O documento discute o sermão "Sermão de Santo António aos Peixes" pregado por Padre António Vieira em 1654. O sermão foi uma alegoria para criticar os colonos que escravizavam os indígenas de forma desumana, contornando a censura direta. Vieira comparou as virtudes dos peixes com os defeitos humanos para condenar indiretamente os maus-tratos aos indígenas.
Descrição original:
Título original
Padre António Vieira - Sermão de Santo António aos Peixes
O documento discute o sermão "Sermão de Santo António aos Peixes" pregado por Padre António Vieira em 1654. O sermão foi uma alegoria para criticar os colonos que escravizavam os indígenas de forma desumana, contornando a censura direta. Vieira comparou as virtudes dos peixes com os defeitos humanos para condenar indiretamente os maus-tratos aos indígenas.
O documento discute o sermão "Sermão de Santo António aos Peixes" pregado por Padre António Vieira em 1654. O sermão foi uma alegoria para criticar os colonos que escravizavam os indígenas de forma desumana, contornando a censura direta. Vieira comparou as virtudes dos peixes com os defeitos humanos para condenar indiretamente os maus-tratos aos indígenas.
Objetivos da eloquência (Docere, Delectare, Movere)
• No século XVII, o catolicismo sofre um duro golpe com o
aparecimento do protestantismo. A igreja católica está, por isso, empenhada em recuperar fiéis e o púlpito era o lugar perfeito para conduzir o rebanho, para o educar, doutrinar e iluminar.
• A oratória como «arte de falar em público» está
intrinsecamente relacionada com a figura do pregador, fosse ele jesuíta, dominicano ou frade capuchinho.
• Ser pregador, para além de pressupor uma aptidão natural,
exigia muito estudo, muitas leituras, um trabalho árduo. Objetivos da Eloquência
docere delectare movere
educar deleitar/encantar os comover
ensinar ouvintes persuadir (com a beleza do discurso)
Instruir, mas também encantar e sensibilizar, persuadindo o
público/auditório a adotar determinados comportamentos. Padre António Vieira
• Padre António Vieira foi um dos maiores vultos da nossa História
e da nossa Literatura. • Nasceu em Lisboa, em 1608. • Com cerca de 6 anos de idade acompanhou a família para o Brasil e começou os seus estudos na companhia de Jesus. • Deixou-nos uma vastíssima obra que se divide em Sermões (cerca de 200), Cartas (cerca de 700). • Nos Sermões, Padre António Vieira tratou não apenas assuntos doutrinários e religiosos, mas também temas políticos e cívicos. • Brilhante orador, para além de missionário e pregador, foi também diplomata e um grande defensor dos direitos humanos. • Faleceu em 1697, na Baía, com 89 anos. «Sermão de Santo António aos Peixes» - contexto histórico
• O presente sermão é, segundo Rodrigues Lapa, «uma obra-prima
de humanismo». • O tema remonta à época do descobrimento do Brasil e às lutas entre colonos e membros da Companhia de Jesus, pela posse do Índio. • Os Jesuítas não toleravam a forma desumana como os colonos tratavam o Índio, que consideravam seu como direito de conquista. • Desta forma, escravizavam-no, pois ele tornara-se uma mão de obra barata que todos os dias enriquecia os bolsos dos gananciosos colonos. • O Padre António Vieira lutou, de todas as formas, para conseguir amenizar a dor daqueles seres humanos.
• Fazendo uso da sua boa relação com o rei, enviava, com
frequência, cartas a D. João IV para que o estatuto dos Índios fosse diminuído. • Uma vez que os colonos não respeitavam a liberdade dos Ameríndios. O grande orador decide redigir uma petição ao rei e recolher assinaturas entre as pessoas importantes, que viviam na cidade de São Luís de Maranhão.
• Assim que os colonos tiveram conhecimento que Padre
António Vieira tencionava entregar uma petição ao rei, exaltaram-se e fizeram os possíveis para revolucionar a população contra os Jesuítas. • Neste ambiente de conflito, Padre António Vieira só tinha duas alternativas possíveis: * condenar aberta e diretamente os colonos do alto do púlpito e, nesse caso, era provável que não saísse vivo da igreja; ou * calar-se e aceitar a realidade.
• Porém, esta última atitude não se enquadrava no seu carácter.
Então, Padre António Vieira arquiteta uma terceira solução: * Pregar um sermão alegórico em que os colonos seriam atacados e condenados indiretamente através das ásperas censuras dirigidas, aparentemente, aos peixes. • O «Sermão de Santo António aos Peixes» foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão, em 1654, no dia das comemorações das festas de Santo António, dia 13 de junho.
• É inspirado na lenda segundo a qual Santo António, não sendo
ouvido pelos homens numa das suas pregações, em Itália, se dirige a uma praia deserta onde difunde o seu sermão e os peixes, milagrosamente, levantam a cabeça à superfície das águas, atestando, assim, a força das palavras do pregador. • Este sermão foi pregado três dias antes de Padre António Vieira embarcar para Portugal, para obter uma legislação justa para os índios.
• O Sermão assenta numa alegoria, pois através dos peixes, o
orador critica os seres humanos, as suas virtudes e os seus defeitos. • As virtudes dos peixes são, por contraste, a metáfora dos defeitos humanos («Oh grande louvor verdadeiramente para os peixes, e grande afronta e confusão para os homens!»).
• Os defeitos dos peixes são também enunciados, sendo o maior
deles o de se comerem uns aos outros («Mas para que conheçais a que chega a vossa crueldade, considerai, peixes, que também os homens se comem vivos assim como vós.»)