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L Ú D I C O E M U S I C A L I Z A Ç Ã O N A E D U C A Ç Ã O I N FA N T I L – U N I D A D E 1

Tópico 1 – Nem toda criança tem infâncias


» O conceito de infância foi historicamente construído, por
isso variou muito no decorrer dos anos.
Concepções de infância
1ª Concepção
(séc. V ao XII) » A primeira definição de infância foi construída na
Idade Média.
» Entendia a infância apenas como uma etapa da vida,
na qual a criança passa para a vida adulta.
» Nesse período acreditava-se que as crianças não
possuiam a habilidade de se comunicar através da fala,
de expressar seus sentimentos, eram um ser anônimo
na sociedade.
»As crianças eram vistas como adultos em miniatura.
2ª Concepção
(séc. XIII ao XVI) » A infância é considerada um momento mágico.
» Nessa concepção as crianças não têm preocupações
nem responsabilidades comuns à vida adulta.
» As crianças vivem de forma descontraída e sem
preocupações.
» A criança é considerada um ser inacabado.
» A criança passou a se inserir na família, mas
inicialmente numa perspectiva superficial, de paparicar,
pois, era engraçadinha e divertia os adultos (ARIÈS,
1981).
3ª Concepção
(séc. XVII até
meados do XIX) » Relaciona a infância ao período em que a criança
através das descobertas de si e do mundo, se constitui
enquanto sujeito dotado de identidade, personalidade,
caráter.
» A infância passa a ser reconhecida como uma etapa
distinta e a criança sai do anonimato (ARIÈS, 1981).
» A brincadeira ocupa lugar de destaque.
4ª Concepção (a
partir do sec. XIX) » Visão atual da infância.
» A criança é entendida como um ser histórico-social-
cultural de direitos e deveres.
» A criança passa pelas faixas etárias até a fase adulta.
» O significado de criança é dado pela representação
que o adulto tem sobre ela, em seus aspectos sociais,
culturais, psicológicos e biológicos.
Concepções de infância
» O conceito de infância no Brasil também sofreu influência
dos momentos histórico-sociais que vivenciamos.
» Aos poucos a criança vai assumindo identidade, passa a
ter direitos com a criação de leis próprias.
» Arroyo (1994) afirma que a infância é algo que está em
permanente mudança a depender do contexto social,
político, econômico em que está inserido.
» Por tais motivos não é aconselhável referir-se à “infância”
como única, devemos sim, compreender as “infâncias”
diversas em seu tempo e sua realidade.
Ser criança não significa ter infância
» No Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil (BRASIL, 1998 - RCNEI), a concepção de infância
está relacionada à condição social.
» É importante lembrar existem diferentes infâncias,
dependendo da classe social, das diferenças econômicas,
culturais, religiosas e as diferenças individuais que estão
presentes na vida de cada criança
Ser criança não significa ter infância
Tópico 2 – Domínios do desenvolvimento infantil
» Físico-motor: processo de mudança no comportamento, na
postura e no movimento, relacionado com a idade da criança.
» Cognitivo: é a parte do sistema cerebral que define a forma
com que a pessoa aprende, armazena e aplica o seu
conhecimento.
» Linguístico: trata de como as crianças expressam suas
necessidades, partilham o que pensam e entendem o que lhes
é dito.
» Psicossocial: relacionado ao desenvolvimento social, no qual a
criança aprende sobre si, a estar e a comunicar-se com os
outros.
Domínios do desenvolvimento infantil
» Não existem padrões de desenvolvimento totalmente
iguais em todos os seres humanos.
» As crianças com a mesma idade apresentam variações no
seu desenvolvimento global.
» Porém um atraso significativo no desenvolvimento da
criança precisa ser investigado.
Marcos do desenvolvimento infantil do nascimento até
os 5 anos
Marcos do desenvolvimento infantil do nascimento até
os 5 anos
Marcos do desenvolvimento infantil do nascimento até
os 5 anos
Tópico 3 – O tripé das teorias do desenvolvimento
infantil
» Para ajudar a entender o desenvolvimento infantil,
surgiram várias teorias para explicar os diversos aspectos
do crescimento e desenvolvimento humano, como o social,
emocional e o cognitivo, prevendo alguns
comportamentos que ocorrem durante a vida das crianças.
» Foi biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço.
Jean Piaget
» Foi um dos precursores da teorização das fases do
desenvolvimento infantil.
» Conseguiu identificar os processos do
amadurecimento cognitivo que acontecem durante
as primeiras duas décadas de vida (TEODORO,
2013).
» Para Piaget as crianças passam por estágios de
desenvolvimento cognitivo sucessivos e em cada
um deles, determinadas habilidades são
desenvolvidas.
Fases do desenvolvimento
» Sensório-motor (de 0 a 2 anos):
» A criança começa a controlar seus reflexos.
» Seu aprendizado de mundo se dá de maneira bem
gradual.
» A criança começa a generalizar os acontecimentos à sua
volta.
» O final dessa fase é marcado pelo surgimento da fala.
Fases do desenvolvimento
» Pré-operatório (de 2 a 7 anos):
» A criança já demonstra a habilidade de trabalhar algumas
competências, como a capacidade de semiótica.
» Essa fase é caracterizada pelo egocentrismo.
» A criança é capaz de entender os estados, mas não o
processo de transformação da matéria.
Fases do desenvolvimento
» Operatório concreto (de 7 a 12 anos):
» Construção de uma lógica de classes e relacionamentos.
» A criança está compreendendo as mudanças ocorridas no
ambiente, assim como a ordem dos acontecimentos.
Fases do desenvolvimento
» Operatório formal (a partir dos 12 anos):
» É marcada pelo amadurecimento total do desenvolvimento
cognitivo da criança.
» Um dos pontos principais é o pensamento científico
adquirido pela criança.
» É uma fase de transição onde a criança passa a analisar
possibilidades hipotéticas.
» Ela tem aquisição de outras habilidades, mecanismos e
conhecimentos que fortalecerão ainda mais a sua
autonomia cognitiva.
Lev Semenovich
» Russo, estudou história, literatura, filosofia e
Vygotsky psicologia.
» Para Vygotsky a relação das pessoas com o
mundo não acontece de forma direta, mas
mediada por símbolos.
» Acreditava que as crianças aprendem
ativamente através da vivência prática.
» Em sua concepção, a aprendizagem é um
processo social, é através da interação com as
outras pessoas, das relações e trocas que a
aprendizagem acontece, por meio da
compreensão do indivíduo sobre o mundo.
Zona de desenvolvimento proximal

» A Zona de Desenvolvimento Proximal é a distância entre o nível de


desenvolvimento e o nível de desenvolvimento potencial.
» Nível de desenvolvimento real é a capacidade de solucionar um
problema de forma autônoma, sem ajuda.
» Nível de desenvolvimento potencial, definido através de resolução
de problemas com ajuda de uma outra pessoa, podendo ser um
adulto, ou uma criança que esteja mais adiantada.
Henri Wallon » Era um médico francês que realizou vários
estudos na área da neurologia, enfatizando a
plasticidade cerebral.
» Voltou seus estudos para as emoções do
estudante e a afetividade.
» Suas contribuições estavam pautadas no
estudo integrado do desenvolvimento infantil
em quatro elementos básicos que se
comunicam o tempo todo: a afetividade, o
movimento (motricidade), a inteligência e a
formação do eu como pessoa (DANTAS,
1990).
Henri Wallon
» Afetividade: é a maneira de identificar e demonstrar durante o
desenvolvimento desejos, vontades, satisfações e insatisfações. As
transformações biológicas têm profunda relação com a
personalidade da criança.
» Emoções: de origem orgânica, as emoções são o meio pelo qual
cada pessoa se comunica consigo mesma para se conhecer. É
extremamente importante para a relação entre as pessoas e o
meio.
» Movimento: é a maneira pela qual crianças expressam
sentimentos/emoções, por isso se mover para a criança é um
instrumento de aprendizado, socialização e comunicação consigo,
com o meio e com outras pessoas.
Henri Wallon
» Formação do ‘eu’: descobrir ou reconhecer o “eu” depende da
relação com outra ou outras pessoas. As relações, dependências,
negações, imitações, manipulações e sedução para o
convencimento e interação com o outro, fazem parte das
descobertas e da separação entre o que é a vontade do meio
social e o modo pelo qual cada pessoa percebe a si mesma no
mundo.
» Para Wallon o desenvolvimento da inteligência depende das
experiências que a criança tem no meio onde está inserida e do
grau de apropriação que ela faz disso. Assim, os aspectos físicos
do espaço, as pessoas que com ela convivem, a linguagem e a
cultura contribuem para seu desenvolvimento (SILVA, 2017).
Henri Wallon
» O desenvolvimento não acontece de forma linear, assim, podem
acontecer variações segundo a especificidade de cada sujeito e
organização social.
» Para Wallon, existem etapas no desenvolvimento infantil que vão
se reformulando e não apenas são inseridas ou reorganizadas nos
estágios anteriores.
Etapas do desenvolvimento infantil de Wallon
» Estágio Impulsivo Emocional (do nascimento até 1º ano de vida do
bebê) - A linguagem com a qual o bebê se relaciona com o mundo
é a expressão emocional afetiva. O processo ensino-aprendizagem
exige respostas corporais, contatos de pele, daí a importância
segurar a criança, carregar, embalar. Assim a criança participa
intensamente do ambiente e, apesar de percepções, sensações
nebulosas, pouco claras, vai se familiarizando e apreendendo esse
mundo, portanto, iniciando um processo de diferenciação.
Etapas do desenvolvimento infantil de Wallon
» Estágio Sensório-Motor e Projetivo (do 1º ao 3º ano de vida)
Apresenta aproximação gradativa do mundo externo, objetiva.
Apresenta atenção aos objetos, movimentos coordenados que
permitem o andar, e início de inserção no mundo dos signos, com
condutas representativas. O pensamento é projetado através de
movimentos motores. Desenvolvimento da linguagem e predomínio
das funções cognitivas.
Etapas do desenvolvimento infantil de Wallon
» Estágio Personalista (do 3º ao 6º ano de vida da criança) – Período
marcado pelo desenvolvimento da personalidade. Consciência de
si própria se desenvolve nas relações sociais. Aqui acontecem os
gestos de recusa/negação, e manifestações de atitudes
possessivas. Período de oposição e diferenciação entre si, as
outras crianças e adultos. No estágio personalista a função social
da escola desempenharia papel fundamental na constituição da
subjetividade da criança, pois, permitiria outras formas de
sociabilidade que ultrapassam o convívio familiar. Essas novas
relações de contato com outras crianças da mesma idade, com
professores, organização espacial e regras diferenciadas, tornar-
se-iam auxiliares da constituição da subjetividade infantil refletindo
decisivamente na personalidade em formação.
Etapas do desenvolvimento infantil de Wallon
» Estágio categorial ou escolar (dos 6 aos 11 anos de idade) –
Predomínio do pensamento categorial desenvolvendo a
capacidade de definir coisas, objetos e sentimentos; desenvolvem
a capacidade de classificar, diferenciar. A criança apresenta
domínio do universo simbólico, pensa e opera sobre o que não está
ao alcance da visão. Período de descoberta de diferenças e
semelhanças entre as coisas e ideias. A criança desenvolve a
capacidade de operar conceitualmente, acentuando o potencial da
memória voluntária e do raciocínio associativo.
Etapas do desenvolvimento infantil de Wallon
» Estágio da Puberdade e Adolescência (dos 11 anos a seguir) –
Fase marcada pelas mudanças químico-físicas que acentuam os
conflitos internos de caráter afetivo. Período de estruturação do
raciocínio lógico-matemático, da autoafirmação de si, de
predomínio da afetividade, em que o adolescente rompe com a
barreira temporal. Fase marcada pela contraposição de valores dos
adultos com quem vivem, de muitos conflitos.
Comparativo entre os autores
Comparativo entre os autores
Comparativo entre os autores
Tópico 4 – A história da educação infantil
» Com a Revolução Industrial, as mulheres deixaram de ser apenas
donas de casa, indo trabalhar fora de casa e com isso nasceu a
necessidade de deixar seus filhos com alguém.
» Surgindo então as “cuidadoras” ou “criadoras.
» A partir daí surgem os primeiros núcleos assistencialistas para
crianças e as primeiras creches e pré-escolas.
» A educação infantil começou de forma assistencialista
especialmente para as crianças pertencentes à classe popular no
século XIX.
» No início, elas eram filantrópicas ou mantidas pelos próprios
usuários e, somente mais tarde, elas se tornaram públicas.
A história da educação infantil
» Não havia uma proposta pedagógica nem institucional formal.
» Essas atividades tinham como objetivo o desenvolvimento de bons
hábitos de comportamento, regras morais e de valores religiosos
» Outra iniciativa foi a criação de instituição para o atendimento de
criança acima dos três anos, na sua maioria filhos de mulheres
operárias. Eram os asilos (escolas para a primeira infância) e as
infant school (escolas infantis), assim como as nursery school
(creches), surgidas em Londres.
» É apenas no final do século XIX que surgiram os jardins de infância
para contemplar as crianças da elite.
A história da educação infantil
» O jardim de infância era uma instituição infantil com finalidades
educativas.
» Foi criada por Frederico Guilherme Froebel, em 1840.
» O jardim de infância destinava-se à educação de crianças de três a sete
anos, nesses espaços as crianças desenvolveriam atividades que
tinham por objetivo estimular o desenvolvimento integral da criança,
ajustando-se aos princípios educativos, priorizando o lúdico.
» A teoria Froebeliana concebe o brincar como um suporte para o ensino,
permitindo a variação do brincar, ora como atividade livre, ora orientada.
» O brincar é responsável pelo desenvolvimento físico moral, cognitivo,
emocional, e os dons ou brinquedos, como objetos que subsidiam
atividades infantis (MOREIRA, 2019).
Contexto histórico da educação infantil no Brasil
» No Brasil a educação infantil, como Política Pública desponta no
século XX.
» As discussões ao longo dos anos sobre a educação infantil,
trouxeram importantes resultados, como a Constituição Federal de
1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB), o Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil (RCNEI), a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (DCNEI).
» A educação para as crianças foi historicamente construída para
atender às crianças burguesas e para ajudar as crianças que não
poderiam ser cuidadas pelas próprias mães que precisavam
trabalhar fora de casa (LEITE FILHO, 2008).
Contexto histórico da educação infantil no Brasil
» Em 1875 foi fundado o primeiro Jardim de infância no Rio de
Janeiro. O Jardim de Infância do Colégio Menezes Vieira era uma
instituição particular de atendimento às crianças da elite carioca.
» Em 1961 foi criada a LDB da Educação Nacional, Lei nº 4.024/61.
» No ano de 1975 foi criada a Coordenação de Educação Pré-
Escolar (MEC/
» COEPRE), que centraliza as atividades desenvolvidas pelas
Secretárias Estaduais e Municipais de Educação voltadas à
educação das crianças menores de sete anos.
» Somente a partir disso, segundo Kramer (2006), a pré-escola
passa a ter atenção do governo federal, o que impulsionou o
debate sobre as funções e currículos da préescola.
Contexto histórico da educação infantil no Brasil
» Em 1988, nós temos uma nova Constituição Federal, que pela
primeira vez na história da educação infantil brasileira, garante o
direito das crianças de 0 a seis anos a frequentarem creches e pré-
escolas gratuitamente (BRASIL, 1988).
» Em 1996 temos a Lei nº 9493 que estabelece as LDB, tornando a
educação infantil a primeira etapa da “educação básica”, também
composta pelo ensino fundamental e pelo ensino médio.
» Em 2013 houve uma atualização na LDB Brasileira – Lei nº 12.796
– deixando na Educação Infantil as crianças de até cinco anos,
assim as creches são oferecidas para crianças de até três anos e
as préescolas para crianças de quatro a cinco anos.
Contexto histórico da educação infantil no Brasil
» Em 2009 foram apresentadas as DCNEIs para orientar o
planejamento curricular das escolas. Propõem a organização por
eixos de interações e brincadeira. Além disso, reforça o marco
conceitual da indissociabilidade entre o cuidar e educar.
» Já em 2017 temos a terceira versão da BNCC que apresenta seis
direitos de aprendizagem e desenvolvimento que devem ser
assegurados para que as crianças tenham condições de aprender
e se desenvolver, de acordo com os eixos estruturantes da
Educação Infantil: conviver; brincar; participar; explorar; expressar;
conhecer-se.
Educação infantil: protagonismo da criança
» Na fase da Educação Infantil, a escola tem um papel fundamental
na estimulação precoce das crianças, uma vez que a plasticidade
neural é muito maior na primeiríssima/primeira infância.
» Assim, a Educação Infantil tem a estimulação precoce como porta
de entrada para aprendizagens futuras.
» Em relação aos professores, eles são a peça-chave na
aprendizagem das crianças e precisam a todo momento repensar
as práticas pedagógicas na pré-escola.
» Utilizar muito do mundo lúdico, brinquedos, jogos e brincadeiras
devem fazer parte do repertório didático.
Educação infantil: protagonismo da criança
» Abordar uma educação voltada para o protagonismo infantil é um
desafio, pois, tanto em termos históricos como sociais a instituição
escolar sempre foi marcada por preocupações relativas à
disciplina, ao controle, à exclusão, às influências do modo de
produção vigente (SILVA, 2017).
» O professor pode tornar-se o principal obstáculo ao
desenvolvimento de uma criança autônoma e participativa.
» Conforme Pires e Branco (2007), isso pode ocorrer quando o nível
de controle exercido pelos adultos e a pouca influência que as
crianças possuem sob seus próprios ambientes se tornaram
impedimentos para a participação infantil.
Educação infantil: protagonismo da criança
» “A percepção da multiplicidade de infâncias pode despertar o olhar
do professor para os interesses das crianças, passando a ouvi-las,
vê-las, considerá-las, enriquecendo a sua prática mutuamente com
suas ideias e contribuições” (SCHNEIDER, 2015, p. 43).
» Na concepção atual de infâncias, a criança participa ativamente da
família e da escola, podendo participar das decisões, expressando
seus interesses e necessidades.

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