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CURSO LIVRE DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLÍNICA

INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE
AS SETE ESCOLAS DE PSICANÁLISE (Estudos das Principais
Correntes Psicanalíticas Modernas Freudiana e Lacanaiana)

Dr. Edivaldo Pontes


Psicanalista
Diretor Pedagógico

ALUNO (A):_______________________________________________

CIDADE:__________________________________________________

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EPÍGRAFE

“A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é


válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz.”
(Sigmund Freud)

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SUMÁRIO

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CAPÍTULO I- SIGMUND FREUD. 06
1.1Dados biográficos 06
1.2 Psicanálise freudiana 08

CAPÍTULO II- OS CASOS CLÍNICOS 10


2.1 Ana O 10
2.2 Caso Dora 10
2.3 Pequeno Hans 10
2.4 O homem dos ratos 10
2.5 O caso Schreber dos lobos 12

CAPÍTULO III- TEORIA E METAPSICOLOGIA 14


3.1 Trabalhos de técnica 17
3.2 Aplicações da Psicanálise 19

CAPÍTULO IV- EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSICANÁLISE 20


4.1Pré-história 20
4.2 Períodos prôdomos 22
CAPÍTULO V-PSICANÁLISE COMO CIÊNCIA 25

5.1 Teoria do trauma 25


5.2 Teoria topográfica 26
5.3 Teoria estrutural 27
5.4 Conceito sobre o narcisismo 28
5.5 Dissociação do ego 28
CAPÍTULO VI- AS SETE ESCOLAS DE PSICANÁLISE E PRECURSORES 30
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6.1 Esclarecimento sobre a escola freudiana 31
6.2 Apresentação geral das escolas 32
4
6.3 Escola freudiana 33
6.4 Os expoentes da escola freudiana 34
6.5 Abraham 35
6.6 Ferenczi 36
6.7 Reich 36
6.8 Anna Freud 36
6.9 Escola dos teóricos das relações objetais 37
6.10 Melanie Klein 37
6.11 Escola da Psicologia do Ego 41
6.12 Escola da Psicologia do Self 42
6.13 Contribuições teórico metodológicas de Kohut 44
6.14 Donald Winnicott 47
6.15 Escola Francesa de Psicanálise-Jacques Lacan 50
6.16 Bion – vida, obra e contribuições 52

CAPÍTULO VII-A PSICANÁLISE NA ATUALIDADE 55


CONSIDERAÇÕES FINAIS 59
REFERÊNCIAS 60

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APRESENTAÇÃO

Os escritos a seguir abordam, de forma introdutória aos nossos estudos, uma 5


noção da Psicanálise com ênfase nas sete escolas principais. Tudo isso, permeando
o conhecimento básico, e necessário, para o estudioso desta área ter a
oportunidade de adentrar ao contexto de cada pensamento, no que concerne tanto à
teoria, assim como a união desta aos contextos metodológicos de aplicabilidade da
Psicanálise, sua historicidade e seus precursores.

Além disso, é importante que os aspirantes ao mundo da Psicanálise tornem-


se estudiosos da área entendendo estas noções de forma clara, objetiva, precisa e
estruturada. Indubitavelmente, tudo isso propiciará a compreensão de todo o
contexto: tanto na teoria como na clínica, unindo-as de forma clara.

Dessa forma, começaremos o nosso estudo com, obviamente, o pai da


Psicanálise: Freud e com uma compacta, mas importantíssima biografia, para um
entendimento maior e melhor de sua vida e de tudo que foi deixado por ele.
Abrangendo, neste contexto, a dicotomia teoria x prática no que condiz das suas
abordagens (desde a dos traumas, topográfica, estrutural e sobre o narcisismo).

Dando continuidade a este importante material, veremos as sete escolas e os


seus teóricos que vão desde Abraham, Ferenczi, Reich, Anna Freud, Klein,
Winnicott, Lacan e Bion, dentre outros, e suas visões e contribuições bem
particulares sobre a Psicanálise.

Por conseguinte, numa retomada final da Psicanálise na contemporaneidade,


vê-se um arcabouço de ideias e de perspectivas futuras no tocante às necessidades
do mundo moderno e seus imperativos na eterna busca pela paz interior e pela
felicidade. Em suma, este compêndio de teorias e visões trará o conhecimento de
uma das áreas mais fascinantes e intrigantes, esta para quem não a conhece. Mas o
que não se pode negar é que você não será mais o mesmo e nem verá o mundo da
mesma forma, depois que imergir nos contextos da Psicanálise.

Ótimo estudo.

Rejane Mello.
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CAPÍTULO I

SIGMUND FREUD 6

Neste início de abordagens, é necessário que tenhamos uma ideia macro


sobre quem é Freud, sua vida e feitos importantes para compreendermos melhor
toda a sua derrocada em prol da Psicanálise que conhecemos hoje e que auxilia a
tantos a conhecer-se e lidar com suas emoções. Não é à toa que ele é considerado
o Pai da Psicanálise.

1.1 Dados Biográficos

Nasceu em 1856, em Freiberg, Morávia (Tchecoeslováquia), sendo que aos


seus 4 anos, pressionado por uma ruína econômica, mudou-se com a família para
Viena, onde Freud viveu virtualmente toda a sua vida.

O seu pai, Jacob, um negociante de lã, contava então 41 anos e já tinha dois
filhos de um primeiro casamento quando se casou com Amália, então com 21 anos,
tendo nascido o seu primeiro filho de nome Sigmund (só mais tarde é que ele mudou
o seu nome para Sigmund). Em Viena, ao completar os seus estudos secundários,
Sigmund já sabia latim, grego, judeu, alemão, francês, inglês e tinha noções de
italiano e espanhol.

Freud renunciou aos estudos jurídicos, porquanto decidira estudar medicina e,


a partir da sua condição de médico criou a psicanálise. Só abandonou Viena porque,
perseguido pelo nazismo, ele migrou para Londres onde viveu os seus últimos anos,
vindo a falecer em 1939, em razão do agravamento de um câncer de maxilar que o
vinha atormentando há longos anos.

1.2 Judaísmo

Seu pai, Jacob, sem ser um religioso praticante, era um profundo estudioso
do Talmud (livro da sabedoria judaica) e, por ocasião do ritual de circuncisão (ritual
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judaico que sucede ao nascimento) do bebê Sigmund, registrou esse fato na bíblia
da família, a mesma que ele presenteou a Freud quando este completou 35 anos de
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idade, com uma dedicatória que preconizava a condição de futuro gênio do filho.

Freud foi o primeiro filho. (eram sete) de Jacob com Amália, sendo que o
nome “Sigmund” equivale a “Salomão”, e foi-lhe dado em homenagem ao seu avô
que falecera dois meses antes do seu nascimento e ao bisavô que também tinha
esse nome, sendo que esses dois últimos foram rabinos.

Conquanto, o próprio Freud, em muitos depoimentos prestados publicamente,


admitiu que a sua condição de ser judeu forjasse o seu caráter de uma coragem
própria de uma minoria perseguida e que isso contribuiu bastante para caber
justamente a ele a sublime função de ser o verdadeiro criador da psicanálise.

Da mesma forma, ele reconheceu a sua gratidão à Bnei-Brith (secular


instituição judaica voltada para a defesa dos direitos humanos) que o recebeu no
período do “esplêndido isolamento”, durante o qual Freud sentia-se sozinho,
desamparado, cercado da descrença geral em torno dos seus estudos acerca da
sexualidade infantil.

Durante mais de 30 anos, Freud participou ativamente desse grupo judaico,


porém ele nunca escondeu que a sua identidade de judeu passava por três planos:

1º) o religioso, que ele não aceitava, da mesma forma que não aceitava como
sendo saudável qualquer outra forma de fé religiosa;

2º) uma clara ambiguidade quanto à sua condição de um sionista voltado para
a causa da criação do estado nacional judeu (o atual Estado de Israel);

3º) uma consistente aceitação de que ele possuía um espírito judeu. Ainda
vale consignar na vida de Freud que ele casou-se com Marta (também uma judia,
com alguns familiares sendo importantes autoridades religiosas) e com ela teve seis
filhos, sendo que a caçula, Ana, foi a única que se tornou psicanalista, a sua mais
importante seguidora e sucessora.

1.3 Médico
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Freud concluiu com brilhantismo o seu curso médico, com 25 anos, na
Universidade de Viena, tendo feito um longo aprendizado em neurologia, dedicando-
8
se a pesquisas (passava horas dissecando nervos de peixes raros, fez importantes
investigações sobre a cocaína, etc., etc.), e publicou inúmeros trabalhos dessa área
que obtiveram um expressivo reconhecimento científico.

Embora tenha enfrentado uma forte corrente antissemita, que então estava
vigente na Universidade de Viena, Freud logrou a distinção de ser nomeado
professor de Neuropatologia, e o fato de ter obtido o “Prêmio Goethe de Literatura”
possibilitou viajar a Paris para conhecer o trabalho do mestre Charcot, que lá
pontificava com a aplicação de técnicas hipnóticas.

Posteriormente, Freud voltou à França, dessa vez para Nancy, também para
aprofundar-se nos mistérios do hipnotismo, através das demonstrações de
Bernheim. De volta a Viena, além dos recursos médicos habituais da época para o
tratamento dos distúrbios “neuropsicológicos”, como era o emprego de banhos
mornos, massagens, clinoterapia (repouso no leito), pequenos estímulos elétricos e
barbitúricos, Freud passou a empregar a técnica da hipnose na sua clínica privada.

Muito cedo ele se deu conta de que era um mau hipnotizador, e substituiu
esse recurso por técnicas que promovessem uma “livre associação de ideias” que
possibilitassem um acesso às repressões inconscientes das suas pacientes
histéricas. O desdobramento evolutivo desses fatos, que o levaram à construção do
majestoso edifício da psicanálise.

1.4 Psicanálise Freudiana

Sem contar as 284 cartas que compuseram a estreita correspondência que


durante 15 anos (de 1887 a 1902) manteve com o seu amigo e médico berlinense
W. Fliess, e nas quais aparecem verdadeiras preciosidades de ideias psicanalíticas
em gestação, Freud publicou mais de 300 títulos, entre livros e artigos.

Como esquema didático, creio que cabe fazer um quadro com as principais
áreas da psicanálise que foram estudadas por Freud, que são as seguintes: 1)

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Historiais clínicos. 2) Metapsicologia. 3) Teoria. 4) Técnica. 5) Aplicações da
psicanálise.
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Dessa forma, as buscas de Freud por respostas, levaram-no a traçar estudos
mais aprofundados e concretos que ajudaram amplamente nas questões ligadas ao
tema Psicanálise e a compreensão de tantos pontos através, não só de teorias, mas
numa prática em estudos de casos clínicos, como veremos no próximo capítulo.

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CAPÍTULO II

OS CASOS CLÍNICOS 10

Em Estudos sobre a Histeria (1893-95), escrito juntamente com Breuer, Freud


relata uma série de atendimentos de curto prazo com pacientes portadoras de
sintomas histéricos conversivos, como foram Emmy Von N., Lucy R., Katherina, e
outras mais, cabendo destacar Elisabeth Von R. pelo fato de que essa paciente –
uma rapariga de 24 anos que sofria de violentas dores nas pernas e sentia uma
grande dificuldade em andar – não se deixou hipnotizar.
Como ela, também se recusava ceder às pressões exercidas por Freud para
que ela associasse “livremente”, obrigou-o a investigar e descobrir o fenômeno das
“resistências inconscientes”, ao mesmo tempo em que lhe serviu como um estímulo
para deslindar o verdadeiro código dos conflitos que, como uma memória viva,
transparecia através da linguagem conversiva do corpo.

2.1 Ana O

Nesse mesmo livro, aparece a malograda experiência hipnótico-analítica que


Breuer teve com a sua paciente Ana O. , em 1882, e que abriu o caminho para o
método da terapia catártica; aliás, a própria Ana O., chamava esse método de “uma
cura pela conversa”, ou “limpeza de chaminé”. Pode-se dizer que esses estudos
sobre casos histéricos – especialmente a partir de Elisabeth Von R. que sepultou
para Freud a técnica hipnótica – inauguram a psicanálise científica.

2.2 O Caso Dora

No famoso “caso Dora” (cujo título original é Fragmentos da análise de um


caso de histeria), escrito em 1901, porém somente publicado em 1905, Freud
enfatizava a arte da interpretação para vencer as resistências dos conflitos
reprimidos.

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Posto que, Freud reconheceu que essa paciente, uma adolescente de 18
anos, portadora de acessos de tosse nervosa e períodos de afonia, interrompeu a
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análise após três meses porque ele não fora capaz de analisar os múltiplos aspectos
transferenciais que estavam subjacentes nos relatos de Dora, e que aludiam aos
triângulos edípicos com os pais dela e com o casal “K”.

2.3- O Pequeno Hans

Em 1909, Freud publica a análise do “pequeno Hans” (o nome original desse


trabalho é Análise de uma fobia em um menino de 5 anos) que, embora tenha sido
uma experiência psicanalítica levada a efeito pelo pai da criança, supervisionado por
Freud, constitui-se como o primeiro exemplo de observação psicanalítica direta de
uma criança e o primeiro exemplo de uma psicanálise com crianças.
Trata-se de um menino que apresentava uma fobia, especialmente por
cavalos, e, a partir da análise desse sintoma, Freud comprova a sua teoria da
“angústia de castração” em ligação direta com o “complexo de Édipo”.
Igualmente, Freud comprovou a existência de “teorias” existentes na mente
das crianças com as quais elas tentam decifrar o mistério do nascimento, assim
como ele conseguiu evidenciar como na criança as fontes de excitação são múltiplas
e variadas, o que o levou a afirmar que “a criança é um perverso polimorfo”.

2.4 O Homem dos Ratos

Nesse mesmo ano de 1909, e também com o propósito de comprovar a sua


teoria da sexualidade infantil, Freud publica o fascinante historial clínico do Homem
dos ratos (com o título Notas sobre um caso de neurose obsessiva), por meio da
análise de um advogado de 29 anos que apresentava graves sintomas obsessivos
desde a infância.
Paul Lorenz, esse era o nome do paciente, procurou análise com Freud
porque vinha sendo atormentado pela ideia obsessiva de que “ratos poderiam ser
introduzidos pelo ânus”, além de uma constante angústia de que ele poderia
provocar tragédias às suas pessoas queridas.

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Freud faz um magistral estudo de como o paciente defendia-se dessas ideias
aterradoras por meio de rituais de fazer e desfazer coisas, assim como também fazia
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um uso patológico do pensamento e da ação, porquanto eles ficavam esterilizados
pela utilização de gestos e palavras de conteúdo mágico.

2.5- O Caso Schreber

Em 1911, surgiu a publicação do célebre Caso Schreber (título original: Notas


psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia). Freud nunca
viu Schreber, que na realidade era presidente do Supremo Tribunal de Dresda;
sendo que escreveu esse trabalho a partir de uma autobiografia redigida pelo próprio
Schreber durante o seu internamento em um hospital psiquiátrico.
O Pai da Psicanálise fez a compreensão do discurso delirante das ideias
megalomaníacas e paranoides, encobridoras do conflito homossexual latente de
Schreber, da mesma forma como fazia com a interpretação do simbolismo dos
sonhos.
É neste artigo que Freud estabelece as diversas transformações psíquicas
que são possíveis a partir do inaceitável homossexualismo de Schreber, contido no
“eu amo você”... (com as, negatórias, transformações em “eu não o amo, pelo
contrário, o odeio”, ou “é ela que o ama”, etc.).

2.6- O Homem dos Lobos

Em 1918, Freud publicou o famoso caso conhecido por O homem dos lobos
(o título real é: Da história de uma neurose infantil), embora ele tenha tratado esse
paciente, de nome Sergei, no período de 1910 a 1914. Tratava-se de jovem de 18
anos, com graves sintomas fóbicos, obsessivos e paranoides, com
psicossomatizações (creio que hoje ele seria diagnosticado como sendo um
borderline), cuja análise sofreu várias incidências que valem ser bem conhecidas
pelo leitor.
Através de uma minuciosa e prolongadíssima análise de um sonho no qual
apareciam sete lobos empoleirados em uma janela, Freud visa reconstruir a neurose

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adulta a partir de problemas surgidos na infância, com um destaque especial aos
conflitos oriundos da “cena primária”.
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Dessa forma, a riqueza e a beleza da descrição que Freud faz das análises
com os pacientes mencionados, especialmente com os últimos, penso que poucos
analistas contestam que, na atualidade, trabalharíamos não somente com fixações
psicossexuais e regressões, como Freud procedeu, mas também com os defeitos
estruturais.

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CAPÍTULO III
TEORIA E METAPSICOLOGIA
14

Embora estes dois termos habitualmente sejam empregados de uma forma


quase sinônima, é útil estabelecer uma distinção entre eles.
Assim, “teoria” alude a um conjunto de ideias que objetivam explicar
determinados fenômenos clínicos que podem ou não ser comprovados pela
experiência clínica.
Já a “metapsicologia” (o prefixo grego “meta” quer dizer “algo muito elevado”)
tem uma natureza mais transcendental, serve como ponto de partida para conjeturas
imaginativas, as quais dificilmente poderão ser comprovadas na realidade (por
exemplo: o instinto de morte, ou a primitiva vida psíquica do bebê recém-nascido,
etc., etc.).
Na verdade, Freud formulou explicitamente apenas três pontos de vista
característicos da metapsicologia (que, carinhosamente, ele chamava de “a bruxa”)
que são o topográfico (consciente, pré-consciente e inconsciente), o dinâmico (id,
ego e superego) e o econômico (quantidade de catéxis libidinal).
Decerto, os trabalhos metapsicológicos de Freud não são sistemáticos, nem
completos, tampouco de aparecimento sequencial, por vezes contrapõem-se e
aparecem espalhados ao longo de sua obra, com sucessivas transformações.
Vamos dar uma pálida ideia delas.
Em 1895, Freud redigiu o seu importantíssimo e vigente trabalho Projeto de
uma Psicologia Científica para Neurólogos, o qual somente veio a ser descoberto
muitos anos mais tarde entre escritos abandonados de Freud e publicado em 1950.
É interessante assinalar que, no mesmo ano de 1895, o cientista Waelder
descobriu o neurônio, o que se ajustava exatamente ao que Freud estava cogitando
sobre as catexias ativadas por estímulos endógenos que são conduzidas por células
diferenciadas dos neurônios, como seriam as “perceptivo sensoriais”, as “perceptivas
do consciente” e as encarregadas do “registro da memória”.
Este trabalho de Freud representa a tentativa mais radical de entendimento
dos fatos psicológicos em termos de neurologia (circuitos neuronais) e de física

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(quantidades energéticas que se regem pelas leis do movimento; neurônios
carregados ou descarregados de energia, barreiras que se opõem ou não à
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circulação energética, etc.).
Em 1900, no sétimo capítulo de A interpretação dos sonhos, Freud concebeu
um esboço bastante desenvolvido do psiquismo – a Hipótese Topográfica –
constante de três sistemas: o Consciente, o Pré-Consciente e o Inconsciente. Nesse
mesmo capítulo, entre outros tantos aspectos importantes, ele postulou a existência
de um “processo primário”, uma primitiva forma de funcionamento da mente.
No ano de 1905, apareceu o clássico Três ensaios sobre a teoria da
sexualidade, no qual Freud estuda a normalidade e a patologia que acompanham a
sexualidade na infância, como é o caso das distintas “aberrações sexuais”.
Nesse mesmo artigo, Freud também alude aos inatos componentes pulsionais
sexuais, às zonas erógenas, ao autoerotismo, à organização oral e à anal-sádica,
aos instintos de escopofilia, exibicionismo e crueldade, ao impulso de conhecimento
e à pesquisa da criança ao processo de sublimação, entre outras concepções mais.
Outrossim, é interessante registrar que esse trabalho e o da Interpretação dos
sonhos foram os únicos, dentre a imensidão dos trabalhos de Freud, que mereceram
constantes acréscimos conceituais, nas sucessivas reedições de seus livros.
Em 1911, surge a publicação de Formulações sobre os dois princípios do
funcionamento mental. Ali, Freud postula a existência dos princípios do “prazer” e o
da “realidade”.
A partir das inter-relações entre ambos, especialmente quanto à descarga das
excitações libidinais, ele lança as primeiras formulações psicanalíticas sobre a
gênese e a função dos pensamentos (foi baseado neste trabalho que Bion construiu
as suas fundamentais concepções sobre os pensamentos e a capacidade para
pensar).
Em torno do ano 1915, Freud gestou quatro dos seus mais importantes
trabalhos metapsicológicos:
1) Sobre o narcisismo: uma introdução (onde ele tece profundas concepções
a partir de “sua majestade, o bebê”.
2) As pulsões e suas vicissitudes.
3) Repressão (recalcamento).
4) O inconsciente.
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Nesse mesmo grupo de trabalhos de 1915, também aparece publicado o
importante clássico Luto e Melancolia, no qual Freud estabelece a descoberta e a
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descrição do mundo dos objetos internalizados pela introjeção, tal como isso está
contido na famosa frase: A sombra do objeto recai sobre o ego.
Com os referidos trabalhos, Freud vai progressivamente lançando novas
sementes e clareando os processos que viriam a constituir os alicerces básicos de
seu edifício teórico-metapsicológico da psicanálise, embora fique evidente a
predominância de conceitos mecanicistas e energéticos, típicos da psicologia
clássica.
No entanto, em 1920, Freud lança um trabalho revolucionário: trata-se de
Além do Princípio do Prazer no qual ele postula a existência da “pulsão de morte”,
com todas as repercussões imagináveis.
Em 1923, vem à luz outro notável trabalho – O Ego e o Id –, que trouxe
profundas repercussões na teoria e prática da psicanálise e promove uma
fundamental mudança epistemológica, ou seja, a teoria “Topográfica”.
Esta cede o lugar de importância para a nova concepção de uma Teoria
Estrutural da mente, com as forças dinâmicas oriundas das três instâncias psíquicas:
id, ego e superego.
O trabalho A negação, publicado em 1925, é de uma importância essencial
para a compreensão das múltiplas e proteicas formas de como o ego usa os
distintos mecanismos negatórios para evadir as angústias dos conflitos neuróticos.
O ano de 1926 também é marcante na história da psicanálise porque o
trabalho Inibições, sintomas e angústia representa uma significativa mudança na
concepção do essencial fenômeno da formação da angústia.
Inicialmente, Freud a concebera como sendo uma “angústia automática” que
surgia devido à pressão de um excesso de repressões. Neste trabalho ele a
descreve como uma “angústia-sinal”, que surge como preventiva dos perigos, e, é
ela quem promove as repressões, e não o contrário.
No mesmo trabalho, Freud faz a sua mais completa abordagem sobre o
fenômeno das “resistências”, descrevendo as distintas fontes e formas de
funcionamento delas.
Em 1927, aparece a publicação de um trabalho que veio a ser um
importantíssimo filão de inspiração para a psicanálise atual.
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Trata-se de Fetichismo, onde Freud, complementando um artigo de 1924 –
Neurose e Psicose –, evidencia uma dissociação do ego, através da defesa da
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“desmentida” (também referida como “renegação”, “denegação”, “recusa”... e que,
no original alemão, Freud cunhou de Werleungung), por meio da qual o fetichista
nega ser verdadeiro aquilo que o angustia e que, bem no fundo, ele sabe que é
verdade.
Em 1940, é publicado Clivagem do Ego no Processo de Defesa e este dá
continuidade às concepções esboçadas nos acima referidos trabalhos anteriores, e
que se constituem, na atualidade, subsídios indispensáveis para a compreensão do
psiquismo de qualquer ser humano.
Portanto, pouco a pouco, num contexto de união entre pesquisas e práticas
Freud foi traçando muito do que vemos hoje em forma de escritos e teorias que
embasaram suas ideias magníficas.

3.1-Trabalhos de Técnica
Freud nunca deixou de integrar a teoria com a técnica; pelo contrário, sempre
procurou respaldar uma na outra, de modo a que se fertilizassem reciprocamente.
Dessa forma, ele escreveu inúmeros artigos específicos sobre técnica
psicanalítica, além daqueles outros que aludiam indiretamente à técnica e à prática,
como são os historiais clínicos e, inclusive, em muitos trabalhos teóricos aparecem
comentários dele sobre aspectos técnicos.
Já em 1905, no trabalho sobre a psicoterapia, que resultou de uma
conferência pronunciada numa escola de medicina, Freud apontava alguns aspectos
técnicos da nova ciência que privilegiava a dinâmica do inconsciente.
É nesse artigo que aparece a famosa metáfora que ele toma de Leonardo da
Vinci, ao dizer que o tratamento dos transtornos emocionais, tal como a arte,
comporta duas concepções na aplicação prática.
Uma, é por via “di porre”, na qual o terapeuta, por meio de técnicas
sugestivas, como as hipnóticas, põe os seus conhecimentos dentro da mente do
paciente, da mesma forma como faz o pintor com as tintas sobre uma tela em
branco.
A segunda concepção consiste na “via di levare”, na qual, como na escultura
em que o artista remove um excesso de matéria de um bloco de mármore, e daí
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pode surgir uma figura humana que estava como que adormecida. Neste contexto,
também o psicanalista pode ser, sobretudo, o propiciador do surgimento de aspectos
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vivos que estão perdidos, ou ocultos nas profundezas do inconsciente dos
pacientes.
O período que vai dos anos de 1912 a 1915, coincidente com algumas
importantes dissidências no incipiente movimento psicanalítico, é justamente aquele
em que aparecem os principais textos de Freud relativos às recomendações básicas
para todos aqueles que pretendessem empregar o método psicanalítico.
Assim, é necessário destacar trabalhos como A Dinâmica da Transferência
(1912), no qual ele diferencia formas diferentes de transferência e explica algumas
relações entre a transferência e a resistência.
Também, nesse mesmo ano, aparece a obra Recomendações aos Médicos
que Exercem a Psicanálise (é aqui que Freud faz a célebre metáfora de que o
analista deveria comportar-se como “um espelho que...”, tal como aparece
explicitada no capítulo 26).
Em 1913-1914, sob o título geral de Novas Recomendações sobre a Técnica
da Psicanálise, Freud brinda-nos com dois textos importantes: um é “Sobre o Início
do Tratamento” (no qual ele traz a metáfora de que, tal como no jogo de xadrez, as
aberturas são conhecidas e previsíveis, enquanto o desenrolar e o término do jogo
analítico são imprevisíveis e cheios de surpresas).
Por conseguinte, o outro artigo é Recordar, Repetir e Elaborar, que adquiriu
importância por representar um primeiro esclarecimento profundo acerca do
fenômeno do acting-out como substituto da resistência a lembrar-se daquilo que foi
reprimido.
Em 1915, Freud publica Observações sobre o Amor Transferencial que
representa um sério alerta quanto aos riscos de envolvimento, mais especificamente
o de o analista ficar enredado nas malhas de uma contratransferência erotizada.
Freud volta a elaborar as suas ideias a respeito dos principais fenômenos que
cercam a técnica e a prática da psicanálise em conferências realmente
pronunciadas, como em Conferências Introdutórias (1916), ou em textos que
simulam conferências com um auditório imaginário, como em Novas Conferências
Introdutórias à Psicanálise (1933), além dos textos posteriores, como os magníficos
trabalhos de 1937: Análise Terminável e Interminável e Construções em Análise.
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Logo, os estudos tão bem elaborados pelo Pai da Psicanálise e suas ideias
singulares e extraordinárias revolucionaram o mundo do estudo da mente, bem
19
como influenciaram até hoje a visão de muitos. Além disso, a quebra de paradigmas
se apresentou desafiador e o tema PSI não seria mais o mesmo.

3.2- Aplicações da Psicanálise

Virtualmente, Freud cobriu todas as áreas do humanismo, procurando


explicações de causas inconscientes para o comportamento humano na religião,
arte, ciência, telepatia, rituais mágicos, clássicos literários, figuras históricas,
mitologia, demonologia, relatos bíblicos, linguística, antropologia e sobre a psicologia
e aspectos culturais dos grupos, massas e sociedades.

Dentre esses últimos, é útil mencionar os seguintes cinco artigos: As


Perspectivas Futuras da Terapia Psicanalítica (1910); Totem e Tabu (1913);
Psicologia das Massas e Análise do Ego (1921); O Futuro de uma Ilusão (1927);
Mal-estar na Civilização (1930).
Dentre os colaboradores imediatos de Freud aconteceram dissidências (as
mais importantes foram de Adler, em 1910, e, especialmente, a de Jung, que
abandonou o grupo psicanalítico freudiano em 1913).
Sendo que Otto Rank, junto com Ferenczi, e mais tarde W. Reich eram os
líderes em busca de novas técnicas diferentes, até certo ponto divergentes daquelas
recomendadas por Freud.
Diante do exposto, é importante ressaltar que, na impossibilidade de abarcar
todos os autores contemporâneos de Freud, vamos nos limitar a algumas
referências aos mais notáveis, como Abraham, Ferenczi, Reich e Anna Freud. E isto
será contemplado no decorrer destes escritos.

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CAPÍTULO IV
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSICANÁLISE
20

Todo texto psicanalítico, quer seja ele de natureza teórica ou técnica, para
adquirir um significado vivencial e uma ressonância empática com o autor e o
assunto, necessita ser lido dentro de um contexto histórico-evolutivo, social, cultural
e científico no qual está inserido.
Assim, utilizando um recurso unicamente de finalidade didática, penso que
podemos dividir a história da assistência aos transtornos mentais e emocionais em
três grandes períodos: pré-história, pródromos científicos e psicanálise como
ciência.

4.1 Pré-História

De forma esquemática, convém enumerar os seguintes aspectos que podem


dar uma ideia da evolução de como nossos ancestrais entendiam e enfrentavam as
doenças mentais:
• Existem registros arqueológicos no antigo Egito que comprovam a prática de
trepanações cranianas, possivelmente feitas com o objetivo de localizar alguma
causa da doença mental e que estaria localizada dentro do crânio. Porquanto os
vestígios encontrados atestam uma regularidade nas bordas e uma apurada perícia
na execução daquela prática.
• Na Bíblia Sagrada, transparece a existência e a preocupação com uma série de
quadros psicopatológicos que hoje denominaríamos de transtornos psiquiátricos,
como é o caso do caráter sádico-destrutivo de Caim, a inveja dos irmãos de José, o
alcoolismo de Noé, a psicose maníaco-depressiva de Saul, e assim por diante, numa
coleção digna de um bom tratado de psicopatologia.
• Existem evidências de que, na Idade Média, os doentes mentais eram degredados,
punidos com crueldade ou com a morte, recolhidos a prisões e masmorras em meio
a assassinos e outros marginais. Além de serem exibidos em circos juntamente com
gigantes, anões e outros aleijões, encarcerados em hospícios em cubículos infectos
e imundos, muitas vezes algemados, etc.
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• Predominava, nessa época, uma mentalidade voltada para a magia e a
demonologia, de sorte que, junto à prática de cruéis rituais de exorcismo, também
21
empregavam o uso de benzeduras, poções mágicas e as diversas formas de
curandeirismo.
• Os rituais de “cura” eram praticados por bruxos, xamãs, sacerdotes e faraós. Na
escala social da sociedade primitiva, os xamãs gozavam de alto prestígio e
ocupavam o topo da hierarquia social.
• Em meados do século XVIII, Anton Mesmer, em Viena, empregava o recurso
mágico do que ele chamava de “magnetismo animal”, de que todo indivíduo seria
possuidor em estado potencial, e ele praticava com grupos por meio de uma forte
sugestionabilidade calcada no seu impressionante carisma pessoal, método que
passou para a história com a denominação de mesmerismo, podendo ser
considerado o precursor (um século antes) do hipnotismo.
• Coube a Pinel (1745-1826) e a seu discípulo Esquirol (1772-1840), em Bicêtre,
promoverem uma inovadora reforma hospitalar que ficou sendo conhecida como
tratamento moral. Este, consistindo num conjunto de medidas que não as de
contenção física vigentes na época, mas, sim, daquelas que mantivessem o respeito
pela dignidade do enfermo mental e aumentassem a sua moral e autoestima.
Estamos aludindo aos dois mais importantes psiquiatras nascidos no período
da revolução francesa, culminada em 1789, sendo que eles comungaram e
partilharam dos ideais libertários deste movimento revolucionário; E, foi sob essa
inspiração que eles revolucionaram a filosofia da assistência hospitalar asilar,
quebrando grilhões e cadeados, saneando a imundície das celas e promovendo uma
humanização e reconstrução do sentimento de identidade, principalmente pelo
trabalho laborativo.
Neste ínterim, independente dos que concordavam ou não com as ideias
freudianas, consideradas muito ousadas na época, algo se desenhava no horizonte
do tratamento dado aos estudos sobre o sofrimento humano, suas causas e
tratamento.

4.2 Período dos pródromos da psicanálise

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Em 1856, nascia Sigmund Freud que, aos 17 anos, iniciou a sua formação
médica em Viena, onde se destacou como um aluno e estagiário brilhante. Sendo
22
que muito cedo ele demonstrou a centelha do gênio no campo da investigação que o
levou à descoberta da estrutura gonadal das enguias e, mais tarde, no campo da
fisiologia, com os seus estudos sobre o sistema nervoso de certos peixes.
Aliás, indo além de uma mera coincidência, podemos inferir que o seu
interesse pela estrutura “gonadal” e pelo “sistema nervoso” já prenunciava que a
descoberta da psicanálise palmilharia estes caminhos da sexualidade e do
psiquismo provindo do sistema nervoso, como ele julgava nos primeiros tempos.
Um pouco mais tarde, em 1891, publicou um livro sobre Aphasia e, em 1895,
divulgou os seus estudos sobre “paralisias cerebrais infantis”, sendo que ambos o
conceituaram como pesquisador e neurólogo.
A medicina desta época era quase que inteiramente assentada em bases
biológicas, muito pouco interessada na psicologia que então era entregue aos
filósofos, sendo que a nascente psiquiatria não passava de um ramo da neurologia.
Para o que contribuiu muitíssimo a descoberta de uma causa etiológica infecciosa (o
Treponema pallidum, causador da sífilis) para o quadro mental da “paralisia geral
progressiva”, assim constituindo dentro da medicina a especialidade de
neuropsiquiatria.
Os neuropsiquiatras de então prestavam um atendimento mais humanista que
os métodos anteriores, embora os recursos de que dispunham consistissem
unicamente no emprego de ervas medicinais, clinoterapia (repouso no leito),
hidroterapia, massagens, estímulos elétricos (não confundir com eletrochoque,
método que surgiu mais tarde, introduzido por Bini e Cerletti, e que ainda tem certa
utilização na psiquiatria atual).
Ademais, além do uso da eletroconvulsoterapia, também veio a ser
empregada à indução de um estado de coma pela ação do cardiazol ou da insulina,
assim como se iniciava o emprego de calmantes, como os barbitúricos.
Contemporaneamente, também já estava havendo a utilização da hipnose,
não só dirigida para espetáculos teatrais, como era comum na época, mas já com
uma busca por fundamentos científicos.
Para fins científicos, era o do eminente neurologista Charcot, que professava
na famosa Salpetrière, em Paris, e cujos ecos das espetaculares descobertas
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chegaram aos ouvidos de Freud, que conseguiu fundos de uma bolsa para estagiar
e acompanhar de perto o carismático mestre francês, no período de setembro de
23
1885 a fevereiro de 1886.
Sobretudo, dois aspectos impressionavam a Freud: a existência da histeria
em homens e a observação da dissociação da mente, induzida pela hipnose.
Entretanto, um pouco antes disso, em 1882, o notável neurologista J. Breuer
relatou a Freud o método de base hipnótica que ele empregava com a sua jovem
paciente histérica que entrou na história com o nome de Ana O. (cujo verdadeiro
nome era Berta Papenheim). Esta paciente, durante o estado de transe, recordava
uma série de ocorrências traumáticas ocorridas num passado remoto, obtendo com
isto um grande alívio sintomático, e Breuer denominou este novo método terápico de
catarse, ou ab-reação (também é conhecido com o nome de talking cure, porque
assim Ana O. se referia a ele).
Quando essa paciente produziu histericamente uma gravidez imaginária,
Breuer ficou muito assustado (ainda não era conhecido o fenômeno da
transferência) e providenciou uma viagem como meio de fugir dessa tão incômoda
situação que, inclusive, estava a ameaçar o seu casamento.
As sementes do interesse pelo hipnotismo foram despertadas pelo relato de
Breuer que ficaram plantadas no jovem Freud e o motivaram a aprender com
Charcot a ciência do hipnotismo. Experiência que ele repetiu em 1889 por uma
segunda vez, na França, agora em Nancy, onde pontificavam os mestres Liebault e
Bernheim, com os quais Freud aprendeu e ficou altamente impressionado com as
experiências da “psicose pós-hipnótica”.
Estas experiências lhe permitiram verificar que, mesmo em estado
consciente, as pessoas executavam ordens absurdas que provinham dos
mandamentos neles implantados durante o transe hipnótico.
Freud mostrava-se incrédulo e descontente com os métodos pretensamente
científicos empregados pelos neuropsiquiatras contemporâneos e resolveu
empregar o método do hipnotismo com as suas pacientes histéricas.
Assim, partindo do princípio de que a neurose provinha de traumas sexuais
que teriam realmente acontecido na infância por sedução de homens mais velhos,
mais precisamente os próprios pais.

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Todas estas constatações levaram Freud a convencer Breuer a publicarem
em conjunto as suas observações e descobertas, o que foi feito em 1893, sob o
24
título de Comunicação Preliminar e que foi absorvido como constituindo o primeiro
capítulo do famoso livro de ambos, Estudos sobre a Histeria, publicado em 1895.
Breuer, ainda traumatizado pelo susto que levou com Ana O., ao mesmo
tempo em que discordava da orientação de Freud, cada vez mais dirigida para a
sexualidade da criança, abandonou definitivamente a nova ciência; enquanto Freud
prosseguiu sozinho com vigor redobrado, enfrentando as críticas mordazes e
desdenhosas de todos os seus colegas.
Muito cedo, Freud deu-se conta de que era um mau hipnotizador e por isso
resolveu experimentar a possibilidade de que a “livre associação de ideias”,
conseguida pelo hipnotismo, também pudesse ser obtida com as pacientes
despertas.
Para tanto, passou a utilizar um método coercitivo, convidando as pacientes
a deitarem-se no divã ao mesmo tempo em que, com insistentes estímulos e
pressionando a fronte delas com os seus dedos, obrigava-as a associarem
“livremente”. Tudo Isso, como uma tentativa de recordarem o trauma que realmente
teria acontecido, mas que estaria esquecido, devido à repressão.
Graças à paciente Elisabeth Von R. que repreendeu Freud para que deixasse
de importuná-la porque, ela assegurava-lhe, sem pressão associaria mais livremente
e melhor. Neste ínterim, é que ele ficou convencido de que as barreiras contra o
recordar e associar provinham de forças mais profundas, inconscientes, e que
funcionavam como verdadeiras resistências involuntárias.
Isto se constituiu como uma marcante ruptura epistemológica, porquanto
Freud começou a cogitar que essas resistências correspondiam a repressões
daquilo que estava proibido de ser lembrado, não só dos traumas sexuais realmente
acontecidos, mas também daqueles que foram fruto de fantasias reprimidas.
A partir daí, o conflito psíquico passou a ser concebido como resultante do
embate entre as forças instintivas e as repressoras, sendo que os sintomas se
constituiriam como sendo a representação simbólica deste conflito inconsciente.
Diante disso, esta concepção inaugura a psicanálise como uma nova ciência,
com referenciais teórico-técnicos próprias, específicas e consistentes.

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CAPÍTULO V
PSICANÁLISE COMO CIÊNCIA
25

Como vemos, Freud representa a intersecção de dois períodos: ele esteve


com um pé nas concepções positivistas de sua época, não só da medicina, mas
também da física e química, de cujos princípios ele sofreu uma enorme influência na
elaboração de suas teorias psicanalíticas.
O outro pé ele apoiou num campo que até então era totalmente
desconhecido e desdenhado, criando e propondo a existência de uma dinâmica
inconsciente, com leis e fenômenos específicos, alguns explicáveis pelas suas
novas teorias, e outros a serem explicados e comprovados a partir de cogitações
metapsicológicas.
De uma forma extremamente resumida e esquemática, podemos dividir a
evolução histórica da psicanálise, centrada exclusivamente nas contribuições
originais de Freud, nos cinco seguintes estágios, a seguir descritos: “teoria do
trauma, teoria topográfica, teoria estrutural, conceituações sobre o narcisismo e
dissociação do ego”.

5.1Teoria do Trauma
Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de Freud
era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da eletrodinâmica
ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época.
Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a manifestação
psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de explicar
fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo resultantes
do fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através de sua saída
natural e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou contida em certos
pontos e manifestando-se através de sintomas vá- rios.
Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a neurose
obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua causa imediata
no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num represamento
quantitativo da libido sexual.

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Na neurastenia e na neurose de angústia, somente o represamento da libido
sexual é o que estaria em jogo, enquanto nas demais neuroses traumáticas outros
26
acontecimentos da vida passada também seriam fatores causadores dos transtornos
neuróticos.
Partindo inicialmente da concepção inicial de que o conflito psíquico era
resultante das repressões impostas pelos traumas de sedução sexual que realmente
teriam acontecido no passado, e que retornavam sob a forma de sintomas, Freud
postulou que os “neuróticos sofrem de reminiscências”, e que a cura consistiria em
“lembrar o que estava esquecido”.
Penso que, para certos casos, esta fórmula persiste na psicanálise atual
como plenamente válida, porquanto é bem sabido que “a melhor forma de esquecer
é lembrar” ou, dizendo de outra forma, “o sujeito não consegue esquecer daquilo
que ele não consegue lembrar”.
A diferença é que na época de Freud este relembrar visava unicamente a
uma ab-reação, uma catarse por meio da verbalização dos fatos traumáticos e os
respectivos sentimentos contidos nas lembranças, enquanto hoje os analistas vão,
além disso, e objetivam uma ressignificação dos significados atribuídos aos traumas
que o paciente está rememorando na situação psicanalítica.
Assim, a necessidade de desfazer as repressões introduziu dois elementos
essenciais à teoria e à técnica da psicanálise: a descoberta das resistências
inconscientes e o uso das interpretações por parte do psicanalista.

5.2 Teoria Topográfica


A teoria anterior perdurou até 1897, quando então Freud deu-se conta de que
a teoria do trauma era insuficiente para explicar tudo, e que os relatos das suas
pacientes histéricas não traduziam a verdade factual; mas sim que eles estavam
contaminados com as fantasias inconscientes que provinham de seus desejos
proibidos e ocultos. Daí, ele propôs a divisão da mente em três “lugares” (a palavra
“lugar”, em grego, é “topos”, daí teoria topográfica). A estes diferentes lugares ele
denominou: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente, sendo que o paradigma
técnico passou a ser: “tornar consciente o que estiver no inconsciente”.

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Em 1900, Freud publicou A interpretação de sonhos, no qual ele comprova
que o conteúdo do sonho “manifesto” pode ser visto como um modo disfarçado e
27
“censurado” da satisfação de proibidos desejos inconscientes.
A propósito, essa fase teórica de Freud pode ser resumida com a sua
afirmativa de que “todo sonho, e sintoma, tem um umbigo que conduz ao
desconhecido do inconsciente”, sendo que, pode-se acrescentar, é a descoberta do
significado simbólico dos sonhos e sintomas que inaugura a psicanálise como
ciência propriamente dita.
A partir do seu fracasso com a análise de “Dora” – escrito em 1901, mas que
somente foi publicado em 1905, por razões de sigilo profissional –, Freud obrigou-se
a fazer profundas reflexões, sendo que ele chegou a afirmar que, desde então, a
técnica psicanalítica foi profundamente transformada.
Pode-se dizer que as principais transformações que se processaram nessa época
foram:
a) a psicanálise deixou de ser uma detida investigação e busca de solução
de, separadamente, sintoma por sintoma;
b) a descoberta e a formulação do “princípio da multideterminação” dos
sintomas;
c) o próprio paciente é quem passou a tomar a iniciativa de propor o assunto
de sua sessão;
d) o analista substituiu a atitude de comportar-se como um investigador ativo
e diretivo por uma atitude mais compreensiva da dinâmica do sofrimento do
analisando;
e) abandono total da técnica da hipnose e da sugestão devido à percepção de
Freud de que as elas encobriam a existência de “resistências”;
f) estas últimas resultam de repressões, sendo que o retorno do reprimido
manifesta-se pelo fenômeno da “transferência”;
g) sobretudo, o “caso Dora” ensinou a Freud a existência e a importância de
o analista reconhecer e trabalhar com a “transferência negativa”.

5.3 Teoria Estrutural


À medida que se aprofundava na dinâmica psíquica, Freud tropeçava com o
campo restrito da teoria topográfica, por demais estática, e ampliou-a com a
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concepção de que a mente comportava-se como uma estrutura no qual distintas
demandas, funções e proibições, quer provindas do consciente ou do inconsciente,
28
interagiam de forma permanente e sistemática entre si e com a realidade externa.
Desta forma, mais precisamente a partir do trabalho O ego e o id (1923), ele
concebeu a estrutura tripartite, composta pelas instâncias do id (com as respectivas
pulsões), do ego (com o seu conjunto de funções e de representações) e do
superego (com as ameaças, castigos, etc.). O paradigma técnico da psicanálise foi
formulado por Freud como: “onde houver id (e superego), o ego deve estar”.

5.4 Conceituações sobre o Narcisismo


Embora não tenha sido formulado como uma teoria, os estudos de Freud sobre
o narcisismo abriram as portas para uma mais profunda compreensão do psiquismo
primitivo e constituíram-se como sementes que continuam germinando e propiciando
inúmeros vértices de abordagem por parte de autores de todas correntes
psicanalíticas. De acordo com o pensamento mais vigente entre os autores, pode-se
dizer que, na atualidade, um importante paradigma da psicanálise atual pode ser
formulado como “onde houver Narciso, Édipo deve estar”. (Grunberger, 1979).

5.5 Dissociação do Ego


Aquele jovem Freud que ficara perplexo ao perceber uma dissociação da mente
que se manifestava nas pacientes histéricas durante o transe hipnótico induzido por
Charcot, foi aprofundando suas pesquisas sobre este fascinante enigma até que ele
ficou convencido de que esta clivagem da mente em regiões conscientes e
inconscientes não era específica e restrita às psicoses e neuroses, mas que ela
ocorria com todos os indivíduos. Assim, desde os seus primeiros trabalhos com
pacientes histéricas, Freud já falava de uma cisão interssistêmica da qual resultam
núcleos psíquicos independentes.
No entanto, é a partir de seu trabalho sobre Fetichismo (1927) e, de forma mais
consistente, em Clivagem do ego no processo de defesa (1940), que escreveu ao
apagar das luzes de sua imensa obra, é que Freud estudou a cisão ativa,
intrassistêmica, que ocorre no próprio seio do ego e não unicamente entre as
instâncias psíquicas. Com isso, Freud lançou novas sementes que possibilitaram
aos pósteros autores desenvolverem uma concepção inovadora da conflitiva
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intrapsíquica, o que, creio, pode ser exemplificado com os trabalhos de Bion (1967)
sobre a existência concomitante em qualquer pessoa da “parte psicótica e da parte
29
não psicótica da personalidade” e cuja compreensão, por parte do psicanalista,
representa um enorme avanço na técnica e na prática clínica.
Diante do exposto, o gênio de Freud possibilitou que, entre avanços, recuos e
sucessivas transformações, ele construísse os alicerces essenciais do edifício
metapsicológico e prático da psicanálise, sempre estabelecendo inter-relações entre
a teoria, a técnica, a ética e a prática clínica.

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CAPÍTULO VI
AS SETE ESCOLAS DE PSICANÁLISE
30

Em épocas passadas, os analistas ficavam radicados em uma única


escola psicanalítica e buscavam precipuamente aquilo que dividia os autores
da psicanálise; na atualidade, muitos cometem um exagero oposto, buscando
unicamente aquilo que os reúne e unifica.
No primeiro caso, corremos o risco de cair num extremo de um
teoricismo ou de um excessivo pragmatismo, enquanto a posição extremada
de uma sistemática busca de unificação pode representar o risco de um
ecletismo empobrecedor.
Embora ainda persistam manifestas querelas narcisistas entre os
seguidores das distintas correntes psicanalíticas, em que cada uma delas
arvora-se como a representante da “verdadeira psicanálise” e luta por excluir
as demais.
A nítida tendência atual consiste em evitar as posições polarizadas,
promover uma formação pluralista de cada analista praticante e aproveitar as
vantagens de pensarmos analiticamente a partir de uma multiplicidade e
diversidade de vértices, muitas vezes convergentes, outras vezes divergentes
e até contraditórias, porém, até certo ponto possíveis de serem integradas e
reversíveis entre si.
Diante de tudo isso, o presente “capítulo”, é óbvio, nem de longe
pretende esgotar, ou sequer aprofundar, as contribuições de cada uma das
sete correntes psicanalíticas; antes disso, a sua pretensão ficará restrita a
situar o leitor nas principais conceituações que se constituem como a
essência do pensamento psicanalítico.
As sete escolas que estamos destacando e que aqui aparecerão
representadas pelos respectivos autores fundadores de cada uma delas são:
1) Escola Freudiana. 2) Teóricos das Relações Objetais (M. Klein). 3)
Psicologia do Ego (Hartman a M. Mahler). 4) Psicologia do Self (Kohut). 5)
Escola Francesa (Lacan). 6) Winnicott. 7) Bion.

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Creio que nessa altura cabe um esclarecimento quanto ao significado
com que estamos empregando a palavra “escola”, tendo em vista que muitas
31
correntes do pensamento psicanalítico não estão aqui incluídas.
Enquanto Winnicott e Bion constam neste capítulo como titulares de
respectivas escolas à parte, quando habitualmente eles aparecem
unicamente como um seguidor de M. Klein, como no caso de Bion, ou como
“analista independente” (dissidente de M. Klein), caso de Winnicott.
Assim, entende-se que o que caracteriza uma “escola psicanalítica” são
as seguintes quatro condições mínimas e básicas, que esses dois autores
preenchem totalmente:
1º) o aporte de conceitos originais;
2º) que esses tenham aplicabilidade na prática psicanalítica clínica;
3º) que sejam conceitos que atravessem gerações de psicanalistas; e
4º) que sucessivamente inspirem e deem novos frutos e ramos.
A exposição que segue como já foi frisado visa simplesmente situar o
leitor com referenciais mais precisos e delimitados dentro do multiforme e
multívoco universo da teoria e da prática da psicanálise.
E isto nem poderia ser diferente: basta confessar a sensação de estar
cometendo um sacrilégio por se tentar resumir em poucas páginas algo da
vida e da obra de Freud, com o inevitável cometimento de graves
amputações.
O esquema que será adotado para a brevíssima síntese de cada autor
em separado consistirá em descrever alguns dados biográficos de cada um
deles, seguidos da descrição das áreas teóricas e técnicas da psicanálise,
nas quais eles, respectivamente, mais trabalharam e as quais os notabilizam
ainda na atualidade.

6.1 Esclarecimento sobre a escola freudiana

É quase uma redundância falar em “escola freudiana” porquanto toda a


psicanálise, e todos os psicanalistas, de uma forma ou de outra, estão ligados
aos postulados metapsicológicos, teóricos e técnicos legados por Freud e

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seus seguidores diretos, tanto os seus contemporâneos como os pósteros a
ele.
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No entanto, o paradigma psicanalítico freudiano, nos seus mais de 100
anos de existência, embora conserve a invariância dos seus princípios
básicos, vem sofrendo profundas transformações, quer com acréscimos,
reformulações ou refutações.
Na atualidade, o movimento freudiano propriamente dito tem por sede
a tradicional Sociedade Britânica de Psicanálise, onde ele ocupa um lugar
especial, juntamente com os outros dois grupos, o “Kleiniano” e o
denominado “Independente” (middle group).
Esses três grupos convivem harmonicamente, sendo que o freudiano,
que lá se estruturou em torno de Anna Freud, não é o mais numeroso deles,
embora conserve uma forte influência no pensamento psicanalítico e goze de
uma alta respeitabilidade.
Além disso, existe um grande contingente de psicanalistas no mundo
todo que mantém uma plena fidelidade científica a Freud e que, ao contrário
do que poderia parecer nos últimos tempos, as concepções originais do
mestre estão ganhando em vitalidade e expansão, principalmente após a
descoberta dos verdadeiros tesouros psicanalíticos contidos no “Projeto de
uma Psicologia Científica para Neurólogos”, de 1895, que ficou escondido, ou
esquecido, durante algumas décadas.

6.2 Apresentação das Escolas:

1. Freudiana; (S. Freud);


2. Teóricos das Relações Objetais; (M. Klein);
3. Psicologia do Ego (Hartman – M. Mahler);
4. Psicologia do Self (Kohut)
5. Francesa de Psicanálise (Lacan),
6. Winnicott e
7. Bion

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O desenvolvimento destas diferentes escolas está intimamente
relacionado com os psicanalistas que, de uma forma ou de outra, aceitaram
33
os postulados metapsicológicos, teóricos e técnicos elaborados por Freud e
legados a seus imediatos seguidores.

6.3 Escola Freudiana:

Ao procurar nos seus primórdios, observa-se que a evolução da Psicanálise


se deu a partir de reuniões realizadas por Sigmund Freud com um seleto grupo de
colaboradores em sua própria casa, para assim, de forma organizada e sistemática,
discutir casos e trocarem ideias sobre os diversos temas psicanalíticos.
Seria essa a semente que mais adiante se transformaria na Sociedade
Psicanalítica de Viena. A história da evolução da Psicanálise jamais pode ser
separada da figura principal e marcante de Freud, seu criador.
Freud formou-se em medicina com brilhantismo aos 25 anos na Universidade
de Viena, fazendo um longo aprendizado em neurologia. Pesquisava nervos de
peixes raros, e investigou sobre a cocaína, publicando muitos trabalhos nessa área
que obtiveram reconhecimento científico expressivo.
Foi nomeado professor de neuropatologia, e o fato de ter obtido o “Prêmio
Goethe de Literatura” lhe possibilitou viajar a Paris para conhecer o trabalho de
Charcot, que aplicava as técnicas hipnóticas. No seu retorno à França, para Nancy,
buscou aprofundar as técnicas hipnóticas, assistindo às demonstrações de
Bernheim.
E foi através das experiências realizadas com estes dois cientistas, que Freud
começa a perceber a existência de processos psíquicos bastante fortes, mas
ocultos, da consciência humana – e que viriam, logo depois, a servir de
fundamentação para a sua teoria do inconsciente.
Freud passou a empregar a técnica da hipnose na sua clínica privada e se
deu conta de que não era um bom hipnotizador, substituindo esse recurso por
técnicas que promovessem uma “livre associação de ideias”.
A partir desta observação, nasceu a psicanálise. Foi trabalhando com
pacientes despertas, utilizando o divã, ao mesmo tempo em que aplicava estímulos
tácteis, pressionando a fronte delas com seus dedos, que as elas eram obrigadas a
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associarem “livremente” na tentativa de recordarem o trauma, que realmente tivesse
acontecido, mas estaria esquecido devido à repressão.
34
Pouco tempo depois acabou descobrindo, através de um comentário adverso
de uma de suas pacientes (Elizabeth Von R.), que a associação livre funcionava
melhor sem a opressão frontal.
A associação livre consistia em expressar livremente as ideias que lhe
surgissem espontaneamente na mente e verbalizá-las ao analista, sem julgá-las em
ser importantes ou não. Essa regra foi aplicada, em princípio, com ele mesmo
(Freud) em sua autoanálise desde 1894 quando da análise dos seus sonhos.
Mas só por volta de 1896 ele instituiu categoricamente esse método
associativo, quando sua paciente Emmy Von N. lhe pediu para que a deixasse falar
livremente sem ser pressionada para associar “livremente”.
A associação livre facilitou muito a constatação das manifestações de
repressões e resistências em seus pacientes. Esta descoberta contribuiu para que
Freud fosse considerado o “Pai da Psicanálise”.
Freud concluiu que as barreiras contra o recordar e associar eram provindas
de forças mais profundas inconscientes, e que funcionavam como verdadeiras
resistências involuntárias.
Por conseguinte, isto se constituiu como uma marcante ruptura
epistemológica, levando Freud a cogitar que essas resistências correspondiam a
repressões daquilo que estava “proibido de aflorar à consciência”, ou seja, de ser
lembrado.
Ao chegar 1906, Freud já havia lançado os alicerces do edifício psicanalítico,
tais como:
 A descoberta do inconsciente dinâmico como principal motivador da
conduta;
 Consciente das pessoas, O fenômeno da “livre associação de ideias”;
 A importância dos sonhos como forma de acesso ao inconsciente;
 A sexualidade da criança, estruturada em torno da cena primária e do
complexo de Édipo;
 O fenômeno das resistências e, por conseguinte, das repressões;
 A transferência;

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 A presença constante de dualidades no psiquismo tais como: os dois
tipos de pulsões, de vida e morte, o conflito psíquico resultante de forças
35
contrárias, do consciente versus inconsciente, o princípio do prazer e o da
realidade, entre outras.
A conclusão de Freud foi de que o conflito psíquico é resultante do embate
entre as forças instintivas e as repressoras, sendo que os sintomas se constituíram
como sendo a representação simbólica deste conflito inconsciente.
Esta concepção inaugura a psicanálise como uma nova ciência, com
referências teóricas e técnicas próprias, específicas e consistentes. A evolução
histórica da Psicanálise pode ser dividida e esquematizada exclusivamente nas
contribuições originais de Freud, sendo estabelecidos os seguintes conceitos
estruturantes e paradigmas de cura:

 O neurótico sofre de reminiscências e a cura consiste em rememorá-las.


(Teoria do Trauma),
 Tornar consciente o que é inconsciente. (Teoria Topográfica)
 Onde houver o Id, o Ego deve estar. (Teoria Estrutural)

Dessa forma, neste contexto são desenvolvidas complementarmente as


conceituações sobre o Narcisismo e sobre a dissociação do Ego.

6.3.1 Os Expoentes da Escola Freudiana

Dentro do arcabouço das ideias freudianas e seu terreno profícuo e fecundo,


outros Outros importantes e reconhecidos nomes desta escola se destacam: são
Karl Abraham, Sandor Ferenczi, Wilhelm Reich e Anna Freud. Cada um deles com
reconhecidamente, Podem-se destacar dentro das contribuições destes analistas as
seguintes:

6.3.1.1 Karl Abraham

Autor prolífico, sendo suas investigações mais originais, que ainda persistem
como importantes e vigentes aquelas referentes aos estágios pré-genitais do
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desenvolvimento, sendo importante ressaltar seu artigo de 1919, Uma forma de
resistência Neurótica contra o método psicanalítico, no qual, de forma extremamente
36
atual, discorre sobre o problema dos pacientes narcisistas “pseudocolaboradores”

6.3.1.2 Sandor Ferenczi

Introduziu, entre muitos outros, os primeiros conceitos para fundamentar a


teoria das relações objetais; considerava “que as crianças que são recebidas com
asperezas e falta de amor morrem fácil e voluntariamente”, conceito desenvolvido
quinze anos depois por Spitz; estuda a teoria do trauma da sedução real, afirmando
que isso acontece “quando os adultos confundem os jogos da criança com os
desejos das pessoas sexualmente adultas”; considerou a personalidade do analista
como um instrumento de cura.

6.3.1.3 Wilhelm Reich

A inclusão do Wilhelm Reich justifica-se devido a que por meio do seu livro
Análise do Caráter (1933) colaborou de forma inestimável para o entendimento de
que uma análise poderia ir muito além da remoção dos sintomas e que ela também
deveria visar mudanças na “armadura caracterológica resistencial” de que todo
paciente é portador, em alguma forma ou grau. Sua ruptura com Freud deu-se a
partir do seu artigo sobre o caráter masoquista de 1932. Posteriormente houve por
parte de Reich um desvio quase total dos princípios essenciais da psicanálise.

6.3.1.4 Anna Freud

Pode-se considerar como ponto de destaque na contribuição de Anna Freud


à psicanálise, os conceitos elaborados no seu livro: O ego e os mecanismos de
defesa (1936) onde enaltece as funções do ego, que o próprio Sigmund Freud
esboçou, mas não aprofundou. Seus discípulos viriam a formar a Escola da
Psicologia do Ego, e foi em torno de sua pessoa que a corrente freudiana da
Sociedade Psicanalítica Britânica, se moldou.

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Anna Freud teve como destaque ainda, seu pioneirismo na psicanálise com
crianças, não obstante o fato da orientação de natureza pedagógica. Houve de sua
37
parte fortes críticas dirigidas a Melanie Klein, que preconizava a psicanálise com
crianças, dentro do molde estabelecido pelo mais puro rigor psicanalítico.

6.4 Escola dos Teóricos das Relações Objetais

Este período se caracteriza pela abertura de correntes de pensamento


psicanalítico diversas daquela preconizada por Freud.
Essas correntes, embora estruturadas a partir de fundamentos originados na
proposta freudiana, incorporam novas visões e interpretações que ampliam de forma
significativa o saber psicanalítico.

6.4.1-Melanie Klein

A Escola dos Teóricos das Relações Objetais, com Melanie Klein, como um
dos seus maiores representantes, transforma-se no berço de uma nova visão da
práxis psicanalítica, ao desenvolver formas diferentes de interpretação dos conceitos
enunciados por Freud, abrindo espaço para a formulação de novas propostas de
trabalho.
Neste contexto, a escola kleiniana valoriza fortemente, a existência de um ego
primitivo, já desde o nascimento, a fim de que este mobilizasse defesas arcaicas –
dissociações, projeções, negação onipotente, idealização, etc.
Tudo isso, para contra restar as terríveis ansiedades primitivas advindas da
inata pulsão de morte, isto é, da inveja primária, com as respectivas fantasias
inconscientes. M. Klein conservou o complexo de Édipo como o eixo central da
psicanálise, porém o fez recuar para os primórdios da vida, assim descaracterizando
o enfoque triangular edípico, medular da obra freudiana.
A observação dos adultos e o emprego da técnica psicanalítica a induziram a
investigar os estágios iniciais do desenvolvimento infantil. O trabalho dela, tomando
como base a teoria psicanalítica de Freud, foi criar a técnica de brincar com as
crianças e, através do brinquedo, compreendê-las.

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Em 1919, ela escreve: “O Desenvolvimento de uma criança” sendo este o
trabalho que a titulou como membro da Sociedade Psicanalítica da Hungria. De
38
1920 a 1925 Melanie Klein fez análise com K. Abraham, a qual fora interrompida
pela morte inesperada do analista.
Nesse ano, Melanie Klein fora convidada por Ernest Jones para pronunciar
algumas conferências em Londres, causando forte impacto e entusiasmo em muitos
psicanalistas britânicos. Tal acontecimento a levou a fixar residência definitiva na
Inglaterra, onde trabalhou como psicanalista pelo restante de sua vida.
Freud desenvolveu sua teoria psicanalítica a partir da observação de adultos,
enquanto Melanie Klein elabora seu pensamento através da observação de
crianças. Conforme sua observação, postula que tanto o complexo de Édipo quanto
o Superego estão estabelecidos em uma fase muito mais remota da vida do
indivíduo do que se presumia até então.
Estudos posteriores contribuíram para o melhor entendimento do complexo de
Édipo, posição depressiva e, finalmente, sobre a posição esquizo-paranoide, o que
tornou mais claras as ligações de sua obra com a de Freud, e facilitaram o
acompanhamento psicológico do indivíduo desde sua infância mais remota.
Melanie Klein considerou como ponto de partida para o estudo do processo
de desenvolvimento da criança os primeiros três ou quatro meses de vida, enquanto
Freud, considerava esse ponto a partir dos 4 anos.
No primeiro trimestre, o bebê experimenta a ansiedade como resultante do
efeito proveniente de fontes internas e externas; a atividade interna do instinto de
morte dá origem ao medo de ser aniquilado e esse aniquilamento é a causa primária
da ansiedade persecutória.
Nessa fase, a criança sofre o desconforto e dor pela perda intrauterina, que é
sentida pelo bebê como uma agressão perpetrada por forças hostis, isto é, como
perseguição, ficando exposto a dolorosas privações, causando-lhe ansiedade. Para
Klein, a relação objetal é iniciada com a presença da mãe e a amamentação do
bebê, sendo esse um dos pilares de sua teoria.
Melanie Klein faz duas considerações importantes que passa a denominar de
posição esquizo-paranoide e posição depressiva da criança.
A posição esquizo-paranoide, vivenciada pela criança por volta dos três a
quatro meses de idade, traz uma luz sobre a teoria kleiniana e produz grande
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vantagem, concernente ao fato de se dar início numa fase bem primitiva e a partir
daí poder descrever o crescimento psicológico do indivíduo.
39
Na consideração de Klein, num certo sentido, tanto a posição esquizo-
paranoide e a posição depressiva constituem fases de desenvolvimento, podendo
considerá-las subdivisões do estágio oral.
Esta posição esquizo-paranoide caracteriza-se pelo fato de as crianças não
tomarem conhecimento das pessoas, e o relacionamento se mantém nos objetos
parciais, e pela prevalência dos processos de divisão e de ansiedade paranoide.
A hipótese de que as primeiras experiências resultantes da amamentação do
bebê e da presença da mãe iniciam uma relação objetal parcial, isto é, os impulsos
oral-libidinais e oral-destrutivos desde o começo da vida, dão a entender que estas
primeiras experiências são, particularmente, dirigidas para o seio materno.
Se a criança está satisfeita, suprida pela amamentação, registra-se um
equilíbrio ótimo, entre os impulsos libidinais e agressivos, ocorrendo aí o sentimento
de “seio bom”. Quando é alterado o equilíbrio entre libido e agressão da origem,
surge a emoção chamada avidez, predominantemente, de natureza oral.
Nos bebês, que possuem um componente agressivo inato forte, a ansiedade
persecutória, a frustração e a avidez são facilmente provocadas, contribuindo para a
não tolerância de privação do bebê em lidar com a ansiedade.
Na medida em que esta situação for fonte de frustração, surge o sentimento
de “seio mau”.
Quando o seio é bom e o gratifica, o bebê projeta os seus impulsos de amor,
e quando o seio é frustrador (mau) o bebê projeta os seus impulsos destrutivos.

Melanie Klein foi pioneira das seguintes concepções originais:

 Criou uma técnica própria de psicanálise com crianças e introduziu o


entendimento simbólico contido nos brinquedos e jogos.
 Postulou a existência de um inato ego rudimentar, já no recém-nascido.
 A pulsão de morte também é inata e presente desde o início da vida sob
a forma de ataques invejosos e sádico-destrutivos contra o seio
alimentador da mãe.

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 Essas pulsões de morte, agindo dentro da mente, promovem uma
terrível angústia de aniquilamento.
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 Para contra restar tais angústias terríveis, o incipiente ego do bebe lança
mão de mecanismos de defesa primitivos, como são a negação
onipotente, dissociação, identificação projetiva, identificação introjetiva;
idealização e denegrimento.
 Concebeu a mente como um universo de objetos internos relacionados
entre si através de fantasias inconscientes, constituindo a realidade
psíquica.
 Além dos objetos totais, ela estabeleceu os objetos parciais (figuras
parentais representadas unicamente por um mamilo, seio, pênis, etc.).
 Postulou uma constante clivagem ente os objetos (bons x maus;
idealizados x persecutórios) e entre as pulsões (as construtivas, de vida,
versus as destrutivas, de morte).
 Concebeu a noção de posição – conceitualmente diferente de fase
evolutiva – e descreveu as agora clássicas posições esquizo-paranoide e
a depressiva.
Suas concepções acerca dos mecanismos arcaicos do desenvolvimento
emocional primitivo permitiram a análise com crianças, com psicóticos e
com pacientes regressivos em geral.
 Para não ficar descompassada com os princípios ditados por Freud,
conservou as concepções relativas ao complexo de Édipo e ao superego,
porém as realocou em etapas muito mais primitivas do desenvolvimento
da criança.
 Juntamente com os ataques sádico-destrutivos da criança, com as
respectivas culpas e consequentes medos de retaliadores ataques
persecutórios, postulou a necessidade de a criança, ou o paciente adulto
na situação analítica, desenvolver uma imprescindível capacidade para
fazer reparações.
 Deu extraordinária ênfase à importância da inveja primária, como
expressão direta da pulsão de morte.

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 Como decorrência dessas concepções, promoveu uma significativa
mudança na prática analítica no sentido de que as interpretações fossem
41
sistematicamente transferenciais, mais dirigidas aos objetos parciais, aos
sentimentos e defesas arcaicas do paciente, e com uma ênfase na
prioridade de um analista trabalhar na transferência negativa.

Este período fica caracterizado pela mudança de foco dos psicanalistas, que
passam a valorizar aspectos relacionados com o desenvolvimento emocional
primitivo: as relações objetais parciais e as fantasias do inconsciente, com suas
respectivas ansiedades e defesas primitivas.
Conserva-se a regra de que somente teriam valor verdadeiramente
psicanalítico às interpretações unicamente dirigidas às neuroses de transferência,
porém começa a ganhar um amplo espaço de valorização, a contratransferência,
criando-se desta forma os primórdios da psicanálise baseada na relação
transferencial - contratransferencial.
Expoentes desta época são Joan Rivière, S. Isaacs, Segal, Rosenfeld,
Meltzer e Bion.

6.5 Escola da Psicologia do Ego

Para caracterizar a denominada Escola da Psicologia do Ego, deve-se


considerar o importante trabalho desenvolvido por a psicanalista de nacionalidade
austríaca, Margaret Schönberger Mahler, que nasceu em Sopron, na Hungria, em 10
de maio de 1897, e faleceu em Nova York, EUA, em 2 de outubro de 1985. Formou-
se em medicina em 1922 e, na Áustria, mudou seu foco de interesse da pediatria
para a psiquiatria.
Em 1926 iniciou, com Helene Deutsch, sua análise de formação ou didática.
Sete anos depois ela era aceita como analista. Com Anna Freud, ela criou o primeiro
centro de tratamento para crianças em Viena.
Em 1936, Margaret Mahler casou-se com Paul Mahler e, fugindo da
perseguição aos judeus, mudou-se para a Inglaterra e depois para os Estados

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Unidos. Mahler ofereceu seminários sobre psicanálise de criança, deu aulas e filiou-
se ao Instituto do Desenvolvimento Humano, ao Instituto Educacional e à Sociedade
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Psicanalítica de Nova York, cidade onde se fixou.
Em 1948, realizou estudos clínicos sobre a denominada psicose normal e
patológica em crianças. Ela distinguia no bebê a psicose autística e a psicose
simbiótica (normal ou patológica).
Em 1950, Mahler e Manuel Furer fundaram o Master’s Children Centre em
Manhattan. Ali desenvolveu um modelo de tratamento tripartite, no qual a mãe
participava do tratamento da criança.
Mahler enfatizou a importância e o papel do meio ambiente para o
desenvolvimento da criança. Estava particularmente interessada na dualidade mãe-
bebê e documentou cuidadosamente o impacto das primeiras separações da criança
com relação à sua mãe.

1. Fase autística, nas primeiras semanas;


2. Fase simbiótica, que dura até uns cinco meses;
3. Fase de separação-individuação (marca o fim da fase anterior).

Suas contribuições ganharam muita relevância, embora alguns considerem


que elas estão mais voltadas para a psicologia do ego do que para a psicanálise
propriamente dita.

6.6 Escola da Psicologia do Self

Psiquiatra e psicanalista, Heinz Kohut é considerado como o criador da escola


psicanalítica da Psicologia do Self. Nasceu em 13 de maio de 1913 em Viena,
Áustria, sendo filho único de uma família judia.
Formou-se em medicina em 1938, após um período no qual encontrou
grandes dificuldades para concluir o curso, pois os nazistas já ocupavam a Áustria
com suas práticas excludentes e de eliminação para com os judeus. Saiu de Viena
em 1939, mudando-se definitivamente para os Estados Unidos da América.

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Morou e trabalhou em Chicago. Foi professor na universidade local. Estudou
no Instituto de Psicanálise de Chicago e tornou-se figura proeminente da psicanálise
43
norte-americana e mundial.
Também foi presidente da Associação Americana de Psicanálise no biênio
1964/65 e vice-presidente da Associação Internacional de Psicanálise no período de
1965 a 1973.
De uma forma sintética podem-se mencionar alguns aspectos que
caracterizam a obra original de Kohut que inicialmente, considerava-se um
aprofundador dos conceitos freudianos.
Contudo, suas ideias inovadoras o forçaram progressivamente a um
distanciamento da Psicanálise convencional. Foi eleito como presidente da
Sociedade de Psicanalítica de Chicago (1963/64) e vice-presidente da IPA, para a
América do Norte (1965/73).
Kohut e seus contemporâneos foram herdeiros da Psicanálise clássica,
fundada por Freud, calcada na sexualidade como gênese das neuroses e do
kleinianismo que colocava o ódio e a destruição como eixo central a toda relação de
objeto.
Nos anos 50/60, a Psicanálise esteve representada pelo maior domínio do
Anna - freudismo, da Psicologia do Ego e pelos kleinianos clássicos. A essas
concepções psicanalíticas se seguiram uma postura ortodoxa que se apresentava
na clínica, aos pacientes, através de regras fixas, grandes silêncios e falas
denunciativas das resistências e das culpas.
Kohut representou o que poderia se chamar terceira geração da Psicanálise,
juntamente com Bion, Winnicott e Lacan.
Seu primeiro trabalho, sobre psicanálise aplicada, foi “Morte em Veneza, de
Thomas Mann: uma história acerca da desintegração da sublimação artística”, texto
que ele só publicou, em 1957, após a morte do autor por quem nutria profunda
admiração.
A seguir, também em 1957, escreve um texto destacando como importante
para o método psicanalítico o conceito de empatia. “Introspecção, Empatia e
Psicanálise – um exame da relação entre modo de observação e teoria” é um texto
epistemológico, cujo principal foco é a demarcação dos campos das ciências
humanas.
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Assinala que os resultados de uma investigação relacionam-se diretamente
com o método empregado. Afirmou que o fenômeno psicológico só pode ser
44
apreendido em seus aspectos subjetivos através da introspecção e empatia.
Sua postulação instituiu como método de captação de dados e observação
da experiência clínica o método introspectivo-empático, base de todas as suas
pesquisas posteriores.
Seus estudos sobre as patologias narcísicas apresentadas em trabalhos e
também na publicação de seus livros provocaram críticas negativas e contundentes.
Colegas e estudantes passaram a se reunir com ele regularmente e formaram
o Grupo de estudos da psicologia do self.
Segundo conta Arnold Goldemberg na introdução à obra “Como cura a
psicanálise” publicação póstuma de autoria de Kohut, o interesse pelos seus
trabalhos se expandiu tanto e tão rapidamente que um grupo maior com cerca de 50
membros suplantou o originalmente criado.

6.6.1 Contribuições Teóricas e Metodológicas de Kohut à Psicanálise

De acordo com uma analogia feita por Kohut, assim como a fisiologia do
aparelho respiratório de um bebê necessita de uma atmosfera que contenha
oxigênio para sobreviver, o self nascente de um bebê necessita de um ambiente que
contenha self-objetos respondendo empaticamente às suas necessidades
psicológicas.
Em suas observações, Kohut formulou, a partir do exercício clínico, o conceito
estrutural do self-objeto: o indivíduo que numa espécie de vivência aglutinada
desempenha as funções ainda impossíveis ao bebê, que não possui um self
estruturado, mas apenas um núcleo de self a ser desenvolvido a partir dessa
vinculação com o outro self.
Kohut afirma que os self-objetos que cumprem funções psicológicas para o
bebê são reconhecidos e experimentados pelas funções que exercem junto a ele e
não por sua existência e característica individual, ou seja, para o bebê, o adulto que
cuida é parte de si mesmo.

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O self-objeto, em sua especificidade vincular, apresenta modalidades como,
por exemplo, o self-objeto idealizado, cujo mecanismo é de “fusão com um objeto
45
onipotente que garanta a segurança e amparo”.
Também o self-objeto especular que garante ao bebê “o espelhamento
necessário para sua condição de valor e autonomia”. Ainda o self-objeto gemelar,
que atende à necessidade de semelhança essencial, permite surgir o “sentimento de
pertencer a um contexto humano”.
Caso o self-objeto falhe, para além ou aquém da capacidade maturacional, ao
invés da necessária desidealização do self-objeto falho ocorrerá, então, a
internalização idealizada deste.
Assim, surgem as patologias narcísicas do self que é completo e não
defeituoso e tem em seu aspecto dinâmico o que Kohut denominou arco ininterrupto
de tensão.
É no restabelecimento deste arco ininterrupto de tensão, desde seus ideais
básicos e habilidades até o desenvolvimento da capacidade realizante, criativa e
produtiva, que o self narcísico defeituoso tentará, mais uma vez, agora no ambiente
analítico com seus fatos transferenciais, retomar e desenvolver-se com seu próprio
núcleo do self.
Kohut ressalta que a cura do self ocorre a partir das vivências emocionais do
paciente na reativação e análise das transferências.
Noutras palavras: a situação de análise é o ambiente no qual os conflitos não
solucionados na infância são reativados na transferência, tornados conscientes e
elaborados através do processo analítico.
Em 1966, ainda muito influenciado pela metapsicologia freudiana, escreveu
sobre uma nova perceptiva sobre o conceito de Narcisismo em “Formas e
Transformações do Narcisismo”.
Calcado na definição de narcisismo de H. Hartmann, “investimento libidinal do
self”, criticou a visão negativa dada ao conceito, considerando-a moralista e postulou
que o narcisismo teria uma linha própria de desenvolvimento e se diferenciaria em
duas formas, self narcísico (em 1968, ele substitui esse termo por “self grandioso”) e
imago parental idealizada.
Essa postulação visava a atender sua inquietação de que a teoria clássica
não atenderia a clínica dos pacientes com transtornos narcísicos.
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O narcisismo passa a ser conceituado como uma estrutura da mente, com
espaço nas relações humanas, tendo características evolutivas e se transformando
46
através do tempo e das relações significativas.
Segundo seu depoimento, para entender e atender a esses pacientes
necessitou superar suas próprias resistências em perceber a si mesmo como uma
“função impessoal” e compreender que as falas de seus pacientes refletiam
verdadeiramente a sua falta de compreensão e uso de inadequadas inferências.
Em continuação ao trabalho anterior, escreveu “Reflexões acerca do
Narcisismo e da Fúria Narcísica” (1971), texto que traz expressivos questionamentos
sobre a origem, função e destino da agressividade humana e postula sua concepção
sobre a agressividade destrutiva ser reativa às ameaças de fragmentação do self.
Considerado como marco da teoria da Psicologia Psicanalítica do Self a
publicação do livro “Análise do Self: uma abordagem sistemática do tratamento
psicanalítico dos distúrbios narcísicos da personalidade”, em 1971.
Embora seu campo estivesse restrito ao específico grupo de pacientes com
transtornos narcísicos, ele já era portador de uma teoria própria e um método que já
formalizavam uma psicologia em senso estrito. Essa obra é de leitura obrigatória por
nele estarem postulados os conceitos de self-objeto, transferências narcísicas e
internalização transmutadora.
A expressão Psicologia do Self aparece pela primeira vez em 1974 no ensaio
“Observações sobre a formação do Self”. Neste texto se destacam as metáforas do
Homem Culpado, que se refere à dimensão do homem e suas pulsões, e do Homem
Trágico, dimensão de sua busca de um sentido existencial.
“A Restauração do Self”, publicado em 1977, inaugura a Psicologia
Psicanalítica do Self e marca seu distanciamento de Freud ao postular “a ameaça de
fragmentação do self” como gênese do adoecer humano e não os conflitos
pulsionais.
Nesse momento, já existe uma escola teórica que dispõe de uma Psicologia
de Desenvolvimento do Self, uma Psicopatologia e Estratégias técnicas. Destacam-
se nela as propostas de: Estruturas defensivas e Estruturas Compensatórias, Self
bipolar e uma revisão do conceito de Complexo de Édipo.

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Devido às suas formulações e postura técnica, diferenciada da Psicanálise
vigente, sofreu várias acusações e o distanciamento de grande parte dos
47
psicanalistas da época.
No verão de 1977, aos 64 anos, Kohut surpreendeu o mundo psicanalítico ao
publicar “As duas análises do Senhor Z”.
O texto descreve duas experiências de análise de um paciente seu, ocorridas
em diferentes épocas, uma com o enfoque nos conflitos edípicos e a outra com base
nos seus novos conhecimentos da Psicologia Psicanalítica do Self.
Segundo psicanalistas próximos a ele, existem fortes evidências de se tratar
de sua autobiografia, embora ele nunca tenha admitido tal possibilidade.
Heinz Kohut faleceu em 08 de outubro de 1981. Seu último livro foi escrito no
início de 1980 e deixado em manuscrito, “Como cura a Psicanálise?” Após sua
morte, foi revisado por sua esposa, Elizabeth Kohut, e por A. Goldberg e P.
Stepansky sendo publicado em 1984. “Introspecção Empatia e o Semicírculo da
Saúde Mental” em 1981.
Último trabalho escrito por Kohut foi apresentado pelo seu filho, Thomas A.
Kohut. Reafirma e enfatiza a importância da empatia no sentido epistemológico, de
valor neutro, como “método de observação sintonizado na vida interior do homem”, e
no sentido empírico, próximo à experiência, “como atividade de coleta de
informações” e como “poderoso vínculo emocional entre as pessoas”.

6.6.2 Donald Woods Winnicott

Pediatra e psicanalista, nasceu numa próspera família de Plymouth, na Grã-


Bretanha, em 7 de abril de 1896, e morreu em Londres, em 25 de janeiro de 1971.
Donald tinha duas irmãs mais velhas e aos 14 anos foi para um internato.
Posteriormente, ingressou na Universidade de Cambridge onde estudou
biologia e depois medicina. Entretanto, irrompeu a guerra de 1914-18, o que o levou
a servir como estagiário de cirurgia e oficial médico em um destróier.
Em 1923, foi indicado para o The Queen’s Hospital for Children e também
para o Paddington Green Hospital for Children, onde permaneceu pelos 40 anos
seguintes, trabalhando como pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista.

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Foi um colaborador de jornais médicos, psiquiátricos e psicanalíticos, e
também escreveu para revistas destinadas ao público em geral, nas quais discutia
48
problemas das crianças e das famílias.
Sua extensa obra foi dedicada à construção da teoria do amadurecimento
pessoal (um caminho a ser percorrido partindo da dependência absoluta e
dependência relativa rumo à independência relativa).
E que, além de constituir uma teoria da saúde, com descrição das tarefas
impostas, desde o início da vida, pelo próprio amadurecimento, configura também o
horizonte teórico necessário para a compreensão da natureza e etiologia dos
distúrbios psíquicos.
A distinção de seu trabalho, metodologicamente, em relação a Freud e outros,
foi a decisão de estudar o bebê e sua mãe como uma “unidade psíquica”. O que lhe
permitia observar a sucessão de mães e bebês e obter conhecimento referente à
constelação mãe-bebê, e não como dois seres puramente distintos.
Assim, não há como descrever um bebê sem falar de sua mãe, pois, no início,
o ambiente é a mãe e apenas gradualmente vai se transformando em algo externo e
separado do bebê.
O ambiente facilitador é a mãe suficientemente boa, porque atende ao bebê
na medida exata das necessidades deste, e não de suas próprias necessidades.
Esta adaptação da mãe torna o bebê capaz de ter uma experiência de onipotência e
cria a ilusão necessária a um desenvolvimento saudável.
O conceito de “Preocupação Materna Primária” pode ser comparado a um
estado de retraimento da mãe e é necessário para que ela possa estar envolvida
emocionalmente com seu bebê.
Uma grande contribuição do autor refere-se ao conceito dos objetos
transicionais e fenômenos transicionais que surgem na superação do estágio de
dependência absoluta em direção à dependência relativa, sendo que não é
importante o objeto que está sendo utilizado, mas sim, o uso que a criança faz desse
objeto.
Ele se coloca na zona intermediária, na separação entre a mãe e o bebê,
ajudando a tolerar a angústia de separação e ausência materna.
Para Winnicott, o potencial inato de crescimento num bebê se expressava em
gestos espontâneos. Se a mãe responde apropriadamente a esses gestos, a
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qualidade da adaptação proporciona um núcleo crescente de experiência para o
bebê, o qual resulta num senso de completude, força e confiança, que ele chama de
49
“verdadeiro self”.
A sua crescente força permite ao bebê lidar com posteriores frustrações e
fracassos relativos por parte da mãe, sem perder sua vivacidade.
Se a mãe é incapaz de responder adequadamente aos gestos do bebê, este
desenvolve a capacidade de adaptar-se e submeter-se às “invasões” da mãe, isto é,
às iniciativas e exigências dela, e sua espontaneidade é gradualmente perdida.
Winnicott chamou este desenvolvimento defensivo de “falso self”. Quanto
maior o “desajuste” entre mãe e o bebê, maior a distorção e interrupção no
desenvolvimento da personalidade deste.
Para Winnicott, a psicopatia ou tendência antissocial caracteriza-se como um
transtorno no qual a falha ambiental tem um importante papel. O jogo da espátula
teve sua origem na clínica diagnóstica de mães e bebês e o jogo dos rabiscos surgiu
de sua prática psiquiátrica com crianças.
A teoria de Winnicott baseia-se no fato de que a psique e não é uma estrutura
pré-existente e sim algo que vai se constituindo a partir da elaboração imaginativa
do corpo e de suas funções – o que constitui o binômio psique-soma.
Essa elaboração se faz a partir da possibilidade materna de exercer funções
primordiais como o holding (permite a integração no tempo e no espaço), handling
(permite o alojamento da psique no corpo) e a apresentação de objetos (permite o
contato com a realidade).
O psique-soma inicial prossegue ao longo de uma linha de desenvolvimento
desde que sua continuidade de existência não seja perturbada, e para que isso
ocorra, é necessário um ambiente suficientemente bom onde às necessidades do
bebê sejam satisfeitas.
Neste ínterim, um ambiente “mau” é sentido como uma invasão à qual o
psicossoma (o bebê) precisa reagir e esta reação perturba a continuidade de
existência do bebê.
O adoecimento, então, se dá devido a perturbações na relação mãe-bebê
que provocam falhas no desenvolvimento do indivíduo.

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Tais perturbações criam uma sensação de falta de fronteiras no corpo,
ameaças de despersonalização, angústias impensáveis, ameaças de desintegração
50
e despedaçamento, de cair para sempre, e falta de coesão psicossomática.

6.7 Escola Francesa de Psicanálise – Jacques Lacan

Lacan estudou no Colégio Stanislas, dirigido por jesuítas. Sempre foi um


aluno brilhante. Em 1919 matricula-se na faculdade de medicina e no ano seguinte
começa o curso, sendo que a partir de 1926 especializa-se em psiquiatria.
Paralelamente, estudava literatura e filosofia e se aproxima do movimento
surrealista. Faz amizade com René e Salvador Dali, encontra Breton, lê os trabalhos
de Pichòn, em quem admira um novo mestre da língua.
Dois dos grandes mestres do jovem Lacan foram: Henri Wallon (e sua teoria
do estágio do espelho) e Alexandre Kojéve (nos seus comentários sobre Hegel).
Revoltado com o crescimento evidenciado nos Estados Unidos da escola da
“Psicologia do Ego”, que Lacan acreditava estar deturpando o real sentido da
psicanálise, resolveu dirigir seus estudos para uma releitura de Freud.
Lacan é um autor polêmico – discutido e admirado, para alguns teóricos é
considerado o maior psicanalista depois de Freud, ou até mesmo do seu porte; para
os seus críticos, a teoria lacaniana é um retrocesso da psicanálise, um desvirtuador
da teoria freudiana.
Entre 1928 e 1929, trabalha como interno ao Serviço de Enfermaria Especial
da Delegacia de Polícia, dirigida por Clérambault, a quem no futuro Lacan veio a
reconhecer como o seu único mestre em psiquiatria. Entre 1929 e 1930, trabalha no
Instituto de Psiquiatria e de Profilaxia Mental do Hospital Henhi-Roussele.
Em 1931, após examinar Marguerite Pantaine, que havia tentado assassinar a
atriz Huguette Duflos, escreve uma monografia que está na gênese da sua tese de
doutorado.
Em 1932, inicia sua análise com Rudolf Loenstein. Defende sua tese de
doutorado “Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade”.

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Lacan envia um volume de sua tese para Freud, recebendo como resposta
apenas um cartão postal. Em 1934 Lacan casa-se com Marie Louise Blondin com
51
quem tem três filhos: Caroline (1937), Thibault (1939) e Sybille (1940).
Neste mesmo ano, decide orientar-se para a psicanálise. É nomeado médico
dos Asilos e adere a “Société Psychanalytique de Paris–SSP” (que foi fundada em
1926).
Em 1936, obtém o título de Médico dos Hospitais Psiquiátricos; Nesse mesmo
ano inicia relações com Sylvia Bataille. Em 1941, separa-se de sua primeira esposa
e tem uma filha Judith Sofhie, filha de Lacan com Sylvia. Em 1951, dá início aos
Seminários, uma série de apresentações orais que foram reunidas em livros.
A técnica de sessões curtas gera controvérsias na SSP. Em 1953, faz
conferencias fundamentais como: O Mito Individual do Neurótico (em que utiliza pela
primeira vez a expressão Nome-do-Pai); O Real o Simbólico e o Imaginário (onde
coloca suas teorias sob o signo do retorno a Freud); Em um movimento radical,
deixa a SSP junto com Françoise Dolto, Daniel Lagache e outros 40 analistas para
fundar a Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP).
Realiza, então, o seminário “Os Escritos Técnicos de Freud” (sendo este o
primeiro Seminário de Lacan que foi registrado por estenotipista, possibilitando
posterior publicação).
A IPA não vê com bons olhos a rebeldia de Lacan às regras técnicas em
vigor. Lacan interrompe sessões ao seu gosto, recebe pessoas a qualquer hora, fica
muitíssimo com um cliente num dia e, no outro, cinco, dez minutos. Come refeições
durante as sessões, anda de um lado para o outro, aceita famílias em análise.
A técnica lacaniana é alvo de uma contestação permanente. Em 1951, a
comissão de ensino exige que Lacan regule sua situação.
Em 1963, a IPA admite a filiação da SFP. Em 1964, Lacan fundou a Escola
Freudiana de Paris (EFP) com antigos alunos como: Françoise Dolto, Maud e
Octave Mannoni, Serge Leclaire, Moustapha Safouan e François Perrier. A formação
lacaniana é complexa e bem mais exigente; é uma formação individual, um a um,
não há padronização.
Na teoria lacaniana o analista empresta consequência às palavras do
analisando. Em 1966, reúne seus escritos em um único volume os Escritos. Em

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1967, propõe a criação do “passe”, que seria um dispositivo regulador da formação
do analista.
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Em 1980, ele anuncia a dissolução da EFP e funda em outubro a Escola da
Causa Freudiana. Em 9 de setembro de 1981, Lacan morre em Paris.

6.8 Wilfred Ruprecht Bion

Wilfred Ruprecht Bion nasceu em 8 de setembro de 1897 em Muttra, no


Penjab, província anexada à Colônia Inglesa em 1849. Seu pai era engenheiro do
serviço público britânico à época do seu nascimento, servindo, portanto, na Índia.
Sua mãe foi uma pessoa simples de temperamento instável, mostrava-se
frequentemente triste e o garoto sofria muito com estas características da mãe. Os
pais de Bion tiveram mais uma filha, chamada Edna.
Bion viveu na Índia até os sete anos, sob os cuidados de uma ama indiana
(Ayah), senhora que exerceu sobre ele marcante influência.
Os altos funcionários ingleses tinham por praxe mandar seus filhos para
estudarem na Inglaterra. Por volta dos oito anos Wilfred foi enviado para Londres e
lá morou sem a família, interno em um colégio onde recebia escassas visitas dos
pais.
No período entre o final da infância e a adolescência, Bion encontrou
dificuldades em se adaptar, pois sentia aguda solidão e declarou, quando adulto,
que amargas impressões ficaram-lhe impressas em função do rígido e repressor
sistema escolar da tradicional escola pública que frequentou neste período.
A atividade desportiva auxiliou Wilfred a desenvolver maior integração com
os colegas, tornando-se capitão de equipes desportivas de rúgbi, natação e
waterpolo.
Nesse período, também evidenciou seu brilhantismo como estudante. Aos 19
anos ingressou nas Forças Armadas, onde se destacou devido às suas
competências intelectuais e desportivas.
Atuou na I Grande Guerra com distinção, chegando a ser condecorado no
Palácio de Buckingham, em função de seu desempenho em uma arriscada ação
bélica.

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Na carreira militar atingiu a patente de capitão. Ao término da Guerra foi para
a Universidade de Oxford, onde estudou História Moderna, Filosofia - demonstrando
53
interesse especial por Kant - e Teologia, licenciando-se em Letras, o que o levou a
se dedicar ao magistério. Também apresentava talento inegável para pintura
impressionista.
Ao ler Freud, ficou fascinado e resolveu fazer medicina e se tornar
psicanalista. Após sua formatura, como médico, aos 33 anos, conseguiu algumas
condecorações como cirurgião. Em seguida, envolveu-se com a prática psiquiátrica
e se empregou na Tavistock Clinic.
Analisou-se por dois anos com J. Rickmann, quando a II Guerra provocou a
interrupção do processo analítico. Bion continuava a trabalhar na Tavistock quando
voltou ao exército, em 1940, em plena 2ª Guerra Mundial; neste período se dedicou
à reabilitação dos pilotos do exército. Com o final da Guerra, voltou a trabalhar na
Tavistock com grupos.
Essas experiências foram relevantes para suas concepções sobre trabalho
com grupos. Bion conhece Betty Jardine, famosa atriz de teatro e com ela se casa.
Mas em 1945, então com 48 anos, seu casamento termina com a morte
prematura de Betty durante o parto de sua filha Partenope. Este fato o deixa
profundamente consternado, levando-o reiniciar sua análise, desta vez com Melanie
Klein, processo que durou oito anos.
Durante este período, retornou para sua formação no Instituto de Psicanálise
de Londres. Casou-se pela segunda vez com Francesca, que era pesquisadora e
sua assistente na Tavistock. Tiveram um casal de filhos, Julian e Nicola. Francesca
vive até hoje em Oxford, onde zela pela obra do marido.
Partenope se tornou psicanalista na Itália, vindo a falecer, prematuramente,
em um acidente de automóvel no final da década de 1990.
Bion fez diversas viagens pelo mundo, chegando a proferir algumas
conferências no Brasil e Argentina; muitas delas em São Paulo.
O clima em Londres começou a despertar muita rivalidade entre ele e os
kleinianos e isto o fez aceitar um convite para residir na Califórnia, onde permaneceu
por 11anos.

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Em agosto de 1979, decide voltar para a Inglaterra; parece que desejava se
reaproximar dos filhos e se preparava para voltar a clinicar quando foi acometido
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cronicamente por leucemia mieloide aguda.
Ao tomar ciência do diagnóstico, teria dito: “A vida sempre nos reserva
surpresas, geralmente desagradáveis”. W. R. Bion morreu em questão de dias, com
82 anos, em 08 de novembro de 1979 na cidade de Oxford, na Inglaterra. Bion
escreveu uma autobiografia que se transformou em um livro póstumo, em 1982.
Este relato se intitula, The Long Wekend. Segundo Bléandonu, um de seus
biógrafos, Bion aumentou nosso prazer em aprender. Reexaminou as coisas a partir
de seus começos, e descobriu um novo caminho para a psicanálise. Surge, então,
como verdadeiro inovador de uma prática moderna. (Bléandonu, 1990).
Diante do exposto, é inegável a preciosa contribuição de Bion ao contexto
teórico e metodológico das concepções da Psicanálise da época o que perpetuou o
seu nome com um dos grandes representantes desta área até a
contemporaneidade.

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CAPÍTULO VII
UMA PSICANÁLISE NA ATUALIDADE
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A Psicanálise contemporânea abre espaço para o surgimento de um processo


psicanalítico mais autêntico, realizado por profissionais muito mais participantes da
realidade do cotidiano, sendo eles mesmos, nas suas emoções e na sua
autoanálise, instrumentos a serviço do sucesso terapêutico.
Tal percepção torna o processo psicanalítico muito mais real e produtivo,
transformando o chamado setting analítico, inicialmente considerado um espaço
abstrato, livre de influências exógenas, no campo de expansão da emoção e do
imaginário, que se estabelece na interação paciente-analista.
Sendo caracterizada por um processo transferencial contratransferencial
intenso, rico na sua essência, que pode ser interpretado simbolicamente como
sendo um processo onde “pessoas cuidam de pessoas”.
Nem por isso, o psicanalista se divorcia das suas bases teóricas, dos
conceitos estruturantes do seu saber, mas lhes proporciona uma ressignificação
adequada às demandas da vida moderna. A práxis psicanalítica contemporânea
incorpora processos relacionais diferentes, sempre relegados a um segundo plano
pela ortodoxia acadêmica, tais como herança de caráter por ressonância,
comunicação entre paciente e terapeuta pela ligação dos inconscientes, entre
outros.
A psicanálise contemporânea, leva em consideração sintomas relacionados
com a interpretação da influência dos fatores hereditários, tais como aqueles
relacionados com processos de transtornos mentais mais leves.
Estes podem ser, especialmente, as neuroses, considerados atualmente
como realmente passíveis de transmissão através da descendência familiar, não
necessariamente pela herança genética, mas por diversos fatores capazes de
facilitar a continuidade de sintomas na convivência do grupo.
A possibilidade de que a presença de um membro com um transtorno
neurótico estruturado na família pode provocar, no paciente, a reprodução de
sintomas similares naqueles que com ele convivem, tornando-se por isso mesmo um

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neurótico também (os chamados neuróticos de adaptação segundo a Classificação
Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde).
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Isso estende o campo dos sofrimentos individuais, que se faz extensivo a todo
o grupo familiar, causando desestruturações capazes de culminarem em separações
ou tragédias maiores. Alguns dos relatos de violência que campeiam nos noticiários
da mídia tiveram origem em pequenos transtornos mentais negligenciados pelos
familiares e que poderiam ter sido evitados se as medidas terapêuticas cabíveis
fossem tomadas.
A psicanálise contemporânea considera da maior importância à influência da
cultura do grupo familiar, que pode levar à cristalização mental de preconceitos
ligados à culpa, ao medo, à disciplina autoritária, à violência física e sexual, a fatores
relacionados com pobreza e carência de infraestrutura social, educação e
dependência química.
Estes se instalam nos descendentes como se fossem comportamentos
naturais, e até que o são no ambiente doentio em que vivem, mas incapacitantes
para uma vida feliz.
Deve tratar também, as marcas no inconsciente decorrentes da atividade dos
complexos processos mentais, carregados de emoções, através dos quais se
estabelecem ligações de forma imperceptível entre as pessoas.
A influência das facilidades de comunicação e interação à distância, a
possibilidade de disfarçar traços psicóticos da personalidade, mediante a utilização
de ferramentas de comunicação eletrônica instantânea.
A deturpação da realidade, mediante a utilização de publicidade carregada de
simbolismos divergentes da própria cultura na qual estão inseridos, deformando a
realidade e transformando-a em uma hiperealidade.
Tudo isso, com parâmetros referenciais imaginários que arrastam crianças e
adultos, a criarem e sofrerem de angústias e neuroses estabelecidas de forma
proposital, com objetivo de estabelecer necessidades de adoção de padrões de vida
e consumo totalmente diversos da realidade em que vivem.
A psicanálise contemporânea deve conviver com essa realidade e adequar
suas técnicas e terapias de forma a compreender e estimular a necessidade de um
retorno dos pacientes à realidade, ao cotidiano.

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Um retorno permanente às escolas clássicas da psicanálise pode ser
interpretado como uma contínua busca de promover uma ressignificação das
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próprias pulsões de vida e de morte do individuo.
O Psicanalista deve ser capaz de criar uma sincronicidade espiritual,
construindo, através de um processo de renascimento do ser um novo individuo que
tem que se reencontrar a si próprio, como Ave Fênix que renasce de suas cinzas,
facilitando neste encontro consigo mesmo o despertar de uma nova necessidade de
busca de soluções comuns.
Certamente que o século XXI é um tempo de novas descobertas e de
democratização dos conhecimentos no campo psicanalítico.
No entanto, cabe a cada psicanalista colaborar, através de sua prática e
pesquisa, com o processo de consolidação do conhecimento da saúde mental das
pessoas, principalmente a partir do correto entendimento da essência do
pensamento do ser humano.
Logo, esse caminho, a ser trilhado hoje, pavimenta a estrada psicanalítica
futura, fortemente centrada na busca de respostas aos dilemas e conflitos que cada
vez mais atormentam o pensamento da humanidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Chegou-se ao término da leitura deste material introdutório, do ponto de vista


de uma disciplina, que didatizou e traçou um quadro característico, com abordagem
clara e precisa, priorizando todo o contexto necessário, para este momento, desta
área que, indiscutivelmente, mistura o fascínio, pelos que a conhecem e a crítica dos
que não entendem sobre ela.
Nisso tudo, o importante é conhecer para poder colocar-se um juízo de valor
através de um posicionamento crítico e real sobre fatos e descobertas. Mas apreciar
as 7 Escolas e o desenrolar das ideias de seus precursores já está de bom tom,
inicialmente, além, obviamente, da apropriação de cada uma para futura
compreensão maior do elo que desencadeia tudo que temos na contemporaneidade.
Diante disso e do o exposto neste importante material, é irrefutável que as
ideias freudianas são importantíssimas para a compreensão de todo o contexto da
Psicanálise e suas minúcias; tão bem elaboradas no pensamento freudiano e suas
pesquisas, que comtemplaram tanto a teoria como a prática.
Logo, todo este material, necessita de mais leituras dele e de outras fontes,
mas, principalmente de reflexão sobre o que foi dito e discutido a quem deseja
conhecer e/ou atuar com o saber psicanalítico.

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REFERÊNCIAS

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ETCHEGOYEN, R. Horácio. Fundamentos da Técnica Psicanalítica. Tradução:


Francisco Frank Settineri. 2ª ed. Porto Alegre; Artmed; 2004.

FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud: edição


standard brasileira. Comentários e notas de James Strachey, em colaboração com
Anna Freud, assistido por Alix Strachey e Alan Tyson; tradução do alemão e do
inglês sob direção geral de Jayme Salomão. 24 volumes; Rio de Janeiro; Imago;
1996.

LAPLANCHE Jean, PONTALIS Jean – Bertrand. Vocabulário de Psicanálise /


Laplanche e Pontalis: sob a direção de Daniel Lagache; Tradução Pedro Támem; 4ª
edição; São Paulo; Martins Fontes, 2001.

MIJOLLA, Alain de. Dicionário Internacional da Psicanálise – Conceitos, noções,


biografias, obras, eventos, instituições. Direção geral de Alain de Mijolla, comitê
editorial Sophie de Mijolla – Mellor, Roger Perron e Bernard Golse; Tradução Álvaro
Cabral; 2 volumes; Rio de Janeiro; Imago, 2005.

ROUDINESCO Elisabeth, PLON Michel. Dicionário de Psicanálise / Elisabeth


Roudinesco, Michel Plon; Tradução Vera Ribeiro, Lucy Magalhães; Supervisão da
edição brasileira Marco Antônio Coutinho Jorge; Rio de Janeiro; Jorge Zahar Ed.,
1998.

PISANDELLI, Sergio Pedro - As Sete Escolas da Psicanálise. Creative Commons,


2012.

ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos. Teoria, técnica e clínica.


Porto Alegre; Artmed; Ré-impressão 2010.

__________, David E. Fundamentos psicanalíticos [recurso eletrônico] : teoria,


técnica e clínica : uma abordagem didática / David E. Zimerman. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2007.

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