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Psicologia 

Psicanálise
Por  Ana Lucia Santana
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A Psicanálise foi criada pelo neurologista austríaco Sigmund
Freud, com o objetivo de tratar desequilíbrios psíquicos. Este
corpo teórico foi responsável pela descoberta do inconsciente
– antes já desbravado, porém em outro sentido, por Leibniz e
Hegel -, e a partir de então passou a abordar este território
desconhecido, na tentativa de mapeá-lo e de compreender
seus mecanismos, originalmente conferindo-lhe uma
realidade no plano psíquico. Esta disciplina visa também
analisar o comportamento humano, decifrar a organização da
mente e curar doenças carentes de causas orgânicas.

Sigmund Freud. Foto: Max Halberstadt (1882-1940) [Public domain], via Wikimedia Commons

Freud foi inspirado pelo trabalho do fisiologista Josef Breuer,


por seus trabalhos iniciais com a hipnose, que marcaram
profundamente os métodos do psicanalista, embora mais
tarde ele abandone essa terapêutica e a substitua pela livre
associação. Ele também incorporou à sua teoria
conhecimentos absorvidos de alguns filósofos, principalmente
de Platão e Schopenhauer. Freud interessou-se desde o início
por distúrbios emocionais que na época eram conhecidos
como ‘histeria’, e empenhou-se para, através da Psicanálise,
encontrar a cura para estes desajustes mentais. Desde então
ele passou a utilizar a arte da cura pela fala, descobrindo
assim o reino onde os desejos e as fantasias sexuais se
perdem na mente humana, reprimidos, esquecidos, até
emergirem na consciência sob a forma de sintomas
indesejáveis, por uma razão qualquer – o Inconsciente.
Freud organiza em seu corpo teórico dados já conhecidos na
época, como a idéia de que a mente era dividida em três
partes, as funções que lhe cabiam, as personalidades que
nasciam de cada categoria e a catarse. Essa espécie de
sincretismo científico deu origem a inúmeras concepções
novas, como a sublimação, a perversão, o narcisismo, a
transferência, entre outras, algumas delas bem populares em
nossos dias, pois estes conceitos propiciaram o surgimento da
Psicologia Clínica e da Psiquiatria modernas. Para a
Psicanálise, o sexo está no centro do comportamento
humano. Ele motiva sua realização pessoal e, por outro lado,
seus distúrbios emocionais mais profundos; reina absoluto
no inconsciente. Freud, em plena era vitoriana, tornou-se
polêmico, e sua teoria não foi aceita facilmente. Com o
tempo, porém, seu pensamento tornou possível a entrada do
tema sexual em ambientes antes inacessíveis a esta ordem
de debates.

A teoria psicanalítica está sintetizada essencialmente em três


publicações: Interpretação dos Sonhos, de
1900; Psicopatologia da Vida Cotidiana”, que contém os
primeiros princípios da Psicanálise; e “Três Ensaios sobre a
Teoria da Sexualidade”, na qual estão os esboços básicos
desta doutrina. No atendimento clínico, o paciente, em
repouso, é estimulado a verbalizar tudo que brota em sua
mente – sonhos, desejos, fantasias, expectativas, bem como
as lembranças da infância. Cabe ao psicanalista ouvir e
interferir apenas quando julgar necessário, assim que
perceber uma ocasião de ajudar o analisando a trazer para a
consciência seus desejos reprimidos, deduzidos a partir da
livre associação. No geral, o analista deve se manter
imparcial.

Para Freud toda perturbação de ordem emocional tem sua


fonte em vivências sexuais marcantes, que por se revelarem
perturbadoras, são reprimidas no Inconsciente. Esta energia
contida, a libido, se expressa a partir dos sintomas, na
tentativa de se defender e de se preservar, este é o caminho
que ela encontra para se comunicar com o exterior. Através
da livre associação e da interpretação dos sonhos do
paciente, o psicanalista revela a existência deste instinto
sexual. Essa transferência de conteúdo para o consciente, que
provoca uma intensa desopressão emocional, traz a cura do
analisando. A mente, dividida em Id, Ego e Superego, revela-
se uma caixinha de surpresas nas mãos de Freud. No Id,
governado pelo ‘princípio do prazer’, estão os desejos
materiais e carnais, os impulsos reprodutores, de preservação
da vida.

No Ego, ou Eu, regido pelo ‘princípio da realidade’, está a


consciência, pequeno ponto na vastidão do inconsciente, que
busca mediar e equilibrar as relações entre o Id e o
Superego; ele precisa saciar o Id sem violar as leis do
Superego. Assim, o Ego tem que se equilibrar
constantemente em uma corda bamba, tentando não se
deixar dominar nem pelos desejos insaciáveis do Id, nem
pelas exigências extremas do Superego, lutando igualmente
para não se deixar aniquilar pelas conveniências do mundo
exterior. Por esse motivo, segundo Freud, o homem vive
dividido entre estes dois princípios, o do Prazer e o da
Realidade, em plena angústia existencial. O Superego é a
sentinela da mente, sempre vigilante e atenta a qualquer
desvio moral. Ele também age inconscientemente,
censurando impulsos aqui, desejos ali, especialmente o que
for de natureza sexual. O Superego se expressa
indiretamente, através da moral e da educação.

Segundo a Psicanálise, o Inconsciente não é o subconsciente


– nível mais passivo da consciência, seu estágio não-
reflexivo, mas que a qualquer momento pode se tornar
consciente – e só se revela através dos elementos que o
estruturam, tais como atos falhos – eles se expressam nas
pessoas sãs, refletindo o conflito entre consciente,
subconsciente e inconsciente; são as famosas ‘traições da
memória’ -, sonhos, chistes e sintomas. Freud também
elaborou as fases do desenvolvimento sexual, cada uma delas
correspondente ao órgão que é estimulado pelo prazer e o
objeto que provoca esta excitação.

Na fase oral, o desejo está situado na boca, na deglutição dos


alimentos e no seio da mãe, durante a amamentação. Na fase
anal, o prazer vem da excreção das fezes, das brincadeiras
envolvendo massas, tintas, barro, tudo que provoque sujeira.
Na fase genital ou fálica, o desejo e o prazer se direcionam
para os órgãos genitais, bem como para pontos do corpo que
excitam esta parte do organismo. Nesse momento, os
meninos elegem a mãe como objeto de seu desejo –
constituindo o Complexo de Édipo, relação incestuosa que
gera também uma rivalidade com o pai -, enquanto para as
garotas o pai se torna o alvo do desejo – Complexo de Eletra.

Outros pontos importantes da Psicanálise são os conceitos de


perversão – ocorre quando o Ego sucumbe às pressões do Id,
escapa do controle do Superego e não consegue se sublimar,
e pode assim atingir uma dimensão social ou coletiva, como,
por exemplo, o Nazismo -, e de Narcisismo – o indivíduo se
apaixona por sua própria imagem, cultivando durante muito
tempo uma auto-estima exagerada.

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