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Estrutura da obra

- drama romântico com características da tragedia clássica (simplicidade da ação, concentração espácio-
temporal e reduzido número de personagens)

- dividida em três atos, que mudam de acordo com a mudança do local da ação

- os atos estão divididos em cenas, que correspondem à entrada e saída de personagens.

ATO 1 – Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada – 27 julho 1599

ATO 2 – Palácio de D. João de Portugal, em Almada – 4 agosto de 1599

ATO 3 – Parte baixa do palácio de D. João de Portugal – 5 agosto de 1599 (madrugada)

A nível da estrutura interna, a divisão é feita através da exposição, do conflito e do desenlace.

Contextualização histórico-literaria

No século XIX, o triunfo das ideias liberais na Europa e a afirmação da liberdade nacional foram
acompanhadas pelo romantismo.

Este é um movimento literário representado por obras como esta, sobre a historia de uma família que é
atingida pela fatalidade, e tem como características:

- apologia da transformação da sociedade

- temas como exilio, liberdade, experiencia pessoal

- valorização do individuo e expressão de emocoes

- redescoberta das raízes culturais e históricas, como afirmação da nacao

- defesa de uma literatura nacional

Dimensão patriótica e a sua expressão simbólica

A forte dimensão patriótica é representada, sobretudo, na figura de Manuel de Sousa Coutinho, que
incendeia o seu palácio revelando a força e resistência dos portugueses face ao domínio filipino.

Outro aspeto é a referencia ao retrato de Camoes, expoente máximo da literatura, e de D. Sebastião,


esperado libertador do domínio filipino.
Esta referência contrasta com a dimensão simbólica de D. Joao de Portugal, imagem de uma pátria sem
identidade e de um povo oprimido.

Manuel – nobreza de caráter e liberdade de pensamento e escolha

Telmo e Maria – símbolos do sebastianismo e da voz popular, não aceitam domínio filipino

Retratos – símbolos da pátria

Palácios – símbolos do Portugal Velho e do Novo Portugal

A mudança da família de Manuel para a casa de D. João pode representar um regresso ao passado, a um
Portugal velho, impeditivo da construção de um Portugal novo.

O Portugal velho morreu em Alcácer e é um fantasma que não consegue fazer ressurgir a nação.

O novo Portugal, simbolizado por esta família, também não é possível, porque Manuel, Madalena e
Maria morrem (física ou espiritualmente), e com eles o renascimento de um país.

Sebastianismo

D. Sebastião desaparece na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, e dá lugar a uma crise de sucessão, com
o pais financeiramente arruinado. Sucede-se então a perda da independência e a dinastia filipina.

Este acontecimento origina o mito sebástico: a crença popular profetiza o regresso do jovem Rei, numa
manha de nevoeiro, para libertar Portugal da dominação filipina e lhe dar novo impulso, sendo visto
como a salvação da pátria, um redentor que resolve todos os problemas.

Na obra, o regresso à pátria de D. Joao de Portugal, símbolo de D. Sebastião, desencadeia uma série de
peripécias que conduzem a um fim trágico.

O sebastianismo é perspetivado de forma negativa porque o regresso de D. João não permite o triunfo
do Portugal novo, porque implica a destruição da família.
Recorte de personagens

Madalena de Vilhena

- conotada com o pecado do adultério

- vive numa angustia constante, atormentada pelo eventual regresso de D. João de Portugal

- pressentimento de desgraça

- dominada por sentimento de amor-paixão

Maria de Noronha

- jovem débil, precoce

- perspicaz e intuitiva

- entusiasta e sonhadora

- aventureira e corajosa

- grande sensibilidade por estar tuberculosa

- personifica a heroína romântica, a mulher-anjo, ser puro

Manuel

- figura heroica de recorte clássico

- homem desprendido de bens materiais

- forte consciência patriótica

- lucido e racional, apesar de vaticinar por vezes tragédia

- aceita com resignação a decisão de ingressar na vida religiosa

Telmo

- confidente, conselheiro da mãe e filha

- fiel a D. João de Portugal, sempre acreditou no seu regresso

- conflito interior: dividido entre passado e presente

- o amor por Maria sobrepôs-se aos princípios morais e dispõe-se a mentir para a salvar
D. João

- personagem trágica e enigmática

- simbolo do destino

- vingativo, mas arrependido quando se apercebe do esforço de Madalena e da destruição da família

- representa Portugal do passado, um pais que é “Ninguém”

Frei Jorge

- confidente de Madalena

- clérigo racional

- bom ouvinte

- equilibrado, sensato e sereno

- papel importante na resolução do conflito entre o irmão e os governadores e na entrada no convento

- princípios morais e religiosos bem definidos obrigam-no a ser inflexível

Dimensão trágica

A dimensão trágica perpassa toda a peça e manifesta-se em agouros e presságios, indícios trágicos,
mudança de espaços e concentração temporal e espacial que conduzem ao aparecimento e
reconhecimento do Romeiro, culminando na separação do casal e na morte física de Maria.

Esta concentração de personagens, tempo e espaco contribui para a intensificação da tensão dramática

Todo o desenrolar da ação apresenta indícios que apontam para um desfecho trágico (o incêndio P.EX.)

ELEMENTOS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA

- Anagnórise – reconhecimento surgido inesperadamente (Romeiro)

- Anankê – destino, forca implacável, inexorável

- Catarse – purificacao de sentimentos ou comportamentos imorais (conversão religiosa Mada e Manu)

- Catástofe – ação dolorosa provocada pela anagnórise


- Clímax – ponto mais elevado da tensão dramática

- Desenlace – alteração dos acontecimento, determinando o final

- Hybris – desafio à ordem estabelecida (Paixao de madalena por Manuel)

- Pathos – sofrimento provocado pela catostrofe

- Peripécia – surpresa que altera o desenvolvimento previsível (incendio e aparecimento de D. joao)

Linguagem e estilo

- Prosa – confere coloquialidade e fluidez aos diálogos

- linguagem adequa-se ao estatuto social da nobreza, vocabulário erudito

- personagens apresentam estados emocionais fortes – inquietações, anseios, desassossegos, receios,


hesitações

- marcas linguísticas como frases exclamativas, interjeições, frases inacabadas, interrogativas, curtas,
repetições

- campo lexical ligados à religião, à morte ou à honra

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