O documento descreve as principais personagens da peça "O Romeiro" de Almeida Garrett. Entre elas estão D. João de Portugal, que desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir e retorna anos depois disfarçado de Romeiro, Madalena sua esposa que se casa novamente achando-o morto, e Telmo Pais seu fiel escudeiro dividido entre a lealdade a D. João e seu amor por Maria.
Descrição original:
Título original
Frei Luís de Sousa - caracterização das personagens (blog11 11-12).pdf
O documento descreve as principais personagens da peça "O Romeiro" de Almeida Garrett. Entre elas estão D. João de Portugal, que desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir e retorna anos depois disfarçado de Romeiro, Madalena sua esposa que se casa novamente achando-o morto, e Telmo Pais seu fiel escudeiro dividido entre a lealdade a D. João e seu amor por Maria.
O documento descreve as principais personagens da peça "O Romeiro" de Almeida Garrett. Entre elas estão D. João de Portugal, que desapareceu na Batalha de Alcácer Quibir e retorna anos depois disfarçado de Romeiro, Madalena sua esposa que se casa novamente achando-o morto, e Telmo Pais seu fiel escudeiro dividido entre a lealdade a D. João e seu amor por Maria.
ano letivo 2011-2012 – português,11º ano – prof. antónio alves
Nobre, cavaleiro de Malta No ato I, assume uma atitude condizente com um espírito clássico, deixando transparecer uma serenidade e um equilíbrio próprios de uma razão que domina os sentimentos e que se manifesta num discurso expositivo e numa linguagem cuidada e erudita: - revela-se patriota, corajoso e decidido não sente ciúmes pelo passado de Madalena; No ato III, evidencia uma postura acentuadamente romântica: a dor, após a chegada do Romeiro, parece ofuscar-lhe a razão, tal é a forma como exterioriza os seus sentimentos, fazendo-o de uma forma um tanto violenta, descontrolada e, por vezes, até contraditória (a razão leva-o a desejar a morte da filha e o amor impele-o a contrariar a razão e a suplicar desesperadamente pela sua vida); • Pode-se, pois, concluir que esta personagem, do ponto de vista psicológico, evolui de uma personalidade de tipo clássico (atos I e II) para uma personalidade de tipo romântico (ato III). Uma mulher bem nascida, da família e sangue dos Vilhenas, os sentimentos dominam a razão Apesar de se não duvidar do seu amor de mãe, é nela mais forte o amor de mulher, ao contrário do que acontece com Manuel de Sousa Coutinho, que se mostra muito mais preocupado com a filha do que com a mulher; - A consciência da sua condição social mantém a sua dignidade, mas tal não impediu de ter amado Manuel de Sousa ainda em vida de D. João de Portugal e de ter casado com aquele sem a prova material da morte deste. * Supersticiosa; - Nota de curiosidade: Madalena, que, desde o primeiro instante, vive aterrorizada com o «fantasma» do seu primeiro marido, no momento em que o tem, fisicamente, diante de si, e apesar das inúmeras coincidências, é incapaz de o reconhecer! Penso que as modificações físicas que entretanto se operaram na pessoa não justificam, por si só, tal falha. * Uma personagem idealizada: a ingenuidade, a pureza, a meiguice, o abandono, etc., próprios duma alma infantil, e a inteligência, a experiência, a cultura, a intuição, características de um espírito adulto, confluem numa personagem pouco real, só entendida à luz do desvelo que Garrett votava a sua filha Maria Adelaide e à condição social que, para a mesma, resultara da morte prematura da mãe; protótipo da mulher-anjo, tão do agrado dos românticos, Maria é demasiado angélica para ser verdadeira; a sua dimensão psicológica resulta, por isso, contraditória, ao revelar comportamentos, simultaneamente, de criança e de adulto; Alguns traços caracterizadores de Maria: - ternura - culto sebastianista - dom de sibila (dom da profecia) - cultura - coragem, ingenuidade e pureza - tuberculosa Convém analisar o terceiro elemento que Garrett recebeu do teatro clássico: o conflito psicológico suscitado pelos dilemas perante os quais são colocadas as personagens. Este terceiro elemento realiza-se particularmente na figura de Telmo Pais, que Garrett interpretou pessoalmente na representação particular da peça. Telmo Pais tem de escolher entre Maria, que ele criou, e D. João, que ele também criou e a quem deve, além disso, fidelidade de escudeiro. Mas o que faz deste caso uma novidade na história do teatro é que Telmo Pais, na realidade, não tem de escolher, ele está de antemão decidido. A perplexidade perante o dilema é apenas a forma exterior com que Garrett revestiu uma coisa bem diferente daquilo que o teatro clássico conhecia. Telmo Pais, amo e criado de D. João de Portugal, era o seu maior amigo, e nenhuma criatura sofreu tanto como ele o seu desaparecimento; opôs-se quanto pôde a que a sua viúva casasse segunda vez e não lhe pôde perdoar a infidelidade para com o amo, cuja morte se recusou sempre a aceitar. O resto dos seus dias é consagrado ao culto do desaparecido, a quem levanta no seu coração um altar. E lentamente os dias vão passando, a imagem de D. João vai-se-lhe entranhando na alma, tornando-se com o tempo talvez mais rígida, mais nítida, mais adorada. O tempo só fazia aumentar a adoração. Mas deste casamento abominado nascera uma criança. Quis o destino que Telmo também fosse o amo dela, e o seu coração cresceu com este novo amor. Mas pode Telmo continuar a não acreditar na morte de seu amo? Porque se ele é vivo e voltar, que será feito da sua menina? Órfã e desgraçada é o que ela será, segundo a moral da época. Durante muito tempo Telmo não chega a ter consciência clara desta contradição. No momento culminante, o pobre Telmo Pais descobre que no fundo da alma desejava que D. João tivesse continuado morto. O seu reaparecimento transtorna- -lhe a sua verdadeira vida. E Garrett leva o drama desta personagem às suas consequências últimas, porque é ele - a mandado de D. João, é verdade, mas com uma satisfação secreta e cheia de remorsos -, é ele quem vai à última hora espalhar que o Romeiro é um impostor. É ele, afinal, e isto é que é terrível, quem vai matar definitivamente seu amo, ele, o único que lhe não tinha acreditado na morte e que fizera votos pelo seu regresso, o único que pode testemunhar a sua vida. Se esta interpretação é verdadeira, Garrett põe mediante esta personagem um problema, que é novo, na história do teatro. Telmo Pais tem uma personalidade fictícia, convencional, e, por baixo desta, uma personalidade autêntica. A personalidade fictícia, construída, feita da nossa vida passada, coerente, é aquela que nós próprios nos atribuímos e aquela com que figuramos nos actos correntes da vida. Mas a outra personalidade, secreta, que nós próprios às vezes não conhecemos, é a que vem à superfície nos momentos de crise e ante o nosso próprio espanto. Telmo quer ser coerente com o seu passado; a imagem em que ele próprio se construiu foi a do escudeiro fiel: com essa máscara o vêem os outros e se vê ele próprio a si. e um dia esta imagem é quebrada como uma capa de gelo, e a onda da vida jorra. [...]» Casado com D. Madalena, mas desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, revela-se como: Uma existência abstrata (uma espécie de fantasma omnipresente) até à cena XII do ato II, inclusive, permanecendo em cena através dos receios evocativos de Madalena, da crença de Telmo em relação ao seu regresso e do sebastianismo de Maria (se D. Sebastião pode regressar, o mesmo pode acontecer em relação a D. João de Portugal); Uma existência concreta a partir da cena XIII do ato II: regressa a Portugal ao fim de 21 anos, depois de ter passado 20 em cativeiro, em África e na Ásia, surgindo na figura do Romeiro (mesmo assim, a sua identidade só é revelada no final do ato II); procura interferir voluntariamente na ação dramática, tentando impedir, com a cumplicidade de Telmo, a entrada em hábito de Madalena e de Manuel de Sousa; acaba por assistir à morte de Maria e à tomada de hábito dos ex-cônjuges.