da comunidade
religiosa. Entretanto, recentemente foram criadas igrejas de matriz evangélica que
aceitam a prática homossexual de seus adeptos; contudo, não abrem mão do preceito da
fidelidade amorosa e mantêm a contenção de uma gestualidade gay. Assim, a
diversidade das instituições e das relações comunais acentua-se à medida que se dilatam
os padrões morais.
19
Ver Dias (2007), que enfoca as tensões e ambiguidades das identidades religiosas em situação
prisional.
14
20
As interpretações de Peter Berger, uma das principais referências para a Sociologia da Religião,
acompanharam essas mudanças. No livro O dossel sagrado... (1985 [1967]), esse autor se assenta no
argumento da secularização, enquanto no livro Rumor de anjos... (1990 [1969]), ele revela a mudança de
diagnóstico. Mais recentemente, e em artigo para Religião & Sociedade (2000), fala em dessecularização.
21
Inspirado em Bourdieu, Pierucci (1999) propõe uma Sociologia da Sociologia da Religião. Os focos
principais são o Iser e sua revista, Religião & Sociedade, duas das principais arenas de pesquisa e de
divulgação científica do tema religião no Brasil, e nos quais identifica a convivência e, em alguns casos, a
mútua influência, de interesses religiosos e científicos. Se ciência e política são duas vocações, conforme
Weber, para Pierucci, ciência e religião também teriam “dois senhores” aos quais não é possível servir
concomitantemente.
16
22
Sobre o contexto francês, ver também Birman (2005), que reflete sobre o problema da seita na França,
não na chave jurídico-estatal, mas na articulação entre família, cultura e nação.
17
24
Ver também Freston (2004).
25
Para outras análises sobre religião no espaço público, ver coletânea organizada por Birman (2003).
19
reprodução da vida das quais a Igreja não abre mão de legislar. Tudo isso é pensado do
ponto de vista da Igreja como interdependente e não diz respeito apenas ao fiel católico,
mas à moralidade pública que serve para todos. A despeito de onde a ciência ancorar
discursivamente a fonte da vida (o sexo, a concepção, o código genético), lá estará a
Igreja Católica afirmando a sacralidade daquele momento e sua pretensão de legislar
sobre ele.28 A Igreja Católica, agindo como igreja, no sentido weberiano, pretende
colocar-se em patamares mais profundos da estruturação do espaço social, das relações
societais aos sistemas de ordenamento jurídico-político. Mas na conjuntura atual de
pluralidade religiosa, a Igreja Católica afirma uma diferença para marcar sua posição no
espaço público; e como efeito do pluralismo, o catolicismo ganha maior visibilidade e
nitidez, apesar da perda de adeptos (Antoniazzi, 2002; Mariz, 2006).
Em seminário organizado pela Comissão de Cidadania e Reprodução e pelo
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) a propósito das pesquisas sobre
células-tronco embrionárias, que reuniu juristas, cientistas, filósofos e movimentos
pelos direitos reprodutivos, um físico respeitadíssimo no campo acadêmico nacional fez
sua palestra sobre a impossibilidade de a ciência definir o momento exato do início da
vida. Um dos exemplos foi o caráter aleatório da fecundação de um óvulo por um
espermatozoide em meio a milhares de outras possibilidades. Ele pretendia demonstrar
o equívoco da Igreja em determinar o começo da vida, que a leva a militar contra o
aborto e as pesquisas genéticas. Durante o debate, veio do público um curto e demolidor
comentário: “A aleatoriedade, então, comprova o milagre da vida, daquela vida
especificamente, que deve ser preservada e não abortada”. Não se tratava de um
religioso falando, mas de uma antropóloga explicitando como o argumento científico
pode ser englobado pelo religioso, não como oposição, mas como algo que dá
plausibilidade a especulações transcendentes.
Os argumentos religiosos podem ser, portanto, perpassados por fundamentos da
ciência moderna. O ethos privado confessional assim como o não confessional têm
crença na ciência decorrente de uma visão naturalista que compõe o valor “vida”, que
deve sempre ser preservada (Duarte et al., 2006). Daí as avaliações morais serem
ancoradas em razões científico-naturalistas: a desobediência à lei natural da reprodução
e da sexualidade, por meio de manipulação genética, do aborto, da eutanásia e do
28
Por exemplo, Santo Tomás de Aquino escreveu que a pessoa não estaria constituída enquanto a alma
não fosse implantada, o que ocorria somente após quarenta dias para os homens e oitenta para as
mulheres (Boltanski apud Gomes et al., 2009, p. 50).
21
Religiões e alteridade
29
Seguindo a sugestão de Geertz (2006), em Religion, sujet d’avenir: “E isto nos incita [...] a estudar a
modernização interna às religiões; a avaliar não somente o avanço ou o recuo ‘da religião’ de modo geral,
mas a apreender os processos de transformação e de reformulação de cada religião em particular no
momento em que ela penetra, bem ou mal, nas perplexidades e nos desregramentos da vida moderna”.
23
(2006) sobre o Islã, por sua vez, delineia, ainda que preliminarmente, a sua acomodação
ao campo religioso brasileiro caracterizado pela flexibilidade das práticas e das crenças.
Como o Islã não possui uma institucionalidade centralizadora, sua capacidade de
ordenamento das práticas depende em muito de um enraizamento social profundo, o que
ainda não se constituiu no país. Assim, a orientação dos comportamentos e das
cosmologias são frágeis, o que resulta em combinações com outras práticas religiosas
apontando para a formação de um Islã de perfil brasileiro. Por fim, a presença do
judaísmo é um pouco mais consistente, mas também padece de investigações. Convém
destacar, no entanto, suas variações em função da interação com contextos cristãos.
Como bom exemplo de aquisição de cores locais, a etnografia de Fontanezzi (2010)
apresenta uma comunidade de origem judaica que acredita em Cristo e procura unir
judeus, cristãos novos e gentios30.
Por outro lado, se o país é receptor de sistemas religiosos, ele também vem se
destacando como emissor para outros contextos sociais e nacionais, sobretudo os de
perfil cristão, mesmo que parcial. Na literatura, os lugares mais investigados costumam
ser os já cristianizados, onde as religiões exportadas, por intermédio de missões ou
processos migratórios, acentuam o pluralismo local. Preferencialmente, os estudos são
em regiões urbanas de países da América Latina, de língua portuguesa na África e em
Portugal, e os segmentos investigados são variados: o evangélico (Freston, 1998; Mafra,
2002; Oro, Corten e Dozon, 2003; Séman, 2003), o candomblé e a umbanda (Segato,
1999; Oro, 1999; Saraiva, 2007), o espiritismo (Lewgoy, 2008), entre outros.31 Aqui
também é frequente nas análises a utilização de termos como transnacionalização,
expansão, acomodação, enraizamento, posto que o foco analítico está mais na
disseminação e transformação das religiões, e não propriamente no seu estatuto.
Essa segunda discussão, sobre a qual pretendo me deter neste item, torna-se mais
evidente, mas não exclusivamente, quando há o deslocamento das religiões para
30
Os judeus-messiânicos nasceram nos Estados Unidos como boa parte do segmento evangélico
brasileiro. Dentro do espectro cristão, os evangélicos são os mais próximos dos judeus-messiânicos, que,
não por acaso, atraem adventistas, batistas, metodistas etc. mais do que católicos. Para Fontanezzi, a
conjunção aditiva “e” caracteriza a interação dos judeus-messiânicos. As identidades não são obliteradas.
Isto é distinto do ensinamento do apóstolo Paulo aos gálatas, uma das principais referências bíblicas do
universalismo cristão. Escreveu Paulo para justificar a evangelização dos não judeus: “Nisto não há judeu
nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”
(3:28). Os demarcadores das diferenças étnicas, da condição social e de gênero são suprimidos com a
conjunção “nem” na pregação de Paulo, enquanto entre os judeus-messiânicos eles são compostos pela
conjunção “e”. Em termos práticos, trata-se de uma comunidade cujas identidades pré-judaísmo-
messiânico são tensionadas constantemente na interação social e na elaboração teológica.
31
Destacaria ainda o trabalho de Boyer (2008) sobre os evangélicos na Amazônia brasileira.
24
contextos onde a ordem cristã não é a referência principal, e nem mesmo a religião, se
fizermos uma preventiva desconstrução categorial. O debate aqui se dá em torno do
problema da cultura, que não é só uma questão acadêmica, mas também dos próprios
religiosos. Na discussão com Habermas, o teólogo Ratzinger afirmou que a
universalização do cristianismo não se deve dar tão somente pela fé católica, dada a
infinidade de crenças presentes neste mundo globalizado, mas a partir de um universal
humano apreensível na “interculturalidade”. Isso nos remete ao campo de estudos das
missões, aparelho eclesial especializado no problema da alteridade que tem se mostrado
frutífero para pensar a religião a partir das suas margens.
Nas áreas indígenas no Brasil destacam-se duas formulações nativas de missão:
a inculturação católica e a transculturação evangélica. Conforme Rufino (1996, p. 167;
2002), a inculturação entende que as culturas trazem em si e de forma plena as verdades
religiosas cristãs anteriores ao próprio catolicismo. Caberia “despertar” nas culturas
valores universais como o amor e a justiça, cuja maior expressão teria sido Jesus Cristo.
Shapiro (1987) define como evoluiu a perspectiva missionária católica no Brasil do
período colonial ao contexto pós-Vaticano II: primeiro, com os jesuítas, a Igreja
precisou demonizar os mitos e rituais indígenas; depois os catequizou recuperando a
ideia natural de Deus; por fim, se inculturou, abdicando do padrão clássico de
conversão. Simétrica e inversamente, e mais ao estilo conversor jesuíta, as missões
transculturais evangélicas “anunciam” o Evangelho, pela escrita ou pela oralidade,
visando agir sobre as dimensões espirituais (logo, universais) que perpassariam às
formas culturais específicas (Almeida, 2006b). A transculturação e a inculturação
procuram (ou melhor, constroem) dimensões religiosas nas culturas indígenas, o que
resulta em pensar o cristianismo como um valor autóctone.
Assim, da mesma forma como foram identificados fundamentos científicos em
valores religiosos nos movimentos “pró-vida”, como a luta contra o aborto e a eutanásia
referidos no item anterior, houve o deslizamento da noção romântica de cultura para as
próprias religiões, sobretudo aquelas com pretensões universais. Mas o inverso também
é verdadeiro: conceituações religiosas deslizaram para as Ciências Sociais da Religião.
Seguindo a metodologia da História das Religiões, Gasbarro nos demonstra como a
própria categoria analítica religião está comprometida com o cristianismo e seu caráter
universal. A gramática universalizante das missões cristãs referenciou em boa medida o
conceitual das Ciências Sociais da Religião (Gasbarro, 2006, p. 102). Tambiah (1990),
por sua vez, demonstra como na modernidade a religião passou a ser entendida como
25
32
A perspectiva religiosa ancora-se em dogmas, que, por princípio, exigem uma parcial renúncia do senso
crítico (daí ser distinta da perspectiva científica) e confere ao seu conteúdo o estatuto de verdade. Ou,
para evocar novamente Weber (1971, p. 403), referência fundamental de Geertz, os dogmas implicam
“sacrifício do intelecto”.
26
33
Ver ainda Vilaça (2008) sobre a incompatibilidade dos pensamentos Wari’ e cristão. A Epístola aos
Hebreus (11:1) sintetiza a ideologia religiosa cristã: “A fé é uma posse antecipada do que se espera, um
meio de demonstrar as realidades que não se veem” [grifo meu].
27
34
Ver teses de doutorado de Barros (1993) sobre a linguística missionária e Almeida (2002) sobre as
missões transculturais.
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