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JAIRO POSTAL
GÊNEROS DISCURSIVOS
CURSO DE LETRAS 1
INTRODUÇÃO
4
GÊNEROS DISCURSIVOS — PROF. DR. JAIRO POSTAL
1 NOÇÕES DE TEXTO
1
Semiótica é a ciência que estuda os sistemas de signos, as linguagens.
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2
Art. 6.º — São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
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sonoros (em bips, em canções, em vinhetas, em jingles) etc.
Disseminaram-se, assim, os textos multissemióticos, resultantes de
uma interação semântica entre fala, escrita, imagens e outros modos
veiculados por meio de outros sentidos, como tato e olfato.
3
GUIMARÃES, Elisa. Texto, discurso e ensino. São Paulo: Contexto, 2009, p.77
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violência — decretou, em 16 de fevereiro de 2018, intervenção
federal no Rio de Janeiro, nomeando como interventor o General do
Exército Walter Braga Netto.
11
Canção do exílio
Nosso céu tem mais estrelas, Não permita Deus que eu morra
Nossas várzeas têm mais flores, Sem que eu volte para lá;
Nossas flores têm mais vida, Sem que desfrute os primores
Nossa vida mais amores. Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Em cismar, sozinho, à noite, Onde canta o Sabiá.
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras, Gonçalves Dias
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, (Coimbra, julho de 1843)
Que tais não encontro eu cá;
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1.3.2.1 Citação
(TORRES, Adriana Sobreira; PEREIRA NETO, André de Faria. A carta de Pero Vaz de
Caminha. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1991.)
14
1.3.2.2 Alusão
16
4
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo:
Cortez, 2001.
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A velha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava
pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal
da alfândega — tudo malandro velho — começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
— Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí
atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que
ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
— É areia!
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Aí quem riu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha
saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e
dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela
montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com
areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando
ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez.
Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O
fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido, o fiscal interceptou a velhinha
e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
— Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não
apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o
contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
— É a lambreta.
Manhã fria de inverno, sol tímido. Plantas com gotas de orvalho cintilantes.
Pessoas embrulhadas em blusa e em cachecol indiferentes a um mendigo seminu,
debaixo da ponte, abraçado ao seu cão. Nas ruas, motoristas e puxadores de carroça
parados no farol. Cidade grande, terra de contrastes.
5
Costuma-se diferenciar ambiente de paisagem. O primeiro refere-se a um lugar fechado (uma
sala, um quarto, um escritório etc.); o segundo, a um lugar a céu aberto (um parque, uma praia,
um vale, uma rua etc.).
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Dona Almerinda tem seus oitenta anos. Baixinha e magricela, possui uma
destreza ímpar na cozinha. Seus cabelos de neve ficam, na maior parte do tempo,
acomodados em uma touca de renda. O amor às crianças carentes a faz, todas as
tardes, preparar bolinhos de chuva, que ela mesma leva ao orfanato do bairro. A
alegria contagiante da velhinha é comentada em todo o bairro. À noite, senta-se na
poltrona que pertencera a seu pai, e, após limpar meticulosamente os óculos, lê seu
livro predileto, a Bíblia. Antes de dormir, roga a Deus que lhe dê sempre forças para
servir a seus netinhos adotivos.
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(GRANATIC, Branca. Técnicas básicas de redação. 3.ed. São Paulo: Scipione, 1996)
24
É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que
você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o
nome?
— Pois não?
— Sim?
— Sim senhor.
— Sim senhor.
— O quê, cavalheiro?
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— Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim,
assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de
encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um,
um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra
ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma
coisa pontuda que fecha. Entende?
— Infelizmente, cavalheiro...
— Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?
— Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra
vez. Quem sabe o senhor desenha para nós? 25
— Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé.
Sou uma negação em desenho.
— Sinto muito.
— Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida.
Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do
nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com
números. Tenho algum problema com os números mais complicados, claro. O oito, por
exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como
você está pensando.
— Chame o gerente.
— Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim,
assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.
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— Francamente...
— Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem
vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa.
— Já sei!
— Ótimo!
— Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você
enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de
uma coisa.
26
— Certo. Esse instrumento que o senhor procura funciona mais ou menos
como um gigantesco alfinete de segurança e...
— Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comunicação. In: Para gostar de ler, v.7. 3.ed. São Paulo: Ática, 1982. p. 35-37.)
O grito
A montaria usada por D. Pedro nem de longe lembrava o fogoso alazão que,
meio século mais tarde, o pintor Pedro Américo colocaria no quadro Independência ou
Morte, também chamado de O Grito do Ipiranga, a mais conhecida cena do
acontecimento. O coronel Marcondes se refere ao animal como uma “baia gateada”.
Outra testemunha, o padre mineiro Belchior Pinheiro de Oliveira, cita uma “bela besta
baia”. Em outras palavras, uma mula sem nenhum charme, porém forte e confiável.
Era esta a forma correta e segura de subir a serra do Mar naquela época de caminhos
íngremes, enlameados e esburacados.
Foi, portanto, como um simples tropeiro, coberto pela lama e pela poeira do
caminho, às voltas com as dificuldades naturais do corpo de seu tempo, que D. Pedro
proclamou a Independência do Brasil.
(GOMES, Laurentino. 1822: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco ajudaram
D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.)
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Um apólogo
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir
que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar
insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem
cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se
com a sua vida e deixe a dos outros.
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os
cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou
feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por
você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo
adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é
que prendo, ligo, ajunto...
6
O apólogo é uma narrativa protagonizada por objetos inanimados (plantas, pedras, rios,
relógios, moedas, estátuas etc.); já a fábula é protagonizada por animais irracionais.
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— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta
distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela,
unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo
enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir
palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e
foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o
plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o
dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e
ficou esperando o baile.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não
menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai
gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro
caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a
cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
(ASSIS, Machado de. Contos. 6.ed. São Paulo: Ática, 1977. p. 73-74.)
Inferno nacional
Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. Em vida, o
falecido foi muito dado à falcatrua, chegou a ser candidato a vereador pelo PTB, foi
diretor de instituto de previdência, foi amigo do Tenório, enfim... ao morrer nem
conversou, foi direto para o Inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e
perguntou:
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Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos
Estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe
caberia para toda a eternidade. Entrou no departamento dos Estados Unidos e
perguntou como era o regime ali.
— Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno
de duzentos graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de cem graus abaixo de
zero até as três horas, e voltar ao forno de duzentos graus.
32
Na representação de diálogos, quando se reproduz textualmente a fala
das personagens, deixando-as falar, tem-se o discurso direto. Cria-se, assim,
efeito de sentido de que o narrador tem diante de si o que aconteceu no
passado. Para indicar a pessoa que está falando durante o diálogo, o narrador
usa os chamados verbos dicendi7 ou verbos de elocução: afirmar, declarar,
dizer, perguntar, indagar, interrogar, protestar, exclamar, responder, retrucar,
gritar, pedir, solicitar, mandar, aconselhar etc.
E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
7
Dicendi, em latim, significa de dizer. Verbo dicendi significa literalmente verbo de dizer.
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— Pois é.
— Pois é o quê?
— Eu só disse pois é.
— Mas pois é o quê.
— Melhor mudar de conversa porque você não me entende.
— Entender o quê?
— Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já!
— Falar então de quê?
— Por exemplo, de você.
— Eu?
Era uma vez uma agulha que perguntou à linha por que ela estava
com aquele ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que valia
alguma naquele mundo.
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Ex.:
DISCURSO DIRETO
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Estou aqui, em casa, mas agora não posso recebê-lo, disse o presidente.
DISCURSO INDIRETO
O presidente disse que estava lá, em casa, mas, naquele momento, não
podia recebê-lo.
DISCURSO DIRETO
Ricardo disse à mãe:
– Viajarei neste final de semana.
DISCURSO INDIRETO
Ricardo disse à mãe que viajaria naquele final de semana.
DISCURSO DIRETO
– Tu me amas? – perguntou Cristo a Pedro.
DISCURSO INDIRETO
Cristo perguntou a Pedro se ele o amava.
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DISCURSO DIRETO
– Quebrei um vaso caríssimo – disse preocupado o garoto.
DISCURSO INDIRETO
O garoto disse preocupado que tinha quebrado um vaso caríssimo.
DISCURSO DIRETO
A mulher confessou ao marido:
– Estou preocupada com nosso filho.
DISCURSO INDIRETO
A mulher confessou ao marido que estava preocupada com o filho deles.
DISCURSO DIRETO
– Estude agora, ordenou a mãe ao filho.
DISCURSO INDIRETO
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A mãe ordenou ao filho que estudasse naquele momento.
DISCURSO DIRETO
– Se ganhar o prêmio, comprarei um carro – disse o apostador.
DISCURSO INDIRETO
O apostador disse que, se ganhasse o prêmio, compraria um carro.
DISCURSO DIRETO
O pobre homem disse ao padre:
– Isto me perturba muito.
DISCURSO INDIRETO
O pobre homem disse ao padre que aquilo o perturbava muito.
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DISCURSO DIRETO
– Arruma teu quarto, ordenou a avó ao neto.
DISCURSO INDIRETO
A avó ordenou ao neto que arrumasse o quarto dele.
DISCURSO DIRETO
– Irei à casa de meus pais hoje – disse Raquel.
DISCURSO INDIRETO
Raquel disse que iria à casa de seus pais naquele dia.
DISCURSO DIRETO
– Viajarei a Santos amanhã – disse Fernando.
DISCURSO INDIRETO
Fernando disse que viajaria a Santos no dia seguinte.
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DISCURSO DIRETO
– Fui ontem ao clube – disse Evaristo.
DISCURSO INDIRETO
Evaristo disse que tinha ido ao clube no dia anterior.
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2.3.1 Argumentativo
As drogas já curam tifo, sífilis, septicemia, até lepra! E tornam possível uma
vida longa aos diabéticos e a outros portadores de males crônicos outrora
inexoráveis1.
Mas há uma hora em que as grandes drogas falham, a cirurgia nada pode e a
morte exige o seu defunto. Então, os doutores sabem-se vencidos, mas não se
entregam e iniciam a batalha que já não é a da cura, mas a de ganhar uma semana,
um dia, uma hora, um minuto. O doente, em cima da cama, já deixou de ser um ente
humano, é um simples objeto de vivissecção2. A garganta é cortada para que nela se
introduza aquele sinistro apitinho de traqueotomia3. Do nariz lhe saem cânulas4 por
onde são injetados os alimentos — quando as cânulas não são inseridas diretamente
no estômago, por corte, que vai das vizinhanças do esterno5 até lá dentro, conforme já
vi fazer. As veias já não têm onde se fure para enfiar agulha de soro, e então eles
dissecam uma — quer dizer, abrem a carne até uma veia escondida e ali fixam a
agulha, em definitivo. Chega um ponto em que não há orifício natural do corpo que
não receba uma sonda, salvo talvez os ouvidos. Às vezes o doente não tem mais
consciência de nada, ou pelo menos a gente assim o supõe; não fala, não se mexe,
nem sequer pisca. Dali para diante não há caminho de volta — disso já se tem
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Vocabulário
1
inexorável: fatal.
2
vivissecção: qualquer operação feita em animal vivo com o objetivo de realizar estudo ou
experimentação.
3
traqueotomia: intervenção cirúrgica que consiste na abertura de um orifício na traqueia e na 38
colocação de uma cânula para a passagem de ar.
4
cânula: tubo usado após intervenções cirúrgicas.
5
esterno: osso situado na parte vertebral do tórax.
6
obstinar: agarrar-se com firmeza a uma ideia, a uma resolução.
7
inerme: fraco, debilitado.
8
aprazer: causar prazer, agradar.
9
trespasse: falecimento.
39
2.3.2 Expositivo
(Fonte: https://saude.ig.com.br/coronavirus/2021-02-14/israel-desenvolve-2-medicamentos-
promissores-contra-a-covid-19.html)
7. Não utilizar exemplos contando fatos ocorridos com terceiros, que não
sejam de domínio público. Não se pode, em hipótese alguma, introduzir
na dissertação fatos ocorridos com pessoas que pertencem apenas ao
rol de conhecimento do autor do texto. Ex.: A violência tornou-se crônica
no Brasil. A cada dia, centenas de pessoas são assassinadas. O doutor
Roberto, que tinha um consultório na Paulista, foi morto com dois tiros
após um assalto.
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3 CRITÉRIOS DE TEXTUALIZAÇÃO
O texto é uma unidade de sentido. Para que esse todo significativo seja
construído, faz-se necessário que o enunciador mobilize alguns recursos, os
quais a Linguística Textual8 tem chamado de critérios de textualização.
Entende-se textualização como o conjunto de processos que fazem que um
texto seja uma unidade, e não apenas uma sequência de palavras ou de
frases. São sete: coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade,
situacionalidade, informatividade e intertextualidade.
3.1 Coesão
Cada língua retrata a realidade de uma maneira. Isso fica bem perceptível no 43
emprego de expressões idiomáticas, de gírias ou de provérbios. A título de exemplo,
pode-se citar a expressão chovem canivetes, que tem a forma correlata em inglês it’s
raining cats and dogs. Na língua portuguesa, a palavra canivetes é um intensificador
do verbo chover, ao passo que, na língua inglesa, o verbo to rain é hiperbolizado pela
expressão cats and dogs. Uma tradução malfeita do inglês para o português resultaria
na expressão estão chovendo gatos e cachorros, cujo sentido é Ø. As gírias exigem
também uma recontextualização no momento de traduzir um texto. A expressão
inglesa she is a peach não pode ser traduzida literalmente por ela é um pêssego por
não remeter, dentro do sistema linguístico português, a significado algum. Nesse caso,
a tradução pertinente é: ela é uma uva ou, numa versão mais moderna, ela é uma
gata.
(POSTAL, Jairo. Tradição e tradução. Integração: ensino, pesquisa, extensão. São Paulo: Centro de
Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu, ano 14, n.54, p.281, jul./ago./set. 2008)
8
Linguística Textual é a ciência que estuda as operações linguísticas e cognitivas reguladoras
e controladoras da produção, do funcionamento e da recepção de textos escritos ou orais.
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Rotina
Alarme do celular
Mais um dia
Café da manhã
Esperança
Ida ao trabalho
Fadiga
Almoço com os colegas
Labuta
Retorno a casa
Engarrafamento
Jantar com a família
Fim do dia
(Postal, Jairo)
9
Alguns autores, por considerarem coesão apenas as relações estabelecidas por elementos
explicitados na linearidade do texto, dirão que o poema Rotina não é coeso.
10
O campo lexical é formado por palavras que pertencem a um mesmo tema, ou seja, palavras
que se reúnem em torno de uma ideia comum. Ex.: mar, areia, sol, conchinhas etc. formam o
campo lexical de praia.
11
Sintaxe (do grego syn, junto, e tassein, ordenar, arrumar) é a parte da Gramática que estuda
as relações existentes entre as palavras em uma frase ou entre as orações em um período.
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3.2 Coerência
12
Há um conceito generalizado de que palavras sinônimas são aquelas que têm sentido
idêntico. Do ponto de vista estilístico, entretanto, pode-se dizer que isso é praticamente
impossível, uma vez que palavras que designam uma mesma ideia possuem matizes
diferentes. A palavra docente, por exemplo, tem um matiz mais técnico do que professor.
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Ora, não foi pela ocorrência de um fato não esperado que Alcides se
frustrou; portanto, o adjetivo decepcionado torna o texto incoerente.
46
Percebe-se que a coerência está comprometida, pois o enunciador afirma
categoricamente, no primeiro parágrafo, que, em qualquer circunstância, é
inadmissível que se negue ao feto o direito de nascer. A expressão em qualquer
circunstância não permite relativização alguma da ideia defendida; portanto, não
cabe, nesse contexto, aceitar o aborto em casos de gravidez por estupro.
3.3 Intencionalidade
13
Não se deve confundir macroestrutura textual com superestrutura (ou hiperestrutura) textual.
A superestrutura é a categorização formal do texto de acordo com a maneira como ele é
organizado: narração, descrição e dissertação.
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Texto1
(FAVARO, Thomaz. O planeta urbano. Veja. São Paulo: Abril, n.15, ano 41, p.111, 16.abr.2008)
Texto 2
Texto 3
Tenho internet de alta velocidade. Estou satisfeito. Mas nos últimos meses me
ligaram várias vezes para oferecer pacote de velocidade ainda maior. Sem precisar de
nada disso, acabei aceitando porque o velho ditado funciona muito bem comigo: água
mole em pedra dura... Sem falar nas associações beneficentes. Eu acho que é uma
obrigação ajudar o próximo. Faço o que posso. Mas me sinto realmente invadido
quando liga alguém de um lar ou casa de apoio que não conheço. Vem a conversa:
– É só uma pequena quantia para ajudar as crianças carentes e...
– Eu já ajudo uma instituição há muitos anos. – Se o senhor der uma
contribuição mensal... Aí sou obrigado a fazer o papel de bicho papão:
– Sinto muito, não quero ajudar as crianças carentes.
Dizer o quê, para me livrar do telefonema? Óbvio que me sinto um monstro ao
falar tal absurdo. Fazer o quê? Não adianta explicar que, puxa vida, quero ajudar uma
instituição que já conheça de perto. O marketing de caridade é assustador. Ainda mais
porque fiquei sabendo que com frequência os “consultores” são profissionais. Usam o
sentimento de solidariedade normal nas pessoas para ganhar comissão!
(CARRASCO, Walcyr. Invasão telefônica. Veja São Paulo. São Paulo: Abril, n.12, ano 41, p.170,
26.mar.2008)
Texto 4
48
Texto 5
Texto 6
Texto 7
14
O linguista russo Roman Jakobson (1896–1982) destaca seis funções da linguagem:
referencial, emotiva, apelativa, estética, fática e metalinguística.
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interação com o enunciatário. Além disso, para reforçar o apelo, afirma-se que a
máscara salva a vida. Trata-se da função apelativa da linguagem.
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3.4 Aceitabilidade
Nesse texto, quando o pai aponta as duas últimas razões pelas quais o
filho deve ir ao colégio (por ter 45 anos e por ser diretor do colégio), rompe-se a
expectativa que o leitor tem de tratar-se de um diálogo entre adulto e criança.
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3.5 Situacionalidade
3.6 Informatividade
(HOLLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização. 7.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979)
TEMA REMA
T1 – a religião romana R1 – comportava ritos e cerimônias
oficiais
T2 – os ritos R2 – consistiam em preces, em
oferendas e em sacrifícios
T3 – as cerimônias R3 – envolviam festejos agrícolas,
procissões, banquetes e jogos
esportivos em homenagem a um deus
(ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed. São Paulo:
Moderna, 1991.)
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TEMA REMA
T1 – as diferenças entre o homem e o R1 – não são apenas de grau
animal
T2 – o animal R2 – permanece mergulhado na
natureza
T3 – o homem R3 – é capaz de transformar a
natureza, tornando possível a cultura
T4 – o mundo resultante da ação R4 – é um mundo que não se pode
humana chamar de natural
T5 – (o mundo resultante da ação R5 – se encontra transformado pelo
humana) homem
T6 – a palavra cultura R6 – tem vários significados, tais como
o de cultura da terra ou cultura de um
homem letrado
T7 – cultura (em antropologia) R7 – significa tudo o que o homem
produz ao construir sua existência: as
práticas, as teorias, as instituições, os
valores materiais e espirituais.
3.7 Intertextualidade
54
A intertextualidade é a incorporação de um texto em outro. No primeiro
capítulo, já foram estudados os dois principais processos empregados pelo
destinador para efetivar esse diálogo entre textos: a citação e a alusão.
55
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4 NOÇÕES DE DISCURSO
56
O sapo e o escorpião
TEXTO DISCURSO
Texto 1
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Texto 3
Moradores cercam caminhão de lixo para pegar restos de comida em
Pernambuco
Percebe-se que são três textos bem diferentes, pois são três mensagens
organizadas materialmente de formas distintas: o primeiro é uma charge; o
segundo, um poema; o terceiro, uma reportagem. Em todos eles, entretanto,
perpassa um mesmo tema: a zoomorfização do ser humano, concretizada no
ato de buscar no lixo a alimentação do dia. Embora cada um desses textos
apresente certas particularidades significativas, o sentido básico do discurso é
o mesmo em cada um deles: a fome subjuga a razão, e o instinto de
sobrevivência se faz valer. Nesse ponto, os três textos se enquadram no plano
social, pois denunciam as mazelas de um grupo que vive abaixo da linha de
pobreza.
Texto 4
A cigarra e a formiga
Texto 5
Exortação à prática de vários deveres cristãos
Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos
aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de
nós recebestes;
Pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto
que nunca nos portamos desordenadamente entre vós,
Nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga,
de noite e dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós;
Não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos
exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.
Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer
trabalhar, também não coma.
Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam
desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia.
O texto 4 é uma tradução feita pela escritora Ruth Rocha de uma fábula
de Esopo, contador de histórias grego, que viveu no século VI a.C.; já o texto 5
é um excerto de uma carta escrita por Paulo de Tarso, por volta do ano 50 d.C.,
aos cristãos da cidade grega de Tessalônica.
Texto 6
O ano passado 62
Carlos Drummond de Andrade
Texto 7
Ano Novo
Fernando Pessoa
Texto 8
Ano Novo
Ferreira Gullar
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
63
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
64
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5.1 Introdução
Excerto 1
Excerto 2
Excerto 3
ZÉ
(Olhando a igreja)
É essa.
Só pode ser essa.
(Rosa para também, junto aos degraus, cansada, enfastiada e deixando já entrever
uma revolta que se avoluma).
ROSA
E agora? Está fechada.
ZÉ
É cedo ainda. Vamos esperar que abra.
ROSA
Esperar? Aqui?
ZÉ
Não tem outro jeito.
Rosa
(Olha-o com raiva e vai sentar-se num dos degraus. Tira o sapato).
Estou com cada bolha d’água no pé que dá medo. 66
ZÉ
Eu também.
(Contorce-se num ritus de dor. Despe uma das mangas do paletó).
Acho que os meus ombros estão em carne viva.
ROSA
Bem feito. Você não quis botar almofadinhas, como eu disse.
ZÉ
(Convicto)
Não era direito. Quando eu fiz a promessa, não falei em almofadinhas.
ROSA
Então: se você não falou, podia ter botado; a santa não ia dizer nada.
ZÉ
Não era direito. Eu prometi trazer a cruz nas costas, como Jesus. E Jesus não usou
almofadinhas.
Dias Gomes
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Excerto 4
João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro
que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos
do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de
anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados
vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e
quinhentos em dinheiro.
Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda
com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as
mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma
esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida
arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a
Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e
amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade.
Aluísio Azevedo
Ao saber por Marli, uma prostituta apaixonada por Bonitão, que Rosa
passara a noite com o homem, Zé começa a dar vazão à sua revolta. Já
Bonitão, decidido a se livrar de Zé para poder se aproveitar de sua esposa,
convence o policial, Secreta, da credibilidade da versão do jornal. 68
Essa obra foi escrita para ser representada; daí, aparecerem rubricas ou
didascálias, que são os enunciados colocados entre parênteses que objetivam
descrever o cenário, o figurino, o ambiente ou a expressão das personagens.
Percebe-se também a ausência de narrador, havendo apenas as falas das
personagens.
João Romão motivado pela inveja que tem de Miranda, que possui uma
condição social superior, passa a trabalhar de forma árdua e a privar-se de
certas coisas para enriquecer mais que o outro português. Entretanto, quando
Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ter
dinheiro, é necessário também ter uma posição social reconhecida e ostentar
certos luxos, como frequentar lugares requintados, teatros, usar roupas finas,
ler romances etc., isto é, inserir-se na efetiva vida burguesa.
5.4.2 Comédia
5.4.3 Tragicomédia
16
Os teatros antigo, medieval e clássico eram feitos sempre em verso. Uma vez que o teatro
reproduzia a vida real, e nela a linguagem comum é a prosa, os românticos condenaram o
artificialismo da linguagem poética.
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6 GÊNEROS DO DISCURSO
6.1 Introdução
17
Grosso modo, pode-se dizer que enunciado é o produto da enunciação. A enunciação, por
sua vez, é o ato de produção do discurso.
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ESFERA
DE AÇÃO
GÊNERO
CONTEÚDO CONSTRUÇÃO
TEMÁTICO COMPOSICIONAL ESTILO
Exemplo:
77
IDENTIFICAÇÃO
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INFORMAÇÕES AO PACIENTE
78
DIZERES LEGAIS
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Exemplo:
BRIGADEIRO
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INGREDIENTES
MODO DE PREPARO
chocolate em pó.
Cozinhe em fogo médio e mexa até que o brigadeiro comece a
desgrudar da panela.
Deixe esfriar e faça pequenas bolas com a mão passando a massa no
chocolate granulado.
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6.2.3 CHARGE
Exemplo:
CRÍTICA:
Charge do Duke. 28.jna.2021
6.2.4 CARTUM
Exemplo:
CRÍTICA:
Redução de contato
com livros físicos em
razão de hábitos
digitais. 81
Obs.:
Deve-se estabelecer diferença entre charge e cartum. A charge é
originária de uma notícia jornalística do momento, criticando as ações de uma
personalidade (geralmente política) ou um acontecimento específico; é, assim,
um gênero de curta validade, de rápida desatualização.
O cartum, por sua vez, não retrata uma pessoa específica ou um fato
isolado, mas as ações de uma coletividade; trata-se, portanto, de gênero
atemporal, ou seja, com validade indeterminada.
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6.2.5 PRECE
Exemplo:
82
6.2.6 FÁBULA
Exemplo:
83
A tartaruga e o coelho
Certo dia um coelho zombou das pernas curtas e do passo lento da tartaruga,
que respondeu, sorrindo:
— Embora você seja rápido como o vento, vencerei você numa corrida.
O coelho, acreditando ser simplesmente impossível a declaração da tartaruga,
aceitou o desafio; concordaram que a raposa deveria escolher o roteiro e determinar
onde seria a chegada.
No dia da corrida, os dois começaram juntos.
A tartaruga nem por um momento parou; antes, prosseguiu num passo lento,
mas constante até o final da pista.
O coelho deitou-se à beira do caminho e adormeceu depressa.
Tendo finalmente acordado, moveu-se tão depressa quanto pôde, e viu
a tartaruga que, tendo atravessado a linha de chegada, estava confortavelmente
cochilando depois de sua fatigante corrida.
6.2.7 APÓLOGO
Exemplo:
O sol e o vento
O sol e o vento discutiam sobre qual dos dois era mais forte. 84
O vento disse:
— Provarei que sou o mais forte. Vê aquela mulher que vem lá embaixo com
um lenço azul no pescoço? Aposto como posso fazer com que ela tire
o lenço mais depressa do que você.
O sol aceitou a aposta e recolheu-se atrás de uma nuvem.
O vento começou a soprar até quase se tornar um furacão, mas, quanto
mais ele soprava, mais a mulher segurava o lenço junto a si.
Finalmente, o vento acalmou-se e desistiu de soprar.
Logo após, o sol saiu de trás da nuvem e sorriu bondosamente para a mulher.
Imediatamente ela esfregou o rosto e tirou o lenço do pescoço.
O sol disse, então, ao vento:
— Lembre-se disto:
A gentileza e a amizade são sempre mais fortes que a fúria e a força.
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6.2.8 Parábola
Exemplo:
85
Todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvir Jesus. Mas
os fariseus e os mestres da lei o criticavam: Este homem recebe pecadores e come
com eles.
Então, Jesus lhes contou esta parábola: Qual de vocês que, possuindo cem
ovelhas, e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no campo e vai atrás da
ovelha perdida, até encontrá-la? E quando a encontra, coloca-a alegremente nos
ombros e vai para casa. Ao chegar, reúne seus amigos e vizinhos e diz: Alegrem-se
comigo, pois encontrei minha ovelha perdida. Eu lhes digo que, da mesma forma,
haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e
nove justos que não precisam arrepender-se.
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Tipos de balão
86
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Exemplos:
BALÃO MUSICAL
BALÃO DE COCHICHO
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BALÃO DE PENSAMENTO
6.2.10 TIRINHA
Exemplos:
88
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6.2.11 CARTÃO-POSTAL
Exemplo:
89
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6.2.12 DIÁRIO
Exemplo:
90
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6.2.13 CARDÁPIO
Exemplo:
91
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Esclarecimentos e orientações à
CONTEÚDO TEMÁTICO população sobre uma determinada ação
social.
Título atrativo, imagem acompanhada de
texto com informações sobre a
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL campanha. Identificação dos realizadores
da ação social.
Linguagem formal, mas simples; texto
injuntivo (verbos no imperativo)
ESTILO objetivando a persuasão, ou seja, levar o
destinatário à ação.
Exemplo:
92
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Exemplo:
G1 MUNDO
MANCHETE
Portugal prorrogou nesta quinta-feira (11) um lockdown no país até pelo menos
LIDE
1.º de março para combater seu pior surto de infecções por Covid-19 desde o
início da pandemia, mas o primeiro-ministro António Costa advertiu que as
regras rígidas devem permanecer por mais tempo.
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"A situação ainda é extremamente grave e exige que essas medidas sejam
estendidas não apenas até o final de fevereiro, mas provavelmente até o final
de março", disse Costa em entrevista coletiva. "Não é hora de discutir o fim do
lockdown."
Quase 14,9 mil pessoas morreram de Covid-19, com o total de casos chegando
a 778.369.
6.2.16 WHATSAPP
Exemplo:
95
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6.2.17 E-MAIL
Exemplo:
96
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6.2.18 PROVÉRBIO
Exemplos:
Não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe.
Tal pai, tal filho.
Quem tudo quer tudo perde.
Um dia da caça, outro do caçador.
Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Papagaio come milho, periquito leva a fama. 97
Falar é prata, calar é ouro.
Em casa de ferreiro, espeto de pau.
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Exemplo:
98
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Exemplo:
99
Extraordinário | Crítica
Mesmo infantil demais, filme acerta ao tratar o bullying de forma delicada.
CAMILA SOUSA
06.12.2017
6.2.21 PROPAGANDA
Exemplo:
101
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6.2.22 PUBLICIDADE
Exemplo:
102
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103
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104
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105
7 NÍVEIS DE LINGUAGEM
106
107
Pois eu, meu chaporeba, sou da marijuana. Faturo horrores ali no lixão.
Numa só pavuna, eu marreto vários pacaus, e cada fininho vale dez paus. Os
tiras estão sempre de holofotes, mas o vivaldino aqui tem vagólio na campana.
Até hoje, só puxei uma, na casa do cão. Foi quando a Excelência me
tacou três anos de galera e dois de medida.
Mas agora estou na libertina e o negócio é levantar uma nota traficando 109
a xibaba e, se os cherloques meterem uma escama em cima, tá na cara: um
vai amanhecer com a boca cheia de formiga.
Morou?
Ziriguidim pra você.
Pois eu, meu amigo, sou da maconha. Faturo muito ali no lixão. Numa
só noite, vendo vários maços de maconha, e cada cigarro vale dez reais. Os
policiais estão sempre de olhos abertos, mas o malandro aqui tem (olheiro)
vagabundo vigiando as imediações.
Até hoje, só fiquei preso uma vez, na penitenciária. Foi quando o juiz me
sentenciou a três anos de cadeia e dois de medida de segurança.
Mas agora estou em liberdade e o meu “trabalho” é conseguir muito
dinheiro traficando maconha, e, se os detetives dificultarem, é óbvio: um deles
vai amanhecer morto.
Entendeu?
Adeus a você.
(DUARTE, Marcelo. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p.448)
110
7.5.3 dos presidiários
111
7.6 Jargão
O ESTUPRO ACONTECEU
SOB VIOLÊNCIA FÍSICA
OU SOB AMEAÇA GRAVE?
7.7 Regionalismo
8 NOÇÕES DE ESTILÍSTICA
Uma conhecida anedota árabe diz que, certa vez, um sultão sonhou que
havia perdido todos os dentes. Ele acordou assustado e mandou chamar um
sábio para que interpretasse o sonho.
116
8.3 Função utilitária do texto: ênfase no plano de conteúdo
Nos textos que têm função utilitária — aqueles cujo objetivo é tão
somente informar, convencer, explicar ou documentar — o plano de expressão
tem importância menor. O que realmente importa é o conteúdo. Observe-se o
seguinte texto:
94% dos acidentes mortais no trânsito são causados por falha humana, como
imprudência e distração.
Então,
Se beber, não dirija.
Se o celular tocar, não atenda.
Se houver faixa contínua, não ultrapasse.
117
dessa gramática, que não sabe ver senão os aspectos lógicos e intelectuais da
linguagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS