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Frei Luís de Sousa

Personagens

D. Madalena de Vilhena
 É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado.
 Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõem-se à razão e é uma mulher em constante
sofrimento. Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira).
 É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha
Maria, contudo coloca acima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de
Sousa, mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final
da obra, aceita o convento como solução,  mas fá-lo seguindo Manuel.

Manuel Sousa Coutinho


 É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais,
como a honra, a lealdade e a liberdade.
 É um patriota, um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido
(relembrando o incêndio), bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não
crê em agoiros. O incêndio e a decisão violenta de o concretizar é um traço
romântico.
             Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de
coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor, sofrimento,
insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela saúde da filha e pela sua
condição social.
             No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos: abandona
tudo (bens, vida, mundo)e refugia-se no convento.

Maria
      É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é
muito forte).
            Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz.
 Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista,
sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.
             É a vitima inocente de toda a situação e acaba por morrer fisicamente, tocada
pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está tuberculosa).

Telmo
 É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias nobres, “deu-
lhe” todas as características de um nobre (postura, fala, educação, cultura...).
           É o confidente de Madalena e de Maria. 
 Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de
Madalena), é a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena.
 É muito critico, cria juízos de valor e é através dele que a consciência das
personagens fragmentada vive num profundo conflito interior pois sente-se dividido
entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer.
 É um sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.

Frei Jorge
  Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja.
 É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu “terrível”
pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É uma figura moderadora,
que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos.
 Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa
racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e
desfeita.

D.João de Portugal
 Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça. Contudo,
está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena,
nas palavras de Manuel e na intuição de Maria.
        É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte e fiel ao seu rei.
 Quando regressa, na pele do Romeiro, é austero e misterioso, representa um destino
cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser,
também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de
que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; madalena não o
reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar
no coração do velho escudeiro):
            D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos
descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na
mão dos espanhóis/e é a imagem da pátria cativa.

(ATO I – CENAS III e IV) 

Respostas 99

Indica o tema do mesmo


1.1 O tema do diálogo entre mãe e filha é o mito sebástico ou sebastianista. 
1.2-Refere os pontos de vista das personagens e os argumentos apresentados
Maria tem um grande fascínio por D. Sebastião (“o nosso bravo rei, o nosso santo rei
D.    Sebastião”, l. 16; “meu querido rei D. Sebastião”, l. 19), visível nos livros que
lê (“Que é do romance que me prometestes? Não é o da batalha, … é o da ilha encoberta
onde está el-rei D. Sebastião”, ll. 5-8), acreditando no seu regresso (“há de vir, um dia
de névoa muito cerrada… Que ele não morreu”, ll. 8-9). 
1.
         D. Madalena, por associar D. Sebastião a D. João de Portugal, apresenta argumentos para
contrariar as crenças da filha, dizendo que os tios, homens cultos, várias vezes lhe
contaram o que sucedeu na batalha, sendo uma crença fomentada pelo povo (“O povo,
coitado, imagina essas quimeras para se consolar na desgraça”, ll. 11-12).  
        Maria contrapõe com o provérbio “Voz do povo, voz de Deus” (l.13), afirmando ter de
haver fundamento para tal crença. 
 
Explicita a estranheza de Maria perante a atitude do pai quando se menciona
D.Sebastião
1.3. Maria estranha a atitude de desagrado do pai em relação a este assunto, por entender que
o   nacionalismo e patriotismo, por ele revelados em ações e palavras, não se coaduna com
o facto de ele não acreditar no regresso de D. Sebastião, visto que este representaria a
recuperação da independência nacional. 

2-No final da cena III e no inicio da IV e visível a ternura entre mãe e filha...
Comprova a afirmação.
2.1. D. Madalena dirige-se à filha de forma carinhosa (“Minha querida filha”, l. 10; “Minha
querida     Maria”, l. 22; “querida”, l. 37) e Maria manifesta o amor pela mãe quando esta
chora, abraçando-a, dirigindo-se-lhe carinhosamente para a acalmar (“Minha querida mãe,
ora pois então!”, l. 27) e prometendo não falar mais sobre os assuntos que tanto a
incomodam. 

Maria confessa á mãe a sua tristeza por sentir constante preocupação dos pais com ela
Refere as consequências dessa tristeza
3.1. Maria passa as noites em claro, a rever as suas atitudes e as dos pais, para tentar descobrir
as   razões da sua preocupação, por considerar haver algo que não lhe é revelado. 

D.Madalena muda o rumo da conversa questionando a filha sobre as flores


Explicita as funcionalidades das flores e a simbologia do murchar
4.1. Maria colheu papoilas para pôr debaixo do travesseiro, por estas estarem associadas ao
sono e ao sonho. Deste modo, acredita vir a ter uma noite descansada. Contudo, as flores,
que simbolizam um ciclo vital e, consequentemente, a efemeridade da vida, murcharam
rapidamente, indiciando a proximidade da morte. 

Procede á caracterização de Maria, considerando as cenas III e IV


5.    Maria manifesta interesse por temas impróprios para a sua idade, nomeadamente por
romances populares sobre D. Sebastião e sobre a batalha de Alcácer Quibir, revelando-se
uma sebastianista fervorosa e nacionalista. Apresenta um caráter afetuoso, uma intuição e
uma imaginação invulgares, procurando, pela dedução, respostas para a preocupação dos
seus pais. 

QUESTÕES DA PÁG. 106 


(ATO I – CENAS V, VI, VII e VIII) 

  1.1-Frei Jorge traz uma informação perturbadora


Qual é a informação da noticia e explicita as reações de Maria e Madalena
Frei Jorge é portador da notícia de que os governadores tencionavam sair de Lisboa, por
causa da peste, e instalar-se em Almada, no palácio de Manuel de Sousa Coutinho.  
Maria reage energicamente a esta informação, manifestando todo o seu
patriotismo, considerando esta intenção dos governadores um ato de cobardia, por
deixarem o povo entregue à peste e à miséria, e também um ato de “tirania” que
deve ser contrariado pelo exército de seu pai. D. Madalena revela-se mais
comedida, mas manifesta a sua indignação, opondo-se a este intuito por ser uma
desconsideração pelas senhoras daquela casa. 

2-Justifica a curta dimensão da cena VI e relaciona com a cena IV


A Cena VI não é muito extensa por ter a função de pôr em relevo a doença de Maria,
que manifesta os sintomas da tuberculose, nomeadamente a acuidade auditiva. Aparenta
ter o dom da premonição, lendo nos “olhos” e “nas estrelas do céu também” (Cena IV, l.
55) e sabendo “coisas” que mais ninguém sabe.

3.1Manuel Sousa Coutinho surge na cena VII e e informa que tem uma
decisão perante a intenção dos governadores inalarem-se no seu palácio
Qual a decisão e os valores evidenciados por esta personagem
Manuel de Sousa Coutinho informa os presentes da sua decisão de saírem daquela casa,
ainda naquela noite, antes da chegada dos governadores. Ao longo do seu discurso,
revela-se defensor da honra e um patriota valoroso, insurgindo-se contra um rei
estrangeiro nas pessoas dos seus representantes, pretendendo dar-lhes uma lição
exemplar, a eles e “a este escravo deste povo que os sofre” (l. 84). 
3.2-Refere as reações de Maria e Frei Jorge face a essa decisão
Maria exulta com a decisão do pai, elogiando o seu patriotismo. Já Frei
Jorge aconselha o irmão a ser prudente, apoiando-o, contudo, na sua decisão. 
 
3.3-Explicita a mudança de atitude de D.Madalena perante a decisão do
marido e relaciona com o processo da ação
D. Madalena, inicialmente de forma contida, alerta o marido para as consequências de
atos imoderados, temendo a vingança dos governadores, mas, depois saber que a decisão
do marido implica a mudança para o palácio de D. João de Portugal, fica apavorada,
revelando de imediato o seu desagrado (“Qual?... a que foi… a que pega com S.
Paulo?... Jesus me valha!” ll. 102-103; “Aquela casa… eu não tenho ânimo…”, l. 114). 

4.1 Na cena VIII assiste-se a um confronto entre Manuel e Madalena


Demonstra o modo como os argumentos de Madalena são desvalorizados por
Manuel
4.1.   Os argumentos apresentados por D. Madalena são emocionais, associados ao medo
e a    terrores de que a figura de D. João de Portugal possa interferir na felicidade da
família. Manuel de Sousa Coutinho considera que a argumentação de D.
Madalena não é razoável, vendo a sua atitude como um “capricho” (l. 130),
causado pela “fraqueza de acreditar em agouros” (ll. 151-152, revelando-se
racional e pragmático. Por fim, chama a esposa à razão e lembra-lhe a sua condição
e as responsabilidades que tem, o que a obriga a ter um comportamento digno e
firme, porque a situação assim o exige. 

Evidencia a expressividade da fala final de Manuel na cena VIII


5.      Manuel de Sousa Coutinho reitera a intenção de dar uma lição aos tiranos e um
exemplo ao povo, acrescentando que será algo que os há de “alumiar”. Este verbo
pode ser interpretado de duas formas: primeiro, no sentido denotativo de “dar luz”,
revelando a decisão de incendiar o palácio (como se vem a comprovar na Cena XI);
segundo, no sentido conotativo de “esclarecer”, como um incentivo à oposição e à
recusa da submissão e tirania. 

 
 QUESTÕES DA PÁG. 108 
(ATO I – CENAS IX, X, XI e XII) 
  
 
1-Caracterização de personagem Manuel na sequencia da precipitação dos
acontecimentos perante a chegada antecipada dos governadores
Manuel de Sousa Coutinho, no monólogo da Cena XI, revela-se extremamente corajoso,
revoltando-se contra a tirania dos castelhanos. O seu patriotismo e honradez são visíveis
no despojamento de todos os seus bens materiais e na disposição manifestada em perder a
própria vida, mas defendendo a honra de ser português. A personagem, fidalgo, cavaleiro
de Malta, é apresentada desde o início como decidida e determinada, racional, nobre nas
atitudes, mas também afetuosa para com a sua família. 

2-Identifica os recursos expressivos presentes na primeira fala de Manuel na


cena XII e comenta a sua expressividade
A metáfora surge, na primeira fala de Manuel de Sousa Coutinho, no sentido conotativo
do verbo “iluminar”, sugerindo uma receção cheia de luz, quando está associada ao
incêndio do palácio. Surge, igualmente, a ironia, reveladora do seu patriotismo: a receção
dos “muito poderosos e excelentes senhores governadores destes reinos” será feita com
fogo e destruição, tal como estes contribuíram para a destruição da identidade
portuguesa. 
 
3-Interpreta a seguinte reação de Madalena e relaciona com o fogo
MEU DEUS MEU DEUS .. AI O RETRATO DO MEU MARIDO...
D. Madalena fica aterrorizada ao ver o quadro do marido a ser consumido pelas chamas,
por poder simbolizar a própria destruição de Manuel de Sousa Coutinho, já por ele
referida na Cena XI, e da harmonia familiar. O fogo pode ter um duplo significado: que o
homem é vítima do seu fogo, da sua paixão, que o conduz inevitavelmente à destruição; e
que é a ação do homem que cria o destino, determinando o futuro. Remete, ainda, para o
final nefasto da personagem e um possível renascer das “cinzas”. 

 
4-Explicita o carácter trágico da final do ato I relaciona-o com as
características do drama romântico
O final do Ato I apresenta um caráter trágico, evidenciado pelo apelo insistente à fuga,
pelas informações das didascálias: o deflagrar das chamas, os gritos, o rebate dos sinos,
culminando na última informação, “cai o pano”, a simbolizar a queda conducente à
desagregação daquela família. Esta tragicidade está alinhada com as características do
drama romântico, nomeadamente o fundo histórico (incêndio do palácio pelo próprio
Manuel de Sousa Coutinho), os valores exibidos por Manuel de Sousa Coutinho na
reação ao desígnio dos governadores (o patriotismo, representativo da identidade
nacional, e, simultaneamente, a expressão da liberdade individual) e o culto dos
sentimentos fortes (os gritos e os movimentos agitados). 

QUESTÕES DA PÁG. 117 


(ATO II – CENAS I, II e III) 
 
1 Localização geográfica
a) Almada, no Palácio que fora de D. João de Portugal, próximo da Igreja de S. Paulo dos
Domínicos. 
1. Espaço cénico
b) Trata-se de um salão antigo, com uma decoração melancólica e pesada
(retratos, armas de família, reposteiros longos); portas, cobertas por reposteiros,
para o exterior do lado direito e para o interior do lado esquerdo; um reposteiro
pesado a cobrir as portadas da tribuna que se encontra sobre a capela da Senhora
da Piedade. 

Espaço cénico
c) Alta nobreza (brasão: as armas antigas da casa de Bragança). 

Atmosfera sugerida
d) Sugestão de melancolia, tristeza: fechamento para o exterior (ausência de
janelas, reposteiros a tapar as portas a indiciar a limitação dos movimentos das
personagens). Destaque para os retratos representativos de um passado de
infortúnios. 
 
1.2-evidencia de forma sucinata o contraste existente entre as duas didascálias
A didascália do Ato I transmite a felicidade e a liberdade de movimentos das
personagens, pela luz, pelas sugestões cromáticas e pela abertura ao exterior, enquanto a
do Ato II sugere tristeza, melancolia e a limitação dos movimentos das personagens, pelo
ambiente austero, pela ausência de luz natural e pelo fechamento ao exterior. 

Menina e moça.....
Justifica a adptação da citação no inicio da cena I explicitando o seu duplo
sentido
2.1.      A adaptação da citação, proferida por Maria, justifica-se pela mudança para o    
palácio de D. João de Portugal por causa do incêndio da casa de seu pai. Além
deste sentido, poderá indiciar uma separação trágica da família pelo paralelo que
se pode estabelecer entre Maria e o destino infeliz da heroína desta novela. 

Relaciona a cena I do ato II com o seu final, evidenciando a sua importância para
o leitor espetador
3.         A Cena I permite uma ligação harmoniosa entre os dois Atos, pois, através das  
palavras de Maria, fica-se a saber o tempo decorrido desde o incêndio (“oito
dias”) e como foram vivenciados os acontecimentos naquela noite, incluindo a
mudança de palácio. Deste modo, sem ser necessária a representação dos
acontecimentos em cena, o leitor/espectador é elucidado quanto ao mal-estar de
D. Madalena (que ainda não saiu do seu quarto por causa do terror sentido ao ver
o retrato de D. João de Portugal), quanto ao facto de Manuel de Sousa Coutinho
se encontrar escondido durante todo este tempo (por recear represálias) e quanto
à intenção dos governadores de esquecerem a atitude do mesmo. 
4.1.      O destaque assumido pelos três retratos remete para a importância destas três
figuras na ação, por representarem o peso de um passado associado ao
infortúnio, o qual poderá significar, também, a desgraça do presente. As três
figuras pertencem à história de Portugal, estando interligadas: Camões viveu no
reinado de D. Sebastião, tendo-lhe dedicado a sua epopeia, na qual o glorifica e
incita à empresa no Norte de África (Dedicatória; episódio do Velho do
Restelo); D. João de Portugal esteve ao serviço de D. Sebastião, desaparecendo
na mesma batalha, em Alcácer Quibir. 

4.2.      D. Madalena, segundo Maria, fugiu aterrorizada quando deparou com o retrato
de D. João de Portugal, não lhe saindo do pensamento os dois retratos: o de
Manuel de Sousa Coutinho a arder e o de D. João que não nomeia. D. Madalena
considera que “a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior que
está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar
de… - Manuel de Sousa Coutinho -” (ll. 25-26), como se a figura do seu
primeiro marido surgisse como elemento destruidor da felicidade vivida no
segundo casamento. 

5.1.      Maria, nestas duas falas, demonstra, uma vez mais, a sua capacidade intuitiva e
dedutiva, a sua perspicácia, neste caso relativamente ao retrato de D. João de
Portugal. Pela reação de sua mãe, o pavor que tal retrato lhe causava, e pela
relutância de Telmo em revelar a identidade do cavaleiro, Maria deduziu de
quem se tratava. 

6.        Cena II: alude-se à faceta de escritor de Manuel de Sousa Coutinho (“Poetas e


trovadores padecem todos da cabeça…”, l. 183; “E então para que fazeis vós
como eles?... eu bem sei que fazeis”, l. 184); Cena III: a referência à
religiosidade, indiciando-se a futura tomada do hábito. (“Esses são os
pontos sublimes e incompreensíveis da nossa fé”, l. 196; “Para frades de S.
Domingos não nos falta senão o hábito…”, l.199). 
7.
7.1.      Maria, após lamentar a morte de D. João de Portugal e a consequente chamada
de atenção do pai, toma consciência da sua situação, pois se D. João de Portugal
não tivesse morrido na batalha, ela não teria nascido e, associando o seu regresso
ao de D. Sebastião, no qual ela crê, isso poderá significar a sua morte. Assim,
“escondendo a cabeça no peito de seu pai”, Maria tenta esconder o
pressentimento de desgraça (“Creio, oh, se creio!  que são avisos que Deus nos
manda para nos preparar. – E há… oh! há grande desgraça a cair sobre meu
pai… decerto! e sobre minha mãe também, que é o mesmo”, ll. 31-37). 
 
 

QUESTÕES DAS PÁGS. 125-126 


(ATO II – CENAS IV, V, VI, VII, VIII, IX e X)) 
  
CENÁRIOS DE RESPOSTA 
 
1-Nas Cenas IV e V, Frei Jorge confirma a Manuel de Sousa Coutinho já não haver
perigo de retaliações por parte dos governadores. D. Madalena, já restabelecida e bem-
disposta, junta-se aos demais. No entanto, a sua boa-disposição é passageira, pois fica
apreensiva ao saber que Manuel de Sousa Coutinho tem de ir a Lisboa, para agradecer ao
arcebispo, e que Maria tencionava ir com o pai, para conhecer Soror Joana. As
apreensões aumentam por ser sexta-feira, dia que ela considera fatídico.  

2- D. Madalena receia a repetição das acusações feitas por Telmo no diálogo da Cena II
do Ato I, não querendo relembrar as razões da sua angústia: as dúvidas que a assaltam
relativamente a D. João de Portugal.  

3- D. Madalena revela-se zelosa pelo bem-estar da filha, procurando que nada lhe
aconteça. Revela simultaneamente uma atitude de extremo carinho. Maria, por sua vez,
tenta acalmar a sua mãe; no entanto, sente-se profundamente abalada com a tristeza que
esta revela. 

4- A evocação de D. Joana de Castro surge a propósito da intenção de Maria de a querer


conhecer. D. Madalena admira-a pela força e virtude demonstradas na abdicação dos bens
e amor terrenos. Não se vê capaz de tais “perfeições”, considerando a atitude dos condes
como uma assunção de morte. Poder-se-á deduzir, das suas palavras, um pressentimento
da sua própria desgraça, o estabelecimento de um paralelo entre a sua situação e a de
Soror Joana: a separação do homem que ama. 

5-O monólogo de Frei Jorge é mais um indício de um final trágico. As suas palavras
indicam que a sua racionalidade e a rejeição de agouros são postas em causa pelo
ambiente de desgraça que envolve a sua família, vendo-se ele próprio invadido pelo
mesmo espírito. 
6-D. Madalena alude à instabilidade do tempo, referindo-se aos ventos e às marés. Esta
instabilidade poderá ser interpretada como indício de instabilidade também da própria
vida (até ao momento, aparentemente calma e harmoniosa) e das mudanças que se
aproximam. 

7.1.  D. Madalena esclarece que faz anos, precisamente naquele dia, que se casou pela primeira
vez, que se deu a derrota de Alcácer Quibir, na qual desapareceram D. Sebastião e D. João
de Portugal, e que viu pela primeira vez Manuel de Sousa Coutinho. 

7.2.  A ação localiza-se no dia 4 de agosto de 1599. O dia e o mês são os da batalha de Alcácer
Quibir; o ano, a soma de 21 anos: a batalha deu-se em 1578, procurou-se D. João de
Portugal durante 7 anos, D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho estão casados há 14 
anos.  
7.3.  Sexta-feira é um “dia fatal” para D. Madalena por ter sido nesse dia da semana que se
apaixonou por Manuel de Sousa Coutinho, ainda casada com D. João de Portugal (“Este
amor … … começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi”, ll. 166-168), facto
que a atormentou até à batalha, ao sentir-se numa situação adúltera (“O pecado estava-me
no coração … … dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante…”,  ll.
169-170. Apesar de estar casada há 14 anos com o homem que ama, tendo sido este
amor “santificado e bendito no Céu” (l. 166), sempre sentiu um conflito psicológico pela
culpa deste “crime”, o que nunca a permitiu viver em plena felicidade, como se pode
verificar logo no monólogo inicial da obra e pelos constantes sobressaltos em que vive,
vendo em tudo um indício de desgraça.

QUESTÕES DAS PÁGS. 132-133 


(ATO II – CENAS XI, XII, XIII, XIV e XV) 
  
1-Miranda caracteriza o Romeiro, inicialmente, como “um pobre velho” (ll. 11-12), e,
depois, demonstra um certo deslumbramento pelas suas barbas muito “formosas” (l. 20)
e “alvas” (l. 21). Este facto sugere que se trata de alguém de condição nobre. A nobreza
de sangue e de carácter encontram paralelo na nobreza de elementos físicos que
apresenta. 

2- As Cenas XIV e XV localizam-se no conflito de Frei Luís de Sousa, correspondendo


ao desenlace do Ato II, momento em que D. Madalena fica a saber pelo Romeiro que o
primeiro marido se encontra vivo, e em que o Romeiro, depois de questionado por Frei
Jorge, se identifica como “Ninguém”, apontando para o retrato de D. João de Portugal.
 
 3.1. Primeiro momento: desde o início da cena até à linha 85; segundo momento: desde a linha 86   até
ao final de cena.  
          No primeiro momento, o Romeiro revela o local onde viveu durante vinte anos, os padecimentos
passados, a perda da família e a certeza de só ter um amigo. 
3.2.  Os vinte anos de ausência; a referência às recordações da família e, depois, a contradição da
afirmação de já não ter família, por esta ter refeito a sua vida, certa da sua morte; o ter somente um
amigo. 

3.3.   “Hoje” é o deíctico temporal introdutor do segundo momento, cujo referente é “4 de agosto de


1599”, o qual, associado ao complexo verbal “há de ser” com valor de obrigatoriedade, indica a
determinação do Romeiro em transmitir o recado naquele preciso dia, por corresponder a um
juramento feito um ano antes. Esta determinação é reforçada pelo uso do número 3 em “Há três
dias que não durmo, nem descanso”, que simboliza as três fases da existência e a perfeição,
indiciando ser aquele o dia em que o recado terá de ser transmitido. 
 
4-A partir do momento em que o Romeiro refere ter jurado a alguém que um ano depois
estaria diante de D. Madalena para lhe transmitir algo, esta começa a questionar a
identidade do mandatário, sentindo-se “aterrada” (l. 96). À medida que o Romeiro vai
confirmando a identidade do mesmo, respondendo aos sucessivos pedidos de
confirmação de D. Madalena, o pavor vai tomando conta dela, como se pode verificar nas
didascálias “na maior ansiedade” (l. 110), “espavorida” (l. 118). As marcas da
linguagem da personagem indicam, igualmente, esse crescendo de emoções, como se
pode verificar na utilização de falas curtas (“Cativo?”, l. 114; “Português?...”, l. 116),
frases inacabadas (“esse homem era… esse homem tinha sido…, l. 111; “cativo da
batalha de?...”, l. 116), exclamações e reticências, interjeições e locuções
interjetivas (“Jesus!”, l. 111; Meu Deus, meu Deus!”, l. 18). É de salientar o laconismo
do Romeiro nas suas respostas. 

5.1.  D. Madalena sai precipitadamente da sala, revelando-se profundamente aterrada ao tomar


consciência da sua situação de pecado e da ilegitimidade da sua filha, cuja debilidade física a
preocupa. A sua saída de cena é anterior à identificação da personagem do Romeiro com o retrato de
D. João de Portugal, impossibilitando-a de um reconhecimento completo acerca de quem é, de facto,
o Romeiro.  

6. 1. Sendo “Ninguém” um pronome indefinido, D. João de Portugal, ao identificar-se com este


vocábulo, anula-se enquanto pessoa com identidade própria, por não ter existência para os outros, por
não ter a vida a que tinha direito, uma vez que a sua própria família construiu, a partir da sua
“morte”, uma nova vida que se sobrepõe à sua. O pronome “Ninguém” tem, assim, um sentido
abrangente: D. João de Portugal deixou de ter casa, família e pátria.  
        Neste momento do conflito, e depois da anagnórise ou reconhecimento, atinge-se o clímax da ação,
antecipando-se, proleticamente, o desenlace relativamente a D. João de Portugal, que será o seu
anonimato. Esta personagem não foge, assim, à catástrofe, que atinge também D. Madalena, Manuel
de Sousa Coutinho e Maria. 
         
 
 

QUESTÕES DA PÁG. 139 


(ATO III – CENA I)

1-Localização espacial: Almada (parte baixa do palácio de D. João de


Portugal); espaço cénico: casarão vasto sem ornamentos, objetos utilizados na igreja
dispostos em diversos locais; duas portas, uma à esquerda para a capela da Senhora da
piedade, na igreja de S. Paulo dos Domínicos, outra ao fundo para as oficinas e aposentos
dos baixos do palácio; de um lado um esquife, do outro uma grande cruz; uma banca
velha com tamboretes, tendo num dos lados uma tocheira baixa e sobre a mesa um
castiçal baixo e um hábito completo de domínico; localização temporal: alta
noite; atmosfera sugerida: sugestão de morte, queda, isolamento; o último espaço a ser
percorrido pelas personagens, do qual não há saída.  

1.2- A ausência de ornamentos sugere o abandono de bens materiais, a cruz, a morte. 

2-A didascália do Ato I sugeria a felicidade e a liberdade de movimentos das


personagens; a do Ato II, tristeza, melancolia e a coartação (restrição) dos movimentos
das personagens; a do Ato III, o confinamento a um espaço fechado, escuro, que indicia a
morte. Verifica-se, assim, um afunilamento dos espaços, ficando estes cada vez mais
limitados, cercando as personagens até um ponto do qual não há qualquer saída. 

3-O recurso à repetição, numa outra voz, da expressão “Oh minha filha, minha filha!”  
estabelece a ligação com o final do Ato II, quando D. Madalena sai de cena espavorida, a
gritar, pondo em primeiro plano Maria, por esta ser a principal vítima da desgraça que se
abateu sobre a família. 

QUESTÕES DA PÁG. 143 


(ATO III – CENAS II, III, IV, V e VI) 
  

1.1-O conflito de Telmo é visível logo no início do monólogo na Cena IV, quando
diz: “Virou-se-me a alma toda com isto: não sou já o mesmo homem” (ll. 27-28). A
personagem sempre desejou o regresso de D. João de Portugal, não crendo na sua morte.
Contudo, agora que sabe que o seu amo se encontra vivo, constata que o seu amor por
Maria é superior, chegando a oferecer a sua vida em sacrifício pela vida de Maria, pois
pressente próxima a morte desta. 

2.1-O Romeiro sente uma profunda mágoa por D. Madalena ter entregado o seu coração
a outro, juízo que Telmo alega ser injusto. Procura, então, a confirmação de Telmo
quanto às diligências tomadas por D. Madalena no sentido de o encontrar. Após
confirmação destas diligências e da virtude e honra da sua esposa, comunica ao escudeiro
a sua “resolução” (l. 77) de tentar solucionar a situação pedindo-lhe que diga a todos
que “o peregrino era um impostor” (l. 89), e que tudo fora um embuste. Esta decisão
afigurou-se a mais correta para o Romeiro, que, ao saber que o casal tinha uma filha, se
sentiu responsável pelo “mal feito” (l. 118).
 
3.1.      O Romeiro, ao ouvir D. Madalena a chamar pelo seu “esposo” (l. 135), por um breve
instante pensa que é por si que ela chama e sente-se tentado a abrir-lhe a porta. Porém,
quando D. Madalena nomeia “Manuel”, chamando-lhe “meu amor” (l. 143), fica
furioso e dirige-se para a porta. Cai em si e reafirma a sua decisão, saindo violentamente
de cena. 
 
4.         D. João de Portugal encerra e si as virtudes do cavaleiro cristão: amor pelo seu rei e pela
pátria, combate contra os inimigos da fé, pela qual expõe a sua vida, sujeitando-se a
maus tratos, privações, distância, ausência de notícias e saudade da esposa durante vinte
anos. Revela generosidade e grandeza de alma ao não querer “desonrar a sua viúva” (ll.
125-126), preferindo, apesar de sentir frustração e mágoa pela perda da sua esposa,
passar por “impostor”, apagando-se voluntariamente, para tentar remediar o problema
que o seu regresso gerou. 
 

QUESTÕES DA PÁG. 145 


(ATO III – CENAS VII, VIII e IX) 
  
1-Manuel de Sousa Coutinho oscila entre o tratamento formal, “senhora”, dirigindo-se a
D. Madalena com frieza, e o tratamento informal, por “tu”, chamando-a pelo nome. Esta
oscilação deve-se à precipitação dos acontecimentos conducentes à tomada de decisão de
tomar o hábito e ao conhecimento que detém quanto à identidade do Romeiro, mantendo-
se firme na sua resolução. No final da Cena VIII, contudo, o seu discurso é magoado e
despede-se de D. Madalena pelo nome, tratando-a também, no final, por “querida”, e
saindo “precipitadamente”. 

2-Frei Jorge não aceita a solução do Romeiro, por tal significar a assunção do crime de
adultério contrário às leis de Deus. 

3-D. Madalena, inicialmente, mostra-se inconformada com a decisão do marido; depois,


não vendo saída para a situação, apela a Deus para que a ampare naquele momento, apelo
traduzido pelas palavras do coro. No final da cena, verifica-se a resignação e a aceitação
de D. Madalena. 

QUESTÕES DAS PÁGS. 147-148 


(ATO III – CENAS X, XI e XII) 
1-As cenas transcritas correspondem ao desenlace da obra: a morte física de Maria e
a tomada do hábito de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho (morte psicológica). 

2-A didascália marca a mudança de espaço: depois de correr “o pano do fundo”, o


leitor/espectador depara-se com as personagens na igreja de S. Paulo, espaço solene, onde
está prestes a iniciar-se a cerimónia da tomada do hábito, a qual, por significar o
abandono dos bens terrenos, incluindo a própria filha, assume um caráter trágico. 

3-Informações a retirar da primeira didascália da Cena XI: a entrada precipitada de Maria


na igreja; o seu estado “de completa alienação” (física e psicológica); a reação das
pessoas presentes (“Espanto geral”); e a interrupção da cerimónia. 

4.1.  Maria tenta demover os pais de tão inumana resolução (“levantai-vos, vinde, l. 8),


dirigindo a sua dolorosa revolta contra a falta de humanidade de um Deus que lhe rouba
os seus legítimos pais (“Que Deus é esse … … quer roubar o pai e a mãe a sua
filha?”, ll. 13-14). Desafia as normas dominantes ao pedir aos pais que mintam,
afirmando não se importar “com o outro” (l. 16) que veio dizer que ela era “filha do
crime e do pecado” (ll. 29-30). Em suma, para Maria, o valor da família é superior aos
valores sociais e religiosos, contra os quais dirige todo o seu discurso. 
 
5.1. Maria revela à mãe o conteúdo das visões que a não deixavam dormir: o anjo que surgia
com uma espada em chamas na mão e a atravessava entre ela e a mãe. A espada
atravessada entre a família indicia a separação, e o facto de estar em chamas, a destruição. 
 
6.    O dramaturgo, com o discurso doloroso e trágico de Maria, pretendia suscitar a piedade do
leitor/espectador para com a vítima inocente das normas sociais e religiosas. 
 
7.     A Cena XI termina com a frase de Maria “e ele vem aí… “(l. 40), iniciando a Cena XII
com a entrada do Romeiro e de Telmo. O Romeiro manda Telmo intervir no sentido de
salvar aquela família, mas Maria ouve a sua voz. Dá-se, assim, a anagnórise
(reconhecimento) final, não só por ela, mas também pelos circunstantes. Para Maria, D.
João é esse “homem do outro mundo” (l. 28), morto e ressuscitado para trazer a
desgraça, para confirmar a sua ilegitimidade. Não aguentando a “vergonha” (l. 44), Maria
morre e os seus pais entregam-se à vida religiosa. 
 
8.1. Em “Frei Luís de Sousa”, assistimos a “um duplo e tremendo suicídio”, quando Manuel
de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena decidem abandonar voluntariamente o
mundo profano (“morte” para o mundo) para abraçarem a vida religiosa, procurando, desta
forma, restabelecer a ordem divina. 
 
 
 
 
 

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