Você está na página 1de 5

JULIA FERREIRA CARVALHO

SÍNTESE – “PSICOTERAPIA DE CRIANÇAS COM ALTAS


HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO (MONTE E VELOSO, 2022)”

Londrina
2022
O artigo “psicoterapia de crianças com altas habilidades/superdotação”, de
Jessyca Gracy Pereira Veloso e Patrícia Melo do Monte, trata-se de uma investigação
a respeito da atuação do psicólogo clínico junto a crianças com altas
habilidades/superdotação. O estudo foi feito com psicólogas da abordagem cognitivo-
comportamental e que fizeram uma intervenção com Psicoeducação, treino de
habilidades sociais e técnicas de relaxamento com essas crianças.
Monte e Veloso (2022) iniciam o artigo evidenciando algumas ideias acerca da
psicoterapia e sua importância. Dentre elas, visa favorecer o desenvolvimento pessoal,
a superação de conflitos e o autoconhecimento, além de ser um método de tratamento
do sofrimento psíquico através de meios psicológicos como a escuta e o acolhimento,
inicialmente. Desse modo, a psicoterapia pode ser indicada para diversos públicos,
sendo um deles o infantil, pois, com frequência as crianças podem ser levadas à
psicoterapia por seus responsáveis por diversos motivos que elas podem ou não
reconhecer estar vivenciando.
As autoras apontam que na infância ocorre o início da formação de vínculos
afetivos proporcionados pelas relações familiares, sociais e culturais, fase na qual
ocorre o desenvolvimento pessoal através das experiências passadas. Este
desenvolvimento social, juntamente com o emocional, pode ser afetado por diversos
motivos como desempenho na escola e baixa autoestima, podendo sinalizar uma
psicopatologia na idade adulta.
A partir disso, as crianças com altas habilidades/superdotação possuem
especificidades que podem lhes deixar mais vulneráveis ao sofrimento psíquico
(MONTE E VELOSO, 2022). Assim, definem as altas habilidades/superdotação
através de teorias de diferentes autores, como a Teoria das Inteligências Múltiplas de
Gardner, que estabelece este quadro por meio de oito inteligências (lógico-
matemática, linguística, espacial, musical, corporal-cinestésica, naturalista,
intrapessoal e interpessoal), compreendendo a inteligência como um conjunto de
habilidades que envolve operações diversas como memória, cognição, pensamento
convergente e pensamento divergente.
Além deste, citam Renzulli e sua Teoria dos Três Anéis, que considera a
superdotação a partir da intersecção de três traços, sendo eles: habilidade elevada,
compromisso com a tarefa e criatividade envolvidos nas diversas formas de
inteligência. No entanto, destacam que os estudos geralmente se dedicam mais à
essas características cognitivas e necessidades educacionais, deixando a desejar a
atenção a questão socioemocional.
Apontam ainda que o desenvolvimento socioemocional se refere as vivencias
dessas crianças no contexto histórico e cultural, as quais envolvem sentimentos e
emoções, sendo que, aprender esses significados desencadeia pensamentos e ações,
sendo fundamental para a construção das habilidades da criança. Sendo assim, as
relações sociais podem influenciar de forma positiva ou negativa, devendo-se prestar
mais atenção a esses contextos, tentando proporcionar interações positivas,
estabilidade e coesão às necessidades desses indivíduos.
Ainda, destacam que as crianças com altas habilidades podem apresentar
características únicas devido a supervalorização dos aspectos cognitivos, como baixa
autoestima, ansiedade, perfeccionismo, irritabilidade, etc. Isto se dá devido a
intensidade com que a criança com altas habilidades/superdotação sente em suas
vivências, causando conflitos internos. Monte e Veloso (2022) justificam esta questão
a partir da Teoria da Desintegração Positiva (TDP) de Daniels e Piechowsks.
Para o desenvolvimento da psicoterapia nesta especificidade, é importante a
noção das necessidades socioemocionais envolvidas no tema, pois todos os
ambientes que servem como rede de apoio (escola, comunidade, etc.) têm papel
importante na constituição saudável da pessoa com altas habilidades/superdotação,
através de motivações, atitudes e habilidades (MONTE E VELOSO, 2022)
Durante o estudo, as autoras questionaram as principais demandas pelas quais
os familiares das crianças com altas habilidades/superdotação buscam a psicoterapia
e descobriram que estão relacionadas à socialização, sentimento de inadequação,
isolamento por crianças da mesma idade não possuírem os mesmos interesses, baixa
tolerância a frustração, dificuldade nos aspectos sociais e necessidade de ajuste da
demanda escolas.
Tais questões são justificadas pelo desenvolvimento precoce dessas crianças
de consciência do funcionamento da sociedade e, ainda, ao se sentirem frustradas por
atividades acadêmicas monótonas pois não alcançam seu potencial, isolam-se dos
sentimentos e de expressões, resultando no afastamento social.
Além disso, destacam que crianças com altas habilidades/superdotação podem
apresentar dificuldades escolares e muitas vezes isto é incompreendido, não
atendendo as necessidades educacionais do aluno. E, em conjunto, pontuam que
existem casos de crianças com altas habilidades/superdotação com transtorno do
déficit de atenção/hiperatividade, sendo chamada de dupla excepcionalidade. Sendo
assim, combina-se alta performance, talento e habilidade, ocorrendo junto com uma
desordem educacional, sensorial e física, o que pode gerar um desempenho
acadêmico inconstante.
Quanto a psicoterapia, Monte e Veloso (2022) apontam que o objetivo é auxiliar
na expressão das emoções de cada criança e destacam a importância do
psicoterapeuta se utilizar de uma interação continua e lúdica, além de precisar se
mostrar criativo e flexível, juntamente com a teoria e a técnica, uma vez que a TCC é
uma intervenção semiestruturada, objetivo e orientada para metas, abordando fatores
cognitivos, emocionais e comportamentais.
A partir da aplicação da teoria cognitivo comportamental pelas psicólogas, as
autoras apontas para as técnicas utilizadas com uma abordagem mista, escuta
psicanalítica e pesquisa neuropsicológica (para entender a singularidade), sendo elas:
Psicoeducação, questionamento socrático, treino de habilidades sociais e
comportamentais de tolerância à frustração, uso de cartões simbólicos (ligados ao
cotidiano), além dos cartões de enfrentamento em técnicas de relaxamento.
Utilizaram-se ainda de técnicas de relaxamento, de reversão do habito com aplicação
de intervenções comportamentais (para lidar com tiques, hábitos repetitivos e
nervosos) e uso de determinados objetos para estimular o autocontrole e a
autoregulação, etc.
Outra questão revelada pela pesquisa de Monte e Veloso (2022) é que existem
facilitadores no atendimento psicoterápico de crianças com altas
habilidades/superdotação, pois elas demonstram linguagem precoce, boa memória e
interesse em compreender o processo de aprendizagem e os aspectos emocionais
que envolvem, além de fazerem boas associações, terem insights, serem criativas,
etc., sendo assim, essa capacidade cognitiva facilita o processo, em conjunto com o
suporte familiar e a rede de apoio social.
Em contrapartida, foi possível observar também as dificuldades no processo
terapêutico, uma vez que algumas dessas crianças podem se apresentar resistentes a
estratégias ou técnicas mais estruturadas e baixa tolerância à frustração, bem como
dificuldade de habilidades sociais ou de engajamento (MONTE E VELOSO, 2022).
Conforme citado acima, a família e a rede de apoio social são imprescindíveis
para o sucesso terapêutico da criança, pois, muitas vezes pais e professores não
sabem como lidar, manejar ou conduzi-la no dia a dia. De acordo com as autoras,
muitas vezes os familiares se preocupam com o que os filhos aprendem ou assumem
a criança como um ser superior, estimulando questões competitivas, momento em que
a terapeuta deve orientá-los para a redução da super-estimulação.
Estas orientações aos pais e responsáveis se estende aos professores, além
da necessidade de que os educadores estejam habilitados e capacitados para
identificar, atender as crianças, orientar os familiares e, se necessário encaminhar
para reabilitação multidisciplinar.
REFERÊNCIAS

VELOSO, J. G. P. .; MONTE, P. M. do . Psicoterapia de crianças com altas


habilidades/superdotação. DOXA: Revista Brasileira de Psicologia e Educação,
Araraquara, v. 23, n. 00, p. e022004, 2022. DOI: 10.30715/doxa.v23i00.15850.
Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/doxa/article/view/15850. Acesso
em: 1 dez. 2022.

Você também pode gostar