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Frei Luís de sousa

Personagens

Apesar de o título dar ideia de que a personagem principal é Manuel de Sousa Coutinho,
segundo W. Kaiser, é mais lógico apontar a família como personagem principal, porque é à
volta dela (pai, mãe, filha, criado) que se desenvolve a ação. Todas as personagens estão
marcadas pelo destino, e são conduzidas, logo desde o início, para a catástrofe final. É esta
família que, marcada pelo destino e pela fatalidade, enceta um percurso destrutivo que a leva
à morte: Manuel e Madalena professam, Maria morre, Telmo fica só e D. João fica sem família,
sem identidade, sem nome, sem referências.

O universo feminino

As personagens femininas ganham relevo nesta peça e caracterizam duas gerações — a de


Dona Madalena e a de Maria. Têm um instinto apurado, que as faz pressentir a desgraça
iminente através de presságios e premonições constantes. São personagens modeladas e
complexas, com uma intensa densidade psicológica que advém do conflito interior com que se
debatem.

Dona Madalena de Vilhena:

• é uma mulher nobre;

• pertencente à família dos Vilhenas;

• o seu nome evoca a figura bíblica da pecadora, Maria Madalena;

• considera-se pecadora por ter amado Manuel de Sousa Coutinho ainda casada com D. João
de Portugal;

• vive torturada pelo remorso do passado, não chegando a viver verdadeiramente o presente;

• vive constantemente dilacerada por um conflito que a divide entre os seus sentimentos e o
sentido de dever;

• julga merecer a punição que recebe no final, através da qual se purifica e redime.

Maria de Noronha:

• é uma jovem donzela, filha de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho;

• evidencia uma rara inteligência e uma inesperada compreensão do mundo, por ser
precocemente desenvolvida, física e psicologicamente;

• sofre de tuberculose, uma marca tipicamente romântica, assim como o seu carácter de
mulher-anjo;
• está bem patente nela o culto de Camões, a encarnação da 'Menina e Moça' de Bernardim
Ribeiro e a esperança no regresso de D. Sebastião;

• dotada do dom da profecia e de uma poderosa intuição, Maria é marcada pelo destino e
simboliza os inocentes que são vítimas dos pecados dos pais.

O universo masculino

As figuras de D. João de Portugal e de Manuel de Sousa Coutinho são as mais proeminentes, já


que estão na génese do conflito. Apesar de nunca se encontrarem em cena, D. João e Manuel
de Sousa Coutinho causam sofrimento e infelicidade um ao outro e a sua copresença
impossibilita a harmonia familiar.

Manuel de Sousa Coutinho:

• é um cavaleiro de Malta;

• possuidor das maiores qualidades e de uma fé inabalável;

• é um pai meigo e compreensivo, cuja única preocupação é a saúde de sua filha;

• é um marido apaixonado e dedicado;

• é um cidadão patriota e heroico;

• revela força e segurança ao longo do conflito.

Após tomar consciência da ilegitimidade de sua filha, fica desesperado e resolve renunciar ao
mundo material. O refúgio no convento e a busca de isolamento atestam o seu carácter
romântico.

D. João de Portugal:

• é um nobre cavaleiro que ama a Pátria e o seu rei;

• é uma presença determinante para precipitar a catástrofe;

• revela instintos vingativos e cruéis;

• evidencia uma profunda paixão por D. Madalena;

• escondido na figura do Romeiro, esta personagem não vive, mas paira no ar como um
espetro terrível, uma ameaça iminente;

• nega a sua própria existência e quase se autoexclui, na sua emblemática fala 'Ninguém!'.|

Telmo Pais:

• é o fiel escudeiro da família e o confidente de D. Madalena;


• encarna a chama viva do passado, alimentando os terrores de D. Madalena com as
referências constantes a D. João de Portugal;

• encontra-se dividido entre a fidelidade a seu amo, D. João, e o amor paternal a Maria de
Noronha ('lhe quero mais do que seu pai');

• desempenha um papel semelhante ao do coro da tragédia clássica, através dos seus


diálogos, comentários (apartes) e profecias.|

Frei Jorge Coutinho:

• é irmão de Manuel de Sousa Coutinho;

• dotado de sensatez, serenidade e de um espírito ponderado;

• funciona como conselheiro dos que o rodeiam;

• acredita que as inexplicáveis situações da vida refletem a vontade de Deus e que a Fé


funciona como um consolo.

Ao comentar os acontecimentos e indiciar o seu desfecho trágico, torna-se representante,


juntamente com Telmo, das reminiscências do coro da tragédia clássica.

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