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Título do Tema

Sempre Dentro do
Triângulo Verde
(máximo 4 linhas)
PSICOLOGIA
Nome do Autor no Triângulo
DO
DESENVOLVIMENTO:
CICLO VITAL
THIAGO PEREZ BERNARDES DE MORAES
Unidade 2 – Desenvolvimento
e Desenvolvimento Cerebral e
Cultura

Introdução
A infância representa um período singular no desenvolvimento do indivíduo,
principalmente se considerarmos que é nessa fase em que se desenvolvem funções
superiores da mente, entre elas a atenção, a memória e a linguagem, constructos que
serão recrutados ao longo de toda vida.

O conceito de criança muda ao longo da história dependendo da cultura. Em


determinado período, foi um sujeito desprovido de reconhecimento e direitos, contudo,
atualmente, chegou-se a um consenso do entendimento de que a criança representa
um ser em condição peculiar de desenvolvimento e que, nessa circunstância, demanda
de atenção e garantias especiais.

É interessante apreender que dentro dessa leitura o papel do brincar no desenvolvimento


da criança. Nesse sentido, podemos dizer que as habilidades cognitivas, motoras e
mesmo sociais são trabalhadas e desenvolvidas por meio das brincadeiras de forma
universal entre crianças.

Por fim, destaca-se a ideia de desenvolvimento psicossocial dentro da teoria


freudiana. Freud se centrou especialmente no desenvolvimento psicossocial infantil,
considerando que esse traz consequências e inclinações que reverberam por toda a
vida do sujeito.

Objetivos da Aprendizagem
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de:

• Analisar o conceito psicológico de desenvolvimento numa perspectiva his-


tórica.
• Conceitos elementares: maturação, crescimento e desenvolvimento.
• Conhecer os desdobramentos do conceito de desenvolvimento infantil.

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Desenvolvimento de Funções Superiores da Mente:
Linguagem, Memória e Atenção
A perspectiva da psicologia histórico-cultural vai entender a linguagem como um
sistema simbólico com papel protagonista nos relacionamentos humanos e entre
humanos e o mundo. Por meio dos sistemas simbólicos e da falha que se plasma
em diversos meios, como os sinais, a comunicação é possibilitada, um com o
outro, possibilitando expressão, atenção compartilhada, planejamento, reflexões
e intenções referentes ao passado ou ao futuro. A linguagem relaciona-se com a
evolução do indivíduo, compreendendo-a como indispensável no desenvolvimento
da autoconsciência, o que oportuniza maior controle em relação a autonomia do
pensamento, contemplando as possibilidades de ação do indivíduo em relação ao
mundo (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

Saiba mais
O trabalho a seguir traz uma discussão atualizada sobre as
abordagens terapêuticas que podem ser empregadas tendo como
foco o desenvolvimento da linguagem e os aspectos motores e
cognitivos em crianças com autismo.

Para ler o trabalho na íntegra clique aqui.

A aquisição de linguagem é um processo que oportuniza o intercâmbio social ao


mesmo passo que se coloca como fundamental na autorregulação das ações,
agindo também como eixo na estruturação e organização do pensamento em
relação ao mundo em relação a si mesmo. Por meio da linguagem, a criança adquire
foco, promovendo atividades em nível mais elevado do ponto de vista qualitativo,
respeitando imperativos como o agora, podendo se referir tanto ao futuro como
ao passado. A linguagem oportuniza que o indivíduo adquira tanto valores como
compreenda formas culturais ao mesmo passo passa a reconhecer comportamentos
historicamente construídos e socialmente compartilhados entre os sujeitos (PILETTI;
ROSSATO; ROSSATO, 2014).

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Linguagem.

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: pessoas comunicando-se com língua de sinais.

Atenção
A língua é mais do que uma capacidade trivial, é o que nos faz
humanos, é tanto nosso canal de comunicação quanto a forma
de organizarmos nossos conhecimentos para transmiti-los às
gerações seguintes de forma dinâmica, constante e coletiva.

A Criança (Infância) e seu Lugar na História

Por séculos, a criança foi considerada como um tipo de incapaz, ou seja, alguém
desprovido de forma objetiva de vez e voz, um completo desprovido de importância,
alguém cujas especificidades e particularidades não deveriam ser consideradas.
Dito de outra forma, por um longo período histórico, considerou-se as crianças como
um tipo de extensão dos adultos, ou seja, um adulto em “miniatura”. Em contraste
com o passado, atualmente podemos falar em diferentes infâncias, assim como em
distintas crianças em razão tanto da cultura quanto de distinções de gênero, raça,
etnia, políticas e econômicas que as involucram em cada cenário (PILETTI; ROSSATO;
ROSSATO, 2014).

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Atenção
A forma como a criança é vista e o tratamento dispensado a ela
mudou radicalmente com o passar do tempo até chegarmos aos
dias de hoje, em que há reconhecimento não só doutrinário, mas
também legal de que a criança é um sujeito em estágio peculiar de
desenvolvimento, demandando atenção e garantias fundamentais.

As concepções de infância podem parecer significativamente consensuadas e


robustas, mas elas são, antes de mais, nadas dinâmicas, ou seja, suas relações
e seus sentidos são constituídos em perspectiva histórica sendo moldados por
pressões advindas de distintos lugares e tempos, que se combinam, por exemplo, as
atribuições que são exigidas das mulheres e as que são demandadas por homens. O
termo infância parte da ideia de que antes de ser adulto, o indivíduo passa inicialmente
pela fase social da infância, a qual é constituída de maneira diferente em cada um dos
diversos momentos históricos, sendo nessa condição forjada de forma independente
e autônoma, inocente e pura (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

Sujeito freudiano

Infância Direitos
Mais recentemente, passa a se reconhecer
Fase da vida que antecede a adolescência e a
que as crianças, por sua condição peculiar
vida adulta. Marca um cenário de dependência
de desenvolvimento, demandam de direitos
em relação aos adultos.
e garantias.
Fonte: elaboração do autor (2022).
#pratodosverem: quadro explicitando o conceito de infância e a ideia de direi-
tos associados a esta condição.

Na sociedade contemporânea, em contraste com o passado, têm como consensual


a ideia de que a criança é um sujeito em condição peculiar de desenvolvimento que,
nessa circunstância, demanda de atenção, cuidado e respeito por parte de suas
famílias, por parte da sociedade e do Estado. Essa concepção traz significativa pressão
normativa em relação aos pais para que eles se portem como vigilantes no que tange
ao desenvolvimento das crianças. Essa noção não se deu em outros períodos por
diferentes razões, seja pelo fato de que, por exemplo, no século XVIII as crianças
eram reconhecidas no senso comum como equivalentes a deficientes, “adultos
imperfeitos”, ou pelo fato de que a criança, de forma geral, passava despercebida na
Idade Média, considerando que ela se ancorava a uma rede social mobilizada pela

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escassez típica do sistema feudal e das sociedades agrárias (PILETTI; ROSSATO;
ROSSATO, 2014).

Infância

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: uma criança dormindo.

A Criança e o Brincar

Jean Delval (2013) pontua que o brincar representa uma fonte de ação complexa para
crianças, conforme pontua-se a seguir:

• Imitação – A criança tem capacidade, até certo ponto, de emular atividades e


situações vivenciadas pelos adultos, nesse sentido, as brincadeiras e atitu-
des lúdicas por parte das crianças representam um tipo de encenação sim-
plificada das ações dos adultos.
• Descarga energética – A brincadeira é um meio natural de levar os jovens
a descarregarem o excesso de energia sem a necessidade de trabalharem.
Nesse sentido, tanto animais como humanos, enquanto seres ativos, preci-
sam de atividades,
• Relaxamento – A brincadeira é um tipo de atividade que demanda concen-
tração e foco, permitindo que a criança relaxe, considerando que a finalidade
não é rígida quanto a do trabalho.
• Recapitulação – Alguns pensadores defendem que a brincadeira seria uma
forma da criança explicitar na infância os comportamentos comuns de nos-
sos ancestrais. Atividades como “caçar” de forma lúdica, esconder-se, de

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algum modo, remetendo às atividades ancestrais. Essa foi uma explicação
desenvolvida por Stanley Hall, que atualmente goza de poucos defensores.
• Controle – A brincadeira serve para a criança ter meios objetivos de adqui-
rir controle em relação a si mesmo por meio da experimentação de condu-
tas complexas. Um dos maiores defensores dessa perspectiva é Bruner, que
atualizou toda uma corrente de pensamento nesse sentido.
• Pré-exercício – A brincadeira é um tipo de exercício de preparação no que diz
respeito ao desenvolvimento de habilidades e competências que são deman-
dadas nos adultos, nesse sentido, é dizer que as crianças estão constante-
mente ensaiando atividades de adultos, mas sem ter que arcar com o ônus
real da responsabilidade, ou seja, a criança tem um papel privilegiado, pois
pode experimentar para aprender, contudo sem lidar com os riscos. Existe
um consenso na literatura para a ideia de que as brincadeiras de cunho sim-
bólicas com regras que preparam o sujeito para o exercício posterior de ati-
vidades de cunho social.
• Desejos inconscientes – A brincadeira é um tipo de atividade que permite ao
indivíduo satisfazer uma série de necessidades ou desejos que não poderiam
se dar na realidade, ou por ser contra a norma ou por não haver meios obje-
tivos. Na brincadeira, diferente do universo da realidade cerceado por meios
objetivos e balizas, o sujeito é livre para desenvolver a ação e a imaginação
da forma como desejar. Essa é uma noção que versa em larga medida com
as ideias desenvolvidas por Freud.

Diferente do trabalho, a brincadeira é algo que tem fim nela mesma e o que mantém
o indivíduo em curso é o prazer que a atividade proporciona. É um tipo de atividade
autotélica, ou seja, com finalidade introduzida que traz consigo significativo prazer
funcional. A brincadeira, diferente do trabalho, dá-se no universo da espontaneidade
(DELVAL, 2013).

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Brincar

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: crianças brincando com blocos.

A brincadeira promove a liberdade de organização, considerando que aquele que está


ativo nas brincadeiras tem meios de organizar e mudar as atividades conforme sua
vontade. A brincadeira é uma forma de se liberar de conflitos, promovendo a resolução
dele de maneira simbólica. A brincadeira relaciona-se com a supermotivação, nesse
sentido, mesmo atividades “chatas” podem ser melhoradas quando transformadas
em brincadeiras. Por fim, destaca-se que a brincadeira facilita a adaptação do
sujeito, permitindo aos seres a experimentação, mesmo que de forma desatrelada da
obrigação e da responsabilidade em relação aos efeitos (DELVAL, 2013).

Saiba mais
Este artigo traz uma rica reflexão acerca do papel do brincar
dentro do contexto da Educação Infantil, sobretudo por estimular
de forma expressiva o desenvolvimento motor e cognitivo das
crianças.

Para ler o artigo na íntegra clique aqui.

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Da psicologia histórico-cultural do desenvolvimento a teoria psi-
cossexual de Freud

Jean Delval (2013) ensina que para Freud a mãe da criança realiza ações que levam
à satisfação das suas necessidades no que diz respeito à alimentação e ao cuidado,
ou seja, necessidades primárias, tornando-se uma relação secundária de afeto entre
os dois, ou seja, mãe e criança.

Freud

Fonte: Freepik (2022).


#pratodosverem: uma representação (desenho) de Freud.

Freud concentra-se em compreender um modelo patológico de desenvolvimento,


levando-o a definir as bases de sua teoria sobre sexualidade. Nesse sentido, define-
se aqui um aparelho psíquico em que a personalidade é composta por um constructo
de três níveis (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014):

• Id – Refere-se ao inconsciente, que nessa condição é balizado pela lógica


do prazer, de maneira imediata, em revelia da dor e do desprazer, o que, por
sua vez, é a fonte de pulsões mais básicas dos sujeitos, ou seja, a busca por
satisfação, alívio e redução de tensões e decessos, contemplando as formas
de vida e desconsiderando a realidade.
• Superego – Diz respeito a uma unidade antagônica ao id, que tem como
objetivo agir no sentido de obstaculizar o efeito dos intuitos relacionados a
gratificações imediatas. O superego se constitui a partir da interação e as-
similação do indivíduo com interposições, normas e tradições, que por sua

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vez perpassam da conduta dos pais em relação às crianças, compreendendo
também o meio no qual o indivíduo está inserido, a sociedade e as condições
morais impostas por ela. Existe um inevitável e constante conflito entre o id
e o superego.
• Ego – A mediação dos conflitos entre id e superego e o ego, que integra a per-
sonalidade, fundamenta-se em cima do princípio de realidade. Para denotar
a robustez do conceito de ego, Freud fez referência à sexualidade da criança,
também considerando ela como dotada de conflitos e desejos.
Sujeito freudiano

Id Superego Ego
Representa o escopo de Diz respeito às balizas e
Unidade que intermedia o
pulsões e necessidades do restrições impostas em relação
conflito entre id e superego.
sujeito. ao id.
Fonte: elaboração do autor (2022).
#pratodosverem: tabela explicitando de forma sintética os conceitos de id,
superego e ego na lógica freudiana.

Atenção
O que define o núcleo duro da teoria freudiana não é nem o ego,
nem o superego, nem o id por si só, mas as relações que se
travam entre eles. Se o id traz consigo pulsões, o superego impõe
limitações, ao passo que o ego media a relação entre um e outro.

Psicologia do Desenvolvimento e Linguagem: As Bases da Sociali-


zação Multinível

A escola, assim como a família na vida da criança, garante proteção imediata, garantia
quanto a socialização, representando o caminho objetivo para que ela descubra a si
mesma e ao mundo e vislumbre-se como um ser que tem necessidades próprias e com
capacidade de empreender esforços no desenvolvimento de novos. Fala-se tanto no
desenvolvimento de autonomia, como a capacidade de planejar ações. A linguagem,
nesse sentido, é um divisor de águas com a maior parte do seu desenvolvimento se
dando por via da socialização em um processo dialético que vai dos 2 aos 7 anos de
idade (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

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Reflita
É consensual na literatura em Psicologia o reconhecimento que
na infância se dá a parte mais relevante do desenvolvimento da
linguagem. Nesse sentido, cabe aqui a reflexão: como os pais, a
escola e a comunidade podem ajudar a criar uma atmosfera mais
propícia para as crianças desenvolverem a linguagem?

É a interação que a criança tem com seu meio, sobretudo com outros falantes, que
possibilita a ela se apropriar da linguagem levando-a a estar apta a falar e a se
comunicar com os demais. Nesse processo, a criança passa a aprender como dar
nome aos objetos em seu entorno, tomando ações e vontades. A partir do momento
em que a criança se insere de forma mais efetiva no mundo da linguagem, ela passa
a ter mais subsídios para compreender a si mesma e para distinguir-se do outro,
respeitando a necessidade de se ouvir o outro e dando oportunidade para que os
sujeitos se expressem de forma ativa no processo de aquisição de linguagem. A
linguagem não é desconectada do indivíduo, ao contrário, representa um continuum
dele e, nessa circunstância, acompanha as crianças em suas atividades cotidianas,
auxiliando nas práticas, fazendo o papel de norteador de ações e ajudando a
persecução dos objetivos. (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

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Conclusão
A infância é um período que não se repete no ciclo vital humano, antecedendo a
adolescência, a fase adulta e a velhice. A infância é fundamental no ciclo vital do
sujeito, considerando ser a fase onde o indivíduo desenvolve sua atenção, memória
e linguagem. Para Freud, as experiências da infância, mais especificamente seu
desenvolvimento psicossocial, trazem consigo impactos por toda a vida. Nesse
contexto, o papel do brincar, para além de uma atividade com fim em si mesmo,
representa um meio de as crianças adquirirem desenvolvimento cognitivo e motor.

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Referências
DELVAL, J. O desenvolvimento psicológico humano. Petrópolis: Vozes, 2013.

PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo:


Contexto, 2014.

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