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Agrupamento de Escolas

D. António Taipa
Trabalho de grupo de Português

A dimensão patriótica e a sua expressão simbólica


A obra Frei Luís de Sousa possui uma dimensão patriótica muito vincada e com um grande
simbolismo.
Para exprimir o seu sentimento nacional e o seu orgulho pela história de Portugal, Garret
menciona o mito sebastianista. Após o desaparecimento de D. Sebastião, na batalha de Alcácer
Quibir em 1578, dois anos depois Filipe II de Espanha, I de Portugal subiu ao trono português.
Com a esperança do regresso daquele que viria a salvar a pátria e restituir-lhe a glória, o povo
criou um mito. Esta crença exagerada está evidenciada nas personagens Maria e Telmo, que
acreditam que o rei está vivo e à de regressar um dia.
A ação de Frei Luís de Sousa, um drama histórico, está contextualizada no final do século
XVI, quando Portugal perdeu a independência e foi anexado a Espanha.
Este drama romântico encena o problema político, mas também individual e familiar de um
Portugal sob domínio espanhol.
A família de Sousa Coutinho revela um forte sentimento patriótico, rejeitando a união com
Espanha. A luta pela liberdade e pelo patriotismo são bastante evidentes na decisão tomada por
Manuel de Sousa Coutinho.
No final do ato I, Manuel de Sousa Coutinho dá um exemplo de patriotismo e de liberdade
aos seus compatriotas, que anseiam pela restauração da independência de Portugal, com isso,
desafia o poder dos governadores, que queriam testar a sua fidelidade à coroa de Espanha, ao
impedir que se hospedem em sua casa. Este incendeia o próprio palácio, para mostrar o seu
repúdio pelo domínio espanhol no território português e por quem representa, em Portugal, esse
poder. Manuel de Sousa Coutinho prefere perder todos os seus bens a perder a identidade
portuguesa, um ato nacionalista, através do qual Manuel pretendia demonstrar o seu amor à
pátria, não se deixando dominar pelos invasores espanhóis.
Todos anseiam ver o reino recuperar a sua liberdade e reerguer-se de novo.
Assim, na obra existem personagens que nutrem um sentimento patriótico e outras que
renegam a pátria. O grupo dos patriotas é constituído por: Manuel de Sousa Coutinho, D.
Madalena, Maria e Telmo. São personagens íntegras, dignas, corajosas, resistentes e
determinadas em recuperar a independência de Portugal. O grupo dos “traidores” era constituído
pelos governadores portugueses ao serviço de Espanha. Pessoas sem caráter, oportunistas,
prepotentes, traiçoeiros e cobardes.
Para além do amor à pátria e do culto pela liberdade tão defendidos por Garret, a peça
também está associada a uma dimensão moral. Segundo o autor, para se poder educar a
sociedade, era importante confrontá-la com a realidade. Só consciente das suas virtudes e
fraquezas é que os portugueses estariam motivados para a transformação.

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Em Frei Luís de Sousa (1843), Garrett exorta os seus contemporâneos a contestar o
governo autoritário de Costa Cabral (1842-1846) e a lutar pela liberdade. Este intervém para tentar
a renovação social, demonstrando a coragem e a honra em ser português.

Apreciação crítica

Cena I, a cena de Madalena

Na nossa perspetiva, a cena I do ato I é importante para a contextualização do estado de


espírito de D. Madalena, bem como para a caracterização da personagem. As causas alusivas às
emoções da protagonista só são evidenciadas mais tarde, principalmente, na cena II, durante o
diálogo entre Madalena e Telmo Pais.
Nesta cena, Madalena reflete sobre o amor trágico, que uniu D. Inês de Castro e D. Pedro,
tentado por Camões na epopeia “Os Lusíadas”. Camões, no canto III d’ “Os Lusíadas” coloca o
romance de Inês de Castro e D. Pedro na esfera dos amores míticos funestos, em que os
amantes se tornam vítimas do sentimento que os dominava.
A interrupção da leitura da ilustre obra de Camões, precisamente, nos dois versos que
sugerem a efemeridade do sentimento amoroso experienciado por Inês, remete para uma relação
de semelhança entre os dois casos. D. Madalena estabelece o confronto entre a situação de Inês,
feliz, “naquele engano de alma ledo e cego / que a fortuna não deixa durar muito”, felicidade essa
que, em seu entender, não se mede pela duração, mas pela intensidade “Viveu-se, pode-se
morrer”, e a sua situação em busca da felicidade própria, assombrada pelos contínuos terrores, ou
seja, pelos remorsos da consciência moral, recalcada e abafada, mas sempre viva, atuante e
martirizante.
A leitura do episódio de Inês de Castro e a analogia estabelecida por Madalena entre si e a
protagonista deste amor, exposto no canto III constitui um presságio. O seu estado de melancolia
e medo é causado pela presença de um destino firme e inflexível, ao qual D. Madalena são se
poderá frutar.
O recurso a reticências, exclamações e interrogações reforçam o estado emocional de D.
Madalena, refletindo as hesitações e angústias. A enumeração, a gradação crescente, realçada
pela anteposição dos adjetivos “contínuos” e “imensa”, as interrupções, as pausas e as repetições
“… o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram
gozar um só momento de toda a imensa felicidade…” contribuem, também, para o adensar do
estado de espírito da personagem, marcado pela melancolia, pela angústia e pelo medo. A
construção anafórica “que o não saiba ele ao menos, que não suspeite (…)”; “que amor, que
felicidade… que desgraça (…)”, a repetição do determinante demonstrativo “este” / “estes” (“este
medo, estes contínuos terrores”) traduzem igualmente o estado de espírito da personagem.

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A antítese “que felicidade… que desgraça…” assinala o contraste entre o esperado estado de
felicidade e os contínuos terrores que a assombram.
A cena contém um caráter circular, dada a semelhança entre o seu princípio, onde
encontramos Madalena em meditação. Esta atitude remete o estado de total prostração da
personagem, e o seu final, em que esta volta a descair em profunda meditação. Estes dois
momentos são interrompidos pela reflexão e pela lamentação da sua própria existência.
Assim, esta cena expõe Madalena de Vilhena, uma figura nitidamente romântica,
característica evidenciada pela forma com os seus sentimentos submergem a capacidade lógica e
analítica. É completamente dominada pelas emoções e pelo imenso sentido do dever, que inibem
a possibilidade de se sentir feliz. A sua vulnerabilidade e fragilidade são o resultado dessas duas
orientações, que determinam o seu mundo psicológico e originam os pressentimentos
angustiantes e o terror que a atormenta. Com efeito, é a culpa de ter amado Manuel de Sousa
Coutinho, quando ainda se encontrava casada com D. João de Portugal, que ecoará na sua alma
e para sempre manchará a sua integridade moral.

Na nossa perspetiva, a canção “The Lovers are losing” da banda inglesa Keane reflete com
bastante coerência o estado de espírito de D. Madalena de Vilhena, evidenciado logo na primeira
cena da obra Frei Luís de Sousa. A letra estabelece de certa forma, uma analogia com o conflito
interior que a protagonista deixa transparecer.
A angústia, o medo e os contínuos terrores que acompanham o seu quotidiano, o
sentimento de culpa e os presságios que perturbam Madalena acerca do possível regresso de D.
João de Portugal assemelham-se aos seguintes versos da música “Eu sonhei que estava à
deriva / sobre um vento uivando / Eu sonhei que não tinha mais nada / Nada para além da minha
própria pele”. Madalena vive assombrada pelas superstições, pelo terror da premonição de
acontecimentos desfavoráveis para a sua vida, sentimentos, estes que a impedem de ser feliz
“Mas tu não sabes a violência, o constrangimento de alma, o terror (…) Tenho este medo, este
horror de ficar só… de vir a achar-me só no mundo”. Tal como profere a letra, D. Madalena teme
que os presságios sejam reais e a levem a ficar desemparada.
Na cena I do Ato Segundo, Madalena fica fragilizada ao deparar-se com o retrato de D.
João De Portugal. A sua constante persistência para com Manuel de Sousa Coutinho, implorando
e tentando convence-lo a não se mudarem para a sua antiga casa espelha a sua ansiedade, “Mas
oh! Esposo da minha alma… para aquela casa não, não me leves para aquela casa!”. Desta
forma, a forma como D. Madalena encarou o quadro de D. João “põe de repente os olhos nele e
dá um grito. Oh, meu Deus!… ficou tão perdida de susto, ou não sei de quê, que me ia caindo em
cima” encontra-se perfeitamente descrita na letra da música “Vi o teu rosto a olhar de volta para
mim / Eu vi o meu passado e o meu futuro”. Assim, Madalena, instalada com a sua família na

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casa, onde vivera com o ex-marido, enfrenta o seu passado, todas as memórias aí criadas e, mais
tarde, um destino à qual se poderá frutar”.

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