Você está na página 1de 7

Frei Luís de Sousa – Resumo

Estrutura interna e externa da obra NOTA


A obra Frei Luís de Sousa, em termos de estrutura externa está dividida em três Cada ato muda
atos (I, II e III) o cenário;
Quanto à estrutura interna da obra dividimo-la em Exposição (ato I, cena I - ato Cada cena
1 cena IV), Conflito (ato I cena V - ato III cena IX) e Desenlace (ato III cena X - ato muda as
III cena XII) personagens

ESTRUTURA INTERNA
Exposição
Através das falas das personagens tomamos conhecimento dos antecedentes da ação que explicam
as circunstâncias atuais; conhecemos igualmente as personagens e as relações existentes entre elas.

Conflito
Desenrolar gradual dos acontecimentos, em que se vivem momentos de tensão e de expetativa –
desde o conhecimento de que os governadores espanhóis escolheram o palácio de Manuel de Sousa
para se instalarem até ao reconhecimento do Romeiro (Clímax) – e que desencadearam uma série de
peripécias.

Desenlace
Desfecho motivado pelos acontecimentos anteriores – dá-se a consumação da tragédia familiar em
que Maria morre e os seus pais se veem obrigados a separar-se, morrendo um para o outro assim
como para a vida terrena.

O que são indícios trágicos? Os indícios trágicos são sinais da fatalidade que se avizinha ou
pressente.
Indícios trágicos
O Romantismo vs. Tragédia Clássica
• Sebastianismo
Na obra Frei Luís de Sousa, segundo indicado pelo próprio autor • agouros e presságios
em Memória ao • os retratos de Manuel e de
Conservatório Real, existem dois estilos facilmente identificáveis D. João de Portugal
que convergem, o • a história dos condes de
romantismo, do que são característicos os “dramas” e a tragédia Vimioso
clássica, que é trazida deste o tempo dos gregos, cuja principal • a doença de Maria
característica se prende no facto de, sobre alguém que não tem
culpa (não fez nada) cair uma tragédia (desgraça) de forma que o
público sinta o efeito de catarse

Características Românticas na obra


- Escrito em prosa;
- Dividido em três atos (I, II e III);
- Presença (e exaltação) de sentimentos fortes nas personagens;
- Exaltação do patriotismo, presente principalmente em D. Manuel e D. João;
- Personagens “anjo”, especialmente em Maria (inteligente, perfeição);
- A morte de Maria em palco;
- A religião como consolo
Características da Tragédia Clássica na obra
- A família condenada apesar de não ter culpa

- O erro de D. Manuel e D. Madalena em casar (sem saber se realmente D. João de Portugal estava
morto)

- Número reduzido de personagens (De elevado estatuto social e moral)

- Os ambientes que mudam o estado de espírito que uma forma subtil.

- O reconhecimento de D. João de Portugal no Romeiro, que se chama anagnórises;

- O aparecimento de D. João e as suas consequências (casamento e filha ilegítimos)

- O clímax, quando se reconhece o Romeiro (que também corresponde à anagnórise)

- O sofrimento das personagens ou o pathos, muito evidente em D. Madalena;

- A catástrofe, que é a dissolução da família e a morte de Maria

- Concentração temporal (progressão temporal, até culminar na madrugada da morte ou separação da


família);

- Concentração espacial (progressão espacial, terminando na Igreja de S. Paulo dos Domínicos);

- Vestígios do coro da tragédia clássica, nas personagens Telmo e frei Jorge;

- Presença de momentos e indícios trágicos.

Temas de Frei Luís de Sousa


Amor - como algo que cega; impossível de se sair feliz; percetível da
primeira cena; e ainda o amor entre Telmo e Maria e D. João, na fidelidade do
escudeiro fiel;

Religião - apresenta-se como uma consolação, salvação; existem outros exemplos


(como a soror Joana) que incitam a audiência a acreditar no final trágico da
história;

Sebastianismo - o culto, quase religião, do mito sebastianismo, neste drama


anunciado pelas bocas de Telmo e Maria, contra a vontade de D. Madalena

Patriotismo - espelhado nas personagens de D. Manuel (“Há de saber-se que


ainda há um português em Portugal”) e D. João de Portugal (que lutou pelo país
ao lado do jovem rei);

Primeiro ato - decorre no palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho


- O ambiente leve e agradável revela o estado de espírito da família (feliz no geral);

- Inicia-se o ato com um excerto D’Os Lusíadas, mais precisamente o excerto de


Inês de Castro, em que afirma que o amor cega e condena a alma ao sofrimento;
este excerto é lido por D. Madalena de Vilhena, mulher de Manuel de Sousa
Coutinho

- Madalena compara o seu estado de espírito com o de Inês


de Castro (sente-se predestinada para a morte).

- Telmo, o fiel escudeiro da família, entra em cena e ambos discutem sobre Maria,
filha de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, afligindo-a com recordações do passado.

- Telmo confessa-se um crente no regresso de D. João e justifica a sua credulidade pelas palavras de
uma carta escrita por este onde garantia que “vivo ou morto” haveria de voltar.

- Madalena pede a Telmo que não fale a Maria assuntos relacionados com a batalha e D. Sebastião… e
ele promete que não lhe dirá nada.

- Os medos de D. Madalena em relação ao regresso do ex-marido (D. João de


Portugal, que nunca regressou da batalha de Alcácer-Quibir) refletem-se na
proteção da sua filha em relação ao Sebastianismo (se D. Sebastião voltasse, o
seu ex-marido também poderia voltar)

- Maria é considerada muito frágil (doente; possui tuberculose não diagnosticada),


e Telmo, que já fora escudeiro de D. João, incentiva-a a acreditar no
Sebastianismo, o que ela abraça fortemente apesar do desaprovar de sua mãe;

- Esboça-se um pequeno conflito de Maria com o pai e com a mãe, pois ambos não aceitam ouvir falar
do regresso de D. Sebastião. Isto causa estranheza em Maria

Maria fala do seu jardim a pedido de D. Madalena:


- As flores simbolizam a brevidade da vida.
- As flores de Maria murcharam. Não será um presságio da sua morte? Premonição

- D. Manuel, um cavaleiro da nobreza, informa as


personagens da necessidade de movimentação daquela casa, porque os
“governantes” (na altura Portugal estava sob o domínio espanhol) viriam e
desejavam instalar-se em sua casa;

- Maria e Madalena reagem de formas distintas:

✓ Maria mostra-se entusiasmada e patriota;


✓ Madalena revela alguma ingenuidade e não revela qualquer sentido patriótico, mostra se
assustada e tenta contrariar Manuel.

- Na cena XI Manuel refere o acontecido com seu pai e põe a hipótese de lhe acontecer algo
semelhante, é uma prolepse () ou antecipação da desgraça que irá acontecer.

- Manuel de Sousa mostra-se um homem de valores intensos.


Importante!
Na cena VIII a linguagem serena e decidida de Manuel de Sousa contrasta com a linguagem emotiva,
hesitante e assustada de Madalena.

- Manuel mostra-se um herói clássico, racional, o homem presente, o patriota, de consciência limpa,
nada teme e para ele não há razões que justifiquem não mudar para o palácio que fora de D. João.

- Madalena age pelo coração, é modelo da heroína romântica, assustada, ligada ao passado cheia de
pressentimentos e crente que vai morrer, infeliz, naquela casa.

-Manuel de Sousa tenta chamá-la à razão.

- O ato acaba com D. Manuel a incendiar a sua própria casa,


como símbolo de antecipação da separação
patriotismo, incendiando também um retrato seu (simboliza o
(premonição)
início da destruição da família), movendo-se a família para o
palácio de D. João de Portugal (apesar dos agouros de D.
Madalena).

Prolepse:
Analepse:
Anagnórise: passagem da ignorância para o conhecimento;

Segundo Ato - decorre no palácio de D. João de Portugal


- O ambiente fechado, sem janelas, com os quadros grandes das figuras de D.
João, Camões e D. Sebastião revelam uma presença indesejada e uma família
mais abatida (algo está para vir);

- O incêndio do palácio provocou impressões diferentes entre Maria e Madalena, Maria ficou fascinada,
Madalena ficou doente, aterrorizada, cheia de pesadelos, e
liga o incêndio à perda do marido, consequência da destruição do retrato (premonição)

- Com a chegada de D. Manuel (que teve de


fugir devido à afronta aos governantes) e a indicação de que estes o tinham perdoado, D. Madalena
fica mais descansada.

- Maria conhece dois dos três retratos, mas quer confirmar o de D. João de Portugal. Em analepse,
recorda o que ocorreu oito dias antes e que tanto perturbou a mãe, deixando-a doente. As atitudes
estranhas da mãe perante o retrato deixaram Maria curiosa.

- Telmo altera a sua posição face Manuel de Sousa depois do incêndio: antes admitia as suas
qualidades, mas não o admirava; agora admira-o pelo seu patriotismo e lealdade.

- Maria confessa ao pai as suas capacidades intuitivas: já sabia a identidade do retrato sem ninguém
lhe ter dito;

- Pai e filha conversam sobre a vida e esta confessa que com aquela capa parece um frade.
(premonição)

- D. Madalena sempre respeitou D. João, mas nunca o amou; em contrapartida, conheceu Manuel de
Sousa quando ainda D. João era vivo, amou-o e ama-o.
E por isso considera-se uma pecadora,
Também
- Maria quer acompanhar o pai a Lisboa; quer conhecer a tia Joana (é a Manuel e Madalena
abadessa que se separou do marido, para ambos professarem)
vão separar-se e
- Frei Jorge começa a sentir que alguma desgraça está para acontecer. professar

- D. Manuel parte para Lisboa na companhia de Maria e Telmo, deixando em casa


D. Madalena e Frei Jorge;

- Madalena confessa a Jorge que HOJE é o dia da sua vida que mais tem receado.

✓ Faz anos que casou a primeira vez.


✓ Faz anos que se perdeu el-rei (e D. João), na batalha de Alcácer-Quibir
✓ Faz anos que conheceu Manuel de Sousa.

- Aparece um Romeiro que não se quer identificar ao princípio, mas dá indícios


de ser D. João de Portugal, que voltaria exatamente 21 anos depois da batalha de
Alcácer-Quibir (7 para procurar o corpo + 14 casamento de D. Madalena e D.
Manuel);

Importante:

No segundo ato há uma analepse pequena entre a Maria e o Telmo dando a entender que o incendio já
foi há 8 dias;
Na cena I, deste ato, percebe-se um afunilamento do espaço e a perda de luz (alegria)
Na cena III, Manuel de Sousa Coutinho diz a Maria que o misticismo não existe

Terceiro Ato - decorre na parte baixa do palácio de D. João de Portugal


- Um ambiente muito fechado, representando a falta de saída da família que, caso
o romeiro fosse D. João, estaria perante um casamento (D. Madalena e D. Manuel)
e uma filha (D. Maria) ilegítimos (a morte era a única forma de “divórcio”);

- Manuel de Sousa, que até aqui nos apareceu como um homem racional e decidido, apresenta-se
agora, emotivo e atormentado sobretudo em relação ao destino de Maria: chega a afirmar que prefere
vê-la morta pela doença que a consome do que por vergonha pela situação de ilegitimidade em que
agora se encontra.

- A doença de maria agrava quando vê o estado em que sua mãe se


encontra.

- O Romeiro encontra-se a sós com Telmo (que, entretanto, volta com Maria e D.
Manuel) e este imediatamente reconhece o antigo amo, mas a sua lealdade não é
certa (entre D. João e Maria, a sua nova ama apesar de ter criado ambos); o
Romeiro pede-lhe que minta por ele, que diga que é um impostor, que salve a
família (momento em que a audiência acredita que possa haver salvação);

- Telmo encontra-se em conflito interior: deve ficar ao lado do seu "filho", D. João
de Portugal, ou da sua "filha", Maria? Dividido entre a fidelidade ao passado e o amor ao presente,
ofereceu a sua vida a Deus em troca da vida de Maria.

- Telmo vai pedir conselhos a Frei Jorge, que lhe diz que, se tem a certeza ser D.
João, a verdade não deve ser escondida (mostra uma faceta obediente e inflexível
desta personagem)

- Maria interrompe a cerimónia, dando origem á cena mais melodramática da peça.

- Alienada pela febre, em delírio, exprime-se de forma violenta, mostrando uma profunda revolta
contra o mundo, contra Deus, contra a sociedade hipócrita que não permite a dissolução do
casamento, transformando assim, em filhos ilegítimos
aqueles que são apenas vítimas de atos que lhe são alheios.

- Por fim, não tendo outra salvação, Maria morre de desgosto (de ser filha
ilegítima; de tuberculose) e os pais (D. Madalena e D. Manuel) vão para um
convento (a religião como consolação), tornando-se D. Manuel, Frei Luís de
Sousa

Personagens

Manual de Sousa Coutinho


• Cavaleiro, modelo de homem bondoso e culto
• racional objetivo e decidido
• bom marido e pai
• honrado e seguro, indiferente aos temores de Madalena em relação ao seu primeiro casamento,
respeitador da Memória de D. João de Portugal.
• Corajoso, destemido e determinado
• patriota orgulhoso e empenhado na defesa dos valores nacionais
• desapegado dos bens materiais
• insensível aos pressentimentos e agouros de Madalena e Maria
• determinado pelo sentido de honra e de dever
• resignado à culpa e ao castigo depois do regresso de D. João de Portugal

Madalena
• romântica e sentimental vive o amor por Manuel de Sousa de forma intensa
• simbolicamente ligada à figura bíblica com o mesmo nome conotada com o pecado
• dedicada e zelosa do bem-estar da filha a quem tenta proteger de quaisquer influências
perturbadoras
• associada ao amor trágico através da aproximação a Inês de Castro (ato I, cena I)
• Vulnerável e dominada pelas lembranças do passado, pelo remorso (de ter amado Manuel
ainda em vida de D. João), pela culpa e pelo sentido de dever que a impedem de ser plenamente
feliz
• dominada pela angústia e pelos temores constantes
• crente em pressentimentos e agouros, que a atormentam.

Maria
• Figura idealizada sugerida como um anjo e detentora de capacidades sobrenaturais
• heroína romântica ligada à beleza e à perfeição
• frágil sensível pura e bondosa
• culta inteligente e perspicaz
• defensora de ideais patrióticos, partilhados com o pai, da fraternidade e da justiça social
• sebastianista por influência de Telmo
• objeto da atenção e da preocupação dos restantes personagens
• Vítima de doença (tuberculose), do erro dos pais e das convenções sociais, que determinam a
sua ilegitimidade após o regresso do primeiro marido de Madalena

D. João de Portugal | Romeiro


• Cavaleiro honrado e destemido desaparecido ao serviço da fé cristã em Alcácer quibir
• associado à crença sebastianista
• Motivador da preocupação constante das figuras adultas da família de Madalena
• Omnipresente, a nível simbólico, através dos agouros, dos receios e das palavras das restantes
personagens e do retrato presente no seu Palácio.
• Triste desiludido e magoado no momento do regresso face ao esquecimento de que se sente
alvo e a perda dolorosa da esposa e de Telmo
• Catalisador da catástrofe, com o seu retorno, que vem destruir a União familiar e precipitar a
morte de Maria
• Generoso e altruísta, no final da peça, tentando reverter os efeitos do seu regresso e impedir a
desagregação da família

Telmo
• Escudeiro honrado e dedicado à família da Madalena
• fiel a D. João de Portugal e convencido do seu regresso
• crente em agouros e profecias e sebastianista convicto por associação da figura de dom
Sebastião a do seu primeiro amo
• Dedicado a Maria e extremoso na sua proteção
• confidente e conselheiro de Madalena e de Maria
• comentador da ação, em especial por meio dos seus apartes
• Vítima de um conflito interior entre o amor a Maria (O Presente) e o amor a D. João de Portugal
(o passado).

Frei Jorge
• confidente de Maria
• sereno e ponderado, aconselha e consola a família.

Você também pode gostar