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Universidade Presbiteriana

Neurociência
Aplicada à
Educação e
Aprendizagem 2
módulo

Cognição Social e Aprendizagem


Trilha 1 Cognição Social - conceito e
caracterização
Sumário

1 Apresentação do componente curricular p. 4


2 Introdução ao estudo da trilha de aprendizagem p. 7
3 Sobre Cognição Social p. 9
4 Conceituando Cognição Social p. 12
5 Síntese p. 20
6 Referências p. 22
4
Apresentação
do componente
curricular

Sejam bem-vindos ao componente curricular “Cognição


Social e Aprendizagem”, pertencente ao curso de pós-
graduação em “Neurociência Aplicada à Educação e
Aprendizagem”. Este componente possui oito trilhas de
aprendizagem que darão respaldo ao profissional para
compreender a importância do processamento de informação
social e emocional, que se inicia desde os primeiros anos
de vida, seu impacto na aprendizagem, como as habilidades
sociais e emocionais se desenvolvem, suas alterações e
formas de estimulação.

Este componente terá oito e-books, sendo cada um


correspondente a uma trilha de aprendizagem. Este
primeiro contempla o conceito de cognição social e suas
características, com o objetivo de apresentar aos alunos as
mudanças conceituais, as semelhanças e divergências entre
diferentes autores sobre quais são as principais habilidades
que compõem a nossa cognição social e suas características.

Já a segunda trilha de aprendizagem abordará um dos


principais e mais conhecidos domínios da nossa cognição
social, a percepção de emoções. O segundo e-book
apresentará informações sobre o desenvolvimento da
percepção de emoções (PE), as suas características
básicas e universais, bem como aspectos mais complexos e
relacionados ao controle e regulação emocional.

O terceiro tópico do nosso conteúdo, abordado na terceira


trilha de aprendizagem, será a Teoria da Mente. Portanto,
o terceiro e-book trará informações sobre os aspectos
implícitos e explícitos da Teoria da Mente, o desenvolvimento
5 da nossa capacidade de atribuição de estados mentais
simples e complexos, considerando os marcos esperados
desde a primeira infância até a vida adulta.

Após a aquisição sobre as principais características da


cognição social e como elas se desenvolvem, a quarta trilha
terá como tema as neurociências. Nela, será apresentado
o “cérebro social”, estruturas e circuitarias associadas ao
nosso comportamento social e emocional. Será discutida
a hierarquia do processamento de informação social e
emocional, o papel dos neurotransmissores e como as
neurociências contribuem para a nossa compreensão de
fenômenos complexos como tomada de decisão e julgamento
moral.

A quinta trilha de aprendizagem corresponde aos quadros


que apresentam alterações de cognição social na infância,
principalmente os transtornos do neurodesenvolvimento,
como a deficiência intelectual, o autismo e o TDAH. Também
serão discutidas as alterações nos transtornos disruptivos,
como no Transtorno de Oposição e Desafio, o Transtorno de
Conduta e o Transtorno Explosivo Intermitente. Por fim, será
abordado o transtorno da desregulação do humor.

O sexto e-book, correspondente à sexta trilha, discutirá


a relação entre cognição social e competências
socioemocionais, considerando o papel preditor da cognição
social para o sucesso e qualidade nas interações sociais
em diferentes contextos. Nesta etapa, será abordada a
importância da cognição social no contexto da aprendizagem
e o papel da educação na promoção socioemocional das
crianças.

Dando continuidade ao tópico anterior, o sétimo e-book


terá como tema o impacto dos prejuízos socioemocionais
na aprendizagem, principalmente no sucesso escolar e
os pressupostos para a estimulação das competências
socioemocionais em contexto escolar, considerando
resultados de estudos nacionais e internacionais.
6 Por fim, o oitavo e último e-book deste componente
curricular apresentará estratégias de ensino individualizado
ou em pequenos grupos para crianças com prejuízos mais
significativos de percepção de emoções e de teoria da mente.
Tais estratégias são necessárias ao considerar os processos
de diferenciação de instrução e adaptações de atividades
para crianças cujos prejuízos são mais proeminentes e que,
por vezes, podem limitar as oportunidades de interação e
aprendizagem social.
7
Introdução ao
estudo da trilha de
aprendizagem

Esta primeira trilha de aprendizagem tem por objetivo


apresentar o principal construto deste componente curricular,
a cognição social e suas características.

Você já reparou que “cognição” é um termo constantemente


utilizado quando nos referimos à aprendizagem? Antes
de explorarmos sua aplicação às informações sociais e
emocionais, vamos à etimologia da palavra “cognição”. Sabe-
se que sua origem vem do latim cognitĭo,ōnis, que significa
ato ou ação de conhecer, ou seja, cognição está na base do
nosso processo de aquisição de conhecimento sobre o
mundo.

Nós temos um conjunto de funções que nos permite adquirir


conhecimento, tais como nossos processos perceptuais,
atencionais, mnemônicos, de raciocínio, linguagem, entre
outros.

! Nesta trilha, abordaremos especificamente os processos


cognitivos necessários para a aquisição, interpretação e
controle de informações sociais e emocionais, ou seja,
como tais informações são percebidas, como elas ganham
significado (como as compreendemos) e também como as
utilizamos para resolver problemas, para tomar decisões e
atingir objetivos.

Já que cognição se refere ao ato de aquisição de


conhecimento sobre o mundo, esta trilha apresentará
modelos cognitivos, ou seja, representações teóricas que
tentam explicar, a partir dos achados prévios da literatura,
a forma como percebemos, trabalhamos e utilizamos as
informações sociais e emocionais.
8 Além das mudanças no conceito de cognição social, serão
abordadas diferentes habilidades que compõem nosso
processamento de informação social e emocional, sua
importância e principais características. Atente-se às
indicações de vídeos e leituras complementares que irão
auxiliar na consolidação da aprendizagem!
9
Sobre Cognição Social

! Somos seres sociais? Sim, somos! Apesar de o nosso


mundo social e emocional ser repleto de nuances e de
complexidade, biologicamente nascemos com uma pré-
disposição para a interação social e expressão de uma
variabilidade de emoções. E o que isso significa?

Ao nascer, somos dotados de uma programação genética


associada ao desenvolvimento e funcionamento de
determinadas áreas cerebrais que permitem a nossa
orientação automática para estímulos que são sociais em
detrimento daqueles não sociais.

Um estudo bastante conhecido, publicado em 1991 por


Johnson e colaboradores, mostrou que bebês recém-
nascidos, já no primeiro mês de vida, apresentam maior
orientação (direção da cabeça e dos olhos) para estímulos
que representam rostos humanos quando comparados a
estímulos neutros. O mesmo ocorre quando comparados
a estímulos que apresentam as características de faces
humanas (olhos, nariz e boca), mas embaralhados. Os
resultados desse estudo mostraram uma preferência inata
por estímulos que se assemelham a rostos.

Figura 1 - Ilustração
do estudo sobre
orientação de bebês
recém-nascidos.
Fonte: JOHNSON et
al. (1991).
10 Mas não apenas a semelhança com o rosto humano pode ser
suficiente para atrair e manter a atenção de um bebê. Farroni,
Menon e Johnson (2006) avaliaram bebês com 24 a 120 horas
de nascimento. Foram apresentadas a estes bebês duas
faces: uma com o olhar direcionado para o bebê e a outra com
o olhar desviado para o lado, conforme a figura 2. Neste caso,
os bebês fixaram mais o olhar e por mais tempo na face cujo
olhar estava direcionado a eles.

Figura 2 - Olhar
direcionado e olhar
não-direcionado
aos bebês. Fonte:
FARRONI; MENON;
JOHNSON (2006).

+ Saiba mais sobre ambos os estudos em:


• JOHNSON, M. H. et al. Newborns’ preferential
tracking of face-like stimuli and its subsequent decline.
In: Cognition, 40(1-2), p. 1-19, 1991.
• FARRONI, T.; MENON, E.; JOHNSON, M. H. Factors
influencing newborns’ preference for faces with
eye contact. In: Journal of Experimental Child
Psychology, 95(4), p. 298-308, 2006.

Isso significa que a natureza nos faz seres biologicamente


orientados para a interação social e o ambiente pouco ou
nada contribui para isso? Se você pensou que a resposta é
“não”, acertou!
11 Apesar da nossa predisposição a nos orientarmos para
! informações socialmente relevantes, as nossas primeiras
interações com os principais cuidadores, as experiências
para além do ambiente familiar, com os pares nas escolas
e comunidade, de modo geral, modificam e consolidam as
circuitarias cerebrais responsáveis pela nossa cognição
social. Essas experiências são necessárias para que
possamos adquirir conhecimento social e utilizar essas
informações sociais e emocionais de modo flexível, ou seja,
de acordo com o contexto.

Se existem fatores biológicos e ambientais que influenciam


a nossa cognição social, podemos dizer que existe uma
variabilidade deste processo entre os indivíduos? Sim!
Algumas pessoas possuem a cognição social melhor
desenvolvida do que outras, conforme ilustrado na figura 3 a
seguir.

Figura 3 - Exemplo
de curva normal.
Fonte: Elaborado
pelo autor.
12
Conceituando
Cognição Social

A definição de cognição social foi mudando ao longo do


tempo em função dos avanços nas pesquisas, principalmente
na área das neurociências e dos estudos com indivíduos
com alterações de cognição social, tais como no Transtorno
do Espectro do Autismo e quadros psiquiátricos, como a
Esquizofrenia (PINKHAM et al., 2014; HAPPÉ; COOK; BIRD,
2017).

Apesar de não existir uma definição única e consensual na


literatura a respeito da cognição social, vamos seguir uma
linha do tempo para compreender as concepções atuais
sobre o construto. Vamos iniciar a nossa linha do tempo nas
décadas de 50 a 60 com a chamada revolução cognitiva na
psicologia.

Este movimento foi impulsionado por alguns cientistas


cognitivos, sendo um dos principais expoentes o norte-
americano Avram Noam Chomsky, que apontava de forma
bastante crítica as limitações das teorias e modelos
existentes para explicar alguns aspectos complexos como
a linguagem, por exemplo. De acordo com Eysenck e Keane
(2017), a psicologia cognitiva possui alguns pressupostos:

! • processamento da informação: um input (entrada)


sensorial é transformado, reduzido, elaborado,
armazenado, recuperado e usado (output);
• a mente é formada por processos cognitivos
diferentes, porém, interrelacionados;
• o principal responsável pela vida mental é a
organização do conhecimento;
• processos cognitivos que sustentam eventos mentais
devem ocorrer dentro de uma ordem específica, pelo
menos em algumas situações;
13 • eventos mentais são abstratos e por isso mais
facilmente compreendidos utilizando uma análise
abstrata;
• apesar de os eventos mentais dependerem de um
substrato neurológico, não se restringem a ele;
• o ser humano é autônomo e interage com o mundo
externo com intencionalidade;
• a interação se dá por meio da mente, que é um
processador de símbolos e significados, os quais terão
relação com as coisas do mundo externo.

Com a revolução cognitiva, a psicologia social, área que até


então se preocupava com a compreensão dos fenômenos
sociais, incorporou a abordagem cognitiva, ou seja, o
processamento da informação para o contexto social, na
busca de compreender os aspectos cognitivos envolvidos
nas interações sociais. Desta forma, trazia para o âmbito da
psicologia cognitiva a busca pela compreensão de questões
há muito discutidas e debatidas em psicologia social, tais
como a maneira como formamos as nossas impressões
acerca dos outros, e explicamos o seu comportamento, como
resolvemos conflitos ou até mesmo como as nossas reações
podem ser influenciadas pelo preconceito (GARRIDO;
AZEVEDO; PALMA, 2011; MECCA; DIAS; BERBERIAN, 2016).

+ Saiba mais em:


• GARRIDO, M. V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T.
Cognição social: Fundamentos, formulações actuais e
perspectivas futuras. In: Psicologia, 25(1), p. 113-157,
2011.
• MECCA, T. P.; DIAS, N. M.; BERBERIAN, A. A.
Cognição social. In: MECCA, T. P.; DIAS, N. M.;
BERBERIAN, A. A. (Orgs). Cognição Social: Teoria,
Pesquisa e Aplicação. São Paulo: Editora Memnon,
2016. (p. 11-25).

A partir das décadas de 50 e 60 do século XX, baseando-se


nos pressupostos da psicologia cognitiva, pesquisadores
passaram a investigar como percebemos, interpretamos
14 e utilizamos informações sociais e emocionais para tomar
decisões. O quadro 1 apresenta a evolução do conceito de
cognição social de modo mais amplo.

Data Autor(es) Definição

1981 Lamb & Sherrod Maneira que um indivíduo percebe


e interpreta a informação social
e emocional do outro.

1987 Fu, Goodwin Entendimento das relações entre os


& Sporakowki próprios sentimentos, pensamentos
e as ações.

1990 Brothers Operações mentais que estão


subjacentes e são necessárias
às interações sociais

1991 Fiske & Taylor O que os indivíduos pensam sobre


terceiros.

1997 Penn et al. Diferenciação entre cognição social


(estímulos socialmente relevantes e
mutáveis, compreensão de situação
social complexa, realização
de inferências e não social
(natureza não afetiva dos estímulos)).

1999 Adolphs Capacita os indivíduos a construírem


representações das relações com os
outros e utilizá-las de forma flexível.

2001 Adolphs Processamento de estímulos sociais para


que ocorra uma resposta adaptativa.

2006/ Couture et al; Conjunto de habilidades compostas por


2008/ Green et al.; processamento de emoções, atribuição
2014 Pinkham et al. de estados mentais ao outro, percepção
social e estilo de atribuição das
Quadro 1 - Evolução informações sociais e emocionais.
do conceito de
Cognição Social. 2017 Happé, Cook Processamento de estímulos relevantes
& Bird para compreensão de indivíduos
Fonte: Elaborado (da mesma espécie) e suas interações
pelo autor.

Como podem observar, em diversos momentos nas


definições do construto aparecem os termos: operações,
processos, habilidades. Mas quais seriam estas operações?
Como ocorre o processamento das informações sociais e
emocionais? Quais são as habilidades que fazem parte da
nossa cognição social?
15 Imaginem a cognição social como um grande guarda-chuva
! sob o qual encontra-se um conjunto de processos, uns mais
simples e básicos, outros mais complexos. Cada um deles
apresenta cursos diferentes de desenvolvimento. Embora
sejam processos diferentes, eles atuam de forma integrada
para que possamos fazer uma boa leitura social e responder
ao ambiente de forma adequada.

Pinkham e colaboradores (2014) realizaram um levantamento


com experts, em sua maioria, pesquisadores proeminentes na
área de esquizofrenia e transtorno do espectro do autismo.
Na primeira etapa deste estudo, os autores verificaram quais
os domínios críticos da Cognição a partir de consenso dos
especialistas. Após esta etapa, quatro domínios principais
foram elencados:

Processamento Percepção
Figura 4 - Principais
de emoções social
domínios críticos
da Cognição. Fonte:
Elaborado pelo
Teoria da Mente ou
autor com base Estilo ou viés
atribuição de estados
em PINKHAM et al. de atribuição
mentais
(2014).

! Processamento (ou percepção) de emoções: capacidade


de perceber e usar emoções de forma adequada.

A percepção de emoções se subdivide em três subdomínios,


sendo o primeiro mais básico, considerado primário e os
demais, mais complexos (secundários):
• reconhecimento de expressões faciais e
reconhecimento de emoções a partir de dicas não faciais,
como, por exemplo, o tom da voz;
• compreensão do conteúdo emocional, ou seja, sua
interpretação (entendimento do seu significado);
• manipulação e gerenciamento (regulação) das
emoções.
16 Percepção social: capacidade de decodificar e interpretar
! dicas sociais de acordo com o ambiente.

Para que o indivíduo tenha uma boa percepção social, é


necessário que possa perceber e compreender o contexto
no qual a informação social é apresentada. Isto inclui
conhecimento social geral, ou seja, entendimento das regras
sociais, suas funções e objetivos, e como estes elementos
influenciam e modulam os comportamentos dos outros.

De modo geral, as tarefas que avaliam percepção social


geralmente requerem que o indivíduo perceba dicas sociais
a partir de estímulos tanto verbais quanto não-verbais para
que possa fazer inferências sobre as situações sociais.
São situações complexas ou ambíguas nas quais se deve
identificar alguma característica, como, por exemplo, estado
de humor ou a veracidade da informação dita por uma
personagem.

! Teoria da Mente: capacidade de atribuir estados mentais,


como pensamentos, emoções, crenças, desejos e intenções
aos outros e diferenciá-los dos próprios estados mentais.

A Teoria da Mente é um sistema de inferências que permite


aos indivíduos imputar estados mentais, o que está associado
à conscientização de que os comportamentos dos indivíduos
resultam de estados mentais implícitos. Isso pressupõe a
compreensão de que nem sempre os estados mentais são
compatíveis com a realidade e que eles diferem entre os
indivíduos.

! Viés ou estilo de atribuição: declarações causais, ou seja,


como inferirmos as causas dos acontecimentos, fazendo
atribuições tanto negativas quanto positivas.

Os estilos de atribuições podem ser: externos, a outras


pessoas; internos, ou seja, a si mesmo; e podem ser feitos às
situações, ou seja, a fatores ambientais. Estudos realizados
com pacientes com esquizofrenia mostram que estes
17 indivíduos tendem a apresentar atribuições negativas aos
outros, mais do que às situações. Há também uma tendência
a atribuições mais hostis das ações e comportamentos do
outro.

+ Para saber mais, leia:


• GREEN, M. F. et al. Social cognition in schizophrenia:
an NIMH workshop on definitions, assessment, and
research opportunities. In: Schizophrenia bulletin,
34(6), p. 1211-1220, 2008.
• PINKHAM, A. E. et al. The social cognition
psychometric evaluation study: results of the expert
survey and RAND panel. In: Schizophrenia Bulletin,
40(4), p. 813-823, 2014.

Há outros autores que descrevem os processos envolvidos na


cognição social de forma hierárquica, ou seja, dos processos
básicos até aqueles mais complexos. Um exemplo é o modelo
proposto por Panksepp (2011), que sugere um modelo
hierárquico causal a respeito de três sistemas emocionais:
primário, secundário e terciário. A figura 5 revela o modelo
proposto pelo autor:

PROCESSO-TERCIÁRIO - Regulação,
manipulação, controle, pensamentos
e uso reflexivo sobre as emoções

BOTTOM-UP
Influências sobre
reflexões e
pensamentos

PROCESSO-SECUNDÁRIO - Aprendizagem
(compreensão dos significados e das causas
das emoções)
Figura 5 - Modelo
hierárquico causal
BOTTOM-UP
a respeito de três Aprendizagem e
sistemas emocionais desenvolvimento
proposto por
Panksepp. Fonte:
PROCESSO-PRIMÁRIO
Adaptado de de reconhecimento de emoções
PANKSEPP (2011).
18 Os processos primários e os mecanismos de controle
de “bottom-up” prevalecem durante a primeira infância.
Já os processos terciários e os mecanismos de controle
“top-down” são consolidados até a vida adulta. Em termos
ontogenéticos, o reconhecimento de emoções básicas
desenvolve-se no início da vida humana, enquanto emoções
secundárias ou sociais (culpa, vergonha, orgulho, ciúme
etc.) dependem das experiências de aprendizagem e dos
processos de socialização (ANDRADE et al., 2017).

+ Para saber mais, leia:


• ANDRADE, N. C. et al. Reconhecimento de emoções:
reflexões para a promoção de saúde na primeira
infância. In: MECCA, T. P.; DIAS, N. M.; BERBERIAN,
A. A. (Orgs). Cognição Social: Teoria, Pesquisa e
Aplicação. São Paulo: Editora Memnon, 2016. (p. 26-47).

Por fim, há um modelo, também hierárquico, descrito por


Happé, Cook e Bird (2017), que pressupõe a cognição social a
partir de dois módulos: habilidades de percepção emocional
e habilidades de auto e heterorregulação. Os autores
descrevem os módulos compostos por habilidades distintas,
porém relacionadas. A figura abaixo ilustra esse modelo
bimodal.

Compreensão Controle
Empatia
de crença falsa de imitação

Auto/Hetero Controle

Figura 6 - Modelo Reconhecimento Contágio


Representação Representação Reconhecimento Imitação
da crença da própria
bimodal de Happé, emocional emocional do outro crença
de ação automática

Cook e Bird. Fonte:


Tradução do
modelo de HAPPÉ,
COOK; BIRD (2017)
Percepção Social
por MECCA &
BERBERIAN (2018).
19 De acordo com o modelo proposto por Happé, Cook e Bird,
a cognição social possui um módulo básico de percepção da
informação social. Este módulo é composto por habilidades
de reconhecimento e contágio emocional, de representação
da própria crença bem como do outro, do reconhecimento de
ação do outro e imitação automática. Trata-se de habilidades
básicas (primárias e secundárias, de acordo com o modelo
de Panksepp) que permitem reconhecer a emoção, os
estados mentais e a ação do outro, assim como reagir a
estas informações de forma automática. Já as habilidades
de controle são mais complexas (terciárias) e dependem de
processos complexos, tais como as funções executivas e a
regulação emocional e comportamental.
20
Síntese

Em suma, cognição social refere-se às operações mentais


que nos permitem perceber, interpretar (compreender) e
utilizar as informações emocionais e sociais de modo flexível
para fornecer uma resposta que seja adaptativa.

Isso implica processar as próprias informações sociais e


emocionais, as informações de outros indivíduos da mesma
espécie e também compreender a forma como os outros
processam essas informações de terceiros. Estas habilidades
permitem também prever comportamentos e, desta forma,
emitir respostas que sejam socialmente mais habilidosas,
garantindo o sucesso nas nossas interações sociais.

Como podemos observar, a cognição social não é unitária e


sim um conjunto de diferentes processos. Embora não exista
um consenso na literatura, vimos que alguns autores apontam
para uma estrutura das habilidades em função do nível de
complexidade e curso de desenvolvimento.

Há habilidades básicas de percepção e reconhecimento de


emoções, pensamentos e ações, habilidades secundárias
de compreensão (entender o significado) das informações
sociais e emocionais e habilidades mais complexas que
envolvem o raciocínio, reflexão e controle de tais informações,
visando uma resposta adaptativa.

... Vamos treinar?

Imagine que você está em uma reunião de família e


menciona durante o almoço que está cursando uma
pós-graduação em Neurociência aplicada à educação e
aprendizagem e que, em sua última trilha, estudou sobre
cognição social. Seus avós, tios e primos ficam curiosos e
perguntam: “O que é cognição social?”.
21 Como você explicaria este conceito a eles, de modo que
pudessem entender?
22
Referências

ANDRADE, N. C. et al. Reconhecimento de emoções:


reflexões para a promoção de saúde na primeira infância.
In: MECCA, T. P.; DIAS, N. M.; BERBERIAN, A. A. (Orgs).
Cognição Social: Teoria, Pesquisa e Aplicação. São Paulo:
Editora Memnon, 2016. (p. 26-47).

EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de psicologia


cognitiva. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

FARRONI, T.; MENON, E.; JOHNSON, M. H. Factors influencing


newborns’ preference for faces with eye contact. In: Journal
of Experimental Child Psychology, 95(4), p. 298-308, 2006.

GARRIDO, M. V.; AZEVEDO, C.; PALMA, T. Cognição social:


Fundamentos, formulações actuais e perspectivas futuras. In:
Psicologia, 25(1), p. 113-157, 2011.

GREEN, M. F. et al. Social cognition in schizophrenia: an


NIMH workshop on definitions, assessment, and research
opportunities. In: Schizophrenia bulletin, 34(6), p. 1211-1220,
2008.

HAPPÉ, F.; COOK, J. L.; BIRD, G. The structure of social


cognition: In(ter) dependence of sociocognitive processes. In:
Annual review of psychology, 68, p. 243-267, 2017.

JOHNSON, M. H. et al. Newborns’ preferential tracking of


face-like stimuli and its subsequent decline. In: Cognition,
40(1-2), p. 1-19, 1991.

MECCA, T. P.; DIAS, N. M.; BERBERIAN, A. A. Cognição social.


In: MECCA, T. P.; DIAS, N. M.; BERBERIAN, A. A. (Orgs).
Cognição Social: Teoria, Pesquisa e Aplicação. São Paulo:
Editora Memnon, 2016. (p. 11-25).
23 MECCA, T. P.; DIAS, N. M.; BERBERIAN, A. A. Tarefas
para avaliação de cognição social em crianças e adultos.
In: MIOTYO, E. C. et al. (Orgs). Manual de avaliação
neuropsicológica: A prática da testagem cognitiva. São
Paulo: Memnon, 2018.

PANKSEPP, J. Cross-Species Affective Neuroscience


Decoding of the Primal Affective Experiences of Humans and
Related Animals. PLOS ONE, 6(9): e21236. 2011. Disponível
em: <https://doi.org/10.1371/journal.pone.0021236>. Acesso
em: 15 mar. 2021.

PINKHAM, A. E. et al. The social cognition psychometric


evaluation study: results of the expert survey and RAND
panel. In: Schizophrenia Bulletin, 40(4), p. 813-823, 2014.
Universidade Presbiteriana

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