Você está na página 1de 4

Pra começo de conversa?

TEXTO 2 –RELIGIÃO1
Introdução: Unidade e pluralidade do fenômeno religioso

(1) Historicamente não existe a Religião, mas diferentes religiões, cada uma com suas características próprias.
Então, propor um conceito único de Religião, que seja abrangente suficiente não é tarefa fácil. Corremos o risco de
reconhecer como religião apenas a nossa crença, e cair no etnocentrismo. Ou ainda, considerar que tudo é válido,
e ser relativistas.

(2) Nossa proposta consiste na investigação filosófica 2 sobre o fenômeno religioso, que se apresenta
historicamente como uma dimensão da existência humana, ao lado da Arte, Ciência, Economia, Política, etc. Como
no caso análogo das outras dimensões fundamentais da existência, é possível falar em geral de Religião, como
uma atitude humana específica que se manifesta nas várias religiões históricas. Também o fenômeno artístico
apresenta uma diversificação talvez maior do que a do próprio fenômeno religioso, já que se distinguem não só
diferentes estilos de cada arte, em função de diferentes culturas, mas também diferentes espécies de arte, como a
música, a poesia (literatura), a escultura, pintura, arquitetura, e mesmo a culinária, o cinema, etc. Nem por isso,
deixa-se de propor um conceito ou definição de arte.

Noção de Religião

(3) Inicialmente, Religião pode ser definida como a relação do ser humano para com o sagrado (transcendente
ou divino, isto é, para com um poder superior), do qual ele depende juntamente com o seu mundo. Veja bem, não
é o discurso sobre a relação, o fato de alguém dizer que crê em algo ou não. Mas a religião é a própria relação.
Mas não apenas a relação: ela é a resposta humana. A atitude religiosa pressupõe que o sagrado de algum modo
se manifesta na experiência humana.

(4) A Religião vem a ser, então, propriamente, a resposta existencial e espontânea do ser humano à
manifestação do divino. Esta resposta se expressa primeiramente no plano pessoal, subjetivo: como experiência e
reconhecimento da própria dependência para com o sagrado. Toda religião começa com a experiência de alguém
que acolhe a manifestação do sagrado. Ela começa historicamente, mas também começa para cada um através da
experiência pessoal.

(5) Em segundo lugar, há o plano objetivo ou institucional. Essa experiência ganha voz dentro de uma
comunidade, e se transforma em mito 3, ou seja, se transforma numa história que toca a todos, que reúne a
crença, que expressa a fé da comunidade, e não apenas do sujeito. E vira rito, as formas que os grupos sociais
encontram de celebrar sua experiência, de festejar sua vida, de agradecer ao transcendente e prometer fidelidade
ao dom recebido.

(6) Então, a religião é a resposta existencial do ser humano ao divino apresentada no plano pessoal, e que
extravasa o sujeito, e alcança o plano objetivo: a Religião se apresenta como mito (formas de expressar a fé) e
como rito (cultos), que tendem a institucionalizar-se, de diversos modos, constituindo assim a variedade das
religiões ou tradições religiosas.
1
O texto foi adaptado pelo professor, com base no texto Filosofia da Religião, de João A. MacDowell, retirado da Apostila com o mesmo
nome, não publicada, que o autor utiliza em suas aulas. João A. MacDowell é jesuíta, doutor em filosofia e professor da FAJE (BH).
2
A investigação filosófica sobre o fenômeno religioso versa sobre todas as expressões religiosas da humanidade, procurando determinar a
essência do fenômeno religioso, em geral, e nos seus diversos aspectos, como rito, mito, sacrifício, oração, etc.
3
O termo “mito” na linguagem científica e filosófica não tem o significado pejorativo que lhe é atribuído em geral na linguagem ordinária.
1
(7) Buscamos até aqui uma definição substancial de Religião: a religião em sua essência. Por isso dissemos que
era investigação filosófica. O fenômeno religioso pode ser considerado também numa perspectiva funcional, ou
seja, segundo a função que exerce na vida individual e social. Contudo, as definições funcionais de Religião,
embora expressem aspectos válidos do fenômeno religioso, por si sós não atingem o seu elemento fundamental, a
relação do ser humano com o sagrado. Sem o elemento fundamental, elas se tornam incoerentes.

O “sagrado” como objeto específico da Religião

(8) O termo transcendente da relação religiosa é concebido de maneiras diversas nas várias religiões. Julgamos
que o referente real ou imaginário da experiência religiosa é sempre o mesmo: algo superior à realidade humano-
mundana, o mistério por excelência, que não pode ser adequadamente compreendido e representado. Dentre os
termos utilizados para designá-lo, damos preferência ao de “sagrado”.

(9) Entretanto, toda experiência humana é expressa numa ideia ou representação, e também a experiência
religiosa. Quando dizemos que o transcendente é Deus, já o estamos representando, nomeando, construindo uma
ideia. Não se trata de representar numa imagem, ou num filme. A simples nomeação já é uma representação.

(10) As interpretações da experiência do sagrado variam basicamente de acordo com a combinação de três
pares de alternativas: uno/múltiplo, imanente/transcendente, pessoal/impessoal. Daí surgem os seguintes tipos
principais de representação do divino: monoteísmo (como um ser pessoal, infinitamente perfeito, distinto do
mundo por ele criado e sustentado no ser), politeísmo (como constituído por um conjunto de entidades sagradas),
panteísmo (como identificado, de certo modo, com a realidade humano-mundana no seu todo).

(11) É verdade que o ser humano pode relacionar-se com o absoluto de maneira que não são expressamente
religiosas e que não o abordam sob a categoria de sagrado, por exemplo pelo conhecimento puramente teórico
ou por uma atitude simplesmente ética ou estética. Por isso, foi necessário especificar que a Religião comporta
uma relação recíproca, mas assimétrica, entre o ser humano e Deus, como resposta (pela fé e culto) à
manifestação e intervenção da divindade na realidade humano-mundana.

Parágrafo 1
a) Explique a frase: “Historicamente não existe a Religião, mas diferentes religiões, cada uma com suas
características próprias”.

2
b) Etnocentrismo e Relativismo são termos da sociologia. O que eles acrescentam para o estudo das
religiões?
Parágrafo 2
a) O que significa investigação filosófica? Em que isso ajuda a Teologia?
b) Qual é o paralelo traçado no texto entre religião e arte?
c) Enumere outras dimensões da experiência humana, não citadas pelo texto?
Parágrafo 3
a) Explique, com suas palavras, a definição que o texto traz no 3º parágrafo.
b) Qual é o pressuposto da definição de religião que o texto traz?
c) Cite três formas de o Sagrado se manifestar na vida humana.
d) Como se dá a acolhida da manifestação do Sagrado?
Parágrafo 4
a) O que é resposta existencial e espontânea?
b) Cite duas respostas existenciais e espontâneas que você tenha estudado em História.
c) Crie uma experiência pessoal q exemplifique a frase: “Toda religião (...) começa historicamente, mas
também começa para cada um através da experiência pessoal”.
d) Como se dá a experiência de dependência do sagrado?
Parágrafo 5 e 6
a) Recorde seus estudos do 8º ano: o que é mito?
b) Pesquise e relate um mito da religião judaica.
c) Cite dois Ritos Religiosos.
d) Como se dá a passagem do plano pessoal para o plano objetivo da formação da Religião.
e) Cite um exemplo para a questão acima.
Parágrafo 07
a) Diferencie Definição Substancial e Definição Funcional.
b) O que é essência?
c) Qual é a essência da Religião?
d) Cite uma função que a Religião exerce na vida individual e/ou social.
e) Explique por que, para o autor, as definições funcionais de Religião não atingem o elemento religioso
fundamental.
Parágrafo 08
a) Por que o texto utiliza a expressão “Referente real ou imaginário”?
b) Por que o sagrado “não pode ser adequadamente compreendido e representado” ?
c) Se é assim, por que as religiões o representam?

Parágrafo 09
a) Por que toda experiência humana é expressa numa ideia ou representação?
b) Apresente 3 representações da divindade em religiões diferentes.
Parágrafo 10
3
a) Cite e explique (com suas palavras) os principais tipos de representação do sagrado.
b) Exemplifique cada tipo.
Parágrafo11
a) Mostre relação com o absoluto que se dê pelo conhecimento puramente teórico.
b) Transcreva a última definição de religião que o texto traz.

Você também pode gostar