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as personagens

e sua caracterização

ano letivo 2011-2012 – português,11º ano – prof. antónio alves


 Nobre, cavaleiro de Malta
 No ato I, assume uma atitude condizente
com um espírito clássico, deixando
transparecer uma serenidade e um
equilíbrio próprios de uma razão que
domina os sentimentos e que se manifesta
num discurso expositivo e numa linguagem
cuidada e erudita:
 - revela-se patriota, corajoso e decidido não
sente ciúmes pelo passado de Madalena;
 No ato III, evidencia uma postura acentuadamente
romântica: a dor, após a chegada do Romeiro, parece
ofuscar-lhe a razão, tal é a forma como exterioriza os seus
sentimentos, fazendo-o de uma forma um tanto violenta,
descontrolada e, por vezes, até contraditória (a razão
leva-o a desejar a morte da filha e o amor impele-o a
contrariar a razão e a suplicar desesperadamente pela
sua vida);
• Pode-se, pois, concluir que esta personagem, do ponto de vista psicológico,
evolui de uma personalidade de tipo clássico (atos I e II) para uma
personalidade de tipo romântico (ato III).
 Uma mulher bem nascida, da família e sangue dos Vilhenas,
os sentimentos dominam a razão
 Apesar de se não duvidar do seu amor de mãe, é nela mais
forte o amor de mulher, ao contrário do que acontece com
Manuel de Sousa Coutinho, que se mostra muito mais
preocupado com a filha do que com a mulher;
 - A consciência da sua condição social mantém a sua
dignidade, mas tal não impediu de ter amado Manuel de
Sousa ainda em vida de D. João de Portugal e de ter casado
com aquele sem a prova material da morte deste.
 * Supersticiosa;
 - Nota de curiosidade: Madalena, que, desde o primeiro
instante, vive aterrorizada com o «fantasma» do seu primeiro
marido, no momento em que o tem, fisicamente, diante de si,
e apesar das inúmeras coincidências, é incapaz de o
reconhecer! Penso que as modificações físicas que entretanto
se operaram na pessoa não justificam, por si só, tal falha.
 * Uma personagem idealizada:
 a ingenuidade, a pureza, a meiguice, o abandono, etc., próprios
duma alma infantil, e a inteligência, a experiência, a cultura, a
intuição, características de um espírito adulto, confluem numa
personagem pouco real, só entendida à luz do desvelo que
Garrett votava a sua filha Maria Adelaide e à condição social que,
para a mesma, resultara da morte prematura da mãe;
 protótipo da mulher-anjo, tão do agrado dos românticos, Maria é
demasiado angélica para ser verdadeira;
 a sua dimensão psicológica resulta, por isso, contraditória, ao
revelar comportamentos, simultaneamente, de criança e de
adulto;
 Alguns traços caracterizadores de Maria:
 - ternura
 - culto sebastianista
 - dom de sibila (dom da profecia)
 - cultura
 - coragem, ingenuidade e pureza
 - tuberculosa
 Convém analisar o terceiro elemento que Garrett
recebeu do teatro clássico: o conflito psicológico
suscitado pelos dilemas perante os quais são
colocadas as personagens.
 Este terceiro elemento realiza-se particularmente na
figura de Telmo Pais, que Garrett interpretou
pessoalmente na representação particular da peça.
 Telmo Pais tem de escolher entre Maria, que ele criou,
e D. João, que ele também criou e a quem deve, além
disso, fidelidade de escudeiro.
 Mas o que faz deste caso uma novidade na história do
teatro é que Telmo Pais, na realidade, não tem de
escolher, ele está de antemão decidido. A perplexidade
perante o dilema é apenas a forma exterior com que
Garrett revestiu uma coisa bem diferente daquilo que o
teatro clássico conhecia.
 Telmo Pais, amo e criado de D. João de Portugal, era o
seu maior amigo, e nenhuma criatura sofreu tanto como
ele o seu desaparecimento; opôs-se quanto pôde a que a
sua viúva casasse segunda vez e não lhe pôde perdoar a
infidelidade para com o amo, cuja morte se recusou
sempre a aceitar. O resto dos seus dias é consagrado ao
culto do desaparecido, a quem levanta no seu coração
um altar. E lentamente os dias vão passando, a imagem
de D. João vai-se-lhe entranhando na alma, tornando-se
com o tempo talvez mais rígida, mais nítida, mais
adorada. O tempo só fazia aumentar a adoração. Mas
deste casamento abominado nascera uma criança. Quis
o destino que Telmo também fosse o amo dela, e o seu
coração cresceu com este novo amor. Mas pode Telmo
continuar a não acreditar na morte de seu amo? Porque
se ele é vivo e voltar, que será feito da sua menina? Órfã
e desgraçada é o que ela será, segundo a moral da
época. Durante muito tempo Telmo não chega a ter
consciência clara desta contradição.
 No momento culminante, o pobre Telmo Pais descobre que no fundo da alma
desejava que D. João tivesse continuado morto. O seu reaparecimento transtorna-
-lhe a sua verdadeira vida. E Garrett leva o drama desta personagem às suas
consequências últimas, porque é ele - a mandado de D. João, é verdade, mas
com uma satisfação secreta e cheia de remorsos -, é ele quem vai à última hora
espalhar que o Romeiro é um impostor. É ele, afinal, e isto é que é terrível, quem
vai matar definitivamente seu amo, ele, o único que lhe não tinha acreditado na
morte e que fizera votos pelo seu regresso, o único que pode testemunhar a sua
vida.
 Se esta interpretação é verdadeira, Garrett põe mediante esta personagem um
problema, que é novo, na história do teatro. Telmo Pais tem uma personalidade
fictícia, convencional, e, por baixo desta, uma personalidade autêntica.
 A personalidade fictícia, construída, feita da nossa vida passada, coerente, é
aquela que nós próprios nos atribuímos e aquela com que figuramos nos actos
correntes da vida. Mas a outra personalidade, secreta, que nós próprios às vezes
não conhecemos, é a que vem à superfície nos momentos de crise e ante o nosso
próprio espanto. Telmo quer ser coerente com o seu passado; a imagem em que
ele próprio se construiu foi a do escudeiro fiel: com essa máscara o vêem os
outros e se vê ele próprio a si. e um dia esta imagem é quebrada como uma capa
de gelo, e a onda da vida jorra. [...]»
 Casado com D. Madalena, mas desaparecido na Batalha de
Alcácer Quibir, revela-se como:
 Uma existência abstrata (uma espécie de fantasma
omnipresente) até à cena XII do ato II, inclusive,
permanecendo em cena através dos receios evocativos de
Madalena, da crença de Telmo em relação ao seu regresso e
do sebastianismo de Maria (se D. Sebastião pode regressar, o
mesmo pode acontecer em relação a D. João de Portugal);
 Uma existência concreta a partir da cena XIII do ato II:
 regressa a Portugal ao fim de 21 anos, depois de ter passado
20 em cativeiro, em África e na Ásia, surgindo na figura do
Romeiro (mesmo assim, a sua identidade só é revelada no
final do ato II);
 procura interferir voluntariamente na ação dramática, tentando
impedir, com a cumplicidade de Telmo, a entrada em hábito
de Madalena e de Manuel de Sousa;
 acaba por assistir à morte de Maria e à tomada de hábito dos
ex-cônjuges.

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