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CAPÍTULO LIVRO DIDÁTICO

Disciplina:

Cursos que a disciplina é ofertada:

Ementa:

Professor:
APRESENTAÇÃO

Descreva o texto que apresentará todo o livro.


Essa apresentação só é indicada no Capítulo 1, mas você pode ir escrevendo o parágrafo
explicativo para ser incluído na apresentação conforme você produz todos os capítulos.
Pense em um texto de até duas páginas.
CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS E CONCEITOS BÁSICOS

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de


aprendizagem:

Saber:
• Concepções básicas sobre o desenvolvimento humano na Infância e Adolescência.
• Principais características do desenvolvimento atípico.
• Princípios de avaliação clínica na Infância e Adolescência.
• Principais aportes teóricos da Psicologia da Infância e Adolescência.

Fazer:
• Identificar as características desenvolvimentais típicas e atípicas da Infância e
Adolescência.
• Compreender como ocorrem os processos de avaliação inicial de crianças e
adolescentes
• Identificar diferentes aportes teóricos e técnicos de intervenção psicológica em crianças
e adolescentes.
1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Apresentar a introdução do capítulo, discutindo o tema proposto.


Elabore um texto de até uma página.
2 DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA: COMPREENDENDO O DESENVOLVIMENTO HUMANO

Introduz-se o capítulo, a partir de reflexões que propõem a compreensão do processo de


desenvolvimento humano em toda a sua complexidade. Para tanto, percorre-se algumas noções
psicanalíticas a propósito da imprescindibilidade de conflitos nas relações humanas.
Assim, concebe-se que é paradoxal a repulsa por parte de profissionais que lidam
cotidianamente com humanos (por exemplo, policiais), daquilo que é inerente às relações: os
conflitos. Para se compreender este processo, recorre-se a contribuições antropológicas quanto à
constituição, estrutura e funcionamento da sociedade brasileira.
Por fim, apresenta-se uma determinada tipologia dos conflitos, que são encontrados nas
relações humanas.
Entende-se que assim se contribuirá para o desenvolvimento do principal material de
trabalho de qualquer profissional que lida com humanos (como o policial): sua subjetividade. E isto
porque o primeiro requisito para a aplicação de métodos autocompositivos de solução de conflitos
é compreender que é apenas a análise dos conflitos (e não sua repressão) que possibilita a
prevenção de suas reincidências.

2.1 Infância

Um pouco de história …

Os primeiros anos de vida humana são fascinantes. Nenhum outro período apresenta
tantas e tão significativas mudanças. É na infância que o corpo se desenvolve, as relações se
constroem e a arquitetura cerebral é moldada, em uma relação intrínseca entre os aspectos
genéticos e o meio ambiente (MUSTARD, 2009; SHOKOFF et al. 2012).
Hoje, o entendimento das características e necessidades próprias da infância pode
contribuir para a promoção do desenvolvimento integral e saudável da criança, uma vez que
oportuniza a oferta de cuidados e intervenções pertinentes as suas demandas. Todavia, o estudo
e a preocupação com a infância, é algo, relativamente, novo.
Conforme Àries (1981), o interesse sobre a particularidade desta fase começa a surgir
somente entre os séculos XVI e XVII, momento em que a sociedade passa a se ocupar da
educação das crianças. Até então, a infância não possuía lugar de destaque na sociedade, uma
vez que “era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança também era logo
perdida” (ARIÈS, 1981, p.52). O cuidado da criança era realizado nos primeiros momentos de
vida, até que pudesse andar e realizar atividades básicas sozinha, a partir daí era vista e vestida
como um “miniadulto”, e inserida na sociedade sem nenhuma distinção.

Até o século XIX, as sociedades ocidentais consideravam as crianças como


pequenos adultos e as tratavam como tal e não como pessoas com competências
e necessidades sociais, afetivas e cognitivas específicas que evoluem de modo
rápido à medida que elas se desenvolvem. O investimento afetivo e econômico
dos pais em seus filhos, embora considerável nas sociedades atuais, é um
fenômeno recente. De fato, durante séculos, esse investimento foi muito limitado.
Muitas crianças morriam nos primeiros anos de vida, e as que sobreviviam
raramente eram educadas, pois desde muito jovens, tinham responsabilidades na
organização social e na sobrevivência econômica da família e da comunidade.
(DUMAS, 2011, p.20)

Em expressões artísticas, como a pintura, se pode analisar o retrato de infância daquele


tempo e espaço histórico.

Fonte:
Fonte:

A mortalidade era sem dúvida uma das mais contundentes justificativas para o “descaso”
com a infância. Investir tempo e recursos em um “animal suspirante” que tinha “tanta
probabilidade de morrer”, era um desperdício (HEYWOOD, 2004). Os avanços das ciências, e o
consequente aumento da perspectiva de vida infantil, possibilitou um novo olhar sobre as
crianças:

Trata-se um sentimento inteiramente novo: os pais se


interessavam pelos estudos dos seus filhos e os
acompanhavam com solicitude habitual nos séculos XIX e XX,
mas outrora desconhecida. (...) A família começou a se
organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância
que a criança saiu de seu antigo anonimato, que se tornou
impossível perdê-la ou substitui-la sem uma enorme dor, que
ela não pôde mais ser reproduzida muitas vezes, e que se
tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar dela
(ARIÈS, 1981, p.12).
O interesse pelo desenvolvimento infantil ganhou espaço e impulsionou formas mais
adequadas de pensar e tratar a infância, de forma progressiva. Novas concepções de infância
foram construídas, com particularidades pertinentes a cada perspectiva sócio-histórica.

Marcos do desenvolvimento infantil

Em geral, os cientistas do desenvolvimento, frequentemente, consideram três domínios


para o estudo das mudanças ocorridas na Infância, sendo eles o físico, cognitivo e
socioemocional (BOYD & BEE, 2011).
O domínio físico refere-se às alterações ligadas ao tamanho, forma e características do
corpo. O cognitivo inclui as mudanças de pensamento, resolução de problemas e demais
habilidades intelectuais. E, o socioemocional trata das mudanças na forma do indivíduo se
relacionar consigo e com os outros. Vale lembrar que esta categorização se estabelece apenas
para facilitar discussões e organizar o estudo do desenvolvimento humano. Os três domínios são
interdependentes (BOYD & BEE, 2011).
No Quadro 1, e nas Figuras 1 e 2, ilustram-se alguns dos principais marcos de
desenvolvimento típico da infância, a partir dos domínios apresentados.

Quadro 1. Principais Desenvolvimentos típicos da Infância


Faixa etária Desenvolvimento Desenvolvimento Desenvolvimento
físico Cognitivo Social
Período Pré-natal Concepção. Aprendizagem e Resposta à voz
(concepção ao Interação entre a memória desde a materna e preferência
nascimento) dotação genética etapa fetal. por ela.
interage e as
influências ambientais.
Formação das
estruturas e os órgãos
corporais básicos.
Desenvolvimento inicial
do cérebro

Primeira Infância Sentidos em Aprendizagem e Desenvolvimento de


(nascimento aos 3 funcionamento desde o memória desde as apego pelos pais e
anos) nascimento, em graus primeiras semanas. pessoas próximas.
diferentes e em Uso de símbolos e Transição da
evolução. resolução de dependência para a
Aumento da problemas, a partir do autonomia.
complexidade cerebral. segundo ano de vida. Aumento de interesse
Crescimento e Compreensão e uso da por outras crianças.
desenvolvimento físico linguagem em
das habilidades desenvolvimento.
motoras.
Segunda Infância (3 Crescimento Pensamento Ampliação de
aos 6 anos) constante. Corpo mais egocêntrico nos autoconceito e
delgado e com primeiros anos. compreensão das
proporções mais Progressivo aumento emoções.
semelhantes ao de um da compreensão do Aumento da
adulto. ponto de vista de independência,
Preferência pelo uso outras pessoas. iniciativa, autocontrole
de uma das mãos. Aperfeiçoamento da e cuidados consigo
Aumento de memória e linguagem. mesmo.
habilidades motoras Inteligência mais Desenvolvimento de
finas e força corporal. previsível. identidade de gênero.
Brincar mais
imaginativo, complexo
e social.
Altruísmo, agressão e
temores são comuns.

Terceira Infância (6 aos Diminuição do Redução do Autoconceito torna-se


11 anos) crescimento. egocentrismo. mais complexo,
Aumento de força e Pensamento lógico e influenciando a
habilidades atléticas. concreto. autoestima.
Puberdade. Aumento das
habilidade de memória
e linguagem.
Abaixo apresenta-se uma representação do desenvolvimento motor da criança, aspecto
que se desenvolve de forma enfática nesta fase da vida.

Figura 1. Desenvolvimento motor no primeiro ano de vida.


Fonte:

Figura 2. Desenvolvimento da criança ao longo da primeira infância


Fonte:
Quer compreender um pouco mais sobre o desenvolvimento infantil? Uma boa dica é
assistir ao filme/documentário O começo da vida (2016), dirigido por Estela Renner e produzido
por Maria Farinha Filmes. A obra apresenta diferentes perspectivas sobre os processos
desenvolvimentais dos primeiros anos de vida, apoiada no discurso de profissionais renomados
de diversas áreas, promovendo ainda, uma reflexão sobre o papel de cada um de nós no
desenvolvimento saudável das crianças de todo o mundo.

2.2 Adolescência

Referências à fase da adolescência remetem à Antiguidade Clássica, permeando os


escritos de filósofos greco-romanos como Sócrates, Platão, Aristóteles, que descrevem a rebeldia,
impulsividade, passionalidade e inconstância do comportamento juvenil. Contudo, durante a Idade
Média a figura do "jovem" desaparece, uma vez que até mesmo as crianças eram vistas como
adultos em miniatura. Assim, durante séculos a adolescência não se distinguia da infância e a
entrada no mundo dos adultos ocorria precocemente (GAUER, DAVOGLIO &VASCONCELLOS,
2012) .
A adolescência, como a concebemos atualmente, surge na Modernidade, tendo o primeiro
adolescente representado pela personagem Siegfried, da ópera homônima de Wagner, o qual
misturava pureza, vitalidade, espontaneidade e alegria. É no século XX que a juventude aparece
como fonte de esperança de renovação da sociedade e se torna a idade favorita, em que "deseja-
se chegar a ela cedo e nela permanecer por muito tempo" (ÀRIES, 2011, p.15).
Conceitualmente, é uma etapa de "transição no desenvolvimento entre a infância e a idade
adulta que envolve grandes mudanças físicas, cognitivas e psicossociais inter-relacionadas"
(PAPALIA et al, 2006, p.440). Boyd & Bee (2011) afirmam que a adolescência:

(…) não é um período associado a uma faixa etária claramente definida. A maioria
das culturas concorda que as mudanças físicas da puberdade marcam o início
desse período. Independentemente da cultura, a tarefa primordial da adolescência
é preparar para a participação na sociedade adulta (BOYD & BEE, 2011, p. 397).
Knobel (1983), em sua concepção de adolescência normal, cita como características
específicas do adolescente:

 Busca de si mesmo e de sua identidade;

 Necessidade de inserir-se e pertencer a um grupo;

 Crises religiosas;

 Necessidade de intelectualizar e fantasiar;

 Hipervalorização do presente;

 Curiosidade sexual;

 Flutuações constantes de humor;

 Separação progressiva dos pais;

 Condutas contraditórias;

 Atividade reinvindicatória antissociais e associais.

Mudanças físicas

Adolescer expõe o organismo a um processo extremo de transformação. O cérebro, por


exemplo, necessita modificar-se para responder aos hormônios da puberdade para que a
adolescência, em si, possa ocorrer (SCHULZ & SISK, 2006). Os ossos e músculos se esticam em
um surto de crescimento, fazendo com que o adolescente estique de 7,5 a 15 cm por ano durante
o período de 2 ou 3 anos.
A maturidade sexual muda as formas do corpo, antes infantil:

Homens: Ocorre a ampliação dos ombros e o aumento muscular; crescimento do pênis e


testículos; aumento de ereções e ejaculações, voluntárias e involuntárias; mudança na voz.

Mulheres: Aumento de gordura em determinadas regiões do corpo (quadris, seios); ocorrência da


menarca (primeira menstruação).
Figura.

Fonte:

Mudanças cognitivas

Durante a adolescência o cérebro cresce e se fortalece de três modos: aparecimento de


novas células cerebrais; “poda” de células extras – o que promove a construção de um sistema de
otimização cerebral para que os adolescentes tenha acesso mais fácil às estruturas mais
utilizadas -; e, fortalecimento de conexões neurais. Essas alterações afetam significativamente o
pensamento do indivíduo, promovendo o desenvolvimento do pensamento abstrato (compreensão
mais ampla das ideias abstratas), raciocínio avançado (capacidade de planejar seu futuro e
considerar como as escolhas o afetarão), metacognição (pensar sobre como eles aprendem
melhor e melhorar a capacidade de absorção de informações) e aprendizagem avançada (tornam
o cérebro jovem em uma máquina de aprendizagem) (SOPERJ, 2019).
Em função do momento de transição e apesar do desenvolvimento acelerado de novas
habilidades cognitivas, o adolescente fica mais predisposto a comportamentos de risco do que os
adultos, na medida em que a emoção e a necessidade de aceitação pelos pares, entram em jogo.
Notavelmente, é um período de vulnerabilidade comportamental (STURMAN & MOGHADDAM,
2011). A busca por experiências excitantes, comum a esta fase, não raramente, conduz os
adolescentes às condutas de desrespeito às leis e regras sociais.

Mudanças sociais

A adolescência proporciona um momento de transição entre os papéis sociais da criança e


do adulto. É uma fase em que os círculos sociais se ampliam para além da família. Surge a
necessidade de pertencer a diferentes grupos sociais, com os quais se possui afinidade. Para
além dos pontos positivos, este aspecto pode acarretar também o envolvimento com grupos de
risco e comportamentos de bullyng.

O filme Clube dos Cinco (1985), traz um enredo que reproduz de forma divertida as
implicações do processo de adolescer na vida dos jovens, em seus dilemas pessoais e relações
com o outro. Vale uma boa “sessão da tarde”!

"De repente, nosso grupo de amigos se junta e alguém diz 'vamos beber tequila!'. Aí, vai
toda a galera. Cada um toma pelo menos um shot (dose). É normal, todo mundo bebe quando
sai."
A naturalidade com que Sophia*, 15 anos, se refere ao consumo de álcool não é uma
exceção entre os jovens brasileiros. Segundo um levantamento do Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) com estudantes de escolas públicas com idade
entre 10 e 18 anos, 65,2% dos entrevistados já experimentaram bebida alcoólica. Outros 5,9%
fumaram maconha e 15,5% usaram solventes, de acetona a lança-perfume. Os números não
deixam dúvida: as drogas fazem parte do universo jovem. A relação com elas é constante e, por
vezes, ocorre dentro dos muros da escola. Não adianta fingir que o assunto não existe - ou, o que
é comum, se livrar dele pela via da expulsão. O tema exige ação.
Mas o que fazer? Pesquisas recentes têm demonstrado que apostar na repressão pura e
simples não costuma dar bons resultados. Em vez disso, é melhor compreender a relação dos
jovens com as drogas. Entender por que o contato com essas substâncias se intensifica na
adolescência é a primeira evidência.
De início, é preciso explicar que a atração pelos entorpecentes tem um forte componente
biológico. A principal razão é que o chamado sistema inibitório, a área do cérebro responsável
pela ponderação das atitudes, ainda está se desenvolvendo durante a adolescência. A dificuldade
de dizer "não", por sua vez, abre caminho para o estímulo do sistema dopaminérgico, relacionado
à busca de recompensa. As substâncias psicotrópicas agem justamente sobre essa estrutura,
influenciando a produção de hormônios responsáveis pela sensação de prazer.

A equação, entretanto, não está completa. Além dos fatores fisiológicos, o ambiente em que os
jovens se situam pode aproximá-los das drogas. Mas é um erro acreditar que os de famílias
pobres ou "desestruturadas" são os mais propensos ao consumo. Pesquisas apontam que os
maiores índices de contato com entorpecentes se dão com adolescentes das camadas médias da
população.
O certo é que características típicas da faixa etária (e que independem de classe, gênero e
etnia) podem, sim, levar ao consumo. A curiosidade é uma delas. O desejo de transgredir é outra,
como mostra a fala de Vicente*, 16 anos (leia o destaque acima). "A proibição é tomada pelos
adolescentes como uma posição autoritária, decidida por adultos que não entendem suas
condições de vida. Daí vem o embate com as regras", diz Eduardo Ely Mendes Ribeiro,
antropólogo e psicanalista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre.
Também é necessário ter um olhar atento para distinguir as diferentes relações que a
garotada estabelece com as drogas. Muitas vezes, pais e professores tendem a classificar toda
relação com entorpecentes como um vício, o que está longe de ser um retrato fiel. Há pelo menos
três comportamentos: o uso esporádico (experimentação que acontece uma ou poucas vezes), o
abuso (também ocasional, mas excessivo, como a atitude de beber "até cair") e o vício (esse, sim,
marcado pelo uso constante. É o menos comum entre os adolescentes).

"Como são múltiplas as razões que levam ao vício - genética, ambiente e o próprio poder da
substância -, não há como saber se alguém que experimenta uma droga nunca mais o fará, se
fará isso de vez em quando ou sempre", explica Fernanda Gonçalves Moreira, especialista no
tema e doutora em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Levar os alunos
a refletir sobre essa perigosa incerteza, apontando que as consequências são para o resto da
vida, é uma das maneiras de incentivar escolhas mais conscientes.

Chegou a hora de colocar em prática o que aprendeu:

1. Com base em seus conhecimentos sobre desenvolvimento infanto juvenil, analise as assertivas
abaixo e selecione a alternativa correta:

I. Aprendizagem e memória se desenvolvem apenas após os 3 anos.


II. O pensamento egocêntrico é uma característica de crianças de 3 a 6 anos.
III. Pensamento abstrato, metacognição e aprendizagem avançada são transformações que
ocorrem na fase da infância.
IV. A busca por situações de risco é um aspecto comum na adolescência.

a) I e III estão corretas.


b) I, II e III estão corretas.
c) II e IV estão corretas
d) I, II, III estão corretas
e) Todas as assertivas estão corretas.

Expectativa de resposta: alternativa “c”.


2. A construção do sentido da infância sofreu inúmeras influências de ideologias sociais, de raça e
gênero. Crianças do sexo masculino, brancas, das classes mais elevadas foram os primeiros a
receberem um tratamento apropriado a sua etapa de desenvolvimento. Meninas, crianças pobres
e negras, continuaram por muito tempo, tendo suas infâncias reduzidas (Àries, 1981).

Ao longo do percurso histórico, movimentos e promulgações de leis, de proteção à criança,


permitiram certas desigualdades fossem suprimidas em todo o mundo. No Brasil, se pode citar o
Estatuto da Criança e do Adolescente como um grande passo à garantia de direitos. Em seu
Artigo 3º, a lei dispõe:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta
Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).

Agora, analise esse gráfico, com informações apresentadas pelo IBGE (2019):
Na sua opinião, foi possível eliminar as desigualdades sobre a concepção de infância em
nossa sociedade ou ainda mantemos diferentes formas de conceber esta fase?

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Expectativa de resposta: Espera-se que o aluno consiga refletir sobre o processo histórico da
construção do sentido de infância, apresentando de forma clara e objetiva seu ponto de vista.

3. Considere o seguinte texto:

Entre os índios Mandam, um a um, os jovens, já atingidos por quatro dias de completo
jejum e por três noites insones, avançaram em direção aos seus carrascos. (...) Furos pelo corpo
e estiletes enterrados nas chagas, enforcamento, amputação, carnes rasgadas (Clastres, 1990,
pp. 126-127)

O recorte apresenta um exemplo de rito de passagem da infância para a vida adulta, no qual os
jovens necessitam demonstrar seu potencial de resiliência e bravura, dado o valor percebido neste
período de transição.

Com base no texto e em seus conhecimentos sobre a adolescência, explique a importância desta
fase para o desenvolvimento humano.
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Expectativa de resposta: Espera-se que o estudante consiga apontar características inerentes à


Adolescência, justificando a importância desta fase no ciclo vital.

3 DESENVOLVIMENTO ATÍPICO: INTERFERÊNCIAS BIOPSICOSSOCIAIS

O desenvolvimento pode ocorrer de duas formas: típica ou atípica. De forma típica, o


indivíduo se desenvolve de acordo com o esperado para a sua faixa etária, apresentando um
sistema biológico intacto, em um ambiente que favorece o desenvolvimento padrão. Quando se dá
de maneira atípica, se apresenta com atrasos e/ou prejuízos em relação aos indivíduos da mesma
idade. O desenvolvimento atípico pode acometer tanto indivíduos com o biológico saudável,
quanto prejudicado, quando os ambientes falham em desenvolver comportamentos típicos. A
exemplificar, caracterizam-se como quadros de desenvolvimento atípico, dentre outros, os
diagnósticos de transtorno invasivo do desenvolvimento, autismo, síndrome de Tourret, deficiência
intelectual, síndrome de down, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Segundo Dumas (2011), o percurso histórico de construção do sentido de infância afetou
também as reflexões sobre o desenvolvimento atípico, principalmente ao que se refere às
psicopatologias infantis. Grande parte dos estudos deram muito mais ênfase aos adultos do que
às crianças, e conhecimentos e técnicas foram aplicados de maneira generalizada a estes dois
grupos distintos.
Fatores de proteção e de risco

Fatores de proteção/risco apresentam-se como condições ambientais ou biológicas, que


interferem positiva ou negativamente no desenvolvimento da criança/adolescente.
Os fatores protetivos colaboram para a segurança e saúde física, psicológica e social dos
indivíduos. Configuram-se como características de três ordens: atributos disposicionais pessoais
(autoestima e crenças de autoeficácia); laços afetivos no sistema familiar; e, sistemas de rede de
suporte social (Masten & Garmezy, 1985).
Já os fatores de risco, ao colocar o indivíduo em uma situação de vulnerabilidade, podem
trazer sequelas de ordem diversa, inclusive na linguagem, aprendizagem e desenvolvimento sócio
emocional de crianças/adolescentes.
Caracterizam-se como fatores de risco:

Fatores Ambientais:
 Falta de recursos financeiros, sociais e educacionais;

 Exposição à violência e situações extremas de estresse;

 Práticas parentais inadequadas;

 Comprometimento mental de pais/cuidadores;

 Dependência química de familiares;

 Dependência química da criança/adolescente

Fatores Biológicos:
 Eventos pré, peri e pós-natais;
 Idade gestacional e/ou peso após o nascimento;
 Deficiências físicas;
 Saúde da criança/adolescente;
 Estado nutricional;
 Doenças hereditárias
É importante salientar que estes fatores estão em constante interação, e não são
determinantes. Isto é, mesmo, que uma criança/adolescente apresente fatores de risco, se os
fatores protetivos se sobressaírem, haverá redução dos prejuízos em seu desenvolvimento.
Transtornos do neurodesenvolvimento

Os transtornos do neurodesenvolvimento “englobam as perturbações comportamentais,


cognitivas e emocionais que se manifestam cedo no desenvolvimento da criança e causam
prejuízos no funcionamento pessoal, social e acadêmico do indivíduo ao longo da vida”. Afetam o
indivíduo desde a infância, ao longo da adolescência e na vida adulta, podendo se manifestarem
na forma de dificuldades de aprendizagem até transtornos globais, envolvendo habilidades
sociais, funcionamento e inteligência (Pacheco & Cauduro, p.73, 2021).
Abaixo, são apresentados os transtornos do neurodesenvolvimento mais frequentes, bem
como casos clínicos para ilustrar as suas manifestações.

a) Transtorno do déficit de atenção e hiperativiade (TDAH)

O TDAH tem como características principais a desatenção e hiperatividade, em um padrão


persistente, que acaba interferindo no desenvolvimento e funcionamento do indivíduo.
Crianças/adolescentes com TDAH tendem a apresentar comportamento ruidoso, agitado,
impulsivo e hiperativo. São também desatentos e agitados (Dumas, 2007; Pacheco & Cauduro,
2021)

Caso clínico:

Bobby,8 anos

(…) A avaliação da criança e a intervenção foram feitas por um psicólogo clínico sob nossa supervisão. Os
pais de Bobby participaram da maior parte dos encontros. O diálogo que segue resume a primeira
entrevista. Diz a mãe:
“ Não sei por onde começar. Ele põe a casa de cabeça para baixo e jamais me obedece. Bom, estou
exagerando um pouco. Digamos que ele não me obedece sempre e que não muito a seu pai.”
Alternadamente, os pais de Bobby relatam incidentes recentes que ilustram em detalhes as dificuldades do
menino: agitação e desatenção, sobretudo quando ele precisa se organizar, quando seus pais querem que
ele cumpra certas tarefas rapidamente ou quando ele tem de esperar; provocação e desobediência
constantes, sobretudo na relação com a mãe e com a irmã, dois anos mais nova. Por exemplo:
“Não sei por que esse menino tem dois pés, pois toda manhã ele corre de um lado para o outro à procura de
um sapato. Ele tem um, mas falta o outro, Ao encontrá-lo, às vezes é incapaz de calçá-lo sozinho, poque
está muito nervoso. E ele provoca tanto a irmã que a pobre acaba cansando; eu a compreendo. E ela bate
nele ou morde-o, e é uma confusão.”
“Eu concordo com o que você diz (acrescenta o pai de Bobby), mas cuidado: você vai fazer esse senhor
gentil acreditar que temos um monstro em casa!”
“Sim, eu sei, não é isso que eu quero dizer, mas é justamente o que me deixa louca. Eu sei que ele não é
um monstro. É muito afetuoso, é uma criança verdadeiramente encantadora. E pode ser adorável (Ela dá
alguns exemplos). Mas também sabe ser detestável! E suas mudanças imprevisiveis de comportamento ou
de humor me matam. Uma hora tudo vai bem, às vezes um dia inteiro ou até dois, e, de súbito, tudo vai mal,
e nunca se sabe por quanto tempo. Ele pode se agitar, correr de um lado para o outro e não ouvir nada, ou
então ele desobedece e briga com a irmã, e isso pode durar alguns minutos, uma hora ou um dia. O que é
preciso compreender é que, quando ele está nesse estado, seu comportamento parece desorganizado,
suas emoções, tudo… não é apenas porque ele provoca e irrita, mas é que perde as estribeiras – não sei
como dizer de outra maneira – e que então fica muto infeliz. E nós com ele!”
“É isso que vocês querem dizer quando afirmam que ele póe a casa de cabeça para baixo?”
“Sim, exatamente. Ele fica infeliz, nós ficamos infelizes, todo mundo fica infeliz!”
Uma avaliação detalhada, baseada em informações obtidas junto aos pais de Bobby e a sua professora,
além de observações diretas feitas em casa e na escola, nos levou ao diagnóstico de TDAH acompanhado
de vários sintomas do transtorno oposicional desafiante. A história do desenvolvimento da criança, recolhida
durante as primeiras entrevistas, mostra que suas dificuldades remontam quase que ao nascimento.
Nascido a termo de uma gravidez sem incidente, mas de um parto longo e dificil, Bobby aparentemente
experimentou desde muito pequeno a dificuldade de encontrar um certo “ritmo” de vida. Ele come mal e
sempre tem problemas digestivos, dorme pouco ou de maneira irregular, resmunga muito, e quando chora
ou sente medo, é difícil acalmá-lo ou consolá-lo. Ao contrário da irmã, ele também é muito ativo e
habitualmente incapaz de se concentrar mais que alguns instantes. Não ouve as histórias de crianças por
exemplo, e raras vezes fica sentado por muito tempo diante da televisão (Dumas, 2011, p. 241-242).

b) Transtorno do Especto Autista

Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento que apresenta como características o


prejuízo permanente na linguagem, interação e comunicação social, bem como a presença de
padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e/ou sinais. Os sintomas e sinais
podem ser verificados desde a infância e compõe um espectro de diferente severidade e
apresentação (Pacheco & Cauduro, 2021).
Caso clínico:

Pierre, 30 anos

Pierre pertence a uma família londrina rica e bem integrada. Seus pais desejaram muito seu nascimento e o
amam muito. Ele tem uma irmã dois anos mais velha. Durante seu primeiro ano, Pierre parecia com
qualquer criança de sua idade. Chorava e ria pelas mesmas razões que sua irmã quando tinha a sua idade.
Nas fotografias, vê-se uma bela criança, feliz e saudável. Embora alguns sinais sutis já anunciassem
naquela época os problemas futuros, ninguém percebeu isso. Pierre acabara de aprender a andar quando
seus pais começaram a ficar preocupados. Ao contrário de sua irmã, que começara a falar com 1 ano, ele
não dizia uma só palavra muito tempo depois. Mais preocupante ainda era ele parecer não compreender
nada do que lhe diziam. Não levantava os olhos quando chamavam por seu nome. Não parecia
absolutamente interessado nem em ouvir nem em olhar para as pessoas que falavam com ele. Em
compensação, o exame minucioso de um bloco de construção poderia absorvê-lo completamente (…)
Quando sua mãe queria pegá-lo, nunca estendia seus braços para ela (…) Será que Pierre era surdo? (Não
era o caso). Inclusive foi ficando cada vez mais evidente que ele era, na verdade, singularmente sensível
aos sons. Por exemplo, ele tinha muito medo do ruído do aspirador. Urrava de tal modo, que nada podia
acalmá-lo (…) em contrapartida, Pierre era fascinado pelo ruído dos ônibus na rua e sempre corria para a
janela quando ouvia o ruído familiar…
Desde 1 ano e 6 meses, a irmã de Pierre adorava brincar de “fazer compras”; de “tomar chá”; de “pôr a
boneca na cama”. Pierre nunca fazia nada disso. Ele tinha uma coleção de carrinhos, mas (…) a única coisa
que o interessava era alinhá-los um atrás do outro e olhar suas rodas girando. Jamais tinha qualquer reação
em relação às crianças que vinham brincar com ele (Frith, 1989 apud Dumas, 2011, p.101-103).

c) Deficiência Intelectual

Trata-se de um transtorno marcado pelo prejuízo nas funções intelectuais do indivíduo


(raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato) e pelo comprometimento
das funções adaptativas (capacidade de independência pessoal e responsabilidade social). Varia
do nível leve ao profundo.

Caso clínico:

Jimmy, 15 anos
Jimmy tem quase 16 anos. Vive em uma instituição para crianças deficientes. Jimmy nasceu com
microcefalia e sempre dependeu das pessoas próximas para todas as suas necessidades. Incapaz de andar
sem apoio, as longas horas estendido na cama ou sentado em uma poltrona, em cujas costas foram
acoplados suportes estofados para lhe permitir se manter quase reto e evitar que a cabeça caia para o lado.
É alimentado com colher e vestido por uma enfermeira ou por seus pais, que o visitam regularmente. Não
tem controle esfincteriano e usa fraldas dia e noite (…) Jimmy não fala e não parece ter consciência de seu
meio com o qual não tem quase nenhuma comunicação. Raramente reage ao barulho e jamais olha uma
pessoa no rosto verdadeiramente, Quando alguém o observa tentando captar seu olhar, ele parece
contemplar o infinito através dos olhos que o fixam (…) (Dumas, 2011, p.76-77)

d) Transtornos de Ansiedade

Nos transtornos de ansiedade, o indivíduo sente um desconforto psicológico, em geral


manifestado por reações emocionais, comportamentais, fisiológicas e cognitivas perante ameaças
reais ou não. Ressalta-se que a ansiedade em si, é uma reação natural do organismo humano,
contudo torna-se patológica quando a manifestação da mesma se difere, significativamente, das
reações adaptativas, em termos de intensidade, cronicidade e nível de prejuízo causado em
diferentes áreas da vida.
Configuram-se como transtornos da ansiedade frequentes em crianças e adolescentes:
transtorno de ansiedade de separação, mutismo seletivo, fobia específica, fobia social e transtorno
obsessivo-compulsivo (TOC).

Caso clínico:

John, 9 anos

Os pais descreveram John como um menino que era feliz e bem-adaptado até 2 a 3 meses antes da
avaliação, mas que tinha desenvolvido comportamentos estranhos abruptamente. Esses comportamentos
incluíam preocupação com contrair doenças, rituais de higiene, incerteza quanto ao próprio comportamento,
necessidade de explicações tranquilizadoras, repetição de rituais e esquiva,
Especificamente, John tinha começado a expressar a preocupação de ter sido exposto ao vírus da
imunodeficiência humana (HIV) sempre que observava outra pessoa em público a qual ele acreditava que
pudesse estar sofrendo da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Por exemplo, ao andar de carro
com os pais, se visse alguém que lhe parecesse pobre ou desleixado, John começava a perguntar se eles
achavam que ele, John, podia ter sido exposto a germes, mesmo que a uma boa distância. Embora as
negativas dos pais tivesse algum efeito, o menino insistia em se lavar vigorosamente ao chegar em casa.
John também tinha começado a expressar dúvidas quanto ao controle do próprio comportamento. Com
frequência perguntava aos pais: “Eu falei a palavra m****? Eu falei a palavra p***?, sempre se referindo a
palavrões. As negativas só o acalmavam temporariamente. John também se preocupava muito com as
dificuldades que passara a ter nos estudos. Ao ler trechos de textos indicados pelos professores, com
frequência chegava ao fim de uma frase e então se perguntava se havia deixado de ler alguma palavra ou
de entender o conteúdo, e se precisava reler o material. Com isso a leitura de uma única página podia levar
de 15 a 30 minutos. Ao longo de várias semanas, ele tornou-se cada vez menos capaz de concluir suas
lições, e como resultado passou a sofrer com a queda das notas (…) (Sadock & Sadock, 2011, p. 159).

e) Transtornos Depressivos

Os transtornos depressivos mais presentes em crianças e adolescentes são: Transtorno


Disruptivo de Humor (TDDH), Transtorno Depressivo Maior (TDM) e Transtorno Depressivo
Persistente (TDP ou Distimia). Destes o mais comum é TDM, que se apresenta como um
comportamento de humor deprimido/irritável ou perda de interesse e prazer em atividades, antes
satisfatórias. Acompanham esse quadro, ao menos quatro dos seguintes sintomas: alteração no
apetite, distúrbios de sono, agitação ou retardo motor, perda de energia, sentimentos de
inutilidade ou culpa, dificuldade de concentração, sentimentos de morte e ideação suicida.

Caso clínico:

Robert, 14 anos

Seus pais o descrevem com um adolescente infeliz, retraído e, em geral, exasperado. Robert confirma sua
descrição, mas explica com insistência que não é absolutamente exasperado: “Não sou exasperado.
Apenas trato de reagir às exigências insensatas de pessoas insensatas! E, acredite em mim, haveria motivo
para ficar exasperado!”. As “pessoas” em que ele fala são de seu meio: os pais, o irmão caçula, os
professores, os colegas e o psicólogo, Quando este último lhe pede que dê exemplos de exigências
insensatas a que pe submetido, ele parece ser incapaz de mencioná-las. Visto que prefere continuar se
queixando, sem realmente conseguir explicar o que gostaria que fosse mudado, suas afirmações são quase
extremas e não deixam entrever nenhuma mudança possível: “A solução é simples: que me deixem em
paz!”, “Não é uma ou duas coisas que é preciso mudar aqui e ali, tudo tem que mudar! Tudo!”.
Os pais descrevem Robert como “uma criança normal” que começou a apresentar problemas sérios há oito
meses. Eles são incapazes de explicar sua origem, mas relatam que começaram pouco depois da morte de
seu tio materno. Robert afirma que não era próximo a seu tio, e que seu falecimento não o marcou muito.
Contudo, após algumas semanas de psicoterapia, ele reconhece que foi então que começou a se colocar
“muitas questões a respeito da morte” e a comer e a dormir muito mais do que antes. Engordou mais de 20
kg em alguns meses e tornou-se obeso, Também dorme demais, às vezes, desde que chega da escola,
Entretanto, sua capacidade intelectual lhe permite progredir sem frande esforço. Ele explica que é só porque
não precisa realmente trabalhar que ainda vai à escola. “Sim, eu vou, isso não compensa a energia, preferia
ficar em casa o dia todo, mas eu vou”. (Dumas, 2011, p, 345).

f) Transtornos Disrruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta:

Fazem parte dos transtornos deste tipo: Transtorno de Oposição Desafiante, Transtorno
Explosivo Intermitente, Transtorno de Conduta e o Transtorno de Personalidade Antissocial. Tais
transtornos caracterizam-se por um padrão repetitivo de comportamento de transgressão de leis e
regras sociais.

Caso clínico:

E.D

(…) O nascimento foi fácil, mas a criança era pequena, raquítica e franzina, Bons cuidados e o ar do campo
tornaram-no uma bela criança, Desde os 2 anos, isto é, praticamente, desde que começou a andar e a falar,
manifestam-se propensões anormais para a maldade, a traquinagem… etc. Tinha prazer em atormentar os
pais, em deixá-los preocupados, tendo de procurá-lo por toda parte, escondia objetos, assustava os vizinhos
com seus gritos quando não queriam satisfazer seus caprichos. Esses instintos só aumentaram até os 6
anos, momento em que começou a ir à escola, mas, passados apenas alguns dias, seu caráter
desagradável e maldoso, contido até então, voltava a predominar, e o professor teve a maior dificuldade do
mundo para mantê-lo, Nunca quis trabalhar com seu pai nem aprender um ofício. Todos os meios
empregados para domá-lo foram inúteis, Doçura, firmeza, nada funcionou.
A partir dos 7 anos, começa a manifestar ideias de independência pouco condizentes com sua idade.
Vagueia em vez de ir à escola; depois, pouco a pouco, fica mais tempo ausente: é preciso ir procurá-lo à
noite na rua (…) Essa criança, como dissemos, era maldosa: de fato, bem pequena, tentava morder,
arranhar as pessoas que a vestiam ou queriam abraçá-la. Já maior, brigava o tempo todo com crianças de
sua idade, Às vezes brigava até com os mais velhos. Na rua, nada lhe causava mais prazer do que dar
rasteiras nos transeuntes para que caíssem. Um dia ele fez isso com um guarda-pesca À beira d’água: o
qual caiu no rio. Uma outra vez, divertiu-se afogando patinhos no alto de uma fonte, torturando-os. Na
escola, todos o temiam. Mentiroso ao extremo, forjava histórias procurando semear semprea desordem e a
confusão (Dumas, 2011, p. 275-276).

O que é que distingue o comportamento normal de uma criança ou de um


adolescente de um comportamento patológico? Como se pode imaginar, existem várias respostas
para essa pergunta complexa.
(…) Todo grupo social – de uma família à sociedade – tem regras de conduta que
estipulam diretamente, como cada um de seus membros deve se comportar. Um desafio
importante na infância e da adolescência é assimilar essas regras e aprender a se conformar a
elas. O comportamento de uma criança e de um adolescente é, em geral, considerado como
anormal, de um lado, quando eles ignoram ou infringem regularmente as regras e as expectativas
de seu meio: de outro lado, quando esse comportamento limita de maneira significativa seu
desenvolvimento, por exemplo, perturbando suas relações familiares e sociais, dificultando seu
êxito escolar ou impedindo-os de adquirir um nível crescente de autonomia pessoal. Mais
especificamente, para ser considerado anormal, o comportamento de uma criança ou de um
adolescente responde a um ou a vários dos seguintes critérios:
Excesso ou insuficiência. Costuma-se considerar um comportamento como anormal
quando sua frequência e/ou sua intensidade diferem claramente da maneira como a maioria das
pessoas se comporta em circunstâncias semelhantes (…) Esse critério de excesso ou de
insuficiência é essencialmente estatístico: a criança comporta-se normalmente quando não se
distingue muito de seus companheiros. Ainda que em geral seja útil para definir a psicopatologia,
isso é insuficiente, pois nem todo desvio da média é necessariamente patológico. Por exemplo,
uma criança cujas capacidades intelectuais são elevadas é anormalmente inteligente, mas nem
por isso é anormal.
Infração às normas. É comum ainda qualificar como anormais os comportamentos que não
respondem às expectativas familiares, sociais e culturais (…) Embora também seja útil, esse
critério, mais uma vez é insuficiente, pois as normas às quais as crianças e os adolescentes
devem submeter-se dependem, na verdade, do contexto em que são avaliados e das pessoas que
os avaliam, Por exemplo, pertencer a uma gangue contribui para o fato de que muitos jovens com
um transtorno de conduta se percebam positivamente, embora os adultos, em geral, considerem
esse pertencimento como uma transgressão do que eles esperam desses jovens.
Atraso ou defasagem desenvolvimental. Um comportamento também é anormal quando
atrasa ou dificulta o desenvolvimento da criança e, com isso, a impede de adquirir uma série de
competências afetivas, sociais e instrumentais (…)
Entrave ao funcionamento adaptativo. Por fim – um elemento muito importante – o
comportamento de uma criança ou de um adolescente é considerado anormal quando perturba o
curso habitual do desenvolvimento e causa um sofrimento evidente para o jovem e, com muita
frequência, para a família (…) Embora esses dois últimos critérios destaquem a importância de
considerar o desenvolvimento da criança em qualquer distinção entre o normal e o patológico,
eles também são insuficientes. De fato, uma criança cujo comportamento corresponde
perfeitamente ao que se espera dela em diferentes fases do desenvolvimento pode ser
“comportada demais” a ponto de não conseguir se afirmar de forma saudável.
(…) Isso significa que às vezes é difícil determinar quem se comporta normalmente e quem
tem dificuldades importantes – em grande medida porque essa definição é tanto uma questão de
julgamento social e de valor quanto uma questão de fato.

DUMAS, E.J. Psicopatologia da Infância e da Adolescência. Porto Alegre: Artmed.

Verifique sua aprendizagem:

1. Sobre o desenvolvimento atípico, considere as assertivas:

I. Autoestima e Autoeficácia são fatores protetivos no desenvolvimento de crianças/adolescentes.


II. Configuram-se como exemplos de transtornos do neurodesenvolvimento: Transtorno do
Espectro Autista (TEA), Transtornos de Ansiedade e Transtornos de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH).
III. O desenvolvimento atípico se dá pela ocorrência de atrasos ou prejuízos em relação a
indivíduos da mesma idade.

a) Somente I está correta.


b) I, II e III estão corretas.
c) Somente I e II estão corretas.
d) Nenhuma das alternativas está correta.

Expectativa de resposta: alternativa “b”

2. Explique em poucas palavras o impasse existente na classificação do que é normal ou


patológico.

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Expectativa de resposta: Espera-se que o aluno seja capaz de argumentar sobre a discussão do
que é normal e o que é patológico, apresentando conhecimentos apontados neste livro-base.

4 PROCESSOS DE AVALIAÇÃO INICIAL

A avaliação psicológica de crianças e adolescentes é uma prática recorrente no contexto


clínico e educacional. Em geral o processo avaliativo é solicitado para investigar demandas como
mapeamento de aspectos cognitivos, comportamentais e emocionais; identificação de déficits e
superdotação; diagnóstico diferencial; auxílio no tratamento de transtornos; construção de
intervenções terapêuticas e instrumentos para os profissionais; e, a compreensão do processo de
desenvolvimento e aprendizagem (Pires, 2017).
Para avaliar tal população, é necessário que o profissional da Psicologia considere as
especificidades destas etapas do ciclo vital humano, possuindo conhecimento sobre o
desenvolvimento típico e atípico, os marcos maturacionais, bem como os períodos críticos de
desenvolvimento. Também é preciso que alguns cuidados sejam observados para a realização da
avaliação de crianças/adolescentes, dentre os quais se pode citar (Pires,2017):

 Atenção aos aspectos éticos e legais;

 Explicar à criança/adolescente o funcionamento do processo avaliativo e o porquê de ser


avaliado;
 Cuidados com a higiene dos materiais utilizados na sessão, uma vez que as crianças
tendem a jogá-los no chão ou colocá-los na boca;
 Examinar questões fisiológicas e motivacionais (sono, sede, fome, necessidade de uso do
banheiro, etc);
 Uso de linguagem adequada e definição/informação clara de regras que serão adotadas
durante a avaliação;
 Respeito ao nível de desenvolvimento da criança/adolescente na escolha de materiais,
testes e técnicas avaliativas;
 Preparação adequada do setting terapêutico, a fim de que a criança/adolescente se sinta
seguro, acolhido e confortável.

No que se refere aos procedimentos iniciais de avaliação, consistem em técnicas


indicadas:

Entrevista clínica

A entrevista clínica caracteriza-se como um conjunto de técnicas aplicadas por um


entrevistador, em um tempo determinado, cujo objetivo é investigar demandas de avaliação e
perceber o ponto de vista do entrevistado. No caso de crianças/adolescentes, o procedimento
poderá envolver a criança/adolescente, pais/responsáveis, professores, profissionais da área da
saúde, ou demais informantes que possam apresentar dados importantes para o processo
avaliativo.
Não há um roteiro preestabelecido, cabendo ao psicólogo orientar dá maneira que
considerar mais adequado. Contudo, segundo Pires () alguns pontos podem nortear o processo
de entrevista inicial: a) levantamento de dados pessoais do cliente e dos pais (nome, idade,
endereço, telefone, ocupação dos pais, etc); b) demanda (profissional e motivo do
encaminhamento, queixa principal, histórico da queixa); c) desenvolvimento (gestação, pré-natal,
parto, amamentação, alergias, desfralde, motricidade, fala, menarca, uso e abuso de drogas, etc);
d) histórico (histórico médico, internamentos, doenças); e) características marcantes
(personalidade, humor habitual, relacionamentos interpessoais, expectativas de futuro); f) vida
escolar (ingresso, alfabetização, desempenho acadêmico, repetências e transferências, queixas
dos professores); g) levantamento breve de sintomas cognitivos, emocionais e comportamentais;
h) observações adicionais.
Segundo, Petersen (2011) uma história clínica bem estruturada, será um diferencial na
avaliação inicial, uma vez que esta:

(…) proporciona informações que permitem diagnosticar muitos transtornos


com mais rapidez e com mais eficácia do que quando o diagnóstico enfatiza
informações sobre o estado atual da criança. A história é a única forma de
determinar se um transtorno é crônico ou agudo. Um panorama ao longo do tempo
nos ajuda a determinar pontos fortes da criança, situações estressantes que
possam mobilizar resiliência ou desencadear vulnerabilidades. Os fatores básicos
como intensidade, frequência e duração dos problemas que trazem a criança à
consulta também devem ser considerados (PETERSEN, 2011, p.34).

Para facilitar a compreensão e diminuir a apreensão da criança em relação à


avaliação psicológica, o livro Preciso de um psicodiagnóstico, e agora?, de Eriane Zingano
Wainstein e Denise Ruschel Bandeira, da Editora Artesã, pretende apresentar o que é e como
funciona, passo a passo, um psicodiagnóstico, desde o encaminhamento até a entrevista
devolutiva.

Atividades lúdicas

A primeira sessão concede ao cliente e ao profissional uma liberdade para se conhecerem


e estabelecerem rapport. Em outras palavras, é o momento de construir a aliança entre a
criança/adolescente e o avaliador, que será significativa para todo o processo. Conforme Petersen
(2011), as atividades lúdicas funcionam como uma estratégia de comunicação e facilitam a
aproximação, sendo indicado o seu uso na clínica infanto juvenil. Em avaliação, pode-se destacar
o potencial dos brinquedos não estruturados como “mediadores que permitem o acesso ao
sistema cognitivo da criança”, podendo ser utilizado de diferentes maneiras, dependendo da linha
de abordagem do psicólogo, a exemplo, de forma mais diretiva e educativa, na Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC) ou interpretativa, do tipo play-therapy, na Psicanálise.

Instrumentos padronizados

O uso de medidas padronizadas pode ser útil para o norteamento do tratamento e também
para controlar os progressos futuros da criança/adolescente. Em geral, envolvem pais e
professores para a obtenção de dados. Alguns exemplos de instrumentos utilizados são
apresentados no Quadro 4.

Quadro 4. Instrumentos padronizados para avaliação de crianças e adolescentes

Instrumento Objeto de Investigação Descrição


Escala de Avaliação do Desatenção; hiperatividade e problemas de Aplicação em
Comportamento Infantil para o conduta; funcionamento independente e ambiente
Professor - EACI-P socialização positiva; neuroticismo e escolar .O
ansiedade; e, socialização positiva. professor é
fonte de
dados.
Escala de Déficit de Atenção com Sintomas comportamentais do TDAH. Aplicação em
Hiperatividade ambiente
escolar. O
professor é
fonte de
dados.
Inventário de Estilos Parentais - Fatores de práticas parentais: monitoria Criança/
IEP positiva, comportamento moral, punição adolescente e
inconsistente, abusao físico, negligência, pais/cuidadore
disciplina relaxada e monitoria negativa. s são a fonte
de dados,
dividindo-se
em dois
protocolos
(pais- filhos).
Os estilos
parentais
podem ser
classificados
em ótimo,
regular ou de
risco.
Escala de Traço de Fatores de personalidade: neuroticismo, Investiga
Personalidade em Crianças - socialização, extroversão e psicoticismo. quatro
ETPC dimensões
funcionalmente
independentes
, estabelecidas
pela
investigação
fatorial.
Aplicação em
crianças e
adolescentes.
HTP Fatores de personalidade Caracteriza-se
pela análise do
desenho casa-
árvore-pessoa
Escala de Estresse Infantil e Fatores do estresse: reações físicas, Baseiam no
Escala de Estresse em psicológicas, psicológicas com componente modelo de
Adolescentes depressivo Selye, que
define o
estresse como
uma síndrome
geral de
adaptação.
Escala de Autoconceito Infanto- Autoconceito da criança Aplicada em
Juvenil - EACI-J crianças e
adolescentes.
Fornece dados
referentes à
qualidade das
relações que a
pessoa
estabelece
consigo
mesma e com
ambientes
específicos de
seu entorno
(família, social,
escolar).
Escalas Masculina e Feminina de Autocontrole Avalia o
Autocontrole autocontrole ,
em dois
fatores,
estimam a
autopercepção
de crianças e
adolescentes
em relação a
dois núcleos
de conduta:
regras e
condutas
sociais, e
sentimentos e
emoções.
Inventário Multimídia de Habilidades Sociais: funcionamento Apresenta
Habilidades Sociais para socioafetivo (empatia e civilidade, expressão esquetes que
Crianças de sentimentos, comportamentos pró-sociais retratam
e cooperação, assertividade e autocontrole) situações
cotidianas
escolares de
crianças de
séries iniciais
do Ensino
Fundamental.
R2 Inteligência Teste de
inteligência
não verbal
para crianças
de 5 a 11 anos.
Composto por
pranchas com
figuras
coloridas.
Teste dos relógios Inteligência Compostos por
problemas
utilizando
mostradores
de relógio,
Desenho da Figura Humana Inteligência Indicado a
Escala Sisto crianças
pequenas,
com
diminuição da
capacidade
auditiva,
deficiências
neurológicas,
não
alfabetizadas
ou de idioma
diverso ao do
aplicador.
Teste Não Verbal de Raciocínio Inteligência: raciocinio abstrato e analógico Avaliar
para Crianças crianças e
adolescentes,
de 5 a 13
anos, com
base no fator
G de
inteligência.
Composto por
figuras de
objetos
concretos e
abstratos.
Teste Computadorizado de Atenção Avalia crianças
Atenção – Versão visual - TCA- a partir de 5
vis anos até a vida
adulta. Trata-
se de um
instrumento
que fornece
indicadores de
falta de
atenção e
hiperatividade.
Teste de Span de Cores - TSC Memória de trabalho Avalila
crianças e
adolescentes,
de 6 a13 anos,
com distúrbio
de
aprendizagem
e linguagem,
bem como
deficiências
auditivas
Wisconsin Funções executivas: raciocínio abstrato, É um teste de
capacidade de modificar estratégias classificação
cognitivas, planejamento estratégico, de cartas.
exploração organizada. Avalia crianças
a partir dos 6
anos até a
terceira idade.
Escala de Pontuação para Pais e TDAH Serve como
Professores – MTA SNAP´IV apoio ao check
list dos itens
de diagnóstico
do DSM.
Aplicada em
pais e
professores.
TAT Capacidade Imaginativa Apresentação
de cartões e
solicitação de
criação de
estórias pelos
examinados,
inventadas e
sem
premeditação.
Escala de Inteligência Wechsler - Inteligência: QI verbal, de execução e total Um dos
WISC instrumentos
mais utilizados
no Brasil.
Aplicado em
crianças e
adolescentes,
de 6 a 16
anos.
Fonte: Adaptado de Petersen (2011)

O contato do psicólogo com professores, membros de equipes psicopedagógicas e


de orientação escolar e profissionais da área da saúde pode ser necessário em muitos casos de
atendimentos a crianças e adolescentes. É comum o encaminhamento de pacientes pela escola,
por pediatras, neurologistas e fonoaudiólogos. No ambiente escolar, a entrevista com o professor
ou com o encarregado do setor de orientação educacional pode fornecer dados do paciente
relativos à adaptação e ao desempenho escolar, e ao relacionamento com colegas e professores.
O professor tem uma boa ideia do desenvolvimento comparativo entre as crianças, e essa
informação pode ser muito relevante para o processo de avaliação. Além disso, interessa
conhecer sua visão em relação à família e aos pais. Informações sobre como a família lida com os
afetos, a ansiedade, a segurança e a rigidez podem ser obtidas. Após o processo de
psicodiagnóstico, pode ser pertinente orientar o professor sobre como manejar a situação do
paciente. No entanto, é importante ressaltar que qualquer contato com outros profissionais deve
ser informado primeiramente à família e ao paciente. É recomendável a anuência e a autorização
dos pais para tal contato. Somente deve-se dar seguimento aos encontros após a consolidação de
vínculo e aliança com eles. Depois de avaliado o paciente e de confirmada a necessidade de
contato com outros profissionais, seja da área da educação ou da saúde, é fundamental que a
família e o paciente (crianças ou adolescentes) sejam consultados sobre essa necessidade. Deve-
se ter esse cuidado a fim de que o vínculo já estabelecido não seja prejudicado. Muitas famílias
sentem-se ameaçadas pela possível exposição de queixas, sintomas ou possíveis diagnósticos de
seus membros. Em alguns casos de atendimento infantil, as informações fornecidas por
professores são muito valiosas, com destaque para as manifestações comportamentais da criança
no ambiente escolar, suas inter-relações sociais, habilidades cognitivas e características positivas.
Professores de idade escolar básica e fundamental costumam fazer reuniões frequentes
com os pais das crianças, a fim de colocar as famílias a par do desenvolvimento escolar de seus
filhos. Em casos mais específicos, a orientadora educacional e a coordenação pedagógica podem
participar. Outro cuidado que se deve ter é quanto ao contato direto com a escola, sem aviso à
família do paciente. São frequentes relatos de psicólogos contatados diretamente pela escola.
Nesses casos, deve-se comunicar a família imediatamente, antes de dar um retorno para a
escola. Muitos pais, ao serem informados, mostram-se muito irritados e contrariados com o fato.
Deve-se, então, reforçar que eles e a criança são o cliente e esclarecer isso para a escola.
Um dos motivos é por ser comum que se questione, tanto em entrevistas de início de ano com a
família quanto em fichas de dados de identificação, se a criança passa por algum atendimento
especializado, como psicoterapia ou fonoterapia. Muitos pais fazem a indicação do atendimento
identificando o profissional que está trabalhando com a criança. Em casos de crianças em
avaliação psicológica ou mesmo atendimento psicoterápico com diagnóstico de transtornos da
aprendizagem ou TDAH, o contato com os professores e com a equipe pedagógica mostra-se
fundamental. O acesso aos seus relatos, bem como ao material pedagógico e produzido pela
criança, auxilia muito no diagnóstico e, posteriormente, no encaminhamento do caso. Tornam-se,
então, muito importantes as orientações para professores e equipes escolares quanto à condução
do caso. Já em situações clínicas em que exista algum diagnóstico de doença orgânica ou de
desenvolvimento atípico, pode ser necessária a realização de encontros com vários profissionais.
Tais momentos são significativos para o consenso de possíveis diagnósticos e para o
estabelecimento conjunto de metas de atendimento e procedimentos. Em casos de pacientes que
fazem uso de medicação continuada, o contato deve ser realizado com psiquiatras, pediatras e
neurologistas. Os profissionais da medicina, em alguns casos clínicos, são fundamentais para
parcerias de manutenção da adesão da criança e de sua família aos tratamentos (clínico e
psicoterápico). Percebe-se um aumento dos atendimentos multidisciplinares nas áreas da saúde.
É cada vez mais comum que o acompanhamento do paciente seja realizado por vários
profissionais. A troca de informações e o alinhamento de condutas clínicas são muito importantes
para a evolução do caso. Integrar os resultados de múltiplas fontes é uma habilidade clínica a ser
desenvolvida. Pode ser necessário explicar possíveis discrepâncias entre as informações
geradas, por exemplo, pelo professor e pelos pais. Essas possíveis discrepâncias devem ser
investigadas, pois podem gerar informações valiosas sobre a problemática em questão. É
importante reconhecer as contribuições e as limitações de qualquer fonte.

Hora de treinar seu aprendizado!

1. No que se refere aos processos de avaliação inicial é incorreto o que se afirma em:

a) O brincar não pode ser utilizado como estratégia de avaliação, uma vez que tira a concentração
da criança/adolescente.
b) Consistem em estratégias a serem utilizadas em avaliação inicial: a entrevista clínica, as
atividades lúdicas e os instrumentos padronizados.
c) A história clínica é essencial para verificar se um transtorno é crônico ou agudo.
d) São exemplos de instrumentos padronizados utilizados na avaliação psicológica de crianças e
adolescentes: WISC, WISCONSIN, HTP e IEP.

Expectativa de resposta: alternativa “a”

2. Conforme o Conselho Federal de Psicologia – CFP (2003), a avaliação psicológica é um


processo técnico-científico pelo qual dados são coletados, estudados e interpretados. No que se
refere à avaliação de crianças e adolescentes, assinale a alternativa correta:

a) Não há necessidade de adequação da escolha de materiais diferenciados para o processo


avaliativo de crianças e adolescentes. Pode se utilizar as mesmas estratégias aplicadas aos
adultos.
b) Somente os pais e/ou responsáveis necessitam de explicação sobre o processo avaliativo.
c) É necessário organizar o setting terapêutico de forma que a criança/adolescente se sinta
segura e acolhida;
d) Sendo um atendimento infantil, não há necessidade de observação de aspectos éticos e legais.

Expectativa de resposta: alternativa “c”


3. A avaliação psicológica necessita de múltiplos olhares. Justifique a afirmativa.

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Expectativa de resposta: Espera-se que o aluno argumente de forma a apontar que quanto mais
amplo o número de informações (dados apresentados por professores, outros profissionais, etc)
maior qualidade terá a avaliação psicológica.

5 APORTES TEÓRICOS PARA A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM CRIANÇAS E


ADOLESCENTES

Compreender os principais aportes teóricos da psicologia é imprescindível para a tomada


de decisão profissional quanto aos processos de intervenção a serem utilizados. Desta forma,
apresenta-se, de forma sintetizada, as principais abordagens psicológicas, bem como, os teóricos
de destaque, relacionados ao desenvolvimento e aprendizagem humana.

Abordagens Psicológicas

Compreende-se como abordagem psicológica o conjunto de referenciais teóricos e


metodológicos utilizados para a compreensão do comportamento e da mente dos indivíduos. Se
diferem com relação ao foco, objetivo, orientação, procedimentos terapêuticos, embasamento
teórico, conceitos e visão de homem. São exemplos de abordagem da Psicologia: TCC, Terapia
Junguiana, Gestalt, Análise do Comportamento, Psicanálise, Psicologia Sócio-Histórica,
Psicologia Centrada na Pessoa, Psicologia Corporal, etc.

Quadro 5. Principais abordagens da Psicologia

Fonte:
Teóricos do desenvolvimento e aprendizagem humano

Sigmund Freud (1853 - 1939)

Considerado o “pai da Psicanálise”, introduziu na Psicologia o conceito de inconsciente e


estudou aspectos como os sonhos e a sexualidade humana. Em sua teoria do desenvolvimento,
afirmou que os indivíduos passam por cinco fases, a saber:
Fase Oral (nascimento aos 12-18 meses): Nesta fase a boca constitui-se como centro de prazer
do bebê. Se alimentar, sugar, morder, mamar são atividades que trazem sensação de bem estar e
satisfação.

Fase Anal (De 12-18 meses a 3 anos): O ânus é o foco de prazer. É o momento de aprendizagem
do controle de esfincteres.

Fase Fálica (3 a 6 anos): Obtenção de prazer pela manipulação dos órgãos genitais. Superação
do Complexo de Édipo.

Latência (6 anos à Puberdade): Período de suspensão dos impulsos sexuais. Energia libidinal
destinadas às atividades físicas e intelectuais.

Genital (Puberdade à Adultez): Obtenção de prazer através do órgão sexual do outro. Manutenção
de relacionamentos amorosos e sexuais.

Erick Erickson (1902- 1994)

Psicanalista responsável pela Teoria do Desenvolvimento Psicossocial, a qual refere-se ao


processo de desenvolvimento da identidade. Segundo ele, tal processo ocorre em estágios, que
envolvem crises.

o comportamento é governado por processos conscientes e inconscientes [...]; a


estrutura da personalidade se desenvolve ao longo do tempo, como resultado da
interação entre impulsos/necessidades inatas da criança e respostas das pessoas
essenciais ao seu mundo [...]; o desenvolvimento da personalidade se dá
fundamentalmente em estágios [...]; e a personalidade que uma criança
desenvolve depende do grau de sucesso que alcança ao avançar esses vários
estágios. (Bee, 2003, p.305).

São fases da Teoria de Erickson:

Estágio 1 – Confiança versus Desconfiança: Fase em que a identidade depende da confiabilidade


no cuidado de pais/cuidadores. A “maternagem” de qualidade, garantindo segurança, conforto e
afeto, trará à criança a mesma sensação em relação ao mundo.
Estágio 2 - Autonomia versus Vergonha e Dúvida:

Estágio 3 – Iniciativa versus Culpa:

Estágio 4 -

Estágio 5 -

Estágio 6 -

Estágio 7 -

Estágio 8 -

Jean Piaget

Sensório-motor

Pré operatório

Operacional concreto

Figura
Operacional formalidade
Lev Vygotsky

X ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Fechamento do capítulo, com a recapitulação do que foi discutido alinhado aos objetivos
propostos. Tem em torno de 1 a 2 páginas.
REFERÊNCIAS

BEE, H. Teorias do desenvolvimento. In: BEE, H.; BOYD, D. (2003). A criança em


desenvolvimento. 9 ed. Porto Alegre: Artmed.

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