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O Sebastianismo: história e ficção.

 O que é o Sebastianismo?
O sebastianismo é um movimento mítico que se baseia na crença do regresso de D.
Sebastião. Este movimento foi provocado pela morte deste monarca, em 1578 na
batalha de Alcácer-Quibir. Como D. Sebastião não tinha herdeiros, o trono ficou sob o
poder de D. Filipe II, de Espanha. Acreditava-se que o rei iria voltar numa manha de
nevoeiro e que iria restaurar a independência portuguesa. O sebastianismo era assim
uma esperança para a chegada de um salvador adaptado às condições portuguesas.
Isto mostra a insatisfação com a situação política atual e uma expetativa de mudança
do povo português.

 Sebastianismo na obra
Na obra “Frei Luís de Sousa”, esta crença está presente principalmente na
personagem Telmo, mas também pode ser evidenciada em Maria e Madalena. Em
muitas cenas são feitas referências ao próprio D. Sebastião. Na obra é feita uma crítica,
através do Sebastianismo, à sociedade portuguesa da época, isto é, através das
personagens Telmo e Maria, que representam uma mentalidade de Portugal Antigo,
aquele que Almeida Garrett pretendia criticar, pois estas pessoas acreditam que o que
querem que aconteça vai acontecer, mas ficam à espera que aconteça sem nada fazer
para que aconteça.

Comentário critico- Ato I, Cena III


Na cena III, do primeiro ato, surgem três personagens, Madalena, Telmo e
Maria. Maria é uma nobre com sangue de Vilhenas e Sousas, representa a heroína
romântica, demonstra maturidade para a sua idade, é frágil de saúde. Como já referido
antes é uma personagem sebastianista que acredita firmemente que D. Sebastião vai
regressar um dia numa manha de nevoeiro. Esta personagem é curiosa e intuitiva,
questiona por que razão o pai, que é um homem muito patriota, não gosta de ouvir
falar no regresso de D. Sebastião. É marcado pelo destino, pela doença e ilegitimidade
do nascimento.
Telmo é o fiel escudeiro, amigo e confidente de D. Madalena, também acredita
profundamente no regresso do rei, assim como acredita no regresso do seu amo D.
João, demonstrando a sua lealdade, respeito e admiração pelo seu amo, não consegue
esquecer o passado e também não aceita o casamento de D. Madalena com Manuel
de Sousa. Apresenta-se dividido na sua lealdade a D. João e o amor a Maria.
D. Madalena é nobre, foi casada com D. João de Portugal, após o seu
desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir casa-se com Manuel de Sousa Coutinho.
É romântica e submissa à paixão que tem pelo segundo marido. Vive atormentada com
remorsos e culpa por se ter apaixonado por Manuel de Sousa Coutinho, estando ainda
casada com D. João. Demonstra uma grande humanidade como mulher e mãe:
preocupa-se com a doença e a crença sebastianista de Maria. Está constantemente
aterrorizada com presságios do que pode acontecer, o que a impendem de ser feliz.
Nesta cena encontramos uma didascália na primeira, segunda e última falas de
Maria e na última fala de Telmo.
A cena inicia-se com a entrada de Maria, esta queixa-se de estar à espera de Telmo
pois ele prometeu-lhe ler um romance que fala de D. Sebastião na batalha de Alcácer
Quibir. D. Madalena refere que D. Sebastião estará morto, de acordo com o seu tio Frei
Jorge e Lopo de Sousa. Maria não concorda e diz que a voz do povo é a voz de Deus, ou
seja, o povo costuma ter razão, depois fala do seu pai e que ele também deverá
defender esta ideia, pois pergunta à mãe se ele não é por D. Filipe. D. Madalena fica
angustiada com as palavras de Maria. Maria ao ver a mãe mal manda Telmo embora.
Esta cena precede a cena entre Madalena e Telma, onde nos dão informações
sobre o passado das personagens e antecedentes da ação: Madalena perdeu o
primeiro marido D. João de Portugal na batalha de Alcácer Quibir, depois de sete anos
de procura casa-se com D. Manuel de Sousa Coutinho e deste casamente nasce a filha
Maria que no presente tem treze anos. Aqui é abordado a posição de Telmo e D.
Madalena. Telmo acredita como fiel escudeiro no retorno do seu amo, por sua vez
Madalena vive atormentada com esta ideia, mas recusa aceitar o que Telmo lhe diz,
pois se D. João retornar a sua filha e o seu casamente serão ilegítimos. Na cena IV
assistimos a um diálogo entre Maria e Madalena. Maria demonstra a sua preocupação
com a mãe e com o pai e diz que o amor que tem por eles é muito grande. Pergunta à
mãe porque é que está sempre preocupada com ela e que passa noites inteiras a
pensar nisso. Entretanto, repara que as papoilas que tem na mão murcharam e que as
colheu para mete-las debaixo da almofada porque estas flores fazem dormir. D.
Madalena desvaloriza as palavras de Maria dizendo que Maria sonha acordada e que lê
demais e não se distrai, mas Maria crê possuir uma intuição profética.
Maria, na cena III, mostra-se curiosa, observadora, atenta e revela-se uma
fervorosa defensora do sebastianismo. D. Madalena fica muito apreensiva perante a
possibilidade do regresso de D. Sebastião, se este voltasse, o primeiro marido que
também morreu na batalha, poderia regressar e trazer tragédia à sua família. Maria
defende que D. Sebastião está vivo, argumentando que se o povo tem esta crença, é
porque é verdadeira:” Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe (…)”. D.
Madalena por sua vez, acredita na morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir, invocando
com autoridade o cunhado Frei Jorge e Lopo de Sousa. Maria também destaca o
patriotismo do pai: “Meu pai que é tão bom português, que não pode sofrer estes
castelhanos (…)”. Estas convicções de Maria aumentam as angústias de D. Madalena.
Concluindo, é uma cena que apresenta o sebastianismo mais uma vez defendido
por Maria. D. Madalena fica apreensiva com o possível regresso de D. Sebastião, uma
vez que o seu primeiro marido pode regressar também e “destruir” a sua família.

Questionário
Cena II
12.A que se deve a credulidade de Telmo nas falas 53, 55, 57 e 61?
A credulidade de Telmo deve-se ao facto de ele ser fiel com o seu amo D. João
e também quando ele refere as palavras da última carta que D. João escreveu me que
dizia “Vivo ou morto, Madalena, ei de ver-vos ainda uma vez neste mundo”.

13.De que pecado é D. Madalena acusada por Telmo (fala 63)?


Madalena é acusada de não amar o seu primeiro marido por Telmo, porque
retomou a sua vida, como se D. João estivesse morto, casou de novo e teve uma filha.

14.Que sentimentos nutre Telmo pelo seu primeiro amo (fala 65)?
Telmo acredita na volta do seu amo e no diálogo com D. Madalena, podemos
verificar que ele tem respeito, devoção, lealdade e solidariedade como se comprova
em “Que o pobre do meu amo… respeito, devoção, lealdade, tudo que lhe tivestes
(…)”.

15.A que se refere D. Madalena com as últimas palavras da fala 66?


D. Madalena refere-se ao amor que Telmo nutre por Maria: “E tu, tu, meu
Telmo, que és tão seu, que chegas a pretender ter-lhe mais amor que nós mesmos.”

16.A que “fantasma” se refere D. Madalena na fala 68?


O “fantasma” que se refere D. Madalena é o seu primeiro marido D. João.

17.Porque se fala em “espera” referente a D. Sebastião (fala 68)?


D. Sebastião desapareceu na batalha de Alcácer Quibir e o seu corpo nunca
apareceu, criando um mito sebastianista em que as pessoas acreditavam que D.
Sebastião iria regressar para libertar Portugal do domínio filipino.

18.À semelhança do que foi pedido na cena um, volta a fazer um levantamento de
palavras que fundamentam o estado de espírito de D. Madalena (fala 68).
“palavras misteriosas”, “desgraçado povo”, “agouros”, “desgraça que está
iminente”, “doloroso prazer”, “terror”.

19.Explica a utilização por parte de D. Madalena da expressão “dúvida fatal” (fala


68).
É uma dúvida fatal pois se D. João estiver vivo, será uma desgraça para D.
Madalena, o seu marido e a sua filha. Maria seria uma filha ilegítima assim como o
segundo casamento de D. Madalena.

Cena III
20.Na fala 2, D. Madalena tenta dissuadir a filha de determinada ideia. Indica-a, bem
como os motivos por que o faz.
D. Madalena tenta dissuadir Maria de acreditar no regresso de D. Sebastião,
pois implicaria também o retorno do seu primeiro marido.

21.Interpreta o provérbio “Voz do povo, voz de Deus” da fala 3.


Quer dizer que as palavras do povo são verdadeiras como as palavras de Deus,
para Maria a voz do povo deve ter algum fundamento.

22.Está evidente na fala 5 uma das principais características psicológicas de Maria.


Qual?
Maria não gosta de ver a mãe sofrer, sente um amor verdadeiro para com a
mãe e o pai.
Representação
Madalena (ainda de fora) - Jorge, meu irmão, eu sei que estas aí. Abre a porta por
favor e deixa-me falar com o meu… o teu irmão. Anda lá, por favor, nunca mais te
chateio e faço tudo o que tu quiseres.
Jorge (de fora) - Telmo abre a porta.
Telmo (abrindo a porta) – Estou aqui sozinho.
Madalena (entrando em casa olhando para todo o lado) – Para onde é que ele foi?
Telmo – Ele quem, senhora?
Jorge (vindo a frente) – Telmo estava aqui à minha espera e com a ordem de não abrir
a porta a ninguém.
Madalena- Eu bem ouvi duas vozes diferentes.
Telmo – Ouviu?
Madalena – Sim ouvi. Onde está o meu marido, Telmo?
Manuel (que esta no fundo da cena vem agora a frente) – Estou aqui o que quer de
mim?
Madalena – Mas porque estás a falar assim para mim?
Manuel – Madalena… o que queres que te diga? Não já está tudo dito?
Madalena – Acho que não, ouve-me Manuel, com estas novas tecnologias podemos
fazer um teste de ADN e verificar se trata mesmo de D. João.
Telmo (à parte a Jorge) – Tenho de lhe contar algo, ouça-me. (Conversam ambos à
parte).
Manuel – Madalena, Madalena! Não tenho mais nada a dizer. Olha, juro, o nosso
casamento não é legal, o nosso amor não é permitido, enquanto estiveres casada com
outro.
Jorge (continuando a conversa com Telmo e levantando a voz com aspereza) – Poderá
ser possível, se o casamento for anulado.
Madalena (virando-se para Jorge) – Sim, poderá ser uma boa opção.
Jorge (virando-se para ela) – Não Madalena, acho que não será possível. (Para Telmo)
Vai para onde eu te disse que és mais preciso lá (fala-lhe ao ouvido; depois alto) Não a
deixes sozinha até terminar a cerimónia.
(Telmo sai com repugnância, e rodeando para ver se chega ao pé de Madalena, Jorge,
que o percebe, faz-lhe um sinal imperioso, ele recua e finalmente se retira pelo fundo)

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