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Objetivos da eloquência (Docere, Delectare, Movere)

• No século XVII, o catolicismo sofre um duro golpe com o


aparecimento do protestantismo. A igreja católica está, por
isso, empenhada em recuperar fiéis e o púlpito era o lugar
perfeito para conduzir o rebanho, para o educar, doutrinar e
iluminar.

• A oratória como «arte de falar em público» está


intrinsecamente relacionada com a figura do pregador, fosse
ele jesuíta, dominicano ou frade capuchinho.

• Ser pregador, para além de pressupor uma aptidão natural,


exigia muito estudo, muitas leituras, um trabalho árduo.
Objetivos da
Eloquência

docere delectare movere

educar deleitar/encantar os comover


ensinar ouvintes persuadir
(com a beleza do discurso)

Instruir, mas também encantar e sensibilizar, persuadindo o


público/auditório a adotar determinados comportamentos.
Padre António Vieira

• Padre António Vieira foi um dos maiores vultos da nossa História


e da nossa Literatura.
• Nasceu em Lisboa, em 1608.
• Com cerca de 6 anos de idade acompanhou a família para o Brasil e
começou os seus estudos na companhia de Jesus.
• Deixou-nos uma vastíssima obra que se divide em Sermões (cerca
de 200), Cartas (cerca de 700).
• Nos Sermões, Padre António Vieira tratou não apenas assuntos
doutrinários e religiosos, mas também temas políticos e cívicos.
• Brilhante orador, para além de missionário e pregador, foi também
diplomata e um grande defensor dos direitos humanos.
• Faleceu em 1697, na Baía, com 89 anos.
«Sermão de Santo António aos Peixes» - contexto histórico

• O presente sermão é, segundo Rodrigues Lapa, «uma obra-prima


de humanismo».
• O tema remonta à época do descobrimento do Brasil e às lutas
entre colonos e membros da Companhia de Jesus, pela posse do
Índio.
• Os Jesuítas não toleravam a forma desumana como os colonos
tratavam o Índio, que consideravam seu como direito de
conquista.
• Desta forma, escravizavam-no, pois ele tornara-se uma mão de
obra barata que todos os dias enriquecia os bolsos dos
gananciosos colonos.
• O Padre António Vieira lutou, de todas as formas, para
conseguir amenizar a dor daqueles seres humanos.

• Fazendo uso da sua boa relação com o rei, enviava, com


frequência, cartas a D. João IV para que o estatuto dos Índios
fosse diminuído.
• Uma vez que os colonos não respeitavam a liberdade dos
Ameríndios. O grande orador decide redigir uma petição ao rei
e recolher assinaturas entre as pessoas importantes, que viviam
na cidade de São Luís de Maranhão.

• Assim que os colonos tiveram conhecimento que Padre


António Vieira tencionava entregar uma petição ao rei,
exaltaram-se e fizeram os possíveis para revolucionar a
população contra os Jesuítas.
• Neste ambiente de conflito, Padre António Vieira só tinha duas
alternativas possíveis:
* condenar aberta e diretamente os colonos do alto do
púlpito e, nesse caso, era provável que não saísse vivo da igreja;
ou
* calar-se e aceitar a realidade.

• Porém, esta última atitude não se enquadrava no seu carácter.


Então, Padre António Vieira arquiteta uma terceira solução:
* Pregar um sermão alegórico em que os colonos seriam
atacados e condenados indiretamente através das ásperas
censuras dirigidas, aparentemente, aos peixes.
• O «Sermão de Santo António aos Peixes» foi proferido na
cidade de São Luís do Maranhão, em 1654, no dia das
comemorações das festas de Santo António, dia 13 de junho.

• É inspirado na lenda segundo a qual Santo António, não sendo


ouvido pelos homens numa das suas pregações, em Itália, se
dirige a uma praia deserta onde difunde o seu sermão e os
peixes, milagrosamente, levantam a cabeça à superfície das
águas, atestando, assim, a força das palavras do pregador.
• Este sermão foi pregado três dias antes de Padre António
Vieira embarcar para Portugal, para obter uma legislação justa
para os índios.

• O Sermão assenta numa alegoria, pois através dos peixes, o


orador critica os seres humanos, as suas virtudes e os seus
defeitos.
• As virtudes dos peixes são, por contraste, a metáfora dos
defeitos humanos («Oh grande louvor verdadeiramente para os
peixes, e grande afronta e confusão para os homens!»).

• Os defeitos dos peixes são também enunciados, sendo o maior


deles o de se comerem uns aos outros («Mas para que
conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes,
que também os homens se comem vivos assim como vós.»)

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