Você está na página 1de 31

Os Lusíadas

Luís Vaz de Camões

Cristina Basto
2020
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• O excerto encerra o Canto I d’ Os Lusíadas e dá-nos a primeira reflexão


do Poeta, que aborda o tema da fragilidade humana perante as ameaças
do mundo.

• Ocorre quando um falso piloto conduz a armada de Gama para uma


cilada, num porto muçulmano, com o propósito de a destruir.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• Camões passa da consideração de um facto particular – a traição que se


prepara em Mombaça – para o geral: a insegurança/fragilidade como
condição do homem.

• O Poeta refere que a vida é cheia de perigos, mesmo nas situações em


que colocamos a nossa esperança («Que aonde a gente põe sua
esperança / Tenha a vida tão pouca segurança!» - est. 105).
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• A frase exclamativa («Tenha a vida tão pouca segurança!», v. 8 – est. 105)


salienta o desespero do Poeta face à vulnerabilidade da condição
humana, estando o Homem permanentemente exposto ao risco.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• São várias as expressões genéricas utilizadas para designar o Homem,


como: «a gente», «um fraco humano», «um bicho da terra tão pequeno».
Estas expressões realçam a fragilidade e a impotência do Homem face a
um poder superior.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• Na estância 106, os quatro primeiros versos refletem a permanente


insegurança do Homem num mundo adverso. O perigo é uma ameaça
constante ao Homem: no mar, onde encontra as tempestades e o perigo;
na terra, onde enfrenta a guerra e a traição.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• A repetição das palavras «tanta» e «tantas» enfatiza que as ameaças a


que o Homem está sujeito neste mundo são inúmeras.

tanta tormenta tanta guerra


No mar tanto dano Na terra tanto engano
tantas vezes a morte Tanta necessidade…
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• Nos últimos quatro versos da estância 106, o «céu sereno», que pode
representar os deuses ou o destino, é uma ameaça ao ser humano.

• Se o «céu» se indigna com a atuação do homem e se se mobiliza para


conspirar contra ele, é porque o «bicho da terra» tem de ter valor e os
seus feitos incomodam os deuses.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

• A interrogação retórica exprime a reflexão que não se centra apenas nas


dificuldades vividas pelos marinheiros portugueses, antes incide sobre a
própria condição humana; traduz a indignação e a revolta do Poeta por a
condição do Homem ser tão frágil e o «céu» ainda conspirar contra ele.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)
• O excerto apresentado pode ser dividido em três partes:
1.ª parte (est. 105, vv. 1-4) → os portugueses são traídos porque lhes é
dito que o porto de Mombaça é amigo, quando os seus habitantes
planeiam destruir a armada dos marinheiros;
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

2.ª parte (do v. 5 da est. 105 até ao v. 4 da est. 106) → o Poeta parte da
situação do falso piloto para uma reflexão sobre os perigos e ameaças
constantes a que o Homem está sujeito.

3.ª parte (est. 106, vv. 5-8) → o Poeta questiona-se sobre se é possível ao
Homem encontrar na Terra um refúgio onde esteja seguro.
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

Recursos Expressivos
«O recardo que trazem é de amigos,
Metáfora
Mas debaxo o veneno vem coberto»

«Ó grandes e gravíssimos perigos,


Ó caminho de vida nunca certo» Apóstrofe/Anáfora /Adjetivação/Hipérbole
Reflexões do Poeta
A fragilidade humana – Est. 105-106 (Canto I)

Recursos Expressivos
«Que, aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!» Hipérbole
Hipérbole

«bicho da terra tão pequeno» Metáfora

«Onde pode acolher-se um fraco humano;


Onde terá segura a curta vida» Anáfora
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

• No canto V, Vasco da Gama conclui o seu longo discurso ao rei de Melinde, em


que agradece a hospitalidade recebida e faz a síntese da sua narrativa,
afirmando que a verdade do que acaba de contar «vence toda grandíloqua
escritura» (est. 89, v. 8) feita de fábulas «vãs» e «bem sonhadas».
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

• No entanto, Camões finaliza o Canto com uma reflexão sobre a narração de


Vasco da Gama e, sobretudo, sobre o não cultivo, entre nós, da poesia
necessária à imortalidade dos grandes heróis.

• É que em Portugal não se cultivam o verso e a rima («Porque quem não sabe
arte, não na estima», est. 97, v. 8).
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 92
• Na estância 92, Camões exprime uma verdade geral (vv. 7-8): quem pratica
grandes obras sente-se feliz ao vê-las cantadas e com vontade de ir mais longe.

• O Poeta afirma que é sempre agradável ver os feitos gloriosos serem


celebrados.

• Acrescenta, ainda, que o louvor das obras alheias incentiva o Homem a tentar
igualá-las, levando, assim, a novos feitos grandiosos.

• O registo dos principais feitos é fundamental para uma nação.


Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

Est. 92
«As envejas da ilustre e alheia história» (v. 5)

A inveja deve ser aqui entendida num sentido muito positivo: ela origina a vontade
de igualar ou superar o que os outros alcançaram. Deste modo, a referência à
inveja contribui para reforçar a ideia disseminada em Os Lusíadas de que os
Portugueses devem fazer o possível para superarem os antepassados.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 93-96

• Na estância 93, apresenta exemplos que comprovam esta ideia. Alexandre


desejava muito ver os seus feitos em verso (vv. 1-4); Temístocles apreciava
muito ouvir as suas façanhas cantadas (vv. 5-8).
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 93-96

• Na estância 94, Camões afirma que o imperador Otaviano César Augusto teve
um papel fundamental na divulgação da glória de Roma, ao cobrir Virgílio de
honras.

• O Poeta lembra esse facto, avisando Portugal, implicitamente, para que no País
os poderosos sigam o mesmo caminho de Augusto relativamente aos poetas.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 93-96

• Camões elogia os portugueses, referindo que entre eles há heróis ilustres como
os existentes noutras civilizações («Cipiões, / César, Alexandros, e dá Augustos»,
est. 95, vv. 1-2). Porém, aos portugueses não se lhes concede o dom de
saberem apreciar as Artes, o que os transforma em gente insensível e dura
(«Cuja falta os faz duros e robustos», est. 95, v. 4).
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 93-96

• Nas estâncias 95-96, o Poeta oferece-nos uma série de exemplos.

• O primeiro exemplo é o de Otávio (est. 95) que, apesar das preocupações


políticas, escrevia poesia lírica; o segundo, o terceiro e o quarto ocorrem na
estância 96.

• César era, simultaneamente, um guerreiro e um escritor eloquente. Cipião


procedia do mesmo modo, ajudava Terêncio a escrever as suas comédias.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 93-96

• Alexandre lutava e lia Homero («Lia Alexandro a Homero de maneira / Que


sempre se lhe sabe à cabeceira», v. 7-8, est. 96).

• Os quatro eram homens de armas e de cultura.


Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 93-96

• Para Camões, ser grande, é sê-lo na coragem, mas também no cultivo das letras
e das artes; o ideal de herói consistirá em saber aliar a «espada» à «pena»
(«Mas, nῡa mão a pena e noutra a lança», est. 96, v. 3).
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 97
• Fecho da argumentação anterior introduzida pelo conector «Enfim».

• Desta forma, os portugueses são criticados por não saberem valorizar as Artes,
ao contrário de outros povos, cujos heróis souberam aliar as armas e as Letras
(«não houve forte Capitão / Que não fosse também douto e ciente», vv. 1-2).
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Est. 97

«Senão da Portuguesa tão somente» (v. 4)

Os quatro exemplos apresentados por Camões contrastam com


os nobres guerreiros portugueses: a estes falta a dimensão
cultural, são ignorantes, não têm os «dõs» (v. 3, est. 95) da
cultura.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

Est. 97
• Ao contrário dos heróis da Antiguidade, os guerreiros e navegadores
portugueses não dão qualquer valor ao conhecimento. O Poeta acusa os
Portugueses de serem o único povo com guerreiros incultos, de não dar
importância à cultura e à poesia.

• Esta crítica, típica de um autor humanista, aponta um caminho a seguir: o do


estudo, o do apreço pela poesia, pois sem poesia que cante os heróis os seus
feitos são como se não existissem.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

Est. 97

• Camões conclui que entre os portugueses não existem, nem existirão, grandes
poetas e, embora haja matéria épica, esta não será cantada porque a arte não é
valorizada nem estimulada («Porque quem não sabe arte, não na estima», v.8,
est. 97).
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

Est. 98

• Esta estância desenvolve o pensamento anterior: «este costume» é a tradição


existente em Portugal de não se prezar a poesia e a arte.

• Reforça a crítica à falta de cultura dos nobres portugueses, os quais são


também ignorante que, por norma, nem querem saber deste assunto.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)

Est. 99-100
• A família de Vasco da Gama é criticada por não valorizar nem recompensar o
Poeta, apesar de ele, com a sua epopeia, imortalizar o nome do navegador.

• Nestas estâncias, Camões enuncia as razões que o levaram a cantar os feitos de


Vasco da Gama: o amor à Pátria; o desejo de louvar todos os feitos dos
Portugueses; e a consciência de que a sua obra, tal como todos os feitos
grandiosos, terá sempre valor.
Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Gramática
1. Classifique as orações seguintes.
a) «[…] quando são soados» (est. 92, v. 2)

b) «Quem valerosas obras exercita» (est. 92, v. 7)

c) «[…] que seus feitos celebrava» (est. 93, v. 8)

d) «[…] que é mentira» (est. 95, v. 7)

e) «[…] se este costume dura.» (est. 98, v. 3)


Reflexões do Poeta
Desprezo que os Portugueses têm pelas artes – Est. 92-100 (Canto V)
Gramática

2. Identifique as funções sintáticas presentes nos constituintes sublinhados.


a) «[…] os feitos gloriosos / De Aquiles» (est. 93, vv. 1-2)

b) «Enfim, não houve forte Capitão» (est. 97, v. 1)

c) «De dar a todo o Lusitano feito» (est. 100, v. 2)

Você também pode gostar