Você está na página 1de 10

Coesão e Coerência Textual

Para que um texto tenha o seu sentido completo, ou seja, transmita a mensagem
pretendida, é necessário que esteja coerente e coeso. Na construção de um texto, assim
como na fala, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão do que é
dito ou lido.
Coerência e coesão textuais são dois conceitos importantes para uma melhor compreensão
do texto e para a melhor escrita de trabalhos de redação de qualquer área.
A coesão trata basicamente das articulações gramaticais existentes entre as palavras, as
orações e frases para garantir a sequência satisfatória dos eventos.

Exemplo:
Gabriel estuda. Gabriel trabalha. (esse exemplo não é coeso pois não estabelece uma
conexão)
Gabriel estuda e trabalha. (Corrigindo o exemplo, agora ele está coeso pois adicionamos o
e).

A coerência, por sua vez, aborda a relação lógica entre ideias, situações ou
acontecimentos, apoiando-se, por vezes, em mecanismos formais, de natureza gramatical
ou lexical, e no conhecimento compartilhado entre os usuários da língua. Ela faz com que
as ideias se complementem, não se contradigam e formem um todo significativo que é o
texto.

Exemplo:
Aquele garoto não gosta de futebol e, portanto, fica chamando seus amigos para jogar
(incoerência, porque quem não gosta de um esporte evita praticá-lo).
Fanático por futebol, o pai de João obriga o filho a jogar. Mas aquele garoto não gosta de
futebol e, portanto, fica chamando seus amigos para jogar. Assim, ele pode ficar a um canto
enquanto os amigos jogam, e a algazarra que fazem dá ao pai a falsa impressão de que o
filho está se divertindo (coerência restabelecida por acréscimo de informações ou contexto,
ficando assim coerente para os leitores/ouvintes).

É importante ressaltar que coesão e coerência são coisas diferentes, de modo que um texto
coeso pode ser incoerente. É o caso do exemplo abaixo:
“As ruas estão molhadas porque não choveu”
Há elementos coesivos no texto acima, como a conjunção, a sequência lógica dos verbos,
enfim, do ponto de vista da coesão, o texto não tem nenhum problema.
Contudo, ao ler o que diz o texto, percebemos facilmente que há uma incoerência, pois se
as ruas estão molhadas, é porque alguém molhou: ou a chuva, ou algum outro evento. Não
ter chovido não é o motivo de as ruas estarem molhadas. O texto está incoerente.
Coesão e coerência têm em comum o fato de estar relacionadas com as regras essenciais
para uma boa produção textual. Mas enquanto a coesão trata especialmente da articulação
interna, ou seja, uma questão gramatical, a coerência trata da articulação externa e mais
profunda da mensagem.
Para que um texto seja considerado coerente, ele deve apresentar uma relação lógica e
harmônica entre suas ideias. Não basta que ele tenha coesão: é fundamental que as suas
partes também estejam conectadas no plano semântico, evitando assim deslocamentos de
informações, lapsos e excesso de ideias e argumentos incoerentes.
É importante ressaltar que coerência e coesão são dois elementos que devem caminhar
lado a lado em um texto, pois enquanto um deles ocupa-se com o plano da significação
(coerência), outro trabalha auxiliando a estruturação das ideias (coesão).

Elementos que Garantem a Coesão


Anáfora e catáfora: A anáfora e a catáfora se referem à informação expressa no texto e
que, por esse motivo, são qualificadas como endofóricas. Enquanto a anáfora retoma um
componente, a catáfora, pelo inverso, antecipa um componente textual, contribuindo para
ligar o texto entre si e fazê-lo fluir de forma harmoniosa e sem repetições.

Referências e reiterações: este tipo de coesão acontece quando um termo faz referência a
outro dentro do texto, quando reitera algo que já foi dito antes ou quando uma palavra é
substituída por outra que possui com ela alguma relação semântica. Alguns destes termos
só podem ser compreendidos mediante estas relações com outros termos do texto, como é
o caso da anáfora e da catáfora.
Exemplos:
João e Maria casaram. Eles são pais de Ana e Beto. (Uso de pronomes pessoais);
Fiz todas as tarefas, com exceção desta: arquivar a correspondência. (Uso de pronomes
demonstrativos);
Mais um dia igual aos outros. (Referência comparativa).

Substituições lexicais: este tipo de coesão acontece quando um termo é substituído por
outro dentro do texto, estabelecendo com ele uma relação de sinonímia, antonímia,
hiponímia ou hiperonímia, ou mesmo quando há a repetição da mesma unidade lexical
(mesma palavra).
Exemplo: Vamos à prefeitura amanhã, eles irão na próxima semana.
Observe que a diferença entre a referência e a substituição está expressa especialmente no
fato de que a substituição acrescenta uma informação nova ao texto. No caso de “João e
Maria casaram. Eles são pais de Ana e Beto”, o pronome pessoal referencia as pessoas
João e Maria, não acrescentando informação adicional ao texto.

Conectores: estes elementos coesivos estabelecem as relações de dependência e ligação


entre os termos, ou seja, são conjunções, preposições e advérbios conectivos.

Correlação dos verbos (coesão temporal e aspectual): consiste na correta utilização dos
tempos verbais, ordenando assim os acontecimentos de uma forma lógica e linear, que irá
permitir a compreensão de sua sequência.

Elipse: Um componente textual, quer seja um nome, um verbo ou uma frase, pode ser
omitido através da elipse. Exemplo: Temos ingressos a mais para o concerto. Você os
quer? (A segunda oração é perceptível mediante o contexto. Assim, sabemos que o que
está sendo oferecido são ingressos para o concerto.)

Tipos de Coesão
Coesão Referencial
É o vínculo que existe entre palavras, orações e as diferentes partículas do texto por meio
de um referente, um dos tipos mais utilizados em um texto.
Nesse tipo de coesão, os termos conetivos ou coesivos anunciam ou retomam as frases,
sequências e palavras que indicam conceitos e fatos. Pode ser anáfora ou catáfora. Os
mecanismos da coesão referencial são a elipse e a reiteração.

Coesão referencial por elipse: Ocorre por meio da omissão de uma ou mais palavras sem
que isso comprometa a clareza de ideias da oração:
Maria faz o almoço e ao mesmo tempo conversa ao telefone com a amiga. Em vez de:
Maria faz o almoço e ao mesmo tempo Maria conversa ao telefone com a amiga.
Exemplo de coesão por reiteração:
Aprendizado é dedicação. Aprendizado é plantar o conhecimento todos os dias.
Entenda: neste tipo de coesão é possível repetir o elemento lexical ou mesmo usar
sinônimos.

Coesão Sequencial
É a maneira como os fatos se organizam no tempo do texto e, para isto, são utilizadas
relações semânticas que ligam as orações e os parágrafos à medida em que o texto é
descrito.
A coesão sequencial pode ser por justaposição ou conexão.

Exemplo de coesão sequencial por justaposição:


Ricardo é, com certeza, a melhor escolha. Além disso, conhece os meandros da empresa.
Entenda: a coesão sequencial por justaposição ocorre para dar sequência ao texto no
ordenamento temporal, espacial e de assunto.

Coesão por Substituição


São empregadas palavras e expressões que retomam termos já enunciados através da
anáfora.
Exemplo:
Os alunos foram advertidos pelo mau comportamento. Caso isso volte a acontecer, eles
serão suspensos.
Em vez de:
Os alunos foram advertidos pelo mau comportamento. Caso o mau comportamento volte a
acontecer, os alunos serão suspensos.

Coesão por Conjunção


Esse tipo de coesão possibilita relações entre os termos do texto através do emprego
adequado de conjunções:
Como não consegui ingressos, não fui ao show, contudo, assisti ao espetáculo pela
televisão.

Coesão Lexical
Ocorre por meio do emprego de sinônimos, pronomes, hipônimos ou heterônimos; palavras
que possuem sentido aproximado ou que pertencem a um mesmo campo lexical.
Exemplo:
Aquela escola não oferece as condições mínimas de trabalho. A instituição está literalmente
caindo aos pedaços.

Exercício Resolvido
Questão 127 aplicada no Enem em 2013
Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe nos chegou após uma série de
contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe que disseminou pela
Europa, além do vírus propriamente dito, dois vocábulos virais: o italiano influenza e o
francês grippe. O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que
significava “influência dos astros sobre os homens”. O segundo era apenas a forma nominal
do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o
vírus se apossa do organismo infectado.
RODRIGUES, S. Sobre palavras. Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.

Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o leitor reconheça a
ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é construída predominantemente pela
retomada de um termo por outro e pelo uso da elipse. O fragmento do texto em que há
coesão por elipse do sujeito é:
(A) “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
(B) “Partiu da Itália em 1743 a epidemia de gripe [...]”.
(C) “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava
‘influência dos astros sobre os homens’.”
(D) “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper [...]”.
(E) “Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do
organismo infectado.”
Resposta correta: letra E

Exercício Proposto
Aponte o tipo de coesão existente no trecho abaixo retirado da obra Senhora, de José de
Alencar.
"O soalho mostrava aqui e ali fendas na madeira; mas uma nódoa sequer não manchava as
tábuas areadas".

Princípios Básicos da Coerência


Princípio da Não Contradição: em um texto não se pode ter situações ou ideias que se
contradizem entre si, ou seja, que quebram a lógica.

Princípio da Não Tautologia: Tautologia é um vício de linguagem que consiste na repetição


de alguma ideia, utilizando palavras diferentes.
Um texto coerente precisa transmitir alguma informação, mas quando há repetição
excessiva de palavras ou termos, o texto corre o risco de não conseguir transmitir a
informação. Caso ele não construa uma informação ou mensagem completa, então ele será
incoerente.

Princípio da Relevância: Fragmentos de textos que falam de assuntos diferentes, e que não
se relacionam entre si, acabam tornando o texto incoerente, mesmo que suas partes
contenham certa coerência individual.
Sendo assim, a representação de ideias ou fatos não relacionados entre si, fere o princípio
da relevância, e trazem incoerência ao texto.

Fatores que Contribuem para a


Coerência de um Texto:
Conhecimento de Mundo: O conjunto de conhecimento que adquirimos ao longo da vida e
que são arquivados na nossa memória.
São os chamados frames (rótulos), esquemas (planos de funcionamento, como a rotina
alimentar: café da amanhã, almoço e jantar), planos (planejar algo com um objetivo, tal
como jogar um jogo), scripts (roteiros, tal como normas de etiqueta).
Exemplo: Peru, Panetone, frutas e nozes. Tudo a postos para o Carnaval!
Uma questão cultural nos leva a concluir que a oração acima é incoerente, pois “peru,
panetone, frutas e nozes” (frames) são elementos que pertencem à celebração do Natal e
não à festa de carnaval.

Inferências: Através das inferências, as informações podem ser simplificadas se partimos do


suposto que os interlocutores partilham do mesmo conhecimento.
Exemplo: Quando os chamar para jantar não esqueça que eles são indianos. (ou seja, em
princípio, esses convidados não comem carne de vaca)

Fatores de contextualização: Há fatores que inserem o interlocutor na mensagem


providenciando a sua clareza. São exemplos os títulos de uma notícia ou a data de uma
mensagem.
Exemplo:
- Está marcado para às 10h.
- O que está marcado para às 10h? Não sei sobre o que está falando.
Informatividade: Quanto maior informação não previsível um texto tiver, mais rico e
interessante ele será. Dizer o que é óbvio ou insistir numa informação e não desenvolvê-la
desvaloriza o texto. Exemplo: O Brasil foi colonizado por Portugal.

Tipos de Coerência
Coerência Sintática
Oração assim escreve uma coerência sintática, a ninguém ainda que conheça não. Não
entendeu nada? Pois é, ainda que não conheça a coerência sintática, ninguém escreve uma
oração assim.
Esse é o princípio básico da sintaxe: construir frases nas quais os elementos da oração
estejam dispostos na ordem correta. Além disso, a coerência sintática evita a ambiguidade
e garante o uso adequado dos conectivos.

Coerência Semântica
Quando falamos em semântica, estamos nos referindo ao desenvolvimento lógico das
ideias, ou seja, à construção de argumentos harmônicos e livres de contradições.
A Semântica é a área da Linguística que estuda o significado das palavras, isto é, as
relações entre os signos e os seus referentes.

Coerência Temática
Quando você recebe um determinado tema para discorrer sobre, você escolhe enunciados
que estejam de acordo com a proposta. Esse é o princípio da coerência temática, que
privilegia apenas ideias que sejam relevantes para o bom desenvolvimento do tema.

Coerência Pragmática
Você sabe o que é pragmática? Trata-se da parte da Linguística que estuda o uso da
linguagem tendo em vista a relação entre os interlocutores e a influência do contexto
comunicacional. Todos os textos, sejam eles orais ou escritos, devem obedecer à coerência
pragmática.
Quando você faz uma pergunta, por exemplo, a sequência de fala esperada é uma
resposta. Quando você faz um pedido, é pragmaticamente impossível que simultaneamente
você dê uma ordem. Quando essas expectativas são quebradas, temos um claro exemplo
de incoerência pragmática.

Coerência Estilística
O estilo diz respeito à variedade linguística adotada em um texto. Se você optou pelo uso
da variedade padrão, é coerente que você a preserve em todo o texto.
Não faz o menor sentido começar uma redação utilizando uma linguagem culta e de repente
alterar o estilo e empregar a linguagem coloquial, não é mesmo?

Coerência Genérica
Está relacionada à escolha adequada do gênero textual.
Existe um gênero disponível para cada ato de fala e escrita: por exemplo, se a intenção de
quem escreve é anunciar algum produto para a venda, provavelmente ele optará pela
linguagem utilizada nos classificados de um jornal. Se a intenção é contar uma história, o
conto ou a crônica são opções possíveis.

Coerência Temporal
Está relacionada à escolha do tempo verbal dentro do texto.
As histórias podem ser narradas no presente ou no passado e um erro comum é o autor
misturar os dois ao escrever. É importante estar atento para evitar esse tipo de ocorrência,
que pode prejudicar a clareza do texto, deixando os leitores confusos.

Coerência com a Realidade


Mesmo que a história seja fantástica, o autor precisa estabelecer suas regras e não quebrá-
las, sob risco de prejudicar a verossimilhança.
Se ao criar uma história, o escritor torna possível humanos voarem, é incoerente ele tornar
isso impossível alguns capítulos depois ou, por exemplo, criar alguma regra para isso poder
acontecer e depois violá-las apenas para facilitar determinada ação.

Coerência em Geral
Também é um erro comum, geralmente por desatenção ou esquecimento, o autor descrever
o personagem de uma forma e depois alterar isso sem motivos. Ou colocar o personagem
entrando em um lugar em que ele já estava antes.
Prestar atenção a esse tipo de detalhes também é fundamental para manter não apenas a
coerência, mas também uma sequência lógica dos eventos da trama.

Fontes
http://www.infoescola.com/redacao/coesao-e-coerencia-textual/
http://www.mundovestibular.com.br/articles/2586/1/COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/
Paacutegina1.html

http://www.editoracontexto.com.br/blog/coesao-e-coerencia-textual-o-que-e-isso/

https://www.todamateria.com.br/coesao-e-coerencia/

https://www.todamateria.com.br/coesao-sequencial/

https://www.todamateria.com.br/coesao-referencial/

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/tipos-coesao.htm

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/tipos-coerencia.htm
Exercícios e Atividades
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/disciplinas/letras-portugues/
interpretacao-de-textos/coesao-e-coerencia

http://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios-sobre-coesao-
coerencia.htm

http://www.mapadaprova.com.br/questoes/de/portugues/semantica/coesao-e-coerencia#

http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-redacao/exercicios-sobre-
coerencia-textual.htm

Você também pode gostar